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Autores:

Orientando: Rafael Julio Coelho


(rafael.julio.coelho@usp.br)
Orientadora: Profª Drª Simone Scifoni
(simone.geo@usp.br)

Instituição:
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas -
Universidade de São Paulo

Parques públicos urbanos na periferia de São Paulo: o cotidiano na metrópole

Introdução
O presente trabalho busca entender a dinâmica dos parques públicos urbanos no
cotidiano da população da periferia de São Paulo, como recorte espacial da pesquisa temos
dois distritos do extremo sul da cidade: Jardim Ângela e Jardim São Luís e os quatro parques
presentes nestes, como etapa inicial, pretendemos analisar sua formação e expansão. Estes se
localizam próximos à represa do Guarapiranga, em sua margem oeste. Os dois distritos
possuem população de 569.782 habitantes e uma área de 62,2 km², é uma região pobre,
adensada e carente de equipamentos públicos de lazer e cultura.

Mapa 1: Mapa do município de São Paulo, em vermelho a área da Subprefeitura do M’Boi Mirim, onde estão localizados os
distritos de Jardim Ângela e Jardim São Luis Fonte: Prefeitura de São Paulo

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Partimos da análise da dinâmica do crescimento da cidade de São Paulo, e da
metrópole do qual esta faz parte. A mancha urbana se expande, de forma espraiada, e chega
até os limites norte e sul da cidade, onde se encontram a Serra da Cantareira (ao norte) e a
Serra do Mar (ao sul), esses dois limites têm grande importância ambiental para a cidade. Ao
sul principalmente, temos duas das principais represas que abastecem a metrópole, as
represas Billings e Guarapiranga, estas são abastecidas por diversos rios e córregos que estão
em área de proteção de mananciais. Por conta de diversos processos de expulsão dos
trabalhadores mais pobres das regiões centrais, estes acabaram ocupando e construindo suas
moradias nos limites da cidade, desta forma podemos observar uma rápida expansão urbana
no século XX. Hoje observamos a ocupação de parte da área de proteção de mananciais por
diversos tipos de imóveis, desde moradia de autoconstrução para trabalhadores a casas de alto
padrão para as classes altas. Existindo assim o conflito entre a ocupação da área pela
população e a gestão dos recursos hídricos da cidade. Assim para relacionar os processos
indutores dessa ocupação, os diferentes usos da represa e a questão dos mananciais,
buscamos analisar os diferentes momentos da ocupação do entorno Represa Guarapiranga.
Para numa segunda etapa do trabalho colocar em foco a produção dos Parques Públicos
Urbanos no entorno desta como um elemento dentro do contexto de produção dessa parcela
do espaço urbano da São Paulo, sua caracterização e importância, focando nos quatro parques
do entorno da Represa.

Objetivos
Propor uma reflexão sobre os espaços públicos de lazer, buscando entender como se
caracterizam e se produzem os parques públicos urbanos na periferia, sua dinâmica no
cotidiano da população, a carência pela falta destes equipamentos e sua importância na cidade
contemporânea. Fornecendo uma contribuição crítica ao entendimento do urbano,
questionando a ação do Estado e do setor privado na produção de espaços de lazer, discutindo
a questão ambientalista no processo de formação dos parques, a apropriação destes por parte
da população e buscando questionar para quais setores/classes da sociedade a cidade que esta
sendo produzida.

