RESUMO DA INTRODUÇÃO DO LIVRO HISTÓRIA EM TRÂNSITO:
EXPERIENCIA, IDENTIDADE Y TEORIA CRÍTICA DE DOMINICK LACAPRA
(2006)
Disciplina: Historiografia do lacanismo brasileiro: balisas político-metodológicas
Professor: Fuad Kyrillos Neto Aluno: José Roney de Freitas Machado
De acordo com LaCapra (2006), a história é sempre história em trânsito, mesmo
que em certos períodos se possa verificar alguma estabilidade. Este é o sentido da historicidade propriamente dito. Por este ângulo, tanto a historiografia quanto as demais disciplinas que se ocupam da história se encontram em trânsito, porquanto suas definições não são fixas e indiscutíveis. Deste modo, a ideia hegeliana de fim da história (retomada por Marx noutro contexto) é em si mesma uma concepção a-histórica, Pois que, a história não pode escapar da situação de trânsito; fazê-lo seria negar a própria historicidade, relegá-la a um plano transcendente, extra mundo, ficcional. Urge esclarecer que, as concepções lacraprianas de trânsito e transação não implicam um relativismo em relação aos eventos históricos, tampouco uma teleologia geral da história, e sim a disposição para se repensar objetivos e pressupostos, incluindo o próprio significado de temporalidade como rasgo estrutural da história. A transição e transformação da compreensão histórica requer o esforço contínuo de pensar aqueles problemas que afetam a nossa própria concepção da relação entre o passado e o presente no que dize respeito às possibilidades futuras. Assim, a noção de continuação permite a tematização de determinados problemas sob outras perspectivas, apreciá-los criticamente (interação entre a história e a teoria crítica). Nessa perspectiva, LaCapra (2006) procura resgatar o conceito de experiência e associá-lo à história. Isso porque, a seu ver, tomar nota da experiência é a possibilidade de recuperar o que não foi contemplado nas narrativas históricas oficiais, como por exemplo, as vozes dos grupos sociais subordinados e oprimidos, estes que permaneceram às margens da história (as margens estão plenas de micro-histórias a serem descobertas). Portanto, acessar a experiência é reavivar memórias, fazer emergir identidades, ao mesmo tempo em que, desvelar traumas do passado em razão disso, segundo LaCapra (2006), a experiência é um tema crucial para a psicanálise, bem como para a fenomenologia e para a filosofia da existência, dentre outros domínios do conhecimento. Assim, LaCapra se apropria de operadores conceituais da psicanálise para repensar a história e a teoria crítica aos moldes de um trabalho de análise, duma terapêutica da história por assim dizer. Isso, de modo a abordar a história como um depósito de ilustrações, contingências, bem como de traumas do passado decorrentes de experiências históricas extremas. Consequentemente, examinar tais traumas a partir da repetição compulsiva que, em uma série de situações do presente, reatualizam-nos no sintoma, ou melhor, no gozo do sintoma. Com efeito, o autor interpreta a conjectura da repetição traumática do ponto de vista dos conflitos sociais e políticos. Conforme LaCapra (2006), ler os textos históricos nessa perspectiva pressupõe situá-los em seus contextos epocais específicos, a fim de verificar não somente a sua reprodução sintomática, mas também, e sobretudo, os seus desafios críticos frente a outros contextos. Outrossim, LaCapra propõe que se possa pensar a transcendência dentro do horizonte da imanência (da realidade histórica). Pensá-la no sentido de um “ato de ultrapassagem” que, mais além do imaginário místico-religioso ao qual o termo se encontra intimamente associado, acena para a transformação social. Isto é, para a construção de novas situações sócio-político-econômicas e sociais; conjunturas que não foram no passado, não o são no presente, mas podem vir a ser no futuro. Portanto, LaCapra propõe um diálogo fluido e fecundo entre história e teoria crítica balizado por operadores conceituais e chaves de leitura psicanalíticas. Este método lhe permite pensar a história como um fenômeno analítico e dinâmico, tal como o inconsciente. Disso, resulta a ideia de história em trânsito.
REFERÊNCIA
LaCapra, D. (2006). Historia em trânsito: experiencia, identidade, teoria crítica. (1a.