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SAI ÀS SEGUNDAS DOSSIERSEFACTOS.COM FACEBOOK: DOSSIERS & FACTOS

50Mt

DIRECTOR: Serôdio Towo | Segunda-Feira, 10 de Abril de 2023 | Edição nº: 506 | Ano: 11 | Distribuição Electrónica

CARTA FORA DE BARALHO NA RENAMO

Manuel de
Araújo sai
para ND
- Salomão Muchanga confirma
apoio ao edil
Pág 04

"DOSSIER EDSON DA LUZ" NÃO ESTÁ ENCERRADO

SERNIC investiga
morte de
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Azagaia Pág 03
 2 EDITORIAL DOSSIERS & FACTOS 10 de Abril de 2023 SEGUNDA-FEIRA

Progressivo assassinato da cultura

Todos os povos se orgulham da
sua cultura. Este é o estado nor-
mal das coisas. Só que há excep-
ções, como tantas vezes podemos
testemunhar em Moçambique,
quando vemos compatriotas des-
denharem da música, gastrono-
mia, tradições e outras manifesta-
ções artístico-culturais nacionais.
Parte dessa auto-negação é, se-
guramente, uma herança do colo-
nialismo português, que, ao lon-
go de séculos, embarcou numa
ofensiva visando a “purificação”
dos moçambicanos para que dei-
xassem de ser simples coisas e se
transformassem em gente.
Não se consegue superar tão
facilmente um processo de acul-
turação secular, que foi perpas-
sando várias gerações até aos
tempos que correm. Ainda que
estejamos independentes desde
1975, a melhoria neste campo
não é assim tão substancial, mais
pelo facto de, quase que de ime-
diato, o mundo ter desaguado na
era da globalização.
Neste contexto, em que o mun-
do se transforma numa aldeia, a
cultura de um determinado país
pode, num ápice, ser transporta-
da para outras realidades, geran-
do assim uma espécie de homo-
geneização. O facto é que, como
em tudo, nem todos dispõem
de mesmas oportunidades. Os
países mais ricos no plano eco-
nómico-financeiro têm uma fa-
cilidade enorme de se sobrepor
aos pobres, “aniquilando” suas
peculiaridades.
É agradável olhar para os paí-
ses que nos circundam e perce-
ber que quase todos têm estado
a resistir ferozmente aos efeitos
nefastos dessa globalização vo-
raz sobre a cultura. É por conta
dessa resistência que “Amapia-
no”, género musical sul-africano,
criado há poucos anos, consegue
chegar aos grandes festivais in-
ternacionais, como o faz o Semba
angolano.
Já em Moçambique, vive-se de
saudades dos tempos em que
bandas tradicionais faziam di-
gressões pelas Europas. Nos últi-
mos anos, todos os géneros mu-
sicais nacionais têm vindo a ser
permanentemente “derrotados”
em seu próprio reduto, por conta
do desinteresse patrocinado pe-
los meios de comunicação – Rá-
dios e Televisões – que decidiram
relegar o que é MADE IN MOZAM-
BIQUE a um plano secundário.
É particularmente triste que
este plano de subjugação da cul-
tura nacional, ou de parte dela,
atendendo e considerando que
no caso em apreço estamos ape-
nas a falar da música, conta com
a conivência criminosa do Gover-
no. Tem sido assim já há vários
anos. O Executivo condena a in-
dústria musical à falência quando
se escusa de fixar percentagem
obrigatória de música nacional
a ser tocada nessas plataformas,
quando abdica de implementar
a Lei do Mecenato, quando não
cria condições para que os artis-
tas vivam da sua obra – por via de
royalties, por exemplo, entre ou-
tras omissões gravosas.
Como se matar por omissão
não fosse suficientemente grave,
as autoridades decidiram agora
partir mesmo para uma ofensiva
aberta, dobrando o valor da mal-
dita taxa de rodagem, cujos pro-
váveis benefícios ainda ninguém
veio explicar de forma convincen-
te. O que está a acontecer é grave.
É o Governo a pretender mamar
das tetas de uma classe margina-
lizada e sem qualquer perspecti-
va. É um verdadeiro assassinato
à música, que é um dos principais
vectores da imagem do país além-
-fronteiras e do fortalecimento
da moçambicanidade.
Ironicamente, os adultos que li-
deram estes processos serão os
primeiros a acusarem os mais no-
vos de falta de auto-estima e de
amor à pátria, esquecendo-se de
que são eles que matam os seus
heróis e referências, estendendo
tapete vermelho para os de ou-
tros quadrantes, que podem ver
os seus videoclipes exibidos nas
televisões domésticas sem depo-
sitarem uma só quinhenta nos co-
fres do Estado. A história registará
essa ofensiva contra a moçambica-
nidade e os seus autores – algozes
do país – jamais serão esquecidos.
serodiotouo@gmail.com

FICHA TÉCNICA
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 SEGUNDA-FEIRA 10 de Abril de 2023 DOSSIERS & FACTOS DESTAQUE 3
"DOSSIER EDSON DA LUZ" NÃO ESTÁ ENCERRADO

SERNIC investiga morte de Azagaia

Q
uando estão transcorridos 31
dias após a sua ocorrência, fica-
-se a saber que, afinal de contas,
a “novela” sobre a morte súbita
do músico Azagaia não foi encerrada com
o seu funeral. Dossiers & Factos sabe que
foi instaurado um auto pelo Serviço Na-
cional de Investigação Criminal (SERNIC),
na província de Maputo, em virtude, se-
gundo fontes, de ter havido solicitação
de nível superior a este organismo pro-
vincial para que mais esclarecimentos
sobre a morte do artista de intervenção
social sejam dados.

D&F Texto: Dossiers & Factos

Dossiers & Factos soube de fontes seguras dos

serviços que poucas horas depois da morte de Aza-
gaia, agentes da brigada da piquete operativa do  Restos mortais do ícone foram a enterrar a 14 de Março
SERNIC, na província de Maputo, deslocaram-se à
residência do finado para iniciar a peritagem, acto a Polícia deixado esta responsabilidade para o fórum removeu o corpo para a morgue do Hospital Central
considerado como normal familiar, que por seu turno contratou uma agência que de Maputo.
em casos de morte “estranha”,
sobretudo quando se trata
de uma figura como esta. No
local, constatou-se, pelas pri-
meiras indicações apuradas
pelos agentes, que teria sido
uma morte natural, havendo
indicação de que para se che-
gar a esta rápida conclusão
pesou o facto de terem sido
encontrados comprimidos na
mesa-de-cabeceira da cama
do malogrado.
Terá sido por este motivo
que o corpo do músico não foi
removido pela brigada opera-
tiva para a morgue do Hospital
Provincial, área de jurisdição
da província de Maputo, tendo Mural em Bissau em homenagem ao rapper
 48 Horas depois, há contra-ordens

