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Machado
A Sociedade Secreta
de Jesus
IBRASA
Instituição Brasileira de Difusão Cultural Ltda.
São Paulo – SP
Sumário
O Avô de Deus
Erros e Contradições Bíblicas: Antigo
Testamento
Erros e Contradições Bíblicas: Novo Testamento
Os Ensinamentos de Jesus
O Sermão da Montanha e As bem-aventuranças
A Sabedoria e os Ensinamentos de Jesus
Os Essênios
A Sociedade Secreta de Jesus
1 º Final Jesus Morre na Cruz
2 º Final Jesus NÃO Morre na Cruz
"A dor, o medo e o sofrimento são o combustível
das religiões. E o que se costuma chamar de "fé",
na maioria das vezes não passa de uma
expectativa desesperada do ser humano em ver
resolvido seus problemas, por algo ou alguém
alheio ao seu conhecimento."
O Avô de Deus
— "Pai, você não acha que Deus deve ser muito
triste???..."
— "Triste? Triste, por que, filho?"
— "Claro que ele é triste, pai. Ele não tem avô!"
Essa observação, de um dos meus filhos, antes de
alcançar os dez anos de idade, tomou-me de
surpresa, embora, em si, o tema não tenha ou
contenha novidade alguma. Entretanto, levado a
sério, sério mesmo, não há como desviar-se da
questão, passar ao largo de uma observação como
esta, simplesmente porque ela é apresentada num
formato infantil... ou mesmo não se pode contar
uma historinha qualquer para iludir uma criança,
fugindo ao tema... são recursos simples de
adultos, inaceitáveis face aos danos que podem
ser produzidos caso a questão não seja esclarecida
adequadamente, ainda que para uma criança, e
também por tal fato ser um escapismo tolo, uma
fuga ao tema que, aparentemente infantil, merece
um aprofundamento muito além das
considerações triviais. Afinal, encarada com
sinceridade e honestidade, a questão tida como
infantil é muito mais séria, muito mais complexa e
profunda do que parece.
Principia pelo fato de que para uma criança, a
figura do avô é tudo, é a felicidade suprema. O avô
é o "pai com açúcar". É o avô quem leva o neto
para passear nas férias e em alguns finais de
semana. É o avô quem leva o neto para pescar,
para passear nos parques temáticos, que conta
pacientemente histórias encantadas. O avô, para
um neto, é a felicidade em vida. E, segundo este
neto, coitado de Deus, ele não tinha avô. Deus era
menos feliz do que qualquer menino da Terra que
tem um avô.
Aí, neste ponto, enquanto eu disfarçava meu
embaraço em responder honestamente a um
questionamento simples de uma criança e tentava
organizar meus pensamentos, meu filho
aprofundou o tema e foi mais radical ainda... Deus
não tinha avô, não tinha pai, não tinha mãe, não ti-
nha irmãos... era um solitário, coitado.
— "Coitado de Deus, né pai? Ele vive sozinho!!!"
Pronto, estava estabelecida a questão de uma
forma simples e singela, numa clareza de uma
argumentação infantil, cristalina, e que ao mesmo
tempo apresentava-se de uma complexidade
terrível, uma vez que nada podia ser simplificado.
A questão exigia uma resposta honesta, correta e
direta.
—"Olha, filho, tudo que você vê, tudo que existe
no mundo, tudo, tudo, foi Deus quem criou. E se
algo existe no mundo, neste ou em qualquer outro
planeta, no sistema solar, ou não, em qualquer
outra galáxia, é porque foi criado por alguém. E
esse alguém é Deus, o criador do universo."
—"Pai, e onde Ele mora? Onde Ele vive? Como Ele
é?"
—"A gente costuma dizer poeticamente que ele
mora no coração das pessoas. Ele não tem forma,
ou tem a forma que você quiser. Chame-o de
Criador do Universo, de Espírito Santo, de "Mãe
Natureza", do que você quiser. Deus existe e está
em todos os lugares e em todas as coisas. Mas,
lembre-se que Deus é o que mora no seu coração
e que não tem forma, muito menos uma forma
humana. O Deus barbudo, sentado numa nuvem,
perseguindo e castigando as pessoas, é uma coisa
burra, tão improvável quanto velha. Esse Deus
barbudo é uma figura mitológica, cópia malfeita e
contraditoriamente escarrada da mitologia grega
ou romana, onde os deuses viviam de roupão
branco, no Olimpo, e virava e mexia interferiam na
vida das pessoas, privilegiando uns e castigando
outros."
— "Mas, pai, se Deus existe e ele é bom, é do
bem... por que ele deixa existir o mal?"
— "Por causa de uma coisa chamada livre arbítrio.
Imagine o seguinte: Existe Deus. Existe o plano
divino (que é a vontade de Deus), do qual nós não
temos o mínimo conhecimento ou interferência.
