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Os Bantu

Origem e Migrações (Expansão)

Até o início do primeiro milênio a.C., as regiões da floresta e da savana do continente


africano eram muito esparsamente povoadas por grupos nômades que viviam da caça
e da coleta, e por grupos de pescadores que habitavam aldeias sedentárias nas
margens dos rios, lagos e estuários.
A partir do século X a.C., esses diferentes povos assistiram à chegada de pequenos
grupos cujos antepassados haviam começado a se movimentar dois milênios antes,
provavelmente a partir de uma zona de transição entre a savana e a floresta, ao sul do
rio Benué, na atual República dos Camarões.
Lá, esses povos que migraram já dominavam a agricultura do dendê, do inhame e de
outros tubérculos, faziam cerâmicas, navegavam pela costa, pescavam no mar e em
rios, e criavam cabras e cachorros, além de coletar extensivamente frutas e castanhas.
Essas migrações dos povos bantus não foram um movimento rápido de conquista, nem
uma migração populacional avassaladora o que ocorreu por ali; ao contrário, foi uma
expansão feita por uma infindável série de pequenos deslocamentos em busca de
novas terras para cultivo ou moradia, ou de rios e lagos piscosos ainda pouco
explorados. A cada geração, o território ocupado se expandia, em geral não mais do
que um dia de marcha, ou cerca de trinta quilômetros.
Esse imenso e lento processo migratório parece ter durado de 3.000 a.C. até O século
VI d.C. e chegou a abranger, aproximadamente, um terço de todo o território do
continente africano.
O fato de os antepassados longínquos desses migrantes falarem o mesmo idioma (ou
um conjunto de idiomas muito semelhantes) faz das línguas de boa parte da África
Central, Oriental e Austrais elementos de uma mesma grande família, conhecida como
bantu (palavra que designa "gente" ou "povo" em boa parte delas).
Os povos Bantu como povo etino-linguístico como conhecemos hoje são originários, da
parte Ocidental do continente africano, concretamente nos Camarões e na parte
sudeste da Nigéria.
Os Bantus tiveram a sua expansão no ano 1000 a.c, tendo alcançado o Centro e o este
do continente africano. Mas foi apenas nos seculos III e IV d.c. que chegaram ao
Sudeste da costa africana.
A sua expansão teve como ponto de partida a região ocidental e foi dividida em três
fases, sendo que na primeira atingiram a floresta equatorial e a África Central. Na
segunda atingiram o Leste. Na terceira e última fase atingiram a parte sul do
continente e foi nesta fase que os Bantu entram em contacto com o território
angolano.
A diferenciação linguística acompanhou as principais direções da expansão migratória:
assim, existe um grupo de línguas denominado de bantu ocidental (faladas pelos
grupos que atravessaram a floresta e chegaram às savanas da África Central) e outro
grupo chamado de bantu oriental (cujos idiomas são falados pelos grupos que
contornaram a floresta e se estabeleceram nos grandes lagos, nas savanas orientais ou
na costa do Oceano Índico).
Dos vários fatores que motivaram as migrações Bantu, podemos apontar os seguintes:
 A procura de novas terras para o cultivo, levando a absolvição das
populações nativas de caçadores, recolectores, com quem entraram em
contacto.
 O aumento populacional resultante de um desenvolvimento de novas
técnicas de cultivo e de novos produtos.
 A introdução de instrumentos de ferro que possibilitaram uma
alimentação mais equilibrada.
Mas não são todos os fatores, visto que muitos outros podem ter contribuído para que
ocorresse as migrações dos povos Bantus.

Economia

A economia dos povos bantus era de troca de produtos, cujo nome dado é a permuta.
Em que se desdobra no fato de que os artigos de troca são em regra os produtos
agrícolas.
Seguramente, cada família ou mesmo cada uma das mulheres recolhe e armazena o
que é necessário para o consumo normal. Mas do excedente, cada um dispõe e leva-o
para ser vendido nas melhores condições possíveis.
Ainda no seio das comunidades Bantu havia divisão do trabalho: a agricultura era
praticada por homens e mulheres, mas as mulheres executavam o trabalho principal.
Os homens faziam a desmatação e lavravam pela primeira vez os terrenos, mas eram
as mulheres que cultivavam e colhiam durante todo o resto do ano, para além da
responsabilidade de lidar do lar e dos filhos. Quando o solo das lavras se esgotava,
mudavam-se para novos terrenos, sendo, portanto, uma agricultura itinerante.
Quanto à pastorícia, era nómada, com a criação de bois, sendo o gado acompanhado
de região em região sempre à procura de capim fresco e abundante. Nos primeiros
tempos, todas as lavras pertenciam a todo o clã; todos trabalhavam e o produto era
dividido por igual; não havia escravos.
Desta forma podemos notar que nos primórdios os Bantus se organizavam
economicamente da seguinte maneira:
 a propriedade das terras, dos rios e das florestas era coletiva – pertencia a todo
o clã;
 apesar da propriedade coletiva, cada família possuía uma lavra particular;
 o direito por linha materna dava a passagem das lavras e outras riquezas de
tios para sobrinhos;
 a herança do poder político passava para o sobrinho, filho da irmã mais velha,
quando o rei soba morria;
 existiam escravos, devidos aos excedentes de produção e resultado do
desenvolvimento das forças produtivas e da divisão de classes sociais (senhores
e escravos).
Em resumo, podemos caraterizar a economia tradicional Bantu da seguinte forma:
 economia de subsistência;
 economia artesanal: não são as riquezas que preocupam os membros da
sociedade, mas sim as relações sociais e o bem-estar geral;
 economia dominada pelas práticas tradicionais aliadas aos rituais religiosos;
 economia que se processa dentro de uma estrutura social orientada por mitos,
obedecendo ao absoluto e ao sagrado.

