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Povo Macuxi

Habitantes de uma região de fronteira, os Macuxi vêm enfrentando desde pelo


menos o século XVIII situações adversas em razão da ocupação não-indígena na
região, marcadas primeiramente por aldeamentos e migrações forçadas, depois
pelo avanço de frentes extrativistas e pecuaristas e, mais recentemente, a incidência
de garimpeiros e a proliferação de grileiros em suas terras. Protagonizaram nas
ultimas décadas, juntamente com outros povos da região, uma luta incessante pela
homologação da TI Raposa Serra do Sol, ocorrida em 2005, e posteriormente pela
desintrusão dos ocupantes não-indios, finalmente resolvida com o julgamento pelo
Supremo Tribunal Federal em 2009, que confirmou a homologação e a retirada dos
ocupantes não-índios.
Identificação e Localização:
Os Macuxi, povo de filiação linguística Karíb, habitam a região das Guianas, entre
as cabeceiras dos rios Branco e Rupununi, território atualmente partilhado entre o
Brasil e a Guiana. A designação macuxi contrasta com as dos povos vizinhos – os
Taurepang, os Arekuna e os Kamarakoto – também falantes de língua pertencente à
família Karíb e muito próximos, social e culturalmente, dos Macuxi. Tomados em
conjunto, formam uma unidade étnica mais abrangente, os Pemon, termo que, por
sua vez, se contrapõe a Kapon, designação que engloba os Arakaio – conhecidos em
área brasileira pela designação Ingarikó – e os Patamona, seus vizinhos ao norte e
nordeste, respectivamente. O conjunto dessas designações étnicas e os diversos
níveis contrastivos formam um sistema de identidades que, entre os povos
guianenses, singulariza esses grupos da área circum-Roraima.
Em 2004, a população macuxi no Brasil era estimada em torno de 19 mil pessoas e
cerca de metade dessa cifra era encontrada na vizinha Guiana, ocupando áreas de
campo e de serras no extremo norte do estado de Roraima e o norte do distrito
guianense de Rupununi.
O território macuxi estende-se por duas áreas ecologicamente distintas: ao sul, os
campos; ao norte, uma área onde predominam serras em que se adensa a floresta,
prestando-se assim a uma exploração ligeiramente diferenciada daquela feita pelos
índios da planície. A dimensão desse território pode ser estimada em torno de 30
mil a 40 mil km2.
A distribuição espacial da população macuxi faz-se em várias aldeias e pequenas
habitações isoladas. Estima-se que existam 140 aldeias macuxi no Brasil, mas não
há dados precisos sobre o seu número. Para a área guianense, a estimativa é de
cerca de 50 aldeias no interflúvio Maú(Ireng)-Rupununi.
Apresentando notável constância, essa distribuição espacial dos Macuxi tem
permanecido inalterada ao longo de uma extensão contínua de terras desde pelo
menos os primeiros registros historiográficos disponíveis para a região do vale do
Rio Branco, no século XVIII.
O território macuxi em área brasileira hoje está recortado em três grandes blocos
territoriais: a TI Raposa Serra do Sol, a TI São Marcos, ambas concentrando a
grande maioria da população, e pequenas áreas que circunscrevem aldeias isoladas
no extremo noroeste do território macuxi, nos vales dos rios Uraricoera, Amajari e
Cauamé.
A mais populosa é a TI Raposa Serra do Sol, na porção central e mais extensa de
seu território. Essa área é habitada por uma população global estimada em 10 mil
habitantes distribuídos em 85 aldeias cuja grande maioria é Pemon [dados de
2004].
As fronteiras étnicas na região são bastante tênues, em função de arranjos
residenciais entre parentelas cognáticas integradas por homens de diferentes
procedências, sobretudo em aldeias nas zonas de intersecção entre as etnias, em
que há agrupamentos compostos por famílias extensas mistas entre Macuxi e
Ingaricó; ou entre Macuxi e Patamona: os Macuxi e os Wapichana, entre outros.
A TI São Marcos estende-se contígua à TI Raposa/Serra do Sol. Trata-se de uma
área onde estão localizadas 24 aldeias macuxi, com uma população total estimada
em 1.934 pessoas (Funai, 1996), que é em sua grande maioria Macuxi.

