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Revista Educar FCE - Março 2019

VOLUME 18 MARÇO DE 2019

EDUCAÇÃO INFANTIL E
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
O lúcido na educação infantil como forma
de desenvolvimento

A brincadeira e a
Aprender ou não A importância da A importância de cultura na Educação
aprender, eis a contação de histórias na aprender brincando. Infantil.
questão. Educação Infantil.
P. 48 P. 516 P. 800
P. 994

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

Educar FCE / Faculdade Campos Elíseos


Vol. 18, n. 01 (Março, 2019), SP

Volume 18, n.01 (Março, 2019)


Mensal

1. Gêneros Infantis; 2. Práticas Pedagógicas; 3. Educação Infantil;


4. Inclusão; 5. Artes Lúdicas.

CDD 370

Os Conceitos emitidos nesta revista são de inteira responsabilidade dos autores.


É proibida a reprodução total ou mesmo parcial desta obra sem prévia
autorização dos autores.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Educar FCE-(CDD 370) - Volume 18 - Número 1 - Março de 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

EDITORIAL CONSELHO EDITORIAL

Brinquedoteca – Possibilidades e Potencialidades Márcia Donizete Leite Oliveira


A Brinquedoteca é um espaço que reúne muitas possibilidades e potencialidades Cláudia Regina Esteves
Ivan César Rocha Pereira
para desenvolver trabalhos sérios e relevantes para as crianças através da brincadeira. Ela Paulo Malvestio Mantovan
é indicada para qualquer idade do zero aos cem anos ou mais, não se restringe a faixa Rodrigo Leite da Silva
socioeconômica de seus frequentadores. Esse espaço traz o resgate da importância do Maria Virgínia F. P. Couto Rosa
brincar para a criança. Na Brinquedoteca, a criança vivencia diversas atividades lúdicas e,
de acordo com Santos (1997) a “ludicidade” faz com que o ser humano de qualquer idade EDITORA-CHEFE
tenha diversas diversões. Para a autor, o desenvolvimento do aspecto lúdico facilita não só Márcia Donizete Leite Oliveira
a aprendizagem, como ainda, o desenvolvimento pessoal, social e cultural do indivíduo e,
colabora para uma boa saúde mental, preparando este ser, para um estado interior fértil. REVISÃO E NORMALIZAÇÃO
DE TEXTOS
Assim, esse processo facilitará a socialização, comunicação, expressão e construção do
Márcia Donizete Leite Oliveira
conhecimento. Em outras palavras, a criança passa a se conhecer melhor, a dominar suas
Rodrigo Leite da Silva
angústias e a representar o mundo exterior, usando para isso o brinquedo.
Assim, brincar é “coisa séria” e por isso, essa atividade deve ser tratada com PROGRAMAÇÃO VISUAL E
responsabilidade. Nesse sentido, brincar é fundamental, pois desperta a criatividade, o DIAGRAMAÇÃO
Keter Reis
raciocínio, o significado de ganhar e perder, o convívio com outras crianças de mesmo grupo,
e um maior conhecimento uma das outras, como ainda, do espaço físico.Entretanto, para PROJETO GRÁFICO
que tudo isto ocorra, a criança necessita ter liberdade para realizar suas brincadeiras, usar Elizandra Pires
sua criatividade para elaborar suas próprias regras, sendo verdadeiramente espontâneas.
Caso contrário, reproduzirá a sabedoria dos adultos, se tornando incapaz de expressar
suas próprias ideias. COPYRIGTH
Dessa forma, a Brinquedoteca assume uma grande responsabilidade, visto que é um Revista Educar FCE
espaço onde “o brincar” representa um fator importante no desenvolvimento infantil. Esse ISSN 2447-7931
espaço pode ser uma sala ou uma casa, pode ser simples ou muito incrementado, sendo Faculdade Campos Elíseos
assim, muito importante para oferecer às crianças, oportunidades para exercerem seu (MARÇO, 2019) - SP
direito de brincar e ter contato com as mais diversificadas brincadeiras.
Portanto, quando falamos em brinquedotecas instaladas em unidades da área da Publicação Mensal e
saúde, podemos pensar que elas podem estar sendo instaladas em espaços como, multidisciplinar vinculada
convênios médicos e laboratórios de atendimento e/ou unidades hospitalares. Entretanto, à Faculdade Campos Elíseos.
alguns cuidados devem ser tomados desde a escolha dos brinquedos e sua higienização, Os artigos assinados são de
até a atuação do profissional que estará na sala. Desse modo, é preciso preparar a responsabilidade exclusiva
Brinquedoteca como um espaço do “faz de conta”, para que seu ambiente seja impregnado dos autores e não expressam,
necessariamente, a opinião do
de criatividade, de manifestações de afeto e de apreciação pela infância, a tal ponto que a Conselho Editorial.
criança se sinta esperada e bem-vinda.
É permitida a reprodução total
Cláudia R. Esteves ou parcial dos artigos desta
revista, desde que citada a fonte.
Coordenadora Pedagógica Pós-Graduação FCE

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Revista Educar FCE - Março 2019

SUMÁRIO
121 A MÚSICA COMO INSTRUMENTO DE
APRENDIZAGEM
Alesandra Alencar Albuquerque

12 A PSICOPEDAGOGIA E SUA CONTRIBUIÇÃO 132 INCLUSÃO DE ALUNOS COM


PARA O ENSINO DA CRIANÇA SURDA SÍNDROME DE ASPERGER
Adriana Aparecida da Silva F. Armond Alessandra Vedolvello Brandão

24 O SELFIE PRESENTE NO MITO DE NARCISO 139 A RITALINA NO TRATAMENTO DE


SOB O CONCEITO DA MIMESE DE HIPERATIVIDADE E DÉFICIT DE
PLATÃO E ARISTÓTELES ATENÇÃO
Adriana Costa Lima Alessandra Ferrari da Fonseca Texeira
31 CONSUMISMO INFANTIL: EDUCAR
150 A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA
PARA A SUSTENTABILIDADE
NA ATUAÇÃO DOS PROFESSORES
Adriana Oliveira Cavalcante da Silva
EM EDUCAÇÃO INFANTIL
Alessandra Pires
40 JOGO, O BRINCAR E A EDUCAÇÃO
Adriana de Lima Navi Moreira 165 A ESCOLA, A FAMÍLIA, O BULLYING E
AS RESPONSABILIDADES
Aline Lopes Oliveira
48 APRENDER OU NÃO APRENDER,
EIS A QUESTÃO
179 ARTES E SUAS CONTRIBUIÇÕES
Adriana Santana de Silva Arruda
NA EDUCAÇÃO
Alzira da Silva
58 CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA NO
PROCESSO TERAPÊUTICO DE PACIENTES 190 AS HORTAS ESCOLARES NO CONTEXTO DA
COM DEPRESSÃO EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Adrilene Braga Tiba Amadeu Ribeiro dos Santos Junior

69 DIDÁTICA 201 QUALIDADE DA EDUCAÇÃO BÁSICA X FORMAÇÃO


Alan Carlos Coelho do Nascimento DOCENTE NO CURSO DE PEDAGOGIA: UM
ESTUDO ACERCA DAS INFLUÊNCIAS NEGATIVAS
NO ENSINO FUNDAMENTAL I
77 A GESTÃO ESCOLAR E O TRABALHO Amanda Menozzi
PEDAGÓGICO COLETIVO
Alcione Teresa Hechert
223 VANTAGENS DO ENSINO BILÍNGUE PRECOCE
86 INCLUSÃO DE ALUNOS COM
Ana Cláudia Arruda de Carvalho
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
Aldair Calcanho de Oliveira
234 A NEUROPSICOPEDAGOGIA E OS
97 PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO
DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM
NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Ana Lucia Budim de Oliveira
Aldivânia Santos do Nascimento
248 FORMAÇÃO DOCENTE E O ENSINO SUPERIOR
109 A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DO
NO BRASIL: LEGISLAÇÃO E PRÁTICAS
EDUCADOR PARA A OFERTA DE UM
Ana Lúcia Teixeira de Freitas
ENSINO DE QUALIDADE
Aleciane Ferreira Nascimento da Silva 259 O ATO DE BRINCAR NA EDUCAÇÃO
INFANTIL - JOGOS E BRINCADEIRAS
Ana Maria Rodrigues Martim

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289 O PAPEL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO 417 A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E


INFANTIL NA ATUALIDADE BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Ana Paula Marques Batista Angelita Faria Marques de Oliveira

300 ALGUNS ASPECTOS DA SURDEZ E O QUANTO PODEM 429 A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA PARA
INTERFERIR NO DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Ana Paula Venegas Anita Rey Sinmon

312 AS TEORIAS DO CURRÍCULO E SUA RELAÇÃO COM 440 A RELAÇÃO DO PROFESSOR COM A
AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NOS DIAS ATUAIS IDENTIDADE DA CRIANÇA NA PRÉ-ESCOLA
Ana Rosa Diniz Junqueira Antonia Leda do Nascimento Ximenes

320 A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA 451 CONTRIBUIÇÕES DO LÚDICO


PSICOPEDAGOGIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Analu Pereira Ponciano Aparecida Lemos Hohmann

332 JOGOS E BRINCADEIRAS DA CULTURA 453 O QUE É O FRACASSO ESCOLAR E POR QUÊ
AFRICANA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA IMPLEMENTAR UMA NOVA PEDAGOGIA?
Anderson Gonzaga Lopes Correia Aparecida Rolim da Silva Rubinho

341 NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM 471 A INFLUÊNCIA DA LUDICIDADE PARA


Andrea Aparecida Tavares Alves O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DO
ALUNO COM MÚLTIPLA DEFICIÊNCIA
351 A DIFICULDADE ENCONTRADA ENTRE A GESTÃO E O Arcângelo Rosa Junior
CORPO DOCENTE NO DESENVOLVER DO TRABALHO
Andrea Gomes Malta dos Santos
483 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
Arlete dos Santos Pacheco
346 A INFLUÊNCIA DA AFETIVIDADE NO
PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE
502 ARTE E MUSICALIDADE: PERSPECTIVAS PARA
CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
A EDUCAÇÃO BÁSICA
Anna Rita de Almeida
Berenice Montemurro Bueno
360 A INCLUSÃO EDUCACIONAL
Andrea Helena da Silva Bernardes 516 A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE
HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Bruna Mazerino
370 OS ESTUDOS EM PSICOPEDAGOGIA E A SUA
CONTRIBUIÇÃO PARA O PROCESSO 535 A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
DE ENSINO E APRENDIZAGEM Camila Cristina do Nascimento
Andréa Rodrigues Marin de Souza

381 A ESCOLA DO SÉCULO XXI NA FORMAÇÃO 545 GÊNERO NA EDUCAÇÃO INFANTIL


SUPERIOR PELA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Camila Ueno
Andreia Alves Caires

394 O ENSINO DE ARTES NA EDUCAÇÃO INFANTIL 553 A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO POR


Andreia Jodas Nogueira MEIO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Carla Ferreira de Araujo
408 A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS NO
561 A GESTÃO DEMOCRÁTICA NO ENSINO PÚBLICO E
DESENVOLVIMENTO INFANTIL
AS SUAS PRINCIPAIS FORMAS DE CONSOLIDAÇÃO
Andreia Mangetti Riguetti
Carla Simone Vicente Tavares de Oliveira

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570 A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO 725 O EDUCAR NA CRECHE


PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM Daniela Aparecida da Silva
Cibele Fabrício Sampaio Schroeider
733 DEFICIÊNCIA AUDITIVA NO
582 O PAPEL DO ESTADO FRENTE ÀS POLÍTICAS CONTEXTO EDUCACIONAL
PÚBLICAS EDUCACIONAIS Daniela Patricia Almeida Machado
Cibele Bento Santos
751 A NEUROCIÊNCIA E A DIFICULDADE
597 MODOS DE SUBJETIVAÇÃO NA EDUCAÇÃO DE APRENDIZAGEM
INFANTIL: UM OLHAR SOBRE O CURRÍCULO Débora Gomes Leal
Cintia Cristina Castro de Melo
766 DISCIPLINA DE CIÊNCIAS DA NATUREZA E O
COMBATE AO TRÁFICO E ANIMAIS SILVESTRES
610 BILINGUISMO NA EDUCAÇÃO DO SURDO
Diego Daniel Duarte dos Santos
Cíntia Dias de Souza

776 O BRINCAR E SUA IMPORTÂNCIA


619 A EVOLUÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA NA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA Dinair de Assis Antunes
Cintia Fernandes da Silva França
785 O PROCESSO DE APRENDIZAGEM ATRAVÉS DE
634 TRANSTORNO OPOSITOR E DESAFIADOR: UMA JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS PARA
ANÁLISE DAS COGNIÇÕES E AÇÕES INFANTIS CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS
Clarice Ribeiro dos Santos Nunes Edilene Costa Conceição Valentim

645 A SOCIALIZAÇÃO DO ALUNO COM 800 A IMPORTÂNCIA DO APRENDER BRINCANDO


MÚLTIPLAS DEFICIÊNCIAS Edileusa Santana dos Santos
Claudia do Amaral Pereira

656 A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO 810 ALUNOS AUTISTAS NO ENSINO FUNDAMENTAL


DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DAS CRIANÇAS Edilson da Silva Santos
NOS ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Cláudia Silva dos Santos
821 O USO DO LÚDICO NA ALFABETIZAÇÃO
669 A CONTRIBUIÇÃO DO DIREITO EDUCACIONAL Edna Aparecida da Costa
NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA DE QUALIDADE
Cleone Roberta de Souza 829 MEMORIAL DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E A
RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO DE JOVENS E
680 OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO ADULTOS (EJA)
INCLUSIVA NO ENSINO REGULAR Edson Sernagiotto
Cristiane Amaro da Silva
848 DESAFIOS DA PROFISSÃO DOCENTE
688 PSICOMOTRICIDADE: O ESTÍMULO Elaine Aparecida Woszak
PELA ATIVIDADE LÚDICA
Cristiane Matos Ferreira
859 A CONTRIBUIÇÃO DO BRINCAR NA
702 OS TRANSTORNOS - NAS CRIANÇAS E EDUCAÇÃO INFANTIL
ADOLESCENTES LIDANDO COM FRUSTRAÇÕES Elaine Bento Silva
Daniele Nery Santos Lima
874 PSICOMOTRICIDADE E APRENDIZAGEM:
716 BRINCAR HEURÍSTICO CONTRIBUIÇÕES PARA AS PRÁTICAS
Débora Caetano da Silva Pinheiro ESCOLARES NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Elaine Cristina de Jesus Souza

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884 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 1032 MELHORIA NA APRENDIZAGEM


Elâine Lopes DO ALUNO DO EJA
Fernanda Sampaio Gomes

898 APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA: UMA 1044 O BRINCAR E A BRINCADEIRA


ABORDAGEM DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DO DENTRO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
PROFESSOR DO ENSINO FUNDAMENTAL I Gisele Mukai de Miranda Novais
Elizete C. Bento
1051 O REGISTRO COMO INSTRUMENTO
913 PRÁTICAS LÚDICAS DE APRENDIZAGEM AUXILIADOR DA PRÁTICA PEDAGÓGICA
NO CONTEXTO ESCOLAR Gleice Carvalho Martins
Evandro Fabrício Américo de Campos
1060 AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASIL
922 A IMPORTÂNCIA DO USO DA TECNOLOGIA Ilza Rodrigues Ferreira
NO ENSINO DE HISTÓRIA
Evelin Pereira Montagnini
1069 SER PROFESSOR DE BEBÊS E CRIANÇAS
935 A NEUROCIÊNCIA APLICADA A APRENDIZAGEM PEQUENAS NAS CRECHES E CENTROS DE
DO DEFICIENTE INTELECTUAL EDUCAÇÃO INFANTIL; OS DESAFIOS DE
Fabiana Cristina Cirino PRÁTICAS DOCENTES NÃO CONTEUDISTAS
Inalda Maria de Lima Cordeiro
949 A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA FORMAÇÃO
DAS CRIANÇAS DE ZERO A TRÊS ANOS
Fabiana Ribeiro de Almeida 1079 GESTÃO DEMOCRÁTICA EM ESCOLAS PÚBLICAS
Isabel Aparecida Dias
965 RELAÇÕES ENTRE A DIVERSIDADE E O TRABALHO
COM AS NECESSIDADES EDUCACIONAIS
1088 SURDOCEGUEIRA E DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA:
ESPECIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
NECESSIDADES E PAPEL DO PROFESSOR
Fabiana Ribeiro de Macedo Costa
Janaína Aparecida de Oliveira Barbieri
974 A EXPERIÊNCIA DO ATO DE LER 1096 A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA MELHORIA
NA EDUCAÇÃO INFANTIL DA APRENDIZAGEM DOS ALUNOS DO EJA
Fabiana Vieira de Mesquita Janaina Braga dos Passos de Almeida
984 O PAPEL DA ESCOLA NO COMBATE À 1109 CONTAÇÃO DE HISTÓRIA
IDEAÇÃO DO SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Fabio Roberto Manente dos Santos Jéssica Cheine Benato Lima
994 A BRINCADEIRA E A CULTURA 1118 VALORIZAÇÃO DO ENSINO TÉCNICO INTEGRADO
NA EDUCAÇÃO INFANTIL Jéssica Kastein Rodrigues
Fabio Valim dos Santos
1007 O DESENHO E AS CORES NA PRIMEIRA INFÂNCIA
NA PERSPECTIVA DA PEDAGOGIA WALDORF 1134 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
Fabíola Oliveira Dias Góes NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Joceslaine Gomes Campos
1016 AS CONTRIBUIÇÕES DA
NEUROPSICOPEDAGOGIA NO 1150 ASPECTOS EDUCACIONAIS BRASILEIROS E A
PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA
Flavia Cristina Pereira Figueiredo Jorge Fernando Inácio

1162 CONTOS AFRICANOS NO


1025 AVALIAÇÃO APRENDIZADO
ENSINO FUNDAMENTAL I
Fátima Regina da Rocha
José Jenilson Ferreira

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1171 DOMINOBIO: UMA FORMA DIVERTIDA 1324 AS CONTRIBUIÇÕES DAS MÚSICAS E


DE APRENDER BIOLOGIA, PROMOVENDO PARLENDAS PARA A APRENDIZAGEM
DISCUSSÕES E ENRIQUECENDO O PROCESSO Luana Kaina Santos
DE ENSINO-APRENDIZAGEM
José Oliveira dos Santos 1333 A EDUCAÇÃO INFANTIL E AS
APRENDIZAGENS LÚDICAS NA INFÂNCIA
Luciana Donato Oliveira
1192 JOGOS E BRINCADEIRAS
NO COTIDIANO ESCOLAR 1344 A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA COMO MÉTODO
Joyce Santos de Souza Ferreira DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Lucilene Daciulis Caetano
1201 AÇÃO SUPERVISORA NAS ESCOLAS DA
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO: 1358 A LITERATURA INFANTIL E A
UM OLHAR SISTÊMICO SOBRE AS FORMAÇÃO DE LEITORES
CRECHES PARCEIRAS Luiz Fernando Nogueira Oliveira
Juliana Gouveia Miguel
1367 FORMAÇÃO, PRÁTICA E PROFISSÃO DOCENTE
1211 CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS – Luizelina Farias Lima
LER E OUVIR HISTÓRIAS INFANTIS
Juliana Leandro Feriance de Oliveira 1382 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E AS NOVAS
NECESIDADES DAS GERAÇÕES: UMA
1228 DEGRADAÇÃO DOS BIOMAS BRASILEIROS RELAÇÃO DE APRENDIZADO BILATERAL
Julio Cesar Polanchini Ligia Paperini Silva

1393 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E AS NOVAS


1242 A INFLUÊNCIA DA ARTE NO NECESSIDADES DAS GERAÇÕES: UMA
PROCESSO PEDAGÓGICO RELAÇÃO DE APRENDIZADO BILATERAL
Kátia Capelosa Silva Garcia Marcia Pereira de Andrade do Carmo

1253 A ORGANIZAÇÃO DOS CANTINHOS TEMÁTICOS 1406 CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL:


NA ROTINA DA EDUCAÇÃO INFANTIL ESPAÇO DE APRENDIZAGEM,
Katia de Oliveira Alves EXPERIMENTAÇÃO E SOCIALIZAÇÃO
Marias das Graças Reis Bomfim
1267 O USO DO CONTO NA EDUCAÇÃO
INFANTIL E O DENVOLVIMENTO DA LÍNGUA 1419 A IMPORTÂNCIA DA PARLENDA NO PROCESSO
Kátia Medeiros da Silva
DE ALFABETIZAÇAO E LETRAMENTO
Maria Aparecida Feitosa
1280 JOGOS E BRINCADEIRAS
COMO RECURSO DIDÁTICO 1426 A INCLUSÃO DE CRIANÇAS PORTADORAS DE
Laís Lopes Prado NECESSIDADES ESPECIAIS NO CONTEXTO
ESCOLAR
1290 A VISUALIDADE ARTÍSTICA Maria Eulália dos Santos Neto
EM CRIANÇAS DE 0 A 6 ANOS
Kátia Katsue Nishio
1436 A IMPORTÂNCIA DO DESENHO INFANTIL NO
1302 A IMPORTÂNCIA DO MOVIMENTO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM
CORPORAL E CRIATIVO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Maria Simone da Costa Pondetdura
Laudiceia Oliveira
1453 PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA CONSTRUÇÃO
1312 O GÊNERO CAUSO COMO INCENTIVADOR DA
DA GESTÃO DEMOCRÁTICA
LEITURA E DA ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL
Marilei da Silva Couto Lima
Leila Isabelita Pereira Ferreira de Oliveira

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1470 A MAGIA DA HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO 1632 PERSPECTIVAS LÚDICAS DE BRINQUEDOS E


Neide Maria das Luz Santos BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Roberta Matiazzo Cappellani Silva
1481 A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA
EDUCAÇÃO FÍSICA INFANTIL 1642 A PSICOMOTRICIDADE NA
Neiva Matos Sanches AQUISIÇÃO DO ESQUEMA CORPORAL
Roberta Rinaldi
1491 COMO AVALIAR NA FASE
INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO
1649 OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO
Patricia Teixeira Cavallotti Silva
INCLUSIVA NO AMBIENTE ESCOLAR
1499 O PAPEL DO PROFESSOR Rosana Kirilauskas
DE EDUCAÇÃO INFANTIL 1661 PSICOPEDAGOGIA E OS DESAFIOS DA
Paula Renata Araújo Ferro APLICABILIDADE: AS FUNÇÕES SOCIAIS
1511 ARTE, MUSEU E EDUCAÇÃO: EM TORNO DO OBJETO DE ENSINO
UMA BREVE REFLEXÃO Rosania Borges do Santos Silva
Prescilla Guilhermina Bento
1672 A MÚSICA COMO INSTRUMENTO
1526 OS CONCEITOS DE GÊNERO DE APRENDIZAGEM NA
E SEXUALIDADE NA ESCOLA EDUCAÇÃO INFANTIL
Priscila Almeida Silva Rosiane Araujo Costa Santos
1542 A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE
HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 1680 A RELEVÂNCIA E A MEDIAÇÃO DO
Patrícia Freitas Oliveira ENSINO DE MATEMÁTICA NAS
SÉRIES INICIAIS
1551 A INFLUÊNCIA DA LITERATURA INFANTIL
Sandra da Silva Domingos Lopes
FOMENTANDO O DESPERTAR LEITOR
NA EDUCAÇÃO INFANTIL 1696 O LÚDICO COMO FACILITADOR DO ENSINO
Patricia Meg Ayres Sousa DA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
1563 A NEUROPSICOPEDAGOGIA E A EDUCAÇÃO Sonia Silva Carmo Luiz
Rafael Andrade dos Santos 1710 PICHAÇÃO E GRAFITE: PROCESSOS
DE ASSIMILAÇÃO E OPOSIÇÃO
1574 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA ESCOLA Simone Bueno de Freitas Souza
Rafael da Silva Pereira
1724 A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E DOS
1583 O LÚDICO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E BRINQUEDOS NO DESENVOLVIMENTO MOTOR
ADULTOS: COMO TORNAR AS AULAS MAIS Tânia Aparecida Pardim Sena Delfino
DINÂMICAS PARA ESSA POPULAÇÃO
Renata de Carvalho Barra 1735 A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO
PROCESSO EDUCATIVO
1602 JOGOS E BRINCADEIRAS COMO Tatiana Batista
ESTRATÉGIAS DE ENSINO EM LÍNGUA
INGLESA NO ENSINO FUNDAMENTAL 1747 O DESENVOLVIMENTO DO
Renata Simone do Bem Ramos Alves RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
1609 O DESENHO INFANTIL E A IMPORTÂNCIA DA NO ENSINO FUNDAMENTAL
ARTE PARA CRIANÇA Thaisy de Castro Maia
Rizoneide Maria Dias
1758 A PSICOPEDAGOGIA E A APRENDIZAGEM
1621 JOGOS E BRINCADEIRAS NA
ESCOLA SIGNIFICATIVA NO “PROGRAMA DE ESTUDOS
Roberta Rodrigues da Silva DA RECUPERAÇÃO PARALELA”
Flávia Aparecida Miranda

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Revista Educar FCE - Março 2019

A PSICOPEDAGOGIA E SUA
CONTRIBUIÇÃO PARA O ENSINO
DA CRIANÇA SURDA
RESUMO: A surdez não implica no desenvolvimento cognitivo-linguístico da criança,
tudo ocorrerá normalmente desde que não haja outro impedimento para isso. A ausência
ou a falta de acesso a uma língua tem consequências gravíssimas, tornando o indivíduo
solitário, além de comprometer o desenvolvimento de suas capacidades mentais. Através
da língua nos constituímos como seres humanos, nos comunicamos e construímos nossas
identidades e subjetividades, adquirimos e partilhamos informações que nos possibilitem
compreender o mundo que nos cerca. E para auxiliar nessa tarefa a psicopedagogia lança
mão de seus recursos tão próprios e tão essenciais, dentro de todo o processo investigativo
psicopedagógico. Analisaremos a seguir alguns aspectos e caminhos que nortearam e
facilitaram o desenvolvimento cognitivo e linguístico dentro da abordagem psicopedagógica.

Palavras-chave: Psicopedagogia; Aprendizagem; Língua; Surdo e Surdez.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO A SURDEZ
Muitos foram os estudos e nas mais Ela é considerada como um estado de quem
diferentes épocas, com as mais diversas é surdo, ou seja, de quem não ouve nada. De
interpretações, algumas posições acordo com Biderman 2 (1998 apud Gesser,
demonstram que a ausência do som dificulta 2009, p.35) a surdez é uma deficiência física
a criança ter acesso à linguagem, implicando que impede a pessoa de ouvir. Mas então
diretamente no desenvolvimento abstrato podemos dizer que todo surdo é deficiente?
e reflexivo dos surdos, que por sua vez tem
seu pensamento voltado para o concreto. A definição que temos de deficiência
em alguns dicionários é a que consiste em
Outras pesquisas apontam que a uma falha, insuficiência e carência e será
competência cognitiva dos surdos é igual considerado deficiente aquele que é falho,
a das crianças ouvintes, elas passam pelas incompleto e imperfeito.
mesmas etapas do desenvolvimento, mas as
crianças surdas apresentam uma evolução Muitos surdos não acham e não querem
mais lenta. ser chamados de deficiente, pois para muitos
a surdez pode ser bem entendida e absorvida
Apesar da dificuldade em identificar quando é processada pela família, escola e
a surdez nos primeiros anos de vida, o amigos como algo natural.
desenvolvimento sensório-motor ocorre de
forma semelhante tanto nos ouvintes quanto Para muitos pesquisadores e para muitos
nos surdos. surdos chamá-los de deficientes é como uma
discriminação, pois a “deficiência” corrobora
Diante dos problemas de aprendizagem os uma atitude de desajuste social e individual.
primeiros passos para auxiliar o aluno dentro
do trabalho psicopedagógico é um olhar mais A forma como se deu a perda auditiva é
atento, a observação de sinais que a criança importantíssima, pois fatores como a idade
vem apresentando são fundamentais para da perda, a reação emocional dos pais e da
iniciar uma prática investigativa. família e, os possíveis transtornos associados,
ajudam a compreender e a buscar meios para
Nesse momento percebemos que o corpo auxiliarem no desenvolvimento da criança
e o comportamento da criança darão pistas de surda.
que algo está errado, o diagnóstico precoce
de uma surdez ou de alguma deficiência,
minimizam os reflexos negativos tanto para
a criança quanto para a família.

2
GESSER, Audrei. Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda.
1ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2009, p. 35.

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ENTENDENDO MELHOR Os objetivos da aprendizagem se tornam


A SURDEZ difíceis quando a criança surda precisa
adaptar-se a modelos educacionais criados e
A classificação do tipo de surdez voltados a crianças ouvintes.
possibilita um tratamento mais eficaz,
norteando o melhor tratamento a ser A criança precisa receber atenção e
seguido, favorecendo a escolha de meios estímulos voltados para a área educativa assim
que possibilitem a aquisição da linguagem de que detectada a surdez, uma estimulação
sinais ou a oral. sensorial com atividades comunicativas e
expressiva utilização da libras.
[...] o principal objetivo continua sendo a
aquisição de um sistema linguístico organizado
quando a criança perde a audição. Já depois Quando bebês os choros, os balbucios e
dos 3 anos, o objetivo é manter a linguagem arrulhos nos primeiros 04 meses são iguais
adquirida, enriquecê-la e complementá-la [...]. tanto nas crianças ouvintes quanto nas
(COLL et al., 2004, p. 175).3
crianças surdas, mas a partir dos 04 aos
06 meses de idade essas expressões vão
Ela pode ser classificada como condutiva, diminuindo nas crianças surdas.
que é caracterizada pela alteração na orelha
externa (meato acústico) e/ou orelha média A ausência do retorno de suas próprias
(membrana timpânica, cadeia ossicular, expressões vocais contribui decisivamente
janelas oval e redonda ou tuba auditiva). para a não aquisição da linguagem.

A surdez mista é na verdade, uma alteração A idade em que a criança tem a perda
condutiva e neurossensorial, que causa danos auditiva é um fato fundamental para o seu
nos ouvidos interno e externo e, dificulta a desenvolvimento, pois se for antes dos 03
passagem dos sons e traz prejuízos ao nervo anos de idade terá o que se chama de surdez
auditivo. pré-locutiva.

E por último a surdez neurossensorial, que Depois dos 03 anos há a surdez pós-
afeta a cóclea e/ou o nervo auditivo. locutiva que ocorre após a aquisição da fala,
isso produzirá um efeito diferente para o
Sea criança for surda profunda, desenvolvimento da criança.
o desenvolvimento simbólico e
acompanhamento dos pais ajudam a Nessa faixa etária a criança tem maior
favorecer um ambiente ideal para o seu domínio cerebral e já consegue manter sua
desenvolvimento e contribuirá também para linguagem interna.
a superação de suas limitações.

3
COLL, César et al. Desenvolvimento Psicológico e Educação (transtornos de desenvolvimento e necessidades educativas
especiais). Trad. Fátima Murad. Vol.3. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2004, p.175.

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E é nesse sentido que de acordo com AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM


Vygotsky, que a linguagem ocupa “um DE SINAIS
papel essencial na organização das funções
superiores”. 4 (1984 apud GESSER, 2009, Sua evolução é parecida com a da
p.77) linguagem oral, na fase do balbucio tanto
crianças surdas quanto às crianças ouvintes
Diferente do que ocorre com os menores possuem aspectos semelhantes, embora a
de 03 anos, que ainda não conseguem criança surda apresente um balbucio manual
estabelecer uma organização neurológia e a ouvinte o balbucio vocal.
e apresentam uma fragilidade em sua
competência linguística. No processo que antecede a aquisição da
linguagem de sinais ou a fala há semelhanças,
pois o balbucio manual apresenta aspectos
DANDO VOZ AO SURDO: característicos que estão presentes no
AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ORAL balbucio vocal, seja pela duplicação das
expressões (vocal e manual), pela etapa
Esse é um processo que não é natural para silábica ou pelo ritmo.
as crianças surdas e, precisa ser trabalhada
constantemente pelos adultos, de uma forma A evolução e as configurações que eram
planejada e direcionada. aprendidas com os pais e colocadas em
prática pelas crianças.
As palavras pouco a pouco serão
incorporadas ao vocabulário das crianças e Os surdos possuem um conhecimento
esse sem dúvida é um trabalho que requer da realidade muito restrito, pois eles têm
muito esforço e dedicação. dificuldade em receber informações e
comprovadamente as crianças surdas que
De acordo com algumas pesquisas adquirem a língua de sinais desde pequenas.
realizadas ainda na década de 80, crianças
com surdez profunda não conseguem ter dez Esses conseguem ter uma abordagem
palavras em seu vocabulário, já as crianças mais reflexiva diante dos questionamentos
ouvintes nessa mesma faixa etária teriam o em relação as outras que não sabem a língua
dobro de palavras, “[...] não é a surdez que de sinais.
compromete o desenvolvimento do surdo
e sim, a falta de acesso a uma língua [...]”. 5
(GESSER, 2009, p.76)

4
GESSER, Audrei. Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda.
1ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2009, p. 77.
5
Idem, ibidem, p. 76.

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Revista Educar FCE - Março 2019

LIBRAS A ESTRUTURA DA LIBRAS


No Brasil a libras foi reconhecida como A língua de sinais tem sua gramática
língua na década de 60 e, diferente do própria, inicialmente os estudos fonológicos
que muitos pensam essa não é uma língua e morfológicos foram feitos na década de 60,
universal e, como qualquer outra língua é com a língua americana de sinais e, apontou
sinalizada cada uma de acordo com o seu os aspectos essenciais para a execução de
país de origem. um sinal e deu um nome a cada um deles.

Há uma língua de sinais chamada gestuno, • A configuração de mão (CM) traz o


nome esse de origem italiana que quer dizer formato da mão que deverá ser executado
“unidade em língua de sinais”, que também de acordo com cada sinal;
por sua vez, é tida como uma língua artificial,
criada por um determinado grupo de pessoas • o ponto de articulação (PA) e a locação
e com um objetivo específico. (L) que se refere a parte do corpo em que
os sinais são feitos;
A primeira vez que se o ouviu falar do
gestuno foi em 1951, em um Congresso • o movimento (M) é indicado por
Mundial da Federação dos Surdos (World uma seta ( ) e sinaliza a direção da
Federation of the Deaf - WFD), que objetivava movimentação que a mão fará, dando
integrar a língua de sinais no mundo todo. continuidade ao sinal. Mas vale lembrar
que nem todo sinal tem movimento;
A Comissão de Unificação de Sinais
através de seu comitê na década de 1970, Diversos outros estudos foram realizados
buscou selecionar alguns sinais objetivando e ao longo dessas pesquisas, outro ponto
padronizar um sistema de sinais universal. importante foi descoberto, a orientação da
mão (O), que se refere a direção dos sinais, ou
Grande parte dos surdos não é favorável e seja, o sinal pode ter a mesma configuração
receptivo a essa ideia, mas em contra partida, de mão mas, se tiver a orientação da mão
há um movimento gestunista, que procuram diferente serão dois sinais distintos.
divulgar esses sinais seja por vídeos, cursos
ou conferências mundiais dos surdos. No caso dos verbos alguns podem ser
flexionados como o verbo “ajudar” mantem-
se a mesma configuração de mão, mas há
alteração na orientação (O) da palma da mão
o que modifica o sentido do verbo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Na forma original o sinal quer dizer “ajudar Neste caso, a língua majoritária deve ser
alguém”, agora invertendo a orientação (O) ensinada ao surdo em sua modalidade escrita
da palma da mão passará para “ser ajudado e a sua introdução para os surdos deve ser
por alguém”, o mesmo ocorre com os verbos feito através da língua de sinais.
perguntar, cuidar entre outros.
Eles se apropriarão melhor do
No entanto, essa regra também é usada conhecimento, através da língua de sinais,
para algumas negativas, como querer e não facilitando a dinâmica do processo de
querer, saber e não saber, gostar e não gostar. ensino-aprendizagem e favorecendo a
Mas na libras há também sinalizações não transferência e agregando novos valores aos
manuais, que reforçam o sinal e colaboram conhecimentos já adquiridos anteriormente.
para a contextualização do mesmo, como as
expressões faciais, a velocidade, a entonação
e a hesitação. A AVALIAÇÃO
PSICOPEGAGÓGICA
Todos eles facilitam e contribuem para o
entendimento de um determinado sinal. Por Essa avaliação procurará informações
exemplo, os sinais dos verbos poder, precisar relevantes do ambiente familiar, condições
e possuir são extremamente parecidos, de aprendizagem e as condições educativas,
porém, a expressão facial, a intensidade e os favorecendo o processo de ensino-
movimentos pouco variados nos três sinais aprendizagem e pontuando uma solução
marcam a diferença entre eles. educacional mais indicada a ocorrência em
questão.
O que deve ficar claro é que a língua de
sinais não é uma mímica, não é um gesto, O papel fundamental do Psicopedagogo
nem uma pantomima ou um código secreto é manter uma relação interativa entre ele, a
que os surdos sabem. família, a criança e os professores, buscando
conhecer qual a origem dessa dificuldade
A falta de conhecimento levam as pessoas educacional, trazendo meios e experiências
a uma ignorância descabida, justamente por de aprendizagens que sejam incentivadoras
acharem que os surdos não podem falar a para as crianças.
língua oral.
A avaliação psicopedagógica utilizará
De acordo com Audrei Gesser, a língua como norte três eixos principais para as
de sinais não atrapalha a aquisição de outra intervenções: a família, a criança e a escola.
língua pelo surdo, ela garantirá ao surdo uma Ambos terão que passar por
maneira de relacionar-se com os outros e readequações objetivando auxiliar no melhor
favorecendo encontros intra e interpessoais. desenvolvimento da criança surda, aliando

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Revista Educar FCE - Março 2019

forças e traçando estratégias, que favoreçam Tudo Isso aliado a uma técnica mais
bons resultados em seus diferentes apurada, são importantes meios um
contextos. bom para desenvolvimento do trabalho
psicopedagógico.

A INTERVENÇÃO
PSICOPEGAGÓGICA O CURRÍCULO ESCOLAR
Quero destacar a importância dessa A comunicação manual é necessária para
ferramenta fundamental para um significativo facilitar a integração com a comunidade
processo de aprendizagem. escolar e, ter avanços em sua aprendizagem.
Mas é importante focar também na
Precisamos antes de tudo mensurar a comunicação oral para facilitar o “diálogo”
diferença entre dificuldade de aprendizagem, em sala de aula.
defasagem de conteúdos e imaturidade
neurológica. Como por exemplo:
• Cuidados com as condições acústicas
Existem varias definições que abordam e de visibilidade na classe;
essa temática, mas em sua maioria sempre
direcionam a culpabilização dessa não • Falar dirigindo o olhar para a criança;
aprendizagem a própria criança.
• Empregar todo tipo de meios de
As intervenções se fazem necessárias informações;
respeitando sempre a individualidade da
criança e as características do seu “problema”. • Facilitar a compreensão por meio de
mensagem escrita (lousa, transparência,
Devemos considerar essa criança como cartazes etc).
alguém capaz que vive em um contexto
familiar, escolar e social específico, que Na mudança curricular devemos incluir
vivencia situações e por isso, requer um conteúdos próprios da linguagem manual,
olhar mais atento. com os objetivos da área que se pretenda
estudar e unir um ao outro.
Tanto a avaliação como a intervenção
precisam ser feitas em caráter institucional, Precisamos levar em conta que, a
analisando os materiais utilizados pela criança surda têm de aprender elementos
criança, a metodologia utilizada pela unidade comunicativos e linguísticos, já as crianças
escolar, a avaliação escolar e a entrevista ouvintes aprendem espontaneamente.
com os professores.

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Revista Educar FCE - Março 2019

ESTRATÉGIAS O estímulo aos neurônios e as diferentes


PSICOPEDAGÓGICAS NA áreas do cérebro quando bem estimulados se
tornam mais rápidos e conseguem armazenar
APRENDIZAGEM DO SURDO uma maior quantidade de informações. Isso
possibilita maior habilidade na resolução de
A psicopedagogia dá caminhos para a problemas.
criança aprender conteúdos pedagógicos,
mas um dos grandes problemas nesse caso Com ferramentas pedagógicas adequadas
é grande quantidade de conteúdos que a o cérebro será potencializado e ampliará a
criança precisa aprender em pouquíssimo capacidade de utilização cerebral do aluno.
tempo. Toda essa parte biológica e cognitiva
devem ser levadas em conta, mas não é só
Nesse caso as coisas que ela está isso, aspectos emocionais, sociais e físicos
aprendendo precisa fazer sentido, caso influenciam diretamente na aprendizagem
contrário, ela não vai aprender e não vai se de qualquer criança.
apropriar desse conhecimento.
Muitas vezes a psicopedagogia tentar
O nosso sistema educacional preconiza a trabalhar todas essas dificuldades, se
memorização de conteúdos e não daquele esforçando ao máximo inibir as dificuldades
que se apropriou e consegue construir e de aprendizagem e um possível fracasso
compreender seu próprio conhecimento. escolar.

Isso inviabiliza uma qualificação dos E como a psicopedagogia pode auxiliar o


nossos alunos e um melhor aproveitamento ensino do aluno surdo?
do conteúdo aprendido em sala de aula.
Sabemos que esse processo ocorrerá
Questões emocionais e físicas precisam estar de uma forma e de um ritmo diferente em
integradas para que a questão cognitiva também relação ao aluno ouvinte, justamente porque
dê certo, para isso podemos fazer uma integração um utilizará sua percepção auditiva e o outro
entre as diversas disciplinas, favorecendo a sua percepção visual.
aquisição de novas habilidades e capacidades
para as crianças se desenvolver bem. A educação oralista não pode ser imposta
ao aluno surdo, obrigando-o a aprender como
Independente da faixa etária da criança os ouvintes e pontualmente será exatamente
o lúdico e o raciocínio lógico devem estar onde o psicopedagogo auxiliará.
presentes nesse processo de aprendizagem,
de uma maneira divertida o aluno Com alterações de planejamentos
desenvolverá melhor os conteúdos. escolares deverá também revisar atitudes e

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Revista Educar FCE - Março 2019

enaltecer o surdo em todos os seus aspectos, a enfrentarem da melhor maneira possível


principalmente na língua de sinais. todos esses entraves.

Esse será um papel de mediação entre o Dando aos pais, aluno e escola alternativas
surdo e tudo aquilo que o cerca e o faz se inibir e caminhos que possam ser percorridos
frente á sociedade. As questões estruturais, juntos, sem medo, sem pré-conceitos e sem
biológicas e emocionais dificultam tudo isso. dificuldades que prejudiquem a construção
desse elo que favorecerá a aprendizagem da
Ao Psicopedagogo cabe a tarefa de filtrar criança surda em todos os seus aspectos.
toda essa problemática e orientar a família

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo de nossas vidas temos convivido com padrões de
“normalidade” e tudo que foge a essa regra causa estranheza
e um certo desconforto, não pela “anormalidade” mas sim,
pela dificuldade que nós temos em se relacionar e conviver
com essa diferença.

E no caso do surdo isso fica evidente, pois a comunicação


se monta como uma barreira que impede essa integração,
então fica muito mais fácil eu ouvinte ignorar sua presença
do que tentar me comunicar ou aprender como me comunicar
com eles e quebrar esse obstáculo. ADRIANA APARECIDA DA
SILVA FELIX ARMOND
Esse tipo de pensamento facilita a propagação de Graduação em Pedagogia pela
preconceitos sociais, dificultando todo o processo de Universidade Braz Cubas-
aceitação e desenvolvimento do surdo em sociedade. UBC (2013); Especialista
em Psicopedagogia Clínica e
Institucional pela Faculdade
E a escola é a primeira etapa onde tudo isso acontece, Aldeia de Carapicuíba- FALC
por isso a participação da Psicopedagogia se torna tão (2017); Professor de Educação
Infantil e Ensino Fundamental I
importante, pois contribuirá para amenizar todos esses da Prefeitura do Município de
reflexos negativos que impedirão o desenvolvimento social e São Paulo - na EMEI Vila Natal –
cognitivo da criança surda, trabalhando integralmente com a Diretoria Regional de Educação
Capela do Socorro.
escola e com os pais, traçando com objetivos claros projetos
e planejamentos que venham satisfazer e comtemplar o
aluno surdo em sua totalidade.

Isso vai muito além de conquistar boas notas, de aprender,


de se comunicar e de fazer amigos.

O que os surdos buscam na verdade é conquistarem sua


real identidade, de serem respeitados e de conseguirem
como qualquer outra pessoa de se sentir parte do todo, de
não serem vistos como diferentes, “anormais” ou deficientes.

Essa indiferença está presente nos olhos daqueles que


veem, atitudes como essas nos independem de estreitar
laços e poder aprender mais com o outro rompendo todo o
silêncio que existe.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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série Atualidades Pedagógicas-n.4, Brasília: MEC/SEESP, 1997.

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Subsídios para Organização e Funcionamento de Serviços de Educação Especial. Brasília:


SEESP, 1995.
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares-
estratégias para a educação de alunos com necessidades educacionais especiais. Brasília:
MEC/SEF/SEESP, 1999.

BRUNN, Elis Juliana Pavioto. Luciene Blumer. A Psicopedagogia e a Educação Inclusiva:


aluno com surdez. Revista Conteúdo. Disponível em:< http://www.conteudo.org.br/index.
php/conteudo/article/viewFile/62/55> Acesso em: 05 de Janeiro de 2019.

COLL, César et al. Desenvolvimento Psicológico e Educação (transtornos de desenvolvimento


e necessidades educativas especiais). Trad. Fátima Murad. Vol.3. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed,
2004.

COSTA, Dóris Anita Freire. Superando limites: a contribuição de Vygotsky para a educação
especial. Revista Psicopedagógica. Disponível em:< http://pepsic.bvsalud.org/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862006000300007> Acesso em: 07 de Janeiro de
2019.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Aurélio Júnior: dicionário escolar da língua


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GESSER, Audrei. Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de
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GONÇALVES, Arlete Marinho. SANTOS, Antônio Luís Parlandin dos. Alfabetização da


criança surda: concepções e identidades. Disponível em:< http://www.periodicos.ufpb.br/
index.php/rec/article/viewFile/14059/7993> Acesso em: 12 de Janeiro de 2019.

LOCATELLI, Adriana Cristine Dias. VAGULA, Edilaine. Fundamentos da educação especial.


São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.

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NARDES, Vilma Leite. Libras e as intervenções psicopedagógicas no processo de aprendizagem


do deficiente auditivo. Disponível em: < http://www.efdeportes.com/efd189/aprendizagem-
do-deficiente-auditivo.htm> Acesso em: 14 de Janeiro de 2019.

OLIVEIRA, Ivanilde A.de. Saberes, imaginários e representações na educação especial: a


problemática ética da “diferença” e da exclusão social. 2ªed. Petrópolis: Vozes, 2005.

PEREIRA, Maria Cristina da Cunha (Org.). Leitura, Escrita e Surdez. 2ª ed. São Paulo: FDE,
2009.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O SELFIE PRESENTE NO MITO DE


NARCISO SOB O CONCEITO DA
MIMESE DE PLATÃO E ARISTÓTELES
RESUMO: Este artigo aborda temas da Estética, campo que se relaciona com a sensibilidade.
Palavra de origem grega AISTHESIS que se define como sensibilidade: conhecimento pelos
cinco sentidos. É no estudo da estética que Platão e Aristóteles definem a mimese. E com a
mimese se pode analisar o mito de Narciso. Comportamento atemporal percebido hoje nas
selfies que são captadas por aparelhos celulares.

Palavras-Chave: Estética; Platão; Aristóteles; Mimese; Selfie;

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO O Selfie analisado perante o entendimento


de Platão e Aristóteles remete a reflexão sobre
O que achavam os primeiros pensadores os possíveis olhares neste comportamento,
sobre a estética? Para Platão o mundo se que busca eternizar momentos e ao mesmo
dividia em dois mundos: a) o mundo sensível, tempo a perfeição do ideal lugar e imagem.
o que é percebido pelos sentidos; e b) o
mundo inteligível, sendo o mundo das ideias Narciso, também praticou esta busca
perfeitas. Ou seja, para ele o mundo imitado interior de perfeição, o que o distanciou
nunca teria a exatidão do mundo real. do mundo real. Entretanto, a imagem do
lago, para Narciso, o seduzia mais do que as
Mais adiante, Aristóteles, seu aluno, imagens reais, a ponto de ficar olhando-se
discordava das ideias perfeitas da no reflexo do lago e abandonar o mundo real
representação do real, visto que a ilustração que o cercava.
está na possibilidade de criarmos o novo
com base em coisas que já existem.
A MIMESE
Diante desses entendimentos, surgem os
conceitos da mimese para Platão e Aristóteles, Dentro da área definida: estética, recorta-
que serão os embasamentos explorados e se as teorias a respeito da mimese na
elucidados nesta pesquisa para estudo do concepção de Platão e Aristóteles, posto
Mito de Narciso e o comportamento do que foram precedentes nesta temática.
selfie na sociedade contemporânea, visto
que ambos recorrem à imagem refletida de Do grego mímesis, pode ser entendido
si como busca de identidade e construção. como imitação; podendo ainda, haver outras
derivações: mimetikos como arte de poeta,
Sendo a poesia educadora da Grécia na escultor, pintor; ainda, mimos, ligados a
época de Platão, ele depara-se com a força da rituais místicos da dança; e também como
ilusão da imagem, percebendo que a imagem mimeisthai que pode ser entendido tanto
chama mais a atenção do que o real, possuindo como falsificar a encenar. (RUFINONI, 2013,
assim mais poder para convencimento. Por p. 162).
isso a filosofia adentra a questão estética e
analisa a verdade dentro do real e o refratado Platão em seu livro A República discute
do real (imagem). Para Sócrates a arte difere qual o modelo ideal de ensino na formação
da verdade por isso que dentro dela (arte) dos jovens para uma sociedade mais correta.
é possível criar tudo. Ou seja, para ele a É valendo-se dos questionamentos de
“mimese” não remete a vida real, pois a arte Sócrates a Glauco que surgem as reflexões
é apenas uma representação de imagem do a respeito da imitação. Sócrates questiona o
real, faltando outras vertentes do real. fato de a imitação ser uma não verdade da
realidade. Ou seja, a imitação da arte não

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Revista Educar FCE - Março 2019

pode representar a realidade, mas apenas a parte do processo da aprendizagem humana,


verdade disfarçada. Tomemos como exemplo declara:
disso o Sol, e uma pintura de um Sol sobre
uma tela, por mais bela, radiante, e idêntica A tendência para a imitação é instintiva
no homem, desde a infância. Neste ponto
à imagem verdadeira, a pintura nunca será distinguem-se os humanos de todos os outros
o Sol verdadeiro, não sendo capaz de dar seres vivos: por sua aptidão muito desenvolvida
luz e os benefícios que só existem no astro para a imitação. Pela imitação adquirimos
nossos primeiros conhecimentos, e nela todos
real, o que torna a pintura uma mentira da experimentamos prazer. (ARISTÓTELES, 2001,
realidade. E assim reflete: p. 4)

Sócrates — Apoiando-nos nestes exemplos, Este filósofo entende a mimese não


procuremos agora descobrir o que pode ser o
imitador. [...] como uma mentira do real, mas como uma
Sócrates — Sendo assim, a imitação está longe possibilidade de representação do real para
da verdade e, se modela todos os objetos, é despertar o conhecimento e reconhecimento
porque respeita apenas a uma pequena parte
de cada um, a qual, por seu lado, não passa de da realidade.
uma sombra. Diremos, por exemplo, que o pintor
nos representará um sapateiro, um carpinteiro Entretanto, a intenção não era reproduzir
ou qualquer outro artesão, sem ter o mínimo
conhecimento do seu ofício. Contudo, se for “a verdade” através da imitação, mas que
bom pintor, tendo representado um carpinteiro através do real se possa criar o novo, para
e mostrando-o de longe, enganará as crianças e criação do possível no mundo das ideias.
os homens tolos, porque terá dado à sua pintura
a aparência de um carpinteiro autêntico. [...] “É uma reposição de signos do mundo que
(PLATÃO, 2004, p.321/324, grifo meu) perfazem um outro mundo poético, cujo
estatuto não é o da cópia, mas o da criação”
Diante disto, neste livro Platão justifica (RUFINONI, 2013 p. 166). Por exemplo, o
seu pensar a respeito da mimese utilizada unicórnio, o duende, etc, todos os elementos
pelos poetas, pintores, e artistas em geral, utilizados para suas formações fazem parte
como forma de representação para o ensino, do real, embora de uma forma diferente.
sendo uma forma mentirosa para conceituar Foi então que surgiu a verossimilhança, que
assuntos e temas relevantes à formação de traz a aparência da vida real, mas com uma
uma sociedade ideal que eles almejavam, liberdade que só na arte é permitido.
“a mimese intervirá como fator de engano
e ilusão, ligado aos encantos da arte e à Portanto, Aristóteles discordava das ideias
ingenuidade dos ouvintes.” (GARGNEBIN, perfeitas transmitida através da mimese, já
1993, p.70). que acreditava que as ideias bela e o belo
já estão nas próprias coisas reais, sendo
Mas tarde, Aristóteles, um dos alunos de captadas pelo artista, em um método:
Platão se diverge neste raciocínio e traz nova proporcionalidade, claridade e na simetria.
ideia a este respeito. Para ele a imitação faz

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Revista Educar FCE - Março 2019

Ainda na visão do autor, a mimese é dada O selfie é mais uma representação da


como algo prazerosa realidade de forma a imitar e representar a
realidade. Posto que se pode registrar uma
Os seres humanos sentem prazer em olhar real ou não real imagem. Exemplo disso é tirar
para as imagens que reproduzem objetos. A
contemplação delas os instrui, e os induz a uma foto sorrindo estando interiormente
discorrer sobre cada uma, ou a discernir nas triste naquele momento.
imagens as pessoas deste ou daquele sujeito
conhecido.
Se acontece alguém não ter visto ainda o original, Palavra da língua inglesa que significa
não é a imitação que produz o prazer, mas a autorretrato de acordo com o Dicionário
perfeita execução, ou o colorido, ou alguma online Dicio (2018), o selfie passa a ser uma
outra causa do mesmo gênero. (ARISTÓTELES,
mimese no sentido platônico, pois distorce
2001, p. 5)
a realidade concreta, uma vez que a pessoa
escolhe aquilo que quer mostrar e a forma
Assim, entende-se as divergências de que quer mostrar de si mesma, além disso, a
pensares dos filósofos em relação ao mesmo imagem pode ser modificada com utilização
tema, sem deixar de contextualizar que Platão de um foto shop e ser utilizada como meio
buscava para mimese um significado de real de persuasão para imitação de beleza e
x imitação como exemplos de conceitos padrões.
para formação de uma sociedade perfeita,
sem vestígios de farsas e irregularidades. De outra forma, a selfie pode ser
Aristóteles compreende a mimese como compreendida como representação da
real x representação e a difere de uma realidade, na visão de Aristóteles. Não sendo
negatividade, mas atribui um patamar de a realidade, mas apenas uma demonstração
sensibilidade, subjetividade para criação do dela.
novo artístico.
Os homens nas cavernas faziam uso deste
recurso, com seus desenhos registravam
O SELFIE colheita, estação do ano, seu meio, entre
outros.
Utilizando estes conceitos da mimese como
base para análise do comportamento social e Os registros de uma imagem parece ter o
poder de apreender a realidade. [...] Ainda
mundial que é o selfie na vida das pessoas, que estes desapareçam, o fato de terem sido
podemos identificar que “a pessoa pode capturados sob a forma de imagem perpetuará
construir sua imagem, criar um personagem, sua existência, não permitindo que ele caia no
esquecimento, mas o traz a vida pela memória
uma nova identidade, mesmo que virtual, faz que evoca. (COHN, 2015 p.8)
recortes de fatos, e dispara aquilo que deseja
expor sobre si e seu cotidiano” (COHN, 2015
p. 7).

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Revista Educar FCE - Março 2019

São imagens usadas para testemunhar cenas do indivíduo e também acontecimentos


relevantes que representam uma realidade vivida.

O mito de Narciso alude à busca da eternização da beleza através da imagem, já que diz
à história que

[...] Narciso debruça-se sobre a água, tentando apaziguar a sede, mas, ao fazê-lo, uma outra sede cresce
dentro dele: enquanto bebe, fica seduzido pela imagem que vê refletida na água. Fica em êxtase diante de si
próprio e, sem se mexer, com o olhar fixo, parece uma estátua de mármore de Paros. Contempla, estendido
no solo, dois astros, os seus próprios olhos, os seus cabelos dignos de Baco, dignos também de Apolo, as
suas faces imberbes, o seu pescoço de marfim, a sua boca singular, o rubor que tinge a brancura nevada da
sua tez. Admira tudo aquilo que nele inspira admiração. Deseja-se, ignorando-o, a si próprio. Os desejos que
sente, é ele próprio que os inspira. É ele o alimento do fogo que o incendeia. Quantas vezes atirou beijos à
onda enganadora! Quantas vezes, para agarrar o pescoço que estava a ver, mergulhou os braços na água, sem
conseguir enlaçá-lo! Para quê esses esforços vãos para agarrar uma visão fugidia? O objeto do teu desejo não
existe! Afasta-te, e tu farás desaparecer o objeto do teu amor! Essa sombra que vês é o reflexo da tua imagem.
Ela não é nada em si própria. Foi contigo que ela apareceu, é contigo que persiste, e a tua partida dissipá-la-ia,
se tivesses a coragem de partir. (OVÍDIO, 2007)

O que é notável que ver-se refletido em uma imagem na contemporaneidade faz a junção
desses conceitos. Uma busca pela tentativa de capitar a realidade de forma a eternizar
momentos e ao mesmo tempo, apresentar este momento de forma prazeroso e belo, mesmo
que os sentimentos pessoais difiram disso.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A estética no Brasil ainda é recentemente explorada.
Sempre ficando em segundo plano, porque está ligada a
uma dimensão política (GAGNEBIN, 2013/vídeo). Uma vez
que trabalhar as sensações e os sentidos das artes, requer
entender os problemas políticos, sendo necessário o cidadão
entender da educação do seu meio e universal.

