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Beira
2023
Luísa Isabel Disse
Docente:
Dr. Eusébio Lambo
O presente trabalho constitui
Uma avaliação parcial na disciplina
De Direito Economico a ser apresentado
Na universidade Alberto Chipande
Sob orientação Dr. Flora Eusébio Lambo
I. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 4
V. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA................................................................................. 21
I. INTRODUÇÃO
O regime jurídico da Concorrência em Moçambique constitui o tema para a
Licenciatura em Ciências Jurídicas pela Universidade Chipande. Este tema enquadra-se
na Disciplina do Direito Economico, leccionada no 3° Semestre do 2° ano do Curso.
Constitui tema de grande relevância para actualidade, na medida em que com a
liberalização do comércio, quer ao âmbito nacional, regional assim como mundial
regista-se o crescimento maior da procura e oferta nos mercados, afigurando-se
importante que os Estados adoptem normas que defendam e protejam a concorrência
com vista a torna-la leal, justa e eficaz.
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II. ORIGEM E CONCEPÇÕES DOUTRINÁRIAS DE CONCORRÊNCIA
2.1.Origem da Concorrência
A concorrência entre os agentes económicos num certo mercado, ocorre desde as
primeiras trocas comerciais que se tem na memória. E essa concorrência é tão natural
que sem ela, o comércio perderia a sua essência. Contudo, o espírito da concorrência
entre os agentes económicos, nunca foi assimilado pacificamente, de maneiras que
coube ao Estado adoptar medidas tendentes a controlar as apetências dos vários agentes
económicos. Sullivan e Grimes referem-se a medidas reguladoras aplicadas na cidade
de Atenas, durante a guerra com Esparta, para evitar que um cartel de importadores de
cereais limitasse as vendas e forçasse a uma subida dos preços.
Na verdade, o direito da concorrência (antitrust law) não foi, como bem salienta
Giuliano Amato, uma criação dos economistas ou uma descoberta dos especialistas em
direito comercial. Foi uma resposta assumidamente política para um problema crucial
da economia de mercado: o de equilíbrio entre a liberdade de iniciativa privada e
respectivos corolários, como a liberdade de organização e a autonomia contratual, e a
necessidade de controlo do poder económico privado, de modo a que este não constitua
uma ameaça àquela liberdade. A maneira como este dilema tem sido resolvido, a favor
de uma maior ou menor intensidade do controlo sobre o poder económico privado,
constitui uma opção política, mesmo que fundamentada em sofisticadas teorias
económicas ou complexas construções jurídicas.
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2.2.Conceito da Concorrência
Entende-se concorrência, a competição entre vários agentes económicos com
vista a atingirem a supremacia no mercado em relação aos demais e caracteriza-se pela
pluralidade de actuações convergentes, na medida em que existe uma pluralidade
indiscriminada de fornecedores de bens e serviços que se dirigem a uma pluralidade
indiscriminada de consumidores. Na economia usa-se o termo num sentido mais
restrito, caracterizando as relações (económicas) que se estabelecem entre os que num
mercado oferecem e procuram mercadorias ou serviços. A concorrência emana
directamente da liberdade da iniciativa económica, ou seja, da possibilidade de quem
quer que seja, em princípio poder ter acesso às diversas actividades económicas, que
estão na base da própria criação da riqueza e realização pessoal no ponto de vista
económico. Dai que a liberdade da iniciativa económica de acesso ao mercado, de
criação de empresas de determinado ramo, tenha como corolário infartável a liberdade
concorrencial. A concorrência deriva assim da própria pluralidade de necessidades, por
um lado, e de bens e serviços por outro. Neste contexto, a ideia de concorrência surge
intimamente ligada ao mercado e sobretudo à ideia de "liberdade económica". Assim, a
concorrência vai significar rivalidade aberta no mercado entre compradores e
vendedores de um bem ou serviço.
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concorrenciais e a protecção do consumidor”. Já o Direito em sentido Subjectivo não
pode ser tomado como um conjunto de normas, mas antes é visto na perspectiva do
Homem em relação a essas mesmas normas, tendo em conta a situação que para ele é
criada por elas. Neste entendimento, “Direito Subjectivo corresponde ao poder ou
faculdade-provindos do Direito Objectivo de que dispõe uma pessoa, e que se destina a
realização de um interesse juridicamente relevante. Portanto, o Direito da
Concorrência em sentido Subjectivo, refere-se a liberdade de actuação dos agentes
económicos, ou seja, a liberdade de ingressar e actuar num mercado determinado. Trata-
se de uma prerrogativa ou faculdade de cada individuo.