Metodologia

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A análise nos levou a questionar qual seria a importância dos parques públicos
urbanos para essa população de residentes na periferia de São Paulo, buscando entender como
se constitui a geografia dos parques urbanos estudados, sua localização, distribuição, e
extensão, refletindo sobre como eles estão postos dentro das políticas públicas urbanas. Isto
suscitou compreender o processo de criação dos parques estudados por meio de documentos e
da análise do processo de urbanização da região estudada (distritos do Jardim Angela e
Jardim São Luiz). Posteriormente a este levantamento foram realizados trabalhos de campo
com o objetivo de caracterização e análise.
Apoiando-se em diversos autores foi necessária, primeiramente, uma análise da
produção do espaço da periferia, pensando assim em termos de uma urbanização crítica,
entendendo assim um processo de crise da urbanização, da impossibilidade do urbano para
todos, onde a periferia está posta como a forma material das contradições postas pelo modo
de produção capitalista (DAMIANI, 2009). Antes de se pensar a periferia foi necessária
pensar como se constitui a história e a geografia da cidade de São Paulo, utilizando o clássico
estudo de Pierre Monbeig (2004) sobre o crescimento da cidade até 1940 relacionamos esse
crescimento ao intenso processo de industrialização na cidade nos finais do século XIX
(MAMIGONIAN, 1976; BERTOLOTTI, 2010).
Dito isto, fez-se necessário apontar que o processo de industrialização traz
contradições que são inerentes a ele. O processo de instalação de fábricas na cidade de São
Paulo, área privilegiada por sua centralidade histórica, suscitou a atração de um grande
contingente de migrantes de outras regiões do Brasil. Estes trabalhadores com baixo poder
aquisitivo foram influenciados pela dinâmica do mercado imobiliário e se instalaram nas
regiões mais distantes do centro da cidade, regiões em que predomina baixo valor do solo
urbano (solo que esta em processo de incorporação pela expansão da cidade) (CARLOS,
1998). O processo de industrialização ao mesmo tempo em que produz a riqueza, visando à
acumulação capitalista por meio da exploração da classe trabalhadora, produz também a
pobreza, gerando uma massa de trabalhadores que serão absorvidos pela produção industrial,
enquanto outros se tornam exército industrial de reserva, sendo absorvidos muitas vezes pelo
setor terciário em condições precárias de trabalho, sem direitos trabalhistas garantidos. Como
Francisco de Oliveira (2013) expõe, se produz um quadro de desenvolvimento desigual e
combinado, no qual o processo de modernização se dá a partir da produção da pobreza,

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desigualdade social e a segregação socioespacial dentro do espaço urbano. Ou seja, a própria
periferia como materialidade resultante desse processo. Concebemos assim o fenômeno da
urbanização induzido pelo processo de industrialização.
Dentro desse cenário exposto o trabalho buscou caracterizar a expansão da cidade
para os distritos do Jardim Ângela e Jardim São Luís, que abrigam a margem Oeste do
Reservatório, em relação à construção da Represa do Guarapiranga e do desenvolvimento do
Parque industrial de Santo Amaro. Para o entendimento da primeira questão utilizamos o
acervo do jornal “O Estado de São Paulo” e o estudo de Mariana Bielavsky (2001) sobre a
expansão da cidade em direção à bacia do Guarapiranga, área de mananciais. Dentro desse
contexto buscamos entender como se dão as tentativas do poder público de legislar sobre essa
ocupação e como se dá a criminalização do morador da periferia nesse processo (SEABRA;
SPORL, 1997). Relacionamos a ocupação das áreas de mananciais com a retificação dos rios
Tietê e Pinheiros como fatores influentes na constituição do espaço urbano de São Paulo na
primeira metade do século XX (SEABRA, 1987). Este processo de expansão da mancha
urbana esta ligado à constituição do parque industrial de Santo Amaro como polo de atração
para a população migrante (COELHO, 2008; PÁDUA, 2009) o que contribuiu para a
expansão das moradias dos trabalhadores dessas fábricas e das atividades ligadas a essas
moradias majoritariamente constituídas por formas de autoconstruções (BONDUKI, 1998).
Diante da problemática explicitada os parques públicos urbanos se tornam uma
necessidade da vida urbana, pois após a captura do processo de urbanização pela
industrialização em que ocorre a subtração das antigas áreas verdes da cidade que se
transfiguram, em muitos casos, em espaços privados de lazer, há uma degradação física dos
citadinos por conta do trabalho na indústria e da poluição crescente e pelo distanciamento da
vida no campo, os parques se tornam então manifestação simbólica da natureza, signos desta
(LEFEBVRE, 1991). Segundo Rosalina Burgos (2003) os parques públicos urbanos
expressam os conteúdos da urbanização, principalmente na questão da segregação
socioespacial, negando a realização plena do espaço público. Isso porque, tal processo social
que ganha materialidade no espaço urbano produz áreas segregadas e uniformes (bairros),
resultantes da distribuição de renda e do acesso diferenciado à padrões residenciais e sua
localização na cidade. Sendo assim, um parque localizado em determinada área da cidade é
frequentado e apropriado principalmente pela população do entorno, que compõe um ou

