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SAI ÀS SEGUNDAS DOSSIERSEFACTOS.COM FACEBOOK: DOSSIERS & FACTOS

50Mt

DIRECTOR: Serôdio Towo | Segunda-Feira,30 de Outubro de 2023| Edição nº: 535 | Ano: 10 | Distribuição: Online

FRELIMO PODERÁ FESTEJAR O FIM DA OPOSIÇÃO

Pág 03 e 04

À beira
do mono
partidarismo
Será mérito da Frelimo ou desorganização da oposição?
BURUTSUTSU: A MATA ONDE NÃO SE ENTRA SEM AUTORIZAÇÃO

Quem o faz não sai

- Com cenário funéreo e encantador,
o local parece um universo paralelo
Centrais

JOSINA RESGATA FRASE DO PAI PARA AVISAR REGIME

“Quando usas armas,

já perdeste poder”Pág 05
 2 EDITORIAL DOSSIERS & FACTOS 30 de Outubro de 2023 SEGUNDA-FEIRA

Sem ordem, não há progresso

A ordem é uma condição sine qua non
para que haja progresso. É assim em
qualquer parte do mundo e em todo o
tipo de actividade. Não é por acaso, os
clubes com os melhores resultados no
desporto são aqueles que garantem a
estabilidade da direcção, mas, sobretudo,
da equipa técnica. Os que optam pelo
caminho inverso vivem uma constante
de desaires com fugazes momentos de
sucesso, muitas vezes não alicerçados no
trabalho, mas em factores imponderáveis.
Não é do desporto que este artigo se
debruça, mas sim, do País. Moçambique
vive momentos de grande tensão desde
a realização das VI Eleições Autárquicas,
no passado dia 11 de Outubro. A
tensão tende a escalar à medida que os
órgãos eleitorais proclamam resultados
que, para a oposição, não encontram
correspondência com a realidade.
Como sabemos, a Renamo, que
oficialmente não venceu qualquer dos 65
municípios, reivindica vitórias em alguns,
incluindo nas cidades de Maputo, Matola,
Quelimane, Nampula e Nacala Porto.
Confiante na sua contagem paralela, o
partido pôs-se desde a primeira hora a
fazer as chamadas “marchas da vitória”
que rapidamente transformaram-se em
“marchas de repúdio” aos resultados
anunciados pela Comissão Nacional de
Eleições.
Se nos primeiros dias estes eventos
decorreram sem qualquer incidente,
o que até levou o cabeça-de-lista da
Renamo na cidade de Maputo, Venâncio
Mondlane, a elogiar a postura da Polícia
da República de Moçambique (PRM),
depois da aprovação dos resultados pela
Comissão Nacional de Eleições (CNE) a
coisa mudou de figura.
As marchas realizadas no último sábado,
27 de Outubro, foram marcadas por graves
episódios de violência, havendo registo de
mortos e feridos. Foi um dia de autêntico
terror, em que a polícia deixou de merecer
os elogios que recebera há apenas poucos
dias. Efectivamente, a actuação dos
homens da Lei e Ordem deixou a desejar,
na medida em que desrespeitou a Lei em
acima de tudo, o direito à vida.
Com recurso a balas verdadeiras, a
polícia fartou-se de alvejar manifestantes
indefesos. Em Nampula, aliás, há indicação
de que até uma criança de três anos, que
certamente apenas teve o infortúnio de
estar no lugar errado na hora errada,
foi alvejada mortalmente. Ora, isto é
inaceitável e injustificável. Reconhece-se,
até porque várias imagens o confirmam,
que determinados cidadãos aproveitaram-
se do movimento desusado provocado
pelas manifestações para promoverem
actos d depredação, sobretudo de bens
privados. Ainda assim, não cabe na cabeça
de ninguém minimamente consciente que
as forças policiais precisem de uma AKM-
47, que é arma de guerra, para neutralizar
tais indivíduos.
I nfelizmente, esta é uma situação
recorrente no País. O regime do dia é
alérgico a manifestações de desagrado,
mesmo que estas não sejam tão perigosas
quanto uma borboleta. Para dissuadi-
las não hesita em mobilizar material de
guerra e aplicar a força bruta em toda a sua
extensão, o que mostra o quão despreza
a vida dos cidadãos a quem jurou servir.
O problema é que esta postura é
contraproducente para o próprio regime
e, em última análise, para o País. É que,
cada vez que se porta desta forma, perde
um pedaço da sua já pouca legitimidade e
alimenta ressentimentos que, por sua vez,
podem conduzir à violência generalizada.
Isso é particularmente preocupante numa
altura em que todo o mundo parece agir
a quente.
Não nos queremos posicionar em relação
à alegada vitória da Renamo. O que é facto,
porém, é que, pela primeira vez, a “perdiz”
ganhou a batalha da comunicação. Sua
narrativa é amplamente aceite pela
sociedade, sobretudo pelos jovens.
Este é o sentimento que transborda
nos cafés, bares, igrejas, universidades,
sendo de alguma forma confirmado pela
impressionante adesão às suas marchas.
Há uns anos, era difícil imaginar que
este partido pudesse arrastar tamanha
moldura humana nas cidades do sul, que
sempre foram bastiões da Frelimo.
Estes jovens, pelo que se vê, obedecem
cegamente ao chamamento dos seus
l í d e re s, n o m e a d a m e n t e Ve n â n c i o
Mondlane, António Muchanga, Manuel
de Araújo, entre outros. Ora, é aqui onde
mora a grande preocupação. É que,
eventualmente tomados pelo sentimento
de indignação, não raras vezes alguns
destes líderes perdem discernimento e
proferem discursos que apelam ao ódio e
incitam à violência.
Bastas vezes ouvimos Venâncio Mondlane
garantir que, se provocados pela polícia,
“vamos esmagar”, ou que “não nos vamos
responsabilizar pela fúria popular ”.
Exemplos similares abundam em todos
os territórios onde a Renamo reclama
triunfos, pelo que estamos numa situação
absolutamente perigosa.
Estes discursos inflamam emoções e
podem levar os jovens a estarem dispostos
a “dar tudo”, incluindo desafiar a polícia – já
houve confrontações no sábado – o que
inevitavelmente provocara um banho de
sangue.
Cientes de que ninguém deseja tal desfecho,
sentimo-nos na responsabilidade de
exortar os políticos a moderarem os seus
discursos. Concomitantemente, apelamos
a contenção por parte dos agentes da
PRM. Só assim se evitará uma situação de
caos que, certamente, não beneficiará a
ninguém. Afinal, não há progresso sem
ordem.
serodiotouo@gmail.com

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 SEGUNDA-FEIRA 30 de Outubro de 2023
DO MULTIPARTIDARISMO AO MONOPARTIDARISMO
Frelimo poderá festejar o fim da
oposição no país
A
história multipartidária de Mo-
çambique, iniciada com a apro-
vação da Constituição de 1990,
revela o enfraquecimento da
oposição a cada ciclo eleitoral, ao mesmo
tempo que o partido no poder, a Frelimo,
se fortalece. Dossiers & Factos recupera os
resultados eleitorais oficiais, quer das ge-
rais, quer das autárquicas, e estes não dei-
xam margem para dúvidas: a oposição está
a “desaparecer” e o monopartidarismo
está à espreita. A que se deve este cenário?
À boa governação da Frelimo, desorgani-
zação da oposição ou ao propalado “jogo
sujo” do partido no poder, que faz com que
não tenha havido, até hoje, eleições livres
de contestação?
D&F Texto: Serôdio Towo
Fortemente contestados pela Renamo e não só, os
resultados oficiais das VI Eleições Autárquicas de Moçam-
bique, realizadas no passado dia 11 de Outubro, revelam
que a oposição tem tendência a desaparecer do xadrez
político, quer ao nível da governação, quer ao nível da fis-
calização e legislação.
Os resultados aprovados pela Comissão Nacional de
Eleições (CNE) colocam, caso nada se altere, – cabe ao Con-
selho Constitucional validá-los – a Renamo sem qualquer
autarquia para gerir, uma vez que a Frelimo “limpou” tudo,
excepto a cidade da Beira, que continua bastião do Movi-
mento Democrático de Moçambique (MDM).
Confirmando-se os resultados anunciados pelos ór-
gãos eleitorais, será a quarta vez que o segundo maior
partido do país ficará fora da gestão autárquica. Em 1998 e
2013, a “perdiz” optou por boicotar as eleições municipais.
Nas primeiras eleições estavam em causa problemas no re-
censeamento de eleitores e critérios de selecção das vilas
e cidades que teriam o estatuto de município, enquanto
Joaquim Chissano, primeiro presidente democraticamente eleito
DOSSIERS & FACTOS
Armando Guebuza, antigo PR
nas quartas a Renamo exigia alterações à Lei Eleitoral. Já
em 2008, sofreu uma pesada derrota, perdendo os poucos
municípios que controlava.
O MDM, por sua vez, sairá do processo eleitoral ora em
curso como entrou, ou seja, apenas com a cidade da Beira
sob sua égide. Mas o “galo” já controlou, para além da ca-
pital provincial de Sofala, os municípios de Quelimane e
Gurue, ambos situados na província da Zambézia.
Renamo num déjà vu
O que está a acontecer com a Renamo no presente ano
cheira à déjà vu. De certa forma, é como se a história de
2008 se estivesse a repetir, e com os mesmos contornos
dramáticos. É que, depois de boicotar as eleições de 1998,
a perdiz estreou-se em 2003 conquistando Beira, Angoche,
Nacala Porto e Ilha de Moçambique.
Era a primeira vez em Moçambique que partes do terri-
DESTAQUE 3
tório nacional eram geridas por um partido que não fosse a
Frelimo. A perspectiva da perdiz seria, certamente, ampliar
o seu raio de acção nas eleições seguintes, mas o que se
viu em 2008 foi um desaire. O partido à época liderado por
Afonso Dhlakama perdeu em todas as autarquias, que vol-
taram às mãos da Frelimo.
Tal como em 2023, há 15 anos Beira foi a única cidade
que permaneceu nas mãos da oposição, mormente de
Daviz Simango, que concorreu como independente, após
desavenças com a direcção da “perdiz”.
Ascensão e queda
Com a estrondosa derrota de 2008, a Renamo ficou fora
do xadrez político autárquico por 10 anos, uma vez que,
como já assinalámos acima, também abdicou de participar
da corrida de 2013. Assim, seu regresso viria a verificar-se
em 2018, nas quintas eleições municipais.
Já sob liderança de Ossufo Momade – Afonso Dhlaka-
ma perdera a vida em Maio do mesmo ano – a Renamo
conquistou oito dos 53 municípios em disputa, nomea-
damente Nampula, Quelimane, Chiúre, Cuamba, Malema,
Nacala Porto, Ilha de Moçambique e Angoche. À excepção
de Quelimane, Chiúre e Cuamba, todas as outras autar-
quias são da província de Nampula.
Volvidos cinco anos, e de acordo com a CNE, o partido
não só não conseguiu renovar seus mandatos nos muni-
cípios em causa, como também não conquistou nenhum
outro território. Confirmando-se as actuais estatísticas, o
único consolo da “perdiz” será a sua cada vez maior aceita-
ção em territórios antes “hostis”.
A nível das cidades de Maputo e Matola, por exemplo,
não obstante o facto de os números oficiais actuais serem
inferiores aos de 2018, fica a ideia de que a popularidade
do partido está em crescendo. Mas há, ainda na zona sul do
País, regiões onde a crescente aceitação da Renamo é com-
provada pelos números. É o caso de Vilankulo, na província
de Inhambane, onde perdeu pela tangente.
Eleições gerais confirmam tendência para enfraqueci-
mento da oposição
A situação dramática da oposição ao nível das eleições
 4 DESTAQUE DOSSIERS & FACTOS 30 de Outubro de 2023 SEGUNDA-FEIRA

