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ROMANOS 8.

1-11
A Carta aos Romanos, ao contrário das outras cartas de Paulo, é mais como
um livro de ensinamentos teológicos do que uma carta comum. Cada parte dela é
conectada à argumentação anterior. Os capítulos 5 a 8 servem como uma base,
apresentando uma nova perspectiva da tese central da Carta e de toda a
mensagem cristã: a justificação pela graça (3.21-28). Essa ideia é repetida ao
mudar o foco, como visto em 5.1, onde somos justificados pela fé em Jesus Cristo
nosso Senhor; 5.21, que destaca a justiça para a vida eterna por meio de Jesus
Cristo nosso Senhor; 6.23, enfatizando que o presente de Deus é a vida eterna em
Cristo Jesus nosso Senhor; e 8.1, declarando que não há mais condenação para
aqueles que estão em Cristo Jesus (cf. Nygren, p. 253-257).
Tese: Não há condenação para os que estão em Cristo Jesus - versículo 1.
Fundamentação: a) O Espírito da vida libertou da lei do pecado e da morte -
versículo 2; b) O Filho, ao assumir a fraqueza da carne, venceu o pecado da carne
e trouxe a justificação do Espírito - versículos 3-4; c) Existe uma contradição entre
carne e Espírito - versículo 5; d) A carne leva à morte, enquanto o Espírito conduz à
vida - versículos 6-7;
Conclusão: Aqueles que estão na carne não podem agradar a Deus - versículo 8.
A continuação da ideia é crucial: vocês não estão dominados pelos desejos
egoístas, mas estão seguindo a orientação do Espírito - versículo 9a.
Agora, vamos analisar como isso é explicado: a) Aqueles que não possuem
o Espírito não têm uma conexão com Cristo - versículo 9c; b) O corpo está
sujeito à morte, mas o Espírito traz vida - versículo 10; c) Aquele que
ressuscitou Jesus dos mortos dará vida aos corpos mortais - versículo 11.
Se observarmos a estrutura, percebemos que o texto usa termos teológicos
essenciais várias vezes: "sarx" (carne) - 10 vezes, "pneuma" (Espírito) - 9 vezes,
"hamartia" (pecado) - 5 vezes, "nomos" (lei) - 4 vezes, "zoe" (vida) - 3 vezes (duas
vezes em conjunto com paz e justiça, em relação ao Espírito), "thanatos" (morte) - 2
vezes, ambas relacionadas à carne ou pecado. Isso nos leva à oposição entre dois
conjuntos que caracterizam a humanidade: ou Espírito - vida, paz e justiça; ou
carne - lei, pecado e morte.
Dessa forma, torna-se claro que a "carne" representa uma influência
poderosa, uma força que molda completamente a maneira de ser de uma
pessoa. Contrariamente ao que muitos pensam, especialmente influenciados pelo
pensamento grego, "carne" não se refere apenas aos instintos carnais,
frequentemente associados à sexualidade. Na verdade, "carne" é uma força que
impacta integralmente a pessoa, incluindo suas ideias, espírito e até mesmo
seus ideais nobres. Em resumo, "carne" é toda a realidade que se opõe a Deus
(versículo 7) e, consequentemente, não agrada a Deus (versículo 8). Por isso,
ela é equiparada ao pecado e leva à morte.
No entanto, Deus superou essa oposição ao entrar no território inimigo.
Deus não derrota o poder da carne eliminando-o, mas destruindo seu poder
dentro da própria esfera (enviando seu próprio Filho em semelhança de carne
pecaminosa - versículo 3). Em meio a um ambiente hostil, Jesus neutraliza a
força dessa realidade ao obedecer totalmente a Deus, restaurando assim a
possibilidade de viver de acordo com a vontade divina (versículo 4).
Como isso foi possível? Porque outro poder foi crucial na vida do próprio
Filho: o Espírito. Assim como a "carne", o "Espírito" não se refere apenas a
pensamentos nobres em oposição a paixões inferiores. "Espírito" é igualmente
uma força, um poder que molda completamente a pessoa. É o poder de Deus
que guia toda a maneira de ser da pessoa. Por isso, ele representa vida e paz
(versículo 6). Portanto, as duas opções em jogo são: viver de acordo com a
carne ou viver de acordo com o Espírito.
Agora, então, para aqueles que estão em Cristo Jesus, não há mais
condenação. Essa é a mensagem poderosa do evangelho, o cerne do Novo
Testamento. Contudo, essa verdade pode gerar diferentes reações: Para
alguns, pode causar autoconfiança, enquanto para outros, inquietação.
Aqueles que podem demonstrar claramente os sinais impressionantes
da presença do Espírito podem tornar-se autoconfiantes, vendo isso como
confirmação de que estão vivendo de acordo com o Espírito ou que, de fato, o
Espírito de Deus habita neles (versículo 9).
Este é o primeiro ensino: Nós fomos libertos da condenação pela lei do
Espírito da vida. O que significa isso?
 Estamos livres de toda condenação (v. 1). Romanos 5.1-11. Justificados,
temos paz com Deus — e isso conduz a uma vida amadurecida e
esperançosa. Aqui, em Cristo, somos livres de qualquer condenação, e
como veremos até o final do capítulo, podemos caminhar com segurança e
esperança.
 Deus realiza o que nem a lei, nem a carne, podem realizar (v. 3). A lei
estava enferma pela carne (cf. 7.7-25). Cristo veio ―em semelhança de carne
pecaminosa‖ (ou seja, em humanidade real, mas sem pecado) e sofreu a
condenação divina em seu corpo (o último uso de ―carne‖, no v.3).
 Agora, o “preceito da lei se cumpre em nós, que não andamos segundo a
carne, mas segundo o Espírito‖ (v. 4). – Temos de apreciar esta verdade,
guardando-a no coração e experimentando-a no viver cotidiano, ou seja, de
fato, ―andando segundo o Espírito‖ (v. 4).

