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Maputo
Abril de 2024
Trabalho Final do Curso
CURSO: Operador de processamento de Gás
Maputo
Abril de 2024
ii
AGRADECIMENTOS
A Deus pela vida e pela força que me tem dado para continuar a enfrentar os desafios diários;
Aos meus pais, pelo constante incentivo e por não permitirem que eu desistisse em nenhum
momento.
iii
RESUMO
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ABSTRACT
This article aims to analyze the impact of the Jihadist insurgency on the oil and gas industry
at a national and international level. Obviously, we can classify jihadists as a group of
unpatriotic, faceless people with obscure interests who have a tendency to destabilize the
economy, slowing down international development and substantially increasing world
unemployment, mostly among young people. Therefore, when they act, they show that they
are criminals with obscure tendencies, which is why we conclude that the Jihadists (terrorists)
are a group without objectives. States and the United Nations have sent military and
diplomatic efforts to stop this unnecessary evil, but it has been going on for almost half a
century, and there is no solution. Let's see, in 2022, the FADSM, SAMM and Rwandan
forces dislodged the terrorists in the area of Mocímboa da Praia and at one point it was
thought that something was happening, but at the end of 2023 and the beginning of 2024, the
terrorists started to panic again, displacing the population of the northern districts of Cabo
Delgado, massacring the population and the military and destabilizing the area. This shows
that this group has its bosses, but that these bosses are not interested in negotiating and
ending this conflict in Cabo Delgado province.
v
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1
1.Objectivos ............................................................................................................................... 2
1.1.Objectivo geral ..................................................................................................................... 2
1.2.Objectivos específicos ......................................................................................................... 2
2.Metodologia ............................................................................................................................ 2
3.Justificativa ............................................................................................................................. 2
vi
INTRODUÇÃO
Historicamente o grupo Jihadista foi fundado e teve o seu início nos anos de 1980 no Egipto
no continente africano onde assumiu a responsabilidade quando da morte de 18 soldados em
uma ponte de autocarros, em Bity-lity em 1995. Desde estas alturas o mundo sentiu a
presença do estado islâmico que reivindica a autonomia religiosa. Desta feita falar de
Jihadistas é falar de um grupo sem objectivos claros que surgiu para desestabilizar a
economia e retardar o desenvolvimento mundial aterrorizando as populações e os estados
criando dessa forma o desemprego mundial com mais incidência nos jovens. Em caso de
Moçambique que emergiu em cabo delegado reivindicando ficava a instalação do estado
islâmico e depois inventou o problema da pobreza e a exclusão dos jovens de alguns distritos
de cabo delegado, tendencialmente, começaram a atacar algumas aldeias queimando e
destruindo as infra-estruturas privadas e públicas e decapitando populares e as formas de
defesa e segurança de Moçambique. Desta forma vamos analisar os impactos da insurgência
Jihadista na indústria de Petróleo e gás a nível nacional e internacional.
1
1.Objectivos
A definição dos objectivos determinam o que o pesquisador quer atingir com a realização do
trabalho de pesquisa, pois são sinónimo de meta, fim e podem ser gerais e específicos.
1.1.Objectivo geral
1.2.Objectivos específicos
2.Metodologia
3.Justificativa
Outrossim, a motivação pessoal por trás da escolha deste tema também é significativa. Como
cidadão moçambicano, sinto-me profundamente afectado pela situação de conflito e
sofrimento que assola nosso país. Testemunhar a dor e a angústia das pessoas afectadas pela
insurgência despertou em mim um desejo ardente de entender melhor as causas subjacentes a
esse conflito e contribuir, de alguma forma, para encontrar soluções que possam trazer paz e
estabilidade a Moçambique. Assim, esta análise não é apenas uma investigação académica,
mas também uma busca por respostas e um apelo por acção para enfrentar os desafios que
enfrentamos como nação, particularmente enfrentados na província de Cabo Delgado.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, tem sido assolada por uma
insurgência crescente nos últimos anos. Este fenómeno tem gerado preocupação não apenas a
nível nacional, mas também internacional, devido ao seu impacto devastador sobre a
população local e as consequências para a estabilidade regional. Neste contexto, este estudo
propõe-se a analisar a insurgência em Cabo Delgado viradas a indústria de petróleo e gás,
investigando as suas causas, dinâmicas e consequências, bem como as respostas do governo
moçambicano e da comunidade internacional para a situação actual daquela província.
