As Vilas Operárias na construção da cidade de São Paulo: um estudo

sobre as políticas de preservação relacionadas ao patrimônio operário da

região do Brás

Ana Clara Vieira Marques

Orientadores: Profa. Simone Scifoni

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

anaclaravm@usp.br

Objetivos tombamento, a Vila Maria Zélia e a Vila

Ao longo da história da cidade de São Paulo, a
classe trabalhadora adaptou-se em busca de
melhores condições de sobrevivência,
agregando-se em espaços coletivos para suprir
suas demandas de moradia e habitação. Como
uma marca do desenvolvimento industrial entre
o final do século XIX e o início do século XX, as
vilas operárias ergueram-se em um espaço de
socialização entre os trabalhadores que se
estabeleciam na cidade junto com suas
famílias. Imbuídas de contradições, as
comunidades presentes nas vilas operárias
eram controladas pelos patrões das fábricas ao
mesmo tempo em que mostravam-se um
refúgio em meio a um ambiente hostil que se
consolidava na dinâmica urbana. O Métodos e Procedimentos
desenvolvimento industrial da cidade de São
Paulo influenciou diretamente o refluxo das
áreas ocupadas no território, tendo um papel
profícuo na análise estabelecida. É a partir
dessa movimentação que espaços de
habitação como as vilas operárias mostram-se
materialmente inevitáveis para a morada de
milhares de famílias operárias.
Os espaços das vilas operárias sofreram,
durante seus anos de maior ocupação, com a
negligência do poder público. Estabelecendo-
se em bairros periféricos, como Lapa, Brás,
Mooca, Bom Retiro e Belém, as moradias
foram inseridas de modo limitado nas políticas
de preservação do patrimônio até o final do
século XX. Das vilas operárias no território,
apenas duas já passaram pelo processo de
Economizadora. E das nove vilas operárias
selecionadas para estudo nesta pesquisa,
apenas duas estão minimamente incluídas em
legislações de proteção ao patrimônio, sendo
elas a Vila Alvuenda e a Vila Queiroga. A
discussão proposta parte a partir da
contextualização da história da classe
trabalhadora nas transformações urbanas da
cidade de São Paulo a partir dos espaços das
vilas operárias.
Com o levantamento realizado das vilas
operárias, é possível analisar como se
configuraram as políticas de preservação
voltadas para o patrimônio industrial e operário
em São Paulo.
Para compreender a totalidade do espaço em
todas as suas especificações, recorreu-se à
análise de dados a partir dos mapeamentos
disponibilizados no site Geosampa (Prefeitura
Municipal de São Paulo). O espaço delimitado
para a pesquisa abrange o atual bairro do Brás.
A comparação dos mapas de 1930 e 1954
disponibilizados possibilitou perceber as
modificações realizadas no espaço,
compreendendo a perspectiva oficial que se
manteve acerca das Vilas Operárias. Após
esse comparativo, então, as informações
fornecidas pelo estudo de Vitorino (2008)
forneceram dados atualizados acerca do
estado atual de cada uma das vilas
selecionadas.
Cada vila operária selecionada foi inserida em
uma ficha de informações, baseando-se nas
leituras previamente realizadas sobre os temas
de base da pesquisa.
Por fim, realizou-se um levantamento no site da
Conpresp (Conselho Municipal de Preservação
do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental
da Cidade de São Paulo) em relação aos
tombamentos, para entender a situação de
cada conjunto habitacional no que tange à
questão de sua preservação. Com isso, as
informações foram fornecidas em fichas que
abordam desde seu grau de originalidade até o
uso atual do espaço, informando se há um
processo de tombamento.
Resultados
A partir de uma análise retirada dos arquivos
de Vitorino e a comparação com os mapas de
1930, 1954 e atual, é possível perceber que,
embora quase todas as Vilas Operárias
estejam em bom estado de conservação, o
grau de originalidade foi severamente
modificado. Quatro das nove vilas operárias
estão completamente descaracterizadas,
enquanto duas estão com o grau de
originalidade definido como “ruim”. Como por
muito tempo o debate sobre a importância da
preservação deste patrimônio foi deixado em
segundo plano, as alterações nas residências
foram feitas sem fiscalização, o que causou
alterações irregulares nos imóveis.
Assim, como resultado, é nítida a negligência
do poder público em preservar os instrumentos
de memória da classe trabalhadora na cidade
de São Paulo. Na medida em que as políticas
de preservação patrimoniais foram poucas ou
ineficientes para a devida manutenção desses
ambientes, o que se teve foi uma ocupação
não planejada do território, que se estabeleceu
sem preocupação com os espaços de
identidade da classe trabalhadora. Isso serviu
para alterar profundamente a paisagem e
danificou a originalidade das habitações e,
consequentemente, da história das famílias
operárias no município de São Paulo.
Conclusões
O que podemos concluir da pesquisa realizada
é que, embora os dados acerca da questão do
patrimônio tenham ampliado-se nos últimos
anos, ainda encontramos lacunas ao tratar
sobre a história da classe trabalhadora no
território da cidade de São Paulo.
Além disso, buscou-se pensar em políticas de
preservação para as habitações ainda na
contemporaneidade. Reforçando, assim, a
importância de espaços essenciais na
construção da identidade do município de São
Paulo. Para isso, entender a história não só do
bairro selecionado, mas da cidade e seu
desenvolvimento histórico, é substancial para
compreender a pesquisa em sua totalidade.
Referências
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Paulo. 2008, São Paulo.