Mas, além do plano divino (destino, maktub) existe
o livre arbítrio (que é a vontade do ser humano, a
interferência pessoal de cada um). O livre arbítrio
existe para que cada um tome seu destino nas
mãos e siga o caminho que achar mais
conveniente, arcando com as conseqüências de
agir bem ou mal. Deus foi muito sábio em dar ao
ser humano o livre arbítrio. O mundo seria
horroroso com tudo igual, tudo certinho, todo
mundo fazendo as mesmas coisas, ninguém se
esforçando para melhorar. Seria um tédio só. Não
fosse o livre arbítrio e todos nós, seres humanos,
seríamos iguais, todos bonzinhos, como se
fôssemos robôs. Não haveria o mal. Só haveria o
bem. Tudo já estaria previamente escrito. E nin-
guém precisaria fazer nada. Era só cruzar os
braços e deixar a vida seguir seu curso pois tudo já
estaria previamente escrito por Deus, sem a
interferência humana."
— "Mas pai, se ele não é um velho barbudo, como
você diz, como é que ele é?"
— "Eu não sei, ninguém sabe e quem disser que
sabe estará mentindo. Ninguém jamais viu Deus.
Guarde isso como uma verdade absoluta para o
resto de sua vida. Ninguém sabe ou saberá sobre
a forma de Deus, sobre como é Deus, sobre o
início da humanidade ou sobre o fim dela. A vida é
uma festa em que entramos nela depois dela já ter
começado e saímos dela antes de acabar. Tudo
que for dito sobre o antes e o depois, de onde nós
viemos e para onde nós iremos, ou sobre o início
da vida e o após a morte, será uma grande
invenção humana sem qualquer base lógica ou
científica. São meras conjecturas e invencionices
para tentar esclarecer o que ninguém sabe ou tem
certeza. Pois de certo, certo mesmo, só os
mistérios que o homem viverá uma vida inteira e
jamais encontrará as respostas."
— "Filho, essas histórias inventadas sobre o início
do mundo e das vidas passadas ou do após a
morte decorrem do fato do ser humano sempre
querer ter uma explicação para tudo. O ser
humano não se conforma que haja uma só questão
a que ele não responda. O ser humano não admite
dizer "eu não sei". Daí as pessoas inventam
histórias mirabolantes sobre a origem da
humanidade e a criação do mundo ou de como é
ou será o mundo dos seres humanos após a morte.
A humanidade não aceita o fato de que os seres
humanos (todos os que já viveram até hoje) não
tenham conseguido responder com inquestionável
acerto as questões sobre o significado da vida:
Como o mundo começou? Como é e para onde nós
vamos após a morte? Este é o grande mistério da
vida, irrespondível."
"O ser humano, apesar de haver caminhado mais
de dez mil anos de "vida inteligente" mal deu um
passo além da idade da pedra. Contínua o mesmo
selvagem pré-histórico, ignorante, e que sequer
conhece a si mesmo. Não consegue resolver coisas
muito mais elementares e simples (se é que isso
pode ser chamado de simples) como entender e
controlar as ações humanas involuntárias."
— "Pai, o que é esse negócio de ações humanas
involuntárias?"
— "De uma forma simples, é mais ou menos assim:
Você manda o olho piscar, ele pisca. Você manda
a boca falar, ela fala. Você manda a perna andar,
ela anda. E assim por diante. Essas são as ações
humanas voluntárias. São as ações do corpo
humano que você pode comandar.
As ações humanas involuntárias são aquelas que
Deus deu a você e que não dependem de você
mandar que aconteça ou de sua vontade. Você
não manda a unha crescer, mas ela cresce
independentemente de você mandar. Você não
manda o cabelo crescer, mas ele cresce. Você não
manda os ossos crescerem, mas eles crescem.
Você não manda as células se multiplicarem, mas
elas se multiplicam. Você não manda criar um
óvulo, e muito menos criar um espermatozóide, e
eles são criados independentemente da sua
vontade.
Já imaginou você monitorando milhões de
espermatozóides? "Isso! Agora! Vamos lá! Todo
mundo junto! Vamos invadir o óvulo, vamos criar
vida"... O ser humano, coitado, imagina saber
muito, mas não sabe e não domina sequer os mais
"elementares" segredos contidos nele mesmo, que
dirá do que está além dele.
Além destas questões, de natureza física, os seres
humanos têm muita dificuldade em assimilar e
trabalhar com o que não pode ser visto, com o que
é imaterial. O amor, ele confunde com prazer da
carne. A bondade, ele confunde com dar esmola. E
assim com muitas e muitas coisas que são
imateriais. O ser humano não se conforma com o
imaterial. Tenta dar forma para as coisas
imateriais, mas coitado, cria toscas figuras pobres
para coisas tão complexas que ele não sabe como
são ou como foram formadas.
— "Você é capaz de imaginar fisicamente a paz, o
amor, a bondade, o perdão? Pois é... com Deus é a
mesma coisa. O ser humano, incapaz de lidar com
um Deus imaterial, desconhecido, tratou de criar
uma forma para Ele, como se pudesse dar uma
forma para o amor, para a compreensão, para a
paz, para o perdão e tantas outras coisas
imateriais. Mas, principalmente, foi em razão do
medo do ser humano diante da vida e da falta de
respostas para a sua origem e existência que o
homem criou um Deus à sua imagem e
semelhança."
— "Ué... Deus criou o homem ou o homem criou
Deus? Deus então é fruto do medo do ser
humano?"
