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CENTRO UNIVERSITÁRIO AGES

MARIA VITÓRIA SANTOS LEAL

A VÍTIMA NO BANCO DOS RÉUS:


Da violência institucional à consolidação da Lei Mariana Ferrer

Paripiranga
MARIA VITÓRIA SANTOS LEAL

A VÍTIMA NO BANCO DOS RÉUS:


Da violência institucional à consolidação da Lei Mariana Ferrer

Trabalho de conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Graduação em Direito, do centro
Universitário AGES, como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel.

Orientadora: Christiane Rabelo de Souza.

Paripiranga/BA
2022
A VÍTIMA NO BANCO DOS RÉUS:
Da violência institucional à consolidação da Lei Mariana Ferrer

THE VICTIM ON THE DEFENDANT'S BENCH:


From institutional violence to Mariana Ferrer Law’s consolidation

“Eu gostaria de respeito, doutor. Excelentíssimo, estou


implorando por respeito, no mínimo.”
(Mariana Ferrer)

Maria Vitória Santos Leal


Centro Universitário Ages
mariavitória_leal@hotmail.com

Profª
Orientadora – Christiane Rabelo de Souza
Centro Universitário Ages
christiane.rabelo@animaeducacao.com.br
http://lattes.cnpq.br/2328205583995898

Paripiranga/BA
2022
AGRADECIMENTOS

Como uma mulher sonhadora, a gratidão me faz sorrir com os olhos, esta corresponde
a maior de todas as virtudes, é o privilégio de enxergar a vida com o coração, são as pessoas e
as experiências que marcaram minha trajetória. Chegar até aqui representa a construção do
meu crescimento pessoal, mudança de uma realidade construída com muita resiliência e o
encerramento de um ciclo para o florescimento de novos desafios.
Sou grata a Deus, meu Senhor Eterno, e à Nossa Senhora Aparecida, razões
inequívocas das minhas vitórias e fontes da minha força e fé.
Aos meus pais, Jorgeval e Jozineide, por todo amor e ensinamentos que desde cedo
cultivaram em mim muita coragem e força para persistir, minhas inspirações diárias. Obrigada
por fazerem por mim o impossível, sem medir esforços e dedicação, este sonho só concretizou
porque sonhamos juntos.
À minha avó Maria, por rezar e torcer por mim quando nem mesmo eu achei que
poderia, seu amor incondicional me ilumina. À minha avó Joana (in memoriam), a estrelinha
que brilha por mim lá do céu. Aos meus tios, padrinhos e toda a minha família, meu pilar, por
todo zelo e admiração.
À minha querida orientadora e amiga, a Profa. Christiane Rabelo, por toda a confiança
depositada em mim e pelo constante estímulo durante a graduação, sempre solícita e disposta
a estender a mão. Ao professor José Marcelo, que se fez família, a minha grande inspiração de
ser humano e profissional, sempre tão íntegro, zeloso e batalhador. Se hoje enxergo longe, é
porque fui em ombros gigantes!
Às minhas meninas, companheiras de trajetória, Rafaela e Jaynara. Sonhamos,
buscamos e realizamos juntinhas, sempre nos apoiando umas nas outras, obrigada por
tornarem todos os planos possíveis, pelo encorajamento e apoio incondicional.
Agradeço aos meus primos, Eduarda e Bruno, crescemos juntos e seguiremos juntos
até o fim. À Gabrielle, Elen, Edneth e Sarah, que estão sempre em prontidão para me ajudar
no que for, e pela amizade que vai me acompanhar pelo resto da vida. À Monyse, Victória,
Brenda e Fernanda, por todos os momentos de diversão e risadas, às confidências e as trocas.
Agradeço, com carinho, aos meus amigos, Melyssa, Nicoly, Evily, Alexandre, Milena,
Cyro, Léo Brucys, Ana Beatriz e Natália, que transformaram minha vida e minha visão de
mundo, não há palavras para agradecer o suporte e o colo diário de vocês.
Deus sempre providenciou anjos para iluminar meus caminhos. E com o coração
transbordando de amor e gratidão, o meu muito obrigada!
RESUMO

Através de uma abordagem feminista, o presente estudo buscou enfatizar a violência


institucional contra a mulher, tendo como ponto primordial a Lei Mariana Ferrer, de modo a
elucidar como a vítima do fato criminoso sofre discriminação e julgamentos baseados em
estereótipos do patriarcado. Trata-se de uma pesquisa de caráter bibliográfico, com uma
abordagem qualitativa e método indutivo, sob uma perspectiva sociológica jurídica. Destaca-
se o princípio da Dignidade Humana como norteador do ordenamento jurídico, e por
conseguinte, à positivação dos direitos das mulheres, em contraponto ao desamparo judicial
dado à vítima no processo de vitimização durante a persecução penal, ante a constância na
qual os órgãos do aparato judicial, que deveriam fomentar a garantia dos direitos humanos,
perpetuam o machismo estrutural por meio de seus operadores. Outrossim, apresenta-se a
vitimologia e a importância do seu estudo na construção social da vítima, trazendo ainda
críticas à teoria vitimodogmática, que repercute na valoração jurídico-penal do
comportamento do autor e do ofendido. Ter-se-á por base a revitimização sofrida por Mariana
Ferrer através do Poder Judiciário, que tipificou a violência institucional, inferindo-se que
todos os atores presentes na audiência de instrução e julgamento, legitimados pela sociedade
para propiciar justiça, atuaram de forma ofensiva, parcial e omissiva, desmoralizando-a e
colocando-a no banco dos réus. Concluir-se-á com as consequências da violência
institucionalizada contra a mulher, o silenciamento impostos às vítimas, enquanto, por seu
turno, verifica-se os reflexos da revitimização no ordenamento jurídico pátrio através da Lei
n. 14.245 de 2021, a qual visa coibir a prática da violência institucional, sendo necessárias
ainda outras providências sociais e políticas públicas para assegurar tratamento digno às
vítimas de violência de gênero.

Palavras-chave: Dignidade Humana; Violência Institucional; Culpabilização da vítima;


vitimologia; Mariana Ferrer.
ABSTRACT

Through an attempt at judgment, the method of violence against women, having as a starting
point institutional violence as the way the victim of suffering suffer and the primordial
attempts to study in a study against violence. This is a bibliographic research, with a
qualitative approach and inductive method, from a legal sociological perspective. The
principle of Human Dignity stands out as the guideline of the legal system, and therefore, the
positivization of women's rights, in contrast to the judicial helplessness given to the victim in
the victimization process during criminal persecution, given the constancy in which the
organs of the Judicial apparatus, which promoted the guarantee of rights, structural machismo
through its operators. In addition, victimology is presented and the importance of its study of
the social construction of the victim, still critical to the victim theory, has repercussions on the
legal-criminal valuation of the perpetrator's and the offended's behavior. Based on the re-
victimization by Mariana Ferrer through the Judiciary, which typified the violence of all
institutional actors in judging that the actors present at the instruction and judgment hearing,
legitimized by society to provide, acted in a way, partial and omissive, demoralizing it and
putting it in the dock. It will conclude with the consequences of institutionalized violence
against the silencing of taxes as through, while, in turn, by reflexes of revictimization in the
national legal system, it verifies Law nº 14.245 of 2021, which aims to curb the practice of
institutional violence , and other social measures were also identified to ensure dignified
treatment and gender violence policies.