Organização Social
No que toca nas relações de parentesco nessas sociedades linhageiras, a união dos
grupos étnicos ocorria mediante sistemas conhecidos como:
Sistema patrilinear, em que a descendência ou linhagem ocorria por via masculina. A
figura masculina detinha importância preponderante nesse processo, sendo que o filho
pertencia a sua família e recebia o nome de sua linhagem. O patriarca mais velho
detinha a autoridade, e a mulher passava a residir na família do marido. A educação, a
religiosidade, o patrimônio, a autoridade e a sucessão se baseavam na linhagem
materna. E os aspectos sociais e culturais assentavam-se nos laços paternos.
Já no sistema matrilinear, o filho pertencia à família materna, e a herança ocorria por
meio da mulher. O homem passava a residir na localidade da esposa, e o pai é o tio
materno. Além de os aspectos socioculturais estarem firmados nos laços maternos, a
autoridade do clã ou aldeia baseava-se no tio materno, mais velho.
Ainda no seio das comunidades bantus, propriamente no seio dos homens livres,
distinguia-se os homens livres ricos e homens livres pobres. Os últimos, em certas
situações, pediam empréstimos aos homens livres ricos que por eles cobravam juros
elevadíssimos e, por vezes, na impossibilidade de saldar as dívidas, eram
transformados em escravos.
Os Bantus no território angolano
Os povos Bantu começaram a emigrar para o atual território de Angola antes de 1200,
e as últimas migrações ocorreram nos anos de 1800.
As populações de origem Bantu formaram em Angola nove (9) etnias ou povos que
são:
1. Os Kikongo ou Bakongo;
2. Os Ngangela ou Ovangangela;
3. Os Nhaneka-Khumbi ou Vanyaneka-Lunkumbi
4. Os Herero ou Ovaherero;
5. Os Cokwé ou Lunda-Tchokwé/Tu-Lunda, Tu-Tchokwé;
6. Os Ambó ou Ovambo/Xikwanyama;
7. Os Ovakwangali ou Kwangari/Kuvangar;
8. Os Umbundu ou Ovimbundu;
9. Os Kimbundu ou Ambundu/Mbundu;
Estes grandes grupos por sua vez, estão subdivididos em outros mais pequenos, cuja
designação baseia-se sobretudo nas diferenças de ordem linguística existentes entre
os diversos grupos.
Quanto as migrações bantu que ocorreram no território angolano, podemos dividilas
da seguinte maneira:
Apartir dos anos de 1200, o grupo Bakongo atravessou o rio Zaire (ou rio Congo) e
instalou-se na sua margem esquerda. Caminhando para sul, este povo foi-se fixando
em áreas já antes ocupadas pelos Ambundo.
A partir dos anos de 1300, alguns homens do grupo Nganguela deslocaram-se para
oeste e atravessaram o Alto Zambeze até ao Cunene.
A partir dos anos de 1400 ou do início dos anos de 1500, os Nyanekas (ou Vanyanekas)
povos de pastores, entraram pelo Sul de Angola, atravessaram o Cunene e instalaram-
se no planalto da Huila. Nesses anos entraram também os Hereros.
Entre 1500 e 1600 começaram a chegar à região da Lunda povos caçadores, os Côkwe
(ou Tchokwe), vindos do planalto de Luba.
Nesses mesmos anos, os Côkwe abandonaram o Katanga, atravessaram o rio Cassai e
vieram instalar-se na Lunda, no Nordeste angolano. Mas os Lundas vieram cobrar
impostos ao povo recém-chegado, e os Côkwe voltaram a emigrar, principalmente
para o sul.
Entre 1700 e 1800, entraram no território angolano os Ovambos (ou Ambos). Este
povo deixou o seu território no Baixo-Cuango e veio instalar-se entre o rio Alto-
Cubango e o rio Cunene. Os Ovambos eram grandes mestres a trabalhar o ferro.
Finalmente, entre 1800 e 1900, aparece o último povo que veio instalar-se em Angola -
os Ovo Kwangali (ou Kuangares).
De notar que cada uma das etnias referidas falava a sua língua materna, como o
Kimbundu, o Kikongo, o Nganguela, o Côkwe, o Cuanhama ou o Oshiwambo.
À medida que ocorriam as migrações cada um desses povos bantu que vieram ocupar
uma porção do atual território angolano, estes povos organizaram-se até formar
importantes reinos.
Os principais reinos formados antes da ocupação europeia foram o Reino do Kongo, o
Reino do Ndongo, o Reino de Kassanje, o Reino de Matamba, o Reino da Lunda, o
Reino do Bailundo, e o Reino de Kwanyama.

Reino do Kongo

Origem e Situação Geográfica

Desde pelos menos 400 a.C., agricultores falantes de línguas bantas ocidentais
estavam instalados ao Norte e ao Sul do baixo Zaire, ali cultivando inhames, legumes e
palmeiras. Então entre os séculos II e V, tal povoamento foi reforçado pela chegada,
pelo Leste, de comunidades falantes de línguas bantas orientais.
Essas comunidades cultivavam cereais e criavam bovinos onde a mosca tsé-tsé o
permitia, principalmente em Angola. Antes dessa chegada, a metalurgia do ferro
penetrara na região a partir do ano 100, ou talvez mais cedo. Por fim, a cultura da
banana veio completar o sistema de produção, talvez no decorrer do século VI.
Desde então, as organizações sociopolíticas tornaram-se mais complexas, e chefias
formaram-se entre o oceano e o rio, a montante do Pool.
Foi na zona mais rica, ao Norte do baixo Zaire, na região de Mayombe, que a divisão do
trabalho regional foi a mais avançada.
Foi ali que nasceu a civilização do reino do Kongo.
O reino do Kongo, foi o primeiro estado a constituir-se na costa ocidental de África e
teve a sua origem na chefia vungu. O reino do Kongo, foi fundado entre final do século
XIV e início do Século XV (Anos 1300 e 1400), por Nimi-a-Lukeny. Nessa época, chefias,
pequenos reinos e conglomerados de chefias cobriam todo o país rio abaixo, tanto ao
Norte quanto ao Sul.
Nimi-a-Lukeny, fundador do reino do Kongo, fundou a capital Mbanza Kongo na
localização atual de São Salvador e seu reino constituiu-se tanto por aliança com o
chefe local, o kabunga, e com o rei que, mais ao Leste, dirigia o Mbata, no vale do
Inkisi, quanto pela conquista de outros territórios rumo ao mar e ao baixo vale do
Inkisi.
O antigo reino do Congo localizava-se na região Centro-Oeste de África. Foi um vasto
território que se estendia desde o Oceano Atlântico até ao Rio Zaire ou Congo a Leste;
e do Rio Oguwé no atual Gabão a Norte; e a Sul da margem direita do Rio Kwanza.
Atualmente, estas áreas corresponde o Noroeste e Norte de Angola, incluindo o
enclave de Cabinda, a República do Congo, a parte Ocidental da República Democrática
do Congo, e a parte Centro-Sul do Gabão.

