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LOGUNN

A QUEBRADA
UTÓPICA
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TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO - FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - FAU/UNB

LOGUNN
A QUEBRADA UTÓPICA

ALUNO: FLÁVIO ROBERTO CASTRO NÓBREGA


ORIENTADOR: ELIEL AMÉRICO SANTANA
BANCA: VÂNIA TELES LOUREIRO

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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente aos meus pais, pela criação e cuidado que formaram a base necessária para que eu pudesse
chegar da melhor forma possível até a vida adulta e também na faculdade. Como disse Niemeyer “o mais importante não
é a arquitetura, mas a vida, os amigos...” então não posso deixar de citar os amigos que tanto me ajudaram, durante
esse período da graduação, fomentando debates téoricos bastante enriquecedores para a minha formação acadêmica e
também tornando a experiência árdua de cursar arquitetura e urbanismo um pouco mais amêna. Em especial posso citar
Alexandre Duarte, Daniel Duncan, Igor Mineiro, Vinicius Freitas e Matheus Barboza.

Em seguida meus agradecimentos aos professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília,
em especial meu professor orientador Eliel Américo, pelas lições contagiantes de arquitetura e urbanismo através do
desenho e por sempre enxergar um grande potêncial no meu trabalho, desde os primeiros anos na faculdade, seus esfor-
ço e visão como professor deixaram claro que fiz uma escolha precisa ao convida-lo para ser meu orientador. Também
meu mais enorme agradecimento a professora Vânia Loureiro, primeiro por sua produção acadêmica de suma importância
para a área da arquitetura e urbanismo e referência para o meu trabalho e depois por aceitar participar da minha banca,
sempre agregando bastante ao processo do trabalho.
Também não posso deixar de citar as contribuições do Coletivo Calunga - o coletivo negro da FAU-UNB -, por suas
contribuições na construção de uma discução racial na faculdade arquitetura e também pelo acolhimento a tantos alu-
nos negros durante a trajetória na graduação.

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“PERIFERIA É PERIFERIA (EM QUALQUER
LUGAR)”
RACIONAIS MC’S
Periferia é periferia. “Milhares de casas amontoadas
"Vários botecos abertos. Várias escolas vazias." Ruas de terra esse é o morro
Periferia é periferia. A minha área me espera
"E a maioria por aqui se parece comigo" Gritaria na feira (vamos chegando!)
Periferia é periferia. Pode crer eu gosto disso mais calor humano
"Mães chorando. Irmãos se matando. Até Na periferia a alegria é igual
quando?" É quase meio dia a euforia é geral
Periferia é periferia. É lá que moram meus irmãos meus amigos
"Em qualquer lugar. É gente pobre." E a maioria por aqui se parece comigo
Periferia é periferia. E eu também sou bam bam bam e o que manda
"Aqui, meu irmão, é cada um por si" O pessoal desde às 10 da manhã está no samba
Periferia é periferia. Preste atenção no repique atenção no acorde
"Molecada sem futuro eu já consigo ver" (como é que é mano brown?)
-Trecho da música Periferia é periferia (em qual- Pode crer pela ordem”
quer lugar) de Racionais mc’s. -Trecho da música “FIm de semana no parque” de
Racionais mc’s.

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SUMÁRIO
01. Introdução.................................................................................................................07

02. Favelas x Periferias........................................................................................................................... 10

03. Os pioneiros da crítica.......................................................................................................................12

04. Projetos de arquitetura.......................................................................................................................13

05. O contexto de Brasília........................................................................................................................15

06. A rodoviária......................................................................................................................................17

07. O exemplo das favelas.........................................................................................................................23

10. A proposta........................................................................................................................................37

11. Referências bibliográficas......................................................................................................................50

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INTRODUÇÃO
Este trabalho procura acrescentar a um assunto relevante para o meio da arquitetura e urbanismo que é o estudo do
espaço das favelas e das periferias ou como são popularmente chamadas, “quebradas”. É necessário entender que
existem condições globais que fortalecem a permanência e a propagação desse tipo de espaço. A explosão das cidades
e a população urbana superando a rural é uma realidade, tendo o espaço urbano absorvido quase dois terços da explo-
são populacional do mundo desde 1950. A maior parte do aumento populacional previsto ainda até 2050, se dará nas
áreas urbanas dos países em desenvolvimento (DAVIS, 2006).

Os resultados dessa nova ordem urbana se darão, entretanto por um incremento da desigualdade tanto dentro de va-
riadas cidades quanto entre elas (DAVIS, 2006). Forças que empurram as pessoas para fora do campo e um cresci-
mento urbano rápido no contexto de desvalorização da moeda e redução do estado fazem parte da fórmula permanente
de surgimento de favelas. O mercado habitacional formal dos países menos desenvolvidos mal oferece 20% do estoque
necessário de residências, deixando nas mãos da informalidade e da ilegalidade a maioria das residências das cidades
do hemisfério sul dos últimos trinta anos (DAVIS, 2006).

Mais dados que reforçam a importância da problemática das favelas, são que, desde 1970, o crescimento das favelas
em todo hemisfério sul vem ultrapassando o próprio crescimento urbano. Sendo que segundo estudos urbanísticos
sobre a Cidade do México do final do século XX examinaram que até 60% do crescimento da cidade resulta de pesso-
as, principalmente mulheres, que constroem suas próprias moradias em terrenos periféricos sem uso. Sobre o panorama
brasileiro, as favelas de São Paulo significavam 1,2% da população em 1973, mas em 1993 já eram 19,8% (DAVIS,
2006).

