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humanidades

MÚSICA

Saudades
do Jeca
no século XXI
Música sertaneja é analisada em pesquisas
e revela-se um bom retrato do país: disposto a
ir em frente mas sempre olhando para trás

Carlos Haag o Jeca surge humilde e sem vergonha


alguma da sua “falta de masculinidade”,
choroso, melancólico, lamentando não
poder voltar ao passado e, assim, “cada
toada representa uma saudade”. O Jeca
de Oliveira não se interessa pelo meio
rural da miséria, das catástrofes natu-
rais, mas o íntimo e sentimental, e foi
nesse seu tom que a música, caipira ou

O
sertaneja, ganhou sua forma. “A canção
criador da mais conhecida e popular conserva profunda nostalgia da
celebrada canção sertaneja, roça. Moderna, sofisticada e citadina,
Tristeza do Jeca (1918), não essa música foi e é igualmente roceira,
era, como se poderia esperar, matuta, acanhada, rústica e sem trato
um sofredor habitante do com a área urbana. Isso valeu para as
campo, mas o dentista, escri- canções de Jobim, Chico e ainda vale
vão de polícia e dono de loja para boa parte da nossa música. Em
Angelino Oliveira. Gravada por “caipi- todas essas personas há sempre a voz
ras” e “sertanejos”, nos “bons tempos paradigmática do migrante que se faz
do cururu autêntico” assim como nos ouvir para registrar uma situação de Projeto República/UFMG, em 2008, a
“tempos modernos da música ‘ameri- desenraizamento, de dependência e ser publicado, neste segundo semestre,
canizada’ dos rodeios”, Tristeza do Jeca falta”, analisa a cientista política Heloí- pela editora da universidade mineira
é o grande exemplo da notável, embora sa Starling, vice-reitora da Universida- em conjunto com o Nead (Núcleo de
pouco conhecida, fluidez que marca a de Federal de Minas Gerais (UFMG) e Estudos Agrários e Desenvolvimento
transição entre os meios rural e urba- organizadora de Imaginação da terra: Rural), traz uma ampla discussão sobre
no, pelo menos em termos de música memória e utopia na canção popular as saudades nacionais de roça e sertão.
brasileira. Num tempo em que homem brasileira. A coletânea de textos, fruto O site do Projeto República traz
só cantava em tom maior e voz grave, do seminário homônimo realizado pelo também uma página para matar as

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montagem com reprodução de o violeiro de almeida júnior, 1899, pinacoteca do estado de são paulo e foto de miguel boyayan

saudades de Matão de qualquer ser “rurais” – produzidas em sua maio- hipnotizado pelo desejo de moderni-
urbano (http://www.ufmg.br/proje- ria no meio urbano por pessoas zação, com levas de migrantes da zona
torepublica/v1/page/tradicao). Mais que vivem entre a cidade e o campo rural. “Nasce uma canção que procura
um fruto do Imaginação da Terra, a (mas se consideram “do campo”), nota sugerir que, nesse enredo problemático
página traz uma cronologia da can- a pesquisadora, falam da ausência da chamado Brasil, existe algo permanen-
ção caipira e links para que se possa natureza, idealizada, e reiteram a dor te sem lugar e por isso contendo todos
ouvir as músicas mais importantes da perda, a saudade, uma nostalgia dos os lugares, todas as ausências, tudo o
do gênero, um mapeamento inédito bons tempos – surgiram como reação que pode vir a ser: o fundo arcaico do
e fundamental. Afinal, essas canções a um momento em que o país estaria mundo rural projetado sobre uma so-