— "Não é bem assim... Apesar de John Lennon
haver dito na música "God" (Deus) que "God is a
concept by which we measure our pain" (Deus é
um conceito pelo qual nós medimos nossa dor),
Deus não é só fruto da dor, do sofrimento ou do
medo. Embora eu reconheça que a dor, o
sofrimento e o medo são campos fertilíssimos para
a idolatria a Deus, de uma maneira exacerbada e
exagerada, onde o ser humano, medroso,
sofredor, torna-se vítima fácil dos gerentes de
religião e dos exploradores da fé alheia. E aí, neste
caso, Deus passa a ser uma idolatria absurda,
fruto do medo e da dor, com o qual eu não
concordo a mínima, pois Deus não é isso e não é
só isso. Razão pela qual eu escrevi (em 1992) que
eu não era "Nem tão estúpido para ser ateu, nem
tão medroso para acreditar em Deus."
— "Peraí... agora confundiu um monte de coisa...
Ateu é burro, estúpido? Você acredita ou não
acredita em Deus? Só os medrosos acreditam em
Deus? Foi Deus quem criou o ser humano ou
fomos nós que criamos Deus? Deus Não existe?"
—"Calma... vamos por parte. Ser ateu sem lógica
(negar por negar) é burrice, é estupidez, pois nega
a sua própria existência. Ser ateu por discordar de
um Deus personificado à imagem e semelhança
dos homens, é até inteligente.
Eu, de minha parte, acredito que Deus existe.
Claro que alguém criou o que conhecemos por
universo. E em razão disso eu assumo que Deus
existe. A prova da existência de Deus é a
existência do mundo. Se o mundo existe, alguém
criou. E este alguém que criou, nós chamamos de
Deus, de criador do universo ou dê você o nome
que quiser. Mesmo que alguém algum dia diga
para você que o mundo foi criado pelo "Big Bang"
(uma grande explosão), alguém criou o "Big Bang",
e este alguém é Deus. Mas, daí dizer que ele é um
velho barbudo sentado numa nuvem a distância é
grande.
— "Tudo bem... mas quem criou Deus?"
— "Filho, tente imaginar dois conceitos de Deus.
Um Deus, imaterial, sem forma definida,
desconhecido, que existe antes de tudo, que criou
tudo que existe no mundo, e que nada sabemos
dele. É a história do antes do nascimento e do
depois da morte. Ninguém tem a resposta. Nin-
guém sabe. E quem disser que sabe, seja quem
for, estará mentindo. E outro Deus, o Deus
barbudo sentado na nuvem, o Deus mitológico,
que é uma invenção do ser humano, que,
sentindo-se só, com medo, com muito medo da
vida e da falta de respostas para a sua origem e
existência, este homem criou um Deus à sua
imagem e semelhança. É o tal Deus velho,
barbudo, sentado numa nuvem, mitológico, e que
promove um monte de justiças e injustiças, in-
terferindo diariamente na vida das pessoas. De
uma maneira bastante genérica. É o Deus
personificado que algumas religiões criam,
inventam, pregam e vendem por aí a torto e a
retalho."
— "Esse Deus personificado pelas religiões, então,
é uma invenção como se fosse o Papai Noel dos
adultos?"
— "É por aí... Mais ou menos isso... Se um dia apre-
sentarem a você a imagem física de Deus, pode rir
porque você estará diante de um mentiroso que
acredita no Papai Noel dos adultos. Mas, se você
conseguir sentir no seu coração, amor pelo seu
semelhante, paz interior, perdão para aqueles que
errarem (mesmo que sejam seus adversários ou
inimigos), fraternidade, harmonia, você estará
diante de Deus. Ele está em todas as coisas da
humanidade e é um mistério profundo e absoluto.
Ele está na sua gargalhada, que eu tanto adoro.
Está na bondade do ser humano. Está no amor ao
próximo. Está numa planta que nasce. Está na
chuva que cai e traz vida. Está no sol que aquece.
Está na bênção de cada dia que nasce. Está em
tudo que existe e em todas as partes. Não busque
Deus em uma forma. Busque Deus em um
sentimento."
— "Então, pai, se eu tiver um bom sentimento eu
me aproximo de Deus? Se eu der esmola ou um
brinquedo meu para uma pessoa que precisa eu
me aproximo de Deus?"
— "Não tão simples assim. Antes de mais nada, se
você, por exemplo, pegar uma moeda, uma roupa
ou um brinquedo e der a alguém que esteja
necessitando, faça a sua doação em segredo e não
deixe a sua mão esquerda saber o que a direita
está fazendo. Não faça seu ato em público e nem o
divulgue, pois isso é um assunto particular e
restrito entre você e Deus. Ao repartir o que você
tem a mais com quem não tem, você estará
praticando alguns dos maiores ensinamentos
cristãos, como a piedade, o amor ao próximo e a
humildade. E entre tantas as formas de se aproxi-
mar de Deus essa é apenas uma dessas
pequeninas formas. Entretanto, o mais importante
ainda não foi feito. Ou seja, agradecer a Deus por
ter e por poder dar. Agradeça pela sua saúde, pelo
seu corpo perfeito, pela boa vida que você tem e
pela chance de você ter a graça e a oportunidade
de poder ajudar a alguém materialmente. E aí,
filho, aí sim, diante deste sentimento nobre, que
preenche o seu coração de amor ao próximo, você
estará diante de Deus.
