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Quando sinto que já sei

“Quando sinto que já sei” é um documentário realizado pela Despertar Filmes e


reproduzido no ano de 2014 que apresenta 10 alternativas não convencionais de ensino
no Brasil. O documentário nos faz emergir em uma reflexão sobre as diferentes
abordagens educacionais e suas respectivas conexões com as concepções trabalhadas na
disciplina de desenvolvimento e aprendizagem.
Á medida que exploramos as experiências vivenciadas nas redes de ensino, somos
instigados a questionar e repensar os métodos tradicionais, buscando outras maneiras
que incentivem o potencial e a individualidade de cada aluno.
Nesse mesmo contexto, Ferreira Gullar nos lembra que a educação deve ir além da mera
transmissão de conhecimento, ela deve abraçar a liberdade criativa e a valorização da
subjetividade. Como ele mesmo afirma: “A verdadeira educação consiste em pôr a
descoberto ou fazer atualizar o melhor de cada pessoa […] não se trata apenas de
ensinar, mas de dar condições para que se aprenda”.

Projeto Âncora (Brasil):


Localidade: Cotia, São Paulo.

Em sua abordagem educacional, o Projeto Âncora apresenta algumas relações com a


vertente histórico-cultural. Desenvolvida por Lev Vygotsky, ela destaca a importância
do contexto social e cultural na
formação do conhecimento e no desenvolvimento humano.
Um dos principais pontos de conexão entre o projeto e a vertente é a valorização da
linguagem e da interação como ferramentas essenciais para a construção do
conhecimento. Vygotsky destacava a importância da linguagem como forma de
mediação entre o indivíduo e o meio social. No Projeto Âncora, a interação entre
educadores e alunos, assim como entre os próprios alunos, é incentivada e valorizada
como meio de construção de significados e troca de conhecimentos.

O Projeto Âncora é um exemplo inspirador de uma abordagem educacional inovadora,


que transcende as divisões convencionais por séries ou idades. É um espaço de
aprendizagem livre, onde as crianças têm a liberdade de explorar seus interesses e
escolher suas próprias lições. O ambiente é aberto e os espaços são utilizados de forma
flexível, permitindo que as crianças aprendam em diferentes ambientes, inclusive ao ar
livre. É comum vermos as crianças fazendo suas tarefas no gramado, interagindo de
forma positiva com seus colegas, e desfrutando de momentos de lazer fora da sala de
aula tradicional.
Um dos aspectos marcantes é a forte integração com a comunidade. A escola valoriza o
diálogo com outras instâncias, reconhecendo que a educação não pode ser um processo
isolado. Leonardo Brant, pesquisador cultural, destaca a importância da escola se abrir
para o mundo e dialogar com diferentes realidades. Nessa perspectiva, a escola busca
romper com a tendência da sociedade de se manter em espaços fechados e isolados,
proporcionando um ambiente seguro, porém aberto à diversidade e à troca de
conhecimentos.
O papel do educador vai além da simples transmissão de conhecimentos. Os professores
são facilitadores do processo de aprendizagem, atentos às necessidades e interesses dos
alunos. Eles reinventam constantemente sua forma de ensinar, buscando incluir os
estudantes em sua linha de pensamento. A educação é entendida como algo que vai
além dos livros e da sala de aula. É uma invenção humana para transmitir o humano
entre as gerações. A sala de aula, nesse contexto, é apenas um dispositivo para essa
transmissão acontecer.
É indiscutível a relação de reciprocidade entre os educadores e os alunos. As crianças
têm a liberdade de compartilhar seus conhecimentos com os professores, trazendo
perspectivas únicas e enriquecedoras para o ambiente de aprendizagem. Em uma cena
memorável, um professor explica sobre os malefícios de determinados alimentos no
corpo humano, e uma aluna acrescenta, com sabedoria além de sua idade, que tudo que
se torna um vício faz mal a longo prazo, chegando a citar o vício do consumismo.
Em suma, o Projeto Âncora representa uma abordagem educacional que valoriza a
liberdade, a integração com a comunidade, a escuta ativa e o diálogo. 