Key words: Human dignity; Institutional Violence; Blaming the victim; victimology;
Mariana Ferrer.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO …............................................................................................................... 7

2. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO PRINCÍPIO NORTEADOR DAS


DEMANDAS FEMINISTAS: EVOLUÇÃO HISTÓRICA E A CULTURA DA
HOMENAGEM …...................................................................................................................8

3. A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA VÍTIMA x VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL


CONTRA A MULHER: CONSEQUÊNCIAS SOCIOJURÍDICAS .................................16

4. A (RE)VITIMIZAÇÃO DE MARIANA FERRER: O QUE A LEI MARIANA


FERRER COMUNICA..........................................................................................................21

5. CONCLUSÃO …...............................................................................................................27
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................29
INTRODUÇÃO

Desde os primórdios da civilização, a ótica da mulher e seu papel social, enquanto


pessoa humana e de direito, advém do sistema patriarcal, eis que marcada pela dominação
masculina, de onde irradiavam as permissões, sendo todo ato controlado e nem todo direito
estendido. E, por este cenário, após tornar-se vítima de um crime, percorre um caminho ainda
mais árduo, insociável e abstruso, pois os órgãos do aparato estatal, que deveriam prestar uma
atenção humanizada, preventiva e reparadora de danos, perpetuam o machismo estrutural por
meio de seus operadores.
Especialmente nos crimes contra a dignidade sexual, a falta de preparo dos agentes
que lidam com as vítimas reproduz a lógica do patriarcado, representada por uma estrutura de
poder esteada na violência institucional, uma forma de vitimização. Assim, durante a
persecutio criminis, diante do cenário de uma sociedade predominantemente misógina e
sexista, vislumbra-se uma análise acerca da conduta da ofendida, atribuindo-a um certo grau
de culpa, mensurando sua inocência para que seja colocada no mesmo campo do acusado,
fazendo-a integrar, parcialmente, a posição de ré.
Diante da escassa abordagem jurídica dogmática concernente da culpabilização da
vítima nestes crimes, vislumbrou-se a necessidade de produzir um estudo sob a perspectiva
sociológica jurídica, eis que inabitual no campo jurídico. Desta feita, ter-se-á como problema
de pesquisa: O sistema de Justiça está plenamente estruturado para ser efetivamente local de
acolhimento e não de vitimização?
A partir do paradigma do Estado Democrático de Direito, observa-se a dupla
vitimização das mulheres, primeiramente em função do delito sofrido, e posteriormente em
função do Estado, que, por meio da Justiça, as revitimiza. Destaca-se, ainda, a Lei n.
14.245/2021, batizada de "Lei Mariana Ferrer" como um importante marco sobre a violação
da dignidade de mulheres vítimas de crimes sexuais.
Destarte, o objetivo geral desta pesquisa é cessar o pensamento dogmático que
circunda a culpabilização da vítima dos crimes contra a dignidade sexual como uma ciência
jurídica. Com essa finalidade, foram traçados os objetivos específicos que orientaram os
principais tópicos, sendo esses: Apresentar a construção social da vítima; compreender a
(re)vitimização presente nas persecuções penais; inferir a repercussão do caso Mariana Ferrer;

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identificar a violência institucional sofrida pelas mulheres no âmbito dos sistemas de justiça,
abordando as respostas legislativas;
A metodologia utilizada para a elaboração desta pesquisa é indutiva, haja vista a
realização, a priori, de uma análise específica acerca da violência institucional contra a
mulher, como abordado pela lei Mariana Ferrer, para uma abordagem posterior e geral, ante a
indispensabilidade de uma criminologia feminista no combate à desigualdade de gênero,
especialmente no âmbito judiciário.
Caracteriza a pesquisa do presente estudo uma abordagem qualitativa, escolha baseada
na característica do objeto de estudo e objetivos, assim como é uma pesquisa documental e
bibliográfica, buscando a compreensão do tema ora em comento através de referenciais
doutrinários acerca da temática, a fim de buscar possíveis formas para aprimorar a questão
suscitada. Assim, esclarecer-se-á os aspectos primordiais do tema abordado com base em
revisões teóricas aprofundadas.
Iniciar-se-á o projeto com o princípio máximo que rege o ordenamento jurídico, a
Dignidade da Pessoa Humana sob uma perspectiva feminista. Far-se-á, assim, um percurso
pela legislação brasileira e internacional de direitos humanos objetivando conhecer, no
contexto histórico e social dessas leis e suas interpretações, discutindo ainda a forma pela qual
houve a positivação dos direitos da mulher no ordenamento pátrio. Ademais, analisa-se o
histórico das leis nomeadas em homenagens às mulheres vítimas de graves violações de
Direitos Humanos, verificando, como uma resposta social dentro do ordenamento jurídico as
lutas feministas.
Em um segundo momento, ter-se-á a conceituação de vítima, bem como a correlação
entre a vitimologia, vitimodogmática e o feminismo como fator impulsionador da
preocupação da tutela dos direitos das mulheres vítimas de crimes. Apresenta-se a vitimologia
como corrente doutrinária que objetiva estudar o comportamento da vítima e a sua influência
no fato criminoso, assim como o processo de construção social da vítima e as suas
consequências e o da vitimização da mulher durante a persecução penal.
No terceiro plano, destacar-se-á a Lei n. 14.245/2021 diante do caso de Mariana Ferrer
como um grande exemplo da revitimização causada pelo Poder Judiciário, tipificando, por
conseguinte, a violência institucional. Salientar-se-á o que a lei comunica, suas principais
mudanças e diretrizes.

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2. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO PRINCÍPIO NORTEADOR
DAS DEMANDAS FEMINISTAS: EVOLUÇÃO HISTÓRICA E A CULTURA DA
HOMENAGEM
O ser humano, assim como a sociedade e o direito, está em constante evolução. Nesse
diapasão, Bobbio (2004, p.25) assevera que o Direito surge diretamente como a resposta às
violências consideradas injustificáveis pelo meio social, objetivando erradicar como defesa
aos abusos de poder. Aduz ainda que:
[...] os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos,
ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por lutas em defesa de
novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de
uma vez e nem de uma vez por todas (BOBBIO, 2004, p. 26).

A Dignidade Humana é o núcleo fundante e essencial de todos os direitos


fundamentais intrínsecos ao ser humano, alicerce do ordenamento jurídico que considera cada
ser humano igual e possuidor do direito de desenvolver-se física e psiquicamente, com
respeito à vida e à liberdade, indispensáveis para a garantia de uma vida digna, o que
consequentemente justifica a universalização destes direitos. A esse propósito, faz-se mister
trazer à colação o entendimento de Sarlet (2015, p. 70-71), ao conferir o conteúdo jurídico à
dignidade da pessoa humana, ei-lo:
Assim sendo, temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e
distintiva reconhecida a cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e
consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um
complexo de direitos e deveres que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer
ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições
existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua
participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em
comunhão com os demais seres humanos, mediante o devido respeito aos demais
seres que integram a rede da vida.

Analisa-se neste capítulo, o feminismo enquanto projeto histórico de vínculos, eis que,
os direitos humanos das mulheres não traduzem uma história linear, posto que não compõem
uma marcha totalmente triunfal, e refletem assim, a todo tempo, a história de um combate, de
processos que consolidam espaços de luta pela dignidade humana. Assim, demonstra-se que o
eixo central do feminismo é o compromisso de promover e garantir os direitos das mulheres
nos ordenamentos jurídico e político dos Estados democráticos.
Será trazido à baila, em um segundo momento, a forma pela qual houve a positivação
dos direitos da mulher no ordenamento, sobretudo na Carta Magna de 1988, através da
estratégia adotada pelos movimentos feministas e intitulada por “Lobby do Batom”. Por fim,