3
CAPITULO I: REVISÃO DA LITERATURA
Cabo Delgado, localizada no extremo norte de Moçambique1, possui uma história complexa
que remonta aos tempos pré-coloniais, quando era habitada por diversas comunidades
étnicas. Segundo Silva (2018), grupos como os macondes, makua e mwanis estabeleceram
suas sociedades e economias baseadas na agricultura, pesca e comércio local.
Com a chegada dos portugueses no século XVI, Cabo Delgado foi gradualmente incorporada
ao Império Colonial Português. “Durante o período colonial, a região se destacou pela
produção agrícola, especialmente de culturas como o algodão, coco e sisal” (Muianga,
2016:23). Ademais, as actividades portuárias ao longo da costa contribuíram para o
desenvolvimento económico da região.
1
Ver imagem no anexo A
4
Ao destacar sua localização estratégica no Oceano Índico e suas vastas reservas de recursos
naturais, como gás natural e minerais, o texto sublinha como Cabo Delgado se tornou um
ponto focal para o comércio regional e internacional. Essa análise enfatiza a relevância da
região não apenas para Moçambique, mas também para as dinâmicas económicas e políticas
globais.
A insurgência recente em Cabo Delgado trouxe novos desafios ao contexto histórico e
geopolítico da região. Como argumenta Hanlon (2021), o conflito exacerbou as tensões
internas em Moçambique e levantou preocupações sobre segurança regional, afectando não
apenas a estabilidade local, mas também as actividades económicas globais.
Nos últimos 7 anos, a província de Cabo Delgado2, situada no norte de Moçambique, tem
estado a braços com uma insurgência3 que teve a sua vigência em Outubro de 2017, altura em
que os insurgentes ocuparam a cidade da Mocímboa da Praia durante 48h e roubaram
armamento na Esquadra da PRM local e fugindo para o mato quando chegou o reforço
policial no local. No início, os ataques ocorriam a noite, contra pequenas aldeias e em 2018,
os insurgentes começaram a fazer assaltos a luz do dia. Em 2019, começaram a atacar
pequenas Vilas, Postos avançados do exército e meios de transporte nas estradas da
Província.
Segundo Bonate (2022: 519), a situação sofreu uma reviravolta sinistra, em 2018, com os
agressores realizando mais de trezentos ataques a aldeias e o Estado Islâmico no Iraque e na
Síria (EIIS, aqui referido como simplesmente EI) reivindicando a autoria dos ataques e
2
Ver anexo B.
3
Insurgência refere-se a um movimento armado de grupos ou indivíduos que buscam desafiar ou contestar o
controlo de um governo ou autoridade estabelecida em determinada região ou país. Geralmente, a insurgência é
caracterizada por actividades de guerrilha, ataques contra as forças de segurança do Estado e tentativas de minar
a ordem pública. Os insurgentes muitas vezes buscam alcançar objectivos políticos, sociais ou económicos por
meio da luta armada, e o conflito resultante pode ser prolongado e violento.
5
postando um vídeo dos insurgentes fazendo um juramento de lealdade à Abu Bakr al-
Baghdadi, o líder do EI, em 2019.
Com isto, o ISIS começou a assumir a responsabilidade por um número cada vez maior de
ataques em Moçambique. O governo reagiu enviando tropas para o norte do país, protegendo
vilas e aldeias e caçando os insurgentes. Embora não tenha conseguido pôr fim a insurgência,
contê-la para uma área geográfica que abrange cerca da metade da província (cerca de 30.000
quilómetros quadrados). À medida que a insurgência ganha em força e confiança, muitos
perguntam o que virá a seguir? Isto exige que compreendamos quem são os insurgentes e o
que eles pretendem.
Autores como Habibe et all (2019: 11-12), defendem uma posição contaria, apontando que o
Islão é um factor chave, se não mesmo o factor central, por detrás da insurgência. Eles
defendem que alguns jovens muçulmanos em Moçambique foram radicalizados sob a
influência de pregadores do Quénia e da Tanzânia. Uma segunda dimensão do debate diz
respeito á aferição a natureza externa da insurgência. Muitos autores consideram-na
originária do interior de Moçambique, alguns argumentando, como vimos que está
relacionada com a pobreza local, a desigualdade e a marginalização. Outros argumentam,
contudo que, ou veio de fora ou é o resultado de uma influência estrangeira.
