Você está na página 1de 550

EDIÇÃO 20 - VOL.

l MAIO DE 2019

O TRABALHO DOCENTE
E A PRÁTICA PEDAGÓGICA

A importância da
Bullying no e
Preconceito AAtecnologia
áfrica e oscomo
desdobramentos
uma O processo de Para gostararte
de ler:
no Ensino
discriminação
ambiente escolar metodologia
artísticos na ativa
educação
de brasileira
aprendizagem: dislexia
Literatura fantástica ea I
Fundamental
racial ensino
uma forma de resistência Saga de Harry Potter
p. 615
P. 390 P. p.
327409 P. 178 p. 1049
P. 383
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Educar FCE / Faculdade Campos Elíseos


Edição 20, n. 01 (Maio, 2019), SP
Volume n.01 (Maio, 2019)
Mensal
__________________________________________________
1.Práticas Pedagógicas ; 2. Professor; 3. Instrumento
4. Métodos; 5. Trabalho Docente.

CDD 370

Os Conceitos emitidos nesta revista são de inteira responsabilidade dos


autores.
É proibida a reprodução total desta obra sem prévia autorização dos
autores.

2 3
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

EDITORIAL
REFLEXÕES SOBRE A CIÊNCIA E OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
"Em algum lugar, alguma coisa incrível está esperando para ser descoberta" CONSELHO EDITORIAL
Márcia Donizete Leite Oliveira
(Carl Sagan). Cláudia R. Esteves
O espírito científico não reconhece fronteiras. Não admite limitação em seu campo Ivan César Rocha Pereira
de investigação. Defende o livre exame dos problemas. Respeita a verdade. É imparcial. Paulo Malvestio Mantovan
Rodrigo Leite da Silva
O pesquisador comprometido com o verdadeiro espírito científico cultiva a honestidade.
Maria Virgínia F. P. Couto Rosa
Evita o plágio. Não colhe como seu o que outros plantaram. Tem horror às acomodações. É
corajoso para enfrentar os obstáculos e os perigos que uma pesquisa possa oferecer. Todo EDITOR-CHEFE
Márcia Donizete Leite Oliveira
pesquisador consciente deve saber como selecionar e utilizar adequadamente as técnicas
CDD 370 científicas para que os resultados obtidos sejam realmente fidedignos. Portanto, a escolha REVISÃO E NORMALIZAÇÃO
do método, dos procedimentos e das técnicas adequadas é o ponto crucial para o desen- DE TEXTOS
volvimento da pesquisa e a validação dos resultados da pesquisa. A validade é a capaci- Márcia Donizete Leite Oliveira
Rodrigo Leite da Silva
dade do Instrumento em medir de fato o que se propõe e existem algumas técnicas para
Bibliotecário Responsável: essa verificação como: validação de conteúdo, validação aparente e análise semântica. A PROGRAMAÇÃO VISUAL E
Edilson Gonçalves de Oliveira confiabilidade está relacionada com a consistência dos resultados obtidos quando o objeto DIAGRAMAÇÃO
Márcia Donizete Leite Oliveira
CRB-8/8972. é avaliado, medido e/ou quantificado mais do que uma vez. Todavia, é possível considerar
que o método é o importante protagonista nos avanços do conhecimento das diferentes PROJETO GRÁFICO
E-mail: revista@fce.edu.br disciplinas (ou ciência). Sem isso, ainda estaríamos lidando com as crenças e dogmas. A Eliana Duarte de Souza
Elizandra Pires
biblioteca@fce. edu. br ciência permite conhecer os fenômenos e questioná-los, possibilita o acréscimo de conhe-
Jadny Gabriele da Silva Lopes
cimentos sobre aqueles já adquiridos e possibilita que a humanidade caminhe em um cres-
Os conceitos emitidos nesta revista são de inteira cente de conhecimentos sobre as coisas [...] O conhecimento científico nos permite agir
responsabilidade dos autores. com segurança e precisão, nos ajuda a evitar riscos. É neste ponto que, inicialmente, de- COPYRIGTH
É proibida a reprodução total, ou mesmo parcial, vemos nos focar para dar início às atividades de orientação científica de nossos discentes Revista Educar FCE
desta obra sem prévia autorização dos autores. [...]. Assim sendo, esta é uma das preocupações latentes dos docentes responsáveis pela ISSN 2447-7931
Faculdade Campos Elíseos
Orientação Metodológica dos alunos da Faculdade Campos Elíseos – FCE. Nosso discente
(MAIO, 2019) - SP
é conduzido a fazer pesquisas de forma responsável, contextualizada e bem orientada. O
intuito é conduzir o nosso aluno a ter ciência de que com a seleção do método de forma
adequada conhecem-se e sistematizam-se os objetos ou fenômenos, pois ele possibilita a
Publicação Mensal e
ampliação do conhecimento científico e, também, abre caminhos para a ciência questionar multidisciplinar vinculada
seus próprios achados e refutar conhecimentos já adquiridos [...]. Nesta edição da Revis- à Faculdade Campos Elíseos.
ta Educar FCE, assim como nas demais já lançadas, pode-se constar a responsabilidade
Os artigos assinados são de
dos alunos na seleção no método, dos processos metodológicos e da linha de pesquisa responsabilidade exclusiva
selecionada conforme o objeto e a questão a ser estudada. Os resultados das pesquisas dos autores e não expressam,
necessariamente, a opinião do
são, portanto, promissores, fidedignos e satisfatórios comprovando que a honestidade do
Conselho Editorial.
Educar FCE-(CDD 370) - Edição 20- Número 1 - Maio de 2019 cientista está relacionada, unicamente, com a verdade dos fatos que investiga.
É permitida a reprodução total
ou parcial dos artigos desta
Profa. Ma. Maria Virginia de Figueiredo Pereira do Couto Rosa.
revista, desde que citada a fonte.
Procuradora Institucional do Grupo Voltaire Educacional - Faculdade Campos Elíseos – FCE.

Mestre em Ciências e Práticas Educativas; Especialista em Língua Portuguesa e Linguística; Gradu-

ada em Letras – Português/Francês (Licenciatura Plena) - UNESP; Graduada em Pedagogia (Licenci-

atura Plena) - UNIFRAN; Graduada em Comunicação Visual – UNIFRAN.


4 5
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

SUMÁRIO A-E E-M


12 A ARTE NA EDUCAÇÃO 134 DOCUMENTAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 260 O BRINCAR E SUA IMPORTÂNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 374 A LITERATURA NAS PRÁTICAS ESCOLARES DA
ADELIA VERDICCHIO PINHO ANDREIA LOURENÇO ALVES DINAIR DE ASSIS ANTUNES EDUCAÇÃO INFANTIL
JANAÍNA LUZIA DOS SANTOS

O PROFESSOR E AS NOVAS TECNOLOGIAS NA


18 EDUCAÇÃO 145 OS DESAFIOS DE UMA GESTÃO ESCOLAR 268 A RELAÇÃO INTRÍNSECA ENTRE BRINQUEDOS E BRINCADEIRA NO 383 A PRÁTICA DOCENTE EM GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO
ADRIANO VIGATTO DE SOUZA ANA PAULA BRITO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM INFANTIL INFANTIL - ENFOQUE DO LETRAMENTO EM CARTOGRAFIA AO
DJANICE LOPES DE OLIVEIRA MOURA RECONHECIMENTO DO ESPAÇO VIVIDO PELA CRIANÇA
JENNIFER CARVALHO FOSTER

26 REVISITANDO O FRACASSO ESCOLAR: UMA VISÃO 154 A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA 278 DISORTOGRAFIA: UMA REFLEXÃO PARA O EDUCADOR 390 BULLYING NO AMBIENTE ESCOLAR
GERAL DE SEUS AGENTES EDUCAÇÃO INFANTIL ELIZETE C. BENTO JORGE DOS SANTOS ALMEIDA GONÇALVES
ADRILENE BRAGA TIBA BRUNA MAZERINO

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: AÇÕES, CONCEPÇÕES


36 INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELEC- 169 E PRÁTICAS 288 DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM NO PROCESSO DE 401 OS CONTOS E A REALIDADE DA CRIANÇA
TUAL ALFABETIZAÇÃO JOSEANE LEMES MACHADO
CARLA SIMONE VICENTE TAVARES DE OLIVEIRA
ALDAIR CALCANHO DE OLIVEIRA ÉRIKA CRISTINA DE MATOS CARNAÍBA

DIREITO À EDUCAÇÃO NUM ENSINO A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO


45 MULTICULTURAL 178 O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DISLEXIA 296 OS ESTUDOS EM NEUROCIÊNCIA E A SUA
CONTRIBUIÇÃO PARA AS PRÁTICAS EDUCACIONAIS E 412 COTIDIANO ESCOLAR
CAROLINE DIAS APRENDIZAGEM
ALEXANDRA FERREIRA RAMOS PRADO JUSSIARA RIOS DA SILVA SANDES FIGUEIREDO
EVANDRO FABRÍCIO AMÉRICO DE CAMPOS
AS ARTES VISUAIS E SUA INFLUÊNCIA NA EDU-
56 CAÇÃO
ANA BEATRIZ BEZERRA DIAS
185 INTEGRAR E INCLUIR, UM DESAFIO PARA A ESCOLA E ED- 304 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA DE IMAGENS NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
423 O PAPEL DAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO
UCADORES KAREN FERNANDES OREFICE HERRERA
CÍNTIA APARECIDA RICOMINE SILVA FERNANDA RODRIGUES AURELIANO
PSICOMOTRICIDADE E EDUCAÇÃO: INSTÂNCIAS
QUE FORNECEM ELEMENTOS BÁSICOS PARA O
62 DESENVOLVIMENTO 194 DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM E ADAPTAÇÕES CUR- 317 LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A LEITURA E A 432 A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
KATIA DE OLIVEIRA ALVES
RICULARES ESCRITA
ANA CRISTINA DA SILVA SACRAMENTO FERNANDA SAMPAIO GOMES
CÍNTIA DIAS DE SOUZA

OS DESAFIOS NO PROCESSO DA TRANSIÇÃO DA EDU- RELAÇÕES ENTRE A EDUCAÇÃO E A FAMÍLIA: AS


70 CAÇÃO INFANTIL PARA O ENSINO FUNDAMENTAL 202 AS BRINCADEIRAS E AS CONCEPÇÕES TEÓRICAS SOBRE A IN- 327 A TECNOLOGIA COMO UMA METODOLOGIA ATIVA DE
ENSINO
443 CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DO
PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DA CRIANÇA
ANA MARIA RODRIGUES MARTIM FÂNCIA FLAVIA CRISTINA PEREIRA FIGUEIREDO KÁTIA MEDEIROS DA SILVA
CÍNTIA FERNANDES DA SILVA DE FRANÇA

A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: JOGOS, BRIN-


82 QUEDOS E BRINCADEIRAS 210 ARTES VISUAIS COMO MEIO DE DESENVOLVIMENTO NA EDU- 336 DEFICIÊNCIA VISUAL 453 OS VALORES DA BELEZA ÉTNICA RACIAL
CAÇÃO INCLUSIVA GABRIELLE CILLI DE SOUSA MANOEL KASSIA MATIAS SANTOS SOARES
ANDRÉIA DE LIMA BIASI
DANIELA DE CARVALHO PERELLI

OS DESAFIOS DIÁRIOS DE QUEM POSSUI DEFICIÊNCIA


92 INTELECTUAL E A INCLUSÃO NA REDE PÚBLICA DE ENSINO 220 LIBRAS NO CURSO SUPERIOR DE PEDAGOGIA 341 A INTERVENÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NAS DIFICUL-
DADES DE APRENDIZAGEM DOS ALUNOS
461 EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
ANA CÉLIA SERAFIM SANTOS DIANA SANTOS JERÔNIMO ALESSANDRA PIRES
GILVANEIDE MOURATO DA CRUZ SOUZA

106 A SÍNDROME DE DOWN 233 A CONTRIBUIÇÃO DOS SABERES PEDAGÓGICOS PARA A 348 A IMPOTÂNCIA DO AFETO NO DESENVOLVIMENTO DE 470 O ENSINO DE HISTÓRIA DURANTE O PERÍODO DE
DITADURA MILITAR NO BRASIL
ADRIANE LUZIA MARTUCCI LIBERATTI DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS
LEILA ISABELITA PEREIRA FERREIRA DE OLIVEIRA
CLEONE ROBERTA DE SOUZA HOSANA SIQUEIRA DE OLIVEIRA

113 MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 240 A ALFABETIZAÇÃO E O CONTO DE FADAS 357 A IMPORTÂNCIA DA ARTE NO ENSINO FUNDAMENTAL I 480 PRÁTICAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS DIFERENTES
ALINE MORGANA APARECIDA OLMEDILHA SABINO DANIELA DE LIMA SOLLA HOZANETE DO NASCIMENTO NUNES MAGALHÃES CONTEXTOS DE APRENDIZAGEM
LELIANE APARECIDA DOS SANTOS E SILVA

122 PARALISIA CEREBRAL: ETIOLOGIA, INCIDÊNCIA E 248 ACOMBATE


IMPORTÂNCIA DA ESCOLA EM RELAÇÃO À PREVENÇÃO E 365 DOCUMENTAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO 488 RESPONSABILIDADE CIVIL DAS INSTITUIÇÕES DE
ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
DISTÚRBIOS ASSOCIADOS AO BULLYING INFANTIL: A VISIBILIDADE DAS APRENDIZAGENS DOS
DIEGO DANIEL MASCARENHAS MARTINS LILIAN JERONIMO PADERES
ADRIANA APARECIDA VASCONCELOS RIBEIRO BEBÊS E CRIANÇAS PEQUENAS
INALDA MARIA DE LIMA CORDEIRO

6 7
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

M-V M-V
498 A CONTRIBUIÇÃO DO ESPORTE PARA A SAÚDE E O BEM ESTAR 608 RELAÇÕES MOTIVADORAS NA APRENDIZAGEM DOS 634 O PAPEL DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL 759 A INCLUSÃO SOCIAL DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NA
LISLEY TUCCI DA SILVA ALUNOS MARIA DE FÁTIMA GONÇALVES DE OLIVEIRA ESCOLA
MÁRCIA BORAGINA NEIVA MATOS SANCHES

506 EDUCAÇÃO, ESCOLA E O ATENDIMENTO À DIVERSIDADE 620 A INCLUSÃO NAS SÉRIES INICIAIS 642 A ESCOLA PÚBLICA DE ONTEM E A REALIDADE ATUAL 770 ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E APRENDIZAGEM NA
LUCIANA DONATO OLIVEIRA MARIA APARECIDA RAIMUNDO MARIA IZABEL DA SILVA EDUCAÇÃO INFANTIL
NEUSA MARIA TAVARES

513 A LUDICIDADE COMO RECURSO DIDÁTICO - PEDAGÓGICO NAS 608 RELAÇÕES MOTIVADORAS NA APRENDIZAGEM DOS
ALUNOS
658 A FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 778 CONSTRUÇÃO DA LINGUAGEM ORAL E ESCRITA NA EDU-
AULAS DE LÍNGUA INGLESA NOS ANOS INICIAIS
UNIVERSITÁRIO NOS CURSOS DE PSICOLOGIA CAÇÃO INFANTIL
LUCIANA DONEGATTI DE LIMA MÁRCIA BORAGINA NILZA LOPIS NUNES
MARIANA ROSA PALUDETTO DE ANDRADE

526 SUSTENTABILIDADE UM DESAFIO PARA A ESCOLA 620 A INCLUSÃO NAS SÉRIES INICIAIS 664 ESTRESSE NO AMBIENTE ESCOLAR 789 INCLUSÃO DA CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN NA
LUCIANA ESTEVES DE FARIA MARIA APARECIDA RAIMUNDO MARILDA PEREIRA DA SILVA DE LEÓN ALVEZ ESCOLA REGULAR
PATRICIA AMARAL CARVALHO CAVERSAN

534 QUAL A IMPORTÂNCIA DO ESTÍMULO DA ARTE NOS


ANOS INICIAIS DA EDUCAÇÃO?
627 A CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE LETRAMENTO 673 A CULTURA ÉTNICA RACIAL NA ESCOLA 797 A MEDITAÇÃO COMO NOSSA ALIADA PARA O BEM
ESTAR
MARIA CÉLIA LUCAS DE OLIVEIRA MARTA GOMES DE LIMA
LUCIANA RODRIGUES DA COSTA PATRÍCIA ANGÉLICA FERREIRA

540 CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E 608 RELAÇÕES MOTIVADORAS NA APRENDIZAGEM DOS
ALUNOS
682 LUDICIDADE NA CRECHE 803 A IMPORTÂNCIA DO MOVIMENTO CORPORAL E DA
SÉRIES INICIAIS NO ENSINO FUNDAMENTAL MICHELLE PATRÍCIA THEODORO GUSSON DANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
LUCIANA XAVIER DE PAULA SANTOS MÁRCIA BORAGINA FABIANA RIBEIRO COSTA

550 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL 620 A INCLUSÃO NAS SÉRIES INICIAIS 693 ASPECTOS RELEVANTES SOBRE O PERFIL DO ALUNO
DEFICIENTE
812 UM COMBATE À VIOLÊNCIA
LUCIMARA BATISTA SIRIGATTI MARIA APARECIDA RAIMUNDO PATRÍCIA RODRIGUES SILVA
MIRLENE MICHELE DA SILVA ROMÃO

557 QUALIDADE DA EDUCAÇÃO PÚBLICA NA ATUALIDADE 627 A CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE LETRAMENTO 702 O BRINCAR E SUA AÇÃO PREVISTA COMO DIREITO 820 RECORTES ACERCA DA HISTORICIDADE DA EDUCAÇÃO
LÚCIO RODOLFO ROSA MARIA CÉLIA LUCAS DE OLIVEIRA MÔNICA MEDEIROS MOREIRA SCARPA DE SURDOS
TATIANA APARECIDA DE LIMA

565 A ARTE E A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 634 O PAPEL DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL 708 A EVASÃO NOS CURSOS DE ENSINO SUPERIOR A
DISTÂNCIA: MOTIVOS E ESTRATÉGIAS PARA SUPERA-LA
829 PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
MARA REGINA SIQUEIRA DOS SANTOS MARIA DE FÁTIMA GONÇALVES DE OLIVEIRA CRISTINA GARCIA XIMENES
NOEMIA ALVES DOS SANTOS
O EDUCADOR E A CONSTRUÇÃO DA PERSONALIDADE DO ALUNO
575 PROBLEMA: o enfoque psicanalítico na definição de padrões individu-
A ESCOLA PÚBLICA DE ONTEM E A REALIDADE ATUAL A LDB E A IMPORTÂNCIA DAS NOVAS TECNOLOGIAS
alizados de ensino
MARCIA JORDÃO MARTINS 642 MARIA IZABEL DA SILVA 716 EM EAD DENTRO DAS SALAS DE AULA NO ENSINO 835 A AVALIAÇÃO E A SOCIEDADE
SUPERIOR VANESSA FERREIRA VASCONCELOS
VALDINÊS ROSA DE SOUZA
588 HISTÓRIA DA ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL 608 RELAÇÕES MOTIVADORAS NA APRENDIZAGEM DOS
MARCIA PEREIRA DE ANDRADE DO CARMO ALUNOS 727 AS PRÁTICAS DE LEITURA NO CONTEXTO DO
LETRAMENTO 843 RECORTES ACERCA DA HISTORICIDADE DA EDUCAÇÃO
MÁRCIA BORAGINA
VIVIANE DOS SANTOS CACCIATORE DE SURDOS
TATIANA APARECIDA DE LIMA
598 A IMPORTÂNCIA E O TRABALHO DO PROFESSOR 620 A INCLUSÃO NAS SÉRIES INICIAIS
ALFABETIZADOR MARIA APARECIDA RAIMUNDO 736 UMA REFLEXÃO SOBRE A LITERATURA NA EDUCAÇÃO
853 OS ESTUDOS EM PSICOPEDAGOGIA E A SUA CON-
MARIA MARGARIDA DE ASSUNÇÃO DE MORAES SALGADO INFANTIL TRIBUIÇÃO PARA O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZA-
NANCI APARECIDA DA TRINDADE CAMPOS GEM
ANDRÉA RODRIGUES MARIN DE SOUZA

608 RELAÇÕES MOTIVADORAS NA APRENDIZAGEM DOS 627 A CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE LETRAMENTO 746 LITERATURA NA ESCOLA: O LIVRO BRINQUEDO 861 A INCLUSÃO NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E
ALUNOS MARIA CÉLIA LUCAS DE OLIVEIRA EVELIN PEREIRA MONTAGNIN SOCIAIS
MÁRCIA BORAGINA PAULA ANDREA DE AVILA PINHEIRO

620 A INCLUSÃO NAS SÉRIES INICIAIS 652 AS CONTRIBUIÇÕES DAS BRINCADEIRAS NA


ALFABETIZAÇÃO
752 A LEITURA COMO EXERCÍCIO DE CIDADANIA 871 O CURRÍCULO NO ENSINO DE JOVENS E ADULTOS (EJA)
MARIA APARECIDA RAIMUNDO NATANI SANTIAGO MARCELINO INOVAR PARA INCLUIR
MARIA MADALENA GOMES TAGLIARI BODA
ROSEMEIRE URIOS
8 9
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

M-V
877 TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATEÇÃO E HIPERATIVIDADE
RENATA FONSECA RODRIGUES
errata referente à edição 17 - fevereiro/2019:
885 O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL Na págiNa do sumário de n. 06, quaNto ao artigo da página 739, "As práticas pedagógicas na
ANDREIA DE PAULA SILVA ROCHA DOS SANTOS Educação Infantil e o processo de ensino e aprendizagem: brincadeiras, leitura e tecnologia",
da autora: LuciaNa cavaLcaNti, Lê-se corretameNte: "luciana cabrera cavalcanti".

892 O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL


PAULA LETÍCIA DE OLIVEIRA FLORIANO

errata referente à edição 18 -março/2018:


900 MATERIAIS NÃO ESTRUTURADOS E O BRINCAR
Na págiNa do sumário de n. 10, referente ao artigo da pagina 1267, Lê-se corretameNte No títuLo
VALDIRENE BRITO TEIXEIRA CESAR

" o uso do coNto Na educação iNfaNtiL e o desenvolvimen-to


907 AS RESISTÊNCIAS NEGRAS: da LíNgua", da autora Kátia medeiros da siLva (taNto No
sumário quaNdo No próprio artigo).
DOS QUILOMBOS ÀS MULHERES ESCRAVAS
PRISCILA ALMEIDA SILVA

ERRATA REFERENTE À EDIÇÃO 19 -ABRIL/2019:


Na página do sumário de nº 11, referente à Edição nº 19 - Abril/2019, artigo "A
importância do Lúdico na Educação Infantil", onde consta p. 1581; lê-se
corretamente página 1577 (artigo na íntegra pp. 1577-1584).

errata referente à edição 20 - maio/2019 :


volume 01 - aLguNs artigos que coNstam Nesta edição, saíram da ordem aLfabética refereNte aos
Nomes dos autores. fator este, que Não prejudica em Nada Nesta edição.

10 11
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO outro, reafirmando a explicação dada pelos


etimólogos sobre vocábulo de imprecisão de
No encontro onde se faz a cultura e criança significados, voltado para a objetividade e
situa-se o professor cujo trabalho educativo para a subjetividade. Tomando por base tais
será o de intermediar os conhecimentos considerações posso ressaltar que a ação
existentes e oferecer condições para novos de cuidar abrange aspectos cognitivos e
estudos. A criança que está em constante afetivos. As práticas de cuidado configuram-
assimilação de tudo aquilo com que entra em se como uma atitude fundamental à
contato no seu meio ambiente; compete ao sobrevivência da espécie. O bebê humano
professor de arte saber com os fatos em sala não teria como sobreviver se não recebesse a
de aula, constituindo a sua metodologia de atenção necessária, o desvelo, a intervenção
trabalho. Construir um olhar a partir de ver, do adulto próximo, e é exatamente por meio
observar, sentir, fazer, expressar e refletir, das expressões emocionais que ele recebe
um projeto concreto, na prática da realidade estes cuidados.
da sala de aula. O que se produz parte do que
se percebe e os enfoques se deslocam para a
verdadeira construção do conhecimento. A ARTE NA EDUCAÇÃO

Assim, a Arte é vista como linguagem A Lei 5692/71 institui a Educação Artística
e tem seu discurso específico. O olhar da no currículo oficial das escolas de Ensino
criança se constrói, paulatinamente, na sala Fundamental e Nível Médio , mas pouco
A ARTE NA EDUCAÇÃO de aula, que parece um espaço limitado. A se refletiu sobre a complexidade da Arte
ele se abre para outros espaços, a criança contemporânea e seu papel nas escolas e
RESUMO: A arte evidencia algo especial do conhecimento onde o ser humano propicia não pode compreender a Arte se não a principalmente na vida dos alunos.
perguntas com fundamento que faz em relação ao seu papel no mundo. É necessário conhece. É tarefa de o professor sensibilizar
que haja a compreensão desses aspectos pesquisando a respeito da relação que a criança para que possa ser um receptor da Limitou-se a implantar os cursos de
existe entre a arte e o desenvolvimento da aprendizagem e os diferentes saberes dos arte moderna e contemporânea e até um Licenciatura e nas escolas, com raríssimas
alunos, como um espaço de identidade e expressão. Apenas em ensino, que favoreça a produtor. exceções, o que se via e muitas vezes ainda
integração entre a aprendizagem racional e estética dos alunos, poderá contribuir para se vê, é um “laissez-faire.” Um deixar fazer
o exercício conjunto complementar da razão e do sonho, no qual conhecer é também A segunda função da palavra refere-se ao qualquer coisa a partir de sensibilização
maravilhar-se, divertir-se, brincar com o desconhecido, arriscar hipóteses ousadas, campo das emoções, aparece com a função simplista ou da apropriação de sucatas,
trabalhar, esforçar-se e alegrar-se com descobertas. Os aspectos abordados neste de subs-tantivo masculino, significando pouco se importando com a pessoa criadora,
artigo foram levantados por meio da pesquisa bibliográfica acerca do tema proposto. desvelo, solicitude, diligência, vigilância, nos seus tempos e espaços situacionais e
precaução É possível supor que a prática contextuais. Há professores que se omitem
de cuidado tem duplo sentido, um no e acabam traduzindo o fazer artístico como
Palavras-Chave: Ensino; Artes; Educação. campo da ação do pensamento, reflexão, meio de liberar emoções; levando à alienação
e outro no campo da aplicação do espírito, da realidade e retirando do processo criativo
materializando-se em atitudes para com o a importância de aspectos cognitivos.

12 13
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

As artes fornecem um dos mais potentes sistemas e da pintura quando já foi bloqueado em fases fonte inesgotável para uma reflexão acerca É esta transformação pela arte que abuso
simbólicos das culturas e auxiliam os alunos a criar formas anteriores. Por isso o professor deve ter mente das mudanças educacionais que estão ocor- alcançar com as crianças com que trabalho,
rendo. pois considero que aprendizagem artística
únicas de pensamento. Em contato com as artes e ao objetivos que venham favorecer a aprendizagem
realizarem atividades artísticas, os alunos aprendem muito dos alunos como: envolve um conjunto de diferentes tipos de
A importância da formação do professor, conhecimentos que visam á criação de sig-
mais do que pretendemos, extrapolam o que poderiam
visa uma formação significativa, contínua e nificações, exercitando fundamentalmente a
aprender no campo específico das artes. E como o ser - Estimular a imaginação criadora e a que em especial venha corrigir distorções constante possibilidade de transformações,
humano é um ser cultural, essa é a razão primeira para a expressão do aluno; de sua formação inicial, e também contribuir exercitando fundamentalmente a constante
presença das artes na educação escolar (FERREIRA, 2001, - Trabalhar leitura da obra de arte e da para uma reflexão acerca das mudanças ed- possibilidade de transformação do ser humano.
p.32). produção realizada pelos alunos, ampliando a ucacionais que estão correndo. Para o autor,
observação ao mundo cruzando caminhos no “o aprender contínuo é de responsabilidade
Numa sociedade em que há o predomínio processo de criação na infância. também do professor, que deve ver a escola CONSIDERAÇÕES FINAIS
de uma concepção de educação voltada ao não somente como um lugar onde ensina, mas
cientificismo, o reconhecimento da Arte e A criança aproxima-se do objeto estético, também onde aprende” (NÓVOA, 2001, p. 14). Os currículos atuais, organizados segundo
de suas especificidades de linguagens, acaba comunicar-se com ele reflete sobre a sua relação uma visão para atender os interesses de uma
não existindo e ela passa a ser condenada com a outra pessoa e com o mundo. Existe prazer O aprender contínuo é essencial na profis- sociedade capitalista, privilegiam o caráter ra-
como mero apêndice pedagógico, ou com nessa relação, às atividades prazeroso em arte, são do professor e deve concentrar-se em dois cional e útil das disciplinas, um útil que não vai
pilares, na própria pessoa do professor, como além do sentido prático que o termo propõe,
oposição à ciência. leva- na enfrentar problemas e buscar soluções.
agente, e na escola como lugar de crescimento pois se ampliarmos esse conceito, para além
A Arte pode ser ensinada e de que o professor
permanente. Segundo Barbosa (1996), “Arte do utilitarismo, veremos o quanto a arte pode
Quando na verdade, a arte e ciência é o condutor desse processo de aprendizagem. + educação+ ação e pesquisa para descobrir- ser “útil” para o desenvolvimento de crianças
são faces do conhecimento, que se Desenvolvendo na criança a percepção visual do mos como nos tornarmos mais eficientes no e adolescentes. Numa sociedade em que a di-
complementam e ajustam-se perante o mundo e da obra de arte, ampliando seu repertório nosso contexto educacional, desenvolvendo o visão do trabalho é fator determinante e as
desejo de compreender o mundo. A arte não é visual e gráfico, contribuindo para a construção desejo e a capacidade de aprender de nossas pessoas estão cada vez mais especializadas, a
oposição, nem contradição à ciência, todavia de um olhar crítico no exercício de sua cidadania, crianças” (BARBOSA, ANA MAE, 1996, p.04). arte seria uma forma de resgatar a totalidade.
nos fazer entender certos aspectos que a criando uma consciência mais consciente na
ciência não consegue fazer. Assim, “aprender sua transformação.Quando o professor faz essa O professor em sua prática não pode ser Totalidade esta, que envolve as várias di-
deve ser responsabilidade compartilhada construção o aluno se sente mais envolvido e as um condutor, mas sim um articulador no pro- mensões do que ser humano: afetiva, cognitiva
por alunos e professores, ou seja, uns e aulas se tornam mais ricas, ajudando a eliminar cesso de ensino aprendizagem. A postura de e social, numa relação integradora de emoção
outros devem desenvolver instrumentos de a fragmentação, auxiliando ao aluno a perceber um professor articulador deve ser a de ob- e razão, afetividade e cognição, subjetividade
regulação das aprendizagens” (CARVALHO, o conhecimento num todo e a desenvolver um servador, atento e participante, não somente e objetividade, conhecimento e sentimento.
LAVELBERG, 2019, p.80). pensamento lógico e criativo. “No caso da ação tirar dúvidas, mas através de questionamen- Fragmentam-se os olhos, fragmentam-se o
educativa em arte com criança, o professor terá tos levarem o aluno refletir sobre o que pro- pensamento e assim as pessoas se tornam
duz – levantar hipóteses, testar alternativas, incapazes de perceber e atuar na sua total-
Um dos principais problemas que de entrelaçar a sua prática-teórica artística e
sistematizando seu próprio conhecimento. idade. São pilotos, engenheiros, agrônomos,
influencia as crianças para o ensino da arte, estética a consistentes propostas pedagógicas.
professores de artes visuais, professores de
é a presença de modelos estereotipados Arte como conhecimento, como a mais im-
Em síntese, é preciso saber ser professor de artes cênicas são indivíduos fragmentados.
para as atividades dos alunos, a falta de portante concentração de todos os processos
estímulo e nenhum interesse dos alunos pela Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s)
biológicos e sociais do indivíduo na sociedade, É preciso repensar a educação sob esta
Arte, dificuldade de organizar atividades cita que o professor pode descobrir lugar para
como um meio de equilibraro homem com o mun- perspectiva. Pensar a atividade estética como
que possam levar o aluno ao conhecimento si mesmo através de pesquisa uma fonte de in-
do nos momentos mais críticos e responsáveis um brinquedo, como um fim em si. Isso exige
formações o valor e a riqueza das manifestações
da linguagem das artes, resistência dos da vida. Como motivo de transformação do contrariar os princípios da sociedade industria
artísticas no local de sua comunidade em uma
alunos em exprimir-se por meio do desenho homem e consequentemente da sociedade.

14 15
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

al e capitalista em que vivemos em que tudo


é linha de montagem. A Arte, assim como o
REFERÊNCIAS
brinquedo, existe em função dela mesma,
da alegria que faz brotar. Esse prazer da ex-
periência estética e lúdica foi banido das es-
colas e da experiência de vida dos alunos, BARBOSA, A. M. Arte – Educação: leitura no subsolo. São Paulo: Cortez, 2005.
que amedrontados com o vestibular e com
a exigência da eficácia passam sua escolari- ___________. A Imagem no ensino das Artes. São Paulo: Perspectiva. 1989.
dade fazendo coisas sem entender, sem rir,
sem sentir, sem brincar. Sem uma concepção ___________. Artes Educação no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1978.
clara do que é arte, sem conteúdos e obje-
tivos definidos, os professores acabam deix- BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/ Lei nº
ando os alunos se expressarem livremente. 9394-96. Brasília: SEB, 1996.

Trabalham apenas com a dimensão afetiva da ADELIA VERDICCHIO PINHO BRASIL. Secretaria da Educação. Fundamental Parâmetros Curriculares Nacionais –Arte.
arte. Ignoram que no homem, três dimensões Brasília: MEC/SEF, 1997.
estão presentes – a afetiva, a cognitiva e a Graduada em Pedagogia pela Universi-
social – e devem ser consideradas no pro-
dade Cidade de São Paulo. Professora de CARVALHO, J. O ensino de Artes nas séries Iniciais. Disponível em: www.artenaescola.
cesso de ensino e aprendizagem. O espon-
Educação Infantil e Ensino Fundamental I org.br/forum/tópico.php?n=1118paq=2-45k2000 Acesso em 15 jul. 2019.
taneísmo apenas, não basta, o mundo de hoje
e arte de hoje exigem um leitor informado e na rede municipal de ensino da Cidade de
um produtor consciente. Muitos Professores São Paulo. __________ Comentário: Arte x Ensino Fundamental. Disponível em www.revistaescola.
confundem improvisação com criatividade. abril.com.br/edições/015/aberto/mt-244683.shtml/abril/2002 Acesso em 15 jul.2019.
Portanto, o conhecimento artístico não deve
ser considerado como um meio para outras FERREIRA, E. O papel do professor no processo de Ensino aprendizagem. Disponível
áreas do saber, ele não pode ter como ob- em: www.webartigos.com/articles/5400/1/o-papel-do-professor-no-processo-ensino-
jetivo ilustrar os trabalhos de português, aprendizagem/pagina1html/Ferreira-2001. Acesso em 15 jul.2019.
geografia, história ou mesmo formar hábitos
de limpeza, ordem, atenção, concentração e
ser usado como um instrumento para relaxar.

16 17
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO e discussão que envolva todo o entorna e a


comunidade escolarCom o auxílio das novas
Na atualidade é preciso ressaltar a tecnologias como ferramenta da educação,
importância que as novas tecnologias os professores em conjunto com seus alunos,
trazem para o sucesso de ensino e criarão possibilidades para que os alunos
aprendizagem, mas esta ferramenta deve pesquisem, experimentem e desenvolvam
ser utilizada com planejamento para que formas de comunicação e interação social.
o objetivo de formar o aluno em sua
integralidade seja alcançado com sucesso. Antes do período da inserção das novas
Acima de tudo, para que o professor tecnologias, a escola era somente um espaço
saia das aulas convencionais do antigo conhecido como método bancário em que
sistema tradicionalista e que realmente o aluno só ia para adquirir conhecimento,
tenha uma relação de aproximação com diferentemente os novos processos de
seus alunos e com as novas ferramentas educação permite que os alunos sejam
tecnológicas, há uma grande necessidade construtores de seu próprio conhecimento
da formação continuada, pois muitas que possam interagir com seus educadores
vezes os alunos por serem os chamados ao longo das práticas pedagógicas e que
“nativos digitais” superam os docentes na esteja em consonância com a realidade social.
facilidade de manusear tais equipamentos.
O trabalho será realizado a partir de
Moran (1995), afirma que a internet é uma pesquisa bibliográfica e pesquisa quantitativa
grande aliada à educação, mas, contudo, é a fim de analisar como é feito o uso da
preciso ter cuidado para utilizá-la devido a tecnologia em escola pública e constatar
O PROFESSOR E AS NOVAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO um grande número de informações que são seus benefícios na aprendizagem de crianças
veiculadas, desta forma, o professor como e adolescentes. Esta pesquisa tem como
mediador irá auxiliar seus alunos em utilizar as base a pesquisa bibliográfica que se realiza
ferramentas tecnológicas da melhor maneira. por meio do levantamento de livros, rede
RESUMO: As novas tecnologias auxiliam no trabalho dos professores. Contudo é necessário mundial de computadores, revista científica,
valorizar a formação docente, pois uma boa maneira de cativar os alunos seria por meio das Diante do exposto, é necessário que a legislações e teses de mestrado e doutorado.
novas tecnologias que é fundamental para as novas competências e habilidades que um educação seja transformada, e se vivemos
educador deve possuir em pleno século XXI, a inclusão digital é essencial para o trabalho em um mundo globalizado e tecnológico, O principal objetivo de usar as novas
docente no mundo globalizado. as instituições escolares não podem ficar tecnologias na educação é transformar o
paradas no tempo, precisa evoluir e agir aluno em mais ativo, crítico e participativo
de acordo com o público que atende. da sociedade, de modo que o professor
vai ajudar a criar uma nova maneira de
A escola e os professores estão construir o conhecimento, deixando de
Palavras-chave: Novas tecnologias; aprendizagem; interdisciplinaridade; inclusão.
preparados para trabalhar com a lado uma forma tradicional de ensino.
tecnologia? E qual sua importância?
A escola deve ser um espaço propício
para a construção e desenvolvimento do
conhecimento por meio da troca de saberes

18 19
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

A FORMAÇÃO DO DOCENTE DIANTE um profissional que esteja preocupado em vez mais al e capitalista em que vivemos em que algumas semelhanças e diferenças soci-
DAS NOVAS TECNOLOGIA buscar novas metodologias para alcançar o tudo é linha de montagem. A Arte, assim como ais, identificar diferenças culturais entre
objetivo principal da educação que é o aluno. o brinquedo, existe em função dela mesma, da o modo de vida de sua localidade e pos-
Segundo Libânio (2004) a formação alegria que faz brotar. Esse prazer da experiên- sam estabelecer relações entre o pre-
continuada é primordial no sucesso Líbano (2007) afirma que a prática de uma cia estética e lúdica foi banido das escolas e da sente, passadas e futuro (PCN, 1997).
do profissional da educação, partindo formação continuada possibilita que o experiência de vida dos alunos, que amedronta-
do pressuposto que o conhecimento é educador também reflita sobre sua prática dos com o vestibular e com a exigência da eficá- Neste sentido o currículo deve ser
inacabado, por isso o educador deve sempre na sala de aula, além de permitir que se cia passam sua escolaridade fazendo coisas sem aquele que apresenta dinamismo e não
estar atento e se atualizar, pois vivemos aprenda e aprimore tais ações, mas tudo isso entender, sem rir, sem sentir, sem brincar. Sem seja estático, pois os Parâmetros Curric-
em uma sociedade globalizada em que a deve ser feito na prática coletiva do corpo uma concepção clara do que é arte, sem conteú- ulares Nacionais (PCN) para o ensino fun-
velocidade de informações é sempre em docente. Assim, o educador precisa de uma dos e objetivos definidos, os professores acabam damental, mencionam essa importância.
um ritmo frenético, e que se metodologias postura que valoriza a interação entre aluno deixando os alunos se expressarem livremente. O currículo é a expressão dinâmica do
de ensino arcaicas já não funcionam para e professor, com o objetivo de torná-lo um conceito que a escola e o sistema de en-
despertar o interesse dos educandos. cidadão, ético, estético e político, capaz Trabalham apenas com a dimensão afetiva da sino têm sobre o desenvolvimento dos
Contudo, além do processo de especialização de transpor o conhecimento adquirido nas arte. Ignoram que no homem, três dimensões seus alunos e que se propõe a realizar com
contínua do docente, as escolas precisam ter instituições escolares em seu cotidiano. estão presentes – a afetiva, a cognitiva e a so- e para eles. Portanto, qualquer orientação
uma infraestrutura que permita a utilização cial – e devem ser consideradas no processo de que se apresente não pode chegar à equi-
das novas tecnologias na sala de aula, Para o autor, o profissional da educação ensino e aprendizagem. O espontaneísmo ape- pe docente como prescrição quanto ao
pois se o educador deve estar aberto aos precisa entender que estamos em um nas, não basta, o mundo de hoje e arte de hoje trabalho a ser feito. (BRASIL, 2006, p.9).
processos de mudanças, não é diferente do novo contexto histórico e social e deste exigem um leitor informado e um produtor con-
espaço em que se promove a aprendizagem. modo ele deve estar disposto a enfrentar sciente. Muitos Professores confundem impro-
mudanças e adaptações e deve, portanto, visação com criatividade. Portanto, o conheci-
Para Libâneo (2004) a formação do incentivar a pesquisa dos alunos, através da mento artístico não deve ser considerado como
profesor não se restringe unicamente a orientação sendo um facilitador no trabalho um meio para outras áreas do saber, ele não pode
graduação, vai muito mais além, pois deve com as novas tecnologias, e muitas vezes ter como objetivo ilustrar os trabalhos de portu-
contemplar toda sua trajetória profissional, devem estar dispostas a aprender com guês, geografia, história ou mesmo formar hábi-
visto que a cada época mudam-se os seus alunos que tem uma facilidade incrível tos de limpeza, ordem, atenção, concentração
costumes e também a maneira como ensinar, em manusear os aparelhos tecnológicos. e ser usado como um instrumento para relaxar.
o educador deve sempre se transpor aos
bancos de estudo, visto que este não é o único Segundo Masetto (2000, p.142), “O professor A ESCOLA DO SÉCULO XXI
detentor do saber dentro da sala de aula. deve assumir uma nova atitude, ainda que de-
sempenhe o papel de especialista, que possui A escola é um ambiente que acolhe diversas
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases conhecimentos e experiência, ele pode ser al- pessoas das mais variadas culturas, e o currícu-
(9394/96), o governo federal deve promover guém que colabora para dinamizar o trabalho lo deve ser formado de modo que contemple um
o investimento financeiro nos prédios das com o aluno, aquele que trabalha em equipe”. número maior de pessoas. Por meio do ensino
instituições escolares e oferta de aparelhos com a tecnologia os estudantes poderão ter con-
tecnológicos para que seja feita uma reforma De acordo com Novão (1991), embora es- hecimentos das mudanças e permanências da so-
no currículo que abrange o professor, o aluno tejamos em pleno século XXI, período em ciedade, além de proporcionar a criticidade do ed-
e as novas tecnologias. A sociedade atual que houve um grande crescimento da pro- ucando. A história deve proporcionar ao aluno ao
necessita de um ensino dinâmico que viabiliza dução tecnológica, sobretudo pelo adven- final do ensino fundamental que ele seja com-
to da internet em que informações são cada parar o acontecimento no tempo, reconhecer

20 21
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Atualmente os educadores assistem mu- conhecimento, o que foi classificado por Freire ilidades de aprender e ensinar, pois o aluno mundo de leitura e atividades distantes do
danças na prática e nos hábitos dos alunos, e os (1983), como educação bancária, agora a partir possui curiosidade e graças a essa inovação, mundo dos outros. A internet traz a flexibil-
instrumentos tecnologias estão fazendo cada desses novos instrumentos, se faz necessário o podendo ter também um ensino à distância idade de acesso junto com a possibilidade de
dia que passa parte essencial na vida das pes- trabalho em conjunto de professores e alunos. que atenda a disposição de tempo do edu- interação e participação. Combina com o mel-
soas, seja nos mais variados assuntos, a popu- De acordo com Pretto (1999), é preciso se tra- cando. hor off-line, do acesso quando a pessoa quis-
lação está cada vez mais dependente das Tics. balhar das mais variadas maneiras e que pos- er com o on-line, a possibilidade de conexão,
sibilitem a apreensão de conhecimento dos A internet promove a cooperação no tra- de estar junto, de orientar, de tirar dúvidas,
A escola precisa deixar seu espaço mais alunos e com o auxílio das tecnologias do sé- balho de professor e aluno, que tenham con- de trocar resultados. (MORAN, 2007, p.38).
integrado com os alunos e possibilitar apren- culo XXI, é totalmente possível despertar o in- sciência e comprometimento com a educação,
dizagens que permitam o reconhecimen- teresse e estimular os educandos, favorecendo em várias disciplinas se faz importante o uso De acordo com Pallof e Pratt (2007), hoje
to do aluno como um agente social de sua as trocas de experiências. Na educação atual, das novas tecnologias, como a televisão e o a educação online pode assumir as mais
própria história. Contudo, é preciso ressaltar deve-se valorizar o uso de diferentes lingua- cinema, por exemplo, que para se fazer um variadas vertentes e possibilitar um curso
que a inserção de computadores em institu- gens e da influência midiática e deve haver um bom uso destes instrumentos em sala de aula que evidencie o contato com outras pes-
ições escolares está voltada para o desen- investimento por parte das políticas públicas é necessário que o professor tenha clareza dos soas, pois na maioria destes cursos, mui-
volvimento de políticas públicas, em que o para capacitação de educadores e gestores. pontos a serem abordados, deve-se fazer uma tas empresas marcam encontros presenci-
processo de informatização está ocorrendo, pausa no filme assim que achar necessário e ais para que todos os envolvidos possam
mas há um distanciamento do que é pre- Moran (2009) em seus estudos aborda que aproveitar para desenvolver competências discutir o que foi abordado online, geran-
gado por parte do governo e o que ocorre a escola tem resistido bastante às mudanças e habilidades de observação e criticidade. do assim uma aprendizagem satisfatória.
nas escolas, além de ser essencial a valori- e que infelizmente mesmo após vários estu-
zação do profissional, pois sem este, não será dos referentes à linhagem construtivista, ain- O ensino através das novas tecnologias De acordo com Moran (2007) os cursos a
possível o desenvolvimento de trabalhos. da se tem figura do professor como o único não deve ser somente uma forma de dis- distância que possuem os subsídios da plata-
responsável do ensinar e aprender e que se tração, mas que estas possibilitem a discussão forma AVA, podem obter características difer-
AS TICS COMO FERRAMENTAS NO EN- deve, portanto, refletir e avaliar as concepções e o entendimento por parte dos alunos, algo entes, como o que necessita de inscrição em
SINO-APRENDIZAGEM E O ENSINO NA da educação sempre. Contudo, as tecnologias que enriqueça a aula. A habilidade para in- períodos pré-estabelecidos e os que os interes-
MODALIDADE EAD existem para possibilitar um alcance de uma teragir com os meios de comunicação não sados podem se inscrever a qualquer momen-
educação inclusiva e de qualidade, e que a vem de forma natural no processo de ensino to, isso varia muito de acordo com os objeti-
partir dela seja possível, um aproveitamento e de aprendizagem, mas sim só com inten- vos da instituição que proporciona tais cursos.
Gatti (1993) aborda que a utilização da maior das vantagens de se ter uma educação so trabalho do educador. É extremamente
tecnologia na sala de aula possui excelentes transformadora. As novas tecnologias geraram importante que se tenha o domínio das im- De acordo com o referido autor, o suces-
resultados, por ser uma técnica que vai além grandes transformações na educação, servem agens midiáticas, inclusive do cinema, com o so dos cursos a distância só terá um resul-
dos antigos meios de aprendizagem. Con- como ferramenta para complementar a aula, a objetivo de trabalhar junto com seus alunos. tado realmente eficaz após a participação
tudo a escola deve propiciar a construção leitura, as práticas leitoras e escritoras além da Moran (2007) ressalta que o ensino EAD dos estudantes envolvidos nas discussões
do conhecimento em conjunto, que envolva transmissão de conhecimento e informações. possibilitou uma profunda transformação no e atividades propostas, que a interação en-
pais, comunidade, alunos e equipe gestora. ensino, pois anteriormente o aluno apenas tre todos que farão um curso de aproveit-
Com a ajuda das novas tecnologias auxiliando o O papel das ferramentas tecnológicas não se relacionava com o conteúdo, agora com amento satisfatório, principalmente no
trabalho do professor, se tem a disponibilidade deve ser entendido como substitutivo dos a possibilidade do ensino a distância todos que diz respeito ao ensino de línguas.
de novas ideias e instrumentos, para que os demais elementos da educação, como a tro- os envolvidos no processo educativo tem Dessa forma podemos destacar a poten-
alunos pesquisem, experimentem e desenvol- ca de experiências dentro da sala, o diálo- a possibilidade de realizar a integralidade: cialidade da internet no ensino de língua
vam formas de comunicação e interação social. go e a participação da família e da escola na estrangeira, pois pode ser utilizada nos
No passado, antes do advento da inserção aprendizagem de crianças e adolescentes. A EAD em rede está contribuindo para mais variados ambientes como na sala de
das novas tecnologias na educação, a esco- Conforme afirmações de Moran (2009), superar a imagem do individualismo, de que aula, a distância para garantir uma maior
la era um espaço de simples reprodução do com a internet é possível pensar em possib- o aluno tem que ser solitário isolado de um comodidade e facilidade ao estudante.

22 23
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS
A tecnologia é um instrumento que - Faculdade de Educação, Universidade
panha as pessoas dentro e fora da sala
FERRETTI, Celso João. Novas tecnologias, de São Paulo, São Paulo, 2010. Disponível
de aula, desta forma, se faz necessário
trabalho e educação: um debate em: <http://www.teses.usp.br/teses/
um ensino que viabilize uma educação
significativa e que fuja dos preceitos multidisciplinar. Rio de Janeiro: Vozes, 1994, disponiveis/48/48134/tde-05082010-
da educação convencional. O profes- (págs., 151 – 164). 113710/>. Acesso em: 10 mai. 2017.
sor para gerar um ensino de qualidade
com o uso das novas tecnologias da GATTI Bernadete. Formação continuada PALLOF, R; PRATT, K. O aluno virtual: um
informação deve possuir uma familiar- de professores: a questão psicossocial. guia para trabalhar com estudantes online.
idade com tais ferramentas e explorem Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 119, p. Tradução de Vinícius Figueira. Porto alegre:
as inúmeras possibilidades de trabalho. 191-204, julho 2003. Artmed, 2004.
Adriano Vigatto de Souza
Existem várias habilidades que po- GATES, Bill. A estrada do futuro. São Paulo: PRADO, M.E.B.B. Articulações entre áreas
dem ser desenvolvidas com o auxílio Companhia das Letras, 1995. de conhecimento e tecnologia. Articulando
da Internet, pois esta tecnologia pro- Professor de Ensino Fundamental ll e Médio, saberes e transformando a prática. In:
move as competências e habilidades formado em Educação Física na Universi- LÉVY, Pierre. Cibe cultura. São Paulo: Editora ALMEIDA, M.E.B. de; MORAN, J.M. (org.).
de leitura de hipertexto além de pro- dade Nove de Julho em 2007 e graduado em 34,1999. Integração das tecnologias na educação.
mover a discussão entre esses ele- Pedagogia pela Universidade Metropolitana Brasília: Ministério da Educação/SEED/TV
mentos. É uma estratégia totalmente de Santos em 2015, trabalha na EMEF Ed- LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 13 Ed. São
eficaz, pois além de garantir a inter- gard Carone (adrianovigatto@gmail.com)
ação gera uma comodidade e facili- Paulo: Cortez, 1994. SANTOS, Margarida Maria Calafate
dade para a sociedade contemporânea. dos. A nova tecnologia em projetos
MCLUHAN, M. Os meios de comunicação interdisciplinares na escola publica: um
Dessa forma podemos destacar a como extensões do homem. São Paulo: estudo à luz da Teoria da Atividade. UFRJ,
potencialidade da internet no ensi- Cultrix, 1969. 2009. 188p. Disponível em: <http://www.
no de língua estrangeira, pois pode letras.ufrj.br/linguisticaaplicada/site/
ser utilizada nos mais variados ambi- MORAN, José Manuel. Novas tecnologias dissert/margaridacalafate.pdf>. Acesso em:
entes como na sala de aula, a distân- e o reencantamento do mundo. Revista 04 mai. 2017.
cia para garantir uma maior como- Tecnologia Educacional. Rio de Janeiro, vol.
didade e facilidade ao estudante. 23, n2. 126, set. / out. 1995 SCHAFF, Adam. A sociedade informática:
as consequências sociais da segunda
MORAN, J.M.; MASETTO, M.T.; BEHRENS, revolução industrial. 4ª ed. São Paulo:
M.A. Novas tecnologias e mediação Brasiliense, 1995.
pedagógica. 13 ed. São Paulo: Papirus, 2007.
WER THEIM, Margaret. Uma história do
OLIVEIRA, Gustavo Adolfo Galati de. espaço de Dante à Internet. Rio de Janeiro:
Interdisciplinaridade e inclusão social no Jorge Zahar, 2001.
processo de implantação da Universidade
Federal do ABC: da proposta à pratica. 2010.
172f. Dissertação (Mestrado em Educação)

24 25
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO de lutar contra a inadaptação desses alunos.


No entanto, como resultado disso veio, ou
O presente trabalho tem por escopo vem, a inadequação de métodos eficazes e
estudar as dificuldades de aprendizagem o surgimento de novos métodos, e é essa
escolar e suas possíveis causas. Amparado constate que, como postula o autor, a escola
na bibliografia específica, propõe-se, no torna-se um ambiente segregacionista, onde
bojo, elencar algumas práticas no sistema de os “bons” são ovacionados e os “fracos”
ensino aprendizagem que podem auxiliar a tendem a ficar cada vez mais para trás. Pois,
compreender o processo de fracasso escolar defende Fonseca (2007),
no ambiente escolar. Muito embora sabe-se
que, no contexto educacional, constituído A Escola pode humilhar, ameaçar e desencorajar, mais
por sujeitos com diferentes realidades do que reforçar o Eu, libertar ou encorajar a criança.
sociais, o “sucesso” no sistema escolar não se Temos o hábito de dizer que mandamos as crianças para
restringe estritamente aos muros da escola. a escola para aprenderem. O que se faz tradicionalmente,
Pelo contrário, o ambiente familiar está é ensinar-lhes a pensar erradamente, perdendo-as a sua
relacionado diretamente com o processo espontaneidade e curiosidade, submetendo-as muitas
ensino-aprendizagem, uma vez que, como vezes, a normas de rendimento e eficácia ou a métodos
instituição social deve possuir a função e correntes pedagógicas que estão na moda (FONSECA,
de socialização do indivíduo, movimento 2007, p.33)
análogo ao de escola.
A esse processo o autor chama de
REVISITANDO O FRACASSO ESCOLAR: UMA VISÃO GERAL DE Segundo Mantoan (2003), a escola, por inadaptação dos métodos de aprendizagem,
muitos anos, não se posicionava como agente pois, quando não se serve mais a um grupo
SEUS AGENTES
responsável pelo “fracasso” escolar do aluno, de alunos, busca-se por se utilizar outros
uma vez que as medidas de exclusão eram e outros métodos. Dessa forma, os alunos
adotadas na escola, para com aquele que são tratados como um bloco único, não
RESUMO: O estudo do fracasso escolar, difundido neste estudo bibliográfico, tem suas manifestasse diferenças, em comparação se levando em conta a subjetividade de
raízes na sociedade moderna capitalista. O mundo contemporâneo exige do com os demais. De acordo com Fonseca, cada indivíduo. É sabido que a dificuldade
cidadão moderno um sujeito produtivo e que obtenha sucesso profissional e no (1984), historicamente a escola, dirigida por no aprendizado gera, além de reprovação
ambiente escolar essa forma de pensar não é diferente. No entanto, quando o diversas classes políticas, foi composta por escolar, preconceito por parte dos colegas
aluno não se supera nas expectativas sociais, dá-se a esse movimento o rótulo processos de luta contra a exclusão e, ao e até mesmo dos professores, pois
de fracassado. Porém, a pergunta gira em torno de quem são os responsáveis mesmo tempo, de tentativas de adaptação à constantemente associam a dificuldade no
por esse processo de fracasso? A resposta parece simples: todos os agentes métodos diversos de aprendizagem. aprendizado com preguiça. Como defendem
envolvidos devem assumir seu papel e adotar posturas responsáveis, a fim de José & Coelho, (1989), existem diversas
driblar esse problema, que aflige os estudantes brasileiros, o chamado fracasso. Sendo assim, com o número cada vez mais variáveis que podem influenciar no processo
crescente de alunos, pois a escola deveria ser de aprender, e uma delas está relacionado às
Palavras-chave: Fracasso escolar; Escola; Família; Sociedade. um lugar aberta a todos, não somente para os carências econômica e sociais.
donos do poder, vinha também a necessidade

26 27
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

A escola e as deficiências do aluno se para a formação de guerreiros e o processo principalmente pela proliferação de colégios e manuais O fracasso escolar se constituiu historicamente como o resto
educacional tinha essa função. Desde os sete para alunos e professores. Educar-se torna-se uma questão da institucionalização da educação. Ele está intimamente
Desde a antiguidade, de acordo com anos de idade, a criança passava por educação de moda e uma exigência dentro da nova concepção do ligado ao processo de escolarização obrigatória e ao projeto
Santos e Farago (2015), na chamada pré- rígida de educação física, ausente de filosofia e homem (ARANHA, 1989, p.94). de modernização das nações, que tinham como objetivo
história o homem se comunicava por meio de incentivo ao próprio pensamento, as crianças primeiro a instrução e a moralização dos povos (COUTO,
desenhos e gestos. Assim como as crianças eram educadas e obedecer e não questionas. No caso brasileiro, por exemplo, a 2011, p.114).
hoje aprendem por meio de imitações Porém, as escolas eram abertas ao público e catequização como processo educacional,
dos adultos, na pré-história o processo de era oferecida de forma gratuita. esteve presente desde a colonização, A modernização e o modo de produção
ensino-aprendizagem se dava dessa forma. servindo, dessa forma, de instrumento de capitalista trouxeram a ideia de que a
Com a evolução da humanidade e a evolução Na Idade média, a educação assume um dominação colonial. Tanto é que em muitas democracia, em que todo são iguais, no
da escrita, que consistia em usar símbolos caráter religioso, ficando as ordens religiosas regiões inóspitas do solo brasileiro, quando entanto o fracasso da educação contradiz
para expressão das ideias, os seres humanos responsáveis pelo processo de ensinar, tendo não era um bandeirante a se ocupar da região, esse ideal de igualdade. A ideia de fracasso
passaram a aprender a leitura desses o conhecimento a serviço da fé cristã. A era um jesuíta para fazer a catequização dos escolar, segundo Islambart-Jamati (1985)
símbolos. partir daqui, são desenvolvidos diferentes nativos. é recente e não se encontra respaldo no
modelos pedagógicos para atender diferentes processo histórico educacional, ademais,
Mas é na Grécia antiga que o processo classes sociais e gêneros. A principal função No século XVII o modelo de educação de acordo com o autor, ela vem apoiada no
de educação está associado à formação do da pedagogia no medievo é o de evangelizar, obrigava os alunos a permanecerem na discurso da presença de alunos de classes
cidadão, influenciando, dessa forma, toda ou seja, educação com base nos preceitos da escola, criou-se leis e programas para tal, no abastadas e menos favorecidas na escola.
a sociedade Ocidental. Nos períodos entre bíblia sagrada com a finalidade de salvação da entanto a Companhia de Jesus ainda estava à Visão essa que permeia até mesmo o ambiente
os séculos VIII a VII a.c. com os surgimentos alma no pós-morte. frente do processo de educação tradicional. universitário, onde, por tese, deveria ser um
das Polis Gregas, dos comércios e da moeda O movimento da Escola Nova surge nesse antro de produção do conhecimento e “livre”
ocorreram grandes mudanças no campo Com o período Moderno, o berço do contexto, a fim de pensar a escola de um de preconceitos de todos os tipos.
sócio-político grego. Com nascimento da Renascimento, surge uma nova concepção outro viés, voltado para a vida prática,
ciência astronômica, da matemática e da de sociedade. Impulsionados pelas novas uma educação pensando nas academias Conceito de fracasso escolar
geometria, banhada pela filosofia o homem descobertas ultramarinas, o surgimento da científicas, como posicional Aranha (1989).
busca explicações racionais para o surgimento burguesia, do capitalismo e das reformas As questões epistemológicas tornaram-se
de todas as coisas. Nesse momento a protestantes, bem como o movimento da os centros dos debates, representados por Conceituar o termo “fracasso escolar” é
educação estava restrita a poucos homens contra reforma, empreendido pela igreja Descartes e John Locke. Foi com o filósofo uma tarefa um tanto quanto perigosa, pois
da elite grega. Atenas e Esparta, as duas católica, há uma revolução no modo de tcheco Juan Amós Comenius, que a educação encaixá-lo em uma definição e tentar encontrar
maiores cidades gregas, se diferenciavam no se educar. As ordens jesuíticas, que eram teve uma verdadeira democratização, pois seu agente causador merece muita atenção
trato com a educação. A primeira, tida como responsáveis pela educação, tinham a tarefa defendia que a educação deve ser para todos, e cuidados. No mundo contemporâneo e
o berço da filosofia, tinha a letras e a filosofia de levar a educação europeia/catequização sem distinção de sexo ou classe social. No capitalista, é tido como vencedor é aquele
como a base para o processo educacional e para o novo mundo. Na visão de Aranha, século XIX, o Iluminismo pretendia dar fim à indivíduo que obteve sucesso profissional.
eram orientados, num primeiro momento, (1989): ignorância do camponês, pois sem as “luzes” O conhecimento, que é fonte de poder, é
pelos pedagogos – escravos incumbidos estes eram tidos como selvagens. Segundo distribuído de forma desigual: privilegia-se uns
dessa tarefa até os 18 anos, quando se É impressionante a preocupação com a educação no Couto (2011): em detrimento de outros. O termo fracassado
tornavam cidadão. A partir daí era tarefa dos Renascimento (sobretudo em comparação com a Idade remete à ideia de que é aquele aluno que não
mestres educar o jovem. Já esparta, voltava- Média), não só pela produção teórica dos pedagogos, mas obteve progresso durante sua vida escolar,

28 29
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

nem em conhecimento nem em seu convívio de ensino, mas sim de toda a comunidade A família no fracasso escolar do indivíduo. De acordo com o autor, “o
sociocultural, oferecendo, dessa forma, uma escolar: pais, alunos, colegas, funcionários, fracasso familiar é uma das principais causas
imagem negativa do aluno, causando danos servidores e até mesmo professores. Sob o A instituição familiar, postula Garcia (2006), do fracasso escolar. Estudos atuais sobre o
em sua autoestima e autoconfiança. Como manto da carência cultural, essas pessoas - sem se prender ao seu conceito, pois este fracasso escolar apontam o fracasso da família
é sabido, esses dois fatores comprometidos não compreendem as particularidades de é um tema por demais amplo e cheio de como uma de suas causas principais”. Sabe-
podem ser danosos quando se trata em cada aluno. controvérsias -, compreender o espaço onde se que a família pode ter influência muito
enfrentar determinados problemas na vida o indivíduo pode se socializar com os demais decisiva no que toca à permanência do aluno
prática. Nesse sentido Abreu (2013) aponta membros. O primeiro processo de contato de na escola, evitando repetências e evasões. A
que o fracasso escolar está associado às socialização, geralmente, acontece no grupo falta de hábito de estudos e leituras, auxílio,
De acordo com a Organização para a deficiências individuais de cada aluno, ou seja, familiar. A escola, de certa forma, acaba sendo incentivos e a falta de interesse diante das
Cooperação e Desenvolvimento Econômico a individualização desde as questões de classe o próximo ambiente passível de socialização atividades escolares por parte dos pais são
(OCDE), o fracasso escolar se define em três social, grupo étnico, financeira, raciais e assim do sujeito. Portanto, o papel da família no que alguns dos fatores elencados por Lima (2015).
aspectos: As dificuldades enfrentadas por por diante até as de ordem física ou motoras. toca ao fracasso escolar está intrinsecamente
alguns alunos durante o período escolar, Compactuando com esse pensamento, Santo ligado ao do ambiente escolar. A família Como defende Formosinho (2008), uma
no que tange ao acompanhamento do nível (2014) postula que o fator família torna-se está indicada por estudos como sendo de família que não possui em seus postulados,
de conhecimento adquirido; O abandono essencial para o combate ao fracasso escolar, fundamental importância para o desempenho preceitos de uma boa convivência, pode
do ambiente escolar sem finalizarem o pois no âmbito familiar a compreensão do dos alunos no processo educacional, interação representar um fator determinante para o
processo educacional e Os que, após o sujeito com sendo singular incute no indivíduo com o ambiente escolar, professores e colegas fracasso dos filhos no ambiente escolar. Quase
término de determinado grau escolar e após maior autoconfiança. de classe. Garcia (2006) ao analisar o papel sempre pais autoritários, dispersos e que
a entrada no mercado de trabalho não se institucional da família em relação à escola, causam embates entre membros familiares
preparam adequadamente (BONADIMAN, Bossa (2002) postula que a escola é um defende que: podem produzir questões que levam os
2009). ambiente em que os alunos não conseguem, alunos a perder o interesse pela sua trajetória
ao término de seu processo educacional, A parceria entre a família e a escola é de suma importância escolar, dessa forma, atitudes inadequadas
No entanto, o fracasso escolar está analisar criticamente determinadas situações. para o sucesso no desenvolvimento intelectual, moral e são os primeiros indícios de que o aluno está
associado, também, àqueles indivíduos que, A escola não é capaz de formar senso crítico na formação do indivíduo na faixa etária escolar. Afinal, próximo de fracassar na escola.
quando finalizam sua estada pela escola, em seus alunos, porém ela perpetua injustiça por que até hoje em pleno século XXI a escola reclama da
não conseguiram alcançar os conhecimentos social e muitas vezes a reprodução do senso pouca ou insignificante participação da família na escola, na A falta de maturidade dos filhos em relação
necessários e as habilidades indispensáveis comum. vida escolar de seus filhos? Seria uma confusão de papéis? aos pais torna-se acrescida, com os conflitos
para que o ser humana possa estar apto a Onde estaria escondido o ponto central desse dilema que internos familiares faz com que esses alunos
compartilhar a herança cultural acumulada Para Soares (1999) a escola é um ambiente se arrastam anos e anos? (GARCIA, 2006, p.12). se afastem das escolas. Os conflitos sócio
pela humanidade ao longo de sua história. em que está a serviço do poder capitalista e familiares têm, em muitos casos, origina-
da classe dominante, uma vez que reproduz De acordo com o autor, a família está se de conflitos financeiros e os filhos não
Para Patto (1999) o fracasso escolar está a cultura dessa classe, ignorando, em muitos delegando às escolas a responsabilidade pela recebem incentivos educacionais. Portanto
relacionado à prática diário da rotina escolar. casos, por completo a realidade cultural de educação de seus entes, ao mesmo tempo um dos primeiros sinais de fracasso escolar
Para o autor, há diversos estereótipos e cada aluno. As classes dominantes encontram em que se evacua de suas responsabilidades se dá quando o aluno migra definitivamente
preconceitos que atuam sobre o estudante respaldo cultural na escola, já os pobres (classes relativas ao aprendizado dos alunos. Bossa do ambiente escolar para o mercado de
das camadas mais pobres da sociedade, não dominadas) não se veem representados no aponta “o fracasso familiar” como sendo um trabalho. Influenciados por consumos que
partindo, necessariamente, da instituição ambiente escolar, tende de se comportar por dos principais motivos para o fracasso escolar são ofertados pelo mundo capitalista, esses

30 31
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

alunos, que ora dividiam seus horários com que é tido como um fracassado. Em muitos de baixaenda, quando se deparam com uma esse papel. Porém, disperso em suas funções,
a escola, acabam abandonando-a de vez, e casos esse discente é deixado de lado por escola desestrutura não enxergam o ambiente a escola peça ao integrar o aluno ambiente
se dedicam exclusivamente ao trabalho e ao toda a equipe pedagógica e seu “problema” escolar como uma possibilidade de mudar de escolar. O “fracassado” ao ser elegido pelo
subemprego Weil (2014). acaba sendo, de fato, uma questão que ele vida, pois aquele ambiente apenas representa sistema escolar sofre as mazelas advindas
próprio tem que resolver. a sua realidade familiar, que é também dessa rotulação, cabendo a ele a decisão de
As famílias de classe trabalhadora, que reestruturada. Diante disso, De Paula (2009) enfrentamento ou desistência. Se parte para
muitas vezes não chegaram a concluir a Tem-se desse modo a responsabilização postula que a evasão escolar e a reprovação, o confronto direto com suas dificuldades
educação regular, tendem a criar seus filhos pelo fracasso recaindo no próprio aluno, como em muitos casos são frutos desse processo e preconceitos sofridos de todos os tipos e
para o mercado de trabalho, tratando a postula Aquino (1997). Segundo o autor, as exclusivo. Gradativamente o aluno, ao ser por muitos terá, possivelmente muita dor e
educação em uma posição de segundo plano. principais relações que se dão com o fracasso afastado é também obrigado a se afastar sofrimento em sua persistência. No entanto,
Torna-se inegável, no entanto, que os vínculos estão atribuídas ao aluno, relacionando-o à daquele ambiente que lhe causa estranheza se escolhe, o discente, o caminho mais fácil
entre família e escola sejam essenciais à vida falta de interesse, de preparo e motivação. O e dor. Não se reconhece e não reconhece no - como a maioria dos alunos assim preferem -
positiva do aluno. Tanto uma instituição como sistema escolar, diz Aquino, trata esse aluno ambiente escolar um local onde pode confiar os resultados são previsíveis e o comodismo e
a outra devem caminhar na mesma direção e como um preguiçoso e não consegue trazer e dali extrair algo que vá, de fato, mudar a sua a evasão escolar estão entre as práticas mais
em conjunto a fim de proporcionar uma vida para si as responsabilidades pelas condições realidade. Esses alunos desmotivados com atuantes desse grupo de alunos.
educativa saudável para o aluno. degradantes em questão de ensino sofridas o processo educacional não encontram, em
pelos alunos tidos como fracassados. Nos muitos casos, um apoio efetivo e psicológico Durante a história recente da educação,
Possíveis consequências dizeres de Bossa (2002): por parte da escola, a fim de avaliar e sua diversos métodos e metodologias de ensino
do fracasso escolar real situação e tentar trazer para o sistema foram aplicadas, no entanto, o fracasso
No Brasil, a escola torna-se cada vez mais o palco de fracassos novamente esse discente evadido. escolar, como fruto de um sistema opressor
É sabido que um dos papéis da escola, além e deformação precária, impedindo os jovens de se apossar do mundo moderno continua a persistir
do processo de socialização da criança e do da herança cultural, dos conhecimentos acumulados pela Considerações Finais em nossa sociedade. Cabe, dessa forma, ao
adolescente é o de gerar indivíduos dotados humanidade e, consequentemente, de compreenderem sistema educacional como todo, incluindo
de senso crítico e opinião. No entanto, sabe- melhor o mundo que os rodeia. A Escola, que deveria Diante do exposto, pode-se perceber o desde governo, servidores, escola, colegas,
se também que os profissionais da educação, formar jovens capazes de analisar criticamente a realidade, quão é debatido a questão do fracasso escolar, pais e o próprio aluno conscientizarem dessa
em muitos casos, com carga excessiva de a fim de perceber como agir no sentido de transformá-la e, bem como as suas causas e consequências. mazela social. A busca por novas formas de
trabalho e sem apoio das instituições políticas ao mesmo tempo, preservar as conquistas sociais, contribui Há uma vasta bibliografia sobre o referido integração e reintegração do aluno no seio
brasileiras, realizam seu trabalho muito aquém para perpetuar injustiças sociais que sempre fizeram parte tema e convergências e divergências tornam- escolar faz-se necessária. Enquanto finge-se
daquilo que são capazes de fazer. Dessa da história do povo brasileiro (BOSSA, 2002, p.15). se bastante comum. O fracasso escolar pode que aquele aluno tido como fracassado está
forma, a formação dos jovens alunos, em ser encarado com um processo iniciado antes desempenhando suas funções educacionais
muitos casos, torna-se deficitária por parte O autor defende a escola como um mesmo da escolarização do aluno, pode a contento, assumindo um papel de
dos professores. O fracasso escolar pode sistema de integração à criança, seja ela tido advir do núcleo familiar. Este incumbido neutralidade, tem-se um mascaramento do
gerar no aluno um processo de afastamento com um fracasso escolar ou não. Ademais, de socializar o aluno, em seus primeiros analfabetismo na educação.
social, muitas vezes motivado pela vergonha estruturalmente, a escola deve oferecer processos de vida, não dispensa atenção
ou preconceito, o aluno se afasta de seus um ambiente acolhedor para o discente, adequada no que tange à autoestima e Dessa forma, a busca para solucionar
colegas no ambiente escolar. O sistema pois, em condições precária, sugere Bossa, condições psicológicas de enfrentamento para as mazelas do processo de educação não
educacional em muitas escolas brasileiras, o ambiente escolar tende a reproduzir o o mundo. Cabe, no entanto, a escola, como consiste somente em apologizar o aluno,
não está organizado para lidar com o aluno fracasso. Nesse sentido, alunos provenientes um local também de socialização, engendrar transformando-o em agente responsável por

32 33
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019
REFERÊNCIAS
suas deficiências. É imperativo que a
escola assume seu papel, de um espaço ABREU, M. A. V. (2013). Analisando as razões do fracasso escolar no ensino fundamental. Ed-
de integração social e formação de ucação. <http://pedagogiaaopedaletra.com/analisando-as-razoes-do-fracasso-escolar-no-ensi-
cidadão consciente e aptos à vivência no-fundamental/> Acessado em 20 de abril de 2019.
em sociedade, e traga para si também
a responsabilidade e buscar meios para AQUINO, J. Erro e fracasso na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1997.
a solução dos problemas do fracasso
ARANHA, M.L. DE A. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1989.
escolar.
BONADIMAN, H. L. (2009). Representações docentes sobre o processo ensino aprendizagem de
alunos do ensino médio. Revista de Educação, n.150, a. 38.

BOSSA, Nadia A.Fracasso escolar – um olhar psicopedagógico. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.
ADRILENE BRAGA TIBA
CARVALHO, M. P. de., Loges, T. A., & Senkevics, A. S. Famílias de setores populares e escolar-
Especialista em neurociências pela Facul- ização: acompanhamento escolar e planos de futuro para filhos e filhas. Estudos Feministas, 24(1),
dade Campos Elíseos (2018); Psicóloga, 2016.
Psicopedagoga e Professor de Educação
Infantil e Ensino fundamental I na EMEF COUTO, Margaret Pires do. O Fracasso escolar e a família: O que a clínica ensina? Belo Horizonte:
Rodrigo Mello Franco de Andrade UFMG, 2011.

DE PAULA, V. M. S. R. Fracasso escolar: quem são os culpados? Paranaíba,2009.

FORMOSINHO, J. O. (Org.). O espaço e o tempo na Pedagogia em Participação. Porto: Porto Edi-


tora, 2011.

FONSECA, Vitor da. Dificuldades de aprendizagem: na busca de alguns axiomas. Rev. Psicopeda-
gogia 2007.

FONSECA, Vitor da.; Uma Introdução às dificuldades de aprendizagem. Lisboa: editorial notícias,
1984.

GARCIA, E. G.; Veiga, E.C. Psicopedagogia e a teoria modular da mente. São José dos Campos:
Pulso, 2006.

ISLAMBART-JAMATI, Viviane. Quelques Rappels de l’émergence de l'échec scolaire comme“prob-


lème social” dans les milieux pédagogiques français. In: PLAISANCE, E. (Org.). L'échec Scolaire.
Nouveaux objets, nouvelles approches sociologiques. Paris: Editions Du CNRS, 1985.

LIMA, Reinaldo José de. A psicopedagogia e o fracasso escolar:olhares relacionais no foco da pre-
venção. Estação Científica. Juiz de Fora, n. 05, Jan 2008.
MANTOAN, Maria Teresa Engler. Inclusão escolar: o que é? por quê? como fazer? São Paulo:
Moderna, 2003.

34 35
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO

O professor quando trabalha visando uma globais do desenvolvimento e a educando
educação inclusiva, que transformem a socie- com altas habilidades, superdotados, des-
dade, busca ampliar a participação de todos os de a educação infantil até a educação su-
demais alunos, todos os profissionais da edu- perior. No Brasil o ensino especial foi, na
cação, os familiares e a comunidade ao redor sua origem, um sistema separado de edu-
da escola, para que realmente aconteça essa cação das crianças com deficiência não po-
inclusão, promovendo com isso uma inclusão dendo ser supridas nas escolas regulares.
de qualidade. É necessário que aconteça uma Dentro da perspectiva da educação in-
reestruturação da cultura, das práticas ed- clusiva, outras racionalidades estão surgin-
ucativas e das políticas que são vivenciadas do sobre aprendizagem. Com o uso da con-
dentro das escolas de modo que estas vão de cepção Vygotskyana especialmente, entende
encontro à diversidade de todas as crianças. que a participação inclusiva de alunos fa-
A educação inclusiva é uma abordagem mais cilita o aprendizado de todos, deles e dos
humanista e democrática que acaba perce- demais educandos que convivem com as
bendo o indivíduo e todas as suas singulari- diferenças. Este entendimento está base-
dades, visando o seu crescimento, a satisfação ado no conceito da Zona de Desenvolvi-
pessoal e a inserção da vida em sociedade. mento Proximal, que deve ser conquistada
por meio da mediação do outro, entre edu-
A inclusão transcorre por dimensões hu- cador e educando e entre os educandos.
manas, sociais e políticas, e vem gradualmente Temos como objetivo mostrar como as dif-
se expandindo na sociedade contemporânea, erenças são tratadas e como tentar atender
INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ajudando no desenvolvimento das pessoas essas crianças da melhor maneira possível
em geral, contribuindo para a reestruturação dentro das nossas escolas e aulas. E o que o
de práticas e ações inclusivas e sem precon- educador pode fazer para se preparar da mel-
RESUMO: Este artigo tem como objetivo trazer o tema deficiência intelectual e a sua inclusão de ceitos.A educação inclusiva se diferencia da hor forma possível para saber trabalhar com
pessoas com alguma deficiência acontece, pelo prisma da educação transformadora e inclusiva, educação especial, mesmo que se contem- essa criança que apresenta alguma deficiên-
quando a qualidade acadêmica proposta poderá derrubar certas barreiras tradicionais que presen- plem, configurando na diversidade inerente cia e trabalhar junto com os demais, mostran-
ciamos dentro das escolas brasileiras. A educação deve revolucionar rumo à transformação inclu- às pessoas, busca perceber e atender a to- do a diversidade, o respeito e a solidariedade
siva implicando em mudanças estruturais, tanto políticas quanto nas propostas educacionais, e seu das as necessidades educativas especiais que devemos ter com pessoas que apresen-
potencial para a inclusão perpassa pela adequada incorporação das novas tecnologias no âmbito das crianças dentro de sala de aula comum, tam algum tipo de dificuldade intelectual.
pedagógico e do desenvolvimento de novas formas de ensinar. Sendo interessante dentro deste em um sistema regular de ensino, de forma Esse artigo tem como objetivo traz-
contexto trataremos da parte legal do assunto traduzindo os direitos e deveres dos portadores de a promover a aprendizagem e o desenvolvi- er à tona como são as inclusões, as leis que
deficiência, tanto no contexto social quanto no educacional. Tentando esclarecer e informar aos mento individual de todos. Uma prática ped- permeiam esse assunto e como a socie-
pesquisadores dessa área as necessidades e dificuldades pelas quais passam os portadores de defi- agógica coletiva, multifacetada, dinâmica e dade atende essas pessoas, que por cau-
ciência intelectual dentro da sociedade, especialmente dentro das escolas da rede pública de ensino. flexível que exige enormes mudanças na es- sas diversas possuem alguma forma de lim-
trutura e no funcionamento das unidades itação no campo intelectual e em alguns
escolares, e na formação dos professores casos com deficiências físicas também.
Palavras-chave: Educação; Integração; Necessidades Especiais; Respeito. e nas relações entre as famílias e a escola. O objetivo específico deste artigo é
AMARO, D. G.; MACEDO, L. Da lógica da exclusão à lógica da inclusão: reflexão sobre uma A política nacional de educação especial, mostrar como acontece a inclusão e o que
na perspectiva da educação inclusiva, asse- poderia ocorrer, com auxílio de estudos e de
gura acesso ao ensino regular a educandos pessoas qualificadas para tanto nas escolas
com deficiência diversificada como: men- de ensino infantil e fundamental no Brasil,
tal, física, surdos, cegos, com transtornos começando desde a preparação das famílias
36 37
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

deficiência dentro da sociedade: como vive,


que possuem alguém com necessidades espe- que se articulam em torno do movimento CRITÉRIOS PARA O ÊXITO qual sua independência, as relações sociais
ciais como os educadores, gestores e demais por uma escola inclusiva, esse movimento que estabelece, quais suas reações à adversi-
funcionários da escola, pois todos que tra- ficou marcado pela exigência de educar to- Não é fácil tirar conclusões sobre o que é dade da vida e do meio em que está vivendo.
balham dentro das unidades escolares devem dos dentro de uma mesma escola e a neces- melhor para os alunos com necessidades es- O mais importante é como a escola pode
entender um pouco das limitações e como sidade de reformar o sistema educacional. peciais. Para se avaliar sobre a integração ajudar na integração das pessoas com algum
podem ajudar a esse educando a crescer, é necessário definir os objetivos se pre- tipo de necessidade especial dentro da co-
respeitando e auxiliando os educadores. O objetivo de termos escolas inclusivas tendem ao incorporar alunos com necessi- munidade em que vive, não apenas prepa-
Devemos levar esse assunto a diversas supõe uma profunda transformação do siste- dades educativas especiais na escola reg- rando-as, mas seus colegas também, para
esferas da sociedade para poder atender ma educacional, que vai além de uma reforma ular. Sendo necessário ter o conhecimento que aceitem a todos, sem preconceitos, ven-
todo mundo, pois essas crianças precis- da educação especial. Procuramos encontrar geral da legislação, da política educacional do que há a necessidade de integrar todas
am de diversos atendimentos especializa- um sistema mais apropriado para incorporar que se aplica e é preciso conhecer os obje- as pessoas, sendo elas portadoras de neces-
dos que numa escola normal não há, como os serviços e os programas da educação es- tivos específicos da escola de integração, sidades, ou apenas com alguma dificuldade
fisioterapia, fonoaudiologia e psicopeda- pecial às escolas regulares. O principal ob- para depois avaliar a escola como um todo. de aprendizagem, mas que elas podem se
gogos especializados e precisam com um jetivo é que se tenha escolas inclusivas com tornarem um membro importante dentro da
convívio com o restante da sociedade. qualidade, que sejam atrativas e valorizadas Só podemos definir os critérios depois sociedade, mesmo que ela não consiga faz-
Muitas vezes a família vê na escola uma por toda a comunidade educacional, mas ex- que os educadores definirem as metas e es- er tudo, mas algo ela pode aprender a fazer.
forma de deixar a criança por algumas horas, ige muito mais que boa vontade, e não es- tabelecerem um programa para alcançá-las. Podemos perceber que há algumas variáveis
não pensando no que é bom para a mes- teja apenas no papel. É necessário que se Os dois graus necessários para se avaliar um ambientais e familiares que influem na com-
ma. Algumas crianças nem fazem outros tome consciência de tudo que isso implica. programa de integração se referem às mu- petência social e na adaptação de tais pes-
acompanhamentos, apenas o que conse- danças no desenvolvimento das crianças e soas, sendo necessário que se reconheça as
guimos na Escola, a escola faz alguns en- A prática da educação inclusiva faz com as que foram produzidas nas próprias es- enormes dificuldades que supõe esse tipo de
caminhamentos que às vezes nem levam as que as escolas precisam de mudanças pro- colas. Mas o que mais importa é a apren- enfoque impeçam o avanço da integração de
crianças, e em muitos casos não recebemos fundas. É necessário ter consciência dos dizagem e o desenvolvimento dos alunos pessoas com necessidades especiais (LDB,
resposta nenhuma desses encaminhamentos. problemas que existem, é necessário avaliar integrados. Analisando o desenvolvimento 1996).
os resultados e analisar a transição dos alunos cognitivo, o rendimento escolar, a integração
com necessidades educativas especiais da social, a autoestima, comparando os resul-
UMA ESCOLA INCLUSIVA escola para a vida adulta. Sabemos o quan- tados com ele mesmo, desde o início desse AS CONDIÇÕES PARA A
to é difícil ensinar alunos com necessidades processo e com outros alunos que possuem INTEGRAÇÃO
Uma das grandes razões para ocorre a in- especiais, muitos educadores possuem duas as mesmas dificuldades de aprendizagem.
tegração dos educandos com necessidades aulas, uma para os alunos ditos “normais” e São necessários diversos estudos para sa-
educativas especiais, foi promover uma trans- outra para os de integração, sendo de grande A escola precisa de mudanças que produzam ber se a integração é a melhor maneira de
formação na forma de organizar a educação esforço essa preparação e a organização da transformações na sua organização, no seu atendimento às pessoas com algum tipo de
especial, atendendo os alunos que antes eram aula, pois não há material de apoio para to- funcionamento, na formação dos educadores, necessidade, há crianças que não admitem
atendidos nas escolas especiais. Essa propos- das as situações que podem existir. Há vári- no desenvolvimento do currículo integrador e o barulho que toda a escola faz, mas como
ta fez crescer a integração a partir da reforma os debates em relação às vantagens e os in- na construção de um planejamento de aulas in- toda pessoa tem o direito de viver e ter
da educação especial. Mas não é suficiente só convenientes que trazem a inclusão, isso fez tegradoras. São necessárias mudanças signifi- acesso à educação pública, dentro do con-
matricular os alunos com necessidades espe- com que diversos estudos fossem à fundo cativas que produzam nas dimensões relativas texto o mais integrador possível. A escola
ciais nas escolas regulares, não sendo levado nesse assunto (AMARO e MACEDO, 2002). aos processos da escola e das salas de aula, precisa atender da melhor maneira pos-
em conta que eles necessitam de um atendi- no qual consigam um resultado positivo. Um sível essas crianças, adequando tudo, para
mento individualizado.Foram necessárias al- critério é a integração das pessoas com alguma que a experiência integradora contribua
gumas formulações e propostas mais firmes para uma educação de maior qualidade.

38 39
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Um currículo adaptado é uma das carac- dificultam a tarefa conjunta da integração.


A escola que acolhe as crianças com ne- essa criança, pois quando o educador sabe terísticas mais importantes, pois o objetivo O aluno é da escola e todos precisam estar
cessidades especiais precisam de adaptações, a importância da integração, e é convicto da integração não é apenas a ficar com es- cientes disso, fazendo com que essa criança
mas isso gera um crescimento enorme, tan- que a criança tem o direito de estar dentro ses alunos dentro da escola com os demais, seja integrada, facilitando assim o acolhimen-
to para as pessoas que tratam com essas da escola regular com outras dezenas de mas que consigam participar de um currícu- to das mesmas. Há professores que ainda
crianças, quanto para elas, que acabam au- crianças, faz com que essa integração seja lo comum, esse é o principal problema que mostram resistência ao receberem alunos
mentando seus horizontes, não ficando lim- plena, sem tantos problemas (VYGOTSKY, a escola apresenta, pois é complicado ten- com algum grau de necessidade, pois se sen-
itadas dentro de casa e de hospitais, pois 2000); (STAIMBACK S.; STAIMBACK, 1999); tar montar um currículo que atenda todas tem despreparados e a ausência de profes-
geralmente crianças com necessidades es- (FERREIRA, 2006;) . as crianças, pois há um número enorme de sores de apoio suficientes dentro das uni-
peciais, vão de casa para o hospital ou clíni- dificuldades, entre elas os cadeirantes que dades regulares de ensino públicas, quando
cas e voltam, mas a escola acaba sendo um não possuem problemas no cognitivo, alunos há um apoio efetivo na escola, as atitudes se
lugar no qual “brincam”, conhecem pessoas com algumas síndromes que afetam o siste- modificam em direção positiva, pois os edu-
da mesma idade, e participam da melhor OS FATORES QUE FAVORE- ma nervoso, alunos com espectro autista, cadores não podem cuidar de tudo sozinhos.
forma possível das atividades propostas. CEM A INTEGRAÇÃO surdez, cegueira, entre outros problemas.
A segurança do professor depende da sua
É necessário que a escola crie um proje- Os fatores principais que favorecem a Normalmente é preciso uma adaptação competência e quando há uma estabilidade
to educacional e um currículo integrador, integração dentro das escolas são: proje- dos conteúdos de aprendizagem, dos mét- profissional. Essa insegurança está relacio-
não apenas mudando seu funcionamen- tos compartilhados, currículo adaptado, odos pedagógicos e da atenção aos alunos. nada com as dificuldades que imagina que
to, organização e planejamento de aula, é uma organização flexível e atitudes positi- Esse problema está na combinação da dif- podem criar na sala de aula os alunos com
necessário que a família participe das ativi- vas da comunidade educacional como um erenciação curricular com o objetivo de que necessidades educativas especiais e com a
dades escolares, para poder ajudar a formu- todo. O projeto educativo das escolas de todos os alunos participem de um currículo ajuda que receberá de outros educadores,
lar um melhor atendimento, dando opiniões, integração precisa ter uma variável, que comum. As escolas integradoras precisam coordenadores e demais funcionários da es-
tentando junto com a escola fazer com seu prevê todos os processos na integração, buscar práticas que favoreça, a educação dos cola. É normal que o ponto de vista inicial
filho cresça como pessoa e aprenda o que sendo elaborado em conjunto pela equi- alunos com dificuldades de aprendizagem: in- dos educadores sobre a integração seja uma
for possível para a sua vida fora da escola. pe de professores, no qual a educação strução baseada nas suas necessidades; ma- variável, especialmente em função das difi-
dos alunos com necessidades educativas teriais e procedimentos que permitem que culdades dos alunos, pois a dificuldade de
Não há uma fórmula pronta, cada necessi- especiais é o seu maior objetivo, sendo os estudantes avancem no seu próprio rit- um apoio que existem dentro das escolas é
dade é uma, cada dificuldade de aprendiza- um poderoso instrumento de mudança. mo; tempo adicional para os estudantes que uma questão que o educador leva em con-
gem é diferente da outra, mesmo quando o necessitarem; aumento da responsabilidade ta, as formações e a existência de programas
diagnóstico é o mesmo ou similar, da para Uma boa qualidade no projeto educa- dos estudantes por sua própria aprendiza- específicos de atualização, são questões que
perceber que mesmo crianças com a mesma cional precisa ter uma equipe docente co- gem e cooperação entre os estudantes para os educadores levam muito em conta, pois é
síndrome possuem diferentes graus de com- ordenada e com atitudes positivas, espe- alcançar seus objetivos de aprendizagem. necessário que existam diversos cursos, para
prometimento, há casos que a família perce- cialmente dos educadores, facilitando a que o professor tenha um conhecimento so-
beu, antes mesmo de nascer que a criança cooperação entre todos os funcionários, Uma organização que seja flexível para bre o problema do seu aluno, e ao conhecer,
teria alguma necessidade especial e estudou, trabalhando todos em um projeto comum, atender os alunos com necessidade são um tentar junto com os demais aprender a lidar
para poder atender da melhor maneira essa a integração de pessoas com necessidades dos fatores que facilitam a integração, a es- com isso da melhor maneira possível, fazen-
criança, a família e o modo com que encara especiais. Nem sempre acontece isso den- cola precisa mudar a cultura que o aluno é do com que a integração seja plena e eficaz.
a dificuldade de seu filho em se integrar, tro das escolas, é necessária também uma de tal professor, e ele precisa ficar isolado
é um dos pontos mais importantes para o direção eficaz, reunindo esforços ajudan- dentro da sua sala de aula, com esse alu- Um fator importante também são as dis-
sucesso da integração dessa criança dentro do a resolver os problemas que aparecem. no e mais tantos outros, trabalhando sozin- posições legais em favor da integração, que
da escola e da sociedade em que vive, out- ho, às vezes sem saber o que fazer e a quem geralmente não é discutida entre todos os
ro fator importante é o educador que atende procurar ajuda. Criando assim barreiras que funcionários das escolas. As atitudes dos pais

40 41
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

que colocam seus filhos em escolas integra- social deles, é necessário que o professor toconceito mais baixo que os demais colegas,
doras, é de fundamental importância para trabalhe isso, desde o início do ano, tanto independente da escola em que se escolariza.
o processo educativo como um todo, tanto com os pais, como com seus alunos, para que
das crianças que possuem alguma deficiência não haja nenhuma forma de discriminação A escola integradora é aquela que aval-
quanto das demais. Os pais de crianças com frente a esse aluno que tem os mesmos di- ia seus alunos de acordo com suas possib-
algum tipo de deficiência precisam confiar reitos de todos de estarem na sala de aula. ilidades e não em comparação com seus co-
na unidade escolar e nos seus funcionários, legas e que trabalham particularmente em
e precisam ter atitudes positivas, cooperando grupos cooperativos heterogêneos, com
com a escola quando solicitado, trazendo lau- OS EFEITOS DA INTEGRAÇÃO mais possibilidades de melhoria e com-
dos médicos e acompanhando o andamento NOS ALUNOS petência social e a autoestima dos alunos.
de seu aprendizado é de extrema importância. A integração é uma opção educativa fa-
Quando há alguns casos em que as cri- vorável para qualquer necessidade especial,
Dentro das escolas quando a criança anças apenas apresentam pequenos prob- mesmo que a criança não aprende muita coi-
apresenta pouca dificuldade dentro da sua lemas de aprendizagem, nos quais podemos sa dentro da escola, ela sabe que será há mais
condição, seus pais, geralmente acham pos- ver que a integração é um dos fatores mais pessoas no mundo querendo ajudá-la, e para as
itivo a integração dela dentro de uma esco- importantes para que aprendam mais, pois demais, o ensinamento de atender ao próximo,
la regular integradora, mas quando a neces- colocando essas crianças junto de outras com respeitando suas diferenças é algo que levará
sidade é mais séria e o comprometimento é problemas semelhantes, se acomodam, não para o futuro, pois a vida pode mudar de uma
maior, quando a dificuldade de aprendiza- sabendo em quem se espelhar, mas quando hora para outra, e podemos acabar precisan-
gem é maior, os pais demonstram uma cer- colocadas numa sala regular, verá crianças do de atendimento especial algum momento
ta resistência à integração e mostram um da mesma idade, podendo se espelhar no se- da vida (AMARO, D. G.; MACEDO, L., 2002).
medo em deixar seus filhos dentro de esco- melhante, buscando aprender e geralmente ALDAIR CALCANHO DE OLIVEIRA
las “normais”, achando que haverá alguma as crianças que não demonstram problemas
forma de isolamento, um tratamento agres- de aprendizagem depois de terminarem as Graduação em Pedagogia pela Faculdade
sivo das demais crianças, menos possibili- suas tarefas buscam alguém que precise isso CONSIDERAÇÕES FINAIS Uniararas, (2006), Especialista em Musico-
dades educativas, pois o número de crianças faz com que se sintam importantes, e apren- terapia pela Faculdade Campos Elíseos (2018).
é superior que uma sala de crianças especiais dam com o seu semelhante. A integração Não há dúvida que um conjunto de pro- Professor de Educação Infantil e Fundamental
como havia antigamente, fora que acham com colegas mais competentes, isso aca- fessores bons que torna possível o ensino I na CEI Parque Edu Chaves
os recursos das escolas regulares inferiores. ba acontecendo nas salas regulares, e isso integrador em uma escola integradora. O ed-
favorece no processo das aprendizagens. ucador precisa demonstrar compromisso e
Aqui no Brasil com a legislação que temos, vontade de ajudar todos os seus alunos, pre-
na qual a criança tem o direito de frequentar Não é apenas a pessoa com necessidade cisa se comunicar demonstrando entusiasmo
as escolas regulares, fez com que as famílias especial que se desenvolve nesse processo e carinho com seus alunos, precisa dominar
de coragem começassem a tirar seus filhos de de integração, os outros indivíduos tam- o conhecimento da didática da matéria, fa-
casa para que frequentam as escolas, mas isso bém crescem com essa forma de ensino, cilitando a aprendizagem, ao dominar múlti-
era um pouco escolha da família, agora com a pois aprendem a esperar, a respeitar as dif- plos modelos de ensino: a flexibilidade e sua
obrigação de se matricular todas as crianças erenças, o amor ao próximo, o companheiris- habilidade para resolver imprevistos, refletir
dentro da escola, todas as famílias se viram mo e muitas vezes a amizade é levada para sobre sua prática faz com que seu trabalho
obrigadas a fazerem isso, mas na maioria dos o resto da vida. Dentro da escola é um am- seja aprimorado, trabalhar em equipe, en-
casos as famílias fazem valer seus direitos de biente neutro, no qual todos precisam coop- sinando e aprendendo com as experiências
transporte gratuito, solicitam o que podem, erar para o andamento das aulas, e as habil- de seus colegas. Um educador que gosta do
para que dentro da escola tenham todos os idades sociais nas quais há integração é tem que faz e é bom, manifestam-se com mais fa-
atendimentos. As atitudes das demais crianças mais consistência, em que o aspecto mais cilidade nas escolas que possuem condições
frente ao aluno com alguma necessidade é um importante é que os alunos com problemas adequadas para apoiar seus esforços, no qual
dos fatores decisivos para a boa integração de aprendizagem não apresentem um au- criam um ambiente de extrema colaboração.
42 43
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS
AMARO, D. G.; MACEDO, L. Da lógica da exclusão à lógica da in-
clusão: reflexão sobre uma estratégia de apoio à inclusão escolar, 2002.

ALVES, Nilda (org.). Formação de professores - Pensar e faz-


er. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2001. (coleção questões de nossa época).

ARROYO, M. G. Ofício de mestre - Imagens e auto imagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

BATISTA, C. G. Crianças com problemas orgânicos: contribuições e riscos de prog-


nósticos psicológicos. Educar em Revista, Curitiba, v. 23, n. jan-jun, p. 45-63, 2004.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial (SEESP).


Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Brasília, 1996.

COLL, C.; MARCHESI, A.; PALACIOS, J. ; & colaboradores. Desenvolvi-


mento psicológico e educação. Transtornos de desenvolvimento e neces-
sidades educativas especiais, vol. 3. 2ª ed. Artmed. Porto Alegre, 2010.
DIREITO À EDUCAÇÃO NUM ENSINO MULTI-
FERREIRA, W. B. Educar na diversidade: práticas educaciona- CULTURAL
is inclusivas na sala de aula regular. In: Ensaios Pedagógicos - Edu-
cação Inclusiva: direito à diversidade. Brasília: SEESP/MEC, 2006. RESUMO: O presente estudo tratará a respeito da importância da educação escolar e do
direito à educação num ensino multicultural. Vivemos em uma sociedade heterogênea
MAZZOTTA, M. J. da S. Deficiência, Educação Escolar e Necessi- quanto a gênero, raça, religião, “deficiências”, padrões culturais e outros. Dessas diferenças
dades Especiais: reflexões sobre inclusão socioeducacional, 2003. surgem conflitos, porque a sociedade e a escola padronizaram uma cultura como correta:
a “euro americana e branca”, proporcionando direitos desiguais de sobrevivência e ação in-
PERRENOUD, P. Práticas pedagógicas, profissão docente e for- dividual no espaço vivido. Gerando-se nesse contexto histórico, conflitos dos subalter-
mação: Perspectivas sociológicas. Lisboa: Nova Enciclopédia, 1993. nos em busca de seu reconhecimento e respeito ao seu modo de ser, pensar e agir. Neste
sentido este artigo aborda o que é multiculturalismo, de que maneira surgiu, como se pro-
UNESCO. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UN- cessa e desafios para a superação dos impasses gerados poressa pluralidade cultural.
ESCO da Comissão Internacional sobre educação para o sécu-
lo XXI. 4ª ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2000.

VYGOTSKY, L. S.; A formação Social da Mente. São Paulo, Martins Fontes, 2000.
Palavras-chave: Educação;Direitos Humanos; Multiculturalidade.

44 45
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO sem eles a pessoa humana não consegue


O problema de pesquisa é: Qual a A Lei prevê: “Educação Igualitária”
importância do direito e do acesso ao ensino existir ou não é capaz de se desenvolver e
O presente trabalho entrará num tema
multicultural nas escolas? de participar plenamente da vida”. Pode-se
bastante interessante que é o da importân- Para falar em Educação Igualitária, é pre-
compreender que o termo “direitos hu-
cia dos Direitos Humanos, em que serão ciso saber como o homem veio a possuir, ou
O não reconhecimento e respeito a identi- manos” deve ser empregado com a máxima
analisados os direitos protegidos pela seja, obter esse direito igualitário. A importân-
dades culturais diferentes das nossas cautela em textos jurídicos, mesmo porque
crescente legislação internacional sobre o cia dada à dignidade da pessoa humana sofre
criam atritos; quando olhamos para determi- representa um bis in idem, já que, em última
tema (tratados e convenções diversas), casos variações quando relacionada em seu con-
nado grupo social e vemos esses com mais análise, somente o homem pode ser titular
bastante interessante que estaremos men- texto. As manifestações de respeito, amor,
direitos do que o nosso, principalmente as de direitos. No decorrer da evolução do con-
cionando, assim como a sua importância e tolerância e solidariedade representam não
questões econômicas já que precisamos de ceito de proteção de certos direitos básicos
relevância na educação de crianças e ado- um ato contínuo da natureza humana, mas
oportunidades para aprender e se desenvolver do indivíduo, a denominação destes direitos
lescentes. Assim, o presente estudo tratará a uma prova da possibilidade de cultivar-se
como ser social e profissional. É por isso foi se transformando.
respeito da importância da educação esco- uma experiência harmônica na coletividade.
lar, frente às transgressões legais por ações que Paulo Freire defende que o objetivo maior Desde o início do domínio da escrita por vári-
da educação deve ser desenvolvido a Cabe citar como expressões tradicionais
vinculadas ao multiculturalismo. O objeti- os povos, visualizamos uma tentativa ampla
partir do diálogo e da consciência, de maneira ligadas ao tema as seguintes: direitos natu-
vo geral do presente artigo é demonstrar a e gradual da humanidade em assegurar um
que as pessoas possam lutar por sua rais, direitos individuais, liberdades públicas,
importância do direito à edu- modo de vida baseado no respeito e na digni-
liberdade, contra a máquina opressora do direitos públicos subjetivos e finalmente
cação num ensino multicultural. dade, por meio de códigos, leis e declarações.
capitalismo. direitos fundamentais do homem ou direitos
fundamentais da pessoa humana.
Como objetivos específicos espe- A luta pelos Direitos Humanos deve ser um
O tema foi escolhido devido à necessidade Conforme menciona o autor André C. Ramos
ra-se mencionar a respeito do direito à compromisso assumido por indivíduos e in-
individual de convivência com o o termo mais apropriado é direitos funda-
educação, analisar o ensino multicultur- stituições para a garantia da vida em sua to-
próximo, sabendo das nossas diferenças, bus- mentais da pessoa humana, porque o título
al. Justifica-se a pesquisa por saber que, o tal plenitude. As lutas pelos Direitos Humanos
camos entender o multiculturalismo para aquisitivo desses direitos é apenas a existên-
multiculturalismo é um movimento social na história da humanidade possuem uma tra-
aprendermos a interagir e respeitar os difer- cia do ser humano.
surgido nos estados unidos e tem como jetória indefinida e intercalada. Elas não surg-
objetivos principais: a luta pelos direitos entes grupos sociais de forma harmoniosa e iam espontaneamente, permanecendo por
influenciar como futuro educador, nossos Fonseca sustenta o termo “que mais se adeq
civis dos grupos dominados, excluídos por séculos, mas são conquistas dispersas de cada
alunos a tais práticas, minimizando os uaria para a designação dessa categoria espe-
conta de não pertencerem a uma cultura sociedade para promover a verdade daquele
preconceitos e conflitos no ambiente escolar e cial de direitos subjetivos seria direitos fun-
e classe social considerada superior a euro momento, e assim consolidar o valor da pes-
consequentemente social. damentais da pessoa ou direitos essenciais à
americana, branco, letrado, masculino, het- soa humana diante de sua vulnerabilidade.
personalidade”, para distingui-los dos direit-
erossexual e cristão. A formação de um
os adquiridos”. Entretanto, devido à inserção
currículo escolar que aborde essa questão CONCEITUAÇÃO DE DIREITOS do termo “direitos humanos” o utilizarei em Convém relembrar de um acontecimento
ensinando os alunos a “não terem HUMANOS conjunto com o termo “direitos fundamen- marcante em nossa história: A II Guerra Mun-
preconceitos e discriminações, já que dial, que ocorreu no século passado, especifi-
tais da pessoa humana”. Cabe lembrar que
a escola é um espaço de socialização”. Inicialmente é interessante entender o que camente entre os anos de 1939-1945. Com
os direitos humanos não constituem um con-
significa direitos humanos. Fundado na per- junto finito, demonstrável a partir de critéri- o fim da guerra, foi criada uma organização
O multiculturalismo só ganhou pulso cepção de HESSE, é um conjunto mínimo de dire- mundial, a qual visava e ainda visa estabelecer
os axiológicos-valorativos. Pelo contrário,
e força a nível estadunidense e mundial, itos necessários para assegurar uma vida do ser um propósito de igualdade e de paz entre os
a análise da história da humanidade nos faz
pois os grupos silenciados num primeiro mo- humano baseada na liberdade e na dignidade. homens. Esta organização ficou conhecida
contextualizar o conceito de direitos hu-
mento, não calaram sua voz se uniram nos Para Dallari, direitos humanos representam como ONU (Organização das Nações Unidas),
manos, entendendo-o como fluido e aberto.
movimentos negro, feminista, homossexu- “uma forma abreviada de mencionar os direit-
ais e a luta dos deficientes. Hoje o assunto os fundamentais da pessoa humana. Esses di- Embasada nesta lei superior igualitária em
interessa ao currículo escolar e aos políticos. reitos são considerados fundamentais porque nosso país, a Constituição da República Fed-

46 47
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

erativa, reunida em Assembleia Nacion- Conceito de Direito à Educação


O ensino recebe uma especial proteção propiciar vagas escolares para todos, a
al, promulga e representa os interesses do
da Constituição, por meio da vinculação que família é obrigada a matricular seus menores
povo brasileiro por assegurar o exercício O papel da instrução é preparar e formar
esta faz entre a receita proveniente de im- e cuidar para que eles frequentem com
dos direitos sociais e individuais, a liber- homens capazes e úteis à sociedade: o papel do
postos e transferências. Sendo assim, o Esta- assiduidade a escola.
dade, a segurança, o bem-estar, o desen- governo é fornecer meio fáceis de se adquirir a
do se desonera de seu dever de educar, sat-
volvimento, a igualdade e a justiça como va- instrução, disseminando escolas e patrocinan-
isfazendo aos incisos do art. 208; salienta-se O art. 53 do ECA proclama que
lores supremos de uma sociedade fraterna, do iniciativas boas, confiadas à competência e
aí o dever do estado em matéria de ensino a criança e o adolescente têm
pluralista, fundada na harmonia social e com- ao amor por tão nobilitante tarefa. A educação
fundamental, que é obrigatório e gratuito, in- direito à educação, visando ao pleno desen-
prometida, na ordem interna e internacion- é um conjunto de ações organizadas, no interi-
clusive, sua oferta gratuita para todos os que volvimento de sua pessoa, preparo para o
al, com a solução pacífica das controvérsias. or de qualquer sociedade que objetiva formar
a ele não tiveram acesso na própria idade. exercício da cidadania e qualificação para o
Com a criação do Estatuto da Criança e do Ado- o indivíduo. Ela deve proporcionar os meios trabalho. Com efeito, sem o devido preparo,
Com o objetivo de fazer cumprir os dire- necessários para entender o mundo em que se
lescente, lei 8.069 de 13 de julho de 1990, fica o acesso ao trabalho e ao gozo dos direitos
itos e deveres, o Estado tem como garantias vive e o momento histórico em que se situa.
assegurado os direitos da criança e do adoles- civis e políticos tornar-se-ão improváveis.
fundamentais diversos artigos que são indis-
cente, garantindo oportunidade para que desen-
pensáveis. Dentro destes artigos destaca-se Segundo Freire (1990, p. 27), “Não é pos-
volvam o lado físico, moral, espiritual e social. A educação é um processo de apren-
aqueles que promovem os direitos e deveres sível fazer uma reflexão sobre o que é a edu- dizagem e aperfeiçoamento, por meio do
tanto individuais, como coletivos. Art.5º - To- cação sem refletir sobre o próprio homem”.
Dentre os direitos que o ECA prevê de- qual as pessoas se preparam para a vida.
dos são iguais perante a lei, sem distinção de Com base nesta citação, o homem deve receber
staca-se aqui o direito a Educação nos se- Pela educação obtém-se o desenvolvimento
qualquer natureza garantindo-se aos brasile- então para se incorporar no mundo cultural e
guintes artigos do título II capítulo IV: individual da pessoa, que aprende a utilizar
iros e aos estrangeiros residentes no país a aprender a se relacionar com ele; usar plena- do modo mais conveniente sua inteligência
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, mente suas capacidades e habilidades; com- e sua memória. Desse modo, cada ser huma-
à igualdade, à segurança e à propriedade. preender e assumir seu papel de receptor de
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, no pode receber conhecimentos obtidos por
Art.6º - São direitos sociais a educação, a visando o pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo uma “lembrança” produzida pela humanidade. outros seres humanos e trabalhar para a ob-
saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. Para Freire (1990, p. 30), “O homem enche tenção de novos conhecimentos. Além disso,
previdência social, a proteção à materni- de cultura os geográficos e históricos. Cul-
Art.58. No processo educacional respeitar-se-ão os va- a educação torna possível a associação da
dade e à infância, a assistência aos desa- tura é tudo o que é criado pelo homem [...]
lores culturais, artísticos e históricos próprios do contex- razão com os sentimentos, propiciando o
mparados, na forma desta Constituição. to social da criança e do adolescente, garantindo-se a es- A cultura consiste em criar e não repetir. O aperfeiçoamento espiritual das pessoas
Partindo deste princípio, Bastos tes a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura. homem pode fazê-lo porque para a adap- (DALLARI, 1985).
(1998, p. 482) define educação como: tação do indivíduo à sociedade. O homem
Além disso, pode-se destacar também o art. deve transformar a realidade para ser mais”.
55 do ECA, o qual conta a obrigação dos pais Por tudo isso, fica evidente a importân-
[...] direito de todos e dever do Estado e da Não há dúvida de que o desenvolvimen-
ou responsáveis de matricular seus filhos ou cia da educação na vida de todos os seres
família, por ter como objetivo o pleno desen- to adequado da personalidade prescinde,
pupilos (crianças que tomam conta) na rede humanos. A educação torna as pessoas mais
volvimento das pessoas, seu preparo para de forma insofismável, da passagem pela
regular de ensino. Caso o Estado não ofereça o preparadas para a vida mas também para a
a cidadania e sua qualificação para o tra- escola. Daí por que o Poder Público e a
ensino público e gratuito, ou a sua oferta seja convivência. Com efeito, a pessoa mais edu-
balho, que baseia-se nos princípios firmados família, de modo especial, são responsáveis
irregular, isso é um desrespeito a um direito cada tem maior facilidade para compreender
no art.206 dentre os quais se destaca o in- para que tal direito — o de escolarização —
constitucional, e a autoridade responsável as demais, para aceitar as diferenças que ex-
ciso IV, que determina a gratuidade do en- concretize-se na vida de cada menor.
pode ser penalizada pela lei, conforme o ar- istem de indivíduo para indivíduo e para dar
sino público em estabelecimentos oficiais. É oportuno observar que a Constituição Federal,
tigo 54, 2º parágrafo. De acordo com todas apoio ao desenvolvimento interior e social
no art. 205, preceitua que a educação é di- das outras pessoas. Por isso, a educação de
no art. 205, preceitua que a educação é di- estas leis expostas e conforme Bastos (1998, reito de todos e dever do Estado e da família.
p. 80), “A Educação consiste num processo de cada um interessa a todos.
reito de todos e dever do Estado e da família. Ao mesmo tempo em que o Estado deve propi-
Ao mesmo tempo em que o Estado deve desenvolvimento do indivíduo, visando o seu ciar vagas escolares para todos, a família
crescimento integral para um melhor exer- é obrigada a matricular seus menores e cuidar
cício da cidadania e aptidão para o trabalho”. para que eles frequentem com
assiduidade a escola.
48 49
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

depende das condições gerais da vida social. Cultura é tudo o que é criado pelo homem
A educação de uma pessoa começa nos Os valores predominantes na sociedade, as [...] A cultura consiste em criar e não repetir.
seus primeiros instantes de vida. Desde o Mas no mundo atual, a situação já não condições econômicas, os costumes, tudo O homem pode fazê-lo porque para a adap-
momento em que nasce, o ser humano é a mesma. Os sistemas de vida de quase isso é importante, mas são formas indiretas de tação do indivíduo à sociedade. O homem
começa a receber orientação e treinamento, todos os povos deixam pouco tempo e re- promover a educação e não estão imediata- deve transformar a realidade para ser mais”.
aprende a reagir perante situações criadas duzidas possibilidades para a vida familiar. mente ligadas ao que se costuma chamar de
pela natureza, pela sociedade e vai adquirindo Aumentou muito o núme- sistema educacional. Este compreende o Mediante a este princípio de que parte
hábitos, que farão parte de seu modo de ro de grandes cidades, nas quais conjunto de escolas, de todos os níveis, em Paulo Freire é possível dizer que a educação
ser. E quando começa a observar o meio em a maioria das pessoas adultas funcionamento no país, num Estado ou numa é um processo contínuo, ativo e dinâmico, in-
que está vivendo e a ter possibilidade de passa a maior parte do dia fora de casa, além cidade. Para que o sistema escolar possa terativo, pessoal e único, natural do homem e
tomar decisões, inicia seu processo de de perder muito tempo com a locomoção. desempenhar bem suas funções, que são da que se desenvolve num tempo e num espaço
integração na vida social. E daí por diante E mesmo nas cidades menores, já se tornou máxima responsabilidade é preciso que as que está em permanente transformação. Nin-
cada fato e cada situação exercerão influência comum que quase não exista convivência escolas tenham como objetivo principal dar guém escapa da educação, seja ela informal ou
sobre a definição de sua personalidade. A no lar. Todos esses fatores reduziram mui- boa formação e bom preparo aos alunos. assistemática ou formal e sistemática. A edu-
pessoa adulta será o resultado da educação to a possibilidade de educação informal. Todos os demais objetivos devem vir de- cação existe no ambiente escolar e por toda a
recebida desde os primeiros instantes de Além disso, aumenta cada vez mais a in- pois desse (DALLARI, 1985). Assim, por parte pode haver redes e estruturas sociais de
vida. Como se verifica, a educação de uma fluência dos conhecimentos técnicos e exemplo, quando um grupo de pessoas re- transferências de saber de uma geração a out-
pessoa começa na família ou no meio so- científicos, e de outros adquiridos na esco- solve abrir uma escola e fazer disso o seu meio ra, em locais que ainda não foi sequer criada
cial em que a criança nasceu e passa a viver. la, sobre o progresso individual e social dos de vida, é evidente que precisam cobrar dos a sombra de algum modelo de ensino formal
Essa é a chamada educação informal, que é seres humanos. E os meios de comunicação alunos, para terem um bom prédio, com e centralizado. Porque a educação aprende
dada fora da escola, tanto à criança quanto de massa, transmitindo informações e equipamento adequado, para terem bons com o homem a continuar o trabalho da vida.
ao adolescente e ao adulto. Ao lado des- conhecimentos, bem como sugestões so- professores e para que não falte o material
sa, existe, ou pelo menos deve existir, a bre comportamentos, podem ter influência escolar necessário. Além disso, precis- A vida que transporta de uma espécie
educação formal, que é dada na escola. Não decisiva na vida das pessoas que não es- am também do dinheiro para sua própria para a outra, dentro da história da natureza,
se pode dizer que uma seja mais importante tiverem bem preparadas para avaliar subsistência. O que não se pode admitir é e de uma geração a outra de viventes, den-
do que a outra, pois na realidade ambas racionalmente essas trans- que organizem e dirijam a escola tendo como tro da espécie, os princípios por meio dos
podem ter influência decisiva na vida de missões (DALLARI, 1985). principal objetivo ganhar dinheiro, deixando quais a própria vida aprende e ensina a so-
qualquer pessoa (DALLARI, 1985). Até há em posição secundária a preocupação com breviver e a evoluir em cada tipo de ser. O
poucos anos, se considerava que a educação a qualidade do ensino. homem que transforma, com o trabalho e
informal tinha a principal responsabilidade Por todas essas razões, tornou-se prati- a consciência, partes da natureza em in-
pelo bom desenvolvimento psicológico das camente indispensável a boa educação Outra exigência fundamental é é que to- venções de sua cultura, aprendeu com o
pessoas e por seu preparo básico para a escolar, a fim de que a pessoa possa desen- dos, sem qualquer exceção, tenham igual tempo a transformar partes das trocas feit-
vida social. Isso porque durante os primeiros volver sua personalidade e esteja bem oportunidade de educação. Não basta diz- as no interior desta cultura em situações de
anos de vida, quando a pessoa recebe os en- preparada para a vida social. É por isso er que todos têm o mesmo direito de ir à aprender-ensinar-e-aprender: em educação.
sinamentos iniciais sobre como se comportar que se inclui o direito à educação, tanto na escola, é preciso que tenham também a
no relacionamento com outras pessoas, não família quanto na escola, como um di- mesma possibilidade. Na realidade, não está
existe ainda o contato com a escola. Depois reito fundamental da pessoa humana. assegurado para todos o direito à edu-
disso, considerava-se normal que as pes- cação em locais que não existem escolas ou
soas passassem mais tempo com a família do A possibilidade de receber educação quando não há escolas suficientes. Não está
que no ambiente escolar. Por esses moti- na família e na sociedade, fora da escola, assegurado esse direito quando os pais não
vos, considerava-se que a escola era um podem pagar as taxas da escola e com
complemento da família.

50 51
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ENSINO MULTICULTURAL atitudes eficazes como: fim do isolamento


dos movimentos brasileiros em relação aos “A propósito a ONU e suas agências es- levem os mesmos a pesquisa da sua reali-
Na área educacional muitos estudos movimentos de libertação racial em outros pecializadas, sobretudo a UNESCO, dade local, humano quando não despreza um
têm sido formulados na tentativa de criar países. Os congressos e conferências pan- impulsionarão os países membros a elab- aluno que não pertence ao padrão cultural
um currículo que busque os interesses dos africanas irão possibilitar trocas de infor- orar garantias jurídico-institucionais para aceito, ele deve ser um profissional com todas
não pertencentes aos padrões dominantes, mações visando a conscientização do valor da proteger as vidas de grupos cultural- essas competências e não apenas aquele
assim: “Nos parâmetros curriculares nacio- cultura negra e a libertação do complexo mente dominados” (SILVA, BRADIM, 2008). que sabe do conteúdo, mas que com sua
nais – PCN (BRASIL,1997) consta que o de inferioridade em relação às culturas bagagem teórica ensine a viv-
Brasil tem participado de eventos impor- brancas; a criação de organizações de reivin- er neste mundo capitalista.
tantes, como a Conferência Mundial de dicação do movimento negro no país, a CONSIDERAÇÕES FINAIS
Educação para Todos, realizada em Josti- exemplo da Associação dos Negros Brasile- Contudo somos a favor do multicultur-
em, na Tailândia, em 1990, convocada por iros (ANB), Convenção Nacional do Negro alismo crítico, entendendo que o respeito à
O multiculturalismo e a educação es-
organizações como a UNESCO, UNICEF e Brasileiro (CNNB), União Nacional dos vida humana, diversidade cultural é essen-
tão intimamente ligados, porque ao mesmo
Banco Mundial” (SILVA, BRADIM, 2008, p. 59). Homens de Cor (UNHC), a criação do Teatro cial para a construção de um mundo de paz,
tempo em que a escola ensina as plurali-
Experimental Negro (TEM); a atuação de como educadores vemos na instituição es-
dades culturais ela segrega os que não fazem
Somente no início do século XXI é organizações internacionais, como a ONU. colar uma força maior que nos conduzirá a
parte daquele padrão aceitável pelo seu
que podemos perceber uma significativa sistema educacional. Quando em seus esse processo de justiça social e democráti-
mudança, posto que várias instituições do Nos parâmetros curriculares naciona- ca. Nessa vertente é necessário o avanço de
ensinamentos morais pregam o respeito à tol-
ensino superior começaram a adotar  as is – PCN (BRASIL, 1997) consta que o pesquisas teóricas e praticas envolvida na
erância ao próximo ela segrega dando num
denominadas ações afirmativas para negros Brasil tem participado de eventos impor- formação de identidades e pluralidades cul-
mesmo espaço maiores oportunidades de
e indígenas, com ênfase no sistema de cotas. tantes, como a Conferência Mundial de turais.
expressão e atenção aos brancos. Torna-se
E, desde 2003, há a obrigatoriedade das Educação para Todos, realizada em Josti-
urgente uma educação verdadeiramente
temáticas história e cultura do negro no Brasil em, na Tailândia, em 1990, convocada por Nas diretrizes norteadoras do Ensino Fundamental descri-
democrática, que inclua a diversidade
nos currículos escolares, sancionada por organizações como a UNESCO, UNICEF e tas no Plano Nacional de Educação encontramos as ativ-
cultural,  para que este processo aconteça idades artísticas relacionadas às intenções de futura am-
meio da Lei 10.639 (SANTOS, QUEIROZ, Banco Mundial” (SILVA, BRADIM, 2008,p.59)
é necessário o convívio multicultural que pliação do atendimento em tempo integral, oportunizando
2007). implica respeito ao outro, diálo- orientação no cumprimento dos deveres escolares, prática
Quanto às ações políticas Silva e Brad- de esportes, desenvolvimento de atividades artísticas e ali-
go com os valores do outro.
No contexto educacional as práti- im relatam que devido as pressões mentação adequada. (BRASIL, 2001, p. 71).
cas que se engajaram a despeito do populares multiculturais e as teorias críti-
Propõe-se a realização eficaz de mudanças
multiculturalismo são: Nos parâmetros cur- cas e pós-críticas, as próprias organizações
sistemas educacionais enquanto espaços
riculares nacionais – PCN (BRASIL, 1997) internacionais de defesa dos direitos hu- Os procedimentos em arte são
mooculturais, por meio do desenvolvimen-
consta que o Brasil tem participado de manos firma o compromisso de promover uma direcionados para o conhecimento de
to de atitudes, projetos curriculares e ideias
eventos importantes, como a Conferência educação para a cidadania baseada no re- saberes artísticos e estéticos, mas também
pedagógicas, que sejam sensíveis à emergên-
Mundial de Educação para Todos, real- speito a diversidade cultural, visando a estão assentados em princípios que norteiam
cia do multiculturalismo.
izada em Jostiem, na Tailândia, em 1990, superação das discriminações e preconceitos.
as práticas de inclusão social: aceitação das
convocada por organizações como a UN- Candau (1997) menciona a conferência
O professor deve ser crítico reflexi- diferenças individuais, valorização de cada
ESCO, UNICEF e Banco Mundial (SILVA, mundial sobre políticas culturais, promovi-
vo, humano. Questionando o que ele vai pessoa, respeito à própria produção e à
BRADIM, 2008, p. 59). da pela UNESCO, em 1982, no México, cujo
ensinar aos seus alunos e propor reformas dos demais, aprendizagem com ênfase na
papel é o de contribuir para a aproximação
pedagógicas já que ele é o mediador do experimentação e cooperação mútua.
O movimento negro no Brasil só ganhou entre os povos e uma melhor compreensão
conhecimento, ouvindo seus alunos quanto
força nos anos 50 porque eles tomaram entre as pessoas.
a suas dificuldades, incentivar trabalhos que

52 53
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

enquanto domínio específico passa pela


A relativa importância do ensino da avaliar. Se a sociedade não confere um sua operacionalização no ensino. Durante
arte no currículo escolar, que é fruto valor cognitivo à expressão artística, não muito tempo as artes visuais estiveram
de um emaranhado de interesses são necessários profissionais preparados confinadas unicamente ao desenvolvimento
profissionais, políticos e ideológicos, para ensiná-la. Muitas vezes as crianças da destreza manual e visual das
pode ser percebida ainda hoje na mostram-se desinteressadas pelas atividades crianças, cujo objetivo era a expressão
organização disciplinar. A hierarquia propostas, outras vezes os exercícios exigem livre, explorando materiais e técnicas.
do conhecimento escolar explícita e da criança uma capacidade superior ao seu
implícita ainda mantém o ensino da estádio de desenvolvimento, outras vezes Não existindo uma intervenção orientada
Arte num escalão inferior da estrutura surgem trabalhos pouco interessantes por parte do professor, este assumiu um papel
curricular; porém, felizmente, não artisticamente. passivo no âmbito deste domínio, pois, não
decreta seu falecimento. (TOURINHO, havia normas ou regras às quais as crianças
2003, p. 28). Esta situação traz consigo outro problema que tinham de obedecer, nem correções a fazer.
tem a ver com a altura em que se introduzem
ALEXANDRA FERREIRA RAMOS PRADO
“Não basta hoje em dia ter uma inclinação
Se forem desenvolvidos essas técnicas. Muitas vezes o educador não para a cultura; é preciso sentir por ela uma
Professora de Educação Infantil e Fun-
adequadamente, os cursos de arte atende ao estádio de desenvolvimento das verdadeira paixão” (BRASIL, 2001, p. 33). damental I na Prefeitura de São Paulo
favorecem a apreensão desses princípios crianças, outras vezes ensinam técnicas de Artigo apresentado como requisito parcial para
e podem abrigar outros conhecimentos, forma isolada, como se de uma receita se Para o educador, o aluno é sempre um aprovação do Trabalho de Conclusão do Curso
atendendo as propostas de integração tratasse, em vez de integrá-las num projeto mistério a ser decifrado, pois cada um de Especialização em Educação Multicultural.
social e transição para futuras inserções educativo que pressupõe conteúdos e tem suas características, sua essência e
profissionais. Os saberes cercam objetivos. experiências que já traz de sua vida para
uma educação para a experiência, a a sala de aula, então o foco agora a busca REFERÊNCIAS
descoberta e o autoconhecimento. Pode ser mais um estorvo, que uma ajuda, de informações de como atingir esse
A verdade é que as artes ainda são já que a criança não é capaz de aprendê- indivíduo através da arte. Estamos inseridos BASTOS, C.R. Curso de direito consti-
entendidas pela nossa sociedade como la, manusear e tirar partido na elaboração em uma sociedade multifacetada, onde a tucional. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1998.
forma de distração, e não uma área que dos seus trabalhos. Na maioria dos casos educação faz parte de um grande processo
possui uma importância determinante estas atividades tornam-se elas próprias o político e econômico. Dessa forma todos DALLARI, D.A. Viver em Socie-
para o desenvolvimento pessoal, social eixo central da área, sem terem qualquer sofrem influências sociais e culturais dade. São Paulo: Moderna, 1985.
e cultural do aluno. Claro que, se a referência aos objetivos e conteúdos cada um dentro do contexto em que vive.
sociedade não confere uma função plásticos (ARNHEIM, 1999, p. 41). FREIRE, P. A educação na ci-
social e educativa à expressão artística, Assim na comunidade escolar observa- dade. 2. ed. São Paulo: Cortez,1990.
será extremamente difícil sensibilizar os Acredita-se que embora a arte seja se uma incongruência muito grandeentre
diferentes intervenientes no processo sinônima da exteriorização de emoções a escola a comunidade e os alunos, em FREIRE, P. Política e Edu-
educativo para a sua importância. ainda que muitas correntes artísticas e relação aos objetivos a seremalcançados. cação. São Paulo: Cortez, 1992.
pensamentos contemporâneos rejeitem Acredita-se que para esta situação melhorar
Os professores muitas vezes não este posicionamento, assumindo um seja necessário criar um conjunto de SILVA, M.J.A.; BRANDIM, M.R.L. Multicul-
sabem que conteúdos trabalharem, que caráter exatamente oposto, estas emoções estratégias e medidas educativas capazes turalismo e Educação: em defesa da diver-
objetivos pretendem alcançar, quais são também umas formas de conhecer. de minimizar as dificuldades relativas à sidade cultural. Diversa. Ano1, n.2, 2008.
metodologias devem ser utilizadas e
acima de tudo, desconhecem como Outro dos problemas que a arte possui

54 55
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO aprendizagem. A arte é vista como “um


processo de comunicação social, envolvendo
sentidos e significados inteligíveis a qualquer
Objetiva-se que este trabalho possa ser pessoa”, combinando as vivências individuais
lido por educadores que estejam dispostos com a recepção do produto estético,
a tomar consciência para fazer a diferença, percebido como produto social da cultura
conhecendo, reconhecendo e valorizando a (STUMM, 2007, p. 362).
história, pois se percebe que o ser humano
não sabe ainda valorizar algo se não conhece Nos Parâmetros Curriculares do Ensino
como e porque ocorreu, e se não se reconhece Fundamental (BRASIL, 1997, p. 15) intitulado
dentro do contexto histórico como parte “Arte”, tem como objetivo expor o “significado
desta história, do todo. Assim observa-se uma da arte na educação, explicitando conteúdos,
possibilidade muito grande de os discentes objetivos e especificidades, tanto no que se
se interessarem pela arte colocando como refere ao ensino e à aprendizagem, quanto
metodologia educação estética. no que se refere à arte como manifestação
humana”.
O maior objetivo nesta pesquisa é
contaminar a classe docente com a vontade Apesar dos Parâmetros terem a intenção de não se
de buscar e pesquisar novas essências configurarem em “um modelo curricular homogêneo e
artísticas, para como em efeito dominó este impositivo, que se sobreporia à competência política
docente contamine seu discente para a busca executiva dos Estados e Municípios, à diversidade
de sua própria essência, trazendo a tona toda sociocultural das diferentes regiões do País ou à autonomia
intuição, percepção, imaginação e apreciação de professores e equipes pedagógicas”, as múltiplas
AS ARTES VISUAIS E SUA INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO para trazer a consciência artística para a iniciativas que seriam necessárias para que essa intenção
realidade. fosse alcançada parecem não terem se concretizado.
(BRASIL, 1997, p. 13).
A metodologia desenvolvida nesta pesquisa
RESUMO: Neste artigo, discorre-se sobre a importância das artes visuais na educação, en- foi estritamente bibliográfica de análise Os Parâmetros Curriculares Nacionais
fatizando a influência do trabalho artístico na educação como ferramenta pedagógica. Ob- qualitativa em artigos, teses, livros e internet. (PCN) de Arte visam principalmente ao
jetiva-se que este trabalho possa ser lido por educadores que estejam dispostos a tomar aprimoramento do aluno como indivíduo
consciência para fazer a diferença, conhecendo, reconhecendo e valorizando a história, AS ARTES VISUAIS E SUA INFLUÊNCIA participativo e consciente de suas
pois se percebe que o ser humano não sabe ainda valorizar algo se não conhece como e ARTÍSTICA NA EDUCAÇÃO possibilidades e deveres sociais. A melhoria da
porque ocorreu, e se não se reconhece dentro do contexto histórico como parte desta qualidade do ensino é um desafio para todos
Na relação entre artes visuais e contexto os docentes e os PCN procuram mostrar que
história, do todo. Sabendo-se da importância das artes a metodologia desenvolvida nes-
social, é possível afirmar que a arte contribui o valor da aprendizagem é mais evidenciado
ta pesquisa foi à revisão bibliográfica em artigos, teses, livro e periódicos além da internet.
como mediadora entre o sujeito e o mundo. quando reflete em profundidade o sentido e
A arte instiga a criatividade e a imaginação, o fortalecimento da cidadania, preparando os
Palavras Chaves: Educação; Artes Visuais; Arte Moderna; Linguagem. contribuindo para o desenvolvimento e alunos para a vida (BRASIL, 2001).

56 57
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Nas diretrizes norteadoras do Ensino A verdade é que as artes ainda são trabalhos. Na maioria dos casos estas atividades econômico. Dessa forma todos sofrem
Fundamental descritas no Plano Nacional entendidas pela nossa sociedade como tornam-se elas próprias o eixo central da área, influências sociais e culturais cada um
de Educação encontramos as atividades forma de distração, e não uma área que sem terem qualquer referência a objetivos e dentro do contexto em que vive. Assim
artísticas relacionadas às intenções de futura possui uma importância determinante para conteúdos plásticos (ARNHEIM, 1999, p. 41). na comunidade escolar observa-se uma
ampliação do atendimento em tempo integral, o desenvolvimento pessoal, social e cultural incongruência muito grande entre a
oportunizando orientação no cumprimento do aluno. Claro que, se a sociedade não Acredita-se que embora a arte seja escola a comunidade e os alunos, em
dos deveres escolares, prática de esportes, confere uma função social e educativa à sinônima da exteriorização de emoções relação aos objetivos a serem alcançados.
desenvolvimento de atividades artísticas e expressão artística, será extremamente difícil ainda que muitas correntes artísticas e
alimentação adequada. (BRASIL, 2001, p. 71). sensibilizar os diferentes intervenientes no pensamentos contemporâneos rejeitem Acredita-se que para esta situação
processo educativo para a sua importância. este posicionamento, assumindo um melhorar seja necessário criar um conjunto
Os procedimentos em arte são caráter exatamente oposto, estas emoções de estratégias e medidas educativas
direcionados para o conhecimento de Os professores muitas vezes não são também umas formas de conhecer. capazes de minimizar as dificuldades
saberes artísticos e estéticos, mas também sabem que conteúdos trabalharem, que Outro dos problemas que a arte possui relativas à formação específica na área de
estão assentados em princípios que norteiam objetivos pretendem alcançar, quais enquanto domínio específico passa pela sua artes, seja ela visual, plástica, educacional.
as práticas de inclusão social: aceitação metodologias devem ser utilizadas e acima operacionalização no ensino. Durante muito Em suma julga-se necessário refletir sobre
das diferenças individuais, valorização de de tudo, desconhecem como avaliar. Se a tempo as artes visuais estiveram confinadas a criação de orientações e programas
cada pessoa, respeito à própria produção sociedade não confere um valor cognitivo unicamente ao desenvolvimento da destreza curriculares que se ajustem às teorias de
e à dos demais, aprendizagem com ênfase à expressão artística, não são necessários manual e visual das crianças, cujo objetivo era a desenvolvimento e aos novos interesses
na experimentação e cooperação mútua. profissionais preparados para ensiná-la. expressão livre, explorando materiais e técnicas. socioculturais, relacionados ao fazer
Muitas vezes as crianças mostram-se pedagógico e estético das artes visuais.
A relativa importância do ensino da arte desinteressadas pelas atividades propostas, .
no currículo escolar, que é fruto de um outras vezes os exercícios exigem da criança Não existindo uma intervenção orientada por CONSIDERAÇÕES FINAIS
emaranhado de interesses profissionais, uma capacidade superior ao seu estádio parte do professor, este assumiu um papel
políticos e ideológicos, pode ser percebida de desenvolvimento, outras vezes surgem passivo no âmbito deste domínio, pois, não Ao abordar a caracterização de Arte,
ainda hoje na organização disciplinar. trabalhos pouco interessantes artisticamente. havia normas ou regras às quais as crianças o PCN (2001) destaca que o ser humano
A hierarquia do conhecimento escolar tinham de obedecer, nem correções a fazer. que não conhece arte tem uma experiência
explícita e implícita ainda mantém o ensino Esta situação traz consigo outro “Não basta hoje em dia ter uma inclinação de aprendizagem limitada, escapa-lhe a
da Arte num escalão inferior da estrutura problema que tem a ver com a altura em para a cultura; é preciso sentir por ela uma dimensão do sonho, da força comunicativa
curricular; porém, felizmente, não decreta que se introduzem essas técnicas. Muitas verdadeira paixão” (BRASIL, 2001, p. 33). dos objetos à sua volta, da sonoridade
seu falecimento. (TOURINHO, 2003, p. 28). vezes o educador não atende ao estádio Para o educador, o aluno é sempre um mistério instigante da poesia, das criações musicais,
de desenvolvimento das crianças, outras a ser decifrado, pois cada um tem suas das cores e formas, dos gestos e luzes
Se forem desenvolvidos adequadamente, vezes ensinam técnicas de forma isolada, características, sua essência e experiências que buscam o sentido real da vida. A
os cursos de arte favorecem a apreensão como se de uma receita se tratasse, em que já traz de sua vida para a sala de aula, aprendizagem artística envolve um conjunto
desses princípios e podem abrigar outros vez de integrá-las num projeto educativo então o foco agora a busca de informações de de diferentes tipos de conhecimentos,
conhecimentos, atendendo as propostas que pressupõe conteúdos e objetivos. como atingir esse indivíduo através da arte. que visam à criação de significações,
de integração social e transição para Estamos inseridos em uma sociedade exercitando fundamentalmente a constante
futuras inserções profissionais. Os saberes Pode ser mais um estorvo, que uma ajuda, multifacetada, onde a educação faz possibilidade de transformação do ser
cercam uma educação para a experiência, já que a criança não é capaz de aprendê-la, parte de um grande processo político e humano, tornando-o consciente por seus
a descoberta e o autoconhecimento. manusear e tirar partido na elaboração dos seus atos e inibindo também a agressividade.

58 59
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS EAGLETON, T. A ideologia da estética. Rio de Paulo: Martins Fontes, 2007.


Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
A Arte tem uma capacidade infinita de ARIES, P. História social da infância e da família. Rio PIAGET, J. A. Formação do símbolo na criança:
possibilidades diante das coisas e do mundo de Janeiro: Guanabara, 2001. FERREIRA, A. B. H. (1999). Novo Aurélio Século imitação, jogo e sonho, imagem representação.
que o rodeia, ou seja, se oferecermos, na XXI: o dicionário da língua portuguesa. Rio de 3. ed. Trad. Álvaro Cabral e Christiano Monteiro
escola, um trabalho adequado, mantendo um ARNHEIM, R. Consideraciones sobre la educación Janeiro: Nova Fronteira, 1999. Oiticica. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
diálogo constante sobre a importância das artística. Barcelona: Paidós,1999.
artes, dos artistas e do papel que ela exerceu FRANÇA, S. L. e YAEGASHI, S. F. R. A agressividade PILLOTTO, S. S. D. A trajetória histórica das
e exerce na construção do conhecimento, ATACK, S. M. Atividades artísticas para deficientes. na infância: um estudo sobre suas causas e abordagens do ensino e aprendizagem da arte
formaremos adultos melhores relacionados São Paulo: Papirus, 1995. consequências. Iniciação Científica CESUMAR. no contexto atual. Revista Univille, v. 5, n. 1,
não só entre si, mas com o fazer artístico e Jan./jun. 2005, v. 07 .n. 01, p. 11 - 18. abr. 2000.
evidentemente produtores e consumidores BARBOSA, A. M. T. B. (Org.). Ensino da arte: memória
de bens culturais. e história. São Paulo:Perspectiva, 2008.BARBOSA, A. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes PROENÇA, G. História da arte. São Paulo: Ática,
M. T. B. A imagem no ensino de arte. 5. ed. São Paulo: Necessários à Prática Docente. São Paulo: Paz e 2006.
Perspectiva, 2004. Terra, 2011.
READ, H. A Educação pela Arte. São Paulo:
BARBOSA, A. M. T. B. Teoria e prática da educação FULLAN, M e HARGREAVES, A. A Escola como Martins Fontes, 2001.
artística. São Paulo: Cultrix, 2003. Organização Aprendente: Buscando uma Educação
de Qualidade. Porto Alegre; Artmed, 2000. REVERBEL, O. Um caminho do teatro na escola.
BEYER, H. O. Inclusão e avaliação na escola de alunos São Paulo: Scipione, 2007.
com necessidades educacionais especiais. Porto FUSARI, M. F. R. e FERRAZ, M. H. C. T. Arte na
Alegre: Mediação, 2005. educação escolar. São Paulo: Cortez, 2012. SANS, P. T. C. A criança e o artista. Fundamentos
para o ensino das artes plásticas.São Paulo:
BRASIL. RCNI. Referencial Curricular Nacional para a GIROUX, H. A. A disneização da Cultura Infantil. Papirus, 2007.
Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. Trad. Tomaz Tadeu da Silva (mimeo), 2000.
STUMM, R. L. O contexto sociocultural na
BRASIL. PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais: HERNÁNDEZ, F. Cultura visual, mudança educativa formação do artista plástico: um estudo em
Arte. Brasília: MEC/SEF, 2001. e projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2000. atelier de cerâmica. In: CORRÊA, A. D. Ensino
de Artes: múltiplos olhares. Ijuí: Unijuí, 2007.
BRENNAN, B. A. Mãos de Luz - um guia para a cura IAVELBERG, R. Para gostar de aprender arte: sala
Ana Beatriz Bezerra Dias através do campo de energia humana. São Paulo: de aula e formação de professores. 1. ed. Porto TARDIF, M; LESSARD, C e LAHAYE, L. Os
Pensamento, 2008. Alegre: Artmed, 2003. professores face ao saber. esboço de uma
Graduação em História pela Faculdade problemática do saber docente. Teoria &amp;
Universidade Bandeirantes de São COMENIOS, J. A. Didática Magna. Lisboa: Fundação INDQUIST, I. A criança no hospital – terapia pelo Educação n. 4. Porto Alegre: Pannônica, 1991.
Paulo (1999); Especialista em Docência Calouste Gulberkian, 1985. brinquedo. São Paulo: Scritt Editorial, 1993.
do ensino superior pela UNICSUL THURLER, M. G. Inovar no Interior da Escola. Porto
(2010); Professor de Ensino Infantil e COUTINHO, R. G.. Por que a história dos fundamentos MOURA, A. R. L. Movimento Conceitual em Sala de Alegre: Artmed, 2001.
Fundamental I - na CEI Vila Progresso. da arte-educação. In: Ensino de arte: reflexões (Org.). Aula. (mimeo), 1997.
ETFPE – ANARTE – Regional, Pernambuco, 1994.
PAREYSON, L. Os problemas da estética. São

60 61
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO oportunidade de realizar, ao longo de sua


vida, que permitirão a desenvolvimento da
experiência. Assim, equipamentos básicos e
A organização psicomotora consiste em meio ambiente são três noções indispensáveis
quatro parâmetros que funcionam em para entender a dimensão psicomotora
sinergia, um dos quais pode ser uma fonte de do ser humano. Sua análise clínica é
ruptura, que pode então requerer assistência baseada em um profundo conhecimento
psicomotora: atividade neuromotores referencial do desenvolvimento normal.
dependentes do desenvolvimento de leis Requer investigações específicas, incluindo
e maturação neurológica que programam os principais distúrbios psicomotores
um tom, ao sistema de coordenação de são, Transtorno de Déficit de Atenção
dissociação, equipamento sensorial e motor, e Hiperatividade (TDHA), distúrbio de
a gênese de uma assimetria funcional do coordenação do desenvolvimento (dispraxia
corpo. A psicomotricidade leva em conta de desenvolvimento), disgrafias, dificuldades
a conexão entre corpo e psique. Muitos de aprendizagem não verbais, distúrbios
anos de debate filosófico não conseguiram espaciais, distúrbios temporais, distúrbios
resolver a dicotomia mente-corpo. O corpo do padrão corporal, movimentos anormais,
é apenas "matéria"? E o "espírito" nos distúrbios da dominância lateral e distúrbios
PSICOMOTRICIDADE E EDUCAÇÃO: INSTÂNCIAS QUE FORNE- ofereceria apenas um suplemento de alma? do tônus muscular.
Sabemos hoje que não existe "substância
CEM ELEMENTOS BÁSICOS PARA O DESENVOLVIMENTO fixa", mas uma atividade que está crescendo. O distúrbio psicomotor manifesta-se tanto
Isso vem da experiência. na maneira como o sujeito está envolvido
na ação quanto no relacionamento com
RESUMO: A psicomotricidade e ludopedagogia nascem da necessidade em desenvolver
A dimensão sensório-perceptivo-motora os outros. Os distúrbios psicomotores são
métodos e instrumentos de referenciais teóricos para sanar defasagens no processo edu-
cacional, portanto abordamos aqui alguns pontos de relevância que acreditamos ser funda- e afetiva que, a partir das primeiras trocas distúrbios do desenvolvimento neurológico
mentais a esse quesito. O desenvolvimento das crianças depende de múltiplas condições de vida relacional, influencia na qualidade que afetam a adaptação do sujeito em sua
e esclarecê-lo é uma tarefa fundamental da psicopedagogia numa contribuição signif- de suporte, postura, tom, gestualidade dimensão perceptivo-motora. Suas causas
icativa no que diz respeito às regularidades do desenvolvimento motor. Neste sentido, é intencional e permite a construção do são multifatoriais e transacionais, associando
importante nortear a educação da primeira infância, que hoje então, parece que não en- diagrama corporal em relação à imagem fatores genéticos, neurobiológicos,
controu definitivamente sua direção, sua identidade assim se move de acordo com as mo- corpo. Em outra perspectiva a dimensão psicológicos e ou psicossociais que atuam
das de diferentes pedagogias, de diferentes propostas, sem encontrar uma maneira de se cognitiva que leva o sujeito a integrar e em diferentes níveis de complementaridade
situar com uma intencionalidade definida. A este respeito investigações feitas em edu- dominar a relação entre seu corpo e espaço e expressão. São muitas vezes situacionais
cação infantil mostram que não há diretrizes precisas sobre os fundamentos psicomo- e tempo. A dimensão da identidade que e discretas, impedindo como prioridade os
tores e lúdicos. O presente trabalho destinará esforços no sentido de discutir e debater é construída na interação do sujeito com mecanismos de adaptação, constituindo uma
por meio do levantamento bibliográfico questões que para nós foram alvo de inquietação. sua família e ambiente social. A ligação fonte de transtornos e sofrimento para o
entre a psicomotricidade não está mais sujeito e seu meio social.
correta quando se concebe que são as
Palavras-chave: Escola; Psicomotricidade; Educação; Infância; Lúdico.
muitas atividades que o ser humano tem a

62 63
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

PSICOMOTRICIDADE E AS desenvolvimento do equilíbrio e de uma corporais, possíveis de serem realizadas escolas nas práticas de lazer tornam-
POTENCIALIDADES EXPLORATÓRIAS harmonia nos movimentos (KYRILLOS E pela criança sozinha ou em situações de se guiado por educadores (as), com
SANCHES, 2004, p.154). interação. Os diferentes espaços e materiais, pequenas sequências repetitivas de
Uma ferramenta essencial para o A educação motora no aprendizado inicial os diversos repertórios de cultura corporal entretenimento ou séries, que facilitam
desenvolvimento motor das crianças na destina-se a melhorar a coordenação expressos em brincadeiras, jogos, danças, o desenvolvimento de habilidades
escola ou em seu ambiente doméstico, uma motora geral, estabilizando e locomotora, e atividades esportivas e outras práticas sociais motoras, sem uma articulação entre
abordagem pedagógica inovadora para apoiar coordenação motora fina, manipuladora e são algumas das condições necessárias para as ações musculares e psíquicos.
sua primeira aprendizagem, este livro visa gráfica, características do desenvolvimento que esse processo ocorra (BRASIL, 1998, p. Atualmente, grande parte das atividades
apoiar o professor, o profissional da escola motor na pré-escola e primária. O segundo 29). que as crianças realizam em creches
ou o pai em sua abordagem pedagógica. enfoca a educação psicomotora como um e estabelecimentos de ensino são
São distúrbios perceptivo-motores que pré-requisito ou suporte para a aprendizagem Com o desenvolvimento social, o caminho encaminhadas para séries repetitivas
afetam as diferentes funções de exploração precoce, como leitura, matemática e da educação foi renovado e, como resultado, orientadas por educadores, deixando
(aspectos perceptivos), ação (no ambiente organização da escola espacial e temporal muitas escolas mudaram seus métodos de de lado uma atividade tão cotidiana e
físico), comunicação (especialmente em usando manipulações e ações motoras. Ao ensino. Por exemplo, aprender matemática fundamental como a brincadeira livre. É
seus aspectos não verbais) e manifestações apresentar atividades práticas na educação não é mais um "trauma" como antes. Hoje, necessário promover o desenvolvimento
emocionais. Nesse caso manifesta-se por motora e psicomotora que são apropriadas por meio de jogos, as crianças se divertem da Psicomotricidade Infantil, como
sinais neurológicos moderados que indica para promover o desenvolvimento motor e, mais importante, aprendem. Assim, não mecanismo de aprendizagem entre crianças
a existência de disfunção cerebral mínima, e cognitivo normal da criança, numa visão apenas aspectos motores, mas também e professores.
eles estão associados a um complexo pedagógica e saúde geral. cognitivos e emocionais são desenvolvidos.
psicopatológico, com fatores emocionais que A implementação de jogos educativos, até A psicomotricidade é examinada a partir de
podem levar a um transtorno psiquiátrico real AS MANEIRAS DE CONCEBER recentemente, eram reservados para o uma perspectiva profunda, que considera
que levanta a questão das comorbidades, PSICOMOTRICIDADE ensino exclusivo de crianças com problemas o mundo interno da criança, a construção
exigem uma análise das diferentes dimensões de atraso ou dificuldades de aprendizagem. de seu corpo, seu próprio processo
(biológica ou orgânica, ecológica, intencional A educação tradicional apresentou algumas Atualmente, esse é um dos principais de construção psíquica e cognitiva e a
ou teleológica) para permitir que a pluralidade mudanças hoje. E é que essas técnicas de recursos para o aprendizado escolar em segurança com a qual se depara com o
etiológica seja levada em consideração. memorização, a ausência de dinâmica e o geral. Importância do lúdico revelou que mundo, mudando assim e com constantes
ambiente, muitas vezes de terror, em que a recreação contribui para a formação desafios. Nas escolas em sua gênese, o uso
Na Educação Infantil começamos a "as letras só com sangue entraram", são motora, e oferece oportunidades para que do jogo como ferramenta pedagógica foi mal
exploração intensa do mundo, das sensações, praticamente parte do passado. a criança expresse seus sentimentos livres, interpretado, causando distúrbios nas salas
das emoções, ampliando estas vivências como espontâneos e naturais. de aula e nos estabelecimentos de ensino.
movimentos mais elaborados. A linguagem Os conteúdos deverão priorizar o Dentre eles, destacam-se os frequentes
corporal começa então, a ser substituída desenvolvimento das capacidades LUDICIDADE EM FUNÇÃO DA diagnósticos de hiperatividade ou, ao
pela fala e pelo desenho, no entanto, é expressivas e instrumentais do movimento, PSICOMOTRICIDADE contrário, a passividade motora, as crianças
essencial que continue sendo explorada. possibilitando a apropriação corporal pelas também foram desencorajadas de aprender,
O trabalho com movimentos e ritmos, de crianças de forma que possam agir com Brincar é uma atividade cotidiana entre o que é em grande parte devido à falta de
grande relevância para a organização das cada vez mais intencionalidade. Devem meninos e meninas, mas, às vezes, deixa oportunidades de experimentação.
descobertas feitas, torna-se mais sofisticado. ser organizados num processo contínuo e de ser livre ou espontânea quando
Nesta etapa, a atenção é voltada para o integrado que envolve múltiplas experiências entra na Educação Infantil. Creches ou Precisamente para reintegrar e apreciar

64 65
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

a importância do jogo, dirigindo um do desenvolvimento cognitivo. Aprender por meio do brincar é um termo importantes, tais como a atenção, a
relacionamento focado no corpo e psique usado em educação e psicologia para imitação, a memória, a imaginação.
ou a construção em si. A psicomotricidade O LÚDICO NA APRENDIZAGEM descrever como uma criança pode aprender Amadurecem também algumas capacidades
trabalha em uma maior conectividade, que a compreender o mundo ao seu redor. de socialização, por meio da interação e
cabe analisar e propor novas abordagens O lúdico é muito importante e básico para a Por meio do brincar, as crianças podem da utilização e experimentação de regras e
e metodologias para resolver problemas aprendizagem, pois fortalece as habilidades, desenvolver habilidades sociais e cognitivas, papéis sociais (BRASIL, 1998, p. 22).
relacionados com a educação infantil, sob reforça o conhecimento e promove as amadurecer emocionalmente e ganhar a
uma linha estratégica focada na formação habilidades no dia a dia. A dinâmica deve autoconfiança necessária para se envolver As crianças não apenas desfrutam de
de professores e a relação entre educação ser uma constante na educação atual, em novas experiências e ambientes. brincadeiras, mas também se beneficiam dela
e contexto social. Assim, esta iniciativa, pois todos os jogos didáticos devem estar de muitas maneiras, assim, a importância do
juntamente com professores e pesquisadores focados no desenvolvimento da capacidade Os primeiros anos de vida são decisivos na brincar. Abaixo estão explicações baseadas em
que visa a trazer novos paradigmas para de concentração e reflexão. Existem jogos formação da criança, pois se trata de um pesquisas sobre a importância do jogo e como
enfrentar as profundas mudanças que precisa como xadrez sodoku e outros que trabalham período em que ela está construindo sua incorporar o jogo na sala de aula da primeira
para tornar o sistema educacional mais memórias que atendem a agilidade e identidade e grande parte de sua estrutura infância. O brincar pode ser um termo vago no
inclusivo. habilidade dos alunos. física, afetiva e intelectual. Sobretudo nesta mundo educacional porque sua definição não
fase, deve-se adotar várias estratégias, é clara, especialmente quando se coloca no
O papel do professor em relação aos seus Estes podem ser complementados com entre elas as atividades lúdicas, que são contexto de uma sala de aula. A brincadeira
alunos e, portanto, com a aprendizagem será atividades que têm a ver com esportes, capazes de intervir positivamente no pode ser definida como qualquer coisa que
aprofundado. Nessa perspectiva, irão integrar aeróbica e, entre outros, dança. Em si mesma, desenvolvimento da criança, suprindo suas uma criança faça dentro do contexto social e,
aspectos emocionais na educação, o que a psicomotricidade é a ação do sistema necessidades biopsicossociais, assegurando- às vezes, é definida como apenas tempo livre.
possibilitará repensar a importância do corpo nervoso central que cria uma consciência no lhe condições adequadas para desenvolver Existem definições confusas e conflitantes,
docente a partir do emocional, de sua própria ser humano sobre os movimentos que realiza suas competências (MALUF, 2009. p.13). mas existem duas formas seguras de brincar
experiência e experiência pessoal. Ou seja, o foco por intermédio dos padrões motores, como no contexto da educação, jogo e brincadeiras
incidirá sobre como usamos o corpo na relação velocidade, espaço e tempo. As principais formas que as crianças guiadas ou estruturadas. Grande parte da
pedagógica, como estávamos construindo nosso pequenas aprendem incluem brincar, estar confusão em torno da definição de brincar
modelo de aprendizagem na infância a partir A noção de psicomotor dá um significado com outras pessoas, ser ativo, explorar está relacionada ao fato de que na literatura
da educação corporal. Nesse sentido, um dos psicológico ao movimento, ou seja, que integra e novas experiências, conversar consigo de desenvolvimento infantil o termo brincar é
eixos mais importantes será o jogo que refletirá o desenvolvimento mental e motor da criança, mesmo, comunicar-se com outras pessoas, frequentemente usado para rotular a maioria
sobre esta atividade humana fundamental, desde acreditava-se que estes foram isolados. enfrentar desafios físicos e mentais, mostrar- das formas de comportamento social e não
desde relacionar os antigos jogos infantis com os A base da psicomotricidade é o movimento, se como fazer coisas novas, praticar e repetir social das crianças, independentemente de
atualmente utilizados, até compreendê-lo como pois é o reflexo do pensamento. Assim, isso habilidades e ter diversão. ser ou não brincadeira.
o grande motor do desenvolvimento infantil. O é essencial durante os primeiros sete anos
brincar livre e espontâneo é concebido como as crianças são motivadas a conhecer seu O fato de a criança, desde muito cedo, poder O brincar é essencial para o desenvolvimento
uma poderosa ferramenta pedagógica, a base corpo, porque com isso você tem as primeiras se comunicar por meio de gestos, sons e porque contribui para o bem-estar cognitivo,
das etapas anteriores à aprendizagem formal. experiências. Dessa maneira, a criança mais tarde representar determinado papel físico, social e emocional das crianças e
Por isso, queremos recuperar o jogo livre, o jogo conhece as noções básicas que têm a ver com na brincadeira faz com que ela desenvolva jovens. Brincar é a ferramenta que as crianças
sensório-motor, bem como o jogo simbólico para a percepção, o espaço e o tempo e o controle sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças usam para aprender sobre o mundo e a
lançar as bases do desenvolvimento psicomotor e do movimento. Atualmente, as habilidades podem desenvolver algumas capacidades sociedade. Com o brincar, suas necessidades

66 67
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

professores com o objetivo de aperfeiçoar REFERÊNCIAS


sociais e cognitivas podem ser atendidas e que pode instalar uma nova cultura na as potencialidades educativas e psicossociais
desenvolvidas. Brincar é o modo como as qual a abertura ao diálogo, a clareza na nas crianças. Os relacionamentos devem ser BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
crianças interagem com este mundo e criam comunicação, a coerência da comunidade que cordiais e amigáveis, a fim de chegar a um acordo E DO DESPORTO. SECRETARIA DE
experiências para entender a sociedade e educa e o respeito mútuo pela delegação de sobre objetivos, critérios de educação ao lidar EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Referencial
as interações humanas. Sua prática permite pais na escola, é uma base que sustenta sua com as crianças, para que eles desfrutem de curricular nacional para a educação
que as crianças criem e explorem um mundo pedagogia. A primeira condição para a entrega sua infância e construam uma personalidade infantil: formação pessoal e social.
que podem dominar, conquistando seus dos pais aos professores pode ser realizada equilibrada. Em suma, a colaboração Brasília: MEC/SEF, v.01 e 02.1998. 85p.
medos enquanto exercem papéis adultos, com sucesso educativo é a recuperação da estabelecida entre a família e a escola deve
às vezes em conjunto com outras crianças confiança mútua hoje desgastada. Uma boa tender a converter esses dois contextos KYRILLOS, Michel Habib M.; SANCHES,
ou cuidadores adultos. O jogo ajudará as interação entre a escola e a família oferece em comunidades de práticas educacionais Tereza Leite. Fantasia e criatividade
crianças a se tornarem solucionadoras de à criança uma imagem de reaproximação e compartilhadas. Um bom relacionamento entre no espaço lúdico: educação física e
problemas auto eficientes, porque durante relacionamento entre as pessoas que cuidam pais e professores proporcionará o processo psicomotricidade. In: ALVES, Fátima.
as brincadeiras, as crianças criam e resolvem de seus cuidados e dá ao ambiente escolar do ensino e da aprendizagem à criança. Por Como aplicar a psicomotricidade: uma
seus próprios problemas. Quando uma um caráter de familiaridade e segurança. A isso, esse relacionamento deve ser pautado na atividade multidisciplinar com amor e união.
criança é solicitada a resolver um problema família e a escola devem atuar em uníssono cordialidade e ser também amigável, gerando Rio de Janeiro: Wak, 2004. p.153-175.
acadêmico ou da vida real, ela poderá usar as para atender às necessidades expressas e um bom clima de confiança entre ambos.
habilidades que pratica durante o jogo para manifestadas pela criança e, gradualmente, Graças a isso, sentimentos de segurança e MALUF, Angela Cristina Munhoz.
encontrar uma solução. introduzir e promover o desenvolvimento da motivação para a aprendizagem são gerados Atividades lúdicas para a educação
aquisição de hábitos em direção à autonomia nas crianças, uma vez que estão cientes da infantil: conceitos, orientações e práticas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS pessoal progressista. preocupação e do trabalho educativo realizado 2 Ed. Petrópolis, RJ: vozes, 2009(a).
por seus pais e professores.
Assim dispostos, geram uma percepção A educação deve garantir um conjunto MOYLES, Janet R. A Excelência do
negativa no cunho educacional, não de experiências que possam apoiar e Brincar. Porto Alegre: Artmed, 2006.
conseguem assumi-lo como seu principal complementam as experiências familiares, OLIVEIRA, Vera Barros de (org). O
auxiliar na educação de seus filhos e não abstendo ou substituindo a ação de brincar e a criança do nascimento aos
tendem a desqualificar o corpo docente. A receber na família, a fim de atingir o pleno seis anos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
desvalorização mútua e a atribuição cruzada desenvolvimento da criança as habilidades.
de culpa os desacreditam diante dos olhos As metas que estabelecemos como VIGOTSKII, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N.
da criança. Família e escola tornam-se psicopedagogos da educação, estão na Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem.
incomunicáveis e se desligam. O resultado esfera de incentivar e manter uma atmosfera 10ª ed. São Paulo: Ícone, 2006. Cap.4.
nos dá pais desprendidos, professores calorosa e acolhedora, de confiança e
indiferentes e menores sem referências respeito, para envolver os pais de modo
significativas. O filho/aluno transita em ambos que parte da comunidade escolar possa
os mundos e precisa deles relacionados, mas compartilhar informações e experiências para
sem ser sufocado ou puxado entre eles. ajudar uns aos outros em possíveis projetos ANA CRISTINA DA SILVA
de Intervenção. SACRAMENTO
Entrar em famílias e escolas ainda continua A educação de crianças nesse sentido é
sendo um desafio. A escola é hoje aquela uma tarefa compartilhada entre pais e Graduação em Pedagogia pela Unifai
(2004); Professora de educação infantil
na EMEI Cel. Walfrido de Carvalho.

68 69
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO sistemático, tende a dificultar a adaptação


dos alunos aos moldes tradicionais.
Falar sobre o processo de transição da
educação infantil para o ensino fundamental, Em vista das premissas supra expostas,
trata-se de falar sobre uma etapa da vida desenha-se como objetivo central do presente
que acarreta mudanças importantes e impõe trabalho, debater de maneira conceitual sobre
desafios significativos. Considerando que os desafios da transição da educação infantil
seres humanos são naturalmente munidos para o ensino fundamental. A fim de traçar um
de características particulares e específicas, caminho coerente para o desenvolvimento do
vivenciar esse processo e experimentá- tema, elencam-se como objetivos específicos:
lo, ocorre de formas diferentes para cada conceituar o processo de transição da
um. Esse período de transição tende a ser educação infantil para o ensino fundamental;
conturbado e, no caso da educação infantil e, debater sobre os desafios desse processo.
para o ensino fundamental, pode ser um Sendo assim, a problemática de pesquisa a ser
processo até mesmo traumático quando não solucionada à finalização desse, paira sobre a
é bem conduzido. Isso porque é necessário questão: quais são os desafios no processo de
evitar mudanças bruscas nas concepções transição da educação infantil para o ensino
OS DESAFIOS NO PROCESSO DE TRANSIÇÃO DA EDUCAÇÃO pedagógicas entre uma etapa e outra. Na fundamental?
INFANTIL PARA O ENSINO FUNDAMENTAL educação infantil, é valorizada a brincadeira,
o lúdico e a promoção de relações sociais e, O artigo se justifica devido à pretensão
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo geral, debater de maneira conceitual sobre no ensino fundamental, geralmente essas de contribuir com informações ao âmbito
os desafios da transição da educação infantil para o ensino fundamental. A justificativa para práticas são repentinamente interrompidas acadêmico, ofertando, por meio da pesquisa
a escolha do tema paira sobre sua contemporaneidade, além da expectativa de contribuir para dar início a um processo de adaptação apresentada, uma ótica diferente sobre o tema,
para o âmbito acadêmico. O método de pesquisa empreendido segue natureza qualitativa, às convenções escolares que visam a ampliando o material teórico que pode ser
com pesquisa do tipo bibliográfica. Dentre os principais achados, foi possível concluir que o continuidade do fluxo escolar. utilizado para o desenvolvimento de estudos e
processo de transição da educação infantil para o ensino fundamental, acarreta importantes pesquisas futuros. Além disso, há a pretensão
desafios, pois essas etapas da educação básica, tendem a apresentar importantes rupturas e Dessa forma, é necessário adaptar de estimular o interesse pelo tema, gerando
fragmentações no que tange ao atendimento oferecido na escola e à sua consonância com contextos escolares e professores do aprofundamentos sobre o mesmo, sobre
características dos indivíduos que adentram a esse novo espaço escolar. Dessa forma, nota-se ensino fundamental, a fim de assegurar assuntos relacionados e demais vertentes
que as principais deficiências dessa transição, ainda residem na falta de preparo dos professores espaços escolares que não modifiquem de abordagens científicas que se originam
e escolas para lidar com a mudança, interrompendo bruscamente o ciclo da educação infantil e bruscamente a rotina dos alunos, mas que a partir do interesse por esse. Em relação à
inserindo o aluno em situações totalmente diferentes no ensino fundamental, ao invés de fazer continuem promovendo experiências lúdicas pesquisa científica, Lakatos e Marconi (2015,
do primeiro ano, um ano de transição que faz com que o aluno evolua gradativamente entre os e agregando evoluções educacionais que as p. 15) mencionam: “Pesquisar não é apenas
dois níveis de aprendizagem. Esse cenário deve ser modificado por meio da participação ativa possibilite de adaptar ao novo contexto do procurar a verdade; é encontrar respostas
da comunidade escolar e na criação de projetos pedagógicos que se baseiem nas necessidades ensino fundamental. A eliminação do lúdico para questões propostas, utilizando métodos
da criança e suas especificidades. e das experiências no ensino fundamental, científicos”. Partindo dessa perspectiva,
com centralização de práticas docentes entende-se que a pesquisa é algo amplo e
Palavras-chave: Educação infantil; Ensino fundamental; Escola; Transição. em atividades de alfabetização e conteúdo complexo e que requer um planejamento

70 71
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

sistemático para sua realização. Santos e relacionadas às leis anteriores, por exemplo, do ensino fundamental e o fato de que deve facilitando o trabalho com crianças que ainda
Candeloro (2006) por sua vez, caracterizam a inclusão da educação infantil – por meio ser considerado um ano de transição, já que, estão despreparadas para uma metodologia
a existência de suas principais naturezas de de creches e pré-escolas – como a primeira quando adentram com seis anos de idade de ensino mais complexa.
pesquisa conforme a metodologia, qualitativa etapa escolar, determinando que a educação no ensino fundamental, após passarem pela
e quantitativa, que conceituam como: básica passasse a ser dividida em: educação educação infantil, as crianças inevitavelmente Tal proposta educacional, conforme Ribeiro
infantil, ensino fundamental e ensino médio. vivenciam um processo de transição escolar. et al. (s/d), objetiva fazer com que a criança
A pesquisa de natureza qualitativa é aquela que permite tenha um vínculo melhor com a aprendizagem,
que o acadêmico levante dados subjetivos, [...], ou seja, Essa foi a primeira vez que a educação Prosseguem dizendo que, diante dessa de forma que as práticas pedagógicas devem
informações pertinentes ao universo a ser investigado, infantil se apresentou entre as etapas escolares nova realidade, vêm à tona, de forma mais ser posicionadas conforme esse novo tipo
que leve em conta a ideia de processo, de visão sistêmica, e, nesse momento, a criança de seis anos se enfática, a importância dos períodos de de educando. Para tanto, é fundamental
de significações e de contexto cultural. [...] A pesquisa encontrava nessa etapa. Por meio da emenda transição escolar, devem acontecer com a mencionar o novo caminho que também é
quantitativa é a que tem o objetivo de mensurar algumas constitucional de 2006, a lei nº11.274/06 previsão das articulações entre as etapas do percorrido pela educação infantil, conforme
variáveis, transformando os dados alcançados em modificou a redação dos artigos 29, 30, 32 e ensino. Isso porque se antes algumas crianças dispõe a lei nº 12.796/13. Essa lei que
ilustrações como tabelas, quadros, gráficos ou figuras 87 da LDB de 1996, instituindo formalmente apenas conheciam a escola a partir do ensino antecipa, obrigatoriamente, o ingresso da
(SANTOS; CANDELORO, 2006, p. 71). a duração de nove anos para o ensino fundamental, essas não poderiam comparar- criança no ambiente escolar, pois nessa etapa
fundamental, com matrícula obrigatória a se à etapa anterior, a partir de então, com o currículo assegura uma aprendizagem
Sendo assim, elegeu-se para o partir dos seis anos de idade. a mudança, todas poderiam e fariam essas direcionada ao trabalho lúdico, com vínculos
empreendimento dessa pesquisa, a natureza comparações, pois teriam um conceito de afetivos, exploração da psicomotricidade,
qualitativa, que busca o levantamento Segundo Paz e Oliveira (2017), a educação escola em formação. experiências vivenciadas tanto na escola
de informações teóricas existentes a fim infantil, isto é, a etapa inicial em relação à quanto no ambiente familiar e também junto
de alcançar uma conclusão pertinente à escolarização nacional, passou a se subdividir Ribeiro et al. (s/d) comentam que, na maioria à comunidade de forma geral. Isso porque,
problemática levantada. Utiliza-se ainda entre creches que recebem crianças de zero das vezes, no processo de transição entre a mesmo que a criança demonstre interesse em
a abordagem de pesquisa exploratória a três anos e pré-escolas, atendendo crianças educação infantil para o ensino fundamental, desenvolver diversas atividades – inclusive as
que, segundo Gil (2017) busca explicitar entre quatro e cinco anos. A partir desse a criança se apresenta de maneira imatura que envolvem as habilidades de leitura e escrita
um problema ou construir uma hipótese momento, a criança de seis anos passou a ser para atender aos processos de alfabetização – quando são cobradas, de forma antecipada,
relacionada ao objeto de estudo. Sendo uma incluída no ensino fundamental. As autoras e letramento de forma coerente e satisfatória. de conteúdos de maior complexidade, podem
das principais ferramentas da abordagem comentam que a lei nº 12.796/13 tornou A implementação do período escolar de ter seu fluxo de desenvolvimento prejudicado.
exploratória, elegeu-se então a pesquisa obrigatória a oferta gratuita da educação nove anos antecipa o ingresso no ensino
bibliográfica, que buscará a coleta de dados básica a partir dos quatro anos de idade. De fundamental, que antes era de sete anos. Para além, Ribeiro et al. (s/d) explicam
em publicações acadêmico-científicas e obras forma que estados e municípios teriam até Isso diminui o tempo da criança na educação que a criança de seis anos de idade, diversas
relacionadas ao tema proposto. 2016 para se adequar. A educação infantil, infantil, a fim de permitir à familiarização com vezes ainda possui uma relação imediata com
na modalidade de pré-escola, passou a ser o ambiente escolar de forma mais rápida e adultos que a assistem, de forma que os laços
TRANSIÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL efetivamente obrigatória no Brasil a partir produtiva. Contudo, explicam que as condições afetivos na educação infantil, permeiam sua
PARA O ENSINO FUNDAMENTAL de 2016, embora sem o caráter de retenção. de organização do ensino fundamental, ainda consciência. A partir desse ponto, o professor
Explicam que, Conforme Paz e Oliveira não atendem satisfatoriamente aos pontos do primeiro ano do ensino fundamental, não
Conforme Paz e Oliveira (2017), a lei (2017), essa mudança legal modificou de infraestrutura, formação docente, redução deve de forma alguma, tolher drasticamente
de diretrizes e bases da educação (LDB definitivamente o contexto educacional, do número de alunos por turma, adaptação seu comportamento. Para tanto, para que o
nº 9.394/96), gerou diversas mudanças reforçando a necessidade do primeiro ano curricular e materiais didáticos, entre outros, ingresso da criança no ensino fundamental

72 73
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

seja tranquilo, é necessário inserir os educação infantil e do ensino fundamental,


conteúdos aos poucos, possibilitando-a de certamente se torna uma tensão entre os aprendizagem. inicialmente voltada aos economicamente
se apropriar das habilidades necessárias para níveis de educação. Ao abordar um campo desfavorecidos, a fim de atender os excluídos
essa nova etapa de ensino. de pesquisa empírico, apontam que é notável Oliveira (2017) explica que é preciso da escola. Em sua concepção, se tornou uma
que as atividades aplicadas desconsideram a entender que a criança não deixa de política contraproducente, já que falhou em
Entendem que a compreensão da infância questão do lúdico, reservando as brincadeiras ser criança só porque entra no ensino nivelar os excluídos do sistema escolar aos
no processo de transição entre a educação para os poucos minutos do intervalo, que fundamental. Portanto, o desenvolvimento demais que já estavam inseridos nele em anos
infantil e o ensino fundamental, é primordial é o momento da “diversão”. Sobre isso, as sociocultural infantil, a brincadeira, o criar e de escolaridade.
para considerar suas especificidades e o autoras ressaltam quão importante é inserir aprender, devem ser processos mantidos e
momento vivenciado por esses indivíduos. os elementos lúdicos e as brincadeiras em adequados nesse processo de transição da Oliveira (2017) explica que a judicialização
Com isso, deve-se resguardar a história toda a vida da criança, inclusive no processo educação infantil para o ensino fundamental, dessa política, o desnivelamento se manteve,
construída até ali, incorporando-a por educacional, pois não é apenas como um evitando que rupturas gerem problemas de já que os que estavam na escola poderiam
propostas pedagógicas que se pretende sujeito em desenvolvimento, mas sim, deve- aprendizagem. ingressar de forma prematura no ensino
desenvolver e, a partir delas, facilitar o se pensar nelas conforme a lógica do ser de O lúdico pode – e deve – ser uma parte fundamental. As ações do governo então
caminho que aluno irá percorrer a partir de direito e de documentos que consolidam dessa etapa tão importante em que a criança procurariam moldar a conduta docente e suas
então. a importância dessas práticas lúdicas na se torna um aluno. Uma transição que, possiblidades e sensibilidades, sua forma de
Santos e Maia (2017) comentam que aprendizagem. dependendo da forma como é conduzida, ação dentro e fora da escola, direcionando-os
a ampliação do ensino fundamental para pode ser agradável e não traumática. Isso e gerenciando-os em sua carreira profissional.
nove anos se torna uma importante ação Santos e Maia (2017) entendem que é porque no ambiente da educação infantil,
que permite à qualificação do ensino e possível e necessário construir um ambiente privilegia-se a busca por estratégias eficientes Ressalta que na contemporaneidade o
aprendizagem da alfabetização e letramento, acolhedor e com propostas pedagógicas para assegurar o cuidar e educar na infância, Estado demanda que os professores exerçam
já que a criança terá mais tempo para se que permitam o atendimento coerente das objetivando o atendimento das necessidades um papel tanto de facilitadores do saber,
apropriar desse conteúdo. Todavia, o ensino especificidades das crianças que ingressam do corpo e ajudando o desenvolvimento quanto de orientadores sociais de caráter
no primeiro ano do ensino fundamental no ensino fundamental. É necessário sociocultural da criança, assegurando seu humanístico. A sociedade também demanda
não deve se limitar a aprendizagens proporcionar a elas uma aprendizagem lúdica direito de brincar, criar e aprender. do professor um ensinamento que vai além
estereotipadas. É fundamental realizar um com significados, a fim de que essa transição do elemento cognitivo para a realidade
trabalho pedagógico que possa assegurar aconteça gradativamente, possibilitando Conforme Oliveira (2017), o ensino educacional. O profissional deve ainda
o estudo de diversas expressões e todas as que as crianças continuem brincando como fundamental deve ser adequado como dominar diversas outras aptidões em seu
áreas do conhecimento, proporcionando crianças, já que o ensino fundamental ainda espaço cuja criança se sinta à vontade ofício, de forma que:
um contexto diversificado em ter o lúdico lida com o público infantil. em permanecer, deve ser um espaço de
e disciplinas contempladas no currículo do acolhimento e que possibilite a vivência O Estado dita as regras de como e quando as demandas
primeiro ano do ensino fundamental. Para Acreditam que o ensino pode e deve da infância, o reconhecimento do que é devem ser desempenhadas. O Estado exerce seu poder de
as autoras, a educação infantil e o ensino apresentar possibilidades de pensar nas necessário para promover uma mais efetiva controlar, através de um discurso de propriedade, com efeito
fundamental colocam desafios para se crianças a fim de que vivam suas infâncias interlocução entre o sistema educativo e o de dominação, sobre as formas de como os professores
pensar a escola como espaços de formação mesmo no contexto escolar. Para tanto, jurídico, gerando benefícios. devem fazer as atividades. O corpo de profissionais fica
cultural, bem como de enxergar as crianças devem focar na integração entre o brincar sem condições de definir qualquer que seja o assunto
como sujeitos munidos de cultura e história, e o letramento, por exemplo, já que é Avaliando a questão legal sobre o (OLIVEIRA, 2017, p. 46).
isto é, sujeitos sociais.Conforme Santos e evidente que as contribuições da brincadeira adiantamento da idade de ingresso da
Maia (2017), a transição entre as práticas da são fundamentais no desenvolvimento da criança no ensino fundamental, uma política E aponta que o sistema educacional e

74 75
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

as normas curriculares, com seus roteiros, Segundo Neves et al. (2011), existem quatro Conforme Neves et al. (2011), a transição educacional sobre os dois primeiros níveis da
treinamentos constantes e voltados ao possibilidades para relacionar a educação entre essas práticas, certamente envolve educação básica, refletiram sobre o processo
mercado que demanda inovações, faz com infantil ao ensino fundamental. A primeira é a tensão entre os níveis de ensino. Isso de desencontros que são vivenciados pelas
que docentes opinem sobre as capacitações caracterizada pela subordinação da primeira, porque na escola de educação infantil crianças nesse processo de transição da
necessárias, que deveriam ser voltadas a como isto é, a educação infantil teria a função de observaram uma centralidade do brincar educação infantil para o ensino fundamental.
alfabetizar alunos entre cinco a seis anos de preparar as crianças para um desempenho nas rotinas institucionais, com usos do
idade. Cabe aos professores incorporar novas melhor no ensino fundamental. A segunda tempo e espaço estruturados em torno A partir dessas percepções, observam que
habilidades para se adequar e acompanhar as possibilidade é marcada por um impasse em dessa atividade. Contudo, considerando a a investigação que registou a experiência
atualizações escolares. que ambos os níveis educacionais recusam o condição dos indivíduos inseridos em uma infantil, ressaltou a necessidade de ampliar
outro, definindo-se a partir de uma negação cultura grafocêntrica, as crianças se voltaram a integração entre o brincar e o letramento
recíproca. à apropriação da língua escrita, individual e nas práticas pedagógicas da educação infantil
Neves et al. (2011) comenta que o processo coletivamente engajando-se em eventos de e também do ensino fundamental, cujas
de escolarização da infância tende a engajar A terceira possibilidade explicitada pelos letramento. dimensões são cruciais para a formação da
as crianças em práticas educativas específicas autores, prepara a escola para as crianças cultura infantil na contemporaneidade.
e com tempos e espaços diferentes, e inverte o modelo de preparação a fim de [...] depararam-se com um hiato entre as experiências
posicionadas em espaços socialmente adotar práticas de educação infantil no ensino desenvolvidas na educação infantil e as práticas educativas Neves et al. (2011) sintetizam seus
demarcados e distintos. A transição entre fundamental, adaptando a escola desse nível da nova escola. Assim é que o brincar, um dos elementos achados dizendo que seria possível pensar
a pré-escola e o ensino fundamental é um de ensino às crianças. Assim, se constrói centrais da cultura de pares e do cotidiano da educação em práticas educativas na educação infantil
momento importante na vida das crianças, uma visão de local de encontro pedagógico, infantil, foi situado em segundo plano no contexto da sala e no ensino fundamental em que fosse
gerando implicações para membros de que é a quarta possibilidade defendida. Tais de aula. Verificou-se um desencontro entre o interesse das possível fomentar um processo de “brincar
diferentes grupos sociais e se torna objeto práticas evocam concepções de ambos os crianças pelo brincar e a cultura escolar deste segmento da letrando”, ou ainda, de um “letrar brincando”,
de estudo ao longo das últimas décadas, se níveis de ensino que se interligam a partir do educação básica (NEVES; et al., 2011, p. 138). direcionando-se ao estabelecimento
munindo de destaque no âmbito da academia. reconhecimento de suas distintas histórias e de uma relação de parceria entre os
concepções. Em relação à quarta possibilidade, Dessa forma, entendem que as práticas segmentos em voga da educação básica.
Explicam que, recentemente a ampliação elucidam: educativas da escola de ensino fundamental,
do ensino fundamental no Brasil para nove ao longo do primeiro mês de aula, se Zanatta et al. (2015) comentam que
anos e o debate sobre a obrigatoriedade Corsaro e Molinari (2005) descrevem um processo que organizaram em torno da repetição de existem especificidades na educação
escolar para pessoas entre quatro e dezessete corresponderia ao quarto modelo descrito acima, ao tratar atividades de treino psicomotor, tomadas infantil e nos anos iniciais do ensino
anos, consolidam a relevância da temática. da transição entre os dois níveis de ensino na cidade como pré-requisitos para a apropriação do fundamental. Especificidades que demandam
Ao tratarem sobre a obrigatoriedade escolar, de Modena, Itália. Em sua pesquisa foi identificada a sistema de escrita. Todavia, notaram que as conhecimentos e habilidades por parte dos
os autores apontam que é preciso investigar continuidade nas atividades pedagógicas, especialmente crianças, em meio a interações entre pares, professores, considerando as particularidades
como a educação infantil e o ensino nas artes e letramentos, a manutenção do mesmo grupo desenvolviam uma apropriação ativa. Isso, do desenvolvimento e aprendizagem infantil.
fundamental se relacionam e articulam de crianças e professores, a integração entre as famílias e segundo Neves et al. (2011), consiste não Prosseguem dizendo que uma dessas
discursos e práticas educativas a fim de professores, a participação ativa das crianças, como fatores apenas na repetição do que era formalmente particularidades, com foco na transição
entender as especificidades das experiências determinantes do sucesso do processo de transição, ensinado, mas criativamente produziam novos entre os dois níveis de ensino, se torna um
de diversos sujeitos sociais envolvidos nesse sustentados na política educacional do país (NEVES; et al., significados de acordo com suas demandas e momento crítico que decorre do movimento
processo. 2011, p. 123). curiosidades. E comentam que ao tratar sobre de processos naturais e institucionais,
a falta de diálogo na organização do sistema evidenciando que o não cuidado com essa

76 77
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

transição pode gerar rupturas prejudiciais. momento inicial, o processo se caracteriza Isso porque não há clareza sobre o que deve rompendo bruscamente com essas práticas e
como fundamental na vida da criança. ser abordado no primeiro ano do ensino focando no mero cumprimento de normas e
[...] é preciso zelar pelo exercício de articulação da educação fundamental, como o conteúdo deve ser na promoção do trabalho individualizado.
infantil como primeira etapa da educação básica para os anos Zanatta et al. (2015) explicitam também trabalhado, os conceitos, linguagens e outros.
iniciais do ensino fundamental, isso significa assumir que que a partir da proposta de ensino de nova Se torna incomum o diálogo
há influências múltiplas, as quais marcam as continuidades anos, que antecipa a entrada das crianças no Conforme Zanatta et al. (2015), ao evocar entre a educação infantil e o ensino
e ou descontinuidades presentes no desenvolvimento e ensino fundamental para os seis anos de idade, a articulação entre educação infantil e ensino fundamental, no sentido de promover
aprendizagens humanas (ZANATTA; et al., 2015, p. 5634). algumas adaptações precisam ser feitas com fundamental, nota-se uma desarticulação uma transição mais harmônica e menos
cuidado, por exemplo: horários, exigências, entre esses níveis de ensino, o que evoca a repentina, possibilitando às crianças,
Comentam que a transição entre a educação postura dos pais e professores, mudança dos necessidade de instituir práticas educativas absorver as mudanças de forma não
infantil e o ensino fundamental é um momento espaços, da rotina, entre outras que podem que respeitam as necessidades infantis e traumática, sem gerar rupturas bruscas
de grande tensão que caracteriza o desejo gerar ansiedade e dúvidas. Ainda nesse as tratem na perspectiva de continuidade, com a substituição de práticas por
de crescimento e aprendizagem, porém, que processo de transição da educação infantil articulando-as às expectativas das crianças. outras. Essa descontinuidade é comumente
também envolve temores e desencontros que para o ensino fundamental, apontam que Os principais mediadores no processo de observada nas escolas e gera um
se expressam por parte dos professores. Tais ocorrem rupturas drásticas, dentre as quais as transição da educação infantil para o ensino importante déficit nesse processo que pode
temores e desencontros que são apresentados crianças inseridas em um ambiente diferente fundamental são os professores, bem como refletir em dificuldades de aprendizagem por
na redução do tempo de brincadeiras, no e que lhes causa estranheza. Geralmente essa suas ferramentas centrais nesse processo são todos os demais anos escolares.
desaparecimento do lúdico e na fruição mudança envolve comportamentos como ficar planejamentos efetivos, criados em conjunto
necessária aos processos de espaço e tempo em silêncio, o que é difícil para elas. Fazem com as crianças e direcionados a elas. Sendo assim, é importante que esse
que permeiam a nova realidade escolar. uma crítica à cultura escolar que transforma Planejamentos que consistem em verdadeiras processo de transição seja feito com cuidado,
agentes sociais, crianças, em agentes sociais propostas de educação integrada em que com o envolvimento entre a educação infantil
Conforme Zanatta et al. (2015), sobre a alunos, tornando a sala de aula um espaço que professores da educação infantil olhem e o ensino fundamental a fim de formar uma
necessidade de valorizar as crianças e respeitar bruscamente, não mais comporta brincadeiras. para os anos iniciais do ensino fundamental rede de apoio para promover o aluno de um
os processos de aprendizagem vivenciados e os professores do ensino fundamental nível educacional para o outro, sem romper
por elas, comentam sobre a multiplicidade de Segundo Zanatta et al. (2015), é preciso se voltem para a educação infantil, em um bruscamente com práticas, mas substituindo-
situações que permeiam as práticas educativas, problematizar a importância da articulação sentido de continuidade e complexidade as de forma natural, conforme o aluno se
dentre as quais, destaca-se a cultura dos entre os dois níveis de ensino, considerando que serão construídas no sentido lúdico. desenvolve. O ideal é que o primeiro ano
pares, o ser criança e a cultura escolar e as necessidades educativas práticas e do ensino fundamental seja dedicado a essa
docente. Assim, as perspectivas e práticas que respeitem a infância, bem como as CONSIDERAÇÕES FINAIS transição e, nesse bojo, é crucial manter a
educacionais devem ser construídas em torno especificidades delas por terem apenas ludicidade, uma parte importante da vida e
de brincadeiras e do letramento, considerando cinco e seis anos de idade.Esse processo Através das pesquisas realizadas a fim aprendizagem da criança.
que ambos os conceitos atingem pontos de transição não demanda que a educação de compor o presente trabalho, foi possível
diferentes da educação infantil e também infantil prepare a criança para o ensino compreender que a transição da educação Conclui-se o presente trabalho com a
dos anos iniciais do ensino fundamental. Os fundamental, mas que o ensino fundamental infantil para o ensino fundamental ocorre crença de que objetivos, tanto geral quanto
desencontros promovidos entre esses níveis seja receptivo quando as crianças ingressam de maneira conturbada, dada a ruptura específicos, foram atendidos, bem como a
de ensino que são explicitados nas mudanças nele. E ressaltam que existe uma lacuna na pedagógica que ocorre entre esses níveis problemática de pesquisa foi solucionada.
da rotina escolar e no tempo reduzido de formação docente e nas orientações que lhes educacionais. O primeiro priorizando a Contudo, como não era de intento, o
brincadeiras, demonstram que, em um são oferecidas por autoridades competentes. brincadeira e a interação e o segundo assunto não fora esgotado, fora dado

78 79
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

um primeiro e importante passo para o


fomento de conhecimento e estímulo para o REFERÊNCIAS
aprofundamento no tema, que pode ser feito
em estudos posteriores, que visem corroborar,
refutar ou complementar as constatações GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2017.
obtidas até o momento.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas,
amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de dados. São Paulo:
Atlas, 2015.

NEVES, V. F. A.; et al. A passagem da educação infantil para o ensino fundamental: tensões
contemporâneas. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.37, n.1, 220p. 121-140, jan./abr. 2011.

OLIVEIRA, V. M. Transição da educação infantil para o ensino fundamental. Ariquemes: UNIR,


2017.

PAZ, A. C. S.; OLIVEIRA, R. F. N. A importancia do olhar pedagógico na transição da educação


infantil para o ensino fundamntal. Lins: Unisalesiano, 2017.

RIBEIRO, K. F. L.; et al. A transição da criança da educação infantil para o ensino fundamental.
ANA MARIA RODRIGUES MARTIM s/d. Disponível em: <http://www.unicampsciencia.com.br/pdf/5949b270443d2.pdf>. Acesso
em: maio 2019.

SANTOS, V.; CANDELORO, R. J. Trabalhos acadêmicos: uma orientação para a pesquisa e normas
Graduação em Pedagogia pela Universidade
técnicas. Porto Alegre: Age, 2006.
Guarulhos (2004); Especialista em Psicopeda-
gogia pela Universidade Guarulhos. (2008);
Professor de Educação Infantil e Ensino Fun- SANTOS, G. E.; MAIA, J. N. Um olhar na transição da educação infantil para o ensino fundamental:
damental - na EMEF Antônio Carlos de An- o que dizem as crianças. Revista Diálogos Interdisciplinares - GEPFIP, Aquidauana, v. 1, n. 4, p.
drada e Silva, Professor de Educação Bási- 101-121, dez. 2017.
ca I - na E.E. Prof. “Victório Napoleão Oliani
ZANATTA, J.; et al. O processo de transição da educação infantil para os anos iniciais do ensino
fundamental: desafios e possibilidades. In: XII Congresso Nacional de Educação – EDUCERE.
Curitiba, out. 2015.

80 81
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO A educação Lúdica contribui e influencia na formação


da criança, possibilitando um crescimento sadio, um
Os Jogos e as brincadeiras lúdicas fazem enriquecimento permanente, integrando-se ao mais alto
parte do dia - dia das crianças, elas brincam, espírito democrático enquanto investe em produção
fantasiam e imaginam, é por esta forma séria de conhecimento. A sua prática exige a participação
prazerosa de aprender que o professor franca, crítica, livre, promovendo a interação social e
irá considerar e favorecer nos centros de tendo em vista o forte compromisso de transformação e
educação infantil, visando desenvolver as modificação do meio [...] (ALMEIDA, 1995, p. 41).
crianças em todos os aspectos. Nesta fase
o educador tem todas as ferramentas em O ENFOQUE DO LÚDICO NO
suas mãos, basta que o mesmo estimule as PROCESSO EDUCATIVO
crianças a explorar suas ideias, considerando
sempre que o mundo delas gira em torno O trabalho do lúdico nas instituições de
do brincar, portanto, cabe ao educador educação infantil auxiliam os professores em
explorar esses meios para propiciar o suas atividades. São inúmeras abordagens
desenvolvimento do ensino-aprendizagem teóricas e estudos a respeito dessas práticas
A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL e a formação das crianças utilizando se como recurso pedagógico e o quanto elas
JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS desse mundo de brincadeiras, que é o delas. auxiliam no desenvolvimento das crianças,
Segundo o Referencial Curricular Nacional permitindo descobrir sua identidade,
RESUMO: As atividades lúdicas atualmente é uma das práticas mais vivenciadas dentro para Educação Infantil (1998, p. 33), facilitando seu desenvolvimento, afetivo,
das instituições de educação infantil, sendo um fator primordial e enriquecedor para emocional, social e cognitivo e assim,
desenvolvimento infantil. Trata-se de um recurso pedagógico que não pode ser traduzido [...]É função de o professor considerar, como ponto de despertar sua autonomia e criatividade.
somente como momento de prazer, divertimento e passatempo, os jogos e as brincadeiras partida para a sua ação educativa, os conhecimentos Sendo assim, cabe a nós professores a
proporcionam contribuições importantes para o desenvolvimento físico, afetivo, social e que as crianças possuem, advindos das mais variadas tarefa de mediar brincadeiras como forma
cognitivo da criança. Sabemos que a criança é como sujeito de direitos, não apenas nos experiências sociais, cognitivas e afetivas que estão de educar, ao contrário do pensamento de
aspectos legais, brincar é um direito delas e uma infância vivida por meio das brincadeiras expostas (RCEI, 1998, p. 33). muitos que brincar na educação venha a ser
promove socialização e apropriação de conhecimentos, promovendo um desenvolvimento perda de tempo, não o brincar e o educar
mais sadio e que respeita às crianças em suas necessidades. A criança é um ser curioso, O lúdico é um importante instrumento de se integram na educação, sendo papel de
ativo, cheio de energias, com disposição e interesse pelas coisas do mundo. É por meio do mediação do processo de aprendizagem maior importância de o professor fazer com
brincar que a criança pode aperfeiçoar seus conhecimentos prévios e internalizando novas na educação infantil, pois seu universo é que a criança tenha um tempo de sonhar,
descobertas agregando em si valores importantes que contribuem para sua formação e composto de encantamento, fantasia e de crescer, de amadurecer, de possibilitar
constituem suas formas de ser e estar no mundo. É por meio da realização das brincadeiras sonhos onde o faz de conta e realidade se desenvolver as suas estruturas mentais
que a criança, desde muito cedo, pode aprender a importância da cooperação, do trabalho em mistura, favorecendo o uso do pensamento, superiores de forma equilibrada e contínua
equipe, da organização, da ajuda mútua e do compartilhamento de objetos. Valores estes que a concentração, o desenvolvimento social, em busca de sua autonomia.
acompanharão a criança no decorrer de toda a sua vida e a ajudarão a vivenciar momentos pessoal e cultural, facilitando o processo de
decisivos na infância e na vida adulta. construção do pensamento. Para Almeida Devemos pensar a escola como espaço de
(1995, p.41): ações e interações de grande influência
Palavras- chave: Educação infantil; Ludicidade; Conhecimento; Desenvolvimento. significativamente no processo de ensino

82 83
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

e aprendizagem dos nossos alunos. O ambientes acolhedores e organizados, para favorece seu desenvolvimento corporal. Esse de linguagens, é um instrumento para fazer
professor precisa apropriar-se do brincar, total efetividade do trabalho as ser realizado instrumento do brincar surge até mesmo no fluir o imaginário infantil e assim ele contribui
inserindo-o no universo escolar. É junto as crianças. imaginário das crianças, no qual elas criam e para desenvolver das crianças.
efetivamente importante para a criança, Em vista podemos concluir que tanto as incorporam em suas brincadeiras, tampinhas
quando o professor acolhe suas vivências brincadeiras, os jogos e os brinquedos de garrafas se tornam pratos, pedaços de
lúdicas e abre um espaço para a criação. são recursos pedagógicos e podem ser madeiras são colheres, espigas de milho CONCEITUANDO A
Com isso, o professor instiga a criança à considerados importantes para a formação em formação se tornam lindas bonecas
descoberta, à curiosidade, ao desejo de e o desenvolvimento da criança, pois de cabelos longos, cabos de vassouras se BRINCADEIRA
saber, de criar e recriar, dar (re-) significações todos possuem uma única finalidade que é transformam em cavalos, adquirindo assim
a suas experiências. proporcionar o aprendizado de uma forma um sentido lúdico, não importa de onde ele A brincadeira se apresenta mais livre, enquanto
prazerosa e significativa para os alunos, pois surgirá, será sempre considerado um suporte o jogo possui regras e geralmente envolve
Segundo Vygotsky (2007), o brincar, os jogos e as brincadeiras fazem parte do das brincadeiras. Assim, “O brinquedo será dois ou mais participante. A brincadeira se
portanto é fundamental, é por meio dele universo infantil, basta o professor saber fazer entendido sempre como objeto, suporte da refere à ação de brincar e assume grande
que a criança desenvolve sua criatividade aproveitamento desse recurso e conhecer brincadeira [...]” KISHIMOTO (1994, p.7). importância no processo de aprendizagem,
e imaginação, aprende a dividir, a aceitar suas diferenças, o jogo, a brincadeira e o brincando surgem condições para a criança
regras de convivência e a socializar- brinquedo muitas vezes são considerados Esses Brinquedos-objetos criados tanto pelos adquirir o desenvolvimento do próprio
se, “[...] a criança se comporta além do iguais, no entanto podem ter o mesmo homens adultos como pela imaginação da pensamento. A criança brinca pela satisfação
comportamento habitual de sua idade, além significado de divertimento, porém entre eles criança não serve apenas para passar o tempo que a brincadeira lhe proporciona, até
de seu comportamento diário; no brinquedo, não são sinônimos. ou para diverti-las, o brinquedo exerce uma mesmo pela ação de construir algo, como por
é como se ela fosse maior do que ela é na grande influência no desenvolvimento de exemplo, o quebra cabeça, quando a criança
realidade” (VYGOTSKY 2007, P. 134). O BRINQUEDO E SUA uma criança, sendo um veículo educacional termina sua construção ela se sente satisfeita
REPRESENTAÇÃO muito importante, portanto, o educador deve por ter conseguido montar o brinquedo.
As brincadeiras lúdicas refletem como a ter consciência disso e tirar proveito de todas
criança, ordena, organiza, desorganiza, Para Kishimoto (1996), o brinquedo é às ações das crianças durante a permanência Atualmente ainda vemos dificuldades que
destrói e reconstrói o mundo ao seu redor. um suporte da brincadeira, deferindo, o na instituição, e conscientizar os pais educadores apresentam em relação ao
Podendo ela expressar suas fantasias, desejos, brinquedo supõe uma relação íntima com a dessa devida importância. Dessa forma, “O compreender o universo infantil, e entender
medos, sentimentos e conhecimentos novos criança, ou seja, a ausência de um sistema brinquedo cria uma zona de desenvolvimento as diferenças que existem entre os jogos,
que vão incorporando a sua vida, utilizando de regras que organizam sua utilização. proximal da criança. No brinquedo, a criança as brincadeiras e os brinquedos, é preciso
uma das qualidades mais importantes do O brinquedo estimula a representação e se comporta além do comportamento diário; resgatar o real sentido da educação infantil
lúdico, que é a confiança que a criança tem expressão de imagens que enfocam aspectos no brinquedo, é como se ela fosse maior que e seus recursos para atingir os objetivos.
quanto à própria capacidade de resolução da realidade (KISHIMOTO, 1996 p.7). a realidade”. Vygotsky (1984 p.134-135): Muitas vezes é por meio das brincadeiras
de problemas. Diante disso é importante a que a criança expressa o que não consegue
escola e corpo docente tomar mão desse, O brinquedo é considerado um instrumento Em vista disto que muitas vezes a criança falar, ela vê e constrói seu mundo para
importantíssimo recurso pedagógico e (objeto) do brincar, no qual contribui transforma suas ações do cotidiano em tentar fugir de suas preocupações. Segundo
planejar de acordo com as necessidades do para o desenvolvimento infantil, além brincadeiras e ao mesmo tempo aproxima o Referencial Curricular Nacional para
grupo, atividades que envolvam o lúdico e se de dar oportunidade de comandar seu da realidade para compreendê-la, Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 23):
torne mais significativo a aprendizagem, que comportamento em relação ao seu imaginário, principalmente quando ela está mais inserida
propiciem experiências ricas e desafiadoras, com isto a criança adquire conhecimento e no mundo dos adultos. Enfim, o brinquedo
estimula as representações, as expressões

84 85
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Educar significa, portanto, propiciar situações de construção que eram usados em atividades certa forma, o brinquedo imaginário, que é A palavra jogo, do latim “incus” quer dizer
cuidados, brincadeiras e aprendizagem orientadas de construção e papel, papelão e argila eram uma das essências da infância. Imitar bichos, diversão, brincadeira. As definições mais
de forma integrada e que possam contribuir para o para suas criações, as histórias, os mitos, as brincar de casinha são brincadeiras que se gerais que encontramos nos dicionários
desenvolvimento das capacidades infantis de relação lendas, contos de fadas eram valorizados aproximam do real, o simbolismo começa a de Língua Portuguesa são: “divertimento,
interpessoal, de ser e estar com os outros em uma por Froebel, pois desenvolvia a mente das representar a realidade para a criança. distração, passatempo”. Assim, a palavra jogo
atitude básico de aceitação, respeito e confiança, e ao crianças, os brinquedos físicos eram para dar tanto é usada, por exemplo, para definir a
acesso, pelas crianças aos conhecimentos mais amplos força ao corpo. Segundo Oliveira (apud Kunz, 1994 p.95): atividade individual da criança na construção
da realidade social e cultural (BRASIL, 1998, p. 23). com blocos, como atividades em grupo
Froebel foi o primeiro filósofo a ver o uso [...] A criança, pelo seu brinquedo e pelo jogo, quer de canto ou dança. O jogo em si tem um
De forma geral é brincando que a criança dos jogos para crianças na escola, os jogos interagir com o mundo, o mundo real, dos objetos, e significado mais amplo, ele é construtivo,
se desenvolve em todos os contextos, educativos passaram a ser um recurso com os outros, o brincar torna-se para a criança a sua um sistema de regras que definem a perda
além disso, elas contribuem para a auxiliar de ensino que influenciaram a forma de expressão, no seu brincar a criança constrói ou o ganho. Segundo Vygotsky (apud
formação mental; é no brincar que a educação infantil de todos os países. Ele foi simbolicamente sua realidade, recria ao existente. Porém, KISHIMOTO, 1996 p. 23), “[...] nem sempre
criança desenvolve sua personalidade, um dos primeiros educadores a considerar este brincar criativo, simbólico imaginário enquanto poder o jogo proporciona prazer, pois muitas vezes
portanto, não pode ser considerada o início da infância como fase a considerar infantil de conhecer o mundo e se apropriar originalmente exige esforços e desprazer na conquista do
como uma atividade qualquer e deve ser o início da infância como fase importante do real está ameaçado de desaparecimento (KUNZ, 1994, objetivo que deseja alcançar.”
propiciada nos centros de educação infantil. na formação do ser humano para ele a p.95).
criança era como “uma planta em sua fase Em vista disso dependendo do jogo é preciso
O SURGIMENTO DOS JOGOS E de formação”. Portanto é preciso resgatar o brincar e trazer ser trabalhado um lado positivo, pois eles mal
BRINCADEIRAS NOS CENTROS para dentro das escolas, práticas educativas administrados podem gerar sentimentos de
DE EDUCAÇÃO INFANTIL As técnicas utilizadas até hoje na educação por meio do lúdico e conscientizar os pais frustrações, insegurança e rebeldia. O jogo é
infantil devem muito a Froebel, para ele as a sua devida importância e mostrar a eles a também uma das principais atividades para
A introdução da brincadeira no contexto infantil inicia- brincadeiras são os primeiros recursos a contribuições que tem para a formação de a aquisição do desenvolvimento psíquico
se, timidamente, com a criação dos jardins de infância, se utilizar no caminho da aprendizagem. O seus filhos. da criança contribuindo para a formação da
fruto da expansão froebeliana que influenciou a educação objetivo das atividades realizadas no jardim personalidade. Assim define com LEONTIEV
infantil de todos os países. A difusão não é uniforme, de infância era possibilitar brincadeiras HISTÓRICO DOS JOGOS (1988, p.69), “Como sendo uma atividade
pois dependem de valores selecionados apropriações criativas, acompanhadas de músicas, versos que se caracteriza por ser aquela cujo
de elementos da teoria e formas como seus discípulos a e danças, elas eram realizadas em ar livre O jogo advém do século XVI, e os primeiros desenvolvimento governa as mudanças nos
traduzem. A apropriação se resume no modo pelo qual para que eles interagem com o ambiente. estudos foram realizados em Roma e processos psíquicos e nos traços psicológicos
realiza e interpreta um dado teórico e orientação cultural Segundo Froebel (apud KISHIMOTO, 2003 Grécia, destinados ao aprendizado das da personalidade da criança em certo estágio
de cada país (KISHIMOTO, 2002, P.16). p.16), “[...] Como objetivo e ação de brincar, letras. Esse interesse decresceu com o de seu desenvolvimento”.
O jogo e as brincadeiras no contexto o jogo passa a fazer parte da história da advento do cristianismo, que visava uma
educacional surgiram com a criação do educação infantil”. educação disciplinadora, com memorização Além da formação da personalidade
primeiro jardim de infância em 1837, no qual e obediência. A partir daí, os jogos são vistos da criança, o jogo como educativo irá
seu criador Friedrich Froebel com suas ideias Atualmente os jogos e as brincadeiras como delituosos, que levam à prostituição e potencializar a aprendizagem da criança, irá
reformularam a educação. Froebel foi o continuaram nas propostas pedagógicas, à embriaguez. É no Renascimento que o jogo despertar seu senso crítico sobre as coisas
primeiro educador a enfatizar o brinquedo à mas houve certo desaparecimento do perde esse caráter de reprovação e entra no ao seu redor, dando oportunidade a elevação
atividade lúdica, os materiais eram blocos de brincar devido ao grande comércio de cotidiano dos jovens como diversão. do seu nível de conhecimento. Portanto,
brinquedos eletrônicos que substitui, de

86 87
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

cabe aos educadores utilizar-se desse De acordo com Piaget (apud, FARIA 1989), Os etc.); Jogos de força e agilidade (lançar autonomia e a curiosidade. Em vista disso
construindo o conhecimento pelo lúdico que
recurso nos centros de educação infantil, é jogos são classificados da seguinte maneira: objetos, pular corda, etc.); Jogos intelectuais
se torna mais fácil e divertida, sendo assim
uma importante ferramenta pedagógica que Jogos de exercício sensório-motor são são jogos de xadrez, damas e memória.
a aprendizagem se torna mais prazerosa.
contribui para a construção do conhecimento repetições, ações que produzem sons com São várias as classificações dos jogos,
e o desenvolvimento intelectual da criança. finalidade prazerosa, o objetivo é exercitar a mas todos independentemente de como Segundo Almeida (1995, p.11), “A educação
função em si; Jogos simbólicos são recursos ele se classifica, ele não deixa ser um lúdica é uma ação inerente na criança e
que a criança utiliza para obter prazer e para importante recurso pedagógico, no qual aparece sempre como uma forma transacional
PRESSUPOSTOS TEÓRICO EM ajustar as situações incompreendidas e o educador deverá criar um ambiente em direção a algum conhecimento, que
vivências de práticas sociais, é o brincar de repleto de experiências, onde os jogos se redefine na elaboração constante do
RELAÇÃO AOS JOGOS faz - de –conta; Jogos de regras que podem educativos se tornem parte do cotidiano pensamento individual em permutações
existir logo no início ou serem combinadas escolar, visando sempre o desenvolvimento constantes com o pensamento coletivo”. É de
Jean Piaget- (1996-198) – Desenvolveu uma momentaneamente, os jogos de regras dos alunos em todos os aspectos. grande importância a utilização dos jogos e
teoria sobre o desenvolvimento da inteligência aliam a satisfação motora e intelectual lhe brincadeiras no processo pedagógico, pois os
das crianças, e os jogos se destacaram como proporcionando a satisfação de vitória, A teoria psicoanalítica de Freud” (1856-1939). conteúdos podem ser trabalhados de diversas
atividade principal na busca do conhecimento. são os jogos de cartas, xadrez e outros. O autor utilizou o jogo em seus processos de maneiras lúdicas contribuindo, dessa forma
Esse estudo foi desenvolvido de acordo com cura de crianças. Em suas pesquisas, o pai da para evolução integral da criança. O lúdico em
sala de aula pode ser trabalhado em todas as
as etapas de vidas das crianças, dividindo os O jogo de regras como abordado psicanálise observou que o desejo da criança
atividades, no entanto, o professor precisa estar
desenvolvimentos intelectuais dos mesmos. anteriormente deve ser bem administrado é que determina o comportamento dela frente
preparado para realizá-lo, tendo conhecimento
para não gerar frustrações entre as aos brinquedos: cria um mundo próprio, sobre os fundamentos da educação lúdica.
Período Sensório-motor, de zero a dois anos crianças. Já o jogo simbólico além de repete experiências que ainda não dominou,
de idade anos; Período Pré-operacional, de contribuir para o desenvolvimento da busca identificações, exerce autoridade sobre Na educação infantil, o papel do professor
dois a quatro anos; Período Intuitivo, sete criança, ele ajuda a criança a substituir as os seus brinquedos, projeta em outras pessoas é de extrema importância, ele cria espaços,
aos quatorze anos; Período Operacional dificuldades de sua vida pelo seu imaginário. ou em objetos sentimentos reprimidos, tenta participa das brincadeiras, ou seja, ele é o
abstrato ,acima dos quatorze anos de idade. superar insucessos anteriores, de maneira mediador da construção do conhecimento,
Na época de estudo de Piaget ele levantou a De acordo com Wallon (apud, NEGRINE, lúdica vivencia situações constrangedoras, possibilitando uma aprendizagem de
questão de que não era através dos estímulos 1994), os jogos classificados como: Jogos procurando resolver os problemas, maneira mais criativa, sendo assim os alunos
que a criança obtenha conhecimentos e funcionais são os físicos derivado da encontrar soluções, enfim, realiza ações sentem mais vontade de estar na escola,
sim a inteligência só se desenvolvia para movimentação muscular, por exemplo, que no mundo real não lhe são permitidas. querendo aprender cada vez mais e sempre
preenchimento das suas necessidades, desse movimentações das mãos, são jogos Essa teoria ocupou-se essencialmente do querendo voltar à escola no dia seguinte.
modo os jogos eram buscados para realizar elementares; Jogos de aquisição relacionam jogo imaginativo em função das emoções.
descobertas. Logo no início de sua pesquisa com a capacidade de ouvir olhar e realizar O lúdico faz parte da vida da criança, pois
proporcionam as crianças momentos que
sobre os jogos no desenvolvimento da criança esforços para compreender e aprender;
CONSIDERAÇÕES FINAIS podem ter grandes significados para ela, neste
ele percebeu uma tendência lúdica nos Jogos de fabricação consistem em agrupar,
sentido, o brincar faz com que os mesmos
primeiros meses de vida da criança, no qual combinar, modificar objetos, transformando- possam fantasiar e ir para um mundo além
foi chamado de jogo de exercício sensório- os em objetos novos. Segundo Rosamilha De acordo com este estudo, as atividades
lúdicas favorecem as crianças um melhor da realidade, ou até mesmo aproximar de
motor, jogo simbólico e jogo de regras, sempre (1979) os jogos se classificam em: Jogos sua realidade representando de sua maneira.
seguindo a etapa seguinte de suas idades. verbais, imitativos são executados pelo adulto desenvolvimento, seja cognitivo, motor,
social ou afetivo, a criança interage com É por intermédio da atividade lúdica que a
(pergunta nomes de objetos imitam animais, criança se prepara para a vida, assimilando
outras crianças, estimulando sua criatividade,
a cultura do meio em que está inserida e

88 89
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

adaptando-se as condições que é preciso, mundo, “o como se fosse” assim criam um REFERÊNCIAS
aprender a conviver com os outros, além de imaginário e fantasiar tudo àquilo que desejam.
proporcionar um desenvolvimento sadio.
Viajando pela fantasia, a criança vai longe, conhece coisas ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica: técnicas e jogos pedagógicos São Paulo: Loyola,
Pelo brincar e jogar, a criança torna seus sonhos que nós adultos, já vivemos e esquecemos e muitas vezes, 1995
vai além de quase os adultos, no entanto há pessoas
em realidade. A brincadeira mostra a forma mais velhas que enveredam pela ficção e são capazes ANTUNES, Celso. O jogo e a educação Infantil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003
como a criança se relaciona com o mundo, de trazer de lá conhecimentos que revolucionaram o BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretária da educação Referencial curricular
enquanto ela brinca, exercita sua imaginação mundo. é uma pena que os homens quase sempre se
da educação infantil. 1998, V2 e 3 :Brasília: ME
esqueçam de suas fantasias e sonhos (FREIRE,1992, p. 37).
e criatividade a partir disso ele constrói
FARIA A. R. O desenvolvimento da criança e do adolescente segundo Piaget. São Paulo: Ática,
seu mundo e se expressa de várias formas.
1989
Portanto, cabe a nós não deixarmos que
As instituições devem assegurar e valorizar, em seu
nossas crianças de hoje se tornem adultos FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: Rio de Janeiro, 1992
cotidiano jogos motores, e brincadeiras que contemplam a
coordenação dos movimentos e o equilíbrio das crianças. vazios, sem sonhos, deixando para trás a FROEBEL, Friederich: O Pedagogo dos jardins de infância: Ed vozes.
Os jogos motores trazem a oportunidade de aprendizagem fórmula da felicidade que é essência de suas KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Jogos, brinquedos, brincadeiras e educação. São PAULO: Ed
social, pois ao jogar a criança aprende a competir e elaborar infâncias, aquela que ensina a todos a viver. Cortez, 1996.
umas com as outras e a respeitar regras (BRASIL, 1998, p.35).
KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Jogos infantis: o jogo a criança e a educação.Petrópolis, RJ:
Com base na citação acima podemos dizer que Vozes, 1993.
as instituições de ensino devem apresentar KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Escolarização e brincadeira na educação infantil.
constantemente estímulos que aumentem
KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 3º edição, São Paulo:
a curiosidade das crianças e proporcionar
atividades para dar início a construção do Cortez, 2003.
conhecimento, principalmente trabalhar com LEONTIEV, Aléxis. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Ed. Horizonte, 1988.
vários jogos, pois irá estimular o raciocínio das MARCELLINO, Nélson C. Estudos do lazer: São Paulo: Autores associados, 1996
crianças dessa forma irão aprender a pensar. NEGRINE, Airton. A aprendizagem e o desenvolvimento infantil. Porto Alegre: Prodil, 1995.
OLIVEIRA, Vera Barros de (org). O brincar e a criança do nascimento aos seis anos.Petrópolis,
Para ocorrer essa construção de conhecimento, ANDREIA DE LIMA BIASI
não é preciso ter grandes quantidades de RJ: Vozes, 2000
brinquedos e jogos, mas sim uma equipe Graduação em Pedagogia com licenciatura Plena, PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação.
de educadores bem preparados que saiba Habilitação em Administração Escolar/Magistério 3º edição, RJ, 1964.
fazer das coisas mais simples acontecerem o nos anos iniciais do Ensino Fundamental e PIAGET, Jean. A psicologia da criança. Rio de Janeiro, 1998.
esperado, pois como mencionado antes, ao Educação Infantil pela Universidade Guarulhos - ROSAMILHA, Nelson. Psicologia do jogo e da aprendizagem infantil: São Paulo: Pioneira, 1979
jogar e brincar a criança também enriquece UNG (2009); Especialista em Arte e Educação
sua personalidade. Assim como os jogos e as pela Faculdade Campos Elíseos- FCE (2016);
brincadeiras podem ser usados no sentido de Especialista em Educação Inclusiva pela Faculdade VYGOTSKY, Lev Semenovich. A Formação social da mente. São Paulo: Livraria Martins Fontes,
brincar e no sentido pedagógico, igualmente Campos Elíseos -FCE (2018); Professora de
podem ser usados para superar dificuldades Educação Infantil no município de São Paulo.
de aprendizagem, por isso devemos
incentivar o brincar das crianças, isso é uma
tarefa indispensável ao educador. Esse é o
universo infantil e que deve ser respeitado
por todos, é assim que elas constroem seu

90 91
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
O preconceito encerra o maior dos ESCLARECENDO AS
problemas porque é o criador de obstáculos TERMINOLOGIAS
em todas as esferas. Assim sendo, tratar Há uma grande preocupação por parte
da inclusão de pessoas com deficiência de alguns teóricos da área da saúde,
intelectual ainda é tema para muitas principalmente, quanto ao emprego do
discussões e quebra de tabus, a qual, melhor termo para nomear as pessoas
nós tentaremos apresentar elementos e que apresentam alguma dificuldade física,
dados, como possíveis possibilidades de psicológica, cognitiva e/ou motora. Por algum
amenizar alguns dos problemas. Desta tempo foi usado o termo “excepcionais”
feita, este trabalho tem como objetivo para referir-se a pessoa com alguma
trazer para discussão a inclusão de crianças deficiência. Nos anos de 1990, a ONU
com deficiência intelectual. Muito embora recomendou o uso da terminologia “pessoas
o assunto esteja presente no dia a dia, portadoras de deficiência”, mas no final da
acreditamos que o constante debate do década foi adotada a expressão: “pessoa
assunto possa resultar em um novo olhar com deficiência”. Houve também o uso de
sobre a problemática apresentada, bem “excepcionais”, contudo, alguns preferem
como dele possam surgir alternativas que usar “pessoas com necessidade especial”.
solucionem as questões até então pendentes.
Na pesquisa que precedeu este trabalho,

OS DESAFIOS DIÁRIOS DE QUEM POSSUI A justificativa para a elaboração deste


material está centrada na necessidade de
encontramos várias formas de abordar a
mesma questão e aqui adotaremos algumas,
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E A INCLUSÃO NA buscar caminhos que torne a inclusão de
crianças e adolescentes com deficiência
sem prejuízo ou preconceito contra qualquer
pessoa ou situação, pois o foco será
REDE PÚBLICA DE ENSINO intelectual efetiva e não somente simbólica
como ocorre na maioria dos casos. Para
sempre a pessoa ou melhor, a criança e ao
adolescente com deficiência intelectual. O
tanto, elaboramos este artigo com base respaldo teórico está baseado na Declaração
no referendado teórico, assim como de Salamanca 10.07.1994; Constituição
RESUMO: Trabalhar com a temática relacionada à criança com deficiência intelectual é assunto na experiência empírica haja vista ser Federal de 1988; da LDB 9394/96; do
bem polêmico quando se trata de incluí-lo na escola pública. Sabe-se que a opinião se divide pertinente. Serão citadas algumas situações Decreto 6.949 de 25.09.2009 e de autores
entre os que são favoráveis e os que são desfavoráveis, este parecer parte não somente vivenciadas nas duas décadas de magistério como: Bisneto (2011), Baptista (2008),
da comunidade escolar, como dos próprios pais que em defesa dos filhos preferem vê-los e para manter o anonimato dos envolvidos, Pacheco (2007), Ribas (2007) dentre outros.
fazendo atividades com seus pares. Este trabalho apresenta uma reflexão sobre inclusão e a usaremos nomes fictícios para denominá-
efetivação dos direitos assegurados em leis, às crianças portadoras de deficiência intelectual. los; experiência vivenciada num semestre Quando o assunto é doença que
Serão apresentados os desafios diários enfrentados tanto pela criança com deficiência, bem em um NAISPD (Núcleo de Apoio à exige acompanhamento de psiquiatras,
Inclusão Social de Pessoas com Deficiência). neurologistas e/ou psicólogos, na visão
como pelos professores e comunidade escolar.
popular, tudo fica relegado a um diagnóstico
– a pessoa está doida. O Dicionário Brasileiro
Globo apresenta a seguinte definição: Doido,
Palavras-chave: Inclusão; Deficiência; Escola Pública; Criança adj. Louco; demente; extravagante; insensato;
exaltado; temerário; muito contente;
vaidoso; s.m. pessoa doida. (Var.: doudo.)

92 93
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Muitas pessoas desconhecem a diferença diagnosticado, inicia um tratamento que Com o funcionamento cognitivo inferior à O Francisco embora não estivesse
entre doenças do cognitivo e doenças mentais. ameniza os danos e por meio de terapias e média e distúrbios apresentados antes dos 18 alfabetizado, escrevia algumas letras e
De acordo com a APAE, em artigo esclarecendo medicamentos há uma tentativa de inseri-
anos, o deficiente intelectual terá por intermédio números, geralmente de forma espelhada,
sobre deficiência intelectual e mental, lo em programas (inclusão) para que possa
considera-se deficiência intelectual quando: da manifestação de sintomas, a classificação do e se no momento do exercício ele
dentro de suas limitações interagir com outros
a pessoa apresenta um atraso no seu não semelhantes no que tange a deficiência. quadro de sua deficiência estabelecida entre acompanhava o raciocínio, no momento
desenvolvimento, dificuldades para aprender A deficiência é vista como algo permanente, leve, médio ou grave, o que será significativo seguinte ele se esquecia do ensinado.
e realizar tarefas do dia a dia e interagir que necessita de tratamento durante toda a no momento em que for inserido na rede de
com o meio em que vive. Ou seja, existe um existência. Ao contrário das doenças mentais ensino. Como ele não entendia bem as regras
comprometimento cognitivo, que acontece em que grande parte da classe médica analisa de manter-se sentado por cinco horas, ele
antes dos 18 anos, e que prejudica suas como algo temporário, passível de cura. EDUCAÇÃO INCLUSIVA INCLUSÃO se irritava e saia correndo pela escola e
habilidades adaptativas (APAE, 2018). SOCIAL agredia quem tentasse impedi-lo. Ele sabia
Deficiência intelectual é a nomenclatura o caminho da sala de leitura e era lá que ele
Na deficiência intelectual há um aprovada pela ONU na Convenção Muitos leigos e intelectuais da área da gostava de ver as imagens das revistinhas
comprometimento cognitivo, o que ocorre Internacional de Direitos Humanos das Educação defendem a Educação Inclusiva, com (gibis) e recontando a história a seu jeito.
com os portadores de Down, os autistas, Pessoas com Deficiência, usada desde base em suas teorias. Para eles, o matricular um Sempre que encontrava a porta fechada, ele
outros diagnosticados com a síndrome de agosto de 2006 para substituir o termo aluno com deficiência numa escola de ensino a chutava e gritava que queria a “monkna”,
Williams, síndrome de Angelma em que as deficiência mental. Honora e Frizanco, regular já é o suficiente para que seja considerada ou algo semelhante, que mais tarde
pessoas sofrem com atraso psicomotor, (2008) traz a definição para deficiência
concluída a inclusão. Para quem já vivenciou descobrimos que se tratava da revistinha
como andar, falar – distúrbios variados no intelectual: "A deficiência intelectual não é
sistema senso motor. Já a doença mental, esta situação e considera o ser humano um ser da Mônica, do escritor Maurício de Souza.
considerada uma doença ou um transtorno
conforme o artigo da APAE (apaesp.org.br), psiquiátrico e sim um ou mais fatores que social, sabe que a educação inclusiva é apenas
“engloba uma série de condições que causam causam um prejuízo das funções cognitivas “a ponta do iceberg”. Em uma de muitas histórias Com interesse em testar algumas teorias
alteração do humor, do comportamento e que acompanha o desenvolvimento diferente vivenciadas por nós, envolvendo deficiente da inclusão, procuramos nos aproximar
podem afetar o desempenho da pessoa na do cérebro" (HONORA E FRIZANCO,2008, intelectual, numa delas o protagonista era um do menino, ganhando sua confiança. No
sociedade. Essas alterações acontecem na p. 103). Para que seja considerado um garotinho com 10 anos e portador de Síndrome começo houve uma certa resistência,
mente da pessoa e causam uma alteração na deficiente intelectual, a pessoa precisa de Down que chamaremos aqui de Francisco. mas logo um vínculo de confiança se
sua percepção da realidade" (APAE, 2018). apresentar dois ou mais sintomas/ estabeleceu e progredimos tanto que até
comportamentos na área de adaptação, Ele estava matriculado em uma escola pública o horário do lanche ficávamos juntos. Duas
Conforme está posto, há uma diferença como aponta Honora e Frizanco (2008): desde os anos iniciais e se os primeiros anos toalhinhas eram estendidas, geralmente na
entre deficiência intelectual e doença mental. transcorreram de forma amena, o mesmo não sala dos professores, e dividíamos o lanche.
Embora não haja um amparo legal para • Comunicação; se deu quando foi promovido para o ciclo II, o O lugar em que sentávamos devia estar
as pessoas com doença mental, onde se • Cuidado pessoal; antigo curso ginasial, com vários professores, sempre vazio e quando isso não acontecia,
enquadram a depressão, transtorno bipolar, • Habilidades sociais;
cada um para lecionar uma disciplina. As Francisco ficava muito irritado e fazia com
a síndrome do pânico e as várias fobias, • Utilização da comunidade;
aulas são interrompidas a cada 45 minutos que o professor se sentasse em outro lugar,
tais pessoas também têm seu cotidiano • Saúde e segurança;
prejudicado e dependendo do grau de seu • Habilidades acadêmicas; por meio de uma campainha de som bastante o que começou a incomodar alguns colegas.
quadro clínico, também é incapacitada para • Lazer; estridente, momento em que ocorre a mudança
desenvolver tarefas e interagir com o meio • Trabalho. de professores de sala, acompanhado de muito Na sala de aula, ele tinha uma cesta que
em que vive. A diferença talvez aconteça barulho e algazarra dos alunos que se sentem fora comprada especialmente para ele e
porque o deficiente intelectual uma vez “livres” por algum momento do jugo do docente. nela havia um caderno com atividades

94 95
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

apropriadas para ele, giz de cera, massa de orientação aos familiares, quanto a incentivar não aceitava o filho por conta da doença quando são ameaçados por um outro aluno,
modelar e um pote com blocos de montar que os filhos no cotidiano, na elaboração de tarefas e a relação deles era muito conflituosa. A mas este é um impasse em que ninguém
era o favorito dele. Na hora da explicação da domésticas, participação em festas, cultos mãe dizia estar cansada de passar noites em quer tomar a palavra. Baptista (2008) com
matéria, ele ficava prestando a atenção, então religiosos, cinema, shoppings dentre outros. claro com o filho quebrando tudo dentro respaldo em Vygotsky afirma que é real:
depois, pegava uma régua, os nossos óculos Os NAISPDs têm por finalidade assegurar os de casa e o pai por sua vez revidava com
e começava a explicar a matéria do jeito direitos, o exercício da cidadania e a inclusão gritos, xingamentos e até agressão contra o [...] importância de organizar a educação das crianças
dele. Mesmo com dificuldade em articular social. Articulados a órgãos governamentais menino. Ela fazia de tudo para manter o filho com deficiência mental. Para tanto é preciso pesquisar
os sons, ele era bastante comunicativo e como educação, saúde, transporte especial quieto para evitar as reações do marido e as qualitativamente a natureza de sua condição, descobrindo
se os colegas de sala não estavam muito e programas de desenvolvimento de únicas horas de sossego que tinha, era no as regularidades internas, os vínculos e as dependências
interessados na aula, na hora da explicação acessibilidade, eles visam potencializar as momento em que o filho estava na escola. internas determinantes da estrutura do desenvolvimento –
do Francisco todos se mantinham quietos capacidades adaptativas para a vida diária, a infantil. Aqui fazemos referência à necessidade de se
observando o quanto ele era fiel na imitação. capacitação de comunicação e socialização Neste caso temos um deficiente intelectual avaliar o aspecto primário e secundário deficiência
do deficiente segundo sua especificidade. sendo atendido no ensino regular conforme (BAPTISTA ,2008, p.52).
Dizer que havia educação inclusiva, assegura a lei, mas com ressalvas quanto à
como define a lei, não podemos afirmar que GANHOS E PERDAS NO PROCESSO inclusão. Como ele andava pelas dependências Não se trata de negar o direito de frequentar
acontecia, mas em se tratando da inclusão EDUCATIVO da escola e agredia a todos que ele encontrava a escola, mas conforme defende Vygotsky,
social, isto sim ocorreu. Francisco se tornou no caminho, os funcionários, professores e deveria haver uma avaliação do aspecto
popular e querido pelos colegas e para Ao apresentarmos este tópico apontando alunos com medo dele, procuravam manter- da deficiência, para buscar um espaço que
alguns professores ele obteve progresso o termo “perdas” no âmbito escolar, num se distantes. Este era o dilema vivido naquela primeiramente lhe assegurasse a inclusão
escolar também. Se a inclusão numa escola primeiro momento pode parecer errônea escola – um garoto com um físico muito social, sem perdas para ele e para os demais
regular é importante para a criança com esta colocação, todavia, o objetivo é desenvolvido para sua idade, com uma força que com ele dividem o mesmo espaço.
deficiência, a inclusão social é de muito maior demonstrar que quando se trata de inserir descomunal e que se expressava por meio das
valor (Honora e Frizanco, 2008, pp.32,33). uma criança e/ou um adolescente com agressões. Alguns pais chegaram a transferir O PROCESSO INCLUSIVO E SUAS
necessidades educacionais especiais numa seus filhos por conta das agressões sofridas. PRINCIPAIS DIFICULDADES
A Prefeitura do Estado de São Paulo escola tradicional, o resultado nem sempre
mantém parceria com o terceiro setor (ONGs) é positivo. Nos 20 anos de magistério, nós O que chama a atenção neste episódio é Mantoan (2003) define inclusão como
que mantém o NAISPD (Núcleo de Apoio à tivemos a oportunidade de vivenciar várias como cumprir a lei numa situação como essas privilégio de conviver com as diferenças. A
Inclusão Social para Pessoa Deficiente) que situações e se algumas foram boas outras nem em que um aluno com necessidades especiais educadora que trabalhava com classe especial,
são casas que oferecem refeição, atividades tanto. Numa escola municipal em Itaquera coloca em risco a integridade física de toda teve uma experiência que mudaria sua forma
lúdicas diversificadas e colaboram para havia um aluno com seus 13 anos que sofria a comunidade escolar. Não há legalmente de desenvolver seu trabalho, quando esteve
que o atendido ganhe autonomia no que de alguma patologia que ninguém sabia ao nenhum respaldo para situações como essa. em Portugal, em 1989, em visita a uma
se refere à higiene pessoal e alimentação. certo, mas acreditava-se ser esquizofrenia. Há outrossim, a Lei nº 7.853/89 que constitui escola em que trabalhava com a inclusão. A
Estes Núcleos estão classificados em Este garoto que chamaremos aqui de crime punível de reclusão (de 1 a 4 anos) e maneira como os alunos deficientes eram
NAISPD I, II e III que atendem segundo o Joaquim era extremamente agressivo. Ele multa a quem recusar, suspender, procrastinar, incluídos nas atividades em sala de aula,
grau comportamental e prejuízo neural. vivia andando pelo prédio escolar batendo cancelar ou fazer cessar a matrícula do aluno. fez com que Mantoan (2003) descobrisse
em quem encontrava pela frente e sempre O Estado é responsável por salvaguardar cada que era possível trabalhar com a inclusão.
O objetivo destes Núcleos não é a que os pais eram convocados, a mãe aparecia aluno e cabe a comunidade escolar incumbir- Ela narra um episódio em que envolvia uma
alfabetização, mas a inclusão social mediante a e contava a sua luta diária. O pai do garoto se de garantir a proteção deles, até mesmo criança sem braços e pernas, transformou sua

96 97
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

forma de lidar com os deficientes. Todavia, outro lado, do ponto de vista das camadas populares e O CORPO DOCENTE FRENTE Se ensinar o educando a tratar o próximo com
há de se admitir que algumas diferenças são dos que com elas lutam e resistem. A educação é vista À INCLUSÃO DO DEFICIENTE tolerância, respeitando suas diferenças não é
plausíveis quando comparamos Europa com como um dos meios capazes de proporcionar à classe INTELECTUAL disciplina nas universidades, este é por certo
Brasil, bem como dentre as deficiências, a trabalhadora um saber que seja instrumento de luta, a fim um conteúdo que precisa ser ensinado na
motora da intelectual. Arriscamos afirmar de que possa, de forma consciente, renascer enquanto Não se pode falar de escola sem somar os escola, mesmo sabendo que “a Educação é um
que ao defendermos a inclusão deveríamos homens e com eles uma nova escola.(Vale,2001, PP.46,47) esforços dos operacionais, gestores, e do corpo processo sem fim que solicita tempo e espaços
primeiramente levar em conta quem será docente. Contudo, quem se torna responsável adequados para ocorrer” Furlanetto (2007).
beneficiado e de que maneira ocorrerá. Em Inserir crianças e adolescente deficientes pela inclusão na sala de aula é o professor. Mas há que começar para que um dia se efetue.
nossa experiência, não na Europa, mas em nesta escola que passa por múltiplas Tudo pode ocorrer de forma tranquila ou não
escola pública na periferia de São Paulo temos turbulências, até que ponto seria positivo? O ocorrer se o professor for preconceituoso, O DEFICIENTE INTELECTUAL E A
passado por muitas situações concernentes à que estamos questionando não é a inclusão fechado aos processos inclusivos e, se não tiver INCLUSÃO NA SALA DE AULA REGULAR
inclusão e difíceis de administrar. Conforme do deficiente intelectual, mas sim, a maneira em sua bagagem conhecimentos extras, já que
mencionamos acima, no processo inclusivo, como deseja-se aplicar as leis e decretos. para Furlanetto (2007) a formação docente O aluno com deficiência intelectual,
a maior preocupação deve ser em atender e Fala-se de inclusão como dever do Estado, deve vir agraciada de outros pressupostos salvo exceções, é dócil e de fácil convívio,
da melhor maneira, quem possui deficiência. mas não houve a preparação necessária para como a formação contínua e autonomia. conforme relata alguns professores que
que ela se efetivasse de fato. A escola pública trabalham com eles. A deficiência não o
Se na década de 60 a escola era o trampolim carece de reforma não para receber pessoas Em se tratando da formação contínua, o impede de ter e fazer amizades, de relacionar-
de acesso à camada mais alta, no final da com deficiências, mas para receber gente artigo 67, da LDBEN 9394/96 assegura o se. Ao tratar do aspecto inclusivo escolar, o
segunda década do século 21, a acessão que precisa ter seu potencial desenvolvido. aperfeiçoamento profissional continuado questionamento diz respeito ao trabalho
dá-se por meio da política; do futebol; da As dificuldades são numerosas, começando ao docente, incluindo a remuneração do em que se espera desenvolver com o aluno
música(funk), sem falar dos meios ilícitos pelas barreiras arquitetônicas, ausência período. Contudo, há mais de vinte anos com deficiência intelectual. Na verdade, não
de enriquecimento (drogas, contrabando, de salas com ambiente propício, falta de após sua promulgação, o magistério continua se sabe ao certo o que é esperado da escola
etc.), geralmente não há obrigatoriedade material pedagógico e culmina na carência aguardando pelos cursos de capacitação. quando se fala de habilitação e reabilitação.
de estudo. O que tudo isso tem a ver com a de pessoal treinado e capacitado. Essas Outro ponto preocupante na formação
inclusão? Falávamos sobre a desvalorização são algumas das dificuldades encontradas docente ainda relacionado à sua prática Em conversa com responsáveis por
da Educação – do lugar de destaque que na escola pública que impossibilitam a diária, diz respeito ao alto índice de violência deficientes intelectuais alguns relataram
ocupava na década de 60 em contrapartida efetivação da inclusão, haja vista, o ambiente em sala de aula. Em nenhum momento, os sobre o progresso alcançado concernente
ao que ocupa hoje. Se antes havia um motivo é inóspito – sobra violência, agressões, furtos professores são preparados para enfrentar a socialização e autonomia de seus filhos
para valorizar a Educação porque era o e uso de drogas. Logo não é a escola que situações que envolvem socos, chutes, no relacionamento com os colegas da sala
passaporte para uma melhor posição social, não quer receber os alunos com deficiência, cadeiradas e até arma branca e de fogo numa de aula regular. Mas muitos, no entanto,
hoje no modelo de pessoas bem-sucedidas são eles que não querem frequentar este sala de aula. Tudo isso anda junto, até mesmo contaram que seus filhos não queriam
estão as que pouco frequentaram a escola local e na realidade, não merecem estar lá. o “convencer” o educando de que tudo que ir à escola por vários motivos, sendo os
e que optaram por caminhos alternativos lhe for ensinado, será útil na vida, sem utilizar principais: excesso de barulho; muita
para alcançar o sucesso. Para Vale (2001), o velho discurso de que o aprendizado agitação; preconceito; desconforto da sala de
é trampolim para alcançar status social. aula, desentendimento com colega de sala.
[...] a educação deve desempenhar ideológica, política e A escola, na apresentação tradicional em que
economicamente um papel “formativo” preponderante O respeito ao próximo é um quesito que se mostra não é agradável para ninguém,
para toda a população brasileira, indistintamente. Por não pode ser deixado de ser levado em conta. muito menos para quem tem a sensibilidade
mais aflorada, como ocorre com a criança e\ou

98 99
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

adolescente com deficiência. Não é por acaso pela escola regular, salvo raras exceções como estratégia para aumentar a produtividade barreiras arquitetônicas e atitudinais para
que a maioria dos alunos tidos com necessidade serviu apenas como mecanismo de entre os pobres, reduzindo a pobreza. A CEPAL efetivação da inclusão, mesmo porque “tal
especiais conclui somente o ensino básico. socialização, falhando em não habilitar e (Comissão Econômica para a América Latina concepção vem nutrindo um posicionamento
Logo que chegam ao ensino médio abandonam nem em atender sua demanda a contento. e o Caribe) destacou a escola básica como segundo o qual o termo ‘inclusão’ é associado
a escola. Seus responsáveis quando Mas isso, sem dúvida tem seu lado binômio cidadania e competitividade, portanto à ideia de acessibilidade, Baptista (2008).
questionados a este respeito responderam positivo, porque essa convivência tem “acesso aos códigos da modernidade”
que os filhos se negavam a ir à escola, e que contribuído para o aprendizado de todos –
eles próprios não encontravam “motivos” professores, alunos com e sem deficiência, Mas foi em 1994 que a UNESCO
para obrigar seus filhos a frequentarem as bem como toda a comunidade escolar, começou a chamar a atenção para a inclusão A INCLUSÃO NO BRASIL
aulas. Mazzotta (2011) apresenta a definição estimulando-a a crescer com as diferenças. educacional. A Conferência Mundial em
para Educação Especial segundo o MEC: Educação Especial promovida pela UNESCO,
realizada em Salamanca, na Espanha, entre 07 Em se tratando de assistência aos menos
É um processo de desenvolvimento global das A INICIATIVA DOS ÓRGÃOS MUNDIAIS e 10 de junho de 1994, firmou-se entre 88 validos e deficientes a Igreja Católica
potencialidades de pessoas com deficiências, condutas NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA governos e 25 organizações internacionais, sempre esteve à frente com seu trabalho
típicas ou de altas habilidades, e que abrange os diferentes o compromisso em promover escola para voluntário. Oficialmente a primeira iniciativa
níveis e graus do sistema de ensino. Fundamenta-se O final do século XX pode ser todos, igualmente, promover a inclusão na no atendimento a pessoas com deficiência
em referenciais teóricos e práticos compatíveis com as considerado o marco para o início de novos educação de crianças, jovens e adultos com no Brasil, data de 1854, com a criação de
necessidades específicas de seu alunado. O processo olhares para os problemas psiquiátricos e necessidades educacionais especiais. A um instituto (atual IBC- Instituto Benjamin
deve ser integral, fluindo desde a estimulação essencial a inserção ao convívio social, das pessoas Declaração de Salamanca defende o acesso Constant, RJ) com atendimento a meninos
até os graus superiores de ensino (Mazzotta,2011,p.128). com deficiência. O movimento a favor à aprendizagem das crianças e adolescentes cegos. Depois em 1857, também no
da educação inclusiva ganhou impulso a com necessidades especiais e alerta que cabe Rio de Janeiro, outro instituto é criado
O texto apresenta alguns tópicos partir da década de 90, com a: Conferência às escolas adequarem-se a fim de promover para atender aos surdos (INES- Instituto
importantes a serem discutidos, a saber: Mundial de Educação para Todos em Jontien, o acolhimento e desenvolvimento de suas Nacional da Educação aos surdos).
desenvolvimento global das potencialidades; em 1990, pela UNESCO; Conferência habilidades. Outra questão acordada é que essas
fundamentação em referentes teóricos e Mundial sobre Necessidades Educacionais crianças e adolescentes devem ser atendidos Em 1965, a LDBEN (Lei de Diretrizes e
práticos compatíveis; processo integral e Especiais (Salamanca, 1994); Convenção na rede de ensino regular, combatendo Bases da Educação Nacional), por intermédio
estímulo essencial desde as bases até graus Interamericana para a Eliminação de assim atitudes discriminatórias, ao passo da Lei 4024/61 traz o direito à educação para
superiores. Com base na definição dada todas as Formas de Discriminação contra que contribui para uma sociedade inclusiva. os “excepcionais”, dando prioridade à rede
acima, entende-se que o processo inclusivo, as Pessoas portadoras de Deficiência na geral de ensino. Mas em 1971, a Lei 5692/91
fundamentado em referenciais teóricos Guatemala, em 1999 e Convenção sobre Dessa Assembleia saíram diretrizes para os altera a LDBEN de 1961 e encaminha os
e práticos compatíveis, deve trabalhar o os Direitos das Pessoas com Deficiência, governos, quanto ao investimento em Políticas alunos com deficiência física, mental, os com
desenvolvimento global das potencialidades em Nova Iorque, em 2006 pela ONU. Públicas que viabilizem a promoção de ensino atraso educacional considerável em relação
da criança e\ou adolescente com deficiência inclusivo para todos, independentemente à idade, bem como os superdotados, para
intelectual. Ou seja, ele deve fornecer A Conferência Mundial de Educação de suas dificuldades e desvantagens. A escolas especiais. Em 1973, o Ministério de
suplementos para que o deficiente intelectual para Todos (UNESCO), ocorrida em 1990, Convenção Interamericana para Eliminação Educação e Cultura (MEC) cria o CENESP
possa receber estímulo desde sua base na Tailândia, deu o primeiro impulso sobre de Todas as formas de Discriminação contra (Centro Nacional de Educação Especial),
para desenvolver-se e trilhar rumo a graus inclusão sob pretexto da universalização da as Pessoas Portadoras de Deficiência órgão responsável a gerenciar a educação
superiores. Contudo, segundo relato de educação básica. O Banco Mundial (1995) aconteceu na Guatemala, em 1999. Dentre especial no Brasil. Este órgão por intermédio
pais de atendidos no NAISPD, a passagem defendeu, por sua vez, a educação básica os tópicos debatidos, está a remoção de de campanhas assistenciais e ações isoladas

100 101
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

do Estado, alavancou atividades na educação em vez de serem incluídos. E nisso justificam tenha resultado na perda da compreensão. aumenta o espaço de atuação dos que possui
visando as pessoas com deficiência e com sua afirmação ao apresentar a falta de No que concerne a base legal, apresentamos alguma deficiência e embora ainda há muito
superdotação. A Constituição Federal de 1988, estrutura da escola pública de ensino regular. um pouco de Legislação – decretos e leis preconceito e sobra medo em lidar com o
no artigo 205 apresenta uma inovação, ela que visam promover a inclusão das pessoas diferente, devemos admitir que a sociedade
declara a educação como direito de todos. No A exclusão escolar tem sua gênese na com deficiência intelectual, apresentado está se desenvolvendo e por que não, ganhando
inciso I do artigo 206, estabelece a “igualdade exclusão social, e mais uma vez atribui-se neste tópico da Declaração de Salamanca, novos olhares para estas velhas questões.
de condições de acesso e permanência na à escola o papel de salvadora da situação. A transcrita por Honora(2008), encorajem e
escola. E no artigo 208, incisos III e V traz a escola tem sua atribuição a desempenhar, facilitem a participação de pais, comunidades
proteção e amparo às pessoas com deficiência. mas, ela necessita também de suplementos e organizações de pessoas portadoras de
O Dever do Estado com a Educação que lhe sustente e proporcione condições deficiências nos processos de planejamento
será efetivado mediante a garantia de: para desenvolver sua função social. e tomada de decisão concernentes à
provisão de serviços para necessidades
II- natendimento educacional espe- Lembrando que segundo conceito educacionais especiais (Honora,2008,p.23).
cializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de da Conferência Sanitária Panamericana
ensino; (Washington,1990) citado por Honora (2008) A inclusão escolar requer um trabalho
V- acesso aos níveis mais elevados de que: “Deficiência é qualquer perda de função conjunto – não é um fazer solitário. A formação
ensino, da pesquisa e da criação artística,
segundo a capacidade de cada um. psicológica, fisiológica ou anatômica. Tem como especializada do professor é prioritária e sua
características: corpo, inclusive os sistemas falta enfraquece o processo inclusivo. Seria
A Constituição Federal (1988) coloca o próprios da função mental”. Desta feita, injusto afirmar que a inclusão de pessoas
Estado como responsável pelo atendimento todos deveriam poder contar com um local com deficiência intelectual não tem se
educacional aos deficientes, garantindo adequado para aprendizagem, independente, efetivado por completo, exclusivamente
acesso a níveis mais elevados de ensino. Não de suas condições físicas, sociais, intelectuais, pela falta de capacitação dos professores, na
há um detalhamento a respeito de como se emocionais ou qualquer outra diferença. verdade, o professor é mais uma vítima da ANA CÉLIA SERAFIM SANTOS
daria esta inclusão, já que o inciso menciona falta de investimento em Políticas Públicas
que o atendimento deve preferencialmente na Educação. Ao destacarmos os empecilhos
ocorrer na rede regular de ensino. CONSIDERAÇÕES FINAIS para efetivação da inclusão dos deficientes Graduação em Letras pela Faculdade Uni-
intelectuais elencamos: inadequação castelo, conclusão em 1999; Especialista em
Educação pela Universidade Cruzeiro do Sul,
INCLUSÃO OU EXCLUSÃO – O DILEMA Apresentamos aqui algumas apreensões do espaço físico como as barreiras
em 2013 (ano de conclusão); Especialização
DO DEFICIENTE INTELECTUAL sobre inclusão de pessoas com deficiência arquitetônicas, ausência de material didático
em Psicopedagogia Institucional pela Facul-
intelectual, termo utilizado a partir de 2006, apropriado, além da inexistência de equipe dade Campos Elíseos, em 2016; Graduação
A colocação de Baptista (2008) sobre o na Convenção Internacional de Direitos multiprofissional e de apoio, tudo isso somado em Serviço Social, conclusão em 2018; Pro-
dilema da inclusão e exclusão é a mesma de Humanos das Pessoas com Deficiência, pela ao excesso de violência entre os alunos fessora de Ensino Fundamental II - Língua
muitos profissionais da educação e pais e\ Organização das Nações Unidas (ONU), para e salas com número excessivo de alunos. Portuguesa - na EMEF Artur Neiva, Professor
ou responsáveis por deficientes intelectuais. substituir a expressão deficiente mental de Ensino Médio – Língua Portuguesa - na EE
Assim, pelo fato de estarem vivenciando a honora (2008). Como ao longo do tempo Devemos lembrar que o passo inicial foi Maria de Lourdes A. A. Pacheco.
situação e sentindo de fato os prós e contras a nomenclatura utilizada passou por várias dado, e com ou sem dificuldades, hoje se
da inclusão, muitos pais, quando ouvidos em mudanças, as citações dos autores seguiram fala muito mais em inclusão escolar que no
pesquisa, foram unânimes em afirmar que cada um no contexto de seu momento, final do século XX, o que caracteriza um
seus filhos passam por processo de exclusão como foi apresentado nas várias citações grande progresso no assunto. A cada dia
deste trabalho, contudo, esperamos que não

102 103
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS
ANACHE, A. A. Reflexões sobre o diagnóstico psicológico da deficiência mental MACHADO, Rosângela. Educação Especial na Escola Inclusiva
utilizada em Educação Especial. Online. p. 1-11, jun. 2004. Disponível em: – Políticas, Paradigmas e Práticas. São Paulo: Cortez,2009.
http://www.educacaoonline.pro.br, 2002 – Acesso em 18 de julho de 2018.
MANTOAN, M.T.E. Inclusão Escolar: o que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.
APAE. Sobre a Deficiência Intelectual. Disponível em: http//
www.apaesp.org.br – Acesso em 23 de julho de 2018. MAZZOTTA, Marcos J. S. Educação Especial no Brasil:
História e Políticas Públicas.6 ed., São Paulo: Cortez,2011.
BAPTISTA, Claudio Roberto; CAIADO, Kátia Regina Moreno; JESUS, Denise Meyrelles de.
(Organizadores), [...et al.]. Educação Especial: diálogo e pluralidade. Porto Alegre: ed. Meditação, 2008. MENDES. Valdelaine. Democracia Participativa e Educação: a
Sociedade e os Rumos da Escola Pública. São Paulo: Cortez, 2009.
BISNETO, José Augusto. Serviço Social e Saúde Mental: uma
análise institucional da prática. 3 ed., São Paulo: Cortez, 2011. PACHECO, José. [et al.]. Caminhos para a Inclusão: um Guia para o
Aprimoramento da Equipe Escolar. Trad. Gisele Klein. Porto Alegre: Artmed, 2007.
CARVALHO, Renata Corcini; NAUJORKS. Maria Inês. Representações Sociais: dos modelos de
deficiência a leitura de paradigmas educacionais. UFSM – Universidade Federal de Santa Maria. RELVAS, Marta Pires. Neurociência e Educação: Potencialidades dos
Gêneros Humanos na Sala de Aula. 2 ed., Rio de Janeiro: Wak editora,2010.
CHAUÍ, M. A. Universidade Pública sob nova perspectiva. Rio de Janeiro: Vozes,
1993. Disponível em: http://www.anped.org.br – Acesso em 18 de julho de 2018. RIBAS, João. Preconceito contra as Deficiência: as Relações
que Travamos com o Mundo. São Paulo: Cortez, 2007.
COSTA,V.L..C.(org.)Gestãoeducacionaledescentralização:novospadrões.SãoPaulo:Cortez/Fundap,1997.
RODRIGUES, Marta M. Assumpção. Políticas Públicas. São Paulo: Publifolha, 2015.
CUNHA, Marcus Vinicius da. (org.) Ideário e Imagens da Educação Escolar:
Polêmicas do nosso tempo. Campinas, São Paulo: Autores Associados,2000. SANTOS, M. P. Educação Inclusiva e a Declaração de
Salamanca: Consequências no Sistema Educacional Brasileiro.
DEMO, Pedro. Educação e Qualidade. Campinas: Papirus,1996.
Revista Integração, Ano X, n. 22, 2000.
DURKEIM, E. Educação e Sociologia. São Paulo: Edições Melhoramentos,1975. STAINBACK, Susan; STAINBACK Willian. Trad. Magda França Lopes.
Inclusão. Um Guia para Educadores. São Paulo: Artmed,1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 7ed., São Paulo: Paz e Terra, 1998.
. STOBÄUS, Claus Dieter. Org. Juan José Moriño Mosquera. Educação Especial:
FURLANETTO. Ecleide Cunico. Como nasce um professor? São Paulo: Paulus,2003. em direção à Educação Inclusiva. 2 ed., Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.

HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura Visual, mudança educação VALE, Ana Maria. Educação Popular na Escola Pública. 4 ed., São Paulo: Cortez, 2001.
educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas,2000.

HONORA, Márcia; FRIZANCO, Mary L. Esclarecendo as Deficiências: aspectos teóricos e práticos para
contribuir com uma sociedade inclusiva. São Paulo: Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda, 2008.

104 105
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO

O presente artigo aborda a Síndrome


de Down, seu conceito, diagnóstico e o e com longa duração aliado a contribuição
entendimento de como receber a criança na familiar. A criança com Síndrome de Down
Unidade Escolar. A Síndrome de Down é uma deve ser amada, respeitada e ter orientação
desordem, um cromossomo extra no par 21, durante sua vida para que possa viver em
ou seja, um distúrbio genético. As heranças uma sociedade e ser cidadão pleno de seus
biológicas que recebemos de nossos pais direitos e deveres.
encontram-se dentro de duas células, o que
são o ovário e o espermatozóide, cada um A SÍNDROME DE DOWN: O
com 23 cromossomos. Na fecundação ao DIAGNÓSTICO CLÍNICO
ocorrer a união dos dois gametas femininos
e masculinos, a ou encontro dos núcleos A Síndrome de Down é uma disfunção
genéticos que se fundem dando origem a cromossômica, uma doença mental congênita
célula que tem o nome de ovo ou zigoto e e geralmente pode ser diagnosticada ao
A SÍNDROME DE DOWN possui 46 cromossomos. Nascimento ou logo depois, pois possui
características específicas que se diferem
RESUMO: Pensemos em uma criança que chega à escola, cheia de curiosidade, inquietação, Se nesse instante houve um cromossomo a pelo seu genótipo. O diagnóstico para ser
ansiedade e muita energia. É dessa maneira que uma criança com Síndrome de Down mais enviado pelo óvulo ou espermatozóide, preciso é feito por meio do cariótipo, que é a
também chega à escola. Ela também terá vontades e precisará de orientações para realizar o ser humano gerado terá 47 cromossomos. representação do conjunto de cromossomos
todas as atividades juntamente com seus pares. É nesse contexto que a escola precisa estar E durante as divisões celulares haverá de uma célula. Ele é realizado a partir de
preparada para atender as especificidades e trabalhar a inclusão. A inclusão é a única maneira o processamento e ao final as células exame de leucócitos de uma pequena
de fazer com que pessoas com deficiência possam viver uma vida digna, tendo os mesmos apresentam 47 cromossomos. Quando os amostra de sangue periférico. Para um
direitos que as outras pessoas na vida social. Uma criança com Síndrome de Down necessita pais apresentam a união do segmento de diagnóstico seguro há seis sinais para serem
de atenção diferenciada por parte de todos os envolvidos em educação dentro da Unidade um a outro cromossomo e os números de observados na criança dentre outros (ALVES,
Escolar e também precisa ser acolhida pelos colegas. Nas atividades em sala de aula se cromossomos é normal, arrisco pequeno de 2012).
faz necessárias algumas adaptações para que a criança possa se desenvolver. É importante filho sindrômico, porém se houver quebra
ressaltar que cada criança possui o seu tempo e ritmo de aprendizagem, sendo necessário de cromossomo 21 e 14 é necessário que se - Microcefalia cabeça muito pequena ou
o respeito às especificidades que cada criança possui. Devemos ter uma atenção especial faça um estudo cromossômico. A Síndrome massa encefálica diminuída com os em crânio
tanto com a criança com síndrome de Down quanto com os familiares, pois estes possuem de Down também é conhecida como mais largo que comprido;
ansiedades referentes à aprendizagem e desenvolvimento de seu filho. Os docentes devem mongolismo ou Trissomia 21. É uma doença - Olhos oblíquos ou dobra fissurada chamada
ter em mente que uma criança com síndrome de Down pode participar de atividades com genericamente localizada no cérebro, não de pregas epicânticas;
os demais colegas. Todo o trabalho deve estar e ser direcionado pelo planejamento anual é progressiva e a consideráveis melhoras - Mãos curtas com hipoplasia da falange
e de aulas, o qual deve ser adaptado para cada aluno com deficiência, porém não pode ser espontâneas, pois o sistema nervoso central média do quinto dedo das duas mãos;
diferente do planejamento para o ano ou curso. SNC vai amadurecendo com o tempo. - Aumento do espaço interdigital entre o dedo
Não há cura para síndrome, mas há melhora grande do pé e o segundo dedo, nos dois pés;
Palavras-chave: Inclusão; Família; Sociedade; Estímulo; Conhecimento. do quadro e para tanto há a necessidade de - Orelhas mal formadas, pequenas e com a
acompanhamentos com vários especialistas implantação baixa, apresentando disformismo

106 107
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ressaltar que mesmo o bebê apresentando psicopedagogia entre outros se houver


do pavilhão auricular; Os acompanhamentos clínicos são uma variação biológica é necessário saber necessidade. Com esse acompanhamento
- Palato ogival; necessários pois tem a finalidade de perceber que quando o mesmo vem ao mundo ele haverá estimulação e quanto maior for
- Suco médio palmar que é conhecido como e também evitar algumas situações de saúde necessita de adaptação ao meio em que vive a estimulação melhor serão os domínios
prega simiesca; na criança. São usados como um guia, porém em que ele viverá. internalizados (Estatuto da Criança e do
- Ângulo ata aumentado e predominância de devemos sempre lembrar que cada indivíduo Adolescente no Brasil. Lei nº 8.069 de 13
pregas um nariz; é um ser único e que não há uma família ou O primeiro mês é de suma importância que de julho de 1990). Como a Síndrome de
- Baixa estatura; comunidade em que vive que seja um padrão essa adaptação ocorra satisfatoriamente. Down é classificada como doença mental
- Deficiência mental. estabelecido. O diagnóstico dado aos pais não pode, não há como pré-estabelecer os limites da
em hipótese alguma alterar o sentimento criança, mas existem fortes indícios de bom
Após a confirmação da síndrome se faz A FAMÍLIA E SUA IMPORTÂNCIA de amor e aceitação com a criança que desenvolvimento cognitivo. A educação
necessário o acompanhamento clínico, possui Síndrome de Down. Deverá haver o escolar deve atender as necessidades
o qual os especialistas seguem alguns Quando um casal idealiza a chegada de um fortalecimento do amor, do respeito e do educacionais especiais da criança, sem sair
procedimentos, tais como: filho, cria-se um momento de expectativas carinho a partir do momento do nascimento dos princípios básicos da educação proposta
e de sonhos a serem realizados. Ao pensar (UNESCO, 1994). para todos os alunos. O que se deve fazer
- Ecocardiograma com eletrocardiograma; na criança que vai nascer, a imaginação é planejar, dentro do que foi estabelecido
- Radiografia de tórax; constrói a identidade da mesma, quanto à A FASE ESCOLAR como meta aos demais alunos, para se
- Exames TSH, T3 e T4; aparência, modo de ser e personalidades, adequar as necessidades da criança com
- Ultrassom de abdômen total para descartar porém quando isso não acontece da forma Não é porque uma criança possui Síndrome de Down. A escola precisa estar
a presença de malformações gastrointestinais; idealizada o casal entende como um sonho Síndrome de Down que ela não conseguirá, preparada para receber, acolher, trabalhar
- Ultrassom do sistema nervoso central; desfeito, transbordando perdas e frustrações dentro da sua especificidade, alcançar os e desenvolver na criança as habilidades
- Exame de fundo de olho para detectar ou que originam em um abismo que não sabe se estágios mais avançados no raciocínio e necessárias para o seu desenvolvimento. As
não cataratas; conseguirão sair. desenvolvimento. Por conta da hipotonia atividades de movimentos aliadas ao lúdico
- Audiometria de tronco central, conhecido generalizada originária sistema nervoso irão proporcionar a cooperação, organização,
pela sigla BERA; Muitos pais questionam a si mesmos e aos central desde o nascimento que se faz constituição, autonomia, desenvolvendo
- Avaliação com especialistas; especialistas o que é e como fazer ou agir necessário o acompanhamento fisioterápico a coordenação motora grossa e fina, além
- Estimular a criança durante o primeiro ano daquele momento para frente. O ideal é que e psicomotor. Com o acompanhamento a da linguagem e comunicação (GONZÁLEZ,
de vida; os pais sejam pai e mãe da criança, ajudando hipotonia passa a diminuir espontaneamente, 2001).
- Realizar o cariótipo; e orientando no que for possível ao longo da mesmo que permaneça por toda a vida da
- Fazer a investigação dos órgãos vida. Se faz necessário que as informações criança e possa apresentar graus diferentes. É bom que a criança participe de
neurossensoriais, oftalmológicos e dadas aos pais pelos especialistas sejam O acompanhamento fisioterápico facilita brincadeiras e jogos ao ar livre, parques ou
otoneurológicos; esclarecedoras, para que os mesmos possam a criança a andar, melhora a correlação da jardins, pois assim será estimulado o apoio
- Exame de urina tipo 1; estabelecer uma relação positiva e isso é postura e a coordenação de movimentos lateral, o subir e descer escadas e o correr.
- Exame de hemograma com contagem de fundamental para criança. Uma Informação que aliada a fisioterapia melhoram a Os profissionais da educação precisam estar
plaquetas; importante precisa ser dada aos pais e é a psicomotricidade. Diversas áreas e atentos a qualquer fato que lhes façam
- Exame de Ca, P e fosfatase alcalina; de que não há tratamento medicamentoso especialistas precisam acompanhar a criança perceber alterações de comportamento ou
- Imunização complementar; para a cura da síndrome, mas é necessário com Síndrome de Down para que se tenha um física no aluno com Síndrome de Down.
- Passar em consulta para avaliação com que haja acompanhamento com vários processo evolutivo. As áreas e especialistas As percepções sobre acuidade visual, a
cardiologista, neurologista, ortopedista, especialistas, ou seja, multiprofissionais os que devem acompanhar a criança são audição e os movimentos físicos devem ser
endocrinologista e fonoaudiólogo, se necessário. quais farão com que o convívio social seja fonoaudiologia, terapia ocupacional, conversados com a família para que a mesma
mais fácil e irão salientar sobre a importância musicoterapia, fisioterapia, psicomotricidade informe aos especialistas e assim realizar
da atenção e carinho da família. Vale
108 109
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

essas conversas há a possibilidade de se


uma investigação. Para que a criança com sua vida. Precisamos observar a criança com observar os comportamentos das crianças
Síndrome de Down esteja na prontidão da Síndrome de Down verificando o que ela faz e ainda ter noção das condições em que
aprendizagem haverá de ter o entendimento com facilidade e também o que apresenta de vivem, podendo dessa forma ser modificado
da complexa integração dos processos dificuldade e assim começar a estimulação ou ajustado. Para ajudar as famílias muitas
neurológicos e da harmonia na evolução de para que ela possa superar essas dificuldades vezes as mesmas precisam de decisões em
funções mais específicas como a linguagem, e apresentar gradualmente a conquista da conjunto, onde há o esclarecimento e dicas
percepção, esquema corporal, orientação independência. Temos que ter consciência que os tornaram mais antônimos, confiantes
espaço-temporal e lateralidade. que o período de 2 a 5 anos é caracterizado e seguros (MAIA, 2016).
pela capacidade de a criança ficar e manter-
Os professores e os demais funcionários se em pé e podemos estimular a criança em CONSIDERAÇÕES FINAIS
da educação precisam oferecer meios para alguns aspectos, que são eles:
que aconteça uma continuidade satisfatória Quando uma família recebe o
de aprendizagem e apostar no aluno para isso - O treino da higiene - é quando a educação diagnóstico da criança com Síndrome de ADRIANE LUZIA MARTUCCI
há a necessidade de conhecê-lo muito bem. É intestinal varia de idade, não há uma idade Down ela precisa de carinho, atenção e LIBERATTI
de suma importância que os pais, educadores, certa para ensinar a criança como deve compreensão. É fundamental que o médico
profissionais da Educação, comunidade controlar o xixi e o cocô, mas é importante ao fazer o anúncio seja com muito cuidado Graduação em Pedagogia pela Universidade
e sociedade tenham a consciência da que seja ensinado logo para que a estimulação e sensibilidade, pois os pais precisam ser de Mogi das Cruzes (1991) Especialista em
potencialidade da criança com Síndrome do controle de suas necessidades fisiológicas preparados para uma vida diferente do que Psicopedagogia pela Universidade Castelo
de Down, observando e estimulando ações seja trabalhada. Cada vez que ela fizer o que haviam planejado. O atendimento aos pais e Branco (2005), Especialista em Direito
que irão demonstrar criatividades e muitos for ensinado, deve-se elogiar e motivar para um acompanhamento são muito importantes Educacional pela Faculdade de Aldeia
dons que resultam em uma qualidade de vida que haja satisfação no que é apreendido. para o desenvolvimento da família e da de Carapicuíba (2015), Especialista em
(MANTOAN, 2006) criança. Educação Especial em Deficiência Intelectual
- O banho - pode ser ensinado o banho pela Faculdade Campos Elíseos (2018),
A IMPORTÂNCIA DA ESTIMULAÇÃO por meio do uso de bonecos ou do próprio A idade escolar e a vida da criança no Professora de Educação Infantil e Ensino
corpo. Sempre com muita atenção, respeito contexto escolar devem estar associados Fundamental I na EMEF Professora Célia
Estimulação é muito importante na vida de e naturalidade. Se não houver estímulos a inclusão com eficiência e para que isso Regina Andery Braga na prefeitura de São
toda criança. Estimular uma criança significa a criança passará a ter uma regressão até aconteça devem estar engajados em Paulo/SP e Professor Adjunto I, prefeitura
trabalhar para que haja uma evolução mesmo na fase adulta, comprometendo a atividades, acompanhamento de especialistas municipal de Ferraz de Vasconcelos/SP.
progressiva das funções cognitivas motoras. vida e a sua autonomia (CAVACO, 2014). e terapeutas que estimulem a criança desde
Devemos compreender que as crianças com cedo e faça um vínculo entre eles e a escola,
Síndrome de Down por serem hipotônicas A IMPORTÂNCIA DOS TERAPEUTAS para que juntos possam promover condições
e flácidas apresentam demora para favoráveis de aprendizagens respeitando o
compreender o mundo a qual pertencem. O Assim que os bebês são diagnosticados ritmo e o tempo de cada criança. Quanto
envolvimento afetivo é muito importante para e o laudo é emitido pelos médicos se faz mais estímulos essa criança receber mais
despertar para o mundo seja significativo. necessário o acompanhamento terapêutico, desenvolvimento e autonomia ela terá na
Com isso temos a ideia de que a criança possa para que a estimulação comece de forma vida.
se desenvolver com melhores condições e progressiva. Os terapeutas procuram escutar
suas capacidades sejam estimuladas desde o os pais, pois os mesmos sentem necessidade
seu nascimento para que haja progresso em de contar as dificuldades dos filhos. Com

110 111
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

2001.
REFERÊNCIAS MAIA, Heber. Necessidades educacionais
especiais. Rio de Janeiro. Ed. Wak, 2016.
ALVES, Fátima. Inclusão muitos olhares,
vários caminhos e um grande desafio. Rio de MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão
Janeiro. Ed. Wak, 2012. escolar: pontos e contrapontos. 1ª Ed. São
Paulo. Ed. Summus, 2006.
BRASIL. Declaração de Salamanca e linha
de ação sobre necessidades educativas PAULA, Jairo. Inclusão: mais que um
especiais. Brasília: UNESCO, 1994. desafio escolar, um desafio social. 2ª Ed. São
Paulo. Ed. Jairo de Paula, 2006.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria
de Educação Especial. Decreto nº 3.298, de
20 de dezembro de 1999.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria


de Educação Especial. Decreto nº 5.296, de
02 de dezembro de 2004.
MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
BRASIL. Estatuto da Criança e do
Adolescente no Brasil. Lei nº 8.069 de 13 de RESUMO: O trabalho busca esclarecer a utilização da música na educação infantil passa pe-
julho de 1990. las atividades musicais que oferecem inúmeras oportunidades para que a criança aprimore
sua habilidade motora, aprenda a controlar seus músculos e mova-se com desenvoltura. A
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de criança aos poucos vai formando sua identidade, percebendo-se diferente dos outros e ao
Diretrizes e Bases da Educação Nacional. mesmo tempo buscando integrar-se com os outros. A partir do momento em que a criança
LDB nº 9,394, de 20 de dezembro de 1996. entra em contato com a música, seus conhecimentos se tornam mais amplos e este contato
Brasília. Diário Oficial da União de 23 de vai envolver também o aumento de sua sensibilidade e fazê-la descobrir o mundo a sua volta
dezembro de 1996. de forma prazerosa. Sua interação e relações sociais serão marcados através deste contato e
sua cidadania será trabalhada através dos conceitos que são passados através das músicas.
CAPUCHO, Vera. Educação de Jovens e A música na educação pode envolver outras áreas de conhecimento, através do desenvolvi-
adultos: prática pedagógica e fortalecimento mento da autoestima a criança aprende a se aceitar com suas capacidades e limitações.
da cidadania. São Paulo. Ed. Cortez, 2012. A musicalização é uma ferramenta para ajudar os alunos a desenvolverem o universo que
CAVACO, Nora. Minha criança é diferente? conjuga expressão de sentimentos, suas ideias, valores culturais e auxilia a comunicação do
Rio de janeiro. Ed. Wak, 2014 indivíduo com o mundo exterior e seu universo interior.

GONZÁLEZ, José Antonio Torres.


Educação e diversidade: bases didáticas PALAVRAS-CHAVE: Música; Educação Infantil; Habilidades.
e organizativas. Porto Alegre. Ed. Artmed,

112 113
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO música é uma manifestação artística e teorias e descobertas exerceram grandes boneca para dormir. A Educação Musical
cultural de um povo, em determinada mudanças na educação, incluindo na área na Hungria começa na primeira série da
época ou região. A música é um veículo musical. Visão histórica internacional educação infantil, a disciplina de música tem
O presente visa esclarecer o papel usado para expressar os sentimentos. da Educação Musical e as contribuições duração diária de 45 minutos, tem como
importante que a música tem na formação para o desenvolvimento humano. Moura foco um trabalho que desempenhe papel
psicossocial das crianças, é por meio da O homem pré-histórico descobriu os (1984), afirma que: " na década de 1960 efetivo no desenvolvimento das habilidades
utilização da música, bem como o uso de sons no ambiente e aprendeu a distingui- (o chamado período idealista da educação musicais, começando pelo canto.
outros meios artísticos, pode incentivar a los das ondas se quebrando na praia, da musical), a Europa produziu novos métodos
participação, a cooperação, socialização, tempestade se aproximando e das vozes dos musicais, que eram aplicados nos Estados Os húngaros acreditam que este
e assim destruir as barreiras que atrasam animais selvagens. Encantou-se com seu Unidos, Europa, Ásia e na América Latina". procedimento incentiva as crianças a
o desenvolvimento curricular do ensino. próprio instrumento musical: a voz. Mas a Educadores musicais, pedagogos, psicólogos entrar em contato com suas emoções,
Para isso acontecer é necessário a revisão música pré-histórica não se configurou como como: Jacques Dalcroze, Sigmund Freud, contribuindo, assim, para o aprimoramento
dos métodos, da fundamentação, das bases arte: teria sido uma expansão impulsiva e Carl Young, Jean Piaget, Howard Gartner, do cálculo mental, da leitura, da escrita, do
que orientam as várias atitudes didático- instintiva do movimento sonoro ou apenas Maria Montessori, Paulo Freire, entre outros desenho e atividades que utilizam a memória
pedagógicas dos conteúdos disciplinares. A um expressivo meio de comunicação, sempre que construíram e contribuíram com ideias e a imaginação. Na Alemanha trabalha a
interdisciplinaridade ainda não se apresenta ligada às palavras, aos ritos e a dança. sobre a educação, respeito às necessidades interdisciplinaridade ouvindo e percebendo a
com muita visibilidade em nossa educação, Alguns instrumentos musicais começaram a do ser humano, educação é amor, o indivíduo música, para analisá-la de modo consciente.
tanto nas áreas de pesquisa como no aparecer antes da Idade da Pedra, como os é fruto do meio, respeito à individualidade e Conhecendo a fabricação dos instrumentos
ensino, o que acontece são diferentes "cachimbos de vento" e as flautas simples. talentos não nascem prontos. musicais, aprendendo teoria musical, tocando
posições multidisciplinares. dos mesmos instrumentos musicais, realizando exercícios
que nós professores podemos mediar a Dentre os instrumentos musicais mais Naquela época, nos Estados Unidos não rítmicos e associando a música às demais
aprendizagem de diferentes conteúdos, antigos, estão os apitos, com cerca de 4 se sobressaíram na criação de métodos artes, como o teatro, a poesia e a literatura.
desenvolver as relações sócio afetivas mil anos. Encontrados na França, eles eram de educação musical, porém, eles se Em outros países o processo é elaborado para
entre as crianças e incentivar o aprendizado feitos com ossos de patas de rena. Outros empenharam em editar, traduzir, construir, que o ensino da música proporcione alegria
de maneira divertida e participativa. apitos, feitos com ossos de aves de grande organizar e divulgar os métodos europeus com e prazer às crianças e adolescentes, além de
porte, foram encontrados naquela época. Os muita seriedade, o que gerou uma excelente um conhecimento profundo e continuado
MÚSICA estudiosos reconhecem esses apitos como qualidade de ensino e aprendizagem musical. sobre a arte da música e seus benefícios.
sendo os antecedentes de vários tipos de No Japão, desde a pré-escola, é muito
flauta. Os antigos usavam a música para comum e intensa a presença da música, que A MUSICAL NO
Segundo Ferreira (1993, p. 377.) música o exercício da magia, saúde, da política, inclui canto, danças e jogos. Em Israel aos 3 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
é " arte e ciência de combinar os sons de em rituais religiosos, festas e guerras. anos de idade, inclui o uso de instrumentos NA EDUCAÇÃO INFANTIL
modo agradável ao ouvido". Música é a de percussão, como xilofones e metalofones,
combinação de ritmo, harmonia e melodia, além de improvisação e apreciação musical, A música já faz parte da vida, pelo seu
de maneira agradável ao ouvido. No sentido O ENSINO DE MÚSICA PARA sempre utilizando jogos para o movimento poder criador e libertador, a música torna-se
amplo é a organização temporal de sons e CRIANÇAS NO SÉCULO XX corporal. Na União Soviética, a partir do um grande recurso educativo a ser utilizado
silêncios (pausas). No sentido restrito, é primeiro ano de vida, são utilizados os na Pré-Escola. É uma linguagem que
a arte de coordenar e transmitir efeitos No início do século XX os educadores métodos que estabelecem relações das comunica e expressa sensações, a criança
sonoros, harmoniosos e esteticamente começaram a pensar em métodos de educação canções com objetos (músicas com desenhos desde o nascimento vive ao mesmo tempo
válidos, podendo ser transmitida através musical. As crianças tinham uma experiência de animais). Exemplo: as cantigas de ninar em um meio onde descobre coisas todo
da voz ou de instrumentos musicais. A educacional muito rígida e sofrida, novas são vivenciadas, brincando de colocar uma tempo, pois sua interação com o mundo

114 115
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

a permite desenvolver o individual. Ela se área de conhecimento ainda mais fácil de ser som expande a capacidade de decorar uma a leitura e a escrita com mais facilidade, e
faz presente como suporte para atender absolvido. A música em suas inúmeras formas sequência de palavras, aperfeiçoa os timbres além disso, elas mantêm maior foco no
a vários propósitos, como a formação quando utilizada em sala de aula, desenvolve e as fazem memorizar até os sons das notas. ambiente escolar.
de hábitos, atitudes e comportamentos: diferentes habilidades como: o raciocínio, Com a memória aguçada, o raciocínio lógico
lavar as mãos antes do lanche, escovar a criatividade, promove a autodisciplina e e matemático também se beneficia. Ao 6. Amplia o contato com outras culturas:
os dentes, a realização de comemorações desperta a consciência rítmica e estética, estudar música, por exemplo, as crianças são A música é uma expressão universal e
relativas ao calendário de eventos do ano além de desenvolver a linguagem oral, a apresentadas a uma série de atividades – elaborada de acordo com as origens de cada
letivo simbolizados no dia da árvore, dia do afetividade, a percepção corporal e também como aprender as escalas, diferenciar tons e país. Sendo assim, toda canção é uma porta
soldado, dia das mães, a exploração que a promover a socialização. fazer contagem de tempo, por exemplo –, e de entrada para outras culturas, permitindo
criança percebe por meio dos sentidos é de tudo isso auxilia no entendimento da razão e que as pessoas tenham contato com a riqueza
como ela interage com o mundo, através de Em vários segmentos a música é utilizada de disciplinas de exatas. e diversidade artística desde novas. São as
seu próprio corpo, suas habilidades motoras, como meio de integração e melhoramento características únicas e eloquentes de cada
adquirindo a linguagem. do indivíduo tanto pessoalmente como 3. Enriquece a criatividade: Melodias são som, que contam histórias e nos aproximam
coletivamente. O canto coral é a atividade capazes de provocar estímulos sensoriais, dos diferentes ritmos existentes. Manter os
A maneira a favorecer a sensibilidade, mais praticada, pois esta é uma atividade que como já comentamos, melhoram pequenos em contato com a música tem
a criatividade, o senso rítmico, o ouvido que permite a integração e exige cooperação a capacidade de pensar, estimulam a mais benefícios para o seu desenvolvimento
musical, o prazer de ouvir música, a entre seus membros, além de proporcionar criatividade e a produção de novas ideias.O do que podemos imaginar.
imaginação, a memória, a concentração, relaxamento e descontração. Cantar é uma raciocínio aguçado abre caminhos para
a atenção, a autodisciplina, o respeito ao atividade que exige controle e uso total da os menores sentirem-se mais confiantes Segundo o Referencial Curricular Nacional da Educação
próximo, o desenvolvimento psicológico, respiração, proporcionando relaxamento e e para irem além da sua criatividade. Em Infantil “as crianças interagem com a música, as
a socialização e a afetividade, além de energização. O canto desenvolve a respiração, outras palavras, essa inteligência os leva brincadeiras e os jogos: cantam enquanto brincam,
originar a uma efetiva consciência corporal aumenta a proporção de oxigênio que rega o a explorarem áreas que, até então, eram acompanham com sons os movimentos de seus carrinhos,
e de movimentação. A música, enquanto cérebro e, portanto, modifica a consciência inimagináveis. dançam e dramatizam situações sonoras sua produção
atividade lúdica, com os outros recursos dos do emissor. A prática do relaxamento traz musical.”. (BRASIL. vol. 3 p 52).
quais dispõem o educador, facilita o processo muitos benefícios, contribuindo para a saúde 4. Melhora o foco: A música favorece
de ensino aprendizagem, pois incentiva física e mental. um cenário que mantém a criança focada. O PROFESSOR E O ALUNO
a criatividade do educando através do Quando estão inseridos em um universo NO PROCESSO DE ENSINO E
amplo leque de possibilidades que a música A música proporciona alguns musical, eles dedicam-se a sentir o som e, APRENDIZAGEM DE JOGOS RÍTMICOS
disponibiliza. Aliar a música à educação benefícios para crianças como: em consequência disso, prestam atenção no E MUSICAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
obriga o professor a assumir uma postura momento presente. Esse fato contribui para
mais dinâmica e interativa junto ao aluno. A 1. Desenvolve a linguagem, pois ao ouvir que no futuro a concentração ocorra com Na Educação Infantil a criança realiza
utilização da música no espaço de educação e cantar uma música, a criança absorve as mais facilidade. atividades que envolvem a brincadeira,
infantil é muito importante, pois a criança palavras faladas. Além disso, a vocalização os jogos e a música. Tudo o que a criança
além de aprender brincando, o ambiente faz com que os pequenos desenvolvam a 5. Contribui para o aprendizado: A música precisa realmente saber, ela aprende na
escolar se torna mais agradável e estimula dicção e a construção de frases. amplia o campo de aprendizagem da criança, infância. O trabalho com a música pode ser
cada vez mais à vontade dela participar das favorecendo o desenvolvimento intelectual um instrumento para ajudar o professor
aulas, introduzir conteúdos através da música 2. Aprimora a memória. Crianças que e ajudando a fixar o conhecimento adquirido alfabetizador, não para aumentar as aulas,
as crianças de 0 a 5 anos desenvolvem têm contato com a música desenvolvem em uma determinada situação. Crianças que nem confundir a cabeça de quem irá
relações afetivas, de socialização, cognitivo a memória mais rápido – uma vez que o aprendem instrumentos musicais expandem desenvolver, mas sim para ajudar. Sabe-se
e ainda torna o aprendizado de qualquer

116 117
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

que esse trabalho exige esforço, dedicação neurodesenvolvimento. Os jogos podem contribuem e enriquecem o desenvolvimento
e competência, a música irá servir como uma incentivar o sistema da memória, da intelectual. Ele afirma: Atividades com os Jogos Rítmicos
grande aliada da educação, pois potencializa orientação espacial, motor, do pensamento proporcionam à criança maneiras de
a aprendizagem cognitiva, principalmente no social, entre outras. O lúdico dentro do O jogo é, portanto, sob as suas duas manifestar seus sentimentos de forma
campo do raciocínio lógico, da memória, do processo educativo pode construir-se numa formas essenciais de exercício sensório expressiva e criativa numa inter-relação entre
espaço e do raciocínio abstrato. atividade muito rica, na medida em que motor e de simbolismo, uma assimilação do o corpo, o espaço e o tempo. Eles envolvem
professores e alunos interagem construindo real à atividade própria, fornecendo a esta movimentos, gestos, canções e expressividade
Atualmente nas escolas há uma quantidade conhecimentos e socializando-se, podendo seu alimento necessário e transformando o estabelecendo uma inter-relação da criança
muito grande de crianças portadoras de atuar na escola, de forma a promover a real em função das necessidades múltiplas do com as pessoas e o mundo em que vive. Eles
deficiência, que necessitam do auxílio interdisciplinaridade, entre as disciplinas para eu. Por isso, os métodos ativos de educação contribuem para o desenvolvimento das
da música, pois é um agente estimulador introduzir seus conceitos, assim, haveria um das crianças exigem todos que se forneça estruturas psicomotoras de forma musical, “a
diversas áreas do cérebro, que relaxa e dá incentivo à aprendizagem de determinado às crianças um material conveniente, a fim Psicomotricidade não tem por objetivo fazer
leveza aumentando o nível de concentração, conteúdo, como por exemplo, desenvolver de que, jogando, elas cheguem a assimilar a criança adquirir ritmos, senão favorecer a
atenção e ajuda fazendo com que esse aluno a noção de números na criança, neste caso as realidades intelectuais que, sem isso, expressão de sua motricidade natural, cuja
não se torne um analfabeto funcional uma vez o professor ensina aos seus alunos uma permanecem exteriores à inteligência característica essencial é a ritmicidade.” (LE
que a uma estimulação precoce do cognitivo brincadeira que trate desse assunto. infantil". (Piaget 1976, p.160). BOULCH,1984, p.182).
dessa criança, não só por meio da música,
como ler para ela, por exemplo, proporcionar O professor não é um transmissor de Para Le Boulch (1984, p.182) “A associação Portanto, a integração da música com
estímulos que exijam o brincar de aprender conhecimentos e sim um ser que pode mediar do canto e do movimento permite a criança o contexto educacional, evidencia uma
terão caráter relaxante e estimulador de a qualquer momento a aprendizagem de sentir a identidade rítmica, ligando o linguagem integrada ao corpo e ao espírito.
áreas que o professor não pode “tocar”. seus alunos, fazendo da escola um ambiente movimento do corpo aos sons musicais”. Desenvolver o gosto pela música é um dos
propício para a relação professor-aluno ser Esta mantém forte inter-relação no objetivos do trabalho com os jogos rítmicos.
Portanto, a escola pode ser um agente mais criativa. Paulo Freire afirma que: “Que comportamento infantil, enquanto o ritmo O processo de musicalidade na criança,
impulsionador do desenvolvimento ensinar não é transferir conhecimentos, mas é uma tendência inata na vida da criança. integra experiências que envolvem vivências
cognitivo, ao expor a criança a aulas com criar as possibilidades para a sua própria Mesmo antes de nascer, ainda protegida com atividades de ouvir música, brincar de
música, seja atividade com bandinha rítmica, produção ou a sua construção” (2001, p.52). pelo útero materno, ela sofre influências dos roda, aprender novas canções, confeccionar
flauta, músicas cantadas, etc. No ambiente ritmos biológicos da mãe, além dos ritmos e explorar instrumentos musicais e outros:
escolar percebem-se crianças com seus Para Wallon (1979, p. 45) "a criança aprende externos do mundo envolvente. No decorrer “A educação rítmica permite melhor controle
nove ou dez anos, que muitas vezes não tem muito ao brincar”. O que aparentemente ela da infância, a exploração espontânea do ritmo dos movimentos em função de tempo e
sua motricidade fina apurada, se houver a faz apenas para distrair-se ou gastar energia por meio da música, permite que a criança espaço. Aprimora as estruturas psicomotoras,
estimulação precoce, isso pode ser eliminado é na realidade uma importante ferramenta descubra e crie novas formas de movimentos. notadamente a estrutura espaço-temporal,
ou amenizado. para o seu desenvolvimento cognitivo, As atividades lúdicas que envolvem ritmo fazendo do corpo o instrumento de trabalho”
emocional, social, psicológico". são recursos pedagógicos valiosos ao (Barros,1983, p. 9).
Crianças são seres brincantes e musicais. desenvolvimento expressivo musical. Para
São experts em jogos e brincadeira. Segundo Piaget (1976) diz que a atividade lúdica é o vivenciar e desenvolver a linguagem musical
Ilari, (2003) os jogos musicais, quando berço obrigatório das atividades intelectuais é necessário que a criança se envolva com o
utilizados de forma lúdica, participativa da criança. Estas não são apenas uma pensamento musical, imaginando, criando e
e não competitiva, podem construir uma forma de desafogo ou entretenimento para organizando-se expressivamente no tempo
fonte rica de aprendizado, motivação e gastar energia das crianças, mas meios que e no espaço.

