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Embora isso possa parecer algo comum entre

crianças, e até mesmo possa acontecer muitas e


muitas vezes entre pessoas, o olhar de admiração
de João Batista para Jesus e a paixão instantânea
que foi estabelecida entre ambos foi algo que
tornou-se marcante para os pais de João Batista e
de Jesus que chegou a assombrá-los, assustando-
os mesmo.
Esse vínculo inexplicável entre João Batista e
Jesus, como se fossem "duas almas gêmeas", dois
irmãos inseparáveis de outras vidas, viria a se
estender por toda a existência de ambos.
Já havia se passado mais de seis meses do
encontro de José e Maria com os religiosos da nova
ordem mitral, quando Herodes, o Grande, por
reclamação de religiosos hebreus, temendo a
concorrência de novas e proibidas religiões, com
adorações a novos deuses, toma conhecimento de
que alguns religiosos de terras distantes, do Egito
e da Índia, estavam profetizando sobre gente do
seu povo.
Chamados ao palácio de Herodes, o Grande, os
religiosos da nova ordem mitral apresentam-se a
Herodes, o Grande, mas nada do que foi dito por
eles era novidade ou coisa que já não tivesse
ouvido. Eram as religiosidades de sempre e as
previsões habituais, das quais ele, Herodes, estava
cansado de ouvir. Aparentemente, eram só mais
uns profetas e visionários, iguais aos demais que
trocam previsões por dinheiro ou alimento,
exatamente iguais aos tantos que existiam
espalhados da Judéia à Galileia. Entretanto, um
detalhe não escapou de Herodes, o Grande: O fato
de que entre as previsões havia uma que
detalhava sobre um dos primogênitos recém
nascidos na Galileia que um dia viria a ser rei.
Percebendo que Herodes, o Grande, havia se
interessado em especial pela profecia do novo rei
e que hipocritamente mal disfarçava sua ira ao
solicitar aos religiosos mitrais que fossem até
Cafarnaum e Genesaré, recomendando que
fossem até a criança que viria a ser rei e
trouxessem-na para que ele mesmo, Herodes, o
Grande, adorasse o "futuro rei". Foi o suficiente
para que os religiosos mitrais percebessem as
reais intenções de Herodes, o Grande.
Uma vez percebido as intenções mal ocultadas de
Herodes, o Grande, demonstrado por um incontido
rancor sobre a possibilidade de haver um rei
ameaçando seu trono, os religiosos da nova
ordem, com a consciência pesada pelo possível
mal que tal previsão poderia causar, partem então
em busca dos pais de Jesus para alertá-los sobre o
descontentamento de Herodes, o Grande, e de
uma possibilidade de vingança ou retaliação sobre
o "futuro rei".
Como José, Maria e Jesus não foram encontrados
em Cafarnaum ou em Genesaré, os religiosos
mitrais começam então a perguntar sobre o
paradeiro deles, até que são informados por
amigos que a família havia se mudado para Belém.
Como Belém ficava no sul, no exato caminho para
o Egito, de onde os religiosos mitrais haviam
vindo, eles foram até Belém, sua passagem
obrigatória, e por estranha coincidência
encontram-se com José em um mercado público
(uma espécie de feira) e alertam do acontecido no
palácio de Herodes, o Grande.
Assustado, e temendo por sua família, José
convence Maria a fugir mais uma vez, posto que
agora o perigo não era só uma suposição, era real.
E, aceitando a oferta de abrigo e esconderijo
oferecido pelos religiosos mitrais preparam-se
para uma fuga para o Egito, longe do alcance de
Herodes e seus filhos, que dominavam a Judéia e a
Galiléia.
Temendo também pela vida de João Batista, seu
sobrinho, filho de Zacarias e Isabel, de quem tanto
havia recebido ajuda, José tenta convencer
Zacarias e Isabel a deixar João Batista fugir com
eles para o Egito, uma vez que, segundo os
religiosos mitrais, Herodes, o Grande, iria mandar
matar todos os primogênitos nascidos nos dois
últimos anos para evitar que um rei nascesse em
seu reino.
Sabendo que João Batista, agora com pouco mais
de um ano, se ficasse em Belém, iria ser morto
pelos guardas de Herodes, o Grande, pois João
Batista era somente quase seis meses mais velho
do que Jesus, Zacarias consente em que João
escape com os tios para o Egito. Entretanto,
Zacarias recusa-se a ir junto, pois sendo um
sacerdote muito conhecido em Belém e pelo fato
de ter tido um filho já em idade avançada, com
uma mulher tida como estéril, e que o fato do
nascimento de seu filho ser de grande
conhecimento público, Zacarias preferiu ficar em
Belém, com Isabel, e simular a morte do próprio
filho, para garantir a sua sobrevivência no Egito.
Nesse meio tempo, de fato, Herodes, o Grande,
manda vasculhar seu reino, da Galiléia à Judéia,
em busca do tal primogênito que poderia um dia
vir a ser um rei. E após longa e incessante busca,
frustrada em seu intento em localizar o "menino-
rei", e sentindo-se traído pelos religiosos mitrais,
que poderiam ter advertido à família do menino
sobre as suas reais intenções, eis que ele chega à
conclusão de que não tendo sido possível localizar
pacificamente o tal "futuro rei", a única solução
seria mandar matar todos os primogênitos, da
Galiléia à Judéia, que tivessem menos de dois anos
de vida.
Ensandecido, Herodes, o Grande, passa das
palavras à ação e determina a "matança dos
inocentes". Algo dantesco, inimaginável, uma
chacina terrível, cruel. Eram mães e pais
desesperados, vendo seus filhos sendo arrastados
por soldados de Herodes, o Grande, para serem
assassinados friamente, na presença do rei, para
que ele tivesse a certeza de que nenhum
primogênito (varão) com idade inferior a dois anos
pudesse escapar com vida.
Embora nos níveis de hoje em dia, 30 a 40
crianças, primogênitos do sexo masculino, possa
parecer um número pequeno, em razão da
explosão demográfica do mundo atual,
proporcionalmente à população de cerca de dois
mil habitantes, entre Cafarnaum, Genesaré e
Belém, é um número altamente significativo, em
termos de mortandade, sem falar na crueldade
que é, para um pai, a morte prematura de um
filho, primogênito ainda por cima.
Felizmente, graças à providencial informação dos
religiosos mitrais, Jesus havia escapado com vida
da matança dos inocentes. E João Batista também,
pois tendo menos de dois anos e se seus pais não
tivessem sido alertados por seus tios, dos riscos
que corria, teria tido um triste fim caso houvesse
permanecido em Belém.
Durante três longos anos, José, Maria, Jesus e João
Batista, passam a viver no Egito, e com isso a
conviver e a aprender outra cultura, novas línguas,
a confrontar sua religião com outras religiões e a
adquirir novos ensinamentos e a sofrer um
processo de aculturação. Que acabaram sendo
basicamente a "cultura de berço" de Jesus e João
Batista.
Ao fim de três longos anos, eis que finalmente
Herodes, O Grande, vem a falecer, deixando seu
reino para os seus filhos: Herodes Antipas
(Galiléia), Arquelau (Judéia) e Filipe (Cesaréia de
Filipe e Transjordânia). Quando então Zacarias vai
até o Egito e avisa a José e Maria da morte de
Herodes, o Grande, e que com isso eles agora
poderiam voltar em paz, pois o perigo de vida (ou
de morte) para Jesus e João Batista havia passado.
Foi uma festa enorme o retorno de Jesus e João
Batista a Belém. Zacarias e Isabel não cabiam em
si de contentamento pela volta de João Batista, e
de seus primos e sobrinho. Até porque, agora,
após três anos sendo criados juntos, Jesus e João
Batista eram quase que como irmãos, a afinidade
entre os dois (um com quatro para cinco anos e o
outro com três para quatro anos) era algo
incrivelmente indescritível. Pois se desde o
nascimento já havia algo de transcendental e
inexplicável entre os dois, imagine agora após os
três primeiros anos sendo criados juntos... como
irmãos.
Embora houvesse uma afinidade muito grande
entre José e Zacarias, e entre Maria e Isabel, José
não se sentia bem em Belém, embora fosse sua
terra natal. Algo de assustador e muito negativo
José via em Arquelau (filho de Herodes o Grande)
que governava a Judeia, pois seu perfil era de um
grande corrupto e meio louco. No íntimo José
sentia que Arquelau era muito parecido com o pai,
Herodes, o Grande, e que a loucura e os atos
públicos de Arquelau, poderiam causar grande
revolta popular, ou até mesmo uma revolução ou
um período de muita conturbação (que de fato
acabou acontecendo), o que colocaria em risco a
família de José. Conseqüentemente, isto não
inspirava confiança para que José permanecesse
em Belém.
A ter que escolher um lugar para morar dentre os
três reinos dos filhos de Herodes, o Grande, José
escolheu retornar à região da Galiléia, onde
morara antes, e que agora era governada por
Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande, e que
parecia mais confiável do que o pai e o irmão
Arquelau. Vez que sua quase única e grande
preocupação era construir, construir e deixar um
grande legado de construções, de modo a deixar
sua marca para a posteridade.
E foi assim que José mudou-se novamente para
Cafarnaum (na Galileia), às margens do Lago de
Genesaré (Mar da Galileia ou Mar de Tiberíades),
vizinho às cidades de Corozaim e Betsaida, onde
ele tinha grandes amigos e muitos conhecidos, o
que, por sua vez, tornaria a vida mais fácil para
seus trabalhos.
Foi uma grande, sentida e dolorosa separação
entre os quase irmãos João Batista e Jesus e os
parentes Zacarias e Isabel, José e Maria.
Em Cafarnaum, a vida seguia normalmente para
José e Maria. Mas, no entanto, algo de muito
estranho acontecia com Jesus, pois, por mais que
os pais tentassem ocultar e esconder dos vizinhos
os dons de Jesus, não conseguiam ocultar um
incontrolável poder dele sobre a matéria, que
causava danos, transtornos e problemas para os
vizinhos e para a comunidade.
Sem que Jesus desejasse, ou soubesse como, as
coisas aconteciam à sua revelia, coisas estranhas
aconteciam ao seu toque, e às vezes nem ao seu
toque. Era algo inexplicável. E por ser algo que
ele, criança, não sabia como direcionar ou
controlar, logicamente muitas coisas boas
aconteceram, mas principalmente muitos
problemas foram criados por Jesus para José e
Maria, que nada entendiam sobre o que se
passava.
O fenômeno mais comum era a telecinesia,
explicada pela parapsicologia (e no espiritismo)
como a movimentação de objetos inanimados, à
distância, sem qualquer ação mecânica humana.
Eram objetos que caiam sem que ninguém os
houvesse tocado, eram coisas que se moviam sem
que ninguém conseguisse explicar. E o estranho
disso tudo é que todos sabiam que era Jesus quem
fazia aquilo acontecer, mas quando ele era instado
a fazer deliberadamente o que se pedia para fazer
acontecer, ele não conseguia... tinha o poder mas
não sabia como usá-lo ou direcioná-lo.
Logicamente, a fama dos acontecimentos não
tardaram a se espalhar pela vizinhança e não
faltava gente apegando-se às coisas de Jesus,
como suas vestes, restos de suas roupas, água em
que ele tivesse sido banhado, qualquer coisa que
ele tivesse tocado ou usado, para serem utilizados
como amuletos de sorte ou objeto das mais varia-
das curas, sendo a mais comum a de
enfermidades. E como costuma acontecer nos
casos em que pessoas esperançosas de
determinados acontecimentos desejarem tanto,
tanto, tanto a realização de um acontecimento
que, por sugestão, indução ou coisa que o valha,
muitos "milagres" (frutos do acaso, coincidência
ou não) passaram a ser atribuídos a Jesus.
Sua fama logo correria por toda a cidade e pelas
cidades vizinhas. E logo não tardaram a se formar
verdadeiras romarias ao menino abençoado, em
busca de soluções de problemas. Mas o que viam
era simplesmente um menino parecido com quase
todos os meninos de sua idade e que realizava
coisas estranhas e inexplicáveis, mas todas elas
independente de sua vontade.
Por outro lado, não tardou que as opiniões
ficassem divididas à respeito dos "milagres" de
Jesus. Uns achando que realmente muitas pessoas
foram curadas pelo seu toque divino ou por
objetos pertencentes a Jesus, mas muitos (a
maioria, frustrada por não alcançar a graça ou o
resultado esperado) achando que os casos
acontecidos eram mera coincidência, pois somente
alguns casos (a minoria) havia surtido efeito.
Os que alcançaram o resultado esperado
acrescentavam ao seu resultado alguns outros
acontecidos com terceiros para dar maior
credibilidade e veracidade à sua história. E não
faltavam histórias de que Jesus ressuscitava
pássaros mortos, ou que matava pássaros
acidentalmente. Ou que fazia árvores secarem a
um simples toque ou rebrotarem depois de
mortas. Ou que fazia levitação em pleno campo
aberto. Enfim, muitas histórias eram contadas a
respeito de Jesus.
Por outro lado, muitos descontentes tratavam de
espalhar como falsos os poderes de Jesus e
citavam casos e mais casos de gente que havia
buscado a cura e nada havia acontecido, quando
não havia piorado do estado em que estava. Gente
que estava "quase" sadia e que morrera sem
maiores explicações. Enfim, as opiniões dividiam-
se muito, até que com o passar do tempo as
pessoas passaram a conviver com naturalidade
com as coisas estranhas que Jesus fazia, e não
tardou que Jesus voltasse à vida normal de
qualquer criança. E as coisas inexplicáveis que
Jesus fazia passaram a ser recebidas sem espanto
ou sem maiores alardes.
Como as coisas ditas, boas e ruins, sobre uma
pessoa não ficam aprisionadas e circunscritas ao
seu convívio direto, não tardou que a fama de
Jesus chegasse a um ou outro em Belém e em
Jerusalém. E em lá chegando a fama dos
acontecimentos de Jesus, não tardou que chegasse
ao conhecimento de seu tio, Zacarias, um
conhecido sacerdote hebreu.
Tão logo pôde, Zacarias foi a Cafarnaum, a
pretexto de uma visita para conhecer Tiago, o
mais novo filho de José e Maria e de aproveitar dos
prazeres da vida próxima ao mar, no lago de
Genesaré. E em lá chegando, demonstrou enorme
satisfação pelo seu mais novo sobrinho, Tiago,
mas, sem disfarçar, apressou-se a verificar o que
ouvira a respeito de Jesus. E para sua surpresa,
constatou a realidade e assustou-se com as coisas
que via e com os poderes de seu sobrinho Jesus.
