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Roméro da Costa

Machado

A Sociedade Secreta
de Jesus
IBRASA
Instituição Brasileira de Difusão Cultural Ltda.

São Paulo – SP

Sumário
O Avô de Deus
Erros e Contradições Bíblicas: Antigo
Testamento
Erros e Contradições Bíblicas: Novo Testamento
Os Ensinamentos de Jesus
O Sermão da Montanha e As bem-aventuranças
A Sabedoria e os Ensinamentos de Jesus
Os Essênios
A Sociedade Secreta de Jesus
1 º Final Jesus Morre na Cruz
2 º Final Jesus NÃO Morre na Cruz
"A dor, o medo e o sofrimento são o combustível
das religiões. E o que se costuma chamar de "fé",
na maioria das vezes não passa de uma
expectativa desesperada do ser humano em ver
resolvido seus problemas, por algo ou alguém
alheio ao seu conhecimento."

O Avô de Deus
— "Pai, você não acha que Deus deve ser muito
triste???..."
— "Triste? Triste, por que, filho?"
— "Claro que ele é triste, pai. Ele não tem avô!"
Essa observação, de um dos meus filhos, antes de
alcançar os dez anos de idade, tomou-me de
surpresa, embora, em si, o tema não tenha ou
contenha novidade alguma. Entretanto, levado a
sério, sério mesmo, não há como desviar-se da
questão, passar ao largo de uma observação como
esta, simplesmente porque ela é apresentada num
formato infantil... ou mesmo não se pode contar
uma historinha qualquer para iludir uma criança,
fugindo ao tema... são recursos simples de
adultos, inaceitáveis face aos danos que podem
ser produzidos caso a questão não seja esclarecida
adequadamente, ainda que para uma criança, e
também por tal fato ser um escapismo tolo, uma
fuga ao tema que, aparentemente infantil, merece
um aprofundamento muito além das
considerações triviais. Afinal, encarada com
sinceridade e honestidade, a questão tida como
infantil é muito mais séria, muito mais complexa e
profunda do que parece.
Principia pelo fato de que para uma criança, a
figura do avô é tudo, é a felicidade suprema. O avô
é o "pai com açúcar". É o avô quem leva o neto
para passear nas férias e em alguns finais de
semana. É o avô quem leva o neto para pescar,
para passear nos parques temáticos, que conta
pacientemente histórias encantadas. O avô, para
um neto, é a felicidade em vida. E, segundo este
neto, coitado de Deus, ele não tinha avô. Deus era
menos feliz do que qualquer menino da Terra que
tem um avô.
Aí, neste ponto, enquanto eu disfarçava meu
embaraço em responder honestamente a um
questionamento simples de uma criança e tentava
organizar meus pensamentos, meu filho
aprofundou o tema e foi mais radical ainda... Deus
não tinha avô, não tinha pai, não tinha mãe, não ti-
nha irmãos... era um solitário, coitado.
— "Coitado de Deus, né pai? Ele vive sozinho!!!"
Pronto, estava estabelecida a questão de uma
forma simples e singela, numa clareza de uma
argumentação infantil, cristalina, e que ao mesmo
tempo apresentava-se de uma complexidade
terrível, uma vez que nada podia ser simplificado.
A questão exigia uma resposta honesta, correta e
direta.
—"Olha, filho, tudo que você vê, tudo que existe
no mundo, tudo, tudo, foi Deus quem criou. E se
algo existe no mundo, neste ou em qualquer outro
planeta, no sistema solar, ou não, em qualquer
outra galáxia, é porque foi criado por alguém. E
esse alguém é Deus, o criador do universo."
—"Pai, e onde Ele mora? Onde Ele vive? Como Ele
é?"
—"A gente costuma dizer poeticamente que ele
mora no coração das pessoas. Ele não tem forma,
ou tem a forma que você quiser. Chame-o de
Criador do Universo, de Espírito Santo, de "Mãe
Natureza", do que você quiser. Deus existe e está
em todos os lugares e em todas as coisas. Mas,
lembre-se que Deus é o que mora no seu coração
e que não tem forma, muito menos uma forma
humana. O Deus barbudo, sentado numa nuvem,
perseguindo e castigando as pessoas, é uma coisa
burra, tão improvável quanto velha. Esse Deus
barbudo é uma figura mitológica, cópia malfeita e
contraditoriamente escarrada da mitologia grega
ou romana, onde os deuses viviam de roupão
branco, no Olimpo, e virava e mexia interferiam na
vida das pessoas, privilegiando uns e castigando
outros."
— "Mas, pai, se Deus existe e ele é bom, é do
bem... por que ele deixa existir o mal?"
— "Por causa de uma coisa chamada livre arbítrio.
Imagine o seguinte: Existe Deus. Existe o plano
divino (que é a vontade de Deus), do qual nós não
temos o mínimo conhecimento ou interferência.
Mas, além do plano divino (destino, maktub) existe
o livre arbítrio (que é a vontade do ser humano, a
interferência pessoal de cada um). O livre arbítrio
existe para que cada um tome seu destino nas
mãos e siga o caminho que achar mais
conveniente, arcando com as conseqüências de
agir bem ou mal. Deus foi muito sábio em dar ao
ser humano o livre arbítrio. O mundo seria
horroroso com tudo igual, tudo certinho, todo
mundo fazendo as mesmas coisas, ninguém se
esforçando para melhorar. Seria um tédio só. Não
fosse o livre arbítrio e todos nós, seres humanos,
seríamos iguais, todos bonzinhos, como se
fôssemos robôs. Não haveria o mal. Só haveria o
bem. Tudo já estaria previamente escrito. E nin-
guém precisaria fazer nada. Era só cruzar os
braços e deixar a vida seguir seu curso pois tudo já
estaria previamente escrito por Deus, sem a
interferência humana."
— "Mas pai, se ele não é um velho barbudo, como
você diz, como é que ele é?"
— "Eu não sei, ninguém sabe e quem disser que
sabe estará mentindo. Ninguém jamais viu Deus.
Guarde isso como uma verdade absoluta para o
resto de sua vida. Ninguém sabe ou saberá sobre
a forma de Deus, sobre como é Deus, sobre o
início da humanidade ou sobre o fim dela. A vida é
uma festa em que entramos nela depois dela já ter
começado e saímos dela antes de acabar. Tudo
que for dito sobre o antes e o depois, de onde nós
viemos e para onde nós iremos, ou sobre o início
da vida e o após a morte, será uma grande
invenção humana sem qualquer base lógica ou
científica. São meras conjecturas e invencionices
para tentar esclarecer o que ninguém sabe ou tem
certeza. Pois de certo, certo mesmo, só os
mistérios que o homem viverá uma vida inteira e
jamais encontrará as respostas."
— "Filho, essas histórias inventadas sobre o início
do mundo e das vidas passadas ou do após a
morte decorrem do fato do ser humano sempre
querer ter uma explicação para tudo. O ser
humano não se conforma que haja uma só questão
a que ele não responda. O ser humano não admite
dizer "eu não sei". Daí as pessoas inventam
histórias mirabolantes sobre a origem da
humanidade e a criação do mundo ou de como é
ou será o mundo dos seres humanos após a morte.
A humanidade não aceita o fato de que os seres
humanos (todos os que já viveram até hoje) não
tenham conseguido responder com inquestionável
acerto as questões sobre o significado da vida:
Como o mundo começou? Como é e para onde nós
vamos após a morte? Este é o grande mistério da
vida, irrespondível."
"O ser humano, apesar de haver caminhado mais
de dez mil anos de "vida inteligente" mal deu um
passo além da idade da pedra. Contínua o mesmo
selvagem pré-histórico, ignorante, e que sequer
conhece a si mesmo. Não consegue resolver coisas
muito mais elementares e simples (se é que isso
pode ser chamado de simples) como entender e
controlar as ações humanas involuntárias."
— "Pai, o que é esse negócio de ações humanas
involuntárias?"
— "De uma forma simples, é mais ou menos assim:
Você manda o olho piscar, ele pisca. Você manda
a boca falar, ela fala. Você manda a perna andar,
ela anda. E assim por diante. Essas são as ações
humanas voluntárias. São as ações do corpo
humano que você pode comandar.
As ações humanas involuntárias são aquelas que
Deus deu a você e que não dependem de você
mandar que aconteça ou de sua vontade. Você
não manda a unha crescer, mas ela cresce
independentemente de você mandar. Você não
manda o cabelo crescer, mas ele cresce. Você não
manda os ossos crescerem, mas eles crescem.
Você não manda as células se multiplicarem, mas
elas se multiplicam. Você não manda criar um
óvulo, e muito menos criar um espermatozóide, e
eles são criados independentemente da sua
vontade.
Já imaginou você monitorando milhões de
espermatozóides? "Isso! Agora! Vamos lá! Todo
mundo junto! Vamos invadir o óvulo, vamos criar
vida"... O ser humano, coitado, imagina saber
muito, mas não sabe e não domina sequer os mais
"elementares" segredos contidos nele mesmo, que
dirá do que está além dele.
Além destas questões, de natureza física, os seres
humanos têm muita dificuldade em assimilar e
trabalhar com o que não pode ser visto, com o que
é imaterial. O amor, ele confunde com prazer da
carne. A bondade, ele confunde com dar esmola. E
assim com muitas e muitas coisas que são
imateriais. O ser humano não se conforma com o
imaterial. Tenta dar forma para as coisas
imateriais, mas coitado, cria toscas figuras pobres
para coisas tão complexas que ele não sabe como
são ou como foram formadas.
— "Você é capaz de imaginar fisicamente a paz, o
amor, a bondade, o perdão? Pois é... com Deus é a
mesma coisa. O ser humano, incapaz de lidar com
um Deus imaterial, desconhecido, tratou de criar
uma forma para Ele, como se pudesse dar uma
forma para o amor, para a compreensão, para a
paz, para o perdão e tantas outras coisas
imateriais. Mas, principalmente, foi em razão do
medo do ser humano diante da vida e da falta de
respostas para a sua origem e existência que o
homem criou um Deus à sua imagem e
semelhança."
— "Ué... Deus criou o homem ou o homem criou
Deus? Deus então é fruto do medo do ser
humano?"
— "Não é bem assim... Apesar de John Lennon
haver dito na música "God" (Deus) que "God is a
concept by which we measure our pain" (Deus é
um conceito pelo qual nós medimos nossa dor),
Deus não é só fruto da dor, do sofrimento ou do
medo. Embora eu reconheça que a dor, o
sofrimento e o medo são campos fertilíssimos para
a idolatria a Deus, de uma maneira exacerbada e
exagerada, onde o ser humano, medroso,
sofredor, torna-se vítima fácil dos gerentes de
religião e dos exploradores da fé alheia. E aí, neste
caso, Deus passa a ser uma idolatria absurda,
fruto do medo e da dor, com o qual eu não
concordo a mínima, pois Deus não é isso e não é
só isso. Razão pela qual eu escrevi (em 1992) que
eu não era "Nem tão estúpido para ser ateu, nem
tão medroso para acreditar em Deus."
— "Peraí... agora confundiu um monte de coisa...
Ateu é burro, estúpido? Você acredita ou não
acredita em Deus? Só os medrosos acreditam em
Deus? Foi Deus quem criou o ser humano ou
fomos nós que criamos Deus? Deus Não existe?"
—"Calma... vamos por parte. Ser ateu sem lógica
(negar por negar) é burrice, é estupidez, pois nega
a sua própria existência. Ser ateu por discordar de
um Deus personificado à imagem e semelhança
dos homens, é até inteligente.
Eu, de minha parte, acredito que Deus existe.
Claro que alguém criou o que conhecemos por
universo. E em razão disso eu assumo que Deus
existe. A prova da existência de Deus é a
existência do mundo. Se o mundo existe, alguém
criou. E este alguém que criou, nós chamamos de
Deus, de criador do universo ou dê você o nome
que quiser. Mesmo que alguém algum dia diga
para você que o mundo foi criado pelo "Big Bang"
(uma grande explosão), alguém criou o "Big Bang",
e este alguém é Deus. Mas, daí dizer que ele é um
velho barbudo sentado numa nuvem a distância é
grande.
— "Tudo bem... mas quem criou Deus?"
— "Filho, tente imaginar dois conceitos de Deus.
Um Deus, imaterial, sem forma definida,
desconhecido, que existe antes de tudo, que criou
tudo que existe no mundo, e que nada sabemos
dele. É a história do antes do nascimento e do
depois da morte. Ninguém tem a resposta. Nin-
guém sabe. E quem disser que sabe, seja quem
for, estará mentindo. E outro Deus, o Deus
barbudo sentado na nuvem, o Deus mitológico,
que é uma invenção do ser humano, que,
sentindo-se só, com medo, com muito medo da
vida e da falta de respostas para a sua origem e
existência, este homem criou um Deus à sua
imagem e semelhança. É o tal Deus velho,
barbudo, sentado numa nuvem, mitológico, e que
promove um monte de justiças e injustiças, in-
terferindo diariamente na vida das pessoas. De
uma maneira bastante genérica. É o Deus
personificado que algumas religiões criam,
inventam, pregam e vendem por aí a torto e a
retalho."
— "Esse Deus personificado pelas religiões, então,
é uma invenção como se fosse o Papai Noel dos
adultos?"
— "É por aí... Mais ou menos isso... Se um dia apre-
sentarem a você a imagem física de Deus, pode rir
porque você estará diante de um mentiroso que
acredita no Papai Noel dos adultos. Mas, se você
conseguir sentir no seu coração, amor pelo seu
semelhante, paz interior, perdão para aqueles que
errarem (mesmo que sejam seus adversários ou
inimigos), fraternidade, harmonia, você estará
diante de Deus. Ele está em todas as coisas da
humanidade e é um mistério profundo e absoluto.
Ele está na sua gargalhada, que eu tanto adoro.
Está na bondade do ser humano. Está no amor ao
