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Luísa Isabel Disse

Disciplina de Direito Economico

Tema: Regime Jurídico Moçambicano da Concorrência

Licenciatura em Ciências Jurídicas Publicas

Docente: Dr. Eusébio Lambo

Universidade Alberto Chipande

Beira

2023
Luísa Isabel Disse

Tema: Regime Jurídico Moçambicano da Concorrência

Docente:
Dr. Eusébio Lambo
O presente trabalho constitui
Uma avaliação parcial na disciplina
De Direito Economico a ser apresentado
Na universidade Alberto Chipande
Sob orientação Dr. Flora Eusébio Lambo

Universidade Alberto Chipande


Beira
2023
Índice

I. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 4

II. ORIGEM E CONCEPÇÕES DOUTRINÁRIAS DE CONCORRÊNCIA ....................... 5

2.1. Origem da Concorrência ................................................................................................... 5

2.2. Conceito da Concorrência ................................................................................................. 6

2.3. Conceito de direito da concorrência .................................................................................. 6

2.4. Conceito do mercado......................................................................................................... 7

2.5. Diferentes formas do mercado concorrencial .................................................................... 8

2.6. A concorrência monopolística ........................................................................................... 9

2.7. Significado da defesa de concorrência ............................................................................ 10

2.8. Os sistemas da defesa da concorrência............................................................................ 11

2.9. A liberdade de concorrência ............................................................................................ 12

III. REGIME JURÍDICO MOÇAMBICANO DA CONCORRÊNCIA ............................... 13

3.1. Protecção Constitucional da concorrência ...................................................................... 13

3.2. Origens históricas da Constituição económica ................................................................ 14

3.3. Constituição Económica e a protecção da concorrência em Moçambique ..................... 14

3.3.1. Aspectos gerais............................................................................................................ 14

3.3.2. Protecção da concorrência na Constituição da República Popular de Moçambique de


1975 15

3.3.3. O período de 1984-1990 e a Implementação do Programa de Reabilitação Económica-


PRE 16

3.3.4. Protecção da concorrência na Constituição da República de Moçambique de 1990 .. 17

3.3.5. Protecção da concorrência na Constituição da República de Moçambique de 2004 .. 18

IV. CONCLUSÕES ............................................................................................................... 20

V. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA................................................................................. 21
I. INTRODUÇÃO
O regime jurídico da Concorrência em Moçambique constitui o tema para a
Licenciatura em Ciências Jurídicas pela Universidade Chipande. Este tema enquadra-se
na Disciplina do Direito Economico, leccionada no 3° Semestre do 2° ano do Curso.
Constitui tema de grande relevância para actualidade, na medida em que com a
liberalização do comércio, quer ao âmbito nacional, regional assim como mundial
regista-se o crescimento maior da procura e oferta nos mercados, afigurando-se
importante que os Estados adoptem normas que defendam e protejam a concorrência
com vista a torna-la leal, justa e eficaz.

A economia moçambicana vem conhecendo uma dinâmica caracterizada por


profundas mudanças. Como resultado do ambiente macroeconómico em contínuo
melhoramento, tem-se registado um crescimento do mercado criando uma relativa
concorrência, no entanto, o país não possui instrumentos para regular o fenómeno. A
Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) de que Moçambique é
membro, em particular o seu Protocolo Comercial, recomenda o estabelecimento de um
quadro legal nos países membros que oriente a concorrência nos mercados nacionais.
Com efeito, a situação de concorrência é aquela na qual os empresários decidem de uma
maneira independente sobre os preços, quantidades, quota do mercado, qualidade,
serviços e outras condições que afectam o valor dos bens e serviços de modo a
conquistar, reter e aumentar a clientela Assim, a política de concorrência constitui um
instrumento de suporte à elaboração de uma legislação específica e de um quadro
institucional que congreguem regras para disciplinar a conduta empresarial no âmbito
da concorrência.
Portanto, terá como objectivo geral discutir a questão do regime jurídico da
concorrência em Moçambique a partir de doutrinas próprias, passando pela resenha
histórica das constituições económicas moçambicanas. Especificamente consistirá em
identificar os problemas ou práticas restritivas da concorrência resultantes do vazio
legal e institucional que protege e defenda a concorrência em Moçambique, analisar a
manifestação da concorrência em alguns sectores do mercado Moçambique, entre
outros.

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II. ORIGEM E CONCEPÇÕES DOUTRINÁRIAS DE CONCORRÊNCIA

2.1.Origem da Concorrência
A concorrência entre os agentes económicos num certo mercado, ocorre desde as
primeiras trocas comerciais que se tem na memória. E essa concorrência é tão natural
que sem ela, o comércio perderia a sua essência. Contudo, o espírito da concorrência
entre os agentes económicos, nunca foi assimilado pacificamente, de maneiras que
coube ao Estado adoptar medidas tendentes a controlar as apetências dos vários agentes
económicos. Sullivan e Grimes referem-se a medidas reguladoras aplicadas na cidade
de Atenas, durante a guerra com Esparta, para evitar que um cartel de importadores de
cereais limitasse as vendas e forçasse a uma subida dos preços.

