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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

A IMPORTÂNCIA DO MUSEU REGIONAL DE ARTE PARA OS ARTISTAS


FEIRENSES E DAS ARTES PARA A FORMAÇÃO DE UMA CIDADE

DANIEL SALES DA CONCEIÇÃO


Matrícula n° 15131264

ORIENTADOR (A): Me. Jorge Nery


FEIRA DE SANTANA – Ba
Agosto – 2020
DANIEL SALES DA CONCEIÇÃO

A IMPORTÂNCIA DO MUSEU REGIONAL DE ARTE PARA OS ARTISTAS


FEIRENSES E DAS ARTES PARA A FORMAÇÃO DE UMA CIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de


Ciências Humanas e Filosofia – DCHF, para a aquisição do
diploma de Bacharel em Filosofia pela Universidade Estadual de
Feira de Santana (UEFS).

ORIENTADOR: Me. Jorge Nery


Feira de Santana-Ba
Agosto, 2020

AGRADECIMENTO

Gostaria de agradecer primeiramente, a Deus, por permitir que eu chegasse ao final de mais uma
batalha na minha caminhada, aos meus familiares, pelo apoio financeiro e moral, aos meus professores,
que, o tempo todo vivi com eles uma proximidade repleta de zelo e interesse de cada um deles por
minha formação. Gostaria de agradecer ao meu amigo Lázaro Souza, formando em História pela
UEFS, por abri portas para me na Residência Universitária no decorrer da minha formação, sem
qualquer processo seletivo pra isso, e num momento que eu não tinha condições pra continuar a
batalha. Gostaria de agradecer a Secretaria de Educação desta cidade, por me permitir experimentar a
sala de aula no programa Partiu Estágio do Governo do Estado da Bahia. Enfim, sou grato a cada um e
a cada uma que encontrei durante esses dias, meses e anos intensos da minha vida, que me fez realizar
a maior de todas as descobertas, a descoberta de que eu não tinha subjetividade, que os meus
pensamentos e realidade foram publicados no mundo por uma força maior que o tempo e bem antes
que a razão fizesse parte das coisas e destino que eu fosse escolher no mundo pra me. É isso.
LISTA DE SÍMBOLOS

UEFS Universidade Estadual de Feira de Santana


UFBA Universidade Federal da Bahia
MMDC Multi-Institucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento
LNCC Laboratório Nacional de Computação Científica
IFBA Instituto Federal da Bahia
UNEB Universidade Estadual da Bahia
CUCA Centro Universitário de Cultura e Artes
AFA Associação Feirense de Artes
RESUMO

O presente trabalho encontra-se dividido em dois capítulos, o primeiro capítulo desenvolve


a origem e história do Museu Regional de Artes, através do artista, poeta e intelectual feirense, Dorizo
Dórea e da museóloga, Selma Soares de Oliveira. No seu livro, Cartas de Eurico Alves – Fragmentos
da cena modernista, este autor apresenta Eurico Alves Boaventura, que é outro escritor feirense, como
o inventor do discurso que deu origem a criação do Museu Regional de Arte na cidade de Feira de
Santana, através do projeto de criação de museus nas cidades do interior do país do empresário,
jornalista e político brasileiro, Assis Chateaubriand. Em seguida, o desenvolvimento dessa
problemática fica na competência da museóloga Selma Soares de Oliveira, na sua tese de doutorado em
Museologia; O Museu Regional: Mediação das Artes, Difusão do Conhecimento e Interlocuções
culturais com Feira de Santana de 1967 a 1995. Desse modo, depois de criado, o acervo dessa
instituição encontra-se dividido em quatro coleções, disposta no conjunto das artes visuais e uma outra
parte era formada por artefatos e objetos antigos da cultura da vida sertaneja, do vaqueiro e das
fazendas do Sertão. E, através desse acervo, a cidade de Feira de Santana viveu a experiência estética
nas obras de artistas ingleses e brasileiros e incentivou às sensibilidades de seus próprios artistas,
através da formação e estímulo aos mesmos, que lho tomaram como incentivador nas suas opções
profissionais e escolha de carreira. Assim, o Museu Regional de Feira de Santana se mobilizou para
cumprir sua missão enquanto casa de ordem artística e cultural numa cidade do interior do país. O
segundo capítulo versa sobre a importância da arte para a formação de uma cidade. Desse modo,
apresentou-se a arte em dois termos sintéticos e objetivos; as artes figurativas e as artes abstratas.
Mostrou-se a importância da imagem e das retratações artísticas das mesmas para a memória de um
povo e o caráter efêmero do ser, frente a mesma através do autor Georges Didi-Huberman no seu livro,
Diante do tempo: Histórica da arte e anacronismo das imagens. Mas, as artes que prefiguram e
figuram o mundo são mais numerosas do que a capacidade de quantificações e retratações artísticas.
Concorrem, com tudo isso, a vontade de conhecimento dos seres humanos para a sua própria civilidade.
Nesta seara, as artes abstratas, induzem as mentalidades para além dos limites dos sentidos e da razão.
Fez-se questionamento sobre o que é o abstrato, desde o que já se sabe sobre a espécie humana, ao que
lhe seria inimaginável, e, no entanto, necessário. O inexistente pode ser somente o que não aparece e
nem está no mundo, ou, aos conhecimentos dos sentidos e da razão humana. Mas, o mundo não é o
Universo e a liberdade dos pensamentos na construção do seu próprio intelecto não teria direção se lhes
faltassem iniciativas que teorizassem sobre o incognoscível, que os fizessem estar em desconforto com
o mundo e em sintonia com os seus mistérios.
Enfim, se a arte é desconfortante, apesar da sua importância, quando, na sua linguagem
pictográfica e figurativa, e ainda, abstrata, expressou realidades e imaginação, pediu-se o testemunho
histórico das civilizações, para entender o movimento que originou as cidades fora do centro e ideia de
civilidade eurocêntrica. É nesse plano dialógico que o capítulo dois fez conhecido a cidade de Feira de
Santana no Brasil e no mundo, nos seus diversos processos e períodos que, uma hora lhe fez surgir,
noutro período, fez aparecer as suas expressões humanas, sociais e políticas, para poder procurar o
momento em que lhes dispuseram ter expressão e consciência artística, para poder falar de si mesma ou
do seu entorno a partir do que foi o modernismo e a Semana de Arte Moderna para o Brasil.

Palavras-chaves: museu, artes, acervo, memória, consciência.

ABSTRACT

The present work is divided into two chapters, the first chapter develops the origin and
history of the Regional Museum of Arts, through the artist, poet and intellectual of the state, Dorizo
Dórea and the museologist, Selma Soares de Oliveira. In his book, Letters of Eurico Alves - Fragments
of the modernist scene, this author presents Eurico Alves Boaventura, who is another writer from the
region, as the inventor of the speech that gave rise to the creation of the Regional Museum of Art in the
city of Feira de Santana, through of the project to create museums in the interior cities of the country of
the Brazilian businessman, journalist and politician, Assis Chateaubriand. Then, the development of
this problem falls within the competence of the museologist Selma Soares de Oliveira, in her doctoral
thesis in Museology; The Regional Museum: Mediation of the Arts, Dissemination of Knowledge and
Cultural Interlocutions with Feira de Santana from 1967 to 1995. Thus, after being created, the
collection of this institution is divided into four collections, arranged in the set of visual arts and one
another part was made up of artifacts and old objects from the culture of country life, the cowboy and
farms in the Sertão. And, through this collection, the city of Feira de Santana lived the aesthetic
experience in the works of English and Brazilian artists and encouraged the sensitivities of its own
artists, through training and encouragement to them, who took it as an incentive in their professional
options and career choice. Thus, the Regional Museum of Feira de Santana was mobilized to fulfill its
mission as an artistic and cultural house in a city in the interior of the country. The second chapter deals
with the importance of art for the formation of a city. Thus, art was presented in two synthetic and
objective terms; figurative and abstract arts. The importance of the image and their artistic portrayals
was shown for the memory of a people and the ephemeral character of being, facing it through the
author Georges Didi-Huberman in his book, Before the time: Art history and anachronism of images.
However, the arts that foreshadow and figure the world are more numerous than the capacity for
quantifications and artistic portraits. With all this, the will to knowledge of human beings competes for
their own civility. In this field, the abstract arts, induce mentalities beyond the limits of the senses and
reason. Questioning was made about what the abstract is, from what is already known about the human
species, to what would be unimaginable, and yet necessary. The nonexistent can be only what does not
appear and is not in the world, or, to the knowledge of the senses and human reason. But, the world is
not the Universe and the freedom of thoughts in the construction of their own intellect would have no
direction if they lacked initiatives that theorized about the unknowable, that made them uncomfortable
with the world and in tune with its mysteries.
Thus, if art is uncomfortable, despite its importance, when, in its pictographic and figurative language,
and yet, abstract, it expressed realities and imagination, the historical testimony of civilizations was
asked, to understand the movement that originated the cities outside the center and the idea of
Eurocentric civility. It is in this dialogical plan that chapter two made the city of Feira de Santana
known in Brazil and in the world, in its various processes and periods that, at one time, made its
human, social and political expressions emerge, to be able to look for the moment when they were
given expression and artistic awareness, to finally be able to talk about themselves or their
surroundings from what was modernism and the Week of Modern Art for Brazil.

Key-words: museum, arts, collection, memory, conscience.