Para lidar com o problema da habitação e urbanização de favelas no Brasil temos um longo processo de programas
governamentais e projetos de arquitetura que visaram atender a essas demandas tão presente no cenário urbano brasi-
leiro. Entretanto desde o Banco Nacional de Habitação (BNH), até o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), é
possível encontrar pendencias quanto ao atendimento das demandas da população e na boa qualidade do habitat.

Um exemplo que pode ser citado aqui é o desenvolvimento urbanístico da Cidade de Deus ao longo dos anos. Esta que
inicialmente se tratava de um conjunto habitacional, fazia parte de um planejamento do governo do Estado da
Guanabara que, na década de 1960, buscava um modelo para o Programa Habitacional. Coube à Companhia de Habita-
ção Popular do Estado da Guanabara (Cohab-GB) a incumbência da concepção e da realização do projeto urbanístico
inovador, solicitado pelo então governador Carlos Lacerda e financiado pelo Banco Nacional da Habitação (BNH).
Como analisa Machado (2016, p.81), os arquitetos responsáveis pelo projeto previam uma hibridização de conjuntos
habitacionais aos moldes americanos com técnicas brasileiras de construção e acreditavam que essa interação iria
legitimar o estilo estrangeiro no país.

O espaço da Cidade de Deus mesmo oriundo de um projeto habitacional regularizado seguiu naturalmente através da
auto-organização e da autoconstrução para uma relação público-privado menos enrijecida. Trouxe para si uma dinâmica
existente na favela e também na cidade tradicional, onde o comércio acontece no térreo e a moradia no piso superior,
não à toa ganhando posteriormente também a alcunha de favela. Por isso me permito aqui voltar um passo atrás para
entender antes do desenho da prancheta, característico dos assentamentos perifericos formais, a configuração natural
que possui o espaço da favela, suas origens e potencialidades.

O trabalho percorre uma linha que investiga através das ilustrações de cenas urbanas e também sob a ótica dos críti-
cos do urbanismo formal, as lições que podemos tirar do espaço da favela. Entende uma unidade cultural entre favela e
periferia na constituição da ideia de “quebrada”, através dos modos de vivenciar a cidade comuns a esses dois tipos
de espaço que abrigam as pessoas segregadas das partes privilegiadas das cidades. Pessoas essas em sua maioria
negras e pardas, um dado presente no Distrito e Federal e na maioria das metrópoles do país, sendo assim inevitável a
adoção de uma ótica etnográfica no trabalho.

Segundo Clemente e Silva (2014, p.87), a segregação socioespacial é uma dimensão que aproxima os territórios
negros da noção de gueto, mesmo que na história do país inexistam leis segregacionistas, é possível notar formas
indiretas de sparação entre os considerados indesejáveis, consolidadndo uma política de afastamento do negro das
regiões tidas como as melhores (SILVA, 2012 apud CLEMENTE e SILVA, 2014, p.88). Clemente e Silva (2014, p.89)
trazem ainda a noção de sociabilidade desenvolvida por George Simmel, mais que finalidades econômicas, o sentimento
de pertença, o fato de “estarem sociados” e a “satisfação derivada disso” (SIMMEL, p. 168) são os elementos que
possibilita práticas de sociabilidade. O que ajuda a compreender os processos culturais que conduziram à elaboração de
importantes instituições nos territórios negros: clubes, terreiros, escolas de samba.

Ao fim concluo com uma proposta do que poderia ser essa quebrada utópica, um redesenho que mantém o que já funcio-
na e tenta suprir as demandas existentes nas quebradas. Reforçando no projeto a manutenção de alguns desses espa-
ços de sociabilidade da periferia.

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ORIGEM DO NOME
A ideia inicial surge de um projeto de história em quadrinhos produzida por dois autores oriundos de Cidade Ocidental-
-GO, cidade periférica do entorno do Distrito Federal, o ilustrador Oberas e Angie Pereira, o responsável pelo roteiro
da hq. A hq Logunn, como pode ser identificado já no significado do título escolhido para a obra - Uma versão estiliza-
da para o nome do orixá Logun Edé, orixá guerreiro e caçador- , se trata de uma história protagonizada por persona-
gens negros e se desenvolve através de narrativas comuns a vivência das populações negras na periferia.

Embora os projetos do quadrinho Logunn e desse trabalho final de graduação tenham ponto de partida em comum, os
dois projetos possuem identidades próprias e distintas em vários pontos. O desenvolvimento do projeto do trabalho final
de graduação, segue um caminnho que fez com que sua forma final tornasse esse projeto de cidade diferente das ideias
propostas para o cenário e ambientação da cidade da Hq Logunn de Oberas e Angie.

Capa do quadrinho Logunn, ilustração por Oberas.

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FAVELAS x PERIFERIAS
Segundo Loureiro, Medeiros e Guerreiro (2018, p.1-2), as dinâmicas internas da favela se comportam de maneira apro-
ximada a sistemas urbanos completos e consolidados, partilhando lógicas comuns e transversais a regiões e culturas-
distintas do mundo, o que reforça a sua auto - organização como potenciadora de qualidade espacial e característica
essencial a seu desenvolvimento. Para os estudos da autora, entender então essa prática de auto - organização pode-
ria revelar dinâmicas urbanas de sucesso. Entretanto para os autores, a forma - espaço da favela pode ser incompre-
ensível devido à existência de regras espaciais que não podem ser lidas de forma simples, mas dentro de uma complexi-
dade que é o próprio resultado do processo de autoconstrução e auto-organização vigente naquele espaço. Holanda
(2010) citado por Loureiro, Medeiros e Guerreiro (2018, p. 2) também destaca algumas características configuracio-
nais da favela como promotoras de qualidade urbana, estimulo para a presença humana e a diversidade. Isso se garante
por elementos como noções claras de espaço, continuidade, densidade e relações tênues entre o público e o privado.

