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O BATISMO COM O ESPÍRITO

Rm 8.9
(Rm 5.5 e 6.3, 1 Co 12.13 e Ef. 4.5)
Paulo diz que há “um só batismo” (Ef 4.5). Isto significa que todos os crentes verdadeiros já
foram batizados e o que faz com que sejam “iguais” perante Deus é justamente este fato. Por
isso, podem manter a unidade da Igreja. Tristemente, porém, entre os cristãos não há apenas
divisão no que diz respeito ao batismo com água (imersão, aspersão ou efusão). Há uma
profunda divisão no que diz respeito ao batismo com/no/do Espírito. Esta divisão surgiu com o
movimento pentecostal que trouxe um novo entendimento a respeito do que é esse batismo.

Crentes pentecostais, neopentecostais e alguns católicos carismáticos afirmam que esse


batismo com/no/do Espírito Santo é uma experiência pós-conversão. Eles dizem que mesmo
depois que alguém se converte a Cristo, ainda não está preparado para viver a vida cristã
vitoriosa, pois para isso precisa de uma segunda bênção, denominada de Batismo “com” ou
“no” Espírito Santo. Assim, para estas pessoas existem duas grandes classes de cristãos na
igreja: os que já foram batizados e os que ainda não foram batizados com o Espírito Santo.
Quem já foi batizado faz parte da categoria dos crentes “espirituais”, enquanto quem não foi
batizado faz parte de uma categoria inferior de crentes, que ainda são “carnais”. Estes últimos,
frequentemente recebem alguma discriminação por parte dos mais “adiantados”, e são
ameaçados pela pergunta tradicional destes irmãos: “Você já foi batizado no Espírito Santo?”.
Há algo em que carismáticos e reformados concordam: o Espírito Santo é absolutamente
necessário para a santificação. A questão que não passa no teste da Escritura, entretanto, é
que o Batismo com o Espírito é uma segunda bênção, pois entendemos que ele acontece
simultaneamente com a conversão, muito embora, por toda a vida, o cristão deve buscar o
enchimento do Espírito.

I. A importância do Espírito
No capítulo 14 de João, Jesus explicou a seus discípulos que teria que se ausentar por algum
tempo da presença deles. Logicamente eles se sentiram extremamente tristes com essa
notícia, e Jesus se apressou em consolá-los. Jesus esteve com os discípulos por cerca de três
anos, mas agora era a hora de completar a obra que veio fazer neste mundo e então partir
para o santuário celestial onde continuaria sua obra de intercessão pelo seu povo até o último
dia.

Mas, os discípulos não ficariam sozinhos nesse ínterim, pois Jesus disse:

“Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco”
(Jo 14.16).

Note a expressão “outro”. Jesus foi o grande consolador de seus discípulos. Mas, agora, ele
precisava partir, entretanto, não deixaria seus discípulos órfãos, pois mandaria alguém
extremamente necessário para a vida deles: o Espírito Santo. Seria função do Espírito lembrar
os discípulos das coisas que Jesus havia dito (Jo 14.26). Também fazia parte de sua obra
convencer o mundo do pecado da justiça e do juízo (Jo 16.8). Jesus disse que o Espírito Santo
viria para guiar os discípulos a toda a verdade (Jo 16.13). Certamente a obra dele não seria
uma obra independente, pois sua função era glorificar o próprio Jesus, exaltando sua pessoa,
seu poder e sua obra (Jo 16.14). Além disso, a presença do Espírito Santo na vida dos discípulos
seria a garantia de que eles de fato pertenciam a Jesus (Cf. Rm 8.9, Ef 1.13-14).

Jesus disse que o Espírito Santo seria enviado para estar para sempre com os discípulos, ou
seja, eles não poderiam viver sem este Espírito. Isso nos fala da importância do Espírito Santo
para a vida do crente. Não dá para conceber um crente sem o Espírito Santo, pois ele é
absolutamente vital para que o crente conheça Jesus e receba a salvação. Um crente sem o
Espírito Santo em hipótese alguma é um crente. O Espírito Santo em toda a Bíblia simboliza a
capacitação do povo de Deus. Ele é a fonte da vida, do poder e da autoridade. Podemos ver
isto tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. O Espírito agiu na criação do mundo,
“pairando por sobre as águas” (Gn 1.2). De algum modo ele foi o responsável por fazer com
que surgisse a vida do caos que era a terra sem forma e vazia.

O Espírito capacitou homens no Antigo Testamento para construírem o tabernáculo (Ex 31.3-
5), além de ungir os reis, os profetas e os sacerdotes para a missão que precisavam
desempenhar (Nm 27.18; Jz 3.10; 1Sm 16.14). A promessa do Espírito sempre esteve ligada a
um tempo de restauração espiritual, familiar e material (Is 32.14-15; 44.3; Ez 36.27).