Para, logo em seguida, recuperando-se do susto,
ter uma visão muito clara do proceder.
A José, Zacarias confessa, então, estar ensinando a
seu filho João, a ler e escrever, juntamente com
fundamentação religiosa (Para a época, saber ler,
escrever e interpretar era muito pouco comum
para as pessoas de uma maneira geral. O ensino
básico era aprendido, em geral, para somente
alguns privilegiados, na juventude).
Zacarias, mostrava-se espantado com os prodígios
de seu filho João Batista, com alguns de seus
poderes inexplicáveis (semelhantes aos de Jesus)
e confessava-se temeroso de ensinar na mesma
velocidade com que seu filho aprendia. E, por isso,
ele preferia que João Batista fosse educado de
maneira mais competente por sábios religiosos,
estudiosos, próximo a Belém, em Monte Carmelo
ou Qunram. E, sendo João Batista e Jesus
praticamente irmãos, e com claros dotes especiais
e incomuns de pessoas super especiais, ele,
Zacarias, entendia que seria bastante proveitoso
para Jesus se José permitisse que Jesus fosse
aprender o ensino fundamental (ler, escrever e
interpretar) juntamente com seu primo João
Batista.
A primeira reação de José foi totalmente negativa.
Era inconcebível entregar Jesus para Zacarias para
que ele enviasse Jesus e João Batista para serem
educados por sábios em um mosteiro em Monte
Carmelo ou Qunram. A resposta era "não", "não" e
"não".
José, entre assombrado e curioso, questiona então
a Zacarias se, sendo ele um sacerdote saduceu,
não o incomodava ou se não era um contra-senso
confiar a educação de seu próprio filho João a um
grupo essênio. No que Zacarias contesta e garante
que quer para seu filho o melhor que a cultura
pudesse dar. Descontente com sua própria
religião, Zacarias diz que Belém e Jerusalém estão
à beira do caos, com corrupção moral e de
costumes, uma versão "moderna" de Sodoma e
Gomorra. Os ensinamentos religiosos dos
saduceus e dos fariseus estavam menos educando
do que a própria ignorância. Por isso, a melhor so-
lução para a educação estava em tirar João Batista
de Belém ou Jerusalém e enviá-los a quem
pudesse dar bons ensinamentos de base e uma
sólida orientação religiosa ortodoxa, pautada na
humildade, na caridade e na sabedoria do
autoconhecimento.
Zacarias, apelando para o sentimentalismo e para
a dívida de gratidão, argumentou com José que
pelo bem de seu filho uma vez confiara a vida de
João Batista a José, quando da fuga para o Egito.
Agora, não era só uma questão de confiança, mas
José deveria pensar primeiro no futuro e bem estar
de Jesus antes de querê-lo agarrado a si, sem dar
uma chance dele ter uma oportunidade de ser al-
guma coisa diferente de um simples camponês. E,
de mais a mais, José não poderia esquecer que
Jesus iria ser tratado como a um filho, como é
habito entre os essênios, e que iria estar
permanentemente na companhia de seu quase
irmão João Batista, o que seria ótimo para a
formação de caráter e o desenvolvimento de
ambos.
Maria foi mais sensível às palavras de Zacarias do
que José. Ela reconheceu de imediato que Zacarias
iria fazer por Jesus o mesmo que iria fazer por seu
filho João Batista. Iria dar-lhe a melhor instrução, o
melhor preparo para a vida e quem sabe ter até
um destino conforme o previsto nas profecias... e,
de mais a mais, Maria e José não ficariam sós, vez
que estavam com um filho nascido há pouco
(Tiago) e Maria já estava grávida de outro.
E foi dessa maneira, com o apoio de Maria e com
José meio a contragosto, que Jesus foi enviado por
meio de Zacarias para ser educado junto com seu
primo João Batista.
No início, João Batista e Jesus foram enviados para
a iniciação dos ensinamentos não em Qunram,
mas no mosteiro essênio em Monte Carmelo, ao
sul de Belém e Jerusalém, onde tiveram a
instrução elementar. Posteriormente, foram
enviados para Qunram para a fase mais profunda
e madura do aprendizado.
Durante o período em que estiveram sob a
orientação dos essênios, João Batista e Jesus
receberam várias vezes as visitas de seus pais, o
que não era um fato comum entre os internos do
mosteiro. Nas principais festas religiosas eles iam
para a casa de suas famílias e para as celebrações
festivas. E a cada ano João Batista e Jesus iam
passar uma curta temporada em casa com seus
pais, o que também era algo incomum, e que
denotava um tratamento especial e diferenciado
que era destinado a Jesus e a João Batista.
Esta liberdade de ir e vir e este procedimento
pouco comum, permitido a João Batista e a Jesus,
criava um grande embaraço e constrangimento
entre os essênios. Isto porque, em geral as
crianças eram entregues nos mosteiros essênios,
nas mais tenras idades, eram tratados verdadeira-
mente como filhos, e somente após estarem
totalmente prontos, na puberdade, com o caráter
bastante forjado com sólidos ensinamentos, é que
voltavam a ter saídas mais freqüentes dos
mosteiros e contatos com seus familiares. En-
tretanto, percebendo a luz interior de ambos e os
seres especiais que eram João Batista e Jesus,
foram-lhes concedidas condições diferenciadas e
especiais de tratamento.
Embora Jesus fosse pobre (e João Batista nem
tanto), o aprendizado da leitura e da escrita, assim
como a interpretação de textos, parábolas e
ensinamentos era algo incomum e quase
inalcansável para sua classe social. Essa
aculturação provocou uma gradativa ascensão
social de Jesus, que passou a freqüentar e a privar
de determinados grupos sociais, antes inatingíveis
para a sua classe social.
Judeus convictos, circuncisados desde os oito dias
do nascimento (nota do autor, deixar a palavra
circuncisado, pois circuncidado é mais uma das
tantas "preciosidades" de dicionaristas), aos 12
anos João fez o seu tradicional Bar Mitzvah (uma
festividade judaica que consiste na entrada da
puberdade, onde a criança deve justificar e dizer
aos adultos como e porque merece adentrar à vida
adulta), o que não se constituiu numa grande
surpresa, pois sendo João Batista um filho de um
sacerdote, presumia-se uma grande cultura capaz
de impressionar os mais velhos, no templo, no seu
discurso de entrada na juventude. Era algo
esperado. Mas, quando no ano seguinte Jesus fez
seu Bar Mitzvah, que para surpresa geral ninguém
esperava tamanha fonte de conhecimento por
parte de um humilde filho de camponês, foi algo
absolutamente marcante, isto porque, além de
demonstrar um incrível e fantástico conhecimento,
incompatível para um filho de camponês (os
religiosos do templo não sabiam da instrução
essênia de Jesus), e por isso Jesus foi sendo mais e
mais questionado pelos mais velhos, e quanto
mais questionado, mais conhecimento Ele
demonstrava. A ponto de estarrecer os sacerdotes
e seniores do templo, com tamanho conhecimento
das leis religiosas, bem como demonstrando uma
impressionante cultura geral.
Inegavelmente, Jesus era o irmão destacado de
uma família comum, tradicional da época. Nada de
especial havia sido manifestado em seus irmãos.
Tiago já estava bastante crescido, com quase sete
anos. Os outros irmãos, José, Simão, e Judas, eram
crianças absolutamente normais, comuns. Sem
que merecessem registro destacado. Mas, para
Jesus (e também para João Batista) de certa
maneira, a chegada dos doze/treze anos acabou
marcando não só uma posição de passagem para
a adolescência, como expôs de maneira mais
acirrada as contradições entre a doutrina e a vida
dos essênios e o convívio com os demais grupos
judeus, como os saduceus e os fariseus. As
disparidades eram muito grandes e gritantes.
Os essênios, por seu turno, não estavam contentes
com os rumos das vidas duplas de costumes
diferentes de João Batista e Jesus. Assim como eles
(Jesus e João) não estavam plenamente satisfeitos
em ater-se a uma só cultura. A curiosidade e a
fome de saber consumiam os dois jovens. E,
coincidentemente, estava chegando o momento
de ambos decidirem (ou os pais de ambos) se
iriam dar seqüência à doutrina essênia, optando
por tornarem-se mestre (rabi) ou sacerdote
essênio, ou se optariam por outro tipo de rumo ou
religiosidade.
De certo, certo mesmo, somente as sólidas bases
de cultura geral e religiosa, passadas pelos
essênios, que eles haviam adquirido. Mas, isso era
muito pouco ante o fogo e a fome de saber que
ardia em ambos, visto que eles ansiavam por mais
e mais conhecimentos, que eles sabiam que
existia mundo a fora, e que por esta razão não se
contentavam com o que tinham, apesar de muitos
acreditarem que era conhecimento suficiente. Mas
que para eles era muito pouco.
A inquietude e o fogo da adolescência
empurravam João Batista e Jesus para aventuras
além das terras da Palestina. Os propalados
mistérios do Egito e da índia, e mais os desafios de
suas culturas e religiosidades, colocavam os agora
jovens João Batista e Jesus em verdadeiro estado
de tormento e ânsia pelos desafios que se
apresentavam.
Com a chegada da juventude aumentaram a
inquietude, a angústia e o tormento. O chão
queimava sob seus pés.
Foram mais alguns anos vivendo a contragosto
entre a Galiléia e a Judéia, até que a força e o
ímpeto da juventude os empurrou definitivamente
para o mundo de aventuras em viagens de
experiências fantásticas.
Foram viagens ao Egito (a sudoeste), para rever
velhos conceitos, ensinamentos e relembrar dos
primeiros anos de vida, quando haviam fugido
para o Egito e passados os primeiros anos de suas
vidas. Mas, o principal motivo das viagens era o de
confrontar e adicionar novos conhecimentos,
verificando, de perto, ciências que despertavam
enorme curiosidade como o ocultismo, previsões e
o zoroastrismo (Religião de Zoroastro ou
Zaratustra, nascido na Média, no século sete a.C.,
criador da casta dos magos e reformador do
masdeísmo — religião antiga dos iranianos =
persas e medas -, caracterizada pela divinização
das forças naturais e pela admissão de dois
princípios em luta, aura-masda e arimã (o bem e o
mal), do qual conservou-se a concepção dualística
do universo.)
Como conseqüência da curiosidade pelos
conhecimentos egípcios (os essênios cultuavam
muito a cultura egípcia e respeitavam a influência
que tiveram da ramificação da Grande
Fraternidade Branca, fundada no Egito pelos
ascendentes do faraó Akenatom, em cerca de
1450 a.C.), interligado aos conhecimentos dos
persas (Irã), e à cultura budista da Índia e do
Nepal, mormente referente à meditação
transcendental dos monges tibetanos e aos
ensinamentos humanitários, pacifistas e adeptos
da não-violência, isto sem falar em reencarnação,
vida eterna e evolução espiritual (que o judaísmo
saduceu e fariseu se furtavam a discutir e sequer
queria ouvir falar), não tardou que uma longa
jornada fosse empreendida no sentido oposto ao
Egito. Ou seja, seguindo a Rota de Seda, a
nordeste (Síria e Turquia) e depois ao sudeste e
sul, atravessando os países hoje conhecidos como
Iraque, Irã, Paquistão, Índia e Nepal.
A vida de Jesus, dos 16 aos 28 anos, período em
que esteve em constantes viagens e aprendizado
no extremo oriente, pode ser lido em diversas
publicações de diversos pesquisadores (conforme
citado em grande bibliografia anexa), mas de uma
maneira séria e inconteste, pode ser confirmado
pela própria igreja católica, na biblioteca do
Vaticano, onde existem 63 (sessenta e três)
manuscritos variados, em diversas línguas
orientais, referindo-se às viagens de Jesus ao
extremo oriente: Egito, Arábia, Síria, Turquia,
Índia, Nepal e China, com especial vivência na
índia e no Nepal, onde Jesus era conhecido e
chamado de "Issa", conforme constatado em 1887
pelo pesquisador russo, da Criméia, Nicolai
Notovitch.
Outros manuscritos (atos e evangelhos) que
tratam do assunto, e que por isso mesmo haviam
sido banidos pela igreja nos primeiros quinhentos
anos da era cristã, foram redescobertos e trazidos
por missionários cristãos, entre eles os Atos de
Tomé, publicados em 1823, Atos de Barnabé,
publicado em 1870, o evangelho de Pedro 1893, o
evangelho secreto de Tomé, descoberto no alto
Egito, em 1945, dois anos antes (1947) dos
manuscritos (Qunram) do Mar Morto.
Outro que pesquisou a fundo estes documentos no
Vaticano foi o alemão Holger Kersten, o que
ensejou a autoria do livro "Jesus viveu na Índia",
onde descreve com riqueza de detalhes a longa
estada de Jesus ("Issa") na índia e no Nepal. E não
diferente são os estudos e pesquisas do teólogo-
pesquisador russo Nicolai Notovich, que aliás foi o
primeiro a descobrir (em 1887) os manuscritos
sigilosos da biblioteca do Vaticano, e que foram
por muito tempo ocultados do mundo cristão,
assim como seu livro "A vida desconhecida de
Jesus" (The unknown life of Jesus).
Portanto, escrever sobre a vida de Jesus, dos 16
aos 28 anos, baseado em manuscritos do Vaticano
e livros sérios já editados e confirmados, parece
ser um ato repetitivo e que muito pouco
acrescentaria ao relato atual sobre a vida de Jesus,
vez que o foco de nossa abordagem é especifica-
mente "A Sociedade Secreta de Jesus".
Assim sendo, retornemos a Jesus e João Batista,
aos 27 e 28 anos, após as longas viagens de
ambos ao extremo oriente.
De volta à Palestina, impregnados de novos e
sólidos conhecimentos religiosos, do zoroastrismo
ao budismo, com uma visão espiritualista
amplificada, Jesus e João Batista deparam-se com
uma terrível corrupção de costumes, da Judeia à
Galileia. Era como uma antevisão muito próxima
de Sodoma e Gomorra. Havia uma séria inversão
de valores e uma tremenda injustiça social que
infelicitava e empobrecia cada vez mais o povo.
A política dos romanos era perversa. Exigiam mais
e mais, cada vez mais e contavam com total apoio
e cumplicidade da elite dos judeus (saduceus) para
ajudar cada vez mais a Roma. Enquanto que os
judeus pobres e os gentios (não-judeus) viviam em
lastimável estado de miséria.