Importante ressaltar a diferenciação entre o espaço da favela, localizada frequentemente no centro da cidade na forma
de ocupações resultantes da necessidade das populações de baixa renda residirem próximas as oportunidades de tra-
balho e o assentamento ou loteamento ilegal na periferia.

Valladares (1981) trata os loteamentos irregulares ou assentamentos informais regulados como um processo comum na
América Latina. O simples fato de existir um custo inicial associado, aquele da compra do lote (Davis, 2006), e a
organização prévia e global dos espaços, torna o processo aparentemente bastante diferenciado daquele da favela.
(LOUREIRO; MEDEIROS; GUERREIRO, 2018, p.3)

Jacques (2006, apud Loureiro, Medeiros e Guerreiro, 2018, p.7) “argumenta sobre a capacidade de adaptação do
espaço de moradia à produção de renda na favela, dinâmica frequentemente incompatível com a legalidade e com o zo-
neamento engessado da cidade formal e claramente mais vantajosa que a tendência à homogeneização da periferia habi-
tacional”. Apesar dessa diferenciação a autora ainda relata que podem existir sensos de comunidade comuns a essas
duas formas de ocupação e que a autoconstrução é uma realidade nos dois casos.

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O QUE ESTÁ ACONTECENDO NA PERIFERIA DE BRASÍLIA HOJE

Demolições de casas no centro da


cidade para realização de novos em-
preencimentos com unificação de
lotes.

Imagem: Demolições no centro de Cidade Ocidental-GO. Fotos de


autoria própria.

Grandes terrenos ociosos em meios


as residências, provavelmente frutos
da especulação imobiliária.

Imagem: Lote vago em um bairro de Cidade Ocidental-GO. Fonte:


Google Street View.

A malha urbana sendo dominada por condominios


fechados de baixa renda financiados pela caixa
econômica federal, atualmente uma das poucas
opções de acesso a moradia para a população de
baixa renda.

Imagem: Foto de satélite condomínios fechados em Valparaíso-GO.


Fonte: Google Maps.
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OS PIONEIROS DA CRÍTICA

JANE JACOBS

Reservando sua crítica mais mordaz para os urbanis-


tas "racionalistas" (especificamente Robert Moses)
dos anos 1950 e 1960, Jacobs argumentou que o
planejamento urbano modernista rejeita a cidade,
porque rejeita os seres humanos que vivem em uma
comunidade caracterizada pela complexidade em cama-
das e um aparente caos. Os planejadores modernistas
usaram o raciocínio dedutivo para encontrar princípios
para planejar cidades. Entre essas planos, ela consi-
derou a renovação urbana a mais violenta, e o zonea-
mento os mais recorrentes. Esses planos, segundo
ela, destroem comunidades e inovações econômicas
criando espaços urbanos isolados e não naturais.

Jacobs defendeu "quatro geradores de diversidade"


que "criam pools econômicos efetivos de uso":

Usos mistos, mantendo as ruas ativas em diferentes


momentos do dia;
Quadras menores, permitindo a permeabilidade dos
pedestres
Edifícios de várias idades e estados de reparação
Densidade

GORDON CULLEN

No momento em que se questionava o modelo moderno


de planejamento urbano, Gordon Cullen discorre sobre
a observação das cidades por meio de qualidades
emotivas. Seu livro mais notório, “Townscape” tem
como propósito “mostrar que, assim como a reunião de
pessoas cria um excedente de atrações para toda a
coletividade, também um conjunto de edifícios adquire
um poder de atração visual a que dificilmente poderá
almejar um edifício isolado”.

O título da publicação, “Paisagem Urbana” na língua


portuguesa, é homônimo ao termo criado pelo autor em
seus diversos trabalhos para a revista The Architectu-
ral Review, e que posteriormente é desenvolvido como
tema desta publicação.

A publicação é considerada uma das leituras mais


importantes sobre o desenho urbano no século XX,
justamente por levantar uma preocupação com o
espaço urbano ao observar que o homem “necessita de
emoção, do dramatismo que é possível fazer surgir do
solo e do céu, das árvores, dos edifícios, dos desní-
veis e de tudo o que o rodeia, através da arte do
relacionamento”.

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OS PIONEIROS DA CRÍTICA

Christopher Alexander

Em sua literatura apresenta meios para a busca da


construção de um tecido urbano saudável, definindo os
passos de implantação dos elementos físicos de modo
a garantir um tecido urbano vivo. Ao invés do tradicio-
nal projeto desenvolvido em escritório, é proposto um
processo de implantação, direto no terreno, dos ele-
mentos principais: rotas de circulação, espaços públi-
cos, vias secundárias, espaços para os pedestres,
implantação dos prédios e suas conexões, a partir dos
quais os próprios habitantes constroem as suas habi-
tações, onde o uso de padrões e códigos geradores
apresenta a vantagem de incorporar soluções já ado-
tadas em outros casos e baseadas em evidências, com
base em conhecimento científico (Piccinini, 2006, p.
5).

ARNO VOGEL E MARCO


ANTONIO DA SILVA

Destaco aqui a obra em conjunto desses dois autores;


“Quando a rua vira casa”. A análise interdisciplinar da
apropriação de espaços urbanos propõe comparar um
centro de bairro tradicional com uma área nova, intei-
ramente planejada de acordo com parâmetros e con-
cepções modernas, no Rio de Janeiro. Com essa fina-
lidade os autores escolheram, respectivamente, o Ca-
tumbi e a Selva de Pedra.

