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Título

Caminhos investigativos:
Marisa Vorraber Costa (org.)
novos olhares na pesquisa em educação
Marisa Vorraber Costa (org.)

Revisão de provas
Silva Debetto C. Reis Caminhos investigativos:
Projeto gráfico e diagramação
Maria Gabriela Delgado novos olhares na pesquisa em educação
Capa e gerência de produção
Rodrigo Murtinho

ALFREDO VEIGA-NETO

JORGE lARROSA

MAURO GRON

ROSA MARIA BUENO FISCHER

ROSA M . HESSEL SILVEIRA

SANDRA MARA CoRAZZA


CIP-BRASIL. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

Caminhos investigativos: novos olhares na pesquisa em educação /


2. edição
Marisa Vorraber Costa (org.). - 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

14 x 21 cm; 168 p .
Inclui bibliografia
ISBN 85-7490-170-9
1. Educação. 2. Pesquisa em educação. 1. Costa, Mariza
Vorraber.
CDD 370
.------v--
e
CDU 371 c:>P&A
edite>ra.
04 Caminhos investigativos: novos olhares na pesquisa em educação

_ _ _ . A filosofia e o espelho da natureza. Lisboa: D. Quixote, 1988.


Labirintos da pesquisa, diante dos ferrolhos
1AITIMO, Gianni. As aventuras da diferença. Lisboa: Edições 70, 1980.
_ _ _ . A sociedade transparente. Lisboa: Edições 70, 1989.
_ _ _ .The end of modernity. Nihilism and hermeneutics in postmodern culture. SANDRA MARA CoRAZZA
Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 1991.

Labirinto
Não haverá nunca uma porta. Estás dentro
E o alcácer abarca o universo
E não tem nem anverso nem reverso
Nem externo muro nem secreto centro.
Não esperes que o rigor de teu caminho
Que teimosamente se bifurca em outro,
Que obstinadamente se bifurca em outro,
Tenha fim. É de ferro teu destino
Como teu juiz. Não aguardes a investida
Do touro que é um homem e cuja estranha
Forma plural dá horror à maranha
De interminável pedra entretecida.
Jorge Luis Borges

Para as/ os que fizeram da academia seu espaço de trabalho,


parece que sempre costuma chegar um tempo em que é preciso
descrever os modos como realizamos as práticas de investigação.
Este tempo não é o do relógio, nem aquele de tipo cronológico; não
advém de-nenhuma herança metafísica; I\ão é determinado por
qualquer ordenação causal; assim como não integra algum
etapiSmo evolucionista, por onde irrecorrivelmente devamos passar
para atingir um estágio de maior progresso. Ao contrário, para que
este tempo se constitua - na descontinuidade que lhe é própria-,
é preciso que necessidades específicas tenham sido criadas, tais
como nossas atividades enquanto alunas/ os dos cursos de pós-
graduação, ou aquelas da educação de educadoras/es, onde os
trabalhos passam a exigir que, além de estudar as práticas
formalizadas pela tradição de outras/ os pesquisadoras/ es, também
nos façamos responsáveis pelas práticas de pesquisa que
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1tilizamos, sejam aquelas adotadas como pontos de partida, sejam e o que vem nos movimentando para investigar deste jeito e não de
s que, a partir dessas, vimos inventando. outro. Penso que não. Para mim o difícil mesmo, como Foucault
Então, é como se nosso próprio fazer de pesquisadoras/es escreveu, é sair-se do que se é, para criar outros possíveis de ser; e
olocasse um ponto de basta, onde é necessário parar e pensar: Afinal, aqui não se trata disso porque tal dificuldade já vem sendo
orno é mesmo que venho fazendo meu movimento de pesquisa? experimentada no próprio processo de investigação.
,té para que se possa _estabelecer suas principais coordenadas; Este capítulo, portanto, é um outro modo de experimentação
esenhar suas curvas de visibilidade e de enunciação; reconhecer (não ao modo positivista) de descolagem (não ao modo
uas linhas de sedimentação e também de fraturas; reordenar os fenomenológico) dos saberes, poderes e formas de subjetivação que
ercursos e manter os cursos; direcionar as luzes em outra direção atravessam e produzem as práticas de pesquisa que venho
conservar alguns focos lá onde já estavam; em poucas palavras, realizando. Não interpreta, nem comenta, muito menos reflete ou
lapear o terreno e cartografar as linhas do trabalho nele realizado. faz uma exegese, mas experimenta - no sentido atribuído por
,ssim é que vimos emergir condições atuais 1 de nosso percurso Deleuze (1992), do nascente, do novo, do que está em vias de se
üelectual, das quais é chegada a hora de prestar contas às/aos fazer -a direção de um outro fluxo, qual seja, o de narrar, dentro de
utras/ os, que também investigam e pensam territórios teóricos, outra possibilidade discursiva, tais práticas. Por isso, o texto
ara que a interlocução se estabeleça com os materiais aproveitáveis, apresenta palavras e frases diferentes daquelas dos artigos e
também se processe sobre os resíduos a serem dejetados. relatórios costumeiros e assume os labirintos por onde já andamos
Minha hora foi feita e, ao chegar, dou-me conta de que, caso metidas/os, nós, as/os que aceitaram confrontar 2 sua produção
ueira honrá-la, este capítulo é um texto bem difícil. Já que demanda no campo da pesquisa educacional com a teorização social pós-
ue me dobre, não apenas sobre o trabalho de pesquisa, como estruturalista /pós-modernista.
tmbém sobre mim mesma. Que pense sobre tais dobras e encontre Como visualizo tais labirintos? Eles são construídos com
>rmas e forças de linguagem adequadas para descrevê-las, repartimentos polimorfos, de disposição esteticamente enredada,