próximo. Está numa planta que nasce. Está na
chuva que cai e traz vida. Está no sol que aquece.
Está na bênção de cada dia que nasce. Está em
tudo que existe e em todas as partes. Não busque
Deus em uma forma. Busque Deus em um
sentimento."
— "Então, pai, se eu tiver um bom sentimento eu
me aproximo de Deus? Se eu der esmola ou um
brinquedo meu para uma pessoa que precisa eu
me aproximo de Deus?"
— "Não tão simples assim. Antes de mais nada, se
você, por exemplo, pegar uma moeda, uma roupa
ou um brinquedo e der a alguém que esteja
necessitando, faça a sua doação em segredo e não
deixe a sua mão esquerda saber o que a direita
está fazendo. Não faça seu ato em público e nem o
divulgue, pois isso é um assunto particular e
restrito entre você e Deus. Ao repartir o que você
tem a mais com quem não tem, você estará
praticando alguns dos maiores ensinamentos
cristãos, como a piedade, o amor ao próximo e a
humildade. E entre tantas as formas de se aproxi-
mar de Deus essa é apenas uma dessas
pequeninas formas. Entretanto, o mais importante
ainda não foi feito. Ou seja, agradecer a Deus por
ter e por poder dar. Agradeça pela sua saúde, pelo
seu corpo perfeito, pela boa vida que você tem e
pela chance de você ter a graça e a oportunidade
de poder ajudar a alguém materialmente. E aí,
filho, aí sim, diante deste sentimento nobre, que
preenche o seu coração de amor ao próximo, você
estará diante de Deus.
Como na prece franciscana, a felicidade em
encontrar Deus está em dar mais do que receber,
consolar mais do que ser consolado, buscar a
fraternidade no amor ao próximo e a paz no
silêncio do coração. Reconhecer-se no seu
semelhante. São coisas aparentemente simples,
mas de uma dificuldade muito terrível de ser
superada.
— "Então, pai, toda vez que eu der esmola ou um
brinquedo meu para alguém que precisa, sou eu
quem está recebendo o presente por poder dar e
por poder me aproximar de Deus?"
— "Mais ou menos isso. Não basta dar uma esmola,
uma ajuda ou um brinquedo. Não é a esmola que
te aproxima de Deus. O que te aproxima de Deus
é o sentimento de piedade pelos que têm menos e
na sua vontade em ajudar ao próximo. Pois a
esmola sozinha, sem o sentimento de ajuda ao
próximo, é nada, é só um ato mecânico e material,
mais nada.
Antes de mais nada entenda a diferença entre o
material (o ato material de dar) e o imaterial (o
sentimento de querer ajudar ao próximo) e que a
coisa funciona de forma bastante oposta e
diferente do que possa parecer, pois você (e não a
pessoa a quem você está ajudando
materialmente) é que está recebendo uma dádiva.
Você está tendo uma oportunidade de através de
uma ato material ajudar um semelhante, e com
isso receber uma oportunidade (imaterial) de
crescer e melhorar como ser humano. Você está
chegando-se a Deus (sentimento imaterial)
através de um gesto material. E aí, sim, agradeça
a Deus, pois você recebeu uma graça de poder
ajudar a alguém e de poder melhorar como ser
humano. Ou seja, é você quem deve agradecer a
Deus por ter tido a chance de melhorar como ser
humano. Entendeu agora?"
—"Tá certo, pai. Agora eu entendi legal."
—"Na busca pelo sentimento nobre de caráter, na
busca pelo aperfeiçoamento como ser humano é
que você irá encontrar Deus. Mas você não precisa
buscar Deus somente numa esmola ou numa
ajuda ao seu semelhante. Você poderá vê-lo numa
planta, numa paisagem, num rio, numa cachoeira,
num animal, num ser que nasce, num por do sol,
num arco íris, e em todos os nascimentos que
representam o milagre da vida. Principalmente
busque Deus no seu semelhante. Basta você abrir
o coração com sentimento que Ele entra e ilumina
a sua vida. E por isso, agradeça a Deus, todos os
dias pelo milagre da vida e por você fazer parte
deste milagre.
Isso representa dizer, meu filho, respondendo à
sua pergunta, que Deus não sendo uma pessoa, à
imagem e semelhança do ser humano, como ele
foi erradamente inventado pelos homens, Deus
não tem avô, não tem mãe, não tem irmãos, não
se sabe se Ele é homem ou mulher, se é preto ou
branco, e muito menos qual é a sua real forma.
Conforme eu havia dito, isso é um mistério sobre o
início e o fim da vida. Ninguém sabe como ele é.
Ninguém nunca o viu pessoalmente, e quem disser
em contrário estará mentindo para você.
—"Mas, pai, e as imagens que a gente vê?"
—"São apenas isso... imagens. Frutos das
religiões. Conforme eu já havia dito, o ser humano
tem muita dificuldade em lidar com o que não vê,
com o imaterial. E Deus, como o amor, a bondade,
o perdão, e todas as coisas imateriais, para poder
ser melhor compreendido, precisava ser
personificado. Daí a necessidade das religiões de
se ter uma imagem para Deus e para seus
auxiliares. E como o ser humano não sabia como
lidar com o imaterial, passou a personificar o
amor, o perdão, a bondade, a fraternidade, a
esperança inventando formas para Deus. Criou
vários tipos de imagens, que mudaram com o tem-
po, através da história da humanidade. Zeus, por
exemplo, já foi uma imagem de Deus muito
popular na Grécia. Assim como a sua versão
romana Júpiter. Em quase todas as religiões os
seres humanos inventam imagens para retratar
Deus ou seus auxiliares, semideuses, anjos,
santos, etc. E isso decorre fundamentalmente
daquilo que já foi dito: da incapacidade do ser
humano em lidar com o imaterial.
Independentemente de religião, Deus, o criador do
universo, Mãe Natureza, ou o nome que você
queira dar, é um só. Cada religião dá a sua versão
para Deus. Cada um personifica Deus como
quiser... índios acreditavam no Deus Sol e na
Deusa Lua. Gregos acreditavam num Deus, ou
Zeus, cercado de deuses e deusas. Deus do Vento,
Deus do Mar, Deus do Vinho, Deusa da Beleza,
Deusa da Caça, etc. Tinha Deus para tudo que era
gosto. Tudo que existia na natureza, na face da
terra, tinha um Deus específico por trás regendo
essa coisa.
— "Puxa vida, pai, os índios e os antigos eram
muito ignorantes."
— "Não, filho. Não é ignorância, é mais solidão, dor
e medo diante do desconhecido e da vida do que
ignorância. O ser humano sempre foi assim.
Sempre teve muito medo diante da vida e do
desconhecido. E sentindo-se incapaz de resolver
sozinho, as coisas que desconhecia e do medo que
sentia inventava um Deus capaz de resolver as
coisas que ele sozinho achava-se impossibilitado
de resolver. E a grande maioria da humanidade faz
exatamente isso. Incapaz de buscar em si, em seu
interior, as forças para enfrentar a vida, transfere
para Deus a responsabilidade de resolver seus
problemas particulares.
Em resumo, o ser humano sempre transferiu para
Deus a responsabilidade de resolver as coisas para
ele, ser humano. Desde que o mundo é mundo,
nada mudou. Ainda hoje é assim, acredite. O ser
humano de hoje é exatamente igual ao selvagem
primitivo ou ao índio de milhares de anos atrás.
Teme muito mais a Deus do que o ama de
verdade. O sol, a lua e os astros ainda hoje são tão
adorados com a mesma intensidade e o mesmo
fervor quanto nos milhares de anos passados, só
que atualmente esses astros são adorados sob a
forma de ciência (?), chamada de astrologia.
Ainda hoje, pessoas ditas e tidas como sérias se
apresentam como: Eu sou sagitariano, eu sou de
libra, eu sou de leão, etc., como se a posição dos
astros no dia do nascimento de alguém pudesse
determinar caráter, forma de conduta, etc. Na
realidade, o ser humano do século vinte e um tem
os mesmos medos e anseios do homem da idade
da pedra, apavorado diante da vida, e buscando
proteção num astro, numa estrela, num sol, numa
lua, num planeta qualquer...
Ensinamentos cristãos e budistas são bastante
claros a respeito disso e alertam para este fato ao
dizerem: "Parem de buscar pelo sagrado no céu.
Abram as janelas de seus corações e com um
transbordamento de luz o sagrado virá e trará a
alegria ilimitada... Vocês fingem que precisam
adorar o sol... mas o sol não atua
espontaneamente, e sim pela vontade do Criador
do Universo, que o fez"
Dizendo assim, friamente, até parece cruel retratar
que o ser humano não evoluiu nada em mais de
vinte séculos. Mas, por mais constrangedor que
possa parecer, em mais de vinte séculos de
"evolução", o ser humano está somente a um
passo adiante da idade da pedra, pois ainda hoje
muita gente transfere seus medos e suas
responsabilidade para Deus e seus "assistentes" e
carregam badulaques, amuletos, estátuas,
imagens de semideuses, anjos ou santos de sua
devoção, buscando "proteção" contra seus medos
e suas fragilidades, transferindo para Deus e seus
auxiliares a responsabilidade de resolver os
problemas dos seres humanos.
Basta você visitar uma igreja, templo, sinagoga,
mesquita, terreiro (de qualquer religião) para
conferir todo o medo do ser humano diante da
vida, quer pela idolatria das imagens (mais por
medo do que por amor), incentivada pelas
religiões, quer pelas ofertas de ex-votos (pagado-
res de promessas) pelas "curas" e "graças"
recebidas, quer pelos amuletos — coisas
inanimadas — e que tais, vendidos para darem
sorte ou "proteger" a quem os carregar, como se
isso, sendo algo além de seus poderes pessoais
reais, pudesse mudar ou interferir na vida das
pessoas."
— "O ser humano, pai, ao invés de buscar se
fortalecer interiormente para sua defesa, por
medo, então transfere seus problemas para coisas
(amuletos, imagens) que supostamente possam
protegê-lo?"
—"Mais ou menos, filho. Não se pode generalizar,
pois existem religiões que ensinam a busca
permanente do aperfeiçoamento interior e o
autoconhecimento como formas de buscar a Deus.
Algumas religiões até têm máximas como: "Se
queres um escudo impenetrável, fica dentro de ti
mesmo."
Mas, não pense que o medo e a fragilidade
humana param por aí na idolatria de imagens e
personificações em metal, barro ou gesso. Há
coisa muito mais antiga do que a idolatria de
imagens, que persistem até hoje e que são ter-
ríveis. São os sacrifícios de animais (e até de
gente) para "aplacar a ira dos Deuses" ou para
buscar uma "graça" ou "ajuda" espiritual,
exatamente como era feito há milhares e milhares
de anos, desde a idade da pedra, por pessoas ou
povos tidos como "ignorantes".
Isso mesmo. Pessoas medrosas diante da vida
matavam ou ainda matam pobres e inocentes
animais (e até pessoas), sob a desculpa de fazer
oferenda a deuses, santos, anjos ou coisa que o
valha, como se Deus fosse um ser sanguinário que
bebesse o sangue de animais e seres humanos. E
esperam, essas pessoas (ignorantes), com isso,
obter algum tipo de graça pelo holocausto e
mortandade de gente e animais.
Conforme você pode ver, meu filho, não há limite
para o medo do homem e a superstição do ser
humano. Este ser humano tem um longo caminho
a cumprir, pois evoluiu muito pouco desde a idade
da pedra ou mesmo comparado ao selvagem, ao
índio, ao silvícola.
—E falando em índio, silvícola, outro grande
engano geral da humanidade é o ser humano dito
civilizado, contrapondo-se à "ignorância" do índio,
dizer-se monoteísta, achando que é monoteísta,
sem jamais ter sido monoteísta.
Ou seja, o ser humano sempre praticou o
politeísmo, dizendo-se monoteísta
independentemente da religião que professava. O
ser humano sempre aceitou Deuses, Deusas e
respectivos auxiliares, sob as mais variadas
formas, semideuses, anjos, santos, apóstolos,
espíritos (santo ou não). Muito dificilmente você
encontrará um ser humano que acredite em Deus,
somente em Deus e mais nada, sem semideuses,
anjos ou quaisquer outros auxiliares. (Não que isso
— politeísmo — seja bom ou ruim. É só um registro
para deixar bem claro que as pessoas, no afã de
sentirem-se superiores aos "ignorantes" silvícolas,
sequer se dão conta que são tão politeístas quanto
os silvícolas, embora imaginando-se monoteístas)
Da mesma forma, assim como existe a crença na
pluralidade de Deuses e ajudantes, a pluralidade
de crenças faz parte do gênero humano. Sempre
haverá pluralidade de religião, mesmo nos
domínios mais austeros e totalitários, pois a
liberdade de fé ou crença religiosa é um dos mais
importantes dos direitos humanos (Direito à vida,
Direito à liberdade... de pensamento... de
expressão... de crença religiosa).
Embora nem sempre aconteça esta liberdade de
crença religiosa nos regimes totalitários, vez por
outra, até mesmo nos países hipocritamente
chamados de democráticos, como os Estados
Unidos, por exemplo, o Estado sempre procura dar
uma interferência direta na religião do povo em
geral, procurando impor a "sua" religião como
oficial.
Na moeda americana, por exemplo, há a inscrição
religiosa de que "Nós acreditamos em Deus" (In
God we trust). E os ateus? Como ficam? Não têm o
direito de não acreditar no Deus do dólar e de Wall
Street? São obrigados a acreditar no Deus do
Governo? O Governo pode ter um Deus particular?
Pode impor uma religião?
Outro exemplo desta interferência estatal na
religiosidade das pessoas é o caso dos
julgamentos americanos, onde há a
obrigatoriedade de não ser ateu e ter que "jurar
por Deus", sobre a Bíblia, que você está dizendo a
verdade ("So help me God"). Felizmente, num