Entretanto, consta-nos que, volvidos

dois dias após o falecimento do rapper
de intervenção social, houve orientação
superior para que se lavrasse uma nota
a solicitar exames de autópsia ao corpo
de Azagaia, para posterior investigação.
Sabe-se que trabalhos de investigação
prosseguem e que terão sido ouvidos
alguns declarantes, dentre eles o electri-
cista que esteve a trabalhar na casa do
músico na data (09 de Março) e à hora
do acontecimento. Aliás, sabe-se, igual-
mente, que se trata de um técnico que
sempre prestou estes serviços na resi-
dência do malogrado.
Refira-se que a instauração do referi-
do processo, segundo as mesmas fon-
tes, é, até ao momento, da iniciativa da
instituição de investigação, ou seja, não
Milhares se juntaram na Praça da Independência para homenagear o artista terá sido solicitada pela família. 
 4 DESTAQUE
COM UMA RELAÇÃO JÁ DOENTIA COM A RENAMO
Manuel de Araújo muda para Nova
Democracia
F
onte bem próxima a Ossufo Moma-
de, presidente da Renamo, que por
sinal também trabalha para a área
secreta deste partido que ainda
congrega a ala militar, disse recentemente
ao Dossiers & Factos que Manuel de Araú-
jo é tido como “carta fora do baralho” na
“perdiz”, não sendo, por isso, provável que
seja cabeça de lista deste partido no Mu-
nicípio de Quelimane. Nova Democracia
poderá ser a “nova casa” do autarca.
D&F Texto: Dossiers & Factos
A fonte explicou que os serviços de inteligência da Re-
namo já concluíram o seu trabalho e remeteram à presi-
dência do partido as devidas notas informativas sobre o
comportamento alegadamente desleal e pouco recomen-
dável de Manuel de Araújo perante os órgãos do partido.
Sublinhou que de Araújo não pode continuar – e isso está
dado como certo – a merecer a confiança do partido da
perdiz porque, nomeadamente: não presta contas ao par-
tido; viaja constantemente sem conhecimento da lideran-
ça partidária; passa mais tempo na capital do país, assim
como no exterior, para onde se desloca com voos a partir
de Maputo, mas sem sequer colocar os pés na Sede Nacio-
nal; destrata a figura do presidente, como se não fosse o
órgão máximo do partido, dentre outros “pecados”.
De acordo com a fonte que temos vindo a citar, os ser-
viços secretos da Renamo descobriram que o também
académico não respeita os órgãos da segunda maior força
política nacional porque já está aliado ao movimento Nova
Democracia, de Salomão Muchanga.
Muchanga confirma apoio
DOSSIERS & FACTOS 10 de Abril de 2023 SEGUNDA-FEIRA
Manuel de Araújo, autarca de Quelimane
ND confirma apoio a Araújo abandonou o Movimento Democrático de Moçambique
(MDM), regressando à Renamo, pela qual concorreu e
Na manhã da passada sexta-feira, 7 de Abril, Dossiers &venceu as eleições autárquicas realizadas no mesmo ano.
Factos entrevistou ao telefone Salomão Muchanga, presi- Na altura, declarou que renunciava para “não trair convic-
dente da Nova Democracia, em torno desta matéria. Este ções e princípios, bem como os anseios dos munícipes de
responsável começou por dizer que o movimento políti- Quelimane”.
co-partidário por si liderado é de inclusão na sua esfera de Dossiers & Factos não conseguiu ouvir Manuel de
visão política, para de seguida explicar que é neste âmbi-Araújo em torno deste assunto.
to que a ND decidiu concorrer às autarquias também em Contactado pela nossa equipa de reportagem, o por-
Quelimane, e que vai apoiar Manuel de Araújo. ta-voz do SERNIC disse que carecia de autorização supe-
Perguntámos, para melhor entender, se o apoio a que rior para se pronunciar sobre o assunto.
faz referência seria dado a um candi-
dato pela Nova Democracia ou a um
candidato de um outro partido, neste
caso, a Renamo. Em reposta, e tentan-
do esquivar-se politicamente da per-
gunta, afirmou de forma breve que
“vamos apoiar ao cidadão Manuel de
Araújo porque achamos ser íntegro e
competente para dirigir Quelimane’.
Em jeito de insistência, questioná-
mos se o “cidadão Manuel de Araújo”
já tinha compromissos celebrados
com a Nova Democracia ou não, e
se assumia ser membro deste mo-
vimento. Muchanga não confirmou
nem desmentiu que assim seja, ape-
nas disse que, pessoalmente, tem fa-
lado com este dirigente e que o mes-
mo sabe que conta com o apoio da
Nova Democracia para os próximos
desafios eleitorais.
 Académico de reconhecido méri-
to, o autarca de Quelimane já leccio-
nou Relações Internacionais e Política
Externa Comparada na Universidade
Católica, Universidade Pedagógi-
ca, Instituto Superior de Ciências e
Tecnologias de Moçambique, Uni-
versidade A Politécnica e Instituto
Superior de Relações Internacionais
(actualmente Universidade Joaquim
Chissano).
Refira-se que, em 2018, o político Renamo já estará a pensar num candidato para Quelimane
 SEGUNDA-FEIRA 10 de Abril de 2023
JÁ HÁ PROCESSOS EM CURSO
Assédio sexual ensombra UEM em
Inhambane
E
studantes da Universidade
Eduardo Mondlane (UEM), na
província de Inhambane, dizem
estar a sofrer assédio sexual su-
postamente protagonizado por alguns
docentes. Segundo as fontes, quem se
recusa a ceder aos alegados apetites
sexuais arrisca-se a reprovar liminar-
mente. A direcção da UEM confirma a
existência destes casos, porém, garante
que medidas já foram tomadas, incluin-
do a suspensão de quatro docentes.
D&F Texto: Anastácio Chirrute, em
Inhambane
O problema já tem barba branca e envolve
vários docentes daquela que é a mais antiga
instituição do ensino superior do país. As su-
postas vítimas são estudantes do sexo femi-
nino e, em anonimato, denunciam aquilo que
Juliana Boa, Porta voz Procuradoria da Republica em Inhambane
DOSSIERS & FACTOS
"Há muitas colegas que sofreram assé-
dio sexual aqui nesta escola. Mesmo eu
faço parte dessa lista. A forma como o meu do-
cente se dirigia a mim deu-me a entender que
me estava a assediar, e é por isso que até hoje
ainda não consegui passar a cadeira de história.
Ele [o docente] vive perseguindo-me. Uma vez
o docente veio arrancar o meu teste, acusando-
-me de fraude. Mas não foi isso o que aconteceu”
consideram ser abusos e violações dos seus di-
reitos. Os casos sucedem no Instituto Superior
de Hotelaria e Turismo.
DESTAQUE 5
O mais preocupante, segundo as mesmas
fontes, é que as vítimas sofrem ameaças e per-
seguições quando denunciam os casos junto à
direcção do Instituto.
"Há casos de colegas que
foram vítimas de assédio
sexual aqui na nossa uni-
versidade. O que elas con-
tam é que os seus docentes
obrigam-nas a manterem
relações sexuais em troca
de notas e quem se atrever
a negar reprova uma ou to-
das cadeiras”, disse, em ano-
nimato, um estudante.
Nessa instituição, há vá-
rios casos de estudantes
que não conseguem termi-
nar os seus cursos por con-
ta de cadeiras em atraso,
alegadamente por não ce-
derem à pressão de docen-
tes. Ângela Fernando, nome
fictício, é exemplo de uma
das estudantes vítimas des-
te mal. Diz ter sido assedia-
da por docentes e que, não
tendo cedido, pagou caro.
"Há muitas colegas que
sofreram assédio sexual
aqui nesta escola. Mesmo
eu faço parte dessa lista. A
forma como o meu docen-
te se dirigia a mim deu-me
a entender que me estava
a assediar, e é por isso que
até hoje ainda não conse-
gui passar a cadeira de his-
tória. Ele [o docente] vive
perseguindo-me. Uma vez
o docente veio arrancar o
meu teste, acusando-me de
fraude. Mas não foi isso o
 6 DESTAQUE DOSSIERS & FACTOS 10 de Abril de 2023 SEGUNDA-FEIRA

um docente e é sobre
este que nós abrimos o
processo", disse à nossa
equipa de reportagem
Juliana Boa, porta-voz da
Procuradoria Provincial,
garantindo que o proces-
so já está no fim da ins-
trução e que o indiciado
será responsabilizado
criminalmente pelos seus
actos.
Caso seja confirmado
que o docente em cau-
sa está envolvido neste
crime, poderá ser con-
denado a uma pena de
dois anos de prisão, de
acordo com o artigo 205
do Código Penal. "É um
perigo para a sociedade.
O que nós vamos fazer é
intensificar palestras não
só no âmbito das univer-
sidades, mas também nas
escolas primárias e se-
cundárias. Podem existir
casos de assédio sexual,
é preciso que os alunos e
os professores saibam da
existência deste crime",
afirmou a porta-voz.
De acordo com as nos-
sas fontes, um dos envol-
vidos chama-se Hélder
Hugo e é membro do
que aconteceu”, conta. também um docente foi suspenso, acusado da partido Frelimo, estando
O caso não terminou por aí. A estudante prática do mesmo tipo de crime. a exercer as funções de secretário da Assem-
ainda ficaria fora do exame de recorrência, por   bleia de Mesa na Assembleia Municipal da ci-
determinação do docente, que mais tarde viria Penas podem chegar a dois anos de prisão dade de Inhambane
a deixar claras as suas intenções. “Encontrou- De recordar que, no ano passado, a pro-
-me algures na cidade de Inhambane, per- A Procuradoria Provincial de Inhambane víncia de Inhambane registou dois casos do
guntou se eu não era aquela moça da fraude, confirma ter recebido um caso envolvendo género, um em Vilankulo e outro na cidade
confirmei. Depois ele disse que eu tinha que ir apenas um docente. Na sequência desta par- de Inhambane. O processo de Inhambane foi
ao seu gabinete para resolver o meu proble- ticipação, foi aberto o processo-crime número arquivado por insuficiência de provas e o de
ma, achei tudo isso muito suspeito e nunca lhe 132 e as vítimas já foram ouvidas, incluindo o Vilankulo continua em instrução. Todos estes
procurei". acusado. casos envolvem professores acusados também
  "A participação que nós recebemos fala de de prática de crime do assédio sexual.
Processos no gabinete jurídico da UEM

