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Monteiro Oscar Macamo

4º ano

Licenciatura em educação visual

Universidade Pedagógica
Maputo
2022
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Monteiro Oscar Macamo


4º ano

Nyau
Licenciatura em Educação Visual

Este trabalho será apresentado, no


departamento de desenho e
construção FET, na cadeira do
MSc. Marcos Muthewuye
docente da cadeira

Universidade Pedagógica
Maputo
2022
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Índice
Introdução ............................................................................................................................................... 4
Objectivos ............................................................................................................................................... 5
Objectivos geral .................................................................................................................................. 5
Objectivos específicos ......................................................................................................................... 5
Origens do Nyau – Gule Wamkulu ......................................................................................................... 6
O Carácter Multifacetado do Nyau ......................................................................................................... 7
Indumentária do Nyau ............................................................................................................................. 9
Os Instrumentos do Nyau ...................................................................................................................... 13
As Canções do Nyau ............................................................................................................................. 13
O Nyau como dança .............................................................................................................................. 16
Referencias bibliograficas ..................................................................................................................... 19
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Introdução
Moçambique é caracterizado por uma grande diversidade cultural resultante da miscigenação
de vários povos, que ao longo dos séculos aportaram por estas terras. O Nyau é uma das
expressões artísticas que corporizam o rico mosaico cultural nacional, sendo simultaneamente
uma dança e um ritual.

Esta cultura por ser uma cultura rica em tradição ela é considera hoje um Património Oral e
Intangível da Humanidade.

No presente trabalho vamos aprofundarmo-nos sobre os contextos ritualísticas da cultura


nyau, onde vamos ver as indumentárias, as suas canções e a sua função dentro da sociedade.
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Objectivos

Objectivos geral
 Estudar a cultura nyau.

Objectivos específicos
 Origens do Nyau – Gule Wamkulu;
 O Carácter Multifacetado do Nyau;
 O Nyau como expressão artística;
 Indumentária do Nyau;
 Os Instrumentos do Nyau;
 As Canções do Nyau;
 O Nyau como dança.
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Origens do Nyau – Gule Wamkulu


Na língua ciChewa, o termo Gule Wamkulu significa “Grande Dança”. De facto, o Nyau é
uma das mais populares e apreciadas danças da região Norte da Província de Tete, que atrai
molduras humanas pelo espectáculo que proporciona e pelo seu elevado valor técnico e
artístico-cultural. Enquanto em Moçambique, o termo “Nyau” é comummente usado para se
referir ao dançarino, este, na Zâmbia e Malawi é tratado por “Gule”.

As origens do Nyau são explicadas, essencialmente, a partir de três versões, nomeadamente, a


exibição do poder político, a fome e as brincadeiras infantis. No que diz respeito ao poder,
refere-se que a origem do Nyau é associada à formação do Estado Undi, por volta do séc.
XVI, altura em que se supõe ter sido adoptado como uma forma de manifestação do seu
poderio perante os povos conquistados. Como mencionado, a presença dos Chewa resulta de
um longo processo migratório que culminou com a absorção do Nyau, uma dança
tradicionalmente pertença dos Kafula, há
mais tempo estabelecidos na região.

Este processo migratório nos parece ser


confirmado através da prática do Nyau
em vários locais que rodeiam a região de
origem dos kafula. Com efeito,
encontramos semelhanças entre o Nyau,
praticado nos três países e algumas
manifestações, como a dança Nkaan dos
Bushongs da República Democrática do Congo, a dança Makishi5 do povo Chokwe da
Zâmbia e ainda, o Mapiko6 dos Makonde de Moçambique. Importa salientar que estas
danças, tal como o Nyau, são marcadas, igualmente, por ritos de iniciação.