julgamento famoso, o editor Larry Flynt desafiou a
corte americana e não jurou sobre a Bíblia,
dizendo que ele tinha o direito constitucional de
não jurar pelo Deus do governo americano, e que
a pátria não podia ter um Deus oficial. Ele queria
ter a liberdade de pensamento, a liberdade de
expressão e a liberdade de crença religiosa. Foi
uma das maiores vitórias do americano comum
contra a hipócrita religião oficial governamental
americana. ("O povo contra Larry Flynt")
— "Puxa pai, eu nunca imaginei que isto pudesse
acontecer num país como os Estados Unidos.
Ainda bem que aqui no Brasil isso não existe. Não
é?"
— "Nada disso. Aqui no Brasil também tem esse
tipo de autoritarismo religioso institucionalizado.
Só que disfarçado e ninguém reclama.
Oficialmente foi decretado pelo governo brasileiro
o dia 12 de outubro (que sempre foi "Dia da
criança") como sendo feriado nacional por ser o
Dia de Nossa (deles) Senhora de Aparecida, a
padroeira do Brasil (dos Católicos).
Ora... e quem não é católico? É obrigado a ter uma
tal de Nossa Senhora Deles como a padroeira do
Brasil de todos? É uma aberração e uma violação
constitucional a imposição de uma religião oficial
do Estado ao povo brasileiro. E as demais
religiões? Como ficam? Já pensou se cada religião
obrigar o governo a decretar dia tal como feriado
nacional em razão de cada religião? Isso é um
absurdo total."
—Cada qual tem a sua crença e deve ser
respeitado em suas convicções. Até porque cada
um tem o livre arbítrio para escolher aquilo em
que quer acreditar. Não existe uma religião única,
muito menos uma que seja mais certa do que a
outra. Quem quiser acreditar em Jesus, que
acredite. Quem quiser acreditar em Maomé, que
acredite. Quem quiser acreditar em Buda, que
acredite. Quem quiser acreditar em Orixás, que
acredite. Quem quiser acreditar em Moisés, David
e Abraão, que acredite. Quem quiser acreditar em
espíritos, que acredite. Quem quiser acreditar em
pedras, cristais, paralelepípedos, que acredite. O
ser humano é e deve ser livre para escolher o que
e no que acreditar. Você mesmo, quando crescer,
vai escolher aquilo em que você quiser acreditar,
independentemente da minha interferência ou da
interferência da sua mãe.
Independentemente da crença que você vier a ter,
tenha em mente uma única coisa: Seja tolerante
com toda e qualquer convicção religiosa, mesmo
das que você discorde, total ou parcialmente, pois
até mesmo o ateu tem lá as suas convicções que
devem ser respeitadas, ainda que você acredite
em Deus como o criador do universo e isso seja
para você a mais absoluta verdade. Respeite
sempre qualquer crença, mesmo que o que você
acredita seja o contrário do que os outros
acreditam. Mesmo que essa pessoa seja ateu ou
acredite em números, em pedras ou paralele-
pípedos.
— "Mas pai, esse negócio de acreditar em pedras e
paralelepípedos é brincadeira sua, não é?"
— "Que brincadeira que nada. Tem gente que
acredita em videntes, ciganas, números, em cartas
ou mesmo que as coisas de Deus, mesmo
inanimadas como uma pedra, possam conter ou
captar uma energia e por isso cultuam uma pedra,
um cristal ou um paralelepípedo. Entretanto,
mesmo que você não entenda, ache estranho ou
não acredite, você deve respeitar a crença dessas
pessoas, até porque ninguém é dono da verdade e
você pode estar redondamente enganado nas suas
convicções."
—É direito de qualquer ser humano acreditar no
que quiser, ou se quiser, até de não acreditar em
nada. Pode, por exemplo, depositar sua crença ou
superstição em símbolos ou ícones de aparente
resultado imediatista como fadas, duendes,
pedras, cristais, paralelepípedos, números, cartas,
e coisas do gênero, ainda que isso contrarie tudo
que você possa pensar a respeito.
É um direito seu discordar de uma pessoa que
cultua um duende, uma fada, uma pedra, um
cristal, um número, uma carta ou coisa do gênero.
Tanto quanto é direito destas pessoas acreditarem
no que quiserem."
— "Mas pai, adorar pedra e paralelepípedo?"
— "O que tem demais nisso? Eu não adoro pedra e
nem paralelepípedo. Essa é uma convicção minha,
mas eu tenho que respeitar a convicção de quem
acredita em pedras e paralelepípedos. Até porque,
adorar pedra não é tão novo assim. Em séculos
passados, por exemplo, pessoas adoravam as
pedras em Stonehenge (local sagrado, na Grã-
Bretanha, onde cultuava-se um monte de menires
— grandes pedras pontiagudas — colocadas em
círculo). Outros adoravam os deuses gigantes de
pedra da Ilha de Páscoa. Os egípcios e os gregos
adoravam imagens de pedra e esperavam com
isso que seus espíritos, depois da morte carnal,
fossem ascender aos Deuses. Portanto, adorar
pedra não é tão novo assim. Mas, o importante e
inegável é o direito dessas pessoas em terem a
sua crença, secreta ou abertamente, cultuando
Deus ou não, ou quantos Deuses queiram."
— "Mas pai... se você defende o ponto de vista de
que Deus existe, você não está negando o direito
do ateu em não acreditar em Deus? Não está?"
— "Não... eu não estou negando o direito do ateu
acreditar que não existe Deus. Ele, o ateu, acredita
no que quiser acreditar, problema dele. Ele pode
negar o mundo, negar a natureza, negar até a sua
própria existência. Problema dele. Ele pode até
acreditar na ausência de Deus. Problema dele. Eu
estou simplesmente expondo o meu ponto de vista
em acreditar em Deus, embora contrário ao dele,
mas sem negar o direito dele — ateu — em sua
crença. Pois ainda que eu discorde dele (ateu),
luto pelo inalienável direito dele ter a convicção
que quiser. Isto não tem nada a ver com concordar
ou discordar do ateu. Tem a ver com democracia,
com liberdade de pensamento, liberdade de
opinião, liberdade de crença religiosa. O que eu
estou dizendo é a minha convicção, que não tem
nada a ver com o direito dele ter ou não ter um
Deus. Eu tenho minhas convicções, que não são as
dele, acredito que eu existo, que você existe,
acredito que o mundo existe, e que alguém criou
isso. E esse alguém que criou tudo isso,
convencionou-se chamar de Deus, Criador do
Universo. Só isso. Eu não estou defendendo a
existência do meu Deus como o único Deus certo e
correto. Estou simplesmente expondo o meu ponto
de vista em relação à existência do mundo, da
natureza, da criação, do universo. Isso, não tem
nada a ver com o direito ou não do sujeito querer
ser ateu."
—"Veja bem, filho. Se hoje eu discriminar o ateu,
amanhã eu discrimino uma religião por ser
exótica, depois discrimino outra porque eu acho
absurdo, e daí para a intolerância religiosa é um
pulo. Logo estarei achando que só a minha religião
é a certa e a única que presta."
— "E qual a religião melhor que existe?"
— "Não, filho. Não existe uma religião melhor do
que as outras. A melhor religião que existe é
aquela que você acredita, que você se sente bem
e na qual tenha fé, independentemente dela ser
popular ou não. Toda religião, qualquer que seja
ela, tem uma função social útil, disciplinadora, que
alimenta a auto-ajuda. Mas, ao mesmo tempo,
toda religião tem em seu bojo uma inevitável fun-
ção destrutiva, que é exploração financeira da fé
alheia e a quase automática intolerância religiosa,
supondo ser a "sua" religião a única religião
correta sobre a face da Terra.
Seja qual for a religião que você venha a ter, tenha
em mente sempre e acima de tudo a tolerância
religiosa e o respeito às convicções alheias. Cada
ser humano tem direito ao seu Deus, ainda que
cada qual tenha um íntimo e inconfesso
sentimento de que o seu Deus é o único "salva-
dor". E no fundo, bem lá no íntimo, cada ser
humano tem uma pena enorme das demais
religiões que não têm um Deus como o seu. E é
exatamente isso que eu gostaria que você
evitasse, essa certeza de que o seu Deus é o único
Deus que existe e o único Deus do mundo, o único
que salva. Não caia nesta tentação. Isso é uma
armadilha terrível que leva imediatamente à
intolerância religiosa.
—Tudo isso é como uma verdade árabe, existe a
minha verdade, a sua verdade e a verdade. Existe
o meu Deus, o seu Deus e Deus.
O importante não é a religião que você professa ou
como é o seu Deus. Desde que você acredite e que
aquilo te faça bem, a religião já estará cumprindo
uma função social útil. O que não pode e não deve
existir nunca é o lado negro da religião, o
sectarismo religioso, a intolerância religiosa. Até
porque a intolerância religiosa é a maior assassina
da humanidade. Nunca matou-se tanto na
humanidade como o que se matou (e ainda se
mata) em nome de Deus. Foram santas
inquisições, caça às bruxas, carnificinas das santas
cruzadas e a libertação do santo sepulcro. Cristãos
contra mouros. Católicos contra protestantes.
Judeus contra Muçulmanos. Homens matando
homens, mulheres e crianças, tudo "em nome de
Deus".
Deus não tem nada a ver com isso. Deus não tem
nada a ver com a ignorância humana. Deus nunca
pediu para ninguém matar ninguém ou impor
credo algum em seu nome.
—"E a nossa religião, pai, qual é? A gente é
católico?"
—"A sua eu não sei, você vai ter que escolher
quando crescer e quando tiver maior
conhecimento. Mas, por enquanto, a gente procura
dar a você os ensinamentos baseados nos
ensinamentos que a gente teve de berço. Ou seja,
você foi batizado na igreja católica, tem aulas de
catecismo, aprende coisas sobre a Bíblia, vai fazer
primeira comunhão... e quando crescer vai fazer a
sua opção religiosa, seguindo aquela que melhor
se adaptar às suas convicções."
—"E a Bíblia, pai, não é uma boa religião?"
—"Não... Bíblia não é religião. A Bíblia é um livro
de ensinamentos, embora seja tido como sagrado
por algumas religiões e até mesmo considerado
por algumas religiões como sendo a palavra de
Deus, assim como é Alcorão (O Corão) para os
muçulmanos, ou a Torah (e Talmud) para os
judeus. São livros de sabedoria, importantíssimos
como fonte de ensinamento, bases de suas
religiões (Cristãs, Muçulmanas, Judaicas). Sendo
que a Bíblia, é mais conhecida nossa, por sermos
ocidentais, com cultura diferente dos orientais ou
médios-orientais. O que não quer dizer que ela, a
Bíblia, seja mais certa ou mais errada que Alcorão
(O Corão) ou a Torah."
— "A Bíblia, sozinha, é a base de trocentas
religiões, sendo que muitas delas são, na verdade
a maioria, conhecidas como religiões cristãs ou
evangélicas, pelo fato de valorizarem mais os
evangelhos do Novo Testamento, que enfoca,
fundamentalmente, a vida e obra de Jesus. Mas,
por mais estranho que possa parecer, lembre-se
que muita gente e muitas religiões seguem os
ensinamentos de Jesus, mas não são
necessariamente cristãos. Quer pelo fato de Jesus
ser maior do que o próprio cristianismo
controverso, quer por não aceitarem certas
versões da Bíblia (existem várias), tidas como
imprecisas, fantasiosas e inverídicas e por isso
consideram Jesus como um grande espírito de luz
(como em muitas religiões espíritas), como um
profeta (como em algumas ramificações da
religião muçulmana), onde Jesus é um grande e
importante profeta, ou, para outras religiões, um
espírito altamente iluminado que habitou o planeta
Terra. E por isso, ou seja, por serem seguidores
parciais dos ensinamentos de Jesus, e não
radicalmente integrais, não se confessam como
unicamente cristãos."
— "É bom lembrar e deixar bem claro, contudo,
que não existe uma só e única Bíblia. Ao contrário,
existem várias Bíblias, várias versões de Bíblia, e
que não necessariamente dizem a mesma coisa,
assim como nem sempre centralizam suas
atenções em Jesus."
— "Quer dizer, pai, que existem tantas versões de
Bíblia e tantas versões de cristianismo que nem os
cristãos não se entendem entre si?"
— "Como sempre, fruto da intolerância religiosa, do
sectarismo religioso, cada qual fica querendo
impor sua versão da Bíblia como sendo a versão
única e definitiva, esquecendo-se que Deus é Deus
e que a Bíblia é só um conjunto de livros, escritos
e feitos por homens, seres humanos, de uma
enorme sabedoria, é bem verdade, mas que deve
ficar restrito a isso: um livro, conjunto de vários li-
vros, escrito por seres humanos, encerrando uma
enorme gama de conhecimento e sabedoria."
— "Talvez a Bíblia, para nós ocidentais, seja o livro
mais importante da humanidade, até porque,
embora contenha contradições incríveis (assim
como Alcorão e a Torah), registra ensinamentos
fantásticos. O mínimo que pode-se dizer da Bíblia
é que (independentemente dos erros e
contradições) é uma enorme fonte de sabedoria e
um dos maiores registros antropológicos que
existe. E como todo livro, escrito por seres
humanos, lamentavelmente, tem muitos erros,
muitas contradições, muita incongruência, muito
exagero, algumas bobagens, que chegam até a ser
infantis diante do que a humanidade evoluiu e do
que se conhece hoje, principalmente no tocante à
lógica, biologia, zoologia, astronomia e física. O
que, no entanto, não retira da Bíblia a importância
como um livro importantíssimo de enorme fonte
de sabedoria e ensinamento. Mas, daí a ser um
"Livro Sagrado" ou "A palavra de Deus"... a
distância é enorme.