Estes autores fazem, assim, remontar a 388-387 a. C. a origem das regras


públicas de protecção da concorrência nos mercados. Citam também uma curiosa
decisão, tomada em Inglaterra em 1602 pelo “Court of King‟s Bench”, que recusou a
protecção do monopólio da distribuição de cartas de jogos, com o argumento de que ele
era opressivo do ponto de vista económico, por prejudicar a redução dos preços, o
aumento da qualidade e a liberdade do comércio. Estas duas histórias e mais outras
semelhantes servem aos autores para demonstrar as origens remotas do sentimento de
hostilidade em relação à utilização opressiva do poder económico. De certa maneira, foi
também em nome deste sentimento que o direito da concorrência, tal como hoje se
conhece, nasceu bastante mais tarde nos Estados Unidos da América.

Na verdade, o direito da concorrência (antitrust law) não foi, como bem salienta
Giuliano Amato, uma criação dos economistas ou uma descoberta dos especialistas em
direito comercial. Foi uma resposta assumidamente política para um problema crucial
da economia de mercado: o de equilíbrio entre a liberdade de iniciativa privada e
respectivos corolários, como a liberdade de organização e a autonomia contratual, e a
necessidade de controlo do poder económico privado, de modo a que este não constitua
uma ameaça àquela liberdade. A maneira como este dilema tem sido resolvido, a favor
de uma maior ou menor intensidade do controlo sobre o poder económico privado,
constitui uma opção política, mesmo que fundamentada em sofisticadas teorias
económicas ou complexas construções jurídicas.

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2.2.Conceito da Concorrência
Entende-se concorrência, a competição entre vários agentes económicos com
vista a atingirem a supremacia no mercado em relação aos demais e caracteriza-se pela
pluralidade de actuações convergentes, na medida em que existe uma pluralidade
indiscriminada de fornecedores de bens e serviços que se dirigem a uma pluralidade
indiscriminada de consumidores. Na economia usa-se o termo num sentido mais
restrito, caracterizando as relações (económicas) que se estabelecem entre os que num
mercado oferecem e procuram mercadorias ou serviços. A concorrência emana
directamente da liberdade da iniciativa económica, ou seja, da possibilidade de quem
quer que seja, em princípio poder ter acesso às diversas actividades económicas, que
estão na base da própria criação da riqueza e realização pessoal no ponto de vista
económico. Dai que a liberdade da iniciativa económica de acesso ao mercado, de
criação de empresas de determinado ramo, tenha como corolário infartável a liberdade
concorrencial. A concorrência deriva assim da própria pluralidade de necessidades, por
um lado, e de bens e serviços por outro. Neste contexto, a ideia de concorrência surge
intimamente ligada ao mercado e sobretudo à ideia de "liberdade económica". Assim, a
concorrência vai significar rivalidade aberta no mercado entre compradores e
vendedores de um bem ou serviço.

2.3.Conceito de direito da concorrência


Antes de falar do Direito da concorrência, entendemos conveniente recordar o
próprio conceito de Direito. O termo Direito é polissémico, ou seja, pode ser entendido
em dois sentidos, quais sejam: o sentido Objectivo e o Subjectivo. O Direito em sentido
Objectivo, pode ser entendido como um sistema de normas, “como uma das ordens
normativas que regulam a vida em sociedade”. Neste sentido, o Direito Objectivo seria
o conjunto de regras gerais que regem as relações numa dada sociedade. Regras essas
dotadas de características como sejam: generalidade, abstracção, necessidade,
hipoteticidade e coercibilidade. O Direito da Concorrência em sentido Objectivo,
constitui um conjunto de normas e princípios da concorrência por que se devem pautar
os agentes económicos entre si.

Ou num melhor entendimento, “o Direito da Concorrência pode ser


caracterizado como uma parte do sistema legal, tendente à fixação de normas
aplicáveis ao exercício da actividade económica através de regras relativas ao
estabelecimento das empresas, à comercialização dos seus produtos, às relações

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concorrenciais e a protecção do consumidor”. Já o Direito em sentido Subjectivo não
pode ser tomado como um conjunto de normas, mas antes é visto na perspectiva do
Homem em relação a essas mesmas normas, tendo em conta a situação que para ele é
criada por elas. Neste entendimento, “Direito Subjectivo corresponde ao poder ou
faculdade-provindos do Direito Objectivo de que dispõe uma pessoa, e que se destina a
realização de um interesse juridicamente relevante. Portanto, o Direito da
Concorrência em sentido Subjectivo, refere-se a liberdade de actuação dos agentes
económicos, ou seja, a liberdade de ingressar e actuar num mercado determinado. Trata-
se de uma prerrogativa ou faculdade de cada individuo.

