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FACULDADE BATISTA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - FABERJ

CURSO LIVRE DE TEOLOGIA

Anderson Acyr Chagas Alves

O PROCESSO DE PERDA DA IDENTIDADE BATISTA BRASILEIRA E AS


CONSEQUÊNCIAS DO AFASTAMENTO DE SEUS PRINCIPIOS, SUA DOUTRINA
E SUAS PRÁTICAS

CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ


2018
FACULDADE BATISTA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - FABERJ
CURSO LIVRE DE TEOLOGIA

Anderson Acyr Chagas Alves

O PROCESSO DE PERDA DA IDENTIDADE BATISTA BRASILEIRA E AS


CONSEQUÊNCIAS DO AFASTAMENTO DE SEUS PRINCIPIOS, SUA DOUTRINA
E SUAS PRÁTICAS

Artigo Científico elaborado na disciplina de Trabalho de


Conclusão de Curso, da Faculdade Batista do Estado do Rio
de Janeiro, FABERJ – Campos dos Goytacazes, RJ – como
requisito parcial para obtenção do certificado de conclusão do
Curso Livre de Teologia.

Tutor: Prof. Me. Leandro Sant’Anna da Silva Guimarães

CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ


2018
O PROCESSO DE PERDA DA IDENTIDADE BATISTA BRASILEIRA E AS
CONSEQUÊNCIAS DO AFASTAMENTO DE SEUS PRINCIPIOS, SUA DOUTRINA
E SUAS PRÁTICAS
Anderson Acyr Chagas Alves1
RESUMO
O objetivo deste presente trabalho é analisar o processo de perda da identidade dos
Batistas Brasileiros, seus possíveis causadores, e as respectivas consequências
para a denominação, e como isso tem afetado o processo de conversão do homem.
Será apresentado um breve resumo da história dos Batistas, além das principais
teorias sobre seu surgimento no mundo, e em terras brasileiras. Serão analisadas as
mudanças ocorridas no pensamento da denominação Batista Brasileira, sobre temas
contemporâneos como o pastorado feminino, as teologias inclusiva e da
prosperidade, confissão positiva, marxismo, liberalismo, feminismo, igrejas em
células, missão integral, entre outras ações humanas no que diz respeito ao culto.

Palavras-chave: Identidade. Perda. Teologia. Ordenação feminina. Liberalismo.

ABSTRACT
The objective of this present work is to analyze the process of loss of the identity of
the Brazilian Baptists, their possible causers, and the respective consequences for
the denomination, and how this has affected the process of human conversion. A
brief summary of the history of Baptists will be presented, as well as the main
theories about their emergence in the world, and in Brazilian lands. We will analyze
the changes that occurred in the thinking of the Brazilian Baptist denomination, on
contemporary themes such as women's pastorate, inclusive and prosperous
theologies, positive confession, Marxism, liberalism, feminism, cell churches, integral
mission, among other human actions respect to worship.

Key words: Identity. Loss. Theology. Female ordination. Liberalism.

1Aluno do Curso Livre de Teologia da Faculdade Batista do Estado do Rio de Janeiro (FABERJ). E-
mail: andersonacyrchagas@gmail.com
5

INTRODUÇÃO

Em toda a sua história, os Batistas sofreram com ataques externos e internos,


e mesmo assim perseveraram na observância de princípios e doutrinas bíblicos.
Junte-se a isso práticas, usos e costumes pautados em coerência e ordem, e o que
se obtém é a identidade Batista.
Nas últimas décadas, essa identidade tem se perdido em meio a teologias
inclusivas, de prosperidade, práticas estranhas ao culto, antropocentrismo,
liberalismo e, acima de tudo, o afastamento das escrituras.
Estudiosos como o Pastor Dinelcir de Souza Lima, assim como seu pai o
Pastor Delcyr de Souza Lima, defendem que “mesmo com a falta de um
ordenamento geral sobre a liturgia dos cultos batistas, ficava bastante evidente a
preocupação e o zelo com a prestação de um culto agradável a Deus pelas igrejas
batistas, o que criava uma espécie de identidade e tornava os cultos muito
parecidos. O que conferia diferença eram apenas as características culturais de
cada região do país.”
Nos dias atuais, tornou-se difícil identificar o que seria ser Batista. A escarces
de material relacionado a este tema tem dificultado a obtenção de respostas a estas
questões.
Analisar essa perda de identidade, assim como seus causadores e
consequências para a denominação, nos leva diretamente a problemática de como
isso tem afetado o processo de conversão do homem.
Mediante revisão bibliográfica, são analisadas neste trabalho as mudanças
ocorridas no pensamento da denominação sobre temas contemporâneos como o
pastorado feminino, as teologias inclusiva e da prosperidade, confissão positiva,
entre outras ações humanas, no que diz respeito ao culto.
O que se nota após pesquisa feita em periódicos disponíveis virtualmente, é que o
processo de mudança já vem ocorrendo a varias décadas, e se torna mais evidente
nos períodos de crescimento das manifestações em prol de determinados grupos.
Deve-se ter em mente a urgência do retorno da observância das Escrituras
Sagradas como regra de conduta para nossos cultos e vida. Para tal cabe o texto de
Paulo: “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro do Senhor, que andeis de modo digno da
vocação com que fostes chamados” (Ef. 4:1).
6

1 IDENTIDADE

De maneira geral, conceitua-se identidade como o conjunto de caracteres


próprios e exclusivos com os quais se podem diferenciar pessoas, animais, plantas e
objetos inanimados uns dos outros, quer diante do conjunto das diversidades, quer
ante seus semelhantes2.

Identidade vem do latim identĭtas, e teve na filosofia o surgimento do seu


conceito. Na filosofia, a identidade constitui objeto de cogitações por variados
pensadores e correntes, e seu conceito varia, portanto, de acordo com cada um. O
conceito mais aceito e utilizado para descrever algo ou alguém que é diferente dos
outros, porém idêntico a si mesmo.

Para que seja possível apontar os elementos constituintes da identidade


batista, faz-se necessário um breve relato da história da denominação.

2 BREVE HISTÓRIA DOS BATISTAS

A denominação batista tem uma das histórias mais lindas e por sua vez uma
das mais difíceis de ser estudada ou definida. As perseguições constantes e seu
modelo de organização geram uma série de dificuldades para se determinar os
pontos de origem dos batistas. Muitos são completamente ignorantes sobre esse
assunto, e desconhecem a importância de saber suas origens.

