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Igualdade de Género e Conciliação entre vida pessoal e profissional

O desenvolvimento e a questão demográfica resultam de diversos fatores


que, direta ou indiretamente, influenciam o comportamento das populações.
Pelo que com o nosso trabalho iremos abordar o papel da igualdade de género
relacionando-o com a conciliação entre vida pessoal e profissional como um
destes fatores.

1. Contexto histórico

Para compreender a influência da igualdade de género na demografia é


essencial recorrer ao contexto histórico. A nível mundial…

- No século XIX surgiram vários movimentos pela liberdade e com eles as


primeiras lutas feministas. A 2ª metade do século caracterizou-se pela luta
pelo sufrágio universal, contudo as mulheres não foram incluídas nesse direito
inicialmente, o que só veio a acontecer mais tarde.

- No século XX com o início da I Guerra Mundial, o papel da mulher na


sociedade sofreu uma profunda transformação. As duas guerras mundiais
proporcionaram às mulheres oportunidades de trabalho em áreas antes
apenas reservadas aos homens, mesmo os cargos de liderança foram
ocupados por mulheres de classes mais altas. Durante a segunda metade do
século, após o ambiente de grande tensão internacional, o movimento
feminista focou-se na libertação sexual caracterizada pelo combate às normas
tradicionais de moralidade sexual, liberdade reprodutiva e relações sexuais.

- Atualmente, o movimento feminista continua a ser uma força que luta pela
igualdade de oportunidades e equidade para mulheres em todo o mundo.

Em Portugal, o papel das mulheres na sociedade sofreu uma rápida e


profunda transformação nos últimos 40 anos. A entrada das mulheres no
mercado de trabalho ocorreu de forma rápida e abrangente, resultando na
transformação das relações familiares e intrafamiliares, fazendo com que a
população portuguesa envelhecesse e se urbanizasse.

-Entre 1960 e 1970, a Guerra Colonial e o aumento da pobreza levaram


a surtos de emigração, tendo como consequência o êxodo de homens, levando
a que as mulheres passassem a realizar trabalhos essenciais para a economia
do país. Neste período, a economia portuguesa evoluiu na direção de uma
especialização intensiva em trabalho pouco qualificado, assim as indústrias
tradicionais, que empregavam maioritariamente mulheres, consolidaram-se
como setores de especialização portuguesa (por exemplo: vestuário, calçado,
agroalimentares, cerâmica e metalomecânica ligeira).

- Até ao 25 de abril de 1974, as mulheres portuguesas eram fortemente


limitadas pelas leis do regime fascista. Este acontecimento provocou uma
quebra no quadro de normas e valores da sociedade portuguesa, permitindo
uma maior igualdade de oportunidades entre homens e mulheres.

- De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2016, a


taxa de atividade feminina em Portugal era de 53,5%. A presença de mulheres
no mundo empresarial tem aumentado constantemente desde 2011,
especialmente em funções de liderança, conforme o relatório da Informa D&B
de 2017: desde essa data que em Portugal, 28,5% das empresas são lideradas
por mulheres.

2. Natalidade

Um dos principais conceitos demográficos é a natalidade que, de acordo


com os dados, está particularmente associada à igualdade de género, e
constitui uma preocupação crescente em muitos países.

Analisando os dados do gráfico é possível constatar que em Portugal,


seguindo a tendência de outros países desenvolvidos, observa-se uma
tendência contínua do aumento da idade média das mulheres aquando do
primeiro filho: 30,9 anos em 2021 face a 24,4 anos em 1971. E a pirâmide
etária relativa à População residente em Portugal por escalão etário e sexo de
2021, permite constatar a diminuição do número de filhos por casal, pois a
base apresenta-se mais reduzida, ou seja, o número de jovens é baixo
indicando uma taxa de natalidade baixa. De acordo com os dados do Boletim
Estatístico de 2022 relativo a Igualdade de Género em Portugal, continua-se a
verificar uma diminuição no número de partos realizados: entre 2021 e 2020
registou-se um decréscimo de 6% o que equivale a uma redução de 5 017
partos.
Sabendo que muitas vezes a decisão de constituir família e engravidar
está relacionada com questões de género, podem e devem ser tomadas
medidas para promover a igualdade de género e aumentar a natalidade, tais
como alcançar a igualdade salarial, poder usufruir de uma licença parental
igualitária, ter acesso a serviços de cuidados infantis acessíveis e de
qualidade, e à educação e empoderamento.

Por exemplo, a Suécia é um país modelo na promoção da igualdade de


género e apresenta uma das maiores taxas de natalidade da Europa. O país
possui políticas e programas governamentais que incentivam a implementação
da licença parental igualitária, além de serviços de cuidados infantis de
qualidade e acesso à educação e saúde.