2.4.Conceito do mercado
Existem várias definições do mercado. Na sua acepção primitiva, a palavra
mercado dizia respeito a um lugar determinado, onde os agentes económicos realizavam
transacções. A título ilustrativo, os textos da história económica citam os grandes
mercados de antiguidade, como: o de Marselha, no Mediterrâneo de Bizâncio e de
Calcedónia, Ásia, de Naucratia, no Egipto, de Veneza e Génova, na Itália Medieval. Por
tradição histórica, este conceito chegou até os dias actuais. O mercado permanece, por
tradição, como, um lugar definido, especialmente edificado, para o encontro de
produtores e consumidores, com o propósito de ajustarem a procura e oferta, através da
formação dos preços.
Assim, pode definir-se o mercado como o conjunto das ofertas e das procuras
de um certo bem, postas em contacto em determinado momento para gerar a troca na
base de um preço. Mas já na sua acepção económica mais ampla, o conceito do
mercado está bem distante dessa tradição da conotação geográfica. Mercado é agora
“um espaço abstracto onde se encontram a procura e a oferta agregada dos agentes
económicos, cujos objectivos contraditórios se harmonizam, em cada momento, através
dos preços de transacção entre eles”. Por exemplo hoje em dia é comum ouvir
executivos de grandes empresas industriais ou do sector financeiro falarem das
dificuldades com que eles se defrontam no mercado. Nesse sentido eles não se estão a
referir a nenhum espaço geográfico, mas sim a uma abstracção económica. Embora
vários conceitos do mercado sejam possíveis, o que enfatiza seus atributos económicos
é o fundamento nas tensões decorrentes de duas forças em princípio antagónicas, as da
procura e as da oferta. Em termos gerais, um mercado dir-se-á concorrencial quando
exista uma pluralidade de vendedores e de compradores, tal que, para determinado
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produto, haja uma liberdade de escolhas: “faculdade de eleger entre um grande número
de possibilidades e, portanto, de excluir aquelas que, em termos comparativos, são as
menos satisfatórias”.
Concorrência perfeita;
Monopólio;
Oligopólios e
Concorrência monopolística.
As classificações mais simples de estruturas de mercado fundamentam-se apenas no
número de agentes envolvidos em cada um dos dois lados, o da procura (compradores)
e o da oferta (vendedores). STACKELBERG, em 1934 propôs este tipo. Entretanto, os
elementos diferenciadores não se limitam, como sugeriu a classificação pioneira de
STACKELBERG, ao número de agentes económicos envolvidos. Vai além, incluindo
factores comportamentais, as características dos recursos e produtos transaccionados, o
controle que os participantes têm sobre o preço, as possibilidades de concorrência
extrapreço e as condições para o ingresso de novos competidores no mercado. Na
concepção de STACKELBERG, as estruturas do mercado que se observam na
realidade não se limitam às hipóteses da concorrência perfeita (em que se fundamentou
a tradição teórica dos séculos XVIII e XIX) e do monopólio puro (em que se
fundamentaram as críticas mais agudas aos pressupostos clássicos e neoclássicos).
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apenas um preço, definido pelas forças da oferta e da procura, ao qual todos se
submetem.
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parte dos mercados definia-se por uma combinação de duas estruturas referenciais: o
monopólio e a concorrência perfeita. Esta estrutura contém características que se
encontram nas definições usuais de mercados perfeitamente competitivos e
monopolizados. Na concorrência monopolística, o número de concorrentes é grande.
Todavia, cada concorrente possui suas próprias patentes ou, então, diferencia de tal
forma seus produtos que passa a criar um segmento próprio de mercado, que então
dominará e procurará manter. O consumidor, todavia, encontra facilmente substitutos,
não ocorrendo dessa forma a caracterização essencial do monopólio puro. Determinada
patente ou determinado elemento de diferenciação pode significar, como de facto
significa, certa monopolização. Mas, havendo outros concorrentes com bens ou serviços
similares e substitutos, haverá também concorrência. Em síntese, as principais
características desta estrutura de mercado são: competitividade, diferenciação,
substituibilidade, preço-prémio, baixas barreiras.
