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4º ano
Universidade Pedagógica
Maputo
2022
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Nyau
Licenciatura em Educação Visual
Universidade Pedagógica
Maputo
2022
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Índice
Introdução ............................................................................................................................................... 4
Objectivos ............................................................................................................................................... 5
Objectivos geral .................................................................................................................................. 5
Objectivos específicos ......................................................................................................................... 5
Origens do Nyau – Gule Wamkulu ......................................................................................................... 6
O Carácter Multifacetado do Nyau ......................................................................................................... 7
Indumentária do Nyau ............................................................................................................................. 9
Os Instrumentos do Nyau ...................................................................................................................... 13
As Canções do Nyau ............................................................................................................................. 13
O Nyau como dança .............................................................................................................................. 16
Referencias bibliograficas ..................................................................................................................... 19
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Introdução
Moçambique é caracterizado por uma grande diversidade cultural resultante da miscigenação
de vários povos, que ao longo dos séculos aportaram por estas terras. O Nyau é uma das
expressões artísticas que corporizam o rico mosaico cultural nacional, sendo simultaneamente
uma dança e um ritual.
Esta cultura por ser uma cultura rica em tradição ela é considera hoje um Património Oral e
Intangível da Humanidade.
Objectivos
Objectivos geral
Estudar a cultura nyau.
Objectivos específicos
Origens do Nyau – Gule Wamkulu;
O Carácter Multifacetado do Nyau;
O Nyau como expressão artística;
Indumentária do Nyau;
Os Instrumentos do Nyau;
As Canções do Nyau;
O Nyau como dança.
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No que tange à associação entre as origens do Nyau e a fome, refira-se que esta explica várias
crises sociais, pois, provoca a instabilidade e consequentemente repercutese, negativamente,
sobre a ordem social. Este factor terá pesado bastante para a génese do Nyau, uma vez que a
escassez de alimentos terá afectado a harmonia social entre as mulheres e os homens, a ponto
destes últimos enveredarem por práticas ardilosas, como se fazerem passar por animais
selvagens, inspirando-se na lenda kaphirintiwa, em que os animais ficaram desavindos com o
Homem, ameaçando as mulheres, em busca de alimentos. Assim, o Nyau surge como um
mecanismo de gestão de conflitos sociais tendo, posteriormente, se transformado em
manifestação cultural comunitária.
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No que diz respeito à versão sobre as brincadeiras infantis, sustenta-se que o Nyau teria sido
criado antes de 1500 d.C. por pastores de gado bovino e caprino, que durante a pastorícia
construíam figuras denominadas nyama com materiais tais como paus, bambu e capim,
imitando os seus animais. Esta brincadeira de crianças acabou atraindo a atenção dos adultos,
os quais incorporaram estas práticas nas suas tradições.
Os termos Nyau e Gule Wamkulu são usados comummente para designar a dança, os
dançarinos, a sociedade, o culto e algumas figuras zoomórficas tal como o ngombe (boi),
njovu (elefante) ou o chilembwe (antílope). O indiví- duo mascarado é, também, designado
chirombo ou dzwirombo, o que quer dizer animal, pelo facto de imitarem os movimentos
característicos do mesmo.
Em Moçambique, o Nyau é executado na Província de Tete onde tem forte influência nos
Distritos de Angónia, Macanga, Tsangano, Chifunde, Zumbo, Marávia (Fíngoè), Chiúta
(Cazula), e partes de Moatize (Zóbuè). Há referências que também é praticado nas províncias
da Zambézia (Distrito de Milange, levado a esta parte por alguns indivíduos Chewa nas suas
migrações à procura de melhores condições de vida), Niassa (Distritos de Mecanhelas,
Mandimba e Lago) e Nampula8 (Distrito de Erati). É, igualmente, praticado na Província de
Maputo, Distrito de Boane, trazido para esta região por cidadãos oriundos, sobretudo, da
Província de Tete.
das suas práticas emblemáticas, bem como aspectos que nos remetem ao interacionismo
simbólico abordado por sociólogos como Ervin Goffman.
indumentária;
fabrico dos instrumentos;
música e a dança.
