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Olhares Transdisciplinares
1° edição
Rio de Janeiro
2021
Fundamentalismo Religioso Cristão - Olhares Transdiciplinares
2021
Klínē Editora®
Rua Maria Amália,591, Tijuca - Rio de Janeiro – RJ - Brasil
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RJ - Brasil
Coordenação Editorial
Felinto Pessôa de Faria Neto
Leonardo Gonçalves Martins
Raphael Botelho
Conselho Editorial
Daniel Brasil Justi (UNIFESSPA)
Marta Mega (UFRJ)
Mônica Selvatici (UEL)
Osvaldo Ribeiro (UNIDA)
Diagramação e Projeto Gráfico
Alberto Cavalcanti
Capa
Juliana Cavalcanti
Raphael Botelho
Revisão e Preparação dos Originais
Introdução
III. A Astronomia Moderna e as Interpretações da Bíblia: novas teorias da origem e do fim do mundo
para novas teorias para o mundo
IV. Arqueologia Bíblica: a cultura material como discurso fundamentalista religioso cristão
VI. O Nascimento do Fundamentalismo Cristão nos Estaddos Unidos: das origens ao Caso Scopes
VII. A Resistência
X. “Palavras de Morte e Não de Vida“: O Estudo dos Fundamentalismos e seu Acesso ao Primeiro
Testamento
XIII. O Imaginário Radical Diante dos Racismos e Fundamentalismos: Esboço do Cenário Brasileiro
Denominado Evangélico
Índice Onomástico
Bibliografia
Prefácio
Juliana B. Cavalcanti
I. De imediato, seguem as manchetes abaixo:
“Anel de 2.000 anos que pode ter sido de Pôncio Pilatos é
identificado. Artefato foi encontrado na década de 60,
mas só agora inscrições foram reveladas”
(Folha de São Paulo, 3 de Dezembro de 201865)
“Templo de 3 mil anos descoberto em Israel põe em
xeque textos da Bíblia. Segundo especialistas, edifício
religioso data da mesma época que o Templo de Salomão,
em Jerusalém, o único que podia ser usado pelos fiéis da
época, de acordo com o Livro Sagrado”
(Revista Galileu, 05 de Fevereiro de 202066)
Ambas as chamadas acima são bastante corriqueiras nos meios de
comunicação. Esse tipo de matéria quase sempre usa e abusa de um tom
sensacionalista com o intuito de tentar responder a seguinte
problemática: os textos bíblicos teriam veracidade histórica? Para isso a
descoberta arqueológica é colocada como decisiva para se apontar uma
solução.
Esse tipo de reportagem também revela a concepção que o senso
comum tem do que é a Arqueologia, ou melhor, de para que ela serve,
que é: a cultura material comprovando toda a documentação literária, em
especial com eventos ou personagens situados na Antiguidade67, como é
o caso do Cristianismo e do Judaísmo.
Essas ideias sobre o que se convencionou em chamar de Arqueologia
Bíblica também esbarram na história do campo, quando no transcurso do
século XIX e nas primeiras décadas do XX indivíduos de diferentes
países ocidentais, em sua maioria europeus, se lançaram a regiões do
Norte da África, Israel e Ásia Menor com o intuito de “localizar lugares
mencionados na Bíblia e mapear a geografia da região” (Clíne, 2009:
13).
Neste sentido, enquanto área a Arqueologia Bíblica foi gestada dentro
de um cenário de:
(i) Ambiente racionalista em que se enfatizava um forte ordenamento
da natureza e uma erudição bem organizada que aderisse a metodologias
bem definidas para testes e verificação;
(ii) Profundas críticas à religião e à infalibilidade bíblica e da Igreja,
haja vista que a Igreja, a religião e as definições convencionadas sobre a
vida foram agregadas como um dos novos objetos de análise dos
estudiosos. Até então esses elementos eram considerados como não
verificáveis. Isso propiciou, no momento de criação da disciplina, uma
nova forma de estudar a Bíblia, evidenciando por meio da cultura
material a comprovação de suas narrativas;
(iii) O Oriente como espaço de constante interesse do Ocidente por ser
o berço do Cristianismo. Isso nos permite traçar paralelos com as
Cruzadas, em que discursos e campanhas foram criados como pretexto
para a invasão dessas regiões, que estavam nas mãos dos “infiéis”68. Em
contexto de Modernidade, o principal meio de validação foi a pauta
científica que visava a localizar os sítios neo e veterotestamentários, ao
estudo do solo e seu potencial mineral, à investigação do modo de vida
da população local e à averiguação de novas rotas comerciais entre o
Ocidente e o Oriente (Silberman, 1982: 4-5).
II. Assim, podemos afirmar que as bases da Arqueologia Bíblica se
inserem dentro de um recorte específico: a Modernidade e a formação de
discursos fundamentalistas em defesa da fé cristã. Isso nos leva ainda à
necessidade de nos questionarmos e buscarmos compreender melhor
quais foram as intenções e os interesses desses exploradores e de seus
patrocinadores. Boas pistas nesse quesito nos foram dadas,
respectivamente, por William Frend (1996: 91) e Gabriela Rodrigues
(2001: 1):
Se a história da pesquisa arqueológica nos sítios cristãos
primitivos no Norte da África é exclusivamente uma
história da França e de ambições e estudos franceses, o
estudo de remanescentes similares na Ásia Menor foi
dividido por franceses, australianos e alemãs, bem como
franceses.
O contexto político de surgimento dessa disciplina
relaciona nacionalismo, imperialismo, colonialismo.
Trata-se de um período em que os recém-constituídos
Estados nacionais se aproveitaram das histórias de glória
dos Impérios do passado para constituir as suas próprias
memórias.
Como se percebe acima, ambos os autores nos atentam para uma
íntima relação estabelecida entre os Estados nacionais modernos e a
cultura material, isto é, o passado como elemento legitimador da
História daquela nação. Esse dado nos remete ao conceito de tradições
inventadas, que pode ser resumido da seguinte maneira (Hobsbawm,
2006 (1983): 9):
Por ‘tradição inventada’ entende-se um conjunto de
práticas, normalmente reguladas por regras tácita ou
abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou
simbólica, visam inculcar certos valores e normas de
comportamento através da repetição, o que implica,
automaticamente; uma continuidade em relação ao
passado.
Assim, o conceito de tradição inventada nos permite vislumbrar os
usos da Arqueologia Bíblica no seu contexto de formação:
(a) O Oriente como o provedor de fontes culturais, religiosas e
linguísticas capazes de definir Ocidente “com sua imagem, ideia,
personalidade, experiência contrastantes” (Rodrigues, 2011: 6):
As primeiras intervenções arqueológicas foram realizadas por
teólogos, religiosos e engenheiros, primariamente, interessados em
localizar os ambientes mencionados na Bíblia e mapear a geografia da
região, como foi o caso do pastor americano Edward Robinson (1856:
31), que em diário de viagem comentou:
(…) Meu primeiro motivo fora a simples recompensa de
sentimentos pessoais. Como no caso da maioria dos meus
compatriotas, em especial, da Nova Inglaterra, as cenas da
Bíblia deixaram uma profunda impressão sobre minha
mente desde a mais tenra idade; e, depois, nos anos da
maturidade, a história da raça humana. De fato, em
nenhum país do mundo, talvez esteja mais amplamente
difundido tal sentimento do que na Nova Inglaterra. Em
nenhum país, são as Escrituras mais bem conhecidas ou
estimadas em maior grau. Desde os primeiros anos, a
criança de lá é acostumada não apenas a ler a Bíblia para
si; mas também ler ou ouvi-la nas preces matinais e
vespertinas da família, todos os dias na escola do
povoado, na escola dominical e na aula de Bíblia, e nos
ministérios semanais do templo. Donde, tão logo ela
cresça, os nomes Sinai, Jerusalém, Belém, a Terra
Prometida, vêm associados a suas mais tenras recordações
e seus sentimentos mais sagrados. Com tudo isso, no meu
caso, aí veio, em seguida, a se juntar um motivo
científico. Eu considerei por muito tempo a preparação de
uma obra de Geografia bíblica; e desejei satisfazer-me
com observações pessoais no tocante a diversos pontos
sobre os quais não pude encontrar nenhuma informação
nos livros dos viajantes.
Nesse sentido, eles tiveram um comportamento análogo aos
arqueólogos e cientistas sociais do século XIX, que escavaram
localidades italianas e gregas com textos clássicos com o intuito de
comparar os achados com a documentação literária, de forma a validar o
discurso textual e levando ao estabelecimento de Escolas de Arqueologia
na Europa Ocidental69. em outras palavras, a esperança desses
missionários era provar que Lucas, por exemplo, era tão histórico quanto
Homero.
Ao fazer tal operação, esses exploradores estariam garantindo a
“limpeza” dos remanescentes materiais e espaciais judaico-cristãos
deteriorados ou islamizados. Assim eles estariam retomando algo que
seria seu por direito cultural-religioso, uma vez que essas áreas
escavadas eram altamente islamizadas desde o projeto desastroso do
imperador Romano IV de expansão territorial para o leste na Armênia,
que levou à sua derrota decisiva frente aos turcos otomanos em
Manzikert. O resultado foi uma completa mudança da vida religiosa e
política, em que, gradualmente, entre os séculos XII e XIII, os otomanos
e seus aliados turco-otomanos seminômades assumiram localidades
anteriormente cristãs, penetrando como uma maré humana, isolando70 e
destruindo cidades e vilas cristãs outrora prósperas. Quando
Constantinopla caiu, em 1453, regiões como a Ásia Menor já haviam
passado do cristianismo para o islã.
Em outras palavras, todos os exploradores envolvidos em mapear as
áreas mencionadas na literatura neo e veterotestamentárias buscaram
encontrar mecanismos que validassem um remanescente material como
judaico ou cristão. No caso daqueles que escavaram a Palestina, o que se
observou foi uma preocupação em reconhecer os processos de mudança
fonética pelos quais os topônimos árabes modernos correspondentes
passaram. Em suas análises, eles incorporavam desde o estágio de
contato entre as duas línguas até a entrada, por empréstimo, “dos antigos
topônimos hebraicos na língua árabe antiga e, dessa última, por evolução
fonética, até a sua forma moderna” (Rodrigues, 2011: 34), sendo isto
peça-chave para a correta identificação, segundo eles, de cidades
bíblicas:
(…) Os nomes hebraicos dos lugares continuaram
correntes em sua forma arameia muito tempo depois do
período do Novo Testamento e se mantiveram na boca
das pessoas simples, a despeito do esforço feito por
gregos e romanos para suplantá-los por outros derivados
de suas próprias línguas. Depois da conquista maometana,
quando a língua arameia aos poucos deu lugar ao
aparentado árabe, os nomes próprios dos lugares, que os
gregos jamais conseguiram curvar à sua ortografia,
encontraram aqui uma rápida aceitação e, desde então,
continuam a viver sobre os lábios dos árabes, seja cristão
ou muçulmano, citadino ou beduíno, invariavelmente até
os nossos dias, quase na mesma forma em que também
nos foram transmitidos nas Escrituras hebraicas.
(Robinson and Smith, 1856: 255)
De forma similar atuaram os exploradores voltados para os
remanescentes materiais do cristianismo antigo. Trabalhos como
Historical Geography of Asia Minor (1890), de W. M. Ramsay,
enfatizaram a necessidade de conhecer o contexto de avanço e de
declínio das instituições do império bizantino para poder “polir” a
gradual islamização da Ásia Menor entre os séculos XII e XIII. Com
isso, seria possível acessar o que seria “puramente” grego e estabelecer
paralelos culturais, linguísticos e imagéticos com o “sistema de vida
cristão” medieval, que seria um perpetuador do modelo cristão
primitivo.
Cabe ainda ressaltar o aspecto missionário desses religiosos
(pincipalmente protestantes), como foi o caso das instituições inglesas
Church Missionary Society (CMS)71 e a London Jews Society72, que
também enviaram diversos missionários para a Palestina, Norte da
África e Ásia Menor com o intuito de promover a salvação e o retorno
dos povos no interior das regiões otomanas à educação, à religião (como
foi o caso dos cristãos coptas) e aos costumes ocidentais. Por suas
práticas, ambas as instituições incomodaram bastante as autoridades
locais e o Vaticano; a primeira ao distribuir a mulçumanos Bíblias
traduzidas, e a segunda por ter fomentado a conversão de judeus ao
cristianismo como mecanismo de restauração da Palestina e a
“promoção do bem-estar espiritual dos judeus” (Frey, 1851: 2, Apud
Smith, 1981: 276).
Neste sentido, elas se inserem dentro de um quadro maior em que
grupos cristãos protestantes, sobretudo os imersos em um discurso
milenarista, acreditavam que regiões como Jerusalém deveriam estar
preparadas para o retorno do messias (Silberman, 1982: 30):
Nos anos seguintes, o número de viajantes cresceu
consideravelmente, mas esse ímpeto exploratório não era
mais o carro-chefe. Missionários protestantes,
preocupados com a situação dos cristãos na Terra Santa,
promoveram a maioria das viagens do período. No fim do
século XVIII, havia, entre alguns protestantes, uma crença
de que o fim do mundo se aproximava. O lançamento do
livro The Signs of the Times, do clérigo anglicano James
Bicheno, em 1792, teria acentuado as preocupações
milenaristas, e a Terra Santa, palco central do
Armagedom, deveria estar preparada para a volta de Jesus
Cristo (1982: 28-30). A onda de exploração que se seguiu
à invasão de Napoleão à Palestina mostrou claramente o
quanto permanecia por ser feito lá, se a Jerusalém Celeste
houvesse, de fato, de se manifestar dentro do curso da
existência atual. Os relatos dos primeiros exploradores
confirmaram cada detalhe da pobreza, da opressão e das
garras aparentemente intratáveis da ignorância que
recaíam sobre toda a população do país. Não apenas os
muçulmanos “fanáticos” e os judeus “cabeças-dura”
teriam de ser convertidos, mas também os cristãos locais,
amarrados aos ensinamentos dogmáticos das Igrejas
católica e ortodoxa.
(b) O assenhoreamento do passado por nações, principalmente,
europeias:
Em 1865 foi criado o Fundo de Exploração da Palestina (FEP), com
sede em Londres, logo após a conclusão do Ordnance Survey of
Jerusalem. Tinha como objetivo a exploração e o registro das
características da topografia e etnografia da Palestina Otomana, o que
levou ao projeto Survey of Palestine, que tinha como missão pesquisas
expedicionárias e coleta de informações militares. A equipe era
composta por engenheiros reais (provenientes do Gabinete de Guerra do
governo britânico) e seus integrantes tinham obrigação de enviar
relatórios quanto à necessidade de recuperação e modernização da
região.
