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A Manifestação da Cultura do Norte de Moçambique (Niassa)

A Manifestação da Cultura do Norte de Moçambique (Niassa)


Índice
1. Introdução...............................................................................................................................3
1.1. Objectivos............................................................................................................................3
1.1.1. Objectivo geral..................................................................................................................3
1.1.2. Objectivos específicos......................................................................................................3
1.2. Metodologia.........................................................................................................................3
2. Província de Niassa.................................................................................................................4
2.1. Os Yaos................................................................................................................................4
2.2. A manifestação da cultura do norte de Moçambique...........................................................5
2.2.2. Música Banda....................................................................................................................6
2.2.3. Música Ligeira..................................................................................................................6
2.2.4. Gastronomia......................................................................................................................7
2.2.5. Ritos de iniciação da rapariga Yao (unyago wa nʼsoondo)..............................................7
Conclusão..................................................................................................................................10
Referências Bibliográficas........................................................................................................11
1. Introdução
Moçambique possui uma rica e longa tradição cultural de coexistência de diferentes
raças, grupos étnicos e religiões, ora isto reflecte a diversidade de valores culturais que em
conjunto criam as identidades do Moçambique moderno. Apesar de possuir uma diversidade
cultural e religiosa diferente de outros lugares raramente serve de razão para gerar conflitos
entre os povos de Moçambique.

Por outro lado, no contexto histórico, a província de Niassa foi influenciada pela
presença de diferentes grupos étnicos ao longo dos séculos, contribuindo para a riqueza da
diversidade cultural da região. As tradições locais, festivais e cerimônias refletem a rica
herança cultural que é preservada pelas comunidades.

1.1. Objectivos
1.1.1. Objectivo geral
 Apresentar as manifestações culturais da província de Niassa.

1.1.2. Objectivos específicos


 Descrever o contexto histórico da província de Niassa;
 Identificar as principais manifestações culturais da província de Niassa.

1.2. Metodologia
A metodologia usada na elaboração do trabalho, é a revisão bibliográfica e uso de
internet, isto é, para a materialização do presente trabalho usou-se manuais já publicados
fisicamente, tanto como electrónicos disponíveis na internet.

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2. Província de Niassa
Niassa é uma Província com extraordinária beleza natural acrescida de tradições,
monumentos, esculturas e pinturas rupestres que fascinam pelo seu aparato, majestade,
riqueza de detalhes e magnificência.

Em cada localidade, vila, município ou distrito ocorrem elementos naturais e culturais


que servem de pontos de referência incontornáveis.

Na visão de Temporario et al (2012, p.11) a identificação desses elementos tem sido


tarefa fundamental para vários sectores, em particular, o sector da cultura e educação devido a
importância que lhes é atribuída para a promoção dos valores históricos.

No entanto, a experiência demonstra que num cenário com vários elementos que
enaltecem a identidade dos povos, torna-se pertinente a priorização de apenas um número
representativo, que sirva de guia no processo dos debates tendentes a identificação, selecção e
aprovação das bandeiras.

Niassa é habitada por várias etnias, incluindo o povo Makua, Yao e Lomwe. A
diversidade cultural na província é reflectida nas tradições, danças, música e artesanato locais.

2.1. Os Yaos
Os Yao, também conhecidos por Ajaua, ocupam a região junto ao lago Niassa e o norte
da província com o mesmo nome. Os Yao também se encontram no Malawi e no sul da
Tanzânia. Fontes históricas revelam que os Yao eram bastante activos o comércio à longa
distância, ligando as regiões do interior com a costa do Índico: Quílua, na Tanzânia, e Ilha de
Moçambique. Antes dos finais do século XVIII eram os principais fornecedores de marfim.

Segundo Ferreira (1982, p.124) os Ajaua transitaram para as formas de comércio


internacional com Quílua e Ilha de Moçambique de uma forma gradual, a partir de trocas
regionais restritas e regionais de peles, produtos agrícolas e utensílios de ferro até atingir o
nível de uma florescente e bem organizada exportação de marfim, nos finais do século XVIII.

Ferreira diz ainda que no primeiro quartel do século XIX os Ajaua tinham-se
transformado nos maiores fornecedores de escravos exportados para Mossuril (ibid.:285).