Como na prece franciscana, a felicidade em
encontrar Deus está em dar mais do que receber,
consolar mais do que ser consolado, buscar a
fraternidade no amor ao próximo e a paz no
silêncio do coração. Reconhecer-se no seu
semelhante. São coisas aparentemente simples,
mas de uma dificuldade muito terrível de ser
superada.
— "Então, pai, toda vez que eu der esmola ou um
brinquedo meu para alguém que precisa, sou eu
quem está recebendo o presente por poder dar e
por poder me aproximar de Deus?"
— "Mais ou menos isso. Não basta dar uma esmola,
uma ajuda ou um brinquedo. Não é a esmola que
te aproxima de Deus. O que te aproxima de Deus
é o sentimento de piedade pelos que têm menos e
na sua vontade em ajudar ao próximo. Pois a
esmola sozinha, sem o sentimento de ajuda ao
próximo, é nada, é só um ato mecânico e material,
mais nada.
Antes de mais nada entenda a diferença entre o
material (o ato material de dar) e o imaterial (o
sentimento de querer ajudar ao próximo) e que a
coisa funciona de forma bastante oposta e
diferente do que possa parecer, pois você (e não a
pessoa a quem você está ajudando
materialmente) é que está recebendo uma dádiva.
Você está tendo uma oportunidade de através de
uma ato material ajudar um semelhante, e com
isso receber uma oportunidade (imaterial) de
crescer e melhorar como ser humano. Você está
chegando-se a Deus (sentimento imaterial)
através de um gesto material. E aí, sim, agradeça
a Deus, pois você recebeu uma graça de poder
ajudar a alguém e de poder melhorar como ser
humano. Ou seja, é você quem deve agradecer a
Deus por ter tido a chance de melhorar como ser
humano. Entendeu agora?"
—"Tá certo, pai. Agora eu entendi legal."
—"Na busca pelo sentimento nobre de caráter, na
busca pelo aperfeiçoamento como ser humano é
que você irá encontrar Deus. Mas você não precisa
buscar Deus somente numa esmola ou numa
ajuda ao seu semelhante. Você poderá vê-lo numa
planta, numa paisagem, num rio, numa cachoeira,
num animal, num ser que nasce, num por do sol,
num arco íris, e em todos os nascimentos que
representam o milagre da vida. Principalmente
busque Deus no seu semelhante. Basta você abrir
o coração com sentimento que Ele entra e ilumina
a sua vida. E por isso, agradeça a Deus, todos os
dias pelo milagre da vida e por você fazer parte
deste milagre.
Isso representa dizer, meu filho, respondendo à
sua pergunta, que Deus não sendo uma pessoa, à
imagem e semelhança do ser humano, como ele
foi erradamente inventado pelos homens, Deus
não tem avô, não tem mãe, não tem irmãos, não
se sabe se Ele é homem ou mulher, se é preto ou
branco, e muito menos qual é a sua real forma.
Conforme eu havia dito, isso é um mistério sobre o
início e o fim da vida. Ninguém sabe como ele é.
Ninguém nunca o viu pessoalmente, e quem disser
em contrário estará mentindo para você.
—"Mas, pai, e as imagens que a gente vê?"
—"São apenas isso... imagens. Frutos das
religiões. Conforme eu já havia dito, o ser humano
tem muita dificuldade em lidar com o que não vê,
com o imaterial. E Deus, como o amor, a bondade,
o perdão, e todas as coisas imateriais, para poder
ser melhor compreendido, precisava ser
personificado. Daí a necessidade das religiões de
se ter uma imagem para Deus e para seus
auxiliares. E como o ser humano não sabia como
lidar com o imaterial, passou a personificar o
amor, o perdão, a bondade, a fraternidade, a
esperança inventando formas para Deus. Criou
vários tipos de imagens, que mudaram com o tem-
po, através da história da humanidade. Zeus, por
exemplo, já foi uma imagem de Deus muito
popular na Grécia. Assim como a sua versão
romana Júpiter. Em quase todas as religiões os
seres humanos inventam imagens para retratar
Deus ou seus auxiliares, semideuses, anjos,
santos, etc. E isso decorre fundamentalmente
daquilo que já foi dito: da incapacidade do ser
humano em lidar com o imaterial.
Independentemente de religião, Deus, o criador do
universo, Mãe Natureza, ou o nome que você
queira dar, é um só. Cada religião dá a sua versão
para Deus. Cada um personifica Deus como
quiser... índios acreditavam no Deus Sol e na
Deusa Lua. Gregos acreditavam num Deus, ou
Zeus, cercado de deuses e deusas. Deus do Vento,
Deus do Mar, Deus do Vinho, Deusa da Beleza,
Deusa da Caça, etc. Tinha Deus para tudo que era
gosto. Tudo que existia na natureza, na face da
terra, tinha um Deus específico por trás regendo
essa coisa.
— "Puxa vida, pai, os índios e os antigos eram
muito ignorantes."
— "Não, filho. Não é ignorância, é mais solidão, dor
e medo diante do desconhecido e da vida do que
ignorância. O ser humano sempre foi assim.
Sempre teve muito medo diante da vida e do
desconhecido. E sentindo-se incapaz de resolver
sozinho, as coisas que desconhecia e do medo que
sentia inventava um Deus capaz de resolver as
coisas que ele sozinho achava-se impossibilitado
de resolver. E a grande maioria da humanidade faz
exatamente isso. Incapaz de buscar em si, em seu
interior, as forças para enfrentar a vida, transfere
para Deus a responsabilidade de resolver seus
problemas particulares.
