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Referência Bibliográfica: DIOGO, Luísa. Sopa da Madrugada.

Das reformas as transformações


econômicas em Moçambique: 1994-2009. 1ª ed. Porto/Maputo: Porto editora, Plural editores,
2013.

Credenciais da Autora: Luísa Diogo, antiga Ministra e Ministra do Plano e Finanças de


Moçambique, nasceu em 11 de Abril de 1958, no distrito de Mágoe, província de Tete, em
Moçambique. È licenciada em Economia pela Universidade Eduardo Mondlane de Maputo, em
Moçambique, e Mestre em Economia Financeira pela Universidade de Londres, Foi reconhecida
pela Times magazine como uma das 100 individualidades mais influentes no Mundo, devido á
sua participação activa no processo da reconstrução nacional e de transformações económicas e
sociais do País rumo ao desenvolvimento. Em dois anos consecutivos, 2006 e 2007, foi,
igualmente, reconhecida pela forbes Magazine como uma das figuras femeninas mais influentes
do Mundo. Ainda em 2007, co-presidíu ao Painel de Alto Nível sobre a Coerência das Nações
Unidas nas áreas de Ajuda Humanitária, Desenvolvimento e Ambiente. Em 2008, recebeu o
Prémio de Liderança Mundial das Mulheres em 2010, foi designada Membro do Painel de Alto
Nível das Nações Unidas sobre Sustentabilidade Global, em 2004, recebeu o Prémio do Banco
Mundial sobre o Plano de Acção de Redução da Pobreza Absoluta. Nesse mesmo ano, recebeu
do Estado moçambicano a condecoração da Medalha Eduardo Modlane do 2º Grau.