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ciedade primitiva que vive longe do
espaço urbano e que é, aparentemente,
o seu avesso.” Inusitadamente, o tema
também atraiu a atenção do antropólo-
go americano Alexander Dent, profes-
sor da George Washington University,
que, após mais de 11 anos de estudos
feitos no Brasil, em especial no esta-
do de São Paulo, realizou a pesquisa
que será lançada no próximo mês pela
Duke University Press, River of tears:
country music, memory and modernity
in Brazil (312 páginas, US$ 84,95), o
primeiro estudo etnográfico sobre a
música sertaneja nacional. Dent pre-
tendeu explicar não apenas a produ-
ção e a recepção desse gênero no país,
mas também as razões que o levaram
a experimentar um crescimento tão

divulgação/projeto república
intenso quanto o verificado no perío-
do entre o fim da ditadura militar e a
reforma neoliberal. “Os gêneros rurais
refletem uma ansiedade generalizada
de que as mudanças, a modernização,
foram muito rápidas e muito radicais.
Ao definir sua música como sertaneja,
os músicos brasileiros, cujo trabalho
circula largamente nas cidades, querem
que suas canções sirvam como crítica moda rural, no espetáculo milionário tem estreita conexão com a experiên-
à vida urbana crescente e inescapável do rodeio. “Apesar de seu crescimen- cia americana, mas não se pode ceder à
que toma conta de todo o Brasil e é to, o fenômeno country permanece facilidade de tomar automaticamente
caracteri­zada pela supressão das emo- ainda difuso, sem contornos nítidos essa conexão como mera cópia, uma
ções e uma falta de respeito pelo passa- que possam precisar sua definição e ideia reducionista de imitação que fa-
do”, explica Dent. “Suas apresentações compreensão. Não há uma percepção, vorece o clichê nacionalista, que, pela
evocam um ‘rio de lágrimas’ fluindo por exemplo, sobre as particularidades insistência fundamentalista na preser-
por uma paisagem de perda do amor, do estilo de vida country no Brasil. Em vação de algo genuinamente autóctone,
da vida no campo e das ligações do geral, se dá como certo que se trata acusa a infiltração na nossa sociedade
homem com o mundo natural.” de uma cópia do que existe nos EUA”, da ‘malévola’ tendência de reproduzir
avisa a socióloga Silvana Gonçal­ves de tudo o que vem de fora, em especial
Country - A paixão country, porém, Paula, professora adjunta da Universi- dos EUA.” Isso também se reflete na
não está mais restrita apenas ao mun- dade Federal Rural do Rio de Ja­­neiro eterna e pouco convincente dicotomia
do fonográfico, mas rompeu fronteiras do Instituto de Economia da Univer- entre música sertaneja, “colonizada,
do comportamento de parte expres- sidade Federal do Rio de Janeiro. “Sem comercial e modernizada”, e música
siva da elite urbana em músicas, na dúvida, a emergência desse fenômeno caipira, “digna, das raízes, sincera”, que
permeia o preconceito de acadêmicos
e, acima de tudo, jornalistas, de tudo
o que vem da primeira em detrimen-
A paixão country não está to da segunda. “Há um discurso que
afirma que, a partir da década de 1950,
restrita ao mundo fonográfico a música rural perde a sua pureza e
seu sotaque ao mesclar as modas de
e rompeu fronteiras do viola com outros gêneros latinos e a
incorporação de outros instrumentos,
comportamento de parte sendo necessário, então, que se pre-
servem as características originais da
música interiorana para que ela não
expressiva da elite urbana se perca”, observa a socióloga Elizete
Ignácio, ligada à Fundação Getúlio
Vargas (FGV-Rio).

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nordestino para o ‘caipira’, trabalhavam
no Rio, as duplas dos anos 1940, como
Tonico e Tinoco, trabalhariam em São
Paulo”, explica o antropólogo Allan de
Paula Oliveira, que acaba de defender
seu doutorado, Miguilim foi pra cidade
ser cantor: uma antropologia da música
sertaneja, na Universidade Federal de
Santa Catarina. Curiosamente, nota o
pesquisador, o que houve, no princípio,
foi uma “colonização” da música serta-
neja pela música caipira por meio dos
timbres e dos novos subgêneros, com o
estabelecimento da dupla cantando em
intervalos de terças como a formação
típica, bem como, entre outros fatores,
a especialização no universo dito “cai-
pira” pelo uso de maquiagem e vestuá­
rios “a caráter”, até que, por volta de
1950, a música sertaneja, em sua for-
ma “caipira”, estava cristalizada em seu
novo formato. Além disso, da mesma
forma que os “neossertanejos” de hoje
Inezita são vítimas do preconceito dos mais
divulgação/projeto república

