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2Co 3.

1-11
Abra sua Bíblia na 2ª carta de Paulo aos Coríntios, no capítulo 3 e vamos dar continuidade e nossa série de
exposições nesta carta.

Paulo escreve para tentar resolver os dilemas que existiam lá, especialmente, nesta carta em que a situação se
tornou pessoal. Haviam opositores a Paulo que tentavam minar a liderança do apóstolo e sua credibilidade como
legítimo pregador do Evangelho.

Possivelmente, Paulo se referiu a estes opositores no capítulo anterior como pessoas que negociavam a Palavra de
Deus.

Até era comum de fato que filósofos e pregadores religiosos itinerantes cobrassem por seus ensinos. No entanto, o
termo que Paulo faz uso é pesado. Era um termo usado para pessoas que comercializavam mercadorias, como vinho
ou comida, mas que adulteravam seus produtos para aumentarem seus lucros. Então esses comerciantes
colocavam água no vinho por exemplo, para terem um ganho maior.

E ao se comparar a eles, alguns destes opositores poderiam exclamar para a comunidade: olha, Paulo está
recomendando a si mesmo. Nós temos cartas de recomendação, mas onde está a carta de recomendação desse
Paulo?

E por isso ele começa o capítulo 3 dizendo: Será que com isso, estamos começando a nos recomendar a nós
mesmos novamente? Será que precisamos, como alguns, de cartas de recomendação para vocês ou da parte de
vocês? (2 Co 3.1)

O que é uma carta de recomendação?

Uma carta de recomendação era uma espécie de credencial e era muito utilizada na antiguidade, quando alguém ia
de uma igreja para outra por exemplo. Paulo mesmo recomenda dois irmãos, mais a frente nesta carta, aos
coríntios.

Hoje seria o mesmo que, por exemplo, você se mudar para Recife e ir para a Ponte de lá. Aí o Pipe manda um Zap
para o Guilherme Franco falando que você está indo para lá, que é um cristão verdadeiro e que é para cuidarem de
você lá.

É claro que Paulo está ironizado com estas perguntas, a possível oposição.

Por isso ele mesmo responde nos versos 2 e 3: Vocês mesmos são a nossa carta, escrita em nosso coração,
conhecida e lida por todos.

Vocês demonstram que são uma carta de Cristo, resultado do nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o
Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações humanos. (2 Co
3.2,3)

Então, em sua resposta, é como se o apóstolo dissesse: vocês querem minha carta de recomendação? Ora, são
vocês mesmos. Querem minha credencial? Ora, é o próprio resultado do meu ministério no meio de vocês.

Vocês só são igreja de Cristo porque Cristo me usou para pregar seu Evangelho a vocês.

E aqui te pergunto: será que você seria recomendado? Ou melhor, quando as pessoas olham para você, será que
elas leem Jesus na sua vida?

Agora gostaria de chamar a atenção de vocês neste verso 3 pois aqui vão surgir duas expressões que nos ajudarão a
entender o verso 6 mais a frente que é um dos versos mais mal usados das Escrituras.

Paulo fala que os coríntios são uma carta escrita não com tinta, mas pelo Espírito, não em tábuas de pedra, mas em
tábuas de carne.

Estas expressões tábuas de pedra e tábuas de carne são um contraste que Paulo fará a seguir.
Mas antes, ele diz nos 4 e 5 que: Estamos certos disso tudo por causa da grande confiança que temos em Deus por
meio de Cristo.

Não que nos consideremos capazes de fazer qualquer coisa por conta própria; nossa capacitação vem de Deus. (2
Co 3.4,5)

Duas ideias que temos que levar por toda nossa vida no nosso relacionamento com Deus: confiança em Deus e
capacitação que vem de Deus.

Paulo não confiava em seus méritos ou em si mesmo. Ele confiava em Deus.

E por isso reconhecia que não era ele quem fazia as coisas acontecerem. Quem realizava tudo era Deus em quem
confiava, por meio dele, Paulo, a quem Deus capacitava.

Nós não podemos confiar em nós mesmos, isto é, em nossos méritos. Não devemos confiar que nossas
experiências, nossa bagagem que carregamos tem algum valor em si mesmo. Na verdade, quem se autoafirma
dessa forma é apenas alguém que está se recomendando a si mesmo.

Paulo, foi claro: eu tenho certeza de que vocês são minha credencial porque foi Deus quem fez através de mim e
não eu mesmo. É nisso que eu confio.

Por isso ele retoma o que introduziu no verso 3 agora no verso 6 e vai fazer uma série de 5 contrastes até o verso
11.

Começando pelo versículo mais mal utilizado que é o verso 6: Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova
aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica. (2 Co 3.6)

A letra mata, mas o Espírito vivifica. O que será a letra mata?

Vou colocar aqui dois extremos mostrando o que não é e então explicar o que é.

O primeiro é a forma mais comum que as pessoas interpretam: olha não fica estudando muita teologia não, a gente
tem que viver no Espírito, cuidado com a teologia, com a doutrina, a letra mata. Você fica só na teoria, mas tem que
experimentar o Espírito.

