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50Mt
DIRECTOR: Serôdio Towo | Segunda-Feira,23 de Outubro de 2023| Edição nº: 534 | Ano: 10 | Distribuição: Online
"Sentai-vos e
façai mudanças"
MAZANGA DIZ TÊ-LO ALERTADO SOBRE A "ARMADILHA"
FICHA TÉCNICA
PROPRIEDADE DA
S.T. PROJECTOS E REDACÇÃO, MAQUETIZAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO:
Tchumene 1 | Rua Carlos tembe, Parcela Nº 696, Matola | Telf: 869744238 | Celular: 82 4753360 |
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DIRECÇÃO: |COORDENADOR EDITORIAL: Amad Canda, candaamad@gmail.com, 846526459 | REDACÇÃO:
Serôdio Towo (Director-Geral) Serôdio Towo, Amad Canda, Quelto Janeiro, Hélio de Carlos| FOTOGRAFIA: Albino Mahumana|
ADMINISTRAÇÃO: Gabriel Muchanga , sebmuchanga@gmail.com, 84 228 5835|GRAFISMO: Herbigno Lote |
ADMINISTRAÇÃO :
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Gabriel Muchanga
e MARKETING : Gabriel Muchanga , sebmuchanga@gmail.com, 84 228 583| COLUNISTAS: Rui Maquene
Registo N° 19/GABINFO-DEC/2012
SEGUNDA-FEIRA 23 de Outubro de 2023 DOSSIERS & FACTOS DESTAQUE 3
Alberto Chipande
mas há um dado que dá a esta última um estatuto espe-
cial: é nela que residem as principais reservas morais do
partido no poder.
Basta lembrar, aliás, que é nesta associação que têm
suporte os Presidentes Honorários da Frelimo e outras
tantas figuras históricas, algumas das quais fundadoras
do partido e, por conseguinte, da pátria moçambicana.
Neste sentido, salientam nossas fontes, a principal tare-
fa da ACLLIN devia ser a de aconselhar os tomadores de
decisão, primeiro no partido, pelo que, olhando para o
actual cenário, a agremiação devia ter agido para evitar
o alegado descalabro da governação do País e da gestão
Armando Guebuza do próprio partido. António Hama Thai
4 DESTAQUE DOSSIERS & FACTOS 23 de Outubro de 2023 SEGUNDA-FEIRA
Porquê
licenciar?
Deveres do Operador
Postal em relação ao
consumidor.
Qual é o papel do
INCM na Regulação
dos Serviços Postais?
ACTIVISIONISMO
A fase de preocupação massiva atinge com o intuito de defender os direitos poli- não terem que chegar à esquadra, local que
a sociedade a cada dia. Andar pelas estra- ciais não traga mais hegemonia/poder aos deixou de transmitir segurança à sociedade.
das torna-se sinónimo de “amedrontação” mesmos, mas sim crie sessões ou aulas por Os tempos são outros por aqui. Se não se
quando nos cruzamos com um policial que, forma a continuar a capacitação dos agen- tomar posições e atitudes com vista a dimi-
na sua tentativa (incorreta) de exercer a sua tes da polícia, para perceberem como usar nuir o muito “poder” que se vê nos agentes
“função/trabalho”, põe em causa diversos da sua autoridade e como confrontar os da polícia, certamente que vamos ter, nos
direitos individuais dos cidadãos. cidadãos. próximos tempos, cenários desastrosos. Na
De um lado temos cenários de policiais O cenário que se vive hoje é de um au- verdade, já existem: rupturas com os direi-
que fazem patrulhas nas noites, cruzam-se têntico terror. Já não se pode confiar nos tos humanos de diversas vertentes, e nisso
com jovens brincando, convivendo nas ar- agentes da polícia, porque quando o cida- fica a dúvida: será que os agentes da polícia
térias das suas zonas, e mesmo mostrando dão caminha vê sua pasta revistada de for- nos transmitem segurança ou mais medo...
um documento que lhes identifique, vão ma imprudente, são-lhe exigidos recibos de insegurança e atentado aos nossos direitos
continuando com a cena de os amedrontar pertences, muitas vezes sem fundamenta- fundamentais?
no sentido de arrancar algumas moedas, ção. Ora, não se vai obrigar a sociedade a É caso para dizer que os bons tempos em
justificando que não se podiam fazer a lo- andar com recibos de tudo quanto compra, que andávamos “de mãos dadas” com os
cais do gênero de noite. Mas se não vamos senão teria que andar com recibos de rou- policiais já se foram. Houve tempos, ainda
brincar nas nossas zonas, casas, onde nos pas interiores também. que não fossem perfeitos, em que ver um
aconselham a ver a luz da lua? É preciso que o modo de actuação dos policial significava segurança e esperança
Outros cenários são de policiais que até agentes da polícia comece a ser modera- de ver coisas mudarem, de ver índices de
metem a mão no bolso do cidadão, che- do, porque são actos que podem e são jul- criminalidade reduzidos e muitas vezes
gando até a tirar a carteira do bolso de gados por lei. Não se pode brincar com os sentimos orgulho de ter uma força policial
jovens arrepiados de tanto medo imputa- direitos dos cidadãos de forma banalizada, com a qual nos identificávamos. Mas hoje
do por aqueles que muito os queriam ver como se os policiais pudessem fazer e des- é totalmente o contrário, porque alguns
sendo seus aliados. Uhm...tempos definem fazer, como se ninguém os pudesse pena- agentes continuam sendo os que mais in-
os mundos e caracterizam os cenários que lizar. É caso para dizer que ainda há muita fringem a lei e desestruturam o bem-estar
vêm num futuro próximo! limpeza por ser feita e são muitas cinquen- social.
Recentemente, vi dois jovens sendo mal- tinhas pagas por cidadãos amedrontados, A sociedade já está exausta de ser apon-
tratados por três policiais que faziam pa- mesmo estando no seu direito. tada com AKM’s: Não quer ver armas no
trulha na zona da Mafalala, puxados com Muitas vezes andamos pelas estradas e rosto de seus filhos. A máquina da justiça
“chambocos” enquanto ouviam: “hoje va- vemos jovens sendo “escoltados” por agen- precisa ser reformulada...debatida e colo-
mos te mostrar quem somos”... “vamos te tes da polícia. Alguns, com certeza, de má cada em meditação para ver que soluções
lavar para dar uma volta para que nos res- conduta. Mas no meio desses, há muitos jo- tomar, pois a desarmonia social e o medo
peites”. Tais afirmações que continuam sen- vens que são ameaçados por andarem com vão continuando a ser o que reina no pei-
do uma autêntica prova da fragilidade que seus pertences. Mas a coisa é a seguinte: to de muitos cidadãos que já não sabem se
pode existir na formação do corpo policial, prometem levar os jovens à esquadra para podem sorrir enquanto caminham pelas ar-
ou ainda da necessidade de conscienciali- provarem que os bens lhes pertencem, e térias da Cidade de Maputo.
zação e capacitação frequente dos agentes muitas vezes, pelo medo de já não ter como E assim vai continuando o nosso país...
da polícia no que tange à sua postura. provar , os jovens acabam pagando algum sem saber do que dele será feito nos próxi-
Espero que a associação que foi formada no sentido de calar a boca aos policiais, e mos tempos.