História do contato:
Aldeamentos
A ocupação colonial portuguesa do vale do rio Branco data de meados do século
XVIII. Foi uma ocupação marcadamente estratégico-militar. Nessa região, limítrofe
às possessões espanhola e holandesa nas Guianas, os portugueses procuraram
impedir possíveis tentativas de invasão a seus domínios no vale amazônico,
construindo, em 1775, o forte São Joaquim, na confluência dos rios Uraricoera e
Tacutu, formadores do Branco, via de acesso às bacias dos rios Orinoco e
Essequibo.
A estratégia utilizada pelos portugueses para assegurar a posse do vale baseou-se
no aldeamento dos índios efetuado pelo destacamento do forte. Para tanto, os
militares portugueses distinguiam dentre a população indígena os Principais e suas
Nações, buscando convencê-los, por meio de armas e presentes, das vantagens e
desvantagens de trazerem as gentes de suas respectivas Nações para formar os
aldeamentos.
As informações disponíveis sobre o contato com os Macuxi nesse período são raras
e fragmentárias. Surpreendentemente, das diversas etnias então aldeadas, os
Macuxi comparecem em pequeno número: temos notícia de apenas dois Principais
Macuxi: Ananahy em 1784 e Paraujamari em 1788, que chegaram a aldear-se,
trazendo pequenos grupos consigo. No entanto, não permaneceriam por muito
tempo nos aldeamentos. Logo após estas notícias, em 1790, Parauijamari seria
acusado de liderar uma grande rebelião, quando a maior parte dos índios aldeados
fugiu e os remanescentes foram espalhados por outros aldeamentos portugueses no
rio Negro.
Tal revolta poria fim à política oficial de aldeamento e não seriam empreendidas
novas tentativas de colonização naquela área ainda no século XVIII. Porém, são
muitas as evidências de que as expedições de recrutamento forçado da população
indígena permaneceram atuantes, motivadas por outros interesses que se
estabeleceriam na região, causando grande impacto sobre a demografia e a
territorialidade dos Macuxi.

Extrativismo
Uma nova fase do contato, que viria afetar mais drasticamente o conjunto da
população Macuxi, teria início no século XIX, com a expansão da exploração da
borracha na Amazônia e, em especial, com a extração do caucho e da balata na
matas do baixo rio Branco. A arregimentação dos índios destinava-se,
principalmente, à área do rio Negro, mas também houve “descimentos” para o
próprio vale do rio Branco, onde eram engajados como força de trabalho no
extrativismo.
Tais empreendimentos de caráter privado imprimiram a tônica das relações
interétnicas no período. Embora o governo imperial demonstrasse uma constante
preocupação quanto à implementação de uma política indigenista oficial nessa zona
de fronteira, os registros administrativos disponíveis revelam a sua grande
debilidade nesse campo. Já nas últimas décadas do século XIX, em particular após
a República, que veio a conferir maior autonomia à administração local, ao
aproximar-se o auge do ciclo da borracha os regionais passavam a ser considerados
colaboradores necessários para a colonização regional: detentores do comércio e
dos meios de comunicação com o interior, os regatões [aqueles que trocavam
produtos manufaturados pelos de extração diretamente junto à população indígena
e regional] ali reinavam.

Pecuária
Parece haver uma estreita conexão entre o extrativismo no baixo rio Branco e a
pecuária que viria a se consolidar no curso alto desse rio: o capital extrativista viria
a financiar a pecuária. Em contrapartida, a pecuária incipiente estabelecida nos
campos do alto rio Branco favorecia o recrutamento da força de trabalho dos índios
na região, a qual não se limitava à extração, mas compreendia todas as atividades
correlatas, em particular a navegação do rio. Havia ampla margem de liberdade
para os regatões e quaisquer outros empresários atuantes na área para penalizar os
índios e forçá-los ao trabalho. Não havia instância que os penalizasse pela
escravidão a que, na prática, submetiam os índios.
Correlata ao trabalho forçado, a migração igualmente forçada singulariza esse
momento histórico, uma vez que as migrações entre a população indígena no alto
rio Branco decorriam muito mais da expulsão da terra pelo avanço da pecuária do
que pelo deslocamento compulsório da mão-de-obra.