Organização Social

No início, o reino do congo era dividido entre uma grande cidade, a capital Mbanza
Kongo, e o campo. Ali coexistiam três camadas sociais bem definidas. A nobreza, os
aldeãos e os escravos que se diferenciavam claramente pelo seu estatuto legal, suas
atividades e seu estilo de vida.
A nobreza constituía a ossatura do reino, e a cidade a corrente de transmissão. Os
nobres viviam nas cidades, exceto quando deviam ocupar cargos de comando nas
províncias. A alta nobreza compunha-se dos parentes do rei ou de um de seus
predecessores. Constituía-se em casas bilaterais ligadas entre elas por alianças
matrimoniais e pelo fato de alguns indivíduos pertencerem simultaneamente a várias
casas. Frente às aldeias a nobreza formava um bloco.
Os membros da nobreza parentes próximos do rei eram denominados de Mani. Eram
os Manis que ocupavam os lugares de comando militar, administrativo e religioso, o
que lhes dava grande riqueza.
Os Manis também cobravam impostos, recrutavam gentes para o exército, para os
trabalhos da comunidade e do rei. Cabiam ainda aos Manis dentro de suas funções ser
os juízes da região, presidindo à justiça, a distribuição a cada família as terras para o
cultivo e o recrutamento de homens para trabalhos coletivos, tais como a abertura de
caminhos, construção de residências de nobres.
O povo por sua vez encontrava-se organizado em comunidades aldeãs. Isto é, vivia nas
sanzalas ou mbanza. Defendia a propriedade comunitária e se dedicava aos trabalhos
caseiros.
Cabia ainda ao povo, o pagamento de tributos ou impostos aos Mani e ainda um
número limitado de indivíduos, como os artesãos, dedicava-se aos trabalhos de ferro,
madeira, extraia o óleo e o vinho de palma.
Os escravos, pouco numerosos, eram usados sobretudo nos serviços domésticos das
famílias nobres, no transporte de mercadorias, na formação de guardas pessoais da
aristocracia e na produção agrícola. No Reino do Kongo, como noutros reinos da África
Negra, o escravo era considerado como pessoa e não como objeto, podendo ocupar
por vezes funções importantes na família, na aldeia ou na sociedade.
O reino do congo propriamente dito era muito povoado, mas apenas dispomos de
estimativas muito aproximativas para determinar o número de seus habitantes. A
maioria dos especialistas aceita uma estimativa em torno de 2 milhões. Porém, certo
autor ainda sustenta que teriam sido 4 milhões, e talvez até 8 milhões.

Quanto ao Rei
O chefe supremo do reino do Kongo era conhecido como Mani Kongo. Do quicongo ou
quimbundo miwene, “rei”, aportuguesado para “mani” ou “mono” desde o século 15,
mais a expressão Kongo, resultou em Rei do Kongo.
A figura do rei representava, além do poder político, uma relação com as questões
míticas, que explicavam a origem e organização da sociedade bantu. Suas vestimentas
e os adornos eram uma constante representação de sua cosmovisão. Munido de uma
boa estrutura administrativa, o Mani Kongo destinava um funcionário, que poderia ser
substituído segundo sua vontade, para governar um conjunto de aldeias ou eram
chefiados sob seu comando.
Pelo controle do Mani Kongo, a unidade do reino era mantida, cercada por linhagens
nobres que se entrelaçavam por meio de relações matrimoniais.
O centro do poder estava localizado na capital Mbanza Kongo, sendo atualmente a
capital da província do Zaire, situada ao noroeste de Angola. O rei aí administrava,
juntamente com o grupo de nobres que formavam o conselho real.
O rei nomeava os governadores territoriais, à exceção daquele de Mbata e, após 1491,
daquele do Soyo onde se encontrava o porto do reino, em Mpinda.
O rei nomeava seus parentes próximos para os cargos chave do governo das
províncias, da magistratura superior e da administração fiscal. A realeza baseava-se em
eleições: o conselho real comportava 12 membros – dos quais 4 eram mulheres – que
representavam, os clãs dos avós do rei. Os reis, por serem grandes polígamos, tinham
vários filhos, e sua casa alcançava rapidamente grandes proporções.
Mani Kongo tinha poder absoluto, e podia declarar a guerra e castigar as pessoas.
Como forma de o rei ampliar e garantir seu domínio sobre a sociedade linhageira, ele
distribuía a riqueza adquirida pela cobrança de impostos, entre os seus pares.
Parte do que recebia repassava aos governadores provinciais, que, por sua vez,
repartiam entre os chefes dos distritos e, estes, entre os líderes das aldeias e das
linhagens. Essa ação do Mani Kongo garantia seu domínio sobre as aristocracias
regionais, mediante cumplicidade e subserviência.
A esposa principal do rei devia ser a filha ou a irmã do governador de Mbata, província
esta em que o governo era hereditário dentro do parentesco matrilinear dos Nsaku
Lau. O príncipe reinante ali se casava, por sua vez, com uma parente próxima do rei.
O dignitário religioso supremo do reino, o mani kabunga (senhor) de Mbanza Kongo
era oriundo de um ramo de parentesco deste príncipe, os Nsaku Vunda. Tal dignitário
era responsável pelo culto do espírito territorial da região da capital.
Os dois senhores dos Nsaku coroavam o rei. Vê-se então claramente como se
constituiu o reino em sua origem.
O Reino do Congo, apesar de ser governado por uma rede de parentes do rei,
permanecia fortemente centralizado.
Cada casa de nobres, organizada em torno de um grande homem, também tinha seus
próprios homens (subordinados e escravos), e a casa real disponha, além do mais, de
escravos enviados por toda a nobreza.

