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TRABALHO DE

HISTORIA
O povo indígena do meu município: MAXAKALÌ

Os Maxakalí, enfrentam hoje o grande desafio de superarem as


dificuldades decorrentes de sucessivas administrações autoritárias, o
que se tem refletido nos graves problemas de embriaguês, desajustes
sociais e marginalização econômica. A forma de luta adotada pelo
grupo tem sido a de opor resistência sistemática a casamentos
interétnicos e a mudanças na organização social e no seu universo
cultural, optando pela entropia e isolamento como ordenadores das
suas relações interétnicas.

Nome
Segundo o etnólogo Nimuendajú (1958), os remanescentes Maxakalí
do vale do Mucuri em Minas Gerais se autodenominam Monacó bm.
Entretanto, de acordo com o antigo chefe de posto e grande conhecedor
da língua, da organização social e da história dos Maxakalí, Joaquim S.
de Souza, eles se identificam como Kumanaxú. Por sua vez, Popovich
(1992), profunda conhecedora da língua falada por eles, registra
Tikmu'ún como o termo que adotam para si mesmos.

Os Maxakalí - palavra em língua desconhecida, aplicada pela primeira


vez na área do rio Jequitinhonha - não podem ser identificados como
um único grupo, mas como um conjunto de vários. A denominação
decorre desses grupos se articularem politicamente como aliados e
terem se aldeado conjuntamente, sobretudo após 1808, quando
ocorreu a invasão sistemática de seus territórios e se ampliaram os
conflitos com outros grupos, particularmente com os denominados
Botocudos.

Essa confederação, também chamada de Naknenuk, era composta


pelos Pataxó ou "Papagaio"; Monoxó ou "os Ancestrais" ou Amixokori,
"Aqueles que Vão e Voltam"; Kumanoxó, denominação genérica das
heroínas tribais do panteão religioso dos Maxakalí; Kutatói ou "Tatu";
Malalí ou "Jacaré Pequeno"; Makoní ou "Veado Pequeno"; Kopoxó,
Kutaxó ou "Abelha"; e Pañâme.

(2)

no caso dos Maxakalí, confundem-se com as unidades mais


abrangentes em termos de organização política - pequenas aldeias nas
quais vivem uma família extensa em torno do seu líder, que acumula
funções políticas e religiosas.

Essas aldeias, em decorrência do avanço da sociedade dominante,


terminaram por ser isoladas em termos geográficos, e os vários grupos
rituais passaram a ser identificados nos documentos oficias e
particulares como tribos distintas. Essa identificação diferenciada se
manteve até o final do século passado ainda que os observadores
ressaltassem que a língua e a organização social eram as mesmas e que
esses grupos sempre se aldeavam em conjunto, formavam
confederações defensivas e usavam a mesma tática de estabelecerem
alianças com os colonos para poderem enfrentar os inimigos
tradicionais. A pertinência a um mesmo grupo étnico também era
afirmada pelos próprios índios, como se observa no depoimento dos
Malali a Auguste de Saint-Hilaire, em 1817, em Minas Gerais, ao
analisarem suas relações com os vários grupos indígenas da região
entre os rios Jequitinhonha e Doce.

. Língua
Os assim chamados Maxakalí pertencem ao tronco lingüístico Macro-
Jê. O português é falado com relativa fluidez em Água Boa, onde vivem
os grupos de contato mais antigo, embora, entre si, se comuniquem na
língua tribal. Já no Pradinho, apenas os homens dominam o português
com relativa dificuldade. As mulheres e crianças falam unicamente
palavras esparsas em português, sendo a comunicação entre eles
totalmente em seu idioma.
Localização

Foto: Geralda Soares, 1985

Os vários grupos Maxakalí ocupavam uma área compreendida entre os


rios Pardo e o Doce, correspondente ao sudeste da Bahia, o nordeste de
Minas Gerais e o norte do Espírito Santo. Os remanescentes desses
grupos, conhecidos por Maxakalí nos dias atuais, vivem em duas áreas
indígenas - Água Boa e Pradinho - hoje unificadas na Terra Indígena
Maxakalí, no município de Bertópolis, cabeceiras do rio Umburanas,
vale do Mucuri, no nordeste de Minas Gerais.

-Embora não se disponha de dados demográficos precisos, as


informações esparsas indicam que desde a ocupação da região do
Umburanas pelos pecuaristas, houve decréscimo populacional dos
Maxakalí devido à redução de sua qualidade de vida e aos conflitos com
os fazendeiros da região, o que pode ser identificado pela baixa
longevidade dos membros desse grupo e pela alta taxa de mortalidade
infantil, particularmente em decorrência da desidratação, disenteria,
infecções e anemia. No caso dos adultos, pode-se acrescer a esses
fatores a violência e o número elevado de assassinatos decorrentes dos
conflitos externos e internos agravados pelas condições impostas pela
sociedade nacional.
Em 1997 somavam 802 índios, sendo 415 em Água Boa e 387 em
Pradinho.

