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SAI ÀS SEGUNDAS DOSSIERSEFACTOS.COM FACEBOOK: DOSSIERS & FACTOS

50Mt

DIRECTOR: Serôdio Towo | Segunda-Feira, 07 de Novembro de 2022 | Edição nº: 489 | Ano: 10 | Tiragem: 7500 exemplares

CONHEÇA O MONTE DE SUBSÍDIOS NA AR

-Há deputados com direito a subsídio de água, luz e até de empregado

doméstico.

-Para além do salário, a presença em sessões de trabalho vale

um valor extra aos parlamentares. Há ainda benesses relativas à
representação, comunicação, entre outras rubricas.

Leia com atenção o artigo, nas páginas 3, 4, 5 e 6

 2 EDITORIAL DOSSIERS & FACTOS 07 de Novembro de 2022 SEGUNDA-FEIRA

CNE e a partida em falso

Moçambique caminha para mais
um momento decisivo da sua histó-
ria democrática. Em 2023, terão lu-
gar as sextas eleições autárquicas,
às quais seguir-se-ão as presiden-
ciais, das Assembleias Provinciais
e, provavelmente, das Assembleias
Distritais.
O desejo de todos os moçambica-
nos é, decerto, que estes processos
corram da melhor forma possível
e, acima de tudo, que representem
uma evolução em relação às oca-
siões anteriores. Mas a concretiza-
ção desse desejo, sabemos todos,
passa necessariamente pela pre-
paração, um aspecto no qual esta-
mos a claudicar.
Os primeiros sinais disso foram
transmitidos justamente através
do Dossiers & Factos, por um dos
vice-presidentes da Comissão Na-
cional de Eleições, que lamentou
o atraso na aquisição do material
que deve ser usado no processo de
recenseamento eleitoral, funda-
mental para que os cidadãos exer-
çam o seu direito de votar.
Na semana finda, uma fonte da
CNE, citada pelo jornal o País, re-
forçou essa mensagem, gerando
preocupações no seio de toda a
sociedade. Não é para menos, o
calendário definido pode estar em
causa depois desta “partida em
falso”. Falhando a primeira etapa,
são maiores os riscos de falharem
os passos subsequentes, devido
ao efeito-dominó. Para que tal não
aconteça, terá de haver um redo-
brar de esforços por parte da CNE
no sentido de, em tempo recorde,
conseguir aquilo que até aqui não
foi feito.
Naturalmente, todos nós acre-
ditamos que o “árbitro” dos jogos
eleitorais saberá superar as dificul-
dades em alusão. Na verdade, nin-
guém cogita a possibilidade de não
se realizar eleições autárquicas em
2023, até porque nem mesmo no
passado, em momentos de gran-
des dificuldades, o país não ousou
falhar neste quesito.
Posto isto, o que preocupa de
facto é a qualidade do processo
que teremos. Como defende a ve-
lha divisa da Frelimo, “a vitória
prepara-se, a vitória organiza-se”.
Neste momento, a CNE está longe
de estar preparada e organizada.
Pelo menos não nos níveis ideais,
porque, se estivesse certamente, já
estaria em estágio mais avançado.
Este cenário é deveras preocu-
pante, mesmo porque esta entida-
de tem de organizar eleições em
mais 10 autarquias, no âmbito do
processo gradual de descentrali-
zação. A CNE terá de responder a
estes novos desafios e, em simultâ-
neo, revelar crescimento. Ou seja,
não podem mais ser admissíveis
os erros crassos do passado, no-
meadamente o envio tardio das
urnas, falta de cadernos eleitorais
nas mesas de voto, problemas de
contagem, entre outros que colo-
cam em causa a credibilidade dos
processos.
Cumpre ressaltar que este ór-
gão trabalha em meio a um clima
de desconfiança, o que é atesta-
do pelo facto de todas as eleições
realizadas no país terem gerado
contestação por parte dos partidos
da oposição, especialmente da Re-
namo, que, infelizmente, e por di-
versas ocasiões, recorreu às armas
para “exigir a reposição da justiça”.
Está claro, pois, que um dos maio-
res desafios da CNE é credibilizar-se
a si própria e isso não acontecerá
enquanto continuar a cometer er-
ros de palmatória. Por outro lado,
a novela que marcou a eleição do
novo homem forte do Secretariado
Técnico da Administração Eleito-
ral, um órgão subordinado à CNE,
pouco ajuda, pois deixou claro o
quanto a instituição é vulnerável a
pressões políticas.
A verdade é que, ao que tudo in-
dica, as “vontades externas” não
vingaram, e isso é importante, na
medida em que pode transmitir
uma mensagem de força por parte
do actual presidente. De resto, ca-
berá aos membros da CNE decidir
se querem servir à democracia ou
aos interesses particulares de gru-
pos bem identificados. Nos próxi-
mos meses, teremos a resposta.
serodiotouo@gmail.com

FICHA TÉCNICA
PROPRIEDADE DA
S.T. PROJECTOS E REDACÇÃO, MAQUETIZAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO:
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Serôdio Towo (Director-Geral) REDACÇÃO: Serôdio Towo, Amad Canda, Quelto Janeiro, Hélio de Carlos| FOTOGRAFIA: Albino Mahumana|
ADMINISTRAÇÃO: Gabriel Muchanga , sebmuchanga@gmail.com, 84 228 5835|GRAFISMO: Herbigno Lote
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Gabriel Muchanga
Muchanga , sebmuchanga@gmail.com, 84 228 5835| COLUNISTAS: Rui Maquene|
Registo N° 19/GABINFO-DEC/2012
 SEGUNDA-FEIRA 07 de Novembro de 2022
VERGONHA PARLAMENTAR
Deputados navegam em subsídios
insanos
E
nquanto o Governo discu-
tia a Tabela Salarial Única
(TSU), que também tem a
particularidade de incre-
mentar os rendimentos dos “che-
fes”, a Assembleia da República
tratava de aumentar a “dignidade”
dos deputados. Através da Delibe-
ração nº 219/2022, de 22 de Março,
é atribuído aos “representantes do
povo” uma série de subsídios que
não deixam de gerar espanto num
país de baixa renda e com a maio-
ria da população mergulhada na
miséria. Há deputados com direi-
to ao subsídio de água e luz, num
país onde esses recursos são um
luxo para muitos cidadãos. Alguns
têm até subsídio de empregado
doméstico, que se junta a tantas
outras benesses, como subsídio de
renda, transporte, representação e
senha de presença. A deliberação
inclui benesses também para os
Agentes e Funcionários Parlamen-
tares, que, por sinal, são bem me-
nores. Nas linhas que se seguem,
transcrevemos o “mar de subsí-
dios” em que se banham os legis-
ladores, sendo que, por razões de
economia de espaço, excluímos os
benefícios inerentes aos funcioná-
rios do Parlamento.
D&F Texto: Dossiers & Factos
Sub-secção
Subsídios
Artigo 2
(subsídios de representação)
O deputado tem direito a um subsídio
mensal de representação pago de acordo
com a Tabela 1, constante do anexo e das
presentes normas.
Artigo 3
(subsídios dos membros das comissões
Ad Hoc e de inquérito)
1. Os membros das comissões Ad Hoc e
de inquérito têm direito aos seguintes sub-
sídios mensais:
A) Presidente da Comissão: 14.774,86
DOSSIERS & FACTOS DESTAQUE 3
MT 3. Ao titular dos órgãos da Assembleia
B) Relator da Comissão: 12.774,86 MT da República, com direito à residência proto-
C) Membro da Comissão: 6.583,36 MT colar, atribuída pelo Estado, não é devido o
2. Quando os membros das comissões Ad subsídio de água e luz.
Hoc e de inquérito exercem os seus mandatos
por menos de um mês, a sua remuneração é Artigo 6
equivalente ao número de dias de exercício. (subsídio de empregado doméstico)
Tem direito ao subsídio mensal de empre-
Artigo 4 gado doméstico o deputado que desempe-
nha uma das funções ou pertence a um dos
(subsídio de renda de casa) órgãos constantes da Tabela 3, do anexo 2.
1. O deputado tem direito ao subsídio de Artigo 7
renda de casa correspondente a 30% do res- (subsídio de círculo eleitoral)
pectivo salário-base. 1. O subsídio diário do círculo eleitoral
2. O deputado substituto tem direito ao é de 9.000,00 MT, por um período de 60 dias.
subsídio de renda de casa, durante o período 2. O deputado eleito na diáspora tem
de substituição, equivalente a 30% do respec- direito a um subsídio diário por um período
tivo salário-base. de 60 dias, fixado em:
3. Ao deputado titular dos órgãos da As- a) Círculo de África 17.150, 00 MT
sembleia da República, com direito à residên- b) Círculo da Europa 18.620, 00 MT
cia protocolar, atribuída pelo Estado, não é 3. O deputado residente na cidade de
devido o subsídio de renda de casa. Maputo ou na província de Maputo, cujo cír-
culo eleitoral é fora desta, tem direito a 4 via-
Artigo 5 gens de ida e volta por ano.
(subsídio de água e luz) 4. Para o deputado que resida na cidade
1. Tem direito ao subsídio mensal de água de Maputo ou na província, cujo círculo elei-
e luz o deputado que desempenha uma das toral é fora desta, é acrescido o valor diário
funções ou pertence a um dos órgãos cons- de 1.620,00 mt por um período de 60 dias.
tantes da Tabela 2, do anexo 1. 5. O subsídio do círculo eleitoral é pago
2. O subsídio referido no número ante- ao titular até ao dia 30 do mês de Abril.
rior não se acumula, na situação em que o seu 6. O direito de viagem ao círculo eleito-
beneficiário exerça uma função e, em simultâ- ral deve ser exercido durante o ano econó-
neo, é membro de um dos órgãos com direito mico a que se refere, devendo a última ser
ao mesmo subsídio. requisitada até 30 de Novembro.Anexo 1
Tabela 1- subsídio de representação do deputado
N. de ordem Função Montante em Mt
1. Vice-presidente da AR 16.479,08
2. Chefe de Bancada Parlamentar 16.479,08
3. Membro da comissão parlamentar 14.868,70
4. Vice-chefe da bancada parlamentar 14.868,70
5. Relator da bancada parlamentar 12.210,87
6. Presidente da comissão de trabalho 12.210,87
7. Porta-voz da bancada parlamentar 8.210,87
8. Relator da comissão de trabalho 8.210,87
9. Relator de gabinete parlamentar 8.210,87
10. Membro do conselho de 8.210,87
administração
11. Cabeça de lista 6.021,24
12. Membro de comissão de trabalho 3.969,10
13. Deputado 3.675,10
 11. Cabeça de lista 6.021,24
12. Membro de comissão de trabalho 3.969,10
13. Deputado 3.675,10
4 DESTAQUE DOSSIERS & FACTOS 07 de Novembro de 2022 SEGUNDA-FEIRA

Tabela 2-subsidio de água e luz do deputado

N. de ordem Função Montante em
Mt
1. Vice-presidente da AR 3.880,81
2. Chefe de Bancada Parlamentar 3.880,81
3. Membro da comissão parlamentar 3.449,61
4. Vice-chefe da bancada parlamentar 3.449,61
5. Relator da bancada parlamentar 3.449,61
6. Presidente da comissão de trabalho 3.449,61
7. Porta-voz da bancada parlamentar 3.019,27
8. Relator da comissão de trabalho 3.019,27
9. Relator de gabinete parlamentar 3.019,27
10. Membro do conselho de administração 3.019,27
*Enquanto não estiver em casa protocolar