e maneira tal que outras/os possam ter uma razoável visão de tortuosa, intrincada, que nunca repetem sua própria forma, sendo
~us territórios, linhas, operações, arranjos, dispositivos, que tais feitios são justamente aqueles que os tornam um lugar
::;-enciamentos, processos, redobras. Para quê? Ora, minimamente complicado e, muitas vezes, inextricável e admiravelmente
ara que, ao modo de Nietzsche, esta escrita funcione como uma emaranhado. Seus corredores estão dispostos em uma ordem
echa, que um/ a pensador/ a atira, assim como no vazio, para que tumultuosa, que depois de neles entrar é quase impossível encontrar
utro /a a recolha e possa, por sua vez, também enviar a sua, agora a saída, mesmo que desejemos. O traçado de seu desenho é formado
noutra direção. por linhas sinuosas e imprevisíveis, das quais, quando se está
Diria alguém, de dentro de outro discurso, que o difícil é ter que dentro, não se tem a mínima idéia de onde levarão, nem onde estão
stematizar, sob uma forma metódica, o que se faz, como se faz,
2
Deixo de apresentar aqui as configurações que este confronto vem produzindo,
>ignifico atual, junto com Deleuze (1990): "O atual não é o que somos, senão e remeto as/ os leitoras/ es às exemplares publicações, em língua portuguesa,
o que vamos sendo, o que chegamos a ser, quer dizer, o outro, nossa diferente organizadas por Silva (1993, 1994, 1995); Silva e Moreira (1995); Veiga-
evolução" (ibidem, p. 159).
Neto (1995).
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:eus pontos de fuga, ou mesmo aqueles de aprisionamento. Lugar a psicanálise etc. Meu paradigma de pesquisa é tal, e o método que
mde muitas vezes é preciso voltar sobre os próprios passos, para lhe corresponde é aquele outro.
~ncontrar outras possibilidades de continuar em movimento; ou
A problemática, posta pela demanda deste texto, é que nada
~ntão gritar bem alto, para que o som da própria voz seja a única a
disso se coloca. Ou seja: não é nada disso e, ao mesmo tempo, é um
azer companhia, e não se morra de solidão.
pouco isso. Mais adiante, iremos vendo o porquê deste ~parente
Considero esta disposição labiríntica uma significativa impasse, o qual, ao mesmo tempo, não se refere à posição de um
netáfora arquitetônica, que possibilita visualizar o território relativismo ensandecido e inconseqüente, a um "vale-tudo"
esultante da pororoca entre a prática da pesquisa educacional metodológico; como tampouco diz respeito às tranquetas de ferro,
rítica e as teorizações pós. É desde este lugar que, atualmente, 3 falo com que as teorias da modernidade acostumaram-se a fechar as
~penso a Educação, e é nele que realizo uma dada prática de portas e janelas investigativas, de maneira a obstaculizar e até
nvestigação acerca das palavras e das coisas pedagógicas e impossibilitar a criação de perturbadores, porém, criadores
scolares. labirintos. Ferrolhos que nos habituaram às corridas de cancha
Por andar nesses labirintos, este não é um texto prescritivo, reta, onde tanto o ponto de partida, quanto o percurso, e mesmo o
[Ue ambiciona dizer como se deve fazer pesquisa; nem disputa, ponto de chegada são, tediosamente, visíveis. 4
om outros textos sobre a mesma questão, alguma supremacia ou Justo na encruzilhada dessas dificuldades enunciativas,
statuto de verdade; sequer pretende estabelecer uma miragem realizarei um inventário de questões já consagradas pela prática
;êmea de qualquer saber absoluto, ou de alguma intuição inefável de pesquisa em geral, optando inclusive por manter, nos sub-títulos,
obre a pesquisa educacional. É apenas um texto experimental, a linguagem com que tais questões vêm sendo formuladas, embora
tm documento articulado a posteriori sobre ações já realizadas ou tente articulá-las de modo um pouco diferenciado. Para minha
m realização, cujo simples propósito é o de que se torne uma prática de pesquisa, tais questões continuam sendo problemáticas
eferência-flecha possível para outras/ os pesquisadoras/ es. norteadoras, 5 ao menos até que consiga dizê-las e pensá-las de
Se o quadro teórico, onde minha prática de pesquisa se outros modos. Assim, este capítulo trata, em sua primeira parte, do
onfigura, fosse aquele do pensamento moderno, com seus problema de pesquisa e do papel da teoria; na segunda, da escolha
espectivos ferrolhos, a dificuldade na qual venho insistindo se metodológica em suas relações com os saberes disciplinares; para,
eria em muito diminuída. Fincaria então o texto em um campo na terceira e última parte, se colocar em face de alguns ferrolhos.
~órico já estabelecido e legitimado, em uma disciplina estável, de Todas são linhas formadoras do inusitado labirinto, criado
referência com elevado estatuto de cientificidade, e diria: Faço pelo ato subversivo pós-moderno/pós-estruturalista de destrancar
esquisa educacional, na linha da Sociologia da Educação, da pesquisa seus ferrolhos, deixados de herança pela teorização
utilizo a metodologia da análise textual, ou da etnografia, ou
lesmo do survey, ou a análise fenomênica, de conteúdo, a semiótica, 4
Penso que, justo em função de tais ferrolhos, a pesquisa em Educação seja
rizomática, a desconstrução, o método dialético, clínico, tão repetitiva, em seus movimentos, análises e ditos resultados.
5
Se é que algum labirinto, por sua própria forma, apresenta possibilidades de
Vide nota 1. possuir algum norte, e não lhe seja própria a condição de alguém por ele
andar desnorteada/ o.
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Labirintos da pesquisa, diante dos ferrolhos 111