Em resumo, o ser humano sempre transferiu para
Deus a responsabilidade de resolver as coisas para
ele, ser humano. Desde que o mundo é mundo,
nada mudou. Ainda hoje é assim, acredite. O ser
humano de hoje é exatamente igual ao selvagem
primitivo ou ao índio de milhares de anos atrás.
Teme muito mais a Deus do que o ama de
verdade. O sol, a lua e os astros ainda hoje são tão
adorados com a mesma intensidade e o mesmo
fervor quanto nos milhares de anos passados, só
que atualmente esses astros são adorados sob a
forma de ciência (?), chamada de astrologia.
Ainda hoje, pessoas ditas e tidas como sérias se
apresentam como: Eu sou sagitariano, eu sou de
libra, eu sou de leão, etc., como se a posição dos
astros no dia do nascimento de alguém pudesse
determinar caráter, forma de conduta, etc. Na
realidade, o ser humano do século vinte e um tem
os mesmos medos e anseios do homem da idade
da pedra, apavorado diante da vida, e buscando
proteção num astro, numa estrela, num sol, numa
lua, num planeta qualquer...
Ensinamentos cristãos e budistas são bastante
claros a respeito disso e alertam para este fato ao
dizerem: "Parem de buscar pelo sagrado no céu.
Abram as janelas de seus corações e com um
transbordamento de luz o sagrado virá e trará a
alegria ilimitada... Vocês fingem que precisam
adorar o sol... mas o sol não atua
espontaneamente, e sim pela vontade do Criador
do Universo, que o fez"
Dizendo assim, friamente, até parece cruel retratar
que o ser humano não evoluiu nada em mais de
vinte séculos. Mas, por mais constrangedor que
possa parecer, em mais de vinte séculos de
"evolução", o ser humano está somente a um
passo adiante da idade da pedra, pois ainda hoje
muita gente transfere seus medos e suas
responsabilidade para Deus e seus "assistentes" e
carregam badulaques, amuletos, estátuas,
imagens de semideuses, anjos ou santos de sua
devoção, buscando "proteção" contra seus medos
e suas fragilidades, transferindo para Deus e seus
auxiliares a responsabilidade de resolver os
problemas dos seres humanos.
Basta você visitar uma igreja, templo, sinagoga,
mesquita, terreiro (de qualquer religião) para
conferir todo o medo do ser humano diante da
vida, quer pela idolatria das imagens (mais por
medo do que por amor), incentivada pelas
religiões, quer pelas ofertas de ex-votos (pagado-
res de promessas) pelas "curas" e "graças"
recebidas, quer pelos amuletos — coisas
inanimadas — e que tais, vendidos para darem
sorte ou "proteger" a quem os carregar, como se
isso, sendo algo além de seus poderes pessoais
reais, pudesse mudar ou interferir na vida das
pessoas."
— "O ser humano, pai, ao invés de buscar se
fortalecer interiormente para sua defesa, por
medo, então transfere seus problemas para coisas
(amuletos, imagens) que supostamente possam
protegê-lo?"
—"Mais ou menos, filho. Não se pode generalizar,
pois existem religiões que ensinam a busca
permanente do aperfeiçoamento interior e o
autoconhecimento como formas de buscar a Deus.
Algumas religiões até têm máximas como: "Se
queres um escudo impenetrável, fica dentro de ti
mesmo."
Mas, não pense que o medo e a fragilidade
humana param por aí na idolatria de imagens e
personificações em metal, barro ou gesso. Há
coisa muito mais antiga do que a idolatria de
imagens, que persistem até hoje e que são ter-
ríveis. São os sacrifícios de animais (e até de
gente) para "aplacar a ira dos Deuses" ou para
buscar uma "graça" ou "ajuda" espiritual,
exatamente como era feito há milhares e milhares
de anos, desde a idade da pedra, por pessoas ou
povos tidos como "ignorantes".
Isso mesmo. Pessoas medrosas diante da vida
matavam ou ainda matam pobres e inocentes
animais (e até pessoas), sob a desculpa de fazer
oferenda a deuses, santos, anjos ou coisa que o
valha, como se Deus fosse um ser sanguinário que
bebesse o sangue de animais e seres humanos. E
esperam, essas pessoas (ignorantes), com isso,
obter algum tipo de graça pelo holocausto e
mortandade de gente e animais.
Conforme você pode ver, meu filho, não há limite
para o medo do homem e a superstição do ser
humano. Este ser humano tem um longo caminho
a cumprir, pois evoluiu muito pouco desde a idade
da pedra ou mesmo comparado ao selvagem, ao
índio, ao silvícola.
—E falando em índio, silvícola, outro grande
engano geral da humanidade é o ser humano dito
civilizado, contrapondo-se à "ignorância" do índio,
dizer-se monoteísta, achando que é monoteísta,
sem jamais ter sido monoteísta.