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alguns determinados estratos sociais que tem maior possibilidade de acesso à aquela
residência ou bairro. Levando a uma diferenciação da apropriação de um parque pelos
diferentes estratos sociais que compõe a sociedade, o que nos leva a questionar se o parque
público urbano se realiza enquanto espaço do encontro e do convívio dos diferentes
habitantes da cidade, como espaço público pleno.
Os Parques estudados na pesquisa se localizam próximos à região de nascentes e
mananciais da represa do Guarapiranga, no extremo sul de São Paulo, periferia, área de
proteção ambiental e , zoneada e fiscalizada pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da
prefeitura. Sendo assim, tornou-se necessário entender se o discurso do meio ambiente
permeia o ideário de produção destes espaços na região, pensar como este se estrutura e quais
suas contradições. Buscamos, desse modo, compreender como se dá a apropriação capitalista
dos recursos naturais (LEFF, 2000) e a constituição de um discurso ecológico que
desumaniza e abstrai a relação entre sociedade-natureza (CARLOS, 1991). Desta maneira,
empreendemos esforços em entender também os conteúdos sociais da crise ecológica, e
compreende-los enquanto expressões da própria crise urbana (BERTOLOTTI, 2010;
SEABRA, SPORL, 1997). Por fim, para entender o processo de constituição dos parques foi
pesquisado o decreto e o contexto em que o parque foi implantado por meio de arquivos da
Prefeitura e do Estado de São Paulo.

Resultados Preliminares
A cidade de São Paulo passou por profundos processos de urbanização, que alteraram
radicalmente sua morfologia ao longo do século XX, em 1872, esta possuía um pouco mais
de 30 mil habitantes e sua principal função econômica era a de entreposto comercial, como
polo de ligação entre o litoral e o interior do país.
A cidade, que foi fundada por padres jesuítas que tinham como principal objetivo
catequizar as tribos indígenas da região, possuía localização privilegiada próxima ao porto de
santos e aos rios da região (Tamanduateí e Tietê), o que a tornava um ponto importante para a
exploração dos interiores do país. Ao longo de 300 anos sua paisagem, sua população e suas
funções são quase pouco alteradas (MONBEIG, 2004). Esse quadro vai se alterando
rapidamente na passagem do século XIX para o XX: em 1900 a cidade possuía 240 mil
habitantes, em 1920 mais de 500 mil e em 1940 já estava próxima de um milhão e meio de

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habitantes. Portanto, podemos observar uma aceleração intensa no processo de urbanização,
que faz expandir a mancha urbana, em um curto período de tempo, alterando rapidamente
uma paisagem que resistia ou pelo menos se mantinha concentrada entre as várzeas do Rio
Tietê e do Rio Pinheiros (SEABRA, 1987).
Como resultado inicial de nossas pesquisar pudemos perceber que o processo de
industrialização foi o indutor do crescimento urbano, pois é possível observar o surgimento
de vários núcleos industriais em várias cidades do estado e em sua capital. Estas indústrias
surgem por conta dos investimentos proveniente dos capitais da elite cafeicultora e
escravocrata paulista acumulados pela exportação do café, estes fundam algumas fábricas e
começam a investir na produção de bens manufaturados que tem na cidade de São Paulo seu
principal foco da expansão industrial. Por conta de sua centralidade histórica que contribuiu
para a concentração de capitais fixos como: ferrovias, estas, construídas por conta da
produção de café ligavam São Paulo ao porto de Santos (MAMIGONIAN, 1976). As
primeiras indústrias instalam-se próximas as ferrovias existentes, constituindo bairros
operários como Água Branca, Barra Funda, Brás, Mooca e Belenzinho (PÁDUA, 2009). São
Paulo assim passa do posto de uma pequena vila que servia de entreposto a principal.
Portanto, consideramos assim o processo de industrialização como indutor do processo
urbanização, dentro do qual o crescimento da cidade, a atração de migrantes, a expansão da
mancha urbana, o crescimento da malha viária e dos eixos de comunicação da cidade e as
questões do planejamento urbano estão intimamente ligados e são consequências ou
necessidades do modo de produção capitalista de produção de mercadorias, que tem na no
processo industrial sua base estrutural moderna, o qual necessita do espaço urbano como
espaço necessário, como lócus, da produção (LEFEBVRE, 1991). Esta relação contraditória
pode ser observada por meio da alteração da paisagem urbana de São Paulo ao longo do
século XX, como por exemplo, nas obras de retificação dos rios Tietê e Pinheiros e de
construção da represa Billings. Por meio destas se reverteu as águas do rio Pinheiros para a
Represa Billings levando água até uma usina de energia elétrica em Cubatão, assim
aumentando a capacidade de fornecimento de energia elétrica para a indústria paulista. Além
disso, essas obras permitiram a ocupação das várzeas, impermeabilizando tais áreas de
planície fluvial sobre as quais foram instaladas as avenidas marginais. A construção destas
possibilitou um incremento na malha viária da cidade, posto que estas se interligavam com as