7. Nos casos de substituição, depois do República.

pagamento do subsídio do círculo eleitoral,
o deputado substituto deve devolver o va-
lor recebido, correspondente ao número de
dias de substituição.
Benesses
Artigo 8
(subsídio de comunicação)
O deputado tem direito ao subsídio de
comunicação mensal, conforme a Tabela 4,
constante do anexo 2.
Artigo 9
(subsídio de transporte)
É fixado em 45.000,00 mt o subsídio de
transporte para o vice-presidente, chefe da
bancada, membro da Comissão Permanente,
vice-chefe da bancada parlamentar, relator
da bancada parlamentar, porta-voz da ban-
cada parlamentar, presidente da comissão
de trabalho, presidente do gabinete parla-
mentar, relator da comissão de trabalho, re-
lator do gabinete parlamentar e membro do
conselho de administração.
Artigo 10
(subsídio para o acompanhamento do
deputado)
Ao acompanhante do deputado com de-
ficiência ou doença que o torne incapaz de
se conduzir a si próprio é atribuído pela As-
sembleia da República um subsídio mensal
equivalente ao dobro do salário mínimo em
vigor na função pública.
Secção 2
Descontos
Artigo 11
(descontos para efeito de previdência
social)
1. No âmbito da aplicação do estatuto,
previdência e segurança social do deputado,
aprovado pela lei n. 31/2014, de 30 de De-
zembro, o deputado desconta 15% do salá-
rio base para efeitos de aposentação, assis-
tência médica e medicamentosa e subsídio
de funeral.
2. Para efeitos de reembolso do valor
da compra de medicamentos, o deputado
deve apresentar a receita médica e o recibo
que comprova a compra dos medicamentos,
através de prescrição médica.
Secção 3
Senha de presença
Artigo 12
(senha de presença)
1. O deputado tem direito à senha de
presença sempre que a Assembleia da Repú-
blica estiver reunida em sessão, tanto ordi-
nária como extraordinária.
2. A senha de presença é paga mensal-
mente, verificada a presença do titular.
3. No caso de haver substituição antes
de expirados os 30 dias, a compensação ao
substituto é deduzida no salário do titular.
Artigo 13
(critérios de atribuição de senha de
presença)
1. Para o deputado, é fixado o valor diá-
rio de 1.000,00 mt para a senha de presença,
durante a sessão ordinária da Assembleia da
2. Para efeitos de atribuição da senha de
presença, são acrescidos sete dias, anteriores
ao início da sessão ordinária da Assembleia
da República, incluindo os dias não úteis, e
três dias depois do fim da sessão.
3. Nas sessões de comissão de trabalho,
que se realizam quinze dias antes do início
da sessão ordinária, o valor diário da senha
de presença é fixado em 1500.00 MT.
4. O membro da Comissão Permanente,
do Conselho de Administração, da comissão
de trabalho, incluindo a comissão Ad Hoc, e
de inquérito, não têm direito à senha de pre-
sença durante as sessões que se realizam no
período em que estiver a decorrer a sessão
ordinária da Assembleia da República.
5. No intervalo entre as sessões ordiná-
rias da Assembleia da República, o Conselho
de Administração, as comissões de trabalho
e os gabinetes parlamentares realizam as
suas actividades mediante um plano previa-
mente aprovado e autorizado pelo presiden-
te da Assembleia da República.
6. Nas sessões da Comissão Perma-
nente, do Conselho de Administração, das
comissões de trabalho e dos gabinetes par-
lamentares, realizadas no intervalo entre as
sessões ordinárias da Assembleia da Repú-
blica, o valor diário da senha de presença é
de 1.500,00mt, fixado no limite de 60 dias
por ano.
7. O valor correspondente às ausências é
deduzido durante o pagamento da senha da
presença subsequente, quando não for por
missão de serviço.
Artigo 14
 SEGUNDA-FEIRA 07 de Novembro de 2022
(senha de presença da sessão
extraordinária)
Em caso de sessão extraordinária da As-
sembleia da República, a senha de presença
diária é fixada em 9.000.00 MT.
Artigo 15
(senha de presença de sessões virtuais)
1. O deputado tem direito à senha de
presença pela participação em sessões vir-
tuais de reuniões internacionais, fixado em
1.000,00mt diário.
2. A senha de presença, referida no pre-
sente artigo não prejudica as demais senhas
previstas nestas normas de que o deputado
tenha direito.
CAPÍTULO 2
Viagens
Secção 1
Disposições gerais
Artigo 16
(viagens em missão de serviço privadas)
1. A Assembleia da República é respon-
sável pela viagem do deputado em missão
de serviço parlamentar, em condições con-
dignas e seguras.
2. O deputado em missão de serviço par-
lamentar tem direito ao seguro de viagem.
3. Para efeitos do disposto no número
1 do presente artigo, o deputado em missão
de serviço da Assembleia da República deve
viajar nas condições e transporte providen-
ciados pela Assembleia da República.
4. Nos casos em que o deputado optar
por viajar por via terrestre, deve apresentar
os justificativos da despesa, para efeitos da
prestação de contas. A falta de apresentação
de justificativa da despesa implica a devolu-
ção do valor pelo deputado.
5. Para efeitos de prestação de contas,
o deputado deve, até 5 dias após o regresso,
DOSSIERS & FACTOS
apresentar os seguintes justificativos:
a) Nas deslocações dentro do país, o ta-
lão de embarque;
b) Nas deslocações fora do país:
i. O bilhete de passagem;
ii. Talões de embarque e;
iii. Fotocópia do passaporte na parte
justificativa de embarque e desembarque no
país.
6. Em caso de viagens de serviço, finan-
ciadas por outras entidades, o deputado via-
ja nas condições oferecidas pelo financiador.
7. O deputado que viajar, por iniciati-
va própria, em condições não previstas no
número 2 do presente artigo é responsável
pelos riscos inerentes à viagem.
8. O deputado autorizado a realizar des-
locações em missão de serviço deve apre-
sentar o relatório de actividades realizadas
ao Presidente da Assembleia da República,
no prazo de 10 dias, contados a partir da
data de regresso.
Artigo 17
(Preparação de viagens)
1. Compete ao Secretariado-Geral pre-
parar a viagem do deputado em missão de
serviço da Assembleia da República.
2. Para efeitos do disposto no número
1, do presente artigo, o Secretariado-Geral
deve ser comunicado da realização da via-
gem com uma antecedência mínima de 20
dias, da data da partida, para tratamento de
vistos, identificação de rotas, transporte e
reserva de hotéis.
Artigo 18
(Deslocações em missões de Bancadas
Parlamentares, partidárias e privadas)
1. A Assembleia da República não se
responsabiliza pelas viagens em missões
das Bancadas Parlamentares, partidárias e
privadas.
DESTAQUE 5
2. Tem direito ao atendimento protoco-
lar, quando em viagens referidas no número
anterior, o vice-presidente da Assembleia da
República, o Chefe de Bancada Parlamentar
e o Membro da Comissão Permanente da As-
sembleia da República.
Secção II
Viagens por via aérea
Sub-secção I
Em território nacional
Artigo 19
(Classes de viagens)
1. O deputado da Assembleia da Repú-
blica viaja em classe executiva.
2. Nos casos em que o deputado viajar
em classe inferior a que tem direito, por ra-
zões alheias à sua vontade ou da Assembleia
da República, o Secretariado-Geral da As-
sembleia da República deve assegurar que o
valor da diferença seja devolvido à institui-
ção, para depósito na respectiva rubrica.
3. Em caso de impossibilidade de con-
firmação de viagem na classe executiva por
parte da companhia, o deputado viaja na
classe que a companhia oferece.
4. Em qualquer dos casos em que o de-
putado viajar, deve-se salvaguardar a ordem
de precedência existente na Assembleia da
República.
Artigo 20
(Composição das delegações e duração
da missão)
Nas delegações internas em missão de
serviço da Assembleia da República, as de-
legações são constituídas por um mínimo de
tês membros e o máximo de sete e a duração
da missão não deve exceder a 21 dias.
Artigo 21
(Calendário de viagens) Anexo 2
1. Nas deslocações às sessões da Assem-