Muitos batistas não têm a mínima noção de sua história, de seu passado e de
sua origem. Devemos nos lembrar de que o povo que não conhece nem guarda sua
história corre o risco de não conhecer a si mesmo.

2.1 OS BATISTAS NA HISTÓRIA

De acordo com Pereira (1979), existem três principais teorias a respeito da


origem dos batistas. A primeira é a teoria Jerusalém-Jordão-João ou teoria JJJ. A
segunda é a teoria da origem dos separatistas ingleses do Século XVII. E a terceira
é a do parentesco com o grupo chamado de Anabatistas, que são anteriores à

2 https://conceito.de/identidade
7

reforma protestante. Em seu livro Breve história dos Batistas, J. Reis Pereira nos
apresenta o seguinte resumo dessas três teorias.

A primeira teoria apresentada pelo autor, é chamada de teoria da sucessão


histórica, ou teoria Jerusalém-Jordão-João, ou simplesmente teoria JJJ, seus
defensores dizem que os batistas vêm de uma linha ininterrupta desde os tempos de
João Batista e seus batismos no rio Jordão. Esta teoria tem como principais
defensores historiadores como Thomas Crosby3, que entre 1738 e 1740, escreveu
História dos Batistas Ingleses; ou G. H. Orchard4, que em 1855, defendeu a mesma
ideia em seu livro História Concisa dos Batistas Estrangeiros. Temos também John
T. Christian5, professor do Instituto Bíblico, atualmente Seminário Batista de New
Orleans, que escreveu em 1922 defendendo esta teoria.

A outra teoria citada por J. Reis Pereira, afirma que os batistas se originaram
dos separatistas ingleses, especialmente aqueles que eram congregacionais na
eclesiologia e insistiam na necessidade do batismo somente de regenerados.
Especula-se que a denominação moderna foi originada tanto na Inglaterra quanto na
Holanda, no começo do século XVII. No início dos anos de 1600, surgiram dois
grupos principais na Inglaterra os quais podemos classificar de Batistas: os Batistas
Gerais e os Particulares.
Essa teoria é defendida por teólogos como Augustus Hopkins Strong e Henry
C. Vedder. Em sua Breve História dos Batistas6, publicada em 1907, onde Vedder
declara que depois de 1610 temos uma sucessão ininterrupta de igrejas batistas,
estabelecidas com provas documentais indubitáveis.
A terceira teoria sobre a origem dos batistas refere-se ao parentesco com os
Anabatistas e outros grupos. Essa teoria é muito bem defendida por historiadores
como David Benedict, que publicou, em 1848, uma História Geral da Denominação
Batista na América e em Outras Partes do Mundo7; por Richard Cook, que publicou,
em 1884, uma História dos Batistas em Todos os Tempos e Países8.

3 Thomas Crosby, The History of the English Baptists from the Reformation to the Beginning of the
Reign of King George I (London, 1738-40)
4 G.H. Orchard, A Concise History of Foreign Baptists (Nashville, 1855)
5 John T. Christian, A History of the Baptists (Nashville, 1922)
6 Henry C. Vedder, A Short History of the Baptists (Philadelphia, 1907)
7 David Benedict, A General History of the Baptist in America and Parts of the World (New York, 1848)
8 Richard B. Cook, The Story of the Baptists in All Ages and Countries (Baltimore, 1884)
8

É notório, e já se tornou ponto pacífico entre os defensores de cada uma


dessas vertentes, que o nome batista, assim como a primeira igreja organizada com
o nome batista, deu-se no século XVII, na Inglaterra.

2.2 DOIS TIPOS DE BATISTAS

Já com o nome de Batistas acabaram surgindo dois grupos distintos, com o


batismo do crente em comum, porém com crenças e práticas diferentes. Estes
ficaram conhecidos como batistas gerais e batistas particulares. Existiram também,
no fim do século XVII, os batistas do sétimo dia, ou batistas sabatistas, mas eles
nunca foram numerosos.

2.2.1 Batistas Gerais

Por acreditarem em uma expiação geral, alguns batistas receberam o nome


de Batistas gerais, ou seja, eles acreditavam que Cristo morreu por todas as
pessoas em geral e que quem quer que acreditasse em Cristo poderia ser salvo. A
Primeira Igreja Batista Geral foi fundada em Amsterdã, Holanda, em 1608/09, e
liderada por John Smyth. Seus membros eram refugiados ingleses que haviam
fugido da Inglaterra para escapar da perseguição religiosa.
John Smyth foi ministro da Igreja da Inglaterra. Ele desenvolveu visões
puritanas e separatistas e procurou levar a igreja a fazer uma reforma bíblica, o que
acabou falhando. Posteriormente, ele se junta a uma pequena congregação
separatista em Gainsborough, perto de Londres. Os Batistas Gerais acreditavam em
uma expiação geral, batismo de crentes apenas, liberdade religiosa e outras
doutrinas ainda associadas aos Batistas. Os Batistas Gerais também acreditavam
que era possível alguém cair da graça ou perder sua salvação.
9

2.2.2 Batistas Particulares

Os Batistas Particulares surgiram uma geração depois dos Batistas


Gerais. Receberam este nome por acreditarem numa expiação particular, na qual
Cristo morreu apenas por um grupo particular, chamados os eleitos. Eles foram
profundamente influenciados pelos ensinamentos de João Calvino.
Enquanto os Separatistas, como o nome indica, se separaram totalmente da
Igreja da Inglaterra, os Independentes procuraram manter congregações autônomas,
sem uma ruptura radical com a igreja estatal. Os Batistas Particulares, emergiram de
uma congregação independente.
Embora o batismo fosse apenas para os crentes, a princípio foi administrado
por aspersão ou derramamento.
Além de expiação particular, eles ensinaram o batismo do crente por imersão
e insistiram que uma pessoa que já foi salva é sempre salva.