A vida da rua é desenvolvida como moduladora das


próprias qualidades formais do espaço, além de nele se
manifestar.
Os autores se debruçam em analisar categorias nati-
vas do universo do Catumbi. E é por meio dessas ca-
tegorias que constam em essência no âmbito do “con-
cebido” e são constantemente ressignificadas na
experiência do “vivido”, que o espaço é produzido.
Assim, algumas polaridades apresentadas pela teoria
do planejamento urbano operariam como oposições
relativas, uma vez que não são contempladas no con-
texto do Catumbi.

O livro é arrematado com uma crítica ao discurso dos


planejadores, cuja inspiração modernista os faz aferir
uma discurso com viés progressista no intento de
formar mitos fundadores desconectados dos modos de
vida preexistentes. Quando a rua vira casa é exata-
mente o elogio e a incorporação das rugosidades e
dos estranhamentos das interações urbanas em siste-
mas politéticos, não binários,

13
OS PIONEIROS DA CRÍTICA

Maria Elaine Kohlsdorf

Arquiteta brasileira nascida em 1943. Desenvolveu


importante trabalho teórico e foi uma das responsáveis
pelo desenvolvimento da dimensão morfológica do
urbanismo.

A autora, Maria Elaine Kohlsdorf, se baseia em princí-


pios de diversos teóricos da área, tais como Cullen,
Parsons, Molles , Rohmer, Lee , Carr, Trieb, Fox, dentre
outros. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela
UFRJ , especialista em Configuração Urbana pela
Universität Stuttgart e mestra em Planejamento
Urbano pela UNB, possui renome pela sua atuação
voltada para os estudos da percepção do espaço,
morfologia urbana e metodologias aplicadas a projeto
de espaços sociais.

A ideia central do texto de seu livro “A apreensão da


forma da cidade”. parte do princípio de que a percep-
ção humana de um espaço se dá de forma dinâmica. A
partir do movimento, o entendimento espacial pode ser
alterado ou sentido de forma diferente, com variantes
como a velocidade em que o observador se locomove
ou mesmo o transporte ou altura em que está localiza-
do. Além dessa posição “física” do observador,
também é levado em consideração suas vivências pré-
vias, que podem ser determinantes para sua forma de
apropriação do espaço.

São acompanhados os planos visuais formados em um


trajeto, associados às respectivas sensações causa-
das. Neste momento pode-se encontrar os princípios
gestálticos ao agrupar os elementos na paisagem para
formar uma única linguagem. São catalogados como
efeitos topológicos: envolvimento, amplidão, estreita-
mento, alargamento e alargamento parcial. Para cada
efeito é associada também uma forma de percepção,
sendo respectivamente: direcionamento, impedimento,
emolduramento, mirante e realce.

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PROJETOS DE ARQUITETURA
Projetos de Arquitetura nos blocos habitacionais, o uso de áreas comunitá-
Concurso Renova SP – Grupo 1 – Cabuçu de Baixo rias partilhadas, tipologias em duplex, a implantação
5 – 1º Lugar do bloco que faz um diálogo com a topografia con-
Coordenador: Marcelo de Oliveira Montoro tornando uma praça que abriga usos de biblioteca,
Cabuçu de Baixo 5 se localiza em Brasilândia, distri- comércio local e praça cultural.Consegue variar no
to do norte de São Paulo. Começou a ser ocupado projeto com térreo destinado para multiuso e térreo
durante o processo de expansão do sistema viário da permeável, incentivando tanto a economia local gerida
cidade e derrubada de favelas, fazendo com que os pelos próprios moradores quanto a criação de mais
desalojados procurassem áreas mais afastadas na áreas caminháveis através da eliminação de barreiras
cidade, ocupando assim os morros de Cabuçu de para o pedestre. Destaque também para as tipologias
Baixo. Devido a necessidade de novas vias para com área destinada para expansão da residência
evitar congestionamentos e de um sistema de con- pelos próprios moradores. O incentivando a auto-
tenção para evitar desmoronamentos a prefeitura construção, vai resultar na configuração do espaço
optou por reurbanizar a área, tendo assim que realo- através da criação de um caráter único para as uni-
car 2440 unidades habitacionais. Foi convocado dades, característica também presente nas favelas.
concurso de projeto de arquitetura e de renovação
dos espaços públicos e revitalização do córrego
poluído que atravessa o local sendo transformado
num parque urbano linear. Nesta proposta para o
concurso é interessante a diversidade de tipologias

Figura 14–Render do projeto, Fonte: concursosdeprojeto.org

Conjunto Habitacional Monterrey


Escritório: Elemental
Sitio: Monterrey, México

Conjunto habitacional de interesse social que devido


a escolha da locação em um terreno mais central,
priorizando a inclusão destes a cidade, comprometeu
grande parte do orçamento. De modo que, afim de
realizar uma habitação que atendesse a faixa de
preço estipulada e a individualidade de cada residen-
te, foram projetadas duas habitações
- tipo, a térrea de 52m² e a duplex de 76m².
Sendo construído em concreto apenas o modulo
principal contendo quarto, cozinha e banheiro, totali-
zando 40m², aqui também foi previsto a possibilidade
de ampliação até a área máxima de cada habitação
- tipo a custo e a necessidade do residente, o que
agrega dinamismo e afasta a monotonia existente em
conjuntos habitacionais, diminui o custo inicial do
projeto e abre possibilidade para oportunidades eco-
nômicas em expansões no térreo. Entretanto vemos
no projeto uma implantação em grade regular de lotes,
distante da concepção da malha urbana orgânica e
sinuosa das favelas.
Também a falta de densidade e de diálogo com o
espaço público, lembrando conjuntos habitacionais
padronizados como o Minha Casa Minha Vida.

