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ISSN: 0103-4979
revcrh@ufba.br
Universidade Federal da Bahia
Brasil
Nelson Baltrusis*
Maria Camila Loffredo D’Ottaviano**
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RICOS E POBRES, CADA QUAL EM SEU LUGAR...
Por outro lado, uma parte da população mais cam. Será que esse novo padrão não seria uma
rica se isola da cidade real e constrói seus espaços releitura de como os espaços na cidade são apropri-
de moradia em condomínios e loteamentos fecha- ados na sociedade brasileira? Se, de fato, essa apro-
dos, renegando a função pública da cidade, frag- priação for nova, o que a difere das outras formas
mentando o espaço urbano e contribuindo para a ainda existentes? Como e por que elas aconteceram
consolidação da não-cidade. No entanto, o que se nas cidades da Região Metropolitana? Podemos di-
observa é que esses espaços atraem novas favelas, zer que elas seriam o reflexo de uma nova economia
que irão abrigar os trabalhadoeres e serviçais des- urbana? Enfim, procuraremos levantar algumas
sas fortalezas, criando o fenômeno dual que pode questões críticas sobre essa dualidade.
ser descrito como Alphaville-Alfavela.1
Este artigo pretende analisar e identificar
tanto os espaços das moradias em condição de A POPULAÇÃO FAVELADA BRASILEIRA:
extrema vulnerabilidade, particularmente as fave- algumas estimativas
las e unidades habitacionais localizadas em assen-
tamentos periféricos precários, bem como as for- O aumento do número de favelas e da po-
mas de estruturação do espaço de morar dos ricos pulação favelada no Brasil, nas duas últimas déca-
e da classe média, destacando, preferencialmente, das, pode ser sentido em várias cidades, princi-
os condomínios horizontais fechados, localizados palmente nas grandes cidades e nas metrópoles.
na metrópole paulistana.2 De acordo com Pasternak (2003), as favelas estão
O trabalho se estrutura da seguinte forma:
em primeiro lugar, trataremos de contextualizar a ... crescendo a taxas maiores que a população
total: as taxas anuais de crescimento
Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) atra- populacionais entre 1980 e 1991 foram, para a
vés da leitura de bibliografia sobre a problemática Brasil, de 1,89%, e para os domicílios favelados,
de 7,65%; na última década do século XX o in-
habitacional e de dados censitários gerais, apoian- cremento favelado, de 4,18% anuais, continuou
maior que o geral, de 1,63 % anuais. O 2º Milê-
do-nos em trabalhos de Torres e Marques (2002), nio terminou com 3.905 favelas espalhadas pelo
Pasternak (2003), Pasternak e Bógus (2003), e país, segundo os dados do IBGE, considerados
subestimados por muitos estudiosos (p.1).
Pasternak e Baltrusis (2003) e comparando-os com
outras regiões e com os indicadores nacionais. A
Nesse sentido, Denaldi, citando Bremaeker
análise dos indicadores habitacionais nos 39 mu-
(2001), destaca que, em 2000, “a totalidade das
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A maior parte das favelas (67%) e dos aglo- O crescimento do número de favelas e da
merados favelados do Brasil se concentra na região população favelada não pode ser explicado ape-
Sudeste. São Paulo é o Estado que apresentou o nas pelo empobrecimento da população urbana
maior número de favelas em 2000, com 1.548 fave- brasileira. Ele tem a ver também com a própria for-
las, seguido do Rio de Janeiro, com 811 favelas, no ma como o espaço urbano se estrutura em nossas
período de 1991-2000, 279 a mais que em 1991. cidades, de forma fragmentada e segmentada, re-
Entre 1991 e 2000, surgiram 719 novas favelas. A velando a fragilidade do processo de produção do
pressão do déficit de moradias nos grandes centros espaço urbano nas grandes cidades e expondo a
também se tornou evidente no recenseamento que vulnerabilidade das favelas na estrutura urbana.