Estética como sensorial do homem e do mundo,


reflete sobre o que são as coisas belas; e, a epistemologia
(Conhecimento estético). É considerada como uma teoria das ADRIANA COSTA LIMA
artes, teorias das belas artes, teoria do belo do gosto, o valor
Graduação em Língua Portuguesa
do que sentimos. Vem do grego AISTHESIS com significado pela Universidade de Mogi das
de “percepção”. Cruzes (2003); Especialista na Área
de deficiência Auditiva/Surdez
pela UNESP (2016); Especialista
Ao equiparar o comportamento de Narciso com o selfie, em Ensino de Filosofia no Ensino
nota-se que ambos buscam o retrato representado de si, o que Médio pela UNIFESP (2018);
leva a perceber que a mimese nestes comportamentos, pode Professora de Ensino Fundamental
II e Médio - Língua Portuguesa -
ser apontada de forma a imitar (Platão) como a representar na EMEF Juscelino Kubitschek de
(Aristóteles) uma variedade de comportamentos existentes Oliveira, Professora de Educação
na vida real e que a vivência do real desperta a sensibilidade Básica – Língua Portuguesa - na
EE Joaquim Eugênio de Lima Neto.
para transpor à arte.

A beleza de Narciso, não era questionada pelas ninfas,


tão pouco por ele que se comparava ao padrão de Apolo-
deus da juventude. A beleza buscada atualmente é também
uma construção pessoal, na qual capta uma situação
conflituosa vivida na mente das pessoas para formação de
sua identidade, o que remete a mimese de Aristóteles, um
registro do pensamento humano. Mas por outro lado, não
abandona a mimese de Platão, que mesmo não fazendo parte
daqueles padrões de beleza impostos, buscam enquadrar-
se com apoio da tecnologia em aplicativos e programas de
computadores, cirurgia, procedimentos estéticos, que se
torne imitador do ideal e não do real.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Arte Poética. Disponível em: <http://saudedafamiliaufc.com.br/wp-content/
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COHN, Maria Cecília Falcão Mendes. Selfie, cultura do espelho: No espelho? Disponível
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Central de Texto, 2013.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSUMISMO INFANTIL: EDUCAR


PARA A SUSTENTABILIDADE
RESUMO: O crescimento do consumismo infantil na contemporaneidade vem suscitando a necessidade
de gerar medidas educacionais que promovam a sustentabilidade do planeta e consequentemente uma
melhor qualidade de vida; a educação tem um papel relevante na formação das crianças, e tratar assuntos
de tal relevância se torna imprescindível para a conscientização acerca do consumismo e em combate aos
impactos causados pela mídia, essa que instiga ao consumismo sem medir os danos psicoemocionais e
ambientais que são lançados através de seus anúncios; atuações benéficas ao meio ambiente e sustentar
os recursos naturais, estimulando ações como a reciclagem e reaproveitamento da água e da luz solar são
conceitos que devem fazer parte do cotidiano escolar, assim como, a politização do consumo em prol de
mantermos os bens naturais para a atual e as futuras gerações. A escola tem poder de conduzir ações para
promover a sustentabilidade do planeta Terra e consequentemente possibilitar a continuação da vida,
levando os educandos a criticidade e consciência ecológica é o cerne da questão.

Palavras-Chave: Criança; Consumismo; Mídia; Sustentabilidade;

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO de anos de maus tratos ao meio ambiente


têm prejudicado a fauna, a flora, a camada
A situação atual do planeta Terra de ozônio, diminuição dos recursos naturais,
está caminhando para a escassez dos entre outros; as diversas possibilidades para
recursos naturais, provocando uma grande reverter esse quadro, porém só pode ocorrer
preocupação em buscar alternativas de vida por meio coletividade, alternativas conjuntas
sustentável; por meio da educação pode- visando uma melhor qualidade de vida e um
se gerar o pensamento crítico que reflita consumo consciente dos recursos naturais,
em toda sociedade, convertidas em ações que possibilitará as futuras gerações terem
de cuidados para com a natureza, como a acesso a esses bens naturais, para que isso
reciclagem e reutilização da água da chuva ocorra depende de intervenções educativas,
e da energia solar, tendo em vista que os compenetradas em mudar o quadro atual,
recursos naturais podem se esgotar, requer implantado projetos, pesquisas e atividades
medidas sérias e bem elaboradas para que a a respeito da sustentabilidade e de
vida no planeta continue a existir. conscientização a respeito do consumismo.

Influenciar o comportamento dos


educandos abordando esta temática no CONSUMISMO X OSTENTAÇÃO
cotidiano escolar requer um minucioso
estudo por parte dos docentes e um trabalho Os danos causados pelo consumismo
contínuo junto aos discentes, onde a pesquisa exagerado produzem efeitos nas crianças e
e prática devem ser relevantes, ou seja, a na vida familiar; os fatores psicoemocionais
prática orientada pela pesquisa, de modo estão presentes no ato de consumir,
que a conscientização das nossas ações e do onde possuir, seguir os padrões da moda,
consumo sem exageros e desperdícios, onde representa “status”, popularidade, aceitação
o respeito às espécies e a preservação dos entre os colegas e a sociedade, um mundo
recursos possam ser uma realidade. que através da estética dita padrões de
comportamento e consumo.
Há necessidade de uma politização do
consumo, discutindo os impactos causados A inversão de valores transforma conceitos
pelo excesso, levantando questões como a que torna o “ter” como essencial e o “ser”
grande produção de lixo, a falta de locais supérfluo são estimulados pela mídia, que
para acomodá-lo e os efeitos ao meio através do “marketing” atraente e sugestivo,
ambiente produzidos pelos gases poluentes instiga a competitividade e o consumismo
devem ser frequentemente discutidos em infantil, levando a baixa autoestima das
sala de aula, de forma interdisciplinar; a crianças, erotização, comportamento frívolo,
degradação a natureza acarreta malefícios robotização e atitudes precoces.
para todas as espécies, onde os resultados

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Revista Educar FCE - Março 2019

Instituto Alana (2010, p. 64) ressalta como ostentação e exibicionismo sejam


os problemas enfrentados pelas crianças desvalorizados, encontrando outras formas
através da indução ao consumo pela mídia, de interação, onde o que serão valorizados
onde a competitividade e aceitação na deverão ser as atitudes benéficas, o mútuo
sociedade são buscadas por meio do uso respeito e a convivência pacífica. No
de produtos famosos: “O consumo pode cotidiano escolar é comum observarmos a
ser uma tentativa de preenchimento de um comparação e competição ocorrer entre os
grande vazio”. alunos, o interesse por produtos de marcas
famosas ou de algo da moda, isso indica
Em um outro trecho do Instituto Alana como o consumismo é estimulado, surgindo
(2010, p.70), um relato demonstra a ideologia assim a necessidade de consumir cada vez
implanta pela mídia: “Todo mundo busca uma mais para sentir-se incluso(a) e aceito(a).
sensação de pertencimento. Bem ou mal,
os bens de consumo parecem facilitar esse A escola precisa promover uma
caminho. Às vezes ter um celular bacana, um investigação e o apontamento dos
tênis da moda que aquela atriz usa nos dá a problemas ocasionados pelo consumismo
sensação de estar na moda”. A fala da jovem infantil, às consequências no meio social e
citada, revela o quão crianças e jovens são nas interações, propondo ações reflexivas
influenciados pelos veículos de comunicação. de consumo e sustentabilidade, onde ela
tem papel fundamental, pois tem o poder de
A desigualdade social existente no Brasil promover a criticidade de seus educandos e
é visível, no setor escolar, assim como em conduzir a reflexão em prol de mudanças em
outros setores, observamos essa desarmonia relação ao consumismo e sustentabilidade.
em nosso cotidiano, porém, uma alternativa
é salientar os valores éticos e morais e sua Para Ortiza e Cortez (2009, p.35), o
importância, não permitindo que a rejeição, comportamento precisa ser trabalhado
discriminação e preconceito aos que não se através de uma política de consumo e dos
encaixam no padrão considerado normal, valores éticos.
seja uma atitude aceitável ou considerada
normal no ambiente escolar ou fora dele, O consumo envolve também coesão social,
produção e reprodução de valores e é uma
respeitando as diferenças, colocando em atividade que envolve tomada de decisões
prática a inclusão social. políticas e morais praticamente todos os
dias. Quando consumismos de certa forma
manifestamos a forma como vemos o mundo,
Compreender os conflitos sofridos pela há, portanto, uma conexão entre valores éticos,
criança frente à exibição de objetos pessoais escolhas políticas, visões sobre a natureza e
pelos colegas, e buscar maneiras de auxiliá-la comportamento relacionados às atividades de
consumo.
com esclarecimento, gerando uma reflexão
e critica para que esse tipo de atitude,

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Revista Educar FCE - Março 2019

Freire refere-se à educação como SUSTENTABILIDADE PARA


propulsora para a qualidade de vida, o PRESERVAÇÃO DA VIDA
que torna possível por meio da reflexão e
criticidade do mundo em que vivemos. Esse A sustentabilidade é um tema que parece
pensamento vai ao encontro da proposta atual, porém há algumas décadas os olhares
deste trabalho que é explanar a necessidade científicos e políticos se voltam para ela;
da reflexão dentro da sala de aula e que ela atualmente a sociedade tem sido alertada
possibilite retornos na sociedade para uma acerca de ações sustentáveis quanto a este
melhor qualidade de vida. problema de degradação ao meio ambiente,
a biodiversidade e ao esgotamento dos
O melhor caminho para o processo desta busca recursos naturais, consequência de anos de
de apreensão das inter-relações dos temas
tem como ponto de partida uma reflexão desrespeito ao meio ambiente e má uso de
crítica em torno de Educação e Qualidade. seus recursos.
Não propriamente uma reflexão crítica sobre
a educação em si ou sobre a qualidade, mas
em torno de educação e qualidade que nos Segundo o IBGE, no site da Sala de
remete à educação para a qualidade, qualidade Imprensa - Indicadores de Desenvolvimento
da educação e educação e qualidade de vida. Sustentável - Brasil 2010: indica que o
(FREIRE, 2001, p. 21)
desenvolvimento sustentável está em
evolução, mas, ainda não é o ideal para
O grande valor social da educação e o seu garantir as futuras gerações o atendimento
poder de transformação junto à sociedade as suas necessidades.
possibilitam rever os conceitos e guiar ações
que possam alcançar resultados significativos O país mantém o ritmo de crescimento
econômico e evolui nos principais indicadores
para uma vida sustentável e mais saudável sociais, mas persistem desigualdades sociais
para todas as espécies. e regionais. Apesar de melhorias importantes
em alguns indicadores ambientais, ainda há um
longo caminho a percorrer para a superação
A transformação se dar ao tratarmos o da degradação de ecossistemas, da perda de
assunto com a devida seriedade, auxiliando biodiversidade e da melhora significativa da
nossas crianças na formação de opinião qualidade ambiental nos centros urbanos. Em
linhas gerais, é esse o diagnóstico dado ao
e ações revertidas para o bem comum, Brasil pelos 55 Indicadores de Desenvolvimento
considerando a real relevância dessa Sustentável 2010 (IDS 2010), produzidos ou
problemática, pois, o que está em questão reunidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE). Dando continuidade à série
não é apenas uma melhor qualidade de vida, iniciada em 2002 (com edições também em
mas sim, a conservação da vida no planeta 2004 e 2008), a publicação tem o objetivo de,
ou a extinção dela. ao entrelaçar as dimensões ambiental, social,
econômica e institucional, mostrar em que ponto
o Brasil está e para onde sua trajetória aponta no
caminho rumo ao desenvolvimento sustentável.
A quarta edição do IDS revela, assim, ganhos
importantes, mas indica que ainda há uma longa

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Revista Educar FCE - Março 2019

estrada pela frente para o Brasil atingir o ideal da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo
previsto em 1987 pela Comissão Mundial sobre que nós, os povos da Terra, declaremos nossa
o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Comissão responsabilidade uns para com os outros, com
Brundtland): um desenvolvimento que atenda às a grande comunidade da vida e com as futuras
necessidades do presente sem comprometer a gerações (p. 61).
possibilidade de as gerações futuras atenderem
as suas próprias necessidades. (http://www.
ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_ A educação, representada pela escola como
visualiza.php?id_noticia=1703&id_pagina=1 –
Acesso: 21/02/2012) promotora de conhecimento, considerando
que este ambiente social possibilita reflexão
aos seus educandos, deve ter iniciativas
De acordo com Gadotti (2010, p. 61), para trabalhar de forma interdisciplinar
“Os princípios e valores da Carta da Terra tal problemática, como a vida sustentável,
são defendidos particularmente através dos qualidade de vida e a não extinção da vida
programas curriculares ligados à educação no planeta Terra.
ambiental, que existem na maioria das
escolas”. De acordo com Rifuela (2012, p.53),
a autora revela que a conscientização
A carta da Terra pode ser um recurso depende da educação, que pode buscar uma
utilizado nas escolas para levar a uma reflexão sensibilização acerca da degradação dos
das consequências que o planeta sofre com recursos naturais:
a degradação a natureza em decorrência das
nossas ações e da necessidade de mudanças O ponto de partida é a conscientização, a
sensibilização a respeito da magnitude do
de hábitos que levem a sustentabilidade. problema da degradação dos recursos ambientais
do planeta e suas consequências sobre a saúde e
Ainda no mesmo texto, o autor cita que o modo de vida dos humanos. Essa sensibilização
depende de iniciativas na área da educação.
o momento é crítico e que para garantirmos
o futuro da humanidade é preciso uma
mudança coletiva em prol da natureza. A vida no planeta Terra está comprometida
pelo uso desenfreado dos recursos naturais,
Estamos diante de um momento crítico na história a sociedade consumista e o mercado buscam
da Terra, numa época em que a humanidade
deve escolher o seu futuro. À medida que o seus próprios interesses; conscientização
mundo se torna cada vez mais interdependente é ponto fundamental para que possamos
e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, sobreviver, ter qualidade de vida e
grandes perigos e grandes promessas. Para
seguir adiante, devemos reconhecer que, no proporcionar as futuras gerações condições
meio de uma magnífica diversidade de culturas de vida dignas e saudáveis, para isso é
e formas de vida, somos uma família humana necessário ações coletivas e envolvimento
e uma comunidade terrestre com um destino
comum. Devemos somar forças para gerar de toda a sociedade de forma global. Temos
uma sociedade sustentável global baseada no a facilidade da globalização
respeito pela natureza, nos direitos humanos
universais, na justiça econômica e numa cultura

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Revista Educar FCE - Março 2019

Para Boff (2003), alega que, se não houver é vista como uma esperança em meio ao
parceria em prol dos cuidados para com o caos ecológico produzido pelo consumo
planeta, arriscaremos a vida das espécies: exagerado.

Estamos diante de um momento crítico O Poeta Carlos Drummond de Andrade


na história da Terra, numa época em que a
humanidade deve escolher o seu futuro: ou (2001) retrata o consumismo neste verso,
formar uma aliança global para cuidar da Terra e alegando que o homem se torna escravo
uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e do consumo em decorrência dos grandes
a diversidade da vida.
anúncios publicitários:

A educação pode buscar parceria com ... meu isso, meu aquilo, desde a cabeça até o
bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes,
a comunidade local, promover eventos e gritos visuais, ordem de uso, abuso, reincidência,
diversas ações, ultrapassando os muros costume, hábito, premência, indispensabilidade,
da escola, instigar os alunos em trabalhos e faze de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
que visem a sustentabilidade, que eles
possam também conscientizar suas famílias
e população local. A coletividade tem força Trazer uma visão crítica para si mesmo, se
para mudar o quadro atual. enxergar em meio a sociedade de consumo,
onde marcas e rótulos são associados as
pessoas, são possibilidades que a educação
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA AO pode conduzir o educando, por meio de
CONSUMISMO INFANTIL diálogo e reflexão, permitir que este faça
uma autoavaliação do seu papel social e de
A mídia padroniza estilos e robotiza si mesmo, ações, reações e comportamento
as crianças, recorrendo a recursos que revelam que ele é, se contribui ou não
diversificados para atrair os consumidores, para uma sociedade melhor e para sua vida
sem medir os danos causados a elas, seja ao particular, progresso e qualidade de vida.
seu emocional, cognitivo, comportamental
e na formação; a educação é um paradoxo Para Barros (2012):” A publicidade está no
a esses estímulos consumistas e persuasão, centro do comportamento infantil, levando
pois, procura estimular nelas a ética e os as crianças para onde quer, a partir de suas
valores importantes para o convívio social, necessidades de pertencimento e identidade,
promovendo criticidade e consciência explorando sua fragilidade psíquica e os
ecológica de vida sustentável, respeito a vida fracos laços que as ligam aos pais”.
e ao meio ambiente, se enxergando como
colaborador e também como protagonista A criança em pleno desenvolvimento físico
em ações para melhorar a vida em sociedade e mental se torna alvo fácil de manipulação,
e consequentemente no planeta. A educação em função disto a mídia investe nelas como

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Revista Educar FCE - Março 2019

fonte de lucro, sem medir os danos psicoemocionais que produzem dentro do âmbito familiar,
principalmente aos que não têm acesso a esses produtos.

A indústria do marketing enraizada na consciência das crianças estabelecendo o consumo


de materiais de terceira necessidade como se fossem fundamentais à qualidade de vida.
Para o Instituto Alana” (2010, p.31) “aprofundamento da diferença material gera um
aprofundamento não só das desigualdades, mas dos desníveis de democratização. Nós não
apenas consumimos, como a nossa consciência é tomada pelo consumo”.

As crianças passam por transtornos emocionais causados pela necessidade de consumo e


status induzido pela mídia:

O papel do marketing é exatamente escalar estrategicamente os caminhos de chegar próximo às demandas,


às ansiedades e aos gostos humanos, explorando-os na direção de certos produtos e padrões de consumo,
incutindo verdades de mercado que tornam os indivíduos prisioneiros de suas necessidades. (INSTITUTO
ALANA, 2010, p.24)

A questão da influência da mídia ao consumo exagerado ainda está atrelada ao tema


sustentabilidade, pois buscamos pela conscientização do uso responsável, porém o mercado
midiático tem como fonte de sobrevivência seus anúncios, estes que buscam o crescimento
através do consumo, e quanto mais venderem mais poder financeiro e social, terão, causando
danos, pois é impossível qualquer produto físico que não retirado de recursos naturais. É
de grande relevância que as crianças sejam críticas quanto ao consumismo, se protegendo
da influência da mídia, para isso requer o auxílio da escola e da família no despertar da
criticidade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A preocupação com a sustentabilidade surgiu mediante
o aumento da população mundial e consequentemente
também o aumento do consumo; criar uma política de
consumo, buscar alternativas e medidas de sustentabilidade
são fundamentais como meio de mantermos as espécies e
de prolongarmos a vida no planeta.

O mundo volta seu olhar, passando a enxergar as questões


relativas ao consumismo exorbitante, e em função disto a
grande produção de lixo e poluição, esgotamento dos recursos ADRIANA OLIVEIRA
naturais, além dos problemas de ordem emocional geradas CAVALCANTE DA SILVA
nas crianças pelo anseio ao consumo, esse instigado pela
Graduação em Pedagogia
mídia que apresenta poder de persuasão frente a elas, esta pela Universidade Cruzeiro
influência da mídia provoca apreensão e sucessivamente a do Sul (2011); Especialista em
necessidade de intervenção através medidas educativas, que Psicopedagogia pela Universidade
Cruzeiro do Sul (2013); Professora
visem analisar o prejuízo do meio ambiente e dos recursos de Educação Infantil no CEI Cidade
naturais, buscando promover a reflexão dessas ações, Pedro José Nunes.
levando a uma qualidade de vida melhor e a preservação dos
recursos naturais.

Educar para o consumo consciente e para ações em prol da sustentabilidade é mais que
uma necessidade, é uma questão de sobrevivência.

Sabe-se que o consumo é necessário à vida, mas, o excesso, produz consequências graves
ao meio ambiente. Como a escola é incumbida de promover educação, e essa se faz por
meio da preparação para a sociedade, de forma crítica, requer conscientizar os educandos
dos direitos e deveres sociais, devemos considerar a relevância da problemática, abordando
com maior frequência essa temática dentro da sala de aula, de modo que, os conceitos
desenvolvidos como, a ética, valores, consciência cidadã e ecológica possam ultrapassar os
muros da escola e tenha abrangência nos lares e em toda a comunidade, gerando reflexão e
promovendo mudanças de hábitos, onde o que realmente tenha significado seja os valores
humanos e não o poder aquisitivo das pessoas.

A criança tem como referências na construção da sua identidade e formação a família e


a escola; A escola objetiva desenvolver plenamente o aluno, ela pode contribuir para o seu
progresso e conscientização como cidadão ativo nas transformações necessárias ao mundo,
o que ocorre a partir de suas ações.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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BOFF, Leonardo. Ecologia e espiritualidade. In TRIGUEIRO, A. Meio Ambiente no século


XXI: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas de conhecimento. Rio de
Janeiro: Sextante: 2003.

FREIRE, Paulo, 1921 – 1997 Política e educação: ensaios / Paulo Freire. – 5. ed - São Paulo,
Cortez, 2001 (Coleção Questões de Nossa Época; v.23- pg 21)
(Capra, Fritjof: As conexões Ocultas – Ciência para uma vida sustentável/ Pg 9)

GADOTTI, Moacir. A Carta da Terra na educação / Moacir Gadotti. -- São Paulo: Editora e
Livraria Instituto Paulo Freire, 2010. -- (Cidadania planetária; 3 – p. 61)

ORTIZA, Silvia aparecida e Cortez, Ana Tereza – Da produção ao consumo: Impactos


socioambientais no espaço urbano. Editora Cultura acadêmica/ Editora UNESP – 2009)

PORTILHO, Fátima: S u s t e n t a b i l i d a d e a m b i e n t a l, c o n s u m o e cidadania. São


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RIFUELA, Rachel Biderman. “Educação para o Consumo Sustentável”. Ciclo de Palestras


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BARROS FILHO, Clóvis – Artigos: A publicidade e o consumo Infantil Cpflcultura – luz (revista
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Revista Educar FCE - Março 2019

JOGO, O BRINCAR E A EDUCAÇÃO


RESUMO: Esta escrita deste artigo traz algumas considerações acerca da vida da criança, para
além do entretenimento, o jogo ganha espaço através da localização de suas propriedades
formativas, consideradas sob as perspectivas educacionais progressistas, que valorizam a
participação ativa do educando no seu progresso de formação. O jogo realiza-se através de
uma atuação dos participantes que concretizam as regras possibilitando a imersão na ação
lúdica na brincadeira, para que tudo isso aconteça de modo natural o olhar do professor
deve passar primeiro pelo amor, por que quem ama o que faz não precisa de coragem,
nem de bondade, nem de doçura, mas maturidade, atitude e comprometimento. Para o
embasamento teórico deste artigo foram realizadas pesquisas bibliográficas qualitativas
acerca do tema abordado.

Palavras-Chave: Jogo; Brincar; Educação

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO JOGO, O BRINCAR E A EDUCAÇÃO


Escolhi o tema “Jogos e Educação” porque Desde a época de Platão e Aristóteles,
acredito muito nos jogos como suporte o “brincar” era uma forma de educar,
pedagógico nas nossas escolas assim como associando a ideia de estudo e prazer.
acreditamos que em casa o “ato de brincar” Para uma melhor compreensão, torna-
da criança também se torna importante, se importante e necessário conhecer os
pois neste momento ela aprende já que este fundamentos teóricos, por meio de uma
“brincar” todo dia não deve significar brincar visão geral e histórica.
sempre do mesmo modo, há sempre variações.
Um dos objetivos é também demonstrar que Dados, guloseimas em forma de números
há muito que aprender com os jogos, por e letras eram utilizadas para educar essas
exemplo, que ele auxilia na passagem da crianças, segundo Wajskop (1995). Percebe-
fantasia para o rela da vida. Que, ao brincar, se que a importância da educação sensorial
a criança aprende a compartilhar para brincar nesse período determinou o uso do “jogo
mais, e com o tempo este “brincar” passa didático” por professores das mais diferentes
a ser de uma maneira mais complexa, mais áreas como da filosofia, matemática, estudo
plástica e expressiva, preparando-a então, das línguas e outros. Bem anteriormente a
para a vida adulta. essa época a brincadeira era considerada
uma fuga ou recreação e a imagem social
Em minhas pesquisas, com os autores e da infância não permitia a aceitação de um
suas experiências, percebi que não devemos comportamento infantil espontâneo, que
levar em consideração apenas à quantidade pudesse significar algum valor em si.
das horas de cada dia para as brincadeiras
infantis, mas principalmente na regularidade Com a ruptura do pensamento romântico
desse tempo, em casa sobre os olhares a valorização da brincadeira ganha espaço
dos responsáveis e nas escolas sobre a na educação das crianças pequenas. Surge
observação do professor. então o “sentimento da infância” que protege
e auxilia as crianças a conquistar um lugar
Sobre a temática “Jogar ou Brincar?”, a na sociedade, inicia-se aqui a elaboração de
pesquisa nos revela que ao brincar, acriança métodos próprios para sua educação, seja
constrói conhecimento. E para isso uma em casa, ou em instituições especificas para
das qualidades, mais importantes do jogo tal fim, tudo começou a partir dos trabalhos
é a confiança que a criança tem, quanto à de Comenius (1593), Rousseau (1712) e
própria capacidade de encontrar soluções. Pestalozzi (1746).
Confiante, pode chegar ás suas próprias
conclusões de forma autônoma. Wajskop (1995), em suas pesquisas, diz que
está valorização, baseada em uma concepção

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Revista Educar FCE - Março 2019

idealista e protetora da infância, aparecia dele a religiosidade e o amor pela natureza


em propostas educativas dos sentidos, que acabaram influenciando toda a sua obra
fazendo uso de brinquedos e centradas no educacional.
divertimento. A visão da criança que se criou
neste contexto possibilitou a expansão do Seu início na educação começou em
desejo de superioridade por parte do adulto, 1805, numa escola com os princípios
que mantinha sobre os pequenos um jugo educacionais de Pestallozzi. Tempo depois,
inquestionável, que crescia a medida que Froebel conhece o trabalho de Pestallozzi e
estes iam sendo isolados do processo de fica fascinado com os métodos empregados.
produção (Snyders, 1894). A criança passou a A partir daí, desenvolve sua concepção
ser cidadão com imagem social contraditória, pessoal de educação nos estudos do Método
uma vez que ela era, ao mesmo tempo, Pestallozzi.
o reflexo do que o adulto e a sociedade
queriam que ela fosse e do que temiam que No Método Pestallozzi, todo homem
ela tornasse. As crianças eram vistas, ao deveria adquirir autonomia intelectual para
mesmo tempo, livres para desenvolverem- poder desenvolver uma atitude produtiva
se e educadas para não exercerem a sua autônoma. A escola deveria promover o
liberdade. desenvolvimento de cada aluno em três
campos: o da faculdade de conhecer, de
O papel da mulher também foi desenvolver habilidades manuais e o de
determinante na força de trabalho, que desenvolver atitudes e valores morais. Para
apontava para soluções educativas Pestallozzi é assim que se iniciam: cérebro,
alternativas para o cuidado das crianças que mãos e coração.
ficavam abandonadas em suas casas ou pelas
ruas das cidades nascentes. Com seus estudos nestes métodos,
Froebel formula a Philosophie de la Sphére,
Inúmeros brinquedos educativos fundamentando-se na pedagogia com base
utilizando princípios da educação sensorial nos jogos iniciados para os jardins de infância.
com vistas a estudar crianças deficientes Este filosofia integra a autonomia intelectual,
mentais e cujos conhecimentos foram, a aprendizagem social, o aprofundamento
depois, utilizados para o ensino das crianças religioso em relação com a ação concreta.
normais partiram da influência das ideias de
Rousseau, na França. Froebel é conhecido como o criador dos
jardins de infância por sua preocupação
Em 1782 na cidade de Oberweibach na com a educação das crianças pequenas.
Alemanha, nasce Friedrich Froebel, órfão de Desenvolveu materiais e jogos que tornaram
mãe foi criado pelo pai e uma madrasta. Teve o ensino mais produtivo e forma lúdica.
uma infância isolada e triste que não tirou

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Revista Educar FCE - Março 2019

Sua pedagogia segue o modelo de O processo de interiorização consiste no


educação esférica, os alunos aprendem em recebimento de conhecimento do mundo
contato com o real, com as coisas, com os exterior, que passam para o interior, seguindo
objetos de aprendizagem. sempre uma sequência que deve caminhar do
mais simples ao composto, do concreto para o
Na pesquisa de Alessandra Arce (2004), abstrato, do conhecido para o desconhecido.
nos revela que Froebel dá seus primeiros A atividade e a reflexão são os instrumentos
passos rumo à utilização de uma psicologia de mediação desse processo não-diretivo, o
do desenvolvimento como fundamento que garante que os conhecimentos brotem,
da educação, por intermédio da divisão do sejam descobertos pela criança da forma
desenvolvimento humano em estágios: mais natural possível. O processo contrário
a primeira infância, a infância e a idade a este é chamado de exteriorização, no qual
escolar. Esses estágios são apresentados de a criança exterioriza o seu interior. Para que
forma muito mais detalhada do que o fizera isso aconteça a criança necessita trabalhar
Pestallozzi. Ele atrela a cada fase um tipo de em coisas concretas como a arte e o jogo,
educação que deve respeitar as características excelentes fontes de exteriorização. Uma
próprias da fase. Isso fica muito claro num vez exteriorizado seu interior, a criança
dos texto dessa obra, intitulada “O homem passa a ter autoconsciência do seu ser,
no primeiro período da infância”. Em certo passa a conhecer-se melhor, é assim que a
momento desse texto Froebel explica que, educação acontece. Para Froebel a educação
se o adulto observar, por exemplo, o jogo e deveria estar alicerçada na unidade vital
a fala de uma criança, poderá compreender (homem, Deus e a natureza), e os processos
o nível de desenvolvimento no qual ela se de interiorização e exteriorização precisam
encontra. Isso significa que a observação das da ação para mediá-los, necessitam de vida e
atividades espontâneas da criança, como a atividade, não de palavras e conceitos.
brincadeira e a fala, é de grande importância
para êxito da atividade educativa.
E ainda segundo Froebel, o jogo seria
Para Froebel, o jogo e os brinquedos a atividade pela qual a criança expressa
são instrumentos para a realização sua visão do mundo. O jogo seria também
do autoconhecimento com liberdade a principal fonte do desenvolvimento na
pelas crianças. Por meio do exercícios primeira infância, que para ele é o período
de interiorização e exteriorização da mais importante da vida humana, um período
essência divina presente na criança, o que constitui a fonte de tudo o que considera
jogo seria o mediador nesse processo de brincadeira uma atividade séria e importante
autoconhecimento. para quem deseja realmente conhecer a
criança.

43
Revista Educar FCE - Março 2019

O professor que trabalha com as crianças da primeira infância (educação infantil), deve se
atentar que nessa idade a criança é muito centrada nela mesma, como também autocentrada
com seu brinquedo, o que é plenamente admissível, não se deseja que essa autocentração
estenda-se por longo tempo, atravessando a segunda infância, a adolescência e a idade
adulta.

O papel do professor passa a ser muito importante, como também a utilização de jogos e
brincadeiras com o professor mediador e promotor da aprendizagem e do desenvolvimento
colocando o aluno diante de situações tais como: montando cantinhos de jogos, de
brincadeiras de faz-de-conta, fazendo surgir situações lúdicas primeiramente com estrutura
lógica da brincadeira e uma segunda concepção carregado de conteúdo cultural em um
tempo e espaço com uma sequência própria, com isso, a criança entra no mundo imaginário
para uma construção da representação mental e da realidade, sem esquecer a ludicidade.

Para Palangana (1994), a ludicidade é necessidade do ser humano em qualquer idade, não
devendo ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento lúdico facilita a aprendizagem,
tornando mais fácil os processos sociais e culturais com prazer e motivação. Essa ludicidade
é uma boa estratégia no auxílio da aprendizagem.

Uma educação integrada deve ser utilizada para formar cidadãos do mundo, para viver
em sociedade, coletivamente com atitude, não só estar de acordo, mas uma atitude de agir
cooperativamente.
O espaço da escola permite que a criança vá se modificando pouco a pouco por que o ser
humano é uma entidade que não basta por si, mas no mundo fora dele, a tarefa fundamental
da escola é promover o fazer juntamente com o compreender para a estruturação de outros
atos motores.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após estudos e pesquisas levei meu olhar para que esse
trabalho identifique principalmente que jogos e brincadeiras
na Educação Infantil não devem ficar limitados à recreação,
ao passa tempo, ao não sério, mas a um exercitar intenso
com suas funções simbólicas, pois vimos que o ser humano
não é só instinto, mas conhecimento que construímos e
acumulamos ao longo de nossa existência com as práticas e
as ações motoras.

ADRIANA DE LIMA NAVI


MOREIRA

Graduação em Normal Superior


pela UNIARARAS. Professora na
rede municipal de São Paulo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

APRENDER OU NÃO APRENDER,


EIS A QUESTÃO
RESUMO: Este artigo tem como objetivo evidenciar a importância da intervenção do professor
no ensino de alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem. Com base em uma pesquisa
bibliográfica, este texto aponta o fracasso escolar como decorrente de um sistema de ensino
de massa, o qual não considera as diferenças individuais, e discute uma das principais queixas
escolares: por que alguns alunos não aprendem. Esse problema, que nem sempre tem causa
específica, precisa ser bem analisado, tendo em vista o crescente número de encaminhamentos
ao serviço de saúde. Os avanços da Neurociência relacionados à Educação podem auxiliar no
diagnóstico de distúrbios de aprendizagem, contudo ratificam a importância da mediação do
professor junto ao educando no processo de construção de conhecimento.

Palavras-Chave: dificuldade de aprendizagem; fracasso escolar; diagnóstico; Neurociência;


intervenção.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO aos interesses e aptidões dos discentes,


desconsiderando sua individualidade.
O produto final do processo de ensino Com base em um conceito de criança
é a aprendizagem. Pelo menos é nisso ideal, a escola projeta na criança real a culpa
que muitos educadores acreditam. Mas, e por não atingir os fins a que se destina
quando ela não acontece? Se os professores, (BOSSA, 2008). Por isso, há uma tendência
os materiais e as condições oferecidas no em “medicalizar” o problema e encaminhá-
ambiente escolar são iguais para toda a lo a profissionais da área da saúde (médicos,
turma, por que os resultados dos alunos são fonoaudiólogos, psicólogos, etc.).
tão diferentes?
A Educação, assim como todas as áreas sociais,
vem sendo medicalizada em grande velocidade
Para tentar esclarecer essa dúvida, é (...). A aprendizagem e a não-aprendizagem
necessário analisar uma das principais queixas sempre são relatadas como algo individual,
escolares: as dificuldades de aprendizagem. inerente ao aluno, um elemento meio mágico,
ao qual o professor não tem acesso - portanto,
A dificuldade de aprendizagem surge também não tem responsabilidade. (COLLARES
no espaço escolar e nem sempre tem uma E MOYSÉS, 1994).
causa específica. Esse termo genérico que
engloba todos os problemas que impedem
ou dificultam o processo de construção de Para desmitificar que o baixo rendimento
conhecimento do educando. dos estudantes está relacionado a problemas
de externos ao sistema de ensino, este
O Manual de Diagnóstico e Estatística artigo propõe uma reflexão sobre como a
dos Transtornos Mentais - Quarta Edição, intencionalidade do trabalho pedagógico
o DSM-IV (1995), define que a dificuldade pode promover o aprendizado de educandos
de aprendizagem é caracterizada por um com diferentes tipos de dificuldade.
desempenho substancialmente abaixo
do normal nas áreas de leitura, escrita e Há vários estudos relacionados às
matemática, considerando que a inteligência dificuldades de aprendizagem. Contudo,
e a educação estão apropriadas à idade é preciso evidenciar que há dificuldades
cronológica da criança. (TORQUATO, 2012). transitórias e outras persistentes, as quais
precisam de encaminhamentos específicos.
As dificuldades de aprendizagem surgem Para tanto, faz-se necessário buscar na
em todos os níveis de ensino e em qualquer literatura já existente os esclarecimentos
idade. Ninguém está livre de enfrentá-las. Isso necessários para elucidar de que modo essas
é inerente ao processo de escolarização, pois, diferenças devem ser tratadas no processo
em alguns momentos, as exigências impostas de ensino e aprendizagem dos alunos que,
pela educação em massa para a construção por algum motivo, não aprendem.
e aquisição de conhecimento se contrapõem

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Revista Educar FCE - Março 2019

Pela natureza deste trabalho, a Outro tópico discutido é o motivo pelo


metodologia mais adequada para sua qual as dificuldades de aprendizagem se
realização é a pesquisa bibliográfica, que, de apresentam no ambiente escolar e suas
acordo com Gil (2002), é desenvolvida com implicações no fracasso e na evasão escolar.
base em material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos. Na sequência, o ponto de discussão
Ainda, segundo ele: consiste em relacionar o trabalho pedagógico
desenvolvido pelo professor com o
A principal vantagem da pesquisa bibliográfica desenvolvimento das potencialidades dos
reside no fato de permitir ao investigador a
cobertura de uma gama de fenômenos muito educandos que apresentam dificuldades de
mais ampla do que aquela que poderia pesquisar aprendizagem.
diretamente. (GIL, 2002).
O último assunto pontuado é a avaliação
Para Koche (2006, em GIANNASI- como parte do processo de ensino e
KAIMEN, 2008), este tipo de pesquisa tem aprendizagem e não como seu fim.
diferentes finalidades, dentre elas, serve
para dominar o conhecimento disponível e Para encerrar este artigo, as considerações
utilizá-lo como base ou fundamentação na finais trazem o parecer desta pesquisa,
construção de um modelo teórico explicativo com base na literatura estudada a partir do
de um problema. Portanto, com base na problema apresentado no início e tratado no
hipótese inicial de que, independentemente decorrer deste estudo.
da existência ou não de um laudo médico,
cada educando é capaz de desenvolver suas
potencialidades a partir de uma intervenção DIFICULDADE DE
pedagógica adequada, a metodologia APRENDIZAGEM X DISTÚRBIO
escolhida atende melhor aos objetivos
propostos. DE APRENDIZAGEM

Para o desenvolvimento do tema, Há vários motivos para o aluno deixar de


alguns assuntos correlatos a ele devem ser aprender: desafios que estão além de sua
considerados. estrutura cognitiva; a falta de vínculo afetivo
com seus pares; atividades repetitivas e que
Um deles é a delimitação entre o que não são de seu interesse etc. Tais situações
pode ser considerado uma dificuldade de são passageiras e facilmente reversíveis.
aprendizagem comum e o que deve ser
realmente tratado como um distúrbio. Se uma dificuldade de aprendizagem
ocasional é algo normal e até esperado no
decorrer da vida escolar, quando ela se torna

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Revista Educar FCE - Março 2019

duradora pode caracterizar um distúrbio de Quando isso acontece, o educador deve


aprendizagem. observar atentamente esse estudante,
fazer um relatório e encaminhá-lo para a
De acordo com Gimenez (2005), a avaliação de uma equipe multidisciplinar,
definição mais aceita nesse caso, por ser a qual é comum aos sistemas de ensino e
considerada a mais completa, é a apresentada pode, por meio de testes variados, exames e
pelo National Joint Comittee of Learning outros procedimentos que julgar necessário,
Desabilities (NJCLD): diagnosticar um possível distúrbio.

Distúrbio de aprendizagem é um termo genérico O Centro de Excelência para o


que se refere a um grupo heterogêneo de
desordens manifestadas por dificuldades na Desenvolvimento da Primeira Infância,
aquisição e no uso da audição, fala, escrita e Centre of Excellence for Early Childhood
raciocínio matemático. Essas desordens são Development (CEED), e o Grupo de
intrínsecas ao indivíduo e presume-se serem
uma disfunção de sistema nervoso central. Conhecimento Estratégico sobre a Primeira
(HAMMILL, 1990 em GIMENEZ, 2005.). Infância, the Strategic Knowledge Cluster
on Early Child Development (SKC-ECD),
definem que os “Distúrbios de aprendizagem
Segundo essa definição, o termo “distúrbio são problemas que afetam a capacidade da
de aprendizagem” refere-se a problemas criança de receber, processar, analisar ou
de aprendizagem que necessitam de armazenar informações. Podem dificultar
acompanhamento clínico. a aquisição, pela criança, de habilidades de
leitura, escrita, soletração e resolução de
Contudo, de acordo com Bossa (2007), a problemas matemáticos.”
identificação das causas dos problemas de
aprendizagem escolar não é tão simples. Para essas instituições (CEED & SKC-
ECD, 2017), distúrbio de aprendizagem é
O que se pode dizer até o momento é um problema grave de saúde pública que se
que as dificuldades dos educandos devem divide em:
ser analisadas sob vários ângulos. Além
da motivação reduzida pelo histórico de •Discalculia: dificuldade persistente
fracassos, o meio também desempenha uma para aprender ou entender conceitos
função na manifestação das dificuldades de numéricos, princípios de contagem e
aprendizagem. (DOCKRELL & MCSHANE, aritmética;
2007.). •Dislexia: dificuldade de leitura
prevalente e persistente, embora todos os
Há vários casos em que o aluno apresenta fatores necessários para a leitura pareçam
dificuldades recorrentes em uma ou mais estar presentes (inteligência, motivação e
disciplinas, sem uma causa aparente. uma instrução em leitura adequada);

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Revista Educar FCE - Março 2019

Vale ressaltar que, por essa definição, todas Diante disso, essa instituição não pode
as dificuldades relacionadas à compreensão se omitir. Ela deve cumprir sua tarefa na
e aquisição do código escrito fazem parte do transmissão da herança cultural e, mais
quadro de dislexia. que isso, preparar o indivíduo para viver
em sociedade. Deve torná-lo um cidadão
Há outros fatores que podem estar consciente de seu papel, para que ele cumpra
associados à não-aprendizagem, como, seus deveres e seja capaz de exigir seus
por exemplo, Distúrbio no Processamento direitos. Ela deve ensiná-lo não só a receber,
Auditivo Central (DPAC), Transtorno de mas a produzir conhecimento.
Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH),
problemas sociais e familiares, etc. Quando o educando não aprende,
ele fica à margem da sociedade e torna-
Com o avanço da medicina, os exames de se extremamente vulnerável a diversas
imagem já podem apontar alguns problemas situações desfavoráveis ao exercício de sua
de aprendizagem de base neural. Por isso, cidadania.
Willingham (2008, em Rato & Caldas,
2010) acredita que num futuro próximo os
diagnósticos poderão ter maior precisão. FRACASSO E EVASÃO ESCOLAR
De acordo com Cordié (1996, EM BOSSA,
O PAPEL DA ESCOLA NO 2008), o fracasso escolar é uma patologia
PROCESSO DE ENSINO E recente, que surgiu com a obrigatoriedade do
ensino no fim do século XIX. É caracterizado
APRENDIZAGEM por uma sequência de insucessos na escola,
que levam o indivíduo a abandonar os
Embora o indivíduo aprenda em todos os estudos.
lugares e momentos, ao longo de sua trajetória
de vida, a escola é, por excelência, a instituição Para Patto (1996, EM BOSSA, 2008.), o
responsável pelo ensino. É dela a missão de fracasso escolar é gerado por um sistema
transmitir a herança cultural produzida, sem educacional que cria obstáculos à realização
a qual a evolução humana ficaria estagnada. de seus próprios objetivos.

Os tesouros da cultura continuariam a existir A evasão escolar, proveniente da falta


fisicamente, mas não existiria ninguém capaz
de revelar ás novas gerações o seu uso. As de perspectiva de sucesso, pode acarretar
máquinas deixariam de funcionar, os livros subemprego e aumentar a possibilidade
ficariam sem leitores, as obras perderiam sua de afiliação a grupos marginalizados e
função estética. A história da humanidade teria
de recomeçar. (LEONTIVE, 1978, EM CAPELLINI a outras circunstâncias que restringem
E RODRIGUES, 2010.). o acesso a oportunidades favoráveis e

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Revista Educar FCE - Março 2019

aumentam a probabilidade de desadaptação. Se considerarmos que a aprendizagem é a


(MAUGHAN, GRAY & RUTTER1985, em reação do cérebro a estímulos do ambiente,
SANTOS E MARTURANO, 1999). ativando sinapses (ligações entre os neurônios
por onde passam os estímulos, tornando-
as mais intensas), como preconizam Flor &
AS INTERVENÇÕES DO Carvalho (2011), podemos dizer que se o
PROFESSOR educador promover situações estimuladoras
de novas sinapses, seus alunos conseguirão
É fundamental que o educador conheça obter novos conhecimentos.
as necessidades de cada aluno, para criar
um ambiente onde possam construir A Neurociência, quando associada
conhecimento, independentemente da à aprendizagem, traz importantes
existência ou não de um laudo médico. contribuições ao trabalho pedagógico,
pois observa o funcionamento do cérebro
Geake & Cooper (2003, em Rato & enquanto ele recebe esses estímulos. Uma
Caldas, 2010) afirmam que a aprendizagem delas, já comprovada, é de que “o educador
evidencia a capacidade de neuroplasticidade deve exercer habilidades de mediador da
do cérebro, ou seja, um processo por meio do aprendizagem, e mediar é intervir para
qual o sistema nervoso cerebral reestrutura promover mudanças no comportamento.”.
as funções de suas vias de processamento e (Flor & Carvalho, 2011).
representações de informação. Desse modo,
independentemente do nível de dificuldade, A mudança de comportamento está na
qualquer indivíduo pode aprender. crença de que, mesmo com dificuldades, o
educando é capaz de aprender. Assim, este
Nesse sentido, a neurociência associada se sentirá motivado e predisposto a adquirir
ao processo de cognição pode auxiliar. Ela “é novos conhecimentos.
a ciência que tenta compreender e explicar as
relações entre o cérebro, as actividades (SIC) Contudo, esses estudos ainda são muito
mentais superiores e o comportamento.”. incipientes e o uso de novas metodologias
ainda apresenta um grande obstáculo: os
Pode ainda ajudar a esclarecer casos de resultados de laboratório não podem ser
distúrbios ligados à formação das estruturas aplicados imediatamente na sala de aula,
cerebrais. Crianças com um sistema nervosos pois falta diálogo entre neurocientistas e a
organizado de uma forma variante podem vir comunidade escolar (inclusive pais e alunos).
a necessitar, posteriormente, de estratégias
pedagógicas especiais. (CONSENSA & Tendo em vista que o conhecimento é
GUERRA, 2011.). concebido como um todo, um facilitador
para o processo de aprendizagem é o diálogo

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Revista Educar FCE - Março 2019

entre as diferentes disciplinas, por meio de projetos interdisciplinares, os quais articulam as


diferentes áreas do conhecimento.

Para Amaro (2006), os recortes dados aos conteúdos pelas disciplinas escolares fazem com
que uma determinada situação possa ser lida de diferentes formas, ao passo que, quando os
diferentes olhares e perspectivas estão articulados, a compreensão é bem maior.

A AVALIAÇÃO
Para um atendimento adequado, deve-se respeitar a diversidade, ou seja, reconhecer que
cada aluno tem um ritmo próprio de aprendizagem e a avaliação deve refletir isso. Perrenoud
(1999) postula que:

Toda situação didática imposta de maneira uniforme a todos os alunos será totalmente inadequada para o
grupo, pois para alguns será fácil demais, para outros, difícil demais. Daí, então, a importância do ensino
diferenciado e, também, da avaliação diferenciada, para que possibilite a cada aluno ser avaliado de acordo
com suas habilidades orais, visuais e escritas (p.32).

Além disso, não adianta ter um olhar diferenciado e propor objetivos específicos às
dificuldades dos educandos, se eles forem avaliados de forma coletiva, sob os mesmos
critérios.

De acordo com Wilbrink (1997) citado por Capellini e Rodrigues (2010), o mesmo modelo
de avaliação usado há cem anos continua sendo reproduzido. Focado em uma educação de
massa, ele prejudica a maioria dos estudantes e gera um ensino de baixa qualidade.

Collares (1989, em BOSSA, 2008.) afirma que é preciso retificar a ideia de que as causas
externas ao ambiente escolar são as responsáveis pelo mau desempenho de um aluno, pois
mesmo com dificuldades de aprendizagem, ele pode obter êxito nos estudos, dependendo
da ajuda que recebe.
Nesse processo, “o que se espera que ele desenvolva e aprenda é estabelecido considerando
sua singularidade e não aquilo que é esperado para a maioria.” (AMARO, 2006.).

Uma avaliação inadequada não aponta diretrizes para uma atuação pedagógica eficaz e,
com isso, todo o trabalho está fadado ao fracasso.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de um obstáculo, cada educando reage de forma diferente:
uns sentem-se motivados e fazem de tudo para transpor as barreiras;
outros atribuem a si a culpa, ficam tristes e acabam e desistindo.
Neste caso, o problema deve ser acompanhado, cuidadosamente,
para auxiliar o discente a superar as dificuldades de forma construtiva,
sem sofrimentos.

Quando as causas das dificuldades são evidentes e de fácil


resolução, apenas a intervenção pedagógica é suficiente.
ADRIANA SANTANA DA
No entanto, quando as dificuldades persistem apesar do uso de SILVA ARRUDA
diferentes metodologias de ensino, é necessário o encaminhamento
Graduação em Letras pelo Centro
para uma avaliação mais completa da queixa escolar. Universitário Fundação Santo
André (2001), em Pedagogia
Com base em exames de imagem, relatórios sobre o desempenho pela Uniban (2005), em História
pela Unimes (2018); Especialista
do educando nas atividades escolares e testes aplicados por diferentes em Psicopedagogia pela AVM
profissionais, é possível obter o diagnóstico de um distúrbio, seja ele Faculdade Integrada (2013);
de aprendizagem ou que cause problema na aprendizagem. em Arte Educação pela Escola
Superior de Administração (2013),
em Educação e Neurociência e
A partir dessa constatação, o estudante passa a receber os Educação Inclusiva, ambas pelas
acompanhamentos indicados ao seu problema. Faculdades Integradas “Campos
Salles”(2017); Professor de
Ensino Fundamental II - Língua
Todavia, isso não isenta o professor de suas responsabilidades no Portuguesa e Língua Inglesa - na
processo de ensino e aprendizagem desse indivíduo. EMEF Cidade de Osaka.

Com base no estudo realizado a partir da literatura existente, pode-se dizer que o educador
precisa reconhecer que problemas na aprendizagem são de cunho pedagógico, na maioria das vezes,
e que, portanto, devem ser tratados no âmbito escolar. Mesmo quando diagnosticado um distúrbio,
isso não impede o aluno de aprender. É preciso ter um olhar diferenciado e promover situações de
aprendizagem que valorizem o potencial do educando dentro de suas limitações.

Além disso, deve avaliar os avanços do aluno em todo o percurso de construção de suas
aprendizagens. Desse modo, a avaliação deve, portanto, ser usada como instrumento norteador do
trabalho pedagógico, de modo que ela não tenha um fim em si mesma.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA
NO PROCESSO TERAPÊUTICO DE
PACIENTES COM DEPRESSÃO
RESUMO: O presente trabalho propõe um estudo de pacientes com depressão, levando em
consideração as alterações afetivas, as manifestações sintomatológicas atuais, bem como
descrever sua psicodinâmica, e desenvolver um estudo tendo como referencial a visão
das neurociências na contemporaneidade no processo terapêutico. O trabalho é do tipo
bibliográfico e a metodologia utilizada é análise de conteúdo. Com este estudo almejamos
explorar a importância das respostas que a neurociência obteve para os aspectos psicológicos
e biológicos nas doenças depressivas. Em um primeiro momento, buscou-se compreender e
qualificar o que é a depressão, suas dimensões e como a neurociência se relaciona à doença;
já em um segundo momento nos aprofundará no estudo da neurociência, citando campos

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Revista Educar FCE - Março 2019

de pesquisa, técnicas e descobertas, e assim do cérebro humano. Com as descobertas


exemplificar sua relevância no tratamento de sobre o funcionamento cerebral e cognitivo,
pacientes com depressão. Esta pesquisa visa tais investimentos foram expandidos
se dirigir tanto para os profissionais da saúde, gradativamente em todo o mundo.
como para os pacientes e leigos que desejam
uma explicação científica para a depressão Surgiu assim a visibilidade da neurociência,
que os acometem. que tomou importância global pela hipótese
da abranger novos conhecimentos sobre
Palavras-Chave: Depressão;Contemporaneidade; o funcionamento cerebral. Sensações,
Neurociências. emoções, pensamentos e atitudes,
comorbidades e distúrbios, aprendizagem
INTRODUÇÃO e ausência do conhecimento, sonhos e
ilusões, eventos psíquicos que determinam
A temática escolhida para o e organizam o indivíduo. Estes e diversos
desenvolvimento deste trabalho inclui um outros campos tornaram-se passíveis de
estudo bibliográfico específico, que envolve a novos estudos e aplicações.
saúde física e mental do paciente. Denomina-
se como pesquisa a neurociência diante do As descobertas da neurociência podem
acometimento de transtornos depressivos. beneficiar várias áreas do conhecimento
com informações peculiares que abrangem
Conforme o dicionário online de português a compreensão da mente humana. Estas
(2018) a etimologia da palavra neurociência descobertas têm importância significativa na
( neuro “nervo” + ciência) é uma ciência que vida humana, à coletividade, ao conhecimento,
estuda o sistema nervoso, a organização ao desenvolvimento psíquico, emocional,
cerebral, a anatomia e a fisiologia do dentre outros aspectos do comportamento
cérebro, além de sua relação com as áreas humano.
do conhecimento como aprendizagem,
cognição ou comportamento. Logo, pode-se As doenças degenerativas neuronais e
entender a neurociência como a reunião dos as lesões cerebrais de causa externa são
saberes e conhecimentos que se relacionam passíveis de uso medicamentoso, outros
com o sistema nervoso. casos admitem intervenções cirúrgicas.
Contudo o estudo da neurociência busca
Conforme a Revista Estudos Avançados respostas aos respectivos casos em que após
(2013) durante a década de 1990 os a utilização de tais métodos paliativos, pode
Estados Unidos da América aprimoraram ocorrer o surgimento de efeitos colaterais
incentivos financeiros para que estudos e desfavoráveis, como por exemplo: Delírios,
pesquisas fossem realizados com o intuito demências, insuficiência ou perda cognitiva,
de desenvolver o conhecimento a respeito depressão e alterações da personalidade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

De um ponto de vista das neurociências, e atentar-se para a saúde mental. Isso


toda substância capaz de alterar parâmetros contribui para o bem-estar mental do
biológicos é uma droga, cujo efeito é produto indivíduo. A época agitada que o mundo
da interação de três fatores: a substância vive contribui para a importância da saúde
específica, o corpo em que ela atua, e o psíquica das pessoas. Ansiedade, estresse,
contexto físico e social em que ocorre o economia, incertezas perante os fatos da
uso. (RIBEIRO, p. 11, 2012; ET al. ZINBERG, vida, desgastes da energia mental graças ao
1984) excesso e acúmulo de informações, essas e
outras questões estão levando as pessoas ao
De acordo com a OMS a definição de saúde: sofrimento psíquico.
“saúde é um estado de completo bem-estar
físico, mental, social e não apenas a ausência Esse trabalho busca esclarecer e organizar
de doença”. Mesmo como alvo de críticas, conhecimentos sobre o tratamento das
consideramos esse conceito o mais próximo doenças depressivas na diretriz psicológica.
de uma visão de homem integral, porque Esta pesquisa bibliográfica irá sugerir
considera as influências biopsicossociais. métodos de tratamentos para doenças
depressivas, no entanto não descartará os
Em razão dessa definição a visão tratamentos médicos e medicamentosos
psicossomática já conquistou um espaço necessários para o tratamento físico
importante entre as práticas médicas. Isso psíquicos.
se deve aos médicos não encontrarem
uma causa específica para determinadas As doenças depressivas mostram-se como
patologias. Pelo contrário, neste caso um enigma para os pacientes crônicos e para
os médicos encontram vários sintomas profissionais da saúde. O sofrimento da
que corroboram para a permanência da doença para o paciente é o resultado do fim
depressão, a qual depois de instalada no do silêncio orgânico que se fazia em seu corpo
corpo físico, mesmo após tratar os sintomas, quando ainda saudável. Provavelmente este
pode retornar a qualquer momento, assim paciente não tem clareza do seu sofrimento
como também não deixar o corpo que a psíquico e tem a oportunidade de conhecê-
possui. Visto que a doença depressiva é uma lo quando o sofrimento se torna orgânico,
doença física correlacionada com a mente e porque é neste momento que o paciente
a alma. busca ajuda médica a princípio.

