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Onésia Vitória Rachido Francisco Anfonso Moterra

Tema: Território, Origem e História do Grupo Étnico Emakua

Universidade Rovuma
Nampula
2024
Onésia Vitória Rachido Francisco Anfonso Moterra

Tema: Território, Origem e História do Grupo Étnico Emakua

Trabalho de caracter avaliativo, da


cadeira de Introdução à Antropologia
Cultural, a ser submetido na Licenciatura
em Língua Portuguesa da Universidade
Rovuma.
Docente: Óscar M. F. Namuholopa

Universidade Rovuma
Nampula
2024

2
Índice
Introdução ................................................................................................................................. 3
Objectivo geral .......................................................................................................................... 4
Objecto específico ..................................................................................................................... 4
Metodologia .............................................................................................................................. 4
Território de grupo étnico de macua ......................................................................................... 5
Origem e povoamento do grupo étnico macua .......................................................................... 5
História e relações interétnicas de macua ................................................................................. 6
O povo macua ........................................................................................................................... 6
Esterilidade................................................................................................................................ 6
A gravidez ................................................................................................................................. 7
Participação familiar ................................................................................................................. 7
Proibição tradicional ................................................................................................................. 8
Corte de cabelo .......................................................................................................................... 9
Instrução .................................................................................................................................... 9
O parto....................................................................................................................................... 9
O lugar..................................................................................................................................... 10
O Nascimento .......................................................................................................................... 10
O Anúncio do recém-nascido .................................................................................................. 10
O Nome da criança .................................................................................................................. 11
Os ritos proibidos .................................................................................................................... 11
O desmame .............................................................................................................................. 13
A morte da sociedade macua ................................................................................................... 13
Aviso dos familiares e conhecidos .......................................................................................... 14
A preparação do enterro e o lugar da sepultura ....................................................................... 14
O velório.................................................................................................................................. 15
O funeral.................................................................................................................................. 15
O cortejo fúnebre..................................................................................................................... 16
O último adeus ........................................................................................................................ 16
O banho e as refeições comunitárias ....................................................................................... 16
O luto e os sacrifícios tradicionais .......................................................................................... 17
Prescrição e proibição tradicional ........................................................................................... 17
Conclusão ................................................................................................................................ 19
Referencias Bibliográfica ........................................................................................................ 20
Anexos..................................................................................................................................... 21

3
Introdução

O presente trabalho da cadeira de culturas moçambicanas, tem como tema território de


grupo étnico do povo macua onde encontramos vários grupos étnicos. O grupo étnico
Mucua, também conhecido como Makua ou Macua, é um dos maiores grupos étnicos
em Moçambique, com uma população de aproximadamente 5 milhões de pessoas. Eles
são predominantemente encontrados nas províncias de Nampula, Niassa e Cabo
Delgado, (Amide, 2008).
São divididos em vários subgrupos, como os Mucua-Lomwe, Mucua-Irite, Mucua-Nare,
Mucua-Saka e Mucua-Nahara. Cada um deles tem suas próprias características
linguísticas e culturais, embora compartilhem certas semelhanças.
A língua Mucua pertence à família das línguas Bantu e apresenta uma variedade de
dialectos. O povo Mucua é conhecido por suas habilidades artesanais, como a cestaria,
cerâmica e tecelagem. Eles também possuem uma tradição musical rica, com danças e
cantos que marcam as principais cerimónias e festivais.
Objectivo geral

 Analisar as praticas, costumes, tradição e cultura do grupo étnico do povo macua


abordado no trabalho.

Objecto específico

 Práticas do grupo étnico macua

Metodologia

Quanto a metodologia utilizada no trabalho, foram as revistas bibliográficas, manuais,


assim como realizando busca nos websites, artigos científicos e outros documentos para
enriquecer o trabalho 5

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Território de grupo étnico de macua