Ou seja, o ser humano sempre praticou o
politeísmo, dizendo-se monoteísta
independentemente da religião que professava. O
ser humano sempre aceitou Deuses, Deusas e
respectivos auxiliares, sob as mais variadas
formas, semideuses, anjos, santos, apóstolos,
espíritos (santo ou não). Muito dificilmente você
encontrará um ser humano que acredite em Deus,
somente em Deus e mais nada, sem semideuses,
anjos ou quaisquer outros auxiliares. (Não que isso
— politeísmo — seja bom ou ruim. É só um registro
para deixar bem claro que as pessoas, no afã de
sentirem-se superiores aos "ignorantes" silvícolas,
sequer se dão conta que são tão politeístas quanto
os silvícolas, embora imaginando-se monoteístas)
Da mesma forma, assim como existe a crença na
pluralidade de Deuses e ajudantes, a pluralidade
de crenças faz parte do gênero humano. Sempre
haverá pluralidade de religião, mesmo nos
domínios mais austeros e totalitários, pois a
liberdade de fé ou crença religiosa é um dos mais
importantes dos direitos humanos (Direito à vida,
Direito à liberdade... de pensamento... de
expressão... de crença religiosa).
Embora nem sempre aconteça esta liberdade de
crença religiosa nos regimes totalitários, vez por
outra, até mesmo nos países hipocritamente
chamados de democráticos, como os Estados
Unidos, por exemplo, o Estado sempre procura dar
uma interferência direta na religião do povo em
geral, procurando impor a "sua" religião como
oficial.
Na moeda americana, por exemplo, há a inscrição
religiosa de que "Nós acreditamos em Deus" (In
God we trust). E os ateus? Como ficam? Não têm o
direito de não acreditar no Deus do dólar e de Wall
Street? São obrigados a acreditar no Deus do
Governo? O Governo pode ter um Deus particular?
Pode impor uma religião?
Outro exemplo desta interferência estatal na
religiosidade das pessoas é o caso dos
julgamentos americanos, onde há a
obrigatoriedade de não ser ateu e ter que "jurar
por Deus", sobre a Bíblia, que você está dizendo a
verdade ("So help me God"). Felizmente, num
julgamento famoso, o editor Larry Flynt desafiou a
corte americana e não jurou sobre a Bíblia,
dizendo que ele tinha o direito constitucional de
não jurar pelo Deus do governo americano, e que
a pátria não podia ter um Deus oficial. Ele queria
ter a liberdade de pensamento, a liberdade de
expressão e a liberdade de crença religiosa. Foi
uma das maiores vitórias do americano comum
contra a hipócrita religião oficial governamental
americana. ("O povo contra Larry Flynt")
— "Puxa pai, eu nunca imaginei que isto pudesse
acontecer num país como os Estados Unidos.
Ainda bem que aqui no Brasil isso não existe. Não
é?"
— "Nada disso. Aqui no Brasil também tem esse
tipo de autoritarismo religioso institucionalizado.
Só que disfarçado e ninguém reclama.
Oficialmente foi decretado pelo governo brasileiro
o dia 12 de outubro (que sempre foi "Dia da
criança") como sendo feriado nacional por ser o
Dia de Nossa (deles) Senhora de Aparecida, a
padroeira do Brasil (dos Católicos).
Ora... e quem não é católico? É obrigado a ter uma
tal de Nossa Senhora Deles como a padroeira do
Brasil de todos? É uma aberração e uma violação
constitucional a imposição de uma religião oficial
do Estado ao povo brasileiro. E as demais
religiões? Como ficam? Já pensou se cada religião
obrigar o governo a decretar dia tal como feriado
nacional em razão de cada religião? Isso é um
absurdo total."
—Cada qual tem a sua crença e deve ser
respeitado em suas convicções. Até porque cada
um tem o livre arbítrio para escolher aquilo em
que quer acreditar. Não existe uma religião única,
muito menos uma que seja mais certa do que a
outra. Quem quiser acreditar em Jesus, que
acredite. Quem quiser acreditar em Maomé, que
acredite. Quem quiser acreditar em Buda, que
acredite. Quem quiser acreditar em Orixás, que
acredite. Quem quiser acreditar em Moisés, David
e Abraão, que acredite. Quem quiser acreditar em
espíritos, que acredite. Quem quiser acreditar em
pedras, cristais, paralelepípedos, que acredite. O
ser humano é e deve ser livre para escolher o que
e no que acreditar. Você mesmo, quando crescer,
vai escolher aquilo em que você quiser acreditar,
independentemente da minha interferência ou da
interferência da sua mãe.
Independentemente da crença que você vier a ter,
tenha em mente uma única coisa: Seja tolerante
com toda e qualquer convicção religiosa, mesmo
das que você discorde, total ou parcialmente, pois
até mesmo o ateu tem lá as suas convicções que
devem ser respeitadas, ainda que você acredite
em Deus como o criador do universo e isso seja
para você a mais absoluta verdade. Respeite
sempre qualquer crença, mesmo que o que você
acredita seja o contrário do que os outros
acreditam. Mesmo que essa pessoa seja ateu ou
acredite em números, em pedras ou paralele-
pípedos.
— "Mas pai, esse negócio de acreditar em pedras e
paralelepípedos é brincadeira sua, não é?"
— "Que brincadeira que nada. Tem gente que
acredita em videntes, ciganas, números, em cartas
ou mesmo que as coisas de Deus, mesmo
inanimadas como uma pedra, possam conter ou
captar uma energia e por isso cultuam uma pedra,
um cristal ou um paralelepípedo. Entretanto,
mesmo que você não entenda, ache estranho ou
não acredite, você deve respeitar a crença dessas
pessoas, até porque ninguém é dono da verdade e
você pode estar redondamente enganado nas suas
convicções."
