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Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, p. 09-19.
Também a pesquisadora e crítica literária Beatriz Resende (2007) definiu a nova geração
por sua multiplicidade e heterogeneidade tolerante, alegando que o século XXI se iniciou
com amostras de uma grande dispersão de temas e estilos em convivência múltipla, sem
a imposição de nenhuma tendência clara. Os exemplos principais dessa tolerância
estariam contidos nas antologias de contos editadas por Nelson de Oliveira (2001 e 2003),
Luiz Ruffato (2004 e 2005) e Ítalo Moriconi (2001), na virada do século, alavancas para
uma série de novos escritores que hoje conquistaram seu espaço próprio no mercado e
diante da crítica. Talvez a impressão de diversidade venha da proliferação de novos
nomes de escritores, cuja aparição muitas vezes prematura expressa a incrementação do
nosso mercado editorial. O Plano Real e a estabilidade econômica do país propiciaram,
na última década, um aumento considerável na venda de livros; novas livrarias abriram,
as feiras de livros se converteram em megaeventos, e, principalmente, surgiu uma
variedade de pequenas editoras que souberam aproveitar o barateamento tecnológico do
custo de produção investindo em novos nomes e oferecendo espaço a autores de primeira
viagem em edições relativamente baratas. Com revistas literárias como Ficções (Rio de
Janeiro), Inimigo Rumor (Rio de Janeiro/São Paulo) e Rascunho (Paraná), uma opção
variada de outras publicações virtuais e as revistas culturais mais comerciais como Cult,
Trip e Bravo, abriram-se opções flexíveis de publicação e crítica, assumindo-se parte da
função de divulgação antes garantida pelos suplementos literários, hoje muito
prejudicados pela crise dos jornais. Com as feiras de livros nacionais e os festivais
literários seguindo o modelo comercialmente bem sucedido da Festa Literária
Internacional de Paraty (FLIP), que abriu caminho para a Festa Literária Internacional de
Porto de alinhas (Fliporto), Passo Fundo, Porto Alegre e Fórum das Letras de Ouro Preto,
entre muitos outros eventos. Segundo o portal do Plano Nacional do Livro e Leitura –
http://www.pnll.govv.br/ –, foram realizadas, em 2008, mais de 200 atividades de
promoção da leitura.
Assim, a atenção em torno da pessoa do escritor cresceu, e a figura espetacular do “autor”
tanto quanto o objeto livro ganharam maior espaço na mídia – o que não coincide com o
ganho de leitores efetivos; tornou-se chique ser autor, e nada incomum ganhar espaço na
mídia mesmo antes de publicar o primeiro livro. Outra novidade a ser notada é a dos
programas literários de televisão que representam uma fatia interessante na programação
cultural dos novos canais de TV a cabo. Dessa perspectiva, a impressão de falta de
homogeneidade entre os estreantes desta década, da “Geração 00”, talvez seja uma
consequência da abertura do mercado editorial, que acabou por criar uma relva densa de
muitos novos títulos com poucos nomes de destaque e liderança. O número de escritores
estreantes, a partir da década de 1990, é muito maior que na década de 1970 e não para
de crescer. Um magro volume de contos às vezes basta para converter o aspirante em
escritor de qualidade, até o contrário ser comprovado. E, embora muitos desapareçam
com a mesma facilidade com que despontam, o talento literário parece ter, hoje, mais
chances de ser identificado pelo garimpo das editoras comerciais.