SUMÁRIO

Capítulo I

A IMPORTÂNCIA DO MUSEU REGIONAL DE ARTE PARA OS ARTISTAS


FEIRENSES E DAS ARTES PARA A FORMAÇÃO DE UMA CIDADE
INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………………1.0
Origem e história do Museu Regional de Arte...........................................................…………....1.1
Acervo do Museu Regional de Feira de Santana.............................................................………...1.2
Atuação do Museu Regional de Feira de Santana............................................................………..1.3

Capítulo II
A IMPORTÂNCIA DA ARTE PARA A FORMAÇÃO DE UMA CIDADE
Sobre as artes figurativas……………………………………………………………………….…2.0
Sobre as artes abstratas................................................................................................…………….2.1
A cidade de Feira de Santana no Brasil e no mundo..........................................................……......2.2
Conclusão............................................................................................................…………………..2.3
Referências…………………………………………………………………………………………2.4

INTRODUÇÃO

De acordo com o minidicionário da língua Portuguesa, RUTH ROCHA, dos autores Ruth
Rocha e Hindenburg da Silva Pires, entende-se ser o vocábulo; “Museu sm. Lugar onde se guardam
coleções de objetos de artes, científicos, históricos, etc. (ROCHA, PIRES, 2005, 485).” E a museologia
é a ciência que trata dos princípios de conservação dos diversos acervos museológicos, com o objetivo
de guardar a memória de um povo para apresentá-la às gerações vindouras (2005, 485). Enquanto uma
instituição estatal e sem fins lucrativos, o museu investiga, seleciona e guarda a memória de um povo
de um determinado lugar, de uma determinada região, ou, de um país, com a finalidade de expô-la e
também, de criação de novos conhecimentos para a constante e incessante atualização cultural e
testemunhalidade histórica de toda a produção cultural de uma determinada época por um povo, ou, por
uma civilização. Entre as suas muitas funções sociais, as mais abrangentes são; criação de uma
identidade nacional, regional, ou ainda, local, objetivando a homogeneização da população; criação de
discursos pertinentes aos anseios de uma população, um grupo, ou, uma instituição. Nesse trabalho, em
específico, será apresentado e desenvolvido a origem e história do Museu Regional de Arte, a
constituição do seu acervo, a sua atuação cultural, os personagens envolvidos, ou seja, artistas feirenses
e demais personalidades, que foram marcados pela influência do movimento modernista que
determinou o rumo do ser e fazer artístico em todo o país em nível de sede e de cidades menores,
intuindo e contribuindo para a formação de uma identidade genuinamente brasileira que se desdobra
nos seus muitos aspectos locais e regionais. No segundo capítulo, será desenvolvido a importância da
arte para a formação de uma cidade para dar conta da origem de uma consciência artística em âmbito
nacional. Precisou rebuscar nas suas origens, quais foram os acontecimentos que fizeram que as terras
brasileiras fossem ocupadas e, dessa ocupação, especificamente de seus sistemas político-
administrativos, aparecessem as suas primeiras expressões sociais e culturais, nas capitais
administrativas, e depois, nos municípios, vilas e povoados. É nesse plano que a importância das artes
será procurada, e essa atitude vai caminhar com vista na origem da cidade de Feira de Santana e do
legado histórico que lhe rendeu as condições de cidade, na construção de uma memória cada vez menos
eurocêntrica e centralizada à ideia imperativa de artes, que se difunde das capitais do país às demais
cidades brasileiras interioranas. O recorte histórico será feito do ano de 1967, que foi o ano de criação
do Museu Regional de Arte, ao ano de 1995, ano em que ele foi transferido do seu primeiro endereço
para o endereço atual.

CAPÍTULO I

A IMPORTÂNCIA DO MUSEU REGIONAL DE ARTE PARA OS ARTISTAS

FEIRENSES E DAS ARTES PARA A FORMAÇÃO DE UMA CIDADE

1.1 Origem e história do Museu Regional de Arte

A discussão sobre a origem e fundação do Museu Regional de Arte, como é atualmente


denominado, é divergente, quem conta essa história é o arquiteto, artista, poeta e escritor feirense
Dorizo Dórea, em seu livro, Cartas de Eurico Alves – Fragmentos da cena modernista e a doutora em
Multi-Institucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento (DMMDC) pelas Universidades;
UFBA, LNCC, Fieb-Senai-Cimatec, IFBA, UNEB e UEFS, Selma Soares de Oliveira, em sua tese de
doutorado; O Museu Regional: Mediação das Artes, Difusão do Conhecimento e Interlocuções
culturais com Feira de Santana de 1967 a 1995.
Quem foi Eurico Alves Boaventura?

Eurico Alves foi um escritor articulado com as inquietações do seu tempo e é dono de
uma obra que, em muitos aspectos emparelha-se com as canônicas manifestações
literárias do Modernismo. Atuou em várias frentes, indo da poesia ao ensaísmo, do
local ao nacional, dos currais das roças à utopia das cidades dinâmicas e tentaculares
(DÓREA, 2012, p. 15).
Eurico Alves também foi um ferrenho defensor da cultura sertaneja, do vaqueiro e de todo
o seu legado social, enquanto figura de destaque entre as personalidades que foram responsáveis pela
origem de várias cidades no interior do país. Quando o Brasil foi colônia de Portugal e os
colonizadores, no intuito de povoar as regiões mais afastadas do litoral, utilizaram a pecuária como
meio para desbravarem as regiões do interior, eles construíram estradas, fazendas, povoados, vilas e
municípios. Feira de Santana é uma dessas cidades, fruto das tentativas bem-sucedidas de colonização
do interior do país pelos europeus, por meio da pecuária.

Na cidade de Feira de Santana, Eurico Alves foi o inventor do discurso de criação de um


lugar público que desse visibilidade a cultura sertaneja, a vida do vaqueiro e das fazendas que
principiaram o povoamento e fundação dos povoados, vilas, e das cidades, nessa região do país. Esse
intelectual feirense motivava as consciências locais para a preservação da memória do lugar, e criação
de uma identidade regionalista como incremento e faceta da identidade nacional. Nesse sentido, Dorizo
Dórea afirma; “[…] as cartas em que Eurico Alves propõe a criação do museu do vaqueiro encontra-se
no livro Fidalgo e Vaqueiros, em uma série de cartas denominadas de “Cartas da serra” (DÓREA, 2012,
p. 171).” Enquanto defensor da cultura popular, do vaqueiro e da memória do estilo de vida sertaneja, o
escritor Eurico Alves chega a criticar noutros autores, a ausência de atenção a outra civilização que não
a da cana-de-açúcar e a do café (2012, p. 183), e defende com isso, a civilização do pastoreio como a
responsável pela formação social do país;

Mais especificamente, Eurico Alves com seu Fidalgo e Vaqueiro, pretendia dar
visibilidade a uma outra face da Bahia, a que ficava distante do litoral e fora moldada
pelas trilhas das boiadas. Ou seja, a Bahia sertaneja e pastoril (DÓREA, 2012 p. 183).
Assim, para esse escritor, pesquisar, escrever e preservar objetos e documentários sobre a
vida e o jeito sertanejo de ser, era revelar um universo com detalhes e significados próprios. Das cartas
que ele escreveu aos seus vários destinatários, numa determinada carta denominada de “carta aberta”,
destinada a sociedade feirense, o remetente “convoca o povo desta cidade para cultuar os fatos do
município e do sertão, com o intuito de preservação da memória sertaneja (DÓREA, 2012, p. 130).” O
objetivo era reunir pessoas interessadas na defesa dos valores culturais da região, com isso, ele
defendia a necessidade de criação de um centro de documentações, reunindo a memória cultural da
região (2012, p. 191). Percebe-se, nessa carta, o aparecimento da primeira proposta de criação de um
espaço público interessado em coletar, documentar, preservar e expor tudo o que a “civilização do
pastoreio” vinha produzindo culturalmente, ou seja, a cultura dos vaqueiros e das fazendas da região.
“Observa-se que, um museu voltado para a cultura regional, passará a ser daí por diante, preocupação
recorrente do escritor (DÓREA, 2012, p. 191).”

Nesse esforço e interesse em dar visibilidade às coisas e temas da sua região;


Há ainda a carta que ele endereçou aos vereadores de Feira de Santana, propondo a
criação do Museu do Vaqueiro. Trata-se de uma longa e bem fundamentada exposição
de motivos – espécie de anteprojeto – datada de 13 de junho de 1961, justificando a
necessidade de criação de um museu voltado para o sertão e já sinalizando para
algumas diretrizes básicas referente à sua concepção (DÓREA, 2012, p. 197).
Além da proposta de criação do Museu do Vaqueiro, que corresponderá ao Museu Regional
de Feira de Santana, Eurico Alves também chegou a propor a forma como o acervo seria constituído;
“[…] deveria incluir objetos e documentos variados da vida nos sertões (DÓREA, 2012, p. 199)”. No
entanto, a sua proposta de criação do Museu do Vaqueiro não se concretizou, apesar da sua influência e
marcas do seu projeto intelectual permanecerem no imaginário do povo e da sociedade feirense;

É bem verdade que Eurico Alves não conseguiu viabilizar o referido


museu, nos moldes em que imaginara, mas, suas ideias contribuíram para
o surgimento de alguns espaços voltados para a preservação da memória
regional (DÓREA, 2012, p. 207).
Dentre esses espaços, destaca-se o Museu Regional de Feira de Santana. E aqui, começa,
propriamente, a história da fundação do Museu Regional de Feira de Santana. A divergência relatada
no começo desse capítulo, não existe apenas no objetivo e forma como Eurico Alves imaginou a
construção de um espaço público para preservação da memória e da cultura sertaneja, mas, e
principalmente, no nome e constituição do acervo, como será mostrado mais à frente.