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destaca-se o histórico de leis nomeadas em homenagens às mulheres vítimas de graves
violações de Direitos Humanos, verificando, como se deu a resposta social dentro do
ordenamento jurídico as lutas femininas.
Destarte, iniciar-se-á a presente pesquisa evidenciado a importância dos movimentos
feministas na construção dos direitos das mulheres. Isto pois, não há como se falar em
Direitos, sem tocar no processo de ingresso da mulher no espaço público, retratando
desigualdades e resistências, da busca por direitos primordiais na convivência social e na
plena atividade da cidadania, como a igualdade entre os sexos perante a lei e o
reconhecimento de sua atuação em sociedade, indispensável a um verdadeiro Estado
Democrático de Direito.
A luta das mulheres por direitos tem percorrido uma longa trajetória de
reconhecimento e efetivação, desde os primórdios da humanidade. Entretanto, com a ascensão
do patriarcado, estes direitos foram reduzidos e assim, a necessidade de se organizar, lutar
foram se ampliando. Há que se falar que a luta organizada das mulheres por espaço, por
igualdade, por visibilidade e por direitos individuais representam os ideais de ascensão que
são levantados pela luta organizada feminista.
Nesse passo, é de todo oportuno trazer à baila o entendimento de Brunna Santiago
(2018, p. 23-24), que obtempera o modo no qual a efetivação dos Direitos Humanos das
mulheres enseja benefícios para toda a sociedade, não somente para o gênero feminino. E,
apesar disso, diante de uma sociedade machista e patriarcal, a mulher sempre esteve às
margens do direito, o que dificulta a concretização de direitos e garantias femininos.
A definição de feminismo dada pelo Minidicionário Houaiss da língua portuguesa
(2010, p. 356) é de “doutrina ou movimento em favor da ampliação e valorização do papel e
dos direitos das mulheres na sociedade”, tendo, à vista disso, o intuito de conceder ao gênero
feminino, que sempre teve uma posição secundária, o que outrora era exclusivo aos homens,
colocando-o no lugar de protagonista da própria história.
Logo, é notável que o feminismo está intimamente ligado ao gênero feminino - a
mulher. Para a escritora, filósofa e feminista Simone Beauvioir (1967, p. 9) “ninguém nasce
mulher: torna-se mulher”, sendo, portanto, detentora de um protagonismo, de quem era
meramente figurante na sociedade. Na obra “Segundo Sexo”, dispõe a autora que significa
dizer que existe o sexo protagonista heteronormativo e dominante, e existe o segundo sexo,
que se constrói como antagonista do primeiro (BEAUVIOIR, 1967). Esta obra foi, deste

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modo, um marco teórico do feminismo, apresentando uma transformação revolucionária, e,
consequentemente, expressando termos de opressão sofridos por mulheres.
Beauvoir (1967, p. 9) reforça ainda que “nenhum destino biológico, psíquico,
econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade”, eis que o
primeiro sexo, o predominante, qualifica e regula o feminino. Assim, tem-se a passividade
como caracterizadora da mulher "feminina", nela desenvolvida socialmente desde os
primeiros anos. Mas, é um erro qualificar-se como dado biológico: na verdade, é um destino
que lhe é imposto por seus educadores e pelo meio social (BEAUVOIR, 1967, p. 21).
Desde o seu nascedouro, no final do século XVIII, nota-se que o movimento feminista
vem, fortemente, denunciando o sexismo presente nas leis e no discurso jurídico, sendo
naquela época um manifesto da negação: “quando filósofos e políticos utilizaram a noção de
‘diferença sexual’ para justificar os limites impostos à universalidade dos direitos individuais”
(RUBIO, 2008, p. 168). Em face disto, as relações entre feminismo e direito foram e são
intensas, eis que as feministas, ao longo da história, transitam entre a denúncia, a
reformulação, a desconstrução e o uso estratégico do jurídico, visando, sobretudo, a garantia
da igualdade de gênero.
Isto posto, hodiernamente, não há sequer uma disciplina no campo das Ciências
Sociais que não tenha sido afetada de alguma forma pelos ideais feministas. Apesar disto, a
infiltração do feminismo na seara jurídica não tem ocorrido da mesma forma e nem com a
mesma velocidade com que se deu em outras áreas das ciências sociais, dado o caráter ainda
hermético, elitista e pretensamente neutro do campo jurídico.
Ao longo dos anos, no entanto, as opiniões feministas com relação à função e a
utilidade do direito foram se diversificando e se tornando complexas, além de frequentemente,
discordantes, uma vez que, ao largo da jornada, ora o direito é visto como mecanismo de
dominação masculina, ora é percebido como instrumento de aprimoramento da cidadania
feminina, a depender do contexto histórico, do modo como as mulheres entendem sua
opressão e da concepção que cada vertente ou onda do feminismo tem do direito e das
relações que este estabelece com outras esferas da vida social (DA SILVA, 2018).
Para Salete da Silva (2018), “o direito é uma das mais importantes ferramentas dentro
da luta das mulheres por alcançar o lugar que desejam dentro da sociedade”.
Na vigência das Ordenações Filipinas no Brasil, estavam as mulheres sujeitas ao poder
disciplinar de uma figura masculina, seja do pai ou marido. Assim, constava na parte criminal
que eram isentos de pena aqueles que ferissem as mulheres com pau ou pedra, bem como
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aqueles que castigassem suas mulheres, desde que moderadamente (Livro V, Título 36, § 1º).
Os homens ainda tinham o direito de matar suas esposas em vista ao adultério, diante apenas
de rumores públicos, sendo desnecessária prova austera (RODRIGUES, 2003).
Diante de tamanhas atrocidades decorrentes na história, os direitos historicamente
construídos em prol das mulheres devem ser resguardados pelo Estado democrático de direito
em concordância com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Esta, como um
importante marco na história, inspirou inúmeras constituições, de modo que a Organização
das Nações Unidas (ONU), define os direitos humanos como “direitos inerentes a todos os
seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou
qualquer outra condição”, sendo primordial a sua aplicação de forma igualitária, sem nenhum
tipo de discriminação (ONU, online).
No contexto mundial, vislumbra-se uma luta por igualdade e reconhecimento das
mulheres como sujeito de direitos, sendo a ideia da democracia uma importante ferramenta da
igualdade, necessária para conceder direitos e garantias fundamentais inerentes à pessoa
humana, vez que tem como fundamento da República Federativa do Brasil, a dignidade da
pessoa humana. O filósofo e professor Cortella preconiza que:
[...] a democracia não é um fim em si mesma; é uma poderosa e indispensável
ferramenta para a construção contínua da cidadania, da justiça social e da liberdade
compartilhada. Ela é a garantia do princípio da igualdade irrestrita entre todas e
todos - até para quem dela discorda (CORTELLA, 2005, p. 125 – 126).

No Brasil, a Declaração Universal dos Direitos Humanos apenas foi adotada no ano de
1948, sendo o princípio da igualdade entre os sexos assegurado pela primeira vez no art. 113
da denominada Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934.
Urge trazer à baila que durante o período ditatorial, a criação do Conselho Nacional
dos Direitos da Mulher (CNDM), fora uma estrutura formal na representação dos movimentos
feministas, a qual manteve mobilizações ao longo do processo constituinte, iniciado em vista
da redemocratização do país, em 1985, sendo intitulado de “Lobby do Batom”, o qual
culminou na elaboração da “Carta da Mulher Brasileira aos Constituintes”, marcada por uma
série de demandas e reivindicações indispensáveis ao avanço dos direitos das mulheres no
ordenamento jurídico pátrio.
A estratégia utilizada pelo lobby do batom no cenário da Assembleia Nacional
Constituinte foi frutífera ao alcançar a inserção da isonomia entre homens e mulheres no
ordenamento jurídico pátrio, com a promulgação da Constituição da República Federativa

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Brasileira de 1988 (CRFB), que marcou a consolidação da democracia brasileira. Outrossim,
merece ser trazido à baila o entendimento dos doutrinadores:
A conquista em relação ao direito das mulheres incluía um momento crucial – a
nova Constituição de 1988 (...). Ativamente organizada através daquilo que ficou
conhecido, através da mídia, como o “lobby do batom”, as mulheres brasileiras
conseguiram aprovar mais de 80% de suas demandas, que oscilavam entre o
princípio geral da igualdade de gênero e demandas específicas tais como a licença
maternidade de quatro meses. Nas palavras de Alvarez (1994, p.54), (...) “no que
tange os direitos” das mulheres, a Constituição Brasileira de 1988, pode ser
considerada uma das mais progressistas hoje, no mundo (SIMÕES e MATOS, 2010,
p.17-18).