A tática dos romanos era mais ou menos simples:
Não impunham seus Deuses e as várias divindades
do panteão romano, e permitiam que a elite dos
judeus (saduceus), sabidamente corrupta e
canalha, controlasse o povo pela religião casuística
deles e pela cega e inconteste adoração a Javé.
Em troca, exigiam que os saduceus sangrassem o
povo ao máximo, com tributos escorchantes, para
"honra e glória de Roma". E com isso o povo tinha
que trabalhar mais e mais, cada vez mais, para
sustentar essas duas classes da elite parasitária.
É certo que isso (injustiça social e corrupção de
costumes, principalmente a desenfreada
libertinagem que havia se instalado nas classes
dominantes) revoltava e indignava terrivelmente a
João Batista e a Jesus. Mas cada um tinha sua
revolta particular dirigida para um foco da
questão. À João Batista indignava mais a
promiscuidade, a libertinagem, a devassidão e a
corrupção de costumes. À Jesus indignava mais a
corrupção religiosa, pois os templos haviam se
transformados em verdadeiros mercados e casas
de câmbio, onde alguns dos impostos só poderiam
ser pagos com a moeda "tetradracma tíria", que
obrigatoriamente tinha que ser trocada no templo
dos saduceus (como se fosse uma casa de
câmbio), enquanto que ao mesmo tempo os
espertalhões saduceus obrigavam — sob ameaça
dos "fiéis" arderem em fogo eterno do inferno —
aos pobres coitados ansiosos por melhorar de vida,
que para melhorarem de vida tinham que fazer
sacrifício de animais, comprar amuletos e
oferendas no templo, pagar dízimo, e seguir
determinados rituais que beneficiavam
diretamente os gerentes e mercadores do templo.
O poder de exploração da ignorância alheia pelos
gerentes e mercadores do templo dos saduceus
era de tal ordem que aos pobres "fiéis",
amedrontados ante o fogo eterno do inferno, nem
o direito de trazer seus próprios animais para
serem sacrificados era permitido. Nem trazer sua
água para ser benzida. Nem trazer seus azeites e
óleos para serem benzidos. Nem trazer seus
próprios amuletos. Tudo isso era considerado
impuro pelos vigaristas do templo. Os "fiéis"
ignorantes só podiam oferecer em holocausto ani-
mais "puros", comprados com exclusividade no
templo dos vigaristas. A água, os azeites, os óleos
e os amuletos para serem santos, bentos, tinham
que ser "puros" e para isso tinham que ser
comprados no templo dos gerentes, sacerdotes e
mercadores vigaristas, que detinham uma exclusi-
va reserva de mercado, concedida por Roma — em
retribuição à subserviência dos saduceus e
fariseus — e que ao mesmo tempo era garantido
pela ignorância do povo ameaçado pela igreja.
(Esta exploração religiosa da ignorância, desejada
e mantida por uma igreja que se pretende fazer e
manter próspera, em benefício dos gerentes do
templo, foi o que tanto irritou Jesus a ponto de —
em determinada ocasião — perder o controle e
expulsar os vendilhões do templo).
Não se pode nem dizer que as lutas de João Batista
e Jesus ficaram centradas somente neste aspecto
de revolta contra a exploração do povo e as
desigualdades sociais. Claro que isso não é a
verdade inteira. Isso era, também, um tema e um
assunto de interesse permanente dos revolucio-
nários ultranacionalistas zelotes. Que infelizmente
tinham uma visão desfocada do problema e a tudo
atribuíam a culpa a Roma, esquecendo-se que
seus próprios irmãos judeus (saduceus e fariseus)
eram os maiores culpados de tudo.
Não se pode esquecer e nem perder de vista que
de alguma forma este aspecto de uma vida
corrupta e mundana de romanos, saduceus e
fariseus, influenciou o direcionamento e a vida de
João Batista e de Jesus.
Estas corrupções, religiosa — que tanto revoltou,
irritou e angustiou Jesus — e a de costumes, pela
degradação de valores morais, ligados à
libertinagem e devassidão — que tanto revoltou,
irritou e angustiou João Batista, acabaram sendo
decisivas para suas vidas e responsáveis pela
"sorte" e tragicidade de seus destinos.
Os quase irmãos, João Batista e Jesus,
decepcionados com a permissividade e corrupção
instalada por toda a Palestina, vendo e assistindo
a degradação de Belém e Jerusalém espalhando-se
por toda a Judéia e Galileia, voltam então ao
mosteiro essênio em Qunram para retomar seus
antigos contatos, trocar conhecimentos e
experiências com os "irmãos" essênios, e
estabelecer uma forma de resistência e luta contra
o que estava acontecendo com o povo hebreu
(judeu).
Puros como o branco das roupas que vestiam
(conforme já explicado, o branco não era uma cor
tão comum quanto possa parecer. Ao contrário,
eram raros os tecidos brancos, bem brancos, pois
como os tecidos eram todos feitos artesanalmente,
por isso tinham a cor crua original e característica
dos tecidos (bege) ou a cor de seus tingimentos
mais berrantes: vermelho, azul, amarelo, etc.
Exceto o branco que era uma descoloração difícil
de ser conseguida) os essênios juntaram-se a João
Batista e a Jesus em suas preocupações quanto à
corrupção de costumes que havia tomado conta
do povo hebreu (judeu), associado à degradação
dos romanos.
Algo deveria ser feito para conter aquele avanço
incontrolável de devassidão e corrupção. E foi
exatamente diante deste quadro que um grupo de
essênios (não era a maioria) resolveu organizar
um combate sistemático à podridão de costumes
que campeava pelas cidades.
Inicialmente falavam em ir às ruas fazer pregações
e usar o poder de convencimento. Mas esta idéia
encontrou bastante resistência por vários motivos.
Primeiro, porque os essênios mais velhos e
tradicionais primavam pela vida reclusa dos
mosteiros e não se aventuravam por pregações
abertas em ruas. Segundo, porque a pregação
aberta em ruas envolveria críticas além da
religiosidade e esta não era a finalidade da religião
essênia. Aliás, sem sucesso os zelotes já criavam
tumulto suficiente (e sem muito sucesso) com-
batendo e se insubordinando contra a corrupção
de costumes dos romanos, dos saduceus e dos
fariseus. Terceiro, porque grande parte das críticas
iria encontrar resistência religiosa junto aos grupos
saduceus e fariseus, com conseqüências drásticas
para os essênios, onde a menor delas seria a
perseguição pessoal aos essênios: Quarto, porque
identificando abertamente os revoltosos essênios
eles seriam presas fáceis e colocariam em risco
não só suas vidas como a de seus familiares.
Era uma situação extremamente difícil, mas da
necessidade e do debate surgiu então uma
solução alternativa, qual seja: uma irmandade,
uma fraternidade, uma sociedade agindo
secretamente — em princípio desvinculada dos
mosteiros essênios — visando combater a
corrupção de costumes e de religião, onde seus
membros usariam nomes falsos de batismo de
modo a dificultar as suas identificações e para não
terem seus parentes, familiares e amigos
perseguidos.
Suas regras de funcionamento eram bastante
simples. Iriam fazer pregações dos conceitos
religiosos tradicionais dos essênios (ampliados e
associados aos conhecimentos religiosos
adquiridos por João Batista e por Jesus, quando de
suas viagens ao extremo oriente. Basicamente
índia, Nepal e China); iriam revolucionar e
despertar a religiosidade de cada pessoa, iniciando
pelo renascimento, pelo batismo, dando a cada
alma uma nova oportunidade de renascimento e
uma vida nova a cada pecador. Iriam manter
rituais sagrados como a eucaristia (pão e vinho)
para selar os laços da arca da amizade. Iriam
pregar a paz e o amor acima de todas as coisas,
pois só a paz e o amor conduzem à harmonia com
Deus. Iriam pregar a busca da verdade como meta
a ser alcançada, sempre, como uma forma de
libertação (até para que os fiéis parassem de ser
enganados por pregadores vigaristas). Iriam
pregar a reencarnação e a vida eterna, como a
base da esperança de vida do ser humano e
estabelecer um ritual de reza (mantra) com as
principais aspirações do ser humano, conforme
encontram-se colocadas no hino dos essênios,
sobre as bem-aventuranças. Estas eram as
principais metas de orientação. Mas ainda faltava
a questão prática de operacionalidade. Ou seja,
como fazer isso tudo funcionar sem despertar a ira
dos saduceus e dos fariseus.
Assim como a sociedade dos essênios, a sociedade
secreta que dali estava surgindo iria ser dividida
por responsabilidades. Os mais capacitados iriam
formar a base da sociedade secreta, num grupo de
doze mestres, rabinos, que iriam buscar a
evolução dentro do grupo, para que
posteriormente cada um dos doze mestres viesse
a formar seu próprio grupo de doze, onde cada um
dos doze formaria novo grupo de doze discípulos e
assim sucessivamente, numa progressão
matemática assustadora. Ou seja, a missão não
buscava somente convencer o discípulo às convic-
ções religiosas, mas convencê-lo a convencer
outros, que convenceriam outros e assim
sucessivamente, sempre em grupos fechados e
sucessivos de doze.
Para que os membros da sociedade secreta não
pudessem ser identificados publicamente, ou pelo
menos dificultar a sua identificação, todos teriam
um novo nome dentro da sociedade, adquirido
depois de um batismo especialmente feito para
celebrar a entrada de cada membro na sociedade
secreta, e por este nome deveriam ser tratados
em público para que nenhum vínculo pudesse ser
estabelecido com suas famílias e seus amigos, ou
que pelo menos fosse dificultado a identificação
direta, e com isso preservar a segurança familiar e
o círculo de amizades dos pregadores.
O símbolo da sociedade seria o peixe, um dos
poucos seres vivos que comiam e que representa
o milagre da vida, a fonte de energia e
alimentação da sabedoria dos seres humanos e a
perpetuação das espécies, pois mesmo sendo
adeptos de um parcial vegetarianismo, os essênios
entendiam que o homem precisava de nutrientes
animais para a sua dieta, sustentada pobremente
à base de vegetais, e que o peixe e o sal, ligado ao
peixe, tinham um significado simbólico de
sobrevivência do ser humano e por isso o peixe foi
escolhido como um símbolo muito especial para a
sociedade secreta originária dos essênios ("Vós
sois o sal da terra. Imprescindíveis. Sem o sal não
há gosto, não há vida. Sem o peixe não há
alimento que haste ao homem sobre a Terra, e
sem alimento o homem não vive").
E aperfeiçoando o símbolo do peixe, foi sugerido
que o perfeito equilíbrio e a perfeita harmonia do
peixe seria exatamente a colocação de dois peixes
em posições opostas. Ou melhor, um peixe com a
cabeça apontada para a cauda do outro, dando a
dimensão exata da harmonia e do equilíbrio, que
poderiam significar, o bem e o mal, o certo e o
errado, o dia e a noite, o corpo e a alma, a matéria
e o espírito, num eterno dualismo.
Do símbolo do peixe surgiu o sinal (código) de
comunicação secreta da sociedade em público.
Pois, os membros da sociedade, que
eventualmente não se conhecessem entre si, ou
que quisessem ter uma conversa reservada, longe
dos olhos das demais pessoas identificavam-se
pelo desenho do peixe. Ou seja, faziam um arco
como se fosse um semicírculo, abrindo os dedos
polegar e indicador, e o outro membro da
irmandade fazia o mesmo, e em seguida tocavam
polegar com polegar e faziam o dedo indicador
passar pelo indicador de seu companheiro,
completando, com isso, o desenho de um peixe.
Vezes havia em que este mesmo desenho era feito
riscando-se na areia, com gravetos ou com os
próprios dedos, fazendo cada um o seu
semicírculo, que juntos, ao se cruzarem, perfaziam
o desenho do peixe.
Partindo do planejamento teórico para a prática,
inicialmente foram nomeados doze jovens mestres
(Jesus, João Batista, Benjamim, Samuel, Isaac,
Jacob, Aarão, Josias, Nicodemos, Amós, Silas e
Oséas), indicados pelos doze mestres veteranos
que dirigiam a comunidade essênia. Estes mestres
veteranos, que elegeram os doze membros da
sociedade secreta, mas que a ela não pertenciam,
em princípio não iriam se envolver diretamente
com as atividades da sociedade secreta, mantendo
suas vidas normais como mestres essênios,
reclusos nos mosteiros. Enquanto isso, cada um
destes doze jovens mestres (rabi), membros da
sociedade secreta, deveria ir buscar junto ao povo,
através de pregação, doze discípulos (cada um)
para segui-los e levar adiante a sociedade secreta,
para que no futuro cada discípulo constituísse sua
própria irmandade de doze, e assim
sucessivamente. Este era o sistema de irradiação
de idéias que daria sustentação prática à
sociedade ou irmandade.
Para cada um dos membros da sociedade secreta,
além das atividades normais desenvolvidas,
caberia uma atividade específica e prioritária. A
Jesus coube a pregação visando a recuperação da
religiosidade e a recomposição das tradições
religiosas, contra o mercantilismo dos templos. A
João coube a pregação contra a libertinagem, a
devassidão, e a corrupção dos costumes. Aos
outros dez (Benjamim, Samuel, Isaac, Jacob,
Aarão, Josias, Nicodemos, Amós, Silas, Oséas)
coube temas diferentes como orientadores de suas
pregações e objetivos.
E foi com esta sociedade secreta instituída e
constituída dessa forma que Jesus e João Batista
iniciaram as suas pregações específicas pela
Judeia e pela Galileia, cumprindo a grande
orientação e determinação da sociedade essênia:
— "Ide. Batizai a todos. Pesquem almas como
peixes".
Em muito pouco tempo, João Batista na Judeia e
Jesus na Galiléia já haviam conquistado seus doze
discípulos, embora vivessem rodeados de um
número muito maior de seguidores do que o
número de doze discípulos. A receptividade às
suas pregações eram fantásticas, imediatas, muito
além do que havia sido planejado ou esperado.
Eles diziam exatamente aquilo que o povo,
cansado da degradação moral e religiosa, queria
ouvir. Logo se formavam imensos grupos e
pequenas multidões para ouvir os pregadores
essênios, sem que fosse dito — obviamente — que
eles eram essênios ou sequer que pertenciam a
qualquer religião. Pois até mesmo nos templos dos
saduceus eles faziam as suas pregações
livremente, como rabinos independentes, vez que
eles não se definiam a que ramo hebreu
pertenciam. Foi uma revolução de pregação
religiosa como nunca dantes vista.
