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Tipos de decisões
A decisão organizacional é formalmente definida como o processo para identificar
-
ANOTAÇOES e solucionar problemas. O processo possui dois estágios principais. No estágio de
Identificação do problema, as informações sobre as condições e o ambiente organi-
zacional são monitoradas para determinar se o desempenho é satisfatório e para
diagnosticar a causa dos defeitos. O estágio da solução do problema é aquele em
que os cursos de ação alternativos são considerados e um deles é selecionado e
implantado.
Decisões organizacionais variam em complexidade e podem ser categorizadas
corno programadas ou não programadas. 6 Decisões programadas são repetitivas e
bem definidas, e existem procedimentos para sol ucionar o problema. Elas são estru-
Co,no turadas porque os critérios de desempenho são geralmente claros, boas informações
adnrinistrador de sobre os desempenhos atua is estão disponíveis, as alternativas são facilmente espe-
mna orgmúzação, cificadas e há uma relativa certeza de que a alternativa escol hida será bem-sucedida.
tenha essas Exemplos de decisões programadas incl uem regras para tomada de decisões, como
diretrizes eu, quando substituir uma máquina copiadora do escritório, quando reembolsar os ge-
,neute: rentes pelos gastos de viagem, ou se um candidato tem qual ificações para o trabal ho
Adaptar os processos na linha de produção. Muitas companhias adotam regras baseadas na experiência
de decisão para
com decisões programadas. Por exemplo, uma regra para o número de funcionários
se adaptarem
a uma situação
em banquetes de um grande hotel é destinar um fu ncionário para 30 convidados
organlzaclonal. sentados, e um funcionário para 40 convidados em bufês.
Entender como os Decisões não programadas são decisões novas e indefinidas, e não existe nenhum
processos diferem procedimento para resolver o problema. Elas são empregadas quando uma orga-
para decisões
nização não percebeu um problema e pode não saber corno solucioná-lo. Critérios
programadas e
não programadas. para facilitar e identificar decisões que não existem. As alternativas são confusas e
não claramente expressas. Há incertezas sobre se urna solução proposta resolverá
o problema. Norma lmente, poucas alternativas podem ser desenvolvidas para urna
decisão não programada; assim, uma única solução é especialmente elaborada para
aquele problema.
Muitas decisões não programadas envolvem planejamento de estratégias, por-
que a incerteza é gra nde e as decisões são complexas. Um exemplo vem da empresa
fin landesa Nokia, onde admin istradores estão sofrendo com decisões sobre corno
. .
reavivar a empresa em cnse.
/ \
Capit ul o 8: Processos de tomada de decisão
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1 #
PRATICA'
1 1
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Até 2007, a Nokia era a rainha indiscutível dos
telefones celulares, com mais da metade do
mercado global de telefones móveis de alta e
1Nokia
baixa tecnologia. De repente, a Apple apresentou o iPhone. Alguns anos depois, a plataforma
de operação do Google Android negociou outro golpe. A fatia do mercado de smartphones da
Nokia despencou. Além disso, empresas asiáticas de custo baixo estavam se infiltrando no
mercado da gigante Nokia para telefones comuns e mais simples.
Stephen Elop foi contratado como CEO em 2010 para tentar mudar o rumo das coisas.
Uma das primeiras decisões que ele enfrentou foi como reverter a diminuição da fatia de
mercado para smartphones. A Nokia foi virtualmente expulsa de alguns dos maiores e mais
lucrativos mercados, incluindo os Estados Unidos, pelo iPhone e por telefones que utilizam
o Android . Muitos investidores e membros da indústria acreditavam que a Nokia deveria pe-
gar carona no Android. (0 Google permite que qualquer empresa use suas plataformas de
operação Android.) No entanto, Elop e outros altos gerentes tomaram uma decisão estraté-
gica para trabalhar exclusivamente com o sistema operacional da própria empresa, Symbian, e
uma nova plataforma de software chamada MeeGo, desenvolvida em parceria com a Intel.