Ou seja, este versículo é muito usado para chamar a atenção de alguém que é muito estudioso por alguém que
menospreza o estudo das Escrituras.

Mas letra aqui não é estudar, não ser apenas teórico. Letra é a Lei mosaica. Lembra que no verso 3 falei das
expressões tábuas de pedra e tábuas de carne? A Lei, os dez mandamentos foram escritos nas tábuas de pedra.

Aí temos o outro extremo: a pessoa então entende que a lei mosaica gera a morte e, portanto, renega
completamente esta lei. Hoje vivo só pelo espírito, não preciso guardar a lei, a lei caducou e então posso viver na
liberdade do Espírito e fazer o que quiser. Se minha consciência não condena então não é pecado.

E assim a pessoa vive não na liberdade, mas na libertinagem.

Ambos extremos estão errados.

Vamos entender o que Paulo diz quando fala que a letra, a lei escrita, a Lei mosaica mata.

Primeiro, a lei de Deus, isto é, os 10 mandamentos, são bons. Paulo afirma isso em Romanos 7.

No entanto, nunca foi intensão de Deus salvar por meio do cumprimento dos mandamentos.

Antes, os mandamentos vieram para demonstrar que o homem era um pecador e que necessitava de um Salvador.

Por que a Letra mata? Por que os mandamentos não salvam, mas atribuem culpa e condenação ao homem
pecador.

Por outro lado, a partir da salvação em Cristo, continuamos obedecer aos mandamentos, não para a salvação e nem
mesmo para a manutenção da salvação, mas para a manifestação do caráter de Deus em nós. E isto só é possível
pelo poder do Espírito Santo que nos vivifica.
Como se dá isso? Tentativa e erro, sem nunca desistir de tentar e sempre clamando pelo poder do Espírito.

Então o primeiro contraste foi sobre a letra que mata, que condena, e Espírito que vivifica, que salva.

O segundo contraste está nos versos 7 e 8: O ministério que trouxe a morte foi gravado com letras em pedras; mas
esse ministério veio com tal glória que os israelitas não podiam fixar os olhos na face de Moisés por causa do
resplendor do seu rosto, ainda que desvanecente.

Não será o ministério do Espírito ainda muito mais glorioso? (2 Co 3.7,8)

Paulo chama o ministério da Lei de ministério da morte em contraste com a nova aliança que ele chama aqui de
ministério do Espírito.

Mas perceba que ele não desdenha em hipótese nenhuma da antiga aliança. Na verdade, o que ele faz é uma
comparação do antigo para o novo numa crescente.

Ele diz que na lei, havia glória de Deus, que foi vista na face de Moisés pelos israelitas. Isso está em Êx 34.

Mas Paulo diz que esta glória na face de Moisés ia diminuindo com o passar do tempo. Então, a comparação é: se
na lei, que não salvava, mas gerava a condenação e morte, a glória de Deus era tamanha ao ponto de brilhar na
face de Moisés, quanto mais gloriosa esta glória será no ministério do Espírito que dá vida!

Esta lógica segue nos demais contrastes variando basicamente nos adjetivos usados para Lei e para a nova aliança
no Espírito ficando fácil a leitura dos versos seguintes.

O 3º contraste no verso 9: Se era glorioso o ministério que trouxe condenação, quanto mais glorioso será o
ministério que produz justiça! (2 Co 3.9)

Paulo chama a Lei de ministério da condenação e chama a nova aliança no Espírito de ministério da justiça, ou
melhor, da justificação, que significa que pelos méritos de Cristo, somos declarados justos diante de Deus.

O 4º no verso 10: De fato, a glória do passado não era nada gloriosa em comparação com a glória magnífica de
agora. (2 Co 3.10)

Onde Paulo compara a glória do passado que em relação à magnífica glória atual não era tão gloriosa assim.

E o último, no verso 11: Portanto, se o antigo sistema, que foi substituído, era cheio de glória, muito mais glorioso
é o novo, que permanece para sempre! (2 Co 3.11)

Que compara o antigo sistema, isto é, a antiga aliança que mesmo substituída, ainda assim era gloriosa, muito mais
será a glória do novo sistema, da nova aliança que é eterna.

Todos estes contrastes devem nos levar a nos perguntar:

Que tipo de cristianismo levamos?

Será que o cristianismo que levamos é um que confia em nossos próprios esforços?

Por que em plena pandemia a gente vem na igreja? Só para sair de casa? Só por que nos acostumamos com ir à
igreja todos os domingos?

Ou nosso cristianismo se manifesta do lado de fora, mas somente porque sofremos uma transformação interna,
poderosa, baseada no poder dos Espírito, e tudo o que fazemos é para glorificar no nome de Jesus?

E sob essa reflexão queria que você se examinasse para tomar a ceia. A ceia é esse momento pedagógico para o
autoexame e o conserto com Deus. Tomamos a ceia com a certeza de que Ele nos perdoa, e garante tudo o que
precisamos, bastando por isso clamarmos por sua misericórdia.

Portanto, com fé e a certeza do perdão de Deus na Nova Aliança em Cristo, comamos do pão e bebamos do cálice.

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