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3. Natureza da insurgência em Cabo Delgado
No dia 5 de Outubro de 2017, a vila de Mocímboa da Praia foi alvo do primeiro ataque em
Cabo Delgado. Segundo relatos de jornalistas, entrevistas, imagens e vídeos, a maioria dos
insurgentes era composta por habitantes locais, muitos deles naturais da própria vila ou de
outros distritos da província de Cabo Delgado. “Embora alguns apresentassem um sotaque
distinto, a maioria já tinha vivido na cidade antes do ataque. Os moradores locais
identificaram os atacantes como membros da seita religiosa conhecida como Al-Shabaab”
(idem, p.8).
Diversos estudos têm abordado essa temática, oferecendo ideias importantes sobre as
dinâmicas complexas por trás da insurgência em Cabo Delgado. Por exemplo, o trabalho de
Oliveira (2020: 45-62) destaca as estratégias de recrutamento e radicalização utilizadas pelos
grupos insurgentes para atrair novos membros, especialmente entre os jovens desfavorecidos
da região. Da mesma forma, o estudo de Khan (2019: 78.) analisa as redes de financiamento e
apoio que sustentam as actividades dos insurgentes, identificando fontes de financiamento
ilícito, como o tráfico de drogas e o contrabando de recursos naturais.
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Ainda, é importante considerar as dinâmicas sociais e culturais locais que influenciam o
surgimento e a sustentação dos grupos insurgentes. Nesse sentido, a pesquisa de Jamal (2018:
112-130) destaca a intersecção entre identidades étnicas, religiosas e socioeconómicas na
formação das bases de apoio dos insurgentes em Cabo Delgado.
A análise das dinâmicas sociais e culturais locais que influenciam os grupos insurgentes em
Cabo Delgado destaca a complexidade do conflito na região. Ao examinar a intersecção entre
identidades étnicas, religiosas e socioeconómicas na formação das bases de apoio dos
insurgentes, a pesquisa de Jamal ressalta a importância de factores contextuais na
compreensão do conflito. Isso demonstra como as questões de identidade e desigualdade
social desempenham um papel fundamental na dinâmica do conflito, sublinhando a
necessidade de abordagens que levem em conta as nuances culturais e sociais para enfrentar
eficazmente a insurgência em Cabo Delgado.
Todavia, essas dinâmicas não só afectam directamente as comunidades locais, mas também
têm ramificações abrangentes em diferentes aspectos da sociedade e da vida quotidiana em
Cabo Delgado. Desde o impacto na economia local, com a interrupção das actividades
comerciais e agrícolas, até os danos à infra-estrutura e o deslocamento forçado de
populações, os efeitos da insurgência são profundos e generalizados.
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CAPITULO II: O IMPACTO DA INSURGÊNCIA JIHADISTA NA INDÚSTRIA DE
PETRÓLEO E GÁS A NÍVEL NACIONAL E INTERNACIONAL
4
É um termo que deriva da palavra árabe “jihad”, que significa “esforça” ou “luta”. No contexto moderno,
“jihadista” refere-se a indivíduos ou grupos que se envolvem em actividades de jihad, muitas vezes
interpretadas como uma luta armada em nome de uma causa religiosa ou ideológica. Essas actividades podem
variar desde acções de propaganda e recrutamento até ataques violentos contra governos, forças de segurança ou
populações civis, com o objectivo de promover uma agenda específica, seja ela política, religiosa ou social (Cfr.
BONATE).
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de jovens e respectivo potencial de recrutamento (voluntário e/ou forçado)
para grupos violentos; h) Grande dificuldade de produção de estatísticas e
aumento da incerteza em relação à realidade local (FEIJÓ, SOUTO e
MAQUENZI, 2020:7).