Num artigo publicado pelo professor poeta e animador cultural da cidade de Feira de
Santana, Dival da Silva Pitombo (1915-1989), no jornal Feira Hoje, conta-se que;

[…] em 1960, num encontro em Feira de Santana, em que estavam presentes o


intelectual baiano Luiz Monteiro e Vasconcelos Maia, teria surgido o assunto da
exploração do potencial turístico da nossa cidade e sua famosa feira livre. Foi quando
Vasconcelos Maia, que, à época era diretor de turismo na capital do estado, perguntou
ao próprio Dival Pitombo: “Por que vocês não criaram aqui, o Museu do Vaqueiro?”.
A partir daí, a conversa evoluiu, e Pitombo, que aceitou a proposta com entusiasmo,
ficou encarregado de iniciar um movimento nesse sentido (DÓREA, 2012, 208).
Com esse propósito, Dival Pitombo escreveu a Eurico Alves contando o que eles haviam
conversado nesse encontro e lhe pediu que fizesse um projeto do museu. Eurico, com interesse e
entusiasmo, respondeu a Dival Pitombo com uma longa mensagem contendo o referido projeto e
pedindo que ele encaminhasse a proposta a Câmara Municipal (2012, 208). Muito embora os
vereadores não tenham aprovado o projeto de museu de Eurico Alves como já foi mencionado;

Alguns anos depois, quando Assis Chateaubriand anunciou seu projeto de criar
pequenos museus nas cidades do interior, a proposta veio novamente à tona, sendo o
pleito dos feirenses encaminhados a Odorico Tavares, à época diretor dos Diários
Associados, na Bahia. É ainda Dival Pitombo quem registra que “não foi difícil o
acolhimento” daquela pretensão. E acrescenta; “após reuniões com representantes da
terra, definiu-se a instalação do nosso museu, graças a boa vontade do então secretário
da Educação, Alaor Coutinho, e do prefeito Joselito Amorim que facilitou tudo
(DÓREA, 2012, 209).
Inaugurado em 26 de março de 1967, na rua Geminiano Costa, número 255, num prédio da
antiga dependência do Campo do Gado também conhecido como Currais Modelo, o museu se chamou
Museu Regional de Feira de Santana: […] “trazia um importante acervo voltado para as artes plásticas,
que ocupava várias salas, e um espaço para abrigar peças da cultura popular regional (OLIVEIRA,
2012, p. 209)”. No entanto, para administrar a instituição museológica;

[…] foi criada a Fundação Museu Regional de Feira de Santana. A Prefeitura


Municipal ficou responsável pelas despesas com a manutenção e com os funcionários.
Ao longo dos anos, a instituição passou por diversas situações. Teve momentos de
brilho intenso e fases em que, esquecido pelas autoridades, enfrentou incertezas e
dificuldades para se manter. Em 1985, seu acervo foi doado à Universidade Estadual
de Feira de Santana (UEFS), mas o museu continuou funcionando no mesmo prédio
em que fora criado. Em 1995, isto é, dez anos mais tarde, a UEFS resolveu transferir o
citado acervo para outros espaços da instituição, onde permanece até hoje
(OLIVEIRA, 2018, p. 20).
Uma das razões dessa transferência e doação do acervo do museu à Universidade Estadual
de Feira de Santana por Dival Pitombo, diretor vigente da instituição no período demarcado acima,
além do não funcionamento ou cumprimento do acordo que a fundação criada para administrar o
museu teria, foi a falta de procurador legal do acervo e das obras de artes do museu, e a Universidade
Estadual de Feira de Santana passou a assumir esse encargo jurídico. A transferência do Museu
Regional de Feira de Santana foi feita para o complexo do Centro Universitário de Cultura e Artes da
Universidade Estadual de Feira de Santana. Isso implicou na mudança de nome da instituição que antes
se chamava Museu Regional de Feira de Santana e passou e ser chamado, Museu Regional de Arte.
Houve mudança também no acervo, o Museu Regional de Arte passou a se dedicar única e
exclusivamente as artes visuais, ou seja, pintura, desenho, gravuras e esculturas. As peças que
representavam a cultura regional foram transferidas para o Museu Casa do Sertão (2018, p. 21), que foi
outra instituição museológica criada em 1976, pelo Lions Clube de Feira de Santana, e entregue à
Universidade Estadual de Feira de Santana.

1.2 Acervo do Museu Regional de Feira de Santana

Para a doutora e museóloga Selma Soares de Oliveira, em sua tese de doutorado O Museu
Regional: Mediações das Artes, Difusão do Conhecimento e Interlocuções Culturais com Feira de
Santana de 1967 a 1995;
O acervo constitui a alma do museu e define até mesmo a sua tipologia: museu de arte
(acervo artísticos variados): Museu de história (acervo histórico): Museu de ciências
(acervo ligado as ciências materiais): Museu de tecnologias (acervo ligados a inovação
tecnológica e científicas): eco museus (caracterizados, entre outras coisas, por um
ambiente, território demarcado culturalmente) (OLIVEIRA, 2018, p. 95).
No tocante ao acervo do Museu Regional de Feira de Santana, além da falta de uma
tipologia museológica definida para essa instituição, antes da sua transferência para o Centro
Universitário de Cultura e Artes (CUCA) da Universidade Estadual de Feira de Santana, constatou-se
que, todas as obras que integravam o seu acervo, desde 1967, foram doadas, ou seja, adquiridas sem
pagamentos. A doação é um dos meios de aquisição que os museus podem usar para reunir um
determinado tipo de acervo. Deste modo, afirma Oliveira; “A forma de aquisição pode variar de
instituição para instituição e, até mesmo, uma única instituição pode ter adquirido e formado o seu
acervo de diferentes maneiras, por meio de coleta de campo, doação, compra, permuta (troca) e legado
(OLIVEIRA, 2018, p. 95).” Assim, na composição do acervo do Museu Regional de Feira de Santana,
houve doações;
[…] vindas de várias instituições e de diversos segmentos da sociedade, da Bahia, do
Brasil e do exterior. Há doações do governo da URSS, do governo do estado da Bahia,
do Banco Baiano da Produção, da Prefeitura Municipal de Feira de Santana, dos
Diários Associados da Bahia, do banqueiro Gilberto Farias, dos Diários Associados do
Rio Grande do Norte, dos Diários Associados do Ceará, de artesãos como o vaqueiro
Otacílio de Lopes e Doro e, principalmente, de artistas. Consta no citado livro que
apenas duas obras foram adquiridas por empréstimo: Autorretrato de Raimundo de
Oliveira e Paisagem baiana, de Edelweiss (OLIVEIRA, 2018, p. 96).

Essas informações são provenientes de quatro livros utilizados na investigação da


museóloga Selma Soares de Oliveira, em sua tese. Também conhecidos como livros de Tombo, esses
livros registram a rotina e o acervo dos museus. Verificou-se, através da comparação cuidadosa de
informações contida nas fontes pesquisadas, que, desde 1967 a 1995, quase que não houve nenhuma
alteração na constituição do acervo do Museu;
Houve, entretanto, nesse período, algumas doações por parte dos artistas, conforme
consta num dos cadernos de arrolamento do acervo, entre os quais, Cezar Romero,
Justino Marinho, Herivelton Figueiredo, Jader Resende, Antônio Brasileiro, e Anísio
Dantas (OLIVEIRA, 2018, p. 96).

Foram esses os artistas que também fizeram parte do grupo de doadores da primeira
quantidade de obras que integrou as coleções de artes visuais e artefatos da cultura sertaneja do acervo
do museu. Localizado no seu primeiro endereço, à rua Geminiano Costa, o acervo dessa instituição
encontrava-se dividido em coleções e artefatos que representavam a cultura sertaneja e regional do
cotidiano rural nordestino. As obras que integrava as coleções de artes visuais, eram de autores
nacionais e ingleses. As artes visuais, por sua vez, eram representadas por obras produzidas a partir da
segunda metade do século XX e o outro conjunto era representado por objetos ligados a cultura popular
brasileira, em específico, a civilização do couro (2018, p. 96). No conjunto que integrava as artes
visuais, encontrava-se, ainda, formas ecléticas de artes, existia, desde pinturas, desenhos e gravuras, as
esculturas. Nesse sentido, afirma Oliveira; “Por razões metodológicas, ele será estudado observando os
seguintes recortes: coleção dos artistas ingleses, coleção dos artistas brasileiros, coleção dos artistas baianos e
coleção dos escultores (OLIVEIRA, 2018, p. 96).”
A primeira coleção é a coleção inglesa, formada por 31 obras de 27 autores ingleses que
tiveram atuação nas décadas de 1950 a 1960. Com foco no período modernista, essas obras exerceram a
função de vanguarda do que se vinha produzindo em matéria de artes visuais nesse país. Mostrou-se,
com isso, mais um motivo para conferir nelas, um valor distinto. O jornalista, político e empresário,
Assis Chateaubriand, além de ser o idealizador da criação de pequenos museus nas cidades do interior
do país, também foi o doador das obras que formam essa coleção, que, por sua vez, foram adquiridas
quando ele foi embaixador do Brasil na Inglaterra, na década de 1950. Ele cedera essas obras ao
governo do estado da Bahia, e este, por último, as doou ao Museu Regional de Feira de Santana. Os
autores dessas obras são de um único período, e por isso, elas formam um conjunto homogêneo e
harmonioso.
A segunda coleção é constituída por artistas do Brasil e seguem várias tendências,
representadas pela pintura, desenhos e gravuras. Essas obras estão também sintonizadas com o período
modernista e seus autores tiveram destacada influência no eixo – Rio-São Paulo (2018, p. 99).
A terceira coleção é formada por artistas baianos, ela é composta por; pintura, desenhos e
gravuras, porém “[…] integram esta coleção, não necessariamente os artistas baianos de nascimento,
mas, aqueles que atuavam na Bahia na época da criação dos museus regionais, […] (OLIVEIRA, 2018,
p. 99)”. Essa coleção é a única que inclui artistas feirenses.
A quarta e última coleção é a das esculturas, composta por oito peças, essa coleção também
tem um valor distinto e especial para o acervo do Museu Regional de Feira de Santana. O outro
conjunto, representado por objetos ligados a cultura popular brasileira, ou seja, a civilização do couro,
caracterizado pela cultura das fazendas e dos vaqueiros; “[…] incluía objetos oriundos da Bahia, Ceará,
Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. (OLIVEIRA, 2018, p.
100)”. Formada por uma diversidade de objetos, esse seguimento do acervo, tinha, porém, um foco na
civilização do couro e no universo do vaqueiro do sertão e das fazendas de gado dessa região (2018,
101).
Desse modo, a museóloga afirma;
O livro de tombo registra trinta e nove peças ligadas ao vaqueiro de Feira de Santana,
quinze ligadas a montaria gaúcha, cinco malas de couro e um banco, também de couro,
provenientes de Minas Gerais, quatro peças doadas pelos Diários Associados do Rio
Grande do Norte, uma roupa de vaqueiro, doada pelos Diários Associados do Ceará e
seis peças oriundas de Pernambuco. Entre os objetos estavam; selas diversas,
indumentárias de vaqueiros de Feira de Santana, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do
Norte, malas de couro, ferros de marcar gado, alforjes, surrão, cangalhas, esporas,
ferrão, chocalhos, banco de couro, pilão e alpercatas (OLIVEIRA, 2018, p. 101).