listou os municípios com maior número de favelas. O adensamento das favelas mais antigas, localiza-
Entre os municípios brasileiros, São Paulo lidera, das em bairros centrais, bem como o espraiamento
com 612 aglomerados, seguindo-se o Rio de Janei- das mais recentes, nas áreas da periferia, demons-
ro, com 513. A lista, até o décimo colocado, se com- tram que o problema da favela como opção de
pleta com Fortaleza (157), Guarulhos (136), Curitiba moradia está longe ser resolvido. Esse tipo de
(122), Campinas (117), Belo Horizonte e Osasco (101 moradia vem ganhando novas faces não só pela
cada), Salvador (99) e Belém (93). diversidade das formas de ocupação e de
As favelas no Brasil expressam um fenôme- estruturação das condições habitacionais, mas tam-
no predominantemente metropolitano. Em nove bém de como se relacionam com o seu entorno e
regiões metropolitanas se concentram cerca de 80% com a própria cidade.
das favelas e domicílios favelados do país. “Em O Censo de 2000 confirma que, embora as
1991, 2.391 favelas (74%), de um total de 3.211 e diferenças entre as taxas de crescimento de domi-
817.603 (78%) dos domicílios favelados se cílios totais e favelados venham se aproximando,
alocavam nas metrópoles” (Pasternak, 2003, p.1). podemos verificar que, entre 1980-1991, a taxa
Nessas regiões, os municípios-sede apresentam geométrica de crescimento para as favelas era de
uma concentração maior de população favelada. 8,18%, enquanto, para o total de domicílios, era
No município de São Paulo, Pasternak (2003) des- de 3,08%. Já no período 1991-2000, a taxa de cres-
taca que “os dados censitários apontam, em 2000, cimento dos domicílios favelados diminuiu para
para uma população favelada de cerca de 930 mil 4,18%, aproximando-se mais da taxa de crescimen-
pessoas. Entre 1980 e 2000, o crescimento da po- to dos domicílios (3,05%). Porém a taxa de cresci-
Tabela 2 - Brasil. Domicílios totais e favelad os, p or grand e região, 1980,1991 e 2000
Domicílios totais Domicílios favelad os
Região
1980 1991 2000 1980 1991 2000
Norte 1.219.496 2.376.607 3.353.764 12.721 97.760 178.326
Nordeste 8.036.803 10.920.830 13.911.413 69.974 286.130 306.395
Sudeste 13.761.346 18.839.621 24.699.909 357.330 675.846 1.038.608
Sul 4.826.030 6.598.962 8.509.284 30.077 73.325 110.411
Centro- Oeste 1.812.176 2.657.621 3.791.248 10.493 11.257 16.808
Brasil 29.657.831 41.395.632 54.267.618 480.595 1.141.324 1.650.548
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 1980, 1991 e 2000
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Tabela 3 - Brasil. Taxas geométricas d e crescimento d os zonas de forte homogeneidade social interna e de
domicílios totais e favelados, por grande região ( %)
Domicílios
forte disparidade social entre elas, entendendo-se
Domicílios totais
favelad os
Região
essta disparidade não só em termos de diferença
1980- 1991- 1980- 1991-
1991 2000 1991 2000
como também de hierarquia” (Castells, apud Villaça
Norte 6,25 3,90 20,37 6,91 2001, p.148).
Nordeste 2,83 2,73 13,66 0,76 No contexto da Região Metropolitana de São
Sudeste 2,90 3,06 5,96 4,89 Paulo, novas favelas se consolidaram nas áreas
Sul 2,89 2,87 8,44 4,65
periféricas e nas zonas ambientalmente frágeis,
Centro- Oeste 3,54 4,03 0,64 4,55
como as áreas de proteção de mananciais, fundos
Brasil 3,08 3,05 8,18 4,18
Fonte: IBGE. In: Pasternak, 2003. de vales e encostas de morros. Paralelamente a isso,
Habitação na década de 80. E, de outro, pela crise as favelas existentes vêm passando por um pro-
econômica que o país atravessava, que aliou um cesso continuado de adensamento.
alto nível de desemprego com a hiperinflação. De
acordo com Pasternak, “o salário mínimo perdeu
46% do seu valor real na década de 80 e a concen- FAVELAS NA RMSP (aglomerados sub-normais)
tração de renda é espantosa” (1997, p. 4).