2.4.Conceito do mercado
Existem várias definições do mercado. Na sua acepção primitiva, a palavra
mercado dizia respeito a um lugar determinado, onde os agentes económicos realizavam
transacções. A título ilustrativo, os textos da história económica citam os grandes
mercados de antiguidade, como: o de Marselha, no Mediterrâneo de Bizâncio e de
Calcedónia, Ásia, de Naucratia, no Egipto, de Veneza e Génova, na Itália Medieval. Por
tradição histórica, este conceito chegou até os dias actuais. O mercado permanece, por
tradição, como, um lugar definido, especialmente edificado, para o encontro de
produtores e consumidores, com o propósito de ajustarem a procura e oferta, através da
formação dos preços.

Assim, pode definir-se o mercado como o conjunto das ofertas e das procuras
de um certo bem, postas em contacto em determinado momento para gerar a troca na
base de um preço. Mas já na sua acepção económica mais ampla, o conceito do
mercado está bem distante dessa tradição da conotação geográfica. Mercado é agora
“um espaço abstracto onde se encontram a procura e a oferta agregada dos agentes
económicos, cujos objectivos contraditórios se harmonizam, em cada momento, através
dos preços de transacção entre eles”. Por exemplo hoje em dia é comum ouvir
executivos de grandes empresas industriais ou do sector financeiro falarem das
dificuldades com que eles se defrontam no mercado. Nesse sentido eles não se estão a
referir a nenhum espaço geográfico, mas sim a uma abstracção económica. Embora
vários conceitos do mercado sejam possíveis, o que enfatiza seus atributos económicos
é o fundamento nas tensões decorrentes de duas forças em princípio antagónicas, as da
procura e as da oferta. Em termos gerais, um mercado dir-se-á concorrencial quando
exista uma pluralidade de vendedores e de compradores, tal que, para determinado

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produto, haja uma liberdade de escolhas: “faculdade de eleger entre um grande número
de possibilidades e, portanto, de excluir aquelas que, em termos comparativos, são as
menos satisfatórias”.

2.5.Diferentes formas do mercado concorrencial


O mercado concorrencial pode caracterizar-se sob forma de quatro estruturas
referenciais, quais sejam:

 Concorrência perfeita;
 Monopólio;
 Oligopólios e
 Concorrência monopolística.
As classificações mais simples de estruturas de mercado fundamentam-se apenas no
número de agentes envolvidos em cada um dos dois lados, o da procura (compradores)
e o da oferta (vendedores). STACKELBERG, em 1934 propôs este tipo. Entretanto, os
elementos diferenciadores não se limitam, como sugeriu a classificação pioneira de
STACKELBERG, ao número de agentes económicos envolvidos. Vai além, incluindo
factores comportamentais, as características dos recursos e produtos transaccionados, o
controle que os participantes têm sobre o preço, as possibilidades de concorrência
extrapreço e as condições para o ingresso de novos competidores no mercado. Na
concepção de STACKELBERG, as estruturas do mercado que se observam na
realidade não se limitam às hipóteses da concorrência perfeita (em que se fundamentou
a tradição teórica dos séculos XVIII e XIX) e do monopólio puro (em que se
fundamentaram as críticas mais agudas aos pressupostos clássicos e neoclássicos).

Demonstra que entre esses dois extremos, há várias possibilidades intermediárias,


que se podem definir pelo número dos que se encontram em cada um dos dois lados, em
diferentes situações do mercado. Nestes termos, tomando o número dos agentes
económicos como diferenciador, a concorrência perfeita vai pressupor grande número
dos participantes nos dois lados considerados, ou seja, grande número de vendedores
por um lado e consumidores por outro.

Tomando outro conjunto de aspectos diferenciadores, a concorrência perfeita


caracterizar-se-á por reunir condições ideais, como: a atomização dos agentes, a
homogeneidade dos produtos, a perfeita mobilidade dos concorrentes, a total
permeabilidade para ingresso e saída dos agentes económicos, a plena transparência e

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apenas um preço, definido pelas forças da oferta e da procura, ao qual todos se
submetem.

Em contraste, na hipótese de haver um grande número de compradores defrontando


com apenas um vendedor, estar-se-ia face a monopólio. Trata-se de uma estrutura que
se situa no extremo oposto do da concorrência perfeita e caracteriza-se: pela existência
de apenas um vendedor que domina inteiramente a oferta, pela inexistência de
substitutos para o produto do monopolista, insusceptíveis barreiras de entrada,
opacidade das informações e amplos poderes para definição de preços.

Invertendo-se as posições estar-se-ia diante de monopsónio. Diametralmente oposta


à situação da concorrência perfeita, poderia ainda ser caracterizada outra situação
extrema, definida pelo monopólio bilateral, em que se defrontam no mercado apenas
um vendedor e apenas um comprador. Além destas, também existiriam as situações
definidas como de quase-monopólio e quase-monopsónio. Trata-se de situações em que
o único vendedor, ou único comprador se defrontaria, respectivamente, com um número
pequeno de compradores e de vendedores. Entre estas estruturas do mercado,
STACKELBERG definiu outras situações intermediárias, por sinal as que mais se
encontram no mundo real. Na realidade, raramente se observam as situações - limite do
monopólio puro e da perfeição concorrencial.