moderna. Similar ao labirinto de Borges, que inaugura este capítulo, por muitas linhas, inscrevendo questões de ordens as mais diversas,
não possui nunca uma porta, nem externo muro, anverso ou ouvidas de alunas/ os e colegas, e também formuladas por mim.
reverso, nem secreto centro, ou fim. Nem mesmo uma fera à nossa Mas, como não sei responder a todas elas,6 paro por aqui, indicando
espera.
algumas coordenadas que funcionam para posicionar minha
prática de investigação.
De problemas e teorias Em primeiro lugar, falo de sentimentos. Para além das
Coragem, companheira/ o. Não dá para desejar que o mundo exigências cartoriais, penso que toda e qualquer pesquisa nasce
te seja leve, pois inventaste de ser intelectual. Se quere~ concluir precisamente da insatisfação com o já-sabido. 7 Pode parecer pouca
tua graduação, ingressar num curso de pós-graduação, ser coisa, uma banalidade, algo de menos-valia, atribuir a um
aprovado no concurso e depois no estágio probatório do sentimento o mote para que se investigue, mas não é. Simplesmente,
departamento, obter financiamento dos órgãos de apoio e fomento porque se alguém está satisfeita/ o com o que está dado, com as
à pesquisa, permanecer trabalhando na universidade, mesmo formas como avalia, julga, categoriza, pensa determinado aspecto
depois de aposentada/ o, ser pesquisador sênior, conseguir uma da realidade, vai passar tanto trabalho para investigar o quê e para
bolsa no exterior, ter aprovado e apresentar o trabalho no congresso quê? Além disso, para alguém sentir e aceitar que está insatisfeita/
da associação nacional do ano que vem etc., é preciso propor um o é necessário que, em outra esfera que não a dos dados ditos
problema de pesquisa. O final desta frase, tomada diabólica, serve empíricos, sua experiência de pensamento engaje-se na criação de
para arrepiar a espinha de muita gente. Exigência, à primeira vista, uma nova política das verdades, colocando em funcionamento outra
:artorial, sim, mas será só isso que arrepia? máquina de pensar, de significar, de analisar, de desejar, de atribuir
O arrepiante pode ser tentar encontrar respostas para perguntas e produzir sentidos, de interrogar em que sentidos há sentidos.
:orno estas: Existem os problemas de pesquisa (ou, se se quiser, Somente nessa condição de insatisfação com as significações e
)S objetos de pesquisa)? Onde estão? Eles surgem, aparecem, verdades vigentes é que ousamos tomá-las pelo avesso, e nelas
;e delineiam, se esclarecem? De onde são retirados: da realidade, investigar e destacar outras redes de significações. Mas, o que pode
:ia prática, de nossas operações formais-abstratas, do exercício de levar a este estado? Ora, motivos os mais diversos: para alguém
:i.ossa razão? O que e como se faz para selecionar um problema (mais moderna/o), a causa política, uma utopia social abrangente,
ie pesquisa? O que significa, para as/ os pesquisadoras/ es, a busca do consenso dialógico, o estado de total bem-estar, um
=ormular e descrever um problema de pesquisa? Que estratégias de ideal de justiça, de fraternidade, de igualdade,; para outras/ os
;obrevivência estão aí implicadas? E também que linhas, que (deherança,modemas/os,masnemtanto),asmicromultiplicidades
iobraduras, que artes de nosso vivível? O que é preciso distinguir
~transpor? Que relações tem o problema de pesquisa conosco? 6
Mesmo porque algumas perguntas, de meu ponto de vista, estão "mal
:)ual é o grau de paixão que se necessita ter com o problema, para formuladas", isto é: na maneira como foram conjugadas, não são possíveis
iue aceitemos ficar, por um longo tempo, estudando e pensando de serem trabalhadas, de dentro dos labirintos de pesquisa pós-
;obre ele? Para que aceitemos expor nossas produções, assumindo estruturalistas/pós-modemos.
7
ambém os riscos de suas/nossas fragilidades? Poderia ficar, Acompanhando Mezan (1993, p. 87), quando se refere à pesquisa em
psicanálise.
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culturais; as micropolíticas do desejo; as microfísicas do poder; as aventa dora de teoria, deve também envolver a nós, pesquisadoras
formações moleculares de subjetivação; o poder da verdade e pesquisadores, em suas redes. Que os movimentos da investigação
hegemônica; um determinado estado de paixão; 8 espaços vazios a que negam as confortáveis totalidades teóricas, onde repousam os
conhecer e enunciar; uma grande curiosidade por distender o já-sabidos, também neguem e desmantelem nossas mais belas
elástico dos significantes e dos significados e ver onde outros crenças, princípios e práticas estabelecidas. Que a dúvida não seja
:;entidos podem fazer sua morada, mesmo que provisória. de ordem intelectual apenas (mesmo porque acredito que isto
Toda insatisfação que convoca à pesquisa costuma ser dolorosa, seja impossível), mas apanhe, para desmantelar, nossas mais
:;im, mas apenas o segundo conjunto de motivos coloca, de cheio, queridas adesões, sólidas hipóteses e consolidadas práticas teóricas
J/a pesquisador/a em xeque. Por quê? Porque aí ele/a não tem e pedagógicas. Por isto é que significamos as insatisfações que nos
:orno ficar à margem, assepticamente instalado/a numa espécie acometem como uma grande ferida narcísica, em que as
:ie UTI refrigerada, de onde ajuda a salvar os/as outros/as e a perplexidades e impasses também prendem nossos si-mesmos/ as
;ociedade, enquanto seus próprios dizeres e fazeres ficam isentos por inteiro. E aí, muitas vezes, não sabemos, por algum tempo,
:ie qualquer grande risco de contágio, de qualquer grave suspeição, o que dizer, o que afirmar, como agir.
á que o terreno onde atua é - estrategicamente - idôneo. Vale um exemplo, ocorrido na prática de investigação: já há
Não me interessa, com essas inscrições, repetir o fatigante dois anos, pesquisamos, eu e um grupo de alunas-bolsistas, o discurso
~squema classificatório canônico da pesquisa educacional e dar a pedagógico produzido nos e pelos Pareceres Descritivos, escritos
!ntender que nossos motivos e ousadias é que são, verdadeiramente, por professoras de duas escolas (uma pública e outra privada),
egítimosdesdequeseopõem,emestadopuro,aosdos/as"outros/as''.9 para alunas/ os de 1ªa4ü série (CoRAZZA, 1995b). Ora, ao ressignificar
'IJ"ão me esforço por transmitir um provecto e abominável binarismo, tal discurso - em termos de suas operações de poder-saber, das
~m que contraponha nossa insatisfação às de uma outra posição, exclusões que perpetra, dos modos como subjetiva as crianças-
>ara justamente exaltar as penas, aflições e mágoas que temos de escolares etc. -, as três bolsistas, também professoras das séries
uportar e, diante das quais, as dos/as outros/as nada ou pouco iniciais, entraram em crise, quando chegou o momento de, em suas
'alem. Não quero desmerecer - porque não me autorizo para tal - escolas, voltarem a escrever os pareceres de seus/ suas alunos/ as .
.s posições modernas de investigação e se, às vezes, parece que o Diziam-se imobilizadas, sem saber o que registrar, pois aquilo
:i.ço, tal sentido deve ser atribuído exclusivamente ao fragor das mesmo que analisávamos era o que vinham escrevendo e
:iéias e às exigências da argumentação. queixavam-se de não ter outra linguagem para descrever as
O que venho dizendo, sem maniqueísmo algum, é que uma crianças.
:i.satisfação com o já-sabido, para ser positivamente criadora e Pensamos juntas que era mesmo assim, ou seja, que naquele
momento faltava ainda uma outra linguagem que estava para ser
Estado de paixão, como definido por Foucault: "( ... )há momentos fortes e constituída. Que aquele era um momento de silêncio, provocado
momentos fracos, momentos em que isso é levado à incandescência, em que
por novos sentidos que a investigação atribuía a uma prática, até
ísso flutua, é uma espécie de instante instável que se prolonga por razões
obscuras, talvez por inércia" (apud Deleuze, 1992, p. 107). então tida como indiscutivelmente progressista, emancipatória e
:::orno naquela propaganda de um televisor: "Nossos japoneses são melhores democrática. Pensamos sobre os labirintos onde andávamos
que os dos outros". caminhando e concluímos que aquela, talvez, fosse a mais
Labirintos da pesquisa, diante dos ferrolhos 1 15
114 Caminhos investigativos: novos olhares na pesquisa em educação