—É direito de qualquer ser humano acreditar no
que quiser, ou se quiser, até de não acreditar em
nada. Pode, por exemplo, depositar sua crença ou
superstição em símbolos ou ícones de aparente
resultado imediatista como fadas, duendes,
pedras, cristais, paralelepípedos, números, cartas,
e coisas do gênero, ainda que isso contrarie tudo
que você possa pensar a respeito.
É um direito seu discordar de uma pessoa que
cultua um duende, uma fada, uma pedra, um
cristal, um número, uma carta ou coisa do gênero.
Tanto quanto é direito destas pessoas acreditarem
no que quiserem."
— "Mas pai, adorar pedra e paralelepípedo?"
— "O que tem demais nisso? Eu não adoro pedra e
nem paralelepípedo. Essa é uma convicção minha,
mas eu tenho que respeitar a convicção de quem
acredita em pedras e paralelepípedos. Até porque,
adorar pedra não é tão novo assim. Em séculos
passados, por exemplo, pessoas adoravam as
pedras em Stonehenge (local sagrado, na Grã-
Bretanha, onde cultuava-se um monte de menires
— grandes pedras pontiagudas — colocadas em
círculo). Outros adoravam os deuses gigantes de
pedra da Ilha de Páscoa. Os egípcios e os gregos
adoravam imagens de pedra e esperavam com
isso que seus espíritos, depois da morte carnal,
fossem ascender aos Deuses. Portanto, adorar
pedra não é tão novo assim. Mas, o importante e
inegável é o direito dessas pessoas em terem a
sua crença, secreta ou abertamente, cultuando
Deus ou não, ou quantos Deuses queiram."
— "Mas pai... se você defende o ponto de vista de
que Deus existe, você não está negando o direito
do ateu em não acreditar em Deus? Não está?"
— "Não... eu não estou negando o direito do ateu
acreditar que não existe Deus. Ele, o ateu, acredita
no que quiser acreditar, problema dele. Ele pode
negar o mundo, negar a natureza, negar até a sua
própria existência. Problema dele. Ele pode até
acreditar na ausência de Deus. Problema dele. Eu
estou simplesmente expondo o meu ponto de vista
em acreditar em Deus, embora contrário ao dele,
mas sem negar o direito dele — ateu — em sua
crença. Pois ainda que eu discorde dele (ateu),
luto pelo inalienável direito dele ter a convicção
que quiser. Isto não tem nada a ver com concordar
ou discordar do ateu. Tem a ver com democracia,
com liberdade de pensamento, liberdade de
opinião, liberdade de crença religiosa. O que eu
estou dizendo é a minha convicção, que não tem
nada a ver com o direito dele ter ou não ter um
Deus. Eu tenho minhas convicções, que não são as
dele, acredito que eu existo, que você existe,
acredito que o mundo existe, e que alguém criou
isso. E esse alguém que criou tudo isso,
convencionou-se chamar de Deus, Criador do
Universo. Só isso. Eu não estou defendendo a
existência do meu Deus como o único Deus certo e
correto. Estou simplesmente expondo o meu ponto
de vista em relação à existência do mundo, da
natureza, da criação, do universo. Isso, não tem
nada a ver com o direito ou não do sujeito querer
ser ateu."
—"Veja bem, filho. Se hoje eu discriminar o ateu,
amanhã eu discrimino uma religião por ser
exótica, depois discrimino outra porque eu acho
absurdo, e daí para a intolerância religiosa é um
pulo. Logo estarei achando que só a minha religião
é a certa e a única que presta."
— "E qual a religião melhor que existe?"
— "Não, filho. Não existe uma religião melhor do
que as outras. A melhor religião que existe é
aquela que você acredita, que você se sente bem
e na qual tenha fé, independentemente dela ser
popular ou não. Toda religião, qualquer que seja
ela, tem uma função social útil, disciplinadora, que
alimenta a auto-ajuda. Mas, ao mesmo tempo,
toda religião tem em seu bojo uma inevitável fun-
ção destrutiva, que é exploração financeira da fé
alheia e a quase automática intolerância religiosa,
supondo ser a "sua" religião a única religião
correta sobre a face da Terra.
Seja qual for a religião que você venha a ter, tenha
em mente sempre e acima de tudo a tolerância
religiosa e o respeito às convicções alheias. Cada
ser humano tem direito ao seu Deus, ainda que
cada qual tenha um íntimo e inconfesso
sentimento de que o seu Deus é o único "salva-
dor". E no fundo, bem lá no íntimo, cada ser
humano tem uma pena enorme das demais
religiões que não têm um Deus como o seu. E é
exatamente isso que eu gostaria que você
evitasse, essa certeza de que o seu Deus é o único
Deus que existe e o único Deus do mundo, o único
que salva. Não caia nesta tentação. Isso é uma
armadilha terrível que leva imediatamente à
intolerância religiosa.
—Tudo isso é como uma verdade árabe, existe a
minha verdade, a sua verdade e a verdade. Existe
o meu Deus, o seu Deus e Deus.