Na virada para o século XX, a engrenagem de recrutamento de mão-de-obra
indígena montada nas décadas anteriores persistia, apesar de decadente. Aldeias
abandonadas e movimentos de fuga provocados pela chegada dos brancos não
foram somente registrados pelos cronistas do rio Branco, mas foram igualmente
objeto de registro por parte dos Macuxi e permanecem ainda hoje em sua memória,
marcados por um momento dramático nas diversas narrativas que versam sobre
sua história política.

Organizações Indígenas
A liderança política tradicional entre os Macuxi, uma posição apenas proeminente,
assumida por um indivíduo na articulação de um grupo local, diante da violência
abrupta da intensificação do contato com os regionais nos primeiros anos do século
XX converteu-se em instância catalisadora das demandas de regionais e de agentes
indigenistas (missionários ou funcionários públicos) à população indígena, dispersa
em pequenos grupos locais.
Nos anos 1970, período marcado pela forte intensificação e ampliação do contato,
algumas lideranças políticas de grupos locais macuxi passaram a se destacar, ao
exercerem funções privilegiadas de intermediação no estabelecimento das relações
entre a população indígena habitante nas aldeias e os agentes da sociedade
nacional.
Intermediadas por esses chefes locais, as agências indigenistas converteram-se em
fontes de bens industrializados para os índios alternativas aos fazendeiros e
garimpeiros. Em razão da posição diferencial dos agentes indigenistas oficiais e dos
missionários católicos diante dos regionais – situados em pólos antagônicos na
disputa pelo reconhecimento dos direitos territoriais indígenas – a estratégia
utilizada pelos religiosos, e em seguida pela Funai, para ampliar sua influência
sobre os índios foi a de minar os vínculos clientelistas que os ligavam aos regionais.
Até então, os artigos industrializados eventualmente fornecidos pelos regionais
para os índios eram contabilizados pelos primeiros numa listagem de débitos a
serem cobrados quando se fizesse necessária a força de trabalho indígena. A fim de
minar o sistema, os missionários trataram de suprir, em parte, os artigos
industrializados demandados pelos índios, pressionando-os para que quitassem as
dívidas contraídas com seus respectivos “patrões”.
A maneira como tal “substituição” de dívidas foi operada deu-se através da
promoção de reuniões anuais com as lideranças indígenas locais, as assim
chamadas “assembléias de tuxauas”, patrocinadas pela Diocese de Roraima a partir
de 1975, em que se discutiam as condições e os “méritos” de cada comunidade para
acessar os bens disponíveis pelos missionários. Cabe notar ainda que as lideranças
políticas presentes às assembléias provinham das aldeias onde os missionários
concentravam sua atuação, isto é, na região das serras: recorte concebido em
oposição ao lavrado e, portanto, mais distante das sedes das “fazendas” e dos
povoados.
Foram desenvolvidos projetos ligados à pecuária e à distribuição de alimentos, os
quais não foram bem sucedidos e suscitaram uma série de conflitos, disputas e
acusações de favorecimento indevido entre as diversas lideranças indígenas, dando
ensejo ao surgimento de um novo tipo de organização indígena, concebida também
inicialmente pelos missionários, que consistia na formação de “conselhos
regionais”, isto é, instâncias supra- aldeãs, descoladas das comunidades locais,
articulando lideranças Macuxi, Ingaricó, Taurepang, Wapixana e Yanomami.
Durante a assembléia dos tuxauas ocorrida em janeiro de 1984, foram criados sete
conselhos nas seguintes regiões: Serras, Surumu, Amajari, Serra da Lua, Raposa,
Taiano e Catrimani. Sua incumbência era gerir as relações externas às comunidades
indígenas, tanto no plano das relações com a sociedade regional, como na
formulação e direcionamento dos projetos patrocinados por diferentes agências. O
mais atuante foi sem dúvida o conselho da região das serras, que funcionou junto
aos locais onde ocorreram conflitos agudos com os regionais, encaminhando
denuncias às autoridades governamentais.