Às margens do Lago Genesaré (Mar de Tiberíades
ou Mar da Galiléia), com todos os seguidores
reunidos, especialmente convocados para uma
grande reunião, Jesus explicou que, dentre todos,
dezenas de seguidores, Ele iria convocar 12 (doze)
discípulos que iriam assumir a função de apóstolos
e que iriam seguí-lo permanentemente. E após a
escolha dos doze discípulos, Jesus explicou a cada
um o funcionamento da Sociedade Secreta de
Jesus, de modo a que cada um dos doze se
tornasse responsável pela difusão e propagação
das idéias da sociedade secreta.
Os discípulos escolhidos eram, e sua esmagadora
maioria, da Galiléia, e por isso tinham uma forte
ligação com o mar, com a pesca, com o peixe, até
por serem, na maioria, pescadores ou viverem nas
proximidades do mar. Os 12 (doze) primeiros
discípulos a quem Jesus batizou como membros da
Sociedade Secreta de Jesus foram: Simão a quem
Jesus batizou como Pedro; André irmão de Simão/
Pedro; Bartolomeu a quem Jesus batizou como
Natanael; Levi a quem Jesus batizou como Mateus;
Tomé a quem Jesus batizou como Dídimo; Tiago a
quem Jesus batizou como Boanerges Maior; João
irmão de Tiago e filho de Zebedeu, a quem Jesus
batizou como Boanerges Menor (os irmãos Filhos
do Trovão); Tiago irmão de Judas Tadeu e filho de
Alfeu; Judas Tadeu irmão de Tiago e filho de Alfeu;
Filipe; Simão o cananeu e Judas Iscariotes, que por
ser o mais próximo e chegado a Jesus e de sua
maior confiança foi escolhido como o tesoureiro da
irmandade de Jesus. Isto porque, em cada
irmandade de 12 membros sempre havia um
tesoureiro, independente, para que cada
irmandade trabalhasse de forma autônoma e
independente, ficando o tesoureiro responsável
pelo controle das doações recebidas e do fruto do
trabalho de cada um dos membros da sociedade,
de modo a garantir a manutenção e sustento da
irmandade.
Junto com a nova vida os discípulos eram
instruídos da importância do novo nome que
assumiam perante a Sociedade Secreta de Jesus e
as razões de se ter uma outra identidade, de
acordo com os preceitos da sociedade a que agora
pertenciam. E como uma recomendação de prática
religiosa, seguiam o conselho de Jesus:
— "Ide pelo mundo. Eu vos dou a Minha
autoridade. Pregai a liberdade, a vida nova e a
revolução pela paz. Não carreguem nada exceto o
que Deus vos deu. Usem vestimentos simples,
carreguem somente um cajado e calcem as
sandálias da humildade do pescador. Eu vos farei
pescadores de homens. Batizai a todos. Pescai
almas como peixes. E Eu estarei convosco até o
fim dos tempos.", Disse Jesus.
Além dos doze discípulos, Jesus foi chamando e
batizando um a um de seus demais seguidores
(eram dezenas, no início, e chegou rapidamente a
milhares posteriormente), sem dar-lhes novos
nomes, pois o batismo especial da sociedade
secreta era aplicável somente aos doze membros,
apóstolos, discípulos da Sociedade Secreta de
Jesus. E pelo batismo aos demais seguidores Jesus
foi purificando-os pela água, e explicando o
significado e a importância do batismo,
demonstrando que à partir daquele ritual cada um
estaria tendo a oportunidade de começar uma vida
nova, independentemente dos erros e dos pecados
anteriores. Essa era a idéia da conversão batismal.

(Nota do autor: A fim de evitar confusão de alguns


nomes ao longo do relato, esclareça-se que
existiam muitos nomes comuns e corriqueiros para
a época, razão pela qual deve-se fazer distinção
entre eles, quais sejam:
— Tiago irmão de João e filho de Zebedeu
— Tiago Irmão de Judas Tadeu e filho de Alfeu
— Tiago irmão de Jesus e filho de José
— Judas (Tadeu) irmão de Tiago e filho de Alfeu
—Judas (Iscariotes), o tesoureiro, a quem atribuiu-
se traição.
— Judas irmão de Jesus
— José pai de Jesus
— José irmão de Jesus — José (de Arimatéia)
— Simão discípulo a quem Jesus chamou de Pedro.
— Simão irmão de Jesus
— Simão o cananeu
—João (Batista) — Primo de Jesus, que batizou
Jesus e teve uma vida fantástica, paralela à de
Jesus.
— João (Evangelista) — A quem atribui-se um dos
evangelhos e que vaidosamente e
pernosticamente arrasta seus escritos insinuando-
se como "o discípulo a quem Jesus amava" (Como
se Jesus só amasse a ele)
— Maria mãe de Jesus
— Maria (Madalena) seguidora de Jesus
— Maria irmã de Jesus
— Maria irmã de Lázaro

Na escolha dos discípulos de Jesus e de João


Batista, de imediato, apresentou-se uma grande e
quase irreconciliável diferença. Pois, enquanto
João Batista escolheu, como discípulos,
basicamente jovens de vida regular e correta,
praticamente sem grandes vícios aparentes e que
por isso mesmo foram facilmente doutrinados,
Jesus escolheu uma corja, um bando totalmente
heterogêneo. Pessoas comuns, a maioria muito
mais velha do que ele, com muitos vícios e muitos
pecados, inclusive com descrentes e materialistas
absolutos dentre eles.
Certa feita, após um banquete na casa de Levi, o
publicano (coletor de impostos) a quem Jesus
batizou como Mateus (a quem atribui-se um dos
evangelhos), a título de provocação, uns fariseus
questionaram Jesus por ter Ele se banqueteado
com comerciantes, coletores de impostos,
prostitutas e vagabundos que bebiam e tinham
grandes vícios. No que Jesus respondeu que não
são os que têm saúde que precisam de médico,
mas os que estão doentes. Não foram os justos,
mas os pecadores a quem Ele veio chamar.
Demonstrando claramente, com isso, que Seus
discípulos e Seus seguidores não são santos e
muito mais do que isso, são declarados pecadores,
pessoas normais, comuns, e que pelo batismo
estavam renascendo para a vida. (Parcialmente
relatado em Lucas 5:27-32)
— "Mas alguns de seus discípulos sequer acreditam
em Deus, são materialistas como ele, Tomé". —
Retrucou o fariseu.
— "Mais uma razão para tê-lo entre os Meus. Existe
maior mérito do que a conversão de um
descrente?" — Acrescentou Jesus.
Insistindo nas provocações, os fariseus tentam
jogar os discípulos e os conceitos de João Batista
contra Jesus, dizendo que os discípulos de Jesus
não eram como os de João Batista. Os discípulos
de Jesus não jejuavam, não faziam orações antes
das refeições, não faziam abluções (higiene antes
e após as refeições), eram mal educados e agiam
como animais. No que Jesus retrucou, entre
conformado e com graça, que não se põe remendo
novo em pano velho, como que a explicar que
existiam coisas muito mais profundas a serem
ensinadas aos discípulos e à humanidade do que
jejuar ou fazer higiene às refeições. Eles iriam mu-
dar no que fosse preciso, ou seja, na questão
religiosa, mas que poderiam continuar mantendo
velhos hábitos, pois ninguém muda tudo
radicalmente, de uma hora para outra, e para
Jesus bastava que eles mudassem o essencial.
(Parcialmente relatado em Lucas 5:33-39)
No fundo, Jesus reconhecia que o caminho dos
discípulos era longo, árduo e não era pelo fato
d'Ele havê-los escolhidos que se deveria esperar
desses discípulos uma imediata santificação e
beatificação (Aliás, se a santificação feita por
homens já é um erro, outro erro muito maior e
mais terrível ainda é essa automática santificação
destes discípulos, pela igreja, considerando-os
como "santos homens" baseado somente no fato
de Jesus tê-los escolhidos para discípulos, e não
pelos seus méritos de vida).
Jesus não se incomodou com as provocações dos
fariseus. Sabia muito bem que estas não seriam as
únicas provocações e que muitas outras viriam. E
com esta certeza, um tanto a contragosto, Jesus
dá continuidade à sua pregação na Galiléia,
mesmo sabendo que seu alvo era e deveria ser
Jerusalém, pois a sua maior meta era o faraônico
templo de Jerusalém, onde estava o coração da
religiosidade dos saduceus e dos fariseus, e por
conseqüência o foco da corrupção religiosa.
Lentamente Jesus vai fazendo pregações cada vez
maiores, em Cafarnaum, e aos poucos vai
conquistando adeptos em todos os lugares por
onde passava: Genesaré, Corozaim, Betsaída, Tiro,
Sidónia. Por onde passava arrastava multidões de
adeptos às suas pregações e aos seus
ensinamentos religiosos, absolutamente
revolucionários para a época.
Enquanto isso, os outros 11 (onze) líderes
religiosos da sociedade secreta (João Batista,
Benjamim, Samuel, Isaac, Jacob, Aarão, Josias,
Nicodemos, Amós, Silas, Oséas) tratavam de
arregimentar 12 (doze) discípulos cada um, e
espalhar as idéias da nova ordem religiosa.
De longe, acompanhando tudo com muita curiosi-
dade e apreensão, os 12 líderes (mestres)
essênios permaneciam no mosteiro e
coordenavam a irmandade monasterial dos
essênios, que não necessariamente intervinham
diretamente na sociedade secreta composta pelos
novos 12 jovens mestresQesus, João Batista,
Benjamim, Samuel, Isaac, Jacob, Aarão, Josias,
Nicodemos, Amós, Silas, Oséas) que havia sido
formada à partir da fraternidade essênia, e da qual
João Batista e Jesus eram destacadamente
considerados mais do que mestres ou rabi, mas
como messias.
Sendo João Batista e Jesus os messias que a
comunidade essênia esperava, e não tendo ainda
sido ambos batizados, pois eles eram tidos como
essênios desde criança quando estudavam no
mosteiro, daí não haver sentido em um batismo
imediato de quem já era purificado desde a infân-
cia... Entretanto, como eles iriam continuar
pregando o batismo como forma de renascer para
uma vida nova, ainda em vida, nada mais natural
que eles mesmo (Jesus e João Batista) fossem
oficialmente e formalmente batizados.
Surge então a grande dúvida: Se eles iriam ser
batizados, quem os batizaria?
Eis que chegam, então, à conclusão de que ambos
deveriam ser batizados publicamente, em
cerimônia de grande conhecimento de todos e que
João Batista batizaria Jesus e Jesus batizaria João
Batista, numa simbólica igualdade, a fim de evitar
conflitos. Vez que quem batizasse Jesus ou
batizasse João Batista seria tido como um ser
humano privilegiado. Um privilégio que a nenhum
essênio jamais seria concedido.
Em razão desta decisão, Jesus é chamado à Judéia
para o seu batismo e a ambos (João Batista e
Jesus) é comunicado a decisão dos 12 mestres
sábios essênios a respeito do batismo recíproco.
Jesus e João Batista passam, simultaneamente aos
seus discípulos e à comunidade essênia, a imagem
messiânica da condição de quase irmãos. Cada
qual enaltecendo o outro e julgando-se inferior ao
seu quase irmão e atribuindo-lhe a condição de
verdadeiro messias salvador.
Jesus se opõe a batizar João Batista e diz que não
existe entre os homens, nascidos e a nascer,
alguém que se iguale a João Batista. E garante que
João Batista, sim, é o verdadeiro messias. — "Ele é
o Elias que está por vir."
João Batista, por sua vez, se opõe a batizar Jesus.
Perguntando: — "Quem sou eu para batizar a Ti?
Eu é que tenho a necessidade de ser batizado por
Ti. E Tu vens a mim para que eu te batize?"
E foi ante a este impasse, que a comunidade
essênia tomou a salomônica decisão de ambos
batizarem-se mutuamente. O que de fato ocorreu
com grande pompa e circunstância, pois era algo
tão inusitado, tão fabulosamente espetacular, que
foi tido como um dos eventos religiosamente
históricos mais importantes acontecido na
humanidade.
Contando com a presença dos doze discípulos de
João Batista, dos doze discípulos de Jesus, dos
discípulos dos outros dez líderes da sociedade
secreta, dos demais membros da irmandade
essênia, cerca de trezentas pessoas assistiram, no
Rio Jordão, ao batismo de João Batista e de Jesus.
Primeiramente, Jesus batizou João Batista, nas
águas do Rio Jordão, numa cerimônia
absolutamente carregada de uma energia
fantástica que tomava conta de todos. Em
seguida, João Batista começou a batizar Jesus.
Segundo alguns, no momento em que João Batista
estava batizando Jesus, uma pomba branca pairou
por alguns instantes sobre a cabeça de Jesus, e em
razão deste acontecimento, atribuiu-se como um
sinal do Espírito Santo a presença da pomba,
indicando que, entre os dois, Jesus teria sido
escolhido como o messias salvador e que João
Batista seria o messias que iria anunciar a vinda
do Salvador, o Cristo. E de fato João Batista disse
para que todos ouvissem: "Tu és o Cristo. Tu és o
Salvador. Que a irmandade te conheça como
XPTO"
À partir daquele instante, João Batista assumiu a
sua sina de pregar a vinda do messias e de lutar
contra a devassidão, a libertinagem e a corrupção
de costumes instalada por toda a Palestina. E de
imediato iniciou esta sua missão por uma
pregação pelo deserto, para que nenhum canto
ficasse sem ouvir a boa nova da vinda dos novos
tempos com a chegada do messias salvador.
Da árdua peregrinação do deserto, João Batista
volta após longo jejum, comendo somente pães
não fermentados, uvas secas e alguns gafanhotos
encontrados no deserto. E satisfeito pela missão
cumprida, por falar e anunciar ao vento e aos
quatro cantos vazios do mundo a vinda do
messias, João Batista retorna à cidade para a
complementação de sua obra, iniciando por
Jerusalém.
Jesus, por seu turno, temporariamente afastado da
Galiléia, principia tentar acomodar seus discípulos
nas terras da Judéia. E já conformado por ter sido
ungido por João Batista como o messias, como o
Cristo, assume a sua missão e sina como o
messias salvador, e por conseqüência a identidade
de XPTO (letras que designam, na comunidade
secreta, o Cristo).