2.3 OS BATISTAS NO BRASIL

Quando se tem contato a história dos batistas em solo brasileiro, tem-se a


impressão de que esta ocorreu apenas em Santa Barbara no dia 10 de setembro de
1871, quando da fundação da primeira igreja batista em solo brasileiro. Pois bem
devemos lembrar mesmo com pouca influência na história dos batistas no Brasil, do
primeiro pregador batista a trabalhar em solo tupiniquim, Thomas Jefferson Bowen,
missionário norte-americano que antes de vir para o Brasil trabalhou na África entre
os selvagens. Ao adoecer, Bowen pede para ser transferido para o Brasil, chegando
ao Rio de Janeiro em 1859. Com a piora de sua saúde, Bowen acaba deixando o
Brasil, em 1861.
Após a Guerra de Secessão, ou guerra civil Norte americana, que ocorreu
entre 1861 e 1865, alguns norte-americanos sulistas derrotados pelo norte, tentando
recomeçar, acabam escolhendo o Brasil como local para se estabelecerem.
Havia entre os colonos várias denominações evangélicas, e assim que se
assentaram, cada grupo procurou estabelecer suas igrejas. Então, em 10 de
setembro de 1871, alguns desses colonos fundaram a Igreja Batista de Santa
Bárbara, a qual se torna, assim, a primeira igreja batista organizada em solo
10

brasileiro. Porem, essa igreja se limitava a apenas aos colonos e seus cultos eram
em língua inglesa. Esses mesmos colonos fundaram, alguns anos mais tarde, uma
segunda igreja batista, em janeiro de 1879. Essas igrejas desapareceram, porém,
percebendo-se o potencial do campo missionário no Brasil, fez-se um apelo à
Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos para que enviasse missionários, mas
tal pedido não surte efeito. Vale ressaltar a figura de um ex-general sulista, de nome
A. T. Hawthorne, que na tentativa de retribuir o acolhimento recebido por seus
compatriotas em nossas terras, começou a utilizar as visitas que fazia a outras
igrejas e acabava falando do Brasil e do campo missionário. Em uma dessas visitas,
um jovem pastor chamado William Buck Bagby, ao ouvir a pregação de Hawthorne,
fica impressionado e extremamente impulsionado a vir para o Brasil. Bagby, junto
com sua noiva, decidiu, após muita oração, que o país para onde queriam seguir era
o Brasil. E foi num vagaroso navio veleiro que os dois, logo após o casamento,
fizeram sua viagem de núpcias a caminho desta terra desconhecida.
Quando chegaram, desembarcaram no Rio e, logo depois, seguiram para
Santa Bárbara. Lá chegando, encontraram um ex-padre católico, Antônio Teixeira de
Albuquerque, que se convenceu do engano de sua posição, abandonou a batina,
casou-se e mudou-se para São Paulo, foi batizado por um pastor, que era também
colono, tornando-se, assim, o primeiro brasileiro a ser batizado. Assim, pois, com
cinco membros fundadores, em 15 de outubro de 1882, foi organizada a Primeira
Igreja Batista da Bahia e primeira igreja batista brasileira.

3 NO QUE CREEM OS BATISTAS?

Os Batistas têm convicções comuns a outros grupos cristãos. Assim como


outros grupos, os Batistas acreditam em Deus como Criador e Pai que chama a si
todos os homens. Creem em Jesus Cristo, Filho de Deus encarnado e Salvador de
todos aqueles que têm fé nEle. Creem no Espírito Santo como guia sempre
presente, que proporciona o conhecimento da vontade de Deus e o poder para
seguir a Cristo no dia a dia. Creem na inspiração e autoridade da Bíblia.
Mas existem convicções que distinguem os Batistas de outros grupos, são elas:
a) Jesus Cristo é plenamente Senhor, no céu e na terra.
11

b) Toda pessoa deve reconciliar-se com Deus pelo arrependimento e fé pessoal em


Cristo.
c) O batismo segue a profissão pessoal de fé em Cristo, e introduz o crente na igreja
local.
d) Deus dotou cada indivíduo de dignidade pessoal e liberdade de escolha, inclusive
sobre questões de fé.
e) Todo cristão tem responsabilidade de testemunhar Cristo, por palavras e atos.
Outro ponto que merece destaque é sobre a autoridade de Cristo. Creem os
Batistas que devem a mais alta lealdade a Ele, que é o Senhor da Igreja. Nenhum
ministro, sacerdote, bispo ou papa exerce a autoridade como sendo Ele próprio
(Mateus. 28:18). Todo indivíduo tem acesso direto a Deus. Jesus satisfaz também às
mais profundas necessidades humanas e acende as mais elevadas aspirações em
seus seguidores.
Creem os Batistas que a fé não é um credo ou conjunto de preceitos a serem
obedecidos, nem é algo imposto a despeito da razão. Creem, sim, que ela equivale
à confiança e ao compromisso individual, um valor espiritual acima de nós mesmos.
Os Batistas batizam apenas crentes. Eles creem que a fé surge antes do
batismo, não o contrário. Não batizam crianças por entenderem, que estas ainda não
estejam em condições de sentir a fé salvadora pessoal. Existem outros pontos que
separam os Batistas dos outros grupos religiosos, e essas são as bases do que seria
ser Batista.

4 PRINCIPIOS E DOUTRINAS BATISTAS

Inicialmente para se discutir estes dois temas devemos iniciar fazendo certas
considerações: Segundo Roberto do Amaral(2003), Princípio e Doutrina não são a
mesma coisa. Princípio no sentido em que usaremos, significa começo ou verdade
eterna. Como verdade eterna, é lei divina em sentido amplo.
Os princípios são, por sua natureza imutáveis, tem abstração maior do que as
doutrinas, são basiliares e fundamentais. Os princípios abrangem as doutrinas, os
mandamentos, as ordenanças e os convênios do evangelho de Jesus Cristo. E o
evangelho, por sua vez, abrange toda a verdade.
12

Os Princípios são o conjunto de valores mais caros e inegociáveis que temos,


e determina a conduta de uma pessoa ou organização. Os Princípios Batistas são
linhas mestras que descrevem nossa maneira de praticar a fé cristã.
A Convenção Batista Brasileira publicou um documento com dez páginas
denominado “Princípios Batistas”9, agrupando esses princípios em cinco títulos:
Autoridade, Indivíduo, Vida Cristã, Igreja e Tarefa Contínua. Estes são os principais
pontos da tradição batista, defendidos através dos tempos com a própria vida,
crendo que são princípios norteadores nas Escrituras Sagradas.
O que distingue os Batistas não são aparências, liturgias, dogmas ou
estrutura eclesiástica. O que nos caracteriza é o espírito livre e responsável que
busca agradar a Deus em todos os nossos atos; é a consciência de que a Bíblia é a
palavra de Deus e nossa única regra de fé e prática; é o relacionamento cooperativo
e o fervor missionário; é a independência dos poderes (espiritual x secular) sem
perder a essência de influenciar a sociedade em que vivemos; é o respeito às
diferenças sem, entretanto, nos tornarmos omissos às práticas erradas.
Com relação a doutrinas, a Convenção Batista Brasileira declara:
Para os Batistas, as Escrituras Sagradas, em particular o Novo Testamento,
constituem a única regra de fé e conduta, mas, de quando em quando, as
circunstâncias exigem que sejam feitas declarações doutrinárias que
esclareçam os espíritos, dissipem dúvidas e reafirmem posições. Foi o que
fez a Convenção Batista Brasileira ao criar sua Declaração Doutrinaria, que
foi aprovada em 1986.