Terenciano e Pedro (2023:84) indicam que o estudo de Guzman aponta para o facto de que os
impactos na segurança humana são múltiplos e incluem:
Segurança pessoal: assassínios, mutilações, decapitações, violência sexual, criação
de deslocados internos e refugiados; com mais de 4.000 pessoas mortas, incluindo
civis, militares e insurgentes e mais de 800.000 deslocados, a crise humanitária
resultante é alarmante, com necessidade urgente de assistência em alimentos, água,
abrigo e cuidados médicos;
Segurança económica: perda de postos de trabalho e de rendimentos, perda ou
interrupção de actividades de subsistência, como a agricultura e a pesca; Os sectores
de exploração de gás natural e o turismo, foram impactados negativamente, resultando
em atrasos e prejuízos económicos significativos.
Segurança sanitária: acesso reduzido a serviços de saúde e água potável, maior
exposição à cólera, sarampo, malária e COVID-19, além de atenção reduzida à saúde
sexual e reprodutiva;
Segurança política: ataques a apoiantes do governo e da FRELIMO, direitos
humanos violações, tortura, execuções, desaparecimentos forçados e restrições à livre
circulação;
Segurança da comunidade: altos níveis de violência contra comunidades islâmicas
tradicionais, culturas e hábitos, o aumento da animosidade étnica e ataques directos
aos líderes tradicionais e comunitários;
Segurança alimentar: acesso reduzido a alimentos, aumento da fome e desnutrição;
e
Segurança ambiental: perda de locais para agricultura de subsistência e turismo
sustentável.
10
abordagens evidenciam a urgência de medidas eficazes para conter a violência, proteger a
população vulnerável e restaurar a estabilidade na região.
Números de Ocorrências
Fatalidades Reportadas
Até o momento, as cidades mais atacadas em Cabo Delgado devido à insurgência jihadista
incluem:
3. Quissanga: Quissanga é outra cidade que tem sido alvo de ataques frequentes,
levando a deslocamentos em massa e impactando a vida quotidiana dos residentes
locais. A violência tem afectado negativamente a segurança e a estabilidade da região.
11
Essas cidades têm sido palco de ataques violentos e destruição, causando um impacto
significativo nas comunidades locais e destacando a urgência de uma resposta eficaz para
lidar com a crise humanitária e de segurança em Cabo Delgado.
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A imagem acima demonstra que, além das trágicas perdas de vidas humanas, o terrorismo
exacerbou uma série de problemas socioeconómicos na região. O aumento do desemprego, da
criminalidade e do comércio ilegal, juntamente com a inflação de produtos e o aumento dos
preços dos bens de consumo, demonstram a extensão dos desafios enfrentados pela
população local. A explosão nos preços das residências, especialmente na capital provincial,
é um indicador claro do impacto directo do terrorismo no mercado imobiliário, resultado do
fluxo de pessoas deslocadas para áreas urbanas em busca de segurança.
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A actividade económica da Província assenta essencialmente no sector da agricultura e
produção animal (50,3%) e mais recentemente na indústria (17%), com destaque para a
indústria mineira e transformadora, seguidas do sector de transporte (13,7%) e pesca (8,5%).
Em 2014 a Província de Cabo Delgado obteve uma produção global de 13 mil milhões de
meticais, contra os 12 mil milhões observados em 2013, representando assim, um aumento na
produção de aproximadamente 8%. Em 2017 a produção global atingiu um montante de vinte
e quatro mil milhões de meticais, correspondente a um crescimento de 12,75%
comparativamente ao ano 2016.
De acordo com o ANEME (2018:37), os sectores da cultura e do turismo, do mar, das águas
interiores e das pescas, entre outros, são as que mais contribuíram para este crescimento.
Refere ainda que o sector da cultura e turismo contribuiu, em 2017, para os cofres do Estado,
com cerca de 1,3 mil milhões de meticais, provenientes de cobranças de diversas taxas.
As recentes descobertas de grandes reservas de hidrocarbonetos na Bacia do Rovuma atraiu
grandes empresas internacionais de gás natural. Na Província moçambicana de Cabo Delgado
há novos empregos, serviços e muita expectativa que este sector e os largos milhares de
milhões a serem investidos venham catapultar a economia da Província e do País.
Vários têm sido os anúncios de novas descobertas de gás natural onshore e offshore e
especialistas internacionais colocam Moçambique, num futuro próximo, como um dos
principias fornecedores de gás natural ao mundo. Os efeitos directos já se começaram a
calcular com a necessidade de construção de infra-estruturas ligadas à exploração e
exportação de gás e serviços de apoio.