importante lição de nossa pesquisa; que seria preciso tornar a enunciado-, desde as práticas teóricas que o tomam problemático,
escrever coisas sobre as crianças com a linguagem antiga, mesmo que o criam enquanto problema.
que esta tivesse perdido os sentidos anteriormente dados; Numa investigação, tal como a que realizamos, de inspiração
suportando, estoicamente, os buracos feitos na prática teórica e pós-estruturalista/pós-modernista, as questões feitas àquilo que
pedagógica, para neles aprender a produzir, outra e mais outra chamamos de realidade são constituídas pela(s) perspectiva(s)
vez, as insatisfações com os novos já-sabidos que a pesquisa teórica(s) de onde olhamos e pensamos esta mesma realidade. Por
implicava, e a enunciar novas linguagens que falassem disto. isto, realidade não é uma coisa - uma situação, uma condição, um
Assim, prosseguir em tal movimento que é infinito. estado - que possa ser vista, analisada, investigada "no que
Mais academicamente, tratemos agora de duas figuras realmente é"; nem existem enunciados que sejam mais adequados
clássicas, quais sejam, o "problema de pesquisa" e o "papel da à esta coisa, ou que a representem de forma mais conveniente, mais
teoria". Afirmar que o problema existe em si mesmo seria dizer pertinente. Assim, não é possível encontrar a verdade na/ da
uma bobagem tão trivial que não valeria a pena ser dita. Falar que realidade, ou a realidade verdadeira; bem como, não existe afalsa
os problemas a serem pesquisados estão lá, na realidade do campo realidade, vista e falada de determinado ângulo enganoso. Por
da Educação, à espera que se os investigue, seria também uma exemplo, não há, como querem algumas/alguns, "a realidade
grande tolice. Insensato seria escrever que os problemas da prática educacional brasileira", mas tantas realidades, quantas sejam
pedagógica são tantos, que é suficiente ir para a escola ou começar aquelas que podemos 11 enunciar, conhecer, pensar, discutir,
a dar aula para que, logo, logo, se tenha uma penca deles para disputar sobre se chamamos aquilo de realidade educacional
estudar, já que eles nos saltam aos olhos. brasileira, ou não; tantas realidades educacionais brasileiras,
quantas as que temos condições históricas - e linguageiras -para
O que valeria ser dito acerca do problema de pesquisa? O avesso
descrever.
do que foi escrito no parágrafo acima. E mais, que os problemas
não existem, porque não existe uma realidade-referente, onde ir Atentemos para um objeto discursivo menor, porém,
buscá-los. O que há são teorias-linguagens, que fornecem imprescindível para a Pedagogia: a criança. Há nela uma realidade
coordenadas para o percurso, permitem que se tenha alguma idéia intrínseca? Minha descrição de tal criança, como professora-mulher,
dos rumos a tomar: assim como funciona a estrela polar para o é a mesma de um professor-homem? Um empresário e um político
navegante, mas que não é o lugar onde ele quer chegar. 10 Ou seja, de carreira vêem e descrevem a mesma criança que eu? Um teólogo
o problema (o tal objeto) de pesquisa da prática educacional e e um contrabandista de órgãos a identificam da mesma maneira?
pedagógica só é constituído como problema - configurado, Uma historiadora das mentalidades e uma publicitária encontram-
delineado, esclarecido, produzido, iluminado, feito visível e se diante de um mesmo ser? Um cafetão e uma mãe-de-santo? Um
trabalhador sem-terra e um yuppie? Um grupo da droga e uma
10
igreja universal do reino do deus? Uma rede midiática global e
Conforme imagem de Mezan (1993, p. 58) para a situação analítica:"( ... )
a teoria funciona como a estrela polar para o navegante: fornece coordenadas outra, mais regional? Um norte-americano e uma fundamentalista?
para o percurso, permite alguma idéia do rumo a tomar, mas não é o alvo Uma psicanalista de crianças e um neurolingüista? Uma farm1ia
que se quer atingir; Colombo não queria chegar à Ursa Menor, mas às Índias
11
-e, como muitas vezes acontece na análise, chegou à América". E a coisa toda é da ordem do poder, mesmo.
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moradora das ruas e uma família que viaja com suas crianças para estabelecido, com base na boa vontade e no espírito fraterno do
a Disneyworld? O presidente da república, uma primeira-dama gênero humano, e sim formações históricas. Formações que
solidária e uma professora da Vila Jardim? Tanto para uns/ umas, constituem coordenadas sociais, culturais e de subjetivação -
quanto para outros/ as, não há referente que sustente a coincidência produzidas em condições históricas determinadas, dentro de certos
de suas descrições e, muito menos, que uma descrição seja mais regimes, relações e lutas de poder, saber, verdade-, que atendem a
verdadeira do que a outra. A não ser o referente de que aquela necessidades práticas e a propósitos pragmáticos específicos,
criatura ainda não cresceu (e, mesmo assim, para a Idade Média, levando-nos a chamar as crianças de crianças. 13 Da mesma forma,
isto não fazia a menor diferença). podemos operar para pensar os ditos problemas da realidade
Podemos dizer de uma criança que ela é o futuro da nação; educacional ou da prática pedagógica, tais como: a evasão e o
votos à vista; mão-de-obra barata, ou mais um/ a desempregado/ fracasso escolar; o trabalho docente; a disciplina; a exclusão; a
a; um ser em formação para a cidadania plena; fígado, rins e córneas repetência; o analfabetismo; a gestão democrática; a escola cidadã;
em ótimas condições; alma a ser salva e engrossar o apostolado; a conscientização; a emancipação; o construtivismo; os exames
carne nova na praça; um aviãozinho, em quem se pode confiar; nacionais; os parâmetros curriculares etc. Produzidas por
um/ a consumidor/ a, não mais em potencial, mas real; um inocente, mecanismos e estratégias de poder-saber-verdade, são essas
abençoado de são Cosme e são Damião; um estado infantil, onde o coordenadas sociais, culturais e de subjetivação aquelas
sujeito do inconsciente se estrutura; alguém a quem é preciso dedicar agenciadoras que possibilitam que, por exemplo, se fale, numa
um ano, pois está na hora de acordar e de aprender, pra crescer reunião, sobre exclusão escolar e "a gente se entenda", e ache que
etc. 12 Porém, de qualquer modo, acabamos todos/as falando da estamos todos/ as a falar de uma mesma coisa.
criança. O que faz com que uma criança, mesmo sendo descrita de Não é que não existam crianças excluídas das escolas, o que não
maneiras as mais diversas, e às vezes antagônicas, seja chamada há é o fato (seja este chamado de fato político, físico, sociológico,
de criança? Temos como saber qual é a "verdadeira natureza" desta antropológico) da exclusão em si. Se para estas crianças excluídas,
criança? E se, no próximo milênio, subtrairmos às crianças, que seus grupos sociais e para nós, educadoras/ es críticas/ os, tal exclusão
hoje são classificadas de crianças, a denominação de crianças e as é sentida e vivida com sofrimento e como uma situação injusta, para
classificarmos de outra maneira? Teremos todos/ as errado em um banqueiro, por exemplo, os sentimentos e considerações acerca do
chamá-las assim? A Razão ocidental terá se equivocado, por tantos fato da exclusão de crianças brasileiras da escola, poderão ser outros.
séculos? Um grupo social poderá avaliar tal fato como inerente à sua condição
Não existe uma "realidade intrínseca da criança", que seja mais de miséria e dizer que era/ é mesmo inevitável; enquanto um outro
verdadeira do que outra, tampouco um consenso lingüístico grupo poderá tomar este fato como positivo, afirmando preferir que
suas crianças não fiquem na escola e aprendam outras lições, em
outros espaços culturais. E assim por diante.
12
Da forma similar àquela como J. F. Costa pensa as descrições de uma pedra:
"Posso ver numa 'pedra' realidades diferentes se sou físico; geólogo; alpinista;
13
pedreiro; decorador; arqueólogo; poeta (Drummond, João Cabral, Gertrude E olhe que esta forma lingüística vem mudando rapidamente, haja vista uma
Stein); religioso(" atire a primeira pedra"); manifestante político em combate série de contemporâneas práticas culturais, como a educação para o mercado
com a polícia, ou filósofo" (1995, p. 93-98). de globalização, a prostituição e o trabalho chamados ainda "infantis".
118 Caminhos investigativos: novos olhares na pesq uisa em e d ucação Labirintos da pesquisa. diante dos ferrolhos 119