5 CULTO E ADORAÇÃO

Os Batistas sempre foram apontados e conhecidos pela coerência teológica,


pela prática de cultos racionais e bíblicos, e busca de santidade.
Como já foi apontando, os batistas não dispõem de uma liturgia fixa,
determinada ou obrigatória entre suas igrejas. O respeito às escrituras e a
reverência prestada Àquele que merece nosso culto, ditaram durante séculos as
práticas dessa denominação.
Com o passar do tempo, algumas influências contemporâneas e filosóficas
foram se instalando no seio da denominação, gerando uma pluralidade de formas de

9http://www.batistas.com/portal-ntigo/index.php?option=com_content&view=article&id=16&Itemid=

16&showall=1
13

culto e adoração. Para alguns, isso se chama evolução diante das novas maneiras
de religiosidade e expressão individual da fé, para outros, um retrocesso e
achincalhe da fé Batista (Dinelcir de Souza Lima – 2018).

5.1 O CULTO

De acordo com o Pr. Dinelcir de Souza Lima (2018), a denominação batista


tem vivido tempos difíceis, tempos de desconstrução e inversão de valores. Mas isso
não é uma simples coincidência, tudo isso esta sendo orquestrado pelo Marxismo
Cultural, um doutrinamento comunista que sutilmente vem adentrando diversas
áreas da sociedade, fazendo o que estiver ao seu alcance para desconstruir ideias e
conceitos tradicionais, destruindo o significado das coisas.
Uma das vertentes do Marxismo Cultural é o liberalismo teológico que se
instalou nas igrejas e iniciou um processo de desconstrução dos conceitos
estabelecidos pela Bíblia e observados pelos cristãos há séculos.
Podemos apontar alguns dos termos desconstruídos por este movimento:

Assim é que Igreja passou a ser denominada de Comunidade; pastor


passou a ser gestor, regeneração passou a ser transformação, culto passou
a ser celebração, e por aí vai. Cada vez menos pessoas cultuam e cada vez
mais pessoas celebram. A confusão a respeito do que seria um culto a Deus
aumenta, e o culto visa cada vez mais agradar pessoas e cada vez menos a
Deus.

Inicialmente, é preciso entender que culto é um serviço com subordinação em


ato religioso, a expressão hebraica que contém este sentido é ‘abad e é encontrado
nos textos que enumeramos a seguir. Em Êxodo 23.24, encontramos Deus proibindo
seu povo de prestar culto aos deuses dos povos da terra para onde Ele os conduzia.
Em Deuteronômio 4.19, Moisés exorta o povo a não fazer imagem de coisa alguma
para adorar, e a não cultuar os astros dos céus, não lhes prestando serviço religioso.
As expressões gregas latreuo e latreia, palavras correlatas de ‘abad, têm
também o sentido de prestar serviço religioso reverente a Deus, realizar serviços
sagrados. As encontramos em textos do Novo Testamento: latreuo – Em Mateus
4.10 – O Senhor Jesus rebate a tentação do diabo citando a Bíblia, afirmando que só
se deve prestar culto, serviço de adoração, a Deus. Lucas 4.8. Em Romanos 12.1,
Paulo exorta sobre o que seria o culto, o serviço prestado a Deus, racional.
14

Todos esses textos registram o culto como serviço religioso, seja prestado ao
Deus verdadeiro, seja a deuses falsos, mas sempre uma prática reverente,
subordinada, religiosa.
Com relação à adoração, devemos entender que adoração nem sempre é
culto, porque o culto tem que conter a adoração, porém consiste de cerimônias.
Esse é o significado da palavra grega threskeia, que é encontrada em Colossenses
2.18.
O Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho (2012), nos explica o que é um culto
biblicamente relevante. Para ele o culto biblicamente relevante é:

põe o foco em Deus. É justo querer alcançar as pessoas com o culto.


Queremos a consolação e a edificação do povo de Deus. Queremos a
conversão de pecadores. Mas devemos, primeiro, honrar e glorificar a Deus.
Isto não é retórica. É questão de prioridade e de método. Deus abençoa o
que O glorifica. Devemos evitar a tentação em que muitos incorrem de
desejar fazer o papel do Espírito Santo, isto é, produzir emoções nas
pessoas.

5.2 A ADORAÇÃO

Nos tempos atuais do mundo “gospel”, adoração é confundida com cântico e


outras manifestações físicas, tais como danças, palmas, rodopios, gritos, procissões
e tudo quanto o ser humano possa realizar em seus devaneios. Criou-se e foi
propagada a ideia de que uma pessoa pode adorar como bem entender, conforme o
seu próprio desejo. Escreveram-se letras de músicas que incentivam a chamada
“adoração livre”.
O que não se percebe é que o ser humano passou a adorar a si próprio,
considerando que ele estabelece o tipo de “adoração” que deseja praticar. É a
vontade e a soberania do homem imperando. De fato, Deus é esquecido e deixado à
parte, mesmo sendo, às vezes, citado nas letras musicais.
Precisamos voltar à Bíblia e observar o que ela ensina a respeito de
adoração. Em 1 Samuel 1:3, encontramos o verbo “adorar” como tradução de
shachah, no hebraico, que significa “inclinar-se, prostrar-se diante de ser superior”.
Importante observar que adorar e cultuar (no caso sacrificar) estão registrados como
atitudes diferentes de Elcana, que anualmente subia para adorar e sacrificar. Isso
significa que cultuar é uma coisa e adorar é outra.
15

Já no Novo Testamento, encontramos as seguintes expressões gregas


traduzidas por adorar: proskuneo – Ajoelhar-se ou prostrar-se, prestar homenagem
ou reverência a alguém. Mateus 4:9; Lucas 4:7; João 4:20; João 12:20; Atos 8:27;
Apocalipse 9:20; sebomai - reverenciar, adorar – Atos 18:13.
Podemos, então, determinar que a adoração envolve:
a) Reverência – veneração pelo que se considera sagrado ou se apresenta como tal,
respeito profundo, ação de demonstrar o respeito e humildade em relação a algo ou
alguém o que é culto, o que é adoração
b) Humildade – Ajoelhar-se e prostrar-se são sinais de humildade. A humildade é
reconhecimento da superioridade de alguém.
c) Homenagem
d) Exclusividade