Erros e Contradições Bíblicas


Antigo Testamento
— "Pai, se a Bíblia tem tantos erros, por que
ninguém fala deles?"
— "Fala sim, filho. Você é que não sabe. O proble-
ma é que esta questão de contestar a Bíblia
arrasta-se por séculos e séculos. Vem de muito
longe. Do tempo em que o Estado e a igreja viviam
juntos abertamente, eram parceiros e faziam uma
união terrível. Obrigavam as pessoas a acreditar
no que estava escrito na Bíblia. Quem discordasse
da Bíblia era queimado vivo, era um ateu, um
bruxo, um herege. E, logicamente, ninguém queria
ser queimado vivo ou ter sua família perseguida
porque alguém fora (fora) considerado herege.
Mas, ainda assim, mesmo diante de todo este
risco, a Bíblia foi muito contestada e é muito
contestada ainda hoje em dia, pois até mesmo
entre membros de uma mesma convicção religiosa
existem divergências bíblicas quase que
insuperáveis. Haja vista que os próprios cristãos se
dividem em muitas centenas de denominações
(igrejas) de agremiações diferentes. Nem eles se
entendem entre si, cada qual criando e inventando
suas interpretações pessoais e particulares para as
coisas que estão escritas na Bíblia.
A bem da verdade, os cristãos, de uma maneira
geral, não hoje em dia, mas ao longo dos séculos,
não primavam pelos princípios da liberdade. Para
eles, liberdade resumia-se no direito de forçar os
outros na crença de sua religião. Tudo que fugisse
ou escapasse do cristianismo era heresia.
Qualquer contestação à Bíblia era considerada
heresia.
Essa técnica de impor a sua religião cristã como
sendo a única religião certa, considerando como
herege tudo mais que fosse diferente, embora
fosse uma técnica autoritária bastante simples,
sempre mostrou-se de uma eficácia avassaladora.
Os defensores da Bíblia consideravam a Bíblia
como sendo "a palavra de Deus" e ao mesmo
tempo apresentavam-se como sérios moralistas
(em geral, "uniformizados" de moralista, pois para
demonstrar um aparente moralismo usavam
sóbrios "uniformes", que mais assemelham-se a
fantasias, e dependendo do século estas
vestimentas ora são roupões sóbrios, túnicas
cheias de paramentos, ora como, recentemente,
paletó e gravata), e quem não acreditasse na
Bíblia e na "moralidade" dos representantes
sóbrios "bem vestidos" da Bíblia era considerado
um imoral, um herege.
E tendo como pano de fundo as fogueiras da
inquisição para atormentar a sanidade das
pessoas, guiadas pelo medo, as pessoas passaram
a "acreditar" na Bíblia muito mais por medo e
imposição do que por qualquer outra coisa.
O certo é que, independentemente de toda essa
questão, a Bíblia passou a ser (autoritariamente)
imposta e considerada como um livro sagrado, ou
o mais grave, imposta autoritariamente como
sendo a "palavra de Deus". E por ser a "palavra de
Deus" não havia como alguém contestar as sábias
"palavras de Deus" (senão era fogueira na certa).
Foi preciso muita força e coragem daqueles que
sabiam que a Bíblia não era a "palavra de Deus"
para contestar as bobagens que estavam na Bíblia
e com isso trazer a luz (renascença) à idade das
trevas (idade média).
Hoje em dia, libertos do massacrante poder da
igreja (embora a igreja ainda detenha um certo
poder hipócrita), não temos mais que sujeitarmo-
nos às regras imperiais da igreja ou enfiar a
cabeça na areia como avestruzes esperando que
Deus nos proteja do medo e da superstição por
estarmos contestando palavras e preceitos errados
passados pela Bíblia.
Ainda assim, embora atualmente ninguém seja
mais mandado para a fogueira da santa inquisição
por discordar do que está escrito na Bíblia, a
maioria das pessoas sente-se intimidada e
ameaçada pela excomunhão, pelas pragas que são
rogadas, pelas maldições e ameaças de arder no
inferno, ao apontarem erros e incoerências do que
está escrito na Bíblia. Em geral, estas pessoas que
contestam a Bíblia são acusadas (pela via fácil da
defesa religiosa) de serem o anticristo ou de
estarem incorporadas ou orientadas pelo diabo."
— "Mas, pai, você não vai ser acusado de
anticristo, né pai?"
— "Não sei. Pode até ser. Tem ignorante para tudo.
A via mais fácil de defesa da Bíblia é excomungar
a quem contesta, ameaçar com o inferno, chamar
de herege ou coisa do gênero. Mas também, se
excomungarem, não faz a menor diferença. Não
será isso que irá alterar o rumo da minha vida ou a
firmeza das minhas contestações.
De uma forma errada e fundamentalista, os
cristãos do mundo inteiro são doutrinados a
acreditar cegamente no que está escrito na Bíblia,
de preferência o mais cegamente possível, sem
perguntar, sem contestar e estão condicionados a
idolatrar a Bíblia como sendo a "palavra de Deus",
e a aceitar e acreditar, fervorosamente, em tudo e
qualquer coisa, por mais estúpida que seja, sem
questionar, de verdade. Porque, questionar, para a
igreja, é proibido, é profano, é anticristão.
Para você, filho, entender as críticas à Bíblia,
primeiramente você tem que entender que a
crítica e o questionamento não são sacrilégio,
heresia ou imoralidade. Porque perguntar,
questionar, tentar entender, não são sinais ou
sintomas de heresia. E, acima de tudo, antes de
qualquer coisa, você tem que ter a mente aberta.
Até porque, os seus questionamentos têm uma
direção, uma finalidade, que é a busca da verdade
e de Deus.
Para saber o que diz a Bíblia, antes é necessário
saber o que é a Bíblia, como ela está composta e
dividida, para depois você tentar entender o seu
conteúdo.
A Bíblia é um conjunto de livros, escritos por
pessoas normais, comuns, de carne e osso como
eu e você, diferentes somente por serem
estudiosos de religião, que anotaram o que era
passado pela tradição oral, boca a boca, e que
também copiaram e plagiaram grande parte do
que está escrito em outros livros e ensinamentos
mais antigos, como a Torah dos judeus, por
exemplo. As palavras da Bíblia, em grande parte,
são palavras de sabedoria e ensinamento, mas
também tem muita bobagem, muita mentira,
muito erro, muita contradição, conforme a gente
vai ver a seguir. Portanto, a Bíblia não têm nada
de "palavra de Deus", no sentido literal. Isso é
invencionice e historinha que aos poucos você vai
entender perfeitamente.
A Bíblia, embora existam muitas versões e
traduções, uma pluralidade de Bíblias, por isso
mesmo não é um livro único, de texto único, é um
dos maiores focos de discórdia entre os cristãos.
Mas, de uma maneira geral, a Bíblia está dividida
em Antigo Testamento (com vários livros e vários
autores, sendo que o mais tradicional e idolatrado
por determinados segmentos religiosos é o
Pentateuco, ou os cinco livros de Moisés) e Novo
Testamento (composto por quatro evangelhos
teoricamente escritos por quatro evangelistas:
Mateus, Marcos, Lucas e João, e mais alguns livros,
cartas ou epístolas, entre eles o Apocalipse, que
dependendo do século e da versão da Bíblia o
Apocalipse ora está na Bíblia, ora não está). Ou
seja, resumidamente, Antigo Testamento, Novo
Testamento.
Inicialmente a Bíblia era somente o Pentateuco (os
cinco livros de Moisés), posteriormente foram
acrescentados outros livros ao Antigo Testamento,
e foi somente em 185 d.C., com o pronunciamento
do Bispo Irineu, que os cristãos começaram a
aceitar os quatro evangelhos do Novo Testamento.
Entretanto, de fato, de fato mesmo, foi em 367
d.C. com a epístola papal de Atanásio que os
quatro evangelhos foram oficialmente aceitos,
compondo o Novo Testamento.
O Antigo Testamento, ou o livro do velho Deus, na
parte do Pentateuco, é parecido com um livrinho
de histórias infantis, falando sob a criação do
mundo, da perseguição do povo judeu e do
sofrimento desse povo no Egito. Nele Deus é
apresentado de uma forma muito pequena, como
um Deus tribal, um Deus apenas dos hebreus (ju-
deus), preocupado com o povo hebreu (judeu) e
com o seu quintal, como se o infinito fosse
pequeno e o mundo girasse somente em torno de
Israel, do Oriente Médio, Norte da África e o Oeste
da Ásia. E é neste livro de historinhas que é
contado a historinha fantástica de Adão e Eva, do
dilúvio e da arca de Noé, entre outras historinhas
mirabolantes..., enfim, tirando a parte de
sabedoria, provérbios, ensinamentos e salmos, o
Antigo Testamento é um livro de conto de fadas
dos adultos, tendo como protagonista um Deus
personificado como velho, barbudo, sentado numa
nuvem, muito semelhante ao ser humano, que
numa hora é vingativo e que em outra enche-se de
culpa e perdoa. Ou seja, carrega todos os amores,
paixões, ódios e defeitos do bicho-homem. É o
Deus velho, inventado e criado pelo homem, à
imagem e semelhança do ser humano.
Esse Deus velho "sentado numa nuvem", — que
não tem nada a ver com o Deus imaterial, criador
do universo —, coitado, é digno de pena. Parece
uma caricatura estereotipada de um marido
mandão, machista, preguiçoso, indesejável, e que
qualquer esposa reconheceria nele seu parceiro de
infortúnio. Só faltando sentar-se em frente da
televisão e gritar pedindo para a mulher trazer
uma lata de cerveja.
Esse Deus personificado, quase humano, descrito
pelos escribas autores do Antigo Testamento,
assemelha-se muito aos Deuses gregos e
romanos, pois além de possuir emoções e desejos
notadamente humanos, Ele é do sexo masculino
(mulher naquele tempo não valia nada), tratava a
mulher como escrava ou como um ser ignóbil e
inferior. Ficava bravo com facilidade,
espraguejava, vociferava, gritava, enganava,
mentia, se enfurecia, castigava, era vaidoso,
exibicionista, gostava de ser bajulado e de receber
oferendas. Tinha até umas pessoas de quem Ele
gostava mais, e outras de quem Ele gostava
menos. E, tinha até um povo (judeu) de sua
preferência.
Por isso, filho, com um Deus tão humano como
esse descrito no Antigo Testamento, eu não me
surpreendi quando você me perguntou se Deus
tinha avô, se Ele era homem ou mulher, se era
preto ou branco, se tinha pai, mãe. Você não está
errado não. É perfeitamente cabível a sua dúvida.
Esse Deus velho, do Antigo Testamento, asseme-
lha-se muito a um Papai Noel dos adultos.
Não bastasse o Antigo Testamento apresentar um
Deus velho improvável, acrescente-se ainda os
erros e contradições gritantes do Antigo
Testamento (a Terra era chata, era o centro do
universo, o Sol é que girava em torno da Terra. As
estrelas e os planetas eram fixos e pareciam
lâmpadas pregadas e penduradas no céu. Sem
contar que o Sol poderia ser parado durante algum
tempo diante da Terra ou a Terra diante do Sol e
nada acontecer ao planeta Terra e ao sistema
solar).
Diante de tantos descalabros, ao longo dos anos,
nem com as fogueiras da inquisição e nem com as
ameaças para que a Bíblia fosse lida e
interpretada diferentemente do que estava escrito
e fosse sempre dado uma interpretação alucinada
e mirabolante para as bobagens ali escritas, o
Deus velho do Antigo Testamento, o tal "velho
barbudo sentado numa nuvem", desacreditado,
coitado, não resistiu e teve que passar para a
aposentadoria, imposta pelos próprios cristãos,
que renegaram este Deus e trataram de criar um
novo Deus, específico para o Novo Testamento.
Hoje em dia, as religiões cristãs (salvo os
tradicionais ortodoxos) evitam falar desse Deus
velho, do Antigo Testamento, evitam fazer
referência a Ele, têm vergonha d'Ele. Rezam para
que não se fale do Deus velho do Antigo Testa-
mento. Preferem o Deus novo do Novo
Testamento. O novo Deus. O Deus da moda. O
Deus do terceiro milênio.
— "E quais são esses tantos erros bíblicos do
Antigo Testamento, pai?"
— "Vamos por parte, com calma. Eu não quero que
você entenda a Bíblia na base da brincadeira,
embora as vezes o assunto descambe para o
ridículo. Mas, ao contrário, quero abordar a
questão de maneira séria, citando os principais
casos de erros e contradições, para que, munido
de fatos e dados, você tire as suas próprias
conclusões.
Da mesma forma, eu não gostaria que você, por
falta de informação, achasse que os budistas estão
errados porque vivem a vida somente
preocupados com o lado espiritual e esquecem da
vida material, ou que os muçulmanos são uns
fundamentalistas radicais mandando todo mundo,
que contrariar as leis de Alá, arder no mármore do
inferno. Ou qualquer outra religião que tenha este
ou aquele senão.
Diante de qualquer religião, por mais absurda que
possa parecer, respeite. Questione, mas respeite.
Entretanto, não abra mão de sua sanidade, de sua
inteligência e de exercer o seu direito de crítica.
Questione. Questione sempre. Busque a verdade e
o conhecimento. Jamais leia a Bíblia ou qualquer
outro livro religioso de mente entorpecida, dis-
posto a aceitar coisas improváveis e absurdas,
aceitando as coisas por aceitar. Muito menos leia
os ensinamentos religiosos com desdém ou
menosprezo. Busque a verdade como uma coisa
universal, atemporal, que viva e resista por sé-
culos e séculos, não por perseguição ou imposição,
mas porque é lógica, racional e compreensível.
Antes e acima de qualquer coisa, tenha em mente
que Deus não é regional, não é tribal. Deus não é
um tiraninho de aldeia, preocupado com coisas
pequenas, com um povo, com um lugar
geográfico. Deus não é privilégio das Américas, da
Europa, da África, ou da Ásia. Assim como não é
privilégio de país algum, seja da China, do Japão,
de Israel ou dos países Árabes. Deus é e tem que
pertencer a uma verdade universal. E toda vez que
você estiver contrariando a verdade universal você
estará sendo tribal, regional, tendo um ser
pequeno de mente estreita como sendo um Deus,
restrito à sua tribo, ao seu mundinho, ao seu país
ou continente.
O cristão radical (fundamentalista), como qualquer
fundamentalista de qualquer religião, embora
pense que tem, não possui a verdade-verdadeira.
O muçulmano radical, embora pense que tem, não
possui a verdade-verda-deira. Cada religião
arroga-se no direito de achar-se única e soberana
religião dona da verdade, chegando mesmo a
sentir pena e comiseração das demais religiões,
acreditando que lodo mundo pode ter uma
religião, mas o seu Deus, o seu Deus particular, é
o único e verdadeiro Deus. E que o resto do mundo
está enganado a respeito de Deus.
Não caia nessa armadilha. Não crie um Deus para
você. Não invente um Deus. Busque o
ensinamento, busque a sabedoria, busque a
universalidade da vida e você encontrará Deus no
amor, porque Deus é amor, Deus é paz, é perdão,
é o respeito e o amor ao próximo, independente-
mente da religião que você professe. Pois só neste
tipo de universalismo o ser humano é solidário e
compreensivo."
—"Universalismo? O que é isso?"
—"É o seguinte: O ser humano só concorda entre
si nas coisas universais. Paz, por exemplo, é
universal e todo mundo é a favor. Todo mundo
concorda. Fome, por exemplo, é universal e todo
mundo é contra. Mas, se o seu vizinho — no
particular — fizer uma besteirinha, der uma
pisadinha no seu calo... aí o tempo fecha. E com
Deus é mais ou menos a mesma coisa, pois, em
princípio, todo mundo concorda com Deus (salvo
os ateus). Mas, quando você sai do universalismo
e particulariza a religião, dividindo quem fica com
o que... aí a coisa descamba e acaba partindo até
para o fundamentalismo e a intolerância religiosa.
Por isso é que eu estou dizendo que a gente deve
primeiro buscar as coisas imateriais e universais
(paz, amor, perdão, amor ao próximo, etc.) e fazer
as religiões convergirem para este foco, pois na
particularidade cada religião puxa a brasa para a
sua sardinha.
O maior dos problemas causados pela religião, de
uma maneira geral, é a intolerância religiosa, o