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por grupos de interesses homogéneos e colocado ao seu serviço exclusivo ou
preferencial. Defender a concorrência, contribui pois também para a transparência da
própria vida política.
Este sistema abstrai dos resultados efectivos das restrições à concorrência para
centrar a sua atenção no perigo que estas, por si mesmas, representam. Trata-se de um
sistema, a título de exemplo, o da legislação dos Estados Unidos da América, que
defende que as leis da defesa da concorrência, devem proibir práticas consideradas
lesivas da concorrência pelo simples perigo (ainda que presumido) que estas
representam.
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no mercado através dos quais concretamente se manifeste a concentração económica.
Procura apenas reprimi-los quando por particulares condicionalismos, se revelam
prejudicais ao "interesse geral" declarando ilícitos os acordos ou práticas que produzam
efeitos negativos na concorrência, não justificando por outras razões.
Mas pode haver liberdade para competir sem que exista uma efectiva liberdade
de concorrência em sentido objectivo, sem que exista um mercado concorrencial. Para
que exista liberdade de concorrência em sentido objectivo, é necessário que cada agente
económico tenha autonomia em relação aos demais intervenientes no mercado e não
esteja imune aos mecanismos da oferta e da procura, isto é, é indispensável que cada
agente, individualmente considerado ou concertado com os demais, não possa
determinar as condições do mercado.
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III. REGIME JURÍDICO MOÇAMBICANO DA CONCORRÊNCIA
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3.2.Origens históricas da Constituição económica
O conceito de constituição económica é consagrado e amplamente desenvolvido,
de modo pioneiro, pela Constituição política de Wainer (1919), Alemanha. É nesta que
se insere no seu texto normas e princípios fundamentais de organização e de actividade
económica. Embora, outras constituições anteriores como a Lei Fundamental soviética
de 1918, e a mexicana de 1917, contivessem já uma ordem económica explícita. Ela
inspirou constituições posteriores como a espanhola de 1931, a portuguesa de 1933 e a
brasileira de 1934.45 Depois da Segunda Guerra Mundial, várias outras constituições
foram surgindo e já dedicavam de forma clara alguns preceitos à conformação da vida
económica. Assim, podemos concluir que os princípios do Direito da Concorrência
podem ser encontrados na Constituição Económica, sendo certo que, não abarcando
toda a ordem jurídica da economia, a Constituição vai conter apenas alguns dos
princípios da concorrência.
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Tomando posicionamento sobre a discussão da corrente que tem defendido a
existência de uma Constituição Económica intercalar (correspondente ao período de
1984-1990), entendemos conveniente incluir no nosso trabalho, no âmbito da resenha
histórica a que nos propomos fazer de seguida. Trata-se de um período histórico
marcado pela implementação do Programa de Reabilitação Económica e ou Social,
doravante PRE/S.
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Estado moçambicano visava, por um lado, promover o robustecimento económico do
sector estatal, apostando sobretudo em empresas estatais para a satisfação dos interesses
da colectividade e, por outro lado, restringir o sector privado fazendo com que muitas
áreas de desenvolvimento económico fossem da sua exclusiva exploração, a título de
exemplo podemos apontar as instituições de ensino, a banca, os hospitais, etc. Estes
verdadeiros monopólios instalados nesta época constitucional, constituíram um grande
obstáculo à concorrência que traz consigo a ideia de luta contra o monopólio.
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pelos agentes económicos, empresas, cooperativas e famílias visto que era impossível
gerir a economia pela via administrativa.
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para evitar situações em que o consumidor em vez de ser mais beneficiado sai
prejudicado pela actuação de agentes económicos preocupados em lucros no lugar de
prestar serviços com boa qualidade.
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portanto não se podia falar da concorrência. É na década 80, com a implementação do
PRE que houve o despontar da concorrência em Moçambique, tendo se solidificado na
CRM de 1990 e melhor ainda na CRM de 2004. Portanto, corolário da própria
consagração constitucional, podemos afirmar que o exercício da iniciativa económica
privada e, por conseguinte, da concorrência é no nosso ordenamento livre desde que
respeite os limites e o valor que as normas constitucionais têm. Contudo sobre estes
limites colocam-se duvidas porque a própria constituição nada diz, havendo a
necessidade para o efeito, duma lei ordinária e sua respectiva instituição para o efeito.