No período de 1980 a 1991, o Estado não Nas últimas três décadas, as favelas se con-
foi capaz de conduzir uma política habitacional solidaram como uma alternativa de moradia para a
que produzisse ou financiasse habitações para a população de baixa renda. De acordo com dados
população de baixa e média renda. Esse fator, alia- do Censo 2000, sistematizados pela Fundação João
do à reestruturação produtiva das empresas, in- Pinheiro para o cálculo do déficit habitacional bra-
tensificou o desemprego. O processo inflacionário sileiro dos 39 municípios da RMSP, apenas 20 de-
corroeu os salários dos empregados e contribuiu les possuíam favelas. As favelas da RMSP se locali-
para o aumento do valor dos aluguéis. A popula- zam nas regiões periféricas do município-polo (São
ção de baixa renda se viu obrigada a buscar novas Paulo) e nos municípios próximos, formando uma
opções para morar, entre elas ocupar terras e mancha que ocupa áreas ambientalmente frágeis,
autoconstruir a sua moradia. O que se viu, nos como as áreas de proteção das represas Billings e
anos 80, foi um processo de ocupação de terras Guarapiranga, ao sul e sudeste, e a Serra da
urbanas (públicas e particulares) por movimentos Cantareira, ao norte. Já as favelas mais centrais se
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organizados de luta por moradia que forçaram os localizam em geral em locais próximos a potenciais
governos municipais a se posicionarem. Nesse mercados de trabalho (formais ou informais) e pró-
período, começaram, ainda que de forma embrio- ximos às vias expressas e rodovias. Estudos como
nária, algumas experiências de regularização o de Abramo (2003) e Baltrusis (2000) apontam para
fundiária, de urbanização e até de construção de a importância, entre outros fatores, da localização
novas unidades pelo poder público local. do assentamento favelado próxima ao local de tra-
O que se percebeu, no período seguinte, balho ou com possibilidade de acesso a um sistema
entre 1991-2000, foi a proliferação de favelas nas de transporte eficiente.
Regiões Metropolitanas, particularmente nas loca- Os dados apontam que 10,08% do total dos
lidades mais afastadas do centro, criando-se, as- domicílios da RMSP estão localizados em favelas.
sim, um ‘novo padrão de ocupação periférica’. Esse
‘padrão’ reflete, por um lado, uma nova organiza-
ção do espaço urbano nos grandes centros, basea- O crescimento das favelas na RMSP
da na segregação urbana, que, de acordo com
Castells e Mollenkopf (1992), deve ser entendida O processo de favelização da Região Metro-
como uma “tendência à organização do espaço em politana de São Paulo é um fenômeno recente e
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que se intensificou nos últimos 30 anos.3 Pode- O espaço das favelas na cidade
mos classificá-lo como uma expressão do proces-
so desigual de produção social do espaço nas ci- Ao observar o Mapa 1 a seguir, que apresen-
dades brasileiras. Do ponto de vista territorial, evi- ta a localização das favelas na RMSP, percebemos
dencia a desigualdade econômica existente na so- que as favelas se concentram prioritariamente nos
ciedade brasileira. As favelas, aliadas a outras for- municípios periféricos, próximos ao município-
mas de ocupação, como os loteamentos irregula- polo, caminhando em direção aos municípios fron-
res e assentamentos precários, demonstram a teiriços à RMSP. Em alguns casos, nota-se uma ten-
‘vulnerabilidade socioterritorial’4 de grande parce- dência de conurbação das favelas dos municípios
la da população. do ABCD com os municípios da Região Metropoli-
O crescimento das favelas transforma o de- tana da Baixada Santista. Podemos apreender que
senho do espaço urbano bem com as relações esses fluxos formam pelo menos três blocos conso-
socioterritoriais. Pasternak e Bógus (2003) descre- lidados de municípios. No primeiro bloco, localiza-
vem a cidade de São Paulo e, por extensão, a sua do a Sudeste, encontramos os municípios da sub-
Região Metropolitana como uma cidade dos anéis: região ABCD (Santo André, São Bernardo do Cam-
quanto mais periférico for o anel, mais exclusão social po, Diadema e Mauá), as rodovias Anchieta e Imi-
e territorial.5 De acordo com Pasternak (2003), grantes que cortam a região estabelecem um eixo de
municípios que possuem favelas, extrapolando a
... todo o acréscimo populacional aloca-se na pe- Região Metropolitana de São Paulo e se interligan-