Elop acreditava que a adoção do Android limitaria a ação da empresa em termos de sua ca-
pacidade de diferenciar seus produtos com novas inovações. "Seríamos apenas mais uma
empresa distribuindo o Android", afirmou. "Não parecia estar correto."
A decisão de seguir sozinha, no entanto, não funcionou . A Apple e o Android já tinham ga-
nhado uma vantagem muito grande. O software Symbian da Nokia ficou muito atrás para que
pudesse acompanhar a evolução dos outros programas, e o novo sistema MeeGo não estava
pronto para compensar a diferença. No início de 2011, Elop aprendeu que a empresa estava
no caminho certo para introduzir apenas três modelos com base no MeeGo antes de 2014,
que era muito lento para manter a Nokia competitiva na indústria de smartphones. Então, Elop
tomou outra decisão estratégica em meados de 2011: a Nokia abandonaria seu software
de fabricação própria e formou uma parceria com a Microsoft para utilizar seu s istema
operaciona l Windows Phone7 em seu lugar. Embora o Windows Phone7 tinha apenas uma
pequena fatia do mercado de smartphones, a parceria deu a Nokia os direitos de adicionar
qualquer t ipo de inovação que quisesse implantar nos telefones de base Windows (algo
que não seria possível com o Android). Elop está convencido que a flexibilidade, combinada
ao design do hardware de nível mundial da Nokia e uma forte rede de distribuição, pode
levar a Nokia de volta ao topo. 8
FIGURA 8 . 1
Tomada de decisões no
ambiente de hoje O ambiente de negócios atual
Fonte: Baseado em John P. Kotter. Leading Change (Boston, MA: Harvard Business School Press, 1996). p. 56.
/ \
Capitulo 8: Processos de tomada de decisão
Abordagem racional
A abordagem racional para a tomada de decisão individual enfatiza a necessidade da
análise sistemática de um problema, seguida pela escolha e implementação em uma
sequência lógica e gradual. Quando o político e diplomata do século XVIlI Benjamin
Franklin se depa rava com um problema difícil, por exemplo, ele dividia uma folha
de papel em duas colunas chamadas "Prós" e "Contras" e escrevia a várias razões
a favor ou contra uma decisão específica. Durante vários dias, Franklin dim inuia
a lista com base em um sistema que pesava o va lor de cada pró e contra até que
ele chegasse à defin ição da melhor decisão. Franklin acreditava que ao utilizar esta
abordagem racional, ele estava "menos arriscado a tomar um passo precipitado" . 13
Para administradores, também, abordagem raciona l foi desenvolvida para orientar
a tomada de decisão porque muitos gerentes são não sistemáticos e arbitrários em
sua abordagem das decisões organizacionais.
Embora o modelo racional seja um ideal não totalmente atingível no mundo real
de incerteza, complexidade e rápida mudança destacado na Figura 8.1, ele ajuda os
gerentes a pensarem sobre suas decisões de maneira mais clara e racional. Os geren-
tes devem usar procedimentos sistemáticos para tomar decisões sempre que possível.
Uma profunda compreensão do processo racional de tomada de decisão pode ajudar
os gerentes na escolha de decisões melhores mesmo quando há falta de informações
claras. Os autores de um livro popular sobre tomada de decisões usam o exemplo da
Marinha dos Estados Unidos, que tem a reputação de lidar rápida e decisivamente
com problemas complexos. Os fuzileiros navais são treinados para experimen tar
rapidamente uma série de rotinas mentais que os aj uda a analisarem a situação e
entrar em ação. 14
De acordo com a abordagem racional, a tomada de decisão pode ser subdividida
em oito passos, conforme ilustra a Figura 8.2 e demonstra a gerente da loja de depar-
tamentos Linda Koslo\v na discussão a seguir. 15 Koslo,v foi gerente geral do Marshall
Field's Oakbrook, em Illinois, loja anterior à compra da cadeia pela Macy's. 16
1. Monitore o ambiente da decisão. No primeiro passo, um gerente monitora in-
formações internas e externas que irão indicar desvios do comportamento pla-
nejado ou aceitável. Ele ou ela conversa com os colegas e revê as demonstrações
financeiras, avaliações de desempenho, índices da indústria, atividades dos con-
correntes e assim por diante. Por exemplo, durante as cinco semanas de muita
agitação e trabalho da época de Natal, Linda Koslow examina os concorrentes
em todo o shopping, verificando se eles estão baixando os preços das merca-
dorias. Ela também verifica cuidadosamente a lista impressa das vendas do dia
anterior de sua loja para saber o que está ou o que não está vendendo.