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8 OPINIÃO DOSSIERS & FACTOS 23 de Outubro de 2023 SEGUNDA-FEIRA
PRIMEIRO PONTO
Quem carrega a responsabilidade? da cultura ocidental, levando a que as Alguns dos grupos religiosos têm
Como a educação pode ser a chave nossas sociedades se auto-vitimizas- a capacidade de manipulação e frag-
para este problema? Como lidar com sem e se tornassem doentias ou essen- mentação do sistema de ensino, atra-
este mal que se instalou? De quem é a cialmente medíocres. vés da educação dos seus crentes com
culpa? São tantas as perguntas que ge- A nossa impotência face aos pro- valores bíblicos originários de profe-
ram tremenda inquietação. A profana- blemas que apoquentam o povo, ca- cias criadas pela liderança, em que o
ção religiosa nos dias de hoje é deveras raterizada pelas péssimas qualidades valores de responsabilidade do crente
preocupante e o crescimento insubor- de formação e alfabetização, além de face à igreja estão acima dos princípios
dinado das religiões protestantes idem. índices de empregabilidade dramáti- morais e de educação para a cidadania
Algumas destas religiões já trazem cas – consequência da fraca industria- transmitidos pelas escolas.
os seus dogmas, a sua língua profana, lização - , falência técnica das fábricas, Face à esta realidade, a falta de im-
outras apedrejam o português de Por- dependência do Estado como embrião plementação de instrumentos inte-
tugal por um brasileirismo que aliena de todos os problemas e má adopção lectivos e de acção para o desenvolvi-
os menos atentos. Em meio a isso, há de políticas públicas, assim como pés- mento nos alunos de um conjunto de
as que carregam as práticas do curan- simos dirigentes são factores na base atitudes e competências necessárias
deirismo maquiavélico misturado com desse problema. para a participação consciente em
tradições religiosas, ganhando mais Enquanto as outras nações tiverem qualquer que seja a religião ou seita re-
espaço entre a população frágil com domínio sobre as nossas políticas de ligiosa é problemática.
sede de espiritualidades e riquezas educação cívica e cidadania e intervi- A educação para os valores da cida-
emergentes. rem sobre os nossos princípios demo- dania e da democracia não pode cons-
É notória a busca nas periferias pelos cráticos no funcionamento das insti- tituir uma parte do processo pedagó-
falsos profetas ou a onda crescente de tuições políticas do Estado e da nação, gico, mas o processo pedagógico em si
procura pela educação religiosa, o que não se vislumbram mudanças. mesmo. Esta fragilidade e outras que
tem sido padronizado pelas famílias É preciso estar-se atento às suas tác- se denotam no ministério que tutela
mais humildes ou desesperadas, que ticas. Oferecem favores para a mudan- a Justiça e Assuntos Religiosos, assim
se socorrem nas normas que se coadu- ça do “conserva-sionismo ideológico” como no Ministério do Interior, pro-
nem com uma rigorosa educação dos com objectivos de manipulação do sis- piciam a entrada de grupos de mafio-
seus filhos. tema interno para o controlo do exer- sos formados e cadeias religiosas que
As mesmas tentam resolver proble- cício de reflexão e conservação dos va- visam propagar a fé religiosa em Deus,
mas financeiros e de saúde com base lores morais e de união. Desta forma, mas com objectivo de lavar dinheiro e
na bíblia ou alcorão, gerando uma a solidez das nossas políticas internas criar terreno para a máfia internacio-
nova corrente religiosa que se apro- é empobrecida, criando-se uma socie- nal controlar os seus interesses no país.
veita das fragilidades da sociedade, dade dependente de outras nações. A falta de estímulos - nas escolas,
onde vários jovens se entregam à vida A formatação de uma nação passa universidades e na sociedade - à refle-
religiosa sob falsas teocracias que vão pela implantação de estratégias religio- xão em cada aluno ou estudante em
gerando frustação e apegos à hábitos e sas e de marketing que visam defender particular sobre o seu papel activo de
convívios perigosos para a construção outros modelos de vida e reconhecer desafiar dogmas estabelecidos pelas
de uma nação. os estereótipos. Este processo, igual ao religiões e promover a emergência de
O diagnóstico para uma problema- implementado pelo colonizador para uma consciência moral autónoma é,
tização caraterizada por fragilidades abrir a frente de exploração do solo muitas das vezes, a centralidade da
comportamentais ou emotivas da so- pátrio e firmar bandeira, está sendo construção de uma nova identidade e
ciedade moçambicana mostra proble- implementado pelas seitas e correntes carácter dos jovens face à tendências
mas de renegação cultural derivados religiosas de diversas proveniências religiosas de manipulação comporta-
da escravização que forçou a aceitação ocidentais. mental e social.
SEGUNDA-FEIRA 23 de Outubro de 2023 DOSSIERS & FACTOS OPINIÃO 9
MAYITABASSA!
Nossa pátria amada está numa si- viduais. Quiseram, de noite para o dia, maquiavélica como esta que lidera
tuação de desespero. Tudo depende sair da “pobreza”, deixando-se corrom- os destinos dos processos eleitorais,
da vontade de Deus, pois os homens per por quem dinheiro tem e demais. e pior quando se concluem que ho-
mostraram-se impotentes para evitar Cabe à justiça moçambicana repor a mens lá presentes, para além de servir
que o País entrasse num caos. Como ordem e a tranquilidade no seio dos à nação na gestão desta actividade,
construtores de opinião, fizemos cha- moçambicanos. É preciso que a justi- são também homens confiados para
madas de atenção através de mais ça seja implacável e que responsabili- a transformação social, através da pu-
de uma dezena de artigos que aqui ze todos aqueles que, mais uma vez, rificação das almas, se considerarmos
colocamos para o consumo público. quiseram, a seu bel-prazer, pontapear o papel e responsabilidade destes na
Parecíamos profetas quando, em tom os ditames da Constituição da Repú- pregação do evangelho. Então, não faz
agudo, dissemos que era preciso en- blica. Cabe sim às entidades da justi- nenhum sentido que a honestidade e
contrar formas mais seguras e coeren- ça colocar na barra do Tribunal todos pura verdade sejam elementos em fal-
tes de gerir todas as etapas necessá- aqueles que quiseram e conseguiram ta nas acções de gestão dentro deste
rias nestas eleições municipais. Uma manchar o processo, cometendo vá- órgão. São pessoas que advêm de ór-
gestão que devia ter sido coberta de rios ilícitos, desde o enchimento das gãos de maior consideração e respei-
transparência, algo que infelizmente urnas, preenchimento de boletins de to, mas mesmo assim não podem di-
não pudemos testemunhar. voto em locais clandestinos, negação zer que atitudes e práticas mal ilícitas
Chamamos atenção para a necessi- de assinar editais, privação de obser- sejam alvos da nossa admiração.
