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Infralapsarianismo vs

Supralapsarianismo: uma refutação a


Dione Cândido
 Autor do post

 Por Francisco Tourinho


 Data de publicação
 10 de setembro de 2019

  Nenhum comentário em Infralapsarianismo vs Supralapsarianismo: uma


refutação a Dione Cândido

O irmão Dione Cândido, a quem tenho muito apreço, escreveu


recentemente um pequeno texto em seu perfil no facebook a
respeito da questão infra/supralapsarianismo, talvez a disputa mais
encarniçada dentre os eruditos calvinistas. Vamos ao texto de
Dione Cândido:

“A questão não é entre infralapssarianismo e supralapssarianismo.


A questão é entre ou ser supralapssariano ou não ser nada sobre o
assunto, i.e. suspender o juízo totalmente. Se uma mente racional
não está disposta a pensar dos fins para os meios, jamais estará
disposta a pensar dos meios para os fins. Se não podemos fornecer
a primeira opção como padrão para a mente divina, pintando-a
como uma mente teleológica que desde sempre sabe aonde quer
chegar, muito menos poderemos fornecer o segundo padrão no
qual a mente divina pensa dos meios para os fins randomicamente,
o oposto de intencionalidade e determinação racional. Pense num
exemplo no qual uma mente, em seus pensamentos, tenta chegar a
algum lugar pensando a partir dos meios — para começar, não se
pode pensar em chegar a algum lugar, isso já seria pensar dos fins
para os meios! Sim, o aspecto teleológico deve ser omitido no
infralapssarianismo desde o princípio para que o aspecto randômico
possa assumir a dianteira e, então, deve aparecer falaciosamente
ao final como se sempre estivesse embutido no todo, fazendo tudo
parecer proposital, predeterminado e intencional. No final das
contas, os infralapssarianos só conseguem nos pintar um quadro
esquizofrênico da mente divina. A loucura mental é o único exemplo
compatível do nosso mundo para a doutrina deles. Os
infralapssarianos estão tão equivocados que nem sequer poderiam
disputar com os supralapssarianos; eles nunca jogaram conosco
realmente e, por isso, a questão seria entre ou ser supralapssariano
ou não ser nada sobre o assunto.”
O irmão Dione Cândido afirma que se Deus não pensar dos fins
para os meios, então seu pensamento não pode ser racional, eu
não discordaria necessariamente disso, mas discordo totalmente
que isso esteja ligado ao supralapsarianismo, muito pelo contrário,
o supralapsrianismo é justamente o grande problema desse
argumento. O supralapsarianismo é uma variação do pensamento
reformado, mas que não é confessional. Para os supralapsarianos,
a ordem lógica dos decretos (antes da criação na eternidade) é a
seguinte:

1) Eleger alguns homens que seriam criados para a vida, e


condenar outros para a destruição.
2) Criar toda a humanidade: os eleitos e os reprovados.
3) Decretar a queda
4) Prover um Redentor para os eleitos.
5) Enviar o Espirito Santo para aplicar a redenção obtida por Cristo,
no coração dos eleitos.
Então eles ensinam que se alguém planeja ir a uma loja,
primeiramente ele pensa na loja, depois no caminho que vai pegar
até ela, mas quando vai executar, primeiro pega o caminho e depois
chega à loja. Assim eles pensam que os decretos na ordem da
intenção, devem ser o inverso da ordem da execução. Até então
não temos muitas discordâncias, o problema é aplicar isso à Deus
dentro de um esquema supralapsariano. Lembrando que o
conhecimento de Deus de um evento certo no futuro, só se dá por
ocasião da emissão do decreto. Só existe presciência por decreto.
Mas se Deus emite o decreto de eleger homens, antes de emitir o
decreto de criar homens, então Deus tem por certo o evento futuro
da criação de homens, sem decretar a esse evento futuro, o da
existência dos mesmos. Ou seja, caímos no erro arminiano ou
molinista de atribuir a Deus um conhecimento de evento futuro
como certo, sem a necessidade de um decreto. Ou seja, para se
pensar em uma lanchonete, primeiro deve-se existir a lanchonete,
pois assim como homem algum pensa em algo que não existe,
Deus também não pode pensar em um evento futuro necessário
sem que ele mesmo tenha colocado esse evento lá através do
decreto, logo, o supralpsarianismo é impossível por esse método
aplicado pelo nosso irmão Dione Cândido, e ele mesmo nos oferta a
ferramenta para a derrota do seu argumento. Não entendo que
racionalidade há em eleger o que não há para ser eleito, é como se
Deus ficasse em uma casa vazia procurando os móveis, é
esquizofrenia pura! A racionalidade então, se torna loucura no
sistema supralapsariano.
No entanto, nós infralapsarianos não sofremos de tal problema, pois
Naquele que tudo sabe sem progressão alguma, consideramos uma
dupla ordem as obras de Deus: uma é a obra da providência e outra
é a obra da predestinação. Na ordem da providência Deus
primeiramente, em sua ordem da intenção, quis manifestar sua
glória na criação e então na permissão da queda. Conforme a
ordem da predestinação, Deus na ordem da intenção quer
manifestar sua glória pela misericórdia, elegendo muitos dentre os
caídos e providenciando redenção a estes, e sua justiça, deixando
outros aos seus próprios pecados. No entanto, entendemos a
salvação em três modos: destinação, aquisição e aplicação. Então
há três decretos em relação a ela: eleição, redenção e
vocação. Assim, Deus por sua eterna bondade, mostra sua
misericórdia à raça humana, pois dado que todos caíram, a
humanidade inteira estaria destinada ao inferno, Deus então elege
incondicionalmente a muitos, para evitar a tragédia da humanidade
inteira se perder, e a outros ele “passa por cima”, e entrega aos
seus próprios caminhos, para executar seu juízo. Isso servirá como
um meio de lembrar ao homem no futuro, que o pecado não fica
sem punição, pois se todos são salvos, os seres humanos poderiam
pensar que nada acontece caso pequem, já que todos foram salvos.
Mas, visto que, ele não poderia exercer misericórdia sem livrá-los
da ira divina, então decreta a morte do cordeiro, que será o
expiador dos pecados dos eleitos, adquirindo para eles salvação, fé
e santificação. Após a criação, queda, eleição e reprovação, morte
de Cristo, temos o chamado eficaz, no qual Deus concede a graça
eficaz para todos os eleitos, por ocasião da pregação da Palavra de
Deus. Através da graça, ao homem é dado fé, arrependimento e
justificação, tudo pelo mérito de Cristo, que salva o eleito
incondicionalmente. Não há espaço para previsão de méritos. A
reprovação prevê méritos somente no tocante ao pecado original,
que é condenatório, visto que todos já eram perdidos por seus
próprios méritos.

Vejam, Deus quer primeiramente manifestar a sua glória, e para


isso Ele emite decretos que não precisam ser supralapsarianos,
pois se fossem, estaríamos postulando um Deus esquizofrênico,
que elege o que inelegível, e um Deus arminiano que prevê futuro
sem decreto.
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supralapsarianismo-uma-refutacao-a-dione-candido/

22/10/2022

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