Resumo da Obra

Na fase das reformas económicas do sector real, definiu-se como um dos objectivos centrais a
criação e o fortalecimenton das capacidades produtivas através da reestruturação das unidades
existentes, com vista a permitir ao governos fazer as melhores opções para tornar aquelas
unidades operacionais e mais eficientes. Sendo o sector real bastante diversificado, foi necessário
definir prioridades em função do papel catalisador que cada subsector real pode desempehar na
economia a curto, médio e longo prazos, dentre os subsectores reestruturado, passarei a falar do
açúcar, cajú e dos caminhos-de-Ferro de Moçambique (CFM) . O processo de exportação da
castanha de cajú em bruto foi privatizado e liberalizado de uma forma violenta e num tempo
“recorde”, sem se considerar as consequências. A liberdade da exportação do caju devia ser feita,
mas em tempo que fosse necessário e possível fazer. Quem estava em condições de fazer o
cronograma da privatização do sector do caju éramaos nós , os Moçambicanos. O banco Mundial
não aceitou e impôs o seu ritmo, Fê-lo de uma ridicula e absurda. Estávamos em pleno Grupo
Consultivo, em Paris, quando acabava de ser publicado o relatório sobre a libertação do comércio
internacional e o relatório do Banco Mundial 1995, intitulado “Mozambique Impediments to
Industrial Sector Recovery” esse relatório incluía o estudo do sector do caju em Moçambique ,
elaborado por Hilmar Hilmarsson, consultor contratado pelo Banco Mundial. O relatório
continha mais de 200 páginas. Entre varios aspectos, constava do Relatório uma fase pequenina
de Hilmar que dizia “por exemplo, sector do caju de Moçambique devia ser libertado. A primeira
conclusão a que chegamos, em relação ao caju, é que o Banco Mundial tinha caído numa grande
armadilha. Nesse processo, o Banco Mundial foi pouco esperto, tinha sido enganado e havia
tropeçado numa armadilha, que poderia ter evitado se tivesse aceite o diálogo. A segunda
conclusão é que, quando você não dialoga, o risco de entrar e de cair numa armadilha é maior,
por duas razões: uma, porque eram as mesmas pessoas interessadas na exportação da castanha
bruta, outra, a indústria nacional do caju, na base de grandes empresas, não tinha pernas para
andar, independetemente de haver, ou não, liberalização da sobretaxa de castanha de caju,
Bastava ver a Fábrica de Machava e a quantidade de castanha que essa fábrica precisava para
poder sobreviver. O sector açúcareiro é um caso feliz, foi das reformas mais agradáveis que
fizemos, eu chamo-o “consolo das lágrimas do caju”. O sector açúcareiro em Moçambique é o
grande consolo da lágrimas que derramáremos em relação ao sector do caju, porque estávamos
em pleno trauma do caju. A Directora do Banco já tinha sido destituída do seu cargo. Os
jornalistas Carlos Cardoso e Joseph Hanlon haviam entrado no barulho. Quando chegámos ás
conferências internacionais, os conferencistas procuraram saber como estava a questão do caju
com o Banco Mundial. Percebíamos que o Banco Mundial estava mal. A dada altura, surgiu a
questão do açúcar e começaram com as mesmas brincadeiras, ameaçando-nos “vamos retirar a
sobretaxa de açúcar.definimos uma estratégia: não pode haver sobretudo. Ela está contra as
normas do Consenso de Washington”. Moçambique já produziu até cerca de 325 mil toneladas e
atingiu uma exportação de cerca de 198 mil toneladas, em 1972, empregando cerca de 45 mil
trabalhadores. No período de 1990-2000, produziu, em média, 29 mil, no entanto, neste
momento , a indústria do açúcar é, ainda, uma indústria emergente. Precisa de ser trabalhada e de
ter a devida protecção e carinho. È necessário assegurar a indústria do açúcar e evitar o que nos
aconteceu com o caju. Numa primeira fase, teremos que aplicar uma sobretaxa de açúcar para
proteger a indústria açúcareira e para fazer com que os grandes investidores do açúcar invistam,
sem receio, em Moçambique “ precisavamos de ter investimento nacional, mas também trazer
investimento estrangeiro, dando-lhe garantia, protegendo a indústria interna, pelo menos por um
período de 5 a 15 anos. Isto era o essecial, mas não era suficiente. Deviam ser desenvolvidas
outras acções. Face á crise financeira internacional cíclica, com impacto nas economias
dependente, o grande desafio de Moçambique constitiu em criar uma capacidade interna através
de um sistema financeiros que alimente o sector real e vice-versa. Quando transformámos o
sistema financeiro, fazemo-lo, sempre, olhando para a sua utilização como instrumento de
política económica, para estimular e apoiar o sector real: a produção . olhando para algumas
economias desenvolvidas, constata-se que o sector financeiro tem uma vida própria, decalcada na
economia real, de tal maneira que, quando se mexe num único pilar de todo esse castelo, o resto
desmorona-se num terrível processo de risco sistémico. O sistema financeiro moçambicano, não
há dúvidas que tem muitos desafios a vencer. No entanto, Moçambique sobreviveu ao colapso
dos bancos a nível mundial, os bancos intimos não colapsado, não sei o que seria de nós. Esta
estabilidade financeira deveu-se á monitorização regular do Banco Central. O Banco Central
definiu regras de jogo que permitiram aos bancos comerciais trabalhar com produtos sérios e não
especulativos. Em segundo lugar, tivemos sorte com o tipo de parceiros que operam no país. Foi
uma pura sorte. Na altura, o BCP, em portugal, estava são, não havia entrado na especulação do
tipo de produtos que criaram problemas. Esse é um grande parceiro. Outro parceiros foi a Caixa
Geral de Depósito, que está no BCI Fomento. A Caixa Geral de Depósito tem uma capacidade
suportada pelo próprio Estado e, por conseguinte, não houve problemas. O Montepio, que esteve
com o Banco de Desenvolvimento e do Comércio ( BDC), também não teve problemas porque
está ligado ao Estado. O Standard Bank não foi afectado pela sua própria natureza de
Governação. O Barclays tem, igualmente, um sistema de governação cauteloso a nível global. O
segundo maior desafio do sistema financeiro é o que deve acontecer em primeiro lugar: se deve
crescer primeiro o sector real ou a banca. È a célebre questão do ovo e da galinha: quem nasceu
primeiro? Mais concretamente o sector real quer dinheiro, mas o banco não está á altura de
responder ás necessidades do sector real devido á disponíbilidade limitada do crédito para a
economia e ás altas taxas de juro. Por sua vez, o banco quer cliente bons, com posses. Ora, esses