dade de o processo eleitoral ser uma vação e participação activa por parte Os tribunais não devem abanar e
verdadeira festa, ao invés de palco dos partidos da oposição, o que inclui precisam de se manter firmes e con-
de derramamento de sangue. Pedi- limitação do gozo de liberdade de im- victos nas decisões que virão dos
mos maior transparência no processo, prensa por parte de alguns órgãos de mesmos. É preciso considerar que só
alertámos sobre prováveis convulsões comunicação social. o sistema de justiça pode evitar que
sociais que o processo iria trazer em Sabendo da génese do que é justi- o caos se torne realidade. Precisamos
casos de mau juízo. Pena que nossa ça, ou seja, processo que duma forma de encontrar formas de “arrefecer” a
recomendação foi, mais uma vez, mul- transparente e imparcial busca factos fúria dos jovens, nem que tenha de
tiplicada por zero. para responsabilizar a quem crimes nos custar o corte de qualquer tipo
Não há espaço para compreender eleitorais comete, tem aqui o tribunal de relação com pessoas ou entidades
tamanha irresponsabilidade dos ad- a responsabilidade de repor a ordem próximas. Estamos a agir em defesa
ministradores dos processos elei- e justiça para todos. da lei e, mais uma vez, negamos que
torais, assim como não há espaço Precisamos que a CNE seja respon- nossas ruas e avenidas sejam banha-
também para encontrar a verdadeira sabilizada pelos actos cometidos a das de sangue.
razão ou motivação daquele com- todos os níveis. Infractores que agi- Por uma democracia genuína e aglu-
portamento selvagem verificado em ram em nome desta entidade devem tinadora, que os prejudicados nestas
alguns partidos políticos que fizeram ser julgados e condenados como for- eleições sejam ressarcidos e resposta
parte deste escrutínio. Sabendo da ma de desencorajar que processos à verdade eleitoral.
importância do processo, era de todo idênticos aconteçam no futuro. Aliás, Aos partidos políticos, apelamos à
agrado que medidas de prevenção de é preciso lembrar que, em 2024, os calma e serenidade. É preciso evitar
ilícitos eleitorais fossem tomadas. moçambicanos, e à luza da Constitui- discursos que possam levar à violên-
O processo de 11 de Outubro foi ção, serão, mais uma vez, chamados a cia, principalmente no seio da cama-
viciado e os mentores desta viciação participar das eleições presidenciais, da jovem. Deixemos que tomadores
estão bem identificados. São figuras legislativas e das Assembleias Pro- de decisão tenham espaço necessá-
que, à luz do dia, deixaram de pensar vinciais, pelo que é este o momento rio para dirimir todo o conflito e, em
por Moçambique. Pessoas que, ao in- de corrigir e apagar definitivamente nome paz, não gostaríamos que Mo-
vés de servir à Nação, construir e con- todas as anomalias e viciações deste çambique fosse de novo mergulhado
solidar nosso sentido de democracia, tipo de escrutínio. em situações de instabilidade política.
pensaram apenas em benefícios indi- Não merecemos ter uma equipa tão Há espaço para o diálogo.
10 OPINIÃO DOSSIERS & FACTOS 23 de Outubro de 2023 SEGUNDA-FEIRA
HISTÓRIAS DE VIDA
Depois de algumas semanas em que es- Porque Deus é sempre bom, a solução sinal de aceitar tentando mexer a boca.
tivemos ausentes nesta rubrica devido ao veio da inteligência de um dos filhos, que Então, o filho começou a contar tão deva-
processo eleitoral que nos ocupou muito por coincidência era um detestado por garinho e todos estavam bem atentos ao
tempo, regressamos esta edição para par- todos da família devido ao seu estado de esforço facial do pai, até porque descon-
tilhar um episódio que, certamente, ficou vida - dependente de drogas – e, por con- fiavam do filho inteligente devido aos seus
registado na vida de uma família amiga seguinte, vivia distante da família. Quis, antecedentes.
minha e que julgo poder nos ajudar a re- no entanto, o destino que nessa manhã ele A contagem lenta prosseguia e, chegado
flectir para uma mudança de atitude. aparecesse em casa dos pais e ficou a saber no número 6, o pai deu o primeiro sinal e
Mas antes devo confessar que, para que o pai estava hospitalizado, acometido foi registado. Prosseguiu até 9, houve outra
escrever esta história, inspirei-me num por um AVC, e que não conseguiam garan- correspondência e anotaram o algarismo.
artigo de opinião produzido e publicado tir seu tratamento, pois ninguém conhecia Depois do dez, o filho recomeçou a con-
recentemente no jornal Savana e que nos o código PIN do cartão que tinha dinhei- tagem e logo no 2, houve outra reacção, e
alertava da importância de um homem, ro. O jovem decidiu ir ao hospital para ver assim faltava o último algarismo, que aca-
em vida, elaborar um testamento para a o pai e, chegado lá, pegou no queixo do bou sendo o 8.
partilha dos seus bens em caso de morte. progenitor, saudou-lhe e se apercebeu, que Feito isto, estavam encontrados os qua-
Foi assim que, mesmo que não se tra- afinal de contas, o pai estava consciente, tro algarismos que compunham o código
tasse de bens materiais, lembrei-me de um apenas não falava, mas emitia alguns ges- PIN do homem doente. E para confirmar,
episódio registado numa certa família em tos que permitiam a mínima comunicação. o filho submeteu o pai a mais uma pergun-
que o pai, por sinal o único que trabalhava O filho, o tal detestado por ser depen- ta: “pai, o teu código e 6950? Porque era
e garantia o sustento de todos, funcioná- dente de drogas, decidiu iniciar alguma PIN errado, o pai mostrou-se irritado com
rio sénior numa das maiores instituições conversa com o seu pai e lhe disse: Pai, o que ouvia. Na segunda vez, o filho, ba-
do País, adoeceu bastante e foi internado não precisas fazer esforço para falar. Va- seando-se nos números que foi registando,
numa clínica de um dos hospitais de re- mos fazer uma experiência. Eu vou dizer voltou a questioná-lo e no gesto combina-
ferência aqui em Maputo, acometido por seu nome, se estiver certo o nome, pai deve do ele confirmou.