Escola Livre Inkiri (Brasil):


Localidade: Itacaré, Bahia.

A Escola Livre Inkiri se alinha com a concepção subjetivista trabalhada em psicologia e


aprendizagem. Enfatiza a valorização da individualidade, a expressão autêntica e a
construção do conhecimento a partir das experiências pessoais das crianças. Durante o
documentário esses princípios se tornam evidentes.

É um projeto de educação infantil que busca promover a autonomia das crianças e


proporcionar um intenso contato com a natureza. Sua abordagem pedagógica é
caracterizada por uma educação não diretiva, onde a expressão individual é valorizada e
não é direcionada pela escola.
Acreditando que cada indivíduo traz consigo sua própria evolução e forma de evoluir, a
escola cria um ambiente protegido onde a criança pode expressar sua essência. A
Escola respeita a individualidade e a autonomia de cada aluno, como podemos observar
nas cenas em que as crianças brincam com fogo e manuseiam serrotes. Embora a escola
tenha regras e disciplina, esses limites não restringem a expressão e o desenvolvimento
dos estudantes.
No contexto da escola, as crianças aprendem não apenas a se expressar, mas também a
desenvolver o controle e a viver em harmonia e respeito. É notável a interação entre
crianças de idades variadas, de 1 a 13 anos, realizando atividades conjuntas. 
Essa convivência permite que os pequenos aprendam com seus pares e sejam desafiados
a ampliar suas habilidades e responsabilidades.
A liberdade vivenciada na Escola Livre Inkiri está intrinsecamente ligada ao
desenvolvimento do auto empoderamento. Acredita-se que a verdadeira liberdade não
existe sem que cada indivíduo tenha o poder de conduzir sua própria vida e expressão.
A criança é compreendida como um ser humano em pleno desenvolvimento, que já
possui sua identidade e merece ser respeitada como tal.
Em resumo, a Escola Livre INKIRI, por meio de sua abordagem não diretiva, busca
fomentar a autonomia e o respeito pela individualidade de cada criança. Com um
intenso contato com a natureza, integração com a comunidade e valorização da
expressão autêntica, a escola cria um espaço seguro e protetivo, onde os alunos podem
explorar e desenvolver suas potencialidades. Ao entender a criança como um ser
humano completo, a escola promove um ambiente de aprendizagem único, onde a
liberdade e o auto empoderamento são fundamentais para o crescimento e o
desenvolvimento integral dos estudantes.
Finalizando o roteiro, é evidente a importância de repensarmos os paradigmas
educacionais e insistirmos em abordagens inovadoras quem coloquem o aluno no centro
do processo de aprendizagem e que estimulem a singularidade de cada criança. As duas
escolas, cada uma a sua maneira, colocam em prática abordagens que resgatam a
alegria, a curiosidade, o interesse e a espontaneidade da infância. Elas não valorizam
apenas o conhecimento acadêmico, mas o conhecimento sobre si e sobre o mundo.
Reconhecem que ensino vai além das quatro paredes de uma sala de aula.

Escola é
... o lugar que se faz amigos.
Não se trata só de prédios, salas, quadros, Programas, horários, conceitos...
Escola é sobretudo, gente
Gente que trabalha, que estuda
Que alegra, se conhece, se estima.
O Diretor é gente,
O coordenador é gente, O professor é gente,
O aluno é gente,
Cada funcionário é gente.
E a escola será cada vez melhor
Na medida em que cada um se comporte
Como colega, amigo, irmão.
Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”
Nada de conviver com as pessoas e depois,
Descobrir que não tem amizade a ninguém.
Nada de ser como tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só.
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,
É também criar laços de amizade, É criar ambiente de camaradagem, É conviver, é se
“amarrar nela”!
Ora é lógico...
Numa escola assim vai ser fácil! Estudar, trabalhar, crescer,
Fazer amigos, educar-se, ser feliz.
É por aqui que podemos começar a melhorar o mundo.
(Paulo Freire).

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