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Dado o seu contacto regular com a costa de influência muçulmana, os Ajaua
islamizaram-se mais cedo que os outros povos do interior. Entretanto, uma islamização
significativa viria a acontecer depois de 1890, em resposta à pressões trazidas pela ocupação
colonial.

2.2. A manifestação da cultura do norte de Moçambique


A constituição da República de Moçambique estabeleceu o princípio segundo o qual o
estado promove o desenvolvimento da cultura e personalidade nacional e garantiu a livre
expressão das tradições e valores da sociedade moçambicana (Temporario et al, 2012).

Efectivamente, a cultura deve ser entendida como um componente determinante da


personalidade dos moçambicanos e considera-se a sua valorização como um elemento
fundamental para a consolidação da unidade Nacional, da identidade individual e do grupo.

Os povos que habitam actualmente Moçambique são incluídos no grande grupo dos
Bantu, que povoa quase toda a África a Sul do Sahara. Dentro deste grupo há muitas sub-
divisões, ou etnias.

Com uma diversidade cultural rica, a província constituí uma das maiores
representações da riqueza cultural de Moçambique.

2.2.1. Dança
Para Amide (2008, p.33), a província é detentora de diversos praticantes de várias
danças tradicionais com destaque para Chiwoda/Chioda e Nganda.

Essas danças, são algumas que são popularmente conhecidas a nível nacional que a
província mais prática.

2.2.1.1. Dança N´Ganda


Na nortenha província do Niassa, n´ganda é uma dessas danças cuja riqueza em
significado histórico e cultural é ainda hoje celebrada pelo povo em diversas ocasiões e
situações, tais como cerimónias civis ou outros momentos julgados oportunos pela
comunidade.

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Para (Ferreira, 1982) em nyanja ou chewa – um dos idiomas falados no Niassa, o termo
n´ganda tem duplo significado: o primeiro é que a palavra quer dizer “gule wa malipenga”
(dança das cabaças) e o segundo tem a ver com a designação da dança propriamente dita e o
rufar do principal tambor de n´ganda, o bombo ou ng´oma.

A dança é praticada para celebrar momentos de alegria e eventos solenes, as suas letras
retratam os cenários vividos pelo povo (Ivala, 2000).

Assim, percebe-se que N´ganda é uma dança de expressão da alegria da população pelos
sucessos na colheita e no campo de batalha. O seu valor cultural, no entanto, excede o mero
aspecto comemorativo.

N´ganda é um património artístico-cultural por meio do qual são promovidos e


fortalecidos valores benéficos na sociedade, como o espírito de comunhão, unidade étnica,
hospitalidade, familiaridade e amizade.

Através da dança são do mesmo modo veiculadas mensagens de desestímulo de


algumas práticas sociais condenáveis, nomeadamente o roubo e maus tratos às mulheres por
parte dos homens.

2.2.2. Música Banda


A província do Niassa deu origem a diversas bandas Culturais com destaque para
Babelicos/Malambes do distrito de Mecanhelas, Kassimbos, Ulongo e Massokos da Capital
Provincial do Niassa, Cidade de Lichinga.

Aos olhos de (Amide, 2008) estas, são apenas algumas bandas que através da música
procuram valorizar a cultura da província trazendo em suas músicas mensagens educativas e
com línguas locais bem como, usam trajes tipos dos antepassados valorizando.

2.2.3. Música Ligeira


Falar de música ligeira, a província dispõem de uma variedade de artistas que tudo
fazem para enaltecer e valorizar a cultura da província de Niassa.

Temporário et al (2022) dizem que devido a falta de órgãos de comunicação que com
muita consistência noticiam factos sobre a província, torna difícil se aprofundar e saber sobre
a riqueza que província dispõe para entusiastas culturais de outras províncias e países.
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O mesmo acontece com os artistas ligeiros que poucos são conhecidos a nível do país.

2.2.4. Gastronomia
Terra do N’tolilo, folha de batata-doce, do peixe chambo, e o famoso Njila de Majune, a
gastronomia da província é atractiva dando uma experiencia única aos que se aventuram
naquele ponto do país para saborear a boa gastronomia moçambicana.

Oteka/Oteca e Otobwa, são alguns nomes que marcam a gastronomia da província no


que se refere a bebidas típicas mais comuns.