São esses os artefatos e objetos que representavam a cultura popular brasileira e, em


específico, a cultura sertaneja. Essa era a parte do acervo que mais estava relacionado com a proposta
de criação do Museu do Vaqueiro idealizada pelo intelectual feirense, Eurico Alves Boaventura, e do
nome “Regional” que constituía o nome social do Museu, apesar de ainda ser portador de um paradoxo
com relação a origem das obras, peças e artefatos que integrava a cultura sertaneja e regional. Segundo
a museóloga Selma Soares de Oliveira, quando o empresário e jornalista Assis Chateaubriand iniciou o
seu projeto de criação de museus nas cidades do interior do país, desejava descentralizar a veiculação
das artes visuais e produções artísticas dos grandes centros urbanos do país e é desse objetivo que foi
legado o nome “Regional” ao nome social do Museu. No todo, as quatro coleções que integra o acervo
do Museu e a parte de artefatos e objetos que correspondem a cultura sertaneja, como diz a museóloga,
exerceram papel fundamental na criação de sensibilidades artísticas e na preservação de referenciais
identitárias sertanejas.

1.3 Atuação do Museu Regional de Feira de Santana

Como já foi mencionado;


O local escolhido pela Prefeitura Municipal para sede do museu foi uma
construção da primeira metade do século XX, onde funcionava a administração
dos Currais Modelo, o espaço, que era amplo, foi usado para a edificação de
vários prédios públicos. A sede da administração se transformou na Escola
Agostinho Fróis da Mota e, em seguida, no Ginásio Municipal. O edifício
situava-se na rua Geminiano Costa, 255, numa área privilegiada, pois ao seu
lado já existia, desde 1962, a moderna Biblioteca Arnold Silva (OLIVEIRA,
2018, p. 51).
Por volta da década de 1930, a matança de gado na cidade de Feira de Santana era feita em
vários lugares da cidade. No intuito de organizar e administrar melhor essa atividade de grande
importância econômica e política para o município de Feira de Santana, o prefeito Heráclito Dias
Carvalho construiu o Campo do Gado, ou seja, o espaço denominado de Currais Modelo, esse edifício
correspondeu ao local de instalação do Museu Regional de Feira de Santana. Por tanto, é nessa
localização geográfica estratégica que o Museu cumprirá com a sua função social, inicialmente.

O contexto em que se dá a atuação cultural dessa instituição acontece no plano social e


artístico desta cidade. Existiu, porém, vários acontecimentos anteriores a data da sua inauguração, que
fez que ele exercesse influência e desempenhasse o papel social tal como se deu, e o seu primado na
cidade conhecida como Portal do Sertão.

Dentre os acontecimentos, fala-se na Semana de Arte Moderna que aconteceu em 1922, na


cidade de São Paulo, esse movimento tentou atualizar a produção artística nacional com as produções
artísticas dos países europeus desenvolvidos. Mas, ao mesmo tempo, ela também tinha uma forte
tendência nacionalista;

O Modernismo, como se sabe, nasceu no início dos anos de 1920, em São


Paulo, cidade que passou a dividir com o Rio de Janeiro a liderança das
atividades intelectuais do país. A senha para a sua eclosão foi a “Semana de arte
Moderna”, realizada em fevereiro de 1922. Disseminando-se rapidamente pelo
Brasil, o Modernismo alcançou não apenas as diversas linguagens artísticas,
mas, contribuiu decisivamente para o redesenho da cultura nacional em campos
variados, entre as quais, os estudos linguísticos, históricos, sociais e
antropológicos. (DÓREA, 2012 P 124).
Somente no início da década 1960, é que a cidade de Feira de Santana começa a viver os
efeitos desse movimento que modificava totalmente a forma de produção artística pautada no
tradicionalismo e no passado como modelo para criação. Assim, a partir de 1960, Dival Pitombo criou
a AFA, ou seja, a Associação Feirense de Artes. Em 1962, foi inaugurado a Biblioteca Municipal
Arnold Silva, que foi outro acontecimento que engrandecia as possibilidades educacionais e culturais
na cidade de Feira de Santana, no acesso as novas formas de interpretação de sua própria realidade
crítica, do mundo ao seu entorno e do seu próprio mundo, através da leitura e da interpretação de
mundo dos seus intelectuais. Desse modo, antes da instalação do Museu Regional nessa cidade, o
acesso as produções artísticas não tinham um espaço específico às exposições, conferências,
lançamentos de livros, simpósios, cursos e aulas dessas afinidades, e todos os tipos de manifestações
culturais e artísticas eram realizadas no Hall da Prefeitura Municipal, ou, num espaço improvisado na
Biblioteca Arnold Silva. Nesse contexto social, o Museu Regional de Feira de Santana veio,
inicialmente, ser o espaço da cultura e das artes que faltava à cidade. Inaugurado em 1967, veio com o
objetivo de difundir conhecimento, incentivar a formação de sensibilidades artísticas e preservar os
valores identitários de Feira de Santana (2018, p. 121).

No plano administrativo e no período que vigora da sua inauguração em 26 de março de


1967 ao ano de 1995, O Museu Regional de Feira de Santana teve à frente dos trabalhos e exposições
por ele realizado, quatro diretores; Dival da Silva Pitombo foi o primeiro deles e ficou na diretoria do
Museu durante 22 anos, ou seja, de 1967 até 1989;

Com o falecimento de Pitombo, ocorrido em 1989, o museu começou a ser


administrado por Franklin Machado, convocado pela então reitora Yara Cunha
Pires. Quando o professor Josué Mello assumiu a reitoria, em 1991, substituindo
Yara Cunha, o contador Antônio Alves Barreto passou a responder pelo Museu
Regional até a sua mudança para o prédio restaurado da antiga Faculdade de
Educação (OLIVEIRA, 2018, p. 65).
Essa construção corresponde ao prédio que faz parte do complexo cultural do Centro
Universitário de Cultura e Artes (CUCA) que foi construído em 1916.

O edifício destinado ao acervo de artes visuais, na rua Conselheiro Franco, 66,


sediara, no passado, a Escola Normal e, na década de 1970, a Faculdade de
Educação. Fazia parte de um conjunto arquitetônico que, após ampla reforma —
que incluiu a construção de teatros e salas para atividades artísticas e
administrativas —, deu origem ao Centro Universitário de Cultura e Arte
(CUCA). A parte antiga desse conjunto, uma edificação de características
ecléticas bem definidas, construída em 1916, foi escolhida para receber as obras
do museu. A escolha exigiu, além da restauração, a adaptação do prédio para
sua nova finalidade. Num primeiro momento, ocorreu apenas a adequação dos
espaços expositivos. Posteriormente, a climatização e a criação de uma reserva
técnica (OLIVEIRA, 2018, p. 71).
De 1995 para a frente, e já no Centro Universitário de Cultura e Artes, a diretoria do Museu
ficou na responsabilidade de José Raimundo Rocha. Ainda no que toca as questões administrativas, a
fundação criada pela Prefeitura Municipal para administrar o museu e arcar com as suas despesas, nem
sequer chegou a funcionar. A esse respeito, afirma Oliveira;

