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CURSO: TEOLOGIA

DISCIPLINA: PNEUMATOLOGIA
TEXTO COMPLEMENTAR: Fundamentação Bíblica

O ESPÍRITO SANTO EM SÃO PAULO

1. O dom do Espírito Santo é a graça inicial mais característica do convertido. Sua infusão é a razão de ser
da redenção, realizando a promessa feita a Abraão (Gal 3,14). É dom divino que acompanha a fé e o batismo (lCor
6,11; 12,13; 1Tes 4,8; 2Tes 2,13; Tt 3,5), primícia de outras graças (Rom 8,23), penhor de redenção final (2Cor 5,5;
Ef 1,13; 4,30). A condição cristã é evidenciada pela lei do espírito da vida em Cristo Jesus (Rom 8,2). O cristão
saboreou o dom celeste, participando do Espírito Santo (Hbr 6,4). Voltar ao pecado é ultrajar o Espírito da graça (Hbr
10,29).
Deus derramou em abundância o Espírito por Jesus Cristo (Tit 3,6). Paulo diz possuí-lo (lCor 7,40; 2,12-13).
Recebemos o Espírito que conduz à filiação (Rom 8,15), à santificação (2Tes 2,13) e à renovação (Tt 3,5). O Espírito
procede da pregação da fé (Gal 3,2-5) e é concedido para uma conduta santa (1Tes 4,8). A espada do Espírito é a
Palavra de Deus (Ef 6,17).

2 - O Espírito Santo, princípio de vida cristã. Uma das peculiaridades do cristão, pela qual se distingue do
judeu é a posse e comunhão do Espírito de Cristo (Rom 8,9; Gál 3,2-5; 2Cor 13,13; Fil 3,1). No batismo recebeu o
Espírito de Deus (Gal 3,15; 1Cor 2,12; Ef 1,13), tornando-se templo do Espírito Santo (Rom 8,9; lCor 6,19; Ef 2,22).
Assim o cristão vive na economia do Espírito da vida (Rom 8,2). A ação interna do Espírito Santo produziu e
desenvolveu nele uma faculdade nova que age sob a moção do mesmo Espírito, e se opõe à «carne», como princípio
antagônico (Gal 5,16-24; Rom 8,1-13). Esta faculdade nova é uma espécie de instinto que se dirige ou a Deus - e se
identifica com o homem interior, criado à imagem de Deus (Ef 3,16-17), ou à criatura, tornando-a inimiga de Deus.
Este «espírito» é a esfera das operações do Espírito Santo, qual atual sua renovação e recriação.
Afim ao homem interior que se renova de dia a dia (2Cor 4,16), o espírito se manifesta como participação da
divindade, princípio e garantia de ressurreição (Rom 8,10-11). Movido pelo Espírito, nosso espírito pode elevar preces
verdadeiramente divinas (Rom 8,26s), provocar o clamor filial para o Pai (Rom 8,15-16; Gal 4,5-6), não sendo
entendido por nossa inteligência senão por inspiração interna (lCor 14,14-19). O espírito humano pode ser definido
como um elemento divino que nos é infundido pelo Espírito Santo e que não se confunde com ele. O simples cristão,
autêntico, não é dotado de carismas extraordinários, mas se contenta com a liberdade que o Espírito de Deus lhe
proporciona (2Cor 3,17).
Paulo vê no Espírito Santo a força motriz do agir cristão. No batismo inaugura-se um novo caminhar, um
andar no Espírito, que é força para vencer e mudar a situação face à salvação, incutindo esperança. A efusão de
Pentecostes prossegue no batismo e nos demais sacramentos (Rom 8,12ss; Gál 5,16ss).