118 119
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BRASIL, Referencial curricular nacional para a educação infantil. v. 3 Brasília MEC/SEF 1998.
A brincadeira é fundamental para a
criança em sua fase de desenvolvimento. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3. ed.
Pois, a partir das brincadeiras que esta vai Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
construindo o seu conhecimento. Constatou-
se nesse estudo que a partir do momento FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia . Saberes necessários À prática educativa. Coleção
em que os professores adotam o lúdico na leitura. Editora Paz e Terra, 2001, 17 ed.
sua prática pedagógica, estes interagem
com seus alunos formando uma relação de ILARI, Beatriz. A música e o cérebro: algumas implicações do neurodesenvolvimento para a
troca de conhecimentos, segundo Vygotsky educação musical. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 9, 7-16, set. 2003.
constituindo o sociointeracionismo.
Fazendo-se um paralelo com a metodologia ALINE MORGANA APARECIDA MOURA, I. C. Atividades musicais e desempenho do professor atuante em classes de pré-
tradicional de ensino, pode-se dizer que a OLMEDILHA SABINO escolarização. Curitiba, 1984. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Paraná,
educação evoluiu ao longo dos anos, se antes UFPR.
era preciso passar dias e dias “memorizando Graduação em Pedagogia e Artes Visuais
“os conteúdos para realizar as provas exigidas pelas Faculdades Anhanguera/ Faenac e PIAGET, Jean. A Formação do Símbolo na Criança: imitação, jogo e sonho. Rio de Janeiro:
pelos professores, tradicionais, e quando Metropolitana de Santos (2009 e 2015); Zanar, 1978.
uma palavra era escrita erroneamente, Especialista em Psicopedagogia pela
o professor obrigava que copiassem Faculdade Anhanguera (2011); Professora VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Fontes, 1987.
várias vezes da forma certa, hoje, a linha de Ensino Educação Infantil da Prefeitura de
construtivista de ensino pode ser equiparada São Paulo– no CEI Parque Bristol; Professora
a uma “educação libertadora”, onde, o “erro” de Educação Infantil e Ensino Fundamental
do aluno é construtivo sendo esse mesmo l - na EMEI Viriato Correia.
erro o ponto de partida para a construção
do seu conhecimento. O conhecimento que
o aluno já traz consigo e a realidade vivida,
também fazem parte dessa linha de ensino.
Entretanto, algumas escolas ditas serem
construtivistas, ainda permanecem adotando
o antigo método tradicional.

120 121
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO recém-nascido, infecções na mãe durante


a gravidez, problemas genéticos ou outras
O presente trabalho tem por objetivo doenças que fazem o cérebro desenvolver
analisar a ocorrência e os sintomas anormalmente durante a gravidez. A paralisia
provocados pela paralisia cerebral e cerebral também pode acontecer depois do
verificar a possibilidade de intervenção nascimento, como quando há uma infecção
psicopedagógica em alunos portadores do cérebro (encefalite) ou um trauma de
de paralisia cerebral com dificuldades de crânio. A paralisia cerebral é a desordem
aprendizagem. A paralisia cerebral é o nome motora mais comum da infância. Acontece
que se dá a um grupo de problemas motores em aproximadamente de 1 - 2 para cada
(relacionados aos movimentos do corpo) que 1.000 nascidos vivo, com o risco mais alto
começam bem cedo na vida e são o resultado entre os bebês prematuros, crianças de baixo-
de lesões do sistema nervoso central ou peso-ao-nascimento (menos de 1,5 Kg), e
problemas no desenvolvimento do cérebro em gravidezes complicadas por infecções
antes do nascimento (problemas congênitos). ou condições que causam problemas com
Algumas crianças com paralisia cerebral o fluxo de sangue para o útero ou para a
também têm desordens de aprendizagem, placenta (DEFICIENTE CIENTE, 2009).
PARALISIA CEREBRAL: ETIOLOGIA, INCIDÊNCIA E DISTÚRBIOS de visão, de audição e da fala (EDUCADORA
ASSOCIADOS ESPECIAL, 2009). Os sintomas precoces de paralisia cerebral
incluem:
RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo analisar a ocorrência e os sintomas Embora a lesão específica do cérebro ou
provocados pela paralisia cerebral e verificar a possibilidade de intervenção psicopedagógica os problemas que causam paralisia cerebral - Dificuldade para alimentar — Existe um
em alunos portadores de paralisia cerebral com dificuldades de aprendizagem. A paralisia não piorem, os problemas motores podem atraso para o bebê ter coordenação para
cerebral geralmente é uma condição de longa duração (crônica), mas em geral não piora. evoluir com o passar do tempo. Na maioria sugar o peito e para engolir;
Algumas crianças são severamente afetadas e têm dificuldades para o resto da vida. Outros dos casos de paralisia cerebral, a causa exata Demora no aparecimento dos marcos
podem ter sintomas leves de paralisia cerebral durante a infância, mas depois desenvolvem é desconhecida. Algumas possibilidades normais de desenvolvimento motor - Não
tônus muscular normal e habilidades motoras. Embora estas crianças possam continuar incluem anormalidades no desenvolvimento fazer coisas que seriam esperadas para uma
tendo reflexos tendinosos profundos anormais, elas podem não experimentar problemas do cérebro, lesão cerebral do feto causada certa idade. Por exemplo, não ter um bom
significativos no movimento em suas vidas diárias. Em alguns casos, os sintomas de paralisia por baixos níveis de oxigênio (hipóxia controle da cabeça antes de 3 meses, não
cerebrais mudam com o passar do tempo. Por exemplo, o tônus muscular diminuído (hipotonia) perinatal) ou baixa circulação do sangue, rolar o corpo antes de 4 a 5 meses, não sentar
na infância pode evoluir para tônus muscular aumentado (hipertonia) com o avançar da idade. infecção, e trauma (NASCIMENTO et al, s/d). sem apoio antes dos 6 meses e não caminhar
O acompanhamento adequado da paralisia cerebral exige uma equipe de especialistas que Acreditava-se que as lesões por baixo fluxo antes dos 12 a 14 meses;
ajude a maximizar e coordenar os movimentos, minimizar o desconforto e dor, e prevenir as de oxigênio durante o trabalho de parto Baixo tônus muscular (flacidez ou
complicações a longo prazo. Esta equipe poderá incluir, além do neurologista, um ortopedista, eram as causas mais comuns de paralisia hipotonia) ou ter músculos duros (rigidez) - O
um fisioterapeuta, um fonoaudiólogo, um psicólogo e um terapeuta ocupacional. Além disso, cerebral, mas agora os pesquisadores baixo tônus muscular pode ser notado pela
assistentes sociais podem prover apoio às famílias e podem ajudar a identificar alguma acreditam que os problemas no parto dificuldade em sustentar a cabeça ou manter
privação de recursos da comunidade. são a causa na minoria dos casos. Outras o tronco firme. A rigidez muscular pode ser
possíveis causas incluem: icterícia grave do reconhecida pela espasticidade (músculos
Palavras-chave: Paralisia Cerebral; Capacidade Motora; Psicologia do Movimento.

122 123
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

“travados”) das pernas na infância. dificuldade de manter os membros firmes e do termo PC para diferenciá-lo do termo De acordo com a ABPC (Associação
movimentos anormais dos olhos. paralisia infantil, causada pelo vírus da Brasileira de Paralisia Cerebral), citado por
- Outros sintomas dependem do tipo de Paralisia Cerebral Mista — Uma poliomielite e que causava paralisias flácidas. Lianza et al. (1995), PC é o conjunto de
paralisia cerebral. Eles incluem: combinação de sintomas de pelo menos dois Atualmente sabemos que a criança com PC alterações oriundas de um determinado
Paralisia Cerebral Espástica — Este é dos subtipos anteriores. é vista como um portador de uma desordem acometimento encefálico, caracterizado
o tipo mais comum de paralisia cerebral sensório-motora que tem efeito na interação essencialmente por uma alteração
(aproximadamente 50%) na qual os Todas as formas de paralisia cerebral da criança com o meio ambiente incluindo a persistente, porém não estável do tônus, da
membros afetados são espásticos, ou podem ter problemas associados, incluindo exploração e a função. Este tipo de desordem postura e do movimento que se inicia durante
seja, significa que os músculos são duros e retardo mental (em mais de 50% dos limita o desenvolvimento geral (MEYERHOF o período de maturação anatomofisiológica
resistem ao serem esticados. Os braços e pacientes), um desalinhamento dos olhos e PRADO, 1998). do Sistema Nervoso Central (SNC). Conforme
as pernas também têm "reflexos tendinosos chamado estrabismo (50%), epilepsia ou Levitt (2001) PC é o nome comumente usado
profundos" reativos (contrações musculares ataques epiléticos (30%), e desordens Várias são as definições que foram para um grupo de condições caracterizadas
involuntárias em resposta a um estímulo). visuais ou auditivas (20%). Para ajudar a sendo formuladas ao longo do tempo por disfunção motora em razão de uma
Por exemplo, quando o tendão patelar do prevenir a paralisia cerebral, os médicos sobre Paralisia Cerebral. Entre as principais, lesão cerebral não progressiva no início da
joelho é batido com um pequeno martelo, os encorajam as mulheres grávidas a fazerem encontramos a de Bobath (1979) que define vida. Como podemos observar, através das
músculos da perna se contraem e “chutam” acompanhamento pré-natal regular, que PC como sendo o resultado de uma lesão definições citadas, a PC é decorrente de uma
com força. A pessoa normalmente tem estes começa o mais cedo possível e se estende ou mau desenvolvimento do cérebro, de lesão que acomete o SNC imaturo e acarreta
sintomas tanto quando acorda como quando por toda a gravidez. Porém, como a causa caráter não progressivo e existindo desde a distúrbios da motricidade. Quando dizemos
vai dormir. da maioria dos casos de paralisia cerebral infância. A deficiência motora se expressa em que uma criança tem PC significa que existe
- Paralisia Cerebral Discinética ou não é conhecida, é difícil prevenir. Apesar padrões anormais de postura e movimentos, uma deficiência motora consequente de
Atetóide — Esta forma menos comum das significativas melhorias no cuidado associados com o tônus postural “anormal” uma lesão no cérebro, quando este ainda
(aproximadamente 20%) de paralisia obstétrico e neonatal nos anos recentes, a interferindo no desenvolvimento motor não estava completamente desenvolvido.
cerebral é caracterizada por movimentos incidência de paralisia cerebral não diminuiu. da criança. Alguns especialistas em Berlim Além dos problemas motores, podem estar
involuntários da face, tronco e membros Serão necessárias mais pesquisas das causas (1966), citados por Lianza et al. (1995) associados deficiência mental, auditiva,
que frequentemente interferem com a fala de paralisia cerebral para prevenir estas designaram a PC como uma desordem da visual, odontológica, distúrbios de linguagem,
e a alimentação. Os sintomas podem piorar desordens (DEFICIENTE CIENTE, 2009). postura e do movimento, persistente, mas do comportamento, da sensibilidade, entre
em situações de tensão emocional e podem não imutável, devido a uma disfunção do outros.
ir embora durante o sono. Os movimentos PARALISIA CEREBRAL cérebro presente antes de ter completado
podem ser rápidos e aos trancos (coréia) ou o seu crescimento. Muitos outros aspectos Ao contrário do que o termo parece
serem distorcidos (atetose) ou ainda, podem A expressão Paralisia Cerebral (PC) surgiu podem fazer parte do quadro. Brandão sugerir, PC não significa que o cérebro não
envolver a permanência em uma posição em 1853 para descrever uma enfermidade (1992) cita a PC como a designação dada ao apresenta funções. A característica principal
anormal (distonia). caracterizada por rigidez muscular, quadro clínico apresentado pelos indivíduos da criança assim atingida é apresentar uma
Paralisia Cerebral Atáxica — Este tipo predominando nos membros inferiores, que sofreram uma lesão no encéfalo imaturo, dificuldade típica quanto ao desempenho
de paralisia cerebral também é incomum e e ocasionada por diferentes transtornos de caráter não progressivo, nas áreas que motor ao andar, usar as mãos, equilibrar-se,
normalmente envolve uma lesão do cérebro provocados por asfixia, diminuição ou controlam os movimentos, a coordenação e ou mesmo para falar ou olhar (CAMARGO,
na parte responsável pela coordenação ausência de O2 do recém-nascido durante o tônus. 1986).
(chamada de cerebelo). Os sintomas o nascimento. Diament e Cypel (1996)
característicos incluem cambalear o tronco, relatam que Phelps (1964) generalizou o uso

124 125
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Quanto às formas de manifestações Central, levando a interconexões muito da maleabilidade no Sistema Nervoso e registro das atividades musculares,
clínicas a PC compreende quatro grupos: as mais complexas dentro do cérebro. Central permitir a remodelagem de parte como também os avanços nas áreas de
formas espásticas, as atetósicas/discinéticas Durante o crescimento e a maturação de do cérebro afetado, a posição da lesão é neurobiologia e neurociências, permitem
e as atáxicas, sendo frequente a associação uma criança ocorrem grandes alterações de toda importância no resultado final. maior aprofundamento nas questões
de duas ou três formas desses tipos, no desenvolvimento motor, que significa A criança com lesão cerebral também se teóricas sobre a emergência da função
caracterizada como mista. um desabrochar gradual das habilidades desenvolve, mas num ritmo mais vagaroso. motora. Com isso a elaboração de uma nova
latentes de uma criança, conforme citam abordagem baseada em uma organização
As formas espásticas caracterizam-se Bobath e Bobath (1989). Estas primeiras Em seu estudo, Gontijo (1998, p. 121) mais funcional do que estrutural, em que
pelo aumento dos reflexos de estiramento, aquisições são modificadas, elaboradas afirma que o “desenvolvimento motor o comportamento se auto organiza, pela
aumento de tônus e fraqueza muscular e adaptadas para padrões e habilidades refere-se a um conjunto de mudanças interação de seus subsistemas, de acordo
do tipo neurônio motor superior. As de movimentos mais finos e seletivos. O no comportamento motor, diretamente com a variabilidade do contexto: a teoria
diferentes formas de PC relacionam-se cérebro do recém-nascido pode se danificar relacionado com a idade do indivíduo”. dos sistemas dinâmicos. A proposta do
com os segmentos corpóreos afetados, por hemorragia, isquemia, alterações O estudo do desenvolvimento motor, estudo de Gontijo (1998), é apresentar
que exteriorizam as áreas cerebrais metabólicas, como hipoglicemia, trauma promove uma perspectiva para o através de revisão bibliográfica, duas
comprometidas. Consideram-se então as direto durante o parto, levando tanto à entendimento do movimento humano; teorias do desenvolvimento motor: a
formas mono, di, tri, tetra e hemiparéticas ou hemorragia como à isquemia, que será mais especificamente, fornece um modelo neuromaturacional e sistemas dinâmicos.
hemiplégicas, conforme sejam afetados, um, explicado mais à frente. O padrão de lesão que expande o gradiente de tempo no qual
dois, três ou quatro membros, ou um dimídio pode estar correlacionado com a idade de o movimento é estudado. Esta abordagem A teoria neuromaturacional, considerada
corporal (CASTRO, 1996). gestação da criança e o desenvolvimento tem influenciado a prática fisioterapêutica modelo tradicional do desenvolvimento
cerebral, apesar da forma de sua reação contribuindo para a compreensão motor, fundamenta muitas das técnicas
Qualquer que seja a definição de às agressões poder variar. O bebê recém- básica do sistema neuromotor normal de tratamento utilizadas pela fisioterapia
PC utilizada, ela dá conta somente nascido é um indivíduo complexo, capaz e os efeitos das várias condições e terapia ocupacional, entre elas, a Neuro-
da patologia, sem revelar algo do seu de manter interações com o seu meio e debilitantes, fornecendo técnicas para evolutiva, Facilitação Neuromuscular
portador, ou seja, do indivíduo que tem com aqueles que dele tratam. A ligação diagnóstico e avaliação dos efeitos das Proprioceptiva, padrões de Doman-
uma lesão, não progressiva, que atinge do bebê com sua mãe é um passo vital intervenções terapêuticas e ajudando o Delacato, Técnicas de Rood. Esta teoria
o seu SNC de forma variável em grau de no desenvolvimento, e o bebê é capaz de fisioterapeuta a desenvolver um plano foi desenvolvida nos anos 40 pelos
severidade. Essa sequela se apresenta distinguir sua mãe pelo reconhecimento de tratamento baseado em teorias. pesquisadores do desenvolvimento,
como um quadro de dificuldades visual, pelo cheiro e pelo contato físico. Gesell e McGraw, para explicar o
predominantemente motoras e é Muitos dos conceitos teóricos desenvolvimento do comportamento
caracterizada por alterações dos padrões O desaparecimento de reflexos utilizados pelos fisioterapeutas nas suas motor de crianças. Baseando-se nas
de postura e movimento. neonatais durante o desenvolvimento avaliações e intervenção terapêutica pesquisas do embriologista Coghill que,
ocorre com a maturação do sistema têm sido baseados nos modelos teóricos em 1929, relatou que o embrião se
DESENVOLVIMENTO nervoso e o mecanismo neural adquire desenvolvidos nos anos 1930 e 1940, desenvolve de uma maneira simétrica, em
NEUROMOTOR E A CRIANÇA COM maior complexidade. Em indivíduos especificamente adotando-se a teoria direção céfalo-caudal e de proximal para
PARALISIA CEREBRAL que apresentam grave lesão cerebral neuromaturacional de desenvolvimento distal, Gesell e McGraw extrapolaram
ou em condições de desmielinização, proposta por McGraw e Gesell. O estes achados para suas observações
O desenvolvimento neuromotor estas reações infantis reaparecem e os desenvolvimento de técnicas mais em relação ao desenvolvimento motor.
implica na maturação do Sistema Nervoso reflexos primitivos persistem. Apesar sofisticadas e mais precisas para estudo

126 127
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Na teoria neuromaturacional, o processo ou seja, movimentos voluntários, idade pode diferir levemente para a ser controlados e para isto existe um
de desenvolvimento é controlado por mais funcionais e harmônicos que são aquisição de uma mesma habilidade controle hierárquico para simplificar os
fatores endógenos e não podem ser dependentes da maturação neurológica. motora, mas há um consenso geral em múltiplos graus de liberdade do corpo.
influenciados por fatores externos. A Com isto, a avaliação dos reflexos relação à época em que estas habilidades Os comportamentos motores não são
estrutura precede a função e alterações no permite analisar o nível de maturação devem ser presentes. Este parâmetro controlados e modulados apenas pelo
desenvolvimento motor são consideradas ou integridade do SNC. Sabe-se que o é constante e depende da maturação SNC na forma de “feedback”. A influência
como resultado da maturação do sistema desenvolvimento do bebê progride em neurológica. O ritmo de desenvolvimento da maturação e dos estímulos do SNC são
nervoso central (SNC). Desta forma, direção céfalo caudal. O bebê apresenta tem sido bem documentado em várias considerados importantes, mas na mesma
o sistema nervoso é o responsável inicialmente o controle voluntário da populações, e uma média de idade para proporção dos demais subsistemas. Para
pelas alterações no movimento. Com o cabeça seguido do controle sequencial de a aquisição de cada habilidade motora isto acontecer, deve existir, além das vias
desenvolvimento, os centros mais altos do cintura escapular, tronco, pelve e membros é determinado, o que proporciona verticais que terminam no córtex cerebral,
SNC inibem os centros inferiores e facilitam inferiores. McGraw, em 1945, explicou detectar crianças que demonstram atraso um controle horizontal dos mecanismos.
os movimentos voluntários. Os reflexos são esta sequência de desenvolvimento em significante de desenvolvimento motor.
considerados os “blocos construtores” do termos de maturação cortical: os centros Segundo Quentin & Lespargot (1997)
movimento voluntário. As aquisições das corticais que controlam a cabeça, tronco Bernstein (in GONTIJO, 1998), sugeriu o desenvolvimento motor depende da
habilidades motoras são desenvolvidas em e membros superiores mieliniza-se antes que não se poderia compreender o interação entre a organização inata
uma determinada sequência: as atividades dos centros corticais que controlam pelve controle neural de um movimento sem e a influência do meio ambiente. A
motoras grossas desenvolvem-se antes das e membros inferiores. Esta proposição compreender as características do organização neuromotora se modifica sob
motoras finas e os padrões de movimento tem influenciado o tratamento de sistema. Para ele, o estudo do movimento o efeito da maturação do sistema nervoso
são aprendidos pela repetição. Neste crianças com disfunções motoras. deveria incluir todas as forças internas e o cérebro continua experimentando
modelo, o desenvolvimento motor e as e externas que atuam sobre o corpo uma extraordinária maturação depois
alterações nas habilidades motoras são Segundo Gontijo (1998), Irwin e mais e não unicamente as forças geradas do nascimento. As capacidades motoras
intrinsecamente dirigidas, e o impacto tarde Gesell e Amatruda, acreditavam pelo SNC. Mostrou ainda que o mesmo correspondem tanto à motricidade
do ambiente é secundário em relação ao ser o desenvolvimento de proximal para comando central pode resultar em vários primária ou arcaica como as atitudes
aparecimento das habilidades motoras. distal, uma função pré-programada movimentos diferentes, dependendo neuromotoras inatas, e ao processo de
Dentro do modelo neuromaturacional, os dos mecanismos genéticos. Segundo da variação do momento, velocidade aprendizagem que se vê a partir dos
padrões de movimentos do recém-nascido este princípio, o desenvolvimento da e contexto do movimento. Observou primeiros dias e ao longo de toda a vida.
são dominados pelos reflexos primitivos, estabilidade e controle axial são pré- que as articulações e músculos nunca
como a preensão plantar e palmar, reflexo requisitos para a função dos membros trabalham isoladamente, mas em padrões Winder e Tissot (in Brêtas e Silva,
de moro, marcha automática e sucção. Estes superiores e inferiores, ou seja, primeiro coordenados, ou seja, que o cérebro 1998), afirmam que o valor atribuído à
movimentos reflexos são consequência a criança adquire controle do tronco controla grupos musculares e não unidades mãe durante o primeiro período de vida
de determinados estímulos, favorecendo superior e cintura escapular, para depois individuais, e ao descrever o corpo como é indiscutível, e propicia a redução das
uma resposta estereotipada, ou seja, apresentar movimentos coordenados um sistema mecânico, Bernstein introduziu tensões do bebê. Isso ocorre porque
em um modelo de estímulo-resposta. e finos do cotovelo, punho e dedos. o conceito de “graus de liberdade”.Graus a mãe e o filho estão engajados num
Baseado neste conceito, um tratamento de liberdade são: “Quaisquer elementos processo de comunicação tônico e
Os reflexos primitivos representam o fisioterapêutico objetiva a estabilidade de um sistema que possam ser alterados emocional. A este fato, Ajuriaguerra
domínio de níveis inferiores do SNC – antes de mobilidade e o controle proximal ou manipulados e não se limitam (1980) denomina diálogo tônico, tendo
centros subcorticais localizados no tronco antes da facilitação de movimentos aos planos ou eixos de movimento a psicomotricidade o sentido e a função
cerebral. A integração destes reflexos implica distais. A criança necessita de um tempo usualmente presentes na biomecânica” de uma certa linguagem, pois é através
em uma maturação do SNC, com a inibição e de um ritmo para progredir de uma (GONTIJO, 1998, pp. 127-128). do diálogo tônico que, progressivamente,
das atividades dos centros subcorticais, habilidade motora à outra. O limite de Estes graus de liberdade devem a criança objetiva seu corpo e sua ação

128 129
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

assim como a ação e o corpo do outro. das redes neuronais que caracterizam o atitude de reflexo tônico cervical assimétrico é identificada precocemente, em razão da
final da infância, ao redor dos 10 anos de e assimetria de tronco e membros. Qualquer assimetria óbvia da postura e movimentos
Conforme cita Lorenzini (1992), durante idade. Ao que parece, a esta idade se podem tentativa do tronco em seguir a cabeça e anormais; além do encaminhamento
os primeiros anos de vida a criança adquire melhorar as redes neuronais parcialmente assim virar para aquele lado é impedida pela precoce ao tratamento como uma criança
as coordenações sensório-motoras que são lesadas, ou bem mobilizar as redes neuronais retração do ombro. monoplégica, pelo fechamento constante da
formadas pelas imagens proprioceptivas e sem estabilização em um conjunto preciso. A criança é incapaz de rolar da posição mão afetada. Colocada em decúbito dorsal,
exteroceptivas; são os estímulos sensoriais Em qualquer um destes casos, para que um supina para ficar deitada de lado. Ela não a criança tentará pegar objetos com a mão
exteroceptivos e proprioceptivos estímulo seja eficaz, deve-se adaptar desde possui rotação no eixo do corpo, resultado da e braço rígidos. Não é capaz de rolar sobre
que dão à criança as experiências de o ponto de vista qualitativo e não somente ausência da reação corporal de retificação do o lado são, já que não pode usar seu braço e
que ela necessita para sua evolução. aplicar-se de maneira excessiva. Esta noção corpo atuando sobre o corpo, e não consegue perna afetados.
de “qualidade melhor que quantidade” rolar para a posição prona. Deitada em
Conforme citam Jegat et.al. (1995, p. 01), exclui certas técnicas muito difundidas; prono, ela geralmente não consegue levantar Para ficar em pé, a criança se puxa para cima
nos anos 50, Tardieu introduziu a noção a cabeça ou usar os braços e as mãos para usando a mão sadia, ficando primeiramente
de paralisia cerebral (PC), diferenciando-a Quando os recursos da reabilitação o apoio, não conseguindo se levantar. Os sobre os joelhos, passando para a posição
do retardo mental profundo. Segundo sua propriamente dita esgotam-se, tenta-se ombros e a coluna vertebral ficam fletidos e semi-ajoelhada, colocando o pé afetado
definição, “trata-se de pessoas acometidas melhorar a adaptação do entorno às capacidades os braços também se flexionam se o corpo é para a frente. Quando em pé, todo o peso
de lesões cerebrais anatomicamente estáveis da criança para que quando chegue à idade levantado do apoio pelos ombros. está sobre a perna sadia. Nas quadriplégicas
sem anomalias genéticas”. Tais lesões se madura sua eficácia seja máxima. atetóides, as crianças apresentam um quadro
manifestam com uma deficiência motora É de primordial importância para o A incapacidade de levantar a cabeça a de flacidez. O tono postural antigravitacional
predominante ou alguma exclusiva; ao fisioterapeuta que trabalha com crianças partir da posição supina impede que ela é muito baixo. A criança é passiva e flácida
menos, não existe retardo intelectual global portadoras de deficiência física, o conhecimento inicie o movimento para se sentar, não e existe pouco movimento espontâneo. Em
característico. Assim, os pacientes com de que a presença dos reflexos e reações posturais conseguindo levar os braços à frente e para a geral existe uma assimetria pronunciada
PC se diferenciam dos enfermos motores anormais são responsáveis pelas condições linha mediana para se posicionar na posição de tronco. O controle da cabeça é ausente
de origem cerebral (EMOC), pois estes limitantes, podendo levar a uma alteração sentada. A dificuldade de se sentar é ainda quando se coloca a criança para sentar.
últimos apresentam retardo intelectual. de tônus postural e, consequentemente, aumentada pela inabilidade ou dificuldade Os movimentos atetóides se desenvolvem
Para o mesmo autor, os EMOC têm poucas descoordenação de movimentos, problemas de em flexionar as coxas na altura dos quadris, quando a criança se torna mais ativa e
probabilidades de serem autônomos, equilíbrio e retrações musculares e contraturas o que é resultante de um aumento da tenta com esforço responder à estimulação
inclusive do ponto de vista sócio-econômico. ósteo-articulares. espasticidade extensora causada pelo tato e externa.
pressão das nádegas contra o apoio.
Na PC, o tratamento consiste na CONSIDERAÇÕES FINAIS Por ser uma avaliação muito complexa
reabilitação. Os casos de reabilitação Ao colocar a criança diplégica sentada, e muito longa, o diagnóstico de paralisia
constituem uma verdadeira educação Na quadriplegia espástica, a criança é não existe equilíbrio de tronco e as pernas cerebral não é fácil de ser realizado em recém-
terapêutica já que a deficiência se incapaz de retificar a cabeça, manter seu encontram-se aduzidas e giradas para nascidos, somente naqueles gravemente
desenvolve durante a 1ª fase da vida da equilíbrio em qualquer posição ou usar dentro. Os calcanhares e os artelhos estão afetados. O tono postural da criança e seus
criança. Tal educação terapêutica baseia-se os braços e mãos. Deitada em supino, plantiflexionados. O uso dos braços e mãos padrões motores modificam-se à medida
nos seguintes aspectos complementares: ela geralmente mostra forte retração do para se apoiar desenvolve-se mais tarde, que ela cresce e se desenvolve, alterando
pescoço e ombro. A retificação do pescoço quando a extensão protetora dos braços o quadro através dos anos, agravando as
A reabilitação propriamente dita, que está ausente e a rotação da cabeça para (reação de paraquedas) está presente para a limitações funcionais.
ainda não se tem com fins de cicatrização um dos lados pode levar à adoção de uma frente e para os lados. A criança hemiplégica
cerebral dirigida, baseia-se na maleabilidade

130 131
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Paulo: Sarvier, 1980.


CAMARGO, S. Quem é a cri-
ança com paralisia cerebral? Como LEVITT, S. O Tratamento da Paralisia Cerebral e do Retardo Motor. 3. ed. São Paulo: Manole,
ajudá-la? São Paulo: EDICON, 1986. 2001.

CASTRO, A. B. C. M. Habilitação e Reabilitação. LIANZA, S. et al. Paralisia Cerebral. In: LIANZA, S. Medicina de Reabilitação. 2. ed. Rio de
In: DIAMENT, A.; CYPEL, S. Neurologia Infantil. Janeiro: Guanabara Koogan, 1995.
3. ed. Rio de Janeiro, São Paulo: Atheneu, 1996. ______. Paralisia Cerebral. In: LIANZA, S. Medicina de Reabilitação. 3. ed. Rio de Janeiro: Gua-
nabara Koogan, 2001.
DEFICIENTE CIENTE. Paralisia Cere-
ADRIANA APARECIDA bral: parte I. Disponível em: https://www. MEYERHOF, P. G.; PRADO, T. F. A. Intervenção Precoce na Paralisia Cerebral. In: SOUZA, .
VASCONCELOS RIBEIRO deficienteciente.com.br/paralisia-cere- M. C.; FERRARETTO, I. ABPC (Associação Brasileira de Paralisia Cerebral). Paralisia Cerebral:
bral-parte-1.html. Acesso em: 14/02/2019. aspectos práticos. São Paulo: Memnon, 1998.
Graduação em Pedagogia pela
DIAMENT, A.; CYPEL, S. Neurologia Infantil. 3. MILLER G. Paralisias Cerebrais: Uma visão geral. In: MILLER G, CLARK G. D. Paralisias cere-
Faculdade Bertioga (2008); Especialista
ed. Rio de Janeiro, São Paulo: Atheneu, 1996. brais. Causas, consequências e conduta. São Paulo: Manole, 2002.
em Psicopedagogia pela Faculdade
Bertioga (2012); Professora de Ensino EDUCADORA ESPECIAL. (2009) Dis-
Fundamental II na EMEIF Boracéia. NASCIMENTO, M. K. S. et al. Percepção de mães de crianças com encefalopatia crônica não
ponível em: http://educadoraespecial. progressiva infantil sobre o tratamento fisioterapêutico. Congresso Educativo de Ciências
blogspot.com/2009/02/paralisia-ce- da Saúde. Disponível em: https://editorarealize.com.br/revistas/conbracis/trabalhos/TRA-
rebral.html. Acesso em: 14/02/2019. BALHO_EV055_MD4_SA9_ID2559_27052016164233.pdf. Acesso em: 14/02/2019.
REFERÊNCIAS
FINNIE, N. O manuseio em casa da criança com PIOVESANA, A. M. S. G. Manifestações Epilépticas na Paralisia Cerebral. In: SOUZA, . M. C.;
paralisia cerebral. 2.ed. São Paulo: Manole, 1980. FERRARETTO, I. ABPC (Associação Brasileira de Paralisia Cerebral). Paralisia Cerebral: aspec-
AJURIAGUERRA, J. Manual de Psiqui-
tos práticos. São Paulo: Memnon, 1998.
atria Infantil. 2ª ed., Rio de Ja- GONTIJO, A. P. B. et. al. Aspectos neurológicos
neiro: Masson do Brasil, 1980. e biomecânicos do equilíbrio para fundamen- QUENTIN, V. e LESPARGOT, A . Exploración neuromotora (cerebromotora) del niño
tar a prática clínica: revisão bibliográfica. Te- pequeño. Encyclopedie Médico Chirurgicale, Paris: Elsevier, 1997.
BOBATH, K. A deficiência motora em pa- mas sobre Desenvolvimentos, v.6, n. 33, 1997.
cientes com paralisia cerebral. São Paulo: ______. Teoria neuromaturacional versus abor- RATLIFFE, K. Fisioterapia. Clínica Pediátrica. Guia para a equipe de fisioterapeutas. São Pau-
Manole, 1979. Trad. Dr. J. Pinto Duarte. dagem dos sistemas dinâmicos. Fisiotera- lo: Santos, 2000.
pia em movimento, v. XI, n. 1, Abril /set. 98.
BOBATH, B.; BOBATH K. Desenvolvimen-
REED, U. C. Encefalopatia Não Progressiva da Infância ou Paralisia Cerebral (PC): In: NITRINI,
to motor nos diferentes tipos de paral- JEGAT, J.; BARRAY, V.; MOREL, V. Rehabil- R.; BACHESCHI, L. A. A Neurologia que todo Médico deve Saber. São Paulo: Maltese, 1991.
isia cerebral. São Paulo: Manole, 1989. itación en caso de parálisis cerebral. Encyclope-
die Médico Chirurgicale, Paris: Elsevier, 1995. SOUZA, . M. C. de; FERRARETTO, I. ABPC (Associação Brasileira de Paralisia Cerebral).
BRANDÃO, J. S. Bases do tratamento
Paralisia Cerebral: aspectos práticos. São Paulo: Memnon, 1998.
por estimulação precoce da paralisia ce- KUBAN K. C. K.; LEVITON A. Ce-
rebral. Rio de Janeiro: Científicas, 1992. rebral Palsy. N. Engl J Med, 1994. ZOPPA, A. C. L. Terapia Ocupacional em Paralisia Cerebral. In: SOUZA, A. M; FERRARETTO,
I. Paralisia Cerebral: aspectos práticos. São Paulo: Memnon, 1998.
BRÊTAS, J. R. S., SILVA, M. G. B. Massagem em LEFÈVRE, A. B.; DIAMENT, Aron. Neurologia
bebês: uma abordagem psicomotora. Temas Infantil (semiologia+clínica+ tratamento). São
sobre Desenvolvimento, v. 7, nº 39, 1998.

132 133
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
Ao abordar diferentes modalidades e istros de reuniões e horários formativos, pro-
práticas de registro na educação infantil, jeto político-pedagógico, entre outros – e os
articulando conceitos e contextos implica- diferentes usos destes instrumentos no seu
dos na documentação pedagógica, dá visib- cotidiano. O registro da avaliação na Edu-
ilidade aos percursos de uma pesquisa-for- cação Infantil exige especial atenção , uma vez
mação trilhada no movimento contínuo da que se constitui em importante instrumento
escuta - compreendida como disposição, para análise do desenvolvimento e da apren-
abertura e sensibilidade para reconhecer o dizagem das crianças. Esses registros orien-
outro, sua voz, sua expressão e sua identi- tam o replanejamento das ações pedagógi-
dade. Isso possibilita acolher e ser acolhido. cas e as novas intervenções educacionais.

Nascidas do diálogo entre universidade A cada período vivido pelos(as) pequenos(as),


e instituição de educação infantil pública, o(a) educador(a) tem em mãos valoroso regis-
as narrativas traçadas aqui resultam do ex- tro das vivências e descobertas das crianças,
ercício da observação, do registro e da re- tanto individuais quanto em grupos. Tudo é
flexão sobre a ação educativa cotidiana, informado à família, por meio de relatórios
projetada e vivida com crianças de dois a individuais. É importante ressaltar que não
cinco anos. Experiências, projetos, histórias utilizar qualquer forma de avaliação na Edu-
de tempos, espaços e relações tecidas na cação Infantil que meça o desenvolvimento e
DOCUMENTAÇÃO PEDAGÓGICA NA docência, na gestão e na coordenação ped-
agógica revelam, por meio da prática do reg-
a aprendizagem das crianças com finalidades
classificatórias ou para retê-las no prossegui-
EDUCAÇÃO INFANTIL istro, diferentes saberes, múltiplas formas
de pensar, organizar e fazer educação infan-
mento de sua vida escolar. Cada criança tem
seu tempo de aprendizagem e esse tempo é
til, afirmando o protagonismo das crianças. respeitado. Para que o trabalho das escolas
seja mais eficaz, é fundamental o envolvi-
RESUMO: A produção de registros na Educação Infantil conta com dois percursos distintos Este artigo está voltado para a edu- mento das famílias, tanto nas Unidades Edu-
até o início do século XXI, pois se tratava de atendimento de bebês e crianças de 0 a 3 anos cação infantil mostrando a importân- cacionais quanto em casa.A equipe de educa-
de idade oferecidos pela Creche subordinada/vinculada à Secretaria de Assistência Social cia desta documentação para en- doras e educadores está sempre à disposição
(SAS), e o atendimento das crianças de 4 a 6 anos na EMEI subordinada/vinculada à Secretaria tender o desenvolvimento da criança. para orientar as famílias quanto ao desen-
de Educação. Por meio do Decreto nº 38.869/99 as creches passaram a integrar o sistema Dentro das unidades de Educação Infantil o volvimento das crianças. Para que servem
municipal de educação. Em 2001, as creches diretas e indiretas passaram a se denominar registro é realizado de muitas vezes de for- os registros ou a documentação pedagógica.
Centro de Educação Infantil. Nesse momento, a produção de registros na Educação Infantil mas sistematizadas outras vezes ainda com
agregou as experiências oriundas das creches e das EMEIs. Apresentaremos a seguir breve falhas. Entre eles: planejamento, carta de in-
histórico desses registros. tenção, semanário, diário de bordo, caderno
de observação, caderno de passagem, port-
Palavras-chave: Documentos oficiais; Pedagógia; Educação Infantil. fólio, mural, painel, agenda, redes sociais,
relatório individual do bebê e da criança, reg-

134 135
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

professor realiza o afastamento de seu papel que as(os) professoras(es) se constituam


O PAPEL DO PROFESSOR NA ELABORAÇÃO DOS REGISTROS executor para entender suas práticas, avaliá- autoras(es) e pesquisadoras(es) de suas
las e até mesmo direcioná-las por meio de práticas, apropriando-se delas, avaliando-as,
novo planejamento. O ato de registrar não é de maneira que possam reconhecer-se na
Os registros docentes sobre o ser analíticos, tentando compreender natural, pelo contrário é aprendido por meio ação educativa, reconstruindo-a enquanto
planejamento das atividades, brincadeiras, as experiências ocorridas/vividas para do exercício e, por isso, acreditamos nas acompanham as experiências e processos de
experiências e projetos pedagógicos a buscar relações com a continuidade ações formativas que ajudem os professores a aprendizagens dos bebês e das crianças.
serem ofertados aos bebês e às crianças; do trabalho a ser desenvolvido. Nesse exercitarem sua autoria mediante diferentes
sobre a observação e a escuta de bebês cenário, o professor que observa, instrumentos de registros. Como afirma APRENDER BRINCANDO A
e crianças e sobre a avaliação das escuta, registra e interpreta o cotidiano Madalena Freire: “Quando escrevemos, OBSERVAÇÃO E O REGISTRO
aprendizagens e do desenvolvimento de sua turma de bebês/crianças produz desenvolvemos nossa capacidade reflexiva
de bebês e crianças representam uma a possibilidade da documentação sobre o que sabemos e o que ainda não Toda criança têm direito à proteção, à
condição primordial para um trabalho pedagógica, tomando consciência de seus dominamos. O ato de escrever nos obriga a saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à
qualitativo na educação infantil. Os potenciais como aprendiz e se desenvolve formular hipóteses, nos levando a aprender dignidade, ao lúdico, à imaginação, à criação,
registros se configuram como um caminho profissionalmente: Ao escrever e refletir mais e mais, tanto a formulá-las quanto a ao acolhimento, à curiosidade, à brincadeira,
possível de construção de memórias e de sobre o escrito que, por sua vez, reflete respondê-las” (WEFFORT, 1996). à democracia e à convivência com outras
desenvolvimento profissional, em que a prática, o professor pode fazer teoria, crianças e com os adultos, para a produção
o professor é autor e narrador de sua tecer pensamento-vida. Escreve o que A ação de registrar torna visíveis as de suas culturas. Esse é o pressuposto do
própria prática. Nesse sentido, cabe ao faz. Pensa o que faz. Compreende o que situações e interações que ocorrem nas trabalho de Educação Infantil das Unidades
coordenador pedagógico acompanhar, faz. Repensa o que faz. Redefine o que UEs e que estão sujeitas a passarem Educacionais, onde o cuidar e o educar são
orientar e auxiliar a produção dos faz. Reafirma o que faz. Percebe limites despercebidas ou esquecidas, se não forem dimensões presentes e indissociáveis em
registros docentes, de modo que esses e possibilidades de sua prática. Procura objeto de reflexão e narrativa por parte todos os momentos. A organização dos
sejam a expressão da intencionalidade alternativas. O registro diário é, pois, um das(os) professoras(es). É nesse processo de tempos e espaços é realizada privilegiando
docente, tanto no momento do instrumento que articula a ligação entre reflexão sobre os registros e sobre a prática o brincar, o experienciar, as relações entre
planejamento, quanto no momento de teoria e prática, entre as aprendizagens pedagógica que as(os) professoras(es) as crianças com a mesma idade e de faixas
registrar o cotidiano pedagógico de sua já realizadas e os novos conhecimentos. ampliam seus saberes sobre os bebês, as etárias diferentes, suas escolhas, autonomia,
turma e o percurso de desenvolvimento (OSTETTO, 2008, p.21). crianças, as infâncias, a Educação Infantil, a a acessibilidade aos materiais (livros,
e aprendizagem dos bebês e das crianças. docência e os próprios registros, produzindo máquinas fotográficas, brinquedos, músicas,
O exercício de registrar o cotidiano a documentação pedagógica. Nesse papéis, tintas entre outros).
O coordenador pedagógico é a vivido junto aos bebês e às crianças é um sentido, registrar os processos pedagógicos
principal interlocutor dos professores desafio e uma grande aprendizagem do por meio de diferentes instrumentos Para ampliar o contato da criança com o
em seus processos de reflexão sobre seus olhar para a(o) professora(or), pois, quando pode servir a diversas finalidades: dar mundo, o deslocamento pelas salas e outras
registros. Nesta perspectiva, os registros esta ou este realiza a reflexão por meio visibilidade às famílias/responsáveis e dependências da instituição e fora dela são
são instrumentos de consolidação de do registro, percebe que é extremamente comunidade educativa, do que e como os aspectos que também precisam ser garantidos.
diálogos para ampliação do sentido do necessário observar as ações e reações, bebês e as crianças estão aprendendo e Por meio da observação, é possível entender
que se deve registrar a respeito da prática tanto em relação aos bebês e às crianças se desenvolvendo; oportunizar aos bebês o desenvolvimento de cada criança a partir
pedagógica. Os registros docentes não como também em relação a si mesmo. e crianças revisitar suas experiências, da proposta e atividades realizadas; saiba o
podem ser apenas descritivos ao relatar o Em outras palavras, nesse momento, o reconhecendo-se e valorizando suas quê, quando, onde e por que observar. Para
que aconteceu no dia a dia, mas também próprias produções e percursos; permitir o registro seja significativo o que chama

136 137
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

atenção para a importância da observação no planejamento para colocá-lo em prática? pelos professores. É importante sempre que os privem de olhar para as crianças. É
processo pedagógico da educação infantil. Quais resultados pretendo alcançar? A partir rever essa dinâmica. Os professores sempre importante ter centralidade no fazer, se
As informações que o professor adquire ao disso, então, é possível criar perguntas que se questionam se os dados deram uma boa desviar pouco daquilo. Se eu estiver mais
observar, é possível selecionar os materiais orientem a observação, que nada mais é do base para um relatório. Coletar os dados e intensamente envolvido na interação, mas
certos, planejar atividades adequadas e fazer que a forma de entender o desenvolvimento só interpretar no final é algo que não deve naturalmente consigo observar a criança.
perguntas que orientem as crianças para de cada criança a partir da proposta e ser feito, porque depois de passado todo Assim, a observação é incorporada e se torna
aprender a entender o mundo que as rodeia”, atividades realizadas. esse tempo aquilo não vale mais nada. Se algo natural.
descreve. Isso porque cada criança lida de eu coleto os dados é para já interferir e
sua própria maneira com a aprendizagem. Esse olhar direcionado é essencial para a agir em cima deles.Cada professor deve ter A atitude do professor deve ser de um
Logo, o olhar atento sobre os interesses, as observação, é preciso buscar um equilíbrio. autonomia para fazer a observação da sua caçador ou um pescador. Como a educação
relações, a personalidade e as interpretações Não é possível observar a partir do nada, maneira e com seus critérios – dentro do diz respeito a aprender e construir hipóteses
das experiências das crianças são essenciais mas também não dá para observar algo só projeto pedagógico da escola, obviamente, sobre o mundo o tempo todo, é preciso que o
para que o educador avalie a reação à sua para comprovar o que já tenho. Não é 8 mas existem alguns pontos aos quais ele deve educador esteja aberto a surpresas e, por isso,
proposta e reveja suas práticas. nem 80, pondera. Por isso, segundo ele, é se ater, com destaque para experiências que precisa exercitar seu poder de observador.
interessante seguir o conselho dos pedagogos favorecem a construção do sujeito (aprender Para um caçador, qualquer movimento
O que observar? É simples convencer-se italianos: faça boas perguntas para observar a conviver, estar com outros e consigo causa uma reação. No caso, o educador tira
de que a observação das crianças é essencial as crianças. Alguns professores usam uma mesmo) e a ampliação do universo cultural. uma foto, por exemplo. Mas, e se ele entrar
para o processo de aprendizagem. Mas de tabela dividida em três colunas, colocando na como pescador, silencioso, em um silêncio
onde partir? Como ser um observador? O primeira o nome e idade, na segunda o que Toda hora é hora de observar, Não corporal para observar mais atento o que
que observar? Alguns campos para dirigir foi observado e, na terceira, o que é possível existe um único momento adequado para o está acontecendo? Em uma outra metáfora,
o olhar à criança: saúde e desenvolvimento fazer sobre o que foi observado. Assim, se professor observar os seus alunos, todos os poderíamos dizer o mesmo ao comparar um
físico, temperamento, habilidades e o objetivo é ver como uma criança lida com momentos da rotina escolar são considerados clássico turista a um viajante. Enquanto um
capacidades, interesses, cultura e vida em a separação, é interessante observá-la no importantes. As situações de observação prefere viajar em um grupo com um roteiro
família, abordagem à aprendizagem, uso da momento em que se despede do familiar podem variar entre momentos espontâneos fechado, receber as informações do guia e
linguagem verbal, uso da linguagem corporal que a deixa na escola e, caso seja notado e outros planejados pelo professor. A prática registrar o lugar pela lente da sua câmera,
e interações sociais com adultos e outras que a criança não reage bem à situação, do registro deve ser apoiada , que defende o viajante olha, sente, escuta, repara em
crianças. uma possível solução é fazer um mural com que o educador observa como respira, ou detalhes e absorve a identidade e cultura do
fotos da família para fixar na sala de aula. O seja, o tempo todo. o professor se atém local, pois está sempre aberto a surpresas e
A educação infantil tem por finalidade educador pode também adicionar um outro a observar apenas aquilo que previu, em novos aprendizados.
o desenvolvimento integral dessa criança, espaço para anotar suas interpretações e momentos específicos, perde muito do
temos de observar a criança como um todo. questões sobre aquilo que foi observado. que as crianças têm para lhe contar com O REGISTRO E A AVALIAÇÃO
Isso inclui a forma como ela se movimenta, suas ações. Uma situação de brincadeira
fala, observa, interage, se expressa, se A tabela de observação poderá ser livre, por exemplo, é um ótimo momento Na hora de registrar suas observações, no
relaciona com o mundo, como constrói reavaliada constantemente pelo professor para ver como as crianças se agrupam se entanto, o professor precisa ser cauteloso
a oralidade. E esses são apenas alguns de acordo com o que é registrado como relacionam e tomam (ou não) iniciativa. O para separar seu tempo. Se está interagindo
exemplos.Desta forma, uma sugestão é reação das crianças. O que não funciona é que lamentável, no entanto, que muitos com as crianças, não pode o tempo todo
fazer a sequência de questionamentos: reformulado, e novos critérios são adicionados educadores escolham esse momento para fazer anotações. Junqueira sugere que o
qual é o projeto pedagógico? Qual é meu de acordo com a avaliação do processo feita mexer em seus diários e fazer outras tarefas educador registre de acordo com a natureza

138 139
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

da atividade. Assim, alguns momentos pedem etc.. É interessante acrescentar ainda notas obrigatórios, porque expõem o cuidado de cada uma daqui há um mês. As imagens
o papel e caneta, outros um gravador de sobre dúvidas ou curiosidades que surgiram diário da escola com as crianças. Uma série facilitam esse acesso adiante. Outra ideia
áudio e/ou vídeo e, outros mais, uma câmera durante a aula, perguntas dos alunos ou de registros individuais, porém, é mais útil e é anotar algumas falas das crianças que
fotográfica. Ser realista, não tente escrever conteúdos a pesquisar. Isso mantém o mais interessante em uma reunião entre pais despertaram atenção. Elas são, afinal, o
tudo. Recomendamos se concentrar em estar professor conectado ao interesses da classe, e professor do que uma descrição do todo. centro do registro.
presente – observar os detalhes especiais e mostra que ele está disposto a estimular
que tornam cada criança única em construir seus interesses. A trajetória das crianças não é feita só REGISTRAR PARA TORNAR AS
relacionamentos. ponderam as autoras de de sucessos, e os registros devem ser fiéis APRENDIZAGENS EVIDENTES
O poder da observação.Esse momento do Registros de atividades: descrevem um a isso. Valorize os processos: escreva sobre
registro é essencial para reunir elementos a exercício feito com as crianças. Devem incluir as tentativas e descobertas, não apenas A Documentação Pedagógica é a
partir dos quais é possível promover reflexões o objetivo da atividade, quais os materiais resultados. Anote, inclusive, falhas e elaboração das informações levantadas com
sobre a prática do educador e entender empregados (desde objetos até as músicas dificuldades ainda não superadas, pois isso o registro. Anotações, fotos, filmes, gravações
para quê, para quem e em nome de quê se cantadas), quais ações os alunos deveriam é o que vai ajudar a discernir os próximos e produções das crianças são reunidas para
organiza essa prática profissional. Com base realizar e o que realizaram, de fato. Explique passos para aquela turma. Considere se eles provocar e instigar o educador. Pra que e
em uma análise crítica e reflexiva desses como eles se organizaram, o que produziram se mostraram interessados e participaram, para quem registramos as aprendizagens.
registros – aliada a uma atitude investigativa e o que aprenderam enquanto produziam. se conseguiram compreender orientações E quem são os públicos específicos. Esses
sobre suas práticas – é possível reorganizar Lance perguntas: a classe fez silêncio e e se adquiriram algum novo conhecimento. públicos certamente não são um mistério. A
essas práticas em outras bases, do ponto de se dedicou à proposta? Fugiram ao tema? Registrar também o próprio trabalho: qual proposta é perceber suas dimensões e qual
vista teórico e metodológico. Por quê (e para qual assunto)? As questões foi a atuação do professor em sala, de que intenção você tem em se comunicar com
levantadas por eles foram pertinentes. forma isso estimulou as crianças, como cada um.
Falar em avaliação na educação infantil, trabalhou problemas de relacionamento ou - PÚBLICO 1: o próprio educador:
é na verdade falar desse processo de Registros sobre as crianças de aprendizagem. Qual o formato deste relatório elaborado
acompanhamento do desenvolvimento, que também pontuam o comportamento para si próprio? Aquele que mais fizer sentido
acontece justamente através da observação e desenvolvimento de cada criança Dessa forma, além de criar um retrato para o educador. Nesse caso, a comunicação
atenta e frequente, que possibilita que o individualmente, e podem trazer das habilidades e desafios das crianças, os será para o próprio professor , então, fazer
professor tenha condições de estabelecer considerações não só sobre o aprendizado educadores são capazes de se autoavaliar e, de modo que possa acessá-la em diferentes
os melhores registros descritivos. A cognitivo, mas, também, o emocional – e se preciso, redefinir suas ações. Seja honesto, tempos e ocasiões e tirar partido de todo o
observação é um instrumento da avaliação como ele está interferindo, positiva ou nem todas as aulas fluem tranquilamente. seu conteúdo.
e planejamento. Eu planejo, coloco em negativamente, no desenvolvimento. Algumas Houve imprevistos ao usar material de - PUBLICO 2: crianças
prática, avalio e continuo planejando. escolas fazem esse acompanhamento através apoio? Algum acontecimento em que não Além de realizar experiências, as crianças
Dependendo de sua finalidade, os registros de tabelas com listas de objetivos. Essa é soube como agir? Decisões que poderiam precisam relembrar o ocorrido para
podem ter enfoques distintos: na rotina, uma forma visualmente simples, mas garanta ser repensadas? A crítica momentânea consolidar as aprendizagens e relacioná-
nas atividades ou nas crianças. Registros que haja, complementarmente, espaço ajuda a traçar um caminho mais consistente las a outros conteúdos já aprendidos. Isso
com foco na rotina: mostram uma imagem para comentários. Todos esses formatos de nas próximas aulas. Incluir a produção das é estabelecer e provocar novas conexões
geral da sala de aula naquele dia – quem registro são válidos e costumam ser feitos crianças – tanto os originais, no caso de entre as células nervosas do cérebro. Assim,
estava presente e quem faltou, quem simultaneamente, já que têm diferentes pinturas ou colagens ou fotos das atividades. painéis, cartazes, portfólios, álbuns, pastas,
chorou, quem se alimentou ou se recusou propósitos. Registros da rotina, por Apesar de esses resultados estarem claros totens etc., com fotos, materiais e a produção
a comer, problemas de comportamento, exemplo, são os mais comuns e, por vezes, agora, imagine tentar se lembrar do trabalho dos pequenos, relembram e valorizam o que

140 141
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

foi aprendido. Outro aspecto desse tipo de o trabalho desenvolvido com suas crianças encontros formativos, coordenados pela
exposição é a identificação de si próprio e dos e as aprendizagens significativas, ficará fácil equipe gestora. Acreditamos que um registro
limites entre o eu e o outro, que contribuem transformar as famílias em parceiras do CONSIDERAÇÕES FINAIS consistente pode trazer melhoria na prática
significativamente para a construção da desenvolvimento das crianças. diária na Educação Infantil.
identidade das crianças. E eles adoram se ver A partir da multiplicidade de instrumentos
nas fotos e reconhecer os locais, os objetos - PÚBLICO 4: equipe pedagógica de registros utilizados pelas Unidades
Pomos em comum nossas objeções, Educacionais de Educação Infantil –
Para destacar as aprendizagens é nossos achados e também nossos dissabores planejamento, semanário, diário de bordo,
preciso ter como foco , o professor precisa e os nossos erros a fim de nos ajudarmos caderno de observação, caderno de
selecionar aquilo que é significativo para mutuamente. (Célestin Freinet, 1926). A passagem, portfólio, mural, painel, agenda,
ser apreciado pelas crianças. O importante melhor maneira de compartilhar experiências redes sociais, relatório individual do bebê e
é apresentar aquelas que expressam do que por meio de uma história bem contada. da criança, registros de reuniões e horários
conquistas, descobertas, situações comuns Os professores precisam contar suas histórias formativos, projeto político-pedagógico,
e diversas. Que tal fazer uma exposição de uns para os outros com os destaques do entre outros – e os diferentes usos destes
desenhos com características semelhantes, que foi mais significativo, das experiências instrumentos no cotidiano dos Centros de
por exemplo, com rabiscos circulares, sucedidas (positivas e negativas), dos Educação Infantil (CEI) , dos Centros de
pontilhados etc.? Ou expor as pinturas que materiais e lugares interessantes e qualquer Educação Infantil Indígena (CEII), das Escolas
apresentaram pesquisa mais intensa em detalhe que possa ampliar conhecimentos Municipais de Educação Infantil (EMEI) ANDREIA LOURENÇO ALVES
uma das cores disponibilizadas? Ou ainda, e repertório dos colegas de equipe. Todos percebe-se que muitos desses registros
compor uma mostra semanal dos percursos ganharão com esse material. já estão incorporados à dinâmica das UEs
individuais? Certamente o exercício de há muito tempo, entretanto, carecem Graduação em Pedagogia pela
preparar a documentação e perceber a reação - PÚBLICO 5: comunidade de atenção, cuidado e critérios nas suas Universidade Ítalo Brasileiro-UNIÍTALO,
das crianças ao apreciá-la, vai aperfeiçoar o Exposições, mostras e eventos podem elaborações, pois ainda há dúvidas sobre o pós-graduada em Educação Infantil pelo
processo e trazer inovações. oportunizar às famílias e à a comunidade a que convém ou deve compor cada um desses INEC. Professora de Ensino Fundamental e
visitação e o conhecimento aprofundado instrumentos de registro. Educação Infantil trabalha atualmente como
- PÚBLICO 3: famílias sobre o que acontece dentro dos muros da Auxiliar de Direção na EMEF Elisa Raquel.
O que é preciso mostrar ou contar para escola. Sem a comunicação intencional fica A produção diária e permanente de
as famílias do seu grupo sobre as propostas difícil cobrar valorização e reconhecimento registros deve superar o mero cumprimento
tão intensamente vividas. Esse é o caminho sobre o trabalho educativo desenvolvido. burocrático para avançar no sentido da
para elaborar a documentação voltada para Conectar a comunidade com a creche traz potencialidade formativa que possui. Por
os pais e responsáveis. Em formato de apoio e pode ampliar os recursos culturais isso, os registros devem ser considerados
painéis, cartazes, textos, albuns, portfolios, com o que está disponível no entorno. como instrumentos reveladores das práticas
site, página do Facebook, grupo do O percurso do educador na utilização cotidianas e como recursos pedagógicos para
WhatsApp , a documentação precisa narrar dos instrumentos metodológicos que parte a ressignificação dessas práticas. Os registros
a história do ocorrido e destacar aquilo que do planejamento da ação, do registro e da do cotidiano da UE são elaborados pelo
o professor deseja expressar. É importante elaboração das documentações, garante professor a partir da observação e da escuta
também deixar o material à disposição dos um trabalho pedagógico cada vez mais de bebês e crianças, bem como da sua prática
familiares por um período de tempo que qualificado. Não existe o ensinar sem a pedagógica, sendo também subsidiado pelas
possibilite a sua visualização. Ao conhecer emoção do perceber e do falar sobre. informações obtidas nas reuniões e nos

142 143
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS la: um olhar reflexivo sobre a cri-


ança. Porto Alegre: Mediação, 1996.
BRASIL. Ministério da Educação e do KISHIMOTO, Tizuko Morchida; OL-
Desporto. Secretaria de Educação Funda- IVEIRA-FORMOSINHO, Júlia. Em bus-
mental. Referencial curricularnacional para a ca da pedagogia da infância: pertenc-
educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. er e participar. Porto Alegre: Penso, 2013.

COLASANTO, Cristina A. avaliação na LOPES,Amanda CristinaTeagno. Educação Infan-


Educação Infantil: a participação da cri- til e registro de práticas. São Paulo: Cortez, 2009.
ança. 2014. Tese (Doutorado em Edu- OSTETTO, Luciana Esmeralda (Org.).
cação: Currículo) – Pontifícia Universidade Encontros e encantamentos na edu-
Católica de São Paulo, São Paulo, 2014. cação infantil: partilhando experiências
de estágios. Campinas: Papirus, 2000.
EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Lel-
la; FORMAN, George. As cem lingua- OSTETTO, Luciana E. Observação, Reg-
gens da criança: a abordagem de Reg- istro, Documentação: nomear e signifi-
gio Emilia na educação da primeira car as experiências. In: Educação Infan-
infância. Porto Alegre: Penso, 2016. til: saberes e fazeres da formação de
professores. São Paulo: Papirus, 2008. p. 13-32.
FREINET, Celestin. Para uma escola do
povo. São Paulo: Martins Fontes, 2001. OSTETTO, Luciana E. (org.). Registros
na Educação Infantil: pesquisa e práti-
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autono- ca pedagógica. Campinas: Papirus, 2017.
mia: saberes necessários à prática ed-
ucativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997. WEFFORT, Madalena Freire (org.). Ob- OS DESAFIOS DE UMA GESTÃO ESCOLAR
servação, registro, reflexão. São Pau-
GADOTTI, Moacir. Pressupostos do Projeto lo: Espaço Pedagógico, 1996.
Pedagógico. Anais da Conferência Nacional RESUMO: Esse artigo busca analisar reflexões a respeito dos desafios de uma gestão
da Educação para Todos. Brasília: MEC, 1994 escolar. A Gestão Escolar visa cuidar de toda burocracia existente em uma
. escola, desde a equipe escolar até os alunos e comunidade em geral. A
GALEANO, Eduardo. O livro dos estrutura da educação brasileira é composta pela educação básica e educação
abraços. São Paulo: L&PM, 1989. superior, da forma que a básica é dividida em educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio. A gestão escolar engloba as incumbências que as
GANDINI, Lella.; EDWARDS, Caro- unidades escolares possuem como elaborar e executar a proposta pedagógica,
lyn & cols. Duas reflexões sobre a docu administrar o pessoal e os recursos materiais e financeiros. Um gestor escolar
mentação. In: GANDINI, Lella.; ED- deve saber ministrar seu tempo para amparar também a comunidade em torno
WARDS,Carolyn & cols. Bambini: a abor- da Escola ao qual ele responde, atuando de forma democrática, visando o
dagem italiana à Educação Infantil. Por- bem-estar da escola em geral.
to Alegre: Artmed, 2002. p. 150-169.
Palavras-chave: Gestão Escolar; Desafios; Estrutura
HOFFMANN, Jussara Ma-
ria Lerch. Avaliação na pré-esco

144 145
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO qualidade, dessa forma um gestão escolar que


tenha a participação da comunidade, pais, nativos possuíam formas de ensino, uma são respectivamente o artigo 205 e
Administração e gestão são processos funcionários, docentes, alunos funcionará de vez que a cultura e os hábitos eram o 208, inciso III, por estabelecer o direito a
complementares, pois as duas gestões bem- maneira significativa. aprendidos desde a mais tenra idade pelas educação para todos, o dever do
sucedidas estão intimamente ligadas a bons crianças encontradas à época. No Estado, da Família, a colaboração da
procedimentos de administração. Isso porque, entanto, não há registros de um sistema sociedade e o atendimento educacional
conforme indicado, bons processos de gestão A ESCOLA COMO UM TODO educacional formalizado. especializado, preferencialmente na rede
dependem e se baseiam em processos e regular de ensino.
cuidados de administração bem resolvida. É muito importante citar que para que um A educação sistematizada no Brasil teve A escola é considerada fundamental para
A administração constitui um conceito e trabalho significativo de gestão início com o movimento jesuíta, o desenvolvimento das
conjunto de ações fundamentais para o escolar é realizado de acordo com fatos onde padres portugueses da Ordem dos habilidades, potencialidades e, acima de
bom funcionamento de organizações, por históricos e com a luta da Educação Jesuítas passaram a dedicar seu tudo, a socialização, tendo como meta
estabelecer as condições estruturais básicas em geral. Percorrendo os períodos da tempo a educação religiosa dos nativos. a integração das pessoas, que sofrem
para o seu funcionamento. Daí ser incorporada história, desde os mais remotos tempos, Pelas diferenças culturais, foi preconceitos por serem negras, pobres,
pela gestão em seu escopo, como gestão evidenciam-se teorias e práticas sociais necessário ensinar primeiramente a língua deficientes, etc.
administrativa. (LUCK, 2000, p.109-110) marginalizadas, inclusive quanto ao portuguesa e elementos básicos da
acesso ao saber. cultura europeia como o uso de roupas por Dando continuidade ao compromisso de
A administração geralmente está ligada a exemplo (ALVES, 2005). Esse qualificar a Política Educacional
processos burocráticos e a gestão relaciona- Para ressaltar esse fato, pode se destacar o padrão europeu, não anula o fato de que os e se considerarmos o momento atual
se com uma proximidade maior entre líderes filme: Em Nome da Rosa, nativos já possuíam técnicas e político e econômico, a rapidez das
e liderados, uma maior cooperação nas na qual o mesmo retrata uma história em maneiras de fazer a educação. transformações que estão ocorrendo na
decisões e resultados, porém administração que as pessoas (padres) que sociedade brasileira e no mundo, que
e gestão devem caminhar juntas, detinham o poder escondiam os livros para Foi Tomé de Souza, que seguindo ordens do tem tornado ainda mais difícil, a
complementando-as mutuamente. que os demais não tivessem D. João III, trouxe os conscientização política e a mobilização dos
acesso ao mundo do saber, pois com a padres da Companhia de Jesus com intuito educadores, dos estudantes e da
As questões da gestão democrática, da leitura dos mesmos as pessoas de propagar a fé católica. Dado o comunidade escolar.
descentralização e da autonomia da escola ficariam mais críticas e reivindicariam seus abismo encontrado entre indígenas e
estão presentes, sobretudo, na literatura direitos. jesuítas afim de estabelecer a conversão, A Constituição é arma na mão de todos os
dirigida à escola pública. É relativamente foi necessária a adaptação do ensino, ou cidadãos, que devem
grande a produção sobre a gestão A evolução histórica da educação brasileira seja, a sistematização da educação saber usá-las para caminhar e conquistar
democrática e a participação. A ênfase é passou por rupturas por meio de colégios e missões espalhadas propostas igualitárias...”...
a de subsidiar a escola para uma mudança marcantes, e se estabelece até hoje tendo pelo litoral do Brasil se fez só existe cidadania se houver a pratica da
de mentalidade e atitude, sem a qual essa em vista alcançar padrões internacionais, necessária para que os indígenas reivindicação, da
organização não poderia ser efetiva em seu constituído socialmente. aprendessem não somente o cristianismo, apropriação de espaços, da pugna para
papel social. (LÜCK, 2000, p.27. mas também a língua e os costumes de fazer valer os direitos dos
A chegada dos portugueses às terras Portugal. cidadãos(COVRE,1991,p.10).
Portanto, necessário acrescer habilidades brasileiras é um marco histórico
e competências importantes para que para a educação sistematizada no Brasil. O mais significativo do ponto de vista de Portanto, percebe-se que todos os
os estudantes tenham uma educação de Não há como negar que os povos possibilidade de cobrança da cidadãos têm o direito de reivindicar
efetivação do direito a educação para todos para fazer valer seus direitos a alimentação,

146 147
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

saúde, moradia, a educação e governo federal ao A GESTÃO ESCOLAR E SUA interferir diretamente no resultado da
outros, havendo assim a construção de Congresso em 15 de dezembro de 2010. IMPORTÂNCIA formação dos alunos e o segundo deve
uma sociedade melhor, na qual a O novo PNE apresenta dez dar condições necessárias para o
educação deve estimular o uso da diretrizes objetivas e 20 metas, seguidas A busca por uma gestão escolar com desenvolvimento pedagógico.
inteligência crítica e não disciplinar as das estratégias específicas princípios democráticos vem
crianças para que aceitem as coisas como de concretização. levando gestores a refletirem a respeito Todo esse movimento, alterando o sentido
elas são. de sua prática pedagógica, almejando e concepção da educação,
O texto prevê formas de a sociedade construir um ambiente democrático nas da escola e da relação escola/sociedade,
Quanto mais educação o povo recebe, monitorar e escolas e consequentemente uma tem demandado um esforço
maior é a possibilidade de que cobrar cada uma das conquistas previstas. gestão participativa que evidencia a especial de gestão, e nesse contexto a
esse povo colabore com o desenvolvimento As metas seguem o responsabilização de cunho formação dos gestores, ou
e independência do país. modelo de visão sistêmica da educação eminentemente pedagógico. dirigentes escolares, passa a ser um desafio
estabelecida em 2007 com a para o sistema. O fato é
O PNE é um importante instrumento para criação do Plano de Desenvolvimento da Pois a gestão escolar não deve ter como que as melhorias operadas e os esforços
a melhora da qualidade de Educação (PNE). Tanto as foco empreendidos na
ensino no Brasil, teve sua primeira versão metas quanto as estratégias premiam apenas dimensão administrativa da escola, construção de novas étnicas e métodos
em 1962 no Ministério da Educação iniciativas para todos os níveis, mas principalmente a gestão são infecundos caso não
e Cultura, vindo a virar Lei em 1967. modalidades e etapas educacionais. Além pedagógica, em que o gestor também acompanhados por um esforço de
disso, há estratégias deve ser o gestor do ensino – capacitação dos dirigentes para
Com a constituição de 1988, no seu artigo específicas para a inclusão de minorias, aprendizagem. lidar com as inovações desse processo
214, e em atendimento dos artigo 9 e 87 como alunos com Lück (2000) afirma que: (LÜCK, 2000, p. 28-29).
da LDB em consonância com a deficiência, indígenas, quilombolas,
Declaração Mundial sobre Educação para estudantes do campo e alunos A gestão educacional corresponde à área A busca do conceito de qualidade na área
Todos, o deputado Ivan Valente em regime de liberdade assistida. (BRASIL, de atuação responsável por educacional é uma iniciativa
apresentou o Projeto de Lei nº 4.155, de 2012) estabelecer o direcionamento e a de longo prazo que exige mudança e
1998 que ‘aprova o Plano Nacional de mobilização capazes de sustentar e reestruturação organizacional e o gestor
Educação’ que atendeu aos compromissos A LDB contribuiu para a elaboração dos dinamizar o modo de ser e de fazer dos escolar deve ser o primeiro a identificar o
assumidos pelo Fórum Nacional em Parâmetros Curriculares sistemas de ensino e das seu papel nesse processo,
Nacionais PCN), um material elaborado escolas, para realizar ações conjuntas, considerando que a busca da qualidade
Defesa da Escola Pública, desde sua para subsidiar as unidades escolares associadas e articuladas, escolar requer uma análise da forma
participação nos trabalhos da Assembleia no seu cotidiano, na elaboração de seu visando o objetivo comum da qualidade como as escolas têm sido gerenciadas e
Nacional Constituinte, consolidou os Projeto Político Pedagógico e os do ensino e seus resultados. um movimento em direção a um maior
trabalhos do I e do II Congresso Nacional Docentes na elaboração de seu (Lück, 2000, p. 25) envolvimento de todas as pessoas
de Educação - CONED e sistematizou planejamento uma vez que apresenta associadas à escola.
contribuições advindas de diferentes princípios norteadores que orientam o Sabe-se que o gestor escolar tem uma
segmentos da sociedade civil. trabalho do professor. árdua tarefa de buscar o Esta separação entre política e
equilíbrio entre os aspectos pedagógicos administração, entre planejamento e
O projeto de lei que cria o Plano Nacional e administrativos, com a percepção implementação pode ser também parte da
de Educação (PNE) para que o primeiro constitui-se com essencial explicação dos problemas
vigorar de 2011 a 2020, foi enviado pelo e deve privilegiar a qualidade, por do planejamento da educação. O

148 149
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

planejamento, pelo aspecto técnico democrática. (PARANÁ, 172) destaca que:


e científico que envolve, e por sua II - constituir-se em instrumento de 2009 p. 12).
proximidade com o poder político, democratização das relações no interior da escola, Pensar e definir a gestão democrática
formula políticas, define estratégias, assegurando os O termo gestão escolar possibilita da Educação para uma formação humana,
define programas e projetos, na espaços de efetiva participação da comunidade ultrapassar o enfoque limitado de [...] contemplando o currículo escolar de
maioria das vezes nos gabinetes situados escolar nos administração, levando em conta que os conteúdos e práticas baseada na solidariedade
nas capitais para que processos decisórios sobre a natureza e a problemas educacionais são e nos valores que compõe o constructo
sejam implementadas pelas estruturas da especificidade do trabalho complexos e necessitam de visão global e ético da vida humana em sociedade. E como
educação nas regiões, pedagógico escolar; abrangente, assim como ações estratégia, acredito que o caminho é o diálogo,
estados ou municípios. Assim, os que se articuladas, dinâmicas e participativas. quando o reconhecimento da infinita do
encarregam da III - promover o exercício da cidadania no interior Segundo a LDB 9394/96 é responsabilidade real, se desdobra numa disposição generosa
implementação dos programas e projetos da escola, articulando a integração e a participação das instituições de ensino de cada pessoa para tentar incorporar ao
não são os mesmos que os dos diversos elaborar e executar sua proposta movimento algo na inesgotável experiência
formularam. segmentos da comunidade escolar na construção de pedagógica, além de: da consciência dos outros.
uma escola
A gestão educacional, no contexto pública de qualidade, laica, gratuita e universal; [...] administrar seu pessoal e seus recursos materiais e Portanto, a base para que se tenha uma
dinâmico em que o mundo se financeiros; gestão escolar de qualidade é fundamental
encontra, tem a necessidade de IV - estabelecer assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas- que a escola esteja aberta para o diálogo, ao
desenvolver novos conhecimentos, políticas e diretrizes norteadoras da organização do aulas qual cada um poderá expor suas opiniões e
habilidades e atitudes, de forma a trabalho estabelecidas; velar pelo cumprimento do plano de críticas.
ultrapassar esta concepção de gestão como pedagógico na escola a partir dos interesses e trabalho de cada
mera administração escolar. expectativas histórico- docente; prover meios para a recuperação de alunos CONSIDERAÇÕES FINAIS
sociais, em consonância com as orientações da de menor
É necessário um esforço especial por Secretaria de Estado rendimento; articular-se com as famílias e a Para que se possa trabalhar de acordo com
parte da gestão escolar, no da Educação e a legislação vigente; comunidade, criando as Leis da educação é necessário que sejam
sentido de promover a articulação entre processos de integração da sociedade com a escola; desenvolvidos mais cursos de formação para
seu talento e energia humana, V - acompanhar e avaliar o informar os pais os professores. É fundamental também que
recursos e processos, visando à trabalho pedagógico desenvolvido pela comunidade e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos saibamos como trabalhar com os alunos de
transformação dos seus alunos em cidadãos escolar, alunos, bem inclusão, bem como as Leis que os amparam.
participantes da sociedade. realizando as intervenções necessárias, tendo como como sobre a execução de sua proposta pedagógica
A gestão escolar deverá contar também pressuposto o (LDB, Art. 12, Nota-se que o processo de gestão escolar
com o Conselho Escolar, Projeto Político-Pedagógico da escola; Incisos I e VII) democrática ainda está em um estado inicial e
previsto no Art. 11 definindo os seguintes não é tão simples de se realizar com sucesso.
objetivos: VI - garantir o cumprimento da Na perspectiva de se ter uma gestão As Legislações atuais estão cada vez mais
função social e da especificidade do trabalho escolar democrática é importante benéficas para a Educação, a fim de atender
I - realizar a gestão escolar, numa perspectiva pedagógico da escola, ressaltar que precisa haver uma parceria toda comunidade de forma integral e faz-se
democrática e coletiva, de modo que a organização das atividades educativas entre quadro de apoio, equipe necessário que os professores estejam sempre
de acordo com as propostas educacionais contidas no escolares docente, demais funcionários, pais, atentos às mudanças constantes e os gestores
Projeto estejam pautadas nos princípios da gestão alunos e comunidade. Ferreira (2009, p. escolares deem suporte a equipe pedagógica.
Político-Pedagógico da escola;

150 151
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

A escola então é entendida como projetos e dos programas. A participação REFERÊNCIAS


um espaço de organização, interação é um dos princípios básicos da gestão
entre as pessoas, com o intuito de educacional democrática, devendo ser BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado
conquistar a aprendizagem escolar e a estendida a todos os segmentos da Federal, Centro Gráfico, 1988.
formação da cidadania. Essa organização comunidade escolar: professores, alunos,
refere-se a mecanismos relacionados à funcionários, pais e comunidade. BRASIL, Lei nº4.024 de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases
ação de planejar o trabalho da escola, da Educação Nacional.
avaliando todo o conjunto que a compõe.
BRASIL, Lei nº5.692 de 11 de dezembro de 1.971. Fixa as Diretrizes e Bases
Gestão educacional significa a gestão da Educação Nacional.
de sistemas de ensino e a gestão escolar,
na qual a ideia de gestão passa por todos BRASIL,
. Lei nº9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e
os segmentos do sistema, tanto em nível Bases da Educação Nacional.
de gestão do sistema de ensinos, quanto
em nível de gestão de escolas. Um dos COVRE, Maria de Lourdes Manzini, O que é Cidadania. Editora: brasiliense, 1991.
trabalhos mais dinâmicos do gestor é
encontrar formas de proporcionar ao corpo FERREIRA, Naura Syria Carapeto.
docente um convívio entre os profissionais Gestão e Organização Escolar. IESDE
que permita a eles conhecer pensamentos Brasil, 2009.
e práticas diferentes das que costumam
utilizar, para que possam superar juntos os LÜCK, Heloísa. Perspectivas da gestão escolar e implicações quanto à
desafios presentes no âmbito educacional. formação de seus gestores. Brasília: Em Aberto, vol 17, nº 72, 2000.

Percebe-se, porém, que as relações do MENDONÇA, Erasto Fortes. A regra e o jogo: democracia e
sistema educacional são tecidas diariamente, patrimonialismo na educação brasileira. (Tese de doutorado). Campinas, SP
assumindo as características produzidas (s.n) 2000. Disponível em:
pelos distintos processos de gestão a que são ANA PAULA BRITO PENA http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/
sujeitas, o que demonstra o papel essencial
do diretor escolar na busca por empreender Graduação em Pedagogia pela Uni-
um forte espírito de equipe para cumprir os versidade Presbiteriana Mackenzie em
objetivos educacionais, a partir do trabalho 2008. Professora de Educação Infantil
coletivo. pela Prefeitura Municipal de São Paulo.

Sabe-se que o trabalho do diretor escolar


é necessário, mas que este profissional não
tem em suas mãos o controle da produção
e das decisões a respeito das políticas do
sistema de educação do qual faz parte, como
por exemplo, das diretrizes, das metas, dos

152 153
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
Atualmente, no cenário educacional ação mais competente, eficiente e abrangente
brasileiro, existem paradigmas que afetam da escola. Hoje, para além do fracasso escolar
diretamente a atuação dos principais atores dos nossos educandos, a escola passa a ser
sociais na relação ensino-aprendizagem. É responsabilizada por não conseguir oferecer
cada vez mais recorrente a culpabilização alternativas que alterem este quadro negativo,
da ausência da família no acompanhamento inclusive no avanço, acesso e permanência de
do processo educacional da criança, o que crianças e adolescentes em idade de frequentar
gera, em alguns casos, a justificativa pela o ensino regular.
inatividade da ação pedagógica do professor,
que, equivocadamente, ao menos em minha Foi com base nestas reflexões que, após
opinião e na opinião de diversos autores, como um debate que objetivava a realização do
perceberemos no transcorrer da leitura deste Planejamento Escolar 2012, achei oportuno
trabalho de pesquisa, não se sente responsável realizar o trabalho, ora apresentado, para,
pelo todo que compreende este processo. a partir dele, provocar a problematização
de outro viés presente no universo escolar:
Segundo a afirmação de parte destes um recorte necessário sobre as dificuldades
profissionais, à escola cabe permitir o acesso de aprendizagem que tal situação – relação
à leitura e escrita e, por conseguinte, ao família-escola – ajuda ou dificulta o pleno
conhecimento e, portanto, a socialização do desenvolvimento do escolar. Como profissional
indivíduo, sua conduta ética e moral, seus que atua na Educação Infantil, a qual está
A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL anseios e inserção no mundo em sociedade contida na LDB, Lei de Diretrizes e Bases da
estaria a cargo da família, responsável Educação Nacional, como a modalidade que
inclusive, pelo processo de desenvolvimento configura como a primeira etapa da Educação
RESUMO: Através de uma pesquisa realizada em livros e trabalhos acadêmicos que versem das habilidades mínimas na trajetória escolar Básica, a qual deve ser considerada de suma
sobre a temática ficou evidente que muitas crianças apresentam dificuldades de aprendizagem do aluno. importância e, justamente por isso está em
durante o processo da alfabetização. O objetivo principal desta pesquisa foi o de investigar, perfeita consonância com o estudo deste tema,
intervir, amenizar e estimular uma aprendizagem construtivista, envolto à afetividade, com ações Por outro lado, a divulgação de dados, nas acredito que esteja nela a possibilidade em
planejadas, dialogadas, significativas, e sistematizadas a partir do cotidiano e dos interesses que várias esferas de governo, geralmente em forma detectar vários problemas que possam facilitar
envolvem duas instituições seculares: a família e a escola com o eixo voltado às necessidades de ranking, provoca um olhar desconfiado da a inserção da criança que realmente possua
dos educandos. Todo este processo foi desenvolvido com leituras e releituras de vários autores sociedade para o universo escolar, ao mesmo alguma dificuldade e torne mais branda a sua
comprovadamente envolvidos com a problemática visando que a criança apresente avanços com tempo em que remete a escola o rótulo de atuação no Ensino Fundamental.
resultados positivos e significativos e família e escola despertem para a importância de estreitar “salvadora da pátria”, vez que afirma que vários
as relações no processo ensino aprendizagem. problemas sociais, econômicos, ambientais e de Desta forma, cumpre-me perguntar:
posturas mais sensíveis frente ao combate do Como duas instituições que “supostamente”
Palavras-chave: Dificuldade de Aprendizagem; Alfabetização; Criança; Família; Afetividade individualismo, dentre vários outros conflitos trabalham em separado podem se unir frente
presentes na sociedade contemporânea, à facilitação do processo ensino aprendizagem
poderiam estar solucionados a partir de uma das crianças? E para responder a esta

154 155
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

questão/problema tratei de não especificar casos é um entrelaçamento desses aspectos.


ou conceituar esta ou aquela dificuldade Para a compreensão das possíveis alterações pais, analisar a situação e buscar caminhos
de aprendizagem ou distúrbios, com suas no processo de aprendizagem é necessário Vários comportamentos manifestados que facilitem o desenvolvimento global da
semelhanças e diferenças, como denominam considerar-se tanto as condições internas pelas mães também levam a questionar criança. Alguns pais confiam seus filhos com
alguns estudiosos, mas tratá-la de forma do organismo (aspecto anátomo-funcional a respeito da influência familiar sobre a dificuldade de aprendizagem aos professores
ampla sem a presunção de elaborar uma e cognitivo), quanto às condições externas aprendizagem. Segundo Marturano (1999), acreditando que o mau desempenho da
receita infalível para uma convivência mais (estímulos recebidos do meio-ambiente) há mães que demonstram excessiva criança seja proveniente apenas de si mesma,
saudável e rentável, para o aluno, entre as ao indivíduo. Fatores como linguagem, ansiedade quanto a superação da dificuldade sem questionar sua possível participação
duas instituições. Sabemos que o processo de inteligência, dinâmica familiar, afetividade, da criança; outras que se mostram nessas alterações.
aprendizagem é pessoal e a construção dessa motivação e escolaridade, devem impacientes quanto ao desempenho
aprendizagem ocorre de diferentes maneiras desenvolver-se de forma integrada para que insatisfatório que o filho apresenta; mães A importância da participação da
alterando-se de um sujeito para outro, as o processo se efetive (ROGERS, 1988). que atribuem todo o problema à criança e família no processo de aprendizagem é
características individuais diferenciam-se a caracterizam como "preguiçosa", "lerda", inegável e a necessidade de se esclarecer
em particularidades pessoais que em alguns Este trabalho refere-se ao papel da família no "distraída"; mães que negam a dificuldade e instrumentalizar os pais quanto as suas
casos independem da aprendizagem. Esta desenvolvimento da aprendizagem da criança que a criança demonstra; mães que não possibilidades em ajudar seus filhos com
dificuldade poderá acontecer por vários quanto ao aspecto psicológico, emocional, acompanham as atividades de seu filho e dificuldades de aprendizagem é evidenciada
motivos dentre eles destaco a metodologia social e de estimulação dos aspectos mães que punem a criança pela seu fracasso ao manifestarem suas dúvidas, inseguranças
inadequada, ausência de afetividade familiar cognitivos. Sabe-se que as crianças que nas atividades escolares.Isso acontece pelo e falta de conhecimento em como fazê-
e ou escolar e um olhar mais cuidadoso apresentam dificuldades de aprendizagem, fato de os pais desconhecerem como ocorre lo. Conforme Martins (2001, p.28), "essa
perante as dificuldades apresentadas pela geralmente, possuem uma baixa autoestima a aprendizagem e, portanto, necessitam problemática gera nos pais sentimentos
criança durante o processo educacional. em função de seus fracassos e que esses de orientações específicas a esse respeito. de angústia e ansiedade por se sentirem
As dificuldades de aprendizagem, segundo sentimentos podem estar vinculados aos Sabe-se, também, que, muitas vezes, os impossibilitados de lidar de maneira acertada
Rogers (1988), podem significar uma comportamentos de desinteresse por conflitos familiares estão associados a essas com a situação".
alteração no aprendizado específico da determinadas atividades, tempo de atenção manifestações e que as relações familiares
leitura e escrita, ou alterações genéricas diminuído, falta de concentração e outros. são relevantes no desenvolvimento da Acredita-se que um programa de
do processo de aprendizagem, onde outros A família, desconhecendo as necessidades criança, havendo, portanto, a necessidade intervenção familiar seja de fundamental
aspectos, além da leitura e escrita, podem da criança e a maneira apropriada de lidar de maior compreensão desse processo, por importância para o desenvolvimento e
estar comprometidos (orgânico, motor, com esses aspectos, muitas vezes, necessita parte dos profissionais, para que possam aprendizagem da criança. O relacionamento
intelectual, social e emocional). de orientações que lhe dê suporte e lhe intervir de forma mais abrangente diante da familiar, a disponibilidade e interesse dos pais
possibilite ajudar seu filho. Fatores como problemática. na orientação educacional de seus filhos, são
Conforme consta em Polity (1998, p.73), motivação, formas de comunicação, estresses aspectos indispensáveis de ajuda à criança. Em
o termo Dificuldade de Aprendizagem é existentes no lar, influenciam o desempenho Em muitos casos, em um trabalho um trabalho de orientação a pais, de acordo
definido pelo Instituto Nacional de Saúde da criança no processo de aprendizagem, e especializado com crianças apresentando com Polity (1998), é possível despertar a
Mental (EUA) da seguinte forma, Segundo os psicopedagogos, muitas vezes, sentem- dificuldade de aprendizagem, não é suficiente sensibilidade deles para a importância destes
a autora, esse termo é definido de várias se limitados quanto às orientações a transmitir aos pais as atividades específicas a aspectos, dando-lhes a oportunidade de
maneiras, por diferentes autores, diferindo- serem dadas pela falta de conhecimento serem realizadas; outros aspectos ligados à falar sobre seus sentimentos, expectativas,
se quanto à origem: orgânica, intelectual/ aprofundado sobre os diversos aspectos família, à escola ou relacionados a dificuldades e esclarecendo-lhes quanto às necessidades
cognitiva e emocional (incluindo-se aí a familiares que podem contribuir para um em outras áreas do desenvolvimento também da criança e estratégias que facilitam o seu
familiar). O que se observa na maioria dos resultado mais desejável. estão presentes, e é necessário ouvir os desenvolvimento.

156 157
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

pessoal através das experiências que o meio Criar filhos não significa torná-los e não será possível sem a participação ativa
Através das experiências e relações lhes proporciona. perfeitos, pois os pais têm muitas dúvidas do aluno, de maneira disciplinada, orientada.
interpessoais, a família pode promover o e estão sujeitos a muitas falhas; mas o que
desenvolvimento intelectual, emocional e O processo educativo (desenvolvimento é necessário é tentar identificar os conflitos Os pais devem preparar os filhos para
social da criança. Ela pode criar situações no gradativo da capacidade física, intelectual e desfazê-los, aprendendo a conviver com arcarem com suas responsabilidades. Na
dia-a-dia que estimularão esses aspectos, e moral do ser humano) familiar deve ser essas situações. Através dos conflitos os medida em que a criança vai aprendendo
desde que esteja desperta para isso. Além adequado para possibilitar à criança o pais desenvolvem a percepção de si mesmos a cuidar de si mesma, vai experimentando
disso, a participação da criança nas atividades sucesso na aprendizagem, proporcionando- e de seus filhos. Essas situações estimulam a sensação gratificante da capacidade de
rotineiras do lar e a formação de hábitos lhe a motivação, o interesse e a pais e filhos a instalar um diálogo verdadeiro, enfrentar desafios. E cada realização é
também são importantes na aquisição dos concentração necessária para a apreensão expondo o entendimento e sentimento em um aprendizado que servirá de base para
requisitos básicos para a aprendizagem, do conhecimento. A adequação desse relação às experiências cotidianas. Por outro um novo aprendizado. Assim, realizando
pois estimulam a organização interna e a processo compreende o atendimento às lado, aspectos fundamentais do processo suas vontades e necessidades, a criança
habilidade para o ‘fazer’, de maneira geral necessidades da criança quanto à presença educativo revelam que os pais devem ter vai gostando de si mesma, desenvolvendo
(MARTURANO, 1998). dos pais compartilhando suas experiências respeito sobre o que o filho sente, mas cabe a autoestima. O relacionamento familiar
e sentimentos, orientação firme quanto aos a eles negar com firmeza e determinação também é fundamental no processo
A família tem um papel central no comportamentos adequados, possibilidade as atitudes que possam contrariar o que educativo. A criança estará muito mais
desenvolvimento da criança, pois é dentro de escolhas, certa autonomia nas suas ações, desejam para a educação de seus filhos receptiva às instruções dos pais, se os
dela que se realizam as aprendizagens organização da sua rotina, oportunidade (TIBA, 1999). membros da família se respeitarem entre si,
básicas necessárias para o desenvolvimento constante de aprendizagem e respeito e procurando conversar e colaborar um com o
na sociedade, como a linguagem, sistema valorização como pessoa. A criança necessita Dificuldades escolares apresentadas pelas outro. É importante a participação dos pais
de valores, controle da impulsividade. de equilíbrio entre condutas disciplinares e crianças, relacionadas à falta de concentração na vida dos filhos, numa convivência como
As características da criança também diálogo, compreensão e carinho. e indisciplina ocorrem e podem ser causadas companheiros, compartilhando emoções, o
são determinadas pelos grupos sociais pela ausência de limites. A primeira geração que contribui muito para a disciplina.
que frequenta e pelas características Num processo educativo os pais educou os filhos de maneira patriarcal,
próprias, como temperamento. As crianças experienciam a necessidade de um trabalho isto é, os filhos eram obrigados a cumprir Todos esses aspectos citados e muitos
possuem uma tendência natural, instintiva de autoanálise, de reestruturação de seus as determinações que lhes eram impostas outros são fundamentais para que o
que as direciona ao desenvolvimento de comportamentos, crenças, sentimentos pelo pai. A geração seguinte contestou esse desenvolvimento da criança se efetive.
suas potencialidades. Os pais devem ter e desejos. Os pais precisam conquistar sistema educacional e agiu de maneira oposta, Portanto, a família necessita da ajuda
conhecimento desse processo para que em relação a si mesmos, primeiramente, através da permissividade. Os jovens ficaram dos profissionais na aquisição desses
não dificultem ou impeçam o crescimento o que querem que os filhos sejam: justos, sem padrões de comportamentos e limites, conhecimentos básicos e essenciais para
espontâneo da criança. Pela falta de disciplinados, honestos, responsáveis formando uma geração com mais liberdade que possa cumprir seu papel de facilitadora
compreensão da natureza e necessidades (GRUNSPUN, 1985). Esse processo ocorre do que responsabilidade. Tanto na família do processo de aprendizagem de seus
básicas do ser humano, os pais, muitas nas vivências do dia-a-dia, na medida quanto na escola, segundo Tiba (1999, p.45), filhos, através de comportamentos mais
vezes, prejudicam a busca do próprio em que pais e filhos comunicam-se de há "a necessidade de orientação às crianças adaptativos.
desenvolvimento, pela criança. O modo maneira transparente e sincera, falando de quanto às regras disciplinares, para que
como os pais lidam com seus filhos pode suas percepções, suas dúvidas, objetivos, elas possam desenvolver a capacidade de
ajudá-los no desenvolvimento das suas emoções, aprendendo uns com os outros. concentração e de apreensão dos conceitos".
potencialidades e no relacionamento com o A aprendizagem se dá de maneira gradativa
mundo, possibilitando-lhes o enriquecimento

158 159
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

O papel da família no processo especialmente com os adultos e com outras crescimento. Neste sentido, precisam abrir os grandes objetivos da Educação são:
ensino-aprendizagem crianças mais experientes. E esta primeira mão da oferta de brinquedos, televisão, ensinar a aprender, ensinar a fazer, ensinar a
convivência está inserida no contexto familiar. videogame, para que a atenção dessas ser, ensinar a conviver em paz, desenvolver
crianças seja preenchida, enquanto se a inteligência e ensinar a transformar
É fundamental delimitar como será A educação familiar é um elemento ocupam com outras atividades esquecendo- informações em conhecimento. Para atingir
entendido aqui, o conceito “dificuldade imprescindível na formação da personalidade se de dar o carinho e o amor que estas esses objetivos, o trabalho de alfabetização
de aprendizagem”, já que há na literatura da criança, pois, é no seio familiar que crianças necessitam tanto. E também, eles precisa desenvolver o “letramento”
científica, discordâncias e consensos entre constitui-se e desenvolve-se valores precisam ter a exata compreensão de que das situações reais que estão vivendo.
distúrbio e dificuldade de aprendizagem. morais, de juízo, éticos, sua criticidade não podem delegar para a escola o dever de
De acordo com Ciasca (2003) o distúrbio e cidadania que refletirá diretamente no educar com valores morais e afetivos, pois, O letramento é entendido como produto da participação em
de aprendizagem se caracteriza por uma seu envolvimento escolar. É no contexto além de propiciar fortes condições para as práticas sociais que usam a escrita como sistema simbólico
disfunção do sistema nervoso central, familiar que se lapida e consolida na maioria dificuldades de aprendizagem, ainda trazer e tecnologia [...]. São práticas discursivas que precisam da
já a dificuldade escolar está relacionada dos casos o caráter da criança que virá a um grande prejuízo para a relação familiar. escrita para torná-las significativas, ainda que às vezes
especificamente à um problema de ordem tornar-se adulto. A família desempenha A Criança e sua Relação não envolvam as atividades específicas de ler ou escrever
ou origem de método de ensino. Contudo, um papel importante na formação do com o Universo Escolar (Parâmetros Curriculares Nacionais BRASIL, 1998, p.19).
Dockrell & McShane (2000) afirmam que indivíduo, pois permite e possibilita a
as dificuldades de aprendizagem podem constituição de sua essencialidade. É A Criança e sua Relação com o Desenvolvemos e construímos com
ser decorrentes de déficits cognitivos que nela que o homem concebe suas raízes Universo Escolar nossos alunos reflexões críticas sobre os
prejudicam a aquisição de conhecimentos e torna-se um ser capaz de elaboração acontecimentos que envolvem o nosso
como também, na maioria delas, são apenas alargador de competências próprias. Muito tem se falado sobre as dificuldades planeta em todos os aspectos sejam eles:
resultantes de problemas educacionais ou de aprendizagem que as crianças enfrentam políticos, econômicos, educacionais,
ambientais que não estão relacionados As condições antecedentes são: na escola, os motivos que levam as mesmas ambientais, questões de cunho racial, de
a um comprometimento cognitivo. ambiente organizado, bem iluminado, a fracassarem e o papel fundamental da etnias, ações discriminatórias, regionais,
Não se trata também de buscarmos silencioso, horário fixo de estudo, material família. Mas e a escola? O que ela pode sociais entre tantos outros aspectos
aprofundamento nas questões voltadas a escolar completo e atraente. As respostas fazer para ajudar seus alunos? O professor, a relacionados a esta questão. Toda esta
Dislexia, Disfasia, Disortografia, Disgrafia, envolvidas compreendem: atenção aos coordenação pedagógica e outros membros dimensão sistematizada e dialogada de
Discalculia, Lesão Cerebral ou TDAH e sim prazos de entrega, postura corporal da equipe da escola? A escola deve ser um forma significativa irá ajudá-los a entender
levantarmos posicionamentos teóricos adequada e métodos adequados de estudo. lugar onde as crianças sintam vontade de ir, o seu contexto, incitando-o a pensar e agir
que envolvem a temática relacionada aos As condições após a execução do ato que peçam aos pais para levarem e acima de como um cidadão consciente, crítico, ativo
atores – público alvo – deste trabalho, de estudar são consequências positivas, tudo, um lugar que possibilite o conhecimento, e participativo perante a sociedade na qual
quais sejam: pais, alunos e professores. como elogios e recompensas. Assim, para a aprendizagem. Por que então a escola, com está inserido. Muitos estudos defendem
um bom desenvolvimento físico, mental e tantas obrigações com seus alunos é uma das o papel da interação social no processo
A aprendizagem é o processo por meio cognitivo, é necessário, mesmo que os pais causas das dificuldades de aprendizagem? da aprendizagem. Consequentemente, os
do qual a criança se apropria ativamente do tenham outros filhos, outras atividades, aspectos afetivos emergem como dimensão
conteúdo das experiências humanas, daquilo que organizem um tempo mesmo que seja Segundo Piaget, à medida que o ser se situa social do desenvolvimento humano.
que o seu grupo social conhece. Para que ela pouco, mas que seja um tempo de qualidade, no mundo estabelece relação de significações,
aprenda e supere as dificuldades precisará para uma relação com os seus filhos de amor, isto é, atribui significados à realidade em Segundo GALVÃO (2000), "Wallon
interagir com outros seres humanos, respeito, compreensão, troca, socialização e que se encontra. Esses significados não são argumenta que as trocas relacionais da
faculdades estáticas, mas, ponto de partida criança com os outros são fundamentais para
para atribuição de outros significados. Hoje, o desenvolvimento da pessoa.” A afetividade,
160 161
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

o diálogo, a liberdade de expressão são Wallon (1978) afirma que a criança acessa o Segundo Freire (1996) é necessário de- a aprendizagem da criança seja em sua to-
smistificar que a escola tem como função talidade beneficiada. Almeida (1999, p.107
elementos fundamentais para os avanços que mundo simbólico por meio de manifestações
primordial transferir conhecimentos de apud Leite e Tassoni, 2002, p.127), diz que:
a criança pode apresentar na sua forma de afetivas que se estabelece entre elas e os
uma geração a outra, o ofício do profes- as relações afetivas se evidenciam, pois, a
apreender a aprender. Sabemos que a realidade adultos. Para ele, à medida que o indivíduo se sor vai, além disso. É importante destacar transmissão do conhecimento implica, nec-
das salas de aula nas escolas públicas, muitas desenvolve cria-se uma forma de expressão que na relação professor/aluno o conhe- essariamente, uma interação entre pessoas.
vezes não nos permite perceber simples gestos mais complexa. O docente passa ser um cimento é construído dia a dia, onde en- Portanto, na relação professor aluno, uma
que podem tornar-se problemas futuros e ou ponto de referência para o aluno, por isso sino e aprendizagem acontecem concom- relação humana, o afeto estão presente.
até mesmo presentes no contexto escolar, por deve-se redobrar o cuidado na relação itantemente.O discente no decorrer do
isso, precisamos sempre nos auto avaliarmos entre o professor e o aluno. É importante processo pedagógico precisa construir a Pelo que foi citado acima, percebemos
para não sermos cúmplices em alguns ressaltar, que toda relação pedagógica tem capacidade de perceber-se como ser atu- que a intervenção com pais é essencial e
casos, das dificuldades de aprendizagem dimensão. “Na relação pedagógica, o que se ante e não apenas um ser passivo, sendo deve permitir com que eles analisem os seus
apresentadas pelos nossos educandos. aprende não é tanto o que se ensina, mas o “sombra” do professor. Os alunos de dif- comportamentos. É importante, também,
tipo de vínculo educador/educando que se erentes meios sociais chegam até a escola que se façam intervenções com a criança
As ideias de mediação e internalização estabelece na relação”. (GARCIA.1998, p.41). trazendo uma bagagem de características para que se aumente o repertório dela em
encontradas em Vygotsky (1994) permitem culturais e pessoais, que influenciam dire- habilidades sociais. A criança deve ser ca-
defender, que a construção do conhecimento Pela relação que estabelece na sala de aula, tamente na sua relação pedagógica com o paz de pedir e aceitar auxílio na realização
conhecimento, e consequentemente de- das tarefas escolares. Iniciar, manter e ter-
ocorre a partir de um intenso processo de o professor ao ensinar, exerce significativa
termina a maneira pela qual responde as minar conversação com colegas, irmãos e
interação entre as pessoas. O papel do outro influência sobre o aluno que aprende, levando-o
exigências próprias do processo ensino pais. Expressar suas opiniões para profes-
tem uma importância fundamental enquanto a alterar, modificar e transformar atitudes, ideias aprendizagem.Dessa forma, entendemos sores, amigos e familiares. Recusar-se a faz-
formação do sujeito, já que o outro é importante habilidades e comportamentos. Sua atuação que o professor deixa de ser o transmis- er o que não quer, como: destruir materiais
na construção do que sou, pois, sozinho não ultrapassa, no entanto, a simples transmissão sor de conhecimentos numa relação verti- de outros colegas e cabular aulas por in-
há conflito e não terá modificação. A interação de conhecimentos. Como professor preciso cal, e assume a condição de educador que, fluência de amigos. Analisar situações con-
com o outro, desperta no sujeito a capacidade me mover com clareza na minha prática. A num processo de interação dialogada com flitantes bem como formas de resolvê-las,
de buscar novas significações e trocas de relação ensinar e aprender não se limita ao os alunos, na construção coletiva do saber tais como brigas entre colegas e acusações
conhecimento. E indubitavelmente, é no espaço da sala de aula. Ela é muito mais ampla, valorizando a realidade social do aluno. injustas por parte de professores e pais.
espaço escolar que esta relação se intensifica. estendendo-se além da escola na medida em
que as expectativas e necessidades sociais O aumento das habilidades da criança
As escolas devem estar preparadas bem como a cultura, valores éticos, morais Contação de Histórias para as melhora não somente as relações familiares,
para receber os alunos, mas para que esse e intelectuais, os costumes, as preferências, crianças como também o ser ajustamento em relação
“acolhimento” tenha sucesso integralmente entre outros fatores presentes na sociedade, à escola. Contudo, o trabalho com pais e
é preciso que os profissionais que atuam tem repercussão direta no trabalho educativo. As estruturas familiares estão mudan- crianças, é comprometido por questões
do a cada dia e isto está trazendo alguns socioeconômicas ou pessoais. Há pais que
diretamente com os discentes tenham
reflexos para o desenvolvimento do aluno dizem: “Não posso faltar ao serviço para vir
uma formação adequada.Quando os [...] saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas
em sala de aula. Muitas vezes os pais dele- toda semana, pois não terei dinheiro no final
profissionais são capacitados e possuem criar as possibilidades para a sua própria produção ou a
gam a função de educar somente à escola do mês.”, “Trabalhamos o dia todo, à noite,
uma formação continuada, eles conseguem sua construção. Quando entro em uma sala de aula de aula
se ausentando das reuniões e atividades cansados, é que não temos paciência para
fazer uma leitura da corporeidade e da devo estar sendo um ser aberto a indagações, a curiosidade, escolares fazendo com que o aluno se ensinar ou ver as tarefas”. Outros pais ou re-
expressão, percebendo dificuldades, as perguntas dos alunos, as suas inibições: um ser crítico e desinteresse de sua carreira estudantil.A sponsáveis, como avós, têm problemas de
limitações. A partir de então estabelece inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar família em conjunto com a escola deve bus- saúde, dentre tantos outros. Tais problemas
com este aluno uma relação de afetividade não de transferir conhecimento. (FREIRE. 1996, p 47).. car bastante esforço e empenho para que comprometem o seguimento dos encontros,
facilitando a construção do conhecimento, a execução das atividades pedidas, como
tornando-o mais preciso e prazeroso.
162 163
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

acompanhar a realização das atividades para do cumprimento delas. No caso da desobe- acompanhar o currículo estabelecido pela geradoras de dificuldades na área de leitura
casa dos filhos, e conversar com professores diência à regra, antes de aplicar uma punição, escola e, porque fracassam, são classifica- e de escrita em alunos de 5ª séries do Ensino
na escola. São informações que demonstram como castigo ou bronca, deve-se investigar dos como retardados mentais, emocional- Fundamental e verificar a eficiência das ativ-
a importância de se oportunizar que os su- com o filho quais foram as razões para o não mente perturbados ou simplesmente rotula- idades de reflexão e de operação sobre a lín-
jeitos envolvidos reflitam sobre a história cumprimento dela, de modo que saibam evi- dos como alunos fracos e multirrepetentes. gua como meios de superação dessas dificul-
vivida em relação à dificuldade escolar e ao tar o desrespeito a norma. Tais habilidades dades, onde pretendemos provar que parte
estigma de se ter ou de ser um filho que não de refletir sobre as regras, negociá-las e pen- Souza (1996) afirma que o ambiente de desse fracasso está diretamente relacionada
aprendeu na mesma velocidade que outras sar sobre as consequências delas no con- origem da criança é altamente responsável à questão socioeconômica, e a escola, como
crianças. Assim se pode atribuir um novo sig- texto da família, são importantes para que a pelas suas atividades de segurança no de- direito de todo cidadão deve desenvolver me-
nificado para as experiências de fracasso. É criança também aprenda a respeitar as nor- sempenho de suas atividades e na aquisição canismos que possibilitem o sucesso do aluno
relevante que se percebam como únicos e mas da escola, dialogar com os professores de experiências bem-sucedidas, o que faz com dificuldades de aprendizagem.
valiosos, não necessitando se igualar a outros sobre elas e explicarem-se e desculpar-se a criança obter conceito positivo sobre si
ou a uma “normalidade”, mas sendo capaz- quando não foram capazes de cumpri-las. mesma, fator importante para a aprendiza- O alcance social e prático deste trabalho
es de aprender com as experiências vividas. gem. Para Garcia (1998) é possível conce- está na possibilidade de se evidenciar que
Strick e Smith (2001) ressaltam que o ber a família como um sistema de organi- ao aluno de baixa renda, de certa forma sof-
Os familiares comumente culpam a criança ambiente doméstico exerce um impor- zação, de comunicação e de estabilidade. re uma espécie de exclusão pedagógica, em
pela dificuldade de aprendizagem. Afirmam tante papel para determinar se qualquer cri- função das suas dificuldades de aprendiza-
que os filhos são responsáveis pelo prob- ança aprende bem ou mal. As crianças que Esse sistema, a família, pode desorde- gem oriunda da sua condição social, que
lema, pois acreditam não eles não tenham recebem um incentivo carinhoso duran- nar a aprendizagem infantil, o mesmo que acaba tornando-se uma exclusão social, pois
interesse pelos conteúdos escolares, são te toda a vida tendem a ter atitudes posi- podem fazer os fatores sociais tais como este aluno, caso a escola, não assuma suas
preguiçosos para realizar as tarefas, são dis- tivas, tanto sobre a aprendizagem quanto a raça e o gênero na escola. O autor ainda responsabilidades acabará sendo vítima da
traídos, menosprezam os esforços que os pais sobre si mesmas. Essas crianças buscam e refere que as dificuldades de aprendizagem evasão ou repetência, em função do seu pa-
fazem por eles e são “malcriados”. Tal cren- encontram modos de contornar as dificul- devem ser diagnosticadas de forma difer- drão linguístico, o que resultará na reprodução
ça faz com que as crianças se responsabiliza dades, mesmo quando são bastante graves. ente em relação a outros transtornos próxi- da exclusão social a que ele já está submeti-
por algo que não compete somente a elas, o mos, ainda que, frente a presença em uma do. A importância das intervenções nas difi-
que prejudica a autoestima, bem como gera As autoras colocam que o estresse emo- pessoa de uma dificuldade de aprendiza- culdades de aprendizagem e da participação
reações emocionais de tristeza, irritabilidade, cional também compromete a capacidade gem e de outro transtorno, seja necessário familiar é frequentemente apontada por
cansaço e, com frequência, desinteresse pelo das crianças para aprender. A ansiedade classificar ambos os transtornos, sabendo outros projetos que buscam a família como
estudo. Além disso, essa ideia não oportuni- em relação a dinheiro ou mudanças de que se trata de dois transtornos diferentes. mediadora e ativa do processo de aprendiza-
za a busca de auxílio adequado à criança, residência, a discórdia familiar ou doença gem. Porém, há ainda um vasto caminho de
ou seja, uma avaliação médica, psicológica e pode não apenas ser prejudicial em si mes- enfrentamento das dificuldades como recur-
pedagógica que verifique os motivos da di- ma, mas com o tempo pode corroer a dis- Considerações Finais sos financeiros, preparo técnico e as próprias
ficuldade e que direcione quais são as mod- posição de uma criança para confiar, assumir características das constituições familiares,
ificações necessárias, sendo estas no âmbi- riscos e ser receptiva a novas situações que Com o aumento do número de crianças nas fatores estes fundamentais para a adesão e
to da família, da escola e da própria criança. são importantes para o sucesso na escola. escolas, as estatísticas do fracasso escolar continuidade nestes programas.
tornaram-se cada vez mais evidentes. O que
Os pais devem aprender a estabelecer re- Para Fernandez (1990) quando o fracas- faz com que alguns alunos aprendam e out- O presente trabalho nos mostrou que
gras bem definidas e viáveis. É necessário so escolar se instala, profissionais (fonoau- ros não? Encontrar explicações para o fato, a construção do conhecimento através da
que os pais dialoguem com a criança sobre diólogos, psicólogos, pedagogos, psicopeda- bem como os meios para sua superação con- concepção construtivista, ou seja, que a ed-
o motivo das regras, negociando com o fil- gogos) devem intervir, ajudando através de stituíram-se em motivações para a realização ucação deve acontecer a partir de um ato/
ho as que podem ser flexibilizadas. Os pais indicações adequadas. José e Coelho (2002) da pesquisa, ora em desenvolvimento, conce- ação de humanidade e de amor entre edu-
devem também ser firmes na verificação colocam que as crianças não conseguem bida com os objetivos de detectar as causas cador educando. Ambos são cúmplices neste

164 165
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

processo, no qual trocam saberes, conheci- tivas de cunho qualitativo e servindo-lhes de


espelho com bons exemplos.
mentos contínuos e ambos vão descobrindo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
e construindo novos valores, conhecimentos,
experiências de vida e de mundo, dentro do ALMEIDA, R. S. A emoção na sala de aula. Campinas: Papirus, 1999, p.107.
contexto social, cultural e político em que BELLEBONI, A. B. S. Qual o papel da escola frente às dificuldades de apren-
vivem. O processo da alfabetização deve ser dizagem de seus alunos? In: BELLEBONI, A. B. S. Rio Grande do Sul: 2004.
significativo e condizente com a realidade do
educando, pois, o educador deve conhecer o BOLSONI-SILVA, A. T. MARTURANO, E. EM. Práticas educativas e problemas de compor-
seu educando, investigá-lo e entender o seu tamento: uma análise à luz das habilidades sociais. Estudos de Psicologia, Vol. 7, nº 2, 2002.
contexto.
BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394. Brasília: Senado Federal, 1996.
A aprendizagem deve vir de encontro com
o que o aluno vivencia, partindo de elemen- CIASCA, S. M. Distúrbios de Aprendizagem: propos-
tos do seu cotidiano e que estes saberes ta de avaliação interdisciplinar. Campinas: Casa do Psicólogo, 2003.
adquiridos lhes sejam úteis, proporcionado
ao mesmo enfrentar, conquistar, amenizar CRISTIANO, Fabiana Mendes Cardoso. A importância da afetividade no pro-
e superar obstáculos, desafios, expectati- cesso de ensino aprendizagem na educação infantil, Uberlândia-MG, 2006.
vas de oportunidades, objetivos almejados e
principalmente que esta criança torne-se um
adulto consciente, ativo e participativo jun-
BRUNA MAZERINO DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. Psicologia das habili-
dades sociais na infância: teoria e prática. Pertópolis: Vozes, 2005.
to à sociedade, dentro de um universo com-
Licenciada em Pedagogia pela Unicid em
plexo e dinâmico em que vivemos, que este DOCKRELL, J.; MCSHANE, J. Crianças com dificuldades de aprendizagem: uma
2011. Pós-Graduada em Educação Funda-
ser tenha uma vida digna, provedor de ações abordagem cognitiva. Trad. Negrera, A. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
mental pela FCE em 2018. Professora de Ed-
críticas, possuidor de uma ótica clara e objeti-
ucação Infantil e Ensino Fundamental da Rede
va de mundo, sabendo respeitar e ser respeit- FERNANDEZ, A. A inteligência aprisionada: Abordagem psicopedagógi-
Pública Municipal e Estadual.
ado e que o diálogo seja sempre sua principal ca clínica da criança e sua família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
ferramenta para o alcance de êxitos em sua
vida, almejando-se que esta criança, seja não FERREIRO, Emília e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: ArtMed, 2008
só um indivíduo alfabetizado e sim “Letrado”. FONSECA, V. Introdução ás dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
Ficou evidente a importância da família e da
afetividade neste processo, de acordo com as FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessári-
dificuldades os à prática educativa. São Paulo – Paz e Terra, 1996
Concluímos que a participação efetiva e LA TAILLE, Yves de: Oliveira, Marta Col de; DANTAS, Heloysa. Piaget, Vigotsky,
afetiva dos educadores e da família no pro- Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
cesso de alfabetização é fundamental para
que a criança desenvolva-se de forma positi- JOSÉ, E. A. e COELHO, M. T. Problemas de aprendizagem. São Paulo: Editora Ática, 2002.
va, cabendo aos pais a tarefa de orientar seus
filhos e encaminhá-los na vida escolar e do MUÑOZ, J.; FRESNEDA, M.D.; MENDOZA, E.; CARBALLO, G.; PESTUN, M.S.V. Descrição, avaliação
educador auto avaliar-se constantemente em e tratamento dos transtornos de aprendizagem. In: Orgs. CABALLO, V.; SIMON, M.A. Manual de
relação à sua postura e metodologia, propor- psicologia clínica infantil e do adolescente. Transtornos específicos. Livraria Santos Editora, 2005.
cionando experiências educacionais significa-

166 167
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

NASCIMENTO, Regina Caetano, Alfabetização Construtivis-


ta – dificuldade de aprendizagem: um estudo de caso, São Paulo: 2011.

PIAGET, Jean. Para onde vai a educação? Trad. Ive-


te Braga. 12 ed. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1994.

ROMAN, E.D. e STEYER, V. E. A criança de 0 a 6 anos e a edu-


cação infantil: Um retrato multifacetado. Canoas: Ed. ULBRA, 2001.

SAMPAIO, A. C. P.; DE SOUZA, S. R.; COSTA, C. E. Treinamento de mães no auxílio à execução


da tarefa de casa. In: Orgs. Brandão, M.Z.S.; Conte, F.S.; Brandão, F.S. Ingberman, Y.K.; Sil-
va, V.L.M.; Olliani, S.M. Sobre comportamento e cognição: contribuições para a construção
da teoria do comportamento, Vol 14. Santo André: Esetec Editores Associados, 2004.

SOUZA, E. M. Problemas de aprendizagem – Crianças de 8 a 11 anos. Bauru: EDUSC, 1996.


STRICK, C. e SMITH, L. Dificuldades de aprendizagem de A a Z – Um ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: AÇÕES, CONCEPÇÕES E
guia completo para pais e educadores. Porto Alegre: ARTMED, 2001.
PRÁTICAS
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

WALLON, H. Do Acto do Pensamento da Criança. São Paulo: Moraes Editores. 1978.

RESUMO: Este estudo aborda uma discussão cujo tema trata da Alfabetização e do Letramento
na perspectiva da primeira infância em suas práticas escolares. Neste sentido visa apresentar os
principais conceitos sobre o tema e discutir as práticas escolares para trabalhar com conceitos
de alfabetização e letramento pensando em uma aprendizagem significativa e lúdica sem a
perspectiva de alfabetizar a criança pequena. Com a promoção de situações de aprendizagem
em que a cultura letrada esteja disponível, o processo de alfabetização e letramento ocorrem
de uma maneira mais eficaz. O ambiente alfabetizador, no contexto educacional, pode ser
entendido como um espaço em que há a cultura letrada, com diferentes materiais, como livros,
revistas, cadernos, gibis, etc. A escola na perspectiva do letramento, torna-se um espaço em
que a aprendizagem ocorre de maneira a considerar as reais necessidades dos alunos. Com
o planejamento do ambiente, das ações e dos materiais torna-se mais fácil atingir as metas
traçadas, contextualizando a sua prática e as suas ações e tornando o ensino mais prazeroso.

Palavras-chave: Letramento; Alfabetização; Aprendizagem; Práticas Pedagógicas.

168 169
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
dos 6 anos de idade. Por outro lado, há No processo de alfabetização, os
O termo Letramento passa a ser utilizado desenvolver uma prática de aprendizagem aqueles que assumem uma posição oposta, conhecimentos de práticas são indispensáveis,
em meados de 1980, concomitantemente em que o aluno se torne um cidadão defendendo apenas o trabalho com outras uma vez que nesse processo a contribuição
com os questionamentos sobre os métodos consciente e crítico que possa contribuir linguagens (corporal, visual, musical, etc.) na docente é relevante, sobretudo em se
de alfabetização, em sua natureza teórica nas práticas sociais e posicionar-se em seu educação da primeira infância. A discussão tratando de crianças que, fora da escola,
e metodológica, nesta época, apareciam meio social, nas relações sociais de uma sobre este tema se faz necessária para pouco interagem com leitores e materiais
diversas críticas aos métodos tradicionais sociedade letrada. Quando a escola cria compreendermos qual é o significado do ler escritos. Considerando como os aspectos
de Alfabetização, no qual a escrita era uma condições de oferecer diferentes espaços e escrever na Educação Infantil, garantindo referentes ao “o que” e ao “como” ensinar não
mera representação da linguagem oral e o buscando favorecer os alunos em relação os direitos de aprendizagens das crianças recebem nos cursos de formação tratamento
ler e escrever eram baseados a atividades de à aprendizagem, está contribuindo para a e fornecendo os elementos essenciais correspondente à importância da função
codificação e decodificação. construção do conhecimento e aprendizagem para que ela possa se desenvolver em que exercem no ensino, e como os dados
significativa, nesta perspectiva o ambiente todos os seus aspectos. Neste contexto, referentes aos estágios supervisionados
O ambiente alfabetizador, no contexto alfabetizador traz diversas possibilidades de temos que o lúdico vai permear tais ações são insuficientes para a análise do
educacional, pode ser entendido como um interação e aprendizagem. e as aprendizagens oferecidas as crianças que realmente acontece na realidade.
espaço em que há a cultura letrada, com não terão o intuito de alfabetização e Kishimoto (2003) afirma a brincadeira
diferentes materiais, como livros, revistas, A justificativa para este estudo baseia-se sim da inserção no ambiente letrado. simbólica como forma de incorporar
cadernos, gibis, etc. Com a promoção de no fato de o termo Letramento estar presente práticas de letramento em contexto escolar.
situações de aprendizagem em que a cultura em grande parte das discussões atuais sobre As contribuições de Emília Ferreiro e
letrada esteja disponível, o processo de aprendizagem e o ambiente alfabetizador Ana Teberosky são muito importantes no A Educação Infantil é a etapa inicial do
alfabetização e letramento ocorrem de constitui-se em uma alternativa para processo de mudança de paradigma sobre a processo de escolarização em que os primeiros
uma maneira mais eficaz. Podemos ter na contribuir no processo de aprendizagem, Alfabetização, as autoras tratam da concepção contatos com as diferentes linguagens se dão
brincadeira e nas interações os elementos desta maneira, conhecer como podem de língua escrita como código pautado em de modo específico a essa faixa etária, mas
de articulação das aprendizagens referentes ser utilizados na prática em sala de aula atividades de memorização e defendem sem descuidar das diversas aprendizagens
à leitura e escrita, abordar a leitura e escrita é de fundamental importância no âmbito uma concepção de língua escrita como um socioculturais que precisam ser favorecidas
nesse segmento não significa apresentar educacional. sistema alfabético. Na aprendizagem desse e ampliadas, de forma contínua e integrada,
exercícios linguísticos preparatórios, sistema, segundo as autoras, as crianças e que incluem, a linguagem escrita.
descontextualizados, mas oportunizar AS PRÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO ou os adultos analfabetos passavam por
a participação das crianças em diversas E LETRAMENTO NO CONTEXTO DA diferentes fases e o aluno não compreende Segundo Luria (1988) a criança, quando
situações de leitura e produção de textos, APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA neste momento, que a escrita representa os chega à escola, é um sujeito que já sabe
em práticas letradas, para que, convivendo segmentos sonoros da palavra. determinadas coisas e faz parte de um
com diversos materiais escritos e situações O ensino da leitura e da escrita na grupo sociocultural que fornece situações
em que a escrita se faz presente, possam Educação Infantil é, ainda hoje, objeto de [...] alfabetização e Letramento constituem-se como dois de cultura, como valores, ideias, conceitos
dizer por escrito e aprender sobre seus usos muitas discussões no contexto brasileiro. conceitos independentes, porém, indissociáveis. Assim, é e formas de agir. De acordo com a autora
e funções. Há, por um lado, aqueles que defendem a possível que indivíduos analfabetos desenvolvam alguns se apenas pararmos para pensar na rapidez
presença desse ensino na primeira etapa níveis de Letramento social. Entretanto, devemos almejar que a criança é capaz de aprender a técnica
Com a perspectiva de Letramento temos da Educação Básica, considerando que as a formação de cidadãos plenamente alfabetizados e com extremamente complexa, ficará evidente
um desafio aos educadores, que possam crianças deveriam ser alfabetizadas antes níveis de Letramento que os permitam constituírem-se que isto só pode acontecer porque a criança
como cidadãos conscientes, através da inserção nas diversas já possui uma bagagem de conhecimentos
práticas sociais de leitura e escrita. (LEITE, 2006, p. 455) assimilados desde o seu nascimento, a

170 171
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

criança já aprendeu e assimilou um certo o mundo, compreendê-lo e com ele interagir. A linguagem alterações. Se nos anos 1950, era considerado letramento e situações de escrita e leitura,
número de técnicas que vai contribuir para escrita, que nas sociedades contemporâneas influencia alfabetizado quem sabia assinar o nome, hoje como ouvir histórias, recontá-las, conversar
a sua alfabetização e aquisição da escrita. e, muitas vezes, determina as estruturas urbanas, as os recém-alfabetizados, devem ser capazes sobre elas, escrever o nome nas produções
formas de interlocução, de expressão da cultura, é um de ler e compreender pequenos textos, além e pertences, produzir textos por meio de um
O trabalho com a linguagem escrita na educação dos elementos com os quais as crianças interagem, de conseguir produzir pequenos textos. escriba, dentre outras, Hall (2006) enfatiza o
infantil deve realizar-se por meio de estratégias de buscando dele se apropriar para melhor compreender o Analisando as novas concepções sobre letramento relacionado ao brincar de faz de
aprendizagem capazes de respeitar as características mundo e com ele se relacionar (BAPTISTA, 2010, p. 2). Letramento e Alfabetização, temos que conta, ressaltando que também as práticas
da infância, considerando os significados que a o aluno deve ser capaz de ler e produzir de leitura e escrita, com seus materiais e
linguagem escrita adquire para os sujeitos que A Educação Infantil, especialmente textos e o trabalho docente deve estar instrumentos, podem ser, a depender das
vivenciam essa fase da vida. (BAPTISTA, 2010, p. 3). quando se trata de crianças que não pautado em alcançar tais objetivos em experiências de letramento que as crianças
encontram situações favoráveis à ampliação todas as etapas de escolarização, no modelo tiverem, incorporadas a suas brincadeiras.
Quando falamos em proposta construtivista do letramento no contexto familiar, tem um tradicional de ensino, essa preocupação
e letramento temos que o falar, o ler e o papel fundamental na apropriação da escrita. restringia-se apenas as primeiras séries. Brandão e Leal (2010) nomearam de
escrever devem estar reunidos em um único A escola precisa promover práticas para “letramento sem letras”, considera-se
processo, que tenha em vista as práticas que todas as crianças possam desfrutar de [...] quando se decide iniciar o aprendizado da leitura inadequado o ensino da leitura e da escrita
sociais de leitura e escrita, a fim de permitir aprendizagens significativas contribuindo para e da escrita antes do primário, vemos a sala de aula da na Educação Infantil, sob o argumento de
à criança que a alfabetização e o letramento o seu enriquecimento cultural, favorecendo pré-escola assemelha-se notadamente à do primeiro ano que esse ensino roubaria a infância das
ocorram juntos. As atividades de análise e situações em que os eventos de letramento primário, e a prática docente passa a seguir o modelo das crianças. Essa perspectiva caracteriza-se pela:
síntese são trabalhadas cognitivamente pelo possam acontecer cotidianamente, como mais tradicionais práticas do primário: exercício de controle
aluno quando faz e refaz hipóteses sobre a situações de aprendizagem da linguagem e motriz e discriminação perceptiva, reconhecimento e cópia [...] ênfase dada a outros tipos de linguagem na Educação
leitura e a escrita e estabelece relações entre da cultura escrita. No ensino, as situações de de letras, sílabas ou palavras, repetições em coro... e nenhum Infantil, como a corporal, a musical, a gráfica, entre
significado e significante.Brandão e Leal (2010) comunicação são decisivas para o aprendizado. uso funcional da língua escrita. (FERREIRO, 1995, p. 97) outras, banindo-se a linguagem escrita do trabalho com
designaram de obrigação da alfabetização, crianças pequenas. Nesse tipo de abordagem, portanto,
o ensino da leitura e da escrita caracteriza- As aulas, ainda que não sejam do estilo Segundo Geraldi mesmo no ensino com a alfabetização [...] não é concebida como objeto do
se, inicialmente, por um período preparatório diretivo, envolvem comunicação ao conjunto transmissão de conhecimentos realizado pelo trabalho educativo, sendo, em geral, tomada como um
para a alfabetização, no qual as crianças são dos alunos presentes – explicações, orientações professor, há adoção de medidas práticas, as “conteúdo escolar” e, portanto, proibido para crianças
treinadas em atividades de coordenação gerais, instruções sobre procedimentos a quais revelam a necessidade de considerar da Educação Infantil. (BRANDÃO e LEAL, 2010, p. 18).
motora e de discriminação visual e auditiva, serem adotados, advertências etc. Para o as “contra palavras” dos aprendizes que, no
supostos pré-requisitos para aprender a interessado em alfabetização, isso evidencia confronto com novas informações, rearticular Do enfoque do ensino e do aprendizado
ler e a escrever. Em seguida, após serem a importância de saber em que consistem as seus saberes para construir sentidos. E da leitura e da escrita no contexto da
consideradas prontas para serem alfabetizadas, relações dialógicas que se estabelecem no acrescenta: “aceitar a interação verbal como alfabetização como leitura do mundo,
as crianças são submetidas a atividades de processo de apropriação de conhecimentos, fundante do processo pedagógico é deslocar- para a qual as práticas de linguagem são
cópia, repetição e reconhecimento de letras cuja origem e finalidades são as práticas sociais. se continuamente de planejamentos rígidos fundamentais, emergem reflexões sobre a
ou fonemas isolados, sílabas e palavras. De acordo com Morais (2012) sabemos que para programas de estudos elaborados no inserção dessas práticas em situações didáticas
as concepções de alfabetização e de estar decorrer do próprio processo de ensino/ nas quais a leitura e a escrita são vistas
Desde que nascem, as crianças estão imersas em alfabetizado são históricas e variam ao longo aprendizagem” (GERALDI, 2011, p. 20-21). segundo perspectivas diferentes; constituem,
uma cultura específica e, ao longo do seu processo de do tempo. Nos últimos anos, as concepções sobretudo, objeto de ensino para os
desenvolvimento, vão criando estratégias para descrever sobre esses temas sofreram grandes Além de tantas outras experiências de professores e de aprendizado para as crianças.

172 173
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

objetivos definidos. Ainda conforme a corroborem para o sucesso da aprendizagem


Resta saber como ocorrem esses processos enfatizar as interações, as brincadeiras autora, este conjunto de práticas envolve de seus alunos. A alfabetização e o letramento
nas aulas e quais são suas contribuições e o trabalho com diferentes linguagens. os indivíduos e o meio social, relacionados são considerados duas ações distintas,
para o aprendizado da leitura e da escrita. com a escrita e a leitura, em práticas sociais. porém são inseparáveis, o ideal é que se
A Educação Infantil deve contribuir para A questão aqui abordada não trata de As práticas escolares devem proporcionar alfabetize letrando, isto significa, ensinar
inserir as crianças no mundo da leitura, antecipação das práticas de alfabetização, as crianças a inserção no mundo e na a ler e escrever no contexto das práticas
propiciando a compreensão de que os textos com atividades específicas voltadas para cultura letrada. A escrita está presente sociais que envolvem a leitura e a escrita,
dizem algo interessante ou necessário para esse fim, trata-se de oportunizar as crianças em diferentes situações do cotidiano das tornando o indivíduo alfabetizado e letrado.
que realize alguma atividade e que, desse situações em que a leitura e a escrita estejam crianças e as mesmas trazem curiosidades
modo, demandam um esforço de construção presentes. Ferreiro (2001), de sua perspectiva sobre o tema, a partir de mediações As aprendizagens na escola devem promover as
de sentidos. Consideramos que essa é uma construtivista afirma que a notação produtivas dos adultos letrados entre elas e práticas de leitura e escrita que são vivenciadas
aprendizagem fundamental que pode e deve alfabética é fonte de curiosidade por parte a cultura escrita, nas interações cotidianas fora do espaço escolar para que as práticas de
ocorrer na Educação Infantil. Porém, para das crianças pequenas e o planejamento as crianças criam hipóteses e aprendem. letramento realmente sejam contextualizadas
isso é preciso levar as crianças a participar de do ambiente e de ações é fundamental As crianças são sujeitos socioculturais e não apenas uma forma de aprendizagem
práticas sociais mediadas pela leitura de textos para auxiliá-las na busca do conhecimento. e históricos em processo constante de em que a escrita e as produções de texto
que circulam socialmente e atendem a uma desenvolvimento e aprendizagem, pensar em servem apenas para demonstrar habilidades
determinada finalidade sócio discursiva. Em Um aspecto importante a ser levado em conta nessas práticas pedagógicas que contribuam para e competências totalmente desvinculadas da
outras palavras, é preciso desde cedo entender preocupações refere-se à concepção que as crianças têm e inserir as crianças no mundo letrado e permitir função social que a leitura e a escrita possuem
a leitura de textos como uma atividade ativa e formam sobre a escrita. Daí sentirmos urgência em recolocar a que ela interaja com a cultura é fundamental na vida social e nas práticas cotidianas.
criativa de construção e produção de sentidos. discussão sobre alfabetização sob novos ângulos. Do mesmo para a aprendizagem significativa. O ambiente escolar é um espaço público
modo, é preciso rever formas tradicionais de trabalho em e as crianças passam uma grande parte
[...] na pré-escola deveria permitir a todas as crianças a classe e o tratamento que tem marcado a relação professor do seu tempo nela, neste sentido, é um
liberdade de experimentar os sinais escritos, num ambiente / aluno, de forma a aumentar as oportunidades de a criança CONSIDERAÇÕES FINAIS local que promove a aprendizagem e a
rico em escritas diversas, ou seja: escutar alguém lendo ser bem sucedida na escola. (MORTATTI, 2000, p.252). socialização. A organização dos espaços
em voz alta e ver os adultos escrevendo; tentar escrever O trabalho do professor consiste em na escola e a sua estrutura física deve ser
(sem estar necessariamente copiando um modelo); De acordo com Soares (2004) é necessário propor atividades que permitam à criança pensada para propiciar aos alunos o melhor
tentar ler utilizando dados contextuais, assim como rever as concepções atuais em relação aos manifestar-se por escrito e oralmente de aproveitamento possível contribuindo para
reconhecendo semelhanças e diferenças nas séries de processos de alfabetização que são utilizados modo livre, sem perder de vista a necessidade o seu processo de ensino e aprendizagem.
letras; brincar com a linguagem para descobrir semelhanças nas escolas, para que o fracasso escolar não de se apresentarem situações que levam ao
e diferenças sonoras. (FERREIRO, 1995, p. 102). se torne tão recorrente como é verificado aprendizado de novas regras de leitura e
atualmente. Conforme a autora não se faz escrita, elaboradas pela própria criança. Tendo
Entendemos que as atividades com lápis e necessário voltar aos velhos padrões de em vista as novas propostas de Alfabetização
papel ainda que possam estar incluídas na alfabetização com técnicas de codificação e Letramento torna-se necessário rever o
rotina semanal das crianças, não podem e decodificação, porém é necessário se funcionamento das instituições em torno
constituir o eixo do trabalho pedagógico na pensar em novas alternativas e práticas. de seu projeto educacional e de ensino.
Educação Infantil, pois, conforme ressaltam De acordo com as ideias de Kleiman (1995)
as Diretrizes Curriculares Nacionais para a pode-se definir o Letramento como o O projeto político pedagógico da escola deve
Educação Infantil (BRASIL, 2010), a ação conjunto de práticas sociais que usam a pautar-se na perspectiva de Letramento,
pedagógica nessa etapa de ensino deve escrita, em diferentes contextos e com prevendo práticas de leitura e escrita que

174 175
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS
BAPTISTA, M. C. A linguagem escrita e o direito à educação na primeira infância. In: SEMINÁRIO
NACIONAL: CURRÍCULO E MOVIMENTO, 1., 2010, Belo Horizonte. Anais. Belo Horizonte, Secretaria
de Educação Básica, 2010.

BRANDÃO, Ana Carolina Perrusi; LEAL, Telma Ferraz. Alfabetizar e letrar na Educação Infantil: O que
isso significa? In: BRANDÃO, Ana Carolina Perrusi; ROSA, Ester Calland de Souza (Org.). Ler e escrever
na Educação Infantil: discutindo práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010.

FERREIRO, E. Com todas as letras. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 23. ed. São Paulo: Cortez, 1995.

GERALDI, J. W. Da redação à produção de textos. In: GERALDI, J.W.; CITELLI, B. (Coords.). Aprender e
ensinar com textos de alunos. São Paulo: Cortez, 2011.

HALL, N. O brincar, o letramento e o papel do professor. In: MOYLES, J. (Org.). A excelência do brincar.
Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 135-47.

KISHIMOTO, T. O jogo e a educação infantil. In: KISHIMOTO, T. Jogo, brinquedo, brincadeira e a


CARLA SIMONE VICENTE TAVARES DE OLIVEIRA educação. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2003. p. 13-43.

Graduada em Pedagogia pela Universidade Metropolitana de Santos KLEIMAN, A. B. (Org.).


(2015); Especialista em Administração com Ênfase em Educação, Di-
versidade e Inclusão Social pela Faculdade Campos Elíseos (2018). Pro- Os significados do Letramento. Campinas: Mercados da Letras, 1995.
fessora de Educação Infantil na Prefeitura do Município de São Pau-
lo, atua como Assistente de Diretor na Emei Coronel José Canavó Filho. LEITE, Sérgio Antônio da Silva. O processo de alfabetização escolar: revendo algumas questões.
Perspectiva. Florianópolis. 2006.

LURIA, A. R. O desenvolvimento da escrita na criança. In: VYGOTSKY, L. S. et al. Linguagem,


desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone/EDUSP, 1988.

176 177
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO apresentam problemas severos na produção


do aluno; distúrbio topográfico dificuldade
A dislexia é um distúrbio de aprendizagem no entendimento geográfico; distúrbio no
que interfere diretamente na capacidade padrão motor. Porém não se encontram to-
de leitura e escrita, dificultando a apren- dos estes distúrbios em uma mesma pessoa.
dizagem, pessoas com dislexia possui um
déficit fonológico ocasionado por fatores Alguns estudiosos apontam que há
genéticos e/ou ambientais que geralmente prevalência no sexo masculino, porém uma
só são identificados na fase de alfabet- pesquisa realizada nos E.U.A por Evans
ização, dada a dificuldade nesse processo. apontou que a forma como se manifesta
no cérebro que diferente homens e mul-
O aluno que possui um diagnóstico de heres, sendo que neles há menor volume de
dislexia requer uma visão diferenciada por massa cinzenta na área cerebral ligada ao
parte da gestão escolar e do professor processamento da linguagem, já nas mul-
que deverá buscar diferentes formas para heres ocorre na área ligada processamento
auxiliar esse aluno no processo de apren- sensorial e motor (comparação realizada at-
dizagem, de maneira que este não se sinta ravés de exames de ressonância magnéti-
excluído dos demais alunos, o acompanha- ca). Outro fator cerebral apontado é a assi-
mento de profissionais como fonoaudiólogo metria apresentada em não disléxicos e os

O PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA e psicopedagogo também é muito impor- disléxicos, bem como foi constatada uma
tante bem como a participação da família hipoatividade em determinadas regiões do
cérebro durante a leitura de um disléxico.
DISLEXIA
que poderá ser o elo entre os profissionais.
A dislexia pode ser classificada em au-
O PROCESSO DE APREN- ditiva/disfonética ou visual/deseidetica
RESUMO: Dislexia é um transtorno na aprendizagem da criança, causando dificuldade DIZAGEMNA DISLEXIA onde uma interfere na distinção dos sons
em relação à velocidade e qualidade da aquisição das habilidades de leitura, escrita, fala, e a outra do reconhecimento de palavras
orientação espacial, entre outros. O professor é essencial para a realização desse processo e memorização. Existe também a mis-
da dislexia, enquanto é orientado, dar suporte, planejar atividades que proporcionem o Segundo Morais (1986) os conceitos ta que se caracteriza na junção das duas.
desenvolvimento destas crianças de maneira que elas consigam superar as dificuldades e de Dislexia estão entre os distúrbios de Morais(1986) relata que a dislexia tem como
serem letradas. O professor muitas vezes não tem conhecimento dos distúrbios que dificultam memória que ocorre tanto a longo como definição um distúrbio muito especifico de
a aprendizagem do aluno e com isso, não são capazes de identificá-los, muito menos de curto prazo e caracteriza-se pela dificuldade aprendizagem que a partir do século XIX
dar os encaminhamentos necessários aos alunos disléxicos. O Educador não precisa ser um que as crianças apresentam em decodificar passou a ser investigado, pois foi dada uma
conhecedor profundo da dislexia, porém é necessário ter os conhecimentos essenciais sobre a escrita. Um dos distúrbios é a dificuldade maior atenção para as crianças que apresen-
de organizar sequências, outro distúrbio tavam dificuldades significativa de leitura,
distúrbios de aprendizagem, para que assim saiba como proceder para que o aluno disléxico,
apresentado é orientação de lateralidade ou em outras áreas educacionais, começan-
não tenha seu rendimento tão defasado por conta da dislexia Este trabalho visa melhorar
onde a criança não distingue esquerda e do assim estudos que apontavam para um
a compreensão sobre a dislexia, norteando o educador para saber como proceder ante um desfalque na parte fonológica afetando a
direita; orientação temporal o que dificulta
aluno disléxico em sala de aula. parte cognitiva, é genética podendo assim
se orientar no tempo; distúrbio da imagem
corporal onde a criança não consegue or- ser hereditária. O disléxico, apesar de suas
Palavras-chave: Dislexia; Aprendizagem; Aluno. ganizar o corpo humano por meios de de- dificuldades em leitura e escrita, tem a facili-
senhos; distúrbio da escrita e soletração dade de se expressar de forma clara e objeti-

178 179
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

va, é criativo, podendo se destacar nos esportes. a ler, escrever, soletrar e calcular. A leitura (2007) afirma que não são apenas habilidades
identifica os sinais da dislexia, mas não pode
Para Oliver (2011) a dislexia é uma complicação lenta, trabalhosa e individual da palavra im- estabelecidas em torno da decodificação, mas
diagnosticar. Os pais estão procurando ajuda
na conquista e desenvolvimento da linguagem, pede a habilidade da criança de compreender instrumentos de apropriação de importantes
para lidar com os sintomas deste distúrbio,
que podem ser apresentadas em três tipos: o que ela leu. Isso ocorre mesmo quando a competências culturais e sociais. Oliver
que geralmente surgem no ensino fundamen-
compreensão da língua falada for normal. (2013) destaca que “ Não se pode negar que
Dislexia Congênita ou inata, é a dislexia que nasce com o tal no 1°ano, nessa época, é possível identifi-
um disléxico, especialmente quando a dislexia
indivíduo. Pode ter as mais variadas causas e característi- car crianças de risco, que tiveram história de
Bryant e Bradley (1987) definiram as cri- é congênita ou inata, sempre será disléxico,
cas próprias [...]. Dislexia adquirida, que vem por meio de atraso no desenvolvimento da fala ou dificul-
um acidente qualquer.[...]. E dislexia ocasional, causada anças disléxicas como aquelas que apresen- mas isso não o condena a ser sempre defici-
dade em reconhecer rimas nas canções, entre
por fatores externos e que aparece ocasionalmente. Pode tam problemas quando tentam aprender a ler ente na aprendizagem” ( Oliver, 2013, p.47).
outras possibilidades. Pedagogos e psicólo-
ser causada por esgotamento do Sistema Nervoso/estres- e escrever, embora sejam inteligentes, rápi-
se, excesso de atividades [...]. (OLIVER, 2011, p.48-51). gos indicam que os alunos com este distúrbio
das e atentas, suas dificuldades não limitam Partindo desse pensamento é importante
devam estar inseridos na sala de aula regular,
As designações mais comuns dadas a dislexia seu convívio social e relações afetivas. Ob- ressaltar que o professor é essencial para a
devendo ter um ensino diferenciado. A es-
são, cegueira verbal congênita que foi estuda- servaram que a única diferença na leitura das realização desse processo, pois o seu papel é
cola é responsável por essa pedagogia, pela
da por Pringle Morgan por volta de 1896, outra crianças normais e das disléxicas é a leitura orientar, dar suporte, planejar atividades que
inclusão dos disléxicos, pelas mudanças no
designação “Strephosymbolia” termo que sig- de palavras inventadas, pois a leitura é uma proporcionem o desenvolvimento destas cri-
projeto político pedagógico e no currículo es-
nifica símbolos torcidos foi utilizado em estudos forma complexa de aprendizagem simbóli- anças de maneira que elas consigam superar
colar necessário para esse fim. É importante
por Orton em 1920, dislexia Genética, pesqui- ca, mudanças em uma palavra podem alterar as dificuldades e serem letradas. E é um alia-
que o aluno consiga se adaptar a esse meio
sada por Halgreen em 1950, distúrbio Psiconeu- completamente sua pronúncia e significado. do no processo de letramento dos disléxicos,
para que ocorra o processo de letramen-
rológicos estudado por Johnson e Myklebust em sabendo que as formas com que as crianças
to e superação das dificuldades dos alunos.
1983, outros distúrbios que podem ocorrer em Envolvendo assim a linguagem escrita, aprendem são diversas e as diferenças são
crianças com dislexia é a DMC (Disfunção Cere- atenção, habilidade motora, vários tipos de constantes, cabe a ele também ser flexível
Alunos com deficiências no processo
bral Mínima) e Dislexia Específica de Evolução. memória, organização de texto e imagem na sua proposta. Condemarin (1986) traz al-
fonológico, que são fortes indicadores de
mental. É importante que seja avaliada, a pro- gumas sugestões que facilitam na aprendiza-
futuras dificuldades na leitura e escrita, po-
Recentemente o Dr. Breitmeyer descobriu dução textual da criança, primeiro observan- gem destes alunos como evitar situações em
dem ser identificadas na educação infantil e
que há dois mecanismos interligados ao ler: se- do os cadernos e depois pedindo que a cri- que a criança tenha de ler em voz alta e não
no 1º ano. A família começa perceber as difi-
riam a fixação visual e transição ocular, onde ança escreva algo espontaneamente. Não é avaliar negativamente os erros disléxicos.
culdades para a alfabetização, pois a criança
foram comparados com crianças com dislexia necessário que seja um texto, podem ser pa-
parece não ter interesse na leitura e/ou na
e não-disléxica e o resultado foi que estas cri- lavras isoladas. Assim, já se pode observar: lei- Os disléxicos são alunos que necessitam de
escrita, sendo que para outras atividades se
anças não apresentam mudança em sua parte tura e escrita, muitas vezes incompreensíveis; atenção especial no processo de letramento.
mostra capaz. Em alguns casos, os pais e os
visual porém crianças com dislexia apresen- confusões de letras com diferente orientação Segundo Silva, 1997 O professor deve sa-
professores pensam em falta de atenção, uma
tam dificuldades quando focam as palavras, espacial (p/q; b/d); confusões de letras com ber detectar o potencial do educando e ex-
vez que, por apresentar dificuldade a criança
fazendo assim que, com a leitura, algumas pa- sons semelhantes (b/p; d/t; g/j); inversões plorá-lo visando atender as suas necessidades
perde o interesse. No entanto são crianças de
lavras passam despercebidas como se fos- de sílabas ou palavra (par/pra; lata/alta); sub- e respeitar suas limitações. Para isso devem
risco que devem ser seguidas com uma orien-
sem borrões, é como se as palavras danças- stituições de palavras com estrutura semel- capacitar-se, buscar informações e desen-
tação pedagógica ativa. Para auxiliar a criança
sem e pulassem diante dos olhos do disléxico. hante (contribuiu/construiu); suspensão ou volver atividades adequadas para estimu-
com essa dificuldade, se faz necessário auxílio
adição de letras ou de sílabas (caalo/cavalo; lar as habilidades dos disléxicos e ajudar na
de outros profissionais como psicopedagogo,
No entanto é preciso cautela para não con- berla/bela); repetição de sílabas ou palavras superação de suas dificuldades. O professor
fonoaudiólogos e psicólogos que analisam o
fundir e/ou classificar alunos com outros trans- (eu jogo jogo bola; bolo de chococolate); frag- deverá alterar a maneira de como ministrar
grau do distúrbio e deem suporte no desen-
tornos ou até mesmo com problemas emocionais mentação incorreta (querojo garbola/quero as aulas e a realização das atividades, sendo
volvimento desta criança. Nessa fase, pais e
como disléxicos, o diagnóstico deve ser realiza- jogar bola); dificuldades para entender o texto crucial o estudo das práticas metodológicas
professores observam que a criança com in-
do por um profissional da área da saúde, o pro- lido. Ler, escrever e interpretar são essenciais utilizadas, para que estas sejam significativas
teligência média ou acima da média podem
fessor pode e na maioria das vezes é aquele que para a vida cotidiana das pessoas para Scholze para o pleno desenvolvimento das potencial-
apresentar dificuldade atípica para aprender

180 181
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

idades desses alunos. Neste sentido, Lanhez sibilidades que lhe é apresentado. Cabe ao
(2002) e Mousinho (2009) dão algumas di- educador estimular este aluno, com calma e
Segundo pesquisa realizada por Abram uma grande montanha russa, sempre aos
cas: Utilizar dos recursos visuais e materiais segurança a melhorar sua autoestima, deixá-
Topczewski, neuropediatra do Hospital altos e baixos, mas cada vez mais eles são
de apoio ou mesmo escrever no quadro as lo confortável para solicitar ajuda e tirar suas
palavras chaves dos conteúdos, para que os Israelita Albert Einstein (HIAE), vice- encorajados a ver e a viver a sua dislexia
dúvidas, desenvolver nele o prazer pela leitu-
alunos possam acompanhar o que está sendo ra alterando a execução dela entre professor presidente da Associação Brasileira de de forma positiva, normalmente se sentem
comentado; antes de começar com o conteú- e aluno, trabalhar atividades que amplie o Dislexia e autor do livro Aprendizado e confusos mesmo em alguns momentos
do novo, fazer uma explicação antecipada por vocabulário do aluno, explorar o imaginário. Suas Desabilidades – Como Lidar? (Casa do apresentando pensamentos brilhantes. O
meio de um filme, uma brincadeira ou uma Psicólogo), até pouco tempo atrás, essa faltadisléxico pode sentir-se envergonhado,
música, e sempre associar com o conteúdo Elogiar sempre que merecido as produções de facilidade em aprender tarefas simples afetando sua autoestima, fazendo com que
anterior; estabelecer uma rotina nas aulas dos alunos, preparar espaços e incentivar as para a maioria das pessoas era vista como se culpe pelas consequências do distúrbio,
para que os disléxicos se organizem; anunciar outras habilidades dos disléxicos como músi- incapacidade e os disléxicos, por sua vez, apresenta frustração que rapidamente se
o trabalho com antecedência; realizar aulas ca, esporte entre outras. Colocar o disléxico eram segregados pelos colegas e professores transforma em raiva de si mesmo. Cabe
de revisão; aumentar o limite de tempo para sempre nas primeiras cadeiras da sala de aula desavisados. “Não é só o grupo que exclui a ao professor identificar as dificuldades de
provas escritas, deixar que faça algumas pau- para que assim ele possa ficar mais próximo criança. seus alunos, buscar parceria com a família
sas; considerar fazer uma prova oral ou que da atividade em que a sala está trabalhando, proporcionando uma relação acolhedora,
outras pessoas leiam para eles; ler a prova em monitorar as anotações e atividades, estimular Muitas vezes, ela própria se afasta por trazendo assim mecanismos facilitadores
voz alta e antes de iniciar a prova verificar se a organização dos trabalhos e materiais esco-
ter a autoestima comprometida”. Embora para o desenvolvimento esperado no ano
todos entenderam e compreenderam o que lares, ensinar técnicas de estudo, pesquisa etc.
não exista cura, o disléxico aprende a ciclo.
foi pedido; desconsiderar os erros de ortogra-
fia e o uso da tecnologia dentro da sala de Ensinar as regras de ortografia e colocá-las conviver com o distúrbio e cria atalhos para
aula; avisar no primeiro dia de aula o desejo em prática para que tenha significância para desenvolver suas atividades cotidianas, “O O auxílio de profissionais como
de conversar individualmente com os alunos o aluno, permitir a gravação das aulas uma disléxico é capaz de estudar quando lê em psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos
que têm dificuldades de aprendizagem. vez que o disléxico tem dificuldades em voz alta ou escreve junto, por exemplo. Há e pedagogos são de extrema importância
passar para o papel e prestar atenção ao atores que memorizam suas falas depois neste processo onde o aluno passa nos
Essas sugestões facilitam o dia a dia dos mesmo tempo, dar um tempo maior para que gravam o texto e passam a ouvi-lo até anos iniciais e pode prorrogar até a fase
disléxicos e dos outros alunos na escola e que o disléxico conclua suas tarefas, faz- decorar”, (Dr.TOPCZEWSKI, Neuropediatra). adulta. A descoberta da dislexia quanto
proporcionam uma aprendizagem significa- er provas orais, não descontar pontos por antes, auxilia o desenvolvimento da criança,
tiva, refletindo diretamente na autoestima erros ortográficos apenas apontar a fim de Para que a pessoa se sinta estimulada trazendo segurança tanto na vida escolar
desses alunos levando-os a ter maior mo- que o aluno entenda seus erros e busque podemos citar pessoas mundialmente como no convívio social. A interação entre
tivação em aprender. Ao se deparar com a melhorar, não solicitar leitura em voz alta conhecidas que se destacaram com suas os profissionais envolvidos e familiares é de
sala de aula, onde tem alunos disléxicos cabe habilidades como: Albert Einstein se extrema importância, pois o aluno necessita
ao educador buscar maneiras de trabalhar destacou na ciência, Leonardo da Vinci nas de um conjunto de ações neste período,
com esta criança. Segundo Rosing (2007), O papel dos professores no letramento dos
artes, Winston Churchill na política, John para que se aproprie do conteúdo escolar
existem muitas maneiras de trabalhar com o disléxicos vai além de ensinar. Tem que haver
Lennon na música, Henry Ford nos negócios. e consiga ter um desenvolvimento mínimo
aluno disléxico, o importante é o professor se modificações, inovações, novas tecnologias
despir de preconceitos e não poupar esforços para a sala de aula e acima de tudo perce- Além de geniais e famosas, todas essas esperado para a faixa etária, deve se estimular
em testar várias possibilidades, uma delas é a berem o que os alunos têm a dizer. Assim, os personalidades eram disléxicas. a criança na busca de atividades que lhe
multidirecional, onde o professor utiliza todos disléxicos conseguiriam atingir os objetivos tragam segurança como esportes, música,
os recursos disponíveis, estimulando assim os desejados na aprendizagem e domínio da ca- CONSIDERAÇÕES FINAIS artes, entre outros. Foi possível observar em
sentidos do aluno fazendo com que ele tenha pacidade de ler e escrever adequadamente. pesquisas o desenvolvimento de pessoas
segurança em desvendar o mundo de pos- É comum observar que os disléxicos vivem brilhantes que apresentavam a dislexia e

182 183
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

trouxeram extremo sucesso em sua vida. com necessidades educativas especiais. In:
LLEIXÀ, Arribas Teresa. Educação infantil:
desenvolvimento, currículo e organização
escolar. Porto Alegre: Artmed, 2004.

MORAIS, Antônio Manuel Pamplona.


Distúrbios da Aprendizagem: Uma abordagem
psico-pedagogica Edicon São Paulo, 1986.

MOUSINHO, R. Desenvolvimento da Leitura,


Escrita e seus Transtornos. In: Goldfeld,
M. Fundamentos em Fonoaudiologia –
Linguagem. 2. ed.. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2003.

OLIVER, Lou de. Transtorno de


Caroline Dias Comportamento e Distúrbio de
Aprendizagem. Rio de Janeiro: Wark Editora,
Graduada em Pedagogia pela Universidade 2011.
Metropolitana de Santos (2016); pós- INTEGRAR E INCLUIR, UM DESAFIO PARA A
graduada em Alfabetização e Letramento pela OHLWEILER, Lygia. RIESGO, Rudimar dos ESCOLA E EDUCADORES
Faculdade de Conchas (2017), Licenciada em Santos e ROTTA, Newra Tellechea (2006).
História (cursando) Universidade de Santo Transtornos da Aprendizagem – Abordagem
Amaro, professora de educação infantil – no Neurobiológica e Multidisciplinar. Artmed
Centro de Educação Infantil Prof.ª Maria do Editora.
Carmo Pazzos Fernandes – MADU.
SCHOLZE, Lia; RÖSING, Tania M.K. (ORG). RESUMO: Este trabalho está centrado em um tema de ampla discussão no campo
Teorias e práticas de letramento. Brasília: educacional: integrar para incluir sintetiza o desafio a que se propõe a escola atual, qual
Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas seja o atendimento a cada aluno dentro da sua especificidade. Não basta somente inserir
Educacionais Anísio Teixeira, 2007. os alunos com necessidades educativas na escola. A integração e a inclusão constituem em
processos muito mais complexos, exigindo discussão sobre questões emergentes, como,
REFERÊNCIAS SILVA, Maria Cecília da. Aprendizagem e por exemplo, as condições da formação dos educadores e a organização escolar como um
problemas. São Paulo: Ícone, 1997. todo. Essas questões, colocadas à análise, podem dar um suporte à efetivação, às mudanças
LANHEZ, Maria Eugênia. NICO, Maria ngela. e inovações apontadas pela atual política da educação brasileira.
Nem sempre é o que parece: como enfrentar TELES, Paula (2008). Abecedário e Silabário. Palavras-chave: Inclusão; educação; escolar; professor; aluno.
a dislexia e os fracassos escolares. Rio de Lisboa. Distema Editora. http://www.
Janeiro: Elsevier, 2002. dislexiabrasil.com.br/Causas-Dislexia.aspx.
(acessado em 09/06/2019). Palavras-chave: Inclusão; educação; escolar; professor; aluno.
MONSERRAT, Antón Rosera et al. Crianças

184 185
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
à organização sindical; e direito à jornada de ligada à vigência dos direitos humanos
Este trabalho tem como objetivo explicitar que mediarão às interações e possibilitarão o trabalho limitada (Arts. 23 e 24). fundamentais. Em virtude das diferenças que
a proposta da escola inclusiva, abrir avanço de todos os alunos, promovendo um - Direitos Sociais: direito à alimentação; à apresentam em relação às demais, as pessoas
oportunidades educacionais adequadas a favorecimento aos professores, educadores, moradia; à saúde; à previdência e assistência; com deficiência possuem necessidades
todas as crianças e dar condições também psicopedagogos pela oferta de novos à educação; à cultura; e direito à participação especiais a serem satisfeitas. Tal fato significa
as que apresentam necessidades educativas, conhecimentos e novas atitudes para acolher nos frutos do progresso científico (Art.25 ao que: os direitos específicos das pessoas com
para que possam se desenvolver social toda a diversidade. 28). deficiências decorrem de suas necessidades
e intelectualmente junto com as outras especiais. É preciso compreender que as
crianças na classe comum, como também O QUE É INCLUSÃO? Esses direitos foram conquistados pessoas não deficientes e as pessoas com
fornecer subsídios teóricos e práticos arduamente nos últimos 200 anos. Contudo, deficiências não são “iguais”.O exercício
não só aos educadores especializados Incluir quer dizer fazer parte, inserir, segundo as condições históricas de cada dos direitos gerais bem como nos direitos
na área, mas principalmente aqueles que introduzir. E inclusão é o ato ou efeito país, podem ser descumpridos ou bastantes específicos destas últimas está diretamente
as acolhem em sala de aula, nas classes de incluir. Assim, a inclusão social das fragilizados, o que indica que o esforço do ligado à criação de condições que permitam
regulares, alunos com dificuldades especiais pessoas com deficiência significa torná-las Estado e da Sociedade por sua vigência o seu acesso diferenciado ao bem-estar
de aprendizagem, levando ainda esses participantes da vida social, econômica e deva ser permanente. Uma coisa é certa: econômico, social e cultural.
professores a compreender essas crianças, política, assegurando o respeito aos seus para fortalecê-los entre nós, a sociedade e
suas dificuldades, privilegiando suas direitos no âmbito da Sociedade, do Estado o Estado brasileiros devem agir com base no A EDUCAÇÃO INCLUSIVA
capacidades como ser individual e servindo e do Poder Público. princípio da associação interdependente dos
como mediadores no processo de inclusão. direitos, isto é, o cumprimento efetivo de um A natureza está dividida em duas partes.
Neste trabalho será apresentado um modelo A Declaração Universal dos Direitos depende do cumprimento dos outros. Uma delas tem a função de mandar e a
de escola que aceita todas as diferenças Humanos, aprovada pela Organização das outra tem a função de obedecer. Este é o
e se adapta à variedade humana, criando Nações Unidas (ONU), em 1948 relaciona Por exemplo, o direito à igualdade perante pressuposto básico da teoria da “Escravatura
ambiente propício ao desenvolvimento das os seguintes direitos que valem para todos, a lei depende do direito de votar e ser votado, Natural”, formulada por Aristóteles (384-
potencialidades individuais. isto é, os chamados direitos humanos ou da o qual esta por sua vez associado ao direito 322 a.C.). É natural, portanto, que o homem
cidadania: de opinião aos direitos à educação e à saúde. livre mande no escravo, que o pai mande
Será apresentado também, um breve Quando isto não ocorre, os direitos de todos no filho, que o professor mande no aluno.
relato histórico sobre a escola inclusiva e - Direitos Civis: direito à liberdade e perdem as suas forças e, em conseqüência, Quem manda está pleno de razão e vontade,
para propiciar educação de qualidade para segurança pessoal; à igualdade perante lei; à os direitos específicos das pessoas com quem obedece está privado destes e, é de
todas as crianças, são focalizados dois livre crença religiosa; à propriedade individual deficiência também. Ora, se o direito universal seu interesse ser tutelado. Este paradigma
espaços pedagógicos: a classe comum e ou em sociedade; e o direito de opinião (Art. à saúde não está associado aos demais e amparou o processo civilizatório a partir
a sala de recursos multifuncionais. Serão 3° ao 19). além disso, é cumprido de modo insuficiente da Europa, às relações assimétricas entre
apresentadas aqui, referências bibliográficas - Direitos Políticos: liberdade de associação pelo Estado, o direito à saúde específico das culturas e pessoas, a transformação das
que ressaltam a escola atual e suas angústias para fins políticos; direito de participar do pessoas com deficiência igualmente será diferenças em desigualdades.
por ainda não apresentar uma solução governo; direito de votar e ser votado (Arts. fragilizado ou mesmo negado.
satisfatória para os alunos com dificuldades 20 e 21). A sociedade nesta “Era Planetária”
de aprendizagem, em que não se trata apenas - Direitos Econômicos: direito ao Portanto a inclusão social tem por base (MORIN, 2002), promove uma profunda
da promoção de espaço físico e sim sobre trabalho; à proteção contra o desemprego; à que a vigência dos direitos específicos das revisão conceitual sobre, entre outras
princípios filosóficos sociais e psicológicos remuneração que assegure uma vida digna, pessoas com deficiência está diretamente produções culturais, o conhecimento, a

186 187
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ser compreendido por todos e aceito sem ministrado, a aprendizagem é concebida e


escola, o indivíduo e suas relações. A escola dificuldades para distinguir diversidade e outras resistências, senão aquelas que dão avaliada. Pois não apenas as deficientes são
é historicamente referida como a instituição igualdade. Hoje, perante a evidência das brilho e vigor ao debate das novidades. excluídas, mas também as que são pobres,
social promotora da inclusão. De fato, o diferenças individuais, grupais, sociais e as que não vão às aulas porque trabalham,
saber aprendido na escola foi um fator de culturais. Temos de admitir que somos O princípio democrático da educação as que pertencem a grupos discriminados, as
inclusão social. A diferença com o momento diferentes. Isto é, o nosso desenvolvimento para todos só se evidencia nos sistemas que de tanto repetir desistiram de estudar.
atual é que a sociedade adquiriu uma nova como seres humanos, sociais e culturais, educacionais que se especializam em todos
configuração. Essa nova configuração, no parte de pontos diferentes, realiza percursos os alunos, não apenas em alguns deles, os UMA EDUCAÇÃO PARA TODOS
dizer de BONETI (2000, p. 213), começa diferentes e chega a diferentes pontos. Não alunos com deficiência. A inclusão, como
“pela organização produtiva, fazendo com será possível assegurar a igualdade se não consequência de um ensino de qualidade Toda criança precisa da escola para
que o conhecimento tecnológico tenha uma tratarmos as pessoas de acordo com a sua para todos os alunos provoca e exige da aprender e não para marcar passo ou
durabilidade limitada, determinando, como diversidade. Não se pode atribuir à diferença escola brasileira novos posicionamentos ser segregada em classes especiais e
consequência, uma inevitável desqualificação qualquer justificativa para intervir sobre os e é um motivo a mais para que o ensino atendimentos à parte. A trajetória escolar
dos sujeitos sociais de participação na direitos da pessoa. As chamadas “ações de se modernize e para que os professores não pode ser comparada a um rio perigoso e
esfera produtiva e de estabelecer relações discriminação positiva” (SANTOS, 2001), aperfeiçoem as suas práticas. E uma inovação ameaçador, em cujas águas os alunos podem
socioculturais”. pautadas no pensamento liberal, se justificam que implica num esforço de atualização afundar. Mas há sistemas organizacionais de
apenas pela circunstancialidade. e reestruturação das condições atuais da ensino que tornam esse percurso muito difícil
Acompanhando as modificações ocorridas maioria de nossas escolas de nível básico. de ser vencida, uma verdadeira competição
na organização produtiva, o Estado ajusta entre a correnteza do rio e a força dos que
suas políticas, tendo como referencial TODAS AS CRIANÇAS SÃO O motivo que sustenta a luta pela querem se manter no seu curso principal.
a política econômica, com profunda inclusão como uma nova perspectiva para
repercussão sobre a vida do cidadão, como BEM VINDAS À ESCOLA as pessoas com deficiência é, sem dúvida, Um desses sistemas, que muito
as garantias de emprego a assistência social, a qualidade de ensino nas escolas públicas apropriadamente se denomina “de cascata”,
o acesso ao trabalho, à educação. Atribuiu- e privadas de modo que se tomem aptas prevê a exclusão de algumas crianças, que
se à escola a responsabilidade de socializar A inclusão é uma inovação, cujo sentido para responder às necessidades de cada têm déficits temporários ou permanentes e
os conhecimentos produzidos com todos os tem sido muito distorcido e um movimento um de seus alunos, de acordo com as em função dos quais apresentam dificuldades
segmentos sociais. Para realizar sua função, muito polemizado pelos mais diferentes especificidades, sem cair nas teias da educação para aprender. Esse sistema contrapõe-se à
duas questões se impõem à escola: uma segmentos educacionais e sociais e, no especial e suas modalidades de exclusão. melhoria do ensino nas escolas, pois mantém
delas está relacionada com o atual momento entanto, inserir alunos com déficits de toda ativo, o ensino especial, que atende aos alunos
político, econômico, social; a outra refere à ordem, permanentes ou temporários, mais O sucesso da inclusão de alunos com que caíram na cascata, por não conseguirem
concepção paradigmática utilizada na sua graves ou menos severos no ensino regular deficiência na escola regular decorre, portanto corresponder às exigências e expectativas
dinâmica de produção e transmissão do nada mais é do que garantir o direito de das possibilidades de se conseguir progressos da escola regular. Para se evitar a queda na
conhecimento (BONETI, 2000). todos à educação e assim diz a Constituição. significativos desses alunos na escolaridade por cascata, na maioria das vezes sem volta, é
meio da adequação das práticas pedagógicas à preciso remar contra a correnteza, ou seja,
A nova ordem social mundial requer Inovar não tem necessariamente o sentido diversidade dos aprendizes. E só se consegue enfrentar os desafios da inclusão: o ensino
que a instituição escolar se reveja. A partir do inusitado. As grandes inovações estão, atingir esse sucesso, quando a escola regular de baixa qualidade e o subsistema de ensino
da ressignificação de seus paradigmas muitas vezes na concretização do óbvio, assume que as dificuldades de alguns alunos especial, desvinculada e justaposto ao regular.
emerge a Educação Inclusiva. A sociedade do simples, do que é possível fazer, mas não são apenas deles, mas resultam em
e, por extensão a escola, sempre tiveram que precisa ser desvelado, para que possa grande parte do modo como o ensino é Priorizar a qualidade do ensino regular é,

188 189
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

pois, um desafio que precisa ser assumido os alunos, o que, implica na atualização e
por todos os educadores. E um compromisso desenvolvimento de conceitos e em aplicações amenizar e/ou sanar tal dificuldade. quanto a institucional, ressaltando que ambas
inadiável das escolas, pois a educação educacionais compatíveis com esse grande Deste modo, ele torna-se uma ferramenta estão atreladas ao processo de aprendizagem.
básica é um dos fatores do desenvolvimento desafio. Muda então a escola ou mudam poderosa no auxílio da aprendizagem. Isso nos faz entender que o professor é
econômico e social. Trata-se de uma tarefa os alunos, para se ajustarem às suas velhas Destarte, toma-se emprestado da medicina um profissional ligado historicamente à
possível de ser realizada, mas é impossível de exigências? Ensino especializado em todas as o termo "olho clínico", ao referimos à educação, por isso a integração e inclusão
se efetivar por meio dos modelos tradicionais crianças ou ensino especial para deficientes? postura terapêutica do profissional. dos alunos com dificuldades de aprendizagem
de organização do sistema escolar. Se hoje Professores que se aperfeiçoam para exercer e os ditos especiais requerem todos os
já podemos contar com uma Lei Educacional suas funções, atendendo às peculiaridades O professor pesquisa as condições para cuidados e atendimentos específicos,
que propõe e viabiliza novas alternativas de todos os alunos, ou professores que se produza aprendizagem escolar, para que essa integração seja de forma a
para melhoria do ensino nas escolas, estas especializados para ensinar aos que não identificando os empecilhos e os elementos sanar essa grande dificuldade encontrada
ainda estão longe, na maioria dos casos, de aprendem e aos que não sabem ensinar? facilitadores numa ordem preventiva. Eis hoje em toda a rede regular de ensino.
se tornarem inclusivas, isto é, abertas a todos que esses elementos são condicionados
os alunos, indistinta e incondicionalmente. O A INTERVENÇÃO DO por fatores distintos, fazendo com que cada
que existe em geral são projetos de inclusão PROFESSOR situação seja única. De acordo Paín (1985), CONCLUSÃO
parcial, que não estão associados a mudanças os problemas de aprendizagem podem ser
de base nas escolas e que continuam a atender Cabe ao professor perceber eventuais gerados por razões internas ou externas à Ao término deste trabalho, conclui-se que
aos alunos com deficiência em espaços perturbações no processo aprendizagem, família e ao indivíduo, mesmo que sobrepostas. falar de inclusão é, no momento, um enorme
escolares semi ou totalmente segregados participar da dinâmica da comunidade desafio para o nosso sistema educacional,
(classes especiais, salas de recursos educativa, favorecendo a integração, Quando os problemas concernentes ao onde representa um novo caminho, que está
multifuncionais, turmas de aceleração, promovendo orientações metodológicas fracasso escolar advêm de motivos ligados sendo construído por tantas pessoas que
escolas especiais, os serviços de itinerância). de acordo com as características e à estrutura familiar e/ou individual, faz-se sonham com uma sociedade justa, solidária e
particularidades dos indivíduos do grupo, necessária uma intervenção pedagógica. pronta para garantir os direitos de todos que
As escolas que não estão atendendo alunos realizando processos de orientação. Já que Os encaminhamentos ao departamento nelas vivem. Umas das formas para que, o
com deficiência em suas turmas regulares se no caráter existencial, o professor participa de educação especial, são feitos, em sua processo de inclusão de alunos com deficiência
justificam, na maioria das vezes pelo despreparo de equipes responsáveis pela elaboração grande maioria, pela instituição. Assim, aconteça,é por meio da educação. A inclusão
dos seus professores para esse fim. Existem de planos e projetos no contexto teórico/ é sumamente relevante que o professor social dos alunos com necessidades especiais
também as que não acreditam nos benefícios prático das políticas educacionais, fazendo contribua com a escola, seja na promoção em escolas regulares, é um direito que esses
que esses alunos poderão tirar da nova com que outros professores, diretores e da aprendizagem, ou no tratamento dos alunos possuem, sendo responsabilidade
situação, especialmente os casos mais graves, coordenadores possam repensar o papel distúrbios e dificuldades nesse processo. e dever do governo cumprir essas leis.
pois não teriam condições de acompanhar da escola frente a sua docência e às
os avanços dos demais colegas e seriam necessidades individuais de aprendizagem É importante destacar, no âmbito da As escolas têm por seu dever e por direito
ainda mais marginalizados e discriminados da criança ou, da própria ensinagem. atuação pedagógica, que o olhar que esta área dos cidadãos, receber e preparar todas as
do que nas classes e escolas especiais. possibilita não se resume às ações apenas no crianças e adolescentes independentemente
O professor alcança seus objetivos quando, campo escolar, mas transcende esse espaço e das características de cada um, inclusive os
Em ambas as circunstâncias, o que fica tendo a compreensão das dificuldades atinge o contexto da sociedade. Nessa linha alunos que possuem essa deficiência, seja ela
evidenciado é a necessidade de se redefinir e de aprendizagem de determinado aluno, de apontamentos, SCOZ (1994) nos confere qual for. A educação acontece em todo e em
de se colocar em ação, novas alternativas e consegue meios para ajudá-lo, envolvendo uma importante contribuição, ao remeter a qualquer lugar, mas na escola ela é intencional,
práticas pedagógicas, que favoreçam a todos a escola na busca de condições para atuação do Professor tanto à identidade clínica portanto, o olhar do educador tem que ser o

190 191
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

olhar das possibilidades. Alguns educadores políticos, pedagógicos, sociais, um princípio é


defendem que uma escola não precisa crucial: todos os alunos podem e devem atingir
preparar-se para garantir a inclusão de alunos os objetivos e finalidades de Educação Básica,
com necessidades especiais, mas tornar-se onde no quadro mais amplo da educação, REFERÊNCIAS
preparada como resultado de ingresso desses cabe ainda, analisar as oportunidades de
alunos. Indicam, portanto, a colocação de considerar novas possibilidades, apoio e BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições
todos na escola. Entendem que o processo de incentivos à reflexão e implementação. a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1992.
inclusão é gradual, interativo e culturalmente, Esta ação pode divisar um movimento de
determinado, requerendo a participação compreensão e enfrentamento dos desafios BONETI, L.W. As políticas educacionais, a gestão da escola e a exclusão
do próprio aluno na construção do próprio para implementar escolas inclusivas, pois social. In FERREIRA, N.S. e AGUIAR, M. S. Gestão da educação:
ambiente escolar que lhe seja favorável. o desenvolvimento da criança como um impasses, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez; p. 213, 2000.
todo não é só biologicamente determinado
Embora os sistemas educacionais, tenham a mas socialmente facilitado através de uma DEACON, R.; PARKER, B. Escolarização dos cidadãos ou civilização da sociedade? In:
intenção de realizar intervenções pedagógicas interação socioafetiva. O mundo não é visto SILVA, L. H da (Org.).Aescola cidadã no contexto da globalização. Petrópolis:Vozes, 2000.
que propiciem às pessoas com necessidades simplesmente através dos olhos, das cores,
especiais, uma melhor educação, sabe-se que das formas, mas sentido individualmente MAZZOTAS, M.J.S. O portador de deficiência e o direito à
a própria sociedade ainda não alcançou níveis através de sua vivência e de sua elaboração educação. Insight. Psicoterapia, São Paulo, v. 32, n. 3, p. 25-7, 1993.
de integração que favoreçam essa expectativa. pelo significado que lhe atribuímos.
Para incluir todas as pessoas, a sociedade MORIN, Edgar, E. O problema epistemológico da complexidade.
deve ser modificada, devendo firmar a 3.ed. Mira-Sintra: Publicações Europa-América, 2002.
convivência no contexto da diversidade
humana, bem como aceitar e valorizar a PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem.
contribuição de cada um conforme suas Tradução Ana Maria Netto Machado, Porto Alegre: Artmed, 1985.
condições pessoais. Os sistemas educacionais
experimentam dificuldades para integrar o SANTOS, Boaventura de Sousa. Para uma concepção pós-moderna do direito. A Crítica
aluno com necessidades especiais, a própria da razão indolente: contra o desperdício da experiência, Porto: Afrontamento, 2000.
escola tem dificultado. Tais circunstâncias
apontam para a necessidade de uma escola SASSKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma
transformada, que assuma a diversidade CÍNTIA APARECIDA RICOMINE sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1998.
dos educandos, de modo a contemplar SILVA SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e realidade escolar: O problema
as suas necessidades e potencialidades. escolar e de aprendizagem. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1994.
Graduação em Pedagogia pela faculdade
A escola inclusiva é tema da Educação, dos Aldeia de Carapicuíba (2016); Professor de
educadores, professores e todos os agentes Ensino Fundamental I e Educação Infantil - na
preocupados com o acesso e permanência EMEI Oliveira Lima.
dos alunos na escola.De toda forma, pode-
se afirmar que, quer as diferenças dos alunos
sejam encaradas por prismas administrativos,

192 193
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO potencial intelectual normal, sem aparentes


perturbações visuais ou auditivas apesar dis-
Em um passado, não tão distante, era so, esses escolares mesmo em situações mo-
comum entre familiares e sociedade que tivadoras de aprendizagem e com profissionais
crianças com algum tipo de deficiência, engajados em seu aprendizado, mas que aca-
física ou mental, fossem segregadas, iso- bam revelando alguma dificuldade inesperada,
ladas dos demais, ou apenas consideradas motivando professores, gestores, familiares a
como elementos de enfeite e não como um uma reflexão sobre o que ocorre com o escolar.
ser sujeito de direito e com capacidade de
procurá-los. Tendo em vista os avanços da Ademais, as DAs perpassam todos os alunos que
Ciência, houve mudanças nisto que hoje incluídos nas escolas que também precisam de
se entende por inclusão e deficiência, afi- acompanhamento diferenciado e adaptações
nal se começa a entender como algo não curriculares, para que possam acompanhar e
só do campo da medicina, como da ped- de fato serem incluídos no sistema de ensino.
agogia, isso a partir do final do séc. XVIII. Há vários campos de estudos relacionados aos
problemas da Dificuldade de Aprendizagem,
A exclusão e as posteriores segregações maturativos (CORSO, 2007); método de ensi-
deixam de existir em inúmeros países e leis no (CAPOVILLA, 2005) a relação familiar (BRA-
são criadas para que essas pessoas tenham GA, 2007); motivacionais (BORUCHOVITCH,
DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM E acesso a uma vida digna, com autonomia,
dentro de suas limitações, entretanto novas
2011); ligado a inclusão (HEREDERO, 2010)

ADAPTAÇÕES CURRICULARES perspectivas e olhares também ampliam o Os reflexos das Dificuldades de Aprendiza-
gens são visíveis quando há uma centralidade
campo de problemas. A Educação entra
como um alicerce fundamental para que a do problema de aprendizagem docente, surgin-
inclusão se realize, pois, cabe à escola o tra- do assim várias nomenclaturas que especifi-
balho com conteúdos culturais compartil- cam: dislexia, discalculia, disortografia, etc.
hados por todos os membros da sociedade. A inclusão é hoje um tema de amplo debate,
RESUMO: Há décadas que o Brasil possui legislação e assina acordos internacionais sobre a na qual se percebe que a escola ainda não
questão de almejar a uma escola inclusiva, porém, tendo em vista a diversidade do tema e os consegue ser um espaço de amplos direit-
problemas existentes nas escolas públicas ainda é possível encontrar campos de incertezas, As Dificuldades de Aprendizagem (DA) os para os educandos, apesar dos esforços e
sobretudo no que tange as Dificuldades de Aprendizagem e o que fazer. O presente artigo é um termo usado para as dificuldades no mudanças nas concepções, princípios e di-
parte de tal realidade e tem como objetivo analisar, na bibliografia especializada sobre aprender e se relacionam com o fracasso retrizes da educação para um sistema mais
o assunto, os pressupostos para uma adaptação curricular efetiva, afinal o conceito de escolar, indisciplina, evasão, desmotivação inclusivo e para todos, que consta com o re-
educação inclusiva não se restringe à inserção do discente com deficiência no ensino comum para os estudos, baixo desempenho em spaldo de vários países na última década do
outras áreas, problemas emocionais que século XX, com a criação de documentos
somente e sim de todos os alunos, logo pretende-se, nessa reflexão e pesquisa, trazer alguns
afetam, sobretudo, mas não somente, os como a Declaração Mundial de Educação Para
instrumentos, sugestões, bibliografia para os que trabalham ou pesquisam sobre a inclusão
alunos de inclusão, criando graves conse- Todos elaborada em 1990 na Tailândia (UN-
e as Dificuldades de Aprendizagem em nosso país. ESCO, 1990) e a Declaração de Salamanca
quências para o sistema de ensino, sendo
a maior o abandono por parte do discen- (MEC, 2018), elaborada em 1994 na Espanha.
te ou até mesmo por parte dos docentes.
Palavras-chave: Dificuldade de aprendizagem; Currículo; Avaliação; Escola. Ademais, as DAs perpassam todos os alunos
Esse tema Dificuldades de Aprendizagem
tem ganhado atenção constante, afinal os que incluídos nas escolas que também precisam
escolares com DA são portadores de um de acompanhamento diferenciado e adaptações
curriculares, para que possam acompanhar e

194 195
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

de fato serem incluídos no sistema de ensino. que é positivo, pois segundo Oliveira isso nos tendem a se acentuar no aprender escolar. O consenso acadêmico é longo, porém
Há vários campos de estudos relacionados aos mostra um leque mais amplo na dificuldade e como acima vimos em Heredero (2010),
problemas da Dificuldade de Aprendizagem, suas associações com outras como déficit de Esse termo “Dificuldade de Aprendiza- existem determinados consensos ou
maturativos (CORSO, 2007); método de ensi- atenção e hiperatividade (OLIVEIRA, 2011). gem” foi introduzido por Samuel Kirk que, princípios que norteiam e são comuns em
no (CAPOVILLA, 2005) a relação familiar (BRA- segundo García (2004), em uma reunião no todos os estudos. Segundo García (2004),
GA, 2007); motivacionais (BORUCHOVITCH, Atualmente não é possível pensar em mês abril de 1963, encontrou-se com um na definição consensual de DA existem
2011); ligado a inclusão (HEREDERO, 2010) sIstemas educacionais inclusivos, sem levar grupo de pais, profissionais e pesquisadores, cinco princípios (GARCIA, 2010, p.22).
Os reflexos das Dificuldades de Aprendizagens em conta valores como a igualdade de opor- preocupados com a aprendizagem ou não
são visíveis quando há uma centralidade do tunidade e uma qualidade no processo de en- aprendizagem de alguns alunos, a partir daí 1- As DAs são heterogêneas, inter e intra-in-
problema de aprendizagem docente, surgin- sino e aprendizagem, assim colocar em práti- que Samuel Kirk utilizou o termo learning dis- dividualmente.
do assim várias nomenclaturas que especifi- ca uma escola inclusiva é colocar em prática abilities ou Dificuldade de Aprendizagem.At-
cam: dislexia, discalculia, disortografia, etc. uma escola que não abandone determinados ualmente esse termo Dificuldades de Apren- 2- As DAs pressupõem dificuldades significa-
grupos de alunos, ou apenas estigmatizá-los, dizagem (DA), é usado para as dificuldades tivas na aquisição e no uso da compreensão,
A inclusão é hoje um tema de amplo de- considerando-os incluídos de forma com- no aprender que possuem uma relação com na fala, da leitura, da escrita, do raciocínio e/
bate, na qual se percebe que a escola ainda pulsória, ou por piedade, segundo Carvalho o fracasso escolar, com a indisciplina, evasão, ou das habilidades matemáticas.
não consegue ser um espaço de amplos dire- (2004) o ideário dos sistemas educaciona- diagnósticos precoces, desmotivação para
itos para os educandos, apesar dos esforços is inclusivos pode ser resumido da seguinte os estudos, baixo desempenho em outras 3- As DAs são intrínsecas ao indivíduo.
e mudanças nas concepções, princípios e di- forma: O direito à educação; O direito à ig- áreas, bullying, problemas emocionais, neu-
retrizes da educação para um sistema mais ualdade de oportunidades, o que não signifi- rológicos e também se correlacionam com a 4- As DAs podem ocorrer de forma concom-
inclusivo e para todos, que consta com o ca um “modo igual” de educar a todos e sim questão da inclusão, porque também estão itante com outros problemas que constituem
respaldo de vários países na última década dar a cada um o que necessita, em função presentes em discentes com diversos tipos por si mesmos uma DA.
do século XX, com a criação de documentos de suas características e necessidades indi- de transtornos. É um campo de estudo que,
como a Declaração Mundial de Educação Para viduais; Escolas responsivas e de boa quali- quando ignorado, pode ter suas consequên- 5- As DAs não se originam por influências ex-
Todos elaborada em 1990 na Tailândia (UN- dade; O direito de aprendizagem; O direito cias no sistema de ensino que se quer tra- trínsecas.
ESCO, 1990) e a Declaração de Salamanca à participação. (CARVALHO, 2004, p. 81) balhar a inclusão em vez da exclusão e alunos.
(MEC, 2018), elaborada em 1994 na Espanha. Com o aumento das pesquisas sobre a
Já Heredero (2010) ao pesquisar vários au- De acordo com Fonseca (2004) apesar inclusão, hoje percebemos que o leque de
tores, retira alguns princípios comuns: A in- de o termo ainda não ser consensu- problemas relacionados ao aprender é mais
DIFICULDADES DE APRENDIZA- clusão é um direito; A educação deve discrimi- al, a DA é reconhecida como um proble- amplo. Assim a problemática que aparente-
GEM nar positivamente; Importância do aluno e sua ma que tende a provocar dificuldade de mente centralizava-se no indivíduo, adquire
singularidade; Trabalho para conseguir uma adaptação à escola, podendo assim pro- um caráter lato, precisando de uma maior
Uma criança normal, aparentemente nova escola: conceito, alunado, pais, comuni- jetar-se na vida adulta, comprometendo a contextualização, segundo Marchesi (2004):
saudável, mas existe uma reclamação: Já não dade; Utilização de metodologias que usem a vida acadêmica e relações sociais. Segundo
sei o que fazer, pois ele não aprende – A fala interdisciplinaridade; Procura de uma escola Fonseca (2004), sobre a definição de DA: Uma segunda característica do conceito de necessi-
dades educativas especiais e seu caráter relativo e con-
pode vir dos pais ou de professores mais de qualidade; Melhora do clima institucional; textual. A avaliação dos problemas dos alunos não deve
preocupados com o aparente atraso, o apa- Trabalho e ensino em equipe. (HEREDERO, Definimos as da como um conjunto heterogêneo de de-
centrar-se unicamente neles mesmos, mas levar em
sordens, perturbações, transtornos, incapacidades, ou
rente problema que ocorre no aluno. Infeliz- 2010, p. 195). Entretanto o diagnóstico das outras expressões de significado similar ou próximo,
conta o contexto no qual se produz a aprendizagem:
mente é uma comum e o problema que pode Dificuldades de Aprendizagem (DA) não é manifestando dificuldades significativas, e ou específi-
o funcionamento da escola, os recursos disponíveis, a
flexibilidade do ensino, a metodologia empregada e os
se esconder já fora notado há anos atrás. Há simples. Afinal, existem vários distúrbios que cas, no processo de aprendizagem verbal, isto é, na aqui-
critérios de avaliação utilizados. (MARCHESI, 2004, p. 20)
então tentativas mais variadas, não raro, o contribuem para tais dificuldades, por exemp- sição, integração e expressão de uma ou mais das se-
guintes habilidades simbólicas: compreensão auditiva,
problema da aprendizagem fica com os pro- lo, problemas sociais, afetivos, genéticos, etc. fala, leitura, escrita e cálculo. (FONSECA, 2004, p. 136) Existe uma relação entre a DA e a lingua-
fessores, para saírem em busca de soluções, Assim podemos dizer que o termo engloba gem, de acordo com Fonseca (2007, p. 139)
e de pesquisa em termos como dislexia, dis- um amplo grupo heterogêneo que culmina em
ortografia, discalculia, hiperatividade, etc; o atrasos significativos com dificuldades que

196 197
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

comenta que “as áreas mais vulneráveis estão a) condições intrínsecas da pessoa que apre-
particularmente relacionadas com o domínio senta as Das (por exemplo a herança, a dis- Para que tal adaptação ocorra HEREDERO marginalizados (MEC, 2003, p. 27).
e uso da linguagem escrita”. Surge assim uma função cerebral mínima, ou os atrasos matur- (2010) sugere a flexibilização de critérios e
grande necessidade de adaptar o currículo, ativos); procedimentos pedagógicos; metodologia Nesse documento citado acima também há
para que o discente possa se desenvolver, b) circunstâncias ambientais nas quais se dá diferenciada; diversificação de técnicas, várias estratégias de ação com os discentes
afinal vivemos em uma sociedade altamente o desenvolvimento e/ou aprendizagem (por procedimentos e estratégias; avaliação que possuem DA e outros fatores que
letrada, em que a cobrança futura sobre exemplo ambientes familiares e educativos diagnóstica dos discentes que apresentem possam contribuir para que se enquadrem
esse discente poderá prejudicar sua vida so- pobres, projetos instrucionais inadequados, necessidades educativas especiais com como discentes com dificuldade de
cial e sua inserção no mercado de trabalho. etc); articulação e apoio dos setores de outros aprendizagem. Negar o acesso ao currículo
c) uma combinação das anteriores em sistemas; objetivos gerais que levem acaba por contribuir para uma inclusão
Por outro lado, tal “problema” não é algo que as condições pessoais são influen- em conta a diversidade dos alunos e um apenas no papel, ou “para gringo ver” urge
que gere impedimento para que pessoas ciadas – de forma positiva ou negativa, currículo que flexibiliza a sequenciação e então que oportunidades de formação
com DA se destaquem em outras habili- conforme os casos – pelas circunstân- consegue eliminar determinados objetivos continuada, acesso a materiais e, sobretudo,
dades e competências que requerem menos cias ambientais. (ROMERO, 2004, p. 54). específicos a fim de atender às diferenças oportunização para que as escolas consigam
uso da linguagem, afinal a DA é uma dificul- individuais.Ressalte-se que flexibilização fazer mudanças, venham a contribuir para um
dade localizada em um determinado campo. Tendo em vista que no Brasil ainda temos não é sinônimo de facilitação, afinal é dever currículo mais humanizado e individualizado.
O que torna outras aulas atrativas e pode uma desproporção social, que afeta, sobretu- da escola o desenvolvimento do cognitivo
gerar uma “preguiça” em habilidades que re- do os discentes de escolas públicas e as neces- do discente, porém, para que esse de fato Sobre esse conceito de ensino
querem o uso mais exaustivo da linguagem. sidades educativas que hoje são notórias em ocorra, torna-se necessário que esteja ao heterogêneo ressalta Leite (2011) que
razão da inclusão de vários tipos de alunos, a alcance cognitivo do aluno. Vale ressaltar que o ensino deve considerar as diferenças
Percebe-se assim a causa do insucesso em questão da adaptação curricular se torna cada necessidades educacionais não se condiciona individuais para prover condições
determinadas disciplinas ou habilidades, que vez mais necessário no debate educativo. especificamente aos discentes com algum diferenciadas, com o objetivo de que
devem ser adaptadas ao grau de desenvolvi- tipo de deficiência, segundo documento todo o aluno aprenda satisfatoriamente
mento do discente em vez de considerar que do MEC sobre Estratégias para a Educação em ambiente não segregado, tal qual
esse indivíduo está finalizado ao não aprender, ADAPTAÇÕES CURRICULARES de alunos com Necessidades Especiais: havia antes, quando esses discentes eram
tal visão gera uma inclusão estigmatizada que deixados em classes especiais para que
contribui para consequências danosas, sem Para que se efetive de fato a inclusão A expressão necessidades educacionais especiais pode pudessem alcançar o nível de escolaridade
citar a busca de uma patologização e medi- de todos os alunos e alunas, adaptações ser utilizada para referir-se a crianças e jovens cujas esperado para a série a ser frequentada.
necessidades decorrem de sua elevada capacidade ou de
calização desses discentes, ou fazer de conta do currículo em pequena ou grande esca- suas dificuldades para aprender. Está associada, portanto,
que não existem. Segundo Carvalho (2004): la são uma estratégia básica para que haja a dificuldades de aprendizagem, não necessariamente
Para que ocorra a adaptação curricular
atenção à diversidade e que deveriam, se- vinculada a deficiência (s). (MEC, 2003, p. 27) Heredero (2010) sugere a elaboração de
Negar a deficiência (sensorial, mental, física, moto- gundo Heredero (2010) estar inserida no um documento (DACI Documento de
ra, múltipla ou decorrente de transtornos invasivos
projeto político-pedagógico (HEREDERO, O ensino deve então levar em conta Adaptação Curricular Individual) e uma
do desenvolvimento) de inúmeras pessoas é tão per- diferenças individuais, que se tornam pontuais série de procedimentos como: Delimitação
verso quanto lhes negar a possibilidade de acesso, in- 2010). Ainda segundo Heredero (2010):
gresso e permanência bem-sucedida no processo ed- e delimitadoras do indivíduo, o documento dos profissionais implicados; delimitação
ucacional escolar, recebendo a educação escolar que ditado exemplifica algumas situações: das necessidades educativas especiais;
melhor lhe permita a remoção de barreiras para sua Chamaremos adaptações curriculares as que preten- integração de dados obtidos; implantação do
aprendizagem e participação. (CARVALHO, 2004, p. 60) dem, mediante a aplicação do princípio de inclusão de Crianças com condições físicas, intelectuais,
todos, oferecer a esses alunos a máxima oportunidade DACI; acompanhamento e avaliação com as
sociais, emocionais e sensoriais diferenciadas;
de formação possível no contexto de sua escola, as- possíveis modificações e revisões dos planos
Segundo Romero (2004, p. 54) resu Crianças com deficiência e bem-dotadas;
sim como dar uma resposta, através do princípio de Crianças trabalhadoras ou que vivem nas ruas; propostos pela equipe. Essas estratégias
mindo possíveis causas das DA indi- atenção à diversidade, às necessidades que manifestam Crianças de populações distantes ou nômades; tendem a contribuir para os docentes
ca que elas podem ser atribuídas a: em seu processo educativo. (HEREDERO, 2010, p. 198) Crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais; com os alunos e alunas que possuem DA
Crianças de grupos desfavorecidos ou
e ajudam na promoção de uma escola em

198 199
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

que a inclusão ocorra no seu cotidiano, com seu tempo e suas condições. A REFERÊNCIAS LEITE, Lúcia Pereira et al. A adequação
na sua comunidade e na sua realidade. escola então passa a cumprir o papel de curricular como facilitadora da
contribuir para amenizar as desigualdades educação inclusiva. Psicol. educ., São
Essas adaptações curriculares são sociais que ainda persistem em nosso país. BORUCHOVITCH, Evely. Dificuldades de Paulo, n. 32, p. 89-111, jun. 2011.
assim uma resposta para compensar as aprendizagem, problemas motivacionais
dificuldades de aprendizagens dos discentes e estratégias de aprendizagem, in Sisto F, MARCHESI, Álvaro: Da linguagem da
de modo individualizado, porém harmônico Boruchovitch E, Fini L. Brenelli R, Martinelli S, deficiência às escolas inclusivas. In:
com o currículo escolar, possibilitando o orgs. Dificuldade de aprendizagem no contexto Desenvolvimento psicológico e educação
acesso ao currículo mínimo previsto para a psicopedagógico. Petrópolis. Vozes, 2011. 3. Transtornos do desenvolvimento e
série/ciclo em que o discente está inserido. necessidades educativas especiais. COLL,
BRAGA, Simone da Silva: Problemas de César; MARCHESI, Álvaro e PALACIOS,
aprendizagem e suas relações com a família. Jesús. Porto Alegre. Artmed, 2004.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Psicopedagogia, revista da associação
brasileira de psicopedagogia. n.º 74. 2007. MEC (SEESP/MEC): Estratégias para a
educação de alunos com necessidades
O Brasil, atualmente, é signatário de CAPOVILLA, Fernando: Os novos educacionais especiais; organização:
acordos internacionais e possui uma caminhos da alfabetização infantil. Maria Salete Fábio Aranha. - Brasília:
legislação abrangente sobre o tema da 2.ª ed. – São Paulo. Memnon, 2005. Ministério da Educação, Secretaria
inclusão de alunos e alunas com necessidades de Educação Especial, 2003.
especiais. Assim a segregação não é mais uma CORSO, Helena Vellinho: Dificuldade de
realidade das escolas brasileiras, mas para aprendizagem e atrasos maturativos – OLIVEIRA MK. Ciclos de vida: algumas
que tal inclusão ocorra, há a necessidade CÍNTIA DIAS DE SOUZA atenção aos aspectos neuropsicomotores questões sobre a psicologia do
de se revisitar o currículo. A Dificuldade na avaliação e terapia psicopedagógicas. adulto. Educação e Pesquisa, 2004.
de Aprendizagem é um termo utilizado Psicopedagogia, revista da associação UNESCO: Declaração Mundial
para as dificuldades do aprender que Graduação em Pedagogia pela brasileira de psicopedagogia n.º73. 2007. de Educação para Todos (1990).
ocorrem com discentes com um potencial Universidade São Marcos (2007);
intelectual normal, porém com dificuldades Professora de Educação Infantil no CEI EDLER CARVALHO, Rosita: Educação
pontuais, sobretudo nas habilidades e ngela Maria Fernandes. inclusiva: com os pingos nos “is”
competências relacionadas ao ler e escrever. Porto Alegre. Mediação, 2004

Com o consenso de que a inclusão é FONSECA, Victor da: Dificuldades de


um direito, surge a necessidade de se aprendizagem: na busca de alguns axiomas.
adaptar o currículo para que todos os Psicopedagogia, revista da associação
alunos possam participar efetivamente da brasileira de psicopedagogia. n.º 74. 2007.
vida social, reconhecidos como sujeito e
inseridos no mercado de trabalho. Torna-se GARCÍA, Sánchez. Dificuldades de
então necessário que todo o grupo escolar aprendizagem e intervenção psicopedagógica.
esteja centralizado em um currículo que Trad. Ernani Rosa. - PortoAlegre.Artmed, 2004.
possa ter sua flexibilização em razão das HEREDERO, Sebastian: Adaptações
carências do indivíduo, não o fatalizando e curriculares, estratégias
oportunizando um aprendizado condizente na escola inclusiva, 2010.

200 201
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO para promover o exercício deste direito.

Neste artigo abordamos o que é


brincadeiras e a visão de infância segundo AS BRINCADEIRAS E AS
importantes teóricos. Definir brincadeira CONCEPÇÕES TEÓRICAS
não é uma tarefa fácil, segundo um dos SOBRE A INFÂNCIA
mais conhecidos dicionários brasileiros,
organizado por Aurélio Buarque de Holanda A brincadeira é uma forma de
Ferreira (2000), define que brincadeira comportamento social, específico da
é o ato ou efeito de brincar, brinquedo, infância. A criança nasce dentro de um
entretenimento, passatempo, divertimento, contexto social que a identifica como
gracejo, piada. Segundo o Referencial ser histórico e desenvolve- se por meio
Curricular Infantil (1988), “as formas de da interação que estabelece desde
andar, correr, arremessar e saltar já resultam cedo com os adultos. Na verdade
em interações sociais e da relação dos não existe na criança a concepção do
homens com seu meio . Isto significa que o brincar, por ser uma forma de
meio é transformado de acordo com nossas comportamento social. As ideias e ações
necessidades, interesses e possibilidades adquiridas pela criança provém do
corporais humanas presentes nas diferentes mundo social, incluindo a família e o seu
culturas em diversas épocas da história. círculo de relacionamento, portanto,
aprende- se a brincar (WAJSKOP, 2009, p.
“Esses movimentos incorporam-se aos 29).
comportamentos dos homens, constituindo-
se assim numa cultura corporal. Dessa Conforme Wajskop (2009), a
forma, diferentes manifestações dessa brincadeira é um fato social, espaço
AS BRINCADEIRAS E AS CONCEPÇÕES TEÓRICAS SOBRE A INFÂNCIA linguagem foram surgindo, como a dança, o privilegiado de interação e de constituição
jogo, as brincadeiras, as práticas esportivas do sujeito- criança como sujeito
etc., nas quais se faz uso de diferentes humano, produto e produtor
gestos, posturas e expressões corporais de história e cultural.
com intencionalidade” (RCNEI, 1988, p. 15).
RESUMO: Por meio do relacionamento que as crianças estabelecem, não só com adultos, mas Como ser social a criança procura conhecer
As brincadeiras são a essência da
também com outras crianças, ela nomeia objetos imita pessoas, ou outros elementos que observou, o mundo por intermédio das brincadeiras. infância. Ao retornar a história e a
formula perguntas, elabora respostas, dá significado ao mundo a sua volta, influencia e por ele é influ- O Brincar é um direito de todas as crianças evolução do homem na sociedade,
enciado. As crianças brincam de várias maneiras e todas são fundamentais, para seu desenvolvimento do mundo, garantido no princípio VII da percebemos que a criança nem
físico, emocional, afetivo e cognitivo, além de promover construção social e cultural, a torna intensa, Declaração Universal dos Direitos da sempre foi considerada como é
hoje. Antigamente, ela não tinha
viva, criativa, e a faz feliz e, por isso, mais propensa a ser bondosa, a amar o próximo e a ser solidária. Essa Criança- Fundo das Nações Unidas para a existência social, era considerada
investigação de cunho exploratório se deu pormeio de uma pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa. Infância (UNICEF) que afirma que a criança uma adulto em miniatura. Seu valor
tem o direito de desfrutar plenamente era relativo, nas classes altas era educada para o futuro e nas
de jogos e brincadeiras os quais deverão classes baixas o valor da criança
iniciava quando ela podia ser útil ao
Palavras-chave: Brincadeiras; Jogos; Educação; Infantil; Concepção. estar dirigidos para educação; a sociedade trabalho, colaborando na geração
e as autoridades públicas se esforçaram de renda familiar. A brincadeira era

202 203
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

de ensino propunha atividades didáticas Gisela Wajskop (2009) acredita que


considerada como fuga ou recreação e a imagem social Rousseau (1712) criou uma proposta baseadas nas ideias de totalidade do por intermédio das brincadeiras, a criança
da infância educacional a favor da criança, que combatia funcionamento psicológico e no interesse da vivencia o mundo dos adultos se preparando
não permitia a aceitação de um comportamento infantil, preconceitos, autoritarismo e todas as criança, adequadas ao pensamento infantil. para a vida em sociedade. A autora afirma que:
espontâneo,
que pudesse significar algum valor em si. Cada época e instituições sociais que violentasse a
cada cultura liberdade característica da natureza infantil. Montessori (1879), médica psiquiatra [...] a criança desenvolve- se pela experiência social, nas
interações que estabelece desde cedo, com a experiência
tem uma visão diferente de infância, mas a que mais Revolucionou a educação de seu tempo ao foi à primeira mulher a se formar em sócio- histórica dos adultos e do mundo por eles criado.
predominou foi à afirmar que “a infância não era apenas uma via medicina em seu país e inclui- se na lista
criança como ser inocente, inacabado, incompleto um Desta forma, a brincadeira é uma atividade humana
ser em de acesso, um período de preparação para a dos principais construtores de métodos na qual as crianças são introduzidas constituindo-
miniatura, dando à criança uma visão negativa (SANTOS, vida adulta, mas tinha valor em si mesmo”. Suas adequados à educação infantil. Segundo se em um modo de assimilar e recriar a experiência
sócio- cultural dos adultos (WAJSKOP, 2009, p. 25).
2007, 19). ideias abriram caminho para as concepções Oliveira (2008), Montessori criou, portanto,
educacionais de Pestalozzi (1746), que
Com a ruptura do pensamento reagiu contra o intelectualismo excessivo da [...] instrumentos especialmente elaborados
romântico, a brincadeira é valorizada e para a educação motora (ligados, sobretudo A brincadeira é um fenômeno cultural
educação tradicional, considerava que a força à tarefa de cuidado pessoal) e para a por meio dela a criança interage com
ganha espaço na educação das crianças vital da educação estaria na bondade e no
pequenas. Mas para que isso fosse
educação dos sentidos e da inteligência, por outras crianças ou com adultos, adquire
amor, tal como na família e sustentava que a exemplo: letras móveis, letras recortadas
experiências explora o meio que vive,
possível, foi necessária uma profunda educação deveria cuidar do desenvolvimento em cartões- lixa para a aprendizagem da
mudança na imagem da criança na leitura, contadores, como o ábaco, para a pensa, imagina, satisfaz seus desejos,
afetivo das crianças desde o nascimento. aprendizagem de operações com números. internalizam regras e papéis sociais e
sociedade, para que se pudesse associar
uma visão positiva à suas atividades
Foi ainda quem valorizou a diminuição do aprende sobre os objetos da cultura humana
tamanho do mobiliário usado pelas crianças
espontâneas, como jogos e brincadeiras. As ideias de Pestalozzi foram levadas nas pré- escolas e a exigência de diminuir
estando aptas a viver em sociedade.
Importantes autores estabeleceram adiante por Froebel (1782), que criou o Jardim os objetos domésticos cotidianos a serem
utilizados na casinha de bonecas. (OLIVEIRA, As culturas infantis são constituídas por um conjunto
bases para um sistema de ensino de Infância. Sua proposta educacional incluía de formas, significados, objetos, artefatos que conferem
2008, p. 65).
centrado na criança, embora com ênfases atividades de cooperação, partia da intuição modos de compreensão simbólica sobre o mundo. Ou seja,
diferentes entre si, reconheciam que e da espontaneidade infantil, preconizando brinquedos, brincadeiras, músicas e histórias que expressam
as crianças tinham necessidades e uma auto-educação pelo jogo, por suas o olhar infantil, olhar construído no processo histórico de
No século XX, Piaget (2006), afirmou que diferenciação do adulto. Os brinquedos e brincadeiras
características próprias e necessitavam vantagens intelectuais e morais e de seu valor a partir da brincadeira a criança pode elaborados e vivenciados pelas crianças ao longo da história
de métodos adequados para seu no desenvolvimento físico. Elaborou canções demonstrar o nível cognitivo que se da humanidade são, portanto, objeto de estudo que surgem
desenvolvimento e educação. e jogos para educar sensações e emoções, encontra, além de permitir a construção de à medida que entendemos a infância como categoria
confeccionou brinquedos para a aprendizagem geracional sociologicamente instituída e produtora de
conhecimentos. Vygotsky (2007) definiu a uma cultura própria (2003, apud CARVALHO, 2007).
A partir dos trabalhos de: Comenius da aritmética e da geometria, além de propor que brincadeira como resultado de Influências
(1593) que recomendava para a as atividades educativas incluíssem conversar, sociais que a criança recebe ao longo do tempo
educação das crianças pequenas o uso poesias e o cultivo da horta pelas crianças. e a compreendeu como situação imaginária A brincadeira, por ser um comportamento
de materiais audiovisuais, como livros criada por elas, preenchendo necessidades social e fenômeno cultural, tem valor e
de imagens, materiais pedagógicos Entre os pensadores da educação na virada que muda de acordo com a idade. Além significados diferentes em cada cultura,
(quadros, modelos, etc.) e atividades do século XIX para XX, médicos e sanitaristas destes importantes autores muitos outros é possível encontrar nas brincadeiras das
diferentes (passeios, etc.), realizadas fizeram- se presentes na orientação do colaboraram e possibilitaram mudanças crianças os mesmos gestos coreografias
com as crianças de acordo com suas atendimento prestado às crianças. O médico significativas na sociedade, assim como e brinquedos, mas de acordo com a época
idades, que as auxiliam a desenvolver e educador Decroly (1871), defendia o uma nova concepção de infância. A criança podem apresentar diferentes aspectos
aprendizagens abstratas e a ensino voltado para o intelecto e não a passou a ser considerada como uma criatura e características. Como a brincadeira de
comunicação oral. aprendizagem mecânica. Seu trabalho era especial com especificidades, características roda, realizada em diferentes culturas,
estruturado segundo três eixos: observação, e necessidades próprias, com uma mas que se modifica de acordo com os
Em oposição aos ideais religiosas, associação e expressão. Sua metodologia identidade pessoal (SANTOS, 2007, P. 19).

204 205
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

situações mentais que lhe propiciam prazer sexual, reproduzem em suas brincadeiras
traços culturais e o contexto social de mas independente de sua origem ou época, ou a realidade ausente, isso significa exemplo, suas experiências, muitos psicólogos
cada grupo.Segundo Kishimoto (2001) continuam contribuindo com o desenvolvimento um cabo de vassoura se torna um cavalo e têm utilizado a brincadeira como recurso
das crianças em todos os aspectos (KISHIMOTO, ela finge que está cavalgando, quando está para diagnóstico e cura de traumas,
2001, p. 38). A brincadeira é recriada pela criança no balanço age como se estivesse num avião, alívio de angústias, para superar
[...] uma criança indígena que se diverte atirando com arco com seu poder de imaginação, esta por sua vez se quando corta papéis para representar dinheiro temores e ansiedades e outras situações
e flecha em pequenos animais, para um observador pode desenvolve por toda vida, mas para que a ela tenha que será usado na brincadeira de lojinha. desfavoráveis para o desenvolvimento
representar uma brincadeira, para a comunidade indígena
nada mais é que uma forma de preparo para a arte da caça capacidade de criar é importante que viva em um Neste caso a criança é capaz de abstrair as saudável. Segundo Winnicott (1973),
necessária à subsistência da tribo, ou uma criança que ambiente rico e estimulante e tenha diversidade características dos objetos reais e atribuir quando uma paciente não pode brincar,
brinca com uma boneca de “filhinha”, para certas tribos de experiências. O ambiente deve ser repleto um outro significado, que será definido no o psicoterapeuta tem de atender a
indígenas, conforme pesquisas etnográficas é símbolo de de ludicidade. De acordo com o Referencial momento da brincadeira. Segundo Vygotsky: esse sintoma principal, antes de
divindade, objeto de adoração. (KISHIMOTO, 2001, p 15).
Curricular Nacional da Educação Infantil (1988): interpretar fragmentos de conduta.
A criança passa a criar uma situação ilusória e imaginária,
A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém um vínculo como forma de satisfazer seus desejos não realizáveis. De modo simplificado podemos
Conforme Benjamin (2002), em épocas essencial com aquilo que é o “não brincar”. Se a brincadeira é [...] e brinca pela necessidade de agir em relação ao
remotas, o chocalho utilizado pelos bebês, uma ação que ocorre no plano da imaginação isto implica que mundo mais amplo dos adultos e não apenas ao universo dizer que nenhum outro método
era um instrumento de defesa contra os maus aquele que brinca tenha o domínio da linguagem simbólica. dos objetos que têm acesso (VYGOTSKY, 2002, p.82). seria tão eficaz para promover da
espíritos. As brincadeiras que conhecemos Isto quer dizer que é preciso haver consciência da diferença mesma forma e intensidade benefícios e
existente entre a brincadeira e a realidade imediata que lhe vantagens para um desenvolvimento
passaram de geração em geração, e são forneceu conteúdo para realizar-se. Nesse sentido, para brincar
A brincadeira traduz o mundo
consideradas parte da cultura popular, estão é preciso apropriar-se de elementos da realidade imediata de tal para a realidade infantil, é uma saudável e aprendizagens significativas,
em constante transformação e possuem forma a atribuir-lhes novos significados. Essa peculiaridade da linguagem natural e não verbal, portanto pois brincando, a criança constrói relações
diferentes origens pelo mundo afora. De acordo brincadeira ocorre por meio da articulação entre a imaginação imprevisível e espontânea, deve ser interpessoais, internaliza regras de
e a imitação da realidade. Toda brincadeira é uma imitação organização e convivência e ainda
com o Caderno da Rede em Rede, Formação transformada, no plano das emoções e das ideias, de uma
algo livre, sem muitas interferências
Continuada da Prefeitura de São Paulo (2011): realidade anteriormente vivenciada (RCNEI, 1988, p. 27). de adultos, pois é por meio dela que a desenvolve a capacidade de autocontrole,
criança transforma sua realidade desenvolve a harmonia e aguça a
As brincadeiras tradicionais infantis chegaram ao Brasil utilizando- se da imaginação, transportando curiosidade. Com isso, promove a
por intermédio dos portugueses incorporado a cultura Independente da época, cultura ou classe suas necessidades e emoções, a qual criatividade e o divertimento, aumenta
lúdica brasileira, e recebeu influência dos povos negros social, a brincadeira faz parte da vida das expressa como ela interpreta o mundo. a autoestima e desenvolve o senso
e dos índios. Os índios que viviam no Brasil antes da
chegada dos portugueses em 1500 utilizavam uma trouxa crianças. Existem várias formas de brincar, Esta ação é tão benéfica e terapêutica crítico, proporciona segurança,
de folhas com pedras que eram amarradas numa espiga cada uma delas contribui com propósitos para as crianças que durante diferentes forma de linguagem, a auto
de milho. Eles jogavam essa trouxa de um lado para o específicos no desenvolvimento de importantes as brincadeiras, elas são capazes de realização, aprimora habilidades e
outro e chamavam de Peteca, que em tupi significa bater. capacidades, algumas destas brincadeiras, nós lidar com complexas dificuldades de possibilita a assimilação de valores. Desta
A amarelinha que é de origem francesa chegou ao Brasil
trazida pelos portugueses e logo tornou- se popular. conhecemos e até brincávamos na infância: ordem psicológica, física e motora, forma, a criança constrói sua realidade,
Empinar pipas, jogar pedrinhas já eram praticadas na além de construir, acionar e estimular se apropria dos signos sociais e
Grécia e no Oriente. (REDE EM REDE: A FORMAÇÃO Passa-anel; batatinha frita; batatinha quando nasce; boca de compreende o mundo, a vida cotidiana
forno; piques; cabra-cega; cadê o toucinho que estava aqui ?;
estruturas mentais e físicas, que contribuem
CONTINUADA NA EDUCAÇÃO INFANTIL, 2011, p. 9).
Caí no poço, quem me acode?; Casa da baleia; casamento oculto; para um desenvolvimento pleno e e de forma sutil entra no mundo adulto.
chicotinho queimado; corre-cutia; estátua; gambá roubando satisfatório. Até mesmo ao observar Segundo o Referencial Curricular
Segundo Kishimoto (2001), a brincadeira
galinha; jogar lenço; mamãe, posso ir?; Pular corda; soltar pipa; uma criança brincando com seus Nacional da Educação Infantil (1988):
é a manifestação livre da cultura popular, quebrar a corrente; salada-saladinha; sô lobo taí?; Roda, pião;
brinquedos, interagindo com outras Brincar é uma das atividades
é tradicional e tem a função de perpetuar serra, serra, serrador; tatu passa aí?; [...] (Guia Pedagógico-
crianças, ou brincando de faz- de- conta, é fundamentais para o desenvolvimento
a cultura infantil, desenvolver formas de Atividades Lúdicas no cotidiano Escolar, 01/03/2010).
possível perceber seus comportamentos da identidade e da autonomia. O
convivência social e permitir o prazer de
e atribuir significados. Crianças que fato de a criança, desde muito cedo,
brincar. Muitas brincadeiras preservam sua
Durante a brincadeira a criança utiliza- se de vivem em ambientes perigosos, que poder se comunicar por meio
estrutura e características iniciais, outras
sinais, gestos, objetos e do espaço para representar sofrem violências domésticas, ou abuso de gestos, sons e mais tarde
se modificam recebendo novos conteúdos,
representar determinado papel na brincadeira.

206 207
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Nas brincadeiras as crianças podem Quando brincam ao mesmo tempo que


desenvolver algumas capacidades importantes, desenvolvem sua imaginação,
tais como a atenção, as crianças podem construir
a imitação, a memória, a imaginação. relações reais entre elas e elaborar
Amadurecem também algumas regras de organização e convivência.
capacidades de socialização, por meio da Concomitantemente a esse
interação e da utilização e processo, ao reintegrarem situações
experimentação de regras e papéis sociais de sua realidade. Ao brincarem
as crianças vão construindo a REFERÊNCIAS
(RCNEI, 1988, p. 22).
consciência da realidade, ao mesmo
Cada pessoa é um ser único com características, tempo em que já vivem uma ARCE, A. Grandes Pensadores. Revista Nova
particularidades, possibilidade de modificá- la (WAJSKOP, Escola. São Paulo, vol. 3, p. 03- 130. Jul. 2009.
especificidades, conhecer e considerar a 2009, p. 25).
criança é respeitá- la como sujeito BESSA, V. da H. Teorias da
social com identidade própria, capaz de pensar Aprendizagem. Teorias da Aprendizagem.
e agir de modo crítico Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2008.
participativo. É por meio da brincadeira que a CONSIDERAÇÕES FINAIS CINTIA FERNANDES DA SILVA
criança se prepara para o futuro BRASIL, MEC. Secretaria Da Educação
DE FRANÇA Fundamental: Referenciais Curriculares
e para enfrentar os desafios e dificuldades do
presente, pois quando brinca a A infância é a idade do possível, Nacionais da Educação Infantil.
Graduação em Pedagogia pela Faculdade Brasília: MEC/SEF/SEESP, 1998.
criança se depara com desafios e problemas, pode se projetar sobre ela a
esperança de mudança de transformação de Tecnologia e Negócios Carlos Drummond
devendo constantemente buscar
soluções para saná-los. A brincadeira auxilia a social e renovação moral. A de Andrade, Pós em Ludopedagogia. PIAGET, J. A formação do símbolo na
criança a criar uma imagem de brincadeira é um recurso privilegiado e Professora da rede municipal de São Paulo. criança: imitação, jogo e sonho, imagem e
si mesma, manifestar gostos desejos, dúvidas, instrumento facilitador de aprendizagem representação. 3º ed. Rio de Janeiro: AS, 1990.
mal estar, criticas, e de transformação, ao estimar esta ação
aborrecimentos, etc. Durante a brincadeira a se torna um valioso recurso para ser SANTOS, S. M. P. dos. O lúdico
criança representa e revela usado no desenvolvimento de indivíduos na Formação do Educador. 7º ed.
características, comportamentos e hábitos criativos que serão fonte de inovação Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2007.
internalizados de si mesma, do outro tão necessária para a sobrevivência
e do mundo. Para Wajskop (2009). científica e tecnológica da nossa VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente.
sociedade. A brincadeira, portanto é mais 7º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
É, portanto na situação de brincar que as que mera distração, é uma linguagem que WAJSKOP, G. Brincar na pré-escola.
crianças se podem colocar a criança revela sua forma de pensar, 8º ed. São Paulo: Cortez, 2009.
desafios e questões além de seu agir e falar, de construir ideias de si
comportamento diário, levantando mesmo e dos outros, experimentar ZILMA, R. de O. Educação Infantil:
hipóteses na tentativa de compreender os sensações, interpretar, interagir, Fundamentos e Métodos. 4º
problemas que lhe são desenvolver habilidades e com isso ed. São Paulo: Cortez, 2008.
propostos pelas pessoas e pela realidade com compreender melhor o mundo.
a qual interagem.

208 209
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO aperfeiçoando a maneira que ela visualiza o


mundo e como sente as situações.
A criança desde o nascimento, interage com Sendo assim, o educador age para apontar
diversos parceiros que lhe auxiliam a significar os significados das ações executadas pelas
o mundo e a si própria, realizando um número crianças, daí surge a importância de o
crescente de diferentes aprendizagens e professor visualizar a criança como parceira
construindo um saber históricos singular e ativa, dona de um modo próprio de significar
próprio. Nas instituições de educação infantil, e olhar o mundo e a si mesma. Nesse ponto
o professor tem um papel singular, pois a ele é importante reformular as concepções de
cabe a responder as necessidades das crianças ensino onde a criança é colocada como
e atuar como um mediador do espaço na qual mero receptor de suas mensagens, deve-se
elas estão inseridas, pois ele se torna um adotar uma concepção que visa ampliar o
recurso que elas dispõem para o aprendizado olhar para as diferentes fontes de ensino que
onde no decorrer dessas interações que o cercam as crianças como, outras crianças,
professor estabelece com elas é importante adultos, o meio que a cerca, as situações do
ser sensível as necessidades e desejos que elas cotidiano, e sobretudo a atividade infantil que
Artes visuais como meio de desenvolvimento possam a apresentar, fortalecer as relações
estabelecidas, entre si e com os outros,
continuamente atribui sentido aos signos que
lhe são apontados.
na educação inclusiva envolvê-las em atividades variadas, mediar a
realização dessas atividades e otimizar o uso Essas ações dos professores junto as
dos mais diferentes recursos, tecnológicos, crianças são historicamente e culturalmente
RESUMO: O campo da criação visual no ensino infantil tradicionalmente é tratado como físicos e éticos. construídas e se baseiam na representação
uma expressão massificada que nem sempre revela todo o potencial infantil, geralmente que ele faz do seu papel e da concepção
esses momentos são tratados como recreação, entretenimento, passatempo, relaxamento Essa mediação do professor se faz de educação e criança que ele possui, por
entre as atividades consideradas relevantes. Acabam-se realizando atividades que não presente à medida que busca ações para exemplo se o professor não acredita que
ampliam os conhecimentos das crianças para outras propostas mais elaboradas, também familiarizar a criança com significados os bebês são capazes de interagir com os
ocorre a repetição da mesma atividade ao longo do ano, como pintar desenhos de pontos históricos elaborados para orientar o agir e o companheiros, ele acaba separando as
por exemplo, portanto notamos a necessidade de defender que o cultivo da expressão compreender das situações e elementos do crianças e atendendo eles individualmente,
infantil no campo da visualidade deve ser vivida em experiências que se iniciam de modo mundo, agindo de forma indireta, pelo arranjo porém se esse educador acredita na ideia de
exploratório e que se organizam pouco a pouco ajudando as crianças a se apropriarem de do contexto de aprendizagem das crianças: os que os bebês podem interagir com os colegas,
procedimentos específicos como arranhar, escorrer, sobrepor em camadas, rasgar, cortar e espaços, objetos, horários, grupos formados. trocar e descobrir os objetos, o espaço no qual
outros. O educador atua de forma direta com as está inserido, imitar os gestos, expressões e
crianças na medida que apresenta modelos, vocalizar, esse professor acaba organizando a
responde i que elas perguntam, faz perguntas, sala com o objetivo de se tornar acolhedora e
Palavras chave: Desenvolvimento Infantil; Artes visuais, desenho, pintura. conhece o meio na qual estão inseridas, dá estimulantes, onde possibilite a exploração e
colo quando necessário e se opõe ao que o descobrimento para esses bebês.
elas se posicionam na intenção de ampliar o Logo é imprescindível darmos a devida
olhar e ensinar as regras do seu grupo social importância a essas ações e representações,

210 211
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

pois elas devem constituir o foco do trabalho aspectos da cultura que as rodeia, partindo dos já estabelecidos, situação que se articula de suas opiniões, tratando o mundo na sua
reflexivo sobre as práticas junto as crianças, dessa interação com objetos e mediada pelo com todo trabalho ocorrendo em relação ao complexidade.
como forma de pesquisar métodos mais convívio com outras pessoas, por informações domínio das linguagens que o rodeia.
sensíveis de cuidar e educar. Ao longo do veiculadas na mídia e por meio de imagens, Logo os espaços de educação infantil tem
seu trabalho, o educador busca conhecer a criança elabora noções onde se mistura à A Arte é uma forma de comunicação como propósitos o educar no sentido amplo
cada uma das crianças do seu grupo, fazendo fantasia, o pensamento mágico e algumas não verbal, onde os sentimentos, e o do ternos: desafiar as crianças a pensar com
observações sobre elas e discutindo o seu tentativas de formulação lógica, pois, quanto conhecimentos com relação ao universo, a imaginação, desenvolvendo a criatividade
olhar sobre o mundo e as situações cotidianas mais oportunidades as crianças tiverem para vida e o meio habitual para pessoas portadoras e proporcionando o prazer, pois conforme
que os rodeiam, esses momentos fazem falar e ouvir opiniões de adultos, ou de outras de deficiências tem grande valor, pela a as crianças tem a oportunidade de interagir
parte da sua formação continuada dentro da crianças, sobre fenômenos, fatos e situações necessidade muitas de trabalhar questões com o professor, com outras crianças, com a
unidade de ensino. cotidianas que são observadas, mais elas emocionais, sensoriais. natureza, com o meio na qual está inserida
poderão pensar e elaborar ideias sobre eles. social e cultural, ela podem de um modo ativo,
A curiosidade e a observação são Com a ação da Arte poderá oferecer lúdico e crítico, apropriar-se de conceitos,
características presentes nas crianças desde Na intenção de apreender o contexto na melhores auxílios para os portadores de mensagens e ideias que consolidam formas
cedo e por meio delas e dos questionamentos qual estão inseridas, as crianças buscam inclusão, expressando suas necessidades e de pensar, assim, possibilitando o acesso
que fazem aos adultos próximos, pois elas estabelecer a relação do que já conhecem com limitações, proporcionando, além do espaço a fontes variadas de informações e de lazer
tentam compreender o mundo no qual as os fragmentos de conhecimento que ainda para a expressão do autoconhecimento, uma com características plurais, são fatores
cerca, físico e social. Vive num mundo repleto não possuem, sendo assim, vão construindo melhoria da autoestima, da percepção do fundamentais para a construção de noções
de experimentações onde buscam entender o teorias que supõem mais do que um simples mundo, da integração social, e o conhecimento que ajudam elas a compreender o mundo
“como” e “porquê” das coisas que os cercam, registro perceptivo, envolve relações, si mesmo, sem deixar de falar do mundo ao como múltiplo, rico em culturas e diferenças
essa mentira que as crianças explicam seus correspondências, implicações, etc. seu redor. sociais, econômicas e históricas.
elementos e descobertas do mundo no qual as
cercam demonstra uma variedade de riqueza Para conhecer e ajudar as crianças nessa As instituições de ensino devem ser
de interpretações e inquietações que ela construção, é importante que o educador espaçadas onde as crianças possam, com A importância da arte no
produz que são apreendidas na sua interação escute as questões e converse, procure a ajuda do professor, manipular alguns desenvolvimento infantil
cotidiana com os mais diferentes parceiros, entender os significados construídos, as instrumentos do processo de produção como
quando ela é confrontada com explicações relações estabelecidas, as comparações que construir, explorar, testar, descobrir cores, Segundo com os PCNs (1996), a função do
históricas elaboradas sobre o mundo. Sendo são feitas, nesse contexto, o professor deixa materiais, tecidos, tonalidades, técnicas, entre professor como mediador de cultura é trazer
assim, a interação com as situações e com os de ser um mero informante de conhecimento, outros, assim situando-se em relação as novas para as crianças informações que alimentam
parceiros mais experientes as fazem refletir um transmissor de conteúdo e passa a ser um informações, criando hipóteses, observando a construção do conhecimento, conforme é
e ressignificar suas hipóteses se apropriando investigador do que elas pensam na medida os materiais e escolhendo o mais adequado determinado o conteúdo, realizado o recorte
do conhecimento. em que interpreta as hipóteses, considera os para o seu trabalho. Pois a meta do trabalho temático e estabelecido os objetivos do
argumentos e analisa as suas experiências em pedagógico é o aprofundamento de um trabalho que irá realizar com elas, é o educador
Esse conhecimento se consolida nos relação aos contextos culturais. É importante pensar crítico, autônomo e solidário, embora que também realiza a escolha das fontes de
espaços de convivência social onde a criança criar um espaço saudável onde as crianças não seja igual ao pensar de outras pessoas, informações e as formas de registro a serem
se relaciona com adultos e com as outras possam falar, descrever, narrar, explicar, torna-se importante para o professor ajudar utilizadas, bem como a sistematização e
crianças, criam oportunidades para ela tornando-se assim requisito fundamental para as crianças a lidar com a heterogeneidade de a socialização dos conteúdos aprendidos,
construir e relacionar diferentes objetos e a construção e ampliação de saberes novos e explicações que constroem, com divergência pois parte das situações de aprendizagem

212 213
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

é documentar o trabalho de exploração, de origem africana para se orgulhar de sua relações de aprimoramento das explicações e incentivada pelos professores criando um
através de desenhos ou modelagens, guardar origem. historicamente elaboradas. ambiente favorável à criação.
o material colhido, organizar um mostruário,
registrar e organizar. Podemos aplicar essa mesma técnica Portanto, há momentos em que é No trabalho com artes visuais a história
para outras culturas presentes no dia a dia conveniente o professor promover situações da arte e as produções dos artistas não são
As experiências do cotidiano podem da educação infantil como a judia, chinesa, onde ele tenha uma participação mais colocadas como objetos e sim a serviço do
ainda oferecer as crianças oportunidade de japonesa, boliviana, portuguesa, italiana, ativa na organização e no desenvolvimento processo criativo da criança, da construção
identificar diferentes aspectos das relações entre outras. É uma boa forma de ajudar das atividades de pintura e desenho, o do fazer e pensar nos mais diferentes
sociais que aí se estabelecem, o que lhes as crianças a aprenderem sobre a história educador pode propor diversas ações como contextos, pois a experiência expressiva
proporciona condições de ir construindo uma pesquisando o modo de vida de personagens desenhar, colorir, experimentar texturas, não depende somente a busca por fazer,
visão da realidade, o que torna importante famosos, as pinturas e desenhos da época e cores, materiais macios, duros, ásperos, lisos, depende da importância do ver, apreciar
explorar de modo integrado os conceitos de as que representam um determinado período cortar, colar, entre outros, com o objetivo de e do fruir. O tempo de fazer deve ser
espaço e tempo, assim como as relações de ou cultura. evidenciar as propriedades dos materiais. equilibrado com o tempo de olhar, imaginar,
história, cultura e representatividade. pensar e conhecer diversos processos de
O objetivo de se trabalhar com as artes O campo de linguagens artísticas reúne produção, a simples escolha do material a
É muito importante que as crianças, durante visuais na educação infantil é auxiliar as aprendizagens para que toda criança ser utilizado abre possibilidades que são
os anos que passam dentro dos centros crianças a ampliar seus conhecimentos, se aproprie de diversas linguagens que sugeridas, por exemplo, por um papel de
de educação infantil, tenham acesso as suas ideias, com o intuito de observar as constroem as manifestações artísticas e cor diferente onde se vai desenhar, ou por
informações fundamentais para a construção produções culturais das mais determinadas trabalham a expressividade humana, sua uma massinha de textura nova, por isso a
de conhecimentos sobre a história da cultura épocas, o educador agindo como mediador ação criativa necessita da imaginação que se escolha e a apresentação dos materiais são
humana: as pinturas rupestres, os clássicos tem como necessidade desafiar a curiosidade desenvolve através do lúdico, por meio da extremamente importantes no processo de
da pintura, os vários estilos e épocas da da criança e a sua capacidade de observação, narrativa e da exploração de teatro, desenhos, criação (PCNS, 1996).
arte. Com isso as crianças podem aprender organizando as situações e os elementos pinturas, músicas. Essas linguagens apoiam
que existem múltiplas culturas feitas pelo de sua cultura e de outras culturas que as as crianças na ampliação de sua sensibilidade Definir a quantidade e a qualidade
homem, cada uma delas ricas em elementos rodeiam, estimular as interações infantis e a e capacidade de lidar com sons, melodias, dos materiais, disponibilizá-los de uma
simbólicos, produtos artesanais e artísticos, criatividade sugerindo atividades para que cores, imagens, obras elaboradas por artistas maneira que a criança se sinta incentivada a
podem aprender que, na história, muitos as crianças possam pensar, explorar, dialogar e por elas mesmos, a expressividade da arte experimentá-los e oferecer a ajuda necessária
povos foram dominados por outros e suas e reconhecer as diferenças, estruturar o pressupõe muita pesquisa, experimentação, para o desenvolvimento de suas ideias são
culturas foram praticamente destruídas ou ambiente de uma maneira que facilite a familiaridade com os matérias e com os pontos importantes em um planejamento
desvalorizadas, como por exemplo a cultura exploração e autonomia das crianças. É processos necessários do fazer artístico, que considere o modo próprio de agir, pensar
africana trazida para o Brasil pelos escravos importante o professor instalar, resgatar, para isso, devemos reconhecer a intenção, e sentir das crianças. É importante também
e outros migrantes, hoje buscamos conhecer propor perguntas, questionamentos, dúvidas o propósito, o prazer que está por trás de que o professor mostre o material antes
não só mais sobre essa cultura, mas também que mobilizem o processo de indagação cada gesto, traço ou movimento, sabendo da atividade, especialmente para crianças
a história dessas nações africanas, pois das crianças envolta de algum aspecto propor desafios que façam sentido para as pequenas entre 2 e 3 anos que recorrem
aprender sobre essa cultura e observar suas que possibilite a construção de novos crianças, incentivando as expressões nas a imitação do adulto para o aprendizado,
manifestações no nosso dia a dia auxilia no conhecimentos, pois ao tentar resolvê-los mais diversas linguagens de modo que a nessa apresentação deve ser feito o primeiro
combate ao preconceito, na luta contra a as crianças se envolvem com a situação, curiosidade infantil seja sempre alimentada contato e assegurar tempo para elas se
discriminação, dando as crianças e famílias constroem hipóteses, testam e estabelecem apropriarem das diversas possibilidades.

214 215
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Considerando que a criança quando O fazer artístico e a arte, não se limitam fará presente no ambiente educacional projeto político-pedagógico, no currículo, na
estimulada num ambiente lúdico, propício simplesmente ao papel recreativo, mas infantil, auxiliando a criança a fazer sozinha metodologia, de ensino, na avaliação e na
a arte e a livre expressão, ela tem o poder devem sempre ser compreendidos como várias leituras de mundo. A arte possui um atitude dos educadores, ações que possam
de criar e perceber os objetos simbólicos ao instrumentos pedagógicos que viabilizem repertório socialmente construído, marcado favorecer a integração social e a sua opção
seu redor, assim vivenciando ideias em um e contribuem para o desenvolvimento das pelas especificidades políticas, estéticas, por práticas inclusivas e heterogêneas. Assim
nível simbólico que as auxiliam compreender crianças, ampliando seus olhares em relação temporais e artísticas que nem sempre direcionar os conteúdos das disciplinas
o significado na vida real. O pensamento ao mundo, seu potencial cognitivo, seu fazem parte do cotidiano das crianças, nas ligadas a artes, pode variar a disposição
infantil evolui partindo de ações, razão pela emocional, etc. por outro lado o educador quais elas podem ter o acesso por meio da dos métodos de ensino entre alunos e
a qual o ambiente lúdico combinado com precisa acreditar que os educandos são mediação do professor e da escola. professores, proporcionar reforço positivo
atividades artísticas são tão importantes para capazes, são sujeitos ativos, criadores, e verbal, motivação dos grupos, adotando
o desenvolvimento infantil, pois, mesmo que capazes de dar sentido, construir relações, Esta percepção interdisciplinar pressupõe o ensino coletivo, individual e em grupos
a criança já conheça determinados objetos ou contextualizar, analisar e comparar aquilo vivência e experiência em interação com menores, propondo atividades, grupos de
já tenha vivenciado determinadas situações, que faz parte do seu cotidiano, utilizando fatores intrapessoais e interpessoais, sendo aprendizado.
a compreensão das experiências só se clareia como linguagem a arte. que quanto mais harmoniosa esta relação,
após a representação no universo do faz de mais profundo e significativo é o resultado É importante também elogiar as
conta, Essa brincadeira, parte de um jogo Devemos ressaltar que a arte não pode ser na prática pedagógica. Desta forma, o realizações concretas, planejar atividades
teatral, cria a oportunidade de expressar reduzida simplesmente ao papel decorativo fenômeno natural na atividade artística e que estimulem e motivem os alunos, motivar
e elaborar de uma maneira simbólica os e festeiro, destinada exclusivamente para lúdica, inclui o homem na sua totalidade: enviando bilhetes para a casa e reconhecer
desejos, conflitos, frustrações infantis. Nesse datas e comemorações, pois a arte valoriza mental, emocional e cultural, personificando com moedas de troca o esforço realizado,
sentido, os objetos artísticos são únicos na a organização de mundo própria de cada sensações e intuições, considerando o homem exibir mapas de progresso também é muito
medida que se utilizam de vários aspectos e criança, assim como o relacionamento com na sua inteireza, orgânica e emocional, de importante e se caracteriza como reforço
habilidades instintivas. o outro e com a sociedade na qual está vida integrada por inteiro ao ser vivente. positivo.
inserida. Estimular o ensino da arte tornará a Perceber constitui-se assim, no que a arte
A arte e a ludicidade são alguns dos escola em um espaço vivo, contribuindo para tem de mais humano no seu cerne, devendo O educador deve variar e diferenciar as
caminhos que podem ser utilizados pelos o pleno desenvolvimento dos educandos. ser devolvido a quem lhe é de direito, pois regras para alguns alunos, deixar bem explícito
educadores a motivar novas práticas que, se a percepção diferenciada de mundo as regras, assim ensinando o auto manejo e
pedagógicas que atendam às necessidades Segundo os PCNs (1998), a arte de faz o homem diferente dos outros animais, acompanhando as atividades, controlando
reais dos educandos. A arte na educação cada cultura revela o modo de perceber, fato gerador de cultura e de humanização, usando calendários, relógios e diários visuais
infantil cumpre o papel fundamental de sentir, articular significados e valores, que torna-se importante a preocupação com este e pictóricos, sempre é necessário solicitar o
construção do indivíduo crítico, fornecendo- governam diferentes tipos de relações resgate num mundo que tende a desumaniza- reforço dos pais fazendo com que os alunos
lhe experiências que o ajude a refletir, entre os indivíduos de uma sociedade. A lo. repitam as instruções e técnicas de estudo
assimilar os valores da sociedade a qual está arte facilita a visão, a escuta e os demais em casa. Pode ser também necessário que o
inserido, desenvolver e compreender seus sentidos como portas de entrada para uma Artes visuais e inclusão educador mude os métodos de apresentação
sentimentos, emoções e criar uma visão compreensão significativa e profunda das dos conteúdos, variando as estratégias
questionadora do mundo que o cerca. questões do meio na qual a criança está O conceito de Escola Inclusiva, de acordo curriculares e ensinando segundo o estilo e
inserida, assim conseguimos organizar as com as Diretrizes Curriculares Nacionais para ritmo de aprendizagem do aluno. A arte nos
ideias para que ela invente, crie e construa a Educação Especial (1998) , implica numa permite mudar e diferenciar as metodologias
acreditando que a linguagem da arte se postura em que a escola comum propõe, no aplicadas, sendo de uma adaptação mais

216 217
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS
fácil para os portadores de deficiência no máscaras, bonecos e de outros modos de
meio social. Dessa forma a arte se torna apresentação teatral. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
alternativa básica para compreender as - Seleção e organização dos objetos a Parâmetros Curriculares Nacionais / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de
experiências vivenciadas em sala de aula, serem usados no teatro e da participação de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1996.
contribuindo para: cada um na atividade.
- Exploração das competências corporais
O reconhecimento da integração com os e de criação dramática. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
colegas nas improvisações teatrais: - Reconhece a utilização da expressão e Referencial curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação e do
Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998.
comunicação na criação teatral.
- Reconhecer e explorar o espaço de
encenação no jogo teatral. Logo apresentada sob forma de desenhos
- Explorar a interação público – ator por Geométricos, desenhos do natural e desenhos
meio da criação dramática. pedagógicos, proporciona no seu aspecto
- Observação, apreciação e análise dos funcional para a experiência em arte, ou seja,
trabalhos em teatro realizados pelos outros todas as orientações e conhecimentos visam
grupos. uma aplicação imediata e a qualificação
- Compreensão dos significados para o trabalho, sendo assim as atividades
expressivos corporais, textuais, visuais, de artes de teatro e danças fazem parte das
sonoros da criação teatral; festividades escolares na celebração de datas
- Criação de textos e encenação com como Natal, Páscoa ou Independência, ou
o grupo em teatro como expressão e ainda nas festas de final de ano no período
comunicação; escolar.
- Participação e desenvolvimento nos
jogos de atenção, observação, improvisação,
etc.
- Reconhecimentos e utilização dos
elementos da linguagem dramática: espaço
cênico, personagem e ação dramática.
- Experimentação e articulação entre as
expressões corporal, plástica e sonora.
- Experimentação na improvisação a partir
de estímulos diversos. DANIELA DE CARVALHO
- Experimentação na improvisação a partir PERELLI
do estabelecimento de regras para os jogos.
- Pesquisa, elaboração e utilização de Graduação em Normal Superior
cenário, figurino, maquiagem, adereços, pela Universidade de São Paulo (2005);
objetos de cena, iluminação e som. Professor de Educação Infantil e Ensino
- Pesquisa, elaboração e utilização de Fundamental I - na EMEI Professor Paulo
Freire .

218 219
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO receber o aluno com surdez. Porém até


que ponto este graduando saiu qualificado
O tema inclusão é bem polêmico em nossa para receber este aluno? Em pesquisa as
sociedade que vem buscando a igualdade autoras Gomes e Santos (2012 p.2) buscam
em todas as instâncias para pessoas que respostas às perguntas: Estes alunos de
apresentam alguma deficiência. É um pedagogia sabem se comunicar em Libras?
movimento forte que cada vez mais aumenta Para os estudantes que sabem se comunicar,
a proporção e mobilização das pessoas. qual a importância desse conhecimento?
Vemos manifestações em prol dos direitos Os estudantes que não sabem possuem
dos deficientes, buscando o fortalecimento e interesse em aprender? Qual o motivo desse
concretização desses direitos que em muitos interesse? Quando já formado este professor
casos ficam apenas no papel. Sendo assim, tem consciência da importância do uso de
profissionais de várias áreas, pais e familiares libras, sabendo que é preciso uma dedicação
de crianças com deficiência, entre outros que de tempo e outros cursos além da pedagogia
LIBRAS NO CURSO SUPERIOR DE PEDAGOGIA defendem a causa, estão se engajando na para se adequar a esta língua e souber
luta por melhorias e conquistas nesta área. trabalhar com o aluno surdo? Porque estas
Neste sentido, muitas cobranças ocorrem pessoas com deficiência ainda encontram
RESUMO: O curso de pedagogia habilita professores para atender qualquer aluno do ensino em relação a uma formação “completa” dos dificuldades para se comunicar em sua
infantil e fundamental o que inclui alunos com deficiência, com base na legislação que professores. escola, embora a lei no artigo 208, Inciso
busca fortalecer os direitos iguais. Assim é garantido atendimento a alunos com surdez na III, da Constituição 1988 garanta recursos e
rede regular de ensino como inclusão, porém vemos conflitos existentes quando o aluno Que são obrigados a incluir os estudantes profissionais capacitados para atendê-las?
chega a sua turma sem conseguir comunicar-se com o professor ou ser compreendido. A na sala de aula, para proporcionar a
questão em foco refletirá a preparação dos profissionais do curso superior de pedagogia inserção total de uma pessoa na sociedade, Com relação a estes questionamentos,
para esse atendimento. Observamos que parte dos estudantes que estão na universidade quebrando qualquer barreira, mesmo sem têm-se como hipóteses: poucos são os
não sabe se comunicar em libras, o que prejudicará futuramente seu trabalho, pois qualquer nenhuma condição, garantindo as mesmas estudantes que sabem se comunicar em
professor está propício a receber estudantes surdos nas salas de aula. Almeida (2012) fez possibilidades a todos. Porém muitas Libras. Os estudantes que sabem ressaltam a
uma entrevista com estudantes de pedagogia e com a professora que leciona Libras para vezes o professor não possui qualificação importância desse conhecimento para a vida
turma na Universidade Estadual de Londrina, refletiremos acerca dos seus resultados e suficiente e adequada para lidar com esses profissional, pois, atenderão melhor os seus
em bibliografias que retratam o uso de libras pelos surdos, sua história, a legislação casos, não tendo essa qualificação durante estudantes surdos em sala de aula. A maioria
que garante aos deficientes este respaldo e autores que relatam como deve ser o ambiente sua formação inicial, e poucas vezes em dos estudantes que não sabem se comunicar
alfabetizador de alunos com surdez e suas adequações. Também analisaremos conflitos formações continuadas. Sabemos que o possui o interesse em aprender e na maioria
existentes por não ocorrer boa preparação dos professores para receber os alunos inclusos curso de pedagogia tem a carga horária para das vezes o motivo é que possuem algum
na rede regular de ensino e a falta de intérpretes nestes casos. Nota-se neste estudo a libras estabelecida sendo muito pequena familiar surdo ou para aperfeiçoamento
necessidade de aprimoramento e ajuste na carga horária e nas contribuições que a disciplina insuficiente para que os alunos adquiram profissional.
de Libras pode oferecer à preparação dos alunos graduandos para inclusão escolar de alunos alguma fluência na língua
surdos com qualidade e excelência. O objetivo deste trabalho é investigar se
Entra então uma problemática, pois o curso os futuros professores sabem se comunicar
Palavras-chave: Libras; Formação de Professores; Surdez; Inclusão. de pedagogia tem em sua grade o conteúdo em língua de sinais ou não, identificar entre
de libras, que torna o graduando apto para

220 221
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

os estudantes que sabem a língua se também graduandos em pedagogia para uma inclusão que apresentam também especificidades, mas seguem sinais francesa, a partir do INES. Instituto
entendem a importância desse conhecimento escolar de alunos surdos de qualidade. também princípios básicos gerais. É adotada também que se tornou referência na educação, na
e identificar entre os estudantes que não de componentes pragmáticos convencionais codificados socialização e também na profissionalização
sabem se comunicar e notar o interesse em no léxico e nas estruturas das LIBRAS e de princípios dos surdos, por ser a única instituição
aprender. LÍNGUA BRASILEIRA DE pragmáticos que permitem a geração de implícitos sentidos destinada a isto no país e no continente,
SINAIS metafóricos, ironias e outros significados não literais. As sendo assim, foi muito procurado tanto
Quanto às transformações político- LIBRAS é a língua utilizada pelos surdos que vivem em por brasileiros como por estrangeiros.
educacionais têm-se um novo olhar para De acordo com a lei n° 10.436, de 24 de cidades do Brasil, portanto não é uma língua universal
diversidade com foco no respeito à abril de 2002, A língua brasileira de sinais (SALLES apud BASSANI; SBARDELOTTO (2012, p. 4). Porém a Libras sofreu uma grande
identidade e à diferença, deve-se buscar (LIBRAS) foi reconhecida como a linguagem pressão, ainda segundo o autor, em
promover a cidadania das minorias usada pela maioria dos surdos brasileiros. Com base na análise destes autores, 1.880 quando houve um Congresso em
culturais, raciais e das pessoas com As LIBRAS não é a simples gestualização da para nos comunicarmos em Libras, não Milão ocasionando a proibição da língua
deficiências por meio de leis que realmente língua portuguesa, e sim uma língua à parte, basta saber os sinais das palavras, mas de sinais (gestual), pois acreditavam que
garantam sua participação social. E a surdez como o comprova o fato de que em Portugal precisamos conhecer a sua gramática para a oralização era a melhor medida a ser
se constitui parte dessa diversidade. Sendo usa-se uma língua de sinais diferente, a língua formar as frases, só assim será possível uma adotada, por crerem que seria de melhor
assim, é de interesse da educação conhecer gestual portuguesa (LGP), assim também real comunicação.Segundo Kojima; Sueli valia para o aprendizado e educação dos
os limites e as possibilidades do aluno com em outros países, que possuem sua própria (2008, p. 4) Os sinais surgem a partir de surdos. O que recebeu grande crítica dos
surdez para poder lhe oferecer o aparato língua de sinais.Segundo Kojima; Sueli (2008, parâmetros, a combinação de configurações surdos e dos professores que legitimam a
necessário para aquisição do conhecimento, p. 4) A língua de sinais é natural dos surdos de mão, seu formato com movimentos comunicação sinalizada como melhor medida.
para isso é fundamental o uso de sua língua. e é composta por regras morfológicas, e de pontos de articulação, sendo locais
Assim o aluno pode usufruir o direito de assim como sintáticas, semânticas e no espaço ou no corpo onde os sinais são A partir deste período difícil, passaram
se expressar em sua língua natural e se também pragmáticas que possibilitam o feitos. Como em qualquer outra língua que a ocorrer diversos movimentos e muitas
sentir de fato incluído na escola, assim desenvolvimento cognitivo do surdo, que há dizeres regionais e expressões diversas, pesquisas na área, para conseguirem a
como poder partilhar com seus colegas e favorece o acesso destas pessoas aos conceitos em libras também existem essas diferenças legitimação da língua gestual entre os surdos,
professores sua modalidade de comunicação. de conhecimentos existentes na sociedade. regionais. Sendo assim, precisa dar atenção avanços pelos os quais puderam conquistar.
às suas variações em cada região do Brasil. E foi no fim do século XX que houve uma
E Botelho Apud Almeida (2012, p.12), Segundo as autoras as pesquisas sobre a intensificação destes movimentos em
afirma que esta língua, “compartilhada”, linguística tem demonstrado que a Libras é um BREVE HISTÓRICO DA busca da oficialização da língua brasileira
circulando na sala de aula e na escola, sistema de comunicação desenvolvido pela LÍNGUA BRASILEIRA DE de sinais (LIBRAS), que no ano de 1.993
são condições indispensáveis para que os própria comunidade surda, sendo uma língua SINAIS – LIBRAS o projeto de lei para regulamentação da
surdos tornem-se letrados. Para isso vejo a completa com estruturas independentes Libras no país entrou em uma longa batalha.
necessidade de uma melhor preparação das das línguas orais. Segundo SALLES Apud Segundo Carvalho (2007 p.140), em
instituições escolares e de seus funcionários BASSANI; SBARDELOTTO (2012, p. 4): 1.857 foi fundada no Brasil a primeira escola E somente após nove anos, em 2.002 a
para receber de forma inclusiva um aluno para surdos, o Instituto dos Surdos-Mudos, língua de brasileiros sinais foi oficialmente
com deficiência. E como base do estudo As LIBRAS é adotada de uma gramática constituída a partir hoje Instituto Nacional da Educação dos reconhecida e aceita como a segunda língua
a necessidade de aprimoramento nas de elementos Constitutivos das palavras ou itens lexicais Surdos (INES). A língua brasileira de sinais oficial brasileira, por meio da Lei 10.436,
contribuições que a disciplina de Libras e de um léxico que se estruturam a partir de mecanismos (Libras) nasceu da miscigenação da antiga de 24 de Abril de 2002. Porém ainda era
pode oferecer à preparação dos alunos fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos língua de sinais brasileira com a língua de preciso muitos avanços, embora com um

222 223
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

andamento lento o progresso para a cultura FORMAÇÃO DE PROFESSORES consideradas inclusivas, como mostra a Lei acontecer é preciso que o profissional
Surda acontece. E foi no século XXI que a de Libras Nº. 10.436, de 24 de abril de tenha uma formação de base concreta e de
LIBRAS realmente começou seus avanços. Falando em uma língua que é utilizada 2002 e ainda regulamentada pelo Decreto qualidade, para que assim o possibilite
pela comunidade surda em diversas regiões nº. 5.626, de 22 de dezembro de 2005, realizar atividades inclusivas
Em 2005, através do decreto 5.626 a língua do país, segundo Gomes e Santos (2012 que fala da obrigatoriedade da inclusão do significativas para o aluno em sua prática
brasileira de sinais foi regulamentada como p.4), linguagem esta que exprime ideias componente curricular, Libras nos cursos cotidiana.
disciplina curricular. Em 2007, a estrutura concretas e abstratas e que ainda possui de formação de professores e o ensino
de língua foi aplicada a Libras, já que ela é todas as propriedades linguísticas das bilíngue para surdos nas escolas do Brasil. Entra então um questionamento. Como o
uma língua natural e possui complexidades línguas da modalidade oral, sendo a língua Este decreto deixa clara a necessidade de professor irá educar a
próprias e comunicação eficaz. Já em 2010 natural das pessoas surdas, falamos então, adaptação dos currículos para o atendimento criança com surdez mais adequadamente
foi regulamentada a profissão de Tradutor/ da formação destes professores, e vemos aos estudantes surdos na formação de se ele mesmo não possui a
Intérprete de Libras, simbolizando mais uma que hoje, assim como antigamente, as escolas professores para exercício do magistério: formação adequada para isto?
grande conquista. No entanto, é dever do e os seus profissionais, apesar de o governo
Poder Público garantir acesso e educação garantir na sua formação a inclusão do ensino Art. 3o A Libras deve ser inserida como disciplina Será que este profissional entende a
para surdos nas escolas regulares de ensino, de libras, estão, pouco preparados para curricular obrigatória nos cursos de formação de importância de ir à busca de cursos
garantindo atendimento e tratamento acolher as crianças com deficiência auditiva, professores para o exercício do magistério, em nível de aperfeiçoamento durante sua
adequado para seu aprendizado e progressão assim como outros tipos de deficiências. médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, formação ou após este período?
educacional. Estão garantidas hoje no Brasil Quando estão em formação, é passado para de instituições de ensino, públicas e privadas, do Para analisarmos melhor, faremos uma
maneiras institucionalizadas de apoiar o uso estes professores que a educação é para sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino comparação simples com outras duas línguas
e difusão da língua brasileira de sinais como todos. Mas, esse termo “todos” muitas das dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. e a duração que os cursos possuem para
meio de comunicação objetiva e de utilização vezes não inclui as pessoas que possuem uma habilitar o aluno de forma bilíngue. Depois
corrente das comunidades surdas do país. deficiência. Para esclarecer mais esta questão § 1o Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes analisaremos a pesquisa realizada por
Tartuci Apud Gomes e Santos (2012 p.4); áreas do conhecimento, o curso normal de nível
Então o sistema educacional federal e os médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia Almeida (2012), em sua dissertação
sistemas educacionais estaduais, municipais Educação para todos (...) exige-se alterações complexas e o curso de Educação Especial são considerados de mestrado para saber a opinião dos
e do Distrito Federal de acordo com Capítulo tanto nas políticas públicas e sociais, quanto na própria cursos de formação de professores e profissionais estudantes e professores do
II, do Decreto 5626/05, garantem a inclusão concepção presente no imaginário social e na cultura da educação para o exercício do magistério. curso de pedagogia de Londrina.
do ensino da Língua Brasileira de Sinais nos escolar a respeito destes alunos [necessidades educativas
cursos de formação de Educação Especial, especiais]. Caso estas alterações não ocorram, a § 2o A Libras constituir-se-á em disciplina curricular Faremos relação com as línguas orais,
de Fonoaudiologia e de Magistério, em fim de propiciar condições efetivas, a inclusão será mera optativa nos demais cursos de educação superior e na muito conhecidas como o inglês e o
seus níveis médio e superior, ampliando-se utopia (TARTUCI Apud GOMES E SANTOS (2012 p.4). educação profissional, a partir de um ano da publicação espanhol e como é de conhecimentos de
posteriormente para as demais licenciaturas. deste Decreto. (grifos das autoras). (BRASIL, 2005, p. 01). todos, demanda-se tempo e dedicação no
Porém este decreto não especifica o Segundo as autoras existe uma defasagem aprendizado delas. De acordo com esta
nome e a carga horária desta disciplina, na formação destes futuros profissionais O que levou as autoras a uma reflexão pesquisa o curso atual para desenvolver
ficando então a critério das universidades. para atenderem as pessoas com deficiência que Lopes (2009) fez sobre os professores, essas línguas se dispõe da seguinte maneira:
em um número considerável. Mesmo quando comentou que estes “são Na Universidade Presbiteriana Mackenzie,
tendo, como já citado, leis que obrigam que profissionais essenciaisnos processos de o curso de inglês possui duração de
cursos de licenciatura tenham disciplinas mudanças das sociedades”. Mas para isso cinco anos, dispostos da seguinte forma:

224 225
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

sinais também existem itens lexicais, que ensina-se também sua concepção, estudo V da Educação Especial nos seus
receberam o nome de sinais. Sendo assim e reflexão a respeito da importância artigos 58 a 60, citados a seguir:
Inglês Mackenzie demanda-se tempo e determinação para histórica e política da educação dos surdos, Art. 58. Entende-se por educação
se tornar apto em qualquer uma delas. assim como a identidade e a cultura surda, especial, para os efeitos desta Lei, a
Duração do curso (5 anos) - Cada estágio tem a também a classificação e etiologia sobre modalidade de educação escolar, oferecida
duração de um semestre letivo. Desta forma fica claro que há um déficit a surdez e a deficiência auditiva, preferencialmente na rede regular de ensino,
na carga horário do curso de pedagogia, sua escolarização, a aprendizagem da para educandos portadores de necessidades
2 semestres - (Básico) assim como os demais cursos onde os estrutura gramatical da Libras e apenas o especiais.
2 semestres - (Pré-Intermediários) profissionais deveram dar atendimentos ensino de nível muito básico da língua Libras.
3 semestres - (Intermediários) a pessoas surdas, pois se baseiam em §1º Haverá, quando necessário, serviços
3 semestres - (Avançados) uma carga horária muito pequena para Podemos concluir que é preciso uma de apoio especializado, na escola regular,
habilitar um profissional se comunicar com adequação de currículo para garantir que para atender as peculiaridades da clientela
Cada aula com duração de 1h30 min sendo duas um aluno surdo ou um paciente no caso da os profissionais da educação saiam aptos de educação especial.
vezes por semana, ou 3h uma vez por semana. fonoaudiologia. Vamos verificar agora a carga para atender a legislação por ter habilidades
Tabela 1. Inglês Mackenzie. horária destinada a Libras nas universidades suficientes de realmente incluir um aluno surdo §2º O atendimento educacional será
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - de São Paulo nos curso de Pedagogia. em uma classe regular de ensino conforme feito em classes, escolas ou serviços
cita a lei. Sendo isto possível se houver especializados, sempre que, em função das
Espanhol Mackenzie Na (PUC) Universidade uma mudança na legislação que contemple condições específicas dos alunos, não for
Pontifícia Católica de São Paulo; uma carga horária adequada para inserção possível a sua integração nas classes comuns
Duração do curso (4 anos) - Cada estágio No primeiro semestre de pedagogia, desta língua nos cursos de ensino superior do ensino regular.
tem a duração de um semestre letivo. possui a disciplina de Educação Inclusiva já citados anteriormente, no magistério, na
com carga horária de 40 horas, no seu educação especial e em fonoaudiologia. §3º A oferta da educação especial, dever
2 semestres (Básico) segundo semestre possui a matéria Libras – constitucional do Estado, tem início na faixa
2 semestres (Pré-intermediários) Língua Brasileira de Sinais – Introdução ao Podendo também ser realizada uma etária de zero a seis anos, durante a educação
Dois semestres (Intermediários) aprendizado com carga horária de 40 horas. educação continuada especifica em Libras infantil.
2 semestres (Avançados) para os profissionais de educação que já
Na (USP) Universidade de São Paulo. No atuam nas redes regulares de ensino, visto Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão
Cada aula com duração de 1h30 min sendo duas terceiro semestre de pedagogia, possui a que todos estão propícios a receber alunos aos educandos com necessidades especiais:
vezes por semana, ou 3h uma vez por semana. disciplina de Educação Especial com carga com deficiência auditiva. E com base nesta
Tabela 2. Espanhol Mackenzie horária de 90 horas, a matéria de Libras entra pesquisa nota-se que é necessário para I – currículos, métodos, técnicas, recursos
como Disciplina Optativa Eletiva no seu atender estes alunos, não apenas a língua educativos e organização específica,
- - - - - - - - - - - - - - - 8° período com carga horária de 60 horas. de sinais, como sua estrutura gramatical, o para atender às suas necessidades;
que se faz necessário muito mais que uma II – terminalidade específica para aqueles
É possível concluir com facilidade que Com base nesta analise de currículo, carga horária tão pequena como as que que não puderem atingir o nível exigido
todas stas são línguas compostas por níveis percebemos a discrepância, pois no ensino são ofertadas hoje nos cursos superiores. para a conclusão do ensino fundamental,
linguísticos como: fonologia, morfologia, sintaxe destas matérias não se ensina apenas em virtude de suas deficiências, e
e semântica. Da mesma maneira que nas línguas a língua Libras, mas conforme a grade Para que assim possa se fazer aceleração para concluir em menor tempo
orais-auditivas existem palavras, nas línguas de curricular destes cursos citados acima, cumpri a LDB 9394/96 no seu capitulo o programa escolar para os superdotados;

226 227
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

por Almeida faz a seguinte consideração:


[...] A disciplina de Libras não é suficiente
III – professores com especialização natureza, garantindo-se aos brasileiros Iniciou sua atuação na educação dos surdos para preparar o profissional, porque são
adequada em nível médio ou superior, e aos estrangeiros residentes no País a em 1997 no ILES- Instituto Londrinense de poucas horas. E em minha opinião seria
para atendimento especializado, bem inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, Educação de Surdos, hoje Colégio Estadual importante que a Libras fosse inserida
como professores do ensino regular à igualdade, à segurança e à propriedade”. do Instituto Londrinense de Surdos que nos quatro anos ano da faculdade porque
capacitados para a integração desses atua agora como pedagoga. Ela relata o há muitos conteúdos a aprender. Seria
educandos nas classes comuns; Ainda no seu artigo 208, Inciso III, a seguinte a Almeida quando questionada importante que esse aluno fosse a campo
IV – educação especial para o trabalho, Constituição 1988 garante preferencialmente sobre a capacitação do curso de pedagogia para ter contato com surdos. Visitasse
visando a sua efetiva integração na vida em nas escolas públicas, a possibilidade do para futuros professores de alunos surdos: escolas de surdos, associações de surdos,
sociedade, inclusive condições adequadas atendimento de todos os alunos deficientes realizarem estágio nesses lugares então
para os que não revelarem capacidade serem incluídos nas turmas de ensino regular. Os alunos de pedagogia, ou mesmo de faltam muitas coisas que ajudariam.
de inserção no trabalho competitivo, outros cursos vão conhecer Libras, o básico Eu penso que quando eles se formam
mediante articulação com os órgãos Segundo Damásio (2007, p. 25) o trabalho de Libras, porque são poucas horas, então ainda não possuem domínio das Libras.
oficiais afins, bem como para aqueles que pedagógico com alunos especiais com surdez não dá pra ele se aprofundar em Libras. Na minha aula eu trabalho Libras,
apresentam uma habilidade superior nas em escolas comuns deve ser realizado em Mas, o mais importante é que eles vão ensino e no final do curso eu falo pra eles
áreas artística, intelectual ou psicomotora; um ambiente bilíngue, em um espaço que entender quem é o surdo, como é a vida de procurarem outros cursos, escrevo no
V – acesso igualitário aos benefícios dos use a língua de sinais e a língua portuguesa. um surdo, o processo de desenvolvimento quadro onde eles podem encontrar cursos de
programas sociais suplementares disponíveis de uma criança surda, vão conhecer um aprofundamento em que há profissionais
para o respectivo nível do ensino regular. Para isto ser desenvolvido há uma pouco sobre a gramática das Libras, ter surdos atuando, porque certamente
grande necessidade de todos os envolvidos uma visão geral, o que vai ser importante encontrarão barreiras comunicativas senão
Art. 60. Os órgãos normativos dos estarem aptos para este trabalho, o para sua formação. Vai ajudar ajudá-lo a se se aprofundarem. (ALMEIDA (2012 p. 94)).
sistemas de ensino estabelecerão critérios de professor é a peça fundamental deste tornar um profissional mais sensível, sem
caracterização das instituições privadas sem desenvolvimento, uma vez que tem ligação preconceitos em relação ao surdo, ele irá Uma alternativa que esta professora
fins lucrativos, especializadas e com atuação direta com o aluno, sendo seu contato diário se sentir mais preparado e informado sobre coloca, segundo Almeida (2012, p. 95) é a
exclusiva em educação especial, para fins de e de base para o aprendizado da criança. a cultura surda. (ALMEIDA,2012 P. 93) busca da formação continuada que ela até
apoio técnico e financeiro pelo Poder público. mesmo incentiva seus alunos ir à busca,
Em pesquisa à Universidade Estadual de apenas assim e tendo contato com o surdo é
Parágrafo único. O poder Público adotará, Londrina a autora Almeida entrevistou uma A autora relaciona esta fala à justificativa possível ter domínio da língua, uma vez que
como alternativa preferencial, a ampliação professora de Libras e alguns alunos do de que esse conhecimento básico de ela possui complexidades como outra língua
do atendimento aos educandos com curso de pedagogia, trazendo importantes libras de dá devido à carga horária. O qualquer, no seu relato ela coloca que este
necessidades especiais na própria rede pública informações. A professora entrevistada tinha que já havia sido relatado ao longo deste contato se daria por meio de visitas a escolas
regular de ensino, independentemente do formação em pedagogia e letras-libras, trabalho onde notamos que a carga horária e estágio. Outra questão levantada por ela é a
apoio às instituições previstas neste artigo. pós-graduada em psicopedagogia, havia nas emendas das universidades não é sensibilização do professor que irá atuar com
perdido sua audição quando criança devido suficiente para aquisição de uma língua alunos surdos, o que ela coloca como umas das
A igualdade entre surdos e ter obtido meningite aos seis anos de idade, em comparação com outros idiomas. contribuições a serem dadas pela disciplina.
ouvintes é também assegurada na ela relata que como já era oralizada passou
Constituição de 1988 no seu artigo aprender libras apenas com doze anos com A respeito desta preparação do Agora iremos analisar os resultados
5° onde diz que “todos são iguais seus colegas da escola de surdos e em relação pedagogo como atuar com a inclusão de da pesquisa de Almeida com os alunos
perante a lei, sem distinção de qualquer a língua portuguesa também possui fluência. alunos surdos, a professora entrevistada graduandos em pedagogia com a professora

228 229
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

de Libras citada acima. Em uma avaliação [...] fica evidenciado o fato de que uma coisa é falar sobre
do atendimento das expectativas dos a surdez, outra coisa é falar sobre surdos e uma coisa bem Nº. 10.436, de 24 de abril de 2002 e ainda
alunos em relação à disciplina de Libras, diferente é vibrar com os surdos. Sem vibração não existe regulamentada pelo Decreto nº. 5.626, de 22
Almeida entrevistou 40 estudantes, onde pedagogia. Ao não se vibrar, o que resta é só uma hospitalidade de dezembro de 2005 oferece Libras em
70% deles afirmaram que a disciplina hostil dos ouvintes [...] (Prof. Dr. Carlos Scliar – UFRGS 2002). seu componente curricular, mostrando
atendeu suas expectativas iniciais, 20% assim estar cumprindo seu papel, talvez
afirmaram que não foram contempladas seja a hora de o governo cumprir seu dever,
ao termino da disciplina, 2,5% afirmaram CONSIDERAÇÕES FINAIS pois de acordo com a constituição federal
terem contemplado parcialmente. Os de 1988, no seu artigo 205° é dever de o
demais 7,5% não se manifestaram. Em nota a esta problemática, fizemos estado garantir o atendimento ao portador de
Dentre os alunos que comentaram suas uma análise sobre a pesquisa de Almeida, deficiência, para isso precisa ter professores
respostas, destacam-se a seguinte: que em entrevista a alunos e professora capacitados o que faria a adequação do
de libras de uma Universidade, pode atendimento garantindo qualidade à inclusão.
Sim. Na verdade houve muitas descobertas, a perceber que ainda há uma grande etapa Ainda notamos que a inserção do deficiente
começar pelo fato de encontrar com a professora no desenvolvimento social, pois existe um vai muito além da capacitação do professor,
surda. É surpreendente descobrir outras formas longo caminho a percorrer na adequação do mas ainda é preciso outros estudos para
de comunicação, principalmente a Libras que currículo em pedagogia, devido possuir uma embasar essa conotação, talvez uma
favorece tanto a educação dos surdos. (A 18). Não curta carga horária em Libras, os professores brecha na legislação ou falta de interesse
contemplaram devido à baixa carga horária insuficiente não saem preparados para receber um das instituições em cumprir sua função,
DIANA SANTOS JERONIMO
para contemplar todos os conteúdos necessários, e aluno de inclusão, pois como percebemos é entre outras questões, sendo assim, fica
Graduação em Pedagogia pela Faculdade UNIP
a falta de intérpretes. (A sete) (ALMEIDA 2012 P. 75). necessário uma formação continuada para uma inquietação para buscar novas Universidade Paulista (2011); Especiaista em
aprender a língua de sinais, em vista de ser descobertas a esta problemática, pois Língua Brasileira de Sinais pela Faculdade UNI-
Conforme Almeida (2012 p.70) identifica- uma língua complexa como outro idioma. se é direito do cidadão, o governo tem NOVE Universidade Nove deJulho (2014) e Gestão
se expectativas relacionadas aos conteúdos Isso reflete bruscamente o atendimento da que cumprir a lei imposta por ele mesmo. Escolar pela Faculdade Campos Elíseos (2019);
práticos da língua e outros relacionados criança surda em seu aprendizado na rede Professor de Ensino Fundamental I - na EMEF Philó
ao contato com uma professora surda, regular de ensino, pois não conseguem se Gonçalves dos Santos.
tendo essa experiência como positiva. comunicar corretamente, o que inviabiliza
Porém, alguns enfatizaram a carga horária seu desenvolvimento cognitivo, social e
da disciplina como insuficiente para o cultural, além de proporcionar a inserção
desenvolvimento do conteúdo proposto, do deficiente na comunidade escolar e na
mesmo tendo respondido que os conteúdos sociedade, cumprindo os deveres legislativos.
contemplaram suas expectativas iniciais.
Pressuponho que existem meios favoráveis
Durante toda pesquisa nota-se que há um para melhoria destes atendimentos, embora
questionamento intenso em relação à carga os professores não tenham habilidade na
horária de libras, por professores e alunos. língua brasileira de sinais ao concluir seu
Mesmo porque a disciplina não consiste curso superior em pedagogia, deve-se ocorrer
apenas no ensino da língua, mas também em um incentivo por parte dos governos em
todo um contexto, sua concepção, estudo habilitá-los, uma vez que são profissionais
e reflexão citados anteriormente neste que trabalham para atender a comunidade e
que cursaram pedagogia que dentro da Lei

230 231
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

2019. São Paulo, 2019. . Disponível


REFERÊNCIAS em: https://www.mackenzie.br/mack-
enzie- language-center/cursos/in-
ALMEIDA, Joseane Junia de. Facundo. Libras gles-presencial/ Acesso em 11/07/2019
na Formação de Professores: Percepções de
Alunos e da Professora. 150 f. 2012. Disser- SÁ, Nádia Regina Limeira de. Cultura, Pod-
tação (Mestrado em Educação) – Universidade er e Educação de Surdos. Universidade
Estadual de Londrina, Londrina, Federal do Amazonas, Manaus, 2002.
2012. Disponível em http://www.uel.br/
pos/mestredu/images/stories/downloads/dis- USP, Universidade de São Paulo. Faculdade
sertacoes/2012/2012_-_ALMEIDA_Josiane_ de Educação Filosofia Educação: Discipli-
Junia_Facundo.pdf Acesso em 28/05/2019. na: EDF0665 - LIBRAS - Língua Brasileira de
Sinais da Educação e Ciências da Educação.
BASSANI, Cristiane; SBARDELOTTO, Dilaine São Paulo, 2014. Di-
Aparecida. Importância do Ensino de Li- sponível em: https://uspdig-
bras na Educação Fundamental. Faculdade ital.usp.br/jupiterweb/obterDisciplina?sgld-
de Ensino Superior de São Miguel do Ig- is=EDF0665&codcur=48012&codhab=204
uaçu – PR, 2010. Disponível em: http:// acesso em: 16/03/2014.
www.faesi.com.br/index.php?option=com_
content&view=article&id=224:a-impor-
tancia-do-ensino-de-libras-na-educa-
USP, Universidade de São Paulo.
dade de Educação: Graduação em Ped-
Facul- A CONTRIBUIÇÃO DOS SABERES PEDAGÓGICOS
cao-fundamental&catid=75:portal-do-sa-
ber&Itemid=222 Acesso em: 16/03/2014.
agogia: Informações Básicas do Currí-
culo. São Paulo, 2014. Disponível em:
PARA A DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR
h t t p s : // u s p d i g i t a l . u s p . b r / j u p i t e r -
CARVALHO, PauloVaz de. Breve História dos Sur- web/listarGradeCurricular?codc-
dos no Mundo. [S.L.]: SurdUniverso, Lisboa 2007. g=48&codcur=48012&codhab=20qua- RESUMO: Os desafios do trabalho docente no ensino superior e sobre as práticas docentes
tro&tipo=N acesso em: 16/03/2014 necessárias para que as ações de ensinar e de aprender sejam verdadeiramente realizadas de forma
GOMES, Isabela; SANTOS, Dalila. A co- a possibilitar a construção do conhecimento no ambiente da instituição de ensino superior na
municação em Língua Brasileira de Sinais atualidade. O professor do Ensino Superior precisa despertar o interesse de quem aprende, sendo
(libras): a visão de estudantes do curso de essencial saber que existe uma reação entre o que o professor diz com o que o aluno já traz de
pedagogia e licenciaturas da UFPE. UFPE, bagagem para dentro da sala de aula, pois o aluno adulto já tem sua personalidade formada e uma
Recife - PE, 2012. Disponível em: http:// maneira própria de assimilar as informações dos professores, podendo até dificultar a aprendizagem
www.epepe.com.br/Trabalhos/04/C-04/ durante o semestre, pois apenas ouvir o professor, não garantirá que o educando aprenderá. É
C4-255.pdf acesso em: 17/03/2014 necessário levar em consideração o que o aluno já traz de vivência e de história de vida, pois se o
que o professor disser não fizer sentido para o aluno dentro de sua realidade e/ou perspectivas,
MACKENZIE, Universidade Presbiteriana.
este não poderá transformar aquilo que ouve numa nova ideia, num efetivo aprendizado. Por isso
Curso de Espanhol: Grade de horários 2.º
semestre de 2019. São Paulo, 2019. Dis- os saberes pedagógicos são muito importantes para o Ensino Superior, pois envolvem um conjunto
ponível em: https://www.mackenzie.br/mack- de conhecimentos específicos que permitem ao docente resolver criativamente as situações de
enzie-language-center/cursos/espanhol/ aprendizagem e colocar em prática em sua vida pessoal e profissional.
Acesso em 11/07/2019
Palavras-chave: Ensino Superior; Docência; Saberes Pedagógicos.
MACKENZIE, Universidade Presbiteriana. Cur-
so de Inglês: Grade de horários 2.º semestre de

232 233
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO são importantes para as Instituições de pesquisa, havendo então a possibilidade de está envolvida com o momento sociopolítico
ensino superior, pois é uma prática que exige diversidade de ambientes de estudo, mas, compreendendo-se que é uma atividade
Refletir sobre os desafios da docência no do professor uma atitude criadora, reflexiva por outro lado, sobrecarregando o docente. mediadora da prática social voltada para a
ensino superior na atualidade se faz necessário e crítica, para que o aluno adulto, consiga Os saberes pedagógicos são uma lacuna na formação da cidadania dos educandos.O
para que o professor, no desempenho de fato aprender e colocar em prática o que prática docente. professor e como um todo a escola luta
de sua profissão, possa entendê-los aprenderam e vivenciaram. para poder reorganizar seus objetivos e
claramente e conseguir não apenas preparar Segundo Cunha (2008), os docentes propósitos. Ele é o indivíduo que, junto
os educandos para conseguir apenas um A IMPORT NCIA DO apontam, como desafio, questões com os alunos e os demais professores da
diploma, mas sim conduzi-los e prepará-los PROFESSOR DO ENSINO pedagógicas como: motivar os alunos, como Instituição de ensino de nível superior, tem
para exercer na prática os que aprenderam SUPERIOR COMO AGENTE DE ensinar diante de tanta disponibilidade um papel fundamental, pois o professor deve
na instituição de ensino superior. Ensinar FORMAÇÃO do conhecimento em diferentes mídias, ser como exemplo para seus alunos, e ajudá-
deve ser parte de um processo criativo, no como produzir conhecimentos com um los a se desenvolverem plenamente, criando
qual professores e alunos sejam desafiados No ensino superior, ensinar é mais número elevado de alunos, como aliar autonomia para atuarem na sociedade não
a todo instante a sempre procurarem mais complexo do que os níveis básicos da ensino e pesquisa e como avaliar. Segundo como apenas trabalhadores, mas como seres
e, após encontrarem o objeto procurado, educação, pois lecionam para adultos, que Cunha (2008), a docência é uma atividade pensantes, que farão a diferença.
tenham a inquietação de procurar por já tem sua personalidade formada e uma complexa, pois não é apenas despejar
outro, conscientes da importância de maneira própria de assimilar as informações informações aos alunos, mas sim prepará- O professor do ensino superior, na
mentes ávidas pela construção constante dos professores, podendo até dificultar a los profissionalmente para exercer a função atualidade, não ensina apenas com foco no
do conhecimento, por isso romper com o aprendizagem durante o semestre, pois ao qual está estudando durante os anos no mercado de trabalho, pois não tem como
ensino tradicional nos ensinos superiores apenas ouvir o professor, não garantirá que Ensino Superior. saber como estará este mesmo mercado
é essencial para conseguir a aprendizagem o educando aprenderá. quando seus alunos se formarem. O
de fato, e futuramente conseguir colocar A docência é uma atividade complexa. Só quando for excelente professor trabalha para direcionar
em prática o que aprenderam durante os Para Sguissari (2002), as mudanças na reconhecida essa complexidade, poderemos avançar em a aprendizagem de seus alunos por meio
anos. Uma metodologia que deixa de pensar educação superior brasileira, implantadas processos de qualificação mais efetivos. Exige saberes dos objetivos da instituição de ensino na
apenas no educador e foca no educando, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da específicos que têm um forte componente de construção qual trabalha, com autonomia, para que
assim as informações são convertidas Educação (Lei 9.394/96), fazem parte de na prática. Entretanto é uma prática que não se repete, é futuramente consigam colocar na prática o
em conhecimentos, e não apenas uma um contexto econômico maior, no qual a sempre única. Como tal exige capacidades para enfrentar que aprenderam.
aprendizagem mecânica. integração à economia mundial muda o situações não previstas (CUNHA, 2008.p.59).
papel da educação superior, pois diante das [...] só recentemente os professores universitários
Ensinar na Educação Superior de forma demandas da sociedade do conhecimento, as Entendemos saberes pedagógicos começaram a se conscientizar de que seu papel de
significativa envolve várias dimensões, como universidades são pressionadas a tornarem- como um conjunto de conhecimentos docente do ensino superior, como o exercício de qualquer
por exemplo, reconhecer o acadêmico como se mais autônomas, independentes da direção específicos que permitem ao docente profissão, exige capacitação própria e específica que não
um ser sócio histórico, como alguém que do Estado, e mais voltadas às exigências do resolver criativamente as situações de se restringe a ter um diploma de bacharel, ou mesmo de
possui vivências, uma trajetória de vida e mercado. aprendizagem.O professor que domina seus mestre ou doutor, ou ainda apenas o exercício de uma
uma bagagem cultural possa contribuir para Segundo Censo (2010), a atuação dos conteúdos, conforme o curso e o conteúdo profissão. Exige tudo isso, e competência pedagógica, pois
a aula, e que de fato aconteça o ensino- professores do ensino superior na atualidade de sua disciplina, estabelece um processo ele é um educador (MASETTO, 2003, p. 13).
aprendizagem essencial para o ensino não se restringe à graduação, mas incorpora pedagógico único, mas que não dispensa
superior. Por isso, os saberes pedagógicos também atividades na pós-graduação e planejamento e avaliação.A educação atual

234 235
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Ensinar vai além de apenas transmitir A prática educacional demonstra que o os professores universitários, pois, esses que a educação deve ser integral, ou seja,
diversas teorias e informações , de professor tem a oportunidade de pensar são essenciais nos processos de mudança deve contemplar as diversas dimensões da
formação humana como o trabalho, ciência,
acordo com Nóvoa (2007), vai além, pois acerca de sua docência. Com isto, ele organiza dentro das universidades e das sociedades
tecnologia e cultura, por isso os componentes
o docente não pode se posicionar no suas reflexões individual e coletivamente e em que estão inseridos. Nesse aspecto, é
curriculares devem embasar estes conceitos,
senso comum, preparando a mesma aula sistematiza as ações que poderão ser aplicada preciso deixar a ideia de que o conhecimento e ensinar os conteúdos essenciais para que
diariamente, utilizando como referências na sala de aula, assim não precisará seguir específico é o principal esteio de sua os educandos possam aplicar os conteúdos
as mesmas estratégias que observou seus modelos de educação que não possuem docência. na prática de sua futura profissão, pois a
próprios professores utilizarem em outras reflexões sobre o ensino. aprendizagem deve acontecer durante os
épocas e realidades ou, ao ouvir seus A METODOLOGIA E O ROMPIMENTO anos do ensino superior, e assim que formado
colegas comentando sobre a defasagem Possibilitando o compartilhamento do DOS LIMITES DO COMPONENTE deve estar preparado para a sociedade em
de conhecimento dos alunos e sobre o pensar sobre os resultados de suas falhas CURRICULAR NO ENSINO SUPERIOR que está inserido, tanto para o mundo do
desinteresse que apresentam em sala de e também de seus acertos, visto que estão trabalho, como para dar continuidade nos
aula, preparar unicamente aulas expositivas e diante das ocorrências de imprevistos que As novas Diretrizes Curriculares Nacionais, estudos, e ser um excelente profissional.
automáticas, por considerar que de qualquer acontecem dentro de uma sala de aula. construídas a partir de um grande debate Devem fazer parte dos conteúdos e
forma, se empenhando ou não na busca de As escolas de ensino de nível superior se nacional, partem do princípio de que a estratégias da docência, conteúdos e
estratégias capazes de auxiliar no processo caracterizam por uma instituição educativa educação é um processo de produção e aulas que capacitem o ser humano para:
de aprendizagem de seus alunos, estes não que produz conhecimentos, estimula à socialização da cultura da vida, no qual se
vão se interessar. formação crítica do discente, a pesquisa, e constroem, se mantêm e se transformam As capacitações transmitidas na
conhecimentos e valores. Adotada com a
a problemática das questões relacionadas ao graduação visa à integração de todos os
devida qualidade social, a educação superior
O professor pesquisa sua própria prática contexto social na qual estamos inseridos. envolvidos no universo educacional e
deve contribuir para a construção do
em sala de aula, assim ele poderá fazer a É nela que se busca o aperfeiçoamento dos projeto de nação. Os objetivos da República profissional. Para dar conta desses objetivos,
avaliação de seu fazer profissional, e com saberes e como professor, é nele que se Federativa do Brasil estão definidos no art. incorporam-se como diretrizes gerais e
isto se aperfeiçoará seu modo de ensinar. aperfeiçoa a prática pedagógica. 3°. Da Constituição Federal, onde se lê: orientadoras da proposta curricular as
Dessa maneira ganha o aluno, pois terá quatro premissas apontadas pela UNESCO
aulas planejadas para alcançar sua forma (1999) como eixos estruturais da educação
de aprender, e ganha o professor que não O processo educacional está em profunda Art. 3º Constituem objetivos fundamentais na sociedade contemporânea que são:
cairá na rotina e repetição de seu ensino, transformação, completamente necessária da República Federativa do Brasil:
ganhando também por não se tornar a para a plena formação de uma sociedade mais I – construir uma sociedade • Aprender a conhecer: permite ao
imitação de outro docente ou de outra aula, justa e digna. Por isso, temos de repensar os livre, justa e solidária; educando continuar aprendendo ao
beneficiando o aluno, assim: modelos e as propostas, incentivar as práticas II – garantir o desenvolvimento nacional; longo de sua vida, é uma educação
concretas, valorizando o professor, pois será III – erradicar a pobreza e a marginalização e permanente, onde o sujeito
Quando a transmissão é adequada, quer dizer, feita por meio deles que o aluno aprenderá e reduzir as desigualdades sociais e regionais; desenvolve seus próprios instrumentos
por alguém produtivo, existe instrução, aprendizagem, construirá seus próprios conhecimentos. promover o bem de todos, sem preconceitos para aquisição de conhecimento.
de origem, raça, sexo, cor, idade e
fenômenos relevantes em si, mas que fazem apenas a • Aprender a fazer: possibilita ao educando
quaisquer outras formas de discriminação.
antessala da educação. Quando feita de modo inadequado Para alcançar melhores resultados no reconstruir na medida em que novas
– como cópia da cópia - não ultrapassa o treinamento e ensino superior, é necessário produzir novos A educação na docência no ensino situações se apresentam, capacidade
domesticação (DEMO, 1994. p. 53). conhecimentos com a preocupação de superior visa o pleno desenvolvimento das de enfrentar o novo, superar desafios.
formar e de desenvolver profissionalmente pessoas, com isso a Constituição definiu • Aprender a viver: é o princípio

236 237
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

da vida em sociedade, realizar CNE/ CP1/ 2002, 9 de abril de 2002.


projetos comuns, contribuir para Experiências apontam para a necessidade Portanto, os saberes pedagógicos do Diretrizes Curriculares Nacionais para a
o desenvolvimento do outro, de refletir e reformular quando necessário, professor do Ensino Superior precisa formação de professores da Educação Básica,
administrar conflitos com inteligência. a prática pedagógica, sempre articulando despertar o interesse de quem aprende, em nível superior, curso de licenciatura, de
• Aprender a ser: é prioridade da conteúdo das diversas áreas do sendo essencial saber que existe uma reação graduação plena. Diário Oficial [da] República
educação está comprometida conhecimento, para enriquecer esta vivência. entre o que o professor diz com o que o aluno Federativa do Brasil, Poder Executivo,
com o desenvolvimento total da já sabe para dentro da sala de aula, assim Brasília, DF, 04 mar. 2002. Seção 1, p. 8.
pessoa, possibilitando ao indivíduo CONSIDERAÇÕES consegue romper com o ensino tradicional, de
a elaboração de pensamentos memorizar e aprender mecanicamente, para
autônomos e críticos, o poder de A sociedade se transforma constantemente, conseguir transformar as informações em CENSO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR 2010.
decidir por si mesmo e o exercício da com isso as instituições de ensino superior conhecimentos essenciais para toda a vida. Divulgação dos principais resultados do Censo
liberdade de pensamento, sentimento se adéquam ao grande desenvolvimento da Educação Superior 2010. INEP, 2011.
e imaginação para desenvolver os tecnológico, que é essencial nos dias atuais, CUNHA, M. I. (Org.). Formatos
seus talentos e dirigir seu destino. por isso romper com as barreiras dos ensinos avaliativos e concepção de docência.
tradicionais e transpassa para uma educação Campinas: Autores Associados, 2005.
A instituição de ensino superior precisa virtual. Cabe aos professores transmitir as
propiciar aos alunos a interação com informações necessárias para os educandos, CUNHA, M. I. Formação docente e
a contemporaneidade. Por meio das para que a autonomia se transformem em inovação: epistemologias e pedagogias
tecnologias da comunicação e informação. conhecimento essenciais para a vida escolar, em questão. In: ENCONTRO NACIONAL
Segundo REGO (1998, p. 110), a social e consequentemente profissional. DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO,
metodologia no ensino superior deve se 14., 2008. Porto Alegre. Anais... Recife:
embasar em construir conhecimentos A aprendizagem é um processo que Edições Bagaço, 2008. v. 1. p, 465-476.
de uma maneira partilhada, já que é modifica as condutas de um indivíduo, sendo
através dos outros que as relações entre assim o professor que desenvolve um ensino CLEONE ROBERTA DE SOUZA GANDRA, Lia Mara Malinski. A AULA
sujeito e objeto de conhecimento são que busca a aprendizagem significativa NO ENSINO SUPERIOR: O OLHAR
estabelecidas, pois quando os professores consegue propiciar aos seus alunos DOS ESTUDANTES– UniToledo. In:
partilham o conhecimento construído mecanismos diversos de interação entre os Graduação em Pedagogia pela Faculdade h t t p : //e d u c e re . b r u c . c o m . b r/a rq u i v o /
na prática, no seu contexto, é criada a conhecimentos prévios e os conhecimentos Metropolitana de Santos, Estado de São pdf2015/21719_10087.pdf
oportunidade da interação com diferentes a serem aprendidos tornando o processo Paulo (2010); Especialista em Artes Visuais (Acesso em 17 de fevereiro de 2019)
interlocutores, permitindo o confronto, de ensino/aprendizagem prazeroso e pela Faculdade Metropolitana de Santos,
outros questionamentos e reflexões. motivador, fazendo com que o aluno passe a Estado de São Paulo. (2015); Professora de
buscar conhecimento deliberadamente. Um Ensino Básico no CEI – Centro de Educação
O professor/tutor deve manter-se atento para se pôr método muito importante nas Instituições Infantil Diretora Elfrida Zukowski Jardim.
como integrante de grupo e jamais como uma autoridade, de ensino é partir de uma maneira que
demonstrando que está aberto para a participação junto não vise apenas a Pedagogia, e sim a
com os discentes, aproveitando essas oportunidades Andragogia, para que consiga pensar na REFERÊNCIAS
para perceber os melhores recursos para facilitar aprendizagem visando a bagagem do
a aprendizagem do grupo (CANDAU, 2011, p. 39). educando, para que aprendam de fato. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução

238 239
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO crianças acabavam sendo histórias de medo.