Na moderna realidade industrial, caracterizada pelo domínio pelas grandes


corporações empresariais, prevalece na maior parte dos sectores, situações típicas de
denominação, exercidas por um pequeno número de grandes firmas. A essas situações
tomam denominações genéricas como de oligopólio, (trata-se de uma estrutura em que
a concorrência é exercida por pequeno número de vendedores e grande número de
compradores e caracteriza-se: pela rivalidade entre os poucos concorrentes, obstáculos
à entrada de novos concorrentes, preço, extrapreço e poder, devido ao pequeno número
de concorrentes dominantes, o controlo é geralmente grande) e de oligopsónio
(pequeno número de compradores e grande número de vendedores). O oligopólio
bilateral, seria caracterizado por um número pequeno, tanto de vendedores quanto de
compradores.

2.6.A concorrência monopolística


Trata-se de uma expressão que foi empregue pela primeira vez na década de
1930 por Edward E. Chamberlin. Ele evidenciou que a realidade observada na maior

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parte dos mercados definia-se por uma combinação de duas estruturas referenciais: o
monopólio e a concorrência perfeita. Esta estrutura contém características que se
encontram nas definições usuais de mercados perfeitamente competitivos e
monopolizados. Na concorrência monopolística, o número de concorrentes é grande.
Todavia, cada concorrente possui suas próprias patentes ou, então, diferencia de tal
forma seus produtos que passa a criar um segmento próprio de mercado, que então
dominará e procurará manter. O consumidor, todavia, encontra facilmente substitutos,
não ocorrendo dessa forma a caracterização essencial do monopólio puro. Determinada
patente ou determinado elemento de diferenciação pode significar, como de facto
significa, certa monopolização. Mas, havendo outros concorrentes com bens ou serviços
similares e substitutos, haverá também concorrência. Em síntese, as principais
características desta estrutura de mercado são: competitividade, diferenciação,
substituibilidade, preço-prémio, baixas barreiras.

2.7.Significado da defesa de concorrência


A defesa da concorrência, para além de se justificar, por razões económicas,
maior crescimento e mais racional distribuição, como já se viu, justifica-se de igual
modo por motivos políticos e sociológicos. Em boa verdade a concorrência permitindo
ao consumidor que exerça a sua escolha sem ser para tal pressionado pelo poder
económico dos monopólios ou por comportamentos abusivos das empresas, garante a
racionalidade e o esclarecimento da decisão económica. Atribui ao mesmo passo ao
consumidor um poder de controlo sobre a vida económica, censurando através da sua
opção racional e livre as empresas que se afastarem das regras transparentes do
mercado.

Do ponto de vista sociológico, a defesa da concorrência justifica-se pois pela


garantia da presença de condições para que a decisão económica seja livre e racional e
não vinculada ao poder de grupos e arbitrária. Poder-se-á assim dizer que a concorrência
traduz na vida económica o princípio da livre escolha racional, ou seja, da liberdade
entendida no sentido liberal como garantia do desenvolvimento livre da personalidade
individual. E, por fim, do ponto de vista político, a defesa da concorrência justifica-se
pela obstrução ao desenvolvimento do poder e influência dos grupos económicos mais
poderosos na defesa dos seus interesses particulares e sectoriais, garantindo do mesmo
passo, um mínimo de circulação dos grupos mais influentes. Defender a concorrência
será sempre, nesta perspectiva, impedir que o poder do Estado seja “tomado de assalto”

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por grupos de interesses homogéneos e colocado ao seu serviço exclusivo ou
preferencial. Defender a concorrência, contribui pois também para a transparência da
própria vida política.

2.8.Os sistemas da defesa da concorrência


O direito comparado oferece várias modalidades da defesa da concorrência que
podem reunir se em sistemas típicos que exprimem as três grandes orientações do
legislador quanto a esta questão, por trás das quais estão, como é evidente, diversas
opções de política económica fundamentadas em diferentes entendimentos a estrutura
dos mercados e em distintas valorações do comportamento dos agentes económicos. Em
sede geral, pode dizer-se que existem dois grandes sistemas teóricos da defesa da
concorrência: Em primeiro lugar temos os sistemas de proibição (ou da per se
condemnation), aqueles que proíbem as práticas restritivas da concorrência por
produzirem um dano potencial na economia. Estes sistemas tendem a privilegiar uma
noção estrutural da concorrência e avaliar este como um bem em si mesmo (teoria de
concorrência-condição). Daí estabelecerem uma proibição genérica e a priori de todos
os acordos e práticas susceptíveis de atingirem a estrutura concorrencial do mercado,
combatendo por tanto a concentração através de proibição das práticas que a ela possam
conduzir.

Este sistema abstrai dos resultados efectivos das restrições à concorrência para
centrar a sua atenção no perigo que estas, por si mesmas, representam. Trata-se de um
sistema, a título de exemplo, o da legislação dos Estados Unidos da América, que
defende que as leis da defesa da concorrência, devem proibir práticas consideradas
lesivas da concorrência pelo simples perigo (ainda que presumido) que estas
representam.