3 - O Espírito Santo e a vida da graça. O Pai opera por Cristo com o vigor do Espírito Santo. Constrói-se a
mística do Espírito, que é anel de união entre a do Pai e a do Filho. O Espírito Santo é força que se une ao espírito
humano, elevando-o a uma esfera de vida superior. O Paráclito encontra-se intensamente entrelaçado com a vida
mística em Cristo (cf. Rom 8,9-11). O Espírito de Deus se equipara ao Espírito de Cristo. A habitação do Espírito se
identifica à realidade do «Cristo em nós». Tal união mística é dom, efeito, fruto do Espírito Santo (lCor 14,4s; lTes
5,17-19). Nossa união com Cristo se opera pelo Espírito (1Cor 6,17; 12,4; 12,11-13). É sempre o Espírito que revela o
mistério da salvação (lCor 2,6-16) e atua na mística cristológica (Rom 8,1-35). No Espírito o fiel se encontra em nova
esfera vital que o une a Deus. Com efeito, no Espírito como no Cristo: - fomos batizados, - formamos um só corpo, -
fomos santificados e justificados, temos acesso ao Pai, - fomos selados, consolidados e agraciados com sua plenitude,
- confessamos a Cristo, - os pagãos se tornam oferenda agradável e santa, - é pregado o Evangelho, - a revelação se
cumpre, - nossa consciência dá testemunho, - se verifica o Reino de Deus com sua paz, justiça e alegria, - há um amor
e uma circuncisão espiritual, um orar, um servir a Deus, virtudes, - há um fervor, um estímulo, uma vida e uma
esperança escatológica (cf. Rom 8,4-9; 2,29; 9,1; 12, 11; 14,17; 15,16; 1Cor 6,11; 12,3.13; 14,15s; 2Cor 6,6; Gál 3,3;
5,5; 5,16-25; Ef 2,18.22; 3,5; 4,30; 5,18; 6,18; Col 1,8; Flp 1,27; 3,3; 1Tes 1,5).
O cristão é carta de Cristo escrita com o Espírito do Deus vivo (2Cor 3,3). Por meio do Espírito foi derramado
o amor de Deus (Rom 5,5), - ressuscitará nosso corpo (Rom 8,11), - se consolida o homem interior (Ef 3,16), - e se
conserva o bom depósito da fé (2Tim 1,14). O Espírito habita em nós normalmente na vida cristã, extraordinariamente
mediante os carismas (Rom 8,9-11; 1Cor 3,16; 6,19; Ef 2,22; 2Tim 1,14). No cristão, ao lado de profunda vinculação
mística com Cristo, há verdadeira penetração permanente do Espírito de Deus.
O Espírito Santo dá plenitude e consumação à nossa vida em Cristo. A união com o Espírito não é fusão,
apesar de íntima e mística. Eleva vigorosa e gratuitamente a natureza humana, assume nossas debilidades e ajuda na
oração com inefáveis suspiros (Rom 8,26s). A ação do Espírito, enfim, transfigura o cristão todo (Rom 1,11; 15,27;
1Cor 9,11; Ef 1,3; Col 1,9).
4 - O Espírito Santo e o Corpo Místico, a Igreja. Apesar de não ser nada fácil interpretar certos trechos
paulinos, envoltos em mistério, todavia é viável vislumbrar no Espírito Santo sua divindade, personalidade distinta,
consubstancialidade e procedência do Pai e do Filho. Certos efeitos e propriedades, Paulo ora as atribui ao Espírito ora
a Cristo: ser em Cristo e no Espírito, firmes em Cristo e no Espírito, falar em Cristo e no Espírito, justificados em
Cristo e no Espírito, santificados e circuncidados no Espírito e em Cristo... tudo em função do Corpo Místico. Não há
Corpo Místico sem Espírito, nem o Espírito Santo fora do Corpo Místico. Há uma íntima conexão do Espírito com a
Igreja, Corpo Místico. Co-extensão e compenetração mútuas, visando à edificação, unificação e vivificação do Corpo
Místico em solidariedade e comunhão em Cristo Jesus (Ef 4,4; Rom 8,1-2.9; 1Cor 6,15.19; 12,13). A ação do Espírito
Santo se contrapõe à Lei do pecado e da morte, à letra da Lei, à carne que perturba a Lei (Rom 8,2; Gal 5,18; 7,4-6;
Gal 5,24s). Paulo relaciona a missão do Filho à do Espírito Santo (Gál 4,4-6). O Pai envia o Filho que se faz solidário
com os homens que, assim, se tornam filhos de Deus aos quais lhes envia o Espírito. Ao primeiro Adão, alma vivente,
contrapõe o segundo Adão, Espírito vivificante (lCor 15,45).
Paulo concebe o Espírito Santo em ação, como princípio vital, ativo e unitivo, do Corpo Místico de Cristo.
Logo, o Espírito Santo é conteúdo substancial da nova aliança. Esta tarefa santificativa se atribui ao Espírito Santo por
apropriação, não como estrita propriedade, pois é comum das três pessoas. Como efeitos do dom do Pai enumeram-se
as virtudes teologais e carismas (1Cor 12-14), os frutos do Espírito (Gal 5,22s), a sabedoria, a revelação, a habitação
em nós que santifica, justifica e vivifica. A ação do Espírito não sufoca nem transtorna a atividade humana, mas
sublima, estimula, reforça, retifica, liberta, tranquiliza e pacifica - ação que supõe no homem vida espiritual
alimentada com a oração e mortificação. A oração é mais obra do Espírito do que nossa (Rom 8,26s; 1Cor 14,15).
Oração ideal é quando o Espírito Santo repercute em nossa inteligência, abrasando e iluminando. A mortificação é
obra especialmente do Espírito Santo, pois é o antídoto de todas as tendências mal-sãs da carne (Gal 5,16-24). Fruto
da mortificação da carne pelo Espírito é a pureza, a verdadeira circuncisão (do coração). Paulo motiva esta virtude
pelo fato de estarmos incorporados a Cristo e de termos o Espírito Santo como hóspede (Rom 2,29; Col 2,11; lCor
6,15-19; 7,34).
A multíplice ação do Espírito tem por instrumento os sacramentos: o batismo (1Cor 6,11; 12,13; Ti 3,5), a
confirmação (lCor 12,13), a ordem (2Tim 1,6-7), a eucaristia e matrimônio (Ef. 5,22s; Rom 8,9; 1Cor 10,16-17). O.
apostolado é todo sob a ação do Paráclito (Rom 15,19; Ef 6,17; 1Cor 2,2-4.13; 2Cor 3,6-8; 6,4-6; 10,3-5; 1Tes 1,5). A
mensagem evangélica foi comprovada por Deus com sinais, prodígios e dons do Espírito Santo (Hbr 2,4; 2Cor 3,3). O
que pelo Espírito se conquistou, pelo Espírito se deve conservar (o precioso depósito da fé), o qual é doador dos
carismas (2Tim 1,14; Ef 4,12; 1Cor 12,4. 7.8-11) .
Os dons do Espírito são bem mais que os sete indicados por Isaías (11,1-3) e não se encontram senão
dispersas, tendo função social e santificativa, em mira à edificação do Corpo Místico, à motivação da virtude e à
atividade da hierarquia. Não são simplesmente passageiros, atuais, mas importam em disposições habituais que
habilitam à guia do Espírito Santo. Orientam as relações do homem com o Espírito Santo, as quais consistem em estar
no Espírito, ser segundo o Espírito, aspirar às coisas do Espírito e caminhar segundo o Espírito.
Nada agrada a Deus se não é movido pelo Espírito Santo (Rom 8,9) e a maior infelicidade é contristar o
Espírito (Ef 4,30). Sem o Espírito Santo, o homem é incapaz do bem. O Espírito Santo assim é a alma do Corpo
Místico que enobrece, move e vivifica; é o hóspede divino da Igreja e de cada fiel (Rom 8,9; 1Cor 3,16); é dom do
Pai, do Filho e de Si mesmo; é o agente único na ordem sobrenatural.