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rodovias de acesso a cidade, facilitando a chegada e saída de mercadorias. Além desses dois,
vários outros rios e córregos passaram por obras de retificação ou foram canalizados e
soterrados para dar lugar a grandes avenidas (SEABRA, 1987).

Mapa 1: Expansão da mancha urbana de São Paulo destaque para o período de 1950 a 1962, período de expansão do parque
industrial de Santo Amaro. Fonte: Secretária Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU)

Esses apontamentos nos levam a entender que o resultado desse crescimento


desenfreado é a constituição de novos bairros na periferia da cidade que emergem
constituindo novos espaços segregados, por conta da precariedade de suas condições e da
carência de serviços básicos. Estas são resultado da demanda da industrial por mais
trabalhadores, que por conta de seu baixo salário e da falta da ação do Estado na produção de
habitação social compram lotes em regiões em que os preços da terra urbana seriam mais
baixos: regiões das antigas chácaras que abasteciam São Paulo que são afastadas do centro da
cidade e que em um primeiro momento (década de 1940) não tem acesso a alguns serviços
urbanos como saneamento básico ou energia elétrica (BONDUKI, 1998). Dessa forma temos
uma cidade que se moderniza ao mesmo tempo em que produz a pobreza, a segregação e a
desigualdade social. O subdesenvolvimento é uma contradição própria do modo capitalista de
produção de mercadorias, por meio de processo de modernização das forças produtivas

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produz a riqueza seletiva e a pobreza massificada, a falta de acesso a serviços básicos de
saúde, educação, lazer e etc (OLIVEIRA, 2013).
Logo, a industrialização como indutora dessa urbanização crítica, onde a vida urbana
se apresenta enquanto crise. Este crescimento permanece mesmo depois do processo de
desindustrialização relativa dos anos 80, passando cada vez mais ao posto de uma metrópole
caracterizada pela expansão do terciário moderno, local privilegiado para centralização e
gestão das empresas e negócios e servindo principalmente como elo da economia nacional
com a economia mundial conforme Bertolotti (2010). Devemos buscar no desenvolvimento
da indústria suas relações históricas com o crescimento urbano pois se torna necessário
pontuar que apesar dessa desconcentração relativa - em que alguns setores saíram da cidade
para o interior do estado enquanto outros permaneceram - a produção industrial ainda possui
grande importância econômica e esta relacionada de modo indireto, ou de uma forma
diferente de outros períodos, a produção do espaço urbano da cidade de São Paulo.
Neste movimento histórico e geográfico exposto, pontuamos que até a década de 60, a
ocupação do entorno da represa do Guarapiranga se dava por casas de veraneio ou clubes
particulares. A partir da expansão do núcleo industrial de Santo Amaro, a partir do final da
década de 50, há uma demanda por novas terras para moradia dos trabalhadores atraídos por
essa indústria. De modo que, durante os anos 70, 80 e 90, há uma expansão da área
construída na área de mananciais da represa, modificando o uso das áreas no entorno da
represa, este processo leva a uma crise ecológica por conta da impermeabilização do solo e da
poluição dos canais que abastecem a Guarapiranga, levando a poluição do reservatório. Por
conta disso, temos como resultado uma política de cunho ambientalista, refletida na
legislação de zoneamento da represa e na construção de parques no entorno desta, é adotada
com o objetivo de impedir a ocupação de novas áreas e de proteger as áreas de mananciais,
colocando como grande culpado da crise o trabalhador de baixa renda que ocupa o entorno da
represa, fortalecendo o discurso ambientalista. Enquanto formas privadas e de fácil
capitalização são inclusive incentivadas no entorno. Em relação a isso denotamos a existência
de quatro Parques no Entorno da Represa: Parque Guarapiranga, Parque Ecológico do
Guarapiranga, Parque M’Boi Mirim e Parque Jardim Herculano, nestes parques temos a
presença de corpos d’água que alimentam a represa. Todos com suas contradições e formas
de apropriações diferenciadas. Com estes apontamentos buscamos desvendar as contradições