autárquicas é extensiva às presidenciais e legislativas, con-

firmando-se a progressiva perda de influência que amea-
ça devolver ao país aos tempos do monopartidarismo,
pese embora esteja salvaguardada a existência formal dos
partidos.
Neste capítulo, os números são claros. Em 1994, nas
primeiras eleições da história do País, Joaquim Chissano,
com 53,30% dos votos, até venceu com uma distância re-
lativamente confortável em relação a Afonso Dhlakama,
que obteve 33,73%. No entanto, ao nível das legislativas, a
Renamo acossou a Frelimo, ao conseguir 112 assentos na
Assembleia da República, contra 129 da Frelimo, com os
restantes nove a ficarem com a União Democrática.
Na eleição seguinte, em 1999, Dhlakama quase alcan-
çou a glória, mas ficou-se pelos 47,7% dos votos, contra
52,3% de Chissano. No Parlamento, os dois maiores parti-
dos cresceram, com a Frelimo a sair de 129 deputados para
133 e a Renamo a saltar de 112 para 117.
Era a última vez que se assistia ao equilíbrio entre as
duas forças políticas, pois a seguir começaram a emergir
os primeiros sinais de grande preocupação nas hostes da
oposição. Sucessor de Joaquim Chissano em 2004, Arman-
do Guebuza infringiu uma “derrota retumbante” a Afonso
Lutero Simango, presidente do MDM
Dhlakama. Com 63,7% dos votos, Guebuza duplicou os
31,7% obtidos pelo seu mais directo concorrente. Na As-
sembleia da República, os contornos eram mais graves, na
medida em que a Renamo passou de 117 assentos para
90, enquanto o partido no poder chegava à casa dos 160.
Maioria esmagadora!
MDM: sol de pouca dura
Ossufo Momade, presidente da Renamo
longa caminhada no deserto, passando
de 49 para 89 parlamentares. A Frelimo
seguiu, ainda assim, com a maioria – 144
parlamentares.
Os últimos pleitos eleitorais, realizados
em 2019, viriam, no entanto, a causar san-
gria aos dois partidos da oposição, sendo
que o MDM, com apenas seis deputados,
esteve à beira do desaparecimento da AR.
A Renamo caiu para 60, enquanto a Fre-
limo agigantou-se, chegando aos 184 as-
sentos, enquanto o seu candidato, Filipe
Nyusi, alcançava a maior vitória da histó-
ria, com 73% dos votos.
O partido no poder também triunfou
nas eleições das Assembleias Provinciais,
que aconteciam pela primeira vez, tendo,
por isso, o controle de todas as províncias
do País.
O histórico eleitoral desperta curio-
sidade em relação às eleições gerais do
próximo ano. Tendo em conta a surpreen-
dentemente asfixiante vitória da Frelimo
nas autárquicas, vistas pelos especialistas
como antecâmara das gerais, há temores
de que, em termos práticos, a oposição
poderá ficar ainda mais fragilizada, pese
embora seja notório que não é essa a
vontade do eleitorado, como mostra, aliás, o nível de ade-
são às marchas organizadas pela “perdiz”. Aliás, a actual
capacidade de mobilização da
oposição pode igualmente indi-
ciar que a Frelimo poderá vir a ter
surpresas, desde que haja organi-
zação e capacidade de fiscalização
do escrutínio marcado para 2024.
põem a jeito quando relegam à coesão interna ao último
plano, vendendo uma imagem de movimentos desorga-
nizados. A fuga de cérebros do MDM, por conta de desa-
venças com as lideranças, é disso exemplo.
A morte dos líderes e o avanço da Frelimo
Não será de negligenciar, também, as mortes de Afon-
so Dhlakama e Daviz Simango, que lideravam a Renamo
e MDM, respectivamente. Dhakama, lembre-se, perdeu
a vida em Março de 2018, enquanto Simango deixou o
mundo dos vivos em Fevereiro de 2021.
Num espaço de pouco mais de dois anos, a oposição
viu-se órfão dos seus principais rostos, ambos carismáticos
e com forte capital político. É consensual que a sua pre-
matura partida fragilizou não só os respectivos emblemas
partidários, que se confundiam com os próprios rostos,
mas também a democracia em Moçambique.
A história das reivindicações repete-se ciclicamente
O actual movimento de contestação aos resultados
eleitorais não é uma novidade no País. Basta recordar que
não há memória de a Renamo alguma vez ter aceite os re-
sultados dos pleitos, sejam eles autárquicos, sejam gerais.
De resto, as tensões político-militares que dilacera-
ram o País entre 2013 e 2017, com pausa para a realiza-
ção das gerais de 2015, resultaram da não-aceitação dos
resultados proclamados pela CNE, porque alegadamente
fraudulentos.

2009 Representou a continuidade do mau momento Culpa da Frelimo ou demérito

de forma da “perdiz”, que não só assistiu à revalidação do da oposição?
mandato de Armando Guebuza, como viu as coisas piora-
rem na Casa do Povo, onde teve sua bancada parlamentar A queda à pique da oposi-
reduzida a 49 deputados, contra os sufocantes 191 do par- ção carece de explicação. Não
tido do “batuque e maçaroca”. havendo estudos cabais sobre a
Entretanto, em meio à grave crise instalada no seio da matéria, há hipóteses que podem
Renamo, emergia o MDM com promessas de manter viva a ser levantadas. A primeira seria a
oposição. Fundado por dissidentes da Renamo, o “galo” co- eventual boa performance dos
meteu a proeza de conquistar oito assentos na AR, naquela Governos liderados pela Frelimo,
que era sua primeira aventura a este nível, o que era ainda fazendo com que o eleitorado não
mais assinalável considerando que concorreu apenas em tenha “olhos para mais ninguém”.
quatro círculos eleitorais. Por outro lado, pode ter que
Já as eleições seguintes, de 2014, foram marcadas pela ver com o alegado uso de mano-
eleição de Filipe Nyusi para o seu primeiro mandato (obte- bras dilatórias por parte do parti-
ve 57%, contra 36% de Dhlakama e 6% de Daviz Simango) do no poder, mormente as fraudes
e pelo crescimento do MDM, que mais do que duplicou eleitorais e outras estratégias para
os seus assentos anteriores, passando a ter 17 deputa- fragilizar os partidos da oposição.
dos. A Renamo também voltou a crescer depois de uma Certo é que estes também se Mortes de Dhlakama e Simango fragilizaram oposição
 SEGUNDA-FEIRA 30 de Outubro de 2023 DOSSIERS & FACTOS DESTAQUE 5

FAMÍLIA MACHEL DESILUDIDA COM O REGIME

"Se usas armas contra o povo, já

perdeste poder"
A
Frelimo de Filipe Nyusi poderá es-
tar a conhecer os maiores índices
de impopularidade da história, o
que torna ainda mais curiosos os
resultados eleitorais oficiais das VI Eleições
Autárquicas, que atribuem vitória ao “ver-
melhão” em 64 das 65 autarquias do País.
A direcção actual acumula desafectos não
só da sociedade como de alguns dos mais
sonantes “camaradas”. É o caso da família
Machel, que em vários momentos não es-
conde a desilusão com o actual regime.