6 O PROCESSO DE PERDA DA IDENTIDADE BATISTA BRASILEIRA

Tudo que foi exposto anteriormente mostra, de uma forma ou de outra, o que
a denominação batista acredita ou acreditava. Com o passar do tempo estes
princípios se perderam ou foram deturpados. Os cristãos são bombardeados
diariamente por ideologias nocivas e satânicas por todos os lados, porém uma das
formas mais sorrateiras de minar as forças vem do chamado “fogo amigo”. Tem
ocorrido uma desconstrução descarada dos princípios e doutrinas, em que filosofias
antropocêntricas e satânicas são apresentadas como bíblicas, e o politicamente
correto é propagado nos púlpitos.
Não se pode determinar com precisão o início dessas mudanças ou da
influência dessas filosofias, mas pode-se estipular os causadores.

6.1 O LIBERALISMO TEOLÓGICO

Em entrevista dada ao site voltemos ao evangelho no ano de 2014 sobre o


assunto, o Dr. Augustus Nicodemus explica que o liberalismo é, de muitas maneiras,
um fruto do Iluminismo, movimento surgido no início do século XVIII, que tinha em
seu âmago uma revolta contra o poder da religião institucionalizada e contra a
16

religião em geral. As pressuposições filosóficas do movimento eram, em primeiro


lugar, o Racionalismo de Descartes, Spinoza e Leibniz, e o Empirismo de Locke,
Berkeley e Hume. Os efeitos combinados dessas duas filosofias que, mesmo sendo
teoricamente contrárias entre si, concordavam que Deus tem de ficar fora do
conhecimento humano, produzindo profundo impacto na teologia cristã.
A fé cristã histórica sempre acreditou que os milagres bíblicos realmente
ocorreram como narrados. Milagres como o nascimento virginal de Cristo, os
milagres que o próprio Cristo realizou, sua ressurreição física dentre os mortos, os
milagres do Antigo e Novo Testamentos, de maneira geral, são todos considerados
fatos. O teólogo liberal, por sua vez, e os neo-ortodoxos fazem distinção entre
historie (história, fatos brutos) e heilsgeschichte (história santa, ou história salvífica),
criando dois mundos distintos e não conectados: o mundo da história bruta, real,
factível e o mundo da fé, da história da salvação. Na verdade, eles consideram que
os relatos bíblicos dos milagres são invenções piedosas do povo judeu e dos
primeiros cristãos, mitos e lendas oriundos de uma época pré-científica, quando
ainda não havia explicação racional e lógica para o sobrenatural.

6.2 OS BATISTAS RENOVADOS

A renovação das Igrejas Batistas no Brasil como denominação começou no


ano de 1958. Desde esta data até o ano de 1965, quando realmente houve a
divisão, muitas reuniões foram feitas no intuito de evitar o racha nas igrejas batistas
de todo Brasil. (Gilberto Stefano - 2014)
O iniciador do movimento divisório nas igrejas batistas do Brasil foi um pastor
da Igreja Batista de Vitória da Conquista, chamado José Rego do Nascimento. Este
era um grande orador e logo conseguiu fazer fileiras e conquistar algumas pessoas
de nome para o seu movimento. Foi o caso do pastor Enéias Tognini, pastor da
Igreja Batista de Perdizes.
Essa união de forças levou o caso a ser analisado várias vezes. Houve
muitas reuniões de um comitê organizado para esse fim, formado por 11 membros,
buscando uma solução conciliadora para a questão pentecostal dentro das igrejas
batistas. A decisão estabeleceu em 1963, que:
17

A atuação do Espirito Santo na vida dos crentes, se faz através de um


processo chamado santificação progressiva; que manifestações emotivas,
por mais sinceras que sejam, não podem ser apresentadas como um
padrão a ser seguido por todos; que a ênfase dada a doutrina do batismo no
Espirito Santo tem causado reuniões barulhentas, carregadas de
emocionalismo e provocado manifestações de orgulho espiritual, bem como
proselitismo de crentes que não adotam tais idéias. (Tognini, 1993, p. 48)

Em 1965, ao realizar-se a Convenção em Niterói, com 3.035 mensageiros, as


preocupações maiores era a grande Campanha de Evangelização marcada para o
mesmo ano. No plenário, mais uma vez surgiu o problema da renovação. O
presidente vendo que isso atrapalharia a campanha pediu que a questão fosse
resolvida no ano seguinte. Porém a intransigência dos reavivalistas foi tanta que
precisou ser resolvida naquela convenção. Decidiu-se, então, pela exclusão da
comunhão as igrejas renovadas. Só naquele ano, mais de trezentas igrejas se
rebelaram e tiveram que ser excluídas, e juntas formaram uma convenção a qual
denominaram CONVENÇÃO BATISTA NACIONAL. Assim, pela primeira vez, houve
uma divisão entre os batistas brasileiros como um grupo.

6.3 TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

Na década de 80, o Brasil foi tomado por um movimento que atraiu e ainda
atrai milhares de pessoas para as igrejas evangélicas. O pioneiro desse movimento
foi o pastor Essek M. Kenyon(1867-1948), mas o maior divulgador foi Kenneth Hagin
(1917-2003). A teologia da prosperidade busca a interpretação de uma série de
textos bíblicos para fazer com que os fieis entendam que Deus tem saúde e bênçãos
materiais para entregar ao seu povo10.
O teólogo Zwnglio Rodrigues recorda um trecho do livro “O Nome de Jesus”
escrito por Hagin: “Por que, pois o diabo – a depressão, a opressão, os demônios,
as enfermidades, e tudo mais que provém do diabo – está dominando tantos cristãos
e até mesmo igrejas? É porque não sabem o que pertence a eles” (Rodrigues 1999,
p. 37).

10 https://noticias.gospelprime.com.br/o-que-e-teologia-da-prosperidade-e-quais-seus-representantes-
no-brasil/
18

Rodrigues explica que quando o autor diz que o povo não sabe o que lhes
pertencem quer dizer que desconhecem seus direitos. Os pastores da teologia da
prosperidade tentam ensinar esse conhecimento aos seguidores.
O problema desse movimento, segundo Rodrigues, é que o “deleite não está
no Senhor, mas no(s) serviço(s) que Ele, supostamente, se habilita a prestar”( 1999,
p. 37).

