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O Fruto do Espírito Santo

Daniel Conegero

O fruto do Espírito é uma seleção de virtudes produzidas pelo Espírito Santo


na vida daqueles que foram feitos novas criaturas. Esse fruto resulta em uma
conduta de vida integra e de acordo com a vontade de Deus. O fruto do Espírito
Santo é descrito pelo apóstolo Paulo em Gálatas 5:22,23.
Neste estudo bíblico, entenderemos melhor o que é o fruto do Espírito e qual o
seu significado e implicação na vida dos seguidores de Cristo.

O que é o fruto do Espírito?


Antes de falarmos sobre o fruto do Espírito, precisamos saber que nos versículos
anteriores (Gálatas 5:19-21) o apóstolo Paulo falou sobre os perigos das obras da
carne. Essas obras são uma seleção de práticas pecaminosas decorrentes da
natureza decaída do homem.
O fruto do Espírito é mencionado dentro de um capítulo onde Paulo faz uma
exposição acerca da liberdade que há em Cristo. Ele fornece uma contraposição
com as restrições impostas pelo legalismo que estava sendo pregado na
comunidade cristã da Galácia. Além disso, o apóstolo enfatizou que o julgo da Lei
não é capaz de fazer com que alguém viva de acordo com a vontade de Deus, mas
que somente através do Espírito Santo o homem é capacitado a viver uma vida que
agrada ao Senhor.

O pano de fundo dos ensinos desse capítulo é a intensa luta entre a carne e o
Espírito. O Espírito abomina os desejos da carne, e a carne, por sua vez, rejeita as
coisas em que o Espírito nos conduz. Assim, o fruto do Espírito é o bem que nos
faz vencer o mal. É o resultado natural de uma nova vida, uma vida regenerada,
uma vida que reflete o novo nascimento, a vida no Espírito.
Também é importante não confundir o fruto do Espírito com os dons especiais que
o Espírito Santo concede a algumas pessoas e que devem ser utilizados a serviço da
Igreja de Cristo. O fruto do Espírito é um conjunto de capacitações que todos
os redimidos recebem.

Por que “fruto do Espírito” e não “frutos do


Espírito”?
É interessante notar que quando o apóstolo fala dessas capacitações ele utiliza o
singular, “fruto do Espírito”, ao invés do plural, “frutos do espírito”. Já quando ele
escreve sobre as práticas pecaminosas, ele utiliza o plural, “as obras da carne”.

Muitas especulações já foram feitas na tentativa de explicar o porquê disto. A


melhor de todas elas defende que isso acontece porque, diferentemente das obras
da carne, o fruto do Espírito é uma unidade. Isso significa que todas as
capacitações pertencem a um único fruto.
Não somos nós que produzimos esse fruto, mas o Espírito Santo que o produz em
nós. Ele assim o faz de um modo em que uma virtude está diretamente ligada a
outra. Por tanto, essas virtudes são indivisíveis e juntas formam “o fruto”. Pense em
cada virtude como sendo gomos de um mesmo fruto.

Também facilita o nosso entendimento quando conseguimos entender que o amor


é à base de todas as outras virtudes citadas. Se não houver amor, é impossível que
se tenha verdadeira alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,
mansidão e domínio próprio. Podemos dizer que o fruto do Espírito é o amor
seguido necessariamente pelas outras oito preciosas virtudes citadas.
Essa não foi a única vez em que o apóstolo utilizou uma metáfora relacionada à
produção agrícola para se referir a conduta esperada dos verdadeiros cristãos
(Romanos 6:22; Efésios 5:9; Filipenses 1:11). Encontramos também em outras
passagens bíblicas o mesmo princípio. Um exemplo disto é a pregação de João
Batista que enfatizava que o arrependimento verdadeiro produz fruto visível de
mudança de comportamento (Mateus 3:8; Lucas 3:8).

A descrição do fruto do Espírito


Como já dissemos, imediatamente após descrever as obras da carne, o apóstolo
Paulo descreveu o fruto do Espírito. O apóstolo apresentou a seguinte relação
representativa como sendo o fruto do Espírito:
Amor
O amor é a base para todas as outras virtudes (cf. 1 Coríntios 13; Efésios 5:2;
Colossenses 3:14). No mesmo capítulo 5 de Gálatas, Paulo já havia enfatizado a
importância e necessidade do amor na vida dos verdadeiros cristãos (Gálatas
5:6,13).
Paulo não foi o único a enfatizar a prioridade do amor na vida dos santos. O
apóstolo João escreveu que “aquele que não ama não conhece a Deus” (1 João 4:8;
cf. 3:14; 4:19). O apóstolo Pedro também ressaltou esse princípio em sua primeira
epístola (1 Pedro 4:8). Claro que tudo isto reflete o ensino do próprio Jesus, onde
Ele pessoalmente ensinou que seus discípulos seriam conhecidos pelo amor
demonstrado (João 13:34,35).

Alegria
A alegria é uma consequência direta do amor. Essa não é uma alegria superficial,
nem mesmo significa a ausência de aflições e dificuldades. Essa alegria é aquela
que o apóstolo Pedro escreveu dizendo que é “inefável e gloriosa” (1 Pedro 1:8).
Essa alegria também é a mesma que o apóstolo Paulo sentia ao
dizer: “entristecidos, mas sempre alegres” (2 Coríntios 6:10). A alegria produzida pelo
Espírito Santo em nós, faz com que nos alegremos mesmo diante da dor, pois
somos capazes de compreender que todas as coisas cooperam para o bem
daqueles que amam a Deus (Romanos 8:28).