Organização Político e Administrativa

O reino do Kongo era composto por seis (6) províncias (Mbanza), que são espécies de
cidades que seguiam as determinações propostas pela Mani Kongo.
As províncias que o reino do Kongo comportava que são:
 Mpemba;
 Soyo;
 Mbata;
 Mbamba;
 Nsundi;
 Mpangu;
Cada uma destas províncias estava dividida em unidades administrativas, chamadas de
vata-aldeia e eram governadas pelos seus próprios manis.
A Província de Bamba ou Mbamba era a maior em extensão, e a mais rica, governada
pelo Manibamba. Tinha sob seu domínio muitos senhores ligados à realeza, entre eles:
Mani Dande, Mani Bengo, Mani Corimba, Mani Cuanza e Mani Caçanje, e Mani
Luanda, que era o governador da ilha de Luanda.
Todos esses senhores dominavam regiões próximas ao mar. Essa província situava-se
ao longo da costa do mar, banhada pelos rios Ambriz, Cuanza, Loje e Lufune.
Soyo (Nsoio) era a província delimitada pelo rio Ambriz ao sul. Atravessava o rio
Lelunda e o Zaire e terminava nas chamadas Barreiras Vermelhas, que estão nos
confins do reino do Loango.
Os homens que governavam essa província eram conhecidos como Mani Soyo. Como
distintivo utilizavam uma carapuça na cabeça com desenho de serpente. Na região do
Soyo haviam canais com muitos peixes, especialmente sardinhas e enguias, e outras
espécies como: linguados, solhos, barbos, assim como lagostas em abundância. Os
indivíduos que viviam no Soyo utilizavam roupas de panos de palma, com penachos na
cabeça, de penas de papagaios e outras aves.
Repleta de minas de ferro e cristais era a província de Sunde (Nsundi). Fazia fronteira
com Mpango, Nsoyo, Mikoko e Anzicana. Nela estava situada a capital, Mbanza Kongo.
Essa província era a primeira como patrimônio de todo o reino do Kongo e, por isso,
era normalmente governada pelo primogênito do Mani Kongo.
A região de Pango ou Mpangu foi um reino livre que fez fronteira ao norte com Sunde
e, ao sul, com Mbata. Atravessada pelo rio Berbela, Bankari e Zaire, sua principal
Mbanza tinha o mesmo nome. Essa região também se chamava Panzelungos ou
Panguelunga, que supostamente nomeava a margem do rio Berbela e se corrompeu
no vocábulo Pango.
Fazendo fronteira com o Pango, o Nsundi, o Mpangu e o rio Berbela, estava a província
conhecida como Mbata ou Bata. Sua principal cidade, onde residia o príncipe, chama-
se Bata. Antigamente se chamava Agisymba. Os povos que nasciam na região se diziam
mozombos.
A província de Pemba estava situada no centro do reino do Kongo, circundada pelos
montes Queimados e pelo rio Loje.
Um local que se destacava no Kongo, pela sua importância política, era sua capital
conhecida como Mbanza Kongo. Nessa cidade, vivia o rei e milhares de pessoas.
Grande parte de sua planície era frutífera e cultivada. Produzia grãos de várias
espécies, mas a principal e melhor era o luco.
Havia uma divisão fundamental na sociedade conguesa, entre as cidades – Mbanza
onde viviam os nobres e alguns privilegiados, e as comunidades de aldeias. As
principais diferenças entre esses dois é que o espaço social consistia no fato de que:
Nas aldeias, os chefes ou nkuluntus, não tinham controle sobre a produção. Tal
produção se baseava nas estruturas familiares e na divisão sexual do trabalho.
Entretanto, nas cidades, os nobres controlavam a produção, que era fruto do trabalho
cativo nas terras da nobreza.
Além das províncias do reino do kongo haviam estados independentes e chefias, como
os dos Mbundo do nordeste de Angola, Ndongo, Matamba, Loango, Ngoyo, Dembe,
Cakongo, entre outros. Todos estes estados e chefias pagavam impostos ao rei do
Kongo.