O grupo étnico Macua, também conhecido como Makua ou Macua, é um dos maiores
grupos étnicos em Moçambique, com uma população de aproximadamente 5 milhões de
pessoas. Eles são predominantemente encontrados nas províncias de Nampula, Niassa e
Cabo Delgado, (Amide, 2008).
A língua Mucua pertence à família das línguas Bantu e apresenta uma variedade de
dialectos. O povo Mucua é conhecido por suas habilidades artesanais, como a cestaria,
cerâmica e tecelagem. Eles também possuem uma tradição musical rica, com danças e
cantos que marcam as principais cerimónias e festivais.
Além disso, o grupo étnico Macua é caracterizado por sua organização social
matrilinear, onde a linhagem e a herança seguem a linha materna. As mulheres
desempenham um papel importante na família e na sociedade Mucua, ocupando
posições de liderança em alguns casos.
Culturalmente, os Mucua são fortemente influenciados por crenças animistas, embora
também haja seguidores do Islã e do Cristianismo dentro do grupo.
Origem e povoamento do grupo étnico macua

O grupo étnico Macua tem uma organização social baseada na linhagem matrilinear,
onde a descendência e a herança seguem a linha materna. As mulheres desempenham
um papel central na sociedade Macua, exercendo poder e influência em várias áreas da
vida social e política.
O povoamento Macua é caracterizado por uma estrutura hierárquica complexa, com
chefes e líderes tradicionais que desempenham um papel crucial na tomada de decisões
e na mediação de conflitos. Existem também organizações de jovens e homens adultos
que se dedicam à proteção da comunidade e da terra.
Um autor que se destaca no estudo do povoamento e organização do grupo étnico
Macua (também conhecido como Mucua) é o antropólogo moçambicano Félix Aurélio
Ntoto Martinez. Martinez é especialista em estudos étnicos e culturais em Moçambique,
tendo realizado vários trabalhos sobre as tradições, língua, crenças e costumes dos
povos Macua.

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História e relações interétnicas de macua

A história do povo Macua e suas relações intersectinicas são ricas e complexas. O grupo
étnico Macua habita a região norte de Moçambique, onde eles mantiveram uma estreita
conexão com outros grupos étnicos da região, como os Swahili, os Yao e os Maconde,
através de trocas comerciais, alianças políticas e intercâmbios culturais.
As suas origens são debatidas, com alguns estudiosos sugerindo que podem ter se
originado nas montanhas, enquanto outros acreditam que podem ter vindo da Tanzânia
ou do sul. O povo Makua também tem uma forte ligação à sua história mitológica, com
lendas sobre os seus antepassados terem nascido numa montanha sagrada chamada
Namúli. No geral, a sua história e relações interculturais são diversas e multifacetadas,
reflectindo a sua longa e rica herança cultural.
O povo macua

Segundo o recenseamento de 1980, eram três milhões e meio de macuas. Há um


indiscutível e fundamental elemento em comum, a língua macua. Este povo apesar de
ser numerosa é pouco estudado, segundo o que dizer dois investigadores macuas da
província de Nampula, Calisto Linha e Alberto Viegas.
Os macuas constituem pelo menos um terço da população moçambicana. Em termos
relativos são o grupo mais numeroso. E contudo, parecem ser o grupo ausentes na
história nacional, e o seu próprio nome de povo soa como uma maldição: Chamar-se
macua é uma ofensa, mas nem sempre foi assim (Linha e Viegas. O jornal do povo. P.
3)
Os ritos
Esterilidade

Um outro pormenor abordado com Martinez é o mal causado pela esterilidade. Segundo
ele, a esterilidade é algo sempre considerado, na sociedade macua, como uma desgraça,
um castigo, ou maldição, consequência directa da transgressão de alguma lei, de um
mau comportamento de acção, de alguém que nos deseja mal. O povo despreza o
homem e a mulher estéreis porque “suspendem a vida” estéreis opõem-se, à transmissão
da vida. Com homens e mulheres assim quebra-se a ligação que nos une aos
medianeiros da vida, interrompendo-se a corrente vital. Por isso o povo macua mantém
uma atitude de desde (desprezo altivo) para com os estéreis e os que não casam.