Embora produzindo diferentes descrições acerca do fato da Por aqui, o problema de pesquisa não é descoberto, mas
exclusão escolar, todas/ os nós, que exercemos as práticas engendrado. Ele nasce desses atos de rebeldia e insubmissão, das
lingüísticas da sociedade ocidental, estaremos falando de dentro pequenas revoltas com o instituído e aceito, do desassossego em
de um mesmo regime de verdade, de um mesmo hábito face das verdades tramadas, e onde nos tramaram. Mas, como é
classificatório, de uma mesma política de verdade, e por isso nos que se faz isso? Como é que nos tomamos fortes para explodir as
entenderemos{?) sobre a exclusão escolar. Porque, historicamente, formas como lemos, compreendemos, pensamos? Ao modo do
em especial a partir do Iluminismo, foram constituídas as trabalho foucaultiano, desfocando os olhos das coisas vistas e
coordenadas - sociais, culturais e de subjetivação - que elevando-os até as visibilidades de uma época; 15 bem como,
estabeleceram o princípio da obrigatoriedade da educação escolar deslocando-nos da moradia confortável das palavras e das frases,
e do direito de todas/ os à escolarização, de maneira tal que uma para chegar aos enunciados. 16 O que funciona é exercitar a suspeição
criança somente seja concebida em referência a este dispositivo sobre a própria formação histórica que nos constituiu e constitui, e
cultural. Por isto, não temos critério para pensar, coisa para interrogá-la sobre se tudo o que dizemos é tudo o que pode ser dito,
pesquisar, fato para analisar em si, desde que a exclusão escolar bem como, se aquilo que vemos é tudo o que se pode ver.
não existe independentemente de tais práticas histórico - Os instrumentos para a constituição de um problema de
lingüísticas ocidentais. pesquisa - com os quais montamos as estratégias e táticas dessa
Para mim, constituir um problema de pesquisa é começar a guerrilha de suspeição - não podem ser outros que os das
suspeitar de todo e qualquer sentido consensual, de toda e qualquer teorizações que já foram produzidas. Por isto, a nosso modo e com
concepção partilhada, com os quais estamos habituadas/os; nossos limites, temos o dever de nos apropriar - pela via do estudo
indagar se aquele elemento do mundo - da realidade, das coisas, - dos territórios teóricos e com eles estabelecer interlocuções, ao
das práticas, do real - é assim tão natural nas significações que lhe mesmo tempo em que vamos reelaborando as teorias. Tais
são próprias; duvidar dos sentidos cristalizados, dos significados movimentos implicam pôr os conceitos a funcionar, estabelecendo
que são transcendentais e que possuem estatuto de verdade (seja ligações possíveis entre eles, encaixando aqueles que têm serventia
esta verdade científica, mágica, artística, filosófica, psicanalítica, para o problema (que começa a ser configurado), e nos desfazendo
religiosa, biológica, política etc.); recear a eternidade, o determinismo, daqueles que são inúteis.
a ordem, a estabilidade, a segurança, a solidez, o rigor, o universal, Às vezes, demora um pouco para que essas operações de
o apaziguado. Em suma, criar um problema de pesquisa é virar a pensamento se organizem em uma rede que faça algum sentido,
própria mesa, 14 rachando os conceitos e fazendo ranger as em um arsenal de ferramentas que seja fértil, em uma cadeia de
articulações das teorias.