A nossa equipa de reportagem contactou

telefonicamente o responsável pelo Gabine-
te de Comunicação e Imagem da Universida-
de Eduardo Mondlane a nível da província de
A Procuradoria Provincial de
Inhambane, que, sem avançar detalhes, confir-
mou a existência de casos de assédio. Como Inhambane confirma ter rece-
bido um caso envolvendo apenas
consequência, dois docentes foram suspensos
por tempo indeterminado e têm processos a
correrem trâmites no Gabinete Jurídico desta
instituição.
"Um docente foi suspenso por causa de assé-
dio sexual e outro foi por causa de reprovar os
um docente. Na sequência des-
estudantes em massa, contrariando os objec-
tivos da nossa instituição. Os processos estão ta participação, foi aberto o pro-
no Gabinete Jurídico da nossa universidade, e
não posso avançar muitos detalhes", revelou.
No entanto, Dossiers & Factos sabe que o cesso-crime número 132 e as víti-
mas já foram ouvidas, incluindo o
número de docentes suspensos subiu para
quatro na sequência das investigações que
ainda decorrem naquela universidade. A mes-
ma varredura está a ser feita no Instituto Supe-
rior de Desenvolvimento Rural (ISUDER), onde acusado.
 SEGUNDA-FEIRA 10 de Abril de 2023
A maior invasão que pode
existir um país não é a que ocor-
re através das armas, mas sim
aquela que distorce e hipnotiza
pensamentos de comunidades
a pensarem que um dia, quan-
do a fome for maior, podere-
mos adoptar a areia como o ali-
mento básico para lutar contra
a desnutrição crónica.
É difícil liderar um país, mas
mais difícil é liderar um país
que não sabe o que é ser lide-
rado e quando ajudar a ser li-
derado. O que pretendo dizer é
que as políticas africanas se de-
monstram de singularidades,
no sentido de que os governos
formados actuam de forma in-
dividual e nunca incluem, efe-
tivamente, os cidadãos nos seus
processos de tomadas de deci-
são, por isso que ainda existem
mentes (até de intelectuais0
que definem estado como o
partido no poder.
Nos encontramos num cená-
rio de povos que não “sabem”
o que é bom para si mesmos,
e para podermos tomar deci-
sões que definem o rumo das
nossas nações, precisamos de
“baby-sitters – babás” para co-
locarem chuchas nas nossas
bocas para pararmos de chorar.
Mas a lágrima que cai sobre os
povos africanos, não é exata-
mente a lágrima de fome, mas
sim de uma criança que ainda
DOSSIERS & FACTOS
ACTIVISIONISMO
O poder da hipnose
Sérgio dos Céus Nelson
não sabe distinguir se está com
fome ou se quer sentar numa
pia.
Mesmo percebendo que a
corrupção vai-se alastrando,
continua se batendo palmas
para o “soberano” nos parla-
mentos e vai se continuando
a fingir que a fome não existe,
que a desnutrição crônica é um
conto de fadas, que o analfabe-
tismo já foi ultrapassado, por
isso debatemos com tanta eu-
foria sobre a migração digital.
Mark Twain é apologista da
ideia de que "os dias mais im-
portantes da tua vida são o dia
que nasces e o dia que descobres
o porquê". O que me interessa
nesta citação é o porquê de as
mentes africanas continuarem
aprisionadas num passado que
elas mesmas percebem que dela
precisam se libertar. A liberta-
ção da mente africana pode ser
o maior investimento que pre-
cisamos nos focar nele.
Afinal em que continente
vivemos? Vivemos em países
onde as pessoas estudam por-
que querem emprego e não o
conhecimento. Investem o pou-
co do dinheiro que têm porque
querem estudar engenharia,
petróleo, gás para terem mais
dinheiro, mas nunca estudar
antropologia para estudar o co-
nhecimento humano na sua to-
talidade, nem mesmo a arqueo-
OPINIÃO 7
logia para descobrir a origem
dos Homens, por exemplo.
Estamos em países onde não
há revolução porque continua-
-se acreditando que só se pode
ter um bom emprego tendo
o cartão do partido no poder,
ainda que ser membro de um
partido político não se defina
pelos cartões que se possuem,
porque as pessoas tratam cer-
tos cartões partidários para te-
rem “oportunidades”, enquanto
respiram um outro partido.
Vivemos em cenários de po-
vos que se pensa que as revolu-
ções, mudanças serão feitas de
noite para o dia, numa só sen-
tada do conselho de ministros,
como se não se soubesse que
as revoluções não se fazem nas
pressas, é preciso ir com calma
e investir em cada ideia que se
tem, de forma sábia.
Estamos em países onde não
se ensina os cidadãos a saberem
usar e aproveitar das leis que
existem, o que faz com que as
pessoas tenham medo do advo-
gado e não saibam da sua per-
tinência em cada transação que
fazem. Estar num país que não
respira as leis, países não regu-
lados, faz de nós um povo que
desconhece nossos próprios
direitos por capricho de alguns
que escondem dos outros a li-
berdade que têm de progredir
e sonhar.
 8 OPINIÃO
Cidadania e a sensação de vazio de poder
Ser coerente com o povo exige um
conjunto de mudanças comporta-
mentais no meio político e de gestão
social. Assim, poder-se-á perceber o
rumo que a nação está a levar, através
de uma visão nobre do futuro com
mudanças privilegiadas.
Falar disso em países não liberais,
como Moçambique, ou no contexto
africano, ainda é falar de uma mira-
gem. Olhar para o bem-estar do povo
configura a importância de melhorar
os erros que reprovam o Estado de
direito e bem-estar social. Todavia,
respeitar o "bem-estar comum", re-
presenta a necessidade de construção
contínua da verdadeira cidadania,
que se alarga ao sentimento de bem-
-estar das classes mais baixas, sobretu-
do para o exercício de uma cidadania
inteligente em todas vertentes sociais.
  "Quando o mal impera, o povo
chora"
Entre as novas problemáticas em
Moçambique, está a falta de condi-
ções para a gestão e funcionamento
normal do aparelho do Estado, a pre-
guiça laboral, o desleixo na coerente
gestão do bem público, o que contri-
bui para que impere uma nova narra-
tiva sociológica que resulta na fragili-
dade permanente das relações sociais
e na perda do espírito patriótico, com
a falta de uma política real de resolu-
ção dos principais problemas do país
e da juventude.
Um preponderante exemplo são as
reivindicações laborais no âmbito da
implementação da TSU (TABELA
SALARIAL ÚNICA), que traz com
sigo estresse a certas classes laborais,
devido à incapacidade de gestão das
DOSSIERS & FACTOS
PRIMEIRO PONTO
Nobre Rassul
contas públicas e desordem na ad-
ministração financeira nacional, que
tem em vista o favoritismo de certas
classes, ou até a uma rede criminosa
organizada com o fim de continuar
enriquecendo através da desordem
estatal.  plano de salvaguarda dos âmbitos e
As desigualdades sociais represen-
tam um problema na estabilidade
sócio-política e cultural no mundo e
trazem in loco os problemas que ori-
ginam o relativismo ético e moral, e
um modelo de actuação dos governos
não liberais e antidemocráticos, que
agem de modo a adulterar as práticas
comportamentais e culturais dos po-
vos originários, com o intuito de for-
matar as mentes, o que tem contribuí-
do para o desrespeito das práticas de
sublevação identitária, causando des-
contentamentos generalizados, mi-
gração ou êxodos rurais para as prin-
cipais cidades, já saturadas. De 2010 a
Novembro de 2022, Moçambique tem
sido exemplo negativo no que tange
aos índices de pobreza a nível global,
democracia, bem-estar, conservação
de práticas culturais, tratamento de
doenças infecciosas, entre outros ma-
les, estando entre os piores do mundo.
Hora vejamos:
1. Terceiro país mais pobre do mun-
do, segundo o Banco Mundial, com
base na renda nacional bruta.
2. Ao nível da democracia, na posi-
ção 167. E na região subsaariana, Mo-
çambique ocupa o lugar 23º, segundo
The Economist Intelligence Unit.
3. O Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) coloca Moçambique
no 165° posto, estando assim como o
33 país mais pobre do mundo (UNU).
10 de Abril de 2023 SEGUNDA-FEIRA
4. Segundo país no mundo com
maior índice de prevalência de HIV/
SIDA, de acordo com a        UNUSIDA
  A garantia de efectivação dos di-
reitos e liberdades fundamentais do
povo, visando a realização plena do
valores sociais, culturais e o aprofun-
damento da democracia participati-
va deveriam constituir a natureza de
governação de uma nação rica, na di-
mensão das práticas ideológicas sobre
o sistema de governação que se pre-
tende materializar.
É preciso reconhecer que existe fal-
ta de cidadania no sistema de gover-
nação implantado em Moçambique,
o que constitui um perigo moral  e li-
beral (este relativismo contribui para
a venda desenfreada dos recursos aos
chineses e a outros cidadãos de origem
asiática e europeia, sem, no entanto,
respeitar-se os direitos fundamentais
da população que reside nas áreas
visadas) para o perigo de manipula-
ção e de imposição de vontades que
descredibilizam o Estado. Tudo vem
da lógica da moralidade intelectual e
moralidade sociocultural, enquanto
moçambicanos.
Todavia, alguns valores sociocul-
turais, derivados da contemporanei-
dade, não respeitam o critério moral
da cidadania. Compreende-se que
não se trata, assim, de um ideal dis-
tante do que nos foi habituado depois
da independência de Moçambique,
onde o valor do acto de educar, for-
mar e cultivar os actos morais para o
bem-estar e o renovar do sentimen-
to patriótico foram se degradando.
Continua
 SEGUNDA-FEIRA 10 de Abril de 2023
MAYITABASSA!
É preciso despolitizar o dia da mulher moçambicana
Por: NkassanaWaka-Tembe–nkassana@gmail.com.org
Quis a história que a 7 de Abril, por si-
nal dia em que Moçambique perdeu uma
das importantes figuras na história da
promoção dos direitos da mulher. Josina
Machel, tal como as fontes rezam, tornou-
-se um dos rostos femininos a negar o pa-
pel passivo deste grupo social na acção da
libertação nacional. Em todo o país, o 7 de
Abril é celebrado com o intuito de enalte-
cer os feitos desta e outras mulheres que
mais cedo compreenderam que o papel
da mulher não estava apenas na cozinha.
A emancipação da mulher e a valorização
das abordagens de género ganham espaço
nos tempos actuais, um contorno diferen-
ciado. Se antes o papel desta mulher ca-
bia apenas nas actividades de índole do-
méstico, hoje se assiste a uma avalanche
crescente de mulheres que lutam pelos
seus direitos. A igualdade de género pode
hoje servir de orgulho para os esforços de
uma sociedade justa e de equidade. Ao ní-
vel do parlamento nacional, por exemplo,
regista-se o fenómeno nunca antes visto, a
paridade. Os deputados, nossos represen-
tantes na casa do povo, estão organizados
de uma forma equilibrada.
Ao nível do sector público, há esforços
em assegurar que lugares de chefia nas
empresas sejam ocupados por mulhe-
res. No sector informal, regista-se tam-
bém um número crescente de mulheres
que se dedicam à prática de actividades
económicas, reforçando a capacidade de
resposta da despesa junto da família. A
mulher moçambicana continua a apostar
nos esforços para educar a si e aos seus de-
pendentes com maior responsabilidade
na educação dos filhos.
O ambiente de luta e de conquistas,
por parte da mulher, é significativamen-
te visível, apesar dentre este mesmo gru-
po reconhecer-se que há um grupo que,
por conta das deficiências que apresenta,
esteja em situação de dupla vulnerabili-
dade se comparado com mulheres sem
deficiência. As mulheres com deficiência
constituem o grupo que mais barreiras
DOSSIERS & FACTOS
enfrenta no acesso aos serviços sociais
básicos, o que inclui a incapacidade de se
formar e ter acesso às fontes de sobrevi-
vência. O estigma e discriminação social
afectam este grupo de mulheres numa di-
mensão indisfarçável, o que ensombra o
verdadeiro sentido de uma sociedade jus-
ta, onde as mulheres têm a oportunidade
de gozar de direitos iguais e em pleno 7 de
Abril, dia da mulher moçambicana.
A discriminação da mulher com defi-
ciência no gozo dos seus direitos, infeliz-
mente, carrega consigo também a discri-
minação e exclusão daquelas que pouco
comungam com a visão das abordagens
da organização da mulher moçambicana.
A OMM, pelas razões que caracterizam a
sua criação. É, sim, uma organização da
mulher moçambicana, porém, com fortes
indícios de ser uma entidade com princí-
pios partidários, condicionando o verda-
deiro conceito de uma denominação que
se devia imiscuir destas vontades e princí-
pios sob o risco disto servir de obstáculo
para que mais mulheres se sintam parte
do movimento.
Este facto é constatado e reclamado
por outras mulheres que compreendem a
necessidade de uma abordagem de direi-
to sem interferências políticas. As mulhe-
res concordam que cada uma delas tem o
direito de ter uma filiação partidária, elas
são instadas a ter uma participação políti-
ca activa mas, a OMM, como tal, não deve
ter isto como um condicionante para que
se celebre os avanços da mulher na pro-
moção dos seus direitos. Sabe-se, a prior,
que discussões do género, baseadas na
forma como apresentamos, até pode isto