Mais claramente, as pesquisas financiadas pelo FEP pretendiam
mapear a geografia de toda a Palestina, pois como declarou o arcebispo
de York na reunião inaugural do fundo em 1865: “Este país da Palestina
pertence a você e a mim, é essencialmente nosso. (...) Queremos
caminhar pela Palestina, em toda a extensão, porque essa terra nos foi
dada.” Além disso, o arcebispo utilizou como justificativa e explicações
para o FEP o seguinte argumento: “Se você realmente quer entender a
Bíblia, você deve também entender o país em que a Bíblia foi escrita
pela primeira vez”.
De igual forma foi o patrocínio feito pelo também fundo britânico
Asia Minor Exploration Fund (“Fundo de Exploração da Ásia
Menor”), as pesquisas de W. M. Ramsay. A ideia de Ramsay era tecer
um trabalho detalhado de remanescentes materiais e reconhecimento
geográfico no terreno do império otomano, principalmente depois do
Tratado de Berlim73 (1878), com o intuito de entender a personagem
Paulo e a missão da igreja primitiva. Seus resultados tiveram profundo
impacto sobre católicos e protestantes de toda a Europa, levando à
construção e consolidação de uma leitura universal cristã sustentada até
1894, quando se instaurou uma acalorada disputa entre católicos
franceses e protestantes alemães quanto à igreja de Roma e aos aspectos
“pagãos” encontrados nas epígrafes descobertas por Ramsay.
O fato é que as motivações de ambos os fundos britânicos ao
patrocinar exploradores e pesquisadores para áreas de domínio otomano
evidenciam um breve resumo do aspecto religioso das intenções dos
britânicos (Cline, 2009: 15-16).
(c) A cultura material como instrumento do discurso colonialista por
parte de nações ocidentais para obtenção e permanência de ocupação de
territórios do Oriente74:
Contudo, não podemos nos limitar aos aspectos religioso e
nacionalista dos incentivos realizados, sobretudo, por fundos europeus,
haja vista as crescentes disputas por território entre a Grã-Bretanha e a
França em contexto de estágio inicial de colapso do Império Otomano.
Isto é, motivações geopolíticas levaram os britânicos a criarem caminhos
por meio da exploração da Palestina a fim de obter uma vantagem
geográfica75 sobre a França, que também enviou para a região em 1867 o
epigrafista Charles Clermont-Ganneau, que diferentemente dos
americanos e britânicos estava mais interessado nos escritos antigos do
que em arquitetura ou geografia.
Outro aspecto que deve ser observado é como as nações europeias
formaram coligações com as autoridades locais como mecanismo de
garantir e expandir suas fronteiras. Esse foi o caso das viagens do pastor
americano Robinson, que beneficiaram a presença egípcia na Palestina e
as reformas proclamadas pelo governo otomano em 1839, as chamadas
Tanzimat. Em 1841, os Impérios Britânico e Austríaco ofereceram
ajuda militar, o que permitiu a vitória otomana sobre Mohammed Ali e a
reconquista do território Palestino. Em troca, aproveitaram para estender
seu poder no Oriente Próximo e ameaçar a França, ligada ao Egito, na
disputa pelo Canal de Suez (Silberman, 1982: 46).
Como resposta a pressões internas e externas foram mantidas, durante
o Tanzimat, as medidas egípcias em prol das igualdades legal e social
(incluindo não muçulmanos). Apesar de isso não ter implicado no fim
dos impostos estatais para cristãos e judeus, houve nesse mesmo
contexto a nomeação de cônsules europeus em Jerusalém e uma rápida
expansão de seus poderes. Eles eram tão influentes quanto um paxá
(governador de província otomana), detendo direitos legais e
administrativos sob a sua jurisdição. Nesse sentido, esses cônsules eram
mais poderosos que os europeus instalados nos portos de Jaffa e Haifa,
que estavam limitados a questões comerciais.
O primeiro consulado foi o britânico, em 1838, e depois dele
rapidamente surgiram representantes da Prússia, França, Estados
Unidos, Áustria, Rússia, Itália, Espanha, Grécia e Pérsia. A presença
desses países e a crescente disputa entre eles resultaram em profundas
modificações nas estruturas políticas, sociais e econômicas do Império
Otomano, acelerando o processo de perda de seus territórios.
Tais reduções são tão expressivas que ao compararmos as perdas
ocorridas entre os anos de 1807 e 1829 e as estabelecidas na década
1830 o que se consta é que as reduções mais do que dobraram, alterando
assim significativamente o quadro geopolítico e inclusive ampliando as
áreas limítrofes do continente europeu. Este foi o caso da Tessália, que
passou a pertencer à Grécia em 1881 após longas negociações.
A partir disso, britânicos e alemães começaram a intervir a favor dos
protestantes e dos judeus palestinos. Os russos, por sua vez, pelos gregos
e os árabes ortodoxos, que reivindicaram as possessões da Igreja
Ortodoxa local. Por fim, os franceses, principalmente, pela Igreja
Católica. Com o Tratado de Berlim os franceses foram oficialmente
nomeados “protetores” da Igreja Católica Romana na Palestina.76 Cabe
aqui acrescentar que, embora Jerusalém não fosse uma área importante
para o governo otomano, essa cidade se viu como o centro de interesses
europeus e foi por excelência o palco das transformações.
Neste sentido, nos parece ser possível afirmar que a força motriz da
Arqueologia Bíblica era a “fé religiosa” (Rodrigues, 2017: 97), uma vez
que o passado, inventado, recriado e adaptado, foi empregado como
discurso legitimador dos elementos que compunham os Estados-Nação
ocidentais: a democracia e o Cristianismo. Em outras palavras, “se
Grécia e Roma antigas foram escolhidas como as raízes clássicas da
civilização ocidental, a Palestina, ou melhor a “Terra Santa” tornou-se a
fonte espiritual” (Rodrigues, 2017: 100).
Exposto isso, nos voltaremos agora para um estudo de caso: a
descoberta da cidade de Dura-Europos (e nela da primeira casa-igreja)
na década de 1920. Nosso intuito, mais claramente, será observar de que
maneira as expedições, a literatura produzida e as ações do governo
francês sobre o território sírio configuram claros exemplos dos usos da
Arqueologia Bíblica, descritos anteriormente. Em outras palavras, nossa
preocupação a seguir será de demonstrar como Dura-Europos pode
servir de modelo para se perceber que na gênese da Arqueologia Bíblica
ocorreu um forte vínculo com um ambiente religioso, empresarial e
político imperialista, ou como colocou Gabriela Rodrigues (2011: 7),
nosso objetivo será:
(...) explorar o contexto de diversidade de interesses em
que a disciplina foi se constituindo, motivada ora por
potências imperiais buscando tesouros, grupos religiosos
esforçando-se para comprovar materialmente a Bíblia, ao
mesmo tempo em que promoviam a evangelização de
“pagãos”, céticos tentando promover a laicização da
disciplina, grupos políticos procurando justificar seu
direito à terra.
III. Dura-Europos, a cidade-forte romana, foi descoberta em 1920 por
uma companhia militar britânica que encontrou uma parede com um
afresco (mais tarde conhecido como o templo “dos deuses de Palmira”)
enquanto marchava para a sede em Abou Kemal. A assistência
arqueológica foi rapidamente solicitada pelos militares e o arqueólogo
americano James Henry Breasted (orientalista da Universidade de
Chicago) foi designado para lá. Em cinco dias, em conjunto com os
militares, ele escavou o afresco de Konon e identificou as ruínas como
as de Dura a partir de uma outra pintura. A escavação, ainda que curta,
rendeu uma publicação em que Breasted comparou o estilo das pinturas
descobertas com dois mosaicos da Basílica de San Vitale, em Ravenna,
considerados grandes ilustrativos do estilo bizantino na época de
Justiniano. Mais claramente, por meio do rigor da frontalidade das
figuras, vestuários estilizados, olhos fixos e ornamentos luxuosos,
Breasted chegou à conclusão que Dura seria um primeiro elo entre a arte
helenístico-romana do Oriente Antigo e a arte bizantina do sexto século
(Hopkins, 1979: 3-4; Kaizer, 2016: 2).
Após o sucesso da obra, a Académie des Inscriptions et Belles-Lettres
organizou uma expedição entre os anos de 1922 e 1923 para Dura77 sob
a supervisão científica de Franz Cummont, contando com destacamento
militar francês e membros da própria academia de inscrições. O objetivo
era explorar, copiar e relatar as pinturas surpreendentes encontradas pela
primeira vez pelas tropas britânicas. Em suas duas curtas temporadas
trabalhando com tropas do exército, Cummont completou o trabalho no
templo dos deuses de Palmira (o edifício que continha as pinturas).
Além disso, ele escavou uma torre adjacente que fazia parte do muro da
cidade, alguns túmulos, revelou um templo dedicado a Zeus Theos no
meio da cidade e explorou um edifício fortificado com traços
helenísticos. Em 1926 Franz Cummont publicou os resultados da
escavação no livro Fouilles de Doura-Europos (Hopkins, 1979: 17-22).
Com o fim da Revolta de 1925 e 192678 foram retomadas as
expedições, mas em parceria entre franceses e americanos, mais
especificamente entre a Universidade de Yale e a Academia Francesa.
Foram realizadas oito campanhas entre os anos de 1928 e 1937.
Em todas as expedições boa parte da equipe era composta por
beduínos e armênios livres, que aparecem em muitas das fotografias de
campo (Figuras 1 e 2).
Jefferson Ramalho
Para estudarmos aquilo que temos identificado como a primeira
expansão do fundamentalismo protestante, se faz necessário
retomarmos, mesmo que de maneira muito breve, alguns elementos que
compõem as identidades do protestantismo americano das primeiras três
décadas do século XX. Ao falarmos em protestantismo americano, não
fazemos referência apenas ao que ocorreria nos Estados Unidos da
América (EUA), mas em todo o continente, no que inclui Américas do
Norte, Central e do Sul. Mas, para a reflexão que propomos é importante
delimitarmos nosso campo de observação. Por isso nos concentraremos
naquilo que se sucederia nos EUA e, como efeitos diretos, no cenário
religioso brasileiro. Apenas assim a nossa leitura fará sentido para
nossos dias e contextos.
Outro esclarecimento inicial, de ordem metodológica, correspondente
à delimitação em nossa abordagem. Se vamos tratar do contexto cristão
e, em particular, do protestantismo, não nos atentaremos, ao menos no
presente trabalho, em questões relativas aos fundamentalismos vistos em
outros universos religiosos, tais como o judaico, o islâmico, o hindu ou
mesmo o católico-romano. Para tanto, há importantes e detalhadas
pesquisas a respeito, já publicadas no Brasil, tais como as obras de
Karen Armstrong (2001) e Pedro Lima Vasconcellos (2008). Neste
capítulo, então, nosso objeto de observação se limitará em verificar
algumas expressões fundamentalistas protestantes.
1 A gênese do Fundamentalismo no Protestantismo estadunidense
O Fundamentalismo religioso e, em particular, o de matriz protestante,
não se trata de um tema novo. Já existe muito publicado a respeito,
mesmo no Brasil, tanto por autores brasileiros como por estrangeiros
traduzidos para a nossa língua. Não queremos, portanto, como se diz
popularmente: “chover no molhado”. Faremos, sem dúvida, uma
retomada de leitura em obras importantes, mas queremos concentrar
nossos esforços em efeitos atuais daquilo que começou a ser gerado com
a expansão fundamentalista dos anos 1930 a 1950.
Já sabemos que o pontapé inicial do fundamentalismo protestante se
deu com a reação ao liberalismo teológico originado e consolidado na
Alemanha do século XIX. As obras dos teólogos liberais começavam a
atravessar o Atlântico e, ao que tudo indicava, desembarcariam e
conquistariam os EUA logo nos primeiros decênios do século posterior.
Igrejas e seminários de diferentes denominações começaram a receber
influência da também chamada teologia liberal; professores de
seminários protestantes estadunidenses importavam pensamentos de
reconhecidos teólogos críticos do século XIX e início do XX como
Friedrich Schleiermacher, David Friedrich Strauss, Julius Wellhausen e
Adolf von Harnack. Esse diálogo com a modernidade que a teologia
liberal travara parecia um caminho sem volta, representando um fator
bastante positivo para a atualização de estudos bíblicos e dogmáticos
(Gibellini, 1998: 13-20; Tillich, 1999), caso não acontecessem reações
impetuosas tanto na Europa como aquela que causaria maior impacto,
nos EUA.
Em linhas gerais, a teologia liberal priorizava uma reflexão crítica que
relativizaria a tradição dogmática cristã, em especial aquela concernente
às questões cristológicas, além de uma hermenêutica histórico-crítica e
os seus respectivos resultados em estudos das narrativas bíblicas e, por
fim, um olhar ético da religião cristã. Tendo como antecedentes
intelectuais as filosofias de Immanuel Kant e Friedrich Hegel, bem como
a teologia e o método hermenêutico do já citado Schleiermacher, a
teologia liberal propunha uma interpretação mais racionalista dos textos
bíblicos e também teria como proeminentes os teólogos Albrecht
Ritschil e Ernst Troeltsch (Gibellini, 1998: 19; Mondin, 2003:24-29).
A reação europeia à teologia liberal, porém, nasceria da pena de
intelectuais como Karl Barth e Emil Brunner, que protagonizariam o que
seria conhecido como neo-ortodoxia, uma espécie de teologia crítica que
ao mesmo tempo não teria rompido com os parâmetros próprios da
tradição reformada (Tillich, 1999: 215-246); na esteira desses teólogos
da neo-ortodoxia podemos também incluir os estudiosos Rudolf
Bultmann (Gibellini, 1998: 33-56) e Paul Tillich (Mondin, 2003: 103-
133). Esses estudiosos, de certa maneira, eram herdeiros da tradição
protestante originada no século XVI, mas se formaram a partir da
teologia liberal da segunda metade do século XIX, unindo, portanto,
crítica teológica e bíblica às suas profissões de fé e à devoção religiosa
particular. Eram teólogos!
A reação ao liberalismo teológico de maior impacto não seria,
contudo, aquela resultante das eruditas obras de Barth, Brunner e
Bultmann, mas aquela nascida pouco antes nos EUA a partir da
publicação, entre 1909 e 1915, de um volume composto por doze
panfletos intitulados The Fundamentals: a testimony to the truth [Os
Fundamentos: um testemunho em favor da verdade]109, formulado por
estudiosos conservadores como Reuben Archer Torrey, James Orr e
Amzi Clarence Dixon como ampliação de ideias desenvolvidas por
alguns presbiterianos que lecionavam na Universidade de Princeton. A
produção e a distribuição dos panfletos The Fundamentals seriam
financiadas pelos irmãos e empresários do setor petrolífero Milton e
Lyman Stewart, fundadores do Bible College, em Los Angeles. Cerca de
três milhões de exemplares desses panfletos foram distribuídos de forma
gratuita em igrejas e seminários dos EUA, objetivando alcançar, a
princípio, pastores, professores e fiéis a fim de, por meio deles, combater
de maneira maciça a disseminação da teologia liberal em terras
estadunidenses (Armstrong, 2001: 199).