Tem-se presente a igualdade legal entre homens e mulheres na CRFB/88, integrando o


capítulo dos direitos e garantias fundamentais dos indivíduos. Dentre diversas demandas dos
movimentos de mulheres incorporadas ao texto constitucional, cabe destacar os dispositivos
que tratam do princípio da igualdade entre homens e mulheres (art. 5º, I), inclusive na
sociedade conjugal (art. 226, § 5º) e, também, a inclusão do art. 226, § 8º, por meio do qual “o
Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações” (OLIVEIRA, 2019).
Destarte, a busca por direitos femininos deve ser vista como uma causa válida,
considerando que é um elemento constitutivo do direito fundamental da igualdade entre os
sexos. Nota-se que as conquistas femininas através dos séculos, tais como emancipação
feminina, abolição do pátrio poder, sufrágio feminino e a conquistas de direitos fundamentais
evidenciam que os movimentos feministas foram e ainda são um movimento social de
enfrentamento das desigualdades quanto ao gênero.
No Brasil, enquanto direitos positivados em lei, os direitos das mulheres foram, e
são, reflexos das lutas desencadeadas por opressões sofridas ao longo da história. Lutas por
dignidade, liberdade, personalidade, participação política e social, direito a seu próprio corpo,
de se libertarem de violências, direito à educação, direito ao trabalho, direito à igualdade
(BANDEIRA e MELO, 2010). Neste ínterim, nota-se que as leis aqui existentes que visam a
proteção às mulheres foram precedidas de violência e grandes lutas organizadas.
Consoante preceituam Oliveira e Giordano (2021, p.8), há uma lógica no processo de
continuidade no processo de positivação de leis destinadas a proteção de mulheres no Brasil:
há sempre uma situação fática violenta, que acaba por desencadear indignação social, seguida
de uma extensa cobertura midiática e, atualmente, discussão nas redes sociais, procedidas de
lutas por justiça e direitos que culminam na criação de leis. Tais leis, nomeadamente, tem por

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objetivo primordial evitar que outras mulheres sofram da mesma forma que sofreram as
vítimas que inspiraram a resposta legislativa.
Considerando que todas as leis na humanidade foram estabelecidas por meio de lutas,
são conquistas extraídas de longos trajetos e de aversão a lógica que ao seu tempo vigorava,
no viés da igualdade formal garantida pela Constituição Federal, houve o acolhimento das
demandas dos movimentos de mulheres à época da sua promulgação, confirmando a
importância do movimento feminista na luta pelos direitos contra condições de inferiorização
do feminino. Nesse diapasão, impende destacar o entendimento de Brunna Santiago que aduz,
in verbis:
O Direito construiu-se a partir de estruturas patriarcais, como reflexo da própria
sociedade. Porém, o distanciamento entre as correntes feministas e os estudos e a
legislação jurídica vivencia uma crescente aproximação. As lutas feministas e
consequente ruptura de uma opressão total contra a mulher influenciaram de forma
direta e positiva em alterações legislativas, desde a elaboração de tratados
internacionais até a inserção destas no próprio ordenamento jurídico brasileiro.
(SANTIAGO, 2018, p. 90).

Ante a imensidão da violência sofrida pelas mulheres no Brasil, é mister indicar que a
luta por direitos deve ser uma força viva. Ademais, conforme vê-se diariamente na mídia, há
casos que reverberam mais que outros, que possuem o apoio social e midiático, e com o
movimento organizado feminista ganha espaço e transforma-se em luta por justiça e na
concretização de Leis.
No ordenamento jurídico pátrio, vislumbra-se uma prática singular do poder
legislativo, que por meio da criação de leis em nome das vítimas, busca ressarcir, ou até
mesmo reparar a violência sofridas por mulheres que se tornaram notórias por sua vitimização
(OLIVEIRA, GIORDANO, 2021, p. 8), persiste uma lógica de continuidade para a
positivação de leis penais que tenham como objetivo a proteção de mulheres vítimas. É nesse
contexto que David Garland (2008, p. 317) aponta como o ato de criar leis penais em
homenagem às vítimas acaba se convertendo em uma estratégia política, em que o nome da
pessoa vitimizada é reiteradamente utilizado para que se evitem objeções à legislação que se
pretende concretizar, justificando sua aprovação rápida ainda que vazia em mudanças
positivas.
Neste “processo cultural da homenagem”, várias foram as leis voltadas à proteção das
mulheres surgidas nas últimas décadas, citando como exemplos a Lei Maria da Penha (Lei n.
11.340/2006), a Lei Carolina Dieckmann (Lei n. 12.737/2012) e a Lei Joana Maranhão (Lei n.
12.650/2015).
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O caso Maria da Penha ficou marcado pela repercussão que ensejou o início da cultura
da homenagem das leis. A lei teve forte participação de movimentos feministas e de apoio das
organizações civis voltadas à proteção da mulher. A Maria da Penha sofreu graves violências
domésticas e decidiu buscar justiça no judiciário brasileiro, não obteve respostas satisfatórias
e teve que levar o caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) que
juntamente às campanhas públicas impulsionou o legislativo brasileiro a legislar sobre a
proteção da mulher em âmbito doméstico.
O processo de violência assola as mulheres desde a sua infância até a sua
velhice e é possível observar o crescimento das lutas em prol de proteção e
direitos com a implementação das leis no ordenamento jurídico brasileiro.
Há um processo cultural linear e conhecido na implantação de leis de
proteção às mulheres. Todas estas leis estão vinculadas a violências sofridas
por mulheres ao longo da história, suas promulgações revelam vitórias de
movimentos sociais e luta organizada de mulheres. O legislativo brasileiro
criou a cultura de homenagear as mulheres pivô da construção das leis. Um
dos últimos projetos de lei voltados à proteção das mulheres já leva, hoje, o
nome de uma mulher, o Projeto de Lei Mariana Ferrar. (OLIVEIRA,
GIORDANO, 2021, p. 9).

3. A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA VÍTIMA x VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL


CONTRA A MULHER: CONSEQUÊNCIAS SOCIOJURÍDICAS

Historicamente, vê-se no Direito Penal, a presença do trinômio acusado-pena-crime,


na qual possuía a vítima papel secundário e coadjuvante no cerne do crime e, por
consequência, da persecução penal. Cenário que possuiu a imprescindibilidade de mudanças
após as atrocidades empreendidas no ínterim da Segunda Guerra Mundial, com o enfoque nos
estudos acerca da vítima e no seu comportamento, tendo em vista o desenvolvimento da
Vitimologia. Assim, fora estabelecido um diálogo entre o direito penal e a vítima, entre o
crime e o real papel da vítima, além de procurar demonstrar se efetivamente a conduta do
delinquente foi influenciada pelo seu comportamento.
Posto isso, neste tópico buscar-se-á instituir uma relação com a conceituação de vítima
e a sua evolução histórica, relacionada a ciência da vitimologia, como sendo a corrente
doutrinária que estuda a vítima e a sua influência no fato criminoso; o modo no qual o
indivíduo, sobretudo do sexo feminino, é transformado em vítima o meio social. Após,
prosseguir-se-á pela vitimodogmática na qual há valoração de como o comportamento da
vítima repercute na valoração jurídico-penal do comportamento do autor.

16
Apontar-se-á o conceito de violência institucional, analisando e identificando a
presença desta no Poder Judiciário, bem como as consequências desta na vítima, a vitimização
e o silêncio que os envolvem no meio.
Tangente ao vocábulo vítima não há um conceito determinado, conforme defende Luis
Rodriguez Manzanera (2002, p.81) “a definição de vítima depende muito do paradigma
científico do modelo e da ideologia adotada e vice-versa: cada teoria, tendência e perspectiva
elaborará sua definição de vítima”. Preleciona ainda que a vítima está intrinsecamente ligada
a um dano, seja material ou imaterial.
Adotada na Assembleia Geral da ONU, a Declaração dos Princípios Básicos de Justiça
Relativos às Vítimas, dispõe que a vítima padece de um dano, esclarecendo quais são as
características relevantes para a caracterização:
O termo “vítimas” designa as pessoas que, individual ou coletivamente, tenham
sofrido um dano, nomeadamente um dano físico ou mental, um sofrimento
emocional, um prejuízo econômico ou um atentado importante aos seus direitos
fundamentais, em resultado de atos ou omissões que violem as leis penais em vigor
nos Estados-Membros, incluindo as leis que criminalizam o abuso de poder.