sectarismo, o egoísmo e egocentrismo religioso.
Cada qual achando a sua religião a melhor do
mundo, se não a única correta. E é desta
convicção tola, estúpida, de mente estreita, que
nasce o sectarismo, o fundamentalismo, a
intolerância religiosa. Isto porque, as religiões não
colocam como fundamento principal de sua
existência o ensinamento, o conhecimento, o
questionamento, até mesmo da própria existência
do ser humano diante de Deus. Antes pelo
contrário, preferem a exploração da religião pelo
domínio do medo (o castigo "divino", o inferno e
satanás, são a base disso) como uma forma de
manter o devoto da religião em permanente esta-
do de dúvida entre o céu e o inferno para manter a
religião viva acima de todas as coisas. Baseiam-se
primordialmente na ameaça da punição, do
castigo, do céu contra a ameaça do inferno.
As pessoas que temem o inferno ficam
assombradas com a punição eterna, cegas e
dominadas pelo medo. A idéia de inferno (como
um lugar, uma região fixa e determinada) é uma
invenção maquiavélica para garantir a hegemonia
religiosa e estabelecer uma ditadura religiosa
dominada pelo medo. Essas pessoas que temem e
acreditam no inferno (como região, lugar fixo)
vivem sua vida debaixo de uma tirania muito
maior do que qualquer ditador humano possa
estabelecer. Essas pessoas sentem-se
constantemente vigiadas e acreditam até que
permanentemente haja um olho "divino" vigiando
todos os seus atos e até mesmo lendo os seus
maus pensamentos. Essas pessoas acreditam que
todas suas palavras estão sendo registradas, todas
suas ações estão sendo anotadas, até mesmo seus
pensamentos mais íntimos são conhecidos e
julgados pelo mestre cruel, pronto para aplicar,
sem dó nem piedade, o castigo eterno."
— "Então não existe o Diabo, pai?"
— "Personificado... não. Com rabo e chifre, não. As-
sim como não existe o Deus personificado, como
um velho barbudo sentado numa nuvem. O bem
existe, tanto quanto o mal existe. A bondade
existe, tanto quanto a maldade existe. Mas, daí
você personificar Deus e o Diabo, à imagem e
semelhança do homem, colocando um barbudo
sentado numa nuvem e o outro de rabo e chifre
numa fogueira, a diferença é grande.
Se você falar no bem como forças de luz, tudo
bem. Se você falar no mal como forças das trevas,
tudo bem, também. São sentidos figurativos
aceitáveis. Se você falar na lei do retorno, ou seja,
se você praticar o bem ele volta para você ou se
você praticar o mal você será vítima da sua pró-
pria maldade, é compreensível. Pode-se até dizer
que é uma "lei universal" (a lei do retorno). Mas,
colocar imagem para o bem ou para o mal, aí já
não faz mais sentido. Errado é personificar, dar
forma humana a uma coisa imaterial como a
bondade e a maldade, o bem e o mal, a Deus ou
ao Diabo.
Quando as religiões transmitem ensinamentos
(salmos, provérbios, etc.) essas religiões são lindas
e caminham na direção certa. Mas, quando partem
para a ameaça de você (ou sua alma) arder no
inferno, do castigo perpétuo, na abusiva e
descarada exploração do medo do ser humano ao
desconhecido, ao invés da pregação do amor, da
sabedoria e do conhecimento, essas religiões
praticam o que há de pior na humanidade. Voltam
a agir como na época do obscurantismo, como na
idade média ou idade do terror, como se o ser
humano fosse o mesmo ignorante da idade da
pedra. E tratam o ser humano da pior forma que
existe, mantendo-o permanentemente
amedrontado e em profundo estado de
ignorância."
— "Mas, pai, eu não quero saber muito das outras
religiões, depois a gente discute isso. Vamos falar
sobre a Bíblia e os problemas da Bíblia que é a
religião mais perto da gente."
— "Veja bem, filho, quando eu falei de outras
religiões era para deixar bem claro que eu não
estava apontando esta ou aquela como a religião
ideal. Ao contrário, eu queria mostrar que qualquer
que seja a religião que você siga, fuja do
sectarismo e da intolerância religiosa. Adote a reli-
gião que quiser, mas seja ecumênico na postura.
Aceite antes de tudo o ecumenismo como regra de
convivência."
— "Ecumenismo? O que é isso? É religião?"
— "Não. O ecumenismo não é religião, é um tipo de
comportamento, como aquilo que eu falei ainda há
pouco sobre o universalismo. Mas, se você quiser
adotar isso como regra de vida, o ecumenismo até
pode ser uma religião ou uma convicção. O
ecumenismo surgiu no início do cristianismo sob a
forma de gnosticismo, como uma solução para a
pregação do evangelho, de maneira a alcançar a
maior quantidade de gente possível. Foi a forma
(gnóstica) encontrada para congregar todas as
tendências e denominações religiosas debaixo da
mesma religião cristã. Ou seja, manter os cristãos
unidos. Embora a idéia fosse boa, não deu certo,
pois a igreja católica quis coordenar o ecumenismo
e centrar em si o ecumenismo, daí veio o fracasso
e a dispersão (mas a idéia de respeito e tolerância
ecumênica é muito boa).
Hoje em dia, o sentido de ecumenismo é bem mais
amplo do que o que foi tentado pela igreja católica
no início. O Ecumenismo é uma universalidade de
religiões centrada na disposição de convivência e
no diálogo entre várias tendências religiosas. Em
termos simples, quer dizer, aceitação de diálogo
entre todas as religiões possíveis.
Mas, voltando ao cristianismo e à Bíblia,
abordando claramente a religião cristã, em
especial a religião católica, que é a que está mais
próxima de você. Se você puder ler a Bíblia e tirar
dela os ensinamentos que ela contém, ótimo. Leia
os salmos, leia os provérbios, leia os
ensinamentos. Há muita coisa linda na Bíblia. É um
livro fantástico. Mas leia a Bíblia com a mente
aberta, entendendo as coisas com o coração, mas
sem abrir mão do questionamento, da sua
sanidade e da sua inteligência. Não aceite as
coisas por aceitar. Não aceite interpretações
burras ou estúpidas para remendar as bobagens
do que foi escrito. Não aceite por ter que aceitar,
muito menos tenha a Bíblia como "a palavra de
Deus". A Bíblia foi escrita por seres humanos, de
carne e osso como você. E principalmente tenha
em mente que assim como existem estes livros
que compõem a Bíblia, existem trocentos outros
que foram retirados ou negados a sua inclusão na
Bíblia por serem gnósticos ou "apócrifos",
contradizendo a verdade regional e local do
oriente médio nos séculos em que aquela
realidade foi retratada.
Nós estamos falando da Bíblia (e não do Corão
(Alcorão), Torah, etc.) porque você, filho, está
sendo parcialmente direcionado para uma religião
cristã quase que por hereditariedade ou por uso e
costume do país católico em que você vive, porque
é uma questão de cultura do nosso povo. Fomos
colonizados e catequizados por jesuítas. Fomos
criados e educados na religião católica, aceitando
todos os rituais e sacramentos da religião:
comunhão, batizado, casamento, etc. Eu fui
batizado, crismado, ia sempre à missa, participava
das atividades regulares da igreja, fiz encontro de
casais com Cristo, fui coroinha, congregado
mariano, ajudei missa, estudei teologia,
acompanhei procissão. E, queira ou não, os filhos
tendem a adquirir as convicções religiosas dos
pais. Se eu fosse judeu, certamente você teria
ensinamentos da religião judaica. Se eu fosse
muçulmano, você estaria tendo ensinamentos da
religião muçulmana. E assim por diante.
O que eu estou querendo dizer é que, embora
você esteja tendo toda a base e ensinamento da
religião cristã, por causa da formação de seus
pais, porque sua mãe é católica e eu um dia fui
católico, você não tem necessariamente que
seguir os passos do que os seus pais são ou foram
um dia, e muito menos o que somos agora. Ao
contrário, você está livre para escolher a religião
que quiser. Não se atenha aos seus pais como
exemplos, até porque da mesma forma que eu
questionei a religião católica, a que eu pertencia,
assim como questionei várias outras religiões,
antes de pensar em adotá-las, cedo ou tarde você
deverá questionar, também, tudo isso que ora eu
passo a você como informação.
—"Se você não é católico, pai, qual é a sua
religião?"
—"Eu até poderia me considerar católico, na
acepção da palavra Katholikós = Universal,
conforme usado pela primeira vez no ano 110 por
Inácio da Antióquia. Mas, jamais me consideraria
católico-apostólico-romano, por sérias e quase
irreconciliáveis divergências com a igreja romana
(do riquíssimo Papa que mora no Vaticano). Desta
igreja, embora mantenha respeito, estou dela
divorciado.
Honestamente eu não saberia classificar
nominalmente a minha religião, se é que o que eu
acredito seja religião, c se religião for, se ela tem
nome.
No futuro, quando você tiver maior conhecimento,
você também poderá e deverá questionar tudo
isso que estamos debatendo agora.
Por agora, entenda somente que, racionalmente,
nem a Bíblia, nem Alcorão, nem a Torah, nem livro
religioso algum, embora sejam livros inspirados,
com grandes e preciosos ensinamentos, nenhum
desses livros é a "palavra de Deus" (literalmente).
São livros que foram escritos por escribas, seres
humanos, e como tal, são imperfeitos.
Esses livros não são a palavra de Deus,
literalmente, porque nunca um ser humano viu
Deus, nunca um ser humano falou com Ele, e
muito menos Deus se prestou ao pequeno papel
de escrever um livro ou vários livros para dar aos
seres humanos um manual ou guia de sobrevivên-
cia na Terra, como algumas religiões, de uma
maneira geral, querem fazer crer.
A bem da verdade, por mais contraditório que
possa parecer, todos os livros religiosos, sejam de
quais religião forem — no sentido figurado — são a
palavra de Deus, porque toda palavra inspirada,
de sabedoria, é tida como a palavra de Deus. Mas,
acontece que espertos religiosos, aproveitam-se
do sentido figurado, garantem literalmente que tal
e qual livro é a palavra de Deus, como se Deus
fosse um executivo ditando o que lhe convém,
enquanto um escriba qualquer faz o papel de
secretário particular de Deus. Isso é uma bobagem
infinita e de um fanatismo religioso sem
precedentes.
Note bem que isso de considerar determinado livro
como "a palavra de deus" não é privilégio da
religião cristã. Acontece em qualquer religião. E,
por esta razão, por terem sido escritos por seres
humanos, todos os livros religiosos, seja de que
religião for, têm erros, têm contradições, têm
mentiras, tanto quanto é próprio dos seres
humanos cometerem estes tipos de erros. Até
porque a perfeição humana não existe."
—"Ah, então quer dizer que os erros que existem
na Bíblia também existem nos outros livros
religiosos?"
—"Claro que existem."
—"E estes erros, pai, existem porque esses livros
foram escritos por seres humanos iguais a nós? E
por isso esses escritores da Bíblia cometeram um
monte de erros?"
— "Exatamente isso."
— "Que erros bíblicos são esses, pai?"
—"Bom, vamos ver se agora a gente engrena.
Vamos parar um pouco de explicações paralelas e
começar a falar sobre os erros e contradições da
Bíblia sem fugir do tema. Vamos falar primeiro do
Antigo Testamento. OK?
Comecemos pela tentativa de explicação de como
Deus criou o universo e todas as outras coisas. Já
aí, bem no comecinho, a Bíblia vira um livro de
conto de fadas, quando tenta explicar a criação do
mundo, do primeiro homem, da primeira mulher
(Adão e Eva). A questão torna-se confusa,
imprecisa, ilógica e irracional. A criação do mundo,
das coisas e dos primeiros seres humanos, não
resiste à menor análise, pois, conforme eu havia
falado antes para você, todo aquele que estiver
revelando para você como o mundo começou
(Gênesis) e como ele terminará (Apocalipse), esse
alguém estará mentindo e falando de algo que
nenhum ser humano sabe e jamais saberá.
Não bastasse essa invencionice tola de conto de
fadas, da criação do mundo, os dois filhos de Adão
e Eva, Caim e Abel entram em disputa, um mata o
outro, não se explica como foi a questão dos
sucessivos incestos dos filhos com a mãe Eva
(porque não havia outra mulher) para a criação da
humanidade. E aí, solenemente, os primeiros seres
do mundo saem de onde estão e encontram um
povo distante. Isso mesmo... um povo (Surgido
como e de onde, se Adão e Eva eram os primeiros
seres humanos?). É como a historinha de Papai
Noel que precisamente à meia noite ele chega na
casa de todo mundo, no mundo todo, ao mesmo
tempo. Ou como o coelhinho da Páscoa que
mesmo não sendo ovíparo, coloca ovos, e de
chocolate, e dá de presente para todas as pessoas.
Se você acreditar em Papai Noel e Coelho da
Páscoa você tem tudo para acreditar na história da
criação do mundo relatada pela Bíblia.
Outra história fabulosa é a do dilúvio e da arca de
Noé, onde após chover terrível e
ininterruptamente na Terra, por dezenas de dias,
alagando tudo, todos os animais da humanidade,
de todas as partes do mundo: das Américas, da
Europa, da África, da Ásia, da Oceania e mais os
do Polo Norte e do Pólo Sul — lembrem-se que o
mundo é muito maior do que Israel ou o oriente
médio, e os autores do Antigo Testamento
esqueceram-se disso -, todos os animais do mundo
dirigiram-se para um único local do planeta, onde
estava a tal arca de Noé. E milhares de espécies
diferentes de animais, muitos deles carnívoros e
predadores entre si, foram recolhidos numa arca e
sobreviveram milagrosamente. Como se os
carnívoros pudessem comer vegetais e como se os
animais não se comessem entre si e não fizessem
suas necessidades fisiológicas na arca.
Já pensou milhares e milhares de animais, vindos
de todas as partes da Terra, a maioria composta
de predadores entre si, não comerem nada, nem
uns aos outros e ainda por cima fazendo xixi e
cocô na arca? Isso faz parecer a história de Papai
Noel e do Coelhinho da Páscoa ter uma
credibilidade acima de qualquer suspeita.
Envergonhados com isso e com outras histórias
tolas e absurdas, a maioria dos cristãos admite:
"Acredito na Bíblia, mas não acredito em Adão e
Eva e na arca de Noé". Como se isso fosse resolver
o problema de credibilidade da Bíblia. A falta de
credibilidade da Bíblia e os grandes erros bíblicos
estão muito além de Adão e Eva e da arca de Noé.
Daí, quando você mostra mais e mais erros e
contradições da Bíblia, os mesmos cristãos,
justificando, argumentam: "Eu acredito na Bíblia,
mas só no Novo Testamento". Como se isso
também resolvesse a questão. Renegam o velho
Deus do Antigo Testamento, sentado na nuvem,
em troca de um Novo Deus, novinho em folha,
mais bonito e mais charmoso,
Os cristãos não admitem, mas a maioria deles
desejaria que o Antigo Testamento nunca tivesse
sido escrito. Por isso, eles, envergonhados do
velho Deus do Antigo Testamento, estão mudando
a adoração do sentido bíblico genérico de religião
(Antigo e Novo Testamento) para focarem a
religião bíblica somente num segmento evangélico
específico de um novo Deus exclusivo dos
evangelhos do Novo Testamento.
— "Mas, pai, além dessas historinhas que você
citou, existe ainda tanto erro e contradição assim
na Bíblia?"
— "Existe, filho. Muito mais do que você possa pen-
sar. Alguns teólogos e pesquisadores chegaram a
apontar mais de dois mil erros e contradições
bíblicas. Logicamente, não vamos falar sobre todos
esses erros e contradições bíblicas, mas somente
alguns mais relevantes, mais gritantes, para você
poder compreender e entender bem o que estou
falando, até para que você entenda, de vez, que a
Bíblia é um livro de humanos, escrito por
humanos, para humanos. (Sem que isso seja
vergonha ou demérito algum) Vamos começar
pelo Antigo Testamento do velho Deus sentado
numa nuvem. Vejamos alguns exemplos:"