15
PROJETOS DE ARQUITETURA
Eduardo Pizzaro – Intertícios urbanos

Eduardo Realiza estudos para requalificação dos


interstícios urbanos, o desenho do espaço não
construído que compõe a morfologia urbana da favela.
O projeto de doutorado é direcionado para o caso da
favela de Paraisópolis, segunda maior favela de São
Paulo, e trabalha na revitalização dos interstícios
urbanos – definidos como o conjunto de espaços
abertos da cidade, ou seja, os vazios delimitados
pelas interfaces verticais e/ou horizontais (PIZZARO,
2014)- de espaços públicos comunitários tanto no
chão quanto na quinta fachada das edificações e
também propostas de melhorias no conforto térmico
para as habitações. Importante ressaltar a importân-
cia que estudo da para a quinta fachada, entendendo
o espaço da laje como de suma importância para a
cultura e senso de comunidade da favela.

Casa de Todo Dia – Eduardo Pizarro e Joana Gon-


çalves

Projeto que aplica estratégias bioclimáticas e mão de


obra local na favela de Paraisópolis, a “CASA de
todo dia” se trata de um protótipo construído na laje
do prédio da União de Moradores da Favela da Favela
de Paraisópolis. Se utilizando de um material cons-
trutivo comum que o bloco cerâmico de oito furos, foi
possível aplicar estratégia de ventilação e sombrea-
mento, assentando os blocos de maneira vazada. O
espaço ainda é utiliza do como horta comunitária
pelos moradores.

16
O CONTEXTO DE BRASÍLIA

Foto – Palácio da Alvorada em fase de conclusão. Arquivo Público do


Distrito Federal, ArPDF.

Brasília foi construida na década de 60, para


ser a nova capital do país, durante o governo
de JK. Idealizada por Lucio Costa cujo projeto
foi vencedor do concurso para o planejamento
da capital, a cidade se caracteriza pela arqui-
tetura moderna de Oscar Niemeyer e do enge-
nheiro Joaquim Cardoso e o projeto urbanísti-
co que segue os príncipios da Carta de
Atenas e os elementos pensados para a
cidade pelo arquiteto franco-suíço Le Corbu-
sier.

A Carta de Atenas assentava em quatro fun-


ções básicas na cidade: habitação, trabalho,
diversão e circulação. A Carta de Atenas pro- Imagem – Trabalhador caminhando em frente ao Congresso Nacional em
construção. Desenho de autoria própria.
punha, em termos sociais, que cada indivíduo
tivesse acesso às alegrias fundamentais, ao
bem-estar do lar e à beleza da cidade.

O projeto se adequou, também, à topografia


do Planalto Central, sendo marcado pela hori-
zontalidade e apenas o centro com verticali-
zado.
O projeto do plano piloto de Brasília divide a
cidade em 4 escalas: Monumental, Residêncial,
Gregária e Bucólica, cortadas por dois eixos
que se cruzam. Ruas e esquinas foram substi-
tuídas por pistas ou eixos, de onde sobressa- Imagem – Caminhão levando trabalhadores. Desenho de autoria própria.
em os trevos e as passagens de nível, elimi-
nando-se os cruzamentos e separando-se a
circulação de pedestre da de veículos.

Lúcio tinha o intuito que a cidade fosse moe-


derna e ao mesmo tempo tivesse um caráter
interiorano, de uma calma cidade feita para
trabalhar. Percebido no cuidado do arquiteto
em limitar o gabarito dos blocos residênciais a
6 pavimentos, altura na qual seria possivel que
uma mãe chamasse da janela do último andar
seu filho que estaria brincando nos parquinhos
da superquadra. Foto – Trabalhador em frente a placa de Brasília. Arquivo Público/Re-
produção.

17
A RODOVIÁRIA

Nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar


ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em
ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz.

MORAR, CIRCULAR
TRABALHAR, RECREAR
18
19
A RODOVIÁRIA

20
Eduardo Rossetti, 2010
“Lucio Costa assinala que a face da Plataforma debruçada sobre o
setor cultural e a Esplanada dos Ministérios não seria edificada, en-
quanto que o centro de diversões deveria ser o vetor da atividade
urbana da futura Capital, assinalando sua concepção com referências
de caráter urbano inequívocos, devendo este Setor central de diver-
sões corresponder a uma "mistura em termos adequados de Piccadilly
Circus, Times Square e Champs Elysées", confirmando a expectativa
sobre o grau de urbanidade destes setores e desses espaços urbanos
conexos à Plataforma."

Lucio Costa, 1957


”Na parte central da plataforma, porém disposto lateralmente, acha-se
o saguão da estação rodoviária com bilheteria, bares, restaurantes,
etc., construção baixa, ligada por escadas rolantes ao “hall” inferior
de embarque separado por envidraçamento do cais propriamente dito.
O sistema de mão única obriga os ônibus na saída a uma volta, num ou
noutro sentido, fora da área coberta pela plataforma, o que permite
ao viajante uma última vista do eixo monumental da cidade antes de
entrar no eixo rodoviário-residencial, despedida psicologicamente de-
sejável.”