Como resultado dos conselhos regionais, formou-se uma coordenação geral,
sediada em Boa Vista, momento em que se pode falar precisamente do surgimento
do Conselho Indígena de Roraima (CIR). Os membros dessa coordenação são
eleitos pelo voto aberto dos conselheiros regionais, respeitando-se um esquema de
rodízio de lideranças.
Ao longo desse processo, outras organizações vêm sendo criadas nessa região,
reunindo segmentos indígenas favoráveis à homologação da TI Raposa/Serra do
Sol em área contínua [a esse respeito, ver seção O caso da Raposa], como é o caso
do próprio CIR (Cujo atual coordenador é Macuxi), da APIR (Associação dos Povos
Indígenas de Roraima), da OPIR (Organização dos Professores Indígenas de
Roraima) e da OMIR (Organização das Mulheres Indígenas de Roraima). Outras
organizações são manifestamente contrárias à demarcação em área contínua, tais
como a SODIUR (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima), a
ARIKON (Associação Regional Indígena dos Rios Kinô, Cotingo e Monte Roraima),
ALIDICIR (Aliança para o Desenvolvimento das Comunidades Indígenas de
Roraima) e AMIGB (Associação Municipal Indígena Guàkrî de Boa Vista).
Organização social
As aldeias na floresta caracterizam-se por casas comunais em que convivem
distintos grupos domésticos, compostos por famílias extensas ligadas entre si por
laços de parentesco. Já na savana geralmente encontram-se casas dispersas que
abrigam grupos domésticos cuja composição é análoga àquela acima descrita; nesse
sentido, a aldeia na savana configuraria um desdobramento da casa comunal típica
da floresta.
Embora as fontes do século XIX se refiram à existência de aldeias Macuxi
configuradas em casas comunais que apresentam baixa densidade demográfica, isto
é, cerca de trinta a sessenta pessoas (R. Schomburgk, 1922-23; R.H. Schomburgk,
1903), verifica-se atualmente a disseminação de aldeias compostas de pequenas
casas que abrigam famílias extensas, reunindo uma população mais numerosa,
estimada entre cem e duzentos habitantes.
O desenho da aldeia macuxi não demonstra de imediato ao observador sua
morfologia social. As casas parecem distribuir-se aleatoriamente, porém um olhar
mais atento percebe que, via de regra, elas se dispõem em conjuntos que
correspondem a parentelas. Estas formam unidades políticas cuja interação perfaz
a vida social e política da aldeia.
A aldeia macuxi consiste assim basicamente em uma ou várias parentelas
interligadas por casamentos. Dada a tendência uxorilocal [após o casamento, o
casal vai morar com a família da moça] que se verifica nas sociedades dessa região,
residência e parentesco são instâncias associadas que, articuladas, dão origem à
chefia. Nesse sentido, o grupo local organiza-se em torno da figura de um líder-
sogro de cuja habilidade política na manipulação dos laços de parentesco depende
sua existência. Com o declínio do prestígio do líder-sogro ou sua morte, o grupo
local tende a tomar outras formas ou desfazer-se. Mesmo neste último caso, porém,
a aldeia persiste como referência histórico-geográfica.
A política matrimonial macuxi tende a favorecer reuniões endogâmicas, ou seja,
procura-se casar dentro das parentelas que compõem a aldeia. Entretanto, pode-se
verificar uma alta incidência de casamentos entre aldeias que estreitam suas
relações, configurando conjuntos regionais.
Como ocorre entre os outros grupos Pemon, para os Macuxi a relação entre
cunhados – yakó – é marcada por grande liberdade e igualitarismo, enquanto,
inversamente, a relação sogro-genro – pái-to – pressupõe evitação, subordinação e
consideráveis obrigações materiais do genro para com o sogro.
Na aldeia, a liderança política emerge assim do jogo das parentelas em que
prevalecem as relações acumuladas de afinidade, isto é, o líder é aquele que detém
uma rede mais ampla de afins e, portanto, aliados políticos. Hoje, há que se
considerar ainda o fator decisivo que representa a atuação de agências indígenas e
indigenistas, pelas quais um líder angaria prestígio e apoio material que lhe podem
conferir maior estabilidade.
