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UFPE

CFCH
Ciências Social

Gabriela Vasconcelos Silva

Resgate histórico ao impacto político da Revolução Francesa na


transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea

Recife
2021

Gabriela Vasconcelos Silva

Resgate histórico ao impacto político da Revolução Francesa na


transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea

Artigo apresentado como requisito para aprovação


na disciplina História das Sociedades
Contemporâneas da Faculdade de Ciências Sociais
da UFPE, sob orientação do Prof. Severino Vicente.

Recife
Resgate histórico ao impacto político da Revolução Francesa na
transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea
Gabriela Vasconcelos Silva
gabriela.vasconceloss@ufpe.br

Resumo: Será exposto sobre a herança da França revolucionária e sua influência


em acontecimentos subsequentes, ao longo do texto serão apresentadas questões
ideológicas e reacionárias à Revolução. O conceito de direita e esquerda – que
surgiu em meados do movimento – também será um tópico. A ideia central é fazer
jus à importância de conhecer o passado para entender de onde vem muitas das
tendências atuais de política. Historicamente, a revolução tem caráter libertário e
essa ideia se propagou através dos anos e rompeu barreiras marítimas e
continentais.
Introdução

A Revolução Francesa foi um movimento que teve início oficial em 14 de julho


de 1789 e se estendeu até 1798, findada com o Golpe 18 de Brumário organizado
pelos Girondinos para que Napoleão Bonaparte tomasse o poder da França. Mas foi
na Assembleia Legislativa de 1791 à 1792 que os Girondinos e Jacobinos foram
associados pela primeira vez aos termos direita e esquerda, respectivamente, como
referência ao local que sentavam, os extremistas ficavam nas pontas e os
mediatários ficavam no centro.

1. Contextualização

O movimento foi executado por representantes do 3° estado francês, uma vez


que a França era dividida em estamentos, sendo eles: o primeiro, clero; o segundo,
nobreza; e o terceiro, povo. Este último representando mais de 90% de toda a
população. A principal indignação dos revolucionários se encontrava no fato que o
povo era o único grupo que contribuía com impostos, ou seja, sustentava toda
qualidade de vida da monarquia, dos religiosos e dos nobres.

Figura 1: Charge sem título, 1789.

Fonte: Autor desconhecido1

1 Legenda: "A faut esperer q'eu.s jeu la finira bentot". Tradução/português: "Você deve esperar que este
jogo acabe logo."
Enquanto enfrentava uma crise em seu território, o Rei Luís XVI convocou
uma Assembleia dos Estados Gerais onde a pauta seria resolver sobre os impostos
que sobrecarregavam a população. Esta formada pela burguesia alta e baixa,
lojistas, profissionais liberais, camponeses, ou seja: todos que não eram nobres ou
clérigos.

A reunião não foi favorável ao terceiro estado, e, por isso, os deputados


decidiram que iriam se reunir na sala de jogos (movimento que, mais tarde, ficou
conhecido como Assembleia Constituinte) e só sairiam de lá quando tivessem seus
direitos garantidos. Nota-se que, até esse momento, os reclamantes agiam como
grupo unificado lutando pela mesma causa.

2. Dentro da Revolução

Essa harmonia entre os revolucionários que levavam como lema igualdade,


liberdade e fraternidade perdurou-se até 1972, fase que ficou conhecida como a
mais radical da revolução, chamada de Convenção Nacional, também apelidada de
época do terror. Nesse período os jacobinos – defendem os interesses da baixa
burguesia – assumem o poder, apoiados pelos sans-culottes 2, acusando os
girondinos de defender o rei e de conspiração.

É importante perceber as nuances dessa tomada de poder: os jacobinos não


aceitavam que o rei fosse perdoado, tampouco que outros países invadissem a
França, e, foram considerados radicais pelas medidas extremas que tomaram para
defender seus ideais.

2.1 Separação ideológica

Nesse contexto tem-se que Jacobinos e Girondinos, apesar de estarem do


mesmo lado inicialmente não concordavam mais na forma de aplicação das ideias,
tampouco qual era o limite para defender o que acreditavam. A distância foi ficando
cada vez mais clara conforme a revolução avançava e os representantes da baixa
burguesia ganhavam mais espaço.

2 Nomenclatura designada para os trabalhadores, que usavam calças largas e retas, diferente dos
nobres que usavam roupas bufantes e com culotes.
A Revolução Francesa é considerada o marco de transição entre a Idade
Moderna3 e a Idade Contemporânea e influenciou movimentos ao redor de todo
mundo diretamente ou indiretamente, como a Inconfidência Mineira e a Conjuração
Baiana, ambos no Brasil. Mais do que um movimento político, foi uma revolução
ideológica muito expressiva, com expressões fundadas no iluminismo que a
antecedeu.

O levante francês segue e no período do terror, além de explicitar a


separação ideológica entre alta e baixa burguesia, observa-se também que os
Jacobinos ansiavam por exterminar os vestígios da monarquia e instaurar uma
República Revolucionária, nessa fase do terror o Rei Luís XVI e sua esposa a
Rainha Maria Antonieta foram punidos com a guilhotina por conspiração contra a
Revolução.