14
(tcf)). Esta reserva descoberta em 2010 pode ser das maiores de GN de toda a
África e aproximar Moçambique das potências do gás em África,
nomeadamente a Nigéria e a Argélia. Moçambique surge já em 13º lugar no
ranking das reservas provadas a nível global, prevendo-se o aumento para
valores ainda mais significativos para os próximos anos. Este gás não
associado é ainda considerado tecnicamente um gás de boa qualidade
exploratória. (Caetano de Sousa, 2021)
15
numa comunicação à nação sobre a violência armada terrorista em Cabo Delgado a partir da
Presidência da República, em Maputo.
Vale ressaltar que com os elevados preços do petróleo e gás, prevê-se que o Estado perca
cerca de 383,4 bilhões de MZN (6,06 bilhões de USD) em receitas públicas devido ao
adiamento do projecto de gás Mozambique LNG. Em suma, estas despesas adicionais
induzidas pelo conflito e as receitas públicas não realizadas aproximam-se de 490,2 bilhões
de MZN (7,75 bilhões de USD). Este montante significa um aumento substancial em
comparação com uma estimativa anterior do CIP (2023), que usando uma metodologia
diferente calculou o impacto fiscal Insurgência em 64,17 bilhões de MZN (1,01 bilhões de
USD).
Além disso, o tecido social da região está a deteriorar-se, com Cabo Delgado a destacar-se
como a única província em Moçambique a testemunhar um declínio nas taxas de
alfabetização desde o início do conflito. De acordo com os dados do Instituto Nacional de
Estatística de Moçambique (INE), registou-se um aumento alarmante de 8,7% na taxa de
analfabetismo entre 2020 e 2022. Estimamos que este impacto educacional possa resultar
num declínio relativo do PIB de Cabo Delgado de até 22,7 bilhões de MZN (0,36 bilhões de
USD).
A Rystad Energy, uma empresa de estudos energéticos, prevê que a Total Energies possa
retomar o seu projecto de GNL em Moçambique em 2024 e prevê o início da produção de gás
em 2028. Este atraso é atribuído aos ajustes necessários para fazer face aos aumentos de
custos previstos devido aos aumentos da inflação global, com a Rystad Energy a estimar um
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aumento de 25% nos custos do projecto, um valor consistente com o aumento dos custos do
GNL a nível global.
A análise do impacto dos ataques no funcionamento das empresas e nos postos de trabalho
afectados assenta, principalmente, no pressuposto de que “todas empresas localizadas nas
zonas afectadas pela insurgência pararam de funcionar devido, por um lado, as destruições
das suas instalações e, por ouro lado, a quebra do fluxo de actividades económicas aliado ao
abandono de grande parte da população destas zonas” (TERENCIANO e PEDRO apud
OMR, 2022). Entre as empresas e instituições empresariais destruídas, destacam-se: a
paralisação de projectos de Gás Natural Liquefeito (LNG), instituições como o Palma
Business Park (incluindo hotel, acampamento e escritórios, acampamento para pessoas,
acomodações da Renco, edifícios industriais e armazéns, e equipamento de instituições
bancárias), bem como o empresariado local.
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no abastecimento e influenciando os preços do gás natural. Essa situação também gera
pressões por práticas mais responsáveis e transparentes por parte das empresas, reflectindo
uma crescente preocupação com os direitos humanos e a gestão sustentável dos recursos
naturais. Pelo que torna-se extremamente urgente se pensar em formas/medidas que possam
mitigar o impacto da insurgência jihadista em cabo delgado, assunto este que será abordado
com mais propriedade no nosso terceiro e último capítulo.
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CAPITULO III: MEDIDAS PARA MITIGAR O IMPACTO DA INSURGÊNCIA
JIHADISTA EM CABO DELGADO
O ataque em Palma despertou atenções em Maputo e além: é imperativo reverter o rumo dos
acontecimentos em Cabo Delgado para evitar que a crise humanitária se agrave e que a
insurgência represente uma ameaça ainda maior à estabilidade nacional e regional. O governo
moçambicano tem várias propostas em discussão, incluindo a possibilidade de solicitar ajuda
externa para reforçar a segurança. No entanto, é crucial agir com cautela, assegurando que as
operações de segurança sejam complementadas por esforços para atender às preocupações
locais, a fim de evitar uma abordagem fragmentada e descoordenada, como alertou o
presidente Nyusi segundo Crisis Group (2020).