Estas dimensões, reflectem a forma como povo Chewa expressa as suas emoções, história e
cultura, socorrendo-se dos seus valores estéticos em termos de beleza, harmonia e equilíbrio.
Indumentária do Nyau
A maioria dos materiais usados para a confecção da indumentária é encontrada localmente,
em espaços públicos, porém, a sua recolha é feita por um iniciado, sem despertar suspeitas,
quanto à sua origem e finalidade. Nesta produção artística, nota-se o interacionismo através da
combinação dos valores ancestrais e, novos, decorrentes de dinâmicas sociais. No caso
concreto, espelham tradi- ções do povo Kafula, dos Chewa e da actualidade, uns resultantes
da interacção com diversos povos e, outros da degradação do meio ambiente e consequente
escassez de recursos.
Na confecção das máscaras do Nyau resultam três tipos, a saber: kapoli (máscaras de
plumagem), kampini (máscaras de madeira) e dzwirombo (figuras zoomórficas). O tempo que
dura o fabrico de uma máscara depende do seu tipo, levando em média três dias. A função da
máscara, em primeiro lugar, é identificar os membros da sociedade secreta e esconder o rosto
do mascarado para preservar a sua identidade. No entanto, os membros da irmandade vão
mais longe, ao acreditar que a máscarapode absorver as forças mágicas dos espíritos dos
antepassados.
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As máscaras kapoli são das mais representativas do Nyau, pois, os iniciandos aprendem-nas,
durante os ritos de iniciação. No seu fabrico, usa-se um saco de serapilheira ou na sua falta, de
fibra sintética, a partir da qual corta-se uma banda, com cerca de 60 cm de comprimento e 30
cm de largura, suficiente para envolver a cabeça do mascarado. Sobre esta banda, são presas
penas de aves com fios do próprio saco, de modo a cobri-la totalmente. De seguida, costuram-
se as extremidades com uma agulha artesanal, feita de arame, ligando-as de modo a formar
um cilindro.
O dançarino com esta máscara apresenta-se besuntado com lama, ornamenta-se com
simplicidade, recorrendo a fibras ou pedaços de panos, formando, como descrito acima,
pequenos saiotes que se amarram à cintura, antebraços, abaixo dos joelhos e tornozelos.
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As máscaras kampini são faciais, feitas de madeira da árvore mulula (ou mupepu), devido às
suas propriedades tais como resistência, maleabilidade e leveza. São esculpidas por um
artesão especializado, que para o efeito, se submete a um processo de purificação, onde faz
pedidos de orientação aos espíritos ancestrais. Acredita-se que tal prática transfere os poderes
destas entidades para a máscara durante o processo do seu fabrico, e para o dançarino no
momento de actuação.
Tendo bem presente as dimensões e feições da figura a ser representada, com carvão, são
desenhados os olhos, o nariz, a boca e as orelhas, para depois com ntsemo (enxó), escavar a
superfície convexa da estrutura, para dar relevo à face. Note-se que as feições são
grosseiramente esculpidas, não havendo preocupação em tornar as formas perfeitas ou
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Os Instrumentos do Nyau
De entre os principais instrumentos exibidos no Nyau, figuram tambores (ng’oma), tais como
o mjidiko, o kamkumbe, o mpanje, o gunda, o mbalule, e o ndewele. Estes são classificados
de acordo com o som que produzem e a função que desempenham na orquestra. Executados
exclusivamente por homens, os tambores variam de tamanhos e sua denominação, de região
para região, assim como os ritmos executados. Outro instrumento associado ao Nyau é o
silamba, chocalho de mão, que serve para orientar o dançarino, que tem pouca visibilidade
dentro da máscara ou figura zoomórfica.
O mjidiko é usado para dar o ritmo fundamental e fixar o tempo para a dança. Marca o início
da dança, antes de qualquer outro tambor ser introduzido. O seu nome provém da sua função
kujidika (fixar o passo). Igualmente, é conhecido por mbitembite, mbandambanda, ou
gubaguba, expressões onomatopaicas que descrevem o som do mjidiko.