No que tange à associação entre as origens do Nyau e a fome, refira-se que esta explica várias
crises sociais, pois, provoca a instabilidade e consequentemente repercutese, negativamente,
sobre a ordem social. Este factor terá pesado bastante para a génese do Nyau, uma vez que a
escassez de alimentos terá afectado a harmonia social entre as mulheres e os homens, a ponto
destes últimos enveredarem por práticas ardilosas, como se fazerem passar por animais
selvagens, inspirando-se na lenda kaphirintiwa, em que os animais ficaram desavindos com o
Homem, ameaçando as mulheres, em busca de alimentos. Assim, o Nyau surge como um
mecanismo de gestão de conflitos sociais tendo, posteriormente, se transformado em
manifestação cultural comunitária.
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No que diz respeito à versão sobre as brincadeiras infantis, sustenta-se que o Nyau teria sido
criado antes de 1500 d.C. por pastores de gado bovino e caprino, que durante a pastorícia
construíam figuras denominadas nyama com materiais tais como paus, bambu e capim,
imitando os seus animais. Esta brincadeira de crianças acabou atraindo a atenção dos adultos,
os quais incorporaram estas práticas nas suas tradições.

Os termos Nyau e Gule Wamkulu são usados comummente para designar a dança, os
dançarinos, a sociedade, o culto e algumas figuras zoomórficas tal como o ngombe (boi),
njovu (elefante) ou o chilembwe (antílope). O indiví- duo mascarado é, também, designado
chirombo ou dzwirombo, o que quer dizer animal, pelo facto de imitarem os movimentos
característicos do mesmo.

Em Moçambique, o Nyau é executado na Província de Tete onde tem forte influência nos
Distritos de Angónia, Macanga, Tsangano, Chifunde, Zumbo, Marávia (Fíngoè), Chiúta
(Cazula), e partes de Moatize (Zóbuè). Há referências que também é praticado nas províncias
da Zambézia (Distrito de Milange, levado a esta parte por alguns indivíduos Chewa nas suas
migrações à procura de melhores condições de vida), Niassa (Distritos de Mecanhelas,
Mandimba e Lago) e Nampula8 (Distrito de Erati). É, igualmente, praticado na Província de
Maputo, Distrito de Boane, trazido para esta região por cidadãos oriundos, sobretudo, da
Província de Tete.

Há ainda menção de ser praticado em


algumas regiões do Norte do Zimbabwe,
Tanzania (na região Sudoeste, junto ao Lago
Niassa, em Songea) e na República
Democrática do Congo (em algumas
comunidades da região Sudeste).

O Carácter Multifacetado do Nyau


A dimensão multifacetada do Nyau é expressa através de duas maneiras evidentes: o carácter
ritualístico, que se traduz na realização de um conjunto de práticas simbólicas rígidas, entre
elas, os ritos de iniciação e ritos fúnebres (o maliro e m’bona) e a dimensão artística,
manifesta por meio da indumentária e fabrico dos instrumentos, a música e a dança. Estas
duas dimensões características do povo Chewa afiguram-se relevantes para a compreensão
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das suas práticas emblemáticas, bem como aspectos que nos remetem ao interacionismo
simbólico abordado por sociólogos como Ervin Goffman.

Analisando o interacionismo, Cristiano Bodart9 refere que os indivíduos ao participarem de


um acontecimento de natureza social absorvem as experiências dos seus ancestrais, porém
incorporando novos valores em face das dinâmicas societárias. Com efeito, no caso dos
Chewa, encontramos no Nyau um legado do povo Kafula, seus predecessores, bem como
novos aspectos resultantes da sua miscigenação, no período pós-fixação nas novas regiões,
conforme as evidências que irão a seguir. Por outras palavras, dir-se-ia que no Nyau estão
representadas as origens históricas, por um lado, e por outro, a criatividade dos Chewa.

O Nyau como rito de iniciação e/ou de passagem


O homem sempre procurou criar mecanismos para regular a vida em sociedade, ou seja, as
relações sociais.De entre vários aspectos
estruturantes, destacam-se os ritos.
Para Dava (1998), citando Durkheim, rito
designa regras de comportamento ou
modos de acção determinados. Para outros,
rito é um tipo de cerimónia pela qual, à
maneira de agir, às regras, as formulas, os
gestos e os símbolos usados, se atribuem
virtudes ou poderes, susceptíveis de
produzir determinados efeitos ou
resultados. Encontra-se, não só na vida religiosa, mas também em todas as esferas culturais. A
sua origem remete-nos à criação e sobretudo a evolução do próprio Homem. No entanto, o
estudo sistemático e científico dos ritos surge com a génese da antropologia, no século XIX.
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O Nyau como expressão artística

O Nyau como expressão artística, comporta dimensões desenvolvidas ao nível da:

 indumentária;
 fabrico dos instrumentos;
 música e a dança.