Contrapostos e em segundo lugar, temos o sistema de abuso ou da rule of


reason (igualmente conhecido por sistema de controlo a posteriori, concorrência-meio
ou ainda de dano efectivo). Para este sistema, tende-se a privilegiar os comportamentos
efectivos dos agentes económicos. Nesta perspectiva, a concorrência, é um bem entre
outros e não um bem em si mesmo (teoria de concorrência-meio), como tal, pode, em
certas circunstâncias ser afastada em nome da protecção de outros bens ou realização de
outros fins socialmente relevantes, daí que este sistema não pretende, em abstracto,
combater os acordos, oligopólios, monopólios, ou quaisquer outros factores de domínio

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no mercado através dos quais concretamente se manifeste a concentração económica.
Procura apenas reprimi-los quando por particulares condicionalismos, se revelam
prejudicais ao "interesse geral" declarando ilícitos os acordos ou práticas que produzam
efeitos negativos na concorrência, não justificando por outras razões.

No pólo oposto aos dois sistemas, temos os sistemas mistos da defesa da


concorrência, que congregam os aspectos dos dois sistemas acima mencionados, a título
de exemplo, o francês, alemão, inglês e também canadiano, onde os acordos restritivos
da concorrência são sancionados como ilícitos, embora com excepções, mas quanto às
posições de domínio só o abuso é reprimido.

2.9.A liberdade de concorrência


Pode ser entendida sob ponto de vista subjectivo por um lado e sob ponto de
vista objectivo por outro. De ponto de vista subjectivo, a liberdade de concorrência
representa a faculdade ou possibilidade teórica de todos e qualquer agente económico
aceder como fornecedor de produtos e serviços, a um mercado e daí desenvolver a sua
actividade: é o direito de qualquer empresário competir com os demais. Na perspectiva
objectiva, a liberdade da Concorrência, significa a situação do mercado no qual todos os
intervenientes se encontram em situação de igualdade, é a competição em si
considerada. Trata-se de noções distintas, mas interligadas, na medida em que a
liberdade de concorrência em sentido subjectivo é a condição necessária, ou seja, é a
“condition sine quan non”, mas não suficiente da concorrência em sentido objectivo, na
medida em que só há mercado concorrencial quando verificar-se a liberdade de cada
empresário competir com os demais agentes económicos.

Mas pode haver liberdade para competir sem que exista uma efectiva liberdade
de concorrência em sentido objectivo, sem que exista um mercado concorrencial. Para
que exista liberdade de concorrência em sentido objectivo, é necessário que cada agente
económico tenha autonomia em relação aos demais intervenientes no mercado e não
esteja imune aos mecanismos da oferta e da procura, isto é, é indispensável que cada
agente, individualmente considerado ou concertado com os demais, não possa
determinar as condições do mercado.

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III. REGIME JURÍDICO MOÇAMBICANO DA CONCORRÊNCIA

3.1.Protecção Constitucional da concorrência


Noção: O termo constituição em direito é polissémico. Todavia, nos limitaremos
a trazer aquela que quanto a nós reflecte na essência o entendimento do que seja
Constituição Económica. A Constituição Económica refere-se ao conjunto de
princípios e normas fundamentais por que se regem juridicamente a organização e o
funcionamento económico de uma comunidade política, ou seja, é o conjunto de
princípios que regulam a relação entre a economia, o Estado e os cidadãos. Se
preferimos, podemos ainda definir a constituição económica como o conjunto de
normas e princípios constitucionais relativos à economia, ou seja, é a parte economia da
constituição do Estado, onde está contido o “ordenamento essencial da actividade
económica”, desenvolvida pelos indivíduos, pelas pessoas colectivas ou pelo Estado.
Independentemente da definição adoptada, há que reter dois sentidos: (a) constituição
económica formal e (b), constituição económica material. Em sentido formal, a
constituição é a fonte ou conjunto de fontes que possuem uma característica
identificável, como a de pertença a um texto legal, com formalidades e requisitos
particular de aprovação ou modificação. Em sentido material é um conjunto de normas e
princípios que estruturam e legitimam determinada ordem jurídica. Ao lado deste
dualismo, constituição económica formal e constituição económica material,
encontramos a constituição económica estatutária e a constituição económica
programática ou directiva.

A constituição económica programática/directiva é a que encerra o conjunto de


normas que visam reagir sobre a ordem económica de modo a provocar certos efeitos,
preestabelecendo-a ou modificando-a através de acção dos órgãos do Estado.
Constituição económica estatutária composta por um conjunto de normas que
caracterizam uma certa e determinada forma económica que a identificam e sem as
quais não teríamos a indicação do “estatuto” de matriz das relações de produção
dominante. A regulação da economia pela constituição demonstra-nos que esta não
contém somente a organização e actividade dos órgãos do poder político, o modo de ser
das relações entre indivíduos e Estado, mas também contém um princípio estrutural de
todo de vida social, com destaque para a economia, ainda que de forma implícita.