Infelizmente, o esperado comprometimento da sociedade local com o museu e


seus projetos não chegou a ocorrer. Dival Pitombo, que naquele momento foi
nomeado diretor, só em raríssimas oportunidades contou com o apoio das
autoridades e dos empresários locais (OLIVEIRA, 2018, p. 55).
Com a falta de apoio político, falta auxílio econômico e amparo social, consequentemente.
O Museu enfrentou o descaso das autoridades públicas de Feira de Santana durante todo esse tempo.
Não podendo contar com as verbas e investimentos público, uma instituição desse tipo tende à falência,
felizmente, o caso do museu foi diferente, ele sobreviveu às dificuldades impostas pela administração
pública, graças as colaborações que dava aos artistas locais e regionais e à população em geral, abrindo
as suas portas para os artistas e as escolas, para a realização de eventos; exposições, cursos,
lançamentos de livros e outros, e também, em razão da parceria que construiu ao longo de sua relação
com a comunidade local, o valor do seu acervo e o grande conhecimento que Dival Pitombo tinha,
afinal, ele era poeta, professor e animador cultural da cidade. Desse modo, a gestão de Dival Pitombo
na diretoria foi aplaudida por uns e questionada por outros, nos 22 anos que esteve à frente dessa casa
da cultura;

[…] foi, entretanto, fundamental para a sobrevivência da instituição, que se


tornou uma referência para a cultura local. Embora contasse em raras
oportunidades com o apoio oficial, o museu era muito visitado pela população
feirense e em função da importância de seu acervo, por pessoas de várias partes
do Brasil (OLIVEIRA, 2018, 65).
E, para fins de esclarecimento e desenvolvimento da problemática levantada em torno da
atuação e desenvolvimento das atividades dessa instituição na cidade de Feira de Santana, a
transferência do seu acervo do primeiro endereço para o endereço atual, à rua Conselheiro Franco, 66,
se deu em função das dificuldades administrativas que ele vinha enfrentando para se manter, onde, o
prédio em que o museu se encontrava continuou em posse da Prefeitura Municipal, e esta, por sua vez,
não realizava as manutenções conforme o acordo que havia feito na criação do órgão para administrar a
casa; “Na década de 1990, ao avaliar tudo isso e, em particular as condições físicas da edificação que
abrigava o museu, a Universidade Estadual de Feira de Santana optou pela transferência definitiva do
acervo (OLIVEIRA, 2018, 67)”.

Falou-se até aqui, das questões burocráticas relacionadas a administração do Museu


Regional de Feira de Santana, agora será desenvolvido o modo como essa instituição influenciou os
artistas, as escolas, o povo feirense e demais visitantes das suas muitas exposições e das promoções dos
vários momentos culturais desta e nesta cidade, que essa instituição sem fins lucrativos chegou a
realizar.

Para tanto, na sua tese de doutorado, considerando a pesquisa qualitativa descritiva como
um dos métodos utilizados na elaboração do seu trabalho, a museóloga Selma Soares de Oliveira,
elaborou, através de entrevistas, uma série de depoimento e testemunhos de artistas locais relatando
como eles foram influenciados e também disseram como o museu os influenciou nas suas escolhas
profissionais. Dentre esses artistas, optou-se por desenvolver as entrevistas com; Caetano Dias, Carlo
Barbosa, César Romero, Graça Ramos, Guache Marques e Juraci Dórea, todos da cidade de Feira de
Santana. Nesse trabalho, considerou-se ainda, o relacionamento dos museus com a comunidade e os
aspectos ligados à educação em museus, tomando como fundamento a concepção da nova museologia
(2018, p. 21), onde se estabelece e entende o papel do museu na contemporaneidade para além de um
espaço que apenas deveria conservar e expor obras de artes e objetos antigos em geral. Assim, afirma a
museóloga;

A investigação abordou o papel do Museu Regional de Feira de Santana,


considerado tradicional, em um período em que ainda não eram muito
divulgadas as novas formas de atuação desse tipo de instituição junto à
população e, muito menos, as ideias renovadoras da museologia, que entre
outras coisas, passaram a orientar o papel pedagógico e social do museu. Os
parâmetros que regiam o funcionamento dos museus no passado, ou seja, ações
centradas apenas na preservação e exposição de acervos, já não atendiam aos
anseios da sociedade contemporânea, mais democrática e inclusiva
(OLIVEIRA, 2018, p. 22).
Nesse âmbito, abre-se as portas do museu para as escolas e suas entidades, a fim de que
elas possam enriquecer suas experiências estéticas. Desse modo, com relação a origem e atuação do
museu e artistas que foram por ele influenciados, afirma a museóloga; “o vínculo pode ser traduzido na
participação em exposição, no incentivo para definição de vocações ou na escolha das opções estéticas
(OLIVEIRA, 2018, p. 23)”. Quanto aos resultados de tudo isso, percebeu-se o desempenho do museu
na formação e difusão do conhecimento, através da veiculação do seu acervo, formação dos artistas
plásticos e interlocuções culturais em Feira de Santana (2018, p. 26).

Quanto a atuação artística e cultural do Museu Regional, ou seja, de como ele realmente se
mobilizou socialmente e realizou seus contatos na cidade de Feira de Santana, viu-se nesse trabalho
elaborado pela museóloga Selma Soares de Oliveira, que essa instituição museológica, no cumprimento
de sua função social, atuou à frente de três mobilizações sociais, dentro do período de sua criação ao
ano de 1995. A primeira dela, denominada Feirart LS 1, foi realizado entre os dias 13 de julho e 2 de
agosto de 1968. A mesma tinha como objetivo, fazer o mapeamento da produção artística na cidade.
Com essa finalidade, o museu chegou a colocar um número expressivo de novos nomes no cenário
artístico de Feira de Santana, reunindo 16 artistas emergentes, numa exposição liderada pelo jornalista
José Carlos Teixeira e pelo arquiteto, artista e poeta, Juraci Dórea;

[…] pretendia ser “um levantamento síntese da produção artística de


Feira de Santana.”
No catálogo, Dival Pitombo registrou seu entusiasmo com a mostra
que considerou uma “exposição de juventude –” e qual o papel do Museu
Regional naquele momento: “[o museu] está vivendo. Cumprindo a mais alta
finalidade a que se destina: aclarar o caminho da beleza para os olhos ávidos da
juventude” (OLIVEIRA, 2018, p. 139).
Certamente, esse foi um dos muitos momentos de atuação social em que o museu aparece
como protagonista da história das manifestações artísticas e culturais de Feira de Santana e isso lhe
rendia boas referências e credibilidade social junto aos poderes públicos deste lugar. Além do Feirart
LS 1, foram realizadas várias outras exposições, o que acabou fazendo que ele se transformasse num
elemento articulador das artes visuais na cidade. Essas exposições exerceram uma grande importância
para as sensibilidades e aguçamento crítico nos que se relacionavam com o museu, ou seja, artistas,
escolas, alunos e demais visitantes desta cidade, naquele período. Algumas exposições feitas de formas
individuais, e outras, de modo coletivo, enfim, cada uma tiveram a sua importância, com a sua
mensagem e os seus objetivos próprios. Desta forma, valorizando a diversidade de gostos e estilos, as
portas do museu estavam sempre abertas tanto para os artistas da cidade de Feira de Santana, quanto
para artistas de outros lugares como Salvador, por exemplo (2018, p 140);

Tal dinâmica, mesmo com as dificuldades orçamentárias que o museu sempre


enfrentou, permitiu um permanente diálogo com a comunidade. Diálogo que
estimulou, em vários sentidos a imaginação dos artistas da cidade. (OLIVEIRA,
2018, p. 140).
Em 1980, por exemplo, foi realizada a segunda mobilização, denominada de I° Salão de
Artes Plásticas do Museu Regional de Feira de Santana, foi organizado por Kátia Carvalho e Antônio
Cardoso, esse evento chegou a reunir trinta artistas de Feira de Santana e Salvador, todos com direitos a
premiação;

Dival Pitombo chegou a anunciar naquela oportunidade a formação da


“Sociedade amigos do Museu”, com o objetivo de criar uma biblioteca voltada
para as artes e uma oficina aberta para os artistas locais. A ideia, entretanto, não
avançou (OLIVEIRA, 2018, p. 140).
A realização desse objetivo não aconteceu por falta de atenção das autoridades públicas
locais, e a falta de projetos e interesse em investir na cultura artística dessa cidade, por parte da
Prefeitura Municipal em suas secretarias. Em 1984 foi realizado uma segunda edição desse evento, e
terceira mobilização social do Museu nesta cidade, esta chegou a ter 60 inscritos, porém a imprensa
local criticou nessa edição a falta de ineditismo e a superficialidade anêmica dos diversos trabalhos que
foram apresentados nesse evento. Assim, pode-se dizer que;
No campo das artes visuais, a presença do Museu Regional foi um marco para
Feira de Santana. Houve artistas que absorveram tal presença no que diz
respeito aos conteúdos de modernidade e atualização. Outros, entretanto,
valeram-se da criação de um espaço expositivo privilegiado para exibição de
suas obras, antes mostradas em lugares improvisados, como a Biblioteca Arnold
Silva ou o Hall da Prefeitura Municipal, mesmo os artistas que já tinham uma
carreira iniciada, […] (OLIVEIRA, 2018, p. 148).
Enfim, a atuação do Museu Regional de Feira de Santana dentro do período de 1967 a
1995, incluiu a problemática relacionada a que ele tivesse um endereço físico fixo, caracterizando as
questões administrativas; a ausência de um representante jurídico das peças que integrava o seu acervo;
e a definição de uma tipologia museológica com a transferência do seu acervo do seu primeiro
endereço. No tocante as questões de como ele aparece socialmente para se mesmo e para os artistas e a
população de Feira de Santana e demais regiões, o Museu foi a primeira instituição interessada na
formação da consciência artística e preservação da memória de Feira de Santana, e com isso, se tornou
casa das artes, formadora e mobilizante de seus artistas, a fim de que dessem à Feira de Santana, uma
expressão cultural para se mesma e para o Brasil e o mundo.