Segundo ensino: Podemos e devemos nos inclinar para as coisas do


Espírito (vv. 5-8).
 Duas possibilidades: Inclinar-se para a carne ou para as coisas do Espírito.
Procedimentos e resultados diferentes.
a. Inclinar-se para a carne produz uma vida centrada nas coisas pecaminosas; ―os
que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne‖ (v. 5). O resultado deste
―pendor‖ é ―morte‖ (v. 6).
b. Por outro lado, inclinar-se para o Espírito e para as coisas do Espírito nos conduz
―para a vida e paz‖ (v. 6).
 E não há meio-termo quanto a isso:
a. ―O pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus,
nem mesmo pode estar‖ (v. 7). Isso explica a dinâmica por detrás do conflito de
Romanos 7.7-25. A carne — ou o pecado que habita em nós — é antideus e
anticristo.
b. Estar ou agir com base na carne equivale a não andar por fé. Por isso, ―os que
estão na carne não podem agradar a Deus‖ (v. 8; cf. Hb 11.6).
Terceiro ensino: Se somos crentes em Cristo, o Espírito de Deus habita em nós
(vv.9-11).
Que maravilha ter o Espírito de Deus habitando em nós! Vamos olhar para a
promessa detalhada em Ezequiel 36:
1. Purificação e Perdão (versículo 25): Deus promete limpar e perdoar,
aspergindo água purificadora sobre nós, livrando-nos de todas as impurezas e
ídolos.
2. Nova Natureza e Santificação (versículos 26-27): Deus promete uma
transformação profunda, dando-nos um coração novo e um espírito novo. Ele
removerá o coração de pedra e nos dará um coração de carne. Além disso,
Ele colocará o Seu Espírito em nós, capacitando-nos a viver de acordo com
Seus mandamentos, juízos e preceitos.
É incrível pensar que o Espírito Santo é chamado de "Espírito de Cristo"
(versículo 10). Isso não significa que o Espírito seja uma força impessoal,
como a eletricidade, ou uma nova doutrina sobre Cristo, como alguns ensinam.
Pelo contrário, o Espírito de Cristo realiza duas coisas importantes:

a. Ensina e Lembra (conforme João 14.25-26): O Espírito Santo nos ajuda a


compreender e recordar tudo relacionado à pessoa e obra de Cristo.
b. Aplica a Obra de Jesus em Nós: O Espírito de Cristo toma tudo que se
refere a Jesus e aplica em nossas vidas. Enquanto Jesus é o Redentor, o
Espírito Santo é o Santificador e Consolador da Trindade.
Paulo, ao falar sobre a evidência do Espírito Santo em nós, destaca que
não se trata de fenômenos chamativos para agradar à mídia ou à religião. As
provas da presença do Espírito são simples, mas profundas:
1. Estar em Cristo Jesus (versículo 1): Isso significa ser justificado pela fé,
confiando unicamente em Jesus como Redentor e Senhor.
2. Ter paz com Deus e frutos dessa paz (5.1 e 5.5): Isso envolve sentir
segurança no amor de Deus, transbordando em esperança mesmo em
tempos difíceis.
No versículo 10, Paulo apresenta um pensamento intrigante sobre o corpo e o
espírito. Ele sugere que, se Cristo está em nós, nosso corpo, embora sujeito à
mortalidade física, experimenta vida espiritual por causa da justiça de Cristo.
Isso significa que, mesmo em meio à nossa mortalidade, nosso espírito está vivo
por causa da vida que recebemos em Cristo.
E o maravilhoso desfecho é a garantia da ressurreição em glória. Se o
Espírito de Deus, que ressuscitou Jesus, habita em nós, Ele também dará vida aos
nossos corpos mortais no último dia. Essa promessa é uma expressão incrível da
esperança que temos em Cristo Jesus.
APLICAÇÕES:
1. Crescer na Fé pela Presença do Espírito:
 Aplicação: Busque uma compreensão mais profunda sobre a fé e a
presença do Espírito Santo em sua vida. Conforme Paulo ensina em
Romanos 8:9, "Mas vocês não vivem segundo a carne, mas segundo o
Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vocês. E, se alguém
não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo." Invista tempo em
oração, estudo da Palavra e comunhão com Deus para fortalecer sua
fé.
2. Viver em Conformidade com o Espírito em Meio às Tribulações:
 Aplicação: Diante das tribulações, aplique o princípio apresentado por
Paulo em Romanos 5:3-5: "Não só isso, mas também nos gloriamos nas
tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a
perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E
a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em
nossos corações por meio do Espírito Santo que nos concedeu."
Enfrente desafios com perseverança, confiando na obra do Espírito em
sua vida.
3. Priorizar uma Vida de Santidade e Amor:
 Aplicação: Baseado nas instruções de Paulo em Romanos 13:10, "O
amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o amor é o
cumprimento da Lei", aplique diariamente princípios de santidade e
amor em suas interações. O Espírito Santo, conforme Romanos 5:5,
nos capacita a transbordar de amor. Certifique-se de que suas ações e
palavras reflitam o amor de Deus, expressando uma vida que glorifica a
Cristo.

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