6.4 TEOLOGIA DA MISSÃO INTEGRAL

Julio Severo11 explica em seu blog que a Teologia da Missão Integral (TMI) é
uma corrente religiosa progressista esquerdista de filosofia marxista que coloca no
homem a centralidade de toda a autoria da condição desumana da sociedade em
que vivemos. Onde claramente pode-se perceber, pelas leis que são promulgadas
em nosso país, que existe uma origem satânica nelas mesmas, pois um código
penal onde um animal silvestre é mais valioso que um ser humano, onde um jovem
de 16 anos não pode trabalhar e nem ser preso, no entanto pode votar, e que o
aborto é um direito não pode se falar a cerca dele, código penal, que possui uma
gênese Cristã.
Esse mesmo Estado corrompido pelo mal, que se apresenta como laico, mas
que ainda assim só persegue o Cristianismo, deveria ser, pela visão da TMI, o
responsável pelo bem-estar social de todos.
As mensagens da TMI são subliminares e de apoio ao aborto, à
homossexualidade, etc. Seus discursos comovem, seus lideres falam do Evangelho
com muita autoridade e fazem o ouvinte ficar em dúvida se este não é realmente o
Evangelho proposto por CRISTO.
O real conteúdo da TMI é humanista e, assim, gradualmente vão tirando
DEUS do centro da vida do ser humano. Louvam a DEUS, sim, mas o deixam do
lado de fora de suas decisões.

6.5 G12 E CÉLULAS

11 http://juliosevero.blogspot.com/
19

Inicialmente, faz-se necessário dizer que este trabalho não se refere a todo
tipo de pequenos grupos, ou generaliza colocando todas as igrejas com células no
mesmo patamar, a crítica se dá de forma geral e sucinta sobre o sistema de células.
Segundo Moacir Sader12 primeiramente, é preciso entender que célula é um
método. Isso é fundamental compreender. A igreja em células é um método de
crescimento de igreja, não é a igreja, mas um método, uma forma de se relacionar
visando à expansão da igreja.
Qualquer tipo de método é limitado e está ligado ao tempo. Alguns métodos
ficam escassos, outros surgem e, assim, é a vida. Método é uma forma, uma
possibilidade.
Na América Latina, César Castellanos criou o movimento G12, uma
adaptação da mesma visão do teólogo coreano David Yonggi. Nos dias de hoje,
existem muitas igrejas em células, que atuam de formas diferentes, mas todas com o
mesmo objetivo: utilizar do método de células para o crescimento da Igreja13.
O problema desse sistema é que a igreja passa a ficar dependente apenas
desse método, o “discípulo” fica dependente de seu líder.
Os métodos do G12 compreendem técnicas psíquicas e de hipnose, as quais
são utilizadas para impressionar os participantes. Essas técnicas, a bem da verdade,
podem ser realizadas por quaisquer pessoas com conhecimento sobre o tema, só
que a utilização em algumas igrejas visa ao condicionamento mental, ludibriando a
boa fé das pessoas.

6.6 FEMINISMO E MARXISMO

Entre todas as influências nocivas ocorridas na denominação batista, um dos


movimentos que se destaca, é a entrada do feminismo-marxista nos arraiais
batistas. É possível notar o crescimento de certos discursos endêmicos a essa
causa no meio batista, exatamente nos períodos de maior crescimento do
movimento feminista-marxista em terras brasileiras.
Pode-se destacar conquistas, como a criação da Fundação das Mulheres do
Brasil, aprovação da lei do divórcio e a criação do Movimento Feminino pela Anistia

12 https://www.moacirsader.com/artigo/o-perigo-espiritual-do-g12
20

no ano de 1975, considerado como o Ano Internacional da Mulher, realizando


debates sobre a condição da mulher. Nos anos 80 foi criado o Conselho Nacional
dos Direitos da Mulher, que passaria à Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher,
e passou a ter status ministerial como Secretaria de Política para as Mulheres.
Existem formas diferentes de abordar a questão da liberação das mulheres: o
feminismo e o socialismo revolucionário14. O feminismo é a influência dominante nos
movimentos de mulheres que emergiram nos países capitalistas avançados durante
os anos 1960 e 1970; parte da visão de que os homens sempre oprimiram as
mulheres; que é a constituição biológica e psíquica dos homens que os fazem tratar
as mulheres como inferiores. Isso leva à ideia de que a libertação das mulheres só
será possível separando-as dos homens; é a separação total daquelas feministas
que falam de um “estilo de vida liberado”, ou da separação parcial das mulheres em
comissões de mulheres ou em reuniões que não sejam mistas. As defensoras desse
movimento acreditavam que colocando mulheres em cargos como deputados,
presidentes sindicais, cargos eclesiásticos e legislativos iriam, de alguma forma,
ajudar as mulheres a alcançar a igualdade.
Os filósofos Friedrich Engels e Carl Marx15, este último que dá nome a esta
linha filosófica, concluíram que as bases materiais para a existência da família e,
portanto, da opressão das mulheres já não existiam. O que impedia as mulheres de
se beneficiarem dessa situação era que a propriedade permanecia nas mãos de uns
poucos. O que mantém as mulheres sob opressão hoje é como o capitalismo está
organizado, em particular, o modo como o capitalismo usa a família para garantir
que os trabalhadores procriem uma nova geração de trabalhadores. Do ponto de
vista da classe dominante, é muito vantajoso pagar os homens (e cada vez mais
mulheres) pelo seu trabalho, enquanto as mulheres permaneçam, gratuitamente,
trabalhando para que os homens fiquem em condições de irem ao seu trabalho e
que os seus filhos sejam criados por elas para fazerem o mesmo.

6.6.1 Pastorado Feminino Ordenado

13 https://www.moacirsader.com/artigo/o-perigo-espiritual-do-g12
14 https://www.marxists.org/portugues/harman/1979/marxismo/cap12.htm
15 https://www.marxists.org/portugues/marx/1848/ManifestoDoPartidoComunista/index.htm
21

Um dos temas mais discutidos no meio batista é o pastorado feminino


ordenado. Em alguns grupos, ouve-se falar da possibilidade de nova divisão na
denominação por conta desse assunto. Este trabalho não pretende apontar o
pastorado feminino nem as respectivas mulheres que são (ou pretendem ser)
ordenadas como problema, mas são feitas citações de autores sobre o assunto e
suas respectivas opiniões sobre o tema.
Para aqueles contrários à ordenação feminina, o ataque do feminismo-
marxismo a denominação Batista é o motivo do crescimento do apoio a ordenação
feminina ao pastorado. Os contrários a ordenação feminina, apontam que esse
movimento surge com mais força nos anos 80, década de maior crescimento do
feminismo em terras brasileiras.
O pastor Augustus Nicodemus16 fez um apanhado dos argumentos
geralmente empregados em favor da ordenação de mulheres para o ministério
pastoral e deu respostas a 19 deles. Para não alongar o tema, são reproduzidos
apenas 5 desses argumentos de forma resumida.