CAPÍTULO II

A IMPORTÂNCIA DAS ARTES PARA A FORMAÇÃO DE UMA CIDADE

2.0 Sobre as artes figurativas

Falar sobre a importância da arte para a formação de uma cidade é tentar responder quais as
contribuições que a música, a dança, a pintura, a escultura, o teatro, a literatura, o cinema, a fotografia,
as histórias em quadrinhos, os jogos eletrônicos e as artes digitais teriam para a construção da
personalidade e caráter dos seres humanos. Devido à complexidade e amplitude dialógica do tema “A
importância das artes para a formação de uma cidade”, essa problemática será desenvolvida tendo
como ponto de partida e de chegada, a cidade de Feira de Santana. O simplificação da questão resume-
se, de modo sintético e objetivo, à compreensão da arte em dois tipos imagéticos de representação, a
saber; a forma figurativa e abstrata. Estas, por sua vez, estão inclusa num conjunto maior de
representações artísticas, chamado de Artes Visuais, que, por sua vez, é representada pela pintura,
escultura, desenhos, arquitetura, artesanato, fotografia, cinema, designer, arte urbana e as últimas
formas de representações tecnológicas das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs).

Pensando na arte como uma forma de manifestação humana compreendida como uma
técnica, ou, habilidade, conforme as significações de que esse vocábulo tem suas origens, a arte é uma
possibilidade de conhecimento da realidade que existe na profundidade das emoções humanas. Em
muitas dessas possibilidades, há um apontamento para o que seja o espírito, e ela acaba sendo de uma
natureza implicativa altamente necessária à formação da personalidade humana, principalmente em
função dela ser de uma solicitude e engenhosidade no que ainda não é ciência ou, não está representado
como qualquer forma de conhecimento corporificado nos limites da razão humana como forma
figurativa ou, abstrata. Entende-se, com vista nessas afirmações, que, independente do labor artístico
compreender a prefiguração e figuração do mundo material como para aquilo que realmente existe, ou,
deverá existir, à natureza material que distingue as artes figurativas como representação somente do
que existe no mundo e do que realmente deverá existir, cumpre-se, de modo obrigatório, afirmar que
nem mesmo nesse viés, ela daria conta das formas materiais e concretas que existe no mundo. Em
outros termos, é possível que os artistas consigam representar todas as formas materiais do que existe
no mundo? No presente momento, a resposta para essa questão é “não”. E se se exercita o cogito
criativo sobre tudo isso, aparece outro, ou, outros autores dentro do mistério e vontade de
conhecimento humana de quem seja e o que são essas representações materiais no mundo, do mundo e
além dele, fora do alcance dos olhos e cognoscibilidade pelo intelecto humano através dos sentidos, ou,
do espírito.

Uma vez que se compreenda a grandeza da necessidade que os seres humanos têm de se
interpretar em suas certezas, para sondar o que seja verdadeiro ao seu respeito e a respeito do que é e há
no seu lugar, que é onde ele mora, a arte é uma obrigação do espírito humano para a sua própria
natureza comparecer ao que é verdadeiro e ainda oscila nas artes louváveis e dignas do filosofar
pensamentos, imagens e realidades. Quer se pense que o espírito seja uma realidade que dar aos corpos
humanos, unitariamente, o conhecimento de muitas coisas, ou, de todas as coisas fora do alcance dos
sentidos e muito além de tempo e lugar, que se pense, em verdade, que ele seja um esforço do
pensamento com vista na realização tanto de coisas possíveis, porém, separadas do cogito humano por
possibilidades descritíveis ou não, ou, a realização de coisas impossíveis e sobrenaturais, cujo
cumprimento das mesmas, tende a naturalizá-las, ampliando com isso, os limites da “natureza
humana”, a necessidade humana da arte pelos seres humanos, continua de modo paralelo e ininterrupto
às suas próprias verdades, cumprindo no âmago das emoções humanas, diversas procurações,
independente de gostos ou desejos. Ou seja, na íntegra, o que é o homem que ama? O que é o homem
político? O que pode ser verdadeiro nas emoções humanas? E ainda, os sentimentos teriam uma
intensidade? E, de modo mais direto, qual mistério existe no pensamento além de imagens e palavras,
que, se não aparecem em formas audíveis, é subjetivo e individual ao sujeito no maior dos sentidos? A
arte não responde a essas questões, mas, de modo compensatório e eficaz, ela causa reflexões,
meditações e respostas diversas, fazendo surgir novas perguntas e, consequentemente, novas respostas
e possibilidades de personalidades e mundos. As ciências são as que, por obrigação, devem dizer os
seus objetos e delimitar os seus campos de especificidades e realidades para desenvolverem suas
fórmulas e suas regras, no cumprimento de um fim específico. Mas, o objeto de estudo da arte não pode
ser mensurado nem representado, ainda que sobre ela imponham regras de gostos e rigorosidades
estéticas com vista em padronizar modelos de criação para atender as necessidades consumistas das
sociedades capitalistas.

Essa qualidade primorosa da arte deve muito ao seu passado, afinal, tudo o que se sabe da
Pré-História, por exemplo, encontra-se registrado no interior de muitas cavernas. Emoções, ideias e
sensações, ou seja, a forma desses primeiros habitantes do planeta se perceberem e perceberem a
natureza, ficaram representadas na primeira forma de expressão humana chamada, arte rupestre.

Segundo George Didi-Huberman (França, 1953), professor da École des Hautes Études en
Sciences Sociales de Paris, em seu livro Diante do tempo – História da arte e anacronismo das
imagens, este autor afirma que:

Sempre, diante da imagem, estamos diante do tempo. Como o pobre


iletrado da narrativa de Kafka, estamos diante da imagem como Diante
da lei: como diante do vão de uma porta aberta, ela nada nos oculta,
bastaria entrar, sua luz quase nos cega, nós a respeitamos. Sua própria
abertura – e eu não me refiro ao guardião – nos faz parar: olhá-la é
desejar, é esperar, é estar diante do tempo. Mas que tipo de tempo? De
que plasticidades e fraturas, de que ritmos e embates do tempo
poderiam se tratar nessa abertura da imagem? (DIDI-HUBERMAN,
1996, 15).
Em se tratando do tipo de realidade e da complexidade da vida dos seres humanos na Pré-
História, sabe-se muito pouco, tanto pela ausência da escrita, quanto pela singeleza nos detalhes
pictográficos que apenas narram cenas naturalistas de animais sendo capturados, ou ainda, cenas que
cooperavam, como um tipo de ritual mágico, para esse fim e outras representações arquitetônicas de
cunho utilitário e religioso, e ainda, imagens que versavam sobre a gestação da mulher, ou seja, sobre a
fertilidade.

Por ser a única forma de expressão da Pré-História, as artes rupestres revelam detalhes do
modo como viviam as primeiras comunidades, como elas foram se desenvolvendo e torna possível
teorizar a origem das primeiras cidades. Assim, ainda sobre a imagem, o professor Didi-Huberman
afirma;

Diante de uma imagem, enfim, temos que reconhecer humildemente isto: que
ela provavelmente nos sobreviverá; somos diante dela o elemento de passagem,
ela é, diante de nós, o elemento do futuro, o elemento da duração [durée]. A
imagem tem frequentemente mais memória e mais futuro que o ser [étant] que a
olha. (DIDI-HUBERMAN, 1996, 16).
O período da Pré-História na América que precede a sua descoberta pelos europeus é
denominado Pré-cabraliano. O que se sabe a respeito da existência de seres humanos na região que
atualmente corresponde a localização da cidade de Feira de Santana é que antes, esse lugar era habitado
por uma aldeia de índios chamados Paiaiás. A exemplo de outros estados brasileiros, não foram
encontrados nesse lugar, cavernas ou sítios arqueológicos que pudessem ter guardado quaisquer
resquícios ou sinais dessa comunidade.

Assim, a arte pré-cabralina poderia ter sido uma espécie de memória necessária à população
feirense. Um povo que desconhece o seu passado, vive, consequentemente, outras culturas, outras
verdades e não teria tempo para produzir no seu presente, a sua própria expressão cultural de mundo e
gente. Como adverte de modo dialogicamente clínico, o professor Didi-Huberman:

Diante dessa imagem, nosso presente pode, de repente, se ver capturado e, ao


mesmo tempo, revelado na experiência do olhar. Ainda que mais de quinze anos
tenham se passado desde essa experiência singular – no que me concerne – meu
“presente reminiscente” não terminou, parece-me de tirar disso, todas as lições.
Diante de uma imagem – por mais antiga que seja – o presente nunca cessa de
se reconfigurar, se a despossessão do olhar não tiver cedido completamente o
lugar ao hábito pretensioso do “especialista”. Diante de uma imagem – por mais
recente e contemporânea que seja – ao mesmo tempo, o passado nunca cessa de
se reconfigurar, visto que essa imagem só se torna pensável numa construção da
memória, se não for obsessão. (DIDI-HUBERMAN, 1996, 16).
Tomando esse exemplo para as artes figurativas, as que, por meio dos labores artísticos
representam a captura de uma realidade material, a formação da memória de uma cidade seria
inimaginável sem o pronunciamento dos artistas que pudessem fazer conhecido os movimentos sociais
do jeito de mundo e gente que lhes são, ou, lhes foram contemporâneos e próprios. Por tanto, o modo
como as artes testemunham a sucessão histórica dos fatos e o progresso das sociedades, ao longo dos
séculos, lhes rendem uma complexidade e referência que não caberiam nas ciências.

