Você está na página 1de 8

Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH
Licenciatura em História - EAD
UNIRIO/CEDERJ

Avaliação a Distância (AD2)

DISCIPLINA: PATRIMÔNIO CULTURAL

CURSO: História

POLO: MIGUEL PEREIRA

ALUNO(A): Leonardo Souza da Silva

MATRÍCULA: 19216090199 DATA: 09/05/2020


AD2 - PATRIMÔNIO CULTURAL OPÇÃO 1

Nome: Grêmio Recreativo Cacique de Ramos

Localização: Rua Uranos nº 1326, Olaria - Rio de Janeiro

Inauguração: Fundado em 20 de janeiro de 1961.

Origem: Bloco de Carnaval

Uso Atual: Bloco de Carnaval e Centro Cultural.

Justificativa

A relevância deste inventario está na possibilidade de identificar os elementos


simbólicos do subúrbio bem como da cultura africana, que formam o conjunto
sociocultural, relativos ao samba, perpassam o imaginário dos indivíduos como
algo que os fazem sentir parte do mundo, ou seja, que norteia a identidade
social dos sambistas e da comunidade a qual pertencem, através dessa
identificação. Moro no subúrbio e nasci muito perto da quadra do Cacique de
Ramos, pude vivenciar seu renascimento após um longo período de inatividade
e sua importância para o bairro. O Cacique de Ramos é um símbolo de
resistência cultural e de acolhimento da raça negra e do samba.

Equipe

Para a construção dos dados que foram empregados, utilizei uma equipe de 3
pessoas. Essas analises foram realizadas na quadra do Cacique de Ramos. Os
principais aspectos observados foram: o cenário; as pessoas e suas condutas,
as regras do grupo social, as formas de transgressões, flexibilizações e
permanências; as relações entre os sujeitos, entre os sujeitos e o espaço; a
preservação, a importância para o bairro de Ramos.

História

Fundado em 20 de janeiro de 1961, o Cacique de Ramos nasceu sobre a


sombra de uma Tamarineira, não por acaso sua fundação coincide com o
aniversário do padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, São Sebastião. No
sincretismo religioso do candomblé, São Sebastião representa Oxóssi. “Tendo
como padroeiro São Sebastião e ser fundado em 20 de janeiro de 1961 por três
famílias: família Félix do Nascimento (Bira, Ubirany e Ubiraci), família Oliveira

2
(Walter, Chiquita, Sereno, Alomar, Jorginho e Mauro), família Espírito Santo
(Aymoré e Conceição). Pode-se dar destaque também a outras pessoas
importantes na fundação e nas apresentações como a mãe de Bira Presidente,
Conceição de Souza Nascimento, filha de santo de Mãe Menininha do Gantois,
que preparava todo o lado espiritual dos componentes do grupo através de
preceitos e patuás, e mestre Dinho do Apito, diretor de bateria. Aliás, segundo
consta, o Cacique floresceu depois que D. Conceição benzeu a tamarineira,
árvore símbolo do bloco. Reza a lenda que quem for lá, se tiver talento, ficará
famoso.” (cantorasueligushi, 2011). Um dos Fundadores, Ubiracy o “Bira
presidente” da família Felix do Nascimento diz em depoimento: “Minha mãe,
Conceição, foi uma das primeiras filhas de santo da Mãe Menininha do
Gantois. Ela colocou um preceito aqui dentro da árvore, que quem viesse com
um dote seria identificado e se tornaria uma pessoa famosa”, explica Bira.
(multirio, 2017). Esse sincretismo religioso já é característica, dos primórdios do
samba na qual bênçãos, trabalhos e músicas eram feitos e criados em terreiros
de candomblé. Segundo o pesquisador musical Ricardo Cravo Albin ilustra em
seu dicionário que “A própria Mãe Menininha do Gantois foi quem abençoou e
fez um trabalho nos pés da tamarineira (árvore em torno da qual aconteciam as
famosas rodas de sambas da agremiação). O bloco não tem samba-enredo e
temas desenvolvidos pelos compositores. Em 1962, o tema do desfile foi "Água
na boca", samba de autoria de Agildo Mendes, que se tornou o hino do bloco.
Outros temas foram "Arco e flecha" e "Querem me derrubar ", ambos de autoria
de Chiquita; "Coisinha do pai", de Almir Guineto, Luíz Carlos e Jorge Aragão;
"Vou festejar", de autoria de Jorge Aragão, Dida e Neoci Dias; "Chinelo novo",
de (João Nogueira e Niltinho Tristeza). Mais tarde, vários desses sambas foram
gravados com sucesso nas vozes de outros intérpretes da música popular
brasileira. Por sua ala de compositores passaram Jorge Aragão, Niltinho
Tristeza, João Nogueira, Dida, Neoci Dias, Almir Guineto, João Nogueira,
Sereno, Agildo Mendes, Chiquita, Marcílio, Bira Presidente, Wastir e Valdir.
Sua fantasia é composta das cores preta, branca e detalhes de cor vermelha,
tendo como base a defesa e o resgate da cultura do índio brasileiro.” (Albin,
2006). Porem reza a lenPodemos dizer que o Cacique de Ramos, não só
mudou a estética dos blocos de carnaval, mais através dos seus compositores
e a roda de samba da tamarineira, a introdução de 2 instrumentos (o Banjo por