O kamkumbe é o tambor de apoio ao mjidiko. O seu nome deriva da sua natureza rítmica de
revelar (kukumba). Este tambor tem um ritmo estático, sem qualquer variação.
O mpanje é o tambor que ajusta o ritmo básico da dança. A sua batida alterna para promover
variações rítmicas que são fundamentais para um passo de dança particular. Este está em
contratempo em relação ao mjidiko e o kamkumbe que têm ritmos estáticos.
As Canções do Nyau
A canção é entendida como uma composição musical para a voz humana, geralmente,
acompanhada por instrumentos musicais e possuindo uma letra. O Nyau como expressão
artística insere a componente da canção tradicional, a qual se refere, geralmente, à canção
própria de um povo, numa determinada região geográfica e num determinado contexto social.
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De facto, esta manifestação sócio-cultural tem raízes num passado remoto e reflecte, para
além das origens do povo Chewa, as experiências adquiridas ao longo do tempo, na sua
interacção com outros povos. O conteúdo das canções do Nyau revela diferentes aspectos da
vida dos Chewa, tais como, a sua história, cultura e mesmo o erotismo.
As canções do Nyau são executadas por um coro formado somente por mulheres iniciadas,
variando de dez
Ananga dakalila,
Tradução
e este aborrecido,
arrepende e chora
Tandiuza chidalakata
Tradução
seguidas
Constate-se que nas canções entoadas usando metáforas, há uma conversação entre o
dançarino e as coristas no início de todas elas. O dançarino entoa a melodia da canção que
pretende, e de seguida, as mulheres acompanham-no, respondendo em coro. Note-se que
quando os dançarinos envergam as máscaras kampini e dzwirombo não emitem qualquer som,
pois, este seria abafado pela própria máscara.
É importante frisar que as letras das canções foram mudando ao longo do tempo. De facto,
durante o período colonial, algumas criticavam e ridicularizavam as diferentes figuras do
regime e a ideologia, tornando-se assim, um instrumento de contestação e luta pela
preservação da sua cultura e identidade. Com a proclamação da independência, as canções
passaram a transmitir mensagens de mobilização para a nova realidade voltada a construção
da nação.
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Tradução
Tradução
está no cemitério,
Tradução
desde a parte executiva, os artistas e a audiência. A parte executiva é composta pelo chefe da
aldeia, que é também o mwini mzinda, o wakunjira, o tsabwalo, e o tsang’oma.
O mwini mzinda é quem decide quando e onde terá lugar a cerimónia do Nyau. O wakunjira é
a pessoa encarregue por supervisionar e monitorar toda a operação relativadirecta, significa “o
capitão da arena”, é quem trata deste lugar, dos detalhes relacionados, para que não falhe ao
desempenho do Nyau, sendo este pode decidir a sequência da dança e em quanto tempo uma
máscara pode permanecer na arena. O tsabwalo, que numa tradução nada, incluindo cercar o
bwalo e, se for necessário, fazer o abrigo para as individualidades locais. Por fim, temos o
tsang’oma, o encarregado pelos tambores e pela sua afinação.
Conclusão
Concluimos que a cultura nyau o Nyau extravasa a dimensão de espectáculo que proporciona em
virtude dos valores que ele insere nos domínios das artes e das técnicas, da história e da
cultura, valores esses transmitidos ao longo dos séculos, por gerações. Aliado ao carácter
ritualístico, que se traduz na realização de um conjunto de discursos e práticas rígidas,
carregadas de grande simbolismo, esta manifestação comporta outra dimensão de valor ao
nível da educação dos jovens, servindo como meio de integração social e ajustamento dos
comportamentos dos indivíduos às suas raízes culturais.
Isso foi uma das coisas que levou a UNESCO a proclamar o nyau como sendo um património
oral cultural intangível da humanidade.
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Referencias bibliograficas
UNESCO. Nyau Cult Candidature file: Proclamation of Masterpieces of Oral and Intangible
Heritage. Malawi National Commission for UNESCO, 2005.