Economia

No que tange a economia o reino do Congo apresentava, na época, uma estrutura


socioeconómica desenvolvida e bem organizada, dispondo de reinos vassalos ou
tributários (Ndongo, Cacongo, Vungo…) e um comércio além-fronteiras que obrigava à
utilização de uma moeda transacional (o zimbo).
O Reino do Kongo alem dos tributos que recebia de outros reinos, praticava outras
atividades económicas.
Na agricultura este reino cultivava produtos como: massango, feijão, massambala,
banana, inhame, entre outros produtos.
No artesanato eles já eram capazes de fabricar armas, cerâmica e outros utensílios.
Alem do mais tinham ainda como principais atividades económicas caça, os trabalhos
de ferro, exploração de minas e a formação pequenas indústrias derivadas da caça, da
pesca e do artesanato (escultura).
Nas trocas com os povos do litoral encontrava-se os mercados locais do rio Zaire e da
costa do oceano e ali trocavam-se alguns produtos como, o sal, ferro, tecidos de ráfia,
peles e produtos alimentares. Este tipo de comércio era conhecido por permuta.
Mais tarde, a troca de produtos era feita com a principal moeda: o nzimbu.
Os zimbos (nzimbu), isto é, búzios que abundavam nas areias da restinga de Luanda. A
Ilha das Cabras, como era conhecida a Ilha de Luanda, na verdade era uma restinga
que já se encontrava em território do chamado Reino do N´Gola.
O zimbo servia de padrão de valor e não se encontrava em qualquer outra parte, pelo
que constituía um monopólio exclusivo do mani Congo e era controlado pelo mani de
Luanda, governador da ilha.
Na Ilha de Luanda podia ser encontrado zimbu de vários tamanhos: grandes, médios e
pequenas, tendo cada um o seu valor. Estes buzios eram a moeda federal e de
aceitação generalizada e era com eles que se pagavam todas as despesas
administrativas correntes do Reino do Kongo. Pagava-se os soldados e os funcionários,
entre outras despesas do reino, (mais tarde, o instrumento de troca passou a ser o
Libongo, uma peça de tecido de ráfia de fabricação local).
Os congueses ainda exploravam do subsolo os minérios de cobre e ferro, a partir do
qual fundiam e moldavam peças para uso doméstico e comércio. Produziam também
cerâmicas e teciam panos a partir das cascas do embondeiro. Eram povos agro-
pastores por excelência.
A região de Nsundi, compreendida entre o Lago Malebo (na Repúblida Democrática do
Congo) e Mbanza-Kongo, constituía uma importante via de comunicação e de
comércio com o interior do continente.
A administração tirava também as suas receitas dos impostos, dos trabalhos forçados,
dos direitos aduaneiros e das multas judiciais. No entanto, não havia uma política fiscal
claramente definida.
O mani Congo controlou a circulação monetária até que, entre 1648 e 1651, os
portugueses retiraram-lhe pela primeira vez o monopólio, e depois definitivamente em
1665, após a Batalha de Ambuíla.

Ritos
Quando a religiosidade no reino do Kongo, nota-se que a ideologia da realeza (nkisi)
decorria das concepções religiosas gerais. Três cultos importantes nela
desempenhavam um papel: o dos antepassados cujo lugar sagrado era o bosque do
cemitério real, o dos espíritos territoriais (o espírito de Mbanza Kongo era zelado pelo
mani kabunga, o clero encarregado dos espíritos, tanto no nível da aldeia quanto do
reino) e o dos sortilégios reais.
A noção de nkisi era fundamental. Chamavam a igreja de “casa do nkisi”, a bíblia de
“livro do nkisi”, o sacerdote de nganga do nkisi, nganga sendo por sua vez o termo
consagrado para dado a um especialista em religião, principalmente em nkisi.
Atribuíam-se as doenças e desgraças aos ndoki (feiticeiros), estes últimos podendo ser
descobertos pelos nganga ngombo (adivinhos), por vezes com a ajuda de ordálios.

Etnias
O reino do kongo possuía inúmeras etnias que estavam presentes na região do reino
do Kongo; porém, os principais estudiosos apontam uma preponderância demográfica
do grupo Kongo.
Esse grupo habitava a área ao norte e ao sul do rio Zaire, entre a costa atlântica e o
Malebo, ocupando a região do Baixo Zaire, grande parte do Noroeste de Angola, o
enclave de Cabinda e atingindo a parte ocidental da atual República do Congo.
Ao sul do rio Zaire, o grupo Kongo subdividia-se nas seguintes etnias: Solongo, Mboma,
Ashikongo, Zombo (Mbata), Nkanu, Mpangu, Nsundi.
Os Povos que se estendiam para o norte do grande rio: Tsotso, Hungu, Yaka e Suku.
Ao norte do Zaire, habitam as etnias Woyo, Kakongo, Vili, Yombe, Kunyi, Manyanga e
Bembe.

NDONGO

Origens e Limites territoriais


A formação do reino do Ndongo está relacionada à migração dos povos Mbundu,
grupo étnico Bantu, que teriam se fixado na região após um movimento migratório em
busca de áreas com maiores potenciais agrícolas.
Esses povos encontraram no Ndongo, um local privilegiado para o desenvolvimento da
agricultura e do pastoreio, uma vez que a região apresentava um rico solo, irrigado
naturalmente pela bacia hidrográfica do Kwanza e dos rios adjacentes.
O reino do Ndongo ou Ngola, foi constituído no século XIV, um século depois da
formação do reino do Kongo, mas há autores como Cuavazzi, que referem que o
mesmo surge no século XVI, e teve como fundador Ngola Kiluanji e não Ngola Nzinga
que se supõe ser jaga.
A localização do reino do Ndongo era ao sul do reino do Kongo, entre os rios Dande e
Kwanza, ao leste por Matamba e Luba, ao sul pelos estados Ovimbundos e Kisama, e a
Oeste pelo Oceano Atlântico.
Seu território compreendia vasta extensão, com destaque para a ilha de Luanda,
posteriormente conhecida como Ilha do Cabo, e nela viviam milhares de indivíduos.
A ilha de Luanda ou do Cabo como era denominada tinha doze léguas de extensão,
tendo seus limites até o Tampo e a Barra da Curimba.
Em suas terras, havia diversas verduras, hortaliças e temperos como: couve, alface,
nabo, cenoura, coentro, hortelã e cebola. Figueiras, laranjeiras, limeiras, goiabeiras
eram algumas das árvores frutíferas que compunham a flora da região.
Organização Político-Administrativa