Tabela 3-subsidio de empregado doméstico do deputado

N. de ordem Função Montante em Mt

1. Vice-presidente da AR 9.266,61
2. Chefe de Bancada Parlamentar 9.266,61
3. Membro da comissão parlamentar 6.177,74
4. Vice-chefe da bancada parlamentar 6.177,74
5. Relator da bancada parlamentar 4.751,90
6. Presidente da comissão de trabalho 4.751,90
7. Porta-voz da bancada parlamentar 3.751,90
8. Relator da comissão de trabalho 3.019,27
9. Relator de gabinete parlamentar 3.019,27
10. Membro do conselho de administração 3.751,90
 6 DESTAQUE
bleia da República e no regresso ao ponto de
origem, o deputado deve viajar nas datas e
nos voos previamente fixados no respectivo
bilhete de passagem.
2. Em caso de não observância do dis-
posto no número 1, do presente artigo, o de-
putado assume, pessoalmente, as medidas
previstas nos regulamentos da companhia
aérea.
Artigo 22
(Bilhete de passagem aérea)
1. O bilhete adquirido pela Assembleia
da República é propriedade desta.
2. Não é permitida a conversão, em nu-
merário, do valor do bilhete de viagem aé-
rea, adquirido pela Assembleia da República.
3. Ao deputado com deficiência ou
doença que o torne incapaz de se conduzir
a si próprio é igualmente custeada a passa-
gem do acompanhante, quando se desloca
em missão da Assembleia da República.
4. A Assembleia da República custeia,
também, bilhete de passagem de filhos com
idade inferior a dois anos, que acompanhem
a deputada mãe ou o deputado pai à sessão
do Plenário e à sessão da comissão, assim
como de uma pessoa que apoie a mãe ou o
pai.
5. O acompanhante do deputado com
deficiência bem como a pessoa de apoio à
deputada mãe ou ao deputado pai referidos
no presente artigo viaja na classe económica.
Sub-secção II
(Viagens Internacionais)
Artigo 23
(Classes de viagem)
1. Viajam em primeira classe, quando o
voo tiver a classe em referência:
a) O vice-presidente da Assembleia da
República;
b) O Chefe da Bancada Parlamentar.
2. Viajam em classe executiva o Membro
da Comissão Permanente e o deputado não
abrangido no número 1 do presente artigo.
Artigo 24
(Composição da delegação)
1. Nas deslocações ao exterior, em mis-
são de serviço da Assembleia da República, o
número de deputados da delegação não deve,
em regra, ser superior a sete membros.
2. Todas as delegações parlamentares de-
vem ser acompanhadas por um assistente.
Secção III
Viagens por via rodoviária, ferroviária ou
marítima
Artigo
(Condições de viagem)
1. Em missão de serviço parlamentar, a
Assembleia da República providencia ao de-
putado, em viagem por via rodoviária, ferro-
viária ou marítima, o transporte em viaturas
condignas ou viagem na classe mais condigna
que houver.
2. Compete ao Secretariado-Geral adoptar
DOSSIERS & FACTOS
as providências administrativas que garantam
a realização de viagens nas condições previs-
tas no número 1 do presente artigo.
3. Nos casos onde não seja possível criar
as condições previstas, no número 1 do pre-
sente artigo, é excepcionalmente abonado ao
deputado o valor de 1.200,00 MT por cada 100
Km, ao deputado residente fora do raio de 40
Km da capital provincial ou do país.
4. As viaturas objecto de aluguer para
deslocação dos deputados devem possuir se-
guro contra todos os riscos.
5. Nos casos em que o deputado preten-
da utilizar viatura própria, a Assembleia da
República garante o pagamento do valor cor-
respondente ao custo de transporte calculado
nos termos do número 3, do presente artigo.
6. Para a concretização do referido no nú-
mero 5, do presente artigo, o deputado deve
solicitar ao Secretariado-Geral, com uma ante-
cedência mínima de 15 dias, relativamente à
data da viagem.
7. A viagem terrestre deve ser feita à luz
do dia, exceptuando os casos de força maior.
Secção IV
Ajudas de custo
Artigo 26
(Critério de atribuição de ajudas de
custo)
1. As ajudas de custo destinam-se a subsi-
diar o pagamento de despesas de alojamento
e de alimentação do deputado, em missão de
serviço da Assembleia da República, fora do
Município de Maputo.
2. As ajudas de custo dentro do país são
de 9.000,00 MT, por dia.
Artigo 27
(Ajudas de custo em missão de serviço no
exterior)
1. Em missão de serviço no exterior, o
valor-base diário a atribuir ao deputado é o
estipulado para a Função Pública.
2. Em missões de serviço no exterior, é
atribuído um valor suplementar de 110% ao
Membro da Comissão Permanente e ao Che-
fe da Delegação, e 100% para o deputado, do
básico estipulado para a Função Pública.
Artigo 28
(Deslocação da Residência para o Aero-
porto e vice-versa)
1. Para fazer face às despesas de des-
locação do deputado da sua resistência ou
do local de alojamento até ao aeroporto e
vice-versa, é-lhe atribuído um valor fixo de
2.400,00 MT.
2. O valor referido no número 1 do pre-
sente artigo é atribuído nos casos de deslo-
cação do deputado para as sessões da As-
sembleia da República, bem como no caso
de outras deslocações em missão da Assem-
bleia da República.
Artigo 29
(Complemento de ajudas de custo)
07 de Novembro de 2022 SEGUNDA-FEIRA
1. Quando o deputado se desloca no âm-
bito das actividades da Assembleia da Repú-
blica, a convite de uma entidade nacional ou
estrangeira, as despesas são suportadas pela
entidade que o convida.
2. Se a entidade nacional ou estrangei-
ra, que convida, custear todas as despesas da
viagem, a Assembleia da República cobre 30%
das ajudas de custo devidas ao deputado.
3. Se a entidade nacional ou estrangei-
ra, que convida, atribuir subsídios inferio-
res aos fixados na instituição, a Assembleia
da República cobre a diferença, havendo
disponibilidade.
4. Para efeitos do disposto no presente
artigo, a viagem é autorizada pelo Presidente
da Assembleia da República.
CAPÍTULO III
Viaturas Protocolares e de Apoio, Motoris-
tas e Ajudantes de Campo
Artigo 30
(Direito à viatura protocolar)
Têm direito à viatura protocolar:
a) O vice-presidente da Assembleia da
República;
b) O Chefe da Bancada Parlamentar;
c) Membro da Comissão Permanente.
Artigo 31
(Viaturas de apoio às Bancadas, Comissões
de Trabalho e Gabinetes Parlamentares)
1. A Assembleia da República afecta via-
tura de apoio, com motorista, a cada Bancada
parlamentar
2. A Assembleia da República garante via-
turas de apoio, para expediente, ao Conselho
de Administração, às Comissões de Trabalho e
aos Gabinetes Parlamentares.
Artigo 32
(Direito a ajudante de campo)
1. Têm direito a um ajudante de campo,
destacado pela entidade competente para a
protecção dos dirigentes do Estado:
a) O vice-presidente da Assembleia da
República;
b) O chefe da Bancada Parlamentar;
c) O Membro da Comissão Permanente;
d) O vice-chefe da Bancada Parlamentar;
e) O relator da Bancada Parlamentar.
2. Nas deslocações inter-provinciais, a
protecção pessoal das entidades previstas no
número anterior é assegurada, a nível local,
pelos serviços competentes, devendo, previa-
mente, o Secretariado-Geral da Assembleia
da República comunicar ao Governo da Pro-
víncia e solicitar a assistência, responsabili-
zando-se pelas despesas daí decorrentes.
3. Nas deslocações ao exterior, a Assem-
bleia da República não cobre as despesas de
ajudante de campo.
4. Quando as entidades previstas no nú-
mero 1 do presente artigo realizam viagens
por via terrestre, a Assembleia da República
assegura a deslocação do respectivo ajudante
de campo e motorista, devendo o respectivo
pedido ser feito com 10 dias de antecedência.
 SEGUNDA-FEIRA 07 de Novembro de 2022
A maior invasão que pode existir
um país não é a que ocorre através
das armas, mas sim aquela que dis-
torce e hipnotiza pensamentos de
comunidades a pensarem que um
dia, quando a fome for maior, po-
deremos adoptar a areia como o
alimento básico para lutar contra a
desnutrição crónica.
É difícil liderar um país, mas mais
difícil é liderar um país que não
sabe o que é ser liderado e quando
ajudar a ser liderado. O que preten-
do dizer é que as políticas africanas
se demonstram de singularidades,
no sentido de que os governos for-
mados actuam de forma individual
e nunca incluem, efetivamente, os
cidadãos nos seus processos de to-
madas de decisão, por isso que ain-
da existem mentes (até de intelec-
tuais0 que definem estado como o
partido no poder.
Nos encontramos num cenário
de povos que não “sabem” o que é
bom para si mesmos, e para poder-
mos tomar decisões que definem o
rumo das nossas nações, precisa-
mos de “baby-sitters – babás” para
colocarem chuchas nas nossas bo-
cas para pararmos de chorar. Mas a
lágrima que cai sobre os povos afri-
canos, não é exatamente a lágrima
de fome, mas sim de uma criança
que ainda não sabe distinguir se
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DOSSIERS & FACTOS
ACTIVISIONISMO
A revolução demora
Sérgio dos Céus Nelson
está com fome ou se quer sentar
numa pia.
Mesmo percebendo que a cor-
rupção vai-se alastrando, continua
se batendo palmas para o “sobera-
no” nos parlamentos e vai se con-
tinuando a fingir que a fome não
existe, que a desnutrição crônica é
um conto de fadas, que o analfabe-
tismo já foi ultrapassado, por isso
debatemos com tanta euforia sobre
a migração digital.
Mark Twain é apologista da ideia
de que "os dias mais importantes
da tua vida são o dia que nasces e
o dia que descobres o porquê". O
que me interessa nesta citação é o
porquê de as mentes africanas con-
tinuarem aprisionadas num passa-
do que elas mesmas percebem que
dela precisam se libertar. A liber-
tação da mente africana pode ser
o maior investimento que precisa-
mos nos focar nele.
Afinal em que continente vive-
mos? Vivemos em países onde as
pessoas estudam porque querem
emprego e não o conhecimento.
Investem o pouco do dinheiro que
têm porque querem estudar enge-
nharia, petróleo, gás para terem
mais dinheiro, mas nunca estudar
antropologia para estudar o conhe-
cimento humano na sua totalida-
de, nem mesmo a arqueologia para
OPINIÃO 7
descobrir a origem dos Homens,
por exemplo.
Estamos em países onde não há
revolução porque continua-se acre-
ditando que só se pode ter um bom
emprego tendo o cartão do partido
no poder, ainda que ser membro de
um partido político não se defina
pelos cartões que se possuem, por-
que as pessoas tratam certos car-
tões partidários para terem “opor-
tunidades”, enquanto respiram um
outro partido.
Vivemos em cenários de povos
que se pensa que as revoluções,
mudanças serão feitas de noite
para o dia, numa só sentada do con-
selho de ministros, como se não se
soubesse que as revoluções não se
fazem nas pressas, é preciso ir com
calma e investir em cada ideia que
se tem, de forma sábia.
Estamos em países onde não se
ensina os cidadãos a saberem usar
e aproveitar das leis que existem, o
que faz com que as pessoas tenham
medo do advogado e não saibam da
sua pertinência em cada transação
que fazem. Estar num país que não
respira as leis, países não regula-
dos, faz de nós um povo que desco-
nhece nossos próprios direitos por
capricho de alguns que escondem
dos outros a liberdade que têm de
progredir e sonhar.
 8 OPINIÃO
Segurança transfronteiriça em Moçambique: uma
É na fronteira que se pode observar
melhor como as sociedades se formam,
se desorganizam ou se reproduzem (Mar-
tins, 2009 p.10).
A presunção de um sistema de segu-
rança frágil e a incapacidade de promo-
ver melhorias sectoriais em prazos re-
cordes, que possam responder a certas
dinâmicas, deitam abaixo um futuro bri-
lhante no combate ao terrorismo, bran-
queamento de capitais, migração ilegal,
drogas, tráfico animal e humano.
A falta de melhoria no conhecimen-
to do factor jurídico, treinamento e ca-
pacitação de estratégias de combate ao
crime organizado no que concerne à
gestão fronteiriça e ciber-segurança na
Defesa e Segurança do Estado é deveras
preocupante. Na verdade, é uma situação
emergente.
Depois do último episódio migratório,
em que 99 cidadãos estrangeiros foram
encontrados dentro de um camião cister-
na, na província de Tete, há que redefinir
o propósito da existência da nossa segu-
rança fronteiriça, sendo que não se trata
do primeiro caso, num momento em que
nos debatemos com um movimento de
guerrilha terrorista no norte do país.
Olho com revolta para o nosso fraco
aprendizado nas entrelinhas da guerra de
inteligência militar e secreta entre a Rússia
e a Ucrânia, que tem ajudado vários países
a redefinirem os seus sistemas defensivos
e de contra-ataque, acima de tudo, tecno-
lógico nas suas fronteiras.
Por muito tempo venho visitando as
fronteiras do Malawi, Tanzânia, Zâmbia
e Zimbabué e interagir com os Guarda-
-Fronteiras, Agentes Tributários e polí-
cias de outras especialidades. Nestes três
anos de pesquisa vagarosa, verifiquei uma
grande fragilidade em termos de recursos
humanos, técnicos e operacionais para
lidar com os diversos tipos de crime que
por ali transitam, e desenhei um quadro
que permite avaliar a ruptura de conheci-
mentos tecnológicos e tácticos para travar
o crime organizado de pequena e grande
DOSSIERS & FACTOS
gota no oceano
Nobre Rassul
escala.
Embora ocorram algumas formações
dentro dos Serviços Secretos, em vários
ramos das Forças de Defesa e Segurança,
com vista a revitalizar o actual estágio,
questiona-se a qualidade e aplicabilidade
a longo prazo, tendo em conta as mudan-
ças de estratégias do crime organizado no
mundo.
Há anos que venho estudando, de forma
natural e sociológica, a nossa composição
fronteiriça, buscando entender o culto
anormal que se estabeleceu desde a época
colonial na fraca gestão estatal e controle
limítrofe. Assumo que há necessidade de
melhorar o campo de debate e de acção
transfronteiriça em Moçambique.
Do diálogo mantido com oficiais mili-
tares, da polícia e agentes tributários, com
o objectivo de compreender a natureza da
protecção e gestão fronteiriça em Moçam-
bique e o papel dos Serviços Secretos, no
âmbito da melhoria da nossa protecção
interna, assim como do desempenho da
Polícia de Fronteira, foi-me transpareci-
do que o combate aos crimes ambientais
e tráfico humano, a droga tem nas nossas
fronteiras os maiores entraves, devido à
sua composição, falta de cerca, pontes de
vigilância fixos e móveis, patrulha aérea e
terrestre com meios adequados para vi-
giar e penetrar em locais de difícil acesso,
barcos e botes para navegação e patrulha
marítima no Oceano Índico, rios e lagos
fronteiriços.
Estes e outros equipamentos tácticos,
além de ajudarem a combater os crimes
e migração ilegal, fazem crescer o cam-
po de receitas, através do desincentivo ao
contrabando.
O julgamento das Dívidas Ocultas veio
transparecer a fragilidade ainda existente
no sistema de segurança nacional e o jogo
de busca de informações privilegiadas do
Estado que implicam um desgaste fora do
comum dos Serviços de Segurança do Es-
tado, o que não favorece o processo de de-
senvolvimento do conhecimento e cresci-
mento sectorial.
07 de Novembro de 2022 SEGUNDA-FEIRA
A segurança transfronteiriça continua
sendo uma “inexistência” em Moçam-
bique, no que diz respeito à harmoniza-
ção dos quadros jurídicos, institucionais
e definição de procedimentos e práticas
organizacionais, assim como ao desenvol-
vimento de capacidades de Recursos Hu-
manos, Infra-estrutura e equipamentos
tecnológicos.
Neste quadro, uma cooperação bilate-
ral com África do Sul, Brasil, Egipto, en-
tre outros países africanos, americanos e
europeus conhecidos pela sua capacidade
de inteligência e controle fronteiriços no
âmbito policial, seria fundamental.
Esta natureza de acção, de formação e
trabalho conjunto, quando bem coorde-
nada, ajuda a identificar os pontos críticos
e trazer boas práticas nacionais e interna-
cionais, para, seguidamente, propor-se re-
comendações específicas para a harmoni-
zação e coordenação entre as autoridades
nacionais e binacionais. Centra-se na cria-
ção de procedimentos, identificando expe-
riências regionais para as partilhar a nível
nacional de cooperação interinstitucional.
O nosso maior problema como nação
continua sendo a falta de pesquisa empí-
rica, qualitativa, quantitativa e científica
que se adeque à nossa realidade, com reais
investimentos baseados nos levantamen-
tos efetuados e conclusões obtidas.
O sociólogo Carlos Serra, no seu livro
“Chaves da Porta do Social”, critica os ti-
pos de recursos e pesquisa que moçambi-
canos usam, referindo serem o maior in-
dutor dos erros estatais. Diz Serra: Somos
um país rico em recursos de todos os tipos,
dos minerais aos opinativos e normativos.
Muitos de nós dispensam a pesquisa séria,
sistemática e humilde, a "empírica de ter-
reno" pois, afinal, "já pesquisaram e che-
garam a uma conclusão que tem por ab-
solutamente certa". Através da "opinião, a
famosa opinião", uma das nossas maiores
riquezas naturais. Resumindo, a opinião
continua sendo uma das fontes de pobre-
za que enfraquece o intelecto dos gover-