Baseado nesse conceito cabe aos Com o tratamento médico e medicamentoso


profissionais que recebem estes pacientes a os sintomas adormecem, porém, não se
se sensibilizarem para escutar suas queixas, curam em sua totalidade. Por este motivo há
tanto as físicas quanto as anímicas, assim a necessidade de tratar a origem da doença
como pesquisarem a vida do paciente psíquica para que a mente, o corpo e a alma

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Revista Educar FCE - Março 2019

tenham alívio da angústia sentida e haja o Por objetivo específico deste estudo,
silêncio orgânico que chamamos saúde. buscaremos abordar as reflexões sobre
a interação entre a neurociência e a
O seguinte trabalho busca respostas para depressão, tal qual corpo e mente e a
o problema em questão: Considerando a natureza das emoções. Pela perspectiva a
depressão uma doença que exibe sintomas neuropsicológica pode contribuir para um
tanto psicológicos quanto físicos, de que entendimento complementar da interação
forma a neurociência se relaciona ao entre o biológico, o psíquico e o social, e
tratamento da depressão? De como isto assim possibilitar uma nova perspectiva de
auxilia na recuperação de um paciente e como tratamento para o doente depressivo crônico,
a neurociência se diferencia do tratamento tal qual a compreensão de sua doença.
medicamentoso?
Será realizada uma pesquisa bibliográfica
Questiona-se: Quais são as intervenções sobre o tema “depressão” que almeja explicar
psicológicas utilizadas no tratamento das a importância das respostas da neurociência
doenças depressivas para pacientes crônicos para os aspectos psicológicos e biológicos
segundo as pesquisas da neurociência? nas doenças depressivas. Esta pesquisa visa
se dirigir tanto para os profissionais da saúde,
A doença depressiva como objeto de como para os pacientes e leigos que desejam
estudo da atual pesquisa bibliográfica uma explicação científica para a depressão
justifica-se pela sua relevância social e que os acometem.
também pelo fato de constituir uma realidade
vivenciada na contemporaneidade por um A revisão bibliográfica exibe uma ideia por
número considerável de pacientes, que meio de documentos já publicados. Uma vez
se tornou expressivo em todas as classes que se tem o escopo de conferir o referencial
econômicas. Segundo relatório oficial da teórico pesquisado, a pesquisa bibliográfica
OMS (Organização Mundial da saúde), compreende a globalidade do conteúdo
atualizado em março de 2018, a depressão é bibliográfico já publicado referente ao tema
um transtorno mental frequente. Em todo o de estudo, incluindo publicações avulsas,
mundo, estima-se que mais de 300 milhões boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas,
de pessoas, de todas as idades, sofram com monografias e teses.
esse transtorno.
Esta é uma pesquisa qualitativa de
O objetivo geral do seguinte estudo é caráter descritivo porque observa, registra,
destacar as contribuições da neuropsicológica analisa e correlaciona fatos ou fenômenos,
e as várias formas de tratamento, para sem manipulação das variáveis. Para tal,
uma melhor compreensão das doenças busca encontrar a frequência com que um
depressivas. fenômeno acontece e sua correlação com

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Revista Educar FCE - Março 2019

outros fenômenos externos, tal qual sua Segundo Camon (2003), o sujeito em si é
natureza e características. Destaca-se que constituído pela subjetividade, ou seja, cada
a escolha desta espécie de pesquisa provém um possui seu próprio campo subjetivo que
da necessidade de se compreender mais é concebido valendo-se das experiências,
profundamente o fenômeno em questão. das vivências, e dos determinantes sociais
e biológicos. Assim, os sintomas das
alterações afetivas variam de acordo com
O TRANSTORNO DEPRESSIVO as vivências de felicidade e/ ou tristeza e
NA SOCIEDADE ATUAL dependem da subjetividade de cada um, a
qual é constituída a mediante a realidade
Considerado pela Organização Mundial de existencial desse sujeito, das vivências
Saúde como o país mais deprimido de toda psíquicas, das internalizações e das relações
a América Latina, o Brasil ocupa também o objetais. Estas determinam a percepção da
5º lugar no ranking mundial. Não é pouca realidade e que fazem ou não os sujeitos
coisa. Ao todo, são mais de 11 milhões de tristes, melancólicos, felizes ou maníacos.
brasileiros que sofrem com os sintomas
da depressão, isso contando apenas com Merquior (2004) menciona que o
os números registrados oficialmente nos mundo contemporâneo, por seus aspectos
centros de saúde. econômico-político e sócio-cultural, vive
momentos de constantes transformações
Segundo a OMS até 2020 a depressão que desnorteiam os sujeitos numa explosão
será o transtorno mental afetivo mais de referenciais. Referenciais estes, que
incapacitante em todo o planeta, podendo dificultam o processo de identificação que
atingir mais de 320 milhões de pessoas em nem sempre possibilitam “a construção de
todo o mundo, ou 4,4% da população da sujeitos capazes de criar sentido para a vida”
Terra. Nesse ranking assustador, o Distrito (Maciel, 2002, p. 112).
Federal aparece com 6,2% das pessoas,
com mais de 18 anos, diagnosticadas com Trata-se então de uma cultura marcada
esse distúrbio. São números que mostram pela “soberania do eu”, como cita Freire
à capital nos primeiros lugares quando o (2003), na qual há um controle manipulador
assunto é depressão. de tudo que cerca e pertence ao sujeito,
fazendo com que tudo seja voltado para
A depressão é a alteração afetiva mais si. Esta cultura é voltada para o imaginário
estudada e falada na atualidade. Classificada do narcisismo egóico que faz os sujeitos se
como um transtorno de humor, ela vem sentirem desamparados diante da frustração.
reger as atitudes dos sujeitos modificando a
percepção de si mesmos, passando a enxergar Este sujeito se vê perante as inúmeras
suas problemáticas como grandes catástrofes. possibilidades que provocam este vazio

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Revista Educar FCE - Março 2019

depressivo nas quais se inclui a falta correlações com as informações advindas de


do sentimento de existência autêntico, outros exames complementares, que aferem
resultante das constantes frustrações. Desta atividade eletro gênica, metabólica e os de
forma, o sentimento de existência buscado neuroimagem, fazendo uma ponte entre
dependeria de uma presença constante estes e o quadro clínico do paciente.
de outro (objeto gratificante), e esta
presença do outro acaba por se constituir O objetivo de relacionar o cérebro com
o problema da sociedade atual, que, pela a mente é tarefa da neurociência cognitiva.
excessiva permissividade e gratificações, É uma mistura entre a neurociência e a
paradoxalmente, as tornam insuficientes, em psicologia cognitiva. Essa última preocupa-se
razão de que o desejo permanece insaciável. com o conhecimento de funções superiores
como a memória, a linguagem ou a atenção.
Assim, o objetivo principal da neurociência
CONTRIBUIÇÕES DA cognitiva é relacionar o funcionamento
NEUROCIÊNCIA PARA do cérebro com as nossas capacidades
cognitivas e nossos comportamentos.
O DIAGNÓSTICO DA
DEPRESSÃO E TRATAMENTO O desenvolvimento de novas técnicas tem
DE PACIENTES PORTADORES sido de grande ajuda dentro desse campo
para tornar possível a realização de estudos
DE TRANSTORNOS experimentais. Os estudos de neuroimagem
DEPRESSIVOS têm facilitado a tarefa de relacionar
estruturas concretas com diferentes
A neurociência deriva da palavra grega funções, utilizando uma ferramenta muito
neurosque que significa nervos. Dela também útil para esse propósito: a ressonância
deriva o termo neurologia, neuropsicologia, magnética funcional. Além disso, também
neurose ou neurônio entre outros. A principal foram desenvolvidas ferramentas como a
função da neurociência é analisar o sistema estimulação magnética transcraniana não
nervoso central dos seres humanos e animais, invasiva para o tratamento de diversas
suas sua fisiologia, suas lesões, patologias patologias.
etc. Desta forma, se consegue conhecer
mais sobre seu funcionamento e agir mais A psicologia também realizou importantes
sobre ele, melhorando a qualidade de vida contribuições para a neurociência, por meio
de pacientes que sofrem de transtornos de teorias sobre o comportamento e o
emocionais como a depressão. Por intermédio pensamento. Ao longo dos anos, a visão foi
de testes, ela não só fornece informações mudando a com base em uma perspectiva mais
quanto à neuropsicologia, quanto enriquece localizacionista, na qual se pensava que cada
o diagnóstico clínico e ainda permite área do cérebro tinha como virtude concreta,

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Revista Educar FCE - Março 2019

até outra mais funcional na qual o objetivo é depressivos procuram atendimento médico
conhecer o funcionamento global do cérebro. sete vezes mais que quem não tem o distúrbio,
segundo a OMS. Menos da metade delas
A depressão é uma síndrome que pode cursar é diagnosticada corretamente e recebe
com alterações cognitivas. Investigações clínicas tratamento adequado. A literatura médica sugere
têm explorado a função neuropsicológica de que noradrenalina, neurotransmissor envolvido
pacientes deprimidos há pelo menos duas na regulação do humor, do ciclo de sono e na
décadas. No entanto, pouco se sabe sobre resposta de estresse, desencadeia eventos em
a especificidade dos distúrbios cognitivos cascata, que se manifestam em ansiedade, no
nesses quadros. A dificuldade observada início e depois, em depressão. Mais de 60%
no desempenho cognitivo de pessoas com dos episódios depressivos são precedidos
depressão é também critério para o diagnóstico por quadros de ansiedade, e a insônia crônica
de quadros em que lesões ou disfunções aumenta quatro vezes o risco de depressão. Já
cerebrais estejam em jogo. Desta forma, é o estresse crônico leva à diminuição do fator
importante reconhecer o perfil cognitivo tanto de proteção neuronal, afetando a ramificação
quantitativo quanto qualitativo da depressão dendrítica dos neurônios.
e tentar traçar a sua neuroanatomia funcional
e reconhecer seus subtipos (unipolar, bipolar, O tratamento mais comum e de fácil acesso,
primária ou secundária). ainda é o farmacológico. Os medicamentos
costumam proporcionar alívio para pacientes
Existem evidências que sugerem a com sintomas moderados ou graves, que
presença de déficits neuropsicológicos geralmente apresentam prejuízos no trabalho
acompanhando o Episódio Depressivo Maior e na vida pessoal. Em depressões leves,
(Laks, Marinho, Rosenthal e Engelhardt, a eficiência dos antidepressivos é menos
1999, p. 145). Observa-se que esses déficits nítida: eles têm desempenho equivalente ao
se apresentam de forma ampla e tendem placebo (substância neutra, mas que pode
a incluir anormalidades envolvendo a desencadear efeitos psicológicos). Para o
sustentação da atenção, função executiva, psiquiatra Duailibi (2013, p. 128) “A remissão,
velocidade psicomotora, raciocínio não a ausência total de sintomas, é importante
verbal e novas aprendizagens. Contudo, a para combater essa vulnerabilidade”.
disfunção neurocomportamental associada
ao Transtorno Depressivo Maior parece Hábitos diários saudáveis e terapias
depender de diferenças individuais, com complementares ajudam a combater o
somente alguns indivíduos deprimidos estresse e podem prevenir a volta dos
demonstrando comprometimento. sintomas: acupuntura, massagem, atividade
física, alimentação rica em nutrientes e
Dor e depressão têm uma via neuroquímica pobres em gordura animal.
comuns. Em média, pessoas com sintomas

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Revista Educar FCE - Março 2019

Recentemente, o Conselho Federal de Medicina aprovou a técnica de estimulação magnética


transcraniana (EMT) superficial. O tratamento consiste em aplicar ondas eletromagnéticas
sobre o cérebro, com o objetivo de modular o funcionamento de regiões (determinadas por
exames de neuroimageamento) que operam de forma alterada em pessoas com transtornos
neuropsiquiátricos.

O cérebro de pessoas com depressão está “habituado” a processos cognitivos que


desencadeiam o problema, como pensamentos depreciativos sobre si mesmos.

A meditação ajuda o paciente a se conscientizar de emoções, fantasias, lembranças e


situações que passam por sua mente consciente. Atualmente, cientistas estão comprovando
os benefícios da terapia cognitivo-comportamental (TCC) baseada na atenção plena (MBCT,
mindfulness-based cognitive therapy), isto é, o uso de técnicas de meditação para potencializar
os efeitos da terapia comportamental. É um programa de oito semanas que ajuda o paciente
a perceber os velhos hábitos de pensar que atiram sua mente em uma espiral descendente
de pensamentos negativos. Ele aprende a ser mais gentil consigo mesmo e leva o paciente
a atentar-se aos aspectos positivos de seu cotidiano, exercitando o julgamento baseado na
autocompaixão. Citando o dalai-lama Tenzin Gyatso: “A mente é como para quedas: funciona
melhor aberta”.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Depressão foi abordada, neste trabalho, pela a visão
da neurociência, possibilitando uma interação entre o
psicológico e o biológico. Assim, essas áreas não precisam
ser consideradas como excludentes, já que são enfoques
diferentes que lidam com o mesmo substrato. Com isso, a
depressão não deve ser considerada somente uma alteração
bioquímica ou psicológica, mas de ambos.

O cérebro humano ainda esconde diversos segredos, e a


razão para isso é o fato dele ser um órgão extremamente ADRILENE BRAGA TIBA
complexo. Entender seu funcionamento é mais complexo
Especialista em neurociências
ainda. Nossos cérebros possuem bilhões de neurônios que pela Faculdade Campos Elíseos
atuam em conjunto de uma forma dinâmica para modular (2018); Psicóloga, Psicopedagoga
nossas respostas às demandas do ambiente. Também existem e Professor de Educação Infantil
e Ensino fundamental I na EMEF
diversos neurotransmissores e hormônios. Portanto, existem Rodrigo Mello Franco de Andrade
diversas questões ainda a serem descobertas, mas penso que
já avançamos consideravelmente rumo ao entendimento de
como o cérebro humano funciona.

A depressão é uma doença cerebral, que pode ser tratada de diversas maneiras. O fato de
a psicoterapia ser uma dessas maneiras não significa que a depressão seja um fenômeno de
origem psicológica. Essa forma equivocada de pensar leva algumas pessoas a considerar que
poderia ser possível aos pacientes superar a doença apenas com a vontade de mudar, e esse
definitivamente não é o caso. Conforme mostrado pelo relatório de OMS sobre depressão,
as maiorias dos pacientes diagnosticados com a doença apenas procuram ajuda medica
apenas ao sentires os sintomas físicos. Essa redução da depressão como uma doença de
caráter unicamente físico ou unicamente psicológico leva tira seu caráter de doença.

Uma conclusão otimista pode ser tirada desta pesquisa: Apesar da alta taxa de pacientes
clinicamente diagnosticados com depressão, nas ultimas décadas, mais do que nunca, os
estudos na área da neurociência e afins ganhou grande impulso. Mais do que nunca, há
grandes incentivos para cientistas, além do acesso à informação para os pacientes afetados.

A variedade de novas técnicas e tratamentos disponíveis para pacientes com depressão,


somados ao entendimento da doença, não mostram apenas uma perspectiva otimista para
os estudiosos, mas para todas as pessoas afetadas pela depressão.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

DIDÁTICA
RESUMO: O presente artigo propõe uma reflexão sobre Didática e a sua importância para a
formação e trabalho docente, tendo-se em vista que a didática é um ramo da ciência pedagógica
que tem como objetivo ensinar métodos e técnicas que possibilitem a aprendizagem do
aluno por parte do professor ou instrutor. O trabalho docente deve considerar que teoria e
prática são caminhos indissociáveis, paralelos e convergentes que norteiam todo o ensino-
aprendizagem. Dessa forma a didática expressa uma prática pedagógica que decorre da
relação entre professor e aluno num determinado momento histórico. Sendo assim, o texto
tem como objetivo abordar a teoria e a prática como objetos de ensino com ênfase no
pensamento pedagógico.

Palavras-chave: Didática; Aprendizagem; Ensino; Docente; Prática e Teoria.

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INTRODUÇÃO cidadania de forma competente no mundo


do conhecimento. Para que isto ocorra a
No âmbito educacional, principalmente formação docente, a metodologia de ensino,
em escolas e em faculdades a palavra as técnicas, os conteúdos contextualizados
didática está presente de forma imperativa, com as necessidades e conhecimentos prévios
pois temos os livros didáticos, os materiais dos alunos, o projeto político pedagógico,
didáticos, os projetos didáticos e a própria os recursos didáticos, o planejamento, a
didática que permeia o trabalho docente em avaliação, a relação professor-aluno e a
sala de aula, qualificando-o. relação com a comunidade escolar, devem
ser levados em consideração.
A didática é vista como um caminho
programado pela teoria, considerada uma Deve-se sempre lembrar que a didática
sinalizadora na aplicabilidade dos conteúdos é uma norteadora teórica/científica,
programáticos que o professor usa para imprescindível ao trabalho pedagógico
ministrar suas aulas. Porém não se deve cotidiano, é ela que irá mostrar dia a dia
esperar que ela seja algo definido e delimitado um ensino/aprendizagem significativo. Não
garantindo uma prática eficaz. A didática de existe uma educação de qualidade se a
um professor é considerada flexível, tendo didática não for considerada como um objeto
em vista que cada turma e cada indivíduo essencial no processo educativo, pois ela
exigirá práticas diferenciadas. oferece embasamento para a efetivação do
ensino/aprendizagem, eliminando qualquer
Conhecer a didática como uma tipo de discrepância existentes entre teoria
concretização da teoria, ajudará o professor e prática.
a consumar aquilo que foi desejado durante
todo o planejamento, atendendo as diferentes
formas de educar, as diversas concepções O CONCEITO DE DIDÁTICA
e as reflexões docentes, considerando o
ensino/aprendizagem um processo em Criada por Jan Amos Komensky, mais
constante mudança. conhecido por Comenius, a didática, como
dito anteriormente, é um ramo da ciência
A didática, enquanto disciplina pedagógica que tem como foco a prática
fundamentada na pedagogia, tem de métodos e técnicas que possibilitam que
apresentado ganhos na formação teórica e o aluno aprenda por meio de um professor
prática dos educadores que já não concebem ou instrutor, fazendo assim jus ao seu
mais um ensino como apenas transmissão significado: “arte de ensinar”.
de conhecimentos, mas sim um ensino
capaz de dar total autonomia ao aluno A palavra didática vem da expressão grega
para que este possa aprender e exercer sua Τεχνή διδακτική (techné didaktiké), que pode

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Revista Educar FCE - Março 2019

ser traduzida com arte ou técnica de ensinar. A didática também pode ser observada
Na pedagogia, a didática se ocupa dos como uma disciplina que compõe a grade
métodos e técnicas de ensino, destinados curricular da formação de professores nos
a colocar em prática as diretrizes da teoria cursos de pedagogia, onde é constituída de
pedagógica. Ela (didática) estuda os diferentes conhecimentos teóricos e faz a mediação
processos de ensino e aprendizagem. entre o conhecimento científico e o trabalho
docente em sala de aula.
A didática é uma disciplina fundamental na
formação de um professor, mas não se falava Na perspectiva instrumental, pode
desse campo de estudo até o século XVII. ser concebida como um conjunto de
Já nos dias atuais compreender as relações conhecimentos técnicos o “como fazer”
entre o processo de ensinar e o processo de pedagógico, conhecimentos apresentados
aprender tem uma enorme importância. de forma universal e consequentemente
desvinculados dos problemas relativos ao
Para se desempenhar um processo sentido e aos fins da educação, dos conteúdos
significativo na formação de um educador, a específicos, assim como do contexto
didática, não poderá apenas tratar do ensino sociocultural em que fomos gerados.
de técnicas pelas quais se deseja desenvolver
um processo de ensino-aprendizagem. Ela Para que aconteça a relação de ensino-
não deve ser vista ou tradada como apêndice aprendizagem, consideramos que para
de orientações mecânicas e tecnológicas, mas se ensinar é necessário adotar diferentes
um modo crítico de desenvolver uma prática procedimentos, selecionar conteúdos e
educativa, por meio de um projeto histórico, livros didáticos, embora estes, não sejam
que não será feito apenas pelo educador, mas os únicos suportes do trabalho pedagógico
também pelo educando e outros membros do professor. É preciso complementa-los
dos diversos setores da sociedade. afim de ampliar o acesso as informações e
as atividades propostas, adequando-as ao
Para Luckesi (2001), a função da Didática grupo de alunos a quem se vai ensinar.
é a de criar condições para que o educador
se prepare através de técnicas cientificas, A dimensão linguística da relação
filosóficas e efetivamente para o tipo pedagógica é muito importante, pois a
de ação que vai exercer. Podemos dessa linguagem influência na aprendizagem dos
forma observar que o conceito vem sendo alunos e possibilita o diálogo, que por vezes
reformulado ao longo dos anos, dependendo expressa mensagens que nunca foram ditas
da ótica em que ela é observada e em forma de palavras.
contextualizada.
Dessa forma, propõe-se que a didática,
longe de ser um método ou uma receita,

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Revista Educar FCE - Março 2019

subsidie, por meio da relação pedagógica, conhecidas como Teorias de Ensino. Podemos
a oferta qualitativa do ensino em suas destacar entre elas a Pedagogia Tradicional, a
dimensões linguística, pessoal e cognitiva. Pedagogia Renovada, a Pedagogia Tecnicista
e a Pedagogia Crítica.
Como observado, o conceito da didática
é amplo e está constantemente sendo A Pedagogia Tradicional, revela um período
ampliado a partir das perspectivas que vão em que a educação era principalmente
surgindo entorno das reflexões sobre o seu religiosa, seu objetivo era transcender o
papel e sua função na educação. Através homem para ser o melhor de si. Ela sobrepunha
dessa amplitude, ela se apresenta como a teoria à prática, sendo o professor o centro
importante e capaz de influenciar no processo do ensino, “detentor do saber” e onde o
de educar, pois ultrapassa as relações foco era a exposição mecânica do conteúdo,
escolares, embora não possa ser considerada considerado por vezes enciclopédico. Seus
a única responsável pelo sucesso ou fracasso conteúdos eram separados das experiências
escolar. dos alunos e não estavam de acordo com as
realidades sociais.

DIDÁTICA E A ARTE DE A Pedagogia Renovada, conhecida


ENSINAR também como Escola Nova, tinha como
objetivo o “aprender a aprender’, partindo
Jan Amos Comenius (1592-1670), em sua do pressuposto de que o importante é a
obra Didática Magna (1651) relata as primeiras aquisição do saber, o que muitas vezes
interpretações a respeito da didática como desqualificava o saber em si. O conteúdo
a “arte de ensinar”. Ele reconhece o direito era flexível, aberto e espontâneo, partindo-
a educação e a importância da didática em se do conhecimento “vulgar” para chegar ao
relação ao ensino e ao aprendizado de todo conhecimento científico. O professor era
ser humano. visto como um mero auxiliar, e sua função,
era a de ajudar o aluno a reencontrar seu
A didática tem sido defendida e estudada raciocínio.
há séculos por diferentes teóricos, estudiosos
e autores que buscavam identificar e discutir A Pedagogia Tecnicista tem sua base
as várias técnicas e modelos de metodologias na teoria da aprendizagem behaviorista,
educacionais existentes, que teriam como orientada por objetivos instrucionais pré-
único objetivo a melhoria da educação. definidos e tecnicamente elaborados. A ela
cabe o termo “aprender a fazer” uma vez que
Encontramos na história da educação o produto final do ensino é mais importante
períodos em que se difundiram novas do que o aluno e o professor. Dessa forma, a
tendências educacionais que ficaram função da escola é a de produzir indivíduos

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Revista Educar FCE - Março 2019

para o mercado de trabalho, e ao professor Por isso, ao estudar a didática, como


cabe a responsabilidade de transmitir as disciplina no Ensino Superior, não teremos
matérias. um acumulo de informações sobre
práticas e técnicas do processo de ensino-
A Pedagogia Crítica valoriza a escola como aprendizagem, mas sim aprender como
parte de um contexto social, que busca acrescentar a cada sujeito a capacidade crítica
a transformação da sociedade através da em questionar e refletir sobre as informações
democracia. Os conteúdos ensinados aos que foram adquiridas no processo de ensino-
alunos são indissociavelmente a realidade aprendizagem.
do meio social em que estes indivíduos estão
inseridos, o que dá significado real, humano Para Masetto (1997, p. 13) “a didática
e social ao que é ensinado. Nesta pedagogia, como reflexão é o estudo das teorias de
encontramos uma didática preocupada com ensino e aprendizagem aplicadas ao processo
o trabalho docente, com a tarefa do ensino e educativo que se realiza na escola, bem como
com a aprendizagem do aluno. dos resultados obtidos”.

Em síntese, essa trajetória da didática na Durante muito tempo ensinar era visto
busca pela ressignificação, se apresenta com como a transmissão de conteúdos para os
características diversas, de acordo com o alunos, e estes eram considerados seres sem
momento histórico, político e social, sendo luz, incapazes de construírem conhecimentos
inspirada pelas mais diversas correntes, próprios. Hoje, no entanto, o aluno é visto
tendências e concepções pedagógicas. como um ser que possuem uma bagagem
de conhecimentos prévios e que os mesmos
devem ser respeitados.
DIDÁTICA E A FORMAÇÃO
DO PROFESSOR A didática deve ter como papel fundamental
na formação de um professor ser instrumento
A didática, considerada uma ciência que de uma prática pedagógica reflexiva e crítica,
estuda os saberes necessários à prática contribuindo para a formação da consciência
docente, é um dos principais instrumentos crítica.
para a formação de um professor, pois é
nela que o professor irá se basear para a Por esta interação, podemos perceber
aquisição dos ensinamentos de que precisa que a construção de novos conhecimentos
para a prática docente. acontece paralelamente na relação
professor-aluno, visto que o aluno, traz
Como disciplina, a didática, é entendida para o cotidiano escolar sua experiência do
como um estudo sistematizado, intencional, contexto social em que vive e o professor,
de investigação e de prática (LIBÂNEO, 1990). como mediador deve conhecê-lo enquanto

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Revista Educar FCE - Março 2019

ser social, considerando seus conhecimentos prévios e ajudando-o assim, a transformar


essas vivências em conhecimentos significativos.

Diante disso, o atuar educacionalmente, requer adequações ao mundo atual e suas


transformações ágeis que não permitem a estagnação, o que cobra do professor uma posição
dinâmica frente ao processo educacional.

A DIDÁTICA E A DOCÊNCIA
O docente precisa estar ciente sobre sua reflexão enquanto educador e do quanto é
importante que esteja sempre atualizado sobre os conteúdos aprendidos. Ele precisa estar
sempre em constante aprendizado, para assim melhorar suas competências profissionais e
sua metodologia de ensino.

É necessário que os professores repensem o modo pelo qual agem diante da sociedade
e qual é a sua contribuição, uma vez que a identidade não é inerente ao ser humano, mas
sim, uma posição que se constrói quer seja com certezas ou incertezas estabelecidas nas
relações com a realidade social.

Quanto a ação docente, Libâneo (2001, p. 36) diz:

“É certo, assim, que a tarefa de ensinar a pensar requer dos professores o conhecimento de estratégias de
ensino e o desenvolvimento de suas próprias competências do pensar. Se o professor não dispõe de habilidades
de pensamento, se não sabe “aprender a aprender”, se é incapaz de organizar e regular suas próprias atividades
de aprendizagem, será impossível ajudar os alunos a potencializarem suas capacidades cognitivas.”

Para ele, a formação docente é um processo pedagógico, que deve acontecer de forma a
levar o professor a agir de forma competente no processo de ensino.

Cabe ao professor ser mais do que um coadjuvante no processo de ensino, que cativa e
tem a atenção do aluno. É dever do docente promover situações em que os alunos sejam
capazes de construir-se e reconstruir-se a partir de uma educação epistemologicamente
cientifica, que garante ao aluno um ensino produtivo e significativo cognitivamente, buscando
o desenvolvimento humano enquanto ser social e histórico.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se então, que a didática é indispensável tanto na
formação como no trabalho docente, enquanto disciplina é
ela que deve desenvolver a capacidade crítica do professor
em formação, possibilitando analisar de forma clara e
objetiva a realidade do ensino e assim, possibilitar ao aluno,
construir seu próprio conhecimento.

Lembrando que o fazer pedagógico do professor não se


restringe apenas ao fazer acadêmico e que é necessário
analisar o projeto econômico, político e social para se atuar
no contexto atual.

Deve-se entender que a educação é um processo e


entender que a prática pedagógica é parte integrante do
todo social. ALAN CARLOS COELHO
DO NASCIMENTO

Graduação em Pedagogia pela


Universidade Bandeirante de
São Paulo (2010); Especialista
em Letramento pela Faculdade
Campos Elíseos (2017); Professor
de Educação Infantil na EMEB
Carlos Gomes

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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sua Contribuição no Processo de Formação do Professor. Disponível em: <https://fapb.edu.
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Importância da Didática no Processo Ensino-Aprendizagem. Disponível em: <https://
editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/TRABALHO_EV057_MD1_SA8_
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Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 06, Vol. 04, pp 140-157, junho de
2018. Disponível em: <https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/didatica-no-
ensino>. Acessado em 02 de março de 2019.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A GESTÃO ESCOLAR E O TRABALHO


PEDAGÓGICO COLETIVO
RESUMO: O objetivo principal deste estudo considera a importância da gestão escolar no
trabalho Pedagógico Coletivo na formação dos docentes. Para um bom desempenho da
escola e um trabalho com a equipe o gestor tem um papel fundamental, portanto o gestor é
considerado um componente importante para o êxito e conquistas de sua equipe. O gestor
também é muito importante para o aprimoramento da participação da família e comunidade.
O gestor tem que criar e produzir com a equipe motivações para o desenvolvimento de uma
escola e proporcionar momentos de formação dos docentes na escola como mediador e
atender as exigências do desenvolvimento de uma escola.

Palavras-chave: Gestor; Trabalho Pedagógico; Docente

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO O artigo apresentou também as


dimensões do Planejamento educacional
O gestor tem um papel no ambiente escolar como construção coletiva para superarmos
de proporcionar a equipe um ambiente de o controle por uma atuação crítica e
harmonia articulando suas funções, desafios emancipatória no contexto educacional,
e diversidades dentro do ambiente escolar, apresentou o papel do Gestor no
pois com isso é necessário ouvir muito e Trabalho Pedagógico e o papel do gestor
estar sempre atento ao relacionamento com desempenhando sua função na Unidade
as pessoas. Promover momentos de diálogo Escolar, seu desempenho e de sua habilidade
e dar oportunidades da esquipe escolar em influenciar o ambiente que depende
expor suas ideias, demonstrando confiança em grande parte, a qualidade do ambiente
dentro do ambiente de trabalho. e clima escolar, a formação dos docentes
na escola como mediadores destacando
O Objetivo geral do artigo foi abordar a a responsabilidade dos educadores e que
importância do gestor escolar no trabalho deverá renovar sua forma pedagógica,
Pedagógico Coletivo na formação dos assumindo o seu papel em realmente
docentes respondendo a questão da aprender e ensinar e a contribuição da
importância do envolvimento deste gestor gestão escolar para o trabalho pedagógico
frente ao grupo de docentes no pedagógico coletivo explorando o contexto escolar
escolar. desempenhando seu papel e a qualidade do
processo ensino e aprendizagem.
A pesquisa consiste em interpretar as
experiências vitais relacionadas à prática da E concluindo que o gestor é o primeiro
Gestão Escolar, envolvendo a organização do responsável nas articulações e mobilizações
conhecimento, a participação comunitária e em grande parte do ambiente e clima escolar
democrática, a coletivização das capacidades e deve ter como princípio o trabalho em
e potencialidades individuais e a visão conjunto entre todas as pessoas que fazem
dos gestores escolares sobre a sua própria parte do grupo escolar.
prática.

O conceito de Gestão Escolar e FUNDAMENTOS TEÓRICOS


suas características enfoca a estrutura E LEGAIS DA GESTÃO
organizacional da escola, desenvolve uma
breve exposição sobre a estrutura interna
DEMOCRÁTICA
das escolas, os elementos que constituem
o sistema de organização e gestão e a A Constituição Federal de 1988 dispõe
conceituação sobre gestão participativa e no artigo 205 que o trabalho conjunto
seus princípios. entre Estado e família norteará a educação

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Revista Educar FCE - Março 2019

pública brasileira. No artigo 206, inciso IV, XI - vinculação entre a educação escolar,
a Constituição Federal prevê: “a gestão o trabalho e as práticas sociais.
democrática na forma de lei e apresenta os
princípios sobre os quais se darão a educação É fundamental salientar que a gestão
formal no Brasil” (BRASIL, 1988). democrática é um avanço político em que
as pessoas interessadas no processo de
Lei de Diretrizes e Bases da Educação ensino e aprendizagem dialogam, deliberam,
Nacional, com destaque para o Fórum planejam e solucionam problemas
Nacional em defesa da escola Pública. Após voltados ao desenvolvimento da escola.
sucessivos impasses, a Lei de Diretrizes e Esse processo tem como sustentáculo a
Bases (LDB) foi aprovada em 20 de dezembro participação efetiva de todos os segmentos
de 1996 – Lei nº 9394/96. da comunidade escolar: alunos, professores,
funcionários, pais e demais segmentos, tais
A referida lei apresenta no artigo 3º a como, moradores do bairro no qual a escola
seguinte redação: se insere.

Art. 3º O ensino será ministrado com base As ações são definidas por meio de
nos seguintes princípios: planejamento que considera o respeito às
I - igualdade de condições para o acesso normas coletivamente construídas para os
e permanência na escola; processos de tomada de decisões e a garantia
II - liberdade de aprender, ensinar, de amplo acesso às informações aos sujeitos
pesquisar e divulgar a cultura, o da escola.
pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções A gestão democrática entendida como ação
que prevê a descentralização pedagógica e
pedagógicas; IV - respeito à liberdade e administrativa como um meio para alcançar
apreço à tolerância; a autonomia da escola, deseja e implanta o
V - coexistência de instituições públicas funcionamento de colegiados que garantam uma
participação mais decisória dos protagonistas
e privadas de ensino; escolares (FONSECA; OLIVEIRA; TOSCHI, 2004,
VI - gratuidade do ensino público em p.62).
estabelecimentos oficiais;
VII - valorização do profissional da A Gestão Democrática só é possível
educação escolar; por meio da interação entre a escola e
VIII - gestão democrática do ensino a comunidade onde a instituição está
público, na forma desta Lei e da legislação inserida, ou seja, é por meio do exercício da
dos sistemas de ensino; cidadania pautado na participação dos vários
IX - garantia de padrão de qualidade; segmentos da sociedade na administração
X - valorização da experiência extra- escolar, que a gestão democrática se efetiva.
escolar; É importante destacar que o foco da escola

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Revista Educar FCE - Março 2019

é o conhecimento científico, deste modo A GESTÃO DEMOCRÁTICA NO


todo esforço na implementação de uma COTIDIANO ESCOLAR
gestão democrática não pode perder de
vista a função social da escola, conforme nos Conforme Vitor Paro (2007), a gestão
adverte os autores: democrática proporciona a participação
da comunidade e acompanha as ações
A organização e gestão são meios para atingir pedagógicas, tendo influencia no Projeto
as finalidades do ensino. É preciso ter clareza de
que o eixo da instituição escolar é a qualidade Político Pedagógico (PPP) favorecendo o
dos processos de ensino e aprendizagem processo democrático, com isso ter um
que, mediante procedimentos pedagógico- envolvimento da comunidade escolar nos
didáticos, propiciam melhores resultados de
aprendizagem. São de pouca valia inovações diálogos propicio ao contexto educacional
como gestão democrática, eleições para diretor, refletindo o compromisso e responsabilidade
introdução de modernos equipamentos e com os objetivos e metas do Projeto Político
outras, se os alunos continuam apresentando
baixo rendimento escolar e aprendizagens não Pedagógico da escola.
consolidadas (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI,
2006, p.301). É necessário também enfatizar as
contribuições de Libâneo (2004) que destaca
Precisamos dizer também que essa o PPP como um importante instrumento
consolidação nem sempre é fácil, exige, contribuindo para participação de pessoas
sobretudo, exercício da cidadania, pois não críticas com responsabilidades atuando na
basta convocar a comunidade educativa para escola e na comunidade.
ouvir o que foi decidido, é preciso envolvê-
los nas decisões e, para isso, é necessária É importante destacar a ação do gestor
a disposição de saber ouvir e respeitar as pedagogo nas práticas coletivas de
diferentes formas de pensar. Portanto, só planejamento e na organização de um trabalho
é possível pensar em uma Gestão Escolar pedagógico favorecendo o fortalecimento de
Democrática mediante a articulação e uma escola com o compromisso com o papel
participação da comunidade educativa por político e social.
meio das instâncias colegiadas, as quais terão
a equipe diretiva como principal articulador.
Por isso, faz-se necessária aos futuros GESTÃO ESCOLAR
pedagogos uma discussão como esta que PARTICIPATIVA
considere a questão da democracia em sua
totalidade. A escola é um espaço para formação
e com capacidade para a participação na
vida social, interagindo com a sociedade,
buscando diálogos das famílias, docentes e
alunos para terem a responsabilidade por

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Revista Educar FCE - Março 2019

tomar decisões para que a escola funcione democrática, tendo um poder de decisão
melhor e com qualidade. e autonomia sobre suas necessidades e
metas, sua organização e administração
De acordo com Libâneo (2001, p.80): das finanças, trabalhando com o grupo,
expondo as ideias e experiências a todos da
O conceito de participação se fundamenta no de equipe. Quando a Gestão Escolar promove o
autonomia que significa a capacidade das pessoas
e dos grupos de livre determinação de si próprios, envolvimento de todos é porque ela possui
isto é, de conduzirem sua própria vida. Como a a perspectiva social, fazendo com que os
autonomia opõe-se às formas de autoritárias de sujeitos possam “participar no processo
tomada de decisões, sua realização concreta nas
instituições é a participação. de formulação e avaliação da política de
educação e na fiscalização de sua execução”,
salienta Libâneo (2001, p. 131).
A gestão escolar democrática e
participativa pode mudar o espaço da escola, Em busca de objetivos comuns, decisões
transformando as relações e os papeis que e execuções a avaliação compartilhada deve
cada sujeito tem para ajudar na elaboração da ser sempre uma ação do trabalho educacional
construção desse espaço com a participação junto com ações didáticas em uma avaliação
de todos diante de objetivos comuns, de toda equipe escolar. A valorização do
expressando a necessidade da organização trabalho de cada educador investindo em
escolar. relações baseadas no diálogo e na qualidade
e convivência no ambiente de trabalho.
A gestão da escola é fundamental para
a gomada de decisões e posições diante
dos objetivos sociais e políticos da escola O TRABALHO PEDAGÓGICO
cumprindo sua função social e contribuindo E O PAPEL DO GESTOR
na formação e no crescimento do indivíduo.
Segundo Libâneo, (2001, p.114-115): Para atuar como líder o gestor deve incentivar
a autoconstrução, de forma criativa com
“O caráter pedagógico da ação educativa consiste compromisso e responsabilidade dentro do
precisamente na formulação de objetivos sócio-
políticos e educativos e na criação de formas processo educacional. O Gestor tem a função
de viabilização organizativa e metodológica da de coordenar as relações dos profissionais
educação (tais como a seleção e organização de envolvidos na escola, alunos e toda a
conteúdos e métodos, a organização do ensino,
a organização do trabalho escolar), tendo em comunidade para que tenha um envolvimento
vista dar uma direção consciente e planejada ao democrático e participativo, desenvolvendo
processo educacional. ” estratégias para mobilizar e gerenciar a escola
com mais democracia, possuir uma visão em
A autonomia das escolas na comunidade conjunto, articulando e integrando os setores
escolar é um dos princípios da gestão administrativo e pedagógico.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Entretanto, para existir mudanças nessa organização, é essencial ter uma liderança
significativa para conseguir coordenar, tendo uma reação direta no comportamento desses
profissionais.

Conforme Luck (2005, p.33).

A gestão escolar atua como líder, são responsáveis pelo sucesso do que organiza. É chamado de líder a
dedicação, a visão, os valores, o entusiasmo, a competência e a integridade que expressa, que inspira aos que
trabalham em conjunto para atingirem as metas e os objetivos comuns na escola.

É fundamental um gestor que é líder possuir caminhos diferentes para desempenhar sua
função com qualidade e ter repertorio pertinente ao momento necessário e adequado a
cada situação, estabelecendo limites, a paciência e percepção dos acontecimentos ao seu
redor.

A gestão tem que inovar e promover envolvimento de todos favorecendo mudanças


na educação. Pois, assim a afirmação que inovar consiste em: “ trazer novidades, buscar
inovação, renovar, atualizar” (CEGALA, 2005, p 499).

De acordo com Freire (2000, p 67) “ Se a educação sozinha não transforma a sociedade,
sem ela tampouco a sociedade muda”. Assim sendo é necessário que o gestor propicie um
diálogo entre os envolvidos, fortalecendo as relações interpessoais, sendo o gestor o líder
e o maior responsável pela escola, deverá ter visão articulando em conjunto e integrando
todos os setores da Unidade Escolar.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A gestão escolar é considerada uma área de atuação na
qual se objetiva promover a organização, a mobilização
articulando todas as condições materiais e humanas
necessárias para garantir o avanço dos processos sócio
educacionais dos estabelecimentos educacionais, sendo o
grande articulador, o gestor é o primeiro responsável por
esse processo, gerenciando os conflitos, desempenhando
suas habilidades criando um ambiente e um clima escolar
para a qualidade do processo de ensino e aprendizagem. ALCIONE TERESA
HECHERT
O papel de um agente de transformação, o gestor deve
Graduação em Pedagogia pela
desenvolver e refletir sobre sua postura afetiva assumindo Universidade Bandeirantes de
uma responsabilidade da escola e do sistema atuando como São Paulo em 2011; Professora
líder, incentivando com compromisso, responsabilidade e de Educação Infantil no CEMEI
Capão Redondo.
qualidade a forma criativa o desenvolvimento escolar.

As ações específicas relativas à liderança de um gestor


estão diretamente associadas às escolas eficazes, àquelas
que fazem a diferença no aprendizado dos seus alunos. Para
tal, será essencial que exista uma comunicação também
eficaz entre os líderes e os seus liderados, criando um
ambiente útil de confiança e de interação, na motivação
buscando realizações de todos, tendo o aluno como norte
de crescer e trabalhar em conjunto na pratica escolar.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Revista Educar FCE - Março 2019

INCLUSÃO DE ALUNOS COM


DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
RESUMO: Este artigo tem como objetivo trazer o tema deficiência intelectual e a sua inclusão
de pessoas com alguma deficiência acontece, pelo prisma da educação transformadora
e inclusiva, quando a qualidade acadêmica proposta poderá derrubar certas barreiras
tradicionais que presenciamos dentro das escolas brasileiras. A educação deve revolucionar
rumo à transformação inclusiva implicando em mudanças estruturais, tanto políticas
quanto nas propostas educacionais, e seu potencial para a inclusão perpassa pela adequada
incorporação das novas tecnologias no âmbito pedagógico e do desenvolvimento de novas
formas de ensinar. Sendo interessante dentro deste contexto trataremos da parte legal do
assunto traduzindo os direitos e deveres dos portadores de deficiência, tanto no contexto
social quanto no educacional. Tentando esclarecer e informar aos pesquisadores dessa área
as necessidades e dificuldades pelas quais passam os portadores de deficiência intelectual
dentro da sociedade, especialmente dentro das escolas da rede pública de ensino.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Palavras-chave: Educação; Integração; inerente às pessoas, busca perceber e


Necessidades Especiais; Respeito. atender a todas as necessidades educativas
especiais das crianças dentro de sala de aula
comum, em um sistema regular de ensino,
INTRODUÇÃO de forma a promover a aprendizagem e o
desenvolvimento individual de todos. Uma
O professor quando trabalha visando prática pedagógica coletiva, multifacetada,
uma educação inclusiva, que transforme a dinâmica e flexível que exige enormes
sociedade, busca ampliar a participação de mudanças na estrutura e no funcionamento
todos os demais alunos, todos os profissionais das unidades escolares, e na formação dos
da educação, os familiares e a comunidade professores e nas relações entre as famílias
ao redor da escola, para que realmente e a escola.
aconteça essa inclusão, promovendo com
isso uma inclusão de qualidade. A política nacional de educação espacial, na
perspectiva da educação inclusiva, assegura
É necessário que aconteça uma acesso ao ensino regular a educandos com
reestruturação da cultura, das práticas deficiência diversificada como: mental, física,
educativas e das políticas que são vivenciadas surdos, cegos, com transtornos globais do
dentro das escolas de modo que estas vão de desenvolvimento e a educando com altas
encontro à diversidade de todas as crianças. habilidades, superdotados, desde a educação
A educação inclusiva é uma abordagem infantil até a educação superior. No Brasil
mais humanista e democrática que acaba o ensino especial foi, na sua origem, um
percebendo o indivíduo e todas as suas sistema separado de educação das crianças
singularidades, visando o seu crescimento, a com deficiência não podendo ser supridas
satisfação pessoal e a inserção da vida em nas escolas regulares.
sociedade.
Dentro da perspectiva da educação
A inclusão transcorre por dimensões inclusiva, outras racionalidades estão
humanas, sociais e políticas, e vem surgindo sobre aprendizagem. Com o uso
gradualmente se expandindo na da concepção Vygostskyana especialmente,
sociedade contemporânea, ajudando no entende que a participação inclusiva de
desenvolvimento das pessoas em geral, alunos facilita o aprendizado de todos, deles e
contribuindo para a reestruturação de práticas dos demais educandos que convivem com as
e ações inclusivas e sem preconceitos. diferenças. Este entendimento esta baseado
no conceito da Zona de Desenvolvimento
A educação inclusiva se diferencia Proximal, que deve ser conquistada por meio
da educação especial, mesmo que se da mediação do outro, entre educador e
contemplem, configurando na diversidade educando e entre os educandos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Temos como objetivo mostrar como as de diversos atendimentos especializados


diferenças são tratadas e como tentar atender que numa escola normal não há, como
essas crianças da melhor maneira possível fisioterapia, fonoaudiologia e psicopedagogos
dentro das nossas escolas e aulas. E o que especializados e precisam com um convívio
o educador pode fazer para se preparar da com o restante da sociedade.
melhor forma possível para saber trabalhar
com essa criança que apresenta alguma Muitas vezes a família vê na escola uma
deficiência e trabalhar junto com os demais, forma de deixar a criança por algumas
mostrando a diversidade, o respeito e a horas, não pensando no que é bom para
solidariedade que devemos ter com pessoas a mesma. Algumas crianças nem fazem
que apresentam algum tipo de dificuldade outros acompanhamentos, apenas o que
intelectual. conseguimos na Escola, a escola faz alguns
encaminhamentos que às vezes nem levam as
Esse artigo tem como objetivo trazer crianças, e em muitos casos não recebemos
à tona como são as inclusões, as leis que resposta nenhuma desses encaminhamentos.
permeiam esse assunto e como a sociedade
atende essas pessoas, que por causas
diversas possuem alguma forma de limitação UMA ESCOLA INCLUSIVA
no campo intelectual e em alguns casos com
deficiências físicas também. Uma das grandes razões para ocorre a
integração dos educandos com necessidades
O objetivo específico desse artigo é mostrar educativas especiais, foi promover uma
como acontece a inclusão e o que poderia transformação na forma de organizar a
ocorrer, com auxílio de estudos e de pessoas educação especial, atendendo os alunos que
qualificadas para tanto nas escolas de ensino antes eram atendidos nas escolas especiais.
infantil e fundamental no Brasil, começando
desde a preparação das famílias que possuem Essa proposta fez crescer a integração a
alguém com necessidades especiais como os partir da reforma da educação especial.
educadores, gestores e demais funcionários
da escola, pois todos que trabalham dentro Mas não é suficiente só matricular os
das unidades escolares devem entender um alunos com necessidades especiais nas
pouco das limitações e como podem ajudar escolas regulares, não sendo levado em conta
a esse educando a crescer, respeitando e que eles necessitam de um atendimento
auxiliando os educadores. individualizado.

Devemos levar esse assunto a diversas Foram necessárias algumas formulações


esferas da sociedade para poder atender e propostas mais firmes que se articulam
todo mundo, pois essas crianças precisam em torno do movimento por uma escola

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Revista Educar FCE - Março 2019

inclusiva, esse movimento ficou marcado Há vários debates em relação às vantagens


pela exigência de educar todos dentro de e os inconvenientes que trazem a inclusão,
uma mesma escola e a necessidade de isso fez com que diversos estudos fossem à
reformar o sistema educacional. fundo nesse assunto.

O objetivo de termos escolas inclusivas


supõe uma profunda transformação do CRITÉRIOS PARA O ÊXITO
sistema educacional, que vai além de uma
reforma da educação especial. Procuramos Não é fácil tirar conclusões sobre o que
encontrar um sistema mais apropriado para é melhor para os alunos com necessidades
incorporar os serviços e os programas da especiais.
educação especial às escolas regulares.
Para se avaliar sobre a integração é
O principal objetivo é que se tenha necessário definir os objetivos se pretendem
escolas inclusivas com qualidade, que sejam ao incorporar alunos com necessidades
atrativas e valorizadas por toda a comunidade educativas especiais na escola regular.
educacional, mas exige muito mais que boa Sendo necessário ter o conhecimento geral
vontade, e não esteja apenas no papel. É da legislação, da política educacional que
necessário que se tome consciência de tudo se aplica e é preciso conhecer os objetivos
que isso implica. específicos da escola de integração, para
depois avaliar a escola como um todo.
A prática da educação inclusiva faz com
que as escolas precisem de mudanças Só podemos definir os critérios depois
profundas. É necessário ter consciência dos que os educadores definirem as metas e
problemas que existem, é necessário avaliar estabelecerem um programa par alcança-las.
os resultados e analisar a transição dos alunos
com necessidades educativas especiais da Os dois graus necessários para se avaliar
escola para a vida adulta. um programa de integração se referem às
mudanças no desenvolvimento das crianças e
Sabemos o quanto é difícil ensinar as que foram produzidas nas próprias escolas.
alunos com necessidades especiais, muitos Mas o que mais importa é a aprendizagem e
educadores possuem duas aulas, uma para o desenvolvimento dos alunos integrados.
os alunos ditos “normais” e outra para os de Analisando o desenvolvimento cognitivo,
integração, sendo de grande esforço essa o rendimento escolar, a integração social, a
preparação e a organização da aula, pois não autoestima, comparando os resultados com
há material de apoio para todas as situações ele mesmo, desde o inicio desse processo e
que podem existir. com outros alunos que possuem as mesmas
dificuldades de aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A escola precisa de mudanças que produzam as enormes dificuldades que supõe esse tipo
transformações na sua organização, no seu de enfoque impeçam o avanço da integração
funcionamento, na formação dos educadores, de pessoas com necessidades especiais.
no desenvolvimento do currículo integrador
e na construção de um planejamento de
aulas integradoras. AS CONDIÇÕES PARA A
INTEGRAÇÃO
São necessárias mudanças significativas
que produzam nas dimensões relativas aos São necessários diversos estudos para
processos da escola e das salas de aula, no saber se a integração é a melhor maneira de
qual consigam um resultado positivo. atendimento às pessoas com algum tipo de
necessidade, há crianças que não admitem o
Um critério é a integração das pessoas barulho que toda a escola faz, mas como toda
com alguma deficiência dentro da sociedade: pessoa tem o direito de viver e ter acesso à
como vive, qual sua independência, as educação pública, dentro do contexto o mais
relações sociais que estabelece, quais suas integrador possível. A escola precisa atender
reações à adversidade da vida e do meio em da melhor maneira possível essas crianças,
que esta vivendo. adequando tudo, para que a experiência
integradora contribua para uma educação de
O mais importante é como a escola pode maior qualidade.
ajudar na integração das pessoas com
algum tipo de necessidade especial dentro A escola que acolhe as crianças com
da comunidade em que vive, não apenas necessidades especiais precisam de
preparando-as, mas seus colegas também, adaptações, mas isso gera um crescimento
para que aceitem a todos, sem preconceitos, enorme, tanto para as pessoas que tratam
vendo que há a necessidade de integrar com essas crianças, quanto para elas, que
todas as pessoas, sendo elas portadoras acabam aumentando seus horizontes,
de necessidades, ou apenas com alguma não ficando limitadas dentro de casa e de
dificuldade de aprendizagem, mas que elas hospitais, pois geralmente crianças com
podem se tornarem um membro importante necessidades especiais, vão de casa para o
dentro da sociedade, mesmo que ela não hospital ou clínicas e voltam, mas a escola
consiga fazer tudo, mas algo ela pode acaba sendo um lugar no qual “brincam”,
aprender a fazer. conhecem pessoas da mesma idade, e
participam da melhor forma possível das
Podemos perceber que há algumas atividades propostas.
variáveis ambientais e familiares que influem
na competência social e na adaptação de tais É necessário que a escola crie um projeto
pessoas, sendo necessário que se reconheça educacional e um currículo integrador,

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Revista Educar FCE - Março 2019

não apenas mudando seu funcionamento, OS FATORES QUE


organização e planejamento de aula, é FAVORECEM A INTEGRAÇÃO
necessário que a família participe das
atividades escolares, para poder ajudar a Os fatores principais que favorecem a
formular um melhor atendimento, dando integração dentro das escolas são: projetos
opiniões, tentando junto com a escola fazer compartilhados, currículo adaptado, uma
com seu filho cresça como pessoa e aprenda organização flexível e atitudes positivas da
o que for possível para a sua vida fora da comunidade educacional como um todo.
escola.
O projeto educativo das escolas de
Não há uma fórmula pronta, cada integração precisa ter uma variável, que
necessidade é uma, cada dificuldade de prevê todos os processos na integração,
aprendizagem é diferente da outra, mesmo sendo elaborado em conjunto pela equipe de
quando o diagnóstico é o mesmo ou similar, professores, no qual a educação dos alunos
da para perceber que mesmo crianças com a com necessidades educativas especiais é
mesma síndrome possuem diferentes graus o seu maior objetivo, sendo um poderoso
de comprometimento, há casos que a família instrumento de mudança.
percebeu, antes mesmo de nascer que a
criança teria alguma necessidade especial Uma boa qualidade no projeto educacional
e estudou, para poder atender da melhor precisa ter uma equipe docente coordenada
maneira essa criança, a família e o modo com e com atitudes positivas, especialmente dos
que encara a dificuldade de seu filho em se educadores, facilitando a cooperação entre
integrar, é um dos pontos mais importantes todos os funcionários, trabalhando todos
para o sucesso da integração dessa criança em um projeto comum, a integração de
dentro da escola e da sociedade em que vive, pessoas com necessidades especiais. Nem
outro fator importante é o educador que sempre acontece isso dentro das escolas,
atende essa criança, pois quando o educador é necessária também uma direção eficaz,
sabe a importância da integração, e é reunindo esforços ajudando a resolver os
convicto que a criança tem o direito de estar problemas que aparecem.
dentro da escola regular com outras dezenas
de crianças, faz com que essa integração seja Um currículo adaptado é uma das
plena, sem tantos problemas. características mais importantes, pois o
objetivo da integração não é apenas a ficar
com esses alunos dentro da escola com
os demais, mas que consigam participar
de um currículo comum, esse é o principal
problema que a escola apresenta, pois é
complicado tentar montar um currículo

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Revista Educar FCE - Março 2019

que atenda todas as crianças, pois há um escola e todos precisam estar cientes disso,
número enorme de dificuldades, entre elas fazendo com que essa criança seja integrada,
os cadeirantes que não possuem problemas facilitando assim o acolhimento das mesmas.
no cognitivo, alunos com algumas síndromes
que atacam o sistema nervoso, alunos com Há professores que ainda mostram
espectro autista, surdez, cegueira, entre resistência ao receberem alunos com
outros problemas. algum grau de necessidade, pois se sentem
despreparados e a ausência de professores
Normalmente é preciso uma adaptação de apoio suficientes dentro das unidades
dos conteúdos de aprendizagem, dos regulares de ensino públicas, quando há
métodos pedagógicos e da atenção aos um apoio efetivo na escola, as atitudes
alunos. Esse problema está na combinação se modificam em direção positiva, pois
da diferenciação curricular com o objetivo os educadores não podem cuidar de tudo
de que todos os alunos participem de um sozinhos.
currículo comum.
A segurança do professor depende da sua
As escolas integradoras precisam buscar competência e quando há uma estabilidade
práticas que favoreça, a educação dos alunos profissional. Essa insegurança esta
com dificuldades de aprendizagem: instrução relacionada com as dificuldades que imagina
baseada nas suas necessidades; materiais que podem criar na sala de aula os alunos com
e procedimentos que permitem que os necessidades educativas especiais e com a
estudantes avancem no seu próprio ritmo; ajuda que receberá de outros educadores,
tempo adicional para os estudantes que coordenadores e demais funcionários da
necessitarem; aumento da responsabilidade escola.
dos estudantes por sua própria aprendizagem
e cooperação entre os estudantes para É normal que o ponto de vista inicial dos
alcançar seus objetivos de aprendizagem. educadores sobre a integração seja uma
variável, especialmente em função das
Uma organização que seja flexível para dificuldades dos alunos, pois a dificuldade de
atender os alunos com necessidade são um um apoio que existem dentro das escolas é
dos fatores que facilitam a integração, a uma questão que o educador leva em conta,
escola precisa mudar a cultura que o aluno as formações e a existência de programas
é de tal professor, e ele precisa ficar isolado específicos de atualização, são questões que
dentro da sua sala de aula, com esse aluno e os educadores levam muito em conta, pois é
mais tantos outros, trabalhando sozinho, às necessário que existam diversos cursos, para
vezes sem saber o que fazer e a quem procurar que o professor tenha um conhecimento
ajuda. Criando assim barreiras que dificultam sobre o problema do seu aluno, e ao conhecer,
a tarefa conjunta da integração. O aluno é da tentar junto com os demais aprender a lidar

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Revista Educar FCE - Março 2019

com isso da melhor maneira possível, fazendo Aqui no Brasil com a legislação que temos,
com que a integração seja plena e eficaz. na qual a criança tem o direito de frequentar
as escolas regulares, fez com que as famílias
Um fator importante também são as de coragem começassem a tirar seus filhos
disposições legais em favor da integração, de casa para que frequentassem as escolas,
que geralmente não é discutida entre todos mas isso era um pouco escolha da família,
os funcionários das escolas. agora com a obrigação de se matricular
todas as crianças dentro da escola, todas as
As atitudes dos pais que colocam famílias se viram obrigadas a fazerem isso,
seus filhos em escolas integradoras, é de mas na maioria dos casos as famílias fazem
fundamental importância para o processo valer seus direitos de transporte gratuito,
educativo como um todo, tanto das crianças solicitam o que podem, para que dentro da
que possuem alguma deficiência quanto das escola tenham todos os atendimentos.
demais. Os pais de crianças com algum tipo
de deficiência precisam confiar na unidade As atitudes das demais crianças frente
escolar e nos seus funcionários, e precisam ao aluno com alguma necessidade é um dos
ter atitudes positivas, cooperando com a fatores decisivos para a boa integração social
escola quando solicitado, trazendo laudos deles, é necessário que o professor trabalhe
médicos e acompanhando o andamento de isso, desde o inicio do ano, tanto com os
seu aprendizado é de extrema importância. pais, como com seus alunos, para que não
haja nenhuma forma de discriminação frente
Dentro das escolas quando a criança a esse aluno que tem os mesmos direitos de
apresenta pouca dificuldade dentro da sua todos de estarem na sala de aula.
condição, seus pais, geralmente acham positivo
a integração dela dentro de uma escola regular
integradora, mas quando a necessidade é OS EFEITOS DA INTEGRAÇÃO
mais séria e o comprometimento é maior, NOS ALUNOS
quando a dificuldade de aprendizagem
é maior, os pais demonstram uma certa Quando há alguns casos em que as crianças
resistência à integração e mostram um medo apenas apresentam pequenos problemas
em deixar seus filhos dentro de escolas de aprendizagem, nos quais podemos ver
“normais”, achando que haverá alguma forma que a integração é um dos fatores mais
de isolamento, um tratamento agressivo importantes para que aprendam mais, pois
das demais crianças, menos possibilidades colocando essas crianças junto de outras com
educativas, pois o número de crianças é problemas semelhantes, se acomodem, não
superior que uma sala de crianças especiais sabendo em quem se espelhar, mas quando
como havia antigamente, fora que acham os colocadas numa sala regular, verá crianças
recursos das escolas regulares inferiores. da mesma idade, podendo se espelhar no

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Revista Educar FCE - Março 2019

semelhante, buscando aprender e geralmente as crianças que não demonstram problemas


de aprendizagem depois de terminarem as suas tarefas buscam alguém que precise isso
faz com que se sintam importantes, e aprendam com o seu semelhante. A integração com
colegas mais competentes, isso acaba acontecendo nas salas regulares, e isso favorece no
processo nas aprendizagens.