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3.2.Origens históricas da Constituição económica
O conceito de constituição económica é consagrado e amplamente desenvolvido,
de modo pioneiro, pela Constituição política de Wainer (1919), Alemanha. É nesta que
se insere no seu texto normas e princípios fundamentais de organização e de actividade
económica. Embora, outras constituições anteriores como a Lei Fundamental soviética
de 1918, e a mexicana de 1917, contivessem já uma ordem económica explícita. Ela
inspirou constituições posteriores como a espanhola de 1931, a portuguesa de 1933 e a
brasileira de 1934.45 Depois da Segunda Guerra Mundial, várias outras constituições
foram surgindo e já dedicavam de forma clara alguns preceitos à conformação da vida
económica. Assim, podemos concluir que os princípios do Direito da Concorrência
podem ser encontrados na Constituição Económica, sendo certo que, não abarcando
toda a ordem jurídica da economia, a Constituição vai conter apenas alguns dos
princípios da concorrência.

3.3.Constituição Económica e a protecção da concorrência em Moçambique

3.3.1. Aspectos gerais


A regulamentação da concorrência tendo surgido num contexto económico bastante
específico, sec. XIX com as Leis Anti-trust dos EUA, é nos dias de hoje uma temática
central para os Estados na prossecução das suas políticas económicas. A sua não
regulamentação nos dias que correm é tida como um mal que pode enfermar o mercado
e até a economia numa perspectiva global. Isto significa que a protecção e defesa da
concorrência é uma opção fundamental do Estado e, como tal, deve estar plasmada na
Constituição entendida como a “mater legis”, “Lex fundamentalis” da organização do
Estado. Pois da sua desprotecção podem resultar graves violações dos direitos
fundamentais dos cidadãos, colocando assim em causa o Estado de Direito democrático
que assenta no reconhecimento e valorização daqueles e demais princípios ou valores
fundamentais. Em sede da protecção constitucional da concorrência, Moçambique
trilhou um importante percurso histórico que entendemos relevante fazer a sua resenha
histórica e se divide em três fases, quais sejam:

 De 1975-1990, fase correspondente à Primeira Constituição da República de


Moçambique;
 De 1990-2004, fase correspondente à Segunda Constituição da República de
Moçambique e a
 De 2004, até os dias de hoje.

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Tomando posicionamento sobre a discussão da corrente que tem defendido a
existência de uma Constituição Económica intercalar (correspondente ao período de
1984-1990), entendemos conveniente incluir no nosso trabalho, no âmbito da resenha
histórica a que nos propomos fazer de seguida. Trata-se de um período histórico
marcado pela implementação do Programa de Reabilitação Económica e ou Social,
doravante PRE/S.

3.3.2. Protecção da concorrência na Constituição da República Popular de


Moçambique de 1975
A economia moçambicana conheceu a sua evolução com a independência do
país a 25 de Junho de 1975, iniciando assim um ciclo organizado e coerente de um
sistema económico na sua grande parte, comum a todos os outros sistemas económicos,
dos Estados modernos. Assumiu-se Moçambique desde cedo, como um país do sistema
económico socialista ou centralmente planificado, tendo expressamente consagrado
na Constituição de 1975 como um dos seus objectivos fundamentais a edificação de
uma economia independente (vide art. 4º da CRPM de 1975). Cabia ao Estado
promover a planificação da Economia (vide art. 9º da CRPM de 1975), decidir sobre as
três questões fundamentais da economia, quais sejam: o que produzir, como produzir e
para quem produzir?

O sector económico do Estado era dominante e determinante, pois que era o


elemento dirigente e impulsionador da economia nacional (vide art. 10º da CRPM de
1975). Por esta razão, este sector gozava de protecção especial, sendo que todos os
sectores considerados como não estratégicos, poderiam estar sob o controlo de
propriedade privada, que na altura era tolerada, mas mediante condições que de certa
forma desencorajavam-na.

A CRPM de 1975, a de Tófo consagrava a subordinação do poder económico ao


poder político (o art. 3º reza: “A República Popular de Moçambique é orientada pela
política definida pela FRELIMO que é força dirigente do Estado e da sociedade”),
apropriação dos principais meios de produção, a planificação central da economia e a
intervenção democrática dos trabalhadores. O Estado visava a construção de um
mercado ideal em que os bens produzidos pelo sector estatal seriam homogéneo haveria
uma perfeita informação sobre os produtos e o preço dos mesmos seria estabelecido em
perfeita consonância entre as unidades produtivas e as necessidades do mercado. O

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Estado moçambicano visava, por um lado, promover o robustecimento económico do
sector estatal, apostando sobretudo em empresas estatais para a satisfação dos interesses
da colectividade e, por outro lado, restringir o sector privado fazendo com que muitas
áreas de desenvolvimento económico fossem da sua exclusiva exploração, a título de
exemplo podemos apontar as instituições de ensino, a banca, os hospitais, etc. Estes
verdadeiros monopólios instalados nesta época constitucional, constituíram um grande
obstáculo à concorrência que traz consigo a ideia de luta contra o monopólio.

