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LUCAS E ATOS: TEOLOGIA DA HISTÓRIA E NA HISTÓRIA

*Lucas e Atos são dois livros que se complementam, ou melhor, duas facetas de uma só
obra, dividida posteriormente em decorrência da organização dos textos do novo
testamento. Atos inicia sua narrativa a partir de onde o Evangelho de Lucas se encerra, e
tal qual o Evangelho, possui um prólogo que introduz o assunto a ser tratado. Ambos os
relatos possuem mesma lógica, vocabulário, ideias, teologia e destinatário.

*-Tanto o evangelho de Lucas quanto o Atos dos Apóstolos se caracteriza por uma
grande viagem de Jesus.
Evangelho: Da Galileia (Periferia) a Jerusalém.
Atos dos Apóstolos: De Jerusalém (Centro religioso) à Roma (Considerada o centro do
mundo antigo).

*A obra de Lucas foi composta por volta dos anos 80 d.C. Quanto à sua autoria, embora
a tradição afirme que se trata de um certo Lucas que é citado em alguns relatos do Novo
Testamento (Fm 24 - como companheiro de Paulo; Cl 4,14 - chamado de "querido
médico"; 2Tm 4,11 – como o único que se encontra com Paulo); o mais provável é que
o seu autor seja um anônimo Judeu da diáspora (Grego - Judeu), isto é, a denominação
Lucas se refere a uma pseudônima (paternidade honorífica).

*A literatura lucana é organizada a partir de uma compreensão bastante específica


acerca da história e do tempo. O autor tem uma visão linear a respeito da história. Para
ele, não existem duas histórias, ou seja, a história humana é por excelência a história da
salvação; é nela que Deus age salvificamente por meio de seu espírito. Quanto ao
tempo, Lucas o divide em três: Tempo da promessa, tempo da realização da promessa,
tempo da Igreja (Continuação do cumprimento da promessa)

*A literatura de Lucas é Marcada por duas teologias que se embricam: da Palavra e da


Misericórdia. A palavra (promessa) é sinal da misericórdia de Deus. Para o Evangelista,
não há maior misericórdia que o anúncio da palavra, uma vez que Deus cumpre o que
pela palavra promete. Na Lei e nos Profetas Deus promete a salvação; em Jesus, palavra
viva encarnada, ela se realiza; perpetuando-se na vida das comunidades de fé que se
formarão em decorrência do testemunho e da ação missionária dos Apóstolos.

*Lucas é um historiador, não ao modo moderno; ele manipula dados da história, datas,
nomes, fatos para interpretá-los a partir da fé. Por isso dizemos que Lucas compõe uma
historiografia Sagrada, em outros termos; ele faz teologia da história
-Lucas se revela um grande pastoralista; ele está preocupado com os problemas
concretos de sua comunidade, lê os sinais dos tempos para propor soluções cabíveis
(contexto de comunidades mistas, judeus e gentios numa mesma comunidade).

ESTRUTURA DO EVANGELHO DE LUCAS

Bloco 1, preliminares, recordação da promessa:

a) Prólogo, destinatário e objetivo da obra (Lc 1, 1-4)


b) Evangelho da Infância; apresentação de João e Jesus (Lc 1, 15 – 2, 52)
C) Ministério de Jesus; Batismo e Tentação (Lc 3,1 – 4,13)
Bloco 2, viagem para Jerusalém:
a) Preparação para a viagem; relatos de Jesus realizando prodígios na galileia (Lc 4,14 –
9,50)
b) Viagem propriamente dita; Jesus percorrendo a terra dos judeus e dos samaritanos
(9,51 – 19,27)
c) Acontecimentos; Paixão, Morte, Ressurreição; Assunção (19,28 – 24,53).

Lucas trabalha a anunciação e o nascimento de João Batista e de Jesus paralelamente


(Eles possuem certo parentesco, Lc, 1, 39). Os cânticos Magnificat e Benedictus
também são introduzidos. Para o nascimento de Jesus, Lucas usa um relato tradicional,
o dos pastores, mas, inclui antes o recenseamento (assim, ele situa Jesus no lugar da
promessa). Os Pastores representariam todos os homens que haveriam de ver, crer e dar
a conhecer Jesus (Lc 2,17).

Lucas tem a preocupação de expressar a pertença de Jesus ao Judaísmo, bem como à


linhagem dos Israelitas. Ana e Simeão são anciãos, e isso não é mera coincidência (eles
representam a passagem do antigo para o novo, da aliança antiga para a definitiva (o
menino Jesus é a consolação e libertação de Israel, Lc 2, 25). A genealogia de Lucas
reporta-se a Adão (irmão de todos os homens, judeus e gentios). A salvação de Cristo é
para todos os povos (Lc 2, 32).

Quanto ao livro de Atos dos Apóstolos, Lucas o organiza a partir dos atos de Pedro e
atos de Paulo

Atos de Pedro - Público Alvo: Os Judeus de Jerusalém (At, 1 – 12)


Atos de Paulo - Público alvo: os gentios (At, 16 – 28)
At 13 – 15 são relatos intermediários que tratam de atos de Pedro e de Paulo. Aqui
surge um problema central: a questão acerca da circuncisão dos pagãos.

ESTRUTURA DO LIVRO DOS ATOS DOS APÓSTOLOS

Introdução: 1,1 - 26:


Prólogo
Ascensão
Eleição de Matias

I - Igreja entre os judeus: 2,1 - 9,43

A Igreja nascente em Jerusalém: 2,1 - 8,3


Na Palestina: 8,4 - 9,43 fecha-se o seguimento com a conversão de Paulo

II - Transição dos judeus para os gentios: 10,1 - 15,35

Vocação de Cornélio: 10,1 - 11,18


A Igreja de Antioquia: 11,19 - 30
A perseguição sob Herodes Agripa: 12,1 - 25
1ª viagem missionária de Paulo: 13,1 - 14,28
"Concílio" dos Apóstolos: 15,1 - 35
III - A Igreja entre os gentios: 15,36 - 28,31

2ª viagem missionária: 15,36 - 18,22


3ª viagem missionária: 18,23 - 21,17
Sacrifício do Apóstolo: 21,18 - 28,31

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