Não é apenas a pessoa com necessidade especial que se desenvolve nesse processo de
integração, os outros indivíduos também crescem com essa forma de ensino, pois aprendem
a esperar, a respeitar as diferenças, o amor ao próximo, o companheirismo e muitas vezes a
amizade é levada para o resto da vida.

Dentro da escola é um ambiente neutro, no qual todos precisam cooperar para o andamento
das aulas, e as habilidades sociais nas quais há integração é tem mais consistência, em que o
aspecto mais importante é que os alunos com problemas de aprendizagem não apresentem
um autoconceito mais baixo que os demais colegas, independente da escola em que se
escolarizam.

A escola integradora é aquela que avalia seus alunos de acordo com suas possibilidades
e não em comparação com seus colegas e que trabalham particularmente em grupos
cooperativos heterogêneos, com mais possibilidades de melhoria e competência social e a
autoestima dos alunos.

A integração é uma opção educativa favorável para qualquer necessidade especial, mesmo
que a criança não aprenda muita coisa dentro da escola, ela sabe que será há mais pessoas
no mundo querendo ajuda-la, e para as demais, o ensinamento de atender ao próximo,
respeitando suas diferenças é algo que levará para o futuro, pois a vida pode mudar de uma
hora para outra, e podemos acabar precisando de atendimento especial algum momento da
vida.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não há dúvida que um conjunto de professores bons
que torna possível o ensino integrador em uma escola
integradora.

O educador precisa demonstrar compromisso e vontade


de ajudar todos os seus alunos, precisa se comunicar
demonstrando entusiasmo e carinho com seus alunos,
precisa dominar o conhecimento da didática da matéria,
facilitando a aprendizagem, ao dominar múltiplos modelos
de ensino: a flexibilidade e sua habilidade para resolver ALDAIR CALCANHO DE
imprevistos, refletir sobre sua prática faz com que seu OLIVEIRA
trabalho seja aprimorado, trabalhar em equipe, ensinando e
Graduação em Pedagogia pela
aprendendo com as experiências de seus colegas. Faculdade Uniararas, (2006),
Especialista em Musicoterapia
Um educador que gosta do que faz e é bom, manifestam- pela Faculdade Campos Elíseos
(2018). Professor de Educação
se com mais facilidade nas escolas que possuem condições Infantil e Fundamental I na CEI
adequadas para apoiar seus esforços, no qual criam um Parque Edu Chaves.
ambiente de extrema colaboração.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO
NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
RESUMO: Atualmente a sociedade que vivemos enfrenta constantes mudanças em todos
os contextos, a educação contemporânea e os docentes buscam estratégias para modificar a
educação tradicional. Com os avanços tecnológicos a educação busca encontrar maneiras para
atender as demandas da sociedade moderna. E diante de inúmeras mudanças o professor tem
o papel importante de mediador, que busca despertar o interesse proporcionando desafios na
sala de aula. O discente precisa estar consciente sobre sua importância na transformação da
sociedade em que vive, precisa estar preparado para ser o protagonista da sua própria realidade.
E diante desses fatores o docente busca conhecer a realidade social dos alunos e da comunidade
escolar e o planejamento participativo é uma estratégia que permite ampliar esse conhecimento,
proporcionando aos alunos exercer suas opiniões, emoções e realidade, através de discussões
coletivas promovendo a formação de cidadãos pensantes, transformadores e conscientes da sua
responsabilidade para construção de uma sociedade mais digna e justa para todos.

Palavras-chave: Protagonista; Realidade Social; Planejamento Participativo;

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO para atender as reais necessidades de ensino


e aprendizagem.
Atualmente, compreendemos a
importância de inserir os educandos e suas Compreendendo a importância do
realidades sociais nos conteúdos aplicados conhecimento dos educadores na real
nas aulas, integrar os alunos no processo de necessidade de aprendizagem dos
construção do próprio aprendizado. educandos, o objetivo do planejamento é
buscar maneiras de introduzir o aluno na
Para conhecer as necessidades dos alunos elaboração do próprio processo de ensino,
é importante que o docente conheça suas através do planejamento participativo.
realidades e necessidades e para que isso
aconteça, o professor precisa realizar um O planejamento participativo tem como
planejamento que permita destacar as metas, principal objetivo uma tomada de decisões
objetivos e o papel social na escola. com uma visão integrada de todos os
envolvidos na comunidade escolar.
E para que haja sucesso ao incluir
suas necessidades de aprendizagem, é Ressaltando a importância em aguçar em
indispensável que o docente conheça as reais nossas crianças e jovens o protagonismo,
experiências de vidas dos seus alunos, e do que desenvolvimento da autonomia e o exercício
o mesmo observa e participa na comunidade da cidadania, ao promover diálogos, reflexão
que está inserido, um instrumento que pode e discussões coletivas, visando constituir
auxiliar o professor nesse conhecimento valores, criticidade e transformadores da
é analisar minuciosamente o Projeto própria realidade.
Político Pedagógico da escola, que possui
informações sobre a comunidade e sobre os
objetivos da escola para esses alunos. A INFLUÊNCIA DO PROJETO
POLÍTICO PEDAGÓGICO
O projeto político pedagógico é um
documento que auxilia diretamente na PARA O PLANEJAMENTO
elaboração do planejamento de ensino, porém ESCOLAR
constitui-se em um processo elaborado para
atender as necessidades da escola como um De acordo com Freitas (2015), o PPP se
todo, e cada turma possui sua particularidade tornou uma exigência dos artigos 12, 13,
e cada aluno sua individualidade, por isso o 14 e 15 da LDB/96, que estabelece que a
planejamento de ensino é importante, pois escola deve elaborar o PPP para que se dê
consegue envolver o cotidiano do aluno uma identidade para a escola, envolvendo os
diretamente com o professor e o mesmo é docentes, discentes, administradores, pais e
capaz de interagir e colocar em ação planos servidores. Que busca juntar a comunidade

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Revista Educar FCE - Março 2019

para a construção democrática do projeto O Projeto Político-Pedagógico visa


escolar. descentralizar e atribuir autonomia
para a comunidade escolar, refletindo
A participação de toda comunidade coletivamente sobre os problemas e
escolar para realizar a construção do PPP, é necessidades da escola, compreendendo a
de grande importância pois os funcionários, realidade social da comunidade, e através
os alunos, as famílias e a comunidade das decisões elaborar o projeto, que deverá
interferem diretamente no cotidiano escolar, ser colocado em prática diariamente na sala
e através de reflexões dessa comunidade o de aula, portanto o docente precisa inserir
projeto elaborado será capaz de retratar a essas necessidades e conhecimento da
realidade global da comunidade escolar e a comunidade no seu planejamento escolar,
equipe terá conhecimento dessa realidade para contribuir diretamente com o PPP.
em todos os seguimentos.

Segundo Veiga (2005), o Projeto Político- O PLANEJAMENTO


Pedagógico precisa estar articulado ao PARTICIPATIVO
compromisso e interesse reais e coletivos
da população, e deve considerar como De acordo com Santos, Ferri e Macedo
um processo para permanente reflexão (2012), a sociedade contemporânea regida
e discussão dos problemas da escola, pelo conhecimento, pela tecnologia e pelo
propiciando uma vivência democrática consumo, rompeu muitos paradigmas
de decisões, com participação de toda pedagógicos e colocou as escolas diante de
comunidade escolar e o exercício da novos desafios a serem enfrentados para
cidadania. que respondam as expectativas sociais e
potencializar o princípio de aprendizagem
Para Veiga (2005), alguns princípios devem para todos, abordando diferentes áreas
nortear a construção do PPP da escola e ciências, permitindo reflexões mais
democrática, pública e gratuita. A igualdade completas, complexas e críticas a educação
de condições de acesso e permanência e a sociedade.
na escola, a qualidade de ensino, não ser
privilegio de minorias econômicas e sociais, a Para Gandin (2011), os tipos de
gestão democrática que abrange dimensões planejamento que os coordenadores
pedagógicas, administrativas e financeiras, pedagógicos geralmente encontram, são
ser um compromisso na construção coletiva repetitivos e sem sentido (apenas para
para repensar os problemas da escola, satisfazer as formalidades burocráticas
liberdade e autonomia para construir da instituição), mas quando pensamos na
a identidade escolar e a valorização do educação escolar como um processo de
magistério através da formação continuada. (re) construção social e de formação do

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Revista Educar FCE - Março 2019

ser humano, buscamos um planejamento democráticas, com participação, interação,


comprometido com as ideias de transformação cooperação e responsabilidade, buscando
social, que constitui como ferramenta para promover as transformações necessárias
definir e transformar as realidades. almejadas no Projeto Político-Pedagógico.

Atualmente a sociedade que estamos O Planejamento Participativo é um


vivendo, os valores estão em crise, relações processo de organização do trabalho coletivo
sociais são injustas e apenas uma pequena da comunidade, onde a realidade da escola
parte da população participa do poder, se deve ser pensada e planejada, a participação
idealizarmos uma sociedade mais ética, de todos os envolvidos para decisões,
humana, solidária e justa, precisamos nos garante um debate democrático e favorece
preocupar com a construção de cidadãos, a execução dos compromissos construídos,
capazes de julgar a realidade e interferir de a participação deve ser entendida como
forma crítica e consciente Gandin (2011). um processo de aprendizagem que visam
a formação do cidadão e uma escola
De acordo com Ganzeli (2000), nos verdadeiramente democrática Ganzeli
últimos anos com os avanços das políticas (2000).
educacionais que visam a descentralização,
a gestão da unidade escolar passou a Nesse processo coletivo de pensar a escola,
faz-se necessário refletir sobre os indicadores
receber mais atenção e ampliar mais as educacionais: taxa de reprovação, taxa de
suas responsabilidades para a melhoria da aprovação, evasão escolar, rendimento dos
qualidade de ensino, através do processo alunos nas avaliações, nível de proficiência
dos alunos nas avaliações externas, índice
de planejamento que incorpore toda a de aproveitamento dos alunos nas aulas de
comunidade escolar. recuperação paralela, entre outros, que como
Para Ganzeli (2000), o planejamento é elementos técnicos próprios do processo
ensino aprendizagem sinalizam as dificuldades
caracterizado pelo processo contínuo de apresentadas pelos alunos no processo e
planejar, acompanhar, avaliar e replanejar. que servem para tomada de consciência e
Realizar um levantamento dos problemas encaminhamento de ações para sua superação
e, consequente obtenção do sucesso escolar de
que envolvam a comunidade escolar e que todos. (SANTOS, FERRI E MACEDO 2012, p.
afetam diretamente a escola, e após analisar 180)
com a colaboração de todos, refletindo e
discutindo sobre soluções propostas para Diante das complexas tarefas, dispondo
resolução desses problemas. com a colaboração e a participação coletiva
de toda comunidade escolar, os sujeitos estão
Para Santos, Ferri e Macedo (2012), o responsáveis pelas reflexões e tomadas de
planejamento é um recurso dialógico e um decisões, a instituição precisa reconhecer o
instrumento de organização do trabalho papel do protagonismo junto à comunidade ao
escolar, que visa empreender práticas promover as práticas democráticas capazes

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Revista Educar FCE - Março 2019

de envolver as pessoas e tornar os objetivos PLANEJAMENTO


comuns para assim causar transformações PARTICIPATIVO NAS AULAS
necessárias para atender as demandas da
sociedade e dos indivíduos que dela fazem DE EDUCAÇÃO FÍSICA
parte. Santos, Ferri e Macedo (2012).
No ensino fundamental II e no ensino
Uma ferramenta necessária e que deve médio, os professores de Educação Física
ser demasiadamente utilizada é a auto enfrentam alguns problemas quanto a
avaliação, que permite conduzir uma melhor participação dos alunos nas aulas, isso ocorre
organização do trabalho escolar, através devido à vários fatores como resistência da
dela será possível reconhecer os pontos pratica esportiva seja por falta de habilidade
fortes (potencialidades) e os pontos fracos ou afinidade ou até mesmo dificuldade em
(fragilidades) e utilizar indicadores de interagir com outros colegas.
metas a serem alcançadas, organizando as
expectativas, necessidades e atividades a Observando essas dificuldades
serem concretizadas. encontradas pelos docentes, o objetivo do
presente trabalho foi realizar uma revisão
bibliográfica que buscasse estratégias para se
aproximar da realidade dos alunos, e também
compreendesse as verdadeiras necessidades
de aprendizagem dos estudantes, através de
discussões e decisões, objetivando torna-los
protagonistas do processo de aprendizagem.

Com o intuito de minimizar essa falta de


interesse em participar das aulas, que são
de grande importância não somente para
o aprimoramento do acervo motor, mas
também para ampliar a diversidade cultural
através da cultura corporal de movimento.

Para Collier (2014), encontrou a


necessidade em buscar novas propostas
na educação física escolar, que considerem
as experiências e anseios dos alunos e da
sociedade, que valorizem o seu contexto
cultural e proporcionem conhecimentos que
colaborem com a conquista de uma melhor

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Revista Educar FCE - Março 2019

qualidade de vida no sentido de igualdade e importância em construir um currículo


democracia. escolar que valorize a igualdade, os direitos
sociais, a justiça social e a cidadania. E para
Os docentes buscam estratégias para propiciar reflexões nos alunos utilizou a
aproximar os alunos e ampliar o interesse em metodologia do planejamento participativo
participar efetivamente das aulas, discussões para organizar por conteúdo a disciplina de
e decisões, e para Collier (2014), a tentativa educação física, proporcionando aos seus
pedagógica aplicada nas aulas de educação alunos uma vivencia democrática, onde o
física foi o planejamento participativo, com mesmo é o responsável pelas consequências
intuito de atuar no processo de transição do das suas escolhas.
indivíduo passivo para o cidadão participativo
que contemplem a diversidade cultural com De acordo com Ott (1984 apud BOSSLE
ações que estimulem o envolvimento e a 2002 p.32) faz referência a três fases do
responsabilização nos processos de decisões. planejamento. A primeira tem como objetivo
atender as atividades da aula. A segunda é
Para Brasil, Corrêa (2011), inquietações instrumental, relacionada a solucionar os
relacionadas ao planejamento permeiam a problemas como falta de produtividade
pratica docente, uma dessas inquietações da educação escolar. A terceira é a fase
é a percepção dos alunos, por esse do planejamento participativo que busca
motivo questionamentos do por que não a mudança do modelo de reprodução, e
dialogar, planejar, ouvir e construir juntos o visa a valorização da construção coletiva,
planejamento, transformando-o numa ação participação e formação da consciência
coletiva e significativa para todos, através da crítica a partir da reflexão sobre a pratica
elaboração e implementação da proposta do transformadora.
planejamento participativo.
De acordo com Venâncio, Darido
Para Souza, Freire (2008), o planejamento 2012, a escola vem envolvendo praticas
participativo é visto como uma estratégia fragmentadas, individualizadas e
para aumentar o interesse dos alunos, reafirmadoras de uma sociedade injusta
utilizando esse recurso o estudante se sente e sem propósito para operar mudanças
pertencente à proposta de ensino e incluso necessárias. Responsabilizando a escola
nas decisões dos conteúdos que serão pelo compromisso político e pedagógico de
abordados em aula. garantir a educação de qualidade, visando
a busca da autonomia crítica e coletiva,
Collier (2014), a fim de resgatar na possibilitando os alunos de transformar a
sociedade atual o direito de todos de terem sociedade em que vivem.
uma vida com necessidades vitais, sociais
e históricas satisfatórias, compreende a

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Revista Educar FCE - Março 2019

Inicialmente o planejamento, tem como Na proposta desenvolvida por Brasil,


principal objetivo dialogar com o projeto Corrêa (2011), com o objetivo de
político pedagógico, uma vez que o mesmo implementar a proposta de planejamento
é a identidade da escola e uma exigência da participativo no ensino fundamental I,
LDB/96 e deve contar com o envolvimento foram encontradas algumas dificuldades em
dos docentes, discentes, administradores, relação ao tempo de aula (1 vez por semana),
pais e servidores visando a autonomia da resistência e aceitação do diálogo (os alunos
unidade escolar. caracterizaram as discussões como perda
de tempo, o que é compreensível, uma vez
Considerando que o PPP é construindo que esse tipo de abordagem precisa ser
através de proposta coletiva da unidade incentivado para tornar o diálogo um hábito).
escolar, que priorizam atingir os alunos de
forma coletiva. O planejamento de ensino Na participação e envolvimento no relato
tem como objetivo a individualidade dos de Brasil, Corrêa (2011), foi observado que
estudantes e atender as necessidades os alunos estão habituados a cumprirem
de aprendizagem, utilizando métodos de o que lhes é imposto, e alguns se sentem
sondagem e observação. inibidos em opinar, discutir e participar, afinal
esse tipo de processo deposita no aluno
Destacamos também a importância da uma responsabilidade com o grupo, sobre
construção e transformação das diversidades a conscientização e importância em tomar
incluídas no ambiente escolar, por isso decisões coletivas, despertando a criticidade
é necessária uma estratégia que consiga e reflexão, mas diante dessas dificuldades
alcançar o desenvolvimento coletivo na sala fica visível que essa construção precisa ser
de aula, com reflexões, discussões e decisões estimulada.
que visam solucionadas nas aulas.
Atualmente, enxergamos a necessidade
O planejamento participativo tem a da transformação e adequação dos métodos
capacidade de atuar em diversas propostas, tradicionais, se no momento atual proposito
desempenhando de maneira ativa a ação e é contribuir para formação de cidadãos
o protagonismo desses alunos, aumentando críticos, protagonistas transformadores da
o senso crítico e o respeito com culturas realidade social, cabe ao docente desenvolver
desconhecidas, compreendendo a uma proposta onde os alunos tenham
importância do conhecimento para alcançar voz para atuar funções na própria escola
o respeito às diferenças e valorização que exponham suas ideias, atuando como
dos valores, acabando com discursos mediador e incentivador desse processo
preconceituosos, rótulos e discriminatórios. educacional.

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Na proposta de planejamento participativo realizada por Correia (1996) para alunos do 2º


grau, utilizando o conceito de cultura corporal e temas como dança, lutas, ginástica, jogos
e etc, o objetivo foi discutir o papel da disciplina e apresentar aos alunos temas para que
os esmos pudessem sugerir e opinar nas atividades. Através de debates, discussões e o
processo de votação para iniciar a construção do projeto, buscando proporcionar aos alunos
processo de decisão, organização e avaliação.

Correia, Freire (1996), após vivenciar o processo apresentou algumas vantagens:


participação e motivação dos alunos, valorização do componente curricular por parte dos
alunos e direção. Desvantagens: desgaste pessoal como providenciar maior diversidade de
materiais. O processo tinha como objetivo crianças e adolescentes, proporcionando a eles
entendimentos sobre a realidade, autonomia, reflexão crítica nas escolhas e tomadas de
decisões do próprio processo educativo para a formação da cidadania.

Portanto, para Brasil, Corrêa (2011), o planejamento participativo apresenta-se como uma
pratica incentivadora de ações protagonistas, mas, contudo, apresenta diversas dificuldades
como resistência ao diálogo e participação efetiva de todos, se considera um processo de
construção que deve ser conquistado, possibilitando uma educação democrática e que
tornem os alunos transformadores desse processo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Planejamento Participativo nas aulas de Educação
Física, mostraram ter alguns pontos negativos entre eles
o desgaste do professor em buscar referências, vídeos e
conteúdo teórico para atender a sugestões dos alunos nas
atividades e conteúdos das aulas, o que não parece ser
negativo quando observado de outra maneira, pensando que
essa tarefa irá agregar conhecimento do docente e também
dará oportunidade de vivenciar, conhecer e aprender com
seus alunos. Outro ponto negativo discutido no artigo é a
falta de participação e comprometimento de alguns alunos ALDIVÂNIA SANTOS DO
nas discussões e tomadas de decisão, porém esse fator NASCIMENTO
precisa ser desenvolvido, uma vez que é uma novidade e
Graduação em Educação Física
eles não estão preparados a essa responsabilidade, o que pela Universidade Nove de Julho
resultará em momentos de reflexão sobre as discussões (2012); Especialista em Fisiologia
quando se deparem com situações insatisfeitas e do Exercício Aplicada a Clínica
médica pela Universidade Federal
compreenderá que foi o responsável pelas escolhas. Porém de São Paulo (2014) Professor de
as vantagens sobressaem, com o planejamento participativo Ensino Fundamental II – Educação
é possível desenvolver aspectos que construam uma Física - na EMEF Professor
Ernesto de Moraes Leme.
escola democrática, com a comunidade escolar envolvida
ativamente, um maior interesse dos alunos nas aulas e ainda
o despertar do protagonismo, a formação da cidadania, do
individuo com autonomia e com consciência critica sobre a
transformação a sociedade atual suplica.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Paulo, v.26, n.1, p.97-109, jan./mar. 2012.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DO
EDUCADOR PARA A OFERTA DE UM
ENSINO DE QUALIDADE
RESUMO: O presente artigo discorre sobre a formação dos educadores, refletindo sobre
a importância de uma formação qualificada no contexto escolar, permeada de práticas
pedagógicas adequadas que favoreçam a construção do conhecimento e aquisição de
aprendizagens significativas dos educandos. Inicia, refletindo sobre a formação do educador,
pontuando aspectos que a caracterizam como uma capacitação profissional. Em continuidade,
explana sobre a formação continuada como um tipo de formação necessária para manter o
educador contextualizado com as mudanças sociais, favorecendo práticas pedagógicas que
tragam conteúdos que atendam às necessidades reais dos educandos. Em sequência, pontua
a relação existente entre a formação e a prática pedagógica dos educadores no cotidiano
escolar, frisando sobre a importância de uma formação adequada que traga melhorias na
qualidade de ensino ofertado aos educandos. Por objetivo, o artigo traz uma compilação de
argumentos que com o intuito de favorecer uma reflexão-crítica sobre a importância de uma
formação qualificada na capacitação do educador. Como metodologia traz uma revisão de
literatura.

Palavras-chave: Formação; Qualificação; Educador.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO Neste contexto, este artigo servirá como um


importante contribuinte para a compreensão
O presente artigo disserta sobre a sobre uma formação inicial e/ou continuada
importância de uma formação qualificada qualificada, visando o desenvolvimento
dos educadores, capacitando-os para dos educandos nas diversas vertentes que
enfrentamento dos desafios que a sociedade o compõem (cognição, motricidade e sócio
tem apresentado, em virtude das velozes afeição).
transformações que inferem na constituição
das necessidades dos educandos. Como objetivo, o artigo apresenta uma
compilação de argumentos, visando a
A formação do educador é um requisito possibilitação de uma reflexão sobre o
fundamental para capacitar o indivíduo impacto da formação do educador nas
para ministrar aulas nas etapas básicas. Esta práticas pedagógicas e, consequente,
formação deve trazer subsídios diversos para desenvolvimento integral dos educandos.
que o educador compreenda a necessidade
dos seus educandos nos moldes em que se Para composição do teor do
encontra a sociedade nos dias atuais. Dessa desenvolvimento do artigo, foi utilizada a
forma, se torna perceptível que os momentos metodologia de revisão de literatura com
de formação educacional tenham como base análise crítica-reflexiva de artigos científicos
o perfil dos educandos contemporâneos que dissertam parcial ou integralmente
com análise sobre as práticas pedagógicas sobre a temática, trazendo uma abordagem
que sejam adequadas a construção de um qualitativa.
conhecimento que possa ser usufruído nas
relações de educando em sociedade.
FORMAÇÃO INICIAL E
A massificação na oferta de cursos CONTINUADA
superiores de licenciatura tem feito com que a
qualidade desta formação esteja diminuindo, A ação do educador, segundo Ferreira
não capacitando adequadamente os (2010), perpassa aprendizagens tecnicistas,
educadores. Com essa desqualificação conceituações e metodologias, requerendo
das práticas pedagógicas, os educandos que este se envolva de forma inter-
se deparam com conteúdos e dinâmicas relacionada com o currículo e planejamento
de aula que não atingem seus interesses, e prime pela capacitação das soluções de
não possibilitando a educação atingir seu problemas relativos a um contexto escolar
objetivo de desenvolvimento integral e que surgirão no futuro.
formação cidadã dos educandos.
De acordo com Bezerra e Medeiros (2016),
a formação não pode ser baseada em modelos

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Revista Educar FCE - Março 2019

de resoluções de problemas, mas sim, deve por objetivação o incentivo ao educador a


trazer a proposição de estratégias variadas apropriar-se de saberes que vão de encontro
que façam com que o educando pense em a uma autonomia, mediante uma prática
possibilidades de ações, mediante a análise, crítica-reflexiva. Nesta formação constante
a reflexão e a atuação, por meio de um dos educadores, o movimento fundamental
professor mediador que traga experiências é que eles consigam compreender a
e práticas que favoreçam a formação deste importância de uma reflexão crítica na sua
indivíduo. prática pedagógica. Com isso, o educador é
capaz de refletir sobre os pontos positivos
Na formação inicial, o educador, segundo e negativos da sua prática e reformulá-la,
Ferreira (2010) deve ser estimulado a uma a fim de melhorar cada vez mais o dia a dia
reflexão sobre mudar os paradigmas pré- da sala de aula. Infelizmente, na atualidade
existentes. Neste contexto, o educador deve é possível observar que alguns educadores
adquirir um conhecimento de formação se distanciam da reflexão de sua prática,
profissional que influa em uma formação de utilizando de metodologias teóricas que,
vida com modificações que, por vezes, são por vezes, não atendem às necessidades dos
lentas, pois necessitam experiências práticas. educandos.

Em relação à formação continuada, Por mais que o processo de formação


conforme Cunha (2013), esta é fundamental continuada ainda seja recente, como
para que existam iniciativas sobre uma prática cita Ferreira (2010), tem ganhado mais
relacionada a teoria aprendida na formação visualização da contemporaneidade, devido
inicial, que vai se reestruturando de acordo ao acompanhamento do desenvolvimento
com o tempo profissional dos educadores. mundial e suas modificações. Com isso,
Este tipo de formação pode ter formatos é perceptível que a formação continuada
e durações diferenciadas, tornando-se um permite o desenvolvimento de aptidões
processo de qualificação e capacitação do e valores relativos ao progresso social do
educador. Ela pode ter origem na iniciativa indivíduo e do meio em que ele está inserido,
dos próprios educadores quando eles buscam favorecendo reflexões sobre as tomadas de
formas de aprimorar-se, assim como pode ser decisões.
menos reativa de programas institucionais.
Dessa forma, a formação continuada pode Ao participar da formação continuada,
ser de responsabilidade das instituições Ferreira (2010) coloca que o educador passa
de ensino, assim como, das universidades, por um processo em que a curiosidade
sendo o agente mobilizador desta formação. o motiva a saber mais, mantendo uma
motivação por aprender a compartilhar
Freire (1996 apud Bezerra; Medeiros, esses conhecimentos que vem adquirindo.
2016) coloca que a formação continuada tem Dessa forma, é possível perceber a inovação

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Revista Educar FCE - Março 2019

educativa, na qual uma pesquisa educativa ser articulada com a sociedade em que os
realizada, mediante a observação da prática educandos estão inseridos, contribuindo
e da sua origem em virtude das necessidades para o desenvolvimento integral e formação
dos educadores, junto a educação, possibilita cidadã dos mesmos.
um novo rumo, novas resoluções de situações
problemas e incentivo ao educador que se Portanto, Bezerra e Medeiros (2016)
encontra inserido em um meio de trabalho evidenciam que qualquer programa de
atrelado as modificações sociais. formação continuada possibilita que o
educador esteja em constante construção,
Para desenhar melhor esta assertiva, por meio da articulação de teoria e prática.
Medeiros Bezerra e Medeiros (2015) Sendo assim, a formação continuada
afirmam que as ideias voltadas à formação tem como característica tendências que
continuada são vistas como um processo enriquecem o desenvolvimento e capacitação
único, apontando para a importância de profissional do educador.
avançar e criar novos paradigmas em que
o educador efetive-se continuamente no Segundo Azevedo e Magalhães (2015), a
processo de capacitação e qualificação da formação continuada é inerente ao trabalho
formação inicial, melhorando sua prática profissional do educador, se tornando parte
profissional, por meio de saberes inovadores de um processo de formação que ocorre
com articulação entre eles e a sua carreira durante toda a carreira e atuação profissional
profissional. com a utilização de pesquisas, produções
teóricas, realizações de cursos, inovações
A formação continuada, para Solarevicz práticas contextualizadas no ambiente em
(2018), é apontada como um importante que atuam, constituindo um procedimento
caminho para que a educação atinja a que complementa a formação inicial.
qualidade almejada. Neste contexto, Com isso, é perceptível que a formação
Ferreira (2010) coloca que compreende o continuada deve estar presente nos cursos
processo de formação continuada como formais e informais, com o intuito de suprir o
uma capacitação que surge para apoiar distanciamento entre teoria e prática, sendo
o educador na sua rotina diária no que observada uma metodologia de ensino
concerne as estratégias metodológicas de adequada que atenda às necessidades do
ensino e uma prática pedagógica adequada educando, com modificações relativas ao
que deve ser desenvolvida em articulação estudo de produção de novos conhecimentos
com os educadores e profissionais das relacionados às demandas econômicas sociais
instituições, contribuindo para o trabalho tecnológicas e cultural da humanidade.
do educador. Esses aspectos trazem
contribuição positiva, de forma a destacar Ainda na ótica de Azevedo e Magalhães
que a educação necessita ser modificada e (2015), é perceptível que o educador

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Revista Educar FCE - Março 2019

tem na formação continuada um subsídio que garante a formação continuada para os


para crescer profissionalmente e que as educadores, objetivando a continuação da
experiências que vivenciam no dia a dia fazem valorização das experiências profissionais que
parte da constituição da sua identidade necessitam de momentos que possibilitem a
docente. Isso é possível observar porque os reflexão e troca de ideias, que favoreçam a
educadores que se encontram inseridos em continuação da construção de conhecimento
instituições escolares por bastante tempo, acadêmico. Sendo assim, um bom educador
apresentam conceituações e as representam deve estar atualizado, conhecendo as
na prática pedagógica diária com um ensino transformações e informações que estão
que o caracterize. Tais vivências servem como à tona na sociedade, permitindo que essa
uma base para reflexão do que é possível capacitação seja permanente e infira na sua
melhorar para a próxima prática pedagógica, identidade profissional.
favorecendo uma qualificação no ensino
e uma capacitação profissional que traga Segundo Ferreira (2010), as instituições
projetos na trajetória docente, facilitando trazidas pelos gestores da escola devem
a construção de novas concepções, novas propiciar espaços onde essa formação
atitudes e valores sobre a docência. continuada ocorra maximizando o
desenvolvimento profissional dos seus
A formação continuada, para Azevedo educadores, sendo esta uma das melhores
e Magalhães (2015), não deve suprimir a formas de elevação da qualidade de ensino,
formação inicial, pois a formação inicial é a servindo como um incentivo ao educador e
base para o exercício profissional qualificado, permitindo que os educadores tenham um
enquanto a formação continuada traz as crescimento profissional.
múltiplas possibilidades de inter-relacionar
essa teoria com a sociedade em que os Dessa forma, é possível afirmar que
indivíduos estão inseridos, favorecendo a formação do educador não ocorre de
o atendimento das necessidades dos forma a acumular cursos, conhecimentos
educandos, devendo ser valorizada por um e técnicas, não desvalorizando esses
comportamento que incida em mudanças instrumentos na qualificação profissional
para o coletivo na construção da nação. do mesmo, mas é necessário que haja uma
reflexão sobre a prática pedagógica diária e
Ferreira (2010) pontua que não existe sobre a sua identidade pessoal e profissional,
formação definitiva, mas que ocorre um elencando as dificuldades que favoreçam a
processo de atualização constante e que busca de uma significação interior das suas
não se finda de forma fácil. Essa constante aprendizagens e do que aprende com a sua
reflexão reorienta e reavalia o diálogo entre prática pedagógica.
teoria e prática. Ainda na ótica do autor,
existem legislações como a LDB 9394/96

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Revista Educar FCE - Março 2019

FORMAÇÃO DOCENTE como a sua primeira base para uma prática


pedagógica. Dessa forma, reconhece-se que
Para Azevedo e Magalhães (2015), o ensino o indivíduo, na capacitação de educadores,
pode ser compreendido como um vício que tenta legitimar um repertório científico que
traz apoios a construção do conhecimento, construa e elabore uma formação adequada
mediante as experiências acumuladas nas para a prática pedagógica. Neste contexto,
práticas sociais e coletivas dos educadores. a formação continuada serve como uma
O saber-fazer profissional tem se relacionado ferramenta de especialização do educador,
com uma prática pedagógica que utiliza onde é possível verificar a luta por novas
a teoria sem nenhuma modificação, de significações diante das novas competências
forma mecânica, na sua prática pedagógica. que os educadores vão assumindo na
Este educador vai construindo ao longo sociedade contemporânea, favorecendo um
da sua carreira experiências e vivências saber-fazer que atenda às necessidades dos
que o permitem remodelar os esquemas educandos.
práticos apreendidos na formação inicial,
combinando-as de uma nova forma que A formação de educadores, segundo
favoreça as aprendizagens dos educandos, Azevedo e Magalhães (2015) reflete na
mas nem sempre isso é observado. Com isso, formação do educando, que deve servista como
é visível a necessidade de inter-relacionar uma formação que prime pelo crescimento
o pensamento e a ação, ou seja, a teoria e de sujeitos com autonomia. Porém, essa
a prática, adequando-as às necessidades formação encontra-se comprometida. Dessa
apresentadas pelo grupo em que o docente forma, é fundamental resgatar o conceito
está atribuído. Refletindo sobre a docência de autonomia defendida por Freire (1996
como uma formação profissional complexa, apud Azevedo; Magalhães, 2015) em que o
na qual os movimentos que a constituem autor coloca que a autonomia é um princípio
e a literatura específica da área trazem pedagógico para uma educação libertadora.
conformidade com propostas legalistas, que Essa educação deve propiciar as melhores
apresentam textos de redução a função do condições do educador e dos educandos
educador a parâmetros pré-moldados, leva- de desenvolver-se dentro da subjetividade
se a um questionamento sobre a legitimação e das representações de mundo, assim
das universidades como o espaço ideal de como, favorecer a construção e defesa
formação para o educador. argumentativa a partir dessa visão construída
do mundo. Sendo assim, formar perpassa o
Os pressupostos teóricos e metodológicos treinar o educando no desenvolvimento das
apresentados por Bezerra e Medeiros suas capacidades e habilidades, devendo
(2016) tem influência na forma de pensar ser visto como um domínio da decisão da
e fazer dos educadores, que adquirem avaliação da liberdade, da ruptura, da opção
as informações dos cursos universitários que são instaurados diante da necessidade

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Revista Educar FCE - Março 2019

de aquisição de valores éticos que se impõe como sujeito da sua prática pedagógica.
as responsabilidades. Dessa forma, refletir a formação continuada
é considerar os saberes constituídos dos
O local de formação, segundo Cunha educadores e os elementos específicos de
(2013), antigamente, era visto como um suas práticas pedagógicas.
espaço de formação único e posto que
com o tempo solicitou análises sobre É fato, como citado por Solarevicz (2018),
estratégias políticas que permitissem que que mudar é difícil e essa rebeldia apresentada
o docente verificasse aquele espaço como pelos educadores é o ponto de partida que
um embasamento fundamental para a sua mais atrapalha na evolução e capacitação do
prática pedagógica profissional, trazendo a profissional da educação. A mudança é difícil,
necessidade de modificações e acréscimos mas ela é possível. Portanto, o educador
de contingências que reformulassem essa atual deve conscientizar-se da necessidade
formação de uma maneira mais atual de de mudar, visualizando que a preservação
acordo com as necessidades sociais do de suas ações concretas não o engrandece
próprio educador, favorecendo as interações profissionalmente. Dessa forma, a educação
humanas e interações com o meio. deve modificar as suas concepções de
que o fracasso dos educadores que estão
Para Solarevicz (2018), é fundamental intimamente relacionadas apenas a sua
compreender o educador como um prática em si.
intelectual que procura sua própria
qualificação e capacitação por meio da sua Portanto, torna-se fundamental que o
formação. Porém, a formação acadêmica não educador se conscientize que existe grande
tem dado conta de suprir as necessidades importância em sua formação inicial e em
que o educador encontra em sua prática. sua formação continuada, servindo como um
Assim, existe uma credibilidade em relação instrumento de progresso contemporâneo
a importância do educador buscar novas na educação, favorecendo modificações
formas de conhecimento não apenas para nas formas de construção de conhecimento
repassar os conteúdos, mas para atuar como e atendimento das necessidades dos
um mediador do processo de aprendizagem educandos. Dessa forma, entende-se que as
dentro do ambiente escolar. aulas precisam apresentar-se de maneiras
diferenciadas para favorecer a motivação
Segundo Bezerra e Medeiros (2016), do educando e permitir a aquisição de
considerar o educador como sujeito da sua aprendizagens significativas e construção de
história significa dar a ele instrumentos conhecimento.
para uma atuação sobre a sua prática
que envolva todos os momentos de uma Isso pode ocorrer mediante a utilização
formação, permitindo que seja reconhecido de estratégias que favoreçam uma dinâmica

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Revista Educar FCE - Março 2019

de ensino mais adequada. Sendo assim, a que favoreçam reter ou rejeitar o velho diante
facilitação da aprendizagem dos educandos da sua reflexão de utilidade no novo. Solarevicz
leva o educador a refletir sobre sua prática (2018) acrescenta que ensinar traz exigências
pedagógica, propiciando que modifique as do educador sobre aceitar o novo e rejeitar o
estratégias de ensino, trazendo aplicação de que não é mais adequado à atualidade. Coloca,
instrumentos que favoreçam a articulação ainda, que a qualidade inerente ao educador
entre os conhecimentos passados e a sua está na inter-relação pessoal, onde deve
utilização social. atuar contra qualquer tipo de discriminação e
preconceito entre os indivíduos.

FORMAÇÃO QUALIFICADA Essa formação para humanidade segundo


Solarevicz (2018), possibilita a reflexão sobre
Na sociedade contemporânea existem a diferença entre dizer “que não sabe, mas
modificações, adaptações, atualizações e que pode aprender” ou “vou mentir afirmando
aperfeiçoamentos para que o educador que conhece para não perder a pose”. O bom
consiga atender as demandas dos educandos. educador, com certeza optará pela primeira
Neste sentindo, quem não está se atualizando resposta, porém o educador despreparado
não está favorecendo uma educação adequada e que não tem a vontade de aprender e
aqueles educandos que possuem contato atualizar-se sobre novidades sociais, utiliza
diário com o educador. Segundo Solarevicz essa primeira frase com constância. Neste
(2018), é possível que a globalização, a contexto, Solarevicz (2018) pontua que o
informática e todos os meios de tecnologia educador não é um sujeito omisso, mas sim
modernos se torne um desafio para aqueles um sujeito optativo, sendo da opção do
que se formaram há décadas, porém, essa educador buscar o novo conhecimento ou
tecnologia está inserida na formação dos não, mantendo-se atrelado a formas de ensino
educandos na atualidade. Este é apenas um que não condizem com as demandas sociais.
exemplo da importância de que o curso de
formação dos educadores, pensando sobre Segundo Solarevicz (2018), ao ensinar
a formação inicial, deve ser reestruturado é necessário o segmento de alguns
constantemente em uma formação critérios, nos quais um desses critérios
continuada que favoreça a reflexão sobre as abordados significa que ensinar necessita
novas tendências sociais, possibilitando que de um rigor metódico. Porém, esse rigor
entre no universo do educando e ofereça, a não está atrelado, simplesmente, ao
este, formas de construir um conhecimento ensino e explanação de conteúdos, sendo
que seja adequado à sua prática futura. correlacionado a possibilidade do educador
favorecer ao educando o desenvolvimento
O educador necessita discernir para ter uma da criticidade, da capacitação, do pensar
aceitação sobre o novo, utilizando de ações e do pensar correto. Dessa forma, quem

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Revista Educar FCE - Março 2019

ensina a pensar certo, só poderá ensinar Outro ponto levantado por Solarevicz
essa forma de pensamento caso pense desta (2018), significa que educar não é transferir
mesma forma, ou seja, tenha habilidade conhecimentos, onde o autor coloca que o
desenvolvida em si próprio. O bom educador conhecimento necessita ser vivenciado, pois
ensina seus educandos a conhecer e usar este ensinar o correto requer uma atuação exigente
conhecimento para inter-relacionar-se com difícil que necessita ser assumida e defendida.
e no mundo, favorecendo as transformações
sociais para a melhoria desse no coletivo. O educador segundo Solarevicz (2018),
deve ter consciência de que a curiosidade
Em complemento, Solarevicz (2018) pontua move, inquieta e insere o indivíduo na
que não é possível passar da ingenuidade busca de aprendizagens. Portanto, a aula
para a criticidade sem que exista um bom que educador ministrar deve desafiar os
trabalho sendo desenvolvido por meio de educandos e não permitir que se sintam
uma curiosidade crítica insatisfeita com desmotivados pelas apresentações dos
constância de busca do conhecimento. Com conteúdos. Neste contexto, a curiosidade,
isso, o autor quer colocar que o educador se bem estruturada e estimulada, durante
necessita ter conscientização de que ser a prática pedagógica, se torna a principal
ético e agir como tal é fundamental para a fonte de estímulo motivacional dos
observação e reprodução dos educandos educandos. Vale ressaltar que é necessário
em relação à sua atuação. Neste contexto, que o educador saiba lidar com a sua relação
o educador deve ter coragem para assumir de autoridade e liberdade, para que os
seus posicionamentos e modificar-se diante educandos compreendam o seu papel dentro
das atualizações sociais. da escola e dentro da sociedade, diante de
uma postura hierárquica, assim como seja
Ainda na ótica de Solarevicz (2018), perceptível o tratamento de respeito entre
ensinar exige consciência do inacabamento, ambos os indivíduos.
ou seja, o educador não é o dono da verdade,
construindo a sua própria aprendizagem Para Azevedo e Medeiros (2015), ao partir
nas inter-relações com os educandos que do pressuposto que a formação do educador
trazem óticas diferenciadas e favorecem deve orientá-lo a uma prática social crítica,
que o educador consiga visualizar coisas esta formação deve ser centralizada numa
que não via anteriormente. Isso faz parte prática social que estimule a movimentação
da construção de um conhecimento e entre agir-refletir-agir, se tornando a tomada
aprendizagem particular dos próprios de decisões e construção de conhecimento
educadores. Portanto um conhecimento pelo educador.
não se encontra acabado, se construindo,
se atualizando e reformulando a cada passo Conforme Freire (1983 apud Bezerra;
que o educador dá. Medeiros, 2016), a correlação entre teoria e

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Revista Educar FCE - Março 2019

prática se torna um processo articulado com uma práxis, ou seja, onde a ação leva a reflexão,
essa reflexão leva a uma reestruturação e uma nova ação. Isso favorece as mudanças na
forma de pensar e agir do indivíduo. Sendo assim, é importante que a teoria e a prática
estejam constantemente correlacionadas.

De acordo com Bezerra e Medeiros (2016), a práxis significa uma reflexão sobre a prática,
a qual é por uma ação, configurando uma forma circular. Esse processo vai orientando e
desenvolvendo a formação do indivíduo, porém, é necessário refletir sobre a práxis ser uma
atividade, mas nem toda atividade vem a ser uma práxis, pois a relação existente entre
a teoria e prática demonstram que a prática fundamenta a teoria, a teoria conduz a uma
prática, a prática pode ser vista como um critério de verdade, onde você verifica se a teoria
funciona a determinado espaço ou não, porém a prática pode modificar a teoria, mas todos
os elementos da teoria serão necessárias para uma prática.

Articulando a práxis a teoria e a prática é possível observar que a práxis é atividade do


indivíduo de refletir sobre a sua prática, utilizando os seus conhecimentos teóricos ou refletir
sobre a teoria, utilizando da sua prática, porém, quando você realiza uma atividade onde
você não faz esse tipo de reflexão não é possível observar uma práxis, confirmando então
a primeira frase descrita que “toda a práxis é uma atividade, mas nem toda atividade é uma
frase”.

Sendo assim, Ferreira (2010) coloca que a capacitação profissional do educador deve
trazer a valorização e o incentivo ao planejamento com envolvimento de estratégias de
ações onde apresente uma característica de facilitador do processo de ensino-aprendizagem
com o estabelecimento de metodologias que englobem o pensar e estimular, mediante uma
reflexão sobre a sua prática no contexto em que está inserido.

Para Azevedo e Medeiros (2015), a formação do educador não se finda nos cursos de
formação, pois o curso não se torna uma práxis para o futuro educador, sendo que um
curso não é uma prática docente mas é a teoria que este adquire para tentar qualificar a sua
prática docente e realizar a reflexão sobre a adequação dessa teoria na rotina escolar.

Dessa forma é fundamental centrar a formação educadora nos aspectos relacionados


ao desenvolvimento das competências e capacitação, possibilitando a articulação entre o
ensinar a fazer a prática pedagógica e a reflexão sobre essa atuação do educador, mediante
os resultados positivos ou negativos, apresentados pelo grupo de educandos, favorecendo
uma qualificação profissional que traga consequências a concepção de ensino.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das fontes argumentativas evidenciadas no
decorrer da composição deste artigo, foi possível observar
que a formação é a capacitação e qualificação necessária para
que o educador ministre suas aulas no contexto da educação
formal, devendo ser um instrumento de inovação sobre as
suas práticas pedagógicas que visem o desenvolvimento
integral dos educandos e a formação do cidadão, mediante
o atendimento de suas necessidades no que concerne a sua
atuação em sociedade.
ALECIANE FERREIRA
Isso se tornou visível por causa da verificação que muitos NASCIMENTO DA SILVA
elementos devem ser trabalhados durante o processo de
Graduação em Pedagogia
formação do educador, processo este, que deve ocorrer pelas Faculdades Integradas de
de forma contínua, trazendo subsídios que enriqueçam Ciências, Humanas, Saúde e
e adequem sua prática pedagógica de forma a articular Educação de Guarulhos (2014);
em Letras pelas Faculdades
currículo e interesse dos educandos. Integradas de Ciências, Humanas,
Saúde e Educação de Guarulhos
Dessa forma, a formação vem a engrandecer o educador (2006); Pós-graduada em Língua
e Cultura Portuguesa; Professora
e construir uma identidade que permita sentir-se realizado de Educação Infantil e Professora
ao dar suas aulas. Para isso, torna-se fundamental destacar a de Ensino Fundamental I na rede
necessidade da formação inicial e continuada, pois a primeira Municipal de São Paulo.
traz as bases teóricas e a segunda traz a reflexão sobre a
prática articulando essas duas ferramentas de grande valia
para qualificar o ensino.

Sendo assim, a formação deve ser adequada, trazendo


elementos que contextualizem o educador diante das
concepções de ensino que são defendidas na sociedade
contemporânea, garantindo ao educador um desempenho
favorável a construção de um conhecimento que seja
repassado aos educandos diante de práticas crítica-
reflexivas sobre a função da educação na atualidade.

119
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Revista Educar FCE - Março 2019

A MÚSICA COMO INSTRUMENTO DE


APRENDIZAGEM
RESUMO: Esse artigo tem como objetivo trazer como a música pode se transformar num
instrumento muito importante no aprendizado das crianças, pois é uma forma de expressão
dos seres humanos, dentro das escolas a música está perdendo o espaço, sendo necessário
que refletimos sobre nossas práticas para conseguir trazer a música de volta no cotidiano das
escolas. Os professores precisam estudar sobre como a música pode ser trabalhada dentro de
sala de aula com as crianças, tomando sempre o cuidado de experimentar e vivenciar a música.
As crianças adoram trabalhar com músicas, sendo muito importante para o seu desenvolvimento
como um todo, aprendem muita facilidade, podendo com a música demonstrar sentimentos
e vontades, além de trabalhar também a sociabilidade das mesmas, a música trabalha com o
raciocínio lógico, e isso faz toda uma diferença no desenvolvimento das crianças. O professor
precisa buscar base teórica e diferentes atividades, que encaixe na sua sala de aula, ampliando
o campo de sugestões para desenvolver um trabalho sério dentro da sala de aula.

Palavra-chave: Aprendizagem; Desenvolvimento; Educação; Música.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO consideração o contexto sociocultural do local


em que a escola, podendo o professor contar
Os recursos usados para as aulas de música com a participação dos próprios alunos para a
são de natureza lúdica e por meio dos jogos e seleção.
brincadeiras, do nível sensorial, trabalhando o
corpo de maneira natural, atingindo o nível da Para as crianças o trabalho com música
sensibilidade, responsável pelo aprimoramento traz diferentes sensações, melhorando no seu
do trabalho, chegando-se ao nível mental, aprendizado, fazendo com que a sala de aula
momento em que as experiências vividas serão se torne um ambiente prazeroso, aumentando
compreendidas e teorizadas. o interesse das crianças em participar das aulas
como um todo.
É interessante buscar um tema como
fonte geradora, calcado no fato sociocultural, Com esse trabalho será mostrado formas de
começando com a canção que possui todo o como se trabalhar com música pensando na
material para o ensino da música por meio dos melhor formação do professor, especialmente
seus elementos som e ritmo. na educação infantil e nos primeiros anos do
ensino fundamental.
O trabalho com as artes e suas dimensões
requer profissionais dispostos a construir Fazendo com que os educadores
um projeto educacional em que o ensino da desenvolvam uma prática educacional voltada
música esteja interligado com todas as áreas do para seus alunos, tornando-os pessoas
conhecimento, bem como com as descobertas atuantes e críticos.
do mundo atual que se aceleram num processo
muito rápido, levando-se em conta que as Precisamos tomar consciência que
formas de comunicação e expressão do ser nossas atitudes como professores devemos
humano fazem parte da sua história e do seu pensar e repensar nossas práticas, elevando
modo de vida. o conhecimento do professor a respeito das
atividades lúdicas.
O comprometimento com o ensino deve
estar aliado à pesquisa, à função social, ao Devemos ter consciência que só com o
prazer, ao fazer musical e à construção de um estudo sobre determinados assuntos, teremos
mundo no qual as crianças possam conviver poder de mudar algumas atitudes que ao
socialmente com respeito mútuo, espírito passar do tempo foi se enraizando nas escolas
de organização pessoal, com higiene e muita como um todo.
alegria.

A escolha dos temas geradores ficará por


conta do planejamento escolar, levando em

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Revista Educar FCE - Março 2019

A LINGUAGEM MUSICAL cavidades de ressonância, fazendo parte desse


esquema a garganta, a boca e o nariz, que além
É importante ressaltar o entendimento de das suas funções primitivas funcionam como
que as linguagens e os códigos são dinâmicos ressonadores, ampliando e enriquecendo a
e situados no espaço e no tempo, com as sonoridade.
implicações de caráter histórico, sócio lógico e
antropológico que isso representa. Temos dois pares de cordas vocais: na
posição superior, as falsas; na posição inferior,
Devemos considerar as relações com as as verdadeiras, com as quais cantamos ou
práticas sociais e produtivas e a inserção das falamos, os bordos internos das cordas formam
crianças como cidadãos em um mundo letrado a fenda glótica, que é o espaço no qual passa o
e simbólico. A produção contemporânea ar.
é essencialmente simbólica e o convívio
social requer o domínio das linguagens como Ao inspirarmos, o ar entra para nossos
instrumentos de comunicação e negociação pulmões, que se enchem. Na expiração, as
de sentidos. pregas vocais cartilaginosas, situadas no
interior da laringe, abrem-se e vibram com a
Atualmente, o mundo está marcado por um passagem do ar, quando os sons são agudos,
apelo informativo imediatista, a reflexão sobre as cordas vocais se aproximam e se esticam;
a linguagem e seus sistemas, que se mostram nos sons mais graves, elas se afrouxam.
articulados por inúmeros códigos e sobre o
processo e os procedimentos comunicativos, Quando falamos ou cantamos, as cordas
é uma garantia de participação ativa na vida se aproximam e mudam o tamanho da fenda
social, a cidadania desejada. glótica, que terá sua espessura conforme a
altura e a intensidade do som a ser emitido,
As crianças vivem uma experiência de num som grave, as cordas vocais ficam mais
modo linear, dia após dia, sua aprendizagem grossas, mais compridas e menos tensas, pois
e a construção do conhecimento têm um a fenda glótica estará mais aberta, num som
curso mental próprio, repleto de reproduções mais agudo, as pregas vocais ficam mais finas,
mentais, reflexões e repetidas representações. mais curtas e mais tensas, de maneira que a
fenda glótica se apresentará mais estreita.

A VOZ HUMANA E A MÚSICA A diferenciação entre uma voz feminina


e uma masculina é a altura natural da voz
A voz humana é resultado dos ruídos e dos que decorre da sua frequência, que por sua
sons musicais que, produzidos no interior vez é, sendo resultado do comprimento das
da laringe pelas vibrações das cordas ou cordas vocais. Os homens por terem as suas
pregas vocais, são ampliados e timbrados nas mais alongadas, têm a voz mais grave que

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Revista Educar FCE - Março 2019

as mulheres e as crianças, sua frequência no música, ao nascer ouvimos diversas canções


canto varia de 80 a 500 vibrações por segundo, de ninar, na infância várias marchinhas e
enquanto a voz feminina varia de 200 a 1400 musiquinhas que nos ensinam deveres,
vibrações, ou às vezes ultrapassa. orientações e ensinamentos, na juventude e
adolescência já temos uma música ou estilo
A frequência mais baixa que pode dar preferido, que vai nos acompanhar pela vida
audibilidade a um tom é mais ou menos entre toda, geralmente as crianças vão escolhendo
20 vibrações por segundo, enquanto a mais seu estilo, por influência dos familiares, cabe
alta esta numa frequência que varia de 10.000 muito à escola introduzir outros estilos de
e 20.000. música para as crianças irem conhecendo,
pois só depois na adolescência que elas
Podemos estabelecer no que se refere poderão procurar estilos diferentes, podendo
ao tamanho e à tensão das cordas vocais ou não escolher outro estilo, fugindo um
comparações entre elas e a construção dos pouco do que ouviam quando pequenos.
instrumentos musicais. Quanto maior for o
instrumento, mais longas, mais espessas e A disciplina de Música foi muito discutida
menos tensas serão suas cordas, resultando e abordada em 2008, fazendo com que o
em sons mais graves. Os instrumentos que MEC (Ministério da Educação), no decreto
produzem sons agudos têm suas cordas mais de Lei nº 11.769, que determinava a música
curtas, mais tensas e mais finas. obrigatória dentro da educação básica
e fundamental, mas isso só apareceu no
papel, por ser muito difícil, tornando essa
ALGUNS ESTILOS MUSICAIS Lei facultativa e inserida em algumas poucas
escolas, utilizando parte das aulas de Artes.
Não basta simplesmente ouvir o som
(um processo fisiológico), para que sejam Em contato com essas produções, o estudante
pode exercitar suas capacidades cognitivas,
formados seres humanos mais reflexíveis, sensitivas, afetivas e imaginativas, organizadas
sensíveis, com senso crítico, “capazes em torno da aprendizagem artística e estética.
de perceber, sentir, relacionar, pensar, Ao mesmo tempo, seu corpo se movimenta, suas
mãos e olhos adquirem habilidades, o ouvido
comunicar-se” além de “apreender e e a palavra se aprimoram, quando envolve
compreender os diversos parâmetros atividades em que relações interpessoais
musicais (timbre, dinâmica, tempo, ritmo, perpassam o convívio social o tempo todo.
Muitos trabalhos de arte expressam questões
forma, etc.)”, sendo necessária uma escuta humanas fundamentais: falam de problemas
ativa, ou seja, estar atento, perceber os sons, sociais e políticos, de relações humanas, de
direcionar a audição conscientizando-se do sonhos, medos, perguntas e inquietações
artísticas documentam fatos históricos,
fato sonoro, sejam eles musicais ou não. manifestações culturais particulares e assim por
diante... (PCN- Arte II).
Mesmo dentro do ventre sentimos a

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Revista Educar FCE - Março 2019

A música tem o poder de adentrar no musicais acaba apresentando uma maior


hemisfério direito e esquerdo do nosso significação para o desenvolvimento da
cérebro, distinguindo sua importância no cognição e a interação entre as crianças.
sentido da razão e da emoção. Para que
ocorra um bom resultado no posicionamento A música estimula o aprendizado, tendo
do professor, pois precisam que o mesmo o poder de despertar a criatividade e a
tenha aptidão, se não seus alunos não atividade infantil, auxiliando a criança no
entenderão o mundo musical, um professor desenvolvimento de suas potencialidades,
apaixonado fará com que seus alunos se auxiliando no uso do corpo por meio de
apaixonem e assim usem os dois lados comunicação e expressão, conseguindo por
do cérebro, facilitando o aprendizado das meio dela alcançar diversos objetivos como:
demais disciplinas. a melhoria da linguagem, da coordenação, da
percepção auditiva, rítmica, das orientações
As artes ficam registradas do lado direito do temporal e espacial, do equilíbrio e
cérebro, junto com as intuições e as soluções, especialmente da comunicação, o ritmo das
geralmente as pessoas mais criativas usam canções induz as crianças ao movimento, à
bastante essa parte do cérebro. A parte da maior atividade cerebral, despertando com
analise e do raciocínio lógico fica do lado isso o gosto por cantar, dançar e melhorar
esquerdo. ou acelerar o desenvolvimento educacional
das crianças envolvidas.
Quando os professores apostam na
inclusão da música no currículo escolar A música pode ser um tema muito
geralmente conquistam bons resultados, interessante para os projetos escolares que
pois os alunos acabam aprendendo com estejam atrelados à aprendizagem, podendo
mais facilidade diversas disciplinas como: ser uma experiência harmônica dentro da
matemática, português, física, entre outras. sala de aula, destacando a importância de
se trabalhar a música enquanto modalidade
As crianças se desenvolvem textual, com objetivo de promover alguns
intelectualmente sozinhas, é uma atividade momentos de descontração por meio
do homem como sociedade, por meio da de algumas vivências com a música e
relação com o meio em que vive, por conta socialização de sugestões de atividades
das atividades musicais, promovidas pela que trabalhem a mesma, tendo em vista sua
socialização e por trocas de aprendizagem. extrema importância e significância para o
As crianças aprendem mais em matéria de desenvolvimento normal e sadio da criança.
leitura quando é ativo em todos os estilos
de atuação em diferentes linguagens, Podemos explorar a musica em diversas
com variados objetivos. Quando a prática formas, por inteiro, desde a sonoridade até
educativa está associada às linguagens a letra, facilitando o processo de educar

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Revista Educar FCE - Março 2019

a criança, desenvolvendo nas crianças o de outras maneiras, a possibilidade de ouvir,


senso crítico, passando essa a ter uma visão perceber, sentir, deixando que a imaginação
inteira completa, da realidade. A música trabalhe, com as emoções, pode ser uma
acaba traduzindo muita coisa, carregada de atividade muito interessante dentro de uma
emoção, e não de razão. aula de pintura, ou desenho, ou quando as
crianças precisam escrever um texto, uma
Os PCNs (Parâmetros Curriculares redação sobre qualquer assunto, ou o que
Nacionais) reconhece a importância da eles estão sentindo ao ouvirem essa música
participação construtiva das crianças e, em especial instrumental.
da intervenção dos professores para a
aprendizagem de conteúdos específicos Nosso país é rico em produção musical,
que favoreçam o desenvolvimento das favorecendo e muito o trabalho com
capacidades necessárias à formação do música, pois temos um vasto material a ser
indivíduo. desenvolvido com as crianças de qualquer
faixa etária.
Por vários anos a pedagogia focou no
processo de ensino no qual o professor, O professor tem um papel muito
supondo que, como decorrência, estaria importante nesse trabalho de resgate da
valorizando o conhecimento. O ensino música brasileira, precisando valorizar essa
vem ganhando autonomia em relação à aproximação das crianças com os valores
aprendizagem, criando métodos próprios culturais de nosso país.
e o processo de aprendizagem necessário
dando outro significado a unidade A importância dada aos conteúdos
entre aprendizagem e ensino, pois sem desponta uma obrigação da escola em
aprendizagem o ensino não acontece. garantir o acesso aos saberes elaborados
socialmente, pois estes se constituem
como ferramentas para o desenvolvimento,
A MÚSICA NO CONTEXTO a socialização, o exercício da cidadania
ESCOLAR democrática e a atuação no sentido de
refutar ou reformular as deformações dos
conhecimentos as imposições de crenças
A escola precisa oferecer aos alunos dogmáticas e a petrificação de valores.
oportunidades de ouvir música sem texto,
pois é de enorme importância, pois as músicas Desde a mudança na LDBEN (Lei de
letradas acabam remetendo sempre ao Diretrizes e Bases Nacionais de 1996),
conteúdo da letra, mas a música instrumental quando se começou a pensar numa educação
ou vocal sem um texto acaba abrindo a não mais focada na guarda, no cuidado e na
possibilidade dos professores trabalharem assistência social, que marcava a Educação

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Revista Educar FCE - Março 2019

Infantil dos anos anteriores, e a criação do para que os alunos se apropriem dos
RCNEI (Referencial Curricular Nacional conteúdos de maneira crítica e construtiva.
para a Educação Infantil), grandes avanços As escolas por serem instituições sociais com
foram experimentados na Educação do país, propósito explicitamente educativo tem o
no que diz respeita à Educação Básica. No compromisso de intervir efetivamente para
contexto da Educação Infantil, muitas vezes promover o desenvolvimento e a socialização
a música é vista como um pretexto para de seus alunos.
outras atividades, e dentro desta realidade as
músicas são usadas de forma inapropriada, e Essas propostas precisam entender como
em muitos casos por pessoas despreparadas. processo que inclui a formulação de metas
e meios, respeitando as particularidades
A escola precisa ser um espaço de formação de cada comunidade, por meio da criação
e informação, em que a aprendizagem de e da valorização de rotinas de trabalho
conteúdos deve necessariamente favorecer pedagógico em grupo e da responsabilidade
a inserção das crianças no cotidiano das de todos os membros da comunidade de
questões sociais marcantes e em um todos os membros da comunidade escolar,
universo cultural muito maior do que para além do planejamento de início de ano
estão acostumados em casa. A formação ou dos períodos de reciclagem.
escolar deve possibilitar o desenvolvimento
de capacidades, de modo a possibilitar Cada região do nosso país tem suas próprias
tradições: bumba-meu-boi, no Maranhão; boi-
a compreensão e a intervenção nos bumbá, no Pará; boi-de-mamão, em Santa
fenômenos sociais e culturais, assim como Catarina; o maracatu, em Pernambuco e no
possibilitar que as crianças possam usufruir Ceará; reisados, congadas, jongo, moçambiques,
pastoris, cavalo-marinho; frevo, coco, samba,
das manifestações culturais nacionais e ciranda, maculelê, baião, enfim, um universo de
universais. ritmos, danças dramáticas, folguedos, festas,
com características e significados legítimos
Nesse sentido, é aconselhável planejar as (BRITO, 2003, p.94).
atividades de escuta musical, o que difere
de simplesmente deixar uma música soando
enquanto cuidamos dos bebês ou enquanto as É interessante trabalharmos a cultura
crianças se entretêm com outras atividades. brasileira, mas é muito enriquecedor trazer
É importante valorizar a questão da escuta
musical, evitando deixar que a música, sem para dentro da sala de aula diversas obras
critério algum, tome conta do espaço durante o de diversos países, especialmente os que
tempo todo (BRITO, 2003, p.189). fizeram parte da nossa história, como músicas
africanas, indígenas, e estudar para mostrar
que muitas das nossas cantigas folclóricas
É necessário que a proposta pedagógica vieram desses dois povos ricos em cultura e
das escolas garanta um conjunto de práticas ricos de histórias para contar.
planejadas com o propósito de contribuir

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Revista Educar FCE - Março 2019

Cada povo tem sua cultura, tem uma linguagem muito própria e carregada de características
típicas que podem ser notadas também através da música; dessa forma, trazer essa diversidade
musical para a escuta das crianças para que possam conhecer outras formas de linguagem,
e assim, favorecer uma ampliação da sua percepção, do seu conhecimento e a descoberta
de elementos, incluindo fontes sonoras não convencionais, que servirão de materiais para
futuras criações.