2.2.5. Ritos de iniciação da rapariga Yao (unyago wa nʼsoondo)


Os Wayao de Niassa, para a mudança do estatuto e integração social do indivíduo,
realizam os ritos de iniciação da rapariga e do rapaz, localmente designados unyago e jaando,
respetivamente. Podendo ser unyago wa n’soondo, unyago wakusoongona e unyago diitiwo
para o sexo feminino.

Vale referir que os ritos de iniciação Yao são um espaço, no qual a rapariga aprende a
tornar-se mulher (Beauvoir, 2009), por meio da perfomatização de discursos (Butler, 1990) e
de “habitus” que geram relações de poder em que “o princípio masculino é tomado como
medida de todas as coisas” (Bourdieu, 2012:23).

Por isso, cabe também referir que os ritos, representam no norte, uma das formas de
representação da cultura daquela parcela do país, não obstante, os ritos devem ser analisados,
tendo em conta o significado que o contexto tem para as mulheres, os valores de género
transmitidos às iniciandas e os comportamentos que podem ser incitados por estes valores.

Estas cerimónias desenvolvem-se em 3 fases. A seguir, descrevo os aspectos mais


relevantes para esta abordagem.

 Fase 1: Antes dos ritos


Os ritos realizam-se após a colheita, a partir de Agosto a Dezembro e, nunca durante o
jejum islâmico.

Na sociedade Yao, quando uma rapariga atinge os 7 anos de idade, e estão organizadas
as condições económicas para as despesas relativas à cerimónia, os pais reúnem-se com ela e
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informam-na que deve ir aos ritos. Na ocasião, os pais explicam-lhe que os ritos são práticas
milenares que devem ser cumpridas como forma de perpetuação da tradição e da cultura
(Machava, 2017).

Um aspecto não menos importante que vale mencionar é que a ida da rapariga aos ritos
gera o que Immanuel Kant designou por heteronomia, quando o indivíduo se sujeita à vontade
de terceiros ou de uma colectividade, para manter a coesão do grupo.

Antigamente, os ritos decorriam fora da povoação, mas, actualmente, realizam-se na


povoação. Qualquer família que tenha filha(s) em idade de ser(em) iniciada(s) comunica às
famílias ao seu redor o desejo de realizar o ritual em sua casa, assim como a sua total
disponibilidade para receber no seu seio familiar raparigas provenientes de outras famílias
(vizinhas ou não) para a iniciação.

Na perspectiva de (Zeferino, 2016) antes da partida da rapariga para o acampamento


(cigwiisyo), sob a orientação da mulher mais velha da linhagem matrilinear, realiza-se na sua
família uma cerimónia tradicional de pedido de protecção à rapariga e de invocação dos
espíritos dos antepassados designada sadaka. Normalmente, nessa cerimónia, serve-se a todos
os presentes papas de arroz, de farinha de milho, sumo de mapira (wutóbwa).

Depois, a rapariga parte com a mãe à casa do régulo, onde irá receber m´bopeesi (unção
na testa da rapariga, feita com mistura de farinha branca e remédios). Daqui, as duas vão para
o acampamento.

 Fase 2: Durante o rito


A cerimónia no acampamento desenvolve-se em várias etapas, que descreve-se de
seguinte maneira (Machava, 2017):
 Ritual de entrada no acampamento - Quando chegam ao acampamento, a anciã da
família de acolhimento, à qual se confiam os ritos, unge a rapariga na testa.
Posteriormente, ela é entregue à matrona pela mãe, efectivando-se, assim, o ritual de
entrada para kuwuumbala (ser iniciada). Contudo, existem outras formas de entrada: a
voluntária e a por curiosidade.
 Ida ao rio e educação para o trabalho - Na madrugada do dia seguinte, as iniciandas
vão ao rio para tomar o banho que simboliza ruptura com o passado. De regresso ao
acampamento, elas são ungidas na testa pela matrona, cantando kapeemba kadi