D&F Texto: Amad Canda

Recentemente, Samora Machel Júnior tomou as pa-

rangonas depois de criticar frontalmente, por um lado, a Graça Machel, antiga primeira-dama de Moçambique
actuação da polícia em Chiúre (província de Cabo Delga-
do), onde terá assassinado quatro cidadãos, e, por outro, o patrão”. que deu azo ao 07 de Abril recuperou, no último sába-
acções que, nas suas palavras, colocam em causa a lisu- Todavia, a maior manifestação de indignação de Gra- do, 28 de Outubro, as palavras do próprio pai sobre o uso
ra das eleições ça Machel com a “actual Frelimo” terá sido a retirada da da força por parte do Estado. “Quando pegas em armas
autárquicas de sua candidatura a membro do Comité Central (CC), em que são para defender o povo e atiras contra esse mesmo
11 de Outubro 2022, num XII Congresso marcado pelo reforço do poder povo, já perdeste o poder. É só uma questão de tempo”.
que, de acor- do presidente do partido, Filipe Nyusi, que ganhou com Pelo timing – um dia depois de a polícia alvejar mani-
do com as 100% de votos, estatística que, mesmo vinda de um par- festantes em Maputo, Nacala Porto e Nampula – a publi-
autoridades tido habituado a “vitórias retumbantes e esmagadoras”, cação de Josina Machel sabe à condenação a despropor-
oficiais, re- não deixa de impressionar. cional actuação dos comandados de Bernardino Rafael,
sultaram na Ao abdicar do CC, entendem os analistas, Graça Machel que, em Março, foram capazes de farejar “tentativa de
vitória da Fre- estava a dizer, num silêncio ruidoso, que não se quer mis- golpe de Estado” numa simples homenagem.
limo em 64 das turar com os actuais timoneiros em cujos ideais, aparen- Nessa altura, aliás, a activista foi mais cáustica, ao “ata-
65 autarquias temente, não se revê. car” Nyusi depois que este acusou a Sociedade Civil de
do País, o que querer derrubar a Frelimo.
é fortemente Os disparos da Josina “Este é um esforço contínuo e incansável para reprimir
contestado pela a sociedade civil em Moçambique. Que absurdo é esse?
oposição. Aparentemente mais discreta que Graça Machel e “Sa- Muitos de nós somos membros da Frelimo e servimos ao
O filho do pri- mito”, Josina Machel tornou-se, nos últimos anos, numa povo contra quem você levantou armas no sábado [18 de
meiro Presidente das personalidades mais críticas ao regime do dia. Seus Março, dia das marchas em homenagem ao Azagaia]”.
de Moçambique in- registos de discórdia e desilusão são, sobretudo, feitos Tudo indica, portanto, que os membros da família Ma-
dependente conde- nos “murais” das redes sociais, especialmente no X, antigo chel estarão pouco satisfeitos perante a possibilidade de o
Twitter. partido e o Estado que o pai ajudou a fundar estarem em
Samora Machel Júnior, membro do CC da Frelimo Vigilante, a activista que ostenta o nome da heroína vias de se afundar.
na acções supostamente levadas a cabo por alguns dos
seus camaradas e que “vão na contramão dos valores
fundamentais do nosso partido, do Estado de direito e da
democracia”. Apela, por isso, a uma espécie de purificação
de fileiras e defende trabalho incansável para que os valo-
res do partido sejam “restaurados e protegidos”.
É o último, mas Samora Machel Júnior está longe de
ser o único elemento da família Machel a manifestar desi-
lusão face à actual situação do partido Frelimo e do País.
Graça Machel, sua mãe, tem sido igualmente incisiva nas
críticas ao regime liderado pela formação política de que
é membro.
Uma das suas últimas aparições nesse registo deu-se
em Abril do presente ano, em Maputo. Alguns dias depois
de a Polícia da República de Moçambique reprimir com
violência marchas pacíficas em homenagem ao falecido
rapper Azagaia, a também activista instava os jovens a
perderem o medo, que é, na sua opinião, a “maior barrei-
ra às liberdades”.
A viúva de Samora Machel recordou a célebre frase de
tomada de posse de Filipe Nyusi, segundo a qual “o povo
é o meu patrão”, antes de afirmar que “temos que lem-
brar a estes que nos oprimem que nós [o povo] somos Josina Machel, activista social
 6 DESTAQUE
DE PERSEGUIDO A PERSEGUIDOR
“Povo de Deus” impõe actos satânicos
na Palestina
- Do discurso à acção, tudo indica estar-se em presença de um genocídio
H
á três semanas que Israel bom-
bardeia ininterruptamente a Fai-
xa de Gaza, na Palestina. Estas
acções, diz o governo de Tel Aviv,
constituem resposta ao ataque relâmpago
do grupo Hamas, protagonizado no dia 07
de Outubro, causando mais de mil vítimas
mortais. No entanto, a flagrante despro-
porcionalidade da alegada réplica, asso-
ciada aos discursos supremacistas dos go-
vernantes israelitas, leva a crer estar-se em
presença da reedição do holocausto com
actores diferentes.
D&F Texto: Amad Canda
As imagens de milhares de palestinos a invadirem o
centro de ajuda humanitária das Nações Unidas para
obter itens básicos, especialmente alimentos, revelam
o carácter cruel do regime de Benjamim Netanyahu.
Para eliminar o grupo de milícias Hamas, Israel aposta
despudoramente em duas estratégias: Intensos e indis-
criminados bombardeamentos e cerco total ao enclave
de Gaza, privando a população de absolutamente tudo.
Tudo mesmo. Desde água, luz a alimentos.
O resultado, sem espanto, é catastrófico. Actualização
feita no último domingo, 29 de Outubro, pelas autorida-
des de Saúde em Gaza, dava conta de pelo menos 10 mil
mortos vítimas dos bombardeios. Mais de 500 resultam
do horrendo ataque aos Hospital Al Ahly – o mais antigo
da região -, acto que Israel quis, cinicamente, imputar ao
Hamas apresentando como prova, pasme-se, um vídeo
do ano passado.
Limpeza étnica com requintes hitlerianos
10 Mil mortos em pouco mais de 21 dias já é, de per si,
Gaza está a ficar em ruínas, como prometeu Israel
DOSSIERS & FACTOS
Desespero leva palestinos a invadirem centro humanitário das NU
prova provada de que o objectivo de Israel é mais do
que eliminar o Hamas, grupo visto no ocidente como
terrorista e no resto do mundo como força de resistên-
cia à colonização sionista. É cada vez mais cristalino
que o propósito é promover limpeza étnica na Faixa
de Gaza, a qual, provavelmente, e segundo estimam
analistas, seguir-se-á a anexação.
Se as assustadoras estatísticas, embora categóricas,
ainda deixam dúvidas, os próprios governantes israeli-
tas tratam de as dissipar, e os registos são abundantes.
Comecemos pelo chefe do Governo, para quem “nós
[israelitas] somos o povo da luz e eles [palestinos] das
trevas”. “Nós transformaremos Gaza numa Ilha de ruí-
nas”, assevera Netanyahu, em tom sádico.
Destruição total é o evangelho mais pregado por
aqueles que se arrogam povo legítimo de Deus (quem
não o é?) e isso é notório até nas palavras do presi-
dente Isaac Herzog, quando defende que “não há civis
inocentes em Gaza”, uma cidade com cerca de dois mi-
30 de Outubro de 2023 SEGUNDA-FEIRA
lhões de habitantes, dos quais apenas cerca de 40 mil
compõem as fileiras do Hamas.
Israel parece pretender fazer agora o que não fez
antes. É a ideia que transborda do discurso do seu mi-
nistro das Finanças, Bezalel Smotrich, quando garante
que “vocês [palestinos] só estão aqui por erro, porque
Bem Gurion [antigo primeiro ministro] não terminou o
trabalho de vos expulsar em 1948”.
À la Hitler, a retórica supremacista e desumanizado-
ra do “outro” – na circunstância dos palestinos – é uma
característica comum entre os mais altos dignatários is-
raelitas, não tivesse o ministro da Defesa, Yoav Gallant,
os classificado como “animais”, como que a parafrasear
o veterano de guerra Erza Yacin, para quem os referidos
“animais” não deviam ter o direito de viver.
No afã de dizimar completamente os palestinos,
numa saga que lembra o holocausto de que eles pró-
prios foram vítimas em tempos da Alemanha nazi, os
judeus ousaram votar contra a resolução das Nações
Unidas que impõe cessar-fogo imediato, ao lado dos
seus padrinhos – Estados Unidos da América – e de ou-
tros 12 países.
O estímulo ao anti-semitismo
Habituado a vencer a guerra das narrativas, o oci-
dente, que desta vez decidiu apoiar o invasor (Israel)
e não o invadido (Palestina), está a deparar-se com
uma surpresa desagradável. A empatia de que os ju-
deus gozaram durante largos anos, em solidariedade
às perseguições de que foram vítimas, parece estar a
derreter-se qual gelo exposto à radiação solar.
Ao contrário do que seria de esperar, até em função
do que sucede em relação ao conflito entre Rússia e
Ucrânia, desta vez a esmagadora maioria parece “arre-
gimentada” pela causa palestina, como o comprovam
as marchas de solidariedade até nas principais cida-
des ocidentais.
Mais do que isso, a prepotência de Israel começa
a despoletar uma onda de anti-semitismo com po-
tencial para tirar sossego ao seu próprio povo. A in-
vasão ao aeroporto de Daguestão – uma das várias
repúblicas da Federação da Rússia - por centenas de
cidadãos que procuravam por judeus é um aviso a
não ser ignorado.
 SEGUNDA-FEIRA 30 de Outubro de 2023
E se a polícia não transmite segurança aos
A fase de preocupação massiva atinge
a sociedade a cada dia. Andar pelas estra-
das torna-se sinónimo de “amedrontação”
quando nos cruzamos com um policial que,
na sua tentativa (incorreta) de exercer a sua
“função/trabalho”, põe em causa diversos
direitos individuais dos cidadãos.
De um lado temos cenários de policiais
que fazem patrulhas nas noites, cruzam-se
com jovens brincando, convivendo nas ar-
térias das suas zonas, e mesmo mostrando
um documento que lhes identifique, vão
continuando com a cena de os amedrontar
no sentido de arrancar algumas moedas,
justificando que não se podiam fazer a lo-
cais do gênero de noite. Mas se não vamos
brincar nas nossas zonas, casas, onde nos
aconselham a ver a luz da lua?
Outros cenários são de policiais que até
metem a mão no bolso do cidadão, che-
gando até a tirar a carteira do bolso de
jovens arrepiados de tanto medo imputa-
do por aqueles que muito os queriam ver
sendo seus aliados. Uhm...tempos definem
os mundos e caracterizam os cenários que
vêm num futuro próximo!
Recentemente, vi dois jovens sendo mal-
tratados por três policiais que faziam pa-
trulha na zona da Mafalala, puxados com
“chambocos” enquanto ouviam: “hoje va-
mos te mostrar quem somos”... “vamos te
lavar para dar uma volta para que nos res-
peites”. Tais afirmações que continuam sen-
do uma autêntica prova da fragilidade que
pode existir na formação do corpo policial,
ou ainda da necessidade de conscienciali-
zação e capacitação frequente dos agentes
da polícia no que tange à sua postura.
Espero que a associação que foi formada
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DOSSIERS & FACTOS
ACTIVISIONISMO
cidadãos?
Sérgio dos Céus Nelson
com o intuito de defender os direitos poli-
ciais não traga mais hegemonia/poder aos
mesmos, mas sim crie sessões ou aulas por
forma a continuar a capacitação dos agen-
tes da polícia, para perceberem como usar
da sua autoridade e como confrontar os
cidadãos.
O cenário que se vive hoje é de um au-
têntico terror. Já não se pode confiar nos
agentes da polícia, porque quando o cida-
dão caminha vê sua pasta revistada de for-
ma imprudente, são-lhe exigidos recibos de
pertences, muitas vezes sem fundamenta-
ção. Ora, não se vai obrigar a sociedade a
andar com recibos de tudo quanto compra,
senão teria que andar com recibos de rou-
pas interiores também.
É preciso que o modo de actuação dos
agentes da polícia comece a ser modera-
do, porque são actos que podem e são jul-
gados por lei. Não se pode brincar com os
direitos dos cidadãos de forma banalizada,
como se os policiais pudessem fazer e des-
fazer, como se ninguém os pudesse pena-
lizar. É caso para dizer que ainda há muita
limpeza por ser feita e são muitas cinquen-
tinhas pagas por cidadãos amedrontados,
mesmo estando no seu direito.
Muitas vezes andamos pelas estradas e
vemos jovens sendo “escoltados” por agen-
tes da polícia. Alguns, com certeza, de má
conduta. Mas no meio desses, há muitos jo-
vens que são ameaçados por andarem com
seus pertences. Mas a coisa é a seguinte:
prometem levar os jovens à esquadra para
provarem que os bens lhes pertencem, e
muitas vezes, pelo medo de já não ter como
provar , os jovens acabam pagando algum
no sentido de calar a boca aos policiais, e
OPINIÃO 7
não terem que chegar à esquadra, local que
deixou de transmitir segurança à sociedade.
Os tempos são outros por aqui. Se não se
tomar posições e atitudes com vista a dimi-
nuir o muito “poder” que se vê nos agentes
da polícia, certamente que vamos ter, nos
próximos tempos, cenários desastrosos. Na
verdade, já existem: rupturas com os direi-
tos humanos de diversas vertentes, e nisso
fica a dúvida: será que os agentes da polícia
nos transmitem segurança ou mais medo...
insegurança e atentado aos nossos direitos
fundamentais?
É caso para dizer que os bons tempos em
que andávamos “de mãos dadas” com os
policiais já se foram. Houve tempos, ainda
que não fossem perfeitos, em que ver um
policial significava segurança e esperança
de ver coisas mudarem, de ver índices de
criminalidade reduzidos e muitas vezes
sentimos orgulho de ter uma força policial
com a qual nos identificávamos. Mas hoje
é totalmente o contrário, porque alguns
agentes continuam sendo os que mais in-
fringem a lei e desestruturam o bem-estar
social.
A sociedade já está exausta de ser apon-
tada com AKM’s: Não quer ver armas no
rosto de seus filhos. A máquina da justiça
precisa ser reformulada...debatida e colo-
cada em meditação para ver que soluções
tomar, pois a desarmonia social e o medo
vão continuando a ser o que reina no pei-
to de muitos cidadãos que já não sabem se
podem sorrir enquanto caminham pelas ar-
térias da Cidade de Maputo.
E assim vai continuando o nosso país...
sem saber do que dele será feito nos próxi-
mos tempos.
 8 OPINIÃO
É subjectiva a ideia segundo a qual é
do pequeno que se torce o pepino. Para
alguns, esta temática gera centralida-
de meramente razoável. Culpabiliza-
-se questões conjugais ou paternais na
educação de uma criança. Pelo muito ou
pouco, também a culpa é jogada para a
sociedade em que esta criança ou jovem
é inserida. Verdade ou mentira, o facto é
que a delinquência juvenil na sociedade
actual em Moçambique é visível e en-
grossa a camada suburbana.
O horizonte utópico que se multiplica
na vida dos jovens adolescentes em Mo-
çambique levanta inquietações pela falta
de mecanismos que devolvam a moral e,
possivelmente, um sentido correcto de
educar e inserir uma criança na socie-
dade para a formação do jovem do ama-
nhã. Pretende-se aqui fazer objecção ao
fraco papel do estado moçambicano na
busca e criação de mecanismos que sir-
vam para a construção de uma mentali-
dade juvenil com identidade e perspec-
tivas do amanhã.
É bom para a firmação do futuro da
Nação quando se discute as dimensões
do pensamento da juventude, o seu de-
senvolvimento, e a transformação da sua
mentalidade baseada na influência de
media global e das redes sociais.
O jovem João, do beco da Mafalala, na
cidade de Maputo, do Bairro Torrone,
na cidade de Quelimane, e do subúrbio
da Munhava, na cidade de Beira, e.t.c,
são pessoas diferentes. Embora com
mesmo nome, têm na educação paternal
um diferencial, para alé das idades, que
variam dos 15 a 18 anos. Embora te-
nham nascido em bairros em que pulula
a marginalidade, a questão recorrente é:
será que são eles vítimas de um circui-
to de boladas e discriminação que lhes
submeta a este tipo de ambiente? Ou
são influenciados a aceitar a convivência
normal com o submundo?
Estamos numa época em que a droga,
DOSSIERS & FACTOS
PRIMEIRO PONTO
A formação dos vândalos
Nobre Rassul
a pornografia, o álcool, o sexo e a am-
bição desmedida pelos bens matérias
aproximam os jovens a perigosas amiza-
des que residem no seu meio, numa fase
em que o mesmo (jovem) busca harmo-
nizar os seus desejos.
O contexto é: a estética da nossa lei
sobre a convenção e protecção de meno-
res não faz uma análise lúcida sobre os
fenómenos rurais e urbanos sistemáti-
cos que colocam a juventude em meio a
actos de agressão, furto, burla, estupro,
chantagem para extorsão ou mendiga-
gem. Claro, os efeitos do alto custo de
vida e falta de um sistema de ensino ba-
silar que aprimora o ramo técnico-pro-
fissional e a oportunidades de emprego
no sector privado propiciam ineficácia
de políticas para combater a pequena e
alta marginalidade.
O Estado é visto como a vaca leiteira
que não se quer desmamar para o res-
surgimento de um leite mais viscosa.
A recorrente falta de tudo ocasiona as
crises de estresse social que propiciam
a malandragem, gatunagem na gíria po-
pular. É certo que a procura de assistên-
cia psicossocial e a mendigagem são ou-
tros fatores associados.
Na educação de infância e juvenil,
urge a necessidade de colocação de psi-
cólogos nas escolas para o acompanha-
mento dos estudantes, com vista a aju-
dar a colmatar os derivados problemas
sociais, psicológicos e morais que os
jovens levam consigo no seu quotidia-
no. Infelizmente, são notórias as difi-
culdades do Estado na resolução destes
problemas.
A produção do conformismo pelo
Estado moçambicano e da sociedade
é deveras preocupante, pela tendência
crescente de delinquência juvenil e com-
portamentos nefastos emanados por es-
tes, alguns ligeiros, outros graves e por-
tanto sujeitos a penas pouco compatíveis
com a idade, numa situação em que nem
30 de Outubro de 2023 SEGUNDA-FEIRA
há instituições apropriadas para tal.
Sem dúvida, a hipótese de pedir
maior vigilância aos pais à educação dos
filhos como forma de procurar acautelar
superficialmente o mal existente remete
sempre a sociedade e a uma analogia que
questiona o outro lado da moeda, essen-
cialmente o papel do governo no com-
bate ao crime comum, melhorias na ges-
tão de conteúdos maliciosos na media e
redes sócias, tendo em conta que até a
televisão mãe “TVM” e catastrófica.
No fim do dia, esta tendência medío-
cre do Estado moçambicano e da socie-
dade deriva dos comportamentos des-
viantes imprimidos pela dinâmica da
globalização, para a qual não nos prepa-
ramos. Temos o exemplo de programas
de televisão que trazem cenas obscenas
a olho nu, permitindo que crianças e jo-
vens assistam e imprimam no seu dia a
dia.
Quero afirmar aqui a estatística de
uma juventude perdida nos seus vícios,
na delinquência normalizada ou na
ideologia normalizadora e criminaliza-
dora da actual juventude em formação.
Os problemas gerados por esta juven-
tude, na minha análise, são resultados
ocasionados pela fome e pobreza extre-
ma, pela vaidade e ganância ou pela in-
fluência do meio em que se vive. Receio
que a Nação venha a lutar futuramente
por questões de ética e moral equipa-
radas a realidade actual sul-africana,
em que os saques e comportamentos de
vandalismo à bens públicos e privados
são recorrentes em pequenas revoltas
populares. A pobreza e falta de empre-