Moçambique se encontra assim numa posição difícil. Sem forças de segurança capazes,
Maputo lutará para estabilizar Cabo Delgado e corre o risco de ver o al-Shabab planejar mais
ataques e, possivelmente, se espalhar para as províncias vizinhas ou até para a Tanzânia.
Portanto, “uma intervenção militar externa é necessária, mas deve ser ponderada.
Diplomatas, peritos militares e autoridades moçambicanas concordam que uma força da
SADC de 3,000 soldados pode ser uma proposta irrealista” (ibidem). Os doadores temem
que o custo de uma força desse tipo seja proibitivo, dado que as forças dos Estados-Membros
da SADC têm suas próprias limitações em termos de capacidades e logística. Além disso, há
dúvidas sobre a falta de uma estratégia clara para fundamentar a proposta desse grande
número de homens; alguns suspeitam que isso possa ser apenas uma forma de alguns
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Estados-Membros da SADC usarem a crise de Moçambique para justificar recursos
internacionais para suas próprias forças armadas.
Na perspectiva do Crisis Group (2021: 38) organizar a luta dessa forma permite alcançar três
objectivos cruciais. Primeiramente, as operações direccionadas impediriam que os militantes
planejassem ataques de grande escala com facilidade. Em segundo lugar, enquanto as
operações estão em andamento, Moçambique pode focar em melhorar as capacidades mais
amplas das Forças Armadas e da polícia por meio de treinamento a longo prazo. Isso inclui
realizar uma auditoria abrangente da logística e das estruturas organizacionais das forças
militares e policiais, permitindo aos parceiros avaliar que tipo de assistência fornecer para
reformar e reconstruir essas instituições. Por fim, ao evitar um destacamento externo pesado,
há espaço para utilizar o diálogo como um mecanismo para incentivar a desmobilização dos
combatentes da insurgência.
20
2. Medidas para Mitigar o Impacto da insurgência Jihadista em Cabo Delgado
Reconhecendo que uma solução exclusivamente militar não será suficiente para conter a
insurgência, os líderes governamentais estão comprometidos com iniciativas de
desenvolvimento como meio de acalmar a opinião pública, persuadir os militantes a
abandonarem o al-Shabab e garantir que não voltem à militância após deixarem o grupo
devido a pressões militares. No entanto, os militantes podem não estar receptivos a essa
proposta se estiverem ideologicamente ligados à jihad ou se acreditarem que permanecer no
al-Shabab é uma melhor opção. Os líderes também temem não ter nada a oferecer aos líderes
tanzanianos do grupo que não fazem parte da estrutura política de Cabo Delgado, e que
alguns militantes moçambicanos possam ser jihadistas convictos. Ainda assim, tanto os
líderes quanto os líderes comunitários acreditam ser possível apelar aos interesses da maioria
dos militantes moçambicanos, que podem considerar a opção de desertar se o Estado
demonstrar comprometimento em responder às suas reclamações e mantê-los empregados
com remuneração.
Apesar dos desafios de implementação, como a abertura dos militantes a essa abordagem,
existem outras questões relacionadas à utilização da ajuda para o desenvolvimento nesse
contexto. Os oficiais do governo acreditam que podem reconstruir a confiança com as
comunidades locais e, por meio delas, alcançar os combatentes do al-Shabab para persuadi-
los a desertar, devido aos laços de parentesco entre os militantes e suas comunidades de
origem. No entanto, de acordo com o Crisis Group (2021:39) activistas locais e o pessoal da
Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte advertem que, a menos que a ajuda seja
direccionada para as comunidades por meio de consultas extensivas com as populações
locais, pode aumentar as tensões locais, como já foi observado no Sahel por doadores
anteriores.
Enquanto isso, o governo dos Estados Unidos anunciou uma assistência humanitária
significativa, totalizando 116 milhões de dólares, De acordo com a subsecretária de Estado
para Segurança Civil, Democracia e Direitos Humanos, Uzra Zeya, o valor é destinado à
“assistência alimentar e nutricional e para atender às necessidades de saúde, água e
agricultura dos deslocados” (CABO LIGADO, 2022:4). Paralelamente, o Conselho de
Segurança da ONU expressou sérias preocupações com a crescente ameaça terrorista em
Moçambique, ressaltando a persistente presença do grupo filiado ao EI na região.