parecer utopia, mas urge a necessidade de
reflexão sobre o que devia ser uma orga-
nização social de cariz filantrópica e que
usa como arma a defesa, a promoção dos
direitos da mulher do Rovuma ao Mapu-
to e do Índico ao Zumbo, sem que haja
esta ligação política. As mulheres estão
pouco convictas desta mudança, porém,
não deve deixar de ser crucial a identifi-
OPINIÃO 9
cação de possíveis soluções para que este
problema seja ultrapassado, sendo uma
destas propostas a necessidade de uma
agenda específica para que se discutam os
factores que podem contribuir para uma
organização da mulher genuinamente in-
clusiva. 7 de Abril é o Dia da Mulher Mo-
çambicana e muito menos da Frelimo ou
outro movimento político.
A Frente de libertação de Moçambi-
que, e como reza a história, estava com-
prometida com a libertação total da terra
e do homem, a frente continha uma agen-
da nacional, de expurgar o colono e fazer
com que os moçambicanos sentissem o
gozo pleno dos seus direitos. Até aí está
tudo bem, até porque, há outro tipo de
movimentos que pelas ordens do partido
foram sendo criados e que hoje, numa si-
tuação política de diversidade e de inclu-
são, urge uma virada em relação aos pro-
pósitos que ditaram esta criação.
  Os movimentos outrora criados por
ordem da FRELIMO são desafiados a
aceitar que os moçambicanos são livres
de escolher se querem uma vida política
activa ou não. Os que querem até pode
não haver problemas em fazer manifes-
tações alinhadas com os seus partidos
políticos, mas para outras que disto se
dispensam, precisamos de ter coragem
de extinguir manifestações públicas so-
bre direitos e deveres de cidadania sob o
comando de algum movimento político.
Precisamos de desafiar a história e
manter vivas as aspirações gerais do
povo, nem que tenhamos com isso di-
zer: existe a liga feminina dos partidos
e existe o dia 7 de Abril, Dia da Mulher
moçambicana, que é caracterizado pelas
liberdades de escolha sob o que é dig-
nificante a esta mulher moçambicana.
Pode não ser hoje, mas um dia, devemos
ter uma data em que simplesmente é ce-
lebrado pelas causas reais de promoção
e valorização dos direitos da mulher,
isto sem nenhuma intromissão política,
obviamente.
 10 OPINIÃO
HISTÓRIAS DE VIDA
Adultério entre casados causa desgraça e
vergonha
Serôdio Towo-serodiotouo@gmail.com
A história de vida que hoje propo-
nho narrar é tão fresca que não pas-
sa um ano depois que ocorreu, numa
das províncias daqui da região sul do
país. Mussa, nome que atribuímos ao
primeiro personagem deste texto, é
professor de carreira e por sinal direc-
tor de um estabelecimento de ensino
secundário na referida província. Ho-
mem com aproximadamente 60 anos
de idade, pai de seis filhos crescidos e
avô de cinco netos.
  Mussa, afinal de contas, passou
a vida a trair a esposa ao amantizar
com uma senhorita de idade média
a quem chamamos aqui por Katija,
mãe de três filhos com idade dos 12
a 17 anos, a viver maritalmente com
o seu marido, por sinal, trabalhador
nas minas da África do Sul, a quem
chamaremos aqui por Jossefa.
 Sucede que a relação entre ambos
os amantes durou anos até que Josse-
fa, através de informadores que já não
suportavam o que viam, acabou to-
mando conhecimento e montou uma
equipa de monitoria contra a senhora
– sua mulher – e estes, em troca de
algum dinheirinho, iam de facto for-
necendo informações, entre reais e
falsas, a Jossefa lá na África de Sul.
  Quando o homem regressa para
a província, para visitar, o que fez de
surpresa e chegou à casa no meio da
noite. E porque já vinha informado, a
primeira coisa que fez à sua chegada
foi confiscar o celular da mulher para
que esta não pudesse fazer chamada e
dar a conhecer ao Mussa que o mari-
do havia chegado. Este foi o primei-
ro grande sinal de perigo que Jossefa
lançou à esposa.
  Depois do banho conjunto e um
DOSSIERS & FACTOS
jantar calmo à maneira local, o am-
biente no quarto durante o resto da
noite não foi nada agradável. Katija
foi submetida a um interrogatório que
talvez se compara com os da PIDE
contra presos políticos na era colo-
nial. Não escapou até de torturas, mas
sem poder gritar. O telefone dela, que
já estava na posse do marido, foi vas-
culhado e muita coisa vergonhosa e
comprometedora era a cada passo en-
contrada, para cada vez mais fúria do
marido.  tado e com cara desfeita de feridas.
Quando passava pouco das oito da
manhã, eis que o diabo acciona o seu
poder, deixando Mussa ligar para sau-
dar a sua amada Katija. Porque Jossefa
já tinha visto algumas mensagens que
os dois trocavam quando esta não pu-
desse falar devido à presença de pes-
soas, Jossefa respondeu dizendo: "va-
mos às 19 horas naquele nosso sítio,
me encontras lá". Disse Jossefa, fazen-
do-se passar por Katija, que estava sob
forte vigilância para não manter con-
tacto com nenhuma pessoa.  das agressões que foram consideradas
Chegada a hora, o marido – Josse-
fa – levou a mulher feita presa para o
local onde habitualmente se encontra-
va com Mussa para os namoricos e os
entretantos. Para além disso, Jossefa
convidou uma legião de mais quatro
homens confusos e amigos da infân-
cia que trabalham nas minas da Áfri-
ca do Sul, que acabaram encarnando a
dor de ser corno. No local, o infeliz do
Mussa chega e é capturado pelo grupo,
que o maltratou, espancando-o, amar-
rando-o. Passou por todo tipo de cas-
tigo, incluindo os de difícil transcrição
aqui.
 Mussa só escapou à morte porque o
destino não era esse. Depois de o tortu-
10 de Abril de 2023 SEGUNDA-FEIRA
rarem, enquanto consumiam bebidas
alcoólicas, despiram-no toda roupa,
tiraram-lhe as chaves da sua viatura e
todos outros pertences e o soltaram.
Este era outro sofrimento que Mus-
sa ia enfrentar pelo caminho porque,
apesar de ser noite, ele era muito co-
nhecido e devia percorrer cerca de
dois quilómetros sem roupa até à casa. 
Teve pelo caminho quem lhe socor-
reu, dando uma capulana, e chegou à
casa cheio de ferimentos, ensanguen-
Teve os seus lábios rasgados, perdeu
três dos seus dentes – muita descrição
feia que se pode fazer. A esposa, coita-
da, que não esperava o que aconteceu,
tudo via e entrou em pânico. Gritou
socorro para a aproximação da vizi-
nhança que a ajudou a transportar o
marido para o hospital, onde ficou in-
ternado dois dias.
  Quando analisados os factos no
seio da família e com a pressão da po-
lícia que pretendia saber da origem
como tentativa frustrada de homicí-
dio, concluiu-se que deviam ser deti-
dos os autores das agressões, mas os
comparsas do Jossefa já tinham fugido
de regresso à África do Sul depois da
missão.
 Não sei dizer o destino. Quem está
detido já passam sensivelmente três
meses é o Jossefa, o homem cornea-
do e autor moral e material das fortes
agressões ao Mussa, director de uma
escola secundária. A comunidade e
maior parte da cidade souberam do
assunto, e a vergonha é maior na famí-
lia de Mussa. Caso para dizer "adulté-
rio entre casados só causa desgraça e
vergonha".
 SEGUNDA-FEIRA 10 de Abril de 2023
OLHAR INTERNACIONAL
Mandado contra Putin é uma machadada à
credibilidade do TPI
Por:Ângelo Edson André Fremo
O Tribunal Penal Internacional (TPI)
emitiu recentemente um mandado inter-
nacional de detenção por crimes de guerra
contra o presidente da Rússia, Vladimir
Putin. Depois de, em 2018, ter “simulado”
que levaria à barra do tribunal soldados
e agentes da secreta dos EUA, intenção,
entretanto, abandonada em 2021, eis que
agora toma uma medida aparentemen-
te mais arrojada ao emitir uma ordem de
captura contra o líder da segunda maior
potência militar mundial.
Apesar de ser inédita, a decisão, ela pa-
rece ser mais um daqueles momentos em
que o Tribunal tende a levar a sua imagem
ao “lixo”, sendo que já era caricaturado
como o “tribunal de penitência dos africa-
nos”. Olhando para a história do Tribunal,
que aparenta ter preferência em investigar,
prender, julgar e condenar indivíduos de
países relativamente fracos, o mais prová-
vel é que, como já aconteceu no passado,
a relevância do TPI continue a se desva-
lorizar. O mandado vai ser ignorado e os
juízes serão alvos de ameaças.
O TPI é um Tribunal que foi estabele-
cido em Julho de 2002, com a adopção do
Estatuto de Roma. Os fundadores da insti-
tuição idealizaram-na como um Tribunal
permanente e independente para investi-
gar e levar à justiça indivíduos que come-
tem as mais hediondas violações do direi-
to internacional e dos direitos humanos.
Dados disponíveis na página do TPI dão
conta de que, até agora, houve 31 casos
perante o Tribunal, sendo que alguns in-
cluíam mais de um suspeito. Os juízes do
Tribunal emitiram 40 mandados de pri-
são e, graças à cooperação dos Estados, 21
pessoas foram detidas no centro de deten-
ção da instituição e compareceram peran-
te o Tribunal. Das pessoas procuradas pelo
Tribunal, 16 continuam foragidos, 5 fo-
ram-lhes retiradas acusações por já terem
morrido e os juízes emitiram 9 intimações
para comparecer perante o Tribunal. Os
dados indicam também que, dos proces-
sos levantados, foram concluídos 14, sen-
DOSSIERS & FACTOS
do que 10 indivíduos foram condenados e
4 absorvidos. Ora, todos os processos que
foram concluídos referem-se a indivíduos
ou casos relativos ao continente africano,
um facto que denuncia as razões de haver
uma percepção de que o Tribunal foi cria-
do para caçar os mais fracos, especialmen-
te as lideranças do continente negro, daí a
ideia de que o TPI é um “tribunal de peni-
tência dos africanos”.
O mandado de prisão emitido pelo Tri-
bunal Penal Internacional para o presi-
dente russo Vladimir Putin, por supostos
“crimes de guerra”, confirma mais uma vez
que a justiça internacional é 100% contro-
lada pelos americanos”. O TPI não deve-
ria primeiro reconhecer George W. Bush
e Tony Blair como criminosos de guerra e
emitir mandados de prisão por ocasião do
20˚ aniversário da invasão do Iraque? Vale
a pena mencionar aqui que todos os docu-
mentos publicados revelam a extensão da
devastação e destruição que o país sofreu
com a base em falsas acusações.
A decisão de prender Putin coincidiu
com o aniversário da intervenção ame-
ricana no Iraque  e também mostrou um
desequilíbrio fundamental que afeta ins-
tituições e organizações internacionais.
Os Estados Unidos se consideram o úni-
co pólo mundial. Eles confiam no poder
militar e desprezam os princípios morais,
então, ninguém pode impedi-los de travar
guerras sem sentido pelas quais pessoas
inocentes estão pagando.
O ex-secretário de Estado dos EUA,
Colin Powell, admitiu anteriormente que
mentiu para a Assembleia Geral das Na-
ções Unidas sobre a produção de armas de
destruição em massa pelo Iraque.
De que tipo de justiça podemos falar
quando George W. Bush e Tony Blair esca-
param da responsabilidade perante a co-
munidade internacional e Putin é chama-
do de inimigo dos Estados Unidos?
Tony Blair foi condenado por uma Co-
missão Parlamentar Britânica por mentir
e envolver o Exército Britânico em uma
OPINIÃO 11
guerra de agressão desnecessária. George
W. Bush, por sua vez, sempre se gabou de
que o derrube do regime de Saddam Hus-
sein era um objecto digno de guerra. To-
dos os documentos publicados confirmam
que a decisão de invadir o Iraque foi deli-
berada e pré-planificada, e o pretexto es-
colhido não passa de uma mentira na qual
ninguém acreditaria.
O Iraque era um Estado forte e próspero
antes da invasão americana e depois disso
deixou de ser. O povo árabe foi submetido
a massacres, torturas, abusos, humilha-
ções e foi condenado à morte pela fome. A
estrutura social da sociedade iraquiana foi
destruída. A razão para isso é a imposição
de um sistema político que se tornou uma
“máquina implacável de destruição” após
a retirada das tropas americanas e britâni-
cas .
O então presidente dos EUA, George
W Bush, disse “missão cumprida” e quis
dizer o que disse. A missão que derrubou
Saddam Hussein destruiu a soberania ira-
quiana. O Iraque existe apenas no papel,
este Estado nem reconhece seu próprio
povo. Tudo o que aconteceu ao Iraque
não foi condenado pelo Tribunal Penal
Internacional.
O Tribunal Penal Internacional agiu sob
ordens americanas. No entanto, ele não le-
vou em conta o facto de Vladimir Putin
ser chefe de uma superpotência com ar-
mas nucleares. Quem, por exemplo, ousa-
ria prendê-lo?
Tal decisão visa menosprezar a justiça
internacional e expô-la ao ridículo. Em-
bora seja puramente simbólico, é um sinal
da destruição da própria ideia de justiça
internacional.
Os Estados Unidos, sabendo que essa
decisão não era executável, pretendia de-
monstrar publicamente o seu poder sobre
o Tribunal Penal Internacional. É impor-
tante notar aqui que eles assinaram o Esta-
tuto de Roma, mas não o ratificaram e até
impuseram sanções anteriores aos funcio-
nários do ICC.
 12 PLANO DE FUNDO DOSSIERS & FACTOS 10 de Abril de 2023 SEGUNDA-FEIRA