clientes bons, por enquanto, são poucos. Eles têm de dizer que o sector financeiro está pronta,
preparado para a luta de uma forma organizada e com regras definidas. Do ponto de vista do
volume de trabalhadores e Infra-estruturas, os caminhos-de-ferro de Moçambique são a maior
empresa moçambicana. Foram e continuarão a sê-lo por muito tempo. Eles detêm um valor
potencial enorme, contido nas suas Infra-estrutura e no quipamento. Em função do seu tamanho e
do seu significado historico na economia, não foi fácil a sua reestruturação. O primeiro desafio
dessa reestruturação consistiu em definir o que queriamos , depois, em debate e vencer as varias
sensibilidades políticas. O primeiro contacto que teve com as políticas agrárias propriamente
ditas foi através do Pre-Programa. È usual, em Moçambique, as pessoas, quando olham para a
agrícultura , pensaram que não há uma política clara, o Pré-programa foi um programa de base
que se elaborou para fazer o diagnóstico da situação da agricultura no país e a sua concepção e o
seu debate foi sendo desenvolvido entre 1990, 91, 92 e 93. Um dos actores muito importante
nesse programa é o Eng. Paulo Zucula ( atual Ministro dos Transportes e Comunicações). Símos
do Pré-programa, passámos para o PROAGRI e, agora, estamos na Revolução Verde. Porquê?
Conseguiu –se sair de todas aquelas fases e, neste momento, está-se numa nova fase, em que se
olha para a produtividade com maior incidência, porque estamos em condições de o fazer e
temos outro tipo de meios para avançar. Por outro lado, o ambiente mundial de crise de
alimentos criou-nos, em primeiro lugar, o desafio da fome e, em segundo lugar uma grande
oportunidade relativamente á forma como os moçambicanos podiam promover o nosso país e,
em terceiro lugar, como africanos, podíamo-nos aproximar dos parceiros internacionais, quer
daqueles que só financiavam o sector privado, como é o caso dos Americanos, quer daqueles que
não financiavam, directamente, o sector privado. Após todo esse processo de diálogo, atualmente
é possível utilizar o dinheiro do PROAGRI para financiar directamente a actividade agrícola dos
pequenos produtos. A nova política de quadros de Cahora Bassa, depois dela ser nossa, começou
pela própria liderança da barragem. A questão da auto-estima a que me referi, não se reflecte só
na percepção e na realidade da própria empresa. Ele passou a ser a preocupação da liderança
moçambicana. O quadro técnico passou a ser, maioriatariamente, moçambicana, melhorou o
tratamento dado aos trabalhadores moçambicanos, vai melhorando, cada vez mais , a inserção do
empreendimento e a sua responsabilidade na região da SADC melhora, igualmente, a própria
ligação entre o empredimento e as instituições de ensino superior quanto á formação, observação
e utilização dos quadros na empres. História da indústria mineira em Moçambique é das histórias
mais ligadas á questão da paz e estabilidade, não há duvidas nenhum de que ela conseguiu
refletir, como um termóstato, a temperatura da estabilidade política, da paz, da democracia, da
auto-estima dos moçambicanos. Quando olhamos para esses aspectos todos, olhamos para a
indústria mineira, políticamente, vemos, com exactidão, reflectida todos esses aspectos na
indústria mineira. Senão vejamos. Em 1986, falavamos de uma indústria mineira na perspectiva
de uma economia centralmente planificada, com um sector de carvão que, em 1985, era dirigido
pelo então Secretário de Estado de Carvão e Hidrocarboneto. Há que reconhecer o contributo
valioso da cooperação internacional para a realização da grande parte dos planos de Actividade
do Governo, mais conhecido por Plano Quinquenais Cedo, Moçambique ganhou a simpatia da
comunidade Internacional, sobretudo com o sucesso dos Acordos Gerais de paz ( AGP),
celebrados na Cidade de Roms, Itália, no dia 4 de Outubro de 1992. Nesta área, foram,
igualmente, imensos os desafios, logo após os Acordos de Paz de Roma, muitas Organizações
Não-Governamentais ( ONGs), proveniente de vários países do mundo, entraram em
Moçambique com o objectivo de apoiar o País no período pós-conflito. A situação de
Moçambique era extremamente dificil: um país dilacerado por uma guerra atroz, com milhares
de pessoas mortas e mais de um milhão e oitocentos cidadãos deslocados para os paíse vizinhos;
famílias psicologicamente traumatizadas, mais de 80% de infra-estruturas de saúde e educação
destruídas; estradas e pontes desfeitos. Não havia dúvida que, nessa cooperação, fez-se sentir a
influência do célebre Consenso de Washington, de qualquer maneira, a cooperação internacional
foi assumido, não apenas numa perspectiva económica, como também na sua dimensão cultural
de aproximação de povos e governo. A tese central é que a cooperação internacional é uma
parceria inevitavel para o desenvolvimento, quando ela é pensada na perspectiva de win-win
( vantagem mútua). No contexto das reformas, a cooperação internacional em Moçambique teve,
na minha opinão, três fases. A primeira fase vai de 1986 a 1993. Este período foi, basicamente,
mercado pelas tensformações economico-sociais com o Programa de Reabilitação economica e
social ( PRES) A segunda começou em 1994, logo a seguir ás eleições multipartidarias, e vai ate
2004. Ora bem: a primeira é a fase em que Moçambique opta pela economia de mercado; faz-se
a transformação da forma de cooperação para financiamento do orçamento, incoporando não só a
cooperação bilateral com os País Nórdicos, mas também a europa de Leste, actores bilaterais,
como os Estados Unidos, o Canadá, a Inglaterra e a cooperação Sul-Sul, mas, igualmente, a
multilateral, como as instituições de Bretton Woods, num país com alto nível de dependência
extrana. Quando terminou a gurra, estávamos perante uma situação com mais de quinhentas
ONGs funcionarios , em Moçambique. Os próprios parceiros internacionais, com os quais
trabalhavamos, financiavam projectos pequenos, “projectinho” e pequenas inciativas,
directamente, fora do orçamento de Estado; cada país estrangeiro ostentava a sua bandeira em
todo o lado, desresponsabilizando o Governo perante os cidadãos. O grande desafio que existe,
actualmente, em Moçambique, nesta fase da consolidação da cooperação, é o de sermos capazes
de consolidar o processo de crescimento económico aos ritmos desejáveis. Sermos capazes de
trazer para a nossa agenda de crescimento economico sustentavel a experiencia dos outros povos.