21
“Eu caí em cheio na realidade, e uma das realidades que me surpreen-
deram foi a Rodoviária, à noitinha. Eu sempre repeti que essa Plata-
forma Rodoviária era o traço de união da metrópole, da capital, com
as cidades-satélites improvisadas da periferia.
É um ponto forçado, em que toda essa população que mora fora entra
em contato com a cidade. Então eu senti esse movimento, essa vida
intensa dos verdadeiros brasilienses, essa massa que vive nos arredo-
res e converge para a Rodoviária. Ali é a casa deles, é o lugar onde
se sentem à vontade. Eles protelam, até, a volta e ficam ali, beberi-
cando. Eu fiquei surpreendido com a boa disposição daquelas caras
saudáveis.
E o “centro de compras”, então, fica funcionando até meia noite...
Isto tudo é muito diferente do que eu tinha imaginado para esse
centro urbano, como uma coisa requintada, meio cosmopolita. Mas não
é. Quem tomou conta dele foram esses brasileiros verdadeiros que
construíram a cidade e estão ali legitimamente. É o Brasil... E eu fiquei
orgulhoso disso, fiquei satisfeito. É isto. Eles estão com a razão, eu é
que estava errado. Eles tomaram conta daquilo que não foi concebido
para eles. Então eu vi que Brasília tem raízes brasileiras, reais, não é
uma flor de estufa como poderia ser, Brasília está funcionando e vai
funcionar cada vez mais. Na verdade, o sonho foi menor que a realida-
de. A realidade foi maior, mais bela. Eu fiquei satisfeito, me senti orgu-
lhoso de ter contribuído”
COSTA, Lucio. “Plataforma rodoviária” (1984). In: COSTA, Lucio.
Registro de uma vivência (op. cit.), p. 311.

A QUEBRADA NA RODOVIÁRIA

22
23
O EXEMPLO
DAS
FAVELAS

“O LABIRINTO DA FAVELA É MUITO MAIS COMPLEXO AO


CONTRÁRIO DO DE DEDÁLO, NÃO É FIXO, ACABADO:
ESTÁ SEMPRE SENDO FEITO. (...) E O LABIRINTO SE
TORNA UM TECIDO MALEÁVEL, QUE SEGUE O MOVI-
MENTO DOS CORPOS.”

24
Maior uso de bicicletas e motocicletas, para facilidade do
acesso a ruas mais estreitas. Importante destacar também
a popularidade do serviço do moto-táxi tanto nas favelas
quanto nas periferias, um serviço barato de deslocamento
individual e que fortalece a ecônomia local. Esse uso ainda é
fortalecido tendo em vista que as populações dessas áreas
em sua maioria não tem condições de adquirir um automóvel,
nem de usar serviços de transporte por aplicativo.

25
Conversa de esquina

As ruas estreitas, juntamente com a atividade constante,


forçam os motoristas a se moverem lentamente através do
tecido da comunidade. O ritmo lento do tráfego gera um
ambiente social mais seguro e silencioso do que outras
áreas da cidade que foram projetadas especificamente para
o fluxo de automóveis. As ruas da comunidade tornam-se
então um ponto de convergência - um espaço para trocas
ocasionais e encontros frequentes. Mesmo pequenas, as
crianças se reúnem para brincar fora de casa sem supervi-
são, mas sempre próximas dos adultos.

26
Costume comum das periferias; alugar uma cama elástica
para celebrar o aniversário das crianças da família e colo-
cá-la na rua rua em frente ao portão de casa. as vezes até
uma tenda para que a festa inteira aconte-ça ali mesmo.

Ao transitar pelas ruas da comunidade, você pode observar


as famílias sentadas em frente às casas, reunidas para
conversar com os vizinhos ou cuidar de crianças. É possível
ver os residentes da terceira idade se envolverem, da varan-
da ou da janela da sala de estar, conversando com os pe-
destres. Na comunidade, uma pequena unidade no piso
térreo permite que uma pessoa idosa viva de forma indepen-
dente e participe da vida da comunidade.

27
ECONÔMIA DA RUA

Uma porta ou janela virada para a rua é tudo o que neces-


sário para estabelecer uma pequena loja. As iniciativas
empresariais podem ser testadas sem os riscos e custos
de alugar um espaço comercial. Se o negócio falhar, é pos-
sível transformá-lo e tentar novamente com uma nova e
melhor ideia. Se o negócio tiver sucesso, ela pode expandir
e ocupar o primeiro pavimento, enquanto a renda comercial
pode ser usada para financiar a construção de um segundo
pavimento destinado a habitação. Além disso, um terceiro
pavimento com acesso independente pode ser convertido
em um apartamento para alugar a um primo ou a um casal de
inquilinos. A casa se adapta e ajusta constantemente.
Pode ser subdividida quando a família cresce ou é alugada
quando um membro da família se muda.
Embracing the paradox of planning for informality
-Site Next City

VIDA NOTURNA

As pessoas gostam de sair a noite, uma noitada é algo


especial. A maior parte das atividades de uma cidade se
encerram a noite, aquelas que permanecem abertas não
contribuiram significativamente para a vida noturna da
cidade ao menos que estejam juntas.
28
Diversidade de espaços públicos, criação de
microespaços oriundos do encontro entre os
acessos de um grupo de residências, espécies
de “nós” para encontro dos moradores que
vão surgindo ao longo dos becos e vielas das
favelas.

29
ESPORTES COMUNITÁRIOS
Longe dos grandes campeonatos profissionais e do futebol
padrão fifa, existe a várzea. Originado em São Paulo, os
primeiros clubes de várzea foram criados por operários de
grandes empresas que ficavam às margens dos rios, na
região várzeana. Atualmente o os praticantes e fãs da
várzea possuem até seus próprios uniformes customizados,
que podem ser adquiridos em lojas especializadas das favelas
e periferias de SP. Sinal de que os esporte tem movimenta-
do a economia entre os proprios moradores das comunida-
des.

Campo do Palmeirinha em Paraisópolis (zona sul de São Paulo).

O campo foi construido em terra batida na década de 1980


e é onde joga o time de várzea da Associação Palmeirinha
Paraisópolis. Em 2021, a associação venceu um edital do
consulado da República Tcheca em São Paulo para realizar
reformas, parte de uma inciativa mundial do governo tcheco
em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. O
campo abriga projetos sociais e outras modalidades de es-
porte e gere equipes de futebol de diversas faixas etárias.
Interessante observar tambm sua configuração espacial
devido a proximidade com as casas no entorno.