go de uma juventude que cresceu excluí-
da de privilégios e sem rumo aparente
encontra outras formas de sustentabili-
dade quando de facto se agrava a crise
social.
No livro “Pneu em chamas”, Jorge de
Oliveira cita: " está escrito na pobreza,
pela mão do pneu chegará a insurreição.
 SEGUNDA-FEIRA 30 de Outubro de 2023
MAYITABASSA!
“Incompetência” da CNE cria revolta popular
Por: NkassanaWaka-Tembe–nkassana@gmail.com.org
Nossa pátria amada está numa si-
tuação de desespero. Tudo depende
da vontade de Deus, pois os homens
mostraram-se impotentes para evitar
que o País entrasse num caos. Como
construtores de opinião, fizemos cha-
madas de atenção através de mais
de uma dezena de artigos que aqui
colocamos para o consumo público.
Parecíamos profetas quando, em tom
agudo, dissemos que era preciso en-
contrar formas mais seguras e coeren-
tes de gerir todas as etapas necessá-
rias nestas eleições municipais. Uma
gestão que devia ter sido coberta de
transparência, algo que infelizmente
não pudemos testemunhar.
Chamamos atenção para a necessi-
dade de o processo eleitoral ser uma
verdadeira festa, ao invés de palco
de derramamento de sangue. Pedi-
mos maior transparência no processo,
alertámos sobre prováveis convulsões
sociais que o processo iria trazer em
casos de mau juízo. Pena que nossa
recomendação foi, mais uma vez, mul-
tiplicada por zero.
Não há espaço para compreender
tamanha irresponsabilidade dos ad-
ministradores dos processos elei-
torais, assim como não há espaço
também para encontrar a verdadeira
razão ou motivação daquele com-
portamento selvagem verificado em
alguns partidos políticos que fizeram
parte deste escrutínio. Sabendo da
importância do processo, era de todo
agrado que medidas de prevenção de
ilícitos eleitorais fossem tomadas.
O processo de 11 de Outubro foi
viciado e os mentores desta viciação
estão bem identificados. São figuras
que, à luz do dia, deixaram de pensar
por Moçambique. Pessoas que, ao in-
vés de servir à Nação, construir e con-
solidar nosso sentido de democracia,
pensaram apenas em benefícios indi-
DOSSIERS & FACTOS
viduais. Quiseram, de noite para o dia,
sair da “pobreza”, deixando-se corrom-
per por quem dinheiro tem e demais.
Cabe à justiça moçambicana repor a
ordem e a tranquilidade no seio dos
moçambicanos. É preciso que a justi-
ça seja implacável e que responsabili-
ze todos aqueles que, mais uma vez,
quiseram, a seu bel-prazer, pontapear
os ditames da Constituição da Repú-
blica. Cabe sim às entidades da justi-
ça colocar na barra do Tribunal todos
aqueles que quiseram e conseguiram
manchar o processo, cometendo vá-
rios ilícitos, desde o enchimento das
urnas, preenchimento de boletins de
voto em locais clandestinos, negação
de assinar editais, privação de obser-
vação e participação activa por parte
dos partidos da oposição, o que inclui
limitação do gozo de liberdade de im-
prensa por parte de alguns órgãos de
comunicação social.
Sabendo da génese do que é justi-
ça, ou seja, processo que duma forma
transparente e imparcial busca factos
para responsabilizar a quem crimes
eleitorais comete, tem aqui o tribunal
a responsabilidade de repor a ordem
e justiça para todos.
Precisamos que a CNE seja respon-
sabilizada pelos actos cometidos a
todos os níveis. Infractores que agi-
ram em nome desta entidade devem
ser julgados e condenados como for-
ma de desencorajar que processos
idênticos aconteçam no futuro. Aliás,
é preciso lembrar que, em 2024, os
moçambicanos, e à luza da Constitui-
ção, serão, mais uma vez, chamados a
participar das eleições presidenciais,
legislativas e das Assembleias Pro-
vinciais, pelo que é este o momento
de corrigir e apagar definitivamente
todas as anomalias e viciações deste
tipo de escrutínio.
Não merecemos ter uma equipa tão
OPINIÃO 9
maquiavélica como esta que lidera
os destinos dos processos eleitorais,
e pior quando se concluem que ho-
mens lá presentes, para além de servir
à nação na gestão desta actividade,
são também homens confiados para
a transformação social, através da pu-
rificação das almas, se considerarmos
o papel e responsabilidade destes na
pregação do evangelho. Então, não faz
nenhum sentido que a honestidade e
pura verdade sejam elementos em fal-
ta nas acções de gestão dentro deste
órgão. São pessoas que advêm de ór-
gãos de maior consideração e respei-
to, mas mesmo assim não podem di-
zer que atitudes e práticas mal ilícitas
sejam alvos da nossa admiração.
Os tribunais não devem abanar e
precisam de se manter firmes e con-
victos nas decisões que virão dos
mesmos. É preciso considerar que só
o sistema de justiça pode evitar que
o caos se torne realidade. Precisamos
de encontrar formas de “arrefecer” a
fúria dos jovens, nem que tenha de
nos custar o corte de qualquer tipo
de relação com pessoas ou entidades
próximas. Estamos a agir em defesa
da lei e, mais uma vez, negamos que
nossas ruas e avenidas sejam banha-
das de sangue.
Por uma democracia genuína e aglu-
tinadora, que os prejudicados nestas
eleições sejam ressarcidos e resposta
à verdade eleitoral.
Aos partidos políticos, apelamos à
calma e serenidade. É preciso evitar
discursos que possam levar à violên-
cia, principalmente no seio da cama-
da jovem. Deixemos que tomadores
de decisão tenham espaço necessá-
rio para dirimir todo o conflito e, em
nome paz, não gostaríamos que Mo-
çambique fosse de novo mergulhado
em situações de instabilidade política.
Há espaço para o diálogo.
10 OPINIÃO
HISTÓRIAS DE VIDA
Dom Carlos Matsinhe e a sua nova
história de vida
Serôdio Towo-serodiotouo@gmail.com
Lamentavelmente, o "coitado" do
Dom Carlos Matsinhe, Bispo da Dioce-
se dos Libombos e actual presidente da
Comissão Nacional de Eleições (CNE),
num período de apenas três dias que se
seguiram à realização das VI Eleições
Autárquicas em Moçambique, deixou
de ser apenas figura de reconhecido
mérito e passou a ser bastante contesta-
do. A cada dia, vê sua imagem desgas-
tar-se, sendo inclusive adjectivado pe-
jorativamente só pelo facto de ter aceite
ser presidente da CNE.
Depois de várias décadas ao serviço
de Deus e a fazer uma carreira religiosa
de se lhe tirar o chapéu – foi ordena-
do sacerdote em 1980 – recentemente,
o diabo apareceu usando como camu-
flagem os fazedores de política, diga-se
suja, para desviar aquele que jurou ser-
vir a Deus.
Sucede que, hoje, políticos de todos
os níveis, académicos e não académicos,
diplomatas e até outros clérigos do ní-
vel dele e seus seguidores fazem contra
ele uma pressão que não se imaginaria
há uns anos. Dom Matsinhe deve estar
a atravessar os piores momentos da sua
vida, em termos de Paz e de espírito.
É que, na verdade, o Bispo vai sendo
atacado por coisas que devia ter evita-
do se tivesse escutado conselhos de al-
gumas personalidades que, na altura, o
alertaram do perigo e risco que incorria
ao aceitar aquele cargo.
Hoje é visto como péssimo, haven-
do até vozes que o apelidam de “ver-
dadeiro diabo” por tudo que acontece
depois das eleições de 11 de Outubro.
Em outras palavras, e para fazer jus à
afirmação que fiz acima, o diabo usou
os políticos para sujar o servo de Deus.
Precisamos lembrar que as eleições são
DOSSIERS & FACTOS
para beneficiar os políticos e são estes
que as organizam, orquestram tudo me-
nos alguma coisa, e depois quem fica
manchado é quem os políticos chamam
para os servir.
Olhando para os factos, Bispo Mat-
sinhe, dentro deste sinuoso percurso,
pouco terá ainda a fazer para salvar a sua
imagem. É que, da forma como a situa-
ção se encontra, dificilmente poderá se
livrar e voltar em pouco tempo a recu-
perar a sua boa e reconhecida imagem.
A pressão contra esta figura é tão
enorme que até parece ser o único que
trabalha e decide na CNE, quando, na
verdade, aquele é um órgão estrutura-
do e com princípios já regulamentados.
Com a forte pressão que se verifica nesta
contenda, o que resta ao Bispo é deixar o
lugar à disposição e procurar formas de
falar com Deus de maneira mais isenta
possível e continuar a viver e a trabalhar
como antes.
Na verdade, independentemente de
qualquer que fosse o resultado eleitoral,
a favor ou a desfavor deste ou daquele
partido, Matsinhe seria sempre crucifi-
cado pelos interessados deste processo.
Uns fazem-no de forma aberta e públi-
ca, até usando vários canais. Outros de
forma discreta e, quem sabe, de manei-
ras menos adequadas, enfim.
Os filósofos ou a filosofia explica so-
bre a fragilidade do ser humano, sobre-
tudo quando submetido à pressão no
ambiente que o rodeia, incluindo no que
tange à sua percepção física.
Aliás, e ainda segundo os filósofos, no
mundo podemos encontrar dois tipos
de pessoas, sendo que umas são as que
seguem seus próprios desejos /conheci-
mentos e outras são aquelas que seguem
os desejos dos outros. A diferença destas
30 de Outubro de 2023 SEGUNDA-FEIRA
é que as primeiras são fortes e não obe-
decem a ninguém, enquanto as outras
são débeis e só se limitam a fazer e se-
guir o que outros dizem e fazem.
Infelizmente, como humanos, somos
tão submissos, daí o facto de Dom Mat-
sinhe se ter visto encurralado, de mãos
atadas perante as circunstâncias. Por
outra, e olhando para a pressão que lhe
é feita no sentido de largar o cargo, resta
perceber se, para quem jurou aceitar ser-
vir a Deus e à Nação, seria certo deixar
o lugar por conta do barulho existente.
Enfim, Dom Carlos Matsinhe cami-
nha para a casa dos 70 anos. É casado e
pai de família. Clérigo por excelência.
É um dirigente religioso, mas hoje quis
o destino que sua personalidade fosse
penhorada por causa da luta e ambi-
ções dos outros.
Antes de terminar, uma pergunta
que não quer calar é: quanto é que um
presidente da CNE ganha e que pode
prender Dom Matsinhe àquele cargo
em troca de tantos insultos?
Basta lembrar que, dentre os di-
versos cargos que Matsinhe exerceu
com brio, foi presidente da Associa-
ção Moçambicana de Ajuda Mútua,
desempenhou papel importante para
o desenvolvimento do sector privado
na área da Educação, depois da entra-
da do multipartidarismo em Moçam-
bique. Antes, Matsinhe e membros da
congregação desenvolveram um Cen-
tro de Reabilitação de Crianças de Rua
que buscava fornecer abrigo, educação
e reintegração de crianças de rua na
sociedade.
Caso para dizer que os dias que pas-
sam de certeza servem para registar
como “História de Vida” para ele, sua
família e, quem sabe, amigos também.
 SEGUNDA-FEIRA 30 de Outubro de 2023
OLHAR INTERNACIONAL
Fórmula da paz sem as partes do conflito
Por:Ângelo Edson André Fremo
Negociações de paz entre a Ucrânia e Rús-
sia decorrem em Malta, mas sem a Rússia. Vladi-
mir Putin e nem qualquer membro do seu gover-
no de Moscovo foi convidado. A China, sempre
vista como potencial mediadora do conflito, re-
cebeu o convite, mas se recusou a participar. A
chamada "Fórmula de Paz" ucraniana, sugerida
por Volodymyr Zelensky é o tema em discussão
em Malta. O plano foi apresentado na cimeira
do G20 em Agosto de 2022. Inclui temas como
segurança nuclear, segurança energética, segu-
rança alimentar, questões humanitárias (liberta-
ção de prisioneiros e regresso de deportados),
restauração da integridade territorial da Ucrânia
e ordem internacional. E no que diz respeito à
segurança nuclear, Moscovo acusou a Ucrânia
de ter realizado um ataque com drones contra
uma central nuclear na cidade de Kursk. De acor-
do com os meios de comunicação social russos,
a defesa aérea conseguiu abater os drones. Kiev
ainda não comentou oficialmente este ataque. Já
a Agência Internacional de Energia Atómica afir-
mou ter recebido informações e ter verificado o
nível de radiação nas estações, que se encontra
dentro dos limites normais (seguros). No sába-
do, as forças russas continuaram a bombardear
a região de Kherson; na cidade e nas aldeias vizi-
nhas, sete pessoas ficaram feridas. No final do dia
de sábado, também foram ouvidos pelo menos
três explosões na região anexada da Crimea. Os
meios de comunicação ucranianos informaram
que a defesa aérea russa abriu fogo, mas "drones
não identificados continuaram a voar no céu".
Enquanto a Ucrânia tenta forçar a fórmula
da paz, sofre pressões a nível doméstico, com
familiares dos seus militares. Já foram feitas 25
mil assinaturas em várias cidades ucranianas. As
acções de protesto organizadas pelos familiares
dos militares destinam-se a exigir a desmobiliza-
ção de soldados, uma vez que muitos estão no
campo de batalha há mais de ano e meio. Eles
estão psicológica e fisicamente cansados. “Não
podem ficar desde o início da guerra a defen-
der todos os ucranianos. Precisam de descanso",
declara Viktoriia Samoilova, que tem o pai e o
marido no exército. O que se pede é a rotação
de tropas, não a simples desmobilização, numa
altura em que aumenta a pressão do exérci-
to russo em Avdivka, na região de Donetsk. Há
uma petição em curso e conta já com as 25 mil
assinaturas necessárias.
Volodymyr Zelensky detalhará a visão de Kiev
numa sessão especial do Conselho de Segurança
da ONU. Ele apresentará a sua Fórmula para a Paz
numa sessão especial do Conselho de Segurança
da ONU, em Nova Iorque. Na Assembleia Geral
das Nações Unidas, o presidente ucraniano repe-
tiu o pedido para retirar à Rússia o estatuto de
membro permanente do Conselho de Seguran-
ça.Volodymyr Zelensky. "A fórmula de paz ucra-
DOSSIERS & FACTOS
niana está a tornar-se global. Aponta soluções e
medidas que irão pôr termo a todas as formas de
armamento que a Rússia utilizou contra a Ucrâ-
nia e outros países e que poderão ser utilizadas
por outros agressores. Pela primeira vez na his-
tória moderna, temos uma oportunidade real de
pôr fim à agressão nos termos da nação que foi
atacada”.
Zelenskyy participou em vários encontros bi-
laterais e deverá debater com o presidente da
Câmara dos Representantes dos Estados Uni-
dos acerca de mais assistência para a Ucrânia,
mas Kevin MCarthy sublinha que há questões
por responder. Kevin McCarthy, Presidente da
Câmara dos Representantes: "Como se prestam
contas do dinheiro que já gastámos? Qual é o
plano para a vitória? Penso que é isso que o pú-
blico americano quer saber. O que a Rússia fez
ao invadir o país é errado. É uma atrocidade e
nós queremos certificar-nos de que terá um fim.
Também sempre disse desde o início que, seja
qual for a questão, quero uma responsabilização
por tudo aquilo em que os contribuintes, que
trabalham arduamente, gastam o seu dinheiro.
E quero um plano para a vitória”.
“Kiev pretende obter mais armas para a con-
tra-ofensiva, que tem tido até ao momento um
sucesso limitado. Mas quer também recursos
adicionais para proteger a população e infra-
-estruturas civis dos bombardeamentos russos
recorrentes, como os que visaram as cidades de
Kherson e Lviv. De facto tudo indica que a Ucra-
nia já está a perder o seu norte onde vai tentar
criar ou desenvolver uma fórmula de paz sem a
presença das partes que são vistas como belige-
rantes para negociar as suas diferenças e trilhar
um caminho que vai trazer a dita paz esperada,
mas também há um ponto muito importante
que tem que se observar nos pontos levantados
pelo presidente ucraniano perante a Assem-
bleia das Nações Unidas. Quando traz consigo
um pedido onde a Russia deveria deixar de ser
membro permanente do Conselho de Seguran-
ça, está forma de se posicionar indica que ainda
não estão preparados para trilhar o caminho da
paz que tanto desejam.
O objectivo dos Estados Unidos e seus aliados
europeus é tirar a Ucrânia da órbita de influência
russa e incorporá-la ao Ocidente. Assim, com a
Rússia fora de Conselho de Segurança, tudo está
organizado para fazer da Ucrânia um baluarte
na fronteira da Rússia. Assim, o Ocidente seria o
principal responsável pelas tensões e não os rus-
sos. Nessa estratégia há três elementos-chave.
A mais importante: expansão da OTAN. Desde
que a Guerra- Fria acabou, com a administração
de Clinton, é possível perceber uma movimen-
tação ocidental em direcção à fronteira russa.
A segunda é a expansão da União Europeia,
uma instituição económica, em conjunto com
OPINIÃO 11
a OTAN, uma instituição militar, que trata de in-
tegrar a Ucrânia economicamente ao ocidente.
Por fim, a promoção da democracia. A Revolu-
ção Laranja pautou-se na promoção da demo-
cracia na Ucrânia e em outros lugares. Realizou
a derrubada do governo para implantação de
um regime democraticamente eleito. Nesse sen-
tindo, a estratégica se trata do estabelecimento
de regimes democráticos e na esperança de que
aquele que for eleito seja pró-Ocidente, ou seja,
atingindo ao mesmo tempo dois objectivos. Esse
factor, somado a apresentação das duas fases
de expansão da OTAN em direcção a Rússia, em
1999 e 2004, percebe-se que, na verdade, quem
está expandindo em direcção à Rússia é o Oci-
dente. A grande preocupação atávica da Rússia
é a segurança. Desde o século IX, a Rússia sofreu
inúmeras invasões do leste e oeste. Destarte,
no imaginário psicossocial sempre há um olhar
desconfiado para o Ocidente e ao perceber que
esse vem demonstrando cada vez mais o seu in-
teresse de expansão no seu entorno estratégico,
ou seja, seu espaço de segurança, a preocupa-
ção aumenta. O aspecto simbólico da Ucrânia é
muito significativo. Esse país, fazendo parte da
OTAN, significa para os demais países próximos
que eles também conseguiriam e teriam, por-
tanto, a mesma alternativa, com efeito directo
na Rússia.
Na prática, a aproximação da Ucrânia com o
Ocidente, sobretudo da OTAN, significou a rejei-
ção da Rússia e poderia significar o mesmo para
os países que compõem a área natural de in-
fluência russa. A situação se agravou, pois a Rús-
sia não consegue aceitar que essa rejeição é o re-
sultado de três questões fundamentais. Primeiro,
a suspeita de os acordos firmados com os russos
serem apenas uma maneira de subjugação eco-
nómica e política para garantir sua influência.
Segundo, o modelo político e de governança
russa que privilegia uma pequena casta de es-
colhidos à custa da população em geral e, nesse
sentido, permeado por corrupção e negligência
por parte de oficiais governamentais, sobretu-
do no nível regional. Assim, não é considerado
atractivo para a população desses países em
comparação com os outros. A ameaça do Oci-
dente para a Rússia, como a imposição ideológi-
ca de um modelo no qual a ameaça principal é o
estabelecimento de instrumentos de revoluções
coloridas — “ameaças militares incluem actores
externos, factores que podem resultar em um
conflito envolvendo forças militares. Perigos mi-
litares são factores que podem escalar até uma
ameaça militar. “O maior perigo externo são os
Estados Unidos, a OTAN, e em uma escala menor
a União Europeia e o Ocidente em geral. O maior
perigo interno são as revoluções coloridas como
resultado das fragilidades internas da Rússia, in-
cluindo questões étnicas e religiosas.
 12 PLANO DE FUNDO DOSSIERS & FACTOS 30 de Outubro de 2023 SEGUNDA-FEIRA