DEVIDO ÀS CHUVAS QUE ASSOLARAM MAPUTO

Agricultores alertam para insegurança

alimentar
• INGD descarta bolsas de fome

P
rodutos agrícolas poderão conti-
nuar por mais tempo, pelo menos
na província e cidade de Maputo,
até que os camponeses se recupe-
rem das perdas resultantes das últimas
chuvas que inundaram os campos agríco-
las em alguns distritos dessa parcela do
país. O certo é que o processo de recupe-
ração não deverá ser fácil, dada a magni-
tude dos prejuízos. Tudo foi levado pelas
águas.

D&F Texto: Quelto Janeiro

Fotos: Albino Mahumana

As histórias são tristes, e começamos pela de

Carlos Mula, que investiu pouco mais de 25 mil
meticais na compra de sementes de culturas como
alface, couve, beterraba e cebola. Viu todo o seu
esforço cair por terra quando, em Fevereiro último,
fortes chuvas, associadas às descargas feitas nos
países a montante, arrasou a sua produção, algu-
res no bairro de Ndlavela, arredores da cidade da
Matola.
Agora faz as contas e estima que precisará de
pelo menos dois meses para se reorganizar e voltar Carlos Mula – Agricultor 
a produzir como antes. Todo o esforço de recupera- salientando que também a África do Sul, que poderia Governo para que dê apoio aos agricultores, sobre-
ção é individual, visto que o agricultor não dispõe minimizar a situação do país, está na mesma situação. tudo aos de pequena escala, que são os mais sacrifi-
de qualquer tipo de apoio. A situação é crítica e demanda união. Por isso, a cados pela situação actual.
Enquanto os agricultores se recuperam, os mer- nossa fonte encoraja os seus companheiros a redo-
cados se ressentem. “O mercado poderá ficar priva- brarem esforços, na crença de que o cenário pode- Cenário sombrio
do de produtos por dois meses”, perspectiva Mula, rá melhorar nos próximos tempos. Também pede ao
Com prejuízos que ascendem aos 15 mil meticais,
José Penicela viu as águas varrerem um hectare de
produtos, nomeadamente berinjela, cebola, alface.

No entanto, alguns pro- É um dos maiores golpes que sofreu ao longo dos
seus mais de 10 anos de carreira e a recuperação será
complicada.
“Do momento, tenho falta de fundos necessá-

dutos, com destaque para o rios para comprar e semear sementes em tempo
útil”, conta a fonte, que antevê dias e tempos ainda
mais difíceis, em que a província e cidade de Mapu-

coco (2,6%), a galinha viva

to se vão ressentir de um grande défice a nível de
hortícolas.
A situação, que se equipara às fatídicas cheias de
2000, afectou também Anastácia Nhangumbe, que

(2,4%),oarrozemgrão(1,2%),
acabava de investir fortemente na compra de vivei-
ros para pouco mais de 100 canteiros.
Em conversa com a nossa equipa de reportagem,
lamenta a falta de apoio para alavancar a produti-

o óleo alimentar (0,8%) e o

vidade, mas afirma que está a envidar esforços no
sentido de recuperar o investimento perdido a breve
trecho.
“Por vezes, torna-se difícil sem ajuda financeira,

gás butano em botija (3%) uma vez que muitas pessoas que aqui produzem
contam com investimentos próprios. E quando per-
dem, tal como aconteceu nessas chuvas, ficam sem
saída. Se houvesse alguém para nos ajudar em ter-

contrariaram a tendência de mos financeiros, aqui no bairro de Ndlavela, isso se-

ria muito bom”, realçou.
Para Ana Bié, voltar a semear é arriscado, mas

aumento de preços.
defende que todo esforço vale a pena. Assim sendo,
algumas hortícolas poderão ser colhidas provavel-
mente no mês de Junho. Por outro lado, enaltece os
 SEGUNDA-FEIRA 10 de Abril de 2023 DOSSIERS & FACTOS PLANO DE FUNDO 13
ção de preços do país, o INE chegou
à conclusão de que, no mês de Feve-
reiro, “a província de Tete destacou-se
com um aumento de 1,49%, seguida
das cidades de Maputo com 1,34%, de
Inhambane com 1,23%, Chimoio com
0,97%, Xai-xai com 0,78 %, Quelima-
ne com 0,71%, Nampula com 0.67% e,
por fim, a cidade da Beira com 0,47%”.
 
INGD diz que não haverá bolsas de
fome

Entretanto, o delegado do Institu-

Ana Bié – Agricultora
esforços da estrutura do bairro em que vive (Ndlave- bidas não alcoólicas foram as que tiveram maior au-
la), que, em meio às dificuldades que os agricultores mento de preços, ao se fixarem em 1,52 pp e 0,17 pp
vivem, ofereceu regadores para cada produtor. positivos respectivamente”.
  Analisando a variação mensal pelos oito centros
Preços continuam a disparar nos mercados de recolha que serviram de referência para a varia-
to Nacional de Gestão e Redução do
Risco de Desastres (INGD), na provín-
cia de Maputo, disse há dias, durante
o primeiro fórum de mulheres e gé-
nero, na cidade da Matola, que não
há previsão de bolsas de fome, mes-
mo com os estragos deixados pelas
águas.
Amir Abdullah contabiliza mais
de 100 hectares perdidos na primei-
ra época, pelo menos nesta parcela
do país. “Por isso, há uma série de ac-
ções por parte do Governo para dar
sementes às populações”, disse, acres-
centando que, neste momento, con-
sidera-se como perdida “uma área de
15% e ainda não há janelas de inse-
gurança alimentar. Há preocupações,
sim, há também pessoas que deverão
ser assistidas, mas não há possibilida-
de de insegurança alimentar”, disse.
Outro ponto abordado pelo res-
ponsável tem que ver com os equipa-
mentos como tractores, que foram arrastados pelas
águas. Além disso, “tivemos animais arrastados em
uma área de 25 % de pastagem afectada. Tivemos
também corais e aviários afectados. Mas, contudo,
foi possível recuperar algum material”, disse.  

Enquanto isso, os preços dos

produtos de primeira necessi-
dade, como o óleo, arroz, feijão,
farinha, entre outros, disparam
nos principais mercados do país.
No caso do óleo, a previsão é que
a situação piore nos próximos
tempos.
Dados do Instituto Nacional de
Estatística (INE), sobre o índice de
preços no consumidor, referentes
ao mês de Fevereiro, indicam que,
neste período, a inflação mensal
situava-se em 0.97%.
Analisando a variação mensal
por produto, o documento desta-
ca o aumento dos preços do to-
mate (11,7%), do milho em grau
(9,1%), da galinha viva (16,5%), da
couve (6,2%), do carapau (1,5%),
e de alface (10,0%).
No entanto, alguns produtos,
com destaque para o coco (2,6%),
a galinha viva (2,4%), o arroz em
grão (1,2%), o óleo alimentar
(0,8%) e o gás butano em botija
(3%) contrariaram a tendência de
aumento de preços.
Uma verificação acumulada do
INE relata que “os dados do mês
em análise (Fevereiro de 2023),
quando comparados com os do
igual período de 2022, indicam
que o país registou um aumento
de preços na ordem de 2,00%.
As divisões de alimentação e be- Anastácia Nhangumbe – Agricultora
 14 INSS DOSSIERS & FACTOS 10 de Abril de 2023 SEGUNDA-FEIRA

NA MANHIÇA, MAPUTO

INSS apoia trabalhadores vítimas de

enxurradas
O
Instituto Nacional de Segurança
Social (INSS), na  província de Ma-
puto, procedeu, na segunda-feira
passada, 3 de Abril, no distrito da
Manhiça, à entrega de congeladores e col-
mans a oito pescadores inscritos no regime
de trabalhadores por conta própria (TCP),
que foram vítimas das enxurradas do passa-
do mês de Fevereiro.