À luz da gênese do direito penal, tem-se aplicabilidade das leis e de suas respectivas
penas por intermédio de uma re(construção) de resposta social e jurídica que se emite pela
atuação ou inércia das instâncias de controle frente aos delitos, através da tolerância ou
reprovabilidade de determinadas condutas, sendo o Estado, outrossim, responsável pela
recuperação tanto dos indivíduos quanto das vítimas (diretas ou não) do comportamento
criminoso.
Ademais, faz-se inescusável apresentar a terminologia denominada vitimologia, como
sendo o estudo científico da vítima. Nesse aspecto, o professor Benjamin Mendelsohn (apud
LIMA, ALVES e DE PAULA RIBEIRO, 2022, p.248), conhecido como pioneiro da
vitimologia, classifica-a da seguinte maneira: a ciência que procura estudar a personalidade da
vítima sob os pontos de vista psicológico e sociológico na busca do diagnóstico e da
terapêutica do crime e da proteção individual e geral da vítima.
Há, portanto, um estudo da vítima em todos os momentos do crime, durante e após o
ato que a vitimizou desde a sua ocorrência, até a consumação da infração penal, a relação com
o delinquente e a sua personalidade e o consentimento, (LIMA et al, 2022). Nesse passo, é
oportuno trazer à baila que, historicamente, o estudo da vítima está dividido em três fases: o
protagonismo, o ostracismo e o redescobrimento (MAIA, L., 2012, p. 03).

17
O protagonismo é denominado como consequência da vingança privada, no qual a
vítima somente teria o protagonismo se tivesse a força e o poder para praticar sua própria
vingança, não tendo as autoridades legitimação para solucionar os conflitos que surgiam. Esse
prisma reflete o entendimento do doutrinador Michel Foucault (2003), que assevera:
O que caracterizava uma ação penal era sempre uma espécie de duelo, de oposição
entre indivíduos, entre famílias, ou grupos. Não havia intervenção de nenhum
representante da autoridade. Tratava-se de uma reclamação feita por um indivíduo a
outro, só havendo intervenção destes dois personagens: aquele que se defende e
aquele que acusa. (FOUCAULT, 2003, p. 59-60)

A neutralização, em que a punição era focada em vingança e não em reparar os danos


causados à vítima ou restabelecimento do status quo anteriormente quebrado. Nesse sentido,
Alline Jorge (2002) preleciona que, nesta fase, a vingança deixou de ser privada e passou a ser
pública, tendo em vista o monopólio do Estado sobre a justiça, visto que para a aplicação do
direito penal eram utilizados os Tribunais de Inquisição, utilizando a tortura para obtenção da
verdade.
A terceira e última fase é a do redescobrimento, surgido no pós 2 ª Guerra Mundial,
em vista da macrovitimização que atingiu os grupos mais vulneráveis, os limites da
normalidade no maior genocídio de que se tem conhecimento e aos movimentos de defesa dos
Direitos Humanos (PIEDADE JÚNIOR, 1993, P.27).
Luís Rodríguez Manzanera (1981, p. 72-73) aduz que o estudo científico da vítima não
se exaure tão somente como sujeito passivo do crime, atendendo ainda outras pessoas que são
afetadas e a outros campos não delituosos. À vista disso, conclui-se que a Vitimologia atende
todo indivíduo que seja vítima de qualquer violação de direito ou dos reflexos destas, e não
somente aquelas vítimas de um delito, bem como não abrange somente aspectos
criminológicos, mas também aspectos sociais, psíquicos, biológicos e protetivos.
Vislumbra-se a magnitude que possui o movimento vitimológico, e, por conseguinte, a
importância do estudo da vítima na atualidade, em face ao papel da ciência jurídica nas novas
demandas sociais.
A vitimodogmática significa, em tese, o olhar dogmático do comportamento da vítima
para a ocorrência do crime, possuindo, entretanto, uma perspectiva distinta, eis que esta passa
a ser tratada tal como o réu: atribuindo-se a ela culpa para o surgimento do delito. Tem-se por
conseguinte, a projeção de reflexos em benefício do agente, no que concerne à qualificação da
pena, bem como na não caracterização do fato como delituoso.

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Defende-se, dessa forma, uma responsabilidade recíproca por parte da vítima e do
delinquente, atenuando o impacto da conduta do agente na sociedade.
Nos ensinamentos de Silva Zanchez (2001) há duas correntes na nessa teoria: a
primeira majoritária, na qual se entende que o comportamento da vítima deve ser analisado e
aplicado apenas na determinação da pena podendo, no máximo, atenuá-la. A segunda corrente
traz a ideia de que o comportamento da vítima é capaz de tirar a responsabilidade do autor do
crime, com base no princípio da autorresponsabilidade.
Em resumo, usa-se essa teoria para dar valor a conduta da vítima e assim atenuar, ou
até excluir, a responsabilidade do autor do crime, fato esse largamente criticado pela
criminologia feminista, porém utilizado com frequência no âmbito jurídico. Dar-se tal crítica
tendo por exemplificação o caso dos delitos sexuais, eis que sua aplicabilidade permite a
valoração ampla do comportamento da vítima, podendo configurar-se o que se entende por
comportamento de risco e consentimento para, por meio de juízos morais dissimulados de
dogmática, negar-se tutela a quem não age de acordo com os preceitos e padrões sociais,
mazelas sofridas pelas mulheres, inclusive no Direito.
A violência aflige mulheres de todas as regiões, classes sociais e etnias, sendo
entendida como um fenômeno estrutural, e não como um problema de ordem privada ou
individual. Ocorre que, hodiernamente, vê-se no Brasil um cenário com proporção epidêmica
da violência contra as mulheres, de modo que se não fosse tolerada social e culturalmente, não
seria sistêmica, como amplamente observado, sendo o machismo um elemento estruturante
das relações sociais. (ROBERTA VIEGAS E SILVA, et al, 2017).
A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher (1994), “Convenção de Belém do Pará”, define a violência contra a mulher como
“qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico,
sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada” (Capítulo I,
Artigo 1º).
O Brasil, enquanto Estado parte deste tratado, adota a mesma conceituação de
violência, tendo o seu texto força normativa no direito constitucional. A partir disso, fez-se
possível a promulgação das leis de proteção contra a violência, sendo a Lei Maria da Penha ou
a Lei n. 13.104 de 2015, uma das mais significativas mudanças no campo legislativo. E,
apesar de representar um grande passo na luta pelos direitos da mulher, não pode ser
visualizada como uma solução perfeita que erradicará sozinha a violência contra mulher
existente no país. (SANTIAGO e ALMEIDA, 2016).
19
Impende destacar assim a modalidade da violência institucional, que não consta
comumente na base de dados quantitativos, eis que passa despercebida perante o meio social,
pois a sociedade ainda naturaliza e reproduz diversas outras de violência para além dos
ataques físicos, e, ainda decorre de uma estrutura de dominação que estrategicamente
perpétua processos de dominação que estão enraizados na cultura das relações sociais.
Também por este prisma é o entendimento de Tarquette (2007, p. 95), que perfilha o
mesmo pensar:
Violência Institucional é aquela praticada, por ação e/ou omissão, nas instituições
prestadoras de serviços públicos tais como hospitais, postos de saúde, escolas,
delegacias, Judiciário, dentre outras. É perpetrada por agentes que deveriam garantir
uma atenção humanizada, preventiva e reparadora de danos. Na seara da violência
institucional, podemos encontrar desde a dimensão mais ampla, como a falta de
acesso aos serviços de saúde e a má qualidade dos serviços prestados, até mesmo
como expressões mais sutis, mas não menos violentas, tais como os abusos
cometidos em virtude das relações desiguais de poder entre profissional e usuário.
Uma forma, infelizmente, muito comum de violência institucional ocorre em função
de práticas discriminatórias, sendo as questões de gênero, raça, etnia, orientação
sexual e religião um terreno fértil para a ocorrência de tal violência. A eliminação da
violência institucional requer um grande esforço de todos nós, pois, em sua grande
maioria, acontece em nossas práticas cotidianas com a população usuária dos
serviços.