As histórias fascinam adultos e crianças De acordo com Coelho (2003), essa ne-
tendo um valor muito grande, a criança cessidade de contar histórias surgiu quan-
consegue ler mesmo sem sabe ler inter- do o homem primitivo sentiu a precisão de
pretando o que acha de mais emocionante obter explicações racionais para o mundo.
em suas histórias, a criança imita chora, Sendo assim, ele começou a buscar no mito
canta, ou seja, ela realmente vive o con- e nas narrativas fantásticas a compreensão
tos de fadas, e fortalece a alfabetização. de algumas coisas, por exemplo: eles pensa-
vam que os relâmpagos eram armas dos de-
O presente artigo é uma referência bibli- uses, as águas seriam controladas por sereias
ográfica que tem apoio de grandes autores ou determinadas árvores ou plantas teriam
que acreditam na importância do conto, das surgido de algum ato mágico entre outros
histórias infantis. Afastar a criança de uma vários mitos criados pelo homem primitivo.
realidade triste é papel da magia que as lei-
turas passam para as crianças. A criança es- É possível perceber que desde o tem-
quece rápido o que não é legal para ela por po das cavernas tinha a necessidade de se
isso todo aprendizado é válido e real para a ouvir uma história seja de ficção, de ter-
A ALFABETIZAÇÃO E O CONTO DE FADAS criança. Viver a magia do faz de conta trans- ror e de maravilhas com magias e sonhos.
Coelho (2003), afirma que os contos abrem
mite a criança o que há de melhor nos livros,
o amor, dedicação e carinho pelo mundo dos espaços para que as crianças deixem fluir o
sonhos. A escola tem o privilégio de oferecer imaginário e despertem a curiosidade, que
aos alunos uma janela de conquistas e son- logo é respondida no decorrer dos contos.
RESUMO: O conto de fadas existe há muito tempo atrás onde as histórias não eram
hos onde a realidade se mistura com a magia.
destinadas aos pequenos, com o passar dos anos as transformações deram espaço a um Hoje as crianças buscam em suas histórias
mundo mágico onde fadas, príncipes e final feliz auxiliam no aprendizado e na alfabetização, fantasiar uma realidade que às vezes não existe
a leitura está presente na vida desde sua formação, e uma estratégia que fortalece o ambiente O CONTO DE FADAS viver esse momento que os contos trazem aux-
alfabetizador através da brincadeira, das vivências, o universo lúdico proporciona magia e iliam na transformação do espaço e do apren-
fortalecendo o aprender brincando, muitas vezes vai até a fase adulta, pois é importante que O conto de fadas existe há muito tempo, dizado das crianças enriquecendo o que há de
a criança aprenda a gostar de ler para ampliar leitores na fase adulta. sendo que suas histórias não era para cri- mais rico a essência de uma criança. Bettel-
anças e sim lendas para os povos da época. heim (1980), afirmam que a vida intelectual de
Segundo Coelho (2003), o mito perde-se uma criança, através da história, dependeu de
Palavras-chave: Aprender; Brincadeiras; Vivências; Espaço. nos princípios dos tempos e são narrativas mitos, religiões, contos de fadas, alimentando
que nos falam de deuses, duendes e heróis a imaginação e estimulando a fantasia, como
fabulosos ou de situações em que o sobre- um importante agente socializador. A partir
natural domina. Na verdade, os mitos es- dos conteúdos dos mitos, lendas e fábulas,
tão sempre ligados a fenômenos inaugurais as crianças formam os conceitos de origens e
como: a criação do mundo e do homem, a desígnios do mundo e de seus padrões sociais.
explicação mágica das forças da natureza etc. Os contos de fadas, apesar de apresentar-
em fatos do cotidiano às vezes de forma bem
Acreditava muito em histórias místicas realista, não se referem claramente ao mun-
devido à realidade da época por isso para as do exterior, e seu conteúdo poucas vezes se

240 241
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

assemelha com a vida de seus ouvintes. Sua mo e muito rico nas horas de leitura. De acor-
natureza realista fala aos processos interiores do com os Parâmetros Curriculares (1998) O
do indivíduo (BETTELHEIM, 1980, p. 18). uso que a criança faz da linguagem fornece no homem. Está presente na atividade hu- importante em sua vida, uma vez que ele está
vários indícios quanto ao processo de difer- mana, ou seja, em pensamentos e represen-
O conto de fada traz um mundo onde diariamente com ela. Na educação infantil a
enciação entre o eu e o outro. Por exemplo, tação desenvolvendo em sua cultura e assim
tudo pode acontecer, na história da cinder- criança não sabe ler e escrever, mas tem a
a estabilização no uso do pronome “eu” em fortalecendo a interação com as culturas,A
ela a madrasta retrata muita da realidade da criança quando nasce percebe que seu mun- visão de mundo, à sua maneira, que deve ser
substituição à forma usada pelos menores
criança, famílias a cada dia se constrói tra- que costumam referir-se a si mesma pelo do traz muitas coisas e entre ela a leitura e levado em conta e dado muita importância.
zendo o que magia para uma realidade de próprio nome, conjugando o verbo na ter- a escuta que são vista desde cedo, a criança
tristeza e violência. No mundo de branca ceira pessoa — “fulano quer isso ou aquilo” desde pequena pega um livro e se impres- A leitura tem o poder de desenvolver
de neve a madrasta se transforma em bruxa - sugere a identificação da sua pessoa como siona com o que vê, pois seu interesse pelas a magia e, além disso, desenvolver a
e após um beijo apaixonado vive um amor uma perspectiva particular e única. Por out- pagina se dá através da observação feita, a aprendizagem rica enriquece o vocabulário, o
verdadeiro, histórias que fazem a criança ro lado, a própria linguagem favorece o pro- creche início da vida escolar da vida escolar entendimento. O professor precisa repensar
sonhar que quando adulta tudo pode mel- cesso de diferenciação, ao possibilitar formas tem esse papel de apresentar o livro para a sempre sua prática, pois é ele que consegue
horar. Os contos servem tanto para o meni- mais objetivas e diversas de compreender criança e observar seu momento com ele, é fortalecer os laços de leitura entre criança e
no, quanto a menina que vive intensamente o real. O aprendizado da criança vai se for- rico e muito prazeroso fazer esse vínculo en- livro. O conceito de leitura tem importância
o que as páginas dos livros refletem na vida. talecendo a cada momento na vida educacio- tre criança e livro. A leitura é muito impor- na medida em que atribui sentidos a textos
nal, não é porque está na educação infantil tante na vida das crianças, a formação de um de usos, ou seja, em momentos de leitura,
que a diferenciação e apreciação do início da adulto leitor depende muito de seu trajeto cada vez que uma pessoa lê para uma criança
A LEITURA E A ALFABETIZAÇÃO gramática acontece, a criança é um ser em educacional.É preciso estar atento a tudo que
fortalece os vínculos para um futuro leitor, a
construção que vai acrescentando sempre. amplia o comportamento leitor, contar, ouvir
A leitura na vida da criança enriquece educação infantil não tem necessariamente
ou ler história deve ser feito todos os dias na
o comportamento leitor e a imaginação intenção de ampliar o aprendizado do aluno. a função de alfabetizar, mas tem que ensinar
Muito que se aprende hoje com certeza se
onde a realidade e a ficção se mis- misturam com o de amanhã acrescentando e a criança interpretar livros sem mesmo saber
turam fortalecendo seu aprendizado. muito na vida da criança. Os contos de fadas Quando o aluno lê para uma criança, ler. Atentar a cada momento da criança é
são narrativas que identificam situações de desperta uma magia rica em imaginação e muito rico e não deve ser deixado para trás,
Segundo os Parâmetros Curriculares (1998) A criança é
conflitos com a realidade vivida, é triste, mas criatividade. A leitura proporciona a muitas mas a criança não sabe ler, mas vivência cada
um ser social que nasce com capacidades afetivas, emo-
cionais e cognitivas. Tem desejo de estar próxima às pes- muitas crianças no mundo de hoje. A criança pessoas a sensação de viajar mesmo sem momento quando se ouve a história.
soas e é capaz de interagir e aprender com elas de forma aprende a importância da leitura a partir do sair de casa, contemplando e ampliando os
que possa compreender e influenciar seu ambiente. Am- momento em que ela entende como ela aux- espaços imaginários. Quem nunca imaginou Segundo Bajard (2002) ler e compreender,
pliando suas relações sociais, interações e formas de co-
municação, as crianças sentem-se cada vez mais seguras
ilia na sua vida, muitas pessoas não gostam viver num conto de fadas ou mesmo um final e construir sentido. Construímos sentido
para se expressar, podendo aprender, nas trocas sociais, de ouvir histórias por não vivenciarem esse feliz, todos adultos leitores vivenciaram o na leitura do jornal, na audição de uma
com diferentes crianças e adultos cujas percepções e com- momento. Qualquer lugar, momento pode se ato de ler e acreditaram nisso. As histórias mensagem oral, na leitura de uma imagem,
preensões da realidade também são diversas (PCNs, 1998). ler para uma criança o que cabe e o plane- aguçam o pensamento positivo ampliando de uma paisagem, na produção de um texto
jamento do professor que precisa ter ciência o olhar, onde a imaginação ganha espaços escrito etc. Se não há compreensão, não pode
A leitura e a criança fortalecem um desen- de seu compromisso com a criança.Falar de
volvimento muito rico onde magia e realidade ricos. A criança precisa de estímulo para haver leitura, usada como prática social para
leitura sem falar da importância da linguagem
vão acrescentando e muito na vida escolar, compreender o que é a leitura no processo designar essas diversas atividades, vem de
não pode, a linguagem é um lugar de consti-
cabe as pessoas que as rodeiam estimular e de ensino aprendizagem. A leitura é muito sua referência e interpretação. Dessa forma,
tuição dos sentidos que se caracteriza como
acrescentar sempre buscando sempre novi- instância que perpassa o mundo, uma capaci- importante para que a criança compreenda interpreta-se um desenho do mesmo modo
dades na vida escolar e familiar. Muitas vezes dade de dizer ao mundo de se expressar e a vida com outros olhares. Quando ela inicia que uma paisagem ou texto escrito. Contudo,
a criança chega à escola sem nunca ter visto de se comunicar, e o que há de mais humano na escola, o professor acaba fazendo papel é preciso considerar que, apesar de todas
uma pessoa ler um livro então seu entusias-

242 243
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

trazem no seu bojo a noção de compreensão, triste para um mágico. em sua ajuda, e ela o conseguirá. As estórias aconselhável que as crianças realizem
remete, no entanto, a operações cognitivas também advertem que os muito temerosos uma observação livre das imagens e que
distintas. As pessoas precisam entender que não é e de mente medíocre, que não se arriscam possam tecer os comentários que quiserem
necessário ler com objetivo, ler por ler por as e encontrar, devem se estabelecer numa de tal forma que todo o grupo participe. O
A LITERATURA INFANTIL prazer, curiosidade, esse é um princípio da existência monótona se um destino ainda professor pode atuar como um provocador
leitura. A comunicação da criança com o pior não recair sobre eles. (BETTELHEIM da apreciação e leitura da imagem. Nesses
A leitura para criança é muito importante, mundo da imaginação acontece desde as 2002,p.23) casos o professor deve acolher e socializar as
ajuda no seu desenvolvimento, além de primeiras falas, ela tende a ter seu mundinho Vencer o inimigo de antes, hoje e enganar falas das crianças.
apresentar à criança elementos constitutivos onde à comunicação com os objetos, bonecas, o sofrimento, mas não se pode mudar tudo
do texto: vocabulário, estrutura, enredo, acontecem de maneira muito espontânea. se entre tanto alguns alunos apreciarem os Tudo que a criança fala deve ser dada à
coerência interna, elenco de personagens e, livros será um grande ganho para a educação. importância, pois muitas são as ideias para
além disso, o uso social da escrita, elementos A literatura é tão mágica que contagia Os contos de fadas tem o poder de fortalecer um trabalho legal direcionado ao aprendizado
esses que serão fundamentais no processo tanto a criança quanto ao adulto que um universo mágico com momentos ricos de e o cognitivo. É importante que se entenda
de alfabetização, ajuda a criar familiaridade chega ler um clássico fortalece um real e apreciação ao mundo mágico. como é a criança para assim compreender
com o mundo da escrita. imaginário na vida das crianças.Apesar da sua maneira de aprender, a educação na
violência vivida entre a criança não se pode ESCOLA E A LEITURA vida das pessoas tem seus conflitos e suas
Segundo Bettelheim (1996), para que deixar que o sonho, os contos de fadas se promoções, ou seja, algumas crianças
uma estória realmente prenda a atenção percam, guardar encantos como branca de A leitura e a escola tem um trabalho têm facilidades e outras não, e nesse caso
da criança, deve entretê-la e despertar sua neve, ou João e o pé de feijão faz que muito direcionado e rico, pois é na escola que a necessita de apoio tanto do professor quanto
curiosidade. Mas para enriquecer sua vida, sofrimento seja esquecido aquele momento. criança aprende a apreciar os diversos tipos dos parceiros que acreditam numa educação
deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a de leituras. Segundo Parâmetros Curriculares de qualidade. Aprender a nomear o mundo
desenvolver seu intelecto e a tornar claras Muitas escolas trabalham com as famílias (1998) no que diz respeito às leituras das implica em participar de uma cultura, quando
suas emoções; estar harmonizada com fortalecendo tanto as crianças e assim imagens, deve-se eleger materiais que a criança vai desenvolvendo a língua oral vai
suas ansiedades e aspirações; reconhecer trazendo o adulto para o mundo de magia. contemplem a maior diversidade possível e construindo sua própria cultura.
plenamente suas dificuldades e, ao mesmo Os contos de fadas, à diferença de que sejam significativos para as crianças. É
tempo, sugerir soluções para os problemas qualquer outra forma de literatura, dirigem a aconselhável que, por meio da apreciação, as A construção da capacidade de leitura
que a perturbam (p.13). criança para a descoberta de sua identidade crianças reconheçam e estabeleçam relações e escrita a criança vai se comunicando e
e comunicação e também sugerem as com o seu universo, podendo conter pessoas, organizando seu pensamento, a criança
A construção do conhecimento se dá de experiências que são necessárias para animais, objetos específicos às culturas primeira brinca de ler para depois aprender
acordo com a motivação que lhe ensinado, desenvolver ainda mais o seu caráter. Os regionais, cenas familiares, cores, formas, a ler e escrever. A magia acontece
uma vez que não há motivos de tornar contos de fadas declaram que uma vida linhas etc. Entretanto, imagens abstratas ou espontaneamente na vida dos pequenos
real cabe ao professor se entusiasmar e compensadora e boa está ao alcance da renascentistas, por exemplo, também podem onde tudo vira uma história. Trabalhar
acreditar num mundo mais forte e cheio de pessoa apesar da adversidade, mas apenas ser mostradas para as crianças. com a criança de educação infantil é muito
motivos para se aprender, o que cabe e ler, se-a não se intimidar com as lutas do destino, mágico por isso é muito importante um olhar
ler e através desse momento extravasar o sem as quais nunca se adquire verdadeira Nesses casos, há que se observar o sentido atraente e significativo, os contos de fadas
conhecimento adquirido.Para que ouvir ou identidade. Estas estórias prometem à criança narrativo que elas atribuem a essas imagens muitas vezes vai além do imaginário ia que
mesmo ler história, para direcionar real do que, se ela ousar se engajar nesta busca e considerá-lo como parte do processo necessita de complementos que cabe ao
imaginário, ou seja, sair daquele momento atemorizante, os poderes benevolentes virão de construção da leitura de imagens. É professor e a escola trabalhar.

244 245
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Segundo Nascimento (2009) Porém de texto. Como dito acima, não é tarefa fácil, REFERÊNCIAS
quando lemos para alguém não nós mesmos, já que nossa tendência primeira é seguir em
precisamos de outro conjunto de atitudes e busca de nossas escolhas e dos títulos que BAJARD,E.Caminho da escrita: espaço de
experiências. Num dizer mais científico, uma mais gostamos que mais nos faça sentir bem. aprendizagem. São Paulo:Cortez,2002.
nova postura e estética. A responsabilidade
de uma leitura que se faz para outro não é Na escola é possível trabalhar, versos, BETTELEIM, Bruno e ZELAN Karen. A
só ler por prazer e se deixar encantar pelas música, receitas que dão a formação um Psicanálise da Alfabetização. Porto Alegre,
narrativas. Ainda que saem essa finalidade, jeitinho gostoso de aprender. É muito Artes Médicas Sul, 1992.
talvez não valha a pena ler para o outro. Ler importante a participação dos pais neste
na escola/comunidade representa também momento, além de trabalhar os contos com _____________. A Psicanálise dos Contos de
formar leitores que possam, dentro de um a família é um momento de fazer com a Fadas. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978.
leque variado e amplo, escolher seus próprios criança tenha um momento rico com a família DANIELA DE LIMA SOLLA
caminhos e também reproduzir atitudes estabelecer esses momentos enriquecem o ______________. A psicanálise dos contos
leitoras. aprendizado infantil. Porque é importante Graduação em Letras e Pedagogia; de fadas. 16. ed. Rio de Janeiro:Paz e Terra,
a leitura, porque é uma possibilidade de Professora de Ensino Fundamental e Infantil 2002.
Todos sabem que ensinamos bem acesso a uma cidadania, as pessoas precisam da Prefeitura Municipal de São Paulo.
quando sabemos do que estamos falando, ler para viver e esse começo vai da educação BRASIL. Ministério da Educação e do
conhecemos nosso assunto. É uma tarefa não infantil até o fim de uma vida. Desporto. Referencial Curricular Nacional
fácil, pois precisamos abrir mão de nossos para a Educação Infantil. Brasília. MEC/SEF.
gostos pessoais, de nossas escolhas e nos CONSIDERAÇÕES Vol. 2. 1998
manter absolutamente abertos para outras
leituras, que nem no pareça prazerosas. O conto de fadas na educação infantil é NASCIMENTO, José de Abreu. Literatura
Não podemos ensinar apenas aquilo que uma leitura que enriquece a vida das pessoas infantil e cultura hipermídiatica :relações
gostamos, é preciso ler também o que não fortalecendo e ampliando uma visão de sócio históricas entre suportes textuais,
gostamos o que criticamos o que não nos mundo onde o real e a imaginária conquista leitura e literatura(dissertação e mestrado).
agrada. Nossos alunos precisam ter contato linda espaço no aprendizado da criança de São Paulo:FFLCH/USP,2009
com todo tipo de texto e seus gostos podem educação infantil. O desenvolvimento da
ser bastante distintos dos nossos. criança se dá desde seu nascimento, a partir
de ações e momentos de aprendizado ler para
Além disso, é tarefa do professor oferecer uma criança faz com que ela se desenvolva
uma grande diversidade de opções na qual os em todos os aspectos social, emocional e
alunos se sintam livres e, ao mesmo tempo, cognitivo.
tentados. Mas ainda não é só: é preciso
aprender a ler diferentes tipos de texto e
para isso o professor precisa se preparar
cada vez mais, torna-se um aficionado real
pela leitura, procurar os textos que não
conhece e não se acostumar num único tipo

246 247
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
em relação às suas atitudes, levando-os à
formação de sua cidadania e de atitudes éticas.
Atuando com o Ensino Fundamental, O bullying é um comportamento agressivo,
observando as relações entre alunos na fase intencional e ocorre durante um período
considerada pré-adolescência e adolescência, prolongado de tempo, sendo caracterizado
percebemos o quanto as mais diversas por uma desigualdade de autoridade entre
manifestações agressivas permeiam seus pessoas que convivem no mesmo espaço
diálogos e, ao passo que aumentam e se tornam social.
cada vez mais graves, constituem-se como
bullying. A partir desta premissa, observamos o Assim, o objetivo geral do presente estudo
quanto é relevante que nos debruçamos sobre se caracteriza pela realização de uma pesquisa
o tema, pois a escola, enquanto instituição acerca da importância do papel da escola
social, é responsável por conscientizar os alunos em relação à prevenção ao bullying, tendo
no que diz respeito à prevenção ao bullying, como objetivo específico verificar como
caracterizando o problema desta pesquisa. as instituições escolares podem e devem
A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA EM RELAÇÃO À PREVENÇÃO E contribuir para a formação da consciência
COMBATE AO BULLYING Nesse contexto, o bullying pode ser crítica do aluno, levando, consequentemente,
considerado uma tortura psicológica feita por à prevenção ao bullying e outras atitudes de
RESUMO: Este estudo tem como objetivo apresentar a importância da escola em relação outras pessoas em ambientes como escola violência, seja física ou verbal.
ao bullying. Tema este de alta relevância à atualidade, visto que se caracteriza uma situação ou trabalho, sendo muito comum na infância
preocupante no meio escolar, e os profissionais da Educação têm grande responsabilidade e na adolescência. Este é um ato que, muitas
na formação de indivíduos comprometidos com a ética. Considera-se papel da escola vezes, começa com provocações e brincadeiras O BULLYING NA ESCOLA
desenvolver ações de prevenção e conscientização no que diz respeito ao bullying suas de mau gosto e também pode envolver
consequências, não aceitar, jamais, a violência como possibilidade, agir para evitar e prevenir violência física além de psicológica é feita De acordo com a Fundação das
todas as formas de violência, estar consciente e alerta aos sinalizadores de possíveis constantemente de forma intencional por uma Nações Unidas para a Infância (UNICEF,
relações desiguais e, principalmente, educar para a ética e a sensibilidade no meio escolar, criança ou adolescente a outro mais frágil. As 2011). A adolescência é uma etapa
desenvolvendo atitudes que os educandos levarão para a vida cidadã. Mesmo assim, o consequências que o bullying pode trazer ao de intensas mudanças fisiológicas,
bullying acontece dentro e fora da sala de aula e a escola tem responsabilidade, porque indivíduo são muitas, tanto em nível pessoal, psíquicas e relacionais. Para que o pleno
os desdobramentos dessa prática estarão presentes no comportamento dos alunos. Nesse quanto em nível escolar, podendo levar o desenvolvimento cognitivo, emocional,
processo, o relacionamento professor-aluno é fundamental. É por meio desse canal que o envolvido até mesmo ao fracasso ou insucesso sexual e psicológico se efetive é necessário
bullying pode ser identificado. Mas para isso, os docentes precisam estar treinados. Eles escolar. que o jovem transite em ambientes
precisam entender que o bullying acontece a qualquer momento e com qualquer aluno. confortáveis, que transmitam segurança,
Assim, os educadores e as famílias devem proporcionar melhor convívio com as diferenças, Nesse sentido, faz-se necessário que as apoio e proteção. Apesar destas premissas,
identificando sinais de risco e comportamentos que indiquem o envolvimento com o bullying instituições escolares estejam cada vez mais cerca de 20% dos adolescentes (em
e o impacto dessa violência no aprendizado e qualidade de vida. atentas e preparadas para lidar com as diferentes todo mundo) apresentam problemas
situações de bullying e, mais ainda, que possam de ordem mental e comportamental,
preveni-las, por meio de programas e atitudes sendo que metade das ocorrências dos
Palavras-chave: Bullying; Escola; Respeito. que envolvam os alunos e os conscientizem transtornos mentais inicia-se antes dos

248 249
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

14 anos. Depressão e suicídio são fatores violentos entre crianças e adolescentes o tema seja amplamente disseminado nas bullying é comum, mas passa muitas vezes
que contribuem significativamente para o que acontece principalmente no ambiente mídias sociais e estudado internacionalmente despercebido pois é pode ser interpretado
aumento de doenças e de mortalidade entre escolar. há mais de 4 décadas. como brincadeira de amigos, por exemplo;
os adolescentes.
Para que haja bullying, é necessário que É possível que um determinado Bullying psicológico, em que a vítima sofre
Segundo LOPES (2011, p. 13), a palavra os indivíduos convivam por um período indivíduo possa estar envolvido no bullying constantemente intimidações ou chantagens,
bullying do inglês bully (valentão, brigão prolongado em um mesmo contexto ou como vítima (alvo), agressor (autor) ou além de ser frequentemente vítima de
e tirano) é traduzida em português ambiente, como dentro da escola por vítima/agressor (alvo/autor). As vítimas calúnias e boatos, além de perseguições no
como assédio escolar, que descreve o exemplo, embora este tipo de violência normalmente não reagem às agressões, que diz respeito à orientação sexual, religião
comportamento agressivo entre estudantes. ocorra nas comunidades de um modo geral, são mais inseguras, temem a rejeição e têm ou peso. O bullying psicológico pode levar à
Embora sua nomeação tenha atravessado e já se configure um problema de saúde poucos amigos. Quando reagem às agressões, depressão e fobia social, por exemplo;
barreiras culturais, sendo usada mundialmente pública em escala mundial. são consideradas vítimas/agressoras e
por pesquisadores e instalada nos dicionários costumam ter baixa autoestima, atitudes Bullying verbal, que é o tipo mais
como nome próprio sinalizando ações que Estudiosos (ANTUNES, 2010, p. 36 & mais provocativas e agressivas e mostram- comum de bullying praticado nas escolas
vão além de agredir ou maltratar, ainda não OLWEYS, 2014, p. 21), sistematizaram os se menos populares que as vítimas típicas. e que começa com um apelido maldoso,
há um termo em português que abarque tipos e as possíveis formas de envolvimento Os agressores são descritos como líderes normalmente relacionado com alguma
todo o seu significado. dos adolescentes no bullying: em direto nas de grupos, populares, que demonstram característica da pessoa. Além dos apelidos,
formas física (bater, chutar, empurrar, abusar insatisfação com a escola, têm opinião esse tipo de bullying é caracterizado por
Assim, o bullying se caracteriza por sexualmente, assediar, fazer gestos, estragar negativa e tendem a provocar seus colegas. xingamentos e humilhações constantes, o
atos repetidos e intencionais de opressão, e roubar pertences) e verbal (apelidar, que pode fazer com que aquela criança que
humilhação, discriminação e agressão importunar, xingar); ou indireto, como atos de O bullying nas escolas pode levar sofreu bullying verbal cresça sem acreditar
(RIBEIRO et al, 2015, p. 20). O bullying pode exclusão, isolamento da vítima ou dispersão a consequências imediatas, como por nas suas competências e tenham medo de se
ser definido como uma subcategoria de de rumores. exemplo desinteresse pela escola, havendo relacionar com outras pessoas;
violência, configurada em atos agressivos, diminuição do desempenho escolar, além de
repetitivos e com assimetria de poder entre Considera-se que o bullying pode ter isolamento, ataques de pânico e ansiedade, Bullying virtual, também conhecido
pares, alavancando consequências sérias à surgido de problemas sociais, culturais, comportamentos violentos e alterações como cyberbullying, é caracterizado por
saúde de adolescentes, que além de lidarem econômicos e históricos. O principal motivo físicas, como dificuldades para dormir, ataques verbais e psicológicos pelas redes
com suas intensas mudanças pessoais de crianças ou adolescentes praticarem o distúrbios alimentares e até mesmo consumo sociais. Nesse tipo de bullying a internet é
(emocionais e fisiológicas), buscam serem bullying entre os colegas está relacionado a de álcool e drogas ilícitas. O bullying pode a maior aliada, sendo a principal ferramenta
aceitos pelas suas singularidades em meio à exemplos violentos e maus tratos parentais, ser praticado de diversas formas, seja por de disseminação de fotos, vídeos ou
discriminação entre pares. à educação passiva (sem imposição de xingamentos, agressões ou isolamento e, comentários maldosos sobre a pessoa,
limites) e à falta do exemplo familiar em assim, pode ser classificado em alguns tipos deixando-a constrangida.
A violência permeia os espaços de como respeitar o próximo. principais:
socialização dos adolescentes, podendo Bullying físico, que é caracterizado por Bullying social, em que a pessoa é
se manifestar de várias maneiras, sendo No Brasil, os estudos sobre o bullying violência física, ou seja, nesse tipo de bullying constantemente isolada das atividades e
o bullying uma forma desse fenômeno datam do final da década de 90 e início do a vítima leva chutes, socos, pontapés ou tem do convívio diário. É difícil que apenas um
acontecer. Esse é visto como um problema de ano 2000, demonstrando a incipiência da a passagem bloqueada pelo simples fato de tipo de bullying seja praticado, normalmente
relacionamento, tido por comportamentos produção científica brasileira, muito embora usar óculos, aparelho ou estar um pouco nas escolas podem ser percebidos bullying
acima do peso, por exemplo. Esse tipo de físico, psicológico, verbal e social. Apesar de

250 251
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

dados preocupantes quanto aos sentimentos é tolerado repetidamente pela vítima em


ser algo relativamente comum nas escolas, o bullying pode ocasionar nos adolescentes, dos adolescentes em relação à escola, pois nome da amizade e da proteção emocional
bullying pode acontecer em qualquer idade contribui para um maior envolvimento e muitos dizem não se sentiram seguros na de pertencer a um grupo. As agressões
e em qualquer ambiente, pois qualquer colaboração da família. As consequências escola (LOPES, 2005, p. 18). verbais muitas vezes são encaradas como
comentário feito sobre outra pessoa e a curto prazo da envoltura com o bullying “brincadeira” entre os participantes, mesmo
que possa interferir na sua vida pode ser são demonstradas pelo jovem com Assim, o bullying pode contribuir quando evoluem para agressões físicas. Os
considerado bullying. ansiedade, baixa autoestima, diminuição no acentuadamente para que a escola se torne autores explicam que os jovens apresentam
desempenho escolar e falta de vontade de ir um ambiente conflituoso e desconfortável comportamentos agressivos como forma de
A criança ou adolescente vítima de bullying, à escola (BRINO; LIMA, 2015, p. 35). para os escolares. Considera-se de suma elevar o status e o respeito no contexto em
chora constantemente por raiva e tristeza, importância que um adulto possa intermediar que vivem, o que pode justificar o alto índice
sendo que no seu dia-a-dia, manifestam Observando as situações de bullying nos conflitos entre pares, demonstrando limites de bullying, compreendido como “normal”
sentimentos de medo, insegurança e espaços escolares, é importante perceber e respeito em relação à convivência com o entre eles.
angústia, desvalorizando suas qualidades. que adolescentes que têm uma desenvoltura outro, para a manutenção de uma esfera
Além das consequências imediatas, o social com menor interação no ambiente escolar saudável.Para combater o bullying, a Para Lopes (2005, p. 18), alguns
bullying pode resultar em problemas à longo escolar possui maiores chances de se tornar incorporação de práticas multiprofissionais adolescentes tendem a revidar os apelidos
prazo, como dificuldade em relacionar- vítima de bullying e ter um enfrentamento participativas e constantes de educação com outros apelidos, muitas vezes evoluindo
se com pessoas, provocando estresse no ineficaz da situação. As dificuldades no pode colaborar para que ocorram melhoras para agressão física, e desta forma
trabalho, pouca capacidade para manter desenvolvimento de habilidades sociais para efetivas no comportamento de crianças e fortalecendo o ciclo de agressão. Após o ato
um relacionamento amoroso, dificuldade na lidar com comportamentos agressivos é adolescentes. de agressão, a maioria dos agressores acha
tomada de decisões, tendência à depressão, um fator que aumenta a vulnerabilidade de engraçado praticar o bullying com os pares,
baixa autoestima e pouca rentabilidade no estudantes em sofrer violência (CUERVO et Sugere-se a efetivação de programas que muitos relatam um sentimento de bem-
trabalho devido à falta de confiança. al, 2016, p. 98). também considerem as diferenças entre os estar ou satisfação por dominar os colegas,
gêneros, quanto ao modo como se envolvem e entenderem como qualidade positiva estas
Porém, nem toda a criança ou Os educadores e as famílias podem em atos de bullying, já que expressam atitudes que trazem prestígio e liderança
adolescente que sofre de bullying na proporcionar melhor convívio com as a agressividade de diferentes formas. perante os pares.
infância ou adolescência desenvolve estas diferenças, identificando sinais de risco Também, a investigação de outras variáveis
consequências na vida adulta, depende do e comportamentos que indiquem o relacionadas aos adolescentes envolvidos O educador pode alertar as famílias
seu estado emocional ou suporte da escola envolvimento com o bullying e o impacto no bullying, como estilos parentais, violência sobre o que o bullying gera para o
ou família que teve durante o período em dessa violência no aprendizado e qualidade sofrida no seio familiar, rendimento escolar, desenvolvimento do indivíduo, orientando
que foi vítima de bullying. de vida. A falta de compreensão dos jovens relacionamento com pais e professores e para a intervenção, colaborando com as
sobre o que é o bullying e suas consequências, outras questões do cotidiano, visando um escolas na implementação de programas de
Famílias e escolas que oferecem apoio parece ser um dos importantes aspectos maior esclarecimento para este tipo de conscientização e prevenção para redução
às vítimas de bullying proporcionam o que contribuem para a ocorrência do violência entre escolares. da violência (SILVA et al, 2014), através,
rompimento do ciclo de violência, fazendo- bullying e deve ser trabalhado em políticas por exemplo, do debate desse assunto em
os desenvolver mecanismos para o públicas que objetive sua prevenção. Alguns No ambiente escolar, podemos observar sala, da dramatização e demonstração de
enfrentamento da situação (OLIVEIRA et al, adolescentes relatam sofrer e indignarem-se que muitos adolescentes subestimam situações de bullying e atividades educativas
2015, p. 13). com a ocorrência do bullying, citando que a seriedade e a gravidade do bullying, que incentivem o convívio com as diferenças.
os agressores poderiam um dia sofrer a dor possivelmente por falta de orientação sobre Podemos perceber que, na maioria das
A conscientização dos efeitos que o da discriminação. Outras pesquisas revelam a repercussão destas agressões. O bullying escolas, além do desconhecimento, há certa

252 253
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

indiferença em relação aos casos existentes que não são responsabilizados. E o problema
de bullying. Muitas vezes as escolas não não é estancado e se perpetua, sendo um entre si, e que todo o desencadear de Os professores devem lidar e resolver
admitem e não permitem o estudo mais ciclo vicioso de agressão na sala de aula. discussões e de trocas colabora para que efetivamente os casos de bullying, enquanto
aprofundado dos professores, funcionários e Vamos entender o que leva os autores do se alcancem os objetivos traçados nos as escolas devem aperfeiçoar suas técnicas
alunos sobre o bullying, o que dificulta muito bullying a participarem dessas agressões? planejamentos de cada série ou curso. O de intervenção e buscar a cooperação de
a compreensão e prevenção do problema. professor é um mediador de conhecimento, outras instituições. Sem dúvidas, sozinho o
Sendo sua a tarefa de dialogar diretamente mas sua função também é formar cidadãos professor não resolverá todos os problemas,
Uma das funções da escola é a de promover com os educandos de maneira a despertar prontos para a vida fora da escola. mas se sua prática pedagógica for libertária
o bem-estar dos alunos, e o professor é peça neles a aceitação e o respeito ao diferente. ele conseguirá desenvolver na sala de aula
fundamental dentro desse processo. Além Desde nosso nascimento somos socialmente Concebendo a escola como o lugar onde o respeito e poderá oportunizar aos alunos
da aprendizagem, ele é referência no auxílio dependentes dos outros e entramos em ocorrem a apropriação e a sistematização do que percebam a importância dos direitos das
ao combate a atitudes violentas e situações um processo histórico que, de um lado, conhecimento e onde a aprendizagem deve pessoas com deficiência. O professor não
propícias ao bullying. Faz-se necessário, nos oferece os dados sobre o mundo e estar sempre presente, estamos olhando aqui deve apontar um vilão, assim como não deve
portanto, e não de qualquer forma, que visões sobre ele e, de outro lado, permite a as interações em um contexto específico - tratar com pena o aluno com deficiência,
o professor busque as ferramentas que construção de uma visão pessoal sobre este o processo ensino-aprendizagem. Quando a função dele é gerar oportunidades para
facilitem o diálogo e o bom convívio com os mesmo mundo. motivados, nossos alunos entram no "canal que os próprios educandos vejam que as
alunos a fim de promover uma boa relação interativo", envolvem-se nas discussões, diferenças devem ser respeitadas.
para estudantes sem e com deficiência. “Por A organização do trabalho docente nesta sentem-se estimulados e querem participar,
isso, o professor desempenha um papel ativo perspectiva é diferente a partir do momento pois internamente estão mobilizados As escolas ainda não têm o preparo
no processo de educação: modelar, cortar, em que estamos apontando que é possível por estratégias externas -ferramentas necessário para lidar com os frequentes
dividir e entalhar os elementos do meio construir relações válidas e importantes em sedutoras que o professor deve usar para casos de intimidação de alunos, o chamado
para que estes realizem o objetivo buscado” sala de aula; cada um tem o seu lugar neste mobilizar sua classe. Quando falamos em bullying. A escola representa um papel
(Vygotsky, 2003, p.79). processo, e o aluno é alguém com quem o ferramentas externas, referimo-nos aos essencial para a formação da maioria
professor pode e deve contar resgatando instrumentos físicos que não precisam ser da classe trabalhadora, pois é onde os
Desse modo, o papel do professor na sua autoestima e capacidade de aprender. algo extremamente sofisticado - basta que indivíduos passam boa parte de seu tempo,
prevenção desse problema é fundamental, As relações estabelecidas no ambiente façam parte da criatividade do professor. sendo estimulados à interação com diversas
uma vez que sua intervenção influencia escolar passam pelos aspectos emocionais, vivências que possibilitam a apropriação
os acontecimentos. A vítima aguarda a intelectuais e sociais e encontram na escola Os professores, perante os casos de de conhecimentos e vivências tornando-os
intervenção nas “agressões” ocorridas em um local provocador destas interações nas bullying, ressaltam ao aluno a necessidade capazes de enfrentar as problemáticas com
sala de aula, o que nem sempre acontece. vivências interpessoais. de intervenção, isso porque o aluno sente-se maior segurança e harmonia, no sentido do
Essas “agressões” muitas vezes escapam desamparado em meio às brigas e confusões respeito consigo e com o outro.
à percepção dos professores. Ou então, A escola caracteriza-se como um dos e almeja que os professores solucionem os
mesmo percebendo, eles decidem não tomar primeiros locais que deveriam garantir a conflitos no âmbito escolar, o que reforça o Para dar início a um projeto de prevenção
providências para que esse comportamento reflexão sobre a realidade e a iniciação da “saber que/ o quê” do bullying em detrimento ao bullying dentro da escola, é necessário
pare, seja por falta de conhecimento de sistematização do conhecimento socialmente do “saber como lidar com”. Ou seja, destaca a que se faça antes de qualquer coisa, um
como endereçar esse problema, por falta de construído. O importante é perceber que importância de conhecer as características e diagnóstico para saber se ocorre bullying
direcionamento da escola ou até por medo em tanto o papel do professor como o do aluno o processo de evolução do bullying além das no ambiente, em que momento, em quais
alguns casos. Quando a omissão do professor são olhados não como momentos de ações formas como lidar com essa problemática. ” lugares, com que frequência, e se a equipe
acontece, os agressores são fortalecidos, já isoladas, mas como momentos convergentes (ARAÚJO, 2014, p. 13) pedagógica está envolvida. Quando todos os

254 255
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

estreita, que permita trabalhar em conjunto,


dados estiverem em mãos, a escola poderá pesquisas realizadas através de livros, para a prevenção e eliminação do bullying.
iniciar o projeto, que não poderá ter data revistas, artigos acadêmicos, periódicos e
para terminar. (SANTOS; BOCK, 2012, p. 21). jornais. O referencial teórico disponibilizado A partir dos estudos encontrados para
através da Internet permitiu uma ampla realização desse trabalho pode-se concluir que
É importante ressaltar que o projeto anti- fundamentação teórica do trabalho. Para o bullying é um acontecimento que faz parte
bullying não deve ser de responsabilidade fundamentar este artigo, as bibliografias do convívio adolescente, principalmente no
somente da escola, deve envolver também a consultadas têm como base ANTUNES meio escolar. Esse comportamento destrutivo
família dos estudantes. A escola tem um papel (2010); LOPES (2011); OLIVEIRA (2015) e gera consequências para a formação psíquica
importantíssimo na prevenção, detecção TREVISOL (2016). da vítima e demonstra problemas sociais e
e resolução das situações de bullying. morais no desenvolvimento dos agressores.
Primeiramente, é importante que o tema seja CONSIDERAÇÕES FINAIS
abordado nas aulas e os professores e demais É essencial que os familiares e os DIEGO DANIEL MASCARENHAS
profissionais sejam orientados no sentido Este estudo demonstrou a importância profissionais do meio escolar tenham MARTINS
de detectar situações e agir prontamente. que a escola exerce sobre a prevenção e conhecimento sobre o impacto do bullying
Também é necessário investir em uma combate ao bullying, à medida que, enquanto na vida dos adolescentes. O educador Graduação em Educação Física pela
relação saudável e construtiva com os alunos, instituição social, permeia as relações que pode oferecer apoio ao adolescente que Universidade Bandeirante de São Paulo -
facilitando as situações de denúncia, por meio os adolescentes estabelecem entre si. sofre bullying através da escuta e conversa UNIBAN (2009); Especialista em Educação
de uma escuta sensível. É importante que, do Observamos que, nos últimos anos, com o sobre os sentimentos gerados com a e Relações Étnico-Raciais - Pós-Graduação
ponto de vista institucional, a escola tenha crescimento dos sinais de violência escolar, situação vivenciada. A atuação do educador realizada em Faculdades Integradas Campos
limites muito claros e ações mais assertivas o bullying nas escolas surgiu como uma no ambiente escolar para promover Salles (2017); Professor de Educação Física no
no combate ao bullying, caracterizando uma realidade preocupante e um desafio para sensibilização sobre o assunto e prevenção Ensino Fundamental II e Ensino Médio na Rede
política para o tema. Na intervenção em toda a comunidade escolar e a sociedade. do bullying, bem como a oferta de orientação Municipal de São Paulo, na EMEF Professor
situações de bullying, independentemente para os familiares, são atuações que podem Josué de Castro e na EMEF Rui Bloem.
do papel desempenhado pelo estudante, Percebemos, então, a incidência modificar esse tipo de violência nas escolas
a capacidade de a família ouvir a escola, significativa de bullying entre os adolescentes e contribuir para o melhor enfrentamento do
demarcar limites e mobilizar-se no sentido de brasileiros nas escolas, o envolvimento bullying.
reforçar a parceria para ajudar a criança ou o diferenciado dos gêneros, sendo que meninos REFERÊNCIAS
jovem são fundamentais. É muito importante são mais propensos a sofrer bullying. Existe um conjunto complexo de fatores,
que, em face de uma situação de bullying, a nível da escola, da família, das turmas e ANTUNES D. C. Mas o que seria isso, o
escola e família se apoiem no sentido de Observamos, ainda, a fragilidade quanto da comunidade, que poderão ocasionar ou bullying? In: Antunes DC. Bullying: Razão
resgatar os valores morais que devem pautar à realização de estudos preventivos, inibir episódios de violência na escola. Por Instrumental e Preconceito. São Paulo: Casa
a convivência. interventivos e restaurativos ou que avaliem isso, é necessário o empenho de todos, na do Pisicólogo; 2010. p. 36.
programas de intervenção em relação ao prevenção e no combate ao bullying.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS bullying. É preciso que haja parceria entre ARAÚJO, Batista Jayann. A perspectiva
a escola, a família, os serviços de saúde e do professor diante do bullying no âmbito
Para a realização deste trabalho, a outros setores da comunidade. É relevante escolar. Disponível em: file:///C:/Users/
metodologia de pesquisa utilizada neste criar uma relação mais próxima entre a escola USUARIO/Documents/A_perspectiva_do_
trabalho foi a do tipo bibliográfica, com e a família, incentivando uma cooperação professor_diante_do_bul.pdf. 2019.

256 257
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Psico - USF, v. 20, n. 1, jan./abr., 2015. Sistemática de Estudos Longitudinais. Psico.:


BANDEIRA, C. M, HUTZ C. S. Bullying: Teoria e Pesquisa, v. 32, n. 1, 2016.
prevalência, implicações e diferenças entre OLWEUS D. Bullying at school. Long term
gêneros. Psicol Esc Educ 2012; 16(1):35-44. outcomes for the victims end an effective SILVA, M.A.I. et al. O olhar de professores
BRINO, R.F.; LIMA, M.H.C.G. Compreendendo school-Based Intervention program. In: sobre o bullying e implicações para a atuação
estudantes vítimas de bullying: para quem Huesmann LR, editor. Agressive Behavior: da enfermagem. Rev. esc. enferm. USP, São
eles revelam? Psico. Educ., São Paulo, n. 40, Current Perspectives San Francisco: Plenum Paulo, v. 48, n. 4, ago., 2014.
jun., 2015. Press; 1994. p. 98.
TAIUL, Leonardo C, Paula R. G. F. de C. Costa,
CUERVO, A.A.V. et al. Propiedades PIGOZI, P.L.; MACHADO, A.L. Bullying na Thaís Ferreira Rodrigues. Bullying na escola e
psicométricas de una escala para medir adolescência: visão panorâmica no Brasil. na sociedade moderna. São Paulo: Instituto
dificultades en habilidades sociales Ciência e Saúde Coletiva, v.20, n. 11, 2015. de Educação Boni Consilii, 2009.
relacionadas con la victimización. Pensam. POMPEO, D.A.; ROSSI; L.A.; GALVÃO, C.M.
psicol., Cáli, v.14, n. 2, 2016. Revisão integrativa: etapa inicial do processo TREVISOL, M.T.C.; CAMPOS, C.A. Bullying:
de validação de diagnóstico de enfermagem. verificando a compreensão dos professores
FERNANDES, L., & SEIXAS, S. Plano Bullying: Acta Paul Enferm., v. 22, n. 4, 2009. sobre o fenômeno no ambiente escolar.
Como apagar o Bullying na Escola. Lisboa: Psicologia Escolar e Educacional, v. 20, n. 2,
Plátano Editora, 2012. RAIMUNDO, R., & PINTO, A.M. Conflito mai./ago., 2016.
entre pares, estratégias de copping e
__________. Fundo das Nações Unidas para agressividade nas crianças e adolescentes. VIEIRA T. M., MENDES F. D. C. , GUIMARÃES
a Infância (UNICEF). Adolescência: uma Psychologica, 44, 135-156, 2007. LC. De Columbine à Virgínia Tech: reflexões
fase de oportunidades. New York, Fev de com base empírica sobre um fenômeno em
2011. Acesso em 19 de fevereiro de 2019 RIBEIRO, I.M.P. et al. Prevalência das várias expansão. Psicologia: Reflexão e Crítica
mar. Disponível em: http://www.unicef.org/ formas de violência entre escolares. Acta 2009; 22(3):493-501.
brazil/pt/br_sowcr11web.pdf. Paul. Enferm., São Paulo, v. 28, n. 1, jan./fev.,
2015. VYGOTSKY, L. S. A Formação social da
LOPES, NETO A. A. Ações antibullying In: SANTOS, Carla Simone Rodrigues; BOCK, mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
Lopes Neto AA. Bullying: saber identificar e Vivien Rose. Bullying: a face silenciosa da
como prevenir São Paulo: Brasiliense; 2011. violência entre estudantes. Universidade
p. 62-100. Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2012.
NICKERSON, A. B., MELE, D., & PRINCIOTTA,
D. Attachment and empathy as predictors SERRATE, R. Lidar com o Bullying na Escola.
of role as defenders or outsiders in bullying Guia para entender, prevenir e intervir no
interactions. Journal of School Psychology, fenômeno da violência entre pares. Lisboa:
46, 687-703, 2008. Bookout, 2014.

OLIVEIRA, W.A. et al. Interfaces entre família SILVA, J.L. et al. Associações entre Bullying
e bullying escolar: uma revisão sistemática. Escolar e Conduta Infracional: Revisão

258 259
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
O direito de brincar adquire conhecimentos, das crianças. Na interação da criança com seus
desenvolve a sociabilidade, o intelectual colegas de sala, entre ela e o professor e com
e o emocional por meio do lúdico, é de todos os membros da comunidade escolar é
fundamental importância na vida da criança. que a criança aprende a conviver, dividir e
Para compreender melhor a sua importância ser. Os conflitos das relações, as trocas e a
e o surgimento dos jogos retomaremos a necessidade de esperar o outro e a descoberta
sua origem por meio da história: A palavra de que ela não é o centro das atenções é um
jogo vem do latim “iocus” que significa jogo que faz com que a criança construa a
diversão, brincadeiras. O jogo advém das sua identidade e conquiste autonomia que a
antigas civilizações. Gregos e Romanos já prepare para uma convivência saudável com
conheciam a sua importância para educar o outro. Estabelecer as regras desse jogo é
as crianças. Reconhecer a especificidade da função que o adulto deve construir junto
criança, suas necessidades, as diferentes com o grupo. Tudo isso pode ser pensado
fases pelas quais ela passa até atingir a como uma grande brincadeira em que tendo
O BRINCAR E SUA IMPORTÂNCIA NA EDUCAÇÃO idade adulta são fatores fundamentais para o adulto como modelo elas possam vivenciar
realizar um trabalho de qualidade que tenha por intermédio dos vários papéis diferentes
INFANTIL como objetivo o desenvolvimento pleno das (situações) do dia a dia.
crianças. Cabendo ao professor pesquisar as
RESUMO: Este artigo mostra como a brincadeira influencia no desenvolvimento da informações e estudos teóricos que o ajude a O objetivo desse trabalho é compreender
criança nos aspectos sociais, mental e físico, o brincar tem um papel fundamental para explorar essas possibilidades visando atingir e associar todas as ideias e convicções sobre
o desenvolvimento biopsicossocial da criança. É nesse momento que ela se desenvolve, todas as metas educacionais previstas para o brincar e como o jogo pode contribuir
explora característica de personalidade, fantasias, medos, desejos, criatividade e elabora o cada etapa de vida da criança que tem o seu como ferramenta, na prática, pedagógica
mundo exterior a partir de seu campo de visão. A criança precisa experimentar, ousar, tentar, direito à educação assegurada por lei. Uma para o desenvolvimento infantil e as
conviver com as mais diversas situações. Brincar com outras crianças, com adultos, com das características marcantes das crianças aprendizagens em qualquer fase da vida de
objetos, com o meio. A brincadeira individual também é importante, mas brincando com o pequenas é a sua curiosidade em relação às qualquer indivíduo. Confirmar que o ato de
outro, essa criança desenvolve seu convívio social As crianças necessitam de brinquedos e descobertas do meio em que vivem. Essa brincar não consiste apenas em reservar um
brincadeiras que favoreçam seu desenvolvimento, suas habilidades, coordenação motora disposição da criança e a sua energia criativa espaço em um momento qualquer e deixar
grossa e fina, estruturação, espaço temporal e lateralidade. Nossos pequenos estão em uma devem ser consideradas pelo professor ao a criança com seus brinquedos. Ressaltar
fase de descoberta, a brincadeira caracteriza vínculo importante com o seu meio social, planejar as suas atividades. a importância da intervenção do adulto em
seus familiares e amigos, e é desse convívio com o outro, que a criança começa a formar especial o professor por ser um pesquisador
sua ideia de mundo. A brincadeira é uma linguagem natural da criança e é importante que Podemos afirmar que por intermédio do de sua prática, pode utilizar e planejar a
esteja presente na escola desde a Educação Infantil para que o aluno possa se colocar e se lúdico é possível transformar a aprendizagem brincadeira com seus alunos possibilitando
expressar por meio das atividades lúdicas. Também ressalto que a prática do brincar pode ser e torná-la muito mais significativa para a eles formarem personalidades e construir
de grande valia nas atividades pedagógicas, pois, as crianças estão perdendo esse momento qualquer fase e em especial para os pequenos conhecimentos. É essa ideia do jogo como
prazeroso entrando muito cedo na fase adulta. que brincando constroem e desconstroem ferramenta útil para o aprendizado que
conceitos e estruturas. A escola é o ambiente vem ampliando a sua importância na escola,
Palavras-chave: Brincadeiras; Lúdico; Desenvolvimento; Educação Infantil. ideal para o crescimento e desenvolvimento deixando de ser considerado um simples

260 261
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

nessas ações, as suas angústias e desejos. partir da importância da ludicidade que


divertimento para se transformar em uma um impulso natural da criança funcionando, Trazer o lúdico como ferramenta para a o professor deverá contemplar jogos,
ponte entre a infância e a idade adulta. como um grande motivador, e por meio aprendizagem das crianças e jovens para eles brinquedos e brincadeiras, como princípio
do jogo obtém prazer e realiza um esforço experimentarem papéis diferentes mediante norteador das atividades didático-
Diante desses fatores considero a espontâneo e voluntário para atingir o a imitação dos personagens. pedagógicas, possibilitando à criança uma
participação da criança na construção das objetivo, o jogo mobiliza esquemas mentais, aprendizagem prazerosa. Assim, a ludicidade
brincadeiras um fator fundamental e que e estimula o pensamento, a ordenação de O profissional da educação pode pensar tem conquistado um espaço na educação
não deve ser desconsiderado pela escola e tempo e espaço, integra várias dimensões em estratégias de brincadeiras, na escolha infantil (CNNEI, 1998).
ainda, que o professor poderá se utilizar para da personalidade, afetiva, social, motora e das diversas maneiras que o brincar está
incentivar a criatividade e interesse deles, na cognitiva. posto na cultura de cada sociedade, nas Devemos considerar, ainda, que por
resolução das questões e problematizações possibilidades que as brincadeiras e jogos intermédio da brincadeira a criança resolve
que forem surgindo durante as brincadeiras. Por isso o educador é a peça fundamental podem ter como a gente de sua prática seus conflitos internos e assimila novas
nesse processo, devendo ser um elemento pedagógica. Conhecer melhor o público com aprendizagens, além da importância da
essencial. Educar não se limita em repassar quem trabalham, considerando sua faixa socialização que a brincadeira promove na
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR informações ou mostrar apenas um caminho, etária e necessidades peculiares de sua fase vida da criança, mesmo que muitas vezes,
mas ajudar a criança a tomar consciência de de vida. Levar a criança a conhecer diferentes a criança brinque com outro e pareça não
A conscientização do profissional de si mesmo, e da sociedade. É oferecer várias manifestações culturais, considerando as interagir com o outro. É por meio dessa
educação e o conhecimento de que a criança ferramentas para que a pessoa possa escolher atitudes de interesse, respeito e participação interação, essa troca entre seus pares, que as
deve ser estimulada, já nos primeiros meses caminhos, aquele que for compatível com frente a elas, bem como a valorização da crianças significam e ressignificam os objetos
de vida e que o jogo faz parte de todas as fases seus valores, sua visão de mundo e com as diversidade. e espaços, atendendo essa necessidade de
do crescimento humano é de suma e extrema circunstâncias adversas que cada um irá agir (imitar) o mundo adulto que a cerca.
importância, já que vimos por intermédio dos encontrar. Nessa perspectiva, segundo o Mostrar a importância do lúdico na vida
teóricos que o brincar é a forma natural com Referencial Curricular Nacional da Educação da criança e como ela vem sendo introduzida Os jogos e as brincadeiras têm importante
a qual estabelecemos os primeiros contatos Infantil (BRASIL, 1998, p. 30). na vida dos mesmos. A escolha desse tema papel, também no desenvolvimento das
com o mundo que nos cerca, tendo início surgiu de inúmeras indagações a respeito diversas linguagens, tão importantes nas
ao nascer e sugar ou chorar para ganhar O ato de brincar é importantíssimo para das ações das escolas em suprir a demanda aprendizagens das crianças (e adultos), além
aconchego e carinho, portanto, desperdiçar crianças de qualquer idade. É na brincadeira por espaço para que as crianças exerçam o de possibilitar a inserção do indivíduo na
essa ferramenta que pode se tornar aliada simbólica que elas irão desenvolver e direito de brincar. Sabemos que em virtude sociedade de forma harmoniosa, auxiliando
dos profissionais da Educação em suas metas reproduzir as realidades vivenciadas no dessa carência e a falta de segurança, que no se desenvolvimento físico e psíquico. O
de ensinar ao aluno de forma muito mais dia a dia, provocando inúmeras vezes as diferente de décadas passadas em que as brincar é uma necessidade básica e é direito, da
dinâmica, alegre e significativa é o principal acomodações de novas aprendizagens. crianças brincavam nas ruas, hoje as crianças criança, sendo uma experiência humana, rica
objetivo deste trabalho. Aproveitamento deste instrumento poderoso estão cada vez mais confinadas em espaço e complexa, que auxilia no amadurecimento
de aprendizagem em qualquer fase da criança, minúsculo de casa ou apartamentos pequenos da identidade e da autonomia. A criança
De acordo com Kishimoto (2002) o jogo e é a partir do concreto que as crianças tendo os jogos e brinquedos eletrônicos organiza seu pensamento por meio de
é considerado uma atividade lúdica que tem aprendem. Permitir que elas experimentem como únicos companheiros. vivências simbólicas e é na imaginação que a
valor educacional, a utilização do mesmo no objetos desestruturados permitir que elas realidade se constrói pela fantasia e a fantasia
ambiente escolar traz muitas vantagens para transformem pela imaginação uma sucata em De acordo com o Referencial Curricular pela realidade.
o processo de ensino aprendizagem, o jogo é um objeto “real” do cotidiano, demonstrando Nacional da Educaçã Infantil (1998) a

262 263
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

É brincando que ela expressa sentimentos e emoções que Para melhor compreender o tema Antigamente, a sociedade brasileira tinha a dúvida, se estes brinquedos são educativos
ela mesma desconhece; é brincando que ela manifesta as escolhido começará a estudar como as uma vida bucólica e as brincadeiras desta e positivos para o desenvolvimento das
suas potencialidades e, assim, através de experiências as brincadeiras e os meios lúdicos, interferem época eram baseadas mais na oralidade, com crianças. De qualquer forma, não podemos
mais variadas, vai aprendendo a viver, libertando-se de seus de forma positiva para o desenvolvimento da as cantigas de roda, as parlendas, os ditos esquecer que o brincar faz parte da cultura,
medos e amadurecendo de dentro para fora, devagarzinho criança. Muitos estudiosos buscam por meio em forma de rima e os brinquedos eram pois, nela se introduz a prática, conhecimento
e com a segurança que só as coisas naturais e verdadeiras de seus estudos, chamar a atenção sobre a confeccionados pelas próprias crianças, que constituído pelo sujeito dentro do fator
oferecem (CUNHA, 1995, p.8). importância do “Brincar” no comportamento utilizavam o que tinham em mãos como histórico e social, na qual a criança estabelece
humano, especialmente durante a infância, palitos, sabugo de milho, utilizando assim, já outras lógicas e fronteiras de significação da
A brincadeira é uma ferramenta muito considerando que a ação de brincar possibilita na construção do brinquedo sua criatividade. vida. A criança não nasce sabendo brincar,
importante na educação e um dos problemas ao indivíduo inserir-se na sociedade de Outros brinquedos eram confeccionados porém, ela aprende desde muito cedo, nas
frequentes nas escolas é o fato das crianças forma harmoniosa, auxiliando também no pelos adultos, bonecas de pano, carrinhos relações com o sujeito, o outro e a cultura.
que ao entrarem no ensino fundamental, desenvolvimento físico e psíquico. com sobras de madeira, carrinhos de rolimã, na
enfrentam as transformações brutais de qual a criança participava destas construções Nesta perspectiva as atividades lúdicas,
diminuição dos espaços, antes muito mais Os jogos e brincadeiras são representações observando como eram construídos. vão além do brincar porque proporcionam o
amplos da CEIS (Centros de Educação que imitam as ações reais num contexto equilíbrio emocional, intelectual e cultural.
Infantil) e EMEIS, além da obrigatoriedade imaginário, a ação lúdica valoriza o fator Com a industrialização, o clima campestre Embora, ainda hoje, muitas crianças
das avaliações e provas e os momentos social. Na brincadeira a criança se comporta foi trocado pela agilidade da cidade, e os trabalham e são privadas desse direito, ou até
menos propícios às brincadeiras, suas além do comportamento habitual de sua espaços para brincadeiras, ficaram mais mesmo porque está rodeada de adultos que
carteiras enfileiradas e os jogos e o lúdico idade, além de seu comportamento diário, limitados, diminuindo as brincadeiras ao consideram que “brincar é perda de tempo”.
restrito as poucas aulas de educação física. no brinquedo assume papéis, como se fosse ar livre. As fábricas passaram a construir Todas as crianças precisam usufruir os
As Escolas muitas vezes não são construídas outro e maior do que ela realmente é na brinquedos mais sofisticados, encantando benefícios emocionais, intelectuais e culturais
e nem possuem projetos que respeitem as realidade, extrapolando a si mesmo. O brincar cada vez mais as crianças e podando sua que as atividades lúdicas proporcionam, mas
necessidades das faixas etárias das crianças faz com que as crianças criem e vivenciem criatividade no fazer os próprios brinquedos. nem todas as crianças têm essa oportunidade,
pequenas agora já incluídas nos projetos um mundo “fantástico”, colocando o que elas Com a chegada das tecnologias, os brinquedos ou porque precisam trabalhar, ou porque
de educação para todos. Esse problema representam no mundo real, ou até mesmo foram ficando cada vez mais eletrônicos, precisam estudar, ou porque não podem
aumenta se observarmos que cada vez mais acrescentando o que elas gostariam que valorizando mais o interior das casas como atrapalhar os adultos (CUNHA, 2004, p.39).
diminui a idade de entrada da criança na existisse. O trabalhar com o lúdico faz com espaço de brincadeiras, e atualmente as
escola fundamental. que a criança aprenda não só conteúdos crianças não saem mais para brincar nos A sociedade consumista tem violado o
didáticos, pedagógicos, mas sim a se socializar, quintais (quase que inexistentes atualmente), direito à infância, que é invadida, por um
Vale lembrar a importância da formação respeitar o outro, respeitar as regras numa nas ruas, nas praças, tornando-as pouco mundo adulto e artificializado, que nega
continuada do professor e da necessidade de forma mais que especial, brincando. ativas fisicamente. às suas crianças o direito ao brincar. Em
uma abordagem de pesquisa da necessidade particular as crianças dos centros urbanos,
do brincar nas atividades educacionais sem CONSIDERAÇÕES FINAIS Hoje é comum ver crianças em tenra idade devido à expansão imobiliária e pelas rotinas
confundir que toda brincadeira deve ter uma (antes mesmo dos 3 anos de idade), que sabem dos ambientes impróprios para brincar são
intencionalidade, isto é, deve ter um objetivo Quero aqui destacar, a mudança na forma mexer em computadores, que sabem utilizar sufocadas e impedidas de expandir sua
claro. Para isso o professor deve planejar suas de brincar por intermédio da história e de celulares com jogos, que jogam vídeo-games, alegria de viver e de descobrir o mundo e
aulas, registrar, refletir suas ações, replanejar como a sociedade e a cultura influenciaram com uma agilidade superior aos adultos a muitas vezes sendo submetidas a um absurdo
e mudar estratégias. na concepção de brinquedos e brincadeiras. sua volta. Para nós futuros educadores, fica conjunto de rotinas, impostas pela família

264 265
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

e pela sociedade. A criança é treinada a ser ser benéfica, aliviando tensões diante da REFERÊNCIAS
consumidor e desde cedo seduzidas por um vida tão estressante e competitiva que
consumo pelo consumo, empobrecendo sua temos, porque é exercício, muitas vezes CARVALHO, A.N.C. et al. (org). Infância e Cultura: viajando pelo Brasil que brinca: Casa
infância, valorizando o “ter” ao invés do “ser”. de saber perder e saber ganhar, mas que do Psicólogo, 1992.
traz embutido um processo que implica CUNHA, Nylse H. S. Brinquedoteca. Revista do professor, Porto Alegre. V.11, n.44, p7-8,
O brinquedo “(...) surge a partir de sua necessidade de agir colaboração, cooperação e respeito mútuo e outubro/dez 1995.
em relação não apenas ao mundo mais amplo dos adultos.”, às regras, extremamente importantes para a
entretanto, a ação passa a ser guiada pela maneira como a vida em sociedade. O que fica claro, diante CUNHA, Nylse H. S. Brinquedo Linguagem e Alfabetização Editora Vozes, Edição 2004 ,
criança observa os outros agirem ou de como lhe disseram, desta pesquisa, é que o brinquedo e o jogo, de Janeiro: Zahar, 1978.
e assim por diante. À medida que cresce, sustentada pelas não devem ser oferecidos simplesmente para
imagens mentais que já se formou, a criança utiliza-se matar o tempo, mas ao contrário como um BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
do jogo simbólico para criar significados para objetos e recurso que potencializa as aprendizagens. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998- p
espaços (VYGOTSKY, LURIA & LEONTIEV, 1998, p. 125). 30, v1 e v2.

Diante da realização desta pesquisa e SANTOMAURO, Beatriz. Todo Mundo Ganha. Revista Nova Escola. São Paulo. Março
desenvolvimento desse trabalho, avaliamos e 2013.
concluímos que a escola, professores e alunos,
muito tem a ganhar quando planejam com SANTOS, Santa Marli Pires dos. O lúdico na Formação do Educador. 5. Ed. Petrópolis, RJ:
intencionalidade e privilegiam a brincadeira, Vozes Editora, 2002.
o brinquedo e o jogo, durante suas aulas.
Crianças e adolescentes sempre dão o VYGOTSKY, L. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
melhor de si, neste tipo de atividade, porque
são atividades que exigem planejamento e VYGOTSKY, L.S.; LURIA, A.R.; LEONTIEV, A.N. Desenvolvimento e Aprendizagem. São
pensar em estratégias. Resgatar brincadeiras Paulo: Ícone: Ed. Universidade de São Paulo, 1998.
junto aos pais e comunidade é uma atividade
prazerosa e enriquecedora para todos os que
dela participam além de propiciar aos pais a
participação na vida escolar de seus filhos. DINAIR DE ASSIS ANTUNES
O jogo nesse caso serve para estreitar Graduação em Artes Plásticas pela
os laços afetivos. O jogo é um rico recurso faculdade Marcelo Tupinambá (1993);
didático, que além de tudo, traz prazer Graduação em Pedagogia pela Universidade
e alegria aos envolvidos. Porém, muitos de Franca (1997); Especialista em Educação
educadores ainda veem os jogos regrados Ambiental pela Faculdade Campos Elíseos
de maneira negativa, porque julgam que (2016); Professora de Educação Infantil
estimulam a competitividade, no entanto, e Ensino Fundamental l; Professora de
acredito que depende do papel do professor Educação Infantil na EMEI Virgílio Távora.
enquanto mediador e que a disputa pode

266 267
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
Para compor esta pesquisa, foi realizado A CARACTERIZAÇÃO DO
um estudo em torno dos brinquedos e BRINQUEDO E DAS BRINCADEIRAS
brincadeiras, a ludicidade e do brincar,
que os colocam no cenário infantil com Para o entender a importância do brinquedo
suas contribuições para o aprender, e brincadeiras no desenvolvimento da criança,
desenvolvimento de atitudes individuais e em tão demonstrada na contemporaneidade,
grupo. Nesse sentido, objetivou-se a busca pelo crescente número de estudos no
de concepções acerca do funcionamento campo da educação, como objeto de estudo,
do mundo infantil, que pode significar entre outros, a influência da cultura na
uma reorganização da prática pedagógica constituição dos brinquedos, a função destes
desempenhada pelo professor, para absorver na construção do psiquismo infantil ou ainda
o lúdico através desses recursos, que a importância de utilizá-los como recurso
estabelecem relações muito próximas com pedagógico, seja no contexto familiar ou em
A RELAÇÃO INTRÍNSECA ENTRE BRINQUEDOS brincadeiras e brinquedos, e traduz várias instituições coletivas, como creches ou pré-
formas de estimular os educandos nas fases escolas.
E BRINCADEIRA NO PROCESSO DE ENSINO do seu desenvolvimento.
APRENDIZAGEM INFANTIL Ao basear-se em algumas idéias básicas
A motivação sobre estudar a temática, a respeito do que consiste no papel das
foi em virtude de questões particulares, brincadeiras, brinquedo e o brincar, pois
RESUMO: Este trabalho estabeleceu-se por meio de argumentações, que envolvem o envoltas nos brinquedos e das brincadeiras, e muitos autores usam indistintamente o
universo do brinquedo e brincadeiras com as interações de aprendizagens exercidas no sua significação para as crianças. Em diversos termo brinquedo para nomear tanto o jogo
desenvolvimento infantil. Para tanto destacou-se o quanto essas atividades favorecem o âmbitos, nas formas de expressar seus quanto à brincadeira, muitas vezes, ser
desenvolvimento cognitivo e social dos alunos. E apresenta-se com caráter bibliográfico, sentimentos, ao desenvolver a autonomia, impraticável distinguir estes termos com
fundamentado nas análises do lúdico no processo ensino e de socialização das crianças, além ao colocar para fora suas fantasias e toda sua nitidez. Nesse sentido, Bomtempo (1986)
de legitimar a temática e proporcionar significação dos conhecimentos adquiridos. Nesse criatividade, que não existem fronteiras em acrescenta, no entanto, que na maioria
sentido, discorre acerca do lúdico no ensino infantil, que faz parte de todo contexto de vida sua imaginação e de aprender. A estrutura das vezes as pessoas se referem à palavra
da criança. Para estimulá-las em suas práticas educativas, o uso de brincadeiras e brinquedos desta pesquisa, deu-se inicialmente na “jogo”, quando a brincadeira envolve regras,
próprios para sua idade, no ambiente escolar, pode dispor um recurso primordial para todos explicação e caracterização dos brinquedos e e “brinquedo”, quando se trata de uma
os professores desta faixa etária. E ao utilizar as muitas atividades lúdicas, podem favorecer das brincadeiras, para em seguida entender o atividade não estruturada. Em concordância
e diversificar as aprendizagens das crianças. desenvolvimento infantil, a composição lúdica com as posições de Oliveira e Bomtempo,
no aprender e finalmente foi esmiuçado a Kishimoto (1996) vem concordar que é
Palavras-chave: Brincadeiras; Brinquedo; Aprendizagem; Infantil. relação com aprendizagem no ensino infantil, muito difícil fazer a definição de jogo devido
para finalizar com as considerações finais. à variedade de fenômenos considerados
como jogo e acrescenta que essa dificuldade
cresce, quando o mesmo objeto pode ser
visto como jogo ou não jogo, dependendo

268 269
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

apenas do significado a ele atribuído pelas por vontade própria, enquanto ao assumir a invenção e a imaginação e possibilita que a Com base no Referencial Curricular
diferentes culturas e pelas regras e objetos a função educativa, o brinquedo ensina criança descubra suas próprias capacidades Nacional Para Educação Infantil:
que o caracterizam. Já ao referir-se ao qualquer coisa que complete o indivíduo de apreensão da realidade, além de permitir
brinquedo, a autora coloca que através deste em seu saber, seus conhecimentos e sua à criança, testar situações da vida real ao A intervenção intencional baseada na observação das
é estabelecida uma relação íntima com a apreensão do mundo. Ainda nessa ideia, os seu nível de compreensão, sem riscos e com brincadeiras das crianças oferecendo-lhe material
criança, sem um conjunto de regras para a autores Kishimoto, também Cunha (1998) controle próprio. A preocupação sobre a adequado, assim como espaço estruturado para brincar
sua utilização. acreditam que o brinquedo estimula a forma como as crianças brincam e colocam permite o enriquecimento das competências imaginativas,
inteligência, fazendo com que a criança solte que todos os meios de educação deveriam criativas e organizacional”. (1998 V1, p.29).
Complementa-se, que o brinquedo, visto sua imaginação e desenvolva a criatividade. informar-se sobre este aspecto e sobre os
como objeto, é sempre o suporte da brincadeira Além, destes aspectos, a autora enfatiza objetos que poderiam ajudar na atividade Por intermédio da brincadeira, que a criança
e que esta última se constitui na ação que a que o brinquedo diminui o sentimento de construtiva da brincadeira. Acrescentam elabora seus sentidos, busca compreender
criança exerce ao valorizar as regras do jogo, impotência da criança, pois, ao manipulá-lo, ainda que não se possa conhecer nem educar o mundo. Diante disso, OLIVEIRA (1995,
ao mergulhar na ação lúdica. Ao considerar ela cria situações novas, reconhece outras, uma criança sem saber por que e como ela p.36), explica que “No brinquedo a criança
que a criança pré-escolar aprende de modo compara, experimentam, desenvolve sua brinca. Cunha (1998), por sua vez, coloca que comporta-se de forma mais avançada do que
intuitivo, adquire noções espontâneas, imaginação e habilidades. “brincando a criança experimenta, descobre, nas atividades da vida real e também aprende;
em processos interativos, que envolve o inventa, exercita e confere suas habilidades” objeto e significado”. Ou seja, a brincadeira
ser humano inteiro com suas cognições, Por meio dos conceitos de Brougère (p. 9). possibilita a ação com significados, além
afetividade, corpo e interações sociais, o (1995), em seu texto “Brinquedo e Cultura”, disso, as situações imaginárias fazem com
brinquedo desempenha um papel de grande também faz uma diferenciação entre jogo e Pode-se acrescentar que brincar é um que as crianças sigam regras, pois cada faz-
relevância para desenvolvê-lo. Ao permitir a brinquedo, para ele, o brinquedo é um objeto dom natural que contribuirá no futuro para de-conta.
ação intencional (afetividade), a construção que a criança manipula livremente, sem estar o equilíbrio do adulto, pois o ato de brincar
de representações mentais (cognição), a condicionado às regras ou a princípios de é indispensável à saúde física, emocional Foi notado por meio das palavras do autor
manipulação de objetos e o desempenho de utilização de outra natureza. O brinquedo e intelectual da criança. Mediante aos à importância da brincadeira na vida da
ações sensório-motoras (físico) e as trocas é um objeto infantil; o jogo, ao contrário, conceitos do que é o “lúdico e brinquedo “e criança e a necessidade que a criança tem
nas interações (social), o jogo contempla pode ser destinado tanto à criança quanto em que consiste o “brincar”, vale focar que de ser respeitada enquanto brinca, pois, seu
várias formas de representação da criança ao adulto, sem restrição de uma faixa etária, de maneira específica, eles têm contribuído mundo é mutante e está em permanente
ou suas múltiplas inteligências, contribuindo enquanto o brinquedo, para um adulto, para a compreensão do papel do brinquedo/ oscilação entre fantasia e realidade. E a
para a aprendizagem e o desenvolvimento torna-se sempre motivo de zombaria, de brincar no desenvolvimento da criança infância é tempo de brincar, esta é uma
infantil” (Kishimoto, 1996: p.36). ligação com a infância. em idade pré-escolar – a teoria de Piaget. verdade que não se pode mudar.
Conforme esse autor, a criança em idade
Também ao discutir tipos de brinquedos Conforme Champagne (apud Andrade, pré-escolar conhece o mundo através do Pode-se dizer que um adulto percebe,
e brincadeiras, Kishimoto (1996) explica 1994) é outro autor que, preocupado com relacionamento que ela estabelece com o jogo e a brincadeira como atividades de
que algumas modalidades de brincadeiras o papel do brinquedo no desenvolvimento pessoas e objetos, sendo que deste mundo lazer, mas para as crianças é algo muito
presentes na educação infantil, fazendo uma infantil, nos mostra as diversas funções fazem parte o brinquedo e os jogos, ambos sério, que permite dar asas à imaginação,
diferenciação entre elas: a) O brinquedo/ deste para as crianças em idade pré-escolar. assumindo diferentes modalidades e permitindo descobrirem a si mesmos e ao
jogo educativo ao assumir, por exemplo, a Segundo este autor, o brinquedo, é o contribuindo de diferentes formas para o mundo. E PIAGET (1978, p.47), afirma que
função lúdica, propicia diversão, prazer e suporte do jogo, é o objeto que desperta a desenvolvimento do pensamento infantil. “O indivíduo, seja criança ou adulto, revive
até mesmo desprazer quando é escolhido curiosidade, exercita a inteligência, permite no jogo a maioria das atividades pelas

270 271
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

quais passou a espécie, em sua metódica jogo, a criança aprende a lidar com o mundo, Com as colocações acima, podemos humanas. De acordo com Macedo (2005)
evolução, durante milênios”. Com isso vemos formando sua personalidade, vivenciando inferir que Piaget (1975), completa que “brincar é envolvente, interessante e
a importância do jogo na vida da criança, sentimentos como amor e medo. cada tipo de estrutura mental, inicialmente informativo. Infere que o brincar é um jogar
sendo o mesmo, uma atividade construída a atividade lúdica surge como uma série de com ideias, sentimentos, pessoas, situações e
socialmente e culturalmente. O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO exercícios motores simples. Sua finalidade objetos em que as regulações e os objetivos
INFANTIL E A COMPOSIÇÃO DO é o próprio prazer do funcionamento, que não estão previamente determinados”.
KISHIMOTO (1994, p. 134), diz “O LÚDICO DESTA FAIXA ETÁRIA exercícios consistem em repetição de gestos
brinquedo, o jogo, o aspecto lúdico e e movimentos simples como agitar os braços, Na educação Infantil, entre outros
prazeroso que existem nos processos de Piaget (1975), conceituou o sacudir objetos, emitir sons, caminhar, pular, aspectos, as atividades lúdicas são vistas
ensinar e aprender não se encaixam nas desenvolvimento como um processo correr, etc. Embora estes jogos comecem na como objetos e/ou ações que promovem às
concepções tradicionalistas da educação”. contínuo, no decorrer do qual ocorrem fase maternal e durem predominantemente crianças se divertirem, ao mesmo tempo em
A escola é um lugar que deve promover o mudanças graduais, sendo através destas até os 2 anos, eles se mantêm durante toda a que aprendem sobre algo. Assim, quando
desenvolvimento da criança, promover uma mudanças que os esquemas são modificados infância e até na fase adulta. são intencionalmente criadas pelo adulto,
aprendizagem significativa, mas esta não continuamente. Por causa do estudo do com vistas a estimular certos tipos de
precisa ser forçada, pode ocorrer através do desenvolvimento infantil, Piaget elaborou O jogo simbólico aparece aprendizagem, surge a dimensão educativa
prazer e da alegria que os jogos e brincadeiras uma “classificação genética baseada na predominantemente entre os 2 e 6 anos, o das situações lúdicas. Desde que mantidas as
proporcionam. evolução das estruturas “. (PIAGET apud qual a função desse tipo de atividade lúdica e condições para a expressão do jogo, ou seja,
RIZZI, 1997). Piaget classificou às três fases de acordo com Piaget, “consiste em satisfazer a ação intencional da criança para brincar, o
Nesse sentido, sobre a importância do do desenvolvimento infantil: o eu por meio de uma transformação do real educador está potencializando as situações
jogo, nos fala Vygotsky: “É na atividade em função dos desejos, ou seja, tem como de aprendizagem. (KISHIMOTO, 2005).
de jogo que a criança desenvolve o seu • Fase sensório-motora (do nascimento função assimilar a realidade”. (PIAGET 1997).
conhecimento do mundo adulto e é também até os 2 anos aproximadamente): a Com base nos conceitos acima, a
nela que surgem os primeiros sinais de criança brinca sozinha, sem utilização A criança tende a reproduzir nesses jogos as aprendizagem é composta de objetivos,
uma capacidade especificamente humana, da noção de regras. relações predominantes no seu meio ambiente sejam eles pessoais, sociais ou motivacionais,
a capacidade de imaginar (…). Brincando a e assimilar dessa maneira a realidade é uma assim como o uso do lúdico para que não se
criança cria situações fictícias, transformando • Fase pré-operatória (dos 2 aos 5 ou 6 maneira de se auto expressar. Esse jogo-de- torne uma desordem a questão do brincar e
com algumas ações o significado de alguns anos aproximadamente): as crianças faz-de-conta possibilita à criança a realização aprender ao mesmo tempo. O professor tem
objetos”. (1991, p.122). adquirem a noção da existência de de sonhos e fantasias, revela conflitos, medos que saber como conduzir esse momento, sem
regras e começam a jogar com outras e angústias, aliviando tensões e frustrações. prejuízos ou frustrações para a criança.
É relevante o entendimento que, desse crianças jogos de faz-de-conta. Entre os 7 e 11-12 anos, o simbolismo decai
modo a criança envolve-se em um mundo e começam a aparecer com mais frequência Segundo (Piaget, 1994), que explica que
ilusório nos quais todos os desejos são • Fase das operações concretas (dos 7 aos desenhos, trabalhos manuais, construções sob o domínio de regras que aprenderam
realizáveis, desenvolvendo através do 11 anos aproximadamente): as crianças com materiais didáticos, representações ou que ela mesma desenvolve, os infantis
brinquedo sua imaginação, onde através aprendem as regras dos jogos e jogam teatrais, etc. constituem admiráveis instituições sociais,
da fantasia um simples pedaço de pau em grupos. Esta é a fase dos jogos de e os conteúdos que desejamos passar no
transforma-se de acordo com seu desejo. regras como futebol, damas, etc. O brinquedo e o brincar coloca a criança na escopo da brincadeira. É no ensino infantil,
A criança cria um cenário de papéis e presença de reproduções: tudo o que existe que os momentos lúdicos e a criatividade são
relações sociais, por meio da brincadeira e do no cotidiano, a natureza e as construções muito destacados e por isso os jogos são muito

272 273
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

utilizados, diante dessa nova realidade, na estimulada, adquire iniciativa e autoconfiança, Toda aprendizagem é composta de a brincadeiras? Brincar, algo fundamental na
qual o professor deve promover a autonomia proporciona o desenvolvimento da linguagem, objetivos, sejam eles pessoais, sociais ou infância, como diz Santos:
do aluno, os jogos educativos, didáticos ou do pensamento e da concentração”. motivacionais, assim como o uso do lúdico
pedagógicos poderiam ser um instrumento para que não se torne uma bagunça a questão Quando a criança nasce, suas brincadeiras tornam-se tão
essencial de ensino e aprendizagem em Conforme Piaget (1982), o desenvolvimento do brincar e aprender ao mesmo tempo. essenciais como o sono e a alimentação. Portanto, na
qualquer fase da educação e as atividades do indivíduo se faz ao longo de um processo escola, a criança precisa continuar brincando para que
realizadas proporcionam de forma lúdica: gradual, dinâmico e contínuo, de forma Tendo base o desenvolvimento da seu desenvolvimento e crescimento físico, intelectual,
jogos, brincadeiras, expressão corporal, que integrada com os aspectos cognitivo, afetivo, inteligência, Piaget (1975), admite a afetivo e social possam evoluir e se associar à construção
promovem o desenvolvimento motor e sócio físico-motor, moral, linguístico e social. A sua necessidade de o indivíduo se adaptar ao meio do conhecimento de si mesmo, do outro e do mundo.
afetivo das crianças. inteligência é, pois, o resultado da experiência e, a partir do contato com o mesmo, garantir (SANTOS, 2011, p.12).
do indivíduo, e é através da experiência (como a construção do seu próprio pensamento,
As crianças dessas faixas etárias aprendem, ação e movimento) que o indivíduo incorpora do ato de conhecer, modificar, transformar Então, é por meio dos jogos e brincadeiras
se desenvolvem e se socializam, logo nota-se o mundo exterior e o vai transformando ao o objeto, é compreender o mecanismo de vamos formando crianças mais criativas
que no contato com brinquedos e materiais longo de sua vida. sua transformação e, consequentemente, o e espontâneas, que vão se desenvolver
concretos ou pedagógicos que se estimulam caminho pelo qual o objeto é construído. sem perder sua infância, continuam sendo
às primeiras conversas, as trocas de ideias, os Ao passo que o brinquedo é um objeto crianças e fazendo atividades voltadas para
contatos com parceiros, o imaginário infantil, que a criança manipula livremente, sem estar AS BRINCADEIRAS E BRINQUEDOS as mesmas, sem perder esta fase que é tão
a exploração e a descoberta de relações, que condicionado às regras ou a princípios de NO ENSINO INFANTIL E IMPACTOS importante na vida de cada um.
partindo do pressuposto de que é brincando utilização de outra natureza. (BROUGERE, APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS
que a criança ordena o mundo a sua volta, 1997). Valendo-se que que a criança se É relevante que o educador deve inserir
assimilando experiências e informações, remete na brincadeira questões do cotidiano, Sobretudo, não se pode apenas caracterizar brincadeiras de acordo com a faixa etária de
interessei-me pelas atividades lúdicas e como conflitos mal resolvidos ou mesmo a brincadeira como um simples momento de seus alunos, promover com essas atividades a
seus valores, também sua aplicação na área novas descobertas. lazer, mas sim como um ato que auxilia no interação e socialização dos mesmos. Muitas
educacional. processo de aprendizagem e desenvolvimento crianças não conseguem interagir com os
Na área da educação, entre outros da criança. Com as brincadeiras, aprender colegas devido a timidez, mas através das
Para o autor e Vygotsky (1979), que aspectos, as atividades lúdicas são vistas se torna algo prazeroso e as crianças não brincadeiras essa barreira é quebrada.
distingue no jogo a sua amplitude. “Ainda como objetos e/ou ações que permitem às se sentem cobradas, pois para elas estão
que se possa comparar a relação brincadeira- crianças se divertirem, ao mesmo tempo em brincando, através dos jogos elas vão tendo E o quanto a atividade lúdica é a
desenvolvimento à relação instrução- que aprendem sobre algo. Assim, quando noção de espaço e tempo, e pouco a pouco essência obrigatória das atividades sociais
desenvolvimento, a brincadeira proporciona são intencionalmente criadas pelo adulto, vão desenvolvendo a paciência, tornam-se e intelectuais, que pode proporcionar a
um campo muito mais amplo para as mudanças com vistas a estimular certos tipos de solidárias, prestativas, buscam ajudar o outro, socialização, por esse motivo não devemos
quanto a necessidades e consciência” aprendizagem, surge a dimensão educativa comunicam-se entre si. isolar as crianças em suas carteiras, devemos
(VYGOTSKY in BAQUERO, 1998, p. 103). das situações lúdicas. Desde que mantidas as incentivar os trabalhos em grupos, a trocas de
condições para a expressão do jogo, ou seja, É ao brincar que a criança aprende; idéias, a cooperação que acontece por ocasião
Ainda, nesse sentido, Vygotsky (1991), a ação intencional da criança para brincar, o brincando livremente a criança cria, imagina, se e pode potencializar atividades lúdicas ou de
afirma que “o lúdico influencia enormemente o educador está potencializando as situações esforça para resolver situações complicadas. aprendizagens terá por si mesma um grande
desenvolvimento da criança. É através do jogo de aprendizagem. (KISHIMOTO, 2005 p. 21 Qual seria então o objetivo de levar crianças significado social que dão importância a
que a criança aprende a agir, sua curiosidade é apud TEIXEIRA, 2010). que estão no meio escolar à um lugar propício imaginação das crianças, o valor pedagógico,

274 275
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS PALANGANA, I. C. Desenvolvimento &


que promovem o desenvolvimento cognitivo, esta pesquisa pode-se concluir que o aprendizagem em Piaget e Vygotsky (a
nas crianças da educação infantil. Tomando- brinquedo e as brincadeiras, traz uma relação ARIÉS, P. História Social da Criança e da relevância do social) – São Paulo: Plexos,
se por base que o brincar, ocorre por meio de peculiar de desenvolvimento e aprendizagens Família. 2º ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1994.
brinquedos e brincadeiras deve fazer parte infantis, além de sinalizar valiosas ferramentas 1986.
do processo de ensino, além de mostrar que pedagógicas, muito proveitosa para o PIAGET, J. A Formação do Símbolo na Criança:
a educação lúdica facilita não só o processo educador, que pode introduzir conhecimentos BAQUERO, Ricardo. Vygotsky e a imitação, jogo e sonho. Rio de Janeiro: Sanar,
de socialização, mas também no processo de de forma diferenciada, bastante ativa na aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes 1978.
aprendizagem. apreensão de aprendizagem, além de ser uma Médicas, 1998.
maneira agradável para que o aluno aprenda 1989. OLIVEIRA, Z. M. Creches: Crianças, Faz
CONCLUSÃO se descontraindo. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental de Conta & Cia. Petrópolis: Vozes, 1995.
Parâmetros Curriculares Nacionais. / ______. et. al. Psicologia na Educação. São
No decorrer deste trabalho, percebeu-se Secretaria de Educação Fundamental – Paulo: Cortez, 1991.
que as atividades lúdicas possuem um formato Brasília: MEC/SEF, 1997. V.7
privilegiado para a aplicação de uma educação ___________. Ministério da Educação e VYGOTSKY, H. Do Ato ao Pensamento. Lisboa:
que objetive o desenvolvimento, educacional do Desporto. Secretaria da Educação Morais, 1979. ______________VYGOTSKY, Lev
adequado e desejável, além de ter sido Fundamental. Referencial Curricular Nacional Semenovich. A Formação Social da Mente.
ressaltado o quanto os brinquedos brincadeiras para a Educação Infantil/ – Brasília: MEC/ São Paulo: Martins Fontes, 1989.
e o brincar são aparentemente simples na vida SEF, 1998. V1 introdução. ____________. A Formação Social da
das crianças, mas desempenham um papel Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
fundamentalmente na aprendizagem. CUNHA, N. H. S. Brinquedo, Desafio e ____________. Linguagem Desenvolvimento
Descoberta. Rio de Janeiro: FAE, 1998. FARIA, e Aprendizagem. São Paulo: Ícone / Edusp,
Tanto os brinquedos e as brincadeiras são DJANICE LOPES DE OLIVEIRA Anália Rodrigues de. O desenvolvimento da 1988
importantes, por fazerem parte do universo MOURA criança e do adolescente segundo Piaget. Ed. _____________, L. S. (1979) –Pensamento
das crianças e por proporcionarem momentos Ática, 3º edição, 1995. e linguagem. Lisboa: Edições Antídoto.
agradáveis, ao dar espaço à criatividade, Ludicidade. Ver & Malsine, p. 373, 1996.
proporcionar o bem-estar dos alunos, durante Graduação: Pedagogia pelas Faculdades FREINET, C. P. Pedagogia da Autonomia.
o processo de ensino e aprendizagem, sem Integradas de Ciências Humanas e Saúde Saberes Necessários a Prática Educativa. São WINNICOTT, D. W. A Criança e seu mundo.
deixar de acessar o lúdico nessa construção de Guarulhos em 05/01/2006 - Curso de Paulo: Paz e Terra, 1996. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
do conhecimento. Pós-Graduação em Profissão Docente, pela __________. O Brincar e a realidade. Rio
Faculdade de Ciências e Tecnologia Paulistana. KISHIMOTO, Tijuco M. O Jogo e a Educação de Janeiro: Imago, 1975. Autor: Soraya M.
Mediante esse emaranhado de informações infantil. São Paulo: Pioneira, 1994. Marques
acessadas, notou-se à necessidade de se estar
atentos aos benefícios que as brincadeiras KAMII, NOVAES, J.C. Brincando de Roda: Rio
e brinquedos além de trazer às crianças, de Janeiro: Agir, 1992
o desenvolvimento físico–motor, capaz
de envolver múltiplas características de OLIVEIRA. Vera Barros (0rg.) O Brincar e a
sociabilidade, como trocas, as atitudes, reações Criança: Petrópolis: Vozes, 1996.
e emoções que envolvem as crianças. E com

276 277
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
A educação tem como objetivo o pleno circundam socialmente, de assumir a palavra
desenvolvimento da pessoa, em suas e, como cidadão, de produzir textos eficazes
diversas habilidades, com a finalidade nas mais variadas situações (PCNLP, 2010).
de torná-la cidadã na sociedade em que
está inserida. E, conforme a Constituição Essas considerações possibilitou a um
Federal em seu artigo 205 é assegurado estudo de uma problemática específica
o “direito de todos e dever do Estado e dentro do quadro escolar: garantia do
da família, será promovida e incentivada uso da linguagem pelos educandos. Paulo
com a colaboração da sociedade, visando Freire, e seu livro intitulado “A importância
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu do ato de ler”, revela a importância da
preparo para o exercício da cidadania e sua linguagem escrita e oral concomitante como
qualificação para o trabalho(CONSTITUIÇÃO garantia de se tornar um ser social. Assim,
F E D E R A L , A R T . 2 0 5 ) . parece indispensável, ao procurar falar de
tal importância, dizer algo do momento
do processo que envolva a compreensão
Isso nos faz refletir sobre as diversas crítica do ato de ler, que não se esgota na
questões que permeiam o espaço escolar e decodificação pura da palavra escrita ou
a importância do professor neste local. Por da linguagem escrita, mas que se antecipa
diversas vezes, a escola não tem garantido e se alonga na inteligência do mundo.
de forma plena, justamente porque reflete
as questões sociais do espaço em que se Para tal é relevante pensar sobre o
DISORTOGRAFIA: UMA REFLEXÃO PARA O EDUCADOR localiza. Inúmeros problemas circundam a ensino da língua materna e transtornos de
realidade escolar, entre eles as dificuldades aprendizagem. Uma primeira questão a pensar
e os transtornos de aprendizagem. é em qual linguagem estaremos refletindo e
RESUMO: Este trabalho visa um aprofundamento reflexivo sobre as diferenças entre qual transtorno será analisado nesse artigo
dislexia e disortografia. Busca um aprofundamento sobre a ortografia e sobre os casos de Nos Parâmetros Curriculares Nacionais para contribuir com a prática docente,
disortografia que apresentam atraso na linguagem. Por se tratar de representação escrita, da Língua Portuguesa há um reforço dessa visto que o estudo da linguagem contém
geralmente esse atraso aparece nos anos iniciais mais avançados, nos quais os alunos já garantia por meio da aquisição da linguagem diversas áreas de conhecimento. Uma delas
dominam o código escrito. No artigo de Vânia Pavão há um reflexão sobre a situação de e ressalta a importância da escola para compreende a escrita e suas habilidades, e
disortografia: a escrita geralmente traz mais dificuldades do que a leitura, pois enquanto tal processo: “o domínio da linguagem, tem preocupado muito os educadores nas
esta implica recepção, ou seja, o modelo gráfico já está pronto e é oferecido externamente, enquanto atividade discursiva e cognitiva, unidades escolares, justamente porque os
aquela implica produção, ou seja, o modelo gráfico tem que estar construído internamente, e o domínio da língua, enquanto sistema alunos não mantém muito contato com ela.
no processador ortográfico, para ser resgatado pela memória e reproduzido. simbólico utilizado por uma comunidade
linguística, são condições de possibilidade de Quanto ao transtorno de aprendizagem, a
plena participação social e também delega disortografia tem sido uma grande dificuldade
à escola, promover sua ampliação de forma nas escolas, pois reflete num primeiro plano
que, progressivamente, durante os nove anos uma possível e equivocada ideia: a dislexia.
Palavras-chave: Dislexia; Disortografia; Linguagem. do Ensino Fundamental, cada aluno se torne Segundo a lei n. 12.524, de 2 de
capaz de interpretar diferentes textos que janeiro de 2007, em seu artigo 2°

278 279
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

promoverá um programa estadual para é o pleno desenvolvimento das habilidades ACERCA DOS TRANSTORNOS pouco atraente e sem atrativo pessoal algum.
identificação e tratamento de dislexia: de leitura e escrita, e que, no entanto, DE APRENDIZAGEM Muitos tinham raiva pelo seu conhecimento,
esse estudo muito pouco contribui para o já outros possuíam uma certa inveja, mas
O Programa Estadual para Identificação e Tratamento da enriquecimento cultural, cognitivo e reflexivo Uma primeira ressalva a se pensar é enfim, tudo isso fazia parte do seu transtorno.
Dislexia na Rede Oficial de Educação deverá abranger
a capacitação permanente dos educadores para que
dos educandos acerca da linguagem. Mário sobre a palavra dificuldade e seu significado
tenham condições de identificar os sinais da dislexia e de Perini, em sua obra Gramática descritiva (tudo aquilo que é difícil) e associarmos que Os transtornos de aprendizagem podem
outros distúrbios nos educandos (LEI 12.524, ART. 2º). do Português repensa sobre essa questão: essa questão é relativa, ou seja, todos nós ser considerados como inabilidade nas
podemos ter dificuldade em algo: português, áreas de leitura, escrita ou matemática, em
Portanto, se faz necessário refletir Pergunta-se então: será que o estudo da física, química, matemática, ciências, indivíduos que apresentam uma diminuição
sobre a habilidade do professor e gramática pode ajudar na aquisição da leitura educação física e entre outras situações do desenvolvimento esperado para
sua capacitação diante do quadro de e da escrita? Acreditamos que a resposta do dia a dia. Uma outra é a concepção determinada faixa etária. Atualmente, a
disortografia do educando, uma vez que ela, é negativa. Pois há pessoas que creem na do que é normalidade e anormalidade, descrição dos Transtornos de Aprendizagem
por hábito, é condição inicial do trabalho eficácia de um conhecimento de gramática visto que, a última está relacionada a é encontrada nos manuais internacionais
da linguagem escrita em sala de aula. para melhorar o desempenho naqueles tudo que escapa às expectativas do de diagnóstico, tanto no CID-10, elaborado
campos fundamentais. Mas nunca podem indivíduo em uma determinada sociedade, pela Organização Mundial de Saúde
apresentar evidência em favor da sua crença. portanto traz consigo a questão do grupo, (1992), como no DSM-IV, organizado pela
RELAÇÃO PROFESSOR- Ninguém, que se saiba, conseguiu até hoje também, acarretando em relatividade. Associação Psiquiátrica Americana (1995).
ALUNO EM PROCESSO DE levar um aluno fraco em leitura ou redação
EXPLORAÇÃO DA ESCRITA a melhorar sensivelmente seu desempenho Um bom exemplo para entendermos Ambos manuais reconhecem que as
apenas por meio de instrução gramatical. essa questão da relatividade é a associação causas para os transtornos podem ser:
Um dos objetivos da instituição entre o filme “uma mente brilhante” e um traumatismos ou doença cerebral adquirida,
escolar, ao longo dos anos, é justamente Muito ao contrário, toda a experiência transtorno. No filme, o personagem principal comprometimento da inteligência, falta de
dar subsídios a todos os falantes, de ter parece mostrar que entre os pré-requisitos sofre de esquizofrenia, mas no entanto oportunidade de aprender e descontinuidades
acesso a escrita e a leitura, de tal forma essenciais para o estudo da gramática estão, suas habilidades com números, faz com educacionais. No caso deste artigo,
que os educandos possam desenvolver as primeiro, habilidade de leitura fluente e, que se torne um grande mestre em decifrar o foco será: dislexia e disortografia.
habilidades linguísticas de prestígio social depois, um domínio razoável da língua códigos, fazendo cálculos impossíveis.
(norma culta da língua oral e escrita). Por padrão (já que é objeto das gramáticas
razões didáticas e teóricas, o ensino da disponíveis) Assim para estudar gramática O filme “uma mente brilhante”, premiado DISLEXIA
língua privilegia apenas o estudantes com com proveito, é preciso saber ler bem - o com Oscar de melhor, é um exemplo
facilidades acerca do raciocínio linguístico. que exclui a possibilidade de usar a gramática de distúrbio de aprendizagem e nos faz Dislexia é uma dificuldade específica
Nesse sentido, há uma importância como um dos caminhos para a leitura.Muitas pensar sobre o preconceito na sala de de aprendizagem da linguagem em leitura,
e necessidade de inserir alunos com vezes, então, o ensino da língua portuguesa aula por educadores, que muitas vezes soletração escrita, em linguagem expressiva
dificuldades na língua: é dever do professor baseia-se em regras pré-estabelecidas, associam distúrbio com falta de múltiplas ou receptiva em razão do cálculo matemático,
e uma contribuição da psicopedagogia. nas quais o educando memorizar, inteligências.A sua mente era brilhante em como na linguagem corporal e social.
decorar e acaba não contextualizando expressar informações de uma maneira
Uma questão a ser pensada sobre a o seu aprendizado. Perini, acima, nos direta, mas a sua maneira de falar que sentia Não se tem como causa falta de interesse,
relação professor-aluno no que diz respeito revela a importância do aprendizado e não agradava a todos, pois era muito direto de motivação, de esforço ou vontade,
ao ensino da língua materna é refletir desenvolvimento das habilidades linguísticas. nas suas decisões. Devido a sua inteligência como nada tem a ver com acuidade visual
inicialmente sobre o ensino da gramática nas e seus conhecimentos de forma sistemática ou auditiva. Dislexia, antes de qualquer
instituições escolares. Sabe se que o objetivo e exata, tinha dificuldades em interação definição, é um jeito de ser, de aprender,
primordial do estudo da gramática normativa social, com isso ele se tornava uma pessoa reflete a expressão individual de uma

280 281
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

mente, muitas vezes astuta e até genial, DISORTOGRAFIA No entanto, a disortografia, assim com • Adições: palavra palavra/palavra
mas que aprende de maneira diferente. os outros distúrbios de aprendizagem, não • Inversões: pipoca/picoca
Pensando acerca da palavra disortografia é considerada uma doença. Trata-se, de • Funções: no dia seguinte sairei maistarde.
Para melhor definir a dislexia, é preciso temos (do grego dýs – dificuldade/ grego uma dificuldade que pode ser contornada
entender o ser humano. Como ele aprende e ortha – corretamente/ grego graphein – com acompanhamento adequado, Dessa forma, em uma etapa posterior,
o seu modo peculiar de aprender. A dislexia escrever), ou seja, dificuldade de escrever direcionado às condições de cada caso. a aprendizagem deficiente de normas
vem com cerca de 40 definições propostas, corretamente. Relativamente diagnosticada gramaticais e reflexão da linguagem pode
para responder o que é dislexia porém, foi com confusões ortográficas, uma vez que as Entre as causas da disortografia, suspeita- levar a realização de erros ortográficos que
feita uma pesquisa e nenhuma delas foi aceita relações com os sons e palavras impressas se que uma aprendizagem incorreta da não se produziram caso não existissem
universalmente. A dislexia é claramente ainda estão dominadas por completo leitura e da escrita, especialmente na lacunas no conhecimento gramatical da
diagnosticada através de sintomas e sinais. A pelos agentes da linguagem escrita e essa fase de iniciação, pode originar lacunas língua portuguesa, por isso é necessário uma
dislexia é como o Projeto Genoma Humano, dificuldade não implica na diminuição de base com a consequente insegurança intervenção psicopedagógica, visto que o
identificando as habilidades leitoras. da qualidade dos traçados das letras. para escrever. Igualmente, numa etapa trabalho entre os diversos agentes envolvidos
posterior, a aprendizagem deficiente no ensino facilitaria o desenvolvimento
Em 1994 a ABD tornou se idealizadora Ela pode ser percebida, justamente por de normas gramaticais pode levar a das habilidades no educando.
das pesquisas e estudos adequados para que referir-se a uma situação da linguagem no realização de erros ortográficos que não
pudesse atender mais de 30% das pessoas âmbito escrito, não somente pela questão se produziria se não existissem lacunas A legislação tem um papel importante
com dislexia por mês. No processo de ortográfica, mas traz consigo problemas no conhecimento gramatical da língua”. para garantir o direito do disléxico. A
aprendizagem há um processo de inclusão, inerentes ao pensamento linguístico, criança com dislexia, muitas vezes não
onde o disléxico tem tratamento, mas é tais como construção frasal, pontuação, As características principais da consegue ser compreendida, e cabe a nós
preciso avaliações, das quais muitas escolas aglutinações, dificuldades no uso dos períodos disortografia são as confusões de letras, fazermos com que tenha uma qualidade
não tem essa preparação. Infelizmente, coordenados e subordinados, assim também sílabas de palavras e trocas ortográficas já de vida melhor e sem preconceitos.
muitos professores percebem que a como textos reduzidos. No verbete do conhecidas e trabalhadas pelo professor:
criança tem dislexia muito tarde, devido dicionário interativo da Educação Brasileira,
a falta de preparação sobre o assunto. Menezes (2003) expõe sobre essa questão: • Troca de letras DIFICULDADES ESPECÍFICAS
auditivamente: f/v, p/b, ch/j DE APRENDIZAGEM EM CASOS
A ABD tornou isso mais fácil, promovendo Tipo de dificuldade de aprendizagem relacionada à • Confusão de sílabas com DE DISORTOGRAFIA
cursos preparatórios com cartilhas linguagem, caracterizada por um transtorno da escrita, tonicidade semelhantes:
e fundamentos para um diagnóstico incluindo inversões, aglutinações, omissões, contaminações, encontrarão/ encontraram Dentre os distúrbios de aprendizagem é
alterações internas da palavra e como consequência,
completo. Desenvolvendo também desordem na categoria e estrutura da frase. A disortografia • Confusão de letras com verificado com uma maior frequência os que
projetos de capacitação da dislexia, tanto reflete um processo cognitivo da linguagem defeituoso e trocas visuais: b/d, p/q dizem respeito à leitura e a escrita. Para a
na área pública estadual e particular. não se refere a falta de correção motora (MENEZES, 2003). • Confusão de palavras com psicopedagoga clínica, Tânia Maria Campos
A legislação tem um papel importante configurações semelhantes: mapa/capa de Freitas, a leitura e a escrita são processos
para garantir o direito do disléxico. A Os sintomas da disortografia estão • Uso de palavras com o mesmo som muito complexos, os quais são responsáveis
criança com dislexia, muitas vezes não relacionados a numerosos erros de para várias letras: asa/aza, casas/cazar para a aquisição de conhecimentos futuros e
consegue ser compreendida, e cabe a nós ortografia, manifestados logo que se tenham • Dificuldade em recordar a sequência uma criança que não tenha solidificado esse
fazermos com que tenha uma qualidade adquirido os mecanismos da leitura e da dos sons das palavras, junções: processo no grau e faixa etária específicos
de vida melhor e sem preconceitos. escrita. Muitas destas alterações convergem derepente/de repente, doque/do que a cada aprendizado pode se tornar
a disortografia com a dislexia, ao ponto de, • Omissões: cadeira/cadera frustrada, obter baixa autoestima, baixo
para muitos autores, a disortografia ser • Fragmentação: escola/ rendimento e até a uma evasão escolar.
apontada como uma sequela da dislexia. es cola, acontece/a contece

282 283
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Pain (1985, p.11) em Diagnóstico e mesmo mostrando que é capaz de produzir


É importante desenvolver os deficiências na discriminação e associação Tratamento dos Problemas de Aprendizagem, e avançar no processo ensino aprendizagem.
estágios superiores da linguagem: fonema/grafema, ou seja, aqueles que não contribuiu no avanço psicopedagógico entre A participação do educando em
“a compreensão da palavra impressa (a sistematizaram efetivamente o processo a relação à inteligência e afetividade, pelo atividades específicas a sua dificuldade de
leitura) e a expressão da palavra impressa da escrita mecânica, como seria esperado qual foi possível perceber que o mediador aprendizagem é fundamental, pois estimula
(a escrita), a criança precisa (além de pela sua faixa etária e acadêmica, tendo deve apostar no potencial e na capacidade o mesmo e o faz sentir se importante,
ter sedimentado de forma harmoniosa tido escolaridade favorecedora e recursos do educando verificando e acreditando nas sendo assim valorizando sua autoestima
as etapas da oralidade), ser capaz de cognitivos adequados. Esse grupo apresenta qualidades do mesmo e não apenas visar o possibilitando o mesmo alcançar o sucesso.
articular todos os sons da língua, o que deficiências na aquisição da linguagem fracasso, garantindo assim uma intervenção O psicopedagogo tem o dever de
normalmente se determina aos seis anos escrita, decorrendo em falhas ortográficas adequada. Durante suas contribuições para auxiliar tanto o educando quanto o
(observadas as diferenças maturacionais como trocas por confusões visuais e/ o processo de intervenção psicopedagógica educador transmitindo aos mesmos, meios
de cada indivíduo). Requer ainda a ou auditivas, omissões e acréscimos (de na alfabetização, acredita que há uma de solucionar o problema garantindo o
ampliação e domínio do universo vocabular. letras ou sílabas), poderá ainda apresentar necessidade de se observar a maneira estímulo e a valorização do educando.
fragmentações e junções de palavras”. peculiar e singular e que cada sujeito se “Desta forma o sujeito que não aprende
Outra etapa necessária que precisa ser mantém ignorado e que a necessidade não realiza nenhuma das funções sociais
vencida é a capacidade para analisar as Esta escrita mecânica deficiente, muitas também de se mudar a concepção de da educação, acusando sem dúvida o
palavras em seus segmentos sub silábicos, vezes, em sala de aula, é comum entre os problema de aprendizagem adotando fracasso da mesma, mas sucumbindo
isto é analisar os sons, que as compõem. educandos. Porém, ela torna-se preocupante uma visão sem preconceitos daqueles a esse fracasso”. (Pain, 1985, p.12).
Esta possibilidade é a chamada consciência quando os erros não são superados na que fazem algo diferente da norma. O aluno precisa sentir-se bem acolhido
linguística ou fonológica. Sabemos que série correspondente. O professor, em uma O psicopedagogo deve ajudar o processo no ambiente em que convive principalmente
até os seis anos, observando sempre as tentativa de diminuir essas deficiências, de reestruturação da aprendizagem no ambiente escolar onde se sinta à vontade
características individuai, a criança só para trabalhar com a ortografia, pede descobrindo modos compensatórios de para estudar, tirar dúvidas, ou seja, aprender.
consegue segmentar palavras em sílabas, a repetidamente para copiar exaustivamente aprender como o uso de jogos que transfere O mesmo deve estar bem socializado com
partir desta idade passa a poder segmentá- as palavras grafadas erroneamente, situações desafiadoras, que impulsiona o seus colegas, dessa forma estará adquirindo
las nas unidades mínimas: as vogais e pois o educador acredita que o mesmo educando a vencer obstáculos, pelo qual a noções de solidariedade, coleguismo,
consoantes; quando essa habilidade memorizará a palavra. Mas, no entanto, criança se arrisca, colocando no ato de jogar companheirismo, amizade e sociabilização.
ocorrer podemos afirmar que a criança deve se fazer com que o aluno reflita e crie suas hipóteses e conhecimentos construídos,
passa a ter a consciência fonológica, que raciocínios de mecanismos linguísticos. leituras compartilhadas, atividades
a permite analisá-la mais eficientemente”. específicas para desenvolver a escrita e a CONSIDERAÇÕES FINAIS
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA habilidade de memória e atenção do educando,
Para que o indivíduo desenvolva as
EM CASOS DE DISORTOGRAFIA sendo assim o mesmo estará garantindo a
capacidades superiores de linguagem, Segundo pesquisas e estudos realizados, intervenção no processo de aprendizagem Detectar a disortografia nas escolas,
este deve possuir concomitantes a é possível perceber que o psicopedagogo do mesmo. O professor estando ciente de salienta a importância do psicopedagogo
garantia de outras habilidades tais como: é um mediador que deve estar à frente das que seu aluno precisa de ajuda e sabendo institucional, uma vez que o mesmo cria
desenvolvimento da motricidade, integração intervenções em casos de dificuldades de que pode a partir de atividades diferenciadas condições juntamente com os professores para
sócio motora e perceptivo-motoras, pois aprendizagem, para fazer a intervenção auxiliá-lo tudo fica mais fácil, além disso, os que a aprendizagem da leitura e da escrita seja
estas contribuem para o processo de leitura e tanto com o educando que apresenta a mediadores deste processo devem estar de maneira eficaz, prazerosa e significativa.
escrita. Tânia completa o raciocínio elencando dificuldade que neste estudo é sobre a em plena ciência de que o educando que
grupos de dificuldades na linguagem, no qual disortografia, quanto dispor de auxílio ao possui dificuldades de aprendizagem, a Atuando como orientador na busca da
um deles é o objeto de estudo em questão: educador, transmitindo ao mesmo subsídio maioria das vezes se encontra com uma melhoria do processo de aprendizagem, no
“o primeiro grupo seria composto de apoio ao processo de aprendizagem, baixa autoestima, sendo assim, é necessário que diz respeito a casos de disortografia,
pelas crianças e jovens, que apresentam deste educando que o necessita de ajuda. fazer um trabalho de autoestima com o vem desenvolvendo um trabalho integrado

284 285
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

professor-psicopedagogo-escola no disléxicas, nas quais muitas crianças que capacidade de sua percepção frente aos REFERÊNCIAS
sentido de melhor desenvolver a prática possuem disortografia levam a confusão dos conteúdos ministrados durante o ano letivo.
educativa. Isto significa que o professor professores, sendo tratadas como dislexias.
precisa entender como acontece a É imprescindível dizer que a leitura é FREIRE, Paulo. A importância do
aprendizagem da leitura e da escrita. No entanto, algumas crianças têm mais resultante da elaboração de informação, ato de ler. São Paulo: Cortez, 2005.
dificuldade do que as outras. Até certo variando somente a intenção que a criança
Deve se investir para que se torne ponto, essas diferenças são absolutamente deposita numa situação e noutra, em função FREITAS, Tânia Maria de Campos.
possível, uma melhor compreensão de uma esperadas, pois há uma relação clara entre do que projeta fazer, que ela seleciona as O fracasso dos jovens frente ao
primeira etapa da aprendizagem da língua o sucesso da criança na aprendizagem informações mais adequadas para concretizar processo de leitura e escrita: suas
escrita, na qual corresponde a descoberta da leitura e suas habilidades intelectuais o ato de ler com a facilidade e competência. causas, implicações e consequências.
de sua natureza alfabética, de que os avaliados em testes de inteligência. É imprescindível frisar a importância Disponível em: http://dislexia.org.br
sons da fala, podem ser representados do psicopedagogo como colaborador, MEC, Parâmetros Curriculares
pelas letras. Esta é uma propriedade Detectou-se durante o estudo, que na prática de ensino nas instituições Nacionais da Língua Portuguesa.
fundamental da escrita alfabética. a aprendizagem da leitura e escrita são educacionais, no sentido de oferecer Brasília, Ministério da Educação, 1998.
fundamental em qualquer sistema educativo, suporte a leitura e releitura do processo
Por outro lado, a língua escrita deve em termos de processo de diagnóstico e de aprendizagem e não-aprendizagem. PAIN, Sara. Diagnóstico e tratamento
ser investigada em si mesma, para que alternativas que contornam a disortografia, dos problemas de aprendizagem.
possamos tornar mais públicos os desafios pois são a base de onde resultam todas as O presente estudo teve a preocupação Porto Alegre, Artmed, 1985.
que ela apresenta, enquanto um sistema outras aprendizagens. Assim, uma criança de levar aos profissionais em educação, a
linguístico diferenciado da oralidade, para que apresente dificuldades a este nível, oportunidade de refletir sobre sua prática PAVÃO, Vania. Dislexia e disortografia:
aqueles que dela procura se apropriar. revela rapidamente lacunas em todas de ensino e alertá-los da necessidade a importância do diagnóstico.
Parece viável levantar a hipótese de que as matérias restantes, o que provoca urgente em criar condições para melhor IGT na rede – Vol 2, nº 03.
a aprendizagem da língua escrita, pode um desinteresse pelas aprendizagens desenvolvimento da leitura e da escrita
também ser vista em termos de uma escolares e consequentemente, da criança, a fim de propiciando meios PERINI, Mário A. Gramática descritiva do
aquisição sequencial, caracterizada por uma alterações a nível emocional. para amenizar as dificuldades ortográficas. português. 4º ed. São Paulo, Editora Ática, 2003.
progressão na construção de conhecimento.
No entanto é preciso que o professor
Essa progressão estaria determinada, valorize a leitura e que tenha como uma
por sua vez, pelos diversos graus de atividade contínua em sua vida pessoal,
complexidade que caracterizam os para que isso possa refletir na vida de
diferentes aspectos do objeto a ser seus alunos. Os conteúdos curriculares
conhecido, ou seja, a linguagem escrita. deve facilitar o acesso da criança a textos
Escrever é comunicar o próprio pensamento. que lê. É preciso que a escola estabeleça
atividades capazes de fazer com que a
Através do estudo em torno da prática criança cresça mais no seu desenvolvimento
de leitura e aos processos que levam leitor, capacitado a enfrentar os desafios ELIZETE C. BENTO
ao desenvolvimento da escrita, conclui- que as etapas escolares constituem.
se que, muito ainda se tem a fazer para Graduação em Pedagogia pela Faculdade
que a leitura e a escrita sejam de fato um A escola deve ser o local em que o de Ciências Humanas, saúde e Educação
direito de todos.Por isso, aprender a ler é aluno sinta vontade de ler os textos de Guarulhos (2002); Professora de
uma tarefa complexa e difícil para todas veiculados na sala de aula, deve incentivar Educação Infantil e Ensino Fund. I - EMEI
as crianças, e não apenas aquelas que são o aluno para a prática, enriquecendo a Professora Leila Maria Fontelles Farias.

286 287
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO de linguagem, de escrita, muitas vezes é


algo brusco, pois entender que sua forma
de falar, que consequente vai influenciar na
Trabalho em um CEI e acompanho o forma de escrita e de interpretação podem
desenvolvimento das crianças, observo a causar mazelas que causam dor, abandono e
coordenação motora e as primeiras palavras, exclusão. O intuito desse trabalho é identificar
e noto que essas palavras, são influenciadas maneiras de amenizar esses problemas. Um
pela regionalidade de sua família de origem. fator relevante a ser considerado é o currículo,
Entretanto percebo que as crianças que este pode se apresentar como auxiliador ou
começaram desde os primeiros meses devastador no processo de alfabetização.
de vida aqui no cei, não apresentam essa São muitas as facetas a serem abordadas.
característica ao falar, não apresentando Uma teoria coerente da alfabetização
sotaques igual aos pais, pois, possivelmente exige uma articulação e integração dos
foram influenciadas pelo meio. Isso aguçou estudos e pesquisas a respeitos de suas
a minha curiosidade em saber como se daria facetas. Abordarei estas questões, a fim
o processo de alfabetização das crianças e de diagnosticar as dificuldades que estão
quais seriam as dificuldades de alfabetização, relacionada ao processo de alfabetização.
mediante à diversidade de regionalidade e
serão obrigadas a adotar uma linguagem que PREPARANDO OS PEQUENOS
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NO será igual para todos dentro do ambiente PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA
escolar.
PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO Há cerca de quarenta anos que não mais
A alfabetização é um processo complexo de 50% (frequentemente, menos que 50%)
de uma multiplicidade de perspectivas, das crianças brasileiras conseguem romper
resultante da colaboração de diferentes a barreira da 1ª série, ou seja conseguem
RESUMO: Durante os primeiros anos, nas séries iniciais do ensino fundamental, deve ocorrer áreas de conhecimento, e de uma pluralidade aprender a ler e a escrever. Segundo dados
a alfabetização de crianças. Entretanto ao longo dos anos não vem tendo êxito e novos de enfoques, exigida pela natureza do divulgados pelo Ministério da Educação, de
estudos e conceitos vêm sendo pesquisados a fim de diagnosticar essa problemática que fenômeno que envolve atores (professores e cada mil crianças que, no Brasil, ingressam na
se estende por décadas. O objetivo geral deste trabalho é compreender o que ocasiona as alunos) e seus contextos culturais, métodos, 1ª série em 1963, apenas 449 passaram à 2ª
dificuldades de aprendizagem no processo de alfabetização. A escolha do tema justifica-se na material e meios. O analfabetismo no Brasil série, em 1964; em 1974 – portanto, dez anos
necessidade de facilitar a alfabetização nas primeiras séries iniciais. O intuito desse trabalho permanece um tema de dolorosa atualidade. depois, de cada mil crianças que ingressaram
é identificar maneiras de amenizar esses problemas. Um fator relevante a ser considerado Ainda persiste dentro do ambiente na 1ª série, apenas 438 chegaram à 2ª série,
é o currículo, este pode se apresentar como auxiliador ou devastador no processo de escolar um aglomerado de fatores que em 1975.
alfabetização. desencadeiam num fracasso escolar, pois
aquisição significativa da aprendizagem para Quando dispusemos de dados semelhantes
Palavras-chave: Alfabetização; Cidadania; Currículo. exercer a cidadania vem ao longo de décadas para a década de 1980, a situação não será
se repetindo, de modo que a falta de contato diferente, segundo indicam estatísticas
com uma literatura diversificada desde que as Secretarias Estaduais de Educação
a tenra idade, se torna uma barreira que vem apresentando anualmente. Nenhum
dificulta uma mudança de postura dentro das progresso, nas últimas décadas. Somos um
salas de aula. Pois agregar novos conceitos país que vem reincidindo no fracasso em
288 289
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

alfabetização. A história da alfabetização até 1970. Em 1980 foi introduzido o Brasil o exercício da cidadania, o precário acesso à as relações sociais em que se alfabetiza, trata-
em nosso país, foi centrada na história dos pensamento Construtivista de alfabetização, leitura e a escrita como causas da exclusão se, sim de selecionar palavras do universo
métodos de alfabetização. A disputa entre fruto de pesquisas de Emília Ferreiro e Ana da cidadania oculta as causas mais profundas vocabular dos alfabetizados , trata-se
esses métodos, que objetivam garantir aos Teberosky sobre a Psicogênese da língua dessa exclusão, que são as condições também de selecionar palavras que atendam
educandos a inserção no mundo letrado. As escrita ( o Construtivismo) este não se materiais de existência a que são submetidos a uma sequência adequada de aprendizagem
práticas de leitura ganharam mais força a constitui-se um método, mais sim com os excluídos. das relações fonema-grafema, mas não se
partir da proclamação da República. finalidade de propor uma nova forma de selecionam quaisquer palavras: selecionam-
ver a alfabetização como um mecanismo Conclui-se que só estará contribuindo se aquelas carregadas de significado social,
Até o final do império se tinha as aulas processual e construtivo etapas hipotéticas. para o exercício se se contextualizar a cultural, político e vivencial .Alfabetização
régias, que ofereciam condições precárias de alfabetização no quadro mais amplo dos não apenas para aprender técnicas de ler e
funcionamento. O ensino dependia muito do Nessa mesma época foi constatado um determinantes da cidadania, atribuindo-lhe do escrever, mas alfabetização como tomada
empenho dos professores e dos alunos. Eram enorme número de pessoas alfabetizadas, sua verdadeira dimensão e, ao mesmo tempo, de consciência, como meio de superação de
utilizados as chamadas “Carta de ABC “e os mas consideradas analfabetos funcionais, e por isso mesmo, vendo-a, a alfabetização, uma consciência ingênua e conquista de uma
métodos da marcha sintética ( da parte para leem e escrevem, mas não conseguem como um meio, entre outros, de luta contra consciência crítica.
o todo) e da soletração ( silábica) partindo compreender o que leem. Surge então o a discriminação e as injustiças sociais. Em
dos nomes das letras, fônica ( partindo dos termo letramento. Estar letrado seria a conformidade com Freire (1992): O passado que reflete no
sons correspondentes as letra, e de silabação capacidade de ler e escrever e fazer uso presente e define o futuro
( emissão de sons, partindo das sílabas). desses conhecimentos em situações do dia Só assim a alfabetização cobra sentido. É a consequência
a dia. A pedagogia durante todo século XX de uma relação que o homem começa a fazer sobre sua Educar as crianças, para que não seja
Em 1876, foi criado em portugal a foi constituídas por discursos e práticas que própria capacidade de refletir. Sobre sua posição no mundo. necessário punir os adultos. Em conformidade
cartilha maternal escrita por um português procuravam, à partir de uma avaliação do Sobre o mundo mesmo. Sobre o seu trabalho. Sobre seu com Freire (1992):
João de Deus, com um conteúdo chamado fracasso das escolas, propor novos meios poder de transformar o mundo. Sobre o encontro das
palavração, fundamentado nos princípios da de organização do trabalho pedagógico, consciências. Reflexão sobre a própria alfabetização, que Um desses sonhos para que lutar, sonho possível mas cuja
linguística moderna da época que constitui tendo em vista a inclusão e a aprendizagem deixa assim de ser algo externo ao homem, para ser dele concretização demanda coerência, valor, tenacidade, senso
em iniciar o ensino da leitura pela palavra, de todos. A indagação que emerge a partir mesmo. Para sair de dentro de si, em relação com o mundo, de justiça, força para briga, de todas e de todos os que a ele
depois analisar a partir dos valores fonéticos. dessas constatações remete-nos a pensar como uma criação. Só assim nos parece válido o trabalho se entreguem, é o sonho por um mundo menos feio, em que
como a pedagogia, entendida como uma da alfabetização, em que a palavra seja compreendida as desigualdades diminuam em que as discriminações de
A partir dos anos 90, intensificou-se a ciência da prática, pode modificar-se para pelo homem na sua justa significação: como uma força de raça, de sexo, de classe sejam sinais de vergonha e não de
tendência a buscar Indicadores da qualidade estar em sintonia com este momento da transformação do mundo. Só assim a alfabetização tem afirmação orgulhosa ou de lamentação puramente cavilosa
da escolarização por meio de avaliações do contemporaneidade. sentido.Na medida em que o homem, embora analfabeto, no fundo, é um sonho sem cuja realização a democracia de
desempenho de alunos; são exemplos o descobrindo a relatividade da ignorância e da sabedoria, que tanto falamos, sobretudo hoje, é uma farsa (FREIRE,
Sistema Nacional de Avaliação da Educação O termo cidadania tem frequentado retira um dos fundamentos para a sua manipulação pelas 1992, p.25).
do Ensino Médio (ENEM), além de avaliações intensamente o discurso político e acadêmico falsas elites. Só assim a alfabetização tem sentido.(FREIRE,
em nível estadual, como o SARESP, em São a partir dos anos 80, associando-se aos 1992, p.95) Não existe a possibilidade para voltar e
Paulo, o SIMAVE, em Minas Gerais. mais diversos fenômenos sociais: saúde e viver uma nova história, é irrevogável, pois a
cidadania, habitação e cidadania, ecologia Paulo Freire cria é uma concepção pessoa se torna fiel aquilo que lhes foi exposto
No final de 1920, o tempo da alfabetização e cidadania, educação e cidadania, escola e de alfabetização, que transforma fica gravado na sua mente, ocasionando
passou a ser usado para se referir ao ensino cidadania. Um fator determinante enfatiza fundamentalmente o material com que se uma conduta que fez parte do seu passado,
inicial de leitura e de escrita. Estendendo que a alfabetização é imprescindível ao alfabetiza, o objetivo com que se alfabetiza, o acompanha no presente e determina seu

290 291
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

futuro. E a ponte entre evoluir e estacionar, precisam tomar consciência de propor à seus
sem perspectiva de um futuro incerto. filhos um contato com diferentes literatura, das perspectivas, análises e estudos, de al, que se baseia numa norma padrão culta
modo que se possa ter uma visão com- que, na verdade, não é usada, na língua oral.
dando a eles livros, cultivando o hábito de
pleta do processo de alfabetização.
Permanece um silêncio, a concretização leitura, estimulando, contando histórias
O currículo é baseado na norma da lín-
do aprendizado não acontece. A educação quando pequeno vai refletir no presente gua padrão, entretanto o processo de al-
A alfabetização designe tanto o proces-
brasileira ainda caminha à passos lentos, são e prepará-los para o futuro. Muitas são as so de aquisição da língua escrita quanto de fabetização não ocorre da mesma manei-
tantas Conferências, mudanças nas leis, criação diversidades de cultura, o Brasil é um país que seu desenvolvimento: etimologicamente, ra em diferentes regiões do país, porque a
do Estatuto da criança e do adolescente, tem diversas nacionalidades o que deveria o termo alfabetização não ultrapassa o distância entre cada dialeto geográfico e
todos estes, voltados para garantir a princípio servir para enriquecer e agregar trabalhando significado de “levar à língua do alfabeto”, língua escrita não é a mesma (sobretudo
uma educação de qualidade. Mas parece que as semelhanças e diferenças. ou seja, ensinar o código da língua escri- no que se refere à correspondência entre o
o passado continua refletindo no presente e ta, ensinar as habilidades de ler e escrever. sistema fonológico e o sistema ortográfico).
definindo o futuro. Acreditamos que essa categorização é
importante não só para poder discernir Em seu sentido pleno, o processo de Um exemplo, sem dúvida mais grave para
Aquela alfabetização que se fazia presente princípios políticos e pedagógicos alfabetização deve levar à aprendiza- realidade brasileira é as crianças das class-
desde os primórdios do descobrimentos diferenciados, mas também para gem não de uma mera tradução do oral es favorecidas, que convivem com falantes
do Brasil, feitas pelos jesuítas parece que compreender seus pontos de confluência, o para o escrito, e deste para aquele, mas de um dialeto oral mais próximo da língua
pouca coisa mudou. A não repetência causou que é fundamental para construirmos nosso à aprendizagem de uma peculiar e mui- escrita (a chamada norma padrão-culta) e
tas vezes idiossincrática relação fone- que têm oportunidade de contato com ma-
uma zona de conforto ainda maior, pais não próprios caminhos nessa trajetória abrangente
mas-morfológicas e sintática, autonomia de terial escrito, por intermédio, por exemplo,
exigem, os filhos se acomodam, o professor que é à alfabetização, considerando-a um
recursos de articulação do texto e estraté- de leituras que lhes são feitas por adultos,
é refém do sistema e o governo se orgulha processo permanente, que se estenderia é muito diferente da natureza do proces-
gias próprias de expressão e compreensão.
de formar cidadãos analfabetos funcionais, por toda a vida, que não se esgotaria na so de alfabetização de crianças das class-
que mal escrevem ou leem o próprio nome. aprendizagem da leitura e da escrita. Para um Convém, finalmente, lembrar que, embora es populares, que dominam um dialeto em
Aprendem de maneira nada eficaz, pois a lavrador, a alfabetização é um processo com o debate em relação ao conceito de alfabet- geral distante da língua escrita e têm pou-
base adquirida não é sustentável. funções e fins que esse mesmo processo terá ização se desenvolve predominantemente co ou nenhum acesso a material escrito.
para um operário de região urbana. em torno dos dois pontos de vista (mecâni-
Se faz necessário inserir a criança desde ca da língua escrita versus compreensão e A mudança curricular deve ser pauta-
pequena em um ambiente que incentive a O conceito de alfabetização depende, expressão de significados), há um terceiro da numa tentativa de construção coletiva
leitura. Como explicita Freire (1992): assim de características culturais, econômicas ponto de vista cuja importância equipa- de currículos que realmente expressem os
e tecnológicas: a expressão alfabetização ra-se aos dois primeiros. Esse terceiro pon- interesses da comunidade de cada esco-
As chamadas minorias, por exemplo, precisam reconhecer funcional, usada pela Unesco nos programas to de vista, ao contrário dos dois primeiros, la, compartilhando com seus alunos, pa-
que, no fundo, eles são a maioria. O caminho para assumir- de alfabetização organizados em países que consideram a alfabetização como um drões culturais de classe, seus valores, sua
se como maioria está em trabalhar as semelhanças entre si e subdesenvolvidos, pretende alertar para o processo individual, volta-se para o seu sabedoria, sua linguagem. Uma escola que
aspecto social: a conceituação de alfabet- não avalie as possibilidades intelectuais das
não só as diferenças e assim criar a unidade na diversidade, conceito social da alfabetização.
ização não é a mesma em todas sociedades. crianças populares com instrumentos de
fora da qual não vejo como aperfeiçoar-se e até como
aferição aplicados às crianças cujos condi-
construir-se uma democracia substantiva, radical.(FREIRE, PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Quando chega à escola para ser al- cionamentos de classe lhes dão indiscutível
1992, p.82). vantagem sobre aqueles que não tem aces-
fabetizada, a criança já domina um de-
A pesquisa realizada no presente artigo terminado dialeto da língua oral; esse di- so aos mesmos materiais de informação.
As classes não privilegiadas, ou seja às envolveu pesquisa bibliográfica e um primeiro aleto pode estar mais próximo ou mais
que não possuem um alto poder aquisitivo passo nesse sentido seria fazer uma revisão distante da língua escrita convencion-

292 293
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS no uso da língua por essas classes. A criança por parte do governo brasileiro em aplicar REFERÊNCIAS
pertencente às camadas populares traz para mais recursos na formação de profissionais e
Devemos considerar que principal a escola uma linguagem em que predominam também a sociedade tem que sair da zona de BRYANT, Peter & Bradley, Problemas de leitura
problema que dificulta os esforços para sanar outras funções e as diferenças afloram e a conforto e exigir uma educação de qualidade, na criança - 3 ed., Ortiz: Porto Alegre, 1985.
as dificuldades de aprendizagem referente à alfabetização destes por muitas vezes se para que no futuro possa formar filhos bens
alfabetização é o de reconstruir os contextos torna difícil. estruturados para transformar o mundo. DEWEY,J., Vida e Educação - 1 ed.,
de leitura e escrita: como, quando, onde, Melhoramentos: São Paulo, 1959.
por quê e para quem e como deve ser o A insistência e a persistência da escola em
procedimento para lidar com a alfabetização levar os alunos a usar a escrita com as funções GOODY, Jack., A lógica da escrita e a organização
respeitando a regionalidade e amenizando que privilegia, insistência e persistência da sociedade - 7 ed., T.L Pérez: São Paulo, 1986.
o choque que acontece quando a criança, que têm, como principal instrumento, as
tem que praticamente apagar muitas vezes o condições de produção da escrita na escola MORIN, E., A cabeça bem feita: repensar
que anteriormente conhecida como verdade e a avaliação dessa escrita, são, na verdade, a reforma, reformar o pensamento.-1 ed.
absoluta, que é sua língua materna. um processo de aprendizagem ,desaprender Bertrand Brasil: Rio de Janeiro, 2000.
das funções da escrita: enquanto aprende a
É assim impossível formular um único usar a escrita com as funções que a escola FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança paz e
conceito de alfabetismo adequado a atribui a ela, e que a transformam em uma terra, 1992
qualquer pessoa, em qualquer lugar, em interlocução artificial, a criança desaprende
qualquer momento, em qualquer contexto a escrita como situação de interlocução real. ÉRIKA CRISTINA DE MATOS
cultural ou político, pois estudos históricos CARNAÍBA
documentam as mudanças de alfabetização Essa aprendizagem, desaprender tem
ao longo do tempo.As diferenças estruturais início nos primeiros momentos do processo
entre o dialeto padrão e os dialetos não – de alfabetização. Ou antes, na verdade, Graduação em Pedagogia pela Universidade
padrão têm sido intensamente apontadas começa quando a criança, ao chegar à escola Cruzeiro do Sul. (2012), Especialista em
como causa do fracasso escolar das crianças cheia de expectativas e desejo de aprender Psicopedagogia pela Faculdade Campos
pertencentes às camadas populares, falantes a ler e a escrever, encontra o chamado Elíseos (2016), Professora de Educação
daqueles dialetos não-padrão. “período preparatório”, e é obrigada a cobrir Infantil no CEI Anita Garibaldi.
linhas sinuosas, ligar o patinho da esquerda
Certamente não se pode negar essa ao patinho da direita etc. E agrava-se quando
explicação, que já tem sido comprovada a criança recebe, finalmente os livros com
empiricamente. Entretanto, na linha de textos que fogem da sua realidade em que
raciocínio que se vem desenvolvendo nessa vivem.
exposição, devem ser consideradas, além das
diferenças de forma, também as diferenças de Portanto aprendizagem durante a
função. A linguagem da escola é a linguagem alfabetização possuem muitas contradições
das classes favorecidas: as funções que que ainda vão levar tempo para ser resolvida.
predominam no uso que se faz da língua na Isso talvez nunca conseguiremos resolver
escola são aquelas que também predominam em sua totalidade, pois necessita de atitudes

294 295
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
O objeto de estudo desta pesquisa é alunos trocam experiências que resultam em
apresentar os conceitos e definições que aprendizagens para ambos. A Neurociência
envolvem a Neurociência e destacar a é um campo de conhecimento que busca
sua relação com os processos de ensino estudar as variações que acontecem entre
e aprendizagem. Este estudo tem como a atividade cerebral e o comportamento,
objetivo geral apresentar e refletir acerca da abrangendo diversas disciplinas, destacando-
importância da Neurociência na Educação, e se entre elas a neurofisiologia, a pedagogia,
traz como objetivos específicos, apresentar a neurologia e a psicologia, dentre outras.
as definições e conceitos que envolvem este A Neurociência é formada pelo conjunto
termo e qual é a sua relação com o processo de todas essas ciências e estuda como o
de ensino e aprendizagem. cérebro funciona interferindo em nosso
comportamento e em nossas emoções.
A justificativa para este estudo está no
fato de que a ciência e a aprendizagem A criança até os dez anos está em processo
podem caminhar juntas na busca para um constante de aprendizagem, aprendendo a
aprendizado mais efetivo e significativo, lidar com o mundo e a lidar com si mesma,
OS ESTUDOS EM NEUROCIÊNCIA E A SUA CONTRIBUIÇÃO buscando relacionar as teorias científicas o cérebro da criança nesta fase, está em
PARA AS PRÁTICAS EDUCACIONAIS E APRENDIZAGEM com as teorias de aprendizagem. Nos últimos formação biológica e o ambiente que a
anos houve um aumento do interesse cerca interfere nessa formação, neste
pelos estudiosos, sobre a relação entre a sentido, a família, a escola e as relações
RESUMO: Este estudo traz uma revisão bibliográfica com o tema voltado ao estudo da educação e as neurociências. O principal que estabelecem nesta fase, têm extrema
Neurociência e a sua contribuição nos processos de ensino e aprendizagem. A Neurociência é intuito das pesquisas na área é o de verificar importância nesta fase de desenvolvimento.O
um campo de conhecimento que busca estudar as variações que acontecem entre a atividade e compreender como as neurociências método de investigação que será utilizado
cerebral e o comportamento, abrangendo diversas disciplinas e estuda como o cérebro podem ser aplicadas e utilizadas no âmbito nesta pesquisa é uma revisão bibliográfica
funciona interferindo em nosso comportamento e em nossas emoções. Com o estudo em educacional, para auxiliar nos processos de de proposta reflexiva organizada em dois
Neurociências é possível compreender como ocorrem as interferências no cérebro humano, aprendizagem. capítulos, o primeiro capítulo aborda os
provocadas por lesões. Dentro desse tema, o objetivo deste trabalho é apresentar e refletir principais conceitos sobre a Neurociência
acerca da importância do estudo de Neurociências relacionada a Educação, elencando A Neuroeducação, que pode ser definida e o segundo capítulo aborda a relação da
aspectos da história e os conceitos que envolvem o termo Neurociência e a Neuroeducação como uma junção entre os conhecimentos Neurociência e a Neuroeducação com o
e a sua relação com a aprendizagem. A neurociência pode constituir-se como um apoio ao da área de psicologia, neurociência e processo de ensino e aprendizagem.
professor no sentido de identificação da pessoa como ser único, que aprende de maneira educação, trazendo uma nova abordagem
diferente e se desenvolve de maneira diferente. A Neuroeducação, que pode ser definida sobre a aprendizagem e sobre a forma A NEUROCIÊNCIA E OS SEUS
como uma junção entre os conhecimentos da área de psicologia, neurociência e educação, como se aprende. O neuroeducador realiza CONCEITOS
trazendo uma nova abordagem sobre a aprendizagem e sobre a forma como se aprende. a observação do sujeito em diferentes
aspectos, analisando as suas potencialidades Segundo Oliveira (2011) a neurociência,
Palavras-chave: Neurociências; Neuroeducação; Aprendizagem; Educação Infantil. para assim construir um plano individual pode ser definida como o conjunto de ciências
para cada sujeito. O neuroeducador e os envolvidas no estudo do sistema nervoso, em

296 297
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

educacionais, poderiam ter obtido noções das regras de convívio social,


melhores resultados e desenvolvido para participar das brincadeiras e jogos, é
o desenvolvimento do cérebro para justificar diferentes habilidades e conhecimentos. necessário respeitar as ações e regras pelo
especial do cérebro humano, já a educação,
suas práticas educacionais com a criança grupo.
pode ser definida como arte em construção, Segundo Bartoszeck (2007) o
pequena, supondo que as crianças devam ter
que pretende abordar os conhecimentos funcionamento e a formação da estrutura Nos últimos anos houve um aumento do
acesso aos diferentes conhecimentos desde
sobre o ser humano, em sua diversidade, básica do cérebro se constitui no início interesse pelos estudiosos, sobre a relação
muito cedo para não ficar em atraso ou em
na visão filosófica, antropológica, social, defasagem na aprendizagem, de acordo com da infância, desencadeando diferentes entre a educação e as neurociências. O
psicológica, biológica e neurológica. (p.64). a comunidade científica não há estudos indagações sobre os estímulos externos, principal intuito das pesquisas na área
suficientes sobre o desenvolvimento e o as emoções e o estresse. Neste sentido, de é o de verificar e compreender como
Como definição para o termo Neurociência funcionamento do cérebro que possam acordo com o autor, o emocional se organiza as neurociências podem ser aplicadas e
temos que é um campo de conhecimento que constatar essa teoria, relacionando a desde a mais tenra idade e quando mais utilizadas no âmbito educacional, para
busca estudar as variações que acontecem educação e a instrução precoce, neste idade, mais difícil será a modificação destes auxiliar nos processos de aprendizagem.
entre a atividade cerebral e o comportamento, sentido a neurociência cognitiva seria padrões estabelecidos no cérebro, algumas
abrangendo diversas disciplinas, destacando- a mais indicada para trazer elementos estruturas completam o seu desenvolvimento A Neuroeducação surge como um
se entre elas a neurofisiologia, a pedagogia, que contribuem para estes estudos. no feto, enquanto outras podem se modificar diferencial na área de educação, a partir de
a neurologia e a psicologia, dentre outras. (plasticidade neuronal) durante toda a vida. práticas inclusivas e os novos desafios que a
A Neurociência é formada pelo conjunto O conceito de Neurociência já se tornou familiar ao educador, escola enfrenta nos dias atuais, permitindo
de todas essas ciências e estuda como o tanto em formação inicial, quanto na formação continuada. A neurociência pode constituir-se como refletir sobre novas práticas pedagógicas que
cérebro funciona interferindo em nosso A educação, como arte em construção, é o eixo central da
interdisciplinaridade, que envolve conhecimentos sobre
um apoio ao professor no sentido de respeite o indivíduo em sua especificidade e
comportamento e em nossas emoções. o ser humano em suas diversas dimensões: filosófica, identificação da pessoa como ser único, individualidade.
Com o estudo em Neurociências é possível antropológica, sociológica, psicológica, biológica e que aprende de maneira diferente e se
compreender como ocorrem as interferências neurológica. Alguns destes aspectos são preponderantes desenvolve de maneira diferente. Com os A Psicologia é uma área de conhecimento
no cérebro humano, provocadas por lesões. em períodos da história da educação por diversos motivos.
Foi tomista-aristotélica pela fé e razão na Idade Média,
estudos que envolvem o cérebro e a sua que sempre esteve muito próxima à
foi cartesiana-newtoniana pela neutralidade em busca da relação com a aprendizagem, a neurociências educação, compartilhando conhecimentos
Antigamente os educadores e os verdade única sem preconceitos. (OLIVEIRA, 2009, p.4) pode trazer conhecimentos sobre a tanto da psicologia como de neurociências,
seus estudos não estavam relacionados linguagem, a memória, o conhecimento e abordando novos conceitos e trazendo
diretamente a pesquisas nas áreas cognitivas e De acordo com as ideias de Oliveira sobre o desenvolvimento infantil, auxiliando uma pedagogia pautada na aprendizagem
os cientistas da área de neurociências também (2011) nos diferentes momentos da no processo de ensino e aprendizagem. significativa. Todas as áreas que mantinham
não estabeleciam relação com a educação e história, os estudiosos e pesquisadores o foco em si mesmas passam a modificar-se
com a sala de aula. Segundo Oliveira (2011) demonstraram uma preocupação de como NEUROCIÊNCIA, NEUROEDUCAÇÃO e trabalhar de maneira interdisciplinar.
atualmente, os pesquisadores cognitivos os ambientes educacionais poderiam ter E APRENDIZAGEM
estão dedicando mais tempo ao trabalho com sucesso em realizar a seleção de crianças ou A Neuropedagogia na Educação contribui na identificação
os professores, testando e refinando suas proporcionar o seu desenvolvimento. Muitas De acordo com Houzel (2013) a brincadeira de uma análise biopsicológica e comportamental do
educando por meio dos estudos da anatomia e da fisiologia
teorias em salas de aula, podendo observar crianças que apresentaram algum tipo de é muito importante para o desenvolvimento no sistema nervoso central. Esse processo explica, modela
como as relações e o ambiente escolar dificuldade na escola poderiam ter avançado da criança, permitindo a interação com e descreve os mecanismos neuronais que sustentam
podem influenciar em suas teorias, surgindo caso, nesta época, fossem conhecidas diferentes pessoas e a experimentação no os atos perceptivos, cognitivos, motores, afetivos e
assim, diferentes técnicas de pesquisa. algumas práticas corretas de instrução. sentido de verificar o resultado de suas ações emocionais da aprendizagem (RELVAS, 2012, p. 53).
em determinados contextos. A brincadeira
Segundo Bartoszeck (2007) muitos Neste sentido, até mesmo os alunos traz o aprendizado do convívio com regras, A Neuroeducação pode ser definida
educadores citam a pesquisa científica sobre que conseguiram êxito nestes modelos testa as capacidades e limites e apresenta como uma junção entre os conhecimentos

298 299
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

da área de psicologia, neurociência e número de sessões previstas, horários e local mais é do que esse maravilhoso e complexo processo a Neuropedagogia, quando o professor
de atendimento, etc. pelo qual o cérebro reage aos estímulos do ambiente,
educação, trazendo uma nova abordagem estabelece as estratégias de ensino em relação
ativa essas sinapses (ligações entre os neurônios
sobre a aprendizagem e sobre a forma por onde passam os estímulos), tornando-as mais ao seu conteúdo em seus planejamentos,
como se aprende. O neuroeducador realiza A neuropsicologia, oferece os subsídios “intensas”. A cada estimulo novo, a cada repetição de deve sensibilizar suas turmas para que
a observação do sujeito em diferentes necessários para a investigação e um comportamento que queremos que seja consolidado possuam uma formação cognitiva distinta,
compreensão do funcionamento intelectual temos circuitos que processam as informações, que
aspectos, analisando as suas potencialidades uma vez que cada aluno é diferente e possui
deverão ser então consolidadas. (MIETTO, 2009, p.1)
para assim construir um plano individual da criança, podendo desta maneira, auxiliar diferentes características neurofisiológicas.
para cada sujeito. O neuroeducador e os e instrumentar diferentes profissionais,
Segundo Houzel (2013) existe um momento
alunos trocam experiências que resultam em como médicos, psicólogos, psicopedagogos Quando um estímulo já é conhecido do
na fase de desenvolvimento da criança, que
aprendizagens para ambos. e fonoaudiólogos, promovendo uma melhor sistema nervoso central, este desencadeia
se diferencia de sujeito para sujeito, quando
e mais eficiente intervenção terapêutica. uma lembrança; quando o estímulo é novo,
o cérebro chega a maturidade suficiente para
Segundo Houzel (2013) a Neurociência Desta forma as dificuldades de aprendizagem desencadeia uma mudança. Assim torna-se
a compreensão da linguagem e para produzir
mostra que as transformações no cérebro podem ser melhor compreendidas e, mais fácil compreender a aprendizagem do
os movimentos das palavras, associando-a a
duram por toda a infância e mesmo depois consequentemente, tratadas de maneira ponto de vista neurocientífico. Com isso,
significados, a influência do ambiente no qual
deste período o cérebro “ainda não está adequada caso a caso. compreende-se que o cérebro necessita
está inserida a criança é fundamental. Neste
pronto” e continuam a ocorrer outras de estímulos novos, novas informações e
sentido, é preciso compreender que cada
transformações, que são responsáveis pela Com base nas ideias de Ciasca (2003) conceitos que o desafie; o ato de pensar em
criança aprende em um momento diferente
mudança de comportamento na adolescência, sem uma organização cerebral integrada, novos caminhos, fórmulas de aprendizagem
e apresenta características diferentes, sendo
entre outros fatores, desta maneira, o intra e interneurossensorial, não é possível faz com que desenvolva a atenção do
necessário analisá-las de maneira individual
estudo da Neurociência se relaciona com a que ocorra a aprendizagem normal, pois os aluno para com o conteúdo da disciplina.
respeitando o seu desenvolvimento biológico.
educação por sua importante relação com processos de codificação e decodificação são
o aprendizado com as interações que se de extrema importância quando tratamos de
Com base nas ideias de Oliveira
estabelecem nas interações ocorridas no problemas de aprendizagem. As revelações
(2011) na ciência da aprendizagem, é
CONSIDERAÇÕES FINAIS
processo de ensino e aprendizagem. de sinais neurológicos quase sempre são
muito importante o controle da própria
identificáveis nos casos de crianças com Para o desenvolvimento de formas
aprendizagem pela pessoa, quando a pessoa
O processo de aquisição de aprendizagem, dificuldades de aprendizagem. de ensino eficientes que tenham base
é capaz de compreender e controlar a
na criança, pode ser influenciado de maneira nas ciências que estudam o cérebro é
própria aprendizagem, consegue identificar
direta ou indireta por diferentes fatores, A criança até os dez anos está em processo necessário que se analisem diferentes
o quanto de informação necessita e o
dentre eles podemos destacar: o ambiente constante de aprendizagem, aprendendo a aspectos da neurociência, da neurociência
quanto foi capaz de entender. Neste sentido
no qual ocorre a aprendizagem, as condições lidar com o mundo e a lidar com si mesma, cognitiva, psicologia e pedagogia, desta
a educação se beneficia dos conhecimentos
emocionais e orgânicas, além da estrutura o cérebro da criança nesta fase, está maneira, podendo chegar a resultados para
da Neurociência, “melhorando de maneira
familiar. Neste sentido, pode-se afirmar que a em formação biológica e o ambiente a utilização destes estudos em sala de aula.
significativa a capacidade das pessoas se
aprendizagem está diretamente relacionada que a cerca interfere nessa formação,
tornarem aprendizes ativos, empenhados em
ao desenvolvimento do indivíduo. neste sentido, a família, a escola e as As descobertas no campo da Neurociência
entender e preparados para transferir o que
relações que estabelecem nesta fase, são de fundamental importância para a área
aprenderam na solução de novas situações
Para o diagnóstico é importante que todas têm extrema importância nesta fase de de educação de uma forma geral, estes
complexas ou novos problemas”. (p.80).
as regras de relacionamento, sejam bem desenvolvimento. estudos podem demonstrar e explicitar como
definidas desde o primeiro contato, sendo o cérebro funciona e como se estabelecem
Quando falamos em educação e aprendizagem, estamos Do ponto de vista educacional conhecer
claras para o paciente e a sua família, por as conexões e estímulos que geram as
falando em processos neurais, redes que se estabelecem, o processo de aprendizagem tornou-se um
este motivo é necessário um contrato de ações necessárias para a capacidade de
neurônios que se ligam e fazem novas sinapses. E o que novo desafio para os professores e o ambiente
atendimento no qual serão definidas funções, entendemos por aprendizagem? Aprendizagem, nada desenvolvimento da memória e apreensão
desta especificidade é a sala de aula. Para

300 301
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

HOUZEL, Suzana Herculano. A


de conhecimentos, com o armazenamento A criança está em processo constante neurociência do desenvolvimento
de informações recebidas neste processo. de aprendizagem, aprendendo a lidar infantil aplicada à Educação. Revista
com o mundo e a lidar com si mesma, o Gestão Educacional. Dez/2013.
Os estudos voltados a compreensão sobre cérebro da criança nesta fase, está em
o funcionamento do cérebro humano estão formação biológica e o ambiente que a MIETTO, Vera Lúcia Siqueira. A Importância da
em constante evolução e a aprendizagem, cerca interfere nessa formação, neste Neurociência na Educação. 2009. Disponível
está intimamente relacionada as operações sentido, a família, a escola e as relações em: <http://www.programaativamente.
do cérebro no que diz respeito a memória, que estabelecem nesta fase, têm extrema com.br/artigos/diversos/4-a-importancia-
sendo assim o estudo das neurociências é importância nesta fase de desenvolvimento. da-neurociencia-na-aprendizagem/
fundamental para o auxílio nos processos EVANDRO FABRÍCIO AMÉRICO file> Acesso em 10 jun. 2019.
de ensino e aprendizagem. A Neurociência A neurociência pode contribuir para DE CAMPOS
é formada pelo conjunto de diferentes a compreensão de alguns transtornos OLIVEIRA, Gilberto Gonçalves de.
ciências e estuda como o cérebro funciona de comportamento e de aprendizagem Graduação em Educação Física pela Neurociências e os processos educativos:
interferindo em nosso comportamento e sendo possível a elaboração de estratégias Universidade Bandeirante – UNIBAN (2001); um saber necessário na formação de
em nossas emoções. Com o estudo em adequadas a cada criança em sua relação Graduação em Pedagogia pela Universidade professores. Dissertação de Mestrado.
Neurociências é possível compreender com a aprendizagem. Neste sentido, o Bandeirante - UNIBAN (2007); Especialista Uberaba, Minas Gerais. 2011.
como ocorrem as interferências no professor, a família e a escola, trabalhando em Treinamento Desportivo pelas Faculdades
cérebro humano, provocadas por lesões. em conjunto podem, com o auxílio dos Metropolitanas Unidas – FMU (2009); OLIVEIRA, Gilberto Gonçalves. Andragogia
conhecimentos abordados em neurociências, Especialista em Educação para a Diversidade e Aprendizagem na Modalidade de
Os estudos em neurociência podem auxiliar facilitar a aprendizagem, melhorando as e Cidadania pela Faculdade São Luís de Educação a Distância - Contribuições da
a prática docente mas de forma alguma propostas educacionais e proporcionando França (2018); Especialista em Docência Neurociência. São Paulo: Peixoto Neto, 2009.
podem mostrar como é o que os professores novas experiências educativas. do Ensino Superior pela Faculdade Brasil
devem ensinar, cabe ao professor ensinar (2018); Professor de Ensino Fundamental RELVAS, M. P. Neurociência na prática
com base em seus estudos e experiências II na Prefeitura do Município de São Paulo. pedagógica. Rio de Janeiro: Wak, 2012.
e utilizar a neurociência e seus estudos
como uma forma de complementação e RATO, Joana Rodrigues; CALDAS, Alexandre
aprimoramento de conhecimentos no que Castro. Neurociências e Educação:
diz respeito às funções e funcionamento Realidade ou ficção? In C. Nogueira, I. Silva,
de determinadas ações cerebrais. REFERÊNCIAS L. Lima, A. T. Almeida, R. Cabecinhos, R.
Gomes, C. Machado, A. Maria, A. Sampaio
A neurociência pode constituir-se como BARTOSZECK, Amauri Betini. 2007. (Eds). Actas do VII Simpósio Nacional
um apoio ao professor no sentido de Neurociência dos seis primeiros anos: de Investigação em Psicologia. 2010.
identificação da pessoa como ser único, implicações educacionais. EDUCERE. Revista
que aprende de maneira diferente e se da Educação. Disponível em: <revistas.unipar.
desenvolve de maneira diferente. Com os br/educere/article/viewFile/2830/2098>.
estudos que envolvem o cérebro e a sua Acesso em 10 jun. 2019.
relação com a aprendizagem, a neurociências
pode trazer conhecimentos sobre a CIASCA, Sylvia Maria. Distúrbios de
linguagem, a memória, o conhecimento e Aprendizagem: Proposta de Avaliação
sobre o desenvolvimento infantil, auxiliando Interdisciplinar. Casa do Psicólogo, 2003.
no processo de ensino e aprendizagem.

302 303
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
As imagens fazem parte da nossa vida. que cada pessoa, de acordo com seu
Estamos cercados pela arte, e em muitas repertório e seu modo de vida, consegue ver
vezes nem reparamos. Para ilustrar o que o mesmo filme, por exemplo, e interpretá-
estamos dizendo, basta reparar bem um rótulo lo de forma totalmente diferente de outra
de algum produto vendido nas gôndolas pessoa.O homem primata se utilizava de
de supermercado: é um sabonete com imagens, desenhos, pra deixar sua marca
pinturas de Monet, um xampu com figuras no mundo. Os egípcios para registrar sua
de Salvador Dali, e para completar o cenário, história e agradar os deuses. Na Idade
o som ambiente do supermercado toca uma Média, a imagem era utilizada para repassar
música de Mozart. E, em diversas vezes não os conceitos religiosos. No Renascimento,
nos damos conta disso. Da mesma forma, a para representar o homem e o mundo por
Arte também está presente no cotidiano da meio da ilusão. No Modernismo, por meio
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA DE IMAGENS NA vida infantil. Ao rabiscar e desenhar no chão,
na areia e nos muros, ao utilizar materiais
dos “ismos” da história da arte, os artistas
expressavam sentimentos de amor, ódio,
EDUCAÇÃO INFANTIL encontrados ao acaso (pedras, gravetos, revolta, etc. até chegar à nossa atualidade,
carvão), ao pintar objetos e até mesmo seu quando o artista questiona o mundo por
RESUMO: O foco principal desta pesquisa são as crianças com faixa etária de 3 a 6 anos de próprio corpo, a criança pode fazer uso da meio de imagens (STRICKLAND, 2001).
idade, fase esta na qual elas estão sendo preparadas para o processo de alfabetização, sendo Arte para expressar experiências sensíveis
fundamental o trabalho com diferentes possibilidades, dentre elas: a imagem e a sua leitura. (BRASIL, 2018). Na Educação Infantil, o ensino se dá de
Nesse sentido, o objetivo principal é levar o leitor a perceber a importância de se trabalhar forma lúdica, ou seja, por meio de práticas,
com a imagem na educação infantil, seja ela obra de arte ou não. Na sociedade atual, o texto Quando se olha para uma imagem, seja ela jogos, e imagens. O visual é muito amplo, pois,
não é o único a transmitir mensagens, as imagens refletem inúmeras ideias e conceitos.. O obra de arte ou não, vê-se um filme, lê-se um a maioria das crianças, não são alfabetizadas,
estudo de imagens e obras de arte na educação infantil é importante para a comunicação, livro, observa-se uma pintura ou escultura, daí a importância de estar trabalhando com
expressão, aprendizagem cognitiva e cultural, além do exercício de liberdade, expressão cria-se na mente uma série de pensamentos material visual. Escolhe-se um repertório
oral, e o desempenho fundamental que a imagem proporciona na constituição de ideias por que podem ser diferentes a cada vez que se rico em imagens, e se trabalha com esse de
parte das crianças, já que estão em fase de preparação para o processo alfabetizador. Dessa repete a mesma atividade de ver e observar. forma lúdica e prazerosa para criança, a fim
forma, a criança não alfabetizada, consegue fazer uma leitura de qualquer imagem a ela Ao ato de observar e produzir pensamentos de dialogar com seu modo de vida social,
apresentada, utilizando-se de signos por meio dos quais faz referência a objetos, pessoas ou novos chamamos de leitura de imagem econômico e cultural. Além disso, saber
eventos do chamado mundo real. Compreender a importância da leitura de imagem como (SANTAELLA, 2012). olhar e interpretar uma obra, seja ela de arte
um material essencial para aprendizagem na educação infantil, é valorizar o processo de ou não, nos faz entender melhor a sociedade
ensino-aprendizagem individual da criança e sua forma de entender o mundo. O público Conforme Collioni (2018), a leitura de em que vivemos (MORENO, 2016).
infantil consegue dialogar com as imagens com mais facilidade, pois, imagens estão mais imagem de uma obra de arte pode ser
próximas da realidade dos pequenos, é impossível ficar imune aos seus olhares curiosos. desenvolvida e incrementada permitindo A imagem nesse caso, além de ser
que o observador obtenha uma série de abrangente e acessível a todos, é um
informações e significados enriquecendo instrumento que leva a criança a realizar
Palavras-chave: Leitura de Imagem; Arte; Educação Infantil. seus conhecimentos. Percebe-se também múltiplas interpretações de leitura. Pode-

304 305
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

se fazer uso, nesse caso, da abordagem humana, este trabalho colheu informações deve se conscientizar que os alunos são os de preparar o educando para interpretá-las
triangular de Ana Mae Barbosa, na qual a sobre a Arte e sua importância na educação, destinatários das mensagens contidas nas e avaliá-las, conscientizando-o que estão
leitura propõe três aspectos fundamentais particularmente, na Educação Infantil. Mais imagens presentes na sala de aula, as quais aprendendo com elas. Conforme Antunes
para compreensão da Arte: a leitura de especificamente, falaremos sobre a leitura podem expressar valores, ideias, sentimentos (2000, p. 79), “é necessário acreditarmos que
imagem, o fazer artístico e a contextualização de imagens e suas implicações nas salas de e comportamentos que as crianças da um projeto de educação do olhar força-nos
histórica (BARBOSA, 2006). A variedade de aulas de Educação Infantil. Educação Infantil, por estarem em fase de a desenvolver novas técnicas perceptivas
imagens propostas, desde a televisão, até a constante aprendizagem, podem internalizar que nos libertarão de imperceptíveis limites,
obra de arte que é apresentada à criança, Discorreremos sobre esse assunto porque com facilidade. Por isso, é indispensável o fazendo-nos construir novos significados
instituem experiências visuais e modelam a vemos que não é dada à arte sua devida cuidado ao escolher a decoração das paredes para o ser e para o mundo.
percepção e a apreciação sobre o mundo. importância em nossas escolas, quer seja da sala de aula e as figuras do alfabeto, por
Elas são participativas e eficientes em pela estrutura escolar como um todo – exemplo. Para educar o olhar da criança, o
seus propósitos de simular uma realidade diretores de ensino, diretores, coordenadores professor deve estimulá-la a perceber,
encenada, sendo todas, um grande recurso pedagógicos, professores etc.- quer seja pelos O professor deve proporcionar aos seus ou seja, a usar os sentidos para adquirir
de leitura. próprios beneficiários dessa estrutura – pais, educandos o desenvolvimento de um olhar conhecimento. De acordo com Derdyk,
alunos, enfim, a sociedade como um todo. estético, diferente do olhar cotidiano, “A percepção é um fenômeno dinâmico,
Segundo Moreno (2016), cabe à instituição Nesse sentido, o objetivo principal é buscar ou seja, incentivar a percepção visual e a operação ativa de nossos sentidos e de nossa
escolar e ao professor se apropriar dela para aspectos que mostrem a leitura de imagens observação dos elementos visuais presentes consciência. Perceber é colher, se apropriar,
aprimorar a ética, a moral e aprofundar e a Arte como fatores de aprendizagem no ambiente escolar, a fim de desenvolver experimentar. A percepção é capaz de sediar
a experiência estética de seus alunos. A importantes na construção estética da a sensibilidade e a criticidade das crianças. o conhecimento:
importância das informações e dos detalhes mente infantil. Como metodologia, foi Assim, desde a mais tenra idade, aprenderão
que o professor ou a criança consegue utilizada a pesquisa bibliográfica, com base a dar significado ao mundo, por meio de [...] O ato de perceber não se restringe a um mero registro
explorar em uma composição observando nos Referenciais Curriculares de Educação suas variadas interpretações inerentes ao mecânico do mundo fenomenal, ausente de um si-mesmo.
uma imagem está no fato de elas serem Infantil, livros e sites na internet. contexto cultural, familiar e escolar dos quais Na fresta da percepção, as relações entre um sujeito que
individuais e diferentes para cada um, mesmo pertencem. Segundo Rossi: percebe e um objeto que é percebido não são radicalmente
que coincidam algumas vezes. Ou seja, os EDUCAÇÃO DO OLHAR NA unilaterais; não apresentam neutralidade de um simples
textos visuais instauram conhecimentos EDUCAÇÃO INFANTIL A especificidade do conhecimento estético merece ser perceber, isento de sentido (DERDYK, 1990, p. 52).
sobre o mundo: as “verdades”, os valores conhecida e tratada com o mesmo rigor que as outras .
éticos, estéticos, as formas de agir e de ser, A capacidade de ver é tão importante formas de conhecimento. O olhar estético tem natureza A percepção da criança precisa ser
os modos das relações com os outros. quanto a capacidade de verbalizar, pois, e função diferentes do olhar banal, cotidiano. E é apenas desenvolvida e aprimorada. Isso pode ser
as crianças desde cedo, antes mesmo de através da educação formal que a maioria dos brasileiros feito por meio do exercício de ler imagens, de
As imagens produzidas pelos diversos começarem a falar, consomem imagens de poderá ter a oportunidade de desenvolver tal olhar (ROSSI, interpretá-las com um olhar curioso, sensível
meios de comunicação editam um modo de todos os tipos, em todos os lugares, seja 2006, p. 11). e crítico, de vê-las em sua totalidade. Como
olharmos o mundo e nos “dizem” que aquelas nas ruas, em casa ou na pré-escola. De afirma Monteiro (2001, p. 28),
imagens podem ser substitutas pelo mundo acordo com Rossi (2006, p. 09), “a cultura O educador deve propiciar um ambiente
concreto (GENTILE, 2009). Pensando em vivida pelo aluno de hoje se caracteriza que estimule a percepção da criança. Ele Ver não é somente olhar. O ver necessita
oportunizar a ampliação de conhecimentos pela saturação de imagens, e a maioria das deve se preocupar em ensiná-la a ver, a estar e não apenas passar pelos espaços. Ver
sobre a Arte e sua relação como elemento informações que ele recebe chega através perceber e a interagir com as imagens é tecer um lugar no não lugar. Ver é observar
para o desenvolvimento da expressão delas”. Partindo desse princípio, o educador presentes no espaço da sala de aula, a fim a realidade que se apresenta de forma

306 307
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

complexa e inteira diante do seu olhar. Ver realismo nela representado. Normalmente, as Portanto, o conceito de beleza está ligado à quanto às cores claras e vivas, que a roupa
não é se colocar como espectador de um crianças da educação infantil são atraídas por moralidade, ao que é considerado correto pela das bruxas más dos contos de fadas não tem
mundo ilusório criado por outros olhares. É a tudo que tiver a sua cor preferida. Então, elas sociedade em uma determinada cultura. E a a necessidade de serem sempre pretas, que
possibilidade de sentir antolhos e girar o rosto gostarão mais da imagem que apresentá-la em criança pequena, imersa no ambiente familiar, podem ser de qualquer cor e que as cores
para inviabilizar sua ação, de não se mobilizar sua composição. Como afirma Rossi (2006, p; começa a adquirir e internalizar conceitos e escuras não possui vínculo à maldade, como
diante do que se vê. Ver é tornar-se capaz 72), valores provenientes de seus familiares mais acontece em muitas histórias infantis. Por
de perceber as alternativas e complexidades próximos. exemplo, o Lobo Mau, da “Chapeuzinho
presentes no cotidiano, mesmo quando não O critério da cor no julgamento estético é o primeiro que Na perspectiva vygotskyana, a cultura Vermelho” e a Fera da “A Bela e a Fera”, têm,
queremos vê-las (MONTEIRO, 2001, p.28). aparece, quando a criança ainda é muito pequena. Para na qual a criança está inserida e a interação geralmente, os pêlos escuros, já as princesas,
ela a imagem é boa se tiver sua cor preferida. Sendo o social são importantes influências para o normalmente, usam vestidos claros. A ideia
As crianças precisam conviver com aspecto do meio de expressão mais facilmente relacionado desenvolvimento infantil. Com base nas que as cores escuras estão vinculadas a coisas
imagens que expressem valores, sentimentos à expressividade, a cor é usada como critério de julgamento principais ideias de Vygotsky, Rego (1994, p. ruins, pode induzir e reforçar a discriminação
e informações importantes para o seu desde a educação infantil (ROSSI, 2006, p.72). 42) afirma que “A cultura é, portanto, parte de pessoas negras, por exemplo, e a
desenvolvimento. Imagens que promovam a constitutiva da natureza humana, já que sua intolerância ao que é diferente à criança.
igualdade e a inclusão social, o reconhecimento As crianças da educação infantil que não característica psicológica se dá por intermédio Infelizmente, os meios de comunicação,
e a valorização da diversidade étnica, social são perceptivelmente estimuladas estão da internalização dos modos historicamente especificamente, a publicidade, não têm se
e cultural, que estimulem a solidariedade, o propensas a considerar como boas e bonitas determinados e culturalmente organizados de preocupado muito em promover a valorização
respeito e a tolerância. O trabalho docente de as imagens que tiverem as cores que lhes operar com informações”. da diversidade física, étnica e cultural. Ainda,
qualidade deve buscar a superação de todo agradam. Além disso, por causa de conceitos a principal preocupação é o lucro obtido pelo
e qualquer tipo de discriminação e exclusão previamente interiorizados nas relações O conceito de beleza começa a se formar consumismo.
social, valorizando cada indivíduo e todos sociais, costumam relacionar as cores escuras na infância, por meio dos elogios e repressões
os grupos que constituem a diversidade da e frias com sentimentos ruins e ao que é dos pais. Normalmente, quando a criança faz No mundo do consumo por excelência, as
nação brasileira (SANTAELLA, 2012). considerado feio e as cores vivas, como o azul algo que é considerado moralmente incorreto imagens de crianças pobres não têm lugar.
e o amarelo, com sentimentos bons e ao que ou desagradável, por exemplo, ao se sujar de Aquelas que se afastam dos padrões meToda
A FORMAÇÃO DO CONCEITO é considerado belo. Referindo-se a crianças terra, os pais a reprimem dizendo que “sujar- criança necessita de estímulos de aplauso,
DE BELEZA entrevistadas em escolas de Caxias do Sul, RS, se é feio”. Depois de verem seu filho limpo ainda que silencioso, e quando repete atos
em uma pesquisa sobre as particularidades da após o banho, o acolhem com beijos e abraços, que a desperta vai percebendo atitudes “que
A leitura das imagens é influenciada pela leitura estética, Rossi (2006, p. 79-80) afirma: dizendo o quanto está “limpo e bonito”. Com agradam” e outras indiferentes. Ao fazer
cultura na qual a criança está inserida, por base neste exemplo e em muitas situações essa descoberta, está descobrindo, pouco a
sua percepção espontânea, por seu repertório Quando questionadas sobre a qualidade da imagem, as similares vivenciadas no ambiente familiar pouco, a beleza; “belo é o que faz mamãe e
cognitivo, pelas emoções vivenciadas, por suas crianças respondem como se fossem perguntadas sobre e escolar, os adultos podem reforçar a ideia papai sorrir”. Nesse instante pode ter início
visões de mundo e pelos valores adquiridos. coisas belas ou moralmente boas e justas, não fazendo que o julgamento moral está relacionado ao a doce educação do encantamento. A mãe
Segundo Rossi (2006, p. 71), “quanto mais nova distinção entre os julgamentos moral e estético. E para tal, estético, ou seja, o que é ruim é feio e o que é ou o pai ou ainda o professor, que “chama
é a criança, menor é a possibilidade de isolar o lançam mão de teorias próprias. Tais teorias são construídas bom é bonito (ANTUNES, 2000, p. 93). a atenção de forma sutil” da criança para
julgamento da sua percepção imediata, durante intuitivamente a partir da inserção dessas crianças em uma o belo, vai transmitindo seus esquemas de
a leitura”, ou seja, o que irá, primeiramente, dada cultura e refletem as concepções do senso comum O educador será o mediador que ajudará encanto ao filho. Nessa hora, necessita da
determinar a qualidade da imagem são seus dessa cultura (ROSSI, 2006, p.79-80). os pequenos a descobrirem que as cores imprescindível humildade de buscar levá-lo
aspectos físicos e objetivos, como a cor e o escuras e frias são tão bonitas e fascinantes muito além de onde, como adulto, chegou.

308 309
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Se “não gosta” da música de Mozart ou constatado é que crianças que não praticam Nesse sentido, cabe ao professor arte cada criança:
“não entende” a beleza na obra de Picasso, a leitura de imagem convencional, têm mais educador, buscar imagens interessantes Por meio da análise formal de uma obra
por exemplo, é porque não foi educada dificuldade na alfabetização ou não foram dentro de períodos da história da arte ou os alunos iniciam um contato com ela e à
para o despertar dessa sensibilidade. Isso, alfabetizadas ainda (PILLAR, 2003, p. 13): não e que se relacionem com o mundo e medida em que são levantados os conteúdos
entretanto, não pode significar o supremo Robert Ott (1989) e Sigmund Feldman cotidiano da criança, ou seja, imagens lúdicas nela apresentados, os alunos vão refletindo,
egoísmo de fazer com que a criança cresça (1993), já sugeriram abordagens de leitura que despertem o interesse dessas crianças, estabelecendo relações, comparações, vão
dentro dos estreitos parâmetros deste de imagens que estruturam o contato da como por exemplo: O Jardim de Miró (obra surgindo lembranças de lugares, outras obras,
código pessoal da percepção (ANTUNES, imagem com o indivíduo possibilitando de Juan Miró, pintor holandês), uma imagem enfim, o diálogo começa a ser estabelecido
2000, p.93). o aprendizado qualificando a imagem. que transmite a linguagem infantil com suas (RAFFA, 2006).
Ambos os modelos pressupõe que a leitura, formas e desenhos coloridos e variados. Enfim, a aproximação da criança com
Portanto, é importante o professor estar possa ocorrer em etapas independentes e Conforme Strickland (2001, p. 174): “Uma imagens diversas, preferencialmente as
atento aos possíveis valores e conceitos sucessivas. das obrigações da Arte é fazer você olhar o lúdicas, mágicas, coloridas, enfatizando
que está transmitindo conscientemente e, mundo com prazer”. infância, traz benefícios para seu aprendizado,
também, inconscientemente, aos educandos, Ao construir um roteiro calcado nas tanto dentro das Artes, como no seu
por meio de uma simples imagem afixada na propostas de leitura de Feldman e Ott, é Conforme Raffa (2006), ensinar Arte aprendizado no geral. Além do exemplo
parede, por exemplo. Deve ter a consciência importante pensar na faixa etária a qual utilizando imagens de artistas lúdicos como citado (Juan Miró), existem vários outros
que a imagem transmite informações, que está se propondo, nesse caso, com crianças. Miró (ou outros artistas que trabalham artistas brasileiros modernos e artistas
pode reforçar ou frear a disseminação da Estabelecer o que fazer em cada etapa nessa linha), por exemplo, leva a criança contemporâneos que trabalham nesse
exclusão e do preconceito e a reprodução juntamente com as crianças é o pontapé observadora a um ambiente mágico, aspecto também, a questão é, o professor
dos modelos impostos pela mídia. A sala de inicial para o objetivo do trabalho, por isso provocando encantamento e ao mesmo saber procurar o que vai ser apresentado
aula precisa ter imagens que representem as as etapas são importantes nessa faixa etária. tempo estranhamento. A criança pode firmar aos seus alunos, que nem sempre precisa
diferenças, para que as crianças se sintam um vínculo entre objetos ou acontecimentos ser uma obra de arte, mas usar da mesma
valorizadas e felizes justamente por serem Cabe ao professor desenvolver uma forma e suas possíveis representações. Em diversas lente da criança para enxergar o mundo
diferentes e únicas, por não se enquadrarem adequada de se trabalhar a proposta. Como situações podemos notar como, em um por uma perspectiva inaugural e autêntica
em nenhum modelo imposto pela mídia. exemplo, pode-se sugerir em um primeiro primeiro momento, as crianças estranham o de quem olha atentamente, com interesse,
O educador deve expor imagens que momento, que as imagens de obras sejam diferente. colocando sua subjetividade em jogo com
contribuirão para o pleno desenvolvimento estudadas em conjunto (professor e alunos), sua objetividade (GENTILE, 2009).
da criança e que não estimulam o consumismo descrevendo-as, analisando elementos e Esse é o primeiro passo para entender a
infantil. estrutura, sempre em um espaço aberto lógica do que é estranho a elas, como é o A LEITURA DE IMAGEM E A
no qual a opinião das crianças deve ser caso das obras citadas acima (Miró). Assim, CRIANÇA
A LEITURA DE IMAGEM respeitada e priorizada, deixando que os as crianças exercitam o que sabem sobre
COMO FERRAMENTA NA alunos façam suas interpretações e ligações ficção e realidade. Isso vai servir para que elas Há múltiplas definições de imagem.
EDUCAÇÃO INFANTIL com fatos de suas vidas pessoais. Ao final, consigam dar continuidade as suas criações, Conforme já citado anteriormente, a
propor o trabalho prático baseado a partir interferindo com o material sugerido pelo imagem é, hoje, um componente central da
Dentre vários temas relacionados à leitura do que foi abordado no processo de leitura, professor para que o aluno desenvolva sua comunicação.
de imagem, abordados com professores sempre pensando nas características da composição artística contribuindo para Para Moreno (2016), a leitura de
pedagogos, psicólogos e outros profissionais turma na qual está sendo desenvolvido o transformação daquela obra em uma nova Imagem de uma obra de Arte pode ser
que atuam na área de educação, o que foi trabalho. criação relacionada à individualidade de desenvolvida e incrementada permitindo

310 311
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Andrade Filho e Stori (2006, p. 103): “O da criança por outros tempos históricos
que o observador obtenha uma série de que lhes são apresentadas. conceito e a prática do tema alfabetização e outras culturas; valorizar diferentes
informações e significados enriquecendo Entretanto, é interessante trazer para a mudou. Alfabetizar não é mais assinar o fontes de informação;estudar tempos
seus conhecimentos. A importância das criança atividades diferenciadas como, por nome, é saber decodificar e compreender e lugares que não são os seus; prender
informações e dos detalhes que um professor exemplo, a possibilidade de conhecerem esse universo ao qual estamos expostos e a estabelecer relações entre o que já
ou aluno consegue explorar em uma imagem um museu ou um espaço de exposições, ele não é mais somente da palavra”. sabem e o que ainda lhes é novo como
por meio da observação e da leitura está no oportunizando a saída do ambiente escolar, E esse processo de aprendizagem contínua conhecimento; reconhecer na imagem,
fato de elas serem interpretadas de formas reconhecendo ambos como espaços no primeiro ciclo do ensino fundamental: além de fonte de conhecimento cultural
distintas, observando que cada indivíduo educativos e acreditando na arte-educação é de extrema importância o professor que e conhecimentos científicos.
pensa e age de forma diferente. O respeito como mediação entre a arte e a criança. É trabalha com alunos da primeira à quarta série
pela opinião dos alunos e o fato de o mesmo fundamental fazer a diferença, o professor do ensino fundamental propor situações por O QUE SE ESPERA QUE
poder expô-la para o grande grupo, criam de arte podendo contar com museus meio da qual ele fomente a educação do AS CRIANÇAS APRENDAM
uma cumplicidade entre professor e aluno. e espaços expositivos como parceiros olhar (ANDRADE FILHO; STORI, 2006).
A imagem, nesse caso, além de ser no desenvolvimento de suas práticas Espera-se que as imagens contribuem
abrangente e acessível a todos, funciona oportuniza as crianças a leitura e releitura SUGESTÕES DE ATIVIDADES em todo o desenvolvimento da criança, a
como um instrumento que conduz o levando a reflexão, interpretação, criação e COM A LEITURA DE IMAGENS NA fim de permitir que elas compreendam e
educando a realizar múltiplas leituras e organização própria por meio do olhar a uma EDUCAÇÃO INFANTIL interpretem de forma crítica a avalanche
interpretações. O intuito deste trabalho obra apenas e também ao conjunto de obras de imagens a qual estão expostas
também se configura em partilhar com expostas em um único espaço. Além do mais, As crianças têm naturalmente atração todos os dias, esse é apenas um dos
outros professores algumas considerações não existe reprodução que substitua a obra por ilustrações, fotografias e qualquer outra objetivos, porém, com base nisso, as
sobre a importância do ensino com a no original, e o gosto por visitar museus e representação não verbal que incite sua crianças consequentemente ampliarão
utilização de imagens na educação infantil. instituições culturais é algo que se aprende imaginação. seu repertório de conhecimento
Essas expressões podem ser percebidas pela (SANTAELLA, 2012). Conforme Nucci (2018), a leitura de aprendendo a identificar sua cultura,
leitura dos desenhos infantis, que quando imagens possibilita ao aluno refletir e, observar e descrever características
analisados por profissionais especializados, O importante é que o professor não exija sobretudo, remeter-se a outras informações, dos hábitos e costumes de um povo
possibilitam estabelecer relações com dados representação fiel, pois, a obra observada e isso por sua vez, leva-o do texto não verbal baseado na leitura de imagem por meio
reais e subjetivos (MORENO, 2016). é suporte interpretativo e não modelo a outras ideias anteriormente adquiridas. da apreciação, registrar seus estudos
para os alunos copiarem. Portanto, o que Além disso, é fundamental e de grande valia graficamente (desenho e escrita),
Lopes (2008) considera que todas as essa proposta nos acrescenta é o não no processo de alfabetização. dramatizar utilizando o universo infantil
crianças são únicas nas formas de percepção, esquecimento de buscar os valores reais Entre as opções de se trabalhar a leitura das brincadeiras, desenvolver o “olhar”,
nas suas experiências de vida e nas suas da imagem proposta, mas, sobretudo, de imagem com as crianças; existem valorizar diferentes fontes de informação
fantasias. A variação do potencial criador contextualizarmos a via social, biológica, itens importantes que não podem ser (COLLIONI, 2018).
dependerá das oportunidades que terão em psicológica, ecológica desta, procurando esquecidos durante todo o processo de
expressá-lo e do estímulo que o contexto uma interpretação mundial do que é fato e ensino aprendizagem, tais como: a busca Além disso, a prática da leitura de
lhe oferece. Todo ser humano é capaz de ocorre na atualidade, comparando com o que de conhecimentos por meio da apreciação, imagem favorece o desenvolvimento
criar, basta dar-lhe oportunidades para que acontecia quando o artista a representou o registro de todo o estudo graficamente, intelectual para a racionalidade cognitiva
isso aconteça. Os símbolos representam o mas nunca esquecendo dos fatos atuais. Em a dramatização das imagens explorando o e cultural, compreende o fenômeno
mundo por meio das relações que a criança vista disso, é necessário que repensemos o universo infantil com brincadeiras. Nucci artístico como uma manifestação cultural,
estabelece com as pessoas e com a imagem processo de alfabetização das crianças. Para (2018) mostra que: despertar o interesse sendo os artistas os responsáveis por

312 313
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

em cada época e cultura. olhar curioso, para a criança desvendar, A leitura de imagem possibilita a criança É sempre possível abrir possibilidades de reflexão
Como pistas de caminhos possíveis em interrogar e produzir (HERNÁNDEZ, 2007). refletir e, sobretudo, remeter-se a outras sobre erros e acertos. É nesse sentido que se faz a
um trabalho para compreensão crítica da situações e informações, e isso, por sua vez, educação.
cultura visual, Hernandez (2007) sugere: CONSIDERAÇÕES FINAIS leva-a do texto não verbal a outras ideias
explorar, questionar, discutir, elaborar e anteriormente adquiridas. Ver uma imagem,
construir relatos visuais utilizando diferentes Sabemos o quanto as crianças transitam seja ela um desenho em um livro, uma foto,
suportes relacionados com a própria pelo mundo da fantasia ao dialogar com um tridimensional, um filme, uma obra de
identidade e contexto sociocultural que um novo conhecimento, apropriando-se arte, traz informações complementares que
ajudem a construir um posicionamento. de novos conteúdos; e isso é fundamental permitem que as crianças estabeleçam uma
para entender seu pensamento. As crianças série de relações.
Os modos de ver o mundo estão sendo formulam teorias, que são fruto de suas
modulados pelos vários meios midiáticos e observações, explorações e contato com o É nesse sentido que se considera
pelas produções artísticas, então, a questão da universo. importante o trabalho artístico por meio
cultura visual deve ser abordada em todas as Cabe a nós, adultos, relacionar e significar de apresentação e leitura de imagens para
discussões educacionais. Por isso, as práticas essas teorias, ajudando-as a se aprofundar as crianças, levando-se em conta que cada
pedagógicas na educação infantil precisa ter em seus conhecimentos. Não significa imagem tem uma função diferente. Depende
uma visão mais contemporânea (NUCCI, 2018). impor uma escala de valores, de certo e da experiência de cada um em diferentes
errado, e sim fazer uma transição de um tempos e lugares, em diferentes momentos FERNANDA RODRIGUES
Para o autor, as crianças enriquecem pensamento ao outro. Isso precisa ocorrer para cada criança, conforme a sociedade na AURELIANO
seu modo de pensar quando a imagem de forma integrada, respeitando o universo qual está inserida. Isso propicia às crianças
vem ao encontro delas, ou seja, o educador simbólico e lúdico da criança, e, ao mesmo questionamentos que as convidam a assumir Graduada em Pedagogia pela Uninove (2006); Pós-
precisa selecionar o que está ao alcance do tempo alimentando-o culturalmente. Com desafios, fazendo perguntas que as levam a Graduada em Docência do ensino Superior pela
aluno, sejam imagens da televisão, jogos oportunidades reais de contato com imagens imaginar respostas possíveis para elas por Faculdade Campos Salles (2018); Professora de
de internet, outdoors, fotos de jornais ou que demonstram a cultura em toda a sua meio do que veem. É importante também Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.
revistas, pichações e propagandas, pessoas complexidade, as crianças podem sentir oferecer imagens que possam sugerir
vestidas cada um a seu gosto, entre outras, os diálogos da época retratada, perceber caminhos para criações e pesquisas das
pois, estas imagens e elementos visuais diferentes comportamentos. crianças. Como citado durante a pesquisa, REFERÊNCIAS
estão carregados de informações sobre buscar imagens que além de sugerir
nossa cultura e mundo em que vivemos. Pelo que foi apresentado, a leitura de caminhos para as criações infantis, imagens ANDRADE FILHO, A. C.; STORI, N. O Ensino de
imagem é apenas um dos instrumentos que tragam a cultura visual e que façam parte Arte para Crianças: Uma proposta para a primeira
A cultura visual propõe que as atividades para aperfeiçoar o aprendizado, cabe ao da realidade da criança. Assim, as crianças a quarta séries do ensino fundamental. São Paulo:
ligadas a Arte passem a ir além de pinturas professor e à escola buscarem o diferencial serão capazes de analisar os significados Mackenzie, 2006.
e esculturas, incorporando publicidade, para transmitir esse aprendizado. Seja da imagem, os motivos que levam à sua ANTUNES, C. A teoria das inteligências libertadoras.
objetos de uso cotidiano, moda arquitetura, esse diferencial uma busca constante para realização, como ela se insere na cultura de Petrópolis: Vozes, 2000.
videoclipes e tantas representações visuais um trabalho recompensador trabalhando época, como é consumida pela sociedade e BARBOSA, A. M. Arte/educação contemporânea:
quantas o homem é capaz de produzir. com imagens do dia-a-dia, obras de Arte, as técnicas utilizadas pelo autor. Ao final, consonâncias Internacionais. São Paulo: Cortez,
E as crianças vão descobrir as próprias contemporâneas ou não, dentro ou fora do pode-se afirmar que o desenvolvimento 2006.
concepções e emoções ao apreciar uma espaço escolar. dessa pesquisa foi muito enriquecedor, BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.
imagem. O professor precisa despertar o avaliando e reavaliando o que foi pesquisado Parâmetros Curriculares Nacionais: arte. Brasília:
e pensando nas atitudes como educadora. MEC/SEF, 1997. Disponível em: <http://portal.

314 315
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro06.
pdf>. Acesso em: 14 ago. 2019. OTT, R. W. Aprendendo a olhar: a educação
orientada pelo objeto em museus e escolas.
COLLIONI, D. A. L. A Leitura de Imagem São Paulo: MAC, 1989.
como Instrumento para o Ensino da
Arte na Educação Infantil. Disponível ______. Ensinando crítica nos museus. In:
em: <http://www.trabalhosfeitos.com/ BARBOSA, A. M. (Org.). Arte-Educação:
ensaios/a-Leitura-De-Imagem-Como- leitura no subsolo. São Paulo: Cortez, 1997.
Instrumento/53260910.html>. Acesso
em: 14 ago. 2019. PILLAR, A. D. A Educação no Olhar no Ensino
das Artes. Porto Alegre: Mediação, 2003.
DERDYK, E. O desenho da figura humana.
São Paulo: Scipione, 1990. RAFFA, I. Fazendo Arte com os Mestres. São
Paulo: Escolar, 2006.
FELDMAN, E. Metodologia de trabalho.
Pesquisa apresentada no curso Arte e REGO, T. C. Vygotsky – Uma perspectiva
Crítica realizado no MASC-USP. São histórico-cultural da educação. 17ª ed.
Paulo: 1993. Petrópolis: Vozes, 1994.

GENTILE, P. Cultura visual – Ensine o


aluno a ler as imagens do cotidiano. Revista
ROSSI, M. H. W. Imagens que falam: Leitura
da arte na escola. 2ª. ed. Porto Alegre:
LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A LEITURA E
Nova Escola. São Paulo: Abril, 2009. Mediação, 2006. A ESCRITA
HERNÁNDEZ, F. Catadores da Cultura SANTAELLA, L. Leitura de imagens. São
Visual: Proposta para uma nova narrativa Paulo: Melhoramentos, 2012. RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo principal contribuir para com a formação
educacional. Porto Alegre: Mediação, de cidadãos críticos e participativos, destacando a importância da prática de leitura na
2007. STRICKLAND, C. Arte Comentada da Pré- Educação Infantil e ainda, demonstrando através da escrita a relevância do educador na
História ao Pós Moderno. Rio de Janeiro: formação de novos leitores. E, em virtude do tratamento dado pelos autores pesquisados,
LOPES, E. S. As Artes na Educação Infantil. Ediouro, 2001. compreende-se que a prática da leitura na Educação Infantil é de fundamental importância,
2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2008. possibilitando a formação desde cedo de novos alunos leitores, sendo o educador um
MONTEIRO, S. C. F. Aprendendo a ver: VITORINO, I. Consumo infantil. Revista ser mediador, pois será sua responsabilidade proporcionar as crianças espaços adequados de
as escolas da/ na escola. In: ALVES, N.; médico. 39ª. ed. São Paulo: CREMESP, 2007. leitura, transformando estes espaços em situações prazerosas de aprendizagem. Entretanto,
SGARBI, P. Espaços e imagens na escola. cabe ressaltar que, além de competência, o profissional da Educação Infantil deve ser um
Rio de Janeiro: DP&A, 2001. leitor, e ainda, criativo, pois nunca como hoje a leitura foi tão importante.

MORENO, C. da C. Leitura de imagens


na Educação Infantil: análise discursiva.
2016. 136 f. Dissertação (Mestrado) Palavras-chave: Educação; Leitura; Conhecimento.
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,
Universidade de São Paulo, 2016.

316 317
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo contribuir realmente a leitura é trabalhado na educação Com o tempo, passou-se, então, a com Nelly Coelho (2000), o espaço da escola
para com a formação de cidadãos críticos infantil, então nossas crianças serão futuros preocupar-se com a escrita, a forma em como pode ser dividido em 2 ambientes um seria
e participativos, destacando a importância leitores críticos e participativos. Entretanto, fixar os códigos estabelecidos. Inicialmente, estudo programado (sala de aula, bibliotecas
da prática de leitura na Educação Infantil para a realização deste trabalho, tornou- as anotações eram feitas em tabuletas de para pesquisa etc.) e outro espaço que seria
e ainda, demonstrando através da escrita se necessário uma pesquisa bibliográfica, argila, mais tarde em papiros, depois em de atividades livres (sala de leitura, recanto
a relevância do educador na formação de de cunho qualitativo, com base em autores pergaminhos, papéis de baixo custo, mas de invenções, oficina de palavra, laboratório
novos leitores. Com os avanços tecnológicos que conceituam a importância de leitura na perecíveis, onde o escriba documentava a de criatividade etc.). Nesta dualidade de
e as transformações educacionais percebidas educação infantil. informação oral recebida, seja do poeta, seja ambientes o aluno assimila as informações e
na área de língua portuguesa nos últimos do administrador que deseja contabilizar seus conhecimentos, e é estimulado para liberar
anos, nota-se cada vez mais a necessidade COMO SURGIU A LEITURA ganhos e propriedades. suas potencialidades específicas em cada um
de atualização dos profissionais do ensino na dos ambientes.
intenção de viabilizar um ambiente escolar em Segundo Martins (1994: 07), “o ato de ler Este trabalho individual, especializado e de
consonância com as novas teorias de ensino é usualmente relacionado com a escrita, e difícil circulação, prolongou-se até o século Segundo Edmir Perrotti apud Maricato
e, ao mesmo tempo, atraente aos alunos. o leitor visto como decodificador da letra”. XV da era cristã, quando a invenção dos tipos (2005 p.25), quanto mais cedo às crianças
Entende-se que é primordial a atividade de Começamos a compreender, a dar sentido móveis e da impressão mecânica propiciou, tiverem contato com histórias orais e escritas,
leitura na educação infantil para a formação ao que e a quem nos cerca, são os primeiros pela primeira vez, a produção em escala maiores serão as chances de gostarem de ler.
de leitores que possam desfrutar dessa passos para aprender a ler. Um aprendizado industrial de textos impressos. Para que todo Ao folhear um livro, tocá-lo e observar suas
ferramenta indispensável, não somente no mais natural do que se costuma pensar, mas material pudesse ser lido e divulgado, surgiu figuras, mesmo que ainda não decodifique
espaço escolar, mas estendendo seu uso para tão exigente e complexo como a própria vida. a preocupação de como ensinar o povo a a língua escrita, a criança está ao seu modo
toda vida. Para aprender a ler e compreender o processo ler. Foi então que se instituiu a escola como praticando a leitura e, esta prática de leitura
da leitura, não estamos desamparados, temos entidade encarregada de ensinar, pois havia a é denominada de “Letramento” por Magda
Nesse sentido, é necessário estimular condições de fazer algumas coisas sozinhos e necessidade da decodificação das letras por Soares apud Maricato (2005 p. 18).
o desenvolvimento dos alunos através de necessitamos de alguma orientação. todos.
relações estabelecidas com seus aprendizados A leitura, como produto de uma escola
trazidos do meio familiar empírico, motivando- No conceito de Zilberman (1999), “tudo Mesmo não possuindo pessoal qualificado atuante e preocupada em valorizar a educação,
os ao estudo prazeroso da leitura e levando começou quando a sociedade precisou criar para desempenhar essa tarefa de decodificar passou a ocupar uma posição de destaque
em conta seu convívio social. Assim, nota-se a um código reconhecido e aceito por todos, as letras e a alfabetizar, a escola instituiu os em nossa sociedade contemporânea,
relevância de se trabalhar dentro da realidade o qual seria usado para operar as relações escravos da época, que eram os que sabiam possibilitando ao indivíduo ascender ao
da criança transformando o conhecimento familiares, sociais e econômicas”, ou seja, ler, para ensinar a ler, a decifrar e decodificar mundo do conhecimento, fazendo parte da
do senso comum e científico, respeitando começamos a ler desde quando nascemos, a palavras, pois o leitor deverá, em primeiro, parcela que acumula o “capital financeiro”.
o seu estágio de desenvolvimento. O pois começamos a decodificar todos os sinais lugar decifrar a escrita, depois entender a Dessa forma, portanto, a história da leitura
presente trabalho vem buscar compreender emitidos por todos ao nosso redor. Nesse linguagem encontrada. faz parte da história da sociedade capitalista,
a importância da leitura na educação infantil, mesmo contexto para Zilberman (1999), “o Segundo Rosana Becker apud Maricato onde a política, para valorizar a leitura
além de investigar modos de ampliar, de ensino da leitura e da escrita na Antigüidade (2005 p. 22) para trabalhar literatura com as como idéia, precisa estar vinculada ao fator
forma autônoma e criativa, o interesse dos Clássica (Grécia e Roma) enfatizava de tal crianças é preciso possibilitar a elas o contato econômico (Zilberman,1999).
alunos com relação ao prazer de ler. Todavia, forma o domínio do alfabeto, no ensino com os dois materiais: aquele que é para ser
falar da leitura no contexto escolar é falar do nome e da forma das letras a ponto de lido (livros, revistas, jornais, entre outros) e, Assim sendo, o leitor de hoje é
no vazio, se não partimos para a prática da o processo iniciar-se pela caligrafia e pelo aquele que é para ser rabiscado (folha sulfite, produto daquele que inicialmente não se
leitura desde a educação infantil. Assim, se reconhecimento oral do nome de cada letra”. caderno de desenho, lousa, chão). De acordo preocupava em aprender a ler pelo prazer

318 319
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

da leitura, mas sim, para fazer parte da paradidático ou outro, a educação artística se tornam mais complexas e requerem É, portanto, papel de uma instituição
pequena parcela da sociedade que detém e o ensino da leitura. O país, desde que se uma linguagem de melhor qualidade. educativa democratizar o acesso às
o poder; daí a necessidade de reformular tornou uma nação independente, luta para práticas sociais da leitura e da escrita
valores, estabelecer novos objetivos e derrubar as altas taxas de analfabetismo. A leitura de modo geral amplia e que estão presentes no mundo letrado,
direcionamentos para o velho ensino da Entretanto, deve-se discutir o tipo de método diversifica nossas visões e interpretações disponibilizando a todas as crianças as
leitura, pois graças aos conhecimentos atuais escolhido para alfabetizar, tendo em vista os sobre o mundo e da vida como um todo. informações necessárias para pensar sobre
da lingüística, hoje é possível compreender seguintes fatores: o porquê de se ensinar a ler, Precisamos estar atentos a esta questão, sua própria língua. (AUGUSTO, 2008, p.
como a leitura se tornou mais fácil. o bloqueio entre o analfabeto e o processo pois a ausência da leitura em nossa vida 188). O contato com a leitura não garante
de alfabetização e a realidade do analfabeto. bloqueia a possibilidade e acaba de certa que todas as crianças leiam autonomamente
A história da leitura no Brasil é patrocinada forma, nos excluindo dos acontecimentos, ao final da Educação Infantil, mas assegura
pela literatura que ainda hoje busca sua real Por outro lado, a escola pouco é da interpretação, da imaginação e da ficção a elas o direito de pensar sobre o assunto,
identidade. No período colonial, os poetas qualificada para ensinar a ler, o professor arquitetada pelo autor, seja num romance de explorar idéias sobre o que se lê. Sendo
não possuíam uma identidade legitimamente não é suficientemente preparado e é mal ou num artigo; numa crônica ou num conto, nessa faixa etária que a criança tem o maior
brasileira, pois se julgavam portugueses. Daí remunerado pelo Estado, e as obras literárias numa poesia ou num manifesto, num jornal tempo disponível pra ouvir leituras ou fazê-
a dificuldade encontrada em se escrever a que são utilizadas em sala de aula não ou num ensaio, num gibi ou numa história las de forma descompromissada somente
história literária nacional. A literatura, como conseguem formar bons leitores. É inegável infantil ou infanto-juvenil, enfim, são pela curiosidade de descobrir o que tem nos
instituição patrocinada pela leitura, há a importância da escola na construção da inúmeras as possibilidades de mergulhar no livros, o sentido das palavras escritas, sendo
tempos vem lutando para ser reconhecida leitura no Brasil. Contudo, é preciso que seja mundo da fantasia e da realidade encontradas assim, cabe a nós oferecer desde cedo, o
dentro do país, produzindo temas de feita uma análise realista do difícil caminho no mundo das palavras (DAUTO, 2006). contato com a leitura ou contação de histórias
interesse local; lutando pela constituição por onde passa a leitura em nosso país e de de boa qualidade. Sabemos que a criança que
de seu público; reivindicando, enquanto como se dá a ênfase à leitura, pois segundo Na Educação Infantil, o professor tem um cresce ouvindo história cresce mais feliz.
categoria de escritores, seus direitos; Barone (2005:33), “é importante enfatizar papel fundamental, pois é por meio de suas
escolhendo o caminho da profissionalização que a aprendizagem da leitura e da escrita ações que as crianças podem usufruir da A criança é imaginativa, exercita a
por vias paralelas à imprensa, à política ou à traz questões para o aprendiz, mais amplas, leitura e a escrita. O que ele faz é basicamente realidade através da fantasia, mas precisam
institucionalização de um nome, o do escritor, que rompem os limites estreitos colocados um trabalho de aproximação e familiarização de materiais exteriores – todas as formas
em detrimento da arte por ele produzida. pelas diferentes abordagens teóricas”. com essa linguagem, que pode ser organizado de escrita – contos – histórias, fábulas,
Assim, a literatura, apesar dos avanços e em torno de algumas oportunidades. poemas, cantigas, músicas, para se constituir
recuos, revela a natureza dialética da história A IMPORTÂNCIA DA INICIAÇÃO À Quando alfabetizamos, tratamos de como pessoa inserida em uma sociedade.
da leitura, a qual tem a ambição de narrar o LEITURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL incluir todas as crianças no contexto da Assim, aprender a recontar as histórias
progresso. cultura escrita, acolhendo suas diferentes tradicionais de sua cultura, preservando as
Na Educação Infantil, a criança amplia práticas sociais e o sentido que isso tem características da linguagem escrita, apreciar
Nesse processo de crescimento, a história seu círculo de conhecidos, torna-se mais para elas. (AUGUSTO, 2008, p.188). bons textos, desenvolver comportamentos
da leitura se liga intimamente à história da independente, estende os limites das relações Alfabetizar é acompanhar de perto um leitores, compreender os usos e funções
educação, elegendo a escola como espaço familiares e estabelece comunicação com longo processo que, ao se iniciar na Educação da escrita e utilizá-los quando necessário,
de aprendizagem, valorização e consolidação mais pessoas, principalmente com crianças de Infantil pode criar condições necessárias refletir sobre como se grafa a língua que se
da leitura. Desse modo, para se trabalhar sua idade. Essa ampliação das relações requer para que as crianças se familiarizar com fala são algumas das aprendizagens dessa
a leitura na escola, é necessário levar em da criança um bom domínio de seus meios de a linguagem escrita e possam usá-la no fase da vida. (AUGUSTO, 2008, p.190)
consideração o método de alfabetização, comunicação, principalmente da linguagem. seu cotidiano. (AUGUSTO, 2008, p.188). Um professor leitor apaixonado pela
o tipo de livro escolhido se didático, Além disso, as atividades das crianças leitura transmite essa paixão. Quando conta

320 321
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ou lê uma história para seus alunos transmite São por meio da leitura que ampliamos apresentam um melhor desempenho. É na opera vários circuitos ao mesmo tempo:
esse sentimento, proporcionando prazer nossas habilidades e competências escola que a criança encontra espaço aberto os que armazenam o vocabulário, a
àqueles que o escutam, porque lê com mais nas áreas da criticidade e criatividades para eventos culturais e educacionais gramática, o discurso e a interpretação e
emoção. Esse professor educa com mais ambas as características indispensáveis preciosos e desafiadores, que vão além cada uma destas funções tem lugar certo
afetividade, pois a leitura promove esse ao letramento e à prática da cidadania. do momento didático de sala de aula. no cérebro. Em Fonseca encontramos
momento afetivo, de proximidade, faz aflorar como se processa no cérebro a leitura
a emoção. Precisamos de alunos leitores, para Pode-se dizer que a leitura é um meio e O professor tem que atuar de forma oral: a leitura, um dos processos mais
promoção do desenvolvimento intelectual, um fim para nós auxiliares na aquisição/ polivalente porque é na escola que muitas complexos da aprendizagem, compreende
psicológico e social deles. Queremos formar apreensão do conhecimento, ler não significa situações vivenciadas pelas crianças são a discriminação visual de símbolos gráficos
indivíduos capazes de entender o mundo ter sempre em mãos um belo livro. Ler é descobertas, principalmente falando (grafemas) através de um processo de
e de se fazer entender dentro e fora da muito mais que decodificar palavras e textos, do processo ensino aprendizagem. A decodificação que se passa no segundo
escola. A leitura possibilitará isso, uma vez é antes de tudo atribuir-lhes alma, lemos até escola é o local onde acontece de forma bloco, só possível com um processo de
transformada a escola em um veículo para mesmo com o coração, em que a leitura é feita efetiva o processo de leitura e escrita. atenção seletiva regulado pelo primeiro
a descoberta do prazer de ler. Mas a escola por meio do silêncio, da lágrima ou do sorriso. Sabemos que uma grande parte da taxa bloco. Posteriormente, e ainda na mesma
pode ir além, convidando os pais ou outros de evasão escolar procedente das crianças unidade, há que selecionar e identificar
membros da família para participar do projeto. DIFICULDADE NA e adolescente pode estar associada com os equivalentes auditivos (fonemas)
APRENDIZAGEM DA LEITURA Transtornos das Aprendizagens. Em relação através de um processo de análise e
Através da leitura a criança amplia o ao desenvolvimento da aprendizagem de transdução, de síntese e comparação, a
conhecimento de família, de pai, de mãe, de Para dar solução ao fracasso escolar é leitura e escrita, o professor deve estar fim de edificar a busca da significação
avô e avó, de amigo, de casa, de espaço, de necessário elaborar um plano de prevenção atento a alguns sinais, pois sabemos (conjectura) e avaliar os níveis de
imagens, de mundo. E nesse percurso ela nas unidades escolares. A escola tem que a dislexia vem a ser um transtorno compreensão latentes (AUGUSTO, 2008).
aprende a escutar, nas vozes, nas palavras que a função de preparar a criança para o de aprendizagem na área da leitura e
falam da importância nas vitórias, nas derrotas, ingresso na sociedade promovendo as podendo já ser diagnosticada na Educação A partir daqui, surgirá uma nova
das aventuras, dos mistérios, das fantasias e aí aprendizagens e conhecimento de mundo. Infantil, pelo fato de as crianças com essas operação de equivalência que compreende
vão tecendo novos caminhos em suas mentes As pesquisas atuais mostram que as escolas dificuldades apresentarem alguns sinais a codificação, ou seja, a rechamada dos
e construindo novidades em suas vidas. não devem mais trabalhar com dados comuns como: dificuldades na pronúncia, articuladores, mas que serão executados
quantitativos, pois toda a dimensão no ato dificuldades de seguir regras, de recontar e verificados na área de Broca, isto é,
A leitura iniciando já na Educação de ensinar e aprender devem ser firmados uma seqüência da história, problemas no terceiro bloco. “Dos motoneurônios
Infantil torna a criança mais independente na qualidade de ensino, na utilização de de coordenação motora, desinteresse superiores frontais, a linguagem interior
e crítica. E sua prática faz que se torne novas ferramentas e de todos os recursos por livros, escritas, etc., essas crianças se transformará em linguagem expressiva,
algo necessário, pois a mesma tem a que promova o sucesso da criança na escola. respondem bem na oralidade e sua através da oralidade, ou seja, da produção de
capacidade de transportar a criança para principal dificuldade é entre a letra e o som. sons articulados”. (FONSECA, 1995, p. 165).
qualquer local em qualquer momento, Portanto se faz necessário estar atentos Todas essas funções caracterizam a
desenvolvendo a criatividade, levando a aos processos avaliativos, muita atenção Sabemos que uma boa mediação aprendizagem da leitura. Um problema
resolver situações sem que ela perceba. com os métodos e crenças, estratégias o professor poderá diagnosticar num desses blocos: 1º bloco (Cerebelo) –
pedagógicas, relação professor-aluno – aluno precocemente e efetivar um trabalho responsável pela atenção seletiva; 2º bloco
Tal qual dizem os poetas, ler é embrenhar- professor, devendo sempre buscar o apoio em equipe de forma multidisciplinar no (Lóbulo Parietal) – responsável pelo processo
se em um mundo de magia, diversão e, acima da família e efetivar uma boa interação com encaminhamento e no acompanhamento de decodificação ou 3º bloco (Lóbulo Frontal)
de tudo, de conhecimentos inigualáveis. a comunidade escolar. Sabemos que uma da criança para tratamento podendo – responsável pelo processo de codificação
criança valorizada, estimulada é criativa e superar essas situações. Para ler o cérebro com certeza afetará a aprendizagem

322 323
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

da leitura causando alguma dificuldade. pois será de sua responsabilidade atribuir atualizada e abrangente, a leitura foi tão importante. Assim, o desafio está lançado! São
à literatura uma finalidade significativa muitas informações importantes, não é mesmo? E elas não se esgotam aqui! Podem dar
CONSIDERAÇÕES FINAIS à vida da criança de ser e estar no continuidade e assim vamos seguindo nossa caminhada. Lembrando que: “Caminhante,
mundo. O educador deverá avaliar-se não há caminho, se faz caminho ao caminhar” (FREIRE, 1998). Assim, meus queridos,
No presente trabalho, procuraram-se continuamente, buscando na teoria sigam seus caminhos e jamais desistam de seus sonhos, suas metas e de seus projetos.
algumas considerações sobre a prática da respostas para a sua prática. Ou seja, o
leitura observada no dia-a-dia. Em seguida educador deve teorizar a sua prática e
um breve contexto histórico sobre a colocar em prática sua teoria. É isto que
leitura, o conceito de leitura e sua função, este estudo propõe: “Leitura: maneiras
caracterizando-a como um instrumento de ensinar, maneiras de aprender – uma
de integração pessoal e social. E ainda, possibilidade teórica que se efetiva
a importância da prática da leitura na na prática. Por meio das leituras e da
Educação Infantil, como contribuição na pesquisa realizada pode-se afirmar que
construção do pensamento da criança e as crianças com hábito de leitura poderão
dificuldades de aprendizagens da leitura. ser mais ativas, terem mais desenvoltura,
Entretanto, ao longo deste trabalho buscou- argumentos, poder de reflexão e
se inspiração, sobretudo, na crença como crítica da qualidade dos textos lidos, e
educadora, que o futuro está na educação, principalmente, capazes de inventar,
principalmente na Educação Infantil. Quanto renovar e discordar, de ler além das
ao interesse pelo tema, o mesmo originou-se palavras, assim, tornando-se realmente,
pelo fato de observação durante o período cidadãos críticos e participativos.
de Estágio Curricular Obrigatório do curso
de Pedagogia, no acompanhamento do Dessa forma, em virtude do tratamento FERNANDA SAMPAIO GOMES
desenvolvimento constante das crianças. Por dado pelos autores pesquisados,
essa razão encontram-se sempre cheias de compreende-se que a prática da leitura Licenciada em Letras (Português/Inglês) em 2005. Professora de língua Inglesa no
dúvidas e curiosidades, pois elas vivem em na Educação Infantil é de fundamental Ensino Fundamental II, e médio pela Rede Municipal de Ensino.
uma sociedade letrada, com muitos atrativos importância, pois a mesma possibilitará a
tecnológicos, o que despertam a curiosidade formação desde cedo de alunos leitores.
e a vontade de ler e escrever antes mesmo Compreende-se também, o quanto
de freqüentarem a escola, principalmente é importante o papel mediador do
no que se refere às séries iniciais, frente educador, pois será sua responsabilidade
a esta realidade, tornou-se relevante uma proporcionar as crianças espaços
abordagem sobre a importância da prática da adequados de leitura, transformando
leitura na Educação Infantil, demonstrando estes espaços em situações prazerosas
assim, através da escrita a relevância do de aprendizagem. Entretanto, cabe
educador na formação de novos leitores. ressaltar que, além de competência, o
profissional da Educação Infantil deve
A iniciação à leitura pela criança na ser um leitor, e ainda, criativo, pois
Educação Infantil, percebemos o quanto é nunca como hoje, em que as relações
importante o papel mediador do professor, globalizadas exigem a informação

324 325
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS damental – Brasília: MEC/SEF, 1998;

AUGUSTO, SILVANA. Alfabetização inicial: REZENDE, Vânia Maria. Literatura Infan-


um mundo a descobrir através das letras. til e Juvenil. Vivências de leitura e ex-
In: São Paulo. Secretaria da Educação. Edu- pressão criadora. Rio de Janeiro, 1993.
cação: fazer e aprender na cidade de São Pau-
lo. São Paulo: Fundação Padre Anchieta,2008. UNIP, Universidade Paulista.Apostila – Ped-
agogia – Estrutura e organização da escola
BARBOSA, Josefina. Tradução, BALTHAR, de Educação Infantil, Práticas e Projetos.
Francisco Peixoto. Funções da leitura. 1991.
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Lingua-
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Edu- gem. São Paulo: Martins Fontes, 1996
cação Nacional. Lei n° 9.394/96, Brasil, 1996
ZILBERMAN, Regina. A leitura no Bra-
CHARMEUX, Eveline. Aprender a ler: ven- sil: sua história e suas instituições.
cendo o fracasso. São Paulo: Cortez, 2000. Disponível em:< HTTP://www.uni-
camp.br/iel/memoria/ensaios/Regi-
CODEMARIN, Mabel; ALEJANDRA, Viviane. na.html>. Acesso em: Junho de 2019.
Oficina da Linguagem. Cidade: Moderna, 1999.
YUNES, Eliana; PONDÉ, Glória.
Leituras e leituras da literatu-
COELHO, Nelly Novaes. Literatu-
ra infantil. São Paulo: FTD, 1988. A TECNOLOGIA COMO UMA METODOLOGIA ATIVA DE ENSINO
ra infantil, teoria, análise, didáti-
ca. 1ª ed. – São Paulo. Moderna, 2000.
RESUMO: Este artigo tem como objetivo apontar de que forma a tecnologia pode ser utilizada
como uma metodologia ativa de ensino. Partindo-se do fato de que a geração alpha tem
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holan-
da. Miniaurélio: o minidicionário da lín- demandado novas formas de aprendizagem, sobretudo por terem fácil acesso às informações,
gua portuguesa. 6. Ed. Curitiba: Poli aponta-se que, cada vez mais, as formas tradicionais do processo de ensino-aprendizagem
serão abandonadas e substituídas por metodologias ativas de ensino. Nestas metodologias,
FONSECA, Vitor da. Introdução às dificuldades de os alunos são os protagonistas do processo de ensino-aprendizagem, pois não são agentes
aprendizagem. PortoAlegre:Artes Médicas, 1995. passivos que apenas absorvem o conhecimento transmitido pelos professores. São sujeitos
ativos que, conduzidos pelo professor, buscam o conhecimento e refletem sobre ele, bem
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: sa- como sobre suas implicações para o ambiente em que vivem. Nesse contexto, as tecnologias
beres necessários à prática educativa. São de informação e comunicação, quando bem utilizadas sob as diretivas dos professores, podem
Paulo: Paz e Terra, 1998b. (Coleção Leitura). se tornar uma ferramenta crucial para despertar e manter o interesse dos alunos durante o
processo de ensino-aprendizagem em sala de aula. Aos professores, além da ampliação de seu
MARICATO, Adriana. O prazer da leitura se ensi- papel, caberá aceitar que a tecnologia será parte fundamental do ensino e buscar formas de
na. Criança. Brasília. s/v, n. 40, p. 18-26, set.2005; aperfeiçoar-se na missão de educar. Por fim, comenta-se sobre uma experiência envolvendo o
uso de tecnologia para o ensino fundamental ciclo II.
MARTINS, Maria Helena. O que é lei-
tura. 9. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994
Palavras-chave: Metodologias ativas de ensino; Processo de ensino-aprendizagem; Tecnologia.
Referencial curricular nacional para a edu-
cação infantil / Ministério da Educação e
do Desporto, Secretária de Educação Fun-

326 327
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
Dessa forma, o objetivo deste artigo déficit de atenção e outras patologias. O fator
Os avanços da tecnologia têm permitido apropriada” (TUTORES, 2019). torna-se, justamente, investigar a tecnologia analisado é o impacto das mudanças sociais –
usos cada vez mais diversificados: das como uma nova metodologia de ensino a saber, a tecnologia – sobre a forma como a
comunicações instantâneas, ao acesso a O papel da educação, neste novo contexto, ativa, que possa atender necessidades de geração alpha tem exercido sua atenção aos
informações e notícias, passando pelas será de conciliar a transmissão de saberes professores e alunos no processo de ensino- conteúdos em sala de aula. Pode-se afirmar
formas de entretenimento. Nesse contexto, com formas de evitar-se que a grande aprendizagem. Para tanto, utiliza-se uma que há uma forte correlação entre atenção
saber lidar com a primeira geração digital – quantidade de informações disponíveis metodologia qualitativa, de modo a analisar e aprendizagem: ambas se relacionam ao
a geração alpha, nascida a partir dos anos a todo momento torne-se desconexa a relação entre a atenção e a aprendizagem, modo como as informações ao nosso redor
2010 – totalmente conectada à internet, da realidade. O conhecimento não será bem como a forma como as práticas serão processadas. Em uma sala de aula,
sobretudo via celular, tem sido um desafio, transmitido de modo quantitativo, ou seja, pedagógicas permitem a efetivação desta várias informações devem ser processadas
inclusive dentro do ambiente escolar. Dentre por meio de conteúdos em excesso, já que relação – assunto abordado na primeira em razão dos diferentes estímulos que
estes desafios, encontra-se a capacidade de as tecnologias de informação e comunicação seção –, e analisar como a tecnologia pode ocorrem simultaneamente (sons dentro e
comunicação por meio de interações pessoais, garantem o acesso à informação. O ser uma aliada na prática pedagógica – tema fora do ambiente, movimento de colegas, a
visto que as relações têm se tornados virtuais, processo de ensino-aprendizagem será da segunda seção do artigo – e finaliza- explicação do professor, a temperatura da
intermediadas por aplicativos imediatistas. estruturado em torno de quatro pilares da se a discussão apresentando a experiência sala, pensamentos individuais, conversas
Além da impessoalidade das relações, educação: aprender a conhecer, aprender de uso de aplicativos como ferramenta de paralelas ou relacionadas ao tópico em
problemas como déficits de atenção podem a fazer, aprender a viver juntos e aprender ensino para alunos do ciclo II do ensino questão, dentre outros). É em meio a este
se tornar recorrentes (GLOBO, 2019), a ser (DELORS et al, 1996). De modo geral, fundamental. ambiente que os alunos devem realizar seu
resultando a necessidade de investigar como aprender a conhecer e aprender a fazer têm esforço de concentração para que a aula
utilizar a tecnologia para a promoção de um sido os pilares norteadores do processo de ATENÇÃO, ENSINO E PRÁTICA se torne seu foco e o processo de ensino-
processo de ensino-aprendizagem efetivo. ensino-aprendizagem. PEDAGÓGICA aprendizagem seja efetivo (BUSSULAR,
Porém, com as mudanças em pauta, 2019).
Com a geração alpha, portanto, surgem caberá aos professores não apenas Um dos estados fundamentais e altamente
novas demandas no que diz respeito ao oferecerem o conhecimento, mas também cobrado em sala de aula é a atenção dos A atenção é condição necessária para
ensino. Por contarem com o fácil acesso à ajudar os “alunos a encontrar, organizar e alunos – estado da mente que permite aos que os indivíduos – dentro ou fora da sala
tecnologia de informação e comunicação, gerir o saber, guiando mas não modelando ouvintes receberem informações de forma de aula – possam compreender e adaptar-se
a tendência é que estas crianças se tornem os espíritos, e demonstrando grande firmeza passiva – e que, associada ao foco, acaba ao mundo e às mudanças que nele ocorrem.
mais autônomas no aprendizado, com novas quanto aos valores fundamentais que devem sendo dirigida ao estímulo que consideramos Por outro lado, a atenção também é moldada
necessidades e interesses. Ademais, esta orientar toda a vida” (DELORS et al, 1996, mais relevante dentre vários outros estímulos pelas modificações que ocorrem ao longo da
geração, cada vez mais, demandará uma p. 155). Considerando-se estas mudanças, recebidos. A atenção pode ser seletiva, história nas práticas, discursos e tecnologias;
relação de ensino-aprendizagem menos origina-se o problema de pesquisa aqui quando se escolhe apenas um estímulo e, é nesse sentido que, em um mundo
sistematizada e hierarquizada, de modo que delimitado: de que modo é possível utilizar para focar, ou dividida, quando mais de um pautado pela tecnologia e pela velocidade e
os professores deverão se adequar a essas as novas tecnologias como metodologia estímulo é objeto de foco ao mesmo tempo excesso de informações, surge a necessidade
mudanças para que consigam transmitir de ensino ativa e efetiva para garantir a (BUSSULAR, 2019). de conseguir estar atento a diversos pontos
conhecimento aos alunos, além de educá-los atenção e o aprendizado dos alunos. E ainda: de interesse simultaneamente, a fim de
para uma cidadania digital, ou seja, “ensinar como preparar os professores, adaptados às Ainda que relevante, não cabe, na análise processar toda a informação recebida
as crianças a usar a internet e as novas formas tradicionais de ensino, para lidarem aqui realizada, discorrer sobre a questão da (NARDIN; SORDI, 2007).
tecnologias de forma responsável, ética e com essas mudanças. falta de atenção por fatores biológicos, como

328 329
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

As novas tecnologias de informação pelos professores para manter a atenção de mediador, ativador e facilitador do processo, A TECNOLOGIA ALIADA AO
e comunicação acabam por influenciar seus alunos. ou seja, o professor como um ator capaz APRENDIZADO
negativamente a atenção dos alunos, de conciliar o saber e a formação humana;
sobretudo porque a competição entre uma Nesse sentido, para que o processo de a autonomia, que garante que os alunos A interação entre alunos e professores,
sala de aula e a gratificação instantânea ensino-aprendizagem seja efetivo e os alunos possam engajar-se e posicionar-se em relação portanto, é fundamental para que a atenção
dos meios de comunicação é desigual, mantenham sua atenção, é preciso que os aos temas, assumindo uma postura crítica; seja mantida em sala de aula. Nesse sentido,
visto que, ao passo que estes não exigem professores reflitam sobre suas práticas a inovação, que se associa à introdução de a tecnologia surge como uma ferramenta
esforços, aquela demanda esforço por pedagógicas, e levem em consideração seu novas metodologias de ensino; o trabalho que permite maior interação entre os
parte dos alunos, além de, muitas vezes, ser público alvo quando preparam suas aulas. em equipe para que haja interação entre sujeitos envolvidos no processo de ensino-
considerada monótona e desinteressante. Ou seja, as atividades a serem realizadas os alunos, troca de ideias e discussões aprendizagem. As tecnologias de informação
Cabe aos professores, além de transmitir pelos alunos devem ser consideradas um dos produtivas; e a reflexão e a problematização e comunicação aliadas ao processo de ensino-
o conhecimento, tornarem o processo de elementos fundamentais no planejamento da realidade, que permitem aos próprios aprendizagem ativo tornam-se viáveis e
ensino-aprendizagem e o ambiente escolar e organização das aulas, dessa forma, os alunos analisarem a realidade e tomarem efetivas quando utilizadas como ferramentas
mais atrativo às novas gerações (DELORS et alunos conseguirão manter foco e atenção consciência dela, articulando os conteúdos que estimulam a investigação e a reflexão
al, 1996). na aula, assimilando os conteúdos (DIESEL ao contexto social em que estão inseridos sobre os temas cotidianos. São, ainda, uma
et al, 2017). (DIESEL et al, 2017). forma de tornar as aulas expositivas menos
Manter os alunos atentos ao conteúdo monótonas e mais atrativas à geração alpha,
exposto exige, cada vez mais, métodos menos Se, nos métodos tradicionais de ensino, Os meios de ensino são, portanto, para a qual a tecnologia é, de certa forma,
tradicionais de ensino nos quais o professor a prioridade é que o professor transmita primordiais para o processo de ensino- uma extensão do ser.
expõe o conteúdo para uma sala silenciosa. informações e conteúdo e os alunos são aprendizagem e, nesse sentido, os meios
Muitas vezes, os alunos conseguem se agentes passivos que apenas recebem a tecnológicos permitem o acesso a novos Contudo, não se trata apenas de
interessar mais pelas exposições quando informação, nos métodos ativos a educação conhecimentos e novas experiências, muitas possibilitar o acesso às tecnologias em
as aulas são mais dinâmicas e permitem a é vista como um processo realizado por meio vezes não acessíveis de maneira real, bem sala de aula para manter a atenção, mas de
participação da turma, estruturando-se um da interação de sujeitos. Portanto, os alunos como possibilitam o ensino de competências saber utilizá-las para busca e seleção de
diálogo entre alunos e professor (DIESEL et devem ser o foco do docente para que o e a avaliação de aprendizagem. Quando bem informações que permitam compreender e
al, 2017). conhecimento seja construído de forma utilizadas, as tecnologias de informação e transformar a realidade social. É preciso que
colaborativa entre um e outros (DIESEL et al, comunicação facilitam a aprendizagem e a utilização das tecnologias no ambiente
Em entrevistas realizadas com professores 2017). tornam o processo de ensino-aprendizagem escolar democratize o acesso à informação
de ensino fundamental, Bussular (2019) mais atrativo às novas gerações. Podem, e permita não apenas a compreensão crítica
discorre sobre diversas formas utilizadas Sinteticamente, as metodologias ativas ainda, permitir o compartilhamento de do mundo, mas, sobretudo, sua modificação
pelos docentes para conseguir manter de ensino são compostas pelos seguintes experiências entre escolas de países com rumo a uma sociedade mais justa e igualitária
a atenção dos alunos. Estratégias como princípios: o aluno como centro do ensino e de diferentes níveis de desenvolvimento que garanta o desenvolvimento social,
aulas menos tradicionais, utilização de aprendizagem, de modo que possa participar econômico e social, expandindo as fronteiras cultural, humano e educacional (ALMEIDA,
linguagem mais próxima aos dos jovens, ativamente do processo de construção de do conhecimento (DELORS et al, 2019). 2008).
apresentação de conteúdos por meio de seu conhecimento, não apenas ouvindo,
slides e a conciliação de conteúdos a temas mas também pesquisando, observando, As tecnologias de informação e
relacionados a acontecimentos cotidianos interpretando, refletindo, elaborando e comunicação, no que diz respeito à
foram algumas das metodologias apontadas confirmando hipóteses; o professor como educação, devem consolidar redes

330 331
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

de conhecimento, por meio das quais fora do contexto. Por esse motivo, cabe aos para os professores, para além do domínio se que o uso de celular na escola é limitado, pois,
haverá a interação entre os sujeitos e seu professores direcionarem o uso da tecnologia das ferramentas tecnológicas. Para os logo que chegam na unidade escolar, os alunos
ambiente. Tais redes possibilitam, portanto, para que esta ferramenta corrobora com o autores, é fundamental que os professores deixam seus celulares em caixas na secretaria,
conectar uma diversidade de pessoas, com processo de ensino-aprendizagem, não se consigam compreender e assimilar esse novo podendo utilizá-los em casos de emergência com
posicionamentos e conhecimentos distintos; tornando um entrave ao ensino (PRENSKY, processo de ensino-aprendizagem, refletindo pais ou responsáveis. Por esse motivo, a permissão
bem como conformam uma rede colaborativa 2010). O primeiro passo para a introdução sobre as práticas docentes e desenvolvendo para uso do celular em sala foi uma novidade
na qual cada um dos indivíduos auxilia o da tecnologia na sala de aula é que os habilidades específicas para a utilização das desafiadora.
outro em seu desenvolvimento (ALMEIDA, professores compreendam a necessidade tecnologias.
2008). de mudança na metodologia de ensino, Com o aplicativo instalado em seus aparelhos,
conforme aponta Prensky (2010): Não se trata de substituir o professor em os alunos foram auxiliados pelos professores
Nesse sentido, os alunos poderão acessar seu papel de educador, mas de ampliar seu responsáveis pela preparação para a OBA a
o conhecimento e, mais do que isso, interagir Em vez de virem para a aula com planos de aula que digam: papel em sala de aula, de modo a transformar- compreenderem como o aplicativo de simulados
com outros estudantes de forma ativa, ou “Aqui temos três causas principais de [qualquer coisa]. Por se no “agente organizador, dinamizador e funcionava. Individualmente ou em pequenos
seja, comunicando-se, debatendo problemas, favor, façam suas anotações...!”, os professores precisam orientador da construção do conhecimento grupos, os alunos responderam questões sobre
buscando soluções e delineando críticas que começar a dizer: “Existem três causas principais para através do auxílio crítico e criativo na seleção os possíveis temas a serem abordados na prova
possam modificar a realidade. Assim, “O [qualquer coisa]. Vocês têm 15 minutos para usar suas das inúmeras informações às quais o aluno é da Olimpíada e tiraram suas dúvidas com os
grupo que trabalha em colaboração é autor e tecnologias e descobrir quais são e, depois, vamos discutir submetido cotidianamente” (HACK; NEGRI, professores em sala, fomentando o debate
condutor do processo de interação e criação. o que vocês encontraram.” (PRENSKY, 2010, p. 204). 2010, p. 93). de maneira menos tradicional do que aulas
Cada membro desse grupo é responsável expositivas.
pela própria aprendizagem e co-responsável Os professores devem, ainda, saber EXPERIÊNCIA EM SALA DE
pelo desenvolvimento do grupo” (ALMEIDA, lidar com as tecnologias de informação e AULA: OBA Os resultados em relação à utilização de
2008, p. 4). comunicação de forma crítica, para que o celulares em sala de aula surpreenderam
processo de ensino-aprendizagem por meio positivamente. Os alunos mantiveram-se focados
A tecnologia, portanto, entra na sala de aula das tecnologias seja exercido de forma A Olimpíada Brasileira de Astronomia e na atividade, utilizando o aplicativo da OBA e,
como apoio a essa nova metodologia de ensino criativa e contextualizada. Os professores Astronáutica (OBA), realizada anualmente salvo raríssimas exceções, não abriram aplicativos
ativa, centrada no aluno. Considerando-se serão os responsáveis por potencializar o desde 1998, é um evento que conta com a de redes sociais. Também foi possível notar que
que as novas formas do processo de ensino- aprendizado dos alunos, compreendendo em participação de alunos de nível fundamental e os alunos demonstraram maior interesse pelo
aprendizagem têm como norte a construção quais momentos a utilização da tecnologia médio de escolas públicas e privadas do Brasil estudo dos temas de astronomia, divertindo-se
do conhecimento pelos próprios alunos, a em sala de aula é necessária. Não é, portanto, (OBA, 2019). Ao início de 2019, os alunos do com o aplicativo e, simultaneamente, estudando
tecnologia surge como a ferramenta atraente apenas o mediador entre alunos e tecnologias, ensino fundamental ciclo II de uma escola para a prova. Alguns alunos, reunidos em
que disponibiliza as informações necessárias é, antes, o ator responsável por perceber e privada da cidade de Itobi-SP participaram pequenos grupos, jogaram competindo entre si
para leitura, compreensão, investigação e refletir sobre a utilização da tecnologia como da OBA. Não foi a primeira participação dos para descobrirem quem acerta mais questões.
debate (PRENSKY, 2010). ferramenta útil ao conhecimento (HACK; alunos, mas a preparação para a Olimpíada Dessa forma, o aplicativo mostrou-se efetivo, já
NEGRI, 2010). ocorreu de maneira diferente da dos anos que os alunos se empenharam em ler as questões
O problema em utilizar a tecnologia em anteriores. Os alunos foram instruídos pelos de forma atenta, pensar sobre elas e resolverem
sala de aula, por outro lado, repousa no Hack e Negri (2010), ao realizarem estudo professores envolvidos no projeto a baixarem o problema apontado para que conseguissem
fato de que os alunos podem desviar sua de caso sobre a utilização de tecnologias para em seus celulares o aplicativo de simulados superar os resultados dos colegas.
atenção para informações ou comunicações o ensino, sugerem formas de capacitação desenvolvido pela equipe da OBA. Ressalta-

332 333
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019
http://www.oba.org.br/site/ Acesso em: 02 jul.
2019.

CONSIDERAÇÕES FINAIS capacitem para modificar o modo como KORNHAUSER, Aleksandra; MANLEY, PRENSKY, Marc. O papel da tecnologia no ensino
ensinam, compreendendo que a tecnologia, Michael; QUERO, Marisela Padrón; e na sala de aula. Disponível em: http://www.ucs.
cada vez mais, será parte fundamental do SAVANÉ, Marie-Angélique; SINGH, Karan; br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/
A geração alpha tem exigido metodologias ensino. STAVENHANGEN, Rodolfo; SUHR, Myong viewFile/335/289%20 Acesso em: 02 jul. 2019.
de ensino que estimulem seu engajamento Won; NANZHAO, Zhou. Educação um tesouro
no processo de ensino-aprendizagem, a descobrir: relatório para a UNESCO da TUTORES. Geração Alpha e o futuro da Educação.
com aulas em formatos menos tradicionais Comissão Internacional sobre Educação para Disponível em: https://tutores.com.br/blog/
que despertam maior atenção e interesse. o século XXI. Disponível em: http://dhnet.org. geracao-alpha-e-o-futuro-da-educacao/ Acesso
As demandas dessa geração acabam por br/dados/relatorios/a_pdf/r_unesco_educ_ em: 02 jul. 2019.
fomentar o protagonismo das metodologias tesouro_descobrir.pdf Acesso em: 02 jul. -
ativas de ensino, as quais transformam os 2019.
alunos de agentes passivos para ativos,
responsáveis por buscar o conhecimento, DIESEL, Aline; BALDEZ, Alda Leila Santos;
refletir sobre este e manter discussões que MARTINS, Silvana Neumann. Os princípios
levem à compreensão do objeto de estudo. das metodologias ativas de ensino: uma
abordagem teórica. Disponível em: http://
Nesse contexto, os professores não são periodicos.ifsul.edu.br/index.php/thema/
apenas os transmissores do conhecimento. FLÁVIA CRISTINA PEREIRA article/view/404 Acesso em: 02 jul. 2019.
São os responsáveis pela condução dessa FIGUEIREDO
busca por parte dos alunos, propondo GLOBO. O que é a geração alfa, a 1ª a ser 100%
discussões e intervindo na construção do Graduação em Matemática pela Faculdade digital. Disponível em: https://g1.globo.com/
conhecimento crítico. Uma das ferramentas de Filosofia, Ciências e Letras de São José economia/tecnologia/noticia/2019/05/29/
que pode ser utilizada nas metodologias do Rio Pardo (2000); Pós-Graduação em o-que-e-a-geracao-alfa-a-1a-a-ser-100-
ativas de ensino é a tecnologia, sobretudo Psicopedagogia pela Faculdade Campos digital.ghtml Acesso em: 02 jul. 2019.
porque a geração alpha já nasceu imersa na Elíseos (2018); Professora de Ensino
e familiarizada com a tecnologia. Médio na ETEC Arnaldo Pereira Cheregatti. HACK, Josias Ricardo; NEGRI, Fernanda.
Escola e tecnologia: a capacitação docente
Contudo, a inserção da tecnologia em sala como referencial para a mudança. Disponível
de aula demanda cuidados. É preciso evitar REFERÊNCIAS em: http://www.cienciasecognicao.org/
que os alunos dispersam sua atenção do revista/index.php/cec/article/view/271
objeto de estudo, focando seu interesse em BUSSULAR, Ana Luisa. Ei! Presta atenção Acesso em: 02 jul. 2019.
assuntos não relevantes naquele momento aqui! Disponível em: https://voaed.
do processo de ensino-aprendizagem. Nesse com/2019/06/16/ei-presta-atencao-aqui/ NARDIN, Maria Helena de; SORDI, Regina
sentido, o papel do professor em sala de aula Acesso em: 02 jul. 2019. Orgler. Um estudo sobre as formas de
torna-se fundamental, como orientadores e atenção na sala de aula e suas implicações
interventores no uso da tecnologia. Cabe aos DELORS, Jacques; AL-MUFTI, In’am; AMAGI, para a aprendizagem. Disponível em: http://
professores nortearem os alunos na busca Isao; CARNEIRO, Roberto; CHUNG, Fay; www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102 OBA.
do conhecimento construído em grupo e, GEREMEK, Bronislaw; GORHAM, William; Histórico da OBA e MOBFOG. Disponível em
para tanto, é primordial que os docentes se

334 335
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
compreender direitos e deveres sob a
A inclusão de alunos com necessidades responsabilidade dos poderes públicos
educacionais especiais nas escolas regulares, quanto à normatização das leis de acesso
vem desde muitos anos, buscando sua aos discentes com deficiência visual é
institucionalização e normatização do ensino primordial para a família. Reafirmando
igualitário, com qualidade, preservando o assim a importância da qualificação dos
respeito às diferenças contidas no ambiente educadores para a educação inclusiva, para
escolar. A importância de escrever um artigo que o professor dinamiza a interação entre
sobre deficiência visual no âmbito escolar os alunos com e sem deficiência visual no
se dá na medida em que a referida temática ambiente escolar.
faz parte do cotidiano da escola e da família
vivenciado pelas pesquisadoras. Ademais, A família e a escola devem interagir
é um tema que suscita um grande debate conhecendo as dificuldades e buscando
não só num âmbito escolar como na família novos recursos necessários para o bem estar
e na sociedade. O qual se faz necessária a e desenvolvimento de potencialidades.
criação de políticas públicas voltadas para Sendo de responsabilidade do poder
qualificação de todos os educadores a fim público oportunizar e garantir as famílias,
de que seja desenvolvida interação de assistência social e serviços que favoreçam
conhecimentos entre comunidade, escola e a saúde física e mental dos indivíduos
DEFICIÊNCIA VISUAL funcionários. envolvidos. É de competência da escola,
dos gestores e demais profissionais da
Um marco inicial para a Educação Inclusiva educação adequar o ambiente de ensino
RESUMO: O presente artigo aborda a inclusão de discentes com deficiência visual no como processo educacional surge com a para atender de forma eficiente os alunos
âmbito do processo de ensino e aprendizagem. O objetivo é analisar a literatura existente e Declaração de Salamanca (1994) que, entre com necessidades educacionais especiais,
as políticas públicas direcionadas ao tema, bem como educadores para a educação especial outros méritos, prorroga a inclusão para garantindo melhores condições para inserir
priorizando o desenvolvimento da criticidade no ambiente escolar. Sendo uma revisão diversidade, em que tem como objetivo o aluno de forma consciente no processo
narrativa, que tem como metodologia de elaboração a análise crítica da literatura, com integrar as deficiências todas as crianças sócio educacional.
estratégias que busca a seleção dos estudos e a interpretação das informações contidas indiscriminadamente considerando em
nas fundamentações teóricas de livros, artigos, dissertações, teses e trabalhos de conclusão especial suas diferenças.Na sociedade Diante da complexidade do sistema que
de cursos. Observa-se que quando se trata de educação especial, a responsabilidade não historicamente entrelaçada de reminiscência envolve o alunado, as ações de um educador
é apenas do educador, mas sim de todos envolvidos neste processo, como é o caso da cultural e de práticas sociais segregadas, sozinho não atingiram com excelência os
comunidade escolar e da sociedade em geral. Baseado nos dados da pesquisa pode-se a educação especial não tem se instituído principais objetivos da educação inclusiva.
dizer que para a educação inclusiva adquirir maior fortalecimento se faz necessário um como parte do conteúdo curricular da É de competência do município e estado
comprometimento dos gestores, das autoridades governamentais e principalmente que a formação basilar, ordinário, do professor; realizar o mapeamento da demanda de
comunidade conheça os direitos que são garantidos por lei e que exijam sua aplicabilidade quase sempre é vista como uma formação sua população; orientar as instituições
na prática. especial reservada àqueles que anseiam quanto às necessidades nelas presentes
trabalhar com alunos com necessidades e instigar o desenvolvimento de novos
Palavras-chave: Metodologia; educação; família; qualificação. especiais. serviços necessários como promover e dar
publicidade através de palestras; e cursos,
Analisar a legislação específica e com profissionais especializados para

336 337
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

informar, orientar e esclarecer a comunidade determinar que “os pais ou responsáveis têm a
escolar sobre como trabalhar com alunos obrigação de matricular seus filhos ou pupilos a concepção sobre aos direitos e os ou intelectual, pois com as atividades
com baixa visão e cegueira. Assim, somente na rede regular de ensino” (BRASIL,2007). benefícios recíprocos da escolarização lúdicas permitem a troca de experiência
com a qualificação dos docentes e demais do educando com e sem deficiência e socialização entre os que enxergam e os
profissionais, a escola poderá ser considerada Também nessa década, documentos no ensino regular público e particular. que não enxergam, pois para toda criança
inclusiva quando estiver estruturalmente como a Declaração Mundial de Educação A criança com deficiência visual precisa é importante participar das brincadeiras
e conjunturalmente organizado para para Todos (1990) e a Declaração de explorar suas possibilidades através da em especial as com deficiência visual.
oportunizar aos alunos independentemente Salamanca (1994) passam a influenciar liberdade para manusear, tocar e receber Brincando elas desenvolvem habilidades
de suas diferenças um ensino com qualidade. a formulação das políticas públicas da conceitos concretos e abstratos do mundo sensoriais e motoras passando a entrar
educação inclusiva (BRASIL, 2007). que o cerca para que possa usar este em contato diretamente com as demais
O acesso de deficientes visuais no Brasil conhecimento na escola e outros ambientes. pessoas, ambiente e elevando a autoestima
deu-se através da escrita Braille, criada na As Diretrizes acrescentam o caráter da E desenvolver atividades artísticas que e interessando-se em aprender sendo um
França no século XIX, sendo o Brasil um educação especial para isto o atendimento envolvam dinâmica corporal, dança, teatro indivíduo ativo outros passos para incluir
dos primeiros países a incluir no sistema de educacional especializado suplementa ou com e sem nenhuma adequação em síntese estes estudantes na comunidade acadêmica.
ensino a nova modalidade de escrita. complementa à escolarização, no entanto, os alunos podem e devem ser inseridos
não há adoção eficaz de uma política de em quase todas as atividades da escola. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escrita Braille foi criada por Louis Braille educação inclusiva na rede pública de
– francês (1809-1852), que perdeu a visão ensino no Brasil. Somente em 1999, com Para se trabalhar as cores podemos Depreende-se que a docência se
na infância, mas manteve o interesse em o Decreto nº3.298, que regulamenta a incluir aos modelos, as formas geométricas, configura em um trabalho árduo para
estudar, e com apenas 15 anos de idade Lei nº 7.853/89, ao dispor sobre a Política texturas entre outros critérios. Iniciando os profissionais que optam pela área da
superou dificuldades para chegar ao novo Nacional para a Integração de indivíduos o aprendizado das cores em casa, depois educação, uma vez que a incumbência do
sistema de escrita destinado a pessoas com com deficiência, determina que a educação na escola. Os recursos sonoros também ensinar, do educar, recai, especialmente,
deficiência visual. especial como uma modalidade transversal são usados na educação especial, além nos ombros do professor que atua em
atenda a todos os níveis e modalidades de da observação do som dos objetos no todos os níveis de ensino: fundamental,
Sucintamente no Brasil começam a ensino, ressaltando a atuação complementar ambiente, com olfato consegue distinguir médio, profissionalizante e superior. E
assegurar o direito de todos os cidadãos à da educação especial ao ensino regular. odores diversos. Adaptar jogos aqueles já não poderia ser diferente. Entretanto,
educação através das leis de diretrizes e bases, conhecidos, como o jogo da velha, a dama, quando se trata da Educação Especial,
apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas A Portaria nº 2.678/02 do MEC aprova entre outros, mas não adequados para à qual abarca a inclusão de alunos com
no processo de ensino e aprendizagem como diretrizes e normas para o ensino, a crianças e adolescentes com deficiência visual. necessidades especiais, a responsabilidade
a falta de recursos, adequação estrutural das produção e a difusão do sistema Braille estende-se aos demais membros que direta
escolas, carência de curso de especialização em todas as modalidades de ensino, Com texturas variadas e cores ou indiretamente compõem o ambiente
aos educadores do ensino regular a nova compreendendo o projeto da Grafia contrastantes, peças e palavras ampliadas escolar: corpo técnico, o discente especial
concepção de educação especial. Braille para a Língua Portuguesa em todo e em Braille, esses jogos interessantes ou não; bem como a comunidade em
o país. Em 2004, o Ministério Público permitem a brincadeira em grupos de amigos geral, o governo e a própria instituição.
Leis da educação inclusiva divulga o seguinte documento “O Acesso com e sem deficiência visual, facilitando
de Alunos com Deficiência às Escolas a interação (SIAULYS, 2005, p. 149). O docente necessita de uma formação
O Estatuto da Criança e do Adolescente e Classes Comuns da Rede Regular”, Segundo Siaulys (2005) as crianças inicial continuada sobre os conhecimentos
(ECA), Lei nº 8.069/90, no artigo 55, reforça com objetivo de difundir diretrizes precisam brincar independentemente, específicos da Educação Especial, para
os dispositivos legais supracitados ao de inclusão a nível global, reiterando de suas condições de mobilidade física atuar em sala de aula. Igualmente, há

338 339
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

necessidade de o educador aperfeiçoar-se REFERÊNCIAS


em determinado ramo da educação especial –
deficiência visual, auditiva, intelectual dentre
outras -, objetivando o aprimoramento do ARANHA, M. S. F. SEESP/MEC. Ministério da
processo de ensino e aprendizagem de todas Educação, Secretaria de Educação Especial.
as partes envolvidas no processo educativo. Educação Inclusiva: a família. Brasília: 2004.

Além do educador que ministra aula na BRASIL. Portaria Ministerial nº 555, de


Educação Especial, o corpo técnico da instituição 05 de junho de 2007, prorrogada pela
de ensino, a saber, pedagogo; orientador; Portaria nº 948, de 09 de outubro de 2007.
supervisor; diretor e demais funcionários
da escola, precisam estar habilitados para BRASIL. Estatuto da criança e do
atender esse público especial que cada vez adolescente. Lei nº 8069, de 13 de julho de
mais está incorporando-se nas escolas de 1990. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 2002.
ensino fundamental, médio, profissionalizante
e também nas instituições de ensino superior. Política Nacional de Educação A INTERVENÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NAS DIFICULDADES DE
A qualificação do corpo técnico é requerida Especial na Perspectiva da Educação APRENDIZAGEM DOS ALUNOS
para auxiliar o professor a lidar com esse Inclusiva. MEC/SEESP. Brasília: 2007.
alunado, caso surjam problemas, e também RESUMO: O trabalho do psicopedagogo é muito importante no processo de ensino e
ajudar o aluno a sobrepujar suas dificuldades. aprendizagem de alunos, principalmente os que apresentam dificuldades escolares, pois é
através das investigações que este profissional buscará sanar ou amenizar estas dificuldades
que por muitas vezes se estendem por anos na vida do estudante. O tema A Intervenção do
Psicopedagogo nas Dificuldades de Aprendizagem de Alunos, traz uma abordagem de forma
preventiva, em que se investiga e identifica-se as possíveis causas dessas dificuldades de
aprendizagem, criando assim, novas metodologias e práticas pedagógicas diferenciadas que
estimulem as funções cognitivas que por algum motivo não foram desenvolvidas no aluno,
contribuindo assim, para a construção da autonomia e das habilidades dos alunos. O objetivo
deste trabalho é investigar as causas das dificuldades de aprendizagem dos alunos, analisar
e compreender de que maneira o psicopedagogo pode intervir neste processo. O artigo está
organizado em três capítulos, o primeiro traz informações sobre o papel do psicopedagogo
Gabrielle Cilli de Sousa Manoel em um breve histórico tendo como referencial teórico BOSSA (2007). No segundo capítulo
abordarei sobre as possíveis causas das dificuldades de aprendizagem e como referência trago
Graduada em Pedagogia pela Universidade GARCIA (1998) e LOUSADA (2002). O terceiro e último capítulo vem tratar da contribuição
Uniban em (2009); Professora de Educação do psicopedagogo diante das dificuldades de aprendizagem trazendo como referencial PAÍN
Infantil (2008) – na Rede Particular (1995) e SOLÉ (2002), seguindo de considerações finais e referenciais.
de Ensino; Professora de Educação
Infantil(2017) -Prefeitura Municipal de Palavras-chave: Psicopedagogo; Intervenção; Dificuldades; Aprendizagem.
São Paulo – CEI JARDIM SANTA TEREZA. I

340 341
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO finais e referências.


de métodos médico pedagógico realizado e só então assume a nomenclatura de
O trabalho do psicopedagogo é muito BREVE HISTÓRICO: O PAPEL DO principalmente por profissionais de medicina psicopedagogia. Ainda segundo a autora,
importante no processo de ensino e PSICOPEDAGOGO como psicólogos, psicanalistas, e educadores o psicopedagogo deve desenvolver um
aprendizagem de alunos, principalmente da motricidade da escrita e junta a esses ambiente de aprendizagem proporcionando
os que apresentam dificuldades escolares, profissionais havia o pedagogo. Esperava- ao aluno oportunidades para que ele
pois é através das investigações que este Para um bom entendimento do contexto se a união desses profissionais em conhecer demonstre através de suas ações o que
profissional buscará sanar ou amenizar sobre o papel do psicopedagogo, se faz melhor a criança e seu meio social, assim, lhe impede de aprender para que juntos
estas dificuldades que por muitas vezes se necessário um pequeno esboço histórico compreenderem melhor o caso para então consigam modificar a situação de não
estendem por anos na vida do estudante. da noção de psicopedagogia, para assim determinar uma melhor ação educadora. aprendizagem, trazendo assim, uma nova
O tema A Intervenção do Psicopedagogo compreender melhor o desenvolvimento visão do papel do psicopedagogo. Sendo
nas Dificuldades de Aprendizagem de Alunos, deste trabalho. A psicopedagogia é uma Uma das preocupações da psicopedagogia assim, o psicopedagogo deve identificar
traz uma abordagem de forma preventiva, em área de conhecimento relativamente nova na época era diferenciar os alunos que quais são os problemas de aprendizagem
que se investiga e identifica-se as possíveis quando comparada a outras profissões, não aprendem, mesmo demonstrando sua apresentados pelos alunos, suas possíveis
causas dessas dificuldades de aprendizagem, entretanto a mesma não é menos importante. inteligência, daqueles que apresentavam causas e acompanhar a evolução do paciente.
criando assim, novas metodologias e práticas alguma deficiência mental, física ou motora. A
pedagógicas diferenciadas que estimulem as Ela contempla uma abordagem ampla e integrada do crença de que os problemas de aprendizagem Desta forma, cabe a psicopedagogia,
funções cognitivas que por algum motivo não sujeito a fim de compreender o seu aprender em todos se dava apenas por fatores orgânicos se intervir junto a instituição de ensino de
foram desenvolvidas no aluno, contribuindo os sentidos a saber, em relação ao significado e aprender constituiu como verdade por muitos anos, o forma preventiva partindo principalmente da
assim, para a construção da autonomia e das a construção da estruturação lógica a um aprisionamento que determinou o fracasso escolar. história pessoal do sujeito. Tendo o sujeito
habilidades dos alunos. do corpo, a uma ressignificação de um organismo com como ser social, o resgate das fraturas e
problemas e outros. (WOLFFENBUTTEL, 2005, p. 18). Nas décadas de quarenta e sessenta, do prazer de aprender na perspectiva da
O objetivo deste trabalho é investigar as ainda na França, a ação do psicopedagogo psicopedagogia clínica, objetiva não só
causas das dificuldades de aprendizagem Segundo Wolffenbuttel (2005), a estava vinculado ao do Primeiro Centro contribuir para a solução dos problemas
dos alunos, analisar e compreender de que psicopedagogia tem seu foco principal em Pedagógico, o trabalho era realizado de de aprendizagem, mas colaborar para a
maneira o psicopedagogo pode intervir compreender o aprender, de acordo com a forma conjunta entre o médico e pedagogo, construção de um sujeito pleno, crítico e
neste processo. O artigo está organizado em autora nos lugares onde existem situações esse atendimento era destinado as crianças mais feliz (SCOTT, 2004, p. 27).
três capítulos, o primeiro traz informações de aprendizagem existe a psicopedagogia com problemas escolares de comportamento
sobre o papel do psicopedagogo em um pois a mesma dá maior importância ao e sua definição eram como aqueles que Segundo Scott (2004), é essencial que
breve histórico tendo como referencial aprender não enfatizando o problema de apresentavam doenças crônicas como se identifique as relações dos sujeitos com
teórico BOSSA (2007). No segundo capítulo aprendizagem. A Psicopedagogia prioriza diabetes, tuberculose, cegueira, surdez ou seus grupos sociais e família o porquê do
abordarei sobre as possíveis causas das e valoriza o sujeito em seu processo de problemas motores. não aprender? Sendo assim, é imprescindível
dificuldades de aprendizagem e como construção do conhecimento. que o psicopedagogo identifique quais são
referência trago GARCIA (1998) e LOUSADA De acordo com BOSSA (200 a), as possíveis causas das dificuldades de
(2002). O terceiro e último capítulo vem Historicamente as primeiras iniciativas a psicopedagogia obteve diversas aprendizagem apresentada pelo aluno para
tratar da contribuição do psicopedagogo para atender as crianças com dificuldades de nomenclaturas ao longo de sua história, a então poder acompanhar a evolução do
diante das dificuldades de aprendizagem aprendizagem ou comportamentais se deu primeira ficou conhecida como pedagogia paciente, é o assunto que abordarei a seguir.
trazendo como referencial PAÍN (1995) e na França no ano de 1946, nesta época o curativa, depois como pedagogia terapêutica,
SOLÉ (2002), seguindo de considerações atendimento a essas crianças se dava através passando a se chamar pedagogia curativa

342 343
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

AS POSSÍVEIS CAUSAS DAS de outras crianças da mesma faixa etária. Segundo SCOTT (2004), o não aprender
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: tem um significado funcional dentro da Sendo assim, o psicopedagogo contribui
UM OLHAR DIFERENCIADO Segundo BOSSA (2004 apud SCOTT, estrutura onde está inserido o sujeito, ou no processo de ensino e aprendizagem
2004), é preciso que o psicopedagogo seja, as dificuldades de aprendizagem podem minimizando essas dificuldades.O
Uma das problemáticas deste trabalho de tenha um olhar diferenciado e a clareza de ser apenas sintomáticas disfarçando algo que psicopedagogo veio para contribuir no
pesquisa é saber o que leva alguns alunos que as dificuldades de aprendizagem não lhe foi reprimido ou então um bloqueio, uma processo de ensino e aprendizagem atuando
apresentarem dificuldades de aprendizagem, acontecem isoladamente, mas que existem retratação intelectual do seu Ego, ou ainda como mediador com um caráter preventivo,
para isso, se faz necessário a investigação diversos fatores internos e externos que por uma inadequação da proposta pedagógica através de investigações de todos os
das possíveis causas que levam esses contribuem para isso. Desta forma os escolar que neste caso a dificuldade se envolvidos no processo de aprendizagem
alunos ao não aprender ou decodificar e problemas devem ser analisados dentro apresenta fora do sujeito. Sendo assim, para que o aluno se reestruture e
até mesmo assimilar alguns conteúdos do contexto social do aluno e de forma as necessidades da criança são diferentes resgate sua autonomia e sua identidade.
que por muitas vezes são trabalhados interativa para que haja a aprendizagem. da proposta entre escola e grupo familiar.
diariamente em sala de aula para sua fixação. É importante que todos os envolvidos
Neste sentido, o psicopedagogo deve Desta forma quando um aluno diz “não neste processo estejam atentos a essa
Quando falamos em dificuldades de ter um olhar diferenciado e uma escuta sei”, ou “não consigo”, é fundamental dificuldade, observando se as mesmas são
aprendizagem logo se pensa em uma criança aprofundada em todos os momentos do que o psicopedagogo tenha um olhar sintomáticas, passageiras ou se perdura.
que por algum motivo “dela” não aprende, nos processo de aprendizagem identificando diferenciado para entender o que não Cabe ao psicopedagogo perceber eventuais
esquecendo que a culpa do não aprender não as possíveis causas para a dificuldade dos está permitindo que o aluno aprenda. perturbações no processo de aprendizagem,
deve se recair apenas no sujeito, pois existem alunos, como causas: Neurológicas: Paralisia Sendo assim, a contribuição do participar da dinâmica da comunidade
um conjunto de fatores que pode interferir no cerebral, epilepsia, deficiência mental, psicopedagogo é muito importante no educativa favorecendo a integração,
processo de ensino e aprendizagem, sendo sensorial, e que devem ser investigadas. processo de ensino e aprendizagem dos alunos, promovendo orientação metodológica
assim, a criança não é a única responsável Escolar: falta de habilidade do professor, é o que será tratado no próximo capítulo. de acordo com as características e
pelos problemas de aprendizagem. falta de estímulos para a motivação do aluno, particularidades dos indivíduos dos grupos
defasagem entre o desempenho do aluno e o A CONTRIBUIÇÃO DO realizando o processo de orientação.
Pode-se definir a aprendizagem como nível de exigência da escola. Psicológico: TDA PSICOPEDAGOGO NO PROCESSO
um processo evolutivo e constante de (Transtorno de Déficit de Atenção), depressão, DE ENSINO E APRENDIZAGEM Já no caráter assistencial, o psicopedagogo
modificação no comportamento do sujeito. ansiedade, estresse. Social: Problemas muitas participa de equipes responsáveis pela
Neste caso existem fatores fundamentais vezes associados a convivência familiar: A psicopedagogia tem a função de elaboração de planos e projetos no contexto
para que o processo de aprendizagem Abusos, uso de entorpecentes, brigas. identificar as causas das dificuldades de teórico/prático das políticas educacionais,
ocorra, são elas a saúde mental, saúde aprendizagem, sendo assim a atuação fazendo com que os professores, diretores e
física, a motivação, a maturação, a Com tudo as dificuldades de aprendizagem do psicopedagogo é interdisciplinar. coordenadores possam repensar o papel da
inteligência, a concentração e a memória. não implicam necessariamente em um escola frente a sua docência e as necessidades
De acordo coma faixa etária da criança e transtorno, de aprendizagem, compreendem [...] A psicopedagogia além de dominar a patologia e a individuais de aprendizagem da criança, ou
seu desenvolvimento maturacional espera- uma inabilidade específica com leitura e escrita etiologia os problemas de aprendizagem, aprofundou do própria ensinagem. BOSSA (1994, p.23).
se que ela apresente algumas habilidades e ou matemática em sujeitos que apresentam conhecimentos que lhe possibilitam uma contribuição
comportamentos, neste sentido a dificuldade resultados significativamente abaixo do efetiva não só relacionado aos problemas de Sendo assim, o psicopedagogo se torna
de aprendizagem se dá quando o sujeito não esperado para o seu nível de desenvolvimento, aprendizagem, mas também na melhoria da qualidade apto a trabalhar na área da educação,
se ajusta aos padrões de comportamento escolaridade e capacidade intelectual. de ensino oferecido nas escolas. (SCOZ, 2002, p. 34). contribuindo com professores e outros
profissionais para a melhoria das condições

344 345
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

do processo de ensino e aprendizagem. BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil: Contribuições a


Além de repensar o fazer pedagógico partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000 a.
o psicopedagogo deve ter um olhar
diferenciado para entender o sujeito em ______________. Dificuldades de aprendizagem: o que são?
suas características multidisciplinar contudo Como tratá-las? Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000 b.
se faz necessário uma visão integral do ser
e não apenas como parte desfragmentada. ESCOTT, Clarice Monteiro. Interfaces entre a psicopedagogia clínica e institucional: um olhar e
uma escuta na ação preventiva das dificuldades de aprendizagem. Novo Hamburgo: Feevale, 2004.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
FONSECA, V. Da Introdução as Dificuldades de Aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas,1995.
Através de pesquisa realizada chego à
conclusão que diante dos atuais problemas, GARCIA, J. N. Manual de Dificuldades de Aprendizagem. Porto Alegre, 1998.
muito se tem falado das dificuldades de
aprendizagem enfatizando a indisciplina, GILVANEIDE MOURATO DA LOUSADA, Ana Maria. Dificuldades de aprendizagem: Desafios
a timidez, a agressividade, problemas de CRUZ SOUZA Cotidianos e Alternativas Pedagógicas. Vila Velha: CAEPE, 2002.
desestrutura familiar, problemas cognitivos,
sociais e biológicos. Com isso, é de grande Graduação em pedagogia pela Faculdade PAÍN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos problemas
importância que todos os envolvidos no Universidade de Santo Amaro UNISA. (2006); de Aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
processo de ensino e aprendizagem, seja Especialista em Psicopedagogia Clínica e
professor, psicopedagogo, equipe gestora e institucional pela Faculdade Aberta do Brasil PARO,VitorHenrique.Administraçãoescolar:Introduçãocrítica.11.ed.SãoPaulo.EditoraCortez,2002.
principalmente a família entendam que as ESAB. (2017); Professor de Ensino Infantil e
crianças que por algum motivo apresentem Fundamental I - na EMEF Bel Mario Moura e SCOZ, Beatriz Judith Lima. FELDMAN, Claudia, et al. Contribuições
dificuldades de aprendizagem precisam ser Albuquerque, Professor de Educação Básica para a educação pós-moderna. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
reconhecidas como seres iguais em direitos, I - na EE Com. Alfredo Vianello Gregório.
sendo assim é de suma importância que SOLÈ,Isabel.OrientaçãoEducacionaleIntervençãoPsicopedagógica.PortoAlegre:ArteMédica,2001.
se avalie todos os aspectos que possam
de alguma forma estar contribuindo para PARO,VitorHenrique.Administraçãoescolar:Introduçãocrítica.11.ed.SãoPaulo.EditoraCortez,2002
a problemática seja ela: social, emocional,
psicológica enfim enxergar o estudante como WOLFFENBUTTEL, Patrícia. Psicopedagogia: Teoria e
ser integral a fim de intervir da melhor maneira Prática em Discussão. Novo Hamburgo: feevale, 2005.
possível para que de alguma forma possa
sanar as dificuldades por ela apresentada e
integrá-la de fato a sociedade como de direito.

346 347
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
Infantil: muitos olhares; Phillipe Áries – A
No dicionário Michaelis, a palavra infância história social da criança e da família. A
é definida como o período de crescimento do expectativa é que este trabalho contribua
ser humano, que vai desde o nascimento até para a discussão acerca da importância do
a puberdade. Etimologicamente, a palavra afeto no desenvolvimento infantil e promova
infância refere-se a limites mais estreitos: uma reflexão sobre a prática educativa
oriunda do latim significa a incapacidade de relacionada às crianças pequenas.
falar. E, a palavra afeto refere-se a sentimento
de afeição por alguém, amizade, simpatia.
Concepção de Infância e
Ao observamos a rotina dos profissionais Educação Infantil :
de Educação Infantil, especialmente o CEI
(Centro de Educação Infantil), vemos como Contextualização histórica
o cuidar, educar e as relações afetivas
associadas ao brincar proporcionam interação A visão que temos hoje da infância e
e aprendizado. Ao brincar, as crianças, o reconhecimento do lugar da criança na
interagem com os adultos, fazem relações sociedade é fruto de uma longa construção
e paulatinamente, a criança conquista a sua histórica. Na sociedade medieval europeia, a
A IMPORTÂNCIA DO AFETO NO DESENVOLVIMENTO DE autonomia e compreende o mundo e suas criança não era percebida como diferente do
relações. adulto. Participou intensamente do mundo
CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS adulto, tanto das atividades relacionadas
Como objeto de pesquisa, o artigo ao trabalho, como as vivências culturais,
discute a importância da afetividade para por meio dos jogos, brincadeiras e histórias.
RESUMO: A criança não é um adulto em miniatura. Ao contrário, apresenta características próprias o desenvolvimento físico e cognitivo das Os altos índices de mortalidade infantil,
da sua idade. Compreender isso é compreender a importância do estudo do desenvolvimento crianças de 0 a 3 anos, e assim, faremos nessa época, revelam certa promiscuidade
humano. E o afeto atrelado ao brincar permite conhecer as características comuns de cada idade, um estudo sobre a infância; as teorias quanto aos cuidados e atenção às crianças
nos permitindo reconhecer as individualidades, o que nos torna mais aptos para a observação sobre as aprendizagens nos primeiros anos pequenas. A família não exercia uma função
do desenvolvimento físico e mental das crianças. E assim, percebemos o afeto não apenas como da criança e refletiremos sobre o afeto afetiva, e sim de conservação de bens. As
sentimento, mas como um dos aspectos cruciais das relações interpessoais do ser humano. Este no desenvolvimento infantil em torno da trocas afetivas e as comunicações sociais
artigo apoia-se para tanto nas concepções sociais presentes em pesquisas de Henry Wallon, cuja seguinte temática: como o afeto e suas eram realizadas fora da família, no ambiente
base teórica irá permear esta pesquisa documental para a construção de análise sobre as interações relações contribuem para o desenvolvimento de criados, amigos etc.
entre crianças de 0 a 3 anos que garantem sua formação e transformação enquanto ser social. físico e cognitivo das crianças e pode o
professor de educação infantil ser afetuoso Com o desenvolvimento da sociedade
Palavras-chave: Infância; Afeto; Brincar; Interações; Social e brincalhão e proporcionar um atendimento industrial, no século XVII, ocorre a separação
de qualidade? da criança do mundo adulto, resultante do
movimento de moralização da sociedade,
Para este estudo, consultamos referências promovidos pelos reformadores católicos
como Henri Wallon – A evolução psicológica ou protestantes, ligados à igreja e ao Estado.
da criança; Zilma de M.R. Oliveira – Educação A família torna-se o lugar de afeição e

348 349
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

passa a se organizar em torno da criança. A pela modificação nas formas de organização da sociedade. conteúdo de aprendizagem em instâncias se separa do organismo materno, para o fisiologista nada
mulher assume o papel de mãe e educadora, (KRAMER, apud GOUVÊA, 2002, p.14). distintas, o colégio no caso, da criança de mais significa que um espasmo de glote, que acompanha
responsável pela educação da prole. leite, ou o trabalho, no caso da criança os primeiros reflexos respiratórios. Sua motivação
A mudança de concepção pobre ou escrava.” (GOUVÊA, 2002, p.14). psicológica ligada ao pressentimento ou ao lamento tem,
Segundo Airés (1986), temos a ausência sobre a criança com efeito, algo de mítico (WALLON, 2007, p.118)..
de um sentimento de infância até o fim do Na sociedade atual, o padrão de infância
século XVII. Esse sentimento surgiu quando Para exemplificar, uma criança indígena é determinado pelo modelo infantil da Os bebês nascem com um repertório
a sociedade passou a ter consciência de desenvolverá padrões de comportamentos criança da classe burguesa acarretando a de capacidades que lhes possibilitam
particularidade infantil e da diferença entre e conhecimentos diferenciados de uma marginalização e exclusão de crianças de comunicar-se com seus parceiros adultos
crianças e adultos. criança de cultura ocidental urbana. Assim, outros segmentos sociais. É importante e, aos poucos, compreender o repertório
a concepção de criança é historicamente que os profissionais da educação global de entonações, expressões faciais,
A escola parece como instituição destinada construída e, consequentemente, altera-se reconheçam este aspecto e considerem as movimentos corporais, maneirismos e
à educação das crianças, separando-as da ao longo dos tempos, não se apresentando diferentes culturas e diferentes infâncias modos de agir dos que cuidam deles.
vida adulta. O “sentimento da infância” homogênea nem mesmo no interior de que se entrelaçam no contexto escolar. Continuamente, aprendem a sintonizar-
desenvolve-se paralelamente ao “sentimento uma mesma época e sociedade. O fato se com as conversações que se passam ao
da família”, que passou a ser lugar de de cada criança vivenciar a experiência As aprendizagens nos três seu redor. Passam a usar sorrisos, arrulhos
afeição entre cônjuges e entre pais e filhos. infantil no interior de uma determinada primeiros anos da criança e balbucios em situações comunicativas
Podemos concluir que a ideia de infância e cultura delimita os padrões de seu para indicar suas necessidades e o que
criança se modifica no tempo e no espaço; desenvolvimento, saberes, valores e práticas Os bebês, logo que nascem, aprendem estão sentindo. Quando, por exemplo, ficam
são construções históricas e culturais, sociais. No Brasil, as vivências da infância a reconhecer os locais onde vivem, através sozinhos durante alguns períodos, necessitam
resultantes das mudanças na organização da ocorreram, historicamente, a partir do de suas sensações e percepções. Sons ser confortados para superar insegurança,
sociedade e de suas estruturas econômicas pertencimento sócio racial e de gênero. e cheiros são utilizados por eles como medo e solidão, mas ao mesmo tempo podem
e sociais. De acordo com Kramer (1982), a pistas para identificar as pessoas que vão aprender que, embora separados, não estão
ideia de infância aparece com a sociedade Assim é que, por exemplo, a criança se tornando familiares; por exemplo, o sozinhos. Nessas situações, experimentam
capitalista urbana– industrial, quando se escrava, exercia seu aprendizado para a cheirinho de leite da mãe, a voz do pai sentimentos intensos de ansiedade, raiva e
modifica o papel social desempenhado vida adulta através do trabalho, iniciado quando pega no colo, os sons e as vozes medo, mas também aprendem sentimentos
pela criança na comunidade. Entretanto, de já aos seis, sete anos de idade. O menino que circulam no ambiente. Desde pequenos de felicidade e amor pelos outros.
acordo com a autora: branco da elite tinha sua formação nos vão aprendendo sobre si mesmos e, aos
colégios, onde adquiria sua instrução poucos, diferenciando-se de outras pessoas, Os bebês nascem com um repertório
A ideia da infância, não existiu sempre da mesma maneira. intelectual ao mesmo tempo em que se dando continuidade a um sentimento de capacidades que lhes possibilitam
Ao contrário, ela aparece com a sociedade capitalista, preparava para o exercício do mando. Já de segurança e de apoio que receberam comunicar-se com seus parceiros adultos
urbano-industrial, na medida que mudam a inserção e o as meninas brancas da elite, tinham um na gestação e em seus primeiros dias. e, aos poucos, compreender o repertório
papel social da criança na comunidade. Se, na sociedade aprendizado mais restrito, voltado para a global de entonações, expressões faciais,
feudal, a criança exercia um papel produtivo, assim que aquisição de saberes tidos como femininos. Assim descreve HenryWallon (2007, p. 118): movimentos corporais, maneirismos e
ultrapassava o período de alta mortalidade, na sociedade As vivências da infância eram radicalmente modos de agir dos que cuidam deles.
burguesa, ela passa alguém que precisa ser cuidada, diferenciadas, definidas pela inserção social, O choro do recém- nascido que vem ao mundo, choro de Continuamente, aprendem a sintonizar-
escolarizada e preparada para atuação futura. Esse por pertencimentos raciais e de gênero. desespero, segundo Lucrécio, ante a vida que se abre para se com as conversações que se passam ao
conceito de infância é, pois, determinado historicamente, Isso determinava diferentes processos e ele, choro de angústia, segundo Freud, no momento em que seu redor. Passam a usar sorrisos, arrulhos

350 351
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

e balbucios em situações comunicativas momento. Olhar, ouvir, cheirar, sentir gosto, os momentos da rotina diária da educação simpatia são dimensões do cuidado que
para indicar suas necessidades e o que textura ou o peso das coisas são bases infantil e em todas as atividades propostas. precisam estar presentes nas relações entre
estão sentindo. Quando, por exemplo, ficam para o desenvolvimento do pensamento. as pessoas, tanto na Educação Infantil como
sozinhos durante alguns períodos, necessitam Aos poucos, suas habilidades expressivas Hoje, a compreensão do que significa em todas as outras atividades educativas.
ser confortados para superar insegurança, e sua emergente capacidade de usar um o cuidado é diferente. Com base nos
medo e solidão, mas ao mesmo tempo podem gesto ou objeto para representar uma ação estudos e pesquisas atuais, é considerada Nos primeiros anos de vida, o apego e a
aprender que, embora separados, não estão ou outro objeto – como usar um gesto de equivocada e reducionista a compreensão amizade, especialmente, exercem influência
sozinhos. Nessas situações, experimentam passar as mãos no cabelo como forma de do cuidado, apenas, sob o prisma da importante por se constituírem em vínculos
sentimentos intensos de ansiedade, raiva e imitar a ação de pentear – lhe possibilitam assistência. Contudo, mesmo que o afetivos básicos. O apego é um vínculo afetivo
medo, mas também aprendem sentimentos imitar as ações de parceiros diversos e cuidado significasse apenas assistência, que a criança estabelece com as pessoas que
de felicidade e amor pelos outros. criar jogos simbólicos, ampliando seus esta não poderia ser considerada uma interagem com ela. Determinadas condutas,
recursos cognitivos (WALLON, 2007). atividade menor, sem importância. representações mentais e sentimentos
Brincadeiras de esconde-esconde nas Prestar assistência a uma criança – caracterizam o estabelecimento desse
quais se envolvem com parceiros ajudam- Procedimentos Metodológicos: banhando, alimentando, aconchegando-a, vínculo. Ou seja, condutas que tentam
nos a perceber que pessoas e coisas que carregando-a nos braços – é tão importante conseguir e manter a proximidade com
desaparecem de sua vista podem voltar a Cuidar, educar, afeto e brincar: é possível? quanto qualquer outra atividade as pessoas com as quais é apegada e
aparecer depois. Por meio de explorações desenvolvida com ela na Educação condutas de interação como por exemplo,
motoras, conhecem o meio em que vivem e Este artigo de base bibliográfica, de Infantil. Segundo o Referencial Curricular as de solicitações (choro, vocalizações,
descobrem suas possibilidades de ação sobre abordagem documental, tem como para a Educação Infantil (2001, v.1, p.23): gestos), de contato íntimo (toque, carinho,
ele. Aprendem a puxar e empurrar, torcer intenção tratar dos aspectos do cuidar colo), de vigilância e acompanhamento
e distorcer, erguer e deixar cair, inclinar e e educar crianças, como dimensões Educar significa, portanto, propiciar situações de perceptivo das figuras de apego
reerguer um objeto, despejar um líquido indissociáveis da Educação Infantil, cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas (acompanhamento pelo olhar à distância,
em uma vasilha etc. As crianças aprendem é o atual posicionamento da política de forma integrada, que possam contribuir para o pela escuta de voz), e assim por diante.
as partes de seu corpo, como controlá- educacional brasileira. Para algumas desenvolvimento das capacidades infantis de relação
las, e a representar suas experiências instituições de Educação Infantil, as interpessoal, de ser e estar e com os outros em uma Esse repertório de condutas envolvidas
em gestos e movimentos expressivos. tarefas do cuidado seriam as atividades atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o no apego constitui possibilidades de ações
como a higiene, a alimentação, o descanso acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos que as crianças podem utilizar. Ele é amplo e
Cada vez mais parecem desejar e outras, enquanto as atividades de da realidade social e cultural. Neste processo, a educação flexível, pois depende de aspectos diversos
movimentar-se, locomover-se e explorar pintar, desenhar, fazer experiências poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades que fazem parte da vida desses pequeninos:
o mundo que as rodeia. Firmar a cabeça, em ciências ou elaborar um texto de apropriação e conhecimento das potencialidades condições biológicas de bem-estar, história
arrastar-se, engatinhar, andar, correr, pular coletivo seriam as tarefas do educar. corporais, afetivas, emocionais, estéticas, éticas, na pregressa, estado de desenvolvimento
são também formas de conhecimento que perspectiva de contribuir para a formação de crianças etc. Um aspecto importante relativo ao
propiciam novas aprendizagens. Adquirem Essa visão deve ser superada para felizes e saudáveis. (BRASIL, RCNEI, 2001, v.1, p.23). sentimento de apego é a construção de uma
controle cada vez maior de seus gestos e que haja realmente a integração entre imagem das relações que a criança tem com
movimentos, além de crescente segurança corpo e mente, e educar e cuidar sejam as figuras de apego. Nesta representação, a
no que fazem. O pensamento da criança realmente elementos indissociáveis, ou Portanto, o cuidado, atualmente, tem uma lembrança, o conceito que tem sobre a pessoa
pequena, no início, está voltado apenas para seja, devemos agir como educadores que dimensão filosófica. A atenção, a ternura, com a qual estabelece relação e de si mesma,
o presente, para o que está se passando no educam ao cuidar e ao educar, em todos o carinho, a gentileza, a generosidade, a além das expectativas criadas sobre a própria

352 353
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

relação, influenciam o desenvolvimento dependem do estado da criança e de suas o objetivo desse estudo era saber como o a si mesmos de o mundo em que vivem,
da capacidade da criança de construir vivências anteriores com as pessoas, objetos afeto contribui para o desenvolvimento das auxiliando-as também a relacionarem-se
vínculos e estabelecer relações sociais. e ambientes. A crianças começa a adquirir crianças e se é possível cuidar, educar, ser melhor com seus pais e familiares. E isso irá
novas formas de se relacionar com os demais. afetuoso e brincalhão com os pequeninos, ajudá-la a tornar-se um adulto melhor, pois,
Este vínculo afetivo com outros seres sendo que temos crianças tão heterogêneas, mesmo quando descobrir a maldade e as
humanos forma-se ao longo do primeiro A partir de um ano, outros sistemas em situações socioeconômicas tão distintas. dificuldades do mundo, saberá também que
ano de vida, pois também é resultado da interagem na mediação das relações entre Agora, chegando ao final não conclusivo, existe amor e alegria. O desenvolvimento
necessidade de vinculação afetiva com a qual a criança e o meio: a exploração motora compreendo que sim, valorizando o motor, o linguístico e o cognitivo começam
nascemos e das condutas de ação que a criança (estabelecida desde o nascimento), o apego afeto, as interações entre professor e a se integrar às capacidades afetivas e de
utiliza para satisfazer essa necessidade. Por (vínculo específico com determinadas criança, possibilitamos brincadeiras que socialização, pois as crianças possuem,
outro lado, o constante oferecimento e pessoas) e o medo de estranhos (receio, possibilitem o desenvolvimento global gradativamente, ferramentas para lidar com
atendimento, de cuidados e atenções que os rejeição, cautela). A partir daí, o vínculo da criança e uma educação de qualidade. o mundo e as pessoas que vão fazendo parte
adultos fazem em relação às crianças também de apego consolida-se e a criança de sua vida: outros adultos e outras crianças.
é fundamental para a construção de vínculos vai tendo progressivo interesse em De acordo com especialistas, os seres
afetivos. Por isso, esse vínculo é resultado estabelecer relações com as demais. humanos nascem programados e formatados Em razão do que vimos sobre o apego,
da interação privilegiada entre a criança e para amar os outros e conviver em sociedade, pode-se afirmar que é muito importante que
alguns adultos que fazem parte de sua vida. CONSIDERAÇÕES mas isso só vai acontecer de fato, com as pessoas com as quais as crianças estão em
estímulos e exemplos dos pais e pessoas contato frequente e íntimo (normalmente
O processo de formação e desenvolvimento próximas, como os professores. Crianças pais e professores) transmitem-lhes uma
do apego passa por três etapas distintas no “Mais amor, por favor”, se você mora em que recebem carinho, independente da visão positiva tanto em relação à criança
primeiro ano de vida. São elas: dois primeiros São Paulo, com certeza já viu essa frase classe social, têm melhor saúde na meia- quanto a si mesma, já que o apego é um
meses de vida: a criança busca estímulos sincera e marcante estampada em cartazes idade. Gentileza, generosidade, amizade conjunto de sentimentos associados
visuais, atraída pelo rosto, voz, toque e nos muros e postes da cidade. Não há e compaixão estão diretamente ligados às pessoas com as quais a criança está
cheiro das pessoas com as quais se relaciona. como ignorar o pedido, que é um projeto à capacidade de perceber e respeitar o vinculada. Assim, uma relação adequada com
do artista plástico Ygor Marotta. O fato é outro, o que começa a se desenvolver por as figuras de apego ocasiona sentimentos de
Do segundo ao sexto mês: já discrimina que o mundo está mesmo precisando de volta dos 2 anos. Sem contar que brigar segurança, bem-estar e prazer, associados à
as pessoas, sabe quem lhe é íntimo e quem mais carinho, atenção e gentileza e existe também faz parte do conviver. Precisamos proximidade e contato entre os indivíduos.
lhe é estranho, associando o rosto, a voz, o forma mais pura de amor do que aquela que conversar, explicar à criança o valor da
tipo de cuidado que recebe. Já demonstra recebemos das crianças? Acredito que não. amizade, que os conflitos fazem parte das Porém, também pode gerar sentimentos
preferência pela forma como será alimentada, relações sociais, mas de forma educativa, de ansiedade, quando, por exemplo, ocorre
limpa e embalada de acordo com os Crianças são sinceras e demonstram seus não apenas como bronca ou castigo. separação ou dificuldades para restabelecer
cuidados que recebeu nos primeiros meses. sentimentos com clareza. O bebê não fala, o contato. Não é à toa que em instituições
mas se comunica e entende perfeitamente Todavia, vivemos em uma sociedade que de Educação Infantil aconselha-se que o
Entre seis e doze meses: manifesta a linguagem não verbal. Por isso é tão individualiza conceitos e compartimentar professor que o professor que trabalha
conduta claras de preferência por importante abraçar, pegar no colo, ninar, espaços e ações. Portanto, ao valorizar com crianças de 0 a 3 anos não varie tanto.
determinadas pessoas, reagindo diante conversar, sorrir, usar palavras doces e o afeto na prática pedagógica, desde os Principalmente em turmas de berçário,
de desconhecidos com atitudes de medo, expressões faciais amorosas. Afeto não primeiros estágios da Educação Infantil, aconselha-se que haja uma divisão das
cautela, desconfiança. Essas reações exclui limites. Mas inclui respeito. A princípio, ajudamos nossas crianças a compreenderem crianças entre as educadoras, de tal forma

354 355
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

que seja sempre a mesma professora a dar REFERÊNCIAS


banho, alimentar, brincar etc. com o mesmo ARIÉS, Philippe. História social da criança e
subgrupo de crianças. Mas é possível cuidar, da família. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara,
educar, brincar sem excluir a afetividade? 1986.
Sim, o professor pode e deve retomar a ALVES, Rubem. A escola que sempre sonhei
postura de professor brincalhão, aquele sem imaginar que pudesse existir. Campinas:
que tem intencionalidade e interage com Papirus, 2004.
as crianças. Não apenas aquele que faz, BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da
mas aquele que aprende. As situações de Educação. Diário Oficial. Brasília: Imprensa
interação entre as crianças podem mudar Nacional. República Federativa do Brasil,
nos diferentes contextos se considerarmos o v.84, 26/12/1996.
ambiente, a variedade de objetos disponíveis, BRASIL. Referencial Curricular Nacional para
o tamanho do grupo e o tipo de atividade. Educação Infantil. Brasília: DF, MEC/SEF/
De qualquer modo, podemos dizer que a COEDI, 1998. v.1-3.
relação entre as crianças é uma experiência BRASIL. Ministério da Educação. Brinquedos
fundamental para o desenvolvimento. e brincadeiras nas creches: manual de
orientação pedagógica. Brasília: MEC/ SEB,
2012.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia:
saberes necessários à prática pedagógica.
São Paulo: Paz e Terra, 1995.
GOUVÊA, Maria Cristina Soares. Infância,
Sociedade e Cultura. In: CARVALHO, Alysson; A IMPORTÂNCIA DA ARTE NO ENSINO
SALLES, Fátima; GUIMARÃES. Marília.
(Orgs). Desenvolvimento e Aprendizagem.
FUNDAMENTAL I
Belo Horizonte: UFMG, 2002.
MONTEIRO, Elizabeth. Criando os filhos em RESUMO: O presente artigo tem como objetivo elucidar como o ensino da Arte é visto,
HOSANA SIQUEIRA DE OLIVEIRA tempos difíceis: atitudes e brincadeiras para portanto como Cultura e expressão. Apesar de todas as dificuldades de uma disciplina
uma infância feliz. 2.ed. São Paulo: Summus, cheia de preconceitos, esta se desenvolve, cada aluno, criança ou adulto, tem seus próprios
Graduação em Letras pela Faculdade 2013. interesses estéticos, exigindo, portanto, nossa atenção como professores de artes voltando-
Fundação Santo André (2004); Graduação MOYLES, Janet R. Só Brincar? O papel do se fundamentalmente para a capacidade das pessoas em experiência a arte mais do que
em Pedagogia pela Faculdade Nove de Julho brincar na Educação Infantil. Porto Alegre: as produz propriamente. E, para o embasamento deste artigo e o alcance dos objetivos
(2006); Especialista em Educação Infantil Artmed, 2002. propostos nos utilizamos do Método de Pesquisa Bibliográfico Qualitativo, fundamentado
pela Faculdade Abrange (2014); Professora OLIVEIRA, Zilma de M.R. Educação Infantil: no estudo de diversos autores que trabalham sobre a temática proposta.
de Educação Infantil – 0 a 3 anos no Centro muitos olhares. São Paulo: Cortez, 1994.
de Educação Infantil Jardim Santo André. WALLON, Henri. A evolução psicológica da
criança. São Paulo: Martins Fontes, 2007 Palavras-chave: Ensino; Artes; Aprendizagem; Desenvolvimento; Criança.