O MISTERIOSO LUGAR SOBRE O QUAL POUCO SE SABE EM INHAMBANE

Burutsutsu: o beco que “mata” na

Unidade Residencial de Mongue
A
unidade residencial de Mongue,
no bairro de Tinha-Tinha, dis-
trito da Maxixe, na província de
Inhambane, reserva memórias de
um povo rodeado de mistérios que, de cer-
to modo, aterrorizam quem pela primeira
vez escala aquele ponto do País. Trata-se
da famosa mata sagrada, conhecida por
ser responsável pelo desaparecimento de
banhistas que ali procuram lazer. As comu-
nidades têm dificuldades de explicar, com
exactidão, a história da mata que se con-
funde com as fábulas, mas os líderes locais
são unânimes em associar o fenómeno com
a presença de curandeiros que frequentam
aquele local à procura de algumas plantas
medicinais para o tratamento de algumas
doenças, sendo primeiro obrigados a pas-
sar por um local conhecido por "Burutsut-
su", a fim de cumprirem com um ritual tra-
dicional, vulgo Kuphahla.

Texto: Anastácio Chirrute,

D&F
em Inhambane

Para compreenderemos a história de uma popu-

lação que convive há muitos anos com memórias
que, particularmente, têm um condão de “terror”, a Local onde curandeiros fazem kupalha
nossa equipe de reportagem deslocou-se à unidade
residencial de Mongue, que dista aproximadamente meia. o consentimento destas estruturas, nunca mais volta
25km da cidade da Maxixe. Porque a estrada é de ter- Foi necessário recorrer às lideranças locais, visto à casa.
ra batida, a viagem dura sensivelmente uma hora e que reza a história que, quem por lá tentar chegar sem Para não fugirmos à regra, contactámos os secretá-
rios da zona e outras lideranças de modo a seguirmos
as regras exigidas. No caso, a cerimónia tradicional,
vulgo Kuphahla, para comunicar aos espíritos sobre a
chegada, na zona, de novos visitantes, de modo a que
tudo corra sem sobressaltos.
Na ocasião, fomos avisados que, para iniciarmos
com a referida cerimónia, deveríamos pagar um valor
de 1200 meticais. Porque não dispúnhamos do valor,
tentámos negociar e beneficiámos de um desconto
até 200 meticais.

Cenário funério

Da paróquia à famosa mata sagrada, percorremos,

Local é atraente, mas perigoso para quem não é cumpridor
a pé, mais três quilómetros. É que o local é de difícil
acesso para viaturas, embora seja um ponto turístico
bastante atraente, pois, bem mais a frente, existe uma
bela praia pronta para ser desfrutada, mas que tam-
bém está cheia de mistérios.
Campas cobertas de árvores de cajueiro chamam
a nossa atenção. O medo e a ansiedade aumentam,
cada vez mais, à medida que nos aproximamos da
mata.
Afinal, o cenário funéreo ilustra onde jazem os
restos mortais dos donos das terras que, por sinal,
eram curandeiros muito respeitados na época, e que
foram os primeiros a fixar residência em Mongue, ten-
do, algum tempo depois, decidido baptizar a zona
pelo nome da família Chilundo. É nesse local onde os
curandeiros buscam os medicamentos tradicionais
para o tratamento de certas doenças.
 SEGUNDA-FEIRA 30 de Outubro de 2023 DOSSIERS & FACTOS PLANO DE FUNDO 13
Aliás, o local também é reservado a cerimónias para
qualquer visitante e curioso que decida visitar a zona.

Regras inflexíveis
Da paróquia à famosa mata sa-
O líder tradicional do segundo escalão da unida-
de residencial de Mongue, Manuel Uane, falando em
grada, percorremos, a pé, mais
língua local (Xitsua) explicou que não é possível falar
ou conhecer a história de Mongue sem antes passar
pela cerimónia tradicional. “São regras existentes há
três quilómetros. É que o local é de di-
muitos anos, após a morte do fundador Chilundo, a
mim, como líder da zona, foi-me encarregue a respon-
sabilidade de comunicar com os espíritos sempre que
fícil acesso para viaturas, embora seja
houver necessidade de chegar à mata sagrada. É obri-
gatório cumprir com o ritual”, explicou o líder.
Nessa nossa caminhada, o senhor Uane levou a
um ponto turístico bastante atraente,
nossa equipe de reportagem para conhecer, primeiro,
uma zona muito fechada cujo acesso também care-
ce de permissão das estruturas locais, pois é onde os
pois, bem mais a frente, existe uma bela
curandeiros realizam a cerimónia tradicional conheci-
da por "kuphahla", para comunicar aos espíritos sobre
a sua chegada à zona e pedir protecção durante as
praia pronta para ser desfrutada, mas
suas pesquisas.
“Nenhum curandeiro ousa entrar na mata sem pas-
sar daqui do "Burutsutsu". Os chefes e as tribos que se
que também está cheia de mistérios.
auto-intitulavam donos da região ainda temem este casa. Só uma semana depois é que foi achado, felizmen- podíamos beber, pois não constitui nenhum perigo
local", frisou Uane, acrescentando que “há muita gen- te vivo, mas debilitado por causa da fome”, lembrou a à saúde.
te que veio aqui de carros para explorar as belezas da fonte. Do "Burutsutsu", seguimos a nossa caminhada
praia, mas, infelizmente, não conseguiu chegar, por- De seguida, explicou a história do surgimento do histórica para outro lugar, conhecido por "Kundzi",
que tinha que evocar os espíritos através da cerimónia "Burutsutsu", detalhando que foi por causa do som nome de uma anciã que viveu por aquelas bandas
tradicional”. estranho da água quando jorra naquele ponto. Para a por muitos anos. A zona também é reconhecida por
"Um dos episódios mais marcantes é de um turis- nossa segurança, fomos alertados para não tocarmos guardar histórias de desaparecimento misterioso de
ta que decidiu entrar sozinho na mata e acabou se nas coisas deixadas pelos curandeiros, sob o risco de pescadores que escalam aquelas belas praias à pro-
perdendo, não conseguiu achar o caminho de volta à não sairmos vivos daquele lugar, mas água como tal cura de mariscos para sua sobrevivência.

Trilhas são estreitas, não há espaço para carros

 14 INSS DOSSIERS & FACTOS 30 de Outubro de 2023 SEGUNDA-FEIRA

EM NHAMATANDA

Funcionários do INSS capacitados em relações

públicas
5
5 Técnicos do Instituto Nacional de
Segurança Social (INSS), das dife-
rentes áreas de atendimento pú- "O acto de formação em Atendi-
blico, proveniente das delegações
provinciais das regiões norte, centro e sul mento e Relações Públicas para fun-
cionários do INSS tem a relevância, na
do país, estão a ser capacitados, desde Se-
gunda-feira, 23, no distrito de Nhamatan-

medida em que actualização das práticas

da, província de Sofala, em matérias de re-
lações públicas e atendimento ao público.