A partir desse ponto os conflitos entre os representantes da alta e da baixa


burguesia se tornam intensos e surge o Comitê de Salvação Nacional meses depois
das execuções, sob a liderança do grande Jacobino: Robespierre. O comitê que tem
a intenção de proteger e intervir contra os inimigos – nacionais e estrangeiros – é
considerado terrorista e mais de 40 mil pessoas morreram no intervalo que ele ficou
em vigor.

Com um ano de duração, encerra-se a ditadura jacobina em 1794 com a


morte daquele que era o “rosto” dessa fase da revolução. Robespierre morreu na
sua própria invenção – no sentido de ter popularizado o instrumento e forma de
execução – aquela que matou milhares, que executou os monarcas e puniu os
considerados por ele próprio corruptos: a guilhotina 4. Tem bastante significado que o
líder tão popular entre os radicais jacobinos, chamado “o incorruptível”, tenha
morrido da mesma forma que os traidores, tendo a sentença equiparada à do rei
traidor que fez acordos para invadir o próprio país tomado pela revolução e foi tão
repreendido pela Convenção vigente. Toda a narrativa da morte do Maximilien de
Robespierre tem muito significado sobre questões, tais como a hipocrisia dos

3 Inicia-se com o fim da idade média e segue até 1789, quando a Revolução Francesa é iniciada.
4 Criada por Joseph Guillotin, era um instrumento cortante que decepava a cabeça do condenado à
ela, este era amarrado e posto abaixo da lâmina afiada para que tivesse sua pena executada.
governantes e a falta de autoconsciência de líderes poderes sobre o peso de suas
palavras e ações.

Um período histórico não acaba de um ano para o outro, existem narrativas


anteriores e posteriores para que a Revolução Francesa seja considerada o marco
para o início da Idade Contemporânea. Tudo que a envolve tem um motivo, uma
explicação, mesmo que só seja possível contemplá-lo anos depois. Por muitos anos
ela foi romantizada, até em obras de arte e o resultado disso é que um movimento
que parou o crescimento populacional da França por anos foi celebrado.

Cabe dizer que o julgamento moral não é válido, mas – novamente – é


possível perceber o reflexo da Revolução Francesa na política atual no seguinte
aspecto: milhares de pessoas morreram, e, mesmo que fossem “culpadas” segundo
o código vigente, ainda sim são vidas interrompidas abruptamente. Mas é impossível
negar o impacto positivo – o bônus – da revolução: mudar vidas fadadas à
miserabilidade de mais da metade da população francesa sob tutela do Antigo
Regime.

3. Influências

O Iluminismo5 foi, com certeza, a corrente de pensamento que mais


influenciou os revolucionários. É possível observar na Revolução nuances
iluministas como a defesa da propriedade até a Declaração Universal dos Direitos do
Homem e o nacionalismo arraigado.

Seja bom ou ruim, não se pode negar a ascendência da Revolução sobre


acontecimentos tardios à ela, como: a vinda da Família Real para o Brasil, em 1808,
o que conhecemos hoje como direita e esquerda até sentimento forte de
nacionalismo. O primeiro só foi possível pois Napoleão Bonaparte ameaçou invadir
Portugal e a monarquia portuguesa se viu forçada a sair do seu lar e partir para o
“novo mundo” e, com isso, com isso, investiram mais na colônia fixando residência
ao criar bibliotecas, jardins, museus. Nesse ínterim, é possível dizer que a
Independência brasileira está intimamente ligada com a transformação ocorrida na
França. Ainda durante o Brasil Colônia é possível perceber movimentos que têm por
5Nomeado assim pela oposição às “trevas” da Idade Média, tinha por premissa a razão e os pensadores - em sua
maioria - iam contra a monarquia absolutista.
inspiração a Revolução Francesa como a Conjuração Baiana de 1798 que lutava
pela independência do Brasil e visava a liberdade, com caráter popular e com o
objetivo de melhorar a qualidade de vida da população que sofria com os altos
impostos, tal qual o terceiro estado francês antes de 1789.

Tendências ideológicas ou maneiras de se pensar política também fazem


parte da herança revolucionária. O início de o desenvolvimento de uma nova forma
de pensar a divisão política foi implementada e, a partir disso surge o conceito de
direita e esquerda. Direita como sendo os girondinos, ligados à alta burguesia e a
esquerda, os jacobinos, como a baixa burguesia e trabalhadores populares.

É possível observar essa divisão ideológica na política atual, sobretudo nas


formas democráticas, de forma intensa e – obviamente – mais complexa que no
século XVIII. Aqueles que sentavam à direita nos tempos de revolução eram
conservadores e quando os jacobinos aprovaram novas medidas constitucionais
durante seu período de liderança, como: abolição da escravidão nas colônias,
confisco de terras da Igreja e dos ricos por descendência, os conflitos ficaram ainda
mais intensos.