Há que se destacar que para estudiosos como Prócoro Velasques
Filho, os panfletos conhecidos como The Fundamentals não podem ser
considerados “a origem do movimento fundamentalista.” (1990: 122)
Nessa obra escrita em parceria com Antônio Gouvêa Mendonça,
intitulada Introdução ao Protestantismo no Brasil, Prócoro procura
apresentar diferenças e aproximações entre o que chama de
fundamentalismo e o que seria apenas o conservadorismo. A propósito,
marcado por uma peculiar rigidez e uma intolerância que tipificariam o
chamado fundamentalismo, este não seria mais que uma das principais
variações do protestantismo conservador. Mais à frente, porém, o
próprio Prócoro diria que “a corrente sob influência da escola teológica
de Princeton, que priorizava a pureza doutrinária em relação à
experiência religiosa, constitui-se em matriz do que veio a ser
posteriormente o movimento fundamentalista.” (Mendonça; Velasques
Filho, 1990: 123)110
Em linhas gerais, a obra The Fundamentals, além de atacar tanto a
grupos religiosos específicos como católicos, mórmons e testemunhas de
Jeová como ao avanço da ciência biológica evidente na teoria da
evolução, de Charles Darwin, e a ciências mais flexíveis visíveis em
diferentes correntes como o ateísmo e o socialismo, tinha como maior
objeto de preocupação tecer críticas à teologia liberal por meio da
afirmação de cinco princípios (ou fundamentos) inegociáveis da doutrina
cristã protestante herdeira da Reforma do século XVI e, em grande
medida, até mesmo da Patrística. Os cinco fundamentos seriam: 1) a
infalibilidade e a inspiração das chamadas Sagradas Escrituras, ou seja, a
Bíblia Sagrada composta por Antigo Testamento e Novo Testamento; 2)
A divindade de Jesus de Nazaré reconhecido como Messias (Cristo); 3)
O nascimento virginal de Jesus de Nazaré, gerado no ventre de Maria
por obra do Espírito Santo; 4) A remissão dos pecados dos seres
humanos por meio da crucificação de Jesus de Nazaré e 5) A
ressurreição de Jesus de Nazaré como acontecimento no tempo e no
espaço bem como a sua volta factual no fim dos tempos. Conjuntamente
defendia-se que havia uma historicidade, uma realidade objetiva dos
milagres operados por Jesus, segundo as narrativas dos chamados
evangelhos. De maneira geral, esses eram os pilares, ou seja, os
fundamentos inegociáveis da fé cristã de protestantes que não se
identificavam com o diálogo proposto pela teologia liberal com as
ciências de seu tempo e a filosofia pós-iluminista (Vasconcellos, 2008:
26-28).
Armstrong entende que um dos episódios que impulsionariam esse
processo que resultou na formulação dos panfletos The Fundamentals
teria sido o discurso “O futuro da religião” proferido em 1909, pelo
professor emérito da Harvard University, Charles Eliot. Graças à
influência exercida pela teologia liberal em muitos protestantes
estadunidenses, estes estavam aos poucos se voltando muito mais para as
propostas de tendências como as do chamado Evangelho Social, de
Walter Rauschenbusch, que se resumia no ato de servir ao próximo, e se
distanciando das práticas litúrgicas, na crença tradicional em relação à
chamada teologia do pecado e até mesmo da necessidade de se afirmar
como adeptos de uma religião detentora da verdade. Logo, segundo
Eliot, em pouco tempo não haveria mais qualquer necessidade de se
existir igrejas, cultos, liturgias e tudo o que costuma estar relacionado a
tais categorias. Assustados com essa possibilidade, os cristãos
conservadores reagiram e trataram de formular os referidos The
Fundamentals (Armstrong, 2001: 198).
Outro episódio de grande importância em meio a todo esse cenário de
conflitos que resultariam na afirmação dos tais fundamentos e no
combate enviesado à visão crítica que os teólogos liberais propunham,
seria o chamado “Caso Scopes”. Em 1925 o até então desconhecido
biólogo e professor John Scopes seria julgado e condenado em Dayton,
nos EUA, por ter transgredido a uma lei que vigorava em diferentes
estados do país. Scopes teria ensinado a teoria da evolução em
detrimento da crença judaico-cristã na criação narrada no livro bíblico
do Gênesis, segundo a qual Deus teria, em sete dias, criado o ser
humano conforme sua imagem e sua semelhança e a todas as outras
coisas e seres que compõem a natureza. Como punição, Scopes teve de
pagar uma fiança, a qual seria depois assumida por uma entidade ligada
à defesa das liberdades civis, chamada American Civil Liberties Union.
Obviamente, a condenação de Scopes teria amplo apoio das diversas
igrejas e instituições cristãs que se identificavam com aqueles
fundamentos publicados nos panfletos The Fundamentals (Vasconcellos,
2008: 19-21; Armstrong, 2001: 205-207).
2. Expressões fundamentalistas protestantes a partir dos anos 1930
Já deixamos sinalizado que nosso recorte temporal compreende das
décadas de 1930 a 1950. É importante lembrar, portanto, que em se
tratando de EUA, além de todo esse embate protagonizado por
protestantes fundamentalistas contra aquela teologia liberal acusada de
levar muitas igrejas europeias à ruína, cresciam ainda discretamente à
margem social grupos protestantes não muito dedicados às questões
teológicas. Referimo-nos ao recém-nascido pentecostalismo. As
primeiras igrejas pentecostais seriam décadas depois as grandes
responsáveis por fortalecer e preservar o mesmo fundamentalismo
teológico apresentado nos panfletos The Fundamentals. Outras questões
e motivações de ordens políticas, econômicas, científicas, sociais e até
religiosas – o ecumenismo viria a ser uma delas – levariam lideranças
pentecostais a assumirem as mesmas doutrinas contrárias à teologia
liberal no início do século, e, a partir dos anos 1960 contra outras
tendências diversas que, em linhas gerais, colocariam em dúvida os
mesmos pressupostos daqueles panfletos. Por ora, contudo, os referidos
pentecostais construíram suas histórias dando ênfase à crença nos
chamados batismo com o Espírito Santo e cura divina, quase sempre à
margem dos demais protestantes, os históricos (Mendonça; Velasques
Filho, 1990: 11-59).
Enquanto maior elemento retórico dos fundamentalistas protestantes a
partir dos anos 1930 até fins dos anos 1950 destacaram-se as cruzadas
evangelísticas e a considerável capacidade dos pregadores evangélicos
de entrar nas casas das pessoas por meio do rádio e da televisão (Boff,
2002: 15). Eles eram marcados por um discurso enfático acerca do fim
dos tempos, da volta de Jesus e da chamada escatologia
dispensacionalista. Essa discursiva apocalíptica era herdeira das
conferências protestantes do final do século XIX nos acampamentos
bíblicos de Niagara Falls que reuniram teólogos e pastores dos EUA, do
Canadá e da Inglaterra entre 1883 e 1895, da fundação de seminários
como o de Dwight Moody, o Moody Bible Institute, em Chicago, no ano
1886, da publicação da The Scofield Reference Biblie pelo pastor Cyrus
I. Scofield no ano 1909, em Dallas, e, claro, da própria publicação dos
panfletos The Fundamentals (Vasconcellos, 2008: 25-31).
Era necessário expandir o discurso fundamentalista protestante; não
bastava expulsar os professores herdeiros da teologia liberal dos
seminários e das igrejas (Armstrong, 2001: 202). Em muitos desses
ambientes, mesmo depois da condenação de Scopes, haveria influente
presença de cristãos adeptos das perspectivas teológicas liberais e até
mesmo da teoria evolucionista. Para citarmos um caso, podemos lembrar
daquilo que ocorreria com professores do Seminário Presbiteriano de
Princeton que, identificados com os pressupostos dos panfletos The
Fundamentals, preferiram sair daquela instituição, àquele momento
predominantemente liberal e crítico, para fundar o Seminário de
Westminster, contrário à crítica bíblica. Além desse e de outros
seminários que trataram de compor um corpo docente mais conservador
em matéria de teologia e de exegese bíblica, ganhavam força e forma
diversas iniciativas, reunindo em eventos e congressos milhares de fiéis
e lideranças provenientes das mais diferentes igrejas protestantes
(Geering, 2009: 15-20).
É importante salientar que a condenação de Scopes explicitou a
postura rígida e inflexível dos fundamentalistas, de tal maneira que esse
episódio não significou a censura dos adeptos da teologia liberal em
ambientes eclesiásticos. Teólogos liberais, ao contrário, assumiriam, em
certa medida, a frente de muitas igrejas locais, além de influenciarem a
formação teológica até de seminários católicos. A abertura, a atualização
(aggiornamento) e o diálogo ecumênico, que seriam propostos a partir
do Concílio Vaticano II, refletem bastante essa influência exercida, antes
de qualquer coisa, pela originalmente protestante teologia liberal. O fato
é que com o “Caso Scopes”, o liberalismo teológico não morreu em sua
proposta de diálogo amplo com as ciências, mas tampouco morreu o
fundamentalismo. Este, contudo, teve de se reinventar rapidamente
(Armstrong, 2001: 206-211).
O pentecostalismo, acerca do qual iniciamos o presente tópico, ainda
representava no final dos anos 1920 e início dos anos 1930, como afirma
Armstrong, (2001: 2008) uma espécie de
rejeição popular da modernidade racional do Iluminismo.
Enquanto os fundamentalistas retornavam ao que
consideravam a base doutrinal do cristianismo, os
pentecostais, que não se interessavam por dogmas,
remontavam a um nível ainda mais fundamental: a
essência da religiosidade primitiva que ultrapassa as
formulações de um credo.
Por esse motivo, o pentecostalismo não só alcançava as camadas mais
pobres e iletradas da sociedade, que era público minoritário nas igrejas
históricas, marcadas pela presença de pessoas mais elitizadas e
estudadas, como também se revelava como uma nova face do
fundamentalismo, uma vez que se negava, à sua maneira, dialogar com a
ciência e, da mesma forma, passava longe de qualquer aproximação das
correntes filosóficas modernas. Aliás, se havia uma coisa que não
interessava ao pentecostalismo era filosofia. Em amplo diálogo com
Harvey Cox (1995: 81), Armstrong (2001: 208-210) nos ajuda a
observar que, enquanto os fundamentalistas clássicos tentavam obter
certa cientificidade para seus discursos teológicos, atribuindo à
experiência religiosa quase que uma identidade de caráter racional, os
pentecostais se preocupavam com a experiência do sentimento, da
mística, da espiritualidade e do êxtase (Mendonça; Velasques Filho,
1990: 46-55).
Acusados por muitos fundamentalistas de serem fanáticos e
supersticiosos, ainda que também exista o que podemos chamar de uma
teologia pentecostal (Bonino, 2002: 59-61), os pentecostais tiveram de
começar a encontrar uma afirmação de sua identidade. Para não mais
serem considerados “o último vômito de Satã” (Cox, 1995: 75) e para
também não serem associados aos liberais, nem considerados sectários,
os pentecostais, com o passar dos anos, optaram por “aderir à linha-dura
dos fundamentalistas e deixariam de dar primazia à caridade”
(Armstrong, 2001: 211), passando a se identificar, ainda que muito
superficialmente, com as bases doutrinárias dos panfletos The
Fundamentals.
Embora os protestantes adeptos da teologia liberal estivessem
presentes, por vezes até liderando, nas congregações locais, havia um
considerável número de protestantes adeptos da teologia de matriz
fundamentalista. Foi nesse contexto que ganharia força o discurso
escatológico pré-milenarista e a crença no chamado arrebatamento da
igreja, propagado por meio de pregações transmitidas em programas de
rádio e em emissoras de televisão e, é claro, de uma nova onda de
faculdades teológicas estadunidenses. Existia nos anos 1930 cerca de
cinquenta escolas de formação teológica e bíblica de orientação
fundamentalista ou, ao menos, conservadora. Eram ambientes nos quais
se rejeitava o estudo crítico da Bíblia. A tônica nesses seminários de
formação de pastores era: se a Bíblia é a Palavra inspirada por Deus, ela
não pode passar pelo crivo da crítica textual como se faz com outras
obras literárias. Somava-se a isso o surgimento de grandes instituições
de comunicação e publicidade. Alpha Rex Emmanuel Humbard e
Granville Oral Roberts, além do pregador batista Billy Graham, se
notabilizariam como os primeiros grandes televangelistas da metade do
século XX (Ammerman, 1991: 32-33).
As cruzadas evangelísticas que, na prática, seriam grandes
concentrações de pessoas em amplos espaços tais como parques e
estádios de futebol, representariam um marco dessa primeira importante
expansão do fundamentalismo protestante, sinalizando aquilo que o
escritor Lloyd Geering chamaria de “linha divisória evangélica” (2009:
60-62). Aliás, essas concentrações teriam sido a voz mais forte do
fundamentalismo protestante no período por nós delimitado, ou seja, as
décadas de 1930 a 1950.111 Sem dúvida, o nome de maior projeção desde
meados dos anos 1940 seria Billy Graham que, além de pastor batista e
pregador em grandes encontros religiosos nas mais diversas partes do
mundo, se tornaria conselheiro pessoal de diferentes presidentes
estadunidenses, desde Dwight D. Eisenhower e Richard M. Nixon a Bill
Clinton e George W. Bush (Graham, 1998; 2008).
Naquele contexto imediatamente posterior à II Guerra Mundial,
fundamentalistas cada vez mais se uniam para propagar suas mensagens
de conversão religiosa aos seus valores, ou seja, aos fundamentos da fé
cristã segundo as suas percepções. Como diz Armstrong, eles eram
pregadores que “se sentiam forasteiros, empurrados para a periferia da
sociedade, mas agora suas faculdades e emissoras lhes proporcionavam
um refúgio num mundo hostil.” (2001: 245) Unidos por uma ampla rede
que se formava através dessas emissoras, tanto de rádio como de
televisão, os fundamentalistas encontraram à época do pós-guerra um
grande desafio, mas ao mesmo tempo um terreno imenso e muito
propício para lançarem as suas sementes (Pace e Stefani, 2002;
Vasconcellos, 2008: 33).
Concomitantemente, os valores morais desse novo fundamentalismo
protestante de meados do século XX disseminava entre os crentes a
preocupação em preservar-se sexualmente até o casamento, em vestir
apenas roupas que não fossem causar algum tipo de escândalo e em
envolver-se socialmente apenas com pessoas que não prejudicassem sua
espiritualidade. Esse extremismo, em particular, fez brilhar os olhos de
líderes pentecostais que, de modo radical, por décadas, proibiriam as
mulheres de usarem calças e maquiagens, além de não permitirem que
os fiéis tivessem televisão em suas residências, pois entendiam que esse
aparelho os desviaria de sua fé (Dreher, 2007: 241-244). Vemos, com
isso, que há ao mesmo tempo proximidade e distanciamento entre
fundamentalistas e pentecostais. Embora unidos pelos fundamentos
clássicos, enquanto os televangelistas se interessavam em conquistar a
sociedade por meio das pregações transmitidas via rádio e televisão, os
pentecostais ainda se manteriam muito resistentes a isso até começos dos
anos 1960.