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e os conteúdos sociais desta crise ecológica e analisar como o espaço público na periferia, os
parques, são apropriado pela população, chegando ao resultado de que essa apropriação
ocorre de forma seletiva e esses espaços se caracterizam por serem públicos e segregados.

Considerações Finais

Por meio da pesquisa foi possível traçar a relação entre a implantação dos parques
estudados com o a proteção e preservação das nascentes e mananciais do reservatório
Guarapiranga e o objetivo de impedir a ocupação do entorno por loteamentos de baixo padrão
ou de alta densidade, como no caso das casas de autoconstrução ou favelas, que são moradias
de trabalhadores, onde observamos interesses do mercado imobiliário em vinculados a ação
do poder público. Se observarmos a margem direita do reservatório na região de Cidade
Dutra o mesmo fenômeno se observa, neste lado também onde temos parques como: Parque
Barragem, Parque Linear Castelo, Parque Linear Castelo, Parque Shangrilla, Parque Praia
São Paulo, entre outros. Tornando algumas áreas desta região algumas das mais valorizadas
do extremo sul de São Paulo.
Além da implantação dos Parques a legislação que regula o zoneamento do entorno da
represa, que se inicia a partir dos anos 1970, e os programas desenvolvidos pelo poder
público explicitam o objetivo e a forma escolhida para preservação da área. Podemos
observar que na Lei Guarapiranga há a exigência de loteamentos de alto padrão na ocupação
do entorno e a implantação de parques públicos que em muitos casos, nesta região,
funcionam como instrumento para valorização de empreendimentos imobiliários (como no
caso do Parque Guarapiranga cercado por dois condomínios de classe média). Assim
excluindo e criminalizando a ocupação da represa e do seu entorno para os mais pobres,
criminalizando estes por conta da poluição do reservatório. Ou seja, se institui por meio do
poder público formas legais e ilegais de ocupação do entorno, sendo que umas seriam
benéficas e outras ruins para o reservatório, sendo que as formas de ocupação pelos mais
pobres se deu por conta do processo de expulsão dos mais pobres para os terrenos mais
baratos e mais afastados do centro da cidade, ocasionando um processo de segregação
socioespacial.

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É comum observarmos na paisagem do entorno a presença de condomínios fechados,
que se aproximam a imagem de subúrbios, que vendem uma ideia de proximidade da
natureza por conta do reservatório e de suas áreas verde, a ideia da natureza intocada, o que
traria um aumento de qualidade de vida. Desta forma há a busca por uma valorização do
entorno da represa, onde os parques aparecem como instrumentos para esta. Sendo assim os
elementos da crise urbana, como a supressão das áreas verdes, a poluição atmosférica, a
contaminação de rios e córregos ou a falta de áreas de lazer na cidade estão presentes em
discursos espaciais que buscam a valorização do espaço urbano por meio de
empreendimentos imobiliários. Se constrói um discurso em defesa do meio ambiente,
degradado pelas formas capitalistas de produção e reprodução do espaço urbano, que é
colocado sob interesses do mercado imobiliário.

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