30
Áreas de lazer e prática esportiva para crianças
cercadas pelas residências com por volta de 4 a
5 pavimentos, podendo uma mãe vigiar seu filho
da janela.

31
CULTURA DA LAJE
Devido a alta densidade das favelas e de algumas localidades de periferia, os moradores constroem suas casas aprovei-
tando a área total dos lotes, não restando espaço para quintal. Assim as atividades comuns ao uso desse espaço como
por exemplo estender roupas em varal, criação de hortas e plantas ou galinhas, são jogadas para a laje de cobertura,
aproveitando a única área exposta ao sol da casa.
Além desse uso de atividades domésticas as lajes também atendem as necessidades de lazer dos moradores, é bastante
comum a reunião de familiares e amigos para soltar pipa, fazer um churrasco ou tomar banho de sol nas lajes.

32
33
A PROPOSTA
Uma proposta do que poderia ser essa quebrada utópica, A análise de espaços deve levar em conta as ativida-
um redesenho que mantém o que já funciona e tenta suprir des que se dão nos seus diversos recortes. Assim
como a rua é a forma de utilizá-la, o espaço é o uso
as demandas existentes nas quebradas. Reforçando no que permite. Os significados que um determinado
projeto a relevância e necessidade de manutenção de suporte material (esquina, calçada, quintal, rua, etc.)
alguns desses espaços de sociabilidade da periferia. Confi- pode assumir, resultam da sua conjugação com uma
gurado por uma rua central cheia de vida destinada a uso atividade e mudam de acordo com ela. Falamos de
misto atravessando um aglomerado de residências com espaços e do que pode acontecer, gramaticalmente,
em cada um. E o que pode acontecer varia. Mas, na
espaços públicos abertos que surgem nos meandros dos variação mesma dos eventos possíveis, existe uma
becos e vielas da cidade. estrutura que torna o espaço apenas mais uma dimen-
são do social.(MELLO,; VOGEL; MOLLICA,1980,
Sendo mais importante a apropriação do que o projeto em p.48).
si, o mesmo já é representado um passo a frente de si
mesmo, dominado pelos usuários e por autoconstruções.
Um pensamento norteador para o projeto foi a ideia de que
um mesmo tipo de espaço pode ser ressignificado de várias
formas de acordo com seu uso e das possíveis estruturas
que fomentem essas ressignificações.

9
6

34
1- Esportes
2-Pequenas praças
3-Lajes públicas e privadas
4-Passarelas
5-Circulação na cobertura
6-Parque e lago
7-Rua comercial para bicicletas e motocicletas
8-Microespaços públicos entre as casas.
9-Feira coberta

5 3
4

35
PASSARELAS Visam fomentar a possibilidade de
uma cidade caminhável em nível
elevado em relação ao térreo, alte-
rando a relação do pedestre com
os pavimentos das edificações e
circulações entre diversas lajes.

36
RUAS

As ruas terão uma diversidade de


fachadas assim como a das fave-
las, o projeto habitacional deve
permitir uma flexibilidade para inter-
venção dos moradores, que através
da autoconstrução possam colocar
sua identidade nas casas e adap-
tá-las as suas necessidades ao
longo do tempo.

As ruas se toranariam densas, mas


com escala humana e a diversidade
de fachadas e de cenas podem
tornar o trajeto por elas mais dinâ-
mico e interessante.

Diversidade de lajes públicas e


privadas e espaços caminhéveis
entre elas por escadas e passare-
las.

37
TIPOLOGIAS
HABITACIONAIS
FLEXIVEIS
Inspirado em tipologias da Velha Déli
na Ìndia, densos edifícios habitacionais
com varandas largas utilizadas
como quintais, térreo para comércio e
cobertura utilizável como área comum.

Velha Déli, India

Área comum na cobertura, um


espaço onde os moradores
podem ter acesso a todas as
atividades caracteristicas da
cultura da laje nas favelas.

Habitações multifamiliares onde as famílias


podem ter uma laje/quintal no segundo andar.

38
HORTA Podem ser criados espaços de hortas nas lajes de alguns
edificios comunitários da localidade, sendo aproveitados

URBANA
para distribuição de vegetais e hortaliças para a comunida-
de, assim como no caso da horta da associação de mora-
dores de Paraisópolis.

Reaproveitamento de containers para criação das


estufas e comércio das hortaliças.

estufa

expositores

1º Piso

2º Piso

39
PEQUENAS
PRAÇAS
PÚBLICAS

Diversidade de espaços públicos, pequenas


praças para lazer em meio as residências,
com quiosques e prática esportiva.

40
GALPÃO Um espaço para ser
usado como centro cul-
tural voltado para proje-
tos sociais de incentivo
a arte, sendo que sua
configuração espacial
típica de galpão com
mesanino e pé direito
duplo propicie arealiza-
ção de eventos, ensaios
e confecção manual de
alegorias e artesanatos
de diversos tipos.

Apoio
WC’s
Velha Déli, India
Adm

ATELIÊS
DE ARTE E
ENSINO

O galpão é um tipo de
espaço tradicionalmen-
te utilizado por escolas
de samba e espaços de
atelie como por exemplo
a FAU/UnB que apre-
senta tipologia seme-
lhante. o Jovem de Ex-
pressão, projeto que
ocupa o Galpão Cultu-
FEIRA DE ARTESANATO ral em Ceilândia-DF,
contemplando sala de
FAU/UNB Jovem de Expressão dança, teatro de bolso,
estúdio audiovisual,
galeria de arte, espaço
para reuniões, pales-
tras, aulas, cultos reli-
giosos, terapias e
várias outras atividades
e que agora em 2021
está ameaçado de ser
removido do local pela
Administração do DF.