O marco inicial desse cenário seria a Bob Jones University (BJU),
existente desde 1927 na Flórida, e que com o tempo se consolidaria na
Carolina do Sul a fim de combater o ateísmo, o agnosticismo, o
liberalismo teológico e o humanismo como chave de leitura bíblica. Em
finais dos anos 1940 e início dos anos 1950, a BJU se tornaria o maior
centro de formação de professores, pastores e pregadores estadunidenses
com profissão de fé fundamentalista. Caracterizaria sua formação a
busca por uma intensa autodisciplina em relação à fé, além de uma
formulada apologética no sentido de defender a chamada infalibilidade
bíblica e os fundamentos da fé cristã (Armstrong, 2001: 246).
A questão política também passava a ocupar aqueles ambientes
fundamentalistas. Aos poucos ficava claro que, para ser um cristão
conservador era inadmissível ser sequer simpatizante de qualquer
perspectiva próxima do chamado comunismo. Considerando que no
mesmo período funcionava na União Soviética um regime genocida
protagonizado por Josef Stalin, assassinando milhões de pessoas, tal
antipatia pelo comunismo nos parece justificável. Eric Hobsbawm
descreve com muita clareza o que foi esse período soviético:
Stalin, que presidiu a resultante era de ferro da URSS, era
um autocrata de ferocidade, crueldade e falta de
escrúpulos excepcionais, alguns poderiam dizer únicos.
Poucos homens manipularam o terror em escala mais
universal. Não há dúvidas de que sob um outro líder do
Partido Bolchevique os sofrimentos dos povos da URSS
seriam minimizados, e o número de vítimas menor.
Apesar disso, qualquer política de rápida modernização na
URSS, nas circunstâncias da época, tinha de ser
implacável e, porque imposta contra o grosso do povo e
impondo-lhe sérios sacrifícios, em certa medida
coercitiva. E a economia de comando centralizado que
realizou essa corrida com seus “planos” estava, de
maneira igualmente inevitável, mais perto de uma
operação militar que de um empreendimento econômico.
(...) Por mais difícil que seja de acreditar, mesmo o
sistema stalinista, que mais uma vez transformou
camponeses em servos presos à terra e tornou partes
importantes da economia dependentes de uma força de
trabalho de entre 4 e 13 milhões de pessoas prisioneiras
(os gulags) (Van der Linden, 1993), quase certamente
desfrutava substancial apoio, embora, claro, não entre o
campesinato (Fitzpatrick, 1994). (Hobsbawm, 1995: 371)
Em meio a esse cenário e como resultado dessa tendência contra o
comunismo entre protestantes fundamentalistas dos EUA, nasceria a
Anticomunista Cruzada Cristã, criada por Billy James Hargis, um
evangelista estadunidense, cuja popularidade atingiu seu auge
exatamente nos anos 1950 e 1960, tendo suas pregações transmitidas por
cerca de duzentas e cinquenta emissoras de televisão e por mais de
quinhentas emissoras de rádio. Hargis fazia frequentes referências aos
soviéticos, chamando-os de demoníacos e de monstros de olhos verdes,
e afirmava que estadunidenses adeptos da teologia liberal eram
esquerdistas que compunham uma espécie de organização formada
também por outros grupos não necessariamente ligados à questão
religiosa, cujo objetivo maior era transformar os EUA em uma nação
comunista, ou, como ele próprio alertava, em uma América vermelha.
Carl McIntyre, outro militante fundamentalista, chegava ao ponto de
dizer que muitas igrejas protestantes já tinham passado a compor um
grande plano satânico a fim de eliminar a fé cristã do território
estadunidense. Para militantes como McIntyre e Hargis, todos que não
concordassem com suas ideias delirantes eram adeptos de uma
conspiração que pretendia transformar os EUA em uma ditadura
comunista semelhante ao que acontecera com a nação russa a partir de
1917 (Armstrong, 2001: 247; Fuller, 1995: 137-138). O que parece
marcar, portanto, esse fundamentalismo dos anos 1950 nos EUA é um
intenso fanatismo.
Para se diferenciar desse radicalismo, mas na essência defendendo os
mesmos fundamentos, conservadores como Billy Graham identificavam-
se como evangélicos, em especial por causa de suas iniciativas de
evangelização em massa. Algo, porém, os tornava inseparáveis –
evangélicos e fundamentalistas –, que era a aversão aos avanços da
ciência e do pensamento moderno quando estes representavam uma
negação dos mitos cristãos. Tais avanços, segundo eles, tinham no fim
das contas resultado em duas guerras mundiais que tiraram a vida de
milhões de pessoas. Caberia à mensagem cristã, amparada nos
fundamentos bíblicos, fazer renascer a esperança que a humanidade
perdera após ver tantas destruições consequentes da ação desse ser
humano moderno e cientificamente evoluído.
Coincidência ou não, Billy Graham inicia suas cruzadas de
evangelização logo após o final da II Guerra Mundial e antes daquela
que seria chamada de Guerra Fria. O ano em que ele sairia de vez do
anonimato seria 1949, graças ao apoio e a influência dos jornalistas
estadunidenses Henry Luce e William Randolph Hearst. A primeira
cruzada de maior notoriedade internacional só aconteceria, porém, dez
anos depois, na Austrália. A tônica da pregação de Graham era bem
objetiva: Jesus é o único caminho para a salvação (Graham, 1998; 2008).
Essa perspectiva converge de maneira direta com aqueles fundamentos
panfletados décadas antes, nos EUA, em reação ao liberalismo
teológico.
Logo depois do fim da II Guerra Mundial, figuras como David Grey e
Wilbur Smith teriam se notabilizado, escrevendo que as destruições
iniciadas em 1939 e eventos específicos como as bombas atômicas
teriam servido para comprovar que a melhor leitura a se fazer da Bíblia
Sagrada não era aquela de matriz histórico-crítica proposta pelos
teólogos liberais, mas a literal proposta pelos fundamentalistas, pois
evidenciava a infalibilidade do texto sagrado, sobretudo, no que dizia
respeito às predições acerca do fim dos tempos. As destruições
provocadas pelo ser humano eram uma prova mais que suficiente de que
Jesus estaria voltando, diziam os fundamentalistas pré-milenaristas da
segunda metade dos anos 1940 (Armstrong, 2001: 248; Alencar, 2018).
Não entraremos nos detalhes e aspectos teológicos que caracterizam
as interpretações escatológicas dos diferentes grupos fundamentalistas
dos anos 1930 ao final dos anos 1950. Antes, o que nos interessa aqui é
destacar que foram esses grupos que representariam a face diversa do
fundamentalismo protestante que antecedeu os anos 1960. Sendo plural,
o fundamentalismo protestante das três décadas que nos interessam
podem ser pensados a partir de três grandes matrizes, às quais
identificamos como sendo a radical, a evangélica e a pentecostal. A
radical, conforme vimos, tinha em perspectivas defendidas por figuras
como McIntyre e Hargis suas principais preocupações, ou seja, continuar
combatendo a teologia liberal ainda muito presente em igrejas locais e
seminários, além de enfatizarem que havia uma conspiração comunista
querendo tomar o controle dos EUA. A matriz evangélica, também
fundamentalista em termos teológicos, se mostrava representada por
pregadores das massas como Oral Roberts e Billy Graham.
A terceira e última matriz, a pentecostal, ainda muito à margem em
relação às outras, crescia em número, sobretudo, nas periferias. O
crescimento numérico das igrejas pentecostais no Brasil a partir dos anos
1960, por exemplo, se justifica no fato de que a população pobre
brasileira era predominante, além de ser marcadamente negra e operária.
Há, no entanto, uma atuação pentecostal antes dos anos 1960, em terras
brasileiras, que pode nos servir para vermos o quanto essa vertente seria
nas décadas posteriores a grande força motriz para que o
fundamentalismo protestante não só ultrapassasse as fronteiras dos EUA,
mas se consolidasse no Brasil, provocando certos efeitos e
complexidades até os nossos dias. Já estamos entrando na terceira
década do século XXI.
3. Fundamentalismos protestantes à brasileira
Quando afirmamos que o fundamentalismo já existia na essência do
protestantismo estadunidense queremos salientar que as diferentes
igrejas que de lá vieram para o Brasil na segunda metade do século XIX
já chegaram nesse território com uma proposta de colonização das
mentes que aqui estavam. Era necessário não apenas contrapor àquela
predominância da fé católica, mas marginalizar ainda mais e, com isso,
intensificar uma visão preconceituosa que já existia para com as crenças
e os ritos de matrizes africana e indígena. Rejeitando tais crenças e, por
vezes, associando-as de maneira pejorativa às crenças, ritos e santos da
tradição católica, o protestantismo nascente ganhava terreno. A
conversão ao presbiterianismo do sacerdote católico José Manuel da
Conceição é um exemplo emblemático desse processo. O mesmo se
tornaria o primeiro pastor protestante nascido no Brasil (Mendonça,
1995: 185-187).
Em se tratando de protestantismo, inclusive no Brasil da primeira
metade do século XX, fundamentalismo e pentecostalismo são conceitos
distintos. Fundamentalistas estão preocupados com a fundamentação
teológica, quase racionalista, de suas crenças basilares. Pentecostais
estão interessados em intensificar suas experiências de fé com os
chamados dons do Espírito Santo, em especial o chamado dom de
línguas e o dom de cura divina. A identidade fundamentalista dos
pentecostais só se tornaria evidente a partir dos anos 1960 em função de
diferentes motivações: rejeição a tudo o que parecesse comunista – o
contexto é o de Guerra Fria, de revoluções como a Cubana, de
resistência ou adesão às ditaduras que se implantariam na América
Latina –; aliança com algumas igrejas históricas no sentido de apoiar o
processo de concretização dos regimes ditatoriais encabeçados por
militares; dedicação à pregação, inclusive a partir do rádio, objetivando
conversões em massa, tendo em vista uma convicção escatológica
específica de que a volta de Jesus estaria muito próxima, realização de
eventos e acampamentos conversionistas de jovens por parte de
organizações paraeclesiásticas, entre outras tônicas que ganhariam força
nas décadas posteriores (Mendonça; Velasques Filho, 1990: 46-59;
Alencar, 2018).
Não há motivos para nos estendermos em uma revisão da história do
protestantismo no Brasil, porque já está claro que, em linhas gerais, ele
sempre foi predominantemente conservador e, por influências
estadunidenses já a partir dos anos 1930 e 1940, também seria
fundamentalista. Sem dúvida havia nas grandes igrejas históricas figuras
que eram contrárias ao fundamentalismo dogmático e eclesiástico de
suas de denominações. O que preponderaria, no entanto, seriam as vozes
radicais, contrárias a todo e qualquer diálogo com a modernidade, com a
secularização, com tendências políticas de esquerda e, menos ainda, com
interpretações mais críticas do texto bíblico. Essas igrejas, inclusive, não
deixaram de perder fiéis, de maneira quase imperceptível, para as igrejas
pentecostais que brotavam nas periferias. Não identificados com a
liturgia e a identidade elitizada de igrejas históricas, os mais simples
enxergavam nos cultos pentecostais um ambiente mais próximo de suas
realidades, tanto na estética litúrgica como na pregação, tanto na
dinâmica como na condição econômico-social dos chamados irmãos
(Alencar, 2005; Passos, 2005).
O pentecostalismo brasileiro, bastante marcado pelo apelo à
conversão, à busca do êxtase em suas experiências com o que eles
entendiam e ainda entendem ser o batismo do Espírito Santo sobre as
pessoas e, claro, à crença na chamada cura divina, começou no Brasil a
partir da fundação de denominações que eram dissidências de igrejas
históricas. A Congregação Cristã no Brasil, por exemplo, foi fundada
pelo italiano Luigi Francescon, de origem valdense e ex-presbiteriano,
no ano de 1910. Sua teologia e sua eclesiologia, portanto, eram
derivadas da tradição calvinista, mas sua pneumatologia era pentecostal.
A Assembleia de Deus seria fundada em 1911 por dois missionários
suecos de origem batista chamados Daniel Berg e Gunnar Vingren,
adotando desde o início uma teologia arminiano-wesleyana e uma
eclesiologia batista. A terceira igreja pentecostal fundada no Brasil e que
teria uma grande expansão seria a Igreja do Evangelho Quadrangular,
entre 1952 e 1953. Sua origem, porém, ocorrera nos EUA alguns anos
antes por iniciativa da jovem missionária metodista Aimee Semple
McPherson, nascida no Canadá. Essa denominação começou suas
atividades no Brasil após os pregadores Harold Williams e Raymond
Boatright terem vindo ao estado de São Paulo para uma série de
encontros organizados pela Igreja Presbiteriana Independente do Brasil
(IPI). Os eventos começaram a se intensificar por meio de um
movimento evangelístico conhecido como Cruzada Nacional de
Evangelização. Eram armadas em terrenos baldios enormes lonas,
semelhantes aos circos, e se promoviam cultos conversionistas e sessões
de cura divina. A Igreja do Evangelho Quadrangular, a princípio, adotara
a mesma teologia arminiano-wesleyana das Assembleias de Deus, mas
uma eclesiologia derivada da tradição metodista (Mendonça e Velasques
Filho, 1990: 46-53; Reily, 1993).
Outras denominações pentecostais surgiram no Brasil antes dos anos
1960. Podemos citar a Igreja de Cristo Pentecostal no Brasil (1937),
Igreja Evangélica do Avivamento Bíblico (1946) e, claro, uma de maior
destaque, que seria a Igreja Evangélica Pentecostal “O Brasil para
Cristo” (1956). Essa denominação, fundada pelo missionário de origem
assembleiana Manoel de Mello, também derivou dos eventos
organizados pela Cruzada Nacional de Evangelização. Além de
conquistar uma quantidade significativa de fiéis, Manoel de Mello se
articulara bastante com as questões políticas do Brasil, além de filiar-se
ao Conselho Mundial de Igrejas e à Confederação Evangélica do Brasil.
Esse seu perfil ecumênico o diferenciava em relação a ouros líderes
pentecostais surgidos até 1960, época em ocorria o Concílio Vaticano II,
mas não o suficiente para anular o perfil exclusivista e conservador da
teologia adotada por sua denominação, o que faria com que ela também
compusesse, na prática, a formação de uma identidade evangélica
fundamentalista dali para frente (Mendonça; Velasques Filho, 1990: 52-
54; Reily, 1993).
As agências de cura divina, nascidas a partir dos anos 1960, cujo
protagonismo seria exercido pela Igreja Pentecostal “Deus é Amor”
(1962), fundada pelo missionário David Miranda, seriam o estopim para
que o pentecostalismo brasileiro conquistasse cada vez mais um número
considerável de fiéis, enquanto as igrejas históricas começavam a
vivenciar seu declínio. Anos depois, como sabemos, o Brasil viveria
uma ditadura militar, a qual teria em muitas das igrejas protestantes
importantes aliados (Dusilek, Silva e Castro, 2017; Souza, 2014), o que
não seria unânime (Faria, 2002). A antipatia pela chamada ameaça
comunista era comum entre as elites políticas que promoveram o Golpe
de 1964 e grande parte das lideranças religiosas identificadas com os
valores do fundamentalismo iniciado com a distribuição dos panfletos
The Fundamentals, décadas antes, nos EUA.