Denota-se, dessa maneira, que ao negar uma proteção igualitária às mulheres,


conforme invoca a legislação, sendo conivente, negligente ou omissivo, o Estado passa a ser
também autor de violações dos direitos das mulheres, como uma prática perpetuadora das
relações sociais assimétricas. (SILVA, 2021).
Evidencia-se que é uma espécie de violência que fere princípios primordiais que
regem o ordenamento jurídico, tais quais o da fraternidade e a dignidade da pessoa humana.
Faz com que a mulher, sendo a vítima no processo investigatório e/ou judicial, já tendo
passado uma série de problemas relacionado a agressão, inferiorização e machismos, passe a
ocupar a posição de acusado, em um ambiente que em vez de acolher, julga, condena e
revitimiza.
Concernente às formas de vitimização, é de todo oportuno trazer à baila o
entendimento de Letícia Ferreira e Gabriela Ferreira:
Pode-se destacar três formas de vitimização; aquela gerada pelo sofrimento, ao qual
a vítima de crime sexual é submetida. Trata-se da primeira vitimização, chamada de
primária, realizada pelo próprio agente delituoso; em seguida, a vitimização
secundária, exercida por agentes estatais e ou agentes públicos, os quais estão
representando o Estado ao recepcionar a vítima e, por fim, a chamada vitimização
terciária, em que a vítima acaba por sofrer mais uma vez, por atuação da sociedade e
do meio social em que tal vítima está inserida. (FERREIRA e FERREIRA, 2021, p.
367).

20
Consoante ao explanado, é importante ressaltar que a vitimização secundária, também
conhecida como sobrevitimização, decorre das relações da vítima com o sistema jurídico
penal e com o aparato repressivo do Estado, pode resultar de uma negação total dos direitos
humanos às vítimas, da conduta intrusiva ou inadequada dos profissionais do sistema de
justiça criminal (inquérito policial e processo penal. Em vista disso, constata-se que a
vitimização secundária conduz a consequências sociais e criminológicas que são as
denominadas cifras ocultas da criminalidade.
Nesse giro, vê-se a presença de marcas psicológicas, não físicas, e a mulher em
situação de vulnerabilidade revive a dor e a violência causada pelo seu agressor, ante a
sensação de julgamento e impunidade, a frustração diante do labirinto judicial, o que
reiteradamente levam as vítimas a não denunciarem o criminoso. Além disso, evidencia o
desvio de finalidade das formas de controle social, e consequente perda de credibilidade da
máquina judicial, que deveria ser a principal responsável por evitar a vitimização, acontece
assim, ao mal irreparável do crime pode suceder o mal também irreparável, de um mau
processo. (OLIVEIRA, 1999)
Noutro giro, ainda no entendimento de Ana Sofia Schmidt (1999), a vitimização
terciária é aquela resultante do desamparo dos órgãos de assistência pública e da ausência de
receptividade social em relação à vítima. Dá-se a esfera social, perpetrada pelas pessoas do
convívio social da vítima, com a sua consequente culpabilização, eis que a sociedade também
estigmatiza o indivíduo que sofre as consequências do ato delituoso. Assim, é o resultado do
processo de estigmatização decorrente da vitimização primária e secundária.
Tem-se por exemplificação da vitimização terciária, a objetificação, a exclusão social
oriunda da violência sexual. Além de sofrer o estupro, após o ato, a mulher é excluída do seio
da sociedade, não sendo considerada como digna de respeito, sendo que a moral feminina,
permanece, ainda nos dias atuais, relacionada à sua sexualidade. (SALIBA, KAZMIERCZAK
e SANTIAGO, 2018).

4. A (RE)VITIMIZAÇÃO DE MARIANA FERRER: O QUE A LEI MARIANA


FERRER COMUNICA

Pormenorizados os aportes teóricos primordiais no tópico anterior, adentrar-se-á na


análise do caso Mariana Ferrer, com objetivo de averiguar os argumentos patriarcais e

21
estereotipados utilizados pelos autores da Justiça nesse emblemático caso, discutindo a
configuração da vitimização secundária que o tornou notório e analisando a imediata reação
popular e das instâncias governamentais a tal fenômeno.
Ademais, ver-se-á discussão a respeito do Projeto de Lei n. 5096/2020, posteriormente
sancionado na Lei n. 14.245/2021, analisando-se ainda como essa procura recepcionar as
demandas históricas dos movimentos feministas em relação à vitimização secundária
dominante.
O caso Mariana Ferrer Borges tomou os holofotes das mídias sociais, onde os sentidos
predominantes tiveram fortes influências midiáticas. A circulação dos acontecimentos
desencadeou na mobilização do público, majoritariamente feminino, como uma rede de apoio
em defesa da jovem e em prol de justiça pela violência sofrida. (DE MEDEIROS e SUPTITZ,
s.d, p. 01-04).
Tal vitimização teve início com indiciamento por estupro de vulnerável, e concluiu-se
na sentença absolutória do condenado. Mariana, que trabalhava como influencer, registrou
boletim de ocorrência relatando ter sido vítima de violência sexual após ter sido drogada, fato
ocorrido no Café De La Musique, na cidade de Florianópolis/Santa Catarina, no dia 15 de
dezembro de 2018. Tão somente em julho de 2019, José de Camargo Aranha tornou-se réu
sob a imputação do art. 217-A, §1º do Código Penal1, no processo tombado sob o nº 0004733-
33.2019.8.24.0023.
Desde a denúncia a influencer usou suas redes sociais para divulgar sua história,
realizando críticas à atuação da Polícia Civil em seu processo, relatando: "o estrago foi
grande, físico e emocional. Danos psicológicos que infelizmente só quem também é a vítima
pode mensurar". Relata a jovem que a instituição estaria empenhada na proteção de André
Aranha, por se tratar de alguém com alto poder aquisitivo e forte influência social. Ademais,
dispõe que seu processo estava deliberadamente malconduzido, com a manipulação de
depoimentos. (ALMEIDA, 2022)
De toda forma, em setembro de 2020, o processo que julgava André Aranha pelo
crime de estupro de vulnerável chegou ao fim, tendo o empresário sido absolvido de todas as

1
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa,
não pode oferecer resistência.

22
acusações por falta de provas, com fulcro no princípio do processo penal “in dubio pro réu”,
pelo juiz da 3ª Vara Criminal de Florianópolis.
O processo obteve grande notoriedade após a divulgação da audiência de instrução e
julgamento, realizada no dia 27 de junho de 2020, pelo portal de notícias The Intercept Brasil,
em que se viam cenas nas quais atores jurídicos presentes, todos homens, juiz, promotor de
justiça de Defensor público, permaneceram inertes e omissos ante aos graves ataques do
advogado de defesa do réu, Cláudio Gastão da Rosa Filho, à vítima durante seu depoimento.
Durante a audiência, que causou revolta na comunidade jurídica, Mariana foi
submetida a sibilas modernas, as acusações de promiscuidade, a questionamentos quanto a
sua integridade moral, e humilhação diante das fotos em suas redes sociais, onde o advogado
as denominou com “poses ginecológicas”, julgando seu comportamento e caráter perante a
sociedade (ALMEIDA, 2022, p. 42). O advogado, ao provocar o choro da vítima, a ofendeu
novamente, como é notória na transcrição das suas falas:
Mariana, vamos ser sinceros, fala a verdade. Tu trabalhavas no café, perdeu o
emprego, estava com o aluguel atrasado a 7 meses, era uma desconhecida. Vive
disso. Isso é seu ganha pão né Mariana? A verdade é essa, não é? É seu ganha pão a
desgraça dos outros. Manipular essa história de virgem. […] Só para mostrar essa
última foto que ela mandou, o Defensor Público juntar, que ela diz que foi
manipulada. Essa foto aqui foi extraída de um site de um fotógrafo, onde a única
foto chupando dedinho é essa aqui e com posições ginecológicas é só a dela. […]
Por quê você apagou essa foto, então? Essa foto não tem nada demais? Mas porque
você apaga essas fotos, Mariana? E só aparece essa sua carinha chorando. Só falta
uma auréola na cabeça. Não adianta vir com esse teu choro dissimulado, falso, e essa
lágrima de crocodilo. (ESTADÃO, 2020).

Diante disso, durante a violência de gênero praticada, a jovem suplicou por respeito ao
magistrado:
Mas eu estou de roupa, não tem nada demais mesmo. A pessoa que é virgem, ela
não é freira não, doutor. A gente está no ano de 2020. […] Meu Deus! Eu gostaria
de respeito, doutor, excelentíssimo, eu estou implorando por respeito no mínimo.
Nem os acusados, nem os assassinos são tratados da forma que eu estou sendo
tratada, pelo amor de Deus gente. O que é isso? (ESTADÃO, 2020).