Com esta crescente preocupação referente à poluição sonora, os alunos devem ser
estimulados a perceber e desfrutar o som, contudo, é também necessário ouvir, respeitar e
conscientizar-se da importância do silêncio.

É importante realizarmos dentro das escolas momentos especificamente destinados à


escuta musical e a execução de atividades que promovam uma conscientização do universo
sonoro existente, o que difere grandemente da simples existência de eventos sonoros na
presença da criança.

As atividades direcionadas à educação infantil devem estar em sintonia com a maneira


como essas crianças percebem e expressam-se. Nesta fase da infância, as conquistas e
evoluções são adquiridas por meio da percepção e dos movimentos, de todo o universo
prático que cerca a criança. A apreciação musical direcionada para esta faixa etária necessita
ser administrada integrando aluno e música de forma global.

A escuta de obras musicais sempre provoca emoções, sensações, pensamentos e comportamentos diversos.
Uma música que tem no ritmo o seu elemento mais determinante desperta a vontade de movimentar-se,
de balançar o corpo, de dançar, ao passo que certas melodias despertam sentimentos, emoções subjetivas,
únicas, distintas para cada um (BRITO, 2003, p.190).

As crianças pequenas ainda não dispõem de ampla autonomia motora, nesse sentido,
é sugerido que o adulto movimente os membros do corpo do bebê enquanto canta ou
enquanto escutam uma música.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O professor deve selecionar um material que contenha
diversos gêneros e estilos musicais, abrangendo diferentes
culturas e épocas. É notável a receptividade e familiaridade
dos alunos com as músicas mais ouvidas na sociedade; um
bom exemplo é a música popular, e isto também precisa ser
levado em conta aproveitando também as contribuições
que as crianças escutam em casa ou na rua, o que muitas
vezes significa trabalhar com músicas veiculadas pela mídia,
que muitas vezes são pobres nas letras, mas, não podemos
perder de vista uma das grandes metas da educação musical
que é proporcionar novos interesses, novas experiências e
novas visões para as crianças. ALESSANDRA ALENCAR
ALBUQUERQUE
A prática escolar diferencia-se de outras práticas
Graduação em Pedagogia
educativas, como as que acontecem dentro das famílias, pela Faculdade UNG, (2001),;
no trabalho, na mídia, no lazer e nas demais formas de Especialista em Educação Musical
convívio social, por constituir-se em uma ação intencional, pela Faculdade Campos Elíseos
(2018). Professora de Educação
sistemática, planejada e continuada para crianças e jovens Infantil no CEI Parque Edu
durante o período contínuo e extenso de tempo. Chaves.

Precisamos considerar sempre o que as crianças já


sabem o que já conhecem isso em todos os campos do
conhecimento, é necessário que ocorra uma escuta das
crianças, promovendo com isso uma valorização da sua
cultura, da sua bagagem como indivíduo.

Os professores precisam conhecer a realidade das


crianças, deixar que elas cantem as músicas que ela escuta
em casa, pois muitas crianças nem escutam rádio, só
assistem televisão e só escutam as músicas que aparecem
em programas e novelas, é necessário aumentar o repertório
das nossas crianças, trazendo especialmente músicas
adequadas e de diferentes estilos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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131
Revista Educar FCE - Março 2019

INCLUSÃO DE ALUNOS COM


SÍNDROME DE ASPERGER
RESUMO: Este artigo discute o processo de inclusão e aprendizagem de alunos com síndrome
de Asperger (SA). Traz uma síntese do que é, sintomas, causas e etc. O que pode ser feito
dentro do ambiente escolar para que o indivíduo portador, consiga aprender oportunizando
o desenvolvimento das capacidades de cada um. O estudo tem como objetivo investigar
as possibilidades de inclusão da criança com S.A na escola regular, verificar as formas de
atendimento nas políticas educacionais inclusivas, discutir as possibilidades e os limites da
educação destas crianças e ainda possíveis técnicas para aprendizagem. A S.A integra o grupo
dos Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGDs), é resultante de uma desordem genética
e apresenta semelhanças com o autismo. A família tem um papel relevante e indispensável
junto a medicina e a escola quando se trata de observar e diagnosticar a criança no campo
social, estabelecendo tratamento específico. No entanto, da mesma forma que é importante
a identificação da síndrome, trabalhar com a criança com esse diagnóstico dentro da escola
tem sido um desafio. Há a necessidade de profissionais especializados para acompanhar a
criança com Asperger. Como resultado, aponta-se que a inclusão é viável desde que atenda
às necessidades da criança com S.A e promova o acesso desta ao conhecimento, ou seja,
possibilite a aprendizagem de conteúdos socialmente valorizados para todos os alunos da
mesma faixa etária. Desse modo, a criança será incluída e poderá apresentar resultados
positivos em seu desenvolvimento educacional e social.

Palavras-chave: Inclusão; Ensino; Aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO muitos anos, uma condição distinta, porém


próxima e bastante relacionada ao autismo.
O desenvolvimento do trabalho pedagógico
cotidiano é fator essencial para a inclusão dos Em maio de 2013, no entanto, foi lançada
alunos com síndrome de Asperger. Para isso, a quinta edição do Manual Diagnóstico e
é preciso embasamento teórico e também Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V),
que a prática seja adequada, pois é assim que que trouxe algumas mudanças importantes,
se formará um indivíduo que se integre na entre elas novos diagnósticos e alterações
sociedade. Este trabalho tem que ter como de nomes de doenças e condições que já
ponto de partida uma inovação e mudança de existiam.
postura para que haja realmente a inclusão
destes alunos. Essa mudança leva a todos A Síndrome de Asperger, assim como
que pertencem a comunidade escolar uma o autismo, foi incorporada a um novo
transformação cultural e social, porém ela termo médico e englobador, chamado de
deve ser continuada, sempre aperfeiçoada. Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).
Cada aluno é único, um sistema em que a Com essa nova definição, a síndrome passa
massificação dos conteúdos e indivíduos a ser considerada, portanto, uma forma
não funciona mais. O sucesso para a inclusão mais branda de autismo. Dessa forma,
efetiva é a adequação do trabalho pedagógico os pacientes são diagnosticados apenas em
para a diversidade dos alunos. graus de comprometimento, dessa forma o
diagnóstico fica mais completo.
Alarcão diz que o papel da escola é:
O Transtorno do Espectro Autista é definido
[...] dinamizar comunidades educativas e pela presença de “Déficits persistentes na
acompanhar, incentivando, iniciativas nesse
sentido; privilegiar culturas de formação comunicação social e na interação social
centradas na identificação e resolução de em múltiplos contextos, atualmente ou por
problemas específicos da escola, numa atitude de história prévia”, de acordo com o DSM-V.
aprendizagem experiencial e, preferencialmente,
no contexto de metodologias de investigação -
ação; (ALARCÃO, 2003). Como a Síndrome de Asperger só foi
reconhecida recentemente como um
transtorno do espectro autista, o número
O QUE É SÍNDROME DE exato de pessoas portadoras da doença
ASPERGER ainda não é exato. Estimativas mostram que
a ocorrência do transtorno pode ser mais
A Síndrome de Asperger é um transtorno comum do que se acreditava: uma entre 250
neurobiológico enquadrado dentro da crianças aparentemente são diagnosticadas
categoria de transtornos globais do com a síndrome. Outros números dos
desenvolvimento. Ela foi considerada, por Estados Unidos mostram que a incidência da

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Revista Educar FCE - Março 2019

doença pode ser bem menor (uma em cada Portadores desse distúrbio geralmente não
dez mil crianças, aproximadamente). fazem amigos facilmente, pois têm dificuldade
para iniciar e manter uma conversa.

CAUSAS Comportamentos excêntricos ou


repetitivos
A causa exata da Síndrome de Asperger,
assim como do Transtorno do Espectro Crianças com essa condição podem
do Autismo, ainda não é conhecida. Os desenvolver um tipo de comportamento
cientistas, por outro lado, acreditam que anormal, que envolve movimentos repetitivos
uma anormalidade no cérebro das crianças e estranhos, como torcer mão ou os dedos.
portadoras seja a causa mais provável.
Práticas e rituais incomuns
Outras doenças, como depressão e
transtorno bipolar, também podem estar Uma criança com Síndrome de Asperger
relacionados à Síndrome de Asperger e ao pode desenvolver rituais que ele ou ela se
Transtorno do Espectro Autista. recuse terminantemente a alterar, como
se vestir obrigatoriamente em uma ordem
Ao contrário do que algumas pessoas específica, por exemplo.
costumam pensar, a Síndrome de Asperger
não é causada pela privação emocional ou Dificuldades de comunicação
por uma forma específica que os pais educam
seus filhos. As pessoas com este transtorno costumam
não fazer contato visual ao falar com alguém.
Elas podem ter problemas ao usar expressões
SINTOMAS faciais e ao gesticular, bem como podem
apresentar dificuldade para compreender a
Os sintomas da Síndrome de Asperger linguagem corporal e a linguagem dentro de
podem variar de pessoa para pessoa, e um determinado contexto e costumam ser
variam também de intensidade e gravidade. muito literais no uso da língua.
Os sinais mais comuns incluem:
Poucos interesses
Problemas com habilidades sociais
A criança com Síndrome de Asperger pode
Crianças com Síndrome de Asperger desenvolver um interesse intenso e quase
geralmente têm dificuldade para interagir com obsessivo em algumas atividades e áreas,
outras pessoas e muitas vezes comportam- tais como prática de esportes, clima ou até
se de forma estranha em situações sociais. mesmo mapas.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Problemas de coordenação Presença de um padrão repetitivo


e restritivo de atividades, interesses e
Os movimentos de crianças com Síndrome comportamentos
de Asperger pode parecer desajeitado ou
constrangedor. Estereotipias (ecolalia, por exemplo),
insistência em uma atividade específica,
Habilidosos ou talentosos adesão estrita a rotinas, interesses restritos
e incomuns, hiper-reatividade ou hipo-
Muitas crianças com Síndrome de Asperger reatividade a estímulos sensoriais.
são excepcionalmente inteligentes, talentosas
e especializados em uma determinada área, Além disso, uma das dúvidas que
como a música ou a matemática. ainda permeia a mudança acontecida no
DSM é a conduta frente aos pacientes
já diagnosticados de acordo com os
DIAGNÓSTICO E EXAMES critérios anteriores, ou seja, se as pessoas
anteriormente diagnosticadas com Síndrome
Os diagnósticos em psiquiatra, em grande de Asperger devem ser reclassificadas ou se
parte, seguem as recomendações presentes o diagnóstico será mantido.
no Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM, na sigla em inglês).
De acordo com a última versão publicada, TRABALHO PEDAGÓCICO
em que autismo e Asperger se englobam COM ALUNOS COM
em Transtorno do Espectro Autista, agora
só há dois grupos de sintomas necessários
SÍNDROME DE ASPERGER
para que o psiquiatra, em conjunto com um Os alunos com síndrome de Asperger
pediatra, possa realizar o diagnóstico. Antes apresentam características muito peculiares,
havia três. nas escolas eles são taxados como “alunos
problemáticos”, pois não seguem ordens e
Agora, os sintomas de interação e nem instruções, gostam de fazer as atividades
comunicação social foram agrupados em um no próprio ritmo e sem interferência dos
só grupo. Confira: docentes. Assim sendo, os trabalhos
pedagógicos tem que ser voltados para as
Déficits de comunicação/interação social capacidades e interesses destes alunos.
Quanto mais se puder trabalhar utilizando
Déficit na reciprocidade das interações materiais concretos e reais, melhor,
sociais, déficits nos comportamentos não construindo assim significados reais. Há
verbais, dificuldade de desenvolver e manter a necessidade de se compreender as
conversas, diálogos e relacionamentos. dificuldades cognitivas e comportamentais

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Revista Educar FCE - Março 2019

destes alunos para que a proposta pedagógica não o desestimule. Não existe uma fórmula
mágica para acolher, ensinar e preparar estes alunos, o que tem que existir é preparo teórico,
materiais diversos e estar ciente das especificidades de cada um. Para Vygostsky (2000), em
consonância com Orrú (2010):

A linguagem não é apenas o ato de comunicar, mas uma ferramenta do pensamento que encontra sua unidade
com o próprio pensamento no significado das palavras. Assim, o trabalho com o significado traz consigo a
realização do processo de generalização durante a busca da apropriação de conhecimentos por parte do
aluno. ( VYGOSTSKY, apud. ORRÚ, 2010, p. 09).

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de inclusão escolar impõe desafios para
todos, principalmente para os professores. Estes desafios
desestabilizam, porém fazem pensar em novas possibilidades.
O aluno está na escola para aprender, ele não pode ser
negligenciado e se for, causa mais dificuldades ainda em
sala de aula. É natural criar uma expectativa frente ao aluno
“de inclusão”, mas tem que se objetivar na aprendizagem do
aluno. Encontrar a melhor maneira para que o aluno com
síndrome de Asperger aprenda demanda um percurso de
tentativas e erros. ALESSANDRA
VEDOLVELLO BRANDÃO
A família, a equipe escolar e os agentes da saúde
Professora de língua portuguesa
precisam trabalhar em consonância para que estes alunos se do Ensino Fundamental II e Médio
desenvolvam. na prefeitura de São Paulo, nas
EMEF Senador Miltom Campos.
As pessoas com esta síndrome, muitas vezes, são
estigmatizadas como alunos problemas, preguiçosos e
indisciplinados, porém o comportamento é apenas manifestação do doença. A escola como
espaço democrático não pode apenas rotular, tem que oportunizar a aprendizagem para
todos.

Benczik e Bromberg (2003, p.209) diz que na escola deve-se:

1) Estabelecer uma rotina diária clara, com períodos de descanso definidos. Usar reforços visuais e auditivos
para definir e manter essas regras e expectativas, como calendários, cartazes e músicas. As instruções
devem ser dadas de forma direta, clara e curta. 2) Estabelecer consequências razoáveis e realistas para o
não cumprimento de tarefas e das regras combinadas [...] 3) Focalizar mais o processo (compreensão de um
conceito) que o produto (concluir 50 exercícios. Certificar-se que as atividades são estimuladoras e que os
alunos compreendem a relevância da lição. 4) Adotar uma atitude positiva, como elogios e recompensa para
comportamento adequados.

Cabe aos professores adequarem os espaços e os currículos para todos os alunos. Cada
um tem aspectos diferentes. Em pleno século XXI, não há espaço para uma escola arcaica e
obsoleta que pensa em alunos homogêneos, a inclusão põe em cheque o pensamento que
todos são iguais e desafia a um novo posicionamento sobre como cada um aprende.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Artes Médicas. http://www.minhavida.com.br/saude/temas/sindrome-de-asperger. Acesso
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VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1998.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A RITALINA NO TRATAMENTO DE
HIPERATIVIDADE E DÉFICIT DE
ATENÇÃO
RESUMO: O presente estudo é uma revisão de literatura a respeito do Transtorno do Déficit
de Atenção/ Hiperatividade (TDAH), bem como sobre a dificuldade de aprendizagem, e o
uso do metilfenidato (ritalina), medicamento amplamente indicado para o tratamento da
Hiperatividade e do déficit de atenção, por facilitar o aprendizado de crianças com TDAH.
Pretende-se discorrer sobre a definição e a tipologia, a indicação e os efeitos adversos da
ritalina, bem como sobre as implicações neuropsicológicas desse composto, perpassando
os efeitos farmacocinéticos e farmacodinâmicos a eles correlatos. Contudo, mesmo que
o tratamento seja rigidamente supervisionado em acompanhamento médico, verifica-
se que o uso incorreto ou abusivo do composto supracitado ocasiona efeitos adversos,
de ordem gastrointestinais, além de alterações adaptativas no Sistema Nervoso Central,
que constituem efeitos colaterais, sendo importante o enfoque desse estudo orientado à
indicação consciente do uso do medicamento.

Palavras-Chave: Hiperatividade; TDAH; Ritalina; Efeitos Adversos

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Revista Educar FCE - Março 2019

DEFINIÇÃO insuficientes. Pode ser indicado, ainda, em


alguns casos de narcolepsia (padrão de sono
O metilfenidato (Ritalina, Concerta e irreprimível) (TOASSA, 2012).
Quasym) é um psicoestimulante da família
das anfetaminas, indicado “no tratamento Pequenos atrasos na linguagem, habilidades
do transtorno de déficit de atenção e motoras ou desenvolvimento social não são
hiperatividade (TDAH) em crianças de 6 anos específicos do TDAH, mas geralmente estão
ou mais (GIRALDO & BERTEL, 2005). presentes. Se as crianças têm muita energia,
são distraídas, impulsivas ou irritadas serão
O metilfenidato pertence à classe de seguramente diagnosticadas com TDAH.
drogas das anfetaminas, como a fenfuramina A prescrição por certo será um a Ritalina
(ex-Ponderal) e o benfluorex (ex-Mediador). (TOASSA, 2012).
Esses, usados como supressores de apetite,
foram retirados do mercado, devido à Muitos especialistas acreditam que
ocorrência de hipertensão arterial pulmonar indicação de metilfenidato equivale a
e doença valvular cardíaca (GIRALDO & estimular o doping das crianças, mesmo que
BERTEL, 2005). em longo prazo, o uso de medicamentos
não faça diferença em seus resultados e
comportamentos, e podem até piorar os
INDICAÇÃO sintomas (TOASSA, 2012).

O fenômeno do TDAH literalmente Ocorre que muitos dos comportamentos


explodiu por trinta anos. No entanto, este apontados como sintomas de TDAH não são
é um diagnóstico altamente controverso: necessariamente sintomas doentios, haja
os critérios para identificá-lo não têm vista que mais da metade deles desaparecem
cientificidade e não há evidência de que na fase adulta (TOASSA, 2012).
esses sintomas sejam o resultado de um
desequilíbrio químico do cérebro (ORTEGA, A controvérsia recai sobre o fato de a
2010). Ritalina ser prejudicial quando não se sofre
de Transtorno de Déficit de Atenção com
O uso de metilfenidato e medicamentos Hiperatividade (TDAH), sendo, contudo,
psicossimilhantes é indicado para o necessária para crianças e adolescentes
tratamento de crianças, jovens e adultos que realmente apresentam esse transtorno
com Transtorno de Déficit de Atenção / (TOASSA, 2012).
Hiperatividade (TDAH) em crianças de 6 anos
ou mais, como parte do atendimento integral, Estudos realizados com ratos em
quando medidas corretivas psicológicas, laboratório sugerem que o diagnóstico
educacionais, sociais e familiares não são errado do transtorno de déficit de atenção/

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Revista Educar FCE - Março 2019

hiperatividade em crianças tratadas com e intervir efetivamente nessas causas


Ritalina pode promover a depressão na idade (ORTEGA, 2010).
adulta. Os ratos alimentados com Ritalina,
enquanto pré-adolescentes, quando adultos Para diagnosticar o TDAH, os seguintes
demonstraram evidente desinteresse a critérios devem ser analisados (VALENCIA &
estímulos agradáveis, em comparação com VASCO URIBE, 2009):
ratos saudáveis.
• Os sintomas devem ter persistido por
Esta pesquisa deve ser um incentivo para pelo menos 6 meses até um grau que tenha
garantir que o diagnóstico de transtorno um impacto negativo direto nas atividades
de déficit de atenção/hiperatividade seja sociais e acadêmicas (ou no trabalho);
cuidadosamente feito, usando testes
abrangentes e adequados. • Eles não devem ser apenas uma
manifestação de comportamento de
Pesquisadores norte-americanos oposição, desconfiança, hostilidade ou
conseguiram medir o impacto significativo incapacidade de entender tarefas ou
de um transtorno não tratado em ADHD. instruções;
Quando adultas, as pessoas com TDAH
têm problemas para manter um emprego, • Vários sintomas devem estar presentes
dificuldade em criar sinapses e em manter antes da idade de 12 anos;
relacionamentos duradouros, o que pode
ser observado pelas altas taxas de divórcios • Vários sintomas devem estar presentes
ou separações nesses indivíduos. Sofrem em pelo menos 2 situações (por exemplo,
com dificuldades de concentração, sofrem em casa, na escola, no trabalho, com
mais acidentes, e são mais propensos a amigos ou parentes, em outras atividades);
ceder à pressão e a pensar em suicídio ou
efetivamente cometê-los (ORTEGA, 2010). • Deve ser claro que os sintomas
interferem ou reduzem a qualidade do
O diagnóstico de DAH é complexo. A funcionamento social, acadêmico (e/ou do
desordem neurológica que condiciona o trabalho);
TDAH é, em grande parte, hereditária.
Outros distúrbios psicológicos (que são uma • Os sintomas não são melhor
adaptação ao ambiente familiar, por exemplo) explicados por outro transtorno mental ou
ou distúrbios neurológicos podem causar intoxicação por substância.
comportamentos e sintomas semelhantes à
TDAH. Portanto, é importante consultar os
profissionais certos para melhor identificar a
natureza e as possíveis causas do transtorno

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Revista Educar FCE - Março 2019

CRITÉRIOS PARA
DIAGNÓSTICO DE TDAH
PELO DSM-IV-R

As características associadas ao distúrbio


podem incluir pouca tolerância para a
frustração, irritabilidade e alterações do
humor. Mesmo na ausência de uma deficiência
de aprendizagem específica, o desempenho
acadêmico ou profissional é frequentemente
afetado (VALENCIA & VASCO URIBE, 2009).

É prudente usar metilfenidato somente


quando a hiperatividade ou a narcolepsia
perturbam seriamente o paciente,
procurando a dose efetiva mínima.

A Ritalina tem uma efetividade modesta,


conforme observado em crianças muito
transtornadas após o fracasso dos
cuidados multidisciplinares. Independente
dos métodos de tratamento utilizados,
metade das crianças com Transtorno de
Déficit de Atenção com Hiperatividade
(TDAH) apresenta sintomas persistentes na
adolescência e na idade adulta (VALENCIA &
VASCO URIBE, 2009).

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Revista Educar FCE - Março 2019

Nos Estados Unidos, os médicos PROTOCOLO,


preferem prescrever o estimulante durante MONITORAMENTO DOS
a adolescência e a idade adulta. Muitos
profissionais da área psiquiátrica sugerem
EFEITOS E CONTINUIDADE
que a prescrição de um estimulante DO TRATAMENTO
para o paciente com TDAH não deve ser
estritamente acadêmica, negligenciando a O uso do medicamento no Brasil continua
extensão do problema nas demais instâncias muito limitado em comparação com países
da vida do paciente (CALIMAN, 2008). europeus ou com os Estados Unidos e
o Canadá, sendo sua prescrição inicial
De fato, caso dos adultos, um número e renovação ou anulação reservada aos
crescente de estudantes está usando drogas especialistas e/ou aos serviços hospitalares
estimulantes, como o Ritalina (Metilfenidato) especializados em neurologia, psiquiatria
e Strattera (Atomoxetina), que normalmente ou pediatria, embora essas prerrogativas
são usados para tratar Transtorno de Déficit nem sempre sejam respeitadas, haja vista
de Atenção com Hiperatividade (TDAH), que, conforme estimado, cerca de 10% dos
para melhorar seu desempenho acadêmico. tratamentos iniciais sejam prescritos por
Conforme estimativas, cerca de 5% a 35% dos clínicos gerais. Somente cerca de 30% das
alunos das universidades canadenses tomariam iniciações de tratamento são realizadas por
esses medicamentos (CALIMAN, 2008). médicos, especialistas. No Brasil é observado
um número considerável de pacientes
A grande maioria dos estudos não mostra adultos com TDAH que inicia tratamento
melhora cognitiva com o uso de estimulantes sem prescrição médica, o que pode promover
em comparação com placebo em indivíduos a ocorrência de efeitos indesejáveis graves
saudáveis. E, a maioria dos alunos não parece estar (ORTEGA, 2010).
ciente dos potenciais riscos (CALIMAN, 2008).
O metilfenidato tem uma eficácia modesta.
O número de emergências relacionadas Crianças, cujo comportamento causa
ao estimulante entre pessoas com idades preocupações sociais, escolares e familiares,
entre 18 e 34 também aumentou. Estudos devem, em primeiro lugar, passar por um
revelam que o aumento é particularmente atendimento multidisciplinar, combinando
pronunciado entre 15 a 25 anos de idade. As análise de fatores psicológico, educacional e
pessoas que abusam desses medicamentos possivelmente social. Quando este cuidado
adquirem-nos de amigos ou familiares. As é insuficiente, no caso de crianças muito
causas dessas emergências incidem sobre transtornadas, indica-se que seja consultado
a ingestão de doses muito altas ou da um pediatra, um especialista em psiquiatria
combinação do medicamento com álcool infantil, para verificar se o diagnóstico
(CALIMAN, 2008). realmente se aplica. Excepcionalmente o

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Revista Educar FCE - Março 2019

medicamento em questão será indicado em • Agitação, ansiedade ou tensão


casos extremos de TDAH, devendo ser usado nervosa;
como último recurso por causa dos efeitos
colaterais sérios que pode desencadear • Falta de apetite ou recusa em comer;
(VALENCIA & VASCO URIBE, 2009).
• Alucinações (ver, ouvir ou sentir coisas
Pacientes submetidos ao uso de Ritalina que não são reais) ou ilusões (percepções
devem passar por monitoramento regular. A distorcidas de sensações reais);
reavaliação da necessidade de tratamento
continuado, bem como o cumprimento das • Sinais paranoicos (desconfiança,
condições de uso, são fatores que permitem susceptibilidade exagerada, falso
limitar a ocorrência de efeitos adversos e julgamento, interpretação precipitada);
colaterais graves em crianças e adultos,
que ocorrem especialmente durante o uso • Sinais sugestivos de depressão
prolongado, o que explica a importância de (grande tristeza, desespero, impressão de
reavaliar a necessidade de dar continuar inutilidade, culpa);
ao tratamento com Ritalina (GIRALDO &
BERTEL, 2005). • Mudanças de humor ou mudanças no
humor (incluindo sintomas de excesso de
excitação física e mental).
EFEITOS COLATERAIS
b) Riscos para os vasos do coração
A Ritalina apresenta uma lista de sintomas e do cérebro (riscos cardiovasculares e
e sinais de efeitos colaterais indesejáveis, cerebrovasculares), podendo desencadear:
cuja ocorrência ou agravamento deve ser • Palpitações, dores no peito, perda
imediatamente informado ao médico, dentre inexplicável de consciência, dificuldade
os quais (VALENCIA & VASCO URIBE, 2009): em respirar;

a) Riscos à saúde ou ao comportamento • Dor de cabeça grave, dormência,


mental (riscos neuropsiquiátricos): fraqueza ou paralisia de um membro,
• Tiques motores: contrações repetidas, comprometimento da coordenação, visão,
difíceis de controlar de certas partes do fala, linguagem ou memória.
corpo;
c) Riscos de redução do peso
• Tiques verbais: repetição de sons e • É necessário monitorar o peso e a
palavras; altura antes de iniciar o tratamento e, em
seguida, pelo menos a cada 6 meses.
• Agressão ou comportamento hostil;

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Revista Educar FCE - Março 2019

d) Riscos de uso indevido (uso associados do que em crianças. Contudo,


inadequado) e dependência doenças cardíacas foram observadas
• A droga pode levar à dependência inclusive em crianças, diagnosticadas com
(impossibilidade de permanecer sem risco provavelmente baixo, motivo porque há
consumir a substância sob pena de uma falta de estudos epidemiológicos para
sofrimento físico e/ou mental ou alteração estimar até que ponto ocorrem tais efeitos
do funcionamento social) e habituação nas crianças (ORTEGA, 2010).
(falta de eficácia de doses usuais
inicialmente prescritas sendo necessário Em última instância, os efeitos colaterais
o aumento gradual destas para obter o associados aos estimulantes incluem
mesmo efeito). hipertensão e arritmias com risco de vida,
overdoses severas, vícios e depressão. Uma
Conforme observado, os efeitos sobredosagem pode ser letal, já que resulta
colaterais verificados em relação ao uso de em efeitos comparáveis aos observados
metilfenidato (Ritalina) são principalmente com o uso de anfetaminas e cocaína,
de ordem neuropsiquiátrica (transtornos incluindo hipertensão grave, hiperpirexia
neuropsíquicos), cardiovascular e (aumento extremo da temperatura corporal),
cerebrovascular, dependência, com taquicardia, agitação grave e psicose
destaque para problemas relacionados à (ORTEGA, 2010).
pressão arterial, frequência cardíaca, altura
e peso (retardo de crescimento em crianças)
com influência sobre o crescimento, humor
e comportamento (VALENCIA & VASCO
URIBE, 2009).

A ocorrência de quaisquer sinais CONTROVÉRSIAS SOBRE O


sugestivos de efeitos colaterais, como a RISCO CARDÍACO
dificuldade de respirar, deve ser monitorada,
haja vista que dados sobre essas reações De acordo com estudo financiado pela
adversas em pacientes medicados com US Drug Administration, Food and Drug
metilfenidato revelaram que a hipertensão Administration ( FDA), e publicado no
arterial pulmonar ocorreu após ministração Journal of the American Medical Association
de doses usuais (ORTEGA, 2010). , os medicamentos utilizados para tratar
o transtorno de déficit de atenção e/ou
Os adultos correm maior risco de hiperatividade (TDAH) não desencadeariam
sofrerem eventos adversos cardiovasculares o risco cardíaco. Paralelamente, em estudo
e cerebrovasculares devido a comorbidades liderado por Laurel Habel do Laboratório
e ao uso mais frequente de tratamentos Kaiser, foram analisaram os registros médicos

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Revista Educar FCE - Março 2019

de quase 20 anos de 150.000 pessoas com um eletrocardiograma antes da prescrição


idade entre 25 e 64 anos que estavam de medicamentos estimulantes para o
tomando ou tomaram medicamentos para tratamento do TDAH. Em um editorial que
ADHD, como o metilfenidato (Concerta, acompanha o novo estudo, conclui-se que
Ritalina, Quasym, Metadata, Metilina), esta recomendação não é validada por dados
Atomoxetina (Strattera) e Dexamphetamina empíricos.
(Dexedrina, Dexamina) (HABEL et al., 2011).

Esses dados foram comparados aos de RECOMENDAÇÕES DA


quase 300 mil pessoas que nunca tomaram AAP PARA TRATAMENTO
essas drogas. Diante dos resultados, o
estudo não teria deixado evidente nenhum MEDICAMENTOSO DO TDA
vínculo entre essas drogas e o risco de
ataque cardíaco, acidente vascular cerebral Os adultos correm maior risco de
e morte cardíaca súbita, mesmo entre sofrerem eventos adversos cardiovasculares
usuários com histórico de doença cardíaca. e cerebrovasculares devido a comorbidades
Contudo, estudos anteriores mostraram que e ao uso mais frequente de tratamentos
essas drogas podem aumentar a pressão associados do que em crianças. Contudo,
arterial e a frequência cardíaca. Desta forma, doenças cardíacas foram observadas
se existe um risco de eventos cardíacos, o inclusive em crianças, diagnosticadas com
estudo em questão sugere que é muito risco provavelmente baixo, motivo porque há
leve. O estudo, no entanto, não verificou a uma falta de estudos epidemiológicos para
possível ligação entre a dose e o risco, nem estimar até que ponto ocorrem tais efeitos
se atentou à ocorrência de eventos cardíacos nas crianças (ORTEGA, 2010).
menos graves, como palpitações e arritmia
ventricular (HABEL et al., 2011). Em última instância, os efeitos colaterais
associados aos estimulantes incluem
Estudo realizado pela Universidade hipertensão e arritmias com risco de vida,
Vanderbilt, analisando dados de mais de overdoses severas, vícios e depressão. Uma
1,2 milhão de jovens usuários, mostrou sobredosagem pode ser letal, já que resulta
que metilfenidatos provavelmente não em efeitos comparáveis aos observados
aumentam o risco de graves problemas com o uso de anfetaminas e cocaína,
cardíacos em crianças e adultos jovens. incluindo hipertensão grave, hiperpirexia
(aumento extremo da temperatura corporal),
Em 2008, uma preocupação com o risco taquicardia, agitação grave e psicose
de doenças cardíacas levou a American (ORTEGA, 2010).
Heart Association a recomendar que
crianças e adolescentes passassem por

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A incidência de morte súbita relacionada ao uso de ao metilfenidato é de 0,2 por 100.000,


taxas consideradas baixas e similares às taxas nacionais gerais americanas, embora tais
compostos estejam associados a aumento sintomatológico compatível com problemas
cardíacos (VILLALBA, 2006; WINTERSTEIN, 2007).

CONTROVÉRSIAS SOBRE O RISCO CARDÍACO


As interações mais comuns observadas incluíram outros medicamentos prescritos,
utilizados juntamente com aqueles usados para tratar o TDAH, dentre os quais muitos
medicamentos sem receita médica contendo cafeína, além de bebidas energéticas contendo
cafeína. Não foram incluídos estimulantes como a metanfetamina ou drogas ilícitas. As
bebidas energéticas não condicionam efeitos adversos sérios.

É possível afirmar que uma parte significativa dos efeitos indesejáveis relatados está
associada ao uso do medicamento por adultos, porque estão sucetíveis a outras comorbidades,
e submetem-se a tratamentos com outros medicamentos em decorrência disso.

O número de jovens adultos que acabam em emergências hospitalares depois de tomar


medicamentos estimulantes, como Adderall, Concerta e Ritalina, quadruplicou nos últimos
anos nos Estados Unidos, de acordo com os dados do US Substance Abuse - Administração
de Serviços de Saúde Mental.

Quando combinados com álcool, os estimulantes podem ocultar os efeitos da embriaguez,


aumentando o risco de intoxicação alcoólica e lesões. Cerca de um terço das emergências
relacionadas ao estimulante envolvem também o consumo de álcool.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ritalina não deve ser utilizada por longos períodos devido
aos efeitos adversos que condiciona. O uso inadequado
desse medicamento gera efeitos colaterais principalmente
na esfera gastrointestinal e no sistema nervoso central,
porque interfere na produção de neurotransmissores.

Conforme observado ao longo do trabalho, se utilizados


de maneira inadequada podem causar dependência além de
promover alterações na neuroplasticidade, potencialmente
negativas, transtornos de personalidade graves, condutas ALESSANDRA FERRARI
agressivas, por que influenciam níveis distintos dos DA FONSECA TEXEIRA
mecanismos de neuroplasticidade, afetando a sinalização
Graduação em Letras pela
dos receptores e os mecanismos sinápticos. Universidade Paulista – UNIP –
Concluído em 1999; Especialista
Conclui-se com isso, que o fármaco mencionado nesse em Pedagogia pela Faculdade
Campos Salles – Concluído
estudo, apresenta efeitos colaterais consideráveis e em 2000; Professor de Ensino
potencial elevado para desencadeamento de dependência, Fundamental II - Língua
sendo altamente recomendável seu uso limitado a períodos Portuguesa – na E.E.Dr. Genésio
de Almeida Moura, Professor de
de tempo relativamente curtos para o fim que se designam Educação Básica – EMEF. Amadeu
no tratamento das patologias específicas. Em nenhum dos Mendes
processos patológicos tratados pela ritalina está garantida a
cura efetiva.

148
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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149
Revista Educar FCE - Março 2019

A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA
NA ATUAÇÃO DOS PROFESSORES
EM EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: O presente trabalho tem como proposta tratar da formação e do exercício
profissional do professor na educação infantil, para isso lançando mão das contribuições
importantes que a psicologia tem a oferecer para essa área do conhecimento e de sua atuação.
Sendo professor uma formação que se utiliza de diversas outras áreas do conhecimento,
sobretudo da pedagogia e psicologia, delimitamos às contribuições que devem começar a
partir de uma perspectiva de aprendizado e desenvolvimento que considere o histórico dos
indivíduos e seus processos particulares de construção de conhecimento específicos da
psicanálise, permitindo aprofundar a reflexão da prática profissional.

Palavras-Chave: Educação Infantil. Psicologia. Psicopedagogia.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO para a dimensão individual, que é a base do


processo de aprendizagem.
A pesquisa que derivou neste trabalho
teve como finalidade incluir uma abordagem Sendo assim, o autor acredita que o
baseada na lógica da Educação Infantil na ambiente social historicamente construído
prática do professor em sala de aula e suas fornece as ferramentas físicas e simbólicas
aplicações nos indivíduos. que o organismo utilizará como mediador
nesse processo.
Deste ponto de vista, as estruturas do
conhecimento parecem ser construídas
pelo indivíduo ao longo do curso de sua CONTRIBUIÇÕES DA
interação com o ambiente social, embora PSICOLOGIA PARA A
sejam fundamentadas na inteligência como
capacidade humana (Pain, 1988). EDUCAÇÃO INFANTIL

Portanto, o avanço no desenvolvimento Para VERCELLI (2012) a Psicopedagogia


cognitivo também é considerado um processo é um campo do conhecimento que faz
único, de modo que, não necessariamente interlocução com as áreas da educação e
todos os indivíduos, invariavelmente da saúde e possui como objeto de estudo a
atingirão níveis cognitivos mais avançados aprendizagem humana.
(Becker & Marques, 2000).
Tem por finalidade compreender os
Para esses autores, esse é um erro padrões evolutivos normais e patológicos do
comum ao interpretar a teoria construtivista processo de aprendizagem, considerando a
de Piaget, pois o que o autor diz é que a influência da família, da escola e da sociedade
passagem de um estágio para outro “depende no desenvolvimento.
principalmente do ambiente social que pode
acelerar ou retardar o início de um estágio, A Psicopedagogia realiza seu trabalho por
ou até impedir sua manifestação” (Piaget, meio de processos e estratégias que levam
1973: p. 4). em conta a individualidade do indivíduo,
portanto é umas práxis comprometida com
Assim, o conhecimento é desenvolvido a melhoria das condições de aprendizagem.
pela colaboração entre ensinar e aprender
indivíduos (Pain, 1988). Poderíamos ainda citar outros tipos de
organizações que se beneficiariam desse
Para Vygotsky (1991), é na relação trabalho, mas nos limitaremos a pensar na
com os outros e através dela que ocorre a atuação do psicopedagogo nas instituições
conversão dos processos de dimensão social de ensino, principalmente nas escolas

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Revista Educar FCE - Março 2019

para trabalhar a coordenação motora, outra


públicas devido à crescente demanda para para as expressões plásticas, outra para o
atendimento de crianças com deficiência. corpo, outra para desenvolver o raciocínio,
outra para a linguagem, outra para brincar sob a
orientação do educador, outra para a brincadeira
Além disso, devemos pensar que não direcionada, e assim por diante. Essa
atualmente a escola tem como compromisso segmentação não vai ao encontro da formação da
e responsabilidade a oferta de educação para personalidade integral das crianças nem de suas
necessidades. Os indivíduos precisam construir
todas as crianças. sua própria personalidade e inteligência. Tanto
o conhecimento quanto o senso moral são
Sabemos que em outros tempos, não tão elaborados pelas crianças em interação como o
meio físico e social, passando por um processo
distantes, a evasão de alunos da rede pública de desenvolvimento (1994, pág. 44).
era ignorada pela maioria dos responsáveis,
que consideravam o ato de aprender limitado
a poucos, ou seja, o fracasso era visto no Podemos destacar, também, a definição
senso comum como algo natural e esperado. de Schimitt:

Esse cenário atual tem levado cada vez (...) dentro das possibilidades gradativas do
desenvolvimento, os bebês, desde que nascem,
mais as escolas a repensarem seus processos são capazes de estabelecer relação com o outro,
de ensino/aprendizagem, pois já é consenso incluindo seus coetâneos. É preciso endossar
que a aprendizagem se dá dentro de uma tal afirmação pelo fato de que as suas relações
são atravessadas por aspectos culturais que
relação que envolve diversos fatores, tanto diversificam as suas vivências e a fomentação de
ambientais como relacionais. suas infâncias, o que rompe com a ideia única
e evolutiva do “ser” bebê. Assim, a creche se
apresenta como espaço social, contexto onde
Nesse sentido todos os envolvidos têm os sujeitos se encontram cotidianamente,
um papel importante para o sucesso do se comunicam, produzem e compartilham
indivíduo, incluindo toda a sociedade e o significados e sentidos (2011, pág. 21).
ambiente que o cerca.
Sobre a aprendizagem, Friedmann afirma
Não avançaremos muito no nosso tema que:
se não tratarmos do conceito de criança
a aprendizagem depende em grande parte da
e, principalmente da escola, que é o local motivação: as necessidades e os interesses das
definido como de aprendizagem por crianças são mais importantes que qualquer
excelência. outra razão para que elas se dediquem a uma
atividade. Ser esperta, independente, curiosa,
ter iniciativa e confiança em sua capacidade de
Conforme a definição de Friedmann: construir uma ideia própria sobre as coisas, assim
como expressar seu pensamento e sentimentos
(...) as crianças são seres integrais, embora não com convicção, são características inerentes a
seja dessa forma que elas têm sido consideradas personalidade integral das crianças (2014, pág.
na maior parte das escolas, uma vez que as 45).
atividades propostas são estruturadas de modo
compartimentado: há uma hora determinada

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Revista Educar FCE - Março 2019

Conforme DALBOSCO (2006) citado Segundo o autor, quando a educação


por Kramer, Eloisa, a dimensão formativo- focaliza o cuidado na esfera da
educacional da pedagogia se encontra instrumentalidade, limita sua prática às
obliterada por um didatismo pedagógico. possibilidades do cotidiano, às restrições do
presente.
Educar no sentido de acompanhar o outro
vem sendo substituído com o sentido de Permanecendo nesse nível, o educador
dirigir o outro. “exerce o seu ofício afogado na familiaridade
do mundo cotidiano, desenvolvendo um
O autor afirma que o conceito de cuidado fazer pedagógico, sem poder alcançar o
poderia contribuir para a revisão desse âmbito do agir pedagógico” (ibid., pág. 18).
caminho. Nessa ótica, o cuidado diz respeito
a um modo prático do ser humano ser-no- Na esfera da existencialidade, o cuidado se
mundo, envolvendo responsabilidade e um refere a “estar-aí-no-mundo” na companhia
agir que não espera resultados. dos outros. Trata-se, para o autor, de formar
a si e ao outro por meio da postura dialógico-
O cuidado integra o mundo cotidiano compreensiva.
(presente, factual, instrumental) e o mundo
existencial (que envolve a indagação sobre o Nessa direção, o papel do educador é “não
sentido da vida, o futuro). intervir autoritariamente no desenvolvimento
cognitivo e moral da criança, mas contribuir
Nesse prisma “agir de acordo com o cuidado para que aspectos deste se desenvolvimento
significa viver um momento presente, mas simplesmente aconteçam” (ibid).
com a consciência da temporalidade; isto é,
de pertença a um passado e com capacidade A questão da inclusão na educação deve
de projetar um horizonte” (ibid., pág 13). passar por análise mais ampla sobre como
essa questão tem a ver como o seu inverso,
O sentido do cuidado diz respeito a algo ou seja, a exclusão.
que é do cotidiano e, ao mesmo tempo, que Segundo estudo da Universidade Federal
busca dar conta do fenômeno da vida em sua da Bahia realizada por Dazzani, Maria Virgínia
totalidade. Machado:

Consideremos aqui apenas a exclusão escolar. O


Cuidado exige a ocupação da vida humana
primeiro aspecto que se deve examinar é o fato
consigo mesma e com os outros, de uma de que, a partir de certos marcos, a exclusão na
perspectiva factual e existencial, de modo nossa sociedade é compreendida não como um
fenômeno isolado, anômalo, acidental, mas, ao
integrado.
contrário, diretamente ligada a certas formas
de organização institucional e de produção do
poder que fabricam engrenagens causadoras do
isolamento, do alheamento e da estigmatizarão

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Revista Educar FCE - Março 2019

de determinados cidadãos, ou seja, nem sempre


a exclusão se resume ao fato de que a criança b) qual a contribuição da Psicologia
está fora do espaço físico da escola, mas fora do para o entendimento da exclusão social e
espaço simbólico da cultura e da economia. educacional e para enfrentar e resolver os
problemas daí decorrentes?
Por isso, muitas vezes, a demanda de queixa
escolar e o fracasso ignoram os processos de Alguns teóricos 1 têm optado por não
integração cultural que as crianças vivem na mencionar a expressão educação inclusiva,
escola. mas simplesmente democratização da
educação e defesa e promoção dos direitos
A ideologia do dom, como explica Neves humanos.
(2005), já foi uma das explicações do
fracasso dos alunos: a escola teria oferecido Isso implica saber conceber uma escola
as mesmas condições para todos os alunos, e e uma prática do psicólogo que possa
o sucesso ou fracasso seria uma decorrência interpretar, acolher e responder às demandas
das aptidões e da inteligência de cada um. de todos os cidadãos em um ambiente
que respeite a subjetividade, a diversidade
Com esse breve sobrevoo baseado na cultural, étnica, religiosa e social.
pesquisa, queremos apenas ressaltar que a
exclusão social não é apenas um problema Aprofundando mais a questão da
social de extrema gravidade, mas que, além inclusão/exclusão ao firmar que o problema
disso, também existem diferentes modos de da inclusão/exclusão escolar (e todos os
compreendê-la. aspectos que orbitam ao seu redor, como
as diferenças culturais, as barreiras sociais e
A emergência da confluência entre econômicas) não é apenas um fato que pode
Psicologia e educação, de certo modo, tenta ser constatado pelas estatísticas.
oferecer leituras sobre esse fenômeno,
leituras essas que envolvem obstáculos Há, por assim dizer, uma construção
teóricos e ideológicos significativos. conceitual da inclusão/exclusão, e tal
construção tem certos contornos de ordem
Sob muitos aspectos, um amplo debate epistemológica e histórica que devem ser
se instalou no interesse de responder às destacados.
seguintes perguntas:
A reflexão específica sobre a relação entre
a) do ponto de vista epistemológico e as crianças e a escola e sobre os processos
prático, qual a contribuição da Psicologia de aprendizagem como um fenômeno que se
para a promoção da democracia e dos dá no sujeito psicológico ou indivíduo está
direitos humanos? relacionada com um determinado momento
da história da Psicologia e da história da
1
(Neves, 2005; Prieto, 2005)

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Revista Educar FCE - Março 2019

estaduais ou municipais buscam embasamento


educação, nas diretrizes propostas pela instância federal
na área da educação, isto é, o MEC. Este por
Mesmo porque a ideia de um sujeito como sua vez, inspira-se em documentos nacionais
e internacionais, particularmente aqueles
indivíduo portador de traços psicológicos, elaborados por organismos dos quais é
subjetividade, consciência, auto referência signatário. (2011, PAG. 102)
e autodeterminação, como agente humano,
self, é uma invenção da Modernidade (Taylor, Nesse sentido, conforme CARVALHO:
1997).
a elaboração do projeto político-pedagógico
Isso pode ser tudo, menos um truísmo: o para a escola que queremos, a escola com a qual
cruzamento dos percursos da ciência do sujeito sonhamos, exige que a gestão seja democrática.
psicológico e da educação forma o nosso quadro E como o conceito de educação inclusiva, precisa
de referência, o fundo conceitual contra o qual ser mais debatido, creio que convém iniciar as
temos avaliado, psicólogos da educação ou não, discussões para elaboração do projeto com esse
especialistas em educação ou não, a questão dos tema, procurando-se modernizar a cultura da
problemas de aprendizagem e das demandas de escola a respeito, em clima organizacional de
liberdade de expressão e de respeito às incertezas.
queixa escolar. Todos os que convivem na comunidade escolar
sabem que precisamos mudar. A questão é como
implementar as necessárias reformulações,
sejam administrativas, pedagógicas, culturais ou
atitudinais”. (2011, PAG. 105).

OS ESPAÇOS ESCOLARES
COMO COADJUVANTE NA Devemos também levar em consideração
baseado em CARVALHO no caso do
PRÁTICA PSICOPEDAGÓGICA planejamento e da administração escolar para
a educação infantil, parece-me indispensável
Analisaremos com o espaço da escola enriquecer a cultua da escola com práticas
deve ser pensado para que a aprendizagem tais como:
das crianças tenha garantido um ambiente
que permita a criatividade incluindo as (a) conhecer as recomendações de
inclusões escolares, mas mais do que isso organismos nacionais e internacionais;
ela faça parte do planejamento em todas as
instâncias hierárquicas que criam os planos (b) atualizar a revisão teórica sobre
de educação. aprendizagem e desenvolvimento
humano, examinando-se a concepção de
CARVALHO nos lembra que: diversos autores;

Ainda que as escolas sejam autônomas (c) analisar a base legal em vigência no
para elaboração de seus projetos político-
pedagógicos, devem inspirar-se no plano de Brasil, referente a educação;
ação elaborado pela secretaria de educação
à qual pertencem. Tais organizações sejam

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Revista Educar FCE - Março 2019

preparação do material didático; adequação


(d) discutir a filosofia de educação que do vocabulário do professor; mais escuta dos
se pretende adotar para estabelecer a alunos; adoção da pesquisa como estratégia
intencionalidade educativa, traduzida sob do ensino/aprendizagem; organização de
adaptações curriculares, principalmente as de
forma de finalidades e objetivos da escola acesso; substituição do “dever” de casa pelo
inclusiva; “prazer” de casa; revisão dos procedimentos
de avaliação do processo ensino-aprendizagem
(entendendo-se a avaliação como subsídio ao
(e) examinar as diretrizes curriculares planejamento...); a participação da família e da
nacionais, estaduais e municipais; etc. comunidade na condição de cúmplices que se
dispõem a organizar uma rede de ajuda e apoio
para alunos, seus pais e professores, se dela
A esse conjunto de informações a serem necessitarem. (2011, pág. 108)
criticamente analisadas costuma –se chamar
de cultura na escola, esperando-se que seja
absorvida em benefício da cultura da escola. Conforme o texto “O futuro de uma
ilusão” Freud (1927), nos fala da fundação
Mais à frente CARVALHO, ressalta que: da civilização como meio de proteção
dos homens contra a força destrutiva da
feita uma avaliação do contexto educacional natureza, mantida a custo de uma coerção
escolar e considerando-se a intencionalidade
educativa estabelecida pela equipe, será possível externa, e principalmente de uma coerção
estabelecer objetivos gerais e específicos bem interna que age no sentido de contenção
como as diretrizes gerais e específicas para os das pulsões, amparada na fundação das
grupos que a escola atende (educação infantil,
ensino fundamental, etc.). As diretrizes permitem instituições sociais.
nortear a prática pedagógica em classes comuns
para o trabalho na diversidade. Ainda devem Sua crítica à religião é estendida também
fazer parte do projeto político-pedagógico os
mecanismos de avaliação a serem adotados à política, relação entre homens e mulheres
para o acompanhamento do próprio projeto, (ao que acrescentamos também a ciência),
atualizando-o sempre. (2011, pág. 106). enquanto ilusões que proporcionam uma
certa sensação de apaziguamento do temor
Ainda citando CARVALHO, tratando do infantil de desamparo e procuram indicar,
planejamento da escola defende que: com seus saberes, caminhos para dominação
daquilo que é da ordem do desconhecido.
a proposta, é portanto, a de ressignificar a prática
pedagógica nas classes comuns, tendo em conta:
a sala de aula (aspecto físico/arquitetônico, A partir dessa premissa é importante
arrumação do mobiliário, o clima afetivo, etc.); transpô-la para o campo da educação, que no
a ação didático-pedagógica (planejamento dos campo da educação tal ilusão, descendente
trabalhos em equipe; atividades curriculares
“fora da escola”, como passeios, excursões, do âmbito científico, é parceira do constante
visitas; revisão da metodologia didática, mal-estar gerado pelo processo do dito
desenvolvendo-se mais trabalhos em grupo, fracasso escolar.
pois favorecem a aprendizagem cooperativa;
adoção de recurso da tecnologia informática,

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Revista Educar FCE - Março 2019

Por que há sujeitos que não conseguem sustenta numa ilusão, que pontua que:
aprender?
Podemos, portanto, chamar uma crença de
ilusão quando uma realização de desejo constitui
A busca de respostas para esta questão fator proeminente em sua motivação e assim
tem sido responsável pelo crescente procedendo, desprezamos suas relações com a
encaminhamento de alunos em situação de realidade, tal como a própria ilusão não dá valor
à verificação.” (1927, p.40)
dificuldade escolar para profissionais “psi”,
bem como pela procura frenética dos (psico)
pedagogos pela teoria/metodologia da Também faz referência a Lajonquière que
moda, que finalmente poderia orientar como aponta que:
ensinar ‘tudo a todos’.
As capacidades psicológicas fazem as vezes da
realidade última, de uma espécie de fundo do
Para que possamos lançar um olhar mais poço do mundo pedagógico, pois pensa-se que
crítico sobre a psicopedagogia que temos sempre estão presentes nos “problemas” tanto
observado atualmente encontramos uma de aprendizagem quanto de disciplina escolar.
Problemas que não seriam mais do que expressão
situação bastante preocupante no terreno da falta de ajuste ou adequação a esta última
da clínica. instância - ou primeira, dependendo do ponto
de vista. Assim sendo, as capacidades instam,
solicitam insistentemente, que o restante da
Ao finalizar o curso de psicopedagogia existência se adapte a elas ou, em outras palavras,
muitos profissionais iniciam atendimentos elas clamam por complementação aos olhos do
psicopedagógicos em consultórios, e discurso (psico) pedagógico hegemônico.” (1999,
p. 56).
as práticas clínicas costumam repetir o
“fenômeno” encontrado nos cursos de
especialização. Como se processou o cruzamento da
psicologia com a pedagogia no Brasil?
Com o invólucro de psicopedagogia pode-
se encontrar de tudo: aulas particulares, O trabalho de Jurandir Freire Costa (1999)
recreação, orientação de pais e professores, Ordem Médica e Norma Familiar analisa
massagem, escuta “psicanalítica” e várias que a entrada da psicologia no Brasil se deu
outras abordagens. através de uma relação muito próxima com
a medicina higienista, e juntas, ambas as
Colocamos uma pergunta intrigante, mas disciplinas legislavam sobre o que era o bem
necessária quando indaga: ‘Se não existe um viver.
campo conceitual da psicopedagogia, onde
esta prática se sustenta? Logo após o autor considera que:

Para responder recorremos a Freud (1927) “é realmente impressionante a quantidade de


teses que foram produzidas neste período que
para afirmar a psicopedagogia no Brasil` se se preocupavam em definir “como se deve ser e

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Revista Educar FCE - Março 2019

agir para ser considerado normal.” Percebemos


que a criação de um conceito de normalidade melhoria do processo de ensino?.
teve (tem?) uma função específica no sentido de
contenção pulsional, objetivo este que foi bem Carvalho faz uma consideração
sucedido, mais do que o uso da repressão policial,
que parecia não ter mais efeito na contenção da interessante acerca das produções teóricas
massa no Brasil do século XIX”. no campo da psicologia do desenvolvimento:

Este movimento de transferência da Embora estas modalidades de investigação


empírica possam ter relevância para professores
coerção externa para interna deu-se ou instituições educacionais, virtualmente
exatamente com base na tese apresentada nenhuma delas tem como objetivo uma possível
por Freud de que ao processo civilizatório compreensão do contexto escolar como um
todo, nem uma aplicação imediata neste âmbito
constitui-se sobre a coerção e a renúncia (...) Seu objetivo fundamental é a elaboração
pulsional. de teorias explicativas do desenvolvimento
cognitivo, e (...) não têm como objetivo a
compreensão do fenômeno da aprendizagem
Tal processo se torna mais efetivo graças como fruto de exposição ao ensino escolar, nem
à força do superego, e a constituição do buscam formas mais eficazes de ensino, mas
mesmo dá-se devido às exigências morais da pretendem descrever as características gerais do
desenvolvimento cognitivo na criança a partir de
civilização.
certos referenciais psicológicos. (2001, p.42/43)

Ora, neste movimento de passagem de


uma coerção estritamente externa para uma A questão trabalhada até aqui remete-
coerção interna na sociedade brasileira a nos às observações de Lacan (1992) em seu
psicologia e a medicina higienista contaram Seminário XVII-O avesso da psicanálise.
com uma aliada; a educação para propagação
de suas ideias. Não podemos negar que estamos
apalpando questões que se processam no
Qual seria então o benefício que o sujeito âmbito dos dramas humanos, atravessados
receberia pela renúncia de sua satisfação pela linguagem.
pulsional e adesão - aos agora - ditames
educacionais? Conforme o referencial lacaniano, a
pesquisa em psicanálise é uma pesquisa da
Seria o fato de poder ser distinguido dos linguagem, e o processo de psicologização do
demais com o rótulo da normalidade, com a cotidiano escolar é o indicativo da força do
vantagem deste conceito ser articulado a um discurso universitário e do saber (científico)
suposto respaldo científico. ocupando o lugar de verdade onde outrora
estivera o mestre (agora esvaziado) com o
Mas os avanços no campo da psicologia seu discurso.
não contribuíram justamente para uma maior
compreensão do aluno e consequentemente

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Revista Educar FCE - Março 2019

O processo de psicologização do cotidiano


escolar permite-nos demonstrar a força do Aqui se incluí o sujeito e o desejo, sendo
discurso universitário nas escolas. que do discurso científico a verdade do
sujeito é rejeitada em prol de tudo saber.
Podemos dizer que as escolas também
obedecem a lógica da ciência moderna, A medicina também compartilha junto
buscando o afastamento de práticas à psicologia e educação desta imersão no
“intuitivas”; afinal é preciso desenvolver um discurso universitário (como foi pontuado
método para que as crianças aprendam bem a partir das observações de Jurandir Freire
e de modo definitivo. Costa (1999)), onde o saber é agente
do discurso que se apresenta como um
Está aí o cerne do mal-estar da prática discurso do mestre moderno, mestre que foi
educativa, que junto com o ato de governar substituído pelo saber universal científico
e analisar lidam o tempo todo com a falta, abrindo margem para manifestação.
justamente no sentido contrário do discurso
da ciência moderna, onde a falta não deve Da tirania do saber, da obediência como
existir. mandamento do saber, e da ordem como
representante da verdade da ciência; com a
As ilusões (psico) pedagógicas seriam eleição do saber como meio de gozo, a busca
recursos fantasiosos numa tentativa de desenfreada por cursos, especializações,
obturação desta falta. títulos demonstra isso.

