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Campus de Bacabal – MA
Departamento de Ciências Sociais e Filosofia
Curso: Direito Bacharelado
Professor:. Bruno Rogens Ramos Bezerra
Aluno (a): Ana Clara Enos da Silva Carvalho
Bacabal – MA
2023
O texto descreve a região da Amazônia maranhense, também conhecida como
"Pré-Amazônia", abordando as trajetórias das frentes de expansão e seus impactos
ambientais, sociais e étnicos na região. O conceito de "frente de expansão" é adotado
para discutir o impacto dos empreendimentos de capital nas relações entre índios e
trabalhadores rurais, os segmentos mais vulneráveis da sociedade na região. O estado
do Maranhão possui características tanto do nordeste quanto da Amazônia, e sua parte
centro-sul e oeste estão incorporadas à Amazônia Legal desde 1969. A região abarca
uma área que testemunha a interação de dois cenários das políticas fundiárias no país:
a tradição dos latifúndios monocultores e da pecuária extensiva do nordeste, e o
assalto predatório à Amazônia por grandes empresas do Sul e Sudeste. A presença da
floresta tropical densa característica da Pré-Amazônia maranhense está restrita a uma
área delimitada entre os rios Zutiwa, Gurupi e Buriticupu, e pela linha seca que delimita
a Terra Indígena Alto Turiaçu.
DITADURA MILITAR
Após o golpe militar de 1964, houve repercussões diretas na política indigenista
do Brasil. Em 1967, o Serviço de Proteção aos Índios (SPI) foi extinto e substituído pela
Fundação Nacional do Índio (FUNAI). A doutrina da "segurança nacional" e a estratégia
de ocupação dos "vazios demográficos", que incluíam as terras indígenas, foram
adotadas pelos militares como parte do discurso desenvolvimentista. Isso resultou em
uma onda de construção de estradas em todo o país.
No Maranhão, a construção das rodovias BR 010 e 222, o crescimento das
cidades de Açailândia e Imperatriz, o Projeto de Colonização Agrícola de Buriticupu e a
construção da Estrada de Ferro Carajás impulsionaram a frente madeireira, que
devastou rapidamente a floresta amazônica na região oeste e sudoeste do estado a
partir da década de 1970. Os impactos sociais e ambientais desses projetos foram
enormes. Os trabalhadores rurais desalojados foram responsáveis, segundo pesquisas
realizadas pela Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (SUCAM), pela
maioria dos garimpeiros mobilizados na Amazônia na década de 1980, e também
foram associados à propagação da malária e das doenças sexualmente transmissíveis,
afetando as Terras Indígenas da região.
AWA (“GUAJÁ”)
Os Awa são um grupo indígena nômade e vivem em grupos familiares
pequenos. Eles são ágeis, silenciosos e difíceis de serem avistados na floresta. Devido
à competição com grupos mais numerosos e poderosos, como os Kaapor, muitos
grupos Awa permaneceram isolados até hoje. No entanto, a redução populacional dos
Kaapor e dos Tembé a partir da década de 1940 permitiu que os Awa descessem
gradualmente para os vales.
Alguns grupos Awa foram localizados a leste do rio Pindaré (na Área Indígena
Araribóia) e na Serra da Canastra, ao norte do atual estado de Tocantins. Eles teriam
fugido da região da Terra Indígena Araribóia e tomado caminhos ao sul. Os Awa são
um dos poucos grupos indígenas no mundo que ainda vivem de forma estritamente
nômade. Como caçadores e coletores, eles possuem uma cultura material simples e
têm se recusado sistematicamente a aceitar presentes e a se envolver com as frentes
de contato estabelecidas pelo SPI e pela FUNAI em seu território desde 1913.
