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Eclesiastes

Capítulo 8
Introdução
• Não existe utilidade na revolta ; a verdadeira sabedoria aconselha obediência aos
poderes instalados e submissão aos desígnios da Providência. Contudo, os tiranos
podem estar certos de que uma retribuição adequada os aguarda.
• O Pregador é atormentado neste capítulo por aparentes anomalias no governo moral
de Deus. Ele nota uma certa prosperidade do ímpio e miséria do justo. A aparente
indiferença de Deus e a impunidade dos pecadores levam os homens a duvidar da
eficácia da Providência; no entanto, tal não é verdade, e o Julgamento derradeiro
aproxima-se. Entretanto - e retornando à sua velha máxima -, Eclesiastes aconselha a
aproveitar as coisas tal como são, usufruindo dos melhores aspectos da existência.
• A sabedoria humana é incapaz de explicar o curso do governo divino; a morte espera a
todos, sem excepção. Tais considerações conduzem à já mencionada conclusão de que
o homem deve aproveitar a vida da melhor maneira que for possível.
Eclesiastes 8: 1-9
Não existe utilidade na revolta.
Os perigosos caprichos de um rei.
Do que a sabedoria pode
livrar um sábio?
A sabedoria tem o poder de
manter longe de problemas o seu
possuidor.

A discrição é, então, o aspecto principal da


sabedoria em algumas situações.
1 Quem é como o sábio? E quem sabe a interpretação das coisas?

• Você
se lembra de algum sábio, na bíblia,
que tenha dado conselhos a um
governante?
• 2Sm 16:20-17:14
Também temos José diante de faraó e Daniel diante dos reis da Babilônia
1 Quem é como o sábio? E quem sabe a interpretação das coisas? A
sabedoria do homem faz reluzir o seu rosto, e muda-se a dureza da sua face.

•O pregador deseja exprimir a ideia de que


ninguém é comparável em valor a um homem
"sábio". Depois de preencher o coração, a
sabedoria espalha-se pelo aspecto geral da
pessoa, conquistando a confiança e a estima
dos demais.
2 Eu te digo: observa o mandamento do rei, e isso por causa do teu
juramento feito a Deus.

• Os perigosos caprichos de um rei devem ser


levados em conta. Neste caso, a sabedoria tem
de recolher suas asas e assumir uma forma
discreta, contentando-se em poder manter
longe de problemas o seu possuidor.
Um pouco de cautela não faz mal a ninguém.
2 Eu te digo: observa o mandamento do rei, e isso por causa do teu
juramento feito a Deus.
• Excetuando situações que desafiem a consciência pessoal,
os indivíduos devem submeter-se ao poder vigente,
mesmo que tal não seja propriamente agradável. O aviso
implica que o autor estivesse vivendo sob um governo
monárquico, o que o levou a considerar a obediência
como uma demonstração de moral e sensatez.
• O apóstolo Paulo viria a exprimir o mesmo pensamento
em Romanos 13:1,3-5.
3 Não te apresses em deixar a presença dele, nem te obstines em coisa má,
porque ele faz o que bem entende.
• Segue-se um novo conselho quanto ao comportamento
político. Não é recomendável que alguém se desvincule do
serviço ao rei. As nações não devem partir para atos
revolucionários sem profunda reflexão, e o mesmo acontece
quanto aos encarregados e governadores que receberam o
seu cargo do chefe máximo de um reino. Não é aconselhável,
portanto, envolver-se num "mau negócio" (como uma
conspiração), pois isso poderia significar perder para sempre
a confiança e estima do monarca.
3 Não te apresses em deixar a presença dele, nem te obstines em coisa má,
porque ele faz o que bem entende.

•O sábio usa sua capacidade de discernimento para


avaliar uma situação perigosa (Pv 22.3.)
• Talvez seja necessário avaliar com cautela um
pedido de renúncia diante de um Rei.
4 Porque a palavra do rei tem autoridade suprema; e quem lhe dirá: Que
fazes?

•Orei faz tudo o que deseja devido ao


poder total que lhe confere o seu
mandato, e deve ser obedecido.
5 Quem guarda o mandamento não experimenta nenhum mal; e o coração
do sábio conhece o tempo e o modo.