Ora, o advogado criminalista para ter sucesso em sua tese defensiva não deve utilizar
de uma linha argumentativa com constantes ataques a vítima, como tentar culpabilizá-la por
adotar, segundo ele, “atitudes incompatíveis com uma verdadeira vítima de estupro”. Para
Brunna Santiago (2018), não há atitude que possa ser praticada pela vítima para justificar uma
violência sexual, sendo irrelevante a forma como estava vestida, como costuma se comportar
e de que forma se relacionava com seus parceiros.

23
Afere-se, neste diapasão, que não somente o advogado da defesa, mas todos os atores
da Justiça, presentes na audiência, atuaram de forma parcial e omissiva. O presente caso
comunica o julgamento moral da vítima que prevalece no Sistema de Justiça Penal, buscando
então a “vítima ideal” e o “depoimento ideal” (LÁZARO, 2022).
Também por esse prisma é o entendimento Kenny Oliveira e Jade Ventura Giordano:
A instrução em plenário no processo de apuração do crime de estupro, se revela, no
caso concreto, uma verdadeira tortura psicológica à vítima. Isto porque umas das
estratégias de defesa mais usuais é a desqualificação da ofendida, trazendo fatos
ofensivos, alheios ao processo, que buscam demonstrar que de alguma forma a
vítima mereceu ou provocou a violência. Invertendo assim, os papéis de ofensor e
ofendido. (OLIVEIRA E GIORDANO, 2021, p. 10).

Ademais, além da apresentada violência institucional contra a vítima, o caso também


ganhou repercussão por ter sido o réu foi absolvido e ao noticiar todo este imbróglio, o portal
The Intercept Brasil rotulou a decisão judicial como “estupro culposo”. Neste diapasão,
preleciona Mayara Vieira Dias:
Importante esclarecer, então, que o réu não foi absolvido por estupro culposo. Na
verdade, o Ministério Público entendeu que não havia provas suficientes de que ele
teria como saber que ela não poderia naquele momento responder por seus atos. Ou
seja, ele não teve como perceber que ela estava bêbada ou drogada ao ponto de estar
incapacitada de responder se queria ou não o sexo. O juiz entendeu, por isso, que o
réu agiu com culpa e não dolo. E por não haver modalidade de culpa no crime de
estupro, não poderia condená-lo. Ou seja, como não há estupro culposo, não há
punição. Até aí é uma tese, esdrúxula, injusta, mas é uma tese. (DIAS, 2020, p. 42).

Submeter a vítima a um interrogatório, tal qual como se fosse ré, questionando sua
honra e moral, trazendo à tona aspectos privados de sua intimidade, coloca-se em subjugo o
princípio da dignidade da pessoa humana, arriscando toda a perspectiva do Estado
Democrático de Direito. Isto pois, os órgãos que compõem o sistema penal devem se abster da
prática de qualquer ato que possua como objetivo desmoralizar a vítima ou sua dignidade.
(ALMEIDA, 2022).
Ressumará claro ao fim que, o caso de Mariana Ferrer tornou-se simbólico ante a
inconfundível vitimização secundária sofrida pela jovem. Revelou-se o submundo das
audiências de instrução e julgamento na área penal e a inversão de valores e a culpabilização
da vítima, que se socorre ao poder judiciário para buscar justiça e acolhimento e justiça pela
violência sofrida termina sendo vítima de tortura psicológica com a anuência daquele que foi
legitimado pela sociedade para propiciar a justiça e fomentar os Direitos Humanos. Nos
dizeres de Saliba, Kazmierczak e Santiago (2018, p. 483): “entende-se que o Sistema Penal é

24
estruturado de forma a punir o elo mais fraco, a parte mais vulnerável, sendo, portanto,
seletivo”.
É indiscutível que, no Brasil, a positivação das leis de proteção às mulheres advém de
grandes lutas organizadas e do combate à violência e opressões sofridas pelas mulheres
brasileiras. Assim, para Oliveira e Giorddano (2021, p. 8), o direito das mulheres prescinde de
uma violência de gênero e a luta “é uma força viva, de busca e esperança de conquistas de
espaço e de mundo mais justo”, sendo a cultura da homenagem um traço marcante na
construção da legislação feminista. (ALMEIDA, 2022, p. 41)
Dado o impacto social da vitimização secundária sofrida por Mariana Ferrer durante a
instrução criminal, dois dias após a divulgação das imagens da audiência, com vistas a
amenizar os casos atentatórios à dignidade da vítima e de testemunhas, foi proposto pela
deputada Lídice de Mata (PSB), o Projeto de Lei n. 5096, de 2020, que altera a Lei n. 3.689
(Código de Processo Penal Brasileiro), para dispor sobre o tratamento digno da ofendida na
audiência de instrução e julgamento nos casos de crimes contra a dignidade sexual.
O projeto foi sancionado em novembro de 2021, e transformado na Lei n. 14.245/21,
intitulada “Lei Mariana Ferrer” (SENADO FEDERAL, 2020), e por conseguinte, trouxe
alterações ao Código Penal (Decreto-Lei n. 2.848/1940), ao Código de Processo Penal
(Decreto-Lei n. 3.689/1941) e à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais (Lei n.
9.099/1995).
A respectiva lei incluiu o parágrafo único do art. 344 do Código Penal, ao crime de
coação no curso do processo, o aumento da pena quando envolver crime contra a dignidade
sexual, cuja redação é: “Parágrafo único. A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até a metade se
o processo envolver crime contra a dignidade sexual”. Ainda, acresceu os artigos 400-A 2e
474-A 3ao Código de Processo Penal e incluiu ao artigo 81 da Lei n. 9.099/95 o § 1º-A4,

2
Art. 400-A. Na audiência de instrução e julgamento, e, em especial, nas que apurem crimes contra a dignidade
sexual, todas as partes e demais sujeitos processuais presentes no ato deverão zelar pela integridade física e
psicológica da vítima, sob pena de responsabilização civil, penal e administrativa, cabendo ao juiz garantir o
cumprimento do disposto neste artigo, vedadas:
I - a manifestação sobre circunstâncias ou elementos alheios aos fatos objeto de apuração nos autos;
II - a utilização de linguagem, de informações ou de material que ofendam a dignidade da vítima ou de
testemunhas.
3
Art. 474-A. Durante a instrução em plenário, todas as partes e demais sujeitos processuais presentes no ato
deverão respeitar a dignidade da vítima, sob pena de responsabilização civil, penal e administrativa, cabendo ao
juiz presidente garantir o cumprimento do disposto neste artigo, vedadas:
I - a manifestação sobre circunstâncias ou elementos alheios aos fatos objeto de apuração nos autos;
II - a utilização de linguagem, de informações ou de material que ofendam a dignidade da vítima ou de
testemunhas.

25
regulamentando os tipos de responsabilizações nas searas cível, penal e administrativa, que
são passíveis de aplicação às partes e aos sujeitos processuais, caso não se observe o zelo no
que se refere à integridade física e psicológica da vítima, recaindo sob o magistrado o
compromisso por garantir seu devido cumprimento. (BRASIL, 2021).
Esta lei, que teve uma recepção positiva, foi considerada pela mídia como uma
conquista às vítimas de violência sexual, eis que se configura um avanço na garantia dos seus
direitos, como um importante instrumento na luta pelo respeito ao direito de denúncia.
Mesmo que tardio, revela-se como um avanço no debate político no que concerne ao
machismo no sistema jurídico e as consequências da cultura do estupro, levando em conta que
os agressores, além dos diretamente acusados, são as instituições públicas que perpetuam tais
violências. (GÓIS, 2021).
A presente lei comunica, sobretudo, a falta de preparação do Poder Judiciário para
acolher e proteger mulheres vítimas de violência sexual, que o sistema estatal tem
(re)produzido os estereótipos de gênero, revitimizado durante todo o percurso e a colocando
na esfera do “banco dos réus”, para que somente depois de minunciosamente verificada, se
será uma vítima genuína e, assim, ser tratada como digna dos aparatos de proteção estatal.
Ao conferir às vítimas de violência sexual um tratamento adequado durante a
persecução penal, o Poder Legislativo respondeu a um emblemático caso face à indignação
feminista, com o intuito de gerar uma segurança para as vítimas que acionarem o Sistema de
Justiça Penal, isto pois, em uma decorrente situação de desrespeito, há um respaldo legal para
responsabilização dos agentes. (OLIVEIRA; GIORDANO, 2021).
É mister salientar ainda as críticas doutrinárias à lei em comento, questionando: a Lei
Mariana Ferrer de fato pode resgatar a vítima do banco dos réus, poupando-lhe do lugar
estereotipado de julgamento?
Ora, nos dizeres de Amanda de Souza (2020), é necessário considerar sua real
efetividade prática. Isto pois, para validar o enfrentamento da violência de gênero praticada
pelos atores do Sistema de Justiça Penal, é necessário leis previsivelmente eficazes. Ademais,