Quem é Deus e o que é Deus, segundo a


Bíblia?

Por uma questão de tradução do texto original da


Bíblia para diversos idiomas, a palavra Deus é
freqüentemente utilizada como uma palavra só:
Deus. Entretanto, o próprio nome "Deus", no
original, era considerado tão sagrado, tão sagrado,
que era representado por um tetragrama (quatro
letras) que nem pronunciar seu nome era possível
ou permitido. Assim é que nos textos originais
existem várias palavras que referem-se a Deus.
Porém, o mais estranho disso, não é chamar Deus
por vários nomes diferentes, mas tratá-lo como se
Deus fossem várias pessoas diferentes e
existissem vários Deuses. Senão, vejamos os
nomes pelo qual Deus ou os Deuses são citados
pela Bíblia, no original:

1) Elohim / Eloah (Vindos do céu).


2) El Chaddai (Onipotente / O todo poderoso)
3) Elión (O Altíssimo)
4) Adonai (Divino)
5) Javé (O Deus vivo) Jeová de Jehovah,
transliteração das quatro letras impronunciáveis
(IHVH, JHVH, JHWH, YHVH e YHWH) que
designavam Deus, cujo nome era tido por
sacratíssimo, não podendo sequer ser pronunciado
em voz alta.

— "Afinal de contas, pai: Quem é Elohim? Quem é


Eloah? Quem é El Chaddai? Quem é Elión? Quem é
Adonai? Quem é Javé? Quem é Jeová? São todos a
mesma pessoa? Ou são vários deuses?"
—"Aparentemente, filho, são a mesma pessoa.
Mas como a própria Bíblia diz que existem vários
Deuses..."
— "Vários Deuses? Mas Deus não é um só?"
— "Pois é... veja só:"

Quantos Deuses existem? — (Deuteronômio


6:4) "O senhor vosso Deus é o único Senhor."
Essa é uma presunção universal bastante
conhecida, e que defende a tese do monoteísmo.
Só não é dito se este Deus único é homem ou
mulher, preto ou branco, novo ou velho, tem pai
ou mãe, tem avô... aceita-se, informalmente, como
um Papai Noel de adultos, um Deus velho, mito-
lógico, sentado numa nuvem. Uma versão mais
moderna do mitológico Zeus (Deus dos gregos) ou
de Júpiter (Deus dos romanos).

(Gênesis 1.26) "Também disse Deus: Façamos o


homem à Nossa imagem, à Nossa semelhança."
Opa... pera aí... Nossa? No plural? Se Deus é único,
não pode haver plural... É uma questão de lógica
elementar.

(Gênesis 3.22) "Então disse o senhor Deus: "Aqui


está o homem, que pelo conhecimento do bem e
do mal, se tornou como um de Nós.
Novamente aqui Deus fala dele e de seus
companheiros Deuses, no plural, deixando claro
que Deus é plural (mais de um) e não singular
(único).
Essa questão pode ser resolvida de algumas
formas. A mais simples é atribuindo erro na
"versão" da Bíblia que você possui. Afinal, as
Bíblias são muitas, têm várias traduções, e muitas
versões, tendo sempre uma com redação mais
propícia e mais adequada ao gosto de cada grupo
religioso a que pretende convencer.
A outra forma é alegar que o plural, no caso, é
uma figura de estilo, usado como um "plural
majestático". Exatamente igual quando uma
pessoa fala "nós isso... nós aquilo" querendo dizer
"eu'. (É uma desculpa até que razoável, diante das
tantas coisas indesculpáveis, mas ainda assim é
uma desculpa bastante esfarrapada)
Bem, a seguir, vem a perfil cruel de Deus."
— "Como assim?"
Um Deus cruel e assassino — (Números 15.32)
"...encontraram um homem a apanhar lenha num
dia de sábado (...) Então o Senhor disse a Moisés:
Esse homem deverá ser punido com a morte (...) e
o apedrejaram até morrer, como o Senhor tinha
ordenado a Moisés."
Caramba!!! Veja só !!! Só porque o pobre coitado
do homem estava apanhando lenha num sábado,
e antigamente o sábado era santificado para os
judeus, lá veio o velho Deus rancoroso dos
hebreus, raivoso e assassino, sentado na nuvem, e
mandou seu discípulo predileto, Moisés (e maior
figura do judaísmo) apedrejar até matar o pobre
coitado do apanhador de lenha.
Em resumo, um sujeito, um pobre coitado, foi apa-
nhar lenha, e só porque era sábado, Deus vai e
manda Moisés apedrejar e matar o pobre coitado.
E o pior... Moisés vai lá e mata o sujeito,
cumprindo uma determinação "sagrada", "divina".
Você acredita neste Deus, filho? É esse o seu
Deus? Vamos a mais exemplos:"

(Êxodo 20.13) "Não Matarás"


Um belo ensinamento, como tantos outros que
existem na Bíblia. Até aí nada demais. É parte
daquilo que foi dito antes... quando a Bíblia cria
normas de conduta, de comportamento ou
ensinamentos tudo vai muito bem... mas quando
descamba para atender os interesses dos sa-
cerdotes donos da religião...

(Levítico 24.17) "Quem matar alguém, será morto"


Aí já começa a "Lei de Talião". Olho por olho, dente
por dente. É a lei da vingança. É o Deus vingativo,
odioso. Um Deus de amor não pode, jamais,
possuir uma lei destas. Não existe sabedoria
alguma nisso. Isso é de uma falta de sabedoria
assustadora. Algo bem medíocre, bem ao estilo
dos sacerdotes e escribas do templário judeu que
mandaram escrever a Bíblia sob encomenda. Aliás,
Mahatma Gandhi destroçou esse ensinamento
odioso, raivoso, praticando aquilo que os gurus e
pacifistas (como Cristo) sempre praticaram: a não-
violência.
Inspiradíssimo, Gandhi ensinou: "Olho por olho,
dente por dente, e a humanidade terminará cega e
banguela". (Perfeito!!!)
Ressalte-se que Jesus também se insurgiu contra
este "ensinamento" bíblico, contra esta "Lei de
Talião". E foi exatamente nesta hora que Ele falou
que não devemos revidar, mas sim oferecer a
outra face.

(Samuel 6.19) "O Senhor... feriu deles setenta


homens. O povo chorou, porquanto o Senhor fizera
tão grande castigo...Quem poderá estar na
presença do Senhor? E para onde poderá se
afastar?"
Meu Deus !!! Mas o que é isso? Um Deus que
deveria ser somente amor, paz, fraternidade,
impondo o medo e o terror? Que Deus louco é
esse, que castiga, impõe tanto medo que nem
deixa espaço sequer para onde o povo possa
correr?

(Oséias 14.1) "Os seus filhos cairão ao fio da


espada, serão despedaçados, e aberto os ventres
das mulheres grávidas".
Pelo amor de Deus!!! (Do meu Deus,
logicamente... não esse Deus velho aí) Um Deus
que despedaça filhos e mulheres grávidas,
abrindo-as ao meio... ??? Esse não é o meu Deus,
de maneira alguma. E ainda querem que adore-
mos um Deus assassino desse calibre, que passa
os pobres no fio da espada e despedaça mulheres
grávidas abrindo-lhes os ventres.

(Deuteronômio. 20. 16) "Quanto às cidades


daqueles povos que o Senhor teu Deus dá para ti
por herança, não deixará subsistir nelas uma só
alma."
Um Deus justo e universal, que prega o amor, a
paz, a fraternidade entre as pessoas nunca falaria
para religiosos selvagens sacrificarem pessoas
indefesas, derrotadas, não deixando vivo uma só
alma. Isso é uma mentira de sacerdotes saduceus
selvagens e tribais para justificar o roubo e
assassinato de seus vizinhos. Isso é a pregação do
ódio, do medo. Foi sustentado nisso que muitas
religiões se mantiveram por séculos e séculos. Na
pregação do medo, do terror, da ameaça.
Ensinava-se antes temer a Deus do que a amá-lo.
Ensinava-se a matar o inimigo e não deixar subsis-
tir uma só alma.
Desde quando "não deixará subsistir nelas uma só
alma" é um ensinamento divino ou um conselho de
Deus?
Deus, o verdadeiro, o de verdade mesmo, é amor.
E um Deus que é amor não pode mandar fazer
carnificina, matar apedrejando, matar crianças e
abrindo mulheres grávidas ao meio ou matando
tudo que respire.
Esse Deus, velho e caduco do Antigo Testamento,
é exatamente o Deus que mata os cristãos de
vergonha e faz com que sintam vergonha do
Antigo Testamento e procurem abrigo e um novo
Deus no Novo Testamento.

O império do terror — (Deuteronômio 28.16)


"Serás maldito na cidade e nos campos... malditos
serão os frutos de suas entranhas... serás maldito
quando entrares e maldito quando saíres... O
Senhor suscitará em tua casa a infelicidade, a
desordem, a ruína... até que sejas aniquilado. O
Senhor enviar-te-á a peste... O Senhor ferir-te-á
com a consumpção (definhar), com a febre, com
inflamações de toda espécie, com apatia, com
icterícia que te perseguirão até que sucumbas. O
Senhor afligir-te-á... com hemorróidas, com sarna
seca e sarna úmida, de que não poderás curar.
Casarás com uma mulher e outro a possuirá.
Edificarás uma casa e não morarás nela. Plantarás
vinhas e não colhereis frutos. O Senhor ferir-te-á
nos joelhos e nas coxas com furúnculos maus,
incuráveis, que se estenderão da planta dos pés
ao cimo da cabeça. Todas essas maldições cairão
sobre ti se não obedeceres à voz do senhor".
Este é o império do terror. (Você será maldito,
seus filhos serão malditos, sua mulher se deitará
com outro, você terá furúnculos incuráveis,
hemorróidas, peste, icterícia, sarna seca, etc., etc.,
etc.). Esta é a forma odiosa e repulsiva como os
religiosos saduceus, gerentes de templo,
amedrontavam e aterrorizavam as pessoas
medrosas e ignorantes, obrigando-as a
acreditarem na Biblia como sendo a voz e a
"palavras de Deus" (As pragas de ontem, são o
inferno e o diabo de hoje). E, infelizmente, é
baseado neste medo, neste terrorismo, que as
religiões inspiradas na Bíblia se mantiveram por
séculos e séculos e se mantêm nos dias de hoje.
Nada disso tem a ver com Deus. Nada disso tem a
ver com amor, são insanidades feitas e pregadas
na Bíblia por religiosos espertos e interesseiros,
visando manter os fiéis debaixo de um regime de
terror e na ignorância como se as palavras da
Bíblia fossem infalíveis e tivessem sido ditadas por
Deus e feitas em nome de Deus.