Histórico do contato
 

Foto: Curt
Nimuendajú, 1939

As primeiras notícias referentes a um subgrupo Maxakalí datam do


século XVI, referidos como Amixokori pelos Tupi do litoral. Até o
século XIX muitos grupos foram aldeados pelos capitães-mores nas
povoações litorâneas, como Prado, Canavieiras, Caravelas, Alcobaça,
Itanhém, Poxim, Corumuxatiba, Belmonte, Trancoso, Mucuri, na
Bahia, e Itaúnas, Conceição da Barra e Santana, no Espírito Santo.

A partir do fim do século XVIII, com a interiorização do processo de


conquista e, mais particularmente, após a política oficial ter
estabelecido como prioridade a conquista da zona entre o litoral e a da
mineração, em Minas Gerais, os vários grupos indígenas dessa região
foram pressionados pelo avanço da sociedade dominante. Até então,
entre 1721 e 1808, esta zona estivera proibida pela Coroa portuguesa à
penetração, como forma de evitar o acesso às zonas de mineração por
pessoas não autorizadas pelas autoridades locais.

Os deslocamentos das tribos indígenas passaram a ser constantes na


tentativa de fugirem ao contacto e à dominação, tornando a disputa por
territórios uma dura realidade que as levou a estabelecerem estratégias
distintas. Os Kamakã-Mongoió e os Maxakalí, já conhecidos por essa
denominação, ao avaliarem a impossibilidade de continuarem a
enfrentar, simultaneamente, os colonos e os grupos Botocudos que
avançavam em direção ao sul, optaram por aceitar o aldeamento
compulsório e o engajamento como trabalhadores e soldados sob a
direção de diretores de aldeias civis e militares e comandantes de
divisões militares, criadas para promoverem a guerra justa defensiva e
ofensiva aos Botocudos decretada pelas Cartas Régias de 1808.

A partir de então, multiplicaram-se os aldeamentos dos grupos


Maxakalí, nessa época também conhecidos por Naknenuk, uma palavra
da língua dos Botocudos e que passou a ser usada como sinônimo de
"índios mansos, aliados e aldeados". O único subgrupo apontado como
resistente a essa política de aliança foi o dos Pataxó, sempre
considerados como arredios e resistentes ao avanço da sociedade
dominante.

Quando o SPI, em 1911, optou por buscar uma solução para os


constantes conflitos entre os índios e os construtores da Estrada de
Ferro Bahia-Minas no trecho compreendido entre as cidades de Teófilo
Ottoni, no vale do Mucuri, e São Miguel do Jequitinhonha, restavam
nessa região dois aldeamentos dos Maxakalí no vale do Jequitinhonha
- um no rio Rubim e outro no Kran - e sete pequenas aldeias entre os
rios Umburanas, Dois de Abril, Itanhém, Jucuruçu e Jequitinhonha,
motivo de constantes reclamações dos moradores daquelas localidades.
Eram, ao que tudo indica, foragidos do aldeamento de Itambacuri,
fundado em 1873 por missionários capuchinhos para atender e aldear
os índios da margem esquerda do rio Doce e vale do Mucuri e um ou
dois grupos ainda não aldeados até então.

A partir da abertura da estrada em 1914, os Maxakalí do rio


Umburanas, como passaram a ser conhecidos nesse período,
estabeleceram relações de troca com os moradores da localidade de
Machacalis, apesar do receio que sua presença provocava. Ainda assim,
o SPI não adotou qualquer medida para garantir o atendimento a essa
população.

A pressão e os conflitos com os aldeados no Jequitinhonha fez com


que, a partir de 1917, os Maxakalí do aldeamento de Kran e do Rubim
terminassem por se deslocar para Umburanas, reunindo-se aos demais
ali refugiados, conforme se deduz das informações prestadas a
Rubinger e a Nascimento acerca da presença de "um amansador de
índios" de nome Fagundes, famoso por sua atuação no meado do
século XIX nas proximidades de Itambacuri.

Devido aos constantes conflitos entre índios e moradores nacionais, em


1920 o governo de Minas Gerais cedeu à União 2.000 hectares de
terras sob seu domínio, para a instalação de Postos Indígenas no rio
Umburanas, visando resolver a questão dos chamados "índios bravios"
dos rios Doce, São Mateus e Mucuri. Afirmam os índios que Fagundes,
nessa ocasião, teria vendido parcela das terras cedidas ao SPI como
forma de ser indenizado pelos serviços prestados, e os levara para
território baiano. Após várias epidemias e muita insatisfação, os
Maxakalí optaram por retornar ao Umburanas e por reunir-se ao grupo
que se recusara a abandonar o local, apesar de não receberem qualquer
tipo de assistência ou proteção por parte do SPI. Só vinte anos depois,
em 1940, foi demarcada a área do Posto Indígena de Água Boa,
deixando ao desamparo aldeias localizadas na área hoje conhecida por
Posto Indígena Pradinho.