•A obediência ao rei é incentivada aqui. Mas existem


situações em que a razão e a consciência têm de
falar mais alto do que os governos humanos.
Contudo, a dose certa de submissão aos poderes
instalados pode realmente assegurar uma vida
segura e feliz. (...)
• Existem situações em que a razão e a consciência têm de falar mais alto do
que os governos humanos.

• Você lembra de algum sábio, na bíblia,


que teve de se posicionar contra a
palavra do rei, por causa de sua fé?
5 Quem guarda o mandamento não experimenta nenhum mal; e o coração
do sábio conhece o tempo e o modo.

• O homem sábio aguardará o tempo de Deus para o juízo


(ou julgamento) e não tomará a situação em suas próprias
mãos com rebeldia.
• O "coração" inclui as faculdades morais e intelectuais. A
máxima diz que o homem sábio suporta a opressão e se
mantém tranquilo mesmo nos dias mais negros, já que
acredita piamente que existirá num futuro um Julgamento
em que o mal será punido.
6 Porque para todo propósito há tempo e modo; porquanto é grande o mal
que pesa sobre o homem.
• O “tempo e modo” (vv 5,6) - O sábio aprende a reconhecer a verdade
e o momento da verdade que pode ser aproveitado ou deixado de
lado.
• Aqui começa uma série de argumentos que visam provar a sabedoria
existente em manter a calma mesmo debaixo de opressão ou de
domínios tiranos. Um dia, a opressão será finalmente derrubada, e
dar-se-á um Julgamento Supremo. Percebendo isto, o indivíduo
compreende que é melhor para si ser favorável ao domínio do seu rei
do que perder-se pelos caminhos tortuosos da insurreição.
7 Porque este não sabe o que há de suceder; e, como há de ser, ninguém há
que lho declare.

• Provavelmente,o sujeito deste versículo é


o governante tirano. Este não pode prever
o futuro, e cegamente prossegue na sua
iniquidade, impotente quanto a tomar
precauções contra o seu inevitável destino.
8 Não há nenhum homem que tenha domínio sobre o vento para o reter;
nem tampouco tem ele poder sobre o dia da morte; nem há tréguas nesta
peleja; nem tampouco a perversidade livrará aquele que a ela se entrega.

• Existem males dos quais os humanos podem ser protegidos através


de grandes fortunas, estatuto ou habilidades; contudo, a morte
simplesmente não encaixa neste conjunto. Nenhum homem pode
escapar-lhe. Assim, constata-se a necessidade de não deixar que a
morte nos confronte com algum dever importante incompleto. Cabe
a cada pessoa dedicar-se apaixonadamente à obra que Deus decretou
para si, sabendo que não disporá da eternidade para a cumprir.
9 ¶ Eu vi tudo isso quando pensei nas coisas que acontecem neste mundo.
Houve um tempo em que alguns tinham o poder, e outros sofriam,
dominados por eles.

•O Pregador ganhou experiência de vida ao


atentar nas ações de outras pessoas. Ele
percebeu que os governos humanos têm
provocado muito sofrimento nas diversas
civilizações.
Eclesiastes 8: 10-13
A Perversidade Moral
10 Eu vi o enterro de pessoas más. Na volta do cemitério, notei que eram
elogiadas, e isso na mesma cidade onde haviam feito o mal. Isso também é
ilusão.

•Oautor nota certas exceções aparentes à lei retributiva de que já falara.


Os "ímpios" referidos são essencialmente tiranos. Estes são levados até
às sepulturas com grande pompa e respeito. O castigo merecido por uma
vida malvada não recai sobre eles; o Juízo Divino parece ter-se atrasado
na sua chegada, pelo menos no que à vida diz respeito, o que representa
um golpe severo para os que creem na Providência. Entretanto, os justos
atravessam grandes dificuldades e opressão. Após a morte, são
simplesmente esquecidos pelas gerações seguintes. (...)
10 Eu vi o enterro de pessoas más. Na volta do cemitério, notei que eram
elogiadas, e isso na mesma cidade onde haviam feito o mal. Isso também é
ilusão.

• Outroaspecto (desenvolvido
subsequentemente), porém digno de nota; as
circunstâncias externas de prosperidade ou
adversidade não são de suprema
importância. Uma vida justa, mesmo repleta
de adversidades, é preferível à maldade.
11 Por que será que as pessoas cometem crimes com tanta facilidade? É
porque os criminosos não são castigados logo.