Nesse sentido é que temos defendido a hipótese de que as décadas
1930, 1940 e 1950 foram decisivas para a formação dessa importante
face do fundamentalismo protestante brasileiro: o pentecostalismo. Não
que as igrejas históricas, em sua maioria, deixariam de contribuir nesse
processo, mas de longe, com o passar dos anos, o pentecostalismo
causaria efeitos bem maiores. O ápice dessa aproximação do
pentecostalismo às vertentes políticas da direita conservadora no Brasil
se dará a partir das inúmeras igrejas neopentecostais protagonizadas, por
exemplo, pela Igreja Universal do Reino de Deus (1977), fundada por
Edir Macedo, pela Igreja Internacional da Graça de Deus (1980),
fundada por Romildo Ribeiro Soares, pela Igreja Apostólica Renascer
em Cristo (1986), fundada por Estevam Hernandes e Sônia Hernandes,
pela Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra (1992), fundada por
Robson Rodovalho e Maria Lúcia Rodovalho, pela Igreja Mundial do
Poder de Deus (1998), fundada por Valdemiro Santiago e, mais
recentemente, pela Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus
(2006), fundada por Agenor Duque e Ingrid Duque. Somada a essas, há
uma infinidade de denominações no Brasil que representam
desdobramentos do pentecostalismo e do protestantismo histórico,
algumas já originadas de dissensões em igrejas neopentecostais, mas que
em linhas gerais representam essa face do fundamentalismo religioso
brasileiro (Silva, 2007; Mariano, 2005).
As práticas mais comuns que nos dão suporte para que as
identifiquemos como sendo fundamentalistas, tanto em termos
teológicos como sociais, são: 1) a constante intolerância religiosa em
relação aos locais de culto e até mesmo aos adeptos de religiões de
matriz africana, ainda que por vezes se apropriem de práticas e ritos
semelhantes àqueles dessas religiões, dando-lhes apenas um significado
e uma roupagem cristãos (Silva, 2007); 2) a aliança ideológica com
candidatos, muitas vezes das próprias denominações, em processos
político-eleitorais municipais, estaduais e federais (Burity; Machado,
2006); 3) a defesa de determinados valores tidos como morais em
detrimento de políticas públicas inclusivas que, na prática, acabam por
resultar na legitimação de preconceitos e exclusão do outro (Cavalcante,
2010; Gouvêa, 2006). Uma reflexão mais aprofundada dessas questões
fugiria da delimitação do presente capítulo, mas não temos dúvida
alguma de que elas podem ser pontuadas enquanto efeitos de grandes
proporções do fundamentalismo nascido no início do século XX e que
começaram a se expandir a partir dos anos 1930.
Conclusão
Quando afirmamos que as cruzadas evangelísticas, as pregações por
meio do rádio e da televisão e, sobretudo, o impulso pentecostal que
perpassam as décadas de 1930, 1940 e 1950 representaram as principais
identidades e dinâmicas de expansão do fundamentalismo protestante
desse período, estamos visualizando tal hipótese a partir dos aspectos,
tão bem explorados por Mendonça e Velasques Filho (1990: 130-131),
que caracterizariam o fundamentalismo protestante desde a origem até
nossos dias (D’avila-Levy; Cunha: 2018).
A intolerância, o determinismo histórico e a rigidez doutrinária do
fundamentalismo demonstram o seu caráter ideológico restrito, fechado,
indisponível ao diálogo, à reflexão, a releituras. O reducionismo
maniqueísta que tira não só a liberdade, mas também a responsabilidade
do sujeito justifica o desinteresse de boa parte das denominações
protestantes em relação às questões sociais, para se importarem apenas
com o que julgam ser fundamental para a salvação da alma, a saber, a
devoção nas categorias espirituais, ainda que isso resulte em incoerência
e em uma perda da historicidade de sua identidade.
Somada à intolerância, podemos apontar também a unilateralidade
teológica, que não aceita qualquer diálogo com interpretações que fujam
das suas percepções relativas a ritos, dogmas e costumes. Tal
comportamento evidencia o caráter sectário e exclusivista dos
fundamentalistas protestantes que estão sempre dispostos à exclusão do
outro que pensa ou crê de maneira diferente. Passamos a ter uma noção
mais concreta da gravidade desse comportamento, ao vemos um cristão
adotando, em nome de sua fé, posturas de violência e de defesa da
tortura física e da punição letal dos que julga ser criminoso. Armstrong
(2001: 249) não parece se equivocar ao dizer que os fundamentalistas,
inspirados em suas leituras literais de certas narrativas bíblicas, se
sentem legitimados a defender práticas genocidas.
Agradecimentos
Agradeço a Edin Abumanssur, Fernando Torres-Londoño, Gedeon
Alencar, Ricardo Bitun, Ricardo Quadros Gouvêa, Ronaldo de Paula
Cavalcante e Silas Luiz de Souza. Menciono o apoio institucional do
Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciência da Religião da PUC-
SP. A responsabilidade pelas ideias contidas neste capítulo restringe-se
ao autor.
109 No Brasil foi publicada em 2005, por uma editora protestante chamada
Hagnos, situada em São Paulo, uma versão dos panfletos The Fundamentals,
editados por Reuben Archer Torrey. Essa edição brasileira foi intitulada Os
Fundamentos: a famosa coletânea de textos das verdades bíblicas
fundamentais.
110 Com duas fortes ênfases que seriam a hipótese da inerrância bíblica – a
Bíblia deveria ser considerada inspirada por Deus –, além da chamada
escatologia milenista (ou milenarista), o fundamentalismo se constituiria e,
em alguns círculos, até se identificaria enquanto tal, a partir da Conferência
Mundial dos Cristãos Fundamentalistas, realizada em 1919, mas não sem
produzir divisões entre as denominações. Nem todos os protestantes
aceitavam essa designação (Mendonça; Velasques Filho, 1990: 123-129).
111 Aqui há que se fazer uma ressalva. Embora esses grupos mais
conservadores protagonizados por figuras como Billy Graham não se
identificassem como fundamentalistas, suas bases eram as mesmas do
fundamentalismo que observamos até aqui, tendo como ponto de partida as
defesas contidas nos panfletos The Fundamentals. Velasques Filho, contudo,
apresenta-nos com precisão às diferenças e aproximações entre
conservadorismo protestante e fundamentalismo (Mendonça; Velasques
Filho, 1990: 111-131).
IX. Evangelicalismo na Segunda
Metade do Século XX: O
“Esquecimento“ das Ideias
Fundamentalistas e a Cristalização do
Evangelicalismo
112 Os “protestantes majoritários” (mainlines) receberam esta nomenclatura porque foram a maioria
protestante nos EUA até meados do século XX, mas atualmente constituem a minoria. Representam as
denominações mainlines norte-americanas, dentre outras, as Igrejas Presbiteriana (EUA), Episcopal
(EUA), Evangélica Luterana na América, Metodista Unida (EUA), Unida de Cristo, Discípulo de Cristo
e a Convenção Batista Americana, que juntas compõe as chamadas “sete irmãs”. São exemplos de
igrejas evangélicas clássicas norte-americanas, dentre outras, a Igreja Presbiteriana na América, a
Convenção Batista do Sul dos EUA. Igreja Cristã Reformada na América do Norte, Igreja Presbiteriana
Americana, Igreja Assembleia de Deus (EUA) e Igreja Luterana (Sínodo Missouri). Green, John.
“Evangelical vs. mainline protestants”.
https://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/shows/jesus/evangelicals/evmain.html [29.04.2004] (acesso
em 31.05.2020); Burge, Ryan P. & Dupr, Paul A. “What is a mainline protestant?”.
https://religioninpublic.blog/2018/06/28/what-is-a-mainline-protestant/ [28.jun.2018] (31.05.2020) e
Brsdshaw, William B. “Mainline churches: past, present, future”. Huffpost.
https://www.huffpost.com/entry/mainline-churches-past-pr_b_4087407 [23.01.2014] (acesso em
31.05.2020)
113 Quando os cristãos mencionam a “inerrância da Bíblia” estão se referindo à convicção de que a
Bíblia não contém ensinamentos falsos ou erro. Ou seja, a crença de que, em relação aos manuscritos
originais, a revelação de Deus é perfeita e sem erro, doutrinariamente, historicamente, cientificamente e
filosoficamente (Cf. Patterson, 2007: 58).
114 Jerry Lamon Falwell (1933-2007) foi um pastor fundamentalista evangélico e televangelista que
durante a maior parte de seu ministério pastoral foi um batista independente. Ele foi o pastor fundador e
presidente da Thomas Road Baptist Church, uma megaigreja situada em Lynchburg Vírginia (EUA) e
da Liberty University, em 1979, na mesma cidade. Falwell foi também o co-fundador (com o ativista
político conservador Paul Weyrich) e mais destacada liderança da organização norte-americana de
lobby político, e de matriz evangélica denominada Moral Majority, extremamente atuante entre os anos
de 1979, quando foi fundada, e 1989, ano de sua dissolução (Silva & Barbosa, 2019: 13,15).
115 O educador, autor e teólogo Carl F. H. Henry é amplamente conhecido com um dos principais
pensadores evangélicos americanos. Foi o editor-fundador da revista Christianity Today. É autor de
cerca de 35 livros - dentre eles The Uneasy Conscience of Modern Fundamentalism (1948) - muitos
dos quais influenciaram decisivamente o molde do cristianismo nos EUA (Hankins, 2008: 37,38).
116 O pastor batista norte-americano William Franklin “Billy” Graham Jr. (1918-2018) foi destacado
membro da Convenção Batista do Sul dos EUA, e conselheiro espiritual de diversos presidentes de seu
país. Graduado pelo Florida Bible Institute e pelo Wheaton College tornou-se evangelista pelo Youth
for Christ (uma organização que tinha por propósito alcançar jovens no ensino médio, superior e nas
Forças Armadas). Tendo a oportunidade de viajar por todos os EUA pregando, bem como pelo
continente europeu e Grã-Bretanha, “desenvolveu uma reputação nos círculos evangélicos como um
dos mais dotados pastores jovens da geração” (Hankins, 2008: 41,42). Fundou em 1950 a Billy Graham
Evangelistic Association, na suas chamadas “Cruzadas Evangelísticas” esteve em 185 países e alcançou
um número de aproximadamente 210 milhões de pessoas. Graham, que já vinha padecendo de há anos
de doença de Parkinson, câncer de próstata, fraturas no quadril e pélvis, faleceu em seu lar em 2018,
aos 99 anos, (Barata, 2018; Balmer, 2004: 80).
117 O Processo Scopes consistiu no histórico julgamento de 1925 no qual o professor de biologia John
T. Scopes foi criminalmente acusado de violar a lei estadual do Tennessee, ao ensinar a Teoria da
Evolução. A questão central debatida no tribunal foi sobre a legalidade ou não do ensinamento de tal
teoria em escolas públicas naquele estado da federação. A legislatura do Tennessee havia recentemente
votado a ilegalidade desta prática. Apesar de ser um julgamento estadual, estavam em jogo as
implicações relativas à educação pública em outros lugares do país. A questão principal era se as juntas
escolares ou governos estaduais tinham ou não legitimidade para decidir, com base em orientações
religiosas, qual parte do conhecimento científico devia ser excluído do currículo escolar (Martin, 1996,
p. 15).
X. “Palavras de Morte e Não de Vida“:
O Estudo dos Fundamentalismos e seu
Acesso ao Primeiro Testamento
Elcio Sant’Anna
O verdadeiro crente não pode descansar enquanto o
mundo inteiro não se ajoelhar. Não é óbvio para todos, diz
o devoto, que a autoridade religiosa está acima de todos e
que aqueles que se recusam a reconhecer isso abrem mão
do direito de existir?
Christopher Hitchens
Introdução.
Os fundamentalismos de corte protestantes são um dos fenômenos
político-religiosos mais vigorosos e persistentes que se manifestaram
entre os séculos XIX e XXI. Na verdade, mesmo depois que já tivessem
sido alvo de especulação e pesquisa pela literatura especializada, só
recentemente passou ser objeto de preocupação de forma geral da
sociedade contemporânea. Talvez, a sua discussão tenha alcançado seu
ápice aqui no Brasil, nas eleições de 2018, com a confluência da
ascensão da extrema direita ao imaginário popular e a aproximação de
atores sociais de estrato religioso, mormente vindo daqueles meios que
gravitavam à esfera do neopentecostalismo brasileiro e outros grupos
conservadores.
Este esforço consiste em dar uma contribuição a partir da antropologia
da religião e outras iniciativas de suas cercanias, para entender a questão
de como é, e quais são as razões pelas quais os fundamentalismos
hodiernos têm se servido do Primeiro Testamento 118 nos dias atuais.
Considerando os aspectos em que estes grupos têm se valido de acessar
as suas Escrituras é importante saber: como o mecanismo de defesa de
seu sistema de crenças tornou-se também ponta de lança de seu ataque à
sociedade contemporânea como um todo? Foco-me nestas duas questões
para entender de que maneira estes fundamentalismos buscam
estabelecer um estágio hegemônico na cultura e sociedade brasileira para
as próximas décadas. Por esta razão desejei tratar a temática a partir da
teoria de dois destacados antropólogos em suas obras sucessivamente:
Jack David Eller em sua “Introdução à Antropologia da Religião” e
Stanley Barrett em sua “Antropologia, guia do estudante...”, bem como
também na etnografia de Carly Machado, entre outras fontes.
Pensando na “ideologia fundamentalista”119 a partir da metáfora dos
conflitos político-bélicos, é possível com bastante acerto dizer que os
fundamentalismos de matizes evangélico-brasileiros têm utilizado em
grande monta o Primeiro Testamento, livro sagrado de judeus e cristãos
como armamento e munição para uma agência contundente em termos
de discurso que não apenas “evangeliza”, como também se dispõe de
forma apologética, a buscar, incapacitar e interditar pessoas de outros
cenários, que assumem posicionamentos discordantes, não admitindo
qualquer tipo de negociação.
Por esta razão é importante mesmo que de modo esquemático, que se
possa apresentar tipologias ou mesmo fenômenos que consigam tratar
das diversas cores dos fundamentalismos pregressos e hodiernos, para
que a compreensão dos grupos religiosos flamejantes, contemporâneos
na sociedade brasileira.
118 Entre as duas partes das Bíblias cristãs o Antigo Testamento sofre depreciação. Assim, recai sobre
a Bíblia hebraica uma compreensão inaceitável para os judeus. De olho nesta dificuldade alguns
cientistas bíblicos começaram a propor uma nomenclatura menos problemática a judeus e cristãos.