O rei do reino do Ndongo era intitulado como Ngola – A – Killwanji, ou Ngola Kasanje.
Ele comandava toda a área costeira entre os rios Bengo e Kwanza. O rei Ngola-Killwanji
também aparece nomeado em diversos textos como: Kasanze, Caçanze, Casanze,
Quasanze, Cazzanzi, Casangi.
A figura do Ngola alem de ser a principal posição política do Ndongo, representava
também para o povo do reino do Ndongo “o senhor do sol e da chuva”, sendo
responsável pela fertilidade da terra e pelo bem-estar coletivo. Segundo certo autor, o
prestígio do Ngola era tamanho, que o povo Mbundu “o venerava como um Deus”,
sendo legitimado pelos ancestrais como intermediador entre os dois mundos (vivos e
mortos).
Inicialmente o nome e título Ngola se aplicava somente aos potentados e às regiões ao
longo do curso superior dos rios Lucala e Cuanza. Porém, com o decorrer do tempo, o
uso do termo passou a aplicar se a outras regiões e aos chefes vizinhos do Ndongo.
Por isso, o reino do Ndongo passou a ser chamado pelos portugueses de “as terras de
Ngola”; mais tarde, “as terras de Angola”, termo que depois se generalizou a partir da
penetração e ocupação colonial dos reinos e povos africanos situados entre a foz dos
rios Congo e Cunene.
Politicamente as relações no Ndongo ocorriam de forma centralizada pelo Ngola, rei
do Ndongo. Essa figura política contava com um séquito administrativo, formado por
vários funcionários reais.
Os makotas tinham a função de “ministros”, e geralmente eram homens mais velhos,
que o auxiliavam na tomada de decisões, tendo o direito ao voto no momento de sua
sucessão. Estes atuavam ainda também como conselheiros nas campanhas militares, e
quando falhavam estavam sujeitos à pena de morte.
Dentre os principais cargos, destacam-se:
Tandala ou Tendala: Exercia o maior poder depois do Ngola. Em geral eram escravos
que ocupavam esse cargo, para não ameaçar o poder do rei e evitar abuso de poder.
Possuíam também a importante função de administrar o reino, no período de
interregno, até a eleição do novo Ngola.
Ngolambole: Era o chefe do exército, encarregado de prestar contas das campanhas
militares ao Ngola. Com o aumento das campanhas militares, passou a ser mais
importante do que o Tandala.
Macunzes: Espécie de embaixadores que representavam o Ngola e os sobas em
questões políticas locais e estrangeiras, sendo conhecidos pelo seu apreço à cachaça,
item indispensável para quem quisesse selar acordos com ele.
Mani-Ndongo: Sacerdotes supremos, cuja função era receber os missionários
estrangeiros e acompanhar as campanhas militares.
Além desses funcionários, havia também cargos ligados às funções pessoais do Ngola,
como: mwene lumbu (criado/mordomo); mwene musete (roupeiro) e mwene quizoula
(chefe de cozinha).
Os ferreiros também ocupavam posição privilegiada nessas sociedades, uma vez que
eram associados ao sobrenatural e ao mito de origem.
O general do exército do Ngola se chamava Andalaquitunga e tinha como principais
funções coordenar a segurança do reino e defender o seu rei. Este general possuía um
exército na capital que servia para garantir a segurança do Ngola e proteger o reino de
possíveis invasões e saques.
Para além do séquito administrativo da capital (Mbanza), o poder do Ngola se estendia
para outras regiões (ou sobados). Todos os agentes administrativos do rei lhe deviam
fidelidade e pagavam impostos, a ele.
Quanto a estrutura administrativa do reino, textos sublinham que sobados eram
“unidades políticas” que contavam com um chefe principal (soba) e tinham certa
autonomia política em relação ao Ngola, visto que se localizavam em regiões de difícil
acesso, o que impossibilitava sua influência direta, fazendo assim com que o seu poder
fosse mais simbólico do que concreto.
Vale destacar que os limites territoriais do reino do Ndongo não eram fixos, pois se
alteravam conforme o alcance da autoridade do Ngola.
Sobre as responsabilidades dos sobas, destacam-se: o direito de decretar penas de
morte, a obrigação de prestar apoio militar em caso de ameaças ao poder do Ngola e o
pagamento de tributos.
A forma como os tributos chegavam ao Ngola era de responsabilidade do soba, pois
não havia em sua corte cobradores de impostos. Geralmente, esses tributos eram
pagos ao Ngola, em troca de seus poderes místicos, como fazer chover e controlar os
fenômenos naturais.
Como a maioria dos sobas vivia afastada do rei, eles gozavam de uma tênue autonomia
nas decisões e ações administrativas, que, entretanto, não poderiam ser contrárias às
ideias e à visão do rei.
Assim, como os sobas eram tributários do Ngola, este estava subordinado ao mani
Kongo (rei do Congo). Somente a partir do século XVI, o Ngola obteve a sua
independência política com a batalha de Ndande (1556), quando o mani Kongo foi
derrotado pela força de suas armas.

Economia
A principal atividade econômica era a agricultura.
Destacava-se o cultivo de: cereais, laranja, limão, batata-doce, inhame e banana, assim
como o óleo de palma extraído das palmeiras, indispensável para o comércio africano.
Além do cultivo desses produtos, também criavam animais domésticos, como ovelhas,
galinhas, cabras, cães, porcos e, em algumas sociedades, o gado. A pesca era uma
atividade complementar, cabendo aos homens a pesca em alto mar, e às mulheres a
pesca do zimbo.
Realizavam-se mercados para venda ou troca dos excedentes da produção com os
reinos vizinhos.
A moeda que circulava neste reino e nos mercados era o sal-gema, chamado njimbo,
que era trazido das minas da Quissama. O sal-gema era dividido em pedras uniformes
de três palmos que correspondiam a um determinado valor, na troca por outra
mercadoria. Como exemplo dessa transação, destaca-se: uma pedra de sal valia três
galos ou seis galinhas, três pedras de sal valiam uma cabra e quinze pedras valiam um
boi ou uma vaca.
Sendo o sal artigo tão valioso, as regiões localizadas no entorno do Ndongo, que
dispunham de salinas eram constantemente invadidas, a mando do rei, no sentido de
se apropriarem desse bem tão valoroso.