1. Deus não criou originalmente o homem e a mulher iguais? Qual a


base, pois, para impedir que a mulher seja ordenada?
Resposta: De fato, lemos em Gênesis 1 que Deus criou o homem e a
mulher à sua imagem e semelhança. Entretanto, lemos no relato mais
detalhado de Gênesis 2 que Deus lhes atribuiu papéis diferentes, dando ao
homem o papel de liderar e cuidar da mulher e à mulher o papel de ser sua
ajudadora, em submissão. Esta diferenciação é percebida por Paulo na
ordem em que foram criados (primeiro o homem e depois a mulher, 1Tm
2.13), na forma como foram criados (a mulher foi criada do homem, 1Co
11.8) e no propósito para o que foram criados (a mulher foi criada por causa
do homem, 1Co 11.9). A igualdade da criação, portanto, não anula a
diferenciação de funções estabelecida na própria criação.
2. A subordinação feminina não é parte da maldição por causa da queda?
E Cristo não aboliu a maldição do pecado? Por que, então, as mulheres
cristãs não podem exercer o ministério em igualdade com os homens?
Resposta: Sem dúvida um dos castigos impostos por Deus à mulher foi o
agravamento da sua condição de submissão. Entretanto, a subordinação
feminina tem origem antes da queda, ainda na própria criação. O homem
não foi feito da mulher, mas a mulher foi feita do homem. O homem não foi
criado por causa da mulher, mas sim a mulher por causa do homem (1Co
11.8-9). Quanto à obra de Cristo, lembremos que seus efeitos não são total
e exaustivamente aplicados por Deus aqui e agora. Por exemplo, mesmo
que Cristo já tenha vencido o pecado e a morte, ainda pecamos e
morremos. Outros efeitos da maldição impostos por Deus após a queda
ainda continuam, como a morte, o sofrimento no trabalho e o parto penoso
das mulheres. Além do mais, desde que os diferentes papéis do homem e

16 https://tempora-mores.blogspot.com/2014/01/respostas-argumentos-usados-em-favor-da.html
22

da mulher já haviam sido determinados na criação, antes da queda, segue-


se que continuam válidos.
3. Há abundantes provas na Bíblia de que as mulheres desempenharam
papéis cruciais, ocupando funções de destaque e sendo instrumento de
bênção para o povo de Deus. Isto não prova que elas, hoje, podem ser
ordenadas e exercer liderança?
Resposta: Estas provas demonstram apenas a tremenda importância do
ministério feminino, mas não a existência do ministério feminino ordenado.
Nenhuma destas mulheres era apóstola, pastora, presbítera ou diaconisa.
Jesus não chamou nenhuma mulher para ser apóstola. As qualificações dos
pastores em 1Timóteo 3 e Tito 1 deixam claro que era função a ser exercida
por homens cristãos.
4. Há evidência na Bíblia de que Hulda, Débora, Priscila e Febe eram
líderes e exerciam autoridade. Isto não é prova bíblica suficiente para
ordenação de mulheres?
Resposta: Existem fatores que devemos ter em mente quanto ao ministério
destas mulheres: O fato de que a Bíblia descreve como Deus usou
determinadas pessoas em épocas específicas para propósitos especiais
não faz disto uma norma. Lembremos da utilíssima distinção entre o
descritivo e o normativo na Bíblia. Deus usou o falso profeta Balaão (Nm
22.35). O desobediente rei Saul também profetizou em várias ocasiões
(1Sm 10.10; 19.23), bem como os mensageiros que enviou a Samuel (1Sm
19.20,21). A descrição destes casos não estabelece uma norma a ser
seguida pelas igrejas na ordenação de oficiais. O fato de que Deus
transmitiu sua mensagem através de uma mulher não faz dela um oficial da
Igreja. Há outros requisitos no Novo Testamento para o oficialato conforme
lemos nas especificações explícitas que temos em 1Timóteo 3 e Tito 1.
5. O Novo Testamento diz que, em Cristo, não há homem nem mulher,
todos são iguais diante de Deus (Gl 3.28). Proibir as mulheres de serem
oficiais da Igreja não é fazer uma distinção baseada em sexo?
Resposta: Não se pode discordar de que o Evangelho é o poder de Deus
para abolir as injustiças, o preconceito, a opressão, o racismo, a
discriminação social, bem como a exploração machista. E nem se pode
discordar de que Cristo veio nos resgatar da maldição imposta pela queda.
A pergunta é se Paulo está falando da abolição da subordinação feminina e
de igualdade de funções nesta passagem. Está o apóstolo dizendo que as
mulheres podem exercer os mesmos cargos e funções que os homens na
Igreja, já que são todos aceitos sem distinção por Deus através de Cristo,
pela fé? Entendemos que a resposta é não. Gálatas 3.28 não está
ensinando a igualdade para o exercício de funções, mas a unidade de todos
os cristãos em Cristo. Veja a análise desta passagem acima.

6.6.2 A ordenação feminina e os Batistas

Após pesquisa realizada no acervo do semanário batista, foi constatado que,


desde o início do século passado, quando O JORNAL BATISTA iniciou seu
ministério de comunicação na denominação, muitas publicações apresentavam um
anelo pela libertação da mulher. Variados artigos promovem conscientemente ou
não, alguns ideais do movimento feminista, por exemplo, na edição de setembro de
1903, Archimia Barreto, uma colaborada e colunista do jornal, faz incessantes apelos
para que a mulher alcance sua liberdade através do evangelho e da educação. Em
23