D&F Texto: Cortesia

O apoio surge no âmbito do Programa de Acção Sanitária

e Social do INSS, e tem como objectivo moralizar os visados
na retomada das suas actividades e continuar com a geração
de renda, que é a sua principal fonte para o pagamento das
contribuições ao sistema de segurança social.
O governador provincial de Maputo, Júlio José Parruque,
fez a entrega do material, na vila da Manhiça, num acto pre-
senciado pela administradora local, Maria Fernanda Moçam-
bique Tonela, presidente do Município da Manhiça, Luís Mun-
guambe, TCP do distrito, entre outras individualidades.
Discursando no acto, o governante destacou o facto de o
INSS não estar apenas preocupado com a colecta de contri-
buições, como também estimular a produção dos seus contri- Administradora da Manhiça fazendo entrega de colman
buintes (TCP), pelo que vale a pena contribuir para o Sistema Por sua vez, o representante dos pescadores, Luís apontando que o mesmo permitirá aos seus associados
de Segurança Social, com vista a garantir a protecção social. Sambo, visivelmente satisfeito, enalteceu o gesto do INSS, continuarem a exercer as suas actividades, na medida em
que, nas últimas chuvas, perderam
todo o equipamento de trabalho.
Frisou, ainda, que os congeladores
e colmans ajudarão na conservação
do pescado para a posterior venda,
tendo garantido que os TCP con-
templados continuarão a canalizar
as contribuições ao Sistema de Se-
gurança Social.
A oferta de kits para os TCP, na
província de Maputo, que teve início
no mês de Fevereiro no distrito da
Matola, visa reanimar as actividades
económicas dos trabalhadores que
perderam os seus instrumentos de
trabalho, em consequência das en-
xurradas. O gesto será ainda replica-
do, nos próximos dias, nos distritos
de Magude e Moamba, totalizando
50 beneficiários.
Na Manhiça, a Delegação Dis-
trital do INSS conta, actualmente,
com  754 contribuintes (empresas),
46.109 beneficiários (trabalhado-
res), 755 trabalhadores por conta
própria e 2.630 pensionistas, para
além de trabalhadores no sub-regi-
me de manutenção voluntária no
sistema 5.432 
Enquanto isso, a Delegação Pro-
vincial do INSS, em Maputo, conta
com 17.678 contribuintes, 480.491
beneficiários, 5.170 trabalhadores
por conta própria e 16.428 pensio-
nistas. Em termos de presença na
província, o INSS está nos distritos
da Manhiça, Magude, Boane, Na-
maacha Moamba, Marracuene,
bem como na Machava, Matutuine
Foto família com personalidades e beneficiários e Bela Vista. 
 SEGUNDA-FEIRA 10 de Abril de 2023 DOSSIERS & FACTOS ECONOMIA 15
TEMENDO PERDA DE HEGEMONIA

EUA irritados com aproximação do

Brasil a China
A
pós esfriamento durante o reina-
do de Jair Messias Bolsonaro, as
relações entre Brasil e China vol-
tam aos seus melhores dias com
o regresso de Luiz Inácio Lula da Silva ao
poder. Esta tendência não agrada aos Es-
tados Unidos da América, que travam uma
verdadeira guerra económica com a China.
Neste "tabuleiro", o Brasil é uma peça pre-
ponderante.

D&F Texto: José de Castro

Hegemónicos por longos anos, quer no campo mi-

litar, quer no campo da economia, os Estados Unidos
da América vêem-se, pela primeira vez, seriamente
ameaçados. Se na componente militar é a Rússia o
seu principal rival, na económica é a China, o gigan-
te asiático dirigido actualmente pelo Presidente Xi
Jinping.
A disputa trava-se literalmente em todo o mundo,
mas há palcos especiais, com grande potencial de
serem determinantes para a manutenção do status
quo ou para a instauração da “nova ordem mundial” e
consequente quebra do mundo unipolar. Um desses
palcos é o Brasil. Afastado da China durante os qua-
tro anos de liderança de Jair Bolsonaro, o esquerdis-
ta Lula da Silva volta a aproximar a maior nação da
América Latina ao gigante asiático, o que incomoda Lula da Silva vai encontrar Xi Jinping em Abril
Washington. geopolítica e económica, numa altura em que Lula acompanhar por uma grande comitiva de empresários e
Segundo a reportagem do site brasileiro UOL, na da Silva prepara uma visita importante àquele que políticos, estão acordos nos sectores de alta tecnologia,
China, fala-se explicitamente da necessidade de colo- é o maior parceiro comercial do “país do samba”. satélites, semicondutores, 6G, inteligência artificial, ex-
car o Brasil num novo “patamar” a nível de influência Na agenda dessa viagem, na qual Lula far-se-á pansão da internet, clima, turismo e investimentos em
energia limpa.
Refira-se que Pequim é actualmente a maior potência
comercial do mundo. Suas exportações ocupam 14% do
mercado internacional e somaram, em 2022, mais de US$
3,5 trilhões em vendas. O segundo colocado no ranking
é a economia americana, que exportou US$ 1,5 trilhão a
menos que os chineses.
 
Irritação americana

Entre a “espada e a parede”, Brasil procura manter boas

relações com as duas potências, tanto que Lula já fez
questão de visitar os EUA ainda antes de completar 100
dias no Governo. Ainda assim, as autoridades americanas
não sossegam e reagem com irritação à fluidez da relação
entre Brasília e Pequim.
Ao recente acordo entre os dois países, que estabelece
a não obrigatoriedade do uso do dólar nas transacções
económicas, Washington respondeu com uma ameaça.
“Estamos profundamente preocupados com a transição
do Brasil e da China para moedas nacionais ao realizar
acordos mútuos. Isso é uma violação dos direitos de nos-
sos cidadãos que dependem de uma taxa de câmbio está-
vel do dólar no mercado mundial. A América não permi-
tirá que outros países ditem os seus termos no comércio
mútuo. Queremos alertar que a violação dos direitos dos
americanos comuns não ficará sem consequências para
esses países”, disse a porta-voz da Casa Branca, Karine
Jean-Pierre.
A irritação é mais do que evidente e foi também de-
monstrada pelo senador da Flórida, Marco Rubio, que cha-
mou atenção para o facto de a aproximação entre Brasil e
Nível de irritação crescente nos EUA China ser mais um sinal de “desdolarização do mundo”.
 16 SOCIEDADE
DEPOIS DO AGRAVAMENTO
Músicos declaram “guerra” contra
taxa de rodagem
A
relação entre as estruturas go-
vernamentais e a classe artística
nunca foi propriamente famosa
em Moçambique, mas talvez o
nível de deterioração nunca tenha estado
tão acentuado quanto no presente. Em
causa está o agravamento, em 100%, da
taxa de rodagem, que é condição sine qua
non para que videoclipes e outras produ-
ções culturais de carácter audiovisual se-
jam exibidos nas televisões nacionais.
D&F Texto: José de Castro
Stewart Sukuma, músico
Num país onde a produção cinematográfica é ainda
incipiente, são sobretudo os músicos que se ressentem
dos efeitos da taxa de rodagem, que é cobrada ao abri-
go da Lei n.º 1/2017, de 6 de Janeiro. A medida sempre
foi alvo de contestação no seio da classe, mas o recen-
Gunnias, músico
DOSSIERS & FACTOS 10 de Abril de 2023 SEGUNDA-FEIRA
te anúncio do agravamento da taxa em
100%, passando de 4000 para 8.725 meti-
cais, estourou a paciência.
As reações são várias e todas adversas,
dando a sensação de que os músicos es-
tão cada vez mais afastados do Governo,
representado pelo Ministério da Cultura e
Turismo. Um dos primeiros a se pronun-
ciar sobre a matéria foi o músico Gunnias,
lançando uma série de questionamentos
por via da plataforma Facebook.
“É para impedir que façamos vídeos e
publiquemos nossos trabalhos? Querem
matar a arte? Querem aniquilar o nacio-
nal a favor do estrangeiro? Qual é o plano,
afinal? Peço uma resposta, isto é insus-
tentável, algo tem que aconte-
cer”, escreveu Gunnias.
Insustentável foi também a
expressão usada por Twenty
Fingers, para quem o agrava-
mento da taxa cria uma “bar-
reira” para a demonstração
artística por parte dos moçam-
bicanos. “Se não se pretende
que se faça músicas e vídeos
em Moçambique, é só serem
claros”, apelou. Eldevina Materula, ministra da Cultura e Turismo
No mesmo diapasão alinha ramo audiovisual, sendo que, nos casos em que os 0,5%
o compositor, produtor e videomaker DX Nu- estejam abaixo do salário mínimo da Função Pública, a
vunga, que “não sabe o que se está a passar taxa a ser paga tem de subir até atingir este ordenado,
neste país”. Nuvunga vai mais longe e avisa neste caso, 8.725 meticais.
que “se não fizermos nada, em breve vão co- Numa tentativa de acalmar a classe, Materula garan-
brar-nos por entrar em estúdio”. tiu que esta situação merecerá atenção do pelouro que
Uma das reações mais elaboradas e con- lidera.
tundentes foi do músico Stewart Sukuma, A conferência de imprensa foi também marcada pela
que se tem mostrado bastante interventivo nos últimos expulsão, por ordens da ministra, do presidente da So-
tempos. Na sua página do Facebook, o “veterano” arra- ciedade Moçambicana de Autores (SOMAS), Jomalu,
sou as autoridades. por falta de decoro. Visivelmente nervoso, Jomalu inter-
“As autoridades culturais moçambicanas não estão rompeu o discurso da ministra repetidas vezes, geran-
em condições morais de cobrar taxa alguma antes que do alguma confusão na sala em que decorreu o evento.
se resolva definitivamente a apli-
cação e cumprimento total da lei
dos direitos de autor e a lei do me-
cenato. Por uma questão lógica,
os autores/artistas de uma forma
geral precisam de ter uma fonte
de rendimento segura e essa parte
não é só da responsabilidade do
artista”, disse Stewart.
Taxa influenciada pelo salário
mínimo
Perante a contestação generali-
zada, a ministra da Cultura e Turis-
mo, Eldevina Materula, concedeu
uma conferência de imprensa na
semana finda, tendo explicado o
galopante aumento da taxa. Ma-
terula disse que o aumento do sa-
lário mínimo, em 100%, na Função
Pública, afectou de forma directa a
taxa de rodagem.
É que, segundo a governante,
a Lei estabelece que a taxa a ser
paga deve corresponder a 0,5%
do orçamento de cada trabalho do Twenty Fingers, músico
SEGUNDA-FEIRA 10 de Abril de 2023 DOSSIERS & FACTOS ANÚNCIO PUBLICITÁRIO 17

• comentários
 18 PROVINCIA DOSSIERS & FACTOS 10 de Abril de 2023 SEGUNDA-FEIRA

EXORTA O GOVERNO DE MAPUTO

Mulher deve ser o rosto das instituições

O
Executivo provincial exorta à
mulher a ser um rosto de bom
atendimento nas instituições pú-
blicas. O apelo surge no âmbito
das celebrações do dia 7 de Abril, dia da
mulher moçambicana. No encontro tido
com o braço feminino, nesta parcela do
país, o governador da província sublinhou
que a mulher também garante a estabili-
dade e crescimento da província, sendo
que esta salvou a província dos impactos
violentos das chuvas, garantindo esperan-
ça e retorno à vida normal.
D&F Texto: Dossiers & Factos
Mães recebem enxovais no hospital provincial de Maputo
Sendo a mulher o rosto da província, o governante da
província de Maputo, Júlio Parruque, convidou a uma re-  Mães recebem enxovais no Hospital Provincial de horas até cerca de sete horas do dia 07 de Abril, com
flexão na manutenção da história e uma sociedade equi- Maputo a particularidade de todos os bebés estarem em boas
librada, inovação da missão da mulher dentro e fora da   condições de saúde.
província, mobilização da rapariga para a permanência Já no dia 7 de Abril em curso, a Secretária de Estado,  Judith Mussácula felicitou todas as parturientes e a
na escola.  na província de Maputo, reforçou o sorriso de dezenas toda a mulher moçambicana, tendo destacado o nasci-
 "Queremos heroínas do nosso tempo, grandes e pe- de mães no hospital provincial de Maputo, depois de mento de novos seres humanos para contribuírem no
quenas, silenciosas e mais expostas. A mulher é capaz" surpreender pela manhã, as parturientes do dia, ofere- desenvolvimento do país.
disse Parruque. cendo enxovais, capulanas e brindes por ocasião do 7  Recomendou a toda mulher-mãe para cumprir com
de Abril, Dia da Mulher Moçambicana. o calendário de vacinação dos bebés, as consultas pós-
 Pessene já tem instância de restauração