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A gravidez

Durante todo este tempo deve observar-se uma série de normas e respeitar as proibições
estabelecidas pela tradição, para que o embrião se desenvolva bem, a mãe não aborte e o
parto seja fácil. Desta forma se evitará, como diz um adagio citado por Martinez ”que o
filho se perca no caminho da vida” (Martinez, 1993).
No período de gravidez, os pais da criança que se esta formar no seio materno devem
continuar a ter relações conjugais, para que o filho se torne cada vez mais forte, segundo
a maneira tradicional.
Participação familiar
O grupo étnico Macua tem uma organização social baseada na linhagem matrilinear,
onde a descendência e a herança seguem a linha materna. As mulheres desempenham
um papel central na sociedade Macua, exercendo poder e influência em várias áreas da
vida social e política.
O povoamento Macua é caracterizado por uma estrutura hierárquica complexa, com
chefes e líderes tradicionais que desempenham um papel crucial na tomada de decisões
e na mediação de conflitos. Existem também organizações de jovens e homens adultos
que se dedicam à proteção da comunidade e da terra.
Segundo (Martinez, 1994), cada nascimento torna mais forte a família, mais
intimamente unidas aos medianeiros da vida, aos antepassados, e por meio deles, à
própria fonte da vida, Deus. Desta forma o seu futuro torna-se mais claro e o seu
progresso ainda mais seguro.

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Proibição tradicional

Parafraseando Martinez, de entre as prescrições deste período específico, indica-se


algumas características mais comuns, que a mulher gravida não pode prestar:
Não pode acender fogo caseiro na presença do homem;

Deve abster-se de alguns alimentos, por causa da semelhança simbólica destes com o
feto e com o nascituro (ovos, certos tipos de peixes, banana unidas para evitar gémeos e
patas de galinha, para evitar que, ao nascer criança arranhe a pele da mãe), como viu-se
referido anteriormente.

Come sempre sozinha, pois encontra-se em estado de segregação social,

Deve manter um certo comportamento que dê a entender a sociedade o seu estado


“liminar” no vestir (não amarrar a capulana à cintura, mas sim por cima do peito e
propositadamente vestirá de maneira descuidada), no penteado (não deve entrançar o
cabelo usar penteados que demostram cuidados especiais), na forma de andar pela
aldeia, na maneira de se sentar em público ou em sua própria casa na presença de
homens, ao cumprimentar falo- á com a cabeça inclinada, não assistirá às danças, terá
cuidados com o modo como dorme.

Estas e outras proibições constituem a educação tradicional que a mulher macua deve
cumprir. Para o efeito outras características que a mulher deve apresentar-se no estado
de gravidez é o corte de cabelo segundo a apreciação de Martinez.

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Corte de cabelo
A mulher gravida submete-se ao rito de corte de cabelo, um rito de separação com o
qual, através de um sinal corporal, é mostrada a comunidade o novo estado da mulher
que vai ser mãe. A encarregada de cortar o cabelo à mulher gravida deve pertencer ao
grupo das instrutoras, a sua sogra ou uma anciã da sua família. Este rito de separação é
completado pelas usanças (costumes, hábitos tradicionais) que a mulher gravida deve
observar na maneira de vestir e na maneira de se apresentar em público (Martinez,
1996).
Outra das actividade que a mulher gravida deve observar durante este período é o
ensinamento a partir das mulheres experientes, é dada em forma de instrução que o
termo em macua designado por “IKANO”
Instrução

Durante o período de gravidez, a interessada recebe uma série de instruções apropriadas


ao seu novo estado. As encarregadas de dar esta instrução pré-natal são as mulheres
instrutoras, mestras tradicionais nos vários ritos de passagem, a mulher gravida recebe
indicações o estado de gravidez, sobre o comportamento sexual com o próprio marido e
sobre a higiene intima. Outros termos de instrução são: os ritos que deve realizar, as
prescrição e proibição deste período e os remédios que deve tomar para proteger o feto
das suas entranhas.

O parto

Segundo Martinez, o parto propriamente é dito um assunto de competência exclusiva


das mulheres. Só elas podem participar, sendo severamente proibida a presença de
homens.
Geralmente nas entidades religiosas tradicionais moçambicanas, particularmente as
macuas, estes tipos de situações são consideradas de tabú para qualquer pessoa (homem
é interdito, crianças e mulheres que não passaram nos ritos de iniciação e que não
tiveram experiências iguais), por isso quando chega o momento de parto procura-se um
lugar sigiloso e de máxima segurança.