um AVC. tentar abrir a boca, e se estiver errado pai Foi assim que aproximaram-se à secre-
Para o seu tratamento precisava-se de fica sem abrir a boca. E o pai lá tentou abrir taria da clínica para ensaiarem aquele PIN
muito dinheiro e, apesar de ele possuir tal a boca em jeito de resposta afirmativa. e conseguiram pagar as despesas, tendo o
valor que era necessário, ninguém da fa- E assim aconteceu. O filho disse um hospital prosseguido com os tratamentos
mília podia movimentar a sua conta por- nome que não era do pai e o doente não se do doente, que felizmente veio a recupe-
que nunca antes havia partilhado os PINS esforçou para mexer a boca. Voltou a di- rar e, tempo depois, teve alta. Com este
dos cartões do banco. A esposa, irmã e zer outro nome e viu que o pai não corres- acontecimento, aprendi a importância de
dois dos seus seis filhos, ninguém sabia de pondia e mostrava sinais de estar irritado, partilhar o código do PIN com a família
nada. Todos se enervaram, incluindo ele. mas na terceira vez o filho disse o primeiro e apenas educá-la a respeitar e saber fazer
Ficou preocupado porque conseguia ou- nome do pai e este lá tentava abrir a boca. O uso dos parcos recursos financeiros que
vir tudo, mas não podia escrever, muito filho disse o segundo nome e o doente vol- possuímos na conta, caso necessário.
menos falar. A situação dele ficava ainda tou a fazer o mesmo esforço e, para aquele Mas, igualmente, aprendi que, no seio
grave porque fazia esforço para ditar a es- filho, este era sinal de que podia se comu- da família, independentemente do tipo de
posa e os filhos presentes os quatro alga- nicar com o pai naqueles moldes e passou vida que cada um leva, no final do dia to-
rismos que compunham o código do PIN, para a fase seguinte, que era a crucial. dos somos importantes, ou seja, acabamos
mas não conseguia. Alguns dos presentes ficaram impacien- sendo úteis, sobretudo, quando menos se
Naquele dia nada foi feito porque nin- tes com o exercício que o filho drogado, espera, tal como pudemos acompanhar
guém dos presentes conseguia encontrar sujo e menos querido da família devido desta história que ninguém conseguia en-
saída para descobrir o segredo do cartão aos seus actos submetia ao pai, que estava contrar saída para salvar o pai da família
a fim de se proceder ao pagamento. Todos impossibilitado de tudo. Mesmo assim, o que sofria por não conseguir pagar dinhei-
regressaram à casa na esperança de, no dia filho continuou e disse ao pai o seguinte: ro para seu tratamento, e que quem o safa
seguinte pela manhã, procurarem alguma Pai, eu vou contar devagar e quando che- é o filho que, devido aos problemas que
saída ou mesmo um agiota que lhes pu- gar em cada número que faz parte do seu criava em casa, na vizinhança e na família
desse emprestar o valor com vista a inicia- PIN, pai vai tentar abrir a boca para con- no geral, acabou sendo se distanciando da
rem o tratamento ao doente. firmar. O pai correspondeu com mesmo convivência familiar.
SEGUNDA-FEIRA 23 de Outubro de 2023 DOSSIERS & FACTOS OPINIÃO 11
OLHAR INTERNACIONAL
Nova Rota da Seda (New Silk Road) ou Belt and Road Initia- veis dessas instituições, como é o caso do Sri Lanka (US$ 8,7 bi- posição da China enquanto potência global de infraestrutura
tive (BRI), um conjunto de programas de investimentos chine- lhões), Vietnã (US$ 8,7 bilhões), Cazaquistão (US$ 8,4 bilhões), A concessão de empréstimos e financiamentos por bancos
ses, inicialmente focados em infraestrutura, lançado em 2013, Laos (US$ 5,5 bilhões) e Camboja (US$ 5 bilhões). chineses originou uma série de grandes projetos de infraestru-
pelo presidente Xi Jinping, que constitui uma grande platafor- Na África, Angola é o país que mais recebeu financiamento, tura nos países parceiros da BRI. Com a criação de ambientes
ma de aplicação de investimentos em diversos setores produ- com US$ 29,6 bilhões, reunindo cerca de 28,3% do total. Acker de negócios favoráveis e a redução das incertezas e riscos po-
tivos. Provavelmente ele resulta de um projeto de globalização e Brautigam (2021) identificam que o volume e a modalidade líticos, seria esperada a elevação dos IED chineses nos países
com características chinesas a china usa um cinturão que a dos empréstimos neste país variam em diferentes e importan- parceiros. Em outras palavras, a assistência técnica e a provisão
rota foi subdivididos por meio de seis corredores econômicos tes formas em relação ao restante dos países do continente, de empréstimos para infraestrutura representariam uma for-
internacionais, os quais tencionavam abranger inicialmente 65 já que a sua maioria é assegurado pelas exportações de pe- ma de a China abrir portas para expansão dos investimentos
países. tróleo.16 Nos últimos anos, houve significativa redução na li- de suas empresas.
O escopo geográfico inicial da BRI, reuniria 4,4 bilhões de beração de empréstimos ao país, após o recorde atingido em Entre investimentos, financiamentos e projetos de infraes-
pessoas e um PIB de cerca de US$ 21 trilhões, aproximada- 2016, com US$ 15,3 bilhões, refletindo receios a respeito da trutura, Gao e Wang (2018) assinalam que a China estabelece
mente 29% da produção global, em valores de 2016. No en- necessidade de renegociação das dívidas por conta da queda um ecossistema para expansão internacional, no qual distintos
tanto, a China seguiu formalizando memorandos de entendi- no preço do petróleo entre 2014 e 2015. As duas instituições actores exercem papeis específicos em torno de uma mesma
mento com outras nações interessadas, chegando a um total não liberaram recursos ao país em 2018 e 2019. plataforma. Os governos estabelecem acordos de cooperação
de 139 países de distintas regiões e diferentes níveis de renda A Quênia é o segundo país africano que mais recebeu re- e os bancos financiam projetos de infraestrutura construídos
em 2021. A abrangência da Nova Rota da Seda estende-se cursos, com US$ 8,8 bilhões. Desde 2013, são doze emprés- por empreiteiras chinesas, facilitando para que outras firmas
atualmente de leste a oeste, do Pacífico à Europa, com cone- timos, totalizando US$ 6,8 bilhões. Entre 2014 e 2015, foram chinesas promovam negócios em uma miríade atividades
xões com as regiões oriental e central da Ásia, expandindo-se liberados US$ 3,6 bilhões para construção da ferrovia SGR, de econômicas.