Embora tivessem tido a mesma educação, as
personalidades de Jesus e a de João Batista eram
marcadamente diferentes. Pois enquanto Jesus era
mais calmo, comedido e manso, João Batista era
mais explosivo, mais impulsivo, mais vibrante
messianicamente.
Dentro do seu estilo e comportamento, João
Batista questiona seu quase irmão Jesus sobre as
suas amizades com bêbados, vagabundos,
desocupados e prostitutas. E até mesmo a escolha
dos discípulos de Jesus foi objeto de crítica por
parte de João Batista.
Jesus, com um leve sorriso e com a serenidade e
calma que Lhe era peculiar, responde a João
Batista, com um certo humor nos lábios, o mesmo
que havia respondido aos fariseus. Ou seja, Ele
estava interessado nos que haviam que ser
curados e não por aqueles que não necessitavam
de cura.
João Batista contra-argumenta que ele, João, não
teria como criticar os corruptores sociais se Jesus
andava em bando com pecadores, vagabundos,
bêbados e prostitutas, e que até mesmo entre
seus discípulos vários exemplos destes eram
visíveis e reconhecidos.
Jesus, mantendo a serenidade messiânica,
responde aconselhando a João Batista: — "Não
critique os que estão errados, João. Recupere-os.
Não amaldiçoe a escuridão. Acenda uma luz."
Reconhecendo a clareza de raciocínio de Jesus,
seu quase irmão, eis que João Batista aceita a lição
e volta à sua missão de pregação em Jerusalém.
Jesus, por seu turno, tentava administrar um
bando quase que incontrolável. Eram vaidades
exacerbadas, brigas por posições dentro do grupo,
disputas por proximidades com Jesus (para ver
quem ficava mais próximo ou mais perto de Jesus),
ciúmes terríveis. Era realmente um bando
disforme onde quase todos brigavam com todos.
Pedro tinha ciúmes terríveis da amizade de Jesus
com Maria Madalena, a quem Jesus
freqüentemente beijava na boca. Mateus era
olhado com desdém por ser um publicano (coletor
de impostos), que era muito mal visto pelos povos
dominados, como um explorador. Tomé era de
uma incredulidade a toda prova. Faltava pouco
para ser ateu. Tiago e João (Evangelista) eram um
poço só de vaidades. Inclusive chegaram ao
desplante de pedirem à sua própria mãe que
rogasse a Jesus para que Ele deixasse que os dois
sentassem à sua esquerda e à sua direita como
símbolo máximo da vaidade e do privilégio
pessoal. Sem falar no ridículo e na futilidade de
João (Evangelista), posteriormente, atravessar um
evangelho inteiro referindo-se a si mesmo como "o
discípulo a quem Jesus amava", como se Jesus
amasse só a ele. E Judas Iscariotes, a quem Jesus
tratava com especial carinho e amizade,
demonstrando ter mais proximidade com ele do
que com os demais, gerando grandes ciúmes e até
porque Judas era o tesoureiro da sociedade, cargo
de extrema confiança, mas que — por despeito —
reiteradamente era acusado de materialista,
apegado ao dinheiro e a valores de propriedade.
Quase ninguém escapava às brigas por posições
dentro do grupo, às vaidades exacerbadas e aos
ciúmes mesquinhos.
Não bastassem os problemas que Jesus tinha com
seus próprios discípulos e com as provocações
feitas pelos saduceus e pelos fariseus, uma coisa
preocupava a Jesus mais do que tudo no mundo:
era a posição extremamente crítica de João
Batista, que de maneira quase que suicida,
apontava abertamente os erros das maiores
autoridades e governantes.
Praticamente esquecendo a recomendação de
Jesus para salvar e recuperar antes de criticar,
para trazer a luz ao invés de amaldiçoar a
escuridão, João Batista passou a criticar
abertamente o governante máximo, Herodes
Antipas, por ele estar tendo relações carnais
espúrias com a sua cunhada, Herodíade, esposa
de seu irmão Filipe.

(Nota do autor: Com o afastamento de Arquelau,


pelas tantas loucuras que cometeu e corrupções
que praticou e acobertou, seu irmão Herodes
Antipas havia assumido o controle não só da
Galileia, que lhe era de direito, como o controle da
Judéia, deixada por Arquelau. E em razão disso,
Herodes Antipas, agora, não só governava, como
tinha palácios na Galiléia assim como na Judéia)
E tantas críticas abertas João Batista fez ao
relacionamento de Herodes Antipas e Herodíade,
que pressionado por Herodíade (a esta altura
considerada publicamente como uma vagabunda
real, amante do rei), Herodes Antipas resolve
mandar prender João Batista. Prisão esta que tinha
a finalidade muito mais intimidativa para tentar
silenciar João Batista do que propriamente
punitiva, vez que Herodes tinha muito medo
pessoal de João Batista e de suas maldições. Sem
contar o grande receio de fazer-lhe algum mal, por
causa de uma possível reação popular por estar
tiranizando um profeta respeitado e adorado pelo
povo.
Ao contrário, sem medo algum, mesmo preso, João
Batista enfrenta Herodes Antipas e diz que não é a
ele, João Batista, que Herodes Antipas deve temer,
e sim a Jesus, o messias que irá fazer um novo
reino na Terra. E, complementando, João Batista
profetiza para Herodes Antipas: — "Aquele que
vem depois de mim é muito mais poderoso do que
eu. Eu não sou sequer digno de Lhe levar as
sandálias."
Com medo de João Batista e ao mesmo tempo não
querendo se indispor com Herodíade, Herodes
Antipas mantém por algum tempo João Batista em
cárcere, mas com planos de soltá-lo na primeira
oportunidade. Até que Herodíade engendra um
plano de vingança terrível contra João Batista.
Sem o menor pudor, usando a própria filha,
Salomé, como arma e instrumento, Herodíade
convence sua filha Salomé a oferecer-se, também,
na cama, como concubina ao seu cunhado e
amante Herodes Antipas e com ele partilhar o
leito, não sem antes fazê-lo assumir publicamente
a sua palavra imperial de que, em troca, satisfaria
ao menos a um grande desejo de Salomé.
Isto planejado e feito, Salomé oferece-se em leito
a Herodes Antipas (seu padrasto) e logo após,
numa festividade no palácio, dança lascivamente,
provocativamente, publicamente, no salão
principal do palácio, na presença de todos.
Extasiado, Herodes Antipas enaltece as "virtudes"
de Salomé (sua "sobrinha", enteada e amante).
Enquanto que esta, espertamente, pergunta,
publicamente, em alto e bom som, se Herodes
Antipas não estaria devendo-lhe um desejo.
Sem perceber totalmente a maldade que estava
por trás daquele plano, Herodes Antipas, meio
constrangido, confirma estar devendo, sim, um
desejo a Salomé. Mas não sem antes, de sustentar
a sua palavra imperial, jocosamente perguntar o
que Salomé queria: Parte de seu reino? Ouro?
Prata? Jóias? O que queria?
Salomé, espertamente, garante não querer parte
do reino, nem ouro, nem prata, nem jóias. Queria
tão somente algo simples que Herodes nem dava
importância, a ponto de considerar desprezível e
jogar fora tratando como lixo.
Certo de que não perderia nada de importante,
Herodes Antipas cai na armadilha engendrada por
Herodíade e pomposamente honrando a posição
imperial de governante, garante a sua palavra real
empenhada.
Salomé, então, industriada por Herodíade, sua
mãe, constrange Herodes Antipas e publicamente
declara que não quer ouro nem jóias.
Simplesmente ela quer a cabeça de um preso
vagabundo. Quer a cabeça de João Batista,
literalmente, numa bandeja.
Assustado, mas não tendo como descumprir a sua
palavra dada publicamente, Herodes Antipas,
mesmo com medo e a contragosto, manda cortar a
cabeça de João Batista e servi-la numa bandeja de
prata a Salomé.
Este episódio, aos chegar ao conhecimento de
Jesus, perturba-o terrivelmente. O choque pela
perda de alguém tão próximo, o Seu quase irmão,
companheiro de uma vida inteira... é demais para
Jesus.
Seguido ao primeiro choque, pela perda de João
Batista, Jesus começa a experimentar um pânico
até então nunca antes sentido.
Com visível medo, e não sabendo bem avaliar toda
a situação e o que estava se passando, Jesus
literalmente foge com os discípulos para a Galileia
e retoma Sua pregação em Sua terra natal.
Abalado pelo incidente da morte de João Batista,
Jesus perde o equilíbrio emocional e não consegue
coordenar seus controles, e seguidamente falha na
tentativa de cura de diversos doentes. A ponto de
ser ridicularizado, ser chamado de charlatão e de
ser hostilizado pelas próprias pessoas que um dia
o endeusaram.
Sem entender completamente o que estava
acontecendo, e experimentando o fracasso
inusitado, ante um mau momento de sua vida,
Jesus atribui este fracasso ao fato de que ninguém
faz milagre em sua própria terra. Ou seja, usa
como desculpa que "santo de casa não faz
milagre." (Esquecendo-se que antes, tantas vezes,
já havia feito muitos milagres em sua terra natal e
nas cidades vizinhas).
Não convencendo a si mesmo e muito menos aos
Seus discípulos e seguidores, Jesus principia a
imprecar e a amaldiçoar as cidades onde um dia
Ele havia feito tanto bem e levado tanto conforto a
tanta gente.
— "Ai de ti Corozaim! Ai de de ti Batsaída! E tu,
Cafarnaum, julgas que serás exaltada até o céu?
Haverá mais tolerância para Sodoma e Gomorra,
no dia do juízo final, do que para ti."
Percebendo o erro em atribuir a terceiros e culpar,
maldizendo e amaldiçoando, as cidades e seu
povo pelas falhas por não conseguir realizar o que
antes realizara com facilidade, Jesus reconhece
que não está bem, e que na realidade Ele estava
fugindo, com medo, por não querer enfrentar o
Seu destino, que Ele bem sabia qual era.
Refletindo sobre Seu erro, mais calmo e buscando
a paz interior, Jesus arrepende-se de ter fugido de
Jerusalém e comunica a Seus discípulos a Sua
vontade em voltar para enfrentar a Sua sina e o
Seu destino. E que, para tanto, eles, seus
discípulos, se preparassem para a volta a
Jerusalém e para assistir ao que estava por vir. Ou
seja, um grande embate entre as forças das trevas
e as forças da luz.
Retomando a serenidade, e aí já sem demonstrar
medo, Jesus reúne seus discípulos e simpatizantes,
e organiza uma entrada triunfal em Jerusalém.
Para tanto, pede que toda a Sociedade Secreta
reúna seus discípulos e junte todos os
simpatizantes para a entrada em Jerusalém e para
que assistam o enfrentamento com os saduceus e
fariseus junto ao maior templo judeu já erigido.
A dois dos discípulos, Jesus pede que dirijam-se
até a um casebre num monte próximo ao Monte
das Oliveiras, na direção de Betânia, e que façam
o sinal (do peixe) e peçam emprestado um
jumentinho para servir de montaria a Ele, Jesus.
Aos demais apóstolos e simpatizantes Jesus pede
que colham ramos de palmeiras e lancem pelo
caminho até o templo judeu, de modo a marcar o
novo caminho religioso que será traçado para o
povo hebreu.
Os dois discípulos, irmãos, Tiago e Judas Tadeu,
aflitos e sem saber como agir, questionam a Jesus
como iriam obter um jumentinho de uma pessoa
tão pobre, que possivelmente era seu maior bem
material, e provavelmente o seu maior
instrumento de trabalho.
No que Jesus tranqüiliza-os e responde a ambos,
orientando que o dono do jumentinho é um
simpatizante da Sociedade Secreta de João
Batista, e que facilmente reconhecerá o sinal
secreto da sociedade. E dizendo isso recomendou
que fizessem o sinal da sociedade secreta, o peixe,
e que dissessem ao dono do jumentinho que
tratava-se de um empréstimo e que logo o
jumentinho seria devolvido. O uso temporário era
somente para atender a uma necessidade
imediata do Cristo, XPTO. (E aí Jesus fez o desenho
dos dois semicírculos na areia, formando o peixe, e
colocou ao lado as letras XPTO).
Meio desconfiados, sem entender os reais planos
de Jesus, os discípulos questionam ao mestre o por
quê de usar como montaria um simples e humilde
jumentinho para uma entrada em Jerusalém,
acompanhado de uma multidão.
Jesus então explica que não veio ao mundo para
se exibir, demonstrar ostentação ou força física.
Os que O esperavam num cavalo branco estavam
enganados. Os que O esperavam fisicamente forte
e com o domínio e a força da espada, estavam
enganados. Jesus queria que O vissem como um
ser normal, comum, igual a todos, vestindo as
sandálias da humildade de pescador, trajando as
roupas simples e comuns dos homens do povo,
montado num animal a quem os poderosos
desprezam pois só trabalha, trabalha e trabalha, e
tendo como "exército" um bando de pessoas
comuns, pecadores recuperados, vagabundos e
prostitutas renascidos para uma nova vida.
A entrada de Jesus em Jerusalém foi triunfal
naquele "domingo de ramos". Montado num
jumentinho, era saudado pelo "Seu povo" com
ramos de palmeiras. E à Sua passagem os ramos
eram jogados ao chão indicando o caminho da
nova era que estava por vir, conforme queria
Jesus. E logo não tardou que outras e outras
pessoas se juntassem ao movimento para ver e
ouvir àquele que chamavam de o Cristo
(Salvador).
Chegando ao maior templo judeu até então
construído (havia levado 46 anos para ser
construído) Jesus tem seu primeiro embate com os
religiosos judeus.
Alguns fariseus, assustados com aquele alarido
todo e tamanho movimento de gente,
recepcionam Jesus, cinicamente, à porta da
sinagoga e ironizam o "novo rei". Saúdam-No
hipocritamente como a um grande imperador e
apontam para um povo pobre e miserável que O
seguia e perguntam se aquele bando era o Seu
"reinado".
Jesus não recua ante as provocações dos fariseus
e afirma que Seu reino não é deste mundo, e que
deste mundo orgulha-se muito da amizade dos
humildes. E apontando para o templo diz: — "Vede
aquela pedra que ampara o templo? Foi comprada
com o dinheiro dado por um destes pobres. E
outros destes pobres a colocaram no lugar. Vede a
vossa roupa suntuosa que a vós causa tanto
orgulho? Foi comprada com o dinheiro que estes
pobres dão ao templo para sustentar-vos. Quem
sois vós para desdenhar daqueles pobres que vos
alimentam?"