Estes têm preferido chamar o Antigo Testamento de Primeiro Testamento. Esta terminologia poderia
desonerar a Bíblia hebraica do sentido de revelação ultrapassada. Além disso, ensejaria a ideia de
complementaridade entre a Bíblia cristã e hebraica. Alguns outros mais próximos à tradição Judaica
preferem chamar a Bíblia hebraica de Testamento Original e o Novo Testamento de Testamento Tardio.
De maneira menos partidária, pode também chamar a Bíblia hebraica de Tanak. Este é um termo
técnico aceito entre judeus e cristãos dentro da academia. Para o aprofundamento desta questão é bom
ler: Bloon, Harold; Rosenberg, David. O Livro de J. Rio de Janeiro: Imago, 1992, Zenger, Erich et. al.
Introdução ao Antigo Testamento. Bíblica – 38. São Paulo: Edições Loyola, 2003, p.19-21 e Santt’ana,
Elcio. Literatura e religião bíblica. Um acesso a partir das ciências da religião. São Paulo: Editora
Reflexão, 2010, p.62-66.
119 É muito importante que se possa levar em conta que na discussão sobre a essência da religião,
alguns poderiam ver apenas as “assertivas religiosas na arena política vistas como um disfarce para o
poder político” (Asad, 1988: 164). Talal Asad lembra que apesar das práticas e das crenças assumirem
naturezas distintivas essência da política e da religião em muitas sociedades as duas possam se sobrepor
e se entrelaçar.
120 Segundo o que se sabe por volta de 700 a 200 a. C, surgiram movimentos que foram “cruciais para
desenvolvimento espiritual da humanidade”, porque é exatamente neste período que em vez de se ter
uma devoção a deidades incorporadas, passou-se a venerar únicas transcendências universais Estas
religiões eram respostas a diferentes problemas da humanidade. Estes novos sistemas religiosos e/ou
filosóficos refletiam às novas condições econômicas e sociais: a) budismo e hinduísmo na Índia; b) o
confucionismo e o taoísmo no Extremo Oriente; c) monoteísmo no Oriente Médio; e d) racionalismo na
Europa (ARMSTRONG, 1994: 39; 2001: 12).
121 As fórmulas conhecidas até então, não se enquadravam mais nas novas circunstâncias que estavam
postas. As soluções precisavam ser mais apropriadas à humanidade. E é isto que Karen Armstrong
nomeia “paradoxalmente de fundamentalismo”, que poderia ser considerada como primeira versão do
fundamentalismo (Armstrong, 2001: p.13).
122 O que pode se caracterizar como o que é chamado de ortodoxia, é o fato de haver estruturas
organizacionais, com corpus de doutrinas definidas (Eisenstadt, 1997, p. 1-4). Desta maneira haveria
grandes centros de tradição com compacidade política de monopolização frente a pequenos polos
retentivos de ideologias periféricas (Gonçalves, 2007: p.6).
123 É o que Hans Küng assumiu no campo teológico as ideias de Thomas Kuhn em seu livro: “A
estrutura das revoluções científicas”, por paradigmas como sendo “toda uma constelação de
convicções, valores, técnicas etc., compartilhados pelos membros de determinada comunidade”, sendo
desta forma a tal mudança configurando-se mais uma transformação “revolucionária do que evolutiva”
(Küng, 1999: 159).
124 Êxodo 15,11.2; 18,10.11; 20, 3; Salmos 16,4; 86,8; 95,3, 136,2 138,1; 1Crônica 16,25.26 (BTB,
2018)
125 A grafia do nome do Deus de Israel é aqui utilizada nos termos que o faz a BIBLIA TRADUÇÃO
BRASILEIRA (BTB), Introduções acadêmicas. São Paulo: Fonte Editorial/ SBB, 2018. Em 2018 a Fonte
Editorial e a Sociedade Bíblica Brasil se associarão para a publicação da BTB, com a participação de
diversos pesquisadores integrantes da Associação Brasileira de Pesquisadores Bíblicos que se esmeram
para a produção de notas acadêmicas constantes daquela edição. Por razões normatização estilística e
editorial a melhor grafia do nome foi preterida aqui (IHWH).
126 É possível considerar que monoteísmos de diversos naipes surgiram de forma geral nesta época,
excetuando-se a forma transitória acontecida no Egito antigo durante o antigo reinado de Akhenaton
(JACQ, 1978), a quem segundo Robert Wright chama de “Auxiliar de Aton” (Wright, 2012: 116).
Então, parece que realmente o monoteísmo é um elemento capital para entender o que se deu nos idos
da Era Axial nos termos tenho falado aqui.
127 “cortando em pedaços a Rahab, profanado o monstro marinho, e secado o mar, as águas do abismo
grande’’ (Isaías 51, 9b.10 – BTB,2018 – negrito E.S.).
128 Jeremias 4.6,15s; 6,22
129 “Uns homens depravados saíram do meio de ti e perverteram os habitantes da tua cidade, dizendo:
Vamos e sirvamos outros deuses que não conheces, indagarás, investigarás e, com diligência,
perguntarás. Se for verdade, se for certo que tal abominação se cometeu no meio de ti, certamente,
ferirás os habitantes daquela cidade ao fio da espada, destruindo-a completamente e bem assim tudo o
que nela há, até os seus animais. 16 Ajuntarás todo o despojo dela no meio da sua praça e queimarás a
cidade e todo o seu despojo como oferta inteira a Jeová teu Deus; ficará um montão para sempre; não se
tornará a edificar” (BTB, 2018 – negrito: E.S.).
130 Esdras 7, 14. 25-26
131 Esdras 7,6
132 “No princípio criou Deus o céu e a terra” (BTB, 2018 – negrito: E.S.).
133 Em razão da delimitação adotada na pesquisa o neofundamentalismo reconstrucionista não será
alvo de estudo. Estes apesar de terem uma leitura bíblica muito similar a dos reformistas, assumem uma
atitude no espaço público é diametralmente oposta a dos grupos em tela aqui. Os reconstrucionistas
merecem ser estudados em um esforço que a sua importância requer, que só pode ser realizado em
outra oportunidade.
XI. Fundamentalismo Cristão na
Perspectiva Protestante
Elizete da Silva
Introdução
Pretendemos analisar a inserção do fundamentalismo no
Protestantismo brasileiro, destacando alguns momentos da sociedade
brasileira no século XX e seus desdobramentos políticos, nas últimas
décadas. Abordaremos a proliferação do movimento no País,
especialmente, na Igreja Presbiteriana e Denominação Batista, numa
perspectiva histórica. Entendemos o fundamentalismo como um
pensamento teológico conservador que construiu discursos,
representações, práticas religiosas e políticas.
O Protestantismo que floresceu no Brasil tem vínculos estreitos com
as Missões Estadunidenses. Metodistas, Presbiterianos, Batistas,
Episcopais Anglicanos são grupos evangélicos originários do trabalho
missionário dos EUA na segunda metade do século XIX. Os irmãos da
outra América, como eram designados os evangélicos estadunidenses
nas fontes da Convenção Batista Brasileira, além de trazerem as
doutrinas protestantes, transplantaram para o País os problemas internos,
como o denominacionalismo, o anticatolicismo e o fundamentalismo,
que ora analisamos.
O elogio do progresso dos EUA e o fascínio que o seu governo
republicano exercia na elite política brasileira, já explicitados, desde o
final do século XIX, por Ruy Barbosa e Tavares Bastos, por exemplo,
tem a sua tradução protestante muito arraigada na mentalidade de setores
majoritários dos grupos Batistas e Presbiterianos. Segundo Rubem
Alves, um presbiteriano ecumênico, os EUA eram a “utopia implícita do
protestantismo brasileiro” (Alves, 1979: 239).
Abordamos o tema na perspectiva da História Cultural (Chartier,
1990) em interfaces com a História das Religiões que, por sua vez,
auxilia a entender as apropriações do fundamentalismo no
Protestantismo brasileiro, numa perspectiva de longa duração, que traz
desdobramentos na História Recente do País. O conceito de campo
religioso auxilia no entendimento das relações com as instituições
políticas (Bourdieu, 1979).
O Fundamentalismo nos EUA.
O conceito de fundamentalismo, não é uma criação islâmica como a
imprensa divulgava por ocasião da caça ao Taliban. Suas primeiras
formulações foram feitas pelo Protestantismo dos EUA, no final do
século XIX, em oposição ao que se considerava como modernismo
teológico e desvio das verdades bíblicas da fé reformada, preconizado
pelos novos teólogos europeus e estadunidenses que se utilizavam da
crítica histórica e dos novos instrumentos para interpretar a Bíblia.
Pugnavam contra “o modernismo pernicioso” e o Evangelho Social que
tinha uma proposta de releitura bíblica a partir dos problemas sociais.
Numa conferência realizada em 1895, em Niagara Falls, teólogos
conservadores estadunidenses, assumiram uma posição oficial contra as
novas perspectivas interpretativas da Bíblia. No final desse encontro
redigiram um documento que constitui as origens do fundamentalismo
protestante. Era uma tendência teológica conservadora e que sofreu
influências da ortodoxia reformada e dos avivamentos evangélicos
ocorridos nos EUA anteriormente. Um movimento organizado tentando
barrar a nova hermenêutica bíblica, reafirmando os fundamentos da fé.
Entre 1909 e 1915, publicaram uma série de brochuras consideradas
pelos autores elementos fundamentais da fé cristã e intitularam The
Fundamentals a testimony to the Truth (Pace e Stefani, 2002).
Os fundamentalistas defendem um retorno às verdades bíblicas, em
torno dos seguintes princípios doutrinários: “a absoluta inerrância do
texto bíblico; reafirmação da divindade de Cristo; Cristo nasceu de uma
virgem; redenção universal garantida pela morte e ressurreição de
Cristo; ressurreição da carne e certeza da segunda vinda de Cristo” (Pace
e Stefani, 2002:28). Os principais inimigos eram: a Igreja Católica, o
Socialismo, a Filosofia Moderna e a Teologia Liberal. “Num encontro
da Northern Baptist Convention em 1920, Curtis Lee definiu
fundamentalista como alguém que está disposto a recuperar territórios
perdidos para o Anticristo e a lutar pelos fundamentos da fé” (Armstrong
2001:150). Durante a Primeira Guerra Mundial demonizam a Alemanha,
considerada um país nefasto de onde procediam as doutrinas
modernistas.
Presbiterianos e batistas formavam a maioria dos fundamentalistas nos
EUA, os quais após intensa campanha, em 1919, organizaram um
congresso em Filadélfia com mais de 6 mil evangélicos de todas as
denominações e fundaram a World’s Christian Fundamentalist
Association (WCFA), com a intenção de propagar suas ideias e práticas.
A criação da homeschooling é desse período, quando pais evangélicos
fundamentalistas resolveram escolarizar suas crianças para evitar as
ideias científicas do darwinismo, que discordavam da leitura criacionista
da Bíblia (Armstrong, 2001).
O movimento fundamentalista dividiu igrejas e convenções
eclesiásticas. Em 1920, um grupo liderado pelo Pastor Batista William
Bell Riley se afastou da Convenção Batista do Norte, criticando o
liberalismo teológico fundando a Bible Baptist Union. A Igreja
Presbiteriana cindiu em função das querelas entre fundamentalistas e
liberais. O Reverendo Carl McIntire abandonou sua comunidade fundou
a Igreja Presbiteriana Bíblica e o Seminário Teológico da Fé, com a
finalidade de formar pastores nos princípios fundamentais da fé. O
movimento conservador foi abraçado por empresários, que passaram a
financiar publicações e atividades proselitistas nos EUA e no exterior.
No século XX, o principal divulgador dos princípios fundamentalistas
foi o Reverendo Presbiteriano Carl McIntire, líder da organização
fundamentalista Concílio Internacional de Igrejas Cristãs, criado em
1948, em oposição ao Conselho Mundial de Igrejas, de linha ecumênica
e progressista. Calcados no princípio da inerrância bíblica condenavam
qualquer exegese bíblica que buscasse uma contextualização dos ensinos
das Escrituras, eram literalistas e ahistóricos na sua interpretação da
Bíblia.
Jean-Paul Willaime sugeriu que a busca do fundamentalismo pode ser
uma demanda psicossocial: “Ao oferecer uma verdade religiosa bastante
definida o fundamentalismo pode responder às aspirações psicossociais
daqueles que, num mundo em profunda mutação, procuram referenciais
estáveis” (Willame, 2000: 28). O final do século XIX foi um tempo de
incertezas nos EUA, o que certamente favoreceu o ressurgimento de
ideias apocalípticas, o reavivamento das doutrinas bíblicas e a certeza
que só Deus salvaria a pátria e o mundo decaído pelo modernismo e o
cientificismo materialista.
Fundamentalismo e Conservadorismo no Brasil
A maioria dos missionários estadunidenses, que divulgou o
Protestantismo na segunda metade do século XIX, no Brasil e continuou
atuando no País no século XX, era originária do Sul dos EUA, região
mais conservadora daquele país, conhecida como “cinturão da Bíblia”.
Naquele momento, escravocrata, racista, biblicista e contrária às
liberdades republicanas defendidas pelos nortistas. Esse
conservadorismo foi introduzido nas diversas comunidades religiosas
brasileiras pelos pioneiros protestantes.
O Reverendo McIntire ultrapassou as fronteiras dos EUA em sua
cruzada fundamentalista, conferenciando no Chile, Peru, Argentina e
Coreia. Em 1959, no centenário da chegada do pioneiro presbiteriano A.
Simonton ao Brasil, realizou palestras no País. Em São Paulo, no Teatro
Municipal, segundo relato de biógrafos: “ a massa reuniu no sábado à
noite e o tema foi a Verdadeira Reforma. O teatro tinha cinco balcões,
com pessoas para todo o lado. Os nacionais estão aderindo de coração e
se opondo ao Comité Missionário Presbiteriano” (Anderson e Rhoads,
2011: 152).
Reverendo McIntire pregou em templos congregacionais, no Rio de
Janeiro, a convite do Pastor Sinésio Lyra da Igreja Bíblica
Congregacional, o qual fez questão de explicar ao articulista do jornal
Correio da Manhã, em uma missiva: “pertenço a um Grupo de Igrejas
Evangélicas Fundamentalistas do Brasil (não confundir com a
Confederação Evangélica do Brasil que está ligada ao Concílio Mundial
de Igrejas) ” (Correio da Manhã, 1959, ed.20358). Posteriormente, Lyra,
considerado por McIntire “um santo e um soldado a nosso comando”
(Anderson e Rhoads, 2011: 153), tornou-se presidente da Associação
Fundamentalista Evangélica da América Latina (ALADIC).
Em Recife, C. McIntire encontrou Israel Gueiros, professor do
Seminário Presbiteriano do Norte e pastor da Igreja Presbiteriana de
Pernambuco. Num debate no Seminário Presbiteriano, organizado por
Gueiros, McIntire narrou o encontro com um egresso do Seminário de
Princeton, provavelmente o Professor Paul Pierson: “o jovem falou em
defesa de Barth, não pensa que o movimento ecumênico é tão terrível
assim. Ele é um excelente exemplo da má influência do novo Princeton”
(AAnderson e Rhoads, 2011: 153). Karl Barth, o teólogo da liberdade,
expoente da nova teologia foi um dos alvos dos ataques
fundamentalistas, ao propugnar uma “teologia entre os jornais e a
Bíblia”; teologizar sobre a realidade cotidiana do mundo (Silva, 2010:
75).