21
Para complementar o trabalho da Agência na construção da confiança com a população e a
sociedade civil, são necessárias outras medidas.
Nyusi já declarou que apoiaria uma política de amnistia aos combatentes moçambicanos do
al-Shabab. “Estamos prontos a recebê-los e a reintegrá-los na sociedade”, declarou no início
de Abril. Para que esta proposta seja aceitável pelo público, o governo deveria também
aumentar o seu apoio à Procuradoria-Geral para processar os chefes do al-Shabab que forem
colocados sob custódia militar, de modo a demonstrar que também se faz justiça.
De uma forma mais concisa e objectiva com base nos pontos abordados anteriormente, como
forma de mitigar os impactos, Maputo deveria aceitar uma assistência direccionada para suas
operações de segurança, a fim de conter a insurreição, e evitar uma mobilização externa forte,
que poderia levar a uma estagnação. “As autoridades deveriam fornecer assistência para
construir uma relação de confiança com os habitantes locais e um diálogo aberto com os
22
militantes” (International Crisis Group, 2021). Os governos regionais deveriam redobrar seus
esforços em matéria de aplicação da lei para impedir a implicação jihadista transnacional. Ou
seja, deve-se:
Essas medidas destacam a importância de uma abordagem abrangente para lidar com os
desafios enfrentados pela indústria de petróleo e gás em meio à insurgência jihadista em Cabo
Delgado. O combate eficaz à insurgência, juntamente com o diálogo e o envolvimento das
comunidades locais, são essenciais para garantir um ambiente seguro e favorável ao
desenvolvimento sustentável. Não obstante, o investimento em medidas de segurança e a
promoção da transparência e responsabilidade social por parte das empresas são passos
fundamentais para proteger os interesses das partes envolvidas e promover uma colaboração
mais harmoniosa entre o sector privado e as comunidades afectadas. Essas acções são cruciais
não apenas para o sucesso dos projectos de petróleo e gás, mas também para o bem-estar e a
estabilidade da região como um todo.
23
na resolução do conflito, fornecendo apoio financeiro, técnico e político ao governo de
Moçambique.
Como forma a evidenciar isso, Caetano de Sousa (2023) afirma que as tropas
governamentais, auxiliadas por contingentes militares regionais e ruandeses, conseguiram
reduzir substancialmente a incidência do conflito, permitindo que milhares de pessoas
regressassem às suas aldeias e cidades. No entanto, o conflito matou milhares de pessoas e
deslocou mais de um milhão, causando uma crise humanitária sem precedentes. O conflito
também fez descarrilar o potencial económico dos lucrativos investimentos em Gás Natural
Liquefeito (GNL) na área. Entretanto, o Governo aprovou um plano de reconstrução para a
Província, bem como o Programa de Resiliência e Desenvolvimento Integrado do Norte de
Moçambique (PREDIN) em 2022. Trata-se de uma abordagem de curto a médio prazo
destinada a promover a prevenção de conflitos, a mitigação de conflitos, a coesão social e
resiliência e destina-se às províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula.
24
CONCLUSÃO
Com base no trabalho realizado, pode-se concluir que a insurgência jihadista em Cabo
Delgado, Moçambique, exerce um impacto significativo na indústria de petróleo e gás em
vários níveis, tanto em Moçambique quanto no cenário internacional.
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BIBLIOGRAFIA
JAMAL, R. (2018). Dinâmicas Sociais e Culturais na Formação das Bases de Apoio dos
Insurgentes em Cabo Delgado. Estudos de Conflito e Desenvolvimento.
KHAN, A. (2019). Financiamento Ilícito e Apoio Externo aos Grupos Insurgentes em Cabo
Delgado. Journal of Conflict Studies.
26
MENEZES, C. (2020). Geopolítica do Índico: O Papel Estratégico de Cabo Delgado.
Maputo.
Mapa de Moçambique
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Mo%C3%A7ambique_mapa.gif visitado no dia 26
de marco de 2024.
27
ANEXOS
28
Anexo A
Mapa de Moçambique
29
Anexo B
Cabo Delgado (província)
30