Irritados, os fariseus questionam Jesus: — "Acaso
és contra os dízimos sagrados instituídos pelas leis
de Moisés?"
— "Não sou contra as contribuições voluntárias
dadas ao templo por aqueles que querem e que
podem ofertar à Deus ou para garantir a
sobrevivência daqueles que oram e têm como tra-
balho levar a palavra de Deus ao povo. Afinal, o
templo precisa ser mantido, assim como os
sacerdotes que no templo trabalham. No entanto,
sou contra a obrigação e a cobrança exploratória
do dízimo como um imposto devido a Deus.
Porque Deus não possui publicanos cobrando
impostos em Seu nome." Diz Jesus.
Constrangidos, os fariseus tentam uma ironia para
contradizer a parte material que Jesus tanto
criticava, de modo a demonstrar que Jesus era um
cabotino por colocar-se ao lado dos pobres e dos
humildes. E ao mesmo tempo, questionam Jesus,
na frente de simpatizantes de Herodes Antipas,
por estar incitando o povo contra Roma,
incentivando as pessoas a não pagarem impostos
"devidos" e "justos": — "És contra o tetradracma
tíria que trocamos no templo? (Moeda romana que
só podia ser trocada pelos judeus no templo, como
se o templo fosse uma casa de câmbio)
Percebendo a armadilha e a hipocrisia dos
fariseus, Jesus firmemente questionou: — "Por que
me tentais, fariseus hipócritas? Não luto contra
Roma como insinuais, mas contra o pecado dos
homens. Por acaso o dinheiro dos impostos não é
o dinheiro de Roma, com as inscrições de Roma e
com a efígie de César? Então? Daí a César o que é
de Cesar e a Deus o que é de Deus!".
Estupefata, a multidão riu com ironia pela
armadilha mal traçada pelos fariseus e pelo
desfecho imprevisível que todos acabavam de
presenciar.
Imaginando poder reverter a situação, os fariseus
então apelam para o lado religioso, tentando
demonstrar que Jesus era um herege e que
desrespeitava as leis sagradas.
Dirigindo-se a Jesus, um fariseu questiona: — "Tu,
falso profeta, viste dois de Teus discípulos
roubando espigas de milho num sábado e não lhes
repreendeu, nem pelo furto nem pelo desrespeito
ao sábado. E Tu mesmo, falso messias, herege,
desrespeita o sábado fazendo curas e obrando aos
sábados".

Indignado e sabendo onde os fariseus queriam


pegá-Lo em truques e armadilhas, Jesus responde
que não poderia repreender a quem furtava por
fome. Água e comida não podem ser negadas a
qualquer ser vivente. E quanto aos sábados, Jesus
questionou aos fariseus: — "Bando de hipócritas,
raça de víboras. Por acaso desconhecem as
escrituras? Não sabem que David, o idolatrado
David, quando teve fome, furtou do templo e
comeu os pães não fermentados, num sábado?
Vós mesmos e os sacerdotes saduceus comem,
violam o sábado e não se culpam, pois a vós, vós
mesmos vos permitem criar leis que vos
beneficiem... Bando de hipócritas!."
E continuou Jesus: — "Acaso se vísseis uma de
vossas ovelhas presa num poço ou num atoleiro...
não a salvariam simplesmente porque era sábado?
O que é preferível? Salvar uma vida ou perdê-la?
Fazer o bem ou fazer o mal? Então? Por que não
posso Eu curar um necessitado num dia de
sábado? O que vale mais? Por acaso a vida de
uma ovelha vale mais do que a vida de um
homem? Raça de víboras!"
A multidão encanta-se com o conhecimento de
Jesus e ri da falta de preparo dos fariseus.
— "Estás desvirtuando a conversa, falso messias!",
dizem os fariseus. "Fazes as curas e dizes agir em
nome de Deus, mas o teu Deus não é o nosso
Deus. Dizes expulsar os demônios das pessoas,
mas o fazes em nome de Belzebu."
Acostumado a este tipo de argumentação
estapafúrdia, Jesus surpreende uma vez mais os
fariseus e ironicamente contesta: — "Vós dizeis
que ajo em nome de Belzebu, o que não é
verdade. Mas, ainda que fosse, Eu estaria
expulsando demônios em nome do próprio
demônio. E com isso, dividindo o poder das forças
do mal. E se o mal se divide e enfraquece, logo Eu
estou agindo em favor do bem. Ou não?"
—"Vós, fariseus, nem bem sabem o que é Belzebu
ou o que são demônios. Colocam culpa numa
imagem para explicar coisas que desconhecem".
Inconformados, diante de tantos fracassos públicos
perante Jesus, os fariseus tentam uma última
cartada. Arrastam uma prostituta até Jesus,
sabendo que pelas leis de Moisés a prostituta tem
que ser apedrejada até a morte. E se Jesus fizesse
isso, teria que fazer o mesmo com as demais
prostitutas que O acompanhavam (Madalena,
Verônica e outras).
—"E então falso messias, dizes que conhece as
escrituras sagradas. O que devemos fazer com
esta prostituta que corrompe a nossa sociedade e
leva a devassidão e a libertinagem às famílias
corrompendo lares honestos?" — Questiona o
"príncipe" dos sacerdotes saduceus.
Jesus fica impassível... calado.
A multidão faz um silêncio sepulcral, sabendo que
Jesus teria que mandar matar a prostituta a
pedradas, conforme as leis de Moisés.
Subitamente Jesus abaixa, pega uma pedra, como
quem vai começar a apedrejar a prostituta e
levanta a pedra com a mão, oferecendo-a a todos:
— "Atire a primeira pedra aquele que não tem
pecado."
Foi um silêncio sepulcral.
Os fariseus e alguns saduceus saem em retirada
para dentro do templo e Jesus, adentrando ao
templo depara-se com uma cena dantesca, uma
verdadeira feira livre. Pessoas vendendo animais
para serem usados em oferendas de sacrifício
(holocausto). Amuletos eram vendidos por merca-
dores para tirar o mal das pessoas. Vendia-se água
benta, óleos bentos, e um monte de amuletos e
bugigangas para trazer sorte aos pobres coitados,
"fiéis", crédulos, que supunham que usando ou
fazendo determinado ritual com aquelas
bugigangas iriam afastar os males de suas vidas.
A população, pobre coitada, sofrida,
desesperançosa, ansiosa por melhorar de vida, era
industriada pelos vigaristas do templo no sentido
de que as pessoas para poderem melhorar de vida
tinham que fazer sacrifício de animais, comprar
amuletos e oferendas no templo, pagar dízimo, e
seguir determinados rituais que beneficiavam
diretamente os gerentes e mercadores do templo.
Este mercantilismo, esta corrupção religiosa
indignava a Jesus mais do que qualquer outra
coisa em sua vida. A criatividade dos sacerdotes
vigaristas era tamanha, que até alguns dos
impostos só poderiam ser pagos com a moeda
"tetradracma tíria", que só podia ser trocada no
templo dos saduceus vigaristas. Ou seja, o templo
era uma verdadeira casa de câmbio misturada
com sinagoga e um mercado varejista.
A exploração da credulidade religiosa das pessoas
era tanta que — além de ser uma enorme
ignorância esta credulidade e gigantesca vigarice
estas vendas de amuletos e uma maldade atroz a
mortandade de animais — os pobres não podiam
nem sequer trazer sua própria água para ser
benzida. Não podiam sequer trazer seus azeites e
seus óleos para serem benzidos. Não podiam
trazer ou fazer seus próprios amuletos. Pois tudo
isso era considerado impuro pelos vigaristas do
templo. Os "fiéis", ignorantes, pobres coitados, só
podiam oferecer em holocausto animais "puros",
comprados com exclusividade no templo dos
vigaristas. Era exploração demais. Era a
degradação total da religião.
Irritado, perdendo a têmpera e o controle, como
seu quase irmão João Batista, Jesus passa a mão
num chicote preso a uma barraca de venda de
animais para sacrifício e sai distribuindo
chicotadas nos vendilhões do templo, empurrando
e derrubando as barracas e as pessoas, enquanto
que estupefatos os discípulos assistiam a tudo
boquiabertos pois nunca haviam visto o mestre, o
calmo e pacífico rabi, descontrolado como João
Batista.
— "Bando de hipócritas! Raça de víboras! Estais
profanando a casa de meu Pai. A César o que é de
César e a Deus o que é de Deus. Aqui é a casa de
meu Pai, não um lugar de compra e venda" —
Bradava Jesus, enquanto chicoteava os vendilhões
e derrubava suas barracas.
— "Como podem vender oferendas? Como podem
vender animais para serem mortos em
holocausto? Como podem enganar o povo desta
maneira? Como podem vender amuletos, coisas
inanimadas, como se Deus residisse nelas? Como
podem comercializar a fé? Como podem vender
Deus em barracas?" — Esbravejava Jesus.
Ante ao tumulto generalizado que ali se instalara,
e com medo que o descontrole de Jesus pudesse
comprometer a sua própria vida ou segurança,
alguns dos discípulos seguraram Jesus e
conduziram-no para um lugar onde pudesse ser
acalmado.
Mais calmo e recobrando o controle, Jesus viu com
clareza que aquele era o grande divisor de águas
da sua vida. Aquele era seu destino que, por
alguns instantes quis evitar de acontecer, como se
Ele pudesse evitar sua missão, sua sina, os planos
de Deus.
Era impossível tamanha exploração religiosa
continuar. Era impossível o ser humano se
rebaixar tanto, a ponto de se deixar explorar em
nome da fé. Aquela estrutura religiosa
exploradora, massacrante, tinha que ser destruída,
nem que isso custasse sua própria vida.
Pedro, Tiago e Mateus acercam-se de Jesus e
questionaram o Seu procedimento e o destempero
diante de algo que parecia tolerável, mas que
havia causado tamanha repulsa a Jesus.
—"Acaso tu não vês, Pedro, que estás diante da
maior luta de nossas vidas? Não percebes que
esta exploração religiosa é o maior e o pior dos
males que se pode praticar em nome de Deus?
Esses religiosos hipócritas e exploradores não
podem transformar a casa do Pai Eterno num
negócio, num grande negócio, baseado na
exploração da fé das pessoas!"
Pedro então retrucou: — "A religião, Mestre,
transformou-se num grande negócio. Um grande e
lucrativo negócio, com grandes lucros e prestígio
para os exploradores da religião, que ainda se
fazem passar por santos homens, agindo em nome
de Deus".
—"Eu sei, Pedro. A religião transformou-se num
grande negócio e os exploradores da religião
acostumaram-se tanto e de tal forma com as
vantagens e os benefícios desta exploração
religiosa que lutarão até a morte pela manutenção
destes privilégios. E não permitirão que uma
verdade, uma simples verdade, uma mera
verdade se torne uma ameaça à religião lucrativa
deles."— Retrucou Jesus.
Continuou Jesus: — "De pouco adianta, agora, Eu
dizer que só a verdade e o conhecimento liberta o
ser humano. As pessoas continuarão a ser
enganadas por exploradores religiosos, sem
buscar a verdade, e acreditando que a verdade é a
que está sendo dita pelo farsante escriba ou pelo
farsante pregador dissimulado".
— "Pois é, Senhor, há de se passar muito tempo
até que a humanidade compreenda a sua revolta
e se indigne contra o comércio nos templos".
Retorquiu Pedro.
— "Mas o pior, Pedro, é que esse Deus que ora eles
exploram irá falir, sucumbir e irão criar outros e
outros Deuses, e até mesmo em meu nome e em
teu nome, Pedro, algum dia, ainda farão
explorações como estas e ainda dirão que estão
agindo em meu nome, em teu nome e em nome
de Deus. O que me angustia, Pedro, é que esse
Deus que eles cultuam hoje é um Deus falido e
particular, e que não há de durar. O Deus verda-
deiro, o verdadeiro criador do mundo, que
prevalecerá acima de todas as religiões, não é um
Deus particular que mora em um templo.
— "É, Senhor, mas o que Deus tenta mostrar,
revelar, aos homens, os religiosos são os primeiros
a tentar esconder E é com base nisso que estes
religiosos se mantêm e iludem o mundo."
— "Precisamos que Deus seja consolo e
compreensão, Pedro. Um Deus infinito. Um Deus
de amor, que seja para nos civilizar e não para nos
manter selvagens matando e sacrificando animais.
Precisamos que as religiões não sejam um insulto
à nossa compreensão e à nossa inteligência. Este
Deus que é vendido e comercializado nos templos
é um sacrilégio e uma ofensa ao próprio nome de
Deus."
Jesus estava muito angustiado, muito
desesperado. Sabia que aquele era o momento
crucial de sua vida. Sabia que aquele era o início
do cálice amargo da sua missão.
Para libertar os que n'Ele acreditavam Ele
precisava enfrentar aquele falso altar, aquele falso
templo, aquela falsa adoração a Deus, aquela
mercantlização religiosa e a grande exploração em
nome do santo nome de Deus.
Antevendo o que sucederia e que já se mostrava
claramente desenhado, Jesus começa a jejuar e
pede aos discípulos que O aguardem pois Ele
precisava repousar, refletir, conversar com Deus.
Afastando-se de Jerusalém, Jesus chega a uma
parte deserta a caminho de Qunram, começa a
refletir e pede que Deus o inspire e que dê forças
para enfrentar todo aquele poderio, mantido e
sustentado com o dinheiro do povo fiel a Deus.
Primeiramente Jesus pede a Deus que dê forças e
que o ajude a destruir o templo para dar um
exemplo àqueles falsos adoradores. Mas percebe
que se fosse tão fácil e simples assim, Deus não
precisaria de Jesus e nem do Seu sacrifício
pessoal. Deus mesmo faria sozinho o trabalho e
pronto, estaria feito.
Refletindo, Jesus conclui que Deus não iria dar-Lhe
superpoderes para que Ele destruísse seus
inimigos. Deus não iria fazer milagres
transformando pedras em pães, pois os homens
precisam resolver sozinhos as suas questões e não
transferir a Deus esta responsabilidade. Os
homens precisam acreditar com o coração e não
com os olhos. E Deus indicava o caminho que
Jesus teria de enfrentar sozinho o mal, se é que Ele
queria realmente acabar com o mal.