O fundamentalista McIntire encontrou terreno fértil no Brasil,
especialmente nos seminários, onde formavam-se os líderes protestantes.
Ensinava-se uma teologia dogmática, engessada em outras realidades
históricas. Prezavam-se as doutrinas, baseadas num biblicismo
impedindo outras leituras. O emocionalismo, a “bibliolatria” aliados à
uma tendência brasileira de pouco cultivo da leitura, certamente levavam
a atitudes negativas de pensar a fé, de dialogar com a realidade. O
teólogo Richard Shaull, que se tornou um dos líderes do ecumenismo no
País, ao chegar ao Seminário Presbiteriano de Campinas, em 1952
relatou: “nos cursos de Exegese Bíblica, Teologia e História da Igreja,
ao lado de instruções como pregar, usavam material em inglês, a maioria
na linha do fundamentalismo e pietismo importados da América do
Norte” (Shaull, 2003: 112).
A intenção do Reverendo fundamentalista era atrair os brasileiros para
a sua cruzada, denominada de “a Reforma do século XX”. Considerava-
se um enviado de Deus para salvar a Igreja Reformada das iniquidades
do modernismo teológico O discurso de retorno aos fundamentos da fé
atraiu vários setores protestantes no País. Israel Gueiros tornou-se a
grande liderança brasileira na expansão do pensamento fundamentalista
no País. Provocou um cisma na Igreja Presbiteriana e em 1956 fundou a
Igreja Presbiteriana Fundamentalista em Recife e outro seminário.
Deposto pelo Presbitério de Pernambuco em julho de 1956, os
fundamentalistas formaram um presbitério com 1800 membros e se
filiou ao Conselho Internacional de Igrejas Cristãs e à ALADIC.
Um relato do Presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana,
afirma que “McIntire chegou ao Brasil, com uma bolsa preta com 25 mil
dólares, com a intenção de dividir a Igreja Presbiteriana do Brasil”
(Cunha, 2001). A Igreja Presbiteriana do Brasil reagiu ao
fundamentalismo, considerando o movimento como separatista, ao
mesmo tempo se afastava do ecumenismo do Conselho Mundial de
Igrejas.
A primeira divisão na Convenção Batista Brasileira ocorreu em 1910
na Primeira Igreja Batista do Brasil, em Salvador, os fatores que
propiciaram o cisma se vinculavam ao nacionalismo e as relações de
poder entre os missionários estadunidenses e os brasileiros, que
organizaram a Igreja Batista do Garcia e a Missão Batista Independente.
A finalidade da Missão Batista Independente era criar um setor batista
nacional “para que não se diga por causa do bairrismo, muitas vezes ou
quase sempre justificado, inato em nós que a doutrina de Jesus, é um
meio de exploração do estrangeiro” (Silva, 2017: 75).
A Denominação Batista sofreu influências dos fundamentalistas. O
governo eclesiástico congregacional facilitou a origem de duas atitudes:
a adesão efêmera e a adesão de grupos persistentes, a exemplo dos
Batistas Bíblicos e os Batistas Regulares. Os Batistas Bíblicos, oriundos
do Baptist Bible Fellowship, que resultara de uma cisão nas fileiras do
pastor fundamentalista J. Frank Norris, que estabeleceu uma igreja e um
seminário em Missouri. Deslocou-se ao Brasil em 1945, o missionário
Byron Macarthey e construiu igrejas em Recife, São Paulo e Rio de
Janeiro. Para formar uma liderança local, o grupo “organizou institutos
bíblicos em Campinas, São Paulo e em Pernambuco, apaixonados em
escatologia e rigorosos em matéria de modas femininas ” (Pereira, 1982,
p. 215).
Uma tentativa efêmera de inserção institucional do fundamentalismo
ocorreu em 1949, quando missionários estadunidenses da North
American Baptist Association (NABA) do Texas, contatou os Pastores
Ebénezer Cavalcanti e Alfredo Mignac. Ambos eram lideranças da
Convenção Batista da Bahia e da Associação Batista do Brasil, naquele
momento separadas da Convenção Batista Brasileira dirigida pelos
missionários estadunidenses da Junta de Richmond. A NABA se
diferenciava das demais agremiações atuantes no Brasil pela “afirmação
fundamentalista e antimodernista, ao aceitar a doutrina bíblica
exatamente como está nos textos sagrados, numa leitura linear e
interpretação direta” (Teixeira, 2017, p. 90).
Este setor Batista fundamentalista, liderado pelo Pastor Harald Morris,
organizou o Instituto Teológico em Campinas, objetivando concorrer
com os seminários Batistas do Brasil na formação do clero, que deveria
seguir as doutrinas da North American Baptist Association (NABA). A
liderança do Pastor Morris e a administração dos recursos financeiros
desagradou aos brasileiros. Passadas as querelas entre os nacionais e os
missionários da Convenção Batista do Sul dos EUA, a harmonia
retornou aos arraias batistas e oficialmente, em 1956, à sua linha
teológica tradicional.
Persistiram no seio da Convenção Batista Brasileira de forma
naturalizada princípios fundamentalistas, como uma demonstração de
ortodoxia e fidelidade. Pastor Ebénezer Cavalcanti, discorrendo sobre os
Batistas e o ecumenismo se declarou como fundamentalista e
conservador. Eram os Batistas infiéis que aceitavam o ecumenismo, “soa
com sonido estranho para nós, os Batistas fundamentalistas, quanto à
doutrina bíblica, conservadores quanto à teologia de base bíblica
indiscutível e regulares quanto ao sistema eclesiológico de inspiração
bíblica” (Silva, 2010: 38).
A Denominação Batista Regular originou-se de igrejas que se
separaram da Convenção Batista do Norte dos Estados Unidos, em 1932.
A divisão aconteceu devido ao não conformismo com algumas práticas e
doutrinas que consideravam equivocadas e mundanas O movimento
Batista Regular foi organizado em General Association of Regular
Batista Churches (GARBC) liderado por Howard C. Fulton. Na década
de 1950 enviaram missionários ao Brasil, com a intenção de difundir
suas doutrinas. A Igreja Batista Regular contou com esforços dos
missionários Edward Guy McLain no Ceará, e Arlie Ross no Amazonas.
Posteriormente, espalharam-se por todo o território nacional.
Atualmente, os Batistas Regulares representam no Brasil mais de 40
mil membros. Contam com seminários e entidades assistenciais. Não
participam de atividades cooperativas e são antiecumênicos. Tem uma
editora, a qual publica literatura devocional e de divulgação. Para
preservar a identidade doutrinária, organizaram em 1953 a Associação
Nacional de Igrejas Batistas Regulares (AIBREB). Na Bahia, os Batistas
Regulares organizaram a Primeira Igreja Batista Regular, em 1959, em
Salvador, após intenso proselitismo do missionário Keneth Mitchel.
“Espalharam-se por todo o estado fundando congregações e
acampamentos” (Buck e Moraes, 2019: 30). Relevante para a expansão
dos batistas regulares foi a atuação do Pastor Francisco Xavier Pessoa:
por um tempo frequentou com a sua família a Igreja Evangélica
Fundamentalista, em 1974 iniciou oficialmente a Denominação Batista
Regular em Feira de Santana.
O líder do fundamentalismo batista, em Feira de Santana, Pastor
Francisco Xavier Pessoa estudou no Seminário Batista Regular
Bereanos, no Rio Grande do Norte. Foi ordenado, em 1956 e pastoreou
igrejas na região potiguar e ao mesmo tempo ajudava ao missionário
Valmar Mitchell no trabalho de pregação itinerante.
Pastor Xavier era um talentoso pregador, organizou a
Igreja Batista Maranata e a segunda Igreja Batista Regular
Maranata, posteriormente mais duas congregações. Para
formar os pastores fundou o Instituto Bíblico Maranata,
em Feira de Santana (Buck, 2014: 6).
As igrejas locais Batistas Regulares formam as Associações Regionais
de acordo com a região do País. A AIBREB tem uma estrutura voltada
para fortalecer e servir a igreja local, a observância da reta doutrina,
conforme a Bíblia, separação e condenação do que é designado pelo
grupo como mundanismo, heresias e erros teológicos dos católicos e
demais protestantes. Nos Estatutos da Associação Nacional de Igrejas
Batistas Regulares reza no artigo 33º: “Os Artigos de Fé e os Distintivos
Batistas Regulares são irrevogáveis”.
Os principais inimigos da fé, segundo os Batistas Regulares, são o
romanismo, o modernismo, o ecumenismo e o pentecostalismo.
Discordam da Teologia da Prosperidade dos neopentecostais, bem como
do movimento de renovação carismática, que atingiu o protestantismo
histórico e não adotam novidades litúrgicas. Fiéis ao fundamentalismo
seguem a Bíblia literalmente, como regra de fé e prática e não aceitam
leituras interpretativas. Segundo os seus Artigos de Fé: “Cremos que as
Escrituras do Antigo e Novo Testamentos, como originalmente escritas,
foram plenária e verbalmente inspiradas pelo Espírito Santo, e por isso,
expressam toda a revelação divina sem nenhum erro.
Igrejas Batistas independentes ou de tradição congregacional foram
atraídas para o Movimento Batista Regular, a exemplo da Igreja
Evangélica Unida da cidade de Feira de Santana, fundada em 1937 pelo
casal Isobel C. Gillanders e Roderick M. Gillanders, missionários da
Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, a primeira denominação
protestante a se fixar na cidade (SILVA, 2010, p.162). As doutrinas
fundamentalistas foram introduzidas na Igreja Evangélica Unida pelo
Pastor Antonio Fernandes Oliveira, que fez os estudos teológicos no
Seminário Presbiteriano Conservador, em São Bernardo do Campo,
aconselhado pelo Reverendo Sinésio Lyra da Igreja Bíblica
Congregacional e fundador presidente da Associação Fundamentalista
Evangélica da América Latina.
O Pastor Antonio R. de Oliveira foi ordenado ao ministério em 1964
na Igreja Evangélica Unida de Feira de Santana. Assumiu a igreja neste
mesmo ano, pastoreou a comunidade de 1964 a 2012, quando seu filho
Roderick Fernandes assumiu o pastorado. Uma longa liderança, com
muitos fatos e desdobramentos na estrutura eclesiástica. Em 1968,
transformou a Igreja Evangélica Unida em Igreja Evangélica
Fundamentalista, seguindo os princípios teológicos conservadores, que
recebera no seminário.
A Igreja Evangélica Unida, que congregava presbiterianos e
congregacionais, sem perfil denominacional, passou a ser Igreja
Evangélica Fundamentalista. No seu Regimento Interno, as mudanças
doutrinárias de perfil conservador ficavam explícitas, a exemplo da
inerrância bíblica:
As Sagradas Escrituras foram escritas por homens
divinamente inspirados e que são ricos tesouros da
instrução celestial. Que todo o seu conteúdo é a verdade
sem mescla de erro. Que ela é o padrão único e infalível,
pelo qual a conduta humana, os credos e as opiniões
devem ser julgados (REGIMENTO, 1995: 3)
Segundo o missionário R. Buck, a “Igreja Fundamentalista mais
antiga da cidade admirava a firmeza doutrinária e a dedicação ao
trabalho de Deus do Pastor Xavier” (Buck, 2014: 60). A sua presença
como membro da Igreja Evangélica Fundamentalista, em Feira de
Santana foi decisiva para a filiação da referida instituição à Associação
Nacional de Igrejas Batistas Regulares e passou a designar-se Igreja
Batista Fundamentalista. A comunidade adotou as concepções
doutrinárias do fundamentalismo, pleiteando uma maior pureza
evangélica, ética e litúrgica.
A Associação Fundamentalista Evangélica da América Latina
(ALADIC) continuou realizando congressos, com temáticas
escatológicas e conservadoras: Chile (1992), “Vigiai, Cristo está
retornando em breve”; Equador (1995), “Igrejas fiéis evangelizam,
edificam e ficam firmes pela fé”; Guatemala (1999), “Maranatha, o
Senhor está voltando”. Em 2012, aconteceu Campinas, o XXI congresso
da ALADIC e o 18 Congresso Internacional do Concílio Internacional
de Igrejas Cristãs fundados por C. McIntire. Em 2015, aconteceu em
Recife o XXII congresso da ALADIC, com o tema “Vigiar para não cair
no racionalismo, que é muito perigoso” e a presença de delegações dos
EUA e de toda América Latina.
Fundamentalismo e Relações sociopolíticas.
Desde o seu nascedouro, o Movimento Fundamentalista forjou
representações e práticas políticas nos EUA. Ao criticar o modernismo
teológico e o cientificismo da sociedade, os fundamentalistas também
buscavam intervir na ordem social. Consideravam o Evangelho Social e
os sindicatos como diabólicos e um sinal do Anticristo. Lembrando o
episódio do professor de Biologia Scopes que ministrava aulas, seguindo
as teorias do darwinismo e por isso foi advertido em tribunal, Dreher
concluiu que “para o fundamentalismo, a verdade religiosa é pressuposto
para a ação política. Seu alvo é a sociedade perfeita” (Dreher, 2005: 9).
Após a II Guerra Mundial, os fundamentalistas alinharam-se à direita.
McIntyre aderiu à J. McCarthy contra o comunismo e alimentou o
macarthismo entre os evangélicos. No rádio pregava: “ateus, e
comunistas zombavam da Bíblia, desdenharam da vida, escravos do sexo
e filhos dos monstros de olhos verdes” (Armstrong, 2017: 352). O
fundamentalismo se ressignificou: a geração de 1960, incluindo o Pastor
Batista Billy Graham e sua Associação Evangélica, absorveu o
conservadorismo teológico, que desembocaria na década de 1970 na
Nova Direita Cristã e na Maioria Moral, sob a liderança de Jerry
Falwell, que combatia o liberalismo nos EUA. Era o
“neofundamentalismo evangélico” (Martelli, 1995: 10). No Brasil
reavivou o ódio ao comunismo, pois o Protestantismo brasileiro o
identificava como diabólico desde a Revolução Russa, em 1917 e
representavam a Rússia como o reino do terror, mandíbulas do inferno.
“O perigo que ameaçava o mundo era o bolchevismo, o ateísmo e
crimes, semeando a discórdia entre patrões e operários, além de
perseguir as religiões “ (Silva, 2017: 35).