nantes e gestores estatais Moçambique.
 SEGUNDA-FEIRA 07 de Novembro de 2022
MAYITABASSA!
Mamã Materula, vovô Xidiminguana, nosso músico,
está doente
Por: NkassanaWaka-Tembe–nkassana@gmail.com.org
Podia ser este um recado duma crian-
ça que atrás da jante da bicicleta terá sido
mandada para percorrer quilómetros para
ir dar esta notícia à mamã Materula. “Vovô
Xidiminguana está doente”, pude isto con-
firmar naquela tarde que o encontrei ali na
paragem de Compone. Vovó Xidimingua-
na anda em silêncio, e ninguém é capaz de
explicar este silêncio.
Não ouvimos suas novas músicas, nunca
o vimos em nenhum concerto, não apare-
ce em nenhum programa de televisão, ou
seja, o nosso amado músico simplesmente
sumiu. Este encontro com vovó Domingo
foi útil, vi-o, abrandei a marcha e convidei-
-o para que naquele calhambeque entrasse.
Ele, em termos físicos, nunca foi tão for-
te, mas se sente que seu peso baixou bastan-
te, sua voz também ecoa com muita dificul-
dade. Isso criou uma grande admiração em
mim e a pergunta não tardou. Quis saber da
saúde de vovô e tristemente foi-me revelan-
do que esteve de baixa no Hospital Central
de Maputo. Xidiminguana transmite uma
cara de tristeza, pois acho que se apercebeu
que sua notícia era completamente uma
novidade para mim. Diz ele ter estado de
baixa por um período de três meses e que
um objecto fora instalado no seu coração.
Fiquei chocado e o medo abalou-me.
Perguntei ao vovô que tipo de objecto é
esse que lhe colocaram e que função teria
na sua saúde. Explicou-me de uma forma
não muito técnica, mas me fez entender
que é algo que tem a responsabilidade de
equilibrar seus batimentos cardíacos. In-
felizmente, nossa viagem foi bastante cur-
ta. Chegámos no Xiquelene e pediu por lá
ficar. Questionei o que ia fazer no Xique-
lene, e, de repente, tira da sua pastinha do
colo discos. Vou vender estes discos a uns
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rapazes que me pediram. Foi este mais um
calafrio. Questionei-me por que é que o
velho deve, primeiro, mesmo doente, es-
tar exposto ao público à procura de chapa
que devia lhe levar a Xiquelene e, segundo,
por que é que o mesmo deve pessoalmente
levar o disco ao cliente. Tirei da minha al-
gibeira uma nota de 500 meticais e peguei
um disco e, a posterior, procurei um lugar
seguro para que ele descesse. Ainda deu-
-me a chance de, juntos, fazermos aquela
foto com o disco na mão.
Vovô Xidiminguana seguiu o seu tra-
jecto, mas minha mente não parava de di-
gerir todas aquelas questões (seu sumiço,
estado débil e por quê de ter de ser ele a
comercializar directamente suas obras).
Para estas questões, minha luz só acen-
deu quando me lembrei que vivia num
Estado de Direito, estava sim numa socie-
dade que não tem instituições que zelam
e cuidam da classe artística, lembrei-me
da idade de Xidiminguana e lá fui con-
cluir que esta na casa dos 80 anos. Esta
foi importante para encontrar a figura da
mamã Materula. Encontrei minha minis-
tra da Cultura e, porque reconheço pro-
blemas de agenda para um frente-a-frente
na discussão deste assunto, vi neste espa-
ço uma linha que podia claramente nos
pôr ligados.
Sra. ministra, permita que usemos des-
te espaço para juntos analisarmos o que,
infelizmente, eu sozinho ouvira do nosso
velho amado. Nós, admiradores do músi-
co, e a entidade responsável pela cultura,
temos de assumir responsabilidade. O
músico-mor está doente e até pode não
ser algo que o deixe acamado, mas está
certo que ele anda doente. Nossa minis-
tra, precisamos de, rapidamente, entrar
OPINIÃO 9
ali no bairro de Maxaquene e, junto da fa-
mília, buscar mais dados sobre a situação
do nosso músico.
Qualquer intenção positiva, quer por
parte do Governo, quer dos amantes da
música moçambicana, só pode ter ampa-
ro em dados próximos do que hoje acon-
tece. Xidiminguana é símbolo e todos os
símbolos devem ser bem conservados.
Para tal, não acho que haveria inércia do
povo para que campanhas de solidarieda-
de sejam desenvolvidas. Não vejo na clas-
se dos músicos qualquer tipo de desculpas
para que não se realizem espectáculos de
homenagem, não vejo nos grandes locu-
tores deste país problemas em promover
este disco nos espaços de entretenimen-
to e fazer com que mais recursos entrem
na conta do músico. A televisão e a rádio
assumem aqui um papel bastante impor-
tante para que se traga Xidiminguana nos
renomados programas televisivos e, daí,
criar-se uma consciência colectiva sobre
que contribuição cada um precisa de dar
como forma de reverter este cenário.
Meus caros leitores, Xidiminguana
está doente, mas podemos ainda fazer
algo como forma de demonstrar amor e
carinho que o povo tem para com este e
mais músicos que, infelizmente, ficaram
no anonimato por conta das enfermida-
des. Recuso-me a ouvir longas e lindas
mensagens de reconhecimento deste ou
daquele artista depois deste partir.
Vamos agendar e pôr em prática acções
de homenagens dos nossos artistas ainda
em vida, e é importante que o recado che-
gue à excelentíssima Eldevina Materula,
nossa ministra da Cultura e Turismo.
Mamã Materula, vovô Xidiminguana
está doente.
 10 OPINIÃO
HISTÓRIAS DE VIDA
Ser mãe é sujeitar-se a tudo até à morte!
Serôdio Touo - serodiotouo@gmail.com •
Venho de uma família muito pobre, com o
agravante de a minha mãe ser uma analfabeta
somente por não saber ler as palavras, escrever e
falar português e outras línguas oficiais.
Mas ela sabe ler a vida no presente, passado
e até prever o futuro, como todas as mães. Aliás,
a diferença está no gingar, porque aquelas mães
que tiveram a sorte de ir à escola até gingam
para as analfabetas que, na sua maioria, não têm
culpa da situação em que se encontram.
Enfim, escrevo estas linhas numa tentativa de
homenagear todas as mães que com amor e dor
geraram filhos, debaixo de todas as dificuldades
impostas pela pobreza que grassa a maioria da
população do nosso país.
Quero homenageá-las justamente por terem
nascido líderes políticos, militares, militantes
da sociedade civil, e até aqueles que se transfor-
mam em malfeitores, pois também são resulta-
do do amor destas nossas mães que ao gerarem
os filhos nem sequer sabem qual será o futuro
destes.
No princípio da semana passada, assisti a um
programa televisivo de um dos canais nacionais,
no qual passou uma reportagem que dava conta
da existência de um caso social que caminhava
para a natureza criminal.
A tal peça de reportagem falava de uma acu-
sação que era feita contra uma mãe que suposta-
mente terá envenenado a sua nora, que se encon-
trava no nono mês de gestação.
O caricato é que até o próprio filho da acu-
sada acredita que, de facto, a sua mãe pode ter
envenenado a nora, apesar de não haver prova
que sustente tal tese.
Na mesma peça de reportagem, aponta-se
ainda que o filho, neste caso o viúvo, conta que,
momentos antes da morte, a esposa lhe disse via
whatsApp que não entendia o que a sogra pre-
tendia com ela e que todo o sofrimento por que
passava era por causa do amor que tinha com o
marido (o filho neste caso).
A verdade é que está instalada a crise e a mãe
nega o seu envolvimento no suposto assassinato
da nora, mas diz o marido da vítima que, antes
de morrer, a esposa espumou pela boca.
Ora, quando vi a referida reportagem fiquei
trémulo e busquei as razões que poderiam ter
levado uma mãe a chegar ao extremo de tirar
a vida da própria nora, que, por ligação, acaba
sendo sua filha também.
De tanto esforço mental que fui fazendo, não
encontrei motivos que pudessem ditar essa ati-
tude, se é que na verdade a indiciada consumou
o acto.
Este caso me fez lembrar os não pouco co-
muns casos em que as mães são acusadas pelos
próprios filhos de serem feiticeiras. De facto,
DOSSIERS & FACTOS
nesta sociedade, são muitas as mães, ou seja, os
pais que acabam sendo culpabilizados pelo insu-
cesso dos filhos na vida.
Contudo, não quero tomar nenhum partido
na confusão instalada, apenas pretendo aqui
chamar atenção daquilo que é o papel de uma
mãe que desde o primeiro mês de gravidez passa
por consequências diversas, incluindo doenças,
até ao dia do parto. Esta mãe assume o parto
para gerar o filho(a), como dizem elas próprias,
"a terra junta-se com o céu", fruto do esforço e
fortes dores do acto de conceber uma nova vida.
Entretanto, parece-me que o sofrimento de
uma mãe não termina por aí, pois, já com o bebé
em casa, deve cuidá-lo, adivinhar se está doente
e até acertar na possível doença que o atormenta
no momento.
Aliás, esses também são os momentos difí-
ceis que uma mãe passa, noites em branco e nós
os pais até conseguimos apanhar sono mas ela
(mãe) não.
São muitos os pais que, por exemplo, negam a
paternidade e toda a responsabilidade de criar o
filho fica a cargo da mãe que, mais tarde, torna-
-se feiticeira.
Sinceramente, a minha mãe, por exemplo,
dando um exemplo concreto, gerou 12 filhos,
dois dos quais tiveram morte prematura, sendo
que os restantes 10 atingiram a idade adulta.
Três gestações suas resultaram em gémeos e,
sendo humilde, criou-nos debaixo de muito sa-
crifício. O nosso pai é serralheiro-mecânico de
profissão, não estudou muito, o salário que rece-
bia era uma miséria.
Para ajudar a sustentar os filhos, a minha
mãe passou por várias experiências difíceis, à
semelhança, acredito, de outras mães, sobretudo
da geração dela.
Teve que ser vendedeira ambulante de hor-
tícolas, carregava "xidjumba" (trouxa) e andava
pelas casas nos prédios a vender a sua mercado-
ria. Na altura, nos prédios, na sua maioria, os re-
sidentes eram ainda pessoas de raça branca.
Fazia o negócio de manhã e de tarde ia traba-
lhar na machamba, onde produzia hortícolas, e,
ao fim do dia, tinha de cuidar do marido, quan-
do regressasse do serviço, e também dos filhos.
Recordo-me que, numa das gravidezes, a pe-
núltima que gerou duas meninas, continuava a
carregar “xidjumbas” muito grandes e as pes-
soas perguntavam-na se não iria conceber pelo
caminho com o fardo na cabeça.
Quando deu à luz as minhas duas lindas ir-
mãs, Osga, que Deus a dê o descanso mereci-
do, e Telinha, a nossa mãe continuou com o seu
sacrifício.
Porque não podia faltar à fila para a compra
do pão, ela madrugava e levava as duas bebés ao
07 de Novembro de 2022 SEGUNDA-FEIRA
colo, colocava uma atrás e a outra ao peito, ima-
ginem só, e lá ia.
Não aceitava que faltássemos à escola para lhe
prestarmos ajuda e sempre dizia: "Não quero no
futuro os meus filhos se escaqueirarem por falta
de escola por minha culpa. Já basta eu a mãe que
sou burra".
É aqui onde digo e aponto que ela não sabe ler
palavras escritas e números, mas sabe ler a vida
no presente, no passado e pressagiar o futuro.
Não chamei a grandeza ou a heroicidade ape-
nas da minha mãe, chamo sim de todas as mães,
mesmo aquelas que com os filhos já crescidos
continuam a sofrer, cuidando deles, resolvendo
os problemas que estes vão criando e recebendo
nomes nada abonatórios na sociedade, por cul-
pa dos actos dos filhos.
Não sei se de facto nós, enquanto sociedade,
já reflectimos profundamente sobre o papel de
uma mãe, o que ela tem como responsabilidade,
desde o nascimento da criança até atingir a fase
adulta e a etapa do casamento.
Julgo ser muito doloroso para esta mãe que
depois de todos os riscos que atravessou para ter
filhos, cuidá-los e educá-los até crescerem, vir
um dia ser acusada de ser assassina, feiticeira e
responsável por tudo de mal que aconteça aos
filhos.
Para as futuras mães, refiro-me àquelas mu-
lheres que já namoram ou já se casaram e que,
por alguma eventualidade, descobriram que (as
sogras) são feiticeiras, vai a minha chamada de
atenção: vocês também estão a caminho da ma-
ternidade, pelo que, um dia poderão ser sogras,
podendo o cenário se reverter em vosso prejuízo.
Aos homens, também vai a minha chamada
de atenção: precisamos de nos precaver das agi-
tações das nossas parceiras. Precisamos de ser
cautelosos quando ouvimos coisas desta natu-
reza. Não sejamos pessimistas na vida, os mo-
mentos maus fazem parte do ser humano, pelo
que, precisamos de ser fortes e ter espírito de
perseverança.
Para as mães que passam por maus momen-
tos, devido a acusações de feitiçaria, quer pelos
seus filhos quer pelas filhas, e mesmo pelas no-
ras, também vão as minhas palavras de apreço.
Tenham força e fé de que um dia a justiça será
feita a quem vos acusa.
Para os pais que andam envergonhados pelo
facto de terem filhos ladrões, assassinos, bêba-
dos sem proveito, ou mesmo filhas prostitutas
ou também alcoólatras sem proveito, sem orgu-
lho nenhum na sociedade, também vão as mi-
nhas palavras de encorajamento e que coloquem
Deus por frente porque um dia o cenário pode
mudar.
Viva mãe!
 SEGUNDA-FEIRA 07 de Novembro de 2022
SITUAÇÃO GERA APREENSÃO NA ZAMBÉZIA
Seguranças nepaleses protegem
minas de tantalite
U
ma situação no mínimo atípi-
ca está a provocar um clima de
apreensão no distrito de Muleva-
la, na província da Zambézia. Mi-
nas de tantalite são protegidas já há alguns
anos por seguranças estrangeiros, nomea-
damente de nacionalidade nepalesa, aos
quais se juntam alguns zimbabweanos.
D&F Texto: Amad Canda
Segundo apurou Dossiers & Factos, os segu-
ranças em causa – que são dezenas – protegem a
Highland African Mining Company (HAMC). Com
sede na cidade de Quelimane, capital provincial
da Zambézia, a empresa explora algumas conces-
sões mineiras, entre elas as minas de tantalite, em
Marropino e Morrua, no distrito de Mulevala.
Há também registo da presença de nepaleses e
zimbabweanos, igualmente a exercerem funções
de segurança, em Namagoa, distrito de Mocuba,
onde guarnecem uma fábrica de óleo sob égide
da HAMC, que é representada por Luca Bechis, ci-
DOSSIERS & FACTOS
dadão de nacionalidade italiana.
Ao serviço de uma empresa fantasma
Dossiers & Factos conversou com várias fontes
ligadas ao sector da Defesa e Segurança e todas
foram unânimes em referir que não pode ser vis-
to como normal o facto de haver uma força arma-
da composta por estrangeiros em Moçambique,
muito menos numa altura em que o país está a
braços com o terrorismo, que dilacera a região
norte, especialmente a rica província de Cabo
Delgado.
De resto, salientam as fontes que até a presen-
ça das Forças de Defesa do Ruanda resulta de um
acordo entre os Governos de Maputo e Kigali,
enquanto a vinda da Missão da SADC, a Moçam-
bique (SAMIM), é coberta pelo “Pacto de Defesa
Mútua” entre as nações que integram este bloco
regional.
Em Dezembro de 2021, o Serviço Provincial de
Justiça e Trabalho da Zambézia foi questionado
sobre a possibilidade de haver algum acordo en-
tre os Governos de Moçambique, Nepal e Zimba-
Mina de Marropino
NACIONAL 11
bwe, que legitimasse a presença daquela força no
solo pátrio, mas não respondeu.
No entanto, em um outro ofício, de Novembro de
2020, a instituição fazia crer que os nepaleses es-
tariam “em exercício numa empresa de segurança
privada que presta contas à empresa HAMC”. Soli-
citado a apontar o nome da empresa que teria con-
tratado os nepaleses e zimbabweanos, o Serviço
Provincial de Justiça e Trabalho não se pronunciou.
O facto é que ninguém tem registo da referida
empresa de segurança privada, muito menos da
sua sede. Suspeita-se, por isso, que se trate de uma
“empresa fantasma”, até porque, segundo relatam
fontes do Dossiers & Factos, só presta serviços à
HAMC.
Autoridades enganadas ou coniventes?
Outro elemento que adensa as suspeitas à volta
da referida força paramilitar é o facto de os seus
integrantes não se identificarem como seguranças.
De acordo com as nossas fontes, nos seus docu-
mentos consta que são mecânicos, electricistas, en-
tre outras profissões, quando no terreno exercem
outro tipo de actividades.
Este facto pode sugerir
que as autoridades nacio-
nais foram enganadas, mas as
nossas fontes entendem que,
na verdade, podem ser cúm-
plices, na medida em que,
mesmo tendo conhecimento
desta situação há vários anos,
nunca reagiram. Contactada
pelo Dossiers & Factos, uma
fonte dos Serviços de Migra-
ção disse que os cidadãos em
causa vivem legalmente em
Moçambique, rechaçando
questões laborais a quem de
direito.
Já a Direcção Provincial de
Trabalho, quando contactada
telefonicamente, recusou-se
a prestar quaisquer decla-
rações, por, alegadamente,
não ter certeza de que “esta-
va a falar com um jornalista”.
Este argumento foi repetido
por Hussene Nazim, um dos
directores da mineradora
HAMC.
“Eu não posso falar por te-
lefone sem saber quem é o
senhor”. “Sim, é mesmo jor-
nalista”, disse o director da
HAMC, que, entretanto, dei-
xou escapar que “as autorida-
des já estiveram
em contacto connosco e
nós já esclarecemos tudo.
aNão posso adiantar muita
coisa sobre isso”, declarou
Nazim.
 12 PLANO DE FUNDO DOSSIERS & FACTOS 07 de Novembro de 2022 SEGUNDA-FEIRA