356 357
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
é importante, para que a mesma tenha inanimados e encontra prazer em imaginar
A arte se tornou disciplina histórica Para desenvolver este pensamento suporte adequado para realizar a assimilação situações diferentes da que está vivendo,
anteriormente a época moderna, somente independente e criativo, porém não é do que se busca ensinar . o que contribui para resolver conflitos e
no século XVI, é que se criou o sentido mais suficiente o conhecimento do tema somente, entender situações adversas do meio.
moderno do tema, a renovação do ensino mas é necessário o ensino das habilidades e Ao apoiar-se as atividades em situações
da arte veio da arqueologia, no Brasil no capacidades, isto quer dizer que é necessário que trabalham toda esta gama de informações Os Referenciais Curriculares Nacionais de
Ensino Fundamental se caracteriza pela ter conhecimento do que se vai ensinar e oferecendo várias opções para que a criança Educação Infantil (2006), explicitam o direito
espontaneidade existente nas crianças, resposta transformando tal processo em possa chegar ao produto final, é de suma que toda criança tem de viver experiências
permitindo o contato com obras que conhecimento adquirido, desenvolvendo as importância, pois assim o aprendizado se significativas em fase escolar, ressaltando
estimulam sua reprodução. O ensino da habilidades. torna mais significativo e prazeroso para o quanto é possível aprender através de
Arte é visto, portanto como Cultura e quem o recebe, tornando-se eficiente para atividades artísticas. Ao servir-se deste
expressão, Apesar de todas as dificuldades Segundo Vygotsky apud Oliveira (1991) o quem o recebe. Assim, é possível englobar método de integração, o professor está
de uma disciplina cheia de preconceitos, desenvolvimento é o processo através do qual muitos aspectos, sendo necessário, relevar colaborando para o sucesso do processo
esta se desenvolve, cada aluno, criança o indivíduo constrói ativamente nas relações que apesar de arte ser um termo impreciso ensino-aprendizagem, isto quer dizer que
ou adulto, tem seus próprios interesses que estabelecem com os meios físicos e porque assume vários significados, uma vez durante esta prática ocorre a potencialização
estéticos, exigindo, portanto, nossa atenção sociais, e suas características. Isto porque o que a atividade pode ser livre ou voluntária de situações onde a criança é estimulada,
como professores de artes voltando-se desenvolvimento possui uma dinâmica e um uma vez que imposta, deixa de ser arte. incentivando assim a participação da mesma
fundamentalmente para a capacidade das ritmo de atuação própria, que resultam da Entende–se então que ao oferecer a arte por meio de um objeto significativo para ela. A
pessoas em experiência a arte mais do que atuação de princípios funcionais que agem para a criança com deficiência ou não, é como imaginação se caracteriza por sua fertilidade,
as produz. como uma espécie de lei constante. permitir a ela o mesmo que brincar representa isto é, por sua capacidade de criar imagens.
um fator interessante no desenvolvimento Unindo o lúdico ao processo educativo
Prova disto é que as crianças emprestam Para que estas características sejam social da criança, pois, é através do brincar estimula-se à construção do conhecimento
imagens ao invés de criá-las não tendo adquiridas pelos indivíduos, é necessário que que o ser humano amplia sua capacidade de de forma eficiente, pois, oportuniza-
facilidade em produzir desenhos. Quando sejam formadas as ações e operações motoras agir em seu mundo culturalmente simbólico se o sucesso a variadas habilidades e
desenhamos, tendemos a lembrar da imagem mentais, como, empilhar, puxar, comparar, desde a infância, uma vez que esta é o conhecimentos.
que mais teve significado transformando- ordenar que são construídas inicialmente período do possível e da fantasia.
se em imagem. Todo este trajeto evolutivo através do ato de atividades prazerosas As funções das artes então são consideradas
apresenta progressos notáveis, porém (VYGOTSKY apud OLIVEIRA,1991). É durante este período que a criança diversificadas, pois, proporcionam diversão,
com limitações devido a dificuldade que as necessita ter contato com diferentes dão prazer, podem educar, complementam
crianças têm de abstrair o concreto, já na Este fato por sua vez, se baseia no experiências artísticas, pois, estas são os saberes, incentivam a exploração,
Adolescência, esta limitação deixa de existir desenvolvimento cognitivo e afetivo saudáveis e apropriadas ao desenvolvimento participação, estimulam a construção de
e a criança pode entender os conceitos, do indivíduo, acrescentando a estes o infantil, e precisam ser proporcionado sendo conhecimentos e cativam a atenção. Desta
adquirindo a condição crítica necessária desenvolvimento da linguagem, ligando-se um recurso imprescindível na construção maneira deve-se voltar o olhar para ela como
para entender os sistemas sociais, propondo diretamente a construção do conhecimento da identidade cultural e da autonomia instrumento valioso no desenvolvimento
novas formas de pensar, podendo justificar cultural e por sua vez artístico da criança. da criança, contribuindo também para o infantil, tornando as atividades atraentes aos
seu pensamento através da arte. Definimos Apoiar o aprendizado da criança dentro de desenvolvimento da linguagem. Através das olhos recebendo uma dimensão educativa
todo este processo com um único termo uma perspectiva inclusiva, que se apoie em artes então a criança expressa o seu processo importantíssima.
criatividade. situações artísticas que estimulem a criança a de faz de contas, atribui a vida a seres
experimentar, testar, refazer, buscar, pensar,

358 359
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Quanto mais à criança se adapta às Devendo esta ser valorizada uma vez
realidades físicas e sociais a que está inclusa que nela encontra-se um aspecto muito espaço, pois, necessitam que as escolas que medos, ansiedades e condições. A educação
culturalmente vai se entregando menos significativo, no qual devemos dispensar de certa forma tem o papel de ajudar os pais artística e arte então assumem dois papéis
às brincadeiras lúdicas que priorizam o um olhar especial, pois como a retém muita a educá-los uma vez que os mesmos estão importantíssimos no desenvolvimento do
imaginário. (WAJSKOP, 2001, p. 33). O atenção e observação das crianças, esta fora em busca do sustento da família não tem indivíduo, o primeiro de termômetro que
contato com diferentes tipos de conceitos pode se tornar uma forte aliada no trabalho interesse de participar de grande quantidade mede o problema existente no grupo; E
artísticos durante o período infantil pode a ser desenvolvido, com o principal dever de atividades extracurriculares impedindo o trabalhando-se em grupo é possível corrigir
favorecer o processo de aprendizagem e de resgatar a atividade como caminho para contato artístico com diversos saberes (...) os problemas criados. Quando a criança
até eterniza-lo desde que as atividades espontaneidade e o desenvolvimento integral “Dentro de suas possibilidades, a criança está motivada a participar do processo
propostas sejam adequadas à faixa etária e a das crianças, favorecendo a aprendizagem de transforma esses espaços para adaptá-los a ensino-aprendizagem, ela se concentra
necessidade da criança. diferentes culturas, e a solução de diversos suas brincadeiras”. (FRIEDMANN, 1996, p. mais e melhor, não apresentando problemas
conflitos. 17). de disciplina tornando-se participativa, e
Estes são, portanto, recursos que a criança concentrando suas energias nas situações de
usa para obter prazer e para se ajustar a um A IMPORTÂNCIA DA ARTE NO Diante desta realidade, muitas crianças aprendizagem. (Kishimoto,1996).
mundo incompreendido ou temido. Quando ENSINO FUNDAMENTAL I participam de atividades artísticas somente
brinca o “faz de conta” sabe que sua conduta na classe, sendo que este ambiente apesar de Neste momento, o papel do professor
não é racional para os outros, mas, não Devido a uma falha, a arte na escola esta ser extremamente importante para auxiliar o é importantíssimo nas atividades de
está se preocupando em convencê-los. A fica em segundo ou terceiro plano, pois desenvolvimento e na troca de experiências integração com outras disciplinas como
arte então ganha espaço, possibilitando o o educador em sala de aula se preocupa entre adultos e crianças, muitas vezes não fator fundamental para aprender. Além
desenvolvimento das habilidades manuais, primeiro com o planejamento, depois com está preparado para a realização destas de motivador o professor tem papel
a criatividade enriquece a experiência os objetivos a ser seguido o que demanda atividades. Piaget trabalha com a ideia de importante de orientador, pois é orientando
sensorial, além de promover a socialização. muito tempo, considerando as matérias que o desenvolvimento da criança possui e ensinando que as crianças verificaram
principais, português e Matemática mais três características: a imaginação, a imitação suas habilidades, capacidades e atividades
Quando a criança desenha, ela realiza mais importantes, diminuindo ou atrapalhando e a regra que estão presentes em todos os que transmitam seus pensamentos. Desde
do que um ato de riscar, a criança realiza a assim o momento de fazer arte. tipos de brincadeiras, sejam elas, faz de a primeira infância as artes visuais fazem
comunicação com o mundo tornando-o uma conta, tradicionais ou com regras... “Brincar parte da vida da criança contribuindo
verdadeira fonte de dados, assim o desenhar Antigamente pouco se costumava ir a é importante e necessário em qualquer idade para o seu desenvolvimento. Segundo o
acontece em vários e diferentes momentos teatros, cinemas, shows, mas hoje com na pré-escola é muito mais, pois a mudança RCNEI (REFERENCIAIS CURRICULARES
do cotidiano infantil. No ensino fundamental muita criatividade, os espaços foram brusca de ambientes e situações assusta, NACIONAIS DE EDUCAÇÃO INFANTIS,
I, a arte tem um importante papel na vida abertos e os espetáculos foram enviados e com certeza este não é o objetivo pré- 1998).
do aluno, pois este consegue expressar- para os extremos onde a pobreza e a escola” (1996). Apoiada nesta ideia entende-
se através de suas atividades, resolvendo desinformação impera, as Prefeituras se que a arte pode ser utilizada de maneira A ORGANIZAÇÃO DE SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM
conflitos comuns da transição entre abriram os CEUs (Centros Educacionais espontânea, exatamente como o brincar. ORIENTADAS OU QUE DEPENDEM DE UMA
infância e adolescência, justamente pelo Unificados) onde às crianças, adultos, e INTERVENÇÃO DIRETA DO PROFESSOR PERMITE
favorecimento dado ao ato de demonstrar adolescentes ganharam o espaço de fazer e Desta maneira, a nova forma de trabalhar QUE AS CRIANÇAS TRABALHEM DIVERSOS
sentimentos, medos, desejos e angústias receber arte coletivamente e com qualidade. os jogos dramáticos e os jogos de ficção CONHECIMENTOS. ESSAS APRENDIZAGENS NÃO
através das expressões artísticas possíveis possibilita a expressão autêntica do grupo. DEVEM ESTAR BASEADAS APENAS NA PROPOSTA DOS
pela disciplina. Muitas crianças ainda não se utilizam deste As interações grupais funcionam como PROFESSORES, MAS, ESSENCIALMENTE NA ESCUTA
microcosmos, nos quais podemos captar seus DAS CRIANÇAS E NA COMPREENSÃO DO PAPEL QUE

360 361
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

A arte contribui, portanto, para que este com as mais diversas linguagens, favorecendo o
desenvolvimento seja efetivo e significativo desenvolvimento de suas habilidades.
DESEMPENHAM A EXPERIMENTAÇÃO E O ERRO NA consciência,corpo etc. servindo com apoio didático pedagógico
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO (RCNEI, 1998, P. valorizando a cultura infantil. Os textos e os
13). Ao perceber seu próprio desenvolvimento esquemas e as repetições das cantigas de roda,
físico, a criança reconhece seu corpo como oferecem uma vivência muito rica da estrutura
E esta função das artes, continuam sendo veículo de informação e comunicação com o da língua materna, a sua estrutura rítmica,
de suma importância no Ensino Fundamental meio físico e humano desenvolvendo-as psico diferente da linguagem corrente, constitui-se
I. O desenhar, representar enfim brincar com e motoramente, coordenando seu equilíbrio num diferente tipo de vivência do idioma.
o saber não representa apenas o vivido, ele lateralidade e movimentos, associado ao
serve também para preparar para o futuro, respeito pelo espaço do outro favorecendo Quadrinhas, rimas, etc., fazem parte de um
é neste espaço livre das pressões que as seu senso espacial. A Arte então se apresenta diferente repertório de cantigas de roda. O
habilidades são desenvolvidas, servindo atreladas a uma rica gama de movimentos, contato com este material amplia e favorece a
como suporte para dificultar suas fases permite o desenvolvimento do aluno como um apropriação de formas cada vez mais complexas
quando necessário, assim acontece com a todo, sem que ele perceba, sendo realizadas de linguagem. A arte com enfoque cultural
criança, o conhecimento não é esquecido, as atividades de formas descontraídas. A permite, portanto, um acesso intermediário entre
mas é acumulado, oferecendo maiores função desta é então cultural e, portanto, este mundo ilusório e a realidade, oferecendo HOZANETE DO NASCIMENTO
graus de dificuldade e assimilação conforme favorecer a interação dela com o mundo, a criança à chance de interagir com o mundo. NUNES MAGALHÃES
ocorrem, contribuindo para a disseminação ajudando a se sentir bem com o meio social, Durante o aprendizado , com artes visuais que
da cultura a qual o indivíduo está inserido. promovendo condições para que ocorra um às vezes tornam-se até repetitivas aos olhos dos Licenciatura em Pedagogia pela Universidade
convívio social agradável desenvolvendo adultos as crianças estão treinando habilidades São Marcos, licenciatura em Artes Visuais
Valendo-se destes pontos a criança suas habilidades sociais, levando a criança a que não podem ser ensinadas durante o dia a pela Faculdade Mozarteum de São Paulo,
desenvolve a imaginação podendo não compreender a necessidade de cooperação dia, pois esta socializa com o outro, saberes Especialização em Cultura e Arte Afro-brasileira
só resolver problemas e situações, mas com seus pares, desenvolvendo atividades que vieram gravados na memória de seus pais e na Educação pela Faculdade Casa blanca,
através da criatividade encontra várias de independência. foram passados de geração em geração. Especialização em Psicomotricidade pela
maneiras de resolvê-las ampliando suas Universidade Cândido Mendes, Especialização
habilidades conceituais. Permitir a criança A cultura local ainda auxilia a também no CONSIDERAÇÕES FINAIS em Gênero e Diversidade na escola pela
o direito de expressar-se, buscando ampliar desenvolvimento intelectual das crianças, Universidade Cândido Mendes. Professora de
seu conhecimento através de informações facilitando à fonética, e o entendimento da Para valorizar o trabalho com as artes é Educação Infantil e Ensino Fundamental I na rede
culturais, fornecidas por festas, folguedos, história, oferecendo a formação crítica do preciso então, observar como as crianças se municipal de ensino da Cidade de São Paulo.
danças ritmos, e brincadeiras folclóricas indivíduo, despertando a curiosidade da busca expressam, e o modo como estas o fazem,
favorece a possibilidade de abrir uma do novo, favorecendo o reconhecimento e como estas ocupam lugar em suas vidas, é
janela para seu emocional, pois na infância das diversas coisas existentes no mundo: normal observar as crianças cantando o tempo
encontra-se com suas raízes e entende como pessoas, animais, objetos, países, etc., inteiro, ao realizar uma atividade, ou ao distrair-
as mesmas funcionam, e qual a sociedade contribuindo ainda no desenvolvimento se entre uma brincadeira ou outra.
em que está inserida, entre outras funções, das crianças em relação à resolução de
tem como prioridade, ajudar aos alunos problemas, sequenciação, memorização e Esta valorização é facilmente realizada através
a desenvolver suas habilidades como, raciocínio lógico, além de favorecer-lhes a das expressões infantis oferecidas graças ao
permitir que a criança tome consciência aquisição de uma postura consciente. vasto repertório de atividades, oferecendo
de seu espaço , de cores, formas, senso de interações diversas para que as crianças possam
através de tais interações entrar em contato

362 363
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS
BARBOSA, A. M. Arte – Educação: leitura no subsolo. São Paulo: Cortez, 2005.
___________. A Imagem no ensino das Artes. São Paulo: Perspectiva. 1989.
___________. Artes Educação no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1978.
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/ Lei nº 9394-
96. Brasília: SEB, 1996.
BRASIL. Secretaria da Educação. Fundamental Parâmetros Curriculares Nacionais –Arte.
Brasília: MEC/SEF, 1997.
ANDRADE, M. - O Artista e o Artesão-1938 – O Baile das Quatro Artes. São Paulo:
Livraria Martins, 1963.
ALTET, X. B. História da Arte. São Paulo: Papirus, 2001.
FRIEDMANN. A. O Direito de Brincar: A Brinquedoteca. São Paulo: Scrita, 1996.
___________. Brincar, Crescer e Aprender. São Paulo: Moderna, 1998.
FREIRE, J. B. Educação de Corpo Inteiro – Teoria e Prática da Educação Física. São Paulo:
Scipione, 2001.
GALVÃO, I. H. W. A concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis: Vozes, 1995. DOCUMENTAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO
KISHIMOTO, T. M. O Jogo e a Educação Infantil. São Paulo: Pioneira, 1994.
___________. Jogo Brinquedo e a Educação. São Paulo: Cortez, 1999. INFANTIL: A VISIBILIDADE DAS APRENDIZAGENS DOS
___________. Jogos infantis, O Jogo, A Criança e a Educação. Petrópolis: Vozes, 1993. BEBÊS E CRIANÇAS PEQUENAS
MARTINS, M. C.; PICOSQUE, G.; GERRA, M. T. T. Didática do Ensino de Artes, A língua do
mundo – Poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998.
OLIVEIRA, Z. de M. R. Educação Infantil, Muitos olhares. São Paulo: Cortez, 2001. RESUMO: O presente estudo tem por objetivo revelar como os bebês e crianças pequenas
aprendem e como se pode dar visibilidade para esses saberes, que até pouco tempo estavam
PIAGET, J. PSYCHOLOGIE ,E.T Pedagogie. PARIS: Deonel, 1968. invisíveis no cenário educativo. Destaca-se a importância da abordagem desse assunto, já
PIAGET, J. A formação do Símbolo na Criança: imitação, jogo que ainda podemos denominar como muito recente esses estudos no Brasil. Uma base muito
e sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro: Zahar,1990. sólida e que é referência no mundo, é a pequena cidade italiana de Reggio Emília sendo
assim, não é possível pensar em documentação pedagógica sem se referenciar e se inspirar
nas fundamentais contribuições do trabalho de Loris Maguzzi. O processo de documentação
pedagógica no Brasil e especialmente no munícipio de São Paulo ao qual esse estudo se
refere, tem avançado graças ao empenhos de estudiosos que buscam inspiração na pequena
cidade italiana que foi a precursora nesse sentido e em outras pedagogias das infâncias, além
do investimento, que em especial a secretaria municipal de São Paulo tem oportunizado para
que os profissionais da educação infantil adquiram maior conhecimento sobre seus fazeres,
mas que também oportunizem atendimento de maior qualidade junto aos bebês e crianças
pequenas, refletindo e compreendendo como se dá as aprendizagens para essas crianças e
no que se pode avançar nas ações educativas dentro de um trabalho acerca da pedagogia da
infância.

Palavras-chave: Documentação pedagógica; Registros; Crianças; Professor;

364 365
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO A realização de registro na educação desenvolvidas nesse mesmo diário, nesse dos professores de educação infantil. Os
Infantil de São Paulo, especificamente nas momento a ideia era de promover uma forma professores da infância não buscam somente
creches e centros de educação infantil de registro parecida à que já acontecia nas atender a legislação vigente, mas também
Conforme explicitado no resumo deste com caráter pedagógico, teve início com a Escolas Municipais de Educação Infantil. entender cada vez mais a importância
trabalho, seu objetivo é revelar a forma transição de secretarias da assistência social, dos registros e consequentemente
como as crianças na educação infantil para secretaria da educação. A partir dos estudos realizados acerca de da documentação pedagógica para o
aprendem e como se pode dar visibilidade a uma pedagogia da infância e das legislações desenvolvimento e aprendizagem dos bebês
esses saberes nem sempre visualizados no Em 2001 as creches conveniadas, diretas vigentes na cidade de São Paulo ao longo e crianças, a fim de desnaturalizar as práticas
cenário educativo. Para tanto, esta pesquisa e indiretas passaram a ser denominadas dos anos, esses registros foram tomando e atribuir-lhes seu devido valor e importância,
terá como aportes teóricos alguns trabalhos como centros de educação infantil. novas formas, com ampliação de olhar para assim como a sua autovalorização de
consagrados como de: Loris Maguzzi Anteriormente os registros que se tinha das essa criança adotando-se concepções mais profissional da infância, num exercício
para descrever como se dá o referencial crianças atendidas, era a ficha de saúde, adequadas de criança, infância e currículo, de protagonismo compartilhado.
pedagógico em creches, mais especificamente que trazia informações sócio econômica das segundo a orientação normativa 1/04 da Pensando em tudo isso, destaca-se aqui
em relação as referidas da cidade de São famílias, saúde da criança com informações Secretaria Municipal de educação: a importância do registro pedagógico que
Paulo. Como também serão apresentados em relação ao peso e crescimento dessas dê visibilidade aos fazeres infantis, assim
trabalhos sobre o surgimento dos registros crianças, além de dados como endereço da Visando à construção de uma Pedagogia da Educação como a ação do profissional docente.
na Educação Infantil de São Paulo. Com este família e local de trabalho, naquela época Infantil, defende-se uma concepção de criança que,
intuito será apresentado um cenário sobre a grande maioria não tinha telefone fixo e desde o nascimento, é produtora de conhecimento e de Os registros pedagógicos precisam comunicar o percurso
como é e como se concretiza a situação para se conhecer um pouco da realidade das cultura, a partir das múltiplas interações sociais e das e o processo das experiências vividas nas interações
das creches paulistas e suas especialidades, famílias atendidas, eram realizadas visitas relações que estabelece com o mundo, influenciando entre bebês/crianças, bebês/crianças e adultos, bebês/
necessidades e reais situações. as casas, a fim de ver mais de perto a real e sendo influenciada por ele, construindo significados a crianças e materiais, bebês/crianças e espaços para os
situação em que se encontravam. partir dele.(...) O currículo, entendido como o conjunto próprios bebês e crianças, para famílias/responsáveis e
Das creches aos CEI’s de relações que se estabelece na unidade, construído para todos os educadores (nos momentos de formação
Existia ainda um instrumental chamado portanto de forma dinâmica e flexível, fundamentado permanente). (Instrução Normativa nº02, 2019)
O surgimento dos registros na educação caderno de sala para as então pajens e ou no diálogo e numa perspectiva crítica e coletiva tem,
infantil de São Paulo Aprender a escutar, auxiliares de desenvolvimento infantil, necessariamente, como ponto de partida, os interesses Reflexões sobre as
a ver, a observar e a interpretar as ações, que eram as educadoras que trabalhavam e demandas das crianças e comunidade. Deve levar em aprendizagens dos bebês e
os pensamentos, as lógicas interrogativas diretamente com essas crianças, registrarem conta todas as ações, experiências e vivências em que são crianças
e construtivas das crianças nos permite as atividades que desenvolviam, os cuidados envolvidos os sujeitos de sua construção, considerando:
aprender a arte de estar e conversar com elas, dispendidos a essas crianças, ocorrências sua linguagem, a dimensão lúdica, o tempo e o espaço Refletir sobre as aprendizagens das
entender quais processos e procedimentos variadas, entre outras informações que se em que se desenvolvem as atividades, os participantes crianças em grupo e individualmente, requer
escolhem para ganhar afeto e conhecimento. fizesse pertinente relacionado ao trabalho (atores e protagonistas), as formas de possibilitar um certo refinamento do olhar, da escuta e
Portanto aos educadores compete a com os bebês e crianças. as interações e as modalidades de gestão (SME) . indagações sobre como aprendem e quais
responsabilidade de projetar e de construir serão os instrumentos que poderão revelar
contextos que apoiem esses processos e Mediante da mudança de secretarias os Desde então as mudanças vem acontecendo tudo isso. Entende-se que a documentação
procedimentos, que favoreçam as relações, registros ganharam um novo caráter, como o com muito estudos dos profissionais da pedagógica além de promover a visibilidade
os empréstimos de competências, as acompanhamento da frequência em diário de secretaria de educação, com a elaboração das aprendizagens, ela tem a capacidade de
expectativas, as imitações e os “contágios” classe, e também os registros das atividades de documentos que norteiam as práticas promover tais aprendizagens, garantindo
(Zero p,14 2014).

366 367
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

interdependência e correlação entre os com a qualidade das oportunidades de compartilhar e para quem, que ferramentas utilizar, enfim revela as aprendizagens das crianças
saberes, segundo Zero p.21 de 2014, e participar dos contextos educativos cotidianos da são tantos os questionamentos que surgem, processos de aprendizagem das crianças.
“Quando as suas aprendizagens são escola. Construir e manter relações é o fio condutor que muitos estudos trazem a luz àquilo que De acordo com Dalhberg, Moss e Pence
documentadas, as crianças podem visitá-las que acompanha as crianças ao longo dos vários tempos, era ainda muito inconsistente. Tudo isso é (2003, p. 194), Documentação Pedagógica:
e, portanto, dar sentido novamente às suas espaços, atividades da sua vida cotidiana: construir muito processual, é preciso desconstruir
experiências de aprendizagem e, ao mesmo conexões com o mundo que a circunda, ver sempre mais práticas e concepções obsoletas, para [...] Quando usamos o termo “documentação pedagógica”,
tempo, refletir sobre como desenvolver essas as interdependências entre as ações e a realidade delas, se apropriar e colocar verdadeiramente estamos, na verdade, referindo-nos a dois temas
experiências mais adiante”. Sendo assim, é a principal, à qual se dedicam, com energia e paixão, em práticas as propostas atuais. relacionados: um processo e um importante conteúdo desse
a reflexão e a interpretação dos fazeres desde o momento do nascimento (ZERO, 2014, p. 54). processo. A “documentação pedagógica” como conteúdo,
infantis nas unidades de atendimento são Atualmente, muitos professores ainda é o material que registra o que as crianças estão dizendo e
fundamentais no processo de documentação Pensando em tudo isso, é importante estão aprendendo sobre esse processo, fazendo, é o trabalho das crianças e a maneira com que o
pedagógica e, devem ser vistos não somente destacar que assim como as crianças de como documentar com qualidade pedagogo se relaciona com elas e com o seu trabalho. Tal
como uma retrospectiva de acontecimentos, aprendem por meio das interações e o que as crianças fazem e aprendem e material pode ser produzido de muitas maneiras e assumir
mas embasar a projeção de novos contextos brincadeiras, a documentação pedagógica consequentemente quais são as práticas, muitas formas – por exemplo, observações manuscritas
educativos, dessa forma, a documentação não é solitária, muitos são os envolvidos ações pedagógicas e concepções desse do que é dito e feito, registros em áudio e vídeo,
não vai apenas tornar visível o que já nesse processo e a criança só terá garantida professor que registra e protagoniza junto com fotografias, gráficos de computador, o próprio trabalho
aconteceu, mas dá sentido porque se a qualidade de sua s aprendizagens nos a criança esse minucioso e valoroso processo. das crianças, incluindo, por exemplo, arte realizada no
tornaram visíveis e portanto, possíveis. diversos contextos educativos. Tempos, atelier com o atelierista. Este material torna o trabalho
espaços, materiais e interações são a base A ideia e a prática da documentação pedagógica têm pedagógico concreto e visível (ou audível) e, como tal, é um
Os educadores nesse processo de para a promoção dessas aprendizagens e, a uma longa história, que envolve um processo reflexivo ingrediente importante para o processo da documentação
documentar se sentem desafiados com as partir daí que se terá subsídios suficientes e democrático de registro da prática pedagógica. A pedagógica. Esse processo envolve o uso desse material
reflexões que surgem nesse processo. Os para alavancar as relações nos diferentes documentação nos diz algo sobre como construímos a como um meio para refletir sobre o trabalho pedagógico
pensamentos levam a provocação de novas contextos cotidianos. Refletir sobre as imagem de criança, assim como de nós mesmas (os) como e fazê-lo de uma maneira muito rigorosa, metódica e
práticas educativas e consequentemente ações pedagógicas promovidas potencializa professoras (es). Isso nos permite enxergar com maior clareza democrática (DALHBERG, MOSS, PENCE, 2003, p. 194).
alimentados para desvelar como as crianças a ampliação e o desenvolvimento da o que estamos fazendo na prática. Nessa perspectiva, a
aprendem. As crianças pequenas têm infinitas experiência educativa, dá-se um novo documentação pedagógica supõe e propõe outra forma Os desafios da escolha do que
capacidades, cabe ao professor viabilizar sentido, viabiliza a ação, reflexão e ação, de planejamento e registro do trabalho pedagógico, não realmente tem significado
oportunidades significativas para que essa favorece as estratégias formativas do linear e mais interativo, envolvendo a participação não
criança se coloque a formular hipótese, realizar processo de documentação, por meio da auto só das (os) professoras (es), como das crianças, famílias/ Entender e dar visibilidade aos fazeres dos
descobertas, pesquisas e investigações, que avaliação e ressignifica as novas práticas. responsáveis e comunidades. Os registros do que fazem bebês e das crianças pequenas exige uma
possa solucionar problemas, criar estratégias, bebês, crianças e adultos em interação são fundamentais constante reflexão do professor da infância,
se desafiar, enfim que tenha possibilidade Documentação pedagógica para a concretização de um currículo integrador em ação, essa escolha é sempre um desafio, pois,
de viver a infância em sua inteireza. na educação infantil construído a partir das ações e das práticas vivenciadas garantir que o que está exposto provoque e
cotidianamente. (Currículo da Cidade p.145, 2019) comunique os percursos educativos, assim
Segundo Filippini em Zero p. 54, 2014: Pensar em documentação pedagógica como as concepções de criança, infância e
especialmente na educação infantil, nos leva a Documentação Pedagógica não pode ser autoria dos envolvidos, é sempre permeado
A qualidade das aprendizagens, especialmente do aprender reflexão de vários fatores do como fazer, qual definida como um conjunto de registros de escolhas, escolhas essas que traz a luz,
em grupo, parece estar estreitamente relacionada processo a percorrer, o que mostrar, para quê de textos, imagens, vídeos e áudios que mas também, deixa a parte. O professor da

368 369
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

infância, busca sempre reinventar maneiras realmente sentido, ele precisa estar também sua intencionalidade, fugindo assim dos fórmula, ou um passo a passo, para realizar
de trabalhar com seus variados registros na ação e não somente registra, é ele que vai registros apenas descritivos das ações. esse processo documental, o que realmente
afim de que aqueles que não tem a mesma fazer as intervenções para que se amplie os importa e faz sentido, é que o professor
clareza sobre suas intencionalidades, repertórios das crianças, dessa forma, uma Pensando em tudo isso, fica claro que esteja imerso juntamente com as crianças,
consiga visualizar o que ele quer comunicar, boa estratégia seria variar momentos entre para se chegar a registros que realmente vivendo intensamente os fazeres e as ações
afinal o foco deve ser sempre evidenciar registrar e estar na ação, e esse registro pode possam ser intitulados de documentação infantis, para que possa conhecer de fato
os percursos das crianças, suas conquistas, ser feito por muitas pessoas, inclusive pelas pedagógica, é preciso qualificar as práticas aquele grupo e encaminhar por intermédio de
desafios e potentes aprendizagens. Para próprias crianças. com intencionalidade, olhar atento e escuta escuta atenta e de olhar sensível, diferentes
isso, ele não caminha sozinho nesse sensível aos bebês e crianças pequenas, contextos educativos.
processo, a participação das crianças Com essa variação de quem registra colocando-os sempre no centro do projeto
também é fundamental nesse momento de também se ampliou os olhares, assim como político pedagógico, pois, somente assim, Nesse estudo ressaltou-se ainda a
escolha, as crianças não só devem como as possibilidades. O que também é de serão realmente vistos como protagonistas importância de se trazer desafios às
precisam fazer parte dessas escolhas. fundamental importância que faça parte de seus fazeres. crianças, propiciar possibilidades de
dessa documentação, são as produções pesquisas, investigações e descobertas
Assim, conforme os autores, devemos das crianças, pois, tudo o que produzem desnaturalizando as práticas cotidianas e
sempre ter muito claro que a documentação traz muito do que pensam e de como está CONSIDERAÇÕES FINAIS qualificando ações educativas. Tratou-se
pedagógica não é tão somente um apanhado acontecendo seu desenvolvimento, essas também dos desafios de se desconstruir o
de registros de textos, fotografias, áudios produções podem ser as mais variadas, O presente estudo possibilitou entender que já estava posto e ressignificar as ações
e vídeos que apenas apresente beleza, vai como desenhos, garatujas, esculturas, que a documentação pedagógica é a forma do professor e os fazeres infantis, já que, a
muito além, é um processo de investigação colagens, construção, produção de imagens, como se pode apresentar o percurso de prática de documentação pedagógica ainda
e revelação que dá visibilidade ao que a enfim, tudo o que a criança produz. Em vivências e aprendizagens das crianças, é muito recente, porém, muitos estudos
criança está aprendendo, o que ela gosta ou relação as fotografias e filmagens, é preciso mediante imagens, textos, vídeos e áudios vêm sendo realizados e grande parte dos
não, qual foi o percurso que ela escolheu, estabelecer um critério do que realmente é e também os trabalhos dos professores professores de infância vem se dedicando
quais foram seus desafios para que chegasse importante, pois, com a facilidade de hoje e comunidade envolvida nesse processo. a compreender esse processo por meio de
naquele lugar. Os registros das observações, se registrar tudo, muitas vezes o professor Segundo esse estudo entende-se também estudos, formações e transformações de
toda a documentação (que é composta pelos pode acumular uma quantidade de registro que as escolhas apresentadas nesse processo seus fazeres pedagógicos.
múltiplos registros) e a interpretação a luz que não dê conta de revisitar e realmente também trazem implícita concepções de
das teorias é que vão reverberar em uma fazer bom uso desse material. criança, de infância e de como se dá as Dessa forma pode-se afirmar que entender
documentação pedagógica dos trabalhos aprendizagens. e viabilizar a documentação pedagógica, além
desenvolvidos. O registro escrito deve ter um caráter de de comunicar as aprendizagens infantis, tem a
dar visibilidade aos avanços e conquistas O material produzido no processo de capacidade de promover essas aprendizagens
É preciso ver e rever as ações, pensar sobre e não de se prender a padrões do que documentar deve ser analisado, estudado e e de fortalecer a ação pedagógica em um
elas, buscar os olhares dos outros envolvidos sabem ou não sabem as crianças, afinal as interpretado para que se chegue no estágio protagonismo compartilhados de ações
e também o próprio olhar, muitas vezes nem aprendizagens se dão de maneira processual, de apresentar àqueles que se interessem por significativas.
sempre é possível ver tudo, dessa maneira, cada um a seu tempo, com habilidades e conhecer os percursos de como os bebês
as fotos, filmagens e áudios sempre trazem individualidades que devem ser respeitadas. e crianças aprendem, e assim promover
elementos que não foram percebidos ao As perguntas acerca dos registros contribuem a visibilidade dessas aprendizagens. Foi
vivo, além do mais, para o fazer docente ter muito para que o professor tenha foco em possível compreender que não existe uma

370 371
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Paulo: Biruta, 2012

OSTETTO, Luciana Esmeralda. Registros na educação Infantil: Pesquisa e Prática Pedagógica


- Campinas, SP: Papirus, 2017

RINALDI, Carla. Diálogos com Reggio Emília: Escutar, Investigar e Aprender- 4ª Edição- RJ:
Paz e Terra, 2017

SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da


Cidade: Educação Infantil – São Paulo: SME/ COPED, 2019

SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Currículo
INALDA MARIA DE LIMA CORDEIRO integrador da infância paulistana. São Paulo: SME/DOT, 2015 72p. : II

Graduação em Pedagogia pela Faculdade Unicapital (2007); Professora de SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica.
Educação Infantil – no CEI Jardim Tietê. Indicadores de Qualidade da Educação Infantil Paulistana. São Paulo: SME/DOT, 2016

SÃO PAULO, SME- Orientação normativa nº 01: avaliação na educação infantil: aprimorando
os olhares – Secretaria Municipal de Educação – São Paulo: SME / DOT, 2014

ZERO, Project- Tornando visível a aprendizagem: crianças que aprendem individualmente e


REFERÊNCIAS em grupo/ Reggio Children: tradução Thais Helena Bonini-1 ed.-São Paulo: Phorte, 2014

BRASIL, MEC - Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil, 1998

BRASIL. Ministério da Educação. Secretária de Educação Básica. Diretoria de Currículos e


Educação Integral. – Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.

DAHLBERG, Gunilla; MOSS, Peter; PENCE, Alan. Qualidade na educação da primeira infância:
perspectivas pós-modernas. Porto Alegre: Artmed, 2003.

EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Lella; FORMAN, George. As cem linguagens da criança: a


abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. Porto Alegre: Artmed, 1999.

GANDINI, Lella; EDWARDS, Carolyn. Bambini: a abordagem italiana à educação infantil.


Porto Alegre: Artmed, 2002.

OLIVEIRA, Zilma Moraes Ramos de (org). O trabalho do Professor na Educação Infantil. São

372 373
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO das histórias trabalhadas em sala de aula, nos


momentos de leitura, conseguimos despertar
Um dos propósitos do ensino da leitura alguns valores que proporcionam mudanças
é a compreensão e um dos propósitos da em determinados comportamentos. Partindo
alfabetização e do letramento é auxiliar as da história os conteúdos significativos sobre
crianças a compreender o que leem e o que a construção de valores surtem um efeito
escrevem. Muitas crianças não têm acesso positivo no dia a dia em sala de aula.
ao universo da leitura em sua residência e
no meio em que vive, tornando essencial Apesar de pouca idade, as crianças são
o trabalho da escola com o intuito de capazes de associar estas histórias com o
propiciar tais experiências aos seus alunos. cotidiano e percebem que as suas atitudes
O objetivo da educação, pautada no ensino podem mudar em determinadas situações. Ao
e na aprendizagem efetivas, procura trabalharmos com a literatura infantil temos
desenvolver habilidades na aquisição da uma abordagem voltada a realidade e aos dias
escrita e da leitura e a literatura infantil atuais, de forma lúdica e com a participação
é muito importante neste processo. O das crianças como protagonistas, desta
contato com histórias e livros na educação maneira, conseguem “invadir” o mundo
infantil proporciona à criança apropriar-se imaginário encontrando soluções para alguns
do universo letrado e do imaginário. conflitos de sua convivência.

A LITERATURA NAS PRÁTICAS ESCOLARES DA Incentivar o aluno ao hábito da leitura O IMAGINÁRIO INFANTIL E A
é um dos objetivos almejados pelos CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
EDUCAÇÃO INFANTIL I educadores e nos dias atuais a escola
deve promover práticas diferenciadas e o
RESUMO: Este artigo trata do tema Literatura nas Práticas Escolares da Educação Infantil acesso a diferentes materiais para que o De acordo com Guimard (2010) tanto
e tem como objetivo apresentar as principais práticas que envolvem a leitura na escola aluno inserido na era tecnológica, possa o brincar como o teatro são auxiliares no
de educação infantil e analisar os conceitos referentes ao ensino da leitura e literatura ter contato com diferentes materiais, processo de ensino e aprendizagem pois,
na escola. Nos dias atuais a escola deve promover práticas diferenciadas e o acesso a textos, livros, revistas, etc., não apenas ativam a memória e a concentração e
diferentes materiais para que o aluno inserido na era tecnológica, possa ter contato com com a função de cumprir os conteúdos contribuem para o desenvolvimento motor e
outros portadores textuais no seu dia a dia na escola, não apenas com a função de cumprir curriculares mas também pelo despertar para a sociabilidade da criança com os demais
o proposto nos programas escolares. Na área do ensino da leitura e literatura, o trabalho do prazer da leitura em si. Saber como a parceiros, seja na escola ou nas relações no
da escolar consiste em utilizar pedagogicamente todas as formas de linguagem, de maneira literatura contribui para o desenvolvimento contexto social no qual está inserida.
que cada criança possa se apropriar das linguagens de maneira adequada e que este do imaginário infantil e como as histórias
aprendizado tenha sentido e significado. O objetivo da educação, pautada no ensino e na podem interferir no comportamento destas Segundo Brandão (2011) embora pareça
aprendizagem efetivas, procura desenvolver na criança as capacidades leitora e de escrita e crianças no convívio familiar e escolar se óbvio que ser capaz de ouvir histórias
a literatura infantil é muito importante neste processo. O contato com histórias e livros na torna essencial para o trabalho com este em grupo seja uma conduta natural, não
educação infantil proporciona à criança apropriar-se do universo letrado e do imaginário. gênero. precisando ser ensinada, evidências de
A literatura infantil contribui para a formação da criança auxiliando no pensamento crítico pesquisa mostram justamente o contrário,
e reflexivo nas ações e relações no meio em que está inserido. Como educadoras da infância e com ou seja, que as crianças precisam aprender
base em nossa vivência em sala de aula e na sobre o que é fazer parte de uma roda de
Palavras-chave: Literatura; Leitura; Educação Infantil; Práticas Pedagógicas; Aprendizagem. educação infantil, percebemos que a partir

374 375
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

contexto mágico e fantástico, fazendo infantil e o gênero literário “conto de


o papel dos personagens e construindo fadas” possibilita a criança ensaiar papeis,
histórias para que sejam participantes crianças consigam enxergar no ato de ler, os seus reinos imaginários, com esses construir sua personalidade e, além disso, o
ativas dessa atividade. Ainda de acordo uma atividade prazerosa, tanto quanto o ato conflitos entre realidade e fantasia a criança trabalho com este gênero pode promover a
com a autora a participação das crianças em de ouvir histórias, promovendo o contato vai amadurecendo a sua personalidade e socialização.
rodas de história oportuniza a formação de dos alunos com diferentes portadores de vivenciando experiências que ampliam a sua
uma comunidade de ouvintes, ampliando textos e tornando-se um exemplo de leitor criatividade. A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA
o repertório de narrativas e manifestando para as crianças. A escola, neste sentido, tem E LEITURA NA EDUCAÇÃO
seus gostos, personagens e histórias papel fundamental promovendo situações Na área da educação e para os professores INFANTIL
favoritas. É fundamental que as rodas de para que estas interações aconteçam. os contos de fadas se apresentam como
história aconteçam de diferentes maneiras um aliado no processo de desenvolvimento Inicialmente temos aqui algumas
propiciando às crianças o direito de escolher Segundo COELHO (2008), o mundo dos intelectual e emocional das crianças, por definições da palavra Leitura e o Ato de
os livros, organizar o espaço, realizar o contos de Fadas relacionado com a Educação, meio deles a criança pode aprender e Ler, segundo alguns autores: Para Kleiman
reconto de histórias conhecidas para os tem a função de auxiliar na formação das reconhecer pensamentos e sentimentos que (2008), a leitura não pode transformar-se
colegas da turma, mesmo não sabendo ler novas gerações, vinculando a Educação com auxiliam nas relações com as demais crianças em mera decifração de signos, deve permitir
ou escrever. a Literatura. As mudanças que ocorrem na e os adultos. que o leitor apreenda o sentido do texto.
sociedade, necessitam de uma mudança na Para Martins (1994, p. 22), o conceito de
No contexto da Educação Infantil, ao propor a roda de forma de ver a concepção de mundo. A criança No trabalho com a literatura infantil, em leitura está geralmente restrito a decifração
histórias, a professora pode ter em mente diferentes deve ser estimulada a falar e a expressar os especial com o conto de fadas temos uma da escrita, sua aprendizagem, no entanto
finalidades: fazer juntos uma coisa de que todos gostam, seus sentimentos e as suas impressões sobre abordagem voltada à realidade e aos dias deve estar atrelada a formação global do
estreitando os vínculos e desenvolvendo o sentido aquilo que está sendo ofertado a ela. No caso atuais, de forma lúdica e com a participação indivíduo. Para Freire (1994, p. 14), a leitura
de coletividade; discutir temas relevantes para grupo das histórias infantis elas demonstram um das crianças como protagonistas, desta do mundo precede a leitura das palavras [...]
ou para alguma criança em particular; desenvolver a grande interesse em comentar e falar sobre maneira, conseguem “invadir” o mundo a compreensão do texto é alcançada por sua
linguagem oral, além de outras finalidades relacionadas ao os personagens, assumindo os seus papéis imaginário encontrando soluções para alguns leitura crítica. Para Antunes (2007, p.42), a
desenvolvimento da linguagem escrita (BRANDÃO, 2011, e trazendo questionamentos, o professor conflitos de sua convivência. leitura verdadeira é quando a gente pensa
p. 39-40). deve estar atento à estas manifestações e sobre o que está lendo e entende o que a
estimulá-las. A literatura infantil e os contos de fadas leitura nos traz.
A sociedade atual baseia-se na perspectiva podem facilitar a compreensão, pela criança,
do letramento, em que a leitura exerce A criança constrói um mundo imaginário e de certos valores básicos de conduta e O interesse e o hábito pela leitura inicia-se
um papel importante para que o indivíduo decide como as coisas vão funcionar, por meio de convívio social. A linguagem simbólica, desde muito cedo na própria família, no qual
participe de todas as ações indispensáveis da interação com os adultos e demais crianças retratada nas histórias e nas brincadeiras de a criança observa o comportamento leitor
para a comunicação e compreensão do ela vai construindo a sua personalidade e faz de conta acabam por transmitir valores dos pais e posteriormente passa ao contato
mundo. A leitura de literatura infantil dentro expressando os seus sentimentos. Com que serão essenciais no convívio escolar. como o mundo da leitura na escola e no
e fora da escola é importante para que essas relações e interações ela vai adquirindo Os contos de fadas sempre trazem um meio em que vive. Esses “exemplos leitores”
a criança se aproprie de conhecimentos e construindo valores, opiniões e as suas cunho moral que pode ser trabalhado com contribuem para despertar na criança o
e seja capaz de agir compreendendo e atitudes e comportamentos também vão as crianças, salientando algumas situações gosto pela leitura e o desejo de conhecer
interpretando a realidade à sua volta. Os se modificando. Com os contos de fadas a cotidianas. O contato com livros e com a esta prática, que deve ser iniciada desde os
professores devem contribuir para que as criança fantasia e imagina-se inserida neste literatura é enriquecedor para o universo primeiros anos de vida da criança.

376 377
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Quando falamos em uma nova proposta encontrados em relação as práticas leitoras A literatura infantil contribui para o vista, interpretando-o, decifrando-o, falando
de ensino para a leitura e a escrita, temos a fora do contexto escolar e o trabalho com crescimento emocional e cognitivo da criança, em voz alta ou não; examinar, estudar;
proposta construtivista e o letramento, que a leitura, literatura e os diferentes gêneros as histórias infantis fascinam e encantam e interpretar, compreender.
trazem como perspectivas que o falar, o ler textuais promovem o desenvolvimento na escola a leitura é uma atividade essencial
e o escrever devem estar reunidos em um das crianças no que se refere as atividades para a formação de alunos competentes No âmbito educacional a literatura infantil
único processo, com o propósito funcional do voltadas ao aprendizado da leitura. e leitores. Quando falamos em educação deve ser trabalhada fora do contexto de
uso da língua voltada para as práticas sociais, infantil, este tipo de leitura deve acontecer apenas ensinar conteúdos pré-determinados
neste sentido alfabetização e letramento de forma prazerosa, levando a criança a pelo currículo, mas trabalhar a literatura
ocorrem juntos. Para Zilberman, Lajolo (1996, p.59) “ler encantar-se e entrar no mundo da fantasia. infantil como uma “arte” trazendo toda a sua
não é decifrar [...] é a partir do texto ser capaz importância no despertar da criatividade e
Segundo ZILBERMAN (1998) a literatura de atribuir-lhe significado [...] entregar-se a Com base nas ideias de Grispino (2002), imaginação das crianças.
e a escola compartilham um aspecto em esta leitura ou rebelar-se contra ela”. Neste é preciso que a escola, tenha previsto em
comum que é a natureza formativa, tanto a sentido partimos ao princípio do hábito de ler seu projeto e organização curricular e A leitura e o ato de ler deve estar atrelado
obra de ficção como a instituição de ensino, e a da leitura consciente e crítica, que deve pedagógica, momentos em que a leitura e a ao sentido e ao significado que se pretende
estão voltadas a formação do indivíduo, no ser estimulada e desenvolvida na escola, literatura sejam promovidas e vistas como com a leitura, seja ela voltada para as práticas
entanto, as histórias infantis apresentam um com as crianças maiores que são capazes um fator que corrobora para a qualidade do sociais, comunicação, prazer e gosto pela
mundo em que a criança pode fantasiar varias de emitir opiniões, fazer escolhas e refletir ensino. Desta forma, a escola deve promover leitura ou pela aprendizagem propriamente
coisas, sendo possível, por meio das histórias, sobre o que lê. atividades com o intuito de intensificar dita com base nos padrões escolares
realizar atividades diversas, colocando a sua tais práticas, pensando nos espaços, nos previamente estabelecidos. A leitura deve
imaginação e criatividade em prática. A organização do trabalho educativo momentos de leitura, em seu acervo ter significado para o leitor e ter definido
na escola, é necessária para que se possa pedagógico e nos diferentes materiais que objetivamente qual é o seu propósito e a
De acordo com Solé (1998, p. 34) “no alcançar os objetivos propostos para o ensino possam contribuir para a prática da leitura sua importância no contexto em qual está
ensino da leitura só se aprende a ler lendo, da leitura na escola, destacando entre eles, o no ambiente escolar. inserida esta situação de aprendizagem.
e que o leitor deve estar em contato com os da formação de cidadãos críticos, capazes de
mais diversos tipos de textos que se utiliza compreender os diversos materiais escritos Segundo Cademartori (1987) nos anos Com base nas ideias de Zilberman, Lajolo
no dia a dia, mostrando para a criança o que e gêneros textuais que fazem parte do meio setenta ocorre uma venda sem precedentes (1998), que tratam do contexto histórico sob
precisa ser construído no aprendizado da social no qual o aluno está inserido. de livros para crianças, na proliferação o qual a leitura foi inserida no Brasil, podemos
leitura”, neste sentido é fundamental que a de associações voltadas ao incentivo afirmar que a leitura era privilégio de poucos
criança tenha acesso a diferentes portadores A leitura não deve ser incentivada apenas da leitura infantil e a literatura infantil e estava relacionada a momentos de lazer.
e gêneros textuais, dentre eles, aqueles que nas atividades em sala de aula ou em passa a ser objeto de análise por parte da Conforme as autoras, os protestantes, ao
despertem o interesse e a curiosidade das momentos pré determinados pela rotina crítica acadêmica e jornalística, no qual lerem a bíblia e difundirem a formação
crianças, destacando a literatura infantil. escolar, o aluno pode ter acesso a portadores a preocupação era o mercado, ou seja, a moral também contribuíram para difundir a
de textos e materiais escritos em diferentes venda do produto e não especificamente importância da leitura.
A literatura em sala de aula é uma forma de momentos, para que o hábito de ler se torne o gênero literário. No dicionário o termo
comunicação e interação da realidade com o uma atividade cotidiana, despertando o “leitura” é definido como o ato ou o hábito Despertar no aluno o hábito da leitura é um
meio, ou seja, pode levar a criança a refletir e prazer pela leitura e a contribuindo para a de ler; o que se lê; maneira de compreender dos objetivos almejados pelos educadores
a expor as suas ideias. Nos diferentes níveis formação de “alunos leitores”. um texto, uma mensagem ou um fato e o e um termo muito citado na atualidade
de ensino os educadores utilizam a leitura termo “ler” é definido como: percorrer com a quando nos referimos a aprendizagem da
como uma maneira de reparo dos déficits

378 379
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

leitura e a sua importância para a formação processo de aprendizagem e aquisição de mesmo tempo em que proporcionam as crianças uma atividade prazerosa, o ato
do indivíduo. Nos dias atuais a escola deve conhecimentos voltados às práticas sociais de ouvir histórias. As crianças podem enxergar o ato de ler como uma atividade
promover práticas diferenciadas e o acesso a de leitura e escrita. A escola tem um papel prazerosa, tanto quanto o ato de ouvir histórias e a escola, neste sentido, tem papel
diferentes materiais para que o aluno inserido fundamental neste sentido, proporcionando fundamental promovendo situações para que estas interações aconteçam.
na era tecnológica, possa ter contato com o acesso a diferentes materiais e práticas
outros portadores textuais no seu dia a dia que corroborem para um ensino de Leitura
na escola. eficaz e prazeroso. Uma das tarefas da
educação infantil é ampliar os contextos
CONSIDERAÇÕES FINAIS comunicativos das crianças por meio de suas
falas e o professor deve propiciar o contato
As histórias infantis fascinam e encantam com o maior número possível de situações
e na escola a leitura é uma atividade essencial comunicativas ampliando as condições da
para a formação de alunos competentes criança se comunicar e estabelecer relações
e leitores e quando falamos em educação de aprendizagens significativas.
infantil, este tipo de leitura deve acontecer
de forma prazerosa, levando a criança a A criança, em contato com as histórias
encantar-se e entrar no mundo da fantasia. A infantis tem a possibilidade de adquirir
observação da roda de leitura com crianças novos conhecimentos, construindo a sua
pequenas evidencia que elas aprendem a personalidade e nos contos de fadas, a JANAINA LUZIA DOS SANTOS
distinguir, progressivamente, a leitura em fantasia se mistura com a realidade e as
voz alta e a contação de uma história sem relações vividas no mundo real se confundem
o suporte do livro ou de outro impresso. A e assemelham aos temas abordados neste
professora ao conduzir o processo de leitura tipo de narrativa possibilitando que a Licenciada em Ciências Biológicas pelas Faculdades de Ciências e Letras de
de histórias, deve conversar com as crianças criança fantasie, ensaie papéis imitando Guarulhos (2000); Licenciada em Pedagogia pela Universidade Nove de Julho
contextualizando a história, observando os personagens e nesse faz de conta vai (2009); Especialista em Gestão Ambiental pela Faculdade Oswaldo Cruz (2005);
a reação das crianças e respondendo vivenciando experiências que favorecem Coordenadora Pedagógica no Centro de Educação Infantil Vila Brasilândia.
as questões que elas trazem de forma a construção de sua personalidade e a
espontânea sobre o texto. ampliação de sua criatividade.

A leitura na escola, exerce um papel As crianças um pouco maiores já são


fundamental para o desenvolvimento capazes de interagir e escolher que tipo
das competências leitora e escritora na de história preferem ouvir, são capazes de
criança além de um meio de inserção nas interagir envolvendo o real e o imaginário
práticas sociais em uma sociedade letrada, e passar a fantasiar suas próprias história,
formando cidadãos críticos e autônomos. O ampliando o seu repertório e estimulando a
ambiente letrado e o acesso aos diferentes sua criatividade. Analisando as possibilidades
materiais escritos utilizados na sociedade de trabalho com os contos de fadas, os
tornam-se ferramentas importantes no professores podem trabalhar os valores, ao

380 381
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS
ANTUNES, Walba de Andrade. Lendo e Formando Leitores. São Paulo: Global, 2007.

BRANDÃO, Ana Carolina Perrusi; ROSA, Ester Calland de Sousa. Ler e Escrever
na Educação Infantil: discutindo práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2011.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:


Arte. Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.

BRASIL. MEC. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional


para a educação infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de
Educação. 1998.

CADEMARTORI, Lígia. O que é literatura infantil. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

COELHO, Nelly Novaes. O conto de fadas: símbolos, mitos, arquétipos. São Paulo:
Paulinas, 2008. A PRÁTICA DOCENTE EM GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL – UM
ENFOQUE DO LETRAMENTO EM CARTOGRAFIA AO RECONHECIMEN-
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São
Paulo: Cortez, 1994.
TO DO ESPAÇO VIVIDO PELA CRIANÇA

GRISPINO, Izabel Sadalla. O Hábito da Leitura. Disponível em: 2002.

RESUMO: Este artigo tem como objetivo refletir sobre as diferentes maneiras de como envolv-
er os alunos de Educação Infantil na compreensão do espaço através da Cartografia Escolar e
GUIMARD, Gabriel. Teatro, Infância e Escola. In Teatro e dança: repertórios para a da vivência no mesmo. A Cartografia permite uma aprendizagem mais significativa também por
educação / Secretaria da Educação. São Paulo: FDE, 2010. meio da leitura de representações gráficas e cartográficas que a criança faz do mundo em que
vive, desenvolvendo atividades relacionadas à lateralidade, às noções de direção, de localização
e percepção espacial, fundamentais para que os alunos façam a leitura do espaço geográfico e
KLEIMAN, Lúcia. Leitura e Prazer. São Paulo: Contexto, 2008.
de si próprio pertencente a esse espaço. Isso gera a necessidade de primeiramente traçar um
perfil da criança ao ingressar na escola. Ou seja, quando a criança ingressa na escola, nos pri-
MARTINS, Maria Helena. O que é Leitura. São Paulo: Brasiliense, 1994. meiros anos da vida escolar, o educador precisa estar atento a cada indivíduo, suas diferenças,
aquilo que trouxe em sua bagagem afetiva, pois somente assim poderá entendê-las de uma for-
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. ma mais global e não fragmentada e descontextualizada. Quando surgem os primeiros prob-
lemas de aprendizagem, é por meio do entendimento do conteúdo que a criança trouxe de seu lar
ZILBERMAN, Regina. A Literatura Infantil na Escola. São Paulo: Global. 1998. (vivênciasprévias)que,muitasvezes,oprofessorconseguiráauxiliá-lo,visandoseudesenvolvimentointegral.

ZILBERMAN & LAJOLO. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática 1996. Palavras-chave:Cartografia;EducaçãoInfantil;Elementoscartográficos;Iniciaçãocartográfica;Espaçovivido.

382 383
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO é apresentada de maneira mais formal os Neste sentido, escolhemos o ramo da histórica e a diversidade de técnicas por ela
alunos já teriam uma prévia vivência de ricas Cartografia pelo fato de ter um papel central abordada.
Hoje com relação à educação a grande experiências relacionadas à compreensão do na compreensão do espaço e por evidenciar
queixa, da maioria dos docentes e educadores espaço e de outros elementos cartográficos, uma possibilidade de ensinar noções O PAPEL DA CARTOGRAFIA
em geral, é a falta de interesse dos próprios alimentando assim seu interesse em geográficas desde a Educação Infantil como NA EDUCAÇÃO INFANTIL
alunos, neste caso, cabe a nós educadores aprofundar ao longo do processo escolar uma iniciação essencial aos processos
propor atividades e processos de ensino- seus conhecimentos e saberes. vindouros ao longo da vida escolar dos Sabe-se que é por meio da linguagem
aprendizagem que despertem esse interesse indivíduos. gráfica que desenvolvemos noções que
recolhido nos mesmos. Na Educação Infantil Assim, inicialmente demonstramos a eles levam ao processo de conhecimento
a relação quanto ao interesse dos alunos é a importância deste tema, principalmente O DOMÍNIO DA LINGUAGEM cartográfico. A noção cartográfica permite
o inversamente proporcional ao que ocorre quanto a sua localização e interação com CARTOGRÁFICA a identificação, elaboração e compreensão
nas séries seguintes, ou melhor, o interesse o espaço vivido, e para tanto uma série de das diferentes formas de representação
dos educandos é ávido por novidades, atividades podem ser desenvolvidas, desde O domínio da linguagem cartográfica dos fenômenos espaciais. Neste sentido, é
até porque a etapa do desenvolvimento o trabalho nas proximidades da escola, na é um dos principais alicerces do ensino da importante considerar a realidade cultural
em que se encontram é rica no que elaboração de mapas das ruas, bairros, e da Geografia, partindo das noções básicas de e sócio espacial da criança, e que é através
tange a criatividade e a concretização do própria escola, por exemplo; até a inclusão orientação relativa, trata-se mais adiante de suas experiências que a mesma busca a
pensamento infantil. Isto pode ser mais bem de dados abstratos, aumentando o grau de de construir os conceitos necessários à compreensão do seu espaço vivido.
compreendido quando refletimos sobre as dificuldade paulatinamente. compreensão de técnicas cartográficas e
Orientações Curriculares – Expectativas de de linguagem dos mapas, uma vez que a Através do espaço podemos perceber que
Aprendizagem e Orientações Didáticas para Com isso, teremos um aprendizado que cartografia é um instrumento indispensável está intrínseco a questão de tempo, o passado,
a Educação Infantil (SME-SP, 2007, p.96): visa transformar o ensino-aprendizagem ao entendimento dos fenômenos espaciais. o presente e projeção de futuro. O processo
de Geografia num ato de efetivo prazer. Tudo isso não chega a ser sistematizado na de produção e reprodução do espaço passa
A maneira como a criança explica os elementos de seu Desta forma, a finalidade da pesquisa Educação Infantil, mas é de fundamental assim a ser resultado das relações culturais,
mundo demonstra a variedade e riqueza de inquietações dirige-se a possibilidade de reflexões sobre importância a introdução dos mesmos de políticas, econômicas e sociais. Cabe assim
que ela produz, apreendidas em sua interação cotidiana a importância da cultura na construção das forma prática, lúdica e, por conseguinte, a Cartografia o papel de demonstrar como
com diferentes parceiros, quando ela é confrontada com dimensões temporal e espacial, isto é, tempo apresentando aos alunos uma alfabetização são compreendidas as formas espaciais,
explicações historicamente elaboradas sobre uma enorme e espaço na Educação Infantil, pois, como já cartográfica (CASTROGIOVANNI, CALLAI e tais como: a distribuição, a localização, as
quantidade de fenômenos naturais e uma variedade citado anteriormente, o tempo histórico e o KAERCHER, 2001) que continuará ao longo inter-relações, o movimento dos fluxos e as
igualmente grande de fatos sociais. Desta forma, na espaço geográfico são produções humanas da vida escolar no Ensino da Geografia, tanto transformações que configuram o espaço.
interação com as situações e com parceiros experientes que permitem ao educador ampliar as no Ensino Fundamental, como no Médio, Ou seja, a cartografia possibilita por meio
que as façam refletir, as crianças vão re-significando possibilidades de enriquecer o processo no qual se intensificará a elaboração e da linguagem formal e/ou informal a leitura
(grifo do autor) suas hipóteses e se aproximando do de formação da criança, a perspectiva reformulação dos conceitos e das abstrações. das representações gráficas que a criança
conhecimento científico (SME-SP, 2007,p.96). de compreensão do mundo em que vive faz do seu espaço vivido, permitindo uma
seus conflitos, suas contradições e suas Fazendo com que se torne um trabalho aprendizagem mais significativa quando
Ou seja, iniciar este tema, aqui proposto, intervenções no espaço, com todas as que deve prosseguir nas próximas séries, busca relacionar-se com o contexto real do
na Educação Infantil é uma maneira de consequências que estas intervenções em todos os níveis de Ensino, dada à indivíduo.
despertar um interesse futuro, pois no Ensino provocam. importância da cartografia na compreensão
Fundamental quando a iniciação geográfica dos fenômenos geográficos, sua riqueza Segundo Roberto Rosa (2004, p.4) do

384 385
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Instituto de Geografia da Universidade Na Cartografia encontramos uma visão exemplificar tal temporalidade temos em crianças e os adultos, entre crianças e a
Federal de Uberlândia: reduzida do território, por isso que os São Paulo, por exemplo, a comemoração de sociedade em seu conjunto (ZABALZA,1998,
cartógrafos utilizam a escala para representar 82 anos de Educação Infantil que ocorreu p.233).
A cartografia é considerada como a Ciência e a Arte de a superfície terrestre. A percepção e o neste ano de 2017.
expressar (representar), por meio de mapas e cartas, domínio do espaço podem ser permitidos Desta forma, o espaço é uma dimensão
o conhecimento da superfície terrestre. É Ciência por meio do desenvolvimento da leitura e Diversas propostas de trabalho apontam física, que possibilita condições estruturais
porque, para alcançar exatidão, depende basicamente da comunicação oral e escrita, utilizando para esta faixa etária na questão do espaço propostas que proporciona o aprender
da astronomia, geodésica e matemática. É Arte porque desenhos, fotos, maquetes, plantas, croquis geográfico, podemos trabalhar o meio significativo pela criança, como objetos,
é subordinada as leis da estética, simplicidade, clareza e e mapas. Estes materiais concretos facilitam físico em sala de aula, como é o lugar que brinquedos, materiais didáticos, decoração,
harmonia (ROSA, 2004, p.4) de grande forma a compreensão dos o aluno reside, através das observações etc. Conforme o autor pondera, estas
alunos e dinamizam as aulas, é a partir da que a criança faz do meio, descrevendo-o e condições estruturais têm a função de
Os professores necessitam desta clareza construção destas abstrações via material compreendo as relações entre os elementos ajudar a promover espaços reversíveis, isto
para melhor administrar seu tempo didático concreto que os alunos se preparam para que constituem seu entorno. O processo é, facilitar a reordenação do próprio espaço.
e sua atuação junto aos alunos, sejam eles de conhecimentos futuros que os esperam na de ensino-aprendizagem em cartografia “Para a criança, o espaço é o que sente, o
qualquer faixa etária. Por sua vez, a palavra sequência escolar proposta pelo currículo deve partir da referência de leitura que a que vê, o que faz nele (...)”. (ZABALZA, 1998,
noção é um conceito que tem como origem nacional de Geografía, delimitado pelos: criança fará deste entorno, que pode ser p.231).
na língua portuguesa, sendo registrada R.C.N., P.C.N.E.F. e P.C.N.E.M. desenvolvida por intermédio de atividades
pela primeira vez via correspondência em desafiadoras diversas. CONSIDERAÇÕES FINAIS
1839. Desse modo, na Educação Infantil Percebe-se a partir dos documentos
nós professores devemos ensinar as nossas federais quais os caminhos a seguir De acordo com Zabalza (1998, p.233) os Percebemos que através desta pesquisa
crianças pelo menos algumas noções pretendidos a partir da Lei nº 9394/1996 profissionais da Educação Infantil encontram tentamos demonstrar também a importância
cartográficas, como localização, redução, - LDB (Lei de Diretrizes e Bases) e que dificuldades em trabalhar os conceitos de de enriquecer o rol de pesquisas da
ponto de vista, etc., viabilizando aos mesmos visam atingir uma linha mestra que baliza espaço com as crianças, pois confundem Geografia aliada à Educação Infantil, posto
uma base que demonstre facilidades na todo o processo de ensino brasileiro desde o termo espaço com ambiente. É daqui que nesta área da Educação Básica ainda
compreensão dos conteúdos das séries a Educação Infantil até o Ensino Médio. A que podemos visualizar a importância da há uma enorme carência de estudos que
seguintes. relevância destes documentos é inegável, interação entre geógrafo e pedagogo tendo voltem seus olhares para as expectativas de
posto que os mesmos traçam planos e metas em vista sempre a melhoria da qualidade aprendizagem infantil.
Os docentes que atuam na Educação visando a qualidade da Educação. da educação proporcionada aos alunos.
Infantil, por sua vez, necessitam de melhor Vejamos o que ele nos apresenta: Concluímos então que a “Alfabetização
preparo para desenvolver tais questões, Dentro deste panorama vale ressaltar Cartográfica” deve ser entendida como
aliados aos estudiosos de Geografia e até o quão recente é a preocupação com a O termo espaço refere-se ao espaço um dos instrumentos indispensáveis
mesmo aos docentes do Ensino Fundamental etapa inicial da Educação Infantil, esta vem físico, ou seja, aos locais para a atividade para a formação da cidadania, segundo
e Médio para alavancar a qualidade do ensino sendo conquistada ao longo da História da caracterizados pelos objetos, pelos materiais Castrogiovani (2001) ela é “entendida como a
de modo global, posto que a fragmentação Educação brasileira, como algo novo e ainda didáticos, pelo mobiliário e pela decoração. construção de noções básicas de cartografia
não faz mais sentido, a tendência é cada vez carente de estudos, por isso temos uma Já o termo ambiente refere-se ao conjunto – localização, organização, representação
mais ampliar os elos de ligação entre as séries, bibliografia ainda escassa no que tange a do espaço físico e as relações que se e compreensão da estrutura do espaço
de modo a integrar melhor as produções de Educação Infantil. Este desafio foi uma das estabelecem no mesmo, os afetos, as relações elaborado dinamicamente pelas sociedades”.
conhecimento de professores e alunos. motivações acerca desta pesquisa, para interpessoais, entre as crianças, entre as É interessante também a afirmativa de

386 387
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Alegre: Mediação, 2001. MOURAN, J. M. et al. Novas tecnologias e


Yves Lacoste: “(...) Cartas para quem não REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS mediação pedagógica. Campinas: Papirus,
aprendeu a lê-las, sem dúvida não tem FORNEIRO, L. I. A organização dos espaços 2000.
qualquer sentido, como não teria uma ABRAMOWICZ, A.; WAJSHOP, G. Creches: na Educação Infantil. In: ZABALZA, M. A.
página escrita para quem não aprendeu a atividades para crianças de zero a seis anos. Qualidade em Educação Infantil. Porto NOGUEIRA, A. R. B. Mapa mental:
ler.” Desta forma, entende-se que é vital a São Paulo: Moderna, 1995. Alegre: Artes Médicas, 1998. recurso didático para o estudo do lugar.
aprendizagem da Geografia na Educação In: PONTUSCHKA, N. N. Geografia em
Básica, entendida como essencial no ALMEIDA, R. D.; LE SANN, J. G.; SAUSEN, FREIRE, M. A paixão de conhecer o mundo. Perspectiva. São Paulo: Contexto, 2002.
processo de construção da espacialidade. T. M. Cartografia na escola. Disponível São Paulo: Paz e Terra, 2002.
em: <http://www.tvebrasil.com.br/salto/ OSTETTO, L. E. (org.). Encontros e
boletins2003/ce/index.htm>. Acesso em: 10 FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes encantamentos na Educação Infantil.
set. 2017. necessários à prática educativa. São Paulo: Campinas: Papirus, 2002.
Paz e Terra, 1996.
ALMEIDA, R. D.; SANCHEZ, M. C.; PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à
PICCARELLI, A. Atividades Cartográficas. GENTILI, P. O tesouro dos mapas. In: Nova regulação das aprendizagens - entre duas
São Paulo: Atual, v. 4, 1997. Escola (on-line), São Paulo: Ed. Abril, mar. lógicas. Porto Alegre: Artes Médicas Sul,
2003. 1999.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição
da República do Brasil. Brasília: Senado, GURGE, T. Jovens descobridores. In: Nova PIAGET, J. A Epistemologia Genética. São
1988. Escola (on-line), São Paulo: Ed. Abril, mar. Paulo: Abril Cultural, 1983.
2007.
BRASIL. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de ROSSETTI-FERREIRA, M. C. et. al. (org.).
JENNIFER CARVALHO FOSTER 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação LERNER, D. Ler e escrever na escola: o real, Os fazeres na Educação Infantil. São Paulo:
Nacional. Brasília: MEC/SEF, 1996. o possível e o necessário. Porto Alegre: Cortez, 1998.
Artmed, 2002.
Graduação em Pedagogia pela Universidade BRASIL. Ministério da Educação e do SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho
do Grande ABC - UniABC (2008); Desporto. Secretaria de Educação LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem científico. São Paulo: Cortez, 2000.
Especialista em Alfabetização e Letramento Fundamental. Referencial curricular nacional escolar: estudos e proposições. São Paulo:
pelas Faculdades Integradas Campos Salles para a Educação Infantil. Introdução. v. 1. Cortez, 2000. SIGALI, C. G. C. Os processos que envolvem
(2017); Professora de Educação Infantil e Brasília: MEC/SEF, 1998. o desenvolvimento cognitivo de crianças de
Ensino Fundamental I - na EMEF Imperatriz MOURAN, J. M. et al. Novas tecnologias e quatro a cinco anos de idade: contribuições
Dona Amélia. BRASIL. Secretaria de Educação mediação pedagógica. Campinas: Papirus, de Piaget e Vygotsky, Taboão da Serra:
Fundamental. Parâmetros Curriculares 2000. Faculdade Taboão da Serra (Anhanguera
Nacionais: Geografia (Ensino Fundamental Taboão), 2004.
II) / Secretaria de Educação Fundamental. – NOGUEIRA, A. R. B. Mapa mental:
Brasília: MEC/SEF, 1998. recurso didático para o estudo do lugar. SOLÉ, Isabel. Aprender e ensinar na
In: PONTUSCHKA, N. N. Geografia em Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed,
CASTROGIOVANNI, A. C.; CALLAI, H.; Perspectiva. São Paulo: Contexto, 2002. 1999.
KAERCHER, N. A. Ensino de geografia:
práticas e textualizações no cotidiano. Porto OSTETTO, L. E. (org.). Encontros e TAILLE, Y. de La et. al. Piaget, Vygotsky,
encantamentos na Educação Infantil. Wallon: teorias psicogenéticas em

388 389
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
dos valores e ideais de valorização dos
aspectos morais e sociais que são importantes
O termo bullying se apresenta como para uma formação coesa e emancipadora.
prática de violência e atitudes agressivas, A prática do bullying vem se tornando cada
repetitivas e com intencionalidade, vez mais comum atingindo todas as camadas
decorrentes e sem fatores motivacionais sociais, onde suas ações se direcionam tanto
prévios, promotores de agressões físicas para escolas públicas, quanto particulares,
e morais como dor, angústia dentre outras necessitando ações em consonância com
diversas manifestações de ordem física, escola, família e comunidade como forma
verbal e psicológica. O presente artigo foi de combate e valorização das relações
desenvolvido com base em informações humanas e sociais. Partindo de uma análise
de caráter formal e informal, de inúmeros vivencial e minuciosa do cotidiano escolar,
indícios observados no cotidiano escolar, podemos observar mudanças não apenas no
pesquisas e discussões assíduas referentes comportamento dos alunos, mais prováveis
aos aspectos comportamentais em ambientes processos de diminuição das evoluções de
escolares que desencadeiam os mais variados níveis de aprendizagem do mesmo, podendo
tipos de comportamentos agressivos e afirmar sua ação negativa no processo de
violentos durante o período escolar e que ensino-aprendizagem do educando.
consequentemente se prorrogam durante

BULLYING NO AMBIENTE ESCOLAR


a vida social do indivíduo. Nos dias atuais, Diante desse contexto atual de banalização
as diversas formas de agressão se tornaram das práticas de bullying em ambientes
comuns nos ambientes escolares, tornando escolares, torna-se necessário a explicitação,
a convivência social dentro das escolas fator discussão e promover ações que viabilizem
preponderante de investigação, análise, a diminuição dessas práticas, considerando
RESUMO: O problema da violência escolar está enraizado dentre as mais sérias preocupações reflexão e propulsão de políticas de combate como fatores principais de mudança, diversas
da educação de nosso tempo. Portanto, se torna necessário analisar a violência que atinge a todas as formas de agressão ao ser humano ações conjuntas entre todos os envolvidos no
a unidade escolar, e buscar enfatizar, especificamente, os tipos de violência que ocorrem em seu processo de desenvolvimento processo educacional. Métodos diagnósticos
nos ambientes escolares, onde o nosso interesse em torno deste tema está relacionado biopsicossocial. concretizam-se como ferramenta importante
com a nossa própria prática docente, que nos fizeram eleger a violência escolar, mais para a descoberta dos pontos de partida
especificamente aquela que ocorre no âmbito da relação entre educandos, como objeto Todos os aspectos e análises efetivos para detectar ações bullynistas
de pesquisa. Assim, nosso objetivo é colaborar para a reflexão e mudança dessa realidade, desenvolvidas neste artigo buscaram e direcionar ações de conscientização e
investigando e combatendo a violência que ocorre na instituição escolar. explicitar e promover uma compreensão dos promoção de valores.
fatores que promovem e desencadeiam essa
prática que preocupa a grande maioria dos Ao entrar em contato com as práticas de
Palavras-chave: Bullying; Escola; Violência; Aprendizagem. agentes envolvidos no processo educacional bullying em ambientes escolares, tornou-
de crianças e adolescentes, buscando realizar se perceptível a necessidade de realizar um
uma transformação efetiva e significativa referencial teórico deste assunto, diante
desta prática, enfatizando a concretização das inúmeras formas de violência que

390 391
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

atualmente encontramos nas escolas. Pode- realizar ações conjuntas e efetivas como apelidos criados pelos colegas de sala de aula são encontradas para dar um significado
se observar constantemente e de forma enfrentamento deste problema, orientações e da escola, ter que se defender diante de conceitual respectivo nos mais diversos
caracterizada, diversas manifestações que e direcionamentos significativos para tornar uma mentira inventada, ou ainda se defender idiomas e países.
se encontram enraizadas pela convivência cada vez menor essas formas de exclusão diante de uma agressão sofrida são situações
escolar de constantes e sistemáticas e violência na defesa do argumento de que que se tornam cada vez mais presentes no Segundo Fante (2005, p. 46), “[...]
formas de violência, tanto física quanto o indivíduo do futuro é reflexo dos fatores cotidiano escolar de crianças e adolescentes. pesquisadores de todo o mundo atentam
moral, indicando e direcionando suas ambientais, culturais e sociais de convivência para esse fenômeno, apontado aspectos
consequências imensuráveis durante a humana da sua formação durante sua infância Estudos afirmam que essa diversidade preocupantes quanto ao seu crescimento e,
construção da identidade, personalidade e adolescência. de atitudes eram consideradas como principalmente, por atingir os primeiros anos
e níveis de aprendizagem do alunado. formas de descontração e brincadeiras de escolarização”. Em países como os Estados
Durante o trabalho de pesquisa pode-se Uma possível abordagem fundamentada entre estudantes, e percebidas como Unidos, o bullying, atualmente, é assunto
observar também, a falta de conhecimento e profunda do bullying promove um irrelevantes pela maioria da comunidade de grande estudo, análise e discussão, uma
profundo sobre o tema pela comunidade direcionamento para ações de prevenção e escolar, porém, atualmente, constata-se vez que, nesse país essa prática aumenta
escolar e apenas o conhecimento superficial desenvolvimento de ações com a comunidade que essas brincadeiras causam um enorme drasticamente a cada dia entre os educandos.
do assunto acaba não reverenciando seu escolar de sucesso, valorização dos valores prejuízo à vítima dessa situação, e diversas
conhecimento consistente e profundo do humanos e sociais e promoção de ambientes consequências na vida dos educandos. De A evolução desse fenômeno vem
mesmo, impedindo suas ações efetivas de agradáveis de convivência e aprendizagem, forma que, nos dias atuais, essas formas de evoluindo de tal maneira que, pesquisadores
combate e amenização de seus efeitos. promoção de relações intersubjetivas e a violência estão sendo encaradas de maneira e estudiosos da área o conceituam como um
garantia de uma formação verdadeiramente mais rígida e analítica entre educadores conflito de ordem mundial e indicam que
Tornou-se perceptível a descoberta da coletiva. Este artigo tem o intuito de e especialistas, que denominam este tipo essa prática se estende imensuravelmente
forma pela qual a escola age e se posiciona em promover a conscientização de alunos, pais, de ações comportamentais como prática e causando como consequência uma gama
relação ao tema, onde foi possível constatar, professores e demais profissionais da área de bullying. De acordo com Fante (2005, enorme de prejuízos de ordem psicológica
em virtude da forma tradicional de gerenciar educacional sobre os fatores conceituais p.11), destaca “[...] que bullying é uma ameaçando de forma efetiva a vida social de
o ensino, seus aspectos sociais e culturais, e de ações voltados para todas as formas palavra originária da Inglaterra usada por futuros jovens e adultos. Conforme Fante
sua ação padronizada de lidar e atribuir ações de exclusão e violência e agressões físicas, diversos países para dar significado às ações (2005, p.50),
ao respectivo assunto. Esse conhecimento verbais, psicológicas, ferramentas de e deliberações de agredir o indivíduo de
apenas superficial da escola em relação diagnósticos de casos, orientação sobre diversas maneiras e reprimi-lo”. [...] em comparação ao Brasil, o bullying ainda não é muito
a prática de bullying reflete na família e atitudes e comportamentos de exercício conhecido, sendo pouco comentado e pesquisado, razão
na sociedade, seus fatores conceituais, de combate à repressão, transformação de Segundo Cavalcante (2004, p.11), destaca pela qual existem poucos estudos nos quais se possa
procedimentais e atitudinais no tratamento atitudes agressivas em solidariedade, respeito “[...] que bullying é um termo oriundo da ter uma visão geral sobre o tema para que se consiga
e ações sobre o tema, onde a família não mútuo e companheirismo, habilitando palavra inglesa bully; a qual se refere aos compará-lo aos demais países. O que se sabe é que em
encontra subsídios para detectar suas indivíduos causadores de agressões a se termos de valentão e brigão. Já como verbo, comparação com a Europa, no que se refere às pesquisas e
características e possíveis intervenções em conscientizarem e mudarem suas formas de tem o significado de ameaçar, amedrontar, tratamento desse comportamento, o Brasil está com pelo
junção com a escola. O entendimento sobre convivência social. tiranizar, oprimir, intimidar e maltratar”. menos quinze anos de atraso (CAVALCANTE, 2004, p.22).
o tema nos permite diagnosticar os tipos e Seguindo o pensamento de Fante (2005,
graus de violência que são relevantes para DEFINIÇÃO DE BULLYING p.18), encontramos atualmente muitos Mediante ao fato desta prática ainda ser
atribuir significado ao tema, diagnosticando estudos sobre esse fenômeno. Porém, denominada como uma temática pouco
suas principais fontes, para posteriormente Atribuir formas de repressão como ainda existem algumas dificuldades que reconhecida, os primeiros estudos são da

392 393
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

década de 90, cada nação tem o compromisso imaturidade ou insegurança, além de outros atitudes agressivas praticadas e sofrida entre meios onde vivem, em especial entre suas
de conceitualizar essa prática denominando achados, como ansiedade, baixa autoestima, os colegas. Como dizem alguns autores, a famílias, poderão não superar totalmente
em seu próprio vocábulo que se refira a este rejeição ou baixa aceitação do grupo, poucos escola que não atua efetivamente para a os traumas sofridos na escola. Elas poderão
conceito, tendo o mesmo significado. De amigos, ambiente escolar pouco ou nada redução do bullying entre seus alunos acaba crescer com sentimentos negativos e
acordo com Fante (2005, p.33), “[...] o Brasil prazeroso e alta frequência de problemas contaminada, tornando-se um ambiente com baixa autoestima, apresentando
adotou o termo que é utilizado na maioria internos e externos. Fatores familiares como inseguro, com altos índices de agressividade sérios problemas de relacionamento no
dos países: bullying”. superproteção ou rejeição (bode expiatório) e a consequente perda do controle sobre o futuro. Poderão, outrossim, assumir um
podem ocorrer. comportamento dos jovens. comportamento agressivo, vindo a praticar
As formas de agressividade e a vitimização o bullying no ambiente sócio-ocupacional
são mais frequentemente observadas entre Os autores de bullying tendem a serem O não enfrentamento das situações, adulto e em casos extremos, poderão tentar
crianças e adolescentes do sexo masculino, agressivos, impulsivos, mais fortes que seus justificado pela suposta inexistência de ou a cometer suicídio.
sendo os jovens mais comuns entre alvos, populares, obtêm ganhos materiais e bullying, demonstra falta de conhecimento
vitimados. Raramente encontra-se a relação ascensão sobre o grupo, suas atitudes e pela sobre o assunto ou revela a intenção de Os traços desses grupos é a existência
entre as atitudes agressivas e a submissão imposição do medo. Podem ser identificadas encobrir o problema. Para a sociedade (muitas vezes anacrônica) de ideias e ideologias
às agressões sistemáticas com algum questões familiares que poderiam explicar respinga o ônus dos prejuízos sociais. A justificadoras de suas ações, vinculando-as a
antecedente patológico que pudesse explicar seus atos, como pobres relações capazes organização mundial da saúde (OMS) admite alguns projetos familiares, sociais, religiosos
possíveis alterações de comportamento. de assumir ou adquirem um sentimento de que as ações antibullying constituem-se ou político. Estas sociedades convivem com
Portanto o bullying ocorre, prioritariamente, inconformismo, buscando culpados na escola em um método eficaz para a redução da formas de violência primitiva, ou seja, com
entre crianças e adolescentes com padrões ou no próprio seio familiar. ação são mais violência juvenil, consequentemente pode bandos, quadrilhas, torcidas organizadas,
normais, não havendo sinais que possam frequentemente observadas entre crianças ser uma estratégia de impacto para a redução skinheads, tribos, cuja característica é apenas
identificar antecipadamente o papel que cada e adolescentes do sexo masculino, sendo da violência social. preservação da unidade tribal, da formação
um deles irá desenvolver, entendendo-se os jovens mais comuns entre vitimados. gregária, da unidade quanto o agrupamento.
que, não raro, observa-se certa rotatividade Raramente encontramos a relação entre as A prática de bullying promove a queda
entre as diversas formas de participação, atitudes agressivas e a submissão às agressões do rendimento escolar, tornando necessária Estes não possuem uma codificação moral,
entre os meninos prevalece o bullying físico sistemáticas com algum antecedente a formação de turmas de educação especial. uma ideologia transcendente, ou seja, não se
(agressões). patológico que pudesse explicar possíveis Para as esferas policiais e judiciárias recairão vinculam como realizadores de um projeto
alterações de comportamento. a vigilância e a implementação de medidas específico. Uma outra categoria de violência
Quando se trata do bullying verbal socioeducativas para aqueles que adotarem diz respeito à destruição do sagrado, dos
(apelidos), observa-se uma equivalência Muitas vezes, o profissionais, nas relações comportamentos delinquentes e violentos. ícones culturais, das diversas manifestações
entre ambos os sexos, ao passo que a forma com os cônjuges e destes com seus filhos, de "patrimônios" humanos, a saber, das
indireta (difamação) é a mais frequente entre que podem passar a exigir atitudes e Muitas crianças, vítimas de bullying, marcas anteriores de sensibilidade estética,
as meninas, principalmente as adolescentes. soluções nem sempre bem-sucedidas. Os desenvolvem medo, pânico, depressão, de erudição filosófica, de trabalho humano,
Rotineiramente as vítimas mais típicas alunos observadores sofrem com o medo, distúrbios psicossomáticos e geralmente etc., que se referem não só à reverência aos
podem ser ansiosos, mais fracos física e a dúvida sobre como agir e a descrença na evitam retornar à escola. A fobia escolar resultados de gerações precedentes, bem
emocionalmente e tendem a apresentar capacidade e no interesse da escola em sanar geralmente tem como causa algum tipo como à intenção de se evitar cair nos mesmos
atitudes negativas diante dos atos violentos, o problema. Na aprendizagem o desempenho dessa violência. Outras crianças que sofrem enganos.
seja pela não reação, seja pelo isolamento escolar pode cair, diminuindo a atenção dos bullying, dependendo das características de
ou reações que demonstram fragilidade, adolescentes passa a ser dirigida para as suas personalidade e das relações com os O âmbito duro dessa profanação é

394 395
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

historicamente bem conhecido: destruições formas agressivas do relacionamento com o que esta transgrida os códigos criados.
bárbaras das obras da cultura romana; outro. os princípios norteadores que sempre
aniquilação turca dos monumentos gregos; diferenciam a sociedade contemporânea
devastação europeia das culturas indo- das sociedades primitivas e justamente as CONSIDERAÇÕES FINAIS
americano e africanas; livros queimados ações de regulação, de normalização, de
e telas destruídas na Alemanha fascista; ordenamento, realizam-se conforme uma Diante das necessidades humanas e sociais que nos encontramos, é quase
liquidação sistemática e programada dos divisão do tempo e dos espaços apropriados, indiscutível a importância da escola no desenvolvimento das crianças e adolescentes
traços da cultura clássica chinesa durante a segundo um encadeamento de passos, de em processo de formação. Esta instituição não é somente transmissora e depositante de
revolução cultural; e tantos outros menos acordo com os códigos de conduta de sua conteúdos apenas formais e acadêmicos. A instituição escolar, que, em seu início, teve
conhecidos. época. função civilizatória (Koller, 2004), com as novas características da sociedade, é considerada
instrumento primordial para a educação de crianças e jovens na atualidade, uma vez que
O que se destaca hoje é a implosão Elas não só são executadas, são priorizando a educação, as gerações se transformam e se desenvolvem. Para tanto, quando
suave de outros componentes de culturas dotadas de um sentido em seu momento, se pensa em educação, se torna necessário pensar também na valorização da educação de
anteriores, promovidas pelo nivelamento dos o qual se personificou em um estado e lei. sentimentos ou na expressão e no manejo dos mesmos. Valendo-se de seu poder propulsor
dados culturais ao plano da generalidade e Essas ações são empreendidas de tal modo e multidimensional, espera-se que escola ensine às pessoas que ali estudam a lidar com
da banalidade da cultura de massas. Trata- que raramente o significado ou o sentido de suas emoções e com suas dificuldades, a respeitar as diferenças, a aprender a conviver, a
se do esgotamento pelo excesso, desgaste seus mecanismos se transforma em objeto de socializar, a dividir, a compartilhar, a administrar sua agressividade, enfim, a se relacionar
provocado pela condução ao extremo, reflexão sistematizada. Todavia, a ausência de forma saudável e positiva, o que não ocorre em casos de bullying.
pela hipertelia, como forma substitutiva de de uma reflexão explícita da maioria dentre
satisfação de desejos. Na sociedade que aqueles que, anônima e cotidianamente, É preciso que os professores cedam lugar em suas aulas, à expressão coesa,
nivela o vazio do presente com um passado praticam a educação em que se forma a à educação dos sentimentos e à valorização das relações subjetivas de amizade e
desacreditado, vandalizado, não se pode moral, costumes, cultura, não nos autoriza a companheirismo (Lisboa, 2009). Torna-se necessário que os profissionais envolvidos no
esperar nenhum salto civilizatório. concluir igualmente ausência de sentidos e de processo de formação desses alunos estejam mais atentos ao que se passa na escola como
significados para tais mecanismos. Os atos de um todo e não somente na sala de aula. Para se alcançar êxito na redução da violência,
No caso brasileiro, a marca da violência legitimação das ações são produtos da própria especificamente o processo de bullying, é necessário que se desenvolvam trabalhos em
profanatória, aplicada segundo nossa ação humana e têm sua inteligibilidade na forma de projetos nas escolas como combate a essas formas de violência (Fante, 2004).
violência fundadora, a do arbítrio difuso inerente instabilidade do social. Com a mesma efetivação, ressalta-se a importância de um maior comprometimento e
e generalizado que se impõe até segunda relação mais próxima de toda comunidade escolar, para que esses possam se conscientizar
ordem, está no processo de desmontagem Quando o homem constrói e utiliza da problemática da violência e bullying, atuando como ferramenta de combate e na
das relações mínimas de civilidade. Profana- mecanismos de regulação modernos e pós- orientação dos seus filhos.
se o legado passado com as formas de modernos de suas ações marca um campo de
sua destruição, esquecimento, mutilação; diferenciação entre homem contemporâneo Com o objetivo de formas de prevenir a violência em ambientes escolares, já é quase
profanam-se instituições públicas com e o homem primitivo. Mesmo assim, a cólera consenso entre profissionais de que, agir sobre o problema identificado isoladamente
o instituto da corrupção (que violenta a da civilização, onde a violência transgride pode não ser eficaz, é necessário, além de atuar diante da comunidade escolar, contar com
ordem instituída das prioridades, a estrutura todos os conceitos de normas, códigos, uma ampla gama de possibilidades de ações, tais como: efetivar as necessidades básicas
democraticamente constituída em vantagens viram quase que uma cultura, que se torna dos alunos, criando ambientes cooperativos, estimulando relações positivas (amizades)
e proveitos derivados de posição pública); um fato social oriundo de quem dirige toda a e oferecendo modelos não agressivos de resolução de conflitos. Também é importante
profana-se a civilidade com o instituto das sociedade, tornando-se uma cultura, mesmo trabalhar com os pais e jovens tomando-se por base projetos de prevenção focal e/ou
tratamentos clínicos individuais (Gajardo, 2009).

396 397
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

As instituições escolares devem ser capacitadas, prático e teoricamente para realizar


encaminhamentos adequados de crianças identificadas como vítimas e agressoras para
clínicas, escola ou consultórios psicológicos.

Projetos com os pais e a comunidade local e escolar, em geral, podem promover estímulo
e treinamento de formas saudáveis de resolução de conflitos interpessoais. Programas de
mediação entre pares e protagonismo juvenil, partindo da ideia de que os alunos são sujeitos
ativos nesse processo de mudança para a convivência pacífica e não violenta, também têm
sido utilizados (Gajardo, 2009).

Para tanto, é de suma importância fomentar a capacidade de resiliência desses jovens. A


resiliência, entendida como um processo que só pode ser verificado na presença de riscos
(bullying), consiste em desenvolvimento adaptado, positivo e saudável de qualquer indivíduo
frente a adversidades em seu desenvolvimento e pode ser estimulada (Koller e Lisboa, 2009). JORGE DOS SANTOS ALMEIDA GONÇALVES
Indícios de risco para o bullying foram apontados em estudos e, assim, o estímulo à capacidade
de resiliência implica em fortalecer essas crianças em termos de autoestima, dificuldades de
controle dos seus impulsos e de expressão da intolerância e agressividade. Professor de Educação Física do Ensino Fundamental II na prefeitura de São Paulo, na EMEF
Senador Miltom Campos. Professor de Educação Física do Ensino Fundamental II na prefeitura
Inversões cognitivas envolvendo os estímulos agressivos e concepção de status social de São Paulo, na EMEF Senador Miltom Campos.
dentro de um grupo social podem tornar crianças agressoras ou vítimas de agressões. Da
mesma forma que, a incidência contínua em formas de bullying gera distorções nas concepções
de emoções e desenvolvimento da moralidade. Trabalhos junto à comunidade escolar podem
prevenir e combater a banalização de valores morais importantes à convivência pacífica em
grupo.

Este artigo teve como propósito realizar uma revisão crítica de estudos acerca do
fenômeno bullying, suas formas de manifestação, sua dinâmica, especificidades, causas e
consequências, bem como fatores de risco desse processo e variáveis relacionadas. As formas
de manifestação desse tipo de violência necessitam ser investigadas sistematicamente
nacional e internacionalmente. Educadores e pesquisadores interessados devem se aliar
na busca de projetos e metodologias adequadas e da compreensão aprofundada sobre o
assunto para subsidiar intervenções efetivas. Ações envolvendo políticas públicas voltadas
à prevenção do bullying, especificamente, são ainda pouco desenvolvidas e valorizadas
atualmente, embora, felizmente, essa problemática já seja considerado um problema de saúde
pública e educacional, atualmente já é possível observar algumas iniciativas de intervenção
nas instituições escolares, além da presença do respectivo assunto em diversos fóruns de
debates e conferências médicas e educacionais.

398 399
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS
BEAUDION, M; THAYLON, M, Bullying e Desrespeito: como acabar com essa cultura na
escola. 1 ed. Porto Alegre: Artmed. 2006. 232p.

CARDOSO, Ofélia Boisson, Problemas da infância. 5. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1967.

CAVALCANTE, Meire. Bullying: como acabar com brincadeiras que machuca a alma.
Revista Escola. Brasília, v.19, Dez. 2004.

FANTE, Cléo, Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a
paz. 2. ed. Campinas-SP: Verus, 2005.

LISBOA, C. S. M., Estratégias de coping e agressividade: um estu-


do comparativo entre crianças vítimas e não vítimas de violência domésti-
ca. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2001.

MARCONDES FH, Ciro, O discurso sufocado. São Paulo: Loyola, 1982.

MARCONDES FH, Ciro, Violência política. São Paulo: Moderna, 1987.

MARCONDES FH, Ciro, Violência das massas no Brasil. São Paulo: Global, 1988.

MOREIRA, A. F. B., SILVA, Tadeu da, Currículo, identidade e dif-


OS CONTOS E A REALIDADE DA CRIANÇA
erença. In: MOREIRA, A. F. B.; MACEDO, E. F. (orgs), Currículo, práti-
cas pedagógicas e identidades. Porto: Porto Editora, 2002 p. 11-33.
RESUMO: O leitor que abre esse artigo pode seguramente pensar que se trata de mais uma
NETO AA, Saavedra LH, Diga não para o bullying. Rio de Janeiro: Abrapia. 2004 historieta, porém ao discorrer descobrirá que não se trata somente de contos de fada, e sim
de uma análise mais ampla. Ao estudarmos o desenvolvimento da criança e relacionarmos
com o efeito que o conto causa nas mesmas, abre-se um leque de questões que são verifica-
das, entre elas “Qual a influência dos contos de fadas nas camadas mais necessitadas”. Não nos
remetemos somente para o olhar pedagógico, todavia colocamos em pauta a influência que o
meio onde o sujeito vive e as reações que o sujeito apresenta quando interage com o conto.

Palavras-chave: contos; influência ; realidade.

400 401
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO trabalhados em sala de aula e veiculação de de situações culturais, sociais e regionais


valores sociais. O que por sua vez acabou em alguns casos. Com isso, desenvolve o
O conto de fada possui muita influência ERA UMA VEZ... perdendo o foco da real essência da literatura. papel de construção da mentalidade do ser
na vida da criança, as que de fato possuem Por este fato, principalmente, é que ela humano, o que é trabalhado muito em sua
um contato direto com este gênero teve sua desvalorização, não era mais vista infância.
literário, pois, ele ativa o lúdico e trabalha A literatura surgiu na Idade Moderna, com prazer, mas sim como desnecessária
com o cognitivo e/ou egocentrismo da após uma significativa mudança em relação para o desenvolvimento da criança. Ligada O desenvolvimento desses aspectos
criança.O autor Bettelheim (1996) faz várias ao olhar para a criança, pois a criança era à pedagogia e não a arte de ler, imaginar, durante a infância de cada pessoa é
comparações dos contos, mitos e fábulas vista como um “adulto pequeno”, no qual etc, “O livro infantil era considerado uma fundamental e primordial, pois é nessa
sonhos entre outros. Suas comparações não existia nenhum tipo de atendimento obra menor destinada a passar conceitos e fase na qual a criança desenvolve seus
fazem com que se possam enxergar outros exclusivo para a mesma. Até as suas vestes normas de conduta sociais, não uma obra conceitos de valores morais e de sua própria
parâmetros: a parte psicológica da criança e eram de adultos feitos em medidas menores. artística que trabalha com o imaginário da personalidade.
seus efeitos, isso causa entre tais, traumas e Pela mudança da família burguesa foi criança” (SILVA, 2008).
sentimentos enrustidos que as crianças não concebido este novo cuidado. Um olhar Segundo Antonio Candido (1989), o
têm o conhecimento. voltado a criança, surgindo assim um gênero Silva (2008), em seu artigo relata que, desenvolvimento desses se transforma a
literário para elas. Alguns autores acreditam a literatura teve seu reconhecimento e todo instante
Chegamos à conclusão que para entender na influência que a literatura infantil pode importância a pouco tempo, já que a leitura
a influência dos contos de fadas temos que causar nas crianças, seguem abaixo algumas não é um exercício realizado pela maioria dos Chamarei de literatura de maneira mais ampla possível,
partir do desenvolvimento que os contos observações a respeito: brasileiros. Quando a leitura é um costume todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático
propiciam as crianças, então retornamos de berço, sempre é contada alguma história em todos os tipos de cultura, desde o que chamamos de
ao princípio, onde tudo começa a fase do A Literatura Infantil muitas vezes, segundo para aquele bebê, eles com certeza mais folclore, lenda, chiste, e até as formas mais complexas e
desenvolvimento da criança, para poder Silva (2008), é usada para ocupar o tempo tarde terão o hábito de ler, ou pelo menos se difíceis da produção escrita das grandes civilizações (C
entender como se procede, ou se cria essa das crianças, sendo algumas histórias criadas interessar mais por este divertimento. NDIDO, 1989, pg 112).
relação da criança com o conto de fada.Ao especialmente para crianças, mas que
pesquisar o desenvolvimento da criança muitos adultos acabam sendo seu público, A Literatura Infantil pode ser analisada em Ele fala que até mesmo em sono, essa
também notamos que haveria a necessidade pois trata de diversos assuntos de uma dois modos: o primeiro como instrumento criação ficcional ou poética é construída.
de abranger a interação da criança com o forma engraçada, divertida, e de fácil leitura, para o desenvolvimento da aprendizagem. Sendo assim, a literatura, é utilizada como
meio no qual está inserida. tornando prazeroso o ato de ler. É por este O segundo pode ser considerado como base para a formação da personalidade do
meio que a criança vive uma personagem, aparato para a alfabetização do sujeito. indivíduo. Cabe ao educador saber utiliza -
E por meio dessa interação vimos qual uma vida que ela sabe que é ficção, porém, A mesma deve ser utilizada com muita lá.
a influência que o meio exerce no sujeito naquele instante é o momento da sua viagem atenção, pois a má colocação pode acarretar
desde pequeno por meio de ideologias e do seu refúgio para a fantasia, para seu danos e traumas consideráveis na vida de um OS CONTOS DE FADAS
que determinados contos, são cheios de mundo imaginário. sujeito. A Literatura não deve ser uma forma
preconceitos entre outras coisas. Para poder exclusiva de alfabetizar, ela tem a proposta O indivíduo por meio desses contos faz
constatar essa problemática, relacionamos Há alguns anos, os livros de histórias de acrescentar a formação do sujeito de com que no mundo do faz de conta ele
os contos com diversas situações onde infantis, por ser um grande atrativo para a uma forma lúdica e prazerosa. Ela compõe se identifique com as personagens, por
tivemos vários resultados que nos levaram a maioria das pessoas, eram usados como conceitos de suma importância na formação exemplo, em contos em que se aparece o
conclusão descrita neste artigo. canal para abordagem de assuntos a serem de um indivíduo, porque ela parte tanto bom e o mal, ou sempre um vencedor faz com

402 403
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

que se trabalhe dentro de si estes valores já estes sentimentos, “A cultura torna-se parte longo do desenvolvimento da espécie A família tem seu papel muito importante,
colocados. da natureza humana num processo histórico e do indivíduo, molda o funcionamento pois é o meio de ligação da criança com o
que, ao longo do desenvolvimento da espécie psicológico do homem.” (DE LA TAILLE, mundo. E conforme a situação da família
Para Bettelheim (1996), os contos e do indivíduo, molda o funcionamento OLIVEIRA, DANTAS, 1992, p. 24). determina a posição que ela será colocada
folclóricos causam mais efeitos, pois psicológico do homem” (TAILLE; OLIVEIRA; na sociedade fazendo com que ela tenha um
permitem que o sujeito tenha as suas próprias DANTAS. 1992, PG 24). Para os autores a cultura na qual estamos determinado tipo de pensamento.
deduções, já os contos novos reelaborados inseridos faz com que a criança desde cedo
não permite que a criança tenha sua dedução, Alguns contos têm sentido ou significado já seja de alguma forma induzida a pensar Outro fator muito importante que não
todavia ele mesmo já insere o seu conceito em diferentes idades, pois eles trabalham que os mais velhos é quem sabem das coisas pode deixar de ser lembrado é o tipo de crença
pronto. Os contos folclóricos na maioria até mesmo com aquelas crianças que e sempre tem razão, pois sempre foi assim e ou fé que aquela família tem onde através
das vezes mostram uma lingüística que o tiveram uma realidade áspera, “ a ideologia irá continuar sendo assim. disso fará com que linha de pensamento que
educador e o pai não conseguem decifrar, fabrica uma história imaginária (aquela que aquela criança carregará por um longo tempo
mas o mesmo conto pode ter significações reduz o passado e o futuro às coordenadas Podemos notar com facilidade que o senso ou até mesmo por toda a vida.
diferentes que variam de pessoa a pessoa. do presente), na medida em que atribui o comum está dominando esta questão, pois
Entretanto, isso nos mostra que se obtêm movimento da história a agentes ou sujeitos faz com que as crianças somente reproduzam Segundo CHAUÍ (1980), há a divisão de
uma considerável importância no que diz que não podem realizá-lo” (CHAUÍ,1980, PG as idéia já existentes e não construam seu classes fazendo assim com que sejamos
respeito ao seu psicológico. 1). próprio pensamento sem a influência do classificados em alguma classe social, onde
meio na qual estão inseridas. justifica o tipo de pessoa que somos ou
Alguns contos por esse motivo foram O CONTO E O DESENVOLVIMENTO somos transformados, pois somos criados já
readaptados no final, pois essas estórias INFANTIL Contudo, a criança poderá ter um para reproduzir e nunca criar algo de novo. A
sempre terminam com “Foram felizes para entendimento maior quando já consegue criança nos seus primeiros anos de vida está
sempre” podem causar uma falsa ilusão formar seus pensamentos, ou melhor, se conhecendo e o meio onde vive com isso
na criança, então, alguns já modificaram e Para a realização deste trabalho escolhemos quando já consegue fazer uma ligação do reproduz geralmente o que vê e fala e está
colocam “ Eles viveram por um longo tempo, como fonte de pesquisa bibliografias e outras real e do abstrato, é o desenvolvimento relacionado com meio onde vive.Já quando
felizes e satisfeito”. È importante lembrar fontes de leitura do tema . Vários foram os humano fazendo uma ligação com o meio completa 8 anos ele começa a formar o seu
que pode ser frustrante para a criança autores escolhidos para compor este trabalho onde vive, “Essa capacidade de lidar com papel naquela família e consegue aos poucos
quando queremos explicar o significado que se farão citado no decorrer do mesmo. representações que substituem o mundo relacionar o que é regra,e qual a sua opinião
de determinados contos, pois os mesmos A criança ao interagir com o meio começa a real é que possibilita que o ser humano faça sobre determinados assuntos que antes
podem causar um impacto psicológico da desenvolver algumas formas ou meios para relações mentais na ausência dos referentes somente fazia o que lhe pediam, até os 11
criança, todavia alguns sentimentos que construir o seu pensamento e opiniões sobre concretos...” (1992, p.26). anos ocorre essa evolução do pensamento,
existe dentro delas, dependendo da fase determinados assuntos. Porém dependendo mas muitas vezes a criança não sabe lidar
do desenvolvimento psicológico que elas se da idade segundo Piaget a criança não tem a As ligações que a criança consegue com essa mudança. Piaget, em seus estudos
encontram não conseguem trabalhar certos convicção dessa opinião é uma relação pré fazer comparada com um adulto são mostra essa evolução onde a criança passa
conceitos. estabelecida por estar sobre influência de poucas, mas é daí que surgem os primeiros por quatro fases que são:
um adulto. questionamentos, perguntas que muitas
É interessante para criança a repetição vezes não são respondidas e que é 1º período: Sensório-motor (0 a 2 anos).
daquela estória que muito lhe agrada, tal A cultura torna-se parte da natureza apresentado por o adulto achar que é o que 2º período: Pré-operatório (2 a 7 anos).
momento faz com que ela aos poucos trabalhe humana num processo histórico que, ao ele pensa e ponto final. 3º período: Operações concretas (7 a 11 ou

404 405
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

12 anos). sem que meus valores obrigatoriamente se que eu faço”. OS CONTOS INFANTIS E OS VALORES
4º período: Operações formais ( 11 ou 12 tornem os dela, sendo imparcial.
anos em diante). Pois valor moral, justiça para essa Segundo DE LA TAILLE et al. , Piaget diz Cada papel tem sua característica,
criança tem outro direcionamento, por que “... é na ação moral que se confrontam sua finalidade, por exemplo, o Tio Pat-
inhas, um pato muito rico e que procura
Essas são de acordo com cada indivíduo, exemplo: quando uma criança mente traindo afetividade e razão moral”.Na literatura
de todas as formas enriquecerem cada
muda de acordo com a característica mental a confiança do grupo, essas mesmas acham infantil Freda e Rodrigo, Rodrigo deve matar o
vez mais, relata o ser humano. Quem
de cada indivíduo, possibilitando a ele que o amigo deve ser punido e quanto maior pai de Freda por causa das dívidas do pai dela, não quer ter dinheiro e cada vez mais
diversas formas de relacionamento com o for o castigo melhor, isso faz com que as mas não quer fazer nada que prejudique seu cultivá-lo. Por outro lado ele também re-
meio em que ele vive. De uma forma geral, influências sofridas pelos adultos venha grande amor. lata o cuidado com a família, como ele
todos os indivíduos vivenciam essas 4 aparecer. cuida e protege os seus três sobrinhos.
fases na mesma seqüência, porém o início As crianças menores acham que a Essa indecisão faz com que a criança
e o término de cada uma delas pode sofrer ordem da pessoa adulta é justa, já as maiores repense ou analise seus valores (o que fica Na história dos três porquinhos po-
variações em função das características fazem um julgamento levando em conta difícil devido a sua imaturidade cognitiva), demos analisar certos valores colo-
da estrutura biológica de cada indivíduo e a interação que teve com o outro e faz a pois o que devo fazer? Enfrentar essa situação cados como na hora que o Lobo mau
também considerando o meio onde está diferenciação de justiça e a autoridade do e se colocar em uma posição que se diria vai comer os porquinhos a consciên-
inserida. adulto onde começa a formar a autonomia correta, ou porque é a pessoa na qual eu cia dele fala mais alto impossibilitan-
da criança.“É pela interação que o sujeito se tenho afetividade eu me colocarei a par dessa do de engolir os porquinhos. Um valor
A criança ao estar em convivência com constrói, pela interação dialética vale dizer, situação me posicionando de uma forma tratado nesta história o bem e o mal.
adulto, é influenciada por ele onde em seu contraditória “(...) inconsciente biológico e imparcial.
Proferir valores é a questão mais colo-
desenvolvimento, aparece várias situações e inconsciente social” (DE LA TAILLE et al ; A afetividade e a razão, a moral e
cada, não só pelas fábulas, mas por alguns
características que demonstram esses fatos 1992, p 107). a justiça caminham lado a lado onde muitas
contos da literatura também. Segundo
que podem ser bons ou maus. Já quando o Também existe um impasse vezes o sujeito não consegue ou não tem ainda o autor Chalita (2003) a Sherazade, por
sujeito está na faixa de 8 a 11 anos ele passa quando a criança se vê de frente com que é o controle dessas novas situações, fazendo exemplo, trata exclusivamente o amor:
para uma nova etapa que a heteronomia, sagrado ou tido como, pois essa questão na com tome certas atitudes que muitas vezes
onde já existe um interesse por atividades maioria das vezes faz com que a criança se não convém. Isso poderá causar a frustração A personagem simboliza a importância da narra-
coletivas, mas sempre lembrando que tem a encha de pudor e acaba se camuflando por e até mesmo o arrependimento do indivíduo, tiva, das histórias, do aprendizado, da sedução
do discurso e do poder da palavra na vida de to-
coerção do adulto, ou seja, regras, leis morais, tal religiosidade. Sendo que nas escolas onde mas são interações sociais que o mesmo dos nós. Durante mil e uma noites, ela exerceu
que lhe são impostas, como diz Piaget: “Toda aprendem com o convívio com o outro, deve deverá vivenciar. seus talentos adquiridos e aprimorados por meio
moral consciente num sistema de regras ser um local laico como diz os Parâmetros Para Piaget, a própria moral de leituras diversas, da paixão, do interesse e do
amor pela oralidade de seu povo. Uma oralidade
e a essência de toda moralidade deve ser Curriculares Nacional (PCN´S). pressupõe inteligência, haja vista que as traduzida em lendas, contos fantásticos, histórias
procurada no respeito que o indivíduo A escola e os adultos devem relações entre moral e inteligência têm a mesma maravilhosas que se entranharam na mente e no
adquire por estas regras (JM, p. 2 apud DE respeitar e incentivar as regras da lógica atribuídas às relações inteligência x coração de Sherazade (CHALITA,2003, PG 21 E 22)

LA TAILLE et al. 1992, p. 49). cooperação feitas pelas crianças, aquelas linguagem, assim sendo o indivíduo que não Trata-se de uma mulher, ocidental
que elas estabelecem entre elas, para que tem um aprendizado como alfabetização o de uma espetacular inteligência e cri-
Trabalhar com a criança nessa fase na possa propiciar a criação de sua autonomia. seu desenvolvimento fica comprometido, atividade, qualidades que levou ela a
qual seus valores estão sendo construídos E ocorra o desenvolvimento do sujeito que trabalhar com a criança de diversas formas faz sua liberdade, por intermédio do amor.
faz com que se repense de qual forma ou também abrange o juízo moral onde muitas com que a mesma se desenvolva e não fique Através deste conto, o autor empre-
maneira ajudarei a criança a se desenvolver, vezes faz com que a criança fique em um presa em alguma etapa. ga a importância do conto, da leitura,
dilema “faço o que eu digo, mas não faça o

406 407
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

como meios de aprendizagem para a vida. lava o seu caráter, ela continuava sendo uma O patinho feio traz consigo a importância vendo a beleza e seus mais novos amigos na-
Chalita (2003) enfatiza o valor da amiza- bela menina fisicamente e interiormente. do respeito, como as pessoas devem respeitar davam diante dele como ar de boas vindas.
de por meio da história de Dalmon e Pitias. a diferença, dificuldade, e necessidade de cada
Afinal o que é serem amigos, quais valores É chegado o dia do baile, no qual o príncipe uma, possibilitando assim o bem estar coleti- Este conto trata profundamente a
a amizade pode desenvolver no sujeito. A iria escolher a sua nova companheira. Cinder- vo. Havia uma pata que aguardava ansiosa ao relação com o próximo, de como a auto
história de Dalmon e Pitias relata uma am- ela. Por não possuir nenhuma roupa adequada nascimento de seus patinhos, aos pouco um a estima é importante na vida do sujeito.
izade tão intensa que alguns consideravam resolveu não ir ao baile. Foi quando surgiu no um foi se instalando, menos o maior, que per-
que eles não eram apenas amigos, mas sim nada uma fada madrinha que a vestiu, pente- manecia intacto, este ela deve que chocar no- Todos esses questionamentos devem ser propostos – por
meio de histórias, exemplos e significações diversas- aos nos-
irmãos de alma. Foi então, que certa vez ou, perfumou e colocou um lindo sapato de vamente e ainda escutar de uma vizinha que sos aprendizes. Para criar cidadãos sem preconceito, é preci-
uma situação colocou a prova esta amizade. cristal em seu pé. A fada a alertou que antes se tratava de um ovo de perua e não de uma so começar a educá-los ainda quando crianças, fazendo com
da meia noite, a mesma deveria voltar para pata. Muito chateada ela permaneceu, e logo que desenvolvam o respeito ao diferente por meio de máx-
Pitias por não concordar com a adminis- casa, pois neste horário terminaria o encanto. que nasceu o patinho ele levou todos até o imas morais, contos e narrativas que instiguem avaliações
e conclusões de que todas as pessoas merecem respeito,
tração do reinado, ele questionou alguns fa- lago para testar as suas habilidades aquáticas. amor fraterno e tratamento digno ( CHALITA, 2003, PG 138)
tos, no qual a sua resposta foi à prisão. Ele Quando o ponteiro marcava meia noite, Cin-
como sabia que aquela prisão poderia resulta derela que estava dançando com o príncipe, A hipótese levantada foi anulada, o patinho Atualmente os contos têm uma nova
em sua morte, resolveu fazer um último pe- saiu correndo perdendo um par do seu sapato sabia e muito bem nadar. Mesmo com todas visão, uma vez que seu público alvo re-
dido ao rei, queria se despedir de seus famili- e voltou para casa. No dia seguinte o príncipe as habilidades de um pato, o patinho feio era quer outros tipos de personagens. A mídia
ares. Dalmon com sua fiel amizade se propôs saiu com seus mensageiros para encontrar a visto como diferente dos demais patos. Todos trabalha na construção de histórias que
a ficar preso como garantia, se o seu amigo dona daquele sapato, que seria a sua compan- questionavam as suas diferenças. A mamãe focam a realidade das crianças, não so-
não fizesse o combinado o Dalmon morreria heira. Mas suas maldosas irmãs se colocaram pata defendia o seu filhote, colocava que a mente o imaginaria, há a preocupação
no seu lugar.Passou muito tempo e Pitias não na frente e tentou de todo jeito calçar o sapa- feiúra deveria ser mudada no futuro, mas não da junção do imaginário com a realidade.
chegava, começava a pressão do rei, Dalmon to. Não serviu para nenhuma delas. Foi quan- adiantava muito ele continuava a ser motivo
não se abalava, confiava plenamente em seu do Cinderela calçou aquele par e apresentou o de risos e bicadas dos demais bichos. Can- Podemos destacar o filme Shrek, no qual a
amigo e sabia que ele iria chegar. No último outro, e ali estava o mais novo casal do reinado. sado de tanta humilhação o patinho feio re- princesa Fiona luta com a ajuda de princesas de
instante, Pitias chega, correndo todo debil- solve ir embora, procurar algum lugar no qual outros contos, para libertar o seu amor Shrek.
itado fisicamente, aparentemente sem força, O valor da humildade, Cinderela não aceitasse ele do jeito que ele era. Ele esteve Isso destaca a importância da mulher com seu
mas a força que o conduzia era a amizade e a teve pressa, esperou o seu tempo a sua em diversos lugares, mas o que mais o cham- papel principal, hoje ela é vista somente com
confiança que o seu amigo havia depositado a hora, mesmo limpando chão, sendo humil- ava a atenção eram os cisnes. Ele por sua vez, subordinação, porém como alguém que con-
ele. O rei vendo aquela cena contagiante, que hada todos os dias tinha certeza que a sua queria muito pertencer aquele bando, porém quista o seu espaço, “Os números são alar-
expressava uma verdadeira amizade revogou hora iria chegar. No cotidiano no depara- achava impossível que eles o aceitassem. mantes: 10% dos adultos brasileiros sofrem
a sentença, colocando os dois em liberdade. mos com situações parecidas com o conto, Mais uma vez o patinho nada dias, noites, e de obesidade e outros 30% estão acima do
é um querendo passar na frente do outro, estações e nada de encontrar a sua felicidade. peso. Esta é uma das pesquisas que o médico
Dalmon e Pitias provam que os laços de afeto podem, prejudicar e tomar o lugar do próximo. Tra- Drauzio Varella traz ao Fantástico”, segundo
muitas vezes, atuar como elemento revolucionário e das
pessoas que a compõem. Ao final da historia dos dois
balhar este conto pode desenvolver nas cri- A primavera chegou agora o patinho já reportagem (GLOBO, FANTÁSTICO, 2010)
amigos, o rei Dionísio é um ser transformador, por final- anças este sentimento de buscar o nosso, de havia crescido e se deparou novamente com
mente ter enxergado a nobreza de uma união espiritual, não ser derrotado por nenhuma tristeza ou o bando de pássaros grandes. Desta vez A figura da personagem representa o es-
da conjunção entre duas almas que se completam pe- situação contrária. É ir buscar a felicidade. ele não estava com medo, decidiu enfren- tereótipo atual, no qual de acordo com pesqui-
las vias fraternais da amizade (CHALITA, 2003, PG 36.)
tar e se unir a eles. Foi uma surpresa muito sas realizadas grande parte da população está
A Cinderela coloca o valor da humani- “Como é bonita a consciência de poder grande para ele, pois ele pela primeira vez acima do peso. A concepção de princesa “loi-
dade, trata-se de uma órfã que é explo- servir e compreender a superioridade do ser viu o seu reflexo no lago, e constatou que ra”, dos olhos azuis também foi quebrada com
rada por sua madrasta e irmãs. Por mais e a transitoriedade do ter. É esse o grande não era mais um patinho feio, era um cisne o filme A princesa e o Sapo, que trabalha com
dificuldade que Cinderela passava nada aba- lema dos humildes”. (CHALITA, 2003, PG 110) lindo. Daí por diante todos se aproximavam, uma princesa negra. Filme da Walt Disney.

408 409
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS


BETTELHEIM, Bruno A psicanálise dos contos de fadas, 8º edição, Rio de Janeiro:
Ao fim deste trabalho, as influências que os contos causam na vida das crianças e de que editora Paz e Terra, 1990.
forma é trabalhado isso, podemos sanar a dúvida que tínhamos que era: O conto de fadas faz
ou não bem para as crianças, e qual a sua influência sobre elas? A conclusão que o problema CHALITA, Gabriel Pedagogia do amor, 13º edição, São Paulo: editora Gente, 2005.
que antes focalizamos no conto de fadas hoje está localizado em outra questão. Não é o
material usado, mas sim como é aplicado. CHAUI, Marilena O que é ideologia, 13º edição, São Paulo: editora Brasiliense,
1983.
Essa questão fica para ser trabalhada diretamente com a criança, é visão de transformação,
mudança que deve haver por meio do educador, proporcionando uma interação do meio em DORFMAN, Ariel; MATTELART, Para ler o pato Donald: comunicação de massa e
que a criança está inserida, sujeitando a ela o desenvolvimento de um olhar crítico, tirando colonialismo, 8º edição, São Paulo: editora Paz e Terra, 2010.
suas próprias conclusões, sendo cidadãs atuantes na sociedade.Porém o que nos incomodava
era saber que a criança eram de uma certa forma iludida, por meio de certos tipos de contos, LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994. 183p.
e quando se deparava com a realidade, chocava-se, pois a realidade era outra e não a que lhe (Coleção Magistério 2º Grau: Série Formação Geral)
foi contada, “ E foram felizes para sempre”.
DANTAS, Oliveira; DE LA TAILE, Yves; OLIVEIRA, Marta Teorias psicogenéticas em
Podemos constatar que há condições de fazer a diferença, e isso nos agradou e sanou a discussão, 15º edição, São Paulo: editora Summus, 1992
nossa dúvida, que tínhamos em aberto achando uma outra forma de trabalhar com a criança
e até mesmo alfabetizá-la por meio dos contos de fadas que é um material muito rico.

JOSEANE LEMES MACHADO

Graduação em letras pela Faculdade FINTEC (1996); Especialista em psicopedagogia pela


Faculdade FATECE (2018); Professor de Educação Básica –EMEF. Bel. Mario Moura e
Albuquerque.

410 411
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
A noção de leitura na escola parte de lúdica e simbólica de adentrar em um universo
um campo mais amplo como formadora da de fadas, princesas, castelos, rainhas, animais
autonomia, mas independente do contexto e todo o contexto de que as histórias infantis
escolar, a leitura representa uma forma de traduzem uma forma de despertar a estética
conhecimento que amplia as experiências pela leitura, seja nas imagens coloridas que
pessoais, o que acaba por permitir ao leitor os livros de história apresentam ou nas
valorizar e compreender cada passo melhor leituras realizadas pelos pais. Esse universo
do aprendizado das coisas aprendidas e se torna muito significativo para a criança.A
cada experiência obtida. Aumentar a noção metodologia do estudo orientou-se pela
de leitura implica modificações na cultura pesquisa bibliográfica e exploratória que
e na visão de mundo em geral. Portanto, a tem como foco os pressupostos teóricos
importância de se envolver tanto o tema e postulados de autores indispensáveis
da leitura como à da cultura para longe dos à compreensão do objeto e a construção
limites que as instituições atribuíram ao teórica do estudo.
desenvolvimento infantil é primordial no
processo de reconhecimento da importância A contribuição do estudo é trazer uma
da leitura na formação infantil. reflexão sobre a leitura trazendo essa
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA FORMAÇÃO INFANTIL dinâmica de descobertas que a leitura
O objetivo do estudo é analisar a atual proporciona ao inserir o indivíduo no mundo
construção do conhecimento da criança da leitura, geralmente a leitura oral entra no
e a influência da leitura nesse processo, universo infantil no período de alfabetização,
reconhecendo que a educação tem como pois nesta fase a leitura representa para
meta auxiliar a criança a ser um sujeito a criança o descortinamento do mundo,
autônomo, feliz e capaz de se posicionar muitas vezes essa dinâmica é inserida no
RESUMO: Com o advento da pós-modernidade surgiram muitas inquietações a respeito da qual- diante do mundo e está sob a dependência seio familiar.
idade da formação infantil e nessas perspectivas se colocam a leitura como eixo, reconhecendo da leitura. A escolha do tema despertou
que nesta fase a criança se encontra em contato direto com a linguagem ampliando seus con- interesse para o desenvolvimento de uma No ambiente escolar a leitura é uma forma
hecimentos sobre o meio social. O objeto do estudo é analisar a atual construção do conheci- pesquisa, a qual trouxe inovações acerca dos de conhecer o meio em que vive através dos
mento da criança e a influência da leitura nesse processo. A metodologia do estudo orientou-se caminhos que a leitura tem sido conduzida primeiros contatos com a leitura em nível de
pela pesquisa bibliográfica e exploratória que tem como foco os pressupostos teóricos e pos- no ambiente escolar. socialização com outras crianças. Embora não
tulados de autores indispensáveis à compreensão do objeto e a construção teórica do estudo. seja ela ainda a protagonista da leitura, mas
Desta forma, justifica-se a realização ao vivenciar o texto escrito não conta apenas
da escolha do tema tendo-se como o conhecimento da língua, mas também um
Palavras-chave: Leitura; Formação Infantil; Autonomia. reconhecimento que as crianças adoram sistema de relações interpessoais que se
histórias lidas em voz alta, as histórias inserem no mundo da criança, atentando
representam um mundo novo, uma forma para a dimensão que a leitura projetou na

412 413
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

educação pós-moderna na formação infantil. para possibilitar o domínio efetivo da língua Nesta fase em que a leitura deverá ser sua efetivação dependerá exclusivamente
padrão em suas modalidades oral e escrita. prazerosa, a criança tem a leitura na escola da criação de uma “cultura voltada para a
A ABORDAGEM PEDAGÓGICA DA Sendo assim, podemos Rego (1988) destaca expressa uma superficialidade na medida e criação do educando leitor”.
LEITURA NA FORMAÇÃO INFANTIL que é a partir do texto que o aluno pode se que se processa um mecanismo que desgasta
tornar capaz de atribuir-lhe significações aos o interesse pela leitura. Nas séries terminais do ensino básico, o
A abordagem pedagógica da leitura símbolos dando-lhes significado. alunado necessita de preparação adequada
tem uma orientação aplicada ao conteúdo Embora a criança não seja a protagonista para adaptar-se à leitura e à escrita com
cultural como incremento da produção do Por que a maioria dos alunos detesta da leitura, mas ao vivenciar o texto escrito autonomia e flexibilidade. Pesquisas
conhecimento, a partir de leituras agradáveis ler? A motivação para a leitura, está no não conta apenas o conhecimento da realizadas com estudantes demonstram
e informativas que cultivam a memória aprender a ler na sala de aula, apenas leram língua, mas também um sistema de relações que o uso da leitura é uma raridade, não se
histórica e povoam a memória coletiva das automaticamente o livro imposto pelo interpessoais que se inserem no mundo da trata de um comportamento cultural que o
crianças. professor, e não os assuntos que gostam de criança: professor tende a preservar como base de
ler. Não foram ensinados a se transportarem sustentação da formação educativa.
A vivência da leitura no Ambiente Escolar para o mundo fantástico da imaginação, A leitura na escola não está conseguindo propiciar um
se dá com o livro didático, o Livro Infantil da performance da leitura de histórias e aprendizado tão vivo e duradouro como o contexto geral Oliveira (1994) destaca que ao educador é
tem o objetivo no Ambiente Escolar de não tiveram a oportunidade de criar seus em que os leitores se inserem. A constituição da prática da fundamental conhecer os limites de sua ação,
cultivar na criança um novo mundo que próprios textos, portanto, não há instigação leitura seria a ponte para o processo educacional eficiente, e repensar sua prática profissional, a fim de
venha de encontro com as suas necessidades do subjetivismo no educando. proporcionando a formação integral do indivíduo. Todavia, passar a agir de forma objetiva e coerente
de aventura e curiosidade. De acordo com os educadores constatam sua impotência diante do que em face aos desequilíbrios e desafios que a
Rego (1988, p. 71): Silva (1999) revela que os métodos denominam a ‘crise da leitura’, que significa a ausência realidade apresenta. De acordo com Leite
usados para ensinar uma criança os de leitura num sentido mais abrangente, mas não se trata (1996, p. 77):
Um grande medo que a escola deixe de perceber a padrões da gramática são sempre de uma conjuntura própria criada pelo sistema educativo
importância dos saberes infantis e participe efetivamente cansativos e fragmentados em frases sem (SILVA, 1999, p. 20). A qualidade do processo educativo nessa fase tendeu
do encurtamento da infância, num processo de contextualização que pecam pela falta a diminuir quando estatisticamente se comprovou as
desconstrução da identidade infantil, e é neste de sentido, e consequentemente não são A qualidade do processo educativo dificuldades advindas da falta de costume da leitura e o
caleidoscópio de práticas e teorias que a importância da estimulantes aos componentes mentais da está vinculada a uma formação cultural desestímulo para ampliar o universo vocabular. A leitura
Educação Infantil se faz presente, o verdadeiro desafio da criança. por parte do professor e da instituição de reduz as incidências de erros ortográficos, a pobreza
Educação Infantil é perceber que seu objetivo não é de ensino em inserir a leitura em um universo vocabular, dá maior confiança e estímulo às experiências
transmitir conhecimento, ou de construir aprendizagens Kato (1995) avalia que o Ensino Fundamental de elementos constitutivos do imaginário do dia a dia. (LEITE, 1996, p. 77).
sem significados, mas de enriquecer os saberes das é a fase em que o universo infantil está muito cultural, a partir da exploração da leitura
crianças, tirando proveito do grande repertório linguístico, relacionado ao imaginário que a leitura pode interpretativa, da oralidade, do incentivo à Algumas crianças e jovens não gostam
comportamental e vivencial que esses pequenos levam oferecer e uma maior experiência criativa argumentação, contextualização e produção de ler, acabam considerando a atividade
consigo para a escola. (REGO, 1988, p. 71). com a pesquisa, a narrativa, a apreensão do de textos. Esses requisitos que devem ser cansativa, principalmente, entre grupos de
significado e a compreensão da leitura a nível incorporados ao ensino básico passam alunos com dificuldade de reter atenção.
A prática da leitura na Escola está integrada mental, a velocidade da leitura, a habilidade despercebidos em meio a uma avalanche A leitura muitas vezes torna-se cansativa
ao processo ensino/aprendizagem e não tem para reproduzir, criar, e interpretar textos, de conteúdos desnecessários. Silva (1999, por falta de vocabulário mais amplo para a
ultrapassado a artificialidade instituída na a riqueza vocabular e seu significado e a p 21) revela que a instituição educativa tem compreensão e assimilação da mensagem.
sala de aula, uma vez que serve como ponte expressividade dos saberes. autonomia para modificar essa conjuntura, Então, parte do incentivo na escola e na vida

414 415
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

No ambiente familiar, a criança aprende a administrar


cotidiana da criança com a leitura. É lendo e justificativas. Na criança essa leitura através dos manifestações culturais. e resolver os conflitos, a controlar as emoções, a
que se torna leitor e se adquire o gosto pela sentidos revela um prazer singular, relacionado com a sua expressar os diferentes sentimentos que constituem
leitura. Neste sentido cabe à escola viabilizar disponibilidade (maior ou menor do adulto) e curiosidade Oliveira (1994) explica que a criança se as relações interpessoais, a lidar com as diversidades
e adversidades da vida. Essas habilidades sociais e sua
o acesso do aluno ao universo dos textos que (mas espontaneamente expressa), (SILVA, 1991, p. 45). constitui como elemento de uma cultura, forma de expressão, inicialmente desenvolvidas no
circulam socialmente, ensiná-lo a produzir e o processo educativo é relevante no um âmbito familiar, têm repercussões em outros ambientes
a interpretar. Isso inclui textos de diferentes A experiência de formação de círculos de enriquecimento em seu desenvolvimento, com os quais a criança, o adolescente ou mesmo o
adulto interage, acionando aspectos salutares ou
disciplinas, com os quais o aluno se defronta leitura com crianças do Ensino Fundamental, cumprindo o papel de socializador, provocando problemas e alterando a saúde mental e
sistematicamente no cotidiano escolar e não Kato (1995, p. 18), proporcionando o desenvolvimento de sua física dos indivíduos. (DESSEN & POLONIA, 2007, p. 02).
consegue manejar, pois não há um trabalho identidade por meio de uma aprendizagem
planejado com essa finalidade. Segundo [...] identificou que a criança tende a ter maior diversificada e significativa. O currículo Portanto, o ambiente familiar é o primeiro
Mendes (2010, p. 01): disponibilidade que o adulto para entregar-se à leitura tradicional na escola não oferece condições espaço de convivência conhecido pelo
indivíduo e consequentemente suas ações
pelo simples fato de, em princípio, tudo lhe ser novo e de fundamentar a aprendizagem da criança e
ou seu desenvolvimento refletiram este
A leitura sempre esteve no centro de interesse dos desconhecido e ela precisar conhecer o mais possível a fim contribui para uma formação “deformada” de
conhecimento inicial, o qual é influenciado
educadores, que a defendem como instrumento de aprender a conviver com esse mundo. (KATO, 1995, p. educandos com dificuldade de compreender por fatores culturais e sociais enraizados
que desenvolve habilidades cognitivas e auxiliam na 18). o que lê, de opinar, argumentar, criar no contexto familiar. Para Vieira (2009,
construção da autonomia e da cidadania, levando o e produzir. O ensino é conduzido sem p. 02) é inegável a relação entre família
indivíduo a compreender, participar e se posicionar diante Uma leitura mesmo superficial revela muitos objetivos explícitos, sem metas para cada e início do processo de aprendizagem.
das questões do cotidiano e da realidade que o cerca. quadros intimamente ligados às fantasias, etapa educativa. Segundo Weisz (1999, p. Assim, no que se refere ao relacionamento
(MENDES, 2010, p. 01). representações sociais, visão de mundo e 34): desta interação e a formação da
angústias de cada leitor, vindo também ao leitura dos alunos o autor aponta que:
E por isso, por meio das estórias o narrador encontro de suas fantasias mais comuns. A etapa terminal do ensino básico com ênfase à qualidade,
A aprendizagem da leitura está intimamente relacionada
pode também inserir no final da história deve conduzir a criança nesta fase, a ser capaz de ler ao processo de formação geral de um indivíduo e à sua
uma análise de um tema, por exemplo, A FORMAÇÃO LEITORA SOB O fluentemente, interpretar o que lê, argumentar com um capacitação para as práticas sociais, tais como: a atuação
perturbador, que abrange o contexto da PONTO DE VISTA CULTURAL NA interlocutor e ser eficiente na aquisição da escrita e da política, econômica e cultural, além do convívio em sociedade,
seja na família, nas relações de trabalho dentre outros
estória imaginária, e que de certa forma INFÂNCIA oralidade. (WEISZ, 1999, p. 34). espaços ligados à vida do cidadão. (VIEIRA, 2009, p. 02).
conduz para uma análise da realidade vivida
e sentida pela criança no ambiente em que O ambiente familiar consiste no primeiro Deste modo, a formação da leitura do
está inserida. A narrativa de histórias é A literatura folclórica aplicada no ensino espaço de formação para a personalidade do aluno é influenciada por vários aspectos e
interessante também para as crianças que nessas séries, contribui para o educando indivíduo. É por meio deste espaço que se inicia não somente por aqueles relacionados ao
sabem ler, pois soam bem aos ouvidos e a entender à cultura local, valorizar as os primeiros processos de aprendizagem, seja ambiente escolar. Pelo contrário, a elaboração
emoção do narrador e a forma de leitura manifestações espontâneas da sociedade, esta voltada ao conhecimento intelectual dos conceitos de leitura se iniciam ainda
pode despertá-la na dicção e na correção conhecer a riqueza e a diversidade cultural ou mesmo emocional. Conforme Dessen & no ínterim familiar, levando assim aspectos
culturais e sociais, e se desenvolvendo
dos erros de leitura. Na concepção de Silva dos estados brasileiros. Além de uma forma Polonia (2007, p. 02) ano que concerne à
com mais intensidade no ambiente escolar.
(1991, p. 45): lúdica de atrair o imaginário infantil, a relação entre o processo de aprendizagem e
Paviane (2009) descreve que as condições
literatura folclórica é uma leitura de cunho o ambiente familiar, percebe-se que: sócio-antropológicas influenciam de maneira
A leitura sensorial (perceptiva) vai, portanto, dando informativo e agradável. O universo da determinante na leitura do aluno, o que leva
a conhecer ao leitor o que ele gosta ou não, mesmo linguagem pode ser visualizado a partir da a crer que pais com maior hábito de leitura
inconscientemente, sem a necessidade de racionalizações comunicação social que caracterizam as acabam influenciando os filhos com maior

416 417
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

potencialidade. O autor acrescenta ainda que: atos investigativos e consequentemente de integração entre o conhecimento e a maiores dificuldades no âmbito escolar,
enraizando o hábito da leitura. leitura, a qual será desenvolvida com maior o que demonstra a necessidade do
Quando em uma região o hábito de leitura constitui- potencialidade no ambiente escolar. De estímulo a leitura ainda no ínterim familiar.
se num comportamento comum da sua população,
e porque historicamente houve condições a que,
Conforme Terzi (2009, p. 03) levando em acordo com Terzi (2009, p. 04) estudos
individual e coletivamente, a sua grande maioria o fosse consideração alguns estudos que buscam revelam que os benefícios alcançados Deste modo, Silva (1999) destaca que a
construindo. Certamente, através da educação informal explicar a relação entre o contexto familiar, por meio do incentivo inicial da leitura escola ao receber um aluno cuja influência
e formal, a família, a escola e a sociedade, ao instituírem sua cultura e as primeiras aproximações no ambiente familiar são inquestionáveis. ao hábito da leitura precede aos primeiros
um caráter valorativo a leitura, formam leitores. O
oposto também vale, quando a leitura não se constitui
do hábito da leitura, observa-se que: Assim, ambientes em que o letramento é anos de vida, ainda inerentes à cultura
um valor social ou não faz parte dos valores vividos por comum, seja pelo incentivo aos contos de e formação dos pais, há maior facilidade
A análise que esses estudos fazem da história de leitura
uma sociedade como um todo, à prática da leitura, o
das crianças é quase que puramente quantitativa. Em sua
fadas, histórias em quadrinhos, entre outros no desenvolvimento intelectual. No que
hábito de ler não acontecem, sendo, portanto, o não ler elementos, o sucesso no desenvolvimento corresponde aos alunos cujo primeiro
maior parte, ela é constituída de dados sobre o número de
uma de suas práticas culturais (PAVIANE, 2009, p. 01).
exposições da criança à leitura de estórias, a quantidade da leitura dos alunos é mais rápido do que contato ao universo da leitura se dá no
de material a ela disponível, frequência de participação naqueles ambientes onde os pais não possuem ambiente escolar, maiores são as dificuldades
em eventos de letramento, escolaridade, profissão
Percebe-se, neste contexto, que a e hábitos de leitura dos pais. (TERZI, 2009, p. 03).
qualquer cultura associada ao hábito da na aprendizagem e compreensão, elementos
formação familiar e cultural é relevante no leitura. Terzi (2009, p. 05) descreve ainda que: que retardaram o processo de conhecimento
processo de aprendizagem da leitura do Desta forma, o processo de aprendizagem do aluno. Conforme Vieira (2009, p. 05) neste
aluno, ao ponto que ao estimular os filhos da leitura remete também à quantidade de O desenvolvimento da língua oral e o desenvolvimento tema é preciso que os pais compreendam que:
da escrita se suportam e se influenciam mutuamente.
desde pequenos ao processo de leitura, vezes que a mesma é apresentada a criança, Nos meios letrados, onde a escrita faz parte da vida
A promoção do ato de ler pode ser transmitida no âmbito do
seja mostrando livros ilustrados, revistas em o que leva a crer que ambientes onde a cotidiana da família, a construção das duas modalidades
letramento familiar, pois essa responsabilidade não pode
quadrinhos ou mesmo contando histórias família possui aspectos culturais voltados se dá simultaneamente: ao mesmo tempo em que
ser delegada somente à escola, deve ser uma parceria entre
a criança aprende a falar ela começa a aprender as
infantis, os pais estarão incentivando ao hábito da leitura, provavelmente a biblioteca escolar/escola e família. O letramento familiar
funções e os usos da escrita, podendo se tornar uma
o hábito da leitura, a qual no âmbito criança terá mais facilidade em desenvolver leitora e produtora de textos não-alfabetizada, já com
pode ser entendido como o contato dos signos através dos
pais, seja pela estória contada na hora de dormir ou canções
escolar apenas será melhor desenvolvida. este processo de aprendizagem, do que se concepções sobre o letramento. (TERZI, 2009, p. 05). ensinadas às crianças, esses são modos de letramento
levar em consideração a situação contrária. que auxiliam no fomento à leitura. (VIEIRA, 2009, p. 05).
Segundo Vieira (2009) a influência Para Vieira (2009, p. 04) as ações Assim, ao promover o início do hábito da
inicial dos pais para o processo de leitura familiares são essenciais para leitura, a família estará também influenciando Portanto, os pais devem ser conscientes
é relevante, tendo em vista que a criança influenciar o hábito da leitura, assim: na maior facilidade da aprendizagem da que cabem a eles os primeiros ensaios de
quando recebe um livro busca por meio das escrita, tendo em vista que estes dois conhecimento da criança, consequentemente
funções sensoriais, sonoras e visuais, ou A família se fortalece e como espaço privado de vivência,
elementos se desenvolvem mutuamente, quanto maior o poder de influência aos
e é nesse interior do novo modelo familiar que o gosto
seja, apalpando e reconhecendo sons ou consequentemente quanto maior o processos de aprendizagem maior também
pela leitura se intensifica. O gosto pela leitura se constitui
mesmo imagens e ilustrações se aproximar em atividade adequada a esse contexto de privacidade desenvolvimento da leitura mais fácil será a será o sucesso dentro do ambiente escolar.
daquele elemento inusitado e desconhecido, doméstica. A privacidade doméstica traz além do conforto, aprendizagem da escrita, o que torna o ensino Assim, atuar no processo de aprendizagem
tomando assim sensações agradáveis, as quais sentimento de proteção, ligação afetiva e traços comuns
no ambiente familiar ainda mais relevante. dos alunos deve ser percebido como um
além do parentesco sanguíneo. A leitura ganha status como
necessitam serem repetidas rotineiramente. Na pesquisa A escola e o ensino da leitura trabalho em conjunto, entre pais e escola, e
ritual que reúne a família ao redor da mesa para leitura do
texto religioso, nesse momento o gosto pela leitura começa realizada por Ferreira e Dias (2009), os autores não apenas um dever do ambiente escolar.
Levando em consideração o uso destes a ser transmitido na esfera familiar. (VIEIRA, 2009, p. 04). detectaram pelo relato dos entrevistados Dessen & Polonia (2007, p. 01) apontam em
recursos, os quais podem ser, sons, imagens que a história familiar é determinante para seus estudos que a relação família, escola
ou textura, tem-se que os mesmos propiciam Portanto, a relação entre cultura familiar a aprendizagem e desenvolvimento da e aprendizagem devem considerar que:
uma maior realidade ao mundo abstrato da e a leitura do aluno é evidente, o que leitura. Assim perceberam que os alunos,
leitura, trazendo assim a criança a um mundo torna imprescindível a atuação dos pais cujos pais não tinham o hábito da leitura ou A família e a escola emergem como duas instituições
mais concreto, influenciando os primeiros ou responsáveis como primeiros ele os mesmo que eram analfabetos, apresentaram
fundamentais para desencadear os processos evolutivos
das pessoas, atuando como propulsoras ou inibidoras do

418 419
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

seu crescimento físico, intelectual, emocional e social. Na em dificuldades no aprendizado de inúmeras criança começa a ter contato com a leitura
escola, os conteúdos curriculares asseguram a instrução e
outras disciplinas e conhecimentos. em seu meio social em vários momentos
apreensão de conhecimentos, havendo uma preocupação
central com o processo ensino-aprendizagem. Já, da vida e, a partir da leitura oral realizada
na família, os objetivos, conteúdos e métodos se Portanto, a influência do hábito da leitura pelos adultos e a curiosidade de folhear
diferenciam, fomentando o processo de socialização, no ambiente familiar torna-se um fator os livros e ler por meio de imagens, a
a proteção, as condições básicas de sobrevivência e
fundamental para o desenvolvimento do criança acaba por representar um interesse
o desenvolvimento de seus membros no plano social,
cognitivo e afetivo. (DESSEN & POLONIA, 2007, p. 01). aluno. Assim, ao apresentar as crianças à expressivo pelas figuras e imagens e
leitura, seja em forma de contos, imagens, nelas subjetivamente criam histórias.
ilustrações ou sons, os pais estão na
Assim, a escola configura-se como apenas realidade influenciando um elemento É importante salientar que a construção
um elemento a mais dentro do processo de essencial para todo o processo de do conhecimento da criança tem grande
aprendizagem e sendo assim este elemento aprendizagem e assim garantindo aos filhos influência da leitura, mas a Escola tem JUSSIARA RIOS DA SILVA SANDES
não é único nem o mais importante. Desta um desenvolvimento mais fácil e agradável. transformado a leitura em um processo sem FIGUEIREDO
forma, o ambiente familiar deve também prazer, ou seja, mecanizado. Essa situação
apropriar-se das suas funções dentro do tem favorecido a desmotivação pela leitura,
processo de educação e buscar todas as CONSIDERAÇÕES FINAIS atrelando, por exemplo, a falta de liberdade Graduação em Pedagogia pela Faculdade Centro
formas de incentivo ao conhecimento, o para ler o que gosta um dos fatores que UniversitárioAssunção - UNIFAI (2009); pós-grad-
qual deve ser estimulado desde os primeiros Muitas inquietações sobre a forma como impedem o interesse da criança pela leitura. uada pelo curso de Alfabetização e Letramento,
momentos de desenvolvimento da criança. a criança está sendo formada como leitora Desta forma, torna-se urgente que (2016) e pelo curso em Psicopedagogia pela Fac-
foram trazidas com a pós-modernidade, sendo a escola desenvolva estratégias de uldade do Centro Universitário Assunção – UNI-
Para Vieira (2009) a formação do aluno possível reconhecer que existem diversas leitura e um espaço lúdico agradável FAI. (2011); Professor de Educação Infantil e En-
como um leitor depende de várias variáveis, críticas à escola em relação às formas de como às bibliotecas para que as sino Fundamental I na EMEI Canal do Cocaia, SP.
porém é no ambiente familiar que a criança leitura que são feitas no Ambiente Escolar. A crianças se sintam atraídas pela leitura.
se encontra em frente à primeira destas Qualidade na Educação na Primeira Infância
variáveis, a qual refere-se a cultura familiar, ou é de extrema importância e, se tratando da
seja, o hábito ou não da leitura familiar. É por
meio deste primeiro elemento que o aluno se Qualidade da Formação Infantil, ela deve
tornará um bom leitor ou não, assim quando ser colocada em primeira instância, uma REFERÊNCIAS
incentivado desde o início de sua formação vez que nessa perspectiva a leitura é vista
será mais fácil o exercício da leitura como um como um mecanismo de formação crítica, DESSEN, Maria Auxiliadora; POLONIA, Ana da
hábito normal, do contrário, a escola enfrenta de expansão da língua falada e escrita e, Costa. A família e a escola como contextos de
grandes dificuldades para a transformação sobretudo, da capacidade de compreensão desenvolvimento humano. Paidéia, Ribeirão
deste processo de aprendizagem. do mundo. Ou seja, a leitura sob o Enfoque Preto, SP, v.17, n.36 jan./apr. 2007. Disponível
Pedagógico deve ser vista como um em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=s-
Terzi (2009, p. 05) em sua pesquisa a processo de formação global da formação ci_arttext&pid=S0103-863X2007000100003>
oralidade e a construção da leitura por do sujeito como indivíduo e cidadão, Acesso em: 05 de Julho de 2019.
crianças de meios iletrados, obteve a uma vez que ela abrange a capacitação
seguinte conclusão a qual demonstra que para o convívio e para as atuações FERREIRA, Sandra Patrícia Altaíde; DIAS,
alunos cujos pais influenciaram a leitura sociais, políticas, econômicas e culturais. Maria das Graças Bompastor Jorge. A esco-
desde pequenos acabaram apresentando-se la e o ensino da leitura. 2009. Disponível em:
como bons leitores, já aqueles cujos pais não É imprescindível pontuar que a leitura <http://www.scielo.br/pdf/pe/v7n1/v7n1a05.
desenvolveram o hábito da leitura no ínterim não é um aprendizado somente voltado ao pdf>. Acesso em: 13 de Junho de 2019.
familiar apresentaram dificuldades relevantes Ambiente Escolar em uma formação oficial,
no processo de leitura, as quais culminaram pois é necessário compreendermos que a

420 421
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

KATO, Mary. O aprendizado da leitura. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

LEITE, M. I. Infância: Fios e desafios da pesquisa. Campinas: Papirus, 1996.

MENDES, Cláudia Cristine Maia. Leitura: relações entre concepções e práti-


cas pedagógicas de professores e alunos em uma escola Municipal de Cuiabá –
MT. 2010. <Disponível em: <http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/
anais17/txtcompletos/sem19/COLE_962.pdf>. Acesso em: 30 de Junho de 2019.

OLIVEIRA, Z. M. R. Educação infantil: Muitos olhares. São Paulo: Cortez, 1994.

PAVIANE, Neires Maria Soldatelli. Hábito da leitura como uma prática cultural. 2009.
Disponível em: <http://www.ucs.br/ucs/tplPOSLetras/posgraduacao/strictosen-
su/letras/professores/neires_paviani/artigo.pdf>. Acesso em: 01 de Julho de 2019.

REGO, Lúcia Lins B. Literatura Infantil: uma nova perspec-


tiva da alfabetização na pré-escola. São Paulo: FTD, 1988.

SILVA, Theodoro Ezequiel. De olhos abertos. 2. ed. São Paulo: Ática, 1999.

_______. O ato de ler: fundamentos psicológicos para uma


nova pedagogia da leitura. São Paulo: Scipione, 1991.

VIEIRA, Letícia Alves. Formação do leitor: a família em questão. Disponível em: <http://
www.eci.ufmg.br/gebe/downloads/308.pdf> Acesso em: 08 de Julho de 2019. O PAPEL DAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO
TERZI, Sylvia Bueno. A oralidade e a construção da leitura por crianças de mei-
os iletrados. 2009. Disponível em: <http://74.125.155.132/scholar?q=-
c a c h e : X M k P WnY Tx 0 E J : s c h o l a r. g o o g l e . c o m / + a + f a m i l i a r + n o + p ro c e s s o + d e + a - RESUMO: Ensinar nos dias atuais tornou-se uma tarefa complexa. A sociedade humana
prendizagem+da+leitura&hl=pt-BR>. Acesso em: 06 de Julho de 2019. evoluiu em vários aspectos e, tal fato, fez com muitos dos processos educacionais tradicionais
se tornassem obsoletos. A revolução tecnológica, que tem se consolidado nos últimos 20
WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática, 1999. anos, traz novas possibilidades que devem ser exploradas, mas, ao mesmo tempo, traz
diversos questionamentos aos educadores. Assim, esse artigo busca evidenciar, mediante
pesquisa bibliográfica, a importância do uso das ferramentas tecnológicas em sala de aula
e as mudanças necessárias nas metodologias pedagógicas. Além disso, tem como objetivo
analisar os possíveis prejuízos advindos da tecnologia e, assim, advertir para que esses sejam
explanados e combatidos.

Palavras-chave: Educação; Tecnologia; Educação Infantil; Informática Educacional.

422 423
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
as tecnologias? Quais medidas devem nível individual, quanto em nível de sociedade,
A tecnologia está ao nosso redor e ser tomadas para que as tecnologias da as tecnologias trazem novas oportunidades No atual cenário, em que pedagogia e
não é possível ignorá-la. Quase todas as comunicação e informação tornem- se e impõem mudanças na forma como o ser tecnologia se fundem, é imprescindível que
nossas atividades cotidianas envolvem o aliadas da educação, ao contrário de alienar humano se relaciona com o mundo e com o educador conheça a tecnologia a fundo.
uso de, no mínimo, um tipo de dispositivo os jovens e dispensá-los da intenção inicial? os outros, na maneira como desenvolve Videogames, computadores, internet,
tecnológico: celulares, computadores, trabalhos e, também, na forma como televisão interativa, games, tablets, telefones
televisores, videogames, tablets, entre Obviamente, as respostas para tais absorve conhecimento. Para Silveira e Bazzo, celulares, aplicativos, softwares, entre outras
outros aparelhos. Grande parte das questionamentos ainda não podem ser ferramentas, devem fazer parte do cotidiano
evoluções pelas quais a sociedade respondidas com total exatidão, em parte, A tecnologia tem se apresentado do professor. Tanto durante o planejamento e
humana passou nas últimas décadas porque o uso de tecnologias em sala de aula – como o principal fator de progresso e de preparo das aulas, como durante o processo
está diretamente ligada à tecnologia. referindo-se ao Brasil – ainda é algo recente. desenvolvimento. No paradigma econômico educacional em si.
Também porque as experiências com tais vigente, ela é assumida como um bem
Dessa maneira, a forma como aparatos tecnológicos podem ser subjetivas social e, juntamente com a ciência, é o Para Kenski (2014), as tecnologias
educamos nossas crianças e adolescentes e mudar de acordo com a classe social, idade meio para a agregação de valores aos mais caracterizam-se por serem evolutivas, ou
também é afetada diretamente pelo e outras características dos educandos. diversos produtos, tornando-se a chave seja, estão em permanente transformação e
avanço tecnológico. Especialmente, para a competitividade estratégica e para o também por não serem tecnologias apenas
porque a atual geração já nasce em desenvolvimento social e econômico de uma materializadas em máquinas e equipamentos, o
conexão com todas as novidades da TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO região (BAZZO E SILVEIRA, 2009, p. 682). principal espaço de ação é virtual e a principal
tecnologia. Assim, a questão central matéria-prima é a informação.
desse artigo não poderia ser diferente: O ser humano vive em um processo Essa revolução tecnológica também afeta
qual a relevância e os benefícios do uso constante de evolução. Novos processos e diretamente a educação, o que desencadeia Outro benefício da inserção das TIC na
de tecnologias na educação? Como elas descobertas desencadeiam em mudanças algumas questões que precisam ser educação é a democratização dos saberes e do
podem facilitar o processo educacional? que costumam nortear a sociedade em que trabalhadas pelos educadores, para que as acesso à informação. Implantar a tecnologia nas
vivemos. Entre essas metamorfoses, a de tecnologias tornam-se aliadas do processo escolas, sobretudo nas instituições públicas,
Sabemos que tais tecnologias mais destaque no mundo contemporâneo educacional. Entre elas, preparar os eleva o nível de conhecimento dos alunos,
podem auxiliar no acesso à informação, na é, inegavelmente, a revolução tecnológica. educandos para aproveitar conscientemente permite que recebam informações de todas
resolução de problemas, na demonstração Após o estabelecimento do capitalismo o potencial das tecnologias e desenvolver as partes do mundo, desenvolvam novas
e simulação de experiências antes pós-industrial, as novas descobertas metodologias que promovam a incorporação habilidades e, assim, tornem-se indivíduos
feitas somente em laboratórios. A em tecnologia nos transformaram das TIC como um instrumento pedagógico mais conscientes do mundo em que vivem.
lista de benefícios é imensa, mas, é em uma sociedade informacional. satisfatório.
necessário atentar- se ao outro lado Mas, apesar dos benefícios adquiridos
dessa história, que vem a ser o enfoque Nas últimas décadas, a tecnologia já Villardi e Oliveira (2005, p. 26), afirmam com o advento da tecnologia, é importante
secundário deste trabalho: a alienação se tornou uma característica essencial que “a utilização de recursos tecnológicos ressaltar que a enxurrada de informações
por meio das tecnologias. Sendo assim, da cultura humana. As tecnologias no espaço educacional significa mais do proporcionadas pela sociedade tecnológica em
outros questionamentos levantados de informação e comunicação² estão que transformar o papel em tela de monitor, que vivemos, também pode causar a alienação
durante a execução do presente artigo plenamente inseridas em todos os aspectos exige o domínio de novos códigos [...] de crianças e adolescentes. Já que, grande
foram: quais são as melhores maneiras de nossas vidas.Com o domínio da trazendo impacto sobre a cultura, as formas parte dessas informações, muitas vezes, não
de conciliar o processo educacional informação, quase tudo se tornou possível de produção e apropriação dos saberes”. possui um filtro crítico sobre elas.
com algo tão efêmero e veloz como para o homem contemporâneo. Tanto em

424 425
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

educacional da informática (entenda-se na época o uso BENEFÍCIOS E DESAFIOS NA


Assim, para Bazzo e Silveira (2009, p. Utilizadas prioritariamente em da linguagem Logo e da linguagem Basic, disponíveis INSERÇÃO DAS TICS NA EDUCAÇÃO
183), “é necessário fazermos uma avaliação universidades federais, as ferramentas no Brasil), ou seja, perceber como o aluno aprende
crítica sobre a tecnologia, sua constituição tecnológicas começaram a dar os primeiros sendo apoiado pelo recurso da informática e se isso O uso de determinadas tecnologias em sala
histórica e sua função social, a fim de não passos em direção à educação de 1º e melhora efetivamente sua aprendizagem. Outra meta de aula pode levar a mudanças na maneira de
só compreender o sentido da tecnologia, 2º grau em meados dos anos 1980 com era levar os computadores às escolas públicas, para ensinar, possibilitando, assim uma aula mais
mas também de repensar e redimensionar o a realização do Seminário Nacional de possibilitar as mesmas oportunidades que as particulares significativa e prazerosa. Usar as TIC como
papel da mesma na sociedade. Informática Educacional . Segundo Tavares: ofereciam a seus alunos. (TAVARES, 2001, p. 2). ferramenta de aprendizado pode realmente
revolucionar o ensino. Alguns estudos
Também é importante atentar-se ao fato [...] realizar o I Seminário Nacional de Informática Com base no EDUCOM, em 1986, o apontam que o “segredo” para a utilização
de que a geração atual de crianças já nasceu Educacional em agosto de 1981. Entre as várias Ministério da Educação (MEC), criou o correta das tecnologias nas escolas é saber
inserida na nova era tecnológica. Nesse recomendações resultantes deste Seminário, a mais Programa de Ação Imediata em Informática como utilizá-las e aplicá-las efetivamente
panorama, identifica-se mais um desafio, marcante foi a de que o computador deveria ser encarado na Educação de 1º e 2º grau, com a intenção nas atividades curriculares. Para Kenski:
inserir a tecnologia na escola, como aliada como um meio que ampliasse as funções do professor de capacitar educadores e implantar
no processo de ensino, preparando assim ao invés de substituí-lo. Também se recomendou que infraestruturas nas secretarias estaduais de As novas tecnologias de comunicação [...], sobretudo a
os educandos para a sociedade, sem que a informática educacional fosse adaptada à realidade educação. Já em 1989, foi instituído pelo televisão e o computador, movimentaram a educação
tais ferramentas disputam atenção com o brasileira, valorizando a cultura, os valores sociopolíticos MEC o Programa Nacional de Informática e provocaram novas mediações entre a abordagem
principal objetivo em ambiente escolar: o e a educação nacional. (TAVARES, 2001, p. 2). na Educação (PROINFO). Tal projeto tinha do professor, a compreensão do aluno e o conteúdo
aprender. o objetivo de “desenvolver a informática veiculado. A imagem e o som e o movimento oferecem
Com base nesses seminários, foram criados educativa no Brasil, por meio de atividades e informações mais realistas em relação ao que está sendo
HISTÓRIA DA TECNOLOGIA projetos que visavam inserir as tecnologias, projetos articulados e convergentes, apoiados ensinado. Quando bem utilizadas, provocam ainda
NO PROCESSO EDUCATIVO em especial a informática, nas escolas em fundamentação pedagógica, sólida e alterações dos comportamentos de professores e alunos,
brasileiras. Entre os projetos apresentados, atualizada, de modo a assegurar a unidade levando-os ao melhor conhecimento e aprofundamento
No Brasil, as primeiras iniciativas estava o EDUCOM, considerado pioneiro política, técnica e científica imprescindível do conteúdo estudado (KENSKI, 2014 p.45).
do uso das tecnologias na educação em informática educacional no Brasil e ao êxito dos esforços e investimentos
aconteceram na década de 1970, ainda implantado em 1983. Segundo Moraes (1997), envolvidos”. (MORAES, 1997, p. 39). A literatura sobre o assunto nos mostra
em âmbito universitário. Segundo o EDUCOM pretendia utilizar o computador que o desenvolvimento das habilidades,
Valente (1997), o Núcleo de Tecnologia na educação, nas áreas de Matemática, Física, Pode-se notar que o final da década de advindas dos usos das tecnologias, nos
Educacional para a Saúde e o Centro Latino- Química, Biologia e Língua Portuguesa, 1980 e a década de 1990 foram cruciais alunos é mais acentuado quando as
Americano de Tecnologia Educacional, como uma ferramenta para aprendizagem no debate sobre o uso das tecnologias na TIC são utilizadas como ferramentas de
na UFRJ³, usaram um computador para e não apenas como uma “máquina de educação no Brasil, em especial, graças à aprendizado em busca de desenvolver
realizar simulações químicas em 1973. ensinar”. Sobre o EDUCOM, Tavares aponta: popularização dos computadores e da internet outras áreas do conhecimento e vão muito
no país. Em 1997, o MEC deu início a mais além do ensino da tecnologia em si, fugindo
Na UFRGS , no mesmo ano, foram [...] consistia na implantação de centros-piloto em uma tentativa de estabelecer o PROINFO. das conhecidas “aulas de informática”.
realizadas algumas experiências usando universidades públicas, voltados à pesquisa no uso de O programa, que já passou por diversas
simulação de fenômenos de física. Já na informática educacional, à capacitação de recursos reformulações, continua em vigor até hoje. Os chamados nativos digitais comprovam
UNICAMP , em 1974, foi desenvolvido um humanos e à criação de subsídios para a elaboração de tal teoria. Segundo Trucano (2012), esses
software, para o ensino dos fundamentos políticas no setor. [...] Várias foram as metas do projeto jovens são capazes de aprender e ampliar
de programação da linguagem BASIC. EDUCOM, uma delas era desenvolver a pesquisa do uso habilidades instrumentais quando têm

426 427
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

acesso aos dispositivos, mesmo quando necessidade de aumentar o uso de tecnologias Facebook, Instagram e Twitter – dispersa a é completamente diferente da que existia há
não recebem instruções específicas sobre na educação, fica claro que a qualificação e atenção dos alunos. Para Almeida e Silva, 20 anos. Não é possível esperar que, após
os aparelhos. Já Alves (2008, p. 6), também desenvolvimento profissional dos docentes tantas transformações na sociedade e na
afirma que “[...] os sujeitos que nasceram para o uso das TIC é um componente A disseminação e uso de tecnologias digitais, cultura, os jovens continuam se identificando
imersos no mundo digital interagem, essencial para que a implantação de tais marcadamente dos computadores e da internet, favoreceu com os antigos processos educacionais.
simultaneamente, com as diferentes mídias”. tecnologias nos ambientes escolares seja o desenvolvimento de uma cultura de uso das mídias e, Evolução deve ser uma constante também
feita de maneira plena. Para Dias e Muniz, por conseguinte, de uma configuração social pautada no meio pedagógico. Ao acompanhar as
Assim, as TIC mostram-se poderosas num modelo digital de pensar, criar, produzir, comunicar, mudanças tecnológicas, adequando-se a
ferramentas nas mãos de crianças e A transformação das formas de aprender não pode aprender – viver. E as tecnologias móveis e a web 2.0, elas, os educadores encontram um forte
adolescentes. Por se identificarem com a ser ignorada. O raciocínio não é mais exclusivamente principalmente, são responsáveis por grande parte dessa aliado durante o processo educacional.
velocidade tecnológica, ela tornou-se uma linear, em virtude da exposição constante a hipertextos nova configuração social do mundo que se entrelaça
linguagem natural para eles. Desde muito e imersão em espaços mais dinâmicos. A abertura de com o espaço digital. (ALMEIDA e SILVA, 2011, p.4). Obviamente, existem também
cedo, os pequenos têm acesso aos meios múltiplas telas em paralelo, a possibilidade de simulações e questões negativas a serem pontuadas. Com
de comunicação e tecnologias, em a interação com sistemas inteligentes foram incorporadas Diante desse cenário, faz-se necessário a evolução das tecnologias, tudo se tornou
todos seus processos, especialmente ao cotidiano das pessoas, e são alguns dos fatores que compreender o momento vivido e analisar mais efêmero e superficial. A rapidez com
em casa. Naturalmente, essa geração proporcionaram a referida transformação nas formas os benefícios e malefícios do uso de tais que a informação chega até nós, muitas
espera encontrar a tecnologia também na de viver e, consequentemente, nas formas de aprender. aparatos. Quando se refere à tecnologia, para vezes, diminui a qualidade e a confiabilidade
escola. Surge, então, uma nova demanda Novas formas de aprender implicam em novas formas de que a relação entre professor e aluno seja dela. Portanto, faz-se necessário inserir no
educacional que a pedagogia precisa suprir. ensinar; portanto, é imprescindível a discussão acerca da proveitosa é preciso educar ambos os lados. cotidiano escolar dos alunos momentos de
capacitação de professores. (DIAS e MUNIZ, 2007, p. 28). Oferecer suporte e capacitação aos reflexão sobre o próprio mundo, sobre a
Utilizar jogos de videogame ou computador educadores, aproximando-os das tecnologias sociedade informacional e sobre a tecnologia.
em sala de aula, por exemplo, pode ativar uma Um dos grandes desafios encontrados e apresentando a eles as potencialidades É necessário armá-los para que saibam
memória positiva nos alunos. Ao acionar tal durante a capacitação de educadores em existentes e as facilidades proporcionadas utilizar as tecnologias a seu favor e como
memória, a criança se sente mais motivada a relação à implantação das TIC nas escolas pelas TIC no ambiente de aula. Ao ferramenta de crescimento, impedindo que
aprender, além de se identificar prontamente é a resistência dos próprios professores em mesmo tempo, educar e conscientizar os estas os ceguem e os tornam incapacitados
com o método de ensino, que se torna mais relação à tecnologia. Muitos educadores alunos em relação aos danos advindos de exprimir opiniões próprias. O debate
gratificante e atraente. Além disso, sair do aceitam apenas o método de ensino do uso excessivo das tecnologias. sobre a utilização de TIC nas escolas é
clássico “papel e caneta” auxilia os educandos tradicional – o famoso “giz e lousa” – como o amplo e deve abranger a todos: alunos, pais
a desenvolverem a cognição e o pensamento mais acertado, o que dificulta a inserção de CONSIDERAÇÕES FINAIS e educadores. Trata-se de uma chance de
lúdico. O que pode facilitar o aprendizado novas metodologias baseadas em tecnologia. elevar o nível do ensino, além de aperfeiçoar
de disciplinas mais complexas, nas quais o O trabalho de pesquisa desenvolvido durante os métodos. Porém, tal oportunidade deve
aluno costuma apresentar mais dificuldades, Entre as reclamações mais frequentes dos a execução desse artigo aponta para uma ser tratada com responsabilidade, afinal,
como a matemática, por exemplo. educadores está o uso do celular em sala tendência: o uso de tecnologias em sala de os processos evoluíram, as máquinas estão
de aula. Tal tecnologia, tão comum entre aula, como técnica complementar ao processo cada vez mais aperfeiçoadas e podem nos
Noeth e Volkov, (2004) e Valiente (2010), crianças e adolescentes atualmente, ainda de ensino e, até mesmo, como metodologia auxiliar, mas, ao fim de tudo, a educação
evidenciam que o acesso às tecnologias divide opiniões. Muitos acreditam que os principal de aprendizado se faz extremamente ainda continua a tratar de material humano.
em salas de aula presenciado atualmente é smartphones com a facilidade que oferecem necessário. A dinâmica com que crianças e
respeitável, mas ainda não suficiente. Com a para o acesso às redes sociais – como adolescentes aprendem as coisas atualmente

428 429
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: na educação: instrucionismo x


saberes necessários à prática educativa. construcionismo. Manuscrito não
31ª edição. São Paulo: Paz e Terra, 2000. publicado, NIED: UNICAMP, 1997.
REFERÊNCIAS
KENSKI, Vani Moreira. Educação e VALIENTE, Oscar. 1-1 in Education:
ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de e tecnologia: O novo ritmo de informação. Current Practice, International Comparative
SILVA, Maria da Graças Moreira da. Currículo, 8°edição. Campinas: Papirus, 2012. Research Evidence and Policy Implications.
tecnologia e cultura digital: espaços e tempos OECD Education Working Papers,
de web currículo. Revista E-curriculum, v. MORAES, Maria Candida. Informática n. 44, 2010. Disponível em: <http://
7, n. 1, 2011. Disponível em: Educativa no Brasil: Uma história d x . d o i . o r g / 1 0 . 1 7 8 7 / 5 k m j z w f l 9 v r 2 -
<https://revistas.pucsp.br/index.php/ vivida, algumas lições aprendidas. en>. Acesso em: 18 ago 2017.
curriculum/article/viewFile/5676/4002>. Revista Brasileira de Informática na
Acesso em 18 ago 2017. Educação (SBC- IE, UFSC), n. 01, 1997. VILLARDI, Raquel e OLIVEIRA, Eloiza
KAREN FERNANDES OREFICE Gomes de. Tecnologia na educação: uma
HERRERA ALVES, Lynn. Relações entre os jogos digitais MORAN, José Manuel. Novas perspectiva sócio-interacionista. 1ª edição.
e aprendizagem: delineando percurso. tecnologias e mediação pedagógica. Rio de Janeiro: Editora Qualitymark, 2010.
Educação, Formação & Tecnologias, v. 1ª edição. Campinas: Papirus, 2000.
Graduação em Pedagogia pela 1, p. 3-10, 2008. Disponível em:
Universidade Cidade de São Paulo <http://eft.educom.pt/index.php/eft/article/ NOETH, Richard J. e VOLKOV, Boris
(2008); Professora de Educação view/58/38>. Acesso em: 18 ago 2017. B. Evaluating the Effectiveness of
Infantil na EMEI Fernando de Azevedo Technology in our Schools. 1ª edição.
BAZZO, Walter e SILVEIRA, Rosemari Iowa: ACTPolicy Report, 2004.
Monteiro Castilho Foggiatto. Ciência,
tecnologia e suas relações sociais: a TAVARES, Neide Rodriguez Barea. História
percepção de geradores de tecnologia e suas da informática educacional no Brasil
implicações na educação tecnológica. Ciência observada a partir de três projetos públicos.
&Educação, v. 15, n. 3, p. 681-694, 2009. V. 1, n. 1, p. 1-18, 2001. Disponível em:
<http://www.lapeq.fe.usp.br/textos/te/
DIAS,Ana Isabel deA. Spinola e MUNIZ, Fabiana tepdf/neide.pdf>. Acesso em: 18 ago 2017.
M. Capacitação adequada de professores:
uma saída para a inclusão da informática em TRUCANO, Michael. Ten things about
sala de aula. Caderno Dá Licença, v. computer use in schools that you don’t want
6, p. 27-39, 2007. Disponível em: to hear (but I’llsay them anyway). EduTech, a
< h t t p : // w w w . u f f . b r / d a l i c e n c a / World Bank Blog on. The World Bank, 2012.
i m a g e s /s t o r i e s /c a d e r n o / vo l u m e 6 / Disponível em: <http://blogs.worldbank.org/
capacitao_adequada_d e_professores. edutech/10-things>. Acesso em: 18 ago 2017.
pdf>. Acesso em: 18 ago 2017.
VALENTE, José Armando. Informática

430 431
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
com a música precisam ser expandidos e
O presente artigo tem como tema “A música diversificados, para que assim, possibilitem
na educação infantil”. Sua importância se múltiplas experiências, como fonte de
deve ao fato da música estar presente na vida expressão de sentimentos e ideias individuais
dos bebês e crianças pequenas desde a mais e coletivas.
tenra idade e a percepção de que as vivências
musicais podem ser muito benéficas para O QUE É MÚSICA?
os pequenos e por isso, devem fazer parte
do cotidiano das instituições de educação
infantil. A motivação para o estudo desta A música não é um fator externo em relação ao homem
temática surgiu na prática escolar de docência – provém do seu interior, é inerente à sua natureza.
na Educação Infantil, em especial nos Centros Ela está presente em todo o universo, inspirando
de Educação Infantil da rede municipal de São a expressão musical humana. Trata-se da segunda
Paulo (CEI), ao observar que há diferentes linguagem materna (ÁVILA e SILVA, 2007, p.76).
percepções dos educadores sobre o trabalho
com música e que nem sempre é visto como Antes de explorar a temática proposta,
algo importante.O objetivo geral deste é preciso refletir sobre algumas definições.
A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL artigo é mostrar o papel fundamental da Pode-se definir som como tudo o que soa.
música para o desenvolvimento dos bebês e Tudo o que o ouvido percebe sob a forma
crianças pequenas. Os objetivos específicos de movimentos vibratórios, ou seja, o som é
RESUMO: A temática do artigo está relacionada aos benefícios do trabalho com música são apresentar a importância da música para a expressão da vida, da energia, do universo
nas práticas cotidianas da Educação Infantil. Destaca as definições de música, a relação de o desenvolvimento dos bebês e crianças em movimento, capaz de indicar situações,
bebês e crianças pequenas com ela; as possibilidades de exploração sonora no cotidiano da pequenas; refletir sobre as experiências ambientes e paisagens sonoras. Já o silêncio
Educação Infantil, por fim, apresenta os Parques Sonoros. Tem como objetivo mostrar o papel com a percepção sonora no cotidiano das é mais do que apenas a ausência de som,
fundamental da música para o desenvolvimento dos bebês e crianças pequenas. Para isso, instituições de Educação Infantil e expor o “[...] ele corresponde aos sons que já não
traz à tona que a música deve ocupar um espaço privilegiado nas Creches, Centros e Escolas funcionamento dos Parques Sonoros. podemos ouvir, ou seja, as vibrações que o
de educação infantil, desde a mais tenra idade. A metodologia foi baseada em pesquisa nosso ouvido não percebe como uma onda,
qualitativa, sendo que para o levantamento dos dados utilizou-se pesquisa bibliográfica em Este estudo apresentará as definições seja porque têm um movimento muito lento,
mídia digital e impressa. Obteve como resultado que as atividades com música na educação sobre a música pela ótica de alguns autores seja porque são muito rápidas” (BRITO,
infantil não visam a formação de músicos, mas a experiência traz muitos benefícios para o e sua relação com os bebês e crianças 2003, p.17).
desenvolvimento pleno dos bebês e crianças pequenas. Deste modo, torna-se relevante que pequenas. Também provocará uma reflexão
os educadores oportunizem experiências musicais a este público, que lhe permita viver a que parte do cotidiano das instituições de Temos muitas definições para música, por
música: escutando, apreciando, cantando, tocando ou criando. educação infantil e as diversas possibilidades exemplo, Bréscia (2003, p. 25) conceitua a
de trabalho que visam ampliar os momentos música como “[...] combinação harmoniosa
Palavras-chave: Música; Educação Infantil; bebês e crianças pequenas; experiências musicais; lúdicos e o desenvolvimento infantil, pela e expressiva de sons e como a arte de se
parques sonoros. música. A percepção e as vivências da criança exprimir por meio de sons, seguindo regras

432 433
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

variáveis conforme a época, a civilização destacar que a música não é estática, visto do vínculo e na interação. Além da voz, as no desenvolvimento afetivo e cognitivo,
etc”. Segundo Gainza (2011), a música que sempre ocorrem trocas entre as pessoas canções e as brincadeiras com música no responsáveis pela criação de vínculo tanto
e o som enquanto energia estimulam o de culturas diferentes e assim, por exemplo, cotidiano do lar, também são fundamentais. com os adultos, quanto com a música.
movimento interno e externo no homem; o tanto a mídia, quanto os imigrantes levam a Assim, os “[...] sons e a música revelam “Nas interações que se estabelecem, eles
impulsionando para a ação e sendo capaz de música de um país para outro. A música no um contexto cultural e desde muito cedo constroem um repertório que lhes permite
promover uma multiplicidade de condutas. Brasil formou-se, principalmente, a partir da o bebê pode conhecê-lo e se apropriar iniciar uma forma de comunicação por meio
fusão de elementos europeus e africanos, de sonoridades características do lugar dos sons”. Por isso, pode-se afirmar que a
Já para Brito (2003, p.26) a música tem trazidos respectivamente por colonizadores onde vive e que envolve a sua família, sua música desempenha papel fundamental na
sido interpretada como “[...] melodia, ritmo, portugueses e pelos escravos. E qual a comunidade e seu país” (SÃO PAULO, 2007, formação da criança (BRASIL, 1998, p.51).
harmonia, [...] elementos que estão muito relação da música com o universo infantil? p. 39).
presentes na produção musical dentre Esta será a temática explorada a seguir. Segundo Dias (2008), é fundamental
outras possibilidades de organização do Segundo Ávila e Silva (2007), quando inserir a música na rotina dos bebês e
material sonoro”. Ela é uma das formas de MÚSICA, BEBÊS E CRIANÇAS nascemos, temos o aparelho auditivo crianças pequenas, pois, contribui para
representação simbólica do mundo, em PEQUENAS inteiramente formado e pronto para ser o desenvolvimento psicomotor, sócio
sua diversidade e riqueza, permite-nos usado. É a primeira porta de entrada para afetivo, cognitivo e linguístico, além de ser
conhecer melhor a nós mesmos e ao outro, De acordo com o Referencial Curricular a comunicação com a criança. Inicialmente, facilitadora do processo de aprendizagem.
seja distante ou próximo. Nesse contexto, Nacional da Educação Infantil (1988), ouvindo-se a si mesmo, o recém-nascido Como linguagem, a música comunica ideias
a linguagem musical pode ser percebida de vivenciamos a música em diversas situações começa a emitir sons e, aos poucos, vai e sentimentos. As crianças devem ter a
várias maneiras, com variações para cada cotidianas. Como sabemos, existe música organizando-os de tal maneira que os oportunidade de ouvir e fazer música, além
época e cultura, de acordo com o modo de para tudo: música para adormecer, para transformará em pequenas melodias. Dessa de pensar sobre ela. Trata-se de um trabalho
pensar, com os valores e as concepções, o dançar, para comemorar, para conclamar forma, antes de falar, aprendemos a cantar. intencional, que deixa de ser um recurso
que inclui o trabalho musical com as crianças: o povo a lutar, etc., o que demonstra a sua pedagógico a serviço das demais áreas.
função ritualística. Ela faz parte da vida Ao nascer a criança é cercada de sons e esta linguagem
A criança é um ser “brincante” e, brincando, faz música, diária dos povos, sendo tocada e dançada musical é favorável ao desenvolvimento das percepções As instituições de educação infantil devem
pois assim se relaciona com o mundo que descobre a cada para seguir os costumes, as festividades e os sensório-motoras, dessa forma a sua aprendizagem se dá garantir aos bebês e crianças diferentes
dia. Fazendo música, ela, metaforicamente, “transforma- momentos previstos para cada manifestação inicialmente através dos seus próprios sons (choro, grito, situações acolhedoras, agradáveis e
se em sons”, num permanente exercício: receptiva e musical. risada), sons de objetos e da natureza (chuva, vento), o desafiadoras, que lhes coloquem em contato
curiosa, a criança pesquisa materiais sonoros, “descobre que possibilita a criança descobrir que ela faz parte de um com as linguagens e saberes da nossa cultura.
instrumentos”, inventa e emita motivos melódicos e Podemos considerar que as crianças mundo cheio de vibrações sonoras. (BRITO, 2003, p.35). Assim, a música é um dos caminhos valiosos,
rítmicos e ouve com prazer a música de todos os povos entram em contato com a cultura musical entre tantas possibilidades na educação
(BRITO, 2003, p.35). desde muito cedo, sendo capazes de explorar infantil (SÃO PAULO, 2007).
as vivências musicais em seu cotidiano Um ambiente que oferece vivências com
A música também traduz os sentimentos familiar e escolar (BRASIL, 1998). música estimula o processo de musicalização Nesse contexto, vale ressaltar o
e valores culturais de um povo ou nação, por das crianças. Comumente, os adultos cantam entendimento sobre a importância da
isso, é uma linguagem local e global. Percebe- Mesmo antes de nascerem, os bebês melodias curtas, cantigas de ninar, fazem educação musical. Segundo Ávila e Silva
se que cada povo cria um tipo de música, já vivem o mundo de sons. Mesmo recém- brincadeiras cantadas, com rimas e parlendas (2007), ela se refere a educação que
canta de uma maneira, além de fazer e tocar nascidos, já são capazes de reconhecer a para envolver os pequenos, que tentam imitar oportuniza ao indivíduo o acesso à música
os seus próprios instrumentos musicais. Vale voz materna, que favorece na construção e responder, criando momentos significativos enquanto arte, linguagem e conhecimento. A

434 435
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

educação musical em países como Hungria e Cabe ao professor disponibilizar objetos, compreender que a música e dança possuem o ouvir, perceber e discriminar diferentes
Japão, é bastante valorizada e ocorre a partir instrumentos, favorecer a audição de significados muito mais abrangentes. eventos sonoros, bem como as produções
dos três anos de idade com a mesma ênfase músicas tanto cantada, quanto reproduzida Sabemos que a música na educação infantil musicais, perceber e expressar sensações,
dada à língua materna, visto que favorece por aparelhos de som (SÃO PAULO, 2007). está diretamente relacionada com o brincar. sentimentos e pensamentos. Tais propostas
um melhor desenvolvimento infantil. Por isso: Em algumas línguas, como no inglês (to play) podem envolver improvisações, composições
e no francês (jouer), por exemplo, usa-se o e interpretações musicais.
Pesquisadores e estudiosos têm [...] integrar a música à educação infantil implica que o mesmo verbo para indicar tanto as ações de
relacionado o desenvolvimento infantil e o professor deva assumir uma postura de disponibilidade brincar quanto as de tocar música (BRASIL, Parafraseando Dias (2008), é importante
exercício da expressão musical, resultando em relação a essa linguagem. Considerando-se que a 1998). trazer a diversidade musical, sem restrições,
em propostas que respeitam o modo de maioria dos professores de educação infantil não tem para ser ouvida e conhecida: música clássica,
perceber, sentir e pensar, em cada fase uma formação específica em música, sugere-se que cada Os educadores, em especial, os que atuam ópera, jazz, blues, música popular brasileira,
infantil, o que influencia positivamente profissional faça um contínuo trabalho pessoal consigo em Berçários, Creches e Centros de Educação reggae, entre outros. Logo que a criança
na linguagem (BRASIL, 1998). Sobre as mesmo (BRASIL, 1998, p.67). Infantil devem considerar que a experiência adquire seu vocabulário mais rudimentar, já
modificações que a música provoca, vale envolvendo sons e silêncios ajudam o bebê é capaz de improvisar cantando. Ávila e Silva
destacar que: Atualmente, ainda há críticas sobre a em seu desenvolvimento. Segundo Jeandot (2007) destacam que ao cantar as crianças
forma como a música é trabalhada com (1990, p. 70), os educadores devem “[...] trabalham sua memorização, concentração,
Podemos esquecer as palavras ou uma melodia, mas bebês e crianças pequenas em algumas expor a criança à linguagem musical e consciência corporal e coordenação motora,
isso não significa que esqueçamos a mudança que instituições de educação infantil. Considera- dialogar com ela sobre e por meio da música”. principalmente porque junto com o cantar,
provocaram em nós; melhor ainda, não é preciso que o se que na prática, tanto a música, quanto a É importante explorar músicas de diferentes ocorre a sugestão para mexer o corpo
esquecemos. As modificações que a música, provoca dança ainda não são vistas nos CEIs, Creches épocas, compositores, culturas, civilizações acompanhando o ritmo e criando novas
em nossa vida interior, como, aliás, toda a impressão e EMEIs como atividades que possuem um e grupos sociais, pois cada um tem sua formas de dança e expressão corporal.
exterior que age sobre as profundezas do nosso ser, fim em si mesmas. Temos como exemplo, própria expressão musical. Além disso, é
significa outro tanto de ampliação, de diferenciação, as apresentações em datas comemorativas fundamental que o professor pesquise sobre Segundo Gainza (2011), na educação
de aprofundamento em nossa substância íntima, ou que estimulam a “[...] reprodução de músicas as vivências musicais que a criança possui infantil a exploração do som e do silêncio
melhor, são, no sentido próprio do termo, a causa do prontas, bem como de coreografias ensaiadas fora do ambiente escolar, para que possa é muito produtiva. O professor deve
despertar de nossa faculdades (HOWARD,1984, p.12). – bem diferentes da expressividade da enriquecer o seu repertório e estimular a propiciar momentos para a criança refletir
dança com seus jogos de improvisação e descoberta de novas formas de expressão. sobre ambos, identificar os instrumentos
Diante da importância que a música ainda são práticas muito presentes, assim e dar espaço à invenção da própria
representa para os bebês e crianças pequenas, como a utilização de música ambiente” (SÃO No período em que a criança possui entre música. Outra possibilidade é explorar
a seguir, apresentam-se as possibilidades de PAULO, 2016, p. 78). Outro exemplo é dado um e três anos de idade, ocorrem vários o som com vários objetos enriquecendo
sua exploração na Educação Infantil. por Brito (2003, p. 51) ao afirmar que ainda avanços, entre eles a ampliação da expressão o repertório infantil, sendo que bebês e
há resquícios do uso da música “[...] como musical acompanhadas dos avanços vocais crianças pequenas devem experimentar
MÚSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL: suporte para a aquisição de conhecimentos e corporais. Neste período, as atividades os instrumentos espontaneamente, bem
PRÁTICAS COTIDIANAS gerais, para a formação de hábitos e atitudes, propostas podem envolver gestos sonoros como em atividades dirigidas pelo educador.
disciplina, condicionamento da rotina, como: bater palmas, bater os pés, pular e Também é fundamental que as crianças
Na educação infantil, os bebês e comemoração de datas diversas etc.”. movimentar-se ao som de músicas e durante ouçam, cantem e toquem músicas criadas
crianças pequenas, sempre investigam e as brincadeiras. Já as crianças de quatro a por elas próprias e outras composições em
fazem descobertas e por isso, as vivências É preciso desconstruir esta visão deturpada cinco anos, as propostas podem envolver atividades interligadas. Neste contexto,
sonoras oportunizadas devem ser variadas. sobre o uso da música na educação infantil e

436 437
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

percebe-se que os principais objetivos da infantis; desenvolvem o gosto pela música. Além das proporcionando excelentes experiências
música são oportunizar a compreensão/ • Trabalho vocal; possibilidades elencadas até aqui, a seguir, sensoriais. Sobre o parque sonoro, o portal
expressão da linguagem musical e fomentar • Interpretação e criação de canções; aborda-se a experiência dos parques sonoros de jornalismo Lunetas (2016, s.p.), informa
o desenvolvimento da sensibilidade. • Sonorização de histórias; da educação infantil. que “a ideia é que a criança seja protagonista
• Jogos com som, movimento e dança; da experiência, interaja com o espaço e os
Um aspecto relevante para o trabalho • Jogos de improvisação; PARQUES SONOROS DA objetos contidos nele, e use sua imaginação
com música segundo Ávila e Silva (2007) • Utilização de diversos materiais para EDUCAÇÃO INFANTIL para transformar os objetos em instrumentos”.
é o espaço, que deve ser livre para a construção de objetos sonoros/
movimentação corporal, para a disposição instrumentos; Ao considerar que são diversas as A composição dos parques sonoros pode
de instrumentos e outros objetos, que • Exploração e observação dos sons da oportunidades do trabalho com música ser por “cotidiáfonos”. O termo foi criado
apresente a menor interferência possível de natureza; na educação infantil, temos na confecção pela educadora musical argentina Judith
ruídos externos. • Momentos para conhecer diferentes de materiais sonoros com uso de sucatas Akoschky como e se refere aos objetos
gêneros musicais e apresentações de e materiais não estruturados, uma grande sonoros do cotidiano infantil. Segundo
O Referencial Curricular Nacional para dança; aliada que estimula a coordenação motora, ela, há diferentes tipos de “cotidiáfonos”:
a Educação Infantil (1998) confirma tal • Criação de uma coletânea com as a criatividade, a concentração e a habilidade
aspecto, destacando que: músicas favoritas da turma; psicomotora dos bebês e crianças pequenas. • “Aerofones”: são instrumentos
• Promoção de encontros culturais que produzem o som através do
[...] o espaço no qual ocorrerão as atividades de música envolvendo os familiares e a Para Brito (2003), com disposição, deslocamento de ar pelo sopro ou pelo
deve ser dotado de mobiliário que possa ser disposto comunidade local, para que possam interesse, curiosidade e criatividade, deslocamento em forma de chicote.
e reorganizado em função das atividades a serem compartilhar as experiências musicais; educadores e crianças poderão montar um • “Cordófonos“: são instrumentos
desenvolvidas. Em geral, as atividades de música requerem • Uso de tecidos, fitas, adereços e acervo de materiais sonoros, sempre em que vibram pelo movimento
um espaço amplo, uma vez que estão intrinsecamente materiais diversos que estimulem dinâmica transformação, que enriquecerá o de cordas de várias espécies.
ligadas ao movimento. Para a atividade de construção de a criação de brinquedos musicais e trabalho, especialmente por não delimitar ao • “Membranofones”: são instrumentos
instrumentos, no entanto, será interessante contar com figurinos. uso dos tradicionais instrumentos musicais que vibram através de uma pele
um espaço com mesas e cadeiras onde as crianças possam da bandinha rítmica. Um bom exemplo esticada. Muito comum em tambores,
sentar-se e trabalhar com calma (BRASIL, 1998, p.72). Temos a relevância das brincadeiras de experiência cotidiana com música na pandeiros, etc. (LUNETAS, 2016, s.p.).
musicais, transmitidas por tradição oral educação infantil é a criação de parques
e que envolvem o gesto, o movimento, sonoros, que com foco na busca da qualidade A proposta da criação dos parques sonoros
Considerando as contribuições de São o canto, a dança e o faz-de-conta, sendo social da Educação Infantil, é capaz de torna-se bastante relevante na educação
Paulo (2016) e Brito (2003), apresenta-se a legítimas expressões da infância. Tais resgatar a importância de “[...] considerar a infantil, por oportunizar aos bebês e crianças
seguir algumas dicas que valorizam a criação brincadeiras incluem os acalantos (cantigas criança como protagonista, sujeito histórico, experiências sonoras diversas nas quais
de contextos musicais e as possibilidades do de ninar), as parlendas, as cantigas de roda, capaz e de direitos, que se expressa e podem “brincar, construir, desconstruir,
trabalho com música na educação infantil. as adivinhas e os contos. É preciso reforçar conhece o mundo por meio de múltiplas ressignificar objetos sonoros, dando
Pode-se realizar na prática cotidiana: que na educação infantil, é muito relevante linguagens” (SÃO PAULO, 2016, p. 7). oportunidade de realizarem e apresentarem
• Pesquisa sonora e oficinas de que as crianças possam ouvir música, brincar suas descobertas e composições”. Os
exploração de sons; de roda, participar de brincadeiras rítmicas, O que é um Parque sonoro? Pode-se parques sonoros “podem ser nas áreas
• Pesquisa sobre danças populares, jogos de mãos, etc. São atividades que não considerar como um espaço que possibilita externas, nos parques, nos corredores ou até
para ir além das músicas tradicionais só despertam e estimulam, mas também a exploração musical livre pelas crianças, mesmo na sala” (SÃO PAULO, 2016, p. 7).

438 439
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Na experiência dos Parques Sonoros na coletivas, exaustivamente ensaiadas. Há REFERÊNCIAS


educação infantil paulistana, houve formação evidências claras de que a música, por si só é um
em horários coletivos para os educadores de recurso rico, capaz de proporcionar inúmeras ÁVILA, Marli Batista. SILVA, Karen Batista
CEIs e EMEIs, em que foi possível explorar experiências para o desenvolvimento Ávila. A música na educação infantil. In:
os conceitos de música, os conhecimentos infantil e por isso, deve ser amplamente DIAS, Marina. NICOLAU, Marieta. (Org).
sobre instrumentos musicais e escuta explorada nas Creches, CEIs e EMEIs. Oficinas de sonho e realidade na formação da
musical dos educadores em relação ao infância. 3ªed. Campinas, São Paulo. 2007.
trabalho cotidiano com os bebês e crianças. Neste contexto, a rotina da educação
infantil deve propor momentos diários BRASIL. Ministério da Educação e do
Além das experiências nas escolas em que os bebês e crianças possam ser Desporto. Secretaria de Educação
municipais de São Paulo, há também um bom protagonistas ao explorar a música, tanto Fundamental. Referencial curricular nacional
exemplo de Parque sonoro no Sesc Interlagos, ouvindo, cantando, dançando, imitando, para a educação infantil. Volume 1 -
na zona sul de São Paulo. Ele foi planejado como interpretando. Observa-se que ela Introdução. Brasília: MEC/SEF, 1998.
para estimular o desenvolvimento sensorial contribui para a formação global infantil e
de bebês e crianças pequenas por meio da desenvolve muitas habilidades, competências BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação
música, ao promover experimentações tanto e percepções, além de estimular a expressão Musical: bases psicológicas e ação preventiva.
lúdicas, quanto visuais e sonoras. A principal de sensações, emoções, sentimentos e KATIA DE OLIVEIRA ALVES São Paulo: Átomo, 2003.
atração é um barco sonoro, cuja vela é feita pensamentos. Daí emerge a necessidade do
de redes de pescar com sinos e guizos e educador refletir e colocar em prática ações Graduação em Pedagogia pela Universidade BRITO, Teca de Alencar. Música na educação
com o vento, o mastro se chacoalha e emite cotidianas, capazes de garantir o acesso à Santo Amaro (2006); Especialista em Edu- infantil. São Paulo: Petrópolis, 2003.
sons de vento e água (LUNETAS, 2018). música de forma planejada e intencional. O cação Infantil pelo Centro Universitário FMU
estudo desenvolvido foi de grande valia para a (2010); Atuou como Professora e Coordena- DIAS, Karina Sperle. Formação Estética: “Em
minha formação, ao ampliar as aprendizagens dora Pedagógica na Escola de Educação In-
fantil Miniatura e atualmente é Professora
CONSIDERAÇÕES FINAIS e dar um novo sentido ao trabalho com
de Educação Infantil no CEI Vila Império.
música na educação infantil, algo que
É possível concluir que a música faz parte faz parte do meu cotidiano profissional.
da vida humana desde muito cedo, sendo a
sua percepção, algo natural e progressivo.
Ela contribui para o desenvolvimento
psicomotor, sócio afetivo, cognitivo e
linguístico, sendo capaz de comunicar ideias
e sentimentos. As referências consultadas
nesta pesquisa proporcionou uma reflexão
sobre o importante papel do professor de
educação infantil, ao romper com a visão
de que o trabalho com música deve ser
mecânico, feito para ensinar “boas maneiras”
e conceitos, ou para as apresentações

440 441
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

busca de olhar sensível”. In: KRAMER, S. et al. (Org). Infância e educação infantil.
7ª ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 2008. p. 175-201.

GAINZA, Violeta Hemsy. “Não basta ser músico para ensinar música. É preciso
entender de Educação”. Revista Nova Escola. nº 241. São Paulo: Abril, 2011.
p.38-40.

HOWARD, Walter. A música e a criança. São Paulo: Summus, 1984.

JEANDOT, Nicole. Explorando o universo da música. 16 ed. São Paulo: Scipione,


1990.

LUNETAS. ‘Parques Sonoros’ levam brincadeiras musicais para as escolas (2016).


Disponível em:
<https://lunetas.com.br/parques-sonoros-leve-mais-brincadeira-livre-com- RELAÇÕES ENTRE A EDUCAÇÃO E A FAMÍLIA: AS
musica-escola/>. Acesso em: 18 maio 2019.
________. Parque Sonoro do Sesc convida para experimentação sensorial (2018). CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO
Disponível em: <https://lunetas.com.br/parque-sonoro/>. Acesso em: 20 maio DE ALFABETIZAÇÃO DA CRIANÇA
2019.
RESUMO: Podemos perceber que na Educação Infantil muitas vezes as crianças são
SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. acompanhadas mais diretamente pela família, a qual acompanha as crianças aos CEIs e
Divisão de Educação Infantil. Parques sonoros da educação infantil paulistana. – EMEIS. Quando a criança passa para o Ensino Fundamental, isso não ocorre com frequência,
São Paulo: SME /COPED, 2016. muitas vezes esse afastamento gera determinadas consequências para a vida da criança
dificultando sua aprendizagem. Assim, a escola e/ ou o professor ficam inteiramente
Orientações curriculares: expectativas de aprendizagens e orientações didáticas responsáveis por esta aprendizagem que poderia ser facilitada se a participação da família
para Educação Infantil. Secretaria Municipal de Educação. Secretaria Municipal fosse mais presente. Pensamos que se o professor tem um olhar voltado não apenas para
de Educação. São Paulo: SME/DOT, 2007. o aprendizado do aluno, mas seu contexto familiar percebe nitidamente que, ela própria, a
criança, traz consigo muito daquilo que vive, do que vê ou toma como modelo. A educação
escolar sempre sofreu influência por causa dos muitos fatores sociais (ou grande parte deles),
estando diretamente ligada a tudo que acontece na sociedade ou no meio familiar. Esta
pesquisa aborda os principais aspectos relacionados à aquisição da língua escrita por meio
de um estudo sobre a família e de uma breve reflexão sobre o histórico da infância. A análise
investiga a relação entre família e escola, em que se busca analisar as interferências que a
primeira poderá implicar na vida da criança que está iniciando sua alfabetização destacando
a participação da família, citando sobre a importância da instituição para o mundo letrado,
que “abre” espaço para um caminho em que a escrita e leitura estão presentes, sendo
intimamente ligado às práticas sociais da vida.

Palavras-chave: Alfabetização; Família; Escola.

442 443
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

nos servirão de aporte para entendermos esta EDUCAÇÃO INFANTIL, ONDE (SOARES, 2009). Partindo desta indagação
INTRODUÇÃO fase tão importante para a criança. TUDO COMEÇA damos início ao tema tratado relembrando as
mudanças ocorridas na educação em meados
Para entendermos a fase de alfabetização Para entendermos a fase de alfabetização Há crianças que ingressam no mundo de 1980 quando a psicologia cognitiva e
primeira é fundamental considerar que o primeira é fundamental considerar que o da linguagem escrita através da magia da a ciência linguística tomaram a leitura e
processo de ensino e aprendizagem não existe processo de ensino e aprendizagem não existe leitura e outras que ingressam através do escrita como objeto de pesquisa, passando
por si só e então se faz necessário considerar por si só e então se faz necessário considerar treino das tais habilidades básicas. Em geral, então a focar em como a criança aprende
os diversos fatores que acompanham o os diversos fatores que acompanham o mesmo. os primeiros se convertem em leitores, e não como se ensina. (SOARES, 2012).
mesmo. Pois a aprendizagem surge desde Pois a aprendizagem surge desde o convívio enquanto os outros costumam ter um destino
o convívio familiar interligando o processo familiar interligando o processo escolar, incerto. Antes do início do tema tratado, Foi neste mesmo ano que as contribuições
escolar, processo este que tem como processo este que tem como fundamento torna-se fundamental um breve resumo de Emília Ferreiro se tornaram ainda
fundamento possibilitar uma melhor reflexão, possibilitar uma melhor reflexão, avaliação e do artigo da nova LDB, lei 9394/96, que mais significativa apontando o processo
avaliação e solução em relação às diversas. solução em relação às diversas. Algumas crianças reestrutura o ensino brasileiro, implantando de aquisição da língua escrita como um
Algumas crianças apresentam dificuldades apresentam dificuldades para se alfabetizarem. o Ensino Fundamental de 09 anos, que inclui sistema de representação. Dando assim
para se alfabetizarem. Essas dificuldades Essas dificuldades de aprendizagem existentes a Educação Infantil na educação básica. um novo significado para aprendizagem
de aprendizagem existentes no ambiente no ambiente escolar que obviamente envolve o focando principalmente no sujeito,
escolar que obviamente envolve o educando educando interferindo em seu desenvolvimento Essa alteração na LDB trouxe muitas levando em consideração todo contexto
interferindo em seu desenvolvimento e e sem dúvida é importante considerar desde incertezas para o processo de escolarização, social, cultural e os conhecimentos pré-
sem dúvida é importante considerar desde já os aspectos cognitivos, pois é através dos principalmente no que diz respeito às existente que o mesmo carrega consigo
já os aspectos cognitivos, pois é através estímulos que a criança identifica não somente práticas pedagógicas que em alguns ao longo da sua vida escolar. Rompendo o
dos estímulos que a criança identifica não os símbolos, mas também as letras. As chamadas momentos reconhece a criança como capaz reduccionismo que delimita a sala de aula
somente os símbolos, mas também as letras. dificuldades estão presentes a partir de diversos de produzir, analisar e refletir e ao mesmo como o único espaço de aprendizagem.
As chamadas dificuldades estão presentes aspectos, dificuldades estas que podem parecer tempo tornam-se repetitivas e vazias não
a partir de diversos aspectos, dificuldades simples, mas certamente tem uma grande considerando a “bagagem” que o indivíduo Desde a Educação Infantil a criança deve
estas que podem parecer simples, mas influência no desenvolvimento da criança e já possui. É necessário superar algumas ter acesso direto a um grande acervo de livros
certamente tem uma grande influência no muitas vezes surgem a partir da interação com concepções sobre o processo de aquisição é exatamente nesta fase onde tudo começa
desenvolvimento da criança e muitas vezes o meio em que vive e a relação com o ambiente da leitura e escrita que aponta o aprendizado “é aí que podemos incutir o “vício” positivo
surgem a partir da interação com o meio em escolar, envolvendo também a coordenação inicial como decodificação, mas sim oferecer da leitura”. (SOARES, 2012). Para que se
que vive e a relação com o ambiente escolar, motora e os aspectos cognitivos. É possível diversas oportunidades para que os alunos formem leitores e escritores competentes
envolvendo também a coordenação motora e considerar que quanto mais contato com o aprendam a partir do conhecimento prévio deve-se considerar todo e qualquer esforço
os aspectos cognitivos. É possível considerar mundo letrado menos dificuldades esta criança que possuem. Essa mudança trouxe consigo que a criança faz para compreender este
que quanto mais contato com o mundo terá no processo de alfabetização. Mostrar a principal indagação: Devemos ou não processo, desde os rabiscos, a representação
letrado menos dificuldades esta criança terá como a família pode auxiliar neste momento é alfabetizar na Educação Infantil? Sobre este simbólica, a leitura não convencional,
no processo de alfabetização. Mostrar como a intenção desta pesquisa. Cagliari (1985) os questionamento Magda Soares ressalta, entre tantas outras maneiras que o aluno
a família pode auxiliar neste momento é a Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de atribui ao ato de ler e escrever antes
intenção desta pesquisa. Cagliari (1985) os Língua Portuguesa (2000), as autoras Ferreiro É na educação infantil que construímos a mesmo do egresso no âmbito escolar.
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de (1987) e Soares (2012) entre outros autores nos base para garantir que as crianças dominem
Língua Portuguesa (2000), as autoras Ferreiro servirão de aporte para entendermos esta fase as práticas sociais de leitura e escrita, sem Segundo Emília Ferreiro: As crianças
(1987) e Soares (2012) entre outros autores tão importante para a criança. essa base as mesmas não estão inseridas no iniciam o seu aprendizado do sistema de
mundo da escrita e dificilmente irão vencer. escrita nos mais variados contextos, porque

444 445
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E


a escrita faz parte da paisagem urbana, e a espaços, que possuem características muito ortografia, pontuação, seleção e organização BRINCADEIRAS, NO PROCESSO DE
vida urbana requer continuamente o uso específicas: o tipo de conteúdo dos textos lexical e textual, etc.); ALFABETIZAÇÃO DAS CRIANÇAS
da leitura. As crianças urbanas de cinco que nele circulam as finalidades colocadas ∙ São criados espaços para o exercício de PEQUENAS.
anos geralmente já sabe distinguir entre para a leitura, os procedimentos mais diferentes posições enunciativas diante do
escrever e desenhar (FERREIRO, 2001). comuns, decorrentes dessas finalidades, os texto (autor, corretor, comentarista, avaliador, Segundo Borba (2006), este tema vem
gêneros dos textos (BRAAKLING, 2003). Na ator...) chamando à atenção de pesquisadores e como
As práticas de leitura e escrita na Educação faixa etária compreendida na Ed. Infantil, as ∙ A diversidade de experiências dos alunos afirma o autor:
infantil devem ser utilizadas como meio de mediações feitas pelo professor devem fazer permite enriquecer a interpretação do texto.
comunicação construindo bases para que parte do cotidiano do aluno, as histórias [...] A brincadeira é uma palavra estreitamente associada à infância
a criança participe criticamente da Cultura devem ser envolventes, o mediador deve Desde o início de sua escolarização a criança e às crianças. Porém, ao menos nas sociedades ocidentais, ainda
escrita. (BRITTO, 2005). Ainda para Britto, instigar a participação de toda a turma na deve fazer parte de um processo educativo é considerada irrelevante ou de pouco valor do ponto de vista
o maior desafio da educação infantil é: [...] escolha da leitura, nas discussões sobre o eficiente e significativo, que assegure da educação formal, assumindo frequentemente a significação
construir as bases para que as crianças tema ou assunto, desta maneira as crianças condições de aprendizagem “que respeitem as de oposição ao trabalho, tanto no contexto da escola quanto no
possam participar criticamente da cultura passam a se familiarizar com os textos e inclinações naturais da infância, dentre elas, o contexto familiar [...] (BORBA, 2006).
escrita, conviver com essa organização do os mesmos ganham sentido. “É grande brincar” (ALMEIDA, 2003). Atividade lúdica
discurso escrito e experimentar de diferentes a responsabilidade da educação infantil na educação infantil favorece a construção Sabemos que as crianças ao serem inseridas no
formas os modos de pensar escrito. Antecipar em relação ao processo de alfabetização” do aprendizado, porém ao incluir os jogos contexto escolar, as mesmas são antecipadas tanto
o ensino das letras sem trazer o debate da (SOARES, 2012). No decorrer deste processo ou brincadeiras no contexto educacional, o pelos pais, quanto educadores à escolarização
cultura escrita para o cotidiano é desrespeitar o docente deve introduzir gradativamente professor deve ter claro seu objetivo, buscando precoce, “quanto mais cedo introduzidas nas
o tempo da infância e sustentar uma educação novos textos aumentando sua complexidade, identificar os valores, ideias, interesses e práticas escritas, melhor a qualidade da escola”,
tecnicista, em que predominam o mito da estimulando as crianças a lerem sozinhas, as necessidades individuais ou do grupo. Mello (2006), esquecendo-se das atividades
precocidade e o mito da superespecialização, mesmo que não convencionalmente, a lúdicas, vistas como improdutivas a esse
alimentados pela lógica da competitividade. escolherem diariamente novos textos para “Os jogos não são apenas uma forma de processo. Porém, existem inúmeros autores que
serem compartilhados, fazendo com que as desafogo ou entretenimento para gastar a defendem o brincar como atividade essencial
Nesta fase cabe à escola possibilitar que mesmas sintam necessidade de ler e escrever energia das crianças, mas meios que enriquecem para a formação da identidade, da inteligência, da
o aluno se aproprie desta relação contínua para se comunicar. Segundo Emília Ferreiro o desenvolvimento intelectual” (ALMEIDA, personalidade da criança e base para aquisição
de aprendizagem através da construção (2001), a criança alfabetiza-se melhor se: 2003). Inserir as crianças no âmbito escolar não da escrita. Vygotsky em (1987) já apontava o
de um ambiente propício rico em desafios deve ser visto como um mundo novo, inerente brincar como “atividade humana criadora, na qual
que favoreça um contato direto com ∙ A criança ler e produzir uma diversidade à infância, ou inerte ao ambiente vivido em imaginação, fantasia e realidade interagem”.
diversos gêneros textuais, que estejam de textos; família, é possível conciliar esses dois polos
engajados no contexto sociocultural do ∙ Estimuladas a entrar em contato com sem dissociar as características específicas de O brincar “supõe também o aprendizado de
indivíduo, possibilitando desde a Educação diversos tipos de situações de interação com cada um, introduzindo no ambiente escolar uma forma particular de relação com o mundo
Infantil que se crie o hábito da leitura e a língua escrita; a brincadeira, que é a essência da infância. marcada pelo distanciamento da realidade da vida
escrita para que o mesmo se desenvolva ∙ É estimulada a enfrentar a diversidade comum”. Devemos nos apropriar dos momentos
durante toda a vida escolar. De acordo de propósitos comunicativos e de situações de brincadeira para facilitar o processo de
com as considerações de Brakling, (2003), funcionais vinculadas a escrita; alfabetização, pois muitas das crianças inseridas
∙ Reconhece a diversidade de problemas no contexto escolar nunca tiveram acesso a livros,
A leitura é uma prática social: Significa, que devem ser enfrentados na produção ou um ambiente alfabetizador, encontram-se
inicialmente, compreender que ler é uma da escrita (organização espacial, gráfica, “perdidas”, no que diz respeito à leitura e escrita,
prática social, que acontece em diferentes

446 447
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

vendo os mesmos como algo desconhecido CAGLIARI (1995), afirma que no processo Quando a criança entra no primeiro ano do novela. Outro exemplo oposto é o professor
e “amedrontador”. de alfabetização a importância do trabalho Ciclo I inicia-se o processo de alfabetização, perceber na criança a falta de interesse,
escola/família é primordial. O processo este momento para ela necessita de estímulos por falta de estímulo vindo dos pais ou por
O brincar é um importante processo de alfabetização inclui muitos fatores, e, para entender a importância de saber ler nunca ter visto um bom exemplo de leitores
psicológico, iniciado na infância, que quanto mais ciente estiver o professor de e escrever. Precisa receber incentivos de em casa, ou, por muitas das vezes, inclusive,
permite aos sujeitos se desprenderam das como se dá o processo de aquisição de família e do professor para conhecer a língua nem possuir em casa livros para ver ou
restrições impostas pelo contexto imediato conhecimento, de como a criança se situa escrita, consequentemente ter mais facilidade brincar, jornais, revistas, gibis para manusear.
e transformá-lo. Com isso, podemos afirmar em termos de desenvolvimento emocional, em momentos de leituras, exercícios de
que esse medo existente da criança com o de como vem evoluindo seu processo de interpretação, prazer em fazer uso desta Segundo PAULA (2012) em seu artigo
novo pode ser superado através do uso da interação social, da natureza da realidade nova aquisição, entre outros. Segundo “A Influência da Família no processo de
brincadeira. linguística envolvida no momento em que Gabriel Chalita (2001, p.27) “a alfabetização Alfabetização”. Os hábitos e costumes da
está acontecendo a alfabetização, mais tem de ser acompanhada pela família. criança são influenciados pelo meio em
KISHIMOTO (1998) defende a relevância condições terá esse professor de encaminhar que vivem; não que seja uma regra, mas
da brincadeira afirmando: A brincadeira tem de forma de agradável e produtiva Os primeiros escritos, o incentivo à leitura o hábito da leitura e escrita no contexto
papel preponderante na perspectiva de uma o processo de aprendizagem sem os [...]”. Há muitos casos em que a criança existe familiar possibilitará maior estímulo para
aprendizagem exploratória, ao favorecer a sofrimentos habituais (CAGLIARI, 1985, p.9). a falta de estímulos por parte dos pais ou da que a criança compreenda o valor desse
conduta divergente, a busca de alternativas escola. Alguns pais têm dificuldades no auxílio ato no seu dia-a-dia. (PAULA, 2012, p. 9).
não usuais, integrando o pensamento Partindo desta afirmação, que está nesta fase por não saberem como ocorre a Tudo tem como base o que lhe é ensinado, o
intuitivo. Brincadeiras com o auxílio do fundamentalmente ligada ao conhecimento alfabetização outros por falta de interesse ao que a criança presencia no meio familiar, o que
adulto, em situações estruturadas, mas do professor do que acontece na realidade acompanhar esta fase tão importante para as ela aprende na escola. Isso a torna um cidadão
que permitam a ação motivada e iniciada do aluno e de outras questões associadas, crianças. Existem diferentes situações, além crítico, apta para o mercado de trabalho e
pelo aprendiz de qualquer idade parecem observa-se a intenção do presente artigo, das citadas agora, em relação ao desinteresse preparado para o exercício da cidadania.
estratégias adequadas para os que acreditam que explora a aprendizagem e a influência da família quanto à educação da criança.
no potencial do ser humano para descobrir, que a família exerce sobre a criança em Todo incentivo começa quando a criança Há uma grande discussão a respeito do
relacionar e buscar soluções. sua vida escolar, especificamente na percebe que o aprendizado faz sentido para papel da família e da escola, onde ambas
aquisição das habilidades da leitura e a vida dele, ou seja, que aprender a ler e possuem estreita relação. Assim como
As brincadeiras enriquecem e estimulam a da escrita no processo de alfabetização: escrever pode inseri-lo em outro universo. é importante à família estar presente na
imaginação, que por si favorece o processo educação do filho na escola, é importante a
de ensino-aprendizagem, o desenvolvimento Percebe-se então, que o importância do acompanhamento A criança muitas vezes reproduz o que escola estar a par da família, ciente de que a
físico, afetivo, motor e intelectual, o que de familiar aliadas ao trabalho escolar resultam numa vivencia; então, vendo no ambiente que ela mesma está contribuindo positivamente nos
acordo com LDB, torna-se imprescindível melhora eficaz em relação ao nível de aprendizagem está inserida, o incentivo a ler e escrever, anos de alfabetização da criança. SOUZA
para o desenvolvimento integral dos e consequentemente do rendimento escolar, pois, fica ela o faz com maior habilidade. E antes da (2009) explicita que é importante que a
educandos. claro no discurso diário dos professores que os alunos escola, o grupo social na qual ela ligada é família esteja engajada no processo ensino-
que recebem atenção significativa por parte da família, a família. A criança que, mesmo sem saber aprendizagem. Isto tende a favorecer o
EDUCAÇÃO: OS DOIS LADOS DA tendem apresentar um melhor rendimento escolar, ler ou escrever, tem a possibilidade em desempenho escolar, visto que o convívio
MESMA NA REALIDADE DO CONTEXTO ao passo que aqueles que não recebem atenção manusear livros ou materiais como se o da criança com a família é muito maior do
FAMILIAR adequada apresentam quase sempre desempenho fizesse como seu pai lendo um jornal em que o convívio com a escola. (SOUZA,
escolar abaixo do esperado. (SOUZA, 2009, p.11) casa ou sua mãe um livro, uma revista de sua 2009, p.8). Mais uma vez, é afirmado que

448 449
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

a participação dos pais na vida escolar dos previsto, é dever da família formar seus quanto à sua educação, visto que, por
filhos contribui de maneira significativa para filhos para a vida, levando-os a construir lei, a família aliada à escola, cumpre uma
o processo de desenvolvimento de suas suas primeiras responsabilidades perante finalidade fundamental na vida da mesma:
competências e de seu rendimento escolar. a sociedade na qual está inserido. Desta Art. 2°. A educação, dever da família e do
forma, a família não pode negligenciar seu Estado, inspirada nos princípios de liberdade
Se a criança não vê no exemplo dos pais o significado papel na educação dos filhos, passando toda e nos ideais de solidariedade humana, tem
para novas aprendizagens, então porquê e para que responsabilidade apenas à instituição de por finalidade o pleno desenvolvimento
aprender? Não queremos com este trabalho fazer da ensino no qual a criança está inserida. Ela é, do educando, seu preparo para o
família o único elemento responsável pelo fracasso na portanto, o principal elemento envolvido na exercício da cidadania e sua qualificação
aprendizagem das crianças, mas ressaltar que é dela aprendizagem inicial da criança, não podendo para o trabalho. (BRASIL, 1996, p.27).
que devem partir os exemplos e os estímulos para que negar seu papel participativo e estimulador.
a criança conceba a educação como algo necessário
e prazeroso para sua vida (PAULA, 2012, p.11). Segundo o Estatuto da Criança e do CONSIDERAÇÕES KÁTIA MEDEIROS DA SILVA
Adolescente, Lei n° 8.069, de 13-7-1990,
Então hoje as algumas famílias transferem o parágrafo único que está contido no Podemos concluir que a família é um
parte do que seria de sua responsabilidade Art.53, deixa clara a responsabilidade e elemento fundamental na vida da criança Graduação em Normal superior - Facul-
acerca da educação à escola, cabe às o direito quanto à participação da família e que quanto mais acesso a cultura esta dade Uniararas (2007); Pós- graduação
instituições de ensino envolver e trazer no acompanhamento escolar da mesma: É família proporcionar á criança mais ela Em Psicopedagogia Institucional e Clíni-
para si as famílias não participativas para direito dos pais ou responsáveis ter ciência do terá facilidade em alfabetizar. Quando a ca- Faculdade Brasil .(2014); Graduação
perceberem, de fato, que a sua efetiva processo pedagógico, bem como participar criança chega ao ambiente escolar para em Artes na Unijales (2016);Professor de
participação facilita no processo educacional da definição das propostas educacionais. ser alfabetizada, a criança deve receber Ensino Fundamental e Educação Infan-
til CEI- Parque Cocaia , Professora de
de seu filho contribui verdadeiramente (BRASIL, 1990, p.21). Sendo assim previsto, atenção especial e acompanhamento
Educação Básica - na EE.Dr.Aniz Badra.
para a aprendizagem, sobretudo no os responsáveis pela criança, além do direito, dos pais neste sentido, ganhando
período de alfabetização da criança. tem que ter consciência de que deve estar estímulo para o melhor desenvolvimento
a par da escola, com relação aos trabalhos seu processo de alfabetização.
OS DIREITOS E DEVERES DA FAMÍLIA realizados e o aprendizado da criança,
PERANTE A EDUCAÇÃO DA CRIANÇA devendo, inclusive, juntamente com o Poder E tudo acontece se houver todo o trabalho
Público representado pela escola, zelar pela em parceria juntamente com a escola para
A educação, direito de todos e dever frequência da criança, como está previsto contribuir de forma a proporcionar o sucesso
do Estado e da Família, será promovida e por Lei: “Art.54 - Parágrafo 3° Compete ao no processo de aprendizagem propriamente
incentivada com a colaboração da sociedade, Poder Público recensear os educandos no dito. No entanto, se não houver participação,
visando o pleno desenvolvimento da pessoa, ensino fundamental, fazer-lhes a chamada atos que motivaram a criança nesta fase,
seu preparo para o exercício da cidadania e zelar, junto aos pais ou responsável, pela bons exemplos de leitura levará a criança
e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, frequência à escola” (BRASIL, 1990, p.21). ao hábito da leitura e escrita. Sendo assim,
2002. p.23). Além de noções previstas na a família deve acompanhar o processo de
Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e A participação, compromisso e alfabetização e estimulá-lo, de modo a
Bases deixa claro que a educação é dever responsabilidade dos pais e responsáveis fazer com que haja um trabalho positivo
da família, cabendo ao Estado, representado pela criança, são, portanto, atitudes que em torno do processo de alfabetização.
pela escola, complementá-la. Sendo assim garantem o sucesso e estímulo para a ela

450 451
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS

ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2. ed. LCT, Rio de Janeiro RJ, 1975,
279 p.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispõe


sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, DF, 2002

_____. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96) / apresentação Carlos


Roberto Jamil Cury. 6. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2003 .

Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental.


2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione, 2002.

FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 1987. OS VALORES DA BELEZA ÉTNICA RACIAL

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. Ed. São Paulo: Atlas, 2010. RESUMO: Este artigo tem como objetivo valorizar a estética da Cultura Afra, reconhecendo
a sua importância, na afirmação das identidades étnicas, que é um dos fatores fundamentais
PAULA, Janete Gilman de. A influência da Família no Processo de Alfabetização. Revista no desenvolvimento do indivíduo. A influência do cidadão quanto ao reconhecimento de
Thema, Disponível em: > p.13, 201 suas origens favorece a recuperação das memórias históricas, e a construção da autoestima.
O povo brasileiro é produto da miscigenação das três etnias (Branco europeu, índio e afro),
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica que teve suas contribuições culturais pouco valorizado devido o domínio de uma visão
Editora, 2012. eurocêntrica na sociedade. São inquestionáveis todas as heranças que foram incorporadas a
vida dos brasileiros através da miscigenação e que hoje fazem parte do nosso dia a dia. Diante
SOUZA, Maria Ester do Prado. Família/Escola: A importância dessa relação no disso, podemos dizer que deparamo-nos com diversas realidades culturais, que nos fazem
desempenho escolar. Disponível em: < http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/ repensar sobre os nossos próprios conceitos de estética. A “Estética Negra está Enraizada
arquivos/1764-8.pdf> Antonio da Platina, Paraná, 2009. em nosso cotidiano”, é preciso retomar as origens e colocar a memória e prática a serviço
da orientação e conhecimento cultural. Torna-se cada vez mais necessária, a afirmação das
identidades étnicas. Além de incutir o respeito à diversidade nas características físicas e
culturais, as relações se tornam mais humanitárias, conscientizando-nos, de que cada
etnia, por meio de sua cultura, contribui para a formação de um povo único. Essa troca de
conhecimentos nos ajuda a refletir sobre e como nossa imagem negra afirmada se apresenta
e é representada diante de uma sociedade que não se diz negra.

Palavras-chave: Identidade; Miscigenação; Estética; Auto Estima.

452 453
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO sociais sejam muitos, escondem-se inúmeras que significa "pano amarrado à cabeça", é
riquezas naturais tanto na fauna quanto na amarrado de diversas maneiras para criar
Conforme apresentado no resumo, este (ANTONIL, 1982, p.89) ‘’Contudo, a flora, o que acaba refletindo na cultura e diferentes efeitos e formas. O resultado
estudo tem como temática a valorização da contribuição africana no período colonial estética. Trata-se de uma região privilegiada das combinações de cores e formas é
estética da Cultura Afro, reconhecendo a sua foi muito além do campo econômico, uma É importante lembrar que, segundo Stuart impressionante. Segundo BRAGA (2015,
importância, na afirmação das identidades vez que, os escravos souberam reviver suas Hall (2003, p. 31), “o próprio termo África P.27). “O que acontece é uma absorção desses
étnicas, e a influência do cidadão quanto culturas de origem e recriar novas práticas é uma construção moderna, que segundo o signos pelo mercado, abrindo a possibilidade
ao reconhecimento de suas origens, o culturais através do contato com outras autor é referente a “uma variedade de povos, de afirmar uma estética negra que se torna
que favorece a recuperação das memórias culturas.”. tribos, culturas e línguas”. cada vez mais visível, mais massificada,
históricas, e a construção da autoestima, mais usual”.Embora seja riquíssima e tenha
além de incutir o respeito à diversidade A Moda Africana e sua influência quanto A Arte africana une utilidade e estética conexões com países de quase todo o mundo,
nas características físicas e culturais. A à representação das identidades étnicas nos objetos, na música, na dança, na pintura a África também carrega uma história de
população brasileira é composta por maioria junto ao continente africano que possui corporal, no artesanato, nas vestimentas dores, preconceito e discriminação. É um
afrodescendente, enquanto os indivíduos uma grande variedade de línguas, costumes, e nos rituais sagrados. Muito próxima do processo que ainda está acontecendo, mas
afro-brasileiros são vítimas de uma série religiões, trajes pinturas corporais, tecidos e cotidiano onde a experiência estética e a que já apresenta avanços significativos.
de estigmas e preconceitos de toda ordem. adornos. São marcas da identidade de cada noção de contemplação se confundem e
Considerando-se a identidade como elemento grupo. Os povos do continente africano se associam com a vida diária fazendo do Belezas Afro como herança
de pertencimento a um grupo social, cultural costumam usar trajes, pinturas corporais, produto artístico, mas também da beleza histórica
e histórico, surge à inquietação de incutir tecidos e adornos, conforme as identidades expressa nas diversas formas.
o respeito à diversidade nas características de seus devidos grupos. Quanto ao respeito Segundo (GOMES, 2016, p.122), ”a
físicas e culturais, valorizando a beleza às diversidades a escritora Ana Maria A estética Negra é muito bem representada imposição de uma boa aparência agregada
estética no que se refere à moda, cabelo machado com o livro Menina Bonita do através dos estilos, no vestuário como o pano a recusa do negro está relacionada à ideia
e adornos representando uma herança Laço de Fita trata de forma lúdica, a autora da costa em diagonal na frente do corpo, da política de branqueamento, que idealizou
histórica. expõe a beleza negra com muita delicadeza, acessórios como as pulseiras, os anéis, os o branco como um padrão de beleza”. A
com simplicidade, usando uma linguagem colares, os pingentes presos à roupa os estética afrodescendente foi atingida pela
A Exuberância da Beleza Africana enquanto suave que encanta a criança, porém forte, desenhos e símbolos dos tecidos, são de disseminação de um padrão de beleza, os
sua vivacidade de cores e variedade de permitindo, portanto, reflexões sobre as acordo com a região. A exuberância se faz meios de comunicação de massa (cinema,
interpretações, representações vibrantes e questões raciais, afetivas e familiares.Desse presente, nos adornos multicoloridos, nos revistas, jornais) impunham seu modelo.
diversos traços étnicos, é representada em modo apresentar outras possibilidades de penteados dos cabelos trançados, nas cores Segundo conforme Nilma Lino GOMES
diversos segmentos, no que se refere à arte, olhares não apenas sobre o corpo, mas sobre fortes, nos turbantes, nas bijuterias grandes (2006, p. 140).
moda, identidade. Será abordada a beleza as pessoas e sua história é apresentar outras confeccionadas com sementes, cascas de
Afro como herança histórica no processo possibilidades de pertencimento étnico. árvore, ossos, e marcam o jeito de se vestir Essa ideologia expressa à conotação
de formação que começou a ser delineada africano, dependendo do clima o vestuário das relações raciais, a posição de poder
a partir do tráfico negreiro. É ressaltado Exuberância da Beleza acompanha com estampas vibrantes. exercido sobre os negros ao inseri-los em
também a beleza na arquitetura de um povo, Africana uma posição de impureza para ressaltar
cujos as tradições foram herdadas de mãe A moda é uma forma de comunicação, o um comportamento de submissão a essa
para filha, a pintura e adornos do Grupo No continente africano se reúne diversos adereço importantíssimo para completar o população. Esse posicionamento emergente
Étnico Ndebele na afirmação das identidades. tipos de beleza. Embora os problemas traje tem o turbante. Chamado de “Gele”, do racismo aponta uma distância social,

454 455
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

cultural e econômica o que acarreta uma Tradições, adornos e o Grupo Étnico individual da identidade das mulheres e o Colocaremos, aqui, o acento nos processos de educação
ambiguidade de posições e sentimentos Ndebele que diferencia uma mulher das outras é o para a cidadania. Foi por meio deles que os negros
com relação a essa distinção (GOMES, 2006, estilo da pintura, o motivo, a composição e brasileiros aprenderam a lutar contra o preconceito
p. 140). Os Ndebeles são um grupo étnico a escolha das cores. As pinturas das casas e a discriminação raciais, incluindo em seu ideário
Africano que vive na África do Sul e deste povo, sejam redondas (parecendo reivindicações que visavam romper com o abandono
Nesse sentido o racismo presente nessa Zimbabwe conhecidos por seu talento ocas) ou quadradas, sempre com teto de exigindo direitos sociais e iguais oportunidades de
estética branca tem efeitos duradouros para artístico, no artesanato, roupas e estilos. A palha, expressam-se através das cores educação e trabalho. (GONÇALVES, 2000, p.335)
os afrodescendentes, que, a cada momento, tribo possui um costume bem diferente de gráficas e dos desenhos geométricos
precisam afirmar sua identidade. Além estampar as suas casas com muitas cores coloridíssimos, as simétricas proporções A luta, nesse sentido, contra a dominação
disso, pensa-se identidade negra como algo e formas vibrantes são uma das poucas e bordas destacadas pelos contornos simbólica que impõe uma visão negativa
construído pelo negro, “não só por oposição nações que preservam suas tradições. pretos, intensificam essa rica obra de arte. sobre a identidade dos dominados, não
ao branco, mas, pela negociação entre os Mesmo sendo uma sociedade patriarcal, a intenta apenas conquista ou reconquista
dois, pelo diálogo e pelo conflito entre ambos conhecida herança artística dos Ndebele Reflexos da identidade e Etnia da identidade, mas o poder de definir sua
onde as diferenças são imprescindíveis na foi passada de mãe para filha ao longo dos própria identidade do qual havia abdicado em
construção da nossa identidade. (GOMES, séculos e apenas as mulheres se dedicam A população negra, ao recuperar sua detrimento da visão dominante, A identidade
2003, p.8).”. aos grafismos e artesanatos. Uma casa bem identidade, no sentido de se perceber negra surge, então, da dinâmica conflituosa
pintada indica que a mulher da casa é uma como sujeito transformador e construtor entre a visão dominante eurocêntrica, que
Em conjunto com o rosto, os cabelos boa esposa e mãe. Ela é responsável pela da realidade, tem sua marca na história. nega os referenciais negros, e a busca pela
definem a pessoa um especial toque pintura das portas, paredes frontais, paredes Na África, homens e mulheres, crianças, valorização desses referenciais por esse
e gosto de enfeitar o corpo e cabelos laterais e geralmente, o interior de sua casa. guerreiros, artesãos, caçadores, príncipes segmento da população. Ou seja, de um
transparecendo a beleza, com todos os e reis capturados, por ataques planejados sentimento de perda, negação, constrói-se
seus adornos e exageros, deparar-nos com O povo Ndebele começou a usar eram acorrentados e embarcados nos uma autoimagem positiva e altiva da pessoa
diversas realidades culturais, que nos fazem símbolos expressivos para se comunicarem porões e trazidos do Sudão, Costa do negra. É uma resposta política à situação
repensar sobre os nossos próprios conceitos secretamente entre eles. Estas pinturas Marfim, Nigéria, Moçambique e de vários de opressão na qual a população negra,
de estética e seus significados. De acordo tornaram-se uma expressão de resistências outros países que possuíam cada um sua descendente de africanos escravizados, se
com Nilma Lino Gomes (2003, p.8). culturais e de continuidade. As pinturas etnia, uma adoração a deuses diferentes, encontrou ao longo da história do Brasil.
murais são sempre feitas pelas mulheres uma língua e costumes diferenciado.
Corpo é uma linguagem e a cultura escolheu algumas de ela é responsável pela pintura das portas, Segundo (MOURA 1983: 124) “A educação
suas partes como principais veículos de comunicação. O paredes frontais, paredes laterais e Surge então uma cultura diversificada brasileira não pode ser entendida sem levar
cabelo é uma delas [...] É um dos elementos mais visíveis e geralmente, o interior de sua casa. A formando a base étnica. A população em conta as relações entre os diversos grupos
destacados do rosto. Em todo e qualquer grupo étnico ele técnica ancestral (à mão livre, com linhas e negra deixa de ser menos receptora das étnicos que formaram esta nação”. Portanto,
é tratado e manipulado, todavia a sua simbologia difere de ângulos geométricos coloridos) de pintar os diretrizes dominantes e se transforma em é preciso destacar que o caráter da formação
cultura para cultura. Esse caráter universal e particular do muros das residências, já viajou o mundo. agente histórico. Percebemos, então, que a do Brasil, pautado na escravidão, teve como
cabelo atesta a sua importância como símbolo identitário. identidade étnico-racial constituída não se uma de suas resultantes o surgimento de
(GOMES, 2003,p.8). No século XIX esta tradição alargou-se configura apenas como uma referência de concepções e práticas racistas que perduram
dos têxteis às pinturas murais decorativas. afirmação, autoestima, mas constitui-se num até os dias atuais. De acordo com Pereira
A pintura das fachadas e muros das casas instrumento de organização e mobilização. (1978), o estudo de História do Brasil possuiu
é um privilégio exclusivo das mulheres Segundo Gonçalves (2000, p.335). uma herança derivada do colonialismo
Ndebeles. A pintura é a forte expressão cultural, que supervaloriza os feitos europeus

456 457
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

e minimiza ou exclui qualquer referência reproduzem os valores e padrões de uma não graça! Mas só de reconhecer que as Toda essa temática é válida uma vez
à história africana, haja vista a falta de elite dominante, em detrimento de outras pessoas são diferentes não basta, é preciso vivida no cotidiano de pessoas que por
instrução e orientação sobre esse conteúdo, visões de mundo e referências históricas. respeitar as diferenças, e os versos de vezes se anulam por não entenderem como
nas escolas, sendo amenizado somente após O livro Menina Bonita dos Laços de Fita é diversidade não ensinam isso, que não há um oportunidade o fato de reforçarem sua
a LEI 10.639/03. A visão sobre o continente um dos clássicos de nossa literatura. Conta à jeito único de ser. ”assim ou assado, todos são identidade através do seu próprio estilo e
africano se desdobra aos seus habitantes história de uma linda menininha negra, com gente , tudo é humano.( BELINKY,1999 p.37) de se orgulhar por isso, é preciso retomar as
e descendentes que formam a população cabelo trançado e finalizado com fitinhas origens e colocar a memória e prática a serviço
brasileira. No caso do Brasil, a formação da – e, de um coelhinho que nutre verdadeira CONSIDERAÇÕES FINAIS da orientação e conhecimento cultural. Torna-
nacionalidade é escamoteada, trazendo um paixão por ela e por sua cor pretinha. Um se cada vez mais necessária, a afirmação
olhar apenas para a contribuição africana na livro para criança e, claro, de todas as raças, Considerando-se a identidade como das identidades étnicas. Além de incutir o
a culinária, folclore, misticismo. De acordo mas que tem um papel fundamental na elemento de pertencimento a um grupo respeito à diversidade nas características
com Ricardo Franlin Ferreira (2000 p. 41), vida de crianças negras, na medida em que social, cultural e histórico, surge a inquietação físicas e culturais, as relações se tornam mais
elas se veem representadas na história. de incutir o respeito a diversidade nas humanitárias, conscientizando-nos, de que
A identidade da pessoa negra traz do características físicas e culturais. Valorizar cada etnia, por meio de sua cultura, contribui
passado a negação da tradição africana, a O objetivo é desenvolver uma postura e respeitar as diversidades, ainda é um para a formação de um povo único.
condição de escravo e o estigma de ser um crítica frente à realidade, perceber, tabu a ser quebrado no que se refere à
objeto de uso como instrumento de trabalho. apreciar e valorizar as diversidades pré-conceitos, inerentes à conduta do ser
O afrodescendente enfrenta, no presente, naturais e sociocultural, adotando posturas humano, no seu desenvolvimento, no seu
a constante discriminação racial, de forma de respeito aos diferentes aspectos e autoconhecimento. Tornam-se incoerentes
aberta ou encoberto e, mesmo sobre tais formas étnico e cultural, trabalhando a conhecimentos teóricos se o sujeito não se
circunstâncias, tem a tarefa de construir um socialização (amizade, união e respeito); identifica com o meio no qual vive não se
futuro promissor. (FERREIRA, 2000 P.41) Um trabalho com as questões étnico- conhece como sujeito, não se sente integrado
raciais, já com as crianças pequenas, a sociedade. Sem o autoconhecimento,
Diversidades Étnicas Raciais e traz resultados muito positivo, uma vez através da construção de sua identidade não
o Projeto Menina Bonita do laço que, as mesmas, passam a considerar forma-se cidadãos ativos e atuantes.
de fita e respeitar as diferenças desde cedo.
A Cultura africana influenciou mais do que
O desafio referente ao respeito às A autora trata a beleza negra com muita a culinária, religião, costumes e língua no Kassia Matias Santos Soares
diversidades, é a valorização da sociedade em delicadeza, com simplicidade, usando uma Brasil. Muito da moda também se inspirou na
relação ao negro não somente em apresentar linguagem suave que encanta a criança, cultura africana. A moda reflete a identidade Professora de Artes, na Rede Municipal .
a riqueza da diversidade étnico Cultural, mas porém forte, permitindo, portanto, ao de um povo e para representar uma cultura Curso de Pós-Graduação Cultura Africana.
contribuir para que haja a apropriação de leitor, reflexões sobre as questões raciais, miscigenada como a brasileira, a moda
valores como o respeito a si próprio e ao outro afetivas e familiares. Percebe-se, então, que afro-brasileira traz elementos de ambas às
elevando a autoestima. É na especificidade a identidade étnico-racial constituída não se culturas em suas vestimentas e penteados.
das relações étnico-raciais no Brasil, configura apenas como uma referência de Cada estampa e motivo representa um nome,
portanto, que devemos refletir sobre quais afirmação, autoestima, mas constitui-se num um provérbio, contam histórias de relações
mecanismos e bases às instituições políticas, instrumento de organização e mobilização. familiares da comunidade e da realeza.
culturais e educacionais reproduziram e Se todo mundo fosse igualzinho o mundo

458 459
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Referências
ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil.
Belo Horizonte: Itatiaia: São Paulo: EDUSP, 1982.

BELINKY, Tatiana. Diversidade. São Paulo: Quinteto Editorial, 1999.

BRAGA, Amanda. História da beleza negra no Brasil:


discursos, corpo e práticas. São Carlos: EDUFSCar, 2015.

BRASIL. Lei n. 10.639,de 09 de Janeiro de 2003. Altera a Leiv9.364 de20


de Dezembro de 1996, que estabelece a Directrizes e bases da Educação
Nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade
da temática “História e Cultura Afro-brasileira”, e das outras providências, 2019.

FERREIRA, Ricardo Franklin. Afrodescendente: identidade


em construção. São Paulo; EDUC; Rio de Janeiro: Pelas 2004.

GOMES, Nilma Lino. Sem perder a raiz: corpo e cabelo como


símbolos da identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2006, P.122 EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
.
GONÇALVES, Luiz A. O: Negros e educação no Brasil. In: LOPES, Eliane M.
Teixeira (ET al.). 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. RESUMO: Este artigo tem como objetivo mostrar a importância de se trabalhar desde a
educação infantil, a conscientização ambiental nos alunos, pais, escola e comunidade. O
HALL, Stuart. Pensando a Diáspora (Reflexões Sobre a Terra trabalho deve ser realizado através de atividades didáticas e práticas, despertando o inter-
esse das crianças pelos problemas ambientais da sua escola, do seu bairro, etc. A educação
no Exterior). In: Da Diáspora: Identidades e Mediações Culturais.
ambiental, quando trabalhada nessa fase escolar, mostra-se eficiente, pois agrega valores
sociais e de cidadania.
MACHADO. Maria Helena. Menina bonita do laço de fita. São Paulo-SP. Ed. Ática, 2007.
Palavras-chave: Educação ambiental; Educação infantil; Conscientização ambiental.
MOURA, Clóvis. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo: Ática, 1988.

ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1994.

PEREIRA, José Maria Nunes. Colonialismo, racismo, descolonização. In: Estudo Afro-

460 461
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
ambiente é indissociável. A aprendizagem Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou vida dos seres humanos. Esse espaço tempo, à maneira do
O mundo todo busca alguns significados será mais significativa, se as atividades na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos da física relativista, deve ser entendido como o produto
para sua existência e problemas, pois estiverem adaptadas e relacionadas com a pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para da presença e das relações existentes entre os entes.
quase sempre nos pegamos a perguntar realidade do aluno, pais, professores, escola aprender e ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para Quando digo entes quero dar a entender que não me
o que estamos fazendo neste mundo ou e comunidade. Quando as primeiras ideias conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. refiro tão somente a objetos físicos (como podem sê-lo
o porquê de alguns acontecimentos. A sobre Educação Ambiental são iniciadas A educação tem como objetivo preparar os indivíduos para uma pedra ou um animal), mas também estão abrangidos
Educação Ambiental na escola tem por desde a Educação Infantil, fase onde a a formação de uma sociedade possível de desenvolver-se os objetos culturais não-físicos ‘como podem sê-lo
objetivo formar cidadãos que se defrontem criança está ávida por novos conhecimentos, plenamente, na qual todos possam participar e exercer uma divindade ou uma teoria mítica ou científica sobre
com a problemática do meio ambiente e os conceitos tornam-se parte do indivíduo seus direitos e deveres de cidadãos (BRANDÃO, 1985, p.7). o mundo ou algum fenômeno em especial que numa
se esforcem por compreendê-lo, sendo e sua relação com o ambiente torna-se dada cultura dele faça parte’ (VELASCO, 1997, p.107).
capazes de assumir pontos de vista críticos, sustentável e por toda vida. Dessa maneira, a educação
preocupando-se com o destino coletivo e se busca constantemente promover o O ecólogo Belga Duvigneaud (In:
posicionando diante dos desafios do mundo O Meio Ambiente depende da valorização desenvolvimento pleno das capacidades, Reigota, 1994, p. 20) diz que, “é evidente
(MEC, 2001). Segundo Reigota (2009): que os educadores transferem perante os habilidades e potencialidades dos indivíduos. que o meio ambiente é composto por dois
“Claro que a Educação Ambiental por si seus alunos e estes, serão os multiplicadores Paulo Freire afirma que: aspectos: 1) o meio ambiente abiótico físico
só não resolverá os complexos problemas perante a sociedade. O Brasil é o único país e químico e 2) o meio ambiente biótico”.
ambientais planetários. No entanto ela pode da América Latina, que tem uma política Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os Reigota define Meio Ambiente como:
influir decisivamente para isso, quando nacional específica para a EA; Lei n° 9.795/99. homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.
forma cidadãos conscientes dos seus direitos Esse conceito descreve o respeito que deve existir entre Um lugar determinado e/ou percebido onde estão
e deveres [...]” (REIGOTA, 2009, p. 18 e 19). os entes, e que deve ser mais um instrumento para a em relações dinâmicas e em constante interação os
EDUCAÇÃO, MEIO AMBIENTE E eliminação dos oprimidos. Os educandos não são mais aspectos naturais e sociais. Essas relações acarretam
Analisando algumas literaturas, constata- fiéis depositários, e sim construtores dessa nova realidade. processos de criação cultural e tecnológica e
se que a Educação Ambiental ainda é EDUCAÇÃO AMBIENTAL São chamados ao conhecimento e não mais a memorizar o processos históricos e políticos de transformação
escassa, devido à falta de interesse e de conhecimento (FREIRE, 1987, p. 68). da natureza e da sociedade. (REIGOTA, 1994, p. 21)
conhecimento dos educadores em estar
transmitindo, ou melhor, trocando ideias São imprescindíveis para o sucesso do Devemos hoje como educadores tirar o
com seus companheiros e alunos, para uma processo educativo e para a seleção dos conceito errôneo de que meio ambientes são Pensar em Meio Ambiente significa pensar
busca constante de informações e soluções métodos educativos o conhecimento da as matas, florestas e outros lugares distantes, no modo em que vemos o mundo. Constatar
sobre as questões ambientais.É através da população, suas necessidades e interesses. pois o principal meio ambiente é aquele que que existe uma relação de interdependência
capacitação de professores e educadores, que Através desses dados pode-se dar início estamos em contato direto e este forem de diversos fatores e seres na manutenção da
buscamos uma forma de atingir a população, a educação da população. Deve-se ter a preservadas, com certeza as demais áreas vida; pensar que todos são responsáveis e que
trabalhando a sensibilização dos mesmos, noção de que a educação hoje em dia não também serão. Devemos pensar globalmente o trabalho de preservação e uso sustentável
para que se promova mudanças de atitudes é somente o aprender a ler e escrever, mais e agir localmente, e principalmente deixar de todos os recursos disponíveis são de
em relação ao nosso meio ambiente que está sim o aprender a ver o mundo de várias de lado aquela ideia de que preservar está nossa responsabilidade. Segundo o MEC
diretamente relacionado a saúde pública forma, de vários ângulos. Nas palavras fora do nosso alcance. A definição de meio (PCNs), a questão ambiental é o conjunto
atual. A Educação Ambiental pode ser feita de Brandão (1985, p.7), a educação ambiente para Velasco (1997, p. 107) é a de temáticas relativas não só à proteção da
em qualquer lugar e a qualquer momento, atinge a todos de alguma forma. E ainda: seguinte: vida no planeta, mas também à melhoria do
pois no nosso dia a dia, a relação indivíduo/ meio ambiente e da qualidade de vida das
É o espaço-tempo ocupado pelos entes onde transcorre a comunidades. O termo Educação Ambiental

462 463
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Esses dois conceitos são bem diferentes e implicam


(EA) surgiu pela primeira vez durante a qualidade de vida e sua sustentabilidade. práticas pedagógicas com características diferentes.
buscando um novo comportamento individual
Conferência em Educação na Universidade Numa breve explicação podemos dizer que uma prática e coletivo. Propondo soluções ou até
pedagógica interdisciplinar trabalha com o diálogo de resoluções para os problemas locais, sem
de Keele, na Grã-Bretanha em 1965. Dessa forma, a Educação Ambiental acabara de conhecimentos disciplinares e que a transversalidade, perder de vista o mundo global. Queremos
Enquanto o resto do mundo começava a se estabelecer um conjunto de elementos que seriam pelo menos como foi definida pelos precursores, entre
eles Félix Guatarri, não desconsidera a importância de
cidadãos participativos, mas percebemos
preocupar com as questões de degradação capazes de compor um processo através do qual o ser
que os alunos se envolvem mais quando os
nenhum conhecimento, mas rompe com a ideia de que os
ambiental, causadas pelo desenvolvimento humano pudesse perceber, de forma nítida, reflexiva e conhecimentos sejam disciplinares e que são válidos apenas assuntos abordados estão relacionados com
industrial, o Brasil abria espaço para que as crítica. Os mecanismos sociais, políticos e econômicos os conhecimentos científicos (REIGOTA, 2009, p. 42). o seu cotidiano e com a sua realidade. É
grandes indústrias se instalassem; sonhando que estavam estabelecendo uma nova dinâmica global, fundamental o desenvolvimento individual
com o grande desenvolvimento econômico. preparando-os para o exercício pleno, responsável de suas potencialidades e de seu pensamento
A partir da Constituição de 1988 - Capítulo
e consciente, dos direitos de cidadão, por meio dos
VI – Meio Ambiente/Art. 225, Inciso VI crítico, assim como é necessária a mudança de
A Conferência Intergovernamental de diversos canais de participação comunitária, em busca da
fica determinado a inserção da Educação postura e a construção para uma sociedade
Tbilisi (1977) é considerada um dos principais melhoria de sua qualidade de vida e, em última análise, Ambiental em todos os níveis de ensino. socialmente justa, em um ambiente saudável.
eventos sobre Educação Ambiental do da qualidade da experiência humana. (DIAS, 2001, p. 83) Muitos educadores se sentem perdidos a
Planeta, pois a partir dela saíram às definições, darem início a EA em suas aulas, não sabem ATIVIDADES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
os objetivos, os princípios e as estratégias A Educação Ambiental pode ser realizada nem por onde começar, o que tratar e como NA EDUCAÇÃO INFANTIL
para a Educação Ambiental no mundo. em qualquer lugar: reservas ecológicas, nas fazer, porém nada melhor do que utilizar
Segundo as palavras de Loureiro (2006) a escolas, universidades, nos bairros, etc. os recursos que temos mais próximos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Educação Ambiental começou tarde; apesar Ela está presente em praticamente todas A Educação Ambiental pode e deve ser Nacional nº 9394/96 expressa a finalidade
de existirem programas desde a década de as nossas ações e é capaz de transformar trabalhada por todas as disciplinas discutindo do atendimento educacional às crianças.
70, foi na década de 80 que ela começou a pessoas em verdadeiros cidadãos. Nas temas que enfoquem as relações entre a Em seu art. 29 diz: A Educação Infantil,
ganhar dimensões públicas relevantes; por palavras de Oliveira (2000) a primeira humanidade e suas relações com o meio. primeira etapa da Educação Básica, tem
causa da Constituição Federal de 1988 e da leitura que fazemos, é a do ambiente que como finalidade o desenvolvimento
Não devemos ter medo do novo ou integral da criança até os seis anos de
inserção da EA no ensino formal em 1987. nos cerca, antes mesmo de aprendermos
do desconhecido, pois na maioria das idade, em seus aspectos físico, psicológico,
as primeiras palavras.Devemos ter a
vezes o novo nos auxilia em projetos intelectual e social, complementando
Em 1992 ocorre a Conferência noção de que nenhuma criança é vazia, ou atitudes que já fazíamos. Para que a ação da família e da comunidade.
Internacional Rio/92, representantes de sem nenhum tipo de conhecimento a possamos educar ambientalmente, temos
mais de 170 países assinaram tratados onde espera de uma enxurrada de informações. que deixar preconceitos de lado, junto Crianças são seres íntegros em suas manifestações de
reconhecem o papel da educação para a Ela possui uma história, um arquivo de singularidade, sociabilidade, historicidade e cultura, e,
com a insegurança e acreditar que todos por meio das práticas de educação e cuidado, deverão
construção de um mundo socialmente justo memórias e conhecimentos prévios que conhecemos pelo menos um pouco, sobre ter a garantia de seu desenvolvimento pleno pelas
e ecologicamente equilibrado. Para isso devem ser utilizados em benefício comum. o meio em vivemos.A capacitação dos vias da integração entre seus aspectos constitutivos,
é necessário responsabilidade individual profissionais envolvidos, também se mostra ou seja, o físico, o emocional, o afetivo, o cognitivo/
lingüístico e o social. (ANGOTTI, 2006, p.20).
e coletiva em níveis local, nacional e Com a criação dos Parâmetros Curriculares extremamente necessária. É através dela que
planetário. Educação Ambiental tem vários Nacionais (PCNs) para a escola fundamental, os docentes estarão melhores preparados
significados, variando de autor para autor, em 1997, o meio ambiente foi considerado e como consequência os discentes Devido ao desejo de crescer, de conhecer,
porém entende-se por EA, os processos por um tema transversal, que deve ser discutido poderão obter um maior aprendizado. de instigar, as crianças estão o tempo todo
meio dos quais o indivíduo e a coletividade por todas as disciplinas escolares. Segundo aprendendo e socializando, principalmente com
constroem valores sociais, conhecimentos, os PCNs, transversalidade é sinônimo de É através da Educação Ambiental que iremos as pessoas que estão ao seu redor, como seus
sensibilizar as crianças, professores, pais e pais, seus colegas, professores dentre outros.
habilidades, atitudes e competências voltadas interdisciplinaridade. Reigota nos esclarece
comunidade quanto à questão ambiental,
para a conservação do meio ambiente, a diferença entre esses dois conceitos:
bem de uso comum do povo, essencial à

464 465
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Um trabalho de Educação Infantil que tem as manifestações sos, manifestando curiosidade e interesse. de que ocorram mudanças importantes rel- mente de ser um professor de educação in-
infantis como centro de sua proposta não pode deixar de con-
siderar a linguagem como eixo que perpassa todas as instân-
acionadas ao seu modo de conceituar a na- fantil ou um licenciado em determinada área.
cias. E a linguagem deve ser entendida enquanto enunciação, Dos quatro aos seis anos os conhecimen- tureza e a cultura.Segundo as bibliografias Apresenta maneiras de organizar e de prepa-
expressão e manifestação da subjetividade, o que significa tos anteriores deverão ser aprofundados e consultadas, a maioria das escolas segue uma rar o espaço escolar para ações educativas,
uma proposta que abre espaço para a voz da criança, suas ampliados, garantindo-se, ainda, que as elas pedagogia tradicional, o que não favorece o que contem com a participação da comuni-
narrativas, suas formas de ver, sentir e conhecer o mundo, e
sejam capazes de interessar-se e demon- interesse e o aprendizado por parte das cri- dade, favorecendo o processo da cidadania e
para seus registros feitos com o corpo – nas ações, drama-
tizações e brincadeiras –, com desenhos, pinturas, colagens, strar curiosidade pelo mundo social e nat- anças, uma vez que as atividades são real- de autonomia. Em grande parte, o sucesso de
modelagens e escritas. Além disso, ela precisa abrir espaço ural, formulando perguntas, imaginando izadas de forma pontual e fragmentadas (ex: um projeto de EA depende das secretarias de
para a escuta de diferentes vozes e manifestações culturais, soluções, manifestando opiniões sobre os datas comemorativas, estações do ano, etc.). educação criar condições para tornar viável a
ampliando o universo cultural dos seus atores. Os espaços
acontecimentos, buscando informações, Eles sugerem que seja adotada uma postura proposta e assumirem sua responsabilidade
disponíveis para as atividades precisam, sobretudo, ser com-
preendidos como espaços sociais onde o educador tem um confrontando ideias, e estabelecer algumas construtivista, onde a participação do aluno na institucionalização da Educação Ambien-
papel decisivo, não só na organização e na disposição dos relações entre o modo de vida característico e seus conhecimentos prévios serão mais val- tal. Trata-se apenas do início de uma políti-
recursos, mas também na sua postura, na forma de mediar às de seu grupo social e de outros grupos, bem orizados; favorecendo o real aprendizado.É ca de formação permanente em Educação
relações, de se relacionar com as crianças, de ouvi-las e de in-
como entre o meio ambiente e as formas fundamental para que a Educação Ambien- Ambiental, sem a pretensão de suprir todas
stigá-las na busca de conhecimentos. São os educadores que
dão o tom ao trabalho, que reforçam ou não a capacidade de vida que ali se estabelecem, valorizando tal realmente aconteça na Educação Infantil as necessidades dos professores em seu tra-
crítica e a curiosidade das crianças, que as aproximam dos sua importância para a preservação das es- à preparação do ambiente e a preparação balho com essa temática. Acredita-se que so-
objetos e das situações, que acreditam ou não nas suas possi- pécies e para a qualidade da vida humana. do professor. Que ele assuma uma postura mente instigando a participação comunitária
bilidades, que buscam entender suas produções, que dão es-
paço para a fala, a expressão, a autonomia e a autoria. São eles
de parceria com os alunos, pais e comuni- o programa de Educação Ambiental atinja
também que fazem a ponte com as famílias e a comunidade, que o processo de aprendizado na Ed- dade, onde a troca de informações aconteça seus objetivos. Para tanto, ele deve prover os
que promovem trocas sobre o desenvolvimento, as conquis- ucação Infantil aconteça o currículo e os e o aprendizado seja consequência disto. conhecimentos necessários à compreensão
tas e as necessidades das crianças. (CORSINO, 2006, p.8 -10). ambientes escolares devem estar prepara- do seu ambiente e seu entorno, de modo a
dos e adequados, de modo que transmitam Um bom projeto escolar, uma boa organi- usar a consciência social para gerar atitudes
O trabalho de Educação Ambiental na edu- conhecimentos, valores culturais e sociais. zação, uma boa prática pedagógica são essen- capazes de afetar comportamentos sociais.
cação Infantil, deverá sempre levar em consid- O que percebemos é que a maioria das es- ciais para que os conceitos saiam do papel e
eração e ser um ponto primordial, a realidade colas infantis não está estruturada e orga- transformem a realidade do aluno e de seu en- O autor Dias (2001) diz que o aprendiza-
sociocultural do aluno, procurando sempre o nizada de modo a favorecerem a relação torno; para que se construa um verdadeiro ci- do se torna mais eficaz quando aprendemos
favorecimento da autonomia, da criticidade e da criança com o ambiente natural, crian- dadão autônomo e participativo na sociedade. através dos nossos sentidos 83% através da
responsabilidade. As atividades de Educação do barreiras para a aprendizagem da EA. No atual Plano Nacional de Educação (PNE) visão; 11% através da audição; 3,5% através
Ambiental, deverão ser programadas perio- – Lei nº 10.172 (09.01.2001), reforça e quali- da olfação; 1,5 através do tato e 1% através
dicamente e seus conteúdos e sua linguagem O desenvolvimento da criança, segundo fica o direito de todos à educação ambiental, da degustação) e que retemos apenas 10 %
devem respeitar a fase em que as crianças se o Referencial Curricular (1998), acontece como “um componente essencial e perma- do que lemos, 20% do que ouvimos, 30%
encontram, facilitando assim o entendimento gradativamente e à medida que toma con- nente da educação nacional” (artigos 2 e 3 da do que vemos, 50% do que vemos e escuta-
do que lhes é transmitido. O Referencial Cur- sciência do mundo em que vive, sendo essa Lei nº 9.795/99). Com isso, a Lei nº 9.795/99 mos, 70% do que ouvimos e logo discutimos
ricular Nacional (1998), no que se refere ao consciência de diferentes maneiras. Con- vem qualificar a educação ambiental indican- e 90% do que ouvimos e logo realizamos.
conhecimento do mundo, natureza e socie- forme crescem, aumentam a consciência e do seus princípios e objetivos, os atores re- As atividades desenvolvidas poderão ser as
dade, determina que a ação educativa deva se o contato com fenômenos naturais e fatos sponsáveis por sua implementação, seus âmbi- mais diversas possíveis (passeios, livros di-
organizar para que as crianças tenham desen- sociais, o que os levarão a apresentarem tos de atuação e suas principais linhas de ação. rigidos, pesquisas, filmes, músicas, projetos,
volvido as seguintes capacidades, conforme a questões sobre os mesmos, fazer a junção brincadeiras, etc.) e o uso de tecnologias
idade: do zero aos três anos devem explorar o de informações, se organizarem para ex- O Programa Parâmetros em Ação procura (TICs) se faz necessárias nos dias atuais. Na
ambiente, para que possam se relacionar com plicações e por fim, arriscarem respostas. mostrar ao professor que o tema transversal Ed. Inf. a valorização das brincadeiras é es-
pessoas, estabelecer contato com pequenos meio ambiente, está presente no conteúdo da sencial, pois é através delas que as crianças
animais, com plantas e com objetos diver- Assim sendo, a criança terá possibilidades área em que o professor atua, independente- na maioria das vezes adquirem interesse pelo

466 467
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

assunto e constroem seus conhecimentos. É fundamental para que a Educação Ambi- REFERÊNCIAS biental: uma proposta, in Ambiente & Educação
ental realmente aconteça na Educação In- vol. 2, Ed. FURG, Rio Grande, p. 107-119.1997.
O autor Jacobi (2005) afirma que as práti- fantil, à preparação do ambiente e a prepa- ANGOTTI, Maristela. Educação In-
cas pedagógicas precisam estimular a in- ração do professor. Que ele seja o agente fantil: para que, para quem e por VIANNA, L. P. Meio ambiente na escola –
terdisciplinaridade, buscando a interação facilitador do conhecimento, onde haja a quê? Campinas SP. Alínea, 2006. A proposta do MEC. Pátio – Revista ped-
entre as disciplinas promovendo o diálogo troca de informações entre alunos, pais, es- BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é agógica. Porto Alegre: Artmed, Ano V nº
de conceitos e desenvolvendo metodolo- cola e comunidade. Um bom projeto escolar, educação. São Paulo: Brasiliense, 1985. 19 novembro 2001/janeiro 2002. 26- 29p
gias que articule as diversas ciências: exatas, uma boa organização, uma boa prática ped-
naturais e sociais. O papel do educador será agógica são essenciais para a realização de BRASIL. Constituição (1988). Constituição da
o de facilitador da exploração dos proces- um bom trabalho. A Educação Ambiental in- República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
sos que estão em contato com o meio am- fantil desenvolve a consciência ecológica e Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292p.
biente, onde afetam e como são afetados. promove assim, o desenvolvimento de uma
criança consciente de seus deveres e direitos; BRASIL. Ministério da Educação e do
CONSIDERAÇÕES FINAIS cidadãos realmente participativos. Desporto. Secretaria de Educação Fun-
damental. Referencial curricular nacion-
Este artigo mostra a importância de se tra- al para a educação infantil: conhecimento
balhar desde a Educação Infantil os conceitos de mundo. Brasília: MEC/SEF, v.03. 1998.
da Educação Ambiental. Espera-se que mais
cedo ou mais tarde, todos os educadores es- BRASIL. Secretaria de Educação Funda-
tejam envolvidos com a EA, pois irão perceber mental. Parâmetros curriculares nacio-
que este tipo de educação é um fortíssimo nais: introdução aos parâmetros curricu-
veículo e aliado para se alcançar o desenvolvi- lares nacionais / Secretaria de Educação
mento social de cada indivíduo. Para que o Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.
professor possa traçar estratégias de trabalho
com Educação Ambiental na Educação Infan- CORSINO, Patrícia. "O cotidiano na Edu-
til, é importante conceituar bem essa fase, cação Infantil". In: Boletim 23. Ministério
que corresponde à educação oferecida do ALESSANDRA PIRES da Educação. Secretaria de Edu-
nascimento até e os seis anos de idade; pois cação a Distância, novembro de 2006
cada período tem a sua especificidade. Graduação em Pedagogia pela Univer-
sidade Nove de Julho (2016); Bacharel em DIAS, G. F. Educação Ambiental – Princípios
Durante a escolarização, haverá momentos Ciências Biológicas pela Universidade Gua- e práticas. 7 ed. São Paulo: Gaia, 2001. 551p.
de ação (ex: brincadeiras) e de concentração, rulhos (2007); Graduação em Ciências Bi-
mas o importante é que todas as situações de ológicas pela Universidade Guarulhos FREIRE, P. Pedagogia do Oprimi-
ensino sejam interessantes, bem preparadas e (2005). Professora de Educação Infantil (CEI do. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
direcionadas, favorecendo o desenvolvimen- Jardim Japão) da Prefeitura de São Paulo.
to em todos os seus aspectos: físico, psíquico, REIGOTA, M. O que é Educação Am-
cognitivo e social. biental. São Paulo: Brasiliense, 1994.

O trabalho da Educação Ambiental deverá REIGOTA, M. O que é educação am-


estar pautado na realidade sócio cultural, biental. São Paulo: Brasiliense, 2009.
procurando sempre despertar a autonomia,
criticidade, curiosidade e responsabilidade. VELASCO, L. Como entender a educação am-

468 469
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
um sistema opressor para que o país progre-
Implantada no dia 1º de abril de 1964, a Dit- disse. Para isso, os formuladores dos métodos
adura Militar contou com o apoio de pessoas disciplinares defendiam que era necessário o
e, também, de entidades da sociedade civil, de docente fazer com que seu alunado vislum-
órgãos que representavam o poder econômi- bra se o esplendor da pátria, desenvolven-
co, de relevantes órgãos de comunicação de do seu amor por ela. Isso, para os militares,
massa que, à época, declararam-se liberais e dar-se-ia na medida em que os meios didáti-
de uma parte relativamente considerável dos cos e as informações pertinentes aos ques-
que compunham a hierarquia católica. O golpe tionamentos da estrutura organizacional do
teve como justificativa a alegação de que uma país limitassem a capacidade de reflexão e
ameaça comunista existia no Brasil. Concer- contestação da população. Assim, fez-se uma
nente ao ensino de História, cabe ressaltar reorganização do ensino de História para
que sua trajetória ao longo dos anos sempre que se garantisse serem os conteúdos estu-
foi marcada pela intervenção do Estado que dados não comprometedores do programa
tentava interferir no ensino da matéria. Um político do governo e que os docentes fos-
clássico exemplo ocorreu ao final da Segunda sem formados de acordo com as novas dire-
O ENSINO DE HISTÓRIA DURANTE O PERÍODO DA DITADURA Guerra Mundial, em que se proibiu o ensino trizes curriculares cuja práxis era a repressão
MILITAR NO BRASIL de História nos países que perderam a guerra. e o distanciamento da reflexão histórica.

De acordo com LAVILLE (1999, p. 130), “a A meta principal dessas reformas curricu-
Resumo: Este artigo tem por objetivo fazer uma reflexão acerca do ensino de História no Brasil no história é certamente a única disciplina esco- lares impostas pela ditadura era reorganizar o
período da Ditadura Militar (1964-1985), levando em consideração sua dinâmica social, bem como lar que recebe intervenções diretas dos altos sistema educacional vigente, pois os militares
política no referido contexto. Nossa proposta consiste em discutir as implicações da Ditadura Militar dirigentes e a consideração ativa dos parla- defendiam que tal sistema era ultrapassado
no que tange ao ensino de História, tendo em vista que os militares, ao assumirem o governo, im- mentares. Isso mostra quão importante é e nada produtivo, criando mentes subversiv-
puseram uma longa e sofrível agonia do poder civil. Tendo iniciado em 1964, tal regime fez com que ela para o poder”. A relação existente entre as e perigosas à sociedade. O pós-64 visava
pessoas com maior senso crítico começassem a ser perseguidas constantemente e de forma trucu- passado, presente e futuro é importantíssi- alinhar o ensino de História ao um modelo
lenta, dentre elas, estavam os professores que ministravam a disciplina de História. Estes tiveram de ma no âmbito histórico e, portanto, “pensar centralizador e a uma ideologia defendida
enfrentar limitações no exercício de seu trabalho, uma vez que a disciplina de História está intrinse- o ensino de História na sua historicidade sig- pelo então atual poder político do Estado.
camente ligada aos acontecimentos relacionados à política do país. Esses docentes são responsáveis nifica buscar, se não soluções definitivas, ao
não apenas pela difusão dos acontecimentos políticos em sala de aula, mas também, por construir o menos uma compreensão mais clara sobre o O ENSINO DE HISTÓRIA NO
rol dos conteúdos didáticos que futuramente constituem os livros de História, bem como da pesqui- que significa, hoje, ensinar História nas esco- REGIME MILITAR: A EDUCAÇÃO
sa científica que visa não apenas abordar, mas trazer à tona a reflexão acerca dos acontecimentos las” (FONSECA, 2006, p. 07). É esperado que PARA A OPRESSÃO
históricos. O professor de História, dessa forma, constituiu um grande inimigo do Regime Militar bra- o docente de História domine os aspectos
sileiro, sofrendo limitações à época ao ministrar suas aulas. Eram constantemente vigiados, tendo sua teóricos e metodológicos da disciplina, bem A caracterização da Ditadura Militar bra-
disciplina reduzida e incorporada à Educação Moral e Cívica no Ensino Básico, por exemplo. Neste como conheça a história da disciplina que le- sileira não constitui uma tarefa fácil, vis-
artigo, o estudo será restrito ao ensino de História no Ensino Básico. ciona. Faz-se necessário, assim, abordar a fi- to que teve fases e faces. De acordo com o
nalidade das disciplinas de Educação Moral historiador NAPOLITANO (2014, p. 20), a
e Cívica nas escolas: elas visavam incutir nos censura não era tão rigorosa e o terror do
Palavras-chave: Ditadura Militar; Ensino de História; Prática docente; OSPB. futuros cidadãos os princípios propagados Estado contra quem a este se opunha quan-
pelo Regime Militar com a justificativa de que to o foi a partir do Ato Institucional número
o país necessitava de pessoas “moldadas” a 5, de dezembro de 1968. O foco do regime

470 471
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

militar passou, com o AI-5, a ter como tôni- dos Unidos. Estes, não bem-intencionados, ordeiros e subservientes. Havia uma grande e, também, à comunidade; o preparo do ci-
ca: perseguições, cerceamento da liberdade, tinham os governos militares latino ameri- produção de material histórico nas univer- dadão para exercer atividades cívicas funda-
cassações, mortes, censura, embora a re- canos como elementos que garantiriam os sidades, mesmo com todas as tentativas de mentado na moral, nos bons costumes, no
sistência contra esses malefícios também interesses capitalistas da América do Norte burlar a pesquisa e coibir os docentes-pesqui- patriotismo tendo como foco o bem comum.
fosse algo forte à época. No que diz respeito a fim de coibir a disseminação dos ideais sadores. Esse material tinha como foco, além A introdução dessa disciplina significou a
à Educação, cabe salientar, conforme ressalta comunistas, como bem salienta SILVEIRA de métodos de análise, temáticas renovadas, imposição da ideologia da ditadura: diminuir
GHIRALDELLI JUNIOR (2015, p. 146-147): (2009, p. 64-65). O referido autor destaca tais como a escravidão, a economia do Bra- o senso crítico e a consciência política da
que por meio dos convênios feitos a partir sil colônia, o papel da classe trabalhadora, situação da época, reforçada pela retirada da
Foi pautado em termos educacionais pela repressão, privat- de 1964 entre o Ministério da Educação dos camponeses e das mulheres. Com a im- Filosofia e pela diminuição da carga horária
ização do ensino, exclusão de boa parcela dos setores mais e Cultura (MEC) e a United States Agency posição ditatorial à educação, esse material das disciplinas de História e de Geografia,
pobres de ensino elementar de boa qualidade, instituciona-
lização do ensino profissionalizante na rede pública regular
for International Development (USAID) – historiográfico rico em análises não chegava como bem destaca VEDANA (1997, p. 54).
sem qualquer arranjo prévio para tal, divulgação de uma agência de desenvolvimento norte-ameri- aos estudantes de Primeiro e Segundo Graus,
pedagogia calcada mais em técnicas do que em propósit- cana – houve oferta de apoio técnico e fi- ficando restrita ao âmbito universitário. Os Para os militares, os brasileiros haviam
os com fins abertos e discutíveis, tentativas variadas de nanceiro aos países que fizessem a adesão militares entenderam que se fazia necessar- relegado o patriotismo ao esquecimento e,
desmobilização do magistério através de abundante e con-
fusa legislação educacional. (JUNIOR 2015, p. 146-147)
aos princípios políticos e educacionais en- iamente urgente um maior controle sobre o por isso, queriam impor uma nova cultura
gendrados por essa agência. O golpe de sistema educacional para que as inovações escolar com o pretexto de reavivar o espíri-
Consistia, assim, numa educação de 1964 foi primordial para que este apoio e as pesquisas universitárias não chegassem to patriótico. Assim, o Estado usou a escola
caráter tecnicista, voltada para a não criti- norte-americano fosse ampliado significati- ao povo. Assim, foi criada a Lei 5.540/68 cuja para manter o controle da sociedade. Nesta
cidade, ao não desenvolvimento do aluna- vamente: um número considerável de espe- base eram os interesses do regime ditatorial perspectiva, os livros didáticos eram analisa-
do como cidadão consciente de seu poder cialistas norte-americanos vieram ao Brasil, estabelecido. Essa lei acarretou numa série de dos levando em conta os propósitos que os
de mudança através do estudo e do apro- bem como técnicos do MEC foram aos Es- medidas que mudaram em muitos aspectos dirigentes do governo queriam para a Ed-
fundamento de pesquisas. Dessa forma, a tados Unidos para receberem treinamento. as políticas educacionais, pois, através dela, ucação Moral e Cívica. Os livros deveriam
escola era tida como um espaço em que os Para fundamentar esses acordos, usou-se a historiografia foi repensada, como bem sa- conter os aspectos da vida social e, em seus
governos militares divulgavam sua ideo- como premissa o discurso da modernização lientam SCHIMIDT e CAIINEL (2004, p.11). capítulos, sempre havia a premissa de inter-
logia. Para FILGUEIRAS (2008, p. 84-85), educacional na perspectiva capitalista. ferir tanto nos valores e comportamentos dos
Idealizava-se, no período do Regime Militar, cidadãos quanto nas questões relacionadas
Os muitos acordos firmados entre o MEC e a USAID no
A concepção de educação do regime militar estava cen-
Brasil, assinados dentro desse espírito de ajuda, inseridos
que a Educação tivesse como meta o desen- à política. Os comportamentos deveriam ser
trada na formação de capital humano, em atendimen-
to às necessidades do mercado e da produção. A es- numa política de boa vizinhança, trouxeram como resul- volvimento econômico mediante o controle da moldados de acordo com o que o Regime
cola era considerada uma das grandes difusoras da tado concreto para educação uma transformação radical, Segurança Nacional. FONSECA (1993, p. 25) Militar impunha. Era de praxe formar ideais
nova mentalidade a ser inculcada – da formação de qual seja, a unificação do ensino primário ao ginásio e a afirma que isso firmava-se na ordem política favoráveis ao processo político em curso e,
profissionalização do colégio (SILVEIRA, 2009, p.64-65).
um espírito nacional. (FILGUEIRAS 2008, p. 84-85). tendo como base os propósitos do poder que por isso, a disciplina de História constituía
E o que aconteceu com a disciplina de agia para controlar e reprimir os pensamen- um perigo nas escolas, uma vez que se bus-
A ênfase, portanto, era formar mão de obra tos, bem como as opiniões dos cidadãos a fim cava convencer o alunado de que os militares
qualificada para o trabalho tendo como lema: História no Regime Militar? À tal disci-
plina foi negada a condição de disciplina de inibir qualquer possibilidade de resistên- eram os salvadores da pátria, os únicos que
“Brasil, ame-o ou deixe-o”, pois se acredita- cia ao regime militar e ao seu autoritarismo. detinham a capacidade de promover uma
va que se fazia necessário inserir o país no autônoma, sendo retirada do currículo do
Primeiro Grau e substituída pelos Estudos suposta forma de democracia, na qual não
cenário político e econômico então vigente: o Da disciplina de Educação Moral e Cívica haveria chances para contestações quaisquer.
capitalismo internacional. Com esse propósi- Sociais, ao mesmo tempo em que foi rele- constavam várias finalidades, dentre elas as
to, uma das áreas mais afetadas foi a das Ciên- gada a uma única série no Segundo Grau. seguintes: fortalecimento da unidade nacion- Cabe ressaltar, segundo HELFER e LENSKIJ
cias Humanas. No tocante às escolas, cabe al e do sentimento de solidariedade humana; (2000), que era evidente que a proposta da
ressaltar que tais não foram estruturadas para Para NADAI (1993, p. 157-158), implan- aprimoramento do caráter cujo apoio seria
tou-se à disciplina de História uma função disciplina de Estudos Sociais tinha como ob-
cumprir essa função. O que estava em voga à a moral no que tangia à dedicação à família jetivo moldar o indivíduo à ordem, como, tam-
época era a aproximação maior com os Esta- específica: formar indivíduos obedientes,

472 473
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

bém, desenvolver nos discentes uma postura taduais e Câmaras Municipais; cassar manda- às diretrizes de desenvolvimento do governo. o profissional que se formava na Licenciatura
submissa, acomodada, resignada, resultando tos de parlamentares; suspender por 10 anos Curta em Estudos Sociais era visto pelo gov-
em indivíduos que simplesmente contemplar- os direitos políticos de qualquer cidadão; Conforme ressalta SCHWARCZ e STAR- erno como apto a “atender aos objetivos do
iam a realidade sem nela poder intervir para demitir, remover ou disponibilizar funcionári- LING (2015, p. 453), a população média ur- Estado, aos ideais de Segurança Nacional do
contribuir como sujeito da construção do pro- os federais, estaduais e municipais; demitir bana se viu beneficiada com a facilidade de que um outro profissional oriundo de um cur-
cesso histórico, bem como de conhecimento. ou remover juízes; suspender as garantias crédito, podendo adquirir automóveis, apa- so de licenciatura plena em História, apesar
do Poder Judiciário; decretar estado de sítio relhos de televisão, dentre outros: “para com- das limitações deste”. O resultado disso foi
Forjou-se, assim, a concepção de que o sem qualquer impedimento; confiscar bens pletar a felicidade do brasileiro, ainda existia a a influência no âmbito escolar, que passou a
Brasil estava caminhando para um futuro como forma de punir por atos corruptos; sus- possibilidade de o assalariado finalmente ‘dar contar com professores mal formados que não
promissor, mas que isso dependia da união pensão de habeas-corpus em casos de crimes o salto da casa própria’ e comprar o imóvel ministravam aulas de qualidade. Eram profis-
de todos e, diante disso, o conhecimento contra a segurança nacional; julgamentos de financiado pelo recém-criado Banco Nacion- sionais que não detinham os fundamentos
histórico foi mobilizado a fim de formar ci- crimes políticos por tribunais militares; leg- al de Habitação (BNH)”. Destarte, o controle básicos da História, não conseguindo incenti-
dadãos de acordo com o regime militar. Em islar por decreto e expedir outros atos insti- que a ditadura exercia na sociedade, mais es- var o pensar e refletir a História e nem ajudar
1971, com o advento da Lei nº 5.692, houve tucionais ou complementares; proibir exame, pecificamente no governo Médici, foi favore- no desenvolvimento do pensamento autôno-
inúmeras mudanças na esfera educacional. pelo Poder Judiciário, de recursos impetrados cido pelo crescimento econômico, bem como mo dos alunos, uma vez que os conteúdos
por indivíduos acusados por meio do AI-5. pela estrutura propagandista de forte cunho, referentes à História, englobados na matéria
FONSECA (2003) destaca que o ensino de abafando a diluição da disciplina de História de Estudos Sociais, mostravam uma perspec-
1ª a 8ª série passou a ser chamado de 1º Grau Este Ato Institucional fragiliza mais ainda e ocasionando uma situação complicada tiva política da História de forma substancial.
e o ensino de 2º Grau teve como foco a for- os poderes Legislativo e Judiciário, vigoran- para os professores da referida matéria, que
mação profissional dos discentes. Tais transfor- do durante os governos de Médici e Geisel. sofreram uma fragilização profissional pro- O ensino consistia em decorar datas e fa-
mações visavam o ideário militar: a segurança Médici, ao assumir a presidência em outubro funda. FONSECA (2003, p 63) ressalta que: tos marcantes, utilizando o conhecimento
nacional, o ensino tecnicista e a formação de 1969, valeu-se terminantemente dos po- histórico para elevar grandes personagens
O governo, como demonstrou o quadro anterior, detém a
cívica. Foi com a referida Lei que a disciplina deres constituídos após o AI-5, aumentando a função planejadora e os professores vão paulatinamente
históricos como exemplos a serem venerados
de História perdeu sua autonomia, passan- repressão contra os grupos que lutavam con- sendo desapropriados de sua função criadora. O proces- e seguidos. Isso resultou na desvalorização
do a integrar a disciplina de Estudos Sociais. tra o Regime Militar. Foi em seu governo (em so de desqualificação do professor, estrategicamente co- de certos grupos étnicos e sociais que foram
1971) que se criou a referida Lei nº 5.692, aci- locado pelo Estado, retira daquele profissional a função de praticamente esquecidos no rol dos conteú-
pensar. Para que ensinar; a quem ensinar; como ensinar
De acordo com VIANA (2014), somente em ma citada, a qual afetou bruscamente o ensino e quando ensinar: autoritariamente, estas questões pas-
dos abordados pela disciplina de Estudos So-
1986, com o parecer 785/ 1986 do Conselho de História e toda a organização educacional. sam a ser respondidas pelos especialistas, alheios ao pro- ciais. FONSECA (2003, p. 28) destaca que se
Federal de Educação, a disciplina de História Trata-se de um período de grande censura e, cesso de ensino/aprendizagem. (FONSECA, 2003, p 63) tratavam de conteúdos sem especificidades
voltou a ter sua autonomia, como também a como afirma VIEIRA (1994. p. 36), “jornais e re- do conhecimento histórico, abarcando con-
de Geografia. Vale destacar que o ordena- vistas tinham de registrar-se na Polícia Federal, teúdos generalizantes. Assim, o processo de
mento jurídico que acabou com a autonomia além de obedecer a uma série de exigências”. Essa situação foi agravada quando o ensino-aprendizagem cultivava apenas uma
das disciplinas de História e Geografia acon- Ministério da Educação, em 1976, config- dimensão reprodutora (o que não diferia mui-
teceu num contexto de repressão marcante VIANA (2014) ressalta que, mesmo diante urou uma portaria que permitia somente aos to do que se vinha desenvolvendo no ensino
e forte, embora houvesse um crescimento de tanto autoritarismo e repressão, havia um licenciados em Estudos Sociais darem aulas de História antes mesmo da Ditadura Militar).
econômico no país. Ao término de 1968, o clima eufórico por parte da população, uma vez de História, excluindo, dessa maneira, os pro-
então presidente Costa e Silva, ao assinar o que o país crescia economicamente: o afamado fessores formados em História do Ensino de Trata-se, aqui, de um método de ensino
AI-5, concentrou ainda mais o poder o pod- milagre econômico que impactou nos campos 1º Grau. Estes passaram a ministrar as pou- mecânico cujo objetivo não traz sentido e
er nas mãos do presidente. De acordo com referentes ao emprego, à urbanização e cul- quíssimas aulas que restaram no 2º Grau. nem significado algum para os estudantes,
VIEIRA (1994, p. 27) eram estes os poderes: tura do país. Entretanto, isso gerou omissão, pois o objetivo era dissolver o conhecimen-
fechar o Congresso Nacional, assembleias es- adesão e apoio de grande parte da população FONSECA (2003, p. 28) ainda adverte que to histórico no âmbito escolar a fim de que

474 475
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

se evitasse a formação cidadã do alunado. ciplina acadêmica que fornecesse suporte para configu- educação como fator de desenvolvimento to, era desnecessária uma formação longa e
ração dos conhecimentos, a OSPB agia, juntamente com a
Assim, a História esteve a serviço do Esta- foi percebido desde o início da implantação sólida em determinadas áreas profissionais.
EMC, com uma característica muito mais prescritiva que os
do para justificar o projeto deste. Durante a demais conteúdos escolares, uma vez que seus princípios do novo regime, isso não foi demonstrado,
ditadura, portanto, a escola perdeu a autono- eram especialmente os de promover o entendimento da pelo menos em toda sua plenitude, senão a Para NODA (1998, p. 24), esses cursos
mia, perdeu sua essência primordial, uma vez ordem social e do organograma estatal. Dentre os seus começar em 1968”. A autora também desta- de curta duração objetivavam a resolução
conteúdos, destacam-se as definições dos três Poderes
que cabia aos docentes apenas reproduzirem ca que o sistema educacional foi marcado por de dois problemas: “possibilitou o aumen-
brasileiros – o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, a or-
as diretrizes oriundas dos órgãos superiores. ganização administrativa do Estado, o conceito de partici- dois momentos desde 1964. No que tange ao to da oferta de vagas para o ensino superi-
pação, de comunidade, de sociedade. E, embora, por vezes, primeiro, houve a implementação do regime e or” e “proporcionar uma formação voltada
Como bem destaca ALMEIDA NETO seu conteúdo se confunde com o de EMC, ela pode ser a preocupação com a reestruturação no âm- para a demanda de mercado, propiciando
considerada uma disciplina muito mais racional e técnica,
(2014), outras matérias foram criadas para bito econômico. Ademais, mesmo com a re- também um controle maior sobre que profis-
bastante pertinente para o modelo curricular que se esta-
ministrar os conteúdos da disciplina de beleceu durante a ditadura, que abraça o tecnicismo como pressão que marcava essa fase, houve “uma sional se produz”. Dessa maneira, durante o
História: a Educação Moral e Cívica, con- matriz curricular e pedagógica (MARTINS, 2014, p.45). aceleração do ritmo do crescimento da de- regime militar, houve um rígido controle so-
forme já foi citado acima, e a disciplina Or- manda do sistema educacional, o que provo- bre a Educação, principalmente no que diz
ganização Social e Política Brasileira (OSPB), Entretanto, mesmo com a implantação cou, consequentemente, um agravamento da respeito às áreas das Ciências Humanas,
criada em 1962. Ambas objetivavam incutir dos ideais moralizadores e disciplinadores crise do sistema educacional” (ROMANEL- destacando-se a Geografia e a História.
valores propagados pela ditadura militar. na Educação brasileira, existiram resistên- LI, 1980, p. 196). O segundo momento, por
FILGUEIRAS (2008, p. 84) refere-se à criação cias, pois, como bem destaca FONSECA sua vez, teve seu início marcado por medidas NODA (1998, p. 25) afir-
da EMC cuja justificativa era “construir um (2003, p. 40), “o controle e a dominação práticas tomadas pelo governo vigente a fim ma que, com os Estudos Sociais, foi
ideário patriótico, com uma nação forte, não se fazem de forma absoluta”. É sabi- de afrontar a crise e sua consolidação ocorreu “percebendo-se a influência dos Estados Uni-
que ressalta os valores da moral, da família, do que muitos docentes de História criaram “depois no delineamento de uma política de dos no projeto da educação brasileira, pois
da religião/fé e da defesa da Pátria e incul- estratégias para não reproduzir os ideais da educação que já via apenas na urgência de se fora importado de lá o modelo adotado”. Esta
car valores anticomunistas nos jovens e cri- ditadura, buscando novos temas e metodolo- resolverem problemas imediatos, ditados pela junção resultou numa irregularidade entre os
anças”. Dessa forma, as desigualdades eram gias, bem como livros, jornais, revistas a fim crise, o motivo único para reformar o siste- professores, principalmente no que diz res-
ocultadas em nome do alavancamento da de produzirem uma nova forma de ensino. ma educacional” (ROMANELLI, 1980, p. 196). peito à forma e aos conteúdos que deveriam
pátria – a grande nação que era maior que to- ser ministrados. Não havia apenas o controle
dos. MARTINS (2014, p. 44) assevera que CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesse contexto, o alvo da Educação con- sobre a formação profissional, mas também,
OSPB não era uma disciplina, mas uma for- sistiria em formar mão de obra para o setor muitas restrições ao que se podia ensinar e
ma de doutrina difusora dos ideais do Esta- Em 1964, o governo vigente tinha como industrial, contradizendo o princípio pri- como ensinar. Isso impossibilitou uma análise
do, pois tal disciplina primava por apresentar meta diferentes objetivos e, dentre eles, es- mordial da Educação: o de formar indivídu- crítica dos acontecimentos da época: “O
as estruturas administrativas, bem como os tava o de transformar o Brasil em um país os questionadores, críticos que pudes- novo curso de Estudos Sociais tornou-se re-
princípios institucionais do Estado ditador. progressista e desenvolvido. Assim, os gover- sem contestar os desmandos do governo e sponsável pela formação do professor repro-
Dessa forma, “a disciplina de OSPB deveria nantes notaram que para atingir tal propósi- transformar a sociedade. “Dentro do pro- dutor das ideias do Estado, de preferência, um
compor a parte complementar do currícu- to, seria necessário aumentar o grau de es- jeto educacional do governo, não caberia professor que traduzia, a seus alunos em sala
lo, presente apenas em algumas das séries colaridade da população. Portanto, “dada a um profissional autônomo, com um supos- de aula, o discurso militar” (NODA, 1998, p.28).
do 1º e 2º graus, e surgir como equivalente importância que a educação estava assu- to domínio do saber” (NODA, 1998, p. 26).
a um estudo da realidade social e políti- mindo [...] o governo deu-se conta da ne- A História passou a servir como justifi-
ca brasileiras” (MARTINS, 2014, p.44). O cessidade de um maior controle sobre o Como bem salienta FONSECA (1993, p. 08), cadora do sistema governamental vigente,
referido autor também afirma que essa dis- sistema educacional” (PRIORI, 2004, p.06). a formação pois terá a sua estrutura de ensino voltada
ciplina era uma legitimadora das estrutu- das licenciaturas curtas que reestruturaram o para atender as bases ideológicas dos mil-
ras, das ações e dos desmandos do Estado: No entanto, como bem salienta RO- Ensino Superior visavam atender as carências itares obtendo respostas isoladas e total-
MANELLI (1980, p. 196), “se o significado da do mercado. Para o Estado, naquele momen- mente descontextualizadas, impedindo as-
Em sua característica meramente escolar, e sem uma dis-

476 477
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

sim uma reflexão mais crítica, visto que Ensino de História. In: LENSKIJ, Tatia-
o homem comum não era visto como um REFERÊNCIAS na et al. (Org.). A Memória e o Ensino de SCHWARCZ, Lilia. M.; STARLING, Hel-
ser participante da construção históri- História. Santa Cruz do Sul: EDUNISC; São- oisa M. Brasil: uma biografia. São Pau-
ca a qual estava inserido. (PRIORI, p.03) Leopoldo: ANPUH/RS, 2000. P. 53- 96. lo: Companhia das Letras, 2015.
A ditadura militar mostrou-se mais in- ALMEIDA NETO, Almeida Simplício de. Cul-
tensa nas cidades do Rio de Janeiro, São tura escolar e ensino de história em tempos HILSDORF, Maria Lucia Spedo. História da Ed- SILVEIRA, Marise. da. Escolas, ensino de
Paulo e Brasília, embora outras cidades de ditadura militar brasileira. OPSIS, Catalão- ucação Brasileira. São Paulo: Thompson, 2005. história e identidades em tempos de dit-
também tenham sofrido, mesmo que em GO, v. 14, n. 2, p.56-76, jul./dez. 2014. adura militar. 2009. 157 f. Tese (Douto-
menor grau, com os atos repressivos do re- LAVILLE, Christian. A guerra das narrati- rado em História) – Universidade Federal
gime militar. No entanto, a sociedade foi, BITTENCOURT, Circe Maria Fer- vas: debates e ilusões em torno do ensino do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2009.
aos poucos, percebendo que a revolução nandes. Ensino de história: fundamen- de História. Revista Brasileira de História,
apregoada não tinha caráter democrático tos e métodos. 3. ed. São Paulo: Cortez, São Paulo, v.19, n.38, p. 125-138, 1999. TAVARES, Camilo; TAVARES, Flávio.
quanto prometera. Isso fez com que, len- 2009. (Coleção docência em formação). O dia que durou 21 anos. Bra-
tamente, a população fosse se desencan- MARTINS, Maria do Carmo. A História Pre- sil, 2012, Documentário, Histórico.
tando com o regime. FICO (2004, p. 56) BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases de Edu- scrita e Disciplinada nos Currículos Esco-
deixa um aviso para as futuras gerações: cação Nacional. Lei nº 5692, de 11 de agosto lares: quem legitima esses saberes? Campi- VEDANA, Léa Maria. A educação
“que uma tal conjunção de fatores adver- de 1971. Pedagogia em foco. nas, 2002. Tese (Doutorado em Educação) em SC nos anos 60. Esboços. Flori-
sos – esperamos todos – jamais se repita” 2019. – Programa de Pós-Graduação em Edu- anópolis. v. 5,n 5, dez. 1997. p. 39-47
cação, Faculdade de Educação, Universidade
FERREIRA, Jorge. O governo Goulart e o Estadual de Campinas, Campinas, 2002. VIANA, Iêda. O ensino de história na dit-
golpe civil - militar de 1964. In: FERREIRA, adura civil-militar com a institucionalização
Jorge e DELGADO, Lucilia de MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Man- dos estudos sociais. PLURAL, Revista do
Almeida (orgs.) 2019. ual de História Oral. São Pau- Programa de Pós-Graduação em Sociolo-
lo: Edições Loyola, 1996, 4ªed gia da USP, São Paulo, v.21.1, p. 9-30, 2014.
FILGUEIRAS, Juliana Miranda. A produção
didática de educação moral e cívica: 1970- NADAI, Elza. A escola pública contemporânea: VIEIRA, Evaldo. A república brasileira:
1993. Cadernos de Pesquisa: Pensamento os currículos oficiais de história e o ensino 1964- 1984. São Paulo: Moderna, 1994.
educacional, Curitiba, v. 3, p. 81-97, 2008. temático. São Paulo: V.6, nº 11, set. 1984.
FONSECA, Selva Guimarães. Caminhos da
LEILA ISABELITA PEREIRA FER- história ensinada. Campinas: Papirus, 1993.
NAPOLITANO, Marcos. 1964:
REIRA DE OLIVEIRA História do regime militar brasile-
iro. São Paulo: Contexto, 2014.
Graduação em Letras pela Faculdade de Filoso- FONTES, Virgínia. Capitalismo, exclusões e NODA, Marisa. Lembranças da Dit-
fia, Letras e Ciências Humanas da USP (2005); inclusão forçada. Revista Tempo, vol. 2, n. 3. adura - Londrina 1968 - 1979.
Mestre em Letras pela Faculdade de Filosofia, Rio, Relume Dumará/Depto. História da Univ.
Letras e Ciências Humanas da USP (2009); Pro- Federal Fluminense. Junho de 2006. p. 58. ROMANELLI, Otaiza de Oliveira. His-
fessora de Ensino Fundamental II e Médio- Lín-
gua Portuguesa - na EMEFM Professor Derville toria da educação no brasil: 1930 -
GHIRALDELLIJUNIOR, Paulo. História da edu- 1973. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1980.
Allegretti, Professora de Ensino Fundamental II
e Médio – Língua Portuguesa - na EMEFM Ver-
cação brasileira. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2015.
eador Antônio Sampaio. SCHIMIDT, Maria A. e CAIINEL, Marlene.
HELFER, Nadir Emma. A Memória do Ensinar história. São Paulo: Scipione, 2004.