riferia. Entre 1996 e 2000, os 3 anéis centrais
perderam quase 46 mil pessoas, e os anéis exte- do com as periferias dos municípios de Santos e
rior e periférico ganharam mais de 600 mil ha- Cubatão, na Região Metropolitana da Baixada
bitantes. Os moradores mais pobres são impeli-
dos para regiões cada vez mais distantes, tanto Santista. Esse mesmo fenômeno vai acontecer no
para o entorno da capital como para as cidades
limítrofes. A polarização social, visível a olho bloco a Noroeste, com as rodovias Anhanguera e
nu, ganha novos contornos: a pobreza se espalha Bandeirantes, que, ao passarem nas proximidades
por todo o tecido municipal, enquanto que as
classes mais abastadas se concentram em verda- dos municípios de Cajamar, Caieiras, Franco da
deiros enclaves de riqueza, sobretudo na região Rocha e Francisco Morato, estabelecem um eixo de
sudoeste da capital. As demais camadas sociais
se distribuem de forma espraiada, empobrecen- ligação com alguns municípios da Região Metropo-
do em direção da periferia (p. 4). litana de Campinas. Nesse segundo bloco, no en-
tanto, aparentemente não existe uma conurbação das
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Fonte: LUME/FAUUSP
nômicas que esses eixos proporcionam – como co- pulação de excluídos se viu obrigada a morar à mar-
mércio de beira de estrada, empresas de logística de gem da legislação em vigor, ou seja, na ilegalidade.
transporte, acesso ao centro e outras cidades, acesso Vistas como sinônimo do caos urbano, as fave-
a condomínios residenciais de classe média, las fazem parte da malha urbana da cidade contempo-
loteamentos fechados, concentração de polos de de- rânea, avizinhando-se, muitas vezes, da cidade legal.
senvolvimento com zonas industriais e ou de pro- No entanto, ao contrário do que supõe a grande maio-
dução – podem ser apontados como fatores relevan- ria, as favelas representam “um microcosmo onde se
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tes para a atratividade desses assentamentos nas ci- espelha o conjunto de situações socioeconômicas e
dades entrecortadas por essas rodovias. culturais que caracterizam os habitantes pobres da ci-
Outro elemento que determina a concentra- dade” (Kowarick 1979, p.159).
ção de favelas são as áreas de manancial e de pro- Ao reconhecer a existência das favelas e de
teção ambientais, caracterizadas pelo baixo valor espaços irregulares na cidade e propondo sua ur-
imobiliário dos terrenos devido às restrições de banização ou requalificação, transformado-as gra-
uso impostas pela legislação ambiental. dualmente em bairros, Estado e sociedade reco-
nhecem a cidade real e criam condições de convi-
vência entre aquilo que é tido como irregular – o
As favelas o espaço informal das cidades espaço real – e a cidade legal. Porém é necessário
que haja regras claras, para que o reconhecimento
Por volta dos anos 30, a cidade clandestina da cidade real não acabe expulsando as famílias
era duas vezes maior que a cidade oficial, e a ques- mais carentes, como sempre acontece, dando con-
tão social urbana era tratada como caso de polícia. tinuidade ao circulo vicioso dessa expansão urba-
Incapaz de comprar um terreno ou uma casa, ou na desordenada.
ainda sem condições para locar um imóvel, a po-
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aqueles que estão abandonando a esfera pública Tabela 4 - Lançamentos Imobiliários Residenciais na RMSP)10
tradicional das ruas para os pobres, os ‘ margina-
lizados’ e os sem-teto (p.211). Ano Vertical Horizontal
Lançamentos % Lançamentos %
1985 367 100 0 0
O modelo de Cidade Dual delineado por
1986 746 100 0 0
Castells e Mollenkopf (1992), em que a estrutura 1987 276 100 0 0
social aproxima-se do formato de uma ampulheta, 1988 342 100 0 0
com mais ricos e pobres e praticamente sem classe 1989 454 100 0 0
média, nos leva a supor que o aumento das desi- 1990 288 100 0 0
9
A Embraesp mantém um arquivo com dados sobre todos 10
Os dados utilizados dizem respeito aos lançamentos
os lançamentos imobiliários da Região Metropolitana de anuais. Apesar do fato de que nem todos os condomíni-
São Paulo desde o ano de 1985. Todos os dados utilizados os lançados tenham sido necessariamente construídos,
neste artigo fazem parte do banco de dados da Embraesp acreditamos que essa análise comparativa geral nos au-
e foram cedidos para o desenvolvimento da pesquisa. xilia no entendimento da realidade habitacional da RMSP.