O Deus vingativo — (Jeremias 13.14) "Fá-los-ei


em pedaços, atirando uns contra os outros, tanto
os país como os filhos, diz o Senhor. Não terei
compaixão, nem piedade, nem clemência, para
que não os destrua."
(Deuteronômio 21.18) "Se um homem tiver um
filho rebelde... este será levado ao conselho de
anciãos e morrerá apedrejado por todos os
habitantes da cidade. Assim eliminarás o vício, e
todo o Israel, ao sabê-lo, terá grande temor."
(Êxodo 11.4) "Assim falou o Senhor: Pelo meio da
noite passarei pelo Egito, todo primogênito
morrerá, desde o primogênito do faraó até o
primogênito da escrava..."
Deus! Deus! Deus! Quem poderia adorar um Deus
como esse? É um Deus tirano, raivoso, vingativo. É
o Deus dos hebreus, dando força específica ao
sinédrio ("será levado ao conselho de anciãos...").
Mostra o lado mais negro e cruel do ser humano.
Isso só faz com que "fiéis" amedrontados que não
pensam, não raciocinam, não questionam, apenas
se abaixem e rastejem diante desse Deus tirano.
Só um ser humano acovardado, amedrontado e
ameaçado poderia adorar cegamente a um Deus
assassino, sanguinário, tirano, vingativo como o
que a Bíblia descreve como o Deus velho do Antigo
Testamento, sentado numa nuvem.
Esse é o Deus que mata os cristãos de vergonha.
Esse Deus, hebreu (judeu), amigo de Moisés, é tão
estranho e íntimo de Moisés que até fornece o seu
roteiro de viagem... "pelo meio da noite passarei
pelo Egito"... e depois, num grande conluio com
Moisés e com o povo hebreu (judeu), volta toda
sua ira contra os egípcios, ameaçando desde o
faraó até a última escrava. (Dá para acreditar num
Deus desses?)
Que Deus é esse que ameaça fazer as pessoas em
pedaços, atirando uns contra os outros, pais contra
filhos, sem ter compaixão, piedade ou clemência?

O Deus Mentiroso — (Êxodo 20.16) "Não dirás


falso testemunho contra teu próximo"
É um belo ensinamento. Mas, no entanto, veja a
seguir...
(Reis 22.23) "O Senhor pôs o espírito da mentira
na boca de todos os profetas, e o senhor falou o
que é mau contra ti."
Vamos tentar entender... A "palavra de Deus", ou
o que querem que seja a "palavra de Deus" diz
para não haver falso testemunho contra o
próximo. Mas, ao mesmo tempo essa tal "palavra
de Deus" diz que foi o Deus velho do Antigo
Testamento, aquele velho barbudo sentado numa
nuvem, quem pôs o espírito mentiroso na boca dos
profetas...???... É isso?
(II Tessalonicenses 2.11) (Aqui indo adiante ao
Novo Testamento) "Por isso é que Deus lhes
mandará uma potência enganadora, a operação
do erro, para darem crédito à mentira."
E ainda reforça... Deus manda errar, induz ao erro,
para dar crédito às mentiras.
Realmente, os seres humanos que se diziam
inspirados por Deus para escrever os textos
bíblicos apresentaram-se de corpo inteiro, com
todos os seus enormes defeitos humanos, nos
textos que redigiram.
Esse Deus, descrito no Antigo Testamento, (e
corroborado por Paulo em Tessalonicenses) não
pode ser o Deus de qualquer ser humano com um
mínimo de raciocínio e discernimento.

Adoração de imagens — (Êxodo 20.4) "Não


farás para ti imagens esculpidas."
Aqui a Bíblia fala para não fazer ou adorar imagens
e esculturas. Ou seja, não adorar essas tais
esculturas de santos que você vê espalhado por
tudo quanto é igreja por aí... esculturas e imagens
de santos, anjos, padroeiros, etc., dessas que a
gente vê, adora, venera e compra a retalho por aí
nas lojas e nas igrejas.

(Êxodo 25.18) "Farás dois querubins de ouro


batido... um em cada lado das extremidades do
propiciatório."
Veja bem... em Êxodo 20 diz que é para não
adorar imagens. Já em Êxodo 25 a ordem é para
fazer imagens (esculturas) de querubins de ouro. E
tem gente que acha que isso não é contradição.

O Deus perfeito, sem arrependimento? —


(Números 23.19) "Deus não é mortal para mentir,
nem filho de Adão para que se arrependa ou mude
de opinião."
Aqui Deus não mente e não se arrepende. Embora
já tenhamos visto anteriormente Deus mentindo e
colocando a mentira na boca dos profetas.

(Êxodo 32.14) "E o Senhor arrependeu-se do mal e


das ameaças que proferira contra o seu povo."
Aqui, o Deus que não se arrepende, já se
arrependeu. É ou não é contradição?

(Gênesis 6.7) "Então arrependeu-se o Senhor de


haver feito o homem sobre a terra, e isso lhe
pesou no coração (...) pois me arrependo de os
haver feito."
Aqui, mais uma vez, o Deus perfeito que não se
arrepende, se arrepende novamente. São
contradições e mais contradição, fruto da
pluralidade, diversidade, de escribas, seres
humanos, que escreveram a Bíblia sob encomenda
dos sacerdotes e religiosos. Mas, o mais estranho
é como na Bíblia Deus é feito de bobo, de idiota...
Todo mundo (na Bíblia) é esperto e bonzinho...
David é espertíssimo, Moisés é super esperto, 'Noé
é inteligentíssimo... só Deus, coitado, é um bobo
aloprado e tem que ser instruído e acalmado a
todo instante.
Na história do bezerro de ouro, Deus é um
destemperado, perde a compostura, se irrita, diz
que vai fazer e acontecer, vai mandar matar todo
mundo e Moisés, o calmo, o tranqüilo, o
equilibrado, dá uma acalmada no Deus
temperamental (e mata somente três mil
pessoas). No caso anterior, de Gênesis 6.7, Deus
se irrita (é quase o seu estado normal, a irritação),
fica arrependido de ter criado o ser humano, e
revoltado diz que vai acabar com a humanidade.
Aí, o "calmo" e sapiente Noé dá uma lição de
moral em Deus, ri da birra e da infantilidade de
Deus, acalmando-o e fazendo-o voltar ao
equilíbrio...
Como os hebreus (judeus) vivos, Noé e Moisés, são
bonzinhos e como Deus é um destrambelhado,
segundo a Bíblia...dos hebreus (judeus).

A escravidão abençoada por Deus — (Levíticos


25.44-46) "O escravo ou escrava que pretendais
adquirir, devem sair dos povos que vos rodeiam...
Podê-los também comprar entre os filhos dos
estrangeiros... Podeis deixá-los em herança aos
vossos filhos, afim de que os possuam depois de
vós, tratandoos perpetuamente como escravos..."
Aqui Deus não só incentiva a escravidão como cria
verdadeiras normas (na realidade um tratado
escravagista) regulando a escravidão, incitando os
"senhores" a comprar escravos dos filhos dos
forasteiros e dos povos vizinhos, como se os
forasteiros não fossem gente. (Uma visão bem
tribal do povo judeu que habitava o Oriente Médio
e que espalhou variantes de sua religião pelo
mundo).

(Êxodo 21.2,7) "Se comprares um escravo hebreu,


seis anos servirá; mas ao sétimo sairá forro de
graça...Se um vender sua filha para ser escrava,
esta não sairá como saem os escravos."
Como um Deus tribal, o Deus dos hebreus,
estabelece dois tipos de escravidão: 1) Para os
escravos não judeus, adquiridos dos povos
vizinhos a escravidão era perpétua (Levíticos
25.46). 2) Mas, se o escravo fosse um judeu
(hebreu) a escravidão só durava seis anos...
(Esperta essa lei...!!!)
Legal esse Deus hebreu!!! Escravidão eterna para
todo mundo e escravidão máxima de seis anos
para os hebreus (judeus).
Para deixar bem claro que o Deus velho do Antigo
Testamento é feito, criado e inventado à imagem e
semelhança dos homens que o inventaram, e que
este Deus não passa de um Deus tribal dos
hebreus, um tiraninho de aldeia, aqui, novamente,
faz a pregação em favor da escravidão, visando
manter e garantir os privilégios dos senhores no-
bres e sacerdotes, assim como atender aos
interesses econômicos da época. E, logicamente,
mesmo garantindo o interesse econômico da
escravidão, estabelece que a escravidão para
todas é perpétua, mas para os hebreus (judeus) é
só por seis anos...
Igualdade e justiça não são o forte desse Deus
hebreu velho do Antigo Testamento. Atender aos
interesses religiosos de amor, perdão, e
compreensão que deveriam nortear uma religião
realmente inspirada em sentimentos divinos, nem
pensar...

(Êxodo 21.4) "Mas se for o senhor quem lhe deu


uma esposa, e ele teve dela filhos ou filhas; a
esposa e as crianças dele serão de seu senhor e
ele escravo sairá apenas com suas roupas do
corpo."
Aqui, é dado seqüência ao tratado bíblico
escravagista de como deve ser o comportamento
tribal dos senhores nobres diante dos escravos e
da plebe ignara.
Esse é o Deus velho do Antigo Testamento,
sentado numa nuvem, o Papai Noel dos adultos,
que os cristãos têm tanto medo e vergonha de
admitir como Deus, pois não só incentiva a
escravidão, como estabelece normas e regras para
se manter e cuidar de um bom escravo.

(Êxodo 21.5-6) "E se o escravo disser claramente,


amo meu senhor, minha esposa, e minhas
crianças: Não sairá livre... então o senhor o trará
até os juízes... e o amo dele furará a sua orelha
com uma sovela; e ele o servirá sempre como
escravo."
Decididamente, isso não é um livro santo, isso é
um tratado escravagista. Não é a palavra de Deus,
e esse não é o Deus que uma pessoa com um
mínimo de inteligência possa aceitar.
Isso que está escrito em Êxodo 21 é vergonhoso,
mostra exatamente a pequenez do Deus tribal de
Israel que foi criado à imagem e semelhança do
homem. A igreja, de uma maneira geral, sempre
esteve ao lado do Estado por séculos e séculos, e
sempre apoiou a escravidão. Sempre serviu ao
atraso da humanidade, defendendo as classes
dominantes. Sempre foi o cerne do obscurantismo.
Esses dispositivos religiosos, bíblicos, são a prova
mais viva disso e a mais contundente das provas.
E o pior é que considerando-se a Bíblia como "a
palavra de Deus" todos estes textos em defesa da
escravidão são textos tidos como se fossem
santos, inspirados como se fosse Deus falando, e
foi desta forma c|ue estes textos bíblicos serviram
para justificar a escravidão no mundo todo por
muitos e muitos séculos e até recentemente
justificavam (a sério) o apartheid na África do Sul,
como se fosse algo divino, inspirado.
Acredite ou não, os escravagistas, os defensores
da escravidão e do apartheid racial justificavam, a
sério, para o povo e para o mundo, que a
escravidão e a superioridade de uns homens sobre
outros era legítima e fruto da inspiração divina e
que esta superioridade dos brancos sobre os
negros estava, inclusive, em Êxodo, e portanto era
a "palavra de Deus" valorizando os brancos e
escravizando os negros.

A vingança hereditária — (Deuteronômio 24.16)


Os pais não serão mortos pela culpa dos filhos,
nem o filho pela culpa dos pais.
Até aí tudo bem. Parece um ensinamento lógico
que fundamenta até um princípio legal, de direito
(princípio da personalização da pena e da sua não-
transmissibilidade).
(Isaias 14.21) "Preparai-vos para a matança dos
filhos por causa da maldade de seus pais."
Pronto... lá vem de novo o velho Deus do Antigo
Testamento pregando a matança de inocentes, o
morticínio, a chacina, a mortandade. E
principalmente difundindo o terror, o medo,
atribuindo aos filhos a punição hereditária por
culpa dos pais.
Esse não é e não pode ser o Deus de quem quer
que seja que tenha um mínimo de raciocínio
elementar.