Crítica da Resenhista

O presente texto fala das opções das oportunidades, decisões e acções governativas, retirando um
período recente da vida do país, a começar pelas reformas que marcaram o início de uma nova
orientação económica; como a transição da economia centralmente planificada para uma
economia de mercado. Procura explicar, com certo detalhe, como foram decididas e levadas a
cabo reformas profundas no sector financeiro, a reconstrução pós-guerra, a reintegração dos
desmobilizados de guerra e o desafio de encontrar uma resposta nacional á pandemia do HIV e
da SIDA. Tudo o que livro narra tem muitas semelhanças com a madrugada, se entendermos a
madrugada como a altura em que nos preparamos para enfrentar os desafios da vida durante o
resto do dia. A paz, muito recente, era madrugada; a reconstrução do País era madrugada; a nova
orientação económica era madrugada; enfim , tudo era madrugada e, como sempre , os inícios,
ou madrugadas, carregam consigo uma certa dose de incertezas e requerem uma visão clara e
uma liderança firme. O livro fala também, de momentos marcantes da autora , como a passagem
pelo serviço militar, as vivências com outras mulheres , particularmente dentro do Destacamento
Feminino e da Organização da Mulher Moçambicana (OMM), e a luta conjunta pela
consolidação da emancipação da mulher, através de trabalho abnegado.

Indicações da Resenhista

A obra tem como objectivo, o primado do colectivo, destacando o seu papel de primeira entre
pares, inserindo no contexto da História de Moçambique pós- Revolução e pós-guerra. No
entanto, ela vai para além disso, pois, no texto além dos factores, encontramos analise,
interpretação e, muitas vezes, opinião. Trata-se, então, também, de um livro didáctico, um ponto
de partida para irmos a outras fontes bibliográficas contemporâneas dessas mesmos factores, de
modo a apercebermo-nos cabalmente de quão convulsivo foi o período da história de
Moçambique .

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