para Rússia, Europa Central e Oriental e África, atingindo tam- 480 km, que liga a cidade portuária de Mombasa à capital Nai- Nesse contexto, é possível interpretar que os financiamen-
bém a Europa Ocidental e até mesmo a América Latina. róbi.17 O país também sofreu escassez de empréstimos nos tos, especialmente dos policy banks, pavimentariam o cami-
A china investiu em infraestrutura, em princípio, o foco últimos anos, com apenas US$ 265 milhões liberados pelo nho para a entrada do IED chinês, que traz consigo possíveis
central da Nova Rota da Seda. Afinal, a iniciativa previa, desde CHEXIM em 2019. A queda nos preços das commodities ex- benefícios ao país receptor e também projetando soft power
o início, a promoção de grandes projetos de construção civil portadas (petróleo) também prejudicou a capacidade de pa- chinês.
como forma de fomentar a integração econômica regional. gamento. Em 2020, o país entrou com requisições na Iniciativa Cabe, assim, identificar em que medida a BRI potencializou,
Não por acaso, a reconhecida lacuna global em infraestrutura de Suspensão do Serviço da Dívida (Debt Service Suspension ou não, o IDE chinês nos países integrados à iniciativa.
parecia justificar a empreitada chinesa. Initiative – DSSI) do G20. Legisladores quenianos inclusive O CGIT é o conjunto mais abrangente de dados públicos
O continente asiático, considerado o mais dinâmico eco- solicitaram junto à China a reestruturação da dívida relativa à relacionados aos investimentos e aos contratos de construção
nomicamente, apresenta fortes contradições: cerca de 400 mi- ferrovia Mombasa-Nairóbi (Acker e Brautigam, 2021). da China, documentados separadamente e em conjunto. In-
lhões de pessoas sem acesso à eletricidade; lacunas de cerca Entre 2008 e 2019, a Etiópia recebeu trinta e cinco emprés- clui quase quatro mil grandes transações em setores produti-
de US$ 8 trilhões, no setor de transportes; e de US$ 2,3 trilhões timos, somando US$ 8,3 bilhões. A maior parte dos recursos vos que envolvem energia, transporte, tecnologia e outros se-
nas telecomunicações. Além disso, aproximadamente 300 mi- foi alocada depois de 2013 (US$ 6,8 bilhões), com o setor de tores, bem como mais de trezentas transações problemáticas.
lhões de asiáticos não possuem acesso à água potável segura transportes se sobressaindo.18 De forma similar aos casos an- Contudo, os dados compilados pela AEI somente consideram
e 1,5 bilhão de pessoas, ao saneamento básico. golano e queniano, a Etiópia não recebeu empréstimos em investimentos superiores a US$ 95 milhões.
Então, os projetos planifcados pela BRI poderiam dar conta 2019, também por conta de receios dos emprestadores chine- A ideia subjacente a uma cooperação “ganha-ganha” proje-
de necessidades básicas (infraestrutura de energia, transpor- ses a respeito de requisições anteriores do país para reestrutu- ta soft power, mas também disponibiliza oportunidades para
tes e comunicações) de muitos países. A China, por sua vez, ração de dívidas. países signatários ou não da BRI. A extensa rede de canais de
exploraria a retórica cooperativa, projetando soft power para Na Europa, a Rússia atraiu cerca de 65% dos financiamen- financiamento serve a diferentes propósitos, entre eles pavi-
conquistar simpatia junto a potenciais parceiros. A lógica tos, arrematando US$ 37 bilhões dos bancos chineses entre mentar o caminho para uma maior presença de investidores
subjacente à chamada cooperação “ganha-ganha” (win-win), 2008 e 2019. Deste total, US$ 12 bilhões foram alocados após chineses, tanto de natureza privada quanto pública.A queda
colocada pelas autoridades chinesas como o “caminho” para o lançamento da BRI, abarcando projetos em energia, trans- verificada nos níveis de financiamento se explica por um con-
a Nova Rota da Seda, assentou-se justamente no potencial portes, manufatura e telecomunicações. junto de fatores, entre eles a reavaliação de práticas de em-
de complementaridade entre a China e seus vizinhos mais Sérvia e Hungria também receberam recursos para a cons- préstimo, a redução nas reservas internacionais e os efeitos da
próximos. trução da ferrovia Belgrado-Budapeste, empreendimento pandemia de covid-19. De toda forma, os bancos comerciais
De um lado, o gigante asiático possui um conjunto de ca- estratégico no contexto da BRI, principalmente ao possibilitar e as instituições multilaterais de crédito poderiam suprir essa
nais institucionais públicos capazes de prover financiamento futuras conexões entre o porto de Piraeus (Grécia) e os países lacuna, assegurando recursos para projetos de infraestrutura
de longo prazo, além de empresas com capacidade técnica da Europa Central (Posaner e Bayer, 2020). e, consequentemente, criando condições suplementares para
para realização de grandes projetos de infraestrutura. Por ou- Na América Latina, cerca de 90% dos aportes do CDB e do uma maior presença de investimentos diretos..
tro, os países vizinhos necessitam de investimentos para suprir CHEXIM se direcionaram a apenas quatro países – Venezuela, Argumenta-se que a BRI, enquanto plataforma proje-
seu deficit de infraestrutura, demandando também a experti- Brasil, Equador e Argentina (Ray et al., 2021; Gallagher e Myers, ção econômica internacional voltada ao longo prazo, ain-
se chinesa em projetos de construção e engenharia. Contudo, 2021). É importante ressaltar que, ao contrário de Venezuela e da está construindo as condições políticas, econômicas e
essas interações não ocorreriam sem contradições, havendo Equador, Brasil e Argentina ainda não se incorporaram formal- institucionais para impulsionar os fluxos de IDE, embora os
casos negativos associados à falta de transparência, aos im- mente à iniciativa. países fora da iniciativa ainda concentrem a maior parte dos
pactos sociais e ambientais em comunidades afetadas pelos A Venezuela e o Equador apresentaram casos similares fluxos de IDE. Todavia, a maior resiliência dos países signa-
projetos e aos próprios impactos econômicos àqueles verificados com alguns países africanos. Os países tários da iniciativa à queda verificada a partir de 2018, com-
O principal receptor de empréstimos oriundos dos bancos receberam empréstimos volumosos, alguns deles lastreados binada com maiores restrições ao IDE chinês nos mercados
CDB e CHEXIM na Ásia é o Paquistão, com US$ 39,8 bilhões. em exportações de petróleo futuras (Gallagher, 2016). Nos desenvolvidos,sugere um maior direcionamento desses in-
Desde 2013, foram US$ 30,68 bilhões para construção e mo- últimos anos, inquietações a respeito da sustentabilidade da vestimentos aos países em desenvolvimento, mais carentes
dernização de rodovias, ferrovias, gasodutos, usinas terme- dívida nestes dois países, além da instabilidade política na em recursos, especialmente para infraestrutura.