Etnia e Ritos
O grupo étnico que habitava majoritariamente o reino do Ndongo era composto pelos
ambundos. Originariamente, o povo mbundo veio da área descrita como Matamba.
Estavam incluídos nessa categoria os lenge, os ndongo, os songo, os mbondo, os
pende, os hungu e os libolo.
Além dos ambundos outra etnia presente no Ndongo eram os jagas. Estes
supostamente teriam vindo do Kongo, da região do Libolo e Quisama, se deslocando
pelo rio Cunene e Humbe.
Esses grupos agregavam várias etnias que se baseavam no regime de descendência
matrilinear; estruturavam-se em linhagens, sendo comum o dote e a poligamia. Isso
porque o aumento no número dos integrantes dos clãs; como mulheres, crianças e
cativos garantiam uma predominância militar e política sobre os demais.
Quanto aos ritos os povos bantus que viviam na região do Ndongo cotidianamente
festejavam a colheita e sua relação com os elementos da natureza.
De cinco em cinco dias tinham um dia de festa que chamavam de sona, onde bebiam
durante todo o dia e comia a noite. Também festejavam as estações lunares, como é o
caso da lua nova, que predestinava a época do plantio e eles chamavam de lua
embege.

Reino da Matamba

Formou-se no século XIV quando Ngola Inene conquistou esse território. Entretanto,
por volta de 1570, os Jagas fugidos do Kongo invadiram a Matamba e misturaram-se
com a população local.
O reino da Matamba perdeu assim momentaneamente a sua unidade política, pois
passou a ser um território ocupado por diversos acampamentos Jaga.
Sublinhe-se que nesta altura, a Matamba estava sob domínio do reino do Ndongo. E
em 1630, Nzinga Mbandi reconstitui o reino da Matamba e os Jagas proclamam-na
Rainha da Matamba.
A Matamba serviu de quartel general durante muitos anos da rainha Jinga Mbandi nas
suas investidas contra os invasores portugueses. Quando em outubro de 1626,
colocaram Ari Kiluanje no trono do Ndongo a rainha mudou-se definitivamente para a
Matamba.

O Reino de Cassange

O reino de Cassange constitui-se entre 1620 e 1630 quando algumas hordas de


Imbangalas fundaram o reino. O soberano deste reino Kassanje Kaímba, tornou-se
muito famoso e poderoso.
O Reino de Cassange, estava fixado, na margem esquerda do rio Kwangu.
Este reino ocupava uma área de 8.500km², numa região de baixa altitude-Baixa de
Cassange, constituído pelos povos Imbangalas, Jagas, Sossos e Ambundus.
Nota – se que o termo jaga é o título dados pelos Portugueses ao rei de Cassange e a
alguns sobas do Nordeste. Na realidade, entre os Imbangálas, o título era o de kinguri,
chefe que emigrara do reino Lunda e a quem era atribuída a fundação do reino.
O grupo dirigido pelo Kinguri, fundador do reino de Cassange, era composto pelo povo
Lunda, Quioco e Bunda que se tinham congregado na região do Songo.
A região do Songo e toda a extensão do antigo Estado de Cassange
administrativamente localizam - se na região da Baixa de Cassange, um dos municipios
da província de Malange e foram designados por imbangalas devido à organização de
uma instituição guerreira designada de kilombo, que mais tarde tornou-se a base da
organização política centralizadora e unificadora dos imbangalas.
Quanto ao comercio o reino de Cassange fazia comercio com o Imperio Lunda e com o
Alto Zambeze. As suas tropas internavam-se no interior do continente para fazer
guerras de “Kuata-kuata”.
Para a Lunda levavam sal da Quissama, comprado aos pombeiros e das minas da
Matamba, traziam finos tecidos de palma fabricados pelo artesanato da Lunda.
O Estado de Cassange foi um reino intermediário nas relações comerciais entre os
reinos da Lunda e os portugueses. Até 1880, não permitiam a passagem de
comerciantes e pombeiros lusitanizados, portugueses e lundas em seu território, e
quando o fizessem, era a custo de elevados impostos alfandegários.
Os acampamentos dos imbangalas encontravam-se bem defendidos dos ataques de
outros povos, cada sector estava como uma unidade de combate com armas sempre
prontas.
No centro o chefe guerreiro era rodeado de um séquito de esposas e administradores
que o acompanham nas suas cerimoniosas e inspeções no campo carregando os seus
arcos e taças de vinho.
O chefe adornava-se com penteados primorosamente feitos de conchas e ungia as
suas muitas sacarificações ornamentais com unguentos, que acreditava – se ser
magico.
No tocante a religião os povos do reino de Cassange praticavam atos de canibalismo
em algumas cerimônias rituais e também a iniciação pela qual todos se tornavam
imbangala, portanto, não possuíam descendência legitimada e não tinham adquirido
técnicas e hábitos muito avançados.
Reino Tchokwe

Quanto ao Tchokwe ou Quioco, segundo a tradição oral, estes grupos que são
descedentes do povo Lunda que, devido a querelas internas nas regras de sucessão,
um grupo preferiu separar-se e formar um novo reino, instalando-se de início na
margem direita do rio Kwangu, na região Sul do Alto-Chicapa.
Reza a História que eram hábeis agricultores de mandioca e bananeiras, criadores de
galinhas, exímios caçadores de elefantes, também praticavam a recoleção de mel e
cera, bons ferreiros, não se dedicavam à guerra e, por isso, o comércio de escravos não
foi a sua principal atividade econômica.
A partir do século XIX, lançaram-se numa campanha de expansão territorial, anexando
vários territórios desde Mona Quimbundo até a confluência dos rios Cuatir e Cubango;
submetendo a Oeste, os Ganguela; a Oriente, os Kazembe; e outros povos a Norte do
povoado do Cuchi. Em 1887, os Tchokwe atacaram a Mussumba e submeteram os
Lundas.
O expansionismo Tchokwe foi intemrompido pelas potências coloniais, Portugal e o
Estado Livre do Congo, que já esboçavam a nova configuração territorial para os reinos
da Lunda.
Reino do Luba