2.1 Sobre as artes abstratas

De acordo com o minidicionário da língua portuguesa, RUTH ROCHA, o vocábulo


abstrato encontra-se disposto desse jeito; “abstrato adj. 1 Que indica uma qualidade com exclusão do
sujeito, como bondade, maldade, etc. 2 concedido com exclusão da matéria: ciência abstrata. 3
Imaterial, impalpável.” Enfim, em nível de lugar e mundo, é como se dissesse do que não tem matéria
nem corpo físico, ou mesmo, representação. Visto que não se tenha o conhecimento da figuração
tipológica da bondade, nem da maldade, qual a importância das artes abstratas para a formação de uma
cidade? E ainda, como as artes abstratas respondem ao que não tem forma, sujeito ou, expressão?

Existem realidades no tempo que versam sobre infinitas possibilidades de conhecimento de


uma verdade universal e imutável sobre a espécie humana? Como caminhar na direção do que não
aparece e existe? Como dar conta do potencial e capacidade de conhecimento dos intelectos dos seres
humanos? Ou ainda, como ensinar ao pensamento, realidades onde a razão ainda não chegou? Fazer
que o sujeito enuncie para se mesmo; “O que é aquilo que eu não sei, nunca vi e nem conheço?” A
afirmativa lógica que pode aparecer primeiro no intelecto dos seres humanos frente a esse enigma, é o
do “inexistente”, a visão do que não existe.

O lógico é dizer e fazer o que tem sentido. É assim que o logos encontra a ordem do
mundo. E a comunidade global entende que o sentido das coisas é quase sempre decorrente das suas
práticas, ou, para o que elas servem. As coisas que não se faziam, não se produziam e nem se
conheciam antes de serem seres e ações, não tinham sentido. Logo, o sentido das coisas que existem é
procurado no campo lógico da solicitude e necessidade. Assim, os seres humanos não precisam do que
não conhecem. Um sujeito não pede a outrem o que não precisa. Isso não teria sentido. Enfim, qual a
importância das artes abstratas para a formação de uma cidade? Parece que as sociedades têm
necessidade de estagnação lógica. Como é de se esperar. O conforto que vem das certezas que surgem
da razão em exercício, é necessário para a ordem e o bem comum. No entanto, caminhar na direção do
que não aparece, necessariamente não significa procurar pelo que não exista, uma vez que se sabe que
o Universo não se resume ao planeta Terra, essa procuração tem outras implicações, outros sentidos. A
realização do movimento da comunidade global é quem precisa de regras e fixidez das mesmas para o
seu auto regimento, não o pensamento. Comunidade é ordem e cooperação mútua para o bem comum.
Pode-se presumir, parcialmente, que ainda não existem regras para o pensamento e nunca existirá
limites para o intelecto. Deste modo, como ensinar ao pensamento realidades onde a razão ainda não
chegou? Se as artes abstratas intuem, ou, possibilitam calorosas reflexões e discursos para o acesso a
essas realidades, isso é uma escolha individual ou coletiva. Não existem leis obrigando pessoas ou
sociedades a pensar e a dizer o incognoscível. As pessoas poderiam escolher dizer que o que não tem
sentido, e que, de modo nenhum lhes interessam, não lhes servem para nada. Mas, as suas faculdades
mentais lhes responderiam o quão emotiva e estéticas elas estariam sendo. Estéticas por causa da
intuição deliberada de dizer para se mesmas que somente o belo ou o feio seriam funcionais no seu
logos. Desse modo, os artistas não saberiam responder para que servem suas obras se as emoções não
lhes justificassem nas suas inspirações e labores artísticos. No entanto, se as emoções, os sentimentos e
as ideias são abstratos, como os sujeitos as presentem e sentem, o esclarecimento do mistério é uma
obrigação de ordem humana e artística.

Para tanto, se o efeito de coisas novas e inéditas forem capazes de causar nos pensamentos
e corpos, novas sensações, novas realidades e, consequentemente, novas verdades, o esforço de
responder a questão sobre a importância das artes abstratas para a formação de uma cidade cumpriu-se
de modo necessário e miraculoso.

2.2 A cidade de Feira de Santana no Brasil e no mundo

De acordo com a ideia de civilidade eurocêntrica, só é possível falar de Brasil no mundo e


na América, a partir da noção de “descoberta” das terras e do novo continente pelos europeus, por volta
do século XV e XVI. Os livros de História contam que as terras que atualmente correspondem a
localização do Brasil nesse continente, foram descobertas pelo português Pedro Álvares Cabral, porém,
os europeus encontraram habitantes nesse lugar e eles os chamaram de índios. Nos primeiros anos de
colonização dessas terras, a Coroa Portuguesa tinha uma única intensão; explorar as riquezas que
fossem encontradas nesse lugar – o pau-brasil e depois, especiarias e pedras preciosas. Somente a partir
de 1534 que o rei de Portugal decidiu povoar as terras brasileiras. Desse modo, com objetivo de
garantir a posse das terras recém-descobertas e evitar a invasão das mesmas por estrangeiros, criou-se o
Sistema de Capitanias Hereditárias, que, no Brasil, corresponderam as 15 faixas de terra que iam do
litoral ao interior dessas terras, no limite do Tratado de Tordesilhas. O rei de Portugal D. João III as
entregou a 12 donatários, como eram chamados os comerciantes e membros da pequena nobreza
portuguesa que receberam esses títulos de posseiros e administradores provisórios, através de uma
Carta de Doação e de uma Carta Foral. Com isso, a Coroa Portuguesa pretendia incentivar a vinda de
estrangeiros para o Brasil, no intuito de promover o seu povoamento e evitar ações de invasores
europeus. Apesar de não ter dado certo, as estruturas das Capitanias Hereditárias perduraram até o
século XVIII, e enquanto elas vigoraram como primeira forma de administração usada pelo Coroa
Portuguesa em sua colônia, os donatários distribuíram aos cristãos, essas faixas de terras em lotes
chamados, sesmarias. Somente os cristãos estavam aptos a receberem esses lotes de terras. É só a partir
dessa iniciativa administrativa e política que se pode vislumbrar a origem da cidade de Feira de
Santana.

Segundo Ana Maria Carvalho dos Santos Oliveira, em sua tese como requisito parcial para aquisiçao
do título de doutora em História pela Universidade de Pernanbuco, cujo título, Feira de Santana em
tempos de Modernidade - Olhares, Imagens e Práticas do Cotidiano (1950-1960).

"As primeiras histórias do município de Feira de de Santana estão associadas à


sesmaria de Tocós cujas terras foram, uma parte doada, em 1609, a Antonio
Guedes de Brito, e a outra parte abrangendo os campos de São José das
Itapororocas, Jacuipe e Água Fria, adquiridos por João Peixoto Viegas em 1653.
Antonio Guedes de Brito e João Peixoto Viegas eram criadres de gado, sendo o
primeiro um dos maiores criadores da Província da Bahia, e o segundo
desenpenhou atividades públicas, se destacando também nas atividades
econômicas e na prática de sertanista. (Ana Oliveira, 2008, p. 38)".
Nesse período, em nível de colônia, vigora o sistema de administração da Coroa Portuguesa
chamado, Governo Geral. O Governo Geral teve início em 1548 e durou até o ano de 1808, com a
vinda da Família Real para o Brasil. Não existem fontes que relatem a existência de produções
artísticas nesse período nas vilas de São José das Itapororoca, Jacuipe e Água Fria

Por volta do ano de 1705 a 1710 o casal português Ana Brandao e Domingos Barbosa
compram uma fazenda de nome, Olhos D'água, numa localização denominada, Alto da Boa Vista, que
corresponde atualmente a uma área de terra situado nas proximidades das praças monsenhor Galvão e
Padre Ovídio e proximidade da Estrada Real. Esse casal doou cem braças de terra em quadra para
construir uma Igreja em homenagem a Senhora Santana e São Domingos. Assim, em 1819, surge um
povoado ao redor dessa fazenda que ficou sendo chamada de Santana dos olhos D´água. Nesse
povoado, surge uma feira decorrente da movimentação constante de viajantes e vaqueiros que
transitavam pelas estradas das boiadas, que ligava o litoral ao interior do país. Também chamados de
tropeiros, eles transportavam especiarias, ou, levavam as boiadas de corte para vender nas cidades de
Cachoeira, Santo Amaro e Salvador. Desta forma, por ter se tornado um ponto estratégico de descanso,
à localização da fazenda Santana dos Olhos D´água também propiciou a origem de um comércio forte e
emergente que se diversificava no sortimento de mercadorias e aumentava a quantidade de pessoas,
que, a partir dessa iniciativa, decidiam permanecer no local e se estabelecerem, com base na
perspectiva que aquele comércio passava a lhes oferecer.

No ano de 1833, o governo vigente no país, já com a presença da Família Real no Brasil e o
fim do Governo Geral e instalação do Brasil Império, que é outro sistema de governo e administração,
fundam o município e a vila denominada de vila do Arraial de Feira de Sant’Ana. Esse ato fez que o
território que vai corresponder à cidade de Feira de Santana fosse desmembrado do território da cidade
de Cachoeira a qual o novo município tinha como seu centro de decisões políticas e administrativas.
Depois da criação do município e elevação da sua condição de povoado à vila, ele passa a ser
constituído pelas freguesias de São José das Itapororoca que era a sede atual da vila, Sagrado Coração
de Jesus do Perdão e Santana do Camisão, que corresponde ao atual município de Ipirá. Em 1846, cria-
se a Paróquia de Sant´Ana, e a sede do município é transferido do povoado de São José das Itapororoca
para a Vila do Arraial de Feira de Sant´Ana, por causa do seu comércio emergente e da sua influência
política, econômica e administrativa sobre os demais povoados.