O importante não é a religião que você professa ou
como é o seu Deus. Desde que você acredite e que
aquilo te faça bem, a religião já estará cumprindo
uma função social útil. O que não pode e não deve
existir nunca é o lado negro da religião, o
sectarismo religioso, a intolerância religiosa. Até
porque a intolerância religiosa é a maior assassina
da humanidade. Nunca matou-se tanto na
humanidade como o que se matou (e ainda se
mata) em nome de Deus. Foram santas
inquisições, caça às bruxas, carnificinas das santas
cruzadas e a libertação do santo sepulcro. Cristãos
contra mouros. Católicos contra protestantes.
Judeus contra Muçulmanos. Homens matando
homens, mulheres e crianças, tudo "em nome de
Deus".
Deus não tem nada a ver com isso. Deus não tem
nada a ver com a ignorância humana. Deus nunca
pediu para ninguém matar ninguém ou impor
credo algum em seu nome.
—"E a nossa religião, pai, qual é? A gente é
católico?"
—"A sua eu não sei, você vai ter que escolher
quando crescer e quando tiver maior
conhecimento. Mas, por enquanto, a gente procura
dar a você os ensinamentos baseados nos
ensinamentos que a gente teve de berço. Ou seja,
você foi batizado na igreja católica, tem aulas de
catecismo, aprende coisas sobre a Bíblia, vai fazer
primeira comunhão... e quando crescer vai fazer a
sua opção religiosa, seguindo aquela que melhor
se adaptar às suas convicções."
—"E a Bíblia, pai, não é uma boa religião?"
—"Não... Bíblia não é religião. A Bíblia é um livro
de ensinamentos, embora seja tido como sagrado
por algumas religiões e até mesmo considerado
por algumas religiões como sendo a palavra de
Deus, assim como é Alcorão (O Corão) para os
muçulmanos, ou a Torah (e Talmud) para os
judeus. São livros de sabedoria, importantíssimos
como fonte de ensinamento, bases de suas
religiões (Cristãs, Muçulmanas, Judaicas). Sendo
que a Bíblia, é mais conhecida nossa, por sermos
ocidentais, com cultura diferente dos orientais ou
médios-orientais. O que não quer dizer que ela, a
Bíblia, seja mais certa ou mais errada que Alcorão
(O Corão) ou a Torah."
— "A Bíblia, sozinha, é a base de trocentas
religiões, sendo que muitas delas são, na verdade
a maioria, conhecidas como religiões cristãs ou
evangélicas, pelo fato de valorizarem mais os
evangelhos do Novo Testamento, que enfoca,
fundamentalmente, a vida e obra de Jesus. Mas,
por mais estranho que possa parecer, lembre-se
que muita gente e muitas religiões seguem os
ensinamentos de Jesus, mas não são
necessariamente cristãos. Quer pelo fato de Jesus
ser maior do que o próprio cristianismo
controverso, quer por não aceitarem certas
versões da Bíblia (existem várias), tidas como
imprecisas, fantasiosas e inverídicas e por isso
consideram Jesus como um grande espírito de luz
(como em muitas religiões espíritas), como um
profeta (como em algumas ramificações da
religião muçulmana), onde Jesus é um grande e
importante profeta, ou, para outras religiões, um
espírito altamente iluminado que habitou o planeta
Terra. E por isso, ou seja, por serem seguidores
parciais dos ensinamentos de Jesus, e não
radicalmente integrais, não se confessam como
unicamente cristãos."
— "É bom lembrar e deixar bem claro, contudo,
que não existe uma só e única Bíblia. Ao contrário,
existem várias Bíblias, várias versões de Bíblia, e
que não necessariamente dizem a mesma coisa,
assim como nem sempre centralizam suas
atenções em Jesus."
— "Quer dizer, pai, que existem tantas versões de
Bíblia e tantas versões de cristianismo que nem os
cristãos não se entendem entre si?"
— "Como sempre, fruto da intolerância religiosa, do
sectarismo religioso, cada qual fica querendo
impor sua versão da Bíblia como sendo a versão
única e definitiva, esquecendo-se que Deus é Deus
e que a Bíblia é só um conjunto de livros, escritos
e feitos por homens, seres humanos, de uma
enorme sabedoria, é bem verdade, mas que deve
ficar restrito a isso: um livro, conjunto de vários li-
vros, escrito por seres humanos, encerrando uma
enorme gama de conhecimento e sabedoria."
— "Talvez a Bíblia, para nós ocidentais, seja o livro
mais importante da humanidade, até porque,
embora contenha contradições incríveis (assim
como Alcorão e a Torah), registra ensinamentos
fantásticos. O mínimo que pode-se dizer da Bíblia
é que (independentemente dos erros e
contradições) é uma enorme fonte de sabedoria e
um dos maiores registros antropológicos que
existe. E como todo livro, escrito por seres
humanos, lamentavelmente, tem muitos erros,
muitas contradições, muita incongruência, muito
exagero, algumas bobagens, que chegam até a ser
infantis diante do que a humanidade evoluiu e do
que se conhece hoje, principalmente no tocante à
lógica, biologia, zoologia, astronomia e física. O
que, no entanto, não retira da Bíblia a importância
como um livro importantíssimo de enorme fonte
de sabedoria e ensinamento. Mas, daí a ser um
"Livro Sagrado" ou "A palavra de Deus"... a
distância é enorme.