Recuperado, Jesus retorna de sua reflexão no
isolamento desértico e reúne os apóstolos
explicando-lhes o que está para acontecer, que
certamente acontecerá, e como os apóstolos
deverão proceder.
— "Os pregadores, escribas, saduceus e fariseus,
instalaram-se na santa casa de Deus, na cátedra
de Moisés. Observai bem o que eles vos disserem.
Buscai a verdade, porque ela vos libertará. Não
avaliai a importância dos que vos falam pelas
aparências que possam ter. Não imitai as obras
dos pregadores fariseus e dos escribas saduceus.
Eles dizem e não fazem. Atam fardos pesados, nas
costas dos homens, difíceis de serem trans-
portados. E eles mesmos, pregadores e escribas,
não movem um dedo para retirar estes fardos das
costas dos homens. Tudo o que fazem é em
benefício próprio, para serem notados, e por isso
encobrem suas falsidades com roupas que os
façam parecer sérios. Por fora parecem sepulcros
caiados, mas por dentro estão cheios de osso e de
imundice. Por fora, com suas sérias roupas,
parecem honrados e justos homens, mas por
dentro estão cheios de hipocrisia e iniqüidade.
Gostam de ocupar os primeiros lugares em todos
os lugares onde compareçam. Querem ser
saudados e reconhecidos como pregadores, como
pais (palavra latina = padres), como mestres, e
serem saudados pelos homens. Culpam de falta de
fé aos fiéis e crentes pela falha do que não
conseguem realizar ou fazer. Eles, fariseus e
saduceus perseguirão implacavelmente a Mim e a
vós, Meus discípulos. Eles são um bando de
hipócritas, raça de víboras. A vós, meus discípulos,
recomendo que não se preocupem por mim, pois
estou com a paz de Deus. Cuidai de vós e passai a
diante as mensagens de que são portadores.
Mantenham a irmandade e a fraternidade acima
de tudo. Espalhem pelo mundo a mensagem de
um novo mundo, porque Jerusalém está perdida."
— "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e
apedreja os que te são enviados. Quantas vezes
quis reunir teus filhos como uma galinha reúne
seus píntinhos sob suas asas e tu não quiseste.
Pois bem, a vossa casa ficará deserta e vosso
templo se destruirá. Jamais haverá paz sobre
Jerusalém."
Assustados, os discípulos sentem que além dos
sábios conselhos Jesus está profetizando sobre seu
próprio futuro, o futuro da irmandade e sobre os
destinos do templo e de Jerusalém.
Neste meio tempo, os saduceus conspiram contra
Jesus. Os sacerdotes Anás, Caifás, Ariel, Hedi, Soari
e Silas querem a cabeça de Jesus como Herodíade
queria a cabeça de João Batista. Os judeus
saduceus e fariseus queriam a morte de Jesus
antes da páscoa pois não queriam que aquela
morte causasse qualquer tipo de alvoroço ou
confusão pública durante os festejos. O que seria
praticamente impossível, pois já era véspera do
primeiro dia de ázimos e não haveria tempo
suficiente para prisão, julgamento e execução.
Decepcionados, planejavam para que pelo menos
Ele não morresse no sábado sagrado. Mas o certo
é que seria melhor cortar o mal pela raiz, com a
morte de um só para exemplo, do que a morte de
muitos, caso frutificassem as idéias de Jesus.
Anás, o dirigente do sinédrio, inconformado com o
incidente da expulsão dos vendilhões do templo
queria um castigo exemplar para Jesus. Era
inadmissível que ele entrasse no templo, na casa
de Deus, e fizesse o que fez, desrespeitando a
"santidade" do templo.
Caifás, o sumo sacerdote, revoltado, dizia que
Jesus queria acabar com as sagradas ofertas a
Deus e impedir a venda de animais puros nos
templos, contrariando as sagradas escrituras
(feitas por eles mesmos).
Ariel, o pregador racista e beligerante, vociferava,
pois Jesus estava falando em paz e justiça, e
pregando igualdade dos hebreus com os gentios
(não judeus).
Hedi, o sacerdote materialista, mostrava-se
estupefato por Jesus insurgir-se contra a venda de
sacramentos. — "Como a igreja vai sobreviver sem
venda? De onde virá o dinheiro para a
manutenção do nosso templo? Como poderemos
honrar a Deus?", questionava Hedi.
Soari, o sacerdote dissimulado, ironizava Jesus,
questionando como um hebreu pobre, da Galileia,
ousava interferir na Judeia, curando pessoas sem
nada cobrar por isso.
— "Amanhã, dizia Soari, todos hão de querer curas
gratuitas, sem pagar nada ao templo. Isso é uma
subversão dos valores de Deus."
Silas, o pregador simuladamente enfurecido,
arrogantemente, ridicularizava Jesus, um messias
camponês, sem espada, sem lança, sem cavalo
branco, que entrara em Jerusalém montado num
jumentinho, seguido por uma multidão de
maltrapilhos, vagabundos e prostitutas. — "Que
messias maltrapilho é esse que diz ter vindo para
redimir o povo de Israel?", questionava Silas.
Estava mais do que claro que Jesus havia ferido
profundamente o mercantilismo do templo, os
saduceus e os fariseus. Jesus havia atentado
contra a sociedade religiosa lucrativa que se
instalara no mundo hebreu e que não queria abrir
mão de seus privilégios. Jesus havia tocado
profundamente na ferida da religiosidade: o
comércio eclesiástico, o comércio nas igrejas. E
por este motivo, sabia Ele que estava com a morte
sendo encomendada pelos sacerdotes hebreus.
Terça-feira, dois dias após a entrada triunfal em
Jerusalém, no "domingo de ramos", e um dia após
ter ido refletir no deserto, Jesus encontra-se com
os discípulos para combinar como seria a ceia
pascal, vez que era o início dos Ázimos (pães não
fermentados, feitos somente com farinha e água).
Ao ser perguntado pelos discípulos sobre como e
onde seria realizado a celebração da páscoa
(judaica), Jesus explica que não irá comer o
tradicional "cordeiro pascal" dos judeus, pois Ele
(por ter formação essênia) não comia carne (com
sangue) de determinados animais. Iria comer so-
mente peixe, os pães não fermentados e beber
vinho. E recomenda aos discípulos que a
celebração da ceia seja feita na casa de um
simpatizante da Sociedade Secreta de Jesus que já
havia sido ofertada anteriormente. — "Vá até a
casa dele, faça o nosso sinal (o peixe) e diga que
precisamos de sua casa para a celebração da ceia
pascal, pois o Meu tempo está terminando e esta
será a nossa última ceia e reunião", diz Jesus.
Os discípulos de Jesus entram em pânico diante de
Suas palavras e de Sua certeza sobre o que estava
por vir.
Após a décima segunda hora, ou seja: depois das
seis horas da tarde, noite de terça para quarta-
feira, reunida toda a Sociedade Secreta de Jesus —
com seus doze membros à mesa —Jesus principia
a explicar aos doze discípulos que o Seu fim está
próximo e que por Ele haver expulso os vendilhões
do templo e exposto a toda gente as vigarices dos
sacerdotes, Ele, Jesus sabia que naquele momento
estaria havendo uma grande trama contra Sua
vida pelos saduceus e pelos fariseus.
A primeira reação dos discípulos foi no sentido de
que Ele, Jesus, poderia ficar e sentir-Se seguro,
oculto e protegido pela fraternidade da Sociedade
Secreta.
Jesus contesta e diz que fugir ao próprio destino
seria abrir mão de fazer o trabalho em nome de
Deus para simplesmente sobreviver, ou melhor:
viver escondido como um covarde e medroso.
Pois, se era vontade do Pai que Ele acabasse com
a corrupção religiosa, com a iniqüidade, com o
comércio dentro dos templos religiosos, não cabia
a Ele, Jesus, fugir ao Seu destino, Sua sina,
escondendo-Se e alterando a vontade de Deus.
Iniciando a última ceia, Jesus principia o ritual da
eucaristia dizendo aos discípulos: — "Pai,
agradecemos pelo alimento justo e honrado,
conseguido com o suor de nossos rostos".
E tendo dito isso pegou os pães e foi repartindo
(dividindo, e não multiplicando) um a um (cada
pão) com cada discípulo. — "Dividam sempre
vosso alimento com vossos irmãos e com os mais
necessitados. Tomai e comei, este é meu corpo".
Pegando uma jarra de vinho, foi servindo os
discípulos e dizendo: — "Tomai e bebei, este é
meu sangue. Celebrai e fazei em cada rejeição
estes gestos para que seja perpetuada a sagrada
aliança de nossa irmandade, nossa fraternidade,
nossa sociedade".
Atônitos, os discípulos vêem nas palavras de Jesus
uma triste e sentida despedida. E retornam as
argumentações no sentido de salvar a vida de
Jesus pois era preciosa demais para ser
desperdiçada com um covarde e cruel assassinato.
Jesus intervém e explica que Deus tem tudo muito
bem traçado, pois se os saduceus e os fariseus
realmente levarem a cabo o plano de matá-Lo,
mais do que um grande erro, este será o início do
fim do templo deles (saduceus e fariseus) que
ruirá como se fosse feito só de areia e água. E que,
com isso, ao mesmo tempo, seria o início de uma
nova conscientização religiosa que dali nasceria.
Um fortalecimento para uma sociedade religiosa
mais humana, mais igualitária, como a que eles
pertenciam, voltada para o bem e não para o
comércio; voltada para a paz e a fraternidade e
não para a guerra, para o ódio ou para a ameaça e
o terrorismo religioso.
— "Mestre, e como podemos protegê-Lo?",
questiona Pedro.
— "Vós não podeis me proteger e nem devem.
Aliás vós não podeis proteger-me sequer de um de
vós mesmos.", complemente Jesus.
—"Como assim, rabi?"
— "Somos todos humanos, Pedro. Um ser humano
já é um mundo inteiro de contradições e
sentimentos. Imagine o quanto de diferente existe
entre todos nós. Neste exato momento, cada um
aqui está tendo vários sentimentos e muitas e
diferentes idéias de como proceder para que isso
tudo acabe. E pode até ser que dentre vós um
venha a Me trair, ainda que isso possa ter como
motivo ou justificativa uma explicação compre-
ensível em função de como se queira ver."
— "Traição? Tu dizes, rabi, que dentre nós, onde
somos como irmãos, um poderá ser traidor?,
questiona Pedro, abismado e perplexo com a
possibilidade de traição.
— "Mas é claro, Pedro. Não só poderá acontecer a
traição como se Eu for arrastado preso e
perseguirem a vós pelas ruas, muitos poderão
fugir e até simular jamais ter-Me conhecido."
Indignado, Pedro garante que se alguém for trair
Jesus não haveria de ser ele, Pedro. E que se Jesus
for arrastado preso, ele, Pedro, jamais haverá de
negar ser irmão de fé, Jesus.
— "Pedro, Pedro, Pedro. Vós sois humanos. Ao
ferirem o pastor, as ovelhas se dispersarão. Esse é
o plano dos saduceus e dos fariseus, que logo hão
de por em prática. É a mim que querem, num
primeiro momento. De vocês eles querem a
dispersão. E você, como qualquer um outro aqui
poderá fugir como uma ovelha foge do rebanho
sem o pastor", explica Jesus.
— "Poderá acontecer com qualquer um. Menos
comigo. Eu jamais te negarei, Senhor", diz Pedro.
— "Como qualquer um de vós, Pedro, tu poderás
Me negar ou Me trair antes mesmo do galo
cantar.", vaticina Jesus.
—"Eu, Senhor? justo eu, Senhor?, espanta-se
Pedro
—"Sim, Pedro, no que tu presumes ser dijerente
de nós?, questiona Tomé.
O clima da ceia transforma-se numa espécie de
anunciação de um velório, e nem mesmo é
amenizado pelos cânticos e salmos após a ceia.
Após a ceia, enquanto uns conversavam e outros
dirigiam-se ao Monte das Oliveiras para reflexões e
aprendizado com Jesus, Judas Iscariotes, que era o
mais chegado e de maior confiança de Jesus, o
tesoureiro da Sociedade Secreta e o responsável
pela manutenção e guarda dos bens comuns da
sociedade, e por isso mesmo tinha uma visão bas-
tante prática de tudo, dirige-se à casa de Anás,
"príncipe" dos sacerdotes saduceus e um dos
dirigentes do sinédrio, com um plano na cabeça.
Sabendo que Jesus já tem como certo que Ele será
preso e morto pelos saduceus e pelos fariseus, e
que Jesus mesmo sabe que isso é inevitável e
espera que isso aconteça nas próximas horas,
Judas Iscariotes, segundo suas convicções, tenta
evitar o pior, ou seja, que Jesus seja morto
covardemente pelas costas num local isolado e
solitário. E, tentando evitar essa morte silenciosa e
covarde, Judas Iscariotes imagina poder fazer
prender Jesus às claras, na presença de seus dis-
cípulos, de modo a garantir um julgamento justo,
onde Ele, certamente, sairá ileso, uma vez que
Jesus não havia cometido nenhum pecado
religioso, assim como não havia praticado nenhum
crime contra Roma. E Judas Iscariotes confiava
mais num julgamento justo dos romanos, pelas leis
romanas, pelo direito romano, do que nos próprios
judeus, pois apesar dos romanos serem
imperialistas dominadores, tinham um rígido
código de leis e de direito romano.
Isto posto, Judas Iscariotes encontra-se com Anás,
"príncipe" dos sacerdotes saduceus e dirigente do
sinédrio, e propõe entregar Jesus em troca de um
julgamento público e justo pelos romanos, visando
poupar-lhe a vida.
Enquanto isso, Jesus, consciente do fato de que os
saduceus e fariseus lutariam de todas as maneiras
e usariam de todos os recursos para garantir e
manter os privilégios e vantagens financeiras que
a religiosidade dissimulada proporciona, e que por
Jesus haver tocado profundamente no cerne da
questão Ele tornara-se a maior ameaça para os
saduceus e fariseus; conseqüentemente Sua vida
estaria por um fio.
Com o espírito tumultuado, confuso, com grandes
dúvidas e ao mesmo tempo triste, Jesus recolhe-se
ao horto das oliveiras, num lugar chamado
Getsêmani, com o propósito de meditar, orar,
aconselhar-se, pedindo a Deus que O ilumine
diante do cálice amargo que Ele sabia que estava
prestes a beber.