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machamba e mbuduweri rabanoxa, traduzidas em “vamos aplicar a farinha que está na
peneira” e “preparem-se já amanheceu”, respectivamente.
 Instrução sobre a sexualidade no mato - No mato, a matrona apresenta às iniciandas
missangas (cuma) de várias cores. Destas, destaca-se a missanga vermelha que serve
de alerta ao marido quando a mulher está no período menstrual. Diferentemente da
vermelha, as missangas de cor branca, amarela-branca e preta simbolizam o
corrimento vaginal que indica os períodos fértil, não fértil e alguma infecção que pode
levar a mulher à esterilidade, respectivamente.
 Regresso ao acampamento - A partir desse dia, as iniciandas ficam com a face
pintada com barro, sem banho, apenas de calcinha, sentadas de pernas estendidas,
caladas e cabisbaixas. Sobre o andar cabisbaixa, equivocamente e excessivamente
relativista, Arnfred (2011) considera um código de conduta e não forma de submissão.
 Primeira aparição pública - Antes da saída do confinamento, as madrinhas e as
iniciandas pintam-se as caras com o carvão, farinha e areia. As iniciandas vestem
saias, missangas, lenços ou chapéus, tapam os seios e amarram lenços nos braços.
Saem à rua lideradas pela matrona que segura o cisaasii (cabaça contendo remédios).
Esta aparição é uma apresentação oficial à sociedade das novas integrantes da etnia.

 Fase 3: Depois do rito


No dia da saída do acampamento, pela madrugada, as iniciandas dirigem-se ao rio para
o banho. Vestem-se de roupa nova e perucas, pintam-se-lhes as unhas e a face. Saem de lá
segurando nas mãos flores e guarda-chuvas.

Ao chegarem às proximidades das suas residências, as jovens são recebidas em grande


festa. Nesta reinserção, elas podem receber um novo nome, dependendo da decisão dos pais.
Recebem dos pais uma nova casa, na qual poderão morar com os seus futuros esposos.
Durante um mês de reinserção familiar, não entram nos aposentos dos seus pais, porque já
quebraram os tabus sexuais.

Por ora, pode-se dizer que, os ritos seriam uma oportunidade para as mulheres
subverterem as normas patriarcais e assumirem o controlo da própria sexualidade, usando o
poder erótico (Lorde, 2014) que existe nelas, o que implicaria a necessidade da introdução e
observância dos direitos sexuais das mulheres nos ritos femininos e masculinos, com vista a
incentivar o prazer mútuo e relacionamentos livres da violência.

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Conclusão
Com a pesquisa foi possível concluir que Moçambique oferece uma diversidade
histórico-cultural rica e invejável, esse cenário pode ser testemunhado em parte na Província
do Niassa, pois, fora de ser uma região que viu nascer, crescer e formar várias
individualidades de referência na história do país, tem um forte potencial na cultura. As belas
danças, crenças e línguas tornam o nosso país como um potencial destino turístico, actividade
essa que pode ser conjugada com o turismo de sol e praia, o ecoturismo e o turismo
gastronómico que temos como referência no país.

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Referências Bibliográficas
Amide, J. (2008). WAYA'WE" No conhecido Niassa. Edit. Moçambique.

Arnfred, S. (2011), Sexuality and gender politics in Mozambique: rethinking gender in Africa.
Rocheste: NY, Boydell & Brewer Inc.

Bourdieu, P. (2012). A Dominação Masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.


Ferreira, R. (1982). Agrupamento e Caracterização Étnica dos Indígenas de Moçambique.
Disponível em: http://www.malhanga.com/flipbook/estudos.documentos/

Ivala. A. (2002). O ensino de História e as relações entre os poderes autóctone e moderno


em Moçambique, 1975-2000. Doutorado em Educação/Currículo. Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. São Paulo.

Lorde, A. (2014). Usos do erótico: o erótico como poder. Brasil: CELTIC.

Machava, P. (2016). O ensino de Português e o desenvolvimento da competência


comunicativa, a partir das abordagens comunitárias e escolares. Caso dos temas
transversais “Género e equidade” e “Saúde sexual e reprodutiva” Dissertação de
Mestrado em Educação/Ensino de Português. Maputo: Universidade Pedagógica. (não
publicada).

Machava, P. (2017). Santos ou Diabos: uma reflexão sobre os ritos de iniciação femininos e a
opressão da mulher. Maputo: Universidade Pedagógica.

Tamale, Sylvia (2006). Eroticism, sensuality and “women’s secrets” among the Baganda”.
IDS Bulletin.

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