Portanto, nestes termos podemos afirmar seguramente que na CRPM de 1975


não se encontravam consagradas normas de protecção e defesa da concorrência, sendo
que não estavam reunidos os pressupostos para se falar da concorrência:

 Independência dos agentes económicos


 Rivalidades entre os agentes económicos e
 Ausência de limitações legislativas nocivas à actuação dos particulares em certos
sectores da economia.

3.3.3. O período de 1984-1990 e a Implementação do Programa de


Reabilitação Económica-PRE
Em meados da década 80, Moçambique lançou um programa de ajuste estrutural
com o apoio do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, denominado
Programa de Reabilitação Económica, doravante PRE. O PRE teria como objectivo
debelar a grave crise económica e social que o país atravessava, resultado do fracasso
das estratégias de desenvolvimento socialistas adoptadas após a independência e da
guerra civil que também assolava o país até então.

Face à necessidade de dar respostas urgentes às necessidades da população, a


partir de 1983 o Estado começou a reconhecer o papel fundamental da iniciativa
privada. Em Setembro de 1987, através da Resolução nº 15/87, a Assembleia Popular
reunida na sua II sessão determinou: Aprovar o Relatório do Governo sobre o
Programa de Reabilitação Económica e o Programa de Emergência para acorrer as
deficiências económicas que caracterizavam o Estado moçambicano. Fazendo jus a essa
situação e consciente das falhas e o perigo que o centralismo económico representava, o
Estado moçambicano propôs uma reforma em todos os níveis. Reconhece-se que o
objectivo fundamental naquele momento era da eliminação drástica da intervenção
pontual do Estado em todos os níveis, principalmente nas empresas estatais ou privadas.
Assim, as decisões relativas à gestão e direcção da economia deveriam ser tomadas

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pelos agentes económicos, empresas, cooperativas e famílias visto que era impossível
gerir a economia pela via administrativa.

Este período que vai desde os contactos primários com as instituições de


Bretton Woods até a aprovação da Constituição de 1990 é denominado por alguma
doutrina como sendo A Constituição Económica Intercalar de Moçambique, já que a
mesma constitui uma mudança de rumo no sentido de abandono da filosofia da
Constituição de Tófo e o prelúdio de um novo modelo económico, formalmente
consagrado, anos depois na CRM de 1990.

3.3.4. Protecção da concorrência na Constituição da República de


Moçambique de 1990
O processo de transição iniciado em meados da década 80 teve a sua
concretização nos anos 90 quando o povo moçambicano adoptou e proclamou uma nova
constituição, designada Constituição da República de Moçambique de 1990, volvidos
15 anos após a Independência e Aprovação da primeira Constituição de Moçambique.
Trata-se de Constituição simpática à propriedade privada e mista e encorajadora das
iniciativas económicas de mercado segundo se infere do art. 41º da respectiva
Constituição de 1990. Assim, podemos firmemente dizer que o nosso legislador
Constituinte de 1990, despertou para uma necessidade de estabelecimento de um
conjunto de normas constitucionais de organização económica visando certos
objectivos, considerados só alcançáveis no quadro institucional de um mercado aberto
na maior medida possível a todos os agentes económicos e consumidores, tendo se
apercebido que a concorrência não se desenvolve espontaneamente entre as empresas
participantes no mercado.

Reconhece-se a iniciativa privada (vide o nº 1 do art. 41º da CRM 1990) e o


papel do Estado como impulsionador da participação activa do empresário nacional no
desenvolvimento económico do país (vide art. 43º da CRM 1990). Com o
reconhecimento da propriedade privada e o incentivo à iniciativa privada empresarial, o
país assistiu a abertura à iniciativa privada de sectores que até então eram
exclusivamente exploradas pelo Estado. Assim estavam solidificadas as bases para o
desenvolvimento da concorrência em Moçambique. Sintomaticamente, esta
Constituição revelou algum desinteresse pelos direitos dos consumidores. Não se pode
incentivar a concorrência se esta não se reflectir no bem-estar dos consumidores. Isto

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para evitar situações em que o consumidor em vez de ser mais beneficiado sai
prejudicado pela actuação de agentes económicos preocupados em lucros no lugar de
prestar serviços com boa qualidade.

3.3.5. Protecção da concorrência na Constituição da República de


Moçambique de 2004
A CRM de 2004 reforça abertura do mercado para a solidificação de uma
economia livre, uma economia do mercado, em que os agentes económicos são
incentivados e respeitados nas suas iniciativas. O art. 9754 da CRM de 2004 assumiu-se
como pedra angular sobre a consagração da Concorrência. Esta, à semelhança da
anterior Constituição de Tófo reconheceu o princípio da coexistência e da
complementaridade entre os vários sectores de actividade, o público, privado e o
cooperativo (vide art. 99º da CRM 2004). Ela não ficou alheia à questão do Direito dos
Consumidores (vide art. 92º da CRM de 2004). Este facto vai revestir importância na
medida em que ficam salvaguardados constitucionalmente tais direitos impondo-se ao
legislador ordinário a tarefa de concretiza-los através da lei da defesa do consumidor, a
qual já existe no ordenamento jurídico moçambicano.