3
Almir Guineto e o Tantan por Sereno) vinha a ser criado o pagode. “Surgia
assim o grupo Fundo de Quintal, composto por alguns desses compositores,
tendo em sua primeira formação Jorge Aragão, Almir Guineto, Sereno, Neoci
Dias (filho de João da Baiana), Bira Presidente, Ubirany e Sombrinha.”
(cantorasueligushi, 2011). Esse tipo de reunião informal que proporcionou o
nascimento do Fundo de Quintal e deu nome ao grupo (nos fundos de um
velho quintal suburbano) passou a designar uma forma muito procurada de
diversão popular, os “pagodes de fundo de quintal”. O termo pagode ganhou,
no Rio de Janeiro, primeiro, acepção de “reunião de sambistas”; que se
estendeu depois às composições nelas cantadas; Na acepção de festas ou
festividades, desde os primeiros anos da República tem-se notícia de pagodes
em casas de famílias cariocas, assim como nos terreiros das escolas de samba
e em festas públicas na Penha e da Glória. Porém, a denominação ganhou
força e se expandiu mesmo no Rio a partir da década de 1970, a partir dos
pagodes do Clube do Samba (no Méier), Tia Doca (Oswaldo Cruz), Pagode do
Arlindinho (Cascadura e depois na Piedade), Cacique de Ramos, dentre outros.

A Rivalidade

O Bafo da Onça é mais antigo que o Cacique de Ramos. O bloco foi fundado
dentro de um botequim do bairro carioca do Catumbi, em meados dos anos
cinquenta. Seu principal fundador foi um carpinteiro e policial chamado
Sebastião Maria; um sujeito que, durante os dias de carnaval, formava uma
espécie de bloco do eu sozinho e costumava sair pelas ruas do bairro
fantasiado de onça-pintada.
Seu Tião Carpinteiro tinha ainda o hábito de começar a tomar uns gorós no dia
de Santos Reis - data que marcava, para ele, o início das festas de Momo - e
só encerrar os trabalhos na quarta de cinzas. Ocorre que o Seu Tião bebia
tanto, mas bebia tanto, que acabava ficando com um hálito meio pesado.
Parecia, de fato, que comia carniça. Durante uma das carraspanas
contumazes, amigos do Catumbi, sob a liderança do carpinteiro, resolveram
criar um bloco de carnaval. Todos sairiam fantasiados de onças-pintadas. O
nome do bloco, é evidente, já nasceu pronto.
O Bafo cresceu e virou atração do carnaval da cidade. As mulatas do
Sargentelli, João Roberto Kelly, Oswaldo Nunes e Dominguinhos do Estácio

4
eram figuras populares nos furdunços que a turma do Catumbi promovia. A
popularidade foi tamanha que o próprio Bira Presidente, fundador e eterno
dirigente do Cacique, admite que o bloco dos apaches de Ramos foi criado
com o objetivo de superar as onças pintadas do Catumbi.

O Tombamento

O tombamento ocorreu no dia 11 de dezembro de 2009, em âmbito municipal.


A agremiação ganhou, ainda, a permissão de uso do terreno, que é da
prefeitura, por mais 50 anos, e teve a sede reformada para que passa se a
funcionar como Centro Cultural.

“DECRETO Nº 31565 DE 11 DE DEZEMBRO DE 2009

Determina o tombamento do imóvel situado na Rua Uranos nº 1326, em Olaria.

O PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, no uso de suas atribuições


legais, e

CONSIDERANDO a importância cultural do Grêmio Recreativo Cacique de


Ramos, histórica e tradicional agremiação do carnaval carioca;

CONSIDERANDO que o local ora tombado é sede do Grêmio Recreativo


Cacique de Ramos desde os anos setenta;

CONSIDERANDO que o Grêmio Recreativo Cacique de Ramos foi e continua


sendo um importante reduto de criação musical e exemplo de organização
popular, centro de festas e de afirmação de tradições de diversas ordens;

CONSIDERANDO que, na quadra do Grêmio Recreativo Cacique de Ramos,


tivemos um dos epicentros do que acabou sendo qualificado com o "movimento

de pagode" - reunião de sambistas para fazer samba - com forte presença na


imprensa, na indústria fonográfica e nas rádios, em níveis local, nacional e até
internacional;

CONSIDERANDO que, desde os anos sessenta, o Bloco Cacique de Ramos,


utilizando-se da ideia e da figura do índio, através da confraternização entre
amigos de familiares da população carioca, vêm "catequizando" o carnaval
carioca;

5
CONSIDERANDO que, pela ala de compositores do Grêmio Recreativo
Cacique de Ramos, passaram diversos baluartes da música brasileira, tais
como: Jorge Aragão, Niltinho Tristeza, João Nogueira, Dida, Neoci Dias, Almir
Guineto, João Nogueira, Sereno, Agildo Mendes, Chiquita, Marcílio, Bira
Presidente, Wastir e Valdir;