" . . . a vi~ibilidade de uma época é o regime de luz, e as cintilações, os


15

14 Digo deste modo, pois foi assim mesmo que vivenciei, a partir das reflexos, os clarões que se produzem no contato da luz com as coisas"
(DELEUZE, 1992, P· 120).
perspectivas pós-estruturalistas, are-problematização do construtivismo
16
pedagógico, de cujo significado transcendental no campo da Educação "E o enunciável numa época é o regime da linguagem, e as variações inerentes
havia sido, por bom tempo, uma ativa e entusiástica produtora (CoRAZZA, pelas quais ele não cessa de passar, saltando de um sistema homogêneo a
1995a). outro (a lfu.gua está sempre em desequilibrio)" (ibidem, p . 120-1).
120 Caminhos investigativos: novos olhares na pesquisa em educação Labirintos da pesquisa. diante dos ferrolhos 121

ligações que não seja mais tão díspar. É preciso paciência, não O processo ~etodológico é o de alquimia mesmo, resultando
importa que demore, pois, necessitamos nos deixar impregnar pelas daí, uma bricolagem diferenciada, estratégica e subvertedora das
associações e reflexões promovidas pela leitura de um livro ou de misturas homogêneas típicas da modernidade. Alquimia que
um/ a autor/ a, até que estas repercutam em nosso pensamento e rompe com as orientações metodológicas formalizadas na e pela
prática de pesquisa, levando-nos a criar o problema, a problematizar academia (particularmente, nos cursos de pós-graduação), cuja
o que não era tido como problemático, ou a reproblematizar, com direção costuma ser a das abordagens classificatórias, tão ao gosto
outro olhar, o já problematizado. Mas, o trabalho ainda não está de certas publicações sobre pesquisa educacional, em que cada
terminado porque, depois de termos problematizado o objeto de método vem apresentado em estado puro. Descrito, em seus ·
pesquisa, ele precisa ser como que limpo de todas as teorizações elementos constitutivos (tais como problema, metodologia,
que o forjaram, para que novas teorizações - que são agora de instrumentos, análise dos dados), por oposição aos de outros
nossa responsabilidade - resultem de seu manejo. É então que métodos, de maneira que fique bem claro que se pesquisa-ou se
saltamos das pontes. deve pesquisar - assim ou assado. Isto por acreditar que existe
uma "natureza de pesquisa" que seja positivista, fenomenológica,
clínica, psicanalítica, dialética, filosófica, participativa, ou seja lá
De disciplinas e metodologias
o que for; e também que nós próprias/ os somos constituídas/ os
Os labirintos pós só podem ser formados por antidisciplinas, (natural, existencial, política ou ideologicamente) por esta ou aquela
contradisciplinas, pós-disciplinas, desde que o conhecimento pós- essência.
moderno não é mais disciplinar, e sim temático - onde os temas
Incorporando as contribuições dos Estudos Culturais, penso
funcionam como galerias, por onde transitam os saberes. Bem ao
que nós, as/ os que se aventuram pelos atuais labirintos, não é que
modo como os Estudos Culturais 17 descrevem a(s) metodologia(s}
queiramos fazer e ser diferentes pelo prazer, muitas vezes
plurais de trabalho com as quais vêm operando, em que não há
exageradamente onipotente, de nos desidentificar daqueles e.
referência a nenhuma base disciplinar estável, desde que se
daquelas que, para nós, fazem e são demasiadamente iguais. Uma ·
aproveitam quaisquer campos discursivos que forem necessários
das questões que está colocada, pelas condições históricas de
para produzir o conhecimento exigido por um projeto particular
possibilidade dos tempos de agora, é que não podemos mais ficar
de investigação. Este aproveitar não possui qualquer sentido espi.írio,
trabalhando apenas com um método único, privilegiado por uma
escusamente utilitarista, pois a significação que se lhe dá é aquela
única disciplina; nem mesmo com um aglomerado de métodos,
de tratar os conhecimentos como ferramentas que, colocados na
reunidos sob a forma de um compensado disciplinar-sejam quais
caixa de teorias das últimas décadas (como o marxismo, os estudos ·
forem estes métodos 18 -, já que o ferramental teórico da teorização
feministas, a psicanálise, a filosofia contemporânea, o pós-
social contemporânea é, sem dúvida, mestiço. Intelectualmente, não
estruturalismo, pós-modernismo etc.) estão disponíveis para quem
podemos .mais ignorar, em nome do rigor metodológico excludente
souber e puder usá-los.

18
17 Mesmo que a eles seja atribuído o estatuto de "métodos pós-modernos ou
Na excelente introdução aos Estudos Culturais feita por Nelson, Treichíere
pós-estruturalistas", tal como a arqueologia, a genealogia, a desconstrução,
Grossberg (1995), em uma das mais valiosas contribuições deste campo à
a análise de discurso etc.
prática teórica da pesquisa educacional.
122 Caminhos investigativos: novos olhares na pesquisa em educação Labirintos da pesquisa, diante dos ferrolhos 123

da moderrúdade, que dispomos de métodos múltiplos - com os como "pragmática, estratégica e auto-reflexiva" (ibidem, p. 9),
quais precisamos entabular negociações complexas, é verdade - a qual fica na dependência das questões formuladas; enquanto
que aí estão, por terem sido produzidos e atribuídos de legitimidade, estas questões dependem de seus contextos materiais específicos
não sem luta e muitas exclusões. e são, necessariamente, conectadas a "problemas sociais e
É evidente que tal operação, chamada de escolha metodológica, políticos reais" (ibidem, p. 18), tais como os de subjetividade,
fica muito mais complicada deste modo e por isto também é que política, gênero e desejo.
os/as pesquisadores/as (ao menos, os/as mais atentos/as) - Para prosseguir o trabalho de emergência das teorizações pós-
solitários/ as ou com seus grupos-, encontram-se hoje trabalhando es tru turalis tas e pós-modernistas, no campo da pesquisa
dentro de labirintos. Pois, se de um lado, possuem uma variada e educacional, considero importante problematizar tais indicações
desarrumada caixa de ferramentas, por outro, já sabem (ou já tiveram e indagar, por exemplo: O que são "contextos materiais
tempo de sobra para aprender) o quanto de sufocante e improdutivo específicos", e "problemas sociais e políticos reais"? Significam
pode ser um depósito, onde cada tipo de ferramenta é arranjada em a mesma coisa para diferentes e antagônicas comunidades
sua respectiva prateleira etiquetada. lingüísticas? O que, realmente, é "real", se toda realidade é
Porém, já que a pergunta é recorrente, insistamos em perguntar: relacional ou sob descrição, variável conforme os tantos mundos
Nesses labirintos de pesquisa "pós", é possível encontrar algum possíveis? Quais" contextos" são aqueles que merecem que sejam
critério de escolha, que autorize alguém a optar por tal ou qual formuladas "importantes" questões, em detrimento da
procedimento, ou, se se quiser, por tal ou qual método, ou desimportância de outros contextos e de outras questões? Há uma
metodologia? intrinsicalidade no fato do gênero ou da raça consistir em um
"problema social" ou "um problema político"? Onde está a
A resposta é: não. Por parte dos Estudos Culturais, encontramos
verdadeira realidade de um problema?
suficientemente explicitada a condição de que nenhuma
metodologia é "a sua"; assim como nenhuma pode ser privilegiada Ou seja, nos critérios (continuemos a escrever assim)
e empregada com garantias sobre como responder às questões 19 de apresentados pelos Estudos Culturais, é possível visualizar ainda
dados contextos (e, também por isso, nenhuma metodologia pode referentes modernos que, por essência ou natureza, apresentariam
ser descartada antecipadamente); da mesma maneira como algo de transcendental, mesmo que social e politicamente engajado.
nenhuma traz a confiança de se obterem boas respostas. Por isso, afasto-me um pouco dessa formulação, para argumentar
um tanto diferentemente na direção da resposta negativa à questão
Ao assumir tal modo de investigar-ambíguo e desconfortável-,
de critérios para se fazer uma escolha metodológica. Primeiramente,
é visível que os Estudos Culturais efetuam importantes rupturas
nos estudos das teorizações pós-estruturalistas (ao menos, naqueles
nos cânones da pesquisa acadêmica. Porém, Nelson, Treichler e
que venho realizando), não encontro nenhum critério que autorize
Grossberg (1995) afirmam que a escolha metodológica caracteriza-se
alguém a selecionar esta ou aquela metodologia de pesquisa. Justo
19
Questões que se referem, sempre neste caso, ao exame de práticas culturais, porque que não é por tal ou qual método que se opta, e sim por uma
do ponto de vista de seu envolvimento com e no interior de relações de prática de pesquisa que nos "toma", no sentido de ser para nós
poder, em que tais relações são examinadas nas mútuas determinações e significativa.
inter-relações das formas culturais e das forças históricas.
124 Caminhos investigativos: novos olhares na pesquisa em educação Labirintos da pesquisa, diante dos ferrolhos 125