létricas, hidrelétricas, nucleares, infraestrutura urbana, entre Venezuela, levaram a uma redução nos aportes chineses. Em Os dados sobre os contratos de construção, a serem anali-
outros. 2019, apenas US$ 1,1 bilhão foi destinado por parte do CDB e sados em estudos posteriores, podem lançar luz sobre essas
Paquistão, Irã, Indonésia, Turcomenistão, Bangladesh e CHEXIM para a América Latina, ao passo que não foram regis- dinâmicas, confirmando ou não a possibilidade de seu papel,
Filipinas respondem por cerca de 64% dos financiamentos trados novos aportes em 2020 (Ray, Albright e Wang, 2021). ao lado dos financiamentos, enquanto alicerce de um ecos-
chineses na Ásia desde 2008, acumulando US$ 106 bilhões Considerando a contextualização em relação aos principais sistema assentado em interações econômicas mais robustas
em aportes dos policy banks. Esses aportes se distribuem em destinos de financiamento dos policy banks na esfera da BRI, e com forte presença investimentos diretos. Pode-se esperar,
financiamentos para projetos em energia, transportes, tele- é possível notar uma prevalência de empréstimos nos setores por fim, reconfigurações da iniciativa nos proximos anos ,
comunicações, manufatura, serviços públicos, entre outros, de transporte e energia. Desde 2009, US$ 249 bilhões foram com contornos ainda indefinidos e possivelmente influen-
incluindo também empréstimos discricionários. Outros países destinados à construção de infraestruturas de transporte e ciados pelas disputas geopolíticas entre China e Estados
asiáticos signatários da BRI absorveram recursos não desprezí- energia, sugerindo que a BRI e seus objetivos consolidam a Unidos.
12 PLANO DE FUNDO DOSSIERS & FACTOS 23 de Outubro de 2023 SEGUNDA-FEIRA
pergunta. Em face da alegada falta de poder, de- zes entra em conflito com a acção divina, eclesiástica. lidade dos materiais de Kalhamanculo, KaMpfumo e
fende a demissão do presidente da CNE? Quando estamos em exercício desta acção mundana, em todos os sítios onde foram apontados como pro-
FM: Defendo a mudança radical da forma de ser e em algum momento entramos em choque com as blemas. O presidente já teria ido a essas Comissões. E
estar do presidente da CNE. actividades celestiais. Portanto, eu penso que todo mais, os tribunais recomendam a punição dos preva-
aquele que assume este cargo deve apartar-se do ricadores. E que tipo de actividades estão a decorrer?
“O Presidenta tem que entender que assuntos da seu cargo anterior. Eu estava a desempenhar uma sé- Que chamada de atenção houve para os presidentes
CNE são prioritários” rie de actividades no meu partido e deixei. Conheço das Comissões. Provavelmente encontraremos as
muitas outras pessoas que desempenhavam funções mesmas pessoas problemáticas à frente dos proces-
D&F: E se eu lhe pedisse para responder com e deixaram. Mas há algumas pessoas que ainda mis- sos. Tivemos estas situações em Marromeu. Não se
“sim” ou “não”? turam, e temos que respeitar, porque somos temen- mexeu em nada, mas tinha havido uma sansão. En-
FM: (Risos) Estas perguntas são um tanto ou quan- tes a Deus, mas não podemos aqui aparecer a termos tão, na minha opinião, o presidente da CNE deve-se
to difíceis de responder, porque as acções do presi- que dar a entender que colocamos em primeiro lugar posicionar como dirigente máximo deste processo.
dente da CNE, até este momento, anulam o seu po- algumas actividades em detrimento de outras. Por- E os moçambicanos não devem ter dúvidas sobre
der. Não está a demonstrar ou a exercer o seu poder. tanto, tentando responder à sua pergunta, penso que que lado está o presidente. Não deve haver especu-
D&F: O que devia fazer para demonstrá-lo? ele deve-se dar oportunidade. Ele ainda vai a tempo. lações, o presidente tem que estar do lado da ver-
FM: Deveria ficar do meio e arbitrar, e não ser par- Algumas coisas eventualmente é por inocência, ou- dade e não deve se deixar influenciar por ninguém.
te de nenhuma das equipas, porque o que ele está tras se calhar por influência, e essa influência não O presidente deve-se deixar influenciar pela Lei e
a fazer neste momento, digo com sinceridade, está é boa. Eu estava a explicar que o processo eleitoral pelos ditames da sua consciência. Ele é um homem
a deixar dúvidas sobre o seu posicionamento. Tenho dá hegemonia à CNE. Quer dizer que, independen- de Deus, por isso, o Papa Francisco disse que os cren-
muita estima pelo presidente da CNE e, por isso, te- temente dos actos dos tribunais, a responsabilidade tes devem-se envolver na política para o bem e não
nho até feito o máximo para entrar e tentar explicar. sobre os actos eleitorais cabe à CNE. E o presidente para o mal, portanto, esta é a minha observação so-
Nalgumas vezes, é preciso que o presidente da CNE é o expoente, e ele não pode ficar inerte. Não pode bre aquilo que devia ser o posicionamento do nosso
entenda que os assuntos da CNE são prioritários para ficar no silêncio. Portanto, significa que nós já devía- presidente. Eu falo isto de coração aberto porque
todo aquele que aceita entrar na CNE. Não deve exis- mos ter ido aos sítios onde se fala de repetição de não sou apologista de extremismos. Mas quando há
tir uma outra. Nós todos conhecemos e respeitamos eleições, onde se fala da recontagem. Matola é aqui reincidência…. A voz do povo é a voz de Deus, não
Deus. Mas quando aceitamos fazer o trabalho huma- perto. Qual é o estágio de conservação dos materiais é o Mazanga que deve dizer se o presidente deve ou
no, do homem, temos que nos dedicar e algumas ve- da Matola, qual é o estágio da segurança da inviolabi- não se demitir, é o povo, então, respeito a vontade
do povo. Quando falo à comuni-
cação social muitos questionam,
“mas por que é que o Mazanga
está a falar”? Falo porque sou
vice-presidente da CNE e tenho
esta autonomia. Os moçambica-
nos precisam de ser esclarecidos
sobre o que está a acontecer.