D&F Texto: Cortesia

Discursando na cerimónia de abertura do
evento, com a duração de cinco dias, o delegado
provincial do INSS de Sofala, Jaime Chicamisse,
que procedeu à abertura da capacitação, em re-
presentação da Direcção-Geral, destacou que o
acto de formação visa permitir a harmonização e
consolidar as ferramentas já contidas no seio da
comunidade do INSS, de modo a criar harmonia
nos processos de trabalho.
“O acto de formação em Atendimento e Rela-
ções Públicas para funcionários do INSS tem rele-
vância, na medida em que permite a actualização
das práticas sobre atendimento de excelência ao
sobre atendimento de excelência ao pú-
blico é a condição indispensável para um
ambiente de relacionamentos saudáveis
interna e externamente"
público, que é a condição indispensável para um
ambiente de relacionamentos saudáveis interna
e externamente”, frisou Jaime Chicamisse.
Na ocasião, o delegado provincial do INSS
de Sofala reiterou a necessidade de uma boa
comunicação com utentes, fortalecimento de
atendimento de excelência ao público e apri-
moramento no atendimento ao utente de forma
centralizada.
A acção de formação em matérias de relações
públicas e atendimento ao público irá abranger
275 funcionários do INSS, a nível nacional, enqua-
dra-se nas acções visando elevar o desempenho
técnico profissional dos funcionários, com intuito
de aprimorar o relacionamento e bem servir aos
utentes do Sistema de Segurança Social.
 SEGUNDA-FEIRA 30 de Outubro de 2023
ACARINHADO NA ÁFRICA DO SUL E “ENFORCADO” EM NOVA IORQUE
PGR “crucifica” Manuel Chang
D
epois de uma longa batalha judicial
perdida na vizinha África do Sul, e que
custou milhões de meticais ao Estado
moçambicano, a Procuradoria-Geral da
República (PGR) entrega a cabeça do ex-ministro
das Finanças, Manuel Chang, distanciando-se de
qualquer acto por ele cometido na contracção das
famosas dívidas ocultas.
D&F Texto: Benety Matongue
De acordo com a PGR, “Manuel Chang, extraditado para
os EUA, após cerca de quatro anos de reclusão na África do
Sul, ultrapassou a sua autoridade ao receber um suborno
multimilionário da Privinvest”.
O caso centra-se em empréstimos de mais de dois mil
milhões de dólares feitos em 2013 e 2014 para as empresas
ProIndicus, Ematum e MAM, pelo Credit Suisse e VTB.
Em teoria, os empréstimos destinavam-se, entre outras
coisas, a uma frota de pesca de atum, a estaleiros navais e à
segurança marítima, mas nenhum desses empreendimen-
tos foi concretizado. Na sequência, após denúncia da im-
prensa estrangeira e posteriormente nacional, despoletou-
-se o caso "Dívidas Ocultas".
Depois de ter sido julgado no País, com altas figuras do
antigo governo e agentes de renome dos Serviços de Infor-
mação e Segurança do Estado, com condenações por cri-
mes de corrupção, lavagem de dinheiro e abuso de poder,
com Manuel Chang, visto como peça chave da trama preso
na África do Sul, o caso conheceu novos desdobramentos
no Tribunal Comercial de Londres, onde o Governo reclama
indemnização da Privinvest.
Apresentando os argumentos de Moçambique na ter-
ça e quarta-feira, os advogados que actuam em nome da
Procuradoria-Geral explicaram que a reclamação contra a
Privinvest e o seu proprietário compreende 700 milhões de
dólares em perdas e responsabilidades potenciais de 2,4
mil milhões de dólares.
Os advogados argumentaram ainda que mais de 136
milhões de dólares em subornos foram pagos a funcioná-
rios do governo e a banqueiros envolvidos nos emprésti-
mos, sem os quais o acordo nunca teria sido aprovado.
Além disso, Moçambique alega que havia sinais de aler-
Manuel Chang, antigo ministro da Finanças
DOSSIERS & FACTOS POLÍTICA 15
Filipe Nyusi, PR
ta tão óbvios que qualquer banqueiro razoável deveria ter ciais credores.
recusado participar. As bandeiras vermelhas incluíam o co- Se os credores estivessem preocupados com o sinal de
nhecimento de que Moçambique era um País com fraque- alerta acima referido, poderiam ter analisado os planos de
za institucional e em risco de corrupção, que Iskandar Safa negócios dos três veículos para fins especiais (SPV) ProIn-
e o seu irmão eram considerados indivíduos de alto risco e dicus, Ematum e MAM. A República de Moçambique argu-
conhecidos por terem participado em pagamentos corrup- mentou que os planos de negócios pareciam superficiais,
tos, sendo necessária diligência extra devido aos acordos, sem estudos de mercado externos.
estando ligado a uma empresa de defesa e segurança e en- Por exemplo, o contrato de fornecimento do projecto da
volvendo contractos públicos, a ausência de processo de Ematum para a construção da indústria pesqueira nacional
concurso para o contracto, que o vendedor da Privinvest, era de 785,4 milhões de dólares a serem pagos no dia da
Jean Boustani, actuou como organizador do contracto de assinatura do contrato.
fornecimento e do empréstimo do banco, e que os bancos O cronograma de entrega foi estendido de seis a 19 me-
foram solicitados a enviar antecipadamente o valor total do ses após a data do contrato. No entanto, o plano de negó-
contracto. Além disso, argumentou-se que os contractos de cios da Ematum era gerar mais de 45 milhões de dólares
fornecimento eram tão claramente a favor do contratado, no primeiro ano, o que, segundo os advogados de Mo-
tendo a Privinvest o direito de aumentar unilateralmente o çambique, é comercialmente absurdo para uma empresa
preço, que isto deveria ter sido um aviso claro aos poten- sem empregados, sem licença de pesca e sem navios de
pesca a serem entregues para os primeiros nove meses.
Para a República de Moçambique, os enormes reembolsos
de juros devidos, sem nenhum plano de negócios sobre
como seriam reembolsados, representavam graves riscos
de criminalidade.
Falta de transparência como sinal de perigo
Moçambique também argumentou que a falta de trans-
parência levanta uma bandeira vermelha e que os especia-
listas concordam que se um banqueiro foi apresentado a
um SPV, então esta utilização de um SPV deve ser investiga-
da para compreender a verdadeira natureza da transacção.
Se o SPV fosse utilizado para evitar o escrutínio do FMI, isso
levantaria uma bandeira vermelha. Afirmou que banquei-
ros razoáveis e honestos investigariam estas questões.
Manuel Chang sacrificado
Grande parte da questão de Moçambique reside no
facto de saber se o então ministro das Finanças, Manuel
Chang, tinha autoridade para assinar unilateralmente uma
garantia apoiada pelo Estado para o empréstimo. Chang
está actualmente sob custódia nos Estados Unidos da
América, onde se declarou inocente das acusações de frau-
de e lavagem de dinheiro relacionadas ao escândalo das
dívidas ocultas.
• Continua na Pág 17
16 POLÍTICA DOSSIERS & FACTOS 30 de Outubro de 2023 SEGUNDA-FEIRA

COMUNICANDO NA DEMOCRACIA
Perguntámos aos internautas se conseguem
explicar o facto de Moçambique estar entre
os 15 piores países no ranking do Estado
Democrático de Direito. Eis as respostas:

M João Fidalgo
C Shandy Tsinine

Na prática, nem há democracia aqui. Vê lá que a Frelimo nada perde com isso!

M João Joaquim M Gabriel Daniel Manhica

Bom, a verdade é que Moz nunca vai funcionar. Esse

Não concordo com a posição, Moçambique deveria estado de direito democrático de que se fala por aí em
estar na última posição países sérios
 SEGUNDA-FEIRA 30 de Outubro de 2023
A República de Moçambique argumenta que Chang
ultrapassou a sua autoridade ao receber um suborno mul-
timilionário da Privinvest. Afirma que as garantias que as-
sinou ultrapassaram o limite máximo de garantias fixado
pelas leis do Orçamento do Estado de 2013 e 2014. Além
disso, o Procuradoria-Geral da República, a Assembleia da
República e o FMI foram mantidos no escuro sobre estas
garantias soberanas.
Em resumo, os advogados argumentaram que nenhum
banqueiro honesto e razoável tocaria neste negócio com
uma vara. Foi declarado que os especialistas concordaram
que um banqueiro razoável analisaria o risco cumulativo
e agravado de todos estes sinais de alerta e recusar-se-ia
a prosseguir. A apresentação terminou com o lamento de
que um especialista tinha concluído que o risco era esma-
gador e representava um dos mais claros riscos de corrup-
ção e suborno que um banqueiro poderia enfrentar.
Tendo chegado a acordo com Moçambique, o Credit
Suisse voltou o seu fogo contra a Privinvest. O seu advoga-
do, Laurence Rabinowich, argumentou que é um facto que
a Privinvest subornou funcionários do Credit Suisse. Embo-
ra a Privinvest negue qualquer irregularidade, Rabinowich
argumentou que isto não é sustentável. Ele observou que
a Privinvest argumenta que os seus pagamentos aos fun-
cionários do Credit Suisse, Andrew Pearse e Surjan Singh,
não foram subornos. Mas não houve dúvida de que esses
pagamentos foram feitos. Rabinowich argumentou que,
em geral, a finalidade dos pagamentos é irrelevante em
termos jurídicos. Um conflito de interesses entre os interes-
ses pessoais do destinatário e os interesses corporativos é
suficiente para tornar o pagamento corrupto.
Ele observou que a taxa de subvenção recebida pelo
Credit Suisse foi misteriosamente reduzida de 49 milhões
de dólares para 38 milhões de dólares depois de Jean Bous-
tani ter prometido a Pearse metade das poupanças na taxa
de subvenção. Além disso, o Credit Suisse baseia-se no tes-
temunho de Pearse, prestado sob juramento no seu julga-
Anúncio publicitário
Porquê
licenciar?
Qual é o papel do
INCM na Regulação
dos Serviços Postais?
DOSSIERS & FACTOS POLÍTICA 17
mento em Nova Iorque, de que foi corrompido
por Boustani num hotel em Maputo. Pearse ad-
mite ter recebido 5,5 milhões de dólares.
Relativamente ao suborno de Surjan Singh
em relação à transacção da Ematum, a Privin-
vest alegou que não se tratava de subornos,
mas de pré-pagamentos por trabalho que Sin-
gh iria realizar no futuro. Mas Singh admitiu no
Tribunal de Nova York que se tratava de facto
de subornos.
Duncan Matthews, em nome da Privinvest
e Iskandar Safa, começou por defender forte-
mente os três projectos: Proindicus, Ematum
e MAM. Disse que o governo do Presidente Ar-
mando Guebuza queria escapar às garras dos
doadores, por isso desenvolveu uma série de
projectos para explorar a Zona Económica Ex-
clusiva (ZEE) de Moçambique.
Ele argumentou que não se tratava, como
foi sugerido pelos advogados da República de
Moçambique, de um caso em que a Privinvest
persuadiu o País a adoptar os seus planos. Em
vez disso, afirmou que Moçambique já estava
a desenvolver a sua própria compreensão dos
desafios e oportunidades decorrentes da des-
coberta de hidrocarbonetos ao largo da costa de Jean Bosutani, Privinvest
Cabo Delgado. cumpriu a sua obrigação de divulgar todos os documentos
Afirmou que o ex-presidente Armando Guebuza e o ex- relevantes e que, além disso, não convocou testemunhas
-ministro da Defesa Filipe Nyusi promoveram um progra- relevantes que estiveram na génese dos esquemas.
ma de desenvolvimento economicamente sólido. Essa vi- A Privinvest disse que definitivamente não houve inten-
são só mudou depois de Moçambique não ter conseguido ção de prejudicar a República de Moçambique. A empresa
fazer os projectos funcionarem e não ter informado o FMI. admite efectuar pagamentos de consultorias e investimen-
Como resultado, a República voltou-se contra as pessoas tos no país.
que tentaram ajudá-los. Por fim, argumentou que não houve prejuízo causado
Matthews passou grande parte da sua apresentação pelas acções da Privinvest. Qualquer perda financeira de-
a tentar apontar o dedo de culpa ao actual Presidente do veu-se ao facto de a República de Moçambique ter optado
país, Filipe Nyusi. Alegou também que a República não por não informar o FMI.
Deveres do Operador
Postal em relação ao
consumidor.
Autoridade Reguladora das Comunicações
 18 CULTURA DOSSIERS & FACTOS 30 de Outubro de 2023 SEGUNDA-FEIRA

LUTA CONTRA MALÁRIA

Saúde pretende pulverizar 176.680

casas
E
stá em curso, desde o dia 16 de Ou-
tubro corrente, em todos os dis-
tritos da província de Maputo, a
campanha de pulverização intra-
-domiciliária contra a malária, cujo objec-
tivo é reduzir ao mínimo possível os casos
desta doença. Com esta iniciativa, o Servi-
ço Provincial de Saúde de Maputo tenciona
abranger 176.680 casas.