478 479
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO do tema, com seus riscos e consequências.


Os programas educativos e as políticas
sobre meio ambiente e educação ambiental
A Educação Ambiental pode ser entendida devem integrar a realidade do meio social
como um processo de reconhecimento de no qual estão inseridos, desta maneira, a
valores e conceitos, cujo objetivo principal educação ambiental tem seu caráter crítico
é desenvolver habilidades e conhecimentos e formador, se tornando um ato político
e novas atitudes ao relacionar-se com o voltado para a transformação da sociedade.
ambiente. O papel da escola é contribuir
para o entendimento sobre este tema Na educação infantil, o trabalho efetiva-
promovendo o ensino e aprendizagem de se para propiciar a criança o contato com o
maneira significativa, com a participação mundo letrado e a oportunidade de participar
de todos. Esta pesquisa traz como de situações que sejam mediadas pela escrita
tema principal as práticas em Educação e leitura, é fundamental, especialmente para
Ambiental e alguns aspectos sobre a aquelas crianças que demonstram ter menos
legislação em meio ambiente no contexto oportunidade de acesso a estes materiais e
de aprendizagem da Educação Infantil. situações. O lúdico nas práticas relacionadas
PRÁTICAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS DIFERENTES ao ensino da Educação Ambiental deve
CONTEXTOS DE APRENDIZAGEM A escola se constitui em um ambiente prever meios para que as aprendizagens
propício para a formação de novas condutas sejam significativas e a ludicidade esteja
RESUMO: Este artigo trata das concepções e conceitos que envolvem as práticas em Educação e práticas voltadas a conscientização social e no contexto das relações e nas questões
Ambiental nos diferentes contextos de aprendizagem. Dentro desse tema, o objetivo deste ao exercício da cidadania em seus diferentes abordadas sobre o tema, neste sentido
trabalho é apresentar os aspectos fundamentais do trabalho com este tema na Educação aspectos, neste sentido o trabalho com temos o aprendizado por intermédio de
Infantil, abordando as questões fundamentais e a sua abordagem no processo de ensino e a educação ambiental no âmbito escolar atividades que envolvem a riqueza do lúdico.
aprendizagem. Além destes aspectos esta pesquisa aborda alguns aspectos da legislação deve prever ações que promovam a
referente ao tema em questão. É necessário encontrar meios para o trabalho com a Educação formação de novas atitudes, de novos A LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL EM
Ambiental na Escola na perspectiva da ludicidade e com o objetivo de conscientização e comportamentos e valores, por meio do MEIO AMBIENTE
melhoria nas práticas que permeiam a nosso convívio em sociedade. A criança pequena é aprendizado voltado às questões ambientais.
capaz de compreender tais conceitos e ampliar tais práticas por meio das experiências que Segundo Dias (2003) o Brasil é o único
Na sociedade atual é fundamental a país da América Latina que possui uma lei
vivenciam na educação infantil, contribuindo desta maneira para a formação de um aluno
mobilização e a motivação para que os nacional voltada para Educação Ambiental,
crítico e participativo nas questões relacionadas ao meio ambiente e a educação ambiental.
indivíduos sejam capazes de questionar as esta lei teve fundamento por meio das ações
Para relacionar as questões ambientais e a educação é necessário estudo e práticas que ações do governo com políticas públicas
contemplem a complexidade do tema, com seus riscos e consequências. Os programas de ambientalistas e de outros representantes
eficazes que envolvam o tema educação de organizações voltadas as questões
educativos e as políticas sobre meio ambiente e educação ambiental devem integrar a ambiental, sustentabilidade e inclusão social. ambientais. De acordo com o Referencial
realidade do meio social no qual estão inseridos, desta maneira, a educação ambiental tem Desta forma, o problema ambiental é um Curricular Nacional para a Educação Infantil
seu caráter crítico e formador, tornando um ato político voltado para a transformação da tema de extrema importância para reflexão (RCNEI, 1998) o trabalho a ser desenvolvido
sociedade. em relação das demandas da sociedade atual com crianças de zero a três anos, se inicia
e dos problemas gerados pelas questões com a observação e a exploração do meio,
Palavras-chave: Aprendizagem; Educação Ambiental; Práticas Pedagógicas. ambientais. Para relacionar as questões neste contexto a criança passa a adquirir os
ambientais e a educação é necessário estudo primeiros conhecimentos sobre respeito as
e práticas que contemplem a complexidade

480 481
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

pessoas e ao grupo social no qual está inserida. DE SUSTENTABILIDADE, BRASÍLIA, 2007, p. 19)
Entre os conteúdos do Referencial Na- protagonistas, envolvendo todas as pessoas
cional para a Educação Infantil (1998) está presentes no contexto escolar, funcionários,
[...] a Carta Magna instituiu a obrigatoriedade de promoção
o eixo Natureza e Sociedade, que trata dos pais e comunidade. Para a faixa etária de qua-
desse campo do conhecimento, abrindo as portas das A Política Nacional de Educação Ambiental
temas relacionados a educação ambiental, tro a cinco anos, o documento estabelece a
legislações estaduais e municipais que começam a legislar (Lei 9.795/99 - PNEA) traz em seu texto
sobre o assunto. Na teoria, isso gera comprometimento de apresentando algumas contribuições para organização de blocos de conteúdos para o
artigos sobre o tema e dentre eles se destaca
cada unidade escolar em trabalhar a Educação Ambiental. que se desenvolvam práticas de aprendiza- trabalho com a Natureza e Sociedade, estes
o artigo 10 com a seguinte redação: “A
Porém, na prática é difícil abrir espaço para essa tarefa,
gem voltadas ao tema. O enfoque do docu- conteúdos devem ser trabalhados de forma
muitas vezes, por falta de conhecimento da comunidade educação ambiental não deve ser implantada
mento aborda as práticas e conteúdos rela- ordenada e em conjunto, sem fragmentações,
escolar e ausência de políticas públicas na área. Não como disciplina específica no currículo de
basta promulgar uma lei para que ela alcance resultado. cionados a faixa etária da Educação Infantil. evitando a descontextualização, de modo a
ensino”, prevendo desta maneira que o
A sociedade tem que se envolver para que a norma Segundo o documento, os conteúdos rela- aprofundar os conhecimentos dos quais a cri-
tema meio ambiente deve ser trabalhado
produza seus efeitos. O papel da fiscalização também é
cionados às áreas das Ciências Humanas e ança já teve contato e ampliando a aprendiza-
essencial, pelo menos até que a lei seja de fato vivenciada nas escolas de maneira interdisciplinar,
Naturais, constituem o currículo Educação gem com a inserção de novos conhecimentos.
nos usos e costumes sociais. (PRUDENTE, 2013, p. 21) perpassando pelas diversas disciplinas
do currículo. Com esta Política Nacional Infantil, atuando em práticas diferenciadas.
A Lei n° 9.795 da Política Nacional da Ainda com base no Referencial, as práticas
ocorre o reforço em relação ao direito à
Educação Ambiental, trata em seu Artigo 9º: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS pedagógicas devem estar centradas, em bus-
Educação Ambiental, elencando objetivos e
PRÁTICAS ESCOLARES car aprendizagens significativas e relevantes
princípios a serem seguidos. O Decreto que
[...] os currículos das instituições tanto públicas para os alunos, o professor deve prever tais
regulamenta esta lei, detalha as atribuições
quanto privadas, devem visar a prática de Educação
A construção do pensamento se desen- práticas a fim de propiciar ao aluno ativi-
Ambiental, iniciando pela educação básica: Educação e competências para o trabalho com o tema
volve desde os primeiros anos de existência dades que contribuam para a sua formação
Infantil, Ensino Fundamental, e Ensino Médio, se e cria o órgão responsável para coordenar
estendendo para Educação Superior, Educação Especial, do ser humano, desta maneira, a Educação In- e conscientização neste sentido. Nesse con-
a Política Nacional de Educação Ambiental.
Educação Profissional e Educação de Jovens e Adultos. fantil tem uma fundamental importância com texto, nada mais importante que iniciar um
o intuito de propiciar aprendizagens significa- trabalho de conscientização ambiental na
Em 1988, com a promulgação da
tivas. Quanto mais a criança tem a oportuni- Educação Infantil, por meio de práticas difer-
Na esfera do Ministério de Educação Constituição Federal, passa a ser exigida
dade de interagir com os seus pares e com enciadas previstas no currículo e no Projeto
e Cultura em 1996, várias ações foram baseada em lei, e deve ser garantida pelos
o meio que a cerca, melhor será a sua com- Político Pedagógico da escola. As crianças,
implementadas podemos destacar a criação governos, estados e municípios. Segundo o
preensão de todo o processo que envolve as desde bem pequenas, são capazes de con-
de cursos de capacitação e a criação de art.3º, a Educação Ambiental é incumbência
questões ambientais, que interferem direta- struir relações de respeito e conscientização
parcerias no intuito de distribuir os materiais do poder público, das instituições
mente na qualidade de vida das pessoas em sobre o meio ambiente e propagar tais práti-
didáticos. Com os Parâmetros Curriculares educativas, dos órgãos integrantes do
determinado contexto ou sociedade. A real- cas em seu meio. Na infância devem ser
Nacionais (1997) surgiram diferentes Sistema Nacional de Meio Ambiente, dos
ização de projetos que abarque tal temática abordados tais assuntos para propiciar novos
elementos para auxiliar nas práticas escolares meios de comunicação de massa, empresas,
contribui para a problematização do assunto conhecimentos e garantir a formação de fu-
voltadas ao tema meio ambiente, de maneira entidades de classe, instituições públicas
e para o processo de ensino e aprendizagem. turos cidadãos conscientes de seu papel di-
transversal nos currículos escolares. e privadas, e da sociedade como um todo.
ante dos novos desafios da sociedade atual.
De acordo com as Diretrizes Curriculares
Na LDB existem poucas menções à Educação Ambiental. Nacionais para a Educação Ambiental, ematização do assunto e para o pro-
A referência é feita no artigo 32, inciso II, segundo o qual cesso de ensino e aprendizagem. A Educação Ambiental pode ser entendi-
temos que a Educação Ambiental é:
se exige, para o Ensino Fundamental, a “compreensão Toda prática pedagógica só terá sucesso da como um processo de reconhecimento de
ambiental natural e social do sistema político, da
[...] uma dimensão da educação, é atividade intencional se for bem planejada e com propostas bem valores e conceitos, cujo objetivo principal é
tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta
a sociedade”; e no artigo 36, § 1º, segundo o qual os
da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento definidas, englobando as diferentes áreas de desenvolver habilidades e conhecimentos e
currículos do ensino fundamental e médio “devem abranger,
individual um caráter social em sua relação com a natureza
conhecimento, trabalhando a interdisciplin- novas atitudes ao se relacionar com o ambi-
e com os outros seres humanos, visando potencializar
obrigatoriamente, (...) o conhecimento do mundo físico
essa atividade humana com a finalidade de torná-la aridade e multidisciplinaridade, e desenvol- ente. O papel da escola é contribuir para o
e natural e da realidade social e política, especialmente
plena de prática social e de ética ambiental (CNEA). vendo ações em que as crianças possam ser entendimento sobre a temática ambiental e
do Brasil”. (EDUCAÇÃO AMBIENTAL: APRENDIZES

482 483
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

promover aprendizagens significativas neste desta forma, é uma forma de educação ampla passam a influenciar a educação escolar infan- speito é fundamental para uma aprendiza-
sentido, estimulando o envolvimento de todos. que tem como base os problemas ambientais. til, passando de um propósito voltado ao bom gem significativa, desenvolvendo práticas de
De acordo com Trajber e Manzochi (1996) comportamento da criança para um propósi- preservação e cuidado com o meio ambiente.
a Educação Ambiental está relacionada com Segundo Carvalho (2001) o movimento to ligado a valorização do conhecimento e a
o meio ambiente e não com a educação, ambientalista no Brasil, surge nos anos 70, aprendizagem. Neste mesmo sentido e com CONSIDERAÇÕES FINAIS
neste sentido há uma preocupação conce- durante a ditadura militar, nesta época o tais mudanças, cresce o interesse dos estudio-
bendo a educação seria fundamental para tema era alvo de discussão em todo o mun- sos e pesquisadores da época em desenvolver Um dos fatores mais importantes na
o sucesso e conscientização de tais ações, do. Nesta época, os estudiosos não discutiam teorias de aprendizagem baseadas no desen- questão da Educação Ambiental na escola é
bem como a formação de educadores ambi- políticas e ações governamentais para apoiar volvimento cognitivo da criança, nos aspectos perceber que esse processo de sensibilização
entais. A escola é um dos primeiros espaços a Educação Ambiental, neste momento da relacionados ao aprendizado da linguagem e da comunidade escolar é um fator de extrema
de socialização do conhecimento e de in- história, não havia interesse pelo tema e nem na importância da educação da criança para importância, que atinge grande parte da co-
teração outras crianças e adultos, no qual uma política de educação definida para o país. o seu desenvolvimento e desempenho edu- munidade, além dos profissionais envolvidos
a criança se depara quando está longe do cacional na fase de escolarização, ressurgin- nesta ação, neste sentido é fundamental que
ambiente familiar, nestas relações a criança Conceituar meio ambiente é tarefa árdua, uma vez que ex- do a preocupação com métodos de ensino os conteúdos ambientais devem estar pre-
iste diversidade de conceitos, iniciando com o entendimento
é capaz de dividir experiências e aprendiza- da própria morada do homem, o que inevitavelmente con-
adequados para a aprendizagem das crianças. sente em todas as disciplinas do currículo.
gens com seus pares, ampliando os seus con- tribui com a Educação Ambiental. As concepções de meio
hecimentos e realizando novas descobertas. ambiente já percorreram vários caminhos, passando desde O papel da Educação Ambiental é impor- Dessa forma, a escola contribuirá para que
a noção simplista baseada apenas em aspectos biológicos e tante para o trabalho com valores e atitudes, a criança possa estabelecer relações com os
físicos, até chegar a um entendimento mais complexo consid-
Outra situação didática proposta no Refer- erando também os aspectos sociais, culturais, econômicos
desenvolvendo na criança a criticidade, em fatos cotidianos e o meio no qual está inserida,
encial, aborda a valorização da vida e o conta- e éticos. É preciso contextualizá-lo no tempo e no espaço, um contexto no qual a criança perceba que as neste sentido a Educação Ambiental deve ser
to com pequenos animais e plantas, segundo juntamente com a história do homem e da natureza, e não suas atitudes tem influência direta para a con- abordada em todos os níveis de ensino, per-
o documento, essas práticas podem ser orga- somente o meio físico; porque o homem é natureza e agente strução de um mundo melhor. É necessário en- meando todas as áreas do currículo de manei-
transformador da mesma e, consequentemente, intervém
nizadas pelo professor de forma a contribuir de forma decisiva no meio ambiente, em especial, no qual
contrar meios para o trabalho com a Educação ra a assegurar os conhecimentos necessários
para que a criança construa as principais ele está diretamente inserido. (PRUDENTE, 2013, p. 27). Ambiental na Escola na perspectiva da ludici- para a construção de conhecimentos signifi-
noções sobre esse assunto. Segundo Almeida dade e com o objetivo de conscientização e cativos. A presença da Educação Ambiental na
(1999) a educação ambiental está relacionada De acordo com a Constituição de 1988, melhoria nas práticas que permeiam a nosso Educação Infantil, atua para que os conceitos
à teoria muito mais do que com ações cotidi- as instituições de educação infantil, expressa convívio em sociedade. A criança pequena é ligados a esta temática possam ser apresen-
anas, neste sentido, o educador assume uma como parte dos deveres do Estado com a Ed- capaz de compreender tais conceitos e ampli- tados nos primeiros níveis da educação, per-
responsabilidade com o meio ambiente, em ucação, se trata de uma formulação almejada ar tais práticas por meio das experiências que mitindo que tais conceitos sejam divulgados,
que participa do processo de ensino e apren- por aqueles que, a partir do final da década vivenciam na educação infantil, contribuindo transmitindo valores que serão aprendidos e
dizagem, buscando soluções e alternativas e de 70, lutaram e ainda lutam pelo direito as desta maneira para a formação de um aluno resultarão em futuras práticas de conscien-
exercendo a sua cidadania. Segundo Mattos pré-escolas e creches, para que os direitos das crítico e participativo nas questões relaciona- tização sobre o meio ambiente.
(2011) a educação ambiental é um tipo de ed- crianças fossem respeitados. Na educação in- das ao meio ambiente e a educação ambiental.
ucação especial, se trata de um processo con- fantil, o trabalho tem o intuito de propiciar a O mais importante na questão da Educação
tínuo e longo de aprendizagem, no qual família, criança o contato com o mundo letrado e a A Educação Infantil promove o desen- Ambiental na escola é perceber que esse pro-
escola e sociedade, devem estar envolvidas e oportunidade de participar de situações que volvimento da criança de uma maneira cesso de sensibilização da comunidade esco-
atuar em conjunto neste processo. O objetivo sejam mediadas pela escrita e leitura, é funda- global e nesta fase da escolaridade a cri- lar é um fator de extrema importância, pois
da Educação Ambiental vai ao encontro dos mental, especialmente para aquelas crianças ança está sempre disposta a novas apren- atinge grande parte da comunidade, além dos
objetivos da escola, buscando a formação in- que demonstram ter menos oportunidade de dizagens, neste sentido o trabalho com a profissionais envolvidos nesta ação, neste
tegral do sujeito em um cidadão consciente de acesso a estes materiais e situações. As te- conscientização ambiental, trazendo temas sentido é fundamental que os conteúdos am-
seu papel na sociedade e no meio ambiente, orias de desenvolvimento infantil surgem e que abordam a formação de valores e o re- bientais devem estar presente em todas as

484 485
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

disciplinas do currículo. É muito importante Educação e do Desporto, Secretaria de Ed- PRUDENTE, Sibele Resende. Educação
que iniciar um trabalho de conscientização ucação Fundamental. Conhecimento de Ambiental e Escola de Educação Infantil: Ma-
ambiental na Educação Infantil, por meio de Mundo. 3 vol. Brasília: MEC/SEF, 1998. peamento Propostas e Perspectivas. Disser-
práticas diferenciadas previstas no currículo e tação de Mestrado em Sociedade, Tecnologia
no Projeto Político Pedagógico da escola. As BRASIL. Ministério da Educação e e Meio Ambiente. Anápolis, 2013.
crianças, desde bem pequenas, são capazes do Desporto. Coordenação de Edu-
de construir relações de respeito e consci- cação Ambiental. A implantação da Edu- TRAJBER, R.; MANZOCHI, I. Avaliando
entização sobre o meio ambiente e propagar cação Ambiental no Brasil. Brasília, 1998. a Educação Ambiental no Brasil. São Paulo:
tais práticas em seu meio. Na infância devem Gaia, 1996.
ser abordados tais assuntos para propiciar BRASIL. MEC. Educação Ambiental: apren-
novos conhecimentos e garantir a formação dizes de sustentabilidade. Cadernos Secad
de futuros cidadãos conscientes de seu papel LELIANE APARECIDA DOS 1. Secretaria da Educação Continuada, Al-
diante dos novos desafios da sociedade atual. fabetização e Diversidade. Brasília: DF. 2007.
SANTOS E SILVA
As práticas pedagógicas relacionadas ao BRASIL. Lei 9.795, de 27 de abril de
tema, assim como a atuação do professor 1999. Institui a Política Nacional de Ed-
Graduação em Pedagogia pela Faculdade Su-
precisam ser revistas, cabendo ao professor, ucação Ambiental. Brasília: Diário Ofi-
maré (2008); Especialista em Psicopedagogia
a realização de práticas pedagógicas funda- cial da União, 28 de abril de 1999.
pela Faculdade Campos Salles (2011); Profes-
mentadas em bibliografias e documentos que sora de Educação Infantil – no CEI Ceu Paz.
contribuam para o planejamento, organização CARVALHO. Isabel Cristina de Mou-
e desenvolvimento das aulas vinculadas ao ra. A invenção ecológica: narrativas e tra-
conceito de Educação Ambiental, na perspec- jetórias da educação ambiental no Bra-
tiva de contribuir na formação de indivíduos sil. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2001.
com habilidades e atitudes voltadas para a REFERÊNCIAS
preservação do meio ambiente e valores so- DIAS, Genebaldo Freire. "Educação ambi-
ciais. Quanto mais cedo o tema for aborda- ental." Princípios e práticas. 6ª Edição. São
ALMEIDA, Antônio. Educação ambien-
do com as crianças, maiores serão as chances Paulo: Editora Gaia, 2003.
tal: O papel das atividades implemen-
para uma mudança de atitude em relação à tadas fora da escola, potencialidades e
preservação do meio ambiente e a educação MATTOS, P F. Estudo Da Aplicação Da
perigos. Revista de Educação, VIII, 1999.
ambiental, as crianças precisam ter contato Educação Ambiental em Escola Municipal.
com experiências enriquecedoras e a escola Anexo Do Novo Buritizeiro Pela Emater De
BRASIL, Constituição da República Fed-
deve contar com o apoio da família e da co- Buritizeiro – MG. Trabalho de Conclusão de
erativa do Brasil: promulgada em 05
munidade para a ampliação de ações e a con- Curso. Pirapora, 2011.
de outubro de 1988. Brasília, 1988.
strução de um meio ambiente mais agradável
para a vida. MEC. Coordenação de Educação Ambien-
BRASIL, MEC. Lei de Diretrizes e Bas-
tal. 1998.
es da Educação Nacional, LDBEN
9394, de 20 de dezembro de 1996.
PRONEA. Programa Nacional de Educação
Ambiental. Secretaria do Meio Ambiente.
BRASIL, MEC. Referencial curricular nacio-
2003.
nal para a educação infantil. Ministério da

486 487
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO ser alcançada se não houver determinado


respeito à Constituição Federal, ao ECA,
No atual cenário da educação brasileira, ao CDC e ao Código Civil no conjunto do
em que novas configurações familiares vêm sistema, composto por gestores escolares,
se afirmando, a falta de tempo ou mesmo professores, funcionários, os próprios
a ausência dos pais está contribuindo para alunos, a comunidade em volta da escola -
que, cada vez mais, nossas crianças sejam principalmente as famílias dos discentes - e
matriculadas nas escolas com menos idade. a sociedade de maneira geral. No caso do
Tal fato faz com que os cuidados que a Ensino Fundamental, a maioria dos problemas
instituição “escola” deva dispensar-lhes, está relacionada a acidentes ocorridos com
tornem-se cada vez maiores, assim como suas alunos, brigas, brincadeiras perigosas, e os tão
responsabilidades também sejam ampliadas, comentados casos de bullying - que também
como zelar pela sua incolumidade física e geram a responsabilidade do estabelecimento
responsabilizar-se pelos atos ilícitos praticados de ensino. Existe o “dever de guarda” da escola,
pelo aluno, por exemplo. Com a vigência que a torna responsável pelo aluno a partir do
do novo Código de Defesa do Consumidor, momento em que o responsável pelo aluno o
os estabelecimentos de ensino passaram a “entrega” aos cuidados da instituição escolar,
RESPONSABILIDADE CIVIL DAS INSTITUIÇÕES ser considerados prestadores de serviços, à quer seja adentrando ao recinto da escola, quer
DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO medida que fornecem serviços de educação seja em atividades extraescolares, tais como
para seus alunos (consumidores). Desse passeios, viagens, excursões organizados pela
RESUMO: O presente estudo visa promover reflexão acerca da responsabilidade civil das modo, faz-se necessário o entendimento da escola. Note-se que conforme dispõe o artigo
instituições de ensino fundamental e médio – que atuam, especificamente, com crianças e legislação que onera os estabelecimentos de 186 do Código Civil, haverá a responsabilidade
adolescentes com vistas a instrumentalizar professores, gestores e estudantes das áreas de ensino quanto à responsabilidade civil sobre por omissão e por negligência, ainda que os
educação e do direito a atuar de forma consciente à luz do direito educacional. Para tanto, incidentes ocorridos dentro do ambiente danos venham a ser provocados por ações
traçou-se um percurso que se iniciou por um esforço de conceituação de responsabilidade civil escolar ou fora dele, quando os alunos outras crianças, no que tange a escola, se
e seus elementos de responsabilização do agente causador. Passando pela diferenciação entre estiverem sob os cuidados da instituição de ela não agir com a finalidade de impedir as
a responsabilidade dos estabelecimentos de ensino públicos - a qual se rege pela teoria do risco ensino. agressões, configurada está a omissão, ou seja,
administrativo e afasta a aplicação do Código de Defesa do Consumidor e privados, regidos o deixar de agir, o que aliás, configura também
pela teoria do risco-garantia e do sacrifício, aliada ao princípio da boa-fé objetiva, e pode ser A escola, como instituição educacional, é um a negligência, pois não é um simples deixar
submetida às regras do Código de Defesa do Consumidor. Explanou-se sobre a responsabilidade espaço de direito, logo o direito educacional de fazer, mas deixar de fazer o que deveria
de professores e de gestores educacionais perante a legislação vigente, apresentando algumas tem nos alunos - crianças e adolescentes - ser feito: “aquele que, por ação ou omissão
questões jurídicas que permeiam as relações escolares e seus atores. Foram expostas, ainda, seus portadores, assim, também é correto voluntária, negligência ou imprudência, violar
questões práticas para auxiliar profissionais da educação a lidarem da melhor maneira possível pensar que este meta valor só será atingido direito e causar dano a outrem , ainda que
com eventuais incidentes no âmbito escolar, no intuito não, unicamente, de se afastar a caso se consiga montar uma organização exclusivamente moral, comete ato ilícito”
possibilidade da responsabilização pelo evento, mas de ofertar um melhor atendimento aos escolar que respeite a legislação escolar (Código Civil art. 186). Não incomuns são
alunos menores sob a égide da lei. em vigor. Desta forma, embora a qualidade os incidentes envolvendo funcionários das
escolar tenha como critério central o bom escolas que atuam no trato direto com os
Palavras-chave: responsabilidade civil, instituições de ensino, educação, direito educacional. desempenho dos alunos, tal meta não poderá alunos tais como: porteiros, seguranças,

488 489
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

serventes, inspetores entre outros, os quais, muitas vezes não têm formação especializada Durante o período em que o aluno se encontra sob os imprudência (falta de cuidado por conduta comissiva),
voltada para a área da educação, fator que gera conflitos que podem resultar responsabilidade cuidados da escola e dos educadores ocorre um hiato no negligência (falta de cuidado por conduta omissiva)
civil. Outros incidentes corriqueiros que geram demandas são as discriminações por razão efetivo exercício da guarda por parte dos pais, até porque, ou imperícia (falta de habilidade para o exercício de
racial, sexual ou social, mas há também os atritos por falta de urbanidade ou mesmo por abuso durante esse tempo, o próprio acesso dos pais ao interior atividade técnica). (CHRISPINO; CHRISPINO, 2008 p, 18)
de autoridade por parte dos professores, referente ao direito ao respeito sobre a inviolabilidade da escola não é permitido com naturalidade e de bom
da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação grado. Dessa forma, os atos praticados pelos alunos dos Conforme discorre Sérgio Cavalieri Filho
da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos quais venha a resultar danos a outrem ou, até mesmo, a (2004) apud Chrispino & Chrispino, 2008,
pessoais (ECA Lei 8069/90 cap. II art. 17). outros alunos, resulta na responsabilidade indenizatória a culpa é conduta voluntária contrária ao
da própria escola. (CAVALIERI FILHO, 2008 p.2) dever de cuidado imposto pelo Direito,
Em outros casos, alguns estabelecimentos de ensino privado não possuem adequada com a produção de um evento danoso
organização administrativo-financeira sendo comum ocorrerem cobranças indevidas de Com vistas a delimitar a responsabilidade involuntário, porém previsto ou previsível.
mensalidades já pagas, bem como cobranças indevidas feitas de modo incorreto, ou seja, falando civil clássica, tradicional ou subjetiva,
diretamente ao aluno em sala de aula ou entregando-lhe cartas de cobrança para que sejam constituem elementos de responsabilização Noção de imputabilidade
entregues aos pais/responsáveis. O ato abusivo ou a conduta errônea é tamanha, chegando, do agente causador: a culpa, a imputabilidade,
às vezes, até a serem incluídos os responsáveis, indevidamente, em cadastros de restrição ao o dano ou prejuízo e o nexo de causalidade, O verbo imputar significa atribuir (a alguém) a
crédito (SPC, etc.) ou a retenção de documentos como histórico escolar, por exemplo. cujos estudos favoreceram o esclarecimento responsabilidade. Assim, dizemos que a imputabilidade é a
do conceito da responsabilidade possibilidade de atribuir a um indivíduo a responsabilidade
O QUE É RESPONSABILIDADE CIVIL? objetiva ou independente de culpa, no por uma infração. Segundo prescreve o artigo 26, do
entendimento das condutas que ocasionarão Código Penal, podemos, também, definir a imputabilidade
Definir responsabilidade civil é tarefa árdua dada à profusão de definições criadas e validadas demanda por responsabilidade civil. como a capacidade do agente entender o caráter ilícito do
no bojo do código civil, todavia partindo-se da etimologia da palavra, que é ponto passivo, fato por ele perpetrado ou, de determinar-se de acordo
é possível chegar a um consenso nas várias teorias criadas e defendidas pelos diferentes Conceito de culpa com esse entendimento (DICIONÁRIO JURÍDICO, 2010)..
catedráticos uma vez que, de acordo com Gonçalves (2011, p.41) “o vocábulo responsabilidade
origina-se do latim respondere que traz a ideia de segurança ou garantia da restituição ou O conceito de culpa é bastante amplo, Assim entende-se por imputabilidade,
compensação do bem sacrificado”; há também a presença da raiz latina spondeo, pela qual se portanto requer delimitação no âmbito do no âmago da doutrina e da jurisprudência,
vinculava no Direito Romano, o devedor, nos contratos verbais. direito, uma vez que, se uma pessoa sente-se a possibilidade de considerar uma
A palavra “civil” do latim civilis faz referência à interação dos cidadãos como membros lesada em seus direitos e pretende entrar na pessoa como autora de uma infração,
de uma comunidade política. Todavia há que se ponderar a existência de uma problemática justiça, visando ressarcimento de seus danos infligindo lhe responsabilidade
da responsabilidade civil no contexto educacional decorrente da insuficiente formação de e/ou prejuízos, deve, primeiramente, provar a sobre ato ilícito por ela praticado.
professores e licenciandos que, parcamente, conhecem o histórico da confecção da LDB (Lei de culpa do agente causador, dado que o ônus
Diretrizes e Bases da Educação) fato que não os instrumentaliza, suficientemente, ao exercício da culpa é de responsabilidade do acusador. Caracterização de dano ou prejuízo
da gestão escolar.
Assim, quando da ocorrência de incidentes com alunos sob a responsabilidade da instituição A culpa é, por vezes, de difícil caracterização, mas pode- Dano ou prejuízo são fatores elementares
educacional, em geral, a legislação vigente é desrespeitada, incorrendo na judicialização das se afirmar que resulta do descumprimento de um dever na responsabilidade civil, visto que a mesma
relações escolares – para qual – surpreendentemente – professores e gestores não estão de cuidado que, por sua vez, são a cautela e diligência não existirá sem a presença destes. Elencamos
devidamente preparados, uma vez que: necessárias para que não resulte lesão aos bens jurídicos quatro tipos de danos: o emergente –
alheios. Este dever de cuidado pode estar previsto em resultante do que se perdeu efetivamente; os
lei ou no contrato.A conduta culposa exterioriza-se pela lucros cessantes / contratuais – compreendem

490 491
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

o que se deixou de auferir em consequência escola e uma valiosa democratização do Convém lembrar que a educação também é por outros alunos ou mesmo por terceiros
de ato ilícito ou inadimplência de obrigação; ensino, no entanto essa: uma forma de acesso à cidadania e exercício como, por exemplo, um invasor ou visitante.
extracontratuais – resultantes de atos ilícitos. profissional, logo, quando a Constituição No que se refere especialmente à escola
Há, ainda, o dano moral – reconhecido pela [...] massificação da educação trouxe um novo conjunto de Federal de 1988 coloca a educação como pertencente a um sistema oficial de ensino,
doutrina – de complicada conceituação alunos para uma escola que se manteve estática na rotina direito subjetivo, faz crer que o estado deve a Administração Pública é responsável pelos
e ressarcibilidade, o qual, na pura e típica e na relação, produzindo um descompasso entre o aluno assumir a responsabilidade pela garantia de danos considerando o princípio consagrado
conceituação, refere-se aos sentimentos de real e o aluno que se imagina ter. A escola não acompanhou que esse direito não apenas seja respeitado e no art. 37, § 6 da Constituição Federal,
dor, tristeza, afeição e correlatos. Valorizado a mudança do perfil dos alunos que agora são distintos, oferecido, mas que o seja de maneira adequada, independentemente de culpa específica do
e protegido pelo “art. 5º, X do Código Civil diversos e divergentes (CHRISPINO; CHRISPINO, 2002; consoante à legislação em vigor.Assumindo servidor (STOCO, 2004 APUD CHRISPINO;
“são invioláveis a intimidade, a vida privada, CHRISPINO, 2007). o Estado tal encargo, responsabiliza-se, CHRISPINO, 2008 p. 13).
a honra e a imagem das pessoas, assegurado automaticamente, pelos eventos ocorridos
o direito a indenização pelo dano material ou Deste modo, tem se verificado uma onda em instituições públicas de ensino, para as Para complementação do estudo proposto,
moral decorrente de sua violação.” de ações judiciais decorrentes de incidentes quais a doutrina da responsabilidade rege-se convém analisar o que dispõe a legislação
envolvendo escola, alunos, professores, pela responsabilidade objetiva das pessoas vigente acerca da responsabilidade civil das
Definição do nexo de causalidade gestores etc., muitos desses, ensejados pelo de direito público. instituições de ensino: a Constituição Federal
despreparo de educadores e gestores das Brasileira de 1988, o Código Civil Brasileiro,
Elo entre a conduta culposa do agente instituições de ensino para agir em face de tais A educação e, sobretudo, o sistema de ensino incluem- o estatuto da Criança e do Adolescente
causador do dano e o dano sofrido ocorrências de modo acertado, sem incorrer se entre os serviços públicos próprios e essenciais, (ECA) e o Código de Defesa do Consumidor
propriamente dito, o nexo de causalidade, ou em infrações à legislação em vigor, conforme acarretando, pois, responsabilidade objetiva. A Constituição (CDC), no intuito de despertar educadores e
nexo causal é, ad litteram, a materialização da citado anteriormente: Federal de 1988, art. 37, § 6º, consagra a teoria do risco gestores educacionais, para que por meio do
relação causa x efeito. administrativo, reconhecida tanto pela doutrina como pela conhecimento da matéria proposta possam
Ocorre, de forma derivada, o fenômeno da judicialização jurisprudência, teoria da responsabilidade objetiva, por salvaguardar-se de futuros dissabores
A gênese do nexo causal está presente no art. 13 do das relações escolares, onde a Justiça – agora mais ágil e prescindir da apreciação dos elementos subjetivos (culpa oriundos da não observância e respeito à
Código Penal, quando diz: “O resultado, de que depende acessível – é chamada a dirimir dúvidas quanto a direitos ou dolo), e parte da ideia de que toda a atividade estatal legislação.
a existência do crime, somente é imputável a quem lhe não atendidos ou deveres não cumpridos no universo da envolve um risco de dano. Causado o dano, o Estado
causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual escola e das relações escolares. A judicialização das relações responde.(TESSLER, 2004 p.17) O que diz a Constituição Federal?
o resultado não teria ocorrido (DICIONÁRIO JURÍDICO, escolares se dá no mesmo momento em que percebemos
2013). a judicialização da política (quando o Poder Judiciário Por força da lei, todo estabelecimento de Não é novidade afirmar que a Constituição
é chamado para interpretar a fidelidade partidária), a ensino, na pessoa de seu gestor educacional Brasileira de 1988 constitui uma das
SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL judicialização da saúde (quando a Justiça manda que sejam (enquanto servidor público) deve ter presente mais avançadas do mundo no que tange
DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO entregues pelo Poder Público os remédios para doentes a noção de que, por se tratar de serviço a consagração e proteção do direito
crônicos, ou transplantados, etc.) e a judicialização das público, este também se encontra submetido à educação, garantindo seu acesso às
Com o advento da Constituição Federal políticas públicas (CHRISPINO; CHRISPINO, 2008 p.13). às sanções legais e responsabilização civil em diversas classes sociais brasileiras, para
de 1988, a qual traz em seu artigo 205 “A incidentes ocorridos com seus alunos. tanto, a carta magna destina um capítulo
educação, direito de todos e dever do Estado Responsabilidade das instituições à educação, regulamentando-a, inclusive.
e da família”, houve abertura de precedentes públicas de ensino O estabelecimento de ensino é responsável Conforme artigos: 205, 206 e 208 § 1º -
nunca antes ofertados à população à luz da por qualquer dano ao estudante menor, seja O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é
legislação para acesso e permanência na ele causado pelo professor, pelos funcionários, direito público subjetivo (CONSTITUIÇÃO

492 493
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

FEDERAL, 1988). O que diz o Estatuto da Criança Para este estudo convém esclarecer a ser subjetiva[...].(TESSLER, 2004 p.21)
e do Adolescente? que o dispositivo citado considera como
A apreciação dos dispositivos anteriores consumidor toda e qualquer pessoa, seja Responsabilidade dos
leva à leitura de que cabe, em especial aos Muito discutida, a lei 8.069, de 13 de julho ela física ou jurídica, que venha a adquirir educadores
estabelecimentos de ensino públicos ou de 1990, ou simplesmente o ECA (Estatuto ou utilizar-se de produto ou serviço como
privados, cuidar para que não apenas o acesso da Criança e Adolescente), tem sido alvo de destinatária final. Bem como estabelece que a Não se pode esquecer das situações
a um ambiente escolar adequado ocorra, mas duras críticas por parte da sociedade em geral atividade de educação consiste em prestação constrangedoras entre alunos e professores
também a oferta de condições para que a e ponto de partida para inúmeras polêmicas de serviço educacional, subordinando-se, que também podem gerar responsabilidade
aprendizagem se efetive. Vale lembrar que, advindas de má interpretação do texto portanto ao CDC - (CÓDIGO DE DEFESA civil, uma vez que, na sala de aula, o professor
para que essa última premissa se concretize, legal. Todavia no que concerne à questão DO CONSUMIDOR, ARTIGO 14, 1990). é o representante do estabelecimento de
não se pode negar a mobilização de inúmeros da responsabilidade civil das instituições de ensino perante os alunos, conforme o ECA
fatores, cujo detalhamento não compete a ensino sobre seus educandos, o legislador Responsabilidade dos gestores “ é dever de todos velar pela dignidade da
este estudo. faz-se extremamente claro no seu capítulo educacionais criança e do adolescente, pondo-os a salvo
IV, que trata Direito à Educação, à Cultura, ao de qualquer tratamento desumano, violento,
O que diz o Código Civil Esporte e ao Lazer, conforme Art. 53, [...] II - Quando o assunto são normas educacionais, aterrorizante, vexatório ou constrangedor "
Brasileiro? direito de ser respeitado por seus educadores; os desafios dos gestores começam desde o (ECA Lei 8069/90 cap. II art. 18).
[...] (ECA, 1990). primeiro instante em que entram na escola.
Conhecida como Novo Código Civil É imperativo que conheçam os estatutos O notório aumento e a midiatização das
Brasileiro, a lei nº 10.406, de 10 de janeiro de Quanto aos impasses causados por estaduais e municipais, a Lei de Diretrizes e agressões físicas e psicológicas praticadas por
2002, a qual substitui o antigo código escrito algumas vertentes que julgam ser o ECA Bases da Educação Nacional, o Plano Nacional professores contra alunos é um fenômeno que
em 1916, regulando direitos e obrigações demasiadamente protetivo no que se de Educação, o Plano de Desenvolvimento exige mais atenção por parte dos currículos de
de ordem privada, dispõe em seu artigo 932 refere apenas aos direitos das crianças e da Educação, o Estatuto da Criança e do formação e dos próprios docentes já atuando.
sobre a responsabilidade civil das instituições adolescentes, deixando relegados para Adolescente, alguns capítulos da Constituição É fundamental que cada educador mantenha
de ensino sobre seus pupilos, conforme Art. segundo plano os deveres, discorre Liberati, Federal e, atualmente, o Código Civil e o uma atitude reflexiva sobre sua didática e a
932, (CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO, 2002.) apud Chrispino (Chrispino 2008, p. 16). Código de Defesa do Consumidor (caso o prática em sala de aula. Assim, tentar justificar-
Logo, o que se pode notar é o fato de o estabelecimento seja privado), antes mesmo se pelo desconhecimento da lei, não é mais
É visível o dever de cuidado sobre seus legislador enfatizar que o menor tem o direito de pleitear o cargo. A tarefa é árdua e, ao ler um argumento aceitável para educadores em
educandos, imposto aos estabelecimentos de e não a alternativa de ser respeitado e cuidado cada artigo e parágrafo, há que se ter em mente plena era da globalização e informação e, em
ensino pelo artigo supracitado. Para Chrispino; por seus educadores. Essa ideia remete à que a finalidade de todos é uma só: garantir todos os casos, a ética profissional serve de
Chrispino, 2008 p. 13, o dever da guarda noção de que enquanto representantes das aos alunos não somente a aprendizagem, mas salvaguarda para muitos problemas.
fica explícito em face da leitura do artigo instituições de ensino, que atuam diretamente antes a certeza de que seus direitos como
932 do Novo Código Civil, uma vez que “o com os educando, são também os professores criança e adolescente sejam respeitados COMO AS INSTITUIÇÕES DE
estabelecimento de ensino é responsável por passíveis de punição e penas e não somente a no âmbito escolar: A responsabilidade dos ENSINO DEVEM PROCEDER?
qualquer dano ao estudante menor, seja ele entidade escolar. dirigentes dos estabelecimentos de ensino
causado pelo professor, pelos funcionários, deve ser investigada a título de culpa. Nas Em face ao cenário descrito anteriormente,
por outros alunos ou mesmo por terceiros O que diz o Código de Defesa relações internas entre os fornecedores, professores e gestores precisam estar
como, por exemplo, um invasor ou visitante. do Consumidor? da instituição em relação ao professor vigilantes, adotando práticas e um discursos,
displicente, faltoso, a responsabilidade passa que, de modo efetivo evitem tais práticas em

494 495
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

sua instituição de ensino. Inegável é o fato fundamental e médio e seus educadores


CHRISPINO, A.; CHRISPINO, R. S. P. A ju-
de que no convívio humano diário, possam para lidar com as novas demandas de uma
dicialização das relações escolares e a re-
fatalmente vir a ocorrer situações que sociedade tecnológica globalizada e em
sponsabilidade civil dos educadores. 2008.
descambam para a judicialização. Para tanto, busca de seus direitos individuais e coletivos.
cabe elencar algumas questões práticas a fim A recorrente necessidade de interferência COSTA, Yvete Flávio da. Bullying – Práti-
de que o gestor da instituição de ensino esteja do poder judiciário para dirimir questões do ca diabólica – Direito e educação. Re-
alicerçado em condutas que lhe permitam, universo educacional sinaliza uma paulatina vista de Estudos Jurídicos UNESP, Fran-
caso ocorra algo durante o período em que o perda da autonomia deste, revelando, ainda, o ca, a.15, n. 21, pp. 359-377, 2011.
aluno encontra-se sob sua responsabilidade, abismo que vem se desenhando entre escola-
apresentar uma tese de defesa judicial aluno, o que em nada colabora no processo DINIZ, Maria Helena. Curso de Di-
contundente que afaste a possibilidade de aprendizagem. Tais ocorrências são um reito Civil Brasileiro _ Responsabili-
da responsabilização pelo evento. Ou, ao sintoma da falência do sistema educação dade Civil. v. 7. São Paulo: Saraiva, 2002.
menos, diminua sua gravidade, por meio da desde a formação do professor, passando
comprovação de que a escola preocupa-se em pelas políticas educacionais até chegar às LILIAN JERONIMO PADERES DINIZ, Maria Helena. Curso de Di-
evitar tais eventos com medidas preventivas, instituições de ensino. reito Civil Brasileiro – Responsabilidade
primando pelo zelo e cuidado com seus Graduação em Letras pela Faculdade Civil. . v. 7. São Paulo: Saraiva, 2011.
alunos. Existem alternativas para minimizar os Uniabc (2003); Especialista em:
GONÇALVES, Carlos Roberto. Respons-
problemas oriundos do sistema educacional, Português: Língua e Literatura pela
abilidade civil. São Paulo: Saraiva, 2011.
Outro recurso bastante expressivo como o investimento na formação inicial e Universidade Metodista de São Paulo
para minimizar os problemas oriundos das continuada de gestores e educadores e a (2009); Psicopedagogia pela UNIG (2013); LIMA, Márcia Rosa de. Responsabil-
questões escolares é a construção de uma manutenção de uma gestão democrática na Direito Educacional pela UNIG (2014); idade dos profissionais da educação
gestão democrática que, seja no âmbito da escola, todavia tais iniciativas estão distantes Educação Fundamental pela FACON frente as determinações do ECA. 2006.
escola pública ou privada, sempre colabora de esgotar o problema. É fundamental que (2015); Profissão e Formação Docente
para que os alunos sintam-se protagonistas haja discussão, reflexão e mudança na prática pela FACITEP (2018); Professora de Ensino SANTOS, Pablo de Paula Saul. Responsabili-
em seu processo ensino-aprendizagem, diária das instituições de ensino que lidam com Fundamental II e Médio na PMSP - Língua dade civil: origem e pressupostos gerais.. 2011.
valorizando mais a escola, respeitando mais crianças e adolescentes, no sentido de que a Portuguesa - na EMEF Alceu Amoroso Lima.
professores e escolas. Também propicia à legislação que rege a educação e os direitos SAPIO, Gabriele. A LDB E A Constituição
família e comunidade escolar desenvolverem do menor não sejam respeitadas, apenas Brasileira De 1988: Os Dois Pilares Da At-
o chamado sentimento de pertencimento com vistas a não sofrer processos judiciais REFERÊNCIAS ual Legislação Educacional Nacional. SIL-
à escola, à medida em que têm voz ativa na os quais resultem em responsabilidade civil, VA, De Plácido e. Vocabulário jurídico con-
tomada de decisões da mesma. antes o que se deseja é que as instituições ANGELO, Ricardo. A RESPONSABI- ciso. 1 ed. Rio de Janeiro. Forense, 2008.
LIDADE CIVIL DAS ESCOLAS. 2013. TESSLER, Marga Inge Barth. Respons-
de ensino fundamental e médio ofereçam um
abilidade da instituição e sua Di-
CONSIDERAÇÕES FINAIS ambiente e tratamento adequados às crianças
reção na prestação do ensino. 2004.
e adolescentes, para que a aprendizagem se BRASIL. Código de defesa do con-
sumidor. Lei 8.078 de 11/09/90.
Direito subjetivo garantido pela carta efetive, afastando a necessidade de recorrer VADE MECUM COMPACTO. - 5. ed. At-
magna, a educação vem sofrendo com ao poder judiciário, pela boa convivência ual. e Ampl. - São Paulo: Saraiva, 2011.
CAVALIERI FILHO, S. Pro-
inúmeros fatores, dentre os quais o despreparo escola-aluno-professor-família e respeito às grama de responsabilidade civ-
dos gestores das instituições de ensino leis. il. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2004.

496 497
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO VIRTUDES E VALORES


O esporte é uma atividade abrangente, vis- Virtudes capacidade humana de praticar o
to que engloba diversas áreas importantes bem, é uma ação que se pensada para o in-
para a humanidade, como saúde, educação,
dividual sem prejudicar o coletivo, torna-se
turismo, entre outros (TUBINO, 1999). Por-
tanto, observa-se que o esporte possui am- agradável e abrangente. São qualidades mo-
plas repercussões, sendo um fenômeno que rais padronizadas, relacionadas a personali-
possui uma linguagem universal. Além do dade do cidadão.Desta maneira, o indivíduo
desenvolvimento dessa linguagem universal, carrega consigo virtudes em seu gene e a me-
existem também inúmeros benefícios que o dida que se insere no mundo, conhece suas
esporte proporciona as pessoas de caráter psi- raízes, na qual vem sua cultura, mistura-se aos
cológicos e físicos, atuando da seguinte forma:
afazeres sociais, coloca em prática a paciência,
• Alivia tensões
• Melhora o respeito, assim: “A virtude é uma qualidade
a autoestima ;
• Diminui a sensação de cansaço constante; humana adquirida, cuja posse e exercício cos-
• Uma atividade moderada gera a tuma nos capacitar a alcançar aqueles bens
reação de neurotransmissores que internos as práticas e cujas ausência nos im-
colocam todo o organismo em ação. pede, para todos os efeitos, de alcançar tais
O resultado é uma energia maior e a re- bens, conforme” (MACINTYRE 2001, P.321).
dução da fadiga em uma alta porcentagem.
• Aumenta a capacidade da memória Macintyre considera que as virtudes são
• Ajuda a combater vícios alcançadas à medida que o indivíduo en-
A CONTRIBUIÇÃO DO ESPORTE PARA A SAÚDE E O BEM ESTAR • Aliado ao benefício físico, integra-se o volvesse com o outro, coloca em práti-
biológico, ca sua capacidade de bondade, sua vir-
RESUMO: A presente pesquisa tem como objetivo explicar a influência dos jogos • Contribui para o cuidado das articu- tude, são os suportes sociais, que ajudará
matemáticos no processo ensino aprendizagem, mostrando que jogos, brinquedos e lações cada indivíduo a constituir sua virtude.
brincadeiras auxiliam na aprendizagem e no desenvolvimento da criança, principalmente se Manter uma rotina esportiva previne
esta apresentar problemas de discalculia. Os jogos matemáticos oferecem a oportunidade doenças como o reumatismo.todos os mem- Para que se contemple a prática de vir-
para a criança explorar, aprender a linguagem e solucionar problemas. O brincar e o jogar bros do Sistema locomotor se mantêm ati- tudes, se faz necessário o contato com co-
são aprendizados que levam as crianças a traçarem determinados caminhos, os quais vos; por essa razão; as condições relaciona- letivo, nas relações sociais, seja, de tra-
dependerão de como estas crianças brincam e da atitude dos adultos em relação a essas das ao estilo de vida sedentário são evitadas. balho ou lazer, o encontro das pessoas em
brincadeiras. Grandes teóricos como Piaget, Vygotsky, Benjamin e Winnicott valorizam • Diminuição ou controle do peso espaços que possam dividir seus desejos
os jogos e brincadeiras no desenvolvimento infantil. São por esses meios que a criança • Fortalecimento muscular internos, o que colaboraram para o desen-
desenvolve seus lados emocional e afetivo bem como as áreas do domínio cognitivo como • Desenvolve a disciplina volvimento da autoconfiança, justiça, em-
o jogo simbólico, e, aprende com facilidade a matemática. patia, generosidade, compaixão, entre
outras, virtudes, inerente ao ser humano.

A formação de valores juntamente com as


relações que envolvem o comportamento das
Palavras-chave: Desenvolvimento; Aprendizagem; Jogos; Matemática; Discalculia.
pessoas em um ambiente, onde as virtudes

498 499
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

estejam presentes, podem levar ações justas, to integral dos sujeitos. Corrobora com essa usar o tempo livre, para ser feliz, cuidar de si. pessoas, no controle de suas vidas, a felici-
carregadas de compaixão, alegria, saberes ideia Martins et al (2005) enfatizando que dade também faz parte desses benefícios.
essenciais na construção de valores, o que a prática do esporte envolve a aquisição de Haag (1981), falando sobre o esporte Depois da descoberta de si mesmo e das
demanda contato, conhecimento, demon- habilidades físicas e sociais, valores, conhec- e o tempo livre, considera que ambos são suas verdadeiras vontades, o caminho para
stração do eu e do seu, pois, a formação de imentos, atitudes e normas. Almeida e Guti- fenômenos ou formas de manifestação de o prazer, seja ele momentâneo ou um estado
um ser virtuoso está ligada ao acompanham- errez (2009) cita que o esporte é uma forma nossa vida cotidiana sobre as quais se discute de espírito mais estável e permanente, ainda
ento de valores passados de geração a ger- de sociabilização e de transmissão de valores. muito, mas que são mal interpretados. Para depende de você fazer valer os seus desejos.
ação, que configura o caráter: na fase adulta, esclarecer a relação entre o esporte e o tempo
cada ser humano já construiu uma infinidade Portanto, observa-se que o esporte possui livre, analisa o que entendemos por esporte: BRINCADEIRA, LAZER E DESEN-
de valores que, organizados em um sistema, amplas repercussões, sendo um fenômeno "a palavra provém do verbo latino 'deportare', VOLVIMENTO DE HABILIDADES
se combinam em uma intricada e complexa que possui uma linguagem universal. Aux- distrair-se, e logo se substantivou em francês
rede de relações, motivando as condutas de ilia no processo de construção de conhec- e inglês na forma 'de sport' ou 'sport', o que
acordo com o contexto em que são solicita- imento , válido para vida como construtor significa diversão" (p. 91). O brincar faz parte da essência de cada um,
dos juízos e/ou ações (ARAÚJO, 2007, p.32). físico, desenvolvedor individual do cidadão, contribui no desenvolvimento social , cultural
independente da atividade que escolheu O esporte-educação que está focado das pessoas, favorece aprendizado, tornado
Para que se qualifique o bom ou ruim, ne- relaciona-se, troca experiências de vida, na escola, tem por objetivo incluir todos os apto a viver na sociedade sem agressão a sua
cessita-se adentrar as relações cotidianas, em ouve e reflete sobre suas atitudes, buscan- alunos na cultura pelo movimento numa ação existência, por meio, do simbolismo realiza
diferentes ambientes, tais como, no trabalho, do uma nova forma de sentir-se melhor. de manifestação social e o exercício da ci- ações e intervenções no mundo, desenvolvi-
em parques, ou seja, nos momentos livres, dadania com a visão crítica dos fatos, imped- mento a imaginação, a confiança, o controle,
de lazer é que se concebe uma compreensão A Participação é um processo relacional que pode cri- indo a competição exacerbada e a exclusão. a criatividade, a cidadania, suas frustrações, a
ar a identidade coletiva de um grupo, uma vez que pro-
mais ampla do ideal de justiça e felicidade, o O professor que utiliza deste esporte-edu- cooperação e o relacionamento interpessoal,
move a reflexividade da ação social.Os atores coletivos
que compõe virtudes e valores, característi- são criados no curso das atividades, bem como a iden- cação, procura proporcionar aos alunos uma a brincadeira é a porta de entrada para um
cas e qualidades positivas do comportamento tidade coletiva é construída e negociada pela ativação gama de modalidades distintas, deve en- outro mundo, possibilita a exploração e re-
do indivíduo, responsáveis por moldar e ditar de relacionamentos sociais que conectam os membros caminhar para a reflexão crítica dos acontec- flexão da realidade e da cultura que se está
de um grupo ou movimento (WESTPHAL, 1999, p. 291)
o caráter e a personalidade de cada pessoa. imentos, não só dos esportes, mas de outros inserido, sem perceber a interferência nas re-
problemas que o rodeiam (TUBINO, 2000). gras sociais acontecem de forma prazerosa.
ESPORTE E LAZER COMO PRO- Portanto, a prática em momentos livres,
MOTORES DE SAÚDE em espaços coletivos ou não, colabora para O esporte-participação que tem o objeti- A brincadeira estimula o intelecto, con-
o desenvolvimento emocional da pessoa, vo do prazer lúdico, acontecendo em espaço fronta o emocional, desestabiliza a convivên-
A prática permite, trabalhar virtudes e va- que ao relacionar-se divide opiniões, cria sem obrigações do dia a dia e o aproveit- cia individual, oportunizando um desenvolvi-
lores, que vai além de uma simples atividade analogia e até ajuda seu próximo, contribui amento do tempo livre, oferecendo como mento do cérebro, social e cultural, assim,
de lazer, une inconscientemente um trabalho de várias maneiras na vida pessoal de cada propósito a diversão, a descontração e a so- expõe seus conhecimentos e expectativas
em equipe, envolvendo o respeito, com- indivíduo que usa suas horas livres em prol cialização. Este esporte-participação pode do mundo, uma maneira satisfatória de en-
preensão, que pode auxiliar no desenvolvi- de seu bem estar, além do desenvolvimen- ser praticado por todas as idades (crianças, volver as exigências sociais a vida cotidiana
mento como cidadão de direitos sociais, de to de virtudes e valores, benéfico também adolescentes, adultos e idosos). É frequente de cada um, para que elabore sua autono-
forma democrática, diferenciando trabalho para depois da pratica, deixa de lado o mau notamos pessoas praticando vôlei de praia, mia de ação de forma a organizar emoções,
de lazer, trazendo como benefício o bem humor, dorme bem, acorda melhor, com dis- futebol, caminhada e outras atividades nos consolidando valores e virtudes, pois ajuda a
estar. Se o Lazer for aliado ao esporte trará posição, intensificando sua produtividade finais de semanas ou no período ocioso dos controlar a impulsividade, promove a reflex-
mais benefícios ao praticante,por isso. É im- no trabalho, afazeres rotineiros,aumenta sua compromissos diários (TUBINO, 2000). São ão, estimulando o planejamento de estraté-
portante destacar também o papel social que concentração, ou seja, para que se tenha uma inúmeros os benefícios do esporte ele alca- gias, o que desenvolve conexões cerebrais,
o esporte desempenha no desenvolvimen- vida mais prazerosa que traga enriquecimen- nça lugares impensáveis, age na união das atuando diretamente nas emoções da pessoa,
to corporal, intelectual, se faz necessário

500 501
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

para brincar é preciso companhia, estar com o humana que não pode ser vista apenas como processo de estruturação das identidades — individuais e meio a brincadeira, é desfrutar da internal-
outro nos espaços coletivos, dividir objetos , coletivas — o lazer aparece, para os adolescentes e jovens,
uma diversão. O desenvolvimento do aspec- ização de virtudes e valores com satisfação,
como um espaço particularmente importante [...] O lazer
se colocar no lugar do outro, ensinar e apren- to lúdico facilita a aprendizagem, o desen- permite também que os adolescentes e jovens expressam sem cobrança e obrigatoriedade, é poder al-
der o que é proposto, essa interação traz volvimento pessoal, social e cultural, colabora seus desejos e aspirações e projetam outros modos de cançar níveis elevados de aprendizado inter-
benefícios sociais. A possibilidade de brin- para a saúde mental, prepara para um estado vida. Por todos esses aspectos, o lazer se evidencia como no, que realizada em tempo livre promove,
car de forma intencional, livre e exploratória uma das dimensões mais significativas da vivência juvenil.
interior fértil, facilita os processos de social- autoconfiança, autonomia, satisfação, alegria,
Partindo do pressuposto de que o lazer é parte fundamental
proporciona à criança uma aprendizagem ati- ização, comunicação, expressão e construção na construção da identidade na fase juvenil, decidimos usá- além do desenvolvimento social. Propõe tam-
va por meio da qual as muitas ser capaz de do conhecimento (SANTOS, 1997, p.12) lo como fator positivo no auxílio ao aprendizado, pois assim bém que a aptidão física seria a capacidade
compreender e resolver problemas serão en- como é fundamental nesse processo, porém invisível aos de realizar esforços físicos sem fadiga exces-
contradas, tais como (MOYLES, 2002, p.76): olhos do jovem ou adolescente, é também no processo da
De acordo com Prado (1991, p. 78, apud siva, garantindo a sobrevivência de pessoas
educação, ou seja, o indivíduo aprende de forma prazerosa,
• A oportunidade de identificar, com- SCHAEFFER, 2006) lúdico é a forma de ad- pois o lúdico lhe proporciona esse prazer (PCN, 1998, p.117). em boas condições orgânicas no meio ambi-
preender, reconhecer e entend- jetivar uma atividade socialmente construí- ente em que vivem. Os componentes da ap-
er as propriedades dos materiais; da e diferenciada em cada cultura, é “[...] um O aprendizado vem por consequência e o tidão física englobam diferentes dimensões,
• Descobrir e distinguir elementos e conjunto complexo de elementos especifi- aluno não se dá conta de que está aprendendo podendo voltar-se para a saúde e abrangendo
características semelhantes e difer- camente humanos que cria espaço de jogo Português, mas aprende porque a matéria foi um maior número de pessoas, valorizando as
entes, e combinar, separar e classificar; entre o real e o imaginário, sendo que sua relacionada a uma atividade prazerosa. O lazer variáveis fisiológicas como potência aeróbica
• Discutir com o grupo de pares e as suas natureza se transforma conforme a cultura, também é considerado como desenvolvimen- máxima, força, flexibilidade e componentes da
explorações e aprender com e a partir a história e as condições objetivas em que to da personalidade, portanto, é de grande im- composição corporal, podendo voltar-se para
de outras crianças e adultos; - Usar e de- o indivíduo e o grupo se inserem”. O autor portância na vida social, econômica, política e as habilidades desportivas em que as variáveis,
screver as coisas de diferentes maneiras; (apud SCHAEFFER, 2006) define ainda al- cultural de toda sociedade (FERRARI, 2002). tais como agilidade, equilíbrio, coordenação
• Representar as coisas em diferentes guns elementos do lúdico: o desejo (enquan- motora, potência e velocidade, são mais valori-
forma e estruturas e observar e an- to motivação intrínseca do sujeito); a afe- Como já mencionados, o lazer é um dos zadas, objetivando o desempenho desportivo.
tecipar transformações e mudanças; tividade; a situação imaginária e a interação caminhos que proporcionam benefícios para
• Aprender que é necessário tempo criativa (reciprocidade não passiva e criadora). as pessoas. Dentre esses espaços, Werneck, CONSIDERAÇÕES FINAIS
para realizar e completar uma tare- (2000 apud PINTO; BURGOS 2002) mostra
fa ou chegar a um resultado desejado Para o autor, a atividade é aquela na qual que a recreação é um espaço para vivenciar Com as mudanças no setor industrial, o laz-
a motivação está na própria ação do sujeito e o lúdico, ou seja, diz respeito às práticas cul- er passou a ser estudado, a separação dos mo-
Zanluchi (2005, p. 89) reafirma que não em seus efeitos ou resultados externos. turais, estabelecidas em um tempo livre con- mentos dedicados ao trabalho, passaram por
“Quando brinca, a criança prepara-se a Sua finalidade real encontra se nas vivências stituindo em atividades recreativas. O lazer mudanças, deixando um tempo livre as pes-
vida, pois é através de sua atividade lúdi- de diversos aspectos da realidade, que são aproxima-se do lúdico; o jogo, por exemplo, soas, que preenchiam este tempo com lazer,
ca que ela vai tendo contato com o mundo significativos para o sujeito que age ludica- incorpora o seu próprio conceito, o lúdico. passeios, festas, possibilitando a melhoria nos
físico e social, bem como vai compreenden- mente. Desta forma, o brincar, o lúdico está Ele é uma atividade livre, uma diversão (sem padrões sociais refletidos nas ações das pes-
do como são e como funcionam as coisas.” intrínseco na vida das pessoas que precisam caráter de obrigatoriedade); delimitada (num soas. O tempo dedicado ao prazer, estabelece
dessas experiências prazerosas, a fim de unir espaço e tempo previamente estabelecidos); um vínculo significante entre os indivíduos, a
Segundo Almeida (1998, p.35), as ativ- o brincar, com o lazer, ambos se denominam incerta (sem precisão de resultados); impro- diversão sem pressões externas, acalma, aleg-
idades lúdicas explicitam “[...] as relações atividades de horas livres, momentos espe- dutiva (não mantém vínculos com a socie- ra, proporcionando auto estima, compaixão,
múltiplas do ser humano em seu contexto rados para relaxamento, físico e mental, so- dade-consumo); regulamentada (submissão a medida que se estabelece diálogo, se abre
histórico, social, cultural, psicológico, enfati- bre o lazer, pontua-se no PCN, (1998, p.117): a regras) e fundamentada “num contexto de um leque de opções, oportunidades de au-
zam a libertação das relações reflexivas, cri- irrealidade perante a vida” (BRUHNS, 1997). toconhecer, dividir experiências e aprender
adoras, inteligentes, socializadoras”. Estudos O lazer é de suma importância na estruturação das iden- com outras, socializa-se faz crescer-se como
tidades, individuais e coletiva, portanto, já que o lúdico é
apontam a ludicidade como uma necessidade Portanto, a junção entregar-se ao lazer em pessoa, boa, responsável, autônoma, além de
parte do lazer, logo auxilia também nessa construção. No

502 503
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

desenvolver virtudes e valores, importante


crescimento individual e coletivo, as relações
sociais estimula aprendizagem humana, na REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
qual a amizade se constrói com um simples
olhares e sorrisos respeitosos, enaltecendo a ALMEIDA, Paulo de. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. 9. ed. São Paulo: Loyola, 1998.
igualdade de direitos e deveres, sendo humil-
des durante todo o processo compreendendo ARAÚJO, Ulisses F. A construção social e psicológica dos valores. In: ARAU-
e tentando entender o próximo e respeitá-lo JO, Ulisses F.; ARANTES, Valéria Amorim; PUIG, Josep Maria. Edu-
como cidadão da sociedade. Além de ter sido cação e valores: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2007. p. 32..
uma nova experiência que abre portas para
buscar e explorar o desconhecido. BRASIL, Desporto, discurso e substância. Cam-
po das Letras: Porto: Campo das letras – Editores, S. A., 2004.
Conclui-se que em meio ao lazer, está a ativ- ______. Lei de diretrizes e Bases da Educação Brasilei-
idade esportiva que traz também benefícios ra nº 9394/96. Brasília: Ministério da Educação, 1998.
a saúde, eleva a qualidade de vida dos prat-
icantes, E porque não, de toda a sociedade. FERREIRA, J. Silva. Ética, cidadania e relações raciais: construindo novas relações humanas
Poucas pessoas tem conhecimento do quan-
LISLEY TUCCI DA SILVA nas escolas de Uberlândia. Revista de Educação Popular, Uberlândia, n. 3, setembro, 2004.
to o esporte é bom, quanto de benefício se
pode ter com sua prática, seja com práticas Licenciatura Plena em Educação Física GUEDES. DP. Atividade física, aptidão física e saúde. In: Carval-
de atividades esportivas, físicas, reuniões com pela Faculdade Integradas de Santo André em ho T, Guedes DP, Silva JG (orgs.). Rev. Bras. Ciência. e Mov, 2002.
amigos para relaxar, encontros em parques, 2006. Pós graduada em Treinamento Person-
passeios, viagens, independente de qual for alizado pela Faculdade Integradas de Santo HAAG, Hebert. Deport y tiempo libre. In: KOCH, Karl. Hacia una del desporte. Buenos Aires, 2001.
a atividade de lazer escolhida, precisa ser re- André em 2008. Pós graduada em Educação
alizada, por meio, dela, se constitui cidadãos OLIVEIRA, P. Lazer e Inclusão. 2005. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacha-
Física Escolar em 2009. Licenciatura Plena relado em Educação Física) – Faculdades Integradas Fafibe, Bebedouro-SP.
de caráter, virtuosos e de valores, a fim de
enriquecer a sociedade com bons exemplos, em Pedagogia pela Universidade Nove de Ju-
respeitosos e éticos. Nesse sentido, faz-se lho em 2010. Licenciatura Plena em Filosofia PRADO, Danda. O que é família. São Paulo: Brasiliense, 2011. Coleção Primeiros Pas-
necessário pensarmos em políticas públicas pela Universidade Metropolitana de Santos sos. WITTER, G. Porto. Família e aprendizagem. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2011.
que possam colaborar para a formação huma- em 2013. Professora de Educação Física e
na da população, sendo importante para que Educação Infantil na Prefeitura Municipal de ZANLUCHI, F.B. O brincar e o criar: as relações entre atividade lúdi-
conheçam os conteúdos componentes do laz- São Paulo. ca, desenvolvimento da criatividade e Educação. Londrina: O autor, 2005.
er, para que este não seja somente uma ocu-
pação da mente, dedicando-se a aliená-la. An-
tes que desenvolva o caráter social e crítico.

504 505
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO contexto sociocultural brasileiro. Segundo


as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
A escola como espaço no qual se Educação das Relações Étnico-Raciais e para
constrói o conhecimento e abrange toda a o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira
diversidade, deve trabalhar para que seja e Africana (2004) as políticas legislativas
possível propiciar uma educação voltada têm como meta a garantia do direito dos
à diferença, diversidade e pluralidade, nos negros se reconhecerem na cultura nacional,
mais diferentes aspectos, religioso, cultural, expressarem suas visões de mundo e se
étnico, etc., oportunizando aos alunos o manifestarem com autonomia, garantindo
contato com as mais diversas formas de assim, professores com formação específica
manifestação cultural, ampliando o respeito nas diferentes áreas de conhecimento
e a valorização, contribuindo para a formação que sejam capaz de lidar com os conflitos
de um ambiente aberto a diversidade e ao causados pelo racismo e pela discriminação,
respeito ao próximo. Promover práticas garantindo uma educação de qualidade para
voltadas a diversidade significa romper com todos.
certos padrões estabelecidos e trabalhar
com a heterogeneidade, abandonando os O TEMA PLURALIDADE CULTURAL
vínculos fortemente enraizados na escola e NAS PRÁTICAS ESCOLARES
EDUCAÇÃO, ESCOLA E O ATENDIMENTO A DIVERSIDADE na sociedade como um todo.
No âmbito educacional é possível trabalhar
RESUMO: Este estudo traz uma revisão bibliográfica cujo tema aborda as questões relacio- Os educadores e demais profissionais
nadas ao trabalho com a Pluralidade Cultural e o tema Relações Étnico Raciais no contexto efetivamente no combate as atitudes discrim-
envolvidos no processo educacional têm um
da aprendizagem. Neste sentido, temos como objetivos apresentar alguns conceitos sobre a inatórias e preconceituosas que permeiam os
grande desafio de saber como lidar, abordar e
Diversidade e a Pluralidade Cultural com base nas experiências e aprendizagens oferecidas ambientes escolares e são manifestados por
trabalhar com diferentes culturas, diferentes
as crianças no âmbito educacional. O tema Pluralidade Cultural aborda a valorização das car- gestos, atitudes e palavras, neste sentido, é
religiões, diferentes raças e etnias, dentre
acterísticas culturais e étnicas de diferentes grupos sociais, além do incentivo ao convívio de de fundamental importância que os educa-
diferentes grupos, tornando a diversidade uma característica que favorece a valorização e o outras especificidades e diferenças que são
contempladas no ambiente educacional. dores estejam preparados com tais situações
enriquecimento social e cultural. A escola apresenta, dentre outras funções, a de normalizar os
e possam intervir de maneira eficaz e buscar
padrões apresentados na sociedade, constituindo identidades e contribuindo para a formação
dos cidadãos de maneira crítica. O tema diversidade no âmbito escolar, nos dias de hoje, tor- A exclusão social pode ser definida ações para a prevenção de tais situações.
na-se extremamente relevante nas discussões que permeiam o ambiente escolar, permitindo e como a impossibilidade de alguns Estabelecer diferentes formas de relação
contribuindo para que as diferenças sejam respeitadas e contribuindo para que as práticas de indivíduos a terem acesso a bens culturais entre os alunos com o respeito e a tolerân-
intolerância e discriminação não sejam disseminadas e propagadas dentro e fora da escola. A e materiais produzidos pela sociedade, por cia abordados irá contribuir na prevenção
escola por meio de sua prática pedagógica deve atender a todos sem distinção estabelecendo discriminação ou desigualdade cultural. A de tais atitudes, a conscientização é o pri-
práticas de igualdade e respeito. escola tem como desafio o reconhecimento meiro passo para a efetivação de tais práticas.
da diversidade como integrante na formação
Palavras-chave: Pluralidade Cultural; Relações Étnico Raciais; Diversidade; Práticas Escolares. do indivíduo que por sua vez, possui uma O tema Pluralidade Cultural aborda a val-
identidade e uma cultura que deve ser orização das características culturais e ét-
respeitada e valorizada como integrante do nicas de diferentes grupos sociais, além do

506 507
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

incentivo ao convívio de diferentes grupos, rização da cultura negra e a desconstrução de anças negras e contribuindo para o respeito e discutir tais temáticas em sala de aula, cum-
tornando a diversidade uma característi- estereótipos e preconceitos sobre os africanos as diferentes culturas por parte das crianças. prindo com o disposto na legislação e efeti-
ca que favorece a valorização e o enriquec- e seus descendentes, fatores muito impor- vamente buscando formas de consolidar nas
imento social e cultural. O papel da escola tantes para o combate ao racismo, que mui- [...] é preciso admitir que o trabalho de implementar me- relações escolares, o respeito à diversidade e
didas no sentido de democratizar as relações de tra- a tolerância às diferenças. O tema diversidade
no trabalho com a pluralidade cultural, fun- tas vezes, está enraizado no cotidiano escolar balho constitui um elemento importante na agenda da no âmbito escolar, nos dias de hoje, torna-se
damenta-se em formar os seus alunos para e nos espaços sociais nos quais convivemos. gestão da escola, bem como da política educacional,
extremamente relevante nas discussões que
visando à abordagem crítica do tema da diversidade ét-
que sejam capazes de reconhecer e respeit- nico-racial, de modo a proporcionar condições para o permeiam o ambiente escolar, permitindo e
[...] um modo muito efetivo de enfrentar esse desafio na Ed-
ar as diferenças que fazem parte do contex- desenvolvimento das atividades cujas características não contribuindo para que as diferenças sejam
ucação Infantil é ofertar às crianças representações gráfi- venham a reproduzir hierarquias sociais marcadas histori-
to histórico e cultural de nossa sociedade. cas, literárias, científicas e artísticas que contemplem essa respeitadas e contribuindo para que as práti-
camente pela divisão racial do trabalho e pela distribuição
Esta temática deve ser abordada de forma diversidade, para que encontrem nos textos lidos person- desigual dos recursos de poder. (BRITO, 2011, p. 69). cas de intolerância e discriminação não sejam
que se constitua como uma forma de orien-
agens que protagonizam diferentes histórias. Dessa forma, disseminadas e propagadas dentro e fora da
bebês e crianças se reconhecem em suas identidades e po-
A exclusão social pode ser definida como escola. A escola por meio de sua prática ped-
tação às práticas sociais e não apenas como dem compreender a diversidade étnica e racial do mundo
como uma grandeza de experiências e possibilidades. A a impossibilidade de alguns indivíduos a te- agógica deve atender a todos sem distinção es-
um conjunto de normas a serem seguidas. tabelecendo práticas de igualdade e respeito.
escola é o espaço de formação e de construção das iden- rem acesso a bens culturais e materiais pro-
tidades sociais do bebês e das crianças, que se comprom- duzidos pela sociedade, por discriminação ou
Atualmente nas discussões da área da educação, a temáti- ete com a transformação social. (SÃO PAULO, 2019, p. 46)
desigualdade cultural. A escola tem como de- O reconhecimento positivo das culturas negras e a possi-
ca do multiculturalismo, tanto como conceito quanto como
bilidade da escuta respeitosa de todos permite vivenciar
projeto, tem ocupado cada vez mais espaço, trazendo para safio o reconhecimento da diversidade como
Cabe aos educadores um posicionamento a interculturalidade necessária à formação da cidadania
a cena central a problemática da diversidade de cultura pre- integrante na formação do indivíduo que por e da vida em comum, hoje e no futuro. A visibilização de
sente no mundo contemporâneo. [...] Um dos maiores desa- crítico e eficaz no que diz respeito ao trabalho
fios postos à educação escolar pública é, justamente, lidar
sua vez, possui uma identidade e uma cultura histórias de vida de pessoas negras pode propiciar para as
com a questão das várias formas de diversidade presentes com a discriminação no ambiente escolar, o que deve ser respeitada e valorizada como in- crianças, sejam elas negras ou não, o resgate de riquíssi-
no seu interior (nível socioeconômico, gênero, etnia, raça, educador não pode assumir uma postura neu- tegrante do contexto sociocultural brasileiro. ma história e cultura dos povos africanos e afro-brasile-
orientação sexual, religião, idade, etc.). (LEITE, 2014, p. 19).
tra diante de situações que contenham falas Não basta apenas a mudança da predominân- iros, repletas de inovações científico tecnológicas, sociais,
cia de uma cultura em detrimento a outra, o políticas, intelectuais e a ajuda na reconstrução da imagem
Os educadores devem compartilhar com os ou atitudes preconceituosas. O diálogo é a da participação digna e ativa dos negros em todas as di-
currículo escolar deve ser repensado, abor-
alunos as diferenças que permeiam todas as melhor maneira para se estabelecer o respeito mensões da experiência humana. (SÃO PAULO, 2019, p. 46)
dando a diversidade cultural existente no país
relações em nossa sociedade, sejam elas fa- nas relações entre os sujeitos e o conhecimen- e no mundo, para que todos os alunos tenham
miliares, de trabalho, religiosas, dentre outras. to auxilia este processo de conscientização. acesso ao conhecimento “negado” durante Quando a criança passa a ser representa-
As famílias possuem diferentes característi- anos ou tratado de maneira estereotipada e da nos materiais trabalhados na escola e é
cas e partilham diferentes saberes e conheci- Segundo Silva (2011) há disponível hoje fora de contexto, produzindo assim um sen- capaz de encontrar as suas características ali
uma consistente produção literária, acadêmi- timento de pertencimento à uma cultura e presentes, a sua autoestima é elevada e a for-
mentos, é necessário que os alunos aprendam
ca e midiática com a temática africana e af- etnia inferior por parte dos afro-brasileiros. mação de sua identidade também é influen-
com as diferenças e aprendam a respeitar as
ro-brasileira que pode auxiliar os profes- ciada. É importante que os materiais trabalha-
individualidades e singularidades de cada in- RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS E dos tragam afirmações positivas em relação
divíduo em seu contexto familiar e social. Des- sores e demais profissionais do contexto DIVERSIDADE NA ESCOLA ao negro, em que a criança seja capaz de iden-
ta maneira, torna-se possível oferecer ao aluno escolar na abordagem deste tema. Podem- tificar-se em diferentes papéis e não somente
um ambiente em que o respeito e a aceitação os exemplificar a inclusão de personagens Com a promulgação da Lei 10.639/03 em posição de inferioridade ou estereotipada.
sejam constantes e as relações estabelecidas negros, assim como de outros grupos étni- foram trazidos diversos questionamentos so- Normalmente, a criança negra apresenta difi-
co-raciais no processo de socialização, além bre a abordagem do tema das relações étni- culdade em auto afirmar-se, não conseguindo
entre os pares sejam baseadas nestas con-
de permitir a ampliação dos referenciais co-raciais na escola e de que forma os educa- perceber a sua representação nos diferentes
cepções. Além destes aspectos temos a valo- dores, neste novo contexto, devem trabalhar
culturais, valorizando a autoestima das cri- contextos abordados na escola. A escola, em

508 509
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

todos os seus níveis de ensino e modalidades abordam histórias cujo protagonistas são práticas de cidadania e respeito. O ambiente ceitos que possam colaborar para o reconhec-
deve atuar para promover uma educação vol- afro brasileiros ou de matriz africana. Desta educativo tem como função praticar uma ped- imento da diversidade, valorizando o coletivo
tada para a valorização das pessoas, formação maneira, compreender quais são os aspectos agogia democrática, na qual, o diálogo esteja e combatendo posturas preconceituosas e
de valores e comportamentos sociais livres trabalhados referente à identidade, ao recon- presente e a valorização da cultura, costumes incorporando a história e a cultura do povo
de preconceito e intolerância. A educação es- hecimento e ao empoderamento dos leitores e concepções, que corroborem para a apren- negro, nos conteúdos a serem abordados em
colar deve estar pautada na tolerância e nos negros. De que forma tais conteúdos mantêm dizagem significativa e livre de preconceitos. sala de aula. Desta maneira, os alunos po-
respeito as diferenças, seja de qual origem relação com os outros grupos sociais valori- dem conscientizar-se e aprender com base
for, a diversidade humana deve ser vivencia- zando as diferenças e as identidades coletivas. As políticas voltadas à educação dos ne- no respeito e valorização das diferenças.
da e respeitada, contribuindo para a quebra gros devem garantir o sucesso e a valori-
de estigmas, estereótipos e preconceitos. zação de sua cultura, promovendo formas de A escola e os seus educadores devem in-
Quando consideramos a Educação Infantil, com que olhar relacionamento em que o respeito à diver- serir em suas práticas pedagógicas propos-
Os marcos legais referenciados resultam da trajetória históri- pensamos e refletimos as histórias dos bebês e das cri-
anças em geral, e as histórias de crianças negras, indíge-
sidade cultural, artística e histórica seja am- tas adequadas para que a diversidade hu-
ca de lutas e mobilizações sociais que, ao longo de décadas,
buscou a representação de identidades sócio raciais, histori- nas ou imigrantes em particular? É preciso atentar para a plamente discutida por profissionais e pro- mana seja discutida de forma democrática,
camente marginalizadas. Marcos legais podem ser utilizados formação identitária na Educação Infantil, uma vez que se fessores capacitados, implicando assim, em permitindo um posicionamento crítico por
como ferramentas conceituais e teóricas que ajudam na de- trata de crianças de zero a seis anos de idade. É no con- atitudes de autoafirmação, reconhecimento parte dos alunos, com ações e atitudes que
sconstrução de percepção falsas sobre o outro e ajudam na texto das diversas formas de socialização que as diferenças
negativas ou positivas se estabelecem despertam os sen-
e valorização das diferentes culturas e et- possam contribuir para a diminuição de práti-
construção de uma cultura de igualdade, evitando assim a
folclorização das histórias e culturas. Esse movimento culmi- timentos de rejeição ou empatia em relação aos pares. É nias existentes no contexto da escola. Bem cas discriminatórias e preconceituosas, que
nou na alteração do Artigo 26A da Lei 9394/96, que define preciso ter atenção sobretudo ao racismo implícito, con- como, aos alunos brancos e de outras etnias, possam ser vivenciadas no contexto social
as Diretrizes e Bases da Educação (1996), a qual, em 2003, tido no tom da voz, no toque, no olhar, na brincadeira, promover o conhecimento e o acesso as dif- e escolar. A conquista de uma legislação es-
estabeleceu a obrigatoriedade do ensino da História e Cul- nas brigas e nos xingamentos. (SÃO PAULO, 2019, p. 44)
erentes manifestações culturais existentes. pecífica sobre o tema diversidade, por si só,
tura Afro-Brasileira e Africana, sendo alterada novamente
em 2008 para incluir a mesma obrigatoriedade em relação Com a promulgação da Lei 10639/03, que não garante a efetivação da intenção de uma
a História e Cultura Indígena. (SÃO PAULO, 2019, p. 44) estabeleceu a obrigatoriedade do ensino da CONSIDERAÇÕES FINAIS educação inclusiva, exigindo ações que de
cultura e história das comunidades africana fato façam a lei acontecer. A realização de
A legislação tende a ser um amparo para Os educadores devem atuar de maneira um programa de formação de educadores
e afro-brasileira, o reconhecimento e a val-
que os sistemas educacionais possam se ar- a compartilhar com os alunos as diferenças e educadoras da rede pública, focado na
orização destes povos passa a ter um apoio
ticular em defesa da diversidade, respeit- que permeiam todas as relações em nossa temática da diversidade, abordando gênero,
fundamental e ganha uma nova perspecti-
ando-a em suas manifestações culturais e sociedade, sejam elas familiares, de trabalho, sexualidade, relações étnico-raciais e possi-
va quando pensamos em educação. A escola
propondo currículos que atendam às neces- religiosas, dentre outras. As famílias possuem bilitando a educadores e educadoras repen-
apresenta, dentre outras funções, a de nor-
sidades de todos e todas que se encontram diferentes características e partilham difer- sarem sua prática aponta para a concretude
malizar os padrões apresentados na socie-
envolvidos no processo de ensino/aprendiza- entes saberes e conhecimentos, é necessário de conquistas que precisam ser realizadas.
dade, constituindo identidades e contribuin-
gem. Os PCN abordam essa temática, viabi- que os alunos aprendam com as diferenças
do para a formação dos cidadãos de maneira
lizando o trabalho do/a professor/a de for- e aprendam a respeitar as individualidades Cabe ao professor trabalhar com materi-
crítica, sendo um local de produção e repro-
ma a questionar as origens e manifestações e singularidades de cada indivíduo em seu ais e obras literárias adequadas à temática
dução de cultura em todas as suas variáveis,
de racismo, preconceito e discriminação de contexto familiar e social. Desta maneira, étnico racial, que contemple as diferentes
estabelecendo uma relação entre o meio
qualquer tipo no contexto escolar. Vale ressal- torna-se possível oferecer ao aluno um am- culturas e contextos. Na escolha do mate-
social e os alunos. A escola se constitui em
tar que são propostas flexíveis à realidade lo- biente em que o respeito e a aceitação sejam rial o professor deve atentar-se se os liv-
um local no qual é preciso estabelecer a con-
cal do sujeito, ao contexto social em que vive. constantes e as relações estabelecidas entre ros abordam a imagem do negro e do afro
vivência com a diferença e adequar-se à real-
A escola, em seu projeto político pedagógico os pares sejam baseadas nestas concepções. descendente de uma maneira afirmativa,
idade social que está a sua volta, exercendo o
e o professor em sua prática, deve estudar seu papel como produtora de cultura escolar abordando diferentes temáticas e desvin-
as obras literárias que possuem a temática que deve estar pautada no protagonismo dos O trabalho em sala de aula deve contex- culando um pouco dos modelos europeus
voltada para as relações étnico raciais e que alunos como sujeitos de direitos, construindo tualizar as questões raciais, abordando con- sempre utilizados como modelo nas escolas.

510 511
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.


Parâmetros curriculares nacionais: pluralidade
cultural, orientação sexual. Secretaria de Edu-
cação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.

BRASIL. Secretaria de Educação Funda-


mental. Parâmetros Curriculares Nacio-
nais. Apresentação dos temas transver-
sais, ética. Brasília: MEC/SEF, 2000. 147p.

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais


LUCIANA DONATO OLIVEIRA para a Educação das Relações Étnico-Raci-
ais e para o Ensino da História Afro-Brasile-
Graduação em Pedagogia pela Universidade ira e Africana. Brasília: SECAD/ME, 2004.
Metropolitana de Santos (2014); Especial-
ista em Formação Docente pela Faculdade BRASIL. Lei 10.639, de 9 de janei-
de Ciências e Tecnologia Paulistana (2018); ro de 2003. D.O.U. de 10/01/2003.
Professora de Educação Infantil e Ensino
Fundamental I - na EMEI Felipe Mestre Jou. LEITE, Maria Aparecida. Diversidade Cultur-
al no Contexto Escolar. Universidade Estad-
ual da Paraíba. Pró Reitoria de Ensino Mé-
dio, Técnico e Educação a Distância. 2014.
A LUDICIDADE COMO RECURSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO NAS
SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal AULAS DE LÍNGUA INGLESA NOS ANOS INICIAIS
de Educação. Coordenadoria Pedagógi-
REFERÊNCIAS ca. Currículo da Cidade: Educação In- RESUMO: Este trabalho tem por objetivo discutir e propor uma reflexão sobre a ludicidade
fantil. São Paulo. SME. COPED. 2019. como recurso didático-pedagógico nas aulas de Língua Inglesa nos anos iniciais da rede públi-
BRITO, José Eustáquio de. Educação e Relações ca municipal de São Paulo, partindo de uma análise bibliográfica, confrontando teoria, prática
Étnico-Raciais: desafios e perspectivas para SILVA, Natalino Neves da. A diversidade e realidade. A problemática surgiu em meio ao dilemas e críticas do cotidiano do professor de
o trabalho docente. Ano 14, nº 18, 2011. cultural como princípio educativo. Uni- Língua Inglesa, que enfrenta críticas dos pais dos alunos que não entendem que a utilização
versidade Fumec. Belo Horizonte. Ano 8, da ludicidade contribui para a construção de uma aprendizagem interativa, significativa e dif-
BRASIL. Lei 9394 – 24 de dezembro de 1996. nº 11, 2011. Disponível em: <www.fu- erenciada. Com o intuito de tentar desmistificar e sanar algumas das dificuldades existentes
Lei de diretrizes e bases da educação nacio- mec.br/revistas/paideia/article/down- no processo ensino/aprendizagem dessa disciplina tais como: motivação, dificuldades de as-
nal. Brasília: Ministério da Educação, 1996. load/1307/888> Acesso em 10 julho 2019. similação dos conteúdos, além das as dúvidas e críticas a importância do lúdico com base
nos estudos teóricos Vygotsky e Piaget sobre ludicidade e aquisição da linguagem humana e
BRASIL. Plano Nacional das Diretrizes Cur- estratégias de aprendizagem da língua inglesa. Acredita-se que esse trabalho contribuirá para
riculares Nacionais para a Educação das o repensar da prática docente do professor de línguas dos anos iniciais.
Relações Étnico-raciais e para o Ensino de
História e Cultura Afro-brasileira e Afri- Palavras-chave: Ludicidade; Aquisição; Língua Inglesa; Anos iniciais.
cana. Brasília: SECAD; SEPPIR, jun. 2009.

512 513
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO brincadeiras educativas durante as aulas de satisfatório e espontâneo. Os benefícios desses educandos que, sendo sujeitos
inglês na unidade escolar na qual leciono, da ludicidade nas aulas são tantos que sociais possuidores de um repertório
O ensino/aprendizagem de língua inglesa provocando em mim a necessidade de até hoje nenhum cientista conseguiu social, cultural e cognitivo precisam ter
nas Unidades Escolares públicas, muitas embasar melhor o poder de argumentação comprovar o deslumbramento que ela esse repertório reconhecido e respeitado.
vezes com resultados insatisfatórios, tem nos ao defender as práticas e metodologias exercita nos alunos de qualquer faixa-etária.
levado a repensar nossa prática pedagógica. pedagógicas adotadas. Pode-se verificar que Além disso, devemos reconhecer a
Diante dos resultados obtidos no ensino/ nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a A CONCEPÇÃO DE CRIANÇA E importância e trabalhar a ludicidade, a
aprendizagem da mesma, temos a sensação Educação Infantil, a questão da ludicidade foi DE INFÂNCIA expressão corporal e a imaginação como
que não há motivação, interesse, progressão contemplada, enquanto que nas Diretrizes elementos integradores do currículo nas
dos conteúdos, assimilação do vocabulário Curriculares Nacionais para o Ensino Unidades Escolares, valorizar o trabalho
e, consequentemente, aprendizagem Fundamental, ela nem sequer é mencionada. É preciso ter em mente que o processo com a infância e romper com as rotinas na
significativa dos discentes. Na busca de Buscando respostas aos questionamentos educativo possui um caráter amplo e não Educação Infantil. É preciso ter em mente
procedimentos para obtenção de êxito na levantados,surgiu esse artigo. se limita apenas às situações tradicionais que o processo educativo possui um caráter
aprendizagem dos alunos, tem-se buscado e formais do processo de ensino- amplo e não se limita apenas às situações
atividades inovadoras, motivadoras, como Apesar de todo embasamento teórico aprendizagem. O espaço físico/ambiente tradicionais e formais do processo de
forma de atingir uma aprendizagem eficaz. A e legal mostrando a importância do escolar vai muito além de um local em que ensino-aprendizagem, pois a Educação deve
utilização e eficácia do lúdico nas aulas de brincar, ainda há dentro das idéias e o conhecimento é sistematizado, pois nem ser organizada sem rupturas, por meio de um
língua inglesa tanto na Educação Infantil como práticas educativas institucionais, um olhar sempre é condizente com a concepção conjunto articulado, orgânico e sequencial.
no Ensino Fundamental I é um tema polêmico, indiferente e até cético sobre a questão de educação que coloca o brincar como
pois traz à tona críticas quanto à importância da presença da brincadeira dentro do central ao processo de aprendizagem no O espaço físico/ambiente escolar
das atividades lúdicas (jogos, brincadeiras, cotidiano escolar. Assim, entre o discurso qual a criança é o protagonista principal. vai muito além de um local em que o
músicas etc.) no processo de ensino- e a prática, o tempo e o espaço do brincar Muitas vezes, a compreensão parcial conhecimento é sistematizado, pois nem
aprendizagem de uma língua estrangeira. vão sendo reduzidos para que nossas ou mesmo a incompreensão de de tais sempre é condizente com a concepção
crianças se tornem alunos condicionados. conceitos centrais está relacionada à falta de educação que coloca o brincar como
O brincar faz parte do dia a dia da criança de preparo para incorporá-los às práticas e, central ao processo de aprendizagem no
e, por meio deste, ela se desenvolve integral A história dos jogos no Brasil segundo em uma instância, à falta de infraestrutura. qual a criança é o protagonista principal.
e plenamente, cresce como ser social e Kishimoto (1993) é influenciada pelos Não é a concepção de infância presente na
protagonista de sua aprendizagem, visto que portugueses, negros e índios nas brincadeiras Não é a concepção de infância presente na Unidade Escolar que está equivocada, mas
aprende a criar, seguir e respeitar as regras das crianças brasileiras. De acordo com Unidade Escolar que está equivocada, porém, sim, algumas condutas e práticas pedagógicas
de convívio social. Na faixa etária entre 6 e Kishimoto (1993), foi introduzido nas vidas algumas condutas e práticas pedagógicas precisam ser revistas, visando a garantia de
12 anos de idade, o professor deve explorar o das crianças brasileiras o folclore português, precisam ser revistas, visando a garantia de uma prática que atenda às necessidades
novo e apresentar formas divertidas de lidar por meio da oralidade, e assim, foram uma prática que atenda às necessidades afetivas, cognitivas e culturais das crianças.
com a língua Inglesa, por meio de jogos orais, criados os contos, as lendas, superstições, afetivas, cognitivas e culturais das crianças.
músicas, cartazes e pôsteres, gibis, filmes e versos, adivinhas e as parlendas, e também Infelizmente, as Unidades Escolares têm De modo geral, a criança não é vista como
desenhos entre outros, ou seja, o professor personagens como o bicho-papão, a mula sem deixado de lado o protagonismo infantil. um sujeito de direitos, fato que revela uma
deve ser a ponte entre o aluno e o novo idioma cabeça, a Cuca, Lobisomem, e outros, trazidas As crianças são vistas meramente como concepção adultocêntrica, ou seja, a voz
deve explorar o mundo fantástico da criança, pelos portugueses e consequentemente consumidoras de cultura e não produtoras, da criança não é escutada na organização
utilizar o que ela já conhece para a partir daí se originaram brincadeiras infantis tendo sendo assim, as Escolas têm menosprezado e condução do processo de aprendizagem.
apresentar-lhes o novo idioma. A escolha do estas personagens. Nas suas muitas a diversidade e as diferenças que marcam as Portanto, é possível afirmar que não se
tema deste artigo foi motivada pelas críticas definições, o lúdico quer dizer divertimento, relações no espaço educativo. Infelizmente, tem levado em consideração o repertório
que alguns pais e/ou responsáveis fazem às passatempo, distração, movimento não se tem considerado o repertório dos alunos que, sendo sujeitos sociais

514 515
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

possuidores de um repertório social, cultural O lúdico na sala de aula envolve a O ato de brincar não é estático, pois é uma que a criança se comporta além do
e cognitivo precisam ter esse conhecimento sensibilidade da escola e dos professores para ação mediada pelo contexto sociocultural e comportamento natural de sua idade, além de
prévio de mundo reconhecido e respeitado. compreenderem e incorporarem a cultura o significado construído pela criança sobre seu comportamento cotidiano; no brinquedo,
infantil em seu projeto político-pedagógico, a função de determinados objetos e da sua é como se ela fosse maior do que ela é na
buscando atrelar as lógicas infantis às participação em certas brincadeiras. De um realidade. Apesar da palavra brincadeira ser
A infância é uma construção histórica e lógicas educativas. Portanto, espera-se que lado existe dependência dos sistemas de estreitamente ligada à infância e às crianças,
social e, portanto, a criança como sujeito os educadores e estejam atentos a falas, significação coletivamente compartilhados vemos que a brincadeira sempre foi uma
de direitos deve estar no cerne de um sentimentos e brincadeiras das crianças, para pelo grupo ao qual a criança pertence, atividade significativa na vida dos homens em
planejamento e prática pedagógica contínua que, por meio da compreensão da forma como envolvendo crenças e valores dos adultos diferentes épocas e lugares (Borba, 2007).
e não fragmentada, em permanente diálogo se relacionam entre elas, com a escola e com responsáveis por ela (mãe ou professora). De
com a integração de saberes de diferentes os próprios saberes, possam desenvolver outro lado, existe a versão construída pela Segundo Borba (2007, p.12), a infância
componentes curriculares contemplando uma prática educativa mais interessante criança sobre os padrões sociais, a partir é um período em que o ser humano está se
as culturas infantis e da infância, incluindo (ALBUQUERQUE & PROTÁSIO, 2005). dos referenciais transmitidos pelo grupo a constituindo culturalmente, a brincadeira
suas potencialidades subjacentes. que pertence, mas que são ressignificados assume importância fundamental como forma
Segundo Santos (1997), a ludicidade é uma no seu cotidiano e nas suas interações de participação social e como atividade que
O brincar é condição para o necessidade do ser humano em qualquer idade com seus pares e com ‘outros sociais’. possibilita a apropriação, a ressignificação e
desenvolvimento humano, pois se trata de e não pode ser vista apenas como diversão. Consequentemente, a criança recria e a reelaboração da cultura pelas crianças. Já
um ato de relação com o mundo e com os O desenvolvimento do aspecto lúdico reinventa seu espaço de brincadeira, com que as as infâncias são diversas, as crianças
outros que se constitui como um processo facilita a aprendizagem, o desenvolvimento novos cenários, inventando funções para os são atores sociais com identidades e
sócio-histórico-social, aprendido nas pessoal, social e cultural, colabora para objetos, dando-lhe um sentido de acordo atuações próprias, que passam por diferentes
relações humanas e no uso social dos objetos. uma boa saúde mental, prepara para um com os padrões aprovados socialmente. processos físicos, cognitivos e emocionais,
Ao se falar em infância, é comum associá- estado interior fértil, facilita os processos vêm de contextos distintos, têm necessidades
la apenas à Educação Infantil, que faz o de socialização, comunicação, expressão Como ressalta Machado (2003, p.37), específicas e características individuais,
atendimento de crianças entre zero a seis e construção do conhecimento (pág. 12). o brincar é também um grande canal como sexo, idade, etnia, raça e classe social.
anos de idade. Porém, o Estatuto da Criança para o aprendizado, senão o único canal
e do Adolescente (ECA) define que a infância O BRINCAR E O LÚDICO NA para verdadeiros processos cognitivos. Conforme Borba (2007), o brincar é
compreende as crianças de 0 a 12 anos, ou AQUISIÇÃO DA LÍNGUA INGLESA Para aprender precisamos adquirir certo fundamentado nas visões de Vygostsky
seja, em termos educacionais, compreende distanciamento de nós mesmos, e é isso o (2007), “atividade humana criadora” de
a Educação Infantil e o primeiro segmento O tema da brincadeira vem sendo que a criança pratica desde as primeiras aprendizagens na infância. É por meio das
do Ensino Fundamental. É neste sentido bastante pesquisado em seus diferentes brincadeiras transicionais, distanciando-se vivências lúdicas, com jogos, brincadeiras
que a Ludicidade nas aulas de Língua Inglesa aspectos desde o século XVIII. Porém, ainda, da mãe. Por meio do filtro do distanciamento que envolvem cantar, desenhar, recitar, entre
pode contribuir para o desenvolvimento de percebem-se, imprecisões de conhecimentos podem surgir novas maneiras de pensar e outras, que as crianças iniciam o processo de
processos educativos voltados à formação sobre o conceito e os processos envolvidos na de aprender sobre o mundo. Ao brincar, agenciamento social e, consequentemente,
do cidadão crítico com participação ativa e brincadeira. Entretanto, a maior preocupação a criança pensa, reflete e organiza-se o brincar é a atividade de aprendizagem
propositiva na sociedade contemporânea. não deve ser sobre estabelecer um conceito internamente para aprender aquilo que ela fundamental para esses sujeitos.
Ademais, não se pode deixar de contemplar universal e fechado no que diz respeito ao quer, precisa, necessita, está no seu momento
o cuidado, a educação e a inserção social da ato de brincar, mas expandir as pesquisas, de aprender; isso pode não ter a ver com As atividades lúdicas e desafiadoras
criança, tendo em vista suas singularidades, buscando preencher as falhas existentes e, o que o pai, o professor ou o fabricante facilitam e mobilizam a aprendizagem
peculiaridades e diferenças inerentes concomitantemente, respaldar os docentes de brinquedos propõem que ela aprenda. escolar. Jogos e brincadeiras contribuem
à faixa etária em que se encontram. e interessados no assunto para que possam de forma preponderante para o
realizar práticas educativas mais interessantes. De acordo com Vygotsky, é na brincadeira desenvolvimento das crianças, pois

516 517
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

permitem que elas vivenciem diferentes antecipatórias, orientação no tempo, na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa língua nessa fase não pode ser diferente.
papéis, façam descobertas de si e do outro, conhecimento do meio e aceitação social. com Deficiência (2016) e no Marco Legal Portanto, é válido ressaltar que a formação
ampliando as suas relações interpessoais e da Primeira Infância (Artigo 17/2016), do profissional é de suma importância e o
contribuindo para desenvolver o raciocínio O brincar faz parte da vida das pessoas de acordo com o artigo 4º do ECA (1990). mesmo deve possuir além de conhecimento
e a criatividade (RODRIGUES, 2013, p. desde a infância, e sob essa visão pode-se científico, perfil para trabalhar com crianças.
10). Também promovem a apropriação do afirmar que o brincar possui importância para Em 2013, foi aprovado o Comentário Geral
Sistema de Escrita Alfabético (SEA), do o desenvolvimento global da criança, estando #17 para este artigo devido à preocupação Ao entrar em contato com o mundo e com
Sistema de Numeração Decimal (SND), relacionado aos aspectos do desenvolvimento do Comitê dos Direitos das Crianças da os outros, a criança adquire experiências
bem como auxiliam o trabalho pedagógico cognitivo, social, afetivo e físico (PIAGET, ONU - CDC com o pouco reconhecimento reais, vivências que farão parte da sua
com outros componentes curriculares. 1998).O ato de brincar para Vygotsky (1991) dado pelos Governos de todo o mundo, a história. Essa interação social é indispensável
cria a chamada “zona de desenvolvimento esse direito. No Brasil, o direito de brincar nessa fase da vida e o papel do professor é
Os anos iniciais do Ensino Fundamental proximal”, que impulsiona a criança para é assegurado pela Constituição Brasileira, de mediar esse conhecimento, auxiliando
I exigem um trabalho docente coletivo, além do estágio de desenvolvimento que pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, na transformação social do aluno. Ao se
sistemático e coordenado. Os professores ela já atingiu. Ao brincar, a criança se pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação familiarizar com um novo idioma adquirindo
precisam atuar de forma conjunta apresenta além do esperado para a sua e, recentemente, pelo Marco Legal da uma segunda língua – como a inglesa, objeto
para assegurar a continuidade e idade e mais além do seu comportamento Primeira Infância. Segundo, Janine Dodge, deste estudo - o intelecto se desenvolve e
complementaridade do processo pedagógico habitual. Através da brincadeira a criança Presidente da IPA Brasil, apenas 17% dos auxilia na transformação do homem como
ao longo dos três anos. Os registros das se liberta das limitações do seu mundo real, pais brasileiros concordam que brincar ser social e transformador de sua própria
crianças articulados aos registros de práticas visto que cria situações imaginárias. Além é importante para o desenvolvimento vida. Esta não poderá ser vista apenas
dos professores também são fundamentais disso, é uma ação simbólica essencialmente das crianças na primeira infância. como um instrumento de comunicação de
para que se possa consolidar as experiências social, que depende das expectativas pessoas que falam o mesmo idioma, mas um
vivenciadas e acompanhar o progresso das e convenções presentes na cultura. A filosofia adotada pelo IPA afirma o brincar indicador de que se pertence a determinado
crianças. Como já apontado no documento é a melhor maneira de assegurar o máximo grupo, sendo, portanto, um símbolo de
Direitos de Aprendizagem dos Ciclos No Brasil, o direito de brincar está potencial de desenvolvimento de cada identidade. Um fator fundamental para
Interdisciplinar e Autoral: Língua Inglesa, presente na Constituição Brasileira (Artigo indivíduo, pois brincar estimula a criatividade essa transformação é a aquisição e domínio
“aprender a canção, as palavras ou versos 227/1988) que estabelece que é dever da e o desenvolvimento social, emocional, da linguagem, é por meio dela que a
que acompanham uma brincadeira são família, da sociedade e do Estado assegurar cognitivo e físico da criança e do adolescente criança entra em contato com o meio que
atividades que ganham um novo sentido à criança, ao adolescente e ao jovem, com como um todo, independente do seu grau a rodeia, sendo capaz de transformá-lo;
na medida em que é a prática social que absoluta prioridade, o direito à vida, à de capacidade. O brincar é fundamental no e é essa habilidade de usar a linguagem
está em jogo” (SÃO PAULO, 2016, p. 58). saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à fortalecimento da empatia e resiliência da em conjunto com atividades práticas que
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao criança, ajudando a criar uma cultura de paz. diferencia o homem dos outros animais.
Para a psicóloga e psicopedagoga Adriana respeito, à liberdade e à convivência familiar
Duarte é por meio das brincadeiras que e comunitária, além de colocá-los a salvo de O ENSINO DA LÍNGUA INGLESA No aspecto da didática do ensino de
são desenvolvidas a fluência e codificação, toda forma de negligência, discriminação, NOS ANOS INICIAIS inglês, Krashen (1988) defende a hipótese
vocabulário, decodificação auditiva, exploração, violência, crueldade e opressão. da aquisition, que trata do desenvolvimento
associação visual, memória auditiva, (Redação dada Pela Emenda Constitucional O ambiente escolar nos anos iniciais das habilidades funcionais de forma natural,
compreensão, conhecimento da localização nº 65, de 2010) [grifo autora]. Além do Ensino fundamental I assim como na intuitiva, nos ambientes de interação
das partes do corpo, motricidade, disso, o direito ao brincar também está Educação Infantil continua sendo um lugar humana, logo, defende também a hipótese
organização do corpo no espaço, equilíbrio assegurado pelo ECA - Estatuto da Criança receptivo e alegre, onde a criança é convidada do affective filter, que são fatores de ordem
e ritmo, lateralidade e sentido de direção, e do Adolescente (Artigo 16/1990), na Lei a aprender de uma forma lúdica e prazerosa. psicológico-afetiva que podem causar
reações rápidas e destrezas, respostas de Diretrizes e Bases da Educação (1996), Para tanto o ensino de uma segunda impacto sobre a aprendizagem, sendo outro

518 519
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

aspecto importante na aquisição de línguas. o que aprendeu o aluno terá condições de 2013, p. 10). Também promovem a apropriação do seu cotidiano, sem deixar de lado sua
O aspecto afetivo é muito importante nessa incorporar a nova língua em sua rotina diária. do Sistema de Escrita Alfabético (SEA), do experiência fora da escola, respeitando
faixa etária, as crianças são superiores aos O Currículo da Cidade para o Ciclo de Sistema de Numeração Decimal (SND), seu processo global de desenvolvimento.
adultos na aprendizagem, pois a mesma se Alfabetização também reconhece, assim bem como auxiliam o trabalho pedagógico Quando a criança chega à escola traz consigo
dá de forma lúdica e elas não têm medo como o Pacto Nacional pela Alfabetização com outros componentes curriculares. toda uma pré-história, que foi construída a
de cometer enganos, desde que se sintam na Idade Certa (BRASIL, página 41, 2015), O Ciclo de Alfabetização demanda um partir de suas vivências e grande parte delas
confortáveis com o meio social e motivadas que“As infâncias são diversas. Crianças são trabalho docente coletivo, sistemático adquiridas por meio das atividades lúdicas.
em aprender. Isto certamente resultará na atores sociais com identidades e atuações e coordenado. Professores precisam
naturalidade da aquisição da segunda língua. próprias, que passam por diferentes atuar de forma conjunta para assegurar O professor que trabalha no ensino
Alia-se a isto, o fato das crianças passarem processos físicos, cognitivos e emocionais, a continuidade e complementaridade do fundamental deverá contemplar a brincadeira
por esse processo durante uma fase de vêm de contextos distintos, têm necessidades processo pedagógico ao longo dos três como princípio norteador das atividades
maturação biológica do seu organismo, o específicas e características individuais, anos. Os registros das crianças articulados didático-pedagógicas, possibilitando às
que implica na necessidade de compreender como sexo, idade, etnia, raça e classe social” aos registros de práticas dos professores manifestações corporais encontrarem
sobre a complexidade desta etapa. também são fundamentais para que se significado pela ludicidade presente na
Crianças têm direito a acessar múltiplas possa consolidar as experiências vivenciadas relação que as crianças mantêm com o mundo.
A educação infantil e o ensino fundamental linguagens, inclusive a escrita. Nessa fase, a e acompanhar o progresso das crianças. Não é possível conceber a escola apenas
I servem para preparar as crianças para a vida, escola deve promover, além da convivência como mediadora de conhecimentos, mas
pois o aprendizado nestas séries direciona com o lúdico, a leitura e a produção textual sim como um lugar de construção coletiva
todo o restante de conhecimento que vier de forma integrada às aprendizagens dos A RELAÇÃO ENTRE BRINCADEIRA de saber organizado, no qual professores e
a ser adquirido ao longo de suas vidas, diferentes Componentes Curriculares. Por E APRENDIZAGEM NAS AULAS DE alunos, a partir de suas experiências, possam
assim, a escola é o lugar onde a intervenção outro lado, não deve forçar a alfabetização LÍNGUA INGLESA criar e buscar alternativas para suas práticas
pedagógica desencadeia o processo de precoce ou obrigar as crianças a aprender e com isso irem além do que está proposto,
ensino e aprendizagem, e nesse processo a ler, escrever e operar matematicamente É no contexto da sala de aula que a ou seja, inovar cada vez mais. A manifestação
os atores principais são professor e aluno, por meio de exercícios enfadonhos e ludicidade ganha um espaço como ferramenta lúdica está presente no contexto escolar,
pois, o professor tem o objetivo central de inadequados para a sua faixa etária. ideal da aprendizagem, na medida em que cabendo ao professor saber guiá-la.
instigar e levar a criança a avançar e adquirir propõe estímulo ao interesse do aluno. Os
novos conhecimentos e a criança partindo A brincadeira é um direito fundamental jogos e brincadeiras ajudam a construir Ensinar uma LE (língua estrangeira), no
daquilo que ela já vivenciou, visto que ela da criança. O brincar constitui-se em novas descobertas, desenvolve e enriquece caso, a língua inglesa, não é ensiná-la de
não chega sem nenhum conhecimento oportunidade de interação com os a personalidade e simboliza um instrumento qualquer maneira, principalmente quando se
na escola, pelo contrário, a mesma já traz outros, de apropriação cultural e de pedagógico que leva o professor/educador trabalha com crianças nos anos iniciais. Esse
uma gama de vivências e conhecimentos tomada de decisões capazes de tornar a condição de condutor, estimulador, processo de ensino-aprendizagem exige
adquiridos e complementa este aprendizado a aprendizagem mais significativa. mediador e avaliador da aprendizagem. do professor conhecimento do idioma e da
não escolar com o aprendizado escolar. Atividades lúdicas e desafiadoras facilitam cultura, assim como, formação acadêmico-
e mobilizam a aprendizagem escolar. É possível criar na sala de aula um ambiente científica e pedagógica. É preciso respeitar
A aprendizagem de uma nova língua, no Jogos e brincadeiras contribuem de forma favorável ao processo de desenvolvimento o limite e tempo de cada criança, ainda mais,
caso, a língua inglesa, exige tempo, esforço, preponderante para o desenvolvimento das e aprendizagem das crianças. Porém, para quando se trabalha com crianças que se
organização de pensamento e, principalmente, crianças, pois permitem que elas vivenciem isso, será necessário explorar a expressão encontram em situação de vulnerabilidade
que o aluno sinta prazer e queira aprender, diferentes papéis, façam descobertas de livre e criadora das próprias atividades social. A falta de educadores bem preparados
que ponha em prática a todo o momento si e do outro, ampliando as suas relações das crianças, para alcançar os objetivos em sala de aula causa resistência dos alunos
e tente relembrar o conteúdo estudado, interpessoais e contribuindo para desenvolver propostos. Logo, é importante proporcionar na aprendizagem de uma língua estrangeira.
pois, lendo, revisando e reforçando tudo o raciocínio e a criatividade (RODRIGUES, à criança uma aprendizagem que parta

520 521
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

O lúdico enquanto função educativa O termo lúdico provém do latim "ludus" e ultrapassadas que passam longe da realidade Alfabetização nas páginas 40 e 41 como o
propicia a aprendizagem e a compreensão do tem um sentido amplo, pois está diretamente de nossos alunos, por isso, devemos adentrar Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade
mundo ao educando. Além disso, o recurso ligado à passatempo, diversão, jogo, zombaria no mundo de nossos educandos e partindo Certa (BRASIL, 2015) reconhecem que as
lúdico no processo de ensino-aprendizagem e ilusão; como foi mencionado anteriormente, deste mundo por meio de atividades lúdicas infâncias são diversas e que as crianças são
é uma necessidade, pois leva o educando o lúdico sempre fez parte da vida da criança, para mostrar-lhes como é importante e atores sociais com identidades e atuações
a tomar consciência de si, da realidade e a e da vida do ser humano, nas civilizações quão divertido é aprender a língua Inglesa. próprias, que passam por diferentes
esforçar-se na busca dos conhecimentos, mais antigas como os gregos e romanos, até processos físicos, cognitivos e emocionais,
sem ter consciência desse aprendizado. mesmo os adultos participavam e praticavam É preciso acabar com a visão distorcida vêm de contextos distintos, têm necessidades
Trabalhar com crianças de fato é um grande atividades lúdicas, pois, estas estavam sobre o papel do brincar na escola, específicas e características individuais,
privilégio, pois nelas encontramos a pureza presentes no dia a dia de todas as famílias. principalmente para aqueles que acreditam como sexo, idade, etnia, raça e classe social.
de querer aprender, sem nenhum tipo de que só se adquire conhecimentos diante de
estereótipo ou preconceito linguístico. O jogo é uma necessidade na vida da um professor, de um quadro e do famoso Ainda, segundo o PNAIC e o Currículo
criança, pois, é através deste que ela pode caderno de tarefas, o que é o caso de da Cidade, a brincadeira é um direito
O lúdico é uma excelente oportunidade extravasar emoções, sentimentos, sensações, muitos pais de alunos que possuem essa fundamental da criança. O brincar constitui-
de mediação entre o aprendizado e através do brincar, regras são criadas e visão distorcida. Muitos pais se opõem ao se em oportunidade de interação com os
o prazer. E a inserção desse recurso respeitadas por todos, por meio deste são lúdico nas aulas de inglês porque tiveram outros, de apropriação cultural e de tomada
pedagógico na aprendizagem de uma língua criadas regras de conduta que nortearão uma educação bastante tradicional, na qual de decisões capazes de tornar a aprendizagem
estrangeira é uma grande oportunidade a vida da criança quando esta for adulta, utilizava-se uma abordagem mais engessada, mais significativa.As atividades lúdicas
para o progresso educacional do Brasil. já que, se existe regras a mesmas deverão dura e extremamente rígida, sem espaço e desafiadoras facilitam e mobilizam a
Trabalhar com o recurso lúdico não é ser seguidas por todos. Pois, de acordo para brincadeira, afeto ou construção de aprendizagem escolar. Jogos e brincadeiras
apenas um momento de descontração, com Brougeré (1995, p.103) "As regras não vínculos. Além disso, muitos ainda acreditam contribuem de forma preponderante para
um “passatempo” e uma simples atividade preexistem à brincadeira, mas são produzidas na educação do aluno copista, pois caderno o desenvolvimento das crianças, pois
sem propósitos, mas é uma estratégia à medida que se desenvolve a brincadeira". cheio de atividades é sinônimo de conteúdo e permitem que elas vivenciem diferentes
de ensino que tem muito a contribuir e aula ministrada de forma séria. Vale relembrar papéis, façam descobertas de si e do outro,
enriquecer no desenvolvimento intelectual que o direito de brincar está assegurado ampliando as suas relações interpessoais e
e no conhecimento da língua alemã. CONSIDERAÇÕES FINAIS internacionalmente pela Convenção das contribuindo para desenvolver o raciocínio
Nações Unidas Sobre os Direitos das Crianças e a criatividade (RODRIGUES, 2013, p.
A consciência sobre a importância da prática É necessário que o professor de (Artigo 31/1989) e por seu Comentário 10). Também promovem a apropriação do
pedagógica lúdica favorece momentos de língua Inglesa dos anos iniciais do ensino Geral (#17/2013) que reforça este direito. Sistema de Escrita Alfabético (SEA), do
vivências significativas para que as crianças fundamental tenha em mente a importância Sistema de Numeração Decimal (SND),
encontrem a ludicidade dentro da sala de aula que o lúdico, o brinquedo, os jogos e a O desafio do professor de LE é fazer a bem como auxiliam o trabalho pedagógico
e desenvolvam as habilidades de seu corpo e brincadeira exercem no aprendizado de criança diferenciar o “brincar por brincar” e a com outros componentes curriculares.
da área cognitiva de forma criativa e cultural. uma criança, seja ele formal ou informal, “ludicidade”, pois infelizmente nem sempre a
O professor dos anos iniciais pode – e deve em ambiente escolar ou não.O educador de ludicidade consolida-se nas escolas. Quando Nos anos iniciais, o foco deve se concentrar
-permitir a brincadeira. Entretanto, mais língua Inglesa deve inovar suas aulas com se fala em “brincar por brincar”, trata-se de no BRINCAR, a partir das práticas da vida
importante que isso é definir os objetivos jogos de linguagem, trava línguas, canções, um momento recreativo sem objetivo, em cotidiana relacionadas ao universo da criança
que se deseja alcançar, para que este jogos orais, jogos recreativos e, por meio que a criança brinca para passar tempo, e às atividades sociais nas quais interage. Os
momento seja, de fato, significativo. “Ensinar destes, inserir a língua Inglesa no dia a dia ou talvez para o professor descansar ou gêneros textuais que devem ser priorizados
a brincar”, de forma a mediar ações na zona do aluno por meio de sua realidade, pois, o preencher o diário. As atividades lúdicas são: contos tradicionais, contos de repetição,
de desenvolvimento proximal é uma forma que vemos na maioria das vezes nas aulas devem ter um objetivo claro para os alunos. fábulas, parlendas, cantigas de ciranda,
de promover o crescimento de seu aluno. de língua Inglesa são métodos e técnicas Tanto o Currículo da Cidade para o Ciclo de poemas, regras de jogos e brincadeiras e

522 523
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

brincadeiras cantadas. Tendo em vista tudo REFERÊNCIAS ROUSSEAU, Jean Jacques. Ensaios Pedagógicos.
o que foi analisado e discutido ao longo Bragança Paulista: Editora Comenius, 2004.
deste trabalho, podemos concluir que a ALMEIDA FILHO, José Carlos Paes.
aprendizagem de uma língua estrangeira, Dimensões comunicativas no ensino
no caso inglês, as aulas precisam ser São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação.
de línguas. Campinas: Pontes, 1998. Coordenadoria Pedagógica. Currículo
estimulantes, divertidas e desafiadoras para
atrair e manter o foco e interesse dos alunos da Cidade: Ensino Fundamental: Língua
BORBA, ngela M. O brincar como um Inglesa. São Paulo: SME/COPED, 2017.
durante os quarenta e cinco minutos de aula. modo de ser e estar no mundo. In:
Quanto mais embasamento e conhecimento BRASIL, MEC/Ministério da Educação,
o professor de língua estrangeira, melhor Secretaria de Educação Básica, 2006
será o seu poder de argumentação com SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de
pais que ainda batem o pé com o uso do Educação. Coordenadoria Pedagógica. Divisão
CARNEIRO, Maria ngela Barbato e de Ensino Fundamental e Médio. Direitos de
lúdico nas aulas, pois acreditam que os DODGE, Janine J. A descoberta do
professores estão “matando tempo” de aula. aprendizagem dos ciclos interdisciplinar e autoral:
brincar. São Paulo: Melhoramentos, 2007. Língua Inglesa. São Paulo: SME / COPED, 2016.

KISHIMOTO, Tizuko M. O jogo


e a educação infantil. São Paulo:
Pioneira Thomson Learning, 2002.

LEONEL, Priscila. O adulto propiciando


o brincar. Disponível em: https://www.
ipabrasil.org/blog/o-adulto-propiciando-
o-brincar. Acesso em 10/02/2019.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Educação,


ludicidade e prevenção das neuroses
futuras: uma proposta pedagógica a partir
da Biossíntese. In: LUCKESI, Cipriano Carlos
(org.) Ludopedagogia - Ensaios 1: Educação
LUCIANA DONEGATTI DE LIMA e Ludicidade. Salvador: Gepel, 2000.
Graduação em Letras, habilitação tradutor/ OLIVEIRA, Luciano Amaral. Métodos de
intérprete português e inglês pelo Centro ensino de inglês. São Paulo: Parábola, 2014.
Universitário Ibero-Americano (2002);
Especialista em Docência do Ensino Superior PINHO, Raquel. O lúdico no processo
pela PUC/SP (2006); Professor de Ensino de aprendizagem. Disponível em:
Fundamental II e Médio - Língua Inglesa - h t t p : // w w w . w e b a r t i g o s . c o m /
na EMEF Profa. Áurea Ribeiro Xavier Lopes. articles/21258/1/O-LUDICO-NO-
PROCESSO-DE-APRENDIZAGEM. 2019.

524 525
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO original e inesquecível. A escola é um


espaço socializador e quando através de
Esse artigo tem como base a pesquisa seus projetos, consegue promover além
bibliográfica. Deu-se através de leituras de novos conhecimentos, também novos
diversas, para tornar possível uma visão comportamentos, entre professores e alunos,
ampla sobre a educação socioambiental. O fazendo o uso da pesquisa, torna-se eficaz e
presente artigo, visa a formação continuada tem seus objetivos alcançados.
dos profissionais de ensino, para a melhoria
da educação ambiental, junto ao ambiente REFLEXÃO SOBRE MEIO
escolar, visando a amplitude de projetos AMBIENTE NO ÂMBITO ESCOLAR
escolares baseados na educação ambiental,
valorizando as diversas vivências do A aprendizagem social promove o
educando. A formação de professores repensar de conceitos, a construção de
investigadores é fundamental para a novos conhecimentos e valores capazes de
elaboração de projetos escolares baseados na contribuir para a transformação de práticas,
educação socioambiental, que priorize em seu e o desenvolvimento de novas competências,
planejamento o trabalho de campo, junto ao visando à participação de forma plena e eficaz
educando e dos problemas socioambientais, na solução de problemas socioambientais,
valorizando o diálogo professor aluno, na tomada de decisão em relação a eles e na
promovendo a transformação da dificuldade gestão de conflitos por meio de processos de
em desafios com objetivos traçados a serem coaprendizagem (WALS 2007). A educação
alcançados. socioambiental deve se fazer conhecer para
que ocorra uma total interação entre alunos,
SUSTENTABILIDADE UM DESAFIO PARA A ESCOLA O projeto escolar quando aplicado de professores e ambiente escolar, embora
forma eficaz, possibilita a transformação os ecologistas discutam há mais de meio
da realidade do educando, contribuindo século o efeito da ação do homem sobre o
RESUMO: A realidade socioambiental com a qual nos deparamos em nossos dias atuais, nos para o exercício da cidadania, onde o planeta, está ainda é uma temática recente
faz repensar na formação dos professores, quanto a sua postura crítica e reflexiva. O trabalho trabalho professor aluno concede subsídios em sala de aula. A educação socioambiental
pedagógico desenvolvido de sustentabilidade nas escolas, deve valorizar o diálogo, assim até mesmo para a melhoria da qualidade é um termo bastante utilizado nos últimos
como as vivências individuais de cada um, para que as ações dos professores junto a seus de vida dos cidadãos. O aluno quando anos, para definir o conceito por debater
alunos, possa ter a possibilidade de tornar no futuro, uma sociedade mais justa e equilibrada vivencia aquilo a que estuda, torna o estudo as responsabilidades dos indivíduos e
ecologicamente. A escola deve ser sede de um espaço, onde professores e alunos se tornem significativo, tornando-se sensibilizadores, as consequências de suas ações.
cada vez mais sujeitos ativos, trabalhando dentro do âmbito escolar, problemas reais, concretos tecendo um elo entre conhecimento e
e trazendo para dentro do ambiente escolar dificuldades do cotidiano socioambiental.
melhoria da sua própria qualidade de vida, Os projetos escolares de educação
os estudos quando baseados em vivência ambiental devem contribuir para a
Palavras- chave: Formação; Realidade; Socioambiental; real, facilita ao professor articular conteúdos construção de uma visão sistêmica das
escolares entre a realidade local e o objeto questões socioambientais e propiciar, por
de estudo, produzindo um conhecimento meio da integração dos recursos utilizados

526 527
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

em atividades didático-pedagógicas, a melhoria da vida em projetos da comunidade definidos no instrumento convocatório, conforme o básico ou executivo para contratação de obras e serviços de
compreensão das inter-relações entre organizada. A formação socioambiental disposto neste Decreto. engenharia devem ser elaboradas, nos termos do art. 12 da
ambiente e sociedade. Contribuindo exige uma sensibilização de professores, Parágrafo Único. A adoção de critérios e práticas de Lei nº 8.666, de 1993, de modo a proporcionar a economia da
tanto para a formação de alunos críticos alunos e comunidade por meio da sustentabilidade deverá ser justificada nos autos e manutenção e operacionalização da edificação e a redução
e participativos, capaz de compreender o consolidação dos espaços de aprendizagem preservar o caráter competitivo do certame. do consumo de energia e água, por meio de tecnologias,
mundo em que vivem e dessa forma contribuir social, nesse processo a escola contribuirá práticas e materiais que reduzam o impacto ambiental.
no amanhã para uma melhoria da qualidade de para enfrentar o desafio político-ético de Art. 3o Os critérios e práticas de sustentabilidade de
vida. A educação ambiental como formação educação ambiental, no enfrentamento que trata o art. 2o serão veiculados como especificação Art. 7o O instrumento convocatório poderá prever
de cidadania, ou como exercício da cidadania, de uma sociedade mais consciente e justa técnica do objeto ou como obrigação da contratada. que o contratado adote práticas de sustentabilidade
tem a ver com uma nova forma de conceber a ecologicamente, exercendo a cidadania. Parágrafo único. A CISAP poderá propor à Secretaria de na execução dos serviços contratados e critérios
relação entre sociedade e natureza em busca Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do de sustentabilidade no fornecimento dos bens.
da construção de sociedades mais justas e DECRETO DE SUSTENTABILIDADE NO BRASIL: Planejamento, Orçamento e Gestão o estabelecimento
ecologicamente equilibradas. Isso implica (Nº 7.746, DE 5 DE JUNHO DE 2012)- Regulamenta de outras formas de veiculação dos critérios e práticas de Art. 8o A comprovação das exigências contidas
um processo de aprendizagem permanente o art. 3o da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, sustentabilidade nas contratações. no instrumento convocatório poderá ser feita
e exige a consecução de políticas públicas para estabelecer critérios, práticas e diretrizes para a mediante certificação emitida por instituição pública
transparentes, definidas e discutidas com o promoção do desenvolvimento nacional sustentável Art. 4o São diretrizes de sustentabilidade, entre outras: oficial ou instituição credenciada, ou por qualquer
conjunto da sociedade, e voltadas à melhoria nas contratações realizadas pela administração pública I – Menor impacto sobre recursos naturais como flora, outro meio definido no instrumento convocatório.
da qualidade de vida (JACOBI, 2005). federal, e institui a Comissão Interministerial de fauna, ar, solo e água; § 1o Em caso de inexistência da certificação referida
Sustentabilidade na Administração Pública – (CISAP). II – Preferência para materiais, tecnologias e matérias- no caput, o instrumento convocatório estabelecerá
A educação escolar deve caminhar em primas de origem local; que, após a seleção da proposta e antes da
busca de um ensino que faça a diferença A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso das atribuições III – maior eficiência na utilização de recursos naturais adjudicação do objeto, o contratante poderá realizar
para a sustentabilidade, não somente que lhe confere o art. 84, caput, incisos IV e VI, alínea “a”, como água e energia; diligências para verificar a adequação do bem ou
na educação escolar, mas para que os da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 3o da IV – Maior geração de empregos, preferencialmente com serviço às exigências do instrumento convocatório.
educandos carreguem esse aprendizado Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, mão de obra local; § 2o Caso o bem ou serviço seja considerado inadequado
no decorrer de suas vidas. As questões de DECRETA: V – Maior vida útil e menor custo de manutenção do bem em relação às exigências do instrumento convocatório, o
sustentabilidade pode ser um bom caminho Art. 1o Este Decreto regulamenta o art. 3o da Lei no 8.666, e da obra; contratante deverá apresentar razões técnicas, assegurado
para se iniciar o debate sobre o papel e o de 21 de junho de 1993, para estabelecer critérios, práticas VI – uso de inovações que reduzam a pressão sobre o direito de manifestação do licitante vencedor.
futuro das escolas e até mesmo de futuros e diretrizes gerais para a promoção do desenvolvimento recursos naturais; e
negócios. Os projetos escolares de educação nacional sustentável por meio das contratações realizadas VII – origem ambientalmente regular dos recursos naturais Art. 9o Fica instituída a Comissão Interministerial de
ambiental em desenvolvimento, como pela administração pública federal direta, autárquica e utilizados nos bens, serviços e obras. Sustentabilidade na Administração Pública – CISAP, de
práticas político-pedagógicas, significam, fundacional e pelas empresas estatais dependentes, e natureza consultiva e caráter permanente, vinculada à
antes de uma possibilidade educativa, uma institui a Comissão Interministerial de Sustentabilidade na Art. 5º A administração pública federal direta, autárquica e Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação, com
necessidade social e um compromisso Administração Pública – CISAP. fundacional e as empresas estatais dependentes poderão a finalidade de propor a implementação de critérios,
político com a construção de um lugar melhor exigir no instrumento convocatório para a aquisição de bens práticas e ações de logística sustentável no âmbito
para viver. Buscam sensibilizar e mobilizar Art. 2o A administração pública federal direta, autárquica e que estes sejam constituídos por material reciclado, atóxico da administração pública federal direta, autárquica
diferentes atores sociais a partir da escola a fundacional e as empresas estatais dependentes poderão ou biodegradável, entre outros critérios de sustentabilidade. e fundacional e das empresas estatais dependentes.
fim de que participem na transformação de adquirir bens e contratar serviços e obras considerando
propostas e sugestões escolares focadas na critérios e práticas de sustentabilidade objetivamente Art. 6º As especificações e demais exigências do projeto Art. 10. A CISAP será composta por:

528 529
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

I – dois Representantes do Ministério do Planejamento, para a correta utilização dos recursos públicos e para corriqueiras e opções de consumo, seja CONSIDERAÇÕES FINAIS
Orçamento e Gestão, sendo: a execução da gestão logística de forma sustentável; para incorporar-se ao mundo do trabalho,
a) um representante da Secretaria de Logística e Tecnologia f) cronograma para a implantação de sistema seja para interpretar e avaliar informações Qualquer tema quando abordado na
da Informação, que a presidirá; e integrado de informações para acompanhar científicas veiculadas pela mídia.A mídia nas educação escolar, faz-se necessária uma
b) um representante da Secretaria de Orçamento Federal; a execução das ações de sustentabilidade; e últimas décadas divulgou a problematização pesquisa, para saber o que e como está
II – Um representante do Ministério do Meio Ambiente, g) ações para a divulgação das práticas de sustentabilidade; da sustentabilidade, levantado debates sendo trabalhado, o teor da qualidade e
que exercerá a vice-presidência; importantes, alertando a sociedade, mas isso quais os recursos utilizados para que os
III – um representante da Casa Civil da Presidência da SUSTENTABILIDADE ALÉM DOS não é o suficiente para assegurar a aquisição alunos o compreendam verdadeiramente.
República; LIMITES DA LEI, MAS PRESENTE de informações e conceitos necessários. As escolas de um modo geral trazem em seu
IV – Um representante do Ministério de Minas e Energia; NO EXERCÍCIO DA CIDADANIA currículo o tema ecologia, mas cada uma,
V – Um representante do Ministério do Desenvolvimento, A escola tem um papel fundamental em diferença à sua maneira o assunto como lhe
Indústria e Comércio Exterior; A sustentabilidade precisa sair dos provocar a revisão dos conhecimentos, convém. Felizmente existem escolas que se
VI – Um representante do Ministério da Ciência, Tecnologia âmbitos da lei e ir para prática, mas para isso valorizando enriquecer informações tornam modelos a serem seguidos devido
e Inovação; precisa passar pelos muros das escolas, ou científicas, partindo do senso comum dos aos seus exemplos e práticas sustentáveis,
VII – um representante do Ministério da Fazenda; e seja, precisamos tirar a lei do papel, educar educandos. A sustentabilidade na escola, levando seus alunos a participarem
VIII – um representante da Controladoria-Geral da União. nossas crianças, para construirmos cidadãos deve formar cidadãos conscientes sobre ativamente desse processo escolar e
§ 1o Os membros titulares da CISAP deverão ocupar cargo conscientes a exercer uma cidadania de os problemas do meio ambiente. Mas ainda disseminando a ideia em seus lares.
de Secretário, Diretor ou cargos equivalentes no órgão sustentabilidade. Nesse contexto tanto para que haja essa formação e ocorra uma
que representam, possuindo cada um deles um suplente. a escola, quanto os professores devem mudança real da situação é imprescindível A maioria das escolas não se preocupam
§ 2o Os representantes, titulares e suplentes, dos órgãos fazer a diferença, propondo desafios, à união do governo, da sociedade e da em trabalhar esse tema todos os dias,
referidos nos incisos II a VIII do caput serão designados, no de modo que os educandos passem a escola. Afinal uma andorinha só não faz nem tão pouco se preocupam em fazer da
prazo de trinta dias contado da data de publicação deste observar mais, seguindo também seus verão. Seguindo esse pensamento a lei sustentabilidade um tema transversal, apenas
Decreto, por ato do Ministro de Estado do Planejamento, interesses, fazendo novas descobertas. deve ser a base e a união entre sociedade trabalham o que acreditam ser o essencial
Orçamento e Gestão. e escola imprescindível e determinante. para o mero cumprimento do currículo, o
A formação do cidadão de amanhã, pede que não tornam essas escolas exemplos a
Art. 11. Compete à CISAP: que ele se torne crítico, pois sua inserção A educação está altamente atrelada às serem seguidos por seus alunos. Existem
I – Propor à Secretaria de Logística eTecnologia da Informação: na sociedade, exige um conhecimento atitudes sociais, sendo que a escola é tida escolas ainda que infelizmente lembram-se
a) normas para elaboração de ações de logística sustentável; científico e tecnológico que é cada vez mais como base para formação de indivíduos da sustentabilidade uma vez por ano, apenas
b) regras para a elaboração dos Planos de Gestão de valorizado. O homem deve se situar com conscientes e responsáveis. Portanto, um na semana da Ecologia. Os alunos procuram
Logística Sustentável, de que trata o art. 16, no prazo um indivíduo participativo e integrante do aprendizado focado na educação sustentável demonstrar tudo nessa semana o que sabem
de noventa dias a partir da instituição da CISAP; Universo do qual faz parte integrante. A pode gerar cidadãos preocupados com os apresentando trabalhos maravilhosos,
c) planos de incentivos para órgãos e entidades sustentabilidade deve ser utilizada na escola problemas ambientais e com suas devidas ouvindo palestras, participando de debates
que se destacarem na execução de seus como um tema transversal, não apenas soluções. Mas para isso, é preciso difundir a e gincanas.Quando acaba a semana da
Planos de Gestão de Logística Sustentável; como abordagens de temas, não somente importância da sustentabilidade na escola e Ecologia, o que foi trabalhado e divulgado
d) critérios e práticas de sustentabilidade para o mero cumprimento de conteúdos. como ela interfere na formação dos alunos, nela também se acaba, como se fosse apenas
nas aquisições, contratações, utilização dos A sociedade exige cada vez mais um seja no ensino infantil ou na universidade uma comemoração, algo para ser lembrado
recursos públicos, desfazimento e descarte; volume maior de informações do que em de tempos, em tempos, como se fosse uma
e) estratégias de sensibilização e capacitação de servidores épocas anteriores, seja para realizar tarefas data comemorativa. Aí volta tudo a ser como

530 531
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

era anterior a essa semana "Ecológica", papéis


e restos de lanche espalhados pelo pátio. REFERÊNCIAS
Carteiras ganham novamente desenhos e
rabiscos, e nada mais do que aprenderam JACOBI, Pedro. Educar para a Sustentabilidade: complexidade, reflexividade, desafios- In:
é lembrado. Até mesmo as escolas, Revista Educação e Pesquisa- vol. 31/2- maio-agosto 2005, FEUSP. WALS 2007.
apagam os seus ensinamentos, que foram
ensinados durante a semana da Ecologia, ABREU, Poliana. Os desafios da educação para a sustentabilidade. Ideia sustentável.
pois as luzes continuam acesas, torneiras Disponível em: <https://www.ideiasustentavel.com
continuam a pingar e seus alunos agem
como se apagassem a tudo que aprenderam br/?s=os+desafios+da+educa%C3%A7%C3%A3o+para+sustentabilidade>. Acesso em: 01
e pregaram até então, voltando aos velhos de fev de 2019.
hábitos, tanto dentro, quanto fora dos muros
escolares, alunos continuam agindo como LUCIANA ESTEVES DE FARIA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA DA CASA CIVIL. Decreto n 7.746 de 05 de junho de 2012.
antes tanto dentro da escola, quanto fora www.planalto.gov.br. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
dela. As crianças e os adolescentes quando 2014/2012/Decreto/D7746.htm>. Acesso em 01 de fev de 2019.
não vivenciam um ensinamento e não são Graduação em Pedagogia pela Faculdade
sensibilizados a ponto de tornar o assunto Unifeob (2009); Especialista em Orientação
significativo para eles, com um assunto Escolar pela Faculdade Finom (2011);
tão importante como o meio ambiente, Especialista em Educação Inclusiva pela
demonstra que a escola não despertou faculdade Finom (2010); Professora de
seu papel principal o de educar todos os Educação Infantil e Ensino fundamental 1 -
dias e não simplesmente uma vez por ano. na Emei Profª Dinah Galvão.
O estudo da sustentabilidade nas
escolas não pode se tornar uma bola de neve
para a sociedade, que forma a cada dia, mais
e mais educandos que se tornaram cidadão
adultos que continuarão a poluir a natureza.
As escolas devem ter por meta a educação
da sustentabilidade como meta a educação
por um todo, citando exemplos, ensinando
e cobrando atitudes de respeito a si próprio,
à sociedade e ao meio ambiente. As escolas
devem dar mais importância a educação
ambiental e a ecologia com um todo, pois
sem equilíbrio ambiental não haverá mais
vida em nosso magnânimo planeta Terra.

532 533
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO formas de Arte, despertando a curiosidade,


sensibilidade, reflexão e o potencial de
criação. Sendo assim, o professor pode
Pretende-se com este artigo destacar explorar todos esses elementos que a criança
como a Arte é importante nos anos traz espontaneamente ao seu favor, pois
iniciais da educação uma vez que estimula desta forma ele consegue ampliar a formação
o universo lúdico de cada criança, por de seus alunos em sua plenitude, uma vez em
ser um campo fértil para criatividade e que estão com todos os sentidos em pleno
imaginação. Porque é nesta fase que funcionamento. De acordo com o Referencial
demonstram grande prazer nas atividades Curricular Nacional de Educação Infantil:
artísticas e infelizmente este encanto vai
desaparecendo, pois as expectativas de cada Por meio de diferentes gestos em um plano vertical
uma delas se tornam mais amplas, assim (ou pelo menos inclinado), a criança aprende a segurar
também como outros fatores. Analisar o corretamente o giz e o lápis. Para que a criança adquira
olhar do professor sobre suas práticas neste um traço regular, precisará trabalhar com certa rapidez,
campo, proporcionando subsídios para que sobre uma grande superfície colocada a sua altura. A
possam buscar o aperfeiçoamento da área, criança que não domina bem seu gesto será solicitada
sabendo das contribuições que a Arte traz a trabalhar, sobretudo, com o ombro e o cotovelo: fará
para aprendizagem da criança. Espera-se que então desenhos grandes. Somente mais tarde, quando
QUAL A IMPORTÂNCIA DO ESTÍMULO DA ARTE NOS ANOS o tema abordado possa mobilizar reflexões, os movimentos altura do ombro e do cotovelo tornarem-
INICIAIS DA EDUCAÇÃO? discussões, pesquisas que contribuam se desenvolvidos, faremos diminuir as proporções
para o fortalecimento e democratização da dos desenhos, exigindo assim da criança um trabalho
educação escolar também na área artística, mais específico do punho e dos dedos. (1998, p. 106).
RESUMO: Este artigo tem como objetivo apresentar uma proposta de estimular o ensino dando sua devida importância assim como as
de Arte na educação infantil, dando a devida importância como as demais matérias, demais disciplinas. Segundo Cunha (1999) a criança é um campo fértil para
promovendo de uma forma significativa o processo de aprendizagem para o aprimoramento a criatividade e a imaginação, sendo assim naturalmente
da formação de cada educando. Sendo assim, proponho neste documento uma reflexão QUAL A IMPORTÂNCIA DO curiosa dentro do que lhe desperta curiosidade, portanto,
sobre a contribuição que a arte traz no desenvolvimento do aluno na educação infantil, e ESTÍMULO DA ARTE NOS ANOS basta deixar a criação fluir, porém, sem se esquecer
também destacando a necessidade de um ensino mais dirigido e estruturado com práticas INICIAIS DA EDUCAÇÃO? do papel fundamental do professor, que deve ser o
e técnicas, trazendo professores mais preparados com formação mais aprimorada. O mais interlocutor, promotor e organizador do processo de
importante dentre todos os argumentos que serão citados, é que o aluno adquira o hábito De acordo com ALBINATI ao explorar criação, sempre respeitando a individualidade de cada um
de valorizar a Arte e não necessariamente que se torne um artista, mas esclarecendo que a Arte na primeira infância, estimulamos dentro do processo de desenvolvimento, e desta forma
cada um tem seu jeito próprio de desenhar, pintar, entre outras habilidades artísticas, e diversas habilidades, tanto no aspecto conhecendo o ponto de partida para planejar as aulas
que todos devem ser valorizados e respeitados, estimulando suas habilidades artísticas no cognitivo, como o afetivo, pois quando de Arte. Portanto propor durante as aulas de Artes uma
processo de aprendizagem. pequenas, as crianças apresentam uma diversidade de materiais, assim também como apresentar
espontaneidade maior, demonstram grande uma mesma atividade, de diversas maneiras, promove
prazer e interesse em desenhar, pintar, o despertar da criatividade dos alunos. Ao trabalhar
Palavras-chave: Educação Infantil; Arte; Estímulo; recortar, fazer colagens, assim como outras técnicas com materiais simples e barato de se adquirir,

534 535
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

como os que se tem em casa, e também com materiais confundir a opção de se ofertar o ensino das diferentes formas de arte, mais consegue tecidos de texturas e cores diferentes. Podem
mais sofisticados, exploramos todas as possibilidades para de Artes mais aprofundado somente para ampliar e aprimorar sua visão, autonomia, ser empregados muitos tipos de papel:
ampliar o repertório de cada criança. Além das técnicas alunos que possuem um “dom”, pois neste socialização, entre outras habilidades: lisos, rugosos, brilhantes, grossos, finos...
convencionais, como as diferentes maneiras de fazer presente artigo apresentamos justificativas A pintura pode ser definida com a arte As fotografias das revistas são muito úteis,
pinturas, até na utilização de materiais mais clássicos como legais e de conceituados autores, que da cor. Se no desenho o que mais se utiliza porque têm uma grande quantidade de cores
lápis, giz, carvão, entre outros, pode-se inovar com materiais através de técnicas, podemos desenvolver é o traço, na pintura o mais importante é a diferentes. (COLL; TEBEROSKY, 2004, p. 64.).
mais inusitados como escova de dente, açúcar e detergente, nos alunos diversas habilidades artísticas, mancha da cor. Ao pintar, vamos colocando
pois a criatividade não tem limite. (CUNHA, 1999). promovendo assim novas perspectivas que sobre o papel, a tela ou a parede cores que Agora voltando ao principal motivo pelo
ampliam o olhar e desmistificam muitos representam seres e objetos, ou que criam qual este artigo nos traz aqui, o estímulo do
Diante de todas as afirmações e justificativas estigmas sobre o ensino de arte. Durante o formas. (COLL; TEBEROSKY, 2004, p. 30). ensino da Arte nos anos iniciais da educação
apresentadas até o momento neste artigo preparo das aulas de Artes, deve-se tomar precisa de argumentos legais para promover
por diversos autores que realizam estudos alguns cuidados, como por exemplo, na Quando pensamos em obras de Arte, as sua garantia nas instituições de ensino,
sobre a Arte em seus diversos pontos, fica a escolha dos artistas, como ter referências cores ganham grande importância, pois além principalmente nas escolas públicas. São as
seguinte pergunta: Porque no decorrer dos com a realidade dos alunos para que possam do traçado, elas chamam muito a atenção. leis que as regularizam, pois esclarecem seu
anos na escola, entre o final da infância e o encontrar alguma identificação. Alguns De acordo com COLL, elas realmente fazem papel de extremo valor no ensino fundamental,
início da adolescência, perde-se o interesse artistas figurativos são muito atraentes por parte de uma classificação específica que além da sua importância. Segundo os
e todo encantamento pelo desenho e pelas retratar em sua infância em suas obras, como se destaca entre as outras Artes. As cores Parâmetros Curriculares Nacionais, a
atividades artísticas? O que parece ocorrer Cândido Portinari (Brincadeiras de Criança) nos trazem sensações de quente e frio, Arte tem uma função tão importante
segundo autora MAURREN (1992) é que e Tarsila do Amaral (formas inusitadas e que são as mais básicas, assim como de quanto a dos outros conhecimentos no
nesta fase as expectativas se tornam muito cores muito alegres do nosso país tropical). outras como alegria e tristeza, além de mais processo de aprendizagem dos educandos.
mais amplas, pois querem que seus desenhos Ainda trabalhar com autorretratos para possibilidades que variam até de uma pessoa
sejam muito mais do que identificáveis, trabalhar a identidade da criança, com para outra. Podemos então dizer que as cores De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases
mas também visualmente realistas. Volpi e suas bandeirinhas e mastros, se a despertam nosso lado afetivo, baseando- da Educação Nacional de 1996 só contempla
intenção for formas simples, entre outros. se na afirmação que o autor nos traz. a música como obrigatória, como já existia
Acham que o desenho de uma pessoa essa tradição musical na escola, foi mais
deve ser parecido mesmo com aquela pessoa, Segundo ALBINATI (2008) são inúmeras As cores também remetem principalmente fácil que os legisladores – cuja maioria não
e o de uma paisagem ou natureza morta deve as contribuições que se adquire ao trabalhar para as crianças, a representação de conhece nada de educação – aceitassem
ser parecido com a natureza real de verdade. com obras de Arte, inicialmente podemos seres e objetos ajudando até mesmo no incluir o ensino no currículo. As Artes visuais,
Sobretudo, creem que um verdadeiro bom citar a relação da representação complexa reconhecimento dos mesmos, como por o teatro e a dança foram incorporados ao
artista deve ser capaz de desenhar a partir entre o artista e sua obra, pois ao nos exemplo, uma bolinha verde pode ser um currículo do ensino básico brasileiro no início
do que vê ao vivo (Maureen Cox, 1992 p. 6) deparar com uma obra, cada pessoa pode ter limão, porque esta fruta tem a cor verde, do mês de maio de 2016, Já que o currículo
Podemos diante das afirmações, refletir sobre uma leitura e sensação diferente, sendo que e assim por diante. A mistura das cores da Base Nacional Comum será baseado em
o papel do professor, vendo que possui uma o artista ao produzir a obra teve uma outra devem ser exploradas para ampliação do disciplinas, a ideia é que a área de artes inclua
enorme carga de responsabilidade, pois uma intencionalidade. Também podemos destacar repertório sensorial e criativo da criança. quatro disciplinas: artes visuais, música,
aula mal conduzida cria rejeição nos alunos, o desenvolvimento de algumas habilidades, Uma maneira interessante de trabalhar teatro e dança. Não é um projeto caro, é
e esse é o grande perigo, afastar no caso, a que são adquiridas conforme o constante com colagem consiste em cortar ou rasgar um projeto que exige planejamento. Escolas
Arte do campo de referência deles. Ou até exercício de trabalhar com diversas formas de formas de figuras de cores e texturas variadas. públicas e privadas têm cinco anos para se
mesmo como ressalta a autora, não podemos Arte, ou seja, quanto mais o aluno se apropria Começa-se recolhendo papéis, papelões e adequar aos novos padrões. As Artes visuais

536 537
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

desenvolvem a capacidade de percepção conhecimentos e descobertas apreendidos, REFERÊNCIAS


visual, importante desde a alfabetização vão sendo passados de geração a geração,
até a solução de grandes conflitos da independentemente de se fazer parte de um ALBINATTI, Maria Eugênia Castelo Branco.
adolescência, a dança amplia a percepção ensino formal ou informal, assim segundo Artes visuais. Artes II. Belo Horizonte. 2008.
do corpo, assim como a música desenvolve os Parâmetros Curriculares Nacionais a Arte
o ritmo e o movimento, exercita o equilíbrio, tem uma função tão importante quanto a BRASIL. Secretaria de Educação
não só físico mas mental. O teatro desenvolve dos outros conhecimentos no processo. Fundamental. Parâmetros curriculares
a comunicação, coloca em pauta o verbal, o Espera-se que o conteúdo deste artigo nacionais: arte / Secretaria de Educação
sonoro, o visual e o gestual, sendo talvez a tenha proporcionado uma reflexão sobre a Fundamental. – Brasília: MEC / SEF, 1998.
mais completa das artes incluídas na escola. importância sobre o estímulo de Arte nos
anos iniciais da educação, assim como a COLL, César; TEBEROSKY, Ana. Aprendendo
Colocando ainda em pauta as leis que nos valorização da disciplina como objeto de arte: conteúdos essenciais para o ensino
auxiliam na defesa do objeto em estudo, conhecimento. Portanto é necessário que fundamental. São Paulo: Ática, 1999. 256 p.
segundo a Lei de Diretrizes Curriculares o professor também seja fascinado por
Nacionais para a Educação Infantil (2010) Arte, motivando e transmitindo aos alunos COX, Maurrem. Desenho da criança;
esclarecem que essa proposta curricular a vontade de aprender, principalmente na tradução Evandro Ferreira. São
deve garantir experiências que explorem o infância, período que demonstram grande Paulo: Editora Martins Fontes, 2007.
conhecimento de si próprio e do mundo, ao prazer em desenvolver trabalhos artísticos LUCIANA RODRIGUES DA
qual estão inseridos, por meio de experiências de uma maneira geral, pois nesta fase se COSTA CUNHA, Suzana Rangel Vieira. Cor,
corporais, sensoriais e expressivas, tem a vantagem vivenciar no universo som e movimento: a expressão plástica,
respeitando o ritmo de cada criança, lúdico, onde a sensibilidade se mantém em Graduação em Letras – Português/ Inglês musical e dramática no cotidiano da
permitindo brincadeiras que oportunizem o pleno funcionamento, em sua plenitude. pela Faculdade Cruzeira do Sul (2008); criança. Porto Alegre: Mediação, 1999.
aprofundamento nas diferentes linguagens, Pós-graduação em Arte na Educação pela
sendo elas, verbal, artística, musical Pode-se afirmar que no ensino de Artes, Faculdade Campos Elíseos (2018); Professor LEI DE DIRETRIZES E BASES PARA
e dramática. Dessa maneira, cabe às podemos trabalhar com técnicas entre outras de Ensino Fundamental I e Educação Infantil A EDUCAÇÃO BRASILEIRA. 2015
instituições de Educação Infantil elaborar bases, pois assim como as demais disciplinas, na Escola Municipal de Educação Infantil
propostas que integrem essas vivências. temos que oferecer suportes, ou seja, do Município de São Paulo Mário Graciotti.
alicerces para ampliar o repertório do aluno,
CONSIDERAÇÕES FINAIS isso não quer dizer que a arte seja apenas uma
aquisição de habilidades técnicas, mas sim
Dessa forma, pode-se afirmar que há várias que esta prática contribui significativamente
razões para se ofertar um ensino de Arte mais como auxílio na aprendizagem dos educandos
formal, assim como as demais disciplinas, nas atividades artísticas. Este assunto pode
pois ativa todos os sentidos, que auxiliam causar várias inquietações para muitos
no desenvolvimento das outras matérias, educadores, contribuindo e motivando para
trazendo grandes benefícios para formação uma reflexão mais profunda sobre suas
do aluno. Destaco que a Arte está presente em atitudes tanto práticas como teóricas, para
quase todas as manifestações culturais e os uma verdadeira Educação no ensino de Artes.

538 539
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO e a cooperação social". Como toda a arte,


a de contar histórias possui segredos e
A leitura é uma atividade inerente à técnicas e sua principal matéria prima é a
condição humana. Freire (2005) afirma que palavra. As histórias falam a linguagem do
a leitura de mundo antecede à da palavra, inconsciente, assim como os sonhos, elas
ou seja, desde que nascemos somos leitores provocam e revitalizam variados processos
do mundo e nossas ações decorrem dessa psíquicos, restabelecendo conexão e troca
leitura. Ela é muito importante para inspirar entre consciente e inconsciente. Apropriar-
sentimentos, valores, condutas e a celebração se de uma história é processá-la no interior
da própria vida. Contar histórias é a mais de si mesmo. É deixar-se impregnar de tal
antiga das artes. Nos velhos tempos, o povo forma por ela eu todos os sentidos possam
se reunia ao redor do fogo para se esquentar, ser aguçados e que todo o corpo possa,
alegrar, dialogar, narrar acontecimentos. As naturalmente, comunicá-la pelos gestos,
pessoas assim reunidas contavam e repetiam expressão facial e corporal, entonação de
histórias, para guardar suas tradições e sua voz, ritmo e outros.
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E língua. Assim transmitiam a história e o
conhecimento acumulado pelas gerações, as ORIGEM DA ARTE DE
SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL crenças, os mitos, os costumes e os valores CONTAR HISTÓRIAS
a serem resguardados pela comunidade.
RESUMO: As histórias infantis têm papel fundamental na formação do indivíduo, tornando-o Devemos lembrar que Cristo, nas pregações, Antes da escrita, todo saber era
criativo, crítico e capaz de tomar decisões. Quando se conta uma história, deve-se ter em usava a parábola, uma forma narrativa transmitido oralmente. Deve-se a isto
mente que aquele momento será de grande valia para a criança, pois através desses contos alegórica, uma história, para passar sua toda a importância dada à memória nas
será formado um banco de dados de imagens que será utilizado nas situações interativas mensagem aos homens. Suas palavras iam do sociedades tradicionais, pois a memória era
vividas por ela. A leitura é forma de lazer, de prazer, de aquisição de conhecimento, de concreto ao simbólico e todos as entendiam. o único recurso para armazenar e transmitir
enriquecimento cultural e de interação. Quando o ser humano experimenta a leitura, o conhecimento às futuras gerações. O ato
ele executa um ato de compreender o mundo, pois ler é, antes de tudo, compreender, e A história ajuda as pessoas a recordarem de contar histórias remete a este tempo em
compreender é ser. Portanto, ler o mundo é assumir-se como sujeito da própria história. É de momentos vivenciados, ou lembrar- que o homem confiava na sua memória e nas
ter consciência dos processos que interferem na sua existência como ser social e político. É se de fatos acontecidos e, ao fazer isto, suas experiências, resgatando qualidades tão
imprescindível que os diversos segmentos da sociedade convençam-se da importância da reviver os momentos e tirar ensinamentos necessárias ao desenvolvimento humano.
leitura e, desta forma, da escrita. para a continuidade da vida. Recordar
quer dizer recolocar no coração e viver A arte de contar histórias se desenvolveu
Palavras-chave: Aprendizagem; Contar História; Lúdico. novamente numa nova tonalidade ou desde os primórdios da humanidade, sendo
sabor. Vânia Dohne (2000, p. 5) diz: "Estas intensificada na Grécia Antiga e nas histórias
narrações, tão saborosamente recebidas, do Império Árabe – “As Mil e Uma Noites”,
desencadeiam processos mentais que contadas por Sherazade, que circulam
levarão à formação de conceitos, capazes de da Pérsia (séc. X) para o Egito (séc. XII),
nortear o desenvolvimento de valores éticos alcançando a Europa somente no (séc. XVIII).
e voltados para formação da autoestima Sob a magia do contar, desafiando a

540 541
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

imaginação do sultão, Sherazade salvar a modo...) e assim esclarecer melhor os nossos nos dias de hoje recomenda para os novos à leitura, isto é, uma forma talvez mais
própria vida e a vida do reino, conquistando ou encontrar um caminho possível para a contadores: “convocar imagens e ideias de interessante de se aprender.Para Bettelheim
o coração de Shariar, pois como sabia ser resolução deles. A estrutura e os temas das sua lembrança, misturando-as às convenções (2009), as histórias representam, de forma
ele um homem muito curioso, ela usava histórias estão sendo examinados como uma contextuais e verbais de seu grupo, para imaginativa, aquilo em que consiste o
da contação das histórias um meio para forma para compreender os mecanismos adaptá-las segundo o ponto de vista cultural processo sadio de desenvolvimento humano.
sobreviver por mais uma noite. Todas as padrões de pensamento e comportamento e ideológico de sua comunidade” (PATRINI, O conto não poderia ter seu impacto
noites, começava uma história nova e só humanos. 2005, p.106). psicológico sobre a criança se não fosse
terminava seu enredo no dia seguinte... e por primeiro e antes de tudo uma obra de arte.
mil e uma noites conseguiu salvar a própria A arte de narrar histórias encontra suas Benjamin (1994) pondera que, devido
pele, ao fim das quais já tinha três filhos com o raízes nos povos ancestrais que contavam à individualização que se manifesta nas Segundo o Referencial Curricular Nacional
sultão, que resolveu poupá-la da morte. Mas e encenavam histórias para difundirem seus sociedades modernas e à extrema importância para a Educação Infantil ¾ Documento
só no século XVIII é que autores se voltaram rituais, os mitos, os conhecimentos acerca atribuída por seus membros às informações Introdutório, "as instituições de educação
para a produção de histórias infantis com os do mundo sobrenatural ou não, e sobre as cibernéticas, estas sociedades estão infantil (pré-escolas) cumprem hoje, mais
Irmãos Grimm e Hans Christian Andersen. experiências adquiridas pelo grupo ao longo perdendo os momentos de familiaridade do que nunca, um objetivo primordial na
do tempo. Além da comunicação oral e e intimidade que o universo das histórias formação de crianças que estejam aptas para
As primeiras histórias eram contos de gestual, ao narrarem suas histórias, também, possibilita. Hoje a superficialidade das viver em uma sociedade plural, democrática
fadas, em que a psicanálise dos contos registravam nas paredes das cavernas, com relações sociais faz com que as experiências e em constante mudança (...) Ela deve
se voltava para a formação ideológica da desenhos e pinturas, suas experiências, de compartilhar deixem de existir. O hábito de intervir com intencionalidade educativa de
educação infantil, tinham por objetivo algumas delas vividas no cotidiano. A memória ouvir histórias desde cedo ajuda na formação modo eficiente visando a possibilitar uma
educar as crianças. Após a Renascença, auditiva e a visual eram, então, essenciais de identidades; no momento da contação, aprendizagem significativa e favorecer um
os contos maravilhosos perdem algumas para a aquisição e o armazenamento dos estabelece-se uma relação de troca entre desenvolvimento pleno, de forma a tornar
características, e esse valor retorna conhecimentos transmitidos. Campbell contador e ouvintes, o que faz com que toda essas crianças cidadãs numa sociedade
somente no séc. XIX com as fábulas de La (2005) ponderou acerca dessas práticas, a bagagem cultural e afetiva desses ouvintes democrática" (MED/SEF, 1998). A contação
Fontaine. A história é um instrumento que a dizendo que elas serviam como meio de venha à tona, assim, levando-os a ser quem de histórias é uma estratégia pedagógica
humanidade desenvolveu como veículo para sintonizar o sistema mental com o sistema são. “Contar histórias é uma arte porque traz que pode favorecer de maneira significativa
passar informações através do tempo. Cada corporal, levando essas populações a viver e significações ao propor um diálogo entre as a prática docente na educação infantil e
cultura tem um estoque de histórias que, a sobreviver, além de servirem para justificar diferentes dimensões do ser” (BUSATTO, ensino fundamental. A escuta de histórias
originárias ou não daquela cultura, objetivam e interpretar fenômenos naturais que 2003, p. 10). estimula a imaginação, educa, instrui,
fundamentalmente atingir as preocupações vivenciavam. desenvolve habilidades cognitivas, dinamiza
inerentes a todo ser humano. O significado o processo de leitura e escrita, além de ser
de escutar histórias é tão amplo... É uma Os contadores ritualizavam hábitos e O APRENDIZADO COM A uma atividade interativa que potencializa a
possibilidade de descobrir o mundo imenso costumes de uma comunidade, muitos CONTAÇÃO DE HISTÓRIA linguagem infantil. A ludicidade com jogos,
dos conflitos, das dificuldades, dos impasses, deles com o intuito de constituir uma base danças, brincadeiras e contação de histórias
das soluções, que todos atravessamos e “identitária”, ou seja, compor a subjetividade Muitos educadores buscam alternativas no processo de ensino e aprendizagem
vivemos, de um jeito ou de outro, através desse grupo. Esta prática sustentava o para alcançarem ou proporcionarem uma desenvolvem a responsabilidade e a
dos problemas que vão sendo defrontados, equilíbrio do grupo, evitando assim sua aprendizagem significativa aos seus alunos. auto expressão, assim a criança sente-se
enfrentados (ou não) resolvidos (ou não) pelos desagregação. Portanto, desde então, em sua Com isso, a contação de história tornou-se estimulada e, sem perceber desenvolve
personagens de cada história (cada um a seu ação o contador fazia o que Patrini (2005) uma grande aliada do docente para fomentar e constrói seu conhecimento sobre o

542 543
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

mundo. Em meio ao prazer, à maravilha e ao desenvolver todo o potencial crítico da fantasia e a magia de uma história encantam experiência de vida. Como afirma Ramos
divertimento que as narrativas criam, vários criança, é poder pensar, duvidar, perguntar e despertam as imaginações da criança e, (2003), a leitura oferece a possibilidade de se
tipos de aprendizagem acontecem. e questionar. É sentir-se inquieto, querendo com isso, criam condições favoráveis para ver os dados do mundo com mais amplitude.
saber mais e melhor sobre o que está sendo o desenvolvimento de uma mente criativa Compreender a leitura de um texto é uma
Dentro das histórias encontramos narrado. e inventiva. Escutar histórias é o início para das tarefas mais significantes para a escola,
a gramática do conto: as personagens tornar-se um leitor, um inventor, um criador. professores e alunos, pois leva o indivíduo
(protagonista e antagonista), apresentação A didática do conto de histórias é a conhecer a si e aos outros, preparando-se
inicial do conto, sucessão de eventos/ações motivante e enriquecedora nas séries inicias, A CRIANÇA E O LIVRO para sua formação humana.
complexas e o final; esta regularidade facilita mas com o cuidado de que a estrutura
a compreensão textual e a criação de histórias da narração deve ser previsível para a Acredita-se que a relação entre a criança A escola busca conhecer e desenvolver
pela própria criança, assim contribuindo criança, de fácil linguagem, com imagens e e o livro ocorra principalmente no ambiente na criança as competências da leitura e da
para as habilidades linguísticas em nível possibilidade de explorá-las posteriormente familiar, na escola, na biblioteca e na livraria. escrita e como a literatura infantil pode
oral e escrito. O conhecimento adquirido de forma lúdica, às narrativas possibilitam Na família pela exemplaridade do hábito da influenciar de maneira positiva neste
pelas crianças em idade “pré-escolar” das às crianças um melhor desenvolvimento da leitura. Na escola, por ela ser um espaço processo. O contato da criança com o livro
competências da língua e narrativas são capacidade de produção e compreensão de aquisição do conhecimento da língua pode acontecer muito antes do que os adultos
fundamentais nas fases de alfabetização e textual.O docente precisa incluir em seu escrita, na biblioteca por ser uma unidade de imaginam. Muitos pais acreditam que a
letramento. planejamento curricular períodos dedicados informação e pesquisa, e na livraria, por ser criança que não sabe ler não se interessa por
à leitura, formando crianças que gostem um ambiente de consumo do livro. A literatura livros, portanto não precisa ter contato com
A atividade de contar histórias é presença de ler e escrever, uma geração de leitores é importante para o desenvolvimento da eles. O que se percebe é bem ao contrário.
cotidiana nas creches e pré-escolas, sendo e escritores que veem na literatura infantil criatividade e do emocional infantil. Quando Segundo Sandroni & Machado (2000, p.12)
a ela corretamente atribuídos o incentivo um meio de interação e diversão. Segundo as crianças ouvem histórias, passam a “a criança percebe desde muito cedo, que
à imaginação e à leitura, a ampliação do Abramovich (1991) o ato de escutar contos visualizar de forma mais clara sentimentos livro é uma coisa boa, que dá prazer”. As
repertório cultural das crianças e a criação de é o início para a aprendizagem de se tornar que têm em relação ao mundo. As histórias crianças bem pequenas interessam-se pelas
referenciais importantes ao desenvolvimento um leitor. trabalham problemas existenciais típicos da cores, formas e figuras que os livros possuem
cognitivo (Girardello), isto deve ser também infância como medos, sentimentos de inveja, e que mais tarde, darão significados a elas,
expandido e inserido no contexto familiar e Pesquisas fundamentam a ideia de que de carinho, curiosidade, dor, perda, além identificando-as e nomeando-as.
nos lares de nossas crianças. nunca é cedo demais para começar a contar de ensinarem infinitos assuntos (CARUSO,
histórias para as crianças. O material escrito 2003). É importante que o livro seja tocado pela
Segundo Abramovich, 2003, o significado nos dias de hoje é imenso e cabe ao adulto criança, folheado, de forma que ela tenha
de escutar histórias é muito amplo, é uma supervisionar o conteúdo no qual as crianças Os livros devem ser introduzidos na vida um contato mais íntimo com o objeto do
possibilidade de descobrir o mundo imenso têm acesso, levando em consideração da criança de acordo com o seu nível de seu interesse. A partir daí, ela começa a
dos conflitos, das dificuldades, dos impasses, crenças, valores e ensinamentos a serem compreensão do mundo, de seu nível de gostar dos livros, percebe que eles fazem
das soluções, que todos atravessamos e transmitidos. Dentro dos vários tipos de elaboração de pensamento e sua experiência parte de um mundo fascinante, onde a
vivemos de um jeito ou de outro, através histórias, os contos infantis sempre agradaram anterior. Isso significa que o livro ideal para fantasia apresenta-se por meio de palavras
das vivências dos personagens. É ouvindo e instigaram as crianças, fazendo-os imaginar a criança é aquele em que ela encontra tanto e desenhos. De acordo com Sandroni &
histórias que se pode sentir emoções os personagens, fazendo-os aprender a lidar elementos que ela já reconhece, como alguns Machado (1998, p.16) “o amor pelos livros
importantes com o significado e verdade que com as relações sociais e buscando repassar elementos novos, a partir dos quais ela possa não é coisa que apareça de repente”. É preciso
estas fazem brotar. Ouvir histórias é também valores de convivência em sociedade. A alargar seus horizontes e enriquecer sua ajudar a criança a descobrir o que eles podem

544 545
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

oferecer. Assim, pais e professores têm um a fim de transmitirem saberes tradicionais, para cada família. Para grande parte das perceptivas como meio de ajustamento
papel fundamental nesta descoberta: serem proporcionando um ambiente onde todos famílias brasileiras, é mais importante do comportamento psicomotor. Para que
estimuladores e incentivadores da leitura. aprendem juntos “ninguém educa ninguém, colocar comida na mesa do que comprar a criança desenvolva o controle mental de
como tampouco ninguém se educa a si um livro, considerando este um produto sua expressão motora, a recreação deve
CONSIDERAÇÕES FINAIS mesmo; os homens se educam em comunhão, caro em nossa sociedade. Dessa forma, a realizar atividades considerando seus níveis
mediatizados pelo mundo” (MARTINS, 2006, carência desses alunos gerada pela falta da de maturação biológica. A recreação dirigida
Sabe-se que o ato de ler é de suma p. 12). A prática da contação de história é de leitura acaba consequentemente fazendo proporciona a aprendizagem significativa
importância no cotidiano de qualquer suma importância para o desenvolvimento com que encontrem mais dificuldades de das crianças em várias atividades esportivas
indivíduo, pois hoje com o desenvolvimento da personalidade, da cidadania, das práticas aprendizagem da leitura e escrita, ao passo que ajudam na conservação da saúde física,
global torna-se algo essencial para a inserção sociais dos educandos os preparando que possibilita para eles uma nova forma de mental e no equilíbrio sócio afetivo.
do mesmo na sociedade. Então, a literatura para uma harmoniosa convivência com ver o mundo e se encontrar nele. O autor
infantil e a arte de contar histórias contribuem a sua realidade e a realidade do outro.O Drago (2011) afirma que que “a escola, para Sendo assim, o momento da leitura deve ser
de forma prática e real para a formação de desenvolvimento infantil se dá num grande parte das crianças brasileiras, é o especial, direcionado de maneira a despertar
um leitor assíduo, crítico e criativo. Contar processo criado pela própria criança a partir único espaço de acesso aos conhecimentos nos alunos o gosto pela leitura, o prazer de
história é uma ferramenta pedagógica das interações que vivencia, sendo assim, universais e sistematizados socialmente, ou ler sem tantas cobranças e avaliações, como
indispensável para professores de todos a literatura infantil em especial a contação seja, é o lugar que pode lhes proporcionar geralmente acontece. Cabe ao mediador
os níveis da educação e principalmente de histórias na educação infantil e ensino condições de se desenvolver e se tornar estimular a leitura dentro e fora do espaço
para alunos do ensino médio que precisam fundamental, como atividade interativa e cidadãos, alguém com identidade social e escolar. E, na medida do possível a prática
ser estimulados a leitura para prestarem pedagógica mediada pelo educador contribui cultural” (DRAGO, 2011, p. 19). da leitura possa se estender para o ambiente
vestibular ao concluírem esta primeira etapa. para este desenvolvimento. familiar, tornando uma atividade cotidiana
Este processo de ensino instiga à imaginação, A função básica da escola é ensinar aos e natural na vida dos alunos. Estimular a
a criatividade, a oralidade, incentiva o Além disso, a história permite o contato seus alunos ler e escrever, contudo, o que imaginação infantil é muito importante e para
gosto pela leitura, contribui na formação da das crianças com o uso real da escrita, leva- mais encontramos são alunos com dificuldade isso o professor deve oferecer subsídios dos
personalidade do educando envolvendo o as a conhecerem novas palavras, a discutir de compreender textos e até mesmo mais simples aos mais complexos, podendo
social e o afetivo. valores como o amor, família e trabalho, de produzi-los. Entendemos que essas estes brinquedos ou jogos serem de fábrica
e a usarem a imaginação, desenvolvem a atividades são impossíveis sem o domínio ou serem brinquedos e jogos confeccionados
A leitura de mundo precede a leitura da oralidade, a criatividade e o pensamento da leitura, pois por meio dela o aluno tem com material reciclado. Todo e qualquer
palavra (FREIRE, 1989) assim entendemos crítico, auxiliam na construção da identidade a oportunidade de ter acesso a várias áreas material cria para a criança uma possibilidade
que a contação de história precede à escrita, do educando, seja esta pessoal ou cultural, de conhecimento e interagir com inúmeras de fantasiar e brincar. Portanto, a contação
pois não é necessário uma pessoa saber ler melhoram seus relacionamentos afetivos fontes de conhecimento. O trabalho da de histórias na Educação Infantil, poderia
para dissertar uma situação vivida, é preciso interpessoais e abrem espaço para novas educação através de jogos, brincadeiras e ser uma prática rotineira das escolas, pois
apenas sua interpretação, e o interlocutor aprendizagens nas diversas disciplinas contação de histórias com as crianças devem a valorização desta atividade interfere no
para estabelecer um diálogo. Na prática escolares, pelo seu caráter motivador sobre prever a formação de base indispensável desenvolvimento integral da criança, além
pedagógica, esta relação de experiência a criança. Muitos de nossos alunos possuem em seu desenvolvimento motor, afetivo e de estimulá-la a conhecer e apaixonar-se
vivida e relatada, é algo que tem dado certo pouco ou nenhum contato com a literatura em psicológico, dando oportunidade para que pelo mundo da leitura, de forma a garantir
no sentido de elevar o nível da prática oral seu ambiente familiar, considerando que em por meio de jogos, de atividades lúdicas, se sujeitos críticos e bons leitores.
entre os alunos e os estimularem a leitura e nossa sociedade com tantas desigualdades conscientize sobre seu corpo. Através da
efetivarem a convivência com outros alunos sociais as prioridades se tornam diferentes recreação a criança desenvolve suas aptidões

546 547
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

S/A, 2009 MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 2006. (Coleção
BRAGA, Valéria Luisa. Práticas de Leitura primeiros passos; 138).
das alunas do curso de pedagogia da FFP –
monografias/VLB.2009.pdf. Acesso 20 JAN PATRINI, M. de L. A renovação do conto: emergência de uma prática oral. São Paulo: Cortez,
2019. 2005.

BRASIL. MINISTÉRIO da Educação e RAMOS, Ana Claudia. Contação de histórias um caminho para formação de leitores?.
do Desporto, Secretaria de Educação Universidade Estadual de Londrina. Encontrado em: http://www.uel.br/pos/mestredu/
Fundamental. "Introdução". Referencial images/stories/downloads/dissertacoes/2011/2011.
curricular nacional para educação infantil.
Brasília, v.1, MED/SEF, 1998. RAMOS, Magda Maria. A literatura como fruição na escola. Disponível em:
http://www.cce.ufsc.br/~neitzel/literinfantil/magda.htm.Acesso 10 FEV.2019.
LUCIANA XAVIER DE PAULA BUSATTO, Cléo. Contar & encantar:
SANTOS Pequenos segredos da narrativa. Rio de RODRIGUES, Grenes Aparecida da Silva & BRAVO, Derlan de Oliveira Machado & ARAUJO,
Janeiro: Vozes, 2003. Michell Pedruzzi Mendes. A contação de história como estratégia pedagógica: contribuição
Licenciatura em Pedagogia, Universidade para a aprendizagem e desenvolvimento no ensino fundamental. Encontrado em: http://
Bandeirantes de São Paulo (2008); Pós- CAMPBELL, J. Os primeiros contadores de facevv.cnec.br/wp-content/uploads/sites/52/2015/05/Artigo-6.pdf.
graduação em Ludopedagogia pela Faculdade histórias. História & Antropologia, 2005.
Campos Elíseos (2018); Professora de SANDRONI, Laura C; MACHADO, Luís Raul – A Criança e o livro: guia prático de
Educação Infantil e Ensino Fundamental I na CARUSO, Carla. A importância da literatura estímulo à leitura. São Paulo, Ática, 1988. 144p.
EMEI Jardim Casa Grande. na formação da criança. Disponível em:
<http://www.riobranco.org.br/brasil/soe/ ZANONI, Maria Augusta. O brincar e a contação de histórias no centro educacional infantil
caruso.htm>. Acesso 20 JAN.2019 Raio de Sol, AJES Instituto Superior de Educação do Vale do Juruena. Encontrado em: http://
biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130814173008.pdf. Acesso 10 FEV 2019.
DOHNE, Vânia. Técnicas de contar Histórias.
REFERÊNCIAS São Paulo: Informal, 2000.

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: DRAGO, R. Inclusão na educação infantil.


gostosuras e bobices. 2.ed. São Paulo: Rio de Janeiro: WAK Editora, 2011.
Scipione;1991.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler.
BENJAMIM, W. Magia e técnica, arte e São Paulo: Cortez, 2005.
política: ensaios sobre literatura e história da
cultura. São Paulo: Brasiliense, 7 ed, 1994. p. _____________. A importância do ato de
197-221. ler: em três artigos que se completam. 23.
ed.São Paulo: Autores Associados: Cortez,
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos 1989.
contos de fadas. São Paulo: Paz e Terra

548 549
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO A IMPORTÂNCIA DO
BRINCAR
O interesse em compreender de melhor forma
as brincadeiras e sua importância na infância O ato de brincar deve ser compreendido
definiu a escolha deste tema. A brincadeira como estratégias, habilidades, processo
constitui uma importante fase na formação de aprendizagem e conjunto de
experiências que proporcionam a criança
do ser humano, sua aprendizagem de forma
seu conhecimento de mundo e as
significativa e no seu desenvolvimento
preparam para o futuro. As brincadeiras
global.A criança reproduz seu cotidiano e possibilitam a criança se desenvolver
exercita sua imaginação pela brincadeira, integralmente, construindo sua autonomia
que na infância é uma grande forma de e dando início a usa percepção de mundo
comunicação da criança com o mundo. e de ser integrante e participativo.
Ao brincar a criança exerce a reflexão, a Durante a brincadeira a criança se
autonomia, a criatividade e cria possibilidades percebe com funções sociais, afetivas,
de aprendizagem. A brincadeira desenvolve emocionais, físicas, experimentando
grande importância no desenvolvimento do sensações agradáveis e não agradáveis.
ser humano, e é necessários que os adultos
ao redor percebam e incentivem o ato de As brincadeiras são essenciais para
brincar, permitindo que a criança viva a o desenvolvimento infantil. O brincar
brincadeira, a ludicidade na infância. O constitui uma atividade fundamental
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR brincar possibilita a compreensão de regras durante a infância, período que ocorre
interações da criança, o meio em
e a integração na sociedade, Na brincadeira
que vive e o mundo e constitui um
RESUMO: Este artigo tem por interesse realizar uma reflexão teórica sobre a importância a criança aprende a resolver conflitos e
importante período de desenvolvimento
do brincar na infância. Considerado como item importante da infância, o brincar também compreendendo as diferentes formas e caracterizando um período de
é uma necessidade da criança, momento em que a criança expressa suas emoções e seus de pensar, entender o mundo das outras aprendizagem significativa. A brincadeira
sentimentos. Os momentos de ludicidade são carregados de alegrias e realizações. O pessoas. A criança aprende na brincadeira auxilia na criação de ideias e conceitos
brincar proporciona o aprendizado, estimula os sentidos e a função sensorial e motora e no a fazer-se entender e a entender o outro. que possibilitam a exploração de saberes.
brincar a criança expõe como está seu emocional. O ato de brincar é de grande importância A expor sua opinião em relação ao eu lhe
para a infância, contribuindo para o desenvolvimento social, emocional, intelectual já que rodeia. É de grande importância que os Quando se pensa em infância,
proporciona situações que oportunizam a reprodução, pela criança, de momentos, conflitos adultos ao redor (professores, pais e outros) imediatamente associamos a brincadeira
do seu cotidiano. O espaço para brincadeiras, para o brincar da crianças deve ser estimulado e apoiem e incentivem o ato de brincar na a esta fase da vida, uma vez que neste
incentivado, para que aconteça de forma constante e que a criança em seu mundo imaginário infância, já que assim estarão apoiando a período a criança aprende brincando,
possa criar seu próprio mundo. Para esse trabalho foi utilizado pesquisa bibliográficas. O capacidade que a criança tem de recriar e de está sempre descobrindo e aprendendo.
assunto foi pesquisado em textos que conversam sobre o tema selecionado e reunidos de imaginar o mundo. Esta é a etapa das brincadeiras. A etapa
forma qualitativa. do lúdico. A etapa da criatividade e da
imaginação. O ensino–aprendizagem
é auxiliado e favorecido pelo brincar,
Palavras-chave: Infância; brincar; lúdico.
que favorece a construção do raciocínio
lógico, matemático, contribuindo n

550 551
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

tinuamente conhecimentos, possibilitando tação, banho, higiene e mesmo na relutân- as brincadeiras de fantoches, faz de conta,
O ensino–aprendizagem é auxiliado e
a evolução de pensamentos e não menos cia em não dormir para continuar brincando. desenhos despertam seu interesse. Já pos-
favorecido pelo brincar, que favorece a
importante é necessário considerar que o suem a fala que utilizam nas brincadeiras
construção do raciocínio lógico, matemático, Vários autores consideram que o Brincar
brincar é uma necessidade física da cri- para tornar mais real seu mundo imaginário
contribuindo no desenvolvimento do ança, é um direito, é uma experiência valio- é diversão, mas não é somente isso, brin- e os objetos utilizados transformam-se
universo infantil como um todo.Com base sa para o ser humano (RCNEI - Brasil, 1998). car também é desenvolvimento. O ato de em qualquer coisa que a imaginação quis-
no Referencial Curricular Nacional para a brincar engloba inúmeros outros benefícios er. Nesta idade eles se colocam assumin-
Educação Infantil, (RCNEI), Brasil, (1998): O imaginar, o faz de conta, o brincar não é para a criança além da diversão e nos dias do papéis dos adultos que convivem como
ilusão e nem mentira, é um ato que tem base de hoje ainda tem muita gente achando que pais, mães, professores e tantos outros.
A criança é um ser social que nasce com capacidades no desenvolvimento da imaginação, na inter- brincar não é essencial, que é tempo des-
afetivas, emocionais e cognitivas. Tem desejo de estar perdiçado, que esse tempo deve ser utiliza-
próxima às pessoas e é capaz de interagir e aprender
pretação que a criança tem da realidade, é o Quando apresentam melhor compreensão
com elas de forma que possa compreender e influen- momento que a criança apresenta ao mundo do para cursos de preparação para ser um de regras e que devem respeitá-las, as brin-
ciar seu ambiente. Ampliando suas relações sociais, in- o que está em seu interior, as suas necessi- adulto de sucesso. Essa visão equivocada cadeiras e jogos que necessitam de regras e
terações e formas de comunicação, as crianças sen- dades e impulsos. Para a criança a brincadeira pode prejudicar a infância e a criança como estratégias e tomada de decisão ocupam o
tem-se cada vez mais seguras para se expressar (p.21). um todo. Por esse motivo existe a necessi-
não é apenas diversão, mas muito além dis- interesse das crianças. Neste momento da
so, é uma necessidade para desenvolver suas dade de debater esse tema (ABDO, 2008). infância, essas brincadeiras proporcionam a
É na infância que a criança descobre o mun-
do pela suas vivências e associações e com potencialidades, para se preparar para o fu- descoberta do outro, da relação com o out-
turo, descobrindo-se, sua vocação, nutrindo Muitos estudiosos apresentam o brincar ro, desenvolvendo empatia, compreensão
este processo a criança vai aprendendo de
sua vida, sua existência por meio do brincar. como uma forma de expressão cultural infan- das necessidades das outras pessoas.
forma significativa e prazerosa. A infân-
til para inserir as crianças no mundo adulto,
cia é um período em que tudo é possível
Brincadeiras envolvem as crianças, e estas na sociedade a que pertence. Para que per-
aos olhos da criança e ao brincar a criança
reflete sobre sua realidade. Ao brincar a quando envolvidas apresentam construção ceba a importância do brincar, é necessário A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO
de raciocínio e demonstram seus comporta- a compreensão da história e da cultura do
criança aprende a observar, a conhecer e
mentos e valores, suas emoções e interesses brincar e dos brinquedos. Considerando que Lúdico é um conjunto de ações desenvolvi-
reconhecer, a fazer, a conviver, a autono-
e as crianças com o tempo e a continuidade os termos que definem a infância são con- das pelo ser humano que compõe o brincar,
mia, linguagem, pensamento, reações. O
das atividades de brincar vão construindo sua struções culturais, criadas para representar a que se manifestam por meio das brincadei-
brincar sempre fez parte da vida de cri-
autonomia. A brincadeira possibilita à criança sociedade e adaptá-las a determinadas situ- ras, utilizando brinquedos ou apenas o imag-
anças, na qual ainda é possível ter a fan-
que ela se transforme, de ser passivo para ser ações. No passado criança e brinquedo tin- inário, na maior parte das vezes imaginário
tasia e realidade juntas. No ato de brincar
ativo, mudando uma situação quando a trans- ham representações diferentes. As miniaturas infantil. Podemos entender como lúdico os
a criança vai se inserindo na sociedade da
fere para a brincadeira. Essa atividade consti- eram feia para adultos, como hoje ainda cos- jogos, as brincadeiras, o brinquedo. Cada
qual faz parte, assimilando valores, regras,
tui um vínculo essencial que interliga o real e tuma ter um nicho da indústria que produz um na sua especificidade (DICIO/LÚDICO,
costumes, hábitos, princípios e linguagens.
o imaginário, um mundo em que tudo pode brinquedos/miniaturas para adultos, denom- 2010). O lúdico, é assim compreendido além
Brincando a criança consegue deixar de
acontecer sem censura, a criança pode realizar inados colecionadores. Partindo das minia- da sua origem, que o liga apenas aos jogos,
lado as exigências dos adultos, criando no
suas vontades, colocando se como quiser, sen- turas dos adultos que fascinavam as crianças brincadeiras, ao brincar, ao espontâneo e as
imaginário seu próprio mundo e suas regras.
do quem desejar, estando em qualquer lugar. originou-se os brinquedos e destes surgiram definição deste, não são apenas mais apenas
Na fantasia do brincar a criança demonstra
as brincadeiras e o brinquedo com o passar as ligadas a essas áreas. O lúdico é percebido
sua personalidade e conhece a si mesma,
Momento que o real recebe outro significa- do tempo foi transportando a criança para o e entendido como algo ligado a mente, como
porque se concentra em si.O ato de brincar
do auxiliando na construção de suas person- mundo da imaginação (RCNEI - Brasil, 1998). parte do comportamento humano e essen-
é natural, acontece de forma espontânea
e é necessário. É no brincar que existe a alidades. É uma forma natural de expressão cial para a dinâmica do ser humano. É com-
da criança, que demonstra saúde emocio- Para os estudiosos, ao crescer, o simbóli- preendido como uma verdadeira atitude do
possibilidade de ser criativo, estabelecer
nal e que está presente durante a alimen- co passa a exercer papel mais importante, e ser humano.O lúdico destaca sua importân-
vínculos, relações transformando con-

552 553
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

cia quando percebemos que o importante no ança, em todas as modificações de com- o desenvolvimento, colaborando para uma mundo real ao qual pertence. Assim o mundo
contexto é a ação, o resultado e especialmente portamento. Na área da psicologia o lúdi- saúde mental de qualidade (BENÍTEZ, 2012). a que é rodeada passa a sofre transformações
o momento vivido que possibilita ressignifi- co é considerado tão importante quanto pelas vivências que tem. Na atualidade, deve-
cação, autoconhecimento, momentos de vida. o sono e a alimentação, para garantir uma CONSIDERAÇÕES FINAIS mos observar a criança como indivíduo que
boa saúde física e mental (BRAGA, 2010). dispõe de saberes que ela ajuda a fabricar e
A criança descobre o mundo inicialmente Almejamos com este estudo destacar a im- que merece e deve ser reconhecido no cotidi-
pelo lúdico, porque no começo da vida ela não Para a autora, o lúdico que nos remete portância do brincar de forma lúdica e praze- ano, que no campo do brincar se constitui. At-
sabe como brincar, e vai aprendendo com as ao ato de brincar, a criatividade são formas rosa, inserida nas atividades diárias das cri- ualmente as crianças são seres ativos, críticos,
pessoas ao seu redor a medida que estes utili- de expressão da busca do “eu”, do próprio po- anças como essencial para o desenvolvimento questionadores e com grande quantidade de
zam da brincadeira, do lúdico, dos brinquedos tencial. Sendo criativo, ou brincando o ser hu- do ser humano, contribuindo para um desen- informação. Desde cedo demonstram uma
com a criança. O desenvolvimento integral mano descobre quem realmente é. O lúdico é volvimento harmônico e global. O ato de postura ativa não aceitando serem apenas
do bebê tem grandes contribuições do lúdico utilizado para inserir a criança na vida social, brincar, seja com jogos, brinquedos ou brin- expectadores sociais e cumpridoras e ordem.
que engloba a afetividade na sua prática na por intermédio da brincadeira a criança vai cadeiras proporciona aprendizagem, integra o
relação bebê-adulto, percebendo que inicial- assimilando crenças, costumes, se aproprian- indivíduo com o mundo construindo relações
mente o recém-nascido apenas repete ações, do da cultura de sociedade a qual pertence. e propiciando descobertas. O brincar conduz Assim, a brincadeira mantém sua im-
gestos, movimentos por prazer e desse ato E a liberdade nas brincadeiras possibilitará a criança em um mundo de imaginação com portância, mesmo com todas as modifi-
lúdico inicia-se o raciocínio e consequente- a transformação desta criança em um adul- valorização do que é imaginado e transpondo cações que o ser humano sofreu ao longo
mente o aprendizado (DICIO/LÚDICO, 2010). to criativo.O lúdico é utilizado para facilitar para o mundo concreto, criando ações. A cri- do tempo, e continua valiosa para o desen-
a aprendizagem e s domínios da inteligên- ança tem espaço no seu imaginário, nas suas volvimento. Brincar constitui a forma mais
No estudo da história da humanidade, fica cia e nas funções mentais (BRAGA, 2010). brincadeiras de expressar suas emoções, sejam livre e primitiva do exercício funcional, uma
claro que o lúdico, a ludicidade faz parte da alegrias, frustrações, experiências sem a cen- ação prazerosa que contribui para o cresci-
existência humana, e que é encontrado des- Muito já se discutiu sobre a importância do sura de uma adulto e estabelecendo-se como mento e aprendizagem, que ensina a viver.
de os tempos primitivos, deixando claro que lúdico e grandes movimentos foram realiza- um futuro adulto confiante diante da vida.
a natureza do homem e o lúdico são ligados. dos no Brasil para essa finalidade, com enfo-
Nos tempos das cavernas tivemos conheci- ques determinados por pesquisadores, com O período da infância, possui muitas par-
mentos pelos registros deixados nas paredes a visão que cada pesquisador carrega da sua ticularidades, e na atualidade sabemos que
das cavernas, em suas pinturas rupestres que formação e utilizando da ciência para realizar é a fase da infância diferencia da fase adul-
o brincar fazia parte da vida deles. Na socie- seus estudos e pesquisas. Nesses estudos ta, conhecimento não existente no passado,
dade atual o homem adulto brinca com piadas, constatou-se que em uma atividade lúdica o período que a criança era percebida como
futebol, danças, televisão, computador, teatro indivíduo permanece totalmente pleno, não um mini adulto. Mediante observações so-
que são formas de brincadeiras, que acessa- dividindo a atenção com outra coisa, seja prob- bre a criança, criou-se um novo conceito so-
mos nosso mundo imaginário. São expressões lema, atividades, pensamentos, angústias. bre a infância e a sociedade percebeu a ne-
que gostamos e precisamos do lúdico na nos- cessidade de tratá-la como fase diferente,
sa vida.As atividades lúdicas foram transfor- O ser humano apresenta-se por inteiro, ple- precisando de maiores cuidados e atenção,
madas com o passar dos tempos, modificando no e em uma atividade lúdica que se envolve tanto física como emocionalmente. Per-
de acordo com a época e os costumes sociais. sempre feliz. Se a atividade não for realizada cebeu que a criança precisa de proteção.
com total dedicação, não será plena e nem
Atualmente o lúdico é visto como a união lúdica. O lúdico é caracterizado pelo prazer, Enfatizando que com o brincar a criança al-
da razão e da emoção na construção da plena dedicação plena e total na realização. cança mais amplitude de conhecimentos pos-
ação humana. O lúdico faz parte de todo Independente da idade a realização de uma síveis, passando a ser sujeito ativo primeiro no
desenvolvimento do ser humano desde cri- atividade lúdica favorece a aprendizagem e seu mundo imaginário e posteriormente no

554 555
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

LUCIMARA BATISTA SIRIGATTI

Graduada em Pedagogia pela Faculdades Integradas Teresa Martin, 2006; Especialista


em Deficiência auditiva pela Universidade Federal do Rio de janeiro, 2011; Professora
de educação Infantil na EMEI Vanda Coelho de Morais.

REFERÊNCIAS
QUALIDADE DA EDUCAÇÃO PÚBLICA NA
ATUALIDADE
ABDO, ngela .Por que brincar é tão importante? 2010. Disponível em https:

BENÍTEZ, Iara Maria Stein. O lúdico: Uma manifestação humana, histórica e cultural.
Disponível em https://www.coladaweb.com/pedagogia/o-ludico-e-o-brincar, 2012. RESUMO: O presente trabalho apresenta questões que envolvem a qualidade da educação
pública configurada no processo histórico, mostrando dentro da atualidade uma melhor
BRAGA, Ana Regina Caminha. Importância de brincar para educação.2010. definição para os aspectos qualitativos. A qualidade pode ter vários sentidos e avaliada e
medida, porém só é possível entender seu significado, quando comparado com a realidade
DICIONÁRIO ONLINE de Português.. escolar que exprime o verdadeiro valor sintetizado com os atores educacionais. As políticas
públicas criaram conceitos de qualidade, sujeitando os atores a ser produtores, tornando
FANTACHOLI, Fabiane das Neves. A importância do brincar na educação, 2012. a educação um processo mercantil, financiado e administrado por interesses econômicos,
medindo a qualidade da educação de forma a conduzir a escola pública como concorrentes de
FREITAS, Mariana Duarte; A importância do brincar na educação, 1997. produção. Surge então, o antagonismo de uma realidade escolar e as propostas econômicas
em cima da educação, amparando-se nos embasamentos educacionais criados para uma
LUNARO, Beatriz Alberti, O lúdico, e os jogos na educação infantil. 2014.
educação reprodutora comercial.

RCNEI -Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, (RCNEI), Brasil, 1998.
Palavras-chave: Educação Capitalista; Educação Pública; Qualidade de ensino;

556 557
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO capitalista refletidas das configurações planos, políticas, entre outros, o delineamento a resultados a serem avaliados por meio de
econômicas nacionais. Silva (2009) coloca adotado em sua implantação e o uso que se índices de desempenho e de rendimento
que o conceito de qualidade da educação fizer de seus resultados expressam o projeto escolar dos alunos e das escolas.” (SILVA,
Há um consenso da baixa qualidade da entra no campo econômico, nos quais as educacional e social que se tem. Sousa 2009, p. 222).
educação pública com o dinamismo de que questões sociais estão imbricadas no modo (2014) coloca que a qualidade aparece como
o resultado tem um peso maior nas políticas de produção e distribuição dos bens materiais forma de competição, responsabilizando as Brasil (1993) colocava como resposta para
públicas de educação, nos quais foram criadas produzidos pelos sujeitos na sociedade, em escolas e, particularmente os professores, queda enorme na qualidade da educação,
para avaliar a educação dentro de um padrão espaços e tempos históricos, voltados para pelos resultados da avaliação, associando- nos quais as taxas de reprovação na América
internacional, com critérios de medidas de uma sociedade capitalista. “Nas políticas os ao recebimento ou não de incentivos Latina se encontravam entre as mais
produtividade, baseados no estilo comercial, sociais do país, ocorre uma transposição está o suposto de que a avaliação elevadas do mundo e se concentram nas
gerando competitividade dentro da educação. direta do conceito de qualidade própria dos gera competição e a competição gera primeiras séries, pois metade das crianças
negócios comerciais para o campo dos direitos qualidade, passou a se constituir em um escolarizadas abandonaram a escola antes de
O trabalho tem como objetivo geral avaliar sociais e, nestes, a educação pública.” (SILVA, instrumento de controle do trabalho finalizar a educação primária, uma educação
critérios que medem a qualidade da educação 2009, p. 219). escolar e de fortalecimento da meritocracia. com plano para produtividade para a face
pública e tem como objetivos específicos das expectativas da sociedade, colocando
analisar alguns conceitos das políticas Logo, conforme a autora, surge o conceito Fonseca (1998) coloca que nos meados uma ideia de educação frente às demandas
públicas com a qualidade da educação, de qualidade da educação mediada como da década de 70, apareceu os conceitos do mercado de trabalho.
verificar conceitos de qualidade da escola produto e avaliadas de forma quantitativa de qualidade ligados ao crescimento do
pública e analisar a educação relacionada com objetivo de imprimir a eficiência e país, nos quais relacionam a educação Shiroma (2004) questiona que a LDBEN
com a democracia. Justifica-se este trabalho desempenho do Estado. com a capacidade dos pobres de aumentar n. 9394 de dezembro de 1996 realçava uma
pela importância de se observar a postura a sua produtividade, a qual passou a ser adequação às exigências do mundo moderno,
do docente mediante a crise educacional, Em consonância com o projeto neoliberal vigente, os considerada como principal estratégia interpretado como qualidade, nos quais
em alguns casos, o professor não assumi um organismos multilaterais trataram, inicialmente, de para garantir a distribuição dos benefícios desresponsabiliza o Estado das obrigações
compromisso de mudança e reconhecer que promover novas formas de controle da produção do do desenvolvimento, transferindo a de alterações substantivas da educação,
parte dos problemas de educação envolvem trabalho escolar, por meio de mecanismos de avaliação, de responsabilidade para Estado, dependendo trazendo conceitos de cidadania produtiva,
a dinâmica do professor. Estar dentro da currículo, de formação, de financiamento e de gestão dos da capacidade dos pobres. qualidade com adequação ao mercado, aluno
educação é assumir riscos e expectativas, nos sistemas de ensino e das escolas. Além disso, explicitaram como um consumidor.NConforme Shiroma
quais o professor pode decidir por caminhos claramente o papel da educação no tocante à geração de Silva (2009) coloca que em questão de (2004) no início dos anos de 1990 foram
de auxiliar na transformação social.Assim, capital social para o desenvolvimento do capitalismo, uma financiamento e de gestão dos sistemas aprovadas diretrizes, trazendo com eixo a
qual o papel do docente diante do quadro de vez que a educação poderia contribuir para a minimização de ensino e das escolas, entra a questão profissionalização, planejando um sistema
má qualidade da educação pública? da exclusão, da segregação e da marginalização social do Banco Mundial, que a partir de 1996, de avaliação segundo padrões internacionais
das populações pobres. (SILVA, 2009, pp. 219 – 220). fez uma proposta educativa que reportava de rendimento escolar, com propostas de
POLÍTICAS PÚBLICAS E ao conceito de qualidade, formulado por melhoria para os níveis globais de qualidade
QUALIDADE DA EDUCAÇÃO Desta maneira, Sousa (2014) questiona economistas e atrelado à concepção de das aprendizagens, definindo conteúdos
que a avaliação educacional mantém uma qualidade própria dos negócios do mercado. e métodos de ensino e a organização
Hoje a educação pública tem referências relação com a concepção de qualidade na “A concepção de qualidade educacional necessária para essa qualidade.
de qualidade baseadas em uma perspectiva educação, seja qual for o objeto de avaliação, que emana do Banco fundamenta-se na
voltadas para políticas de uma educação alunos, currículo, profissionais, instituições, adoção de “insumos”, que deverão conduzir

558 559
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

QUALIDADE DA ESCOLA realização de objetivos na dupla dimensão, incentivar o intercâmbio e sistematização de experiências de uma sociedade mais humana.
PÚBLICA social e individual. “A dimensão individual diz em curso, caminhar na perspectiva da profissionalização do
respeito ao provimento do saber necessário docente, formular políticas de ensino e de suporte à ação DEMOCRACIA E QUALIDADE
O conceito de qualidade pode ser amplo, ao autodesenvolvimento do educando, educativa compatíveis com o estado da arte das diversas
dentro das políticas públicas, a qualidade dando-lhe condições de realizar o bem- áreas, melhorar as condições materiais e financeiras Sousa (2014) remete que a qualidade
pode estar direcionada a vários interesses estar pessoal e o usufruto dos bens sociais do trabalho docente. (WEBER, 1992, pp. 66 – 67). da educação pode surgir resposta na
públicos, políticos e econômicos, medidos e culturais postos ao alcance dos cidadãos. democratização de ensino, compromisso
pelas competências de ensino definidos em (PARO, 2007, p. 16). Este conceito, parte para um idealização este que supõe maior abrangência na análise
cima dos objetivos que pretende-se chegar de condições para melhoria da qualidade da realidade educacional, contemplando de
com a educação. Desta forma, Paro (2007) interliga a da escola publicada formada há muitos modo relacionado iniciativas das diversas
dimensão social, colocando que está ligada anos atrás. Carreira e Pinto (2006) coloca instâncias governamentais, e também
Cury (2010) relata que a qualidade é à formação do cidadão, tendo em vista a que no campo educacional, há uma disputa relações compartilhadas, norteando as
algo que dentro da linguagem comum, é contribuição para o sociedade, nos quais das diversas maneiras de se alcançar a políticas educacionais no país, em particular,
considerado como uma agregação que sua atuação concorra para uma construção qualidade que se configura em várias um redirecionamento dos alicerces que
confere valor superior a um bem, a um de ordem social mais adequada para um pautas, projetos políticos, ideológicos e pautam a noção do que constitui uma
serviço ou a um sujeito, tratando-se de um viver bem de todos, com liberdade para uma utopias, aparecendo também a perspectiva gestão eficiente e eficaz da educação.
atributo ou predicado virtuoso pelo qual construção social. da qualidade democrática, com ênfase na
esse sujeito, bem ou serviço se distingue de qualidade popular, para todos. Mas, sem Paro (2007) relata que a verdadeira
outros semelhantes considerados ordinários, Weber (1992) colocava uma ideia de que a dúvida nenhuma, hoje a principal falha da democracia caracteriza-se pela participação
caracterizando-se pela inerência, nos quais qualidade da educação pública poderia exigir escola com relação a sua dimensão social ativa dos cidadãos na vida pública,
a qualidade é apontada também como outras formas de intervenção governamental parece ser a omissão na função de educar considerando os titulares, os criadores de
capacidade para efetuar uma ação ou atingir que assegura a construção coletiva do para a democracia. (PARO, 2007, p. 18). novos direitos, para que a educação passe
uma certa finalidade. caráter unitário da educação básica, com a se preocupar de dotá-los de capacidades
projeto político de ação do governo na luta Conforme o autor, nas últimas décadas culturais exigidas para exercer essas
Paro (2007) já questiona que quando se pela superação da exploração e dominação, existe o descontentamento com ensino atribuições, justificando a necessidade da
volta o olhar de uma importância social da para propiciar a compreensão dos elementos oferecido pela escola pública fundamental, escola pública, de modo planejado, fornecer
educação e para a grande população que a presentes na definição de suas prioridades, mostrando que não há correspondência de forma autêntica, a formação do democrata.
política pública envolvem, mostra-se uma como sinalizar para a melhoria da qualidade entre a teoria e a prática diante dos objetivos
grande ausência do conceito inequívoco de da escola pública, voltados para uma que se efetiva a qualidade de ensino, Há uma necessidade de estar atento,
qualidade, que depende dos objetivos que formação competente de professores com pois estão empenhados a fins errados. de acordo com Paro (2007) à relativa
se pretende buscar com a educação.Diante perspectiva de profissionalização docente. negligência com que as políticas públicas
disso, Paro (2007) exprime que a educação Paro (2007) coloca que a escola educacionais, diante das propostas
tem um valor mediante a atualização Para tanto, era necessário, simultaneamente, formar pública é um lugar privilegiado do educativas escolares, só deveria ser
histórica do homem para uma condição pessoal competente nas questões de alfabetização de diálogo e do desenvolvimento crítico das efetivada por meio das práticas que ocorrem
de apropriação de cultura produzida crianças, promover a capacitação em serviço do enorme consciências resiste ainda, a propiciar no interior das escolas, para poder chegar à
historicamente e construir sua própria contingente de professores atuando nas séries iniciais valores e conhecimentos, capacitação política realista de um ensino de qualidade,
humanidade histórico-social, sendo justo que do primeiro grau, propor formas de acompanhamento e e motivação aos alunos para exercer de reconhecendo as potencialidades da escola
a escola fundamental deve-se pautar pela avaliação da prática pedagógica desenvolvida nas escolas, forma ativa sua cidadania na construção e encontrando medidas para os obstáculos,

560 561
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

modificando a própria realidade escolar. autonomia. E isso deve começar na primeira de baixa qualidade, pois são avaliados de Columbia del Paraguay (2018); Graduação
educação, na creche, na pré-escola, na forma quantitativa de produção educacional. em Matemática pela Universidade do Vale
Outro aspecto que foge da realidade educação infantil e deve continuar ao longo do Paraíba (2015) e em Pedagogia pela
escolar, é a não consideração com os atores da vida. Isso depende fundamentalmente A escola pública, mediante a formação Faculdade Casa Branca (2016); Especialista
da prática educativa escolar, de acordo com do professor. Ele é a referência estratégica do cidadão como instituição social, deve em Novas Tecnologias para o Ensino de
Paro (2007) as políticas educacionais passam dessa qualidade. (GADOTTI, 2010, p. 19). buscar a dimensão social e individual do Matemática pela Universidade Federal
à margem das opiniões de professores sujeito, nos quais pode ter uma intervenção Fluminense (2012) e em Gestão Empresarial
e estudantes. No processo educativo é A proposta pedagógica, expressão da governamental para assegurar a construção pela Universidade do Vale do Paraíba
necessária, conforme o autor, a presença do autonomia pedagógica da escola, faz coletiva do caráter unitário da educação (2014); Professor de Ensino Fundamental II
saber enquanto cultura de que se apropria e com que o dever de ensinar, em vista do básica, oferecendo melhor capacitação e - Matemática - na EMEF Prof.ª Célia Regina
não do “saber fazer”, aliada a uma condição aprendizado qualificado, seja assumido por motivação para professores e alunos na Lekevícius Consoai.
subjetiva no processo de trabalho, mas todos até como efetivação do princípio da construção de uma transformação social.
deve ter maior autonomia dos agentes gestão democrática. (CURY, 2010, p. 19).
envolvidos e não controláveis remotamente. Gadotti (2010) faz uma referência do Desta forma, deve haver o compromisso
professor na questão da qualidade da do docente voltado para realidade
Na realidade de nossas escolas públicas básicas, em educação, nos quais entra com a questão educacional, trazendo inovações que possam
que a prática escolar cotidiana costuma, em geral, de que o professor não pode disponibilizar melhorar a qualidade do ensino diante dos
frustrar as perspectivas da necessária emancipação apenas o tempo em sala de aula, ele deve objetivos de uma aprendizagem valorizada,
intelectual e cultural dos alunos, percebe-se a perfeita disponibilizar o tempo para os alunos, começando dentro da sala a trazer conceitos
consonância da estrutura da escola com a produção conviver com eles, acompanhá-los e avaliá- de uma educação democrática, agindo com REFERÊNCIAS
dessa frustração, na medida em que não se constitui los permanentemente, trazendo inovação autonomia para trazer perspectiva de uma
de modo a promover a condição de sujeito dos vários para qualidade da educação para ser emancipação cultural e intelectual dos alunos.
agentes que aí se envolvem. (PARO, 2007, p. 30). transformadora e para superar o capitalismo BRASIL. Educação e Conhecimento:
que está no campo do conhecimento e o Eixo da transformação Produtiva
sistema de produção, é através da construção com Equidade. Brasília: INEP, 1993.
Desta forma, uma educação de coletiva do próprio conhecimento.
qualidade com perspectiva democrática, CARREIRA, Denise; PINTO, José Marcelino
deve trazer uma perspectiva de uma Rezende. Custo aluno-qualidade inicial:
emancipação cultural e intelectual dos CONSIDERAÇÕES FINAIS rumo à educação pública de qualidade
alunos, dando liberdade como sujeitos para no Brasil. In: CAMPANHA NACIONAL
todos agentes envolvidos. Gadotti (2010) Quando o conceito da qualidade da PELO DIREITO À EDUCAÇÃO. A
coloca que a qualificação do professor é educação utilizando os objetos avaliação, educação na América Latina: direito em
estratégica quando se fala de educação alunos, currículo, profissionais, instituições, risco. São Paulo: CNDE; Cortez, 2006.
de qualidade, contudo, está sendo difícil planos, políticas, é medido por produtividade LÚCIO RODOLFO ROSA
encontrar os parâmetros dessa qualificação: econômica do país, sem interesse maior com CURY, Carlos Roberto Jamil. Qualidade
aprendizagem e evolução do cidadão na Doutorando em Ciências da Educação pela em Educação. Belo Horizonte:
A educação é de boa qualidade quando sociedade de modo a conduzir o pensamento Universidad Columbia del Paraguay; Mestre Cadernos de Pesquisa, 2010.
forma pessoas para pensar e agir com crítico e reflexivo, obtém-se resultados em Ciências da Educação pela Universidad

562 563
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

FONSECA, Marília. O Banco Mundial como referência para a justiça social no terceiro
mundo: evidências do caso brasileiro. São Paulo: Revista da Faculdade de Educação, 1998.

GADOTTI, Moacir. Qualidade na Educação: uma nova abordagem. São


Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2010.

PARO, Vitor Henrique. Gestão escolar, democracia e qualidade de ensino. São Paulo: Ática, 2007.

SHIROMA, Endeide Oto; MORAES, Maria Cecília Marcondes


de. Política Educacional. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
SILVA, Maria Abádia da. Qualidade Social da Educação Pública: Algumas
Aproximações. Campinas: Unicamp, 2009. Disponível em < http://www.scielo.
br/pdf/ccedes/v29n78/v29n78a05.pdf> Acesso em 20 de junho de 2019.

SOUSA, Sandra Zákia. Concepções de qualidade da educação básica forjadas por meio
de avaliações em larga escala. Sorocaba, SP: Unisinos, 2013. Disponível em < http://
www.scielo.br/pdf/aval/v19n2/a08v19n2.pdf> Acesso em 20 de junho de 2019.

WEBER, Silke. A Universidade e a qualidade da educação pública. Brasília: Em aberto, 1992.


A ARTE E A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A ARTE E A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

RESUMO: O presente artigo pretende refletir sobre a importância da arte e da música na Edu-
cação Infantil. A música e a arte como ferramentas de ensino e aprendizagem para as crianças
são assuntos que devem estar no planejamento pedagógico, considerando que a musicalização
agrega, como outras práticas de ensino, num aprendizado significativo, uma vez que unifica a lu-
dicidade, criatividade, espontaneidade, entre tantos outros segmentos que estão presentes nas
práticas docentes e de ensino. A musicalização e a arte podem favorecer o desenvolvimento psi-
comotor, cognitivo e sócio afetivo das crianças. O ser humano já no ventre da mãe começa a escu-
tar diversos tipos de sons, então a musicalização é fundamental para as crianças desde pequenas.

Palavras-chave: Música; Educação Infantil; Arte.

564 565
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO o seu desenvolvimento intelectual, quanto espírito humano, com qualquer forma de curso de verão em Física ensinasse a matéria em nossas
mais cedo a música for introduzida, maior inspiração artística. A educação musical tem escolas. Por que haveríamos de tolerar essa situação com
A música faz parte das nossas vidas em será o seu desenvolvimento no processo grandes defensores desde a Grécia Antiga, respeito à Música? Por acaso ela está menos vinculada a atos
todos os momentos. A sociedade tem o ensino aprendizagem. dependendo da forma como a música complexos de discernimento? Não. (SHAFER, 1991, P. 303)
costume de ver essa forma de arte como uma foi considerada nos diferentes períodos
maneira de diversão considerando como um A música desperta na criança a capacidade históricos e sociedades, sua defesa adquiriu Para esse autor, as escolas deveriam ter
lazer. Há a necessidade de se incorporar, de conviver e socializar-se de um modo diversos perfis. Platão em A república livro profissionais habilitados para ensinar música,
na educação das crianças de expressões interessante e ativo, fazendo da música um III e Aristóteles, na Política Livro VIII, foram disciplina a qual já está vinculada em alguns
diversas, criação, invenção, que é justamente elemento ao qual desde cedo no contexto muito claros em suas considerações a respeito componentes curriculares dentro do Estado
o que se constrói com a arte, estimula as escolar das crianças ajuda de maneira da música como fator crucial na formação do de São Paulo. O compositor brasileiro
crianças a pensarem e se expressarem de lúdica e prazerosa o aprendizado.Portanto, cidadão e do homem liberal, respectivamente. Heitor Villa-Lobos tem seu nome gravado na
maneira livre. A educação infantil é a fase o Mundo que nos cerca está repleto de história brasileira não somente por ter sido
a qual se inicia a construção do saber, do música e para que os bebês estejam em Já a comunidade cristã, da Idade Média um grande compositor, mas também porque
fazer, do inventar, do apreciar, base para a constante desenvolvimento é fundamental até o período Barroco encontrou na música a tinha um sonho de fazer o Brasil cantar.
construção da vida. Por isso que se defende que a presença da música faça parte do seu possibilidade de comunicar-se com o divino,
a introdução da arte no âmbito educacional. cotidiano. Percebe-se que a música faz parte para os românticos do século XIX, a música era Ele foi o idealizador do movimento
do nosso cotidiano e quando estimulada forma de compreender o mundo por meio de Canto orfeônico, que fez do ensino da
A música apresenta uma grande influência desde bebês desenvolve aspectos cognitivos, suas alianças com a filosofia, os mistérios da música uma disciplina obrigatória nas
na formação da criança, contribuindo para fundamentais no contexto social. Assim, alma e do universo podiam ser perscrutados. escolas de ensino formal a partir da década
que suas emoções sejam expressadas de “A música é uma linguagem criada pelo Nos séculos XX e XXI, inúmeros ramos das de 1930, e que permaneceu nas escolas
forma significativa. O trabalho com a música homem para expressar suas ideias e seus ciências humanas e exatas tem estudado com mesmo após as mudanças de nomenclatura
deve ser bem planejado e as atividades sentimentos, por isso está tão próxima de afinco a relação entre a música, sociedade para Educação Musical, em 1961.
propostas pelo professor devem favorecer o todos nós” (CRAIDY; KAERCHER, 2001, p. e indivíduo e as mediações que a música
desenvolvimento integrado das capacidades 130). opera entre os mundos internos e externos. A educação musical transformou-se em
criativas das crianças, devendo considerar disciplina curricular até o início da década
a percepção, a imaginação, proporcionando Portanto, tudo o que fazemos gera música, Amúsica é considerada porShafercomo uma de 1970, quando, com a LDB 5692/71, o
grandes descobertas. devido aos sons que escutamos e produzimos prática cultural e humana, atualmente não se Conselho Federal de Educação instituiu
em nosso cotidiano. A musicalidade infantil conhece nenhuma civilização que não possua o curso de licenciatura em educação
A criança é um ser curioso e apto a é realizada por meio de brincadeiras e jogos manifestações musicais próprias. Embora artística (Parecer nº 1284/73), alterando
explorar sempre. Neste sentido, no contexto nos quais são desenvolvidos conhecimentos nem sempre seja feita com esse objetivo, o currículo do curso de educação musical.
escolar, ela precisa vivenciar situações que amplos que fazem uso das músicas e tornam o a música pode ser considerada como uma
estimulem e despertem ainda mais a sua processo ensino aprendizagem significativo. forma de arte, considerada por muitos como Esse currículo passou a compor-se de
curiosidade, para que possa revelar as suas sua principal função. Segundo Shafer, 1991: quatro áreas artísticas distintas: música, artes
características, externar as suas dificuldades, O CONTEXTO HISTÓRICO plásticas, artes cênicas e desenho. Assim, a
os seus sentimentos e os seus talentos e DA MÚSICA Sendo a música uma disciplina complexa, que abrange educação artística foi instituída como atividade
expressões próprias. As crianças começam a teoria e prática de execução, deve ser ensinada por obrigatória no currículo escolar do 1º e 2º graus
ouvir ainda dentro da barriga de suas mães Segundo Becker (2003) a palavra Mousikos, pessoas qualificadas para isso. Sem concessões. Não (ensino fundamental e médio), em substituição
e quanto mais música ele ouvir, melhor será do grego musical, referia-se ao vínculo do permitiríamos que alguém que tivesse frequentado um às disciplinas artes industriais, música e

566 567
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

desenho, e passando a ser um componente escolas mostra se como um complexo heterogêneo motivadora com fins pedagógicos. E essa A afetividade, a cognição e a estética são
da área de comunicação e expressão, a qual onde encontramos a convivência de diversas práticas e motivação tem ligação direta com o atrativo partes integrantes da música e do lúdico.
trabalharia as linguagens plástica, musical e discursos. Evidencia-se, entretanto, o distanciamento da porque “se adapta melhor à realidade, à faixa
cênica (Proposta Curricular para o ensino de prática, presente nas salas de aulas, e a teoria, produzida etária e à fase de desenvolvimento em que A MÚSICA VISTA COMO
Educação Artística: I grau São Paulo, 1991). e circunscrita à academia. (LOUREIRO, 2004, P. 65). as crianças estão”. (JÔNIO, 2015, p. 15). SOCIAL E CULTURAL
Essas transformações abrangeram os O momento atual vem trazendo, no campo Qualquer atividade lúdica provoca A música é parte do homem, pois sem ela
currículos dos cursos superiores em música, musical, inúmeras novidades, com produções estímulos nas pessoas, explorando seus o homem seria incompleto, devido ao fato
que passaram a ter duas modalidades: nos mais variados estilos, exigindo dos sentidos vitais, operatórios e psicomotores, do ser humano fazer a música. A música
licenciatura em educação artística (habilitação professores e profissionais da música outra propiciando o desenvolvimento completo como cultura sempre se dá num contexto
em música, artes plásticas, artes cênicas ou maneira de perceber, experimentar e ouvir. das suas funções cognitivas. Macedo, social específico, trazendo noções de
desenho) e bacharel em música (habilitação em Petty e Passos defendem que, “o brincar identidade.Percebe-se que a música pode
instrumento, canto, regência e/ ou composição). LUDICIDADE E MÚSICA: é agradável por si mesmo, aqui e agora. ser uma chave para o conhecimento de si
MUSICALIZAÇÃO Na perspectiva da criança, brinca-se pelo mesmo e do outro. Quando escutamos a
Por meio das brincadeiras de explorar prazer de brincar, e não porque suas música de uma determinada cultura, dentro
como: brincar com os objetos sonoros O acesso à educação musical por muito consequências sejam eventualmente dela estão contidos elementos que fazem
que estão ao seu alcance, experimentar as tempo foi algo restrito, nem todos tinham positivas ou preparadoras de alguma outra parte do homem naquele espaço e naquele
possibilidades da sua voz e imitar o que ouve, a oportunidade de estudar música, seja por coisa”. (MACEDO, PETTY & PASSOS, 2005). tempo. De acordo com Sekeff (2002):
a criança começa a dar significado aos sons falta de aptidão, recursos financeiros ou até
que antes estavam isolados, agrupando-os de mesmo de condições favoráveis de ensino. O a música é uma atividade, uma fruição, um prazer, um
forma que comecem a fazer sentido para ela. que nos permite entender a educação musical, movimento que se completa em nós, na escuta, e que nos
tão fundamental para a formação integral do O ato de pensar compreende várias etapas no processo. mobiliza de forma única, singular, integrando sentidos, razão,
Nas aulas de música em grupo são ser humano, como um privilégio para poucos. Estas vão desde a percepção, que passa pela organização sentimentos e imaginação. Mesmo porque é esse o jogo
trabalhados aspectos como, por exemplo, o mental do indivíduo, elaborando as ideias de forma que sustenta sua prática caracterizada por uma ludicidade
respeito pelos colegas, a cooperação que as É pertinente ressaltar que a educação a possibilitar uma expressão do material captado que motiva, entusiasma, educa. (SEKEFF, 2002, p.119-120)
atividades realizadas em coletivo exigem e a musical como componente curricular não tem e elaborado. Segundo uma perspectiva piagetiana,
união da turma na busca de alcançar objetivos a pretensão de formar músico profissional, e a organização mental dos fenômenos externos e A música auxilia na aprendizagem de
que sejam comuns a todos, como por exemplo, sim “desenvolver a sensibilidade estética e internos relaciona-se à constante busca de equilíbrio diversas matérias, sendo um componente
cantar e dançar em roda ao mesmo tempo. artística, assim como a imaginação e o potencial entre os processos de assimilação e acomodação. histórico de qualquer época, oferecendo
Dessa maneira, fortalecemos a ideia de que criativo” (SOARES, 2006, p.10). Portanto, Cada indivíduo, porém, imprime características condições de estudos na identificação
este conteúdo específico deve ter seu lugar todos possuem a capacidade de aprender a peculiares em sua cognição, conforme interesses ou de questões, comportamentos, fatos e
reservado nas grades curriculares escolares. expressar-se por meio da música. Para tanto, necessidades de sua vida cotidiana (BEYER, 1996, p.9). contextos sociais. Segundo Abed (2014):
é necessário oportunizar situações propícias
Sobre a educação musical nas à construção do conhecimento em música, A música é uma linguagem que comunica Tão importante quanto promover a socialização do
escolas da educação básica e nas permitindo o acesso de todos à educação. sensações, sentidos e passa por organização sujeito é desenvolver, no aluno, a consciência de sua
universidades, Loureiro (2004) coloca: de som e silêncio. Está presente nas mais condição de ser único no mundo. Cada pessoa é singular
O educador acredita que o lúdico vem diversas situações, assim como o lúdico, por e diferenciada, com competências e fragilidades, com
A educação musical que hoje é praticada em nossas para a educação como uma ferramenta isso a importância de caminharem juntos. histórias de vida pessoais e intransferíveis, a riqueza

568 569
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

da diversidade humana está justamente nesse duplo relação a nós. (HUSBAND, 1998, p.139) também a importância de continuidade, de educação infantil antecedem este processo,
aspecto de sua condição: simultaneamente social integração do ensino musical no contexto das contrariando a sua própria identidade infantil.
constituído nas e pelas relações (ABED, 2014, p. 64). Devemos compreender a cultura de povos séries iniciais rompendo com os paradigmas
diferentes e outras épocas, vivenciando que tratam a música como produto pronto A criança é um ser “brincante” e, brincando,
O ser humano vive em sociedade, adquire sentimentos e emoções diversificados. em vez de conhecimento a ser construído. faz música, pois assim se relaciona com o
e constrói a sua cultura de acordo com fatos De acordo com Souza (1992, p.3): mundo que descobre a cada dia. Fazendo
históricos. De acordo com Morris (1975): a música na escola só traz vantagens para A presença da música na educação infantil, música, ela metaforicamente, “transforma-
Tudo que é caracteristicamente humano a vida das crianças; uma maior consciência traz também algumas questões complexas, se em sons”, num permanente exercício:
depende da linguagem. O ser humano é, em de si, o respeito e a compreensão do outro como a restrição, pelo seu caráter ritual, receptiva e curiosa, a criança pesquisa
primeira instância, o animal falante. O discurso e visões críticas das dimensões da vida; em: canções de rotina, formação de hábitos, materiais sonoros, “descobre instrumentos”,
representa o mais essencial – mas não o único isto, sem falar na divulgação e valorização atitudes e comportamentos, alguns deles inventa e imita motivos melódicos e
– papel no desenvolvimento e na preservação da área como campo profissional e da alheios às questões próprias da linguagem rítmicos e ouve com prazer a música de
da identidade humana e de suas aberrações, ação estimuladora e criativa para o musical, acompanhadas por gestos todos os povos. (BRITO, 2003, P. 35)
assim como faz no desenvolvimento e conhecimento da música (SOUZA, 1992, p.3). corporais, imitados pelas crianças de forma
na manutenção da sociedade e de suas mecânica e estereotipada. E no trabalho O Referencial Curricular Nacional para
aberrações. (MORRIS, 1975, p. 235) A música deve ser compartilhada, com o fazer musical restrito ao uso de a Educação Infantil, propõe uma reflexão
desenvolvendo a criticidade, criando bandinhas, muitas vezes feitas com material sobre estes procedimentos contraditórios,
A Arte e a música oferecem conhecimentos espaços de relações interpessoais, podendo inadequado e de qualidade questionável. presentes em muitas instituições de educação
em diversos campos culturais, ser o ponto de partida para a busca de Tudo isso, ocorrendo, “deixando pouco ou infantil, numa perspectiva de formação que
proporcionando uma forma de expressão várias informações e valorização da cultura nenhum espaço às atividades de criação considera a importância do contato intuitivo
e contribuindo para buscar a identidade de um povo. O espaço social educacional é ou às questões ligadas à percepção e e espontâneo com a expressão musical desde
de um povo. Segundo Husband (1998):No diferente do espaço social familiar, porque conhecimento das possibilidades e qualidades os primeiros anos de vida para o processo
reconhecimento de nossa individualidade na escola o aluno produz sua própria cultura expressivas dos sons.” (BRASIL, 1998, p. 47) de musicalização, o respeito ao modo de
está a possibilidade de assumirmos a por meio da integração com o outro. Percebe- perceber, sentir, pensar, em cada fase do
identidade da comunidade que fazemos se que a todo momento em nossas vidas a Há que se considerar ainda, a concepção desenvolvimento humano e contribuir
parte, aquilo que nos une e nos solidariza. música está presente, sendo por meio de inadequada de educação infantil, como para que a construção do conhecimento
Consequentemente, os direitos individuais momentos bons ou ruins, educativos ou não. pré-escolarização, presente em muitas musical se dê de modo significativo, como
não podem ser inteiramente usufruídos ou instituições, estritamente pautadas também “a possibilidade de vivenciar
garantidos, na ausência do respeito para A MÚSICA NA EDUCAÇÃO na alfabetização e nos conhecimentos e refletir sobre questões musicais num
com a dignidade, a integridade, a igualdade INFANTIL matemáticos, deixando de lado o lúdico, exercício sensível e expressivo que também
e a liberdade daquelas comunidades com o brincar, o movimento, o fazer musical e oferece condições para o desenvolvimento
as quais nos identificamos, incluindo a No que diz respeito à Educação Infantil artístico, reproduzindo práticas conteudistas de habilidades, de formulação de hipóteses
comunidade étnica a qual pertencemos. e ao trabalho realizado com a música nesta e suprimindo etapas imprescindíveis no e conceitos.”(BRITO, 2003, p. 48)
Na busca do reconhecimento de quaisquer modalidade de ensino, é preciso lembrar que processo de aprendizagem. Dessa forma
de nossas comunidades [...] nós devemos as crianças entram em contato com a cultura pode-se romper com a visão que culpabiliza Ouvir música, aprender uma canção,
reconhecer reciprocamente a legitimidade musical muito cedo, portanto há que se somente a modalidade ensino fundamental brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos,
da existência e da integridade de outras potencializar o acesso à Educação musical nos pelo desaparecimento do trabalho musical nas jogos de mão, etc., são atividades que
comunidades, inclusive suas diferenças em espaços escolares da infância, e considerar escolas, tendo em vista que, muitas escolas de despertam, estimulam e desenvolvem o gosto

570 571
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

pela atividade musical, além de atenderem a educação, não como música pela música, e culturais, contribuindo também para o seu desenvolvimento na primeira infância.
necessidades de expressão que passam pela mas como instrumento de educação, no qual processo ensino aprendizagem.Quando Revista da ABEM. Vol.3, p.9-16, Junho/1996.
esfera afetiva, estética e cognitiva. Aprender deve ser relacionado as práticas cotidianas crianças a música contribui para seus
música significa integrar experiências dos alunos, pois a mesma contribui além aspectos psico-físico- social, dirigindo as BARBOSA, Ana Mae; CUNHA,
que envolvam a vivência, a percepção e do processo de ensino aprendizagem, mas crianças para um mundo mais divertido e Fernanda Pereira. Abordagem triangular
a reflexão, encaminhando-as para níveis também para formação da própria cidadania. liberto, interagindo com outras pessoas. no ensino das artes e culturas
cada vez mais elaborados. (IDEM, p. 48) visuais. São Paulo: Cortez, 2011.
A função da escola em relação à música Conclui-se que a Arte e a música
Nessa perspectiva de ensino, considera-se é oferecer à criança a maior quantidade contribuem para o desenvolvimento BRASIL. Ministério da Educação e
a Educação Musical, segundo Brito, (2003), de oportunidades para que esta possa integral do ser humano, por um meio mais do Desporto. Secretaria de educação
“um trabalho pedagógico que se pode realizar estabelecer um contato profundo com livre no processo ensino aprendizagem, fundamental. Referencial curricular nacional
em contextos educativos nos quais a música a música viva e em geral com o mundo sendo assim, as crianças constroem para a educação infantil – Conhecimento
é entendida como um processo contínuo dos sons, seja cantando, movimentando- seus conhecimentos de forma livre, sem de Mundo. Brasília, MEC/SEF. 1998.
de construção que envolve perceber, se, executando ritmos com expressões perceber que estão sendo ensinadas, com
sentir, experimentar, imitar, criar, refletir”. corporais ou instrumentos musicais. a interferência de um professor mediador. BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação
Musical: bases psicológicas e ação
CONSIDERAÇÕES FINAIS Torna-se imprescindível, portanto, preventiva. São Paulo: Átomo, 2003.
fazer, uma análise reflexiva das práticas
A música é uma linguagem particular e pedagógicas, experimentando possibilidades BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação
específica, que se traduz em formas sonoras através da música e desenvolvendo uma Infantil: propostas para formação integral
carregadas de expressão, sentimentos, ação de rede de conhecimentos, articulando da criança. São Paulo: Peirópolis, 2003.
pensamentos e sensações. Uma das teoria/prática, fundamentada no princípio
principais formas de expressão humana, da interdisciplinaridade. Para tanto, é CAGE, J. De segunda a um ano. Tradução de
e está presente em todas as culturas, nas necessário garantir condições de formação Rogério Duprat. São Paulo: Hucitec, 1985.
mais variadas situações rituais de um povo, aos professores, de recursos e espaços
imprimindo através de sua manifestação para aplicação da proposta, como também, CORREIA, Marcos Antonio. Música
a marca deste povo, de seu tempo, de sua colocar efetivamente em prática, as leis, na Educação: uma possibilidade
história. É, portanto, este aspecto ritual documentos, teorias, que há décadas foram MARA REGINA SIQUEIRA DOS pedagógica. Revista Luminária, União
e cultural da manifestação musical que elaboradas para uma formação integral e SANTOS da Vitória, PR, n. 6, p. 83-87, 2003.
explica a sua importância no contexto desenvolvimento pleno de nossas crianças.
educacional, mas o trabalho efetivo e Graduação em Pedagogia pela UNIFIEO CRAIDY, Carmem Maria; KAERCHER, Glades
significativo com música na escola tem, É preciso resgatar músicas na (2012); Professora de Educação Infantil e Elisa P. da Silva. Educação infantil: pra que
historicamente, encontrado certa dificuldade. ludicidade para haver uma maior interação Ensino Fundamental na Prefeitura Municipal te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001.
entre educando e educador para uma de São Paulo.
A música deve ser concebida como qualidade no ensino e aprendizagem. REFERÊNCIAS JEANDOT, Nicole. Explorando o Universo
uma linguagem que se organizada e A Arte e a música têm um papel da Música. São Paulo: Scipione, 2º ed, 1997.
fundamentada culturalmente, ela é uma fundamental na vida do ser humano, sendo BEYER, Esther. Os Múltiplos Caminhos da
prática social. Deve ser considerada na influenciada por diversos laços históricos Cognição Musical: algumas reflexões sobre KARÓLY, O. Introdução à música.

572 573
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

São Paulo: Martins Fontes, 1990. desenvolvimento. Psicol. Argum, Curitiba,


v. 24, n. 45, p.14-24, maio 2006. Semestral.
KISHIMOTO, T. M. (Org.) Jogo,
brinquedo, brincadeira e a PIAGET, Jean. A psicologia da criança.
educação. São Paulo: Cortez, 1996. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

KISHIMOTO, T. M. O jogo, a criança e a WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade.


educação. 16 ed. Petrópolis: Vozes, 2010. Trad. José Octávio de Aguiar Abreu e
Vanede Nobre. Rio de Janeiro: Imago. 1975.
KISHIMOTO, T. M. (Org.). O brincar e
suas teorias. São Paulo: Pioneira, 1998. SEKEFF, R. Murray. A afinação do
mundo. Tradução de Marisa Trench de
MACEDO, L; PETTY, A. L. S; Passos, N. O. Fonterrada. São Paulo. UNESP, 2007.
C; Os jogos e o lúdico na aprendizagem
escolar. Porto Alegre: Artmed, 2005. SEKEFF, Maria de Lourdes. Da Música – seus
usos e recursos. São Paulo: UNESP, 2002.
MORAES, Ingrid Merkler. A Pedagogia do
Brincar: Intercessões da ludicidade e da SNYDERS, Georges. A escola pode
psicomotricidade para o desenvolvimento ensinar as alegrias da música? São
infantil. 2012. 164 f. Dissertação Paulo: Editora Cortez, 3.ed. 1999. O EDUCADOR E A CONSTRUÇÃO DA PERSONALIDADE
(Mestrado) - Curso de Educação,
Centro Universitário Salesiano de São VYGOTSKY, L. S. Formação social da mente. DO ALUNO PROBLEMA: o enfoque psicanalítico na
Paulo – UNISAL, São Paulo, 2012. 3. ed., São Paulo: Martins Fontes, 1989. definição de padrões individualizados de ensino
MOSCA, Maristela de Oliveira. Como
se fora brincadeira de roda: a ciranda da
RESUMO: A autora contrapõe padrões atípicos de personalidade / comportamento como
ludopoiese para uma educação musical
causas contornáveis de mal desempenho escolar. Aborda sob o enfoque psicanalítico
humanescente. Natal-RN, 2009.180 f. da “Construção da Personalidade”, com suas fases, frustrações, regressões, fixações
Dissertação (Mestrado em Educação) - e caracteres, neles identificando geradores de relíquias do mal caminho na solução
Universidade Federal do Rio Grande do dos traumas e frustrações inerentes às diversas fases, do que redundam padrões
Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. inconvenientes de comportamento e desempenho escolar. Propõe, com base em sua
Programa de Pós-Graduação em Educação. experiência corrente, que, na identificação de tais traços, se criem, prazerosamente para
educador e aluno, soluções educacionais peculiares, capazes de obter resultados altamente
PENNA, Maura. Música(s) e seu ensino. exitosos em indivíduos, doutra sorte, fadados ao insucesso e ao descaminho social.
2ª ed. Porto Alegre: Sulina, 2012.
PEREIRA, Maria ngela Camilo Palavras-chave: Personalidade; Fases; Libido; Educando; Educador.
Marques; AMPARO, Deise Matos do;
ALMEIDA, Sandra Francesca Conte
de. O brincar e suas relações com o

574 575
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO de fatores natos e inatos, genéticos e delineamento de estratégias, adotadas pelo determinante de padrão comportamental,
ambientais, de incidência segmentar e/ou “educador”, para seu melhor aproveitamento. igualmente genético; o Caráter, adaptativo
longitudinal no tempo, mas que dele, aluno, ao ambiente; e a Personalidade, que
Objetiva-se desde a releitura e independem. Especialmente aborda as fases HISTÓRICO integra os três anteriores e é expressão do
compreensão do enfoque de Sigmund em que, claramente se escalona o processo desenvolvimento, evolução e adaptação em
Freud, seus seguidores e mesmo dissidentes, de “Construção da Personalidade”, para Sigismund Schlomo Freud (1856-1939), foi face dos estímulos, espelhando a interação
do processo de desenvolvimento da desnudar aos olhos do educador, o “ponto médico formado pela Universidade de Viena entre o genético e o ambiental (entenda-se
personalidade, na elucidação das razões e fraco” ditado por cada uma dessas fases, por em 1881). Em 1897, Freud considerou de desde família à sociedade e à cultura) e resulta
motivos das diversidades e peculiaridades onde “penetrar e romper barreiras”, para, natureza sexual as causas de neuroses, para da sucessão de fases de desenvolvimento,
individuais e problemas de cada aluno, ainda que limitações persistam, implementar delinear a teoria do “Complexo de Édipo”, dos comportamentos e influências sendo
permitir ao educador, delinear um modelo de a eficácia da tarefa de ensinar / educar. atribuindo parte da estrutura psíquica do peculiar a cada indivíduo.
relação ensinar/aprender, de “haute couture” homem ao amor físico, incestuoso, pela mãe.
que contempla os potenciais e peculiaridades DEFINIÇÃO: EDUCADOR E Atribuiu ao ímpeto libidinoso a motivação O APARELHO PSÍQUICO
de cada qual, e não do “prêt-à-porter” que EDUCANDO básica da vida humana, vendo o homem
massificando a forma de ensinar, esmaga como dono de razões imperfeitas dominado Divide-se em três partes, Id, Ego e
potencialidades e faz da frequência à sala de Muitas vezes esta Autora se referiu a por seus sentimentos e desejos, numa visão Superego. O Id presente já ao nascer, é
aulas entre enfadonha e improdutiva, uma “educando” e “educador”, e não “aluno” que mescla mente, corpo e ambiente social. A constitucional, busca o prazer, evita a dor,
pesada carga, tanto para o aluno quanto para e “professor”. Evidentemente a tarefa de partir de tal visão, passam, ele e seguidores a não tolera a frustração. O Ego intermedeia
o educador. educar é da família, e por extensão, da estudar o processo de definição das fases de a relação entre o Id e o meio, busca não o
Justifica-se que cada ser humano tende a, sociedade, enquanto cabe ao professor construção e dos padrões de personalidade. prazer, mas a realidade, trabalha o prazer
de modo etnocêntrico, se incomodar pelos ensinar. Todavia é inegável o fato de que modificado pela razão, captando, elaborando,
diferentes, desprezá-los por sua diversidade, o processo educacional não se restringe à Freud teve seis filhos, Anna, Ernst, Jean, planejando e decidindo. O Superego é a
puni-los por serem o que, ou como são. Assim, essência do ensinado, senão ativamente atua Mathilde, Oliver e Sophie. Por duas vezes herança sociocultural, em sua esmagadora
mesmo o mais consciente e paciencioso na formação do indivíduo e sua adequação destruiu todas as anotações de sua obra. maior parte constituído de valores parentais
professor inevitavelmente e de modo psicossocial. Soma-se a constatação de Construiu sua teoria e conhecimento do introjetados, é a Consciência automatizada de
gradual, terá a tendência a se desalentar que nas periferias de grandes centros e psiquismo humano com seus mecanismos, certo e errado. Portanto um Ego fortalecido
e dominar pela frustração reativa àqueles extremos dos estratos socioeconômicos, evolução e estruturação ao longo da vida, intermedeia a relação equilibrada entre Id,
que, não lhe oferecem a desejada resposta vem se tornando significativa a tendência parte na análise de si próprio, e certamente, Superego e o meio.
de aprendizado, ainda que, racionalmente, de genitores se eximir de quaisquer também na observação de sua numerosa
se lhes possa eximir da “culpa”, e isto, com compromissos na formação de seus filhos, prole. Na interação entre as três partes do
efeito, vem se convertendo em regra. bem assim, deixando também a educação, Aparelho Psíquico, Freud identifica a
“latu e strictu sensu”, não apenas o ensino, A PERSONALIDADE PARA “Energia Psíquica”, como motivação para
Tal problema, traz esta Autora a abordar sob os cuidados da escola .No presente FREUD o esforço, amor e ódio, alegria e tristeza,
o fundamento teórico de sua bem-sucedida texto, poucas vezes se farão “citações” participando questões orgânicas, no caminho
atuação aplicada ao ensino público de senão que, será em seu todo, uma releitura, O homem, pensante, age e reage em função entre motivação ou impulso, perpassando o
populações da periferia da megalópole. pela Autora, das teorias Freudianas, voltada de quatro recursos, a saber, a Constituição comportamento até atingir um fim. O Id é
Considera cada ser humano, em especial à análise dos padrões comportamentais de Física, fruto da interação entre fatores a fonte primária da “Energia Psíquica”, mas
cada aluno, como fruto da interação cada aluno, “educando”, como matriz para o genéticos e ambientais; o Temperamento, esta serve a qualquer uma das partes do

576 577
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

aparelho psíquico. A Energia Psíquica tem A CONSTRUÇÃO DA maiores ameaças e dificuldades inerentes libido eminentemente narcísica porquanto
uma finalidade Construtiva, que busca a PERSONALIDADE à seguinte, convidam a retornar ao terreno só conhece ao próprio corpo. A energia
preservação de si e à da espécie, chamada mais seguro da anterior. Evidentemente libidinosa não se restringe à amamentação,
Libido, e outra finalidade Destrutiva, que Compreendidas agora, as bases funcionais a Regressão ocorre, se a fase anterior mas na busca pela satisfação erótica suga
age no sentido oposto, chamada Tanatos e hierárquicas do psiquismo, passemos conheceu certo grau de Fixação, sendo, a própria língua, os dedos de pés e mãos, a
ou Mortido. Freud vislumbrou o Aparelho àquilo que, é o substrato sênior da proposta portanto, Fixação e Regressão, fenômenos chupeta. A gradual substituição do seio que
Psíquico a operar em três planos, o Consciente, a que nos prendemos. Freud elaborou suas complementares. até então era parte de si, será a “segunda
o Pré-consciente e o Inconsciente. São como ideias sobre a Construção da Personalidade, reação de separação”.
um Iceberg, onde o Consciente compõe a centrando sua motivação na Libido, motor A FASE ORAL
pequena parte, sempre fora d’agua, visível, o dos impulsos vitais e sexuais. Diferentes fases Melanie Klein fala que no primeiro
Inconsciente, sempre submerso compõe sua marcam a mudança do objeto dos impulsos O concepto que, ainda intraútero, trimestre se sobrepõem as imagens de seio
maior parte, enquanto o Pré-consciente se dessa energia, a princípio narcísicos (dirigidos vivenciou as angústias físicas e psíquicas bom, o que recompensa, e seio mau, que
expõe conforme passem vagas de ondas. ao próprio indivíduo) e gradualmente, com o da mãe, vive o trauma do nascimento com frustra, enquanto no segundo semestre
crescer, objetais. a perda da proteção do ambiente uterino e surgindo a noção do “externo”, a percepção
O Inconsciente guarda os impulsos a chegada de ruídos, a luz, os cambios de do bom e do mal, que causa ansiedade e
primitivos e as ideias de elevada carga emotiva, O amadurecimento psico-orgânico e a temperatura, a necessidade de respirar e culpa, surgindo o primeiro esboço para a
antes conscientes, banidas da consciência sociabilidade guardam relação biunívoca com sugar. Esta é a “primeira reação de separação”, formação do superego.
por aspectos intoleráveis. O Inconsciente o aumento da atenção objetal da libido. Assim marca a angústia do desligamento, a mesma
é atemporal e sem lógica, desconhece existem sete fases claramente distintas, angústia que tantas vezes vivenciará em sua A satisfatória resolução desta fase, se
conceitos de identidade, causalidade e a saber, Oral, Anal, Fálica, de Latência, existência. Esteja presente a necessidade prende, por certo, à mãe que oferece a
contradição, guarda sem oposição impulsos Adolescência, Maturidade e Velhice, cada de eliminar a contaminação pela angústia, adequada dose de afeto e calor, retribuição
contrários como o ser e o não ser, ou noção uma conhecendo seus específicos problemas agressividade, indiferença ou superproteção das demandas e expectativas, mas demanda
de espaço sem nexo com a realidade, e dificuldades oriundos do crescimento, maternas, e equilibrada e gradualmente a equilibrada relação de recompensas e
desconhece a dúvida ou a incerteza. Numa convívio e adaptação ao meio. A evolução ao impor limites e opostamente, satisfazer-lhe frustrações.
linguagem simbólica e não verbal, duas ou longo dessas fases, observa três fenômenos. as demandas.
mais imagens ou desejos podem ter uma O Fenômeno de Progressão com a superação O Caráter Oral, decorre de adaptação às
única representação, coisas e pessoas podem dos obstáculos de cada fase permite ingressar A Fase Oral, perdura pelo primeiro ano situações com claros elementos de fixação
estar em lugar de outras coisas e pessoas. na seguinte. O Fenômeno de Fixação onde de vida, narcísica, tem a Libido focada na oral. A Fase Oral inicial é receptiva, sugar,
Está por detrás de boa parte dos problemas fatores constitucionais e mesológicos oralidade, na alimentação, não só no leite, enquanto a Fase Oral Tardia marca pelo
com que se defronta o educador. O Id e o impedem a adequada superação dessa fase, mas no seio protetor, do contato e do afeto. morder, triturar. O excesso de recompensa
Superego, porquanto automáticos, são aí detendo o processo de desenvolvimento, Aqui as trocas entre feto e mãe se fazem oral gera traços de excesso de confiança,
inconscientes, mas o Superego é passível de o que se pode dever à resistência em por projeção e introjeção, a criança não generosidade e tendência ao imobilismo,
compreensão consciente. Já o Ego habita os progredir, devido à excessiva gratificação distingue o “self” do “not self” (integrante enquanto o excesso de frustração oral deixa
três planos, o Consciente, o Pré-consciente das demandas dessa fase, ou opostamente de sua identidade física ou não), o seio é sua traços de pessimismo, ressentimento, ciúme,
e o Inconsciente. à excessiva frustração desta, prendendo o ponte com o mundo e fonte de prazer, traz crônica insatisfação. A interação dessas
ser no indeterminado / ilimitado tempo de recompensas ou frustrações que lhe deixam tendências com os mecanismos de defesa
busca por essa gratificação. O Fenômeno marcas na personalidade. Expressa-se pela utilizados fará exteriorizar o caráter oral
de Regressão quando vencida uma fase, as placidez e sono, ou agitação e choro, tem uma como simpatia, eloquência, verbosidade,

578 579
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

mas também a verborragia, o “ser grudento”, em face das resultantes tensões e da substituições, as tintas, a pedra e cinzel ou o assume a percepção da vulva, mas sem a
o alcoolismo ou a obesidade. A facilidade gratificação associada ao aprendizado. O dote cirúrgico. distinção de abertura vaginal e anal. Em
para a comunicação oral e escrita deve ser medo de perda do amor das figuras parentais, ambos os sexos se confundem sensações
estimulada pelo educador, e desestimuladas motiva a gradual internalização dos valores O Caráter Anal é resultado das tensões genitais e anais, e os desejos ativos e passivos.
as más tendências. daqueles, suas proibições, a assim a definição e frustrações, fixações e mecanismos de As diferenças virão com os hormônios e
do Superego. Esta se motiva na chamada defesa, exibem quadros de “prisão de mudanças corporais, mas, em havendo
A FASE ANAL ‘Angústia Subjetiva” pela antecipação da ventre”, enfezados (de fezes), mesquinhos, bloqueios da heterossexualidade como em
desaprovação pelo que pretende fazer, obstinados, ordeiros, meticulosos, prisões, surgem os desejos homossexuais.
Inicia pelo trauma da perda das fezes, assim iniciando por definir posturas éticas, detalhistas, ambivalentes em face de Esta idade do equilíbrio entre iniciativa e
enquanto não se as perceba como não parte inicialmente na presença dos pais, porém, dar ou guardar, ordenar seu mundo, mas culpa, busca tirar vantagem, competir, atacar,
de si. Marca a partir do fim do primeiro ano não longe destes. Esta é a fase marcada por manter caóticas suas gavetas, inseguros e conquistar.
de vida, a troca do passivo pelo ativo e o básicos conflitos, amando e odiando a um críticos de si, defensivos e dissimulados,
desenvolvimento da crítica e interação em só tempo seus mais próximos, expulsando porém destrutivos e vingativos em face dos O Complexo de Édipo, centro do enfoque
sua relação com o meio. Perdura pelo segundo ou retendo fezes, expulsando-as por amor/ demais. O educador lhes estimulará os dotes freudiano na análise do comportamento
e terceiro anos de vida, período em que o doação ou por desprezo àqueles, amando- artísticos e de organização e desestimular humano e do desenvolvimento da
ânus toma o lugar central da boca, trazendo os porque lhe protegem, mas odiando-os, das más tendências. personalidade, tem definido objeto de
o controle esfincteriano e a conceituação porque lhe tolhem. Exercitam o sadismo sexualidade. Menino ou menina, ama o
de limpeza / higiene. Espera-se o controle “faço o que te faz sofrer” ou o masoquismo O Caráter Uretral em indivíduos que genitor do outro sexo (incesto) e odeia o de
fecal até 12 a 18 meses, e o urinário entre 3 “faço para levar palmadas no bumbum que tardaram a controlar a enurese, são mesmo sexo. A menina troca a mãe, objeto
e 3 e meio anos. Vem o prazer narcísico do me dão prazer”. Da mesma forma, exercita- ambiciosos, piromaníacos, gabam-se dos de sua sexualidade até então, pelo pai,
estímulo local, depois a descoberta do prazer se a bissexualidade no ato masculino de próprios feitos e são intolerantes face aos convertendo a mãe em sua rival. A forma
em defecar e urinar, e por fim, o prazer em expulsão e feminino contenção de fezes, ou circunstantes. O educador tentará dar-lhe negativa desse processo é quando a figura
reter para então eliminar. ainda na masculina micção ativa (penetrar) roupagem tolerável de sociabilidade, mas, parental do sexo oposto se torna objeto
e na feminina entrega passiva associada aos dentro de certos limites lhe reforçará a do ódio. Existe o conflito por que o objeto
Apresenta uma primeira fase, “explosiva” impulsos anais. ambição. amado é também o disciplinador ou o odiado
de liberação de forças destrutivas, de é o provedor de segurança e proteção. A
cunho sádico, lançando seus restos internos Erik Erikson fala do conflito entre A FASE FÁLICA fórmula compatibilizadora é, ao longo do
destruídos, e uma segunda fase narcísica autonomia e vergonha ou dúvida, quando, a tempo, a de atribuir ao genitor de mesmo
“retentiva” com o prazeroso estímulo partir do controle de seus músculos, ouça, o Estende-se dos 3 aos 6 anos, marca pela sexo virtudes a serem imitadas e ao de outro
mucoso de retenção fecal, ou sádico, por indivíduo, contrapor-se às vontades de seus busca da consciência de si, seu corpo e do sexo a troca por outros mitos permitidos.
não as presentear aos pais. Deixa do caráter pais. A solução da sequência conflitiva dos meio. Agora, a zona erógena, narcisicamente,
receptor da fase oral, para assumir-se doador, fatos desta fase, depende da adequação do são os genitais, ainda, a tudo, animado ou O Complexo de Castração, em que o
e assim desenvolvendo gradualmente os papel parental no sentido de “resolver” o inanimado atribuía um pênis. A masturbação menino em seu incesto materno teme a
sensos de colaboração e responsabilidade. indivíduo numa posição mais positiva. é fato normal desta fase. Surgem perguntas, vingança do pai recairá sobre o pênis a ser
Ferenczi fala da simbologia em que, fezes que se devem responder na proporção da perdido. Ao descobrir que a mulher não tem
O controle das fezes decorre da maturidade dão lugar ao barro, este à areia, às pedrinhas, curiosidade, apenas ao indagado. A menina um pênis, ou o imagina oculto (mulher fálica)
orgânica, da capacidade de compreender o ao álbum de figurinhas e então ao dinheiro. não distingue o clitóris de um pênis, assim o que lhe traz medo, ou que ela o perdeu,
fato, da interação com os pais, da tolerância Da mesma forma, intercorrerão por graduais fantasiando penetrar. Gradativamente o que lhe traz desprezo. O menino com

580 581
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

predominância de tendências femininas, A FASE DE LATÊNCIA com o objeto do amor quanto o da frustração, personalidade desejáveis para identificação
aceita-se castrado, inferior, e assim se sendo o genitor mais frustrador a matriz como a pujança intelectual, ausência de
encaminha para a passividade homossexual, É o tempo da integração do Ego. O Id é maior do Superego a que se somam valores conflitos, vida familiar satisfatória, capacidade
para o complexo do pênis pequeno, ou recalcado ao segundo plano, vem o destaque socioculturais. de orientar o aluno além do objeto da matéria.
busca a compensação pelos excessos na intelectual da fase escolar, perdurando até a O ídolo professor não tem favoritismos,
agressividade e na ostentação masculina. Já puberdade durando do quinto ao décimo ano. Anna Freud em “O Ego e os Mecanismos desinteresse, desajustamentos, frustrações,
a menina culpa a mãe pela perda do pênis e Vem a relativa parada do desenvolvimento de Defesa” enfatiza que, antes da formação infelicidade. Pais e professores devem
se apaixona pelo pai, poderoso por ter um psicossexual e dos conflitos, pelo fortalecer do Superego, a Ansiedade Objetiva é uma estimular não apenas o estudo, mas como
pênis. A mulher que rejeita tal condição, do Ego, novas motivações superam as sexuais. precursora, antecipação fantasiosa do prazer e não obrigação, as inserções sociais
busca copiar e competir com os homens, Conflitos pendentes das fases anteriores sofrimento que agentes exteriores poderiam como o esporte e o trabalho, reforçando
masculiniza-se, cristaliza-se como “mulher podem aqui manifestar uma criança irritada, infringir como castigo.A resolução dos seus gostos evitando a insegurança, no que
castradora”. agressiva, exibicionista, masturbadora, problemas ligados ao Complexo de Édipo será o treinamento para ser o trabalhador e o
de elevada curiosidade sexual e pobre leva a buscar adaptar-se e tecer relações com provedor, no futuro. Este é um momento em
O Caráter Fálico exibe pessoas vaidosas desempenho escolar, com manifestações outras pessoas e remanejar seus impulsos que, muitas vezes é o aluno de difícil trato,
e agressivas, temerárias e resolutas, seguras neuróticas como enurese e pavor noturnos, eróticos e agressivos. A resposta alheia é mas tem abertas as portas a que o educador
de si, assim reagindo aos ímpetos de dificuldades à alimentação. o espelho em que o Ego e a autoestima se exerça sua maior obra.
inferioridade. Narcisistas superestimam seu nutrem. Assim, aquele bem aceito, será
pênis, defesa ao temor da castração ou à No período dos cinco aos oito anos sociável e cooperativo, enquanto o rejeitado Erikson refere a Fase da Latência como
tendência à passividade anal. O “macho man”, ainda exibe os problemas edípicos usando tenderá ao negativismo e rebeldia. “conflito entre produtividade e Inferioridade”.
e máscara com sua hostilidade o despeito de defesas contra impulsos eróticos e Os pais, educadores, colegas, têm papel
em face das mulheres. Homens ou mulheres agressivos, é um “facistoide” em busca do Notadamente após os oito anos, buscam os importante no sentimento de competência.
procuram o pênis castrado exaltando-o frente controle sobre si e os demais. Já no período “Clubes do Bolinha” e “Clubes da Luluzinha” O insucesso pode reviver o sentimento de
aos circunstantes. No mínimo, o educador entre os oito e os dez anos, um superego como defesa contra a bissexualidade e inferioridade física e castração.
lhes estimulará o espírito temerário, mas a mais estruturado traz um “democrata” de reforço da masculinidade / feminilidade. Caráter Infanto-Juvenil, manifesto nos
moderação em suas expressões. espírito independente, contactante da Na interação grupal, o indivíduo abre mão adultos que agem com desocupada liberdade,
realidade, defenso e sutil manipulador de das normas do superego em favor dos ativos aventureiros, adeptos do “Clube do
O Caráter Genital quando superada seus ímpetos de independência ou contra atos do grupo. Projeta nos mais velhos a Bolinha”, defeitos da sociedade bissexual.
a ambivalência e o narcisismo, vem a inveja e o ciúme. Reposiciona os pais em sua autocrítica, tendendo a hostilizá-los
a exteriorização da supremacia da face dos demais objetos de sua atenção. (como aos professores), tenta reagir contra A FASE DA ADOLESCÊNCIA
genitalidade na libido expressa, perde-se a a necessidade de dependência e aprovação
ambivalência do amor e da livre expressão. A Formação do Superego, herdeiro do dos adultos. Depois da família e do grupo de Volta dos impulsos sexuais reforçados
Bem “resolvidos” exibem os traços de suas Complexo de Édipo, temendo ao pai em brinquedos, é a escola, o terceiro agente de pelo desenvolvimento e maturação genitais.
fases de modo coerente, amigável, amoroso, quem projeta sua hostilidade, ciúme e socialização. Grave, após os seis anos, os pais Daqui, cresce o interesse heterossexual, o
agradável. São receptivos, autoconfiantes, inveja, enquanto ama-o como provedor, entregam a criança ao professor na tarefa preparo para a Maturidade. Dos onze aos
responsáveis, adequadamente cautelosos, protetor e exemplo, introjetando tais valores de educar, não só ensinar, se exime de seus vinte anos ocorre um rápido crescimento e
lucidamente previsores. Não têm o que como proteção contra os impulsos passíveis papéis. O professor torna-se a figura mais amadurecimento com impulsos e conflitos
temer ou esconder. de punição pela castração. O Superego, importante depois dos pais. Ele é o ídolo exacerbados. Por algum tempo, Id, Ego e
masculino ou feminino, se identifica tanto vivo e assim deve ostentar os elementos de Superego perdem a ressonância e precisam

582 583
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

se reorganizar como conjunto harmonioso. de Édipo. Meninas superam os impulsos mecanismos de defesa a seu alcance, e se vão apagando os componentes narcísicos e
Divide-se em fases Pré, Trans e Pós-puberal, masculinos, e meninos superam a ansiedade isto não bastar, surgem fobias e obsessões. homossexuais.
o que nem sempre corresponde à fase pela castração. Troca-se o incesto pelo objeto A rebeldia, delinquência, perversão sexual,
corporal de puberdade. externo dos ímpetos libidinosos enquanto a crueldade marcam a temporária vitória do Id Não conseguirá ter definida sua
genitália assume a primazia da sexualidade sobre o Ego, ou reversamente, o êxito parcial identidade ao final da adolescência, aquele
Período Pré Puberal o rápido crescimento e outras zonas erógenas assumem papel do Ego pode gerar inibição e angústias, cujo Ego não realizou a integração das
corporal exige a readaptação de autoimagem. preliminar ou secundário. Aquele que não aliviados pelo repúdio pelos impulsos e identificações vividas. Exibe uma mistura
O mundo já é menos ameaçador, buscam- se livra do impulso edípico para dirigir sua pela intelectualização. Tudo isto melhora à de papéis mal assimilados pois mal se
se fora de casa os objetos de amor, ódio e sexualidade à preponderância da genitália, medida em que a libido se direcione para a enquadra. São os desajustados, os rebeldes
identificação. Precisa ser visto como adulto, verá distúrbios como a homossexualidade genitalidade. sem causa em luta contra os valores sociais,
mas subsiste o desejo de manter-se criança ou a perversão. Na mulher, os preconceitos mas sem alternativas a propor. Assumem
por ainda se sentir inseguro, conflito que se relativos à menstruação poderão reavivar Período Pós-puberal transcorre entre os comportamentos regressivos, objetivam a
carrega pela vida toda. fantasias infantis a respeito da inferioridade 15 e os 20 anos, traz a busca da emancipação, simples satisfação de impulsos libidinosos,
feminina, de castração ou das vergonhas da opção vocacional, relacionamento com o chegam à delinquência ou, opostamente,
A maturação física, difere em intensidade fase do controle dos esfíncteres. sexo oposto, cristalização da sua identidade. fecham-se na introspecção e no convívio
e velocidade entre os indivíduos gerando É o período mais conflitivo. A sociedade com a fantasia, ou vivem da farsa, de roubar
admiração ou desprezo entre os que foram Os câmbios apresentados no corpo e os mais velhos têm valores altamente a identidade alheia, e, sem vocação, mudam
“iguais”. Muitos se isolam ou buscam livros masculino perfazem de 1 a 6 anos. Surgem conflitantes entre si, e enquanto viceja a de papel sempre que desmascarados.
como compensação pelo sentimento de as poluções noturnas ligadas a sonhos e expectativa de realização sexual em meio a
inferioridade. Erotiza-se a relação com o meio fantasias homossexuais ou incestuosos e regras e proibições, não existe uma posição CONSIDERAÇÕES FINAIS
numa avalanche de câmbios cuja digestão o medo de que sejam “danos” decorrentes social ou familiar definida para o adolescente.
por vezes leva o indivíduo ao aspecto da masturbação. As reações corporais A separação da dependência familiar é, por Nas linhas acima, esta Autora descreveu
apático e desinteressado, isolado, embotado, indisfarçáveis, como as ereções frequentes si, conflitiva. o fundamento Psicanalítico, de Freud
melancólico. Quando ferido em seu orgulho causam ansiedade e são aliviadas, com modificado por seus seguidores, na
torna-se irritável, nervoso, mal-humorado. frequência, pela masturbação, mas podem Nessa fase, emergem a rebelião onde se Construção da Personalidade. Aqui não nos
O câmbio de autoimagem absorve toda a induzir a sentimento de culpa ou diminuição busca a completa liberação dos vínculos preocupou a discussão acerca da psicanálise,
energia narcísica, e o interesse pelo sexo de autoestima. A ansiedade em face do edípicos, a busca da realização sexual e e seus críticos e desafetos, senão suas
oposto, surgirá cerca de um ou dois anos mundo externo é substituída por aquela a constatação de que muitos dos valores facetas que geraram correntes tão diversas
após a chegada da puberdade. À medida em frente ao Superego, frequentemente parentais introjetados eram errados. de pensamento como as de Melanie Klein, da
que o desenvolvimento ocorre, ressurge a expressada por sentimento de culpa. Com Existe a postura pendular entre se sentir influência sobre Carl Jung, à obra de Wilheim
libido com suas manifestações próprias da a pletora de impulsos, por algum tempo o superior e a submissão aos pais. O ímpeto Reich e até extremos como o pensamento de
todas as fases (oral, anal, fálica). Ego parece não mais saber defender contra sexual é contraposto ao medo da punição Lowen ou o “back-turn” freudiano de Jacques
esses impulsos ou fantasias e assim reedita expresso por fantasias de doenças, Lacan. Nesses termos, em nada conflita com
Existe uma ambivalência em que em casa as fantasias de castração ou inveja do pênis. insucesso, medo da exposição do corpo. o pensamento mecanicista (Behaviorismo) de
se hostilizam os pais, enquanto fora, fala-se Os primeiros relacionamentos com o sexo “Análise do Comportamento” de B. F. Skinner,
sobre eles com orgulho e admiração. Na adolescência com o aumento das oposto são narcísicos, buscando no outro, tampouco a pensamentos educacionais
Período Puberal Inicia-se aos treze anos, forças do Id, a Angústia Subjetiva frente as características que desejaria ter se fosse de Emília Ferrero, de Jean Piaget, de Maria
com a temporária reativação do Complexo ao Superego faz lançar mão de todos os do sexo oposto. Os resultados satisfatórios Montessori ou quem seja. A compreensão

584 585
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

que nos possibilita, a leitura dos traços e A Autora, assume, não só com base motivações, de ambas as partes. Não se REFERÊNCIAS
características de cada qual, sobre a ótica das no conhecimento teórico, mas nos bons exime, contudo, as políticas de educação,
fases do Desenvolvimento da Personalidade resultados em sua prática diuturna, e assim da fundamental ação de chamar à lide os BLUM G. S., Teorias Psicanalíticas de la
e sua resolução / fixações / caracteres, em apregoa que se assuma, no magistério, elementos sociais, em especial os pais, Personalidad, Buenos Ayres, Paidós, 1966
adição à compreensão dos mecanismos de àquela a que chama de “consciência técnica porquanto a escola não pode continuar
BRENNER C., Noções Básicas de Psi-
defesa, apenas faz somar a cada um. do professor”. Pode ele, educador, valer- sendo, como a cada dia mais se constata,
canálise, Rio de Janeiro, Imago, 1969
se da “tecnicidade” com vistas a se utilizar o lugar onde se depositam filhos, para que
Mais, aos que militam na educação daquilo que, doutro modo geraria problemas, não incomodem.Falamos de uma tarefa D’ANDREA, F. F., Desenvolvimen-
brasileira, sobretudo em grandes centros, para obter prazerosamente o implemento construtiva centrada na dinâmica da to da Personalidade, 18ª ed. Rio
vêm-se proliferar as más influências e a do rendimento educacional, usando das interação bipessoal, e aqui cabe enfatizar da de Janeiro, Bertrand Brasil, 2011
omissão familiar. O “professor”, agora torna- peculiaridades de personalidade, inerentes necessidade de turmas reduzidas em cada
se “educador”, defronta-se com o dever a cada qual, e em especial, justamente sala de aulas. Consubstanciada uma realidade, ERIKSON E. H., Childhood and Soci-
de, tentar buscar àquele que se perdeu, daqueles que mais se poderiam definir como todavia, já não se pode fugir do fato de que, ety, 2ª ed. New York, Norton, 1963
porquanto não é causa, mas consequência. problemáticos ou “fora da curva”. Obtém-se o que já foi uma relação professor/aluno,
Pretendeu-se, apresentando os processos não só a integração de “ovelhas desgarradas” é hoje uma relação educador/educando, e FILLOUX, J. C., A Personalidade, São
constantes da Construção da Personalidade, como fomentam-se admiráveis capacidades. sem visões técnicas como a apresentada, tal Paulo, Difusão Europeia do Livro, 1960
fornecer o fundamento teórico de base tarefa redunda no insucesso.
freudiana, psicanalítica, daquelas que Dentre os incomuns se escondem boa parte FREUD A., Introducción al Psicoanalisis para
virão a ser as razões da diversidade e das dos notáveis. Na experiência da Autora, resulta Educadores, Buenos Ayres, Paidós, 1966
peculiaridades individuais. em sucesso, o empenho em bem adequá-los
FREUD S., Obras Completas, Ma-
e aproveitá-los para deles fazer indivíduos
drid, Editorial Biblioteca Nueva, 1948
Os processos aqui referidos, não plenamente produtivos para a sociedade.
apenas sucedem no desenvolvimento Se bem aproveitados, o indivíduo de caráter GOFFMAN E., A Representação do Eu na
e formação dos alunos, enquanto seres marcadamente oral, bem conduzido, revelar- Vida Cotidiana, 1ª ed. São Paulo, Vozes, 1985.
psico-intelectualmente dotados, mas se-á hábil político, vendedor, palestrante,
igualmente e em mesmo grau, também de escritor, chef culinário, psicólogo, advogado, JOSSELYN I. M., Desarollo Psicosocial
seus professores. Tal diversidade, muitas professor; o marcadamente anal, se revelará del Niño, Buenos Ayres, Psique, 1966.
vezes gerará, de parte dos alunos, posturas hábil bibliotecário, escultor, pintor, cirurgião,
impróprias ou a efetiva inabilidade em lidar financista, contabilista, construtor, legista, MARCIA JORDÃO MARTINS JUNG C. G., O Desenvolvimento da Per-
com o peculiar modelo de relação em que enxadrista, pianista; o marcado genital, se sonalidade, Petrópolis, Vozes, 1981.
se constitui o processo escolar. Deve o revelará eficiente CEO de empresas, gerente, Graduada em Comunicação Social pela Fa-
professor compreender tal dinâmica, para ser operador em bolsa de valores, oficial militar, culdade de Comunicação Social Casper Lí- KLEIN M. Psicanalise de Cri-
produtivo e guardar-se quanto a condutas piloto de caça. A rebeldia, delinquência ou bero (1983), Letras pelo Centro Universitário anças, São Paulo, Mestre Jou, 1969.
suas entre preconceituosas e conflitivas ou embotamento da adolescência, e mascaram de Votuporanga (2003) e Pedagogia – Habili-
desinteressadas que resultam em franca energia a ser aproveitada produtivamente. tação em Administração Escolar pela Univer- SEGAL H. Introdução à Obra de Melanie
sidade Iguaçu (2007), professora de Ensino Klein, São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1965.
e intensa fonte de angústia e desgaste a
Fundamental II e Médio em Língua Portu-
ambos, professor e aluno. Antes de tudo, simplesmente atentando
guesa na E.E. Martins Pena e EMEF Ana Ma-
a tais fatos, abrandam conflitos e afloram
ria Alves Benetti, na cidade de São Paulo.