2. Defina o problema da decisão. O gerente reage aos desvios identificando detalhes
essenciais do problema: onde, quando, quem está envolvido, quem foi afetado,
e como as atuais atividades são influenciadas. Para Koslo,v, isso significa definir
se os lucros da loja estão baixos em razão de toda a venda estar menor do que o
esperado ou por causa de certas linhas de mercadorias que não estão vendendo
conforme o espera.
3. Especifique os objetivos da decisão . O administrador determina quais são os
resultados que deverão ser alcançados em decorrência de uma decisão.
4. Diagnosticar o problema. Neste passo, o administrador se aprofunda na aná lise
da ca usa do problema. Ele ou ela pode reunir dados adicionais para facilitar
esse diagnóstico. Entender as ca usas possibilita um tratamento adequado. Para
Koslow, da Marshall Field's, a causa da venda baixa pode ser a rema rcação das
mercadorias dos concorren tes ou a fal ha da Marshall Field's em expor os itens
mais vendáveis em um lugar visível.
5. Desenvolver soluções alternativas. Antes que um administrador possa seguir
adiante com um plano de ação decisivo, deve ter um en tendimento claro das
várias opções disponíveis para alcançar os objetivos desejados. O administrador
pode buscar ideias ou sugestões de outras pessoas. As alternativas de Koslo\v
!
Parte 4: Gerenciando os processos organizacionais
FIGURA 8 . 2
Etapas da abordagem
racional da tomada de
decisão
Implementar Monitorar o ~
~~ a altematlva
escolhida
ambiente da
decisão ~~
4j
~
~
o
~
Escolher
a melhor
altematlva
Definir o
prabletna para
decisão
-
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o o
e
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1d. Avaliar as
Especificar os
objetivos da
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altematlvas
(.)' decisão 17
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\f\
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o-nvolver
soluçéies
alternativas
Diag)lostlcar o
prabletna ;;
<.
para aumentar os lucros poderiam incluir comprar novas mercadorias, orga nizar
uma venda ou reduzir o número de empregados.
6. Avaliar as alternativas. Esse passo pode envolver o uso de técn icas estatísticas ou
experiência pessoal para estimar a probabilidade de sucesso. O administrador
avalia os méritos de cada alternativa, assim como a probabilidade da alternativa
atingir os objetivos desejados.
7. Escolher a melhor alternativa. Esse passo ocorre quando o admi nistrador usa a
sua análise do problema, os seus objetivos e as suas alternativas para selecionar
uma única alternativa com a mel hor chance de sucesso. Na Marshall Field's,
Koslov>' pode escolher reduzir o número de auxiliares como meio para atingir as
metas de lucro, em lugar de aumentar a publicidade e reduzir preços.
8. Implementar a alternativa escolhida. Fina lmente, o admi nistrador usa a capa-
cidade gerencial, administrativa e persuasiva e dá direção para assegurar que a
decisão seja executada, ocasionalmente chamada de execução da decisão. Este
pode ser considerado o cerne do processo de decisão porque qualquer decisão
que não possa ser implementada com sucesso é uma decisão fa lha, indepen-
dentemen te de quão boa seja a decisão escolhida. 17 Adm inistradores precisam
mobilizar pessoas e recursos par a por a decisão em prática. A execução pode ser
o passo ma is difícil do processo de tomada de decisão. A atividade de monitora-
mento (Passo 1) começa novamente assim que a sol ução é implementada. Para
muitos admi nistradores, o ciclo da decisão é um processo contínuo, com novas
decisões sobre problemas e oportunidades tomadas diariamente com base no
monitoramen to de seu ambiente.