A insatisfação dos índios e os conflitos com os fazendeiros fizeram com


que se reiniciassem, em 1951, as negociações entre o SPI e o governo
mineiro para a criação e demarcação do PI Pradinho. A decisão final só
foi tomada em 1956 quando do assassinato do líder indígena Antônio
Cascorado. Porém, a demarcação criou um fato inusitado: os dois
Postos ficaram isolados por um corredor de fazendas, inviabilizando o
contacto e os deslocamentos dos índios entre as duas áreas e agravando
os conflitos com os fazendeiros.

A guarda rural indígena


Nesse mesmo ano, os fazendeiros instalados no corredor e em áreas de
antigas aldeias iniciaram sua campanha para legitimarem seus títulos
junto ao governo do estado, encontrando irrestrito apoio dos políticos
locais e da Assembléia Legislativa. Para conter a insatisfação dos
índios, foi nomeado em 1966 o Capitão Manoel Pinheiro para a
administração do SPI em Minas Gerais.

O Capitão, ligado ao Serviço Nacional de Informações (SNI) e ao


Serviço Reservado da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais, criou
na área Maxakalí a Guarda Rural Indígena (GRIN), que passou a se
responsabilizar por manter a ordem interna nas aldeias, coibir os
deslocamentos dos índios, impor trabalhos e denunciar os infratores ao
Destacamento da Polícia Militar ali instalado. As infrações leves eram
punidas com prisão na própria área, e as consideradas como graves,
com exílio no Reformatório Agrícola Indígena, também conhecido por
Centro de Reeducação Indígena Krenak, localizado na área demarcada
para os índios Krenák, no vale do rio Doce, em Minas Gerais. Essa
instituição corretiva foi criada por Pinheiro para acolher os indígenas
que opunham resistência aos ditames dos administradores de suas
aldeias ou eram considerados como desajustados socialmente. Dessa
forma, Pinheiro conseguiu desarticular a resistência e oposição dos
Maxakalí ao esbulho de suas terras e recebeu, como compensação, uma
fazenda no corredor que, durante muitos anos, dividiu as duas áreas
indígenas, de Água Boa e Pradinho.

O resultado da atuação da GRIN foi manter os "contratos criminosos


de exploração das terras indígenas" (FIGUEIREDO, 27/08/1967),
corromper as lideranças, alimentar o faccionalismo interno, instalar
um clima de constante revolta entre os índios; beneficiar os posseiros e
invasores das terras indígenas e transformar os índios em marginais e
meros espectadores do desenvolvimento implantado em suas terras
pelos fazendeiros (TORRES, 06/08/1968). Só com a substituição de
Pinheiro na direção da Ajudância Minas-Bahia, em 1974, desarticulou-
se esse sistema repressivo, vindo à tona a exacerbação do faccionalismo
interno; a embriaguez constante; a recusa dos membros da agora
extinta GRIN a trabalhar, embora exigissem a continuidade do
pagamento do salário, e o fato dos índios terem se viciado ao
paternalismo de presentes distribuídos de forma irresponsável, tendo
abandonado o trabalho nas roças.

A partir de 1975 a nova administração da FUNAI retomou a questão da


regularização fundiária dos Maxakalí, sendo que em 1992 o problema
ainda não estava resolvido, motivando a elaboração de Laudo Pericial e
ampla movimentação de ONGs a nível nacional e internacional para
que fosse promovida a reunificação das áreas dos Maxakalí. Isso
ocorreu em 1993, com a demarcação administrativa da área unificada e
finalmente homologada em 1996. Os fazendeiros solicitaram e
ganharam o direito a serem indenizados pelas benfeitorias, sendo os
recursos repassados em 1997 à Administração Regional da FUNAI.
Como os cálculos de indenização não foram aceitos pelos fazendeiros,
está em curso um novo processo destinado a desentrusar o corredor
entre as áreas dos Postos Indígenas Pradinho e Água Boa à revelia dos
fazendeiros
Organização social

Nakpie/Rio
Doce Village. Foto: Curt Nimuendajú/Arquivo Museu Nacional, 1939

Os registros históricos dos vários momentos de seu contacto com os


colonizadores apontam os Maxakalí como semi-nômades, vivendo
predominantemente de atividades de caça e coleta e praticantes de
agricultura incipiente, características sociais que ainda podem ser
observadas entre os índios do Pradinho de contacto mais recente.