Aqui não invento absolutamen-
te nada. CNE está sentada lá à es-
pera dos tribunais, mas é preciso
vincar que os tribunais têm uma
intervenção muito ínfima, que é
no contencioso. A CNE tem que
assumir o seu papel. Veja só um
ponto crítico da ingenuidade da
CNE, o processo do apuramento
prevê que começa no distrito e
depois para a província. Quan-
do está no distrito, há uma eta-
pa muito importante que se
faz, chamada apuramento in-
termédio. Quem são as pessoas
que a fazem? Era preciso que as
pessoas fossem formadas, mas
não foram formadas a partir do
nível central. Alegou-se que não
havia dinheiro para se fazer as
formações nos distritos e nas
províncias.
D&F: O que deve ser feito
para conferir credibilidade
aos processos eleitorais em
Moçambique?
FM: Bom, nós, como Comis-
são Nacional de Eleições, aliás,
eu, em particular, já fui à Índia,
que era para podermos perce-
ber como é que é feito o voto
electrónico. Eu fui ao Brasil e
presenciei o voto electrónico
através de um processo chama-
do de zerésima, que eles usam,
um processo muito bonito, mas
mesmo assim houve problemas,
houve contestação. O que tem
que haver é que as pessoas que
são dadas a responsabilidade de
Mazanga não entende como os boletins de voto desaparecem dirigir os órgãos eleitorais devem
SEGUNDA-FEIRA 23 de Outubro de 2023 DOSSIERS & FACTOS PLANO DE FUNDO 13
conferir confiança, as pessoas devem ser menos sus-
peitas. Não consigo, até aqui, entender porque é que
pululam boletins de voto pré-votados. De onde é
que vêm? Até aqui, eu estou no décimo ano na CNE,
em alguns momentos nós tentamos arranjar cadea-
dos porque os boletins de votos são produzidos na
África do Sul, transportados com segurança e tudo.
Durante a produção ficam lá membros da Comissão
de Operações Eleitorais (COE), que tem a composição
equilibrada, com representantes de todas as sensibi-
lidades políticas. Estão lá durante todo o momento
da sua produção até ao empacotamento e transpor-
te. Chegados aqui, são recebidos por equipas mistas,
que respeitam também as sensibilidades. Quando
chegam no destino, é aí onde temos tido os pro-
blemas, o armazenamento, daí que em alguns sítios
de imediato houve aceitação da colocação de três
cadeados, respeitando as três sensibilidades repre-
sentadas na Assembleia da República, mas noutros
sítios já não, houve recusa, houve sítios onde houve
arrombamentos. Há sítios onde se pode dizer que
houve furto, mas, no cômputo geral, como é que de-
saparecem estes boletins de voto? Como é que saem
os boletins depois de todo um processo que custa
muito dinheiro? Dois, como é que hoje vai-se dizer
que há problemas de desaparecimento de actas e
editais? Como é que é possível? Por quê? Nós gas-
tamos dinheiro produzindo actas e editais para que
sejam distribuídos pelos representantes dos partidos
políticos, nomeadamente delegados de candidatura,
MMVs dos partidos políticos, incluindo até jornalis-
tas. Como é possível essa distribuição oficial, afinal,
é para quê, não é para que, quando se perde alguma
coisa, se possa usar outra? Quando você tem quatro Irregularidades levaram a vários contenciosos no País
chaves, perde uma chave, não é para pegar uma ou- a CNE, com os seus órgãos de apoio. Significa que, D&F: Disse que há três dias esteve a conversar
tra chave e usar? Então, por que é que ainda há dú- dentro da sua competência hegemónica, a CNE deve com o presidente da CNE. O que notou nele? Com
vidas de que se esta organização política tem estes corrigir todas as falhas que aconteceram. É normal vontade de continuar como presidente ou, em
editais que esta comissão perdeu - sendo que não se que aquelas pessoas estivessem sob adrenalina, face da pressão actual, terá notado alguma von-
percebe como se perde – pode-se recorrer a quem começaram a trabalhar às 04h e se calhar fizeram tade de desistir?
os tem oficialmente? Agora há sítios onde vamos ser cálculos já cansadas. Então, cabe à CNE, no seu mais FM: Bom, esse processo de pressão sob o presi-
obrigados a gastar mais dinheiro do Estado produ- alto critério, verificar caso a caso e fazer uma limpe- dente não começou aí. Houve uma primeira fase em
zindo novos materiais, quando há pessoas que são za ao texto. Depois desse trabalho todo, e se todos que foi dito que ele demitiu-se. Depois houve essas
responsáveis pelo desaparecimento disto. concordarem, prontos, assume-se aquilo que tiver pressões todas e até uma suposta carta que é feita
sido encontrado como resultado final. A lei diz que o a partir da Inglaterra, lá na Sede da Igreja Anglica-
Recenseamento eleitoral é mal feito de apuramento é efeito pela Comissão Distrital das Elei- na. Quando vi aquilo, reenviei para ele. Eu penso
propósito ções, através dos elementos materiais do STAE. Isso que o presidente aceitou essa missão de ser presi-
quer dizer que os membros da Comissão Distrital de dente se calhar consciente dos desafios que poderia
D&F: Portanto, mais do que o modelo, o pro- Eleições sentam-se os 15 na Sessão Plenária e verifi- enfrentar. Quero acreditar que estava consciente,
blema reside nas pessoas? cam todos os editais. Cada um vai verificando o edi- porque, aliás, as primeiras pedradas, digamos assim,
FM: A mente humana é um cocktail de bonda- tal, que depois é entregue à equipa do STAE que está provieram de nós logo no primeiro dia da eleição.
de e maldade. No dia em que o homem acorda com lá sentada com computadores, e é lançado. Aquele Nós dissemos que não, tínhamos votado contra ele,
maldade por cima, pode chegar e me mandar um membro da Comissão Distrital que tiver dúvida pode justamente porque sabíamos que seria mal usado.
soco, mas no dia em que a bondade estiver por cima ir espreitar para verificar se de facto aquilo que está Não era por causa dele como pessoa, mas por causa
pode chegar e mandar-me um bom beijo. Portanto, sendo introduzido é aquilo que eu tenho aqui. Feito daquelas pessoas que gostam de usar sobretudo os
o problema não são os artefactos. Os boletins do isto, tira-se o produto final e é entregue, já verificado clérigos para poderem fazer avançar os seus inten-
voto, em outros tempos, sítios já funcionaram bem, por todos. Esse aí é homologado por todos. Não são tos. A CNE não tem sido pêra-doce e é muita pena
há países onde não é preciso ir ao voto electrónico. estes do STAE que devem trazer um produto final. que não haja cobertura jornalística. Os nossos deba-
Mesmo com os boletins conseguem ter eleições Mas o que está a acontecer neste momento é que há tes chegam, em algum momento, a ser superiores,
equilibradas. E há países que têm a votação electró- uma superpotência que se chama STAE, que se eleva na minha forma de ver, aos que acontecem na As-
nica, mas continuam a ter problemas. Nós até já fo- em relação à CNE. Este é o problema central que nós sembleia da República.