E como nos toma? Ora (e é aí que estamos a pleno no labirinto dizer, continuaremos a entender, classificar, pensar e dizer da
"pós"), cada prática de pesquisa é uma linguagem, um discurso, 11
coisa" que investigamos as mesmas coisas, já que a coisa vai
uma prática discursiva, que sempre está assinalada pela formação responder, na mesma língua, às perguntas que lhe forem dirigidas.
histórica em que foi constituída. Formação histórica esta que marca Talvez, por isso, nossas práticas de pesquisa costumem apenas
o lugar discursivo de onde saímos; de onde falamos e pensamos; confirmar, em seus caminhos e conclusões, a justeza de que
também de onde somos faladas/os e pensadas/as; de onde pensemos e sejamos de tal modo e não de outro.
descrevemos e classificamos a(s) realidade(s). Como aquilo que Não há saídas? Somos impotentes diante das trancas de ferro?
nos cerca e nos constitui, que para nós desenha a coisa" a ser
/1

Não temos condições de criar linhas de fuga? Penso que as


investigada, e também, como diz Deleuze (1992, p. 131), "aquilo metodologias, os métodos formalizados pelos saberes disciplinares
com o que estamos em vias de romper para encontrar novas relações funcionam sim, mas como pontes. Construções históricas e
que nos expressem". culturais que, ao mesmo tempo, ligam dois pontos separados, mas
Uma prática de pesquisa é um modo de pensar, sentir, desejar, também nos lembram que estão aí para tamponar as falhas de um
amar, odiar; uma forma de interrogar, de suscitar acontecimentos, caminho. Lugares por onde passamos (contentes de que estejam
de exercitar a capacidade de resistência e de submissão ao controle; lá), onde discutimos, confabulamos, e não podemos desprezar
uma maneira de fazer amigas/ os e cultivar inimigas/ os; de merecer nunca porque, caso não queiramos seguir o caminho traçado do
ter tal vontade de verdade e não outra(s); de nos enfrentar com qual fazem parte, é ainda deles que pulamos.
aqueles procedimentos de saber e com tais mecanismos de poder; A questão é: pulamos para onde? Para o abismo, para o
de estarmos inseridas/ os em particulares processos de subjetivação buraco, para o desconhecido. Entre uma linguagem e outra (isto
e individuação. Portanto, uma prática de pesquisa é implicada em é, entre uma prática de pesquisa e outra; ou se se quiser, entre
nossa própria vida. A escolha" de uma prática de pesquisa, entre
/1

uma metodologia e outra) existem pontos de silêncio, vazios de


outras, diz respeito ao modo como fomos e estamos subjetivadas/ linguagem, vácuos de ângulos classificatórios, pontos de vista
os, como entramos no jogo de saberes e como nos relacionamos não perspectivados, enunciados ainda a serem articulados.
com o poder. Por isso, não escolhemos, de um arsenal de métodos, É neste lugar silencioso que reside o diferente, que espera aquilo
aquele que melhor nos atende, mas somos "escolhidas/ os" (e esta que não se repete, que mora o que não é costumeiro, que responde
expressão tem, na maioria das vezes, um sabor amargo) pelo que o que se recusa a ser escutado ecolalicamente. Só aqui é possível
foi historicamente possível de ser enunciado; que para nós adquiriu produzir abalos; provocar mudanças no que somos capazes de
sentidos; e que também nos significou, nos subjetivou, nos ver e de dizer; dar alegres cambalhotas; radicalizar nossas
(as)sujeitou. relações com o poder e o saber; partir as linhas; mudar de
Sesomosescolhidas/os(querdizer,apanhadas/os,enredadas/os, orientação; desenhar novas paisagens; promover outras
induzidas/os, atravessadas/os, suscitadas/os e também fulgurações. Enfim, artistar, inventando novos estilos de vida e,
aferrolhadas/os) por uma determinada prática de pesquisa - portanto, de práticas.
porque uma prática de pesquisa é uma linguagem -, e se somos Apenas uma pluralidade de linguagens pode ser capaz de
subjetivadas/ os, como um efeito da mesma linguagem e do mesmo apreender esse silêncio que, no trabalho de investigação, é o que
126 Caminhos investigativos: novos olhares na pesquisa em educação Labirintos da pesquisa, diante dos ferrolhos 127

pode nos fazer diferentes dos modos como fomos subjetivados/ nem se joga no mesmo abismo, nem tem os mesmos sufocos, nem a
as. Só aqui, podemos modificar nossas relações com o poder e o mesma vida.
saber, as forças que atuam com outras forças e contra nós Considero exemplares as práticas investigativas dos Estudos
mesmas/ os, bem como nossa vontade de verdade. A bifurcação, Culturais, as quais, de um lado, criadoramente subvertem a ordem
que permite tal acesso, somente pode passar pela transgressão e as relações de forças instituídas nas ações de pesquisa em
metodológica. Transgressão constituída pelo que entendo Educação e, de outro, fornecem importantes conhecimentos,
possível chamar de uma pluralidade imedótica 20 de práticas de apresentados como uma forma de luta cultural e de poder, que
pesquisa, constituída pelas práticas já existentes, mas acrescida permitem redizer a transformação social e a mudança cultural.21
daquelas que pudermos e necessitamos criar, se e quando Porém, penso que temos condições de ir além de sua bricolagem
saltarmos das pontes. metodológica. Ir além significa pensar que é possível permitir que a
Consideremos uma das pontes já construídas, por exemplo, pluralidade imedótica das práticas investigativas nos atravesse
a genealogia (ou, como querem alguns, o "método genealógico"), como pesquisadoras/ es, que fazem de seu trabalho e de si mesmas/
tal como a forma de trabalhar de Foucault, em Vigiar e punir. os uma obra de arte, no sentido de Foucault e também de Nietzsche,
Precisamos estudar seu modo de pesquisar; as estratégias de ou seja: como a criação de outros modos de existência, como a
pensamento que utilizou para fazer uma história genealógica das invenção de novas possibilidades de vida.
prisões; ler os livros e artigos escritos sobre sua prática e sua obra; Então, se uma prática de pesquisa está implicada por nossa
quem sabe, resenhar as dissertações e teses que aplicam tal método. própria vida, uma outra só será possível caso o/ a pesquisador/ a
Agora, quando formos saltar fora desta ponte, para realizar nosso empenhe-se em fazer sua existência de outro modo, a mudar suas
trabalho de pesquisa, o vazio que nos espera é bem diferente daquele relações precedentes com o saber e o poder, a perder a verdade de
enfrentado por Foucault. Porque serão outros/ as, aqueles/ as que sua própria formação identitária para que o si-mesmo/ a seja refeito.
pulam; terão outras linguagens e outras teorias; ver-se-ão Ou seja, a coisa toda da prática de pesquisa é da ordem da criação
confrontados/ as com outras verdades; executarão outras práticas; - ética e estética-, nunca da conversão, muito menos da aderência
viverão outras experiências etc. Enfim, serão diferentes, mesmo que pegajosa a qualquer mestria.
esta diferença já esteja contemplada na mesmice do humanismo
O que importa não é apenas 22 que as ferramentas pós-
moderno, ou integre a mesma secular política de verdade ocidental.
disciplinares forneçam, estrategicamente, outras práticas de
Quero dizer que ninguém é Foucault, nem pula da mesma ponte,
pensamento, de análise e de crítica, que nos permitam criar
diferentes platôs, de onde se perspective diferentemente o que
20 dizemos, fazemos, agenciamos, acreditamos, idealizamos. Porém,
No sentido de modos de falar e de pensar, em que não há método
estabelecido, constituindo-se enquanto irnédoticos, ou seja: modos que não
num esforço ainda maior, que também por nossas práticas de
são metódicos, comedidos, discretos, circunspectos. Maneiras de fazer investigação nos constituamos implicadas/ os em diferenciados
pesquisa, nas quais não existe apenas uma maneira racional de coordenar
idéias, de ordenar fatos, de regularizar, classificar, dispor, tratar, alcançar 21
Vide os trabalhos publicados por Silva (1995).
um fim determinado. O antagônico a um caminho adotado para a consecução 22
E olhe que não é pouco, dadas as condições de possibilidades do campo,
de um fim (do grego méthodos).
hoje.
128 Caminhos investigativos: novos olhares na pesquisa em educação
Labirintos da pesquisa, diante dos fer.-olhos 129