586 587
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO escrita a arte já fazia parte do cotidiano dos


homens primitivos, formando suas culturas
O ensino da arte é uma matéria obrigatória e saberes.
no primeiro e segundo grau da escola
brasileira, estabelecida nos meados de 1971, Essa pesquisa tem como fundamento
no início foi exigida apenas no 8 ano, 7 série, entender o contexto histórico do ensino da
para formar cidadãos para mão – de – obra arte do tempo dos jesuítas até os dias de hoje
barata, era vista como aulas tecnológicas, a e como o currículo e a obrigatoriedade foi
função era auxiliar as pessoas para ajudar se apropriando com base em experiências
na economia do País, trabalharem nas que foram feitos ao longo da história da
multinacionais, durante a ditadura. Nesse educação, atualmente obrigatória nas
período não havia ensino superior para escolas porém antes era vista como atividade
formar educadores de arte, apenas cursos extracurricular, deixando pontos de vista e
de desenhos. momentos por época para refletir quais os
impactos que aconteceu ao longo do tempo
Em 1973, o Governo Federal criou cursos e o que ainda hoje usamos dentro da sala de
universitários para professores na disciplina aula com as crianças.
de educação artística, para incluir no ensino
básico brasileiro. Esse grau de instrução O objetivo da arte nas escolas é elevar
tinha a duração de dois anos e preparava o o conhecimento do educando de forma
educador para ensinar as crianças, música, motivadora, mediante a experimentação,
teatro, dança, desenhos geométricos entre criatividade, coordenação motora, atividades
HISTÓRIA DA ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL outros.Após quinze anos a arte era lecionada práticas, o desenvolvimento da linguagem
nas escolas, porém de forma falha uma por meio do desenho, modelagem, pintura e
RESUMO: O estudo da arte, nem sempre foi exigido na educação básica e passou a vez que, a formação dos professores nas a compreensão do surgimento da escrita.
ser indispensável após uma lei que coloca a obrigatoriedade no currículo, entenderam universidades era superficial. Os órgãos Introduzir a arte pré-histórica de forma que
que aprender essa matéria era fundamental para ampliar o conhecimento dos alunos e governamentais diante desse exposto desperta o interesse dos alunos, com base
posteriormente o mesmo obter interesse pelas mais diversas obras que ele passaria a colocou nas leis que não era preciso os alunos na roda de conversas permitindo que eles
conhecer. Portanto o objetivo desse trabalho estará relacionado a história da arte e como ela obterem notas para sua aprovação nessa expressam sua opinião, vivenciar momentos
ajuda no pleno desenvolvimento humano, verificar quais as relações entre o conhecimento e matéria e eles começam a se organizar para de faz de conta, ampliando a sensibilidade,
a compreensão desses dois mundos, uma vez que somos capazes de produzir nossa cultura aprimorar o conhecimento dos educadores a percepção e a imaginação mediante
através do legado de outras gerações. Já que a mesma está interligada no contexto histórico que já estavam lecionando para melhorar o dos trabalhos artísticos. Por intermédio
do ser humano uma vez que, reproduzir sua própria história, através dos costumes e o meio ensino, essas atualizações ocorreram após a das brincadeiras as crianças conseguem
em que vive. Para concretizar esse estudo, usaremos as observação e revisão bibliográfica, ditadura militar. expressar seus sentimentos, emoções e
com foco de ampliar o conhecimento e a fundamentação dos pontos importantes que pensamentos, por isso, é fundamental
implementam essa matéria no currículo. A concepção da história da arte é para propiciar esses momentos para ampliar o
contextualizar a obra, o tempo, a evolução, pensamento artístico dos alunos.
Palavras-chave: Arte; Educação; Brasil. observar que desde os primórdios antes da

588 589
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

A escolha desse tema é entender Alegre (1806-1879), pretendia revigorar se aprofundarem aos modelos de Walter o ensino primário mediante as reformas que
como a arte auxilia os seres humanos a a educação elitista formando na mesma Smith, ensinados nos Estados Unidos e transitam passam a chamar de nova escola,
desenvolver suas habilidades com base escola duas classes, a de artista e artesão e divulgaram no Brasil, começando com uma ou seja, a arte no currículo e a escola para
em dos pensamentos, por esse motivo a frequentando juntos as disciplinas básicas. reforma no sistema brasileiro educacional no todos, nesse momento a educação artística
brincadeira faz parte do conteúdo obrigatório ensino primário e secundário. O jornal Novo para de ser apenas uma preparação para o
da educação infantil, pois assim elas Liceu de Artes e Ofícios de Bethencourt mundo, escrito em português, publicado em trabalho e passa a ser vista como a capacidade
desenvolvem sua criatividade e construção da Silva (1831-1911), criado em 1856 no New York, destacou aspectos relevantes para de criar e imaginar. A ideia de John Dewey foi
dos saberes. Considerando que a arte está Rio de Janeiro, ganhou a confiança das democracia da arte que caracteriza as ações conduzir os caminhos para o ensino da arte no
nas mais diversas formas e que faz parte da classes menos favorecidas, conseguiu o de Walter Smith que foi contratado para Brasil, a observação naturalista, a expressão,
cultura e do desenvolvimento humano por maior número de matrículas no primeiro organizar o ensino da arte como desenhos apreciação dos elementos, chamado
esse motivo o presente estudo pretende ano de funcionamento, visto que, seu foco industrial. de prática do desenho pedagógico. Ele
contribuir para ampliar o conhecimentos era criar artistas que provinham das classes defendia o desenho espontâneo produzido
históricos e melhoria da qualidade de ensino operárias.Em 1870, a Academia Imperial de Os positivistas e os evolucionistas, pela criança, estímulos naturais por meio
das crianças da educação infantil. Belas Artes, começou usar parte do espaço defendem a ideia que a capacidade de do processo mentais e reconhecimento,
para oferecer a escola secundária particular, imaginar deveria ser desenvolvida nas acreditava no valor educacional da linguagem
HISTÓRIA DA ARTE NO lá meninos e meninas faziam retratos de escolas, o ensino do desenho, aboliram o gráfica do aluno.
BRASIL pessoas importantes, santos, paisagem, método atual, que era de dominar o traçado
entre outros. Esse período não era comum de observação dos modelos feito de gesso Dewey e a orientação que indicou. Diz ele: “é comum
Ao longo dos estudos podemos verificar meninos participarem das escolas de artes, e deveriam seguir as regras imposta pelo vermos nas crianças o desejo de se expressarem pelo
que a arte no Brasil está marcada pela era oferecido apenas para meninas, mas no mestre, os liberais haviam ganhado a desenho e pela cor. Se nos limitarmos a condescender com
dependência cultural, pois os primeiros Brasil isso ocorreu porque a elite estava corrente positivista durante as lutas pela esse instinto, deixando que atue indefinidamente, não há
produtos culturais foram originados do no período colonial, ligada a modelos Reforma Republicana na Escola Nacional de procedimento mais acidental. É necessário, mediante a
Barroco que foi trazido por Portugal. O aristocráticos e era fundamental na formação Belas-Artes e conseguiram impor sua diretriz crítica, as sugestões e as perguntas, excitar a consciência
ensino da arte barroca, que era orientado de príncipes. ao ensino do desenho na escola secundária do que fez e do que deve fazer, porque o resultado
por mestre e tinha relação com a Europa. através da reforma educacional de 1901, será satisfatório. Por exemplo, o desenho das árvores é
Com a criação do Partido Republicano, consubstanciada no Código Epitácio Pessoa. convencional: uma linha vertical e os ramos em retas
O primeiro modelo de ensino de arte foi a muitas críticas foram feitas referente a O modelo de Walter Smith, já fazia parte da inclinadas sobre a vertical de um e outro lado. Levemos
Missão francesa, considerado na época uma organização do Império, especialmente o educação brasileira, tais conteúdos ficaram a criança a observar as árvores para compará-las com
invasão de culturas. Seguindo esse modelo sistema educacional pois, os abolicionistas imutável por muitos anos, atravessando os desenhos feitos e, assim, examinarem concisamente
Le Berton pretendia trazer as práticas para o defendiam a educação para todos inclusive várias reformas e ainda nos dias atuais as condições de representação do seu trabalho. Então,
Brasil, mantendo o equilíbrio entre a arte nas para os escravos. O tema mais discutido encontrados nos livros de arte. desenhará árvores observadas e não convencionais,
escolas da educação popular e burguesia. era a importância da alfabetização e porque a observação obriga ao trabalho combinado da
Porém quando esse projeto foi desenvolvido consequentemente a preparação para memória e imaginação, produzindo expressões gráficas de
com o nome Escola Imperial de Belas – Artes o trabalho e o ensino do desenho era No início do modernismo no Brasil, não árvores reais (SAMPAIO, 1929, p. 16-17).
houve convergências das elites dificultando importante para o trabalho nas indústrias. houve impactos na educação de artes,
o acesso as camadas menos favorecidas. Era preciso modelos para estabelecer criação apenas em 1927 repercutiu mudanças, com A reforma de Fernando de Azevedo em
e técnica, na arte e sua ampliação a indústria, a crise política houve necessidade de fazer 1929, teve forte influência Nereo Sampaio,
Em 1855, Manuel José de Araújo Porto os intelectos e os políticos brasileiros, para mudanças na educação e o foco desloca para que acreditava no desenho espontâneo,

590 591
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

que é praticado até os dias atuais nas e do estado emocional da criança. fundadores da escola de arte, acreditava que medida comum. Por outro lado, a criação artística traz
escolas. Nereo Sampaio precisava validar a metodologia a ser usada na escola seria a marca de uma individualidade, provoca libertação de
sua tese, para isso, foi preciso levar para José Scaramelli, 1931 publicou um livro: a estilização da fauna e flora brasileira. Foi tensões e energias, instaura uma disciplina formativa,
as escolas suas teorias e provar que sua Escola nova brasileira, para ele a arte ajudava criado, meado de 30 a Biblioteca Municipal interna de pensamento e de ação que favorece
metodologia dava certo, no Rio de Janeiro as crianças a organizar e fixar o aprendizado Infantil pelo Departamento da Cultura de a manutenção do equilíbrio tão necessário para
o autor conseguiu em uma escola primária nas outras áreas do conhecimento, o São Paulo, Mário de Andrade na época era que a aprendizagem se processe sem entraves, e a
convencer seus métodos. E através de suas desenho através da expressão era a última o diretor, grande foi a contribuição para integração social sem dificuldades (BESSA, 1972, p. 13).
práticas outras pessoas fizeram a mesma do aprendizado, ou seja, o educando iria encarar a produção das crianças, espontâneo,
experiência como, por exemplo, Fernando desenhar o que aprendeu nas aulas. normativo, arte primitiva esse era o foco para Em 1947, surgiu no Brasil os primeiros
Azevedo, no Distrito Federal, que cristalizou o desenvolvimento dos cursos de filosofia ateliês para as crianças, orientado pelo artista,
as recomendações de Nereo, seguindo A prática de colocar arte (desenho, colagem, modelagem, e história da arte, no Distrito Federal. o objetivo era centralizar na expressão, na
da apreciação naturista, essa reforma foi dramatização etc.) no final de uma experiência, ligando-se liberdade sem a interposição dos adultos.
divulgada na ABE (Associação Brasileira de a ela através do conteúdo, vem sendo utilizada ainda hoje No meado de 1948, Lúcio Costa, autor do
Educação) e ele publicou até um livro: A na educação infantil e ensino fundamental no Brasil, e está Nesse período, começavam a pensar na plano urbanístico de Brasília, foi convidado
cultura no Brasil. Outras iniciativas também baseada na ideia de que a arte pode ajudar a compreensão criação do cinema, expressão gráfica para para elaborar um plano de desenho para as
tiveram influência na arte educacional, que dos conceitos porque há elementos afetivos na cognição crianças de 4 a 16 anos, para ambas as escolas secundárias, no seu plano teve foco
foi a reforma de Francisco Campos, em Minas que são por ela mobilizados. SCARAMELLI, 1931. classes, operária e média. Com a chegada criar técnicas e desarticular a identificação
Gerais, seguindo o pensamento de Dewey do estado novo, houve interrupção no com a natureza, direcionando os alunos a
sobre o ensino da arte através da apreciação. No início 1930, foram feitas as tentativas desenvolvimento da nova escola, inicia – experimentar o artefato, ou seja, produzidos
de inserir escolas de especialização para se as perseguições aos professores e na com variadas matérias-primas, como o
A professora Artus Perrelet, defendia crianças e adolescentes que tinham arte um entrave pois, passa a ser imposto concreto, madeira, cimento, borracha e etc.
a importância da arte nas escolas, por talento para arte, inaugurando então que nas escolas primárias apenas desenhos
meio da reforma mineira, sua orientação essa matéria como extracurricular. pedagógicos e cópia de estampas usada nas Entretanto esse projeto não foi aprovado
metodológica era baseada em John Dewey, aulas de português, no ensino secundário pelo Ministério da Educação, apenas em
ou seja,” a integração de corpo e a mente, A escola Brasileira de Arte foi criada na apenas desenhos geométricos. O pós- 1958 que a arte começou a ter influência no
experiência e raciocínio, gesto e visão, cidade de São Paulo, era uma sala anexa ao modernismo, Mário de Andrade, consegue ensino secundário e assim foi criado uma lei
vida e símbolo, indivíduo e meio ambiente, grupo escolar João Kopke, crianças de oito a refazer o modelo anterior, que é treinar federal para regularizar salas experimentais.
sujeito e objeto, era concentrada na ideia quatorze anos, podiam estudar gratuitamente, os olhos para liberação do emocional na A Lei de Diretrizes e Bases de (1961),
de integração orgânica da experiência” música, desenho e pintura, após serem arte, deixando expressar a originalidade, eliminando a uniformização dos programas
(PERRELET, 1936, p.18) aprovados mediante dos seus desenhos. criatividade, beleza e novidade. Modelo escolares, permitiu a continuidade de muitas
utilizado até os dias atuais, segundo os experiências iniciadas em 1958, mas as
A proposta da autora se deu a partir dos Desde a primeira infância a criança utiliza o desenho para a Referenciais Curriculares Nacionais para a ideias de introduzir arte na escola comum
fundamentos e percepção apreciativa e representação da realidade. Desenhar, pintar ou construir Educação Infantil, o ponto de partida para de maneira mais extensiva não frutificou.
na fase final o processo de sensibilização, constitui um processo complexo em que a criança reúne o estímulo às práticas criativas é o desenho.
reflexão e ação o que é feito hoje nas escolas diversos elementos de sua experiência, para formar um Com a ditadura militar em 64, as
em artes visuais e som. Em seu livro ela novo e significativo todo (LOWENFELD, 1977, p. 13) Quando a criança pinta, desenha, modela ou constrói escolas experimentais e de educação
aborda o ritmo, o desenho e partituras dos regularmente, a evolução se acelera. Ela pode atingir infantil, aos poucos foram acabando, em
sons escolhidos a pesquisa do meio ambiente Theodoro Braga, um dos principais um grau de maturidade de expressão que ultrapassa a virtude de perseguição aos professores,

592 593
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

as instituições que permaneceram tinham entre outras, não podem estar desvinculadas ARTE NA ESCOLA raciocínio/conhecimento intelectual, e a
um currículo comum, o ensino da arte os da formação do professor, pois, assim como refletir que as emoções podem atrapalhar
desenhos eram relativos as comemorações todo cidadão, ele tem direito de vivenciar Para compreender a arte e suas diversas o desenvolvimento intelectual do homem.
cívicas, religiosas ou outras datas conhecimentos múltiplos da sua e de outras formas de contribuição para ampliação do A escola, assim como a sociedade de modo
comemorativas. Tornando obrigatório o culturas. Conforme os autores, é preciso conhecimento foi necessário investigar geral, trabalha a favor dessa ideia, reservando
ensino da arte na escola pública e particular. enfatizar que muito mais necessário se todas as mudanças ao longo da história pouco espaço, tempo e oportunidade
torna o contato com experiências desta de arte e quais os motivos que levaram a para fluência de sentimentos e emoções,
Ao longo de cinco anos consecutivos, as natureza para o profissional que estará obrigatoriedade da mesma nas escolas. Para prejudicando, desse modo, o desenvolvimento
escolas que tinham acesso contínuo a arte envolvido diretamente com cidadãos que Piaget (1980), o conhecimento configura- integral do homem. O ensino da arte na
eram apenas as instituições particulares estão em processo inicial de construção se como uma construção contínua de educação infantil é de suma importância
e de muito prestígios, as escolas públicas cognitiva, afetiva, social, física e cultural. mediação entre o sujeito e o objeto, ou para o desenvolvimento cognitivo dos
primárias continuava com poucos O MEC diante a realidade da falta de seja, entre o meio físico e o social. Nessa alunos, além de formar cidadãos sensíveis,
trabalhos e a secundária apenas desenhos preparação dos professores, em 1977, ação, o indivíduo constrói novas estruturas reflexivos e transformadores da sociedade.
geométricos. Nos anos 70, a escola de arte criou um Programa de Desenvolvimento mentais, estabelecendo condições e
volta a ter foco, permitindo que a criança Integrado de Arte Educação o PRODIARTE, capacidades próprias de conhecer. A secretaria do Estado de São Paulo inseriu
e ao adolescente que expressem seus com objetivo de integrar a cultura com a nos anos iniciais um especialista para o
sentimentos através dos desenhos, processo comunidade escolar, com o passar do tempo Nessa concepção percebe – se que qualquer ensino da arte destinada ao desenvolvimento
mentais e criativos pois, acreditavam que foi se especializando conseguindo fazer pessoa aprende através de aprendizados completo da criança, como estabelece na
a capacidade crítica e abstrata ocorria convênios com empresas que financiam significativos, ou seja, precisa interagir com Resolução SE nº 184 de 27/12/ 2002 e
através do desenho. A reforma educacional os projetos desenvolvidos nas escolas, o objeto, para Piaget a criança é o sujeito do alterada pela Resolução CNE 01/04. Para o
ocorrida em 1971, estabelece que o ensino muitos altos e baixos foram enfrentados processo de construção do conhecimento. autor LOWENFELD, 1977, relata os pontos
da arte deve ocorrer de forma polivalente, nesse período por causa de tais problemas A arte durante o processo da aprendizagem fundamentais para o desenvolvimento, entre
incluindo a artes plásticas, a música e a artes se fez necessário a criar a Associação de é um dos recursos eficaz, faz com que o eles podem ressaltar: desenvolvimento
cênicas, além do teatro e da dança e seria Arte Educadores de São Paulo (AESP) educando desenvolva capacidades criativas físico, em que se manifesta a capacidade
ofertado para crianças da primeira à oitava que, aliou à Associação de Corais para e a espontaneidade. A educação artística foi de coordenação visual e motora da criança,
série, os professores que iriam lecionar lutar na defesa dos professores de arte. incluída como obrigatória em 1971, pela lei na maneira que controla seu corpo, orienta
essa matéria teriam que fazer um curso de O Governo Federal, começa a sofrer 5.692, nesse período havia muita resistência seu traço e dá expressão a suas aptidões.
curta duração, dois anos e posteriormente pressão para elaborar um currículo na por parte dos professores a ensinar esse
poderia continuar seus estudos para proposta triangular, foi estabelecido os conteúdo, devido à falta de preparação dos Desenvolvimento intelectual, pode
obter a licenciatura plena. O Ministério da Parâmetros Curriculares Nacionais, tendo mesmos, como já mencionado no capítulo ser demonstrado de acordo com o
Educação fez um acordo com a Escolinha como base a revolução do currículo de anterior, as escolas públicas tiveram muitas conhecimento que está à disposição da
de Arte do Brasil, com objetivo de preparar Paulo Freire, que era secretário municipal da dificuldades em desenvolver o conteúdo criança quando desenha, é apreciado na
e orientar os docentes para implementação educação, nos anos 90. O PCN era dirigido básico para ser trabalhado, em virtude à falta compreensão gradativa que a criança tem de
dessa nova disciplina no currículo. por um professor espanhol, vendo que não de estrutura física, material adequado e toda si próprio e do seu meio. Desenvolvimento
teve melhoras na educação foi preciso pensar escassez que a educação pública trás. Tozetto emocional, neste caso o desenvolvimento
Segundo Guimarães, Nunes e Leite (1999), em cartilhas com imagens , dialogo entre (2005), a sociedade vive um conflito entre o está diretamente relacionado à intensidade
experiências com artes plásticas, teatro, outros, para utilizarem os PCNs nas escolas. útil e o agradável, o que leva o homem a fazer que a criança tem com sua obra, que pode
dança, música, fotografia, cinema, literatura, separações entre sentimentos/emoções e variar entre baixo nível de envolvimento,

594 595
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

com repetições estereotipadas e alto nível professores da educação básica e especialista formação de cidadão consciente e uma
de envolvimento quando está empenhada de arte, embora ainda há um longo caminho possibilidade de superação do ensino. O Graduação em Pedagogia pela Faculdade
em retratar algo realmente importante para percorrer, pois aqui só foi abordado a foco de ter a arte como matéria obrigatória Universidade – Unib (Ibirapuera). (2003);
pra ela. Desenvolvimento estético, já que história na educação brasileira, entretanto favorece no enriquecimento da cultura e o São Paulo – SP, Brasil. Especialista em:
são capazes de organizar o pensamento, a sabemos que toda estrutura educacional amplo conhecimento de outras culturas. Na Psicopedagogia, pela Faculdade Universidade
sensibilidade e a percepção para a expressão tem fundamentos nas bases dos Países mais educação infantil é de suma importância ter a Iguaçu – Unig. (2006), Jales – SP Brasil.;
de um todo. O desenvolvimento perceptual, desenvolvido. matéria, vendo essa necessidade atualmente Professora de Ensino Fundamental II - Língua
a conscientização da variação da cor, das a mesma já é feita com especialista pois, Portuguesa – Centro Educacional Infantil
formas, dos contornos e texturas pode ser Dessa forma salientamos que a formação promove o criar, o fazer, o buscar, analisar, Vila Capela, São Paulo – Brasil. Professora
progressiva na medida em que o contato com e dos educadores é extremamente interpretar e expressar, imaginação entre de Educação Básica – Língua Portuguesa -
essas e outras experiências perceptuais lhe é importante para poder atualizar e ampliar outros benefícios que esse aprendizado EM Acácia, Itapecerica da Serra – SP Brasil.
apresentado. E o desenvolvimento criador, seus horizontes.Para melhor compreensão contribui que não é apenas transmissão
visto que desde os primeiros rabiscos as do conteúdo a ser abordado nas escolas é de conhecimento. Para formação de
crianças são capazes de inventar suas próprias relevante que conheçam os documentos cidadão consciente é fundamental que os REFERÊNCIAS
formas e colocar nelas algo de si própria. norteadores da educação do Brasil, para professores, a criança e a comunidade são
elaborar metodologias e conteúdos referente os principais interventores durante esse BARBOSA, A. M. Ensino da arte: memória e
Mediante ao pressuposto fica notório a história da arte, posteriormente um plano processo, através da educação é possível história. São Paulo: Perspectiva, 2009.
que o ensino da arte fortifica o aprendizado de aula para levar para sala conhecimentos construir, destruir e reconstruir maneiras
e cada vez fica mais claro os benefícios ampliando o campo de conhecimento do inovadoras educacionais. Por fim, concluo DEWEY, J. Democracia e educação. Tradução
e a contribuição durante o aprendizado. educando. A gestão escolar poderá escolher a importância de conhecer a história da de Godofredo Rangel e Anísio Teixeira. São
A livre expressão é um meio pelo qual se momentos que possibilitem os professores arte, ampliar para os alunos nas mais Paulo: Cia. Editora Nacional, 1936.
revela a essência da personalidade, já que a troca de experiências das atividades diversas formas, socializar com os pares de
subentende exteriorização e representação, desenvolvidas em sala de aula e verificarem professores e renovar suas metodologias LOWENFELD, Viktor; BRITTAIN, W.
a espontaneidade está presente na criança, os pontos positivos, negativos e possíveis para despertar e aprimorar a qualidade de Lambert. Desenvolvimento da capacidade
a realidade social e material, possibilitando sugestões. ensino. criadora. São Paulo: Mestre Jou, 1970.
que a mesma expresse as suas realidades
subjetivas. Através da pintura, desenho, A gestão escolar também deverá ficar PERRELET, L. A. O desenho a serviço da
esculturas e outras formas de artes atenta se é oferecido para os alunos educação. Rio de Janeiro: Villas-Boas, 1930.
plásticas realizam-se desejos, satisfazem- contextos históricos da arte pois, mostrar
se necessidades e se afirma o Eu, ou seja, a outros horizontes será primordial para SAMPAIO, N. Desenho espontâneo
pessoa se revela para si mesma. Assim, ao obterem outras visões no campo da história. das crianças: considerações sobre sua
exercitar a expressão livre, a criança libera A construção desse trabalho possibilitou metodologia. Rio de Janeiro: [S. n.], 1929.
sua subjetividade e se conhece cada vez mais. uma busca minuciosa referente ao assunto,
deixando claro que no Brasil a matéria de arte SCARAMELLI, J. Escola nova brasileira:
CONSIDERAÇÕES FINAIS nem sempre foi o foco na educação, no entanto esboço de um sistema. São Paulo: Livraria
conhecer a função da arte que proporciona MARCIA PEREIRA DE Zenith, 1931.
Concluindo essa pesquisa de grande oportunidade de aprendizado para ANDRADE DO CARMO
aperfeiçoamento e aprimoramento dos os educandos, além da contribuição na

596 597
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO como um processo necessariamente externo


que não está envolvido ativamente no
Sabemos que o professor lida com a arte desenvolvimento. O desenvolvimento e
de educar e o professor alfabetizador lida a maturação das crianças são condições
com a arte de alfabetizar, essa arte pode ser essenciais para o aprendizado das mesmas,
chamada de pedagogia, que nada mais é do mas nunca como resultado dele. Para uma
que a ciência de ensinar. A pedagogia pode alfabetização de qualidade seria interessante
sedimentar-se em vários métodos, que são classes com menores números de alunos
formas de ordenar, organizar com disciplina, para que sejam trabalhadas adequadamente.
da ação pedagógica, segundo certos Precisamos nos referir à necessidade de
pressupostos teóricos. Toda pedagogia alfabetização formal dentro do período de
está engajada a uma ideia de sociedade e alfabetização, oferecendo um ambiente no
política, nesse sentido é que o professor faz qual a criança pode construir o que é ler e
a arte, a ciência e a política. Muito se fala escrever, de forma que a presença dela na
sobre a alfabetização é tudo relativo a esse escola se torne em momentos prazerosos. Por
tema, mas não temos uma forma simples isso, objetivo deste trabalho é descrever um
de alfabetizar todos os alunos dentro de pouco sobre a arte da alfabetização e alguns
A IMPORTÂNCIA E O TRABALHO DO PROFESSOR uma sala de aula com mais de trinta alunos, problemas enfrentados pelos educadores
todos com seus problemas e dificuldades, dentro das salas de aula.
ALFABETIZADOR com mais ou menos necessidades, mas que
precisa de um atendimento de qualidade O PROFESSOR ALFABETIZADOR
RESUMO: Este artigo surgiu da inspiração de leituras sobre as reflexões e indagações sobre o há uma ideia de como devemos trabalhar,
conhecimento e sobre a consciência. O objetivo desse artigo é mostrar como a prática do ato mas nem sempre alcançamos a todos os O exercício de ler/escrever não é fácil,
de observar, e do registro da reflexão juntamente com a avaliação e o planejamento, traz uma alunos ao mesmo tempo com um trabalho significando reaprender a olhar,rompendo
apropriação dos nossos pensamentos práticos teóricos como professores. Ao aprendermos a igualitário. Todas as crianças têm o direito com visões sem algum significado, buscando
observar as crianças e a partir disso precisamos tomar nota dessas observações para que nos de estar dentro da escola, mas há uma a compreensão, tentando dar significados ao
ajude posteriormente nas avaliações e registros individuais e coletivos dos nossos alunos. A necessidade cada vez mais frequente que que estamos observando, buscando formas
alfabetização é uma arte, e o professor que lida com isso, acaba ficando nessas classes iniciais precisamos de profissionais aptos para o de interpretar, dando significados ao que
do ensino fundamental, por anos e anos, mostrando que a cada dia seu trabalho melhora, sua atendimento de alunos que possuem algum vemos, lendo a realidade como se esta fosse
prática vai sendo aprimorada e acaba se tornando exemplos para toda a equipe de trabalho, tipo de necessidade especial. um desafio (FREIRE, 1985).
pois no final do ano, dá para saber se a professora trabalha pensando no ano seguinte desse
aluno, e as professoras seguintes sempre irão dar valor a essa primeira professora, que Ainda não é possível analisar O professor se torna um leitor de textos
fez com que esses alunos aprendessem a ler e a escrever, ajudando nos anos seguintes. psicologicamente o ensino se não nos visuais, corporais, sonoros, entre outros. Não
referirmos à relação entre o aprendizado e basta criarmos um ambiente alfabetizador na
Palavras-chave: Alfabetização; Aprendizagem; Formação; Docente; o desenvolvimento em crianças em idade língua escrita. O desafio na arte da alfabetização
escolar. Os processos de desenvolvimento está em acompanhar o processo como um
das crianças são independentes do todo de re-alfabetização, do pensamento
aprendizado. O aprendizado é compreendido e da reflexão, deste professor, todo esse

598 599
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

processo se dá nas diversas linguagens no sua afetividade, com emoções e desejos, Olhar sem focalizar acontece, mas nem sabem a função social às quais a escrita
qual seu pensamento e leitura de mundo sendo assim sujeito afetivo e estético, acontecendo sempre esse olhar se dispersa. está intimamente ligada. Ao participarem
se exercitam. Precisamos criar espaços precisamos assumir, em sua formação o Um bom pesquisador planeja previamente as de atos de ler e escrever, como produção de
sistematizados de acompanhamento, com acompanhamento instrumentalizador de hipóteses que precisa perseguir durante as textos individuais e coletivos, presenciando
intervenções e encaminhamentos. O espaço todos esses aspectos constituidores desse aulas, em todos os focos a serem observados momentos de leitura e escrita realizados
no qual o professor entra em contato com o indivíduo. O desafio é formar informando (TEBEROSKI, 1989). pelo seu professor, ter ensejos de registra
seu processo criador em outras linguagens - e resgatando dentro de um processo de sua própria escrita, com oportunidade de
verbal e não verbal - percebendo seu nível de acompanhamento permanente, um professor É interessante que o professor fazer algumas perguntas, explorando e
sensibilidade. Um espaço de desvelar e que que faça seu fio para apropriação de sua alfabetizador crie situações que favoreçam confrontando suas hipóteses com as dos
consiga ampliar suas referências pessoais história, pensamento, teoria e prática. o contato das crianças com o mundo da seus colegas, tudo isso pode ser realizado
e culturais, exercitando sua organização, leitura, pois nem sempre as crianças dentro dentro de uma sala de aula alfabetizadora.
sua sistematização e a sua apropriação de Nossa educação não nos faz olhar de suas casas têm contato com um livro, com
seus pensamentos. Aprendemos a pensar pensando o mundo que nos cerca, a realidade um jornal ou com uma revista adequada para A PRÁTICA NA OBSERVAÇÃO
com o contato com os outros, num grupo que nos envolve e nem a nós mesmos. sua faixa etária. É de extrema importância
organizado por um professor. Aprendemos Temos um olhar cristalizado que nos faz que o professor conheça a comunidade O professor aprende a observar durante
a ler, construindo e assimilando nossas uma paralisia, fatalismo e uma cegueira com que trabalha para trazer para dentro o momento em que para somente para
hipóteses na interação com os outros. de certa maneira. Precisamos romper com de sua sala de aula assuntos pertinentes a isso, durante seu trabalho.Os alunos
Aprendemos a escrever organizando essas essa visão, a observação é uma ferramenta essas crianças, por isso é importante saber trocam experiências entre si e essa troca
hipóteses dos demais. Só aprendemos a básica neste aprendizado da construção do do que brincam o que gostam de cantar, deve ser coordenada pelo professor que
refletir, estruturando nossas hipóteses na olhar sensível e pensante. Aprender a olhar pesquisando e observando as atitudes e observa. O professor troca com seus alunos,
interação e na troca com os demais. A ação, a estudando, com curiosidade, questionando, brincadeiras das crianças, pois as crianças coordenado às vezes por um coordenador
interação e a troca, transformam o processo pesquisando, envolvendo ações exercitadas aprendem e muito nas brincadeiras, trazer ou por professores da equipe, que mostram
de aprendizagem (FREIRE, 1985). do pensar, como: classificar, selecionar, brincadeiras que mostrem letras e palavras o que se observa, gerando uma devolutiva
ordenar, comparar e resumir para poder é uma arma que muitos professores utilizam mostrando suas conquistas e falhas na
A função do professor é interagir com interpretar os significados lidos. dentro de sala de aula ou em atividades ao situação observada. Quando o professor
seus alunos para coordenar a troca na ar livre para auxiliarem na alfabetização de desempenha a função de observador,
procura pelo conhecimento. A socialização Primeiramente devemos fazer com que seus alunos. ((TEBEROSKI, 1989). como co- produtor que foi da pauta e do
da reflexão sobre a prática transforma a nossa forma de observação se torne planejamento do professor tem uma atuação
o processo de formação permanente. O mais apurada em todos os sentidos. Para A linguagem escrita precisa ser um objeto que pode ser reflexiva, mas que deve ser
processo de formação é formado pelo conseguirmos tal objetivo é necessário social, há crianças que crescem em ambientes silenciosa para o grupo. A observação de
resgate da hipótese do pensamento do um direcionamento no olhar em três focos alfabetizadores vão apresentar no futuro fora por outro professor ou pelo grupo de
aluno e do professor, do planejamento da que sedimentam a construção das aulas, um grande interesse no aprendizado, pois professores, que não devem interagir com os
informação teórica e o acompanhamento como: observar a aprendizagem individual e querem participar das conversas dos adultos alunos do seu colega, deve fazer anotações
da reflexão sobre a prática do ensino coletiva, observar a dinâmica na construção leitores ao seu redor o que ajudará o professor e passá-las ao seu colega, espelhando
aprendizagem. O aluno é construtor do seu do encontro e ter cuidado na coordenação em alfabetizador. Precisamos pensar nas crianças conquistas e dando dicas em algo que
saber, produzindo seu conhecimento, sendo relação ao seu desempenho na elaboração que não vivem num ambiente alfabetizador, percebeu na prática do outro.
um sujeito cognitivo, vivendo em grupo, da aula. que não são expostos a situações nas quais a O observar não pode ser visto como uma
sendo também um sujeito da sociedade, com leitura em diversos momentos é importante e maneira de invadir o espaço do outro, sem

600 601
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

pauta, sem planejamento, nem devolutiva, lateralidade espacial, discriminação visual (o segmento fônico representado pelas letras tanto escrito em cima da lousa em tamanho
precisa ter um planejamento anterior, com e auditiva, coordenação motora ampla e e o fonema), acontece a alfabetização com grande, em cartazes com nome de animais ou
atividade marcada e tudo mais. Observar fina e outras habilidades, atualmente o que sucesso. Antes de entender qual é o modelo de objetos conhecidos pelas crianças, é bom
o fazer pedagógico é olhar, admirar e vemos dentro das escolas de educação de sistema de representação da linguagem que as crianças tenham contato com letras
penetrar dentro do fazer pedagógico, infantil é só atividades com brinquedos que a nossa escrita implementa, qualquer em diversos materiais, para poder montar
estar e permanecer acordado por ela, na de montar e diversos filmes e desenhos. criança se sente despreparada e realmente suas hipóteses fonéticas, proporcionando
cumplicidade da construção do projeto, Acontece que aprender a ler e a escrever, está para ser alfabetizada. São necessários a interação das mesmas com o mundo das
na construção do projeto da escola, na mais do que exigir como pré- requisitos algumas noções básicas e alguns pré- letras vivenciando assim efetivamente
cumplicidade pedagógica dos professores tais ajustes periféricos, pressupõe que o requisitos para que aconteça a alfabetização, o processo de construção do que é ler e
envolvidos (MACEDO & PASSO, 2000) alfabetizando tenha compreendido que a transferindo a ênfase dos aspectos escrever (FERRERO, 1992).
escrita é um modo de representar conceitos, relacionados a habilidades motoras para
O COMEÇO DO TRABALHO ideias, pensamentos e a maneira pela qual os aspectos relacionados à construção da As vivências das crianças com diversos
ALFABETIZADOR esta representação é feita. O alfabetizando compreensão do sistema de representação. materiais didáticos e a situação de
está frente a um desafio que a espécie Ao considerarmos a alfabetização como um aprendizagem estão ligadas diretamente
Durante muitos anos a educação humana enfrentou a inventar um modo de objeto socialmente elaborado, precisamos à organização do ambiente físico da sala
infantil teve uma função preparatória, representar estes conceitos, ideias e estes proporcionar às crianças contato com a de aula. Essa organização é mais adequada
na qual era importante dar condições pensamentos. Muitos povos tentaram riqueza e complexidade do mundo da língua por meio da disposição dos alunos e
necessárias às crianças, para iniciarem o inventar uma solução para atender a esse escrita, mergulhando em todos os elementos agrupamentos pequenos. O trabalho em
processo de alfabetização. Atualmente desafio que a escrita traz. Se a humanidade que fazem parte da alfabetização, mostrando grupo é uma forma de operacionalizar a
educação infantil é uma fase na qual as crianças pode inventar um tão grande número de letras, palavras, diferentes textos e histórias interação entre as crianças e proporcionar
permanecem na escola, para aprenderem sistemas de escrita, porque não podemos (PCNS, 1998). a socialização do saber, aspectos estes
autonomia, coletividade, brincarem muito, entender que as crianças, diante da tarefa de fundamentais numa situação de ensino-
sem que precisem desenvolver um contato decifrar o nosso sistema de representação, AMBIENTE ALFABETIZADOR aprendizagem. Compreendendo que o
específico com a alfabetização e com a atinjam assim de pronto a chave desse processo de construção de conhecimento
leitura. Quando as crianças passam da problema, é todo um processo e o professor As crianças vindas das periferias chegam não é resultado da simples transmissão
educação para o ensino fundamental, alfabetizador tem como meta ajudar as à escola com conhecimentos bem restritos de informações, mas sim da resolução de
muitas delas não sabem escrever nem seus crianças a desvendar e a construir todo esse a respeito da língua escrita. Isso se dá pela problemas, mas quanto mais hipóteses,
nomes, não conhecem as letras e o que as conhecimento dentro de cada uma delas, ausência ou pouco contato com materiais trocas de informações, pensar sobre o que
professoras alfabetizadoras mais reclamam, respeitando sua individualidade (FERRERO, de leitura e escrita dentro de seu ambiente querem escrever e verificar os resultados
não sabem utilizar um caderno, virar as folhas, 1985). familiar. Para suprir essa carência e com os outros colegas, com dúvidas por
utilização das linhas, coisas pequenas que atendermos adequadamente a esta criança, vezes parecidas e por outras distintas.
podem ser trabalhadas na educação infantil. Investigando o desenvolvimento cognitivo devemos fazer das salas de aula um ambiente
referente à aquisição da leitura e da escrita, alfabetizador. O ambiente alfabetizador tem No processo de alfabetização é de
Na educação infantil só é considerada podemos constatar que as crianças vão características peculiares, devendo ser um extrema importância a presença de um
as condições ligadas à prontidão e a formulando, com intrigante regularidade, espaço rico de coisas escritas e de atos de adulto em que as crianças possam perguntar,
maturidade das crianças, pois para terem suas próprias hipóteses sobre a natureza de leitura e escrita nas quais muitas atividades o professor, que responda às suas perguntas,
condições de ler e escrever é necessário sistema de escrita no mundo que as cerca. interessantes e significativas tenham um estimulando suas curiosidades e apresente
um desenvolvimento e um domínio da Quando a criança chega a hipótese alfabética lugar com destaque. O alfabeto pode estar algum tipo de desafio, para que as crianças

602 603
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

tenham a prática na maneira de pensar. leitura e a escrita. É necessário unir a teoria pensar sobre suas hipóteses. O professor crianças (LIBÂNEO, 1994).
As situações de aprendizagem presentes com seus objetivos e sua prática pedagógica. deve procurar acompanhar o percurso
num ambiente alfabetizador consistem em Esta ação é que faz do professor um da construção do conhecimento de cada É importante que o professor entenda
atividades significativas envolvendo letras, mediador, aquele que intervém no processo aluno, por meio da interpretação de suas o raciocínio da criança, a forma como ela
palavras e textos, não adianta ter letras, da alfabetização. Para o exercício desta produções escritas, aumento do professor pensa, o que vai formulando sobre as relações
cartazes e outros escritos, se o professor mediação, o professor precisa construir sua se dá por meio da aplicação de avaliações entre fala e escrita, para isso é preciso que
não ler esses cartazes, para que auxilie às competência para planejar, atuar, avaliar e constantes, que solicitam que a criança a mesma seja colocada em contato com a
crianças a relacionarem as letras aos sons reorientar. Para construir esta competência, em fase de alfabetização escreva algumas leitura e escrita, desmistificando o ato de ler
que as mesmas fazem (OLIVEIRA, 1986). um dos caminhos é o da reflexão sobre palavras e uma frase, para ver em qual fase e de escrever. Fazendo com que ela absorva
a prática. Uma reflexão permanente em da alfabetização a mesma se encontra, e se alguns conhecimentos que a auxiliem a
Atividades com a escrita do nome e grupo, no qual cada um possa discutir faz de forma individualizada, com a escuta descobrir o que a escrita representa seus
relacionar com outras palavras, torna a e compartilhar com seus colegas a sua da criança e uma interpretação da mesma usos, funções e valores sociais. Com as
aula muito mais atrativa para as crianças, prática. O professor precisa estar atento para as palavras que escreveu, esse é um avaliações e observações do professor, no
mesmo que o nome não seja o seu próprio, ao currículo oculto da criança ao chegar na registro da criança, no qual o professor pode momento da escrita das crianças, percebendo
pois as crianças se interessam pelo nome escola, conhecimentos esses desenvolvidos fazer anotações sobre a leitura da mesma seu raciocínio, podemos perceber a relação
de seus colegas. É muito interessante para em experiências, a bagagem cultural e (LIBÂNEO, 1994). da linguagem escrita e quais são suas
as crianças que tenham contato com os social, a linguagem utilizada em família, tudo expectativas para, então proporcionar
livros, sem que tenha alguém para ler, pois que está presente na criança, oriundos da É importante que o professor antes crie situações de ensino-aprendizagem. É
olhando e folheando, ela mesma, acaba vivência do seu cotidiano. Com o objetivo de um vínculo afetivo com seus alunos, para necessário que o professor esteja bem
despertando nela cada vez mais curiosidade conhecimento, leitura e escrita, não fazem que este se sinta confiante ao expressar por atento e conheça o nível psicogenético em
em aprender, para poder ler. Transformando parte do cotidiano da criança dentro de escrito suas hipóteses. Ao pensar na aplicação que a criança se encontra e, a partir daí,
a sala de aula num ambiente alfabetizador, famílias das classes baixas, e que a mesma dessa avaliação, deve se escolher palavras proporcionar desafios (MACEDO, 2000).
estaremos oportunizando a criança o avanço não pode pensar sobre um objeto ausente e que as crianças já tiveram experiência em
no processo que antecede a alfabetização que não pode errar sobre o que ainda não conhecer em algum momento dentro de sala Para o autor, o registro, o ato de escrever
propriamente dita, construindo sistemas sabe, cabe ao professor propiciar situações de aula e que façam parte do universo das é o que diferencia os homens dos demais
interpretativos, fazendo com que as de aprendizagem e fornecer informações crianças, respeitando os seguintes aspectos: animais. A reflexão é o processo de formação
crianças pensem, raciocinem e inventem, sobre o mundo letrado (GROSSI, 1986). pertencer a um mesmo grupo semântico, do educador. O observar precisa terminar no
buscando compreender esses objetos sociais sendo uma monossílaba, uma dissílaba, ato do registro, para auxiliar sobre a prática
particularmente complexos que é a leitura e O professor deve concretizar o ato de ler outra trissílaba, outra polissílaba e uma frase, e a reflexão da mesma, por isso é importante
a escrita (GROSSI, 1986) e escrever, pois deve servir como modelo, de preferência com palavras com sílabas que o professor tome nota sempre que
fazendo com que a criança sinta o desejo simples, isso na primeira avaliação. A frase possível do que observa em seus alunos.
O PAPEL DO PROFESSOR de ler e escrever, precisa enriquecer o precisa conter uma das palavras solicitadas
ALFABETIZADOR ambiente com diferentes materiais escritos, anteriormente, se possível a dissílaba, para a
transformando a sala de aula em um ambiente criança tentar fazer a associação da mesma. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O professor deve deixar de ser o alfabetizador, proporcionando a socialização A variedade de número de sílabas serve para
informante, o detentor do saber e precisa do saber, por meio da formação de que o professor possa avaliar se as variações Dentro das salas de alfabetização, as
assumir a função de mediador entre o sujeito grupos, apresentando desafios, problemas, da quantidade de letras são em função da crianças ainda não sabem ler e escrever
que aprende e o objeto de conhecimento, a questionamentos, levando a criança a quantidade de sílabas na concepção das formalmente pode interagir com a leitura e

604 605
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

com a escrita por intermédio do professor GROSSI, E.P. Didática do nível alfabético: de A a Z. São Paulo: Rideel, 2002.
ou de diferentes materiais que estão à Alfabetização entre classes populares. Porto REGO L.L.B. Literatura Infantil: uma nova
sua disposição. Para que a criança leia e Alegre: GEEMPA, 1986. perspectiva de alfabetização na pré- escola.
escreva, não é necessário esperar que ela GROSSI, E.P. Didática do nível pré-silábico: São Paulo, FTD: 1988.
aprenda, basta darmos a elas um apoio para Alfabetização entre classes populares. Porto
a construção do conhecimento. O professor Alegre: GEEMPA, 1986. REVISTA NOVA ESCOLA. Grandes
deve fazer a mediação entre os seus alunos e GROSSI, E.P. Didática do nível silábico: Pensadores: a história do pensamento
o processo de construção do conhecimento, Alfabetização entre classes populares. Porto pedagógico no ocidente, pela obra de seus
ao ler um texto de boa qualidade para Alegre: GEEMPA, 1986. maiores expoentes. São Paulo: Editora Abril,
seus alunos e oportunizando diferentes KAMII, C. e DEVRIS, R. A teoria de Piaget 2003.
momentos de produção de escrita, individual e a Educação Pré-escolar. Campinas, SP: SMOLKA, A.L.B. A criança na fase inicial
ou coletivamente. A importância de ler, Papirus, 1995. da escrita: a alfabetização como processo
para a criança, reside em colocá-la num LIB NEO, J.C. Didática. São Paulo, Ed. discursivo. São Paulo, Cortez: 1988.
contato íntimo com a escrita; consiste em Cortez, 1994. TEBEROSKI, A. Psicopedagogia da língua
desmistificar o ato de leitura, colocando-o MACEDO, Petty & PASSOS. Aprender com escrita. São Paulo: Editora da Universidade
ao alcance das crianças. MARIA MARGARIDA DE jogos e situações-problema. Porto Alegre: Estadual de Campinas: 1989.
ASSUNÇÃO DE MORAES Artes Médicas Sul, 2000.
Com a observação dessas crianças o SALGADO MASINI, Elcie F. Salzano (org)
professor irá colhendo dados que a auxiliam Psicopedagogia na escola – buscando
a desvendar o mistério que para ela é o ato Graduação em Pedagogia pela Faculdade condições para a aprendizagem significativa.
de ler e escrever. O domínio oral e escrito da de Filosofia, Ciências e Letras de Guarulhos São Paulo: Uni marco, 1993.
língua abre, para o professor e para os alunos, (2001). Especialista em Psicopedagogia pela MOURA, M.O. A medida e a criança/Pré-
caminhos muito interessantes de trabalho UNG (2005). Professora de Educação Infantil escolar. São Paulo: tese de doutorado, ED
em conjunto. O professor deve iniciar seu no CEI Edu Chaves. UNICAMP, 1995.
trabalho procurando seguir o percurso de NICOLAU, Marieta Lúcia Machado. A
cada aluno e do coletivo da turma, por meio educação pré-escolar – Fundamentos e
da interpretação de suas primeiras produções didática. São Paulo: Ática, 1987.
escritas. REFERÊNCIAS OLIVEIRA, F.L. Pré-escola e alfabetização.
São Paulo, Vozes: 1986.
É importante que o professor entenda o BETTELHEIN. A Psicanálise dos contos de OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky –
que a criança pensa e o que vai construindo fada. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. Aprendizado e desenvolvimento – Um
sobre as relações entre a fala e a sua escrita, FERREIRO, E. Com todas as letras. São processo sócio histórico. São Paulo: Scipione,
por isso precisa fazer uma avaliação da escrita Paulo: Cortez, 1992. 2001.
individualmente, respeitando o tempo da FERREIRO, E. e TEBEROSKI, A. PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais:
criança e a releitura da sua própria escrita. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Língua Portuguesa/Secretaria de Educação
Na convivência de viver, o professor vai Artes Médicas: 1985. Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
ensinando e aprendendo ao mesmo tempo FREIRE, M. A paixão de conhecer o mundo. QUEIROZ, Tânia Dias e MARTINS, João
que os seus alunos. Rio de Janeiro, Paz e Terra: 1985. Luiz. Pedagogia Lúdica: Jogos e brincadeiras

606 607
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO respeito mútuo que pode acabar por favorecer


o processo de ensino–aprendizagem. O
O tema relação professor–aluno é um processo de ensino-aprendizagem é complexo
tema atual e de preocupação para todas e deve ser exaustivamente estudado porque é
as pessoas ligadas à educação, pois alguns dessa relação que se depreende os melhores
educadores exercem sua prática sem refletir resultados em mudança de comportamento e
sobre as repercussões que trará para a vida aprendizagem cognitiva. Assim, em que pese
do aluno.A pesquisa sobre o tema objetiva, haver trabalhos que sugerem a importância
de modo geral, promover uma reflexão dessa relação, ainda se desconhece quais as
sobre, valores e práticas exercidas no variáveis que podem ser modificadas para
cotidiano da instituição escolar, inspirando potencializar essa relação e torná-la ainda
educadores e psicopedagogos a resgatar mais eficaz.
a proximidade e interação com seu aluno
ou cliente de forma produtiva, construindo As mudanças da sociedade contemporânea
mutuamente um caminho de aprendizagem e da globalização refinaram as estratégias

RELAÇÕES MOTIVADORAS NA APRENDIZAGEM contínua e satisfatória. Pretende, ainda, de


forma mais específica, investigar e buscar
metodológicas que podem ser empregadas
em sala de aula, possibilitam construção de
DOS ALUNOS explicações de forma mais adequada ao
seguinte questionamento: O que é ser um
currículos ricos, mas pouco se discute sobre
como o vínculo afetivo pode melhorar o
bom professor? Tal questionamento nasce, ensino-aprendizagem, uma vez que é dessa
RESUMO: O tema relação professor–aluno é um tema atual e de preocupação para todas inicialmente, da formação educacional e a interação que se pode abstrair a melhor das
as pessoas ligadas à educação, pois alguns educadores exercem sua prática sem refletir prática profissional sempre trazem o seguinte relações, a troca de sentimentos.
sobre as repercussões que trará para a vida do aluno. Nesse sentido, a pesquisa teve como questionamento: As respostas manifestam-se
objetivos focar a relação professor-aluno e compreender como essa relação incide sobre a utópicas, outras fracassadas, as reproduzidas. A EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES
aprendizagem do aluno, sobre a afetividade, diálogo e respeito mútuo que podem acabar Não se obtém êxito neste questionamento ENTRE PROFESSORES E ALUNOS
por favorecer o processo de ensino–aprendizagem. Apoiou-se na pesquisa documental por comodidade, por medo da resposta não
e bibliográfica com abordagem qualitativa para contextualizar historicamente a relação agradar, ou por uma ideologia dominante que A educação é presente desde os tempos
professor-aluno, a construção do conhecimento e sua evolução até os dias atuais. Como não permite expressar o verdadeiro valor do remotos, todos os povos possuem algum
resultados, o trabalho de conclusão de curso apontou a dificuldade de definir conceitos dessa professor. meio de transmitir aos seus descendentes
relação. Constatou-se ainda que professor e aluno são seres contextualizados e, portanto, traços de sua cultura e educação, os
estão compromissados em suas ações, em encontrar direções do desvelamento desta prática Justifica-se, pois nasce da preocupação primitivos, por exemplo, demonstravam sua
pedagógica. A sociedade espera um papel determinado tanto do professor quanto do aluno, de elucidar questões extremamente forma de educar baseando-se nos processos
os comportamentos fazem parte de expectativas baseadas nas ideologias definidoras da relevantes como com que qualidade deve ser de imitação. De acordo com Aranha (1989),
sociedade, em muitos casos, a escola serve apenas para ratificar esta expectativa, para estabelecida a relação professor-aluno, e qual no início dos tempos percebe-se que a
convencer a aceitar a situação da sociedade. Recuperar no professor a qualidade da relação a é a influência que a relação do professor tem educação aparece de forma simples baseada
com o aluno é fundamental. sobre a aprendizagem do aluno. Justifica-se na imitação de tarefas diárias que compõem
ainda pela necessidade de compreender essa as formações necessárias para subsistência
Palavras-chave: Educação; Integração; Necessidades Especiais; Respeito. relação permeada de afetividade, diálogo e dos povos ou tribos. Na realidade antes

608 609
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

mesmo da existência de escolas os mais Na Idade Média (476-1473), a educação os castigos físicos eram constantes. Essa elas podem ser classificadas em dois grupos:
antigos passavam seus conhecimentos aos teve como ponto de partida a doutrina prática autoritária continuou sendo exercida Pedagogia Liberal e Pedagogia Progressista.
mais novos por meio do aprendizado direto, da Igreja, o poder político e econômico de maneira bem acentuada por muitos Na pedagogia liberal, sustenta-
ou seja, pais e avós ensinavam a filhos e netos encontrava-se nas mãos do Clero e da séculos da nossa história.No século XX, se a idéia de que a escola tem por função
o que sabiam e, assim foram criando sua Nobreza, e a educação era garantida e essa realidade começa a se modificar com preparar os indivíduos para o desempenho
cultura e formas de educar. Ao se observar mantida somente aos nobres.O período da a teoria da Escola Nova, que propunha uma de papéis sociais, de acordo com as aptidões
a história da educação, seja ela nos tempos Idade Moderna (1473-1709), foi de profundas educação de transformação social. Surgem individuais, são quatro as Pedagogias
primitivos ou modernos, será encontrado transformações, tais como: ascensão dos educadores que começaram a questionar Liberais: Pedagogia Liberal Conservadora,
uma forma de educador – “professor” e uma burgueses, por meio do comércio, gerando o a forma com que os professores tratavam Pedagogia Liberal Renovada, Pedagogia
forma de aluno – “aprendiz”. enfraquecimento do sistema monárquico e a seus alunos. Jean Piaget, Maria Montessori, Liberal Renovada Não-Diretiva, e Pedagogia
influência do Renascimento e do Iluminismo. e Paulo Freire, entre outros educadores, Liberal Tecnicista.
Em tempos primitivos a educação era, Surge o Renascimento que propunha uma revolucionaram a idéia do que seria ensinar
inicialmente responsabilidade dos chefes nova educação que se opunha ao velho e aprender proponha mais respeito à criança De acordo com Libâneo e Gadott (1993),
de famílias, homens e, normalmente, os pedantismo da escolástica e promovia o ideal e uma nova interação entre professores e serão listadas as características de cada uma
mais velhos descendentes da tribo a quem de vida nova. O Renascimento preconiza o alunos.Para maior compreensão da relação delas abaixo:
atribuíam-se nomenclaturas diversas, tais domínio do homem sobre o divino, negando professor-aluno, será abordado no item • Pedagogia Liberal Conservadora:
como: feiticeiros, curandeiros, entre outros. o poder do Clero e da Nobreza. Com a seguinte essa relação face às tendências O professor torna-se a autoridade
No entanto, com o passar dos anos notou- influência do Iluminismo se estabeleceu pedagógicas e sua influência no contexto máxima na sala de aula, sendo o aluno
se que assumir as atribuições de chefe de uma crítica ao antigo regime marcado pela social. um receptor passivo, não tendo uma
família, e ainda ter a responsabilidade de exaltação dos interesses burgueses e pela interação aberta, livre e espontânea
educar e orientar os mais jovens estava criação de uma nova teoria para a sociedade, com o professor, a disciplina é imposta
sendo muito desgastante, por isso, surge a do Liberalismo. A RELAÇÃO DO PROFESSOR E havendo a garantia de atenção e
uma espécie de sacerdócio, nos quais alguns AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS silêncio por parte dos alunos, pois são
escolhidos serão designados para assumir Para justificar o fato da classe burguesa sujeitos apenas que absorvem.
a exclusiva função de educar e orientar os ficar com o poder, criou-se uma teoria que • No relacionamento professor – aluno
demais descendentes de cada povo. Além explicava o pensamento liberal, denominado Segundo Gadott (1993), ao observar predomina autoridade do professor,
dos aspectos gerais da formação educacional Liberalismo, os princípios básicos do os professores, é possível constatar que que exige atitude receptiva dos alunos
dos povos primitivos, é possível, afirmar Liberalismo foram também norteadores cada um conduz as atividades escolares de e impede qualquer comunicação
que num primeiro momento os chefes de da Revolução Francesa, e baseiam-se em maneira diferenciada e, desta forma, cada entre eles no decorrer das aulas. O
famílias eram vistos como educadores e com Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Em um orientará sua ação pedagógica dentro de professor transmite o conteúdo na
o decorrer do tempo, a tarefa de educar é decorrência das Revoluções Burguesas, uma tendência. Cada tendência apresenta forma de verdade a ser absorvida; em
passada para uma espécie de sacerdote que surge a escola pública, não mais restrita diferentes pressupostos sobre o papel da consequência; a disciplina imposta é o
serão os primeiros profissionais professores só aos nobres, que passaram a oferecer escola, aprendizagem, e relação professor meio eficaz para assegurar a atenção e
da história.Baseado em Aranha (1989), serão um ensino público gratuito e obrigatório. – aluno. Neste item será feita a análise da o silêncio. (LIB NEO, 1993:24).
relatados alguns fatos sucintamente desde Ao longo da história surge a relação relação da prática do professor frente aos
a Idade Média até o surgimento da Escola entre professor e aluno. Inicialmente esse alunos dentro das tendências que se aplicam Neste contexto, o professor julga-se mais
Nova, para compreendermos, a evolução relacionamento se fazia de forma autoritária, ou foram aplicadas na prática escolar nos importante que os alunos, o professor vai
histórica da educação. usava-se o processo de memorização e últimos anos, de acordo com Gadott (1993), depositando conteúdos que na sua opinião,

610 611
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

e na opinião da escola são do interesse do clima aberto a discussões e sugestões. O PAPEL DO PROFESSOR E DO aprende ofício ou arte.
aluno, sem, no entanto, ter a humildade de ALUNO NA ESCOLA • Discípulo: Aquele que rece-
• Pedagogia Progressista: a Pedagogia
be ensino de alguém ou segue
ouvir o que os alunos pensam a respeito. Progressista dá maior valor ao processo
Pretende-se neste item abordar o papel as idéias e doutrinas de outrem.
• Pedagogia Liberal Renovada: para de aprendizagem grupal do que aos
do professor e do aluno, procurando mostrar • Educando: Aquele que
que o relacionamento entre aluno e conteúdos, sem perder de vista a está sendo educado.
as mudanças ocorridas no processo de for-
professor seja harmonioso é necessária participação do aluno, numa educação
mação deste profissional e salientando a sua
uma vivência democrática, tal qual deve não formal, são três as Pedagogias Segundo Freire (1996), o aluno é o existir
importância na vida do aluno.Os papéis soci-
ser a vida em sociedade. O professor Progressistas: Pedagogia Progressista ais são definidos levando-se em consideração da educação é nele que depositamos conhe-
assume um papel no sentido de auxiliar Libertadora, Pedagogia Progressista as instituições no qual se desenvolve a prática cimentos, esperanças e curiosidades. O pa-
o desenvolvimento livre e espontâneo Libertária e Pedagogia Progressista dos sujeitos.O educador e o educando desen- pel do aluno é receber instrução, apreender
da criança, a disciplina surge de uma Crítico Social dos Conteúdos. volvem sua prática no espaço da instituição conhecimentos transmitidos, sendo assim um
tomada de consciência dos limites da • Pedagogia Progressista Libertadora: a que é a escola. Enquanto instituição social sujeito importante para a sociedade e no con-
vida em grupo. relação é horizontal no qual educador é tarefa da escola a transmissão da cultura. texto escolar. O aluno é um ser possuidor de
• Pedagogia Liberal Renovada Não– e educandos se posicionam, como capacidades necessitando da mediação dos
Diretiva: propõe uma educação sujeitos do ato de conhecimento, Afirma Rios (2000), que no interior da in- pais, mestres, e professores para question-
centrada no aluno, visando formar sua o professor permanece vigilante stituição escolar, o educador e educando ex- ar, compreender, concluir e pensar por meio
personalidade por meio da vivência ercem papéis importantes e com competências da instrução que recebe.O aluno tem direit-
assegura ao grupo plena participação.
a serem realizadas. Assim, foi relatado histori- os e deveres a serem cumpridos diariamente.
de experiências significativas que lhe Questiona concretamente a realidade
permite desenvolver características das relações do homem com a natureza camente a origem do professor e do aluno,
portanto quando falamos de educação e como Na sala de aula são estabelecidas metas
inerentes a sua natureza. O professor é visando a uma transformação social. e regras a serem cumpridas, tornando-se um
recebê-la temos um sujeito que aprende, e um
um especialista em relações humanas; • Pedagogia Progressista Libertária: sujeito de responsabilidades papel este, que
sujeito que ensina. Podemos assim afirmar por
toda intervenção é ameaçadora, a relação professor-aluno é não- pais professores e a sociedade em si cobra do
educação tudo o que se passa na sociedade
inibidora da aprendizagem. diretiva, o professor é um orientador e que envolve ensinar e aprender: “Quem educando. O papel do aluno é também com-
• Pedagogia Liberal Tecnicista: Nesta e um catalisador, ele se mistura no ensina aprende ao ensinar e quem apren- preender a sua importância na vida social, lem-
tendência, tanto o professor quanto grupo para uma reflexão em comum, de ensina ao aprender” (FREIRE, 1996:25). brando que a sociedade exige, mas necessita
o aluno são relegados a segundo o professor não deve ser modelo, mas de alunos compromissados com a educação.
plano, sendo que o que exerce papel conselheiro apenas. Dessa maneira, procurou-se buscar
fundamental na educação, são os • Pedagogia Progressista Crítico Social uma definição técnica para os termos alu- Definido os termos pode-se perceber
procedimentos e técnicas que visam dos Conteúdos: a relação pedagógica no, aprendiz, discípulo e educando, e nes- que aluno e professor estão interligados
mudar o comportamento: “comunicação consiste numa colaboração recíproca, ta pesquisa veremos que cada um tem uma sendo professor e alunos seres contextual-
professor – aluno tem um sentido para que o conteúdo desenvolvido característica particular. De acordo com Fer- izados, não dá para falar do aluno sem pro-
exclusivamente técnico, que é o de reira (1989) tem-se as seguintes definições: fessor e vice-versa. Assim, o professor tem
tenha significado, a presença do
grande importância na vida do aluno, e o
garantir a eficácia da transmissão do professor é fundamental, pois deve
• Aluno: Aquele que recebe in- aluno é importante para o professor, ambos
conhecimento” (LIB NEO, 1993:30). A buscar outras necessidades tais como:
strução e/ou educação de me- constroem a educação. Portanto de acor-
relação professor–aluno se distancia, orientar, disciplinar, exigir esforço, do com Freire (1987), a decisão de tornar-se
stre(s), em estabelecimento de en-
pois deixa de existir em sala de aula um propor conteúdos, etc. O aluno deve um professor não é uma opção fácil, é uma
sino ou particularmente; estudante.
interagir neste processo de forma opção de compromisso, responsabilidade
atuante e crítica, discutindo as idéias • Aprendiz: Aquele que de ligação com o educando e sua família.

612 613
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

O professor tem em mãos uma grande conhecimentos, assim iremos ter crianças, jo- mas de exploração do desconhecido, que aos aprender, e muitas vezes, nem sabem para
missão: introduzir numerosas crianças no vens e adultos preocupados com si mesmos e poucos vão se integrando, formando modelos que irá servir a aprendizagem.O que acontece
mundo das letras e da compreensão, mostrar com os outros, respeitando-se mutuamente. de objetos elaborados pela criança, a partir na realidade é que o professor encontra difi-
a elas a beleza do aprender e procurar fazer de um significante previamente estabeleci- culdades por não saber lidar com os alunos
com que elas gostam disso e descubram seu do pelo outro. Sabe-se que todo processo que vão à escola e não conseguem aprender.
modo de buscar o conhecimento. O profes- A IMPORTÂNCIA DA MOTIVAÇÃO de aprendizagem possui, um lugar interior A insistência do professor em manter o alu-
sor exerce função não menos importante NA APRENDIZAGEM do campo do outro, portanto, a aquisição de no idealizado é uma forma de também se man-
do que a dos pais no desenvolvimento da qualquer conhecimento só será possível, na ter no nível da idealização, assim surge suas
criança. A criança vai lentamente lutando A aprendizagem tem como ponto de par- medida em que o outro solicita ao sujeito que dificuldades em assumir uma criança “real”,
pela liberdade de sua consciência individu- tida estabelecer relações sobre objetos, cois- conheça determinada coisa. Muito embora pois a que ele construiu foi uma criança imag-
al desde a mais tenra infância e, nesta luta as e acontecimentos que se fazem presentes a criança possa construir o conhecimento a inária. Aquela criança com quem se depara
a escola exerce um papel fundamental por na vida de qualquer pessoa.Segundo Oliveira partir de suas ações, estas estarão sempre cotidianamente na escola passa a ser alguém
ser o primeiro ambiente que a criança en- (1993), quando uma criança, a partir de um articuladas no campo do outro.As primeiras estranho e assustador. O professor vê-se inca-
contra fora da família. Neste ambiente é in- significante, relaciona as características de um experiências construídas a partir da relação paz de educá-la, pois a criança é real demais,
evitável que os companheiros substituam os objeto ao seu significado (para que serve deter- mãe/bebê, já estabelecem como prioridade à extremamente estranha a realização imag-
irmãos, o professor o pai, a professora a mãe. minado objeto, por exemplo), logo apresenta necessidade da criança em precisar do outro inária que ele construiu e esperava encontrar.
a compreensão dos diferentes usos e funções (mãe) para que conheça determinada coisa.
De acordo com Cury (2003), os educa- de uma infinidade de coisas, que fazem parte O aluno por sua vez encontra-se o idealiza-
dores, apesar das suas dificuldades, são in- do mundo que a cerca. Sendo assim, a apren- Em se tratando do contexto escolar, não do e o concretamente existente, e passa a ser
substituíveis, porque a gentileza, a solidarie- dizagem é a interação do sujeito com o objeto muda muita coisa. Na tentativa de desenvolv- considerado a causa primeira dos problemas
dade, a tolerância, a inclusão, os sentimentos, de conhecimento, seja ele de que ordem for, er-se a aprendizagem, envolve-se nessa tra- da escola. Para melhorar a relação pedagógi-
enfim todas as áreas da sensibilidade não (um brinquedo, um jogo, o videogame, a escri- ma minimamente dois personagens: um que ca, o professor poderia colocar-se no lugar
podem ser ensinadas por máquinas e sim por ta, os números, a matemática, a história etc). sabe mais (professor) e um que não sabe, mas do outro (aluno) enquanto aprendente de sua
seres humanos. O professor deverá ter con- quer saber (aluno).A criança ainda não sabe tarefa de ensinante, e a partir daí começar a
sciência do seu papel e da sua importância, De acordo com Zabala (1994), a aprendiza- e irá se constituir a partir do significante do realizar uma leitura diferente do seu sujeito
deverá entender que sua tarefa não é apenas gem é uma construção pessoal que o aluno outro, neste caso, o professor. Via de regra da aprendizagem.Afirma Cury (2003), em
ministrar um número crescente de ensina- realiza com a ajuda que recebe de outras pes- não é a criança quem decide ir para a escola e uma sociedade como a nossa, em que mui-
mentos e sim, antes de tudo, exercer certa soas e com a qual atribui significado a um de- tão pouco o que irá aprender. Escolher aquele tos recursos são negados à educação, o afeto
influência sobre a personalidade da criança terminado objeto de ensino, que implicará em que orientará sua aprendizagem muito menos. parece ser a única estratégia ao alcance dos
como um todo: “Educar é ser um artesão uma via de mão dupla: a contribuição da pes- professores para enfrentar suas dificuldades
da personalidade um poeta da inteligência, soa que aprende, seu interesse e disponibili- De acordo com Vygotsky (1989), a apren- diárias e até mesmo superar outras carências,
um semeador de idéias” (CURY, 2003:55). dade, seus conhecimentos prévios e sua ex- dizagem necessita inicialmente de um in- incluindo as de sua formação profissional.
periência, e a figura do outro, mais experiente, vestimento afetivo na relação pedagógica,
Freire (1996), ressalta a importância do pa- que ajuda a detectar um conflito inicial entre ou seja, uma carga de energia desejada para Assim, cabe ao professor desco-
pel do educador e afirma que faz parte de sua o que sabe e o que deve saber, que contribui que se possa dar início a apropriação do con- brir formas de levar seus alunos a des-
tarefa docente, não ensinar conteúdos, mas para que o aluno se sinta capaz de resolvê-lo: hecimento. Vê – se então como prioridade vendarem seus desejos escondidos, partin-
também ensinar pensar certo. A tarefa é difícil, “Que o aluno vá adquirindo destrezas rela- à necessidade de se estabelecer um vín- do da realidade das suas crianças, com
por isso o professor deve estar preparado psi- cionadas com aprender a aprender e que lhes culo desejada entre educador e educando. dificuldades de aprendizagem, oriundas ou
cologicamente para exercer suas funções com permitam ser cada vez mais autônomo em O conflito ocorre porque nem todas as cri- não de famílias desestruturadas, com pou-
responsabilidade e harmonia e entender que suas aprendizagens” (ZABALA, 1994:165). anças que vão para a escola querem apren- co ou nenhum acesso à linguagem ou escri-
sua função vai além de simplesmente transmitir Estas ações iniciais são as primeiras for- der. Elas vão para a escola porque têm que ta. O espaço de aprendizagem deve permitir

614 615
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

desenvolver a criatividade dos professores, dizagem dos alunos que não ocorreriam es- OS EFEITOS DA INTEGRAÇÃO NOS mesmo que a criança não aprende muita
de modo que consigam redescobrir em seus pontaneamente, levando em consideração o ALUNOS coisa dentro da escola, ela sabe que será há
alunos a alegria que pode surgir no desejo de que a criança já aprendeu. Conforme a opção mais pessoas no mundo querendo ajudá-la, e
aprender. Diz Vygotsky (1989), a aprendiza- do professor em relação à teoria do desen- Quando há alguns casos em que as cri- para as demais, o ensinamento de atender ao
gem é o processo pelo qual o indivíduo adquire volvimento, torna-se transparente a sua pos- anças apenas apresentam pequenos prob- próximo, respeitando suas diferenças é algo
informações, habilidades, atitudes e valores. tura e a escolha das atividades que serão lemas de aprendizagem, nos quais podemos que levará para o futuro, pois a vida pode
propostas para que os alunos aprendam. ver que a integração é um dos fatores mais mudar de uma hora para outra, e podem-
Vygotsky (1989), chama a atenção para importantes para que aprendam mais, pois os acabar precisando de atendimento espe-
o fato de que para compreender adequada- Para que haja aprendizagem, é preciso que colocando essas crianças junto de outras cial algum momento da vida (FREIRE, 1996).
mente o desenvolvimento deve-se considerar compartilhem da mesma definição da situ- com problemas semelhantes, se acomodam,
não apenas o nível de desenvolvimento real da ação, ou ao menos de uma aproximada. A não sabendo em quem se espelhar, mas CONSIDERAÇÕES FINAIS
criança, mas também seu nível de desenvolvi- essa comunicação usa o termo intersubjetiv- quando colocadas numa sala regular, verá
mento potencial, isto é sua capacidade de de- idade, pois é a conseqüência do processo de crianças da mesma idade, podendo se es- Ao refletir sobre a relação professor-aluno
sempenhar tarefas com a ajuda de adultos ou negociação entre ambas as definições, essa pelhar no semelhante, buscando aprender e como motivador da aprendizagem, percebe-se
de companheiros mais capazes. Há tarefas que nova aquisição já não é de um, nem do outro. geralmente as crianças que não demonstram a dificuldade de definir os conceitos dessa
uma criança não é capaz de realizar sozinha, Neste processo de negociação tanto o profes- problemas de aprendizagem depois de ter- relação. Professor e aluno são seres contextu-
mas que se torna capaz de realizar se alguém sor como os pares podem assumir a função minarem as suas tarefas buscam alguém que alizados, portanto estão compromissados em
lhe der assistência durante o processo. Mui- de mediador. Colocam a relevância da partic- precise isso faz com que se sintam impor- suas ações. A sociedade espera um papel de-
tas vezes o professor não sabe ao certo para ipação dos alunos nas tarefas de aprendiza- tantes, e aprendam com o seu semelhante. terminado tanto do professor quanto do aluno.
que servem conteúdos que a escola solicita gem; as atitudes e/ou sentimentos que alguns
que ensine, já que é a escola quem seleciona têm a respeito de seus colegas; o autoconceito A integração com colegas mais compe- A relação professor-aluno é de grande
o que considera importante de ser aprendido. acadêmico que cada aluno tem de si mesmo e tentes, isso acaba acontecendo nas salas reg- importância no processo pedagógico. Va-
a motivação com que cada um encara as ativ- ulares, e isso favorece no processo das apren- lores como os de honestidade, coragem,
Do outro lado, as crianças simplesmente idades que lhe são propostas são fatores que dizagens.Dentro da escola é um ambiente compromisso, responsabilidade e tantos
não entendem a maior parte dos conteúdos se relacionam entre si e encadeiam-se com neutro, no qual todos precisam cooperar para outros na educação se passam no cotidi-
que a professora ensina nem sabem porque os processos cognoscitivos, que irão medir as o andamento das aulas, e as habilidades sociais ano da instituição escolar e quanto mais
devem aprender tais coisas e outras não, possibilidades e o alcance das aprendizagens. nas quais há integração é tem mais consistên- o professor é próximo do aluno, mais in-
pois a escola é representada pela figura do cia, em que o aspecto mais importante é que fluência ele tem sobre seu comportamento.
professor, que introduz os conteúdos vistos Para Vygotsky (1989), quando a criança os alunos com problemas de aprendizagem
como importantes para suas vidas. Sobre o passa pelo processo de aprendizagem at- não apresentem um autoconceito mais baixo O conceito de quem é o educador e de
desenvolvimento e aprendizado, Vygotsky ravés das diversas formas de saber ofere- que os demais colegas, independente da es- quem é o educando não é tão simples quan-
(1989), considera como processos não coin- cido pela escola, frequentemente há um cola em que se escolariza.A escola integrado- to pode parecer ao nível do senso comum,
cidentes, embora esteja o aprendizado dire- emperramento, uma parada, e uma recusa ra é aquela que avalia seus alunos de acordo até pode parecer que esse conceito seja lin-
tamente relacionado ao curso de desenvolvi- inconsciente em aprender. Nesse contex- com suas possibilidades e não em compara- ear e simples, porém ao nível de uma com-
mento da criança, tomando como concepção to, a escola, portanto, deve voltar-se para a ção com seus colegas e que trabalham partic- preensão crítica, há que se discutir quem são
que o desenvolvimento é a apropriação de qualidade das suas relações, valorizando o ularmente em grupos cooperativos heterogê- esses sujeitos (FREIRE, 1996). Os profes-
formas cada vez mais elaboradas de ativi- desenvolvimento afetivo, social e não apenas neos, com mais possibilidades de melhoria e sores, antes de serem simples transmissores
dade humana e, ressaltando o papel da edu- cognitivo como elementos fundamentais no competência social e a autoestima dos alunos. de conhecimentos, educam pelo relaciona-
cação escolar como ambiente específico para desenvolvimento da criança como um todo. mento humano que mantêm com os alunos
promover o desenvolvimento do aluno. Ao A integração é uma opção educativa fa- e pelo estímulo que a estes devotam no
professor cabe provocar avanços na apren- vorável para qualquer necessidade especial, sentido de novas descobertas e realizações.

616 617
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS
RODRIGUES, N. Por uma nova esco-
ARANHA, M. L. A. História da Edu- la: o transitório e o permanente na ed-
cação. São Paulo: Moderna, 1989. ucação. São Paulo: Cortez, 1992.

CURY, A. J. Pais Brilhantes, Professores Fas- SEDREZ, S. Educação pública: de-


cinantes. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. mocratizar com que competên-
cia? Blumenau: Letra Viva, 1996.
FERREIRA, A. B. H. Minidicionário Aurélio.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989. VASCONCELLOS, C. S. Para onde vai o pro-
fessor. Resgate do professor como sujeito de
FREIRE, P. Pedagogia da Autono- transformação. São Paulo: Libertad, 1996.
mia: saberes necessários à prática ed-
MÁRGIA BORAGINA ucativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. VYGOTSKY, S. L. Pensamento e Lingua-
gem. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
_________. Pedagogia do Oprimi-
Graduação e Bacharelado em Educação do. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. WADSWORTH, B. J. Inteligência e afe-
Artística pela Faculdade São Judas Tadeu tividade da criança na teoria de Piag-
(1994). Especialista em Psicopedagogia Clíni- GADOTT, M. História das idéias ped- et. 3ª edição, São Paulo: Pioneira, 1995.
ca e Institucional pela FATECE (2013). Es- agógicas. São Paulo: Ática, 1993.
pecialista em Arte Educação pela Faculdade ZABALA, A. Os enfoques didáticos. In:
Campos Elíseos (2018). Professor de Funda- HILLAL, J. Relação professor – alu- COLL, César e outros. O construtivis-
mental II ARTES - EMEF HELENA LOMBARDI. no: formação do homem consci- mo na sala de aula. 6ª ed. São Paulo: Ática,
ente. São Paulo: Paulinas, 1985. 1999, (Série Fundamentos). P.153 –195.

LA TAILLE, Yves de. Piaget, Vigotsky, Wal-


lon: teorias psicogenéticas em discussão.
8ª edição, São Paulo: Summus, 1992.

LIB NEO, J. C.. Democratização da esco-


la pública. A Pedagogia Crítica dos Con-
teúdos. São Paulo: Edições Loyola, 1993.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da


Educação. São Paulo: Cortez, 1993.

OLIVEIRA, Kohl Marta. VIG-


OTSKY. São Paulo: Scipione, 1993.

RIOS, T. A. Ética e Competên-


cia. São Paulo: Cortez, 2000.

618 619
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO quem tem habilidades com deficiência são


muitas vezes faltam. Crianças que lutam
para aprender habilidades não deve ser
A educação inclusiva requer o negado aos pares com essas habilidades. A
reconhecimento e a defesa dos direitos de influência dos colegas pode ter um impacto
todas as crianças e adultos e a compreensão na educação de uma criança e deve ser um
da diversidade humana como um recurso elemento do programa educacional que
rico e parte diária de todos os ambientes especial precisa que os alunos frequentem.
humanos e interações. A educação inclusiva
é uma abordagem à educação livre de Os educadores precisam pensar sobre qual
crenças, atitudes e práticas discriminatórias, o ambiente ideal para incentivar crescimento
incluindo a isenção do poder. A educação e aprendizagem para pré-escolares com
inclusiva requer a colocação de valores necessidades especiais. Ao olhar o que ajuda
inclusivos em ação para garantir que todas os alunos a aprender e cultivar escolas devem
as crianças e adultos participem, participem contemplar os componentes do ambiente.
e prosperem. Imagine uma sala de aula de
crianças em idade pré-escolar brincando COMO DEVE SER A INCLUSÃO
em centros e aprendendo através do jogo. ESCOLAR NAS SÉRIES INICIAIS
Os alunos estão conversando, trabalhando
juntos, aprendendo habilidades sociais e Segundo o PDE (2007), incluir crianças
linguagem. Três e quatro anos de idade estão com deficiências resulta em maior empatia
em centros conversando, trabalhando através e aceitação das diferenças entre todas
de situações sociais e aprendendo durante as crianças e em melhores resultados
A INCLUSÃO NAS SÉRIES INICIAIS todo o que parece como experiências diárias acadêmicos, sociais e comportamentais para
em uma pré-escola crianças com deficiências.Apesar de seus
benefícios, a inclusão ainda apresenta muitos
RESUMO: Esse artigo busca refletir a respeito da inclusão nas séries iniciais. A defesa Toda criança deve ter a experiência que desafios para os professores. As crianças com
dos direitos de todas as crianças é impedida pela falta de compreensão da educação acabou de ser descrita. Algumas crianças de deficiência podem apresentar uma variedade
inclusiva e apropriação indébita do termo. Barreiras adicionais incluem atitudes negativas três e quatro anos com deficiência não estão de comportamentos diferentes dos seus
e discriminatórias e práticas, falta de apoio para facilitar a educação inclusiva e educação e a ter pré-escolar deste jeito. Em muitas partes pares, evitando contato visual e físico,
desenvolvimento profissional para professores e outros profissionais. A educação inclusiva do país e até mesmo do mundo, há alunos da preferindo brincar sozinho, expressões faciais
envolve abraçar a diversidade humana e acolher todas as crianças e adultos como membros pré-escola que estão em salas de aula que inadequadas, atrasos na comunicação ou
iguais de uma comunidade educacional. Isso envolve valorizar e apoiar a participação total atende apenas crianças com necessidades incapacidade de se comunicar verbalmente,
de todas as pessoas juntas dentro dos ambientes educacionais tradicionais. especiais. Essas crianças às vezes, ter baixo tendências agressivas, falta de atenção ou
funcionamento ou ter uma tendência a ter foco, mobilidade limitada e incapacidade de
comportamentos inesperados devido a completar tarefas de autoajuda (como vestir-
sua deficiência. Essas crianças devem ter a se ou usar o banheiro). Aqui estão algumas
Palavras-Chave: Inclusão; Séries Iniciais; Diversidade Humana. oportunidade de trabalhar ao lado dos alunos dicas para tornar sua aula mais inclusiva e

620 621
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ajudar todos os alunos a serem bem-sucedidos: prático sempre que possível. apoio especializados. Percebe-se que no preocupações e frustrações a fim de que
• Forneça uma programação visual Brasil essa questão está sendo tratada com os sentimentos sejam trabalhados e não os
• Certifique-se de que sua sala de aula em sala de aula para que todas as olhares mais precisos, visto como exemplo imobilizam” (GLAT e PLETSCH, 2004, p.2).
esteja fisicamente acessível para crianças saibam o plano do dia. na maioria dos programas educacionais
todos os alunos. Remova quaisquer • Explique a deficiência de uma brasileiros. Assim deveria ser os procedimentos
barreiras que possam impedir uma criança para outras crianças na sala no atendimento público a essas famílias,
criança de ir de um lugar para outro. de aula. Permita que eles façam A FAMILÍA E A CRIANÇA COM contudo de acordo com Glat e Pletsch,
• Posicionar crianças com deficiência perguntas sobre as diferenças. DEFICIÊNCIA (2004, p.2) nem sempre os médicos e
no meio de seus pares; não coloque a • Fornecer atividades apropriadas profissionais demonstram cuidado ao dar
criança em uma cadeira de rodas na borda para o desenvolvimento na sala de A chegada de um filho é um momento de as notícias e “enfatizam a deficiência como
do grupo ou o aluno com tendências aula que atendam às necessidades grandes transformações para os pais. De uma doença crônica e sem fazer qualquer
agressivas longe de seus colegas. de aprendizagem, comportamentais acordo com Fiamenghi Jr e Messa (2007) referência sobre suportes terapêuticos e
• Incentive as crianças sem e sociais de todas as crianças. “o nascimento firma o sistema parental” e educacionais que dêem alguma esperança
deficiência a interagir com • Quando necessário, ajude as é preciso organizar a rotina cotidiana de à família”, e que possam auxiliar a vida
as crianças com deficiências. crianças com habilidades de cuidados. Essa mudança geralmente indica cotidiana de seus filhos. Nos dias atuais
• Promover amizades autênticas autoajuda, mas espere que elas que será necessário alterar a estrutura mesmo com a ampla divulgação de terapias
- as crianças sem deficiências se ajudem sempre que possível. familiar para se adequar a chegada do novo e da Educação Inclusiva ainda persiste na
físicas às vezes assumem um • Comunique-se frequentemente sujeito.A parentalidade é “uma união de sociedade desconhecimento em relação
papel de “pais” nas interações com com pais e outros profissionais da singularidades, em que o casal apresenta às crianças especiais, e isso acaba por
seus colegas com deficiências. primeira infância em sua escola. ao mundo o produto de sua união” e sugere gerar atitudes preconceituosas dentro da
• Ajude as crianças a encontrar um Trate todas as crianças da sua sala de aula com expectativas sobre o “papel do pai e da própria família. Historicamente, é possível
terreno comum e formas de interagir amor e respeito(PNE/PCNI, 2007/2009) . mãe”, bem como “nas responsabilidades vislumbrar os motivos que levam às famílias
umas com as outras como amigos. e nos requisitos prévios da nova conduta a mostrar insegurança quando tem uma
• Dê a todas as crianças ferramentas A intervenção precoce e a educação a ser adotada” (BUSCAGLIA, 1997 apud criança com deficiência, pois durante séculos
para interações e conversas. Forneça- de crianças com deficiências podem ter FIAMENGHI Jr e MESSA, 2007, p.238). foram chamados de “inválidos”, ou seja,
lhes brinquedos ou objetos para um impacto positivo no desenvolvimento “indivíduo sem valor”, que não deveriam ser
iniciar a discussão (um exemplo cognitivo e social da criança. A inclusão De acordo com Fiamenghi Jr e Messa (2007) vistos em sociedade, pois eram considerados
pode incluir um livro popular). de programas para a primeira infância os pais projetam em suas mentes fantasias como um “fardo” para seus familiares (SÁ e
• Forneça às crianças que lutam apoia o direito de todas as crianças, sobre a nova criança, o sexo, o desempenho RABINOVICH, 2006, p.1).
com a comunicação formas independentemente de suas habilidades, de na escola, a carreira, a orientação sexual.
alternativas de se expressar. Isso participar ativamente em ambientes naturais Porém a chegada de um filho com alguma No imaginário popular, a deficiência “traz
pode envolver apontar ou usar fotos. dentro de suas comunidades. deficiência frustra essas expectativas que são consigo forte carga emocional, as pessoas
• Parear as crianças com e sem deficiência consequências dos projetos e realizações dos envolvidas no processo- pais, crianças e
para trabalhar e brincar juntas. A participação ativa da criança pequena pais. No momento de informar os familiares a demais familiares” e o Brasil possui um
• Use uma variedade de métodos para deve ser guiada por um currículo adequado postura dos profissionais deve ser permeada histórico de exclusão em três vertentes:
instrução - converse com seus alunos, para o desenvolvimento e individualmente. de ética, para Glat e Pletsch, (2004): “mesmo “exclusão pela deficiência, pelo preconceito
ilustre com imagens, modele e forneça O acesso e a participação no currículo geral que os profissionais não sejam da área de e pela pobreza e de acordo com Sá e
a oportunidade de aprendizado adequado à idade tornam-se centrais para psicologia, deve ser oportunizado um espaço Rabinovich (2006, p.1): “as transformações
a identificação e prestação de serviços de para que os pais possam trazer suas dúvidas,

622 623
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

devem ter início na mentalidade das pessoas”. crime” e o acesso de alunos com deficiência a diante das crianças com necessidades aluno tem a necessidade de reconhecer-se
A família, enquanto grupo social primário escolas comuns não é mera opção de seus pais especiais tem deixado algumas indagações como um ser social, e essa tarefa fica a cargo
tem a função de formar e determinar com ou responsáveis, e que a conduta excludente e desafios que não estão relacionados á do professor alfabetizador, que através de
suas ações o desenvolvimento cognitivo- das escolas pode ter consequências cíveis, deficiência dos alunos, mas sim ao descaso metodologias centradas no aluno, tenha o
afetivo do indivíduo, além disso, auxilia na penais e administrativas (apud BIAGGIO, de alguns profissionais docentes e algumas objetivo de conscientizá-lo como construtor
interação desse sujeito na sociedade, muitas 2007, p. 19). instituições, em relação à diversidade de seu conhecimento. Assim as estratégias
vezes, se prolongando pela fase adulta. humana, a qual se constitui a população de alfabetização precisam ser trabalhadas de
Quando a criança nasce tem seu primeiro Contudo, é preciso levantar a discussão brasileira. forma conjunta, incluindo a práxis. Segundo
contato com o mundo e as primeiras relações para o caminho percorrido pela educação Freire (1987, p.17) em sua obra nos faz
que compõe são com os membros de sua brasileira para concretizar seu “projeto Paulo Freire por exemplo, não discute refletir sobre as condições de opressores e
família: pai, mãe, irmãos, avós. E assim, inclusivo”, que esbarrou em “equívocos diretamente o tema de inclusão, mas no oprimidos {...} Os opressores, falsamente
segundo Sá e Rabinovich (2006) a família conceituais e dificuldades na reorganização decorrer dos estudos percebe-se que sua generosos, têm necessidade, para que a sua
tem um importante papel a desempenhar pedagógica”, os avanços da escola brasileira pedagogia é centralizada no sujeito. Diante “generosidade” continue tendo oportunidade
no desenvolvimento da criança:Portanto, nessa direção têm acontecido de forma lenta, desta concepção acreditamos que a educação de realizar-se, da permanência injusta. (grifo
a família não pode ser ignorada durante o pois ainda há “muita resistência por parte das especial deva ser pensada de modo que o do autor).
processo de desenvolvimento e socialização instituições à inclusão plena e incondicional, discente seja visto como um ser construtor
desta criança, especialmente nos momentos e isso ocorre por causa da inexperiência com de seu conhecimento, capaz de interagir, Diante de alguns artigos sobre educação
em que podem encontrar serviços sociais a diferença” (MANTOAN, 2010, p. 13). e que tenha materiais que estimulem suas inclusiva formam-se os elos de sabedoria e
despreparados e políticas públicas que habilidades. trabalho mútuo, tanto por parte dos docentes,
necessitam de revisão em seus projetos. O sistema educacional brasileiro vem quanto da família que precisa buscar
passando por significativas mudanças nas No contexto de seu livro "Pedagogia do materiais que estimulem o fazer da criança,
De acordo com Biaggio (2007), a inclusão últimas décadas, e nesse contexto, o Ministério Oprimido", Paulo Freire procura conscientizar levando em consideração o letramento que
ganhou reforços com a Lei de Diretrizes da Educação e a Secretaria de Educação o docente do seu papel fundamental de perdura por toda vida. É fundamental que a
e Bases da Educação Nacional, de 1996, e Especial (MEC/SEESP, 2007) ressaltam em problematizador da realidade do educando, escola seja um ambiente inclusivo e propício
com a Convenção da Guatemala, de 2001, que: “o movimento mundial pela educação de modo que suas vivencias façam parte para o acesso da pessoa autista e utilizar
que proíbem qualquer tipo de diferenciação, inclusiva é uma ação política, cultural, social deste processo para que de fato se tenha um propostas metodológicas de acordo com a
de exclusão ou de restrição baseadas na e pedagógica”, que foi desencadeada “em significado na aprendizagem. Pois para Paulo necessidade da criança. Os profissionais da
deficiência das pessoas. defesa do direito de todos os alunos de Freire ensinar a pensar e problematizar sobre educação precisam estar preparados para
estarem juntos, aprendendo e participando, a realidade é a maneira mais correta de se lidar com esse tipo de situação para que
Segundo Eugênia Augusta Gonzaga Fávero, sem nenhum tipo de discriminação”. produzir conhecimento, visto que, a partir daí sejam tomadas medidas cabíveis para a
procuradora da República e responsável pelo o discente terá a capacidade de reconhecer- resolução do problema.
direito dos cidadãos do Estado de São Paulo A INCLUSÃO, A SOCIEDADE E A se como um ser social. “[...] aprender, é um
no biênio 2002-2004: “o acesso das pessoas EDUCAÇÃO processo que pode deflagrar no aprendiz
com deficiência ao ensino formal é garantido uma curiosidade crescente, que pode torná- O Brasil enfrenta uma série de desafios na
até pela legislação penal, pois o artigo 8º, da De acordo com o MEC/ SEESP (2007), lo mais e mais criador”. (FREIRE, 1987, p.24) área da Inclusão. As escolas estão engajadas
Lei no 7.853/89, prevê como crime condutas por meio da escola em que considera-se em incluir cada vez mais crianças com alguma
que frustram, sem justa causa, a matrícula de como espaço privilegiado de construção de Desse modo, podemos dizer que diante deficiência em sala de aula.De modo geral, o
aluno com deficiência”. Ou seja, “a exclusão é conhecimento e desenvolvimento de valores, dos métodos de alfabetização do autista, o bom educador reconhece que sua formação é
permanente, contínua e flexível e que ocorre

624 625
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

em salas de aulas das universidades, com REFERÊNCIAS


o hábito e prática de leituras e de estudos,
assim como também no dia a dia das escolas, BIAGGIO, Rita de. A Inclusão de crianças
na convivência cotidiana com colegas com deficiência cresce e muda a prática
de trabalho, com seus alunos, com suas das creches e pré-escolas. Revista Criança
experiências familiares e na comunidade. do professor de educação infantil. MEC,
O bom educador preocupa-se com o Brasília-DF, 2007, P. 19-26.
seu processo de autoconhecimento, com a
descoberta de conhecimentos e interesses BRASIL. Política para Educação Especial.
próprios, com suas motivações pessoais. Ele 2008. Acesso em: 25 Julho de 2019.
se permite autoconhecer em suas habilidades
e dificuldades, preparando-se bem para ______.Plano de Desenvolvimento da
contribuir com a formação de qualquer Educação: razões, princípios e programas.
aluno que venha a integrar sua sala de aula. BRASIL, 2007.
Conclui-se que, a escola e a sociedade em
geral, devem sempre estar unidas para que o DÍEZ, Anabel Moriña. Traçando os mesmo
processo de inclusão seja o mais significativo caminhos para o desenvolvimento de
possível. uma educação inclusiva. Tradução Grupo
Solucion-SP. Inclusão, Revista da Educação
Especial. Brasília, 2010. Vol. 5, nº. 1, p. 16-
25.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, Rio A CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE LETRAMENTO


de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
RESUMO: Quando o indivíduo aprende a ler, o mundo é descoberto e passa a ganhar
MANTOAN, Maria T. O Atendimento outro sentido, passa a comunicar interpretar e analisar desenvolvendo assim as condições
Educacional Especializado na educação básicas para o crescimento humano. O que é ler? O que é leitura? São perguntas complexas
inclusiva. Inclusão, Revista da Educação que demanda algumas reflexões, já que a leitura se relaciona com fatores biológicos,
Especial. Brasília, 2010. Vol. 5, nº. 1, p. 12- psíquicos, filosóficos, históricos, culturais e sociais. Ler é um ato de estar conectado com o
15. mundo do outro, e poder receber e enviar mensagens, compreender e adentrar em mundos
imaginários. Leitura esta palavra deriva do latim “leitura”, originariamente com o significado
MARIA APARECIDA RAIMUNDO de “eleição, escolha”, e a forma como se interpreta um conjunto de informações.

Graduação em Ciências e Letras pela


Faculdade Tibiriçá São Marcos em 1999. Palavras-chave: Educação; Aprendizagem; Crianças; Professor.
Professora de Educação Infantil e Ensino
Fundamental na Prefeitura Municipal de São
Paulo.

626 627
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO A questão é: Como despertar o gosto e os personagens tornando-se cúmplice no um dos grandes desafios a serem superados.
pela leitura nas crianças? Já conhecemos texto.A ampliação da leitura se torna inspira-
O processo de leitura faz parte das com- os benefícios que a leitura trás na vida das dora quando colocada como fonte de inspi- Paulo Freire (1975) já possuía esta visão
petências cognitiva, social e cultural e para pessoas. Leitores tendem a possuir um bom ração, a aproximação e o prazer ao ato de ler quando dizia: “Ninguém educa ninguém, assim
se ler bem é necessária a passagem pela edu- vocabulário, oral e escrito e articulam mel- e de ouvir histórias. Na escola os momentos como ninguém se educa sozinho. Alguém só
cação formal e pelo processo de alfabetização. hor as ideias com maior facilidade de coerên- de leitura de diferentes textos, desenvolvem aprende se existir um alguém que lhe deseja
A leitura é muito mais do que um instrumento cia, tornam-se mais criativos. Mas isto só na criança o prazer pela leitura, trazendo con- ensinar, da mesma forma, alguém só ensinará
escolar. É um passaporte para a entrada na ocorrerá se a criança tiver estímulos literári- fiança, criatividade e alegria. Quando falamos se tiver alguém ardentemente predisposto a
cultura escrita, envolve o domínio de práticas os desde pequenas, teremos leitores se as em criança pequena, a releitura de contos é aprender”.A instituição escolar é o local que
culturais que levam a compreensão do mundo, crianças tiverem pais leitores, já que ten- muito comum, pois os pequenos vão adquir- deve propor e possibilitar a aquisição de no-
criando novas identidades, novas formas de dem a copiar comportamentos adultos que indo intimidade com os personagens e a cada vos saberes, garantir um processo de apren-
inserção social, nova maneira de pensar e agir. os cercam. Quando um adulto lê ao lado de nova leitura, trechos e falas são acrescentados dizagem significativo em todas as disciplinas,
uma criança incitamos a curiosidade, inter- ao repertório linguístico e a sua imaginação. visando despertar o desejo de aprender, inti-
No Brasil o governo incentivo: editoras, esses pessoais de cada faixa etária é out- mamente ligado com a capacidade de leitura.A
livrarias e empresas privadas a distribuição de ro ponto de estímulo, ler temas que pren- LEITURA E LETRAMENTO NA sociedade passa por evoluções tecnológicas
livros e campanhas publicitárias. Mas ainda dam a atenção e o imaginário da criança. INFÂNCIA de informação, mas o instrumento necessário
falta muito para que os brasileiros adquiram para acompanhar estas mudanças sociais é a
comportamentos leitores. O ato de ler não Alguns artigos para bebê recomendam ini- Segundo Barbosa (2007), Letramento é leitura em seu amplo sentido, já que a par-
pode ser uma atividade passiva. Pois o leitor é ciar com Contação de histórias aos seis meses acontecimento, é o pensamento que surge, ticipação nesta realidade acontece quando
um elemento ativo no processo. O desenvolvi- de idade, cativando a atenção e o gosto pela inexplicável, para viver e pensar o letramen- somos sujeito históricos capazes de registrar
mento da linguagem não é algo natural, pois é leitura, o ouvir e imaginar. A escolha dos livros to. O conhecimento das letras é apenas um o passado, projetar o futuro e realizar con-
fruto de experiências sociais construídas com e de suma importância para adequar a fase meio para o letramento, que é o uso social da quistas no presente para um mundo melhor.
o contato de escutas e produções narrativas. imaginativa da criança. Na educação infantil a leitura e da escrita. Letrar é inserir a criança
leitura deve ser entendida e sentida pela cri- no mundo letrado e seus diferentes usos na A leitura deve ser um convite ao mun-
Podemos reconhecer leitores por seus ança como forma de prazer, dando asas a imag- sociedade. O letramento vem da cultura e do da fantasia, pois é uma aprendizagem ad-
comportamentos, há leitores que gostam inação, para que sempre querem outra vez. muitas crianças já chegam á escola com con- quirida para a vida inteira, transcendendo as
de comentar ou recomendar algo que já le- hecimento informal absolvido no seu dia- letras. A observação diária do professor em
ram nas crianças pequenas o ato de querer A escola de educação infantil por se tratar a-dia. Cabe a escola despertar na criança o sala de aula, adequando o desenvolvimen-
ouvir várias vezes a mesma história vem da de um ambiente alfabetizador tem a possibili- gosto de ler e emocionar-se com as histórias to cognitivo de cada aluno que irá estimular
vontade de antecipar os acontecimentos fu- dade de despertar o gosto pela leitura nas cri- lidas e fazer dos personagens seus parceiros. este aluno para o mundo da leitura. Para Bar-
turos e sentimentos a cada leitura. Os adul- anças e posteriormente nos pais, este trabalho bosa (2007), a literatura é um dos caminhos
tos nem sempre têm consciência dos com- além de estimular o imaginário, aproxima Aproximando a criança da escrita e os en- para o mundo da imaginação, algo além da
portamentos leitores que adquirem ao longo as crianças do mundo letrado. Se queremos cantamentos que ela proporciona. Eviden- vida real, possibilita o mergulhar em diversos
da vida. A leitura é um exercício de cidadania pessoas leitoras temos que oferecer ativi- temente que para se consolidar a leitura de mundos através das histórias. É preciso o in-
que exige do leitor criatividade, mobilizan- dades diárias em que os pequenos tenham a forma significativa é necessária uma aliança teresse pelas palavras, isso pode ser desde
do seus conhecimentos prévios, interagindo oportunidade de ler, trocar idéias, ouvir e co- com as outras áreas de formação do sujeito, muito cedo, através das músicas e conversas
com os textos, construindo significação, in- mentar.O livro é um mundo a ser descoberto uma delas é investir na formação do pro- ouvidas dentro do ventre materno, quando
corporando reflexivamente no seu universo a cada página, é um contador de história. A fessor para aprimoramento na sua área de embalada com canções ninar, ou nas conver-
de conhecimento de forma a levá-los a com- leitura foi criada para o prazer e não ser um conhecimento, com o reforço da leitura tor- sas com a família ao compartilhar histórias
preender melhor seu mundo e seu semelhan- dever.Quando o livro se torna uma porta para nando-os leitores fluentes e críticos para e experiências, não podemos esquecer de
te. Cabe à escola o desafio de ensinar o leitor. o imaginário, ocorre a interação entre o leitor que gerem outros leitores atuantes, este é que somos narrativos.O ser humano é fonte

628 629
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

inesgotável de história e por isso de leitu- desenvolvidas com seus alunos. Escrever so- modificação do modo de agir, sentir e pensar ser testemunha e associar-se à utilização.
ra. O processo de leitura faz parte das com- bre a prática faz pensar e refletir sobre cada de cada pessoa que não pode ser atribuído
petências cognitivas, sociais e culturais e decisão que foi ou será tomada, permitin- á maturação orgânica, mas a sua experiên- A escola deve ser uma instituição que
para se ler bem é necessário o interesse para do aprimorar o trabalho diário e adequá-lo cia positiva e prazerosa. A prática da leitura segundo César Coll(1993)- “encaixe os sa-
as narrativas em geral. A escola e a família com frequência às necessidades dos alunos. como algo diário torna-se hábito, pratican- beres cientificamente construídos com
possuem o papel de estimular este fascínio. do assim o escutar, imaginar e o recontar. os conhecimentos elaborados pelas cri-
O que não falta no dia a dia do professor anças”. Essa missão implica na adequação
Nas reformas educacionais o professor se são oportunidades para colocar ideias e re- Para Barbosa (2007), a sociedade deu dos saberes, possibilidades cognitivas
depara com várias concepções educaciona- flexões no papel. Ao fazer o planejamento, á escola a responsabilidade de alfabetizar e conhecimentos prévios das crianças.
is. Uma delas é bastante conhecida como o por exemplo, ele pode antecipar o que pre- seus alunos e há anos ela tem cumprido
professor transmissor de um saber produzido tende alcançar em sala de aula. Sem essa re- essa missão, contribuindo significativamente CONSIDERAÇÕES FINAIS
no exterior da profissão, ou seja, o professor flexão, o docente corre o risco de estar sem- para a alfabetização de uma grande parte da
como técnico. Em oposição a esta visão, no- pre improvisando. Em cada uma das escritas população. A escola alfabetizou, mas muitas No decorrer deste trabalho, observa-se que
vas tendências vêm apostando no professor reflexivas feitas pelo professor, há elementos, crianças chegam á segunda etapa, à univer- não podemos abrir mão da Literatura infan-
reflexivo capaz de criar seu próprio caminho para que ele cresça como profissional e mel- sidade, sem compreender ou tendo muitas di- til, pois, é por meio dela que o conhecimento
profissional, que é coletivo, construído no hore seu desempenho, desde que elas sejam ficuldades para compreender o que lê. Um dos chega as crianças tão pequenas. Com a liter-
caminhar pedagógico. Precisamos de profes- compartilhadas com um formador que o ori- motivos é a modernização com a utilização de atura infantil, desenvolvemos a imaginação, a
sor reflexivo que saiba lidar com as múltiplas ente, uma parceria do corpo escolar como um códigos e placas que acabaram por simplificar criatividade e o cognitivo mesmo quando as
dificuldades encontradas em sua profissão. todo, onde o professor não está sozinho. Bus- textos, criando uma geração que não tem in- crianças não são alfabetizadas.Não podemos
Investir na formação docente é o primeiro car despertar na criança o fascínio pela fan- teresse pela leitura e suas possibilidades.Não esgotar um assunto tão vasto e rico como a
passo para que o professor seja capaz de tasia do mundo de ficção é um desafio para podemos negar que a escola é influenciada por leitura na educação infantil, mas levantar re-
elaborar suas práticas, transformando-as todo educador. Particularmente quando se vontades políticas e escolhas sociais, que aca- flexões e apontar alguns caminhos para esse
quando necessário para alcançar o aluno. As- trabalha com crianças pequenas, cujas com- bam dando o acesso para as pessoas conse- resgate como tema principal nas escolas, que
sumir que o processo de mudança educacion- petências para agir, interagir e modificar seu guirem melhores oportunidades de trabalho e ficou em segundo plano, momento de dis-
al se faz com participação do professor, e para ambiente têm sido cada vez mais estudado. nível social, repetindo o modelo de vencer ou tração no cotidiano de milhares de crianças.
tal se faz necessário o investimento em for- fracassar através do instrumento avaliativo.
mação contínua. Temos que reforçar a neces- O que as pesquisas que vêm sendo real- Nós educadores devemos repensar nos-
sidade de se tratar o ensino como uma profis- izadas sobre o desenvolvimento humano têm Hoje temos alfabetizados e leitores e esta sas práticas e promover, no cotidiano esco-
são dinâmica, em desenvolvimento, onde apontado é que a criança é que a criança é separação é evidente, obrigando todos os lar a discussão sobre a pluralidade cultural do
o professor toma para si a responsabilidade um sujeito competente, ativo e agente de sistemas educacionais de todos os países a povo brasileiro, por meio das atividades de
que lhe compete ao definir os rumos da mu- seu desenvolvimento. Nas interações com reconsiderar o ensino da leitura ou, mais pre- leitura, com objetivo de ampliar a formação
dança educacional, um sujeito capaz de pro- outros em seu meio, em atividades sociocul- cisamente, levá-lo a considerações, levantan- do profissional da educação, no que se ref-
duzir mudanças sociais, políticas e culturais. turais concretas, as crianças mobilizam sa- do metas para acabar com esta divisão. Na ere à indicação e leitura de livros adequados
beres e ao mesmo tempo que os modificam. fase do aprendizado, o meio deve proporcio- para cada uma das diferentes faixas etárias.
Outro item que não pode faltar em um nar à criança toda ajuda para utilizar textos e
professor reflexivo é a preocupação com o Daí a importância das crianças terem a não simplificá-los para adaptá-los as possibili- Acreditamos, que podemos realmente le-
planejamento e avaliação de suas aulas, isso amplas oportunidades de exploração e dades atuais do leitor. Não se aprende primeiro var muitas crianças a ampliar e educar seus
só ocorre se o professor registrar suas ações, conhecimento da leitura, como fonte de a ler palavras, depois frases, mais adiante tex- olhares para a leitura e para a arte (literatu-
avanços e dificuldades dos alunos. O reg- prazer e cabe ao professor proporcionar tos e, finalmente, textos dos quais se precisa. ra), a se transformar em leitores plurais, em
istro representa muito mais que um roteiro este momento de amor pela leitura. Apren- Para aprender a ler enfim, faz-se necessário cidadãos mais preparados para a vida em so-
de aula ou uma enumeração de atividades der pode ser entendido como o processo de estar envolvido pelos textos, encontrá-los, ciedade que acima de tudo, esteja de men-

630 631
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

te aberta e disponível para aprender com as cionais. Brasília: MEC/SEF, 1997. vo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
possibilidades de leitura de mundo e de vida REFERÊNCIAS
que uma criança pode ensinar, construindo CAMARGO, L. Ilustração do Liv- EDWARDS, C; GANDINI, L. As cem lin-
esse conhecimento por meio da leitura de ARROYO, L. Literatura Infantil Brasile-
ro Infantil. Belo Horizonte: Lê, 1995. guagens da criança: as abordagens de Reg-
bons livros e com professores bem prepara- ira. São Paulo:Melhoramentos, 1988.
gio Emile. Porto Alegre: Artmed, 1999.
dos para atividades diárias no espaço escolar.
A escola deve ser o local do saber e do bem, CAMPANHA NACIONAL DE EDUCAÇÃO,
ARROYO, L. Ofício de Mestre: Imagens e
a construção da cidadania crítica e ativa de- MIEIB – Consulta sobre qualidade da edu- EVANGELISTA, A. A. M. (org.). A Escolar-
Auto Imagens. Petrópolis, Vozes, 2000.
manda conhecimento, reflexão, análise, dis- cação infantil: o que pensam e querem os su- ização da Leitura Literária: O jogo do livro
cussão, prática de intervenção na realidade. jeitos deste direito. São Paulo: Cortez, 2006. infantil. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
BARBOSA, M. C.; HORN, M. G. S. Pro-
O professor deve ter uma boa dose de jetos pedagógicos na Educação Infan-
CAMPOS, M. M.; ROSEMBERG, F.; FER- FERREIRO, E. Cultura escrita e ed-
ousadia, devemos construir o conheci- til. Porto Alegre: Artes Médicas, 2007.
REIRA, I. M. Creches e pré-escolas no ucação. São Paulo: Artmed, 2001.
mento escolar a partir da realidade, esta-
belecendo relações entre textos e contex- Brasil. São Paulo: Cortez/FCC, 1993.
BASSEDAS, E.; HUGUET, T.; SOLÈ, I.
tos, exercitar a escrita e o diálogo, provocar FREIRE, P. Educação como Prática da Liber-
Aprender e ensinar na Educação Infan-
reflexões e questionamentos, motivar a cri- CARVALHO, B. V. A Literatu- dade. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1975.
til. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
atividade dos educandos, tendo consciência ra Infantil. São Paulo: Atual, 1984,
de que compreender o mundo exige com- FREITAS, M. C. (org.). História Social da In-
preender o lugar e a sociedade que se vive. BETTELHEIM, B. Psicanálise dos Contos
COELHO, N. N. A Literatura In- fância no Brasil. São Paulo: Cortez, 2006.
A educação em parceria com a leitura de fada. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
fantil. São Paulo: Moderna, 2000.
abrange os processos formativos que se desen-
FOUCAMBERT, J. A Criança, o Professor e a
volvem na vida familiar, na convivência huma- BRASIL/ Ministério da Educação e Cul-
na, no trabalho, nas instituições de ensino. CORSARO, W. Entrada no campo, aceit- Leitura. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
tura. Critérios para o atendimento em
ação e natureza da participação nos estu-
creches que respeite os direitos funda-
dos etnográficos com crianças pequenas. ROSSETTI-FERREIRA, M. C. ET alii. Os Fazeres
mentais das crianças. Brasília: MEC, 1995.
Revista Educação e Sociedade, v.26, na Educação Infantil. São Paulo:Cortez, 1998.
n.91, p.443-464, Maio/Ago. 2005.
BRASIL/ Ministério da Educação e Cultu-
UNESCO. O perfil dos professores bra-
ra. Propostas pedagógicas e currículo em
CRAIDY, C., KAERCHER, G.E. (org). Ed- sileiros. O que fazem? O que pensam? O
Educação Infantil. Brasília: MEC, 1996.
ucação Infantil – pra que te que- que almejam? São Paulo: Moderna, 2004.
ro? São Paulo: Artmed, 2001.
BRASIL/ Ministério da Educação e Cultura. Con-
VYGOTSKY, L. Pensamento e Lingua-
selho Nacional de Educação. Diretrizes curric-
DANTAS, H. A infância da razão: uma in- gem. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
MARIA CÉLIA LUCAS DE OLIVEIRA ulares nacionais para a Educação Infantil; Res-
trodução á psicologia da inteligência de
olução n. 1, de 7/4/1999, Brasília: MEC, 1999.
Henry Wallon. São Paulo: Manole, 1990.
Professora de Educação Infantil - Graduada
e com Pós em Educação Infantil pela Facul- BRASIL/ Ministério da Educação e do
DEL RIO, M. J. – Psicopedagogia da lin-
dade Campos Elíseos - SP. Desporto. Secretaria de Educação Fun-
guagem oral, um enfoque comunicati-
damental. Parâmetros curriculares na-

632 633
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO JOGOS E BRINCADEIRAS


Segundo Fein (apud Spodek & Saracho,
Para se falar sobre a criança, nada melhor
1998) é muito difícil definir a brincadeira,
do que começar com Piaget e as fases pelas mas, em certo sentido, ela se auto-define (p.
quais a criança passa em seu desenvolvimen- 210). A preocupação em conceituar o que é
to. Elas são a porta de entrada para enten- a brincadeira não é apenas dos educadores,
dermos como o brincar, é de fundamental mas está na pauta de outros profissionais,
importância para o aprendizado das crianças. dentre eles psicólogos, filósofos, histori-
Segundo Piaget e Vygotsky, o desenvolvi- adores e antropólogos. Spodek e Saracho
mento da criança na Educação Infantil passa (1998) apontam que a dificuldade em se
chegar a uma definição consensual sobre a
por dois agentes: os cognitivos e os intelec-
brincadeira advém da falta de critérios para
tuais. Os agentes cognitivos, segundo Piaget se classificar uma atividade como tal; assim,
(1980), são a adaptação e a organização, onde em alguns contextos ou momentos uma
o ser humano vai organizar suas experiências atividade pode ser considerada brincadeira,
e adaptá-las ao que for experimentado, con- e deixar de sê-lo em outros, o que depende
stituindo assim o perfil da sua consciência. da relação que se estabelece com a situação,
do significado que assume para quem brinca.
A Adaptação seria um processo de ajusta-
Para os povos egípcios e os povos maias
mento ao meio ambiente existencial em torno os jogos cumpriam um papel onde os valores,
O PAPEL DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL do ser. No ser humano, a adaptação ao meio o conhecimento e as normas da vida social
significa, sobretudo, a adaptação emocional dos mais velhos eram repassados aos mais
ao meio. A Organização da experiência inclui jovens. Um importante educador chamado
processos de combinação das informações Alcuíno, utilizava charadas, anedotas e adi-
provenientes dos órgãos dos sentidos em vinhas em suas aulas, divulgando que a di-
conjuntos ou sistemas. Trata-se do proces- versão tinha que estar associada ao ensino.
Além da motivação, existia nas escolas de
RESUMO: O presente artigo traz uma revisão bibliográfica da importância do brincar na Ed- samento mental das informações oferecidas
antigas, outra função para os jogos que era
ucação Infantil. Por meio da definição do que é brincar para entender como esta atividade é pela existência e captadas pelo indivíduo at- estimular, através da prática desses, o con-
importante e deve ser direcionada pelos professores nos primeiros anos acadêmicos de uma ravés de seus órgãos dos sentidos. Em cada hecimento das crianças (OLIVEIRA, 2016).
criança, além de trazer a diferenciação entre brincadeira e jogo. Visa ainda desmistificar a
uma das fases o brincar tem sua importân-
ideia de que a brincadeira de nada agrega ao conhecimento infantil, pelo contrário, que é na
cia, como um agente de desenvolvimento Os jogos, os brinquedos e as brincadei-
brincadeira que a criança explora o mundo ao redor, aprende e pratica o que aprendeu em
da criatividade, levantamento de hipóteses ras são usadas como ferramentas de estim-
sua vida, exercitando valores, crenças, solução de problemas e interação com outras crianças.
entre outras. O presente artigo pretende, ulação de aprendizagem e normalmente
estão presentes no cotidiano das crianças
Palavras-chave: Educação Infantil; Brincar; Brincadeiras; Lúdico; Aprendizagem. por meio da revisão de bibliografia de au-
como importantes formas de divertimen-
tores renomados, trazer um panorama dos to e de entretenimento (MARQUES, 2016).
benefícios do brincar na primeira infância.
Baptista da Silva (2003) afirma que os

634 635
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

verbos brincar e jogar, em português, não jogo na atividade lúdica. Utiliza-se do brinquedo, daquilo que vê. (VYGOTSKY, 1998, p. 127). sacie a fome, acalenta o bebê, entre outras. Ele
têm significados tão amplos quanto os seus mas ambos se distinguem (BISCOLI, 2005; p. 25). Na brincadeira, a criança pode dar outros senti- ainda fala sobre a existência de brincadeiras em
correspondentes em inglês e francês. A mes- dos aos objetos e jogos, seja a partir de sua própria que a própria atividade não é tão agradável, como
ma autora aborda que, no cotidiano da língua Para Vygotsky (1998) as relações entre pes- ação ou imaginação, seja na trama de relações que às que só agradam às crianças se elas consider-
portuguesa, os verbos brincar e jogar tam- soas é o que constitui o sujeito, através de ativ- estabelece com os amigos com os quais produz no- arem o resultado interessante. Um outro exemplo
bém podem ter outros sentidos, entretanto, idades estritamente humanas, mediadas por fer- vos sentidos e os compartilha (CERISARA, 2002). interessante neste sentido, citado por Vygotsky,
seu significado principal está relacionado à ramentas técnicas e semióticas. Partindo disso, Elkonin (1998) avançando nos estudos é sobre o jogo. Os jogos possuem regras, perd-
atividade lúdica infantil. Ainda na língua por- a brincadeira infantil assume posição privilegia- de Vygotsky elaborou a lei do desenvolvimen- edores, ganhadores e frequentemente trazem
tuguesa, existe uma falta de discriminação na da para a análise do processo de constituição to do brinquedo. Para este autor o brincar pas- desprazer à criança, uma vez que nem sempre
utilização dos termos brincar e jogar. Mes- do sujeito, rompendo com antigas definições de sa por momentos evolutivos. A brincadeira vai o resultado é favorável para ela. Assim, o praz-
mo estando o termo jogar diferenciado de que esta atividade nada mais é que uma ativi- de uma situação inicial, onde o papel e a cena er não pode ser visto como uma característica
brincar pelo aparecimento das regras, a uti- dade natural de satisfação de instintos infantis. imaginária são explícitas e as regras latentes, definidora da brincadeira. (CERISARA, 2002).
lização de ambos, muitas vezes, se confunde. Para o autor, o brincar é uma atividade em que, para uma situação em que as regras são ex-
tanto os significados social e histórico são con- plícitas e o papel e a cena imaginária latentes. Embora as regras chegam prontas as crianças
Henriot (1998) analisando os termos e struídos, quanto novos podem emergir ali, pois Para Vygotsky (1998), a criação de situações ainda têm liberdade para aceitar, modificar ou
seus significados, toma como base uma per- a brincadeira e o faz de conta são considerados imaginárias na brincadeira surge da tensão en- ignorar essas regras. Isso depende do contex-
spectiva transcultural o termo jogo, por cau- espaços de construção de conhecimento para as tre o indivíduo e a sociedade e a brincadeira to em que a crianças está inserida e das outras
sa de seu fenômeno lúdico e conceito, além crianças, uma vez que os significados das mes- libera a criança das amarras da realidade ime- pessoas envolvidas nos jogos. Apesar do objetivo
de outros aspectos. O autor discute as pa- mas são apropriados de forma específica por elas. diata, dando-lhe oportunidade para contro- final de um jogo ser a vitória, mesmo que a cri-
lavras e seus significados em diferentes lín- lar uma situação existente (CERISARA, 2002). ança não vença, o prazer proporcionado pelo jogo
guas e culturas. Ele chama atenção para o Neste sentido, ainda segundo o autor, os ob- Se pararmos para observar, poderemos ver pode fazer com que a criança jogue outras vezes.
verbo brincar que só é existente na Língua jetos com os quais a criança se relaciona são que as crianças se utilizam de diversos objetos (BROUGÈRE, 1998). O prazer do jogo pelo jogo
Portuguesa e não possui correspondência em significados em sua cultura e a relação estabe- para representar o que querem no momento: faz com que ele tenha um fim em si mesmo, in-
outras línguas. O termo brincar destina-se a lecida com eles se modifica conforme ela vai se seja pequenas pedras representando carrinhos, dependente do final, sua importância maior está
um tipo de atividade exclusivamente infantil. desenvolvendo. Primeiramente esta relação é pedaços de madeira encontrados no chão para no processo. Contudo, é importante salientar que
marcada pela predominância de sentidos con- criar uma casa, ou qualquer outro elemento que tanto a brincadeira como os jogos preenchem
Se observarmos bem, mesmo no Brasil, o ver- vencionais, característicos da cultura em que esteja ao seu alcance. Os significados e as ações necessidades da criança e cria incentivos para
bo jogar não tem tanta amplitude de significados está inserida; o objeto, de certa forma, diz para relacionadas aos objetos podem ser libertados de colocá-la em ação, além de contribuir para mu-
como o tem em inglês e francês. Essa distinção a criança como deve agir. Com o passar do acordo com o que ela precisa no momento. As danças nos níveis do desenvolvimento humano.
verifica-se inclusive na polissemia do termo, ao tempo, de modo gradativo, a relação entre ob- crianças utilizam processos de pensamento de
comparar diversos idiomas. Para esclarecer essa jeto significado e ação se altera, tendo a brin- ordem superior como no jogo de faz-de-conta, Para Cerisara (2002), todo avanço nest-
polissemia dos termos, Henriot (1983, 1989), cadeira um lugar de destaque nessa mudança. que assume um papel central no desenvolvimen- es está relacionado a alterações acentuadas
Brougère (1998) e Baptista da Silva (2003) falam to da aquisição da linguagem e das habilidades nas motivações, tendências e incentivos.Para
sobre a necessidade de investigar a utilização O brincar então, se configura de extrema im- de solução de problemas por elas (MEIRA, 2003). Freire (2002) se percebe o jogo por suas mani-
dessas palavras no contexto social e cultural no portância para o desenvolvimento infantil, pois festações, sendo inútil listar componentes para
qual se encontram e são empregadas. Biscoli ela contribui para a mudança na relação da cri- Vygotsky (1998) alerta para a definição de que negar ou afirmar esta ou aquela atividade como
(2005) tenta definir a diferenciação entre brincar ança com os objetos, uma vez que estes perdem o brinquedo como uma atividade que dá prazer à jogo. Não é possível separar as regras, a imag-
e jogar pelo aparecimento de regras. Segundo a sua forma determinada na brincadeira. A criança criança, é incorreto (p.105). Segundo ele, existem inação, a espontaneidade, juntar tudo e consti-
autora, a utilização de regras pré-estabelecidas vê um objeto, mas age de maneira diferente uma gama de outras atividades que dão maior tuir o jogo. Freire (2002) diz que é na interação
designa o ato de jogar. A brincadeira é a ação em relação ao que vê. Assim, é alcançada uma prazer às crianças que as brincadeiras, como o dessas características que ele surge. Ele expli-
que a criança tem para desempenhar as regras do condição que começa a agir independentemente saciar de sua fome, a chupeta, que embora não ca que: “Tudo no jogo aponta para o mundo in-

636 637
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

terior do sujeito, invisível aos nossos olhos, e a escola, por isso, a aprendizagem através das brin- raízes de identificação entre países de cultura Brasil. São brincadeiras que desenvolvem ritmo
tradução exterior dessa atividade, no plano da cadeiras sempre foi mote da Educação Infantil. similar. O surgimento desses jogos e brincadeiras e sequência, por estarem associadas a músi-
nossa razão, confunde-se com expressões de infantis está ligado à apropriação e entendimento cas, por exemplo, atividades assim fazem a cri-
qualquer outra atividade” (FREIRE, 2002, p.67). Devemos pensar que a mediação na esco- próprio das crianças das culturas observadas nos ança acompanhar cantando e batendo palmas.
la precisa estar focada na intencionalidade da adultos. (MELLO, 2006).O jogo tradicional, para Existem ainda várias outras brincadeiras pop-
O BRINCAR E A APRENDIZAGEM ação, preocupada sempre com a aprendiza- melhor entendimento e aprendizado precisa estar ulares que, mesmo não tendo música própria,
gem, e, mesmo durante as brincadeiras, a me- situado dentro de um contexto mais amplo do qual pode-se incentivar a criatividade e a esponta-
Toda criança tem a necessidade e o direito de diação precisa ocorrer intencionalmente, pen- fazem parte o folclore e a cultura infantil.Cham- neidade e que fazem parte de nossa cultura,
brincar, isto é uma característica da infância ga- sadas para que o tempo das brincadeiras seja amos de folclore a forma de conhecimento pop- como pega-pega, esconde-esconde entre outras.
rantida por lei e como dito anteriormente, o brin- aproveitado ao máximo pelas crianças, o que ular. O termo nasceu da necessidade da filosofia A escola deve proporcionar um ambiente
car independe do material usado, mas assim na não quer dizer deixar com que as crianças brin- positivista de Augusto Comte, do evolucionismo agradável que atenda às necessidades das cri-
atividade que a criança demonstra na brincadeira quem sem nenhuma intervenção ou totalmente inglês de Darwin e da necessidade da burguesia anças com atividades pedagógicas embasadas no
e no tipo de atividade exercida quando ela brin- engessadas pelos comandos do professor. de determinar o conhecimento do povo, através lúdico, valorizando e oportunizando a exploração
ca. E o ato de brincar está carregado de prazer de elementos materiais e não-materiais que do espaço e conquista de novas habilidades. Bujes
e satisfação. Em cada etapa do desenvolvimento Ayoub (2001), diz que quando o adulto abre constituíram a sua cultura. (FRIEDMAN, 1996). (2001) fala que: “[....] A experiência da criança no
infantil, o brincar vai se modificando, mas é es- mão da sua mediação no processo educativo, a contexto educativo precisa ser muito mais qualifi-
sencial que a criança tenha a oportunidade de situação pode ser chamada de abandono ped- Segundo Kashimoto (1993), por ser um ele- cada. Ela deve incluir o acolhimento, a segurança,
explorar cada uma dessas fases. O brincar tem agógico. A autora afirma que é justamente no mento folclórico, o jogo tradicional infantil as- o lugar para a emoção, para o gosto e para o desen-
grande função social, desenvolve o intelecto e contexto da brincadeira que o professor desco- sume características de anonimato, tradicional- volvimento da sensibilidade” (BUJES, 2001, P.13).
cria, principalmente, oportunidades para a cri- bre o seu papel de mediador.Grande parte das idade, transmissão oral, conservação, mudança
ança elaborar e vivenciar situações emocionais. brincadeiras está relacionada ao desenvolvi- e universalidade. (KISHIMOTO, 1993 p.15). Por O professor precisa estar atento para o lúdi-
mento dos movimentos corporais, trabalhando ser cultural, o folclore decodifica a identidade e co, reconhecendo sua importância como fator
Segundo a RCNEI (Referencial Curricular Na- as destrezas, habilidades e lateralidade. Também reproduz os símbolos que integram o modo de de desenvolvimento da criança. Seria indicado,
cional para a Educação Infantil), o brincar é en- é possível trabalhar através das brincadeiras o vida de um povo. Apesar de algumas pessoas inclusive, que na sala de aula houvesse um es-
tendido como fundamental na vida escolar da aprendizado das regras de convivência, dos con- acharem que é algo antiquado e conservador, paço com brinquedos e materiais para brincadei-
criança, tendo em vista o desenvolvimento da ceitos matemáticos como noções de espaço e se bem trabalhado pelo professor e pela escola, ras. A construção de brinquedos também é algo
criança em todos os seus aspectos, ou seja, tempo, desenvolver a linguagem e a autonomia, ele pode se tornar atual. Cabe ao professor ex- a ser explorado e não só pelo professor de Ar-
cognitivo, afetivo, motor e social. Além de fa- pois a criança precisa comunicar-se e expressar trair o melhor dele, deixando com que a criança tes, mas essa construção pode estar associada às
vorecer o aprendizado, pois através das brinca- suas preferências para brincar, brincadeiras com tenha contato com suas raízes e trazendo para áreas de Matemática, Ciências, Teatro, entre out-
deiras o ser humano se torna apto a viver uma a música e as artes ativam a criatividade, outras a realidade dela, atualizando ou contextualizan- ras, integrando assim as áreas e conhecimentos.
ordem social. Se trata do mais completo proces- brincadeiras ensinam as ciências, enfim, a um le- do, quando necessário, para que a cultura pop-
so educativos, uma vez que influencia o emo- que de possibilidades na aprendizagem lúdica. ular seja repassada para as futuras gerações. Uma criança, com um simples copo na mão
cional, o intelecto e o corpo da criança, fazendo pode criar uma nave espacial com tripulantes rumo
parte da especificidade infantil além de ajudar Mesmo com o avanço da tecnologia, que aca- Temos então, no folclore, um excelente mate- ao espaço. A relação entre o desejo da criança e
no seu desenvolvimento e busca de seus sa- ba atraindo as crianças para jogos eletrônicos, rial de trabalho que envolve o brincar e a apren- a realidade, dá origem ao lúdico, que é acionado
beres, conhecimentos e expectativas do mundo. as brincadeiras simples e tradicionais ainda têm dizagem, que podem ser utilizados pelos pro- pela imaginação. Essa possibilidade da criança in-
A história da Educação Infantil dá-se início com grande relevância e podem se tornar fontes de fessores. Velasco (1996 p.71) diz que apesar de ventar novas maneiras de formar a realidade so-
a Revolução Industrial, quando as mães saem de estímulo ao desenvolvimento social, afetivo e nomes diferentes, variações nas regras e princi- cial e cultural em que vive, serve para como base
casa para trabalhar, o que gerou a necessidade da cognitivo da criança podendo ser trazidas e ex- palmente na letra da sua música característica, para a construção de conhecimentos e valores.
criação de creches, o que fez que com crianças ploradas dentro da escola. Os jogos tradicionais existe uma grande gama de brincadeiras pop- Incentivar o lúdico é um dos papéis do educador.
nas mais tenras idades passassem a frequentar a são manifestações de criações regionais mas com ulares surgidas nas mais diferentes regiões do Estimular o mundo encantado, do faz de conta, o

638 639
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ser criança. Enquanto as crianças brincam elas con- brinquedos, fantasias, quebra-cabeças, livros etc., É natural da vida que as crianças aprendam BRASIL. Ministério da Educação e do Despor-
stroem seu conhecimento de forma sólida e elab- o professor está incentivando o criar, o tentar, o brincando e isso não pode fugir à escola. Ele é to. Secretaria de Educação Fundamental. Ref-
orada. E durante as brincadeiras, o professor pode reinventar e, através das tentativas e erros, pos- vital e motivador para a criança. erencial curricular nacional para a educação
incentivar a discussão de situações-problemas. sibilitam a interação entre as crianças desenvol- infantil: formação pessoal e social. Brasília:
vendo os campos cognitivo, motor, social e afe- MEC/SEF, v.01 e 02.1998. 85p.
Durante a vida o ser humano encontra mui- tivo. Ao propor atividades lúdicas é importante:
tas situações que precisam ser resolvidas, mes- • Observar as crianças durante as brincadeiras; BUJES, M. I. E. Infância e maquinarias. Tese de
mo que se sejam coisas simples como preciso • Permitir que a criança escolha os doutorado. Faculdade de Educação, Universi-
comprar um carro ou como vou pagar minhas brinquedos com que quer brincar; dade Federal do Rio Grande do Sul, 2001.
contas. Enquanto crianças a vida é mais fácil • Supervisionar, mas não di-
porque sempre há alguém resolvendo conflitos recionar a brincadeira; CRAIDY, C; KAERCHER, G. E. P. da Silva. Edu-
por elas, por isso é tão importante quando situ- • Criar um espaço acolhedor; cação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre:
ações-problemas se apresentam durante as brin- • Deixar os brinquedos com fácil aces- Artmed, 2001.
cadeiras. É o momento em que ela pode pensar so para que as crianças os encontrem.
em problemas e soluções para estes problemas. FREIRE, J. B. O jogo: entre o riso e o choro.
Cabe ao professor então, não resolver os prob- CONSIDERAÇÕES FINAIS Campinas: Autores Associados, 2002.
lemas que aparecerem e sim, ajudar no desen- MARIA DE FÁTIMA GONÇALVES FRIEDMANN, A. Brincar: crescer e aprender
volvimento de estratégias para a resolução dos DE OLIVEIRA o resgate do jogo infantil. São Paulo: Moder-
mesmos. É a oportunidade de ensinar à criança O professor deve estar sempre atento à na, 1996.
que cada problema tem uma solução que é ex- finalidade do brincar em sala de aula. Neste Graduação em Pedagogia pelo Instituto Sumaré HENRIOT, J. Le Jeu. Paris:Synonyme S.O.R.,
clusiva daquele que o resolve e que, esta solução, momento tão precioso para a criança, diver- de Ensino Superior de São Paulo (2014); Pro- 1983.
depende do entendimento que a criança desen- sas situações são colocadas e podem ajudá- fessora de Educação Infantil e Ensino Funda- KISHIMOTO, T. M. (Org.). Jogo, brinquedo,
volve, reconhecendo a individualidade dos mod- la em seu desenvolvimento.Ao preparar suas mental I no CEU EMEF Senador Teotônio Vilela. brincadeira e a educação. 5. ed. São Paulo:
elos internos do mundo que a criança já construiu. aulas, o professor deve selecionar o que for Cortez, 2001.
mais significativo para o aluno e depois pen- OLIVEIRA, V. F. N. O brincar na Educação In-
Kishimoto (1998) traz uma crítica à falta sar em estratégias para fazer esse conheci- fantil: favorecendo a aquisição da aprendiza-
de preparo dos professores para a importân- mento acontecer. Na sala de aula ele deve es- REFERÊNCIAS gem. 2016.
cia de se trabalhar com o lúdico. O papel do tabelecer a metodologia e as condições para PIAJET, J. A formação do símbolo na criança.
professor, deve então, ser o de mediador e desenvolver a atividade. Integrar aprendizado BAPTISTA DA SILVA, C. C. (2003). O lugar do Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
facilitador do brincar visando o aprendiza- e brincadeira é uma tarefa que cabe a ele, brinquedo e do jogo nas escolas especiais de
do através do lúdico. Para tanto, ele pode: visando sempre o bem estar da criança. educação infantil. Tese de doutorado. Curso SPODEK, B. & SARASHP, O. N. (1998). En-
Preparar um ambiente que in- de Pós-Graduação em Psicologia. Instituto de sinando crianças de três a oito anos. Porto
centive a criança a brincar; Outro fator importante é respeitar o inter- Psicologia. Universidade de São Paulo. São Alegre: Artmed.
Criar oportunidades para que o brincar aconteça; esse infantil, pois insistir em uma atividade Paulo, SP. VELASCO, C. G. Brincar, o despertar psico-
Deixar que a criança brinque sozinha para quando a criança já está cansada é estabelecer motor. Rio de Janeiro: Sprint, 1996.
que ela mesmo crie a partir das brincadei- uma barreira. Deve-se também respeitar o BISCOLI, I. . Atividade lúdica uma análise da
ras, supervisando de longe o que acontece. momento de descoberta da criança para que produção acadêmica brasileira no período de VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente:
Assim, o professor é responsável pela organi- esta consiga desenvolver sua capacidade de 1995 a 2001. 2005. Dissertação de Mestrado, o desenvolvimento dos processos psicológi-
zação dos espaços que estimulam a brincadeira, concentração. O brincar pode ser livre ou di- Programa de Pós-Graduação em Educação, cos superiores. 4ª ed. São Paulo: Martins Fon-
pela seleção dos brinquedos e pela supervisão rigido, o fator principal é que a criança consi- Universidade Federal de Santa Catarina, Flo- tes, 1991.
durante a interação entre as crianças. Dispondo ga avançar, progredir em seu conhecimento. rianópolis.

640 641
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO O motivo por que isso existe não sabemos


ao certo, mas podemos perceber que são
A escola é, sem dúvida, um lugar no qual questões que ultrapassam os muros esco-
existem muitos grupos de pessoas. É um lares, se estendem à comunidade em que a
lugar permeado de diferentes e variados escola está inserida, alastrando-se também à
indivíduos que com o seu jeito próprio e a sociedade como um todo. Tratar a educação
sua experiência de vida, combinados com o pública e seus problemas como algo isolado é
saber de experiência feito de cada um, for- uma atitude impensada, porque não se pode
mam um misto de inúmeros conflitos e in- conceber educação como algo à parte, como
úmeras vontades de aprender e de tornar algo que se quer sozinha, plena; a educação é
acessível o conhecimento a todos. A escola constituída por todos nós e deve, assim, ser
por um lado, tem a função, cada vez mais, entendida como algo que para caminhar efe-
de atribuições múltiplas, no que se refere tivamente necessita da contribuição de todos.
à preparação para o exercício da cidadania
num mundo em crescente complexidade; Indisciplina, então, seria um dos sintomas
por outro, estaria se despotencializando mais (talvez o mais flagrante) da injunção de uma
e mais, uma vez que seus agentes encon- escola idealizada e gerida para um determi-
trar-se-iam emaranhados em uma extensiva nado tipo de clientela, e ocupada por outro.
falta de reconhecimento e validação pelos Equivaleria, pois, a um quadro difuso de insta-
outros atores que compõem a ação escolar: bilidade gerado pela confrontação desse novo
os empregadores, a sociedade, as famílias e sujeito histórico a velhas formas instituciona-
mormente os alunos. (AQUINO, 2000, p. 72). is cristalizadas. Ou seja, denotaria a presença
de rupturas, pequenas fendas em um edifício
A convivência escolar não é algo fácil. secular como é a escola, potencializando assim
A ESCOLA PÚBLICA DE ONTEM E A REALIDADE ATUAL Lidar com essas diferentes pessoas não é uma transição institucional, mais cedo ou mais
algo simples, uma vez que o objetivo deles tarde, de um modelo excludente e autoritário
não é comum, mas existem diversos inter- de conceber e efetivar a tarefa educacional
RESUMO: O objetivo deste trabalho é analisar o cenário educacional, a escola e todos os para um modelo menos elitista e conservador.
esses em todas as pessoas que compõem
segmentos que dela fazem parte, mormente o aluno e todas as situações que o envolvem,
a instituição escolar. Tais interesses vão
descrevendo-as, a fim de perceber qual é o sentido do aprender para o aluno na escola
desde a vontade de aprender, de lidar com RESULTADOS
pública, abordamos também questões referentes à dinâmica da sala de aula, ou seja, profes-
conhecimentos novos, agregando-os a out-
sor, aluno, indisciplina, desinteresse e ensino-aprendizagem. Procuramos trazer também a Uma questão emergente no que concerne
ros previamente constituídos, até o simples
importância de desenvolver um trabalho contextualizado, ligado ao cotidiano, voltado para à melhoria do ensino-aprendizagem é justa-
ato mecânico de ir à escola, simplesmente
suprir as necessidades básicas do aluno e que valorize o conhecimento prévio que o mes- mente o desenvolvimento de atividades que
para ver os colegas, paquerar, fugir da roti-
mo traz ao chegar à escola Precisamos deixar claro que a escola e a família precisam estar sejam condizentes com a realidade dos ed-
na diária de casa, ou até mesmo para não
juntas sempre. E se desejamos uma educação pública melhor e consequentemente uma es- ucandos. O aluno de hoje mudou, mudaram
ter de ficar em casa e cumprir com afazeres
cola mais justa e mais humana temos que somar esforços para favorecer a construção de as necessidades deles, a realidade é outra.
domésticos. Temos de concordar com Aqui-
uma identidade própria tanto para as escolas, quanto para os alunos que dela fazem parte. Temos de pensar numa aprendizagem inte-
no, quando diz que “a indisciplina apresen-
ta-se como sintoma de relações descon- gral, que atinja os níveis afetivo, cognitivo e
Palavras-chave: Educação; Escola; Professor; Aluno; Ensino, Aprendizagem. motor. “É necessário, pois, reinventar contin-
tínuas e conflitantes entre o lócus escolar
e as instituições sociais afins” (2000, p. 92). uamente os conteúdos, as metodologias, as

642 643
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

relações, o cotidiano”. (AQUINO, 2000, p. 97). dade e nos ideais de solidariedade humana, e reafirmar, entre os homens, o espírito de os grandes temas relacionados à área per-
tem por finalidade o pleno desenvolvimento disciplina, solidariedade e cooperação, que ul- deu relevância. O entusiasmo pela educação
Necessário também é contextualizar o do educando, seu preparo para o exercício da trapassa e se sobrepõe a interesses de classes também esteve amortecido entre 1894 e in-
que se quer trabalhar para não incorrermos cidadania e sua qualificação para o trabalho. ício dos anos dez. Os grandes produtores de
no erro de acabar trabalhando sozinhos, Art. 3°- O ensino será ministra- As últimas décadas do Império desejaram café priorizavam o seu negócio e por isso
achando que o aluno “não dá a mínima, não do com base nos seguintes princípios: profundas e significativas transformações na tomaram emprestadas grandes quantias de
quer saber de nada, não faz nada”. É muito I- Igualdade de condições para sociedade brasileira. Expandiu-se a lavoura de dinheiro aos bancos internacionais, alegando
comum, pesaroso, aliás, ouvirmos dos alunos o acesso e permanência na escola; café, o país foi remodelado materialmente (re- ser isso bom para toda a sociedade, quan-
frases do tipo: “Pra que eu tenho de estu- II- liberdade de aprender, ensinar, pesquis- des telegráficas, instalações portuárias, ferro- do na verdade o objetivo primeiro era fazer
dar isso? Pra que serve isso? Eu vou usar ar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte vias, melhoramentos urbanos etc), um inicial crescer o negócio deles e minimizar ainda
isso algum dia”? (AQUINO, 2000, p. 92). e o saber [...] XI- vinculação entre a edu- surto de crescimento da indústria e, principal- mais o interesse pelas questões da educação.
cação escolar, o trabalho e as práticas sociais. mente, uma urbanização significativa acopla-
Pensar nos alunos de maneira una é uma da ao fim da escravidão e o nascimento do Com a primeira Guerra Mundial (1914-
estratégia equivocada, pois são seres difer- A educação vincula-se à filosofia de cada trabalho assalariado formaram um conjunto 1918) boa parcela dos intelectuais voltou-se
entes, com pensamentos diferentes, agem e época, que lhe define o caráter, rompendo de processos e situações que tornavam mais para a importância do desenvolvimento do
vivem diferentemente uns dos outros. Pen- sempre novas perspectivas ao pensamento moderno o país. Dessa forma, ruiu o império, país e também da educação popular. No fi-
sar num conhecimento pronto e acabado é pedagógico, por isso,as variedades de con- surgindo um novo regime político: a Repúbli- nal dos anos dez houve também um cresci-
ter um pensamento limitado quanto à capaci- ceitos de vida vêm, em parte, das diferenças ca.Esta resultou de um golpe militar em 15 de mento relativo da industrialização, isso con-
dade que as pessoas têm de produzir con- de classes, e, também, das diversidades de novembro de 1889, em que Três forças sociais: vergiu para que os intelectuais da época
hecimento, de transformar a realidade, que conteúdo. Uma educação que se quer nova, uma parcela do exército, cafeicultores do oes- ressuscitassem o entusiasmo pela educação,
por sua vez não está pronta e nem acabada. tem o objetivo de servir aos interesses do in- te paulista e representantes das classes médi- já que em 1920, 75% da população era anal-
divíduo, fundindo-se ao princípio de vincu- as (intelectuais), que empunharam o comando fabeta. Esses intelectuais, industriais, médi-
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: UMA BREVE lação da escola com o meio social, cujo ide- da sociedade política. Com esta, findou-se o cos, todos imbuídos de fervor nacionalista,
REFLEX O SOBRE A EDUCAÇÃO REPUB- al condiciona-se a vida social atual, visando poder moderador, caiu o voto censitário, ex- pregavam o civismo, o escotismo, um pa-
LICANA também princípios de humanidade, de soli- tinguiram os títulos de nobreza, enfraquec- triotismo exacerbado e além de tudo isso,
dariedade, de serviço social e cooperação. eu-se a centralização, valorizou-se a partici- visavam acabar de vez com o analfabetis-
De acordo com a concepção de vida, a pação popular no controle da vida política do mo. Essa ação tinha embutidas questões
educação apresenta diversas significações A escola tradicional, instituída para um país. Com isso, novas necessidades surgiram, políticas, já que não se aceitava o voto de
sobre o que refletem em cada época, a filo- pensamento burguês, mantinha o indivíduo a escolarização passou a ter valor fundamen- analfabetos e, portanto, a alfabetização ser-
sofia predominante que é determinada pela na sua autonomia isolada e infértil, resultado tal como forma de fazer surgir um futuro viria às transformações políticas e eleitorais.
sociedade e sua estrutura. Obviamente, os da doutrina do individualismo libertário, cujo promissor para as famílias e seus filhos, dessa
diferentes segmentos de uma sociedade papel na formação das democracias e sem maneira a educação um entusiasmo em si de- Três correntes pedagógicas encenaram
farão opiniões divergentes sobre as con- cuja investida impetuosa não seria possível a positada, já que insistiam na idéia de que os as lutas político-pedagógicas da Primei-
cepções de mundo que convém fazer adotar quebra dos quadros rígidos da vida social. A problemas do país só poderiam ser resolvidos ra República: a Pedagogia Tradicional, a
aos educandos e sobre o que é importante escola socializada, reconstituída sobre a base com a escola elementar estendida ao povo. Pedagogia Nova e a Pedagogia Libertária.
considerar como qualidade útil socialmente. da atividade e da produção em que o trabalho
pedagógico considerado como forma legítima O pontapé inicial dessa nova fase foi o A Tradicional vinculava-se às aspirações dos
Convém-nos observar os princípios da Ed- de estudar a realidade em geral e a melhor for- ano de 1894, com a eleição do presidente intelectuais ligados ás oligarquias e à Igreja.
ucação Nacional, descritos na LDB 9394/96: ma de estudar o trabalho em si mesmo, como da República o primeiro civil, o paulista Pru- A Nova surgiu no interior de movimentos da
Art. 2°- A Educação, dever da família e fundamento da sociedade humana, se orga- dente de Morais. Daí deu-se um esfriamento burguesia e das classes médias cujo objetivo
do Estado, inspirada nos princípios de liber- nizou para remontar a corrente e restabelecer a tudo que dizia respeito à educação, todos era modernizar o estado e o Brasil. Já a Lib-

644 645
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ertária, oposta as duas primeiras surgiu dos HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: UMA divíduo, fundindo-se ao princípio de vincu- da sociedade política. Com esta, findou-se o
movimentos sociais populares, com o desejo BREVE REFLEXÃO SOBRE A EDU- lação da escola com o meio social, cujo ideal poder moderador, caiu o voto censitário, ex-
de transformar a sociedade, desejo este con- CAÇÃO REPUBLICANA condiciona-se a vida social atual, visando tam- tinguiram os títulos de nobreza, enfraquec-
tido nas propostas do movimento operário bém princípios de humanidade, de solidarie- eu-se a centralização, valorizou-se a partici-
de linha anarquista e anarco-sindicalista. dade, de serviço social e cooperação. A esco- pação popular no controle da vida política do
De acordo com a concepção de vida, a la tradicional, instituída para um pensamento país. Com isso, novas necessidades surgiram,
Todas as pedagogias que se organizaram educação apresenta diversas significações burguês, mantinha o indivíduo na sua autono- a escolarização passou a ter valor fundamen-
na República tiveram de lutar contra ou se sobre o que refletem em cada época, a filo- mia isolada e infértil, resultado da doutrina do tal como forma de fazer surgir um futuro
adequar aos preceitos de uma herança con- sofia predominante que é determinada pela individualismo libertário, cujo papel na for- promissor para as famílias e seus filhos, dessa
stituída pela Pedagogia Jesuítica, formada pe- sociedade e sua estrutura. Obviamente, os mação das democracias e sem cuja investida maneira a educação um entusiasmo em si de-
los Jesuítas, que foram os responsáveis pelo diferentes segmentos de uma sociedade impetuosa não seria possível a quebra dos positada, já que insistiam na idéia de que os
ensino no Brasil por mais de duzentos anos farão opiniões divergentes sobre as con- quadros rígidos da vida social. A escola social- problemas do país só poderiam ser resolvidos
e que seguiam os modelos descritos no Ra- cepções de mundo que convém fazer adotar izada, reconstituída sobre a base da atividade com a escola elementar estendida ao povo.
tio Studiorum que segundo Ghiraldelli JR, aos educandos e sobre o que é importante e da produção em que o trabalho pedagógico
(1991, p.20): “A pedagogia do Ratio Studio- considerar como qualidade útil socialmente. considerado como forma legítima de estudar O pontapé inicial dessa nova fase foi o
rum baseava-se na unidade de matéria, uni- a realidade em geral e a melhor forma de es- ano de 1894, com a eleição do presidente
dade de método e unidade de professor. Ou Convém-nos observar os princípios da Ed- tudar o trabalho em si mesmo, como funda- da República o primeiro civil, o paulista Pru-
seja, a unidade de professor significava que ucação Nacional, descritos na LDB 9394/96: mento da sociedade humana, se organizou dente de Morais. Daí deu-se um esfriamento
cada turma deveria seguir seus estudos, do Art. 2°- A Educação, dever da família e do para remontar a corrente e restabelecer e re- a tudo que dizia respeito à educação, todos
começo ao fim, com o mesmo mestre. To- Estado, inspirada nos princípios de liberdade afirmar, entre os homens, o espírito de disci- os grandes temas relacionados à área per-
dos os professores deveriam se utilizar da e nos ideais de solidariedade humana, tem plina, solidariedade e cooperação, que ultra- deu relevância. O entusiasmo pela educação
mesma metodologia. Além disso, o Ratio por finalidade o pleno desenvolvimento do passa e se sobrepõe a interesses de classes também esteve amortecido entre 1894 e in-
determinava uma disciplina rígida, o cultivo educando, seu preparo para o exercício da ício dos anos dez. Os grandes produtores de
da atenção, da perseverança nos estudos”. cidadania e sua qualificação para o trabalho. As últimas décadas do Império desejaram café priorizavam o seu negócio e por isso
Art. 3°- O ensino será ministra- profundas e significativas transformações na tomaram emprestadas grandes quantias de
A Pedagogia Tradicional não reinou total- do com base nos seguintes princípios: sociedade brasileira. Expandiu-se a lavoura de dinheiro aos bancos internacionais, alegando
mente ilesa durante toda a primeira Repúbli- I- Igualdade de condições para café, o país foi remodelado materialmente (re- ser isso bom para toda a sociedade, quan-
ca. Entre o início do século e os anos 20 foi o acesso e permanência na escola; des telegráficas, instalações portuárias, ferro- do na verdade o objetivo primeiro era fazer
estimulada pela Pedagogia Libertária; em II- liberdade de aprender, ensinar, pesquis- vias, melhoramentos urbanos etc), um inicial crescer o negócio deles e minimizar ainda
maior grau, a partir de meados dos anos 20 ar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte surto de crescimento da indústria e, principal- mais o interesse pelas questões da educação.
passou a ser combatida pela Pedagogia Nova. e o saber [...] XI- vinculação entre a edu- mente, uma urbanização significativa acopla-
O professor Paschoal Lemme, descreve cação escolar, o trabalho e as práticas sociais. da ao fim da escravidão e o nascimento do Com a primeira Guerra Mundial (1914-
sintética e criticamente um quadro da situ- trabalho assalariado formaram um conjunto 1918) boa parcela dos intelectuais voltou-se
ação da época:“As poucas escolas públicas A educação vincula-se à filosofia de cada de processos e situações que tornavam mais para a importância do desenvolvimento do
existentes nas cidades eram freqüentadas época, que lhe define o caráter, rompendo moderno o país. Dessa forma, ruiu o império, país e também da educação popular. No fi-
pelos filhos das famílias de classe média. Os sempre novas perspectivas ao pensamento surgindo um novo regime político: a Repúbli- nal dos anos dez houve também um cresci-
ricos contratavam preceptores, geralmente pedagógico, por isso,as variedades de con- ca.Esta resultou de um golpe militar em 15 de mento relativo da industrialização, isso con-
estrangeiros, que ministravam aos filhos o en- ceitos de vida vêm, em parte, das diferenças novembro de 1889, em que Três forças sociais: vergiu para que os intelectuais da época
sino em casa...” (GHIRALDELLI JR, 1990, p.26). de classes, e, também, das diversidades de uma parcela do exército, cafeicultores do oes- ressuscitassem o entusiasmo pela educação,
conteúdo. Uma educação que se quer nova, te paulista e representantes das classes médi- já que em 1920, 75% da população era anal-
tem o objetivo de servir aos interesses do in- as (intelectuais), que empunharam o comando fabeta. Esses intelectuais, industriais, médi-

646 647
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

cos, todos imbuídos de fervor nacionalista, sino em casa...” (GHIRALDELLI JR, 1990, p.26). a rotatividade, muitos não conhecem a reali- A ESCOLA PÚBLICA DE ONTEM E A REAL-
pregavam o civismo, o escotismo, um pa- dade da escola, de seus alunos e desconhecem IDADE DE HOJE
triotismo exacerbado e além de tudo isso, OS(DES)CAMINHOS DO DOCENTE a comunidade na qual a escola está inserida.
visavam acabar de vez com o analfabetis- E DO DISCENTE Em um ambiente assim, acreditamos que Para as pessoas que vivenciaram a escola
mo. Essa ação tinha embutidas questões ficam prejudicadas as relações ali construídas, de alguns anos atrás, e presenciam os atuais
políticas, já que não se aceitava o voto de Como profissional da educação, atuando o que acreditamos influenciar, também, no acontecimentos da escola pública no Brasil
analfabetos e, portanto, a alfabetização ser- na rede pública estadual e na rede pública processo de ensino-aprendizagem dos alunos hoje, nota uma mudança catastrófica com
viria às transformações políticas e eleitorais. municipal, trabalhando numa área pobre da e alunas o que dá margem para que exista relação ao comportamento dos alunos, falta
periferia da Zona Sul de São Paulo, senti a ne- uma não vontade de realizar as atribuições de interesse pelo conteúdo e desrespeito pe-
Todas as pedagogias que se organizaram cessidade de analisar e refletir sobre questões e para que fiquem com interrogações quan- los professores são apenas alguns dos prob-
na República tiveram de lutar contra ou se que dizem respeito ao (des) interesse dos to ao sentido que a aprendizagem representa lemas enfrentados em sala de aula, além dess-
adequar aos preceitos de uma herança con- pais e dos alunos, as relações que são con- para eles. Por esta razão, pensamos em de- es uma série de problemas chegam a se somar
stituída pela Pedagogia Jesuítica, formada pe- struídas ali, tendo em mente ambientes rec- screver algumas das razões por que existe o tomando o efeito de uma bola de neve, na qual
los Jesuítas, que foram os responsáveis pelo heados de diferenças no qual, diversos con- (des) interesse dos alunos do ensino médio, o bullying e a violência tornam-se o ponto
ensino no Brasil por mais de duzentos anos flitos são construídos e vividos diariamente. que sentido eles vêem para aprender. O obje- mais crítico desse somatório de dificuldades.
e que seguiam os modelos descritos no Ra- tivo não é explicar, mas, todavia, mostrar que Será que a escola é a única responsável
tio Studiorum que segundo Ghiraldelli JR, A instituição escolar em que faz parte tal desinteresse é aparente e apontar algumas por toda essa mudança? A essas indagações
(1991, p.20): “A pedagogia do Ratio Studio- da pesquisa é um ambiente bastante het- (des) razões que convergem para tal atitude. podemos colocar inúmeras outras. Os es-
rum baseava-se na unidade de matéria, uni- erogêneo, tanto do ponto de vista do corpo tudiosos das didáticas escolares propõem
dade de método e unidade de professor. Ou docente, quanto do discente, até a equipe Também não podemos deixar de consid- suas teorias até certo ponto magníficas nas
seja, a unidade de professor significava que gestora. Como é uma escola situada em um erar a diferença que existe entre os indivídu- suas apresentações teóricas, mas quando
cada turma deveria seguir seus estudos, do bairro periférico em que o acesso é bastan- os, a heterogeneidade que os compõe. Eles nós profissionais da educação tentamos co-
começo ao fim, com o mesmo mestre. To- te fácil, torna-se uma escola de passagem, à compõem diferentes grupos sociais e difer- locá-las em prática no nosso dia a dia, ficamos
dos os professores deveriam se utilizar da medida que permite o ingresso de uma cli- entes comunidades, têm desejos e necessi- com a perturbadora sensação que não fun-
mesma metodologia. Além disso, o Ratio entela bastante diversificada, que vem de dades diferentes e, sobretudo, apresentam cionou como deveria, ou pelo menos como
determinava uma disciplina rígida, o cultivo vários lugares, que atende alunos do próprio diferentes tempos e ritmos para aprender. os especialistas achavam que funcionaria.
da atenção, da perseverança nos estudos”. bairro e outros que vêm de bairros circun- Concordamos com Placco, (1994, p.115)
vizinhos. Os professores que ali trabalham, quando diz: O professor não pode perder de Nós sabemos que apesar dessa famigerada
A Pedagogia Tradicional não reinou total- também são de uma heterogeneidade muito vista a tarefa de formação de um ser huma- crise econômica que passa a nossa nação, o
mente ilesa durante toda a primeira Repúbli- aparente, há uma rotatividade muito grande, no crítico e capaz de intervenções na reali- governo federal ainda continua a enviar recur-
ca. Entre o início do século e os anos 20 foi a cada ano entram e saem profissionais do- dade, que participe da sala de aula na direção sos suficientes para a educação de todo País,
estimulada pela Pedagogia Libertária; em centes, tornando cada vez mais difícil a con- de identificação de seus processos de con- mas que infelizmente nunca chegam à sua to-
maior grau, a partir de meados dos anos 20 strução de um vínculo mais forte tanto com a sciência: quanto à realidade social, à práti- talidade no objetivo a que foram direcionados.
passou a ser combatida pela Pedagogia Nova. escola e seus membros, quanto com a comu- ca da escola, à consciência de si mesmo. O Mesmo assim os recursos são suficientes para
O professor Paschoal Lemme, descreve nidade ao seu redor e da qual ela faz parte. professor não pode ainda perder de vista a ser feito um excelente trabalho dentro da es-
sintética e criticamente um quadro da situ- identificação e a aprendizagem de mecanis- cola pública, apesar dos descasos com a coisa
ação da época:“As poucas escolas públicas Não existe, também, uma equipe gestora mos que lhe possibilitem superar responsável pública pela grande maioria dos governantes.
existentes nas cidades eram freqüentadas efetiva (efetiva aqui, no sentido de ser perma- e criticamente a alienação decorrente do Só existe uma atitude real que pode mudar
pelos filhos das famílias de classe média. Os nente), o que dificulta muito a continuação do movimento do cotidiano, para que este se esse jogo, e essa atitude é a retomada do in-
ricos contratavam preceptores, geralmente trabalho, o encaminhamento e o direciona- constitua em ‘... referência imprescindível teresse familiar pelos alunos da escola públi-
estrangeiros, que ministravam aos filhos o en- mento das atividades didático-pedagógicas e para a construção da consciência crítica’. ca, procurando incentivá-los e mostrá-los a
a construção de uma identidade própria. Com

648 649
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

verdadeira função da escola como meio de Graduada em Pedagogia pelo Centro Uni- que é? Como fazer? : um guia para sua elab-
integração social, informando-os sobre a im- versitário Hermínio Ometto (em 2008); em oração. 3.ed. S. Paulo: Olho d’Água, 2005.
portância do respeito e da obediência dentro que se tem ao desenvolver atividades com
Psicopedagogia Institucional pelo Instituto
das unidades escolares, e que as lições de hoje, gente, com pessoas, uma vez que ninguém é SCARPATO, Marta (org) Et all. Os pro-
Educacional Carapicuíba LTDA (em 2009);
podem fazer uma grande diferença no futuro igual, somos seres ímpares, que vivemos num cedimentos de ensino fazem a aula acon-
Professora de Ensino Fundamental I na E. E.
profissional e social de cada um deles amanhã. mundo que também não é igual para ninguém. tecer. 1.ed. S. Paulo, avercamp, 2004.
Carioba Monte Verde – Diretoria de Ensino
Somente dessa forma e com essa parceria Percebemos também algumas questões que
SUL 3 – SP; Diretora de Escola no Centro de
entre escolas, educadores e familiares a mu- dizem respeito à dinâmica da sala de aula, ao SEVERINO, Antonio Joaquim. Met-
Educação Infantil CEI Parque Cocaia – Direto-
dança positiva poderá num futuro próximo professor, ao aluno, a escola como um todo odologia do Trabalho Científi-
ria Regional de Educação Capela do Socorro.
brotar bons frutos. Sem dúvida, o trabalho e vimos a necessidade que existe em se es- co. 22. Ed. S. Paulo: Cortez, 2002.
na sala de aula precisa acontecer de maneira tabelecer uma conexão emergente entre es-
harmoniosa, efetiva, para que todos se sintam cola e família, já que se isso não acontecer,
dificilmente conseguiremos desenvolver SILVA, Moacir da. Desenvolvendo as relações
incluídos e responsáveis pelo processo de en- interpessoais no trabalho coletivo de pro-
sino-aprendizagem, que deve acontecer re- um trabalho fecundo junto aos alunos, el-
fessores. In: ALMEIDA, L. R. de e PLACCO,
ciprocamente, já que ensinar e aprender real- ementos principais nesse cenário educa- REFERÊNCIAS V. M. N. de S. (orgs) ET al: As relações in-
mente se concebem quando feitos de maneira cional, e que, por sua vez, devem ser trata-
dos como sujeitos reais e imprescindíveis no terpessoais na formação de professores.
recíproca, sempre lembrando que os alunos ALMEIDA, L. R. de, PLACCO, V. M. N. de S 2. Ed. S. Paulo: Loyola,2004, pp. 79-90.
são os principais sujeitos da ação e que por processo de ensino-aprendizagem. Devem (0rgs): As relações interpessoais na formação
isso precisam ser agentes do processo, e que ser os principais agentes desse processo. de Professores; 2. Ed., S. Paulo: Loyola, 2004. SOLÉ, Isabel. Disponibilidade para a apren-
atribuam sentido ao que fazem, pois somente Portanto,havendo parceria escola-família,
trabalhando-se de forma contextualiza- dizagem e sentido da aprendizagem. IN:
desta maneira conseguirão, com aptidão, ex- AQUINO, Julio Groppa. Do Cotidiano Es- COLL, C. Et Alii. O Construtivismo na
ecutar o que lhes for atribuído, podendo tam- da, e, sobretudo elaborando-se um Projeto colar. Ensaios sobre a ética e seus aves- sala de aula. 6. Ed. S. Paulo: Ática, 2004.
bém, interferir na realidade que se nos apre- Pedagógico que venha de encontro com as sos. 3. Ed. S. Paulo: Summus, 2000.
senta, que é inconstante, mas não inexorável. reais necessidades de todos os envolvidos,
de todos os segmentos escolares, dificil- DEL PRETTE, Almir e DEL PRETTE, Zil-
mente não se obterá resultados profícuos. da A. P. Psicologia das Relações Inter-
CONSIDERAÇÕES FINAIS pessoais: Vivências para o trabalho
em grupo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
Sem dúvida, foi extremamente importante
o trabalho a respeito do Cenário educacion- GARATE RAMIREZ, Cláudio Alejandro.
al. Para as pessoas que vivenciaram a escola Que imagem você quer ter? Relações In-
de alguns anos atrás, e presenciam os atuais terpessoais, Liderança e Formação de
acontecimentos da escola pública no Brasil equipes. S. Paulo: Idéias e Letras, 2004.
hoje, nota uma mudança catastrófica com JR, Paulo Ghiraldelli. História da Ed-
relação ao comportamento dos alunos, fal- ucação. S. Paulo: Cortez, 1990.
ta de interesse pelo conteúdo e desrespeito
pelos professores são apenas alguns dos MAGALHÃES, Lucila Rupp de: Aprendendo
problemas enfrentados em sala de aula, além a lidar com gente: Relações Interpessoais no
desses uma série de problemas chegam a se MARIA IZABEL DA SILVA cotidiano. 4. ed. Salvador-BA: EDUFBA, 2004.
somar tomando o efeito de uma bola de neve.
Foi possível também perceber as dificuldades PESCUMA, Derma e CASTILHO, Antonio
Paulo Ferreira de. Projeto de Pesquisa – o

650 651
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO de uma variedade de funções que apoiarão o


crescimento e em última análise, se traduzem
O indivíduo passa por fases do desenvolvi- em habilidades necessárias na idade adulta.
mento motor, nas quais as habilidades mo-
toras básicas de locomoção, equilíbrio e ma- Os benefícios do lúdico são complexos e
nipulação são aperfeiçoadas. Inicialmente as indiretos. O lúdico contribui para o desen-
manifestações motoras e tarefas realizadas volvimento de uma matriz diversificada de
são simples, e gradativamente tornam-se com- capacitações na criança pequena.O ato de
plexas, fazendo do período de zero a seis anos brincar (KISHIMOTO, 2001) é um fato so-
de idade, essencial para o repertório motor das cial, um momento de interação infantil e de
crianças. Dessa forma o lúdico é fundamen- constituição do sujeito-criança é uma ativi-
tal, auxiliando a criança a adquirir seu conhe- dade humana que envolve contextos sociais
cimento de mundo por meio de brincadeiras. e culturais, onde a criança recria a realidade
Por conta da crescente preocupação de como através da utilização de sistemas simbólicos
as crianças são alfabetizadas, encontramos próprios. Além disso, é considerado como
diferentes áreas do conhecimento pesquisan- uma atividade específica da infância.
do e procurando encontrar meios de facilitar
tal processo.Se houver desde o início da es- O brincar estimula o desenvolvimento
colarização, o desenvolvimento de atividades social, cognitivo e afetivo das crianças. Elas
e jogos psicomotores que estimulem a con- se colocam em desafios e questões de seu
sciência corporal e a noção temporo-espacial, comportamento diário, levantam hipóteses
o processo de aquisição da escrita e leitura para compreenderem melhor os problemas
apresentados pela realidade na qual es-
AS CONTRIBUIÇÕES DAS BRINCADEIRAS NA ALFABETIZAÇÃO se dará de maneira facilitada.Com a finalidade
tão inseridas.Por meio do brincar se estim-
de promover o desenvolvimento integral da
criança, levando em consideração os aspec- ula a interação, o que gera o confronto de
tos motores, afetivos, sociais e intelectuais, diferentes crianças com diversos pontos
RESUMO: A preocupação com a forma como as crianças aprendem a ler e a escrever é de vista. Com isso vão desenvolvendo sua
se faz necessário a facilitação das aprendiza-
crescente nas últimas décadas, tendo a atenção fundamental de educadores, psicólogos própria autonomia e cooperação, lidando
gens escolares, por meio de atividades lúdicas
e psicopedagogos. O homem se comunica e constitui suas relações por meio da lingua- com a realidade de forma ativa e construtiva.
que estimulem a consciência dos movimentos
gem verbal e não verbal. Para a criança, o lúdico é importante em seu desenvolvimento,
corpóreos e da expressão de suas emoções.
pois está ligado às emoções de forma significativa. Ao escrever, a criança precisa ter ori- Uma das formas pela qual a criança
entação espacial para colocar as letras no papel, adequando forma e tamanho ao espaço começa a aprender é a brincadeira, pois por
que se dispõe, dirigindo o traçado da esquerda para a direita e de cima para baixo, utili- BENEFÍCIOS DO LÚDICO meio dela exercita sua imaginação e se ap-
zando o controle motor de maneira a segurar o lápis com a força ideal. Durante este tra- ropria das funções sociais e das normas de
balho de conclusão de conclusão percebe-se que o lúdico é extremamente importante Os benefícios do lúdico são cruciais para comportamento. As brincadeiras devem se
para as crianças, contribuindo para a aprendizagem durante o período de alfabetização. permitir que uma criança se desenvolva apro- desenvolver conforme a especificidade da
priadamente. Os primeiros anos das crianças conduta infantil, conforme cada faixa etária.
devem ser sobre fomentar e desenvolver sua Essas brincadeiras podem ser tradicionais,
Palavras-Chave: Alfabetização; Lúdico; Desenvolvimento. curiosidade através de uma ampla variedade simbólicas, de regras ou de construção. Elas
de experiências de brincadeiras.Por meio das estimulam a resistência corporal, habilidades
brincadeiras, as crianças pequenas são capazes
físicas, a moralidade da criança, etc.Atual-
de ganhar valiosas experiências de vida através

652 653
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

mente, o lúdico é visto como uma etapa do gem.Dos quatro aos seis anos, as crianças cadeiras, o que organiza sua base, oferta dif- auxiliam o desenvolvimento da linguagem. As
desenvolvimento da criança, pois por meio continuam praticando atividades motoras, erentes objetos, fantasias, jogos, delimitação atividades lúdicas desenvolvem as noções de
do brincar cria-se as relações com o mundo, mas ocorre o surgimento da imaginação e do espaço e o tempo para brincar. Por meio do espaço-temporal. As brincadeiras com regras
favorecendo a socialização. O lúdico incen- com isso o aparecimento do simbolismo lúdico, o professor pode observar e construir fixas (pelas crianças) ajudam na compreensão
tiva a criança a cooperar com os outros e, (faz-de-conta), nessas situações as crianças uma visão do processo de desenvolvimento de normas, desenvolvimento de hipóteses, a
com isso, distinguir as diferentes opiniões. podem brincar de representar animais, pes- das crianças em conjunto e individual. Assim superação dos erros, favorecem uma maneira
soas, objetos, etc. Podem dramatizar situ- poderá oferecer às crianças materiais ade- da criança construir o conhecimento através
O lúdico é uma ação que acontece no pla- ações da realidade externa como brincar de quados e um espaço estruturado para brincar, das relações determinadas. O brincar é uma
no da imaginação e, para que isso ocorra, é vendinha, casinhas, escolinha, onde a cri- permitindo o enriquecimento das competên- aprendizagem fundamental para o ser humano.
preciso existir uma diferença entre a brinca- ança observa, analisa, interioriza e significa. cias imaginativas, criativas e organizacionais.
deira e a realidade que oferece conteúdos A criança é um ser em transformação, e A escola deve facilitar a aprendizagem,
para ela se realizar. Isso implica em que a a escola é um lugar apropriado, ou o mais O professor deverá organizar situações utilizando-se de atividades lúdicas que
criança que brinca vai adquirir grande domí- adequado para ajudá-la a descobrir o mun- para que as brincadeiras ocorram de di- criem um ambiente alfabetizador para fa-
nio da linguagem simbólica. O lúdico signifi- do e a sociedade em que ela se insere, des- versas maneiras, possibilitando à criança vorecer o processo de aquisição da au-
ca divertir, gracejar, entreter, um conjunto sa forma, ao brincar, jogar, cantar a criança oportunidade de escolher os temas, papéis, tonomia da aprendizagem, pois as ativ-
de atividades que se assemelham entre si facilita a forma de se comunicar com aque- companheiros com quem deseja brincar ou idades lúdicas facilitam para a criança o
pelo seu caráter lúdico (KISHIMOTO, 2001). les que precisam relacionar-se com ela, por jogos de regras e de construção, para que progresso de sua personalidade integral.
meio de uma linguagem própria aos seus elaborem de maneira pessoal e independen- As atividades lúdicas, quando direcionadas
Sendo um ato simbólico que se inicia nos devaneios e às suas próprias fantasias imag- te suas emoções, sentimentos, conhecimen- à alfabetização e o ensino da língua materna,
primeiros meses de vida, o recém-nascido inárias, colocando em prática seus conhe- tos e regras sociais. Toda ação do educador são possíveis, pois é por meio delas que se
conhece o mundo através dos sentidos. Inicia cimentos, podendo pensar nas situações deverá ser refletida, planejada, executada integram o prazer e o aprender, saber e fazer.
pela exploração da boca (sucção) e depois re- da realidade imediata (KISHIMOTO, 2001). e avaliada, pois compete a ele respeitar o
aliza certos gestos como engatinhar e sentar. brincar da criança, oferecendo diversidade Entende-se que o processo de alfabet-
Em torno dos quatro meses, inicia-se a É por meio do brincar que diversas relações de brincadeiras para que ela possa adquirir ização de crianças deva ser realizado com
atividade lúdica. Algo fundamental acon- se estabelecem entre a criança, adultos e out- novas experiências e novos conhecimentos. prazer e construção e que a estratégia lúdica
tece na vida da criança: os objetos funcio- ras crianças. A criança é um ser total, em que vem se configurando como uma importante
nam como símbolos e ao mesmo tempo as ações corporais realizadas durante o brincar Portanto, a brincadeira não é inata, mas ferramenta para o desenvolvimento infantil
produzem em seu corpo mudanças que fa- permitem que ela se desenvolva socialmente, aprendida, através da imitação (segundo estu- e aquisições formais.O professor precisa da
cilitam o contato . Surge um novo interes- afetivamente, fisicamente e cognitivamente. dos de Piaget). Por isso é importante ensinar- prática para constituir a sua identidade profis-
se pelos brinquedos para as crianças de 0 a Algumas brincadeiras ajudam as crianças mos as crianças a brincarem, desenvolvendo sional e somente a formação inicial não pode
3 anos onde pode ter objetos dentro. Assim na exploração do próprio corpo, além de uma grande variedade de brincadeiras para, ser considerada a fonte formadora da prática
começa-se a explorar tudo que seja pene- estimularem a interação com os outros, a ex- posteriormente, fazerem suas próprias escol- do docente. Buscar significados coleti-
trável e a utilizar tudo o que seja penetrável ploração de objetos, ou seja, na construção has. A criança, ao fazer a relação com tudo vos que permeiam a identidade profis-
como: olhos, ouvidos, boca, tudo que per- do conhecimento (KISHIMOTO, 2001). que o cerca, se socializa, é capaz de cooper- sional docente, seus saberes e fazeres,
mite fazer suas experiências de exploração. ar e com isso consegue distinguir diferentes é a proposta que vai ao encontro do
opiniões. A linguagem se desenvolve mais, sentido individual, da singularidade,
As atividades cantadas estimulam além do O PAPEL DO EDUCADOR TRA- sendo possível respeitar as regras. A atividade
constituindo cada professor no locus
movimento, a interação entre as linguagens, BALHANDO COM O LÚDICO lúdica se caracteriza, pois, pelo jogo de regras.
da prática pedagógica, a sala de aula.
onde se desenvolve o processo de social- Fontes distintas de saberes conver-
ização. A atividade cantada atua no incenti- O papel do professor enquanto educador é As brincadeiras cantadas incentivam a rep- gem para a construção dos conceitos
vo da criança no processo ensino-aprendiza- de auxiliar a criança na estruturação das brin- resentação, contribuem para a socialização e de alfabetização e de letramento dos

654 655
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

professores alfabetizadores que partici- fantasia com suas próprias regras. O uso do é possível constatar teoricamente inúmeras
param da pesquisa, mas a ênfase recaiu brinquedo também deve servir como um el- considerações e nomeações a seu respeito,
sobre as concepções que foram explicita- emento de aprendizagem, ao mesmo tempo onde se destacam algumas expressões como:
das pelos professores na investigação ao sendo divertido e atuando de maneira sig- jogos, brincadeiras, brinquedo, atividade lúdi-
falar sobre o que entende por letramento e nificativa no processo ensino aprendizagem. ca e esporte. As linhas que separam os jogos,
como a leitura e a escrita estão presentes esportes, ginástica, brincadeiras e danças
na sua vida e nas suas práticas pedagógicas. Desde muito jovens, as crianças passam são muito tênues, servindo mais para uma
muito tempo entre os brinquedos. Se esses definição didática. A inserção da ludicidade
Dentre das reflexões sobre a docência na momentos são utilizados não só para o lazer, nas aulas faz-se, necessária para criar um
alfabetização e o modo ou método aborda- mas também para o aprendizado, seu desen- ambiente alfabetizador, proporcionar a in-
do um recurso hoje muito utilizado é o lúdico volvimento pode ser estimulado de acordo ter relação entre o aluno e professor, facil-
na sala de aula, com brincadeiras e jogos que com o momento evolutivo em que se encon- itando o processo de ensino aprendizagem.
introduzem o aluno no mundo acadêmico fa- tram. O brinquedo pode se tornar um dos Bem como a formação profissional também
zendo com que a criança seja participante da melhores recursos educacionais, desde que se faz necessária. Pois, hoje temos vários
construção do seu processo de aprendizagem. trabalhado de forma a integrar as crianças de profissionais que, não sabem trabalhar com
forma comunicativa não violenta. O impor- este método de ensino (KISHIMOTO, 1998).
O LÚDICO E A ALFABETIZAÇÃO tante é que a brincadeira é um meio de canal-
MARIA MADALENA GOMES
izar diversão, fantasias, estímulos e preocu- CONSIDERAÇÕES TAGLIARI BODA
As crianças passam por etapas diferentes, pações, de forma compartilhada e dentro de
que vão evoluindo ao longo todas as suas vi-
Graduação em Psicologia pela
seu desenvolvimento para um aprendizado Após a explanação do que é o lúdico e sua
das e adquirem amplo desenvolvimento de
FMU em 1986. Professora de Edu-
significativo. Por meio do lúdico é possível importância para alfabetização conclui-se
suas funções cognitivo, social e desenvolvi-
cação Infantil e Ensino Fundamen-
contornar um grande problema encontrado que o brincar realmente tem uma grande im-
mento psicomotor. Brincar para a criança é
tal na Prefeitura Municipal de São
no processo de aprendizagem, que é o desin- portância no desenvolvimento infantil pois,
viver. Os brinquedos são instrumentos para
Paulo.
teresse que pode ser adquirido pelo aluno ao proporciona o desenvolvimento cognitivo,
o seu desenvolvimento e felicidade. Brincar é se deparar com o conteúdo didático tradi- afetivo e social da criança. O lúdico traz con-
um direito da infância reconhecido pela (Res- cional. As dificuldades encontradas para al- tribuições para o desenvolvimento infantil,
olução nº 1386 da Assembleia das Nações Uni- fabetizar nossas crianças nas escolas brasile- como: estimular a imaginação e criatividade
das) ONU desde 1959 . Ver como as crianças iras, principalmente públicas, e os métodos por meio da brincadeira simbólica, resgata
brincam é observar como é o desenvolvimen- de ensino justificam a necessidade do lúdico as brincadeiras tradicionais; auxilia o proces-
REFERÊNCIAS
to integral da criança. As pesquisas no campo na alfabetização, embora em muitos casos so de socialização, entre outros e contribui
da pediatria e da psicologia infantil garantem o educador não o utilize por continuar apo- em todo processo ensino-aprendizagem. KISHIMOTO, Tisuko (Org.). O
a importância do brincar para as crianças. stando unicamente na forma tradicional de brincar e suas teorias. 1998.
ensino ou até mesmo por não saber utilizá-lo. Nós educadores devemos valorizar a lu-
Enquanto a criança brinca, ela explo- dicidade da criança e propor atividades em
ra a realidade. Tenta estratégias diferentes Brincadeiras infantis e contos de fada po- que o brincar esteja presente. O lúdico não Resolução nº 1386 da Assembleia das
para operar na dita realidade. Testa alterna- dem ser veículos para se descarregar a raiva e é algo já dado na vida do ser humano, ou Nações Unidas) ONU desde 1959.
tivas para qualquer dilema que possa sur- as frustrações da criança, permitindo que ela seja, aprende-se a brincar, desde cedo, nas
gir no jogo. Desenvolve diferentes modos viva na fantasia aquilo que não pode viver na relações que os sujeitos estabelecem com
e estilos de pensamento. Brincar é para a realidade, por isso o brincar pode e deve ser os outros e com a cultura. Dessa forma, o
criança um espaço para espontaneidade e usado como uma forma de não violência. Ao brincar envolve múltiplas aprendizagens,
autenticidade, para imaginação criativa e destacar o jogo como instrumento didático sendo fundamental para a alfabetização.

656 657
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

sempenhado por eles enquanto docentes no


Ensino Superior. Rodrigues et al. (2011), de-
INTRODUÇÃO staca que docência seria “a arte de ensinar”.
Dessa forma, será que podemos pensar que
apenas a especialização Strictu Sensus ou a
Este trabalho tem como objetivo investi-
prática profissional já seriam o bastante? Ou
gar se os professores de cursos não ligados
precisamos pensar em formas de ensinar os
a certas licenciaturas, mais especificamente,
professores universitários a arte de ensinar?
os professores do curso de Psicologia, pos-
suem ou não conhecimentos pedagógi-
Veiga (2005) também defende a importân-
cos sobre docência. Ao percebermos, pela
cia de pesquisarmos formas para concretizar
nossa vivência, que é recorrente as críti-
um processo de formação pedagógica do pro-
cas dos alunos com relação a essa falta de
fessor universitário no Brasil. Partindo des-
preparo para ensinar nos professores da
sa premissa, realizamos uma pesquisa com
graduação, mesmo reafirmando que o pro-
22 docentes do curso de Psicologia de uma
fessor parece ter um amplo conhecimento
Universidade particular localizada na cidade
sobre o assunto, mas não sabe como trans-
de São Paulo, na região central. A pesquisa
miti-lo, decidimos investigar como é a for-
questionava dados sobre sua formação ini-
mação pedagógica desses professores. Esse
cial e continuada e foi sigilosa, motivo pelo
fenômeno já foi avaliado por outros au-
qual não citaremos o nome da Instituição.
tores, como Giusti (2016), que afirma que:
A FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A formação exigida para docência no en-
NOS CURSOS DE PSICOLOGIA
sino superior tem se concentrado no con-
O referencial teórico utilizado para a con-
hecimento aprofundado de determinado
strução do instrumento de pesquisa foi
conteúdo, seja ele prático (decorrente do
apoiado em Minayo (2014), que esmiúça
exercício profissional) ou teórico/episte-
RESUMO: Observamos que é extremamente comum professores que estão ministrando formas de encaminharmos uma pesquisa so-
mológico (decorrente do exercício acadêmi-
aulas na Universidade não possuírem nenhum tipo de formação pedagógica, que auxilie cial, com abordagens quantitativa e qualita-
co). Pouco, ou nada, tem sido exigido em
o docente a aprimorar sua forma de transmitir conhecimento e, aos alunos, aumentando tiva, com relação à análise de dados obtidos.
termos pedagógicos (GIUSTI, 2016, P. 2).
substancialmente suas chances de aprendizado. O presente trabalho tem como objeti-
vo analisar se essa premissa é verdadeira e se, de forma geral, os professores Universitári- Quanto à coleta e seleção de dados,
os têm em sua formação contato com disciplinas como metodologia de ensino e didática. Ou seja, de uma forma geral os pro-
foi realizada uma entrevista sigilosa, at-
fessores universitários são cobrados para
ravés de formulários com perguntas previa-
terem uma prática prévia, no caso deste
mente elaborados e de resposta fechada,
Palavras-chave: professor universitário; didática; formação. trabalho, serem psicólogos, ou então pos-
que foram entregues à todos os docentes
suírem títulos acadêmicos, como Mestrado
do curso de Psicologia de uma Universidade
e Doutorado, que justifiquem o papel de-

658 659
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

particular localizada na cidade de São Paulo. Quando questionados sobre sua for- Buscando investigar ainda mais um aspecto ca ou processos de ensino e aprendizagem.
mação inicial, se tiveram contato com da formação profissional do docente, agora fo- Por último, como forma de ratificar os resul-
A presente Universidade se localiza en- disciplinas relacionadas à como en- cando em formação continuada, perguntamos tados obtidos na última pergunta, questiona-
tre a zona sul e a área central da cidade, tem sinar, o que ensinar e por que ensinar, aos docentes como era esse processo para eles. mos se os professores estariam dispostos a fre-
fácil acesso pelo metrô, trens e ônibus. No 45,5% dos entrevistados afirmaram quentar cursos de formação continuada que
seu entorno, existe uma grande quantidade que tiveram algumas poucas disciplinas Como podemos observar os resultados tivessem como objetivo dar subsídios para que
de estacionamentos, lanchonetes e bares. voltadas ao assunto e 50% não tiveram a esse questionamento foram bem diver- eles melhorassem sua prática dentro da sala de
nenhuma disciplina voltada ao assunto. sos. Cerca da metade dos professores par- aula, para que os alunos aprendessem melhor.
Segundo informações obtidas na secre- ticipou de alguns momentos de formação
taria da Instituição, a maioria dos alunos são Quando questionados com relação ao continuada que tinha como foco metod- Percebemos que grande maioria dos pro-
da classe C e D e contam com programas curso de pós-graduação, levando em con- ologia de ensino e/ou didática; 22,7% nun- fessores, 68,2% está dispostos a frequentar
de incentivo como bolsas ou acesso pelo sideração aqui as disciplinas em formato de ca participaram e 22,7% participaram por essas formações, desde que fosse propiciado
PROUNI. A mensalidade no curso de Psico- créditos obtidos para obtenção dos cursos conta própria, sem ser um programa de pela Instituição de Ensino em que atuam. Os
logia gira em torno de um salário mínimo e de Mestre ou Doutor, excluindo dessa aval- incentivo da Universidade onde atuam. 31,8% que não estariam dispostos se dividem
a maioria dos estudantes paga eles mesmos iação cursos de especialização lato sensu, Seguindo essa linha, foi questionado se entre aqueles que acreditam que já aprofund-
a mensalidade, ou seja, são trabalhadores e o resultado mostrou que grande parte dos eles acreditam que disciplinas voltadas para aram bastante seus estudos sobre práticas de
estudam no período noturno. Por volta de professores teve algumas disciplinas volta- essas áreas, ou seja, disciplinas voltadas à sala de aula durante os anos de magistério
20% a 30% dos alunos do curso de Psicolo- das à didática de ensino, sobre o ensinar e metodologia, didática, processo de ensino – e os que acreditam que formação técnica é
gia já possuem uma graduação em outra área aprender, conforme ilustra o gráfico abaixo: aprendizagem e avaliação de aprendizagem. o suficiente: basta saber para saber ensinar
do conhecimento e cerca de 45% dos alunos
possuem mais de 20 anos no ingresso, sen- Apesar do resultado aparentemente mais De acordo com os resultados, cerca da CONSIDERAÇÕES FINAIS
do o curso onde a faixa etária dos alunos é a animador, é importante analisar que quase metade dos entrevistados sentem necessi-
mais elevada nesse campus da Universidade. 20% dos profissionais que passaram pelo Me- dade de se aprofundarem sobre esses te- De acordo com os resultados obtidos at-
strado ou Doutorado, cursos que tem como mas, através de formações que contemplem ravés da pesquisa, percebemos que as maio-
Ainda de acordo com a Secretaria, to- um de seus objetivos ingressarem o acadêmi- o estudo de casos e troca de experiências, rias dos professores universitários do cur-
dos os professores entrevistados atuam na co como professor universitário, não tiveram além da própria exposição de metodologias so de Psicologia não possuíam uma base
Universidade a mais de dois anos, a maio- acesso às disciplinas que versem sobre didáti- de ensino. 36,4% acreditam que já domi- de formação pedagógica voltada para met-
ria possui mestrado ou doutorado e mais da ca. O dado, sem dúvida, ainda é preocupante. nam o suficiente desses temas para garantir odologia de ensino. Segundo Veiga (2005)
metade deles atuam também em outras Uni- Segundo Veiga (2005), a legislação atual a aprendizagem dos alunos e 13,6 % acredi-
versidades particulares da cidade de São Paulo. não cobra que os cursos de pós-graduação tam que apenas o conhecimento que eles Com relação ao amparo legal para o pro-
formem o mestrando e/ou doutorando para possuem na área, como profissional atu- cesso de formação de docentes universi-
TIPO DE PESQUISA se capacitarem em didática ou terem algu- ante na prática ou pelos conhecimentos ad- tários, a Lei de Diretrizes e Bases da Ed-
ma base pedagógica em seus afazeres, mas quiridos pela experiência acadêmica duran- ucação - Lei 9394/96 - em seu artigo 66 é
Através de questionário fechado entregue cobra que os professores universitários de- te Mestrado / Doutorado, já é o suficiente bastante tímida a esse respeito. O docente
aos professores com garantia de sigilo total de verão ser, preferencialmente, preparados para direcionar sua prática em sala de aula, universitário, de acordo com o enunciado
seus dados, obtemos as seguintes repostas: para docência superior a partir desses cursos. não sendo necessário conhecer sobre didáti- legal, será preparado (e não formado) prior-

660 661
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

só se aplicam quando os alunos são crianças.


itariamente, nos programas de mestrado e gias que objetificam resolver esse paradigma. REFERÊNCIAS
doutorado. O parágrafo único do mesmo ar-
tigo reconhece o notório saber, título con- Novamente, me apoio em Veiga (2005)
cedido por universidade com curso de dou- para afirmar que não existe um programa GIUSTI, G. Políticas de formação pedagógi-
torado em área afim. (VEIGA, 2005, p..3) em nível de políticas públicas que esta- ca do professor universitário: Reflexões a
beleça a necessidade de saberes ped- partir de uma experiência. Disponível em-
Ou seja, os saberes pedagógicos dos pro- agógicos aos professores universitários: file:///C:/Users/Administrativo/Down-
fessores universitários estão restritos as disci- A formação docente para a educação su- loads/t116.pdf. Acesso em 20/12/2018
plinas ofertadas durante os programas de Me- perior fica, portanto, a cargo das iniciativas
strado e Doutorado e, por muitas vezes, sequer individuais e dos regimentos das instituições MYNAIO. Uma pesquisa so-
são disciplinas obrigatórias. A exigência, ainda responsáveis pela oferta de cursos de pós-grad- cial. Petrópolis, RJ: Vozes. 2014.
segundo Veiga (2005) é apenas da oferta de uação. O governo (MEC/SESU/CAPES/INEP) RODRIGUES et al. O tradicional e o mod-
uma disciplina que forme professores, sendo determina os parâmetros de qualidade insti- erno quanto à didática no ensino supe-
as demais disciplinas voltadas para pesquisa. tucional, e muitas instituições de educação rior. Revista Científica do ITPAC, Ara-
Giusti (2016) reforça essa ideia ao afirmar que:
MARIANA ROSA PALUDETTO DE
superior organizam e desenvolvem um pro- guaína, v.4, n.3, Pub.5, Julho 2011.
Iniciativas no sentido de oferecer ao (fu-
ANDRADE
grama de preparação de seus docentes, ori-
turo) professor universitário maior prepa- entadas por tais parâmetros. Assim, as políti- SOARES, SR., and CUNHA, MI. Apresen-
ro em relação à atividade docente, embora cas públicas não estabelecem diretamente Mestranda em Educação pela Univer- tação. In: Formação do professor: a docên-
existentes, são ainda esparsas e carecem, orientações para a formação pedagógica do sidade Ibirapuera; Graduação em Ped- cia universitária em busca de legitimi-
a nosso ver, de maior aprofundamento professor universitário. (VEIGA, 2005, p.6) agogia pela Faculdade Magister (2009); dade [online]. Salvador: EDUFBA, 2010.
teórico, bem como de estudos que pro- Graduação em Letras pela Universi-
curem conhecer, de modo mais sistematiza- Assim, podemos concluir que a queixa dade Nove de Julho (2012); Especialista VEIGA, I. Docência Universitária na edu-
do, seus resultados (GIUSTI, 2016, p.5). em Educação Inclusiva pela Faculdade
recorrente dos alunos na falta de habilidade cação superior. São Paulo: 2005. Disponível
Campos Salles (2016); Especialista em
dos professores universitários de ensinar os Docência do Ensino Superior pela Facul- em: file/ :///C:/Users/Administrativo/Down-
Dessa forma, podemos observar que de conteúdos que dominam tão bem, pode real- loads/2130.pdf. Acesso em 13/01/2019
dade Campos Salles (2017); Especialista
fato a formação do professor Universitário mente ser condizente com a realidade. Seja em Supervisão Escolar pela Faculdade
tem ficado muito a cargo de cada programa pela desvalorização dos saberes pedagógicos, Campos Elíseos (2018); Diretora de Es-
de pós-graduação e de iniciativas individuais seja pela falta de incentivo das Instituições em cola na rede Municipal de São Paulo.
de Universidades, que tenham a preocupação que trabalham os professores universitários
em formar também o professor e não apenas ainda se preocupam pouco com as habilidades
o pesquisador. Essas iniciativas, além de não relacionadas ao saber pedagógico. Esperamos,
aconteceram na maioria das Instituições, en- ao jogar luz nesse tema, que possamos refletir
frenta resistência de profissionais que não val- com maior aprofundamento sobre a relevân-
orizam o saber pedagógico como fundamental cia da formação pedagógica no Ensino Supe-
na aprendizagem do Ensino Superior. Assim, rior, buscando romper com o pensamento co-
fica cada vez mais difícil implementar estraté- mum de que metodologias de aprendizagem

662 663
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO suas próprias experiências, têm seus própri-


os sobre o mundo no qual vivem eles já tem
Atualmente com as transformações das o conhecimento de mundo o mundo no qual
famílias em nossa sociedade se deu a con- está inserido e suas peculiaridades. As regu-
strução de uma ideia diferente de educação lamentações legais compreendem o direito à
infantil, a visão da criança enquanto sujeito, Educação como prediz o Estatuto da Criança e
uma etapa que demorou muito para ser aceita do Adolescente em seu Artigo 53 da Lei 8.069
na sociedade, e esse artigo tem como obje- de 13 de julho de 1990, que diz a criança e
tivo mostrar um pouco dessa etapa e da sua o adolescente têm direito à educação, visan-
evolução. Sabemos hoje que a escola tem do ao pleno desenvolvimento de sua pessoa.
um papel fundamental na vida da criança
em sua primeira infância seu conhecimen- Estamos em uma sociedade que vem mu-
to de mundo que já traz de casa e as ex- dando rapidamente seus costumes e valores,
periências que serão vivenciadas contribuirá principalmente na região metropolitana em
na formação de seu caráter, personalidade, busca do avanço da tecnologia. Todavia, a es-
no acesso a informações, nas relações so- cola como reflexo dessa sociedade tem sof-
ciais, autonomia, identidade entre outros. rido fortes influências. Somos diretamente
ESTRESSE NO AMBIENTE ESCOLAR influenciados pela internet, informação ráp-
Na década de 1980 dá-se um avanço em ida, resultados imediatistas, já escola por
relação à Educação Infantil. Estudos e pesqui- sua vez recebe crianças que possuem na
sas foram realizados com objetivo de discutir maioria das vezes contato com a tecnolo-
a função da creche/pré-escola. Foi concluído gia através da internet, brinquedos, celu-
RESUMO: O presente artigo visa discutir um tema polêmico nos dias atuais, o estresse infan- que, independente da classe social, a edu- lares como cita conhecimento de mundo:
til, apontando como o estresse, doença crônica, vem aos poucos alcançando todas as faixas cação da criança pequena é extremamente Jean Piaget, para explicar o desenvolvimen-
etárias, inclusive crianças. Com a evolução da sociedade e a agitação do dia a dia avalanche de importante e que todas deveriam ter. acesso to intelectual, partiu da ideia de que os atos
informações do cotidiano bem como a rotina diária que propicia muitos estímulos, avanço tec- biológicos são atos de adaptação ao meio
a ela. Na primeira infância compreende-se
nológico, sociedade agitada tem contribuído para que crianças apresentem níveis de estresse
o período de vida do ser na gestação, nasci- físico e organizações do meio ambiente, sem-
prematuro, ou seja, desgaste do organismo o que por sua vez vai acarretar inúmeros fatores
psicológicos e na saúde da mesma. Compreender melhor sobre esse assunto nos ajudará a mento e os seis primeiros anos de vida, sen- pre procurando manter um equilíbrio. Assim,
combater muitos de seus maus efeitos contribuindo para que as crianças tenham um bom do de suma importância para a formação do Piaget entende que o desenvolvimento in-
desempenho escolar, saúde e viva plenamente feliz. sujeito subjetivo e em suas interações soci- telectual age do mesmo modo que o desen-
ais. É na interação com o meio no qual o su- volvimento biológico (WADSWORTH, 1996).
Palavras-chave: Criança; Estímulos; Estresse. jeito está inserido, que vai contribuir em seu
desenvolvimento, suas habilidades, personal- Para Piaget, a atividade intelectu-
idade (física-motora; social; afetiva; cognitiva; al não pode ser separada do funciona-
linguística; artística). Hoje reconhecemos as mento "total" do organismo (1952, p.7).
crianças como sujeitos atuantes e que vivem Uma criança pequena pode não ter o domí-

664 665
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

nio da linguagem oral, mas pode muito bem fantil” e seus efeitos em crianças de zero e construir elementos educativos que venham é a organização. Que constitui a habilidade
mexer no celular de seus pais em um tablet en- a cinco anos de idade que frequentam da contribuir no ensino aprendizagem da criança de integrar as estruturas físicas e psicológi-
tre outros como presenciamos muitas vezes. rede de educação infantil que desenvolve pequena e até mesmo prevenindo muitos dos cas em sistemas coerentes. Ainda segundo
esses trabalhos que estão em período inte- problemas que venham causar o estresse. o autor, a adaptação acontece através da
Por um lado, a sociedade corre para alca- gral. Para isso, esperamos desenvolver uma O estudo consiste em pesquisa qualitativa organização, e assim, o organismo discrimi-
nçar novas informações referente a tecnolo- análise qualitativa, produzir significados so- com investigações bibliográficas, teses e arti- na entre a miríade de estímulos e sensações
gia, enquanto isso, a escola tenta compensar bre como o stress infantil afeta as crianças, gos, no intuito de auxiliar em nosso campo de com os quais é bombardeado e as organiza
com a mesma velocidade por meio de ativi- e como estas reagem aos conteúdos forne- discussão. (PESCE, BARSOTTINI. 2012). Com em alguma forma de estrutura. Esse proces-
dades e informações diversificadas. O que cidos pela escola durante o período integral. base nos estudos de autores e pesquisadores, so de adaptação é então realizado sob duas
esse excesso de informação pode acarretar na ampliaremos nosso campo de visão, trazendo operações, a assimilação e a acomodação.
vida da criança pequena. As cobranças sociais Observamos que a escola tenta ocupar seus seus conceitos sobre o tema em discussão
e escolares têm produzido em nossas crianças espaços supostamente “vagos” preenchen- e buscando assim alcançar nosso objetivo. O ser humano está em constante formação
estresse emocional, um assunto pouco abor- do-os de alguma maneira, seja inserindo cur- Iniciaremos a discussão com o tema “a im- seja através das relações pessoais, na inter-
dado no interior da escola e pouco conheci- sos, atividades extracurriculares etc. Entre- portância da escola infantil no desenvolvi- ação com o meio, experiências. Ao longo dos
do pelos familiares. Este projeto vem sendo tanto, quando os espaços não são pensados mento da criança pequena”. Em seguida dis- anos sua busca por conhecimento e maneiras
desenvolvido ao observar o ambiente escolar e bem avaliados pedagogicamente, podemos cutiremos sobre o tema “estresse infantil” múltiplas de adaptação vem fazendo com que
em especial uma oferecem diferentes ativi- ter o efeito contrário, pois ao invés de trazer suas causas e como evitar e por fim, discor- se aproprie cada vez mais do mundo ao seu
dades, como; aulas de música, judô, ballet, in- atividades e cursos extracurriculares que ven- reremos de forma crítica a organização do redor e assim modifique-o à sua maneira. É
glês, entre outras atividades recreativas. Com ham de encontro ao desenvolvimento da cri- fazer pedagógico que busca evitar o estresse apresentado à criança pequena o mundo em
frequência, temos as apresentações das cri- ança, estamos roubando-lhes a infância e pro- infantil e priorize o desenvolvimento da cri- que ela está vivendo a criança vai se consti-
anças nas datas comemorativas; dia das mães, duzindo uma série de atividades que não se ança pequena de forma plena. Escolhendo tuindo como sujeito. O ser criança e infância
dias dos pais, festa junina, entre outras que atentam aos interesses da criança, logo, pode uma escola particular de local de exercício são conceitos construídos historicamente e
exige das crianças tempo e dedicação. Todas surgir em meio a esses episódios a doença de uma professora pesquisadora, na ten- concebido de várias maneiras em culturas dif-
essas atividades nos fazem refletir e associar ainda pouco discutida, o estresse infantil. tativa de trazer pra mais perto a discussão erentes, tudo isso pode depender da classe
há alguns comportamentos aparentemente abordada. O estresse infantil cada vez mais social e étnica em que a criança está inserida.
de estresse e agitação em algumas crianças. Como objetivo geral, deste presente tra- vem comprometendo a saúde não só físi- Portanto, a criança é um ser social e histórico
balho tem por intuito elucidar mais sobre o es- ca, mas o intelecto e o social dos alunos. que marca e é marcada pelo contexto social,
A partir das observações, visamos a im- tresse infantil devido ao excesso de estímulos cultural familiar e escolar. (BRASIL, 1998).
portância deste projeto, o qual partindo de uma (atividades) na pré-escola de ensino integral. A IMPORTÂNCIA DA EDU-
curiosidade particular, instigou-nos a ampliar Identificando alguns causadores desse es- CAÇÃO INFANTIL Sendo de natureza singular, a criança
o conhecimento sobre o excesso de estímulos tresse a partir das condições oferecidas den- pequena enxerga o mundo a sua maneira,
(cursos e aulas) podem se tornar causadores tro do ambiente escolar. Ao identificarmos Segundo Piaget (PULASKI, 1986), a adap- nas relações com o meio, principalmente com
de stress nos alunos das escolas principal- alguns dos geradores do estresse infantil, nós tação é a essência do funcionamento intelec- as pessoas que a envolve fazendo com que
mente as particulares do Estado de São Paulo. enquanto educadores, poderemos planejar de tual, assim como a essência do funcionamento interprete o mundo e expresse seus desejos
Diante a essa observação passamos com- forma reflexiva nosso trabalho pedagógico a biológico. É uma das tendências básicas iner- e anseios de acordo com tal conhecimento.
preender mais sobre o assunto “stress-in- fim de ampliar nosso conceito sobre o assunto entes a todas as espécies. A outra tendência O conhecimento é fruto das trocas entre o

666 667
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

organismo e o meio, ou seja, entre a criança infância. Superar os obstáculos da educação volvimento integral da mesma, sua vivência, definição deste campo, quando toma como
pequena e o meio em que está inserida e que infantil no Brasil tem forjado cada vez no- trajetória dentro do contexto sociocultur- principal objeto o ensino, no âmbito da
produzem nas mesmas estruturas mentais, vos movimentos políticos na tentativa de al e seu tempo de ter infância é primordial. Didática, limita-se às instituições escolares,
como afirma Piaget dizendo que o conheci- enxergar as dimensões humanas da criança. deixando de fora inclusive toda uma pedago-
mento é fruto das trocas entre o organismo PRÉ-ESCOLA E SUA PERSPECTIVA gia relativa aos movimentos sociais que tam-
e o meio. Essas trocas são responsáveis pela É importante reafirmar que a história da bém estabelecem relações tipicamente ped-
construção da própria capacidade de con- construção de uma Educação Infantil de qual- Para Rocha (2001), a pedagogia é um agógicas nas mais diferentes práticas sociais.
hecer. Produzem estruturas mentais que, idade no Brasil já percorreu muitos caminhos, campo de conhecimento em construção. (ROCHA, 2001 p.30). Conseguimos analisar a
sendo orgânicas não estão, entretanto, pro- já contou com muitos protagonistas, já alca- Porém sua trajetória ainda não tem contem- diferença do papel social da escola e o papel
gramadas no genoma, mas aparecem como nçou resultados significativos e já identificou plado plenamente as peculiaridades e espe- social da pré-escola como afirma Rocha (2001):
resultado das solicitações do meio ao organ- obstáculos a serem superados. Aprender com cificidades da educação da criança pequena
ismo. A educação infantil é a etapa inicial para essa história e retomá-la, nesse momento, é em instituições de ensino. “De fato, em sua A pré-escola é diferente da escola desde
a educação básica, sendo assim, de extrema a tarefa que aguarda em mais essa etapa de trajetória, o campo pedagógico não tem as suas funções como seus princípios nor-
importância para que a criança se desenvol- um processo para dinâmico e coletivo. Para contemplado satisfatoriamente a especi- teadores. A escola se coloca como privile-
va a ponto de compreender e interiorizar o tanto, faz-se necessário obter consensos a ficidade da educação da criança pequena giada em ter seus espaços ocupados pelos
mundo, portanto, é essencial trabalhar ativi- serem sempre revistos e renovados, de for- em instituições não escolares, tais como a conhecimentos básicos, a instituição infantil
dades operacionais “pois é a partir da inter- ma democrática, contemplando as necessi- creche e a pré-escola”. (ROCHA, 2001, p. 28). por sua vez complementa à educação famil-
ação com o meio, determinado por um ato dades sociais em constante mudança e in- iar. Enquanto a escola tem o aluno como su-
intencional, dirigido pelo professor que a cri- corporando os novos conhecimentos que A questão para Rocha não se resume no jeito e objeto fundamental; a pré-escola tem
ança aprende”. (DUARTE, BATISTA. 2000). estão sendo produzidos sobre as crianças “novo falar de uma didática pré-escolar”, visto como objeto “(...) as relações educativas tra-
pequenas, seu desenvolvimento em insti- que a pré- escola no Brasil recebeu influên- vadas num espaço de convívio coletivo que
O desenvolvimento infantil recebe in- tuições de Educação Infantil, seus diversos cias da herança europeia para a educação da tem como sujeito a criança” (ROCHA, 2001).
fluências do meio, segundo Vygotsky a cri- ambientes familiares e sociais e suas variadas criança nos jardins de infância, diferentes dos
ança aprende e depois se desenvolve, logo, o formas de expressão”. (Parâmetros Nacionais modelos escolares. Nos âmbitos das esferas A partir desta consideração, conseguim-
desenvolvimento do ser humano se dá pela de Qualidade para a Educação, 2006. p. 10). públicos e privados desde a década de 1960, os estabelecer um marco diferenciador de-
aquisição/aprendizagem de tudo aquilo que recebiam influências da Psicologia do Desen- stas instituições educativas: escola, creche
o ser humano construiu socialmente ao lon- Existem documentos legais formulados vis- volvimento, contudo, marcadas pela padroni- e pré-escola, a partir da função que lhes
go da história da humanidade. Quando trat- am a educação infantil como direito da criança zação, haja vista que por buscarem uma ped- é atribuída no contexto social, sem esta-
amos da escola para a criança pequena pre- e dever do Estado, como afirma o Referencial agogia para a criança pré-escolar, acabaram belecer necessariamente com isto uma
cisamos nos atentar de forma especial, pois Curricular para a Educação Infantil (1998) di- por manter as mesmas intenções escolares e diferenciação hierárquica ou qualitativa.
as ações realizadas em seu interior devem zendo que “(...) a educação infantil em crech- disciplinadoras “com vista ao enquadramen-
ser pensadas, refletidas discutidas e planeja- es e pré-escolas passou a ser ao menos do to social, através de práticas e atividades que O ator principal da pré-escola é própria cri-
das. Sua finalidade é o desenvolvimento in- ponto de vista legal, um dever do Estado e se propunham como mais adequadas à pou- ança, contudo isso não significa que o con-
tegral da criança de até seis anos de idade. um direito da criança”. (BRASIL, 1988. p. 11). ca idade das crianças” (ROCHA, 2001, p. 28). hecimento e a aprendizagem não pertencem
Algumas práticas cristalizadoras de esco- Sendo a escola um marco legal, direito da cri- Atualmente, a fronteira dos debates en- ao universo da educação infantil, mas, como
larização, ainda é uma tarefa desafiadora da ança e dever do Estado, considerar o desen- tre os educadores brasileiros, sobre a própria afirma Rocha (2001, p.31) “a dimensão que

668 669
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

os conhecimentos assumem na educação das hos a essa rotina “é de torná-los adultos su- dos anteriormente, as crianças perdem suas dar os pequenos a ter uma vida um pouco
crianças pequenas coloca-se numa relação per preparados para o competitivo mundo vozes, o que dá lugar são as vozes do adulto, mais saudável entre elas não decidir sempre
extremamente vinculada aos processos gerais moderno” (ISTO É, 2012), todavia, a revista do mundo competitivo em busca da perfeição. por eles tirando as experiências que auxiliam
de constituição da criança”, tais como a ex- afirma que existe um preço a ser pago por A “superproteção” também vem causando o crescimento emocional e social, permitir a
pressão, o afeto, a sexualidade, a socialização, tanto esforço “(...) ainda pequenas, essas cri- ansiedade que se tornam de maneira progres- autonomia de forma equilibrada talvez seja
o brincar, a linguagem, a fantasia, o imaginário anças passam a apresentar um problema de siva o estresse, as crianças têm de sentir que um dos segredos para ajudar a formar um ci-
etc. (ROCHA, 2001, p. 31). A relação de apren- gente grande, o estresse”. (ISTOÉ, 2012). estão sendo cuidadas, contudo, as pessoas dadão um futuro adulto com menos estresse.
dizagem da criança pequena é por meio do A revista eletrônica Terra, apontou da- que se encarregam de seus cuidados tenham
mundo natural e social, pelas relações diversi- dos de uma pesquisa do “Internation- autoridade, que saibam o que é preciso fazer.
ficadas entre crianças e destas com diferentes al Stress Management Association Bra- Exemplo:. Se tenho pais que sempre estão me
adultos. O estresse infantil muitas vezes se dá sil” (ISMA-BR) fomentando que cerca de dizendo o que você quer fazer, o que você quer
quando a escola de educação infantil deixa de 220 crianças, todas de Porto Alegre de 7 a usar, o que você quer comer, aonde quer ir...
enxergar a criança em sua fase social “infân- 12 anos, 56% apontam o excesso de ativ- começo a pensar que não têm nenhuma ideia
cia” e passa a tratá-la como aluno, dessa forma idades como principal causa do estresse de nada, que sou eu, a criança, que deve tomar
temos, sérios problemas que vão desencadear e 63% a desaprovação dos pais e adultos. as decisões. E isso causa muita ansiedade.
e refletir de maneira negativa em sua vida.
Visando que passamos a entender crianças CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na maioria dos casos, nem a escola e nem entre 7 e 12 anos de idade, possuem domínio
a família conseguem detectar esse problema. da linguagem oral, por isso conseguem expres-
Pesquisas da área da neurociência e compor- sar seus sentimentos e pensamentos, fazendo A sociedade vem crescendo e com esse
tamento apontam índices de crianças que sof- um parâmetro com a pesquisa da ISMA- BR crescimento muitos estímulos, vários médi-
rem desse mal, afirmando que toda essa ex- e trazendo para a discussão do nosso proje- cos citam como sintomas de estresse: os pe-
posição a fatores estressantes como agenda to, veremos que as crianças que frequentam sadelos, hiperatividade, desatenção o estres- MARILDA PEREIRA DA SILVA DE
cheia, reprovação dos pais, conflitos na escola, a pré escola também podem apresentar seu se é uma doença crônica e tende a se agravar LEÓN ALVEZ
comprometem seu desenvolvimento. (ISTO É, nível de estresse embora de outras maneiras se não for tratada de maneira adequada,
2012). Devido à entrada no sistema de ensino e mesmo não tendo domínio a linguagem oral sabemos que o excesso de atividades ex-
cada vez mais cedo, as crianças já estão co- de forma plena, temos que ficar atentos ao traclasse; a disputa pela melhor posição em Graduação em Pedagogia pela Faculdade
bertas de inúmeras responsabilidades, seja no comportamento mediante a agenda cheias de várias atividades; brigas; ausência dos pais; Integradas de Guarulhos (FIG) em (2001);
futebol, ballet, natação, inglês, e a escolinha. tarefas no decorrer do dia. Vejamos também o tornar as crianças como um mini adulto Professora de ensino fundamental e edu-
que 56% apresentam estresse devido o ex- com deveres e tarefas que acaba ocupando cação infantil - na EMEI. Célia Ribeiro Landim.
A Revista ISTOÉ, afirma que a intenção de cesso de atividades e 63% apresentam devido todo seu dia; falta de atenção em excesso ou
esses pais é tornar seus filhos mini ex- a desaprovação dos pais e adultos. Tanto um a superproteção onde a criança não conseg-
ecutivos, com agendas cheias e comprom- grupo quanto o outro recebem influências do ue ter nenhuma autonomia, são ações que
issos ao longo do dia. Segundo a matéria mundo adulto, seja por meio das atividades auxiliam ao estresse e é preciso encontrar o
essa forma dos pais em submeter seus fil- que o adulto decide colocar a criança ou a co- equilíbrio entre deixar que às vezes decidam
brança dos pais e adultos. Nesses casos cita- por si mesmas, pequenas ações podem aju-

670 671
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS cialização em Prevenção ao uso indevido


de drogas. UNIFESP – UAB, mímeo, 2012
BRASIL. Ministério da Educação. Refer-
encial Curricular Nacional para a Edu- ROCHA, E. A. C. A pedagogia e a edu-
cação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. cação infantil. In:. Revista Brasileira de
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Educação, pág. 27 à 34. Jan/Fev/Mar/
Artigo 53 da Lei 8.069 de 13 de julho de 1990 Abr 2001 Nº 16. Faculdade de Educação
BRASIL. Ministério da Educação. da Universidade Estadual de Campinas.
Parâmetros Curricular Nacional
CORSARO, Willian Arnold. Sociologia da REVISTA ELETRONICA ISTOÉ, 28.03.2012
infância. São Paulo: Artmed, 2011. Dis- nº 2211. Disponível em < http://istoe.
poníveL em http://portal.mec.gov.br/seb/ c o m . b r/ 1 9 5 9 9 0 _ E S T R E S S E + I N FA N -
arquivos/pdf/Educinf/eduinfparqualvol1.pdf TIL/>. Acesso em 11 de março de 2019.
Acesso em 10 de março de 2019

DURLEI, de C, C. O Desenvolvimen-
to da Criança nos Primeiros Anos de
Vida. In:. Revista eletrônica Univesp. Psi-
A CULTURA ÉTNICA RACIAL NA ESCOLA
cologia do desenvolvimento. Disponível
em <https://acervodigital.unesp.br/bit-
stream/123456789/224/1/01d11t01. RESUMO: O preconceito no Brasil se apresenta, dentre vários aspectos, de forma sutil e dis-
pdf>. acesso em 03 de março de 2019. farçado, escondido sob falsas aparências e em particular, no âmbito educacional deveria ser
assunto onde a Lei deveria atuar com rigor, porque fere a Constituição e contraria o Estatuto
DUARTE, B. da S. BATISTA, C. V. M. DESEN- da Criança e do Adolescente. A sua propagação e incentivo nas Escolas, com vistas à perpe
VOLVIMENTO INFANTIL: Importância das tuação da sua prática, é nutrida pelos próprios professores e, também, pelos editores de livros
Atividades Operacionais na Educação Infantil. didáticos que se enriquecem com o consentimento do Estado e aprovação da sociedade. O
In:. Revista Desafios atuais para a educação. professor deve servir de ponte para que o aluno possa transpor toda a exclusão social que
nada mais é do que um reflexo dos valores familiares que se estende no âmbito escolar. Al-
pág. 292 a 306. Disponível <http://www.uel.
ternativas que conduzam a sociedade fazer uma tomada de consciência a respeito da prática
br/eventos/semanaeducacao/pages/arqui- preconceituosa e em consequência passe a aceitar a criança negra, desmistificando a visão
vos/ANAIS/ARTIGO/SABERES%20E%20 de que é um deficiente ou uma coisa sem o menor valor, passando a respeitar e admirar suas
PRATICAS/DESENVOLVIMENTO%20IN- aptidões e, sobretudo suas diferenças.
FANTIL.pdf> Acesso em 03 de março de 2019.

PESCE, L. BARSOTTINI, C. Tipos de pesqui- Palavras-chave: preconceito; relação; exclusão; social.



sa científica e instrumentos. Material
didático elaborado para o curso de Espe-

672 673
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho é mostrar que de diversas áreas, para o século XXI. Nen- próprio educador acabe, sem perceber, re-
a escola é responsável pelo processo de so- hum deles pode ignorar as difíceis questões produzindo e reforçando a discriminação e
Todo o processo de ensinar e aprender cialização infantil no qual se estabelecem do multiculturalismo, das diferenças de raça, o preconceito, os quais geram a violência.
supõe a presença de, no mínimo, três elemen- relações com crianças de diferentes núcleos gênero, etnia, sexuais, religiosas, de lingua- As escolas, como instituições de socialização
tos: o professor, o aluno e o assunto. Este familiares. Esse contato diversificado poderá gem, de região, da ética. Essas questões ex- têm como tarefa expandir as capacidades hu-
professor e este aluno estabelecem uma in- fazer da escola o primeiro espaço de vivên- ercem um papel importante na definição do manas, favorecer análises e processos de re-
tegração, ficando submetidos a interações cia das tensões raciais. A relação estabeleci- significado e do propósito da escolarização, flexão em comum da realidade, desenvolver
psicológicas recíprocas que, muitas vezes, da entre crianças brancas e negras numa sala no que significa ensinar e na forma como os nos alunos procedimentos e habilidades im-
modificam-nos profundamente. Sabemos de aula pode acontecer de modo tenso, ou estudantes devem ser formados para viver em prescindíveis para sua atuação responsável,
que um professor não limita sua influên- seja, segregando, excluindo, possibilitando um mundo que será amplamente globaliza- crítica, democrática e solidária na sociedade.
cia a conselhos técnicos, não é apenas guia que a criança negra adote em alguns momen- do, com alta tecnologia e racialmente diver- Essas sensibilidades e capacidades devem ser
do aluno através do labirinto da sua própria tos uma postura introvertida, por medo de so que em qualquer outra época na história. capazes de realizar análise críticas, por exem-
existência. Graças à ação persuasiva de sua ser rejeitada ou ridicularizada pelo seu gru- Face a este quadro, parece-nos importante plo, aos materiais didáticos utilizados em sala
presença deslinda as contradições íntimas: po social. O discurso do opressor pode ser produzir uma nova rede de relações sociais de aula e que com frequência são veículos
explica cada um a cada um, apontando os ru- incorporado por algumas crianças de modo e redescobrir o significado da educação for- por excelência de todo o tipo de preconceitos
mos decisivos. O convívio do professor e do maciço, passando então a se reconhecer den- mal, no seu valor prático, para todos os gru- que levam à discriminação e até á violência.
aluno, não depende exclusivamente da qual- tro dele: "feia, preta, fedorenta, cabelo duro", pos sociais e não apenas para alguns privile-
idade de ensino, mas do encontro entre pes- iniciando o processo de desvalorização de giados. Parece-nos igualmente importante, Os recursos didáticos devem ser acompan-
soas. Neste diálogo franco, nesta interação seus atributos individuais, que interferem tentar devolver à educação o seu valor como hados de propostas inovadoras de materiais
professor-aluno, neste "encontro entre pes- na construção da sua identidade de criança. uma agência mediadora para que através escolares interculturais que possam servir
soas" estão presentes os valores, os conceitos dela se revalorizam as várias culturas étnicas. de suporte para a elaboração de atividades,
e preconceitos observados em sua época. A DIVERSIDADE ESCOLAR dado que uma das dificuldades manifestadas
Ao professor cabe facilitar a aprendiza- A discriminação e o preconceito reproduzidos pelos professores para desenvolver temas
gem para o aluno, pois é este quem aprende. Segundo LOPES (2002), toda a discriminação em salas de aula por muitos professores as- transversais nas suas escolas se deve à fal-
Como a aprendizagem não é apenas cogniti- é promovida e reforçada na educação escolar susta num primeiro momento, mas revelam ta de materiais alternativos ao clássico livro
va, valores, sentimentos e atitudes são apren- de diversas formas. As condições salariais, a como o desrespeito pela diversidade humana didático. A formação docente exige uma re-
didos. O professor, através da interação com desvalorização do professor, a pouca atenção está inserido no sistema. O professor repro- visão dos materiais utilizados por cada pro-
os alunos, pode modificar seus próprios va- que muitos governos vêm dando à escola duz muitas vezes idéias e conceitos que vêm fessor e daqueles já publicados que possam
lores. Mas temos visto que o mais comum, pública são alguns dos fatores que fazem com dos modelos institucionais e que promovem ser incorporados ao currículo escolar, quer
na relação professor-aluno, é o aluno sofrer que o próprio educador acabe, sem perceber, a discriminação social, racial, étnica, religio- sejam: livros de contos, canções de autores
maior influência do professor. Lidar com a reproduzindo e reforçando a discriminação sa, cultural. A discriminação é promovida e contemporâneos sobre temas de racismo
diversidade, seja ela racial, social, econômi- e o preconceito, os quais geram a violência. reforçada na educação escolar de diversas e multiculturalismo, álbuns de fotografias,
ca ou religiosa, não é fácil. Mas é tarefa A problemática da cultura está hoje no cen- formas. As condições salariais, a desvalo- vídeos educativos, atividades sugeridas pe-
de quem educa, pai ou professor. Porque tro das atenções dos sistemas educaciona- rização do professor, a pouca atenção que los coletivos a resolução de conflitos de for-
aprender a viver em comunidade é saber li- is verdadeiramente comprometidos com a muitos governos vêm dando à escola pública ma educativa, ou estratégias de educação
dar com as diferenças de qualquer natureza. formação dos educadores e de profissionais são alguns dos fatores que fazem com que o moral e ensino de valores (LOPES, 2002).

674 675
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Em suma, a instituição educacional pre- as diversidades raciais, promovendo a visibi- negro safado, neguinha, cabelo de tempe- ou coisas não baseado em experiência real.
cisa constituir-se em uma instância de pro- lidade positiva do grupo negro no nosso país. ro seco, azulão, cabelo de pimenta do rei-
moção de auto-reflexão e do desenvolvi- no, cabelo de tuim, picolé de asfalto, branca CAVALLEIRO (2001), publicou um estudo
mento de sensibilidades e das capacidades Nas últimas décadas, alguns educadores de neve, meia noite, diabo as queda, nego demonstrando que "...crianças negras, algu-
intelectuais e operativas, embasadas em têm tentado fundamentar sua prática cotid- diabo, figura do cão, alma branca, macaco, mas das quais com apenas 3 anos de idade, já
valores éticos necessários à formação de iana direcionando-a, para uma educação monstro, negro gordo, Pelé, mussum, cuian, se tinham convencido de que ser negro não é
profissionais comprometidos com a con- anti-racista, o que abre maiores possibili- kintê, zulu, são algumas das alcunhas mais uma coisa boa: elas rejeitavam bonecas pretas,
strução de sociedades mais solidárias. dades de sucesso escolar para o aluno ne- usadas e que representam uns dos fatores sentindo que bonecas brancas eram mais bo-
gro. Nesse construir, alguns princípios fun- da exclusão, evasão e repetência escolar. nitas e geralmente superiores." Como escre-
CRIANÇA NEGRA NO ESPAÇO damentais têm norteado seus trabalhos. veu NEGRÃO (1976, p.185), isto sugere que
ESCOLAR ATITUDES DE PRECONCEITO as vantagens educacionais do "separado mas
O RESPEITO PELAS DIF- igual" nunca são iguais, pois fazem a criança
Segundo MUNANGA (2000), as experiên- ERENÇAS Segundo GOMES (2001), a atitude atua das minorias saber que ela está sendo segre-
cias negativas vivenciadas pelas crianças ne- como uma espécie de peneira ou filtro, que gada, porque há qualquer coisa errada com ela.
gras no modelo de sociedade discriminatória Segundo SANTOS (2001), os alunos ne- reduz a quantidade de informação de que
brasileira fazem com que elas sejam levadas gros, identificados pelas feições indepen- dispomos e nos permite relacionar a infor- Num estudo idêntico ao de GONÇALVES,
a construir negativamente imagens sobre si dentes da consistência de cor da sua pele, mação nova com a que já possuímos.O modo demonstrou que "...as mulheres têm sido en-
próprias. A escola pública, no entanto, que é constituem a maioria dos alunos repetentes, mais provável de aprender atitude é através sinadas a se considerarem intelectualmente
basicamente constituída pela população em- fora da faixa etária correspondente à série es- da imitação. Isso consiste na aprendizagem inferiores aos homens". (1998, p.63). Nesse
pobrecida, filhos de trabalhadores, em sua colar cursada, bem como a maioria dos que pelo exemplo e é considerada como um mét- experimento, Gonçalves pediu a certo núme-
maioria negra, deverá atentar para o perfil psi- evadem durante o ano letivo. São alunos de odo importante por meio do quais as pes- ro de moças universitárias para que lessem
cológico e o quadro adverso em que se desen- baixa estima e de auto conceitos, que foram soas aprendem atitudes do seu ambiente alguns artigos e os avaliassem em termos
volve a socialização desse seu público alvo. condicionados a se identificarem como fei- cultural – família, classe, raça ou religião. de estilo, assunto, etc. Para algumas estu-
os, sem inteligência, a não gostarem da cor dantes, os artigos apresentados eram assi-
Certamente, a história de vida dessa popu- da sua pele, nem dos seus cabelos e muitos As atitudes podem mudar ou serem mu- nados por homens; para outras, os mesmos
lação deverá ser o ponto de partida para o fa- afirmam não ser negros e sim morenos, “café dadas de muitos modos, dependendo das artigos apresentados eram assinados por
vorecimento de seu processo de construção com leite”, “cor de jambo”, “marrom bombom” informações e experiências de cada pes- mulheres. As estudantes classificaram os
de conhecimento. Incorporar, ao seu cotidi- e outros cognomes, a fim de esconder a sua soa. Talvez mudem de maneira involuntária, artigos em grau mais alto se fossem assina-
ano, estratégias que contemple as necessi- real identidade e isso, revela a tentativa de como resultado de novas experiências ou dos por um escritor homem, do que quando
dades específicas desses alunos é dever de branqueamento, como também, a introjeção talvez sejam mudadas deliberadamente por eram assinados por uma mulher. Em outras
todo profissional de educação e, em especial, e assunção dos valores ideológicos europeus. um propagandista habilidoso. Também pode palavras,... estas mulheres tinham aprendido
daquele que atua na escola pública e a deseja ser provocada por mudanças de comporta- o seu verdadeiro lugar: consideraram o pro-
de qualidade! Isto quer dizer que as propostas Aqueles alunos não atendem pelo seu legí- mento. Uma das atitudes mais estudadas duto do trabalho de outras mulheres como
curriculares brasileiras deverão fundamen- timo nome, são tratados por apelidos tradi- nos nossos dias é o preconceito. Ele ref- necessariamente inferior ao dos homens.
tar-se em princípios norteadores de uma ed- cionais e de modismo: preto, preta, preto ere-se a um prejulgamento, um sentimento
ucação anti-racista; tratar pedagogicamente feio, pretinha, preto nojento, imundo, negão, ou resposta antecipada para com pessoas Não discutiremos situações de preconceito

676 677
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

"a favor de" pessoas; limitar-nos-emos a ati- ria das pessoas emprega na tentativa de in- além da relação consciente que ele pode con-
tudes negativas. Usaremos a definição de NE- ferir as causas do comportamento observado. CONSIDERAÇÕES FINAIS trolar e que depende da sua vontade. O aluno
GRÃO que considera o preconceito "como uma transfere para o professor a figura de auto-
atitude hostil ou negativa para com determi- As quatro causas básicas do preconceito são: Mesmo sabendo que seja impossível ridade e bate de frente com tudo que essa
nado grupo, baseando-nos em generalizações os conflitos ou as competições econômicas e uma escola igual para todos, acreditamos figura de autoridade representa. O profes-
derivadas de informações deformadas ou in- políticas; a agressão deslocada; as exigências que seja possível a construção de uma es- sor acaba sendo o depósito das finalmente,
completas. Por exemplo: quando dizemos que da personalidade; e conformismo com as nor- cola que reconheça que os alunos são difer- procurando estudar a questão da indisciplina,
um indivíduo tem preconceito contra negros, mas sociais existentes. Estas quatro causas entes, que possuem uma cultura diversa e que é uma das mais graves da Pedagogia de
queremos dizer que ele se orienta para com- não se excluem elas podem atuar todas ao que repense o currículo, a partir da realidade hoje, nos deparamos com todo um contex-
portar-se com hostilidade contra negros; ele mesmo tempo, mas seria melhor determinar a existente dentro de uma lógica de igualdade to de Psicanálise e Educação a ser estuda-
sente que, com talvez uma ou duas exceções, importância de cada uma delas, pois qualquer e de direitos sociais. Assim, podemos de- do, entendido, começando pelo fato de que
todos os negros são iguais; as características ação que recomendamos na tentativa de reduz- duzir que a exclusão escolar não está rela- todo adulto perante uma criança depara-se,
que ele dá aos negros são totalmente incorre- irmos o preconceito, dependerá do que acredi- cionada somente com o fator econômico, de fato, com sua própria infância recalcada.
tas ou, na melhor das hipóteses, baseiam-se tamos ser a causa maior do preconceito. ou seja, por ser um aluno de origem pobre, Que uma educação torna-se possível, precis-
num germe de verdade que ele zelosamente mas também pela sua origem étnico-racial. amente, à medida que o adulto desdobra a
aplica ao grupo como um todo".(1976, p. 129). REDUZINDO O PRECONCEITO diferença que medeia entre a criança que foi
No preconceito professor-aluno, é pre- uma vez para outros e essa criança real junto
Quando generalizamos características ou Segundo KREUTZ (1999), para reduzir o pre- ciso que o educador saiba que espera, com à qual deve sustentar uma palavra educadora.
motivos para um grupo de pessoas, estamos conceito é importante que se oportunize sua postura e objetivos, despertar o dese-
a estereotipar. Estereotipar não é necessari- cada vez mais situações onde pessoas de jo de saber do aluno, mas que esse desejo é Para fazer frente a esse problema, os pro-
amente um ato abusivo intencional, muitas diferentes descendências possam participar despertado não só por questões conscien- fessores precisam estar seguros de seu papel
vezes é apenas um meio de simplificar nossa e se expressar, mostrando seu valor e o val- tes, mas inconscientes, que fogem do con- e não ficar hesitantes para tomar decisões.
visão do mundo, e todos nós, de uma forma ou or de sua raça; que nos cursos normal e de trole desse professor, que exerce seu ofício Têm que se responsabilizar por aquilo que
de outra, o fazemos. A maioria dos estereóti- Licenciatura seja trabalhada a Psicologia So- e, por baixo, há o alvo da ação transferencial; decidem e não temer colocar limites para
pos não se baseia em experiências válidas, cial, dando ênfase ao estudo das atitudes e o educador está abalizado por esse tipo de as ações dos alunos e de suas famílias, pois
mas sim em boatos ou em imagens forjadas preconceitos com vistas a instrumentalizar demanda e, inconscientemente, há o ganho o ambiente escolar é diferente do familiar
pelos meios de comunicação, ou é gerada em o futuro docente; que as escolas se abram narcísico; esse reconhecimento do seu eu- e na escola não é a família que deve decid-
nossas próprias cabeças, como recurso para para receber e manter no seu interior estu- professor. Em geral, quando os professores ir. Há que se resgatar a autoridade docente.
justificar nossos preconceitos e crueldade. dantes das mais diversas procedências, ofere- se deparam com alunos, revivem eles mes-
cendo as mesmas condições para todos; e mos quando foram alunos e tiveram boas
A atribuição é uma forma de estereoti- que se comece a cultivar urgentemente va- referências de escolas, no sentido de integrar
pagem. SOUZA (2001 p.83) escreve que, lores relacionados com a essência de cada valores e serem sujeitos do conhecimento.
nos últimos anos, o fenômeno da atribuição um, desvinculando a sua capacidade da sua
tem sido explorado de maneira sistemáti- procedência (família), da sua etnia, da sua O professor tem que trabalhar a questão
ca por alguns pesquisadores e suas maiores classe sócio-econômico-cultural e religiosa. da onipotência. Tem que saber que existe
descobertas têm sido armadas na Teoria da um inconsciente entre o professor e o aluno,
Atribuição que trata das regras que a maio-

678 679
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

CAVALLEIRO, E. "Educação anti-racista: com- T. Identidade e Diferença. A perspectiva de es-


promisso indispensável para um mundo mel- SANTOS, I. A "A responsabilidade da escola na tudos Culturais. Petrópolis/ RJ: Vozes, 2000.
hor". In: Cavalleiro (org) Racismo e anti-racis- eliminação do preconceito racial: alguns camin-
mo na educação. São Paulo: Summus, 2001. hos". In: Cavalleiro(org.) Racismo e anti-racis-
mo na educação. São Paulo: Summus, 2001.
D’ADESKY, J. Pluralismo étnico e multi-
culturalismo: Racismos e Anti-Racismos SOUZA, E.F. "Repercussões do discurso ped-
no Brasil, Rio de Janeiro: Pallas, 2001. agógico sobre relações raciais nos PCNs"
In: Cavlleiro(org) Racismo e anti-racismo
GONÇALVES, Luiz Alberto Oliveira & SIL- na educação. São Paulo: Summus, 2001.
VA, Petronilha B. Gonçalves e. O jogo das
diferenças: Multiculturalismos e seus con- NASCIMENTO E.L. "Sankofa: educação
textos. Belo Horizonte: Autêntica, 1998 e identidade afrodescendente" In: Ca-
MARTA GOMES DE LIMA valleiro (org) Racismo e anti-racismo na
GOMES, N. L. "Educação cidadã, etnia e educação. São Paulo: Summus, 2001.
raça: o trato pedagógico da diversidade"
Professora e Pedagoga Graduada e In: Cavalleiro(org) Racismo e anti-racismo MUNANGA, Kabengele. O preconceito ra-
com Pós em Ludopedagogia e Edu- na educação. São Paulo: Summus, 2001. cial no sistema educativo brasileiro e seu
cação Especial pela Faculdade Cam- impacto no processo de aprendizagem do
pos Elíseos. KREUTZ, L. "Identidade étnica e proces- “alunado negro”. IN: Utopia e democra-
so escolar" In: Cadernos de pesquisa, cia na Escola Cidadã. Porto Alegre: Edito-
Fundação Carlos Chagas n.107, julho, 1999. ra da Universidade Federal de RGS, 2000.

LOPES,José.“Diversidade etnocul- PIERUCCI, Antônio Flavio. Vivendo o pre-


tural na escola”.< https://www.apa- conceito em sala de aula IN: Diferenças e
gina.pt/?aba=7&cat=118&doc= preconceitos na escola alternativas teóri-
9147&mid=2> Acesso em: 15 Ago.2019. cas e praticas. São Paulo: Summnus, 1998
Ciladas da diferença. Tempo Social, 1990.
NEGRÃO, E. "Preconceitos e Discriminações
raciais em livros didático e infanto-juve- ___________. "Socialização e Recalque: A cri-
nil".In: Cadernos de Pesquisas. Fundação ança negra no rural".In: Cadernos CEDES:
Carlos Chagas. n.17 junho de 1976. Educação e diferenciação cultural de ne-
gros e índios. N. 32, São Paulo: Papirus.
PINTO, R.P. "Diferenças étnico-raci-
ais e formação de professor". In: Cad- WOODWARD, K. "Identidade e Diferença:
ernos de Pesquisas, Fundação Car- Uma Introdução teórica e conceitual" In: Silva,
los Chagas, n.108, novembro de 1999.

680 681
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ucação Básica. Desse modo verifica-se um


INTRODUÇÃO grande avanço no que diz respeito aos dire-
itos das crianças, uma vez que a educação
A presente pesquisa de caráter bibli- infantil é um direito da criança e tem o ob-
ográfico encontra-se ancorado nos autores jetivo de proporcionar condições adequadas
de intitulado com estudos na “Ludicidade para o desenvolvimento e bem estar infantil,
na Creche”, a pesquisa tem como objetivo assim como o desenvolvimento físico, motor,
compreender como o lúdico contribui para emocional, social, intelectual e a ampliação
a formação da criança e a sua importância de suas experiências. Assim, podemos diz-
no processo educacional, porque a criança er que o lúdico é como se fosse uma parte
como todo ser humano, é um sujeito social inerente do ser humano, utilizado como re-
e histórico e devemos respeitá-los como curso pedagógico em várias áreas de estudos
tal. Assim, estaremos expondo reflexões so- oportunizando a aprendizagem do indivíduo.
bre o tema e alguns teóricos irão embasar
a nossa discussão, Santos (2001), Vygotsky O BRINCAR: A APRENDIZA-
(1998), RCNEI (1998) entre outros. Os ref- GEM QUE SE INICIA NA CRECHE
erentes teóricos contribuíram nos aspectos
relevantes a acerca da temática apresenta- Educar não se limita a repassar informações
da, uma vez que compreender e conhecer o ou mostrar apenas um caminho, aquele con-
LUDICIDADE NA CRECHE jeito particular de cada criança é o grande siderado o mais correto pelo professor, mas
desafio da educação e de seus profissionais. possibilitar a tomada de consciência de si
mesmo, dos outros e da sociedade. É saber
RESUMO: A presente pesquisa versará a ludicidade na creche que é uma inquietação Observa-se que o lúdico é uma fer- aceitar a si mesmo e o outro como pessoa.
que vem de diversas culturas. O brincar envolve a aquisição de conhecimento e habili- ramenta importante na Educação Infan- É oferecer várias ferramentas para que o ser
dade, despertando na criança o interesse de aprender de forma prazerosa. A criança que til, ele é um recurso didático dinâmico humano possa escolher entre muitos camin-
brinca desenvolver não só as coordenações motoras, cognitiva como também equil- que garante resultados eficazes na edu- hos, aquele que for compatível com seus va-
ibra o emocional e o social. Aprendendo a lidar com as diversidades com mais facil- cação, requer um planejamento e cuida- lores, sua visão de mundo e com as circun-
idade. Desta forma, a escola precisa propiciar momentos que favoreçam a experiências do na execução da atividade elaborada. É stâncias adversas que cada um irá encontrar.
com o lúdico para que as crianças possam construir por meio da imaginação oportuni- por meio do lúdico que o educador pode Lopes (2005), fala que a criança, indepen-
dade de refletir sobre o cotidiano e as ações necessárias para os desafios que são pos- desenvolver atividades que sejam diver- dentemente de sua época e civilização, sem-
tos pela sociedade. Assim, a pesquisa abordará alguns aspectos relevantes sobre a im- tidas e que, sobretudo ensine os alunos a pre brincou. Trata-se de uma forma de sentir
portância do lúdico no processo educacional. A partir de pesquisas bibliográficas, foi discernir valores éticos e morais, forman- prazer em fazer. E que, mesmo os professores
possível visualizar a ludicidade como ferramenta essencial no processo de ensino/apren- do cidadãos conscientes dos seus deveres buscando métodos e técnicas que auxiliem
dizagem da Educação Infantil. A fundamentação da pesquisa está pautada nas abord- e de suas responsabilidades, além de pro-
agens de diversos teóricos, dentre eles, Vygotsky, Piaget, Almeida, RCNEI entre outros. na aprendizagem, as crianças sempre vão en-
porcionar situações que haja uma interação
maior entre professores e alunos, em uma contrar na brincadeira o desenvolvimento de
Palavras-chave: Ludicidade na creche; Educação Infantil; Aprendizagem. aula diferente e criativa, sem ser rotineira. suas habilidades e características culturais.

A Educação Infantil ganha ênfase em O desenvolvimento da criança acontece


1996, quando a LDB ao tratar da com- por meio do lúdico. Ela precisa brincar para
posição dos níveis escolares, inseriu a ed- crescer. Segundo Piaget (1989), a manei-
ucação infantil como primeira etapa da Ed-
ra como a criança assimila “transformar o

682 683
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

meio para que este se adapte às suas neces- ologias, planejamentos, professores e ambi- o direito de aprender e aprender com praz- faz de conta, que é o momento de ênfase à
sidades” e de acomodar “mudar a si mesmo entes voltados ao mundo das crianças que es- er. Já é comprovado que os resultados são imaginação, vivenciando ideias por meio da
para adaptar-se ao meio”, deverá ser sempre tão iniciando a vida escolar. O autor ressalta: positivos, como é conferido nos trabalhos de literatura infantil. Assim, conforme os au-
por intermédio do lúdico. O lúdico é conce- Algumas questões são quase que determi- grandes estudiosos como Bomtempo (2011), tores o brinquedo é um suporte da brinca-
bido como estratégia insubstituível para ser nantes no processo de desenvolvimento da Lopes (2005), Piaget (1989), Vygotsky (1998), deira tem papel estimulante para a criança no
usada como estímulo na construção do con- mente infantil, como os ambientes estimu- Shudo (2002) e outros autores que abordam momento da ação lúdica. Tanto o brinquedo
hecimento humano e na progressão das dif- lantes; as práticas educativas estimulantes, a a temática da ludicidade e o desenvolvimen- quanto a brincadeira, permitem a exploração
erentes habilidades operatórias. Além disso, é exploração de diversos objetos; o encoraja- to da aprendizagem iniciando-se na creche. do seu potencial criativo numa sequência
uma importante ferramenta de progresso pes- mento do adulto nas atividades que possibili- O professor é a peça chave desse processo, de ações libertas e naturais em que a imag-
soal e de alcance de objetivos institucionais. tem à criança superar desafios, usar sua imag- devendo ser considerado como um elemen- inação se apresenta como atração principal.
Por meio da literatura percebemos o grande inação e criatividade. (SHUDO 2002, p. 472). to essencial e de fundamental importância. Conforme Bomtempo (2011), por meio do
universo do significado dos jogos infantis. As Quanto maior e mais rica for sua história de brinquedo a criança reinventa o mundo e lib-
brincadeiras de faz de conta têm qualidade Shudo evidencia os trabalhos voltados à cri- vida e preparação profissional, maiores serão era suas atividades e fantasias. Por intermédio
social no simbólico, contando com transações ança devem ser planejados e todo o ambiente as possibilidades de desempenhar uma prática da magia do faz de conta explora os limites e,
interpessoais, eventos, aventuras que abar- deve estar preparado para esse desenvolvi- educacional consistente e significativa. Sobre parte para aventura que a leva ao encontro do
cam outras dimensões de tempo e espaço. mento. A atividade realizada com o lúdico é esse assunto, Nóvoa (1991) afirma que não a si mesmo. A entrada da criança no mundo
Betthleim (1988), em seus estudos foca que uma estratégia insubstituível para ser usada é possível construir um conhecimento ped- do faz de conta marca uma nova fase de sua
o simbolismo, dentro deste universo, conseg- como estímulo na construção do conheci- agógico para além dos professores, isto é, que capacidade de lidar com a realidade, com os
ue ligar fantasia e realidade, as crianças assim mento humano e na progressão das diferentes ignore as dimensões pessoais e profissionais simbolismos e com as representações. Com
possuem um controle que na realidade não habilidades operatórias, além de constituir-se do trabalho docente. Não se quer dizer, com o brinquedo a criança satisfaz certas curiosi-
têm. Brincam com situações muito complexas, em importante ferramenta de progresso pes- isso, que o professor seja o único responsável dades e traduz o mundo dos adultos para a di-
integrando experiências reais as brincadeiras. soal e de alcance de objetivos institucionais. pelo sucesso ou insucesso do processo ed- mensão de suas possibilidades e necessidades.
A ligação com o simbolismo, segundo Piag- Shudo (2002), explica que o lúdico direcio- ucativo. No entanto, é de suma importância Segundo Lopes (2005), a criança precisa vi-
et (1971), nasce quando ao brincar a criança nado as crianças, proporciona o desenvolvi- sua ação como pessoa e como profissional. venciar ideias em nível simbólico para com-
consegue assimilar o mundo de seu jeito, já mento de suas habilidades contribuindo no O jogo e a brincadeira estão presentes preender o significado na vida real. O pens-
que a interação depende da razão atribuída processo de aprendizagem. No entanto, em em todas as fases da vida dos seres hu- amento da criança evolui com base nas suas
ao objeto e não da natureza dele. Assim, por algumas escolas, ele é visto “como momentos manos, tornando especial a sua existência. ações, razão pela qual as atividades são tão
início seria o jogo simbólico solitário e depois destituídos de significados”. As brincadeiras De alguma forma o lúdico se faz presente importantes para o desenvolvimento do
o sócio dramático, a representação de papéis. levam as crianças a realizarem as atividades e acrescenta um ingrediente indispensável pensamento infantil. Mesmo que conheça
No faz de conta, a criança usaria a incorpo- de aprendizagem de forma prazerosa, na sua no relacionamento entre as pessoas, pos- determinados objetos ou que já vivenciou
ração de personagens e os graus de fantasia, liberdade de expressão, sem demonstrar como sibilitando que a criatividade aflore. determinadas situações, permitindo que a
os quais modificam a situação. O brincar rep- algo obrigatório. Podemos perceber, diante Ao aprofundarmos os estudos tendo por base compreensão das experiências fique mais
resenta uma fase do desenvolvimento da in- das pesquisas dos estudiosos de que o lúdi- os autores aqui descritos, entendemos que o clara quando as representam em seu faz de
teligência, na qual assimilação e acomodação co engloba a proposta de jogos, brinquedos brincar é a ludicidade do aprender. A criança conta. Neste tipo de brincadeira há também
acontecem, consolidando experiências pas- e brincadeiras, tendo em vista a grande re- aprende ao passo que brinca. Fazem parte oportunidade de expressar e elaborar de for-
sadas. Shudo (2002), explica que a educação sponsabilidade do professor para alcançar a dessa pesquisa três momentos que alicerçam ma simbólica, desejos, conflitos e frustrações.
infantil está compreendida com um trabalho aprendizagem das crianças, fazendo-se a inte- o interdisciplinar dos sujeitos envolvidos: o
voltado à busca da identidade de crianças em gração dos conteúdos curriculares propostos A CONTRIBUIÇÃO DO LÚDICO
idade pré-escolar, para isso, utilizando metod- com o lúdico, mas sem negar que todos têm
684 685
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

NA APRENDIZAGEM DA CRIANÇA lúdico/cultural. Contudo, ainda não são vistas No entanto, quando as crianças estão brin- dentro da qual se desenrola a ludicidade que
como um facilitador da aprendizagem nas es- cando elas incorporam valores, conceitos e é portadora de um interesse intrínseco, ca-
É sempre importante refletir sobre as práticas colas e, quando utilizadas não lhes são con- conteúdo, que auxiliam no desenvolvimento nalizando as energias no sentido de um es-
realizadas em sala de aula, e como elas artic- feridos o real valor de tais atividades para o de habilidades, até na equação de algumas forço total para consecução de seu objetivo.
ulam o lúdico no auxílio do desenvolvimento desenvolvimento infantil. Maria Lopes (2005), dificuldades de aprendizagem. Em seus es- Assim, as atividades lúdicas são excitantes,
da aprendizagem, considerando-o como pro- fala que por muitos anos o ensino por meio tudos Lopes (2005), relaciona as brincadei- mas também requerem um esforço voluntário,
cesso formativo da criança. Com isso é im- de ações lúdicas não visava o desenvolvimen- ras ao desenvolvimento da aprendizagem uma vez que mobilizam esquemas mentais.
portante entender, como o tempo e o espaço to da criança, era realizado por parte do pro- nos primeiros anos escolares, trabalhando a Uma atividade física e mental, ou seja, a lu-
são garantidos para o uso das atividades, e fessor, ou seja, o recurso continuava utilizado ansiedade encontrada nas crianças, além de dicidade aciona e ativa as funções psiconeu-
no auxílio do mesmo, no processo de social- somente no aspecto visual, na qual o aluno rever os limites de comportamento. Dessa rológicas e as operações mentais, estimulan-
ização da criança, sabendo que o professor de apenas observava o professor manipular. forma, aumenta sua autoestima na realização do o pensamento. Com isso integram as várias
Educação Infantil deve unir as disciplinas es- Os educadores se ocuparam durante mui- de tarefas, o que diminuirá sua dependência, dimensões da personalidade: afetiva, motora
colares. Ao refletirmos sobre o mundo infantil, tos anos com métodos de ensino, e só desenvolvendo sua autonomia. Por meio das e cognitiva. Como atividade física e mental
devemos respeitar esse processo no desen- hoje a preocupação está sendo desco- atividades aprimoram suas habilidades moto- que mobiliza as funções e operações, a ludi-
volvimento infantil. Para Vygotsky (1998), o brir como a criança aprende. As mais vari- ras, a concentração, o controle segmentar, a cidade aciona tanto a esfera motora, quanto
imaginário é o mundo em que a criança se adas metodologias podem ser eficaz- discriminação auditiva, o raciocínio lógico, a à cognitiva, e à medida que gera envolvimen-
caracteriza, na qual seus desejos irrealizáveis es se não forem adequadas ao modo de criatividade e a percepção de figura e fundo. to emocional, recorre para a esfera afetiva.
podem se tornar possíveis por meio da brin- aprender da criança. (LOPES 2005, p. 35). Para podermos estabelecer os parâmetros ed- Bomtempo (2010) relata em seus estudos
cadeira. A imaginação seria um processo psi- Para Oliveira (2010) as brincadeiras na creche ucativos da criança de hoje, precisamos enx- que as atividades lúdicas podem ser uma
cológico novo para a criança em desenvolvi- não são estruturadas e nem cumprem a ergá-la de três dimensões: a corporal, a afeti- brincadeira, um jogo ou qualquer outra ativ-
mento, representando uma forma humana de função clara no desenvolvimento da criança. va, e a cognitiva, que devem desenvolver-se idade que permita tentar uma situação de
atividade consciente, não estando presente Por algum tempo os pais não consideravam simultaneamente e concomitantemente. Se, interação. Porém, mais importante do que o
na consciência de crianças muito pequenas a creche como formação dos filhos, enten- porém, estiver sendo desenvolvida em det- tipo de atividade lúdica é a forma como é di-
e totalmente ausentes nos animais, apare- diam que as brincadeiras não contribuem rimento de outra, certamente esse equilíbrio rigida e como é vivenciada, e o “porquê” de
cendo como consequência da ação como em nada para a aprendizagem, conceben- acarretará desorganização do indivíduo em se estarem realizando. Com o mesmo intuito,
todas as funções da consciência, o que aux- do-a somente como uma atividade na qual sua dimensão global. (LOPES 2005, p. 19). Lopes (2005) assinala que, para obter êxito
ilia no desenvolvimento como pessoa. Para o as crianças gastam um pouco de energia. Segundo a autora Vera Oliveira (2010), con- nos resultados almejados, é necessário que o
autor a imaginação é o brinquedo em ação. Entende-se que muitos pais não valorizam statou-se que o lúdico apresenta dois el- professor esteja atualizado constantemente.
Para Piaget (1989), o desenvolvimento da o brincar no contexto escolar, e chegam até ementos que o caracterizam: o “prazer” e Para que isso seja possível, é necessário a
criança, vem conduzindo o estudo por fase associá-lo a um desgaste de energia. Portan- o ”esforço espontâneo”. Ele é considerado formação contínua e o interesse pela bus-
de evolução de aquisição da maturidade da to, pode-se observar que não há uma distân- prazeroso, graças a sua capacidade de absor- ca do conhecimento por parte do professor.
infantil até adolescência, expondo que “o cia grande entre essa concepção de alguns ver o indivíduo de forma intensa e total, cri-
desenvolvimento mental é uma construção pais, é o que se observa em algumas esco- ando um clima de entusiasmo. É este aspec- Os educadores muitas vezes se perdem e
contínua”. Nessa perspectiva o lúdico envolve las. Muitas instituições por terem essa visão, to de envolvimento emocional que o torna não conseguem mais atrair a atenção ou
a criança desde o nascimento, independente querem ser vistas como entidades sérias, e uma atividade com forte teor motivacional, motivar seus alunos, pois se o educando
da época ou estrutura cultural. Assim, as ativi- acabam negando essa situação lúdica as cri- capaz de gerar um estado de vibração e eu- mudou, o educador também precisa mu-
dades lúdicas, apesar de ser um impulso natu- anças, ao passo que a possibilite de aprender. foria. Em virtude desta atmosfera de prazer dar. Os métodos tradicionais de ensino es-
ral da criança, fazem parte do seu patrimônio

686 687
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

tão cada vez menos atraentes para a criança, odologia de aplicação, na organização e no cional e cognitivo. Ao brincar e jogar a criança mente presente nas necessidades do aluno.
ela quer participar, questionar, atuar e não prover de suas estratégias, de acordo com exercita suas potencialidades e provoca o fun- Acreditava-se que toda aprendizagem ocor-
consegue ficar horas a fio sentada ouvindo as necessidades peculiares das faixas etárias. cionamento do pensamento. Essas atividades ria pela repetição e que aqueles que não
uma aula expositiva. (LOPES 2005, p. 22). Por intermédio da pesquisa realizada podem- mesmo antes de serem valorizadas como fer- aprendiam eram responsáveis por essa defi-
os perceber que as atividades lúdicas pos- ramentas essenciais na educação, sempre se ciência e, portanto, merecedores do casti-
Com objetivo, os autores abordam que toda suem uma enorme capacidade sobre a cri- fizeram presente no dia-a-dia do indivíduo, go. Mas hoje já se sabe que não existe en-
criança que participa de atividades lúdicas, ança, no auxílio de seu desenvolvimento e na isto em qualquer povo, desde os primórdios. sino sem que ocorra aprendizagem, e está
adquire novos conhecimentos e desenvolve estruturação das habilidades, proporcionando A ação de brincadeira é uma forma de di- só acontece pela transformação, pela ação
habilidades de forma natural e agradável, que a criança divertimento, prazer, convívio, es- vertimento próprio da infância, é uma ativi- facilitadora do professor e pelo processo
gera um forte interesse em aprender e garan- tímulo intelectual, desenvolvimento harmo- dade natural da criança, que não implica em de busca do conhecimento. Para a autora:
te o prazer. Na educação infantil, por meio das nioso, autocontrole, e auto realização. Com compromissos, planejamentos e seriedade, A necessidade da recuperação da força do
atividades lúdicas a criança brinca, joga e se di- isso o professor deve propiciar a exploração mas envolve comportamentos espontâ- lúdico na educação fica ainda mais patente,
verte. Ela também age, sente, pensa, aprende da curiosidade infantil, incentivando o desen- neos e geradores de prazer, assim, torna-se se considerarmos que o processo educativo,
e se desenvolve. Penteado (2011) e Bomtem- volvimento da criatividade, das diferentes for- ferramenta significativa no processo de tal como se manifesta, na sociedade contem-
po (2011) deixam claro que as atividades lúdi- mas de linguagem, do senso crítico e de pro- ensino/aprendizagem, considerando que, porânea, é voltado, quase que exclusivamente,
cas podem ser consideradas, tarefas do dia-a- gressiva autonomia. Como também ser ativo quando direcionada, pode levar a criança para a “vida produtiva”. (SANTOS 2001, p. 47).
dia na Educação Infantil. Variados os motivos quanto às crianças, criativo e interessado em a adquirir conhecimento de forma praze- A criança, independentemente de sua idade,
que induzem os educadores a apelar às ativi- ajudá-las a crescerem, fazendo das atividades rosa e descontraída. Para Almeida (2003) no processo educacional passa a ser um de-
dades lúdicas e a utilizá-las como um recurso lúdicas de forma planejada na Educação In- “todo aprendizado que o brincar permite é safio à competência do professor, que deve
pedagógico no processo de ensino-aprendiza- fantil, assim tornando esta ferramenta um fundamental para a formação da criança, despertar nela o interesse pela aprendiza-
gem. A criança é automotivada para qualquer excelente instrumento facilitador do ensino/ em todas as etapas da sua vida”, e ressalta: gem. É nesse contexto que o jogo ganha um
prática, especialmente a lúdica, havendo uma aprendizagem. As ações lúdicas, juntamente A Educação Lúdica, além de contribuir e in- espaço como ferramenta ideal no processo
tendência da percepção quanto à importân- com a boa pretensão dos educadores, são fluenciar na formação da criança e do ad- da aprendizagem, considerando que ajuda
cia de atividades para o seu desenvolvimento. caminhos que contribuem para o bem estar, olescente, possibilitando um crescimento a construir novas descobertas, desenvolve
Assim favorece a procura pelo retorno e pela entretenimento das crianças, garantindo-lhes sadio, um enriquecimento permanente, in- e enriquece a personalidade e simboliza um
manutenção de determinadas atividades. uma agradável estada na creche ou escola. tegra-se ao mais alto espírito de uma práti- instrumento pedagógico que possibilita ao
Já Knappe (1997), diz que numa atividade ca democrática enquanto investe em uma pedagogo a condição de condutor, estim-
lúdica, existe a finalidade que transcende O REFORÇO DO LÚDICO NO DESEN- produção séria do conhecimento. Sua par- ulador e avaliador dessa aprendizagem.
as necessidades imediatas da vida e con- VOLVIMENTO COGNITIVO INFANTIL ticipação franca, criativa, livre, crítica, pro- O educar pela via da ludicidade sugere uma
fere um sentido à ação. As atividades lúdi- movendo interação social e tendo em vista o nova postura existencial, é preciso que os ed-
cas promovem ou restabelecem o bem es- forte compromisso de transformação e mod- ucadores reconheçam o real significado do
tar psicológico da criança. No contexto de A ludicidade é uma temática que tem conquis- ificação do meio. (ALMEIDA, 2003, p. 59). lúdico para aplicá-lo adequadamente, de for-
desenvolvimento social da criança é parte tado espaço no âmbito educacional, sobretudo ma a estabelecer a relação entre o brincar e o
do repertório infantil e integra dimensões da na Educação Infantil, por serem os jogos e as Durante muito tempo confundiu-se “ensinar” aprender a aprender. (SANTOS, 2001, p. 15).
interação humana necessária na análise psi- brincadeiras tão fundamentais ao ser humano com “transmitir”, nesse período a criança Na Educação Infantil, as atividades lúdi-
cológica. Todas as atividades lúdicas podem como o alimento que os nutre, visto que vão era um agente passivo da aprendizagem e cas servem de parceiras para o profes-
ser aplicadas em diversas faixas etárias, con- muito além do divertimento e servem como o professor um transmissor não necessaria- sor, visto que contribuem para que a
tudo podem sofrer intervenção em sua met- suporte para o desenvolvimento socioemo-

688 689
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

dinâmica de ensino se torne agradável, beres construídos ao longo da história ta: lugar do simbolismo, das regras e do imag-
descontraída, possibilitando à criança o de vida do profissional da educação. inário (Org.). 14. Ed. São Paulo: Cortez, 2011.
aprendizado de maneira espontânea e signifi- Compreendemos que as sínteses construí-
cativa. De acordo com Referencial Curricular: das com base nas vivências, saberes relações, BETHELHEIM, Bruno. Uma vida para o
Brincar é uma das atividades para o desen- sentimentos e significados que vamos atribu- seu filho. Rio de Janeiro: Campus, 1988.
volvimento da identidade e da autonomia. O indo a cada experiência na história de vida
fato da criança desde muito cedo, poder se co- constitui a individualidade singular de cada BRASIL. Ministério da Educação e do
municar por meio de gestos, sons e mais tarde criança, é essa singularidade está relacionada Desporto. Referencial Curricular Nacion-
representar determinado papel na brincadeira ao processo de constituição de cada sujeitos al de Ed. Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.
faz com que ela desenvolva sua imaginação. únicos e ao mesmo tempo, influenciada pe-
Nas brincadeiras as crianças podem desen- las relações sociais. Durante o percurso, seja D ‘ÁVILA, Cristina Maria. Universidade e for-
volver algumas capacidades importantes, no convívio familiar ou na sociedade de modo mação de professores: qual o peso da for-
tais como a atenção, a imitação, a memória, mais amplo, cada um realiza contatos com a mação inicial sobre a construção da iden-
a imaginação. Amadurecem também algu- ludicidade (sentimentos de prazer, alegria, MICHELLE PATRICIA THEO- tidade profissional docente? Bahia, 2012.
mas capacidades de socialização, por meio construtivos) que no conjunto de outros sig- DORO GUSSON
da interação e da utilização e a experimen- nificados provenientes de diversas experiên- KNAPP, Pablo. Mais do que um jogo: Teo-
tação de regras sociais. (RCNEI, 1998, p. 22) cias (dolorosas, tristes, depreciativas), forma Graduação em Pedagogia pela Faculdade ria e prática do jogo em psicoterapia. Int.
e transforma o ser humano e o ser professor. Anhanguera, ano de conclusão: 2013; Ruth Rejtmanl. São Paulo: Ágora, 1997.
O conteúdo das atividades de lazer pode ser Nessa perspectiva, no curso de formação de Especialista em Psicopedagogia Facul-
altamente educativo e a forma como essas pedagogia podemos concluir como deve ser dade Anhanguera, ano de conclusão: 2015; LOPES, Maria da Glória. Jogos na educação: cri-
atividades são desenvolvidas abre proba- um bom professor de Educação Infantil e toda Professora de Educação Infantil pela Pref. Mu- ar, fazer, jogar. 6. Ed. São Paulo, Cortez, 2005.
bilidades pedagógicas muito amplas, con- diferença que faz na vida de uma criança. A nicipal de S. P. EMEI Jardim da Conquista II. LÜDKE, Menga; BOING, Luiz Al-
siderando que o componente lúdico, com pesquisa mostrou a eficácia da ludicidade berto. Caminhos da profissão e da
seu faz de conta que permeia o lazer, pode na vida de professores e de crianças da Ed- profissionalidade docentes. In: Edu-
se estabelecer uma espécie de revelação da ucação Infantil. Diante de todas as análises cação & Sociedade, Campinas, 2006.
realidade, à medida que mostra, em forma bibliográficas, e de concluímos que os pro-
de emoção, a contradição entre obrigação e fessores que praticam a ludicidade em seu REFERÊNCIAS NÓVOA, Antônio. Concepções e práticas
prazer. As crianças precisam de tempo, es- trabalho no dia-a-dia, são profissionais que da formação contínua de professores. (org.).
paço, companhia e material para adquiri- criam oportunidades para que a criança saia ALMEIDA, Paulo Nunes. Educação Lúdica Formação contínua de professores: reali-
rem seus conhecimentos, assim, o lúdico se da creche preparada para a Educação Infantil. – Prazer de estudar Técnicas e Jogos Ped- dade e perspectivas. Portugal: Universidade
faz necessário, sobretudo, em se tratando agógicos. São Paulo: Edições Loyola, 2003. de Aveiro, 1991. Tradução de Graça Cunha,
de creches, que são estabelecimentos de Cândida Hespanha e Conceição Afonso.
grande contribuição no processo de inserção AMBROSETTI, Neusa Banhara; ALMEI-
da criança no mundo do conhecimento. DA, Patrícia C. Albieri de. A constituição NÓVOA, Antônio. O regresso dos pro-
CONSIDERAÇÕES FINAIS da profissionalidade docente: tornar-se fessores. In: Conferência desenvolvi-
professora de educação infantil. 2009 mento profissional de professores
Para ser professor de Educação In- para a qualidade e para a equidade
fantil é indispensável acessar os sa- BOMTEMPO, Edda.Abrincadeira de faz de con-

690 691
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

da aprendizagem ao longo da vida. 2007. Lisboa.

OLIVEIRA, Vera Barros. (ORG). Introdução In: O brin-


car e a criança do nascimento aos seis anos. Petrópolis: Vozes, 2010.

OLIVEIRA-FORMOSINHO, Julia. O desenvolvimento profissional das educa-


doras de infância: entre os saberes e os afetos, entre a sala e o mundo. In: OL-
IVEIRA-FORMOSINHO, Julia; KISHIMOTO, Tizuko. (Org.) Formação em contex-
to: uma estratégia de integração. São Paulo: Pioneira Thompson Learnig, 2002.

PENTEADO, Heloísa D. o jogo e formação de professores: vídeo psi-


codrama pedagógico (Org.). 14. Ed. São Paulo: Cortez, 2011.

PIAGET, Jean. A psicologia da criança. 17ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
______. Seis Estudos de Psicologia. Tradução de Maria Alice Magalhães
D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. Forense: Rio de Janeiro, 1972.
ASPECTOS RELEVANTES SOBRE O PERFIL DO ALUNO DEFICIENTE
SANTOS, Santa Marli Pires dos. A Ludicidade como Ciên-
cia. Rio de Janeiro: Editoras Vozes Ltda. 2001. RESUMO: A educação inclusiva é um dos maiores desafios da sociedade, pois ainda que o
direito à educação para todos seja previsto legalmente, é possível observar que a educação
SCHMITT, Rosinete V. O encontro com bebês e entre bebês: análise do en- brasileira enfrenta muitos desafios para o cumprimento das legislações vigentes, já que há
trelaçamento das relações. In: ROCHA, Heloísa; KRAMER, Sônia (Org.) Ed- uma grande distância entre o que está previsto e o que, de fato, tem sido aplicado nas escolas
ucação infantil: enfoques em diálogos. 2. ed.São Paulo: Papirus, 2011. pelos professores. Diante disso, o presente artigo tem como objetivo mostrar a importância do
psicopedagogo para trabalhar a educação inclusiva, e discutir o preparo dos professores para
lidar com esses casos mais específicos dentro do contexto educacional. Para isso, foi realizado
SHUDO, Regina. Sala de aula e avaliação: caminhos e desafios. Rio de Janeiro 2002.
um estudo exploratório de literatura e dentre os conteúdos abordados destacam-se a história
e legislação da educação inclusiva, as principais características dos alunos especiais e o atendi-
VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. Michael Cole et al. (Org.) Tradução de José Cipola mento psicopedagógico para inclusão. Conclui-se que os alunos não são plenamente atendidos.
Neto, Luís Silveira Menna Barreto, Solange CastroAfeche. 6. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. Com este estudo, conclui-se que a educação ainda enfrenta muitos desafios para a efetivação
das legislações, no entanto, uma mudança de paradigma nunca é imediata e iniciando pela re-
estruturação das políticas de inclusão, junto a uma formação profissional adequada, que inclui
o respaldo de profissionais como o psicopedagogo, para que a inclusão aconteça com êxito.

Palavras-chave: Educação inclusiva; aluno deficiente; Formação de professores; Psicopedagogia.

692 693
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO mostrando que a pessoa com deficiência pos- caracteriza a deficiência no âmbito jurídico: É evidente que existe uma expressiva diferença no com-
portamento ou no organismo da pessoa identificada como
sui limitações, mas também potencialidades
deficiente, porém, essa diferença pode ser tanto a causa
Ao falarem sobre o modelo de escola inclu- que devem ser desenvolvidas (ARTIOLI, 2016). O Decreto no 3298, de 20 de dezembro como a consequência do processo de identificação, recon-
siva, mostram que estas têm como principais de 1999, considera pessoas com deficiên- hecimento e tratamento daquela pessoa como deficiente.

características o respeito, aceitação, além da CONCEPÇÕES DA INCLUSÃO cia, aquelas que se enquadram em cinco Nesta lógica conceitual, a referida diferença expressiva só
adquire sentido de deficiência pelo fato de a sociedade
confiança no potencial de cada aluno, com grandes categorias: i) Deficiência física: al-
valorizar determinada qualidade que nela está prejudicada,
ou sem deficiência, proporcionando uma ed- As concepções referentes à deficiência teração completa ou parcial de um ou mais pois nenhuma diferença é vantajosa ou desvantajosa em
ucação de qualidade e livre de preconceitos. são provenientes de acontecimentos históri- segmentos do corpo humano, acarretando si mesma, mas, apenas dentro de um contexto relacional

Além disso, esta escola também precisa garan- cos, sociais, políticos e econômicos predom- comprometimento da função física, apre- arquitetado pela própria estruturação sócio-cultural-labo-
riosa no qual estamos circunscritos. Ou seja, a deficiência
tir condições adequadas para locomoção, com inantes em cada período da humanidade, e sentando-se sob a forma de paraplegia,
não existe como fenômeno independente, posto que se
rampas, elevadores, banheiros adaptados, cor- foram determinantes para identificar os lu- paraparesia, monoplegia, dentre outros; configura a partir de um arcabouço multifatorial e dialético
rimãos e pisos antiderrapantes que facilitam o gares que ocupam as pessoas com deficiên- ii) Deficiência auditiva: perda parcial ou to- intrínseco à dinâmica de visualização e de interpretação das

dia a dia desses alunos (COSTA, 2007, p. 55). cia na sociedade contemporânea, diante do tal das possibilidades auditivas sonoras; diferenças’’ (OMOTE 1994, p.3).
contexto histórico que as envolveram.Segun- iii) Deficiência visual: acuidade visu-
do os resultados do Censo 2000, cerca de al igual ou menor que 20/200 no mel- Rodrigues (2009) mostra que além das pes-
Segundo o autor, o ambiente escolar deve soas que apresentam deficiências congênitas,
ser agradável, prazeroso e confortável in- 24,6 milhões de brasileiros possuem algum hor olho, após a melhor correção;
tipo de deficiência, física ou mental, sendo iv) Deficiência mental: funcionamento intelec- ou seja, desde o nascimento, como física, au-
dependente das limitações dos alunos, para ditiva, visual ou até mesmo múltiplas, a cada
que possam aprender e desenvolver-se de elas, dificuldade de enxergar, ouvir, loco- tual significativamente inferior à média, asso-
mover-se, entre outros. Dentre esse número, ciado a déficits no comportamento adaptati- dia 500 brasileiros tornam-se deficientes.
forma a superar seus medos e dificuldades
no processo de ensino aprendizagem e tam- 4,3% (1.057.800) são crianças e pré adoles- vo, com manifestação antes dos dezoito anos;
centes com idade até 14 anos (IBGE, 2000). v) Deficiências múltiplas: associação de duas
bém de locomoção (COSTA, 2007, p. 55).
ou mais deficiências’’ (CARVALHO, 2012, p.9) AS DEFICIÊNCIAS
Por meio de seus estudos, mostra que a in- A legislação brasileira estabelece que a ed-
clusão esbarra em questões que vão além ucação da pessoa portadora de algum tipo Conforme afirma Sassaki (1997), os con-
de deficiência seja realizada, de preferên- ceitos são fundamentais para o entendimen- É um universo expressivo de pessoas que
do conhecimento de técnicas e práticas ped- passam a ter alguma deficiência ao longo da
agógicas que podem ser desenvolvidas na cia, na rede regular de ensino. Pensando na to das práticas sociais. Eles moldam nossas
questão da inserção, a escolarização deve ações. E nos permitem analisar nossos pro- vida, e são vários os fatores que contribuem
sala de aula pelo professor. Esta concepção para a elevação desse número, como os al-
vem da ideia pré-concebida de que o alu- acontecer na classe comum, com raras ex- gramas, serviços, políticas sociais, pois os
ceções para aqueles alunos que por conta conceitos acompanham a evolução de cer- tos índices de acidentes, de trânsito, violên-
no deficiente possui uma incapacidade gen- cia urbana, entre outros. Muitas deficiências
eralizada para aprender e conviver social- da gravidade da deficiência, não podem se tos valores éticos, como aqueles em torno
beneficiar dessa modalidade de atendimen- da pessoa portadora de deficiência. Dessa podem ser evitadas por meio da prevenção
mente. Sendo assim, a formação do professor de acidentes, vacinação, exames precoces,
merece total atenção no aspecto da inclusão, to (IBGE, 2000). Além disso, para considerar forma, é necessário dominar os conceitos
uma inserção efetiva na sala de aula, se faz acerca da deficiência para que seja possível porém é válido ressaltar que sempre existirão
sendo esta, uma profissão aprendida, não pessoas com alguma deficiência, por isso é
se esgota na sua formação inicial, ela deve necessário caracterizar a fundo a deficiên- participar ativamente da construção de uma
cia e suas diferentes variações (IBGE, 2000). sociedade para todos, inserindo as pessoas importante que a sociedade esteja preparada
ser estudada ao longo da vida e trabalha- para oferecer oportunidades que promovam
da também nas escolas (ARTIOLI, 2016). A De acordo com Masi (2002) a deficiência é igualitariamente, independentemente de cor,
considerada uma perda ou anormalidade es- idade, gênero, tipo de necessidade especial seu desenvolvimento e inclusão.
educação continuada do professor deve inc
luir informações sobre a deficiência, assim trutural ou de função psicológica, fisiológica ou qualquer outro atributo. Omote (1994,
ou anatômica, que resultam em limitação ou p.3), faz considerações importantes acer- Tessaro (2005) afirma que as maiores lim-
como troca de experiências, pois a convivência itações destes alunos não estão relacionadas
é uma ferramenta importante para auxiliar na incapacidade de desenvolvimento de deter- ca da pessoa identificada como deficiente:
minadas atividades. Já Carvalho (2012, p.9), a sua deficiência em si, mas com a falta de
construção da imagem e quebra de paradigmas, credibilidade e oportunidades que são ofere-

694 695
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

cidas. A vida da pessoa portadora de deficiên- Libras. Visão Subnormal ou Baixa Visão – Compro- Psicose infantil
cia, passa a girar em torno da sua limitação/ metimento do funcionamento visual de ambos É um transtorno de personalidade dependen-
incapacidade, sem ao menos dar a chance Deficiência Física os olhos, mesmo após tratamento ou correção. te do transtorno da organização do eu e da
de observar suas potencialidades e aptidões. Alteração completa ou parcial de um ou mais Possui resíduos visuais que permitem a leitura relação da criança com o meio ambiente.
Omote (1994, p. 59) colabora com os dizeres segmentos do corpo humano, acarretando de textos impressos ampliados ou com o uso de
‘’ problemas enfrentados pelo indivíduo que o comprometimento da função física, apre- recursos ópticos. Alunos com altas habilidade/superdotação
apresenta deficiência mental são mais de lim- sentando-se sob forma de paraplegia, para- estes demonstram potencial elevado em
itações e deficiências da sociedade e do meio presia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, Surdocegueira – Deficiência única que apre- qualquer uma das seguintes áreas, isoladas
do que do próprio organismo deficiente’’. tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, senta a deficiência auditiva e visual concomi- ou combinadas: intelectual, acadêmica, lider-
Como a sociedade não está preparada para li- hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência tantemente em diferentes graus, necessitando ança, psicomotricidade e artes, além de apre-
dar com as diferenças manifestadas pelas pes- de membro, paralisia cerebral, nanismos, mem- desenvolver formas diferenciadas de comuni- sentar grande criatividade, envolvimento na
soas com deficiência, de uma maneira geral, bros com deformidade congênita ou adquirida, cação para aprender e interagir com a socie- aprendizagem e realização de tarefas em áreas
passa a responsabilizá-las por suas limitações. exceto as deformidades estéticas e as que não dade. de seu interesse.
Atentam-se apenas para os aspectos orgânicos produzem dificuldades para o desempenho das (FONTE: Ministério da Educação (2015, p. 1-3).)
da deficiência sem considerar os aspectos so- funções. (Decreto 5296/2004). Autismo clássico
ciais e isentando a sociedade de sua respons- O autismo é um distúrbio congênito carac-
abilidade na constituição e inclusão da mesma. Deficiência Física terizado por alterações no desenvolvimento A conceituação de qualquer deficiência
Entre os mais variados tipos de defi- Alteração completa ou parcial de um ou mais infantil que se manifesta nos primeiros meses precisa levar em conta características de na-
ciência o Ministério da Educação (2015, segmentos do corpo humano, acarretando de vida, caracterizando-se por um comprome- tureza anatomo fisiológicas, tais como lesões,
p. 1-3) cita as comumente encontra- o comprometimento da função física, apre- timento das relações interpessoais e diversas malformações, disfunções, somato psicológi-
das o contexto escolar, sendo essas: sentando-se sob forma de paraplegia, parapa- alterações de linguagem e dos movimentos. cas, como manifestações psicológicas al-
resia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, teradas, psicossocial, de autopercepção, auto
QUADRO 02: tetraparesia, triplegia, identidade, manifestados pela pessoa porta-
Síndrome de asperger dora de deficiência. Gil (2007) aponta que a
Caracterização das deficiências Deficiência Mental/Intelectual É uma síndrome que está relacionada com o presença do aluno deficiente na sala de aula,
Caracteriza-se por limitações significativas, autismo, diferenciando-se deste por não com- enfatiza que não é mais possível continuar
Deficiência Auditiva tanto no desenvolvimento intelectual como na portar nenhum comprometimento no desen- agindo de maneira tradicional, convivendo
perda bilateral, parcial ou total, de 41 db até conduta adaptativa, na forma expressa em ha- volvimento cognitivo ou de linguagem com a distância entre o conteúdo transmitido
70 db, aferida por audiograma nas freqüências bilidades práticas, sociais e conceituais. e o aluno deficiente, com suas peculiaridades,
de 500Hz, 1000Hz, 2000Hz e 3000Hz. O alu- Síndrome de rett características e demandas concretas. Assim,
no que utiliza o Aparelho de Amplificação So- Deficiência Múltipla É uma anomalia de ordem neurológica e de se faz necessário rever recursos, alternativas
nora Individual – AASI (prótese auditiva) pode, Associação, na mesma pessoa, de duas ou mais caráter progressivo, que acomete em maior e estratégias de ensino. Uma reflexão acerca
ou não, processar informações lingüísticas pela deficiências primárias (mental/visual/auditi- proporção crianças do sexo feminino, sen- da mudança do educador diante desta nova
audição e, conseqüentemente, tornar-se capaz va/física). do hoje comprovada também em crianças do realidade, abordagem esta, que será tratada
de desenvolver a linguagem oral, mediante sexo masculino. Compromete o crescimento a seguir.
atendimento fonoaudiológico e educacional. Deficiência Visual craniano, acarreta em regressão da fala e das
Perda total ou parcial de visão, congênita ou habilidades motoras adquiridas, em particular A FORMAÇÃO DO PRO-
Surdez adquirida, variando com o nível ou acuidade o movimento ativo da mão, há alterações com- FESSOR PARA INCLUSÃO NA
perda auditiva acima de 71 db, aferida por au- visual da seguinte forma: portamentais, aparecimento de crises convul- PRÁTICA
diograma nas frequências de 500Hz, 1000Hz, sivas em 50 a 70% dos casos, alterações respi-
2000Hz e 3000Hz. O aluno com essa surdez, Cegueira – Ausência total de visão até a perda ratórias e do sono e constipação intestinal. A educação do aluno deficiente na sala
em geral, utiliza a Língua Brasileira de Sinais - da percepção luminosa. regular tem sido alvo de estudos e discussões

696 697
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

que levaram ao desenvolvimento de políticas O autor completa dizendo que este pro- volver as mesmas atividades em classe, o da pessoa autista e utilizar propostas met-
orientadoras para inclusão, buscando a sua cesso exige da escola novos recursos de ensi- aluno deficiente não acompanharia nenhuma odológicas de acordo com a necessidade da
efetividade na prática. Porém, esta tem acon- no-aprendizagem, que são concebidos a par- das atividades, o professor de classe comum criança.Os profissionais da educação precis-
tecido sem a base necessária, principalmente tir de uma mudança da instituição de ensino tem dificuldades para trabalhar com este tipo am estar preparados para lidar com esse tipo
no caso dos professores, que muitas vezes assim como do professor, reduzindo o con- de aluno. Alguns apresentam reações bem de situação para que sejam tomadas medidas
não tem preparo para desempenhar este im- servadorismo de suas práticas pedagógicas, negativas acerca do assunto como pode ser cabíveis para a resolução do problema.
portante papel, e ainda assim, é forçado a tra- direcionando a educação de forma a atender visto abaixo: (ARTIOLI, 2016, p. 10):
balhar baseando-se apenas no senso comum as necessidades de todos os seus alunos, por-
(CARVALHO, 2007). tadores de deficiência ou não. (MONTEIRO, Eu acho uma grande piada, porque o aluno deficiente
precisa de mais atenção, mais colaboração, ajuda etc. A inte-
2011) gração real não existe, pois os professores não têm preparo
A educação inclusiva se apresenta como para lidar com esse aluno. As classes são muito numerosas
o sistema de educação e ensino responsável Evidencia que a inclusão do deficiente na e queira ou não o aluno deficiente requer uma atenção mais
por inserir alunos com necessidades educa- sala regular é um processo que deve ser pro- individualizada. Os alunos não se identificam com o aluno
deficiente e ele com os alunos: são mundos diferentes. Às
cionais diferenciadas, incluindo então alunos gressivamente conquistado. Por se tratar de vezes um ou outro entra nesse mundo.(ARTIOLI, 2016, p. 10)
portadores de algum tipo de deficiência. As- uma mudança de paradigma, de uma cultura
sim, estes alunos frequentam escolas comuns, que não está acostumada a lidar com o difer- A falta de preparo dos professores faz com
da rede pública ou privada de ensino, e con- ente, a mudança precisa ser conquistada de que atribuam aos alunos mais incapacidades
vivem com outros alunos sem deficiências. forma gradativa. Além disso, neste processo do que eles realmente manifestam, e conse-
(GIL, 2007). gradativo, uma das principais mudanças está quentemente, o aluno tende a se desenvolver
relacionada a postura do professor em sala. dentro de um contexto negativo, prejudican-
Dessa forma, a escola que contempla ver- (CARVALHO, 2007) do o desempenho e desenvolvimento. O au-
dadeiramente a inclusão do aluno deficiente tor ainda conclui que é possível observar que
em sala regular, deve respeitar e valorizar os Artioli (2016) desenvolveu uma pesqui- os atendimentos terapêuticos e educacionais
seus alunos, cada um com sua característica sa em quatorze escolas públicas do estado acabam enfatizando a deficiência e subesti-
individual, sendo o exemplo para a sociedade, de São Paulo buscando entender como os mam suas capacidades de desenvolvimento,
que deve acolher todos os cidadãos, estando professores, especializados em Educação in- quando na verdade deveria ocorrer o con-
sujeita a modificações necessárias visando clusiva ou não, compreendem a temática. trário. (FERREIRA, 2015). MIRLENE MICHELE DA SILVA
garantir que os direitos de todos sejam res- As questões se referiam ao direito de a cri- ROMÃO
peitados. (GIL, 2007). ança deficiente estudar. E assim, todos con- CONSIDERAÇÕES FINAIS
cordaram sobre a importância da inserção Graduação em Pedagogia pela Universi-
A inclusão é resultado de uma série de dis- para desenvolver suas potencialidades, bem Por meio da escola em que considera-se dade Camilo Castelo Branco em 2014 e Pós
cussões, estudos que tiveram o apoio de orga- como para que aconteça uma integração en- como espaço privilegiado de construção de Graduada em Psicopedagogia Educacional
nizações voltadas às pessoas com deficiências tre crianças com e sem deficiências, pois é conhecimento e desenvolvimento de valores, pela Universidade Brasil desde 2017. Pro-
no Brasil e no mundo todo, sendo também, necessário que ambos fiquem na sala regular diante das crianças com necessidades espe- fessora de Educação Infantil e Fundamen-
fruto de um contexto histórico em que coloca e aprendam a conviver bem entre si. Ainda ciais tem deixado algumas indagações e de- tal pela Prefeitura Municipal de São Paulo.
a Educação como lugar de exercício de garan- que tenham conhecimento do direito e aces- safios que não estão relacionados à deficiên-
tia dos direitos e cidadania. Porém, saindo da so à educação do aluno, muitos professores cia dos alunos, mas sim ao descaso de alguns
teoria, as escolas precisam, na prática da in- não sabem como inseri-los na prática, e ao profissionais docentes e algumas instituições,
clusão, dispor de recursos de apoio no âmbito serem questionados, demonstraram total em relação à diversidade humana, a qual se
pedagógico e físico para atender as necessi- falta de preparo, como por exemplo: o aluno constitui a população brasileira.
dades destes alunos. (MONTEIRO, 2011). deficiente não pensa como o aluno normal’’ É fundamental que a escola seja um am-
desconsiderando a possibilidade de desen- biente inclusivo e propício para o acesso

698 699
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS Fora – Minas Gerais, 2011. PAULA, A. R.; COSTA, C. M. A hora e a vez da família em uma sociedade inclusiva. Brasília: MEC,
2007.
ARTIOLI, Ana Lucia. A educação com aluno JESUS, Sonia Cupertino. Inclusão escolar e a
com deficiência na classe comum: a visão do educação especial. Disponível em: < http:// PLESTCH, Márcia Denise. A formação dos professores para a educação inclusiva: Legislação,
professor. Revista Psicologia educacional. www.ufjf.br/virtu/files/2010/04/artigo-2a8. diretrizes políticas e resultados de pesquisa. Educar em Revista, n 33. Curitiba, 2009.
n.23 São Paulo: 2006. pdf> Acesso em: Acesso em 20 Jan 2019.
PRAÇA, Elida Tamara Prata de Oliveira. Uma reflexão acerca da inclusão do aluno autista no
MACEDO, Neusa Dias de. Biblioteca escolar ensino regular. Dissertação de mestrado: Mestrado profissional em matemática. Juiz de Fora –
CARVALHO Rosita Edler. 1997. A nova LDB brasileira em debate: da memória profissional Minas Gerais, 2011.
e a educação especial. Rio de Janeiro: WVA. a um fórum virtual. São Paulo: Senac, 2005.
446 p. RODRIGUES, Daniela da Silva. Caracterização das pessoas com deficiência em idade economica-
CARVALHO, Vilson Sérgio. Recursos utiliza- MASI, Ivete. Programa nacional de apoio a mente ativa e mapeamento das instituições atuantes de assistência no município de São Carlos.
dos na aprendizagem de alunos de classe es- educação de deficientes visuais: associação Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, Jul-Dez 2009, v. 17, n.2, p 107-118.
pecial. Universidade Candido Mendes. Rio de brasileira de educadores de deficientes vi-
Janeiro: 2012 suais – abedev: 2012. TESSARO, Nilza Sanches. Inclusão Escolar: concepções de professores e alunos da educação
regular e especial. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.
FERREIRA, J. R. A exclusão da diferença: a ed- MEC – MINISTERIO DA EDUCAÇÃO.
ucação do portador de deficiência .Piracica- Definições das deficiências e transtor- SASSAKI, Romeu Kasumi. Inclusão: Construindo Um a Sociedade Para Todos. 3ª edição. Rio de
ba: UNIMEP, 1995. nos. Disponível em <http://portalsme. Janeiro: WVA, 1999, 174p.
prefeitura.sp.gov.br/Regionais/108600/
GIL, Marta. Alunos com deficiência. A esco- D o c u m e n t o s / D OT % 2 0 P/C E FA I /
la o prepara mesmo para a vida? Rede Saci. Defini%C3%A7%C3%B5es%20das%20defi- SILVA, A. B.B. Mentes Inquietas: Entendendo Melhor o Mundo das Pessoas Distraídas, Impulsi-
2007. Disponível em: < http://saci.org.br/?- ci%C3%AAncias%20e%20transtornos%20 vas e Hiperativas. São Paulo: Gente, 2003.
modulo=akemi&parametro=20092 > Acesso %20-%20MEC.doc. Acesso em 20 Jan 2019.
em 20 Jan 2019.
MENDES, E. G. Raízes históricas da educação UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a infância, Relatório da Situação da Infância e Adoles-
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Es- inclusiva. Seminários Avançados sobre Edu- cência Brasileiras, Diversidade e Equidade, 2003, baseando-se em dados colhidos pelo Instituto
tatística. Censos Demográficos 2000. Dis- cação Inclusiva, ago. 2001, Marília: UNESP. Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o Censo Demográfico 2000.
ponível em: <http:// www.ibge.gov.br/home/
estatistica/populacao/ default_censo_2000. MONTEIRO, Mariângela da Silva. Ressignifi-
shtm>. Acesso em 20 Jan 2019. cando a educação: a educação inclusiva para
seres humanos especiais. Disponível em:
PLESTCH, Márcia Denise. A formação dos <www.educacaoonline.pro.br>. Acesso em
professores para a educação inclusiva: Leg- 11 Jan 2019.
islação, diretrizes políticas e resultados de
pesquisa. Educar em Revista, n 33. Curitiba, OMOTE, S. A integração do deficiente: um
2009. pseudoproblema? Anais da XXIV Reunião An-
ual da Sociedade de Psicologia de Ribeirão
PRAÇA, Elida Tamara Prata de Oliveira. Uma Preto/SP, 1994.
reflexão acerca da inclusão do aluno autista
no ensino regular. Dissertação de mestrado:
Mestrado profissional em matemática. Juiz de

700 701
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO lescente - ECA 8069/90, Referenciais Cur-


riculares para a Educação Infantil; Diretriz-
É necessário que essas práticas sejam es Curriculares Nacionais (Ed. Infantil) LDB
valorizadas e que existam de maneira qual- – 9394/96, entre outras, nas quais é apon-
itativa e haja uma conscientização de pais, tado que o brincar serve como suporte para
educadores e sociedade em geral, pois não o cuidar e o educar na educação infantil.
deve ser vista apenas como lazer e sim como E, a Base Nacional Comum Curricular,
parte fundamental do desenvolvimento de neste artigo citada como BNCC, (2018) re-
uma criança. E na educação Infantil tem pa- afirma o direito de brincar das crianças:
pel muito importante na assimilação de re- Brincar cotidianamente de diversas formas,
gras e valores, convivência social, resolução em diferentes espaços e tempos, com difer-
de conflitos, ou seja, uma fonte de fazer a entes parceiros (crianças e adultos), ampliando
criança um ser ativo e em constante desen- e diversificando seu acesso a produções cul-
volvimento e preparado para a vida em so- turais, seus conhecimentos, sua imaginação,
ciedade.Assim, compreender e incentivar sua criatividade, suas experiências emociona-
essa capacidade criadora que a insere em is, corporais, sensoriais, expressivas, cogniti-
um mundo de formas e possibilidades no vas, sociais e relacionais. (BNCC, 2018, p. 05)
que resulta em seu desenvolvimento integral.
Bem como a brincadeiras deve fazer parte do
O foco central deste estudo é analisar a cotidiano dos bebês, como afirma Ortiz (2016):
constituição brasileira e seus documentos
E os bebês, brincam de quê? Antes de brincar de algu-
oficiais sobre o que é assegurado para tal ma coisa, o bebê brinca com. Brincar com o rosto de sua
ato (brincar) já que segundo embasamen- mãe – primeiro elemento identificável para um bebê, as-
to teórico, este é um período fundamental sim como o seio que o alimenta – com seu próprio corpo,
para a criança no que diz respeito ao seu com as coisas que toca, com as pessoas que vê, com os
O BRINCAR E SUA AÇÃO PREVISTA COMO DIREITO movimentos, as luzes, os sons que acontecem ao seu re-
desenvolvimento e aprendizagem de for- dor. O bebê começa brincando com os próprios sentidos,
ma significativa. E tendo tais teorias como nem crescente jogo de descobertas, desenvolvimento de
base, buscamos diretamente na legislação habilidades e construções de significados...Ao brincar,
RESUMO: A escrita deste artigo traz algumas considerações sobre o direito de brin- no que se diz respeito a brincadeira e seus o bebê faz laço com o mundo ao seu redor, com aqueles
car das crianças no seu cotidiano, especialmente, nas instituições de Educação In- que com ele se relacionam e com o universo cultural no
direitos válidos para a Educação Infantil. qual está inserido...Um seduz o outro, um se une ao out-
fantil bem como refletir sobre os efeitos positivos do brincar do desenvolvimento da
ro... E assim segue, num encadeamento de ações que en-
criança assim como descobrir novos conceitos de brincar na educação infantil, desti- gendram aprendizados, que possibilitam o desenvolvi-
nadas a valorização e compreensão no processo de aprendizagem da criança. Com os O BRINCAR E SUA AÇÃO mento de múltiplas competências. (ORTIZ, 2016, p. 104)
documentos oficiais, vamos aprender o que a legislação brasileira afirma sobre o di- PREVISTA COMO DIREITO O ato de brincar é inerente às crianças
reito de brincar e qual o papel do educador que utiliza os jogos e brincadeiras em sala
de aula, sempre respeitando a escuta da criança para traçar as suas ações pedagógicas. desde seu nascimento. Tendo em vista sua
Para abordar a questão do direito de brin-
importância no desenvolvimento afeti-
car que deve ser garantido a todas as cri-
vo e cognitivo. A LDB-96, ao contemplar o
anças, foram realizadas pesquisas no âmbito
Palavras-chave: Educação; Infantil; Brincar; Direito. brincar como atividade central nas crech-
das legislações que embasam o esclareci-
es e pré-escolas, deixa explícita a ideia de
mento e a garantia deste direito: A Lei de Di-
que deve haver espaço para a prática de jo-
retrizes e Bases da Educação Nacional. LDB
gos e as brincadeiras, nas instituições ed-
– 9394/96, Estatuto da criança e do ado-

702 703
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ucacionais. (1996,p.12). E, para garantir da criança é o direito de brincar presente no fantil (BRASIL, 1998, p. 27, v.01): leis federais e reafirma a condição de deixar
este direito a BNCC (2018) esclarece que: artigo 16, inciso IV: O direito à liberdade com- e proporcionar às crianças viverem sua infân-
As brincadeiras são essenciais e devem estar preende os seguintes aspectos: IV - brincar, O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, é o pa- cia sem a escolarização, e inseridas em seu
pel que assumem enquanto brincam. Ao adotar outros papéis
presentes intensamente na rotina da criança. praticar esportes e divertir-se. (1990, p.16). na brincadeira, as crianças agem frente à realidade de manei-
território, permitindo o brincar na Educação
Trata-se de iniciativas infantis que o adulto ra não-literal, transferindo e substituindo suas ações cotid- Infantil como foco das ações pedagógicas a
deve acolher e enriquecer, porém, devem ser O Referencial Curricular Nacional Para a ianas pelas ações e características do papel assumido, utili- serem desenvolvidas nas unidades educacio-
planejadas e variadas. Para isso, a partir da Educação Infantil entende que a brincadeira é zando-se de objetos substitutos. (BRASIL, 1998, p. 27, v.01) nais vinculadas à rede municipal de ensino:
observação dos pequenos brincando, o pro- uma linguagem infantil que mantém um víncu-
fessor pode disponibilizar materiais que auxil- lo essencial com aquilo que é o “não-brincar”. Nesse sentido, para brincar é preciso ap- A educação como um processo social se efetiva a partir das
iem o desenvolvimento da brincadeira ou que Se a brincadeira é uma ação que ocorre no ropriar-se de elementos da realidade ime- relações estabelecidas em um território, sejam elas educa-

conduzam a outras experiências. Ele também plano da imaginação, isto implica que aquele diata de tal forma a atribuir-lhes novos tivas formais ou informais. Os bebês e as crianças nascem
em um território e nele produzem, reproduzem ou inventam
pode promover conversas posteriores para que brinca tenha o domínio da linguagem sim- significados. Essa peculiaridade da brinca- modos de viver. Cada território propicia uma experiência de
discutir o que observou. “se o professor orga- bólica, como cita a BNCC nos Campos de Ex- deira ocorre por meio da articulação en- infância para as crianças, pois as relações sociais se modifi-
niza boas propostas, por exemplo, bons títulos periência da Educação Infantil e seus objetivos: tre a imaginação e a imitação da realidade. cam no tempo e no espaço. Esse é um dos muitos motivos

de literatura, conversa e faz uma sequência Toda brincadeira é uma imitação transfor- pelos quais as UEs não apenas precisam conhecer temas rel-
ativos às crianças e às infâncias, mas perceber cada criança
rica a chance dessas temáticas migrarem para Realça as experiências com a linguagem mada, no plano das emoções e das ideias, na sua singularidade, para compreender os seus modos de
as brincadeiras são grandes”, comenta Maria oral que ampliam as diversas formas sociais de de uma realidade anteriormente vivenciada. viver, aprender, conviver, brincar, divertir-se. Nos territóri-
os, as crianças convivem com outras de diferentes idades,
Virgínia. (BNCC NA PRÁTICA, 2018, p. 05) comunicação presentes na cultura humana,
como as conversas, cantigas, brincadeiras de Ao brincar as crianças recriam e repensam gêneros, interesses, desejos. Nos territórios, as crianças
brincam com crianças da sua idade, mas também com as
As instituições de educação infantil de- roda, jogos cantados etc. Dá destaque, tam- os acontecimentos que lhes deram origem, sa- crianças maiores e menores. A idade não é uma variável im-
vem, mediante suas propostas pedagógi- bém, às experiências com a leitura de histórias bendo que estão brincando, e estabelecendo portante para a realização de jogos e brincadeiras; o que in-
cas e de seus regimentos, em clima de que favoreçam aprendizagens relacionadas à os limites definidos pelas regras, constituin- teressa é o desejo e a sintonia que configuram os territórios

cooperação, proporcionar condições de leitura, ao comportamento leitor, à imaginação do-se em um recurso fundamental para brin- de brincadeira das crianças. (CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO
INFANTIL NA CIDADE DE SÃO PAULO, 2018, p. 59)
funcionamentos das estratégias educa- e à representação e, ainda, à linguagem escri- car. As Diretrizes Curriculares Nacionais na
cionais, do espaço físico, do horário e do ta, convidando a criança a conhecer os detal- Educação Infantil considera a criança como:
Para que estas ações pedagógicas ocor-
calendário, que possibilitem adoção, a ex- hes do texto e das imagens e a ter contato ram nas instituições de Educação Infantil
ecução avaliação e o aperfeiçoamento das com os personagens, a perceber no seu corpo Sujeito histórico e de direitos que, nas in-
terações, relações e práticas cotidianas que vi- faz-se necessário elencar a importância da
demais diretrizes (LDBEN, art.12 e 14). as emoções geradas pela história, a imaginar formação docente para viabilizar o trabalho
cenários, construir novos desfechos etc. O vencia, constrói sua identidade pessoal e cole-
tiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, com qualidade, como afirma Ortiz (2016):
Importância da Educação na Educação In- Campo compreende as experiências com as
fantil (LDBEN, art.12 e 14). A educação in- práticas cotidianas de uso de escrita, sempre observa, experimenta, narra, questiona e con- Tudo isso requer planejamento e organização prévia, assim
fantil cresce de forma acelerada no mundo em contextos significativos e plenos de sig- strói sentidos sobre a natureza e a sociedade, como um intenso trabalho de formação continuada de toda

inteiro, tendo em vista os avanços das pesqui- nificados, promovendo imitação de atos escri- produzindo cultura. (BRASIL, 2010,p.12). a equipe da instituição. A Formação e o acompanhamen-
to dos educadores por parte da equipe de coordenação é
sas acadêmicas acerca deste tema e a afir- tos em situações de faz de conta, bem como de extrema importância e vai acontecer de acordo com os
mação da importância das ações pedagógi- situações em que as crianças se arriscam a ler E, na BNCC (2018, p. 18) temos o re- recursos de cada instituição – em reuniões semanais, en-
cas na Educação Infantil para a formação da e a escrever de forma espontânea , apoiadas forço da visão da criança como sujeito que contros cotidianos entre coordenação e educador, trocas

personalidade e da inteligência das crianças. pelo professor, que se engaja em reflexões deve ser vista como um todo, “Concepção de informações entre os educadores. (ORTIZ, 2016, p. 104)

que organizam suas ideias sobre o sistema de criança – Reforça a visão da criança
O Estatuto da criança e do adolescente, ECA de escrita. (BNCC NA PRÁTICA, 2018, p. 12) como protagonista em todos os contextos
8069/90, Tem como objetivo: estabelecer os de que faz parte: ela não apenas interage,
direitos e responsabilidades das crianças e De acordo com o Referencial Cur- mas cria e modifica a cultura e a sociedade”.
adolescentes. Um dos direitos fundamentais ricular Nacional da Educação In- Na cidade de São Paulo, temos o Currículo
da Educação Infantil o qual está alinhado às

704 705
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998 (v. I, II, III). ______ (Org.). Infância e educação infantil.
2. ed. Campinas: Papirus, 2002. p. 269-289.
Ao fim desta pesquisa foi possível concluir ANTUNES, C. Jogos para estimulação das Múl- CARNEIRO, M. . B.; DODGE, J. J. A descoberta
na área da educação infantil a compreensão tiplas Inteligências. Rio de Janeiro: Vozes, 1998. do brincar. São Paulo: Melhoramentos, 2007. OLIVEIRA,V. B. de. O brincare a criança do nasci-
de que a brincadeira é um ato inerente na mento aos seis anos. Petrópolis, RJ:Vozes, 2000.
vida da criança, ou seja, indissociável em seu CARVALHO, E. M. G. Educação infantil: percur-
desenvolvimento, sabendo de tal importância BENJAMIN, W. A criança, o brinquedo e
a educação. São Paulo: Summus, 1987. so, dilemas e perspectivas. Ilhéus: Editus, 2003. PIAGET, J. A formação do símbolo na criança
foi possível abordar o tema no que diz res-
peito a um aspecto mais abrangente buscan- - imitação, jogo e sonho, imagem e represen-
do o que de fato ocorre em vista de direitos BRASIL. Ministério da Educação e do CARVALHO, J. M. Potência do “olhar” e da tação. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.
assegurados pelos documentos oficiais bra- Desporto. Secretaria de Educação Fun- ‘voz” não dogmáticos dos professores na
sileiros e o que se entende como ato artístico damental. Referencial curricular nacional produção dos territórios curriculares no SANTOS, M. P. dos. O Lúdico na Formação do
as diversas vertentes que o brincar possibilita, cotidiano escolar do ensino fundamental. In: Educador. 7 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
para a educação infantil. Ministério da Ed-
no que propõe a brincadeira como um pro- ______ (Org.). Infância em territórios curricu
cesso fundamental no processo de aprendiza- ucação e do Desporto, Secretaria de Edu-
cação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. lares. Petrópolis: DP et alii, 2012. p. 15-48. SARMENTO, M. J. Imaginário e cultur-
gem. E também tirando estereótipos e pens-
amentos leigos sobre a relação do brincar as da infância. Texto produzido no âmbito
com a aprendizagem, no qual muitos não têm BRASIL. Constituição da República Federativa. FROEBEL, F. The education of das atividades do Projeto “As marcas dos
consciência desta relação e ignoram a im- Texto constitucional promulgado em 5 de ou- man. Trad. Hailmann, W.N. Nova tempos: a interculturalidade nas cultur-
portância do ato de brincar na vida da criança. tubro de 1988. Brasília: Congresso Nacional. York: D. Appleton, 1912c, 1887. as da infância”. Projeto POCTI/CED/2002.