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Capitulo 8 : Processos de toma da de decisão
'~~~ PRÃTICA~ 1
Saskatchewan
1. Monítorar o ambiente da decisão. É segun-
da-feira de manhã, e Joe DeFoe, gerente
de contas a receber da Saskatchewan Con- Consulting
sultoria, está novamente ausente.
2. Definir o problema para decisão. É a quarta segunda-feira consecutiva que DeFoe falta
ao trabalho. A polllica da companhia prolbe ausência não justificada, e DeFoe foi adver-
tido da excessiva falta ao serviço nas duas últimas vezes. Um aviso final está prepa-
rado, mas pode ser adiado, se houver j ustificativa.
3. Específíque os objetivos da decísão. DeFoe deve comparecer regularmente ao trabalho e
estabelecer os níveis de acúmulo de faturas de que é capaz de dar conta. O período de
tempo para resolver o problema é de duas semanas.
4. Diagnosticar o problema. Discussões discretas com seus colegas de trabalho e infor-
mações colh idas do próprio DeFoe indicam que ele tem um problema com bebida.
Aparentemente, usa as segundas-feiras para se curar da bebedeira do fim de semana.
A discussão com outras pessoas da companhia confirma que DeFoe é um alcoólatra
problemático.
5. Desenvolver soluções alternativas. (1) Despedir DeFoe. (2) Emitir uma advertência final
sem comentários. (3) Emitir uma advertência e acusar DeFoe de ser um alcoólatra para
deixá-lo ciente de seu problema. (4) Conversar com DeFoe para saber se ele estaria
disposto a discutir seu alcoolismo. Se ele admitir que tem um problema com bebida,
adie o aviso final e sugira que ele se inscreva no programa de assistência aos empre-
gados da empresa para ajuda em seus problemas pessoais, incluindo alcoolismo. (5)
Conversar com DeFoe para saber se ele estaria disposto a discutir seu alcoolismo. Se
ele não admitir que tem um problema de bebida, informe-o de que uma nova ausência
lhe custará o emprego.
6. Avaliar as alternativas. O custo de treinar o substituto é o mesmo para cada alternativa.
A alternativa 1 ignora os custos e outros critérios. As alternativas 2 e 3 não se coadu-
nam com a política da companhia, que defende aconselhamento onde é apropriado. A
alternativa 4 é planejada para beneficiar tanto DeFoe quanto a companhia. Ela pode
salvar o empregado se DeFoe quiser buscar assistência. A alternativa 5 é principal-
mente para o benefício da companhia. Um aviso fina l pode fornecer algum incentivo
para DeFoe admitir que possuiproblemas com bebida. Se assim ocorrer, a demissão
pode ser evitada, mas ausências futuras não serão toleradas.
7. Escolher a melhor alternativa. DeFoe não admite que tem um problema de bebida. Esco-
lha a alternativa 5.
8. Implementar a alternativa escolhida. Descreva o caso e emita a advertência final. 18
No exemplo dado, a emissão da advertência final a Joe DeFoe foi uma decisão pro-
gramada. O padrão de comportamento esperado foi claramente definido, as informações
sobre a frequência e a causa da ausência de DeFoe estavam prontamente disponíveis, e
as alternativas e os procedimentos aceitáveis foram descritos. O procedimento racional
funciona melhor em tais casos, quando o tomador de decisão tem tempo suficiente
para um processo sério e organizado. Além do mais, a Saskatchewan Consultoria pos-
suía mecanismos para a implementação bem-sucedida da decisão, uma vez tomada.
!
Parte 4: Gerenciando os processos organizacionais
Quando as decisões são não programadas, mal defin idas e empilhadas wna em
cima de outra, o admi nistrador deve ten tar ai nda usar os passos da abordagem
racional, mas, mui tas vezes, terá de tornar atalhos, dependendo de sua intuição e
experiência. Os desvios da abordagem racional são explicados pela perspectiva da
racionalidade limitada.