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O lugar

Segundo as apreciações de Martinez chegado o momento critico de dar à luz, a futura


mãe, algumas anciãs e familiares (com a condição de todos eles terem dado a luz
alguma vez) em caminha-se para um lugar apartado, fora da casa e do pátio da
residência da parturiente. Geralmente, escolhe-se um lugar recolhido do bosque,
debaixo de uma árvore.
Coloca-se uma esteira no chão e uma das anciãs, sentada na esteira, recosta nos seus
braços a parturiente. As outras mulheres preparam o necessário para os primeiros
auxílios (vasilhas com água, uma manta e uma pequena faca para corte de cordão
umbilical e ajudam a parturiente, (Martinez.1997)
Se o parto se tornar difícil, recorre-se as práticas rituais de emergência. Em primeiro
lugar, uma das anciãs assistentes ao parto fala com o marido para que este ponha as
coisas de casa (especialmente a roupa) ao ar livre e adapte, mesmo na maneira de vestir,
uma atitude de tristeza. Se os problemas continuam, então deve consultar-se
imediatamente o especialista de averiguação e realizar-se o rito de confissão das faltas.
É um rito de autocrítica e de reconciliação realizados também na iniciação dos jovens e
nos ritos de cura.
O Nascimento

Ainda nas palavras de Martinez, nascida a criança, a instrutora principal corta o cordão
umbilical e ata o embigo. Imediatamente as outras anciãs lhes dão o primeiro banho
com água preparada nesse momento e nunca com água preparada anteriormente. O
primeiro banho é, ao mesmo tempo, uma medida de higiene e um rito de purificação,
pois a criança esteve em contacto directo com o sangue da mãe e é necessário que perca
a contaminação ritual adquirida. Trata-se igualmente de um rito de protecção, porque o
recém-nascido acaba de entrar no mundo e, sendo tão fraco corre toda espécie de perigo.
Completa-se esta primeira parte com os ritos de “corte do cabelo” da criança e com o do
“escondimento da planceta “ (Martinez.op.cit.8.89.)
O Anúncio do recém-nascido

No nascimento de uma criança, as mulheres gritam ELULU para manifestar alegria pelo
êxito do parto como foi afirmado anteriormente. Ao ouvir este grito, toda a gente fica a
saber que o parto ocorreu bem e que não houve complicação. O grito de ELULU, pode
ter maior ou menor duração, conforme o sexo da criança será mais prolongada se tratar
de uma menina, porque a menina, no futuro irá aumentar a família e não abandonará a
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casa, pelo contrário o grito do menino terá menor duração, porque este quando for
adulto abandonará a sua casa para beneficiar o crescimento de uma família distinta da
sua.
Martinez, na sua obra afirma que já não se usa ritos que indicava, simbolicamente, o
sexo da criança. Para tal, uma das assistentes do parto mostrava aos presentes, no pátio
da casa onde nascerá a criança, um pilão se tratava de uma menina, e pau grande de
pilão ou uma lança, se tratava de um menino.

O Nome da criança

Segundo a apreciação de Martinez, com o rito da atribuição do nome, o recém-nascido


fica individualizado no processo de incorporação à família e à sociedade. A esta
atribuição é da competência de um das familiares mais próximas (tio materno, os outros
tios, o pai, os avos ou alguma pessoa particularmente ligada à família). O nome que se
da criança pode indicar várias coisas: um desejo realizado em seu nascimento, um
acontecimento importante na vida da família, a recordação dos antepassados da família,
um pressentimento ou outra coisa qualquer com algum significado para a família.
Segundo M.E.Maloa, o nome macua é um elemento social que designa a natureza das
coisas em si mesma. Por isso, segundo este sacerdote macua, há um intrínseco, vital
que se recebe na iniciação, um nome ocasional imposto pelas circunstâncias e um nome
extrínseco, sem grande influência (apud.Martinez.1989.p.101).
Para NTAHOMBAYE, os nomes são também um a realidade heterológicas, uma
expressão cultural tanto na sua génese como no conteúdo (apud. Martinez.Ibdem). É de
sintetizar que os nomes na sociedade macua são dados de acordo com a cultura e a
tradição. Segundo a mesma apreciação iremos aqui considerar os diversos ritos na
sociedade macua após o nascimento da criança, observa-se alguns ritos que devem
cumprir e outros não devendo praticar.
Os ritos proibidos

 As proibições mais comuns são as seguintes:


 Os pais do recém-nascido não podem ter entre si relações sexuais durante todo o
tempo de amamentação da criança;

 O pai não deve entrar em casa para ver a criança enquanto não se realizarem as
cerimónias de “fogo já apagado”, por causa da cicatrização do umbigo;

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 A mãe deve abster-se, durante todo período de amamentação da criança, de
certos alimentos que pela sua cor, tamanho ou forma possam recordar a
fragilidade da criança (mel, papaia, certos peixes, etc.)