Estas dimensões, reflectem a forma como povo Chewa expressa as suas emoções, história e
cultura, socorrendo-se dos seus valores estéticos em termos de beleza, harmonia e equilíbrio.

Indumentária do Nyau
A maioria dos materiais usados para a confecção da indumentária é encontrada localmente,
em espaços públicos, porém, a sua recolha é feita por um iniciado, sem despertar suspeitas,
quanto à sua origem e finalidade. Nesta produção artística, nota-se o interacionismo através da
combinação dos valores ancestrais e, novos, decorrentes de dinâmicas sociais. No caso
concreto, espelham tradi- ções do povo Kafula, dos Chewa e da actualidade, uns resultantes
da interacção com diversos povos e, outros da degradação do meio ambiente e consequente
escassez de recursos.

Na confecção das máscaras do Nyau resultam três tipos, a saber: kapoli (máscaras de
plumagem), kampini (máscaras de madeira) e dzwirombo (figuras zoomórficas). O tempo que
dura o fabrico de uma máscara depende do seu tipo, levando em média três dias. A função da
máscara, em primeiro lugar, é identificar os membros da sociedade secreta e esconder o rosto
do mascarado para preservar a sua identidade. No entanto, os membros da irmandade vão
mais longe, ao acreditar que a máscarapode absorver as forças mágicas dos espíritos dos
antepassados.
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As máscaras kapoli são das mais representativas do Nyau, pois, os iniciandos aprendem-nas,
durante os ritos de iniciação. No seu fabrico, usa-se um saco de serapilheira ou na sua falta, de
fibra sintética, a partir da qual corta-se uma banda, com cerca de 60 cm de comprimento e 30
cm de largura, suficiente para envolver a cabeça do mascarado. Sobre esta banda, são presas
penas de aves com fios do próprio saco, de modo a cobri-la totalmente. De seguida, costuram-
se as extremidades com uma agulha artesanal, feita de arame, ligando-as de modo a formar
um cilindro.

Finalmente, com um pano,


fecha-se uma das
extremidades, formando uma
espécie de cone. A abertura
na base deste cone é por onde
o dançarino introduz a
cabeça e, para permitir
alguma visibilidade e
respiração, são feitos quatro
buracos, ao nível dos olhos e
das narinas. Devido aos
movimentos frenéticos
durante a sua exibição, esta
máscara é solidamente fixa à
cabeça do dançarino, através
de fios que passam pela
frente da cara e nuca,
circundando a cabeça.
Adicionalmente, outros fios
são fixados nas extremidades
da banda de um e do outro lado da cabeça, sendo de seguida fortemente amarrados à base do
queixo.

O dançarino com esta máscara apresenta-se besuntado com lama, ornamenta-se com
simplicidade, recorrendo a fibras ou pedaços de panos, formando, como descrito acima,
pequenos saiotes que se amarram à cintura, antebraços, abaixo dos joelhos e tornozelos.
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As máscaras kampini são faciais, feitas de madeira da árvore mulula (ou mupepu), devido às
suas propriedades tais como resistência, maleabilidade e leveza. São esculpidas por um
artesão especializado, que para o efeito, se submete a um processo de purificação, onde faz
pedidos de orientação aos espíritos ancestrais. Acredita-se que tal prática transfere os poderes
destas entidades para a máscara durante o processo do seu fabrico, e para o dançarino no
momento de actuação.