A queda dos jacobinos ocorre devido a sua política de perseguição aos


opositores da república, mas o fogo que se espalhou devido a sua intensa defesa da
liberdade e igualdade entre os cidadãos, seguido pela crítica contra o regime
absolutista foi irreversível. Mesmo sofrendo críticas severas, a maioria delas chega a
conclusão de que: é inegável a herança da Revolução Francesa sobre movimentos
subsequentes de queda do Antigo Regime.

A Revolução mostrou que o povo pode mudar sua própria história sem
depender de um “força maior”. Com estilos diferentes, jacobinos e girondinos
inspiraram outros grandes momentos históricos. Alguns autores acreditam que existe
inspiração jacobina na Revolução Russa de 1917.

4. O fim da Revolução

Na período do Diretório Girondino6 houveram avanços capitalistas, dentre


eles: a defesa constitucional da propriedade privada, ascendência social através do

6 Dura de 1794 até 1799, com início após a execução de Robespierre.


capital e de posses, e etc. Ao fim do mandato da alta burguesia, os que sentavam à
direita, ocorrem novas eleições e nesse ponto os jacobinos são eleitos para a
insatisfação de seus opositores.

Assim, os girondinos articulam um golpe intitulado “18 de Brumário” 7 para que


Napoleão Bonaparte fosse o governante Francês. O então Cônsul havia sido
associado aos jacobinos – radicais – e chegou a ser preso em 1794. Entende-se daí
que os conservadores preferiam voltar aos tempos de controle governamental ao
invés de aceitar a derrota para os que sentavam à esquerda, o governo de Napoleão
foi marcado por autoritarismo e novas perseguições políticas.

Mesmo que marcado por formas autoritárias de controle, Napoleão articula


ainda um Código Civil que consolida avanços da Revolução e permite que sejam
garantidos alguns dos direitos conquistas durante ela, a exemplo de: custear gastos
da agricultura – esse que foi um dos motivos da queda do Absolutismo:
enfraquecimento da agricultura – e proteção da propriedade privada8.

Conclusão

A Revolução Francesa tem vários critérios para ser considerada um marco


para a transição entre Idade Moderna e Contemporânea entre eles: a mudança
radical de pensamento, de modo que era impossível o retrocesso, ou seja, a França
nunca mais seria a mesma pós Revolução.

Ainda hoje observa-se na política a influência da separação entre jacobinos e


girondinos, esquerda e direita, respectivamente. Os radicais libertários são
esquerdas – que, ao longo da história já foi associada a diversos movimentos
enérgicos que foram sedentos por mudanças definitivas nas sociedades que viviam
– e os conservadores são associados à direita – luta pela manutenção de
instituições tradicionais e por manter a política como ela está.

É possível enxergar as semelhanças com os revoltosos e como essas


associações fazem sentido se analisarmos movimentos como as guerras mundiais,

7 Durante a Revolução como forma de fugir das influencias da Igreja os revoltos criaram um novo calendário
com inspiração nas épocas de colheitas, uma vez que era utilizado o calendário gregoriano – criado pelo
Papa católico Gregório XIII.
8 Formações instituídas a partir do Código Civil Napoleônico, outorgado por Napoleão Bonaparte no ano de
1804.
o desenvolvimento do capitalismo financeiro e a Primavera dos Povos. Sendo no
sentido conservador, capitalista, liberal ou nacionalista, a mudança radical que a
França sofreu influencia por mais de dois séculos em manifestações e mudanças
comportamentais, na política e na economia.
REFERÊNCIAS

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constitucional e a revolução francesa: o surgimento de alguns conceitos
fundamentais. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-
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BIGOTO, Benedito Marcos. A PARTICIPAÇÃO DA BURGUESIA FRANCESA NAS


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2017.fhttp://revistaunar.com.br/cientifica/documentos/vol15_n2_2017/04_A_PARTICI
PACAO_DA_BURGUESIA.pd. Acesso em: 28 nov, 2021.

BURKE, Edmund. Reflexões sobre a Revolução em França. 1. ed. Brasília: UNB,


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CONJUR-CONSULTOR JURÍDICO. Constituição francesa nasceu de iluminismo


anacrônico. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2010-ago-15/constituicao-
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em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0908200056.htm. Acesso em: 8 nov.
2021.

HISTÓRIA DO MUNDO. Pensamento social de Rousseau. Disponível em:


https://www.historiadomundo.com.br/curiosidades/pensamento-social-rousseau.htm.
Acesso em: 19 nov. 2021.

POLITIZE!. A origem do sistema capitalista. Disponível em:


https://www.politize.com.br/sistema-capitalista-origem/. Acesso em: 28 nov. 2021.

POLITIZE!. Revolução Francesa: etapas, causas e consequências. Disponível


em: https://www.politize.com.br/revolucao-francesa/. Acesso em: 1 nov. 2021.

REVISTA MOVIMENTO. De um centenário a outro: Hobsbawm sobre a


Revolução Francesa. Disponível em:
https://movimentorevista.com.br/2017/07/revolucao-francesa-hobsbawm/. Acesso
em: 28 nov. 2021.

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22 nov. 2021.

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