A ciência moderna constitui-se como É fato que o discurso universitário dá


paradigma da verdade, seguida de forma sustentação para o trabalho na escola, e é
religiosa por profissionais da educação produtor de pesquisas e circulação de saber.
sedentos por receitas de “como fazer o aluno
aprender”. O problema reside quando há uma
suplantação do discurso do mestre na escola,
É exatamente neste ponto que Lacan “põe que cede seu lugar a teses, informações,
o dedo na ferida”, destacando a impotência normas, e o esquecimento de que no âmbito
da verdade e o poder do impossível. escolar o que ocorre não é apenas uma
relação professor-aluno, e sim a relação
A ética da psicanálise se contrapõe a entre sujeitos desejastes, atravessados pela
da ciência moderna exatamente aí; não linguagem.
há uma única verdade, universal; uma vez
que a verdade seria não-toda, como nos Da maneira como os argumentos foram
diz Lacan(1992) e se apresenta de forma sendo apresentados, pode parecer que não
sinuosa, sulcada, intrincada. existe a necessidade de tratamentos, pois

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Revista Educar FCE - Março 2019

todos os sintomas apresentados pelos alunos possa escutar a equipe da escola, que esta
seriam institucionais. equipe possa se escutar, que o sujeito para
além do professor e do coordenador possa
Certamente há sujeitos que apresentam ter um espaço para escuta do desejo.
questões que demandam uma escuta
singular. Voltando ao texto que nos guiou nesta
reflexão, Freud pondera que no âmbito
Os sintomas que se apresentam na escola religioso (e aqui estamos também pensando
não devem ser entendido estritamente como no discurso científico podendo ocupar este
“sintomas escolares”, mas como sintoma de lugar), abrir mão de uma ilusão de uma
um sujeito. outra vida no futuro, que seria uma vida
melhor, permite-nos um maior investimento
Ocariz assinala que: (libidinal) no aqui e agora.

o sintoma é um fenômeno subjetivo que se Seguindo então o paralelo que


constitui não como sinal de doença, mas como
efeito, produto de um conflito inconsciente (...). desenvolvemos neste texto; ao abrir mão da
O sintoma não é contingente; possui um motivo ilusão de que é através de um tratamento
e um propósito. Tem causa, direção, finalidade que este aluno “anormal” poderia encaixar-
e função na vida psíquica; é sobre determinado,
e sua raiz se encontra na história do sujeito. se no padrão do bom aluno.
É portador do saber inconsciente recalcado;
é uma mensagem cifrada, um hieróglifo a ser Quem sabe possamos investir
interpretado (2001, p.9)”.
(pedagogicamente, e porque não
libidinalmente) numa relação transferencial
É a partir deste ponto que podemos refletir que produza efeitos benéficos na produção
sobre uma intervenção psico/pedagógica pedagógica do mesmo.
possível, ou seja, gostaríamos de pensar uma
possibilidade de atuação dos psicopedagogos Este poderia ser um espaço para o
no nível institucional. psicopedagogo atuar; não para sustentar
uma ilusão, mas para garantir um espaço de
O que propomos então é que o professor palavra: entre sujeitos, entre saberes.
possa “aproveitar” do poder que lhe é
atribuído (afinal seria o portador do discurso Dentro do segundo eixo a psicanálise é
científico) para fazer um movimento de giro no tomada como mais um modo de compreender
que diz respeito às queixas proferidas pelos o que acontece no cotidiano escolar.
professores e coordenadores sobre seus
alunos (queixas estas que podem motivar um Seus conceitos são considerados
encaminhamento), para possibilitar que este fundamentais, mas sua especificidade não é
seja um espaço de escuta; que o professor discutida.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Isso pode ser observado quando Andrade (2002) toma como pressuposto uma
“psicopedagogia psicanaliticamente orientada”, sem discutir como esse encontro se dá.

Também aparece no texto de Milmann (2003) a afirmação de que, num tratamento


psicopedagógico, a psicanálise é a lente através da qual toma o sintoma de seu paciente e
conduz o tratamento.

Ela diz que: “Situar a singularidade da estruturação psicótica abordada pelo saber da
psicanálise é um atravessamento necessário à clínica que se propõe a abordar a psicose”
(MILMANN, 2003, p. 48).

Já Levinsky (2006) propõe, a partir da psicanálise kleiniana, que os pedagogos tomem


conhecimento dos conteúdos psicanalíticos de modo a observar que certas dificuldades de
aprendizagem estão relacionadas com entraves no desenvolvimento psico-sexual da criança.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo descreveu sobre os fatores intervenientes no
processo de aprendizagem de alunos e / ou dificuldades de
aprendizagem, bem como identificar e delinear as principais
visões dos psicopedagogos perante um atendimento dos
professores na educação infantil sobre tais dificuldades.

Em geral, os resultados mostraram uma ênfase dada


aos aspectos emocionais como fatores intervenientes na
aprendizagem do aluno, embora também tenham destacado
o papel da história pessoal antes da dificuldade a ser tratada. ALESSANDRA PIRES

Graduação em Pedagogia pela


Além disso, a análise dos fatores que interferem na Universidade Nove de Julho
aprendizagem dos alunos demonstrou uma diversidade (2016); Bacharel em Ciências
de concepções de aprendizagem entre os estudantes, Biológicas pela Universidade
Guarulhos (2007); Graduação
provavelmente implica também uma diversidade de em Ciências Biológicas pela
inúmeras possibilidades de intervenções psicopedagógicos. Universidade Guarulhos (2005).
Professora de Educação Infantil
(CEI Jardim Japão) da Prefeitura
Nesse sentido, alguns professores precisam analisar a de São Paulo.
qual ponto devem abandonar o protocolo psicopedagógico
tradicional e, nesse contexto, a escuta e o apoio emocional
serem práticas possíveis para melhor desenvolver seu
trabalho e, assim, obter melhores resultados aos seus alunos.

A ênfase nessas práticas resultaria de uma compreensão simplificada do processo de


aprendizagem dos estudantes e, consequentemente, das possíveis estratégias de intervenção
psicopedagógica?

Essa questão merece mais atenção em estudos futuros na área.

Por fim, vale ressaltar, por outro lado, a diversidade de intervenções mencionadas pelos
autores pesquisados em relação á melhor atender as necessidades dos pacientes/alunos.

Essa diversidade parece revelar uma performance que reflete os muitos desafios que os
alunos enfrentam no contexto do ensino básico.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Daí a importância destes serviços que obviamente não podem atender a todas as
necessidades dos alunos, mas representa um ponto de partida para acolhê-los e guiá-los.

Do ponto de vista do processo de aprendizagem, que é o foco principal das intervenções


pedagógicas, é importante ressaltar que o presente estudo fornece algumas evidências de
que certas concepções e intervenções adotadas pelos psicopedagogos parecem originar
diferentes experiências para os alunos.

Portanto, mais estudos são necessários para avaliar a efetividade das intervenções, para
que seus resultados possam focar mais diretamente no processo de aprendizagem, no
sucesso acadêmico e na permanência dos alunos na educação infantil.

163
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
CARVALHO, Rosita Edler. Educação inclusiva: com os pingos nos “is”. 8. ed. Porto Alegre: Ed.
Meditação, 2006.

Kátia Cristina Silva Forli Bautheney.”Psicopedagogia: considerações sobre o futuro de uma


outra ilusão”. An. 4 Col. LEPSI IP/FE-USP Oct. 2002

KRAMER, Sonia & Rocha, Eloisa A.C. Educação Infantil: Enfoques em dialogo. 3. Ed. São
Paulo: Ed. Papirus, 2011.

LIGIA DE CARVALHO ABÕES VERCELLI é doutoranda e Mestre em Educação pelo Programa


de pós-graduação em educação da Universidade Nove de Julho – UNINOVE. An. 4 Col.
LEPSI IP/FE-USP Oct. 2002

Lomônaco, José Fernando Bitencourt. Psicologia e educação: hoje e amanhã. Psicol. Esc.
Educ. (Impr.), 1999, vol.3, no.1, p.11-20. ISSN 1413-8557

Maria Virgínia Machado Dazzani Doutora em Educação. Professora adjunta do Instituto de


Psicologia da Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA – Brasil.

164
Revista Educar FCE - Março 2019

A ESCOLA, A FAMÍLIA, O BULLYING


E AS RESPONSABILIDADES
RESUMO: O presente projeto abordará as definições de bullying, as responsabilidades com
relação à prática do mesmo pela administração escolar e pela família. O artigo também
abordará a reação e as consequências para a vítima e qual as providências para a punição do
agressor e os efeitos que podem causar no futuro das crianças que foram vítimas de bullying.
A execução do trabalho se dará por meio de pesquisas que foram realizadas em livros
publicados por especialistas na linha de estudo do assunto, assim como em artigos da
internet de fontes confiáveis.

Palavras-Chave: Educação; Bullying; Escola; Violência

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO recorrente. Mas é possível perceber que


este tipo de agressão já podia ser observada
Muitas vezes percebemos conversas nas escolas no século XVIII e XIX, porém era
entre pessoas ou em redes sociais que visto como um comportamento natural do
dizem que antigamente não existia bullying, ser humano.
pessoas que dizem que o bullying é mimimi.
Ainda é possível ler que os jovens de hoje Então o que se pode perceber é que
não aguentam uma brincadeira. Não seria antigamente as ações de constranger de
surpresa perceber que a pessoa que fala forma física ou mental um colega já existia,
desta forma tenha sido o autor de bullying porém, nenhuma atenção era dada ao
contra seus colegas de escola no passado. problema, estas ações eram consideradas
somente uma forma de brincar.
O bullying na escola não é um fenômeno
novo, ele tem uma longa historia, praticamente Há também a mudança na forma de ver a
nasceu com a escola, esta forma de tratar violência no nosso país, antigamente só era
erroneamente e de forma inconveniente os considerado violência o que feria e causava
colegas é muito antiga, acreditava-se que machucados e hematonas, hoje a forma de
este tratamento se alteraria drasticamente agressão verbal muitas vezes é mais usada
após o brincalhão atingir a maturidade, que a agressão física, sendo que as duas
que todos seriam adultos e as brincadeiras formas podem causar grandes problemas
cessariam. para o futuro de uma criança.

Por meio das pesquisas realizadas pela As pessoas sofriam bullying por diversos
Professora de Ensino Fundamental II – motivos lá pelos idos da década de 70. Era
Educação Física - na EMEF Joaquim Bento comum a violência física, apelidos perjorativos,
Alves de Lima Neto, Professora de Educação preconceito e outras formas de tratamento.
Básica – Educação Física - na EMEF Joaquim A pessoa era discriminada por ser pobre, por
Bento Alves de Lima Neto na Rede pública ser negra, por usar óculos, por usar roupas de
para a realização do presente trabalho, é segunda mão, por ser magra, por ser gorda,
possível conhecer um pouco mais sobre o por ser alta ou por ser baixa e ainda por
bullying. diversos outros motivos. Pode-se observar
que os motivos não mudaram com o tempo.
Em 1970 o pesquisador sueco Dan Olweus
passou a estudar sobre os casos de suícidio na Algumas pessoas que sofriam o bullying
infância e na adolescência, que se começou acreditavam piamente que ela era o
a descobrir os casos de agressão sofrida de realmente o problema e que ela precisava
maneira frequente que hoje chamamos de mudar para se adequar aos padrões que os
bullying, nos anos 80 o assunto se tornou outros consideravam certo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

impossibilitados de fazer frente às agressões


Grupos de alunos como os nerds, as sofridas. Tais comportamentos não apresentam
patricinhas, os esportistas sempre existiram motivações específicas ou justificáveis. Em
nas escolas e os que não se encaixavam em última instância, significa dizer que, de forma
“natural”, os mais fortes utilizam os mais frágeis
um grupo eram considerados inadequados como meros objetos de diversão, prazer e poder,
ou aberrações e sofriam com o que se com o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e
costumava rotular como brincadeira de amedrontar suas vítimas. (Cartilha Bullying p.6)
criança.
Bullying é um termo que tem origem na
Era comum ver crianças totalmente palavra inglesa bully que significa valentão,
isoladas na hora do recreio por não conseguir brigão ou também aquele que se utiliza de sua
interagir com nenhum dos grupos. Este superioridade física para intimidar alguém. O
afastamente, isolamento e estas brincadeiras termo se refere aos gestos e ou palavras que
já eram o bullying se instaurando nas escolas agridem ou intimidem outras pessoas. Os
do Brasil, enquanto os pais e responsáveis que intimidam outros de forma verbal, física
pela escola encaravam estas brincadeiras ou psicológica são chamados de bullies, os
como parte do crescimento e fortalecimento agressores sentem prazer em humilhar suas
da indole da criança. vítimas e os ataques acontecem sem nenhum
motivo aparente.
Ninguém nunca percebeu que esta
criança estava sendo agredida diariamente Esta agressão é intencional, repetida
e que as palavras machucavam mais que diariamente e muitas vezes, e tenta
as palmadas que por ventura recebece em desqualificar a vítima por meio de
algum momento da infância. constrangimentos. Na maioria das vezes o
constrangimento é causado por se apontar
A violência que a criança recebe na infância características físicas, problemas motores e
não importa se de forma física ou psicológica de aprendizado da vítima, também podem
é carregada por toda a vida, muitos adultos ocorrer por meio do racismo.
hoje precisam de uma terapia por causa das
“brincadeiras” sofridas na infância. Os psicólogos brasileiros costumam
denominar esta pratica como violência
moral ou vitimização. A pratica do Bullying é
O QUE É BULLYING? recorrente e pode ser realizada por um único
indivíduo ou em grupo sempre confrontando
O bullying é um termo ainda pouco conhecido
do grande público. De origem inglesa e sem a vítima em locais no qual ela não pode
tradução ainda no Brasil, é utilizado para fugir. Normalmente a pratica é realizada na
qualificar comportamentos agressivos no âmbito frente de diversas pessoas para que todos
escolar, praticados tanto por meninos quanto
por meninas. Os atos de violência (física ou sejam testemunhas da humilhação, trazendo
não) ocorrem de forma intencional e repetitiva graves danos às vítimas.
contra um ou mais alunos que se encontram

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Revista Educar FCE - Março 2019

TIPOS DE BULLYING • Bullying Psicológico – É uma variação


do verbal ou moral faz com que a vítima
Partindo do princípio de que o bullying sempre se sinta culpada por coisas que
existe e sempre foi praticado no Brasil é muitas vezes não estão ao seu alcance
necessário apresentar os tipos de bullying para resolver, o agressor faz coisas
mais comuns aplicados pelos agressores. deliberadamente para poder culpar a
vítima. Este tipo de bullying pode trazer
• Bullying Físico – É o que traz danos distúrbios como depressão e mania de
físicos as vítimas, é o bater, beliscar, puxar perseguição.
cabelo, morder, arranhar, chutar, socar
entre outros, são atos que produzem • Bullying Sexual – É um bullying mais
hematomas ou machucados. Este tipo de comum de acontecer com meninas, o
bullying pode ir piorando no decorrer dos foco do agressor são as meninas mais
anos, pois, o agressor adquire mais força. atraentes e mais desenvolvidas que
são constantemente lembradas de seus
• Bullying Verbal – É o tipo mais comum de corpos. Pode acontecer também com as
acontecer e o mais difícil de provar, palavras vítimas bêbadas e ou indefesas.
o vento leva. Este tipo de bullying pode
ocorrer por meio de fofoca, mentiras, piadas, • Bullying Virtual ou Cyberbullying – É
apelidos, ameaças entre outras. As pessoas o pior de todos os tipos, pois, são todos
ao redor acham engraçado propagar este os tipos de bullying, porém divulgados
tipo de bullying, mas, a vítima sofre e muitas virtualmente para que todos possam
vezes a “brincadeira” vem de um amigo. acessar, o agressor por meio de perfil
anônimo faz o bullying e os observadores
• Bullying Material – É o ato de comentam sobre a vítima como se tivessem
danificar, rasgar, esconder, estragar, conhecimento de causa, transformando
sujar, pegar entre outros um pertence da uma ofensa em milhares de ofensas por
vítima. O agressor quer mostrar sua força meio da divulgação na internet.
e usa a destruição do bem da vítima para
demonstrar a sua suposta superioridade.
COMO AJUDAR UMA
• Bullying Moral ou Sentimental – CRIANÇA NA QUESTÃO DO
É bem parecido com o bullying verbal
só que neste caso não há provocações BULLYING
somente apelidos que afetam diretamente
o lado emocional da vítima. Este tipo de O comportamento de uma criança é
bullying pode causar distúrbios como o termômetro para o adulto perceber se
anorexia, bulimia entre outros. alguma coisa pode não estar correndo bem

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Revista Educar FCE - Março 2019

e que o adulto deve ter atenção. O adulto DADOS SOBRE O BULLYING


deve aguçar o seu instinto para perceber
como pode ajudar a criança. Uma pesquisa realizada pela ONU em 2016
aponta que 50% das crianças e jovens do
Alguns passos são necessários para que se mundo já sofreram bullying, para a pesquisa
proteja uma criança contra casos de bullying foram entrevistadas 100 mil crianças em 18
os principais são: países do mundo. Ainda segundo dados da
pesquisa estes são os índices nos países da
• Orientar América do Sul:
• Ter atenção
• Conversar • Argentina é de 47,8%;
• Confiar • Colômbia é de 43,5%;
• Denunciar • Brasil de 43%.
• Uruguai é de 36,7%;
O responsável deve orientar a criança • Chile de 33,2%;
sobre como os amigos devem proceder em
relação a ele, como ele deve tratar as outras Segundo informação do Programa
pessoas. Para que a criança possa entender Internacional de Avaliação de Estudantes
como isso deve ocorrer, os pais devem dar (PISA) em avaliação aplicada pela Organização
atenção para as dúvidas e incertezas da para a Cooperação e Desenvolvimento
criança, orientando-a sobre qual a forma Econômico (OCDE), um em cada dez
correta de agir em cada situação. estudantes no Brasil é vítima frequente de
bullying.
O diálogo é a melhor maneira de identificar
problemas entre uma criança e seus colegas No Brasil 17,5% dos entrevistados
de escola, os pais devem escolher um tempo disseram sofrer alguma forma de bullying
no seu dia para saber como foi o dia da algumas vezes por mês; 7,8% disseram ser
criança na escola observando suas respostar excluídos pelos colegas; 9,3% dizem ser alvo
para identificar futuros problemas. de piadas; 4,1% afirmam serem ameaçados;
3,2% afirmam ser empurrados e agredidos
A confiança é a base do relacionamento, fisicamente; 5,3% disseram que os colegas
é primordial que se tenha a certeza de que frequentemente pegam e destroem as coisas
a criança confia no responsável e conte os deles e 9% foram classificados no estudo
problemas que ocorrem na escola e nunca como vítimas frequentes de bullying.
se deve quebrar esta confiança. E finalmente
ensinar a criança que denunciar situações Segundo o site do G1 os casos de bullying
inadequadas que presenciar é dever do aumentaram 8% em escolas estaduais de SP,
cidadão de bem. os dados foram fornecidos pela Secretaria

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Revista Educar FCE - Março 2019

de Educação do estado, foram 564 casos Segundo matéria publicada no Jornal da


registrados em 2017, ou seja, 80 casos a mais USP, baseada em uma pesquisa realizada
do que no ano anterior. Ainda segundo o site pela Escola de Enfermagem de Ribeirão
o número de ocorrências pode ser maior, já Preto (EERP) da USP, o bullying na escola
que muitos alunos não denunciam a prática. está ligado à má relação familiar, indica que
relações ruins dentro de casa são um dos
Segundo o site Lumos Jurídico em seu artigo fatores que afetam o comportamento de
publicado em 1 de agosto de 2017, os casos crianças e adolescentes na escola.
de bullying cresceram consideravelmente no
Brasil e a aparência física é o principal motivo Segundo o psicólogo Wanderlei Abadio
de bullying na escola. As informações foram de Oliveira, pesquisador responsável pelo
baseadas na pesquisa do IBGE de 2016. estudo, tanto as crianças que sofrem bullying
A pesquisa mostra que 7,4% dos alunos quanto as que praticam têm histórico de
afirmam que na maior parte do tempo se más relações familiares. “Essas relações são
sentiram humilhados e 19% dos estudantes marcadas pela falta de diálogo saudável
reconhecem que fizeram bullying com seus e de envolvimento emocional. Também
colegas. está presente nessas famílias a má relação
conjugal entre os pais/cuidadores e, ainda,
Segundo o Blog Escola da Inteligência, as punições físicas exercidas pelos pais/
baseado em uma pesquisa realizada pelo cuidadores.”
ministério da Saúde, e aplicada pelo IBGE
em escolas públicas e particulares do Brasil, A pesquisa foi feita com 2.354 estudantes
20% dos estudantes já praticaram bullying. com idade entre 10 a 19 anos de escolas
públicas de Uberaba, Minas Gerais, os
Na pesquisa foi perguntado o motivo resultados apontaram que os estudantes
das agressões e para a surpresa dos sem envolvimento com o bullying tinham
pesquisadores, 51% dos entrevistados não melhores interações familiares e que as
souberam responder a razão do bullying, os famílias dos estudantes envolvidos com
outros implicavam com a aparência do corpo, bullying são consideradas menos funcionais.
rosto, cor da pele e orientação sexual.

Segundo o Jornal Correio do Povo em sua CASOS DE BULLYING QUE


edição do dia 11 de julho de 2018, o Brasil TIVERAM FINAL TRÁGICO
é o segundo país com mais casos de bullying
virtual contra crianças. A reportagem foi O garoto de 13 anos Ryan Halligan
baseada em pesquisa realizada pelo Instituto cometeu suicídio após sofrer bullying na
Ipsos, nesta pesquisa foram entrevistadas escola, ele estava na sétima série e entre os
20.793 pessoas de 28 países. motivos para a morte estavam os fatos de

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Revista Educar FCE - Março 2019

ter sido ridicularizado publicamente pela ataque o estudante tentou se suicidar, mas,
garota popular da escola; um amigo espalhou foi impedido por um funcionário da escola.
a notícia de que ele era gay, além disso, por
ele ter dificuldade motora e de aprendizado Há uma infinidade de casos de crianças
vinha sendo humilhado por uma professora. e adolescentes que tentaram o suicídio por
não suportarem a pressão de sofrer bullying
Dylan Stewart de 12 anos, em depressão diariamente e uma quantidade enorme
por causa do bullying sofrido na escola, se de pessoas que ainda acreditam que fazer
enforcou e foi encontrado por sua mãe e pai bullying é só uma brincadeira.
agonizando dentro de casa.

O garoto Jon Carmichael de 13 anos CYBERBULLYING A INTERNET


sofreu bullying por ser baixo e magro, foi AJUDANDO OS VALENTÕES
colocado diversas vezes na lata de lixo da
escola. Um dos seus colegas de sala disse Antigamente a criança sofria na escola,
que eram apenas brincadeiras e que todos o mas, estava a salvo em casa com sua família,
consideravam como amigo, Jon se enforcou. hoje com a internet, o bullying persegue a
vítima em todos os lugares em que ela vai.
Na grande São Paulo uma menina apanhou Por meio de mensagens de texto, aplicativos
de colegas que a perseguiam até desmaiar. para celular e sites de relacionamento em
Em Porto Alegre um jovem foi morto a tiros todos os minutos do dia o agressor está em
depois de um longo processo de bullying. contato com a sua vítima e esta não consegue
se esconder ou ter momentos de paz. A falta
Em 2010 pais de um aluno de um colégio de tranquilidade da vítima, muitas vezes é o
de Belo Horizonte foram sentenciados a estopim para o suicídio.
pagar uma indenização de R$ 8 mil para uma
garota que sofria de bullying, o juiz relatou Muitas pessoas pensam que a internet
que o autor do bullying não tinha limite. é terra de ninguém, é na internet mais
Também em 2010 em São Luiz um aluno especificamente em sites de relacionamento
foi espancado na saída do colégio por seis que as vítimas mais sofrem. Somente uma
estudantes armados com soco inglês. postagem na internet é suficiente para
desmoronar a vida de uma pessoa. Há leis
Um adolescente de 14 anos entrou em para proteger a privacidade das vítimas, mas,
no colégio particular na qual estudava em até a vítima ter coragem de denunciar e o
Goiânia e atirou, matando 2 garotos de 13 agressor ser responsabilizado o estrago já
anos e outros 4 foram feridos, segundo a está feito. Os compartilhamentos de fotos,
polícia o aluno tinha como alvo um único vídeos e notícias sai do controle e uma
aluno que fazia bullying contra ele. Após o inverdade postada vira verdade absoluta.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O COMPORTAMENTO DO O COMPORTAMENTO DA
AGRESSOR VÍTIMA
É possível que com a observação do Existem diversas formas de identificar
comportamento do agressor possa se uma pessoa que está sofrendo bullying até
entender a sua motivação e conseguir porque cada um reage de forma diferente,
ajudar e resolver o problema. Seguem porém a maioria apresenta pelo menos
alguns itens observados em vários bullies dois dos cinco sinais listados abaixo:
ou valentões.
1. Falta de interesse pela escola - é
• Muitos se comportam com total muito comum a criança não querer
falta de limites tanto na escola como contato com o agressor, por isso muitas
em relação com a família. Sua “valentia” vezes arruma desculpas ou doenças
muitas vezes é apoiada pelo pai, que não para não ir à escola;
vê problema na atitude do filho. Algumas
vezes o filho repete ações do pai. 2. Isolamento – a criança fica mais
retraída e se isolam se se escondendo
• Os agressores procuram na reação até mesmo de parentes e amigos;
violenta um meio de conseguir poder e
status na escola. Normalmente escolhem 3. As notas escolares caem – a vítima
vítimas mais fracas para demonstrar seu de bullying não consegue se concentrar,
poder. pois estão com medo de serem atacadas
e com isso suas notas caem.
• Há os que por problemas particulares
como separação ou morte procuram a 4. Não se valorizam – é comum a
violência como forma de extravasar a vítima de bullying estar sempre se
dor, é possível perceber que o agressor criticando, a autoestima da vítima cai e
não é acostumado com a pratica de ela se sente frustrada com ela mesma.
bullying.
5. Ataques de fúria e impulsividade
• É como último caso há os agressores – algumas vezes as crianças que
que tem prazer em agredir, faz parte de passam por bullying apresentam um
sua personalidade, falta-lhes o querer comportamento agressivo com amigos
bem a outra pessoa e sobra o desamor. e familiares

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Revista Educar FCE - Março 2019

LEIS SOBRE O BULLYNG É preciso entender o que se encaixa na lei,


o bullying é bem diferente de brigas comuns,
Em 14 de maio de 2018 o presidente que são consideradas normais e fazem parte
Michel Temer sancionou a lei 13.663 que do desenvolvimento humano.
altera o artigo 12 da lei 9.394 de 1996
(Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional - LDB). A atualização da lei incluiu A ESCOLA E O BULLYING
a responsabilidade das escolas na promoção
de medidas de combate ao bullying, além de Segundo o pediatra Lauro Monteiro
incluir a obrigatoriedade de implementação Filho, fundador da Associação Brasileira
de ações para a promoção da cultura de paz. Multiprofissional de Proteção à Infância
Segue abaixo a redação integral da lei: e Adolescência (Abrapai), todo ambiente
escolar pode apresentar o problema de
LEI 13.663, DE 14 DE MAIO DE 2018. bullying. “A escola que afirma não ter bullying
Altera o art. 12 da lei 9.394, de 20 ou não sabe o que é ou está negando sua
de dezembro de 1996, para incluir a existência”, cabe a administração escolar dar
promoção de medidas de conscientização, o primeiro passo e assumir que a escola é um
de prevenção e de combate a todos local passível de bullying, e informar a todos
os tipos de violência e a promoção da os envolvidos sobre o problema e deixar claro
cultura de paz entre as incumbências dos que a escola não admitirá a prática. “A escola
estabelecimentos de ensino. não deve ser apenas um local de ensino
formal, mas também de formação cidadã,
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA de direitos e deveres, amizade, cooperação
Faço saber que o Congresso Nacional e solidariedade. Agir contra o bullying é
decreta e eu sanciono a seguinte Lei: uma forma barata e eficiente de diminuir a
Art. 1º O caput do art. 12 da lei 9.394, violência entre estudantes e na sociedade”,
de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar afirma o pediatra.
acrescido dos seguintes incisos IX e X:
“Art. 12. Não há dúvidas de que a escola é
IX - promover medidas de conscientização, responsável pelos atos praticados dentro
de prevenção e de combate a todos os tipos dos seus muros, é dever da escola proteger
de violência, especialmente a intimidação seus alunos, identificar e coibir brigas, maus
sistemática (bullying), no âmbito das escolas; tratos e principalmente o bullying.
X - estabelecer ações destinadas a
promover a cultura de paz nas escolas.” (NR) De acordo com a nova lei 13.663 a escola
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de é responsável pela promoção da cultura da
sua publicação. paz além de ser responsável também por
promover medidas de conscientização, de

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Revista Educar FCE - Março 2019

prevenção e de combate a todos os tipos de se o responsável pela integridade do aluno


violência. perceba o quanto antes que a violência está
ocorrendo.
Ana Beatriz aponta em seu livro Mentes
Perigosas na Escola que a violência A partir do momento que a administração
vivenciada na escola reflete um contexto escolar reconhece que o problema do
social mais amplo: “A comunidade escolar bullying existe, ela pode começar a trabalhar
tende a reproduzir, em maior ou menor para resolvê-lo, desenvolvendo projetos
escala, a sociedade como um todo” (SILVA, que ajudem no combate das brincadeiras
2010, p. 79). vexatórias, propagação de falsas notícias e
violência física e psicológica.
Entende-se neste conceito que a autora
quer dizer que o aluno reproduz na escola O bullying deve ser visto como um
o que está acostumado a ver na sociedade. problema com solução por meio do trabalho
Quando a escola é omissa no caso de bullying conjunto de todos os envolvidos, os alunos a
ela está desrespeitando não só o direito da escola e os pais, que devem se mobilizar para
vítima, como também a sua responsabilidade buscar soluções para acabar com a situação
para com os outros alunos da escola que vexatória que pode acarretar em diversos
podem a ser a próxima vítima do agressor. problemas futuros. A melhor forma de iniciar
o projeto para a solução do problema é a
É responsabilidade da instituição conversa franca e envolver todos em busca
educacional o zelo pelo bem-estar físico e de uma solução conjunta.
psicológico dos alunos.
A Associação Brasileira Multiprofissional
Em decisão judicial o Supremo Tribunal de Proteção à Infância e Adolescência
Federal (RJTJSP 25/611), entendeu que (ABRAPIA) sugere as seguintes dicas para
a escola é responsável pela vigilância e identificar e solucionar possíveis vítimas de
disciplina dos alunos que se encontram em bullying.
seu domínio. Inclusive há casos em que as
escolas tomaram medidas insatisfatórias para • Conversar com os alunos e escutar
amenizar o problema de bullying e tiveram atentamente reclamações ou sugestões;
que arcar com indenização as vítimas.
• Estimular os estudantes a informar os
A compreensão do que é bullying é casos;
fundamental para que se possa combatê-lo
as denúncias são reais quando há a violação • Reconhecer e valorizar as atitudes da
da dignidade da vítima pelo agressor, a garotada no combate ao problema;
gravidade desta violação pode ser menor

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Revista Educar FCE - Março 2019

• Criar com os estudantes regras de disciplina para a classe em coerência com o


regimento escolar;

• Estimular lideranças positivas entre os alunos, prevenindo futuros casos;


• Interferir diretamente nos grupos, o quanto antes, para quebrar a dinâmica do bullying.

Segundo Aramis a prevenção de futuros incidentes pode ser obtida com orientações sobre
medidas de proteção a serem adotadas: ignorar os apelidos, fazer amizade com colegas
não agressivos, evitar locais de maior risco e informar ao professor ou funcionário sobre o
bullying sofrido.

NEM TUDO É BULLYING


É possível perceber que há uma onda de casos de bullying, é alguns especialistas advertem
que houve uma banalização do termo é toda ofensa está entrando nas definições de bullying.

Em uma brincadeira de criança uma chamar a outra de bobo não pode ser qualificado
como bullying, uma criança chamar a outra de chorão, se a outra é realmente chorona não é
qualificado como bullying.

Muitas vezes a criança não tem noção de que uma brincadeira pode ser ofensiva, cabe
aos pais ensinar como tratar o colega. E cabe aos pais entender o que é bullying e o que é
simplesmente uma brincadeira de criança.

O bullying é a forma de insultar, ofender e agredir a outra pessoa de forma rotineira


normalmente na presença de testemunhas para constranger o agredido.

O BULLYING NÃO ACONTECE SÓ NA ESCOLA


Os casos de bullying podem ocorrer com adultos e é mais comum do que se pensa, há
casos de bullying em empresa, academias, faculdades, porém estes casos acontecem entre
adultos que aprenderam a se defender, mesmo assim há formas para se denunciar e processar
pessoas pelo abuso de poder e o constrangimento e humilhação dos adultos valentões.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fato é que a violência nas escolas tem se tornado
um caso de polícia e como os valentões não estão sendo
advertidos e nem punidos, estão sentindo a falda falsa
impressão de que estão agindo de forma correta.

A repetição de atos de violência física, verbal e psicológica


vem causando mais angústia nos jovens e por consequência
mais casos de suicídio tornando-se um caso de saúde
pública.
ALINE LOPES OLIVEIRA
Nos casos em que a vítima não chega ao suicídio, o bullying
ainda pode causar sequelas irreversíveis, prejudicando
a vítima na escola e em toda a sua vida futura. A vítima
normalmente tem baixo rendimento escolar e se torna uma
pessoa solitária, medrosa e reprimida.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Casos de bullying crescem consideravelmente no Brasil aparência física é o principal motivo


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SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying: Mentes Perigosas nas Escolas. 1ª edição. Editora
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177
Revista Educar FCE - Março 2019

Um em cada dez estudantes no Brasil é vítima frequente de bullying. Disponível em: http://
agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2017-04/um-em-cada-dez-estudantes-no-
brasil-e-vitima-frequente-de-bullying. Acesso em 25 de jan. 2019.

Pesquisa mostra que 20% dos estudantes já praticaram bullying. Disponível em:https://
escoladainteligencia.com.br/pesquisa-mostra-que-20-dos-estudantes -ja-praticaram-
bullying/. Acesso em 25 de jan. 2019.

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Revista Educar FCE - Março 2019

ARTES E SUAS CONTRIBUIÇÕES NA


EDUCAÇÃO
RESUMO: O senso estético é uma maneira permanentemente válida de apreender o mundo
e atuar sobre ele, por meio de uma atividade dotada de sentido. Isto é especialmente válido
quando consideramos como objetivos da educação a realização das potencialidades do
ser humano e a sua preparação para a cidadania e o trabalho. A arte pode ser definida
como: “Conjunto de preceitos para a perfeita execução de qualquer coisa. Artifício, ofício,
profissão; indústria; astúcia; habilidade; travessura; magia; feitiçaria; complexo de regras e
processos para a produção de um efeito estético determinado”. Os conceitos de arte e de
ensino-aprendizagem da arte têm-se transformado ao longo do processo histórico e, nesse
percurso, ambos passaram e passam por momentos, muitas vezes, semelhantes.

Palavras-Chave: Arte, Educação, Brincadeiras, Desenvolvimento Artístico.

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INTRODUÇÃO realidade por meio da organização de linhas,


formas, pontos, cor, luz, sendo, portanto,
As artes visuais são linguagens e, portanto uma das maneiras mais importantes de
uma das formas importantes de expressão e se expressar e se comunicar, o que, por si
comunicação humana, que estão presentes só, justifica sua presença no contexto da
no cotidiano da vida infantil. Quando a educação e de modo especial na educação
criança desenha, rabisca, utiliza materiais infantil.
para construir algo, ao pintar objetos, entre
outros, ela está se utilizando das artes visuais Oferecer ao trabalho com artes visuais
para expressar experiências sensíveis. As uma conotação decorativa utilizá-lo como
artes visuais expressam, comunicam e passatempo ou reforço de aprendizagem, são
atribuem sentidos e sensações, sentimentos algumas das práticas correntes que devem
e pensamentos da realidade. ser evitadas.

Por isso, se faz questão de promover As artes visuais devem visar a um trabalho
momentos de descontração e confiança no que cumpra o seu papel de auxiliar no
qual o professor faz intervenções indiretas desenvolvimento pleno das capacidades
positivas, para que a criança possa se criadoras da criança. Nas atividades com
manifestar por meio de suas possibilidades desenhos ou criações artísticas as crianças
artísticas livremente, podendo assim exercer brincam, surgindo o faz-de-conta e
seu direito de cidadão de expressar-se, verbalizam a respeito de suas criações.
bem como de ter contato e refletir sobre as
produções artísticas.
A IMPORTÂNCIA DO
O desenvolvimento da imaginação DESENVOLVIMENTO DA
criadora, da expressão, da sensibilidade e das
capacidades estéticas das crianças poderá
ARTE
ocorrer no fazer artístico, assim como no
contato com a produção de arte presentes Pensar no ensino da Arte na escola requer
na comunidade. O desenvolvimento da uma análise profunda sobre a sua importância
capacidade artística está apoiado também, no desenvolvimento do homem. A educação
na prática reflexiva das crianças ao tem privilegiado na sua história, conteúdos
aprender, que articula a ação, a percepção, a escolares que propiciem aos alunos o
sensibilidade à cognição e a imaginação. domínio de informações e não a formação e
compreensão dos fatos e fenômenos sociais,
As artes visuais são linguagens que culturais e científicos que acontecem no
expressam, comunicam e atribuem sentidos mundo.
a sensações, sentimentos, pensamentos e

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A Arte na Educação brasileira passou a ser livre, sem a preocupação como processo de
considerada fundamental a partir de reflexões desenvolvimento artístico.
recentes que coincide com as transformações
educacionais que caracterizam o século XX Considerar a aprendizagem artística
em várias partes do mundo. como conseqüência automática do processo
de maturação da criança por meio da
Pesquisas desenvolvidas a partir do início expressão livre, levou educadores como
do século em vários campos das ciências Feldman, Thomas Munro ancorados em John
humanas trouxeram dados importantes Dewey, a refletirem sobre o processo de
sobre o desenvolvimento da criança, sobre o desenvolvimento do pensamento artístico; e
processo criador, sobre a arte e sua influência proporem mudanças no enfoque educacional
no desenvolvimento do homem. e afirmavam que o desenvolvimento
artístico é resultado de formas complexas
Na confluência da antropologia, da filosofia, de aprendizagem e, portanto, não ocorre
da psicologia, da psicanálise, da crítica da automaticamente à medida que a criança
arte, da psicopedagogia e das tendências cresce; é tarefa do professor propiciar essa
estéticas da modernidade, surgiram autores aprendizagem por meio de instrução.
que formularam os princípios inovadores
para o ensino das artes em geral. Tais O ser humano sempre organizou e
princípios reconheciam a arte da criança classificaram os fenômenos da natureza,
como manifestação espontânea e auto- o ciclo das estações, os astros no céu, as
expressiva: valorizavam a livre expressão diferentes plantas e animais, as relações
e a sensibilização para a experimentação sociais, políticas e econômicas, para
artística como orientações que visavam o compreender seu lugar no universo,
desenvolvimento do potencial criador, ou buscando a significação da vida.
seja, eram propostas centradas na questão
do desenvolvimento do aluno. Uma das primeiras referências da
existência humana na Terra aparece nas
Sabemos a importância da expressão livre imagens desenhadas nas cavernas, que hoje
como uma das maneiras de contribuirmos chamamos de imagens artísticas. Neste
para o desenvolvimento expressivo dos sentido, pode-se dizer que a arte está
alunos, porem a aplicação indiscriminada presente no mundo desde que o homem se
de idéias vagas e imprecisas sobre a fez presente.
função da educação artística levou a
uma descaracterização progressiva da A vida adquire sentido para o ser humano
área. A educação artística ficou restrita à medida que ele organiza o mundo. Por
durante muito tempo em atividades que meio das percepções e interpretações,
proporcionavam aos alunos a expressão os sistemas externos da realidade são

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mapeados nos sistemas internos do ser. Para propicia ao homem contato consigo mesmo
construir imagens, o homem não só deve e com o universo. Por isso, a arte é uma
ter sensibilidade para com o fenômeno, mas forma de o homem estender o contexto ao
necessita de memória e capacidade de tomar seu redor e relacionar-se com ele.
decisões.

Até mesmo no caso das imagens nas OS FUNDAMENTOS


cavernas, estas já são imagens transformadas CULTURAIS E ARTÍSTICOS
a partir de um olhar, com certo domínio do
espaço e do tempo. Elas estão ligadas não DA SOCIEDADE
só ao próprio sustento do homem, mas a
experiências coletivas e sociais, advindas Os fundamentos sociais, morais,
de rituais, crenças, gestos e danças, econômicos, culturais e políticos da
materializadas por meio de sistemas de sociedade antiga foram sendo superados
signos. desde a instauração da sociedade moderna
no século XVI. A constituição de modos
A arte, portanto, se faz presente, desde de vidas passou a ser exigência do novo
as primeiras manifestações de que se tem contexto social. A burguesia, classe em franca
conhecimento, como a linguagem, produto expansão passou a reivindicar formas mais
da relação homem/mundo. concretas de vida, não mais lhes bastava uma
educação dogmática, era preciso recorrer a
Neste sentido, não existe o homem puro, o uma educação que lhes dessem condições
ser biológico separado de suas especificidades de dominar a natureza.
psicológicas, sociais e culturais. Cada uma
dessas especificidades está presente e Houve por parte do papado católico e
sempre esteve na vida humana, e é por meio do império, reações contra as tentativas
delas que desde os tempos mais remotos o de inovação ocasionadas pela rejeição
homem foi se relacionando com a natureza ao mundo medieval. Nesse contexto, a
e com o mundo ao seu redor, construindo instrução passou a chamar a atenção, tanto
as possibilidades de sua sobrevivência e daqueles que desejavam manter, quanto dos
desenvolvimento. que almejavam subverter a ordem vigente.

A arte, enquanto linguagem, interpretação De um lado, os defensores da manutenção


e representação do mundo, é parte integrante da estrutura social e das prerrogativas
deste movimento. Enquanto forma da igreja reorganizaram suas escolas de
privilegiada dos processos de representação modo a garantir uma educação religiosa e
humana, é instrumento essencial para a instrução em disciplinas eclesiásticas; por
o desenvolvimento da consciência, pois outro lado, aqueles que se rebelou contra

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a estrutura social vigente, clamavam por primeiras preocupações com a educação


uma instrução mais democrática, calcada das crianças pequenas. Campanella (1568-
em modelos populares e modernos, que 1639), em sua obra “Cidade do Sol”, criticou
permitissem ao homem lidar com os novos o ensino servil da gramática e da lógica
modos de produção, subvertendo as velhas aristotélica e ressaltou a importância das
corporações artesanais, permitindo-lhes crianças aprenderem ciências, geografia, os
descobrir e conquistar a nova sociedade. costumes e as histórias pintadas nas paredes
das cidades, “sem enfado, brincando”.
Vamos localizar, então, na literatura
educacional, vários teóricos preocupados Podemos constatar que Campanella
em delinear uma nova proposta educativa já demonstrava uma preocupação com a
para adolescentes, jovens e homens. Uns educação da criança pequena e, desde então,
com o propósito de salvar-lhes as almas, por podemos verificar, surgiram às primeiras
meio do restabelecimento da disciplina e do propostas educativas contemplando a
ensino do cristianismo, outros na tentativa educação da criança de 0 a 6 anos.
de lhes garantir uma socialização e um
conseqüente domínio das ciências letras e
instrumentos de produção. O PANORAMA DA ARTE NA
EDUCAÇÃO
Foi no início do século XVII que surgiram
as primeiras preocupações com a educação Estudando o panorama da arte na
das crianças pequenas. Essas preocupações educação brasileira nas últimas décadas,
foram resultantes do reconhecimento e é fácil constatar o percurso acidentado e a
valorização que elas passaram a ter no meio falta de prioridade dada a essa questão nos
em que viviam. Mudanças significativas documentos legais e oficiais que nortearam
ocorreram nas atitudes das famílias em e continua orientando a educação no Brasil.
relação às crianças que, inicialmente, Cabe aqui registrar os avanços alcançados
eram educadas a partir de aprendizagens com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases,
adquiridas junto aos adultos e, aos sete sancionada em 1996: o ensino da Arte, a
anos, a responsabilidade pela sua educação partir da nova Lei “constituirá componente
era atribuída à outra família que não a sua. curricular obrigatório, nos diversos níveis
da educação básica, de forma a promover o
Apesar de uma grande parcela da desenvolvimento cultural dos alunos” (art.
população infantil continuar sendo 26, parágrafo 2°).
educado segundo as antigas práticas de
aprendizagem, o surgimento do sentimento Essa conquista é fruto da mobilização
de infância provocou mudanças no quadro daqueles que já estavam comprometidos
educacional. Começaram a surgir as com a arte-educação, em todas as suas

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manifestações, fomentando a criação de Os Parâmetros Curriculares Nacionais


novas metodologias para o ensino e a para o primeiro e o segundo ciclo do Ensino
aprendizagem da arte nas escolas. Fundamental e o Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil (Brasil,
Apesar desse contexto, chegamos ao MEC/SEF, 1998), apesar das críticas que
século XXI sem que as mudanças tenham sofreram, dedicaram especial atenção às
sido tão significativas quanto desejaríamos. artes. Nos Parâmetros Curriculares do
Embora as preocupações com os aspectos Ensino Fundamental encontramos o volume
artístico-culturais tenham estado presentes seis, intitulado “ARTE”, que tem como
nos objetivos gerais dos documentos que objetivo expor o “significado da arte na
se seguiram à Lei, foram tratados de forma educação, explicitando conteúdos, objetivos
generalista ou negligenciados. e especificidades, tanto no que se refere ao
ensino e à aprendizagem, quanto no que se
Nos objetivos específicos e metas, que são refere à arte como manifestação humana”
o que mais nos interessa por se articularem (PCNs, 1997, p.15).
com a realidade do tentar pôr em prática,
do construir, do fazer acontecerem, as No Referencial Curricular Nacional para a
atividades artísticas e culturais continuam Educação Infantil encontramos, no volume
aparecendo como adorno, coisa supérflua, três, intitulado “Conhecimento do Mundo”,
para ser tratada quando em horário integral, os capítulos “Movimento”, “Música” e “Artes
complementar ao da escola. Visuais”.

Nas diretrizes norteadoras do Ensino Orientações didáticas, critérios de avaliação


Fundamental descritas no Plano Nacional e bibliografia especializada complementam
de Educação encontramos as atividades os documentos, transformando-os em fonte
artísticas relacionadas às intenções de de consulta valiosa para os arte-educadores
futura ampliação do “atendimento em tempo e para todos os professores que reconhecem
integral, oportunizando orientação no a arte não só como grande aliada, mas como
cumprimento dos deveres escolares, prática um conhecimento tão importante quanto
de esportes, desenvolvimento de atividades os outros conhecimentos atualmente
artísticas e alimentação adequada.” Ou senão legitimados como fundamentais para o
nas preocupações com possíveis “adaptações processo de formação de seus alunos.
adequadas a portadores de necessidades
especiais, até os espaços especializados de Reconhecemos que criar um referencial
atividades artístico culturais, esportivas, ou estabelecer parâmetros nacionais é um
recreativas e a adequação de equipamentos” tema polêmico e controverso. Críticas que
(BRASIL, 2001, p.71, 73). se fundamentam no caráter de imposição
cultural e controle políticos exercidos a

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partir de conteúdos e objetivos comuns que de observação e organização estética é que


não levam em conta a diversidade cultural e sairão ganhando.
social, precisam ser levadas em consideração.
Quanto à metodologia para a abordagem
Apesar dos Parâmetros terem a intenção das obras de arte pelos educadores, vejamos
de não se configurarem em “um modelo quais são os elementos mais essenciais a
curricular homogêneo e impositivo, que se serem explorados:
sobreporia à competência política-executiva
dos Estados e Municípios, à diversidade Os elementos estruturais da linguagem
sociocultural das diferentes regiões do País plástica: cor, linha, forma, ritmo, volume.
ou à autonomia de professores e equipes As relações históricas e sociais da
pedagógicas.” (Brasil, MEC/SEF, 1997, p.13), época em questão;
as múltiplas iniciativas que seriam necessárias
para que essa intenção fosse alcançada As formas de representação: desenho,
parecem não terem se concretizado. pintura, aquarela, mosaico, instalações
música e outros, em suma, os diferentes
Para isso, Parâmetros e Referencial suportes e os meios com que são realizadas
precisariam estar sendo analisados, as obras.
discutidos, criticados pelos professores e
agentes responsáveis pelo aperfeiçoamento A educação inovadora se apóia em um
da formação dos docentes. conjunto de propostas com alguns grandes
eixos que lhe servem de guia e de base. As
No lugar disso, em 1999, começa a ser tecnologias favorecem mudanças, mas os
articulada pela SEF/MEC uma tentativa eixos são como diretrizes fundamentais para
simplificadora denominada Parâmetros construir solidamente os alicerces dessas
em Ação que pretende uma transposição mudanças.
didática dos conteúdos dos Parâmetros,
utilizando exemplos homogeneizadores. A educação deve mostrar que não há
conhecimento que não esteja, em algum
grau, ameaçado. O conhecimento é causa
ARTE E EDUCAÇÃO de erros e ilusões. Devemos destacar, em
qualquer sistema educacional, as grandes
Se por meio do “olhar”, do “ver”, do “adaptar”, interrogações sobre nossas possibilidades
do “transformar” e do “criar” a criança estará de conhecer.
compreendendo e apreciando os métodos
que o artista pode escolher para organizar O conhecimento permanece como uma
as linhas, as formas e as cores presentes em aventura para a qual a educação deve
seu quadro, sua própria criatividade, poder fornecer o apoio indispensável. Conhecemos

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tudo menos o principal: de por meio viemos o sentido profundo do que fazemos e para
por meio nos encaminhamos. A informação é o primeiro passo para conhecer. Conhecer
é relacionar, integrar, contextualizar, incorporar o que vem de fora. Conhecer é saber,
desvendar, é ir além da superfície, do previsível, da exterioridade.

Conhecer é aprofundar os níveis de descoberta, é penetrar mais fundo nas coisas, na


realidade, no nosso interior. Conhecer é tentar chegar ao nível da sabedoria, da integração
total, da percepção da grande síntese, que se consegue ao comunicar-se com uma nova
visão do mundo, das pessoas e com o mergulho profundo no nosso eu. O conhecimento se
dá no processo rico de interação externo e interno.

Somos animais lingüísicos e todas as formas de linguagem nos servem de meio de


expressão oral, visual ou corporal. O fato de lembrarmo-nos do passado e imaginarmos o
futuro permite planejar e agir de um modo que nos torna únicos entre os animais. A verdade
é que somos capazes de produzir e, no qual da comunicação, fazer circular sentidos.

A arte, ainda nos tempos das cavernas, permitiu ao homem compreender a atribuir sentido
ao mundo e à sua atividade sobre ele.

A capacidade de configurar sua experiência passada e presente e discernir o seu futuro,


desde os primórdios da humanidade, é alguma coisa ligada indissoluvelmente à experiência
estética.

A vida, em geral, e o mundo do trabalho, em particular, valoriza e recompensa aqueles que


apreendem e incorporam em sua maneira de ver, entender a agir, os padrões novos que cada
vez com maior velocidade, emergem da experiência humana. Isso é particularmente válido
para uma época de transição no processo civilizatório, como a que presentemente estamos
vivendo.

Foi na qual da arte que, pela primeira vez, o homem entendeu e representou o mundo em
torno de si.

A idéia é de que esta atitude não é alguma coisa, que ficou esquecida em algum lugar do
nosso passado. Nós carregamos conosco essa capacidade de aprender a configuração do
nosso mundo interior ou exterior e objetivá-la em algo dotado de sentido, sem ter, para isso,
de recorrer à religião, à filosofia e à ciência. É nisto que consiste a experiência estética.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inclusão da Arte no currículo escolar foi instituída
pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei
nº. 5.692/71, com a denominação de Educação Artística,
sendo considerada uma “atividade educativa” e não uma
disciplina. O fato representou certa conquista, em especial,
porque deu sustentação legal a essa prática educacional e
pelo reconhecimento da arte na formação dos indivíduos. O ALZIRA DA SILVA
resultado dessa proposição, no entanto, foi contraditório e
Graduação em Ciências
paradoxal. pela Faculdade UNIABC
(11/10/2006); Professor de
A criança tem sido educada e cuidada desde o início da Ensino Fundamental II - Ciências
- na EMEF Maria Lisboa da Silva.
humanidade, no qual de uma educação informal: educar e
cuidar eram responsabilidade das famílias.

Inicialmente não era feita nenhuma diferenciação entre a


educação das crianças pequenas e das mais velhas. Somente
nos tempos modernos é que se estabeleceram escolas
especializadas.

O século XIX é que trouxe métodos pedagógicos específicos para cada idade.

Ao fornecer informações e explicações a cerca das características e atividades da criança


nos vários períodos do seu desenvolvimento, Vygotsky e Wallon, ressaltam que ela aprende
a partir das múltiplas interações que estabelece com o meio histórico-cultural, constrói
conhecimentos que fazem parte do seu dia-a-dia e aqueles que ela reelabora nos centros de
educação Infantil.