As kampini possuem variadíssimas dimensões e formatos, representando figuras humanas, de


animais e, supostamente, de espíritos. Podem, igualmente, variar em função da cor, que indica
a passividade ou agressividade da figura que se pretende representar. Por exemplo, a cor
branca, representa o renascimento, a mutação de um ser, e sendo por isso, consideradas
pacíficas. Por sua vez, as máscaras da cor preta, são consideradas as mais perigosas, por
serem conotadas com a maldição, a
feitiçaria e o anti-social.

O vermelho é ambivalente, pois


representa o sangue, o fogo, o sol
(calor) mas também a reintegração
de um ser marginal, a fecundidade e
o poder. O vermelho mais escuro
representa as forças agressivas e o
sangue impuro.

Existem vários tipos de máscaras


kampini entre eles, a chadzunda, chimbano, chabwera kumanda, entre outras. Para a
percepção dos diferentes passos do fabrico das máscaras kampini, descreve-se a seguir, a
máscara chadzunda, que representa um idoso. O seu fabrico compreende processo como o uso
do mbadzo (machado) com que se corta longitudinalmente o tronco e de seguida se toma uma
das metades para remover a casca e iniciar o desbaste, para dar a forma côncava à estrutura da
máscara.

Tendo bem presente as dimensões e feições da figura a ser representada, com carvão, são
desenhados os olhos, o nariz, a boca e as orelhas, para depois com ntsemo (enxó), escavar a
superfície convexa da estrutura, para dar relevo à face. Note-se que as feições são
grosseiramente esculpidas, não havendo preocupação em tornar as formas perfeitas ou
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realísticas. Esculpem-se a boca, o nariz, as bochechas, os olhos e as orelhas. Com o muculuzo


(ferro aguçado) aquecido ao rubro, furam-se as narinas e os olhos.

A seguir, procede-se à pintura da máscara recorrendo-se a uma mistura de pó de carvão


vegetal e água, para formar uma tinta. A completar o processo de fabrico, são usadas fibras
vegetais para representar o cabelo, a barba e as sobrancelhas. Em alguns casos, a máscara é
adornada com cabelos humanos.

Os dzwirombo representam não só figuras de animais selvagens conhecidos da fauna local,


como, igualmente, animais imaginários, fruto do grande poder criativo dos artesãos. Estas
figuras acentuam os traços mais característicos dos animais que representam – orelhas,
chifres, trombas.

Um dos aspectos marcantes na dimensão artística do Nyau é, igualmente, o fabrico de figuras


zoomórficas. Com efeito, depois de decidida a figura a ser representada e, reunidos os
respectivos materiais, o mwini mzinda orienta na definição da sua confecção. Por exemplo,
para a constituição da base, formam-se a partir de ripas de bambu ou varas, várias estruturas
ovaladas no número e tamanho que possibilite erguer a construção até a altura desejada. Com
o auxílio de ripas, colocadas na vertical, estas estruturas ovaladas são dispostas paralelamente
uma em relação a outra e amarradas com cordas nas junções.

Terminada a construção da estrutura, segue-se o revestimento que é, igualmente, feito com


materiais diversos, em função do animal pretendido. Quando se trata de um animal peludo,
como boi ou búfalo, o material usado é constituído por fibras de serapilheira ou sintética,
adquirida a partir de sacos desfiados e posteriormente pintados de preto ou castanho. No caso
de animais não peludos, o revestimento pode ser constituído de tecido de serapilheira
besuntado de lama ou de tinta.

A máscara do Nyau possui uma carga mágica muito forte


para quem a utiliza e para quem a vê, influenciando os
comportamentos de uns e de outros. De facto, o dançarino
visto no dia-a-dia como uma pessoa comum, quando em
exibição, age como que possuído por uma força
sobrenatural, que o impele a fazer o impossível, o
inacreditável. Para a comunidade, esta mesma máscara é
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encarada como sendo o próprio espírito, inspirando medo, obediência, reverência.

Os Instrumentos do Nyau
De entre os principais instrumentos exibidos no Nyau, figuram tambores (ng’oma), tais como
o mjidiko, o kamkumbe, o mpanje, o gunda, o mbalule, e o ndewele. Estes são classificados
de acordo com o som que produzem e a função que desempenham na orquestra. Executados
exclusivamente por homens, os tambores variam de tamanhos e sua denominação, de região
para região, assim como os ritmos executados. Outro instrumento associado ao Nyau é o
silamba, chocalho de mão, que serve para orientar o dançarino, que tem pouca visibilidade
dentro da máscara ou figura zoomórfica.