CONSIDERANDO que, no início da década de setenta e parte da década de


oitenta, o Pagode da Tamarineira, realizado nas quartas-feiras na quadra do
Bloco, reunia diversos compositores e intérpretes, que mais tarde se tornaram
artistas reconhecidos na MPB: Jorge Aragão, Almir Guineto, Zeca Pagodinho,
Marquinhos Satã, Luiz Carlos da Vila, Arlindo Cruz, Sombrinha, Sombra,
Jovelina Pérola Negra, Pedrinho da Flor, Adilson Victor, Carlos Sapato e, na
época, ainda crianças levadas pelos pais, Andrezinho do Molejo (filho de
mestre André), Dudu Nobre (filho de João e Anita), Waguinho e Anderson do
Molejo;

CONSIDERANDO que, graças ao sucesso do Bloco de Cacique de Ramos, a


Cidade do Rio de Janeiro "exportou" os famosos "blocos de índio" para
diversas cidades brasileiras, todos tematizando e atualizando esse índio plural,
articulado com a indústria cultural e com os rituais religiosos.

DECRETA:

Art. 1º Fica tombado o imóvel situado à Rua Uranos nº 1326, em Olaria.

Art. 2º Quaisquer obras ou intervenções no bem citado no art. 1º deverão ser

previamente analisadas e autorizadas pelo Conselho Municipal de Proteção do

Patrimônio Cultural.

Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 2009 - 445º da Fundação da Cidade.

EDUARDO PAES

DO.RIO 14.12.2009” (rio, 2009)

O bloco completou 50 anos em janeiro de 2011. O presidente do Cacique de


Ramos, “Bira” disse que lutava desde o fim da década de 70 para que o bloco
fosse tombado como patrimônio cultural. “No dia 27/09/2010, o prefeito

6
Eduardo Paes, foi à nova sede do tradicional bloco Cacique de Ramos. A
pedido dos moradores, a quadra recebeu uma cobertura e passa a contar com
um centro cultural, espaço de convivência erguido no edifício-sede. Com
investimento superior a R$ 1 milhão, a reforma, executada pela Riourbe,
também beneficiou os alunos da Escola Municipal Clóvis Beviláqua, vizinha da
agremiação, que passaram utilizar a quadra durante a semana para a prática
de esportes (rio, 2010). Um espaço anexo foi projetado em leve estrutura de
aço, revestido com chapas pintadas com as cores do bloco. O local recebe os
visitantes e serve como ante-sala para eventos e ensaios da agremiação, além
de abrigar as tradicionais feijoadas de domingo. O espaço também abriga
exposições de fotografias de carnavais antigos. Além disso, a fachada da
agremiação voltou a exibir as características originais da época de sua
construção. A entrada do grêmio, bem como seu entorno e espaço anexo
receberam tratamento paisagístico, novo mobiliário e melhorias nos acessos.

Conclusão

Hoje Cacique é um símbolo de resistência e divulgação do samba carioca,


sendo motivo de admiração e orgulho para seus frequentadores e vizinhos da
quadra. Envolta em misticismo, a tamarineira torna-se um símbolo de
identificação do local, assumindo significado de elemento quase sagrado, de
respeito, benção e sorte. As interações entre frequentadores, vizinhos,
comerciantes e o Cacique de Ramos revelam as mais diversas relações de
poder e transmissão de valores entre esses sujeitos. Dessa forma, concluiu-se
que o Cacique de Ramos, por ser um componente marcante da identidade
cultural carioca de difusor de tradições, permite busquem a melhor
compreensão de suas dimensões como elemento e como patrimônio imaterial.

Bibliografia:

Dados Artísticos. Dicionário MPB, sem data. Disponível em:


http://dicionariompb.com.br/bloco-carnavalesco-cacique-de-ramos/dados-
artisticos. Acesso em: 08 mai. 2020.

7
Cacique de Ramos e Cordão do Bola Preta Patrimônios do Carnaval Carioca,
Multirio,2015. Disponível em:
http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-
artigos/reportagens/1029-cacique-de-ramos-e-cordao-da-bola-preta-
patrimonios-do-carnaval-carioca. Acesso em: 09 mai. 2020.

Cacique de Ramos, Mais de 50 Anos de Samba. Eu Canto Samba, 2011.


Disponível em: http://cantorasueligushi.blogspot.com/2011/01/cacique-de-
ramos-50-anos-de-historia.html. Acesso em: 09 mai. 2020.

Prefeitura entrega nova sede do Cacique de Ramos. Prefeitura do Rio de


Janeiro, 2010. Disponível em:
http://www.rio.rj.gov.br/web/guest/exibeconteudo?id=1164391. Acesso em: 08
mai. 2020.

Decreto 281. Prefeitura do Rio de Janeiro, 2009. Disponível em:


http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4722991/4122115/281DECRETO31565G
remioRecreativoCaciquedeRamos.pdf. Acesso em: 09 mai. 2020.
GremioRecreativoCaciquedeRamos.pdf>. Acesso em: 09 mai. 2020.

Você também pode gostar