-
ANOTAÇOES Perspectiva da racionalidade limitada
A ideia principal da abordagem racional é a de que os gerentes devem tentar usar
procedimentos sistemáticos para chegar a uma boa decisão. Quando os adm inis-
tradores estão lidando com questões claramente en tendidas, eles geralmente usam
- os procedimentos racionais para tomar decisões. 19 Mesmo assim, pesquisas sobre a
tomada de decisão gerencial demonstram que admi nistradores são frequentemen -
te incapazes de seguir um procedimento ideal. M uitas decisões devem ser tornadas
imediatamen te. A pressão do tempo, mu itos fatores internos e externos afetando a
decisão e a natureza ma l definida de muitos problemas tornam virtualmente impos-
Co,n o
sível urna análise sistemática. Os gerentes não têm tempo nem capacidade menta l
adnrinistrador de
ilimitadas e, portanto, não podem avaliar cada meta, cada problema e cada alterna-
mna orgaJúzação,
tenha essas
tiva. A ten tativa de ser racional é restri ngida (limitada) pela enorme complexidade
diretrizes eu, de muitos problemas. Há um limite para a racionalidade dos administradores.
n1ente : Para entender a abordagem da racionalidade limitada, pense sobre como a ma io-
Use processos ria dos admin istradores seleciona urna posição depois de se formar na facu ldade.
racionais de decisão Mesmo decisões aparen temente simples podem tornar-se rapidamente tão comple-
quando possível, xas que a abordagem de racionalidade limi tada é usada. Estudantes recém-formados
mas reconheça que procuram por emprego até que ten ham duas ou três ofertas de traba lho aceitáveis.
multas restrições
podem ser Impostas a
Neste ponto, sua atividade de busca dimi nui rapidamente. Centenas de empresas
tomadores de decisão podem estar disponíveis para a entrevista, e duas ou três ofertas de trabalho estão
e Imped irem uma longe do número máximo que seria possível se os estudantes tomassem a decisão
decisão perfeitamente baseados na racionalidade perfeita.
racional. Aplique
a perspectiva da
Restrições e trade-offs •. Não só as grandes decisões organizacionais são complexas
racionalidade limitada
e use a Intuição e para serem completamente compreendidas, mas várias restrições se aplicam aos toma -
a experiênci a ao dores de decisões, conforme ilustra a Figura 8.3. Para muitos tomadores de decisão,
confrontar decisões as circunstâncias organizacionais são ambíguas e exigem apoio social, uma perspec-
não programadas e tiva comum sobre o que acontece, aceitação e acordo. Outras restrições orga nizacio-
mal definidas.
nais sobe a tornada de decisão descritas na Figura 8.3 incluem a cultura corporativa
e os valores éticos, e a estrutura e o design da organ ização. Por exemplo, a cultura
corporativa da BP agiu como uma restrição para as decisões que tomaram os admi-
nistradores que contribui u para a desastrosa explosão em Deepv,ater Horizon e ova-
zamento de óleo no Golfo do México. Pegar atalhos arriscados foi um procedimento
impregnado na cultura da empresa. A BP (Bristish Petroleum} estava escavando um
dos mais profundos poços de petróleo da história, por exemplo, mas seus administra-
dores decidiram usar apenas um cabo de aço ao invés de seguir a recomendação de
dois ou mais. Em vez de usar os 2 1 "centralizadores" recomendados, que gara ntem
que o poço não desvie do curso à medida que a escavação se aprofunda, os adm i-
nistradores da BP decidiram usar apenas seis. Eles também pularam um teste crucial
para verificar a robustez do cimento fixando o poço no fundo do mar, decidindo, em
vez disso, depender excl usivamente do preventor de ruptura corno garantia. T ipica-
mente, outras empresas de petróleo se equiparam com garantias adicionais para que
os problemas pudessem ser resolvidos antes que o preventor de rupturas fosse neces-
sário, mas a cultura agressiva e inclinada a riscos da BP impediu seus administradores
de adotarem uma abordagem mais cuidadosa e demorada.20
• Escolher uma a ltern3riva signjfica s.acrificar a s outras. É um:1 situação de troca . (N.R.T.)