DEFESA DE CONSUMIDORES

Francisco Lichucha critica passividade

da INAE
O
presidente da Associação Mo-
çambicana de Defesa do Consu-
midor, Francisco Lichucha, con-
sidera que a Inspecção Nacional
das Actividades Económicas (INAE) tem
uma actuação passiva, uma vez que, nas
suas palavras, só age depois de receber
denúncias. Na perspectiva da fonte, a ins-
tituição devia ser mais proactiva para aca-
bar com as irregularidades que caracteri-
zam o comércio em Moçambique.

D&F Texto: Hélio de Carlos

A INAE tem-se notabilizado pelas rusgas e

multas pesadas aplicadas aos agentes econó-
micos prevaricadores. No auge da pandemia
da Covid-19, por exemplo, encerrou vários
estabelecimentos de diversão por violarem
o recolher obrigatório. Mesmo assim, há
quem considere que, no geral, a instituição é
passiva.
Embora reconheça o esforço que a enti-
dade reguladora e de fiscalização tem de- Rita Freitas, inspectora-geral da INAE
monstrado, Francisco Lichucha vê muito por as razões que levam a que a INAE assista im- actuando apenas quando recebe denúncias.
melhorar. A fonte não entende, por exemplo, pávida a várias irregularidades no dia-a-dia, Uma das prevaricações mais flagrantes é a
comercialização de pro-
dutos sem a descrição de
origem e qualidade. Para
a fonte, esses produtos de-
viam ser recolhidos pela
INAE.
“Há esta situação de es-
tabelecer paralelismo en-
tre o que diz a Lei, os re-
gulamentos e o que está
a acontecer no dia-a-dia
na praça. Então, essas são
as fraquezas em relação à
defesa do consumidor. Te-
mos a Constituição, a Lei,
o Direito, o papel do Par-
lamento cumprido, mas na
prática os reguladores não
estão a cumprir com o seu
papel”, defende.
A fonte acrescenta, no
entanto, que as responsa-
bilidades não devem ser
assacadas apenas à ins-
tituição liderada por Rita
Freitas, lembrando que
existem outras entidades
reguladoras responsáveis
pelo cumprimento das
normas. É o caso do Insti-
tuto Nacional das Comu-
nicações de Moçambique
Francisco Lichucha (INCM), Agência Regulado-
 SEGUNDA-FEIRA 07 de Novembro de 2022 DOSSIERS & FACTOS PLANO DE FUNDO 13
acontecido.
Dito doutra forma, o
nosso entrevistado en-
tende que o Estado não
está a acompanhar a
velocidade do mercado
e, nesse processo todo,
atropela as normas que
ele próprio [o Estado]
criou, como é o caso da
Lei de Defesa do Con-
sumidor, aprovada em
2009.
“Ela [a Lei de Defesa
do Consumidor] é muito
clara quanto ao respeito
e dever que as entidades
devem ter para com o
consumidor. No entan-
to, são aspectos que não
são respeitados no sec-
tor de produção e venda
de produtos ou serviços”,
defende Lichucha.
Na opinião da nossa
fonte, os meios de co-
municação social tam-
bém deixam um pouco
a desejar no que tange à
Há várias ilegalidades nos mercados nacionais questão da frontalidade,
ra das Águas, Autoridade Reguladora de Ener- e educação do consumidor desde 1995, embo- uma vez que, em termos legislativos, “é obri-
gia (ARENE), Autoridade Reguladora da Con- ra só tenha sido oficializada em 1996. gação que os media sociais divulguem as ma-
corrência (ARC), entre outras. Para o alcance dos seus objectivos, a insti- térias da defesa do consumidor”, anotou.
tuição organiza diversas actividades, como é “É obrigação das rádios, televisões, jornais,
“O consumidor também é culpado” o caso de palestras em mercados municipais e entre outros meios públicos, divulgar infor-
a promoção de produtos fortificados, nomea- mações úteis para o consumidor poder tomar
Ainda na senda de distribuição do mal pe- damente sal, açúcar, óleo, farinha de trigo, só decisões daquilo que seriam os bens de que
las aldeias, o economista aponta o dedo ao para citar alguns exemplos. pretende se beneficiar. Portanto, este é um
consumidor, por entender que é igualmente Fazendo uma análise à forma como o Esta- aspecto legal que não está a ser observado,
passivo perante situações que colocam em do moçambicano tem trabalhado na defesa do não existe nenhum cumprimento, nem da
causa os seus direitos, e, em certos casos, até a interesse dos consumidores, Francisco Lichu- Constituição, nem da Lei ou dos regulamen-
própria saúde. Considera, por isso, que o con- cha nota algum “descompassamento”. “O Esta- tos, sendo que isto está previsto desde 2009”.
sumidor tem sido o elo mais fraco, sendo, às do está muito atrasado em muita matéria e, a Ao longo da conversa, Lichucha condenou
vezes, vítima de falta de informação. dada altura, está muito avançado face à reali- veementemente o desrespeito às leis vigen-
“O consumidor não tem capacidade de rei- dade socioeconómica do país”. tes. Lembrou, por exemplo, que a Lei de Defe-
vindicar um bem perdido por conta de uma O presidente da Associação para Estudo e sa do Consumidor, embora tivesse sido apro-
oscilação da corrente eléctrica, por exemplo”, Defesa do Consumidor refere que, de facto, há vada em 2009, só entrou em vigor em 2016.
explica a fonte. muitas coisas que podem ser ditas ao que diz Esse instrumento determina, por exemplo,
Para minimizar a vulnerabilidade do con- respeito às ilegalidades entre o fornecedor e o “que são considerados falsos todos os produ-
sumidor, a Associação liderada por Francisco consumidor a nível nacional, contudo, foca-se tos que são rotulados em língua não portu-
Lichucha tem levado a cabo diversas acções. no interesse do Estado no que diz respeito à guesa. Para dizer que todo o produto que es-
A título de exemplo, menciona a abertura de defesa do consumidor, segundo Lichucha, há teja em uma língua não portuguesa, deve ser
linhas para denúncias de situações irregulares uma disparidade muito grande ao que real- retirado do mercado moçambicano”, o que
através do WhatsApp. mente já devia estar a acontecer e o que tem não tem estado a acontecer.
“O consumidor tem fragilidade técnica, não
tem capacidade de se opor. O consumidor não
está a ser bem servido”, sintetiza.
O economista pede uma actuação cada
“O consumidor não tem
vez mais incisiva das várias autoridades que
concorrem para a defesa do consumidor. Se
assim acontecer, acredita que as ilegalidades
capacidade de reivindicar
serão sanadas paulatinamente e com alguma
naturalidade. um bem perdido por conta
Estado em contramão

A Associação Moçambicana de Defesa de

de uma oscilação da corren-
Consumidores é uma organização nacional de
carácter associativo que trabalha na protecção te eléctrica, por exemplo”
 14 INSS DOSSIERS & FACTOS 07 de Novembro de 2022 SEGUNDA-FEIRA