Para além do investimento estrangeiro ser reconhecido, ele passou a abarcar


todas as áreas, excepto aquela que o Estado reservou para si (vide art. 108º da CRM de
2004). É certo que por motivos de elevado interesse público ou por questões ligadas à
segurança e defesa do país, pode o Estado determinar áreas que exclusivamente
explorará, mas tal limitação será nociva à concorrência se se estender
desnecessariamente para outras áreas em que nenhum motivo o justifica, a título de
exemplo o que se passava na época da vigência da Constituição do Tófo em que os
sectores de telefonia, educação, banca, etc., estavam sobre a gestão estatal.

Ao Governo coube promover e regulamentar a actividade económica e dos


sectores sociais, estimular e apoiar o exercício da iniciativa privada e proteger os
interesses do consumidor e do público em geral (al. f) do nº 1 e d) do nº2 do art. 204º da
CRM de 2004. Quanto a nós, a actuação do Governo na área de concorrência terá como
base este dispositivo. Trata-se, portanto, de um texto legal que melhor se aproxima às
exigências que se impõem ao Estado na construção do mercado concorrencial.

Depois de feita a resenha histórica das Constituições moçambicanas,


constatámos que na CRPM de 1975 não havia liberdade da iniciativa económica, e

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portanto não se podia falar da concorrência. É na década 80, com a implementação do
PRE que houve o despontar da concorrência em Moçambique, tendo se solidificado na
CRM de 1990 e melhor ainda na CRM de 2004. Portanto, corolário da própria
consagração constitucional, podemos afirmar que o exercício da iniciativa económica
privada e, por conseguinte, da concorrência é no nosso ordenamento livre desde que
respeite os limites e o valor que as normas constitucionais têm. Contudo sobre estes
limites colocam-se duvidas porque a própria constituição nada diz, havendo a
necessidade para o efeito, duma lei ordinária e sua respectiva instituição para o efeito.

Entretanto, no que concerne à lei ordinária e Entidade reguladora da Concorrência,


Moçambique apresenta uma lacuna. Em consequência dessa lacuna resultam outros
problemas objectos de estudo no capítulo que se segue.

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IV. CONCLUSÕES
A não protecção da concorrência é hoje tida como um mal que pode enfermar o
mercado e até a economia numa perspectiva global. Quer isto dizer que a defesa da
concorrência é uma opção fundamental do Estado e, como tal, deve estar plasmada a
nível da constituição já que da sua desprotecção podem resultar graves violações dos
direitos fundamentais dos cidadãos. É com a constituição económica que o Estado vai
definir e assegurar uma equilibrada concorrência entre os agentes económicos, cabendo
ulteriormente ao legislador ordinário concretizar e estabelecer a garantia desse direito.

Feita a resenha histórica, notabilizou-se que nem sempre o Estado moçambicano


protegeu a concorrência nas suas constituições. A CRPM de 1975, caracterizou-se pela
consagração do modelo económico socialista, onde o Estado detinha monopólio sobre
quase todos sectores da economia e a propriedade privada era limitadamente
reconhecida. Estes monopólios são contrários à ideia da liberdade da concorrência. É
com o PRE que foram lançadas as sementes que possibilitaram o despontar da
concorrência empresarial em Moçambique. Configurou-se como primeira evidência,
ainda que precária, o desenvolvimento do mercado comercial moçambicano.

As constituições de 1990 e 2004 vêm reforçar a abertura do mercado,


solidificando uma economia livre e de mercado em que os agentes económicos são
incentivados e respeitados nas suas iniciativas. Portanto, podemos afirmar que a
concorrência em Moçambique foi primordialmente consagrada ano nível constitucional,
cumprindo ao nosso legislador ordinário regular sobre todas as práticas consideradas
anti concorrenciais que são bastantes nefasta para uma concorrência sã, leal e justa. É
imprescindível defender a concorrência, não somente por razões económicas, mas
também por razões políticas e sociológicas, ou seja, a concorrência é indispensável
numa sociedade que se pretende democrática, onde haja uma liberdade de escolha dos
consumidores e que a mesma não seja viciada pela pressão de empresas e, onde o
Estado exerce o seu poder de fiscalizador imparcial da economia.

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V. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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2. AMATO Giuliano, Antitrust and the Bounds of Power, Oxford: hart publishing
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21
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publicado no Boletim da Republica (BR) nº15, I serie, publicação oficial da
Republica de Moçambique, Maputo;
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publicada no Boletim da Republica (BR) nº 38, I serie, publicação oficial da
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2007 e publicada no Boletim da Republica (BR) nº 45, I serie, 3º suplemento, de 12
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