______. Ministério da Educação. Secre- KISHIMOTO, T. M. O brincar e suas te- SME. CURRÍCULO DA EDU-
taria de Educação Básica. Diretrizes Cur- orias. São Paulo: Pioneira, 1998. CAÇÃO INFANTIL NA CIDADE DE
riculares Nacionais para a Educação In- _ SÃO PAULO. São Paulo: SME, 2018.
fantil. Brasília: MEC, SEB, 2010. 104. ______________. O jogo e a educação in-
fantil: Jogo, brinquedo, brincadeira e a ed- VYGOTSKY, L.S. A Formação So-
______. Ministério da Educação. Câmara da Ed- ucação. 14º. ed. São Paulo: Cortez, 2011. cial da Mente. 6ª ed. São Paulo: Mar-
ucação Básica do Conselho Nacional de Edu- ______________. Jogo, brinquedo, brinca- tins Fontes Editora LTDA, 1998.
cação. Resolução nº 05, de 17 de dezembro de deira e educação. São Paulo: Cortez, 1994. VYGOTSKY, L.S; LURIA, A.R. & LEON-
2009. Diretrizes Curriculares Nacionais para TIEV, A.N. Linguagem, desenvolvimento
______________. Encontros e desencontros e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1998.
MÔNICA MEDEIROS MOREIRA a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 2009.
SCARPA na formação dos profissionais da educação WAJSKOP, G. Brincar na pré-esco-
______. Lei de Diretrizes e Bases da Edu- infantil. In: MACHADO, M. L. A. (Org.). En- la. 7. Ed - São Paulo: Cortez, 2007.
Graduação em Pedagogia pela Universi- cação Nacional – Lei nº. 9.394. Brasília, 1996. contros e desencontros em educação in-
dade Anhanguera, Especialização em For- fantil. São Paulo: Cortez, 2008. p. 107-115.
mação Docente pela Faculdade de Edu- ______. Ministério da Educação e do Despor-
cação Paulistana (FAEP). Professora na KRAMER, S. Infância e educação: o necessário
to, Secretaria de Educação Fundamental. Ref-
rede Municipal e Estadual de São Paulo. caminho de trabalhar contra a barbárie. In:
erencial Curricular Nacional para a Educação

706 707
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO Este estudo apresentará aspectos relevantes


da EaD no Brasil e apontará os fatores princi-
Para Costa (2012), atualmente o mundo pais que dificultam a permanência dos alunos
está passando por grandes alterações estru- na modalidade, gerando a evasão. Também
turais, pelos rápidos avanços que transitam apresentará ações concretas para que as in-
por todas as áreas, perpassando também stituições de ensino superior que ofertam
pela educação. Entre tantas mudanças, as cursos nesta modalidade, possam diminuí-la.
Tecnologias da Informação e da Comuni-
cação (TIC) ganharam espaço, influenciando O CONTEXTO DA EaD NO
diretamente a forma de ensinar e aprender, BRASIL
que passou a ser repensada e encontrou na
EaD um instrumento importante de democ- De acordo com Brasil (2006)
ratização dos saberes, visto que ela possibil- a EaD pode ser entendida como:
ita o acesso de milhares de alunos ao Ensino [...] a modalidade educacional na qual, alunos e professores
Superior. Podemos considerar que tanto en- estão separados, física ou temporalmente e, por isso, faz-se
sinar, quanto aprender a distância são tarefas necessária a utilização de meios e tecnologias de informação
complexas, pois entre outros fatores a atu- e comunicação. Essa modalidade é regulada por uma legis-
A EVASÃO NOS CURSOS DE ENSINO SUPERIOR A DIST NCIA: MOTIVOS ação dos seus principais atores: professores lação específica e pode ser implantada na educação básica
(educação de jovens e adultos, educação profissional técni-
E ESTRATÉGIAS PARA SUPERÁ-LA e alunos, sofre mudanças consideráveis. ca de nível médio) e na educação superior (BRASIL, 2006).

O professor passa a exercer o papel de me- Para Santos (2013), algumas car-
RESUMO: Visando a democratização do acesso à educação, há algum tempo a Educação a diador das aprendizagens e descobertas dos acterísticas são marcantes na EaD:
distância (EaD) surge como uma excelente alternativa. Embora atualmente a modalidade este- alunos, apoiado pelos recursos, ferramentas A separação de tempo e espaço entre pro-
ja em plena expansão, os estudos demonstram que as taxas de evasão dos alunos nos cursos e materiais didáticos, deixa de ser o “trans- fessor e aluno durante o processo ensino/
superiores oferecidos nesta modalidade, merecem atenção. O presente artigo teve como ob- missor” de conhecimentos. O aluno precisa aprendizagem; Planejamento educacional
jetivos contextualizar a EaD no cenário da educação brasileira e investigar os fatores que in- ser mais autônomo para buscar a sua mel- diferenciado;Oferta de materiais didáticos
fluenciam a evasão e estratégias de superá-la. Obteve-se como resultado que os principais fa- hor forma de aprender e criar estratégias de diferenciados e serviços de apoio ao aluno;
tores são a falta de apoio acadêmico e administrativo, a dificuldade dos alunos em organizar-se organização dos seus estudos, utilizar ferra-
autonomamente para os estudos e também de lidar com a tecnologia. Deste modo, torna-se mentas tecnológicas, interagir virtualmente, Uso de tecnologias e recursos vari-
relevante considerar que a EaD é uma modalidade em que o uso das Tecnologias de Informação entre outras tarefas que a modalidade exige. ados (e-book, áudio, vídeo etc.)
e Comunicação (TICs) são muito presentes, em que professores e alunos estão fisicamente em Observa-se que na EaD o acesso aos estu- Comunicação de mão dupla que favorece
tempos/espaços diferentes, mas não podem estar distantes. Nesse contexto, a busca por es- dos é facilitado, visto que os alunos podem a interação e as aprendizagens. Sabe-se que
tratégias de monitoramento e acompanhamento de cada aluno torna-se uma grande aliada na acessar as aulas pelo computador, tablet ou historicamente, no Brasil a EaD perpassa pelo
superação da evasão dos alunos. até mesmo smartphone de qualquer local rádio, televisão e correspondência, chegando
e horário, com auxílio da internet, porém a aos diferentes ambientes virtuais de apren-
Palavras-chave: Educação a distância; Evasão na EaD; Ensino Superior a distância; Motivos permanência dos alunos no curso nem sem- dizagem (AVA) disponíveis atualmente, bene-
para evasão. pre é satisfatória, sendo este o tema central ficiados pela expansão da internet e as possib-
deste artigo, que visa compreender os princi- ilidades de estudo pelos alunos (ALVES, 2011).
pais fatores que causam a evasão dos alunos
da EaD em cursos superiores e as possíveis
estratégias para minimizar a sua ocorrência.

708 709
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

De acordo com Formiga (2008), a EaD Muitos avanços aconteceram depois da oferecidos na Educação a Distância não pos- limitação da EaD, devido a legislação brasile-
no país passou por quatro fases. A primeira, oferta da EaD pelas instituições de ensino suem controle de aprendizado e não têm reg- ira, que age para inibir e não estimular o seu
por volta de 1904 com os cursos por corre- superior. Com o uso das TICs, surgem no- ulamentação adequada (ALVES, 2011, p. 90). crescimento, como por exemplo, temos que
spondência. Depois, em meados dos anos vas abordagens que favorecem a interação a em 2008 os cursos de graduação a distância
60, com os avanços dos materiais impressos distância, em especial a expansão no acesso No contexto atual da EaD há muitos de- correspondiam a apenas 20% da oferta nas
e o uso dos meios de comunicação, como a internet, permite o compartilhamento, co- bates sobre as vantagens e desvantagens. En- instituições, o que é um número reduzido di-
o rádio e a TV, temos a sua segunda fase. laboração, interação entre pessoas distantes tre as vantagens, destaca-se o grande alcance ante dos benefícios, possibilidades e avanços
geograficamente ou excluídas do sistema ed- e inclusão social, tanto por não ser necessário na tecnologia. Entretanto, nos últimos anos o
A terceira fase, ocorreu somente na déca- ucacional superior, por residir longe de uni- deslocamento dos alunos, quanto pela flexib- MEC tem se empenhado em legalizar as ini-
da de 1990, com o uso de redes de satélites versidades ou por possuírem incompatibili- ilidade de horários e valores mais acessíveis. ciativas relacionadas a EaD, com vistas a ga-
e computador, que parte das Instituições de dade com os horários convencionais de aula. Tais benefícios se estendem para ampliar rantir qualidade desta modalidade no ensino
ensino superior admitiu o uso de tecnolo- Sobre a EaD atualmente, temos um grande o acesso de alunos aos cursos superiores. superior brasileiro. Entre vantagens, desvan-
gias voltadas para a EaD. Um marco impor- número de cursos de licenciatura em EaD tagens e número de matrículas nesta modali-
tante desta fase foi o surgimento da Esco- de 2005 a 2016 (CECILIO, 2019). Segundo Outras vantagens são gestão do tempo dade, temos também um fenômeno relevante:
la do Futuro da Universidade de São Paulo o autor, EaD pode ser novidade para alguns, e espaço para estudar, acesso aos materi- o alto índice de evasão em cursos superi-
(USP). Em 1996, a oferta de cursos superiores causar estranhamento em outros, visto que ais de estudo sempre que desejar revisar o ores a distância. Esta temática, a principal
a distância tornou-se oficial, apoiada pela muitas pessoas possuem uma concepção conteúdo e uso de tecnologias que estimu- deste artigo, será melhor abordada a seguir.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- equivocada sobre o seu funcionamento. De lam as aprendizagens.Dados os benefícios,
cional (LDB – Lei nº 9.394/96) e entendida acordo com uma pesquisa realizada pela Con- a EaD atualmente é adotada em diferentes EVASÃO NA EaD: MOTIVOS E
como uma modalidade em que o processo federação Nacional das indústrias/Ibope em etapas da educação. “Ela é usada na Edu- DESAFIOS
ensino/aprendizagem é mediado pelos re- 2014, quanto a eficácia da EaD: 43% dos cação Básica, no Ensino Superior, em uni-
cursos das TICs e que alunos e professores entrevistados acreditam que ela funciona na versidades abertas, universidades virtu- É possível afirmar que assim como nos cur-
estão separados fisicamente no tempo e es- prática e 34% acreditam que esta modalidade ais, treinamento governamentais, cursos sos superiores presenciais, também nos cursos
paço. Com isso, muitas instituições de en- não é funcional na prática. Destaca-se que abertos, livres etc.” (ALVES, 2011, p. 84). na modalidade a distância, a evasão dos alunos
sino, passaram a ofertar cursos a distância. os entrevistados com ensino superior, 52% é uma realidade preocupante, embora os mo-
acreditam que a EaD funciona na prática. Sobre as desvantagens, temos a falta de tivos principais sejam outros. Segundo For-
Percebe-se, de lá para cá, com o desen- vivência presencial entre alunos/alunos e miga (2008), a produção científica sobre esta
volvimento tecnológico/científico ocorre- De acordo com Formiga (2008), pode-se alunos/professores, embora existam diver- temática ainda é escassa, visto que é algo rel-
ram as transformações na sociedade e neste considerar que historicamente, os atores en- sos recursos disponíveis para utilização, ativamente novo, porém precisa ser investiga-
cenário, cresce a oferta da EaD, em especial volvidos no processo ensino-aprendizagem como os chats, web conferências e fóruns, da para que haja a superação deste problema.
impulsionada pela expansão da internet, que assumem papéis distintos. Com a EaD há um para minimizar a distância e favorecer a in-
representa a quarta fase da EaD, com diver- rompimento com esta tradição acadêmica, o teração, há queixas neste sentido. Out- E nesse cenário da educação a distância
sos equipamentos para o estudo dos alunos. que pode gerar insegurança tanto nos alunos, ra desvantagem é a dificuldade de organi- o contato, a interação, a mediação, inter-
Com o objetivo de democratizar o acesso a quanto nos professores, por envolver novas zação pessoal do aluno para os estudos, venção ou um feedback ao estudante pode
educação, em especial ao ensino superior, exigências, ferramentas, recursos e compor- de forma mais autônoma e a dificuldade ser um fator motivacional ou desmotivacio-
bem como investir na formação docente e tamentos, que podem inclusive contribuir com os recursos/ferramentas tecnológicas. nal para esse processo formativo, tendo em
reduzir desigualdades de oferta entre as di- para a evasão nos cursos. Nesse sentido, vista uma forte desarticulação entre o pro-
versas regiões, o governo federal por meio Além disso, nem todas as instituições cesso de trabalho social e o processo de edu-
do programa Universidade Aberta do Bra- [...] embora avanços importantes tenham acon- possuem foco na garantia de aprendizagem cação a distância (BRANCO et al., 2018, p. 4).
sil (UAB), em parceria com as universidades tecido nos últimos anos, ainda há um camin- dos alunos, preocupando-se no que ensinar
públicas, passou a oferecer cursos gratu- ho a percorrer para que a Educação a Distân- apenas e considerando irrelevante a neces- Podemos considerar como evadidos, tanto
itos na modalidade EaD (BRASIL, 2006). cia possa ocupar um espaço de destaque no sidade de adequação das aulas presenci- os alunos que se matricularam e não inicia-
meio educacional, em todos os níveis, vencen- ais para as aulas a distância (FIUZA, 2012). ram os cursos, como aqueles que cursaram
do, inclusive, o preconceito de que os cursos O mesmo autor destaca que há uma
710 711
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

em algum momento, mas abandonaram os apoio no ambiente de trabalho, muitas vezes, Evasão: há como superá-la? favorecer a evasão. Assim, quando a institu-
estudos sem concluí-los. Um dos motivos da faz outros cursos simultaneamente ou passa ição percebe que o aluno está se ausentando
evasão na EaD é a dificuldade do aluno se por problemas familiares mais sérios que in- No cotidiano dos cursos superiores a do AVA ou atrasando o envio das atividades,
sentir pertencente a turma, ao curso e a in- terferem diretamente no sua vida acadêmi- distância temos a evasão temporária do alu- por exemplo, pode tentar estabelecer contato
stituição, bem como a dificuldade de se apro- ca, favorecendo a desistência do curso. no, que ocorre por um curto período de tem- com o aluno e entender o que está ocorrendo,
priar dos recursos e ferramentas disponíveis Falta de apoio acadêmico: o aluno não po durante o curso e também a evasão de- antes dele eventualmente se evadir.Sabemos
no AVA, como algo primordial para favore- considera adequado o apoio que rece- finitiva, que se caracteriza pelo não retorno também que os recursos e as ferramentas di-
cer as suas aprendizagens (SANTOS, 2013). be da instituição, do professor ou tutor. do aluno ao curso e que pode ser para toda versificadas e atrativas utilizadas na EaD de-
As características individuais são muito im- a vida do estudante. Dada a relevância deste vem favorecer a aprendizagem colaborativa,
portantes para a permanência do aluno em Nestes casos, o olhar atento e o acol- problema, é preciso buscar estratégias para sendo uma boa estratégia para estimular os
cursos a distância, uma vez que ele deve ter himento do aluno é fundamental. minimizar a evasão.“O papel da instituição estudos e diminuir a evasão nos cursos. Além
disciplina, organização, foco e ser responsável Problemas no uso da tecnologia: o alu- de ensino é decisivo no sentido de conferir disso, o planejamento cuidadoso de cada cur-
pela autogestão dos seus estudos, ou seja, no pode não possuir acesso a internet ou uma certa flexibilidade, promovendo e ge- so deve ter como foco a aprendizagem dos
zelar pelo adequado uso do tempo para es- a equipamentos, ou até mesmo ter aces- rando situações de aproximação para que cursistas.Outro ponto relevante é a oferta de
tudar, realizar as tarefas propostas e cum- so mas não compreender como desempen- os estudantes aprendam nas relações do ci- encontros presenciais, para que os estudantes
prir os prazos. Outro aspecto relevante é har as tarefas propostas e usar os recursos berespaço [...]” (BRANCO et al., 2018, p. 5). possam familiarizar-se com as ferramentas do
que o planejamento instrucional dos cursos oferecidos, o que gera baixos resultados ambiente virtual de aprendizagem, conhecer
a distância, devem oferecer diferentes es- acadêmicos e consequentemente a evasão. Nota-se que é urgente compreender os dif- o funcionamento geral do curso, tirar dúvidas,
tratégias e recursos que atinjam os diferentes Falta de apoio administrativo: esta categoria erentes motivos que causam a evasão e criar interagir pessoalmente com a turma e profes-
estilos de aprendizagem dos alunos, o que se refere a questões pontuais, como o aluno estratégias para minimizá-la. Falar de evasão sores, o que pode auxiliar para inibir a evasão.
pode trazer mais interesse e reduzir a evasão. não receber o material na época prevista ou hoje revela uma necessidade de tentar reverter
ter uma experiência negativa no andamen- ou resgatar alguns estudantes da desistência Embora a EaD esteja em plena evolução e
Os motivos para a evasão em cursos a to do curso, com os cronogramas que não ou exclusão do contato com os múltiplos con- alcançar alunos que por questões geográficas,
distância são vários, como por exemplo, te- são claros ou cumpridos adequadamente. hecimentos e estudos oferecidos, promoven- financeiras ou pessoais não teriam condições
mos ainda a falta de equipamento conecta- Sobrecarga de trabalho: há alunos que pos- do a igualdade social e o direito ao ensino em de cursar o ensino superior presencial, vale
do a internet e de domínio das ferramentas suem uma longa jornada de trabalho e conse- meio às diferenças (BRANCO, et al, 2018, p. 3). lembrar que tão importante quanto o aluno
exigidas, falta de informações sobre o cur- quentemente, não conseguem dedicar-se ao ingressar em cursos superiores a distância, é
so, mau desempenho do tutor e desmo- curso, optando pela desistência ou abandono. Como vimos, as causas da evasão podem que ele permaneça estudando até o final da
tivação devido a outras prioridades da vida ser diversas e muitas vezes, o aluno apenas se sua formação. Por isso, quanto antes as causas
pessoal. Em suas pesquisas Daudt (2013), Nota-se que alguns destes motivos ocorrem matricula e por não entender a metodologia da possível evasão sejam compreendidas e
constatou também que o público que mais pelo desconhecimento do aluno sobre o fun- e funcionamento do curso, não chega nem a ações concretas sejam tomadas, mais chances
se evadiu corresponde aos alunos mais jo- cionamento de cursos EaD, que pode dar a fal- iniciar o curso ou desiste ao tentar realizar as de evitar que ela ocorra. Pelo que observamos
vens e com menor grau de escolaridade. sa impressão que não é preciso ter tempo para primeiras atividades propostas, por falta de até o momento, temos muitas causas que re-
Além disso, algumas disciplinas exigem mais estudar ou disciplina para seguir adiante. É no orientação e/ou entendimento do AVA.Para fletem na evasão, “[...] sejam por motivos pes-
esforço e também que o aluno tenha al- embate entre a realidade e as expectativas in- Branco et al. (2018), uma das estratégias para soais ou institucionais e podem ocorrer em dif-
gum conhecimento prévio, fatores que con- corretas do aluno, que mora grande parte dos combater a evasão é o monitoramento dos erentes momentos: seja no início, no decorrer
tribuem para aumentar os índices de evasão. motivos da evasão.Diante de tantos desafios acessos e acompanhamento do estudante na ou até mesmo no final do curso” (BRANCO et
Nos estudos de Almeida (2008), é fundamental que sejam buscadas estraté- plataforma de ensino, por parte da instituição. al., 2018, p. 9). É preciso que as instituições
há cinco categorias principais que po- gias para minimizar o número de alunos que Quando os alunos se sentem desmotivados, que oferecem cursos superiores a distância e
dem ser enquadrados os motivos da ingressam em cursos superiores, mas não os seja pela falta de interação nas ferramentas toda a equipe envolvida no processo ensino/
evasão de alunos em cursos EaD. concluem. Este será o tema discutido a seguir. oferecidas, como chat, e-mail, fórum, etc., a aprendizagem se dedique a apoiar o aluno em
Fatores situacionais: o aluno sente falta de comunicação é afetada e este quadro pode suas descobertas e dificuldades, pois a evasão

712 713
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

pode ser causada por motivos simples, como vou-se que dada a relevância deste problema, REFERÊNCIAS
o aluno não saber o setor ou o responsável é preciso buscar estratégias para minimizar a ALMEIDA, O. C. S. Evasão em cursos a distância: análise dos moti-
(tutor, professor, coordenador, setor finan- evasão. Uma destas estratégias é o monito-
vos de desistência. 2008. Disponível em: <www.abed.org.br/con-
ceiro, etc.) para auxiliá-lo a solucionar um de- ramento dos acessos e acompanhamento do
terminado problema. Assim, a busca por es- estudante na plataforma de ensino, por par- gresso2008/tc/552008112738PM.pdf>. Acesso em: 17 maio. 2019.
tratégias que evitem a evasão é fundamental te da instituição. Sabemos que os recursos e
para que a EaD continue avançando e alca- as ferramentas diversificadas e atrativas uti- ALVES, L. Educação a distância: conceitos e história no Brasil e no mun-
nçando mais prestígio e credibilidade no país. lizadas na EaD devem favorecer a aprendiza- do. Associação Brasileira de Educação a Distância. Universidade Federal do
gem colaborativa, sendo uma boa estratégia. Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, 2011, vol. 10, p. 83-92. BRANCO, L. S. A.;
CONSIDERAÇÕES FINAIS Além disso, a oferta de encontros presenciais,
também podem auxiliar para inibir a evasão.
CONTE, E.; HABOWSKI A. C.. Evasão na educação a distância: perspectivas sobre a
Na trajetória percorrida, foi possível con-
hecer o contexto da EaD no Brasil, sua Por fim, percebe-se que quanto antes as questão. Congresso Internacional de Educação e Tecnologias. 2018. Disponível em:
definição, principais características e evolução causas da possível evasão sejam compreen- BRASIL. Ministério da Educação. 2006. O que é educação a distância? Disponível
histórica ao longo dos anos. A EaD favore- didas e ações concretas sejam tomadas, mais
ceu a democratização do acesso ao ensino chances de evitar que ela ocorra. Assim, a CECÍLIO C. EaD: licenciatura a distância cresce 1500% em dez anos nas univer-
superior, ao romper paradigmas e permitir EaD continuará avançando e alcançando sidades particulares. Nova Escola. Maio, 2019. Disponível em https://novaesco-
que os alunos superem possíveis obstáculos mais prestígio, qualidade e credibilidade no la.org.br/conteudo/17243/ead-licenciatura-a-distancia-cresce-1500-em-dez-
do ensino presencial como horário fixo di- país. O estudo realizado foi muito enriquec- anos-nas-universidades-particulares?download=true. Acesso em 01 jun. 2019.
sponível, deslocamentos, distâncias e altos edor para a minha formação, pois favoreceu
preços. Sobre as desvantagens, destaca-se a reflexão e aquisição de muitos conheci-
a falta de vivência presencial, a dificuldade mentos, ao reunir informações sobre a EaD, CNI-IBOPE. Retratos da sociedade brasileira: educação a distância. Ja-
de autodisciplina dos alunos e a dificuldade a evasão na modalidade e como combatê-la. neiro 2014. Confederação Nacional da Indústria. – Brasília: CNI, 2014.
com os recursos/ferramentas tecnológicas.
COSTA, M. L. F. História e políticas públicas para o ensino superior a distân-
Tais situações refletem na evasão, embo- cia no Brasil: o Programa Universidade Aberta do Brasil em questão. Re-
ra muitas vezes, o abandono do curso ocorra vista HISTEDBR On-line, n. 45, mar. 2012. Acesso em: 01 maio. 2019.
devido aos aspectos pessoais ou administra-
tivos com a instituição.Este estudo possibil-
itou concluir que há diversos motivos para DAUDT, S. I. D., & BEHAR, P. A. A gestão de cursos de gradu-
a evasão do aluno em cursos superiores a ação a distância e o fenômeno da evasão. Educação, São Paulo, 2013.
distância, como a dificuldade do aluno se ap-
ropriar dos recursos e ferramentas disponíveis FIUZA, P. J. Adesão e permanência discente na educação à distância: Investigação
no AVA, falta de tempo e de condições para de motivos e análise de preditores sociodemográficos, motivacionais e de personali-
os estudos; falta de suporte técnico, de mo- dade para o desempenho na modalidade. Tese (Doutorado em Psicologia) – Instituto
tivação ou de informações sobre o curso, NOEMIA ALVES DOS SANTOS de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, 2012.
mau desempenho do tutor, problemas com a
FORMIGA, M. Educação Superior, Educação a Distância e Educação Cor-
tecnologia e ainda, a frustração frente às ex- Graduação em Pedagogia pela Universi-
pectativas pessoais. Pode-se considerar tam- dade Ibirapuera (2002). Especialista em Ed- porativa. In: Seminário Bayma-FGV, Julho 2008, Rio de Janeiro: FGV Rio.
bém que a ausência de um bom planejamento ucação Educação Infantil, em Educação de
instrucional dos cursos a distância também jovens e adultos e em Alfabetização e letra- SANTOS, A. G. R. A evasão nos cursos de graduação a distância: UAB/Un-
pode reforçar os índices de evasão. Obser- mento. Atualmente é Professora de Educação imontes no Polo de São João da Ponte/MG. Revista Multitexto, 2013.
Infantil na EMEI Professora Dorina Nowill.

714 715
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO qualquer forma de comunicação como as


mais diversas que envolvem os avanços tec-
Na mesma velocidade que as tecnologias nológicos do Século XX e agora se esten-
avançam, elas também chegaram às institu- dendo ao Século XXI são fundamentais ao
ições de ensino provocando o surgimento envolvimento e desenvolvimento no aluno
de novidades e algumas mudanças que tem em seu processo de construção de con-
por objetivo melhorar a maneira com o aluno hecimentos para toda a sua vida, seja ela
aprende, deixando de lado o quadro-negro e voltada ao campo do mercado profissional
abrindo caminho para novos recursos dentro como seu cotidiano enquanto ser cidadão.
da sala de aula.É importante verificar que com
esses recursos o aproveitamento dos alunos É mostrada a importância da tecnologia
tem sido melhor, com recursos mais moder- na escola, procurando assim refazer uma
nos, tanto visuais quanto auditivos. Com isso, nova estratégia pedagógica. São destacadas
a aprendizagem aplicada no final do século as relações proporcionadas entre usuário e
XX sofre uma grande metamorfose ampliando tecnologias, como esta interação pode en-
A LDB E A IMPORTÂNCIA DAS NOVAS TECNOLOGIAS EM os objetos de ação como os resultados finais; riquecer saberes e ampliar o conhecimento
EAD DENTRO DAS SALAS DE AULA NO ENSINO SUPERIOR até então era um processo onde o professor que está sendo desenvolvido. Descreve-se
apenas falava e os alunos apenas ouviam, hoje um pouco o processo de implantação das
RESUMO: São constantes e corriqueiras as transformações na sociedade; a rápida evolução tecnologias no ambiente escolar e como
o professor é mediador de conhecimento e
das tecnologias exerce forte influência no cotidiano atual. Com o advento das tecnologias, ainda é tímida essa mudança. Há uma gama
as escolas têm de se adequar e tornar as aulas mais dinâmicas e atraentes aos alunos. orienta o aluno na construção de sua apren-
dizagem e “provoca” isso com a diversidade de fatores que interferem e diferenciam
Para que a utilização destes equipamentos seja assertiva por parte do professor, faz-se
necessária a capacitação deste de forma que haja a habilidade não somente para manusear de ferramentas tecnológicas disponíveis at- as unidades escolares em relação à tecno-
os recursos, mas conhecer adequadamente o funcionamento do equipamento, seu modo ualmente.Este trabalho tem por objetivo apre- logia disponível aos alunos e professores.
de utilização e, principalmente, os cuidados de preservação desses itens. Tanto para os pro- sentar algumas dessas ferramentas e de que
fessores quanto aos alunos essas tecnologias promoveram uma prática pedagógica diver- maneira o processo ensino-aprendizagem tem O destaque fica por conta da nova forma
sificada e motivadora a todos, facilitando o desenvolvimento na aprendizagem de cada um de educar, onde é detalhado as tecnologias
sido afetado pela exposição em massa dessa
dos envolvidos no processo ensino-aprendizagem. Atualmente, são inúmeros os discursos dentro da sala de aula, como é o professor
sobre a importância de se utilizar recursos audiovisuais nas salas de aula, pois os alunos tecnologia.Segundo Moran (2001 p. 33-34):
na era da tecnologia e também como estas
estão vivenciando o mundo tecnológico na maior parte de suas ações diárias. As crianças e
os jovens atualmente estão mais habituadas com esse contexto tecnológico e o professor
Os meios de comunicação, operam imediatamente com aproximam alunos e professores.No decor-
a sensível, o concreto, principalmente a imagem em mov-
que não conseguir se adequar a esse “mundo tecnológico e virtual” irá ficar para trás. A imento. Combinam a dimensão espacial com sinestésica,
rer dos capítulos são apresentadas algumas
consequência disso poderá ser uma sala completamente desmotivada e indisciplinada e, onde o ritmo torna-se cada vez mais alucinante. Ao mes- das ferramentas proporcionadas pela diver-
por vezes, sem o resultado qualitativo esperado. Dessa forma os objetivos é a formação e mo tempo utilizam a linguagem conceitual, falada e escrita, sidade e o avanço tecnológico, dessa forma
mais formalizada e racional. Imagem, palavra e música, in-
capacitação constante dos profissionais que atuam na Educação atualmente. A metodolo- tegra-se dentro de um contexto comunicacional afetivo, de não se restringe a um único ou estratégia,
gia utilizada será a pesquisa bibliográfica. forte impacto emocional, que facilita e predispõe a aceitar mas variando de acordo com as possibili-
mais facilmente as mensagens”. (MORAN, 2001 p. 33-34). dades de cada escola e a formação de cada
Palavras-chave: Tecnologia; Recursos; Capacitação.
professor há um mundo rico e diverso no
Posto isso podemos entender que toda e âmbito tecnológico atual e vale ressaltar

716 717
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

que é constante a adequação e criação de lugares e essa tem sido também uma re- parte inclusive da Evolução da Sociedade a fronteiras do Brasil se abriram para receber as
novos mecanismos tecnológicos.Com esse sponsabilidade de todos, sendo assim, tam- qual estamos inseridos, mas esta não deve tecnologias da informação no início da década
aparato é possível não somente a Inclusão bém das unidades escolares.Faz-se urgente e dominar as relações e definir as interações. de 90. Na época foram diversos os comentári-
Digital, mas principalmente a Inclusão So- necessária a aceitação das ferramentas tec- os de que uma nova revolução estava chegan-
cial tão discutida, mas ainda promovida com nológicas no âmbito escolar e decorrente dis- Os recursos tecnológicos devem ser in- do, pois, o mundo como era conhecido já não
limitações e restrições.Ao final desse estudo to a formação e capacitação dos profissionais strumentos de aprendizagem e favorecer as seria mais o mesmo.Vivemos hoje em uma
pretende-se destacar a utilidade da ferra- nela inseridos para que essa inclusão digital interações. Promover situações problemas época de ênfase na informação, tais como a
menta tecnológica na sala de aula bem como seja qualitativa e não apenas atender um que possibilitem ao aluno interagir com as presença das revistas, jornais e internet, onde
o domínio e a postura adequada do professor. modismo e ou fazer quantidade de recursos ferramentas e, ao mesmo tempo, integrar-se é preciso estarmos sempre informados. Mas
sem saber do que realmente são capazes e de ao grupo e assim construir o conhecimento vale lembrar que é de suma importância lem-
A diversidade na prática pedagógica tem de que maneira podem contribuir aos estudos. em grupo e promover a troca de ideias e en- brar que a informação não é conhecimento.
auxiliar o professor em sua atuação e não sub- riquecer a prática pedagógica.As aulas devem
stituir sua presença.Além disso, é preciso es- De acordo com o autor PAIS (2005), o ser enriquecidas com práticas diversas, sair do O conhecimento envolve alguns critérios
tar muito atento, pois os avanços tecnológicos sucesso do computador como uma tec- tradicional e convencional. O professor deve como o estabelecimento de relações entre
fazem parte da sociedade moderna e os recur- nologia que pode favorecer a expansão prestar atenção ao ritmo de aprendizado e ne- informações isoladas. Se pensarmos nesse
sos oferecidos são de grande valia à Educação, da inteligência depende da forma como cessidade de cada aluno. O trabalho propos- sentido, muito do que é chamado conheci-
mas podem trazer benefícios de diversos pris- ocorre a relação entre o usuário e as infor- to é para o grupo, porém cada um tem seu mento escolar é apenas informação.Muitas
mas. Dessa forma, é preciso compreender o mações contidas no programa por ele uti- próprio tempo e habilidades que se destacam teorias apareceram para dizer como a in-
que são essas ferramentas tecnológicas e lizado. Quanto mais relativa for essa relação, e se complementam. Todos devem ser perce- formática seria aplicada em todos os setores
buscar inseri-las no cotidiano, com domínio e maiores serão as possibilidades de enriquec- bidos, respeitados e inteirados (PAIS, 2005). da sociedade e como teria utilização para a
postura para que sua utilização seja proveito- er as condições de elaboração do saber. educação. Após alguns anos verifica-se um
sa, prazerosa e de qualidade sem comprome- IMPLANTAÇÃO DAS TECNOLO- posicionamento e um envolvimento bem
ter o processo de aprendizagem.Ao contrário, Contudo é necessário se ater à tecnologia GIAS NO AMBIENTE ESCOLAR E TEC- diferente entre teoria e prática, educação e
a tecnologia deve ser um fator a mais, um como uma estratégia pedagógica adicional e NOLOGIAS NO AMBIENTE ESCOLA informação digital, avanços tecnológicos e
contribuinte e facilitador das aprendizagens. sendo assim não é necessário que esteja em recursos antigos.A informática, é de suma im-
todas as aulas. É preciso um equilíbrio entre Ainda é tímida a implantação das tecnolo- portância no auxílio ao professor moderno.
A IMPORTÂNCIA DA TECNOLOGIA as mais diversas maneiras de promover uma gias nas escolas. Mas, apesar de muitas delas
NA ESCOLA aula, não excedendo uma estratégia e assim serem já comuns na sociedade, seus valores Com ela o professor consegue inserir uma
anulando outras.O professor precisa domi- são os mais diversos e muitas unidades esco- grande variedade de efeitos visuais e sonoros,
A sociedade atual passa por constantes nar o mínimo, que seja dessas novidades que lares ainda sofrem com a condição econômica os chamados de efeitos hipertextuais que en-
transformações. Os avanços tecnológicos são acercam a nova sociedade e, assim possa para fazer as adequações da estrutura física, riquecem a exposição do tema abordado em
cada vez maiores e ocorrendo em um período promover o aprendizado do aluno e mediar o capacitar profissionais, mobiliar o espaço e ad- sala de aula, porém o professor é, e sempre será
de tempo cada vez menor. Todas essas mu- conhecimento sem que a tecnologia substi- quirir equipamentos suficientes para a quan- indispensável.O maior desafio agora é treinar
danças provocam alterações nas mais diver- tua sua presença e conhecimento. As relações tidade de alunos e diversificar os mesmos.O e capacitar o professor a fazer da informática
sas formas de vida e integrações.A tecnolo- humanas devem ser estreitadas e respeitadas maior desafio na sociedade da informação sua aliada no processo ensino-aprendizagem
gia está cada vez mais inserida na sociedade sem que as máquinas se tornem o alvo e resul- é proporcionar a Inclusão Digital a todos os e quebrar algumas barreiras, principalmente
e a inclusão digital atinge os mais diversos tado central. Os avanços tecnológicos fazem seus componentes de maneira igualitária.As aos professores que estão atuando há bom

718 719
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

tempo na Educação e não estão acostumados fessores para o funcionamento desses es- dos nas aulas e atividades envolve um plane- pedagógicos são os mais variados e geral-
nem “íntimos” a essas novidades, mostrando paços. Para essas salas têm-se o técnico para jamento antecipado (CARBONARI, 2001) mente estão ligados aos conteúdos. Ou
a eficácia destas tecnologias no ensino que cuidar de toda a infraestrutura dos profes- melhor, devem estar ligados às competên-
podem e devem ser integradas aos métodos sores para cuidar do uso correto dos conteú- Esse planejamento re- cias e habilidades que serão trabalhadas.
convencionais já bem definidos e praticados. dos educacionais.Infelizmente, a realidade quer a clareza de questões como:
das escolas ainda é desanimadora e preocu- O planejamento das atividades deman-
O papel do professor é orientar o aluno pante, são poucas as escolas que possuem 1. Objetivo – O que o professor deseja que da das mesmas habilidades que o professor
para trabalhar corretamente com a informáti- um laboratório de informática e normal- seja aprendido pelo aluno e quais competên- tem para planejar suas aulas tradicionais.
ca e proporcionar condições para que esta mente quando tem esse espaço são obso- cias e habilidades irão ser trabalhadas por eles. Para o uso destes recursos é bom o docen-
ferramenta venha a enriquecer o seu conhec- letos, deficiência de profissionais técnicos e te ter ciência das dificuldades que encon-
imento, pois como tudo essa tecnologia tam- de orientadores, recursos com configurações 2. Justificativa Didática – Por qual trará ao manusear o referido recurso, e que
bém tem seu lado obscuro, principalmente atrasadas e arcaicas, muitas vezes imped- motivo o projetor multimídia vai traz- precisará explorar os pontos favoráveis e
a internet que sem dúvida alguma é a maior indo o desenvolvimento de uma atividade er para o aluno um melhor aprendiza- minimizar os desfavoráveis.Para finalizar a
fonte de conhecimento que qualquer ser hu- adequada e de qualidade. Esse fato retarda do em relação aos recursos tradiciona- avaliação de aprendizagem já é uma prática
mano já teve acesso, mas também onde cir- muito a concorrência do aluno que vem das is e também qual será o ganho didático. adotada por parte do professor. Agora tam-
cula materiais de qualidade duvidosa e até escolas públicas, com os alunos egressos das bém será necessário avaliar também se o
mesmo criminosa. Não se pode deixar de escolas do ensino particular.A inclusão digi- 3. Metodologia / Estratégias – Esse projetor multimídia promoveu ao estudante
lado que os avanços tecnológicos geram mu- tal tem o objetivo de promover o desenvolvi- planejamento vale para verificar qual o tempo uma melhor aprendizagem, ou se não ocor-
danças e proporcionam coisas novas a todo mento de redes de internet, oferecendo as- que este recurso será utilizado e como irá ser reu nenhum impacto na aprendizagem do
instante e com a evolução dessas ferramen- sim meios de comunicação e conhecimento. conduzida a atividade em questão. Principal- aluno em comparação ao que era de se es-
tas, a capacitação e formação dos profission- Por conta disso, vários projetos são lançados mente o que será mostrado pelo professor. perar usando o chamado método tradicional.
ais deve ser cada vez mais frequente e envol- para aumentar a inclusão digital em escolas É um passo a passo da aula, as observações
vente (HAETINGER, 2003; KENSKI, 2003). e universidades públicas (MORAN, 2001). e intervenções que possam contribuir para o
desenvolvimento da aula tendo como referên- A NOVA FORMA DE EDUCAR E
A INCLUSÃO DIGITAL NAS ESCOLAS RECURSOS IMPLANTADOS E cia o objetivo / resultado final pretendido. TECNOLOGIA EM SALA DE AULA
SUAS FUNCIONALIDADES
Segundo Moran (2001) a Inclusão Digital é 4. Avaliação – Como serão avalia- Se a aprendizagem, em sala de aula, for
o nome dado ao processo de democratização Hoje, em determinadas escolas, princi- dos os resultados de aprendizado dos uma experiência de sucesso, o aluno constrói
do acesso às tecnologias da informação. Essa palmente da rede privada, o professor já alunos. Com essa avaliação poderá ser ver- uma representação de si mesmo como alguém
inclusão também é para simplificar a sua roti- tem na sua aula de aula o auxílio de alguns ificado se o projetor multimídia foi real- capaz. Se ao contrário, for uma experiência
na diária, maximizar o tempo e também as po- equipamentos como o computador e pro- mente mais eficiente no aprendizado dos de fracasso, o ato de aprender tenderá a se
tencialidades. Um incluído digitalmente não é jetor multimídia que estão fixos ou podem alunos do que os métodos tradicionais. transformar em ameaça. O aluno ao se con-
aquele que apenas usa esta nova linguagem, fazer parte de um espaço específico para siderar fracassado, vai buscar os culpados
que é um mundo tecnológico. Os estabelec- uma aula diferenciada. O projetor multi- Esse planejamento deve ocorrer para to- pelo seu conceito negativo e começa achar
imentos de ensino privado estão cada vez mídia é um dos novos recursos que estão das as aulas, independente de que recur- que o professor é chato e que as lições não
melhorando suas estruturas com laboratórios sendo utilizados em sala de aula e como so tecnológico será utilizado.Os recursos servem para nada.Nesse contexto, a quali-
de informática e contratando técnicos e pro- qualquer recurso pedagógico que são utiliza-

720 721
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

dade de atuação da escola não pode depend- ações e promover outras novas, mas jamais Para muitos professores esses recursos tec- é apenas o de transmitir informações, mas
er somente da vontade de um ou outro pro- substituí-lo; por essa razão a importância do nológicos têm sido um novo desafio, por trabalhar para serem orientadores e auxil-
fessor. É preciso a participação conjunta da professor conhecer e dominar essas novas vezes, esses profissionais não estão acostu- iar o aluno no seu processo de construção e
escola, da família, do aluno e dos profissionais tecnologias.Em algumas instituições de en- mados com tanta tecnologia, estudaram e ini- aquisição do conhecimento (MORAN, 2006).
ligados à educação, assim como, o professor sino o professor tem a seu dispor um com- ciaram sua carreira com as tecnologias mais Segundo um estudo interno da Firjan feito
deve organizar suas idéias e reconhecer que putador e um projetor multimídia, com es- antigas como a lousa , o giz e o apagador. com cerca de 6000 profissionais e os números
o aluno não é um sujeito que só faz receber ses recursos o professor pode fazer mais Posto isso, essas ferramentas são de total obtidos com essa pesquisa podemos destacar
informações, suas capacidades vão além do dinâmica onde, com certeza, fará com que domínio e controle por parte do professor há que 40% dos entrevistados nunca cursaram
conhecimento que lhes é “depositado”. Para os alunos sejam atraídos e tenham um de- anos preparado e inserido no mercado profis- uma matéria relacionada a sua formação
tanto, o professor não mais será o “dono sempenho melhor, o nível de conhecimento sional, dificultando o entrosamento com as profissional. Já 36% dos entrevistados nunca
do saber” e passará a ser um orientador, al- desses alunos será aumentado de forma gra- novas tecnologias de informação e comuni- utilizaram em momento algum um laboratório
guém que acompanha e participa do proces- dativa e atraente. Os desafios para realização cação para a sua prática pedagógica atual. de informática em suas aulas. 93% dos entrev-
so de construção de novas aprendizagens. de um trabalho eficiente em relação ao uso istados gostariam de possuir uma formação
das tecnologias da informação e comuni- Com esse novo desafio, alguns pro- relacionada às tecnologias educacionais.
Ainda que muitos professores não estejam cação no espaço educacional são grandes. fessores mudaram a forma de atuação e
adaptados a essas inovações em sala de aula Porém, a utilização adequada das tecnolo- “evoluíram junto com a sociedade”. Outros QUADRO 1 – alunos que cursaram labo-
é de suma importância que todos saibam de gias representa uma oportunidade ímpar de pararam no tempo e continuam com a met- ratório de informática. Fonte: Firjan, 2001.Rj
sua contribuição para a educação.É impor- inserir a escola como uma instituição voltada odologia utilizada desde a década de 80,
tante que os professores sejam preparados para a criação de ambientes colaborativos e que pode e deve ser adaptada e modificada
para essa inovação. Muitos ainda enfrentam de aprendizagem. Consequentemente, para o com o uso dos atuais recursos tecnológicos,
grande dilema com essas tecnologias e são desenvolvimento de habilidades que se tor- que trazem uma grande vantagem para os
resistentes a novos conhecimentos e no- nam competências nos alunos. Em um mer- alunos.Os computadores e os novos recur-
vas estratégias de ensino.Já para os alunos cado competitivo como o Educacional, a es- sos tecnológicos nunca poderão substituir
é mais fácil, pois se trata de uma ferramen- cola que desenvolver uma proposta eficiente o professor como sendo a figura central do
ta do cotidiano da grande maioria deles e, e de resultados com o uso das tecnologias, processo de ensino e aprendizagem.Hoje ex-
além disso, está cada vez mais engajado certamente terá um referencial que fará a dif- iste a internet que na verdade é um repositor
dentro do cotidiano escolar.Urgente se faz erença diante da sociedade (BORGES, 2005). de informações e respostas prontas clara-
a condição do professor compreender que mente maiores do que qualquer profissional.
essas tecnologias buscam unir os person- O PROFESSOR NA ERA DA No entanto, ainda há falhas no sistema e
agens envolvidos no processo de desenvolvi- TECNOLOGIA as atualizações nem sempre acompanham o
mento, os indivíduos que estão constante- desenvolvimento e condições necessárias
mente buscando uma melhoria no processo Nestas últimas duas décadas há uma per- para o atendimento adequado e compreensão.
QUADRO 1 – alunos que cursaram laboratório de informática. Fonte:
de ensino-aprendizagem, cada qual na sua gunta que não quer calar, será que um dia os Os professores que atuam da mesma manei- Firjan, 2001.Rj

função dentro da escola (CAPOVILLA, 2001). computadores irão substituir os professores ra de 20 anos atrás, certamente perdem a
nas salas de aula? Esse período é justamente batalha para os recursos tecnológicos e são
Essa tecnologia deve ser entendida como o da chegada das tecnologias nas escolas considerados arcaicos. O novo profissional
complemento a sua função, facilitar algumas como complemento auxiliar aos professores. precisa estar ciente que sua função hoje, não

722 723
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Os dados dessa pesquisa instiga quanto à tecnologias possam vir a substituir a figu- ia de Educação da Prefeitura de São Paulo.
do que quando estão em uma instituição de
participação da sociedade e o acompanha- ra humana do professor em sala de aula. No Especialista em Educação Inclusiva pela Uni-
ensino onde já existe a utilização de recur-
mento na evolução das tecnologias ao mes- entanto, por mais aquém que essas estejam versidade Júlio de Mesquita (UNESP).
sos tecnológica sendo a aula mais dinâmica e
mo tempo em que essas se tornam itens o ser humano é ferramenta única e insub-
aproveitável para os alunos (SANCHO, 2006).
comuns e de suma importância no decor- stituível quando se pensa nas relações pes-
soais e bem como a construção e ensinamen-
rer do dia nas mais diversas áreas de ativ- CONSIDERAÇÕES FINAIS
idades pessoais, profissionais e ou sociais. tos de valores morais e sociais. Dessa forma
professor e tecnologia precisam se aliar para
As novas tecnologias mudaram a visão da
NOVAS TECNOLOGIAS APROXI- promover ações que resultem na Inclusão
educação com a implantação de novos recur-
MAM ALUNOS E PROFESSORES sos em sala de aula e estas podem melhorar
Digital e Inclusão Social dos mais diversos in- REFERÊNCIAS
divíduos e ampliar as possibilidades de con-
o ensino e assim promover uma interação e
As novas tecnologias hoje adotadas nas strução e consolidação das aprendizagens no ANTONIO, José Carlos. Professor X Inovação:
facilitação na aprendizagem dos alunos. Alia-
salas de aula têm contribuído muito na dia a dia do indivíduo, seja este professor e uma batalha perdida?,Professor Digital, SBO,
do a essas tecnologias a inclusão digital para
aproximação entre alunos e professores. As ou aluno. Ainda há muito que se descobrir e 10 jun. 2010. Disponível em: http://pro-
dentro das escolas, é de suma importância
antigas salas com o professor e o quadro ne- refletir sobre as tecnologias na sala de aula, fessordigital.wordpress.com/2010/06/10/
para os alunos saberem utilizar corretamente
gro definitivamente estão ficando para trás. porém não podem ser anuladas, esquecidas professor-x-inovacao-uma-batal-
ferramentas como a internet ou até mes-
Nos dias atuais, em algumas instituições de ou repreendidas. Como tudo na vida, deve-se ha-perdida/&gt. Acesso em: 14/03/19.
mo como utilizar um determinado software
ensino o professor tem a seu dispor um com- haver um equilíbrio, tanto o excesso quan-
para edição de textos, cálculos matemáti-
putador em sala de aula juntamente com to a falta podem ser prejudiciais.O professor BELLONI, M.L. Tecnologia e formação de pro-
cos, elaboração de sequência de imagens
um projetor multimídia por onde ministra deve ter claro que a evolução tecnológica fessores. Rumo a uma pedagogia pós-moderna?
e outros mais.Também é importante desta-
sua aula com recursos visuais e dinâmicos acontece de maneira constante, o que requer Educação & Sociedade, Campinas: Cedes, 1998.
car e promover reflexões acerca da necessi-
mantendo atraindo a atenção do aluno para um preparo e uma atualização constante.
dade de os professores estarem preparados
sua proposta pedagógica (SANCHO, 2006). BORGES, José A . As TICs e as tecnologias
e, na verdade não é isso que ocorre, pois,
assistivas a educação de pessoas deficientes.
muitos professores não estão acostumados
Para o autor, essa aproximação também 2005, 20 slides. Apresentação em Power Point.
com todos os recursos que estão sendo di-
está ligada à capacidade do professor ter sponibilizados atualmente pelas instituições
total controle sobre os recursos utilizados CAPOVILLA, Fernando César. Comuni-
de ensino e, infelizmente há aqueles que
e também com as possíveis dinâmicas que cação pessoal por e-mail em 6/6/01. Tre-
não fazem a mínima questão em conhecer.
poderão ser utilizadas para desenvolver e cho retirado de SASSAZAKI, 2006. Termi-
capacitar os alunos. Segundo os próprios nologia sobre deficiência na era da inclusão.
Assim sendo alguns professores procu-
alunos essas tecnologias empregadas em raram se adaptar às novas mudanças, mas
sala, fazem com que exista uma maior in- Carbonari, G. (2001), O Programa Nacion-
outros ainda trabalham com a mesma met-
teração com o professor, pois se estimu- al de Informática na Educação nas escolas
odologia utilizada há décadas passadas e se
lam e se interessam mais pela aula e bus- apresentam resistentes às novas mudanças.É
VALDINÊS ROSA DE SOUZA públicas de Ijuí/RS, Programa de Pós-Grad-
cam cada vez mais se desenvolver. Para uação em Educação nas Ciências da Unijuí.
de suma importância a capacitação e atu-
alunos que vivem essas duas realidades Professora de Língua Portuguesa na Secre- Fundação Victor Civita. Disponível em:
alização dos profissionais da Educação. Por taria de Educação do Estado de São Paulo,
dizem que quando estão em sala de aula http://revistaescola.abril.com.br/polit-
vezes há o receio e o medo de que essas Professora de educação Básica I na Secretar-
com metodologia antiga se desgastam mais i c a s - p u b l i c a s /p l a n e j a m e n t o - e - f i n a n -

724 725
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ciamento/tem-mas-ainda-e-pouco-519549.shtml?page=0 Acesso em: 14/03/19.

KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas: Papirus, 2003.
Laboratório audiovisual. Disponível em: MORAN, José Manuel, Tecnologia na ed-
ucação (2006). Disponível em http://www.scielo.br. Acesso em 16/03/19.
__________________. et al. Novas Tecnologias e Me-
diação Pedagógica. 3ª ed, Campinas, Papirus 2001.

MATURANA, Humberto – El Sentido de lo humano, Dolmen Ediciones S.A. 1991


SANCHO. Juana Maria; HERNANDEZ, Fernando e colaboradores. [et al.].
Tecnologias para transformar a educação. Porto Alegre: Artmed, 2006.

AS PRÁTICAS DE LEITURA NO CONTEXTO DO


LETRAMENTO

RESUMO: Este artigo trata das práticas de Leitura no contexto do Letramento. A leitura
e o ato de ler deve estar atrelado ao sentido e ao significado que se pretende com a
leitura, seja ela voltada para as práticas sociais, comunicação, prazer e gosto pela leitura
ou pela aprendizagem propriamente dita com base nos padrões escolares previamente
estabelecidos. A leitura deve ter significado para o leitor e ter definido objetivamente qual
é o seu propósito e a sua importância no contexto em qual está inserida esta situação de
aprendizagem. Incentivar o aluno ao hábito da leitura é um dos objetivos almejados pelos
educadores e nos dias atuais a escola deve promover práticas diferenciadas e o acesso a
diferentes materiais para que o aluno inserido na era tecnológica, possa ter contato com
diferentes materiais, textos, livros, revistas, etc., não apenas com a função de cumprir os
conteúdos curriculares mas também pelo despertar do prazer da leitura em si. O interesse e
o hábito pela leitura se inicia desde muito cedo na própria família, na qual a criança observa
o comportamento leitor dos pais e posteriormente passa ao contato como o mundo da
leitura na escola e no meio em que vive, tais práticas contribuem para despertar na criança
o gosto pela leitura e o desejo de aprender, iniciando-se desde os primeiros anos de vida
da criança.

Palavras-chave: Leitura; Letramento; Práticas Pedagógicas.

726 727
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO O trabalho do professor consiste em anos de vida da criança. De acordo com o Ref- guns autores: Para Kleiman (2008), a leitura
propor atividades que permitam à criança erencial Curricular Nacional para a Educação não pode transformar-se em mera decifração
Infantil elencamos os seguintes objetivos de signos, deve permitir que o leitor apreen-
Esta pesquisa tem como objetivo geral manifestar-se por escrito e oralmente de
para o ensino da leitura na Educação Infantil: da o sentido do texto. Para Martins (1994,
apresentar e refletir acerca da importância modo livre, sem perder de vista a necessidade
p. 22), o conceito de leitura está geralmente
da Leitura na Escola na perspectiva do de se apresentarem situações que levam Para Zilberman, Lajolo (1996, p.59) “ler não restrito a decifração da escrita, sua apren-
letramento e traz como objetivos específicos, ao aprendizado de novas regras de leitura é decifrar [...] é a partir do texto ser capaz de dizagem, no entanto deve estar atrelada a
investigar como é realizado o trabalho com e escrita, elaboradas pela própria criança. atribuir-lhe significado [...] entregar-se a esta formação global do indivíduo. Para Freire
a leitura no cotidiano escolar. Segundo No que diz respeito as práticas de leitura leitura ou rebelar-se contra ela”. Neste senti- (1994, p. 14), a leitura do mundo precede
Sousa (2010) uma das funções da escola e escrita na Educação Infantil é possível do partimos ao princípio do hábito de ler e a a leitura das palavras [...] a compreensão
que consiste em ensinar a ler, confronta-se propor atividades para as crianças em que da leitura consciente e crítica, que deve ser do texto é alcançada por sua leitura crítica.
com a ideia do prazer da leitura, neste caso, elas utilizem a escrita, fazendo de conta que estimulada e desenvolvida na escola, princi- Para Antunes (2007, p.42), a leitura verda-
a autora afirma que: “espera-se sempre que está lendo e escrevendo. O professor deve palmente com as crianças maiores que são ca- deira é quando a gente pensa sobre o que
esse trabalho resulte em encantamento: faça estimular estas práticas para ampliar os pazes de emitir opiniões, fazer escolhas e re- está lendo e entende o que a leitura nos traz.
o aluno gostar de ler, sentir-se apaixonado conhecimentos da criança sobre a leitura e a fletir sobre o que lê. Para que a escola cumpra
pela leitura”. (p.9). escrita. Sobre as rodas de leitura temos que a com as finalidades elencadas na legislação é Baseando-se nas ideias dos autores citados
observação deste momento com as crianças necessário que os conteúdos abordados ten- acima, pode-se afirmar que a leitura e o ato de
Segundo Grispino (2002), é preciso que pequenas também evidencia que elas ham o intuito de ampliar os conhecimentos ler deve estar atrelado ao sentido e ao signifi-
dos alunos de uma maneira crítica e coerente, cado que se pretende com a leitura, seja ela
a escola, tenha previsto em seu projeto aprendem a distinguir, progressivamente,
sem a necessidade de conteúdos memoriza- voltada para as práticas sociais, comunicação,
e organização curricular e pedagógica, a leitura em voz alta e a contação de uma
dos e sem sentido. O aluno deve formar-se prazer e gosto pela leitura ou pela aprendiza-
momentos em que a leitura e a literatura história sem o suporte do livro ou de em um leitor consciente, que tenha condições gem propriamente dita com base nos padrões
sejam promovidas e vistas como um fator que outro impresso. O professor ao conduzir de apropriar-se de tais conhecimentos de ma- escolares previamente estabelecidos. A lei-
corrobora para a qualidade do ensino. Desta o processo de leitura de histórias, deve neira letrada, referindo-se ao exemplo de Le- tura deve ter significado para o leitor e ter
forma, a escola deve promover atividades conversar com as crianças contextualizando tramento Literário que perpassa a ideia do uso definido objetivamente qual é o seu propósi-
com o intuito de intensificar tais práticas, a história, observando a reação das crianças da linguagem nas práticas sociais e cotidianas. to e a sua importância no contexto em qual
pensando nos espaços, nos momentos de e respondendo as questões que elas trazem está inserida esta situação de aprendizagem.
leitura, em seu acervo pedagógico e nos de forma espontânea sobre o texto. A leitura se fortalece e se institucional-
diferentes materiais que possam contribuir iza no avesso das práticas associadas aos Com base nas ideias de Zilberman, Lajo-
para a prática da leitura no ambiente escolar. AS PRÁTICAS DE LEITURA NA PERSPECTI- modos tradicionais de narrar, de tipo oral, lo (1998), que tratam do contexto históri-
O interesse e o hábito pela leitura inicia-se VA DO LETRAMENTO fundado na experiência vivida, de senti- co sob o qual a leitura foi inserida no Brasil,
desde muito cedo na própria família, na qual do comunitário e enraizados no meio rural podemos afirmar que a leitura era privilé-
a criança observa o comportamento leitor [...] em suas formas mais modernas, a pro- gio de poucos e estava relacionada a mo-
O interesse e o hábito pela leitura se ini-
dos pais e posteriormente passa ao contato paganda da leitura depende ainda de uma mentos de lazer. Conforme as autoras, os
ciam desde muito cedo na própria família,
valorização positiva do lazer, já que os liv- protestantes, ao lerem a bíblia e difundirem
como o mundo da leitura na escola e no na qual a criança observa o comportamento
ros constituíram uma das primeiras mani- a formação moral também contribuíram
meio em que vive. Esses “exemplos leitores” leitor dos pais e posteriormente passa ao con-
festações baratas e acessíveis de entreteni- para difundir a importância da leitura.
contribuem para despertar na criança o tato como o mundo da leitura na escola e no
mento. (ZILBERMAN, LAJOLO, 1996, p. 16) Desta maneira afirma-se que o ensino da
gosto pela leitura e o desejo de conhecer meio em que vive. Esses “exemplos leitores”
leitura tem um propósito e está estritamente
esta prática, que deve ser iniciada desde os contribuem para despertar na criança o gosto
Inicialmente temos aqui algumas definições ligado as práticas sociais, conforme afirma
primeiros anos de vida da criança. pela leitura e o desejo de conhecer esta práti-
da palavra Leitura e o Ato de Ler, segundo al- Oliveira e Queiroz (2009, p. 2): "entendemos
ca, que deve ser iniciada desde os primeiros

728 729
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

são trabalhadas cognitivamente pelo aluno no ambiente familiar ou no meio em que está
que o ensino de leitura deve ir além do ato turas sociais – o social determinando a leitura e constitu-
quando faz e refaz hipóteses sobre a leitura indo seu significado. (SOARES, 2000 apud SOUZA, p.2). inserido, o acesso da criança ao ambiente
monótono que é aplicado em muitas escolas,
e a escrita e estabelece relações entre signifi- letrado deve iniciar o mais breve possível.
de forma mecânica e muitas veze descontextu- Com base em Grispino (2002) “o modelo
cado e significante. O trabalho do professor
alizado, mas um processo que deve contribuir de ensino de português deve ir além dos liv- Quando falamos em uma nova propos-
consiste em propor atividades que permitam à ros didáticos; o aluno deve ter contato com
para a formação de pessoas críticas e consci- ta de ensino para a leitura e a escrita, te-
criança manifestar-se por escrito e oralmente textos diferenciados, desde os literários aos
entes, capazes de interpretar a realidade, bem mos a proposta construtivista e o letra-
de modo livre, sem perder de vista a neces- mais comuns, contato com jornais, revistas mento, que trazem como perspectivas
como participar ativamente da sociedade".
sidade de se apresentarem situações que le- e até mesmo com manuais de instrução”, que o falar, o ler e o escrever devem estar
vam ao aprendizado de novas regras de leitu- partindo desta afirmação da autora, o ambi- reunidos em um único processo, com o
A alfabetização pode ser vista como um ente letrado e o acesso aos diferentes ma-
ra e escrita, elaboradas pela própria criança. propósito funcional do uso da língua volta-
processo que requer algumas habilidades mo- teriais escritos utilizados na sociedade tor- da para as práticas sociais, neste sentido al-
toras, psicomotoras e de pensamento, e não nam-se ferramentas importantes no processo fabetização e letramento ocorrem juntos.
Analisando as possibilidades de trabalho de aprendizagem e aquisição de conhecimen-
apenas um processo mecânico de decodifi-
com a leitura em sala de aula, temos que os tos voltados às práticas sociais de leitura e
cação e memorização de palavras e símbo- Segundo ZILBERMAN (1998) a literatura
professores, nem sempre, vão despertar o in- escrita. A organização do trabalho educativo
los. Segundo as Orientações para a inclusão e a escola compartilham um aspecto em co-
teresse pela leitura em todos os alunos, pas- na escola, é necessária para que se possa al- mum que é a natureza formativa, pois tanto a
da criança de seis anos de idade MEC (2007)
samos então na definição do hábito da leitu- cançar os objetivos propostos para o ensino obra de ficção como a instituição de ensino,
a ampliação do ensino fundamental para
ra, que deve ser incentivado e com práticas da leitura na escola, destacando entre eles, estão voltadas a formação do indivíduo, no
nove anos significa, também, uma possibili- o da formação de cidadãos críticos, capazes
diferenciadas apoiadas em diversos materiais, entanto, as histórias infantis apresentam um
dade de qualificação do ensino e da apren- de compreender os diversos materiais escri-
vai tornando o trabalho com a leitura mais mundo na qual a criança pode fantasiar varias
dizagem da alfabetização e do letramento, tos e gêneros textuais que fazem parte do coisas, sendo possível, por meio das histórias,
prazeroso e o professor passa a ser um ex- meio social no qual o aluno está inserido.
assim a criança terá mais tempo para se ap- realizar atividades diversas, colocando a
emplo de leitor para o aluno. Assim, a Litera-
ropriar desses conteúdos. Neste novo con- sua imaginação e criatividade em prática.
tura contribui para que os alunos possam ex- A leitura não deve ser incentivada ape-
texto, o ensino no primeiro ano do ensino
pandir seus conhecimentos e modificar suas nas nas atividades em sala de aula ou em A leitura terá de se tornar algo que possibilite a criação
fundamental não pode priorizar somente as
relações com o meio, para tanto, é impre- momentos pré-determinados pela rotina ou a (re) criação de novas janelas por parte do leitor,
aprendizagens de leitura e escrita, é extrema- escolar, o aluno pode ter acesso a portado- janelas que darão rumo ao mundo que ele deseja de-
scindível que o professor esteja consciente do scortinar à sua frente. A leitura deverá ser parte do
mente importante a realização de um tra- res de textos e materiais escritos em dif-
seu papel no processo de desenvolvimento processo de libertação e de identificação do homem.
balho pedagógico que estude as diferentes erentes momentos, para que o hábito de Qualquer homem deverá saber que com a leitura o seu
cognitivo, compreendendo a importância da ler se torne uma atividade cotidiana, des-
áreas do conhecimento e todos os saberes universo pode sofrer transformações incomensuráveis,
seleção, organização e planejamento de ativ- pertando o prazer pela leitura e a contribu- sejam elas físicas e/ou psíquicas. É possível descorti-
necessários para a formação integral do aluno. nar um mundo oculto pelo ato de ler, e isso é impre-
idades que tenham como objetivo o desen- indo para a formação de “alunos leitores”. scindível que todos saibam. (ALMEIDA, 2006, p. 149).
volvimento e a aprendizagem dos alunos.
Quando falamos em proposta construtiv-
Segundo Souza (2004, p. 223): “o profes- Despertar no aluno o hábito da leitura é
ista e letramento temos que o falar, o ler e o A leitura é uma interação verbal entre indivíduos, e in- sor deve proporcionar várias atividades in- um dos objetivos almejados pelos educa-
escrever devem estar reunidos em um único divíduos socialmente determinados: o leitor, seu uni- ovadoras, procurando conhecer os gostos de dores é um termo muito citado na atualidade
verso, seu lugar na estrutura social, suas relações com
processo, que tenha em vista as práticas soci- seus alunos e a partir daí escolher um livro quando nos referimos a aprendizagem da
o mundo e com os outros; o autor, seu universo, suas
ais de leitura e escrita, a fim de permitir à cri- relações com o mundo e com os outros; entre os dois: ou uma história que vá ao encontro das ne- leitura e a sua importância para a formação
ança que a alfabetização e o letramento ocor- enunciação, diálogo? Enunciação, portanto: processo de cessidades da criança”. É papel da escola do indivíduo. Nos dias atuais a escola deve
natureza social, não-individual, vinculado às condições proporcionar o acesso ao mundo da leitura,
ram juntos. As atividades de análise e síntese de comunicação que, por sua vez, vinculam-se às estru-
promover práticas diferenciadas e o acesso
principalmente àqueles que não têm acesso a diferentes materiais para que o aluno in-

730 731
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

mais diversos tipos de textos que se utili-


serido na era tecnológica, possa ter contato za no dia a dia, mostrando para a criança o CONSIDERAÇÕES FINAIS lar estas práticas para ampliar os conhecimen-
com outros portadores textuais no seu dia a que precisa ser construído no aprendizado tos da criança sobre a leitura e a escrita e que
dia na escola, não apenas com a função de da leitura”, neste sentido é fundamental que A Leitura na escola, exerce um papel funda- é de extrema importância o trabalho com ha-
cumprir o proposto nos programas escolares, a criança tenha acesso a diferentes portado- mental para o desenvolvimento das com- bilidades motoras em contextos lúdicos como
mas também pelo prazer da leitura em si. res e gêneros textuais, dentre eles, aqueles petências leitora e escritora na criança além atividades de passatempo, labirintos, constru-
que despertem o interesse e a curiosidade de um meio de inserção nas práticas soci- indo brinquedos com sucatas, desenhando
Segundo Linhares; Lopes (2007, p. 3) para das crianças, destacando a literatura infantil. ais em uma sociedade letrada, formando ci- e pintando e nas atividades de modelagem.
que o ensino da leitura nas escolas se des- dadãos críticos e autônomos. O ambiente
vincule do quadro insatisfatório, “a leitura re- A escola busca conhecer e desenvolver na letrado e o acesso aos diferentes materiais A escola busca conhecer e desenvolver na cri-
alizada em sala de aula deve ser o resultado criança as competências da leitura e da escri- escritos utilizados na sociedade tornam-se ança as competências da leitura e da escrita e
de uma interação entre leitor, texto e autor”, ta e a literatura infantil é muito importante ferramentas importantes no processo de a literatura infantil é muito importante neste
desvinculando o ensino da leitura a um in- neste processo. O contato com histórias e aprendizagem e aquisição de conhecimen- processo. O contato com histórias e livros na
sucesso na escola, a linguagem em suas dif- livros na educação infantil proporciona a tos voltados às práticas sociais de leitura e educação infantil proporciona à criança apro-
erentes formas contribui para que o processo criança apropriar-se do universo letrado e escrita. A escola tem um papel fundamental priar-se do universo letrado e do imaginário. A
de leitura tenha êxito. Com base nas ideias do imaginário. A literatura infantil é capaz neste sentido, proporcionando o acesso a dif- literatura infantil é capaz de transformar o in-
de Sousa (2010) uma das funções da escola de transformar o indivíduo em um ser pen- erentes materiais e práticas que corroborem divíduo em um ser pensante e crítico que com-
que consiste em ensinar a ler, confronta-se sante e crítico que compreende o mundo a para um ensino de Leitura eficaz e prazeroso. preende o mundo a sua volta e o contexto no
com a ideia do prazer da leitura, neste caso, sua volta e o contexto no qual está inserido. qual está inserido. Os professores, nem sem-
a autora afirma que: “espera-se sempre que O trabalho do professor consiste em pro- pre, vão despertar o interesse pela leitura em
esse trabalho resulte em encantamento: faça A leitura deve acompanhar a criança dura por atividades que permitam à criança man- todos os alunos, passamos então na definição
o aluno gostar de ler, sentir-se apaixonado ante todo o seu crescimento, desde mui- ifestar-se por escrito e oralmente de modo do hábito da leitura, que deve ser incentiva-
pela leitura”. (p.9). O trabalho do professor to pequena, ela deve ter acesso a portado- livre, sem perder de vista a necessidade do e com práticas diferenciadas apoiadas em
abordando um gênero literário nem sempre, res de textos dos mais variados gêneros, o de se apresentarem situações que levam diversos materiais, vai tornando o trabalho
vai trazer encantamento ou um prazer imedi- acesso ao mundo letrado contribui para o ao aprendizado de novas regras de leitu- com a leitura mais prazeroso e o professor
ato aos alunos, o que se torna possível é o processo de desenvolvimento intelectual ra e escrita, elaboradas pela própria criança. passa a ser um exemplo de leitor para o aluno.
professor constituir-se como modelo de leitor da criança, na capacidade de concentração A escola deve considerar as práticas de lei-
para o aluno, despertando a curiosidade e e em seu desenvolvimento cognitivo, nes- tura e escrita que são vivenciadas fora do
aproximando o aluno do gosto pela leitura. ta perspectiva, a literatura infantil se torna espaço escolar para que as práticas de le-
importante por proporcionar conhecimen- tramento realmente sejam contextualizadas
Com base nos Parâmetros Curriculares to de forma prazerosa e de maneira lúdica. e não apenas uma forma de aprendizagem
Nacionais (1997) é necessário que a ativi- em que a escrita e as produções de texto
dade de leitura tenha sentido para o aluno, Na área do ensino da leitura e literatu- servem apenas para demonstrar habilidades
com o objetivo de formar cidadãos capazes ra, o trabalho da escolar consiste em utilizar e competências totalmente desvinculadas da
de compreender e interpretar diferentes tipos pedagogicamente todas as formas de lin- função social que a leitura e a escrita pos-
textuais, na escola e também fora dela. Neste guagem, de maneira que cada criança possa sui na vida social e nas práticas cotidianas.
sentido, formar leitores requer condições se apropriar das linguagens de maneira ade-
favoráveis para a prática de leitura e o uso quada e que este aprendizado tenha senti- No que diz respeito as práticas de leitura e es-
adequado que se faz dos materiais e livros. do e significado, para isso, o professor deve crita na Educação Infantil, que é possível pro-
De acordo com Solé (1998, p. 34) “no en- rever a sua prática se utilizando de didáti- por atividades para as crianças em que elas
sino da leitura só se aprende a ler lendo, e cas diferenciadas em diferentes contextos utilizem a escrita, fazendo de conta que está
que o leitor deve estar em contato com os e com a utilização de diferentes materiais. lendo e escrevendo. O professor deve estimu-

732 733
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS GARCIA, Regina L. Alfabetização dos alunos das classes populares. São Paulo: Cortez, 2005.

ABRAMOVICH, Fanny. O estranho mundo que OLIVEIRA, Cláudio Henrique. QUEIROZ, Cristina Maria de. Leitura em sala de aula: a formação de
se mostra às crianças. São Paulo: Summus, 1997. leitores proficientes. RN, 2009. Disponível em: <http://www.webartigos.com>.Acesso em 20Jul 2019.

ALMEIDA, Geraldo Peçanha. A Pro- SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
dução de Textos nas séries iniciais:
Desenvolvendo as competências de es- SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
crita. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2006.
SOUSA, Maria Ester Vieira de. O professor e sua concepção de aluno-leitor do tex-
ANTUNES, Walba de Andrade. Lendo e For- to literário. Trabalho apresentado no III Colóquio da ALED. Recife, UFPE, 2010.
mando Leitores. São Paulo: Global, 2007.
SOUZA, Renata Junqueira de. Leitura do professor, leitura do aluno: processos de formação continu-
VIVIANE DOS SANTOS CACCIATORE BRASIL. Ministério da Educação e do Despor- ada. UNESP – Presidente Prudente. 2004. Disponível em: <www.unesp.br>. Acesso em 20 Jul 2019.
to. Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e ZILBERMAN, Regina. A Literatura Infantil na Escola. São Paulo: Global. 1998.
Graduação em Pedagogia pela Universidade quarto ciclos do ensino fundamental: língua
Cruzeiro do Sul (2013); Especialista em Letra- portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998, v. 2. ZILBERMAN & LAJOLO. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática 1996.
mento pela Faculdade Campos Elíseos (2018);
Professora de Educação Infantil – no CEI Ma- COSSON, Rildo. Letramento literário: te-
ria Augusta de Paula Profª – Prefeitura de São oria e prática. São Paulo: Contexto, 2007.
Paulo.
FREIRE, Paulo. A importância do ato
de ler em três artigos que se com-
pletam. São Paulo: Cortez, 1994.

GRISPINO, Izabel Sadalla. O Hábi-


to da Leitura. Disponível em: 2002.

LINHARES, Mara Coura. LOPES, Elisa Cristi-


na. A Leitura no Ensino Médio: Concepções
e Práticas. Revista Virtual de Estudos da
Linguagem. Vol. 5. 2007. Disponível em:
<http://www.ufjf.br/virtu/edicoes-ante-
riores/quinta/> Acesso em 20 Jul 2019.

MARTINS, Maria Helena. O que é Lei-


tura. São Paulo: Brasiliense, 1994.

OLIVEIRA, Anne Marie M.: “A formação de pro-


fessores alfabetizadores: lições da prática”. In:

734 735
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

UMA REFLEXÃO SOBRE A LITERATURA NA EDUCAÇÃO


INFANTIL
RESUMO: Ao deparar-se com as questões da educação no Brasil há um momento em que todo
educador se questiona quando, afinal, deve começar o processo de alfabetização e qual é a
melhor forma de propiciar o acesso à educação formal. Não há, na verdade nenhum consenso,
pois há falta de critérios e definições sobre o que significa educar e atender a infância. O
presente artigo versa sobre essa inesgotável problemática e busca refletir a respeito de
possibilidades e caminhos alternativos para levar a Literatura ao universo infantil, sem com isso
tentar alfabetizar as crianças, pois é preciso respeitar as características da infância e buscar
compreender os avanços nas pesquisas na área da Educação Infantil no tocante ao letramento
e à alfabetização. É preciso pensar a Literatura na vida escolar desde os primeiros anos, a
despeito de toda burocracia que emana do sistema educacional do Brasil, principalmente das
creches e escolas de educação infantil, cujas propriedades são divididas entre a ação social, a
saúde pública e o campo da educação. Este artigo parte de uma reflexão sobre a ação de narrar
na sala de aula, atividade essa que tem se perdido com o passar do tempo, e depois versa sobre
a leitura em si, quais tipos de gêneros devem ser usados na sala de aula, e ainda traz algumas
sugestões de como ler para bebês e crianças.

Palavras-chave: Literatura; Educação Infantil; Letramento; Livros; Infância.

736
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO afirma CUBERES (2002) “ Devemos


reconhecer as iniciativas de alguns
O objetivo deste artigo é refletir sobre estados e municípios e o esforço
a importância da narrativa e da leitura que vem realizando os docentes, as
na educação infantil, tendo em vista que comunidades educacionais e ainda de
é de fundamental importância ajudar a certos grupos políticos e agremiações
formar leitores desde os primeiros anos de naqueles jardins onde são postos em
educação, pois a leitura é a principal via pela prática o afeto, a solidariedade e o
qual transitarão os conhecimentos que serão profissionalismo” (CUBERES, 2002,
adquiridos ao longo da vida de uma pessoa. p.19).
É necessário pensar sobre esse tema porque
ainda há dúvidas sobre a melhor forma de Sob essa ótica, a Educação Infantil
introduzir a literatura nas creches e centros deixa de ser vista como pré-escolar
de educação infantil. A remota origem da e passa a ser genuinamente escolar,
Educação Pré-escolar remete-se ao século ou seja, não é um estágio “pré”, que
passado, fruto das profundas transformações antecede o que virá a ser, mas que já é em
sociais, advindas das guerras, do processo si e não é alheio aos demais estágios ou
de industrialização, das modificações das níveis educacionais, passa a demandar
estruturas familiares e do fato da mulher ter pesquisas de como a criança aprende,
começado a trabalhar fora de casa. o que podemos esperar de cada fase
do desenvolvimento, o que pode trazer
Todos esses fatores afetaram a vida benefícios para o processo de ensino
socioeconômica das pessoas e trouxeram aprendizagem. Hoje o que se busca
novas demandas para as crianças pequenas, de fato é que a escola de educação
pois careciam de cuidados básicos e proteção infantil complemente e compartilhe
fora do lar, o que pode explicar, ao menos em com as famílias a transmissão e a
parte, a grande ênfase à tarefa assistencial, recriação do patrimônio cultural, bem
nas qual as crianças eram vistas como meros como a construção dos conhecimentos
seres com necessidades de cuidados, como e a socialização. A Educação infantil
alimentação e higiene, e ficavam à espera passou a ser parte da educação básica
do crescimento e da idade considerada no Brasil e a partir de então tem gerado
apropriada para começarem a ter acesso à vários debates e reflexões.
educação formal. De certa forma, a criança
era vista como um adulto, porém, sem A IMPORTÂNCIA DA
necessidades intelectuais, somente físicas, LITERATURA NA EDUCAÇÃO
de sobrevivência, na expectativa de um dia INFANTIL
se tornar um adulto realmente, e só então
passar a ter educação formal, evidentemente As reflexões contidas neste artigo
para as classes mais privilegiadas da buscam possibilitar um resgate
sociedade. Nos últimos anos, porém, como crítico da trajetória percorrida e das

737
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

narrativas inscritas no ofício de levar à não só a experiência de quem narra, mas


educação infantil a Literatura. No cenário em grande parte a experiência alheia, sua
educacional brasileiro ainda há questões inspiração, sua musa, a memória”. A autora
que representam obstáculos na leitura ainda afirma que o indivíduo que perde a
do mundo e da palavra para educandos e experiência e as ligações com o passado,
aprendizes, e é preciso ressignificar muitas com o tempo, com a história, empobrece
das ações que cotidianamente se repetem a consciência que passa a ser constituída
nas esferas da educação infantil que, assim pelas vivências de choque da época
como todas as outras esferas da educação, moderna, esfacelando o entrosamento
vêm sendo transformadas com a presença do indivíduo com o coletivo, o que produz
cada vez maior da tecnologia. Há de se uma sensação de não pertencimento. O
levar em conta, porém, que nenhum avanço que se coloca diante de tais constatações
tecnológico é capaz de se sobrepor a certas é como o professor lida com a
tradições, como a leitura e a narrativa, que importância de narrar histórias para
sempre fez parte da construção humana crianças pequenas, nesta fase em que há
das interações e transmissão de legados. céleres transformações o tempo todo.
De acordo com ROCHA (2011, P. 231):
Os materiais didáticos costumam
trazer recomendações sobre as faixas
A narrativa, veículo da experiência humana, torna-se etárias que se beneficiarão deles,
vazia de conteúdos no mundo do tempo abreviado. determinando processos e etapas que
As múltiplas informações, fragmentadas e facetadas, deverão ser seguidos, desconsiderando
preenchem o tempo de rememorar, o tempo em que o a realidade de cada criança, de cada
homem vinculava as ideias, os fatos e os acontecimentos, sala de aula. A tarefa de narrar vai se
criava e tecia história (ROCHA, 2011, p.231). distanciando gradativamente das muitas
outras múltiplas tarefas do educador.
É preocupante perceber que a ROCHA (2011, P.235) afirma que depois
arte de narrar tem passado por um de ler e reler entrevistas de professores
empobrecimento e que cada vez mais a realizadas durante a pesquisa “Cultura,
narrativa fica vazia de significados, pois linguagem e modernidade” constatou:
é uma experiência atrofiada. Por um lado “Percebemos o quanto as histórias
os professores parecem cada vez mais de professoras, principalmente das
distantes dessa prática em sala de aula, mais novatas, revelam a perda da
e por outro, vemos que cada vez mais capacidade de narrar. E quando narram
as crianças passam horas e horas diante e contam histórias, a desesperança
de telas de smartphones, televisores ou e o tudo igual aparecem. Será que
computadores. ROCHA (2011, p.233) perderam a capacidade de narrar?”
leva-nos a refletir que: “Nesse sentido,
a narrativa é o lugar onde se encontra o Durante o mesmo trabalho de
acervo da humanidade, acervo que contém pesquisa citado acima, a autora percebeu

738
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

o quanto os professores de hoje deixam de traz o questionamento se o educador


lado a narrativa, assim como demonstram deve ler para a criança ou com a criança.
reprovação às leituras obrigatórias na escola,
ou seja, a literatura tem ficado de fora na Nesse segmento da escolaridade é de
maior parte do tempo nas escolas de nossa suma importância que as crianças tenham
atualidade, incluindo na Educação Infantil. contato permanente com esses bens culturais
que são os livros de literatura, para que se
As questões que envolvem os processos familiarizar e interajam com a linguagem
de construção da linguagem, das práticas literária, nos textos e nas ilustrações, para
de leitura e escrita na educação infantil são que futuramente venham a compreender os
sempre cercadas de indagações, tais como usos sociais da escrita. Todo trabalho com
a partir de que idade as crianças devem livros de literatura deve despertar o gosto
aprender a ler e a escrever, e como deve pela leitura e o interesse pelos livros, o que
ser o acesso das crianças ao mundo letrado afetará positivamente a ler e a escrever.
para favorecer o processo de alfabetização, Para que seja bem sucedido todo esse
bem como o lugar desse segmento da processo, é necessário criar uma série de
educação para a formação de leitores. experiências positivas, para que a criança
queira cada vez mais que os livros façam
Todo professor deve ser um mediador parte de sua vida, dentro e fora da escola.
de leitura, pois faz a ponte que interliga o
conhecimento literário ao universo de bebês Na educação infantil, quando o professor
e crianças pequenas. Isso não se refere é o mediador da leitura, a criança precisa
somente aos professores que atuam nos encontrar espaço e modos de expressar-
últimos anos da educação básica. O professor se, seja através de gestos ou de palavras,
da creche é um mediador também e pode e durante e após a leitura de um determinado
deve compreender a importância de seu papel livro, pois é na leitura ativa que a criança se
ao intermediar a leitura para a criança. Mas, desenvolve e dialoga melhor, respondendo
afinal, o que deve ser lido na Educação infantil? ao questionamento anterior, portanto,
há de se ler com a criança, envolvendo-a
De acordo com o Programa Nacional plenamente, mente e corpo juntos,
Biblioteca da Escola – PNBE – para cada vivenciando o ato de ler. Na escola sabemos
acervo literário destinado à educação que “todos são mediadores de leitura, os
infantil deveriam ser selecionadas obras de professores, os profissionais da biblioteca,
textos em verso (quadra, parlenda, cantiga, os gestores, enfim, os diferentes mediadores
trava-línguas, poema), textos em prosa de leitura do contexto escolar, que tem o
(clássicos da literatura infantil, pequenas poder de fazer o livro circular”. PNBE na
histórias, trechos de tradição popular) e escola: literatura fora da caixa (2014, P.14).
livros com narrativa de palavras-chave e
livros de narrativa por imagem. Esse material Portanto, há de se fazer um grande esforço

739
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

em cada unidade escolar para conscientizar a elementos que tornem a leitura um momento
todos sobre a importância da leitura desde o especial, diferente de outras atividades que
berçário, e a biblioteca passa a ser vista como acontecem ao longo do dia. CUBERES (2002,
um ambiente de todos os atores escolares, P.23) afirma que “atividades cotidianas
um espaço de socialização e que conta podem e devem ser flexibilizadas, sem que
com atividades prazerosas, incentivando, isso seja traduzido em um caos. Muito pelo
inclusive, o protagonismo da criança, contrário, essa flexibilidade pode favorecer
permitindo a ela expressar-se de variadas a criação de um clima informal, sereno e
maneiras, tais como através de fantoches, prazeroso”, isso independentemente da
teatrinhos, leituras, contação de histórias, faixa etária, pois costuma ocorrer uma
apresentar falas de alguns personagens, pois hierarquização da educação equivocada,
de acordo com PNBE na escola: literatura pois em cada segmento há aprendizagens
fora da caixa (2014, P.14): “A biblioteca tem valiosas que juntas vão construindo
também o papel de aproximar dela as crianças, a base da educação de uma criança.
potenciais leitores. Atividades simples, como
uma festa para receber novos acervos ou O educador deve ir além das expectativas
a divulgação em cartazes de novos livros idealizadas de uma creche ou escola de
atraem a atenção e o interesse das crianças”. educação infantil, pois há situações em que
não haverá quantidade e nem qualidade
Assim, a biblioteca deve assumir novos de materiais apropriados, então será
papéis no contexto escolar, pois passa ser necessário usar materiais diferentes para
mais do que um local para leitura, torna- criar um ambiente apropriado para a leitura
se também um ambiente de interação e ou a contação de história, o fundamental
de troca de experiências, uma referência é valorizar a palavra, lida ou narrada, pois
de cultura e conhecimento para o leitor ROCHA (2011, P.233) declara que:
iniciante. Sabe-se que as crianças, desde os
primeiros meses, brincam e sentem prazer na Analfabetismo que vai além do desconhecimento das letras,
brincadeira, por isso a biblioteca ou o espaço que assola também o homem letrado que, embora conheça
criado para a leitura não devem ter aquele o mecanismo da escrita, desconhece que a palavra vale
aspecto cinzento e sem vida como sempre ouro, que com ela podemos soletrar, decifrar, redesenhar
existiu, um lugar de silêncio absoluto, antes, e registrar a escrita desaparecida (ROCHA, 2011, p. 233).
deve ser colorido, ter um aspecto lúdico,
interessante, com diferentes texturas, Embora vivamos numa cultura
imagens ao redor, que seja um ambiente profundamente afetada pelo uso da escrita,
convidativo para ler e aprender, que conte nosso domínio da tecnologia da escrita
com assentos confortáveis e despojados. depende de processos de interação e
mediação nas diferentes esferas sociais em
Na maioria das escolas de educação que circulamos, portanto ROCHA (2011,
infantil o espaço físico tende a ser reduzido P.242) pergunta “como tem sido mediado
e geralmente a leitura é feita na própria o acesso das crianças à cultura letrada?
sala de aula, portanto convém pensar em Como os professores de educação infantil
740
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

concebem o processo de letramento?”. A acordo com ROCHA (2011, P.246) “pensar a


autora admite que as práticas de leitura leitura e a escrita na educação implica pensar
e de escrita na educação infantil sempre em um conjunto de práticas discursivas orais
suscitaram tensões, contradições e e escritas que façam e/ou possam vir a fazer
indagações, como qual seria a idade certa para da vida das crianças”. Para a autora,
para uma criança começar a ler e a escrever. compreender a linguagem tem conseqüências
para o trabalho pedagógico, pois linguagem
A educação infantil passou de e vida se atravessam naturalmente. E
assistencialista a alfabetizadora, uma nesse tempo, qual tem sido o papel da
instituição que visava preparar as crianças educação infantil com relação à leitura e a
para os anos iniciais da educação básica, escrita? LEMOS (1988, P.11) afirma que:
com a divulgação no Brasil de trabalhos
relevantes sobre os processos de A escrita circula os espaços em que as
aquisição da língua escrita em crianças crianças vivem, desde a lista do mercado até
pré-escolares, ao que ROCHA (2011, ao nome na placa do ônibus, bem como na
P.244) afirma que “por outro lado, houve placa do nome da escola, das instruções de um
uma supervalorização da produção escrita brinquedo, em tudo a escrita está presente,
em detrimento de outras expressões e por isso quando chegam à educação infantil
até mesmo da própria leitura”, ou seja, a muitas das práticas de leitura e escrita já fazem
leitura ainda não encontrou seu espaço parte da vida das crianças, mas não de todas,
realmente na educação infantil, ainda evidentemente, por isso a escolarização
há de se construir com os educadores a será importante para esse processo que
noção da importância do ato da leitura se ampliará progressivamente enquanto
desde os primeiros dias no âmbito escolar. os educadores fizerem um trabalho de
qualidade. ROCHA (2011, P.251) revela que:
Na década de 1990 as ideias
construtivistas passar a permear todo É a maneira como a linguagem é
ideário pedagógico, porém, em relação à abordada na educação infantil que faz a
educação infantil havia apenas um quadro diferença, tornando o trabalho interessante.
sintético de objetivos e os professores A linguagem, percebida como isso que
ficaram à deriva, buscando outros perpassa os projetos de trabalho, torna-se
caminhos por si sós, muitos permaneceram tecido dos sentidos produzidos, costura que
no tradicional, enquanto outros queriam permite a interdiscursividade, o elo entre
avançar, mas sem ideias claras do que era o mundo ficcional e real, literatura e vida,
preciso fazer para isso, o que no fim, permitia leitura e experiência (ROCHA, 2011, p.251).
que cada um fizesse o que bem entendesse.
Atualmente a infância é pensada como A palavra letramento pode ser confundida
um tempo de protagonismo da criança, com um trabalho que remete às antigas
que é um ser capaz, que precisa ser vista cartilhas, a soletração, o que não tem nada
de forma global e tem muitas e complexas a ver, pois o letramento, na verdade, envolve
necessidades. Na educação infantil, de práticas sociais da leitura e da escrita e “se
741
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

observarmos as crianças nas suas interações, dos personagens. É importante explorar a linguagem
veremos que elas percebem, discriminam, poética, a presença de rimas, de neologismos etc.
classificam, induzem, deduzem com base nas
suas leituras de mundo” , ROCHA (2011, P.252). Os acervos da educação infantil são
compostos por livros cuja narrativa é acessível
É preciso partir do pressuposto de que e lúdica, mas para ser realmente prazeroso e
a criança pequena ainda não é capaz de proveitoso, há de se levar em consideração
interagir com textos verbais e imagéticos que “ler não é meramente ser capaz de
que a leitura oferece, por isso a mediação pronunciar palavras de maneira correta,
não corresponde à interpretação do texto, é poder atribuir significados às palavras
mas à indicação de caminhos que o próprio impressas no papel”. GUIA 1 – PNBE: literatura
texto traz ao leitor no processo de construção fora da caixa – Educação Infantil (2014, p.37).
dos sentidos, na qual o educador, que faz a
mediação empresta a voz ao livro e prepara O que parece ser uma tarefa absolutamente
a leitura de modo a explorar os aspectos fácil, pode não ser, pois há leituras vazias
do texto verbal e da visualidade que vão de expressividade, por outro lado, porém,
provocar nas crianças o desejo de participar, quanto mais expressiva for uma leitura, mais
sem o qual não acontece a interação literária. as crianças tendem a gostar e depois elas
brincam de ler, imitando o adulto que leu. O
Ao fazer qualquer trabalho com literatura, documento ainda orienta que quanto mais
explorar a capa é uma etapa fundamental, cedo lermos em voz alta para as crianças, mais
pois ela é a porta de entrada para a narrativa, rápido elas desenvolvem habilidades de fala,
depois se deve convidar a criança a deduzir além disso, uma sessão de leitura em voz alta é
sobre qual tema o livro tratará, qual é o assunto, o momento perfeito para iniciar conversações
questionar sobre que tipo de história se irá com as crianças e trocar ideias sobre o tema
ler. As imagens visuais podem ser os primeiros da história, sobre os personagens, a capa,
elementos a serem explorados em um as ilustrações, o tamanho do livro, o tipo de
diálogo com as crianças, a partir de questões papel, dentre tantas outras possibilidades.
elaboradas com essa finalidade e adequadas
ao seu entendimento lingüístico, levando Não há um modo certo de se ler em voz
em conta que existem diferenças relevantes alta, o mais importante é deixar a história falar
quanto ao desenvolvimento das crianças nas e aguçar o cérebro da criança, propiciando um
interações com os adultos. GUIA 1 – PNBE: diálogo aberto e produtivo. Da mesma maneira,
literatura fora da caixa – Educação Infantil a postura do corpo de quem conta uma história
(2014, P. 22) traz a seguinte orientação: é muito importante, pois revela sentimentos
em relação ao ato de ler. Estabelecer contato
Abertas, capa e contra capa dos livros oferecem uma visual com as crianças também é muito
panorâmica das imagens e textos verbais que convidam importante enquanto lemos para elas, assim
à leitura. Há também aspectos relacionados a jogos como as expressões faciais, pois as imagens
de palavras e sons presentes no título ou nos nomes engrenam situações de pensamentos e levam
aos diálogos que se seguirão após a leitura.
742
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

A escrita circula os espaços em que as cri- to traz ao leitor no processo de construção


anças vivem, desde a lista do mercado até dos sentidos, na qual o educador, que faz a
ao nome na placa do ônibus, bem como na mediação empresta a voz ao livro e prepara
placa do nome da escola, das instruções de a leitura de modo a explorar os aspectos do
um brinquedo, em tudo a escrita está pre- texto verbal e da visualidade que vão provo-
sente, por isso quando chegam à educação car nas crianças o desejo de participar, sem
infantil muitas das práticas de leitura e escrita o qual não acontece a interação literária.
já fazem parte da vida das crianças, mas não Ao fazer qualquer trabalho com literatura,
de todas, evidentemente, por isso a escolar- explorar a capa é uma etapa fundamental,
ização será importante para esse processo pois ela é a porta de entrada para a narrativa,
que se ampliará progressivamente enquan- depois se deve convidar a criança a deduzir
to os educadores fizerem um trabalho de sobre qual tema o livro tratará, qual é o assun-
qualidade. ROCHA (2011, P.251) revela que: to, questionar sobre que tipo de história se irá
É a maneira como a linguagem é abor- ler. As imagens visuais podem ser os primeiros
dada na educação infantil que faz a dif- elementos a serem explorados em um diálogo
erença, tornando o trabalho interessante. com as crianças, a partir de questões elabora-
A linguagem, percebida como isso que per- das com essa finalidade e adequadas ao seu
passa os projetos de trabalho, torna-se te- entendimento lingüístico, levando em conta
cido dos sentidos produzidos, costura que que existem diferenças relevantes quanto ao
permite a interdiscursividade, o elo entre o desenvolvimento das crianças nas interações
mundo ficcional e real, literatura e vida, lei- com os adultos. GUIA 1 – PNBE: literatu-
tura e experiência (ROCHA, 2011, p.251). ra fora da caixa – Educação Infantil (2014,
P. 22) traz a seguinte orientação: Abertas,
A palavra letramento pode ser confundi- capa e contra capa dos livros oferecem uma
da com um trabalho que remete às antigas panorâmica das imagens e textos verbais que
cartilhas, a soletração, o que não tem nada a convidam à leitura. Há também aspectos rela-
ver, pois o letramento, na verdade, envolve cionados a jogos de palavras e sons presentes
práticas sociais da leitura e da escrita e “se no título ou nos nomes dos personagens. É
observarmos as crianças nas suas interações, importante explorar a linguagem poética,
veremos que elas percebem, discriminam, a presença de rimas, de neologismos etc.
classificam, induzem, deduzem com base Os acervos da educação infantil são com-
nas suas leituras de mundo” , ROCHA (2011, postos por livros cuja narrativa é acessível e
P.252). É preciso partir do pressuposto de que lúdica, mas para ser realmente prazeroso e
a criança pequena ainda não é capaz de in- proveitoso, há de se levar em consideração
teragir com textos verbais e imagéticos que que “ler não é meramente ser capaz de pro-
a leitura oferece, por isso a mediação não nunciar palavras de maneira correta, é pod-
corresponde à interpretação do texto, mas er atribuir significados às palavras impressas
à indicação de caminhos que o próprio tex-

743
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

no papel”. GUIA 1 – PNBE: literatura fora da que ler para as crianças pequenas, mas bus-
caixa – Educação Infantil (2014, p.37). O que cou trazer uma reflexão sobre a importância
parece ser uma tarefa absolutamente fácil, de narrar e de ler para as crianças e com ela,
pode não ser, pois há leituras vazias de ex- bem como buscou pensar nas múltiplas pos-
pressividade, por outro lado, porém, quanto sibilidades de leitura que existem em uma
mais expressiva for uma leitura, mais as cri- obra literária, explorando desde a capa até
anças tendem a gostar e depois elas brincam as ilustrações, do título ao nome dos perso-
de ler, imitando o adulto que leu. O documen- nagens, ou seja, trabalhar uma obra literária
to ainda orienta que quanto mais cedo ler- de forma ampla e abrangente, extraindo, ao
mos em voz alta para as crianças, mais rápido máximo, possibilidades de diálogos e inter-
elas desenvolvem habilidades de fala, além ações com os pequenos no âmbito escolar.
disso, uma sessão de leitura em voz alta é o
momento perfeito para iniciar conversações Mais importante do que ler para as crianças
com as crianças e trocar ideias sobre o tema é ler com as crianças, permitindo que elas se
da história, sobre os personagens, a capa, expressam em relação ao livro, que não seja
as ilustrações, o tamanho do livro, o tipo de uma atitude passiva por parte delas, mas
papel, dentre tantas outras possibilidades. para isso o educador que vai mediar à leitu-
ra precisa compreender que a criança se ex-
Não há um modo certo de se ler em voz pressa de maneiras variadas. Há momentos,
alta, o mais importante é deixar a história falar por exemplo, em que uma criança se encanta
e aguçar o cérebro da criança, propiciando um tanto com uma leitura que começa a dançar
diálogo aberto e produtivo. Da mesma ma- no meio da história. O educador tem que ter
neira, a postura do corpo de quem conta uma um olhar diferenciado para essa atitude, pois
história é muito importante, pois revela senti- não é uma mera bagunça, mas sim a forma
mentos em relação ao ato de ler. Estabelecer como a criança encontrou para se expressar.
contato visual com as crianças também é mui-
to importante enquanto lemos para elas, assim O livro precisa ser valorizado desde os
como as expressões faciais, pois as imagens primeiros contatos com ele. A escola preci-
engrenam situações de pensamentos e levam sa privilegiar a leitura e tudo o que ela en-
aos diálogos que se seguirão após a leitura. volve, desde o acervo, o espaço de contação
de histórias ou do ato de narrar, também
CONSIDERAÇÕES FINAIS contemplado nesse artigo como uma ativ-
idade de fundamental importância para as
A literatura tem na educação infantil um interações humanas e a transmissão de lega-
berço muito fértil no qual muito se pode ser dos, ainda que haja uma crescente abundân-
feito a fim de que nasça em cada criança um cia de recursos tecnológicos, tais como in-
leitor, uma leitora. Este artigo não ambicio- ternet, sites especializados para educação
na criar receitas prontas de como ler ou o e programas de televisão, entre outros.

744
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Não faltam materiais que orientam como


ler, de que modo proceder ao ler livros para REFERÊNCIAS
crianças etc, porém, nada disso resolve se o
educador não perceber a importância da lei- CUBERES, María Teresa González. Entre
tura na vida delas nas creches e nas escolas as fraldas e as letras: contradições à
de educação infantil, bem como a relevân- educação infantil/ Maria Tereza González
cia do ato de ler em sua própria vida. Não Cuberes; trad. Beatriz Affonso Neves.
podemos exigir das crianças aquilo que não – Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
é parte de nossas próprias práticas na vida
cotidiana. O professor mediador de leitura Educação Infantil: Enfoques em diálogo/ Eloísa
deve ser um leitor, antes de tudo, para através A.C. Rocha, Sonia Kramer (orgs) – Campinas,
SP: Papirus, 2011 – (Série Prática Pedagógica).
de seu próprio exemplo, levar um número
cada vez maior de crianças a gostarem de
LEMOS, C.T.G. (1988) “Prefácio”. In: KATO,
ler, a amarem os livros e tudo o que neles há.
M.A. (org.) A concepção da escrita pela
criança. Campinas: Pontes, p.p. 19-54
PNBE na escola: literatura fora da caixa/

Ministério da Educação; elaboração


pelo Centro de Alfabetização, Leitura e
Escrita da Universidade Federal de Minas
Gerais – [Brasília: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Básica, 2014].

NANCI APARECIDA DA TRINDADE


CAMPOS

Graduação em Letras, Português/ In-


glês pela Faculdade Bandeirante de
São Paulo (2009); Especialista em
Estudos Literários pela Faculdade
Unibero (2011); Professora de En-
sino Fundamental II - Língua Ingle-
sa - na EMEF Professor Adolpho Otto
de Laet, Professora de Educação In-
fantil – no CEI Parque Casa de Pedra.

745
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

LITERATURA NA ESCOLA: O LIVRO BRINQUEDO

RESUMO:A literatura infantil é um gênero recente na história da cultura


ocidental. Ela só vai se fixar em fins do século XVII,quando Charles Perrault
destina seus Contos da Mamãe Ganso aos jovens leitores, dando atenção a um
publica até ali sem contornos definidos. A convivência entre obras diversas,
antigas e modernas, como os contos de fadas, as fábulas. Os livros de imagens,
as histórias em quadrinhos, os mitos, as narrativas curtas, os poemas e os livros-
brinquedos, e entre teoria e prática, tem, portanto, como saldo um material de
apoio ao professor que certamente ampliará as possibilidades de trabalho, sempre
ancorado no conhecimento teórico e analítico do leque de textos escolhido
para levar aos alunos. Por isso, este artigo visa contribuir com a importância da
literatura na escola no intuito de difundir a leitura literária entre as novas gerações.

Palavras- chave: Educação, Leitura, Literatura Infantil, Livros.

746
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO formador, para que essas práticas não sejam


meramente técnicas. Cabe aos mediadores,
Desde tenra idade, a iniciação literária ainda, levar o sujeito leitor a perceber o texto,
possibilita ao aluno o prazer, que favorece o compreender, dialogar e discutir aquilo que
enriquecimento de seu repertório imaginário. leu. O leitor não deve ser um sujeito passivo
No campo educativo essa experiência diante da leitura, mas necessita estabelecer
permite ao aluno alargar seus horizontes e seu uma relação de troca, uma experiência
conhecimento de mundo, transcendendo seu que leve a se questionar, duvidar, crer e
campo demarcado como repertório cultural. tecer novas concepções acerca do que leu.
Esse arcabouço auxilia nas interpretações
a atribuições de sentido por parte do leitor, LIVRO-BRINQUEDO, O CONCEITO LIVRO-
fazendo com que seja crítico diante do texto. BRINQUEDO
Assim, de acordo com Coelho (2000, p.20)
Livro-brinquedo é um nome tão agradável
A escola é hoje o espaço privilegiado, quanto o universo de suportes que abarca.
em que deverão ser lançadas as bases Livro enquanto expressão do pensamento
para a formação do indivíduo. E, nesse humano é uma evolução dirigida ao discurso e
espaço privilegiamos os estudos literários, à permanência. A existência fundamental do
pois, de maneira mais abrangente do que livro na cultura lhe dota de funções múltiplas:
quaisquer outros, eles estimulam o exercício informar, entreter, documentar, registrar,
da mente: a percepção do real em suas repertoriar, reunir, contar, registrar, mediar,
múltiplas significações; a consciência do autenticar, apresentar, ilustrar, resgatar,
eu em relação ao outro; a leitura do mundo dentre outras.Mas pela proximidade com a
em seus vários níveis e, principalmente, palavra brinquedo, o que mais este suporte
dinamizam o estudo e conhecimento da qualifica a priori uma irrevogável vocação
língua, da expressão verbal significativa e experimental, além de um lugar de transições
conscientemente da condição para a plena de uso, com função de entreter, alegrar, levar
realidade do ser (COELHO, 2000, p. 20). à ação, valorizando a plasticidade editorial
artística, a performance, a tecnologia
gráfica, lugares de passeios sensoriais.
Partindo dessa premissa é que os
mediadores de leitura se apresentam como Tudo isto de modo interdependente
atores principais do intermédio entre o aluno constitui um panorama significativo para a
e o texto. São os mediadores que vão traçar compreensão de uma dinâmica de criação
o caminho que este aluno irá percorrer. contemporânea e usufruto no campo de
Por isso, é de suma importância que seus produção de livros. O livro-brinquedo tem
pais, professores, bibliotecários e agentes uma força comunicativa em sua apresentação
culturais tenham consciência de seu papel formal-visual-tátil. Como categoria tensora

747
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

de orientação,ultrapassa a condição objetiva apresentando algo curioso, surpreendente,


linear da leitura, permitindo o alcance aos temas divertido, inovador, gostosuras.
mesmo pela abertura súbita de páginas, ainda
que haja na sua estrutura uma representação Para, além disto, a quase ausência do
de seqüência para a história, destacando medo de errar a leitura mantém em alta a
lances notáveis, ação visual e interconexão espontaneidade do explorar infantil que
dos fatos quando revistos. O livro-brinquedo carrega consigo a intenção de brincar, se
é um suporte que atrai a atenção dos alunos envolvendo emocionalmente com o suporte
pelo seu formato diferenciado, características e administrando situações de repetição e
ornamentais e apelos sensoriais. Convoca ao originalidade de sentido. Todavia, o livro-
prazer, descoberta, aproximação, alterado, brinquedo enquanto denominação específica
saído dos formalismos da estrutura do livro dentro da literatura infantil ainda é pouco
modelar e tradicional, e de seus lugares conhecida. No Brasil o termo passou a
convencionais de uso, o livro-brinquedo pode figurar nas capas de livros infantis, como
ser pendurado como livro móbile, mordido, chamada, entre os anos de 2009 e 2010,
pintado, apertado, levado para o banho, a cama, ainda que os anos 90 tenham sido o marco de
montado como jogo ou cenário, projetado. produção para o início destas edições no País.

Sobretudo, o livro-brinquedo é transportado A feição mais comum nos anos 90 para


como brinquedo pelos alunos de zero aos três livro lúdico era a do livro pop up, ou seja,
e quatro aos cinco anos, serve de exercício livro que salta para fora, livro jump, que cria
a experiências motoras, ajuda a construir janelas de leitura inesperadas, eloqüentes, em
habilidades e competências no manuseio e transformação do unidimensional para o plano
percepção expressiva daquilo que flui na hora da segunda dimensão e terceira dimensão.
da brincadeira, ou seja, na disponibilidade A origem dessa tecnologia tem raízes na
que o livro abre para o que se repete o que arte do origami, arte milenar japonesa de
se cria e o que se improvisa. Assim, a cada dobradura de papel. A ideia básica é gratificar
movimento de puxar, rodar, abrir, fechar, quem abre o livro em aproveitamento
levantar, sentir, ouvir, tocar,a cada investida de efeitos visuais dos planos espaciais
do aluno que folheia, há aprendizado de ações multiplicados, inesperados, fantásticos.
que se repetem, mas que não são fáceis para a
educação infantil, mantendo-se como desafios. No Brasil, a maioria das creches e pré-
escola ainda não usa livros-brinquedo para
Há ajustes no empenho e motivação iniciação à recreação ou gosto formador de
de passagem de páginas, a fim de que as leitura por desconhecimento, inacessibilidade
ações se calibrem para a descoberta de uma por causa do custo ou temendo que os
comunicação, oportunidade de aprendizado.As alunos não consigam manuseá-las ou
páginas ganhamvida em performances mágicas, compreendê-los. Poucos autores e títulos

748
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

de livro-brinquedo são conhecidos no País criação, identificação e prazer que podem


e no período de 0-3 anos pouco se fala em propiciar ao convocar, de modo alegre e
biblioteca para bebês, ainda que o conceito comovente, fantástico e acionador, aprendizes
de brinquedoteca venha ganhando espaço. de leitura como agentes.Decorativa, estética
e algumas vezes exuberantemente, os livro-
Muitas vezes, desconhece-se a variedade brinquedo têm potencial para englobar
de materiais e oportunidades comunicativas produções editoriais que se ocupam das
destes instrumentos livros, lúdicos, em invenções, dos divertimentos, das recreações,
estagio avançado de desenvolvimento dos movimentos, da plasticidade de linhas
editorial conceitual. Não se ignora, no vivas, do espetáculo de cena, das maravilhas e
entanto, que o melhor do livro-brinquedo experimentos para lembrarmos. Contudo, um
é o momento em que ainda se desconhece desafio espreita este livro de nova geração:
até onde o jogo e seus desvendamentos endereçados a uma faixa etária que engloba
ou gostosuras podem nos levar. também crianças de zero a cinco anos e sendo
recentes no cenário literário como produção,
Uma acepção possível para este suporte não são garantia de qualidade literária. Há
de livro e que ele não fica indiferente aos livros-brinquedo que ainda parecem vir rasos
olhos do aluno.Nas suas evoluções, o livro- ou vazios de brincadeira, porque repetitivos
brinquedo preocupa-se, inclusive, em explorar em condicionantes já exaustivamente
melhor as saídas à restrição do manusear isto presentes em outras categorias literárias
é, aquilo que rasga, danifica,suja,desprende, endereçadas ao público infantil.
trava, descola.Na criação da fala e da
linguagem, brincando com essa maravilhosa Os acabamentos são sim um fator
capacidade de designar é como se o espírito à parte de atenção no livro-brinquedo,
estivesse constantemente saltando entre uma vez que ajudam a originar obras com
a matéria a e as coisas pensadas. Por de qualidade de ornamentos e valorização do
traz de toda expressão abstrata se oculta sensorial distintivo à primeira infância. Bons
uma metáfora, e toda metáfora são jogos acabamentos favorecem acessibilidades e
de palavras. Assim ao dar expressão à vida o jogo de atração pelo livro-brinquedo. Mas
o homem cria outro mundo poético, ao acabamentos por si só não ajudam a contar
lado da natureza. (HUIZINGA, 1988, p. 7 história e a instigar à imaginação, a ação, a
teatralização. A unidade de conteúdo é de
Enquanto compreensão do quanto estas vital importância, assim como o incremento
experiências com livros-brinquedo podem a fatores cognitivos que despertam o aluno.
servir como recurso utilitário pedagógico, Assim, a elaboração de um livro-brinquedo
deve-se atentar para as hipóteses de também parece ser diferenciada porque
ludicidade, autonomia e interação que as esta se presta desde o início à interação, ao
instigam. Para o empenho, participação, manuseio e ao acionamento dos alunos e

749
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

mediadores que participarão de modo não sensibilização para a leitura. A nomenclatura


passivo e não distante na dinâmica de leitura. livro brinquedo surge oficialmente a partir
de 1997 pela Fundação Nacional do Livro
A construção da linguagem brinquedo Infanto-Juvenil com o propósito de uma
transporta ao suporte livro, deve ser premiação anual. O que diferencia o livro
autêntica, original e não esquecer sua função brinquedo dos demais livros de literatura
prática, utilitária e de acessório no livro que infantil é o projeto gráfico, pois este precisa
é brinquedo, e no brinquedo que é livro. Os ser de material resistente para promover
brinquedos possuem outras características, uma leitura autônoma dos alunos pequenos.
de modo especial a de ser objeto portador
de significados rapidamente identificados Este livro é destinado aos alunos na faixa
ele remete os elementos legíveis do real ou etária do zero aos três anos aproximadamente.
do imaginário dos alunos. Neste sentido, Embora não tenhamos a intenção de tratar das
o brinquedo é dotado de um forte valor questões referentes à indicação de livros por
cultural, se definir a cultura, como um faixa etária, faz-se necessário mencionarmos
conjunto de significações que permitem nesse artigo, que a escolha do livro não se dá
compreender determinada sociedade e pela faixa etária, mas pela condição leitora de
cultura. (BROUGÉRE, 1997, p.8) cada indivíduo. Os livros brinquedos, assim
como outros literários infantis, apresentam
A literatura utilizada de modo adequado, em suas narrativas, implícita e explicitamente,
é um instrumento de suma importância concepções de infâncias idealizadas pelos
na construção do conhecimento do aluno, autores, ilustradores e editores. Considerar
fazendo com ele desperte para o mundo da o aluno como um leitor em formação é
leitura não só como um ato de aprendizagem assegurar-lhe o acesso a literatura de
significativa, mas também como uma qualidade e reconhecê-la como ator social.
atividade prazerosa. Além do prazer de entrar
em um mundo imaginário, a literatura inicia Diante dessa realidade, a utilização e o
na infância pode ser a chave para um bom e reconhecimento do livro brinquedo remetem
eterno aprendizado escolar. a um questionamento o que circula no
mercado editorial são livros brinquedo ou
O LIVRO BRINQUEDO NA brinquedo e o brinquedo livro.Apesar deste
FORMAÇÃO DE LEITORES suporte de texto, ser considerados por alguns
teóricos da leitura como o primeiro contato
O livro brinquedo é considerado por do aluno bem pequena com o objetivo livro,
alguns estudiosos desta área, dentre eles há poucos estudos sobre este material.
Coelho (2000) que o denomina como livro
objeto, o primeiro contato do aluno com o
objeto livro e representa um marco inicial na

750
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

CONCLUSÃO REFERÊNCIAS
Acreditamos na categoria do livro BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e
brinquedo como sendo um significativo cultura. São Paulo: Cortez. 2013.
suporte de texto para os alunos pequenos. CAVALCANTI, Joana. Caminhos da literatura
Neste o brinquedo não tem a função lúdica infantil e juvenil: São Paulo: Paulus, 2002.
somente pelo brincar, mas lúdica ao convidar FREIRE, Paulo. Educação como prática da
o aluno a entrelaçar-se no mundo da leitura liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2010.
textual e visual. Este convite precisa estar FREIRE, Paulo. Educação e mudança.
calcado na sensibilidade. Sensibilidade esta São Paulo: Paz e Terra, 2011.
que qualificará o percurso pelo qual o aluno HUIZINGA, Johan. Homo ludens.
vai constituindo a sua condição de leitor. São Paulo: Perspectiva, 1999.
MORAIS, Regis de. Sala de aula, que
espaço é esse? São Paulo: Papirus, 1991.
PENNAC, Daniel. Como um romance.
Rio de Janeiro: Rocco, 2015.
RODRIGUES, S. Neidson. Lições do príncipe
e outras lições. São Paulo: Cortez, 2011

EVELIN PEREIRA MONTAGNINI


Graduação em Pedagogia pela
Universidade Metropolitana de santos
(2016); Professora de Educação Infantil no
Centro de Educação Infantil Jardim Silveira.
A LEITURA COMO EXERCÍCIO
DE CIDADANIA
RESUMO:Esta pesquisa teve como objetivo
compreender a leitura como práticas
de exercício da cidadania, abordando o

751
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

A LEITURA COMO EXERCÍCIO DE CIDADANIA


RESUMO:Esta pesquisa teve como objetivo compreender a leitura como práticas de exercício da
cidadania, abordando o tema como um assunto atual e necessário de discussões. Promovendo
uma conceituação dos termos cidadania e leitura, e refletindo sobre as contribuições na
formação cidadã de um indivíduo. Diante dos questionamentos apontados, iniciou-se um
estudo bibliográfico baseado análises e estudos de autores que embasam as concepções
apresentadas neste artigo. Concluiu-se, a leitura, deve ser estabelecida como agente de
transformação e de formação do cidadão, e, portanto, trabalhada na escola como uma ferramenta
necessária no posicionamento dos direitos e deveres, e compreendendo o mundo que o cerca.

Palavras-chave: Cidadania; Leitura; Contemporânea; Cidadão.

752
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019
INTRODUÇÃO

A cidadania é o próprio direito à vida


no sentido pleno. Trata-se de um direito
que precisa ser construído coletivamente,
não só em termos do atendimento às
O processo de construção e formação necessidades básicas, mas de acesso a
de leitores se inicia muito antes da todos os níveis de existência, incluindo o
efetivação da leitura convencional. As mais abrangente, o papel do(s) homem(s)
relações que a criança estabelece com o no Universo ( MANZINI, 2006, p.12)
meio e com o outro, são bases importantes
para que essa construção da escrita seja Trazendo para o contexto educacional, uma
aprimorada cada vez mais. O momento da educação para cidadania é uma educação para
leitura é uma atividade que faz parte de a liberdade, que deve, contudo, considerar o
forma quase obrigatória da rotina escolar. aluno e o meio em que vive, diante de suas
experiências de vida. Não se pode dissociar o
E essa prática por vezes é tida como algo aluno de sua realidade, do seu atual contexto.
meramente rotineiro e realizada de forma É ensinar para a vida, para que este consiga
automática, mas a prática de leitura tem exercer a educação e os ensinamentos no seu
muito a contribuir nos processos de exercício dia-a-dia, e seja capaz de localizar-se no mundo.
da cidadania, pois um cidadão capaz de ler e
compreender consegue se posicionar diante A educação como prática da liberdade, ao
da sociedade. A partir destas considerações, contrário naquela que é prática da dominação,
o artigo busca delinear como objetivo implica na negação do homem abstrato,
como a leitura contribui no exercício da isolado, solto, desligado do mundo, assim
cidadania. Traçando o conceito de cidadania, também na negação do mundo como uma
de leitura, e a importância da leitura para a realidade ausente dos homens. A reflexão que
formação de um cidadão crítico e reflexivo. propõe, por ser autêntica, não é sobre este
homem abstração nem sobre este mundo
A CIDADANIA sem homem, mas sobre os homens em suas
relações com o mundo. Relações em que
Cidadania, segundo o dicionário, significa consciência e mundo se dão simultaneamente.
“Condição de quem possui direitos civis, Não há uma consciência antes e um mundo
políticos e sociais, que garante a participação depois e vice-versa. “A consciência e o mundo,
da vida política; Estado de cidadão de quem é diz Sartre, se dão ao mesmo tempo: exterior
membro de um estado, Exercício dos direitos por essência à consciência, o mundo é, por
e deveres inerentes às responsabilidades essência, relativo a ela” (FREIRE, 1987, p.40)
de um cidadão.”. Ainda nesse contexto,
Manzini (2006), conceitua Cidadania: Desse Modo, podemos destacar que uma
educação para a liberdade, para a cidadania,

753
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

é uma educação que visa o diálogo, a da leitura aprimorada a cada vez mais.
compreensão do outro, uma educação Portanto, não pode dizer que uma criança
de valores, de princípios, de respeito. chega à escola sem saber nada sobre leitura,
A educação autêntica, [...] não se faz de pois cada um a seu modo vai adquirindo
“A” para “B” ou de “A” sobre “B”, mas de “A” saberes, que contribuem para o processo
com “B”, mediatizados pelo mundo. Mundo de formação de leitores, e que organizam o
que impressiona e desafia a uns e a outros, pensamento, presente desde quando nascem.
originando visões ou pontos de vista sobre
ele. Visões impregnadas de anseios, de Trazendo a leitura para a cultura
dúvidas, de esperanças ou desesperanças que contemporânea, pode-se destacar que a
implícitam temas significativos, à base dos leitura foi sendo desmotivada com o passar
quais se constituirá o conteúdo programático do tempo, e com o surgimento de novas
da educação. (FREIRE, 1987, p.48) tecnologias. Os avanços tecnológicos vêm
Essa educação necessita que professor invadindo o cenário, e trazendo agilidade
e aluno se compreendam, e sejam juntos, nos processos. Cada vez mais pessoas se
partes do processo educacional, é a educação apropriam de recursos tecnológicos para
que não distingue o aluno da sua realidade, facilitar e contribuir em suas atividades a
mas traz todas as especificidades do ser serem realizadas, independente de qual
humano para dentro do espaço pedagógico, sejam. Quase tudo se consegue hoje resolver
considerando-o como ser social e reflexivo. por meio de um celular, computador,
tablet, emails. E isso reflete diretamente na
A LEITURA escola e nos processos de leitura. Cada vez
mais as pessoas estão largando os livros,
A leitura é uma das atividades presente para mergulhar no mundo tecnológico
na sociedade desde os tempos primórdios.
O homem, sempre procurou se comunicar e Se a sociedade vem e modificando, o
marcar presença no mundo, e com a oralidade espaço educacional precisa acompanhar
surgiu também a escrita e a leitura, uma essas mudanças, para que não se torne
forma de registrar a fala e perpetuá-la no algo desmotivador. A educação é resultado
tempo, usando-se para isso vários recursos das relações humanas, e, portanto, deve
da época. A leitura surge com a necessidade se adequar aos fatores que envolvem essas
de registrar e transmitir para gerações futuras relações. A escola necessita se aproximar do
os valores, tradições, culturas e informações. mundo vivido por esta evolução na sociedade
atual, e proporcionar espaços e caminhos
O processo de construção de leitura se de estímulo à leitura e escrita.Estamos na
inicia muito antes da leitura convencional. As geração do imediatismo, as crianças têm
crianças aprendem desde cedo a ler o mundo acesso às informações de forma rápida,
que as rodeia, a compreender situações, muitas vezes além do nosso tempo proposto
ler imagens. As relações que a criança e planejado para ensinar. É uma geração, que
estabelece com o meio e com o outro, são por ter tanto acesso, acaba por desejando tudo
bases importantes para que essa construção pronto, tudo fácil, tudo de forma explícita.
754
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

O gosto e apreciação pela leitura é uma


Ser professor, nesse processo de mudanças atividade que deve ser estimulada e incentivada
demanda muitos desafios. É promover na infância, para que a criança aprenda desde
aprendizado significativo, criando espaços cedo a valorizar os momentos de ler, para que
e possibilidades para o aluno, pensar, quando cresça, torne-se um adulto crítico,
refletir e buscar o caminho de sua própria reflexivo e consciente. Esses estímulos devem
aprendizagem. Cada criança aprende há um começar com a contação de histórias, uma
tempo, e a sua maneira, mas como mediadores, das ações necessárias para a formação de
nós enquanto professores e educadores têm o um leitor. Abramovich (1997, p. 16) ressalta:
papel de guiar e estimular o aluno nessa busca
constante, não permitindo que o imediatismo [...] Ah, como é importante para a formação de qualquer
e a informação rápida anulem a capacidade criança ouvir muitas histórias... Escutá-las é o início
das crianças de pensarem e serem reflexivos. da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor é ter um
caminho absolutamente infinito de descobertas e de
Muito se diz da falta de interesse de jovens compreensão do mundo [...] (ABRAMOVICH, 1997, P. 16).
e crianças em relação à leitura, designando a
eles o fracasso da formação de leitores. Mas Ouvir histórias é essencial na formação
pouco se fala dos métodos utilizados em sala das crianças e do adulto leitor, pois é um dos
por muitos professores para estimular essa primeiros contatos que elas estão tendo com
leitura. Por vezes as leituras são de difícil o mundo letrado, mesmo que não saibam
compreensão, com temas que não estão ler as palavras convencionalmente. Para
ligados à realidade do aluno, e isso se torna Alonso (2003, p. 25-26), “a escola deveria
desmotivador. A leitura deve ser um momento ressignificar sua função, diminuindo o
de apreciação, de descoberta de mundo e abismo entre ela e a sociedade, entre ela e as
saberes. É por meio da leitura, que o indivíduo necessidades reais dos alunos”. A escola deve
adquire e constrói conhecimentos, se garantir a compreensão das transformações
transforma e reflete sobre o mundo que o cerca. comunicativas e como atender às demandas
educacionais aproximando o ensino
Freire (1989, p.8), nos diz que “a leitura da sociedade e realidade dos alunos.
do mundo precede a leitura da palavra”, ou
seja, a compreensão do das palavras e do LEITURA COMO EXERCÍCIO
texto escrito se dá a partir de uma leitura DA CIDADANIA
crítica da vivência de quem lê, fazendo uma
relação entre o texto e o contexto. A leitura A leitura é uma das ferramentas responsáveis
na contemporaneidade, é uma leitura além de por contribuir, na formação do indivíduo, de
decodificar códigos, é formar um leitor crítico forma significativa e integral, promovendo e
e ativo no seu processo de aprendizagem possibilitando que o leitor consiga analisar
e na vida, que compreende seus direitos sua sociedade, suas vivências, e ampliando as
e deveres, se coloca diante das situações, visões e interpretações sobre o mundo que o
problematiza, análise e é sujeito de sua leitura.

755
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

cerca, promovendo o exercício da cidadania. A precedida pela leitura do mundo mas por uma
leitura permite a compreensão do outro e do certa forma de “escrevê-lo” ou de “reescrevê-
mundo. É por meio do texto que se adquire lo”, quer dizer, de transformá-lo através de
uma postura de opinião, questionamento nossa prática consciente. (FREIRE, 1989, p.13)
e posicionamentos, nos conceitos lidos e a
partir daí consegue-se fazer uma reflexão e Quando se refere que a leitura de
formar os próprios conceitos, participando mundo precede a leitura da palavra,
atividade da sociedade vive como um podemos compreender que antes mesmo
cidadão de direitos. A leitura possibilita a de compreender o código, o leitor já possui
descoberta de um mundo de emoções, que uma compreensão do mundo em que
permite ao leitor entrar em contato com vive, e a leitura reforça essa concepção,
os conflitos existentes, os impasses, as promovendo uma consciência crítica e
soluções que todos vivemos e atravessamos, abertura de caminhos para a transformação.
aproximando as histórias da vivências de Mas essa compreensão não é uma tarefa
quem escuta, diante dos problemas que vão fácil, e é um dos fatores que reforçam a
sendo apresentados nos enredos narrados. má formação de leitores. Muitas pessoas
Liberato (2009, p.13), diz que “a leitura conseguem decodificar o código, mas não
funcional [...] não é a simples decodificação compreendem o que realmente diz o texto.
do sinal gráfico (que é aprendida nos E é nesse sentido, que a leitura deve ser
primeiros anos de alfabetização), mas estimulada a trabalhada nas escolas, pois
a leitura com compreensão”. A leitura esse se torna o desafio quando nos referimos
nesse sentido não se restringe apenas à a formar leitores críticos e capazes de trazer
decodificar códigos e letras, é preciso ir a leitura como agente de transformação.
além, e interpretar o que o texto transmite. Leitura como exercício da cidadania, é mais do
Freire(1989), ressalta que já não é que decodificar códigos, e sim promover no
possível texto sem contexto, sendo assim, leitor, uma compreensão de mundo, do que é
o leitor precisa compreender a função da escrito e as possibilidades de transformações,
leitura como uma ferramenta necessária a partir dos conhecimentos obtidos.
à compreensão de mundo, a inserção no
mundo letrado e no contexto em que vive.
Refiro-me a que a leitura do mundo precede CONSIDERAÇÕES FINAIS
sempre a leitura da palavra e a leitura desta
implica a continuidade da leitura daquele. O presente estudo teve como objetivo
Na proposta a que me referi acima, este principal compreender a leitura como
movimento do mundo à palavra e da palavra exercício da cidadania como práticas na
ao mundo está sempre presente. Movimento educação. Pode-se constatar, que as práticas,
em que a palavra dita flui do mundo mesmo se bem planejadas e articuladas, na, levam o
através da leitura que dele fazemos. De alguma aluno á uma reflexão sobre vida, sociedade
maneira, porém, podemos ir mais longe e e mundo, e se esse aluno se torna capaz
dizer que a leitura da palavra não é apenas

756
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

a leitura e as histórias e que este momento


de enxergar a realidade e refletir sobre ela, seja prazeroso e significativo. Cada criança
poderá avançar para o exercício da cidadania, aprende há um tempo, e a sua maneira,
para a luta de direitos da sua classe, para a mas como mediadores, os professores e
busca por suas conquistas pessoais e de educadores têm o papel de guiar e estimular
grupo, não sendo alienado pelo sistema. o aluno nessa busca constante, tornando
possíveis os caminhos existentes para que
Nesse contexto, promover a formação de o aluno se desenvolva de maneira integral.
um bom leitor, para o exercício da cidadania
é preciso repertório-lo com muitos textos
e de diferentes gêneros, para que em
cada situação de leitura, o indivíduo seja
capaz de aplicar a estratégia adequada
para compreender o que se lê. Um texto
informativo não se compreende da mesma
forma que um conto de fadas, ambos têm
características específicas, e seus desafios de
compreensão. Reforça-se que a única maneira
de formar um bom leitor é fazendo-o ler, além
de destrinchar e estudar as especificidades
de cada leitura para que possam ser NATANI SANTIAGO MARCELINO
aprofundadas as diferentes maneiras de ler.

Outro ponto a ser considerado no estímulo Graduação em Pedagogia pela


a ler, é detectar o nível de cada leitor, e assim UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA
propor textos que o indivíduo seja capaz de (conclusão 2012); Professora de
compreender, mesmo com desafios, mas Educação Infantil e Fundamental
que não sejam distantes de sua realidade. na rede de São Paulo.
Voltamos na fala de Freire (1989), de que já não
há texto sem contexto, ou seja, a leitura deve
ocorrer em ambientes favoráveis, respeitando
o nível sociocultural d quem está lendo.
REFERÊNCIAS
Ser professor, nesse processo demanda
muitos desafios. É promover aprendizado ALONSO, Myrtes. Gestão educacional e
significativo, criando espaços e possibilidades tecnologia. São Paulo: Avercamp, 2003.
para o aluno, pensar, refletir e buscar o caminho
de sua própria aprendizagem, promovendo ABRAMOVICH, Fanny. Literatura
um local de saberes e construções, e infantil: gostosuras e bobices. 5
abrindo espaço para que o aluno aprecie ed. São Paulo: Scipione, 1997.

757
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

leitura: um guia para escrever claro.


BRASIL. Constituição da República Federativa 2. ed. São Paulo: Contexto, 2009.
do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial, 1988.
MANZINI-COVRE, Maria de Lourdes. O
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases que é cidadania. São Paulo: Brasiliense.
da Educação Nacional. Lei nº 9.394- Coleção Primeiros passos. 2006
96, de 20 de Dezembro de 1996.
MEC. Estratégia Nacional de Educação
DGE (site). Educação para a Cidadania para a Cidadania. 2017. Disponível
– linhas orientadoras. Direção-Geral e m : h t t p : // w w w . d g e . m e c . p t / s i t e s /
da Educação. Disponível em: http:// d e f a u l t / f i l e s / P ro j e t o s _ C u r r i c u l a re s /
w w w. d ge . m e c . pt /e d u c a c a o - p a ra - Aprendizagens_Essenciais/estrategia_
cidadania. Acesso em 10 Dez. 2018. cidadania.pdf. Acesso em 09 Dez. 2018.

FEIJÓ, Mário. O prazer da leitura: ZILBERMAN. Regina. A leitura na escola. In:


como a adaptação de clássicos ajuda a ZILBERMAN, Regina (org). A leitura em crise
formar leitores. São Paulo: Ática, 2010. na escola: as alternativas do professor. Porto
Alegre: Mercado aberto, 1985.
FREIRE, Paulo - A importância do ato de
ler: em três artigos que se completam / São
Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido.


17ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia:


saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra. (Coleção Leitura). 1996.

GOHN, Maria da Gloria. Educação não-


formal, participação da sociedade civil e
estruturas colegiadas nas escolas. Rio de
Janeiro, v. 4, n. 50, p. 27-38, jan./mar. 2006

GOHN, Maria da Gloria. Educação não-


formal, educador(a) social e projetos
sociais de inclusão social . Rio de
Janeiro, v. 1, n. 1, p. 28-43, jan./abr. 2009

LIBERATO, Yara. É possível facilitar a

758
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

A INCLUSÃO SOCIAL DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NA ES-


COLA
RESUMO: A inclusão não é feita para que a criança com deficiência se adapte ao ambiente es-
colar, mas que o restante das crianças e o ambiente escolar se adapte a criança com deficiência.
A verdadeira inclusão deverá ter como alicerce um processo de construção de consensos (va-
lores, políticas e princípios) proveniente de uma reflexão coletiva sobre o que é a escola, quais
as suas funções, os seus problemas e a maneira de solucioná-los. Deve-se buscar uma reflexão
orientada para o diagnóstico e para a ação, e isso não se limita ao atendimento dos princípios
normativos legais que justificam a inclusão. É preciso, como sublinhamos anteriormente, adotar
a concepção de homem que traça as ações e orienta as formas para pensar na própria inte-
gração. Apoiados neste referencial, poderemos atingir a globalidade da organização escolar. Se
não for assim, estaremos na presença de um processo de inclusão individual, reforçando sobre-
maneira o paradigma da integração norteado pelo princípio de normalização, isto é, estaremos
desenvolvendo as habilidades em ambientes segregados (escola especial e/ou classe especial) .
Conclui-se que os valores, os princípios e as políticas devem priorizar tais fatores para fomentar
o princípio da inclusão. Isso significa que cada comunidade, para gerar o processo de inclusão,
deverá ter liderança forte e mediadora, bem como estabelecer e impulsionar os valores, a cul-
tura e os princípios do processo de inclusão. A educação inclusiva visa promover, assegurar o
desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades especiais
no processo de ensino e aprendizagem, ampliando valores, atitudes, conhecimentos, habili-
dades, competências, autonomia, exercício de sua cidadania para sua inserção e equidade social.

Palavras-chave: Inclusão Social; Educação Infantil; Desenvolvimento Infantil; Ambiente Escolar.

759
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO de vida humana é projetar artefatos e lançar


propostas que não se destinam apenas a
A educação inclusiva visa promover, um grupo restrito de pessoas. A intenção
assegurar o desenvolvimento das deixou de ser a de "homogeneizar" soluções
potencialidades dos educandos que e de apresentá-las previamente definidas e
apresentam necessidades especiais no estabelecidas em função de casos particulares.
processo de ensino e aprendizagem, Assim sendo, a inclusão nos leva a avançar
ampliando valores, atitudes, conhecimentos, mais, dado que para atender a seus preceitos
habilidades, competências, autonomia, temos de atingir situações de equilíbrio geral,
exercício de sua cidadania para sua inserção as grandes e tão almejadas soluções que
e equidade social. Este artigo analisa a atingem fins qualitativamente mais evoluídos.
inclusão do deficiente na escola busca
e seu desenvolvimento, num processo A meta da inclusão escolar é transformar
de igualdade e direito escolar e também as escolas, de modo que se tornem espaços
analisar, refletir sobre a educação especial, de formação e de ensino de qualidade para
quanto aos serviços de apoio especializado, todos os alunos. A proposta inclusiva nas
formação docente, a contribuição e o papel escolas é ampla e abrangente, atendo-
preponderante comprometido da escola, no se às peculiaridades de cada aluno. A
atendimento às necessidades específicas inclusão implica mudança de paradigma,
dos alunos excepcionais, na concepção de conceitos e posições, que fogem às
integradora, democrática dos mesmos. regras tradicionais do jogo educacional,
ainda fortemente calcadas na linearidade
Sabe-se que incluir não é simplesmente do pensamento, no primado do racional e
inserir uma pessoa na sua comunidade e da instrução, na transmissão dos conteúdos
nos ambientes destinados à sua educação, curriculares, na seriação dos níveis de ensino.
saúde, lazer, trabalho. Incluir implica acolher
a todos os membros de um dado grupo,
independentemente de suas peculiaridades; DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO
é considerar que as pessoas são seres únicos, E CONCEITUAL
diferentes uns dos outros e, portanto, sem
condições de serem categorizados. Já é Consoante Maria Teresa Eglér Mantoan,
tempo de reconhecermos que todos estamos doutora em Psicologia Educacional pela
juntos e nascemos neste mundo e que por Unicamp, O movimento inclusivo surgiu nos
isso mesmo não podemos excluir ninguém e anos 90 e preconiza a inserção incondicional
convidar a que se aproximem os que estão à de todas as pessoas como princípio aplicado
margem, pelos mais diferentes motivos, entre ao atendimento escolar, clínico, ocupacional,
os quais os portadores de incapacidades laboral. Trata-se de um movimento que veio
físicas, intelectuais, sensoriais, sociais. se contrapor, nas áreas da reabilitação e da
educação, ao que se conhece como teoria
O desafio da inclusão para os profissionais do meio menos restritivo possível, na qual se
que atuam a serviço da melhoria da qualidade baseiam os serviços segregados de reabilitação
760
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

e de solicitação do desenvolvimento em visar ao bem-estar e autonomia das pessoas


seus diferentes aspectos, inclusive o escolar. em geral, diz o texto publicado verde não
é o azul listado de amarelo: considerações
A inclusão é, portanto, um conceito sobre o uso da tecnologia na educação/
revolucionário, que busca remover as barreiras reabilitação de pessoas com deficiência.
que sustentam a exclusão em seu sentido
mais lato e pleno. Aplica-se a todos os que se Ao provocar uma “virada” na maneira de
encontram permanente ou temporariamente se engendrar projetos em todas as áreas
incapacitados pelos mais diversos motivos, a do conhecimento e no modo pelo qual nos
agir e a interagir com autonomia e dignidade no relacionamos conosco mesmos e com os
meio em que vivem. O caso da acessibilidade, outros, esse novo paradigma toca também
por exemplo, entendida como: a possibilidade o terreno dos relacionamentos científicos
de utilização, com segurança e independência entre si e com outros campos da atividade
de edificações, espaços urbanos e mobiliários humana. Na educação escolar, a inclusão
por pessoas com deficiência, ilustra bem veio revolucionar o sistema organizacional
o efeito da inclusão sobre as concepções e as propostas curriculares vigentes e para
arquitetônicas. A inclusão é uma motivação que as escolas sejam verdadeiramente
para que arquitetos, urbanistas, engenheiros inclusivas, ou seja, abertas à diversidade,
tracem seus projetos, segundo os preceitos há que se reverter o modo de pensar, e
do chamado "Desenho Universal". de fazer educação nas salas de aula, de
planejar e de avaliar o ensino e de formar
Esse novo conceito visa atender às e aperfeiçoar o professor, especialmente
necessidades de homens, mulheres, os que atuam no Ensino Fundamental –
crianças e idosos que abrange aspectos Ainda segundo Maria Teresa Eglér Mantoan.
antropométricos e ergométricos, pois procura
desenhar ambientes em que as pessoas As escolas ainda resistem muito à inclusão,
possam se acomodar, independentemente no sentido pleno e total, que engloba todos
de suas medidas - altos, baixos, gordos, os alunos, sem exceção, entre os quais os que
magros e em diferentes posições. Aplica-se são ou estão mais severamente prejudicados.
também aos sistemas em que os produtos Mas há muitas que já estão aderindo à
possam ter peças opcionais, intercambiáveis, ideia e modificando seus procedimentos,
de modo que permitam o uso de acessórios incrementando seus projetos de ação,
para atenderem a necessidades emergentes aprimorando o trabalho de suas equipes
de pessoas com diferentes necessidades. pedagógicas para incluir, incondicionalmente,
todos os aprendizes em suas salas de aulas,
O Desenho Universal não é, pois, uma porque é justo e desejável agir assim.
concepção arquitetônica unicamente dirigida a
pessoas com incapacidades. Os projetos assim Segundo Maria Teresa Eglér Mantoan As
delineados obedecem a padrões estéticos formações dos professores para atender
podendo ser bonitos, atraentes e muitas vezes às necessidades da área da educação
lúdicos; os produtos devem, acima de tudo, especial devem ocorrer em três âmbitos:
761
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

1. Na formação inicial de todos os formação do docente, a contribuição e o papel


professores, em nível médio ou superior, preponderante, comprometido da escola,
incluindo formação específica das no atendimento as necessidades específicas
necessidades especiais de caráter generalista, dos alunos excepcionais, na concepção
ou seja, deve contemplar as diferentes integradora, democrática dos mesmos.
categorias de alunos com deficiência, na
perspectiva do professor reconhecer a INCLUSÃO E POLÍTICA
existência de necessidades educacionais
especiais, e saber buscar e implementar EDUCACIONAL
propostas pedagógicas respectivas;
Maria Tereza Eglér Mantoan diz que nossa
2. Na formação de professores de educação capacidade de entender e reconhecer o outro
especial, orientados para o atendimento a tendo o privilégio de conviver e compartilhar
uma categoria específica de necessidades, com pessoas diferentes de nós. A educação
em nível superior, para suporte pedagógico inclusiva acolhe todas as pessoas, sem
especializado a escola, ao docente de classe exceção; é para o estudante com deficiência
comum, ao processo pedagógico e aos alunos física, para os que têm comprometimento
que apresentam necessidades educacionais mental, para os superdotados, para todas as
especiais ou para docência em classes e escolas minorias e para a criança que é discriminada
especiais da educação básica. Esta formação por qualquer motivo. A verdadeira inclusão
deve ocorrer num processo de formação deverá ter como alicerce um processo de
inicial dos professores de educação infantil construção de consensos (valores, políticas
e das séries iniciais do ensino fundamental, e princípios) proveniente de uma reflexão
ou de forma complementar, para qualquer coletiva sobre o que é a escola, quais as suas
docente da educação básica ou profissional; funções, os seus problemas e a maneira de
solucioná-los. Deve-se buscar uma reflexão
3. Na formação de professor dos docentes orientada para o diagnóstico e para a ação,
e de outros profissionais especialistas no e isso não se limita ao atendimento dos
planejamento, gestão e na supervisão da princípios normativos legais que justificam
educação, em nível de pós-graduação, a inclusão. É preciso, como sublinhamos
desenvolvendo estudos sobre as diversas anteriormente, adotar a concepção de
categorias, no intuito de atuar nos sistemas homem que traça as ações e orienta as
de ensino e de formar novos docentes para formas para pensar na própria integração.
o atendimento educacional de excepcionais,
em todos os níveis de educação. A inclusão de estudantes com deficiência
A educação especial e a inclusão do Deficiente representa um avanço histórico em relação ao
Intelectual na Escola foram embasadas, movimento de integração, que pressupunha
principalmente, na autora Maria Tereza Eglér algum tipo de treinamento do deficiente
Mantoan e no autor Marcos J. S. Mazzota, para permitir sua participação no processo
objetivando analisar, refletir sobre a educação educativo comum. A inclusão postula uma
especial, os serviços de apoio especializado, reestruturação do sistema de ensino, com
762
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

objetivo de fazer com que a escola se torne A construção de uma sociedade inclusiva
aberta às diferenças e competente para é um processo de fundamental importância
trabalhar. Percorrendo os períodos da história para o desenvolvimento e a manutenção
universal, desde os mais remotos tempos, de um Estado democrático. Entende-se
evidenciam-se teorias e práticas sociais por inclusão a garantia, a todos, do acesso
segregadoras, inclusive quanto ao acesso ao contínuo ao espaço comum da vida em
saber. Poucos podiam participar dos espaços sociedade, sociedade essa que deve estar
sociais nos quais se transmitiam e se criavam orientada por relações de acolhimento
conhecimentos. A pedagogia da exclusão tem à diversidade humana, de aceitação das
origens remotas, condizentes com o modo diferenças individuais, de esforço coletivo
como estão sendo construídas as condições na equiparação de oportunidades de
de existência da humanidade em determinado desenvolvimento, com qualidade, em
momento histórico. (Maria Tereza Eglér todas as dimensões da vida; como parte
Mantoan, A inclusão do aluno com deficiência integrante desse processo e contribuição
intelectual no Ensino Regular pg 11) essencial para a determinação de seus
rumos, encontra-se a inclusão educacional.
Os indivíduos com deficiências, vistos como
“doentes” e incapazes, sempre estiveram em Até recentemente, a teoria e a prática de
situação de maior desvantagem, ocupando, Maria Tereza Eglér Mantoan dominantes
no imaginário coletivo, a posição de alvos da relativas ao atendimento às necessidades
caridade popular e da assistência social, e não educacionais especiais de crianças, jovens e
de sujeitos de direitos sociais, entre os quais se adultos, definiam a organização de escolas e de
inclui o direito à educação.Ainda hoje, constata- classes especiais, separando essa população
se a dificuldade de aceitação do diferente dos demais alunos. Nem sempre, mas em
no seio familiar e social, principalmente muitos casos, a escola especial desenvolvia-se
do portador de deficiências múltiplas e em regime residencial e, consequentemente,
graves, que na escolarização apresenta a criança, o adolescente e o jovem eram
dificuldades acentuadas de aprendizagem. afastados da família e da sociedade. Esse
procedimento conduzia, invariavelmente, a
Certamente, segundo a escrita de Maria um aprofundamento maior do preconceito.
Tereza Eglér Mantoan, cada aluno vai
requerer diferentes estratégias pedagógicas, Essa tendência, que já foi senso comum
que lhes possibilitem o acesso à herança no passado, reforçava não só a segregação
cultural, ao conhecimento socialmente de indivíduos, mas também os preconceitos
construído e à vida produtiva, condições sobre as pessoas que fugiam do padrão
essenciais para a inclusão social e o pleno de “normalidade”, agravando-se pela
exercício da cidadania. Entretanto, devemos irresponsabilidade dos sistemas de ensino
conceber essas estratégias não como para com essa parcela da população, assim
medidas compensatórias e pontuais, e sim como pelas omissões e/ou insuficiência
como parte de um projeto educativo e de informações acerca desse alunado
social de caráter emancipatório e global. nos cursos de formação de professores.
763
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Na tentativa de eliminar os preconceitos A educação tem hoje, portanto, um grande


e de integrar os alunos portadores de desafio: garantir o acesso aos conteúdos
deficiências nas escolas comuns do ensino básicos que a escolarização deve proporcionar
regular, surgiu o movimento de integração a todos os indivíduos – inclusive àqueles com
escolar. Esse movimento caracterizou- necessidades educacionais especiais. Alunos
se, de início, pela utilização das classes que apresentam significativas diferenças
especiais (integração parcial) na “preparação” físicas, sensoriais ou intelectuais, decorrentes
do aluno para a “integração total” na de fatores genéticos, inatos ou ambientais,
classe comum. Ocorria, com frequência, o de caráter temporário ou permanente e
encaminhamento indevido de alunos para que, em interação dinâmica com fatores
as classes especiais e, consequentemente, socioambientais, resultam em necessidades
a rotulação a que eram submetidos. muito diferenciadas da maioria das pessoas,
como particularidades que apresentam altas
Na página 21 das Diretrizes Nacionais habilidades e precocidade; condutas típicas
para a educação especial na educação de síndromes psicológicos, neurológicos
básica diz que o aluno, nesse processo, ou psiquiátricos. (páginas 22 e 23)
tinha que se adequar à escola, que se
mantinha inalterada. A integração total na E complementa que ao longo dessa
classe comum só era permitida para aqueles trajetória, verificou-se a necessidade de
alunos que conseguissem acompanhar o se reestruturar os sistemas de ensino, que
currículo ali desenvolvido. Tal processo, no devem organizar-se para dar respostas às
entanto, impedia que a maioria das crianças, necessidades educacionais de todos os
jovens e adultos com necessidades especiais alunos. O caminho foi longo, mas aos poucos
alcançassem os níveis mais elevados de está surgindo uma nova mentalidade, cujos
ensino. Eles engrossavam, dessa forma, a resultados deverão ser alcançados pelo esforço
lista dos excluídos do sistema educacional. de todos, no reconhecimento dos direitos
Na era atual, batizada como a era dos dos cidadãos. O principal direito refere-
direitos, pensa-se diferentemente acerca se à preservação da dignidade e à busca da
das necessidades educacionais de alunos. identidade como cidadãos. Esse direito pode
A ruptura com a ideologia da exclusão ser alcançado por meio da implementação
proporcionou a implantação da política da política nacional de educação especial.
de inclusão, que vem sendo debatida e Existe uma dívida social a ser resgatada.
exercitada em vários países, entre eles o Brasil.
Ainda nas Diretrizes Vem a propósito a tese defendida no
redigidas pelo MEC continua: estudo e Parecer da Câmara de Educação
Básica (CEB/CNE) sobre a função reparadora
Hoje, a legislação brasileira posiciona-se na Educação de Jovens e Adultos (EJA) que,
pelo atendimento dos alunos com necessidades do seu relator Professor Carlos Roberto
educacionais especiais preferencialmente em Jamil Cury, mereceu um capítulo especial.
classes comuns das escolas, em todos os níveis, Sem dúvida alguma, um grande número
etapas e modalidades de educação e ensino. de alunos com necessidades educacionais
764
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

especiais poderá recuperar o tempo perdido turma (20 alunos), nos casos de integração
por meio dos cursos dessa modalidade. de uma ou duas crianças com problemas,
espera-se que os professores, com a turma
A igualdade e a desigualdade continuam reduzida criem uma dinâmica de aula
a ter relação imediata ou mediata com o diferente e não uma superproteção do aluno
trabalho. Mas seja para o trabalho, seja para a integrado. A dinâmica da aula (escolha de
multiformidade de inserções sócio – político conteúdo, estratégias e recursos) teria de ser
– cultural, aqueles que se virem privados do desenvolvida no sentido de fazer funcionar
saber básico, dos conhecimentos aplicados aquele grupo de alunos - com aquele aluno
e das atualizações requeridas, podem se ver - perante o trabalho a realizar. (página 59)
excluídos das antigas e novas oportunidades
do mercado de trabalho e vulneráveis
a novas formas de desigualdades. Se as A dinâmica que a reforma tenta introduzir
múltiplas modalidades de trabalho informal, irá mexer com toda a Escola: espaços,
o subemprego, o desemprego estrutural, turmas, professores, gestão e enfoques de
as mudanças no processo de produção e o aprendizagem. Para uma criança ou jovem
aumento do setor de serviços geram uma estar integrado numa escola é necessário
grande instabilidade e insegurança para ter uma resposta organizada para as suas
todos os que estão na vida ativa e quanto necessidades educativas e essa resposta
mais para os que se veem desprovidos educativa é da competência da escola da
de bens tão básicos, como a escrita e a sua área de residência. Hoje, exige-se à
leitura. (Parecer nº 11/2000-CEB/CNE). escola regular não só uma integração, mas
também a responsabilidade pela adequação
da resposta a dar a cada criança ou jovem
ESCOLA INCLUSIVA que faça parte da sua comunidade educativa.

Consoante Teresa Cristina Coelho O conceito abrangente de “Escola para


dos Santos (2012), o movimento de Todos” faz desviar a atenção da problemática
Integração é anterior ao conceito de individual para o conjunto de recursos que
Necessidades Educativas Especiais (NEE), poderão (ou deverão) estar à disposição de
este conceito vem reforçar a perspectiva qualquer criança ou jovem que em qualquer
integracionista. A integração do aluno altura do seu percurso escolar tenha
na sala de aula do ensino regular é uma necessidades educativas. Assim, a qualidade
concretização da necessidade de mudança do ensino e da aprendizagem tem a ver com a
de atitude face ao ensino tradicional. individualização das respostas que são criadas e
É nos anos setenta que mais se tenta não exclusivamente com a criação de respostas
modificar a estrutura tradicional do sistema. para determinado grupo de indivíduos.
Quando nos finais dos anos setenta se O conceito de Escola Para Todos vem alargar
consegue reduzir o número de alunos por o âmbito da ação da escola, mobilizando

765
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

e interagindo com os recursos disponíveis como de estratégias mais específicas de


e a disponibilizar, exigindo uma dinâmica diferenciação pedagógica, nomeadamente
em que todos os professores, técnicos da o ensino diferenciado no interior da sala
comunidade escolar local e pais se envolvam, de aula, integrando o mesmo currículo.
mobilizados e responsabilizados. O conceito Criar este clima securizante passa pelo
de necessidades educativas especiais traz reconhecimento, por parte do professor,
consigo uma mudança na perspectiva da do aluno enquanto pessoa, com um
construção da resposta adequada a cada determinado patrimônio sociocultural,
situação específica; vai alargar o âmbito com os seus interesses, necessidades,
de intervenção dos professores do ensino experiências, saberes e dificuldades. Este
regular. A escola regular terá de ser uma escola reconhecimento alarga-se ao grupo turma
inclusiva e um polo dinamizador da resposta onde a heterogeneidade se evidencia e exige
para cada criança ou jovem. A perspectiva que não ensine todos os alunos como se
ecológica na atuação educacional vai exigir fossem um só – o aluno médio – mas se criem
uma escola aberta, em interação com o condições para um ensino individualizado, no
contexto em que está inserida e a redefinição sentido dos percursos e das regulamentações
de papéis e funções do professor do ensino (BENAVENTE, 1992; PERRENOUD,
regular, numa dinamização ativa de todos 1995, apud CADIMA et. al., 1995).
os intervenientes no processo educativo;
A atuação do professor, na sala de aula, Há que reconhecer que o contato e o
tem de ser reestruturada em função da convívio, no plano formal e informal, entre
heterogeneidade do seu grupo/classe, no alunos com e sem dificuldades, entre alunos
que diz respeito aos saberes já adquiridos com e sem deficiências, é um meio insubstituível
pelos alunos, às suas vivências, necessidades de normalização de comportamentos; é uma
e interesses, numa perspectiva de pedagogia oportunidade de criar laços de vinculação e de
diferenciada em relação ao mesmo grupo relações afetivas. Estas relações interpessoais
e no mesmo espaço. (SANCHES, 1996). podem vir a tornar-se um suporte emocional
fundamental no desenvolvimento de crianças
A prática vivida nas escolas continua, ainda, com necessidades educativas especiais. Por
marcada pela influência das medidas de apoio outro lado, os alunos, ditos “normais”, poderão
pedagógico e educativo, numa perspectiva desenvolver uma maior capacidade afetiva
apenas compensatória. O apoio visto nessa e de aceitação das diferenças individuais.
concepção como algo de suplementar, surge
como um extra para remediar, apesar da Consoante Cadima (1995, p.46), a
premência de uma escola inclusiva. A legislação aceitação da diversidade e pluralismo exige
mais recente sobre este assunto refere já as um desenvolvimento de uma pedagogia
medidas de apoio pedagógico e educativo diferenciada quevalorize os sentidos sociais das
numa perspectiva diferenciada, tanto ao nível aprendizagens, que permita gerir as diferenças
de organização da escola para a diferenciação, do grupo, no seio do próprio grupo e, através

766
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

das capacidades que cada membro tem. as crianças e jovens, incluindo as que
Não se trata de dar mais a quem tem têm necessidades educativas especiais,
menos ou de partir do que os alunos não exige a mudança de um sistema fixo para
sabem, tal como acontece habitualmente na um sistema flexível, capaz de garantir a
educação compensatória. Numa educação igualdade, na “oportunidade de aprender”, a
diferenciada criam-se situações que todos os alunos. As descobertas das últimas
permitam partilhar o que cada um tem, a partir investigações assim como o conhecimento
do que cada aluno sabe. (CADIMA,1995). dos resultados da implementação de alguns
programas inovadores nas escolas ajudam a
O caminho a seguir deve ser reformar as compreender melhor como se pode tornar o
escolas de modo a permitir-lhes encontrar ensino mais eficaz e a forma como pode ser
respostas positivas para a diversidade melhorada a aprendizagem dos alunos. Estas
dos alunos, olhando para as diferenças descobertas apontam estratégias alternativas
individuais. No quadro de referência deste aos serviços de apoio tradicionais, as
tipo de contextualização, o reconhecimento quais são substancialmente mais eficazes.
das dificuldades experimentadas por alunos e
professores pode fornecer um plano de ação Baseados na riqueza das descobertas das
para a mudança e, de fato, conduzirà percepção investigações das últimas décadas sobre a
dos modos como esta pode ser levada a cabo. “eficácia”, é possível imaginar uma variedade
Contudo, este tipo de abordagem só é de programas experimentais que poderão
possível em escolas onde exista respeito promover a capacidade das escolas em
pela individualidade e uma cultura de responder de forma mais eficiente à diversidade
colaboração que encoraje e apoie a resolução entre os alunos e a uma equidade nos resultados
de problemas. Culturas deste gênero podem da sua aprendizagem. (AINSCOW,1991;
mais facilmente criar condições para a HEGARTTY,1993; WANG, REINOLDS E
aprendizagem dos alunos e, paralelamente, WALBERG, 1987/91, APUD WANG, 1997).
para a aprendizagem profissional de todos
os professores. São necessárias mudanças Como diz Porter (1997), nesta nova
tanto a nível conceptual como estrutural, abordagem da educação de todos os alunos
para que todos os alunos completem com com necessidades especiais, é fundamental
sucesso uma educação “básica” através de que o professor acredite e seja capaz de
um acesso idêntico ao currículo comum. aceitar a responsabilidade do progresso de
Como diz Wang (1997), alguns alunos todos os alunos. A investigação demonstra
necessitam de mais tempo e de um nível claramente que as atitudes e as expectativas
elevado de apoio para conseguirem dominar dos professores têm um impacto significativo
o currículo comum e outros precisam de no autoconceito e no sucesso dos alunos.
menos tempo e de menos ensino direto. Os alunos com necessidades educativas
Consequentemente, conseguir atingir a especiais, tal como os outros alunos, necessitam
meta da equidade educativa para todas de um ensino bom ou claramente eficaz, de

767
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

modo a que se consiga que atinjam maior e da própria pessoa a ser integrada. A
sucesso” (Wang,1997). Alguns destes alunos mobilização de setores isolados visando
poderão necessitar dum ensino, ministrado de à integração traz somente resultados
forma mais intensiva; fundamentalmente, não parciais, havendo necessidades de esforços
necessitam dum tipo diferente. Necessitam, conjuntos para que o processo chegue a
igualmente, de ter professores mais eficientes. um termo satisfatório. Mesmo assim, não
será a ação de resultados imediatos, mas de
CONSIDERAÇÕES FINAIS esforços continuados para que, em longo
prazo, a pessoa com deficiência possa ser
Essas contribuições são necessárias para melhor compreendida e ter voz própria.
que o sistema educacional responde tanto Do contrário, continuará despersonalizada,
aos educandos que nela buscam saberes, objeto a ser cuidado e não sujeito constituído.
bem como aos desafios que são atribuídos Precisamos romper a barreira do
na realização da função formativa e de segregacionismo, assegurando aos alunos
integração, reconhecendo e valorizando a portadores de deficiência o direito de
diversidade, como foco enriquecedor no conviver com seus pares “normais”, pois a
processo de ensino, para que se promova oportunidade de estar junto no cotidiano vai
uma educação inclusiva e de qualidade ensinando a todos a respeitar as diferenças
para todos, no objetivo de equidade social. e aceitar as limitações recíprocas, base
fundamental para construção da democracia.
A inclusão de estudantes com deficiência
nas classes regulares representa um avanço
histórico em relação ao movimento de
integração, que pressupunha algum tipo de
treinamento do deficiente para permitir sua
participação no processo educativo comum.
“A inclusão postula uma reestruturação do
sistema de ensino, como objetivo de fazer
com que a escola se torne aberta às diferenças
e competente para trabalhar com todos os
educandos, sem distinção de raça, classe,
gênero ou características pessoais”. Todas as
crianças que estão nas escolas especiais têm NEIVA MATOS SANCHES
o direito constitucional de entrar no sistema
regular, em turmas condizentes com sua idade. Graduação em Educação Física Licenciatura
pela Faculdade Bandeirante de Educação
A integração de pessoa portadora de Superior (2008); Graduação em Educação
deficiência é um processo complexo que Física Bacharel pela Universidade Camilo
envolve a adaptação de todas as partes: Castelo Branco (2009); Graduação em
populações gerais, profissionais, familiares Pedagogia pela Universidade Nove de Julho
(2010); Especialista em Educação Física
768
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Escolar pela Universidade Nove de Julho


(2012); Especialista em Psicomotricidade pela REFERÊNCIAS
Faculdade Campos Elíseos (2018), Professora
de Educação Infantil e fundamental I – na ARANHA, Maria Salete Fábio. A inclusão
EMEI Alice Alves Martins, Professora de social da criança com deficiência. Criança
Ensino Fundamental II – Educação Física - Especial. São Paulo, Editora Roca (no prelo).
na EE Prof. Mario Manuel Dantas de Aquino.
Diretrizes Nacionais para a educação
especial na educação básica/Secretaria de
Esducação Espacial – MEC; SEESP, 2001.

Educação inclusiva: práticas de professores


frente à deficiência intelectual; Teresa
Cristina Coelho dos Santos – Natal, RN, 2012.

Estatuto da Criança e o Adolescente, Lei


Federal 8.069, de 13 de julho de 1990.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação


Nacional, 9.394, 20 de dezembro de 1996.

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. A integração


de pessoas com deficiência/ contribuições
para uma reflexão sobre tema. Ed: de
Memnon Edições Científicas ltda, 1997.

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Ser


ou estar eis a questão/Explicando
o déficit intelectual. São Paulo.

MAZZOTA, Marcos Jose Silveira. Trabalho


Docente e Formação de Professores de
Educação Especial. São Paulo: E.P. U, 1993.

http://www.lite.fe.unicamp.br/cursos/
nt/ta1.12.htm - acesso em 01/08/2019.

769
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E APRENDIZAGEM NA EDU-


CAÇÃO INFANTIL

RESUMO: Esta pesquisa tem o foco voltado ao estudo dos conceitos que tratam do pro-
cesso do Letramento e Alfabetização na Escola de Educação Infantil. Dentro desse tema,
o objetivo deste trabalho é apresentar os conceitos e definições que envolvem os termos
letramento e alfabetização, apresentando os principais aspectos de sua concepção e con-
siderando o ambiente alfabetizador como um facilitador no processo de ensino e apren-
dizagem. A escola na perspectiva do letramento, torna-se um espaço em que a aprendiza-
gem ocorre de maneira a considerar as reais necessidades dos alunos. Com o planejamento
do ambiente, das ações e dos materiais torna-se mais fácil atingir as metas traçadas, con-
textualizando a sua prática e as suas ações e tornando o ensino mais prazeroso. O ambi-
ente alfabetizador, no contexto educacional, pode ser entendido como um espaço em que
há a cultura letrada, com diferentes materiais, como livros, revistas, cadernos, gibis, etc.

Palavras-chave: Alfabetização; Letramento; Aprendizagem; Educação Infantil.

770
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO sentação da linguagem oral e o ler e escrever


eram baseados a atividades de codificação
Este estudo aborda as concepções de Letra- e decodificação. Analisando as novas con-
mento e a importância do Ambiente Alfabetiza- cepções sobre Letramento e Alfabetização,
dor na escola. Dentro deste tema temos como temos que o aluno deve ser capaz de ler e
objetivo apresentar a analisar as concepções e produzir textos e o trabalho docente deve
conceitos que envolvem os termos Letramen- estar pautado em alcançar tais objetivos em
to e Ambiente Alfabetizador na perspectiva da todas as etapas de escolarização, no mod-
aprendizagem significativa. A justificativa para elo tradicional de ensino, essa preocupação
este estudo baseia-se no fato de o termo Le- restringia-se apenas as primeiras séries.
tramento estar presente em grande parte das
discussões atuais sobre aprendizagem e o am- PRÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO
biente alfabetizador constitui-se em uma alter- E LETRAMENTO
nativa para contribuir no processo de aprendiza-
gem, desta maneira, conhecer como podem ser A alfabetização e o letramento são con-
utilizados na prática em sala de aula é de fun- siderados duas ações distintas, porém são
damental importância no âmbito educacional. inseparáveis, o ideal é que se alfabetize
letrando, isto significa, ensinar a ler e es-
Segundo Soares (2004) é necessário recon- crever no contexto do uso social da lín-
hecer que alfabetização, entendida como a gua envolvendo a escrita e a leitura, tor-
aquisição do sistema convencional de escri- nando o indivíduo alfabetizado e letrado.
ta, diferente de letramento que é entendido
como o desenvolvimento de comportamen- De acordo com Morais (2012) sabemos
tos e habilidades de uso competente da lei- que as concepções de alfabetização e de es-
tura e da escrita em práticas sociais. O ambi- tar alfabetizado são históricas e variam ao
ente alfabetizador, no contexto educacional, longo do tempo. Nos últimos anos, as con-
pode ser entendido como um espaço em que cepções sobre esses temas sofreram grandes
há a cultura letrada, com diferentes materi- alterações. Se nos anos 1950, era consider-
ais, como livros, revistas, cadernos, gibis, etc. ado alfabetizado quem sabia assinar o nome,
hoje os recém-alfabetizados, devem ser ca-
O termo Letramento passa a ser utilizado pazes de ler e compreender pequenos textos,
em meados de 1980, concomitantemente com além de conseguir produzir pequenos textos.
os questionamentos sobre os métodos de al-
fabetização, em sua natureza teórica e met- Tendo em vista as novas propostas
odológica, nesta época, apareciam diversas de Alfabetização e Letramento torna-se
críticas aos métodos tradicionais de Alfabet- necessário rever o funcionamento das in-
ização, no qual a escrita era uma mera repre- stituições em torno de seu projeto edu-

771
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

cacional e de ensino. O projeto político suas relações com a linguagem oral, as con-
pedagógico da escola deve pautar-se na venções ortográficas etc. (LEITE, 2006, p. 459)
perspectiva de Letramento, prevendo práti-
cas de leitura e escrita que corroborem para Segundo Cook-Gumperz (1991) os de-
o sucesso da aprendizagem de seus alunos. bates sobre alfabetização começaram a ser
discutidos na década de 60, a escola teria
Os questionamentos e debates sobre Al- que estar envolvida nas mudanças da socie-
fabetização começam na década de 60 e tin- dade e dentre as questões debatidas estava
ham como base as dificuldades apresentadas a dificuldade que os alunos apresentavam
na aquisição da leitura e da escrita, neste na aquisição da leitura e da escrita, que de-
sentido, estas aprendizagens deveriam es- veriam considerar também as demais ex-
tar relacionadas com as demais experiências periências de aprendizagem que eram vi-
vivenciadas fora do âmbito escolar, em casa venciadas fora do contexto escolar, em casa.
e no meio social. Com estes questionamen-
tos, a partir de 1980, o ensino da leitura e A partir da década de 1980, o ensino da
da escrita, que priorizava a memorização, leitura e da escrita com o foco na aquisição
passa a ser criticado e diferente pesquisa- de habilidades que destacavam a memo-
dores de diversas áreas passam a estudar rização de palavras e sílabas ou frases fora
tal questão, buscando uma nova definição. de contexto, passa a ser criticado e discuti-
do pelos pesquisadores dos diferentes cam-
Nas práticas tradicionais de ensino, os pos de conhecimento que buscavam outra
textos, em sua maioria, eram literários, com definição para o sentido de alfabetização.
a mudança de paradigma no contexto de al- Quando falamos em proposta constru-
fabetização, o conceito de texto é mais amplo, tivista e letramento temos que o falar, o ler
abrangendo textos escritos e orais. Neste sen- e o escrever devem estar reunidos em um
tido quando utilizamos o texto oral como uma único processo, que tenha em vista as práti-
forma de ensino, torna-se necessário um novo cas sociais de leitura e escrita, a fim de per-
planejamento de ações para a aprendizagem, mitir à criança que a alfabetização e o le-
que vise o desenvolvimento de tais habilidades. tramento ocorram juntos. As atividades de
análise e síntese são trabalhadas cognitiva-
[...] o trabalho com o texto, na Alfabetização, mente pelo aluno quando faz e refaz hipó-
apresenta inúmeras possibilidades além da teses sobre a leitura e a escrita e estabelece
compreensão textual (construção de sentido): relações entre significado e significante.
o texto permite ao professor trabalhar todos
os aspectos relacionados com o processo de De acordo com Soares (2004) é necessário
Alfabetização, envolvendo a formação da con- rever as concepções atuais em relação aos
sciência fonológica, relação grafema – fonema, processos de alfabetização que são utilizados
todos os aspectos da escrita enquanto código,

772
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

nas escolas, para que o fracasso escolar com êxito. Além da sala de aula, existem dif-
não se torne tão recorrente como é veri- erentes espaços na escola que podem ser
ficado atualmente. Conforme a autora não aproveitados e transformados em ambien-
se faz necessário voltar aos velhos padrões tes alfabetizadores e ambientes de apren-
de alfabetização com técnicas de codifi- dizagem, podemos citar como exemplo as
cação e decodificação, porém é necessário salas de informática, biblioteca, quadras, etc.
se pensar em novas alternativas e práticas.
O professor, com base no seu planeja-
O ambiente escolar é um espaço público mento e tendo em vista os objetivos traça-
e as crianças passam uma grande parte do dos pode transformar tais ambientes e pro-
seu tempo nela, neste sentido, é um local mover diferentes atividades significativas
que promove a aprendizagem e a social- de aprendizagem, integrando a criança aos
ização. A organização dos espaços na es- diferentes espaços da escola e promovendo
cola e a sua estrutura física deve ser pen- o seu contato com diferentes materiais e dif-
sada para propiciar aos alunos o melhor erentes situações de aprendizagem, promov-
aproveitamento possível contribuindo para endo a interação com o meio no qual vive.
o seu processo de ensino e aprendizagem.
Com base nas ideias de Ferreiro (1986)
O uso da tecnologia no ambiente al- podemos afirmar que ter um ambiente al-
fabetizador pode se efetivar por meio fabetizador e os materiais da cultura escri-
do computador que permite formas dif- ta a disposição não são garantia de sucesso
erentes de aprendizado, os símbolos, as na aprendizagem, a presença do objeto não
teclas e as letras permitem que a criança garante o conhecimento, mas a sua aus-
adquira noções sobre a quantidade de le- ência promove o desconhecimento. Para
tras, que estas são usadas repetidamente que a criança adquira conhecimento so-
nas diferentes palavras, etc. Os recursos bre a língua escrita ela deve escrever, neste
tecnológicos podem complementar o pro- sentido, a escrita tem um papel funda-
cesso de alfabetização e letramento com mental neste processo de aprendizagem.
o uso da internet, observação de difer-
entes formas de escrita, dentre outras. A escola na perspectiva do letramento,
torna-se um espaço no qual a aprendizagem
Nas atividades cotidianas, nem sem- ocorre de maneira a considerar as reais ne-
pre o professor é capaz de atentar-se as cessidades dos alunos. Com o planejamen-
situações que surgem de maneira impre- to do ambiente, das ações e dos materiais
visível e caso não tenha claro qual é a torna-se mais fácil atingir as metas traça-
verdadeira função do ambiente alfabet- das, contextualizando a sua prática e as suas
izador e como ele se constitui, as ativi- ações e tornando o ensino mais prazeroso.
dades ali propostas não serão efetivadas

773
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Segundo Silva; Duarte (2013) tais questões tem direito a uma educação de qualidade
nos levam a pensar sobre os espaços dis- desde a mais tenra idade, para que seja pos-
poníveis na escola e como tais espaços são sível o desenvolvimento de experiências
utilizados de forma a promover a aprendiza- significativas com a troca e interação com
crianças e adultos, contribuindo para a sua
gem. Neste sentido, o professor deve criar
formação integral em todos os seus aspectos.
condições e situações de aprendizagem dif-
erenciadas que contribuam neste processo. A escola é um dos primeiros espaços de
Pensar sobre os espaços e materiais e sobre socialização do conhecimento e de interação
a forma de trabalho com o ambiente alfabet- outras crianças e adultos, no qual a criança
izador não é tarefa simples e é preciso que se depara quando está longe do ambiente
o professor tenha consciência do seu papel familiar, nestas relações a criança é capaz
de dividir experiências e aprendizagens
de facilitador da aprendizagem dos alunos.
com seus pares, ampliando os seus conhe-
cimentos e realizando novas descobertas.
EDUCAÇÃO INFANTIL E De acordo com este documento os
APRENDIZAGEM princípios norteadores de um currículo que
atenda às especificidades de desenvolvimen-
Hoje em dia um dos desafios da Educação to biopsicossocial e histórico das crianças são:
Infantil é garantir todos os avanços conquis-
tados durante os últimos anos, na trajetória O respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consid-
eradas nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas,
de luta e conquistas que se consolidou com culturais, étnicas, religiosas; O direito das crianças a brincar,
as políticas públicas para a educação infan- como forma particular de expressão, pensamento, interação
til e a garantia dos direitos da criança. Neste e comunicação, à interação e comunicação infantil; O acesso
sentido os ideais a serem alcançados são: um das crianças aos bens socioculturais disponíveis, ampliando
o desenvolvimento das capacidades relativas à expressão,
ensino de qualidade, a formação dos profis- à comunicação, à interação social, ao pensamento, à ética
sionais e a garantia de aplicação das leis. e à estética; A socialização das crianças por meio de sua
participação e inserção nas mais diversificadas práticas so-
A construção do pensamento se desenvolve ciais, sem discriminação de espécie alguma; O atendimen-
to aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao
desde os primeiros anos de existência do ser desenvolvimento de sua identidade. (BRASIL, 1998, p.13).
humano, desta maneira, a Educação Infantil
tem uma fundamental importância e propi- O educador da infância, no processo de
cia aprendizagens significativas. Quanto mais alfabetização, pode promover ações que fa-
cedo a criança tem a oportunidade de interagir cilitem o processo de ensino e aprendiza-
com os seus pares e com o meio que a cerca, gem, propondo atividades em grupos para
melhor será a sua compreensão da realidade e que as crianças tenham oportunidade de ler
a garantia de sucesso no processo educativo. e falar, mesmo que ela ainda não saiba ler. O
comportamento leitor é aprendido pela cri-
O Referencial Curricular Nacional para a ança por meio da observação e imitação das
Educação Infantil (RCNEI, 1998), trouxe mu- ações dos adultos, em situações de leitura
danças para a Educação Infantil, a criança, de e fala. Nos momentos de história é possível
acordo com este documento é considerada incentivar a criança para que ela expresse
em todas as suas especificidades como um opiniões, características dos personagens
ser em construção. Neste sentido, a criança

774
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

e elabore questões relacionadas a história. mento de habilidades físicas, cognitivas, so-


ciais e afetivas. Dentre elas: a criatividade, o
Todos os envolvidos com a escola devem raciocínio lógico, a representação simbólica,
prever formas de organização dos espaços o planejamento, a capacidade de respeitar
escolares para proporcionar as crianças, am- regras, de considerar diversos pontos de vis-
bientes acolhedores que contribuam para o ta e de criar vínculos consistentes, aspectos
seu desenvolvimento e que sejam agradáveis. que encorajam a autonomia e são necessári-
Por meio do planejamento dos espaços é os para que a criança, gradualmente, entenda
possível prever ações pedagógicas a serem a si própria, sua cultura, sua importância na
desenvolvidas, tendo como fundamento e vida dos outros e futuramente na sociedade.
objetivo a aprendizagem efetiva de todos.
Com base nas ideias de Souza (2005)
A criança aprende quando é sujeito na cabe ao professor promover condições
vivência, na experiência, isto é, quando par- necessárias que auxiliem o desenvolvi-
ticipa nos processos vividos com o corpo, a mento da criança, com base nos princípios
mente e as emoções e não como executo- da autonomia e do exercício da cidada-
ra do que foi pensado pelo educador e pela nia. As atividades diversificadas e o con-
educadora. O ser humano aprende ao se co- tato com diferentes materiais contribuem
locar de corpo inteiro nos processos. Nesse nesse processo à medida que propiciam dif-
sentido, as crianças, seja na educação infantil, erentes formas de aprendizagem e o conta-
seja no Ensino Fundamental, precisam tomar to com diferentes materiais alfabetizadores
parte nas situações em que se planeja, aval- e pensados na perspectiva do letramento.
ia, propõe, fazem-se escolhas, tomam de-
cisões, resolvem-se problemas, argumenta-se Na educação de bebês e crianças, a sala e o parque, as-
sim como os demais espaços e o território, são consider-
e aprende-se a pensar. (MELLO, 2015, p.3). ados como espaços ricos de pesquisa. Por esse motivo,
devem ser “recheados” de artefatos, materiais, brinquedos
No contexto do Currículo Integrador, é para as crianças interagirem. Ambas as escolas precis-
preciso compreender que bebês e crianças se am se organizar como espaços acolhedores para as cri-
anças e procurar materializar os direitos da infância.
expressam e vivenciam experiências utilizan- Para isso, é interessante que os espaços sejam pensa-
do-se de diferentes linguagens As linguagens dos para as crianças e permanentemente reconstruídos
infantis compreendem as maneiras que os a partir do interesse delas. (SÃO PAULO, 2019, p. 156)
bebês e as crianças utilizam para se expressar,
para demonstrar como veem o mundo. Pos- Segundo Luria (1988) a criança, quando che-
sibilitar vivências e experiências com as múl- ga à escola, é um sujeito que já sabe determi-
tiplas linguagens infantis significa planejar e nadas coisas e faz parte de um grupo sociocul-
propor aos bebês e crianças possibilidades de tural que fornece situações de cultura, como
expressão, criação e vivências com a literatu- valores, ideias, conceitos e formas de agir. De
ra, com a cultura, com os desenhos, as pintu- acordo com a autora se apenas pararmos para
ras, colagens, modelagens, movimento, dança, pensar na rapidez que a criança é capaz de
esculturas, investigação, jogos, brincadeiras e aprender a técnica extremamente complexa,
tantas outras. A educação compreende que ficará evidente que isto só pode acontecer
o brincar e o jogar favorecem o desenvolvi- porque a criança já possui uma bagagem de

775
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

conhecimentos assimilados desde o seu nasci- cação, sobretudo, da educação infantil.


mento, a criança já aprendeu e assimilou um
certo número de técnicas que vai contribuir As diretrizes educacionais não garantem
para a sua alfabetização e aquisição da escrita. que as práticas de alfabetização sejam ba-
seadas na concepção de letramento, para
As instituições escolares têm um grande isso, a instituição escolar deve planejar
desafio: planejar e materializar um currículo suas ações com os seus pares e promover
cujas práticas pedagógicas contribuam para uma reflexão em relação aos propósitos e
que cada indivíduo possa desenvolver po- expectativas de ensino.Os métodos uti-
tencialmente sua inteligência cognitiva, emo- lizados na alfabetização modificam-se com
cional e social, dessa forma, são urgentes as o passar dos tempos, com base em estu-
discussões, debates, reflexões que fomentem dos, pesquisas, mudanças na sociedade e
a materialização de um currículo integrado novas demandas sociais. Passamos a con-
que escuta, respeita e acolhe as vozes das cri- ceituar os métodos de alfabetização con-
anças. O modo como as práticas são plane- siderados tradicionais e que foram utiliza-
jadas e propostas revelam as concepções dos nas escolas brasileiras por vários anos
sobre a finalidade da educação, a maneira e até hoje ainda encontramos escolas que
como as crianças aprendem, que tipo de in- adotam o modelo tradicional como prática.
divíduo se quer formar em qual tipo de so-
ciedade. Portanto, é uma prática complexa, A Educação Infantil ao promover ex-
que fundamentalmente necessita de perma- periências significativas de aprendizagem
nentes reflexões, debates e formação dos se constitui em um dos espaços de ampli-
educadores e de todo coletivo da instituição. ação das capacidades de comunicação e ex-
pressão e de acesso ao mundo letrado pelas
CONSIDERAÇÕES FINAIS crianças, favorecendo o desenvolvimen-
to das capacidades relacionadas as com-
A alfabetização e o letramento são con- petências de falar, escutar, ler e escrever.
siderados duas ações distintas, porém são
inseparáveis, o ideal é que se alfabetize le- O ambiente escolar é um espaço público
trando, isto significa, ensinar a ler e escre- e as crianças passam uma grande parte do
ver no contexto das práticas sociais que seu tempo nela, neste sentido, é um local
envolvem a leitura e a escrita, tornando o que promove a aprendizagem e a social-
indivíduo alfabetizado e letrado.A aprendiza- ização. A organização dos espaços na es-
gem é uma construção singular do indivíduo/ cola e a sua estrutura física deve ser pen-
sujeito mediada pelas interações que ele es- sada para propiciar aos alunos o melhor
tabelece com o meio e com outros indivídu- aproveitamento possível contribuindo para
os. Dessa forma, quanto mais significativas o seu processo de ensino e aprendizagem.
as experiências vivenciadas pelos bebês e
pelas crianças nas instituições, maior será a
possibilidade do sucesso desse processo.

Nessa perspectiva, educadores e ed-


ucadoras têm grande responsabilidade
ao escolherem atuar no campo da edu-

776
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

LEITE, Sérgio Antônio da Silva. O processo


de alfabetização escolar: revendo algumas
questões. Perspectiva. Florianópolis. 2006.

LURIA, A. R. O desenvolvimento da es-


crita na criança. In: VYGOTSKY, L. S. et
al. Linguagem, desenvolvimento e apren-
dizagem. São Paulo: Ícone/EDUSP, 1988.

MELLO, S. A. Uma proposta para pen-


NEUSA MARIA TAVARES sar um currículo integrador da infância
paulistana. São Paulo: SME/DOT, 2015.
Graduação em Pedagogia pela Faculdade Mo-
zarteum de São Paulo (2004); Pós-graduação MORAIS, Artur Gomes de. Como eu
em Psicopedagogia pela Faculdade Mozarte- ensino: Sistema de Escrita Alfabéti-
um de São Paulo (2006); Pós-graduação em ca. Editora Melhoramentos, 2012.
Arte terapia na Educação pela Faculdade As-
sociada Brasil (2017). Professora de Educação SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal
Infantil e Ensino Fundamental I - na EMEF Te- de Educação. Coordenadoria Pedagógi-
nente Aviador Frederico Gustavo dos Santos. ca. Currículo da Cidade: Educação In-
fantil. São Paulo. SME. COPED. 2019.

SILVA, Edilânia Cardoso da; DUARTE, Sid-


neya Ferreira Lira. Ambiente Alfabetizador
além da sala de aula. 2013. Disponível em:
<http://www.anapolis.go.gov.br/revistaanap-
olisdigital/wp-content/uploads/2013/03/
REFERÊNCIAS Sidneya-Ferreira-e-Edil%C3%83%C2%A-
2nia-Cardoso.pdf> Acesso em 05 maio 2019.
BRASIL, MEC. Referencial curricular nacio-
nal para a educação infantil. Ministério da SOARES, M. B. Letramento e alfabetização:
Educação e do Desporto, Secretaria de Ed- as muitas facetas. In: Reunião Anual da As-
ucação Fundamental. Conhecimento de sociação Nacional de Pesquisa e Pós Gradu-
Mundo. 3 vol. Brasília: MEC/SEF, 1998. ação em Educação. Caxambu: ANPED, 2004.

COOK-GUMPERZ, Jenny. A con- SOUZA, Maria de Fátima Guerra. Apren-


strução social da alfabetização. Por- dizagem, desenvolvimento e trabalho ped-
to Alegre: Artes Médicas, 1991. agógico na Educação Infantil. In: TACCA,
Maria Carmen V. R. (org.). Aprendizagem e
FERREIRO, Emília. A. Psicogênese da língua trabalho pedagógico. Campinas: Alínea, 2005.

777
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

CONSTRUÇÃO DA LINGUAGEM ORAL E ESCRITA NA EDUCAÇÃO


INFANTIL

RESUMO: A Educação Infantil sendo a primeira etapa da educação básica tem como função
primordial possibilitar o desenvolvimento integral das crianças. Dentro dessa ótica, a apren-
dizagem da leitura e da escrita nessa fase é um dos elementos importantes a serem trabalha-
dos, uma vez que permite às crianças a ampliação de possibilidades de inserção e participação
nas diversas práticas sociais. Dessa forma, o trabalho pedagógico deve estar organizado den-
tro de um contexto no qual aprender a ler e escrever faz parte de um longo processo evo-
lutivo ligado à participação em práticas de leitura e escrita, em que as crianças estabeleçam
relações sobre as características da linguagem presentes ao seu redor. Nesse sentido, este
trabalho, construído por meio de uma pesquisa bibliográfica, tem como objetivo analisar a
construção da linguagem oral e escrita na educação infantil. Ficou claro que as instituições
de ensino devem oportunizar às crianças situações em que a leitura e a escrita sejam viven-
ciadas por sua dimensão prazerosa e envolvente, com base nas práticas sociais de leitura e
escrita existentes no seu meio social. Se semeada desde cedo, a leitura pode ser uma forma
notável de trabalhar vocabulário, imaginação, criatividade, escrita e sensibilidade. Portan-
to, é primordial que faça parte da prática pedagógica do professor já na Educação Infantil.

Palavras-chave: Educação Infantil; Leitura; Escrita; Professor.

778
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO desenvolva sua capacidade de imaginação e


criatividade. Ao chegar nas séries iniciais do
A capacidade de ler e escrever aumenta Ensino Fundamental, a criança já deve ter o
as possibilidades da vida, uma vez que per- hábito de ler mesmo sem saber ler de forma
mite às pessoas a construção de categori- convencional e isso ocorre com a leitura re-
as que auxiliam uma melhor compreensão alizada de modo rotineiro pelo educador que
do mundo e a transmissão de valores pes- faz uso de estratégias de leitura de maneira
soais, sociais e culturais. Dessa forma, a criativa e estimulante (NUNES et al, 2012).
aprendizagem da linguagem oral e escrita
na Educação Infantil é uma das temáticas a Nesse sentido, de acordo com Nunes et al
serem trabalhadas com a intencionalidade (2012), a família deve ser a primeira a incen-
de possibilitar as crianças a construção tivar a leitura, visto que o gosto pela mesma
de muitos conhecimentos e o desenvolvi- começa a ser formado ainda no ventre da mãe
mento cognitivo dentro de um contex- e depois no berço, por meio das canções de
to real, no qual a leitura e a escrita sejam ninar, da leitura de histórias percorrendo toda
significativas e tenham funcionalidade nas a infância, que abrange adivinhações, cantigas
diversas práticas sociais (SENA, 2019). de roda e as primeiras narrativas de ficção,
histórias sobre animais e contos de fadas. Ao
Conforme Goulart (2006), o primeiro ouvirem histórias, as crianças brincam de ler
contato da criança com a leitura é de pri- e aprendem a gostar de leitura como se fosse
mordial importância para seu entendimento algo fundamental em sua vida, da mesma for-
futuro, pois, afeta na formação do indivíduo ma que gostam de uma brincadeira muito di-
crítico, capaz de encontrar as possíveis vertida. Por exemplo, uma criança que assiste
soluções para os problemas existentes na a bons filmes, desenhos animados, lê livros,
sociedade, a qual está inserida. No entanto, participa de atividades diversas, que can-
enganam-se aqueles que veem nos educa- ta, dramatiza, ou seja, que faz uso das vari-
dores os únicos incentivadores da leitura. adas linguagens, alarga seus horizontes, sua
Também é papel dos pais, em casa, mostrar visão. Quanto mais experiências ela vivencia,
que a leitura pode ser algo prazeroso e que mais aumenta sua leitura de mundo.É na ed-
deve fazer parte do cotidiano familiar. Se- ucação infantil e nas séries iniciais do ensi-
gundo Perrotti (2005), a participação da no fundamental que se deve iniciar as ativ-
família é primordial no incentivo à leitura de idades de leitura que abrange a imaginação,
qualidade. É necessário que as crianças ten- a inteligência e o desejo de descobrir aqui-
ham contato com bons padrões de leitores lo que se encontra nas páginas de um livro.
e os pais podem se encarregar desse papel.
Grande parte da aprendizagem humana se LINGUAGEM, CONHECIMENTO
dá por meio da observação do comporta- E APRENDIZAGEM NA EDU-
mento de outros indivíduos. Percebe-se, en- CAÇÃO INFANTIL
tão, que o exemplo é o meio mais eficaz de
influência comportamental (SILVA, 2004). A linguagem é vista como o mais impor-
tante dos sistemas semióticos (sistemas de
A falta de incentivo à leitura, tanto no lar, signos) e como base para todas as ações hu-
como na escola, não possibilita que a criança

779
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

manas que deles se servem. A linguagem é que tem como centro a interação verbal, que
uma característica universal da humanidade, se faz por meio de textos ou discursos, falados
o mais poderoso instrumento da comuni- ou escritos. Isso significa que esse sistema de-
cação informativa. Como tal, não só assegu- pende da interlocução, inter+locução = ação
ra a comunicação intersubjetiva, como tam- linguística entre sujeitos (BRASIL, 2007, p. 09).
bém a comunicação social, independente dos
limites de tempo e espaço.O aparecimento Partindo dessa concepção, uma propos-
da linguagem tem como mecanismo causal a ta de ensino de língua deve valorizar o uso
função simbólica ou semiótica. Essa função da língua em diferentes situações ou con-
sucede a inteligência sensório-motora, liber- textos sociais, com sua diversidade de
ta à criança das experiências imediatas, e a funções e sua variedade de estilos e mo-
projeta para o patamar da representação das dos de falar. Para estar de acordo com essa
ações e dos objetos. E a faculdade de rep- concepção, é importante que o trabalho em
resentar o real por meio de signos e de in- sala de aula se organize em torno do uso e
terpretar os signos como representação do que privilegie a reflexão dos educandos so-
real, encontra na linguagem a sua expressão bre as diferentes possibilidades de emprego
máxima (PIAGET apud SENA, 2019, p.14). da língua (DE PAULA & SILVEIRA, 2019).

A linguagem é constituinte do sujeito e, por- No entanto, consoante De Paula e Silvei-


tanto, central no cotidiano escolar e é um dos ra (2019), a Educação Infantil, ao promov-
instrumentos básicos inventados pelo homem er experiências significativas de aprendiza-
cujas funções fundamentais são o intercâmbio gem da língua, por meio de um trabalho
social – é para se comunicar que o homem cria com a linguagem oral e escrita, se constitui
e utiliza sistemas de linguagem – e o pensa- em um dos espaços de ampliação das ca-
mento generalizante – é pela possibilidade de pacidades de comunicação e expressão e
a linguagem ordenar o real, agrupando uma de acesso ao mundo letrado pelas crianças.
mesma classe de objetos, eventos e situações, Essa ampliação está relacionada ao desen-
sob uma mesma categoria, que se constro- volvimento gradativo das capacidades as-
em os conceitos e os significados das pala- sociadas às quatro competências linguísti-
vras (VYGOTSKY apud BRASIL, 2006, p. 62). cas básicas: falar, escutar, ler e escrever.

O trabalho com a linguagem se consti- DESENVOLVIMENTO DA LINGUA-


tui um dos eixos básicos na educação infan- GEM ORAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
til, dada sua importância para a formação
do sujeito, para a interação com as outras A atividade de leitura se faz presente em
pessoas, na orientação das ações das cri- todos os níveis educacionais das sociedades
anças, na construção de muitos conhecimen- letradas. Tal presença, sem dúvida marcante
tos e no desenvolvimento do pensamento. e abrangente, começa no período de alfabet-
Aprender uma língua não é somente apren- ização, quando a criança passa a compreender
der as palavras, mas também os seus significa- o significado potencial de mensagens regis-
dos culturais, e, com eles, os modos pelos quais tradas pela escrita (SENA, 2019).A leitura é
as pessoas do seu meio sociocultural enten- uma prática social que envolve gestos e hab-
dem, interpretam e representam a realidade ilidades que são mobilizados pelo leitor, tan-
(CARVALHO, 2005).A língua é um sistema to no ato de leitura propriamente dito, como

780
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

no que antecede a leitura e no que decorre ainda que não decodifique palavras e fras-
dela. Atitudes como gostar de ler e se inter- es escritas. Ela aprende observando o gosto
essar pela leitura e pelos diversos portadores de leitura dos outros – professores, pais ou
de texto são construídas, para algumas pes- outras crianças. O processo de aprendiza-
soas, no espaço familiar e em outras esferas do começa com a percepção da existência
de convivência em que a escrita circula. Mas, de coisas que servem para ser lidas e de
para outros, é, sobretudo na escola que esse sinais gráficos, Daí a importância de opor-
gosto deve ser incentivado. Para isso é impor- tunizar o acesso a diversos tipos de mate-
tante que a criança perceba a leitura como riais escritos, uma vez que isso possibilita
um ato prazeroso e necessário e que tenha às crianças o contato com práticas sociais
os adultos como modelos (SENA, 2019). mediadas pela escrita, colocando às crianças
no papel de leitoras, em que as mesmas
A importância da leitura feita por outros, possam relacionar a linguagem com os tex-
reside em que contribui para familiarizar a tos, os gêneros e os portadores sobre os
criança com a estrutura do texto escrito e quais eles se apresentam (MARTINS, 2006).
com sua linguagem, cujas características de
formalidade e descontextualização as dis- De acordo com Silva (2019), é válido res-
tinguem da oral. Por outro lado, a criança saltar que não basta apenas ter acesso aos
pode assistir muito precocemente ao mod- materiais, às crianças devem ser envolvidas
elo de um especialista lendo e pode partic- em práticas para aprender a usá-la, roda de
ipar de diversas formas da tarefa de leitura leitura, contação de histórias, leitura de di-
(olhando as gravuras, relacionando-as com versos tipos de textos, sistema de malas de
o que se lê, formulando e respondendo per- leitura, de casinhas, de cantinhos, mostras
guntas etc.) Assim constrói paulatinamente a literárias e brincadeiras com livros são algu-
ideia de que o escrito diz coisas e que pode mas atividades que consolidam em despertar
ser divertido e agradável conhecê-las, isto é, o gosto e o desenvolvimento cognitivo das
saber ler (SOLÉ, 1998, p.54). Na opinião de crianças com relação ao material de leitura.
Martins (2006), ler para as crianças é uma
atividade fundamental, elas merecem que os Outra ação pedagógica importante quan-
adultos leiam diariamente para elas. É ouvin- to à leitura é a organização de passeios com
do a leitura de diversos tipos de textos, en- os educandos, os quais, ao se depararem
quanto ainda não sabe ler autonomamente, com informações escritas (placas, outdoors,
que elas podem ter acesso a tudo que a escri- propagandas, nomes de estabelecimentos,
ta representa, além de aprender muito a res- rótulos, etc.), certamente tentarão decodi-
peito da linguagem que se usa para escrever. ficá-las. Essa é a ocasião para a criança ob-
servar, com a mediação do educador, aspec-
Quando a criança pega um texto e tenta decodi- tos importantes da língua escrita, assim com
ficá-lo, não se mantém fiel no sentido de tentar uma
leitura letra por letra, palavra por palavra, mas in-
para ela perceber que a leitura se apoia em
fere, advinha a partir de uma identificação par- símbolos gráficos (SILVA, 2019).É preciso
cial (AROEIRA, SOARES & MENDES; 1996, p. 118). também planejar atividades de leitura que
contribuam para a compreensão do sistema
A criança lê do seu jeito muito antes da de escrita e favoreçam a análise e a reflex-
alfabetização, folheando e olhando figuras, ão acerca da correspondência fonográfica

781
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

própria de nosso sistema de escrita. Esse iar e fazer uso da informação. De acordo
tipo de atividade exige uma análise quanti- com Brasil (2002, p. 112), há estratégias de
tativa e qualitativa da correspondência en- seleção, de antecipação, de inferência e de
tre os segmentos falados e os escritos. São verificação que serão apresentados a seguir.
situações em que o educando deve ler, em-
bora ainda não saiba ler (GOULART, 2006). • Estratégias de seleção: possibilitam
que o leitor se atenha somente aos índi-
Outro aspecto a ser considerado é o pro- ces úteis, desprezando os irrelevantes.
fessor como leitor, porque se a pessoa não • Estratégias de antecipação: per-
utilizar e não tiver prazer no convívio com mitem prever o que ainda está
o material escrito é muito difícil passar por vir, com base em infor-
isso para as crianças. É fundamental que mações explícitas e em suposições.
o professor também leia seu próprio liv- • Estratégias de inferência: tor-
ro, revista ou jornal. É imprescindível que nam possível captar o que
as crianças percebam que ler é uma ativ- não está explícito no texto.
idade importante e que o adulto também • Estratégias de verificação: permi-
gosta de realizá-la (CARVALHO, 2005). tam controlar a eficácia ou não das
demais estratégias, possibilitan-
Consoante Carvalho (2005), as crianças do confirmar, ou não, as especu-
aprendem a ler participando de atividades lações realizadas. Esse tipo de checa-
de uso da escrita com indivíduos que dom- gem para confirmar – ou não- a
inam esse conhecimento. Aprendem a ler compreensão é inerente à leitura.
quando acreditam que são capazes de fazê-
lo. É difícil que uma criança aprenda a ler Entretanto, uma prática constante de leitu-
quando se espera que ela fracasse. Do mes- ra na escola sugere o trabalho com a diversi-
mo modo também é difícil que ela apren- dade de objetivos, modalidades e textos que
da a ler se não achar finalidade na leitura. caracterizam as práticas de leitura de fato.
Diferentes objetivos requerem diferentes
Todos que leem o fazem para atender a textos e cada qual, por sua vez, exige um
uma necessidade pessoal. A leitura consiste tipo específico, uma modalidade de leitura.
num processo no qual o leitor realiza um Portanto, os educandos devem ver na leitura
trabalho ativo de construção do significa- algo interessante e desafiador, uma conquis-
do do texto a partir do que está buscando ta capaz de dar autonomia e independência.
nele, do conhecimento que já possui acer- E devem estar confiantes, condição para
ca do assunto, do autor e do que sabe so- enfrentar o desafio é “aprender fazendo”.
bre a língua – características do gênero, do
portador, do sistema de escrita. Ninguém é DESENVOLVIMENTO DA LIN-
capaz de extrair informações do texto escri- GUAGEM ESCRITA NA EDU-
to decodificando letra por letra, palavra por CAÇÃO INFANTIL
palavra. A leitura fluente abrange uma série
de outras estratégias, ou seja, de recursos A cultura escrita se refere às ações, valores,
para construir significado (GOULART, 2006). procedimentos e ferramentas que compõem
o universo letrado. Esse processo permite
Dessa forma, uma estratégia de leitu- que os educandos compreendam a utilização
ra é um amplo esquema para obter, aval- social da escrita e, pedagogicamente, pode

782
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

produzir práticas e necessidades de leitura e


escrita que irão dar sentido às aprendizagens É válido ressaltar, de acordo com Nunes et
escolares e aos momentos de sistematização al (2019), que trabalhar a compreensão dos
propostos em sala de aula (SENA, 2019). usos e das funções sociais da escrita signifi-
ca, primeiramente, trazer para a sala de aula
Conforme Machado (2004), todo in- e disponibilizar aos educandos muitos tex-
divíduo, independentemente de seu nível tos, de gêneros distintos; e, paralelamente,
de escolaridade ou de sua posição social, orientar a exploração desses materiais, valo-
está, de alguma forma, inserido numa cultu- rizando os conhecimentos prévios dos edu-
ra letrada: tem documentos escritos e reali- candos, permitindo que os mesmos deduzem
za práticas que dependem da escrita. Porém, e descubram, esclarecendo informações de-
é sempre possível ampliar as possibilidades sconhecidas. Muitos dos educandos chegam
de integração e participação ativa na cultu- à escola sem ter convivido e se familiarizado
ra escrita, pela ampliação da convivência e de modo intenso e amplo com os meios so-
do conhecimento da língua escrita. Recon- ciais da escrita. Dessa forma, não é raro que
hece-se que a maior parte das crianças bra- tais crianças façam hipóteses inusitadas acer-
sileiras, particularmente aquelas atendidas ca da natureza, das funções e do uso dess-
pelas redes públicas de ensino, tem acesso es materiais, até mesmo daqueles que são
mais restrito à escrita, desconhecendo mui- imprescindíveis ao cotidiano escolar. Fora
tas de suas manifestações e utilidades. Assim da escola esse conhecimento é adquirido,
sendo, é relevante que a escola, por meio da geralmente, quando as crianças têm aces-
mediação do educador, proporcione aos ed- so aos diversos suportes de escrita e partic-
ucandos o contato com diferentes gêneros ipam de práticas e de escrita dos adultos e
e suportes de textos escritos, pois, isso irá em brincadeiras de crianças (SENA, 2019).
proporcionar-lhes vivência e conhecimentos.
É praticando que as crianças aprendem a
É vivenciando essas práticas em sala de finalidade de objetos de escrita existentes em
aula, ainda que não saiba ler e escrever da for- diferentes contextos sociais e o modo apro-
ma convencional, que o educando se apropria, priado de lidar com eles. Dessa forma, no con-
gradativamente, do sistema de escrita, em um texto escolar, esse conhecimento precisa se
processo que supõe situações de aprendiza- tornar um dos objetos do processo inicial de
gem que o levem a refletir sobre as hipóte- ensino-aprendizagem da linguagem escrita,
ses que constrói e reconstrói em relação ao com base em uma abordagem didática, com
sistema alfabético. Dada a complexidade apresentação, observação e exploração dos
desse sistema, a mediação do educador é suportes e ferramentas escolares de escri-
fundamental. Cabe a ele conhecer o que os ta e de suas peculiaridades materiais. Nesse
educandos pensam sobre a escrita, escolher sentido, deve-se oferecer aos educandos o
os textos que mais condizem com suas neces- desenvolvimento de capacidades cognitivas
sidades cognitivas em determinados momen- e procedimentais necessárias ao uso ade-
tos e situações, organizar as atividades que quado desses objetos (MACHADO, 2004).
melhor se prestam ao trabalho com o sistema
de escrita, envolver os educandos no proces- Na opinião de Machado (2004), outro as-
so de ensino e aprendizagem e, sobretudo, pecto importante a ser considerado na con-
buscar as informações de que necessita para strução do conhecimento sobre o sistema da
uma ação pedagógica eficaz (SENA, 2019). escrita é reconhecer que para aprender a es-

783
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

crever a criança terá de lidar com dois proces- rior, ou seja, o silábico. Dependendo da
sos de aprendizagem paralelos: o da natureza evolução da escrita da criança, esta vai se
do sistema de escrita da língua – o que a es- revelando mais alfabética, até evoluir de-
crita representa e como – é o das característi- finitivamente para o estágio alfabético.
cas da linguagem em que se usa para escre- • Estágio Alfabético: nesse estágio, o alu-
ver. A aprendizagem da língua escrita está no está conceitualmente alfabetizado,
intrinsecamente associada ao contato com pois, já tem a consciência de que a es-
textos diversos, para que as crianças possam crita representa as unidades sonoras da
construir sua capacidade de ler, e às práti- fala e já consegue perceber e registrar
cas de escrita, para que possam desenvolver todos os sons da palavra, sem, contu-
a capacidade de escrever autonomamente. do dominar as normas ortográficas.

De acordo com as pesquisas de Emília Sabe-se, que as hipóteses elaboradas


Ferreiro e Ana Teberosky (1986), já repli- pelas crianças em seu processo de con-
cadas no mundo inteiro, as crianças elab- strução de conhecimento não são idên-
oram diferentes hipóteses sobre o funcio- ticas em uma mesma faixa etária, porque
namento do sistema de escrita. São elas: dependem do grau de letramento de seu
ambiente social, ou seja, da importância que
• Estágio Pré-Silábico: neste estágio tem a escrita no meio em que vivem e das
a criança expressa seu pensamen- práticas sociais de leitura e escrita que po-
to por meio de desenhos, rabiscos dem presenciar e participar (SENA, 2019).
ou garatujas e letras aleatórias. Ela
ainda não faz correspondência so-
nora entre as letras, existe ausência DESENVOLVIMENTO DA LEITU-
de fonetização nesta fase da escrita. RA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
• Estágio Silábico: neste estágio a criança
já começa a perceber a correspondên- Carlos Drummond de Andrade, que é
cia sonora entre a fala e escrita respeit- umas das figuras mais expressivas da litera-
ando, inicialmente, apenas o critério tura brasileira e universal, afirma que litera-
quantitativo, fazendo corresponder tura infantil é, antes de tudo, “literatura”, ou
uma letra qualquer para cada emissão seja, mensagem de arte, beleza e emoção.
oral (sílaba); ou seja, desprezando ain- Assim, mesmo sendo destinada particular-
da o valor sonoro, usando uma das mente à criança, nada impede que também
letras correspondentes à sílaba rep- possa agradar ao adulto (OLIVEIRA, 2002).
resentada, vogal ou consoante – eixo
qualitativo. Inicia-se a fonetização. Segundo Coelho (2001), o meio no qual a
• Estágio Silábico-Alfabético: como o criança vive, isto é, a oportunidade dada pela
próprio nome sugere é um estágio en- família e pela escola com os livros infantis,
tre o silábico e o alfabético. Por meio de nas séries iniciais, colaboram muito para seu
desafios, o aluno vai evoluindo de um desenvolvimento. Uma criança que está acos-
estágio para o outro, porém, seus escri- tumada a ouvir estórias de seus pais, provavel-
tos revelam resquícios do estágio ante- mente, será um adulto leitor e terá prazer em

784
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ler, será mais criativo e saberá expressar mel- assegura que os conhecimentos perdurem
hor suas ideias. É importante destacar que a e que as raízes de cada indivíduo sejam re-
literatura infantil oferece situações em que as speitadas e assimiladas. Acredita-se que fa-
crianças podem interagir em seu processo de tores importantes como má formação dos
construção do conhecimento, permitindo, por- professores, falta de uma boa estrutura das
tanto, o seu desenvolvimento e aprendizagem. escolas e bibliotecas, falta de incentivo, falta
de objetivos e de uma boa estratégia para as
A literatura infantil desenvolve não apenas aulas de leituras, podem estar influenciando
a imaginação das crianças, mas ainda possibil- e prejudicando essa atividade tão relevante.
ita que elas se sintam como personagens dos
contos de fada, além de contribuir para a ex- A desmotivação é proveniente, sobretudo,
pressão de ideias (CUNHA, 2004).Conforme de concepções erradas acerca da natureza do
Freire (2006), situações de interação e contato texto e da leitura e, portanto, da linguagem.
com materiais escritos são muito importantes Segundo De Paula e Silveira (2019), é muito
para a evolução e a aprendizagem da leitura prazeroso para a criança quando um adulto
e escritas das crianças. Fica ainda mais rico importante (próximo) lê para ela. É um modo
se esse contato ocorrer com histórias de lit- de brincar com as palavras, de oferecer uma
eratura infantil, em que os desenhos, produz- rica fonte para a imaginação, que conduz a
idos artisticamente, dão interesse e prazer. criança para outros mundos. Cabe aos pais e
educadores da Educação Infantil e das séries
As incríveis histórias de príncipes, princ- iniciais criar os laços das crianças com a leitura.
esas e bruxas ensinam as crianças que o
bem sempre vence o mal, ensinam ainda Diversos educadores e pesquisadores já
a aceitar o medo, a perdoar, a conhecer o afirmaram que cresce mais feliz a criança que
amor e valorizar a amizade. Assim, os per- escuta histórias. A leitura é expressão estéti-
sonagens de contos de fadas, na maio- ca da vida por meio da palavra escrita e colab-
ria das vezes, proporcionam alguma lição. ora de forma significativa para a formação do
Por meio dessas histórias, as crianças via- indivíduo, influenciando no modo de encarar
jam, se emocionam e se devolvem. Elas vão a vida. As crianças são imaginativas, exerci-
trabalhando seus próprios conflitos, fazen- tam a realidade por meio da fantasia, mas ne-
do comparações na procura de soluções, cessitam de materiais externos, como contos,
em que os educadores possuem um papel histórias, poemas, cantigas, para se constituir
primordial, contribuindo na dissolução dess- como pessoa (DE PAULA & SILVEIRA, 2019).
es conflitos e ansiedades (CUNHA, 2004).

De acordo com Silva (2019), o valor que se CONSIDERAÇÕES FINAIS


dá à leitura tem seu início em casa, muito an-
tes da escola. O ato de contar histórias é algo A aprendizagem da linguagem oral e escri-
muito antigo na humanidade. O ser humano ta é um dos fatores relevantes para que as
utiliza a palavra como ferramenta mágica que crianças ampliem suas possibilidades de in-
conduz ao bem-estar, prazer, conhecimento. serção e de participação nas diversas práticas
Registrar experiências por meio da escrita sociais. Assim, o trabalho com a linguagem se

785
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

constitui um dos eixos básicos na Educação não como uma obrigação, mas uma aven-
Infantil, em virtude de sua importância para a tura, pois, o hábito da leitura não é uma
formação do indivíduo, para a interação com questão genética, mas um ensinamento.
os outros indivíduos, na orientação das ações
das crianças, na construção de muitos con- Enfim, a leitura segue sendo a principal
hecimentos e no desenvolvimento do pensa- forma de se construir opiniões próprias,
mento. Sabe-se que o domínio da linguagem de ter fundamento necessário para toda e
oral e escrita surge do seu uso em múltiplas qualquer atividade ou área e, deve-se sa-
circunstâncias, nas quais as crianças podem lientar ainda a leitura como lazer, um hábito
perceber a função social que ela exerce e que dá prazer ao indivíduo. Por meio do gos-
assim desenvolver diferentes capacidades. to pela leitura o indivíduo tem um aumen-
to de conhecimento que está intimamente
Por isso, é necessário a organização e vinculado à construção do senso crítico,
planejamento de situações didáticas, nas da forma de se portar diante do mundo, e
quais a leitura e a escrita sejam trabalha- isso leva à formação da personalidade orig-
das em um contexto que possibilite as inal de cada um, forte, marcante, única.
crianças uma aprendizagem significati-
va, o desenvolvimento cognitivo e a com- O hábito da leitura precisa ser incen-
preensão da funcionalidade da leitura e tivado já nos primeiros anos de vida es-
escrita como instrumento básico de in- colar. No entanto, é impossível negar que
serção social, comunicação e apropriação a maioria das escolas, infelizmente, ain-
de saberes existentes na humanidade. da não possui infraestrutura adequada
para a conscientização do hábito da leitu-
Entretanto, a leitura e a escrita devem ra. Ensinar crianças em idade pré-escola
ser trabalhadas de forma integrada e com- a ler é auxiliá-las a construir os alicerces e
plementar, potencializando-se os diferentes as paredes, isto é, a prepararem a base, o
aspectos que cada uma dessas linguagens telhado para a aprendizagem da escrita.
solicita das crianças, em que elas possam
perceber a função social que elas exercem A aprendizagem da leitura é o resultado
e assim desenvolver diferentes capacidades. de inúmeras interações com o mundo da
escrita, das imagens e dos sons. E, quanto
O ato de ler não se dá literalmente como maior for o contato da criança com livros,
um processo contínuo, tranquilo e sem in- histórias, mais eficazmente ela ocorrerá.
terrupções. Pelo contrário, trata-se de uma Conseguir que a criança pré-escolar esteja
operação mental complexa assinalada por preparada para a aprendizagem da leitura e,
tensões, visto que abrange ativamente o in- ao mesmo tempo, chegue à escola primária
divíduo. Quem lê está em contato com quem com o gosto pelos livros e pela escrita, deve
escreveu o texto, com as ideias de um ou de ser o objetivo do educador, que embora,
diversos indivíduos e se utiliza das próprias seja muito ambicioso, faz-se necessário.
ideias para verificar o que conhece acerca
de um assunto, para reprovar ou concordar Apesar de ter início fora da escola, a
com o autor. É preciso formar o aprendiza- aprendizagem da escrita encontra nela o lu-
do da leitura, pouco a pouco, até que o leitor gar de sistematização e ampliação. É papel
construa suas preferências e passe a ler básico da escola, ensinar a ler e a escrever.

786
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Porém, ler e escrever como interlocução sig- REFERÊNCIAS


nifica a apropriação e produção de uma lin-
guagem na qual o sujeito possa estabelecer AROEIRA, M. L. C.; SOARES, M. I.; MENDES,
pontes com outros, dialogando e produz- R. E. Didática de Pré-Escola: Vida criança:
indo sentido. Ninguém nasce gostando de Brincar e aprender. São Paulo: FTD, 1996.
ler. O ser humano é educado para determi-
nados hábitos e se identifica com determi- BAMBERGER, R. Como incentivar o hábi-
nadas necessidades que irá descobrindo no to de leitura. 7ª ed. São Paulo: Ática, 2006.
decorrer de sua existência. Nesse sentido, as
famílias precisam investir na leitura, estimu- BARONE, L. M. C. De ler o desejo ao
lando seus filhos a lerem o máximo possível. desejo de ler. São Paulo: Vozes, 1993.
Assim, conclui-se que é necessário que haja
por parte dos profissionais de educação, bem BRASIL. Ministério da Educação. Direto-
como das famílias uma preocupação com o ria do Departamento de Políticas de Ed-
incentivo da leitura desde a mais tenra idade. ucação Infantil e Ensino Fundamental in:
Ensino Fundamental de nove anos: Ori-
entações para a inclusão da criança de
seis anos de idade. Brasília: FNDE, 2006.

______. Ministério da Educação. Sec-


retaria de Educação Básica. Pró Letra-
mento: Programa de Formação Contin-
uada de Professores dos Anos/ Séries
Iniciais do Ensino Fundamental in: Alfabet-
ização e Linguagem. Brasília: MEC/SEB, 2007.

CABRAL, M. S. A criança e a lit-


eratura: as amarras de quem está
começando. Dissertação de mestrado
NILZA LOPIS NUNES (Departamento de Educação). Pontifícia Uni-
versidade Católica - PUC. Rio de Janeiro, 2005.
Graduada em Pedagogia pela Campos Salles
(1985), licenciada em Artes Visuais pela Fac- CAHN, R. Um enfoque psicanalítico dos
uldade Metropolitana de Santos (2014), distúrbios da língua escrita. In: AJURIAGUER-
Pós-Graduada em Gestão Escolar pela Facul- RA, J. de (org.) A dislexia em questão.
dade de Conchas (2016). Professora de Edu- Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1984.
cação Infantil aposentada pelo Estado.
CARVALHO, M. Alfabetizar e letrar:
um diálogo entre a teoria e a práti-
ca. 2ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.

COELHO, N. N. Literatura Infantil: teoria,


análise, didática. São Paulo: Moderna, 2001.

787
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

elada na experiência psicanalítica. In: O


CIAMPA, A. C. A Estória do Severino e a sujeito, o corpo e a letra. Lisboa, 1977.
História da Severina – Um ensaio da Psicolo-
gia Social. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1997. MACHADO, J. A leitura e a escri-
ta como prazer pessoal e como proble-
COSTA, M. L. A. da. A inteligência an- ma social. 1ª ed. Criciúma: UNESC, 2004.
corada no movimento do desejo. In:
MARTINS, M. H. O que é leitura.
DOXA (Revista Paulista da Psicologia e 18ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.
Educação). São Paulo, 1, (3), set. 1995.
______. Piaget e a intervenção psi- NUNES, I.; PEREIRA, M. P.; SANTOS, M.
copedagógica. São Paulo: Olho d’Agua, 1997. S. V.; ROCHA, J. M. R. A importância do in-
centivo à leitura na visão dos professores
CUNHA, M. A. A. Literatura Infantil: Te- da Escola Walt Disney. Revista Eletrônica da
oria e Prática. São Paulo: Ática, 2004. Faculdade de Alta Floresta, v. 2, n. 2, 2012.

DE PAULA, E.; SILVEIRA, J. L. G. A im- OLIVEIRA, M. A. de. Leitura Prazer - Inter-


portância da leitura na educação in- ação participativa da criança com a Literatura
fantil e séries iniciais como instrumen- Infantil na escola. São Paulo: Paulinas, 2002.
to de informação, aprendizagem e lazer.
PERROTTI, E. Leitores, ledores e outros af-
PLAC/ SL028.doc>. Acesso em: 12 jul. 2019. ins (apontamentos sobre a formação do
FERREIRO, E.; TEBEROSKY A. leitor). 2ª ed. Rio de Janeiro: Argus, 2005.
A psicogênese da Língua Escri-
ta. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. PICHON-RIVIÈRE, E. Teoria do Víncu-
lo. São Paulo: Martins Fontes, 1982.
FREIRE, P. A importância do ato de ler:
em três artigos que se complemen- SENA, E. C. T. A Aquisição da Linguagem
tam. 48ª ed. São Paulo: Cortez, 2006. Oral e Escrita na Educação Infantil: uma
relação dinâmica entre teoria e prática;
FREUD, S. Inibições, Sintomas e An-
siedade. Obras psicológicas comple-
tas. 1ª ed. Rio de Janeiro: Imago, 1976. SILVA, D. D. A importância da leitura nas
séries iniciais. Disponível em: <http://
GARCIA ROSA, L. A. Freud e o incon- blogwilsonleite.blogspot.com/2009/
sciente. Rio de Janeiro: Zahar, 1987.
SILVA, E. T. da. Leitura & Realidade Brasileira.
GOULART, E. B. H. A importância da leitura e 5ª ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2004.
o incentivo ao hábito de ler. Criciúma: Mono- SOLÉ, I. Estratégias de Leitura. 6ª
grafia (Educação), UNESC, Criciúma, 2006. ed. Porto Alegre, ArtMed, 1998.

LACAN, J. O estádio do espelho como for-


mador da função do eu como nos é rev-

788
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INCLUSÃO DA CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN NA


ESCOLA REGULAR
RESUMO: Este trabalho tem o intuito de conhecer e discutir o processo de inclusão de
uma criança com Síndrome de Down na escola regular, devido a questão para diferenciar
da arcaica prática da integração, que atualmente desafia os sistemas sociais comuns a re-
alizar mudanças fundamentais em seus procedimentos e estruturas. Atualmente, depois de
muitas conquistas a inclusão social é, um processo que vem contribuindo para a construção
de um novo tipo de sociedade através de muitas transformações, seja nos ambientes físi-
cos, na mentalidade das pessoas e do próprio que possui Necessidades Especiais. O estilo
de vida independente compreende movimento, filosofia, programas, processos fundamen-
tais para que a inclusão ocorra com as pessoas com Deficiência terão maior participação
de qualidade na sociedade, tanto na condição de beneficiários dos bens e serviços que
ela dispõe, como também na de contribuintes ativos no desenvolvimento social, econômi-
co, cultural e política da nação. Através da pesquisa bibliográfica permitiu traçar um
quadro visível das questões que norteiam o processo de Inserção do que possui Síndrome
de Down na escola, inclusive nos induzindo a conhecer de forma minuciosa o caminho.

Palavras-chave: Síndrome de Down; inclusão; escola regular.

789
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO criminatórios de alunos, pais e demais atores


que circundam no ambiente da escola, até
Ao iniciar este trabalho de pesquisa qualita- a qualificação do professor que certamente
tiva, o tema que foi escolhido foi para ampliar influenciará no processo de aquisição do
meu conhecimento e obter um olhar mais crítico saber dos sujeitos com Síndrome de Down.
em relação ao acesso à escola para crianças que
possuem síndrome de down, além de observar e HISTÓRICO E CONCEITO DA
analisar que a contribuição é consideravelmente SÍNDROME DE DOWN
para o processo de desenvolvimento humano,
também para observar e concluir sobre as nor- Um breve relato sobre a história da Sín-
mas e regras que são definidas pelo grupo so- drome de Down, onde começa em meados
ciocultural. Com isso a metodologia que pude de 1930, onde alguns médicos suspeitavam
aplicar nesta pesquisa de nível bibliográfico, foi que a síndrome de down poderia ser o resul-
da proposta colocada através da Declaração de tado de um problema cromossômico. Embora
Salamanca de 1994, que garante a inclusão na esses médicos suspeitaram com as técnicas
escola regular ao PNEE portador de necessi- que possuíam naquela época, não eram aper-
dades educativas especiais em relação aos que feiçoadas a ponto de comprovar tal teoria.
possuem Síndrome de Down, de modo que es-
ses indivíduos, apesar das diferenças físicas que Portanto, em meados de 1956, que tor-
são manifestadas, terão seu direito é garantido. nou-se possível com métodos laboratoriais se
tornaram acessíveis, permitiram que os cien-
O objetivo no mesmo é de estudar o contexto tistas estudassem a fundo cromossomos para
de inserção na escola regular ao aluno que pos- que a suspeita de 1930, fosse descoberta e
sui Síndrome de Down é relevante, pois ele traz concretizada, pois ao invés dos presumíveis
marcado no seu corpo o resultado de fatores bi- 48 cromossomos, a pessoa com síndrome de
ológicos que certamente é alvo de olhares difer- down, teria 46 em cada célula humana normal.
enciados na sala de aula, e no momento de luta
em relação à inclusão como medida favorável ao Depois de alguns anos mais precisamente
exercício da tolerância em relação a estas pes- três anos mais tarde, Lejeune observou que
soas diferentes, o tema em questão passa a ser as crianças com a síndrome de down possuem
objeto de amplas repercussões no âmbito ed- um cromossomo a mais do que o normal, com
ucacional. Na justificativa do trabalho, deve-se três cromossomos 21, o que levou ao termo
compreender que a temática proposta para o trissomia. Com as pesquisas e vários levanta-
estudo oferece amplas oportunidades de desen- mentos, a Síndrome de Down passou então
volver reflexões no sentido de entender o quadro a ser descoberta e seu diagnóstico é de que
diferenciado que os portadores da Síndrome de ocorre em todas as raças e continentes, acon-
Down enfrentam na escola regular, onde ob- tece numa proporção de 1 (um) caso para cada
stáculos estão presentes desde os olhares dis- 600 (seiscentos) nascimentos, e ao contrário

790
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

do que se imagina é a mais comum e mais con- a síndrome são como exemplos, as cardiopa-
hecida síndrome cromossômica já existente. tias, a prega palmar única, a pessoa possui
baixa estatura, atresia duodenal, o seu fêmur
Esta Síndrome descoberta por cientistas e úmero são reduzidos, a bexiga de quem
foi o primeiro distúrbio cromossômico recon- possui Síndrome de Down é pequena e hip-
hecido no homem. Mesmo com as pesquisas erecogênica, ventriculomegalia cerebral, hi-
realizadas ainda não se sabe pois muitos rela- dronefrose e dismorfismo da face e ombros.
tos sobre os primeiros casos de Síndrome de
Down visto que, antigamente havia poucas re- É também colocado outras alterações como
vistas médicas, e o número de pesquisadores braquicefalia, fissuras palpebrais, hipoplasia da
que se interessava por problemas genéticos e região mediana da face, diâmetro fronto-oc-
deficiência mental era muito pequeno. Tam- cipital reduzido, pescoço curto, língua protu-
bém outro fator que dificultava a identificação sa e hipotônica e distância aumentada entre
da Síndrome de Down no século XIX, eram o primeiro, o segundo dedo dos pés, crânio
os diagnósticos dos médicos sobre infecções achatado, mais largo e comprido; narinas nor-
e a desnutrição, pois estas doenças de uma malmente arrebitadas por falta de desenvolvi-
certa forma, inibiam a pesquisa da Síndrome mentos dos ossos nasais; quinto dedo da mão
de Down, pois assim problemas genéti- muito curto, curvado para dentro e formado
cos e de malformações, eram escondidas. com apenas uma articulação; mãos curtas;
ouvido simplificado; lóbulo auricular aderente
Excepcionalmente, importante ressaltar e coração anormal. Em relação as alterações
que, a necessidade de levantar a possibili- fisiológicas podemos verificar algumas situ-
dade de diagnóstico de Síndrome de Down, ações visíveis como uma imensa sonolência,
a uma criança recém nascida, o diagnóstico uma dificuldade grande em despertar, obser-
precisa ser completo, antes e depois do nasci- va-se que possuem dificuldades de realizar
mento analisando que tais sinais não são es- sucção e deglutição, porém este quadro pode
pecíficos e cada um deles, pois isoladamente se alterar quando a maturidade for surgindo.
pode estar presente em qualquer indivíduo.
Ainda nas alterações fisiológicas também
CARACTERÍSTICAS DA SÍN- se manifestam através do retardo no desa-
DROME DE DOWN parecimento de alguns reflexos como o de
preensão, de marcha e de Moro. Este atraso
Conforme pesquisas realizadas segun- no desaparecimento desses reflexos é pa-
do SCHWARTZMAN (1999), a Síndrome de tológico e resulta no atraso das aquisições
Down é por este pesquisador marcada por motoras e cognitivas deste período, já que
muitas alterações que são devidamente as- muitas atividades dependem da desta inibição
sociadas, pois são observados em muitos reflexa para se desenvolverem como o reflexo
casos, ou seja, principais alterações orgâni- de moro, que é substituído pela marcha vol-
cas, do nosso organismo que acompanham untária.Portanto, uma criança com Síndrome
791
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

de Down possui em seu processo de desen- A ESTIMULAÇÃO DA CRIANÇA


volvimento e maturação do sistema nervo- EM IDADE ESCOLAR
so muita complexidade, pois no estágio fetal
já apresenta algum tipo de deformação no Crianças com Síndrome de Down precis-
desenvolvimento do sistema nervoso central. am de uma vida normal, apenas com cuida-
dos e algumas acomodações, pois elas
Estudiosos apontam que as crianças com precisam se comunicar, andar e se integrar
Síndrome de Down, até os cinco anos de com outras pessoas normalmente, a social-
idade, encontram-se com o cérebro anatomi- ização faz parte do seu desenvolvimento,
camente similar ao de crianças normais, pois assim como todos na sociedade em que
acabam apresentando apenas alterações de vivemos, elas poderão frequentar uma es-
peso, que nestas crianças encontra-se inferi- cola maternal, onde a presença de crianças
or a faixa de normalidade, que ocorre devido normais será de grande benefício, auxilia-
uma desaceleração do crescimento encefáli- ndo no seu desenvolvimento, e também
co iniciado por volta dos três meses de idade, poderá frequentar uma escola de crianças
ou seja, a desaceleração é encontrada na com necessidades especiais. Portanto, é
maioria das vezes no sexo feminino, além de importante que a frequência às escolas co-
encontrar também nas meninas frequentes muns não será benéfica somente para as
alterações cardíacas e gastrointestinais. crianças com Síndrome de Down mas tam-
bém às crianças normais, que se habituaram
De acordo com SCHWARTZMAN, (1999, a conviver com crianças com deficiência
p.47), relata que há algumas evidências de de desenvolvimento e a compreendê-las.
que durante o último trimestre de gestação
existe uma lentificação no processo da A estimulação para as crianças é mui-
neurogênese, ou seja, mudanças de cresci- to importante, e seus professores podem
mentos e estruturação das redes neurais desfazer os preconceitos das famílias das
após nascimento são mais evidentes e es- pessoas, dos funcionários da comunidade,
tas se acentuam com o passar do tempo. E pois é necessário conversar e mostrar a to-
conclui-se que diversas alterações estru- dos que um trabalho livre e criativo não
turais e funcionais do sistema nervoso da é prejudicado pela presença de nenhu-
criança com síndrome de down, acabam ma criança especial, ao contrário faz com
as definindo onde algumas de suas carac- que as crianças passem a ter maior cuida-
terísticas mais marcantes são as de distúr- dos que jamais poderiam ter, ao contrário
bios de aprendizagem e desenvolvimento. de muitos que dizem que a inclusão não é
para todos, está provado que nas escolas
as crianças acabam tomando as crianças
inclusivas para si, tomam conta, cuid-

792
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

am como ninguém, se preocupam com seu gagem que infelizmente não acontecem na
bem-estar, isso é uma estimulação muito maioria das escolas públicas de nossos pais.
enriquecedora faz bem para ambas as par-
tes. Para Vygotsky (1987), autor relata que: A Lei é para todos, a Declaração de Sal-
sempre e em todas as circunstâncias o amanca (1994) tem como diretriz que:
desenvolvimento agravado por um defeito as escolas regulares com orientação inclu-
constitui um processo orgânico e psicológi- siva constituem os meios mais eficazes de
co de criação e recriação da personalidade combater atitudes discriminatórias e que
da criança, sobre a base de reorganização alunos com necessidades educacionais espe-
de todas as funções de adaptação de no- ciais devem ter acesso à escola regular”. Na
vos processos que são gerados pelo defeito Convenção sobre os Direitos das Pessoas
e pela abertura de novos caminhos para o com Deficiência (2006), que não versa apenas
desenvolvimento (VYGOTSKY, 1998, P.16). sobre educação e sim sobre todos os direitos
humanos, é apresentado um novo conceito de
No Brasil, infelizmente ainda estamos em pessoa com deficiência. (SALAMANCA, 1994)
uma época que temos poucas escolas inclu-
sivas, normalmente nem existem em cidades INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS
pequenas, dificultando a socialização a comu- COM AS CRIANÇAS QUE POS-
nicação o desempenho e a estimulação para SUEM SÍNDROME DE DOWN
tais necessidades. É notório que em grandes
As intervenções pedagógicas com crianças
cidades os recursos escolares são maiores,
que possuem Síndrome de Down são diver-
bem estruturados, mas apesar de ainda in-
sas, pois as crianças possuem muitas debili-
suficientes, todos conseguem de uma forma
dades e limitações, onde dificulta o trabalho
ou de outra alavancar o trabalho de inclusão.
pedagógico porém nada é impossível diante
de profissões que se faz por amor e dedi-
Infelizmente, essa escassez de escolas es-
cação, deve-se primordialmente respeitar o
peciais torna um pouco mais lento e difícil o
ritmo de cada criança e propiciar-lhe estim-
aprendizado das crianças com de Síndrome
ulação adequada para cada uma delas pois
de Down, pois no momento que se inicia o
o desenvolvimento de suas habilidades são
ensino da escrita, da leitura e do cálculo,
diferentes umas das outras, cada criança pos-
ou seja, o Curso de Alfabetização a grande
sui sua peculiaridade, cada criança possui
maioria dessas crianças tem necessidade
a |Síndrome de Down com graus menos ou
de um aprendizado muito mais lento e indi-
mais elevados do que a outra, por este mo-
vidualizado, que deve ser acompanhado em
tivo é preciso implantar, programas que de-
classes menores, nas quais se pode suprir a
vem ser implementados de acordo com as
dificuldade de atenção e aplicar tarefas onde
necessidades específicas de cada uma delas.
não haja competição. O professor precisa ao
receber uma criança especial, ter uma ba-

793
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Segundo Mills (apud SCHWARTZMAN, 1999, nando crítica. [...] A prática docente crítica,
p. 233) a educação da criança é uma atividade implicante do pensar certo, envolve o movi-
complexa, pois exige adaptações de ordem mento dinâmico, dialético, entre o fazer e o
curricular que requerem cuidadoso acompan- pensar sobre o fazer (FREIRE, 2005 p. 38).
hamento dos educadores e pais, para Mills fre-
quentar a escola permitirá à criança especial Contudo, acredita-se que o ensino para
adquirir, progressivamente, conhecimentos, crianças especiais deve ocorrer de forma
cada vez mais complexos que serão exigidos sistemática e organizada, seguindo passos
da sociedade e cujas bases são indispensáveis previamente estabelecidos, o ensino não
para a formação de qualquer indivíduo. deve ser teórico e metódico é preciso ter in-
ovações, o professor precisa mediar e inter-
De acordo com a psicogênese, cada pes- vir quando necessário, o ensino deve ocor-
soa tem sua especificidade e é considerado rer de forma agradável e prazerosa, para
como instrumento essencial à interação e que as crianças tenha o despertar e possa
ação do meio, pois segundo Piaget (1975), o se interessar por atividades colocadas a ela.
conhecimento não procede, em suas origens,
nem de um sujeito consciente de si mesmo, Nestes casos normalmente as brincadeiras
nem de objetos já constituídos e que a ele lúdicas, além de atrair essas crianças ajudam
se imponham. O conhecimento resulta da e facilitam muito na fase da primeira infância,
interação entre os dois. Portanto é impor- ou seja, é um recurso muito utilizado, per-
tante ressaltar que nas Unidades Escolares, mitindo o desenvolvimento global da criança
podemos considerar que é preciso adotar através da estimulação de diferentes áreas do
uma proposta curricular adequada a reali- conhecimento. Segundo Alves (2006), afir-
dade, onde possa se basear na interação su- ma que, “O desafio para esse profissional é o
jeito onde possa o envolvê-lo desde o início. desenvolvimento de “[...] estratégias de apren-
dizagem, centradas em um novo saber ped-
De acordo com Freire (2005), a reflexão é o agógico que favoreça a construção de conhe-
movimento realizado entre o fazer e o pen- cimentos pelos alunos” (ALVES, 2006, p. 13).
sar, entre o pensar e o fazer, ou seja, no “pen-
sar para o fazer” e no “pensar sobre o fazer”. Para Paulo Freire (2005), diz:

Nada que diga a respeito ao ser humano, à possibilidade


A prática docente crítica, implicante do
de seu aperfeiçoamento físico e moral, de sua inteligência
pensar certo, envolve o movimento dinâmi- sendo produzidos e desafiados, os obstáculos o seu cresci-
co, dialético, entre o fazer e o pensar sobre mento, o que possa fazer em favor da boniteza do mun-
do como de seu enfrentamento. Não importa com que
o fazer. [...] O que se precisa é possibilitar, faixa etária o professor trabalhe, esse trabalho é realizado
que, voltando-se sobre si mesma, através da com gente miúda, jovem ou adulta, mas gente em perma-
nente processo de busca”. (PAULO FREIRE, 2005, p, 53).
reflexão sobre a prática, a curiosidade in-
gênua, percebendo-se como tal, se vá tor-

794
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Por isso conhecimentos prévios de cada romper com este modelo, não rotulando seus
criança devem ocorrer de forma organiza- alunos, não se baseando em diagnósticos e sim
da e sistemática, onde possam seguir seus no que está sendo observado, aplicando aval-
passos lentamente, dentro de seu contex- iações contínuas, as crianças com Síndrome
to, que podem ser estabelecidos de manei- de Down, podem ser avaliadas igualmente as
ra lúdica e divertida, permitindo um con- demais crianças, em todos os momentos. Fe-
junto de experiências integradas que lhe lizmente, surgiu a Lei De Diretrizes e Bases,
permita relacionar-se no contexto social e
familiar. Portanto, a criança que possui Sín- Carta de Salamanca, esta Lei, veio para as es-
drome de Down deve obter um ensino for- colas regulares para que seus filhos frequen-
ma gradual, o tempo destas crianças não é tem estas salas cumprindo a legislação vigente
o mesmo das outras, elas não conseguem para que haja necessidade de desenvolvimen-
absorver grande número de informações. to social, criando um compromisso de oferecer
o máximo de apoio que um estudante precisa
CONSIDERAÇÕES FINAIS para se obter êxito, compreendendo que es-
tes, tenham as mesmas metas educacionais
Temos consciência de que as crianças que para que juntos aprendam em classes comuns.
possuem Síndrome de Down possui a mesma
necessidade básica nas escolas que todas as
outras inclusões, isso inclui não somente o
aspecto de sobrevivência, mas também vári-
os outros fatores. A escola inclusiva que foi
o tema central desse artigo juntamente com
a criança que possui Síndrome de Down,
vem para mostrar os direitos que as crianças
possuem com a educação, a estimulação
que elas precisam ter, a relação pedagógica PATRICIA AMARAL CARVALHO
pois os excepcionais devem ser ensinados CAVERSAN
no mesmo contexto curricular e instrucional.
Graduação em Pedagogia pela Universidade Ibi-
Quando a escola não possuir materiais ped- rapuera (1995); Professor de Educação Infantil
agógicos comuns podem ser adaptados se e Ensino Fundamental I na EMEI Cora Coralina.
precisar, os mesmos materiais que das outras
crianças, ou seja, o aprendizado da criança
com Síndrome de Down, pode ser fundamen-
tado em atividades diversificadas. O profes-
sor possui um papel muito importante dentro
e fora da sala de aula, ele deverá aos poucos

795
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS
ALVES, Denise de Oliveira. Sala de re-
cursos multifuncionais: espaços para
atendimento educacional especializado.

Brasília, DF: Ministério da Educação: Sec-


retaria de Educação Especial, 2006. P.13.

BRASIL, Declaração de Salamanca e Linha de


Ação sobre necessidades educativas especiais
- Ministério da Justiça/Secretaria Nacional
de Direito Humanos, 2 ed., Brasília, 1997 a.

BRASIL, Ministério da Educação e do


Desporto. Secretaria de Educação Fun-
damental. Parâmetros curriculares na-
cionais v. 6: Arte. Brasília, 1997b.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Edi-


tora Paz e Terra 31o Edição, São Paulo 2005.

PIAGET, Jean. A Construção do Real na Criança.


Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da


mente: o desenvolvimento dos pro-
cessos psicológicos superiores. São P

796
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

A MEDITAÇÃO COMO NOSSA ALIADA PARA O BEM ESTAR

RESUMO: O presente trabalho busca demonstrar a partir da prática meditação experiências


vividas o conhecimento adquirido e satisfatório, para o nosso bem estar físico e emocional.
Pretendo analisar e identificar a resistência e as dúvidas que as pessoas ainda têm em relação
à prática da meditação para o seu bem estar físico, mental e social. Neste momento é somente
um trabalho de pesquisa para alguns esclarecimentos e despertar a curiosidade do leitor para
se aprofundar no assunto. E ainda, que os professores possam refletir sobre o tema para incluir
a meditação na sua rotina.

Palavras-chave: Educação, Ensino, Meditação, Saúde, Emocional, Neurociências, Neuropsi-


copedagogia.

797
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO 2. O hipocampo esquerdo, que aux-


ilia na aprendizagem, cognição,
Este artigo sugere algumas práticas de medi- memória e regulação emocional.
tação, explicando brevemente cada uma delas.
Meditar é pessoal e cada um pode seguir o seu 3. A junção temporo parietal, ou TPJ,
que está associado com a tomada de
próprio modelo. A melhor meditação é aquela que
perspectiva, empatia e compaixão.
funciona para você, no estágio atual da sua vida.
Este tema foi escolhido por existir dezenas de for- 4. Uma área da haste do cére-
mas de meditar, por isso, há uma confusão do que bro chamada de Pons, onde uma
ela realmente possa ser. O que importa é como grande quantidade de neurotrans-
nos identificamos com ela. Esta ideia está sendo missores reguladoras são produzidos.
levantada porque pode praticar a mediação e o
A amígdala, a parte de lutar ou fugir do
debate deste assunto. Isto é benéfico, pois melho-
cérebro que é responsável pela a ansie-
ra nossa saúde, bem estar, memória, criatividade, dade, medo e estresse em geral. Essa área
encontrar a paz, cura emocional, terapia e outros. diminuiu de tamanho no grupo que passou
pelo programa de redução de stresse ba-
A MEDITAÇÃO MUDA O CÉRE- seado em meditação de atenção plena.A
BRO mudança na amígdala também se correl-
acionou com uma redução nos níveis de
stress. (Fonte: Sara Lazar, 13/04/2018,
em entrevista para revista virtual lojong)

O encontro da meditação com a


neurociência
Já é possível a documentação por exame
de imagens, a neuroimagem funcional, o
registro dos benefício da meditação, nos
processo biológicos essenciais à nossa
saúde física e mental, desde que seja prat-
icada regularmente, porque na meditação
nós treinamos nossas funções mentais,
com isso, tem sido recomendada essa
Fonte: Meditadores experientes vs iniciantes. prática para pessoas com diagnósticos
psiquiátricos, pessoas que sofrem com
hipertensão, reduzir os níveis de cortisol,
desenvolver o foco de atenção, melhora o
1. A diferença principal, encontramos no cin-
estresse e a insônia, propiciando bem estar
gulado posterior, que está envolvido em
e qualidade de vida. Assim como, quando
divagações mentais, e auto relevância.
alguém estuda e se exercita com o piano

798
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

fortalecendo os circuitos neuronais, o trein- A camada superficial do cérebro, o córtex


amento da meditação também contribui na pré-frontal, responsável pela atenção, lógica e
plasticidade cerebral para mudanças pos- raciocínio; a ínsula, o núcleo duro das emoções,
itivas no estado de espírito e a vida emo- começam a diminuir ao avançar da idade. Ex-
cional. A meditação é compreendida como
periências mostram que a meditação funciona
um caminho para alcançar nossos níveis de
consciência. Pesquisadores estão estudan- como antídoto contra esse envelhecimento,
do qual a melhor forma de meditar, deixar prevenção da depressão e demências, porque
a mente viajar sem destino ou a meditação os praticantes apresentam ter mais neurônios.
guiada. Segundo esses estudos a meditação
não direcionada tem se mostrado mais eficaz, Você se torna um único ser com Deus ou com o Universo”,
disse Newberg. Trata-se, na visão do cientista, um estado
pois abre espaços que processa memórias e
puro de autotranscendência.Essa pode ser uma das expli-
emoções, que a guiada não consegue atingir: cações para a fama de Matthieu Ricard como O Homem
Mais Feliz do Mundo – a meditação é, essencialmente, um
Meditação como aliada para relaxar barato sem drogas ou efeitos colaterais. (SANTI, 2017).
o cérebro
Ganhos que os praticantes podem
Além de nos fazer relaxar, a medi- ter ao meditar
tação provoca algumas alterações físi-
cas, como aumentar a massa cinzenta de
determinadas regiões, por exemplo em
áreas corticais, relacionadas à atenção
e ao raciocínio, aumentar a atividade no
lobo frontal esquerdo. Essas alterações
faz com que a pessoa se sinta mais feliz.
Quando meditamos, é possível perceber
uma quantidade anormal de ondas gama
em um aparelho de ressonância magnéti-
ca ou tomografia computadorizada (SPECT,
por emissão de fóton único), e também os-
cilações eletromagnéticas, acredita-se que
essas ondas estejam ligadas à memória,
atenção, aprendizado e percepção da con-
sciência, sendo útil para nosso contentamen-
to individual, emanando alegria e compaix-
ão. Para perceber resultado de princípios,
ajudar estranhos, desejos e bons pensamen-
tos é necessário muito treino, perseverança,
paciência, foco e concentração. Assim como
os profissionais da música ao sincronizar
mente, voz e dedos ao cantar e tocar violão.

Além da agilidade mental

799
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Por que meditar? E formas de


Girificação: Ressonâncias Magnéticas meditar
mostram que a meditação aumenta a ve-
locidade de processamento das infor- • Ter um mantra é opcional, man sig-
mações, e isso acontece porque aumenta nifica mente e tra significa veículo,
a girificação, o processo pelo qual o cór- assim, mantra é um veículo da men-
tex cria fendas estreitas e dobras, chama- te, ele pode ser usado como uma
do sulcos e giros. A formação de mais ferramenta.
sulcos e giros otimiza o processamento
neural e está relacionada à inteligência. • Limpar os pensamentos, procurando
estar atentos e presente para o que
Função Cerebral: A meditação melho- possa surgir em seus pensamentos.
ra todas as funções cerebrais, através da
sincronização dos hemisférios esquerdo • Sentar-se de forma confortável. De
e direito, e do aumento do equilíbrio en- preferência sentado.
tre os padrões de ondas alfa, theta e delta.
• É comum cochilar.
Foco: Melhora o foco pois au-
menta a espessura do córtex nas • Procure a maneira de aprender que
regiões responsáveis pela atenção. mais adequa a você.

Humor: Aumenta os níveis de dopamina e • É opcional definir um propósito.


serotonina estimulando regiões do cérebro
que estão associadas à alegria e positividade. • Traz benefícios à saúde.
Redução do Estresse: Meditação re-
duz o estresse e a ansiedade regulando • Pode alterar o cérebro.
a produção de cortisol e adrenalina, cri-
ando um estado de relaxamento pro- • É um exercício, precisa treino para
fundo no qual nossa respiração, pressão ver os resultados.
arterial e metabolismo desacelera. Pode ser feita em qualquer lugar.

Cognição: Intensifica a função cogni- Tipos de meditação


tiva e a habilidade de manter o foco at-
ravés do aumento da massa cinzenta, Para praticar a meditação existem várias
volume e irrigação sanguínea. cérebro. formas, que vai depender dos seus ob-
(https://www.mundomindfulness.com. jetivos. Atenção Plena, Mindfulness ou
br/single-post/2016/10/04/6-incriv- Consciência Plena: surgiu em 1979, sem
eis-efeitos-da-meditação-no-cerebro). referência espiritual. Tem como foco o
próprio corpo, sensações e respiração,

800
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ajuda reduzir os níveis de estresse. Transcen- to estressantes. Foco agora na rotina da esco-
dental: criado em 1950 tem como objetivo la. Há muitas preocupações relacionadas com
encontrar o mais profundo eu, ativa os reser- a pressão dos colegas, dos educadores, da es-
vatórios de energia, criatividade e inteligência. cola, da família, com as futuras competições,
decisões ou avaliações. A meditação auxilia
Não envolve nenhuma crença ou religião. em deixar o aluno mais calmo, feliz, relaxado,
Para esta é necessário fazer um curso com atento. Contribui na assimilação do conheci-
profissional. Vipassana: criada há mais de 2 mento, ao aumentar o nível de concentração,
mil anos, por Buda. A intenção é mostrar ao criatividade, interação, reduzindo o estres-
ser humano as coisas como verdadeiramente se, os preparando para um futuro melhor.
são – as relações, os objetos, as sensações,
os sentimentos; por meio da auto-obser- Com tamanha responsabilidade que os pro-
vação. Deve-se manter com a mente equili- fessores têm para este desenvolvimento, é im-
brada, livre de amarguras e impurezas. Zazen: portante que os mesmos também pratiquem
prática muito comum nos países asiáticos. a meditação, pois ajudará deixá-los mais se-
É necessário estar sentado em uma das três guros e calmos. Assim, amplia a mediação na
posições proposta e manter-se imóvel, manter interação com os alunos para ajudar superar o
a mente livre de pensamentos e focar na respi- estresse e potencializar o aprendizado. Propi-
ração. Qigong: surgiu na China há milhares de ciando um bem estar psicológico para ambos.
anos. Objetivo é equilibrar o Chi, energia vital,
focando no dantian, ponto localizado um pou- E ainda, considerando que os alunos imitam
co abaixo do umbigo. Acem: desenvolvida em seu professores, então se o professor se man-
1966, na Noruega, inspirada na Transcenden- ter calmo, assim será seus alunos. É só man-
tal. Deve-se repetir um som, que não possui ter-se centrado em si mesmo em alguns mo-
um significado. Sudarshan Kriya: criado por Sri mentos do dia, e ter paciência, ter a certeza de
Sri Ravi Shankar. Tem a respiração como prin- que a matéria que preparou seja apropriada
cipal fonte de energia do ser humano, faz-se para si e para os alunos, que tudo dará certo.
com respiração em ritmos e ações controladas.
Yoga (ou Ioga): é um dos tipos mais conheci- Deve-se fazer a meditação regularmente
dos. Foi criado há mais de 5 mil anos. Práti- para aumentar a energia, respirações profun-
ca que combina diversas posições corporais das por várias vezes já é um bom começo. Essa
com movimentos de inspiração e expiração. prática é um suporte para suportar as tarefas
rotineiras, e um benefício para a saúde men-
CONSIDERAÇÕES FINAIS tal, tanto de alunos e professores, pois ajuda
melhorar a atenção, os níveis de satisfação, o
Como professora, educadora e mãe posso afir- equilíbrio afetivo e cognitivo. Há um ditado do
mar que as experiências nos dias de hoje, seja monge budista Dalai Lama que diz “Se todas
para crianças, adolescente ou adultos são mui-

801
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

as crianças de 8 anos aprenderem meditação, SIMÕES, ROBERTO SERAFIM; DA-


nós eliminaremos a violência do mundo dentro NUCALOV, MARCELLO ARIAS
de uma geração”. A Sociedade Internacional DIAS. Neurofisiologia da Medi-
de Meditação, recomenda que é uma neces- tação. Ed. PHORTE. Brasil, 2009.
sidade incluir a meditação na rotina escolar,
mas ainda há resistência por parte das Institu- STATON, WILL. Revolução da Ed-
ições. Então deixo o desafio: Que tal começar a ucação. Ed. BookBaby, 2015.
prática da meditação hoje, com nós mesmos?
https://www.mundomindfulness.com.
br/single-post/2016/10/04/6-incriv-
e i s - e fe i t o s - d a - m e d i t a c a o - n o - ce re -
bro. Acesso em 03/04/2019.

h t t p s : // s u p e r . a b r i l . c o m . b r / c i e n -
cia/o-que-acontece-no-cerebro-duran-
te-a-meditacao/. Acesso em 03/04/2019.

h t t p s : // w w w . d e l d e b b i o . c o m .
br/meditacao-e-neurocien-
cia/. Acesso em 05/04/2019.

https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/
Patricia Angelica Ferreira Neurociencia/noticia/2014/05/medita-
cao-livre-e-mais-efetiva-dizem-neuroci-
Professora de Artes Cênicas na Rede da entistas.html. Acesso em 05/04/2019.
Prefeitura de Guarulhos, e Professora de
Educação Infantil pela Prefeitura de São h t t p : // w w w . n e u r o t o p i c o s . c o m .
Paulo. Artigo apresentado como requisi-
to parcial para aprovação do Trabalho de br/a-meditacao-na-educa-
Conclusão do Curso de Especialização em cao. Acesso em 22/04/2019.
Neuropsicopedagogia.
h t t p s : // l o j o n g . c o m . b r/a r t i g o /n e u -
rocientista-de-harvard-a-medita-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS cao-altera-fisicamente-seu-cere-
bro. Acesso em 22/04/2019.
MATTHIEU RICARD; WOLF SINGER. Cére-
bro e Meditação: Diálogos entre o Budismo
https://budismopetropolis.wordpress.
e a Neurociência. Ed. Alaúde. Brasil, 2018.
com/2018/05/27/neurociencia-e-med-
REVEL, JEAN-FRANÇOIS e RI- itacao. Acesso em 23/04/2019.
CARD, MATTHIEU. O monge e o filó-

802
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

A IMPORTÂNCIA DO MOVIMENTO CORPORAL E DA DANÇA


NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: O movimento corporal e a dança estão presentes em diversos ambientes e seu am-
plo universo de manifestações se configura como um importante aliado na dimensão escolar,
especialmente no campo da Educação Física e da Arte. Contudo, o sistema escolar brasileiro
ainda apresenta lacunas no trabalho com estas formas de expressão, não proporcionando
aos alunos uma vivência com o desenvolvimento do movimento corporal criativo, estético
e social. O presente trabalho tem o intuito de superar preconceitos, definições e conceitu-
ações sobre a cultura corporal e sobre a dança, por intermédio de reflexões bibliográficas
que dão conta de acenar para a importância dessas linguagens como possibilidades de am-
pliação de repertórios de movimentos e de conhecimentos sobre o corpo. A compreensão
da cultura corporal, a percepção do histórico da dança no decorrer do tempo e a valorização
da Educação Física são importantes passos para o auxílio a uma boa formação docente, que
promova e considere essas expressões como elementos educativos e não como mero lazer.

Palavras-chave: Movimento corporal; Dança; Educação Física; Educação Infantil.

803
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO noções sobre o seu corpo? Ela compreende


e conhece o seu funcionamento? Tais infor-
O corpo se expressa de diferentes ma- mações são relevantes para a elaboração
neiras e suas linguagens traduzem a tra- de propostas de trabalho que visem a elab-
jetória de uma história social e cultural. oração de movimentos mais expressivos.
Sabe-se que existem diferentes tipos de As crianças da educação infantil precisam,
movimentos e que há espaços para in- por meio da Educação Física, dos movimen-
ovações sempre que se fizer necessário. tos corporais e da dança, acessar espaços
de cultura que ampliem seu repertório mo-
A Educação Física passou por inúmeras tor e criativo, estimulando a expressão de
transformações no decorrer do tempo e emoções e valorizando a diversidade. Nos
atualmente começa a considerar, no âm- espaços de aprendizagem das escolas de ed-
bito das suas bases teóricas, elementos ucação infantil, é importante a manifestação
que abordam a realidade sociocultur- de práticas pedagógicas que contemplem
al dos alunos. Nessa perspectiva, pre- experiências mais enriquecedoras e signifi-
tende-se contemplar os espaços ped- cativas para o desenvolvimento das crianças.
agógicos com a riqueza da diversidade
cultural, superando assim, as influências As atividades corporais desempenhadas pe-
do currículo tradicional da educação e a los alunos devem ser analisadas mais pontual-
manutenção de práticas excludentes. mente, em nível mais individualizado, para
que as potencialidades sejam trabalhadas e
Segundo CAZÉ (2008), a linguagem do as limitações possam ser superadas. As ativ-
corpo se expande de tal modo que as idades que envolvem o movimento corporal
experiências vividas pelas pessoas ex- nas instituições de educação infantil precis-
pressam um universo cultural e artístico am privilegiar processos de aprendizagem
no qual a dança é uma referência, pois contextualizados e significativos, que envol-
qualifica as potencialidades nas relações vam a socialização grupal, a imaginação, a cri-
humanas. O ato de dançar compreende atividade, por meio de propostas dinâmicas,
o uso do corpo, do movimento, do som inovadoras e comprometidas com a cultura.
e do espaço, numa proposta dinâmi-
ca baseada no fazer e no conhecer. RELAÇÕES ENTRE A EDUCAÇÃO
nguagem universal, que per- FÍSICA, O MOVIMENTO E A CULTU-
passa gerações e se reformu- RA CORPORAL
la independente das tradições.
No decorrer do tempo, as pessoas percor-
Quando a criança ingressa na esco- rem trajetórias que produzem cultura. Grande
la, ela detém alguns conhecimentos e parte das atividades desenvolvidas pela hu-

804
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

manidade comporta saberes de povos, que descobertas e envolvimento que permite


ultrapassam gerações e criam e produzem mais compreensão e participação no mun-
história. A cultura corporal é resultado de do. O ser humano atribui sentido às suas
manifestações culturais globais. Segundo ações e se comunica por intermédio da lin-
DAÓLIO (1995), o corpo sintetiza a cultu- guagem, transmitindo aos outros suas ideias,
ra, quando revela nuances de uma determi- percepções e expectativas. Nesse sentido,
nada sociedade. Nesse sentido, por meio a linguagem corporal se aprimora por meio
do corpo o homem vai caracterizando seus dos gestos, se fazendo compreender e ex-
valores, suas normas e costumes sociais, se pressando significados em diferentes grupos
apropriando e incorporando esses elemen- sociais. A própria vivência cultural proposta
tos. Quando as crianças movimentam seus pelos movimentos e pela dança desenvolvida
corpos, interagem entre si e se comunicam na escola, valoriza a diversidade, amplia con-
com as pessoas e com o mundo ao seu redor hecimentos e permite a evolução histórica
e, nesse processo, muitas vezes simbolizam dos sujeitos, de modo que a compreensão da
algo que precisa ser explorado e não contido. cultura do outro seja respeitada e preservada.

A cultura corporal pode ser compreendida Pode-se dizer que o movimento permite
como o objeto de estudo que abarca os jogos, o autoconhecimento, a ampliação do con-
as danças, as lutas, os exercícios ginásticos, hecimento do ambiente externo e também
os esportes, o malabarismo, a mímica e outros propicia um olhar mais atento sobre o out-
que podem ser identificados como formas de ro. Em relação ao espaço escolar, o trabalho
representação simbólicas de realidades vivi- com essa linguagem pode promover maior
das pelo homem. Durante atividades como domínio sobre o corpo, no intuito de ex-
jogos, brincadeiras, danças, as crianças se plorar cada vez mais os movimentos corpo-
comunicam e expressam em linguagens do rais e ampliar os repertórios pertinentes a
movimento humano. Elas têm a intenção de eles.É essencial que as instituições de edu-
mostrar sensações, emoções, seus desejos e cação infantil elaborem em seus currículos
vontades por intermédio da cultura corpo- propostas mais desafiadoras e significati-
ral. Para BRASILEIRO E MARCASSA (2008), vas com o estímulo aos movimentos corpo-
o trabalho com os movimentos corporais e rais e a dança, ressaltando potencialidades.
com a dança na escola promove um diálogo
com a cultura corporal, desmistificando par- De acordo com o RCNEI (1998) o movi-
adigmas que os remetem apenas a elemen- mento é linguagem extremamente impor-
tos de lazer, de folclore ou de espetáculo. tante para a formação escolar das crianças
na educação infantil, pois ela proporciona o
A cultura do movimento se produz e se re- desenvolvimento de diferentes habilidades e
produz em função da sua relação entre o capacidades. Durante a interação da criança
corpo, a natureza e a cultura, num ciclo de com o ambiente, ela se movimenta e passa

805
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

a controlar o domínio do seu corpo.Segundo É papel docente colaborar para que o alu-
NEIRA E NUNES (2009), a Educação Física no tenha acesso a inúmeras possibilidades
Escolar ultrapassa conceitos simplesmente de exploração corporal, vivenciando a sen-
focados no movimento, pois valoriza a gestu- sibilidade e ultrapassando as barreiras im-
alidade como uma forma de representação postas pela contenção social. A criança, na
cultural que se enriquece com o lúdico, por educação infantil, precisa experimentar sen-
intermédio de jogos, esportes, danças, etc. sações nos espaços nos quais convive, se
movimentando e se expressando livremente.
Nesse repertório, os alunos podem ampliar
sua cultura corporal e passar a revelar seus Nessa mesma perspectiva, LABAN (1990)
sentimentos, ideias e pensamentos, elabo- explica que os movimentos devem incluir todo
rando e aprimorando o uso dos movimen- o corpo e que a dança precisa ser resgatada
tos, gestos e posturas corporais. É possível por meio dos atos espontâneos, levando as
dizer que assuntos como identidade, alteri- pessoas a pensarem em termos de movimen-
dade, diversidade cultural e multiculturalis- to e de busca de suas próprias formas de ex-
mo, também acabam permeando a Educação pressão. NEIRA (2007) defende a ideia de que
Física, baseados em discussões, pesquisas, na Educação Física sejam propostas atividades
experiências e práticas que tendem a en- nas quais os alunos ampliem seus repertórios
riquecer o currículo da educação infantil. de cultura corporal, podendo se expressar e se
comunicar por intermédio dessa linguagem.
A vivência da corporeidade, valorizada por
BARRETO (2004), desenvolve expressões di- A educação pelo movimento na escola aux-
versas, estimula a criação e a comunicação por ilia o professor e o aluno na construção de
símbolos sociais e culturais.De acordo com valores necessários a conquistas cotidianas,
SARAIVA (2005), a ludicidade proposta por in- tornando a prática pedagógica um projeto de
termédio da dança, permite maior exploração transformação social, que direciona as ações
e compreensão do mundo, assegurando que e configura a apropriação dessa proposta.
as crianças transformem a si e aos espaços
sociais nos quais convivem e interagem. CONCEPÇÕES SOBRE A DANÇA

O corpo e o movimento desenvolvem uma A dança é uma das artes mais antigas que
linguagem que facilita a comunicação com o homem criou. Na era pré-histórica, a dança
o mundo, promovendo benefícios para as era retratada por artistas que a abordaram
em pinturas em cavernas e nesses registros
relações interpessoais. Neles, se inscrevem
os movimentos e gestos indicavam eventos
as histórias e trajetórias humanas no decor- cotidianos que caracterizavam a celebração
rer do tempo. Essa característica social do da vida pelos povos. Até mesmo antes da
corpo marca os percursos de vida e caracter- construção de seus lares e dos afazeres bási-
iza momentos e culturas nos quais se insere. cos do dia a dia, os homens usavam o movi-

806
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

mento como forma de comunicação e como culturas. No entanto, em contrapartida,


aquecimento corporal. A dança, em si, não o cristianismo pregava que qualquer ex-
precisa de recursos ou instrumentos para se pressão corporal era tida como um pecado.
realizar, pois ela depende única e exclusiva- Na trajetória evolutiva da dança, uma mo-
mente do corpo e do vigor deste para se ex- dalidade bastante respeitada é a dança fol-
pandir, para se comunicar, enriquecendo o clórica, que perpassa gerações e retrata as
repertório de experiências e de exploração peculiaridades de diferentes culturas, povos
de sentimentos. Segundo BERTONI (1992), a e regiões. Ela é interessante e dinâmica por
dança tem em sua origem um propósito mais incorporar valores e hábitos de sociedades
voltado ao campo espiritual do que do físico, e culturas diversificadas, revelando nuanc-
revelando uma necessidade humana de ex- es do passado, do presente e até mesmo
ternar o que abrange o universo interno de estimulando o futuro. A dança folclórica
cada pessoa. No decorrer do tempo, o homem também abrange os costumes e tradições
explorou a dança e os movimentos corpo- de um povo, reforçando o nacionalismo.
rais e surgiram as danças coletivas, que nos
seus primórdios tinham o foco na adoração HASS E GARCIA (2003) pontuam que
das forças superiores ou espíritos, crenças essa dança proporciona interação, diversão,
que auxiliavam eventos como a mudança socialização e valoriza o respeito aos cos-
de tempo, expedições guerreiras e afins. tumes e tradições que se desdobram por
gerações. Os fatores sociais que modificam
De acordo com MENDES (2001), se anal- seu transcurso histórico influenciam as mu-
isada no contexto estético, a dança pode ser danças que ocorrem na dança, por isso as
concebida como a mais antiga das artes, como expressões e manifestações culturais são el-
a linguagem que traduz as emoções de um ementos flexíveis. Existem as transições, que
modo além das palavras, porque muitas vezes obedecem a certos rigores, mas também se
a oralidade e a escrita não traduzem a lingua- manifestam as opções mais livres e criativas.
gem que o corpo e o movimento expressam.
Em seu breve histórico desde a contextual- No campo educativo, a dança se firmou
ização com os povos primitivos, a dança pas- como uma linguagem é uma modalidade
sou por algumas etapas, que originaram outras muito importante por seu poder expres-
tendências que se modificam e se transfor- sivo. O corpo exterioriza movimentos e
mam conforme a cultura de cada povo ou so- sensações que auxiliam o desenvolvimento
ciedade, culminando na diferença de estilos e integral das crianças e proporciona a con-
gêneros da dança no momento vigente. En- quista da autonomia e da identidade infantil.
fim, essas tendências são flexíveis e mutáveis,
porém muitas vezes retrocedem a fases an- Segundo MARQUES (2003) a dança po-
teriores e vão se remodelando e desenvol- tencializa a criticidade e a criatividade,
vendo de uma maneira dinâmica e criativa. propiciando maior atuação na sociedade,
visto que ela educa e transcende conheci-
Muitas pesquisas revelam que a história mentos e saberes. Dessa forma, ela propor-
da dança se originou com base na religião ciona novas possibilidades e a concretização
e era exclusividade de grupos privilegia- e a renovação de ideias sobre a expressão
dos, que se apropriaram dela em eventos corporal. A linguagem da dança é múltip-
religiosos, peças teatrais, nas pinturas e es- la e requer abordagens artísticas e culturais

807
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

que não se limitem. Pelo contrário, ela pre- tos são respeitados. Nas aulas de Educação
cisa ser concebida com base em dimensões Física, é importante que a dança tenha seu
culturais, lúdicas, históricas, entre outras. espaço, no sentido de compreendê-la pelo
viés do movimento e de exploração das ex-
A IMPORTÂNCIA DA DANÇA NOS ES- pressões corporais e, consequentemente,
PAÇOS ESCOLARES propondo elementos significativos que a car-
acterizam com a conquista da autonomia, da
Durante muito tempo, a dança se configu- inteligência, da vitalidade e da sensibilidade.
rava nos espaços escolares como uma mo- Diversos estudos pontuam o potencial
dalidade esporádica, que prevalecia nos mo- terapêutico da dança, que tem benefícios
mentos festivos e extracurriculares. Nessas para a melhoria da autoestima, para a qual-
propostas, não havia a participação dos alunos idade das relações interpessoais e para a
nos processos de criação. Eram atividades melhora da autoestima (GARIBA, 2002).
que não tinham significado para as crianças.
Segundo CUNHA (1992), o movimento e a
GODOY (2010) reitera que a dança na es- dança são linguagens que precisam ser usadas
cola tem o propósito de colaborar com a am- de uma maneira consciente, ressaltando o uso
pliação dos conhecimentos e saberes que a de habilidades e possibilidades corporais e ex-
criança produz e constrói, utilizando-os fun- pressivas.Quaisquer manifestações artísticas
cionalmente na vida em sociedade. Antes do não devem ser vistas somente como algo a ser
início de qualquer atividade com dança, é fun- contemplado, mas sim experimentado, viven-
damental que se faça uma sondagem sobre o ciado e explorado em múltiplas dimensões,
histórico dos alunos, seu cotidiano, hábitos e tanto individualmente quanto coletivamente.
sobre a comunidade, permeada pelos diálogos No contexto educacional, a dança proporcio-
com familiares, funcionários e equipe escolar. na elementos significativos que favorecem o
desenvolvimento do ser humano, como ex-
Cabe às escolas também conseguir rel- periência de vida e como vivência e construção
acionar a educação e a Arte, por meio de de conhecimento nas diversas relações in-
suas linguagens, propiciando às crianças ex- terpessoais. A dança é a principal expressão
periências que incentivem a criação, a au- artística que integra o corpo e a mente.
toria e a autonomia na realização dos mov-
imentos e expressões da dança, integrando A prática do ensino da dança implica no
a sensibilidade. Para isso, a formação do- conhecimento das variações que implicam na
cente precisa abranger um currículo mais efetivação dessa prática, contribuindo para
abrangente, que sinalize a adequação dos que as manifestações e expressões corporais
profissionais e reoriente as concepções e ex- sejam mais plenas. Sabe-se que o conceito de
pectativas dessa linguagem. A dança é uma corpo não é algo acabado e, portanto, está
das principais maneiras de explorar os po- em constante processo de modificação. A in-
tenciais corporais de uma maneira agradável. teração do corpo com o meio é que enriquece
as experiências e trocas vivenciadas, gerando
BARBOSA (1999) pontua que a dança pode maiores percepções e visões de mundo. No
ser comparada a um processo de alfabet- âmbito educacional, o ensino da dança impul-
ização, no qual a aquisição de gestos, imagens, siona procedimentos, critérios e rumos para
ações, necessidades, posturas e movimen- uma atuação mais diversificada. A linguagem

808
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

do movimento e da dança se configura como pessoais com o trabalho coletivo, com a con-
uma expressão favorecida de trabalho com as strução da autonomia, da criatividade e da
áreas propostas para a educação infantil, pois agilidade (ROCHA, 2008). A dança educacio-
nela se inserem as reflexões e problematizações nal não se configura como uma reprodução
da pluralidade cultural de nossa sociedade. de modelos que caracterizam o movimen-
to pelo movimento. Ela transpõe barreiras
Segundo STRAZZACAPPA (2001), deve-se de tempo e espaço, enfatizando os percur-
priorizar o trabalho com a dança na escola, de sos de criação e de produção que colabo-
modo que o foco seja na formação integral dos ram para uma formação humana mais plena.
sujeitos, independentemente do tipo de movi-
mento corporal que seja desenvolvido. A dança CONSIDERAÇÕES FINAIS
pode ser utilizada para promover associações,
agrupamentos, por intermédio de sistemas e Um dos importantes caminhos para a Edu-
procedimentos diferenciados, que ajudem a cação Física Escolar atual está numa prática
construir corporalmente a cultura, a criação, pedagógica alinhada com os princípios do mov-
a novidade, de modo que quem participe dela imento corporal, que contemplam e valorizam
não fique aquém de seu processo criativo. os gestos e a sensibilidade. E para o alcance
desses ideais, as reflexões sobre as práticas
As instituições de educação infantil precis- precisam se fortalecer tanto na formação con-
am pensar e planejar propostas que ajudem tinuada dos professores como no planejamen-
as crianças a exteriorizar seus sentimentos, to, no currículo e nas metodologias de ensino.
transformando as ações cotidianas em práti-
cas menos formais e institucionalizadas. De Os movimentos corporais são meios de
acordo com AVILA (2010), a própria Edu- se fazer comunicar e expressar ideias, são
cação Física propõe elementos fundamen- manifestações inerentes à natureza do
tais para a exploração de vivências que man- homem, presentes nos acontecimentos de
ifestam emoções e ações pelo movimento. sua vida. Eles estabelecem íntima relação
Nesse contexto, a dança engloba uma mul- com as emoções e sentimentos humanos,
tiplicidade de possibilidades pedagógicas antecedendo como forma de comunicação
que podem efetivar e promover conheci- à própria linguagem falada, característica
mentos importantes para a formação infantil. hoje tão escassa ao cidadão contemporâneo.

A linguagem do movimento e da dança na GODOY (2010) argumenta a favor de uma


escola precisa estar articulada em uma linha dança que foque o movimento expressivo, que
mais proativa, na qual os saberes sobre o cor- permita o encontro com o outro, com a cultu-
po e sobre a dança sejam apreendidos cria- ra e com o entorno e, possibilite a construção
tivamente. Nessa perspectiva, as técnicas da da identidade por meio da pesquisa corporal
dança e a exploração dos movimentos ten- e de movimentos. As experiências pessoais
dem a ser mais leves e dinâmicos. Esse tipo que vivemos estão registradas em nosso cor-
de trabalho pode estimular um contato mais po, e interagem com outros corpos, permea-
efetivo e intimista com a possibilidade de se dos por um processo de ensinar e aprender.
expressar criativamente por meio do movi- Nesse sentido, percebe-se a relevância dos
mento, envolvendo as necessidades e anseios

809
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

movimentos corporais e da dança, como in-


strumentos promissores no processo de en-
sino-aprendizagem, que trazem aos profis-
sionais de ensino e também aos alunos,
novas possibilidades para a construção co-
letiva do conhecimento. Esses instrumen-
tos tendem a incrementar as práticas ped-
agógicas e a facilitar o aprendizado, além
de ampliar os horizontes culturais, o pens-
amento crítico e a criatividade dos alunos.

A Educação Física proporciona, pelo mov-


imento, as ações de sentir, perceber, imag-
inar, criar, interpretar e, nesse sentido, pro-
duzem um conhecimento mais sensível sobre FABIANA RIBEIRO DE MACEDO
o mundo, viabilizando o desenvolvimento COSTA
cultural que ocorre por meio de linguagens
também artísticas, como a dança. O camin- Graduação em Psicologia pela FMU em
ho para a inserção do movimento e da dança 1.999 e em Pedagogia pela Uniban em 2.005;
no ambiente escolar é o de trabalhar com a Professora de Educação Infantil e Ensino
criação e a imaginação enquanto compo- Fundamental I na EMEI Heitor Villa Lobos.
nentes fundamentais para um projeto de
educação que objetive formar pessoas que
saibam refletir, interferir e reelaborar os con-
hecimentos oferecidos pela humanidade.

Ressalta-se que, como prática pedagógica,


o movimento e a dança são condições obje- REFERÊNCIAS
tivas de ensino e aprendizagem, pela articu-
lação de conhecimentos teóricos e empíricos, ÁVILA, Regiane. Dança, cultura e educação:
os quais conflitam entre si e possibilitam no- contribuições da pedagogia histórico-crítica.
vas construções. Possivelmente, a Educação http://www.efdeportes.com/ Revista Digital -
Física poderá ampliar suas concepções so- Buenos Aires - Ano 15 - Nº 145 - Junho de 2010
bre cultura corporal, melhorando a qualidade
do currículo escolar na educação infantil. BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensi-
no de arte. São Paulo: Perspectiva, 1999.

BARRETO, D. Dança, ensino, senti-


mentos e possibilidades na escola.
Campinas: Autores Associados, 2004.

BERTONI, Iris Gomes. A dança e a evolução,


ballet e seu contexto teórico, programação

810
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

didática – São Paulo: Tanz do Brasil, 1992. MARQUES, I.A. Dançando na es-
cola. São Paulo: Cortez, 2003.
BRASIL. Ministério da Educação e do Despor-
to. Secretaria de Educação Fundamental. MENDES, Mirim G. A dança, 2ª
Referencial Curricular Nacional para a Ed- ed. – São Paulo: Ática, 2001.
ucação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.
NEIRA, M. G. Ensino de Educação Físi-
BRASILEIRO, Livia T.; MARCASSA, Luciana ca. (Coleção Ideias em ação. Co-
P. Linguagens do corpo: dimensões expres- ord. Anna Maria Pessoa de Carvalho).
sivas e possibilidades educativas da ginásti- São Paulo. Thomson Learning, 2007.
ca e dança. Revista Pro-Posições, Campinas,
v. 19, n. 3 (57), p. 195-207, set./dez. 2008. NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F. Educação Física,
currículo e cultura. São Paulo: Phorte, 2009.
CAZÉ, C. M. de J. Corpos que dançam
aprendem: análise do espaço da dança RANGEL. N. B. C. Dança, educação, educação
na rede pública estadual de Salvador/ física: proposta de ensino da dança e o univer-
Bahia. 2008. Dissertação de mestra- so da educação física. Jundiaí: Fontoura. 2002.
do. Universidade Federal da Bahia. 2008.
ROCHA, D. Caminhos e Possibilidades: Uma
CUNHA, M. Aprenda dançando, dance apren- proposta de dança na perspectiva educacion-
dendo. 2ª ed. Porto Alegre: Luzatto, 1992. al para pessoas com deficiência visual. Mono-
grafia de conclusão de curso em Educação
DAÓLIO, Jocimar. Da Cultura do Cor- Física da Universidade Comunitária Regional
po. Campinas, SP: Papirus, 1995. de Chapecó – UNOCHAPECO, Julho de 2008.

GARIBA, C. M. S. Personal Dance: Uma SARAIVA, M. C. Coeducação física e esportes:


Proposta Empreendedora. 2002.133f. Dis- quando a diferença é mito. Ijuí: Unijuí, 2005.
sertação (Mestrado em Engenharia de Pro-
dução)-Programa de Pós-Graduação em STRAZZACAPPA, Márcia. A educação e a
Engenharia de Produção, Universidade fábrica de corpos: a dança na escola. Cad-
Federal de Santa Catarina, Florianópolis. erno Cedes, ano XXI, nº. 53, abril/2001.

GODOY, K. M. A. A dança, a criança e a es-


cola: como estabelecer essa conversa? In:
TOMAZZONI, A.; WOSNIAK, C.; MARIN-
HO, N. Algumas perguntas sobre Dança
e Educação. Joinville. Nova Letra, 2010.

HASS, A.L.; GARCIA, A. Ritmo e dança.


1º Edição, Canoas: Ed. Ulbra, 2003.

LABAN, Rudolf von. Dança Edu-


cativa Moderna. SP: Ícone, 1990.

811
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

UM COMBATE À VIOLÊNCIA
RESUMO: A cada dia que passa, a violência doméstica vem tornando-se, um problema so-
cial que aflige diferentes contextos sociais e familiares. Exteriorizada por diversas formas
seja física, psicológica, moral, patrimonial ou sexual, ela é produto de uma sociedade arcaica
alimentada por uma educação machista e conservadora. Por meio desse artigo, pretende-se
compreender o conceito de violência doméstica, suas histórias e consequências, bem como
as formas de prevenção, punição e erradicação, visando alertar a sociedade para uma trans-
formação social em que homens e mulheres são indivíduos iguais em direitos e deveres.