As considerações históricas na elegibilidade desses acontecimentos para o desenvolvimento


da problemática sobre a importância da arte para a formação de uma cidade, inclui a citação
cronológica dos fatos que influenciaram de modo direto e indireto para a fundação e desenvolvimento
da cidade de Feira de Santana.

Assim, enquanto a situação do Brasil como colônia de Portugal perdurou, não se


desenvolveu qualquer consciência artística sobre qualquer que fosse a realidade a nível de Feira de
Santana. No entanto, esse quadro começou a mudar com a vinda da Família Real portuguesa com a sua
corte para as terras brasileiras, no ano de 1808. Mudança causada pelos desdobramentos que teve a
Revolução Francesa, na gestão do imperador francês, Napoleão Bonaparte, que desejava expandir os
limites de fronteira do seu país, invadindo ou conquistando os demais países europeus. No entanto, a
Inglaterra que já era uma potência política e econômica naquela época, resistiu e não se submeteu as
imposições de controle territorial determinada pelo imperador Napoleão Bonaparte, no seu bloqueio
continental, que impedia os demais países desse continente de comercializar com os ingleses. Como
Portugal era parceiro e aliado comercial da Inglaterra, o rei Dom João VI teve que sair às pressas para
sua colônia na América, para não perder a posse do reino português que foi entregue ao exército inglês,
que, também garantiu a segurança na viagem de toda a corte portuguesa para as terras brasileiras.
Assim, o período que a Corte portuguesa levou para se estabelecer na sua colônia ficou conhecido
como, período Joanino, que durou de 1808 a 1821. Foi nesse período que se deu os maiores
acontecimentos para o Brasil se tornar independente de sua metrópole portuguesa e se transformar num
império, e depois, em República. As mudanças mais profundas além da abertura dos portos às nações
amigas, que deu à colônia, permissão para comercializar produtos e especiarias com qualquer país,
além de Portugal e a Inglaterra, se deram nas artes, com a construção da Biblioteca Real, da Academia
Real de Belas Artes, da Imprensa Real e das escolas de medicina. Esses feitos acontecem inicialmente
na cidade de Salvador, que era a atual capital do país, e, depois de um mês e poucos dias, após
transformar o Rio de Janeiro em nova Capital do Brasil e realizar tantas outras iniciativas políticas,
econômicas e administrativas na colônia, a Corte Portuguesa se transfere para o Rio de Janeiro, onde
acelera a independência do país. Desse jeito, em 1822 o Brasil se torna independente de Portugal. A
fundação da Academia Real de Belas Artes, na cidade do Rio de Janeiro, marca o início, ou, a
principiação legal da consciência artística em níveis nacionais e internacionais no Brasil.

No entanto, é só a partir de 1824 que o país cria a sua primeira constituição e a


independência que ele conquista o transforma numa monarquia ainda anexada ao reino português.
Nesse contexto de muitas lutas, enfrentamentos e resistências nas capitais, vilas e povoados, o
município de Feira de Santana se emancipa à condição de cidade no ano de 1873 com o nome de
Cidade Comercial de Feira de Santana.

O Brasil Império foi um período da história desse país que teve início em 1822 e término
em 1889. Constituído de três momentos políticos, a saber, o Primeiro Reinado, o Período Regencial e o
Segundo Reinado, não existem relatos de produções artísticas na cidade Comercial de Feira de Santana,
desse período. Isso se deve a pouca liberdade de expressão que os brasileiros tinham, pois, a
independência da colônia não significou autonomia de consciência, vontades e gostos, e também, nesse
período os grupos estavam lutando para conquistar a liberdade que a independência vislumbrou. Uma
conquista significativa que houve nessa época foi a abolição da escravatura, em 1888, e a volta da
Família Real para Portugal. Assim, em 1889, um grupo de militares depõe o governo imperial e
estabelece um outro regime de governo, a República. A República herdou a estrutura de poder que veio
desde as Capitanias Hereditárias e foi caracterizada por cinco períodos, a República Velha, também
chamada Primeira República, Era Vargas ou, Nova República, a República Populista, Ditadura Militar
e Nova República.
O grande momento das artes no Brasil enquanto República independente, foi a Semana de
Arte Moderna que aconteceu no Teatro Municipal de São Paulo, durante o período da República Velha,
ou, Primeira República. Esse acontecimento teve o modernismo como movimento artístico que
inspirava as iniciativas. O Modernismo pregava um rompimento com o tradicionalismo e com as suas
regras de produções literárias. Ele foi utilizado pelos artistas brasileiros que se inspiravam nas
vanguardas artísticas europeias, para criar uma identidade genuinamente brasileira. Por isso, ele teve
que criticar as formas de leituras e produções artísticas que exerciam de forma hegemônica, na
mentalidade brasileira, a fixidez de um padrão eurocêntrico e acadêmico de pensar, ter, e ser
consciência artística. Enfim, pretendeu-se atualizar a consciência artística do país, desde esse
movimento ocorrido na cidade de São Paulo, às demais cidades metropolitanas do país.

Somente quarenta anos depois é que a cidade de Feira de Santana acorda para a sua
realidade artística, e, tenta reunir seus artistas. Desse modo, no início da década de 60, o intelectual
feirense Dival Pitombo, cria a Associação Feirense de Artes (AFA), com o objetivo inicialmente de
fazer aparecer a expressão artística dessa cidade, através da realização de concertos, exposições,
conferências e manifestações diversas. Essa foi a primeira iniciativa pública criada por seus
idealizadores que teve como inspiração, a Semana de Artes Moderna, para começar a produzir a sua
própria consciência artística e intelectual. Anteriormente, o que se produzia de artes em Feira de
Santana não chegava ao conhecimento da cidade e nem existiam espaços para a realização desses
objetivos. A esse respeito, a museóloga Selma Soares de Oliveira afirma;

O desenvolvimento artístico-cultural de Feira de Santana, no entanto, não


apresenta um marco preciso. Segundo Rolle Poppino (1968), as primeiras
manifestações locais estão associadas a educação e à cultura folclórica que
vinham de uma longa tradição do período colonial (OLIVEIRA, 2018, 30).
Desse modo, somente a partir de 1960, é que surge o encargo público de fazer aparecer a
importância da arte para a formação da cidade de Feira de Santana e essa missão, inicialmente ficou a
critério da Biblioteca Arnold Silva e da Prefeitura Municipal, que permitiram a realização de
exposições, concertos e conferências artísticas nos seus espaços, e, a partir de 1967 é que essa realidade
muda, com a criação do Museu Regional de Arte. Por tanto, a mentalidade e consciência estética e
artística de Feira de Santana é uma produção recente e em movimento.

2.3 Conclusão
A apresentação da origem e fundação do museu com o seu acervo e atuação na cidade de
Feira de Santana e depois, a importância da arte para a formação de uma cidade, inclui uma série de
preocupações relacionada com a visibilidade artística e cultural dessa cidade para o Brasil e o mundo,
inclui o valor e grandeza que tem o seu acervo, como uma ponte dialógica entre a cidade de Feira de
Santana e os países europeus, dentre os quais, a Inglaterra. A própria constituição do acervo do Museu
Regional de Feira de Santana é um diálogo com muitas cidades brasileiras, principalmente quando o
acervo era composto com objetos e indumentárias do vaqueiro e da vida nas fazendas de diversas
cidades do país. Mas, a mudança de endereço e da quantidade de peças que constituía o seu acervo, não
o fez ter menos importância. O museu numa cidade é o espaço de excelência das conversas e
racionalização de imagens, fatos, realidades e consciências além de ser a garantia fiel da preservação da
memória de um povo, ou, de uma civilização, em uma época determinada. Enquanto investidor e
criador de identidades, o museu numa cidadeveicula as noções estéticas de artes, gostos, gêneros e
hábitos, além de promover o movimento cultural que responde aos anseios e inquietações
contemporâneas. Sabe-se que a arte é a expressão cultural mais sublime de um povo. Assim, também a
sua importância para a formação de uma cidade existe mirando o aguçamento e acuidade espiritual nas
coisas mais sutis que fogem ao conhecimento e maturação dos sentidos. Que ela fale aos sentidos
humanos sobre aquilo que ainda não lhe é lógico, também nisso se percebe a sua importância e presteza
para a formação de uma cidade. Enfim a investigação dos seres humanos nas suas virtudes, por suas
próprias verdades, mostra-se necessária e incessante.

Somente através dos hábitos um povo se manifesta, mas, se, e somente se as ciências
responderem de modo compensatório e não satisfatório o que um povo precisa e quer ver. Logo, a
precisão de memórias é uma obrigação de ordem social e humana.

Durante o período em que o Brasil recebeu a Família Real, teve início a origem da sua
consciência artística com a fundação da Academia Real de Belas Artes, na cidade do Rio de Janeiro. A
vida e consciência artística do país esteve centralizada por causa dessas e de outras iniciativas. Por
tanto, obedeceu-se critérios econômicos, políticos e administrativos para dizer que Feira de Santana
teria uma consciência e expressão artística nos conformes do que foi a Semana de Arte Moderna.
Concluindo, mais do que antes, o Museu Regional de Feira de Santana conversa de modo hierárquico e
harmônico com as demais cidades e capitais brasileiras através do seu acervo e com os países que se
mostrarem afins e solícitos da sua grandeza, visibilidade e imponência.
2.4 Referências:

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