Paz
No livro de Salmos aprendemos que aquele que ama a Lei de Deus possui
grande paz (Salmos 119:165; cf. 29:11; 37:11; 85:8). Resultante do amor, essa paz é
a marca de um coração sereno. ela é uma tranquilidade experimentada
verdadeiramente apenas por aqueles que são justificados mediante a fé (Romanos
5:1).
Quando alcançamos essa paz, inevitavelmente desejamos compartilhá-la, para
que outros também a tenham (Mateus 5:9). Pela cruz de Cristo é que hoje
temos a genuína paz.

Longanimidade
A longanimidade é a paciência característica de quem foi regenerado, que nos
preserva das típicas explosões de ira tão comuns nas obras da carne (Gálatas 5:20).
A paciência como fruto do Espírito Santo é fundamentada na confiança de que
Deus cumprirá suas promessas. Essa certeza não nos deixa cair em desespero (2
Timóteo 4:2,8; Hebreus 6:12).

Benignidade
Sabemos que nosso Deus manifesta a benignidade (Romanos 2:4; 11:22; cf.
Salmos 136:1). No ministério do Senhor Jesus narrado nos Evangelhos, podemos
claramente perceber tamanha benignidade demonstrada por Ele para com os
pecadores (Marcos 10:13-16; Lucas 7:11-17,36-50; 8:40-56; 13:10-17; 18:15-17;
23:24; João 8:1-11; 19:25-27).
Diretamente resultante do amor, somos aconselhados a demonstrar benignidade.
Isso significa que não devemos causar dor a ninguém (Mateus 5:43-48; Lucas 6:27-
38).

Bondade
A bondade pode ser traduzida como a generosidade presente no coração e
expressa nas ações daqueles que são guiados pelo Espírito. É a excelência moral e
espiritual produzida pelo Espírito Santo em nós que nos capacita a zelar pela
verdade e pelo que é correto. Essa bondade no leva a rejeitar tudo o que é mal e
perverso.

Fidelidade
A fidelidade em algumas traduções aparece traduzida como “fé”. Essa também é
uma tradução correta do termo grego utilizado. Porém, devido à clara relação com
a bondade e a benignidade citadas anteriormente, a tradução que mais se encaixa
ao contexto é “fidelidade” ou “lealdade”.
Analisando a própria Epístola aos Gálatas, podemos perceber que faltava lealdade a
muitos membros daquela comunidade cristã, não só para com Paulo (Gálatas 4:16),
mas para com o próprio Evangelho (Gálatas 1:6-9; 3:1; 5:7). Assim, fidelidade como
fruto do Espírito não apenas se resume à lealdade para com os homens, mas
principalmente para com Deus e à sua vontade.
Mansidão
A Mansidão é o oposto da agressividade, da raiva, da violência. Sermos gentis uns
para com os outros revela o fruto do Espírito em nós, e nos faz ser imitador do
nosso Senhor (Mateus 11:29; 2 Coríntios 10:1).

Domínio próprio
O fruto do Espírito pode ser visto na relação que alguém tem consigo mesmo. O
domínio próprio também pode ser traduzido como “temperança”. No sentido
original, o termo grego descreve a capacidade de uma pessoa conter-se a si
mesma. Exercendo o domínio próprio, submetemos todas as nossas vontades à
obediência a Cristo.

A importância do fruto do Espírito


É evidente o contraste entre as obras da carne e o fruto do Espírito. Diante da
depravação da natureza humana, sabemos que seria impossível ao homem exercer
tais virtudes. É por isso que o Espírito Santo é quem nos capacita a exercê-las.
Portanto, demonstrar o fruto do Espírito em nossas vidas não é uma questão de
auto-justiça ou mérito próprio, mas de submissão à direção e domínio do Espírito
Santo.
Em sua exposição sobre o fruto do Espírito, Paulo continua dizendo que “contra tais
coisas não existe Lei” (Gálatas 5:23). Com isto ele quer dizer que não há qualquer
restrição a esse modo de vida santo caracterizado pelo fruto do Espírito Santo.
Além disso, é vivendo assim que desfrutamos da verdadeira liberdade em Cristo.
Paulo também deixou claro que a única maneira de vivermos o fruto do
Espírito em nossas vidas é através da nossa união com Cristo. Essa união reflete
nossa completa dependência d’Ele. Nós não somos capazes de exibir por nossa
própria força, essas virtudes que fundamentam o caráter cristão.
Assim, o apóstolo nos ensina que “os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne,
com suas paixões e concupiscências” (Gálatas 5:24). Jesus levou consigo na cruz a
nossa natureza carnal. Portanto, nossa carne e os desejos provenientes dela que
nos escravizavam, foram crucificados com Cristo. O golpe fatal já foi dado! Deus já
providenciou tudo o que precisamos para vivermos em novidade de vida de uma
forma que o agrada.

O fruto do Espírito na vida cristã


No entanto, cabe a nós agora vivermos na prática o que somos em princípio. Se
nossa carne foi crucificada com Cristo, então agora vivemos no Espírito. Se o
Espírito é a fonte de nossas vidas, se é Ele quem nos capacita a vivermos em
retidão, então devemos entregar completamente nossos passos a Ele. Por isso o
apóstolo escreve: “se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito” (Gálatas
5:25).
Se somos verdadeiramente seguidores de Cristo, necessariamente devemos viver
de uma maneira compatível à nossa fé. A vida cristã deve ser completamente
dependente do poder que o Espírito Santo nos concede de mortificar as paixões e
desejos carnais, revelando em nossa conduta os efeitos da cruz de Cristo.

Como servos do Senhor, a primeira coisa que deve ser notado em nosso modo de
viver é o fruto do Espírito. Se olharmos para nossa própria vida e não
enxergarmos o fruto do Espírito nela, então pode ser que nossas raízes não
estejam no Calvário.

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