processos culturais de subjetivação e individuação, 23 por termos


porque acredito que tudo aquilo enunciado em uma conjugação
tido a coragem de indagar: Como foi mesmo que, historicamente,
utópica, no registro de um fim, acaba sempre dando no pior. Também
chegamos a pensar e a ser tal como pensamos e somos? Tanto em
porque não me utilizo da "moral do cura", qual seja, aquela
umas, quanto em outras práticas, acredito que o movimento
despojada de qualquer ética, onde se promete o que já se sabe que
recorrente, a nos guiar, é aquele do qual fala Deleuze (1992): "Não
não poderá ser cumprido. Além disso, considero extremamente
cabe temer ou esperar, mas buscar novas armas" (ibidem, p. 220).
produtivo que as pessoas possam entender e sentir coisas
Por mais que isso seja perigoso.
diferentes, pois um texto não é, por sua própria condição,
multíssono, dado a escutas que são sempre polissêmicas?
Ainda em face de alguns ferrolhos
Ao mesmo tempo, estaria sendo hipócrita se afirmasse que
Poderia dizer alguém, que me seguiu até aqui: Mas, afinal, fico totalmente tranqüila diante do descontentamento, presente
o que isto apresenta de novo, de diferente, de tão pós? Li todo texto em tal objeção imaginária, pois é visível que minhas articulações
e continuo sem saber como organizar um problema de pesquisa, tinham um propósito explicitado, qual seja, o de que suas
com quais instrumentos farei a coleta de dados, que metodologia contribuições pudessem ser aproveitadas por outros
usarei, quais são os paradigmas teóricos que poderei utilizar. pesquisadores e pesquisadoras. Mas, pensando melhor,
Eu responderia: Não prometi nada disto; não fiz nenhuma encontrar-se descontente ou insatisfeito/ a, depois de ter lido
antecipação de esclarecer quaisquer dúvidas deste teor; não apontei um texto, não é também um jeito de aproveitá-lo? A investigação
alguma finalidade transcendente ao texto, que permitisse esperar não nasce, como eu mesma escrevi, da insatisfação com o já-
um ideal, uma causa final, uma ilusão vital, nenhuma perfeição; sabido? E tal descontentamento não pode constituir, ele próprio,
em resumo, não pendurei nenhuma" cenoura à frente do burro"; 24 uma outra flecha que a/o descontente lança, agora em outra
direção?
23
Um dos poucos exemplos assumidos dessa operação (ao menos que conheço) O texto nada mais significou do que um simples inventário,
é o trabalho de Marisa V. Costa (1995), onqe ela retoma, de forma crítica, em nome próprio, de coordenadas que funcionam para
sua trajetória de pesquisa, chegando a escrever: " (... ) lanço 'um outro olhar',
o olhar possível da pesquisadora em que me transformei ao longo de quatro estabelecer algumas posições em meu trabalho de investigação.
anos de envolvimento com o trabalho investigativo" (ibidem, p.110). Para assim operar, busquei afiar bem as palavras, para nelas
24
Metáfora que traz a lembrança da seguinte cena: um burro transportando não transigir, a fim de também não transigir nos conceitos, como
cargas mais pesadas do que seu peso, indo atrás de uma cenoura, que o Lacan ensinava. E foi só. Se este esforço pareceu insuficiente,
dono pendurara numa vara, mantida esticada sobre sua cabeça, e que o
é pegar o lápis (ou o teclado) e se fazer cargo de suas próprias
infeliz animal não conseguia alcançar; ao menos, até fazer todo carregamento
e, mesmo assim, se o dono resolvesse, em sua vontade de poder, dar-lhe a coordenadas de pesquisa, para que não permaneçamos como
cenoura ao final da jornada; para, no dia s~guinte, continuar detrás de arquipélagos que, embora bem instalados, não se comunicam
outra, e assim recorrentemente, até sua morte (do burro ou do dono). uns com os outros.
O trapo "cenoura-utopia" funciona, aqui, como representante de algo
oferecido/prometido, que está sempre lá, mais adiante, numa espécie de Aí, quem sabe, poderemos ir fortalecendo uma prática de
Jerusalém Celeste, de uma sociedade ideal, de um Paraíso Perdido a ser investigação que, aparentada à ourivesaria, não estabelece nada a
recuperado, ou seja, em lugar algum.
priori de seu próprio trabalho de prática; não constrói um modelo
130 Caminhos investigativos: novos olhares na pesquisa em educação
Lab irintos da pesquisa , diante dos ferrolhos 131

totalitário de racionalidade; não teme as incertezas dos espaços SILVA, Tomaz T. da (org.) Teoria educacional crítica em tempos pós-modernos.
vazios; não receia ficar sem ter o que dizer; não adere, imediata e Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
solidamente, às suas hipóteses; enfim, não expulsa os modos de ____ . (org.) O sujeito da educação: estudos foucaultianos. Petrópolis: Vozes, ,
nossos processos de subjetivação. 1994.
____ . (org.) Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturai.s
Mas, assume a criação investigativa, dita científica, como
em educação. Petrópolis: Vozes, 1995.
próxima da criação literária e artística; e, ao rachar, fissurar e fraturar SILVA, T. T.; MOREIRA, A F. B. (orgs.) Territórios contestados: o currículo eos novos
os ferrolhos da modernidade, faz, com paixão, também da prática mapas culturais. Petrópolis: Vozes, 1995.
de investigar uma nova arte de viver. Se não conseguirmos isto por VEIGA-NETO, Alfredo (org.) Crítica pós-estruturalista e Educação. Porto Alegre: ·
enquanto, parece que, ao menos, sempre restará a possibilidade de Sulina, 1995.
se atirar alguma flecha, lá de dentro dos labirintos.

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