 Durante este mesmo período de tempo, todas as mulheres que ajudaram e


estiveram presentes no parto devem abster-se de relações sexuais.
 As pessoas solteiras não podem pegar na criança até ao referido dia da
cicatrização do umbigo, entre outros ritos (Martinez,1989)

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O desmame

Martinez, afirma que depois da criança aprender a caminhar, realiza-se o “rito de


desmame”. Este rito consiste fundamentalmente, num banho da criança, ao qual
assistem todos os membros da família, o chefe da aldeia e os chefes da linhagem dos
restantes familiares da aldeia. É um rito de purificação e ao mesmo tempo um rito de
integração definitiva da vida. Com a realização deste rito termina todas as proibições
rituais no âmbito sexual, alimentar e de protocolo. A partir desse momento os pais da
criança podem recomeçar as relações conjugais intimas e todas as actividades familiares
e sociais.
Fenómeno da morte

A morte da sociedade macua

Martinez diz que um povo como o macua, que da tanta importância a vida e tudo o que
possa defender, conservar e transmitir considerando-a como um valor absoluto, encontra
na morte o seu inimigo.
Através da realização de ritos fúnebres o povo macua vive momentos decisivo do ciclo
vital: a passagem definitiva do estado visível a um estado invisual. Os espíritos são os
vivos por excelências, dotados por uma vida que dura sempre e de poderes sobre
humanos, capazes de influenciar a vida da sociedade e dos seus seres visíveis (Martinez.
1989, p.207.)
Segundo Martinez, a morte é uma mudança de estado, que supõe ao mesmo tempo,
ruptura e continuidade. O que subsiste do antigo estado no novo é, fundamentalmente a
identidade essencial da pessoa, aos laços familiares(quem morre continua a pertencer a
sua própria família)e sociais(o falecido continua a ser membro da sociedade a que
pertence).
Para o macua, uma boa morte é que chega conforme o previsto pela tradição, tendo em
conta vários factores. Tempo (idade avançada da morte) dissidência (deixando muitos
filhos), lugar (morrer na própria aldeia e na própria casa), e algumas modalidades
(morrer sem grande sofrimento, em presença dos familiares mais chegados, não
deixando questões pendentes de solução e sem paz com a família e com a sociedade) Ao
contrario uma morte má é a que sucede de improviso (com pouca idade) ou de forma
violente (assassínio, homicídio ou acidente). Também é má morte de uma pessoa estéril,
porque não deixa descendência, ou dificuldades económicas (dividas por liquidar).
( Ibidem p.208)
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Aviso dos familiares e conhecidos

Segundo Martinez, a comunicação da morte de um membro da família deve ser feita


imediatamente a todos os familiares que vivam na mesma aldeia ou aldeias próximas.
Aos que vivem longe envia-se mensageiros, para que possam assistir ao enterro, e eles
procuram cumprir essa missão, se a distância entre as suas casas e a aldeia do morto não
ultrapassar, para ida e volta um dia de caminho: é que o enterro realiza-se normalmente,
dentro de 24 horas.
A preparação do enterro e o lugar da sepultura
Segundo Martinez, o tio materno mais velho do falecido ou, na falta deste, o que o
segue por ordem de importância na família assume a responsabilidade de organizar a
cerimónia para a realização dos ritos fúnebres, distribuindo os encargos entre os
familiares e pessoas mais chegados: uns encarregam-se de tratar o cadáver com várias
abluções e unções e o do envolver num pano grande e numa esteira, outras preparam a
cova no lugar indicado pelo familiar, outras preparam a comida para todos os que
participarão no funeral e a água para