mos ao Gana. Assistimos a vários avanços, incluindo encontramos na nossa funcionalidade. D&F: Tem alguma coisa que gostaria de dizer?
no instrumento de verificação. Tudo começa com o FM: A coisa que eu gostaria de deixar aqui é que
processo de recenseamento eleitoral, mal feito de “A CNE não tem sido pêra-doce” nós moçambicanos, e quando falo de moçambica-
propósito. nos começo pelo pai da nação, deveríamos lutar
D&F: Na sua opinião, a CNE deve ou não homo- D&F: Na sua opinião, baseada na experiência para criar um estado democrático e de justiça social.
logar os resultados que estão a ser proclamados que carrega, o que podemos esperar ainda deste Muita das vezes eu tenho me referido às palavras de
pelo STAE? processo eleitoral? sua Excelência Presidente da República no dia em
FM: A CNE tem a responsabilidade de fazer a FM: Podemos esperar a continuação da manuten- que votou, quando ele disse “não há ninguém que
supervisão. Supervisão significa indagar, verificar, ção da vontade popular de querer ver as suas aspira- deve dizer golo antes da bola ultrapassar as balizas,
apurar. Há números cuja soma aritmética revela in- ções representadas. Primeiro, foi através da votação. não há ninguém que ganha o jogo antes do fim dos
congruências, mas há colegas que dizem que não O povo pronunciou-se através da votação. Se a vota- 90 minutos, e que a Polícia não deve fazer parte do
se pode mexer porque veio assim do distrito. São ção não corresponde às expectativas do povo, cabe- jogo. Ora, o que nós assistimos em algum momento
situações em que está escrito que 40 + 50 = 100, e rá ao próprio povo saber que tipo de metodologia, foi o uso da força gratuitamente. Não era necessário
você diz que não pode mexer. Esse exercício não é que tipo de acções poderá levar a cabo para poder nos processos eleitorais. Vamos respeitar a vontade
resolvido no tribunal. Quem resolve esse exercício é fazer valer a sua vontade. popular.
14 INSS DOSSIERS & FACTOS 23 de Outubro de 2023 SEGUNDA-FEIRA
NA PROVÍNCIA DE MAPUTO
COMUNICANDO NA DEMOCRACIA
Perguntámos aos internautas o que deve
ser feito para credibilizar os processos
eleitorais no País. Eis parte das
respostas:
M Sarah Mindoso
C Abdul Daud
M Da Graça Emylton
M Jaime Chambule
BASQUETEBOL
2
da e porca, ainda consegue ser votado. 6 – Contagem paralela. Esta inovação de
Constatações Venâncio Mondlane, que afirmou ter um centro de contagem de votos paralelo,
fez diferença. Muitos números que iam saindo inicialmente poderiam vir deste
gabinete que acabou fazendo passar a percepção de que a Renamo estava em
vantagem, e depois foi o que vimos. 7 – Fakenews. Garganta tem certeza de que
havia um gabinete montado para distorcer informação. As informações que iam
Algumas constatações de Garganta é um pouco arriscado depender muito saindo inicialmente vinham com chancela de alguns órgãos de informação para
sobre as eleições ora terminadas: voto desta plataforma. Enquanto a Renamo dar legitimidade, tanto mais que a Tv Sucesso apareceu a distanciar-se das mes-
urbano vs voto rural ou periférico. Cada não conseguir penetrar e se enraizar mas e afirmando que a sua página estava a ser “hackeada” ou falsificada. Esses
vez fica mais claro que o voto urbano hoje nas zonas rurais ou periferias, vai sem- fakenews visavam, claro, legitimar a aparente vantagem de uns em sobre os ou-
tem recaído para oposição. Por exem- pre têm problemas nas eleições. Esses tros.
plo, em Maputo, a Frelimo tem perdido usuários das redes sociais estão nas zo-
em zonas como Sommerchild, Polana Ci- nas urbanas e é lá onde está o voto da
mento e arredores. Isso pode-se explicar Renamo, mas a Frelimo está enraizada
pelo facto de hoje, nessas zonas de elite, nas localidades e distritos, onde está a
já não estarem a viver os donos das ca- maior parte da população (esta teoria
sas. Arrendaram-nas e/ou venderam-nas, tem mais peso nas eleições presiden-
partiram e construíram prédios. Hoje ali ciais). 3 Sociedade Civil – se acusam que
vivem expatriados.Com a crise de dinhei- o STAE e CNE estão nas mãos da Frelimo,
ro, hoje quem tem dinheiro para pagar em contrapartida é bem verdade que as
renda daquelas casas usa-nas para servi- organizações da Sociedade Civil, qua-
ços ou habilitação. São os constituintes se na sua totalidade, são anti-Frelimo e
da Sociedade Civil que recebem avultadas pró-oposição. 4 – Povo no Poder. Este
somas dos países ocidentais, o que faz já é um movimento muito forte. A triste
da Sociedade Civil moçambicana indiví- morte do rapper Azagaia foi bem apro-
duos da classe média alta. Recebem mui- veitada pela oposição, ficou-se com a
to dinheiro em dólares, vivem em zonas impressão de que a juventude está com
de elite e, , são quem têm “xibaba” neste sede de mudanças e vê na RENAMO um
momento. 2-Redes sociais. As redes so- destinatário dos seus votos, mas isso
ciais têm poder hoje, muito poder. E em requer um estudo referente às dinâmi-
mundos muito desenvolvidos elas fazem cas do voto da juventude, porque uns
a mudança. Exemplo é a primavera ára- podem pensar que é toda juventude
be, em que Magrebe caiu em cascata por que quer a Renamo, quando na verdade
conta de revoluções populares. Quer me são os “putos” do movimento. 5 – Voto
parecer que os partidos apostaram muito contra. Em alguns cenários, os eleitores
em fazer campanha nas redes sociais, com não votam ba Renamo, mas sim votam
maior destaque para a RENAMO. Não se vi- contra a Frelimo. Não querem “ver” a
ram panfletos colados, não houve muitos Frelimo e qualquer que seja o candidato
roadshows, não vimos distribuições mas- a Frente irá receber o voto destes eleito-
sivas de camisetes. Vimos, sim, foi muito c res. É assim em Nampula e Quelimane.
nas redes sociais. Num País com menos de Vejam que mesmo Paulo Vanhale tendo
dois milhões de usuários das redes sociais, deixado a cidade totalmente esburaca-
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50Mt