Suas famílias extensas matrilocais se articulam em outras três grandes


unidades básicas. Uma é a própria unidade definida pela identidade:
inclui todas as pessoas conhecidas por Maxakalí e que compartilham a
língua, mitos, símbolos rituais e história. Entretanto, o reconhecimento
dessa unicidade não implica no exercício, como tal, de qualquer
atividade ou posicionamento político de caráter coletivo.

Outra é o grupo doméstico, composto pelos moradores de duas a cinco


casas habitadas por famílias extensas, com direito a acesso mútuo. É a
unidade básica de integração social, pois a relação é estabelecida entre
parentes consangüíneos ou afins, cabendo a liderança ao homem mais
velho do grupo ou, excepcionalmente, a uma viúva. É um grupo não
perene, que pode desagregar-se em momentos de crise, morte ou
desacordo, sem prolongar os conflitos.
A terceira é o bando, uma unidade de consenso, de articulação social
mais complexa. Inclui todos os parentes, englobando vários grupos
domésticos. É a unidade de maior integração social estabelecida em
torno de um líder e de um centro cerimonial (Kukex) em atividade, o
que a caracteriza como unidade política e religiosa com denominação
própria. Exige um número ideal de participantes para funcionar. Caso
esse decresça, interrompe-se o cerimonial e extingue-se o bando, ou
xop, como é chamado na língua Maxakali.

Os Maxakalí classificam as pessoas em duas grandes categorias: os


Xape (parentes ou aliados do grupo familiar e dos quais se espera
solidariedade, bondade, consideração e respeito à propriedade) e
Pukñog (o estranho ou inimigo, alguém de quem não se pode esperar
bondade ou consideração, mesmo que seja parente de gerações mais
afastadas ou afins em potencial). Os casamentos preferenciais ocorrem
com os Pukñog e os Xape-Hãptox Hã, os parentes distantes e
colaterais, o que permite a redução das tensões e conflitos entre as
várias unidades sociais.

O alto grau de dispersão faz com que os agrupamentos dos Maxakalí


sejam fluidos e mutáveis e que as dissidências, quando internas ao
grupo doméstico, redundem na reformulação da composição das
"aldeias" e a distância se interponha entre os antigos membros,
desarticulando os bandos. Essa tendência à dispersão é interrompida
em momentos de crise, quando os bandos voltam a se reunir em busca
de soluções para os problemas enfrentados. A propensão ao
fracionamento constante é acentuada pela forma como ocorre a
liderança entre esses grupos, marcadamente difusa, fluida e restrita à
aldeia onde o líder vive com seus familiares consangüíneos e afins.
Esses líderes, devido à superposição das funções políticas e religiosas,
devem garantir aos seus liderados vantagens materiais, espirituais e
manter o equilíbrio entre os mundos visível e invisível. Entretanto, as
constantes crises internas e externas, as insatisfações e a dificuldade de
promover a articulação entre os interesses nem sempre concordantes
de seu grupo familiar e do bando, exigem um trabalho de busca do
consenso nem sempre bem sucedido. O resultado é a dispersão dos
grupos familiares e o surgimento de novos bandos reordenados e
reagrupados de acordo com as alianças e posturas políticas adotadas
pelos vários grupos familiares frente à razão da crise e aos responsáveis
por ela. Dessa forma pode-se explicar o constante surgimento de novas
aldeias, que se aproximam ou distanciam física e politicamente das
demais a depender do momento político.

Apesar dessa fluidez, os bandos são as unidades sociais mais


complexas, pressupondo o nível mais amplo de integração possível com
atividades coletivas, em termos econômicos, sociais, políticos e
religiosos. Constituem-se, portanto, em unidades autônomas, inclusive
quanto à possibilidade de reprodução física de acordo com as regras de
casamento, com cerimonial particular, denominação própria e limite
específico de atuação de cada liderança.

Em função dessas características sociais marcadamente dispersivas em


termos de articulação política e de a consciência de pertinência étnica
entre os Maxakalí não resultar em atividades coletivas, solidariedade
ou mesmo idéia de unidade ordenadora dos bandos, pode-se entender
a questão da constituição das novas unidades sociais autônomas e
auto-suficientes constatadas no período anterior a 1920. Caso esse
processo social tivesse ocorrido sem interferências externas - os
conflitos com colonizadores e com outros grupos indígenas deslocados
dos seus territórios, a imposição externa de aldeamento compulsório e
a opção dos vários subgrupos dessa etnia de fazê-lo em conjunto -
pode-se levantar a hipótese de, num determinado período de tempo,
ter ocorrido o surgimento de novas identidades étnicas, como ocorreu
com outros grupos Macro-Jê.

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