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abluções. A sepultura do cadáver faz-se normalmente, num lugar escolhido pelo tio
materno mais velho do defunto, fora da aldeia, afastados dos caminhos entre as arvores
do bosque. Quando se trata do chefe da aldeia ou do regulo, costuma escolher-se um
lugar especial perto da sua casa.
A profundidade da cova depende da idade do falecido, e a forma depende do gosto dos
familiares.
O velório
O cadáver devidamente preparado com abluções e unções, feitas pelos familiares mais
próximo e outros anciões da aldeia, é envolvido num lençol branco e colocado no chão,
encima da esteira que o defunto usava em vida para dormir. Junto do cadáver sentado no
chão, vestidas de roupa velha, sem adornos e despenteados, fazem vela as mulheres da
família e os amigos.
Os homens, familiares do defunto reúnem-se noutro lugar à parte, sempre perto do lugar
onde jaz o cadáver, geralmente no pátio da casa, enquanto esperam que o tempo passe,
compartilham a dor e tristeza pela morte do familiar e amigos e entoam cânticos em
forma salmodia em perguntas e comentários dirigidos ao defunto sobre a sua vida.
Neste momento entra em acção o especialista em diminuir a tensão psicológica do rito,
este ridiculariza a vida do defunto e a de outros falecidos, e inclusivamente, a vida de
algumas pessoas vivas relacionados com o defunto. Os familiares do defunto e os
habitantes da aldeia deixam os seus trabalhos e ocupações habituais para poderem
participar no velório e dos outros ritos fúnebres. Ficam excluídas destes ritos pessoas
não iniciados. Os familiares mais chegados cortam o cabelo, rapam mesmo a cabeça
vestem-se com roupas velhas, como sinal de luto. (Martinez, 1989, p.213)
O funeral

Quando os encarregados de abrir a sepultura acabam o trabalho, avisam os familiares


que ficaram em casa a velar o morto. Então, o chefe da família ou o familiar mais
intimo do defunto envia dois homens, escolhidos entre os familiares, para verificarem o
estado da sepultura e o cumprimento dos costumes tradicionais. Estes emissários
comunicam em que parte da cova se deve fazer o nicho secundário, ou ao lado no
interior da cova ou no centro da mesma, no qual se deposita o cadáver. (Ibidem)

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O cortejo fúnebre

Segundo Martinez, quando regressam ao lugar do velório os que foram enviados ao


cemitério, organiza-se o cortejo fúnebre. Os homens vão à frente levando o cadáver
envolvido numa esteira, (...) atrás a uma certa distância, seguem as mulheres.

Nas povoações onde a influência muçulmana é maior, as mulheres não participam, nesta
fase do funeral, ficando em casa com o grupo que prepara a comida para refeição
comunitária. Todos os participantes no cortejo fúnebre acompanham o cadáver até ao
cemitério, conservando profundo silencio durante o caminho.

O último adeus

Segundo Martinez, o nicho onde se depôs o cadáver, no interior da cova, é tapado com
paus e folhas, ficando o cadáver isolado do contacto directo com a terra que se deita
para tapar a cova. (...). O chefe da família, agora de joelhos, junto da cova, atira com a
mão direita um pouco da terra na direcção da cabeça do defunto; repete a mesma
operação com a mão esquerda e depois faz os mesmos na direcção dos pés. Em seguida
os outros familiares e restantes participantes no rito deitam terra na cova para taparem
por completo até uma altura de meio metro acima do nível do terreno. Nada deve ficar
em volta da sepultura, deve ficar limpo e dessa forma que Martinez, diz que não deve
ficar nenhuma pegada, pois no dia seguinte, de madrugada será enviado um emissário
para controlar o estado da sepultura e ver se alguém se aproximou, animal ou pessoa,
para a danificar. Segundo a mesma ordem, as pessoas presentes vão procurar água para
se lavarem das impurezas.
O banho e as refeições comunitárias

Todos participantes no enterro, depois do rito dirigem-se ao rio mais próximo ou onde
não há rio, a um lugar onde se preparou a água para o efeito, e ali se lavam, assim como
os instrumentos usados na preparação da sepultura. Primeiro fazem-no as mulheres,
depois, os homens. Na casa do defunto, todos os que voltam do cemitério devem lavar
as mãos com a água e um remédio preparado para a ocasião, que o chefe da família
conhece (Martinez:1989, p.215).
Aos que participam no enterro é- lhe oferecido uma refeição por parte dos familiares do
defunto, em sinal de comunhão e de agradecimento. Tem o significado de comunhão
intima com o falecido e com os demais antepassados e de união social entre os
familiares e os membros da comunidade. Acabada a refeição, alguns familiares ficam