Jesus disse aos discípulos que o Espírito iria capacitá-los para a tarefa que precisavam
desempenhar:

“Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santos, e sereis minhas
testemunhastanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”
(At 1.8).

Portanto, o Espírito é o grande dom de Deus para seu povo. Uma vida cheia do Espírito é o que
Deus idealizou para seu povo.

II. Primeira (única e definitiva) bênção


Justamente porque o Espírito tem toda esta importância é que não podemos conceber a
conversão dissociada do Batismo com o Espírito. Ninguém faz parte da igreja visível sem ser
batizado com água. Do mesmo modo, ninguém pode fazer parte da igreja invisível sem ser
batizado com o Espírito. Batismo significa “admissão”, justamente por isso não pode ser
“segunda” bênção. Sem o Espírito Santo uma pessoa nem poderia se converter, pois é função
do Espírito dar a vida. O novo nascimento é um nascimento do Espírito (Jo 3.5), o Espírito guia
à verdade (Jo 16.13) e convence do pecado (Jo 16.8).

O Batismo significa o ato de admissão ao corpo de Cristo. Portanto, ele precisa acontecer no
início e não em algum momento posterior. Além disso, temos alguns textos que claramente
dizem que o Batismo acontece na conversão. Paulo escreveu aos Efésios:

“Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa
salvação, tendo nele também crido, fostes batizados com o Santo Espírito da promessa; o qual
é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef 1.13-
14).

Paulo está escrevendo desde o início da carta sobre a obra do Pai, do Filho e do Espírito Santo
na salvação dos crentes. Podemos resumir dizendo que o Pai escolheu os salvos e planejou a
salvação, que o Filho executou a salvação através de sua morte e ressurreição, e que o Espírito
aplica e garante a salvação dessas pessoas (penhor/garantia). Quando o Espírito faz isto? Paulo
disse que isto acontece quando alguém ouve a palavra da verdade, o evangelho da salvação, e
crê. Quando alguém crê é selado com o Espírito Santo da promessa, que vai funcionar como
um penhor na vida do crente. Ou seja, a vinda do Espírito Santo sobre aquele que crê é a
garantia divina de que a pessoa está salva e continuará salva. O texto não sugere qualquer
intervalo de tempo entre o ato de crer e o ato de receber o Espírito.

O crente é selado com o Espírito Santo no momento que ouve o evangelho e crê. Se o crente
não tiver o Espírito Santo ele não tem a garantia de que está salvo, pois lhe falta o penhor, e
então, ele não poderia ser chamado realmente de “crente”. Outro texto nos ajuda a entender
isto ainda mais. Paulo escreveu em Romanos, cap.8, verso 9:

“Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em
vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”.

Se o Espírito habita o crente é porque aconteceu uma transformação completa na vida desta
pessoa. Ela não está mais na carne, ou seja, já não é escravo do pecado. Mas veja o que Paulo
diz claramente: “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”. Como seria
possível alguém se converter e ainda não ter recebido o Espírito? Paulo está dizendo que um
crente que não foi batizado com o Espírito não é um crente, pois é o Espírito que o faz ser
crente. Por isso temos afirmado que o Batismo com o Espírito não pode ser uma “segunda
bênção”. Ele tem que ser uma “primeira, única e definitiva bênção”.

O texto definitivo, no nosso entendimento, que esclarece essa questão é 1Coríntios 12.13:
“Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos,
quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito”. Paulo é
absolutamente claro em dizer que todos os crentes foram batizados com o Espírito. Pois é
justamente este batismo com o Espírito que faz alguém ser parte do corpo de Cristo. Quem
não é batizado com o Espírito não é uma pessoa realmente convertida, pois não foi inserida no
corpo. Assim como o batismo com água marca a entrada do crente na igreja visível, o batismo
com o Espírito marca a entrada do crente no corpo de Cristo, a igreja invisível. Se não foi
batizado está fora do corpo. Não existem duas classes de crentes na igreja. Na verdade,
afirmar isto é ir contra tudo o que Paulo ensinou em 1Coríntios 12.

Agora precisamos explicar o acontecimento do Pentecostes à luz de Jo 7.39. Temos dito que os
crentes recebem o Batismo com o Espírito Santo no momento da conversão. Mas e como fica
o caso dos discípulos que já eram convertidos e receberam o Espírito Santo depois da
conversão? No caso deles não foi uma segunda bênção? Primeiramente precisamos entender
que os apóstolos e primeiros discípulos de Jesus constituem um grupo especial. Eles
conheceram Jesus antes do derramamento do Espírito Santo. Isto já explicaria o fato de eles
terem recebido o Batismo com o Espírito depois, pois como eles poderiam ter sido batizados
com o Espírito que forma o corpo de Cristo antes do Espírito ter vindo para formá-lo? João
explicou que os discípulos somente poderiam ser batizados deste modo depois da Ascensão de
Jesus.