D&F Texto: Dossiers & Factos

Com vista a estancar esse mal, o sector da Saúde na

Província de Maputo tem apostado em programas de
prevenção, como é o caso das campanhas de pulveri-
zação intra-domiciliária e distribuição de redes mosqui-
teiras nas unidades sanitárias. Toda a mulher grávida,
no acto de consulta pré-natal, é-lhe oferecida pelo me-
nos uma rede mosquiteira para se proteger da malária.
Exorta-se ainda aos líderes comunitários, religiosos,
professores, profissionais de saúde e comunidade, em
geral, para que multipliquem as jornadas de limpeza
nos locais de trabalho e residência, eliminando o ca-
pim e charcos. A prevenção terá um grande impacto,
pois vai garantir que o mosquito não se multiplique e
aliviar, por conseguinte, a pressão sobre as unidades
sanitárias.
Numa outra ocasião, o sector promoveu, ao longo
da semana, na Cidade da Matola, Província de Maputo,
um debate em torno da lei que define os princípios e
estabelece o regime jurídico de investigação em saúde
humana no país, aplicada a singulares, entidades colec-
tivas públicas e privadas.
A lei, aprovada em Junho passado pelo Conselho de
A lei aprovada em Junho passado assegura a regulação da actividade de investigação em saúde
Combate contra a malária continua sendo prioridade
Ministros, tem como objectivo assegurar a regulação
da actividade de investigação em saúde, assim como
promover e garantir a observância rigorosa dos prin-
cípios e normas aplicáveis à investigação em saúde e
promover o desenvolvimento de produção científica e
tecnologias de saúde aplicáveis à melhoria da saúde da
população.
Os participantes presentes no evento enalteceram a
iniciativa e reforçaram a necessidade da incorporação
de evidência científica resultante de investigação em
saúde humana no processo de elaboração de políticas
de saúde a vários níveis, ao nível municipal, provincial
ou nacional.
Vale lembrar que, no âmbito da investigação científi-
ca em saúde, o Serviço Provincial de Saúde de Maputo
realizou este ano as Primeiras Jornadas Científicas de
Saúde.
Enquanto isso, uma equipa do Ministério da Saúde
(MISAU), dirigida pelo Director Nacional dos Recursos
Humanos, Norton Pinto, realizou até à última quinta-
-feira uma visita de trabalho à Província de Maputo. À
chegada na Província, a equipa do MISAU foi recebida
nas instalações do Serviço Provincial de Saúde, pela
Médica-Chefe Provincial, Celestina Maria da Conceição,
acompanhada pelo Director Provincial de Saúde, Daniel
Chemane.
Durante o período, esta equipa inteirou-se das prin-
cipais realizações do sector e promover apoio técnico
ao Serviço Provincial de Saúde e Direcção Provincial
de Saúde. Trabalho similar será realizado nas direcções
distritais de Saúde, Mulher e Acção Social de Moamba e
Manhiça. (Serviço Provincial de Saúde de Maputo)
Enchimento: Exorta-se ainda aos líderes comunitá-
rios, religiosos, professores, profissionais de saúde e
comunidade, em geral, para que multipliquem as jor-
nadas de limpeza nos locais de trabalho e residência,
eliminando o capim e charcos.
 SEGUNDA-FEIRA 30 de Outubro de 2023 DOSSIERS & FACTOS
COM OS SEUS APLICATIVOS
Movitel diz estar na vanguarda da
transformação digital
M
oçambique, um país em cons- ção digital, promovida pela Movitel, são os aplicati-
tante evolução, está a testemu- vos Super Movitel e e-Mola. O Super Movitel é um
aplicativo que oferece uma ampla gama de serviços,
nhar uma transformação digi- colocando o controlo das suas contas em suas mãos,
tal que está a moldar o futuro onde quer que esteja.
das comunicações e dos serviços em geral. Através desse aplicativo, os usuários podem veri-
Neste cenário em constante mudança, a ficar o seu número de celular, saldo actual, histórico
Movitel tem-se destacado como a empre- de transacções (ajuda os utilizadores a acompanha-
rem as suas interacções e permite uma gestão mais
sa líder na vanguarda dessa revolução tec- eficaz das comunicações pessoais e profissionais) e o
nológica catapultada, em grande medida, estado do serviço com facilidade. Além disso, o apli-
pela digitalização da oferta dos produtos cativo permite que você acompanhe o número de
e serviços através de aplicativos Super Mo- recargas e faça pagamentos de internet fixa (FTTH)
vitel e e-Mola. de forma rápida e segura.
Com esta solução tecnológica não se perder ne-
nhuma promoção ou oferta especial. O Super Movi-
D&F Texto: Dossiers & Factos
tel mantém os seus utilizadores actualizados sobre
todas as promoções disponíveis, para que possam
Com sua visão voltada para o futuro e seu com- escolher os pacotes infinitos que melhor atendam às
promisso com a inovação, a Movitel tem desem- suas necessidades, personalizando a quantidade de
penhado um papel fundamental na promoção do minutos, MB, SMS e respectiva validade.
acesso à internet em todo o país. A empresa en- Além de ser uma ferramenta prática, o Super Mo-
tende que a conectividade é a base da transforma- vitel oferece uma dose de entretenimento, pois dis-
ção digital e, como tal, tem investido fortemente põe de jogos como o Abano da Sorte, Super Golo,
na expansão de sua infra-estrutura de rede. Isso Meu Clip, Meu Beat, MovTV e Milionário. O aplicativo
resultou em uma cobertura de alta qualidade em transforma a sua experiência móvel em algo mais do
áreas urbanas e rurais, garantindo que um número que apenas fazer chamadas e enviar mensagens.
cada vez maior de moçambicanos tenha acesso à O Super Movitel está disponível para todos os
internet. clientes da Movitel, tanto em Português quanto em
Um dos principais catalisadores da transforma- Inglês. Além disso, é gratuito para usar, o que signifi-
Sede da Movitel em Maputo
ECONOMIA 19
ca que você pode aproveitar todas essas vantagens
sem custo adicional.
Não importa qual dispositivo você esteja a usar,
o Super Movitel é optimizado para funcionar em
vários dispositivos, incluindo Samsung, Xiaomi,
Huawei, Oppo, Vivo, Motorola, LG, Google, OnePlus,
Sony, tablets, e mais, você pode desfrutar deste
aplicativo em praticamente qualquer aparelho.
Já viu? Baixe o Super Movitel agora, mesmo na
Google Play Store e aproveite todas as vantagens
que ele tem a oferecer. Não perca a oportunidade
de tornar a sua vida móvel mais fácil, conveniente e
divertida com o Super Movitel.
Além disso, a comunicação é simplificada através
do Super Movitel, que oferece um histórico comple-
to de chamadas e mensagens. Isso não apenas aju-
da os utilizadores a acompanharem as suas interac-
ções, mas também permite uma gestão mais eficaz
das comunicações pessoais e profissionais.
A ênfase na segurança do Super Movitel também
merece destaque. Com recursos de segurança avan-
çados, os utilizadores podem ter a tranquilidade de
que as suas informações pessoais estão protegidas
ao utilizar o aplicativo.
O Super Movitel, combinado à qualidade excep-
cional da internet da Movitel, tem um impacto po-
sitivo e significativo no quotidiano das pessoas em
Moçambique. Simplificando a gestão financeira,
melhorando a comunicação e oferecendo ofertas
personalizadas, este aplicativo se tornou uma ferra-
menta essencial na vida moderna, proporcionando
conveniência, economia de tempo e segurança para
os utilizadores.
e-Mola: um catalisador da inclusão financeira
Outra solução da Movitel, que se tornou uma fer-
ramenta indispensável para milhões de moçambi-
canos, simplificando as suas vidas quotidianas e im-
pulsionando a inclusão financeira em Moçambique,
é o e-Mola – um serviço e aplicativo revolucionário
que está transformando a experiência dos moçam-
bicanos em relação às transacções financeiras cada
vez mais rápidas, seguras e convenientes.
O e-Mola permite que os usuários realizem paga-
mentos, transfiram dinheiro totalmente grátis entre
usuários de números 86/87 e com as melhores taxas
do mercado para outras carteiras móveis e bancos
e muito mais facilidade e segurança. Com a expan-
são do e-Mola, o processo de promoção da inclusão
financeira em todo o país é uma realidade, permi-
tindo que milhões de pessoas tenham acesso aos
serviços financeiros de que tanto precisam. As fa-
cilidades vão além disso, sendo que pelo aplicativo
e-Mola é mais conveniente pagar Credelec, a conta
de água e da TV, pagar pelos serviços e promoções
da Movitel, renovar os seus seguros e muito mais.
A Movitel não se limita apenas a fornecer conecti-
vidade e aplicativos inovadores, a empresa também
desempenha um papel vital na educação digital. Ela
oferece programas de treinamento capacitando o
uso e aproveitamento, ao máximo, as oportunida-
des oferecidas pela transformação digital.
Além disso, a Movitel e o e-Mola têm sido parcei-
ros activos em iniciativas de responsabilidade so-
cial corporativa, contribuindo para a melhoria das
comunidades em que atuam. Essas acções mostram
o compromisso das empresas não apenas com os
negócios, mas também com o bem-estar do povo
moçambicano rumo à digitalização.
 20 POLÍTICA
ECOS DAS ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS
Frelimo sai à rua para festejar em
Inhambane
M
embros e simpatizantes da Fre-
limo nas seis autarquias da pro-
víncia de Inhambane saíram
à rua, na semana finda, e mar-
charam como forma de festejar a vitória e,
ao mesmo tempo, agradecer aos muníci-
pes pelo voto de confiança que deposita-
ram no partido por mais um mandato de
cinco anos.
Texto: Anastácio
D&F Chirrute, Inhambane
Os simpatizantes do partido no Município da
Vila de Massinga foram os primeiros a festejar a
sua vitória. Os camaradas, vestidos de vermelho
e branco, saíram à rua e, de viva voz, agradece-
ram os munícipes pelo voto de confiança. Rober-
to Zunguze e a Frelimo mereceram a confiança
para mais um mandato de cinco anos para go-
vernar e procurar concretizar as promessas feitas
durante a campanha eleitoral.
Depois seguiu a cidade de Vilankulo, onde,
apesar dos resultados um pouco apertados, a
Frelimo conseguiu dar a volta por cima e derro-
tou o seu adversário (a Renamo) com votos acu-
mulados que correspondem a 51%. William Tuzi-
DOSSIERS & FACTOS
ne, que concorria para a sua reeleição, depois de
carimbar a vitória saiu à rua para, uma vez mais,
agradecer pela confiança nele renovada pelos
vilanculeses.
O partido Frelimo na cidade da Maxixe, ao
som da banda municipal, percorreu diversas ruas
e avenidas cantando e dançando, tendo a mar-
cha desaguado na praça 25 de Setembro, local
onde aconteceu o showmício, que contou com
a participação dos músicos locais, que cantaram
e encantaram o público que afluiu em massa. O
objectivo também era o mesmo: agradecer pelo
voto de confiança e, ao mesmo tempo, garantir
aos munícipes que todas as promessas que foram
feitas durante a campanha eleitoral serão cum-
pridas na íntegra.
Em Homoine, a Frelimo também não deixou
passar de forma despercebida a sua vitória. Saiu
à rua e marchou em saudação aos munícipes
pelo voto de confiança e, igualmente, garantir
que todas promessas serão cumpridas.
Finalmente, seguiram-se os municípios de
Inhambane e Quissico, que, ao contrário dos ou-
tros, preferiram marchar depois que a CNE anun-
ciou os resultados oficiais das eleições de 11 de
Outubro e que deram vitória à Frelimo nas 64 das
65 autarquias do País.
A sala dos Caminhos-de-Ferro de Moçambi-
Imagens da festa da Frelimo em Inhambane
30 de Outubro de 2023 SEGUNDA-FEIRA
que, na cidade de Inhambane, foi muito pequena
para acolher os camaradas que afluíram em mas-
sa para assistir ao anúncio oficial dos resultados,
e contou com a presença de quadros seniores do
partido, com destaque para o chefe da brigada
central e de assistência à província de Inhamba-
ne, governador da província e secretária provin-
cial do partido.
Damião José, chefe da brigada central e de as-
sistência à província de Inhambane, mostrou-se
satisfeito com os resultados alcançados pelo seu
partido.
Segundo ele, os resultados espelham aquilo
que é a vontade do povo, de querer ver a Frelimo
sempre no poder.
"Estamos satisfeitos com os resultados anun-
ciados. A Frelimo conseguiu alcançar o objectivo,
que era de ganhar em todas as autarquias. Isto
mostra de forma clara que o povo está com a Fre-
limo e reconhece o trabalho que é desenvolvido
nas autarquias governadas pelo nosso partido
visando a melhoria das condições de vida dos
munícipes", salientou José.
Por sua vez, a primeira secretária provincial da
Frelimo em Inhambane, Adelaide Macucule, dis-
se que o próximo desafio é trabalho, trabalho e
mais trabalho, e fazer fé às promessas feitas pelos
cabeças-de-lista.
 SEGUNDA-FEIRA 30 de Outubro de 2023
F.BEIRA, F.NAMPULA E ABB SÃO OS ÚNICOS COM CHANCES
Campeão do Moçambola só na última
jornada
D
errota do Ferroviário da Beira, vi-
tória do Ferroviário de Nampula e
da Black Bulls, e derrota da União
Desportiva do Songo, campeão
em título, adiam a decisão do título do Mo-
çambola para o próximo fim-de-semana,
na última jornada da prova, e serão apenas
três equipas que vão discutir o “canecão”:
os Ferroviários da Beira e de Nampula e a
Black Bulls.
D&F Texto: Dossiers & Factos
Ainda há muito jogo pela frente no campeonato
nacional de futebol, o Moçambola 2023. Sim, por-
que a decisão do título ficou adiada para a última
jornada.
O Ferroviário da Beira, que dependia somente de
si para conquistar o troféu, bastando para o efeito
que tivesse vencido na deslocação ao Santuário 25
de Junho, em Nampula, acabou por perder diante
Expectativas são enormes
DOSSIERS & FACTOS
do seu homólogo da capital do Norte.
Num jogo de grande qualidade e de algum risco,
tendo em conta as possibilidades das duas equipas,
o Ferroviário de Nampula fez das tripas coração para
não entregar o título de bandeja ao seu homólogo. O
equilíbrio foi a nota dominante em toda a partida, e
só mesmo o detalhe ditou o resultado final.
Os “locomotivas” de Chiveve foram a Nampula em
busca da vitória ou do empate, que, conjugado com
os resultados dos outros jogos, ditaria o título, mas
no terreno encontrou um adversário que não queria
entregar os pontos. Teve de ser Belito, aos 59 pontos,
a fazer a diferença e a adiar a decisão do título para
a última jornada.
Perde o Ferroviário da Beira, que ainda assim con-
tinua na liderança, vence o Ferroviário de Nampula,
que alcança o seu adversário e homólogo na frente
da tabela classificativa, ambas com 36 pontos e a dei-
xar para a última jornada a batalha final.
O Ferroviário da Beira vai querer festejar o título
em casa, quando receber a Associação Desportiva de
Vilankulo, já conhecendo a sua situação em relação
à manutenção ou pelo menos ainda na disputa pela
vaga na próxima edição da prova. É que a turma do
DESPORTO 21
Alto Macassa disputa com o Ferroviário de Nacala
a fuga à despromoção, a dois jogos que as duas
têm para o fim da prova.
Os “hidrocarbonetos” recebem o surpreenden-
te Baía de Pemba, enquanto o Ferroviário de Na-
cala se desloca à casa emprestada do já despro-
movido Matchedje de Maputo, na quarta-feira,
em partidas do prosseguimento desta penúltima
jornada.
A turma de Vilankulo precisa de pontuar para
continuar no Moçambola, em 2024, enquanto a
turma de Nacala deve vencer os dois jogos e es-
perar que a AD Vilankulo perca o igual número de
jogos. Ou seja, pode ser um outro jogo duro para
a turma de Chiveve, que tem oscilado muito nesta
recta final, não cabendo a possibilidade de perder
o título com um empate ou derrota, deixando a
turma de Nampula ou mesmo a Black Bulls feste-
jarem nos seus jogos.
O Ferroviário de Nampula vai jogar em Songo,
diante do campeão em título e que foi arredado
do título após derrota diante do Costa do Sol, este
domingo. Ou seja, outro jogo em que a União
Desportiva de Songo não vai querer, de certeza,
entregar o título e ver o Ferroviá-
rio de Nampula festejar em sua
casa.
A Black Bulls, por seu turno,
que durante muito tempo, prin-
cipalmente na primeira volta, es-
teve na liderança da prova, relan-
ça-se na corrida ao título graças
a uma vitória bem conseguida
diante do Ferroviário de Maputo,
por duas bolas sem resposta.
Victor, de grande penalidade,
e Ejaita colocaram os “touros”
novamente na trilha do título,
ainda que dependa mais de ter-
ceiros para alcançar a liderança
no final da prova. É que a Black
Bulls está a um ponto da dupla
dos Ferroviários da Beira e Nam-
pula, e para conquistar o troféu
tem de vencer o embate caseiro
diante do Ferroviário de Lichinga
e esperar que as duas “locomoti-
vas” não vençam nos seus jogos.
Mas também pode ser um
jogo difícil para os “touros”, ten-
do em conta que o Ferroviário de
Lichinga ainda pode intrometer-
-se na luta pelo título, caso ven-
ça o Ferroviário de Quelimane,
esta segunda-feira, para a 21ª
jornada, uma vez que vai passar
a somar 34 pontos, a dois dos
líderes e a um do seu próximo
adversário.
São contas e mais contas que
só depois dos apitos finais, na
última jornada do Moçambola
2023, serão dissipadas, quando
se conhecer o campeão nacional
de futebol, edição 2023, que vai
substituir a União Desportiva do
Songo no trono do futebol nacio-
nal. O País
 22 GARGANTA FUNDA
1 Povo no Poder
Povo no poder é um slogan perten-
cente à Frelimo libertadora e era um
dos chavões mais usados pelo Presi-
dente Samora Machel, o saudoso Mare-
chal, pai da nação. Mais tarde, o rapper
Azagaia celebrizou este chavão através
de uma música com o título “Povo no
Poder”, música lançada após uma ma-
nifestação popular. Hoje a música é re-
ferência obrigatória. Curiosamente, o
legado de Azagaia ganhou muita força
após a sua morte e o mesmo é reconhe-
cido pelo mundo inteiro. Na pérola do
Índico, o “Povo no Poder” ganhou muita
força e tornou-se num movimento e é a
oposição, neste momento, que se agar-
ra muito ao slogan da Frelimo e imor-
talizado pelo rapper. Aliás, a oposição
se apropriou do termo “Povo”, no senti-
do de que todos que participaram nas
suas manifestações são povo e quem
está do outro lado ou não se identifica
com o tal “movimento” pertence ao ou-
tro lado da moeda. Com os resultados
das eleições anunciados pela CNE, que
indicam que a Frelimo saiu vitoriosa em
64 das 65 autarquias e a oposição não
se conformou com os números, vimos a
Falta de Profissionalismo
Hoje a Função Pública não é a mesma
da era do monopartidarismo, em que
só existia um único partido que se con-
fundia com o partido-estado. As células
estavam enraizadas nas instituições e era
obrigatório militar no partido. Hoje ne-
nhum funcionário público deve ser obri-
gado a militar em um partido. Tivemos
uma situação, na semana finda, em que
um funcionário público, trajando o far-
damento (paramilitar) da sua instituição,
afirmava que alguns colegas tentavam o
recrutar para o partido no poder, tendo
um dos colegas o chamado para sua casa
para entregá-lo uma camisete e outro,
que supostamente pagou as suas cotas e
mandou o filho entregar uma camisete.
O que Garganta não entende é o porquê
o tal funcionário simplesmente não ne-
gou a camisete e seguiu o seu caminho.
Estava no seu legítimo direito, o de negar,
tal como os colegas, uma vez que estáva-
mos em tempo de campanha eleitoral,
sendo que a campanha visa conven-
cer o eleitorado a votar no seu partido,
também estavam dentro da sua razão.
Nessa situação, não imputamos o tal re-
crutamento frustrado à instituição, mas
sim a pessoas, visto que as instituições
são feitas de pessoas. Na ânsia de querer
aparecer, o funcionário público aparece
fardado, mal aprumado, envolvendo e
penalizando assim a sua instituição, que
não tem nada a ver com a situação que
ele tenha vivido com os seus colegas. Ga-
DOSSIERS & FACTOS 30 de Outubro de 2023 SEGUNDA-FEIRA
nível de Maputo, Quelimane e Cida-
de de Nampula manifestações mui-
to violentas, em que houve mortes
de manifestantes, polícias feridos,
agressões a transeuntes, viaturas
vandalizadas, lojas saqueadas e bens
públicos e privados vandalizados, o
que faz Garganta pensar e repensar
sobre o tipo de manifestações que
estamos a ter. Será que quando Aza-
gaia falava de Povo no Poder inspi-
rado em Samora Machel referia-se a
esse tipo de poder? Que fique claro,
Garganta não está contra a manifes-
tação. A Renamo se acha lesada e
está no seu direito de se manifestar,
mas destruir um bem de alguém que
também está a batalhar na vida…
isso não tem nada a ver com mani-
festação, isso é vandalismo. Logo, a
manifestação foi uma oportunidade
que os vândalos que estiveram nas
tais manifestações tiveram para po-
der pilhar e saquear. Esteve bem o
cabeça-de-lista da Renamo na Mato-
la, António Muchanga, que mandou
toda a gente para casa, como forma
de evitar sangue.
2
nhou o seu minuto de fama, mas pisou
nas patenças que ostentava no referi-
do vídeo. Aliás, nos dias que correm,
nunca ficou tão fácil estar famoso, é só
pegar no celular e fazer um vídeo lon-
go de cerca de 60 megabytes (as ope-
radoras de telefonia móvel são quem
sai a ganhar), insultar, esbravejar e ter-
minar com o slogan da moda: “Povo no
Poder”. Haaaaa, terás uma semana a
girar nos grupos de WhatsApp. Tal fun-
cionário zanga porque não pode ficar
20-30 minutos na bicha de recensea-
mento, zanga porque ouviu rumores
em conversa de bar (como ele próprio
diz), porque a Frelimo orientou os seus
membros a serem os primeiros a re-
censear. Fala de partidarização do Es-
tado e dá aulas de ciência política. Fala
de publicidades de marcas de cervejas
e vinhos, tudo isso porque recebeu ca-
misete das mãos do colega. Será que
a direcção máxima dessa instituição,
que se encontra em Maputo, orientou
aos colegas citados para irem entregar
na Beira camisete ao visado? As suas
reclamações são legítimas, mas deve-
riam ter sido dirigidas aos seus colegas
e sem misturar o fardamento da sua
instituição. Agora Garganta percebe
porque é que um dos manifestantes
afirmava vivamente que futuramente
a soruma seria legalizada. Muita falta
de profissionalismo do referido funcio-
nário.
 SEGUNDA-FEIRA 30 de Outubro de 2023 DOSSIERS & FACTOS CULTURA 23