4
Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à acusação, após o que o Juiz
receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de
acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se imediatamente aos debates orais
e à prolação da sentença.
§ 1º-A. Durante a audiência, todas as partes e demais sujeitos processuais presentes no ato deverão respeitar a
dignidade da vítima, sob pena de responsabilização civil, penal e administrativa, cabendo ao juiz garantir o
cumprimento do disposto neste artigo, vedadas:

26
o clamor público fomenta um recrudescimento penal como solução para a gravidade do delito,
no presente caso, o crime de estupro. Todavia, não é o aumento de penas que representa uma
saída eficaz na diminuição da criminalidade (SANTIAGO, 2018, p. 94).
Em relação a violência secundária de vítimas de violência sexual, salienta-se que não
são reconhecidas entre as demandas históricas feministas exigências que se pautem pelo
endurecimento de penas, bem como a promoção do aumento de punibilidade, isto pois as
teóricas feministas dispõem acerca da necessidade de reeducação de agentes do sistema de
justiça penal, bem como medidas que visem atingir as verdadeiras raízes da problemática da
revitimização (PEIXOTO, NOBRE, 2015). A corroborar o exposto acima, insta transcrever o
entendimento de Maíra Fernandes, que preleciona:
Aumentar pena não é solução para acabar com crime, nunca foi e nunca será.
Estupro já tem uma das maiores penas no Código Penal, e mesmo assim é um crime
que acontece aos montes. Na verdade, a única forma de resolver esse problema é
mudar a mentalidade dos homens através da educação, para que, efetivamente, não
cometam mais estupros. Só através da educação, da discussão sobre feminismo e
gênero nas escolas, universidades e em todos os locais, que vamos conseguir evitar
os estupros (FERNANDES, 2016).

Analisada sob tais lentes, a Lei Mariana Ferrer, ao aumentar penas, não recepcionou
efetivamente as reivindicações feministas. Eis que a luta contra a recorrente vitimização
secundária as vítimas de estupro por meio da utilização de uma lei penal, torna-se uma
medida insuficiente desde sua concepção, porquanto o próprio sistema de justiça penal
promove a vitimização secundária de tais mulheres. Deve ser considerado, sobretudo, a
verdadeira raiz da revitimização.

CONCLUSÃO

Destarte, vislumbra-se que a conquista dos Direitos das Mulheres é, e sempre foi
precedida de muitas lutas. O período histórico aqui delineado fora marcado por uma intensa
participação dos movimentos feministas no enfrentamento à violência contra as mulheres no
Brasil. Assim, apesar de formalmente existir a igualdade de direitos como um princípio
constitucional, materialmente essa igualdade não é concretizada, ante os casos nos quais o
acesso à justiça se dá de forma desigual para as mulheres, que tantas vezes têm seus discursos
descredibilizados em razão do gênero. Entendeu-se que uma sociedade fundada pelos pilares

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patriarcais culpabiliza a mulher, sobretudo não condiz com o estereótipo esperado de figura
feminina, e, por conseguinte, dado comportamento reflete no sistema jurídico.
Neste viés, o presente artigo, em suma, buscou analisar a submissão da vítima a um
processo penal invasivo e violento, com base nas premissas vitimológicas, decorrente da
violência institucional, a qual resulta na revitimização, à luz do caso Mariana Ferrer. Esta, ao
acionar o Sistema de Justiça Penal para denunciar o crime de estupro de vulnerável,
presenciou uma audiência de instrução marcada pela omissão por parte dos agentes públicos
diante de questionamentos repetitivos e invasivos, com intuito de defesa através da
desqualificação da vítima. Uma atecnia por parte dos atores da Justiça presentes no ato, que
não configura um caso isolado e atípico no Judiciário brasileiro, e sim presente em toda práxis
jurídica regida pelo sistema patriarcal.
Por conseguinte, a vítima “senta-se no banco dos réus” justamente pela construção e
projeção de estereótipos de gênero, que modelam uma práxis criminal, excluindo e oprimindo
mulheres. Isto posto, a narrativa da vítima só possui valor probatório ao apresentar
características que delimitam a sua confiabilidade. De logo, passa a não ser compreendida
simplesmente como cidadã que suportou os efeitos de um fato criminoso, mas sim como
personagem representativo, cuja experiência é considerada coletiva e comum e não atípica e
individual.
Diante das questões que orientaram a presente pesquisa, pode-se afirmar que a
vitimização secundária possui um maior relevo para os estudos da culpabilização da vítima,
visto que se trata da violência institucional praticada pelas autoridades, tendo como
consequências as cifras ocultas da criminalidade, o resultado da diferença entre a quantidade
de delitos cometidos e os que são levados ao conhecimento das autoridades, frequentemente
denunciado pela Criminologia Crítica Feminista. A aplicação da vitimodogmática, por sua
vez, legitima a omissão estatal na tutela dos bens jurídicos dos indivíduos, além de incentivar
a vitimização secundária e terciária.
E isto pode ser justificado pela presença do patriarcado e do machismo na cultura
social, estruturando, legitimando e reproduzindo toda hostilidade pela qual as mulheres são
submetidas. É inadmissível que os agentes jurídicos perpetuem violações aos direitos dessas
vítimas ao duvidar do seu estado de vulnerabilidade, deslocando para julgamentos os atos que
antecedem ao crime. Portanto, vislumbra-se que sempre foi mais simples culpabilizar a vítima
ao invés de buscar as motivações que levaram o homem a violar a Dignidade Humana da
mulher no seu plano mais íntimo.
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A culpabilização da vítima é um tema a ser discutido diante da dogmática jurídica,
com o intuito de conceder uma maior proteção às mulheres e evitar a propagação de um
discurso machista e a violência de gênero. Isto posto, a imprescindível luta para positivar
direitos inerentes à proteção da mulher vítima de sistemas que a oprimam pelo simples fato de
ser quem se é, não cessa com a simples promulgação de lei, como a que leva o nome de
Mariana Ferrer. É necessário que além de integrar o ordenamento jurídico, sirva de apoio para
que mais vítimas de violência sexual tenham a confiança de se socorrerem ao Poder Judiciário
com a certeza de que serão cuidadas e acolhidas, e não ofendidas e culpabilizadas.
Diante da criação e apresentação do Projeto de Lei n. 5.096/2020, e sua posterior
consolidação na Lei n. 14.245/2021 (Lei Mariana Ferrer), torna-se inegável a importância dos
movimentos feministas sob as instâncias estatais, indispensáveis para que fossem criadas
medidas de luta efetiva contra a problemática da vitimização secundária de vítimas de
violência sexual.
À vista disso, a legislação n. 14.245/21 está em conformidade com as convenções
internacionais citadas, como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)-
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra A Mulher, bem
como a Resolução 40/34 da ONU (Declaração dos Princípios Fundamentais de Justiça
Relativos às Vítimas), com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e a
Constituição Federal de 1988. Isto pois, a referida legislação efetiva a proteção aos direitos
humanos, corrige omissões estatais que propiciam desigualdades de gênero e promovem a
revitimização de já vítimas de crimes sexuais.
Embora exista um árduo e longo caminho entre a letra da lei e a sua efetivação prática,
é imperioso prezar pela capacitação dos agentes públicos atuantes em situações que envolvam
vítimas de violência, para que saibam a gravidade da revitimização na vida das ofendidas, e
por conseguinte, efetuem atendimentos que prezem pela integridade psíquica e moral. Dessa
forma, a lei Mariana Ferrer agirá além de mero simbolismo penal, sendo um marco
regulatório de ações eficazes em prol das vítimas.

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