/ \
Capitulo 8: Processos de tomada de decisão
FIGURA 8.3
Restrições e trade-offs durante a
tomada de decisão não programada
Racionalidade limitada:
Tempo, informações, recursos
limitados para lidar com questões
complexas e multidimensionais
Restrições pessoais:
Desejo pessoal por prestígio,
sucesso; estilo pessoal de Decisão/Escolha:
decisão; e o desejo de satisfazer Procure por uma
necessidades emocionais, alternaUva de decisão
lidar com pressão e manter a de alta qualidade
autoestima.
Restrições organizacionais:
Nível de acordo, perspecUva comum,
cooperação, ou apoio; cultura
corporatíva e estrutura, valores
éUcos
Fonte: Adaptado de Irving L Janis. Crucial Decisions (New York: Free Press. 1989}; e A. L. Geroge. Presidentia/ Decision Making in Foreign Policy: The
Effecrive Use of lnformatfon and Advice (Boulder, CO: Westview Press, 1980) .
tomar decisões complexas sob pressão de cempo. 25 Vá até o quadro "Como você
se encaixa no projeto?" para algumas ideias sobre o uso da racionalidade contra a
intuição ao tomar decisões.
A intuição não é arbitrária ou irracional porque é baseada em anos de prá-
tica e experiência próprias, mu itas vezes armazenadas no subconsciente. Quando
os gerentes usam sua intuição baseada em longa experiência de assuntos organiza-
cionais, percebem e compreendem os problemas ma is rapidamente e desenvolvem
uma reação instintiva ou um palpite sobre qual alternativa resolverá o problema,
aumentando a velocidade do processo de tomada de decisão. 26 O va lor da intuição
para a tomada de decisão eficaz é apoiada por um corpo crescente de pesquisa em
psicologia, ciência organizacional e outras disciplinas. 27
Quando alguém cem experiência e conhecimento profundos em uma área espe-
cífica, a decisão certa sempre ocorre de forma rápida e sem muito esforço porque o
indivíduo reconhece os padrões com base nas informações que foram significativa-
mente esquecidas na mente consciente. Essa capacidade pode ser vista entre solda -
dos no Iraque que têm sido responsáveis por impedir mu itos ataques de bomba nas
estradas porque reconheciam padrões. Equipamentos de alta tecnologia projetados
para detectar dispositivos explosivos improvisados, ou IEDs, são meramente um
suplemento ao invés de um substituto para a capacidade do cérebro humano de
sentir perigo e fazer alguma coisa. Soldados com experiência no Iraque sabem in-
conscientemente quando algo não parece cerco. Pode ser uma pedra que não escava
lá no dia anterior, um pedaço de concreto que parece muito simétrico, padrões de
•
1
A "Dica de livro" deste capítulo discute corno os gerentes podem dar a sua intui-
ção uma melhor oportunidade para conduzir a decisões bem-sucedidas. Lembre-se
de que a perspectiva de racionalidade limitada e o uso da intuição se aplicam prin-
cipalmente a decisões não programadas. Os aspectos novos, complexos e obscuros
das decisões não programadas significam que dados sólidos e procedimentos lógicos
não estão disponíveis. Estudos sobre a tomada de decisão descobriram que adminis-
tradores não podem simplesmente usar a abordagem racional para as decisões estra-
tégicas não programadas, corno promover ou não um novo medicamento polêmico,
investir ou não em um novo projeto complexo, ou se uma cidade precisa ou não ado-
tar um sistema de planejamento de recursos da empresa.3 .l Para decisões corno estas,
administradores limitaram seu tempo e recursos, e alguns fatores simplesmente não
podem ser medidos e analisados. Tentar quantificar tais informações poderia causar
erros porque poderia simplificar demais os critérios de decisão. A intuição também
pode equilibrar e suplementar a análise racional para ajudar os administradores a
tomar melhores decisões.
!