As contribuições da teoria de Vygotsky nos fazem compreender o papel da linguagem, da


brincadeira e das interações no desenvolvimento infantil, apontando que a construção do
conhecimento acontece no desenvolvimento das funções psicológicas superiores, com a
apropriação de signos e instrumentos dentro de um contexto de interação.

Cada uma das linguagens que permeia o trabalho da educação infantil tem seu conjunto
de regras e princípios de funcionamento próprio. Elas são diferentes umas das outras,
requerendo investimentos diferenciados para serem apropriadas por crianças e professores.

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Portanto, uma das formas da criança ler o mundo, de relacionar-se com ele, recriá-lo
é a expressão. Isso implica em entender a expressão com possibilidade de construção de
conhecimento, envocada uma das linguagens que permeia o trabalho da educação infantil
tem seu conjunto de regras e princípios de funcionamento próprio. Elas são diferentes umas
das outras, requerendo investimentos diferenciados para serem apropriadas por crianças e
professores.

Portanto, uma das formas da criança ler o mundo, de relacionar-se com ele, recriá-lo
é a expressão. Isso implica em entender a expressão com possibilidade de construção de
conhecimento, envolvendo crianças e adultos em diferentes contextos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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MANACORDA, M. A. História da Educação: Da Antiguidade aos nossos Dias. São Paulo:


Cortez, 1989.

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HORTAS ESCOLARES NO
CONTEXTO DA EDUCAÇÃO
AMBIENTAL
RESUMO: O presente artigo traz uma revisão bibliográfica da importância da Educação
Ambiental no ambiente escolar como um tema interdisciplinar e transversal com ênfase na
implantação das hortas escolares e seu impacto na vida dos alunos, comunidade escolar e
familiares. Com base em uma abordagem histórica, a partir da década de 70, no século XX, o
artigo mostra a evolução da Educação Ambiental e as hortas nas , bem como as dificuldades
que podem surgir em sua implementação, muitas vezes devido a impedimentos que podem ser
encontrados para a continuidade de projetos já em andamento, ou dos próprios professores,
que resistem à novas mudanças.

Palavras-Chave: Educação Ambiental; Hortas Escolares; Escolas.

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INTRODUÇÃO preservação e utilização consciente dos


insumos, além de melhorar a alimentação
A problemática ambiental é uma das dos alunos.
principais preocupações da sociedade
moderna. Por isso, tem desencadeado uma
série de iniciativas que visam reverter o A IMPORTÂNCIA DA
processo de degradação do meio ambiente. EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Uma dessas iniciativas é a Educação Ambiental,
a qual as instituições de educação básica A questão ambiental é uma das temáticas
têm buscado, gradativamente, inserirem atuais de grande preocupação da sociedade
em seu currículo, como meio de formar desencadeando, por isso, uma série de
cidadãos conscientes e comprometidos com iniciativas a fim de reverter a situação
as principais preocupações da sociedade. atual de consequências danosas à vida na
(SERRANO, 2003). terra. Uma dessas iniciativas é a Educação
Ambiental que as instituições de educação
Tendo em vista essa preocupação básica estão procurando implementar, na
com a causa ambiental, a escola torna- busca da formação de cidadãos conscientes
se então, importante espaço para se e comprometidos com as principais
trabalhar a consciência ecológica e ações de preocupações da sociedade (SERRANO,
sustentabilidade. Nela, pode-se desenvolver 2003).
ações de maneira transversal e interdisciplinar
que visem a construção de comportamentos A relação do homem com a natureza
e atitudes de preservação do meio ambiente. começou a se modificar por meio da
Revolução Científica. Uma relação até
A horta escolar é uma proposta de projeto então harmônica, passa a ser de dominação
escolar que abrange questões ambientais por parte do homem. Com a Revolução
importantes e atuais, uma vez que desperta Industrial, a destruição dos recursos naturais
consciência ecológica nos alunos e familiares, se intensificou, o que provocou em algumas
além de ser uma ação com ramificações nas parcelas da sociedade reações contrárias a
casas e entorno da escola, por ensinar algo isso em torno da preservação da natureza.
prático e de fácil disseminação.
Mas é a partir da década de 70, do
A horta escolar inserida no ambiente século XX que os debates em torno
escolar é um laboratório vivo que irá das questões ambientais aumentaram e
possibilitar o desenvolvimento de diversas surgiram os movimentos ambientalistas, que
atividades pedagógicas e contemplará compreendiam a problemática ambiental
algumas das preocupações relacionadas como uma crise que já atingia toda a civilização
ao meio ambiente como sustentabilidade, diante da degradação ambiental. Após a

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Revista Educar FCE - Março 2019

realização de vários encontros nacionais Aliado a este fator, o rápido processo


e internacionais, envolvendo instituições de urbanização das cidades, que substitui
governamentais e não governamentais, foi espaços verdes por concreto, diminui o
indicado nos documentos resultantes destes contato direto do homem com todos os
eventos que uma das estratégias utilizadas elementos bióticos da natureza da qual é
para conter o processo de destruição da parte integrante. Dentro desse paradigma,
natureza seria a educação. Por intermédio de as crianças passaram a ter espaços cada
uma nova dimensão – a Educação Ambiental vez mais restritos para vivenciarem o prazer
– que surge como um processo educativo, natural de terem contato com elementos do
um conhecimento ambiental que se traduz ambiente da qual fazem parte (PMF/SME,
em valores éticos. 2004).

Cabe destacar que estamos falando da A questão ambiental neste momento


Educação Ambiental Crítica, cujo objetivo é da história humana surge, portanto, como
“contribuir para uma mudança de valores e um tema relevante que contribui para
atitudes, contribuindo para a formação de conscientizar o homem sobre seu papel
um sujeito ecológico” (CARVALHO, 2004, como elemento central dos processos
p.18 -19). Ou nas palavras de Guimarães socioambientais emergentes, o agente
(2004, p. 25) “capaz de contribuir com que transforma e é transformado e
a transformação de uma realidade que herdeiro de suas ações (PMF/SME, 2004).
historicamente se coloca em uma grave Segundo LEFF (2001) esse processo de
crise socioambiental”. A Educação Ambiental conscientização mobiliza a participação dos
Crítica também denominada Emancipatória cidadãos na tomada de decisões, junto com
(LOUREIRO, 2009, p. 32): a transformação dos métodos de pesquisa e
formação, com base em uma ótica holística e
É o meio reflexivo, crítico e auto-crítico enfoques interdisciplinares e não como uma
contínuo, pelo qual podemos romper com a
barbárie do padrão vigente de sociedade e coleção de partes dissociadas.
de civilização, em um processo que parte do
contexto societário em que nos movimentamos, No Brasil, a Educação Ambiental foi
do “lugar” ocupado pelo sujeito, estabelecendo
experiências formativas, escolares ou não, em regulamentada pela Política Nacional de
que a reflexão problematizadora da totalidade, Educação Ambiental (PNEA), instituída
apoiada numa ação consciente e política, pela Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que
propicia a construção de sua dinâmica. (...).
Emancipar não é estabelecer o caminho único estabelece e define seus princípios básicos,
para a salvação, mas sim a possibilidade de incorporando oficialmente a Educação
construirmos os caminhos que julgamos mais Ambiental nos sistemas de ensino.
adequados à vida social e planetária, diante da
compreensão que temos destes em cada cultura
e forma de organização societária, produzindo A Educação Ambiental representa uma
patamares diferenciados de existência. ferramenta fundamental para estabelecer

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Revista Educar FCE - Março 2019

uma ligação mais estreita entre o ser humano Na educação fundamental, os PCNs a
e a natureza. Uma transformação social inserem em diversos temas transversais,
de caráter urgente que busque, conforme sobretudo meio ambiente, saúde e consumo,
Sorrentino (2005), a superação das injustiças nas áreas do saber (disciplinas), de modo
ambientais e sociais na humanidade. que impregne toda a prática educativa, e
ao mesmo tempo, crie uma visão global
ANDRADE (2000) expõe que implementar e abrangente da questão ambiental,
a educação ambiental nas escolas tem se visualizando os aspectos físicos e histórico-
mostrado uma tarefa exaustiva, em razão sociais, assim como a articulação entre a
da existência de grandes dificuldades nas escala local e planetária desses problemas
atividades de sensibilização e formação, (MEC, 2005).
na implantação de atividades e projetos e,
notadamente, na manutenção e continuidade Os Parâmetros Curriculares Nacionais
dos já existentes. Fatores como o tamanho da (PCN) criados pelo Ministério da Educação
escola, número de alunos e de professores, em 1998, indicam que a aprendizagem
predisposição destes professores em passar de valores e atitudes deve ser mais
por um processo de treinamento, vontade da explorada do ponto de vista pedagógico e
direção de realmente implementar um projeto o conhecimento dos problemas ambientais
ambiental que vá alterar a rotina na escola, e de suas consequências desastrosas para
além de fatores resultantes da integração a vida humana é importante para promover
dos acima citados e ainda outros, podem uma atitude de cuidado e atenção com essas
servir como obstáculos à implementação da questões, incentivar ações preservacionistas
Educação Ambiental. (BRASIL, 1998).

A Educação Ambiental requer É de suma importância destacar a


conhecimento de caráter social como: preocupação demonstrada pela maioria
valores culturais, morais, justiça, saúde, a dos professores em trabalhar educação
noção de cidadania, entre outros aspectos ambiental nas escolas. Esta preocupação
que conformam a totalidade social. Deve torna-se ponto favorável para a implantação
ser tratada com base em uma matriz que de novas ideias e propostas ligadas à área
conceba a educação como elemento de (VALDAMERI, 2004).
transformação social apoiada no diálogo e no
exercício da cidadania. Mais, do que isto, “no
fortalecimento dos sujeitos, na superação AS HORTAS ESCOLARES
das formas de dominação capitalistas
e na compreensão do mundo em sua De acordo com Rodrigues e Freixo (2009),
complexidade e da vida em sua totalidade” a escola é considerada um espaço social,
(LOUREIRO, 2009, p. 24). local no qual o aluno dará sequência ao

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Revista Educar FCE - Março 2019

seu processo de socialização. Por meio da Segundo Capra (2003, p.14), a educação
potencialização de atividades desenvolvidas para uma vida sustentável é uma pedagogia
nesse ambiente, os alunos terão acesso a que facilita o entendimento das múltiplas
um novo caminho de saberes e descobertas relações entre atitudes humanas e seus
no processo de aprendizagem. À medida impactos e também entre as disciplinas
que os saberes são construídos de formas que compõem o currículo, pois ensina os
variadas, concomitantemente desenvolve-se princípios básicos da ecologia tendo como
nos alunos a capacidade de transformar sua base a experiência dos sujeitos.
própria realidade. A escola passa a ser assim
um local de importância social significativa, Por meio dessas experiências, nós também
tomamos consciência de que nós mesmos
contribuindo para a formação de cidadãos fazemos parte da teia da vida e, com o passar
envolvidos com a melhoria da qualidade da do 20 tempo, a experiência da ecologia na
vida planetária. natureza nos proporciona um senso do lugar que
pertencemos (CAPRA, 2003, p.14).

É notório que o desenvolvimento de


atividades desenvolvidas na escola e A escola é indiscutivelmente o melhor agente
sobretudo, na horta escolar, contribui para promover a educação alimentar, uma vez
diretamente para utilização de meios que é na infância e na adolescência que se
sustentáveis que posteriormente refletirá fixam atitudes e práticas alimentares difíceis de
em uma dieta mais saudável. Para Muniz e modificar na idade adulta (TURANO, 1990).
Carvalho (2007) as hortas se constituem num
instrumento pedagógico que possibilita o A finalidade da educação alimentar é
aumento do consumo de frutas e hortaliças, transformar o alimento em um instrumento
a construção de hábitos alimentares pedagógico, transpondo os limites do
saudáveis, o resgate dos hábitos regionais ato alimentar, fazendo com que este se
e locais e a redução dos custos referentes à transforme em um ponto de partida para
merenda escolar. novas descobertas (CASTRO, 1985).

De acordo com Serrano (2003), a horta Segundo Capra (2003), a horta


escolar é um elemento capaz de desenvolver reestabelece a conexão das crianças com os
temas relacionados à Educação Ambiental fundamentos da alimentação – na verdade,
e consequentemente a sustentabilidade, com os próprios fundamentos da vida – ao
uma vez que, além de relacionar conceitos mesmo tempo em que integra e tornam
teóricos a práticos, auxiliando o processo de mais interessantes praticamente todas as
ensino e aprendizagem, ela se constitui como atividades que acontecem na escola.
uma estratégia capaz de desenvolvimento
dos conteúdos interdisciplinarmente. A grande ênfase feita por Consea
(2004),é de que todos devem ter o direito

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Revista Educar FCE - Março 2019

de acesso regular e permanente a alimentos (2007), a horta promove a aquisição de novos


de qualidade, em quantidade suficiente, valores, boas atitudes, transforma a forma
sem comprometer o acesso a outras de pensar, valoriza o trabalho em equipe, a
necessidades essenciais, tendo como base solidariedade, a cooperação, desenvolve a
práticas alimentares promotoras de saúde, criatividade e a percepção da importância
que respeitem a diversidade cultural e que do cuidado, o senso de responsabilidade, de
sejam social, econômica e ambientalmente autonomia, além de sensibilizar para a busca
sustentáveis. de soluções para os problemas ambientais.

A implantação de hortas no ambiente Ainda de acordo com Cribb (2010),


escolar é considerada um instrumento as atividades realizadas em ambientes
dinamizador capaz de inserir os sujeitos abertos, como na horta escolar, contribuem,
diretamente em um ambiente diverso dentre outros fatores, para os alunos
e sustentável. Como enfatiza Capra compreenderem o perigo na utilização
(1996, p.231), “precisamos nos tornar de agrotóxicos para a saúde humana
ecologicamente alfabetizados, isso significa e para o meio ambiente; proporciona
entender os princípios de organização das uma compreensão da necessidade da
comunidades ecológicas (ecossistemas) e preservação do meio ambiente escolar;
usar esses princípios para criar comunidades desenvolve a capacidade do trabalho em
humanas sustentáveis”. equipe e da cooperação; e proporciona
um maior contato com a natureza, já que
A horta escolar permite o resgate dos crianças dos centros urbanos estão cada vez
valores éticos, sociais, culturais e ambientais. mais afastadas dela. Proporciona também
Além disso, possibilita práticas sustentáveis a modificação dos hábitos alimentares dos
que podem ser desenvolvidas dentro desse alunos, além da percepção da necessidade
“laboratório vivo”. Como garantem Rodrigues de reaproveitamento de materiais tais como:
e Freixo (2009), por meio do desenvolvimento garrafas pet, embalagens tetra pak, copos
da horta, é possível iniciar um processo de descartáveis, entre outros. Tais atividades
mudança de valores e de comportamento auxiliam no desenvolvimento da consciência
individuais e coletivos que promoverão a de que é necessário adotarmos um estilo
dignidade humana e a sustentabilidade. de vida menos impactante sobre o meio
ambiente bem como a integração dos alunos
Com base nessa iniciativa, a escola com a problemática ambiental vivenciada.
torna-se um local estratégico para o
desenvolvimento da horta, tendo em vista seu Numa horta escolar há, ainda, a
papel no desenvolvimento de novas políticas possibilidade de se trabalhar diversos temas,
voltadas para a construção de sociedades dentre os quais, os conceitos, princípios e
sustentáveis (DEBONI, 2009). Para Cribb o histórico da agricultura, a importância da

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Revista Educar FCE - Março 2019

educação ambiental e das hortaliças para casas, aumentando o consumo de hortaliças


a saúde, além das aulas práticas onde se e legumes em suas refeições. É importante
trabalham as formas de plantio, o cultivo e salientar que o benefício da horta em casa
o cuidado com as hortaliças (CRIBB, 2010). é maior por se tratar de alimentos sem
agrotóxicos. O contato com a horta e a
O trabalho com a horta escolar contribui participação nas atividades relacionadas
de maneira importante para o entendimento a ela desperta a valorização de estudos
de como se deve preservar o meio ambiente relacionados à educação ambiental. Nas várias
tomando-se por base pequenos gestos, etapas do processo de desenvolvimento do
sempre respeitando a pluralidade e a sistema de implantação da horta é trabalhada
diversidade cultural. Além disso, proporciona a interdisciplinaridade, que contribui para
o aprendizado de diferentes saberes e fazeres que haja um melhor entendimento dos alunos
e proporciona a compreensão do problema em relação aos temas tratados, assim como
ambiental em toda a sua amplitude. uma visão ampla da questão ambiental.

A horta escolar como processo educativo Há um envolvimento e a participação de


se refere ao aprendizado das técnicas diversos membros da comunidade escolar,
básicas de produção, dos cuidados especiais como notadamente os alunos e diversos
com a qualidade dos produtos, das formas, funcionários da escola, como também os
modos de preparo, consumo e dos aspectos pais dos alunos e moradores da comunidade
nutricionais relativos à alimentação composta ao redor da escola. Este tipo de trabalho
por diversas hortaliças. fortalece os laços entre a escola e a
comunidade a qual ela abrange. (MORGADO
A produção de hortaliças pela horta escolar e SANTOS 2008).
proporciona um melhor preparo da merenda
escolar, que fica enriquecida com alimentos A horta é um verdadeiro laboratório
agroecológicos. Sendo assim, incentiva- de aprendizagem viva, em que o trabalho
se a vivência de bons hábitos alimentares manual, o contato com a vida, a observação
que poderão ser incorporados mediante o e a oportunidade de formação de grupos
processo ensino/aprendizagem aos familiares informais oportuniza ainda a sensibilização,
dos envolvidos. “A ação educativa consegue como por exemplo, a necessidade de proteção
sair do marco escolar para interessar-se pela com as plantas e com o meio ambiente, o
comunidade e fazer que os alunos participem respeito aos colegas de trabalho e a alegria
das suas atividades”. (DIAS,1992, p. 123) da colheita. (MACEDO, 1987).

A horta escolar também tem o poder As atividades na horta são uma alternativa
de impactar os familiares dos alunos, de unir o lúdico ao meio ambiente, fazendo
incentivando-os a cultivar hortas em suas com que desperte o interesse dos alunos,

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Revista Educar FCE - Março 2019

diante desse tema. Há possibilidade de trabalhar com diferentes atividades envolvendo a


horta escolar. (MORGADO e SANTOS, 2008).

As atividades desenvolvidas na horta também promovem a oportunidade de muitas crianças


estabelecerem contato com a natureza, já que muitas delas perderam esta possibilidade, já
que muitas famílias residem em edifícios ou em casas cujos quintais são muito pequenos e
cimentados. Ao manipularem a terra muitos estudantes adquiriram também maior habilidade
manual, melhoram a coordenação motora, a habilidade manual além de adquirir mais força
nas mãos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação Ambiental inserida no cotidiano escolar por
meio de atividades incorporando teorias e práticas no fazer
pedagógico oferece uma ampla contribuição no processo de
ensino-aprendizagem, ao resgate de valores socioambientais
e na socialização da comunidade escolar.

A horta escolar pode ser uma ferramenta bastante


eficaz na formação integral do estudante, visto que o AMADEU RIBEIRO DOS
tema exposto aborda diversas áreas de conhecimento, SANTOS JÚNIOR
podendo ser desenvolvido durante todo o processo de
Graduação em Pedagogia pela
ensino/aprendizagem. Ademais, a horta escolar pode atrair Universidade Bandeirante de
a comunidade do entorno em parcerias com a escola, São Paulo (2010); Especialista
aproximando ainda mais as famílias do ambiente estudantil. em Docência do Ensino Superior
pela Universidade Bandeirante
As crianças cumprem o papel de multiplicadoras do projeto, de São Paulo (2012); Especialista
porque repassam o que aprendem para o seu contexto em Alfabetização e Letramento
familiar e, deste modo, a influência da horta não se restringe pela Universidade Nove de Julho
(2014); Professor de Educação
à escola. Infantil e Ensino Fundamental I
no CEU EMEF Senador Teotônio
O resultado dos projetos envolvendo a horta escolar são Vilela.

alunos mais preparados e conscientes, que levarão para


a vida ensinamentos ecológicos, além da oportunidade
de aproximação com a natureza, aprendendo a ainda os
benefícios alimentares advindos desta tarefa. Amplia-se
assim, a necessidade de uma mudança de postura que é preciso implantar na sociedade.

A horta propicia a reflexão e o desenvolvimento de novas atitudes e práticas que


corroboraram para uma sensibilização diante das questões ambientais e cooperação por
meio do trabalho em equipe, além de minimizar a visão fragmentada dos educandos a
respeito da Educação Ambiental, integrando-os nessa teia de relações ecológica com base
na reconstrução de valores mais humanizados.

198
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Temas Transversais e Ética/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.
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Brasil: 1997. 103 p.

200
Revista Educar FCE - Março 2019

QUALIDADE DA EDUCAÇÃO BÁSICA X FORMAÇÃO


DOCENTE NO CURSO DE PEDAGOGIA: UM
ESTUDO ACERCA DAS INFLUÊNCIAS NEGATIVAS
NO ENSINO FUNDAMENTAL I
RESUMO: Tendo em vista de que atualmente muitos docentes saem despreparados das
Universidades para o âmbito do trabalho, este artigo pretende, através do desenvolvimento de
pesquisas bibliográficas com cunho qualitativo, compreender como se dá a formação no curso
de Pedagogia e traçar o perfil do professor e do aluno, além de apontar reflexões sobre como a
formação docente no curso de Pedagogia reflete no ensino Fundamental I. Além de apresentar
discussões acerca da formação docente, suas influências no sistema educacional e a qualidade da
educação básica atualmente com enfoque no Ensino fundamental I e assim desenvolver a questão
problema que trata de em que medida a formação docente interfere no Ensino Fundamental
I, bem como discorrer sobre o curso de Pedagogia, considerando sua importância diante da
temática apresentada e destacar as influências do Ensino Superior (curso de Pedagogia), no Ensino
Fundamental I, sendo elas o ponto inicial de reflexão deste, proporcionando ainda uma série de
reflexões sobre a importância da qualificação profissional docente concretizando a ideia de que
cursar um Ensino Superior em prol apenas de um diploma desqualifica a educação de nosso país.

Palavras-Chave: Ensino Fundamental I. Pedagogia. Formação docente.

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INTRODUÇÃO atenção voltada à educação em especial do


Ensino Fundamental I submetendo-o a uma
O presente artigo busca alcançar análise constante do fazer docente focando
contribuições na área de formação docente, a qualidade de seu exercício. Pretendi, neste
dando ênfase à necessidade de rever a contexto, referir-me as questões relativas
formação no curso de Pedagogia atentando à atuação e à formação docente no curso
às novas exigências educacionais da de Pedagogia, pois ao longo de dez anos
Educação Básica, destacando nesta o Ensino que venho analisando minha prática e dos
Fundamental I. demais profissionais docentes que mantive
ou mantenho contato durante minha
Para tanto será elaborado a partir de graduação, pós-graduações e ambientes de
uma linha voltada à análise deste ensino, trabalho, deparei-me constantemente com
enfatizando a busca por saberes necessários uma inquietação: Algumas Universidades
à prática educativa em prol da qualificação não têm preparado docentes qualificados no
profissional docente. Trata-se de um estudo curso de Pedagogia, estes, em sua maioria,
exploratório que se enquadra nas pesquisas tem chegado à sala de aula sem um mínimo de
de campo qualitativas, nas quais não haverá conhecimentos necessários para sua atuação,
preocupação com representatividade muitos nem se quer tomam conhecimento de
numérica, e sim com o aprofundamento da tal fato e exercem seu papel mediocremente,
compreensão através do estudo literário interferindo negativamente na formação de
de diversos autores que discorrem com milhares de estudantes que passam pelo
diferentes pontos de vista acerca do tema Ensino Fundamental I comumente, sem
discutido, tema este que se refere à formação grandes avanços em seu desenvolvimento.
docente no curso de Pedagogia, pois além
de envolver atualmente questionamentos, Neste caso desenvolverei um pequeno
remete-nos a reflexões e estudos constantes. estudo exploratório sobre o curso de
Pedagogia, discorrendo sobre sua trajetória
A formação docente precária, ou seja, a até os dias atuais e destacando as diretrizes
formação de docentes desqualificados para curriculares nacionais específicas ao curso,
o ambiente educacional tem sido temática além de diversas visões, embasadas em
atual de discussões e este requer uma diferentes autores dentre eles: Pimenta
atenção especial, já que em se tratando de (2000), Libâneo (2000), Ghiraldelli (2006),
Ensino Fundamental I, pode gerar efeitos Severino (2000), Arroyo (1991) e Gil (2011)
avassaladores no ensino. sobre o tema em questão.

Fato que nas últimas décadas muito se tem Assim sendo, me dispus a desenvolver
discutido sobre formação docente, mesmo esse artigo a fim de discutir os pressupostos
porque tem se aumentado gradativamente a da formação do professor e discutir como

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Revista Educar FCE - Março 2019

esta deve se dar para formar profissionais docente no curso de Pedagogia e traçar
qualificados, preparados efetivamente para meios e estratégias que proporcionariam a
enfrentar uma sala de aula, e desenvolver formação de profissionais adequados que
diferentes estratégias que enriquecerão contribuiriam, portanto eficazmente no
a formação de educandos “cursantes” do Ensino Fundamental I.
Ensino Fundamental I, possibilitando-os a
compreensão e a transformação positiva e Diante destas, observei a necessidade
crítica da sociedade em que vivem. de discutir a temática com profissionais
envolvidos com o Ensino Fundamental I com
Cabe aqui destacar que não pretendo o objetivo de compreender em que medida
impor ou apresentar modelos previamente a formação docente no curso de Pedagogia
estabelecidos que findem com os problemas reflete em tal. Portanto, em um momento
evidenciados que aparecerão no decorrer em que pude me reuni com sete professores
do meu estudo, porém proporei reflexões da rede pública no município de São Paulo a
acerca desta formação que possibilitem, qual estou atualmente inserida, propus uma
acredito eu, tais avanços. discussão a cerca do tema já mencionado,
para assim ampliar a visão do que os “outros”
Desenvolverei, portanto, o tema “Formação pensam sobre a temática apresentada, estas
docente no curso de Pedagogia” destacando destacarei ao longo do desenvolvimento
as influências desta no Ensino Fundamental deste artigo.
I. Para elucida-lo buscarei algumas respostas
e indagações tais como: O que é Pedagogia? Neste cenário, delineei a questão problema
Qual o perfil do professor universitário da pesquisa sendo ela: Em que medida a
do curso de Pedagogia? Qual o perfil do formação docente no curso de Pedagogia
estudante do curso de Pedagogia? Quais são reflete no Ensino Fundamental I? Sendo
as habilidades, competências ou recursos que assim, no primeiro momento será discutido
o professor do curso de Pedagogia deve ter simploriamente o termo Pedagogia, em
para minimizar os problemas que interferem seguida apresentarei um breve histórico sobre
no Ensino Fundamental I “profissional o curso, posteriormente traçarei o perfil do
competente”? professor universitário e do aluno do curso
de Pedagogia relacionando-os, destacarei
Nesta perspectiva, procurei levantar ainda o Ensino Fundamental I fazendo-lhe
dados para facilitar a análise e a construção uma relação nos dias atuais, mencionarei
interpretativa dos procedimentos adotados, as influências do curso de Pedagogia no
através de analise de documentos Ensino Fundamental I e apresentarei o perfil
pertencentes à educação, além de optar do profissional qualificado que denominarei
pela pesquisa bibliográfica para refletir e como “competente”, por fim destacarei a
entender melhor como se dá a formação necessidade de rever a formação docente no

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Revista Educar FCE - Março 2019

curso de Pedagogia, a fim de atrelar meios como filosofia da educação.


para amenizar os problemas que interferem Para Pimenta (2000), a Pedagogia pode
no Ensino Fundamental I. As reflexões ser definida como Ciência da Prática, diz
sobre as razões que levam os educadores que ela não se constrói como discurso sobre
a assumirem a postura “desqualificada” a educação, mas a partir da prática dos
de ensino. A importância de o docente, educadores sendo tomada como referência
constantemente refletir sobre sua prática, para a construção de saberes no confronto
buscar novos conhecimentos, inovar seu com saberes teóricos.
profissional. Além de exemplificar que a
formação no curso de Pedagogia, por sua Sobre o assunto Libâneo (in: Pimenta
vez, deve preparar profissionais que estejam 2000), diz que:
motivados e conscientes de seus afazeres
enquanto docentes, e proporcionar aulas A discussão sobre a identidade científica dos
estudos relacionados com a educação poderia
dinamizadas, assemelhando-as ao meio ser simplificada se bastasse definir os termos.
que o futuro profissional desenvolverá seu Com efeito, educação seria concebida como
trabalho, devendo-se assim atrelar teoria à uma prática social caracterizada como ação
de influências entre os indivíduos e grupos,
prática. destinada a configuração da existência humana;
pedagogia, a ciência que estudaria esse
fenômeno em suas peculiaridades [...] (p.78 –
O QUE É PEDAGOGIA? grifo meu).

Antes de discorrer o tema é evidentemente Neste caso podemos considerar


importante esclarecer como se define a atualmente a Pedagogia como um conjunto
Pedagogia. Segundo Ghiraldelli (2006), de saberes que mantem como objeto de
Paidagogia designava, na Grécia Antiga, o estudo a educação a partir das influências
acompanhamento e a vigilância do jovem. recebidas de diversas ciências, como a
O paidagogo (o condutor da criança) era o psicologia, a filosofia... Que estuda temas
escravo cuja atividade específica consistia em relacionados à educação na prática como
guiar as crianças à escola, seja a didascaléia, na teoria, estando ela correlacionada ao
onde receberiam as primeiras letras, seja o desenvolvimento e melhoria no processo de
gymnásion, local de cultivo do corpo. aprendizagem de diferentes sujeitos além de
conectada a aspectos sociais e as normas
Ainda segundo o autor, atualmente o termo educacionais do país.
Pedagogia ganha outras conotações na qual
os estudiosos contemporâneos da educação Sendo assim, o curso de Pedagogia deverá
utilizam-se do termo Pedagogia, alternada contemplar, portanto, tais estudos. A seguir
ou concomitantemente, como utopia apresento como se desenvolveu o curso de
educacional, como ciência de educação ou Pedagogia no Brasil.

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Revista Educar FCE - Março 2019

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS Em meados de 90, as convergências


DO CURSO DE PEDAGOGIA quanto às funções do curso de Pedagogia,
tornaram-se mais presentes e abundantes
De acordo com Pimenta (2000), o curso principalmente a partir do estabelecimento
de Pedagogia foi instituído no Brasil das Diretrizes e Bases da Educação Nacional
em 1939, nesta época o curso formava por meio da Lei 9.394, em dezembro de 1996, o
bacharéis denominados “técnicos em curso passou a se apresentar dentre os temas
educação”. Nos anos 60, passou a formar mais polêmicos a serem regulamentados pela
bacharéis e licenciados (1962), assim o legislação complementar em andamento no
pedagogo passa a ser um professor para país. Assim é possível destacar os conteúdos
diferentes disciplinas dos então cursos de três artigos da nova lei, responsáveis pelos
ginasial normal. Nesta época o currículo impactos iniciais que se transformaram em
do curso compunha-se de disciplinas das discussões fervorosas relacionadas ao curso:
ciências da educação, das didáticas e da Art. 62 que trata sobre a formação docente
administração escolar. Em 1969 foi abolida que far-se-á em nível superior (licenciatura)
a distinção entre bacharelado e licenciados para a atuação na Educação Básica; Art. 63
em Pedagogia e instituída a ideia em formar que contempla que os institutos de formação
especialistas em administração escolar, superior manterão cursos de formação de
inspeção escolar, supervisão pedagógica e profissionais para a educação básica, bem
orientação educacional. Em finais dos anos como programas de formação pedagógica e
70, segundo a autora, emerge o movimento programas de educação continuada e Art. 64
de redefinição do curso, questionava-se que coloca que a formação de profissionais
a identidade do curso e do profissional para administração, planejamento, inspeção,
pedagogo, tal movimento contrapôs-se à supervisão e orientação educacional para
concepção tecnoburocrática oficial, que não a Educação Básica serão desenvolvidos em
incluía a participação dos educadores na curso de graduação em Pedagogia ou em
definição da política educacional. No decorrer nível de pós-graduação. (BRASIL, 1996)
dos anos 80, esse movimento recebeu
diferentes denominações até se firmar Segundo Severino (2000), no ano seguinte à
como Associação Nacional pela Formação aprovação da nova LDB que as Instituições de
dos Profissionais da Educação (ANFOPE), Ensino Superior (IES) passaram a se preocupar
produziu ampla reflexão e diferentes com a questão da elaboração das diretrizes
propostas com a participação de educadores curriculares referentes aos diferentes cursos,
de vários estados e universidades, sendo sua em atendimento à “convocação” feita pela
tendência predominante valorizar a formação Secretaria de Educação Superior do MEC
do professor no curso de Pedagogia e colocar (SESU/MEC), através de seu Edital 04/97,
as especializações após a graduação. no sentido de que as mesmas apresentassem
suas sugestões sobre o assunto.

205
Revista Educar FCE - Março 2019

Já de acordo com Arroyo (1991), houve Porém, segundo os autores Scheibe e


grande dificuldade em levar a frente a Aguiar (1999). Após renovação de seus
então “convocação” já que a mesma nem componentes, em 1998, Comissão de
foi precedida de alguma orientação através Especialistas do Ensino de Pedagogia teria
da qual os órgãos competentes pudessem que intermediar os conflitos históricos
conduzir as IES à revisão de suas estruturas decorrentes das diferentes posições a
organizacionais, de forma a adequar seus respeito das funções do Curso de Pedagogia.
cursos às necessidades criadas pela nova Apesar das dificuldades, a referida Comissão
LDB. Porém passaram então a apenas foi bastante habilidosa na condução dos
pensar em suas sugestões de diretrizes trabalhos. Além de examinar as propostas
curriculares para seus diferentes cursos provenientes das IES dos vários pontos do
inseridos num contexto ainda estruturado país, que no final somaram mais de quinhentas,
sob as orientações da reforma universitária estendeu o convite para apresentação de
de 1968. Cabe aqui ainda ser destacado propostas às demais entidades nacionais
que nem mesmo as estruturas do MEC não ligadas ao assunto.
haviam sido remodeladas para a nova tarefa,
sobretudo no que se refere à formação de Assim, em seis de maio de 1999, foi
professores para a Educação Básica. Sendo realizada a divulgação do documento
assim, tornou-se necessário a condução denominado “Proposta de Diretrizes
das propostas provenientes de cada um Curriculares” de autoria da Comissão de
dos cursos das IES para cada uma das Especialistas de Ensino de Pedagogia.
correspondentes Comissões de Especialistas
do Ensino que já vinham assessorando a A comunidade acadêmica recebeu bem o
Secretaria de Educação Superior do MEC então referido documento, isso porque nele
em suas tarefas referentes a eles. Porém foi adotado os princípios apresentados pela
não havia responsáveis neste departamento ANFOPE e contemplou as diferentes tendências
que referente aos cursos de licenciatura e que geraram em torno das funções do curso, e
Pedagogia, mesmo porque somente algumas numa proposta suficientemente abrangente, a
IES contemplavam a parte da Pedagogia em Comissão, seguindo a linha de encaminhamentos
suas propostas, assim a prática apresentada feitos por algumas grandes universidades e
resultaria numa inadequação em relação às também pelo Grupo de Trabalho Pedagogia do
licenciaturas e ao curso de Pedagogia, pelo V Congresso Estadual Paulista sobre Formação
fato de ambos carecerem de uma profunda de Educadores - ocorrido em Águas de São
e integrada revisão, em função da formação Pedro, em novembro de 1998, congregou
de educadores que a nova ideia de Educação as atuais funções do curso, abrindo também
Básica passou a exigir. a possibilidade de atuação do pedagogo em
áreas emergentes do campo educacional. Assim
definiu o perfil comum do pedagogo:

206
Revista Educar FCE - Março 2019

condiziam às disciplinas pertencentes


Profissional habilitado a atuar no ensino, na ao campo das ciências da educação não
organização e gestão de sistemas, unidades e
projetos educacionais e na produção e difusão do levando em consideração a prática para a
conhecimento, em diversas áreas da educação, formação docente, atualmente o cenário
tendo a docência como base obrigatória de sua se apresenta diferentemente, pois cabe
formação e identidade profissional (Comissão de
ao curso de Pedagogia propiciar aos seus
Especialistas de Ensino de Pedagogia, p.1).
estudantes da formação pretendida,
diferentes estratégias e metodologias que
Desta forma percebe-se que o envolvam a prática de ensino a qual estarão
desenvolvimento do curso de Pedagogia, no presentes após a formação, isso se dá
Brasil, foi acompanhado pelo questionamento também com o desenvolvimento de estágios
de sua identidade, dos profissionais que supervisionados pertencentes à grade
o mesmo formava e de suas funções, curricular do curso.
acompanhado também por inúmeras
mudanças e manifestações acerca de sua Desta forma a educação e a formação
estrutura até manter a forma que atualmente humana constituem a principal força do curso
apresenta pautado pela Comissão de de Pedagogia no Brasil, sua multiplicidade
Especialistas do Ensino da Pedagogia, pelo teórica dominante nos primórdios do curso
Ministério da Educação e pelas Resoluções constitui um dos elementos contributivos da
CNE que lhe são cabidas. Bem se diz que formação do pedagogo a serem levados em
até os dias atuais o curso de Pedagogia ainda consideração ainda nos dias atuais.
apresenta inúmeras crises de identidade,
conflitos referentes à sua atuação e a função Contudo, pode-se enxergar que a
do profissional concluinte do mesmo, porém Pedagogia busca ser, em si mesma, teoria
esse vem se afirmando no que se refere a sua e prática da educação que contribui para
especificidade e avanços significativos e vem o fortalecimento do domínio que lhe é
galgando espaço em sua estrutura teórica. específico.

Nesta perspectiva, o curso em questão Diante disso, cabe agora definir no item a
assumiu progressivamente a função de seguir, a importância da formação docente
habilitar professores para a atuação das séries destacando quais os perfis do professor
iniciais do Ensino Fundamental, podendo universitário e do estudante de Pedagogia,
ser realizado, atualmente, como uma das relacionando-os entre si.
possibilidades formativas desse profissional,
sendo outra o Curso Normal Superior.

Assim se o curso de Pedagogia considerava


prioritariamente os estudos teóricos que

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Revista Educar FCE - Março 2019

FORMAÇÃO DOCENTE: das ações da nova estrutura organizacional


PERFIL DO PROFESSOR da educação, sendo ela adequada às novas
competências que lhes são atribuídas, afim de
UNIVERSITÁRIO X PERFIL DO melhor se adaptar às demandas do diferente
ESTUDANTE NO CURSO DE mercado de trabalho que se configura.
PEDAGOGIA
Neste caso, a profissionalização/ formação
Partindo do pressuposto de que a docente passa a ocupar papel central nas
formação do educador deve ser expressa discussões e reformulações educacionais,
por um conjunto de conhecimentos ligados e assim permanecem ate os dias atuais,
à Pedagogia e não restringir-se somente a nos quais ultrapassa a preocupação com a
docência, não devendo ser a única referência modernização pedagógica, e se desenvolve
para sua formação Libâneo afirma que: e se qualifica dentre as perspectivas de uma
nova proposta de ensino preocupada com a
A base de um curso de Pedagogia não pode ser melhoria da qualidade e uma busca acirrada
a docência. A base de um curso de Pedagogia
é o estudo do fenômeno educativo, em sua por soluções aos problemas relacionados
complexidade, em sua amplitude. Então, ao ensino- aprendizagem no Brasil
podemos dizer: todo trabalho docente é principalmente em se tratando de Ensino
trabalho pedagógico, mas nem todo trabalho
pedagógico é trabalho docente. A docência é Fundamental I.
uma modalidade de atividade pedagógica, de
modo que o fundamento, o suporte, a base, Tais mudanças ocorridas ao longo dos
da docência é a formação pedagógica, não o
inverso. Ou seja, a abrangência da Pedagogia é anos no curso de Pedagogia, destacando a
maior do que a da docência. Um professor é um formação docente, devem estar atreladas a
pedagogo, mas nem todo pedagogo precisa ser nova busca de modalidades e organização
professor. (2006, p. 220)
pedagógica que favoreçam a constituição
completa, nos futuros profissionais,
Já segundo Pimenta (2004), a docência desenvolvendo suas competências que
como base da formação fragilizou os serão fundamentais no ensinar e fazer
pedagogos em sua atuação profissional no com que os alunos aprendam de acordo
âmbito escolar, no âmbito dos sistemas de com os objetivos e diretrizes pedagógicas
ensino e no âmbito não escolar, uma vez traçados para o Ensino Fundamental I,
que retira do curso o campo pedagógico esses profissionais devem estar preparados
como área de atuação e produção de ao sair de um curso universitário, porém
conhecimento. Para a autora, a base necessitarão de diferentes metodologias e
da formação do pedagogo deveria ser estratégias que dependem do “formador”, ou
a pesquisa em educação. Sendo assim, seja do professor universitário.
destaca-se a formação docente que deve
ser compreendida, neste caso, como parte

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Revista Educar FCE - Março 2019

Ao refletirmos sobre os professores doutorado em área afim, poderá suprir a


universitários, sua função e eficácia exigência de título acadêmico.” (p.20).
dentro do curso de Pedagogia alguns
questionamentos se fazem presentes: Quem Porém, cabe considerar que, acerca de
é esse profissional? Como são preparados estudos do autor Gil (2011) a maioria dos
no Brasil? Atualmente o que compete a eles? professores universitários, neste primeiro
Quais as características que lhe são cabidas? caso, não dispõe de preparação pedagógica,
ou seja, estes não estão devidamente
Questionamentos estes que por serem tão preparados para a função a qual são
amplos poderiam por si só contemplarem um submetidos. Segundo o autor, muitos
novo artigo, portanto trago-os apenas como profissionais exercem duas atividades: a
meios de proporcionar nossa reflexão diante de profissional de determinada área e a de
do tema abordado não pretendendo neste docente, com predominância a primeira.
caso dissertá-los. O Ensino Superior, aqui, esta sendo visto
como um complemento nas atividades do
Cabe aqui esclarecer, que o trabalho profissional, o qual deveria ser um trabalho
do professor universitário está pautado exclusivo em se tratando de que está
também nas leis e decretos que comportam a no estado de “formador de profissionais
educação superior no Brasil, desta forma Gil capacitados”. Assim o autor explicita que:
(2011), destaca que para ocupar os cargos
de carreira nas universidades públicas, ...no Ensino Superior é onde menos se verifica
menor diversidade ás práticas didáticas. As
sobretudo, com a edição da Lei nº 5.540, aulas expositivas são mais frequentes e o
de 28 de novembro de 1968, que instituiu professor de modo geral aprende a ensinar por
a reforma Universitária, os interessados ensaio e erro. O professor constituía principal
fonte sistemática de informações, e uma das
deveriam dispor de Graus de Mestre ou habilidades que mais incentivam os alunos é a
doutores, já em instituições particulares da memorização. A prática mais constante de
curso de especialização. Assim destaca na avaliação da aprendizagem consiste em aplicar
provas e dar notas, que com frequência também
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, é usada como meio de estabelecer autoridade
que ampliou a exigências para o exercício no em relação ao aluno. (p.5 – 6)
magistério superior, o artigo a seguir, pois
estabelece: Neste caso, cabe rever essa atuação do
professor universitário, sendo que objetivo
“Art. 66. A preparação para o exercício do central é formar profissionais qualificados
magistério superior far-se-á em nível de pós-
graduação, prioritariamente em programas de devemos primeiramente rever a qualificação
mestrado e doutorado. dos “formadores”.

Parágrafo único. O notório saber, Gil (2011) destaca ainda que muitos
reconhecido por faculdade com curso de professores universitários não recebem

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Revista Educar FCE - Março 2019

preparação pedagógica específica e nem vivenciará seu aluno tendo-o como docente
ao longo de sua vida profissional tem a – com as devidas diferenças etárias. Assim a
oportunidade de participar de cursos, formação docente deverá contemplar como
seminários ou reuniões sobre os métodos ponto de referência a coerência entre a
de ensino e avaliação da aprendizagem que teoria e a prática.
seriam cruciais para enriquecer sua prática.
“A pedagogia fica, portanto, ao sabor dos É imprescindível que um profissional
dotes naturais de cada professor.” (p.9). formado pelo curso de Pedagogia, que
pretenda lecionar no Ensino Fundamental
Por outro lado, Gil (2011), coloca que, neste I esteja de acordo com as características
segundo caso, há professores que veem seus destacadas no Parecer CNE/CP 009/2001
alunos como agentes principais do processo homologado em 8/5/2001, características
educativo, estes se preocupam em identificar essas que constituem, segundo o
as aptidões, necessidades e interesses de desenvolvimento do texto, a atividade
seus educandos e visam auxiliá-los na coleta docente, entre as quais se destacam:
das informações de que necessitam para o
desenvolvimento das novas habilidades, para Orientar e mediar o ensino para a aprendizagem
dos alunos;
modificação de atitudes, comportamentos e
para busca de novos significados. Assim as Comprometer-se com o sucesso da aprendizagem
atividades desses professores centram-se na dos alunos;

figura do aluno e atuam como facilitadores Assumir e saber lidar com a diversidade existente
da aprendizagem. entre os alunos;

Incentivar atividades de enriquecimento cultural;


Certamente, estes do segundo caso
destacado pelo autor, deveriam ser os Desenvolver práticas investigativas;
grandes formadores nos cursos de Pedagogia Elaborar e executar projetos para desenvolver
conteúdos curriculares;
- deveriam ser os únicos - exercendo seu
papel explicitado pelo autor desenvolveriam Utilizar novas metodologias, estratégias e
profissionais de qualidade, capacitados que materiais de apoio;

iriam utilizar da sua experiência durante o Desenvolver hábitos de colaboração e trabalho


curso de graduação para desenvolver sua em equipe. (BRASIL, 2002 p. 4).
prática no ensino posteriormente.

Nesta perspectiva a situação da formação Fato de que atualmente muitos jovens


docente esta totalmente relacionada ao seu que ingressam no Ensino Superior não
exercício enquanto profissional. Quando um possuem condição mínima de ali estar, ou
docente esta sendo formado ele vivencia o porque resultam de uma formação precária
papel de aluno, assim futuramente o mesmo durante sua escolaridade anterior ou porque

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Revista Educar FCE - Março 2019

resultam de um mecanismo em que se é refaçam o percurso de aprendizagem a qual


posto que só poderão agregar-se ao mercado não foram submetidos satisfatoriamente
de trabalho aqueles que possuírem um curso e assim propiciar o desenvolvimento de
em nível superior de ensino. Mecanismo futuros bons docentes, que contribuirão
esse que desenvolve o interesse em cursar para a melhoria no Ensino Fundamental I.
um Ensino Superior de forma acelerada,
tal interesse, no entanto, nem sempre está Certa de que essa afirmação,
relacionado em possuir uma formação, aparentemente redundante, apresenta como
mas sim em possuir um diploma que abrirá objetivo evidenciar que a formação inicial
portas no mercado de trabalho por si só, docente constitui-se da permissa de que se
assim muitas universidades aproveitam é possível reverter à qualidade da educação
tal interesse e oferecem cursos que não atual no Brasil, simplesmente agindo sobre
formam verdadeiramente profissionais a educação. Onde professores universitários
apenas lhes garantem tal diploma. Assim, e alunos universitários falem uma mesma
tão acelerado quanto, crescem a formação linguagem e direcionem suas práticas e
de profissionais desqualificados, aqui serão estudos a um único objetivo aqui já proposto:
destacados apenas aqueles relacionados a a melhoria no Ensino Fundamental I.
áreas da Educação em especial a Pedagogia,
profissionais estes que nem sabem qual o seu
verdadeiro papel na sociedade, e interferem ENSINO FUNDAMENTAL I E
negativamente no processo de ensino e OS DIAS ATUAIS
aprendizagem no Ensino Fundamental I.
Nos anos posteriores a Constituição
Na realidade a qual estamos inseridos, Federal de 1988 e principalmente nos últimos
existe a necessidade frequente de novas oito anos a Educação Básica no Brasil foi se
metodologias e estratégias para que consolidando. Neste item a apresentarei
a aprendizagem se torne significativa sucintamente o Ensino fundamental I não
principalmente no Ensino Fundamental I, destacando por completo as leis, politicas e
porém em se tratando do Ensino Superior programas nacionais que o determinam pois
isso não é tão discutido, assim como a estes seriam movedores de discussões mais
formação docente a qual se responsabilizam. acirradas não cabendo neste momento como
objeto do estudo que apresento.
Ao discutir sobre a educação precária
em que muitos alunos são submetidos Como já mencionado anteriormente o Ensino
antes de ingressarem no Ensino Superior é Fundamental está articulado a Educação Básica
evidente tornar claro que caberá ao curso de Brasileira que é definida no art. 21 da LDB, a
Pedagogia e a formação docente proporem a ele farei uma analise que requer o estudo da
estes oportunidades e mecanismos para que Pedagogia que venho desenvolvendo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Cabe neste momento, ainda desenvolvendo antes dos sete anos de idade apresentam,
a abrangência da Educação Básica, destacar em sua maioria, resultados superiores em
o artigo 22 da LDB que estabelece seus fins: relação àquelas que ingressam somente aos
sete anos.
Art. 22. A educação básica tem por finalidades
desenvolver o educando, assegurar-lhe a
formação comum indispensável para o exercício Na medida em que as mudanças foram
da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir ocorrendo, as preocupações acerca delas
no trabalho e em estudos posteriores. (BRASIL, foram se tornando mais evidentes, é
1996)
importante ressaltar que o ingresso de
crianças de seis anos no ensino fundamental
Essa perspectiva, apresentada no artigo não pode constituir-se apenas de uma medida
acima, trata do desenvolvimento do educando administrativa, mas sim é necessário e requer
que irei me atrelar, pois este é o objetivo atenção ao processo de desenvolvimento e
principal no qual o profissional docente a ele aprendizagem destas crianças bem como o
disponibilizado deve lhe assegurar. respeito às características peculiares da faixa
etária, o social, o psicológico e o cognitivo
Antes disso, ressalvo a aprovação da Lei das mesmas.
nº 11.274/06, que contempla a duração do
ensino fundamental obrigatório passasse Ao discorrer sobre o Ensino Fundamental
a durar nove anos, iniciando-se aos 6 (seis) I, torna-se importante trazer os princípios
anos de idade. Aqui destacarei apenas dos traçados pelas Diretrizes Curriculares
seis aos dez anos, que constituem os cinco Nacionais para o Ensino Fundamental (Brasil.
primeiros anos do Ensino Fundamental. Ministério da Educação/Conselho Nacional
de Educação, Resolução CEB nº 2, 1998)
Assim sendo, as discussões acerca do que constituem o documento legal que
ensino e o seu desenvolvimento passaram apresenta uma direção para que as escolas
a ser constantes na área da educação. reflitam sobre suas propostas pedagógicas,
Destarte que o trabalho com tal faixa etária estes aparecem como eixos das propostas
(seis a dez anos) devem estar pautados pedagógicas das escolas e se definem nos
no desenvolvimento e nas aprendizagens seguintes princípios:
das crianças sem deixar de considerar a
abrangência da infância nessa etapa de a) Princípios Éticos da Autonomia, da
Responsabilidade, da Solidariedade e do
ensino. Respeito ao Bem Comum;
b) Princípios Políticos dos Direitos e Deveres
Alguns fatores contribuíram para tais da Cidadania, do Exercício da Criticidade e do
Respeito à Ordem Democrática;
mudanças sendo um deles os resultados c) Princípios Estéticos da Sensibilidade,
de estudos demonstrarem que, quando as Criatividade e Diversidade de Manifestações
crianças ingressam na instituição escolar Artísticas e Culturais.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A partir desses eixos o trabalho pedagógico Quando nos deparamos com um


com crianças nos anos iniciais do ensino professor desqualificado em sala de aula,
fundamental, deverá garantir o estudo possivelmente será evidente encontrarmos
articulado das Ciências Sociais, das Ciências alunos desqualificados também, inúmeros
Naturais, das Noções Lógico - Matemáticas e são os reflexos da formação docente na vida
das Linguagens. dos “cursantes” do Ensino Fundamental I,
estes contemplam desde as dificuldades
Desta forma, percebe-se que muitas são relacionadas a alfabetização, a leitura, ao
as questões relativas que giram em torno raciocínio matemático às relacionadas aos
do Ensino Fundamental I no Brasil, assim convívios sociais , aos termos direcionados
torna-se ponto crucial que os profissionais a indisciplinas entre outros, é evidente
relacionados a área da Pedagogia, que o que estes problemas aqui destacados não
terá como “campo” de desenvolvimento do resultam apenas de uma má formação
seu trabalho não considerem apenas seus docente, porém esta pode ser responsável
aspectos legais mas que desenvolvam um pelo enfraquecimento de tais. Como um
trabalho eficaz dentre a novas exigências profissional despreparado irá lidar, por
educacionais já apresentadas anteriormente exemplo, com problemas de alfabetização,
e que serão destacadas no item a seguir. onde em uma classe superlotada (que
atualmente é nossa realidade) existem
crianças que se encontram em diferentes
ABRINDO AS CORTINAS: AS hipóteses relacionadas a escrita e leitura?
INFLUÊNCIAS DO CURSO Este profissional certamente não terá
domínio para desenvolver um trabalho eficaz
DE PEDAGOGIA NO ENSINO que levará em consideração as diferentes
FUNDAMENTAL I formas do aprender e as diferentes formas do
ensinar. O mesmo ocorrerá se um profissional
Partindo da ideia de que a formação docente desqualificado se deparar com um ou
deve ser entendida como componente quem sabe alguns alunos que apresentem
estratégico na melhoria da qualidade do o raciocínio matemático evoluído, como
Ensino Fundamental, esta deve ser revista fazê-los ampliarem suas habilidades e
a partir do seu início na Universidade até desenvolverem competências a quem do
o momento de sua conclusão (que não que já sabem ao mesmo tempo em que
deveria existir já que a formação docente deverá proporcionar o desenvolvimento de
deveria contemplar toda a vida do professor habilidades e competências mais “simples”
enquanto atuante), a fim de constituir novas aos demais? Certamente que até mesmo
competências aos seus e proporcionar as um profissional dito como “qualificado”
melhorias cabidas na educação a qual se encontrará conflitos e dificuldades em
refere. lidar com tais itens destacados, então para

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Revista Educar FCE - Março 2019

um formado “desqualificado” podemos Assim, deve-se atrelar uma educação


considerar que tais tarefas seriam realmente voltada ao interesse de um ensino de
impossíveis e sendo assim esses alunos qualidade tanto para o futuro aluno do
somente passariam pelo Ensino Fundamental, docente (estudante dos anos iniciais do
sem nada a evoluir, a desenvolver, ensino fundamental) como para esse docente
simplesmente passariam... estudante de hoje, possível profissional
da Educação Básica, que esta cursando
Uma estratégia que possivelmente Pedagogia.
melhorasse a situação dos cursos
que proporcionam a formação desses É evidente que o processo de formação
profissionais é terem como referência, docente está correlacionado a teoria à
durante seu desenvolvimento, os planos prática, assim como o exercício futuro desse
curriculares e os projetos dos sistemas profissional deverá estar. Neste caso é
de ensino, estes estimulariam a formação fundamental que o formador desenvolva em
voltada para a adequação, necessidades seus formandos a capacidade de relacionar
e características das regiões e dos alunos. teoria à prática, é indispensável que, em
Assim tal experiência descrita agiria como sua formação, os conhecimentos que o
domínio para facilitar o desenvolvimento de professor construirá sejam contextualizados
um ensino que permitisse um aprendizado para promover uma permanente evolução de
adequado, respeitoso as diferenças e as significados destes fazendo referência a sua
diversas formas do aprender, desenvolvendo aplicação, em situações reais, sua relevância
um “novo profissional” atrelado a realidade, para vida pessoal e social, sua validade para
as mudanças da sociedade, mais dinâmico e análise e compreensão dos fatos da vida.
competente. Tal relação entre teoria e prática torna-se
decisiva para o profissional que estará sendo
Sobre essa ótica Libâneo (2006) menciona formado, pois, ele terá de refazê-la com seus
que: alunos.

Novas exigências educacionais pedem às De acordo com esse princípio desde o


universidades e cursos de formação para o
magistério um professor capaz de ajustar sua início do curso de Pedagogia, portanto,
didática às novas realidades da sociedade, do deve haver a preocupação de desenvolver
conhecimento, do aluno, dos diversos universos competências aos formandos para que estes
culturais, dos meios de comunicação. O novo
professor precisaria, no mínimo, de uma cultura adaptem os conhecimentos produzidos a
geral mais ampliada, capacidade de aprender a prática futura, pesquisando a área aplicada
aprender, competência para saber agir na sala ao ensino, refletindo sobre a atividade de
de aula, habilidades comunicativas, domínio da
linguagem informacional, saber usar meios de ensinar e formulando alternativas para seu
comunicação e articular as aulas com as mídias e aperfeiçoamento profissional adquirindo
multimídias. (p.10) assim uma “identidade profissional”.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Segundo Libâneo (2006), é preciso o despreparo profissional no tocante a


resgatar a profissionalização do professor, não subsidiar o professor com técnicas e/
reconfigurar as características de sua ou conteúdos. Interfere na aquisição da
profissão da busca da identidade profissional. autonomia essencial que o professor deve
Esta certamente não será uma questão fácil, ter em seu exercício acadêmico. O professor
porém necessária. mal formado é ingênuo, e a insegurança
gera muitas vezes despreparo que leva à
Atualmente muitos relacionam a equívocos na solução de conflitos. Só se
má formação docente aos problemas ensina bem se aprendemos bem”.
encontrados Ensino fundamental I, desta
forma, realizei uma discussão junto a Diante dos relatos apresentados e
professores da rede pública municipal de analisados é possível perceber que não existe
ensino em qual trabalho atualmente sobre um único culpado diante da má formação
essa temática, estes mencionaram diferentes docente, bem como não existe uma única
pontos de vista: influência deste no Ensino Fundamental I,
sendo assim torna-se evidente a revisão
Sobre a postura do profissional: “se o da formação docente preocupando-se em
responsável pela base do ensino não está formar novos profissionais capazes de se
preparado para intervir pedagogicamente adequar as novas exigências educacionais e
não terá subsídios para desenvolver melhorar a qualidade do ensino em nosso
competências básicas nos educandos”; país. Essa melhoria no curso de Pedagogia
“o ato de ser professor requer um estudo deverá acontecer de imediato para que em
constante, reflexão de sua pratica a fim de breve possamos galgar melhoras no Ensino
buscar novos caminhos para atingir o maior Fundamental I, na medida em que esses
número de alunos. O ato de ensinar requer novos profissionais ingressem nas redes
antes de tudo do professor ser um “detetive” de ensino, novos profissionais estes que
do conhecimento, buscar sempre, um denomino como “competentes” e assim os
eterno ato de aprender”; “O professor é um destaco a seguir.
formador de opinião, por isso precisa estar
atualizado, fazer diversos cursos dentro de
sua área de formação para não ficar alienado.
A sociedade muda e sentimos isso dentro das
escolas (sala de aula) o profissional que não
estiver preparado sentirá muita dificuldade
para contornar tal situação”.