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IV. CONCLUSÕES
A não protecção da concorrência é hoje tida como um mal que pode enfermar o
mercado e até a economia numa perspectiva global. Quer isto dizer que a defesa da
concorrência é uma opção fundamental do Estado e, como tal, deve estar plasmada a
nível da constituição já que da sua desprotecção podem resultar graves violações dos
direitos fundamentais dos cidadãos. É com a constituição económica que o Estado vai
definir e assegurar uma equilibrada concorrência entre os agentes económicos, cabendo
ulteriormente ao legislador ordinário concretizar e estabelecer a garantia desse direito.
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V. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
1. ALFREDO, Benjamim, Noções Gerais do Direito Económico, Maputo, 2010;
2. AMATO Giuliano, Antitrust and the Bounds of Power, Oxford: hart publishing
1997,
3. DE SOUSA, A. “Análise Económica”, Lisboa: Universidade Nova, 1988;
4. DE MOURA, F. P, “Lições de Economia”, Lisboa: Clássica, 1969;
5. DE MONCADA, Luís S. Cabral, “Direito Económico”, Coimbra editora, 2000;
6. EIRO, Pedro, noções elementares de Direito, Editorial Verbo, 1999;
7. ESTEFANIA, Joaquim, “A Nova Economia”, editorial presença, 1ª edição,
Lisboa, 1996;
8. FERREIRA Eduardo Paz, Direito da Economia, Lisboa, AAFDL, 2001;
9. MARTINS, T., “Capitalismo e Concorrência”, Coimbra, 1973;
10. MARQUES, Maria Manuel Leitão, “Um Curso de Direito da Concorrência”,
Coimbra editora, 2002;
11. PRATA, Ana, Dicionário Jurídico, 3ª edição, Almedina, Coimbra, 1992;
12. POSNER, Ricard A. Antitrust Law an Economic Perpective, 2ªed, Chicago;
13. ROSSETTI, “Introdução à Economia”, 17ª ed. São Paulo, 1997;
14. ROSSETTI, José Paschoal, “Introdução à Economia”, 20ªed. Novo texto
reestruturado e actualizado, São Paulo, 2009;
15. RUSSELL, Bertrand, O Poder. Uma Nova Análise Social, 2ª ed. Lisboa
Fragmentos, 1993;
16. SANTOS, António Carlos dos, et al, “Direito Económico”, 5ª edição, Coimbra,
2004;
17. SIMÕES, Patrício, J. “Direito da Concorrência (aspectos gerais)”, gráfica
imperial, Lda., 1982;
18. STIGLER George, “the organization of industry”, Chicago University, Press,
1968;
19. WATY, Teodoro Andrade, “Direito Económico”, Maputo, 2011;
20. XAVIER, A. Subsídios para uma Lei da Defesa da Concorrência, Lisboa, 1970
www.google.pt.com (Autoridade da Concorrência, consultado no dia 26/06/2023)
Constituição da República Popular de Moçambique, de 25 de Junho de 1975.
Publicada no Boletim da Republica (BR) nº 1, I serie. Publicação Oficial da
República Popular de Moçambique, Maputo;
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Constituição da República de Moçambique, de 2 de Novembro de 1990. Publicada
no BR nº44, Iª Serie, publicação oficial da República de Moçambique, Maputo;
Constituição da República de Moçambique, de 22 de Dezembro de 2004. Publicada
no BR nº51, Iª Serie, publicação oficial da República de Moçambique, Maputo;
Decreto nº 4/2006 de 12 de Abril aprova o Código da Propriedade Industrial,
publicado no Boletim da Republica (BR) nº15, I serie, publicação oficial da
Republica de Moçambique, Maputo;
Lei nº 22/2009 de 28 de Setembro, aprova a Lei da Defesa do Consumidor,
publicada no Boletim da Republica (BR) nº 38, I serie, publicação oficial da
Republica de Moçambique;
Política de Concorrência, aprovada pelo Conselho de Ministros a 24 de Julho de
2007 e publicada no Boletim da Republica (BR) nº 45, I serie, 3º suplemento, de 12
de Novembro de 2007, Maputo.
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