EM METANGULA, NIASSA

Pescadores recebem redes de pesca

e congeladores
T
rabalhadores por conta própria em ambas as situações, significará o aumen- o suficiente, explicando que a canalização
(TCP) e três associações de pesca- to da sua renda e, com isso, manter a con- das contribuições ao INSS, de forma regular,
dores que exercem as suas activi- tribuição regular ao sistema de segurança é fundamental, pois só assim é que se adqui-
dades no distrito do Lago (com 12 social, para garantirem o seu futuro social e re ou se mantém o direito de usufruir dos be-
membros cada), na província do Niassa, dos seus dependentes. nefícios que o sistema oferece aos inscritos e
beneficiaram-se de um apoio proveniente Margarida Talapa destacou a importân- os seus familiares ou dependentes, incluin-
do Instituto Nacional de Segurança Social cia que o Governo está a dar a estes grupos do a fixação de pensão.
(INSS), constituído por 10 máquinas de sociais, sublinhando a pertinência de os ci- O distrito do Lago foi o primeiro a ser
costura, 18 congeladores, 36 malas frigo- dadãos estarem inscritos no sistema de se- abrangido por este lote de apoio da delega-
ríficas, vulgos colman, bem como 45 redes gurança social, ao mesmo tempo que os ção provincial do INSS aos TCP, sendo que,
de pesca, no âmbito do Programa de Acção exortou a fazerem o bom uso dos bens rece- nos próximos tempos, o processo irá con-
Sanitária e Social, desenvolvido por esta bidos, de forma a continuarem, por um lado, templar outros distritos da província, cuja en-
instituição, como parte da sua responsabi- a ter uma vida de qualidade e, por outro, a trega será feita pela governadora do Niassa,
lidade social. garantir a sustentabilidade dos seus negó- dentro da mesma estratégia governamental
cios, que são a base para o pagamento das de capacitar este grupo de trabalhadores no
suas contribuições ao sistema de segurança processo de produção de renda, com vista a
A entrega do apoio foi feita na vila autár- social. Chamou atenção, por conseguinte, manter regular o pagamento das suas con-
quica de Metangula, a sede distrital do Lago, para o facto de a inscrição, de per si, não ser tribuições ao sistema gerido pelo INSS.
pela ministra do Trabalho e
Segurança Social, Margarida
Adamugi Talapa, que esteve
de visita àquela região do
norte do país, onde, igual-
mente, procedeu ao lança-
mento da primeira pedra
para a construção do futuro
edifício da delegação distri-
tal do INSS no Lago. O acto
contou, para além da titular
da pasta do Trabalho e Segu-
rança Social, com a presença
da governadora provincial
do Niassa, Elina Judite Mas-
sengele, membros do execu-
tivo, parceiros sociais, bem
como a população local.
Falando aos presentes,
particularmente aos benefi-
ciários do apoio, nomeada-
mente pescadores inscritos
no sistema de segurança so-
cial, como trabalhadores por
conta própria, membros das
associações, incluindo outros
por se inscreverem, Margari-
da Talapa disse que o gesto
enquadrava-se na estratégia
do Governo visando reforçar
a capacidade de conserva-
ção do produto pescado e,
assim, garantir o aumento da
renda, através da respectiva
comercialização.
Por seu turno, os benefi-
ciários de máquinas de cos-
tura aumentarão a sua capa-
O INSS dará apoio a mais trabalhadores
cidade de produção, o que,
 SEGUNDA-FEIRA 07 de Novembro de 2022
SURTO DE DIARREIA EM MANICA
Falta de água potável apontada como
causa
H
á surto de diarreia no distrito de
Guro, província central de Mani-
ca. Só na última semana, a doen-
ça levou a que pelo menos 32
pessoas tivessem de acorrer ao Centro de
Saúde de Mandie. Autoridades estão em
alerta.
D&F Texto: Dossiers & Factos
O chefe do Departamento da Saúde Pública, na Direcção
Provincial de Saúde de Manica, Nuno Horácio, fez saber
que o número de pessoas que procura pelos serviços
sanitários cresceu durante o primeiro dia da ocorrência
deste surto e, das averiguações que as autoridades sanitárias
foram fazendo, foi possível concluir que o consumo de água
imprópria ou de fontes precárias constitui a principal causa
do fenómeno.
"Deram entrada no Centro de Saúde de Mandie casos de
diarreias e vómitos com desidratação grave ou necessidade
de internamento. Foram registados cerca de 32 casos de
pacientes com desidratação grave e que foram assistidos em
regime de internamento, e o que foi constatado é que aquelas
pessoas tinham consumido água duma fonte precária e
imprópria para o consumo, culminando com esse quadro
de diarreias e vómitos como consequência da ingestão dessa
água", disse Nuno Horácio.
Por antever o risco de entrada de mais pacientes com a
mesma enfermidade, o pessoal da Saúde foi mobilizado para
água imprópria na origem das diarreias
DOSSIERS & FACTOS SOCIEDADE 15
"Aconselha-se o consumo
de água fervida ou tratada
com certeza. Incentiva-se tam-
bém a observação de medidas bá-
sicas de prevenção que incluem
a higiene individual e colectiva,
assim como a procura da unida-
de sanitária mais próxima se ca-
sos do tipo se verificarem"
o terreno a fim de efectuar análises laboratoriais para aferir bactérias ou fungos causadores do mal-estar verificado em
o real motivo causador do surto verificado. Perguntado se Guro, o responsável respondeu nos seguintes termos:
das amostras colhidas no local houve alguma evidência de "Foram colhidas amostras de água, mas também a amostra
de fezes para a pesquisa do vibrio cholerae
(bactéria causadora da cólera). As amostras
no laboratório mostraram que, efectivamente,
tratava-se de uma contaminação por
salmonela, que é uma bactéria que também
causa diarreia e vómito, podendo ser
encontrada nos alimentos, assim como na
água".
Para reverter o cenário, a Direcção
Provincial de Saúde Pública de Manica está a
promover campanhas de sensibilização para
boas práticas de higiene individual e colectiva.
Esta também em curso a campanha de
ensinamentos em matéria de Saúde Pública,
virada para as lideranças comunitárias, como
forma de reverter o cenário de contaminações
e consumo de água imprópria. A Direcção
Provincial de Saúde Pública está também a
levar a cabo a distribuição de cloro, assim
como a capacitação sobre o seu uso adequado
no tratamento de água.
Ao concluir, o chefe do Departamento de
Saúde Pública, na província de Manica, teceu
o seguinte apelo:
"Aconselha-se o consumo de água
fervida ou tratada com certeza. Incentiva-se
também a observação de medidas básicas de
prevenção que incluem a higiene individual e
colectiva, assim como a procura da unidade
sanitária mais próxima se casos do tipo se
verificarem".
No início do presente semestre, duas
pessoas vindas de Tete deram entrada
no Centro de Saúde local, padecendo de
diarreias e vómitos, o que resultou na morte
de um paciente e internamento do outro, que
se encontrava em estado grave.
 16 OPINIÃO DOSSIERS & FACTOS 07 de Novembro de 2022 SEGUNDA-FEIRA

Eleição de Lula: grande lição para

Moçambique e Nyusi
Texto de Serôdio Towo
Luiz Inácio Lula da Silva, 35° Presidente do
Brasil, governou aquele país da América La-
tina de Janeiro de 2003 a igual mês de 2011.
Seu governo foi coroado de algumas polí-
ticas com certo impacto social e económico,
sobretudo quando marcados pela consolida-
ção de programas sociais, como, por exem-
plo, o Bolsa Família e o Fome Zero, ambos
reconhecidos pela Organização das Nações
Unidas como iniciativas que possibilitaram a
saída do país do mapa da fome.
Durante os seus dois mandatos, Lula em-
preendeu reformas e mudanças radicais, que
produziram transformações sociais e econó-
micas no Brasil, resultando numa acumula-
ção substancial de reservas internacionais,
triplicando, deste modo, o seu Produto Inter-
no Bruto (PIB) per capita.
Os índices de pobreza, a desigualdade, o
analfabetismo, desemprego, a mortalidade e
trabalho infantil reduziram significativamen-
te. Enquanto isso, o salário mínimo e a renda
média do trabalhador tiveram ganhos tangí-
veis e o acesso à escola, à universidade e ao
atendimento de saúde notabilizaram-se pela
sua expansão.
Na política externa, Lula desempenhou
um papel de destaque, incluindo-se em ac-
tividades relacionadas com o programa nu-
clear do Irão, do aquecimento global, do
Mercosul e do bloco do BRICS - Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul. Lula foi conside- Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique
rado um dos políticos mais populares da his- sentença transitada em julgado. Nos anos É que o presidente Nyusi está no seu se-
tória do Brasil e, enquanto Presidente, foi um seguintes, diferentes decisões da Suprema gundo mandato como Presidente da Repú-
dos mais populares do mundo. Corte anularam as suas condenações no blica, pelo que, nos termos dispostos nos
Mas a popularidade de Lula, tanto no Brasil processo Lava Jato e restauraram os seus números 3, 4 e 5 do artigo 143º da Consti-
quanto no mundo, não terminou com o seu direitos políticos, e o juiz Moro foi declara- tuição da República de Moçambique, não é
mandato em 2011. Vários episódios relacio- do incompetente e suspeito. Em 2022, Lula elegível para mais um mandato, neste caso,
nados com Lula sucederam-se um ao outro, a candidatou-se à Presidência da República o terceiro de forma consecutiva.
começar pela nomeação pela sua sucessora pela sexta vez, sendo eleito na segunda vol- Estabelecem as disposições acima refe-
Dilma Rousseff, em 2016, para o cargo de Mi- ta, derrotando o candidato à reeleição, Jair ridas que: "3. O mandato do Presidente da
nistro-chefe da Casa Civil, designação que foi Bolsonaro. República é de cinco anos"; "4. O Presidente
suspensa por decisão do Supremo Tribunal Esse percurso político de Lula da Sil- da República só pode ser reeleito uma vez.";
Federal. Em 2017, foi condenado em primeira va é curioso e inusitado. Ora vejamos: por "5. O Presidente da República que tenha
instância, no âmbito da Operação Lava Jato, um lado, é um percurso coroado de êxitos sido eleito duas vezes consecutivas só pode
pelo juiz federal Sérgio Moro, a nove anos e e mais tarde de escândalos que, de certo candidatar-se a eleições presidenciais cinco
seis meses de prisão, por crimes de corrup- modo, beliscaram a sua imagem. anos após o último mandato".
ção e lavagem de dinheiro, sendo preso em Por outro, é um percurso carregado de li- Trata-se de um comando constitucional
Abril de 2018, após confirmação da sentença ções que até devem servir de inspiração a directo, claro e que dispensa qualquer in-
em segunda instância. Moçambique e, sobretudo, aos seus proces- terpretação. Ou seja, o sentido e o alcance,
Como consequência, teve indeferida a sua sos democráticos, principalmente no que se quisermos, a letra e o espírito da norma
candidatura à Presidência da República nas concerne aos eleitorais, que nos últimos são claros. De facto, o Presidente Nyusi não
eleições de 2018. Em Novembro de 2019, anos têm suscitado debates, associados, em pode candidatar-se a mais um mandato
foi liberto por decisão do Supremo Tribunal parte, às eleições em si e, por outro, ao fim assim que terminar o presente, sendo que,
Federal (STF), fundamentando que a execu- do ciclo de governação do actual Presidente para tal, precisaria de um intervalo de cinco
ção das penas deve ocorrer somente com a da República, Filipe Jacinto Nyusi. anos.
 SEGUNDA-FEIRA 07 de Novembro de 2022
Lula da Silva, Presidente eleito no Brasil
É aí onde Lula, sua carreira política e Bra-
sil são o melhor exemplo para o presidente
Nyusi e todos os moçambicanos. A actuali-
dade desta reflexão e o exemplo que nos
norteia têm também a ver com a "época po-
lítica" que se avizinha, começando pelas elei-
ções autárquicas, marcadas para Outubro de
2023, e as gerais, marcadas para 2024. Toda-
via, até chegarmos lá, há um percurso perni-
cioso, imprevisível e, talvez, "turbulento" por
trilhar.
A sucessão
Pelos cálculos que se podem efectuar, em
Março de 2023, deverá ocorrer a sessão do
Comité Central do Partido FRELIMO. Trata-se
de uma sessão ordinária, como habitualmen-
te acontece em outros anos. Porém, a sessão
do Comité Central, a realizar-se em Março,
tem uma particularidade que a distingue das
outras sessões dos Marços passados. Sucede
que, tratando-se da penúltima no consulado
de Nyusi, como Presidente da República (a
última será em Março de 2024), esta sessão,
em princípio, deve discutir, dentre várias ma-
térias, a eleição (indicação, conforme conve-
niente) do sucessor de Nyusi e, naturalmen-
te, candidato às eleições presidenciais de
DOSSIERS & FACTOS
2024.
Foi mais ou menos assim com o próprio
Nyusi, com algumas pequenas adaptações
dos cenários e timings, em consonância
com o lema dos “camaradas”, que diz que "a
vitória prepara-se, a vitória organiza-se".
Portanto, a julgar por este slogan, este é
o cenário ideal, para permitir ao candidato
que tenha tempo suficiente para a sua inte-
gração e aceitação nas bases, como o can-
didato da FRELIMO. Repito, este é o cenário
"ideal", para quem tem na agenda a vitória.
Mas é preciso anotar que o cenário perfei-
to é que, até estas alturas, o partido tivesse
já no horizonte o seu candidato ou mesmo
conhecido, mas a tradição de que vai "ofus-
car" o presidente em exercício não deixa os
camaradas acompanharem a dinâmica da
actualidade política.
E, então, o Lula, a que propósito o trago
aqui?
Pela consciência e maturidade política, e
por ironia do destino, Lula teve protagonis-
mo que jogou a seu favor, na perspectiva de
que obedeceu o ditame temporal da Cons-
tituição do Brasil no que concerne à limita-
OPINIÃO 17
ção dos mandatos de presidente
do Brasil.
A natureza humana prova
que Lula é também um homem
e imperfeito. Durante a sua pre-
sidência, cometeu erros que re-
sultaram na turbulência da sua
carreira. É preciso fazer constar
que Lula teve tempo para resol-
ver seus "pendentes" com a jus-
tiça, fora do protocolo, o que de
certa forma testou a consistência
do sistema da Justiça do Brasil.
É neste aspecto que encon-
tramos semelhanças entre Mo-
çambique e Brasil. De facto, o
Presidente Nyusi tem uma nobre
oportunidade de sair pela por-
ta grande, pela qual entrou em
2015. Vozes a favor do terceiro
mandato do nosso provável "fu-
turo Lula" argumentam que ele
precisa de mais algum tempo
para terminar os seus projectos.
Acho que é uma questão sub-
jectiva, pois é preciso identificar
os seus projectos e fazer uma
avaliação para aferir se, efecti-
vamente, os mesmos podem ser
concluídos em mais cinco anos,
sob risco deste processo se alon-
gar infinitamente.
Penso que não. Os seus pro-
jectos serão concluídos pelo seu
sucessor, assim como ele con-
cluiu projectos do presidente
Guebuza.
Em outra análise e pela analo-
gia do percurso de Lula, vai ter que ficar fora
da Ponta Vermelha nos cinco anos que se se-
guirem ao término do seu mandato. Nestes
cinco anos, poderá, sem pressa, reavaliar a sua
presidência, seus projectos e suas realizações
e voltar em 2030 com lições bem estudadas
para salvar o seu povo, seu único patrão.
E se tiver sido como Lula, que consentiu er-
ros na sua governação, será nesses cinco anos
que se dirigirá, pessoalmente, à justiça para
resolver seus eventuais pendentes ou, não
havendo, dissipar quaisquer dúvidas.
É sabido que não andou muito longe das
dívidas ocultas, até porque foi inúmeras ve-
zes citado no julgamento deste caso. Até
2030, eventualmente não será ele que quere-
rá que o povo o queira, mas será o povo que
quererá que ele queira, outorgando-lhe toda
legitimidade de que precisa para que seja um
verdadeiro "Lula" moçambicano.
Assim, evitamos agredir o sentido e espí-
rito da democracia. Aliás, nisso pode muito
bem seguir o exemplo de Vladimir Vladimiro-
vich Putin e o seu peão Dmitry Anatolyevich
Medvedev. E sai bem na fotografia, melhor
que a do segundo mandato.
Melhor visita é aquela que conhece a hora
e o momento da saída. Mais não opinei.
 18 MAPUTO PROVÍNCIA DOSSIERS & FACTOS 07 de Novembro de 2022 SEGUNDA-FEIRA