Palavras-chave: Violência Doméstica; Consequências; Problema Social

812
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO agressor. Buscar explicações como “ele não


tem estudo”, “ é devido a pobreza”, “não tem
A cada dia que nos deparamos por meio estrutura familiar”, cada vez mais, demon-
das mídias ou até mesmo compartilhando stram serem injustificadas dada as ocor-
vivências, o aumento dos índices de mul- rências também nas classes médias e altas
heres vítimas da violência doméstica. São
mulheres brancas, negras, solteiras, casa- CONCEITO DE VIOLÊNCIA
das, divorciadas, de diferentes idades, es- DOMÉSTICA
tudos e culturas, que acreditam em seus
companheiros enquanto pessoas respeito-
sas e de caráter. Trilham sonhos, criam É fundamental definir o conceito de Vi-
projetos de uma vida familiar regada de olência Doméstica considerando-a enquanto
amor, cumplicidade, parceria e harmonia. relações de gênero, uma vez que a referida não
está restrita as dependências do lar, como mui-
tos ainda acreditam, e sim a uma constatação
No entanto, em muitos casos, não passa de relação de poder, cuja essência é cultural,
de um verdadeiro conto de fadas. São al- sob a outra. Na ótica de Marilena Chauí (1985,
vos de reiteradas agressões físicas, humil- p. 47), é o produto de uma ideologia de dom-
hações, chantagens, privações e discrimi- inação masculina que se produz e reproduz:
nações por seus companheiros. Criam seus “As mulheres são definidas como seres para
filhos em ambientes hostis, que só colabo- os outros e não como seres com os outros”.
ram para uma educação pautada na violên-
Para Maria Filomena Gregori (1993: 35), a
cia, a qual é vista, pelos filhos, como a forma violência doméstica não é expressão de dom-
correta para resolução de conflitos e cuja inação e sim uma construção de uma relação
prática se perpetua por diversas gerações conjugal na qual a mulher coopera na sua pro-
criando um verdadeiro movimento cíclico. dução assumindo papel de vítima para adquirir
a proteção. De acordo com a Declaração so-
Acreditar que ainda no século XXI, em bre a Eliminação da Violência Contra a Mulher,
que a tecnologia e o conhecimento im- adotada pela Assembleia Geral das Nações
Unidas em 1993, violência doméstica é
peram, existam pessoas com visões simplis-
tas e comportamentos machistas, que se Todo ato de violência baseado em gênero,
acham no direito de privar a vida e a digni- que tem como resultado, possível ou real, um
dade da mulher, é no mínimo inaceitável, dano físico, sexual ou psicológico, incluídas as
mas infelizmente, estão em todos os lug- ameaças, a coerção ou a privação arbitrária da
ares, contextos sociais e culturais, camufla- liberdade, seja a que aconteça na vida pública
dos em trajes sociais, esportivos, poliglo- ou privada. Abrange, sem caráter limitativo, a
violência física, sexual e psicológica na família,
tas, analfabetos, religiosos e ateus. Como
incluídos os golpes, o abuso sexual às meni-
pode se perceber, não há um estereótipo nas, a violação relacionada à herança, o estu-
formado daquele que vem a se tornar um

813
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

pro pelo marido, a mutilação genital e outras das separadamente, serem incompletas uma
práticas tradicionais que atentem contra mul- vez que ora tendem a se posicionar a uma
her, a violência exercida por outras pessoas reprodução de papéis de gênero construí-
que não o marido e a violência relacionada dos socialmente e outra a uma igualdade so-
com a exploração física, sexual e psicológica cial entre parceiros sem focar em diferentes
e ao trabalho, em instituições educacionais e contextos, o que pode gerar controvérsias.
em outros âmbitos, o tráfico de mulheres e a
prostituição forçada e a violência física, sexual De fato, foi a partir da Lei Maria da Penha
e psicológica perpetrada ou tolerada pelo Es- que o Ordenamento Jurídico Brasileiro con-
tado, onde quer que ocorra (OMS,1998, p. 7). struiu uma definição clara e satisfatória ao
que vem a ser Violência Doméstica, que dada
Na ótica Almeida Teles e Melo( 2002, p. a sua plenitude teórica, faz-se necessário
19): para melhor compreensão, a leitura na ínteg-
Violência Doméstica é a que ocorre den- ra do artigo 5°, Título II, da lei 11340/2006:
tro de casa, nas relações entre as pessoas
da família, entre homens e mulheres, pais/ DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
mãe e filhos, entre jovens e pessoas idosas. CONTRA A MULHER
Podemos afirmar que, independentemente DISPOSIÇÕES GERAIS
da faixa etária das pessoas que sofrem es-
pancamentos, humilhações e ofensas nas Art. 5o Para os efeitos desta Lei, con-
relações descritas, as mulheres são o alvo figura violência doméstica e familiar con-
principal (ALMEIDA E MELO, 2002, p.19) tra a mulher qualquer ação ou omissão
baseada no gênero que lhe cause morte,
Contrariando as ideias de Chauí, Heleieth lesão, sofrimento físico, sexual ou psi-
Iara Bongiovani Saffioti (2004: 79-80), dis- cológico e dano moral ou patrimonial:
corda da concepção da mulher enquanto
cúmplice da violência, uma vez que a mes- I - no âmbito da unidade doméstica, com-
ma não se submete porque consente e sim preendida como o espaço de convívio perma-
porque é forçada a assumir tal papel por nente de pessoas, com ou sem vínculo famil-
não reunir condições suficientes de se opor. iar, inclusive as esporadicamente agregadas;

Para Sonia Couto (2005: 25), embora não im- II - no âmbito da família, compreendida como
porte o gênero do agressor, considera a violên- a comunidade formada por indivíduos que são
cia doméstica em uma ótica masculina, uma ou se consideram aparentados, unidos por laços
vez que a relação de dominação correspon- naturais, por afinidade ou porvontade expressa;
de a este estereótipo. A luz dos pensamentos
de Isaac Sabbá Guimarães e Rômulo de An- III - em qualquerrelação íntima de afeto, na qual
drade Moreira (2011:37), violência domésti- o agressor conviva ou tenha convivido com a
ca pressupõe atitudes que repercutem sofri- ofendida, independentemente de coabitação.
mento de ordem física, sexual ou psicológica. Parágrafo único: As relações pes-
soais enunciadas neste artigo in-
Nesta direção, é perceptível que as difer- dependem de orientação sexual.
entes contribuições que os autores nos traz
sobre o tema demonstram, quando analisa-

814
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Em relação ao inciso I, observa-se que AS FORMAS DE VIOLÊNCIA


no âmbito doméstico, o agressor não nec- DOMÉSTICA
essariamente precisa ter relações familiares
com a vítima, mas deve conviver de for- É sabido que a violência doméstica pode
ma contínua como é o caso, por exemplo, ser materializada de várias formas e trazer
dos empregados domésticos. Desta forma, diversas repercussões não só a vítima como
desmistifica a ideia restrita da violência também à todos aqueles que com ela convive.
doméstica ampliando ainda para as relações Acreditar que a presença de agressões
de trabalho. Entende-se por família, segun- físicas visíveis sejam fatores essenciais
do inciso II, como indivíduos que se con- para qualificar uma pessoa enquanto víti-
sideram por laços de vontade, afinidade ma da referida violência, é de fato uma
ou naturais. Assim, nota-se o avanço do visão simplória e desprovida de conheci-
conceito de família que ultrapassa a ideia mento o que, infelizmente, em pleno sé-
de ascendência comum direta para aquela culo XXI, ocorre em diversos cenários.
compreendida como sociedade conjugal at-
ravés do matrimônio, da relação entre pais Desta forma, abordaremos segundo a
e filhos, da união estável, além das relações doutrina e legislação, quais são as diferentes
homossexuais já reconhecidas legalmente. espécies da violência doméstica. Na con-
cepção de Couto (2005, p. 28-29), existem
Quanto ao inciso III, ao referir-se sobre três espécies de violência doméstica, quais
quaisquer relações íntimas de afetividade sejam:Física: Consiste em sujeitar o out-
buscou respaldo duas situações concre- ro pelo uso da força física; Sexual: A posse
tas: A primeira, muito comum, refere-se sexual é realizada sem consentimento; Psi-
ao rompimento dos laços amorosos em cológica: Representada pela presença de
que seus ex companheiros, permeados por ameaças e chantagens e intimidações. Stela
um sentimento de posse, agridem suas ex Valéria Soares de Farias Cavalcanti (2012,
companheiras gerando a necessidade de p. 37), no tocante as diferentes espécies
proteção legal tanto para convivências de violência doméstica, também defende a
passadas quanto presentes e a segunda classificação tripartida seguida por Couto.
situação, abarca as relações de namoro ou
noivados, uma vez que embora não coabi- Para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2001, p.
tam e tampouco tenham relação doméstica, 8), a violência doméstica pode ser dividida em:
há por este dispositivo, a aplicação da norma.
Violência Física: Compreendida como
Nesta direção, ao ampliar o entendimento aquela que ocorre quando alguém cau-
sobre as relações não limitando aos espaços sa ou tenta causar danos, por meio de
de coabitação, percebe-se a intenção do leg- força física, arma ou instrumento que pode
islador em erradicar situações que possam causar lesões internas (hemorragias/fra-
passar impunes e sobretudo enfocar na cred- turas) e externas (cortes/hematomas).
ibilidade da legislação em prol da garantia
do bem estar e da dignidade da mulher que Violência Sexual: Consiste no ato de
há tantos anos sofre com atos desumanos. uma pessoa obrigar outra a realização

815
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

de práticas sexuais contra a vontade, por lar suas ações, comportamentos, crenças e
meio de força física, uso de armas ou da decisões, mediante ameaça, constrangimen-
influência psicológica entendida como to, humilhação, manipulação, isolamento,
intimidação, aliciamento ou sedução. vigilância constante, perseguição contumaz,
insulto, chantagem, ridicularização, ex-
Negligência: É a omissão de respons- ploração e limitação do direito de ir e vir ou
abilidade, de um ou mais membros da qualquer outro meio que lhe cause prejuízo
família, em relação a outro, sobretudo, à saúde psicológica e à autodeterminação;
com aqueles que precisam de ajuda por
questões de idade ou alguma condição III - a violência sexual, entendida como
específica permanente ou temporária. qualquer conduta que a constranja a presen-
ciar, a manter ou a participar de relação sexual
Violência Psicológica: É toda ação ou não desejada, mediante intimidação, ameaça,
omissão que causa dano a auto estima, a coação ou uso da força; que a induza a comer-
identidade ou desenvolvimento da pessoa at- cializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua
ravés de ameaças, humilhações, cobranças de sexualidade, que a impeça de usar qualquer
comportamentos, exploração, crítica pelo de- método contraceptivo ou que a force ao mat-
sempenho sexual, privação da liberdade oca- rimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostitu-
sionando isolamento de amigos e familiares. ição, mediante coação, chantagem, suborno
ou manipulação; ou que limite ou anule o ex-
Dentre as modalidades de violência, sem dúvi- ercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
das, é a mais difícil de ser identificada haja vista
suas marcas nefastas serem internas. Ela pode IV - a violência patrimonial, entendida
levar a pessoa a se sentir desvalorizada, sofrer como qualquer conduta que configure re-
com ansiedade, depressão e cometer suicídio. tenção, subtração, destruição parcial ou total
de seus objetos, instrumentos de trabalho,
A Lei Maria da Penha supera esta clas- documentos pessoais, bens, valores e dire-
sificação ao determinar cinco espécies de itos ou recursos econômicos, incluindo os
violência: física, psicológica, sexual, pat- destinados a satisfazer suas necessidades;
rimonial e moral conforme previsão le-
gal do artigo 7° da Lei 11340/2006. V - a violência moral, entendi-
da como qualquer conduta que con-
Art 7° São formas de violência domésti- figure calúnia, difamação ou injúria.
ca e familiar contra a mulher, entre outras:
Analisando o dispositivo supracitado, é pos-
I - a violência física, entendi- sível perceber que trata de um texto comple-
da como qualquer conduta que ofen- to em que assegura maior proteção a vítima
da sua integridade ou saúde corporal; em situação de violência, uma vez que acres-
centa a violência patrimonial e moral, muito
II - a violência psicológica, entendida como presente no dia a dia, e que por serem su-
qualquer conduta que lhe cause dano emo- tis no sentido de exteriorizar ao ambiente
cional e diminuição da auto-estima ou que quando comparadas, por exemplo, a uma
lhe prejudique e perturbe o pleno desen- agressão física passível de deixar vestígios,
volvimento ou que vise degradar ou contro- merecem total atenção haja vista os danos

816
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

causados a vítima, em muitos casos, serem os olhos ou mostrar-se omissos. Diante


superiores a qualquer lesão física. Sem dúvi- deste fenômeno mundial, que assola das
das, corrobora a atuação sensata do legis- famílias menos favorecidas as mais quistas,
lador em garantir a integridade da mulher. não há como manter-se e inerte e não ind-
Vale ressaltar, que embora exista dif- agar sobre as causas que levam, em pleno
erentes espécies de violência doméstica século XXI, homens agredirem mulheres.
construídas por doutrinadores e legisla-
dores, elas se entrelaçam dentro dos con- Diante deste horizonte obscuro, com
textos sociais, sendo comum nas vítimas certeza há muito que progredir para mel-
da referida violência, relatos que se en- hor compreender o quadro caótico instal-
quadram em mais de uma modalidade. ado na humanidade, no entanto existem al-
gumas teses que se não justificam o caso,
Em muitos casos, nota-se que a violência ao menos servem de alicerce a políticas
física vem em consequência de reiteradas públicas no combate a violência doméstica.
humilhações, chantagens e discriminações,
que dificilmente são compreendidas como De acordo com Isaac Sabbá Guimarães
uma modalidade de violência, tendo em e Rômulo de Andrade Moreira (2011:68),
vista que trata-se de um processo silenci- a primeira versão, defendida pelas feminis-
oso que progride sem ser identificado oc- tas, seria a desigualdade de gêneros, a qual
asionando marcas severas aos envolvidos. subestima a mulher e a oprime. A divisão
dos papéis nas famílias reiterando conceitos
Elas podem aparecer diluídas em enraizados que condicionam às mulheres as
fenômenos emocionais como perda do tarefas domésticas e a passividade, contribu-
emprego, o alcoolismo, crises financeiras, indo para comportamentos de conformismos
ressentimentos, mágoas e perda de famili- haja vista que muitas das mulheres agredi-
ares, que aos olhos das pessoas que têm o das por seus companheiros, foram também
conceito restrito de violência doméstica e vítimas, quando crianças, de maus tratos
suas espécies, representam atos justifica- por seus pais bem como cresceram pres-
dos dentro de uma relação social ou afetiva. enciando agressões entre seus genitores.

É preciso desmistificar o conceito de vi- A segunda hipótese seria decorrente


olência enquanto ato que se materializa de estresses, dos conflitos entre pode-
somente com agressões físicas, amplian- res e recursos, por vinganças, da aceitação
do seu entendimento para todas aquelas que a violência é uma forma de resolução
ações que tendem a mitigar a dignidade de problemas, machismo, alcoolismo, das
da mulher tornando-a um mero instru- mudanças de paradigmas entre homens
mento que tudo suporta e consente. e mulheres, entre outros. Percebe-se que
ambas vertentes oferecem percepções dif-
CAUSAS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA erentes sobre as possíveis causas da violên-
cia doméstica, o que nos faz entender que
Os casos envolvendo violência domésti- dada a complexidade que envolve o assunto,
ca vêm a cada dia tomando propensões não há condições de aferir qual estudo jus-
imensuráveis, o que torna uma questão de tificaria melhor as condutas dos agressores.
saúde pública, a qual não se pode fechar

817
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Se optarmos, pela tese feminista, todas as humilhações, chantagens e discriminações.


mulheres seriam vítimas de agressões, chan-
tagens, humilhações e privações de escolhas, A mulher quando chega a uma delegacia
o que felizmente não ocorre. Em contraparti- e notícia ser vítima da violência domésti-
da, acreditar que dificuldades financeiras ou ca, ela já é alvo de seu agressor há mui-
ausência de escolarização podem ocasionar to tempo e por não suportar as feridas que
comportamentos reprováveis, não haveria assolam a sua alma, ela clama por socorro.
registros de mulheres das classes favoreci-
das sendo vítimas de seus companheiros. Percebe-se que a lei vem ganhan-
do visibilidade e repercussões sufi-
Assim, deve-se investir em políticas públi- cientes a ponto de impedir que pes-
cas e educativas, que visem conscientizar e soas com formações medianas possam
prevenir atos violentos erradicando conceitos alegar desconhecimento do dispositivo legal.
obsoletos que tendem a mitigar a dignidade
da mulher. De acordo com os dados coleta- Graças a sua divulgação e aparatos jurídi-
dos pelo Ligue 180, Central de Atendimento cos, as mulheres estão de fato compreen-
à Mulher em Situação de Violência, houve dendo as diversas manifestações de violência
um aumento de 133% dos casos envolvendo que superam as agressões físicas ou verbais,
violência doméstica no primeiro semestre bem como se posicionando intolerantes
deste ano quando comparado ao de 2015. a situações que mitiguem sua dignidade.

Dentre os dados estão a violência físi- O reconhecimento de que o assunto é uma


ca com 51,06%, violência psicológica questão de saúde pública, provocada por uma
com 31,10%, violência moral com 6,51%, sociedade que privilegia as relações patriarcais
cárcere privado com 4,86%, violência sex- marcadas pela dominação do sexo masculino
ual com 4,3%, violência patrimonial com sobre o feminino, enseja atuações eficientes
1,93% e tráfico de pessoas com 0,24%. do poder público em coibir atos desumanos
que a cada dia vitimam milhares de mulheres.
Para a Secretaria Especial de Políticas as
Mulheres, Fátima Pelaes, o aumento dos índi- É preciso desmistificar os conceitos in-
ces de violência devem ser compreendidos fundados que distinguem homens e mul-
sobre a faceta da elevação de informações heres em direitos e oportunidades; é pre-
bem como do encorajamento das mulheres ciso cicatrizar as marcas nas almas e sinais
para denunciarem seus agressores.Além nos corpos de nossas mulheres; é preci-
destes números, houve também um aumento so resgatar a dignidade, a liberdade e a
de 93% dos casos denunciados por terceiros vida de todas, pois só assim caminhare-
como amigos, vizinhos e parentes, demon- mos para uma sociedade justa e igualitária.
strando tamanho repúdio da sociedade
frente a esta triste e lamentável realidade. Ao refletir sobre a eficácia da lei Maria da
Penha no combate a violência doméstica, en-
CONSIDERAÇÕES FINAIS tende-se que o dispositivo de fato produz
efeitos, na medida em que cria mecanismos
Tendo em vista os aspectos apresenta- para defesa da mulher em situações de vul-
dos, entende-se que a violência domésti- nerabilidade, no entanto a crítica está em sua
ca, infelizmente, ainda é realidade para execução, uma vez que o Estado não apresen-
muitas famílias, as quais são construídas ta estruturas que possibilitem sua aplicação.
em ambientes permeados por agressões, Há falta de agentes policiais, viaturas, abrigos,

818
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

psicólogos e assistentes sociais.Dessa forma, é COUTO, Sônia. Violência Domésti-


preciso que o poder público assuma sua con- ca uma nova intervenção terapêuti-
tribuição na ineficácia da aplicação da norma ca. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
bem como invista em políticas públicas que
erradiquem atos desumanos face às mulheres. GUIMARAES, Isaac Sabba; MOREI-
RA, Rômulo de Andrade. Lei Ma-
ria da Penha. Curitiba: Juruá, 2011

GREGORI, Mari Filomena. Um estudo so-


bre as Mulheres. Relações Violentas e a
Prática Feministas. Rio de Janeiro:1993

KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito.


6/ Edição. São Paulo: Martins, 2000
PATRICIA RODRIGUES DA SILVA
KNIPPEL, Edson Luz; NOGUEIRA, Ma-
Graduação em Pedagogia pela Faculdade Cen- ria Carolina de Assis. Violência Domésti-
tro Universitário Assunção em 2001. Especial- ca. A Lei Maria da Penha e as normas de Di-
ista em Educação Especial: Área de Deficiência reitos Humanos no Plano Internacional.
Auditiva pela Faculdade Universidade Nove de Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2010.
Julho em 2008. Professora de Educação Infan-
til – na EMEI Armando de Arruda Pereira. MECUM, VADE. Acadêmicos do Di-
reito. São Paulo: Riddel, 2014

NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do


Direito. Rio de Janeiro: Forense, 1992.

REFERÊNCIAS OMS. Organização Mundial de Saúde. Organi-


zação Pan Americana de Saúde. Genebra: 1998
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretar-
ia de Políticas de Saúde. Violência intra- SAFFIOTI, Hieleieth Iara Bongiovani.
familiar: orientações para a prática em Gênero Patriarcado, Violência. São Pau-
serviço. Brasília: Ministério da Saúde, 2001 lo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004

CAVALCANTI, Stela Valéria Soares de Farias. SOUZA, João Paulo de Aguiar Sampaio. FONSE-
Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil. CA, Tiago Abudda. Aplicação da Lei 9.099/95 nos
Análise da Lei Maria da Penha, N°11340/06. Casos de Violência Doméstica Contra a Mulher.
4° Edição. Bahia: Jus Podivm, 2012 Boletim do IBCrim n.168, novembro de 2006.

CHAUI, Marilena. Participan- TELES, Maria Amélia de Almeida;


do do Debate sobre Mulher e Violên- MELO, Mônica. O que é violência con-
cia. São Paulo: Zahar Editores: 1985 tra a Mulher. São Paulo: Brasilience. 2003.

819
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

RECORTES ACERCA DA HISTORICIDADE DA EDUCAÇÃO


DE SURDOS
RESUMO: A educação de surdos é uma questão importante a se trazer à baila, pois é primordial
que esses alunos sejam postos enquanto protagonistas do processo educacional e social, uma
vez que seu futuro depende disso, assim como ocorre com alunos ouvintes em seu processo
de inserção na sociedade. Desde pouco tempo, foram feitas tentativas para implementar o bi-
linguismo em sala de aula, mas ainda há um longo caminho a percorrer até que esta realidade
esteja a nosso alcance. Existem algumas escolas de educação infantil que já são bilíngues, ou
seja, são ensinadas em duas línguas – Língua Portuguesa e LIBRAS. No passado, os alunos sur-
dos eram ensinados em centros específicos, mas isso não significava que os professores fossem
qualificados, ou seja, conheciam a língua de sinais, pois o objetivo principal era treinar alunos
surdos permeado pela linguagem oral. Isso significou um grande retrocesso aos alunos surdos
pois eles tentaram ensinar uma linguagem oral por meio da visão, uma língua que deveria ser
ouvida e ensinada pela visão. Daí a necessidade de usar a língua de sinais para ensinar linguagem
oral e escrita. A língua de sinais é o principal elo para poder direcionar a árdua tarefa de ensinar.

Palavras-chave: Surdez; Inclusão; Escola; Aluno; Crianças.

820
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO da tensão entre oferecer a cada aluno a re-


sposta educacional que melhor se adapte às
A Declaração de Salamanca (UNESCO, suas necessidades educacionais específicas e,
1994) é um documento político que defende por outro lado, para fazer isso no âmbito dos
os princípios de uma educação inclusiva, pois sistemas educacionais, centros, currículos e
propõe que todos os alunos tenham o direito salas de aula "comuns" – inclusivas podería-
de se desenvolver de acordo potencialidades mos dizer ao nos referirmos a estas classes,
e as habilidades que lhes permitam participar pois é por intermédio delas que os estímulos
da construção de uma sociedade mais igual- vindos do contexto vivencial introduzirão va-
itária enquanto protagonista nesse processo. lores e atitudes que podem ser melhor apren-
Para alcançar esse objetivo, o sistema escolar didos nos meios os quais habilidades sociais
tem a responsabilidade de oferecer uma edu- promovam o respeito e a diversidade, não
cação de qualidade a todos alunos que con- discriminando os diferentes mas aprendendo
temple as demandas sociais e culturais. com as diferenças.

A educação inclusiva reivindica que todas Como muitas análises estão vindo à luz,
as crianças e jovens tenham, em primeiro lu- este dilema gera múltiplos conflitos e con-
gar, o acesso universalizado à educação, mas trovérsias que vão refletir episodicamente
não a qualquer educação, a uma educação no quadro dos valores sociais dominantes em
com qualidade e iguais oportunidades ess- cada sociedade, nas políticas que as admin-
es elementos definem a inclusão educacion- istrações apoiam a este respeito e na quali-
al ou educação inclusiva. O caminho para a dade das "tecnologias educativas" (aplicação
inclusão implica, portanto, reduzir as barrei- das teorias na prática), com as quais os pro-
ras impedem ou dificultam o acesso a partic- fessores devem adequar as suas salas de aula
ipação e a uma aprendizagem de qualidade, compreendendo a problematização entre
com atenção aos alunos que estão mais ex- atender à individualidade no contexto de um
postos as situações de exclusão assim como grupo de alunos que aprendem de maneira
os que carecem de métodos educacionais es- diferente.
peciais.
A educação de alunos surdos, necessita de
O objetivo deste artigo não é esgotar as programas educacionais específicos, quan-
discussões sobre o conceito de educação in- to a isso são geradas enormes controvérsias.
clusiva, mas propor uma visão geral de uma Duas questões inevitavelmente aparecem
série de questões relacionadas a abordagens sempre que a ideia de inclusão é abordada,
inclusivas na educação de alunos surdos, que no caso: linguagem e identidade. Os autores
servirão para estabelecer um contexto in- que se opõem à inclusão de alunos surdos em
terpretativo e integrativo dos estudos que escolas comuns argumentam a dificuldade de
compõem este modesto trabalho. A inclusão desenvolver a linguagem de sinais ou sinais
educacional tem sido analisada por alguns au- e a identidade das crianças surdas dentro
tores como uma das alternativas ao chamado dos centros educacionais com a maioria dos
"dilema" da diferença (MELLO, s.d, p, 3). alunos ouvintes (THOMA, 2000).

A essência desse dilema gira em torno Os problemas que eles indicam são, a falta
de professores que conhecem e dominam a

821
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

língua brasileira de sinais e a utilizam de for- discriminados, corrigidos ou simplesmente


ma ineficaz os processos de ensino e apren- descartados por serem considerados descon-
dizagem com esses alunos, outros desafios exos dos padrões de normalidade. Lançare-
repousam nas dificuldades em interagir com mos mão de uma breve análise de diferentes
alunos ouvintes e professores sem compartil- períodos e localidades para mencionar como
har de um mesmo código comunicativo, bem ocorreu a construção pejorativa da imagem
como nas dificuldades para acompanhar o rit- do sujeito surdo ao longo do processo históri-
mo de aprendizagem de seus colegas ouvin- co bem como e exclusão dessas pessoas junto
tes na sala. ao processo de desenvolvimento social.

No entanto, o debate sobre inclusão evolu- Para os povos da Antiguidade os surdos


iu e hoje sabemos que questões relaciona- gozavam de uma posição privilegiada, as es-
das ao espaço físico devem ser distinguidas truturas religiosas da época permitiam a in-
daquelas vinculadas ao ambiente social e terpretação do silêncio dos surdos como
emocional. Como será visto mais adiante, uma divinização da condição humana. Para
o importante não é o lugar físico no qual as os países Egito e Pérsia, os surdos eram con-
crianças surdas estão situadas, mas a capaci- siderados como sujeitos privilegiados envia-
dade dos sistemas educacionais em promov- dos dos deuses, porque pelo fato dos sur-
er soluções adaptadas às necessidades carac- dos não falarem e viverem em silêncio, eles
terísticas dos alunos surdos, que permitam a achavam que os sujeitos surdos conversavam
sua inserção linguística, emocional, social e em segredo com os deuses numa espécie de
acadêmicas. Essas questões são importantes meditação espiritual. Havia um possante sen-
ao que se refere a educação de alunos surdos. timento de respeito, protegiam e ‘adoravam’
os surdos, todavia os sujeitos surdos eram
Se levarmos em consideração a urgência de mantidos acomodados sem serem instruídos
se lançar luz a essas problemáticas eles rep- e não tinham vida social. (STROBEL, 2008b,
resentam ainda sujeitos mais importantes, se p. 82)
considerarmos e aceitarmos sua pertença ou
conexão dupla e complexa com o grupo dos Aristóteles estava se referindo à surdez
surdos e com a sociedade ouvinte alcançare- como sinônimo de falta de inteligência, essa
mos parcialmente a meta inclusiva. Por esta afirmação foi mantida por mais de dois mil
razão, a sociedade – a começar pela família anos. Em Esparta, crianças com alguma de-
e consequentemente a escola e serviços so- formidade ou deficiência eram levadas à um
ciais – deve oferecer-lhes oportunidades de lugar secreto no qual eram lançadas em des-
desenvolver habilidades e competências que filadeiros, eram afogadas ou abandonadas à
lhes permitam crescer como pessoas seguras, própria sorte para morrerem, destino o qual
capazes de se relacionar e agir da forma mais os surdos passaram.
autônoma e satisfatória possível em ambos
os contextos sociais. Inicia a história na antigüidade, relatando
as conhecidas atrocidades realizadas contra
BREVE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO os surdos pelos espartanos, que condenavam
DE SURDOS ATÉ O SÉCULO XVII a criança a sofrer a mesma morte reservada
ao retardado ou ao deformado: "A infortuna-
Desde os tempos antigos os surdos foram da criança era prontamente asfixiada ou tinha

822
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

sua garganta cortada ou era lançada de um que foi considerado a primeira obra de sinais
precipício para dentro das ondas. Era uma para surdos, que continha um alfabeto manu-
traição poupar uma criatura de quem a nação al. Com isso, ele pretendia ensinar os surdos,
nada poderia esperar (BERTHIER, 1984, sinais manuais na forma de alfabeto para mel-
p.165, Apud STROBEL, 2009. p, 16). horar sua comunicação.

No século VI, na região de Península Itáli- A situação das pessoas com surdez pré-lin-
ca, os surdos foram acolhidos pelas congre- guística, antes de 1750 era de fato uma
gações religiosas que foram regidos pelo calamidade: incapazes de desenvolver a fala
chamado governo do silêncio de São Benedi- e portanto, “mudos’’, incapazes de comuni-
to (monges beneditinos). Esta regra consistia car-se livremente até mesmo com seus pais
na obrigação por parte dos monges em se co- e familiares, restritos a alguns sinais e gestos
municar por sinais durante suas necessidades rudimentares, isolados, exceto nas grandes ci-
diárias, os votos de silêncio não deveriam ser dades, até mesmo da comunidade de pessoas
violados. com o mesmo problema, privados de alfabet-
ização e instrução, de todo o conhecimento
No final da Idade Média algumas modifi- do mundo, forçados a fazer os trabalhos mais
cações ocorreram, no final do século XVI Gi- desprezíveis, vivendo sozinhos, muitas vezes
rolamo Cardano, médico italiano, argumentou à beira da miséria, considerados pela lei e pela
que era possível ouvir e falar por meio da es- sociedade como pouco mais do que imbecis
crita. Dizia que as pessoas surdas poderiam a sorte dos surdos era evidentemente medo-
ser entendidas por combinações escritas de nha (SACKS, 2010, p. 24).
símbolos, associados à coisas a que se bus-
cavam valorar enquanto referência. A partir Quanto ao abade Charles-Michel de l'Épée,
de então a visão dos surdos começa a sofrer conhecido como o inventor da linguagem de
uma significativa mudança, eles passam a não sinais – muitas pessoas na comunidade surda
mais serem vistos como "monstros" descarte, não reconhecem assim, a comunidade surda
se não "deformado" para corrigir. Este foi o afirma que a comunicação por meio de sinais
primeiro passo para que, depois de vários existe desde o início da raça humana – detém
séculos, se possa trabalhar a surdez de uma o mérito de ser o fundador da primeira escola
maneira macro e inclusiva. que transmitiu conhecimento por meio da lín-
gua de sinais em Paris.
A mudança começou a partir de 1530,
Pedro Ponce de León, um dos primeiros ed- A HISTÓRIA DOS SURDOS NO BRASIL
ucadores de surdos que vivia em uma ci-
dade na região da Espanha, responsável pela Podemos afirmar que a nível nacional Dom
fundação da primeira escola de surdos junta- Pedro II se destaca na história da educação
mente com Vicente de Santo Domingo Seus de surdos, o imperador se interessou por essa
alunos eram surdos filhos de nobres que, por modalidade de educação em virtude de seu
medo da exclusão social e perda de prestígio genro, o Príncipe Luís Gastão de Orléans,
e da lei, procuravam León para os auxiliar en- Conde d’Eu, esposo de sua segunda filha, a
sinando-os leitura e escrita – escrever, falar e princesa Isabel, pois parecia ser parcialmente
aprender os dogmas da fé católica. Em 1620, surdo. Entretanto não existem evidências
Juan Pablo de Bonet publicou um trabalho concretas com relação a esse fato.

823
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Mas esse ponto se destacou enquanto as- possibilidade de se instruir.


pecto positivo na preocupação com uma es-
cola voltada para a educação de surdos, por Mesmo após a proclamação da República,
esse motivo a convite de Dom Pedro II, um encontramos traços tradicionais arraigados
professor surdo francês e sua esposa chegam numa cultura deletéria que implicou no atra-
ao Brasil, em 1855, objetivando fundar uma so de inúmeras pessoas quanto a participação
escola voltada para pessoas surdas. Assim na ativa na sociedade. Mesmo com os impulsos
cidade do Rio de Janeiro no dia 26 de setem- da ebulição democrática, a escravidão ainda
bro de 1857 é fundado o Instituto Nacional se pronuncia na vida dos surdos, ainda estão
de Educação de Surdos (INES), como ainda agrilhoados as formas de dominação oral-
hoje é conhecido. izadas. Estes dois lados, a liberdade e a de-
mocracia em conjunto com evolução política
A criação da LIBRAS veio juntamente como e social brasileira, enquanto a escravidão e o
INES, partindo de um misto entre Língua de retrocesso educacional com relação aos sur-
Sinais já utilizada na França (Língua Francesa dos.
de Sinais) e de gestos utilizados a mais tempo
pelos surdos brasileiros. Essa língua amplian- Por volta de 1960, uma grande “descober-
do pouco a pouco seus espaços, mas por volta ta” mudaria esse caminho. O Dr. William C.
de 1880, veio a sofrer uma importante perda. Stokoe professor da Universidade Gallaudet
Um congresso ocorrido em Milão como obje- nota que a língua de sinais usada por surdos
tivo de debater sobre a utilização das Línguas nos Estados Unidos possui estruturas lin-
de Sinais e surdez proibiu seu uso no mundo. guísticas singulares. Essa é a primeira vez que
Isso ocorreu, pois, a crença de que a leitura alguém se dedica a relatar um evento que já
labial era defendida como a forma mais viável ocorria há anos, mas que, entretanto, nunca
de comunicação para os surdos. Por esse havia sido notado. Stokoe tendo em conta de
motivo uma nova barreira se impôs fazendo que a língua de sinais utilizada na América do
com que os surdos parassem de se utilizar Norte é natural, complexa e completa e tam-
dos sinais como forma de comunicação, rep- bém usada por toda sociedade surda ameri-
resentando um grande atraso na difusão da cana pode buscar uma maneira de se enxer-
língua de sinais no país. gar a educação de surdos e sua integração no
meio social.
Por mais de um século encarou-se o pre-
domínio do oralismo sobre a educação de sur- Portanto, tomando-se por base a desco-
dos em escala mundial, isso veio representar berta feita por Stokoe, uma nova perspectiva
um longo período de fracasso na educação se mostra ao mundo dos surdos para prosse-
brasileira e na preocupação com os surdos guir em sua busca pela igualdade, na busca de
para muitos especialistas do período. O oral- melhores caminhos para a educação e recon-
ismo representou um período de escravização hecimento. Esses novos meios a se desen-
para o surdo, esses tinham em muitos casos volverem são bem menos tortuosos que os
as mãos atadas para não se comunicarem. de outrora, caracterizados por uma verdadei-
Nas escolas a língua de sinais representava ra implantação fronteiriça e castradora fruto
uma espécie de deturpação na comunicação, de uma ditadura da oralidade. Apresenta-se
aqui temos também a educação de surdos e renascimento e a legitimidade da língua de
em mosteiros ou asilos, o que refletia a única sinais por diversos países do mundo. Usamos

824
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

aqui o termo renascimento para designar que pode caracterizar a exposição de uma prática
a prática da comunicação por sinais que já pedagógica pautada numa proposta oralista,
fora utilizada e posteriormente banida, passa longe de respeitar e entender a pessoa sur-
por um novo surgimento, um renascimento, da e as peculiaridades que esta demanda.
para surdos e suas comunidades. Não obstan- É necessário que a formação do professor
te, a percepção dessas mudanças não alca- venha possibilitar dispositivos de construção
nçou de imediato o mundo das pessoas ou- de recursos pedagógicos estratégicos para
vintes, nem tampouco os sistemas governos viabilizar a inclusão, mais especificamente
e muito menos as universidades, essas insti- de alunos surdos, levando esse conhecimen-
tuições não percebiam e também não aceita- to não só para a sala de aula, mas para além
vam a utilização de uma língua de sinais que dos muros da escola, tornando a Libras um in-
pudesse ser válida enquanto uma nova forma strumento de comunicação, transformação e
de comunicação. acesso ao conhecimento.

Foi neste período que do mesmo modo se Considerando o contexto em que as esco-
notou a existência de línguas de sinais, e que las propiciam a inclusão de pessoas surdas nas
estas, não eram universais pois cada país pos- classes regulares de ensino, emergem uma
suía sua língua de sinais com códigos e estru- série de indagações sobre o método de ensino
turas distintas. Segundo Fernandes (2003), o da pessoa surda. O primeiro questionamento
“Bilinguismo é mais do que o domínio puro e órbita na preocupação com a língua, isso pois
simples de uma outra língua como mero in- como sabemos a língua oficial do país que é
strumento de comunicação. E neste sentido, valorizada majoritariamente no processo co-
apenas os integrantes dessa comunidade, municativo na sala de aula ainda reflete é um
como surdos, podem contribuir, de modo grande desafio para a educação de surdos.
efetivo, para a educação de crianças surdas” Deste modo outros questionamentos gan-
(FERNANDES, 2003, p. 55). ham margem, e as dúvidas se voltam para o
processo formativo do professor para atender
Para o autor, O bilinguismo – como o as necessidades dos discentes, ou no tipo de
próprio nome evidencia – diz respeito a duas currículo que tornará viável uma metodologia
línguas, aqui no Brasil, relaciona-se nesse sen- de ensino voltado para as necessidades dos
tido à LIBRAS e a modalidade escrita da Língua surdos.
Portuguesa.Por meio do decreto nº 5.626/05
a LIBRAS torna-se língua de referência na in- É fundamental que percebamos que a in-
strução de alunos surdos e a também a língua trodução formativa universitária proponha e
das comunidades surdas brasileiras. Mesmo propicie as condições basilares de trabalho ao
tendo a Língua Portuguesa como vernácula, docente indo muito além de teorias engessa-
devendo essa ser estudada para ser lida e in- das e estanques, que na maior parte dos casos
terpretada pelos surdos, ela não tem a obriga- não representa as necessidades do aluno, ou
toriedade de oralização, portando não falada. seja, construir um conhecimento significati-
vo dando a devida importância ao cotidiano
FORMAÇÃO DOCENTE E OS DESAFIOS vivido e vivendo os desafios e angústias que
NA EDUCAÇÃO DE SURDOS cotidianamente se apresentam na vida dos
educadores no processo de ensino e apren-
Numa sociedade majoritariamente ouvinte dizagem.

825
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

É indispensável compreender a formação de aula nos cursos de graduação, remete-se


do professor enquanto um processo inacaba- aos alunos surdos no intento improfícuo da
do e, portanto, carecendo de continuidade na “inclusão”, na crença de que sorrir, gesticular,
construção de um conhecimento progressivo acenar, desenhar ou falar com o intérprete
e resiliente, sistematizado e com perspectivas representam ações de viabilização educativa
às inovações recorrentes, encarando os desa- e igualitária requisitada por estes estudantes.
fios para a viabilização de uma educação en-
quanto processo de integração educacional e Nesse contexto assevera SKLIAR (2005),
social, fundamentada numa cultura inclusiva que o usufruto da língua de sinais representa
respeitando os princípios dos direitos hu- “um direito dos surdos e não uma concessão
manos, pois a educação como um direito de de alguns professores e escolas”. A educação
todos, deve ser ofertada tendo em vista a ga- representa um processo inalienável no desen-
rantia de acesso e os elementos básicos para volvimento humano e os surdos têm plenos
a permanência nas escolas. direitos de acesso à educação venha a priv-
ilegiar a sua língua materna em consonância
Algumas políticas públicas vêm sendo im- com a legislação brasileira vigente, não po-
plementadas para que a efetivação da ed- dendo lhe ser negado isso. As garantias dess-
ucação de surdos seja viabilizada em nível es direitos no Brasil foram construídas pau-
superior. Contudo, faz-se primordial refletir latinamente, leis e decretos vieram garantir
como está ocorrendo esse processo de in- – ao menos na teoria – o acesso a uma edu-
serção, ou seja, como estão sendo inseridos cação diferenciada para estes alunos salas e
nesse ensino. É necessário considerar o modo classes regulares, nas quais possa sua língua
pelo qual as universidades estão recebendo e nacional de signos ser reconhecida, legitima-
viabilizando a permanência dos alunos surdos da, respeitada e valorizada como LIBRAS (Lín-
no ensino superior. gua Brasileira de Sinais).

GOFFREDO (2004) assevera que, para que O mesmo processo ocorre longe dos ban-
se possa atender às necessidades educacio- cos universitários, após formado o educador
nais de jovens surdos, é fundamental partir- vai de encontro com múltiplas realidades
mos do princípio securitário em seu ingres- que nem sempre – ou quase nunca – foram
so na universidade por meio do vestibular. foco em sua formação, pois como dito ante-
Contudo, isso não confirma que a inclusão riormente o ensino superior ainda se mostra
venha se concretizar, pois após vencido o ob- de alguma maneira refratário a aceitação do
stáculo do ingresso, o desafio que apresenta bilinguismo da língua de sinais. Nas esco-
é a permanência no curso, essa irá depender las, inúmeros alunos se deparam com esses
fundamentalmente da mediação profissional mesmos dilemas, as maneiras de se buscar a
do intérprete. Inúmeros são os desafios en- comunicação ou a viabilização de uma apren-
frentados por estudantes surdos que buscam dizagem verdadeira se perdem na má for-
uma educação que leve em consideração as mação do profissional ou na pouca importân-
diferenças, que crie uma esfera de respeito. cia dada pelo próprio sistema de ensino. As
O que mais se encontra é uma pedagogia pas- escolas ao desenharem seu Projeto Político
teurizada preocupada com o público ouvinte, e Pedagógico, na maior parte das vezes não
não conhecendo as especificidades do sujeito leva em consideração os desígnios de uma
surdo. Em muitos casos, o professor, em sala população que pode vir a compor parte da

826
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

sua clientela, portanto ao se preocupar com o e por isso mesmo requer os mesmos padrões
bilinguismo, está muito mais que se dispondo de respeito que qualquer membro da socie-
a receber alunos surdos, transformando reali- dade merece.
dades e quebrando paradigmas.As diferentes
formas de proporcionar uma educação bilín-
gue à criança em uma escola dependem de
decisões político-pedagógicas. Ao optar-se
em oferecer uma educação bilíngue, a esco-
la está assumindo uma política linguística em
que duas línguas passarão a coexistir no es-
paço escolar (Quadros, 2006, p.18).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No final do século XX e início do XXI, nasce TATIANA APARECIDA DE LIMA
em torno da surdez uma crescente preocu-
pação da sociedade em geral para com os
chamados "grupos vulneráveis", que estão Graduação em Pedagogia pela Faculdade
começando a ser vistos numa visão holística UNIBAN (1999); especialista em Super-
que gera esses aspectos sociais, econômicos, visão Escolar pela Faculdade Campos Elíseos
políticos e culturais no cenário mundial, fa- (2018); Professora de Educação Básica na
zendo necessária uma complementação entre EMEI Prof.ª Yukio Ozaki
eles para alcançar maior desenvolvimento e
crescimento. Assim, as razões que dão origem
à questão da surdez começam a ser discuti-
das por vários meios, com o crescimento pop-
ulacional, gerando políticas públicas e sociais, REFERÊNCIAS
buscando uma coordenação entre o Estado e
sociedade civil, globalização, modernidade e BRASIL Lei 10.436, de 24 de Abril de 2002.
pós-modernidade. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais –
LIBRAS.
Nas últimas décadas, as ciências sociais
estão integradas com um poder incomum na BRASIL Decreto nº 5.626, de 22 de Dezem-
redefinição das diferenças. A redução radical bro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436,
tende a operar concepções centradas como os de 24 de abril de 2002, que dispõem sobre a
modelos alternativos propostos e noção ort- Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, e o art.
odoxa a começar por sujeitos surdos. Muito 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de
provavelmente este fenômeno é encontrado 2000.
e coberto de deslizamentos próprios de dis-
cursos sociais sobre a deficiência, na qual ele
tende a inverter os valores, a condição de sur-
dez, pura negatividade desaloja para torná-lo
uma diferença que tende a positividade de
ser diferente, pois abriga o próprio fato de ser

827
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
A cada dia que nos deparamos por meio das mídias ou até mesmo com-
partilhando vivências, o aumento dos índices de mulheres vítimas da vi-
olência doméstica. São mulheres brancas, negras, solteiras, casadas, divor-
ciadas, de diferentes idades, estudos e culturas, que acreditam em seus
companheiros enquanto pessoas respeitosas e de caráter. Trilham sonhos, criam
projetos de uma vida familiar regada de amor, cumplicidade, parceria e harmonia.

No entanto, em muitos casos, não passa de um verdadeiro conto de fadas.


São alvos de reiteradas agressões físicas, humilhações, chantagens, privações
e discriminações por seus companheiros. Criam seus filhos em ambientes hos-
tis, que só colaboram para uma educação pautada na violência, a qual é vis-
ta, pelos filhos, como a forma correta para resolução de conflitos e cuja práti-
ca se perpetua por diversas gerações criando um verdadeiro movimento cíclico.

Acreditar que ainda no século XXI, em que a tecnologia e o conhecimento im-


peram, existam pessoas com visões simplistas e comportamentos machistas, que
se acham no direito de privar a vida e a dignidade da mulher, é no mínimo in-
aceitável, mas infelizmente, estão em todos os lugares, contextos sociais e cul-
turais, camuflados em trajes sociais, esportivos, poliglotas, analfabetos, religio- PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
sos e ateus. Como pode se perceber, não há um estereótipo formado daquele
que vem a se tornar um agressor. Buscar explicações como “ele não tem estu-
do”, “ é devido a pobreza”, “não tem estrutura familiar”, cada vez mais, demon-
stram serem injustificadas dada as ocorrências também nas classes médias e altas
RESUMO: Este artigo como objetivo conhecer os princípios da educação in-
CONCEITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA fantil. Apresenta os princípios éticos atrelados a construção da imagem pos-
itiva da criança e dos pares, além de destacar o cuidado como postura éti-
ca do educador. Analisa os princípios políticos, trazendo a ideia da cidadania,
É fundamental definir o conceito de Violência Doméstica considerando-a en- criticidade e democracia, afirmando que a atitude do educador em valorizar e ga-
quanto relações de gênero, uma vez que a referida não está restrita as dependências rantir a participação ativa da criança é um dos referenciais para a qualidade da ed-
do lar, como muitos ainda acreditam, e sim a uma constatação de relação de poder, ucação infantil. Aponta para a desvalorização do princípio estético no currículo
cuja essência é cultural, sob a outra. Na ótica de Marilena Chauí (1985, p. 47), é o
brasileiro, pois este é mais que ensinar arte e deve atravessar o cotidiano escolar.
produto de uma ideologia de dominação masculina que se produz e reproduz: “As
mulheres são definidas como seres para os outros e não como seres com os outros”.
Palavras-chave: Princípios. Educação infantil. Currículo.
Para Maria Filomena Gregori (1993: 35), a violência doméstica não é expressão
de dominação e sim uma construção de uma relação conjugal na qual a mulher
coopera na sua produção assumindo papel de vítima para adquirir a proteção. De

828 829
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Segundo Guimarães (2010, p.37) o desafio


INTRODUÇÃO de começo, início, origem, ponto de parti- o modo como as fez (OLIVEIRA, 2010, p.8).
da educação infantil, em especial na creche,
da, ou, ainda, a ideia de verdade primeira,
que serve de fundamento, de base para Conforme Brasil (2010, p. 16) os é delinear um princípio que desviem das ini-
Conforme os estudos de Marquezan e
algo.Em relação às Diretrizes Curriculares princípios que devem orientar o trabalho ciativas assistencialistas e higienistas tradi-
Martins (2017), em 1988 a educação in-
Nacionais para a Educação Infantil, Mar- pedagógico na educação infantil são: cionais neste contexto, ou seja, romper com
fantil passou a ser a primeira etapa da ed-
quezan e Martins (2017, p. 159) relatam: a) princípios éticos – valorização da autono- a divisão entre a educação e o cuidado, sendo
ucação básica, por meio da Carta Magna,
mia, responsabilidade, solidariedade e do res- assim, O posicionamento do adulto no con-
que aponta o Estado como responsável
As DCNEI reúnem princípios, fundamen- peito ao bem comum, ao meio ambiente e às dif- tato com a posição que ocupa a criança im-
por garantir às crianças de zero a cinco
tos e procedimentos para nortear as políti- erentes culturas, identidades e singularidades; plica uma atitude ética, uma reflexão sobre
ano de idade creches e pré-escolas, ou
cas públicas, a elaboração, o planejamento, b) princípios políticos – garantia dos di- modos possíveis de ação, um jeito de ser, um
seja, a educação passa a ser um direito
a execução e avaliação de propostas ped- reitos de cidadania, do exercício da critici- modo de cuidar, que envolve não só intervir
humano universal.Sendo assim, fez-se
agógicas e curriculares de educação infantil. dade e do respeito à ordem democrática; ou iniciar ações na direção das crianças, mas
necessário estabelecer princípios para
Desse modo, as diretrizes buscam orientar o c) princípios estéticos – valorização da sensi- também agir sobre si, refletir sobre o senti-
nortear a educação desta etapa, por conta
trabalho docente do professor junto às cri- bilidade, criatividade, ludicidade e diversidade do do seu próprio olhar e emoção, tendo em
das especificidades da infância e da im-
anças e à sua comunidade escolar, ao propor de manifestações artísticas e culturais (art. 6º). vista observar os bebês e dar sustentação às
portância de garantir o desenvolvimento
ações educativas com qualidade, articuladas suas experiências. Neste percurso, agir com
integral das crianças em seus aspectos (Quadro I – Princípios da educação infantil - Fonte: Paraná (2018, p. 34)

com diversidades sociais e culturais no que os bebês, na relação com eles, pode abrir es-
físicos, psicológicos intelectuais e sociais.
diz respeito à infância e à criança no país. Em 2017, A Base Nacional Comum paço para encaminhá-los, oferecer modelos/
Curricular (BNCC) institui e orienta a im- técnicas ou observar e acompanhar suas
No entanto, apesar de ser incluso em
As DCNEI determinam parâmetros artic- plantação de um planejamento curricu- ações e iniciativas (GUIMARÃES, 2010, p. 37)
muitos PPPs de escolas de educação in-
fantil, os princípios não são bem com- ulando os processos de ensino e aprendiza- lar da Educação Básica. Em relação à ed-
gem com a prática pedagógica. Neste sen- ucação infantil, ela dialoga com a DCNEI. Luís et. al (2015), afirmam que a atitude do
preendidos, pois as práticas não se aliam
tido, segundo Marquezan e Martins (2017), educador em valorizar e garantir a participação
às teorias. Este estudo se justifica pela
necessidade de discutir a relação dos auxilia o professor de educação infantil a PRINCÍPIOS ÉTICOS ativa da criança é um dos referenciais para a
aperfeiçoar e a qualificar o trabalho docente qualidade na educação infantil. Assim, obser-
princípios éticos, políticos e estéticos
no cotidiano escolar, promovendo um am- Para Pillotto e Silva (2016, p. 465) as in- var a criança e o grupo é uma das maneiras de
com o currículo da educação infantil e
biente de desenvolvimento profissional e fâncias são singulares e estão atreladas às conhecê-los para traçar o percurso do conhe-
tem como objetivo geral, conhecer os
crescimento humano, contemplando toda a experiências que as afetam a partir do meio cimento e planejar as ações educativas. Esta
princípios da educação infantil. Assim, sur-
comunidade escolar.Para Oliveira (2010, p. 8): cultural e das pessoas que as cercam. Assim observação envolve a escuta ativa, compreen-
gem os seguintes questionamentos: Como
em relação aos princípios éticos as auto- dendo esta, como um modo ou participação
os princípios éticos, políticos e estéticos
Os princípios expostos devem sustentar ras enfatizam que por meio da ética é pos- das crianças. O educador precisa desenvolv-
são compreendidos na educação infantil?
as práticas de Educação infantil e privilegiar sível refletir sobre a vida e nossas ações, er uma atitude experiencial que se baseie no
aprendizagens como ser solidário com todos experimentando e atuando no mundo, sen- questionamento, ou seja, questionar a criança
PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO IN-
os colegas, respeitá-los, não discriminá-los e do necessária certa liberdade para criação para descobrir o que esta pensa. Esta atitude
FANTIL
saber por que isso é importante, aprender a na ação, pois relações autoritárias inibem a possibilita ao educador o acompanhamento
fazer comentários positivos e produtivos ao sensibilidade estética e bloqueia os afetos. dos processos de concretização de cada cri-
Para Borges (2010, p. 247) a palavra
trabalho dos colegas, a apreciar suas próprias ança. Neste processo, é necessária a docu-
princípio vem do latim principium e tem
produções e a expor a adultos e crianças mentação para garantir a participação de to-
significação variada, podendo dar a ideia

830 831
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

dos no processo educativo e de exercícios da mensão estética como uma atitude cotidiana sim, os princípios éticos estão relacionados à com a gestão escolar, possa estar revisitan-
democracia, valorizando o saber constituído que nos cerca, garantindo a expressão viva valorização da autonomia, responsabilidade, do e [ressignificando o trabalho pedagógi-
em grupo e individualmente, incentivando no- da criança. Não devemos confundir a liber- solidariedade e bem comum. Neste sentido co – e, desse modo, não só a explicitação
vos desafios e construções de conhecimento. dade de expressão com o “deixar fazer”. É a educação infantil, principalmente a dire- dos princípios norteadores da educação
necessário mobilizar os sentidos, ampliando cionada para a primeira infância tem o desa- infantil, mas também sua implementação.
PRINCÍPIOS ESTÉTICOS os repertórios, promovendo o encontro en- fio de compreender a indissociabilidade do
tre as diferentes linguagens, alimentando a cuidar e educar. Sendo que o cuidado deve
imaginação e provocando histórias para que ser encarado como uma postura ética da
Para Ostetto (2010) é evidente a dificul- as crianças se arriscam a ir além do habitu- parte do educador.Em relação aos princípios
dade da Pedagogia em lidar com a arte, al, procurando sua própria voz com auten- políticos, estes trazem a ideia de cidadania,
com a poética da vida, dar espaço para a ticidade. Assim, a criança pode aprender criticidade e democracia. Sendo necessário
imaginação, autorizar-se a criar, experi- a respeitar o gosto do outro. O professor criar formas de a criança participar, expres-
mentar, errar. A autora questiona-se: Se- de educação infantil, precisa ter a preocu- sando suas ideias, sentimentos, opinan-
ria possível ensinar a transver o mundo? pação de disponibilizar repertórios (imagéti- do, resolvendo conflitos, vivências não dis- CRISTINA GARCIA XIMENES
cos, musicais, literários, cênicos e fílmicos), criminatórias como a educação antirracista.
A autora relata que algumas atividades para que as crianças possam ver e ouvir, Graduação em Pedagogia pela Facul-
rotineiras da educação infantil (oferecer uma combinando materiais e inventando formas. Na prática, o educador deve observar e dade Uniararas (2009), Especialista em
folha em branco para as crianças desenha- desenvolver uma escuta ativa, questionando a Musicoterapia pela Faculdade Campos
rem, revistas para recortarem ou rasgarem, É importante destacar que as imagens criança para descobrir o que ela pensa. Neste Elíseos (2018). Professora de Educação
tinta para pintarem e, ao final, guardar o são textos visuais impregnados de sentidos processo, faz-se necessário a documentação Infantil no CEI Parque Edu Chaves.
que foi feito na pasta de trabalhinhos; de ler que direcionam e educam o olhar oferecen- pedagógica para valorizar os saberes individ-
histórias para depois fazer atividades; de en- do referenciais para o repertório imagéti- uais e do grupo, incentivando novos desafios
saiar uma dancinha para apresentação aos co e o pensamento da criança. A autora e construção do conhecimento. Os princípios
pais; de confeccionar lembrancinhas para ainda afirma que nem tudo para a criança estéticos são desvalorizados e confundidos REFERÊNCIAS
datas comemorativas, entre outras) e ques- deve ser infantil, é necessário disponibili- com o ensino da arte. Na verdade, este princípio
tiona-se: Qual o sentido das propostas en- zar acervos que ampliem as relações das deve atravessar a rotina escolar e ajudar para BRASIL. Ministério da Educação. Sec-
caminhadas e dos produtos resultantes? Em crianças com o universo artístico cultur- que a criança amplie seu repertório cultural. retaria de Educação Fundamental. Ref-
que medida esses pressupostos estão con- al para ampliar as possibilidades de criação. erencial curricular nacional para a ed-
templados no cotidiano da educação infantil? Nem todas as escolas de educação infantil ucação infantil. Brasília, DF, 1998.
CONSIDERAÇÕES FINAIS consegue criar espaços permanentes e insti-
Segundo Ostetto (2010), apontar a di- tucionalizados de discussão e reflexão sobre _______. Ministério da Educação. Secretaria de
mensão estética (mais do que o ensino de Este artigo teve o objetivo, investigar como o PPP, uma vez que há algumas dificuldades Educação Básica. Diretrizes curriculares na-
arte) como componente de um PPP, é deslo- os princípios éticos, políticos e estéticos são no processo de identificação da explicitação cionais para a educação infantil / Secretaria de
car o particular para o geral, pois se trata de compreendidos na educação infantil?Foi pos- dos princípios.A escola precisa estimular a Educação Básica. – Brasília: MEC, SEB, 2010.
um princípio que atravessa todo o cotidiano, sível constatar que os princípios devem ori- criação de momentos de reflexão e análise
dentro e fora da escola. O artístico estaria entar e sustentar as práticas da educação sobre as práticas cotidianas vividas pelas
deste modo, compondo o estético. Conforme infantil. A ética é entendida como ciência crianças nas instituições de educação infan- _________. Parecer CEB n. 22 de 17 de dezem-
Ostetto (2010) é importante considerar a di- onde se problematiza os valores da vida, as- til, para que o corpo docente, juntamente

832 833
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

bro de 1998. Dispõe sobre as Diretrizes Curric-


ulares Nacionais para a Educação Infantil. Re- FLORIANÓPOLIS. Diretrizes educacio-
latora: Conselheira Regina Alcântara de Assis. nais pedagógicas para educação infan-
til. Prefeitura Municipal de Florianópolis.
___________. Base Nacional Comum Cur- Secretaria Municipal de Educação. Flori-
ricular (BNCC). Educação é a Base. anópolis: Prelo Gráfica & Editora Ltda. 2010.
Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017

LUÍS. J.F. A atitude do educador de infância


e a participação da criança como referenciais
de qualidade em educação. Revista Brasilei-
ra de Educação. V. 20 n. 61 abr.-jun. 2015

MARQUEZAN, F,F. MARTINS M, W.


Princípios Norteadores da Educação Infan-
til: O que dizem os Projetos Políticos-Ped-
agógicos. Revista Educação em Debate.
Fortaleza, ano 39, nº 73 - jan./jun. 2017.

OLIVEIRA Z. M. R. O currículo na educação in-


fantil: o que propõem as novas diretrizes nacio- A AVALIAÇÃO E A SOCIEDADE
nais? Anais do I Seminário Nacional: Currículo
em Movimento – Perspectivas Atuais. 2019.
RESUMO: A avaliação para a sociedade é importante para conhecer a qualidade e refletir
sobre as melhorias dos procedimentos, investimentos e tecnologias, no entanto, a avaliação
PARANÁ. Referencial curricular do Paraná: na nossa vida significa refletir para mudar fazemos registros formais sem programações para
princípios, direitos e orientações. Gov- descobrir melhores soluções para um problema. A relevância da avaliação no contexto es-
erno do Estado do Paraná. Secretar- colar é avaliar todos os que estão inseridos no processo pedagógico não só o aprendizado
ia de Estado da Educação do 2019. dos alunos para que ofereça a cada cidadão a proceder as suas escolhas futuras, tanto em
relação ao mundo do trabalho quanto em relação à continuidade de estudos. Este artigo vem
buscar reflexões a respeito das avaliações no âmbito escolar e seus percalços na sociedade.
PILLOTTO, S. S. D; SILVA, C. C. Ética, Estéti-
ca e Política na Educação pela Infância. Lin- Palavras-Chave: Avaliação; Sociedade; Melhorias
guagens - Revista de Letras, Artes e Comu-
nicação. ISSN 1981-9943. Blumenau, 2019.

TROJAN, R. M. Estética da sensibilidade como


princípio curricular. Cadernos de Pesquisa.
v. 34, n. 122, p. 425-443, maio/ago. 2004.

834 835
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO fazer à auto avaliação contínua da sua prática A avaliação necessita tomar outro rumo no função de investigar porque o critério define o
pedagógica durante todo o processo para que sentido de ter caráter interativo, intersubjeti- que queremos como resultado estabelece di-
Durante o processo avaliativo a avaliação haja um bom desempenho na aprendizagem vo, onde haja diálogo entre todos que fazem reção para avaliar e para ensinar (Haydt 2003).
nos anos iniciais é mediar, julgar, diagnosticar, do educando (Hoffmann 1998).A avaliação parte do processo. A avaliação a serviço da
corrigir, entender, ouvir, registrar, observar, mediadora é um processo qualitativo que se ação é uma avaliação mediadora, de ação ped- Conforme a autora os critérios aconte-
provocar, argumentar acompanhar intervir e avalia o todo o avaliado e o avaliador porque agógica reflexiva ao invés de uma avaliação cem no planejamento e irão determinar a
mobilizar para cada etapa do conhecimento. os novos rumos da avaliação é investigar as classificatória de julgamentos de resultados. ação pedagógica na sala de aula que re-
concepções prévias dos educandos em pro- Avaliar para promover significa compreender a sultarão o aprendizado dos alunos para a
A avaliação mediadora de acordo com Hoff- cessos avaliativos, pois, são as construções finalidade desta prática a serviço da aprendiza- evolução da aprendizagem dos conteúdos
man (1994), permite que o educando crie dis- da sua vivência na sua realidade sócio cultural gem da melhoria da ação pedagógica que visa selecionados.Na avaliação classificatória os
cussões que os leve a compreensão, a social- e a organização desses conhecimentos cabe à promoção moral e intelectual do educando. exames predominava e os conteúdos tra-
ização para construir e reconstruir etapas de ao educador com a sua intervenção trans- balhados isolados não avaliavam o processo
diferentes áreas do conhecimento e através formá- lo em científico para o desenvolvi- Sem o diálogo não há discussões, de- e não registravam os avanços do educando.
de várias respostas crie novas perguntas ge- mento global do educando (Luckesi 2009). bates com a equipe pedagógica da escola
rando a compreensão e não a memorização para despertar o confronto na relação ed- Mudou os conceitos porém, precisa mudar
como na concepção da avaliação tradicion- O processo avaliativo é lento e os ritmos ucador e educando com perguntas ricas de as práticas porque com a globalização e os
al com atitudes de alienação e reprodução. de aprendizagem são individuais e diferentes, conhecimentos para o educando pensar e avanços tecnológicos ainda as escolas prati-
A avaliação somativa visando alcançar os re- pois, os educandos estão aprendendo a partir não ter medo como na avaliação tradicion- cam exames (Vasconcellos 2010).A avaliação
sultados finais da aprendizagem alcançados dos erros repensarem, reconstruir, refazer, ser al todos estáticos. O confronto na ação faz em atividade de conhecimento sobre a qual
pelos alunos ao final de um ano ou semestre curioso para despertar a vontade de aprender o educando despertar a sua curiosidade. asseguramos a formação contínua, tanto de
letivos. Haydt (2003). Nesse sentido a auto- desde o início do processo o caminho a ser quem aprende quanto da tarefa própria da
ra ressalta na escola tradicional a avaliação trilhado tenha provocado avanços na apren- De acordo com os autores o diálogo com profissão docente. Na medida em que ocorre
era basicamente somativa e, portanto, classi- dizagem e sanar as dificuldades para que no objetivo leva as discussões, conflitos entre ed- uma, ocorre a outra. Isoladas, simplesmente
ficatória, porém, na educação moderna, pre- final do processo educador e educando ten- ucando e educador, porém, não pode ser um nos servem para encher o expediente, quem
domina a avaliação diagnóstica e formativa. ham consciência da transformação da diver- mero espaço de conversas e que o educador é o mesmo que negar a própria atividade do-
sidade do conhecimento através da teoria e não pode se sentir o centro no processo para cente. Quando a avaliação é realizada alheia a
Na prática escolar a avaliação da apren- da prática docente (Vasconcellos 2010). Para coibir a autonomia do educando para ter o diálo- aprendizagem, quem é avaliado acode ao mo-
dizagem está a serviço da aprendizagem Gallardo (2010), a avaliação é uma principal go precisa perguntas bem elaboradas e plane- mento da recepção como recurso de salvação.
do educando para diagnosticar impasses, etapa do ensino aprendizagem: a diagnósti- jadas com planificação utilizando recursos. Avaliamos enquanto aprendemos, aprendem-
se necessário propor soluções para subsid- ca, que permite observar as condutas de os enquanto avaliamos. Quando a avaliação
iar aos resultados satisfatórios desejados. entrada ou de início do processo; a forma- CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO ocorre simultaneamente Alvarez afirma:[...] o
tiva, que permite observar como o proces- DA APRENDIZAGEM avaliado produz, cria, discrimina imagina, anal-
so está acontecendo; e a fase cumulativa, isa, dúvida, necessita contrastar, erra e corrige,
REVISÃO DE LITERATURA em que é avaliado o resultado do processo. Os critérios para o exercício da avaliação são elabora respostas, formula perguntas quando
definidos no planejamento, no qual se config- surgem dúvidas , pede ajuda, busca em out-
Na avaliação mediadora é preciso que haja A avaliação diagnóstica, da oportunidade uram os resultados que serão buscados com ras fontes, avalia [...]. (ALVAREZ, 2002, p. 65).
correção ou coerção? Na avaliação classifi- para o educador verificar o perfil da apren- os investimentos na sua execução. Os critéri-
catória ou som ativa os educandos eram aval- dizagem de cada educando e com a coleta de os que definem o que ensinar e o que apren-
dados vai criar estratégias de ensino com a der e a sua qualidade desejada determina o No ato de examinar o educador não
iados pelas quantidades de conteúdos assimi- produz só repetia o que o professor fala-
lados visando à memorização correção de nota prática pedagógica para sanar as dificuldades que e como avaliar na aprendizagem escolar.
dos educandos e na avaliação formativa ou de A avaliação da aprendizagem que opera so- va não tinha a sua autonomia avaliação al-
e provas; na avaliação mediadora é analisar, in- heia a aprendizagem recebia a informação
vestigar e acompanhar o processo da evolução acompanhamento haja aprendizagem do edu- bre o processo de ensinar e aprender tem por
da aprendizagem do aluno e o educador precisa cando para ter o domínio do seu conhecimen-
to ajudando a ser um cidadão (Luckesi 2011).

836 837
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

de maneira mecânica sem a criatividade iação contínua e cumulativa no desempenho avaliação em anotações significativas sobre proporem ações para tornarem sujeitos da
e participação dos educandos. Os educa- dos alunos e o professor e o mediador para os acompanhamentos dos alunos, ofere- construção do seu próprio conhecimento.
dores não aprendiam com os educandos criar possibilidades de avanços na aprendiza- cendo-lhes oportunidades de descobrirem
porque se consideram o mestre do saber. gem observando e fazendo a intervenção para melhores condições (Vasconcelos 2009). A AVALIAÇÃO DO ACOMPANHA-
O processo de avaliação está ligado a auxiliar o educando na verificação das con- MENTO
sua prática docente do educador para re- quistas e desafios e busca do conhecimento. A existência de um senso comum pedagógi-
fletir Como? Por que Avaliar? No contexto A avaliação formativa tem a única função co procura estabelecer entre os professores a A avaliação durante certo tempo o termo
escolar estabelecer parâmetros com obje- de ajudar o educando a aprender e a progre- aceitação de que a avaliação está ligada por avaliar foi usado como sinônimo de medir e
tivos eficazes em verificar o nível de apren- dir rumo aos objetivos propostos. Por isso si só a estrutura de poder da sociedade. O testar nas novas perspectivas avaliação não é
dizagem. A avaliação é o processo contín- que a observação formativa ou simplesmente professor nessa visão não assume o seu pa- testar e medir avaliar e interpretar dados qual-
uo de investigação sobre aquilo que está de regulação dos processos de aprendizagem, pel como responsável direto na avaliação, itativos para obter um parecer ou julgamentos
sendo aprendido e a maneira como está não tem nenhum motivo para ser padroniza- aponta responsabilidade sem assumir a sua. de valor tendo por base padrões e critérios,
sendo ensinado, o professor aprende ao da, ela se insere em processo de resolução de portanto, avaliar consiste em fazer um julga-
ensinar com o educando (Luckesi 2011). problema e depende das necessidades. A reg- No início da década de 1980 e no final da mento sobre os resultados, comparando o que
ulação é interativa, passam por intervenções de 1990, Freire (1983), já tinha uma visão foi obtido com o que se pretende alcançar.
A Avaliação não é para excluir e selecio- do professor durante uma atividade, novos crítica que os critérios da avaliação tradicion-
nar é para formar os novos conhecimentos enfoques. A avaliação formativa deve ser ex- al não poderiam continuar porque os educan- A avaliação da aprendizagem só cumprira
dos educandos nos contextos social, cultural ercida de diversas maneiras (Perrenoud 2002). dos não tinham autonomia de se expressar o seu papel se houver clareza e dedicação
e éticos e a missão do educador é instigar o a avaliação tinha o objetivo de selecionar os e investimentos em busca de melhores re-
aprendizado e conhecer o aluno como o su- A AVALIAÇÃO NO CONTEXTO ESCO- mais habilidosos em todas as áreas do conhe- sultados porque a prática avaliativa exige
jeito do conhecimento. Por uma abordagem LAR cimento e o professor era o centro do proces- acompanhamento durante o processo e a
crítica Luckesi (2011), evidencia que a aval- so é a sua função transmitir o conhecimento avaliação de certificação testemunho final
iação direciona ao educando uma tomada de Hoje no contexto escolar a avaliação e os alunos avaliados de forma homogênea. da aprendizagem do educador ter o obje-
decisão no aprender a aprender com autono- é vista como processo continua, mensu- tivo é analisar os critérios de avaliação uti-
mia. Nesse sentido o professor terá um posi- ração e alguns professores definam a aval- A avaliação após LDB (1996), teve ênfase lizados pelos professores no processo en-
cionamento frente à aprendizagem do aluno. iação como não deveria existir do contex- porque os professores tiveram que ade- sino aprendizagem (Vasconcelos 2009).
to escolar. Na perspectiva da avaliação quar-se as mudanças na maneira de como en-
mediadora com vários instrumentos e reg- sinar, de avaliar. A avaliação mediadora o pro- Para que os educandos possam inter-
A AVALIAÇÃO FORMATIVA istro sobre os alunos os professores estão fessor faz a mediação do conhecimento desde pretar e assimilar os conteúdos duran-
qualificados para avaliar os seus alunos? o início do processo com a avaliação diag- te ou após a planificação porque além de
Dentro do processo ensino aprendizagem nóstica detectando os conhecimentos prévi- aprenderem os conteúdos se formar como
a avaliação formadora tem a função de ver- Na reflexão mediadora e formadora os os e durante o processo provocar discussões. sujeito e cidadão do seu próprio conhe-
ificar os níveis de aprendizagem do aluno registros devem estar expressos os avanços, cimento porque sem ação planejada e plan-
onde se encontra a base para que isso acon- as conquistas, as descobertas dos alunos Os questionamentos do educando porque ificada não tem como existir a avaliação.
teça os objetivos são traçados previamente por mais simples que seja para saber fazer todos devem ser avaliados e não apenas o
na elaboração do planejamento escolar po- leitura do mundo partindo da sua realidade aluno fazer o registro qualitativo com os di- Avaliar é retratar a qualidade de uma ação
dendo ser replanejado de acordo com as ne- e criar possibilidades em busca de novos versos instrumentos de avaliação porque para termos resultados satisfatórios, avaliar
cessidades pontuadas durante o processo de porquês para que haja a mediação e a au- na avaliação tradicional os mais utilizados como o ato de investigar e intervir no proces-
aprender aplicando a estratégias de ensino tonomia do conhecimento (Hoffmann 2004). eram notas conceitos e a memorização com so ensino aprendizagem é investir no acom-
diversificadas com projetos interdisciplin- os conteúdos trabalhados de forma isolada panhamento e formação do educando para
ares e unidades temáticas (Gallardo 2010). A avaliação dialógica exige a observação e hoje são trabalhados a partir de um con- não ter uma visão restrita de mundo e deix-
Na década de 90, foi marcado pela priori- individual de cada aluno, atenta ao seu mo- texto com projetos interdisciplinares e uni- ar os velhos paradigmas da avaliação tratan-
dade do tema avaliação na LDB nº 9394/96 mento no processo de construção do con- dades temáticas. Por que avaliar? Para bus-
no inciso V artigo 24 aborda critérios de aval- hecimento e transformar os registros de car, investigar, fazer levantamentos de dados,

838 839
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019 Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

do como ato isolado do pedagógico tanto na e qualificar a realidade voltada para uma for- REFERÊNCIAS
escola como na sociedade (Alvarez 2002). ma mecânica e de uma educação bancária. Na o ensino do professor e a aprendizagem do
A avaliação será aliada na nossa jorna- prática escolar a avaliação da aprendizagem aluno e a aprendizagem do professor. O pro- ALVAREZ, Mendez. Avaliar para conhecer, ex-
da mostrando-nos os resultados do que está a serviço da aprendizagem do educan- fessor ensina e aprende com o aluno de for- aminarpara excluir. PortoAlegre:Artmed, 2002.
fizemos e o que falta fazer para que cheg- do para diagnosticar impasses, se necessário ma contínua porque ensinar exige pesquisa.
uemos no qual estabelecemos chegar. Du- propor soluções para subsidiar aos resulta- Não há ensino sem pesquisa e nem pesquisa BRASIL. Lei n º 9.394, de 20 de dezembro de
rante o ato pedagógico precisamos de dos satisfatórios desejados (Luckesi 2009). sem ensino. Ensinar, buscar indagar. Pesqui- 1196. Estabelece as Diretrizes e Bases da Ed-
componentes o planejamento, execução Qualquer prática pedagógica é baseada em sar quer constatar, intervindo. Faz parte ucação Nacional. Diário Oficial [da] República
e a avaliação a ausências deles frustram o uma teoria porque ambas fazem parte do pro- da natureza da prática docente a avaliação
próprio ato e o projeto político pedagógico. cesso de avaliação e o educador precisa ter os contínua a indagação, a busca e a pesquisa. Federativa do Brasil, Brasília, DF, v. 134, nº
Os conteúdos curriculares fazem a me- critérios bem definidos O que ensinar e o que 248, 23 dez. 1996. Seção 1, p. 27834-27841.
diação entre o educando e a cultura que o cer- aprender e a sua qualidade desejada determina
ca, a didática que é o mediador fundamental o que e como avaliar na aprendizagem escolar. BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
para a execução do projeto político pedagógi- E DO DESPORTO. Secretária de Ed-
co e o educador ativo investigador na busca CONSIDERAÇÕES FINAIS ucação. Parâmetros Curriculares Na-
de resultados satisfatórios afirma Luckesi: cionais. Brasília: MEC/SEF, 1997. V.7.
O educador deve ser um pesquisador
[...] Um projeto político pedagógico para efetivar-se e ser- constante das teorias e aplicá-las na práti- FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido.
vir de parâmetro para avaliação da aprendizagem necessi-
ta de mediadores Visões teóricas serão somente visões se
ca pedagógica com qualidade, para termos 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
não se traduzirem em práticas efetivas, ou seja, que pro- resultados satisfatórios e contribuir para
duzem resultados no cotidiano [...]. (LUCKESI, 2011, p.59). a formação do educando na vida para ter- GALLARDO, Jorge Sergio Perez. Práti-
mos boas práticas em sala de aula é pre- ca de ensino em educação física a cri-
A avaliação como um mediador no projeto ciso saber da teoria e mostrar novos re- ança em movimento. São Paulo: 2010.
político pedagógico e na formação de conhec- cursos tecnológicos aos educandos para
imentos requer resultados desejáveis e defini- despertar a vontade de aprender de cada um. VANESSA FERREIRA VASCONCELO HADJI, Charles. Avaliação Desmisti-
dos não qualquer um porque avaliar é uma in- ficada. Porto Alegre: Artmes, 2001.
vestigação continuam e fazer as intervenções O processo contínuo de auto avaliação Graduação em Pedagogia (2010) pela Uni-
necessárias para torna-se claro e compreensível está no cerne da relação entre educador e versidade Mogi das Cruzes. Pós-Graduação HAYDT, Regina Cazaux. Aval-
o que ainda é obscuro (Hoffmann 2004). educando. Ao desafiar os educandos a refle- em Administração Escolar, Supervisão e Ori- iação do processo ensino aprendiza-
tir o professor também estará refletindo so- entação (2018) pela Universidade Cândido gem. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
A avaliação de acompanhamento preci- bre processos didáticos, sobre a adequação Mendes. Professora na Prefeitura Municipal
sa de uma investigação de qualidade ten- de suas perguntas, críticas, comentários, de São Paulo e no Estado de São Paulo. HOFFMANN, Jussara. Avaliação medi-
do por base uma coleta de dados durante tomando consciência sobre o seu pensar, adora: uma prática em construção da
o processo da ação e m execução que terá num processo igualmente de auto avaliação. pré-escola a universidade. 14.ed. Por-
um resultado final satisfatório em andamen- to Alegre: Educação e Realidade, 1998.
to e se não ocorrer precisará fazer a inter- A auto avaliação ajuda o educador a verifi-
venção para a correção ou a reorientação. car a aprendizagem dos alunos e o seu trabalho ________. Avaliar para promover; As setas
em sala de aula e se os resultados não forem do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2004.
Durante o processo de construção do edu- alcançados ir à busca de novas estratégias
cando a avaliação de acompanhamento reali- para analisar e fazer as mudanças necessárias LEITE, Sergio Antônio. Afetivi-
za-se em três etapas: descrever, qualificar e in- durante o processo é um autoavaliação para dades e práticas pedagógicas. São
tervir na realidade se necessário, entretanto, a o crescimento das práticas pedagógicas. Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.
avaliação do produto realiza-se em descrever
A avaliação contínua é a mediação entre

840 841
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação de a aprendiza-


gem escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 2009.

MORIN, Edgar. Ética, cultura e educação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

PERRENOUD, Philippe. As competências para ensinar no século XXI. A for-


mação dos professores e o desafio da avaliação. São Paulo. Armed, 2002.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodolo-


gia do trabalho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

VASCONCELOS, Celso Santos. Avaliação: Concepção dialéti-


ca libertadora do processo de avaliação escolar. São Paulo: Libertad, 2010.

842
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

RECORTES ACERCA DA HISTORICIDADE DA EDUCAÇÃO


DE SURDOS

RESUMO: A educação de surdos é uma questão importante a se trazer à baila, pois é primordial
que esses alunos sejam postos enquanto protagonistas do processo educacional e social, uma
vez que seu futuro depende disso, assim como ocorre com alunos ouvintes em seu processo de
inserção na sociedade. Desde pouco tempo, foram feitas tentativas para implementar o bilin-
guismo em sala de aula, mas ainda há um longo caminho a percorrer até que esta realidade esteja
a nosso alcance. Existem algumas escolas de educação infantil que já são bilíngues, ou seja, são
ensinadas em duas línguas – Língua Portuguesa e LIBRAS. No passado, os alunos surdos eram
ensinados em centros específicos, mas isso não significava que os professores fossem qualifi-
cados, ou seja, conheciam a língua de sinais, pois o objetivo principal era treinar alunos surdos
permeado pela linguagem oral. Isso significou um grande retrocesso aos alunos surdos pois eles
tentaram ensinar uma linguagem oral por meio da visão, uma língua que deveria ser ouvida e
ensinada pela visão. Daí a necessidade de usar a língua de sinais para ensinar linguagem oral e
escrita. A língua de sinais é o principal elo para poder direcionar a árdua tarefa de ensinar.

Palavras-chave: Surdez; Inclusão; Escola; Aluno; Crianças.

843
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO tudos que compõem este modesto trabalho.

A Declaração de Salamanca (UNESCO, A inclusão educacional tem sido analisada


1994) é um documento político que de- por alguns autores como uma das alternati-
fende os princípios de uma educação in- vas ao chamado "dilema" da diferença (MEL-
clusiva, pois propõe que todos os alunos LO, s.d, p, 3). A essência desse dilema gira em
tenham o direito de se desenvolver de acor- torno da tensão entre oferecer a cada aluno
do potencialidades e as habilidades que a resposta educacional que melhor se adapte
lhes permitam participar da construção de às suas necessidades educacionais específi-
uma sociedade mais igualitária enquan- cas e, por outro lado, para fazer isso no âm-
to protagonista nesse processo. Para alca- bito dos sistemas educacionais, centros, cur-
nçar esse objetivo, o sistema escolar tem rículos e salas de aula "comuns" – inclusivas
a responsabilidade de oferecer uma ed- poderíamos dizer ao nos referirmos a estas
ucação de qualidade a todos alunos que classes, pois é por intermédio delas que os
contemple as demandas sociais e culturais. estímulos vindos do contexto vivencial in-
troduzirão valores e atitudes que podem
A educação inclusiva reivindica que to- ser melhor aprendidos nos meios os quais
das as crianças e jovens tenham, em pri- habilidades sociais promovam o respeito e
meiro lugar, o acesso universalizado à ed- a diversidade, não discriminando os difer-
ucação, mas não a qualquer educação, entes mas aprendendo com as diferenças.
a uma educação com qualidade e iguais
oportunidades esses elementos definem Como muitas análises estão vindo à luz,
a inclusão educacional ou educação inclu- este dilema gera múltiplos conflitos e con-
siva. O caminho para a inclusão implica, trovérsias que vão refletir episodicamente
portanto, reduzir as barreiras impedem ou no quadro dos valores sociais dominantes em
dificultam o acesso a participação e a uma cada sociedade, nas políticas que as adminis-
aprendizagem de qualidade, com atenção trações apoiam a este respeito e na qualidade
aos alunos que estão mais expostos as situ- das "tecnologias educativas" (aplicação das te-
ações de exclusão assim como os que care- orias na prática), com as quais os professores
cem de métodos educacionais especiais. devem adequar as suas salas de aula com-
preendendo a problematização entre atender
O objetivo deste artigo não é esgotar as à individualidade no contexto de um grupo de
discussões sobre o conceito de educação alunos que aprendem de maneira diferente.
inclusiva, mas propor uma visão geral de
uma série de questões relacionadas a abor- A educação de alunos surdos, necessita de
dagens inclusivas na educação de alunos programas educacionais específicos, quanto
surdos, que servirão para estabelecer um a isso são geradas enormes controvérsias.
contexto interpretativo e integrativo dos es- Duas questões inevitavelmente aparecem

844
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

sempre que a ideia de inclusão é abordada, ou conexão dupla e complexa com o grupo
no caso: linguagem e identidade. Os autores dos surdos e com a sociedade ouvinte al-
que se opõem à inclusão de alunos surdos cançaremos parcialmente a meta inclusiva.
em escolas comuns argumentam a dificul-
dade de desenvolver a linguagem de sinais Por esta razão, a sociedade – a começar
ou sinais e a identidade das crianças surdas pela família e consequentemente a escola e
dentro dos centros educacionais com a maio- serviços sociais – deve oferecer-lhes opor-
ria dos alunos ouvintes (THOMA, 2000). tunidades de desenvolver habilidades e com-
petências que lhes permitam crescer como
Os problemas que eles indicam são, a falta de pessoas seguras, capazes de se relacionar e
professores que conhecem e dominam a lín- agir da forma mais autônoma e satisfatória
gua brasileira de sinais e a utilizam de forma in- possível em ambos os contextos sociais.
eficaz os processos de ensino e aprendizagem
com esses alunos, outros desafios repousam BREVE HISTÓRIA DA EDU-
nas dificuldades em interagir com alunos CAÇÃO DE SURDOS ATÉ O SÉ-
ouvintes e professores sem compartilhar de CULO XVII
um mesmo código comunicativo, bem como
nas dificuldades para acompanhar o ritmo de Desde os tempos antigos os surdos foram
aprendizagem de seus colegas ouvintes na sala. discriminados, corrigidos ou simplesmente
descartados por serem considerados descon-
No entanto, o debate sobre inclusão evolu- exos dos padrões de normalidade. Lançare-
iu e hoje sabemos que questões relaciona- mos mão de uma breve análise de diferentes
das ao espaço físico devem ser distinguidas períodos e localidades para mencionar como
daquelas vinculadas ao ambiente social e ocorreu a construção pejorativa da ima-
emocional. Como será visto mais adiante, gem do sujeito surdo ao longo do processo
o importante não é o lugar físico no qual as histórico bem como e exclusão dessas pes-
crianças surdas estão situadas, mas a capaci- soas junto ao processo de desenvolvimen-
dade dos sistemas educacionais em promov- to social. Para os povos da Antiguidade os
er soluções adaptadas às necessidades carac- surdos gozavam de uma posição privilegia-
terísticas dos alunos surdos, que permitam a da, as estruturas religiosas da época permi-
sua inserção linguística, emocional, social e tiam a interpretação do silêncio dos surdos
acadêmicas. Essas questões são importantes como uma divinização da condição humana.
ao que se refere a educação de alunos surdos.
Para os países Egito e Pérsia, os surdos eram
Se levarmos em consideração a urgência de considerados como sujeitos privilegiados en-
se lançar luz a essas problemáticas eles rep- viados dos deuses, porque pelo fato dos sur-
resentam ainda sujeitos mais importantes, dos não falarem e viverem em silêncio, eles
se considerarmos e aceitarmos sua pertença achavam que os sujeitos surdos conversavam

845
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

em segredo com os deuses numa espécie de gumentou que era possível ouvir e falar por
meditação espiritual. Havia um possante sen- meio da escrita. Dizia que as pessoas surdas
timento de respeito, protegiam e ‘adoravam’ os poderiam ser entendidas por combinações es-
surdos, todavia os sujeitos surdos eram man- critas de símbolos, associados à coisas a que
tidos acomodados sem serem instruídos e não se buscavam valorar enquanto referência. A
tinham vida social. (STROBEL, 2008b, p. 82) partir de então a visão dos surdos começa a
sofrer uma significativa mudança, eles pas-
Aristóteles estava se referindo à surdez como sam a não mais serem vistos como "mon-
sinônimo de falta de inteligência, essa afir- stros" descarte, se não "deformado" para
mação foi mantida por mais de dois mil anos. corrigir. Este foi o primeiro passo para que,
Em Esparta, crianças com alguma deformidade depois de vários séculos, se possa trabalhar
ou deficiência eram levadas à um lugar secreto a surdez de uma maneira macro e inclusiva.
no qual eram lançadas em desfiladeiros, eram
afogadas ou abandonadas à própria sorte para A mudança começou a partir de 1530, Pe-
morrerem, destino o qual os surdos passaram. dro Ponce de León, um dos primeiros edu-
Inicia a história na antigüidade, relatando cadores de surdos que vivia em uma cidade
as conhecidas atrocidades realizadas contra na região da Espanha, responsável pela
os surdos pelos espartanos, que condenavam fundação da primeira escola de surdos junta-
a criança a sofrer a mesma morte reservada mente com Vicente de Santo Domingo Seus
ao retardado ou ao deformado: "A infortun- alunos eram surdos filhos de nobres que, por
ada criança era prontamente asfixiada ou medo da exclusão social e perda de prestí-
tinha sua garganta cortada ou era lançada gio e da lei, procuravam León para os auxil-
de um precipício para dentro das ondas. Era iar ensinando-os leitura e escrita – escrever,
uma traição poupar uma criatura de quem falar e aprender os dogmas da fé católica.
a nação nada poderia esperar (BERTHIER, Em 1620, Juan Pablo de Bonet publicou um
1984, p.165, Apud STROBEL, 2009. p, 16). trabalho que foi considerado a primeira obra
de sinais para surdos, que continha um al-
No século VI, na região de Península Itáli- fabeto manual. Com isso, ele pretendia en-
ca, os surdos foram acolhidos pelas congre- sinar os surdos, sinais manuais na forma de
gações religiosas que foram regidos pelo alfabeto para melhorar sua comunicação.
chamado governo do silêncio de São Benedi- A situação das pessoas com surdez pré-lin-
to (monges beneditinos). Esta regra consistia guística, antes de 1750 era de fato uma
na obrigação por parte dos monges em se co- calamidade: incapazes de desenvolver a fala
municar por sinais durante suas necessidades e portanto, “mudos’’, incapazes de comuni-
diárias, os votos de silêncio não deveriam ser car-se livremente até mesmo com seus pais
violados. No final da Idade Média algumas e familiares, restritos a alguns sinais e gestos
modificações ocorreram, no final do século rudimentares, isolados, exceto nas grandes
XVI Girolamo Cardano, médico italiano, ar- cidades, até mesmo da comunidade de pes-

846
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

soas com o mesmo problema, privados de o Instituto Nacional de Educação de Sur-


alfabetização e instrução, de todo o conhe- dos (INES), como ainda hoje é conhecido.
cimento do mundo, forçados a fazer os tra- A criação da LIBRAS veio juntamente como
balhos mais desprezíveis, vivendo sozinhos, INES, partindo de um misto entre Língua de
Sinais já utilizada na França (Língua Francesa
muitas vezes à beira da miséria, considerados
de Sinais) e de gestos utilizados a mais tempo
pela lei e pela sociedade como pouco mais pelos surdos brasileiros. Essa língua amplian-
do que imbecis a sorte dos surdos era evi- do pouco a pouco seus espaços, mas por volta
dentemente medonha (SACKS, 2010, p. 24). de 1880, veio a sofrer uma importante perda.
Um congresso ocorrido em Milão como obje-
Quanto ao abade Charles-Michel de l'Épée, tivo de debater sobre a utilização das Línguas
conhecido como o inventor da linguagem de de Sinais e surdez proibiu seu uso no mundo.
sinais – muitas pessoas na comunidade sur-
Isso ocorreu, pois, a crença de que a lei-
da não reconhecem assim, a comunidade tura labial era defendida como a forma mais
surda afirma que a comunicação por meio viável de comunicação para os surdos. Por
de sinais existe desde o início da raça hu- esse motivo uma nova barreira se impôs fa-
mana – detém o mérito de ser o fundador zendo com que os surdos parassem de se
da primeira escola que transmitiu conheci- utilizar dos sinais como forma de comu-
mento por meio da língua de sinais em Paris. nicação, representando um grande atra-
so na difusão da língua de sinais no país.
Por mais de um século encarou-se o pre-
A HISTÓRIA DOS SURDOS NO domínio do oralismo sobre a educação de
BRASIL surdos em escala mundial, isso veio repre-
sentar um longo período de fracasso na ed-
Podemos afirmar que a nível nacional ucação brasileira e na preocupação com os
Dom Pedro II se destaca na história da edu- surdos para muitos especialistas do período.
cação de surdos, o imperador se interessou
por essa modalidade de educação em vir- O oralismo representou um período de
tude de seu genro, o Príncipe Luís Gastão de escravização para o surdo, esses tinham em
Orléans, Conde d’Eu, esposo de sua segunda muitos casos as mãos atadas para não se co-
filha, a princesa Isabel, pois parecia ser par- municarem. Nas escolas a língua de sinais
cialmente surdo. Entretanto não existem ev- representava uma espécie de deturpação
idências concretas com relação a esse fato. na comunicação, aqui temos também a edu-
cação de surdos em mosteiros ou asilos, o que
Mas esse ponto se destacou enquanto refletia a única possibilidade de se instruir.
aspecto positivo na preocupação com uma Mesmo após a proclamação da República,
escola voltada para a educação de surdos, encontramos traços tradicionais arraigados
por esse motivo a convite de Dom Pedro numa cultura deletéria que implicou no atra-
II, um professor surdo francês e sua espo- so de inúmeras pessoas quanto a participação
sa chegam ao Brasil, em 1855, objetivando ativa na sociedade. Mesmo com os impulsos
fundar uma escola voltada para pessoas da ebulição democrática, a escravidão ainda
surdas. Assim na cidade do Rio de Janeiro
no dia 26 de setembro de 1857 é fundado

847
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

se pronuncia na vida dos surdos, ainda estão do das pessoas ouvintes, nem tampouco os
agrilhoados as formas de dominação oraliza- sistemas governos e muito menos as univer-
das. Estes dois lados, a liberdade e a democra- sidades, essas instituições não percebiam e
cia em conjunto com evolução política e social também não aceitavam a utilização de uma
brasileira, enquanto a escravidão e o retro- língua de sinais que pudesse ser válida en-
cesso educacional com relação aos surdos. quanto uma nova forma de comunicação.
Foi neste período que do mesmo modo se
Por volta de 1960, uma grande “descober- notou a existência de línguas de sinais, e que
ta” mudaria esse caminho. O Dr. William C. estas, não eram universais pois cada país
Stokoe professor da Universidade Gallaudet possuía sua língua de sinais com códigos e
nota que a língua de sinais usada por surdos nos estruturas distintas. Segundo Fernandes
Estados Unidos possui estruturas linguísticas (2003), o “Bilinguismo é mais do que o
singulares. Essa é a primeira vez que alguém domínio puro e simples de uma outra língua
se dedica a relatar um evento que já ocorria como mero instrumento de comunicação. E
há anos, mas que, entretanto, nunca havia neste sentido, apenas os integrantes des-
sido notado. Stokoe tendo em conta de que a sa comunidade, como surdos, podem con-
língua de sinais utilizada na América do Norte tribuir, de modo efetivo, para a educação de
é natural, complexa e completa e também us- crianças surdas” (FERNANDES, 2003, p. 55).
ada por toda sociedade surda americana pode
buscar uma maneira de se enxergar a educação Para o autor, O bilinguismo – como o
de surdos e sua integração no meio social. próprio nome evidencia – diz respeito a
duas línguas, aqui no Brasil, relaciona-se
Portanto, tomando-se por base a desco- nesse sentido à LIBRAS e a modalidade es-
berta feita por Stokoe, uma nova perspectiva crita da Língua Portuguesa.Por meio do de-
se mostra ao mundo dos surdos para prosse- creto nº 5.626/05 a LIBRAS torna-se língua
guir em sua busca pela igualdade, na busca de de referência na instrução de alunos sur-
melhores caminhos para a educação e recon- dos e a também a língua das comunidades
hecimento. Esses novos meios a se desen- surdas brasileiras. Mesmo tendo a Língua
volverem são bem menos tortuosos que os Portuguesa como vernácula, devendo essa
de outrora, caracterizados por uma verda- ser estudada para ser lida e interpretada
deira implantação fronteiriça e castradora pelos surdos, ela não tem a obrigatorie-
fruto de uma ditadura da oralidade. Apresen- dade de oralização, portando não falada.
ta-se e renascimento e a legitimidade da lín-
gua de sinais por diversos países do mundo. FORMAÇÃO DOCENTE E OS
Usamos aqui o termo renascimento para
DESAFIOS NA EDUCAÇÃO DE
designar que a prática da comunicação por SURDOS
sinais que já fora utilizada e posteriormente
banida, passa por um novo surgimento, um Numa sociedade majoritariamente ou-
renascimento, para surdos e suas comuni- vinte pode caracterizar a exposição de uma
dades. Não obstante, a percepção dessas prática pedagógica pautada numa propos-
mudanças não alcançou de imediato o mun- ta oralista, longe de respeitar e entend-
er a pessoa surda e as peculiaridades que

848
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

esta demanda. É necessário que a formação construção de um conhecimento progressivo


do professor venha possibilitar dispositivos e resiliente, sistematizado e com perspec-
de construção de recursos pedagógicos es- tivas às inovações recorrentes, encarando
tratégicos para viabilizar a inclusão, mais es- os desafios para a viabilização de uma edu-
pecificamente de alunos surdos, levando esse cação enquanto processo de integração ed-
conhecimento não só para a sala de aula, ucacional e social, fundamentada numa cul-
mas para além dos muros da escola, tornan- tura inclusiva respeitando os princípios dos
do a Libras um instrumento de comunicação, direitos humanos, pois a educação como um
transformação e acesso ao conhecimento. direito de todos, deve ser ofertada tendo
em vista a garantia de acesso e os elemen-
Considerando o contexto em que as esco- tos básicos para a permanência nas escolas.
las propiciam a inclusão de pessoas surdas nas Algumas políticas públicas vêm sendo imple-
classes regulares de ensino, emergem uma mentadas para que a efetivação da educação
série de indagações sobre o método de ensino de surdos seja viabilizada em nível superior.
da pessoa surda. O primeiro questionamento
órbita na preocupação com a língua, isso pois Contudo, faz-se primordial refletir
como sabemos a língua oficial do país que é como está ocorrendo esse processo de in-
valorizada majoritariamente no processo co- serção, ou seja, como estão sendo inseri-
municativo na sala de aula ainda reflete é um dos nesse ensino. É necessário consider-
grande desafio para a educação de surdos. ar o modo pelo qual as universidades estão
recebendo e viabilizando a permanência
Deste modo outros questionamen- dos alunos surdos no ensino superior.
tos ganham margem, e as dúvidas se vol- GOFFREDO (2004) assevera que, para que se
tam para o processo formativo do pro- possa atender às necessidades educacionais
fessor para atender as necessidades dos de jovens surdos, é fundamental partirmos
discentes, ou no tipo de currículo que tor- do princípio securitário em seu ingresso na
nará viável uma metodologia de ensino universidade por meio do vestibular. Contu-
voltado para as necessidades dos surdos. do, isso não confirma que a inclusão venha
É fundamental que percebamos que a intro- se concretizar, pois após vencido o obstá-
dução formativa universitária proponha e culo do ingresso, o desafio que apresenta é
propicie as condições basilares de trabalho ao a permanência no curso, essa irá depender
docente indo muito além de teorias engessa- fundamentalmente da mediação profissional
das e estanques, que na maior parte dos casos do intérprete. Inúmeros são os desafios en-
não representa as necessidades do aluno, ou frentados por estudantes surdos que buscam
seja, construir um conhecimento significativo uma educação que leve em consideração as
dando a devida importância ao cotidiano vivi- diferenças, que crie uma esfera de respeito.
do e vivendo os desafios e angústias que cotid-
ianamente se apresentam na vida dos educa- O que mais se encontra é uma pedagogia
dores no processo de ensino e aprendizagem. pasteurizada preocupada com o público ou-
É indispensável compreender a formação do vinte, não conhecendo as especificidades do
professor enquanto um processo inacabado sujeito surdo. Em muitos casos, o professor, em
e, portanto, carecendo de continuidade na sala de aula nos cursos de graduação, remete-

849
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

se aos alunos surdos no intento improfícuo da es não leva em consideração os desígnios de


“inclusão”, na crença de que sorrir, gesticular, uma população que pode vir a compor par-
acenar, desenhar ou falar com o intérprete te da sua clientela, portanto ao se preocupar
representam ações de viabilização educativa com o bilinguismo, está muito mais que se
e igualitária requisitada por estes estudantes. dispondo a receber alunos surdos, transfor-
mando realidades e quebrando paradigmas.
Nesse contexto assevera SKLIAR (2005), As diferentes formas de proporcionar uma
que o usufruto da língua de sinais represen- educação bilíngue à criança em uma escola
ta “um direito dos surdos e não uma con- dependem de decisões político-pedagógicas.
cessão de alguns professores e escolas”. A Ao optar-se em oferecer uma educação bilín-
educação representa um processo inalienável gue, a escola está assumindo uma política lin-
no desenvolvimento humano e os surdos têm guística em que duas línguas passarão a coex-
plenos direitos de acesso à educação venha istir no espaço escolar (Quadros, 2006, p.18).
a privilegiar a sua língua materna em con-
sonância com a legislação brasileira vigente, CONSIDERAÇÕES FINAIS
não podendo lhe ser negado isso. As garan-
tias desses direitos no Brasil foram construí- No final do século XX e início do XXI, nasce
das paulatinamente, leis e decretos vieram em torno da surdez uma crescente preocu-
garantir – ao menos na teoria – o acesso a pação da sociedade em geral para com os
uma educação diferenciada para estes alunos chamados "grupos vulneráveis", que estão
salas e classes regulares, nas quais pos- começando a ser vistos numa visão holística
sa sua língua nacional de signos ser recon- que gera esses aspectos sociais, econômicos,
hecida, legitimada, respeitada e valorizada políticos e culturais no cenário mundial, fa-
como LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). zendo necessária uma complementação entre
eles para alcançar maior desenvolvimento e
O mesmo processo ocorre longe dos ban- crescimento.
cos universitários, após formado o educador
vai de encontro com múltiplas realidades Assim, as razões que dão origem à questão
que nem sempre – ou quase nunca – foram da surdez começam a ser discutidas por vári-
foco em sua formação, pois como dito ante- os meios, com o crescimento populacional,
riormente o ensino superior ainda se mostra gerando políticas públicas e sociais, buscando
de alguma maneira refratário a aceitação do uma coordenação entre o Estado e sociedade
bilinguismo da língua de sinais. Nas esco- civil, globalização, modernidade e pós-mod-
las, inúmeros alunos se deparam com esses ernidade.
mesmos dilemas, as maneiras de se buscar a
comunicação ou a viabilização de uma apren- Nas últimas décadas, as ciências sociais
dizagem verdadeira se perdem na má for- estão integradas com um poder incomum na
mação do profissional ou na pouca importân- redefinição das diferenças. A redução radical
cia dada pelo próprio sistema de ensino. tende a operar concepções centradas como os
modelos alternativos propostos e noção ort-
As escolas ao desenharem seu Projeto odoxa a começar por sujeitos surdos. Muito
Político e Pedagógico, na maior parte das vez- provavelmente este fenômeno é encontrado

850
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

e coberto de deslizamentos próprios de dis-


cursos sociais sobre a deficiência, na qual ele
tende a inverter os valores, a condição de sur- REFERÊNCIAS
dez, pura negatividade desaloja para torná-lo
uma diferença que tende a positividade de BRASIL Lei 10.436, de 24 de Abril
ser diferente, pois abriga o próprio fato de ser de 2002. Dispõe sobre a Lín-
e por isso mesmo requer os mesmos padrões gua Brasileira de Sinais – LIBRAS.
de respeito que qualquer membro da socie-
dade merece. BRASIL Decreto nº 5.626, de 22 de Dezembro
de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24
de abril de 2002, que dispõem sobre a Língua

Brasileira de Sinais - LIBRAS, e o art. 18 da


Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000.

FERNANDES, E. Linguagem e sur-


dez. Porto Alegre: Artmed, 2003.

GESSER, Audrei. Libras? Que língua é


essa?: Crenças e preconceitos em tor-
no da língua de sinais e da realidade surda.
1ªEd. Parábola Editorial, São Paulo. 2009.
TATIANA APARECIDA DE
LIMA GOFFREDO, V. L. F. S. A Inclusão da pes-
soa surda no ensino superior. Fórum,
Rio de Janeiro, v.10, p.16-22, dez. 2004.
Graduação em Pedagogia pela Faculdade
UNIBAN (1999); especialista em Super- LEANDRO, Fúlvia Ventura. Socialização,
visão Escolar pela Faculdade Campos Elíseos inclusão e exclusão social e educacion-
(2018); Professora de Educação Básica na al dos surdos: um olhar sobre a identi-
EMEI Prof.ª Yukio Ozaki . dade dos sujeitos participantes dos pro-
jetos EAMES e SAB. Viçosa: Universidade
Federal de Viçosa, Minas Gerais, 2017.

LONGMAN, Liliane Vieira. Memória de


Surdos. Recife: Fundação Joaquim Na-
buco. Editora Massangana, 2007.

MELLO, Anahi Guedes de. O Mod-


elo Social da Surdez: Dilemas E Desafi-
os para a Educação Inclusiva. S.D (2018).

851
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

SACKS, Oliver W. Vendo Vozes: Uma


Viagem ao Mundo dos Surdos. São
Paulo: Companhia das letras, 2010.

STROBEL, Karin L. A visão histórica da in-


(ex)clusão dos surdos nas escolas. Educação
temática digital. v. 7, n. 2, 2006. p. 244-252.

______. As imagens do outro sobre a cul-


tura surda. Florianópolis: UFSC. 2008a.

SKLIAR, Carlos (org). A Surdez: um


Olhar Sobre as Diferenças. Edito-
ra Mediação. Porto Alegre, 2005.

THOMA, Adriana da Silva. Os surdos na


Escola Regular: Inclusão ou Exclusão? In:
Reflexão e Ação V.6, n.2 (jul/dez) San-
ta Cruz do Sul; Editora: UNISC, 2000.

852
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

OS ESTUDOS EM PSICOPEDAGOGIA E A SUA CONTRIBUIÇÃO


PARA O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

RESUMO: Este estudo traz uma revisão bibliográfica com o tema voltado ao estudo da
Psicopedagogia e as suas contribuições para as práticas de ensino e para o processo de
aprendizagem na escola, no que diz respeito ao atendimento e acompanhamento dos
alunos que apresentam alguma dificuldade em assimilar os conteúdos. Dentro desse tema,
o objetivo deste trabalho é apresentar e refletir acerca da importância dos estudos em
Psicopedagogia relacionadas a Educação. O psicopedagogo institucional trabalha na insti-
tuição escolar e realiza o levantamento e compreensão, analisando as práticas que acon-
tecem no âmbito escolar e a atuação da equipe escolar. O objetivo do diagnóstico é com-
preender globalmente a maneira como a criança aprende e o que está ocorrendo neste
processo dificultando a aprendizagem, depois de especificado o problema parte-se então
para o encaminhamento de ações para solucioná-los. O profissional em psicopedagogia
indicará a dificuldade de aprendizagem, que foi diagnosticada na sessão e depois da devo-
lutiva ao paciente inicia-se o processo de intervenção para integração escolar e social.

Palavras-chave: Psicopedagogia; Aprendizagem; Atendimento Psicopedagógico; Diag-


nóstico Psicopedagógico.

853
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

psicopedagógica vai interferir e influenciar di-


INTRODUÇÃO retamente os resultados obtidos, é preciso que
se tenha bem claro quais são os propósitos da
O atendimento psicopedagógico e a
intervenção e qual é o melhor instrumento a
psicopedagogia são aliados no processo
ser utilizado naquele momento, baseado nas
de ensino e aprendizagem na escola e o
informações que se tem daquele indivíduo e
conhecimento desta área de atuação pode
das queixas ali apresentadas. Neste sentido o
auxiliar o trabalho do professor em sala de
objetivo geral desta pesquisa é compreender
aula e a escola de uma maneira geral e es-
de que maneira a psicopedagogia e os tes-
tes conhecimentos se tornam fundamental
tes para avaliação psicopedagógica auxil-
para a compreensão de questões relacio-
iam no processo de ensino e aprendizagem
nadas à aprendizagem no cotidiano escolar.
e em quais contextos se dá a sua utilização.
O psicopedagogo exerce a função de
A criança até os dez anos está em pro-
dar suporte clínico e/ou pedagógico na
cesso constante de aprendizagem, apren-
escola ou na clínica especializada. Quan-
dendo a lidar com o mundo e a lidar com si
do atua no âmbito educacional realiza o
mesma, o cérebro da criança nesta fase, está
trabalho voltado a prevenção e análise
em formação biológica e o ambiente que a
dos principais problemas de aprendiza-
cerca interfere nessa formação, neste sen-
gem. A prevenção neste tipo de aten-
tido, a família, a escola e as relações que
dimento atua voltada ao suporte para
estabelecem nesta fase, têm extrema im-
que a aprendizagem efetiva ocorra e
portância nesta fase de desenvolvimento.
que todos os alunos possam aprender.
O objetivo do diagnóstico é compreender
A Psicopedagogia surge com a neces-
globalmente a maneira como a criança
sidade de identificação e compreensão
aprende e o que está ocorrendo neste pro-
dos problemas de aprendizagem, tem
cesso dificultando a aprendizagem, depois
como função indicar maneiras de inter-
de especificado o problema parte-se então
venção que colaborem para que o alu-
para o encaminhamento de ações para solu-
no tenha um aprendizado significativo e
cioná-los. O profissional em psicopedagogia
seja capaz de construir conhecimentos.
indicará a dificuldade de aprendizagem, que
foi diagnosticada na sessão e depois da devo-
Para a Psicopedagogia o meio no qual
lutiva ao paciente inicia-se o processo de in-
o indivíduo está inserido é de fundamen-
tervenção para integração escolar e social.
tal importância nesta análise dos fatores
que podem acarretar prejuízos na apren-
A PSICOPEDAGOGIA E A SUA CON-
dizagem, e neste meio social, encontra-se
TRIBUIÇÃO PARA A APRENDIZAGEM
a escola, a família e a sociedade. O intuito
dos estudos psicopedagógicos e dos tes- A psicopedagogia pode ser definida como
tes de avaliação psicopedagógica é com- um campo do conhecimento que tem a sua
preender de que maneira o indivíduo atuação nos âmbitos educacional e clínico
aprende e como se dá este processo. e tem por objetivo estudar a aprendizagem
humana e como essa aprendizagem evolui
O método escolhido para a intervenção ou é prejudicada devido a diferentes fa-

854
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

tores que podem influenciar a sua aquisição. até mesmo os alunos que conseguiram êxito
nestes modelos educacionais, poderiam ter
Os primeiros cursos de pós-graduação no obtido melhores resultados e desenvolvi-
Brasil surgem na década de 1970. Inicial- do diferentes habilidades e conhecimentos.
mente, com o objetivo de aumentar a quanti-
dade de psicólogos, pedagogos e educadores Para efeito de estudo, a Psicopedagogia
em geral, auxiliando no entendimento e auxil- pode ser agrupada nas seguintes categorias:
io das dificuldades e problemas de aprendiza- Psicopedagogia e Pedagogia com o foco no
gem, consideradas como distúrbios. Os es- indivíduo Pedagogicamente; Psicopedagogia
tudos na Argentina estavam bem avançados e Psicologia, com o foco no indivíduo Psico-
quando surgiu a Pós-graduação em nível de logicamente; Psicopedagogia e problemas de
especialização no Brasil, primeiro em nível in- aprendizagem com o foco nas situações em
stitucional, com uma visão psicopedagógica, que não ocorre aprendizagem, mas que de-
cursos referentes à criança, aos problemas veriam ocorrer; Psicologia e fracasso esco-
em sala de aula, dificuldades escolares, etc. lar com o foco no indivíduo que não adquire
conhecimento traçando um paralelo com o
Em 1979, é instituído o primeiro curso contexto social e a escola. Releva fatores ex-
no “Instituto Sedes Sapientae”, enfocan- ternos como mediadores na aprendizagem.
do a reeducação sob a ótica piagetiana e na
Teoria da Gestalt. Este curso tinha um en- No século XIX, na Europa, começa surgir a
foque terapêutico sobre os aspectos afe- preocupação com os problemas de aprendiza-
tivos da aprendizagem, logo depois, pas- gem e as discussões envolviam filósofos, educa-
sam a pensar na instituição escola e no dores e médicos. Foi constituída neste período
nível de atuação distinto do psicopedago- uma equipe médico pedagógica para estudar
go clínico e do psicopedagogo educacional. os problemas neurológicos que poderiam in-
terferir no processo de ensino e aprendizagem.
A Psicopedagogia curativa utilizava um
método que buscava favorecer a readaptação O fracasso escolar, por muitas vezes, está
pedagógica dos alunos, auxiliando-o a ad- relacionado a falhas da aprendizagem, es-
quirir conhecimentos e a desenvolver a sua ses distúrbios podem estar relacionados a
personalidade. Era conduzida em grupos ou diferentes áreas como leitura, escrita, or-
individualmente e foi introduzida na França. tografia, dentre outras, além destes aspec-
tos podem relacionar-se a coordenação
De acordo com as ideias de Oliveira (2011) do movimento, organização espacial, etc.
nos diferentes momentos da história, os es-
tudiosos e pesquisadores demonstraram O não aprender do indivíduo pode estar rel-
uma preocupação de como os ambientes acionado a um distúrbio ou a uma dificuldade
educacionais poderiam ter sucesso em re- escolar, nos dois casos, o indivíduo apresenta
alizar a seleção de crianças ou proporcio- rendimento escolar abaixo da média nas dif-
nar o seu desenvolvimento. Muitas crianças erentes áreas de aprendizagem. O distúrbio
que apresentaram algum tipo de dificuldade escolar tem origem orgânica, neurológica,
na escola poderiam ter avançado caso, nes- que pode ser resultante de disfunções em dif-
ta época, fossem conhecidas algumas práti- erentes áreas do cérebro. Os principais prob-
cas corretas de instrução. Neste sentido, lemas são dislexia (falha no processamento

855
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

da habilidade da leitura e da escrita), disgrafia ropsicologia torna-se uma importante ferra-


(falha na escrita) e discalculia (dificuldade para menta de estudo no contexto educacional.
lidar com conceitos e símbolos matemáticos).
Dificuldades, transtornos, distúrbios e
O diagnóstico em psicopedagogia é uti- problemas de aprendizagem são expressões
lizado para avaliar quais fatores podem oca- muito utilizadas para se referir as alterações
sionar as dificuldades de aprendizagem. De que muitas crianças apresentam na aquisição
acordo com Ribeiro (2011) a dificuldade de de conhecimentos, habilidade motora e psi-
aprendizagem pode ser definida como um comotora. O processo de aprendizagem re-
termo geral que se refere a um grupo het- quer um certo nível de ativação, atenção e
erogêneo de desordens manifestadas por seleção das informações recebidas, estes são
dificuldades significativas na aquisição e uti- elementos fundamentais para toda a ativi-
lização da compreensão auditiva, da fala, da dade neuropsicológica, que são fundamen-
leitura, da escrita e do raciocínio matemático. tais para manter as atividades cognitivas.
Para o diagnóstico é importante que to-
Segundo Tabaquim (2003) o estudo das das as regras de relacionamento, sejam bem
questões neurobiológicas do comportamento definidas desde o primeiro contato, sen-
humano busca estabelecer relações entre os do claras para o paciente e a sua família,
processos mentais e as atividades celulares. por este motivo é necessário um contra-
A Neuropsicologia estuda os distúrbios das to de atendimento no qual serão defini-
funções superiores que são produzidos por das funções, número de sessões previs-
alterações cerebrais e investiga os distúrbios tas, horários e local de atendimento, etc.
de comportamento adquiridos, é uma ciên-
cia do conhecimento que estuda as relações
entre cérebro e comportamento, apresentan- AS FORMAS DE DIAGNÓSTICO E O
do o funcionamento dos sistemas cerebrais TRABALHO DO PSICOPEDAGOGO
individuais em seus diferentes níveis, tan-
to em condições normais como patológicas. O psicopedagogo deve conhecer a queixa
que levou aquela criança até ele e utiliza de
O estudo em Neuropsicologia busca realizar todos os métodos de investigação, partindo
uma análise das alterações que podem ocorrer da entrevista inicial com os pais e a criança,
nos casos de lesão cerebral, explicitando como anamnese e aplicando os testes específicos,
tais lesões podem interferir nos processos para então poder chegar a um diagnósti-
psicológicos e permite a análise da atividade co das reais dificuldades apresentadas por
mental, com o acesso a informações a respeito aquela criança. O trabalho conjunto com
das lesões em partes complexas do cérebro. o professor também é de fundamental im-
portância para obter resultados positivos no
A neuropsicologia estuda as funções do processo de intervenção e assim "agir" dire-
sistema nervoso e o comportamento huma- tamente nas dificuldades de aprendizagem
no, a aprendizagem é definida como uma apresentadas. A atuação do psicopedagogo
mudança de comportamento resultante de clínico é terapêutica, considerando que o
uma experiência já vivenciada pelo indivíduo, aluno se encontra em um estágio avançado
neste sentido, com a aprendizagem a ser de dificuldades de aprendizagens. O aten-
constituída por processos neurais, a neu-

856
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

dimento psicopedagógico clínico ocorre fora


do ambiente escolar, normalmente em um
consultório local em que é realizado a coleta
de dados para uma avaliação individualizada.

O processo do diagnóstico psicopedagógico


clínico compreende diversas fases segundo Pain
(1985) o motivo da consulta é fundamental para
diagnosticar qual é o motivo que levou o paciente
a procurar o atendimento, o paciente pode ser
indicado para o atendimento pela instituição es-
colar, pela família ou pelo médico. O psicopeda-
gogo institucional trabalha na instituição escolar
e realiza o levantamento, compreensão e análise
de todas as ações desenvolvidas na escola rela-
cionadas a aprendizagem. Para Weiss (2002), o
diagnóstico psicopedagógico tem como objeti-
vo identificar os desvios e os obstáculos básicos
na Aprendizagem que o impedem aprender con-
forme o esperado dentro das concepções edu-
cacionais e do meio social. Desta forma, o papel
do psicopedagogo é realizar as intervenções e
os encaminhamentos necessários. O psicopeda-
gogo clínico realiza diferentes tipos de atendi-
mento, segue abaixo a descrição de alguns deles:

Quadro 1 – Atuação do Psicopedagogo no Am-


biente Hospitalar

Fonte:<http://www.grupopsicopedagogiando.com.br/p/blog-page_4773.html>
Acesso em 07 fev 2019

857
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

A abordagem psiconeurológica está cen- Com este tipo de diagnóstico é possível ob-
trada na ideia de que o comportamento está servar impedimentos no processo de ensino e
desorganizado em função de problemas aprendizagem, tomando como base e referen-
neurológicos e a abordagem Behaviorista cial as ideias de Piaget sobre os processos de
acredita que o indivíduo é controlado pelo assimilação e acomodação. O Psicopedago-
meio ambiente externo, do qual recebem go clínico conta com a parceria de diferentes
os estímulos, os quais interferem no apren- profissionais da área médica e psicológica.
der. Os diagnósticos psicopedagógicas
são compostos por diferentes etapas, se- A psicopedagogia no campo clínico tem
gundo Weiss (2002) podemos destacar: como recurso principal à realização de en-
a Entrevista Familiar Exploratória Situa- trevistas operativas dedicadas a expressão e
cional (E.F.E.S) que busca compreender a a progressiva resolução da problemática indi-
queixa, envolvendo a escola e a família, vidual ou em grupo daqueles que a consul-
neste sentido, são elencadas as expecta- tam. Procura descobrir os fatores que levam o
tivas familiares em relação ao indivíduo sujeito a não aprender ou apresentar dificul-
referente a sua aprendizagem escolar, a dades de aprendizagem mesmo com a inter-
atuação do profissional psicopedagogo venção preventiva. O psicopedagogo clínico
e de que forma o paciente compreende tem como dever compreender o porquê de o
a importância do atendimento. Neste sujeito ter determinada dificuldade de apren-
momento é esclarecido ao paciente e a dizagem e como ele pode vir a aprender, desta
família quais são os propósitos do atendi- forma compreender como se dará esse pro-
mento e do diagnóstico psicopedagógico. cesso de aprendizagem neste sentido, e essa
compreensão iniciará durante o diagnóstico.
A Anamnese é uma entrevista, que possui
um foco mais específico, buscando levan- Segundo Weiss (2002) os profissionais de-
tar os aspectos importantes a respeito da vem trabalhar em conjunto para construção
história do indivíduo na família, compreen- de novas práticas que consequentemente
dendo as relações que permeiam esse am- produzirão uma melhora no aprendizado, o
biente familiar e como o indivíduo é influ- trabalho em conjunto dos profissionais das
enciado por esse convívio. Na Anamnese, áreas da saúde, educação e psicologia é de
são levantados dados relativos as primei- fundamental importância para o sucesso
ras aprendizagens, ao desenvolvimento do da intervenção e do tratamento e no ambi-
indivíduo, história familiar, clínica e edu- ente escolar a troca de informações entre os
cacional. As sessões lúdicas centradas na profissionais possibilitará a intervenção ad-
aprendizagem são realizadas com crianças equada nas dificuldades de aprendizagem e
e buscam compreender os processos cog- o encaminhamento correto para cada caso.
nitivos, afetivos e sociais. Segundo Fernan-
dez (1991), o diagnóstico tem como obje- CONSIDERAÇÕES FINAIS
tivo buscar um modelo de aprendizagem
adequado. Por meio da atividade lúdica é Para compreender os problemas de apren-
possível adquirir conhecimentos sobre a dizagem são realizados diagnósticos e inter-
criança e compreender de que forma ela se venções, que devem considerar os fatores
organiza e representa o conhecimento, por externos tanto quanto os fatores internos,
meio de seus esquemas mentais. promovendo desta maneira uma intervenção

858
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

adequada aquele indivíduo em questão. A importância nesta fase de desenvolvimento.


psicopedagogia atua no sentido de intervir
no contexto educacional, posicionando-se
entre o indivíduo e os objetos de conhec-
imentos que são apresentados a ele. Des-
ta maneira é possível avaliar e diagnosticar
quais fatores estão interferindo na aprendiza-
gem e trabalhar no sentido de resolvê-los.

O trabalho da Psicopedagogia deve ocorrer


em consonância e parceria com a escola, desta
forma poderá contribuir de forma positiva para
amenizar as dificuldades relacionadas à apren-
dizagem que surgem no contexto educacion-
al, de forma conjunta, envolvendo todos os
profissionais de educação. O psicopedagogo
educacional trabalha na instituição escolar e ANDRÉA RODRIGUES MARIN
realiza o levantamento, compreensão e análise DE SOUZA
das práticas escolares em suas relações com
a aprendizagem, junto com os demais profis-
sionais da escola, auxiliando professores e de- Graduação em Pedagogia pelas
mais funcionários envolvidos neste processo. Faculdades Metropolitanas Unidas
– FMU (1997). Atua como Profes-
A avaliação psicopedagógica deve ocorrer sora de Educação Infantil na Prefei-
de maneira dinâmica e os instrumentos uti- tura do Município de São Paulo No
lizados devem abarcar as diferentes variáveis CEI Vereador Joaquim Thomé Filho.
que se pretende avaliar e diagnosticar. A psi-
copedagogia é um campo do conhecimen-
to que se enquadra nas áreas da educação
e da saúde e tem como objeto de estudo a
aprendizagem humana e seus padrões evo-
lutivos normais e patológicos, e para que o
profissional psicopedagogo tenha êxito de-
verá considerar o indivíduo em todos os seus
aspectos, emocionais, psicológicos e sociais.

A criança está em processo constante de


aprendizagem, aprendendo a lidar com o mun-
do e a lidar com si mesma, o cérebro da criança
nesta fase, está em formação biológica e o am-
biente que a cerca interfere nessa formação,
neste sentido, a família, a escola e as relações
que estabelecem nesta fase, têm extrema

859
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS PELLINI, S. A. (Orgs.). Dislexia: novos temas,


novas perspectivas. Rio de Janeiro: Wak, 2011.
BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia do Bra-
sil. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. TABAQUIM, Maria de Lourdes Merighi. Aval-
iação neuropsicológica nos distúrbios de
CHAMAT, Leila Sara José. Técnicas de aprendizagem. Distúrbios de aprendizagem:
diagnóstico psicopedagógico: o di- proposta de avaliação interdisciplinar, 2003.
agnóstico clínico na abordagem in-
teracionista. São Paulo: Vetor, 2004. WEISS, Maria Lúcia L. Psicopedago-
gia Clinica: uma visão diagnóstica dos
DANTAS, Viviane Andrade de Oliveira, problemas de aprendizagem escolar.
and ALVES, Jamille de Andrade Aguiar. Di- Rio de Janeiro: Lamparina, 2002. 13 ed.
ficuldades de leitura e escrita: Uma in-
tervenção psicopedagógica. V Colóquio
Internacional: Educação e Contempo-
raneidade, São Cristóvão – SE. 2011.

FERNANDEZ,Alicia.Ainteligência aprisionada:
abordagem psicopedagógica clínica da criança
e sua família. PortoAlegre:Artes Médicas, 1991.

NASCIMENTO, Fernanda Domingas do.


O papel do psicopedagogo na Instituição
Escolar. 2013. Disponível em: <https://
psicologado.com/atuacao/psicologia-es-
colar/o-papel-do-psicopedagogo-na-insti-
tuicao-escolar> Acesso em 07 fev. 2019.

OLIVEIRA, Gilberto Gonçalves de. Neu-


rociências e os processos educati-
vos: um saber necessário na formação
de professores. Dissertação de Me-
strado. Uberaba, Minas Gerais. 2011.

PAIN, Sara. Diagnóstico e tratamen-


to dos problemas de aprendizagem.
Porto Alegre: Artes Médias, 1985.

RIBEIRO, F. S.; DOS SANTOS, F. H. Avaliação


neurocognitiva da discalculia do desenvolvi-
mento. In: ALVES, L. M.; MOUSINHO, R.; CA-

860
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

A INCLUSÃO NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E


SOCIAIS
RESUMO: Este trabalho tem por objetivo abordar os fundamentos da inclusão, conhecen-
do as políticas públicas as ações pedagógicas e a formação dos professores no atendi-
mento as pessoas com necessidades especiais. O assunto merece um entendimento
profundo da questão de justiça, para fazer valer o direito à educação para todos não se
limitando a cumprir somente as pessoas ditas normais. Este trabalho vem demonstrar a
organização pedagógica escolar e, por seus parâmetros, o aluno diferente, desestabiliza
o pensamento moderno da escola, na sua ânsia pelo lógico, pela negação das condições
que produzem as diferenças, que são as matrizes da nossa identidade. Com a dissociação
entre o pensar e o fazer e tendo que improvisar muitas vezes pela falta de material no local
de trabalho, evidencia-se uma desarticulação entre planejamento e a prática pedagógica
cotidiana, assim com o que a escola tradicional determina como necessário para apren-
dizagem e a realidade vivida pelos alunos com necessidades educacionais especiais. Assim
este trabalho vem responder as respostas as indagações em relação a educação inclusiva.

Palavras – chave: Direitos; Educação; Exclusão; Inclusão; Sociedade.

861
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO nobreza e o atendimento de suas necessidades.


Assim, a pessoa “diferente”, com limitações
Nos debates atuais sobre inclusão, o funcionais e necessidades diferenciadas como,
ensino escolar brasileiro tem diante de si por exemplo, cegos, surdos, deficientes men-
o desafio de encontrar soluções que re- tais etc., era praticamente exterminada por
spondam a questão do acesso e da per- meio do abandono, o que não representava,
manência dos alunos nas suas instituições nessa época, um problema de natureza éti-
educacionais. Algumas escolas públicas e ca ou moral. Havia nesse período dois gru-
particulares já adotaram ações nesse sen- pos sociais: Nobreza: senhores que detinham
tido, ao proporem mudanças na sua orga- o poder social, político e econômico. Opula-
nização pedagógica, de modo a reconhecer cho: considerados subumanos, dependentes
e valorizar as diferenças sem discriminar dos nobres tanto na parte econômica quan-
os alunos nem segregá-los. Apesar das re- to na propriedade. Segundo KANNER (1964):
sistências, cresce a adesão de redes de en-
sino, de escolas e de professores, de pais
e de instituições dedicados a inclusão de No período da Idade Média, com a vinda do
pessoas com deficiência, o que denota cristianismo e o fortalecimento da igreja católi-
o efeito dessas novas experiências e, ao ca, surgiu no cenário político o clero (conjunto de
mesmo tempo, motiva questionamentos. padres e bispos da igreja católica), cujos mem-
bros foram assumindo cada vez mais poder so-
Portanto, os objetivos deste trabalho são cial, político e econômico. O cristianismo trouxe
de conhecer e refletir a respeito dos funda- grande ganho para as pessoas doentes, defei-
mentos da educação inclusiva de pessoas tuosas e/ou mentalmente afetadas, em funções
com necessidades educacionais especiais, das ideias cristãs, não podiam mais ser extermi-
bem como apreciar a legislação vigente em nadas, já que também eram criaturas de Deus.
nosso país, analisando o contexto em um
ponto de vista crítico e construtivo. O pre- Apesar disso, elas continuavam sendo ignora-
sente trabalho procura elencar informações das à própria sorte e algumas chegavam a ser
baseadas em obras, documentos e artigos fonte de diversão, como bobos da corte, como
que contribuem para a exploração do assun- material de exposição etc. Nessa época, a edu-
to em questão da inclusão escolar, que está cação era ministrada de duas formas e possuía
articulada a movimentos sociais amplos, objetivos distintos: Natureza religiosa e militar.
que exigem maior igualdade e mecanismos No século XX, iniciou-se no mundo ocidental o
mais equitativos no acesso a bens e serviço. movimento da retirada dessas pessoas de esta-
belecimentos como instituição de convento e asi-
VISÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO ES- los. Criou-se, então, a concepção de integração,
PECIAL que se referia à necessidade de modificar a pes-
Na antiguidade a vida de um homem soa com necessidades educacionais especiais,
tinha valor em virtude de suas característi- de maneira que ela pudesse vir a se assemelhar,
cas pessoais ou em função da utilidade
mais possível, aos demais cidadãos, para então
prática que este representava para a re-
alização de seus desejos e dos desejos da poder ser inserida ao convívio em sociedade.

862
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Logo, as entidades educacionais re- parcela da população constituída pelas pes-


sponsáveis por cuidar das pessoas com ne- soas com deficiência foi o denominado Par-
cessidades educacionais especiais fortalece- adigma da Institucionalização. Conventos e
ram-se por meio das escolares especiais, das asilos, seguidos pelos hospitais psiquiátri-
entidades assistenciais e dos centros de re- cos, constituíram-se em locais de confina-
abilitação.Porém, essas ideias começaram a mento, em vez de locais para tratamento
sofrer críticas, pois se criou uma expectativa das pessoas com deficiência. Na realidade,
muito grande de que a pessoa com necessi- tais instituições eram, e muitas vezes ainda o
dades educacional especial se assemelhasse são, pouco mais do que prisões. Entretanto,
ao não deficiente, como se fosse possível ao esse paradigma permaneceu único por mais
homem “ser igual” a outro e como se o “dif- de 500 anos, sendo, ainda hoje, encontra-
erente” fosse razão para que o ser huma- do em diferentes países, inclusive no nosso.
no tivesse menor valia como ser humano.
Caracterizou-se, desde o início, pela re-
Deste modo, negavam as diferenças e des- tirada das pessoas com deficiência de suas
viavam as discussões do que era realmente comunidades de origem e pela manutenção
importante, ou seja, quais atitudes e postu- delas em instituições residenciais segregadas
ras a sociedade, de modo geral, deveria ter ou escolas especiais, frequentemente situa-
para auxiliar no desenvolvimento das pessoas das em localidades distantes de suas famílias.
com necessidades educacionais especiais,
dando a elas a oportunidade de conviver em Somente no século XX, por volta de
sociedade. Surgiu, então, uma discussão a 1960, é que o Paradigma da Instituciona-
respeito desse tema. Optou-se por consid- lização começou a ser criticamente exam-
erar que as pessoas com necessidades edu- inado. Assim, muitos foram os autores que
cacionais especiais necessitam de serviços publicaram estudos enfocando a institucio-
de avaliação e de capacitação oferecidos no nalização. A maioria dos artigos apresenta
contexto de suas comunidades, mas também uma dura crítica a esse paradigma e siste-
que estas não são as únicas providências ma, baseando-se em dados que revelam
necessárias, caso a sociedade deseje man- sua inadequação e ineficiência para realizar
ter, com essa parcela de constituintes, uma aquilo a que seu discurso se propõe a faz-
relação de respeito, de honestidade e justiça. er: favorecer a preparação, ou a recuper-
ação das pessoas com necessidades educa-
As instituições e seus paradigmas são cionais especiais para a vida em sociedade.
um ponto a parte. Entendendo-se por para-
digma o conjunto de ideias, valores e ações O questionamento e a pressão con-
que contextualizam as relações sociais, ob- trária à Institucionalização, que se vinham
serva- se que o primeiro paradigma formal acumulando desde fins da década de 50,
a caracterizar a relação da sociedade com a provinham de diferentes direções, mo-

863
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

tivados pelos mais diversos interesses. profissionais identificaria tudo o que, em sua
Considerando que o paradigma tradicional opinião, necessitaria ser modificado no sujeito
de institucionalização tinha demonstrado seu e em sua vida, de forma a torná-lo o mais nor-
fracasso na busca de restauração de funcio- mal possível; a segunda, de intervenção, na
namento normal do indivíduo no contexto das qual a equipe passaria a oferecer (o que ocor-
relações interpessoais, na sua integração na reu com diferentes níveis de compromisso e
sociedade e na sua produtividade no trabalho qualidade, em diferentes locais e entidades), à
e no estudo, iniciou-se, no mundo ocidental, pessoa com deficiência, atendimento formal e
o movimento pela de institucionalização, ba- sistematizado, norteado pelos resultados ob-
seado na ideologia da normalização, que de- tidos na fase anterior; a terceira, de encamin-
fendia a necessidade de introduzir a pessoa hamento (ou reencaminhamento) da pessoa
com necessidades educacionais especiais na com deficiência para a vida na comunidade.
sociedade, procurando ajudá-la a adquirir as
condições e os padrões da vida cotidiana, EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL
no nível mais próximo possível do normal.
Ao se afastar do Paradigma da Institucio-
nalização e adotar as ideias de Normalização, Por volta de 1700 e 1800, os deficientes
criou-se o conceito de integração, que se eram considerados um peso e eram confina-
referia à necessidade de modificar a pessoa dos em casa ou deixados à própria sorte. SILVA
com necessidades educacionais especiais, de (1987, p. 43), também no Brasil a pessoa defi-
forma que esta pudesse vir a se assemelhar, o ciente foi considerada por vários séculos den-
mais possível, aos demais cidadãos, para en- tro da categoria mais ampla dos miseráveis,
tão poder ser inserida, integrada, ao convívio talvez o mais pobre dos pobres.
em sociedade. Assim, integrar significava lo- Os mais afortunados que haviam nascido
calizar no sujeito o alvo da mudança, embo- em ‘berço de ouro’ ou pelo menos remedia-
ra para tanto se tomasse como necessário do, certamente passaram o resto de seus dias
a efetivação de mudanças na comunidade. atrás dos portões e das cercas vivas de suas
Entendia-se, então, que a comunidade tinha mansões, ou então, escondidos, voluntária ou
que se reorganizar para oferecer às pessoas involuntariamente, nas casas de campo ou
com necessidades educacionais especiais, os nas fazendas de suas famílias.
serviços e os recursos de que necessitasse Essas pessoas deficientes menos pobres
para viabilizar as modificações que as tornas- acabaram não significando nada na vida so-
sem os mais normais “possíveis”. cial ou política no Brasil, permanecendo com
A esse modelo de atenção à pessoa com um ‘peso’ para suas respectivas famílias”. Em
deficiência se chamou Paradigma de Serviços. 1905, as escolas públicas do Rio de Janeiro
Este se caracterizou pela oferta de serviços, começaram a atender alunos com deficiência
geralmente organizada em três etapas: a pri- mental. Em 1911, foi criada, no Serviço de Hi-
meira, de avaliação, em que uma equipe de giene e Saúde Pública do Estado de São Paulo,

864
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

a inspeção médico-escolar, que viria trabalhar diferentes das da maioria das crianças e jov-
conjuntamente com o Serviço de Educação ens (MAZZOTTA, 1996, p.23).
na defesa de Saúde Pública.
Na década de 90, o Brasil adotou a proposta Segundo esse mesmo autor, os alunos com
de Educação para Todos na conferência mun- necessidades educacionais especiais po-
dial da UNESCO, assumindo o compromisso dem ter apoio de um conjunto de recursos
de transformação do sistema educacional e serviços organizados de modo a garantir a
brasileiro, de maneira a acolher a todos com apropriação dos conteúdos escolares formais.
qualidade e igualdade de condições. Em segui- Nesse sentido, ele trata implicitamente do
da, o Brasil adotou a proposta da declaração caráter democrático do processo escolar, ao
de Salamanca, em 1994, comprometendo-se defender o acesso e a apropriação do con-
com a construção de um sistema educacional hecimento por meio de recursos e serviços
inclusivo, especificamente no que se refere à suplementares ao aluno, cujas demandas em
população de alunos com necessidades edu- seus processos de aprendizagem e desen-
cacionais especiais. volvimento assim indicarem.
Para orientar esses profissionais, em relação Para FERREIRA (1993, p. 34), a Educação
ao processo de ensino aprendizagem, foram Especial:
publicados em 1999 os Parâmetros Curricu- [...] abrange, como princípio, o conjunto de
lares Nacionais adaptações curriculares. As- serviços educacionais não disponíveis nos
sim, pode-se afirmar que só a partir da década ambientes sócios educacionais “normais”
de 90 o Brasil passou a entender e a realizar ou “regulares”. Ela visaria o atendimento e a
ações que realmente condizem com a ideia de promoção do desenvolvimento de indivíduos
inclusão, respeito, dignidade e favorecimento que não se beneficiaram significativamente
do desenvolvimento de pessoas com necessi- de situações tradicionais de educação, por
dades educacionais especiais. A conceituação limitações ou peculiaridades de diferentes
de Educação Especial tem levado a Diver- naturezas (FERREIRA, 1993, p. 34)
sos autores uma preocupação com o estudo
pedagógico, metodológico, com a definição e Para esse autor, a natureza dos serviços
conceituação dessa área. MAZZOTTA (1996, fornecidos aos alunos com necessidades ed-
p.23) define a Educação Especial como: ucacionais especiais deve ser diferenciada e
deve ter como objetivo o atendimento e a
[..] a modalidade de ensino que se caracteri- promoção dos alunos que a rede comum não
za por um conjunto de recursos e serviços ed- pode atender por meio de seus serviços. Cabe
ucacionais especiais organizados para apoiar, destacar, a vinculação da Educação Especial
suplementar e, em alguns casos, substituir os ao Sistema Educacional e aos objetivos da
serviços educacionais comuns, de modo a ga- Educação Especial. Nota-se que o objetivo
rantir a educação formal dos educandos que específico da Educação Especial é promover
apresentem necessidades educacionais muito o desenvolvimento das potencialidades da

865
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

clientela (dos alunos) considerada especial, e alunos, surgindo, consequentemente, uma


o objetivo geral, em convergência com os ob- gama maior de possibilidades de recursos ed-
jetivos do sistema educacional, apresentado ucacionais. Isto significa que há necessidade
como a formação de cidadãos conscientes e dos governos manterem seus profissionais at-
participativos. ualizados, para que se tornem capazes de de-
A partir de 1994, com a Declaração de Sala- sempenhar um papel fundamental na apren-
manca, resultado da Conferência Mundial so- dizagem de seus alunos.
bre Necessidades Educativas Especiais: Qual- Portanto, a inclusão busca derrubar esse tipo
idade e Acesso solidificam-se as metas do de visão, defendendo a ideia de que o ensino
Congresso Mundial de Educação para Todos, se constrói na pluralidade e na certeza de que
realizado em 1990, na Tailândia, que previa a os alunos não são, em qualquer circunstância,
erradicação do analfabetismo e a universal- capazes de construir sozinhos seus conheci-
ização do ensino fundamental. Na Espanha, mentos de mundo. O processo de aprendiza-
acrescentam-se os princípios norteadores da gem se funde na interação, a partir da qual
Educação Inclusiva. desenvolve uma forma humana e significativa
Utilizando-nos da perspectiva dialética, per- de perceber o meio.
ceberemos que cada ato ou papel assumido
pelo indivíduo só será compreendido dentro INTEGRAÇÃO E INCLUSÃO
de uma determinada situação, o que se veri-
fica a partir da totalidade como ação indisso-
ciável. Essa postura nos leva a entender que Todos sabem que os alunos portadores de
será pelo confronto de ideias e posições que necessidades educativas especiais são aten-
se pode perceber a situação como um todo e, didos pela Educação Especial. Um dos con-
assim, construir alternativas possíveis de sig- ceitos mais importantes é: a diferença entre
nificação e ressignificação para o grupo. integração e inclusão. A integração: incorpo-
As Diretrizes Nacionais para a Educação Es- ração física e social de pessoas que estão iso-
pecial na Educação Básica, no seu artigo 2º ladas ou segregadas das demais, tornando-as
(1994) orienta os sistemas para a prática da parte da sociedade. O atendimento despe-se
inclusão e o Plano Nacional de Educação de- do caráter de assistência, ao invés de ter-
staca no seu capítulo da Educação especial, apêutico, torna-se educativo, enfatizando-se
que o grande avanço que a década da edu- as potencialidades, em vez das incapacidades,
cação deveria produzir seria a construção de e a deficiência perde a condição de doença.
uma escola inclusiva que garantisse o atendi- O conceito de integração levou à reestru-
mento à diversidade humana. turação da Educação Especial em todo mun-
do. No Brasil, infelizmente, as questões fic-
É exigida uma maior competência profis- aram mais em nível teórico (voltado para
sional, projetos educacionais bem elaborados, a produção científica dos estudiosos), que
currículos adaptados às necessidades dos prático.

866
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

No final dos anos 1980, as tentativas de para todos, privilegiando o esforço individual;
integração estavam calcadas, fundamental- a escola não percebeu que esse caminho não
mente, em um princípio predominante: o encontrava eco na vida de seus estudantes.
mainstreaming, que significa levar os alunos Os planejamentos, motores da prática ped-
para serviços disponíveis na comunidade. Es- agógica, estabeleciam conhecimentos e va-
tes serviços eram em classes regulares e/ou lores que precisavam ser passados como ver-
em aulas de Artes, Música, Educação Física dades inquestionáveis, fazendo com que seus
ou atividades extracurriculares. Muitas foram conteúdos se encontrassem separados da ex-
as críticas a essa questão, especialmente a do periência do aluno e da realidade social.
não pertencimento desses alunos a nenhum Atualmente, ainda sofremos os mesmos
grupo e a de que significava, na realidade, problemas, evidenciando que o nosso camin-
a mera colocação dos alunos portadores de har foi muito pequeno. Embora vagaroso, é
NEE em várias salas. neste caminho que começam as discussões
sobre a escola, sua organização, sua estrutu-
No Brasil, existe a coexistência de dois par- ra, seu currículo e, consequentemente, sobre
adigmas: o da integração e o da inclusão. O a prática pedagógica.
modelo de integração demanda um sistema O princípio da Educação Inclusiva exige
de serviços, uma rede de recursos centrada no intensificação na formação de recursos hu-
indivíduo, ao passo que o modelo de inclusão manos, garantia de recursos financeiros e
requer um sistema de suportes, uma rede de serviços de apoio pedagógicos especializados
apoio, caracterizando uma intervenção no para assegurar o desenvolvimento dos alunos.
próprio sistema. Pelo que foi percebido, o A formação e a capacitação dos profissionais
modelo de integração ainda é o prevalecente, docentes é ponto fundamental para o ensino
mesmo que tenha recebido a nova denomi- que atende diferentes especificidades edu-
nação de “inclusão”. cativas especiais e que, para sua efetivação,
Com a meta da universalização do ensino necessitam de profissionais comprometidos e
nos fins de 1980, chegavam à escola novos competentes na sua ação pedagógica.
conceitos, novos personagens, novas cren- A escola necessita, portanto, adequar-se ao
ças, novas tradições. A escola ficou sem sa- aluno, providenciando meios e recursos que
ber como dar conta de tantas novidades! Em garantam efetivamente a sua aprendizagem,
muitas situações, passou a ignorar esse novo entendendo ser função dela essa garantia.
contingente que chegava. A verdade era que É esta concepção de escola, como espaço
a escola e seus profissionais não sabiam lidar social que precisa ser criada, e é nela que
com sua nova clientela. precisam estar presentes a ousadia, a criativi-
Ancorada em concepções que acreditavam dade, os sonhos e as diferentes falas, ou seja,
ser papel da escola socializar e transmitir os é preciso criar uma escola que acredita nas
conhecimentos acumulados pela humani- possibilidades de seus alunos.
dade, por meio de um caminho cultural igual A convivência com a comunidade como um

867
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

todo visa ampliar as oportunidades de trocas O trabalho pedagógico em uma escola inclu-
sociais, permitindo uma visão bem mais nítida siva deve partir de uma avaliação que indique
do mundo. Quanto mais cedo for dada a opor- o caminho já percorrido por alunos, apesar
tunidade de familiaridade com grupos difer- dos comprometimentos que apresentam,
entes, melhores e mais rápidos serão feitos para que as propostas a serem elaboradas
os processos de integração. Dessa maneira o sirvam de horizonte a ser atingido, indicado,
sentimento mútuo ajuda far-se-á quase que ainda, as metas seguintes.
naturalmente e num tempo surpreenden- O termo necessidades educativas especiais
temente mais rápido, fazendo do ambiente nos leva a refletir sobre sua importância no
escolar o principal veicula para o surgimento contexto educacional.
do verdadeiro espírito de solidariedade, da Diante destes novos posicionamentos edu-
socialização e dos alicerces dos princípios de cacionais é inevitável o aperfeiçoamento das
cidadania. práticas docentes, redefinindo novas alter-
Dado ao pluralismo cultural do alunado faz- nativas que favoreçam a todos os alunos, o
se importante a busca de respostas que aten- que implica na atualização e desenvolvimen-
dam às necessidades individuais e grupais de- to de conceitos em aplicações educacionais
sta nova clientela. compatíveis com esse grande desafio. Apesar
A importância de um currículo que busque de complexo, com uma proposta grandiosa, o
tornar os conteúdos vivos e de interesse do processo de inclusão ainda galga os primeiros
grupo é fundamental, pois o processo educa- patamares de uma montanha a ser escalada.
cional precisa estar de acordo com os alunos Isso, no entanto, não impediu que algumas
concretos e não para uma visão abstrata, na escolas públicas e privadas começassem a
qual uns podem se desenvolver e outros não. fazer esta escalada.
É preciso pensar em um processo que desen- Na visão inclusiva, será também necessária
volva a capacidade crítica e de construção de a revisão do papel da avaliação, não caben-
significado, sem perder de vista o ponto de do mais o caráter classificatório, por meio de
chegada. notas, provas, que deverá ser substituído por
Um currículo para todos requer a capaci- diagnósticos contínuos e qualitativos, desti-
dade de apresentar adaptações aos que dele nadas a depurar o ensino e torná-lo cada vez
necessitam, porque é preciso lembrar que al- mais adequado e eficiente à aprendizagem de
guns levarão mais tempo do que outros na todos os alunos.
execução das tarefas pedagógicas, o que não Muito se tem falado e poucas escolas con-
significa que deixarão de alcançar o objeti- seguem elaborar o seu projeto político-ped-
vo final proposto pela escola. É tempo de se agógico, considerando que o conceito e as
conhecer outros caminhos, que estarão sen- observações técnicas não foram, ainda, dev-
do construídos nesse processo, às vezes mais idamente absorvidos pelo professorado.
longo, porém com chegada em uma determi- Neste momento em que se discute a escola
nada produção. inclusiva, é urgente que se organize a escola

868
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

em prol deste projeto, a fim de buscar a sus- Declaração de Salamanca, que representa “os
tentação política e pedagógica das ações que princípios, a política e a prática em Educação
serão desenvolvidas na consecução de im- Especial”.
plantar a escola inclusiva. Reforçando as metas do Congresso da
Entendendo que a escola é o espaço so- Tailândia, a Conferência assume o comprom-
cial que reúne profissionais distintos e rece- isso com a inclusão, por reconhecer que “in-
be uma clientela igualmente distinta, guarda, clusão e participação são essenciais à digni-
em si, singularidades que lhes dão próprias, dade humana e ao desfrutamento e exercício
impedindo que o projeto elaborado por uma dos direitos humanos” (BRASIL, 1994). No
determinada escola possa ser utilizado em entanto, dadas as dificuldades em programar
outra escola. É importante salientar que cada as propostas anunciadas, a UNESCO chama
aluno faz parte de um grupo social e que cada para uma reunião, os ministros da Educação
grupo é regulamentado por usos, costumes, da América Latina e do Caribe para a real-
tradições e regras que precisam ser obser- ização da VII Seção do Comitê Intergoverna-
vados pelos profissionais que irão trabalhar mental Regional do Projeto Principal para a
com eles. Mais do que nunca será necessária Educação, em março de 2001.
a elaboração de um projeto político-ped-
agógico que dê conta das necessidades locais, CONSIDERAÇÕES FINAIS
articulando os diversos setores da escola com
vistas à sustentação de um plano pedagógico Este trabalho conclui-se que uma das con-
coerente com o compromisso de contribuir tratações possíveis neste momento é que
para a construção do processo de consciência nossas tarefas são inúmeras, mas devemos
e formação da cidadania, entendido como ex- identificar prioridades, denunciar ações re-
ercício pleno e democrático de seus direitos produtoras de iguais atitudes sociais para
e deveres. com essas pessoas, acompanhar ações do
A realização do Congresso Mundial de Edu- poder público em educação, cobrar compro-
cação para todos, em 1990, na Tailândia, con- missos firmados pelos governantes, além de
tribuiu para que fossem criadas duas metas ampliar e sedimentar espaços de participação
de importância capital para uma sociedade coletiva para defender uma política educacio-
democrática- a erradicação do analfabetismo nal inclusiva pautada em práticas com apoio
e a universalização do ensino fundamental, pedagógico teórico e prático.
comprometendo-se as nações que dele par- O papel do professor é fundamental no a fim
ticiparam como o Brasil, a promover ações de prover o meio escolar dessas condições
que visassem à erradicação do analfabetismo que difere das condutas do psicológico, ao
em um prazo de dez anos. Com a realização salientar e mediar o exercício das funções
da Conferência Mundial sobre Necessidades cognitivas, porque a intervenção pedagógica
Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, acontece em um contexto interacional de co-
realizada em 1994, na Espanha, nasce a letividade, tomando iniciativas em virtudes de

869
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

suas necessidades e motivações.O papel do REFERÊNCIAS


meio social é necessário no processo intera-
tivo de produção das incapacidades, porque BRASIL. MAS/CORDE. Declaração de Sal-
eles têm o direito de se desenvolver como as amanca e Linha de Ação Sobre Necessi-
demais pessoas, em ambientes que não dis- dades Educativas Especiais. Brasília, 1994.
criminam, mas valorizam as diferenças. É níti-
BUENO, J. G. S. A educação especial nas univer-
do que não se pode mudar a escola com um
sidades brasileiras. Brasília: MEC/SEESP, 1999.
passe de mágica, mas com a implementação
das escolas de qualidade, igualitária, justa e CARNEIRO, Rogéria. Sobre a Integração de
acolhedora para todos, é um sonho possível. Alunos Portadores de Deficiência no En-
sino Regular. Revista Integração. Secretar-
ia de Educação Especial do MEC, 1997.

FONSECA, Victor da. Educação es-


pecial: programa de estimulação pre-
coce.Porto Alegre. Artes Médicas, 1995.
FREIRE, Paulo. Educação: o sonho pos-
sível. Rio de Janeiro: Graal, 2000.

GONZALEZ TORRES, J. A. E d -
ucação e diversidade, bases didáticas e
organizativas. Porto Alegre: Artmed, 2002.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
cional - LDB 9394. Brasília: Diário Ofi-
cial da União, nº 248 de 20/12/1996.

PAULA ANDREA DE AVILA


PINHEIRO
Graduada em Pedagogia pela Faculdade
FASB – Faculdade de São Bernardo (2003);
Especialista em Docência do Ensino Superior
Pela UNIP (2009). Especialista em Ciência e
Tecnologia Pela UFABC (2012) e Psicopeda-
goga Clínica Pela Universidade de Carapicuí-
ba (2015); Professora de Ensino Fundamental
I - na E.E. Jornalista Rodrigo Soares Junior e
Professora de End. Infantil e Fundamental I na
EMEF Cacilda Becker.

870
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

O CURRÍCULO NO ENSINO DE JOVENS E ADULTOS (EJA)


INOVAR PARA INCLUIR

RESUMO: O presente artigo propõe analisar e refletir sobre proposições sobre a inovação
do currículo no ensino de jovens e adultos (EJA), para inclusão social e valorização do
aluno. Dessa forma, tem-se como principal objetivo a identificação de dispositivos ped-
agógicas que propiciem a inclusão significativa e efetiva dos estudantes da EJA. Sendo
assim, a pesquisa bibliográfica verteu-se nos conceitos do currículo, pautadas em argu-
mentações teóricas que propicie a inclusão social. A análise ocorreu a partir desse con-
texto específico e foi possível concluir que os sistemas de ensino precisam estar prepara-
dos para uma repaginação no currículo que proporcione a conhecimento cultural e social.

Palavras-chave: EJA; Inclusão Social; Humanização; Práticas Pedagógicas.

871
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO
O currículo Escolar deve configurar con-
O ensino de Jovens e Adultos (EJA) tem cepções significativas que nela incluam: práti-
como primordial objetivo a transformação cas que colaborem com formação de identi-
social do aluno, mas para que isso aconteça é dade e socialização do aluno, apesar de existir
necessária uma inovação curricular, visto que em seu corpo os conselhos paras as práticas,
o currículo é o caminho para inclusão social o órgão, também, dá liberdade de construção
e humanização, por isso o artigo pretende das diretrizes por instituição, sendo assim,
identificar e debater sobre a real necessi- podendo fazer as adaptações considerando
dade da reforma das questões do currículo, as especificidades de cada comunidade EJA.
priorizando orientações literária sugestivas
que estejam pautadas em propostas as quais A autora Elvira Souza Lima (2007) re-
consolidam as características dos atendidos cordarem seus escritos, que nas escolas do
por este segmento de ensino em questão. antigo Egito, da Suméria, da Grécia, já fa-
zia presente o Currículo, e no qual “tinham
Os adultos que procuram a EJA buscam como eixo central a escrita, a matemática
à educação escolar por diferentes objeti- e as artes” (p.21), e que também, segundo
vos, como da realização profissional, o dese- a mesma autora, a música e literatura, tam-
jo de conhecimento acadêmico, o convívio bém foram componentes curricular impor-
social, mas, atualmente, apesar de muitos tante nas civilizações antigas e idade média.
esforços contrários, ainda o ensino de jo-
vens e adultos, são centrados, apenas, na Já no século XX, desdobra Lima (2007)
formação básica profissional. No entan- que o “desenho artístico, desenho geométri-
to para que haja a concretização do ensino co, música, canto orfeônico, solfejo faziam
pautado no conhecimento político, social e parte dos currículos de escolas públicas, in-
histórico o currículo deve valorizar as espe- clusive no Brasil” (LIMA, 2007, p.21), no
cificidades dos estudantes desse segmento, entanto a autora ressalta, que o currículo
e passe a ocorrer uma maior interação en- baseado na formação humana podia ser ob-
tre a transformação do currículo e a práxis. servado há muito tempo na escolarização,
ou seja, esse tema já vem sendo debati-
Por isso, é necessário pensar num currícu- do há alguns anos. Ainda sobre as questões
lo específico que valorize as características do Currículo o Doll Jr (1997), contribui que:
desse público singular, o qual atualmente, Atualmente, o campo do currículo não está
têm crescido em números, significante, mais moribundo. Uma parte totalmente nova
em busca do saber significativo. Portanto, no campo surgiu nas décadas seguintes(...)
após estudos de diversos documentos in- são endêmicos os debates sobre a nature-
stitucionais, de livros, revistas científicas e za e propósito do currículo, assim como os
teses acadêmicas apresentamos neste ar- debates sobre como o currículo se
tigo as reflexões dos autores Lima (2007) relaciona às questões de classe,
Doll Jr (1997), Arroyo(1999), Freire, Candau raça, gênero, processo, ideologia,
(1999) Sacristán (2005), entre outros. individualismo, self, hermenêuti-
ca, ecologia, teologia, cognição, e
O CURRÍCULO E SUAS INOVAÇÕES
todos os ismos presentes na nossa
872
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

agogia emancipadora, do diálogo, que com-


era “pós”. (DOLL JR, 1997, p.177) preenda a necessidade de contínuo desen-
volvimento de capacidades e competências
necessárias para enfrentar as transfor-
Quanto a humanização mações do mundo atual (BRASIL, 2010, p.6)
do currículo, um dos objetos de estudo des-
ta pesquisa, a autora Lima (2007, p.18) ressal- No entanto, para Candau (1999) mes-
ta que ela está garantida no “ desenvolvimen- mo com inúmeros estudos coletâneas de
to cultural é função do momento histórico reformas do ensino nas últimas décadas,
pelo qual passa a humanidade e do quan- acredita que somente o movimento em bus-
to cada país participa do acervo de cultura, ca de novidade e de avanço, não seja a res-
tecnologia, ciências e bens disponíveis a um olução acertada, mas sim necessário ain-
momento dado”. A humanização do currículo da, Os movimentos de reforma educativa
dará pela inclusão de elementos da cultura de nem sempre têm esta orientados ou têm
um povo, cabe aqui disponibilizar, nas práti- contribuído para mudanças estruturais de
cas em sala de aula, todo conteúdo cultural, nossas sociedades, ou alavancando proces-
tecnológico e científico, pois, é através da sos democráticos e uma cidadania ativa e
tomada de conhecimento dos alunos desses participativa [...] ( CANDAU, 1999, p.32).
bens e que país constrói um ensino de qual-
idade de acordo com os escritos da autora. Dentre os aspectos necessários na reforma
As Diretrizes Nacionais para a Edu- no Currículo e na Educação a autora Candau
cação em Direitos Humanos destacam para (1999) pontua que, as essas questões devem
EJA, ao preparar o currículo é necessário ser buscadas nas suas devidas áreas, como essa
refletir sobre o que é direito humano, exemplificação dada por ela, sobre as questões
para que possa contemplar nas práticas: do currículo da formação para trabalho:
A noção de direitos humanos está baseada Para as competências necessárias ao mun-
no conceito da dignidade humana. Trata-se do do trabalho, quem deve ser consultado são
de um processo em construção em que, di- os empresários, particularmente os melhores,
ante das desigualdades da sociedade brasile- os que têm sucesso na concorrência do mer-
ira, busca-se afirmar o respeito à dignidade cado. [...] Com base na definição as competên-
humana como valor fundamental da organi- cias que serão privilegiadas, desenham-se
zação da sociedade. (BRASIL,2013, p. 495) os currículos escolares”[...] “A educação não
pode ser reduzida à formação de consumi-
Como na exemplificação do Direito dores competentes”, mas sim [...] “a formação
Humano há, também outros inúmeros docu- de sujeitos históricos, ativos, criativos e críti-
mentos e teóricos que destacam uma abord- cos, capazes não apenas de se adaptar à so-
agem mais humana nos currículos para o EJA. ciedade em que vivem, mas transformá-la
e de reinventá-la. (CANDAU, 1999, p.34)
Os cursos da EJA devem pautar-se pela
flexibilidade, tanto de currículo, quanto Acreditamos que as práticas do ensino EJA,
de tempo e espaço, de forma a atender às devam ser baseadas num currículo vise con-
funções reparadora, qualificadora e equaliza- tribuir significativamente, para uma formação
dora, previstas para os alunos jovens, adultos adequada e consistente, como preconiza
e idosos dessa modalidade de ensino, através Freire “A única maneira de ajudar o homem a
de uma proposta pedagógica baseada na ped- realizar sua vocação ontológica, a inserir-se na

873
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

construção da sociedade e na direção da mu- de currículo, inovar a escola é sinônimo de


dança social, é substituir esta captação prin- mudar o currículo” (ARROYO, 1999, p.136)
cipalmente mágica da realidade por uma cap-
tação mais e mais crítica (FREIRE, 1970, p.28). No que pretendemos destacar que quando
visamos o currículo, com ênfase nas reflexões
Para Arroyo (1999) as mudanças, quer dos autores: Arroyo (1999), Candau (1999),
sejam elas nos currículos, nos processos ou concordam na importância e necessidade
nas práticas, não devem acontecer de cima da inovação ou transformação do Currículo,
para baixa, ou seja, não devemos “pensar e em destaque nesta reflexão do Currículo,
que toda inovação social, cultural ou ped- que atende o ensino da Educação de Jovens
agógica será sempre iniciativa de grupo Adultos, pois como enfatiza Lima (2007), “o
iluminado, modernizante, que antevê por conhecimento é um bem comum, devendo,
onde devem avançar a sociedade e os ci- portanto, ser socializado a todos os seres hu-
dadãos e que prescreve como as instituições manos. E este currículo é o instrumento por
sociais têm de renovar-se e atualizar-se.” excelência desta socialização” (LIMA,2007,
p.22). Conforme destacam os autores pesqui-
No entanto, não é assim que acontece sados o conhecimento é para ser socializado,
nas escolas, nem sempre o que vem do alto no entanto, para ser socializado o currículo
e de fora que transformará o ensino, pois, deve atender a todos, pois ele é o instru-
segundo o autor: só será benéfica, se essa mento que promoverá a inclusão de todos.
“intervenção do alto for mais “democráti-
ca” ” (Arroyo, 1999, p.134), se criarem meios
pelos quais os professores participem ativa- CONSIDERAÇÕES FINAIS
mente do planejar e elaborar das propostas:
Cabe ao ensino proporcionar a inclusão
Uma solução insuficiente, por mais democrática que pareça. social nos diversos âmbitos da vida em so-
Não se muda por intervenção, nem sequer construído “par-
ticipativamente” intervenções ou modelos para que os pro- ciedade, pois se a educação é o direito hu-
fessores os adaptem a sua realidade. A questão é repensar mano fundamental e, ainda, tem como ob-
esse estilo de inovação escolar via modelos e via consenso jetivo principal a inclusão social do cidadão.
e adesão na aplicação de modelos. (ARROYO, 1999, p.134) este trabalho tem como proposição con-
tribuir para discussão sobre necessidade da
Outro aspecto levantado por Arroio (1999) inovação do Currículo da Educação de Jov-
e que inovar significa preferencialmente rev- ens e Adultos, para que este passe atender
er conteúdos e programas, já que, “os con- as especificidades desse público almejado.
teúdos a serem ensinados e aprendidos são Entretanto, muitos autores promovem o de-
considerados expressão máxima da função bate com base na função primordial do ensi-
social da escola” (p.136). E, portanto, quan- no, quaisquer, mas para este estudo atemos
do esses conteúdos ensinados pela escola ao Currículo da EJA, a qual demanda, como
deixam de cumprir sua função primordial, foi possível extrair das diversas literaturas e
ainda “se a escola transmite conteúdos ob- documentos institucionais, a função social,
soletos, perde sua função social, logo, in- as quais perfazem a formação cidadã, pois
ovemos os conteúdos e estaremos inovan- acreditamos que só estaremos cumprindo
do a educação. Em uma concepção estreita esse papel quando todos estejam incluídos

874
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

politicamente e socialmente na sociedade.

Ampliando os necessários argumentos a


compreensão para uma urgência inovação do
currículo, com pretexto nada básico de uma
força tarefa para concretização do feito, e dos
quais possam os alunos da EJA (educação de
jovens e adultos) desfrutar de um currículo di-
recionado a eles, os quais, sejam efetivamente
inseridos no sistema educacional, essa parcela
da população os quais são oriundos de diver-
sas origens socioculturais. Que este trabalho
instigue o debate entre os educadores, a co-
munidade, a gestão escolar, o poder público e
os alunos da EJA, onde todos possam partici-
par da construção de um currículo democráti- ROSEMEIRE URIOS
co e que promova a inclusão social, histórica
- política, respeitando nesse processo de ino-
var, os valores culturais coletivos e individuais Graduação em Matemática pela Faculdade
do aluno, construindo uma formação significa- Camilo Castelo Branco (2010); Pedagogia pela
tiva para esse aluno da Educação de Jovens e Faculdade Nove de Julho (2012); Especialis-
Adultos. Diante dos argumentos supracitados ta em Docência do Ensino Superior (2015);
cabe dizer que o currículo atual não atende Especialista em Psicopedagogia Institucio-
as funções para qual ela foi criada, por isso nal pela Faculdade da Aldeia de Carapicuíba
faz se necessário buscar meios para inovar o (2016); Professora de Educação infantil e En-
currículo e atender a demanda pretendida. sino Fundamental I - na EMEI José Mauro de
Vasconcelos.

875
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS
ARROYO, Miguel G. Currículo: Políticas e
práticas. In: MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa
(org.). Coleção Magistério: Formação e Trabalho
Pedagógico. Campinas/SP: Papirus, 1999.

BRASIL. RESOLUÇÃO Nº 4, DE 13 DE JU-


LHO DE 2010: Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais. Disponível em: 10.pdf

_________. PORTAL. MEC. Parecer cne/


ceb nº:23/2008: EJA: http://portal.
m e c . g o v. b r/c n e /a r q u i v o s /p d f/ 2 0 0 8 /
pceb023_08.pdf > Acesso em 01/03/2019

CANDAU, VERA MARIA. Currículo: Políticas e


práticas. In: MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa
(org.). Coleção Magistério: Formação e Trabalho
Pedagógico. Campinas/SP: Papirus, 1999.

DOll JR, William E. Currículo: uma perspectiva


pós-moderna trad. Maria Adriana Veríssimo
Veronese Porto Alegre: Artes Médicas 1997

LIMA, ELVIRA SOUZA. Indagações sobre cur-


rículo: currículo e desenvolvimento humano.
In: BEAUCHAMP, Jeanete; PAGEL, Sandra
Denise; NASCIMENTO Aricélia Ribeiro
do (Org.). Ministério da Educação, Secretar-
ia de Educação Básica, Brasília/DF: 2007.

SACRISTÁN, José Gimeno. Saberes e Incer-


tezas do Currículo. Porto Alegre: Penso, 2013.

VALLE, Luciana de Luca Dalla. Metodolo-


gia da Alfabetização. Curitiba: IBPEX, 2007.

876
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE

RESUMO: Este artigo relata sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperativi-


dade (TDAH) que afeta a vida de muitas crianças gerando conflitos no meio social porque
as pessoas não saberem lidar com o indivíduo. O artigo visa ser utilizado como re-
flexão aos professores e família que não sabem lidar com a situação e buscam infor-
mações para conhecerem mais sobre o transtorno. Baseado em autores como Benczik,
Círio, Phelan, Rohde, etc, será apresentado a definição, sintomas, características da cri-
ança com TDAH e como se procede um diagnóstico e a importância da intervenção, par-
ceria da família, escola e profissionais da saúde para amenizar os conflitos encontrados.

Palavras-chave: TDAH; sintomas; diagnóstico; intervenção; como lidar.

877
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

pois nem sempre uma criança que é agitada


INTRODUÇÃO tem TDAH, tem que ser observado o grau
e as circunstância que vem acontecendo.
Esta pesquisa tem como objetivo refletir
Escuta-se frequentemente das pessoas
sobre a criança com TDAH, conhecendo
que lidam com as crianças agitadas, que-
as características, sintomas, a importân-
ixas dos mesmos estressados, irritados
cia da intervenção e como devemos lidar
sobre o comportamento do sujeito e não
com as crianças em casa e na escola, bus-
sabem o que fazer, como lidar com a situ-
cando estratégias para minimizar o sofri-
ação, pois a criança é identificada como
mento do sujeito no seu desenvolvimento.
desobediente, preguiçosa e mal-educada.
O comportamento que a criança apresen-
ta gerando, enfrentando conflitos no meio
TRANSTORNO DE DÉFICIT
social em que vive, pode ser sintomas do
DE ATENÇÃO / HIPERATIVI-
Transtorno de Déficit de Atenção / Hip-
DADE
eratividade (TDAH), e os mesmos neces-
O transtorno de Déficit de Atenção / Hip-
sitam de ajuda para lidar com a situação.
eratividade (TDAH) durante alguns anos
recebeu inicialmente outros nomes. Segun-
Segundo a Associação Brasileira do Déficit
do PHELAN (2005, p.13) Doença de Still,
de Atenção (ABDA) o TDAH é reconhecido
Distúrbio de Impulsos, descreviam crianças
oficialmente por vários países e pela Orga-
ativas e impulsivas. Com o passar do tem-
nização Mundial da Saúde (OMS). Pessoas
po alguns termos assustava pais das cri-
envolvidas com as crianças devem con-
anças, pois os termos eram: Lesão Mínima
hecer sobre o assunto para que em equi-
do Cérebro e Disfunção Cerebral Mínima.
pe multidisciplinar possam compreender
e buscarem estratégias de como lidar com
Depois surgiu uma expressão para de-
as crianças. Pessoas que lidam com as cri-
screver obviamente o excesso de ativi-
anças devem compreender o que está acon-
dade, a Reação Hipercinética da Infância.
tecendo com o sujeito antes de utilizarem
Segundo com Phelan (2005): O nome
rótulo, críticas sobre os comportamentos,
Transtorno de Déficit de Atenção surgiu pela
atitudes dos mesmos. Percebemos como
primeira vez em 1980, no assim chamado
essa situação vem afetando a vida de muitas
DSM-III (Sigla em inglês para o Manual Di-
crianças que crescem sem um diagnóstico
agnóstico e Estatístico dos Distúrbios Men-
exato, podendo causar problemas futuros.
tais, Terceira Edição). Essa nova definição
Quanto antes o indivíduo receber aju-
deixava claro que o ponto central do prob-
da, intervenção dos profissionais e família
lema era a dificuldade de se concentrar e
pode amenizar os sintomas e se ter uma
manter a atenção. (PHELAN, 2005, P. 13).
vida social sem enfrentar muitos conflitos.
No DSM-III acredita-se que existem
As crianças que apresentam as característi-
dois tipos de TDA com ou sem hipera-
cas de TDAH devem ser diagnosticadas de
tividade, mas sendo mais conhecido nos
maneira minuciosa para que pessoas que lid-
últimos tempos por TDAH. Diversos au-
am com elas no seu dia a dia possam intervir,

878
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

tores definem o que é o TDA/H. De acordo sem enfrentar muitas frustrações e problemas
com CIRIO (2008), “O Transtorno de Déficit futuros. Sujeitos diagnosticados com o tran-
de Atenção / Hiperatividade é um proble- storno normalmente são encaminhados pela
ma de saúde mental bastante frequente em escola, pois é quando a criança encontra mui-
crianças e adolescentes em todo mundo”. tos conflitos por não conseguirem respeitar
De acordo com Bonet, Soriano, Solano regras, normas estabelecidas pelo professor.
(2008, p.2) dizem que o transtorno com ou
sem Hiperatividade Segundo Barkley, 1982): O diagnóstico de crianças hiperativas são
mais fácil de serem identificadas por causa
É uma alteração do desenvolvimento da atenção, da impul-
sividade e da conduta governada por regras (obediência, au-
da irritação que ele causa aos envolvidos
tocontrole e resolução de problemas), que se inicia nos pri- com o indivíduo. Trata-se de um transtorno
meiros anos do desenvolvimento; é significamente crônica e heterogêneo, pois afeta tanto meninos como
permanente na sua natureza e não pode ser atribuída a atraso meninas, mas tendo diagnóstico de hiperati-
mental, surdez, cegueira ou algum outro déficit neurológico
maior ou outras alterações emocionais mais severas, como
vos maior para meninos do que meninas. Se-
a psicose ou o autismo, por exemplo. (BARKLEY, 1982). gundo BENCZIK (2010, p. 24) “a proporção
de menino para menina varia de 4:1 a 9:1”. As
O diagnóstico preciso deve ser realiza- atitudes, comportamentos que a criança man-
do de maneira minuciosa, por equipe multi- ifesta no seu convívio social gerando conflitos
disciplinar, pois não quer dizer que toda cri- devem ser tratadas, pois pode não ser culpa
ança agitada, inquieta tem TDAH, por isso da criança não agir de acordo com as normal-
é muito importante à contribuição de todos idades esperada pelo seu desenvolvimento,
que lidam com o indivíduo para o processo. pode se tratar do distúrbio em pesquisa.

Crianças portadoras desse transtorno SINTOMAS DAS CARACTERÍSTI-


emergem frequentemente conflitos com out- CAS DE TDAH
ras pessoas, principalmente com os profes-
sores e os pais. É um desafio lidar com sujeitos A seguir serão apresentados os sintomas
portadores do TDAH, segundo BENCZIK de cada característica de um indivíduo com
(2008, p. 25) “muitas vezes, essas crianças TDAH, mas relembrando que devem ser ob-
são identificadas como desobedientes, pre- servados, investigados de maneira minuciosa
guiçosas, mal-educadas e inconvenientes”. em que local é que frequência o sujeito vem
apresentando os sintomas listados.Os sinto-
O TDAH ocorre frequentemente nas cri- mas de TDAH caracterizam-se por dois gru-
anças, segundo Machado, Cezar (2008, p. 1) pos, segundo ROHDE, BENCZIK (1999), “(1)
“A Hiperatividade, uma deficiência neurobi- desatenção, e (2) hiperatividade (agitação)
ológica de origem genética é um descontrole e impulsividade” e os mesmos devem ser
motor acentuado, que faz com que a criança apresentados em dois ou mais ambientes.
tenha movimentos bruscos e inadequados,
mudanças de humor e instabilidade afetiva”. SINTOMAS DE DESATENÇÃO
O TDAH não tem cura, mas o sujeito o quan-
to antes receber as intervenções necessárias Nessa característica o indivíduo encontra
pode amenizar os sintomas e levar uma vida dificuldade em focalizar a atenção por mui-

879
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

to tempo em alguma determinada situação. Isso pode ocorrer em razão de uma hipoativ-
De acordo com Bonet, So- idade no sistema de inibição de conduta
riano, Solano (2008): (SIC), o que leva essas crianças a cometerem
muitos erros em atividades que exijam per-
O déficit de atenção é uma dificuldade persistente em sistência na tarefa e/ou inibição da resposta
selecionar a informação relevante (e ignorar os estímu-
los irrelevantes), em ser capaz de manter a atenção
durante um determinado período de tempo.
numa mesma atividade durante o tempo necessário (BONET, SORIANO, SOLANO, 2008, P. 28).
para realizá-la e em poder reorientar a atenção para out-
ro estímulo. (BONET, SORIANO, SOLANO, 2008, P. 19). As manifestações são de acor-
do com Rohde, Benczik (1999):
As manifestações são se-
gundo Rohde, Benczik (1999): • Ficar mexendo as mãos e/
Não prestar atenção a detal- ou os pés quando sentado;
hes ou cometer erros por descuido; • Não parar sentado por muito tempo;
Ter dificuldade para concen- • Pular, correr excessivamente em situ-
trar-se em tarefas e/ ou jogos; ações inadequadas, ou ter uma sen-
Não prestar atenção ao que lhe sação interna de inquietude (ter
é dito (“estar no mundo da lua”); “bicho-carpinteiro por dentro”):
Ter dificuldade em seguir regras e in- • Ser muito barulhen-
struções e/ ou não terminar o que começa; to para jogar ou divertir-se
Ser desorganizado com as tarefas e materiais; • Ser muito agitado (“a mil
Evitar atividades que exijam por hora”, “ou um foguete”).
um esforço mental continuado; • Responder às perguntas an-
Perder coisas importantes; tes de terem sido terminadas;
Distrair-se facilmente com coisas que não • Ter dificuldade de esperar a vez
tem nada a ver com o que está fazendo; • Intrometer-se em conver-
Esquecer compromissos e tarefas. sas ou jogos dos outros.
• Os sintomas apresentados acima de de-
SINTOMAS DE HIPERATIVIDADE satenção e hiperatividade/impulsividade
/ IMPULSIVIDADE na maioria das vezes não estão pre-
sentes todos os listado, mas vários deles.
Crianças com o transtorno, nesta carac-
Segundo Rohde e Benczik (1999, p.41) “as
terística apresentam um excesso de atividade
pesquisas mais recentes têm mostrado que
esperado para idade e dificuldade em con-
são necessários pelo menos seis dos sintomas
trolar seus impulsos.Segundo Bonet, Soriano,
de desatenção e/ou seis dos de hiperativi-
Solano (2008) para definir a impulsividade é:
dade/impulsividade para que se possa pensar
na possibilidade do diagnóstico de TDAH”.
Problemas, às vezes severos, na capacidade
Segundo Ritter (2009, p.03) ”sintomas que
de inibir uma resposta tanto em atividades
ocorrem apenas em casa ou somente na es-
cognitivas quanto sociais. As crianças são inca-
cola devem alertar para a possibilidade de
pazes de esperar tempo suficiente para poder
que a desatenção, a hiperatividade ou a im-
pensar e agir logo após, sendo pouco reflexiva.

880
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

pulsividade possam ser apenas sintomas vem sempre buscar informações sobre o
de uma situação familiar desestruturada transtorno apresentado, buscar estratégias
ou de um sistema de ensino inadequado”. para ajudá-lo na sua relação com o meio e
assim minimizar os conflitos encontrados.
DIAGNÓSTICO O tratamento de acordo com Ritter (2009):

Por o indivíduo apresentar comportamen- O tratamento de crianças com TDAH exige


tos inadequados é primordial esclarecimen- um esforço coordenado entre os profissionais
to das queixas de todos envolvidos com a das áreas médica, saúde mental e pedagógica,
criança para se ter um diagnóstico adequa- em conjunto com os pais. Esta combinação de
do para se iniciar o tratamento, pois o su- tratamentos oferecidos por diversas fontes é
jeito com hiperatividade de acordo PEREI- denominada de intervenção multidisciplinar.
RA, LIMA (2004, P. 4), segundo a psicóloga Um Tratamento com esse tipo de abordagem
Mônica Duchesne da ABD, a criança pode inclui: Treinamento dos pais quanto à verda-
sofrer outra consequência de baixa au- deira natureza do TDAH e em desenvolvi-
toestima por ser diferente das demais pes- mento de estratégias de controle efetivo do
soas, amigos, gerando repercussão social. comportamento; Um programa pedagógico
adequado; Aconselhamento individual e fa-
No diagnóstico é realizada uma inves- miliar, quando necessário, para evitar o au-
tigação do que está gerando conflito na mento de conflitos na família; Uso de medi-
conduta esperada na relação do sujeito. O cação, quando necessário. (RITTER, 2009, P.8).
diagnóstico só deve ser realizado por um
profissional de saúde mental, seja ele médi- A parceria entre todos envolvidos com a
co ou psicólogo, pois podem ser vários prob- criança é primordial para promover melho-
lemas tendo necessidade de uma avaliação rias na relação com indivíduo e desenvolvi-
global do desenvolvimento da criança. Ex- mento do mesmo. Os pais e escola devem
istem exames que podem fortalecer o di- buscar estratégias para lidar com os desafios
agnóstico, de acordo com Rohde e Benczik que encontram para não gerarem mais con-
(1999) “o exame neurológico evolutivo, flitos para a criança que vem sofrendo com
realizado por neurologistas de crianças, os comportamentos negativos que apresenta,
pode indicar dados que fortalecem o diag- não porque ela é teimosa e sim por o TDAH
nóstico baseado na pesquisa de sintomas”. fazer a criança agir diferentemente do espe-
rado. A seguir serão apresentadas algumas
ORIENTAÇÕES AOS PAIS E ESCOLA estratégias para os pais e escola que muitas
vezes se queixam da relação com os filhos,
Lidar com crianças portadoras de TDAH alunos que muitas vezes são desgastantes.
não é uma tarefa fácil, muitos são os desa- Lembrando que não existem “receitas pron-
fios enfrentados pelo professor e família. tas” para lidar com o transtorno, pois cada
Segundo Rohde, Benczik (1999) “as inter- sujeito tem seu jeito único, mas algumas di-
venções precoces podem representar um cas e estratégias podem nos fazer refletir
grande passo para minimizar o impacto sobre o manejo para enfrentar a situação.
negativo que o TDAH traz à vida da cri-
ança, dos pais e dos seus professores”. Os Segundo a ABDA existem algumas di-
profissionais que lidam com a criança de- cas que podem ajudar servir como reflex-

881
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ão, estratégias para lidar com a criança: A criança deve ser preparada para qualquer
mudança que venha alterar sua rotina; O
Os pais e professores, pessoas próximas da individuo portador do TDAH deve apren-
criança para lidar com a mesma portadora do der lidar com as frustrações que encontra,
TDAH devem reforçar os pontos positivos do devemos estimular a criança fazer e man-
sujeito, não fazer comparações entre as out- ter amizades e deixá-la ser independen-
ras crianças, pois cada um age de um jeito, de- te, ser autônoma respeitando sua idade;
vem sempre conversar com o individuo como
está se sentindo, estabelecer regras e limites, É fundamental os pais terem sempre um
não se deve exigir mais do que a mesma pode disponível para interagir com a criança, de-
dar, tem que considerar sua idade e lembrar vem ser criativos e evitar ficar dentro de
que sempre deve elogiá-la para estimular casa todo final de semana, programe ativ-
sua auto estima; A escola deve ser escolhida idades, passeios diferentes; Devemos in-
cuidadosamente para não sobrecarregar a cri- centivar brincadeiras com jogos e regras,
ança com muitas atividades extracurriculares; pois ajuda desenvolver a atenção e permite
a criança se organizar por meio das regras e
O estudo deve ser planejado para atender ensina aprender ganhar, perder e empatar;
essas crianças, o seu jeito, buscando novas
estratégias e se não atingir as expectativas As atividades proposta não devem re-
esperadas, após algumas semanas reaval- querer muita concentração, sendo muito
iar e buscar mais opções; A parceria entre prolongada, deve ser intercalada com cois-
pais e professores devem ser próximas para as agradáveis; Devemos escutar as opin-
acompanhar o que vem acontecendo com iões das crianças sobre o que ela quer e o
o individuo; A criança deve receber as in- que está achando das coisas, devem ser ne-
struções diretas e claras, uma de cada vez, gociados e atendidos no que for possível;
para que a mesma possa compreendê-la;
O uso de mural, agenda para fixar lem-
O adulto deve incentivá-las a conclu- bretes, listas de coisas a fazer, calendário de
ir tudo aquilo que começa e estabelecer provas também são boas estratégias para
uma rotina diária como por exemplo, hora ajudar o sujeito a se organizar.mAs estraté-
do almoço, de jantar e dever de casa; O gias citadas devem servir como um meio de
ambiente deve ser organizado, arruma- melhorar o desenvolvimento, nossa conduta
do, proporcionando ótimo momento para perante a criança, sempre buscando novos
o sucesso e assim evitando conflitos; conhecimentos sobre o transtorno e nun-
ca desistir de tentar outras maneiras de agir
Em casa o sujeito deve ter um espaço are- com o sujeito por causa de alguns obstácu-
jado e bem iluminado para realizar os deveres los que podem surgir e gerar vários conflitos.
de casa, o quarto não pode ser um espaço
com vários objetos exposto que tire a atenção
da criança; Quando a criança apresenta um CONSIDERAÇÕES FINAIS
comportamento não esperado, deve-se ad-
vertir construtivamente, esclarecendo do Analisando a pesquisa realizada obser-
que seria adequado para aquele momento; va-se como profissionais da saúde, educação
e família tem um papel importante para que

882
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

juntos possam se ter um diagnóstico cor-


reto da criança que apresenta o TDAH.

Partindo de um diagnóstico realizado de


maneira minuciosa, por equipe multidisci-
plinar pode se iniciar a intervenção em busca
de estratégias para amenizar os sintomas que
muitas vezes são vistos negativos, com críti-
cas, rótulos. Refletindo sobre o TDAH que não
tem cura, percebemos como este transtorno
faz com que o sujeito enfrente na vida muitas
frustrações no ambiente que vive, mas isso
não é culpa do mesmo por não respeitar as
regras, não controlar seus impulsos, sujeitos RENATA FONSECA RODRIGUES
portadores desse transtorno não agem com
atitudes negativas porque querem, ou gostam Graduação em pedagogia pela Fac-
de “irritar” as outras pessoas, mas por não con- uldade Universidade do Grande
seguirem ter autocontrole de si, característi- ABC(2007); Especialista em Psi-
ca de indivíduos portadores do distúrbio. copedagogia pela Faculdade Univer-
sidade do Grande ABC (2012); Pro-
A família e escola que ficam preocupa- fessora de Educação Infantil - no CEI
dos, sem saber como agir com as crianças Jardim Vila Carrão.
que apresentam um comportamento não es-
perado, devem ir em busca de informações,
sempre ter diálogo entre família e escola,
procurar ajuda de profissionais especializa-
dos que irão auxiliá-los as estratégias que
podem ser feitas para amenizar muitas frus-
trações encontradas. mRefletindo sobre o
estudo percebemos como pais e professores
são capazes de lidarem com as crianças com
TDAH permitindo a interação do sujeito com
o meio onde vive, e sem gerar consequên-
cias negativas, o individuo ter um desen-
volvimento integral através do diálogo, par-
ceria com todos envolvidos com a criança.

883
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFIC-


IT DE ATENÇÃO. Disponível em: <http://
www.tdah.org.br> Acesso em 06/03/13.
BENCZIK, E.B.P. Transtorno de
déficit de atenção / hiperativi-
dade: atualização diagnóstica e ter-
apêutica: um guia de orientação para profis-
sionais. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010.

BONETE, T; SORIANO, Y; SOLANO,


C. Aprendendo com crianças hiperati-
vas. São Paulo: Cengage Learning, 2008.

CIRIO, R. R. Transtorno de déficit de


atenção / hiperatividade: Proposta para
pais e professores. São Paulo: Vetor, 2008.

MACHADO, L. F. J; CEZAR, M. J. C. Tran-


storno de déficit de atenção e hiperativi-
dade (TDAH) em crianças – Reflexões inici-
ais. Disponível em: <http://www.abpp.com.
br/artigos/85.html> Acesso em 31/07/12

PEREIRA, L. A. M. C; LIMA, F. B. O papel do


professor no processo de aprendizagem em
crianças com TDAH. Disponível em: <http://
www.psicopedagogia.com.br/artigos/arti-
go.asp?entrID=547> Acesso em 31/07/12

PHELAN, T. W. TDA / TDAH – Trans-


torno de déficit de atenção e hipera-
tividade. São Paulo: M. Books, 2005.

RITTER, H. S. Psicopedagogia atuando na re-


educação dos pais de crianças com TDAH.
Disponível em: <http://www.abpp.com.br/
artigos/95.htm?> Acesso em 31/07/12

ROHDE, L. A. P; BENCZIK, E. B. P. Transtorno


de déficit de atenção e hiperatividade: O que
é? Como ajudar?. Porto Alegre: Artmed, 1999.

884
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O artigo propõe analisar o papel que as brincadeiras e os brinquedos exercem no desen-


volvimento da criança, de modo a despertar seu interesse e a sua motivação, afinal o brin-
car, tanto no início como durante toda a vida, faz parte do dia a dia de cada um, favore-
cendo a construção prazerosa do viver e da convivência social. Ao relembrar a primeira
infância, pensamos em ludicidade, imaginação, fantasias e sonhos, sendo assim, não tem
como falar em criança sem falar em brincadeiras, brinquedos, cantigas de roda, forman-
do a linguagem lúdica formativa na cultura da criança. Neste estudo foi necessário sa-
ber o significado do brincar e a importância do brincar no desenvolvimento infantil.

Palavras chave: Brincar; Educação Infantil; Brincadeiras; Brinquedos.

885
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO teóricas buscou-se compreender um pouco a


respeito da importância do brincar no desen-
O ambiente escolar deve transformar-se volvimento infantil, principalmente a partir
em um espaço agradável, de forma que do pressuposto de que os papéis adotados
as brincadeiras permitam ao educador al- pela criança no jogo protagonizado, sim-
cançar sucesso em sala de aula. As brinca- bólico ou de faz-de-conta têm significativas
deiras são compreendidas aqui como es- relações com o seu contexto social e histórico.
tratégias motivacionais da aprendizagem e
os mesmos são excelentes meios que per- O termo brincadeiras, jogo e lúdico podem
mitem o diagnóstico, a intervenção e até ser visto aqui como um mesmo conceito, isto
mesmo a transmissão de conteúdos con- é, como atividades livres ou dirigidas, que são
ceituais, procedimentais e atitudinais sem capazes de envolver seus participantes e gerar
que o alvo principal, ou seja, o “educan- prazer. No decorrer dos estudos foram apre-
do” perceba que está sendo investigado. sentados vários assuntos, os quais vão esclare-
cer a importância do brincar e seu significado
Estas atividades desenvolvidas com as cri- no desenvolvimento infantil. Abordou-se a
anças são ferramentas capazes de resgatar a finalidade do brinquedo em função da edu-
autoestima, proporcionar o autoconhecimen- cação e também assuntos referentes à grande
to, transmitir valores como solidariedade, questão que nos faz sempre refletir de como
responsabilidade, disciplina, autoconfiança, as escolas e os educadores veem o brincar.
auto aceitação e tolerância. As possibilidades
são infinitas, favorecendo a concentração, A IMPORTÂNCIA DAS BRINCADEI-
alegria, afetividade, aspectos motores, RAS NA INFÂNCIA
sociais e muitos outros, tão necessári-
os à formação dos nossos educandos. Inicialmente as creches e pré escolas tinham
como principal objetivo atender as famílias
Percebemos a partir do estudo, a importân- mais carentes financeiramente, sendo vistas
cia do resgate das brincadeiras em função do como assistencialistas, como um favor ofere-
processo de desenvolvimento da criança, a cido para poucos, selecionados por critérios
importância do lúdico e como ele pode ser excludentes e com baixos investimentos para
importante para o desenvolvimento e para a este tipo de ensino. Grande parte dessas in-
aprendizagem das crianças, pois os espaços stituições nasceu com o objetivo de atender
lúdicos são ambientes férteis propícios para exclusivamente às crianças de baixa renda. O
as necessidades das crianças. O trabalho uso de creches e de programas pré-escolares
tem como objetivo mostrar que as brinca- como estratégia para combater a pobreza e
deiras se caracterizam por movimentos que resolver problemas ligados à sobrevivência
contribuem muito para o desenvolvimento das crianças foi, durante muitos anos, justif-
da criança, seja no físico, afetivo ou cogni- icativa para a existência de atendimentos de
tivo. Estas atividades devem ser trabalha- baixo custo, com aplicações orçamentárias
das desde as séries iniciais, com ações que insuficientes, escassez de recursos materi-
desenvolvem a motricidade da criança, con- ais; precariedade de instalações; formação
tribuindo para o conhecimento e o domínio insuficiente de seus profissionais e alta pro-
sobre si próprio. Através das contribuições porção de crianças por adulto. (RCNEI, p. 17).

886
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Ed- de criação e de reinvenção; atividades que


ucação Nacional (Lei 9394/96), a educação estimulem a construção de conhecimentos
infantil passou a integrar a Educação Básica, matemáticos e do meio físico e social e por
sendo ofertada em creches para as crianças último aulas que favoreçam o contato com a
de 0 a 3 anos, e em pré-escolas para as cri- língua escrita e a leitura (verbal ou não verbal).
anças de 4 e 5 anos, porém ela ainda não era
obrigatória. A educação infantil, primeira eta- Os conteúdos de Educação Infantil, na
pa da educação básica tem como finalidade o prática, devem buscar auxiliar no desen-
desenvolvimento integral da criança até seis volvimento da criança de modo que desen-
anos de idade, em seus aspectos físico, psi- volvam capacidades, tais como: desenvolver
cológico, intelectual e social, complementando uma imagem positiva de sí, atuando de for-
a ação da família e da comunidade. (LDB, arti- ma cada vez mais independente, confiante
go 29). Com a publicação da lei nº 12.796/13 em suas capacidades e percepção de suas
de quatro de abril, que altera a lei nº 9.394/96, limitações; descobrir e conhecer progressiv-
que estabelece as diretrizes e bases da edu- amente seu próprio corpo, suas potenciali-
cação nacional, houve uma alteração no texto dades e seus limites, desenvolver e valorizar
no artigo 6º, tornando "dever dos pais ou re- hábitos de cuidado com a própria saúde e
sponsáveis efetuar a matrícula das crianças na bem-estar; estabelecer vínculos afetivos e
educação básica a partir dos 4 anos de idade". de troca entre adultos e crianças, fortalecen-
do sua autoestima e ampliando gradativa-
Desta forma, surge a necessidade de con- mente suas possibilidades de comunicação
cretizar de forma viável os objetivos da Ed- e interação social; estabelecer e ampliar
ucação Infantil, possibilitando o desenvolvi- cada vez mais as relações sociais, aprenden-
mento integral da criança através de um do aos poucos a articular seus interesses e
ambiente rico em experiências necessárias pontos de vista, interagindo com os demais,
ao desenvolvimento físico, psicológico, in- respeitando a diversidade e desenvolven-
telectual e social, complementando a ação do atitudes de ajuda e colaboração, entre
da família e da comunidade; promovendo a outras capacidades a serem desenvolvidas.
ampliação das experiências e conhecimen-
tos do aluno, estimulando seu interesse pelo A educação tem por função criar
processo de transformação da natureza e condições para que o desenvolvimento das
pela convivência em sociedade; estimulan- crianças aconteça de forma plena e absolu-
do a criatividade como elemento de auto ta, com foco na ampliação das competên-
expressão; a construção do conhecimento cias e das de ordem física, afetiva, cogniti-
que inclui necessariamente as ideias de de- va, ética, estética, de relação interpessoal e
scobrir, de inventar, de redescobrir e de criar. de inserção social.De acordo com Resende
(1999, p. 43), “não queremos uma esco-
Para isso o currículo da Educação Infantil la cuja aprendizagem esteja centrada nos
deverá ser organizado através das atividades homens de talentos, nem nos gênios. Pre-
bem planejadas de comunicação e expressão cisamos de uma escola que forme homens,
que desenvolvam as linguagens verbal, plásti- que possam usar seu conhecimento para o
ca, musical e corporal; utilização de materiais enriquecimento pessoal”. O ato de educar,
que favoreçam o processo de elaboração de de acordo com o Referencial Curricular Na-
descoberta, de levantamento de hipóteses, cional de Educação Infantil significa propiciar

887
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

situações de cuidados, brincadeiras e apren-


dizagens de forma integrada e que possam As escolas de Educação Infantil tem um pa-
contribuir para o desenvolvimento das ca- pel importantíssimo no preparo da criança
pacidades infantis de relação interpessoal, para a alfabetização, e devem cumprir este
de ser e estar com os outros em uma atitude papel com competência, pois esse período
básica de aceitação, respeito e confiança, e configura-se no início da formação da criança,
o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos momento em que ela vai ter o primeiro con-
mais amplos da realidade social e cultural. tato com o processo de aprendizagem, e que
servirá de base para todos os anos escolares
Educar é um ato consciente e planeja- de sua vida. Para o desenvolvimento emocio-
do. Infelizmente não é o que vemos nas es- nal e cognitivo da criança, de uma forma geral
colas. As escolas não dão o devido valor contribui para o aprendizado de sua própria
ao brincar, assim como alguns educadores vida, pois é uma fase rica em descobertas.
também não. É preciso que os educadores
repensem o conteúdo e a sua prática ped- Segundo Piaget (1990, p. 67), “o conheci-
agógica, substituindo a rigidez pelo entu- mento implica uma série de estruturas con-
siasmo de aprender, pela maneira de com- struídas progressivamente através da con-
preender e reconstruir o conhecimento. tínua interação entre o sujeito e o meio físico
e social”. Portanto, o ambiente escolar deve
O brincar não deve ser encarado como uma estimular e favorecer a mediação em função
atividade de passatempo. É preciso consider- do desenvolvimento, pois algumas crianças
ar as brincadeiras que as crianças trazem de passam boa parte do seu dia na escola e esse
casa ou da rua em que moram e que organi- ambiente deve pensar nas suas necessidades,
zam independentemente do adulto, como um e para isso, precisa estar fundamentado numa
diagnóstico daquilo que já conhece, tanto no proposta de trabalho que respeitem a infân-
mundo físico ou social, bem como do afetivo. cia, afinal brincar é um direito da criança.
Infelizmente as escolas não dão o devido
valor ao brincar. Muitas escolas valorizam E nesta fase tudo para a criança tem um
apenas a aprendizagem de escrita e leitura. significado, assim, um pedaço de madei-
ra pode virar um cavalo, com a areia ela faz
Valorizar o brincar neste caso seria levar bolos, doces para sua festa de aniversário
para a sala de aula brinquedos, jogos e ma- imaginária, e ainda, cadeiras se transformam
teriais diversos e também munir os profis- em trem, em que ela tem a função de con-
sionais de conhecimentos para que possam dutor, imitando o adulto. Também os mate-
entender e interpretar o brincar, assim como riais para as brincadeiras de construção de-
utilizar estas ferramentas para que auxiliem vem fazer parte da rotina escolar, uma vez
na construção do aprendizado e do desen- que construir, destruir e reconstruir permite
volvimento da criança. Seria muito impor- a exploração cada vez mais rica das proprie-
tante que todas as escolas tivessem um dades e características dos objetos, além
cantinho com alguns brinquedos e materi- é claro, dos seus diferentes usos culturais.
ais para brincadeiras. O professor também
deve ensinar as crianças a construir o seu Quanto mais experienciar diferentes ma-
próprio brinquedo, seja de sucata, reciclável teriais e diferentes possibilidades de brincar,
ou artesanal, pois são portadores de cultura. novas serão as possibilidades de construção e

888
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

relações entre eles. A brincadeira simbólica teressante, que pode ser notado no lúdico é
possibilita à criança que sua imaginação en- que como lida com afeto, prazer e interação,
tre em cena no enfrentamento da realidade. portanto, deve ser realizado através de ativi-
A brincadeira é uma linguagem natural da dades que levem a criança ao divertimento e
criança e é de suma importância que este- ao mesmo tempo ao respeito com os colegas
ja presente desde a primeira vez que a cri- e assim por lidar com emoções, as experiên-
ança entra na escola. O brincar é algo sim- cias de liberdade e criatividade faz com que
ples e ao mesmo tempo complexo, porém a criança também expresse o pensamento,
este ato é muito importante e influente na sua capacidade de ver e representar o mundo.
superação das limitações do ser humano.
De acordo com a pesquisa podemos então
CONSIDERAÇÕES FINAIS afirmar que o brincar é uma necessidade do
ser humano e quando se trata de crianças,
Reconhecemos através dos estudos e ao brincar ela aprende de forma mais signif-
da leitura dos diversos autores que a cri- icativa seus próprios passos e suas maneiras,
ança aprende enquanto brinca e que a Ed- pois muitas vezes utiliza seus próprios recur-
ucação Infantil tem a função de promover sos, pois nesse momento terá a oportunidade
a construção do conhecimento, através do de experimentar, explorar, descobrir e criar.
brincar, isto porque quando referimos ao Esse acaba se tornando um momento mágico
ato de brincar na Educação Infantil, não que tem o poder de fazer com que a criança
pensamos como sendo exatamente igual pense livremente, tornando-se ousada, com
ao brincar em outras situações, já que na imaginação fértil, sem medo de errar. Diante
vida escolar, as brincadeiras são regidas desse estudo é importante salientar que a
por algumas normas que regulam as ações escola deve oferecer à criança um ambiente
das pessoas e as interações entre elas. de qualidade que estimule as interações so-
ciais entre as crianças e professores e, que
Vimos que na Educação Infantil há várias seja um ambiente enriquecedor da imag-
possibilidades de trabalhar jogos e brin- inação infantil, onde a criança tenha a opor-
cadeiras, mas para que isso aconteça é tunidade de atuar de forma autônoma e ativa.
necessário que os materiais estejam dis- É neste local que o educador tem papel
poníveis, no momento que a criança está fundamental no preparo do ambiente e na
executando tal ação, pois é nesse momento, seleção e definição dos objetivos a serem
realizando experiências concretas com ob- alcançados por meio da brincadeira infan-
jetos que as necessidades básicas de apren- til. O aspecto lúdico facilita a aprendizagem
dizagem podem ser satisfeitas. Percebeu-se e o desenvolvimento integral em todos os
que na Educação Infantil, os tipos de brinca- sentidos, sendo assim, a educação infan-
deiras mais predominantes é o lúdico, onde til deve considerar o lúdico como parceiro e
ocorrem várias ações especiais que leva a utilizá-lo amplamente para atuar no desen-
criança a manifestar-se de diferentes modos volvimento e na aprendizagem da criança.
ao longo do seu desenvolvimento, seja pelos
jogos simbólicos, pelas brincadeiras de faz
de conta, ou pelas brincadeiras organizadas
pelo educador, isto tudo com a intenção de
atender as necessidades das crianças. O in-

889
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS
ARIÈS, Philippe. História social da criança e
da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981.

BETTELHEIM, Bruno. Uma vida para seu


filho. São Paulo: Artmed, 1984, p. 358.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Na-


cionais: Parâmetros Nacionais de Qual-
idade para a Educação Infantil, vol-
umes 01 e 02. Brasília MEC/SEB, 2006.
ANDREIA DE PAULA SILVA ROCHA DOS
SANTOS BRASIL. Referencial Curricular Na-
cional para a Educação Infantil/
Ministério da Educação e do Despor-
Graduação em Pedagogia pela Faculdade UNI- to, Secretaria de Educação Fundamental.
SUZ ; Especialista em Ensino da Matemática Brasília: MEC/ SEF, 1998, vol. 1 – introdução.
pela Faculdade CAMPOS ELÍSEOS (2018); Pro-
fessor de Educação Infantil na PMSP; Professo- BRASIL. Características do Referencial Nacio-
ra 24H na Prefeitura Municipal de Suzano-SP. nal para a Educação Infantil. Ministério da Ed-
ucação e do Desporto, Secretaria de Educação
Fundamental. Brasília: MEC/ SEF, 1998, Vol. 3.

DANTAS, Heloysa. Brincar e trabalhar. In:


KISHIMOTO, Tizuko M. (Org.). O brincar e suas
teorias. São Paulo: Pioneira, 2002, p. 111-121.

KISHIMOTO, Tizuko, M. (Org). Jogo, brin-


quedo, brincadeira e a educação. 4ª edição.
São Paulo-SP: Cortez, 2000 e O brincar
e suas teorias. São Paulo, Pioneira, 2002.

KREMER, S. A pré - escola e a criança,


hoje. Séries ideias – São Paulo – 1994.

MOYLES, J. R. Só brincar? O papel do brincar na


educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2002.

NEGRINE, A. A aprendizagem e o desenvolvi-


mento infantil. Porto Alegre: Prodil 1994.

PEREIRA, Maria ngela Cami-

890
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

lo Marques; AMPARO, Deise Matos; ALMEIDA Sandra Francesca Conte. O brin-


car e suas relações com o desenvolvimento. V. 24, n. 45, p. 15, 24. Curitiba, 2006.

PIAGET, J. Epistemologia genética. São Paulo: Martins Fontes, 1990.

RESENDE, Carlos Alberto. Didática em perspectiva. São Paulo: Tropical, 1999.

ROCHA, E.A. C. A formação dos professores de educação infantil: per-


spectivas indicadas na produção acadêmica brasileira. In CONGRESSO IN

TERNACIONAL OMEP, 2000, Rio de Janeiro.

SILVA, Marta R.P. Abrindo as gavetas da memória: o brincar na for-


mação dos educadores. São Paulo: Espaço Pedagógico, 2000. 37

SILVA, Marta R.P. Infância, formação e experiência: um olhar para os processos formativos
das educadoras e educadores da educação infantil. São Bernardo do Campo: Umesp, 2004.

SOUZA, R. P. A criança, a família e a escola. Porto Alegre: Ed. Globo, 1982.

THIESSEN, Maria Lucia; BEAL, Ana Rosa. Pré-Escola, Tempo de Educar. São Paulo: Ática, 1998.

VYGOTSKY, L. S. LURIA, A. R. A formação social da mente. São Paulo: Mar-


tins Fontes. 1995 in O brincar e suas relações com o desenvolvimento. 2006.

891
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

CIDADANIA: CONTRIBUIÇÕES DE OBRAS DE ARTE NA


SUA DISCUSSÃO E APLICAÇÃO EM SALA DE AULA
Resumo: A estrutura social brasileira apresenta a escola como ambiente propício para o apren-
dizado e desenvolvimento da cidadania. Com os estudantes passando uma grande quantidade
de horas na unidade escolar, o ensino de conceito ligados a convivência, que antes eram en-
sinados pela família e complementados pela escola, passam a ser de responsabilidade também
dos educadores. A cidadania não é uma disciplina específica dentro do currículo, sendo con-
siderada matéria correlata e de responsabilidade de todas as disciplinas. A disciplina de arte
consegue trabalhar diversos temas, considerando o contextualizar, fruir e fazer, trazendo para
o processo de ensino-aprendizagem uma reflexão sobre as obras e seu ser-estar no mundo.

Palavras-Chave: Cidadania; Arte-educação; Educação.

892
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO com os alunos sobre sua condição e a condição


do seu país, através do conceito de cidadania.
Cada região do planeta foi criando for-
mas de organização social, conforme a
região habitada, sendo as condições am- CIDADANIA NA EDUCAÇÃO
bientais determinantes. Das organizações
mais simples até as mais complexas, o O homem é um ser social. Não é possível
homem se estruturou enquanto grupo pensar em humanidade sem pensar em um con-
social. Com os conflitos e as guerras, e as junto de pessoas vivendo próximas e interagin-
trocas mercantilistas, os grupos foram es- do. Estamos organizados de tal forma que ne-
tabelecendo contato e conhecendo out- cessitados do outro para sobreviver. A própria
ras formas de se socializar e se organizar. história aponta para esta tendência, desde o
A era da globalização passa por um pro- surgimento da linguagem, há o início da orga-
cesso de superação, conseguimos entrar nização social. Ratto e Henning (2011: 119)
em contato com qualquer parte do mun- colocam que “A necessidade de sobrevivência
do de forma instantânea. Nesse processo, levou à socialidade humana, que fez com que
trocas de conhecimento e experiências, a linguagem e também a comunicação tornas-
ao longo da história, fez com que fos- sem possível a consciência (...)”. O surgimento
sem instituídos certos padrões de con- da linguagem e da socialidade do homem foram
vivência. Podemos considerar que a ideia processos complementares que proporcio-
de cidadania faz parte desses conceitos naram o desenvolvimento da consciência. Os
padronizados dentro de uma sociedade. autores colocam que o homem assumiu certa
O termo cidadania é muito utilizado vantagem ao produzir linguagem: “uma vanta-
em vários âmbitos sempre relacionado gem nomeadora” (ibidem). Com a necessidade
com os direitos e deveres de certo gru- de sobrevivência, a humanidade se modifi-
po, dentro de uma organização social. cou e, segundo Ratto e Henning (2011: 119),
Para ser cidadão, conhecer seus direitos e na modernidade, “essa consciência assumiu
deveres, e o porquê a sociedade em que uma feição mais refinada: a consciência epis-
se está inserido possui determinadas es- temológica em si. Concebe-se o Homem como
truturas, é preciso conhecer sua história, único ser que reconhece conscientemente sua
os caminhos que foram percorridos até capacidade de consciência e com isso torna-se
chegar onde está.Neste trabalho, levan- capaz de prometer, capaz de assumir com-
tamos alguns pontos importantes para a promissos” (RATTO E HENNING, 2011: 119).
compreensão do termo cidadania e algu-
mas reflexão sobre esse tema no âmbito O homem, neste contexto, reconhece a si
escolar.Considerando que a linguagem mesmo e consegue refletir e planejar suas ati-
um aspecto de extrema importância na tudes. A linguagem é a forma como nos rela-
sala de aula, a proposta aqui apresentada cionamos com o mundo e com os outros. Os
é relacionar termo cidadania com a arte. relacionamentos, cada vez mais necessários e
Alguns quadros de Tarsila do Amaral, La- complexos, trazem a tona as singularidades das
sar Segall, Candido Portinari e Di Caval- pessoas, somos seres únicos. Mas a vida em so-
canti foram selecionados para relacionar, ciedade requer uma certa “padronização” para
instigar, nortear e promover discussões que o convívio seja possível e harmonioso. Leis
são criadas para que os pares dentro desse gru-

893
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

po, assim como engrenagens de uma máqui- palavras de Scanlon (2009, p. 37) “não seria
na, possam usar de suas singularidades sem melhor, se possível, manteres as, discordân-
extrapolar os limites que infrinjam o todo. cias contidas em uma estrutura e respeito
mútuo?”. Percebemos que a tolerância se tor-
Duarte (2010: 76) aponta que “A cidadania é na algo complexo por não ser suficiente ape-
um conceito passível de muitas definições, nem nas as medidas de ordem geral (como as leis),
sempre compatíveis entre si”. Toda definição sem a efetiva ação das pessoas, através do re-
de determinado conceito precisa ser analisa- speito e cooperação mútua, ela não acontece.
do dentro de um contexto e, mesmo assim, Percebemos que a tolerância é trabalhada
vamos nos deparar com muitas contradições. diariamente em sala e aula, de maneira infor-
O conceito de cidadania deve ser analisado mal, quando os alunos não conseguem ver
dentro de determinado contexto histórico, que as diferenças podem enriquecer nosso
e considerando estar intrinsecamente liga- cotidiano, com outras formas de ver a vida e
do aos conceitos de tolerância e intolerân- de aprendizagem. A intolerância em sala de
cia, preconceito, diversidade e desigualdade, aula começa muitas vezes com o preconceito,
liberdade e igualdade, entre outros. Citamos com o medo do diferente, como se houvesse
a tolerância como estritamente ligado a pro- um padrão. O preconceito inibe o conheci-
moção da cidadania por ser imprescindível mento pelo novo, pelas novas possibilidades
na vida em sociedade. Tolerar vai além de de se relacionar e ter uma nova visão de mun-
simplesmente ignorar a existência do out- do. Cardoso (2009, pp. 23, 24, in Moraes e
ro que julgamos diferente ou não aceitável. Maranhe), amplia a ideia de preconceito, este
vai além de uma estranhamento pelo out-
Nesse contexto, tolerar é um estado inter- ro, o que gera um afastamento ou defesa:
mediário entre aceitar de forma absoluta ou
rejeitar totalmente algo que não aprovamos. O preconceito expressa-se em um juízo
O autor continua o texto citando alguns ex- de valor que considera o outro ou um grupo
emplos onde não seria possível um estado como inferior a nós em algum aspecto: física,
intermediário, como o caso de um assassi- moral, social ou intelectual. O ato preconcei-
nato. Em outras circunstâncias, através de tuoso, portanto, sustenta-se pela crença na
outros exemplos, Scanlon cita que a tolerân- desigualdade natural entre os seres humanos
cia deve ir além da garantia de direitos at- e isso implica considerar-se como possuidor
ravés da política formal, ela se dá de forma da verdade absoluta e como padrão de com-
completa quando há uma política informal: portamento de referência para todos. Daí
porque, na relação de intolerância, o outro não
Independente da estrutura social, não há um é considerado verdadeiramente um “outro” e
modelo de sociedade homogêneo, sempre sim alguém semelhante, porém, inferior ou um
haverá discordâncias, pois a identidade é algo desvio à norma, uma cópia imperfeita de um
inerente ao ser humano. Por isso, a política modelo único (CARDOSO, 2009, p.23-24).
formal determina critérios mínimos para uma
boa convivência. Já a política informal vai além O preconceito baseia-se, portanto, em ver
das políticas públicas que são de ordem geral, o outro com algo inferiorizado e não apenas
ela prevê a participação ativa de todos os con- como diferente. Quando entendemos que o
cidadãos. Isso significa que temos que encon- outro é diferente, que todos somos diferentes
trar um modo de conviver pacificamente, nas e é através diferenças que podemos constru-

894
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ir uma sociedade mais justa, o preconceito cação para a cidadania. Como proposta de
dá lugar a tolerância, permitindo uma con- um trabalho que atinja significadamente os
vivência pacífica. A diversidade é reconhecer alunos, utilizaremos as linguagens da Arte.
o outro com suas especificidades, mas sem
comparar ou julgar segundo um conceito de UMA PROPOSTA ATRAVÉS DA ARTE
perfeição, já que quando falamos no ser hu-
mano esta ideia de perfeição não existe, é A Arte possui muitas belezas. São belezas
apenas uma utopia. Por isso, é necessário se sutis, nem sempre perceptíveis. Não se trata
desvencilhar de padrões muito rígidos e criar de um gosto comum a certas obras de arte.
uma consciência de não julgamento. A escola O belo da arte está escondido em suas du-
já vem trabalhando com essa ideia, com uma alidades. Concebemos a arte como inerente
atenção especial para a diferença entre dif- ao ser humano, pois através dela articulamos
erente e desigual (excluído). Podemos notar qualidades que nos diferenciam dos animais,
que a criação da ideia de “superior e inferior” como nosso poder de planejar, imaginar, criar
dentro de uma estrutura social sempre ex- e refletir sobre o mundo que nos cerca e nos-
istiu, sendo decisiva em diversos momentos. sas ações. Para nos fazer refletir, a arte utiliza
linguagens para transmitir a ideia do artista.
Esse falsa ilusão é que transforma uma dif-
erença em uma desigualdade. É com o precon- Não existe uma única linguagem, mas di-
ceito que transformamos o diferente em algo versas linguagens, que são divididas pelos
ruim, inferior. Quando a desigualdade supera a diferentes meios (técnicas e materiais) uti-
diversidade, temos um prejuízo na vida cotidi- lizados para se comunicar. São divididas em
ana. Todos esses conceitos que são intrínsecos visuais, cênicas, dança e música, que por
a cidadania, estão presentes no cotidiano es- mais diferentes que sejam, não se anulam,
colar, por este ambiente ser mais um onde as mas se completam. Martins (1998) nos traz
relações sociais se estabelecem e se conflitam. a concepção de completude do ser quando
atuamos com as linguagens artísticas. Antes
A estrutura escolar atual apresenta de mesmo de uma obra ganhar um corpo, vi-
forma muito clara as demandas sociais. rar Arte há uma ideia, uma problemática, ou
Poderíamos dizer que a escola é um mini melhor, utilizando a definição de Miriam Ce-
mundo, pois ela reflete muito rapidamente leste Martins (et al; 1998), uma inquietação.
as necessidades de melhorias sociais. Es-
tamos vivendo agora a escola para todos, O artista parte de uma reflexão, algo que
e sentimos um grande hiato, pois a socie- o impulsiona a criar. Muitas vezes o artista
dade não se apresenta igual a todos. Como não tem uma resposta, o processo criativo é
profissionais da educação, precisamos criar uma forma de se relacionar com esse tal in-
continuamente estratégias para lidar com os quietação. Tudo nasce na mente do artista,
conflitos que surgem no fazer pedagógico. então, há uma relação entre o que o artista
vê (o que o inquieta) e o que ele começa a
O cotidiano escolar reclama, cada vez projetar em mente para “materializar” para
mais, a necessidade de aprender a lidar com o público. O momento histórico é o princi-
as relações sociais. O trabalho desenvolvi- pal influenciador, o artista sempre está rel-
do em classe, visando o bom desenvolvi- acionando o mundo e o seu estar-no-mun-
mento das relações sociais, prevê uma edu- do.O intuito da Arte é transformar; para que

895
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

a pessoa, após o contato com a obra, veja o de nosso país. Também se prevê aumentar
mundo com os mesmos olhos, mas sob ângu- o repertório dos alunos apresentando obras
los novos, diferentes. A arte ajuda a atender que não conheçam e que instigue a pesqui-
a história da humanidade, porém algumas sar mais sobre os artistas e a arte em geral.
obras fazem mais do que isso, mesmo não
pertencendo ao nosso contexto, produzem OBRAS
mudanças em nós. E é aqui que está o sub-
lime, esse poder pertencente a obra de arte O panorama da arte sempre aponta as de-
de tocar em questões existenciais exclusivas mandas sociais. Os artistas são influencia-
do ser humano. Tanto a sociedade quanto a dos pelo momento em que vivem, assim
arte estão em constante transformação. Não como influenciam o seu meio. Uma obra
só enquanto sociedade e arte, mas também precisa sempre ser analisada dentro do seu
sua relação público/ objeto artístico, “Se a contexto, ampliando sua percepção. As
arte não é imediatamente vital, ela represen- obras foram selecionadas buscando cenas
ta em nossa cultura um espaço único onde que sejam propulsoras de questionamen-
as emoções e intuições do homem contem- tos, inquietações, levando a refletir sua im-
porâneo podem desenvolver-se de modo portância no momento em que foi criada
privilegiado e específico” (COLI, 2000: 153). (histórico) e o que representa de atualmente.

Coli coloca que podemos vincular a arte com Esta obra mostra pessoas que estão deix-
a ideia de prazer, o prazer da fruição. Mas isso ando sua nação e indo para um lugar descon-
não pode ser encarado como algo qualquer, hecido. As cores, em tons pastéis e frias, nos
dispensável, por ser “um espaço único” onde dá uma sensação de tristeza. Quais serão os
podemos nos expressar e conhecer nossa cul- motivos que levam as pessoas a saírem de
tura e outras culturas. A arte nos faz pensar e sua pátria, deixando suas origens, parte da
refletir sobre nossa cultura e conhecer novas família, suas raízes para trás e ir para outro
culturas. É claro que não somente a arte de- país? Dentre essas obras, destaca-se a obra
sempenha esse papel, mas ela é a única diver- de Tarsila do Amaral “Operários” de 1933:
sas linguagens, que nos aproxima e, explícita
ou implicitamente, nos provoca reflexões não
só momentâneas como também existenciais.

A história da arte acompanha a história da


humanidade e são inúmeras as obras que
mostram direta e indiretamente aspectos
relacionados a construção do conceito de
cidadania. Um recorte se faz necessário, por
isso, serão apresentadas seis obras de ar-
tistas importantes no panorama brasileiro,
sendo eles: Tarsila do Amaral, Lasar Segall e
Portinari. Os artistas foram escolhidos por (OPERÁRIOS. Tarsila do Amaral, 1933, Óleo
sobre tela (150 x 205 cm). Acervo dos Palácios
serem grandes expoentes das artes plásti- do Governo do Estado de São Paulo – Brasil)
cas brasileira, representando um momen-
to de expansão, crítica e mudança na arte

896
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

A obra “Operários” representa o início da


industrialização em São Paulo. São homens e
mulheres, dispostos na diagonal, uns sob os
outros, formando uma espécie de pirâmide.
Essa quase pirâmide remete a própria organi-
zação da indústria: muitos trabalhadores es-
tão na base, e seus rendimentos são poucos,
e somente alguns estão no alto, sendo bem
remunerados. Nenhuma pessoa representada
demonstra expressão de felicidade ou espe-
rança, percebemos um olhar vago, sem ex-
pressão. A falta de expressão, de esperança
pode ser atribuída a constatação de que es-
tão fadados a permanecer na mesma função, O CANGACEIRO, Portinari, 1951, óleo sobre tela,
sem perspectiva de melhorias ou promoções. 54x45cm, coleção particular.
Os donos das empresas cada vez mais ricos e
a classe trabalhadora continua “vendendo o A obra “Cangaceiro” mostra a preocupação
almoço para comer na janta”. Ao fundo está com todos os grupos sociais. Essa obra não
representada uma fábrica, com linhas vertic- representa apenas uma pessoa, representa
ais de modo rígido, impondo sua presença. uma classe de pessoas que são pouco lem-
bradas, pouco representadas. Não são ape-
Muito foi conquistado pelos trabalhadores da nas pouco representadas na arte, mas essa
indústria desde que a obra de Tarsila foi pinta- falta de representação quanto a questão
da. Os direitos trabalhistas são uma garantia, social e política. O cangaceiro está em pri-
é o respeito ao trabalhador que muito con- meiro plano, com a estrutura de um retra-
tribui com a empresa, mas quem continua a to, mesmo este não sendo identificado.
lucrar com isso são seus donos. Uma preocu-
pação atual é a presença das multinacionais. O personagem é identificado através dos
Elas trazem suas fábricas, geram empregos seus acessórios, sendo eles o que o tornam
e todo lucro vai para a matriz em outro país. característico e reconhecível como canga-
Como gerenciar isso? A maioria dos recursos ceiro. Atrás do personagem não há nenhuma
naturais são nossos, a mão de obra é nossa, o paisagem definida, e as cores nos remetem ao
que a empresa paga de imposto é repassado seu azul e ao solo seco, com os tons amarelo e
ao consumidor final e o lucro vai para outra marrom. Sua expressão mostra um sentimen-
nação? O tempo passou, algumas conquistas to de inconformidade, de descontentamento
foram alcançadas após muita greve, muita com sua realidade, ao mesmo tempo em que
reivindicação, e novos problemas surgiram. sustenta uma postura que bravura, se ir à luta
Outra obra que chama à atenção pelos seus direitos, cobrando sua dignidade.
é de Portinari, “Cangaceiro” de 1953:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mundo nunca esteve tão conectado,
podemos ter “contato” com qualquer pessoa
em qualquer lugar do planeta, indo além da

897
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

presença física, é o contato cibernético. Ol-


hando a história da humanidade conseguimos
analisar muitos avanços tecnológicos, e ess-
es estão, cada vez mais, presentes em nosso
cotidiano. E quanto se trata de relações hu-
manas? Percebemos que há, também, alguns
avanços, mas ainda há muito que melhorar.

Ao contrário do avanço tecnológico que


um pequeno grupo pensa e cria um objeto
que favorece milhares de pessoas, no avanço
social todos precisam se empenhar e, através
da prática constante, tornar a sociedade um
lugar mais justo. Essa prática pode ser vista
na efetivação da cidadania. Para que isso se
torna uma prática, é preciso que gerar uma PAULA LETÍCIA DE OLIVEIRA
reflexão antes. E o espaço mais propício para
isso é a escola. A instituição escolar é o espaço
FLORIANO
de reflexão por excelência e possui uma fór-
mula que favorece: profissionais capacitados Licenciatura em Artes Visuais pela
e em constante formação e crianças e ado- Faculdade de Educação e Cultura.
lescentes em idade favorável ao aprendizado.

Para tornar o aprendizado significativo,


para ser transformado em ações, a arte se
apresenta como agente de grande poten-
cial transformador. Cada obra de arte per- REFERÊNCIAS
mite diversas análises e proporciona espaço
para discussões onde conceitos presentes no BARBOSA, Ana Mae Tavares Bas-
cotidiano, que podem ser difíceis de abordar, tos. Teoria e prática da educação
se tornam próximos aos alunos. Além de anal- artística. São Paulo: Cultrix, 1975.
isar a obra, tanto sua análise formal quanto ______________________________. In-
seu contexto histórico, as atividades utilizam quietação e Mudanças no Ensi-
a criatividade dos alunos para que apren- no de Arte. São Paulo: Cortez, 2003.
dam de forma efetiva. Uma sociedade mais
justa e humana precisa ser construída cotid- CARDOSO, Clodoaldo Meneguello. “Fun-
ianamente e através da arte esse camin- damentos para Educação na Diversidade”.
ho fica mais colorido e mais significativo. In: MORAES, Mara Sueli Simão; MARA-
NHE, Elisandra André (orgs.). Introdução
Conceitual para Educação na Diversidade
e Cidadania. São Paulo: UNESP, 2009.

COLI, Jorge. O que é arte. São


Paulo: Ed. Brasiliense, 2000.

898
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

DUARTE, Newton. “Limites e Contradições da Cidadania na Sociedade Cap-


italista”. Pro-Posições, Campinas, v.21, n.1 (61), p. 75-87, jan./abr. 2010.

LAVALLE, Adrián Gurza. “Cidadania, Igualdade e Dif-


erença”. Lua Nova, nº 59, São Paulo, p. 75-94, 2003.

MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa;

GUERRA, M. Terezinha Telles. Didática do Ensino de Arte: a lín-


gua do mundo: poetizar, fruir e conhecer a arte. São Paulo: FTD, 1998.

MORAES, Mara Sueli Simão; MARANHE, Elisandra André (orgs.). Introdução Con-
ceitual para Educação na Diversidade e Cidadania. São Paulo: UNESP, 2009.

RATTO, Cleber Gibbon; HENNING, Paula Corrêa. (In)comunicabili-


dade e tolerância na educação. Notas a partir de Nietzsche e Mer-
leau-Ponty. Pro-Posições, Campinas, v.22, n.1, p. 117-130, jan./abr. 2011.

SCANLON, Thomas. “A dificuldade da Tolerância”. M. Tradução Mau-


ro Victoria Soares. Novos Estudos, nº 84, São Paulo, p.31-45, Julho/ 2009.

SILVEIRA, Maria Aparecida. “As Contribuições da Psicanálise para a Educação In-


fantil”. In: ROMAN, Eurilda Dias; STEYER, Vivian Edite (orgs.). A criança de 0 a 6
anos e a educação infantil: um retrato multifacetado. Canoas: Ed. da ULBRA, 2011.

899
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

MATERIAIS NÃO ESTRUTURADOS E O BRINCAR

RESUMO: O brincar é atividade fundamental para crianças pequenas, é brincando que elas
descobrem o mundo, se comunicam e se inserem em um contexto social. Brincar é um di-
reito da criança, além de ser de suma importância para seu desenvolvimento, e, por isso as
escolas de ensino infantil devem dar a devida atenção a essa atividade. Propõe-se neste tex-
to, discutir a presença do brincar no contexto da educação infantil, primeira fase do ensino
fundamental. As diferentes formas de mediação da professora, os materiais, brinquedos e
organização dos ambientes têm grande influência no bom aproveitamento do brincar pelas
crianças, pensando na aprendizagem decorrente dele. Sobre este brincar com materiais não
estruturados que vamos apresentar.

Palavras- chave: Brincar. Aprender. Materiais não estruturados.

900
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO: nela o prazer pelas aprendizagens. Nos mo-


mentos do brincar, podemos observar seu
Quando brinca, a criança tem o poder de comportamento, reações, interesses, di-
tomar decisões, expressar sentimentos, in- ficuldades. É só lhes dar alguns objetos e
teragir consigo e com o outro e introduzir-se pronto, tudo se transforma em brincadei-
no mundo imaginário .Os materiais não es- ra. A criança é assim, uma tempestade de
truturados (cones, carretéis, madeiras, caix- ideias, simbolismos, criatividade e emoção.
as, conduites, tecidos, mangueiras, pneus,
elementos da natureza, entre outros), são in- O brincar é uma situação onde ocorre a
seridos na rotina escolar a fim de potencial- criação de uma nova relação entre o campo
izar as experiências das crianças durante seu do significado e o campo da percepção vi-
processo criativo.Durante as brincadeiras ao sual, ou seja, entre situações no pensamen-
se depararem com esse tipo de material, as to ou atitudes mentais e as situações reais.
crianças necessitam de encorajamento e tem- Esse nível coloca-se como o primeiro critério
po para pensar, explorar, criar e desenvolver de diferenciação da brincadeira das outras
habilidades que darão sentido à brincadeira. atividades humanas. No ato de brincar, os
sinais, os gestos e, podemos afirmar, também,
A interação com os materiais por várias que os objetos e os espaços valem e signifi-
vezes seguidas faz com que elas se apropriem cam outra coisa daquilo que aparentam ser.
dos mesmos e torne o aprendizado marcan-
te. Enquanto as crianças estão engajadas na Ao agir no plano não-literal da linguagem,
exploração dos materiais, o educador tem o os indivíduos que brincam recriam e repens-
papel de realizar intervenções que instigue o am os acontecimentos que lhes deram origem,
pensamento infantil e favoreça a ampliação sabendo que estão brincando. Este critério
de possibilidades. Dessa forma, as crianças da metacomunicação é essencial à brincadei-
criam novas habilidades e as usam em suas ra, mesmo não lhe sendo exclusivo; algumas
criações e também na interação com outros formas de Arte, tais como o teatro e a ficção
amigos, ajudando-os na solução de prob- utilizam-se também de uma linguagem. En-
lemas enquanto manipulam os materiais. Em tão, dar às crianças a possibilidade de criar e
suas brincadeiras, as crianças na maioria das aprender diante de alguns recursos simples e
vezes não fazem representações idênticas as que aguçam a criatividade.
reais, porém o trabalho é valorizado, levan-
do em consideração que cada um tem um O brinquedo supõe uma relação com a in-
ponto de vista e estilo próprio, que nos aju- fância e uma indeterminação relativa ao seu
da a enxergar o mundo de forma diferente. uso que equivale a dizer que inexiste uma
relação direta com um sistema de regras or-
MATERIAIS NÃO ESTRUTURADOS: UMA ganizador da ação. Segundo as definições de
FORMA DE CRIAR E BRINCAR COM UM Brougère "o brinquedo é um objeto distinto
RECURSO CHAMADO IMAGINAÇÃO e específico, cuja imagem projetada em três
dimensões, parece vaga (1995, p. 13)”. mas
As crianças na Educação Infantil sem- cujo valor simbólico e expressivo se sobrepõe
pre nos dão bons sinais para programar ao valor funcional.
uma intervenção adequada e que desperte O brinquedo é um objeto cultural produzi-
do pelos adultos para as crianças e que ganha

901
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ou produz significados no processo da brin- quanto tempo e onde brincar.


cadeira, pela imagem da realidade que repre-
senta e transmite. Vygotsky traz uma reflexão importante so-
bre a construção da imaginação e as relações
O brincar com materiais não estruturados futuras da criança, onde a imaginação, como
possibilita o desenvolvimento da inteligência, base de toda a atividade criadora se manifes-
a oportunidade da criança explorar suas habil- ta por igual em todos os aspectos da vida cul-
idades criativas e que tem relação com apren- tural, possibilitando a criação artística, cientí-
dizagens já consolidadas. Durante o momento fica e técnica. Neste sentido, absolutamente
de construção do brincar o educador poderá tudo o que nos rodeia e que foi criado pela
fazer intervenções com relação a conceitos mão do homem, todo o mundo da cultura, em
utilizados nas aprendizagens mais sistemáti- diferenciação ao mundo da natureza, tudo é
cas, como: a quantidade de pedrinhas a serem produto da imaginação e da criação humana,
usados, os centímetros de um barbante que baseados na imaginação.
irão precisar, as relações entre muito e pouco,
maior e menor, em cima e embaixo. MATERIAIS NÃO ESTRUTURA-
DOS É UM CONVITE PARA A EX-
Atividades que exigem da criança estru- PERIMENTAÇÃO
turar seu próprio brinquedo ou brincadeira
permitem que algumas funções cognitivas se- É importante entender do que se fala quan-
jam estimuladas, pois para estruturar-se eles do se fala em brincar e perceber a relevância
precisarão organização, planejamento, flexi- de um tempo no cotidiano das crianças des-
bilidade cognitiva, criatividade, manutenção tinado a um brincar de qualidade, em um es-
da atenção, memória operacional e diversas paço adequado, com materiais interessantes
outras capacidades mentais. para as crianças e que estimulem a criativi-
dade. A mediação de um adulto, de outras cri-
Brincar é imaginar e comunicar de uma for- anças, ou dos próprios objetos que se encon-
ma específica que uma coisa pode ser outra, tram à disposição da criança faz a diferença
que uma pessoa pode ser um personagem, nas brincadeiras.
que uma criança pode ser um objeto ou um
animal, que um lugar faz-de-conta que é out- Não basta deixar brincar, aos adultos é
ro... Brincar é manipular o sentido das pala- preciso olhar um pouquinho mais para as cri-
vras, dos sentimentos e da realidade, tendo anças, perceber suas necessidades e assim
consciência de que é uma simulação. Brincar tentar entender e estimular a brincadeira. En-
é constituir e constituir-se numa linguagem. tendendo melhor o fenômeno do brincar per-
Brincar é, portanto, uma atividade imagina- cebemos a importância dessa atividade para
tiva e interpretativa. Brincar é experimentar o desenvolvimento e aprendizagem das cri-
através da repetição e dessa ação imaginati- anças, e, consequentemente, para as institu-
va outras formas de ser e pensar. É, também, ições de educação infantil. Segundo a teoria
repetir o já conhecido para compreendê-lo e de Vygotsky (2006), aprendizagem e desen-
adaptar-se a ele. Brincar é uma atividade vol- volvimento não são sinônimos. Para o autor,
untária e de livre escolha, toda criança que a aprendizagem de uma criança e seu desen-
brinca sabe que brinca. Por isso ela decide volvimento está ligados entre si desde os seus
sobre o que, como, com quem, com o quê, primeiros anos de vida; a aprendizagem deve

902
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ser coerente com o desenvolvimento da cri- pedaço de madeira, para a criança ele pode
ança, a capacidade de aprender está relacionada se tornar um cavalo. O conceito de zona de
com a zona de desenvolvimento em que a criança desenvolvimento proximal nos apresenta
se encontra. Ao mesmo tempo, a aprendizagem também a importância da mediação da brin-
estimula processos internos de desenvolvimen- cadeira. É por meio dela que a ZDP é criada.
to, criando zonas de desenvolvimento proximal.
“[...] a aprendizagem não é, em si mesma, desen- Os espaços devem ser organizados de for-
volvimento, mas uma correta organização da ma a desafiar a criança nos campos: cognitivo,
aprendizagem da criança conduz ao desenvolvi- social e motor. Oportunizando a criança de
mento mental [...]” (VIGOTSKII, 2006, p.115). andar, subir, descer e pular, através de várias
tentativas, assim a criança estará aprendendo
A zona de desenvolvimento proximal é um a controlar o próprio corpo, um ambiente que
conceito importante da teoria de Vygotsky estimule os sentidos das crianças, que permi-
(2007). Entendemos que o brincar é importante tam a elas receber estimulação do ambiente
para o desenvolvimento da criança e Vygotsky externo, como cheiro de flores, de alimentos
(2007) confirma essa afirmação. O autor colo- sendo preparados. Sentindo a brisa do vento,
ca que o brincar é uma atividade que estimula o calor do sol, o ruído da chuva.
a aprendizagem pois cria uma zona de desen-
volvimento proximal na criança: [...]No brinque- Personalizar o ambiente é muito importante
do, a criança sempre se comporta além do com- para a construção da identidade pessoal da
portamento habitual de sua idade, além do seu criança, tornar a criança competente é desen-
comportamento diário; no brinquedo é como se volver nela a autonomia e a independência.
ela fosse maior do que ela é na realidade. Como Ao oferecer um ambiente rico e variado se
no foco de uma lente de aumento, o brinquedo estimulam os sentidos e os sentidos são es-
contém todas as tendências do desenvolvimen- senciais no desenvolvimento do ser humano.
to sob forma condensada, sendo ele mesmo uma A sensação de segurança e confiança é indis-
grande fonte de desenvolvimento. (Vygotsky, pensável visto que mexe com o aspecto emo-
2007, p.134). cional da criança. Oportunizando as crianças
de interagirem e em certos momentos que
Para Vygotsky (2007), no brinquedo aconte- desejarem ficarem sozinhas brincando. Car-
cem as maiores aquisições de uma criança, e são valho e Rubiano afirmam que:
elas que se tornarão, no futuro, seu nível bási-
co de ação real e moralidade. No brinquedo a Todos os ambientes construídos para crianças deveriam
atender cinco funções relativas ao desenvolvimento infan-
criança passa a agir não apenas pela percepção til, no sentido de promover: identidade pessoal, desenvolvi-
imediata dos objetos, por exemplo, quando vê mento de competência, oportunidades para crescimento,
uma folha de papel e imediatamente a rasgar ou sensação de segurança e confiança, bem como oportuni-
amassar, ela começa a dirigir suas ações de for- dades para contato social e privacidade. (CARVALHO e RU-
BIANO, 2001, p.109).
ma independente daquilo que ela vê, ela pode
ver uma folha de papel e brincar de “aviãozinho”. Para que os espaços favoreçam o brincar,
Forma-se uma nova relação entre o que a criança os educadores devem ter consciência de que
vê sua percepção visual, e o que a criança pen- a brincadeira é um processo de relações en-
sa, o significado que aquela ação e aquele obje- tre as criança e o brinquedo e das crianças en-
to tem para ela naquele momento. Um pedaço tre si e com os adultos, e que ato de brincar
de madeira pode deixar de ser simplesmente um

903
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

é muito importante para o desenvolvimen- professora a todo o momento se preocupa


to integral da criança. com a aprendizagem das crianças.

As crianças se relacionam de várias for- O brincar, assim como quase todas as nos-
mas com as brincadeiras, pois, existem várias sas ações, é mediado, por um contexto. Ob-
possibilidades de brincar: solitariamente; em jetos, adultos, crianças, roupas, histórias. De
grupo; entre crianças de idades diferentes; acordo com Vygotsky (2007), nossa relação
entre adultos e crianças.Espaços como mate- com o mundo é mediada. No contexto das es-
riais não estruturados podem ser organizados colas de educação infantil essa questão deve
onde serão instalados instrumentos musicais ser bem observada ao pensar na qualidade
confeccionados pelas crianças e comunidade das brincadeiras a serem vividas naquele am-
e que ficarão à disposição das crianças para biente. Deve-se levar em conta que tudo ao
que possam experimentar o mais diversos redor da criança é capaz de estimular e en-
sons. Será um espaço no qual ludicamente riquecer as brincadeiras, ou o contrário.
possam ser realizadas experimentações, pos-
sibilitando o desenvolvimento de habilidades. No brincar não pode ser diferente, e as
Ele será um espaço que promova a interação mediações devem ocorrer intencionalmente,
entre as crianças e amplie o repertório sen- pensadas pela professora, para que o tempo
sorial. Materiais não estruturados são objetos de brincadeiras dentro da escola seja aprove-
que colocamos à disposição da criança para itado ao máximo pelas crianças. Favorecer a
que elas inventem a sua própria brincadeira: brincadeira na educação infantil. Brincar é,
palitos, botões, rolos de papel higiênico, rol- portanto, uma atividade imaginativa e inter-
ha, barbante. Tudo ganha um novo significado pretativa. Brincar é experimentar através da
dependendo da interação da criança. Eles são repetição e dessa ação imaginativa outras
um contraponto aos brinquedos prontos, que formas de ser e pensar. É, também, repetir o já
muitas vezes possibilitam um número limita- conhecido para compreendê-lo e adaptar-se
do de brincadeiras. a ele. Brincar é uma atividade voluntária e de
livre escolha : toda criança que brinca sabe
Brincar é imaginar e comunicar de uma for- que brinca! Por isso ela decide sobre o que,
ma específica que uma coisa pode ser outra, como, com quem, com o quê, quanto tempo
que uma pessoa pode ser um personagem, e onde brincar. O papel do professor diante
que uma criança pode ser um objeto ou um dos materiais não estruturados é ampliar as
animal, que um lugar faz-de-conta que é out- possibilidades. Mostrar como novas formas
ro... Brincar é manipular o sentido das pala- de usar esses materiais proporcionam novas
vras, dos sentimentos e da realidade, tendo descobertas.
consciência de que é uma simulação. Brincar
é constituir e constituir-se numa linguagem. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensar na mediação torna-se indispensável no
momento de organizar e comprar brinquedos, Para brincar é preciso que a criança tenha
arrumar a sala, brincar no parque, e também autonomia para escolher seus companheiros;
no momento em que a professora vai dirigir em seguida o papel que irá assumir no interi-
uma brincadeira com a turma. A mediação no or de um determinado tema e enredo, cujos
contexto da escola se destaca das mediações desenvolvimentos dependem unicamente da
cotidianas pela intencionalidade da ação. A vontade de quem brinca. Como vimos para

904
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

brincar não necessariamente a criança pre-


cisa de brinquedos prontos, pois o brincar é
inerente á criança. REFERÊNCIAS
O uso de materiais não estruturados in- AYOUB, E. Reflexões sobre a Educação Física
centiva o processo imaginativo, que aciona na Educação Infantil. Revista Paulista de Edu-
um pensamento divergente para a resolução cação Física, São Paulo, supl.4, p. 53-60, 2001.
de problemas e situações em um plano ide-
al e livre das pressões situacionais. Por cau- BROUGÈRE, G. Jogo e educação. Porto Alegre:
sa disto, transformou-se na atividade dom- Artes Médicas, 1998. Brinquedo e
inante da infância, espaço que a criança cultura. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.
tem para experimentar o mundo do adulto
sem, contudo adentrá-lo como partícipe re- ______. A criança e a cultura lúdica. In:
sponsável. O uso deste tipo de material como KISHIMOTO, T. M. O Brincar e suas teorias.
vimos aumenta a imaginação e a criatividade. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

FARIA, A. L. G. de. Educação pré-escolar e cul-


tura: para uma pedagogia da educação infan-
til. 2. ed. Campinas - SP: Editora da Unicamp;
São Paulo: Cortez, 2002.

FREIRE, J. B. O jogo: entre o riso e o choro.


Campinas: Autores Associados, 2002.

KISHIMOTO, T.M. Salas de aulas nas esco-


las infantis e o uso de brinquedos e materiais
pedagógicos. Trabalho apresentado na 23ª re-
Valdirene Brito Teixeira Cesar união da ANPEd, Caxambu, 2000. Disponível
em Acesso em ______.
Graduação em Normal superior Faculdade
Uniararas (2007);Graduação em Letras pela ________________ A LDB e as instituições de
Faculdade Campos Sales (2017). Pós gradu- educação infantil: desafios e perspectivas. Re-
ação em Educação Ambiental.(2017) pela vista Paulista de Educação Física. São Paulo,
Faculdade Campos Salles .Professor de Edu- supl.4, p.7-14, 2001a. 2137
cação infantil ensino Fundamental I EMEI Co-
caia e Educação Infantil CEI Parque Cocaia . _______________. Brinquedos e materiais ped-
agógicos nas escolas infantis. Educação e

905
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Pesquisa, Campinas, v.27, n.2, 2001b.

KRAMER, S. As crianças de 0 a 6 anos nas políticas educacionais no Brasil: educação infantil e/é
fundamental. Educação & Sociedade, Campinas, v.27, n.96, 2006.

LEONTIEV, A. N. Uma contribuição à teoria do desenvolvimento da psique infantil. In: VIGOTSKII,


L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimen
to e aprendizagem. 10ª ed. São Paulo: Ícone, 2006. Cap.4. SAYÃO, D. T. Infância, Educação Física e
Educação Infantil. Disponível em . Acesso em .

______. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar. In: VIGOTSKY, L.S. ; LURIA,
A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 10ª ed. São Paulo: Ícone,
2006. Cap. 6.

______. A Formação Social da Mente. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. WAJSKOP, G. Brincar
na Pré-escola. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2005.

906
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

AS RESISTÊNCIAS NEGRAS:
DOS QUILOMBOS ÀS MULHERES ESCRAVAS

RESUMO: Neste artigo buscou-se conhecer as formas de resistência que os negros escraviza-
dos construíram, como as formações de quilombos, o modo como eram tratados, a dinâmica
de suas vidas e a herança histórica e cultural deixada por estes grupos. Também foi abordada a
questão da mulher na escravidão, as especificidades de sua condição, de sua luta e de sua re-
sistência.

Palavras-chave: Escravidão; Quilombos; Resistência; Mulheres Escravas.

907
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

INTRODUÇÃO desde a chegada dos negros da África, quando,


O regime escravocrata nos deixará um tipo trazidos como mercadorias,
de “povo” que era “imperfeito” e “oprimido”
que deveria ser defendido por abolicionistas
piedosos e benevolentes, pois sem eles, os passaram a ser utilizados nas lavouras. Esta
negros escravizados permaneceram por mui- organização rapidamente passou a representar
to mais tempo submetidos à “ordem escrav- uma ameaça para o Estado, especialmente em
ocrata”. Para problematizar essa visão que foi relação à ordem.
cristalizada durante quase um século no imag- A importância do quilombo para os qui-
inário social e nas narrativas da historiografia lombolas estava diretamente ligada à oposição
brasileira tradicional, que culminou no ideário e resistência aos senhores e ao Estado Colonial.
idílico da “democracia racial brasileira” descri- Dessa forma, as favelas se configuraram
to por Gilberto Freyre, o presente trabalho como uma extensão do quilombo na atualidade,
tem por objetivo investigar o contexto históri- de modo que o sentimento de rivalidade entre
co oitocentista da escravidão e as diferentes seus moradores e o Estado é resquício da re-
formas de resistências dos escravos negros e sistência dos escravos e a repressão que sofriam
o surgimento dos Quilombos na passagem do por parte dos proprietários e das autoridades.
Brasil-Colônia para o Brasil-Império se esten-
dendo até a abolição da escravidão na década [...] a sociedade vem transformando a vítima em culpada, at-
ravés da marginalização econômica e social, e também crim-
de 1880. inalizando seus espaços de moradia. E ainda, para agravar
Neste artigo será examinado o desen- o sentimento de desconfiança dos favelados em relação ao
volvimento da escravidão no século XIX, as Estado, alguns segmentos da sociedade aplaudem operações
ideias imigrantistas, o tráfico negreiro e os como Rio I, Rio II ou as constantes operações policiais realiza-
das nas favelas [ganhando preferência aquelas que têm como
movimentos contestatórios da escravidão. ‘saldo positivo’ a morte de alguns ‘bandidos’, que são culpados
Também receberá enfoque a resistência qui- antes de se provar que realmente o são] (CAMPOS, 2005, p.
lombola e a sua herança histórica e cultural 27-28).
para a sociedade brasileira. Analisaremos a
formação dos quilombos e as resistências das Na atualidade, a favela tem sido o espaço em
escravas negras no período aludido. que de desvelam as reminiscências dos tempos
da escravidão, pois “está umbilicalmente ligada
à questão de ‘risco’, as classes dominantes cri-
A HERANÇA HISTÓRICA E CULTURAL am, em cada momento, um discurso que vinha
DOS QUILOMBOS dando sustentação às práticas sócio-espacias,
baseando-se quase sempre nos ideários dis-
É fundamental considerar que os negros, criminatórios e segregacionistas” (CAMPOS,
tanto escravos quanto alforriados, ficaram à 2005, p. 71).
margem da sociedade, tendo sido excluídos
da política. Tais questões permanecem até os Assim, é notório que o “quilombo transmut-
dias de hoje, segundo Campos (2005), e po- ou-se em favela, mas não perdeu a sua ilegali-
dem ser notadas por meio de termos como dade perante a sociedade em geral. No espaço
“vadios”, “vagabundos” ou “desocupados”, os transmutado, a existência de redes de solidarie-
quais carregam um estigma do século XVII, dade deu o tom político às práticas sócio-espa-
e são repletos de preconceito racial. O autor cias” (CAMPOS, 2005, p. 77). Neste contexto, a
também esclarece que os quilombos existem
908
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

luta dos negros por respeito e reconhecimen- passado, ameaça ao Império; e os favelados
to dos danos causados pela escravidão possui por se constituírem em elemento socialmente
um caráter de reparação. Ao buscarem a ci- indesejável após a instalação da República
dadania, os indivíduos que ocupam a maioria (CAMPOS, 2005, p. 63-64).
das favelas cariocas, no nosso entender, tam-
bém buscam tratamento igualitário dado à ‘ci- Campos (2005) explicita os interesses por
dade senhorial’, cujo orçamento seja mais que trás dos esforços para supressão da cultura
um instrumento de fazer política e que tenha negra, que reverberam até o momento pre-
como pressuposto básico buscar e eliminar a sente. O não reconhecimento dos elementos
injustiça social (CAMPOS, 2005, p. 135). de cultura negra permitia sonhar com uma
nação inteiramente homogeneizada
Carril (2006) também oferece uma análise
importante sobre a relação dos significados [...] A busca de tal nação homogênea tinha como pressupos-
to a construção de um país onde os padrões da cultura eu-
dos quilombos da época da escravidão com a ropéia fossem levados às últimas conseqüências, e o negro,
realidade dos negros na atualidade brasileira: a bem da verdade, não fazia parte deste projeto (CAMPOS,
Durante a escravidão, a população negra es- 2005, p. 45).
crava não constituía uma cidadania territorial.
Nesse sentido, entendemos territorialidade Entretanto, Carril (2006) destaca a im-
também relacionada à condição de cidadania, portância de se considerar o equívoco de pen-
de poder civil e base de direitos. A formação sar a cultura negra como única e homogênea
de quilombos constituiu nova territorialidade em si. É preciso compreender que, nos qui-
que permitiu a reconstrução da sobrevivência lombos, existiam diferentes etnias e formas
física e cultural dos escravos. A paisagem at- de viver, se relacionar e se organizar.
ual dos quilombos, contudo, reatualiza a luta
[...] essa perspectiva homogeneizadora oculta as diferenças
do negro na sociedade brasileira, nesse perío- no interior desses próprios grupos ou comunidades, mistifi-
do histórico do território, quando as forças cando a realidade e tendendo, muitas vezes, à construção de
do capital (empresas multinacionais, capital um pensamento único. Além disso, aponta para a perspec-
financeiro, blocos econômicos) alienam o ter- tiva de setores organizados, quando, nas últimas décadas,
tem havido grande fragmentação expressa pelo aumento
ritório em uma economia cada vez mais mun- quantitativo de setores desorganizados da sociedade, sem
dializada (CARRIL, 2006, p. 61). a interlocução do Estado. Leva a pensar, também, que se
reduzem os caminhos para a consciência social, o que é ne-
Compreende-se, portanto, que a situação gado pelo real que se mostra muito mais dinâmico quan-
to à reflexão que os indivíduos e grupos têm realizado e
do negro no Brasil, no que tange à territoriali- sobre as estratégias que têm empreendido para reivindicar
dade, ainda é permeada por tensões e dificul- sua inserção na sociedade brasileira (CARRIL, 2006, p. 33).
dades que demandam constantes lutas nesta
sociedade. A favela representa para a socie- A falta de respeito com que são tratadas
dade republicana o mesmo que o quilombo as pessoas que residem nas favelas, em sua
representou para a sociedade escravocrata. maioria, denota que a cidadania ainda não é
Um e outro, guardado as devidas proporções uma realidade neste espaço. A segregação
históricas, vem integrando as ‘classes perigo- vivida no cotidiano pelos moradores das fave-
sas’: os quilombos por terem representado, no

909
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

las, a discriminação e o preconceito que sof- espaço delimitado geograficamente, na ten-


rem são fatos inegáveis. tativa de determinar-lhe um lugar subalterno
A sobrevivência na favela nos marcos de uma ordem seg- no tecido social como um todo.
regacionista, apesar do uso indiscriminado de armas e ven-
da de drogas, não impediu e nem tampouco impedirá que A FORMAÇÃO DOS QUILOMBOS
ela cresça e continue a ser um lugar de resistência das pop-
ulações mais pobres, criando e estendendo as redes de sol-
E SUAS RESISTÊNCIAS
idariedade tal como se desenvolveram nos quilombos para
o enfrentamento das dificuldades presentes no dia-a-dia No Brasil, como em todo o Novo Mundo
das grandes metrópoles (CAMPOS, 2005, p. 155). – onde houve escravidão – surgiram grupos
de escravos que fugiam e se instalavam nos
chamados quilombos ou mocambos. Nesses
Estas comunidades são espaços de identi- lugares, os escravos conseguiam viver com
dade e cultura, que, muitas vezes são vistos liberdade, reavendo a sua cultura. Mas, na
por olhos leigos e carregados de preconceito maioria das vezes, esses locais eram encontra-
como verdadeiros antros de criminalidade e dos pelos senhores de engenho, pelos comer-
violência, devendo, portanto, receber inten- ciantes e por outros cidadãos que possuíam
sa repressão para que seja diminuído o risco escravos. E assim destruíram a povoação dos
de ‘contaminação’ do restante da sociedade. negros e os levavam de volta. Muitos morriam
Este olhar desconsidera o fato de que ele- na luta contra os brancos (CARUSO, 2009, p.
mentos como a violência, as drogas e o crime 20).
estão arraigados na sociedade como um todo
e possuem origens e causas muito mais com- A resistência ao sistema escravista ocorria
plexas e profundas. Entender-se que as cau- de diferentes maneiras. Por meio de fugas e
sas da violência não são atuais, estando tem- revoltas, ou em espaços de negociação, os
poralmente muito distantes, conseqüência quais existiam a partir da ideia de que era
sem dúvida das políticas de exclusão sócio necessário que os escravos tivessem certo
político-espacial dos segmentos mais empo- grau de autonomia para que o sistema es-
brecidos da sociedade: os afro descendentes. cravista funcionasse adequadamente, segun-
Parte dessa exclusão advém da discriminação do Mattos (2007).
étnica, colocando-se o negro em situação de
desvantagem frente aos demais segmentos Os senhores, conscientes de que depen-
sociais, tanto no que se refere ao acesso à diam do trabalho escravo – que não raro era
propriedade como a ocupação de cargos pú- especializado – permitiam uma margem para
blicos (CAMPOS, 2005, p. 158). a negociação. Por meio de várias estratégias,
que iam desde o enfrentamento direto até a
Nesta realidade de exclusão de segregação obediência e a fidelidade para com o senhor,
inegável, é possível perceber o quanto do encontravam formas para alcançar a liberdade
pensamento norteador da escravidão, que (MATTOS, 2007, p.122).
dizia respeito à inferioridade e a falta de hu-
manidade dos negros ainda está presente na
sociedade dos dias atuais, gerando ações de
discriminação diárias, relegando o negro a um

910
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Mattos (2007) destaca que, no que tange às que antecede, em muito, o movimento liber-
revoltas, líderes respeitados as planejaram e al abolicionista; ela tem caráter mais radical,
organizaram com antecedência. Muitas vezes sem nenhum elemento de mediação entre o
não alcançavam realização completa e eram seu comportamento dinâmico e os interesses
reprimidas, o que prejudicava a consecução da classe senhorial. Somente a violência, por
do objetivo maior. Contudo, o fato que existir isto, poderá consolidá-la ou destruí-la. De um
uma evidente e forte articulação de um grupo lado os escravos rebeldes; de outro os seus
de escravos era suficiente para que surgisse senhores e o aparelho de repressão a essa re-
um clima de tensão útil para auxiliar nas ne- beldia (MOURA, 1981, p. 22).
gociações entre senhores e escravos, as quais
faziam parte do cotidiano. Além das revoltas e negociações, eram
construídas por escravos fugidos comuni-
Portanto, é fato sabido que “só a ameaça dades independentes, os quilombos, que não
de revolta já causava pânico entre os propri- eram isoladas em demasia, de maneira que
etários e era aproveitada como estratégia, fosse possível estar em contato e manter a in-
senão para conseguir a liberdade, pelo menos teração com a sociedade. Mattos (2007) afir-
para melhorar as condições de trabalho e de ma que, enquanto viviam nos quilombos, os
sobrevivência” (p.122). Moura (1981) apre- escravos comercializavam clandestinamente
senta um conceito geral e bastante sólido do sua produção agrícola. Pequenos comerci-
caráter de transformação social do quilombo. antes, outros escravos ou agricultores os aju-
davam realiz zar seu comércio.
Entendemos por quilombagem o movimen-
to de rebeldia permanente organizado e di- Uma das características das comunidades
rigido pelos próprios escravos que se verificou formadas por escravos fugidos era a existên-
durante o escravismo brasileiro em todo o ter- cia de alianças com outras camadas sociais:
ritório nacional. Movimento de mudança so- indígenas, comerciantes, pequenos agricul-
cial provocado, ele foi uma força de desgaste tores. Conhecidas como quilombos ou mo-
significativa ao sistema escravista, solapou as cambos, essas comunidades foram aparecen-
suas bases em diversos níveis – econômico, do em várias localidades brasileiras próximas
social e militar – e influiu poderosamente para aos engenhos, às minas de ouro e pedras pre-
que esse tipo de trabalho entrasse em crise e ciosas, nos sertões e nos campos (MATTOS,
fosse substituído pelo trabalho livre. 2007, p. 137).
A sua dinâmica expressava a contradição De acordo com Moura (1987):
fundamental da época, isto é, aquela que ex- No Brasil, o quilombo marcou sua presença durante todo
istia entre os escravos e os seus senhores e o período escravista e existiu praticamente em toda a ex-
aparecia, em conseqüência disso, em todas tensão do território nacional. À medida que o escravismo
aparecia e se espraia nacionalmente, a sua negação tam-
as áreas e épocas em que o sistema de pro- bém surgia como sintoma da antinomia básica desse tipo
dução escravista foi estabelecido. A quilom- de sociedade (MOURA, 1987, p. 13).
bagem é um movimento emancipacionista

911
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

Ao passo que ocorria o surgimento dos tura e repressão. Em Cuba, por exemplo, os
mocambos, aumentava a repressão dos pro- rancheadores tinham como costume o uso de
prietários, que enviavam capitães-do-mato cães amestrados na caça aos escravos negros
ou contratavam agregados para sair à procura fugidos. Como podemos ver, a marronagem
dos fugitivos e capturá-los. Havia também a nos outros países ou a quilombagem no Brasil
iniciativa governamental, que utilizava força eram frutos das contradições estruturais do
militar e leis para encontrá-los e prendê-los, sistema escravista e refletiam, na sua dinâmi-
aplicando-lhes severas punições. ca, em nível de conflito social, a negação desse
sistema por parte dos oprimidos (MOURA,
A identidade espacial dos quilombolas, 1987, p. 12-13).
eventualmente, se realizava, mas, geral- A singularidade do quilombo, portanto, se
mente, pela própria dinâmica espacial, era deve à organização dos grupos, de modo que,
considerada tênue. Fato explicado em parte após diversas tentativas de destruí-los, volta-
pela mobilidade constante do grupo, que di- vam a surgir em outros lugares, atentos para
ficultava uma permanência, não criando uma a constante defesa necessária. Reis (1996)
territorialidade, nem tampouco a identidade sustenta que dentre as revoltas, durante a es-
espacial. Entretanto, contraditoriamente, sem cravidão, a existência do quilombo se destaca
territorialidade e sem identidade espacial, a como uma das principais formas de resistên-
construção de rede de solidariedade, (...) en- cia, especialmente as incursões em território
tre diversos quilombolas e outros segmentos inimigo.
sociais, tendo como base comum os interess- Conforme o autor, as experiências dos
es de cada um dos grupos: mercadorias, infor- escravos, bem como daqueles que a eles se
mações e cultura. (...) A rede de solidariedade opunham, eram complexas. Os quilombos
constituía, então, um forte elemento de es- possuem tamanhos variados e se instalavam
tratégia de guerra (CAMPOS, 2005, p. 37-38). em diferentes regiões e as revoltas que in-
stauraram podiam ser originadas por moti-
Moura (1987) expõe detalhes sobre a or- vos e reivindicações específicas ou pleitear
ganização dos quilombos, bem como da ma- a liberdade de um grupo de escravos, ou de
neira como eram perseguidos. Essas comu- todos eles. No que tange à estrutura e à orga-
nidades de ex-escravos organizavam-se de nização dos quilombos, Moura (1987) ressalta
diversas formas e tinham proporções e du- que:
ração muito diferentes. Havia pequenos qui-
lombos, compostos de oito homens ou pouco [...] desenvolvia-se uma indústria de guerra dos próprios
mais; eram praticamente grupos armados. No quilombolas, os quais fabricavam lanças, arcos, flechas,
facas e outros objetos bélicos. Era uma forma de preser-
recesso das matas, fugindo do cativeiro, mui- varem sua população das constantes investidas das forças
tas vezes eram recapturados pelos profission- escravistas. Além disso, estabeleceram sistemas de defesa,
ais de caça aos fugitivos. Criou-se para isso como muralhas, paliçadas, buracos com estrepes (lanças),
uma profissão específica. Em Cuba chama- para surpreender os invasores. No quilombo do Ambrósio,
houve um grande intercâmbio entre os quilombolas e os
vam-se rancheadores; capitães do mato no contrabandistas. Dizem que as minas do mocambo eram
Brasil; coromangee ranger, nas Guianas, to- ricas e Ambrósio vendia os seus produtos a comerciantes
dos usando táticas mais desumanas de cap- e contrabandistas. Esse comércio proporciona ao qui-
lombo meios de se armar e manter, durante muito tempo,

912
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

o seu reduto. Por outro lado, como unidade produtiva, o Reis (1996) aponta que o quilombo dos Pal-
quilombo desenvolve, internamente, uma série de ativ-
idades para se manter e alimentar sua população. Tinha mares era composto por diversos agrupamen-
seu setor artesanal, que se desenvolvia constantemente, tos, tendo chegado a comportar um núme-
metalurgia, tecelagem; finalmente, organizava-se interna- ro populacional muito expressivo – vinte ou
mente para conseguir, em caso de isolamento ou de guerra, trinta mil. Na realidade, estes habitantes não
manter-se sem grandes crises internas de produção. Essa
dupla atividade do quilombo – de um lado, mantendo in- eram todos escravos fugitivos.
tercâmbio com outras unidades populacionais e produtivas
e, de outro, desenvolvendo sua própria economia interna Para ali também convergiram outros tipos
– permitiu-lhe possibilidades de sobrevivência na socie- de trânsfugas, como soldados desertores, os
dade escravista que o perseguia (MOURA, 1987, p. 25-26).
perseguidos pela justiça secular eclesiástica,
O autor desta ainda que havia variáveis: ou simples aventureiros, vendedores, além
A organização dos quilombos era muito de índios pressionados pelo avanço europeu.
variada, dependendo do espaço ocupado, Mas predominavam os africanos e seus de-
de sua população inicial, da quantidade do scendentes. Ali, africanos de diferentes gru-
terreno em que se instalavam e das possib- pos étnicos administraram suas diferenças e
ilidades de defesa contra as agressões das forjaram novos laços de solidariedade, recri-
forças escravistas. Aproveitavam-se desses aram culturas (REIS, 1996, p. 16).
recursos naturais regionais, e os exploravam
ou industrializavam, dando-lhes, porém, uma O autor esclarece que o termo quilombo
destinação diferente no setor da distribuição. possui origem relacionada à iniciação de no-
Ao invés de se centrarem na monocultura vos guerreiros. O próprio termo quilombo
que caracterizava a agricultura escravista, derivaria de kilombo, uma sociedade iniciáti-
que também monopolizava a produção na ca de jovens guerreiros mbundu adotada pe-
mão dos senhores, os quilombos praticavam los invasores jaga (ou imbangala), estes for-
uma economia policultora, ao mesmo tempo mados por gente de vários grupos étnicos
distributiva e comunitária, capaz de satisfazer desenraizada de suas comunidades. Esta in-
as necessidades de todos os seus membros. stituição teria sido reinventada, embora não
inteiramente reproduzida, pelos palmarinos
Enquanto na economia escravista a pro- para enfrentar um problema semelhante, de
dução fundamental e mais significativa era perda de raízes, deste lado do Atlântico. Teria
enviada para o mercado externo, e a popu- sido de fato depois de Palmares que o termo
lação produtora passava privações enormes, quilombo se consagrou como definição de
incluindo-se o pequeno produtor, o bran- reduto de escravo fugido. Antes se dizia mo-
co pobre, o artesão e outras categorias, cambo (REIS, 1996, p. 16).
que eram esmagados pela economia lati-
fundiário-escravocrata, nos quilombos, o Sobre a organização interna dos quilombos
tipo de economia comunitária ali instala- sabe-se pouco, mas é conhecido o fato de
do proporciona o acesso ao bem-estar de que havia uma organização eficiente entre
toda a comunidade (MOURA, 1987, p. 34). homens e mulheres, que deram origem a
estruturas de parentesco, como também de
poder. Ocorriam articulações de variadas for-

913
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

mas, buscando inclusive a fuga do país. A esse avam roupas simples e até mesmo jóias falsas.
respeito: Para conter os prejuízos com as fugas, os
capitães-do-mato eram contratados em tro-
[..] havia uma preocupação constante por parte dos sen- ca de recompensas que trariam menos des-
hores de escravos, do governo e dos políticos brasileiros
sobre as zonas fronteiriças, onde os escravos poderiam
falque financeiro do que a perda do escravo.
fugir do território nacional. Tais fatos criavam problemas Ao menor sinal de uma intenção de fuga, os
diplomáticos com os países vizinhos (MOURA, 1987, p. 78). escravos eram terrível e dolorosamente casti-
gados, num espetáculo perverso e sangrento,
O capitão-do-mato, segundo Reis (1996), que dilacerava o corpo e a dignidade do es-
surgiu a partir de uma dualidade de poderes cravo.
que representava um risco para a ordem so-
cial. Os senhores a os governantes não podiam A ameaça de serem os próximos a receber a
permitir “dividir” o poder com os quilombolas. tortura, caso decidam arriscar-se a fugir. Ade-
Os capitães-do-mato eram, então, uma milícia mais, havia também a intenção de convencer
especializada na destruição dos quilombos e o escravo fugitivo de que não valeria a pena
na caça de escravos. Como era de se esperar tentar articular nova tentativa de fuga. Por
de caçadores de gente, os capitães-do-mato isso, mesmo que o escravo castigado ficasse
não figuravam entre as pessoas mais íntegras sem condições de trabalhar temporariamente,
da Colônia, sendo freqüentemente acusados ainda era interessante causar-lhe sofrimento
dos maiores desmandos, entre os quais se para impedir novas perdas de mão-de-obra.
contava o de roubar escravos, usar indevida- Gomes (2005) ressalta que:
mente seu trabalho e prender e até matar cat-
ivos inocentes para obter recompensas (REIS, [...] as mudanças modificaram os termos da negociação
1996, p. 17). aguerrida entre senhores e subalternos, aumentando o
poder destes últimos. A fuga, em suma, não era uma válvula
de escape que esvaziava o potencial do protesto escravo;
Os capitães-do-mato prestavam seus era, ao contrário, um ato político conseqüente, que mexia
serviços aos senhores de engenho que, como na posição do fiel da balança social, ameaçando, no limite,
destaca Caruso (2009), moravam com sua jogar os pesos do escravismo pelos ares. Daí o motivo da
reação feroz de grandes autoridades e fazendeiros contra
família em casas mais distantes das plan- os quilombos. Procurava-se sufocar as ‘pequenas’ trans-
tações. A senzala, onde os escravos habita- gressões, antes que elas provocam uma explosão súbita do
vam, ficava mais próxima às terras onde tra- domínio senhorial (GOMES, 2005, p. 16).
balhavam. Eram donos de grandes extensões
de terras, onde se produzia constantemente
gerava-se muito lucro. Um dos patrimônios Apesar do fato de que esta pressão sur-
mais valiosos que os senhores de engenho tiu efeito em muitos escravos, evitando que
possuíam eram os escravos. Contudo, por ser tivessem coragem para fugir, as fugas eram
este um investimento oneroso, destes propri- muito recorrentes. Entretanto, mesmo antes
etários estavam sempre endividados e muitas de serem capturados, ao adentrar a floresta,
vezes trocavam mercadorias, como o açúcar, muitas vezes, os escravos não conseguiam
por negros. Alguns senhores de engenho pos- sobreviver.É possível compreender o moti-
suíam em suas residências poucos móveis, us- vo pelo qual, mesmo sob constante ameaça
de tortura e morte, um grande número de

914
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

escravos tomava a iniciativa de organizar fu- tanto, trazido para exercer o papel de força
gas em grupo, ou mesmo fugir sozinho. Suas de trabalho compulsório numa estrutura que
condições de vida em liberdade poderiam não estava se organizando em função da grande
ser ideais, todavia, sujeitar-se a servir e en- lavoura. Aqui, não havia muita preocupação
riquecer o senhor de engenho era demasiado em prover o sustento dos produtores, mas
ultrajante. A condição de ser escravo é algo em produzir para o mercado. Considerava-se
que extirpa a dignidade humana, pois, na es- a agricultura de subsistência um desperdício
cravidão, um homem negro não é sequer con- de investimento e mão de obra que deveriam
siderado um ser humano. ser dirigidos à grande lavoura. Dessa forma, a
‘racionalidade’ e a eficiência da grande lavou-
A escravidão se caracteriza por sujeitar um ra só poderiam ser avaliadas na medida em
homem ao outro, de forma completa: o escra- que atingissem esses objetivos para os quais
vo não é apenas propriedade do senhor, mas a mão de obra escrava era fundamental (PIN-
também sua vontade está sujeita à autoridade SKY, 2010, p. 23).
do dono e seu trabalho pode ser obtido até
pela força. Esse tipo de relação não se limita, Os quilombos eram, portanto, espaço de
pois, à compra e venda da força de trabalho, resistência e oposição a um sistema que feria
como acontece, por exemplo, no Brasil de a dignidade dos seres humanos. Reis (1996)
hoje, em que o trabalhador fornece sua força frisa que os quilombos podiam organizar-se
de trabalho ao empresário por um preço de- de forma móvel. “Além de formados em par-
terminado, mas mantém sua liberdade formal. te por escravos que circulavam por eles pe-
Na escravidão, transforma-se um ser humano riodicamente, sem fixarem residência, os as-
em propriedade de outro, a ponto de ser anu- saltos dos capitães-do-mato e milicianos em
lado seu próprio poder deliberativo: o escravo geral resultaram em mortes, prisões, tortura
pode ter vontades, mas não pode realizá-las e na dispersão” (REIS, 1996, p. 20). Todos os
(PINSKY, 2010, p. 11). quilombos suburbanos eram móveis, consid-
erando que podiam ser mais facilmente de-
Assim, o sofrimento existente na liberdade nunciados, por estarem próximos dos cen-
que o escravo almejava era muito menor do tros urbanos, ficando, assim, mais expostos
que sua condição de vida nas lavouras, onde à repressão. Se os quilombos representaram
não estava por opção e representava uma uma rebeldia ambígua, as rebeliões escravas
propriedade, em um contexto em que o Brasil constituíram a mais direta e inequívoca for-
necessitava-se de mão de obra a ser explo- ma de resistência coletiva. Quando o escravo
rada. Havia um problema real, a ausência de conspirava uma revolta, ele raramente conta-
mão de obra em escala suficiente, obediente va com a possibilidade de acordo. Mas nem
e de baixo custo operacional, para que o pro- toda revolta visava a destruição do regime
jeto da grande lavoura se estabelecesse ade- escravocrata, ou mesmo a liberdade dos es-
quadamente. Se essa mão de obra fosse uma cravos nela envolvidos. Muitas visavam ape-
mercadoria em cima da qual os mercadores nas corrigir excessos de tirania, diminuir até
pudessem ganhar, comprando barato e ven- um limite tolerável a opressão, reivindicando
dendo caro, melhor ainda. O negro foi, por- benefícios específicos — às vezes a recon-

915
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

quista de ganhos perdidos — ou punindo fe- XVII. Neles, os escravos fugidos costumavam
itores particularmente cruéis. Eram levantes promover roubos e sequestros de mulheres
que almejavam reformar a escravidão, não escravas nas fazendas. Contudo, foi entre os
destruí-la (REIS, 1996, p. 21-22). séculos XVIII e XIX, com a expansão açuca-
reira no Vale do Paraíba fluminense, que o
As revoltas, fugas e organizações de qui- número de escravos africanos aumentou e,
lombos e mocambos, eram meios encon- por consequência, houve a intensificação das
trados pelos escravos para questionar suas fugas e da formação de quilombos (MATTOS,
condições de vida, negociar melhorias, ou 2007, 139-140).
buscar a liberdade, embora o preço a pagar
pelo fracasso em tais intentos fosse demasi-
adamente alto. No Rio de Janeiro, surgiram No transcurso do século XIX, essas fugas se
diversas comunidades quilombolas, entre as intensificaram em várias regiões do Rio de Ja-
quais estavam o Bacaxá, próximo ao Recônca- neiro, ensejando relações que se constituíam
vo da Guanabara e o quilombo de Curukango, em redes que articulavam trabalho, comércio,
em Macaé, liderado por escravo moçambica- vinculações de parentescos, solidariedades
no, contando com cerca de duzentas pessoas. e amizades que compreendiam os negros li-
Mattos, (2007) aponta que o quilombo Bacaxá bertos e livres, escravos confinados em sen-
estava instalado em uma região de fazendas zalas, comerciantes e homens livres brancos
de gato, onde também se produzia açúcar e e mestiços. De acordo com Flávio dos San-
aguardente. Era formado por mais de cem es- tos Gomes (1992), o quilombo de Iguaçu, na
cravos e foi reprimido pelas autoridades locais província do Rio de Janeiro, foi formado no
em 1730. Já o quilombo Curunkango cultiva- período entre 1816 e 1877, no entanto, a cir-
va feijão e milho para o sustento de seus in- culação dos quilombolas não se restringia ao
tegrantes. A autora também frisa que, no Rio perímetro do quilombo, pois se tratava de um
de Janeiro, os quilombolas realizavam roubos fenômeno complexo que abrangia a intercon-
e depredações, com a ajuda de outros escra- exão entre quilombos, senzalas, mocambos,
vos, recebendo até mesmo auxílio de fazen- plantações, roças, tabernas e rios, as redes de
deiros que, em troca de serviços, ofereciam relações quilombolas atravessam vilarejos e
acolhimento em suas propriedades. Também às vezes se estendiam às cidades de grande
trocavam produtos com pequenos comer- porte, como o Rio de Janeiro. O autor desta-
ciantes e taberneiros, obtendo informações ca que “esses fugitivos escravos – vivendo
sobre ações de repressão aos quilombos, por quase como camponeses – defendem sua au-
parte das autoridades. Realizavam batuques tonomia contra as expedições escravizadoras,
em suas reuniões nas tabernas, que ficavam forjando práticas econômicas integradas à
cheias, especialmente à noite, momento em região mantendo relações com outros grupos
que não estavam trabalhando. sociais” (GOMES, 1992, p. 3). Esse fenômeno
foi denominado por Gomes de “campo negro”,
Em Campos dos Goitacases, na região a ideia de campo está relacionada à constitu-
norte do Rio de Janeiro, há notícias da ex- ição de um espaço territorial, social, cultural
istência de quilombos desde o final do século e econômico onde os quilombolas transita-

916
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

vam e criavam essa complexa teia de relações her e quatro ou cinco homens. A proporção
de interesses que interligava os quilombos à de mulheres só aumentou quando o tráfico
sociedade escravocrata, deste modo, os qui- oficial teve fim e aumentou o número de na-
lombolas aproveitaram o máximo que pud- scimentos, como afirma Pinsky (2010).
eram para preservar a autonomia e ampliar as
suas relações. Segundo Gomes (1992), comu- Conscientes do problema que representa-
nidades quilombolas se instalaram no interior va a presença de muitos homens sem mulher,
do Recôncavo da Guanabara no começo do os senhores, na prática, estimulavam uniões
século XIX. A forte presença de quilombolas transitórias, realizadas, frequentemente, ape-
nesta região levaram os fazendeiros se ali- nas com o seu beneplácito, sem as bênçãos
arem com as autoridades locais para eliminar da religião – que, aliás, fechava os olhos para
os quilombos e seu campo negro no decorrer o fato. Mais comum ainda era a escrava ter
dos anos de 1812 e 1883. O Recôncavo de filhos de vários homens, sem mesmo se en-
Guanabara, que ficava na capital do império volver em ligações transitórias oficializadas
brasileiro, servia como latíbulo de escravos pelo senhor.
fugidos que atravessavam os rios contraban-
deando madeiras as quais adentravam a Corte Quando, excepcionalmente, a cerimônia
por meio do intermédio dos taberneiros da religiosa ocorria, os sacramentos eram cum-
região. Reis (1996) aponta que na província pridos pelo padre como formalidade desa-
do Rio de Janeiro, “os quilombolas de Iguaçu gradável e não como ato de fé. Considerava-se
mantinham um intenso comércio de madeiras o ato como um luxo e não como decorrência
com a Corte e também empregavam-se como da formação religiosa ministrada aos negros
trabalhadores nas fazendas de proprietários desde a infância. Não se levam em consider-
que sabiam estar contratando negro fugido” ação esses elementos quando, com enorme
(REIS, 1996, p. 19). Essas relações comerci- carga de preconceito, pretende-se atribuir
ais com a Corte exacerbam a contradição de aos negros características como leviandade
como os quilombolas eram vistos pelas au- nas relações pessoais e promiscuidade sexu-
toridades reais, ora como ameaça ao sistema al. Na verdade, isso não tem, evidentemente,
escravista, ora como parceiro comercial. As nenhum fundamento biológico, ou mesmo
fronteiras entre os quilombos e a sociedade social: era fruto do constrangimento a que
escravocrata eram porosas e permeáveis, eram submetidos, à sua condição (PINSKY,
ou seja, a tese de que os quilombolas eram 2010, p. 62).
marginalizados cai por terra quando observa-
mos o entrecruzamento dos diferentes atores Esse número desproporcional, de acordo
históricos no campo negro. com Reis (1996), não impediu por comple-
to, mas inibiu significativamente a formação
A LUTA DA MULHER NEGRA NA de famílias escravas. Assim, garantiu-se a
CONSTRUÇÃO DE SUA REPRESEN- proteção da rede paternalismo senhorial.
TATIVIDADE De certa forma, houve, nesse aspecto de re-
pressão, um ponto positivo para a resistência,
Muitas vezes, havia, nas senzalas, uma mul- como ressalta Reis (1996):

917
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

64).
Tivessem paternalismo senhorial e família escrava estável
prevalecido, a solidariedade étnica e de classe teriam sido Circulavam, popularmente, quadrinhas que
provavelmente mais fracas entre os escravos. Estes pensar-
iam duas vezes antes de colocar mulheres e filhos, e mesmo objetificavam sexualmente as escravas:
o senhor e sua família, na linha de fogo da rebelião (REIS,
1996, p. 22). Preta bonita é veneno,
Mata tudo que é vivente;
Os senhores tiravam proveito da situação Embriaga a criatura,
e procuravam as escravas para realizar ativi- Tira a vergonha da gente.
dades sexuais que, normalmente, era reprimi-
da dentro do matrimônio, uma vez que “o pa- Mulata é doce de coco,
pel da esposa branca e legítima era apenas o Não se come sem canela.
de dar filhos ao seu marido, o maior número Camarada de bom gosto,
possível deles” (PINSKY, 2010, p. 62), Não pode passar sem ela.
(PINSKY, 2010, p. 64)
As esposas deviam permanecer nos limites
da propriedade do casal, especialmente na
casa grande e possuía poucas atividades. Era As escravas, apesar de estarem sendo mais
servida desde pequena por meninas negras, uma vez exploradas, também podiam utilizar
prontas para atender as suas ordens. Contraía este recurso como meio de obter vantagens
matrimônio cedo e logo engravidava, o que do senhor. Além disso, recusar-lhes poderia
não significa, contudo, que tinha relações sex- resultar em agressões terríveis sofridas pela
uais por prazer com seu marido. A finalidade mulher negra, segundo Pinsky (2010). Em out-
do ato sexual era meramente reprodutiva e o ras situações, a escrava considerava a relação
prazer era proibido, pois devia ser virtuosa. O sexual com o senhor uma oportunidade de ter
senhor, entretanto, não enfrentava as mes- um filho livre, o que levava muitas mulheres a
mas limitações que sua senhora. Embora não ceder ou mesmo seduzir seu patrão. Buscava,
pudesse experimentar prazeres carnais com então, apresentar um bom desempenho sex-
sua esposa, buscava as escravas para satis- ual para agradá-lo e, assim, tentar manipulá-lo
fazer tais desejos. de alguma forma.

Cumpria com sua mulher branca as Afinal, era uma possibilidade de inverter a
obrigações de reprodutor e marido, mas volta- relação de poder. Esse ato pode também ser
va-se às escravas para o prazer sexual. Entre- interpretado como uma espécie de vingança
gava-se às negras e mulatas com todo o em- contra a senhora ou mesmo a esperança de
penho, buscando usufruir delas a satisfação conseguir um tratamento diferente e privi-
que não encontrava em sua formal cama de legiado. Imaginava talvez poder ter um filho
casado. O mito de mulheres quentes, atribuí- com o patrão que viesse a ser agregado à sua
do, até hoje, às negras e mulatas pela tradição grande família.
oral, decorre do papel que lhes era designado
pela sociedade escravista (PINSKY, 2010, p. Às vezes – e muitas – a vingança saía pela

918
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

culatra. Ofendida em seu amor próprio, a sen- cas fundamentais das culturas escravas em toda a Améri-
ca foi, sem dúvida, a manutenção da família nos seus
hora utilizava-se de sua posição e torturava
variados sentidos. Sendo a espinha dorsal na constituição
cruelmente a escrava, a ladra de seu homem. do parentesco, a mulher tinha o papel-chave na trans-
Assim morreram muitas jovens escravas, al- missão oral das crenças e dos valores de uma comuni-
gumas das quais nem sequer quiseram dormir dade negra em gestação (PAIXÃO; GOMES, 2008, p. 951).
com o patrão, mas viram-se constrangidas
a concordar com uma relação que, na sua As mulheres negras, portanto, buscavam
condição de propriedade alheia, dificilmente constantemente formas de resistir e de de-
conseguiria evitar. linear sua representatividade. Não apenas os
homens participaram e estiveram à frente de
De qualquer forma, os documentos regis- revoltas envoltas numa linguagem religiosa. O
tram numerosos testemunhos de incursões poeta Luís Gama escreveu que sua mãe, Luiza
que os senhores faziam às suas senzalas, com Mahin, liberta de nação nagô, teria participa-
ou sem o consentimento das sinhás, com ou do de várias conspirações na Bahia [...] Mul-
sem a aprovação das escravas: a multidão de heres participaram pelo menos da fase con-
mulatos, filhos de negras retintas; o grande spiratória dos movimentos haussás. Em 1814
número de agregados que aparecem nas cinco escravas foram acusadas: Ludovina,
famílias, sem papel definido, mas geralmente Teresa, Felicidade, Germana e Ana. A liberta
exercendo funções de confiança do senhor, e Francisca, que percorrera o Recôncavo com o
às vezes sendo por eles lembrados nos testa- companheiro Francisco pregando a rebelião,
mentos; e manumissões, de outras formas in- foi condenada ao açoite e degredo para An-
explicáveis, provavelmente fruto de promes- gola. Em 1835 nenhuma mulher foi às ruas
sas feitas durante o ato do amor com a mãe lutar, e não há indício de que alguma tenha
do libertado (PINSKY, 2010, p. 65). participado do seu núcleo dirigente na fase
conspiratória. Mas muitas eram muçulmanas,
A maior parte das mulheres escravas estava sabiam e apoiavam o levante de seus homens,
empregada nas plantações, nas áreas rurais, e 31 das quais foram posteriormente investiga-
se utilizavam da linguagem e da música para das e a maioria punida (REIS, 1996, p. 33).
educar seus filhos, ressignificando e reelabo-
rando sua cultura. Nas plantações, apresen- Essa busca perdurar longamente no Bra-
taram expressivo grau de resistência. Já nas sil, uma vez que, após o fim da escravidão, o
áreas urbanas, conforme apontam Paixão e Estado não ofereceu meios de inclusão so-
Gomes (2008), as mulheres ocuparam lugar cial para a população negra, de modo que as
de grande relevância para a transformação. mulheres, cidadãs livres, continuavam viven-
do na lógica da escravidão. Portanto, as mul-
[...] no século XVI, durante um embarque de escravos real- heres negras permaneciam excluídas social
izado por portugueses na África, um piloto de navegação e economicamente, embora libertadas. Após
anônimo comentou sobre a necessidade de se colocarem 300 anos de escravidão, a mulher negra se
homens e mulheres separados nos porões dos navios ne-
greiros. Segundo ele, as mulheres, quando viajavam junto
encontrava sem possibilidade de trabalhar e
aos homens, freqüentemente os instiga a se revoltar con- sem um lugar definido na sociedade. Margin-
tra a tripulação. A função das mulheres no interior das alizadas, seguiram através dos anos chegando
senzalas podia representar a reconstrução e a recriação à atualidade recebendo papéis sociais ligados
permanente de aspectos culturais originais e, portanto, a
edificação de sólidas comunidades. Uma das característi-

919
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

a prestação de serviços, predominantemente


domésticos. As mulheres negras convivem, então, com
uma marca indelével que as persegue inde-
A mulher negra na sua luta diária durante e pendentemente de sua vontade.Souza (1983)
após a escravidão no Brasil, foi contemplada expõe alguns pontos sobre reconhecer-se
como mão de obra, na maioria das vezes não uma mulher negra na sociedade:
qualificada. Num país em que só nas últimas Saber-se negra é viver a experiência de ter
décadas desse século, o trabalho passou a ter sido massacrada em sua identidade, confun-
o significado dignificante o que não aconte- dida em suas perspectivas, submetida a ex-
cia antes, devido ao estigma da escravatura, igências, compelida a expectativas alienadas.
reproduz-se na mulher negra “um destino Mas é também, e sobretudo, a experiência
histórico”. É ela quem desempenha, em sua de comprometer-se a resgatar sua história e
maioria os serviços domésticos, os serviços recriar-se em suas potencialidades (SOUZA,
em empresas públicas e privadas recompen- 1983, p.17-18).
sadas por baixíssimas remunerações. São de
fato empregos onde as relações de trabalho O trabalho doméstico, ao qual a mulher
evocam as mesmas da escravocracia (NASCI- negra foi relegada após a escravidão possui
MENTO, 2007, p. 128). ligação direta com seu papel durante a es-
cravidão. A sujeição, a subordinação e a de-
Este deslocamento, bem como a falta de sumanização, que davam inteligibilidade à
espaço e reconhecimento para as mulheres experiência do cativeiro, foram requalificadas
negras na sociedade brasileira, potencializou num contexto posterior ao término formal da
aspectos de dominação que perduram até os escravidão, no qual relações de trabalho, de
dias atuais. A mulher negra, elemento no qual hierarquias e de poder abrigaram identidades
se cristaliza mais a estrutura de dominação, sociais se não idênticas, similares àquelas que
como negra e como mulher, se vê, deste determinada historiografia qualificou como
modo, ocupando os espaços e papéis que lhe exclusivas ou características das relações
foram atribuídos desde a escravidão. A “her- senhor – escravo (CUNHA, 2007, p. 11).
ança escravocrata” sofre uma continuidade
no que diz respeito à mulher negra. Seu papel É notório que os papéis atribuídos à mul-
como trabalhadora, a grosso modo, não muda her negra denotam claramente uma questão
muito. As sobrevivências patriarcais na so- de dominação. Na atualidade, a negra ocupa
ciedade brasileira fazem com que ela seja re- funções muito próximas às que desempenha-
crutada e assuma empregos domésticos, em va enquanto escrava, cuidando de serviços
menor grau na indústria de transformação, domésticos em casas que não pode possuir,
nas áreas urbanas e que permaneça como tra- como babá dos filhos das mulheres brancas
balhadoras rurais [...] Se a mulher negra hoje e ricas. Existem raízes históricas demasiada-
permanece ocupando empregos similares aos mente profundas para serem desconsideradas
que ocupava na sociedade colonial, é tanto em uma análise que respeite os sujeitos so-
devido ao fato de ser mulher de raça negra, ciais. Os patrões a quem as mulheres negras
como por terem sido escravos seus antepas- prestam serviços hoje buscam reproduzir este
sados (NASCIMENTO, 2007, p. 104) . papel considerado feminino e intimamente

920
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

ligado à servidão escrava. Existe, portanto, uma elite de guerreiros, a qual era pequena
um resquício muito forte das relações dos e exercia a liderança ao arranjar a defesa do
senhores e senhoras com seus escravos no grupo e os ataques armados às povoações
modo como se constituem os vínculos de tra- portuguesas. Conseguindo nos quilombos
balho entre pessoas brancas e mulheres ne- produzir suas heranças culturais africanas, os
gras na sociedade atual. negros podiam construir significados para o
Novo Mundo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o deslocamento e dispersão das várias
tribos, eles voltaram-se para divindades mais
concretas, ligadas às forças mágicas da na-
tureza. Para essas divindades, os orixás, a
partir de um processo de conciliação entre
os aspectos religiosos de índios e brancos, na
colônia, com a herança africana, eram organi-
zadas festas, como também rituais, nos quais
soavam atabaques e demais instrumentos.
Contudo, o maior marca de resistência dos
escravos negros à sua condição foram os qui-
lombos.

Após fugirem em grupos, estes organi-


zavam pequenos acampamentos em áreas PRISCILA ALMEIDA SILVA
despovoadas e de difícil acesso, que podiam
abrigar desde um pequeno bando de fugiti-
vos, que promoviam assaltos a viajantes e po- Graduação em Pedagogia, pela Faculdade
voações, até milhares de habitantes. Para os das Américas (2010); Especialista em Edu-
grandes quilombos, dirigiam-se não só negros cação e Sociedade pela Universidade Cidade
como também índios, criminosos e outros de São Paulo – UNICID (2012);Especialista
grupos marginalizados da sociedade colonial. em Sociopsicologia pela Fundação Escola de
Ali se plantavam gêneros de subsistência e se Sociologia e Política de São Paulo – FESP-
fazia criação. Muitas vezes o vigor econômi- SP (2013); Professora de educação Infantil e
co dos quilombos era tal que chegavam a Ensino Fundamental I na EMEF Alferes Tira-
estabelecer relações comerciais com os po- dentes.
voados próximos, dos quais adquiriam ar-
mas, munição, ferramentas e outros produ-
tos necessários à comunidade. Os quilombos
eram organizados socialmente com base em

921
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

REFERÊNCIAS mercado de trabalho. In: Eu sou Atlântica: so-


bre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento /
CAMPOS, Andrelino. Do qui- Alex Ratts (org.). São Paulo: Imprensa Oficial do
lombo à favela: a produção do “es- Estado de São Paulo: Instituto Kuanza, 2007.
paço criminalizado” no Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. PAIXÃO, Marcelo; GOMES; Flávio. Histórias
das diferenças e das desigualdades revisit-
CARRIL, Lourdes. Quilombo, fave- adas: notas sobre gênero, escravidão, raça
la e periferia: a longa busca da cidadania. e pós-emancipação. Revista Estudos Fem-
São Paulo: Annablume: Fapesp, 2006. inistas. nº 16, set. – out. 2008. p. 949-964.

CARUSO, Carla. Zumbi, o úl- PINSKY, Jaime. A escravidão no Bra-


timo herói dos Palmares. 2. ed. sil. São Paulo: Contexto, 2010.
São Paulo: Instituto Callis, 2009.
REIS, João José. Quilombos e Revoltas de Es-
CUNHA, Olívia Maria Gomes da. Cri- cravos no Brasil. Revista USP, Dossiê Povo Ne-
adas para servir: domesticidade, intim- gro — 300 anos. nº 28, dez. 1995 - fev. 1996.
idade e retribuição. In: ______; GOMES,
Flávio (Org.). Quase-cidadão: histórias SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se ne-
e antropologias da pós-emancipação gro: as vicissitudes da identidade do
no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2007. negro brasileiro em ascensão social.
Rio de Janeiro: Edições Graal, 1983.
GOMES, Flávio dos Santos. História
de Quilombolas: mocambos e comu-
nidades de senzalas no Rio de Janei-
ro – século XIX. 1992. 638f. Dissertação
(Mestre em História). Instituto de Filo-
sofia e Ciências Humanas da Unicamp.

_______. A hidra e os pântanos: mocam-


bos, quilombos e comunidades de fu-
gitivos no Brasil, (Séculos XVII-XIX).
São Paulo: Ed. Unesp: Ed. Polis, 2005.

MOURA, Clóvis. Rebeliões da Senzala.


São Paulo: Ed. Ciências Humanas. 1981.

_______. Quilombos: Resistência ao Es-


cravismo. São Paulo: Editora Ática, 1987.

NASCIMENTO, Beatriz. A mulher negra no

922
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

923
Revista Educar FCE - 20 ª EDIÇAO - MAIO - 2019

924

Você também pode gostar