Jesus sabia que os saduceus e fariseus iriam
resistir ferozmente à revolução religiosa que Jesus
começara e que com isso os saduceus e fariseus
iriam atentar contra a Sua vida, de todas as
maneiras.
A uma certa distância, Pedro, Tiago e Judas Tadeu
observam Jesus, enquanto Ele prostrava-se no
chão, com os braços abertos e o rosto na terra,
falando baixinho palavras incompreensíveis àquela
distância.
Após alguns tempo, Jesus levanta-se e dirige-se
aos três discípulos e conta o que ele falara e
meditara.
— "Meu Deus, não me recuso ao sacrifício. Mas
valerá a pena ser o cordeiro pascal em nome de
Deus? Não serei Eu só mais um profeta? E João
Batista? E Isaias? E se em Meu nome muitos se
matarem? E se em Meu nome muitos explorarem
muitos? E se Eu for objeto de exploração da fé
alheia? E se, em Meu nome, Eu virar objeto de
comércio como meu Pai nas mãos dos vendilhões
do templo que negociam em Teu nome, Meu Pai?
Será esta é a Tua vontade, Pai? Valerá a pena este
sacrifício?"
Orando a Deus Jesus disse: — "Pai, afasta de mim
este cálice amargo. Mas, se este cálice amargo
não puder passar sem que Eu o beba, seja feita a
Tua vontade, Senhor. Se este Meu sacrifício for
livrar a Tua casa, Meu Deus, dos mercadores, dos
vendilhões, dos pregadores hipócritas e falsos,
então terá valido à pena o sacrifício."
— "E Tu não tens medo, Jesus?", questiona Pedro.
— "Pedro, eu sou tão humano como vós todos. O
espírito está calmo e preparado pela paz de Deus,
mas o que fazer se a carne é fraca. O que fazer? É
claro que Eu estou em agonia.", Jesus falou isso
suando muito, embora estivesse uma noite fresca.
O suor de Jesus estava amarelado, como se fosse
suor misturado com sangue.
— "Senhor, o que queres que façamos? Queres
ervas para acalmar os sentidos? Queres que
oremos por Ti? O que queres? O que devemos
fazer", perguntou Pedro, aflito.
— "Não, Pedro. Não preciso de nada em especial.
Basta orar e vigiar. Orai e vigiai! A minha alma
está numa tristeza de morte, pois esta poderá ser
a noite em que Meus inimigos venham a ter
comigo. A oração lava-Me o espírito, mas a vigilân-
cia garante a sobrevivência do corpo que os
saduceus e fariseus querem destruir."
Isto posto, os discípulos organizaram-se para que
cada um vigiasse por uma hora o sono dos demais,
de modo a que Jesus não ficasse jamais sozinho,
para que não fosse preso e morto covardemente.
Judas Iscariotes, por seu turno, consegue de Anás
a sua palavra de que Jesus ao ser preso terá um
julgamento romano limpo e isento. Segundo Anás,
os próprios romanos irão julgá-lo.
Para ter certeza de que Jesus não seria morto
covardemente, Judas Iscariotes vai com os
guardas, convocados por Anás, até o Monte das
Oliveiras, e ao chegar onde todos estavam
dormindo, inclusive o discípulo que montava
guarda e que deveria estar protegendo Jesus,
Judas toma a frente e dirige-se a Jesus. Abraça-O e
nervosamente dá-lhe um beijo na boca (que pelas
tradições significa transmissão de sabedoria).
Jesus, sabendo perfeitamente o que estava
acontecendo, entendeu o gesto de Judas e nada
falou que pudesse censurar-lhe. E, apesar da
agonia que passara momentos antes no horto,
desta vez sem demonstrar qualquer receio, pois a
prisão era mais do que esperada, Jesus pergunta
para a coorte (grupo de soldados): — "A quem
buscais?"
—"A Jesus, que se diz messias! — responde um dos
guardas.
—"Sou Eu!" — apresenta-se Jesus.
Como houvesse uma certa indecisão e um certo
constrangimento pela reação inesperada de
destemor de Jesus, os guardas ficam sem saber
como agir por alguns instantes, diante daquelas
pessoas todas (discípulos de Jesus).
—"Já vos disse que sou Eu. S e é a Mim que
procuram, deixai partir estes inocentes que não
têm nada comigo", disse Jesus.
Então numa reação surpreendente, Pedro
desembainha a espada e fere um dos servos de
Anás, na orelha direita. No que, imediatamente,
Jesus coloca-se à frente e impede que Pedro
continue com a impulsiva reação que começara. E,
virando-se para dois dos discípulos, Jesus solicita
que coloquem medicamentos curativos de ervas
no corte feito na orelha do servo de Anás.
Aparentemente cumprindo o que havia sido
combinado entre Judas Iscariotes e Anás, Jesus é
conduzido pelos guardas (coorte) à presença de
Anás, "príncipe dos sacerdotes" e um dos
dirigentes do sinédrio.
Anás, já não tão cortês como na conversa inicial
com Judas Iscariotes, interpela Jesus ainda de pé,
cercado pelos guardas:— "Então, Tu és o
criminoso que procuramos?"
— "Tu o dizes!", respondeu secamente Jesus.
— "Não foste tu que profanaste o templo?"
— "Eu jamais profanei templo algum!"
— "Profanaste a casa de Deus, sim!"
— "Não profanei a casa de Meu Pai. Estive sim,
num mercado religioso de exploradores da fé."
— "Não és o falso messias a quem os maltrapilhos
e as vagabundas vivem a seguir?"
— "Tu o dizes. Sempre falei e preguei abertamente
nos templos e em todos os lugares públicos onde
os hebreus (judeus) se reúnem e nada disse em
segredo. Pergunta aos que Me ouviram se alguma
vez preguei contra os ensinamentos hebreus
(judeus). Por que me interrogas, se não cometi
crime algum?"
Irritado com o tom firme e destemido de Jesus,
Anás manda secamente que os soldados amarrem
as mãos de Jesus e conduzam-no a Caifás (de
quem Anás era genro), para saber a opinião de
Caifás (que era mais velho e o sumo sacerdote do
templo) e se o sinédrio (tribunal em Jerusalém
formado por sacerdotes, anciãos e
pregadores/escribas que julgavam questões
criminais e administrativas referentes ao povo
judeu) poderia reunir-se pela manhã, logo nas
primeiras horas, para que os juizes pudessem
julgar Jesus o mais rápido possível.
Chegando na presença de Caifás, seguiram-se
perguntas semelhantes às de Anás, e as respostas
de Jesus foram as mesmas em tom desafiador e
firme.
Irritado com a insolência de Jesus, Caifás
determina que sejam convocados os membros do
sinédrio, imediatamente, para o julgamento de
Jesus.
Após longa espera, até que fossem convocados
todos os sacerdotes, todos os pregadores e
escribas, todos os anciãos, após a hora sexta
(meio-dia) daquela quarta-feira, iniciou-se o
julgamento de Jesus no sinédrio.
O clima era de extrema exaltação por parte dos
julgadores de Jesus, uma vez que agiam em causa
própria, na defesa de seus interesses e benefícios,
e ao mesmo tempo a firmeza de Jesus nas
respostas era como se fossem lanças perfurando
cada sacerdote, cada pregador, cada ancião, cada
juiz do sinédrio.
Jesus conhecia muito bem as leis dos hebreus e
buscava em cada brecha da lei uma saída e uma
resposta de modo a desautorizar o julgamento
pelo sinédrio.
Com isso, Jesus irritava profundamente os
membros do sinédrio, principalmente pela certeza
de Jesus de que o sinédrio nada poderia fazer
contra Ele. Isto porque, Jesus era galileu (natural
da Galileia) e não poderia estar sendo julgado por
crimes religiosos na Judéia. Não havia cometido
crime algum e a todas as acusações Ele respondia
com firmeza e segurança, mostrando que estava
absolutamente seguro de si e no estrito respeito
às leis dos hebreus.
Os membros do sinédrio mais irritados eram Ariel,
Hedi, Soari e Silas. Consideravam um ultraje e um
desrespeito a "baderna" feita por Jesus expulsando
"honrados" comerciantes autorizados do templo.
Alegavam que não eram justas as razões de Jesus
impedindo a venda de animais puros no templo, a
venda dos amuletos, bugigangas e coisas bentas,
bem como pela cobrança dos sacramentos
religiosos.
Enfurecidos questionavam se Ele, Jesus,
considerava-se rei.
Percebendo que isto — declarar-se rei — o
colocaria cometendo um crime contra Roma
(confrontando o poder do imperador e ameaçando
o império), Jesus responde, mais uma vez
secamente: — "Tu o disseste!".
Vendo que não conseguiriam pegar Jesus pela
palavra, confrontam-no com uma coisa sobre a
qual esperava-se que Jesus não pudesse desviar-
se da pergunta, acabando por confessar-se
culpado.
—"Tu és o messias?", perguntaram-Lhe
—"Se eu vos disser que sou o messias, vós não Me
acreditareis. Se Eu mesmo vos perguntar se sou o
messias, vós mesmos me negareis." — retrucou
Jesus.
Procurando forjar uma confissão, Caifás conclui: —
"Então confessas que só não dizes porque não
acreditaremos. Isso é uma confissão."
E apressadamente concluindo para vaticinar o
veredicto, arremata: — "Não há mais nada o que
questionar. Ele confessou ser o messias. Isso é
heresia. Todos ouviram a blasfêmia. Não
precisamos sequer de testemunhas. É réu de
morte"
Irritados, e buscando a esperada revanche contra
o homem que ousou tentar acabar com a
comercialização no templo, os juízes do sinédrio,
literalmente atropelando a lei a todo custo,
agridem fisicamente Jesus com socos e pontapés,
cuspindo-lhe na face e para completar dão uma
sentença ameaçadora: condenam Jesus à morte
dolorida e lenta pela crucificação, por fazer-se
passar por rei dos judeus, por ridicularizar e
ultrajar a religião, dizendo-se messias montando
um jumentinho, seguido por uma multidão de
infiéis maltrapilhos, vagabundos e prostitutas.
(Quando, na realidade, todos estes motivos eram
simples e meros pretextos, pois o único e real
motivo para a condenação de Jesus era a ameaça
em acabar com o próspero negócio em que o
templo se transformara, tomando dinheiro e
aproveitando-se do desespero de gente humilde,
pobre, desesperada e aflita).
Apesar das agressões físicas e das ofensas, após
algum tempo, Jesus se recompõe e absolutamente
seguro repete que não havia cometido crime
algum, nem contra os romanos e nem contra a
religião dos hebreus, e que não existia previsão
nas leis dos hebreus para a pena de morte confor-
me queria o sinédrio; pois somente Roma (através
de um governante seu) poderia determinar a pena
de morte. E que o que o sinédrio estava fazendo
ou o que quer que fosse feito com Ele seria uma
arbitrariedade e um crime coletivo praticado pelo
sinédrio, e que pelo Seu assassinato Roma poderia
punir todo o sinédrio.
Temerosos e sabendo que Jesus conhecia as leis e
estava certo, vez que de fato não poderiam impor
a Jesus uma pena maior do que a que queriam,
resolvem mandá-lo a julgamento ao governador
romano local, Pôncio Pilatos.
Ainda na mesma tarde de quarta-feira, Jesus é
enviado a Pilatos já com a "condenação" prévia do
sinédrio.
Pilatos recebe Jesus, interroga-o detidamente e
espanta-se ante o saber e conhecimento das leis
romanas e das leis religiosas dos judeus.
— "És rei dos judeus?", pergunta Pilatos
— "Tu o disseste!", responde Jesus.
— "Mas aqui existe uma condenação do sinédrio
dizendo que Tu Te consideras rei dos judeus!"
— "Outros disseram isto por mim. Não confessei
por minhas palavras ou gestos"
—"Cometeste algum crime contra Roma?"
—"Não há qualquer ato meu que possa ser
considerado ofensa contra Roma ou contra os
romanos"
Pilatos confirma o que já sabia por informantes
seus, enviados para ouvir as pregações de um
homem que arrastava multidões para ouvi-lo. E
vendo a inocência em Jesus, irrita-se com os
sacerdotes do sinédrio e diz para que levem-No
pois ele não via crime ou pecado em Jesus. — "A
questão é religiosa, resolvam vocês entre vocês.
Eu não sou judeu!", concluiu Pilatos.
—"Mas nós só podemos punir com penas leves, e
somente Roma pode decretar a pena de morte
pela crucificação, pelos vilipêndios religiosos
cometidos por Ele", argumentam os juízes do
sinédrio.
Pilatos vira-se para Jesus e questiona: — "O que
dizes?".
—"Sou galileu, prego o amor a Deus, da Galiléia à
Judéia. Não cometi crime algum e tu mesmo
disseste que sou inocente.", retorquiu Jesus.
Com receio por estar julgando um galileu em
terras da Judéia, e sabendo da antipatia que
Herodes Antipas, que era rei e filho de rei, tinha
por Pilatos, que era poderoso, mas era somente
um governador, eis que Pilatos decide: — "Esse
homem é galileu, mandem-no para o rei Herodes
Antipas para que o julgue como um dos seus
galileus."
Isto posto, Jesus é levado pelos guardas,
acompanhado dos juízes do sinédrio, até Herodes
Antipas, no palácio de Arquelau, ali mesmo na
Judéia, vez que por aquele tempo Herodes Antipas,
irmão de Arquelau, não estava em seu suntuoso
palácio na Galiléia e sim na Judéia, posto que
estava ocupando os dois palácios (na Galileia e na
Judéia) em razão do afastamento de seu irmão
Arquelau, que governara a Judéia.
No dia seguinte, quinta-feira pela manhã, com pro-
fundo desdém por cuidar de pequenas questões
tribais dos judeus, o rei Herodes Antipas recebe
Jesus no palácio e faz questionamentos
semelhantes aos que Pilatos já havia feito. E
entendendo que não havia crime algum contra
Roma, não havia porquê, ele, um romano, julgar
questiúnculas religiosas de judeus. E com muita
má vontade conclui que o assunto não é relevante
e nem importante para ele julgar, e portanto Jesus
foi devolvido a Pilatos para que ele fizesse o que
bem entendesse, pois por ele, Herodes Antipas,
não havia o que punir naquele homem.
De volta a Pilatos, devolvido por Herodes Antipas,
com autorização para decidir o destino de Jesus,
ainda na metade do dia, Jesus é novamente
interrogado por Pilatos, que chega à mesma
conclusão anterior, considerando Jesus inocente.

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