Fonte: Reprodução, 2009. Fonte: coletivoduca.com.br, 2008. 41


ESPORTES
COMUNITÁRIOS
A presença de corpos d’agua é de suma importân-
cia como observado por Cristopher Alexander:

O corpo humano não gasta com o uso, ao contrário, ele gasta quando
não é utilizado.
Christopher Alexander, Uma lInguagem de Padrões

Espaços já presentes em algumas periferias e fave-


las, em sua maioria criados pelos proprios moradores
em multirões como os campos de várzea oupor em-
presários locais como os campos de futebol socie-
ty. Espaços muito comuns nas periferias americanas
são as quadras prática do basquete de rua 3x3.
Brincadeira mais dinâmica e democrática que o tra-
dicional basquete de quadra com cinco jogadores
pra cada lado.

42
43
PARQUE SUBURBANO
CORPO D’ÁGUA

PLAYGROUNDS

HORTAS

ARVOREDO/POMARES

No contexto das periferias mais um


espaço que nem sempre está presente
são os parques urbanos. Os moradores
dessas regiões sisplemente não tem
acesso a grandes áreas verdes para
contemplação, lazer e prática de exercí-
cios. Como referência é interessante
citar o Parque de Madureira na Zona
Norte do Rio de Janeiro. Possui vária-
das quadras para prática de esportes
populares do subúrbio carioca, ciclovias,
riachos, uma lan house pública e a Praça
do Samba.

44
CORPOS D’ÁGUA
A presença de corpos d’agua é de suma impor-
tância como observado por Cristopher Alexan-
der:
Nós viemos da água; nossos corpos são em grande parte água, a
água desempenha um papel fundamental na nossa psique. Precisamos
estar contato constante com a água, ela sempre deve estar ao
nosso redor; e temos que de reverenciar a água em todas as suas
formas. Ainda assim, nas cidades a água está sempre fora do nossa
alcance.

ALEXANDER, Christopher; ISHIKAWA, Sara; SILVERSTEIN, Murray; JACOBSON,


Max; FIKSDAHL-KING, Ingrid; ANGEL, Shlomo. Uma Linguagem de Padrões. A
Pattern Language (op.cit.), p. 324.

Tendo em vista a falta de espaços de lazer para


populações de baixa renda, principalmente em
Brasília onde o uso da orla lago é em sua maior Parque Ambiental da Praia de Ramos
Fonte: Site piscinaoderamos.com
parte privatizado ou pouco acessível. As popula-
ções das cidade satélites do DF tem pouco ou
quase nenhum contato com áreas paisagens na-
turais com a presença de água durante a vida.
Seria inteteressante a criação de um parque
urbano com um grande espelho d’agua para uso
de banhistas.
Ao lado nas imagens o exemplo do Piscinão de
Ramos no Rio de Janeiro, conhecido como a
praia do subúbio carioca e com grande adesão
popular, foi criado para evitar o número de afo-
gamentos nas orla e evitar o uso já que a mesma
se encontrava bastante poluída. Abaixo meninos
de rua fotografados banhando nos espelhos
d’água da esplanada dos ministérios, prática
totalmente extinta atualmente. Foto: Ivanildo Cavalcante

45
BIBLIOTECAS
comunitárias
Inspirado nos modo de ensinar que
acontece em Burkina Faso e algu-
mas outras regiões também caren-
tes de infraestrutura da África,
onde os professores reunem os
alunos sempre embaixo de uma
grande árvore, o arquiteto Francis
Keré pensou escolas com cobertu-
ras que remetem o formato das
copas das árvores. Quando criança
o arquiteto enfrentou muitas dificul-
dades de acesso aos estudos, por
isso o investimento na realização de
Kitui South, Quênia. Fonte: kituionline.com, 2019. uma nova escola em sua aldeia
natal, junto do apoio de sua comu-
nidade e recursos (archdaily.com.br,
2016).

Sudão. Fonte: jennygradient.wordpress.com, 2011. Fonte: Archdaily.

Redário Estudo/ Estudo/


Acervo Acervo

Partindo dessa refe-


rência foi pensado a
necessidade de dar a
importância para os
espaços de estudo
nas favelas e perife-
rias. Um espaço com
três blocos voltados
para uma praça arbo-
rizada, onde os usuá-
rios do espaço, posso
usar também os
espaço do exterior do
edifíco, o que num
contexto de pandêmia
também é benéfico por
ser um espaço de
aprendizado ao ar
livre.

46
CONCLUSÕES
O trabalho acrecenta um pouco mais ao debate que já vendo sendo sussitado pelos esforços de pensa-
dores acadêmicos de diversas áreas do conhecimento, como o uso e pós-ocupação dos espaços da
cidade, as questões complexas de como considerar a informalidade urbana no planejamento e o olhar
para as territorialidades negras e periféricas nas grandes metrópoles. Seria tema de estudo extenso só
analisar o caminho que as periferias do DF ou do resto país estão tomando em função do mercado imo-
biliário e da internvenção desmedida do estado. Nesse sentido pensar utopias se faz bastante neces-
sário, mas além disso a atuação dos arquitetos e da população no âmbito político pelo direito à cidade,
acesso a habitação digna e um planejamento urbano inclusivo são fundamentais para que as nossas
utopias possam começar a se materializar na realidade.

Ato em frente a Caixa Econômica Federal em defesa da criação da Lei de Moradia por Autogestão, no
ínicio de Novembro de 2021. Fotos de autoria própria.

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REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS
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