Barroso
e a dupla
puristas, nos anos 1960, lembra Allan, a
Alvarenga música sertanejo-caipira foi excluída de
e Ranchinho: processos importantes que acabaram
música do resultando na elaboração da sigla MPB.
campo feita “Da mesma forma, o gênero não teve
na cidade destaque nos festivais dos anos 1960,
sendo pouco aproveitado na gênese da
MPB. Para o público da época, jovem,
rural era o baião. ”
“Existe uma nostalgia da moda cai- à simplicidade, à dignidade rústica do
pira de raízes com um sabor amargo do contato com a natureza. No Brasil o Alienação - Posteriormente, a música
tempo perdido com a modernização estilo de vida country é quase o avesso sertaneja ganharia a triste função de
que relegou a todos sobreviverem num de tudo isso, e, entre nós, o country fala ser exemplo de categorias sociológicas
mundo desencantado, dominado pelos a favor de uma inserção da ruralidade como lúmpen, proletariado, alienação.
meios de comunicação de massa, cujo nos critérios de civilidade urbana, uma “Trata-se de uma música que seria colo-
controle ideológico transformaria a po- inserção que se faz mediante o pleito cada à margem por classes dominantes
pulação em ‘mera consumidora’, e não da dignificação do ser humano. O es- e consumida por um público vasto, po-
‘produtora de seu discurso final’”, con- tilo de vida country introduz o tema da rém ‘subalterno’, como se dizia na época.
tinua. Segundo a pesquisadora, a visão ruralidade no cenário urbano e dialoga Até a segunda metade dos anos 1980 ela
que se tem dos sertanejos modernos é o com as fronteiras tradicionais que, aqui, permaneceria à margem no conjunto da
de um reflexo de uma nova elite agrária delimitam a relação entre o campo e a música brasileira, um gênero escutado
que nada teria a ver com o caipira, defi- cidade”, nota Silvana. fora do centro. Desse modo, o campo da
nido por sua simplicidade, rusticidade, Na música, a sutileza das surpresas música sertaneja, até então, estava divi-
cordialidade. As festas populares teriam pode ser ainda maior. “Foi entre 1902 dido em duas posições: uma valorizan-
se perdido em meio ao aparato técnico, e 1960 que a música sertaneja surgiu do as raízes caipiras da música sertaneja,
e a busca pelo internacional e pelo mul- como um campo específico no interior e que usava a expressão ‘música caipira’
ti, frutos da modernização, e a adoção da MPB. Mas, se num período inicial, para denotar sua prática e diferenciá-
de novas tecnologias e linguagens apro- até 1930, sertanejo denotava indis- -la da outra posição, formada por uma
ximariam o sertanejo mais do country tintamente as músicas produzidas no música sertaneja aberta às influências
americano do que do caipira brasileiro. interior do país, tendo como referên- externas e que usava a expressão ‘música
“A minha pesquisa com cowboys que cia o Nordeste, a partir dos anos 1930 sertaneja’ para se denotar.” O grande
vieram ao Brasil participar de rodeios sertanejo passou a significar o caipira boom que esta segunda “facção” musical
mostra outras realidades, mais sutis. do Centro-Sul. E, pouco mais tarde, de experimentou aconteceu em 2005 com
Na sociedade dos EUA é que o estilo São Paulo. Assim, se Jararaca e Rati- a divulgação do filme Os dois filhos de
de vida country está associado ao labor, nho, ícones da passagem do sertanejo Francisco. “Foi um fenômeno, e, ao lado