Ainda em Maputo, o executivo provincial inaugurou

recentemente uma instância de restauração "Vila Capri-
cho 2", no Posto Administrativo de Pessene, distrito da
Moamba, tendo ainda atribuído o "Selo Limpo & Seguro"
ao empreendimento. 
Na ocasião, Parruque felicitou o investidor pelo brin-
de ao Posto Administrativo de Pessene, que agrega mais
valor paisagístico com o empreendimento de mais de
treze milhões de meticais e com capacidade, empregan-
do actualmente 10 trabalhadores, maioritariamente, jo-
vens locais.
 Na mesma senda, o governante partilhou que, com
a inauguração daquele empreendimento, a Província
de Maputo passa a contar com 2.462 estabelecimentos
turísticos com uma diversificação na oferta de serviços e
promoção do desenvolvimento do turismo.
  Disse mais, "há condições para turismo interno ou
doméstico, onde os moçambicanos podem usufruir das
coisas boas e bonitas que o país oferece"  
Matola será palco de festival gospel
Mulheres devem ser exemplo de bom atendimento na função pública
Foram no total 28 partos ocorridos desde às zero -parto e seguir religiosamente com a alimentação in-
dicada para o crescimento saudável e bem-estar das
crianças.
Edilidade da Matola anuncia festival gospel
Nesta província, as festividades estendem-se com
o anúncio do lançamento, pelo Conselho Municipal da
Cidade da Matola, da 1° edição Festival de Música Gos-
pel, que vai acontecer na Cidade da Matola, no dia 15 de
Abril de 2023, às 16 horas. O evento acontecerá gratui-
tamente e deve reunir centenas de amantes da Música
Gospel.
Nesta edição, o evento traz o melhor do Gospel na-
cional e da África do Sul, com as vozes dos moçambica-
nos Mandjely Nhatelo, Princess Sophie, Pedro Sive, Al-
berto Gune, entre outros e com a participação especial
da Rebecca Malope e Gospel Silinda. 
Segundo o edil da Matola, estão criadas todas as
condições para que o espectáculo aconteça da melhor
maneira possível no local e na cidade, estando, neste
momento, equipas a trabalhar no terreno.
Espera-se que o festival seja também uma mon-
tra para que os artistas possam apresentar os seus
trabalhos.
 SEGUNDA-FEIRA 10 de Abril de 2023
LURDES PATRÍCIO: EXEMPLO DE RESILIÊNCIA
“Deitei dinheiro para ganhar dinheiro”
C
omemora-se hoje (7 de Abril)
o dia da mulher moçambicana.
Para assinalar a data, trazemos a
história de uma mulher que che-
gou a perder quase tudo, mas deu a volta
por cima, destacando-se hoje como uma
das empreendedoras mais influentes do
país. Chama-se Lurdes Patrício, empre-
sária moçambicana que atribui à falta de
educação financeira o colapso do seu pri-
meiro negócio. Reerguida, actualmente
representa várias marcas, como são os ca-
sos do sumo G-vita, massa tomate Roma
e caldo Ricci. Diz que uma das estratégias
por si usada foi “deitar fora dinheiro para
ganhar dinheiro”.
D&F Texto: Quelto Janeiro
Foi, segundo suas próprias palavras, responsá-
vel por trazer o caldo Benny a Moçambique, há 28
anos, negócio que acabaria por ruir devido à falta
de educação financeira. Para piorar, diz ter visto
a marca ser-lhe “roubada”. Por este facto, respon-
sabiliza os “senhores do Balcão de Atendimento
Lurdes Patrício - Empreendedora
DOSSIERS & FACTOS
Deitei dinheiro fora para
ganhar dinheiro. Todos
aqueles a quem ofereci paco-
tinhos de sumo, no dia seguin-
te, voltavam para comprar”
Único”, por alegadamente não se comunicarem
da melhor forma com empreendedores menos
instruídos.
“Eles falam português bonito e muitas vezes
nós, mulheres que não temos classe, não con-
seguimos lhes entender”, explica a mulher, para
quem falta clareza na maneira como o BAU ensi-
na as mulheres a regularizarem os seus negócios,
SOCIEDADE 19
razão pela qual 99% das mulheres têm dificulda-
des de pagar impostos ou mesmo legalizar as suas
iniciativas.
 “Se soubéssemos o que é realmente a “Tarifa Sim-
plificada”, certamente, iríamos pagar. Falem um por-
tuguês para que todos possamos entender, e desta
forma as vossas receitas no BAU irão crescer”, reco-
mendou a empresária, enquanto partilhava a sua ex-
periência com diversas mulheres
na sala de sessões da Direcção
Provincial de Agricultura e Pes-
ca, no município da Matola, pro-
víncia de Maputo, por ocasião
da realização do 1º Fórum da
Mulher e Género.
 As dificuldades de uma mu-
lher divorciada sem canudo
A fonte, que também é presi-
dente da Associação dos Peque-
nos Revendedores do Mercado
Xipamanine, na capital Maputo,
bem como embaixadora da Vi-
são Mundial, sublinha que teve
de ser uma mulher de garra
para recomeçar, e aconselha
os outros a seguirem o mesmo
exemplo.
  “As pessoas, quando estão
num certo patamar e caem, re-
cusam-se a levantar e começar
do zero. Uma das coisas que faz
com que algumas pessoas que
se dizem empresários fracassem
é querer começar do topo. É di-
fícil alguém ter a ousadia de pe-
nhorar a casa para recomeçar o
negócio e muitos, quando assim
o fazem, correm para comprar
roupas, sapatos, cabelos. Mas se
esquecem de que têm a letra, os
juros do banco por pagar. Como
resultado, em seis meses o di-
nheiro acaba”.
A mulher lembra que o seu
processo de recuperação não foi
fácil. Teve de bater várias por-
tas que não se abriram “porque
quando não tens certificado, as
pessoas não te levam à sério”.
“Defendi de A a Z a minha
 20 SOCIEDADE DOSSIERS & FACTOS 10 de Abril de 2023 SEGUNDA-FEIRA

causa e mostrei que era um projecto que daria

“A mulher não pode perder os

certo, entretanto, ninguém me ouviu. Mas percebi
que eles têm muita razão, porque eu sou informal”,
revela Lurdes Patrício, que viu as coisas piorarem
depois do divórcio, que trouxe consigo um “fardo”
de rótulos indesejáveis.
Ainda assim, nunca cogitou parar. Continuou a
trabalhar com afinco em busca da reviravolta. Por
seus valores. Deve sempre op-
tar pelo seu bem-estar. Educar uma
estas alturas, chegou a aceitar um emprego de
apresentadora numa estação televisiva, e recebia
15 mil meticais, valor que fazia em apenas um dia

mulher é educar uma nação. Deve-

quando o seu negócio estava a “bombar”.
O calvário de Lurdes Patrício só chegou ao fim
quando recebeu uma chamada directamente da
Austrália. Era uma oportunidade aliciante, que não
foi desperdiçada.
 
“Nasci para vender marcas”
mos fazer valer e continuar a lutar
O homem que contactou a empresária sentou-
-se com ela para ouvir o que teria para oferecer.
por esta igualdade que no nosso país
tem sido uma realidade, tanto a nível
Como fizera antes, defendeu as suas ideias e mos-
trou, com números, que as mesmas dariam certo.
Facilmente convenceu o seu interlocutor, que até
ajudou-a pagar dívidas que tinha. De seguida, foi
pôr a mão na massa.
“Desenhei o produto e escolhi o nome. Ele disse
que se em seis meses conseguisse vender 100 cai-
central, como provincial”
xas desse produto, ia apostar em mim. Tentei ven- nado, apenas tinha comprado o produto para dar essa táctica, mas garante que valeu a pena.
der o produto G-vita, mas não estava fácil, porque às pessoas para que provassem no mercado du- “As pessoas que provavam no dia seguinte volta-
era um produto novo no mercado, tinha quase três rante três meses. Deitei dinheiro fora para ganhar vam para comprar. E quase todos os dias tínhamos
anos. Então, vendi o meu carro e paguei todas as dinheiro. Todos aqueles a quem ofereci pacotinhos novos clientes. Não fui à loja de ninguém para abas-
caixas e ainda fiquei com dinheiro”. Levei aquele de sumo, no dia seguinte, voltavam para comprar”, tecer com G-vita, mas eles vieram até mim porque o
produto e comecei a diluir no mercado Xipamani- conta a empreendedora, que teve de enfrentar ou- sumo já era muito procurado pelas pessoas”.
ne e oferecia às pessoas para que pudessem pro- tra barreira. Mais tarde, a empresária viria a desenhar uma
var. Comuniquei-me com ele e disse “boss, podes Em 2019, chegava a Covid-19. Com as pessoas nova marca, desta feita o caldo Ricci. Nesse ins-
enviar outras 100 caixas”. Ele perguntou “já termi- confinadas, adoptou a estratégia de levar o produ- tante, diz ter percebido que nasceu para vender
nou?”, e eu respondi “sim”, quando não tinha termi- to aos bairros. Diz que perdeu muito dinheiro com marcas. Para Lurdes Patrício, tudo é uma questão
de persistência. “Desde que a
pessoa tenha convicção de que
está a fazer a coisa certa, vai dar
certo”, remata.