• Paranós, parece por vezes que Deus se atrasa na


punição da culpa, já que só compreendemos uma ínfima
parte dos eventos que comanda; caso tivéssemos uma
perspectiva mais alargada, as anomalias notadas
certamente desapareceriam. Contudo, esta visão céptica
conduz a um grande mal - um enfraquecimento da fé no
governo moral de Deus. O "coração" é referido como
fonte primária dos pensamentos e ações.
12 Um criminoso pode cometer cem crimes e continuar a viver. Sim, eu sei
que dizem: “Se você temer a Deus, tudo lhe correrá bem;
• Contrariamente ao princípio da retribuição temporal, o
pecador costuma gozar de uma vida bastante longa.
Eclesiastes mantém, ainda assim, a convicção de que, no
momento certo, o governo moral de Deus se mostrará de
modo firme e singular. O conforto e paz providenciados por
uma consciência pura, bem como a certeza pessoal de ter
vivido de acordo com a vontade de Javé, compensam o
homem bom por qualquer contrariedade que tenha
atravessado.
13 mas não correrá bem para os maus. A vida deles passa como a sombra:
morrerão jovens porque não temem a Deus.”

•A fé de Eclesiastes prevalece mesmo perante


aparentes contradições. Anteriormente,
lêramos sobre um homem malvado que gozava
de uma vida isenta de contrariedades; aqui,
porém, é relatado a situação oposta. Existem,
afinal, muitas razões indiscerníveis para o
atraso do julgamento do Mal.
Eclesiastes 8: 14 e 15
Pequenas Expectativas
14 ¶ Mas isso não tem sentido. Vejam o que acontece no mundo: muitas
vezes os bons são castigados, e não os maus; e os maus são premiados, e
não os bons. É o que digo: isso também é ilusão (vaidade).

• Eclesiastes
regista um fato melancólico - muitas vezes, os "justos"
recebem um destino que mais conviria aos “maus" como castigo
dos seus crimes. Por outro lado, os malvados usufruem
frequentemente de prosperidade e sucesso - aspectos que, à
primeira vista, pareceriam exclusivamente destinados aos servos
de Deus. O autor retorna ao seu triste refrão de "vaidade", mas
essa expressão não conduz a desespero ou falta de fé.
15 Por isso, estou convencido de que devemos nos divertir porque o único
prazer que temos nesta vida é comer, beber e nos divertir. Podemos fazer
pelo menos isso enquanto trabalhamos durante a vida que Deus nos deu
neste mundo.
•Aperversidade cava a sua própria sepultura e a justiça, por assim dizer, o
seu próprio jardim, mas com muita frequência o padrão é invertido,
confundindo tudo; não há maneira certa de saber quando (ou por quê) a
vida vai desferir sobre nós o seu próximo golpe ou a sua próxima bênção.
Esforços morais talvez não paguem dividendos. Os prazeres simples da vida
são os mais sadios, mas Coelet jamais os valoriza demasiadamente. Coloca-
os sempre lado a lado com algum lembrete do lado duro da vida (aqui, o
seu trabalho), que os prazeres só podem amenizar.
Eclesiastes 8: 14 e 15
O enigma permanece
16 Todas as vezes que tentei me tornar sábio e entender o que acontece
neste mundo, compreendi que a gente pode ficar acordado dia e noite

• Eclesiastes
procurou adquirir sabedoria para poder investigar as ações
de Deus. Ele desejava compreender os afazeres humanos com
pormenor ("coisas que se passam sobre a terra"). O autor reparou na
atividade sem descanso e no trabalho não aliviado que acontece no
mundo, bem como na meditação incessante daqueles que pretendem
compreender os acontecimentos que circundam a vida humana. Neste
último caso, o Pregador talvez esteja relatando a sua própria
experiência.
17 e mesmo assim nunca será capaz de entender o que Deus faz. Por mais
que a gente se esforce, nunca entende. Os sábios podem dizer que
conseguem compreender, mas na verdade eles também não entendem.

•A limitada sabedoria humana não permite compreender


satisfatoriamente a "obra de Deus". Nota-se alguma
perturbação na mente do autor, antes tão preocupado
com a busca pela sabedoria. Ele é subjugado pelo peso
dos incompreensíveis julgamentos de Deus. Resta aos
homens submeterem-se de coração à majestade divina.

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