Por outro lado, o Japão é um dos países com a menor taxa de


natalidade do mundo e enfrenta desafios na promoção da igualdade de género.
As mulheres japonesas muitas vezes enfrentam obstáculos para ingressar no
mercado de trabalho e equilibrar as responsabilidades profissionais e
familiares. O governo japonês para reverter esta situação está a implementar
políticas como a expansão de serviços de cuidados infantis e a promoção da
licença parental igualitária.

Um outro exemplo, é o Paquistão que enfrenta vários desafios na


promoção da igualdade de género o que afeta diretamente a sua demografia.
As mulheres no país têm acesso limitado à educação e ao emprego,
restringindo as suas escolhas de vida e resultando numa taxa de natalidade
alta e num rápido crescimento da população. O governo paquistanês pretende
implementar políticas para melhorar o acesso das mulheres à educação e
saúde, na tentativa de promover a igualdade de género e reduzir o crescimento
populacional.

3. Importância da educação e incentivo à entrada no mercado de


trabalho

Tal como foi referido anteriormente, existem várias medidas que podem
ser adotadas para aumentar a igualdade de oportunidades e a equidade pelo
que decidimos focar-nos na importância e no impacto da educação e do
incentivo à entrada no mercado de trabalho de meninas, raparigas e mulheres
para as sociedades atualmente:
*Concluímos que diversos dados comprovam que a educação tem a
capacidade de afetar tanto a Taxa de Natalidade como a Taxa de Mortalidade
dos países, por exemplo:

- De acordo com a Organização Their World, crianças nascidas de uma mãe


alfabetizada têm mais 50% de hipóteses de sobreviver após os cincos de idade.
E só nos últimos 40 anos, o aumento global na educação das mulheres evitou
a morte de mais de quatro milhões de crianças.

- Também de acordo com a mesma organização, a educação das meninas


ajuda a reduzir o crescimento populacional, pois mulheres instruídas têm
menos gravidezes e são menos propensas a engravidar na adolescência. Por
exemplo, em muitos países da África Subsariana, a taxa de natalidade entre
meninas com ensino secundário é quatro vezes menor em comparação com
aquelas sem acesso à educação.

*Por outro lado, fomos estudar qual a importância do incentivo à


entrada no mercado de trabalho de mulheres e a sua influência no
crescimento económico e no aumento da produtividade dos países.

– Como exemplo, e referido anteriormente, está a entrada de mulheres em


massa no mercado de trabalho no século XX e o seu maior acesso à educação
que permitiu transformar as economias de muitos países, pois as mulheres ao
terem mais estudos constituem-se como mão-de-obra mais qualificada que
permite o crescimento económico dos países e o aumento da sua
produtividade. De acordo com dados do FMI (Fundo Monetário Internacional),
para países com baixos níveis de participação feminina na força de trabalho,
reduzir a diferença de género poderia levar a um crescimento do PIB de até
35%, podendo levar a melhorias na qualidade de vida das populações.

Analisando o gráfico conclui-se, nomeadamente, que:

- Algumas regiões do mundo continuam a apresentar percentagens


elevadas de barreiras à participação feminina na força de trabalho,
nomeadamente o Médio Oriente e o Norte de África com cerca de 50% de
barreiras.

- Que se verificaria um aumento de cerca de 20% do bem-estar das


populações nalgumas regiões do mundo se as barreiras fossem eliminadas.
- E que os ganhos decorrentes da redução das diferenças de género na
força de trabalho aumentariam exponencialmente nalgumas regiões do
mundo, como é o caso do Médio Oriente e o Norte de África com mais de 60%
de aumento de ganhos.

4. Conciliação entre vida pessoal e profissional - demografia

A conciliação entre vida pessoal e profissional é um tema cada vez mais


discutido e que tem grande influência na população em geral. Existem
medidas que podem ser aplicadas de forma a promover a conciliação entre
vida profissional e vida familiar que têm influência nas questões demográficas
das sociedades, pois uma maior estabilidade e flexibilidade profissional reflete-
se em variadas decisões da população ativa, entre elas, a decisão de ter filhos
ou não – relacionado com a natalidade.

A criação de serviços de acolhimento de crianças como creches e


infantários pelas empresas permite aos trabalhadores uma maior flexibilidade
- pois não têm de se preocupar com mais deslocações -; e uma maior
descontração e tranquilidade, pois os filhos encontram-se perto e sabem que
são lugares seguros e de qualidade. Como exemplo, em Portugal, a TAP possui
uma creche e um jardim infantil a funcionar 24 horas por dia para os filhos
dos seus colaboradores que trabalham por turnos. E na Irlanda, a Intel
Ireland Ltd investiu mais de 700 mil euros em programas de apoio a crianças,
nomeadamente, sites on-line de apoio familiar (assistência médica, creches,
etc.), fundos para cuidados infantis, programas de verão para os filhos dos
trabalhadores, promoção de seminários sobre cuidados infantis para os pais,
entre outros.
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