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1) Gaudium et Spes n.22. O núcleo dogmático do Mistério do Verbo Encarnado.

A constituição Pastoral Gaudium et Spes, em seu nº 22 nos apresenta o núcleo


dogmático do Mistério da Revelação. Ela faz explicitar tal núcleo à partir da própria
imagem do Cristo (o Homem Novo), o Verbo encarnado no qual o mistério do ser
humano se torna verdadeiramente claro, uma vez que, totalmente solidário com a nossa
condição criatural humana, porque se fez carne da nossa carne, foi capaz de manifestar
o homem ao próprio homem.
No mistério de sua encarnação, O Filho de Deus assumiu nossa humanidade de
tal maneira que, ao fazê-lo, de algum modo, fez elevá-la a uma dignidade sublime,
conferindo a mesma status de divindade. Se para santo Anselmo, mediante a sua teoria
da satisfação vicária, a centralidade do referido Mistério repousa em Adão, para a
Gaudium et Spes, Adão era tão somente a figura daquele que haveria de vir, portanto,
até mesmo o seu pecado estaria em função da graça originária que Deus nos concedeu
por meio de seu filho encarnado. Disso, temos claro que, se se quiser descobrir no que
consiste a vocação à qual Deus nos chama, isto é, se quisermos saber quem realmente
somos, embora não o sejamos ainda plenamente, devemos olhar para Cristo, não para
Adão. Afinal, ele é quem devolve aos filhos de Adão (a humanidade fragilizada pelo
pecado) a imagem perfeita destituída pelo pecado (pelo fechamento ao horizonte das
relações).
O documento também afirma que, por sua encarnação, Jesus uniu-se à todos os
homens, de maneira tal que, chorou como ser humano, trabalhou com mãos humanas e
agiu com vontade humana, o que significa dizer que, em Cristo, estabeleceu-se a
superação de toda e qualquer tipo de dicotomia entre o sagrado e o humano. Portanto, se
partimos do Mistério da Encarnação, é impossível falar de Deus sem falar do ser
humano e vice e versa. Cristo é aquele que, por meio de sua paixão, morte e
ressurreição, por meio de sua vida, entrega e vitória sobre a morte, confere novo sentido
e significado à vida, razão pela qual é tão importante, isto é, imprescindível que se
experimente existencialmente tal Mistério, experimente-se que Jesus não apenas amou,
morreu ou se entregou por alguns em um tempo remoto, mas que ainda hoje, realiza os
mesmos feitos, com a mesma eficácia.
Na humanidade de Jesus, é possível ao homem se reconhecer humano; na
divindade de Jesus, é possível ao homem se reconhecer divino; na filiação de Jesus, o
homem pode se reconhecer filho, e isso não é privilégio para alguns poucos; ora, pois,
tendo o Cristo morrido por todos, e sendo uma só a vocação humana (divina), então,
deve-se admitir que o Espírito Santo (provindo do Pai e do Filho, aquele que nos
configura a Cristo), oferece a todos a possibilidade de se associarem ao mistério de
Cristo. Elaborado mediante a firme convicção de que Jesus pode oferecer luz e força aos
homens, para que eles se vejam capazes de encontrar a sua vocação suprema, sob à luz
de Cristo, imagem visível do Deus invisível, o Concílio pretendeu falar à todas as
pessoas, indistintamente, e com isso, possibilitou que a própria Igreja redescobrisse o
seu foco, bem como sua vocação no mundo.

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