um dos seus artigos, ela via a mulher como um ser fragilizado, digno de ser cuidado,
percebia que a mulher era subjugada em países pagãos, mas também percebia sua
liberdade principalmente no ambiente cristão.
Embora no início do século XX não houvesse bandeiras levantadas a favor do
movimento feminista, havia uma ideia de que a mulher era oprimida e necessitava
de libertação, tanto que Archimia Barreto acreditava que o evangelho libertaria essas
mulheres da escravidão sexista, mas esse era um problema do mundo secular e não
da igreja.
As demais décadas vão se abrindo mais e mais para a influência feminista no
meio batista. Num discurso, publicado no OJB em novembro de 1911, pronunciado
pelo reverendo Antônio Marques, trazendo o tema: Débora Como Exemplo De
Mulher Cristã, após uma calorosa introdução exaltando o ministério fundamental da
mulher na sociedade e igreja, ele expressa as seguintes palavras: “as
mulheres...devem trabalhar, a par do bem material, pela emancipação da mulher
brasileira da tutela de irresponsabilidade própria em que tem vivido presa desde
gerações”.(OJB – 1911)
Da década de vinte até a década de quarenta do século passado, várias
notas exaltando as conquistas das mulheres foram publicadas pelo OJB. Algumas
com o seguinte título: “Vitória do Feminismo”17. Entre as décadas de cinquenta e
sessenta, pouco se fala sobre o papel da mulher, mas um artigo chama a atenção,
de nome “O progresso feminino no ministério cristã” de D.Mildred Schaly, faz uma
critica dura ao pouco espaço que é dado para mulheres nas igrejas18. Na década de
70, na coluna Perguntas e Respostas, algo também chama atenção, pois o
respondente sugere que paradigmas devem ser quebrados. Na década seguinte, o
“boom” missionário da JUNTA DE MISSÕES MUNDIAIS atrai todos os refletores e
muitas mulheres vão para o campo e veem a necessidade de exercer funções
pastorais sem que tenham o título. Esse foi o problema que contribuiu para suscitar
a polêmica estabelecida nas décadas seguintes. O OJB publica artigos favoráveis à
ordenação feminina, suscitando uma discussão interminável que finalmente deságua
na postura da OPBB em 2014. No meio do fogo cruzado dos efervescentes debates,

17 O JORNAL BATISTA, edição de 24 de Julho de 1930, p. 2.


18 O JORNAL BATISTA, edição de 08 de Abril de 1954, p. 3.
24

a Primeira Igreja Batista em Campo Limpo/ SP decide ordenar uma mulher ao


ministério pastoral em junho de 1999. Em janeiro de 2000 os batistas cearenses
votaram favorável à ordenação de mulheres.
Consequentemente toda esta questão foi parcialmente sancionada em janeiro
de 2014 na Assembleia da OPBB em João Pessoa/PB. Ante ao exposto, pode-se
deduzir que essa decisão não foi um acidente de percurso, mas, sim, que fora
construída ao longo dos anos. E uma vez que as rachaduras não são reparadas,
inevitavelmente todos serão afetados em graus diferentes.
O pastor Wagner Ferreira diz o seguinte sobre o tema:

Hoje a Convenção Batista Brasileira, com a mensagem de que é uma


exigência contemporânea atualizar a teologia, está fazendo uma liquidação
total da ortodoxia. O exemplo mais evidente deste fato é a permissão oficial
para a ordenação de mulheres ao ministério pastoral, o qual se constitui
num claro e inconsequente desvio doutrinário.

CONCLUSÃO

Conforme as palavras do Pr. Dinelcir de Souza Lima (2018), a denominação


Batista só voltará a ser relevante para o mundo, se houver esforços sem medidas
para reparar as rachaduras nas estruturas da ortodoxia ou, muito em breve,
sucumbirá pela avalanche de heresias, as quais aguardam a oportunidade para
massacrar a genuína fé.
Por fim, a esperança nesse contexto de apostasia é o antigo e tão
“desatualizado” conselho do apóstolo Paulo: “Este é o dever de que te encarrego, ó
filho Timóteo, segundo as profecias de que antecipadamente foste objeto: combate,
firmado nelas, o bom combate, mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns,
tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé” (1 Tm 1.18-19).
Para se fazer o resgate da identidade Batista, é preciso, acima de tudo, uma
volta à suficiência das Escrituras Sagradas, como regra de fé e de prática. Assim
como a volta e o incentivo à exposição bíblica ao pregar a Palavra de Deus, visando
à formação de um caráter parecido com Jesus. Assim como a manutenção de
valores éticos e espirituais, pautados na Bíblia.
O resgate da identidade Batista passa também pelo envio dos vocacionados e
pela preocupação com a formação de seus pastores. A igreja que faz a indicação do
25

futuro pastor, deve ter o cuidado de avaliar se ele cumpre os requisitos determinados
pela Bíblia e se entende em seu coração o cuidado que deve ter com as Escrituras
Sagradas, assim como o apreço pelo que defendem os batistas. A denominação
Batista precisa de pastores e lideres com DNA batista, piedosos e que não façam
politicagem em nossos púlpitos; pastores e líderes que tenham sempre a
preocupação de fazer o que é certo e não o que dá certo, que não se sintam
intimidados em ser politicamente corretos, nem se voltem à manipulação dos textos
da Bíblia para corroborar seus discursos humanos.
Que a liberdade de pensamento não se transforme em libertinagem teológica,
e que tenhamos a preocupação de agradar a Deus, antes de agradar aos homens.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANGLADA, Paulo – O princípio regulador no culto – Águas de Lindoia - 1997


CARROLL, J. M. – Rasto de sangue – 2007
CHESTERTON, G. K., Ortodoxia ; São Paulo: Mundo Cristão, 2008.
KRAMMER, Tânia Maria - CULTO E ADORAÇÃO - Rio de Janeiro : Convicção , 2011.
FILHO, Isaltino Gomes Coelho. - Sou batista, tenho uma identidade - S. Vicente, 27 de
abril de 2001
SILVA, Roberto do Amaral - Princípios e doutrinas batistas – R. de Janeiro: JUERP, 2003.
JUSTO, Anderson – Historia de los bautistas – Editora mundo hispano – Texas 2015
LIMA, DINELCIR DE SOUZA - CULTO E ADORAÇÃO - Estudos bíblicos sobre o culto a
Deus - 1ª Edição - Rio de Janeiro - D Lima Edições 2018
PEREIRA, J. Reis - BREVE HISTÓRIA DOS BATISTAS – Rio de Janeiro 2ª edição 1979
Convenção Batista Paraense - Manual de Identidade Batista/GT - Curitiba, 2013.2ª edição
Revisada e Ampliada
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O JORNAL BATISTA - http://acervo.batistas.com
CONCEITO DE IDENTIDADE https://conceito.de/identidade
PORTAL BATISTA – Principios batista - http://www.batistas.com/portal-
antigo/index.php?option=com_content&view=article&id=16&Itemid=16&showall=1

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