A história dos luba, um reino que ocupava as regiões da Zâmbia e de Angola retraça o
itinerário de um mesmo e único sistema político emergido em Shaba, na atual
República Democrática do Congo, antes de alcançar uma grande parte da savana
meridional, praticamente do rio Cuango ao rio Zambeze
Deste modo, a história luba, quando evocada, recobre tanto as realidades
concernentes aos luba atuais do Shaba (os luba shankadi) e do Kasaï (os luba lubilanji),
quanto às relativas aos songye, kanyok, kete, sala, mpasu, bindji e lulua.
Segundo certas tradições, o pequeno reino Kalundwe, fundado entre os rios Luembe e
Lubilash por uma colisão de três clãs, foi o precursor do Reino Luba. A capital do reino
Kalundwe localizava-se na região de Cifinda. Um de seus reis, Kongolo, deixou-a para
fundar uma outra nas planícies de Mwibele, não longe do lago Boya, no coração da
região que se tornaria o Estado Luba.
Existem várias teorias sobre a autenticidade do personagem de Kongolo, mas não
deixam de ser aceitáveis as tradições relativas à posição das primeiras capitais.
Estas tradições nos ensinam que, contrariamente ao que se passou no caso de quase
todas as outras chefias do pequeno reino de Kalundwe, a capital do Reino Luba não
estava situada no vale fluvial, mas no coração das grandes planícies que se estendiam
ao Norte da depressão de Upemba.
Por este motivo historiadores afirmam que o Estado Luba se formou nas planícies sob
o efeito de influências oriundas da margem oriental do Lualaba.
Diferente dos outros, tal reino dominou – talvez, desde seus primórdios – os kalundwe,
a Oeste, e os kikondja, ao Sul. O que nos propões afirmar que o reino do luba já
englobava, ao Sul da depressão de Upemba, o Reino Kikondja e, a Oeste, o Reino
Kalundwe.

Organização do Reino do Luba


A organização do Estado era concebida como uma pirâmide de pirâmides. O rei
encontrava-se, no cume da pirâmide das pirâmides do parentesco. O rei que, estava
acima do combate político e ligado por parentesco a uma quantidade de diferentes
chefes, detinha o título de mulopwe que significa a indivisibilidade do poder, o poder
que não pode ser partilhado.
Presumia-se que o rei não tivesse linhagem nem clã, embora a função se transmitisse
geralmente de pai para o irmão ou o filho.
Os ritos da investidura (o incesto real, por exemplo) e as insígnias do poder
sublinhavam o caráter único e a supremacia do soberano, bem como sua condição de
simples titular do cargo: o mulopwe era apenas um rei de uma linhagem de reis.
O mulopwe era cercado por uma família de funcionários. Primeiramente, havia seu
harém, que refletia as verdadeiras alianças políticas, assegurando a coesão do reino.
Os funcionários controlavam o pagamento do tributo em forma de mingilu (corveia),
milambu (impostos pagáveis em alimentos ou em produtos locais, tais como sal, ráfia,
cestos) ou de presentes oferecidos na ocasião da investidura de kugala (dignitários).
No escalão superior, o reino era governado da capital (percebida como um cume), cujo
próprio traçado refletia o tipo de estrutura: residência real, residências dos
funcionários titulados dos dois sexos, separados segundo a função (militar, civil).
A administração central supervisionava a coleta do tributo, organizava o exército
(encarregado de recolher esse tributo pela força) e aconselhava o rei por intermédio
do tshidie (conselho dos notáveis) e do tshihangu (corte de justiça).
Os principais funcionários eram o twite (que substituía o rei nas questões do domínio
secular), o nabanza (guardião das insígnias reais e supervisor dos ritos), o lukunga
(primeiro juiz), o mwana mwilamba(chefe do exército), o mwine lundu (guardião da
tradição e, notadamente, da constituição não escrita), o fumwa pamba diyumbi (o
feiticeiro, mas, também, o adivinho do rei), a ndalamba (a rainha mãe, que tinha um
papel ritual).
A administração territorial estava nas mãos dos bilolo (singular: kilolo), cada um deles
sendo responsável por uma kibwindji (região). Eles eram escolhidos pelos habitantes
da região em questão, no interior da família dirigente do distrito, e suas funções eram
confirmadas pela corte. Porém, às vezes, eles eram impostos por esta, principalmente
quando se tratava de um parente próximo do rei.

Reino dos Ovimbundo do Planalto Central

Os habitantes do Planalto de Angola designados sob o termo genérico de Ovimbundu,


que advém da evolução semântica do conceito ‘‘ MUNTU’’ (Munthu) que nas línguas
africanas significa ‘‘pessoa’’. Estes reinos eram compostos:
1.Reino do Ndulu ou y’Olõsima (Handulo) – o mais antigo reino de todo o planalto
central de Angola, foi fundado por Katekula-Mengu.
2.Reino de Mbalundu (Bailundu) – fundado por Katiavala em 1700 (originário de
Tchipala na Quibala, um conhecido reino vassalo do Mbalundu), que aproveitando-se
da ausência de Mbulu, ocupou Mbalundu, destituindo definitivamente a chefia do
reino.
3.O Reino do Viye (Bié) – muito famoso no comércio a distância da borracha.
4.O Reino do Ngalangi ou Kwambwenge (Galangue).
5.O Reino do Wambu ou Wambu-Kalunga (Huambo) – fundado mais ou menos no
longínquo ano de 1600 por Wambu-Kalunga originário da região da Cela.
6. O Reino de Kalukembe (Caluquembe) – este diferencia-se dos demais reinos do
planalto central pelo facto de adoptarem à sucessão real de descendência matriarcal e
matrilinear. Está também amplamente difundida entre os Ovimbundu de Kalukembe a
tendência da exogomia, isto é, casar-se com cônjuge que não é do seu grupo familiar,
contrariando o que se verifica nos outros grupos etnolinguísticos cuja tendência
predominante era a endogomia, isto é, procura-se parceiro de casamento dentro dos
laços da mesma família.

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