“Devemos envidar esforços”

Presente na ocasião, Nayde

Parruque, esposa do governador
desta província, realçou o papel
que a mulher tem na sociedade,
vincando que a mesma tem ca-
pacidade de contribuir em diver-
sas esferas da sociedade.
Nayde Parruque lamenta, no
entanto, o facto de ainda preva-
lecerem casos de violência, abu-
so e discriminação da mulher
no país e no mundo, e fez votos
para que o encontro das mulhe-
res seja uma oportunidade de
fortalecer acções positivas desta
camada social.
  “Reiteramos o incentivo a
todas as mulheres para conti-
nuarem a lutar pela igualdade,
oportunidades e pela equidade
de género. Para tudo na vida,
devemos envidar esforços para
alcançar todos os nossos objec-
tivos”, disse, antes de lançar uma
exortação a toda a sociedade:
“A mulher não pode perder os
seus valores. Deve sempre optar
pelo seu bem-estar. Educar uma
mulher é educar uma nação. De-
vemos fazer valer e continuar a
lutar por esta igualdade que no
nosso país tem sido uma reali-
dade, tanto a nível central, como
Nayde Parruque - Esposa do governador da província de Maputo provincial”, finalizou.
 SEGUNDA-FEIRA 10 de Abril de 2023 DOSSIERS & FACTOS DESPORTO 21
MUNDIAL DE HÓQUEI EM PATINS

Moçambique confirmado em San Juan

A
selecção nacional de hóquei em celona, com dois grupos de quatro equipas a alinha- Mundial feminino
patins em seniores masculinos rem-se, sem eliminados, em três jornadas para os
quartos-de-final. Para o Campeonato do Mundo Feminino, em que
vai disputar o Campeonato do Os grupos, mantendo-se a distribuição de equi- a Espanha defende a coroa, haverá a registar a "su-
Mundo da modalidade que se pas pelo "sistema de serpentina" utilizado em 2019, bida" da Colômbia para o lugar da Suíça. Segundo a
realiza em San Juan, na Argentina, de 7 a terão Portugal, França, Itália e Moçambique no Gru- mesma hipotética "serpentina", Espanha, Itália, Por-
13 de Novembro, segundo a indicação da po A, ao passo que Argentina, Espanha, Angola e tugal e Colômbia formariam o Grupo A e Argentina,
World Skate, organismo máximo que rege Chile constituirão o Grupo B. Chile, Alemanha e França o Grupo B. (LANCEMZ)
o hóquei e a patinagem ao nível mundial,
segundo escreve o hoqueipt.com.
D&F Texto: Dossiers & Factos

Esta situação surge em virtude da dificuldade

de organizar campeonatos continentais em 2020 e
2021, a World Skate decidiu que, em San Juan, as
vagas no Campeonato do Mundo serão para as se-
lecções melhor classificadas em 2019, ano em que
houve três competições distintas nos World Roller
Games que, na prática, se traduziam em três divi-
sões distintas.
A classificação final do Campeonato do Mundo
(a "primeira divisão") deveria definir as vagas con-
tinentais para a edição seguinte, mas - em virtude
da pandemia - foi decidido em reunião executiva da
World Skate de 18 de Março de 2021 que, em vez
do apuramento nos campeonatos continentais, as
vagas seriam atribuídas directamente às selecções
conforme a classificação final.
Assim, no máximo Campeonato do Mundo, esta-
rão Portugal, Argentina, Espanha, França, Itália, An-
gola, Chile e, por triunfo na Taça Intercontinental e
correspondente "subida" ao Mundial, Moçambique.
O modelo a adoptar deverá ser o mesmo de Bar- San Juan traz boas memórias ao País

ESMAGANDO ÁGUIAS ESPECIAIS

ABB vence torneio Jogabets

A
Associação Black Bulls conquis- ataque Mário arrecadou o Prémio de melhor marcador quanto que o quarteto que arbitrou a final constituído por
tou a segunda edição da Liga Jo- ao anotar 10 golos em toda a competição. Os dois joga- Simões Guambe (principal), David Nwambale (1º assisten-
dores “locomotivas” levaram para casa o prémio de 25 mil te), Mércio Macaringue (2º assistente) e Paulo Cumbe (4ª
gabets - Campeonato Provincial Meticais.  árbitro)  foi premiada com 20 mil Meticais. 
da Cidade de Maputo,  ao derro- Como equipa “fair-play” foi reconhecida a formação do Pelo segundo lugar as Águias Especiais levaram o pré-
tar as Águias Especiais por 6-1 na final dis- Vulcano que por ter sido a equipa melhor comportada na mio de 150 mil Meticais e ao Ferroviário de Maputo coube
putada na tarde deste sábado no campo prova foi agraciada com o prémio de 50 mil Meticais, en- a quantia de 75 mil Meticais. Lance
do Costa do Sol. Os “touros” confirmaram
o seu favoritismo perante a equipa que
representa a Força de Intervenção Rápi-
da que não teve gás para poder contrariar
as potencialidades do seu adversário que
depois de ter perdido a final da primeira
edição na qual perdeu para o Costa do Sol
que esta época foi eliminado nos quartos-
-de-final pelas Águias Especiais.

D&F Texto: Cortesia

Na disputa do terceiro lugar, o Ferroviário de Maputo

não teve contemplações perante a equipa do 1º de Maio
e venceu por cinco bolas sem concorrência e terminou
com a medalha de bronze nesta competição que marca
o início das provas ao nível da capital do país e serviu de
preparação das equipas da capital para o Campeonato
Nacional de Futebol - Moçambola 2023 que arranca a 15
de Abril. 
Ao nível individual, o guarda-redes do Ferroviário de
Maputo Franque foi o menos batido ao ter sofrido ape-
nas quatro golos, enquanto que o seu companheiro de "Touros" sucedem ao Costa do Sol
22 ALVOS DOSSIERS & FACTOS 10 de Abril de 2023 SEGUNDA-FEIRA

A TERRA E OS HOMENS Fotos de Albino Mahumana

Sem comentários
SEGUNDA-FEIRA 10 de Abril de 2023 DOSSIERS & FACTOS ANÚNCIO PUBLICITÁRIO 23

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Celular: 82 4753360 | Email: dossiereletronico@gmail.com
I NTERNACIONAL
NO IRÃO
60 mulheres envenenadas
em centros
N
o Irão, as autoridades
deram conta de novos
casos de envenena-
mento em cinco cen-
tros educacionais do país. No
total, 60 mulheres foram afec-
tadas. O executivo atribui a cul-
pa a "inimigos" do país.
Trata-se de mais um ataque contra
GARGANTA FUNDA
1
Lambe-botas
Lambe-botas. Quem são,
como e onde vivem, o que pen-
sam? O termo lambe-botas é
antigo no cenário político e so-
cial moçambicano. Geralmente,
é um termo usado para desig-
nar quem fala bem do partido
no poder ou dos seus dirigen-
tes. Em sentido mais alargado,
aquele que fala bem do chefe é
considerado um Lambe-botas.
Agora, será mesmo que esta ter-
minologia só se aplica aos lam-
as mulheres no Irão. Os meios de co-
municação social iranianos dão conta
do envenenamento de 60 jovens mu-
lheres, em vários centros educacionais
do país.
As estudantes apresentaram vários
sintomas, tais como dificuldades respi-
ratórias ou dores de cabeça e acabaram
por ser transferidas para o hospital. Até
ao momento, os meios de comunica-
ção locais não deram mais informa-
ção sobre o estado
de saúde destas
mulheres.
De acordo com o
parlamentar Moha-
mad-Hassan Asafari,
membro de uma co-
missão criada para
investigar este tipo
de acontecimentos,
já foram registados
pelo menos cinco
mil casos deste gé-
nero desde Novem-
bro do ano passado.
RFI
bedores do “sistema"? Será que a
nível da RENAMO não há Lambe-
-botas? O MDM não tem lambe-
-botas internos? Recentemente,
vimos uma imagem de um líder
da “sociedade civil" totalmente
vergado a três senhores de raça
branca e é sabido por todos que
estas organizações da sociedade
civil, quase todas, são financia-
das por “dinheiros ocidentais” e
com uma agenda clara: detonar,
botar para quebrar, partir tudo.
50Mt
Aquela postura ali vista não é
de um Lambe-botas? É novidade
que hoje, com a falta de dinhei-
ro com a qual nos deparamos,
quem vive bem em Moçambique
são os membros da “sociedade
civil”. Roupas de linho e de mar-
ca, perfumes e carros de última
gama. Para sair esse dinheiro,
tem que se lamber com vigor em
algum sítio. Portanto, para Gar-
ganta, os Lambe-botas existem
em todos os quadrantes e cená-
rios. Tá-se a lamber no desporto,
na política, na sociedade civil,
ninguém é melhor que ninguém
e não é um cenário exclusivo de
A quem Zandamela
respeita?
  Para a Assembleia da Re-
pública, todos vão quando so-
licitados ou porque tem essa
obrigação de anualmente pas-
sar por lá. Vai o Presidente da
República, vai o Governo, vai o
Procurador Geral da República,
vai o Provedor da Justiça. Ano
após ano, eles vão lá prestar in-
formes, só não vai lá Sr. Zanda-
mela, ele é tão especial, tão im-
portante (vem dos “steites", né)
3
Vai beber água Senhor
A taxa de rodagem, ainda que
prevaleça e com toda a tentativa
de explicação da ministra da área,
é claramente uma causa perdida.
Não dá para perceber onde esta-
mos. No passado, nunca se viu o
Governo aumentar seja o que for
em anos eleitorais, são momentos
em que o partido no poder sem-
pre tentou reconciliar-se com o
seu público. Para não falar da falta
de transparência da taxa, destaco
uma situação que chamou aten-
ção a Garganta na conferência de
imprensa entre a Ministra Mate-
rula e os jornalistas e músicos que
marcaram presença em Massa. O
desentendimento entre a Boysse
e o Presidente da SOMAS, sendo
Anúncio publicitário
Moçambique, lambedores há
em todo o mundo, onde já se viu
um chefe que não é escovado?
Quem não quer estar bem com
o seu chefe? Agora, cabe ao lam-
bido saber dosear o ímpeto do
lambedor, porque verdade seja
dita, tem lambedores que, hiiii,
exageram por demais, até aca-
bam envergonhando e expondo
o lambido das formas mais su-
jas e imaginárias possíveis. Há
lambedores que não têm limites,
não sabem quando parar, mas
isso é claramente culpa do chefe
que não impõe limites.
2
que não pode ser chamado por
uma assembleiazinha e toma:
mandou alguém e lá as três ban-
cadas bem zangadas acabaram
atendendo o mandatado. No
fim, vimos alguns deputados a
mandar recadinhos e a reclamar
da falta de respeito e considera-
ção pela casa do povo. Em vez
de chorar, será que não há nin-
guém com os “badalos” no lugar
para pôr o homem no lugar?
que prontamente a Ministra man-
dou Jomalu ir beber água e voltar
(querendo) quando estivesse mais
calmo. O facto é que, enquanto a
ministra ia falando, Jomalu do ou-
tro lado ia murmurando, gesticu-
lando perante tentativas de alguns
presentes de o acalmar. Ainda que
se critique a postura de Excia, Gar-
ganta gostou como esta lidou com
a situação, porque ainda que aos
olhos de outrem esteja errada, o
respeito tem que estar lá, não se
pode perder a urbanidade. Podia
Jomalu ter esperado por um mo-
mento oportuno para pedir a pala-
vra e não perturbar a explanação
da Ministra. Foi beber litros de água
com toda a razão.