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para fazer companhia à família durante as primeiras noites. Os outros regressam as suas
casas. Voltarão 3 dias para a celebração do sacrifício (Idem: 215)
O luto e os sacrifícios tradicionais

Com a celebração do enterro, começa o período de margem, durante o qual a família do


falecido se encontra de luto pela morte do familiar (Apud.Martinez. 1989). Este
período tem, normalmente, a duração de um ano, dividido em duas partes, “o luto
grande”, com a duração de 30 dias e 40 dias, “o luto pequeno”, o resto do tempo até ao
primeiro aniversário (Mrtinez 1989, p.216)
Durante este tempo cuida-se de maneira especial do estado de conservação da sepultura
de manhã cedo, pelo menos durante a primeira semana, um ancião da família encarrega-
se desta tarefa. Se descobre alguma coisa especial, deve comunica-la imediatamente ao
chefe da família do falecido para se investigar o sucedido e se oferecer o sacrifício
expiatório, consultando o especialista da investigação se for necessário (Idem, p216).
Segundo Martinez, para recordar a memória do defunto e desejar que nada lhe falte na
sua viagem definitiva para outra vida, onde esperam os antepassados, os seus familiares
oferecem-lhe (...) a farinha e a bebida do sacrifício. O encarregado de orientar a oração
principal é o chefe da família. Todos os presentes ouvem a oração sentados no chão a
volta da sepultura em profundo silêncio. No fim aplaudam batendo palmas levemente
em sinal de aprovação

Prescrição e proibição tradicional

Segundo Martinez, durante o período de luto, as normas tradicionais estabelecem certas


orientações no procedimento dos familiares mais próximos do defunto as quais devem
ser entendidas nas perspectivas cultural da sociedade macua. Algumas prescrições e
proibições apoiam-se na sabedoria popular, fruto das experiências de várias e gerais:
algumas prescrições são:
 Obrigação de participar em todos os ritos e observar o luto;

 As pessoas que entram em contacto com alguma coisa que pertenceu ao defunto
devem fazer abluções purificatórias;

 As famílias são obrigadas a contribuir para as despesas do funeral e sustento dos


órfãos ou das viúvas, se isso for necessário, os amigos e a outras pessoas da
aldeia também o podem fazer (Martinez, 1989).
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Segundo as mesmas reflexões as proibições são:
 No dia de enterro estão proibido os alimentos, a pessoa deve ficar como o jejum
total, e nos dias em que celebram os aniversários o jejum parcial,
 Abstinência sexual obrigatória para as familiares mais próximas, e absoluta
durante o grande luto e parcial durante o resto do luto.

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Conclusão

Em suma, Concluindo, o povo Makua é um grupo étnico Bantu com uma história,
cultura e línguas ricas e complexas. Enfrentaram vários desafios, conflitos e relações
interculturais ao longo da sua história, mas mantiveram a sua identidade e tradições
únicas. As suas competências metalúrgicas e actividades comerciais têm sido aspectos
significativos da sua cultura, e as suas ligações à sua história mitológica e locais
sagrados continuam a ser importantes. Apesar da sua história diversificada e
multifacetada, o povo Makua continua a ser uma parte significativa e integrante da
paisagem cultural e étnica de Moçambique e da Tanzânia.
O povoamento Macua é caracterizado por uma estrutura hierárquica complexa, com
chefes e líderes tradicionais que desempenham um papel crucial na tomada de decisões
e na mediação de conflitos. Existem também organizações de jovens e homens adultos
que se dedicam à protecção da comunidade e da terra.

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Referencias Bibliográfica

Martinez, Francisco Lerma. O povo macua e a sua cultura. Sd. I.S.B.N. Lisboa. 1989.
Mlazi. Ezequiel Pedro Gwembe. Iniciação tradicional africana em Moçambique. E.P.
África. Col-Inculturação-4.1989
Dicionário Universal de língua portuguesa. Texto Editora.Lisboa 2000

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Anexos

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