O Deus tribal, um tirano de aldeia —


(Deuteronômio 13.6-8) "Se teu irmão, o filho de
tua mãe. Ou teu filho, ou tua filha, ou tua esposa a
quem trazes no teu seio. Ou teu amigo a quem
amas como a tua alma, te quiser persuadir,
dizendo-te em segredo, vamos servir outros
Deuses... Tens o dever de matar... Apedrejá-lo-ás
porque ele quis apartar-te do Senhor teu Deus,
que te tirou da terra do Egito da casa da
servidão."
Aqui, o Deus velho do Antigo Testamento, sentado
numa nuvem, mostra toda a sua pequenez, sua
face menor. Não só está distante de questões
realmente importantes como: amor, paz,
compreensão, fraternidade, justiça, perdão e de
questões cósmicas e universais, como exibe-se na
qualidade de um Deus tribal, um tiraninho de
aldeia, preocupado com os adeptos que possam
deixar de contribuir para a riqueza de sua religião
de hebreus e que possam passar para outras
religiões, adorando outros deuses.
O Deus velho do Antigo Testamento é tão
claramente humano e tão descaradamente
inventado pelos humanos que quase pode-se ver o
choramingo de Deus: "Não vão me abandonar por
outros Deuses. Afinal de contas quem te mandou
ser escravo no Egito não fui eu, mas quem te li-
bertou da escravidão egípcia fui eu... no mínimo,
você me deve gratidão".
Pobre velho Deus velho do Antigo Testamento,
sentado numa nuvem, criado e inventado por
homens... Chega a ser ridículo assistir o
choramingo desse Deus velho, implorando para
que não o deixem só e não o troquem por outros
Deuses ou por outras religiões e invocando uma
reserva de mercado, um "direito de preferência"
na escolha religiosa.
Acredito em Deus. Lógico que acredito em Deus.
Mas não tenho nenhum tipo de desespero ou
medo suficiente a ponto de ter que acreditar num
Deus medíocre, falho, falso, como esse Deus
hebreu medíocre do velho do Antigo Testamento.
Acredito em um Deus de amor, que é grande,
infinito, mas nunca poderia acreditar em um Deus
bizarro, pequeno, tribal, exclusivo dos judeus,
odiosamente pequeno. O verdadeiro Deus do
universo não é pequeno. O Deus que a Bíblia
descreve no Antigo Testamento é um Deus muito
insignificante para uma crença inteligente. Quem
poderia adorar um Deus como esse Deus do
Antigo Testamento que é uma ofensa e afronta à
inteligência alheia?
Não posso e não acreditarei num Deus assim. Esse
Deus c uma mentira, uma impostura. É uma
blasfêmia contra a própria idéia de Deus.
Com um Deus medíocre como o Deus descrito no
Antigo Testamento, os sacerdotes saduceus e os
escribas nem precisavam se dar ao trabalho de
criar a figura do Diabo. O próprio Deus já é uma
ameaça de sofrimento eterno.

(Êxodo 29.45-46) "Residirei entre os filhos de


Israel, e serei o seu Deus....e eles saberão que eu
sou o Senhor seu Deus que os tirei fora da terra do
Egito e que eu posso morar entre eles: Eu sou o
Senhor seu Deus."
Quanta arrogância !!! E quanta estreiteza
geográfica. Um Deus tribal, restrito aos hebreus,
aos filhos de Israel, um tirano de aldeia, sem
grande alcance, preocupado somente com a tribo
de Israel e o seu relacionamento com o Egito. É
um Deus pequeno demais, tribal demais, criado
por sacerdotes hebreus, para justificar as
cobranças de dízimos e de prestação de serviços
de sacramentos e para justificar as atrocidades
que a tribo dos hebreus cometeu durante séculos.
Pobre Deus velho, do Antigo Testamento. E
querem fazer desses escritos bíblicos a "palavra
de Deus".
Claro que isso, esse amontoado de bobagens e
atrocidades, não é a palavra de Deus.
Deus é bom e é da paz? — (Deuteronômio 32.4)
"Ele é justo e reto.
Este é e deve ser o princípio do que seja Deus. O
Deus inspirado no amor, cósmico, universal,
baseado no princípio de justiça e da retidão de
caráter."

(Isaias 45.7) "Eu sou o Senhor... formo a luz, e crio


as trevas, eu faço a paz e crio o mal, faço a
felicidade e a infelicidade..."
Pronto, aí já começa o dedo humano com suas
bobagens, invencionices e as interferências dos
desejos dos escribas e sacerdotes.

(Êxodo 15.3) "O Senhor é um guerreiro, ele é


quem dirige as batalhas."
Aí está, de corpo inteiro, o retrato fiel do Deus dos
hebreus, o Deus particular de Israel.. Tem que ser
forte, tem que ser guerreiro, tem que matar, tem
que mandar matar, tem que impor o medo e o
terror, senão eles acreditam que Deus não será
temido o bastante para ser respeitado como Deus.
Já o Deus do amor, da paz, da compreensão, da
fraternidade, da justiça, do perdão, não passa nem
perto dos textos bíblicos do Antigo Testamento.

O incitamento à caça às bruxas — (Êxodo


22.18) "Não deixarás viver a feiticeira. (20) Aquele
que oferecer sacrifício a outros deuses será
exterminado.
Tu castigarás de morte aqueles, que usarem de
sortilégios, t de encantamentos."
Guarde bem esta passagem bíblica. Foi
exatamente este trecho raivoso e discriminatório
que fundamentou os maiores assassinatos da
história da humanidade. Foi alegando obedecer à
Bíblia e perseguir a bruxaria, sortilégios e
encantamentos que, sacerdotes e religiosos,
dizendo-se agir em nome de Deus, que se praticou
chacinas (orno a caça às bruxas, a santa inquisição
e trocentas perseguições religiosas espalhadas
pelo mundo obscuro da regueira religiosa. Bastava
alguém ser acusado de bruxaria ou sortilégio ou
de estar usando de encantamento para ser
acusado, pela igreja, de ser bruxa para ser
"purificada" na fogueira.
Esta citação bíblica — "Não deixarás viver a
feiticeira" inspirou um dos episódios mais negros
da humanidade, e uma das maiores vergonhas
pela qual o ser humano se viu rebaixado. Uma
mancha indelével e que jamais será esquecida
pelos registros históricos.
Outro importante destaque é para a exclusividade
do "franchising" religioso. Ou seja, Aquele que
oferecer sacrifício a outros deuses será
exterminado. Quer dizer, você somente poderá dar
dinheiro para este templo, para esta religião. Sua
alma e seu dinheiro Me pertencem. Se fores adorar
outros Deuses serás exterminado...
Lamentável... Terrivelmente lamentável. Não é à
toa que cristãos do mundo inteiro sentem
vergonha do Antigo Testamento, evitam-no de
todas as formas e restringem-se a reconhecer
basicamente o Novo Testamento.

As exigências de ofertas para Deus —


(Gênesis 22.2) "Deus disse a Abrahão: "Toma teu
filho, teu único filho Isaac, e a quem amas, e vai-te
à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto,
sobre um dos montes, que eu te mostrarei."
(Êxodo 22.29) "Não tardarás em trazer ofertas do
melhor das tuas ceifas e das tuas vinhas; o
primogênito de teus filhos me darás. Procederás
da mesma forma com o primogênito de sua vaca e
de sua ovelha..."
Holocausto perpétuo — (Êxodo 29. 38) "Sobre o
altar oferecereis o seguinte: dois cordeiros de um
ano, diariamente e para sempre. Um oferecido de
manhã e outro à tarde. Com o primeiro cordeiro,
oferecerás um décimo de flor de farinha,
amassada, com um quarto de azeite, e um quarto
de vinho... este holocausto será perpétuo..."
É o império do terror e da vigarice religiosa.
Existe alguma dúvida de que este Deus velho do
Antigo Testamento, sentado numa nuvem, tal qual
Zeus (Deus dos gregos) ou Júpiter (Deus dos
romanos), é o Deus dos hebreus (judeus)? Esperto,
esse Deus... antes de cuidar das questões
existenciais e universais (amor, perdão, compai-
xão, fraternidade, etc.) trata de instituir um
esquema de ofertas para manutenção dos
espertos sacerdotes e religiosos representantes
comerciais de Deus na Terra. Na verdade, além de
instituir o sistema de ofertas, estabelece a oferta
como algo sagrado, pertencente a Deus, e que,
portanto, se for desobedecido poderá ensejar
grande castigo, inclusive a ira de Deus, que
conforme já vimos anteriormente, domina tudo e a
todos pelo medo, pelo terror, matando ou
mandando matar.
Aqui nesta passagem bíblica os espertos
sacerdotes, como se fosse Deus falando, instituem
a vigarice do dízimo perpétuo, para manter as
igrejas ("oferecerás um décimo de flor de farinha")
e ainda criam a exigência de ofertas obrigatórias,
mantendo o pobre coitado do povo sofrido em
permanente estado de miséria, obrigado a dar
tudo que é seu para a manutenção dos espertos
sacerdotes dos templos, representantes
comerciais do Deus de Israel na Terra..
A cumprir essa vigarice de Êxodo 29, o pobre
coitado do crente e temente a Deus deveria viver
em função de dar "dízimo" perpétuo à igreja e de
não fazer outra coisa na vida a não ser dar seus
bens para a igreja. Isto porque de manhã e de
tarde ele, o pobre crente, tinha que dar "dois
cordeiros de um ano, diariamente e para
sempre. Um oferecido de manhã e outro à tarde".
E o mais apavorante: "este holocausto será
perpétuo..."
Mas, o mais cruel é perceber a interferência
humana dos escribas judeus nesta história toda.
Veja bem. Segundo a Bíblia, a "palavra de Deus",
oferecer sacrifício ao Deus dos hebreus é mais do
que obrigatório, para poder sustentar e manter os
sacerdotes que vendiam estes mesmos animais
nos templo (motivo da ira de Jesus) para serem
mortos em sacrifício (holocausto) ao Deus dos
hebreus.
Entretanto, os "espertos" sacerdotes vigaristas (a
quem Cristo expulsou do templo como vendilhões)
fizeram constar na Bíblia, como se fosse a "palavra
de Deus", que oferecer sacrifício a outros Deuses
(que não fosse o Deus dos hebreus) deveria ser
punido com a morte.
Isso é uma descarada vigarice religiosa. Isso é a
exploração religiosa mais desavergonhada e
cretina que possa existir. Isto é ofender à
inteligência alheia e tratar o povo "temente" a
Deus como um bando de imbecis obrigados
eternamente a servir e a manter os espertalhões
do templo (diariamente e para sempre. Um
cordeiro oferecido de manhã e outro à tarde". E o
mais apavorante: "este holocausto será
perpétuo...)
Jesus tinha total razão em enfurecer-se com as leis
e com as palavras "divinas" dos sacerdotes
vigaristas do templo. Essa exploração humana
feita pelos religiosos (representantes comerciais
de Deus na Terra), como se fosse em nome de
Deus, foi o grande divisor de águas da religião e o
principal motivo que levou Jesus à crucificação. Ou
seja, o embate frontal entre Jesus e os sacerdotes
vigaristas do templo foi o maior e o grande motivo
que levou Jesus à crucificação.
Foram os sacerdotes do sinédrio e não os romanos
que impuseram a crucificação e o castigo a Jesus
por ser contra o comércio na igreja, contra os
vendilhões do templo, contra as cobranças de
pobres coitados para manter a riqueza e grandeza
da igreja.
Mil vezes Jesus venha à Terra e mil vezes se
indisporá contra a enganadora cobrança coercitiva
do dízimo por sacerdotes vigaristas,
representantes comerciais de Deus na Terra. Mil
vezes Jesus se indisporá contra as "ofertas" divinas
obrigatórias para beneficiar os vigaristas dos
templos. Mil vezes se indisporá contra a matança
de animais. Mil vezes se indisporá contra este
holocausto de animais e contra a exploração de
pobres "tementes" a Deus.
Essa vigarice de pregação religiosa de dízimo
obrigatório, de holocausto de animais, de "ofertas"
obrigatórias a Deus, perdura por séculos e é a
base e riqueza das religiões. Uma contradição
completa. Isso porque, ainda hoje, algumas
religiões endeusam Jesus e contraditoriamente
vivem da exploração em seu nome, ao mesmo
tempo exigindo, coercitivamente, o dízimo
obrigatório para se manterem, enquanto, ao
mesmo tempo, abençoam as ofertas e o
holocausto dos animais.
É claro que uma igreja, um templo, deve viver de
seu trabalho e das doações (voluntárias, é claro)
de seus membros ou componentes. Agora, daí a
tornar obrigatória a doação ou o dízimo,
enganando o povo, dizendo que isso é a vontade e
a palavra de Deus, que está na Bíblia, e por isso
não pode e não deve ser desobedecido, é uma
grande, uma enorme vigarice religiosa.

Morcego virou ave? — (Deuteronômio 14:11-18)


"Toda a ave pura comereis. Porém estas são as
que não comereis: a águia, (...) a poupa e o
morcego."
Para deixar bem claro que a Bíblia não é a palavra
de Deus, e que o que ali está escrito foi escrito e
inspirado por humanos, expondo toda sua
ignorância e todas as suas fragilidades, aqui vai
mais uma dessas fragilidades: a ignorância (o
desconhecimento) em zoologia.
A águia é uma ave, a poupa, para quem
desconhece, é uma ave (da família dos corvos), o
morcego, apesar de voar, é um mamífero. Não é
uma ave.
A cultura científica universal e a zoologia
evoluíram bastante, mas independentemente
desta evolução, se a Bíblia fosse a palavra de
Deus, se tivesse sido ditada por Deus, o morcego
seria naquele tempo o mesmo morcego que é
agora, um mamífero, e Deus, sendo Deus,
sapiente atemporal, saberia naquele tempo o
mesmo que sabe agora, não se enganaria numa
questão tão simples de zoologia. Mas como a
Bíblia não é a palavra de Deus, foi escrita por
escribas comuns, a mando de sacerdotes e
religiosos humanos, ignorantes em zoologia, que
naquele tempo não sabiam diferenciar uma ave de
um mamífero, fica aqui a evidência e prova de
quanto o ser humano interferiu pessoalmente na
Bíblia.

Insetos têm quatro patas? — (Levítico 11.21-


23) Mas de todo inseto que voa, que anda sobre
quatro pés, podereis comer...
Aqui mais uma ignorância dos sacerdotes e dos
religiosos humanos que escreveram a Bíblia e que
colocaram a culpa em Deus. Insetos não têm
quatro patas (ou pés). Insetos têm três pares de
pernas, na realidade seis patas.
E ainda querem fazer crer que Deus naquela época
desconhecia isso, ditou errado para os escribas da
Bíblia e só agora, com a evolução do
conhecimento da humanidade, é que os escribas

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