Parte 4: Gerenciando os processos organizacionais
DICA DE LIVRO
1
1 1
Blink: o poder de pensar sem pensar pertinentes e permitir que sua intuição faça o trabalho para
você . Gladwell cita o exemplo do jogo de guerra Pentagon,
Por Malcolm Gladwell no qual uma equipe inimiga de negociantes de commodities
Decisões repentinas podem ser tão boas quanto - e algumas derrota o exército norte-americano - que tem • uma quanti-
vezes melhores do que - decisões tomadas cautelosa e delibe- dade sem precedentes de informações e de inteligência ..
radamente . No entanto, elas podem ser seriamente defeituo- - por realizar ·uma análise totalmente racional e rigorosa
sas ou mesmo perigosamente erradas. Esta é a promessa do que cobriu cada contingência concebível" . Os negociantes
Blink: o poder de pensar sem pensar, de Malcolm Gladwell, em de commodities estavam acostumados a tomar milhares
que ele explora como nosso "incosciente adaptativo .. chega a de decisões instantâneas por hora, baseados em informa-
decisões complexas e importantes em um instante - e como ções limitadas. Administradores podem praticar a tomada
podemos treiná-lo para fazer com que aquelas decisões sejam de decisões espontâneas até que ela se torne sua se-
as corretas. gunda natureza.
Modelo Carnegie
O modelo Carnegie de tomada de decisão organizacional é baseado no trabalho de
Richard Cyert, James March e Herbert Simon, que eram associados à Universida -
de Carnegie-Mellon. 45 Sua pesquisa ajudou a form ular a abordagem limitada da
tomada de decisão individua l, assim como fornecer novas ideias sobre as decisões
. . .
organ1zac1ona1s.
Até o surgimento desse trabalho, a pesquisa em economia presumia que as firmas
de negócios tomavam decisões como uma entidade única, isto é, como se todas as in-
formações relevantes fossem afuniladas para a escolha do tomador de decisão final. A
pesquisa realizada pelo grupo de Carnegie demonstrou que as decisões no âmbito da
organização envolviam muitos gerentes e que uma escolha fina l era baseada em uma
coalizão entre esses gerentes. Uma coallzão é uma al iança entre diversos administra-
dores que concordam sobre os objetivos organizacionais e problemas prioritários.46
/ \
Capitulo 8: Processos de tomada de decisão
1
The New
Em março de 2011, o The New York Times deu
·~
'!N~I PRÃTICÀ~-·'":"'"~ um salto estratégico - pediu aos leitores que
._.1 r começassem a pagar pelo acesso de seu jor- York Times
nalismo on-line. A decisão não foi tomada com facilidade. De fato, executivos e editores-
-chefe passaram a maior parte do ano de 2009 debatendo a questão, analisando várias
opções e chegando a um acordo sobre a implementação de um novo plano de assinaturas.
A recessão econômica afetou muito a receita do jornal. O volume de anúncios impres-
sos já tinha caído drasticamente, e com a recessão , o mesmo ocorreu com a publicidade
on-line. A empresa teve que tomar dinheiro emprestado a altas taxas de juros, e pela pri-
meira vez em sua história, o jornal implementou uma rodada de demissões na redação .
Isso deu mais urgência às emergentes discussões dentro da organização sobre um modelo
de assinaturas on-line. Arthur Sulzberger, Jr., presidente da empresa, e vários outros altos
executivos apoiaram a ideia de um modelo pago. Porém, outros gerentes e editores senio-
res se opuseram veementemente ao plano. Estes gerentes e editores levaram anos para
fazer do NYTimes.com o site mais visitado de um jornal no mundo. Eles argumentaram que
um modelo de assinaturas iria ameaçar o alcance on-line do jornal e não acompanhava
a era digital. Alguns gerentes de publicidade estavam preocupados que isto também iria
ameaçar as receitas com anúncios, que estavam apenas começando a se recuperar. Ou-
tros argumentaram que o jornal precisava de uma fonte de assinaturas ou que mais demis-
sões seriam necessárias.
Os debates e as discussões continuaram, tanto os formais quanto os informais. Geren-
tes estudaram as respostas de pesquisas com consumidores para tentar entender como
os leitores reagiriam a um plano de assinaturas. Eventualmente, uma coalizão foi formada
ao redor da ideia de um serviço hierárq uico de assinaturas que permitia que visitantes
!