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Por meio da dupla de irmãos,
o sertanejo revela
fragilidades do homem
vetadas pelo machismo

do axé e do pagode, hoje é um dos três presença feminina. Por meio da irman- ou seus fãs sejam necessariamente do
gêneros que mais estiveram em evidên- dade, a música revela vulnerabilidades meio rural, já que, na maior parte, sua
cia ao longo da década de 1990, ocu- masculinas no palco que são, em geral, música é produzida e circula no meio
pando espaços crescentes na mídia”, escondidas, vetadas pelo machismo.” urbano. No entanto, essa ‘ruralidade’
nota Allan. Segundo o pesquisador, a Segundo o antropólogo americano, os não deve ser entendida literalmente
ascensão desses gêneros musicais até en- músicos definem o seu universo como como referências ao campo, mas fazer
tão relacionados a grupos sociais mar- “sertanejo”, com isso significando que uso do espaço para ressaltar a fragmen-
ginalizados no conjunto da sociedade as letras de suas canções são críticas tação do indivíduo e a perda do passado
é uma das contrapartidas da entrada da realidade urbana que suprime as idílico que seus adeptos acreditam ter
desses grupos no universo de consumo. emoções e não dá atenção ao passado, sido arrasado pela urbanização”, nota.
Um índice importante, no caso da mú- usando o campo “antigo” como mode- A música sertaneja, imbuída de um es-
sica sertaneja dos anos 1990, é o rodeio, lo e lamentando o que se perdeu com tado de crise emocional, deve provocar
evento símbolo do universo rural mo- a modernidade. “Rural, no caso dessa o mesmo no ouvinte: a reemergência
dernizado, com o peão reelaborado em música, não significa que os músicos do coração. “Brasileiros nos lugares
cowboy. A trilha desses eventos, a mú-
sica sertaneja, manteve características
anteriores, mas aprofundando-as com

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a entrada da influência do pop e do rock,
que se traduz nas formações musicais
novas usadas pelas duplas, com bandas
de apoio de guitarras, baixo, teclados
etc. em que a presença da sonoridade
da viola caipira tornou-se secundária,
quando utilizada.

Peão - “Curiosamente, a dominação


masculina do peão de rodeio sobre o
touro selvagem opera como um tipo de
polo oposto à música extremamente ex-
pressiva e lacrimosa que acompanha os
eventos. Falei com vários peões que me
disseram ser a sua fachada lacônica uma
cobertura para o seu interior emocio-
nal, que, segundo eles, era bem repre-
sentado naquelas músicas”, conta Alex
Dent. “Isso também explica a tradição
da dupla sertaneja, em geral constituída
por irmãos, com pouco espaço para a