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Os municípios de Cotia e Barueri fazem parte dados são curiosos: cerca de 35% das unidades
do eixo de expansão periférica dos grandes lançadas têm apenas um banheiro, e 39% tem entre
loteamentos fechados dos anos 1970 e 1980. No en- um e dois dormitórios. A partir desse dado, pode-
tanto, é interessante observar, principalmente em Cotia, ríamos afirmar que a associação de condomínios
a importância que os bairros residenciais fechados fechados com unidades residenciais amplas e de
continuam a ter no parque residencial municipal. alto padrão parece não ser sempre pertinente.
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Gráfico 1- Lançamentos de condomínios horizontais por nanciadas pelo governo do estado. Em um condo-
área útil (1992-2004)
mínio lançado em Suzano, em 1993, as unidades
possuíam um dormitório e um banheiro, com ape-
25
nas 35,00m² de área útil, menor que muitas uni-
20
dades da Cohab (Companhias de Habitação Muni-
Áre a Útil ( % )
Mapas: 3, 4, 5 e 6 - Unidades Residenciais com Área Útil de 35,00 a 74,99 m²; de 75,00 a 149,99 m²;
De 150,00 a 299,99 m²; e superior a 300,00 m²
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299,99m² (esquerdo) e área útil superior a 300,00m² 5.000,00m², esse total sobe para 83,6% de todos
(direito), onde podemos observar uma realidade os lançamentos. Ou seja, a maioria absoluta dos
mais próxima da esperada: a grande concentração condomínios horizontais da Região Metropolitana
de alto e altíssimo padrão principalmente na zona de São Paulo está sendo lançada em lotes com no
Sudoeste da capital. Encontramos, porém, alguns máximo 5.000,00m².
lançamentos de alto padrão também na zona Leste Dos empreendimentos que possuem entre
(dois) e na zona Norte da cidade de São Paulo (um) 51 e 100 unidades, apenas 34,5% (30) foram lan-
e outro em Guarulhos. çados no município de São Paulo. Se considerar-
A Tabela 7 mostra os lançamentos em fun- mos os empreendimentos com mais de 100 unida-
ção do número total de unidades residenciais. Pra- des, esse percentual cai para 17,8% (10) do total.
ticamente metade dos lançamentos (47,4%) Já os empreendimentos lançados em glebas
possui no máximo 10 unidades. Um quarto do com área superior a 10.000m², apenas 28% (21)
total (25,1%) possui entre 10 e 20 unidades. Ou localizam-se no município de São Paulo.
seja, a grande parte dos lançamentos (72,5%) são Como o município de São Paulo concentra
condomínios não muito grandes, como no máxi- a maior parte dos lançamentos (83%), esses são
mo 20 unidades residenciais. dados significativos. Indicam que os condomíni-
Se considerarmos apenas os lançamentos os horizontais de maiores dimensões estão, de fato,
na capital, 82% do total possuem até no máximo sendo lançados, sobretudo, fora da capital.
20 unidades. A proporção praticamente se inverte A leitura dos Mapas, Tabelas e do Gráfico
se considerarmos apenas os lançamentos nos de- possibilita a compreensão de um quadro sucinto,
mais municípios da região metropolitana: 74,3% porém com questões importantes em relação à rea-
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pagar o aparato de segurança normalmente utilizado gregação espacial. E, sobretudo, não podemos mais
nos condomínios fechados (seguranças, guaritas, associar automaticamente os condomínios fecha-
câmeras, cercas elétricas, alarmes, etc.)? dos à residência exclusiva das classes altas metro-
A última ponderação diz respeito aos pressu- politanas. O novo quadro apresentado parece su-
postos teórico-analíticos da segregação socioespacial gerir que devemos estabelecer novos padrões de
e indica uma tendência de superação do modelo análise desse fenômeno urbano que se consolidou
centro-periferia por um modelo fractal de segrega- nas últimas duas décadas.