PARA APOIAR INICIATIVAS JUVENIS

Governo de Maputo disponibiliza 5

milhões de meticais
E
stão disponíveis cerca de cinco mi-
lhões de meticais para apoiar ini-
ciativas juvenis um pouco por toda
a província de Maputo. A iniciativa
tem por objectivo reduzir o índice de de-
semprego, com maior incidência na cama-
da jovem desta parcela do país.

D&F Texto: Quelto Janeiro

De acordo com Joaquim Fernando, director provin-

cial da Juventude, Emprego e Desporto na província
de Maputo, a iniciativa do Executivo Provincial vem
reforçar as acções do Governo no combate ao desem-
prego no seio dos jovens, através da formação, capa-
citação, estágios profissionais, bem como entrega de
ferramentas de auto-emprego.
Denominado “Ndlela”, caminho em português, o
projecto foi inicialmente lançado em 2021, mas a sua
implementação é levada a cabo neste ano. No âmbi-
to deste programa, foi lançado o projecto de estágios
profissionais para os jovens, que já dá frutos. “Temos
17 empresas a nível central que empregaram jovens
depois dos estágios, fruto da sua dedicação”, disse Joa-
quim Fernando.
Residir na província de Maputo e estar no intervalo
etário dos 18 a 35 anos é uma exigência indispensável,
mas não a única. “Explicamos aos jovens que devem
apresentar projectos que vão ao encontro das neces-
sidades da própria comunidade. Muitas vezes o pro-
jecto pode ser sustentável, mas para o mercado não é
adequado. Recebemos as candidaturas, mas também
ajudamos os jovens a identificarem os problemas que
devem ser solucionados na sociedade com a imple-
mentação do referido projecto”.
Nordino Cossa, Presidente do Conselho Distrital da Juventude da Matola
Joaquim Fernando, Director Provincial da Juventude, Emprego e Desporto da Província de Maputo
Financiamento máximo é 350 mil meticais
Cada jovem pode ter, no máximo, 350 mil meticais projecto.
e 100 mil meticais no mínimo, mas, segundo Joaquim
Fernando, não está vedada a possibilidade de se dar
um pouco mais, em função das exigências de cada
Nordino Cossa, presidente do Conselho Distrital
da Juventude da Matola, acrescenta que o projecto
compreende várias modalidades de apoio. “Também
temos apoio em espécie, que são os kits. Os kits são
de car wash, culinária, processamento de arroz, pesca,
makeup, mecânica, electricidade, canalização, entre
outros”, disse.
De acordo com o responsável, este projecto não
olha para cores partidárias e está na linha de outros,
tal como o programa emprega, que já beneficiou mais
de 300 jovens nesta parcela do país.
“Nós queremos que o jovem continue cada vez
mais ousado. Está plasmado na nossa Constituição
que o jovem tem direito à habitação. Razão pela qual
o Governo respondeu prontamente com mil terre-
nos parcelados e distribuídos a nível dos distritos da
Moamba, Boane, Marracuene e Manhiça”, referiu.
Para a fonte, a vida não é só urbana ou baseada
em cidade. Com isso, continua, “devemos estimular a
juventude para transformar o campo em um produto
acabado com vista a reduzir o nível de importação. Te-
mos que exportar e começar a mostrar o nosso poten-
cial além-fronteiras”, reforçou.
Nesse aspecto em particular, sublinha o esforço
que tem sido desenvolvido pelo Executivo provincial
na perspectiva de reduzir a importação do frango.
“O nosso Governo cedeu uma formação de criação e
produção de frangos junto da empresa Higest. Igual-
mente, estamos a instruir os mesmos jovens a junta-
rem-se em associações para produzirem frangos em
grande escala para alavancar a economia a nível local”,
acrescentou.
 SEGUNDA-FEIRA 07 de Novembro de 2022
PARA OBTENÇÃO DO CERTIFICADO HALAL
CIM destaca colaboração da SMS
Catering
O
envolvimento e colaboração da
SMS Catering foram destacados
pelo Conselho Islâmico de Mo-
çambique (CIM), na semana pas-
sada, como acções positivas para o cum-
primento dos padrões exigidos com vista a
obtenção do certificado Halal.
D&F Texto: Dossiers & Factos
A informação foi dada a conhecer pelo
CIM, através de um comunicado que sur-
ge em resposta à nota posta a circular nas
Trentyre Rasteirinhos
DOSSIERS & FACTOS
redes sociais pela Comissão Halal Moçam-
bique (CHM), dando conta que a SMS Cate-
ring não obedece os padrões "halal" defi-
nidos pela Comissão no fornecimento dos
seus produtos.
"Tendo sido contactado pela SMS – So-
ciedade Moçambicana de Serviços, SA. mais
conhecida por SMS Catering, empresa res-
ponsável pelo fornecimento das refeições
às companhias aéreas TAP, no percurso Ma-
puto – Lisboa, e LAM, nos voos com partida
de Maputo, para nos pronunciarmos acerca
do estágio actual do processo em curso para
Certificação Halal, na qualidade de entida-
de prestadora destes serviços, cumpre-nos
informar que constatamos todo o envolvi-
ECONOMIA 19
mento e colaboração da SMS Catering para
o cumprimento dos padrões exigidos nos
processos que conduzirão à obtenção do
certificado. Pelo que, apelamos a paciência,
melhor atenção e compreensão de todos",
lê-se no comunicado.
O comunicado surge dias depois da SMS
Catering, provedora de serviços às compa-
nhias aéreas TAP e LAM, nas rotas acima
mencionadas, ter repudiado a informação
posta a circular através das redes sociais
pela Comissão Halal de Moçambique, pa-
dronizadora dos serviços halal.
Em nota de repúdio, a SMS Catering con-
sidera de "lamentável" a atitude tomada
pela CHM.
"Consideramos de la-
mentável esta atitude, pelo
facto da SMS Catering estar
em processo de certificação
halal junto ao Conselho Islâ-
mico de Moçambique – Ga-
binete de Certificação Halal,
que mereceu preferência da
SMS Catering na avaliação
que fez às entidades que
emitem esta certificação".
A empresa refere ainda,
no seu comunicado, ter co-
nhecimento de que a Co-
missão Halal Moçambique
(CHM) não é a única empre-
sa com competências para
certificação Halal, como deu
a entender na sua nota.
O comunicado do CIM
veio mesmo a calhar e a SMS
Catering mostra-se "confian-
te na obtenção breve dos
certificados que fazem jus
ao empenho, rigor profissio-
nal, capacidade e qualidade
que tem estado a consolidar
ao longo dos cerca de 30
anos de existência, sujeita
a auditorias internas e in-
ternacionais regulares que
têm sempre comprovado
que a empresa cumpre com
os mais elevados requisitos
exigidos".
A SMS Catering apela à
CHM a pautar pelo respeito
pelas outras empresas. "É
preciso respeitar as outras
entidades de reconhecido
mérito a nível nacional e in-
ternacional, provedoras do
mesmo serviço", lê-se.
20 ANÚNCIO PUBLICITÁRIO DOSSIERS & FACTOS 07 de Novembro de 2022 SEGUNDA-FEIRA
 SEGUNDA-FEIRA 07 de Novembro de 2022 DOSSIERS & FACTOS
PICANTO CUP
Trentyre Rasteirinhos vence a prova
A
equipa da Trentyre Rasteirinhos çou a ser traçado na Manga A, prova na qual
venceu, sábado, o 5º Super Gran- o piloto Christian Bouché terminou, ao cabo
de Prémio Picanto CUP com um de 12 voltas, na primeira posição com o tem-
total de 80 pontos, seguida da po de 22:27:981 minutos, deixando para trás
Moztek Racing, com 76. A fechar os lugares a forte concorrência de Manuel Cardoso da
de pódio, na classificação final, tivemos a Moztek Pro com 22:28: 242.
MoztekPro com 74 pontos. Na Manga A 2, a Trentyre Rasteirinhos so-
mou 22 pontos e na B1 e B2 contabilizou 13
e 20 pontos, respectivamente.
“Campeões de volta? Sempre estivemos
aqui. Hoje acabámos fazer uma grande pro-
Os campeões estão de volta ao Autódro- va, na qual todos os pilotos se empenharam
mo Internacional de Maputo. E recomenda- para ter um bom desempenho. Na ponta fi-
-se. A penúltima prova do Super Grande Pré- nal, consegui alargar a minha vantagem para
mio Picanto Cup veio confirmar tudo aquilo os meus concorrentes. Tudo correu muito
que já se previa: um dia, a Trentyre Rasteiri- bem. Agora, é só continuar a trabalhar”, disse
nhos, que ano passado viu serem coroados Cristiam Bouché.
os pilotos André Bettencourt e Christian Já a Moztek Racing, 2ª classificada, teve a
Bouché, voltaria a acelerar para os lugares seguinte pontuação distribuída: 16 pontos
de pódio. (Manga A 1), 25 pontos (B1), 10 pontos (A2)
O domínio da Trentyre Rasteirinhos come- e 25 (B2).
Trentyre Rasteirinhos
DESPORTO 21
“Tive um bom andamento. Penso que a
prova decorreu muito bem. Parti atrasado,
numa prova muito renhida, e depois pude
recuperar algumas posições e ganhar van-
tagem sobre os meus adversários”, explicou
Manuel Barbosa.
Na 3ª posição, ficou a Moztek Racing com
74 pontos, sendo que, na Manga A1, somou
22 pontos, B1 contabilizou 16 pontos e A2
teve 22 pontos.
Partindo atrasado na grelha de partidas,
a Moztek Racing, de Manuel Barbosa, recu-
perou posições e venceu a Manga B1 com o
tempo de 22:24:749 minutos, seguido de Fre-
derico Jonet da Moov Racing com 22:31:318
minutos.
A fechar os lugares de pódio, nesta classe,
a Transauto Team33, de Marco da Cunha, ter-
minou na 3ª posição com 22:31:373 minutos.
A classe de modificados movimentou,
igualmente, provas renhidas com Nico Banze
a ser, uma vez mais, um dos
grandes destaques ao fechar
a sua participação na prova
com 9 pontos, seguido de
Ricardo Pereira com 5. Já na
classe A, o grande vencedor
foi o piloto Richat Khan, se-
guido de Sérgio Alvares e Oli-
ver B. Na segunda e terceira
posições, respectivamente.
“Foi uma prova muito bem
disputada. Os pilotos parti-
ram para a prova com von-
tade de fazer melhor. Feliz-
mente, consegui conquistar
a prova. Espero dar o meu
melhor na prova que vai de-
correr em Dezembro”, garan-
tiu Nico Banze.
O público vibrou do pri-
meiro ao último segundo e, a
justificá-lo estão as incríveis
exibições e de cortar o fôle-
go, que os talentosos pilotos
deixaram em evidência.
Para abrilhantar a festa,
houve demonstrações de
provas de ciclismo e patina-
gem em linha, sendo que,
nesta última modalidade, as
atenções estiveram viradas
para Donaldo Salvador, pa-
tinador que já representou
Moçambique na maior ma-
ratona do mundo de patina-
gem em linha.
O 6º Grande Prémio Pican-
to CUP está agendado para o
próximo dia 3 de Dezembro,
no Autódromo Internacional
de Maputo. O País
22 ALVOS DOSSIERS & FACTOS 07 de Novembro de 2022 SEGUNDA-FEIRA