5 - Conclusão. Paulo não fala do Espírito apenas para revelar o mistério de sua personalidade divina, más em
função de sua atividade santificadora, como princípio agente da santificação do homem e edificação da Igreja. Em nós
há a tentação de focalizar menos realidades - influxo da filosofia grega e da escolástica - e mais formalidades, aspectos
particulares. Não assim Paulo, que vê o todo, vê não precisamente formalidades isoladas, mas compreensivamente
realidades vivas e complexas. Ao contemplar a realidade do Corpo Místico de Cristo, compreensivamente contempla a
realidade do Espírito Santo, princípio vital do Corpo Místico. Cristo é a cabeça, o organismo do Corpo Místico, cuja
alma, porém é o Espírito Santo. Sua ação se estende a todos os cristãos e a todas as manifestações da vida sobrenatural
desde o batismo até à bem-aventurança. Caminhar no Espírito, ser movido pelo Espírito, é obedecer aos impulsos da
graça (Rom 4,4-14).
Tudo que nos eleva acima de nossa natureza carnal e psíquica, tudo que nos insere na atmosfera divina, tudo
que nos transforma em seres espirituais, recebe em Paulo o nome geral de «Espírito» por alusão à fonte da qual
emana. O Espírito Santo é amor, e é próprio do amor dar, dar-se a si com seus dons.
O amor com que Deus nos ama, se manisfesta pelo dom do Espírito e, ao mesmo tempo, pela infusão de graça
santificante que é efeito do Espírito presente em nós. Semelhante infusão não é transitória, mas inerente, subsiste
inseparavelmente unida ao Espírito, sua fonte (Rom 5,5). Esta efusão é finita, porquanto é recebida em ser finito.
Consequentemente, pode crescer indefinidamente. Por sua presença, o Espírito Santo torna-se intermediário da união
do justo com Deus, união deificante com e pelas pessoas com nossa natureza. A graça santificante é resultado, não
condição, da presença do Espírito Santo. O Pai santifica enviando o Filho, mediador da graça; Pai e Filho enviam o
Espírito Santo, agente da santidade.
FONTE: Espírito Santo: Presença, Pessoa e Atuação. Editora Vozes.

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