Atividades Produtivas
O clima na região habitada pelos Macuxi é marcado por um rigoroso regime de
chuvas e duas estações bem definidas: inverno, com chuvas concentradas de maio a
setembro, e verão, alternado de seca, com estiagem prolongada de novembro a
março. Há assim alterações sazonais bastante significativas na fauna e na flora.
Durante os meses de inverno, as águas das chuvas torrenciais engrossam os leitos
dos rios e igarapés, chegando mesmo a alagar em grande parte os campos, com
exceção de alguns pontos mais salientes nas planícies, que formam pequenas ilhas
acima da superfície.
Esses tesos, assim como as vertentes das serras, são para os Macuxi locais
preferenciais de cultivo de mandioca e de milho.
A população, que estava reunida nas aldeias ao longo do período de estiagem, se
dispersa em pequenos grupos durante a estação chuvosa e passa a viver
isoladamente com os alimentos produzidos nas roças familiares e coletados nas
matas que cobrem as serras.
Durante um breve período de transição entre as estações, a vegetação até então
submersa nos campos viceja, e os animais deixam os refúgios nos tesos das
planícies e isolados na serras para percorrer seu habitat mais extenso. Os índios,
que se mantinham dispersos em pequenos grupos domésticos, voltam a se reunir,
aglutinando as parentelas extensas nas aldeias, compondo expedições de caça e de
pesca, entre várias outras atividades de exploração econômica empreendidas no
tempo de estiagem.
Nos meses de verão, a vegetação dos campos torna-se seca e esturricada, a
folhagem verde vai se restringindo às baixadas mais próximas às margens dos rios e
igarapés que, em sua maior parte, são intermitentes e secam completamente no
auge da estiagem. Os índios voltam-se para os poços nos leitos secos e para os lagos
que conservam água, procurando surpreender os animais que buscam o bebedouro
nos mesmos locais, dedicando-se também, mais intensivamente, à pesca, que se
torna atividade principal durante o período.
Na estação seca, os índios dedicam-se também à construção e reparo das casas e,
atividades correlatas, à extração de madeira e argila empregadas na armação e nas
paredes laterais, à coleta de folhas de palmeiras, mais frequentemente de buriti,
que utilizam nas coberturas. Dedicam-se ainda à coleta de uma grande variedade de
fibras vegetais usadas na confecção de artefatos.
Durante a estiagem, torna-se mais nítido o traçado de uma infinidade de caminhos
e trilhas nos campos e nas matas, ligando os locais de coleta, caça, pesca, roças e as
diversas aldeias. Tais trajetos passam então a ser intensamente percorridos pelos
índios, quando aproveitam para visitar os parentes, estreitando as relações sociais e
vínculos de aliança política entre as parentelas, nas festas e celebrações rituais.
Os Macuxi praticam a agricultura de coivara, cultivando basicamente mandioca,
milho, cará, batata-doce, banana, melancia, ananás, entre outros gêneros em menor
proporção, que variam a cada aldeia. A derrubada da mata, a queima da área e o
plantio são tarefas realizadas pelos homens. A partir de então, cabe sobretudo às
mulheres manter a roça limpa e proceder à colheita, bem como preparar os
alimentos. Os homens se ocupam de trazer a caça, pesca e frutos silvestres,
empreendendo expedições de exploração econômica muito além dos limites da
aldeia.
Atualmente, as comunidades macuxi estabelecidas em cada aldeia possuem
coletivamente pequeno rebanho de gado bovino, obtido através de projetos
iniciados pela Diocese de Roraima, pela Funai e pelo governo do estado de
Roraima. A criação de bois, mantida em currais e retiros, bem como a de aves e
suínos empreendida por famílias individuais, é hoje considerada indispensável, em
vista do progressivo escasseamento de caça.
A posse coletiva do gado não chegou, ao que tudo indica, a afetar a organização
tradicional da produção por grupos domésticos. O rebanho é confiado a um
vaqueiro, que chama os membros da comunidade por ocasião de trabalhos de
maior envergadura, que se realizam regados a caxiri e pajuaru – bebidas
elaboradas a partir da fermentação da mandioca –, como nas outras situações de
ajuda mútua entre as parentelas.

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