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onde fiz a pesquisa continuam a expe- Entretanto, não se entenda nisso uma ir e vir, isto é, exatamente, no trânsito
rimentar o mesmo desconforto com a adoção imediata de posições menos entre dois referenciais, que este estilo
rapidez da mudança e do progresso. Se conservadoras. “Os gêneros musicais de vida country constrói suas raízes. É
sentem que devem absorver as novida- rurais também criticaram a redemocra- precisamente no deslocamento que se
des, ao mesmo tempo temem a perda tização, apresentando a modernidade produz uma territorialização.” Assim, o
iminente da sua identidade. A música e da globalização como tendo mais um “mau” do progresso feito pela ditadura
o estilo de vida sertanejos são algumas caráter corruptor do que progressivo. (construção, por exemplo, de estradas,
das formas por onde esse medo pode No lugar do esquecimento do local, da melhoramento do campo, desenvolvi-
transparecer.” história e da terra, o sertanejo propõe a mento de uma agricultura moderna)
Daí, segundo Dent, pode estar ou- necessidade de cada um se reconhecer permite agora que se possa ter um ter-
tra das muitas razões que explicam o como rural, valorizar o passado ideal e ritório com cidade e campo. Não sem
crescimento do gênero com a demo- enriquecido com o sangue dos irmãos.” razão, a democratização veio acom-
cratização do país. “A música sertaneja Ao mesmo tempo, porém, que a Tristeza panhada, a todo volume, pela música
parece, a uma primeira vista, passar do Jeca toca o coração dos sertanejos sertaneja como sua trilha sonora.
por cima da ditadura, já que não há com seus suspiros pelo passado, isso não “O estilo de vida country no Brasil,
canções sobre tortura, censura ou de- impede que eles possam verter rios de portanto, é uma experiência que não
saparecidos. Mas o rural por trás do lágrimas ouvindo gravações modernas reproduz a vida campestre, agrícola ou
gênero enfatiza a crítica velada às nar- da canção em sistemas de som de últi- pecuária. Antes, é uma experiência que
rativas de progresso que eram centrais ma geração ou em palcos de shows com ritualiza nos vários cenários urbanos
aos ‘milagres econômicos’ coercivos imensos recursos técnicos. (torneios esportivos, danceterias, turis-
das ditaduras militares.” Os “anos de mo, moda, regras de sociabilidade) os
chumbo” podem não estar visíveis, mas Ideologia - “O mesmo CD que vi na elementos que são atribuídos à relação
uma crítica a seu principal vetor está casa de muitos aprendizes de violeiro com a natureza, à agricultura, à pecuá-
presente para quem quiser ouvir os em campos do MST estava na estante ria. Assim, o estilo de vida country toma
lamentos pela “perda forçada da ino- de milionários para quem ‘era preciso a ruralidade como fonte de inspiração
cência” do campo. “Após 1985, com a trazer de volta os militares para acabar para o delineamento de padrões de so-
redemocratização, muitos grupos pas- com a bandalheira no campo e na po- ciabilidade urbanos”, observa Silvana. O
saram a usar o gênero sertanejo como lítica’. Já não há mais como restringir country (ou “cáuntri”, como ouvido por
alternativa às narrativas de progresso da o sertanejo a classes ou ideologias”, Dent ao longo de sua pesquisa no Bra-
ditadura, em especial aquelas associa- analisa Dent. Em suma, a música ser- sil) funciona como uma das instâncias
das com urbanização, industrialização taneja é um excelente espelho do país que “produz” o campo, e sua trilha é a
e orientação para o futuro. O olhar para e sua eterna convivência entre o anti- música sertaneja, expressão criadora
trás, saudoso do passado perdido, foi go e o moderno. “A questão do irmão, da realidade. “Assim, para o sertanejo
subitamente mobilizado com vigor para por exemplo, sempre esteve na música não há razão para separar ‘sertanejo’
problematizar discursos de brasilidade sertaneja: se antes ela lamentava as raí­ de ‘caipira’, se tudo faz parte do mesmo
e da aceitação impensada do progresso zes quebradas com a migração, hoje espectro. Prova disso eu vi num show
pelo progresso”, explica o antropólogo. celebra a impotência diante do amor. em Barretos, em 1999, quando a dupla
A viola ainda conecta o passado com Xitãozinho e Xororó se uniu à dupla
o futuro, com estudantes se esmeran- Tião Carreiro e Pardinho para cantar
do para aprender ritmos arcanos por Pagode em Brasília (sucesso da dupla
meios digitais. A ruralidade é, acima antiga), com todas as conotações que
almeida júnior, caipira picando fumo, 1893, pinacoteca do estado de são paulo

de tudo, popular porque se vive no a cidade traz como projeto de moder-


campo e na cidade ao mesmo tempo. nização e futuro do Brasil. No país do
Silvana Gonçalves concorda. “É uma século XXI, a inovação não está em sim-
ambivalência forte do country brasi- plesmente mandar essa mensagem num
leiro. Os adeptos do gênero estão refe- dos maiores rodeios do mundo, mas em
ridos ao mesmo tempo a dois lugares, combinar uma apresentação do passa-
porque estão num trânsito incessante do com o presente em que uma dupla
de cruzamento de fronteiras. O aspecto comercialmente bem-sucedida pode
intrigante disso é que por causa, justa- dividir o palco com suas ‘raízes’ agora
mente, desta possibilidade recente de ditas caipiras”, conta o antropólogo. n

Capa do disco de
Boldrin recupera
visão idílica do
caipira de
Almeida Júnior

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