O mjidiko é usado para dar o ritmo fundamental e fixar o tempo para a dança. Marca o início
da dança, antes de qualquer outro tambor ser introduzido. O seu nome provém da sua função
kujidika (fixar o passo). Igualmente, é conhecido por mbitembite, mbandambanda, ou
gubaguba, expressões onomatopaicas que descrevem o som do mjidiko.

O kamkumbe é o tambor de apoio ao mjidiko. O seu nome deriva da sua natureza rítmica de
revelar (kukumba). Este tambor tem um ritmo estático, sem qualquer variação.

O mpanje é o tambor que ajusta o ritmo básico da dança. A sua batida alterna para promover
variações rítmicas que são fundamentais para um passo de dança particular. Este está em
contratempo em relação ao mjidiko e o kamkumbe que têm ritmos estáticos.

As Canções do Nyau
A canção é entendida como uma composição musical para a voz humana, geralmente,
acompanhada por instrumentos musicais e possuindo uma letra. O Nyau como expressão
artística insere a componente da canção tradicional, a qual se refere, geralmente, à canção
própria de um povo, numa determinada região geográfica e num determinado contexto social.
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De facto, esta manifestação sócio-cultural tem raízes num passado remoto e reflecte, para
além das origens do povo Chewa, as experiências adquiridas ao longo do tempo, na sua
interacção com outros povos. O conteúdo das canções do Nyau revela diferentes aspectos da
vida dos Chewa, tais como, a sua história, cultura e mesmo o erotismo.

As canções do Nyau são executadas por um coro formado somente por mulheres iniciadas,
variando de dez

a quinze, que durante a exibição se posicionam por trás

dos instrumentistas. Geralmente, as letras são curtas e repetitivas, possuíndo características


musicais bastant e rítmica. As canções podem ser de tristeza, de alegria e de humor, como se
pode depreender da letra que se transcreve a seguir:

Ananga dakalila,

dakalila nkalanga daie sanje

Tradução

Uma mulher não respeita o seu marido,

e este aborrecido,

manda-a embora de casa, ela se

arrepende e chora

Algumas canções são de profundo significado erótico, principalmente as entoadas durante o


chinamwali, e emocional, mas transmitindo uma série de ensinamentos, que muitas vezes se
confundem com insultos, provocações e zombarias, podendo subentender aspectos íntimos
por via de eufemismo e metáfora. Veja-se o seguinte exemplo:

Mnzako akati ndaima ndaimandaima

Pholokoto wa mtengo wa pa dambo

Kubala akuti wirira

Kugwa akuti lakata

Tandiuza chidalakata

Idalakata ndi nkhole


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Nhole ikana ukulu

Phungu ndati miyambo tsiling’inthu

Kafundze kafundze miyambo

Tradução

Quando seu companheiro diz: estou de pé

Estou de pé como uma árvore vertical no dambo

As mulheres dizem: é áspero como capim esguio

As mulheres quando estão de período dizem: está a cair

Diga-me por que está a cair

O que cai é o sangue menstrual

O sangue menstrual recusa a gravidez

O meu padrinho contou-nos as tradições que devem ser

seguidas

Temos que estudar as tradições

Constate-se que nas canções entoadas usando metáforas, há uma conversação entre o
dançarino e as coristas no início de todas elas. O dançarino entoa a melodia da canção que
pretende, e de seguida, as mulheres acompanham-no, respondendo em coro. Note-se que
quando os dançarinos envergam as máscaras kampini e dzwirombo não emitem qualquer som,
pois, este seria abafado pela própria máscara.