NO MUNDO DO SOWBIZ

Escolhas partidárias criam “heróis” e

“vilões”
N
as últimas semanas, o País tem
assistido a uma luta desenfreada
entre diferentes partidos rumo
à presidência das autarquias.
O partido Frelimo está muito perto de
confirmar uma vitória estrondosa, aboca-
nhando 64 dos 65 municípios nacionais.
Para tal, só falta o aval do Conselho Cons-
titucional. Por outro lado, o processo elei-
toral ora em curso marcou uma divisão
de água no seio da classe artística e do
showbiz, no geral, com alguns a serem ro-
tulados como heróis e outros como vilões.
Tudo depende das escolhas partidárias.

D&F Texto: Dossiers & Factos

O processo eleitoral de 2023 tem-se mostrado di-

gitalizado que as outras eleições realizadas em Mo-
çambique, facto esse que se explica pela aposta dos
partidos políticos nas redes sociais e igualmente pela
cada vez mais elevada participação dos artistas e in-
fluenciadores digitais neste processo, quer seja por
convicção, quer seja por negócio.
Independentemente da razão que os move, a ver-
dade é que estes actores sociais sofrem consequên-
cias das suas escolhas, e a sentença é ditada pelo pú-
blico. Foi assim desde o início da campanha eleitoral,
quando os influenciadores começaram a assumir as
suas posições. Com efeito, os que se alinharam à Fre-
limo viram o carinho do povo esvaecer-se, porquan-
to tal atitude foi considerada uma punhalada pelas
Boneca Barbie e Edu All Tallents (vilões)
costas.
Enfurecido, o povo (internautas) tem vindo a impor
uma série de sanções a alguns destes profissionais, que
são tidos como egoístas e insensíveis à dor do povo. Uma
das mais criticadas e sancionadas pelo povo é a apre-
sentadora Boneca Barbie, que viu piorar a sua situação
quando chamou o jornalista Clemente Carlos, por sinal
seu colega de trabalho na TV Sucesso, de “biscateiro”.
No entanto, ambos já enterraram o machado da
guerra e fizeram questão de deixar isso claro numa
aparição no programa Batidas, conduzido pelo Puto
Aires, na mesma estação televisiva.
Para os internautas, é repugnante que, mesmo fa-
zendo parte da população moçambicana, os artistas
não apoiem as causas do povo, o mesmo que torna
possível o alcance de números astronómicos nas redes
sociais, permitindo, desta forma, que os mesmos assi-
nem contractos de parceria com diversas empresas e
marcas.

Os “divos” do povo

Onde há vilões também há heróis ou, se quiser-

Válter Artístico e Nikotina KF (heróis)
mos, “divos”, na linguagem dos internautas. Enquanto
os influenciadores e artistas apoiantes da Frelimo são
vilipendiados e cancelados, os artistas que se aliaram
à RENAMO são aclamados e tomam banho de elogios
por terem adoptado um posicionamento classificado
como “correcto e justo”.
São os casos de Válter Artístico, Sidof Davi, Classic
Nova, MC Amaral (Trufafa) e do rapper Nikotina KF, en-
tre outros. Estes têm recebido apoio incondicional e
estão blindados até de picardias dos próprios colegas.
Foi o que se viu quando Edu All Tallents lançou farpas
contra o grupo Classic Nova, que declarou apoio à Re-
namo. O criador de conteúdos não só sofreu uma san-
gria em termos de seguidores, como foi obrigado a ler
comentários nada agradáveis.
“Rendi, desculpa”, penitenciou-se o criador de con-
teúdos, antes de confessar que, afinal, gosta das músi-
cas da Classic Nova.

Tchumene 1 | Rua Carlos Tembe, Parcela Nº 696, Matola | Telf 869744238 |
Celular: 82 4753360 | Email: dossiereletronico@gmail.com
GUERRA NO SUDÃO
Jeddah acolhe tentativa de mediação
U
ma tentativa de media-
ção sobre o conflito no
Sudão está actualmen-
te em curso na cidade
saudita de Jeddah. O objectivo é
encontrar soluções entre os pa-
ramilitares das Forças de Apoio
Rápido e as forças do exército
regular sudanês.
Já passaram seis meses desde o iní-
cio da guerra civil entre as tropas do
chefe do exército do Sudão, Abdel Fat-
tah al-Burhane, e os rebeldes do Ge-
neral Mohamed Hamdane Daglo das
Forças de Apoio Rápido no território
sudanês.
Como lembrete, os rebeldes das
Forças de Apoio Rápido tentaram der-
rubar o governo sudanês lançando
ataques a edifícios oficiais por meio de
ataques aéreos e disparos de artilharia
no passado mês de Abril.
Essa tentativa de mediação ocor-
re depois que todas as resoluções de
Fome provoca colapso da
ordem civil em Gaza
O
s insistentes apelos,
da ONU à União Euro-
peia e países árabes,
para cessar-fogo ou
trégua humanitária em Gaza
continuam a ter como única
resposta mais combates no ter-
ritório entre forças israelitas
e Hamas, com agravamento
das condições no enclave. Ao
mesmo tempo que apelos para
cessar-fogo são ignorados, si-
tuação humanitária na Faixa de
Gaza agrava-se. ONU garante
que a situação "está a tornar-se
mais desesperada a cada hora
que passa".
A Agência das Nações Unidas para os
Refugiados Palestinianos (UNRWA) afir-
mou, este domingo (29.10), que milhares
Anúncio publicitário
50Mt
cessar-fogo foram sistematicamente
violadas pelas partes beligerantes. A
União Africana também está presente
nessas negociações representada por
Quénia, Djibouti, Etiópia e o Sudão do
Sul.
De acordo com as Nações Unidas,
este conflito já deslocou mais de 5,6
milhões de pessoas e destruiu a maio-
ria das infra-estruturas do país. Em ter-
mos de perdas humanas, pelo menos
9.000 mortes foram registadas, um
número subestimado de acordo com
a ONU.
As discussões, que começaram na
quinta-feira, 26 de Outubro, têm como
objectivo encontrar uma solução para
a entrega de ajuda humanitária e a
possibilidade de conseguir um cessar-
-fogo. O Departamento de Estado dos
Estados Unidos anunciou que "não
existe uma solução militar aceitável
para este conflito". Já o Ministério
dos Negócios Estrangeiros da Arábia
Saudita também expressou o desejo
de "progredir em direcção a um cessar
permanente das hostilidades". RFI Sudão está há meses em guerra
Entretanto, nas últimas horas, a liga-
ção à Internet e aos telefones foi tam-
bém restaurada para muitas pessoas. Isto
depois de os ataques israelitas terem in-
terrompido a maioria das comunicações
no território na noite de sexta-feira. Israel
anunciou também, este domingo, novos
progressos no restabelecimento parcial
do abastecimento de água potável na
de pessoas invadiram os seus armazéns combustível, um item vetado por Israel região.
de ajuda em Gaza para levar alimentos e e considerado pelas autoridades locais A UNRWA elevou hoje para 59 o nú-
outros artigos essenciais. fundamental para o funcionamento con- mero dos seus trabalhadores mortos na
Segundo Thomas White, diretor da tínuo de hospitais, padarias e estações de Faixa de Gaza, desde o início do conflito a
agência da ONU em Gaza, esta invasão foi purificação de água. 7 de Outubro. DW
"um sinal preocupante de que a ordem
civil está a começar a colapsar", após três
semanas de guerra entre Israel e o grupo
islamita palestiniano Hamas.
Um total de 24 camiões com ajuda hu-
manitária entraram hoje na Faixa de Gaza
através da passagem egípcia de Rafah, o
maior comboio humanitário a entrar no
enclave desde que Israel permitiu o aces-
so controlado, segundo a agência EFE.
Transportando alimentos, água e ma-
terial médico, os camiões chegaram à
Gaza depois de esta manhã terem chega-
do outros 10 camiões, tratando-se da pri-
meira vez que dois contingentes entram
no enclave num único dia desde que Is-
rael autorizou a entrada de ajuda huma-
nitária, no passado dia 21.
Este oitavo lote de ajuda não inclui Milhares invadiram centro de ajuda para pegar mantimentos