A Confederação Evangélica do Brasil, com o apoio do Conselho
Mundial de Igrejas, fundou o Setor Igreja e Sociedade, em 1955,
proposta ecumênica e voltada para os problemas do País. O grupo era
liderado pelos presbiterianos Richard Shaull, Waldo Cesar e formado
por várias denominações. Realizou quatro conferências nacionais sobre a
responsabilidade social da Igreja (Silva, 2010). Os ecumênicos eram
vistos pelos fundamentalistas como heréticos e comunistas. Reverendo
Sinésio Lyra afirmou: “ a influência comunista está se fazendo em vários
setores da vida nacional. Líderes do Concílio Mundial de Igrejas são
agentes do comunismo, protestantes apóstatas, que vêm ludibriando
igrejas evangélicas” (Correio da Manhã, 1959, ed.20358).
O anticomunismo se confundia com o antiecumenismo entre os
fundamentalistas. Em 1964, frente à Ditadura apoiada oficialmente pela
hierarquia protestante, Reverendo João D. Araújo relatou que no mesmo
dia do golpe, o Reverendo Israel Gueiros, líder fundamentalista, num
programa na Rádio Clube Pernambuco “agradeceu a Deus pelos
militares golpistas e denunciou que, havia uma cátedra de teologia
marxista no Seminário Presbiteriano do Norte, e o professor era João
Dias de Araújo” (Araújo, João Dias. Entrevista concedida à Elizete da
Silva. Feira de Santana, 26 nov., 2013). Gueiros prosseguiu nas
denúncias contra o Reverendo “acusado de incitar os jovens seminaristas
às ideias comunistas”. Delatado, o Reverendo Araújo foi chamado pelo
DEOPS para depor.
A motivação para a delação de Gueiros contra Araújo foi o fato do
mesmo ter escrito o panfleto “O Jovem Cristão e o Jovem Comunista”, o
qual tinha o objetivo de alertar os evangélicos, que o Cristianismo era
completo, não precisava de outras ideologias”. (Araújo, João Dias.
Entrevista concedida à Elizete da Silva. Feira de Santana, 26 nov.,
2013). Os professores ecumênicos foram expulsos dos Seminários
Presbiterianos e destituídos dos presbitérios considerados modernistas, a
exemplo do Presbitério de Salvador (Silva, 2010). Paul Pierson,
professor do Seminário Presbiteriano em Recife, estranhou: “Eu sou do
sul. Pertenço à parte mais conservadora da Virgínia. Fui educado da
maneira mais ortodoxa...Sempre me considerei “sadio na fé”, porém, a
ortodoxia conservadora destes irmãos brasileiros é tal que eu receio por
minha pele ortodoxa” (Pierson, 1974: 98).
A imprensa presbiteriana defendeu a “linha dura como um dos
objetivos eliminar da Igreja Presbiteriana do Brasil aqueles considerados
inimigos do povo de Deus, principalmente ecumenistas e comunistas”
(Villela, 2017: 34). Na ótica dos fundamentalistas batistas, o perigo
vermelho era uma ameaça: “Até em nossas igrejas se produziu a
infiltração. Existia a louca ideia de que era possível embarcar-se no
mesmo barco dos comunistas para construir os mesmos ideais” (O Jornal
Batista, 1964, p.3). Pastor Ebénezer Cavalcante escreveu Os
Missionários Comunistas, reverberando contra a União Cristã dos
Estudantes do Brasil (UCEB). Para os Batistas, estes jovens eram
“missionários comunistas” infiltrados entre os verdadeiros cristãos para
os enganar com promessas de uma sociedade justa. Segundo o
articulista, a UCEB era “mais um órgão muito bem disfarçado do
Comunismo Internacional (...) com os propósitos de arregimentação dos
jovens evangélicos para os fins de comunização do Brasil” (Almeida,
2011: 110).
Pensavam os evangélicos conservadores que os militares de 1964
foram instrumentos divino contra o “perigo vermelho”, que ameaçava a
liberdade religiosa. Em Recife, fizeram um culto em ações de graças a
Deus na Igreja Presbiteriana Fundamentalista, do Reverendo Gueiros.
Em Salvador, Pastor Valdivio Coelho, capelão do exército e pastor da
Igreja Batista Sião, promoveu culto pelo “milagre de Deus ter
preservado o Brasil do comunismo”. O culto realizou-se no teatro Castro
Alves, com a presença de centenas de militares da IV Região Militar e
batistas agradecidos a Deus pelos militares.
O fundamentalismo dos Batistas Regulares também se expressou
politicamente. No contexto da Ditadura de 1964, em Feira de Santana,
um dos motivos da filiação da Igreja Evangélica Unida à Associação das
Igrejas Batistas Regulares foi o conservadorismo político. Conforme Sr.
Antonio Alves da Silva, um cordelista membro da comunidade:
“Apoiado o movimento/Contra a idéia comunista/A igreja muda o nome
Para fundamentalista/Firme na base apostólica/Um novo ideal
conquista” (Silva, 1999).
O evangelicalismo conservador de Billy Graham e suas campanhas
evangelísticas marcaram os protestantes brasileiros no último período
ditatorial no País. Os livros do Pastor Batista estadunidense eram
intensamente divulgados no Brasil. A obra Mundo em Chamas, de 1968
e publicada no Brasil pela Record traz uma mostra do pensamento
neofundamentalista de Graham, no próprio título o mundo em chamas
remete ao fogo apocalíptico que na sua visão tinha uma “explosão
demográfica, cientificismo, iniquidade, imoralidade, novas teologias,
cristianismo sem Deus e o comunismo ateu, que queria dominar o
mundo politicamente “ (Graham, 1968: 248). Os livros de Billy Graham
e seu pensamento conservador evangelical foi tão difundido entre os
Batistas da Convenção Brasileira, que editoriais do Jornal Batista
guardavam extrema similaridade de ideias. Não podemos afirmar quem
copiou quem, porém Graham também escreveu sobre o poder
revolucionário do Evangelho:
Está-se processando em nossos dias uma revolução
silenciosa e sem sangue. Ela não se apresenta com
fanfarras, cobertura jornalística...está transformando o
curso de milhares de vidas...homens de todas as raças e
nacionalidades que encontram a Paz com Deus (Graham,
1968: 78).
Os Batistas organizaram campanhas evangelísticas nas décadas de
1960 e 1970. O marco foi a pregação do Pastor Billy Graham no estádio
do Maracanã, no Rio de Janeiro em 1960, retornou em 1962, com
multidões no estádio de Pacaembu, São Paulo. Em 1965, foi realizada a
Campanha Cristo, a Única Esperança anunciada no ano de 1964 como
revolucionária:
Vai acontecer no Brasil em, 1965, outra revolução. Outra,
mas esta branca, pacífica, sem sangue. Uma revolução
espiritual, de dimensões nunca vistas na História deste
país. Será uma revolução em profundidade. Será uma
revolução de consciências (O Jornal Batista, 1964: 3).
As Campanhas podem ser consideradas enquanto prática política...
serviam para apoiar o governo que estabeleceu o Golpe Militar
(Almeida, 2011: 53). O evangelista Billy Graham retornou ao Brasil em
1974 para mais uma cruzada evangelística, em plena Ditadura militar. O
discurso neofundamentalista do Pastor Batista se concentrou no pecado
pessoal e no moralismo. Em torno de 600 mil pessoas, não apenas
batistas, mas evangélicos de outras denominações ouviram a oração
“Deus abençoe o Brasil” Na ótica individualista do fundamentalismo, a
sociedade se transformará após a conversão de todas as pessoas aos
princípios bíblicos, portanto só o Evangelho salvaria o Brasil, inclusive
do comunismo.
Dentre vários textos que combatiam o comunismo e o Evangelho
Social, o livro do presbiteriano Antenor Santos de Oliveira: “Você
Conhece o Comunismo? Mas Conhece Mesmo”, lançado em 1964,
empolgou os batistas: “obra bastante atual, mormente à face dos
acontecimentos de 31 daquele mesmo mês [março] um alerta sobre os
perigos aos quais o Brasil estava exposto antes da vitoriosa Revolução
de 1º de abril” (O Jornal Batista, 1964). As descrições das práticas dos
comunistas também recorriam a imagens escatológicas e
desqualificadoras, “transcendendo totalmente o terreno político para o
campo específico da religião” (Almeida, 2011: 77). O Protestantismo
brasileiro tem laços espirituais e ideológicos com os “irmãos da Outra
América”. Os EUA, opositor do socialismo e mentor de golpes e
governos militares na América Latina, também eram o “berço do
Evangelho”, a nação evangélica que mandava missionários bem-
intencionados para o País.
Na contemporaneidade, o neofundamentalismo atingiu o
Pentecostalismo e os Neopentecostais. Recentemente, observa-se na
sociedade brasileira uma simbiose entre a Teologia da Prosperidade e
aspectos das doutrinas do conservadorismo evangélico, que por sua vez
também pretendem intervir na política. A retórica neofundamentalista da
politização do religioso pode ser uma das motivações da inserção dos
neopentecostais na política seguindo a Teologia do Domínio. Um
discurso semelhante a Maioria Moral, a agenda da família tradicional,
contra o aborto, o divórcio e pró Israel, como povo eleito.
Ressignificam-se o criacionismo, negando-se a ciência volta-se a ideia
de escolarizar as crianças nos lares para que eles não sofram influências
dos professores materialistas.
A Frente Parlamentar Evangélica, que dá sustentação política ao
Presidente Bolsonaro, quer dominar politicamente o País, típico de
práticas autoritárias, que pensa ter a melhor religião os melhores valores.
Os evangélicos fundamentalistas querem chegar ao poder e exercê-lo
segundo suas doutrinas. Pensam que: “somente através de um tipo de
governo em que a base seja os princípios bíblicos protestantes, será
possível a transformação social almejada. A proposta é de um governo
teocrático” (Dias, 2009: 133).
Na posse o Presidente Bolsonaro recebeu a benção do Pastor
Pentecostal Magno Malta, que concluiu a sua oração, com o seguinte
texto: “O Senhor ungiu a Jair Bolsonaro como um cristão na presidência,
o Brasil acima de todos e Deus acima de Tudo! ” Contraditório num
Estado laico desde a proclamação da República, um desrespeito às
demais religiões do campo religioso brasileiro. Uma cerimônia
evangélica semelhante realizou o Pastor Billy Graham na ocasião da
posse do presidente dos EUA Bill Clinton. O fundamentalismo vem
alimentando o racismo religioso na legitimação do Governo Federal, ao
desqualificar e demonizar as Religiões de Matrizes Africanas.
Protestantes ecumênicos presbiterianos, metodistas, batistas e
luteranos criaram em 2016 um grupo de oposição designado como
Frente Evangélica Pelo Estado de Direito, defendendo a Democracia
contra a cassação do mandato da Presidenta Dilma Roussef e a
instrumentalização política das Igrejas Evangélicas pelo voto de cajado\
neo-cabresto. Desenvolvem atitudes radicalmente opostas aos
fundamentalistas evangélicos.
Considerações Finais.
O Fundamentalismo atingiu diversos grupos protestantes no Brasil
dividindo igrejas e estruturas eclesiásticas. Oficialmente foi minoritário,
porém persistiu como um sinal de ortodoxia e fidelidade aos princípios
bíblicos na maioria das comunidades evangélicas de origem missionária
e pentecostal de forma ressignificada em práticas e discursos,
originalmente, fundamentalistas. Observa-se um avivamento do sagrado,
recriações inovadoras ganham espaço e visibilidade em busca de espaço
político. O avivamento não é um fato isolado, mas acompanha as
mudanças sociopolíticas vigentes num mundo onde os paradigmas, a
racionalidade, as promessas do bem-estar social desmoronaram e os
homens estão a buscar sentido para suas existências em outra direção,
numa dimensão espiritual, que é mais estável. O neofundamentalismo
cumpre, simbolicamente, um relevante papel.
O neofundamentalismo alinhou-se aos setores políticos conservadores
do País defendendo valores tradicionais e o negacionismo científico,
como um retorno anacrônico aos princípios bíblicos. Há um projeto de
poder que se nutre de visões teológicas impositivas, sem levar em
consideração a pluralidade religiosa da sociedade. Se adequa
perfeitamente ao conservadorismo ético e político, quando se opõe ao
Ecumenismo, que leva em conta os problemas sociais e políticos do
mundo e do Brasil.
XII. A Intolerância Religiosa e a sua
Tipificação - Uma Análise de Casos Concretos
Documentos:
BALZA, G. Do UOL Notícias, Em São Paulo 31/03/2011
13h37Atualizada em 01/03/2013 17h19 Deputado federal diz no Twitter
que “africanos descendem de ancestral amaldiçoado”...
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2011/03/
31/deputado-federal-diz-no-twitter-que-africanos-descendem-de-
ancestral-amaldico ado.htm. Acessado em 15/01/2020.
BALZA, G. UOL Notícias, Em São Paulo 31/03/2011 13h37Atualizada
em 01/03/2013 17h19 Deputado federal diz no Twitter que “africanos
descendem de ancestral
amaldiçoado”...https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-
noticias/2011/03/ 31/deputado-federal-diz-no-twitter-que-africanos-
descendem-de-ancestral-amaldico ado.htm. Acessado em 15/01/2020.
BALZA, G. UOL Notícias, Em São Paulo 31/03/2011 13h37Atualizada
em 01/03/2013 17h19 Deputado federal diz no Twitter que “africanos
descendem de ancestral
amaldiçoado”...https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-
noticias/2011/03/ 31/deputado-federal-diz-no-twitter-que-africanos-
descendem-de-ancestral-amaldico ado.htm. Acessado em 15/01/2020.
Bíblia. 2ª edição. Petrópolis: Vozes, 1999.
BIBLIA TRADUÇÃO BRASILEIRA (BTB), Introduções acadêmicas.
São Paulo: Fonte Editorial, 2018.
CALVINO, J. Advertissement contre l’Astrologie Judiciaire. Genebra:
Droz, 1985.
CALVINO, J. Christianae Religionis Institutio. Basilea: Platterum,1639.
MARTELLI, S. A Religião na Sociedade Pós-Moderna. Entre
Secularização BALZA, Guilherme Do UOL Notícias, Em São Paulo
31/03/2011 13h37Atualizada em 01/03/2013 17h19 Deputado federal
diz no Twitter que “africanos descendem de ancestral
amaldiçoado”...https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-
noticias/2011/03/ 31/deputado-federal-diz-no-twitter-que-africanos-
descendem-de-ancestral-amaldico ado.htm. Acessado em 15/01/2020.
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Royal Society, 1687.
NEWTON, I. Observations upon the prophecies of Daniel and the
Apocalypse of St. John. Dublin: Risk, Ewing, Smith, 1733.
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Conhece Mesmo?!!!”. Rio de Janeiro v., 26 jul. 1964.
O Jornal Batista, Rio de Janeiro 20 set., 1964. Não desmintamos o nosso
presidente. Rio de Janeiro, 20 set., 1964.
PIO X, Papa. Carta encíclica Pascendi dominici gregis. 1907. Disponivel
em: http://www.vatican.va/content/pius-
x/pt/encyclicals/documents/hf_p-x_enc_19070908_pascendi-dominici-
gregis.html. [Acesso em: 12/4/2020.]
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Table of Contents
Capitulo-1
Capitulo-7