ção espacial nas metrópoles contemporâneas.
Quando observamos a existência de um
grande número de condomínios horizontais fecha- (Recebido para publicação em janeiro de 2008)
(Aceito em novembro de 2008)
dos na zona Leste do município de São Paulo, por
exemplo, o modelo da cidade dual apontada por
Castells e Mollenkopf (1992) parece claro. Mesmo
entre a população mais pobre, os grupos de me- REFERÊNCIAS
lhor condição financeira se destacam do todo.
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demos identificar uma centralidade em relação à Sette Letras/FAPERJ/Lincoln Institute of Land Policy, 2003.
localização dos condomínios fechados, principal- BALTRUSIS, N. A dinâmica do mercado imobiliário in-
formal nas favelas de Paraisópolis e Nova Conquista. 2000.
mente os de alto e altíssimo padrão. Isso nos faz Dissertação (Mestrado em Urbanismo) Pontifícia Univer-
sidade Católica de Campinas, 2000.
pensar que talvez o que tenha mudado seja não o
_______. O mercado imobiliário informal em favelas e o
modelo centro-periferia, mas precisamente o que processo de estruturação das cidades. 2005. Tese (Dou-
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entendemos por centro e por periferia na metró- graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade
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tropolitana, porém devemos analisar se essa é a
BLAKELY, E; SNYDER, M. Fortress America. Gated
regra geral ou representa apenas exemplos pontu- Communities in the United States. Harrisonburg: Brookings
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ais, como o da favela de Paraisópolis, Ermelino
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MARICATO, E. “A Produção Capitalista da Casa e da Cida- SINGER, P. “O Uso do solo Urbano na Economia Capita-
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Nelson Baltrusis, Maria Camila Loffredo D’Ottaviano
RICH AND POOR, EACH ONE IN THEIR PLACE: RICHES ET PAUVRES, CHACUN A SA PLACE: l’ inégalite
socioespatial inequality in São Paulo socio-spaciale dans la métropole de São Paulo
The slums and the walled condominiums Les favelas et les copropriétés en régime fermé
express the duality of rich and poor living in São Paulo démontrent la dualité des types d’habitation des riches et
metropolitan area. The occurrences of those settlements des pauvres dans la métropole de Sao Paulo. L’avènement
begin, in the case of slums, in the first half of the XX de ce genre de regroupement d’habitations existe depuis
century, and, , in the case of the walled condominiums la première moitié du XXe siècle en ce qui concerne les
and developments, in the 1970’s. This paper intends to favelas et à partir des années 70 pour les copropriétés
analyze and to identify both the spaces of homes in fermées. Ce travail se veut d’analyser et d’identifier autant
condition of extreme vulnerability, particularly the les espaces réservés aux maisons qui se trouvent dans des
slums and habitational units in precarious outlying conditions extrêmement vulnérables, et tout
neighborhoods, and the ways of structuring the space particulièrement les favelas et les quartiers précaires
for living for the rich and the middle class, highlighting, situés dans les périphéries, que la structuration de l’espace
preferentially, the walled horizontal condominiums, as réservé aux résidences des riches et de la classe moyenne.
real state forms that represent the two extremes of the On met tout spécialement en évidence les copropriétés
current socioterritorial inequality in the urban and horizontales fermées, type d’habitations qui représentent
metropolitan context of São Paulo. We will also think les extrémités de l’inégalité socio territoriale existante
about the new forms of space appropriation for rich and dans le contexte urbain et métropolitain de Sao Paulo.
of poor living, trying to understand if there really is a Nous ferons aussi une réflexion sur les nouvelles manières
new pattern of occupation of soil in the São Paulo de s’approprier l’espace pour l’habitation des riches et
Metropolitan Area. des pauvres, pour vérifier s’il existe vraiment une nouvelle
norme d’occupation du sol dans la Région Métropolitaine
de Sao Paulo.
KEYWORDS: slums; walled condominiums; socioespatial MOTS-CLÉS: favelas, copropriétés fermées, exclusion
exclusion; São Paulo Metropolitan Region. socio spatiale, RMSP.
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