Mas também é preciso entender que, de certo modo, os discípulos só tiveram uma conversão
completa no dia de Pentecostes. Até aquele momento eles viviam debaixo das expectativas do
Antigo Testamento, e não entendiam muito bem as coisas que estavam acontecendo. Eles
nem entendiam a necessidade da morte de Jesus. Pedro parece entender que sua conversão
aconteceu no dia de Pentecostes, pois disse que foi naquele dia que eles creram no Senhor
Jesus (At 11.15-17). Ainda é preciso lembrar que naquele mesmo dia, mais três mil pessoas se
converteram e receberam o dom do Espírito Santo, após a pregação de Pedro (At 2.37-41).
Essas três mil pessoas não precisaram esperar para serem batizadas com o Espírito. Tudo
aconteceu simultaneamente, pois não faziam parte do grupo especial de discípulos que já
conhecia a Jesus antes do dia de Pentecostes.

III. Enchendo-se do Espírito

Ao dizermos, porém, que o Batismo com o Espírito é uma experiência inicial da vida cristã, uma
“primeira (e definitiva) bênção”, não estamos querendo dizer que é a única, no sentido de que
o crente precisa ser (re) batizado com o Espírito, após a conversão. Na conversão há um
batismo e um enchimento com o Espírito, mas outros enchimentos terão que acontecer
futuramente. No dia de Pentecostes, os discípulos receberam o batismo e o enchimento do
Espírito, mas algum tempo depois tiveram que ser novamente cheios deste Espírito. Em Atos 4,
a Igreja enfrentou a primeira perseguição. Os sacerdotes prenderam os apóstolos e os
lançaram na prisão (At 4.1-3). Após interrogá-los, exigiram que não falassem mais no nome de
Jesus (At 4.18), e lhes fizeram ameaças (At 4.21). Quando foram soltos, os crentes se reuniram
e começaram a orar. Na oração clamaram pela Soberania de Deus, e pediram “agora, Senhor,
olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a
tua palavra, enquanto estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do
nome do teu santo Servo Jesus” (At 4.29- 30). Lucas relata a resposta de Deus à oração deles:
“Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito
Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus” (At 4.31). Eles já haviam sido
batizados com o Espírito (Atos 2), mas precisaram de um novo enchimento do Espírito para
poder realizar a obra de Deus.

Vários enchimentos são possíveis ao longo da vida de um crente, porém, não se deve chamar
esses enchimentos de “batismos”. Tecnicamente, há apenas um batismo, e ele acontece na
conversão. Depois de um primeiro enchimento com o Espírito é possível que o “reservatório
espiritual” fique muito baixo.

Paulo orienta os cristãos de Éfeso a terem cuidado para não “entristecer o Espírito” (Ef 4.30), e
aos cristãos de Tessalônica para não “apagar o Espírito” (1Ts 5.19). No contexto dessas
orientações, Paulo diz aos cristãos que mantenham uma vida de santidade, de constante
estudo da Palavra de Deus e de oração. A negligência com estas coisas causa o esfriamento
espiritual. Não significa, porém, que uma pessoa que foi batizada com o Espírito Santo possa
ficar totalmente vazia deste Espírito, pois o Espírito nunca abandona totalmente aquele que foi
selado, mas as influências dele sobre a vida da pessoa podem ficar bastante inexpressivas. Por
causa disto a Bíblia nos manda buscar um enchimento do Espírito. Em Efésios 5.18 Paulo diz:

“E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito”. A
ordem é direcionada a todos os crentes, assim, todos os crentes têm a obrigação de serem
cheios do Espírito Santo. Quando o Espírito desce e enche-nos com seus novos desejos e com
seu poder, nós podemos naturalmente servir a Deus.

Algo que ainda precisa ficar esclarecido é como podemos ficar cheios do Espírito. Jesus nos dá
a resposta: Ele disse:

“Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu
interior fluirão rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito Santo que haviam de
receber os que nele cressem; pois o Espírito até aquele momento não fora dado, porque Jesus
não havia sido ainda glorificado” (Jo 7.37-39).

Jesus nos explica aqui como esse Espírito pode ser conseguido. Ele diz: bebendo: “Quem tem
sede venha a mim e beba”. Tão somente isso, ir a Jesus e beber. O método divino pelo qual
podemos ficar cheios do Espírito Santo é o mais simples de todos: basta ter sede, ir a Jesus e
beber. Isto pode ser feito a qualquer momento, em qualquer lugar, e em qualquer situação.

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