É importante frisar que as letras das canções foram mudando ao longo do tempo. De facto,
durante o período colonial, algumas criticavam e ridicularizavam as diferentes figuras do
regime e a ideologia, tornando-se assim, um instrumento de contestação e luta pela
preservação da sua cultura e identidade. Com a proclamação da independência, as canções
passaram a transmitir mensagens de mobilização para a nova realidade voltada a construção
da nação.
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Actualmente, o conteúdo das canções trazidas ao público, tendem a reflectir acontecimentos


de natureza social, político e cultural, conforme os três exemplos abaixo, pertencentes ao
repertório do grupo de Zóbuè, no distrito de Moatize:

Frelimo yawina, yawina, Frelimo yawina, yawina dzico

a Guebuza awina, awina, awina, aGuebuza awina dzico

Tradução

A Frelimo ganhou, ganhou, a Frelimo ganhou o país

Guebuza ganhou, ganhou, Guebuza ganhou o país

Chiri cumai adapita yéééé

Chiri cumai adapita anabaia ncondo

Chicumuai anapita anabaia ncondo

Tradução

A mãe foi morta com uma azagaia,

está no cemitério,

tão perto mas não volta

Kujoni chaico, chaico, yéééé, chaico, chaico chaicondamoio

Kujoni chaico, chaico, chaico, chaico chaicondamoio

Tradução

Johannesburg (África do Sul) é tão longe,

mas mesmo assim, quem vai retorna

O Nyau como dança


A componente dança do Nyau é a dimensão mais visível e espectacular desta manifestação
cultural. É uma expressão essencialmente masculina, onde os passos de dança são marcados
pelo ritmo acelerado e estonteante dos tambores, acompanhados pelas vozes de um coro,
essencialmente feminino. Para as apresentações em público é envolvida uma série de pessoas,
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desde a parte executiva, os artistas e a audiência. A parte executiva é composta pelo chefe da
aldeia, que é também o mwini mzinda, o wakunjira, o tsabwalo, e o tsang’oma.

O mwini mzinda é quem decide quando e onde terá lugar a cerimónia do Nyau. O wakunjira é
a pessoa encarregue por supervisionar e monitorar toda a operação relativadirecta, significa “o
capitão da arena”, é quem trata deste lugar, dos detalhes relacionados, para que não falhe ao
desempenho do Nyau, sendo este pode decidir a sequência da dança e em quanto tempo uma
máscara pode permanecer na arena. O tsabwalo, que numa tradução nada, incluindo cercar o
bwalo e, se for necessário, fazer o abrigo para as individualidades locais. Por fim, temos o
tsang’oma, o encarregado pelos tambores e pela sua afinação.

Compõem a orquestra, os dançarinos,


os percussionistas e as coristas,
enquanto a audiência é formada por
um público diversificado. Refira-se,
no entanto, que no passado a
assistência era bem restrita, fazendo
parte, mulheres, crianças com menos
de 10 anos de idade e homens
iniciados. O local onde se executa a
dança é chamado bwalo, geralmente, um espaço aberto e com um chão de terra, permitindo
que todos possam ter uma boa visibilidade e desfrutar do espectáculo. Adicionalmente, os
anciãos, o coro e a audiência são posicionados e agrupados segundo uma determinada ordem,
de acordo com o esquema.
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Conclusão

Concluimos que a cultura nyau o Nyau extravasa a dimensão de espectáculo que proporciona em
virtude dos valores que ele insere nos domínios das artes e das técnicas, da história e da
cultura, valores esses transmitidos ao longo dos séculos, por gerações. Aliado ao carácter
ritualístico, que se traduz na realização de um conjunto de discursos e práticas rígidas,
carregadas de grande simbolismo, esta manifestação comporta outra dimensão de valor ao
nível da educação dos jovens, servindo como meio de integração social e ajustamento dos
comportamentos dos indivíduos às suas raízes culturais.

Isso foi uma das coisas que levou a UNESCO a proclamar o nyau como sendo um património
oral cultural intangível da humanidade.
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Referencias bibliograficas
UNESCO. Nyau Cult Candidature file: Proclamation of Masterpieces of Oral and Intangible
Heritage. Malawi National Commission for UNESCO, 2005.

NYAU - GULE WAMKULU Património Oral e Intangível da Humanidade


8114/RLINLD/2014

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