Somente na década de 1970, alguns grupos Awa aceitaram pela primeira vez os
presentes oferecidos pela FUNAI no Posto Indígena Guajá. Esse episódio despertou o
interesse de outros Awa da região, e em 1976 a FUNAI já havia contatado cerca de
seis grupos autônomos, totalizando 91 pessoas. No entanto, o contato com a
sociedade envolvente trouxe consigo doenças, como malária e viroses, que dizimaram
muitas famílias e grupos Awa. Alguns sobreviventes fugiram novamente para a floresta,
enquanto os que permaneceram na área começaram a dedicar parte de seu tempo ao
cultivo de roças. Na década de 1970, ocorreram vários confrontos entre os Awa e a
frente de construção da BR 222. Os Awa atacavam as máquinas e tratores em
operação durante o dia e sabotavam esses equipamentos durante a noite. Os primeiros
contatos da FUNAI com os Awa ocorreram em 1973, e até 1980, mais da metade das
pessoas contatadas faleceram de doenças como gripes, pneumonias e malária. Outros
contatos foram feitos nos anos seguintes, mas muitos Awa continuaram a fugir e resistir
ao contato.
No final da década de 1980, a atividade madeireira e a exploração do jaborandi
causaram uma rápida expansão na região, impactando as comunidades Awa e
Guajajara. Com a diminuição da área de floresta, os grupos Awa passaram a
perambular em grupos cada vez maiores e tiveram contatos mais frequentes com os
Guajajara e a sociedade envolvente. Houve contatos traumáticos, como a descoberta
de acampamentos abandonados pelos Awa pelos caçadores Guajajara. Alguns grupos
Awa foram contatados e transferidos para Postos Indígenas, mas ainda persistem
desafios e conflitos na proteção e preservação desse grupo indígena.
“AUSÊNCIA DO ESTADO”(?): VULNERABILIDADE SOCIAL DE
COMUNIDADES RURAIS E GUAJAJARA, GENOCÍDIO AWA IMINENTE
As comunidades Guajajara da porção sul da Terra Indígena Araribóia têm
acesso a um maior número de domicílios urbanos, incluindo aqueles com telefone, em
comparação com as comunidades da porção norte. Além disso, há uma maior
proporção de pessoas alfabetizadas, matriculadas em escolas e com ensino médio
completo nessas comunidades do sul. Por outro lado, as comunidades Guajajara da
porção norte da TI Araribóia têm resistido por mais tempo às ofertas das madeireiras, o
que lhes permite viver em uma região com cobertura vegetal mais preservada. Isso
proporciona melhores condições para a manutenção de suas fontes e padrões
alimentares tradicionais, bem como um perfil epidemiológico geralmente melhor, com
nenhum caso de AIDS até o momento.
No entanto, essas comunidades do norte têm tido acesso a políticas, programas
e serviços de educação e saúde em número e qualidade inferiores em comparação
com as comunidades do sul, na região de Amarante do Maranhão. Na região de
Arame, há um número significativamente menor de Guajajara alfabetizados e que
frequentaram a rede escolar formal, o que se reflete em maior vulnerabilidade social e
menor capacidade de participar e influenciar as políticas e serviços públicos
direcionados a eles.
Uma pesquisa realizada em dezembro de 2006 pelo Núcleo de Extensão e
Pesquisa com Populações e Comunidades Rurais, Negras Quilombolas e Indígenas
(NuRuNI) do Mestrado em Saúde Ambiente da UFMA identificou que a ação das
madeireiras e carvoeiras tem sido permitida pelas comunidades indígenas devido à
necessidade emergencial de acessar serviços de saúde. Isso ocorre devido à ausência
de qualquer serviço do Distrito Sanitário Especial Indígena do Maranhão da FUNASA
(que nunca funcionou de acordo com o modelo proposto pelo órgão) nessas
comunidades, em meio à falta de recursos e estrutura adequada.
É essencial que haja uma ampla articulação entre as instituições responsáveis
pelas políticas públicas, tanto em nível federal, estadual quanto municipal, na região,
juntamente com as instituições, entidades e movimentos sociais que atuam no local.
Essa articulação deve visar a definição de medidas emergenciais, de curto, médio e
longo prazos, para