A TERRA E OS HOMENS Fotos de Albino Mahumana

10 de Novembro, aniversário da cidade de

Maputo. Parabéns!
 SEGUNDA-FEIRA 07 de Novembro de 2022
ENTRE ARTISTAS EM VILANKULO
Andil Sulemane preocupado com falta
de união
C
erca de 20 obras de arte serão
apresentadas em 2022 pelo ar-
tista plástico Andil Sulemane,
na sua própria galeria na cidade
de Vilankulo, província de Inhambane.
As mesmas são fruto do seu longo per-
curso no mundo das artes, no qual a fal-
ta de união é preocupante, porque mina
o crescimento do sector.
D&F Texto de Albino Mahumana
Nascido em Vilankulo, Andil Sulemane
embarcou no mundo das artes por volta de
2005, inspirado por nomes tais como Pablo
Picasso, Salvador Dali e animes. Em 2010,
começa a pintar “com seriedade” e nunca
mais parou. Ao Dossiers & Factos, fala do seu
percurso.
D&F: Quais são os temas que abordas
nos teus trabalhos?
A.S: Gosto de abordar temas relaciona-
dos com o meu dia-a-dia, o que vejo na rua,
praia, natureza, praticamente tudo à minha
volta me inspira, criando assim os temas
que retrato nas minhas obras de arte.
D&F: Qual a técnica que utiliza?
A.S: Gosto mais de trabalhar com tinta
Andil, artista plastico
DOSSIERS & FACTOS
de óleo sobre a tela. Trabalho também com for-
mão na madeira (madeira esculpida), queimando
as linhas com ferro de estanhar, dando às som-
bras em linhas geométricas que fazem o cenário
da obra.
“Deve haver mais galerias em todas as
cidades”
D&F: Como viver da Arte em Moçambique?
A.S: Para viver da Arte em Moçambique deve-
mos expor os nossos trabalhos nas feiras de arte,
deve haver mais galerias em todas as cidades,
províncias, distritos. Também devemos trabalhar
com websites e redes sociais para vendermos on-
line as nossas obras de arte e, assim, podermos
sair de casa ou atelier para pintarmos nas zonas
públicas, como mercados, parques, praças, jar-
dins, hotéis, lodges, e outros locais, para que pos-
samos ser conhecidos como fazedores de arte
em Moçambique e no mundo.
D&F: Que avaliação faz das artes plásticas
de Moçambique?
A.S: Vejo que nós, moçambicanos, somos
bem talentosos, com muitas variedades e estilos.
Igualmente, temos um número muito elevado de
artistas plásticos. Contudo, devemos criar um es-
tilo diferente, porque muitos de nós artistas nos
CULTURA 23
limitamos a um e único traço, inspirando-nos
no mestre Malangatana. Não digo que não se
pode imitar ou inspirar-nos nos nossos artis-
tas, mas é preciso ir criando um novo estilo por
cima dos traços ou estilos deles.
D&F: Vive só de arte ou exerce outras
actividades?
A.S: Não vivo só de arte, tenho outras
actividades.
D&F: O teu sonho foi sempre ser artista?
A.S: Sim, desde os meus 18 anos sempre
gostei de apreciar obras de arte e sempre dizia
que quero pintar assim também.
Baixo nível salarial compromete a arte
D&F: Consegue vender as suas obras?
A.S: Não é fácil vender a arte em Moçam-
bique, devido ao magro salário mínimo, que
contribui para que a obra de arte não seja
prioritária na vida das pessoas. Como se não
bastasse, o material de arte é bastante caro,
fazendo com que uma obra de arte seja cara.
D&F: Como podemos fazer da arte um
negócio?
A.S: Vendendo online, através das redes
sociais e lojas especializadas para a venda das
obras de arte.
D&F: Conta com alguma exposição?
A.S: Sim, tive a oportunidade de expor
em todas as colecções crescentes na galeria
Kulungwana.
D&F: Como tem sido o movimento artís-
tico em Inhambane?
A.S: Bem, não tenho uma visão de Inham-
bane, apenas de onde vivo, Vilankulo. Nesta ci-
dade, o movimento artístico quase não existe
devido à falta de união entre nós e não temos
a casa de Cultura ou associação sob gestão
dos artistas plásticos. A casa da Cultura em
funcionamento, nesse momento, pertence ao
Município. Deveríamos ter uma associação
com um estatuto reconhecido para que essa
plataforma artística esteja em funcionamento,
na primeira fase, com ajuda do governo local,
e depois nós faríamos a nossa parte.
D&F: Projectos?
A.S: Neste momento, estou a trabalhar
para que as minhas obras e o meu nome ar-
tístico sejam conhecidos em Moçambique e
no mundo. Criação da minha própria galeria
e a preparação de 20 obras de arte para a
minha exposição individual. A galeria já está
construída na cidade de Vilankulo e entrará
em funcionamento no próximo ano.
D&F: Qual é a sua fonte de inspiração?
A.S: A minha fonte de inspiração é tudo
que me rodeia, a natureza. E não gosto de
me limitar a um único estilo ou fazer só um
tipo de pintura.

Tchumene 1 | Rua Carlos Tembe, Parcela Nº 696, Matola | Telf 869744238 |
Celular: 82 4753360 | Email: dossiereletronico@gmail.com
I NTERNACIONAL
COP27
Guterres diz que
planeta mostra “sinal de
sofrimento”
D&F Texto: Dossier & Factos
"No momento em que arranca a
COP27, o nosso planeta está a en-
viar um sinal de sofrimento", afir-
mou Guterres, citado pela agência
de notícias AFP, referindo-se a uma
situação "crónica do caos climático".
A conferência climática da ONU
arrancou este domingo (6.11), em
Sharm el-Sheikh, no Egito, com um
novo alerta sobre a aceleração do
aquecimento global, cujo financia-
mento dos danos a países pobres
está pela primeira vez, oficialmente,
António Guterres, SG da ONU
na lista dos debates.
Segundo dados divulgados pela
Organização Meteorológica Mun-
dial (OMM), os oito anos entre 2015
e 2022 serão os mais quentes já
registados.
Até 18 de novembro, delega-
dos de quase 200 países tentarão
dar um novo fôlego à luta contra o
aquecimento global, enquanto as
múltiplas e inter-relacionadas cri-
ses que abalam o mundo - guerra
na Ucrânia, inflação e ameaça de
recessão, crise alimentar - levantam
receios de que o tema vai ficar em
segundo plano. DW
50Mt
1 *Semana “bué” turbulenta*
A semana passada foi “bué"
turbulenta e o principal motivo foi
mesmo a TSU. Tivemos os médicos a
darem conta de que irão fazer greve,
os professores a ameaçarem não
controlar os exames. Surpreendeu
ainda a “revolta” dos funcionários do
MEF e também tivemos os portões do
cemitério fechados. Quer dizer, já não
está a dar nem para morrer em paz. Ao
que se diz, alguns funcionários tiveram
os seus salários reduzidos, outros
reclamam estar mal enquadrados na
tabela. Nesta questão da TSU, primeiro
há que reconhecer que, sim, há erros
que têm de ser corrigidos, por isso,
tem que haver humildade por parte
de quem reclama, no sentido de
encaminhar a sua preocupação a quem
de direito, e, por parte de quem recebe
a crítica, porque as pessoas estão com
fome, querem ver as suas condições
de vida melhoradas, daí o desespero,
até porque o custo de vida aumentou
significativamente nos últimos anos e
as suas preocupações não devem ser
minimizadas. Mas é preciso não perder o
sentido de urbanidade, o que pode nos
ajudar a evitar cenários lamentáveis,
como o fechamento do cemitério,
o que não é nada bonito. Por outro
lado, há necessidade de pegar este
documento e trabalhá-lo até à exaustão
e trazê-lo a público já totalmente
harmonizado, consensualizado, até
porque o objectivo deste documento é
melhorar a situação dos funcionários,
Namaacha pode ser o
espelho de uma crise
social
Cada vez mais parece que estamos a
entrar numa guerra civil. Aquele papo
de “moçambicano é um povo pacífico”
berrou, ficou no tempo. Viramos um
bom campo de estudo para análises
exaustivas de comportamento
humano em grupo. A bem pouco
tempo, meia dúzia de agentes da
polícia foi amarrada, espancada e
enterrada com vida por populares
no distrito da Manhiça, aqui na
província de Maputo, alegadamente
por roubo de gado. Agora tivemos
Anúncio publicitário
mas as falhas estão aí. Que se melhore
a TSU e que haja fumo branco entre
os nossos servidores públicos. É bom
termos pessoas a receberem bem numa
sociedade, porque aquele dinheiro gera
efeito aglutinador e massificador na
economia nacional.
Namaacha pode ser o espelho de uma
crise social
Cada vez mais parece que estamos a
entrar numa guerra civil. Aquele papo
de “moçambicano é um povo pacífico”
berrou, ficou no tempo. Viramos um
bom campo de estudo para análises
exaustivas de comportamento humano
em grupo. A bem pouco tempo, meia
dúzia de agentes da polícia foi amarrada,
espancada e enterrada com vida por
populares no distrito da Manhiça, aqui
na província de Maputo, alegadamente
por roubo de gado. Agora tivemos
esta situação no distrito de Namaacha,
em que a população se envolveu
numa guerra sem tréguas contra a
polícia, sendo que a vila de Namaacha
virou um campo de batalha. Greves,
lutas geracionais, desavenças entre
igrejas, desavenças entre membros
da mesma congregação religiosa,
desavenças entre membros do mesmo
partido, desavenças na classe cultural,
desavenças no desporto, enfim, são
coisas típicas de uma sociedade que
atravessa momentos de crise moral.
2
esta situação no distrito de Namaacha,
em que a população se envolveu
numa guerra sem tréguas contra a
polícia, sendo que a vila de Namaacha
virou um campo de batalha. Greves,
lutas geracionais, desavenças entre
igrejas, desavenças entre membros
da mesma congregação religiosa,
desavenças entre membros do mesmo
partido, desavenças na classe cultural,
desavenças no desporto, enfim, são
coisas típicas de uma sociedade que
atravessa momentos de crise moral.