Parte 4: Gerenciando os processos organizacionais
ao site lessem 20 artigos por mês sem custos antes que se solicitasse a seleção de um
de três modelos de assinatura a vários níveis de preço. Artigos que fossem acessados
por meio de redes sociais como o Facebook e o Twítter ou ferramentas de busca como o
Google não iriam contar pa ra o limite mensal (há um limite de cinco artigos por dia para
aqueles que acessam o site através do Google). O fato de o conteúdo ainda poder ser
facilmente "compartilhado, 'twitado', blogado" amenizou algumas das preocupações dos
gerentes digitais e ajudou a conquistar seu apoio na decisão. Como Martin A. Nisenholtz,
vice-presidente sênior de operações digitais colocou, "Por um lado, eu penso que (ainda]
existe algum nível de ansiedade sobe o tema. Por outro, eu acho que o modelo que esco-
lhemos atenua 90% dela". 4 ª
A The New York Times Company relatou no fina l de julho de 201 1 que cerca de
250 mil pessoas compraram assinaturas on-line, mas ainda não se sabe se a decisão
de cobrar pelo acesso irá valer a pena para o The Times no longo prazo. 49 No entan-
to, gerentes construíram uma coalizão bem-sucedida para apoiar a decisão dentro da
organização engajando-se em debates e discussões sobre as preocupações de todas
as partes interessadas.
O processo de formação de coalizão cem várias implicações para o comporta-
mento da decisão organizacional. Em primeiro lugar, as decisões são tomadas mais
pela sacisfa coriedade do que para a otimização da solução de problemas. Satlsfato-
rledade significa aceitação, pelas organizações, de níveis satisfatórios em lugar de
níveis máximos de desempenho, capacitando-as a atingir várias metas simultanea-
mente. Na tomada de decisão, a coalizão aceitará uma solução que é percebida
como satisfatória por todos os membros da coalizão.
Em segundo lugar, os gerentes estão preocupados com problemas imediatos e
soluções de curto prazo. Eles se engajam no que Cyert e March chamou de busca
problernática. 50 Busca problemática significa que os gerentes buscam no ambiente
imediato uma solução para resolver rapidamente um problema. Embora gerentes no
The Times estudaram várias opções que escavam sendo usadas por outras empresas,
eles não consideraram todas as abordagens possíveis que poderia ser adotadas para
um modelo de assinaturas on-line. Eles não esperam uma sol ução perfeita quando
a situação é mal definida e carregada de problemas. Isso vai contra a abordagem
da ciência da administração, que supõe que a análise pode revelar cada alternativa
razoável. O modelo Carnegie diz que o comportamento de busca é igualmente sufi-
ciente para produzir uma sol ução satisfatória e que os gerentes geralmente adotam
a primeira solução satisfatória que surge.
Em terceiro lugar, a discussão e a negociação são especialmente importantes
no estágio da tomada de decisão de identificação de problemas. A ação não será
execu tada a não ser que os membros da coalizão percebam o problema. Entretan-
to, uma coalizão de gerentes dos departamentos-chave também é importante para
uma implementação sem atritos de uma decisão. Quando altos gerentes percebem
um problema ou querem tomar uma decisão importante, eles precisam chegar a um
acordo com outros gerentes para apoiar a decisão.5 1
O processo da decisão descrito no modelo Carnegie está resumido na Figura
8.4. O modelo Carnegie indica que a construção da concordância por meio de uma
coalizão é a parte mais importante da tomada de decisão organizacional. Isso é es-
pecialmente verdadeiro nos níveis mais altos da gerência. A discussão e a negociação
consomem tempo, então os procedimentos de busca são geralmente ma is simples e a
alternativa escolhida mais satisfaz do que otimiza a solução do problema. Quando
os problemas são programados - são claros e foram vistos antes - , a organização
confia nos procedimentos e nas rotinas prévios. Regras e procedimentos dispensam
a necessidade de formação da coalizão renovada e da negociação política. Decisões
não programadas, no entanto, exigem negociação e solução de conflitos.
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Capitulo 8: Processos de tomada de decisão
FIGURA 8 .4
Processo de escolha no modelo Carnegie
Comportamento de decisão
satisfatório