Destacaram ainda o fato do fracasso


escolar: “A má formação docente provoca

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Revista Educar FCE - Março 2019

PROFISSIONAL ação que deve ser desenvolvida durante sua


COMPETENTE: REDUÇÃO formação e consolidada após ela.
DOS PROBLEMAS QUE Durante a formação docente, se o
INTERFEREM NO ENSINO profissional desenvolver tais ações descritas
FUNDAMENTAL I acima, estaria futuramente mais preparado
e qualificado para compreender e intervir
Assim como todos os outros profissionais, diante das dificuldades de aprendizagens de
o docente necessita realizar constantes seu aluno do Ensino Fundamental I assim seria
reajustes em sua prática, reajustes esses que um facilitador da aprendizagem. Para tanto
deveriam ser desenvolvidos desde o processo esse profissional deveria ainda aprender
de sua formação, tais auxiliariam a prática sobre o desenvolvimento e aprendizagem
de suas ações diante das intervenções no sem distingui-las entre si, de forma integra
processo de ensino e aprendizagem a qual atrelando aos conhecimentos curriculares
se submeter. pertencentes à sua formação.

Este profissional deverá levar em Sobre essa ótica Libâneo (2006) aponta
consideração que ensinar requer dispor e que:
mobilizar conhecimentos para improvisar,
intuir, atribuir valores e fazer julgamentos “o valor da aprendizagem escolar está justamente
na sua capacidade de introduzir os alunos nos
que fundamentem a ação mais pertinente significados da cultura e da ciência por meio de
e eficaz, além de estar diretamente ligado a mediações cognitivas e interacionais providas
comunicação, a convivência, ao trabalho em pelo professor.” (p.28).
equipe, a enfrentar e respeitar a diferença
e a solucionar conflitos e assim perceber Além disso, a prática pedagógica deve
que ensinar exige aprender a inquietar-se e estar presente desde o início do curso
questionar-se com os problemas, dificuldades superior para a formação desse profissional
e fracassos sem permitir destruir-se por eles. docente, através de vivências em escolas de
Ensino Fundamental I ou mesmo por meio
Tais atitudes traçam o perfil do profissional de vídeos, estudos de caso, depoimentos
competente a qual pretendo me referir, este que remetessem tais profissionais a
deve manter-se em uma postura reflexiva, realidade que fará parte de sua vida futura.
flexível possibilitando a integração entre Atualmente, tais ações são vivenciadas
teoria e prática, estando capaz de tomar somente nos meses ou ano final do curso
decisões qualificadas diante de contextos através de estágios supervisionados, estes,
instáveis, indeterminados e complexos. porém, não contemplam o que aqui exponho,
Profissional reflexivo este que seja capaz de pois as condições que lhe são impostas em
entender, rever e reformular a própria ação, grande parte não possibilitam o exercício

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Revista Educar FCE - Março 2019

social; em terceiro, a prática tem o sentido de


do profissional plenamente, não são ensinar, referindo-se à transposição didática
supervisionados adequadamente durante do conhecimento das ciências, das artes e das
o processo ou monitorado continuamente letras para o contexto do ensino de crianças e
adolescentes em escolas de educação básica.
por um tutor ou professor experiente que (2000- p.11).
permita um retorno imediato revendo suas
falhas e elevando seus progressos, mas sim
são utilizados como avaliações e imposições Portanto, a prática pedagógica docente
para que o graduando torne-se graduado deve contemplar os três sentidos descritos
através de análise de listas e relatórios frios pela autora acima, pois um profissional
que não remetem o ensino, a vivência e a competente deve julgar e fazer relevância,
prática. Prática essa que proporcionará ao relacionar conceitos básicos e necessários,
professor fazer o aprender e saber ensinar. realizar adequadamente a transposição
didática, saber discernir os conteúdos
Ao referir-me sobre o profissional necessários a serem ensinados bem como
“competente” tal expressão destacada nos sua sequencia e tratamento.
remete as competências já mencionadas
anteriormente e bem explicadas por É necessário levar em consideração ainda
Perrenoud (2000) que a tem como uma que este profissional antes de ingressar
mobilização sobre um conjunto de saberes no Ensino Superior não estava totalmente
para solucionar com eficácia diferentes nulo, sem conhecimento ou experiências de
situações. Assim pode-se dizer ainda que vida, pelo contrario, ele levará consigo uma
tais competências docentes advêm de bagagem que contemplará suas experiências
experiências vividas por este, portanto escolares vivenciadas durante o seu “cursar”
o processo no qual estará inserido, sua na Educação Básica que o servirá de meios
formação ou atuação, deve ocorrer em para analise, auto avaliação e evolução do
situações concretas, reais e contextualizadas. saber posteriormente.

De acordo com Guiomar Namo de Mello, Assim, o profissional competente deve


Diretora Executiva da Fundação Victor conscientizar-se e ser formado para estar
Civita e Membro do Conselho Nacional de em constante aprendizado e não se limitar
Educação: apenas a aplicar conhecimentos, mas sim
em proporcionar meios com diferentes
O termo prática na formação do professor tem metodologias e estratégias que permitam
três sentidos complementares e inseparáveis. O
primeiro sentido refere-se à contextualização, o seu aluno aprender, a galgar espaço no
relevância, aplicação e pertinência do ambiente educacional e a minimizar assim os
conhecimento das ciências que explicam o problemas que cercam o Ensino Fundamental
mundo da natureza e o mundo social; em
segundo lugar, identifica-se com o uso eficaz das I atualmente tais como: relacionados a
linguagens como instrumento de comunicação escrita e leitura (alfabetização); Indisciplina;
e organização cognitiva da realidade natural e

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Revista Educar FCE - Março 2019

Fracasso Escolar; desmotivação; entre outros que se descritos aqui ampliariam tal estudo,
estes sem sombra de dúvidas servirão para análise e como suporte para um futuro estudo
pretendido por mim.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Perceber e analisar em que medida a formação docente
no curso de Pedagogia reflete no Ensino Fundamental I
era questão central desta pesquisa. Assim delineei e tracei
inúmeros fundamentos acerca dela, porém perceber que
a má formação docente realmente interfere no Ensino
Fundamental I não necessitou de grandes e aprofundados
conhecimentos, pois se torna fácil perceber diante da
realidade que me encontro inserida (educação pública) que
esta se apresenta como uma das questões que degeneram a AMANDA MENOZZI
educação em nosso país. Desta forma essa pesquisa deu-se
Graduada em Pedagogia
através de estudos sobre os problemas que causam tal má pela Universidade do Grande
formação assim foram realizadas pesquisas bibliográficas e ABC (2003); Especialista em
estudo de documentos que norteiam e que tratam do termo Psicopedagogia pela Universidade
do Grande ABC (2010), Em
Pedagogia e o curso, tracei o perfil do profissional docente Docência do Ensino Superior
responsável pelo curso e do graduando do mesmo, e assim pela Universidade Bandeirante
foi possível perceber que inúmeros problemas giram em de São Paulo (2012) e em
Administração da Educação com
torno dessa educação em nosso país. Ênfase em Direito Aplicado na
Educação (2018) pela Faculdade
Diante do tema, que atualmente se encontra presente, Campos Elíseos; Professora de
Ensino Fundamental I (EJA)- no
realizei conversas informais com profissionais atuantes Centro Integrado de Educação
no Ensino Fundamental I da rede municipal de ensino, na de Jovens e Adultos (CIEJA)
qual estou inserida, durante uma reunião pedagógica a Iguatemi I e Professora de Ensino
Fundamental I na EMEF Rodrigo
fim de reconhecer outros pontos de vista que giram sobre Mello Franco de Andrade.
o tema desta pesquisa, sendo assim foram abordadas
questões relevantes como o perfil do profissional docente
qualificado e sobre o fracasso escolar colocado como
reflexo do despreparo desse profissional, assim delineei o
perfil de um profissional totalmente preparado que seria fruto de uma formação qualificada
denominando-o de profissional “competente” que ao atuar na educação traria benefícios
futuros ao desenvolvimento da aprendizagem no Ensino Fundamental I minimizando os
problemas que o degeneram atualmente.

Sendo assim, foi possível perceber que para atualmente haver profissionais adequados,
qualificados na educação será necessária uma reformulação imediata no curso que os
formam, Pedagogia, este necessariamente deve contemplar à formação de um profissional
que esteja altamente envolvido com o ato de ensinar, profissional comprometido que utilize

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Revista Educar FCE - Março 2019

diferentes e atraentes metodologias e estratégias para estimular o avanço de aprendizagens


significativas em seus alunos, além de ser um profissional altamente reflexivo pronto
para o crescimento teórico e prático de suas ações, preparado para a ampliação de seus
conhecimentos e disponível para enfrentamento de momentos tumultuosos, complexos,
inconstantes e difíceis de solucionar.

Encerrarei este expondo as dez novas atitudes docentes apresentadas por Libâneo (2006),
que certamente servirão de reflexão acerca de todo este estudo e de posteriores a este:

“Assumir o ensino como mediação: aprendizagem ativa do aluno com a ajuda pedagógica do professor; Modificar
a ideia de uma escola e de uma prática pluridisciplinares para uma escola e uma prática interdisciplinares;
Conhecer estratégias do ensinar a pensar, ensinar a aprender a aprender; Persistir no empenho de auxiliar os
alunos a buscarem uma perspectiva crítica dos conteúdos, a se habilitarem a apreender as realidades enfocadas
nos conteúdos escolares de forma crítico-reflexiva; Assumir o trabalho de sala de aula como um processo
comunicacional e desenvolver capacidade comunicativa; Reconhecer o impacto das novas tecnologias da
comunicação e informação na sala de aula; Atender a diversidade cultural e respeitar as diferenças no contexto
da escola e da sala de aula; Investir na atualização científica, técnica e cultural, como ingredientes do processo
de formação continuada; Integrar no exercício da docência a dimensão afetiva; Desenvolver comportamento
ético e saber orientar os alunos em valores e atitudes em relação à vida, ao ambiente, às relações humanas, a
si próprios.” (p.29 a 50)

220
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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São Paulo: Editora UNESP, 2004. Mesa-redonda: por uma pedagogia de formação de
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222
Revista Educar FCE - Março 2019

VANTAGENS DO ENSINO BILÍNGUE


PRECOCE
RESUMO: O presente artigo pretende apresentar algumas vantagens do ensino bilíngue
precoce, ou seja, aquele que começa antes dos seis anos de idade. Para que estas vantagens
sejam devidamente compreendidas, será apresentado um levantamento bibliográfico
sobre o bilinguismo e a educação bilíngue, com suas diversas definições e classificações
e, posteriormente, as vantagens da educação bilíngue desde a infância. As vantagens mais
percebidas por diversos autores foram a antecipação do desenvolvimento cognitivo e
da percepção metalinguística, maior controle inibitório, maior habilidade de pensamento
divergente, antecipação do pensamento operatório e desenvolvimento hemisférico cerebral
bilateral mais evidente em bilíngues do que em monolíngues.

Palavras-Chave: Ensino Bilíngue; Bilinguismo precoce; Educação bilíngue; Educação Infantil Bilíngue.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO obtida valendo-se do levantamento


bibliográfico presente nos demais capítulos
A aprendizagem e a fluência em mais de acerca das vantagens observadas sobre o
um idioma são cada vez mais desejadas em ensino bilíngue desde a infância.
nossa sociedade atual e parecem ser fatores
essenciais para a obtenção de melhores
posições no mercado de trabalho. Em O BILINGUISMO
razão dessa visão, verifica-se atualmente
o aumento de escolas bilíngues no Brasil, Antes de falarmos sobre a educação
especialmente na cidade de São Paulo. bilíngue na Educação Infantil, precisamos
entender o que é o bilinguismo. Para
Já há muitas escolas que oferecem a Butler e Hakuta (2008), o bilinguismo é um
educação bilíngue desde o Ensino Infantil, comportamento linguístico, é a habilidade de
possibilitando às crianças o contato com se comunicar, entender e interagir em mais
atividades desenvolvidas na segunda língua de um idioma em determinado ambiente
e em sua língua materna, para que ambas social, como podemos notar na definição
sejam aprendidas concomitantemente. abaixo:

A fim de entender o crescente interesse [...] indivíduos ou grupo de pessoas que obtêm
habilidades comunicativas em diversos níveis
por escolas bilíngues, este artigo pretende de proficiência, nas formas oral e escrita, com o
apresentar algumas vantagens do ensino propósito de interagir com falantes de uma ou
bilíngue desde a infância por meio de revisão mais línguas em uma determinada sociedade. Do
mesmo modo, o bilinguismo pode ser definido
bibliográfica sobre o assunto. como o estado psicológico e social de indivíduos
ou grupo de pessoas que resulta das interações
Este artigo está estruturado em três via língua(gem) no qual dois ou mais códigos
linguísticos (incluindo dialetos) são utilizados
tópicos: o bilinguismo, com suas definições para a comunicação (BUTLER e HAKUTA, 2008,
de acordo com diversos autores; o ensino p.115).
bilíngue, na qual é apresentada a visão de
vários autores sobre a definição desse tipo A pesquisadora de bilinguismo Bialystok
de educação; e o ensino bilíngue na infância (2006) afirma que há diversos motivos
e suas vantagens, em que são apresentadas pelos quais as pessoas se tornam bilíngues,
as vantagens comprovadas por pesquisas entre eles estão a migração, a residência
realizadas por alguns pesquisadores e temporária, a educação pretendida, a família
autores sobre os benefícios do ensino estendida (tios, primos e avós), etc.
bilíngue precoce. Para Diebold (apud MELLO, 1999),
podemos chamar de bilíngue a pessoa que
Nas considerações finais está a síntese tem um mínimo de competência linguística
da pesquisa aqui apresentada e a conclusão em uma segunda língua que a possibilita

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Revista Educar FCE - Março 2019

fala uma de suas línguas. No entanto, a realidade


a produção de enunciações completas e não é bem assim: estima-se que o bilinguismo
significativas. O autor também considera está presente em quase todas as nações do
que há diferentes graus de proficiência mundo, em todas as classes sociais e em todas
as faixas etárias e a sua aquisição ocorre em
no segundo idioma, desde a construção diferentes fases da vida; por isso, dificilmente
de mínimos enunciados até a fluência o indivíduo é igualmente fluente em todas as
semelhante a de um nativo do idioma. línguas e em todos os níveis (GROSJEAN apud
MELLO, 1999, p. 18).

Macnamara (apud MEGALE, 2005), Por causa da existência de diferentes


assim como Diebold, considera diferentes tipos de bilinguismo, que podem ter efeitos
graus de conhecimento do segundo idioma diferentes no processo cognitivo, no
e se opõe ao entendimento de que, para funcionamento cerebral e no uso e maestria
ser considerado bilíngue, a pessoa precise dos dois idiomas, Flory (2009) acredita
compreender e utilizar-se perfeitamente da ser importante considerar diferentes
língua escolhida; ele acredita em uma escala classificações de bilinguismo, para os quais
gradativa de aprendizagem e que qualquer ele estabeleceu os seis critérios a seguir.
pessoa pode ser chamada de bilíngue
se possuir pelo menos uma das quatro O primeiro critério é a proficiência em
habilidades linguísticas (fala, escrita, leitura e cada língua, classificando os bilíngues em
audição) desenvolvidas, por menor que seja balanceados – com proficiência similar nos
o seu grau nessa habilidade. dois idiomas – e dominantes – aqueles que
dominam mais um idioma do que o outro.
Grosjean (apud MELLO, 1999) ainda
desmistifica a crença popular de que apenas O segundo critério é a idade de aquisição,
aqueles que dominam perfeitamente classificados em precoces – quando
dois idiomas concomitantemente podem aprendem o segundo idioma ainda na
ser considerados bilíngues, uma vez infância – e tardios – quando aprendem após
que há diferentes fases do bilinguismo a infância (a partir da adolescência).
presentes nas mais diversas culturas e
dificilmente encontraremos quem os domine O terceiro critério classifica o bilinguismo
perfeitamente, sem demonstrar sotaque ou de acordo com a organização dos códigos
características de sua língua materna, como linguísticos. São classificados em:
percebemos na citação abaixo: coordenado, em que se aprende as línguas
em ambientes separados; composto, em
(...) o bilinguismo é uma exceção e o falar que a aprendizagem da língua se dá em um
bilíngue é frequentemente associado à noção de
perfeição, ou seja, o bilíngue seria uma espécie mesmo contexto, na qual as línguas são
rara que fala, lê, escreve e compreende duas usadas alternadamente ou simultaneamente;
ou mais línguas de maneira igualmente fluente, ou subordinado, em que há o predomínio
sem sotaque e sem quaisquer outros traços que
permitam distingui-lo do monolíngue, quando de um sistema linguístico ao outro e, assim,

225
Revista Educar FCE - Março 2019

as palavras da língua subordinada são Aqui consideraremos o ensino bilíngue


entendidas por meio da língua dominante. como opção da família para garantir melhor
O quarto critério é o status social de cada e mais diversa educação aos seus filhos, em
língua na sociedade, classificado em popular escolas em que o currículo escolar é ministrado
e de elite, sendo popular o bilinguismo de em dois idiomas, assim, versaremos sobre o
grupos linguísticos minoritários e sem status ensino precoce, balanceado, composto, de
elevado em dada sociedade e de elite aquele elite, aditivo e bicultural, levando em conta
idioma que oferece prestígio ao bilíngue os critérios desenvolvidos por Flory.
entre as pessoas de sua sociedade.

O quinto critério é a manutenção da O ENSINO BILÍNGUE


língua materna, classificado em aditivo ou
subtrativo. No bilinguismo aditivo, a segunda Não há consenso sobre quando ou
língua é adquirida sem perder a proficiência quem implementou o ensino de línguas
da língua materna, ao passo que o bilinguismo estrangeiras, mas acredita-se que foi iniciado
subtrativo acontece quando a aquisição da pela necessidade de comunicação com outros
segunda língua compromete a proficiência povos e culturas e para estabelecer relações
da língua materna. comerciais, como acontecera, por exemplo,
durante a colonização do Brasil, em que
O sexto e último critério é a identidade alguns portugueses tiveram que aprender
cultural do indivíduo bilíngue, que os dialetos indígenas e índios nativos tiveram
classifica de acordo com sua bilingualidade que aprender português para estabelecer
bicultural, ou seja, levando em consideração parcerias, trocas comerciais e entender uns
se o indivíduo se identifica com ambos aos outros.
grupos culturais das duas línguas e é assim
reconhecido. Para Harmers e Blanc (2003), a escola
bilíngue pode ser qualquer sistema educativo
O autor ainda acredita que devemos em que em algum momento e período as
considerar o bilinguismo um processo aulas sejam ministradas em pelo menos duas
contínuo, independentemente da definição línguas, de forma consecutiva ou simultânea.
e classificação escolhida, em que o sujeito Sendo assim, a segunda língua não pode ser
bilíngue transita e alterna seu tipo de apenas mais um componente curricular, mais
bilinguismo à medida em que se desenvolve uma matéria, e sim uma parte das orientações
no idioma, destinando a proficiência, o e apresentações do currículo escolar regular.
entendimento e apropriação cultural de
ambas as línguas. Ainda de acordo com os autores
supracitados, a educação bilíngue por
imersão – escolas em que a criança recebe

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Revista Educar FCE - Março 2019

parte da instrução escolar em seu idioma Adotaremos no presente artigo o conceito


materno e parte no segundo idioma – pode de escola bilíngue como aquela que oferece
ser dividida em três tipos: imersão inicial a educação formal e, concomitantemente,
total, inicial parcial ou tardia. o ensino de outro idioma por meio da
convivência diária em situações educacionais
Na escola de imersão inicial total as em que a segunda língua é utilizada não
instruções são apresentadas no Ensino somente como grade curricular, mas também
Infantil no segundo idioma e, a partir do como a linguagem utilizada na aprendizagem
terceiro ano do Ensino Fundamental I, a língua de outras matérias e situações escolares.
materna vai sendo introduzida gradualmente
até que metade das instruções sejam
oferecidas em cada idioma. Já na educação O ENSINO BILÍNGUE
por imersão inicial parcial, as instruções são NA INFÂNCIA E SUAS
expressas desde o começo do ensino nos
dois idiomas. E a imersão tardia, em que os
VANTAGENS
alunos recebem toda orientação até o Ensino
Médio no segundo idioma e gradualmente Para Katchan (1986), as pesquisas
introduz-se a primeira língua, sendo 85% das realizadas da década de 1960 que
orientações no segundo idioma a partir do concluíram que o bilinguismo precoce
primeiro ano do Ensino Médio e até 40% nos poderia apresentar algumas desvantagens a
demais anos, de acordo com a escolha do respeito do desenvolvimento cognitivo das
estudante. crianças foram realizadas com sérias falhas
metodológicas, que levaram a um resultado
Podemos encontrar outra forma de dúbio sobre a eficácia do ensino bilíngue e
classificar o ensino bilíngue em Cummings a desconsideração de fatores ambientais aos
(apud SOARES, 2009), que classifica a quais os alunos estavam expostos.
educação bilíngue em duas versões: a forte,
na qual a criança pode utilizar a língua Estas falhas não consideravam a avaliação
materna no começo de sua escolarização e, de variáveis como o nível socioeconômico
posteriormente, a língua majoritária para sua e a inteligência não verbal, nem o idioma
educação regular; e a leve, em que ambas as utilizado nos testes, de acordo com Butler
línguas são utilizadas concomitantemente, e Hakuta (2008). Quando avaliados esses
promovendo a alfabetização nos dois critérios durante os testes, o resultado
idiomas. O autor acredita ainda que uma passou a apontar vantagens do bilinguismo
escola é considerada bilíngue de acordo com precoce.
a intenção de ensino da instituição.
Diversas pesquisas posteriores à acima
referida passaram também a considerar

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Revista Educar FCE - Março 2019

positivo o ensino bilíngue desde a infância, operatório acontecia antes em crianças


uma vez considerados os critérios ignorados bilíngues. Katchan (1986) corrobora
na primeira pesquisa aqui citada, como o essa ideia e explica que a antecipação
controle de variáveis e o idioma em que os do pensamento operatório acontece em
testes eram realizados, como relata Bialystok bilíngues em decorrência da antecipação
(2006). da consciência da relatividade entre signo
e referente do real, uma vez que ambas
A autora acima, em suas pesquisas situações demandam uma retomada mental
sobre aquisição de língua, habilidade de uma situação e a reflexão crítica sobre ela.
metalinguística, letramento e solução de Ao contrário da crença popular de que as
problemas, descobriu que o bilinguismo crianças confundem os dois idiomas quando
acelera o desenvolvimento geral de uma os aprendem simultaneamente, a aquisição
função cognitiva relativa à atenção e inibição, de conceitos lógicos não sofre prejuízos em
facilitando as tarefas em que essas funções decorrência da educação bilíngue.
são necessárias, uma vez que a criança presta
mais atenção à informações importantes e Katchan (1986, p.675) afirma que:
tem maior controle inibitório, especialmente
em situações em que as informações são Qualquer receio de que os bilíngues se atrasem
na formação de conceitos foi dissipado por Keats
aparentemente conflitantes. & Keats (1974) e Keats, Keats & Fan (1982),
que testaram crianças bilíngues polonês/inglês,
Para Baker e Prys-Jones (1998), há alemão/inglês, chinês/inglês e malês/inglês e
descobriram que os conceitos lógicos adquiridos
dois tipos de pensamento: convergente e em uma língua podiam ser transferidos para a
divergente. Quando uma questão apresenta outra.
apenas uma resposta correta, utilizamos o
pensamento convergente; o pensamento
livre, imaginativo, criativo, aberto para novos Mello (1999) estudou o discurso
desfechos é o divergente. De acordo com suas espontâneo de crianças brasileiras bilíngues
pesquisas, que levaram em conta fluência, precoces em inglês e português em idade
originalidade, flexibilidade e elaboração das pré-escolar e analisou o que chamou de
respostas, os autores chegaram à conclusão “falar bilíngue”, ela explica que a mudança de
de que a maioria dos bilíngues superaram código linguístico não significa aleatoriedade
os monolíngues no desenvolvimento e na escolha das línguas, tão pouco falta
aplicação do pensamento divergente, de proficiência nos idiomas, mas sim uma
diferença encontrada especialmente em estratégia linguística significativa, que pode
bilíngues balanceados. ser bem empregada na comunicação dos
bilíngues. Esse comportamento de crianças
Os autores supracitados também notaram bilíngues não indica confusão entre os
em suas pesquisas que o pensamento sistemas das duas línguas, percebe-se em

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Revista Educar FCE - Março 2019

suas pesquisas que as crianças sabem diferenciar as duas línguas e que sua seleção vocabular
é uma resposta adaptativa ao contexto em que essas crianças estão inseridas.

Para Hull e Vaid (2006), há até vantagens neurológicas do ensino bilíngue precoce. Em
estudos sobre assimetria hemisférica funcional em cérebros bilíngues e monolíngues,
verificou-se que monolíngues e bilíngues tardios apresentaram predominância do hemisfério
esquerdo, ao passo que os bilíngues precoces apresentaram significativo envolvimento
hemisférico bilateral, quando a aquisição da segunda língua começa antes dos seis anos de
idade.

Um “sumário de conclusões confiáveis” foi apresentado por Diaz e Klinger (2000) após análise
de pesquisas sobre experiências bilíngues precoces e sua influência no desenvolvimento
cognitivo. Para eles, as crianças que participaram de ensino bilíngue têm vantagens
significativas em tarefas que envolvem as habilidades verbais e não-verbais; demonstram
capacidades metalinguísticas avançadas, especialmente no controle do processamento da
língua; vantagens cognitivas e metalinguísticas são depreendidas em situações bilíngues que
envolvem o uso sistemático da língua (aquisição simultânea ou ensino bilíngue); entre outros.
Ainda enfatizam que os benefícios do ensino bilíngue na infância aparecem relativamente
cedo, em diversos níveis de proficiência, mesmo sem a aquisição da mesma proficiência em
ambos idiomas.

Cabe acrescentar que:

[...] se as duas línguas forem suficientemente valorizadas, o desenvolvimento cognitivo da criança levará a um
benefício máximo da experiência bilíngue, que atuará como uma estimulação enriquecida levando a uma maior
flexibilidade cognitiva em comparação com os pares monolíngues (HAMERS e BLANC, 2003, p. 29).

Logo, ao falarmos das vantagens do bilinguismo precoce, para que as vantagens acima
expostas sejam efetivas, é necessário um programa de educação bilíngue aditivo bem
construído e implementado que contribua para a proficiência da criança em dois idiomas
e culturas sem desvantagens a longo prazo para o desenvolvimento de suas habilidades
linguísticas. O apoio contínuo dos pais e o incentivo da família de práticas de leitura e escrita
também são de grande importância e colaboram positivamente no letramento bilíngue
precoce.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A busca por escolas de ensino infantil bilíngue tem crescido
nos últimos anos graças ao interesse dos pais em oferecer
aos seus filhos uma experiência cultural mais ampla e maior
familiaridade com um segundo idioma, a fim de possibilitar
melhores colocações no mercado de trabalho e de ascensão
social.

Com o intuito de justificar essa crescente demanda, o


presente artigo investigou possíveis vantagens do ensino
bilíngue, apresentando, para isso, os conceitos de bilinguismo
e educação bilíngue. ANA CLÁUDIA ARRUDA
DE CARVALHO
De acordo com a bibliografia estudada, o bilinguismo pode
Graduação em Letras pela
acontecer por diversas razões, como migração, residência Universidade Presbiteriana
temporária, família estendida, a educação pretendida, entre Mackenzie (2007); Especialista
outros, mas foi este último motivo o foco de estudo deste em Didática em Inglês pela
Faculdade Campos Elíseos (2018);
trabalho, tendo em vista que se pretendeu entender algumas Professor de Ensino Fundamental
vantagens do ensino bilíngue e do crescimento das escolas II - Inglês – no Ensino Municipal
bilíngues no Brasil. de São Paulo.

No geral, considerando as definições apresentadas no


primeiro capítulo, convencionou-se chamar de bilíngue a pessoa que possui um mínimo de
competência linguística em dois idiomas, que a possibilite produzir enunciações significativas
e completas em ambos.

Os seis critérios de Flory (2009) foram analisados para exprimir os diferentes tipos de
bilinguismo compreendidos pelo autor e justificar sua visão de que o bilinguismo deve ser
um processo contínuo, em que o estudante transita e evolui seu tipo de bilinguismo até
atingir a fluência e certa apropriação cultural na língua desejada.

Já as escolas bilíngues podem ser definidas como aquelas em que os alunos recebem as
orientações do currículo regular em duas línguas diferentes, em sua língua materna e em
uma outra de sua escolha. Para Hamers e Blanc (2003), essas escolas de ensino imersivo
podem ser de três tipos: inicial total, parcial ou tardia, seguindo a quantidade de exposição
à segunda língua oferecida pela instituição.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Cummings (apud SOARES, 2009) preferiu classificar a educação bilíngue em duas


categorias: forte e leve, sendo a primeira a introdução do segundo idioma após o começo
do estudo da língua materna e a última o aprendizado concomitante de ambas as línguas.
Foi neste segundo tipo de educação bilíngue que esta pesquisa se baseou, no ensino
concomitantemente lecionado em dois idiomas.

Após a apreciação dos resultados obtidos em diversas pesquisas realizadas pelos autores
analisados no terceiro capítulo, pode-se averiguar algumas relevantes vantagens da aquisição
de uma segunda língua ainda na infância, antes dos seis anos de idade.

O ensino bilíngue precoce pode acelerar o desenvolvimento geral da função cognitiva


relacionada à atenção e ao controle inibitório, facilitando as atividades em que essas funções
são utilizadas. Outro benefício é o maior desenvolvimento do pensamento divergente, que é
o pensamento criativo, imaginativo e livre. A antecipação do pensamento operatório também
foi observada em bilíngues precoces, além de maior consciência entre as relações dos signos
linguísticos com o real, ambas advindas de maior facilidade de retomada mental de situações
e de sua reflexão crítica, causadas possivelmente pela primeira vantagem aqui descrita.

Hull e Vaid (2006) observaram ainda vantagens neurológicas do ensino bilíngue precoce,
considerando o resultado de suas pesquisas em que verificaram que há predominância de
desenvolvimento hemisférico bilateral em crianças bilíngues em oposição à predominância
do desenvolvimento do hemisfério esquerdo em crianças monolíngues.

Enfim, em conformidade com a pesquisa bibliográfica aqui realizada, verifica-se que


o crescente interesse por escolas de ensino bilíngue desde a infância é justificado pelos
diversos benefícios cognitivos, neurológicos e sociais acima expostos, além dos benefícios da
proficiência em outra língua e conhecimento de outra cultura que poderão facilitar o acesso
dessas crianças a melhores posições no mercado de trabalho e ao sucesso profissional.

231
Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

A NEUROPSICOPEDAGOGIA E OS
DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM
RESUMO: Esta pesquisa trata do tema Neuropsicopedagogia e dos Distúrbios de
Aprendizagem. Com base neste tema temos como objetivos apresentar os principais conceitos
e definições que englobam o tema Neuropsicopedagogia, além deste aspecto, esta pesquisa
visa abordar as questões relacionadas aos principais distúrbios de aprendizagem. O fracasso
escolar, por muitas vezes, está relacionado a falhas da aprendizagem, esses distúrbios podem
estar relacionados a diferentes áreas como leitura, escrita, ortografia, dentre outras, além
destes aspectos podem relacionar-se a coordenação do movimento, organização espacial,
etc. O não aprender do indivíduo pode estar relacionado a um distúrbio ou a uma dificuldade
escolar, nos dois casos, o indivíduo apresenta rendimento escolar abaixo da média nas
diferentes áreas de aprendizagem. O objetivo do diagnóstico é compreender globalmente
a maneira como a criança aprende e o que está ocorrendo neste processo dificultando a
aprendizagem, depois de especificado o problema parte-se então para o encaminhamento
de ações para solucioná-los.

Palavras-Chave: Neuropsicopedagogia; Distúrbios de Aprendizagem; Aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO são necessárias múltiplas eficiências para a


ocorrência de uma educação inclusiva; que
Esta pesquisa trata do tema a Neurociências pode ser aplicada em sala
Neuropsicopedagogia e dos Distúrbios de de aula pelo funcionamento dos estímulos
Aprendizagem. Com base neste tema temos cerebrais, despertando inteligências com
como objetivos apresentar os principais aquilo que chama de biologia do afeto e
conceitos e definições que englobam o amor, pois estes criam vínculos e conquistas
tema em questão, além deste aspecto, no cotidiano, já que é fruto da observação,
esta pesquisa visa abordar as questões interação e acolhida a todos que aprendem.
relacionadas aos principais distúrbios de
aprendizagem. A neuropsicopedagogia é Antigamente os educadores e os
uma área do saber que integra a pedagogia, seus estudos não estavam relacionados
psicologia, neuropsicologia, psicopedagogia diretamente a pesquisas nas áreas cognitivas
e o trabalho clínico e estabelece a relação e os cientistas da área de neurociências
entre o cérebro e a aprendizagem. também não estabeleciam relação com a
educação e com a sala de aula. Atualmente,
Os estudos englobam o conhecimento os pesquisadores cognitivos estão dedicando
do comportamento e de aprendizagem mais tempo ao trabalho com os professores,
dos indivíduos, englobando os aspectos testando e refinando suas teorias em salas de
relacionados as funções motoras, linguagem, aula, podendo observar como as relações e o
memória, cognição e aspectos emocionais, ambiente escolar podem influenciar em suas
psicológicos e cerebrais. O fracasso escolar, teorias, surgindo assim, diferentes técnicas
por muitas vezes, está relacionado a falhas de pesquisa.
da aprendizagem, esses distúrbios podem
estar relacionados a diferentes áreas como O objetivo do diagnóstico é compreender
leitura, escrita, ortografia, dentre outras, globalmente a maneira como a criança
além destes aspectos podem relacionar-se aprende e o que está ocorrendo neste
a coordenação do movimento, organização processo dificultando a aprendizagem,
espacial, etc. O não aprender do indivíduo depois de especificado o problema parte-se
pode estar relacionado a um distúrbio ou então para o encaminhamento de ações para
a uma dificuldade escolar, nos dois casos, solucioná-los.
o indivíduo apresenta rendimento escolar
abaixo da média nas diferentes áreas de Os estudos na área de Neurociências,
aprendizagem. bem como a parceria entre educadores e
psicopedagogos é fundamental para que o
Quando Relvas (2011) relaciona a diagnóstico e o encaminhamento de cada
Neurociências com os Transtornos de caso seja realizado de maneira adequada,
Aprendizagem consegue demonstrar que definindo quais são os problemas de

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Revista Educar FCE - Março 2019

aprendizagem, suas causas e quais são as na sua capacidade de ser alterado e moldado
possibilidades de intervenção. pelas experiências ao longo da vida”.

A neurociência pode constituir-se como A neurociência cognitiva é a ciência que tenta


compreender e explicar as relações entre o
um apoio ao professor com o intuito de cérebro, as actividades mentais superiores
identificação da pessoa como ser único, que e o comportamento. Esta jovem disciplina
aprende de maneira diferente e se desenvolve das neurociências incide o seu estudo na
relação entre o funcionamento neurológico e
de maneira diferente. Com os estudos que a actividade psicológica, dando um particular
envolvem o cérebro e a sua relação com a enfoque a análise do comportamento, como a
aprendizagem, a neurociências pode trazer manifestação última da actividade do sistema
nervoso central [...] (RATO; CALDAS, 2010,
conhecimentos sobre a linguagem, a memória,
p.627)
o conhecimento e sobre o desenvolvimento
infantil, auxiliando no processo de ensino e
aprendizagem. De acordo com Houzel (2013) a
Neurociência mostra que as transformações
no cérebro duram por toda a infância e mesmo
OS CONCEITOS SOBRE A depois deste período o cérebro “ainda não
NEUROPSICOPEDAGOGIA está pronto” e continuam a ocorrer outras
transformações, que são responsáveis pela
Segundo Bartoszeck (2007) o mudança de comportamento na adolescência,
funcionamento e a formação da estrutura entre outros fatores, desta maneira, o
básica do cérebro se constitui no início estudo da Neurociência se relaciona com a
da infância, desencadeando diferentes educação por sua importante relação com
indagações sobre os estímulos externos, o aprendizado com as interações que se
as emoções e o estresse. Neste sentido, de estabelecem nas interações ocorridas no
acordo com o autor, o emocional se organiza processo de ensino e aprendizagem.
desde a mais tenra idade e quando mais idade,
mais difícil será a modificação destes padrões O trabalho do neuropsicopedagogo
estabelecidos no cérebro, algumas estruturas abrange o estabelecimento de relações para
completam o seu desenvolvimento no feto mediar e analisar as formas para contribuir
e outras podem se modificar (plasticidade no trabalho com as dificuldades de
neuronal) durante toda a vida. aprendizagem que as crianças apresentem.
A neuropsicopedagogia pode ser entendida
Ainda com base nas ideias de Bartoszeck como uma neurociência educacional, com
(2007) p.11: “a maioria dos neurocientistas o intuito de auxiliar os professores que
acredita que os “períodos críticos” não são envolvem o contexto escolar, neste sentido,
tão rígidos e inflexíveis e interpretam como integra os estudos do desenvolvimento, das
períodos “sensíveis” pelo que passa o cérebro estruturas, das funções do cérebro.

236
Revista Educar FCE - Março 2019

Na década do cérebro as ciências cognitivas se escolar é algo mágico, rico e desafiador. Todo
confundem com a neurociência, congregando ser humano pode encontrar esse caminho, basta
cientistas oriundos das áreas de filosofia, querer. As figuras abaixo nos alertam para tal
psicologia, antropologia, informática e direcionamento. (REZENDE, 2008, p.43).
computação, que procuram uma compreensão
extensiva da inteligência humana seja
descrevendo, simulando, reproduzindo, A Ciência e a Educação buscam esforços
replicando, ampliando, transferindo as para compreender como se aprende, tendo
capacidades mentais humanas. Abre-se um
campo de questões desafiadoras para a educação como principal processo a inter-relação
com uma nova ciência da aprendizagem. As do sistema nervoso, as funções cerebrais,
descobertas sobre a neuroplasticidade e a mentais e o ambiente. Por isso, a quantidade
melhor compreensão das funções mentais,
influenciam a prática educacional, as estratégias de pesquisas existentes em ambas as
em sala de aula e apontam para novas formas de áreas sobre a hipótese e possibilidade
ensinar. (OLIVEIRA, 2011, p.78-79) de que aprendizagem e comportamento
começam no cérebro e são mediados por
Segundo Rezende (2008), o nosso meio de processos neuroquímicos, fatos
cérebro (encéfalo) possui dois hemisférios, o dificilmente abordados durante a formação
esquerdo e o direito, com base nos estudos de educadores.
o hemisfério esquerdo é relacionado
aos aspectos cognitivos da linguagem e Segundo Rezende (2008), a escola busca
processamento verbal e o hemisfério direito uma forma de ensino e prática escolar que
seria responsável pela percepção de formas possa suprir as dificuldades de aprendizagem
e ortografia. Com base na autora esses dos alunos e não apenas seja responsável
dois hemisférios são diferentes e idênticos. pela transmissão de conteúdos, com isso, a
“São responsáveis pela inteligência e pelo neurociência pode contribuir na inclusão de
raciocínio, ou seja, atuam no aprender, saberes que auxiliem o professor e o aluno
lembrar, ler, agir por si mesmo e sobrevivem neste processo de ensino e aprendizagem.
à diferenciação da equipotencialidades. Um Neste sentido a autora afirma que “a
domina, com frequência, o outro”. (p.45). aprendizagem acontece sob dois aspectos:
de um lado, os conhecimentos construídos e/
A capacidade de pensar, organizar sistemas e ou reconstruídos e, de outro, os mecanismos
categorias, imaginar, sorrir, chorar, compreender,
aprender, é apenas um ponto de vista entre utilizados para construí-los”. (p. 29).
outros possíveis da capacidade cerebral.
Recuperar nos alunos esta percepção, conforme Quando falamos em educação e aprendizagem
mostram as figuras 03 e 04 abaixo, significa criar estamos falando em processos neurais, redes
estratégias de organização de uma metodologia que se estabelecem, neurônios que se ligam e
que avance em conhecimentos. Cada hemisfério fazem novas sinapses. É o que entendemos por
do nosso cérebro tem um comprometimento aprendizagem. Aprendizagem, nada mais é do
em algumas habilidades sejam elas, concretas, que esse maravilhoso e complexo processo pelo
analógicas, intuitivas, sintéticas, verbais, qual o cérebro reage aos estímulos do ambiente,
racionais, simbólica, analíticas ou abstratas. ativa essas sinapses (ligações entre os neurônios
Buscar entre professores e estudantes, no por onde passam os estímulos), tornando-as
tempo e no espaço, essas aptidões no contexto mais intensas. A cada estímulo novo, a cada

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Revista Educar FCE - Março 2019

repetição de um comportamento que queremos


que seja consolidado, temos circuitos que Diferentes fatores podem interferir no
processam as informações, que deverão ser processo de ensino e de aprendizagem, como
então consolidadas. (NASCIMENTO, 2011, o estímulo, a motivação e o ambiente no
p.28)
qual o aluno está inserido. A aprendizagem
pode ser mais significativa quando ocorre
De acordo com as ideias de Oliveira (2011) a interdisciplinaridade, diferentes saberes
nos diferentes momentos da história, os e conhecimentos, trabalhados de maneira
estudiosos e pesquisadores demonstraram interligada nas diversas áreas e disciplinas de
uma preocupação de como os ambientes conhecimento. O entendimento da maneira
educacionais poderiam ter sucesso em como o cérebro trabalha pode contribuir
realizar a seleção de crianças ou proporcionar para a aprendizagem na escola, realizando os
o seu desenvolvimento. Muitas crianças que encaminhamentos necessários com o auxílio
apresentaram algum tipo de dificuldade na de diferentes profissionais, conforme cada
escola poderiam ter avançado caso, nesta caso.
época, fossem conhecidas algumas práticas
corretas de instrução. Neste sentido, até
mesmo os alunos que conseguiram êxito OS DISTÚRBIOS DE
nestes modelos educacionais, poderiam ter APRENDIZAGEM
obtido melhores resultados e desenvolvido
diferentes habilidades e conhecimentos. O fracasso escolar, por muitas vezes,
está relacionado a falhas da aprendizagem,
Com base nas ideias de Rato (2010) a esses distúrbios podem estar relacionados
neurociência é a ciência do cérebro e a educação a diferentes áreas como leitura, escrita,
é a ciência do ensino e da aprendizagem, ortografia, dentre outras, além destes
podemos assim definir a Neurociência como aspectos podem relacionar-se a coordenação
um campo de conhecimento que procura do movimento, organização espacial, etc.
estudar as variações que acontecem entre
a atividade cerebral e o comportamento, O não aprender do indivíduo pode
abrangendo diversas disciplinas, destacando- estar relacionado a um distúrbio ou a uma
se entre elas a neurofisiologia, a pedagogia, dificuldade escolar, nos dois casos, o indivíduo
a neurologia e a psicologia, dentre outras. A apresenta rendimento escolar abaixo da
Neurociência é formada pelo conjunto destas média nas diferentes áreas de aprendizagem.
ciências e estuda como o cérebro funciona O distúrbio escolar tem origem orgânica,
interferindo em nosso comportamento e neurológica, que pode ser resultante de
em nossas emoções. Com o estudo em disfunções em diferentes áreas do cérebro.
Neurociências é possível compreender como Os principais problemas são dislexia (falha
ocorrem as interferências no cérebro humano, no processamento da habilidade da leitura
provocadas por lesões. e da escrita), disgrafia (falha na escrita)

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Revista Educar FCE - Março 2019

e discalculia (dificuldade para lidar com Segundo Tabaquim (2003) o estudo das
conceitos e símbolos matemáticos). questões neurobiológicas do comportamento
humano busca estabelecer relações entre os
O diagnóstico em psicopedagogia é processos mentais e as atividades celulares.
utilizado para avaliar quais fatores podem A Neuropsicologia estuda os distúrbios das
ocasionar as dificuldades de aprendizagem. funções superiores que são produzidos
De acordo com Ribeiro (2011) a dificuldade por alterações cerebrais e investiga os
de aprendizagem pode ser definida como distúrbios de comportamento adquiridos, é
um termo geral que se refere a um grupo uma ciência do conhecimento que estuda
heterogêneo de desordens manifestadas as relações entre cérebro e comportamento,
por dificuldades significativas na aquisição apresentando o funcionamento dos sistemas
e utilização da compreensão auditiva, da cerebrais individuais em seus diferente
fala, da leitura, da escrita e do raciocínio níveis, tanto em condições normais como
matemático. patológicas.

Segundo Tabaquim (2003) o estudo das O estudo em Neuropsicologia busca


questões neurobiológicas do comportamento realizar uma análise das alterações que
humano busca estabelecer relações entre os podem ocorrer nos casos de lesão cerebral,
processos mentais e as atividades celulares. explicitando como tais lesões podem
A Neuropsicologia estuda os distúrbios das interferir nos processos psicológicos e
funções superiores que são produzidos permite a análise da atividade mental, com
por alterações cerebrais e investiga os o acesso a informações a respeito das lesões
distúrbios de comportamento adquiridos, é em partes complexas do cérebro.
uma ciência do conhecimento que estuda
as relações entre cérebro e comportamento, A neuropsicologia estuda as funções
apresentando o funcionamento dos sistemas do sistema nervoso e o comportamento
cerebrais individuais em seus diferente humano, a aprendizagem é definida como
níveis, tanto em condições normais como uma mudança de comportamento resultante
patológicas. de uma experiência já vivenciada pelo
indivíduo, neste sentido, com a aprendizagem
O estudo em Neuropsicologia busca a ser constituída por processos neurais, a
realizar uma análise das alterações que neuropsicologia torna-se uma importante
podem ocorrer nos casos de lesão cerebral, ferramenta de estudo no contexto
explicitando como tais lesões podem educacional.
interferir nos processos psicológicos e
permite a análise da atividade mental, com Os transtornos de aprendizagem
o acesso a informações a respeito das lesões representam a consequência de um
em partes complexas do cérebro. transtorno na organização funcional do

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Revista Educar FCE - Março 2019

sistema nervoso central, em geral de caráter leve, as com consequências de considerável


importância para o futuro social da criança, já que perturbam a conduta pedagógica.

Dificuldades, transtornos, distúrbios e problemas de aprendizagem são expressões muito


utilizadas para se referir as alterações que muitas crianças apresentam na aquisição de
conhecimentos, habilidade motora e psicomotora. O processo de aprendizagem requer um
certo nível de ativação, atenção e seleção das informações recebidas, estes são elementos
fundamentais para toda a atividade neuropsicológica, que são fundamentais para manter as
atividades cognitivas.

240
Revista Educar FCE - Março 2019

O processo de aquisição de aprendizagem, na criança, pode ser influenciado de maneira


direta ou indireta por diferentes fatores, dentre eles podemos destacar: o ambiente no qual
ocorre a aprendizagem, as condições emocionais e orgânicas, além da estrutura familiar.
Neste sentido, pode-se afirmar que a aprendizagem está diretamente relacionada ao
desenvolvimento do indivíduo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Para o diagnóstico é importante que todas as regras de relacionamento, sejam bem


definidas desde o primeiro contato, sendo claras para o paciente e a sua família, por este
motivo é necessário um contrato de atendimento no qual serão definidas funções, número
de sessões previstas, horários e local de atendimento, etc.

A neuropsicologia, oferece os subsídios necessários para a investigação e compreensão


do funcionamento intelectual da criança, podendo desta maneira, auxiliar e instrumentar
diferentes profissionais, como médicos, psicólogos, psicopedagogos e fonoaudiólogos,
promovendo uma melhor e mais eficiente intervenção terapêutica. Desta forma as
dificuldades de aprendizagem podem ser melhor compreendidas e, consequentemente,
tratadas de maneira adequada caso a caso.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Com base nas ideias de Ciasca (2003) sem uma organização cerebral integrada, intra e
interneurossensorial, não é possível que ocorra a aprendizagem normal, pois os processos
de codificação e decodificação são de extrema importância quando tratamos de problemas
de aprendizagem. As revelações de sinais neurológicos quase sempre são identificáveis nos
casos de crianças com dificuldades de aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As descobertas no campo da Neurociência são de
fundamental importância para a área de educação de
uma forma geral, pois estes estudos podem demonstrar e
explicitar como o cérebro funciona e como se estabelecem
as conexões e estímulos que geram as ações necessárias para
a capacidade de desenvolvimento da memória e apreensão
de conhecimentos, com o armazenamento de informações
recebidas neste processo.

O trabalho do neuropsicopedagogo abrange o


estabelecimento de relações para mediar e analisar as ANA LÚCIA BUDIM DE
formas para contribuir no trabalho com as dificuldades OLIVEIRA
de aprendizagem que as crianças apresentem. A
Graduação em Pedagogia pelas
neuropsicopedagogia pode ser entendida como uma Faculdades Campos Salles (2006);
neurociência educacional, com o intuito de auxiliar os Especialista em Letramento
professores que envolvem o contexto escolar, neste sentido, pela Faculdade Campos Elíseos
(2016); Especialista em Educação,
integra os estudos do desenvolvimento, das estruturas, das Diversidade e Inclusão Social
funções do cérebro. (2017). Professora de Educação
Infantil no Cei Ceu Paz. Professora
de Educação Infantil e Ensino
As dificuldades, transtornos, distúrbios e problemas Fundamental I – na Emei Ceu Paz.
de aprendizagem são expressões muito utilizadas para
se referir as alterações que muitas crianças apresentam
na aquisição de conhecimentos, habilidade motora e
psicomotora. O processo de aprendizagem requer um certo nível de ativação, atenção e
seleção das informações recebidas, estes são elementos fundamentais para toda a atividade
neuropsicológica, que são fundamentais para manter as atividades cognitivas.

Antigamente os educadores e os seus estudos não estavam relacionados diretamente


a pesquisas nas áreas cognitivas e os cientistas da área de neurociências também não
estabeleciam relação com a educação e com a sala de aula. Atualmente, os pesquisadores
cognitivos estão dedicando mais tempo ao trabalho com os professores, testando e refinando
suas teorias em salas de aula, podendo observar como as relações e o ambiente escolar
podem influenciar em suas teorias, surgindo assim, diferentes técnicas de pesquisa.

O processo de aquisição de aprendizagem, na criança, pode ser influenciado de maneira


direta ou indireta por diferentes fatores, dentre eles podemos destacar: o ambiente no qual

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Revista Educar FCE - Março 2019

ocorre a aprendizagem, as condições emocionais e orgânicas, além da estrutura familiar.


Neste sentido, pode-se afirmar que a aprendizagem está diretamente relacionada ao
desenvolvimento do indivíduo.

O fracasso escolar, por muitas vezes, está relacionado a falhas da aprendizagem, esses
distúrbios podem estar relacionados a diferentes áreas como leitura, escrita, ortografia,
dentre outras, além destes aspectos podem relacionar-se a coordenação do movimento,
organização espacial, etc. O não aprender do indivíduo pode estar relacionado a um distúrbio
ou a uma dificuldade escolar, nos dois casos, o indivíduo apresenta rendimento escolar
abaixo da média nas diferentes áreas de aprendizagem.

Alunos com distúrbios ou transtornos de aprendizagem podem receber intervenções em


prol do processo de aprendizagem a partir do recurso dos exercícios da plasticidade cerebral
e da experiência musical, as quais modificam estruturalmente o cérebro e são fatores de
estímulo para fins terapêuticos quanto ao raciocínio, atenção, concentração e memória,
além de atuar em prol da evolução dos processos cognitivos e emocionais ou para amenizar
as sequelas obtidas.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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246
Revista Educar FCE - Março 2019

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aprendizagem. Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar, 2003.

247
Revista Educar FCE - Março 2019

FORMAÇÃO DOCENTE E O ENSINO


SUPERIOR NO BRASIL: LEGISLAÇÃO
E PRÁTICAS
RESUMO: Este artigo tem como objetivo apresentar os principais aspectos da Formação
Docente em nível superior e os principais aspectos relacionados a legislação educacional que
trata do tema em questão. No campo educacional, com a expansão das Instituições de ensino
superior privadas, e com a exigência da qualificação do corpo docente na pós-graduação
como critério na Avaliação Institucional e como referencial de qualidade da educação, os
programas stricto sensu vêm se tornando uma necessidade competitiva para os profissionais
que atuam na área. A postura do professor em sala de aula vem mudando ao longo do tempo
com as mudanças nos conceitos sociais. Houve tempo em que ele possuía um papel definido,
possuía o conhecimento, no qual a intenção era suprimida pelo poder autoritário que o mesmo
exercia. Atualmente se consegue observar uma maior aproximação entre professor e aluno.
O conhecimento ideal é aquele que transforma o aluno em cidadão, capaz de refletir e dar
sua cota de contribuição nas transformações sociais. No entanto, para isso acontecer o papel
do professor deve ser o de um facilitador da aprendizagem, aquele que provoca no aluno um
estimulo que o faça aprender a aprender. E esse evento estará intimamente relacionado com
o processo de interação desenvolvido por esse professor com o educando.

Palavras-Chave: Formação Docente; Didática; Ensino Superior; Legislação.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO atender aos milhares de profissionais liberais,


professores e estudantes que concluíram
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação algum tipo de curso superior, e que desejam
Nacional – LDBEN 9394/96, ao se referir complementar seus conhecimentos ou
aos profissionais da educação, em seu artigo formação acadêmica, para atividades de
62, estabelece que a formação de docentes pesquisa e docência.
para atuar na educação básica ocorrerá em
nível superior, em curso de licenciatura, Segundo Pimenta (2003) temos três
de graduação plena, em universidades e aspectos que podem contribuir para o
institutos superiores de educação, admitida desenvolvimento profissional do professor
como formação mínima para o exercício do universitário: as questões relacionadas à
magistério na educação infantil e nas quatro sociedade, como seus valores e as formas
primeiras séries do ensino fundamental, a de organização; o avanço da ciência no
oferecida em nível médio, na modalidade decorrer dos anos; a consolidação de uma
Normal. ciência da educação, que possibilite o acesso
aos saberes fundamentais no campo da
De acordo com Gatti (2003) para que Pedagogia.
a profissão e a formação docente fossem
satisfatórias seria necessário que os O conhecimento ideal é aquele que o
mestrados, ao invés de aprofundar-se somente transforma em cidadão, capaz de refletir e dá
na especialização e nos conhecimentos das sua cota de contribuição nas transformações
áreas, tivessem uma formação didática, para sociais. No entanto, para isso acontecer
assim, poder articular a docência com a o papel do professor deve ser a de um
pesquisa, levando a “indissociabilidade entre facilitador de aprendizagem aquele que
ensino e pesquisa”. provoca no aluno um estimulo que a faça
aprender a aprender. E esse evento estará
No campo educacional, com a expansão intimamente relacionado desenvolvido por
das Instituições de ensino superior privadas, esse professor com o educando.
e com a exigência da qualificação do corpo
docente na pós-graduação como critério na
Avaliação Institucional e como referencial de O ENSINO SUPERIOR E A
qualidade da educação, os programas stricto LEGISLAÇÃO
sensu vêm se tornando uma necessidade
competitiva para os profissionais que atuam No Brasil, os primeiros cursos superiores
na área. tiveram início em 1812 e se limitavam ao
Direito, Medicina, Politécnica e Agricultura,
O sistema de pós-graduação brasileiro está as aulas eram avulsas ou particulares, e
dividido em lato sensu e stricto sensu, e visa com o tempo foram agrupadas nos liceus

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Revista Educar FCE - Março 2019

provinciais. Em 1837, foi criado o Colégio 1934, pela então criada Universidade de
Pedro II, na Corte, que servia como modelo São Paulo, e, em 1935, pela Universidade do
para os demais. Os professores, nesta época, Distrito Federal.
ainda não tinham uma instrução específica e
nem havia fiscalização. O Ministério de Educação e Saúde
foi criado em 1930 por Getúlio Vargas
A primeira universidade brasileira foi e em 1931 foi aprovado o Estatuto das
criada em 1920 no Rio de Janeiro, resultante Universidades Brasileiras. Conforme este
do Decreto n° 14.343, desta universidade estatuto as universidades poderiam ser
faziam parte faculdades profissionais que pública (de esfera federal, estadual ou
eram voltadas ao ensino em detrimento da municipal) ou particular e deveria incluir ao
pesquisa e mantinham a sua autonomia. mínimo três dos seguintes cursos: Direito,
Medicina, Engenharia, Educação, Ciências
As primeiras faculdades brasileiras foram e Letras. Essas faculdades mantinham sua
a de Medicina, de Direito e Politécnica autonomia jurídica, mas eram ligadas por
e estavam situadas em grandes cidades meio da reitoria.
e tinham como base de orientação um
propósito voltado à elite. Baseavam-se nos A Universidade do Distrito Federal foi
modelos franceses que eram voltados muito criada em 1935 e era voltada à renovação
mais ao ensino do que a pesquisa. Os cargos e ampliação da cultura, mesmo com poucos
eram vitalícios e o responsável pelo campo recursos econômicos, as atividades de
de saber, tinha o poder de escolher seus pesquisa foram estimuladas com o apoio dos
assistentes e mantinha essa posição ao longo professores e aproveitamento dos espaços.
da vida.
Com o apoio de professores estrangeiros
Em 1931, o Decreto N° 19.852/31 de e pesquisadores foi criada a Universidade de
Getúlio Vargas, estabeleceu o Estatuto São Paulo, em 1934, reunindo faculdades
das Universidades Brasileiras, elevando a tradicionais e faculdades independentes,
formação dos professores secundários ao originando a Faculdade de Filosofia, Ciências
nível superior. Foi, então, criada a Faculdade e Letras, (USP), que se tornou um dos grandes
de Educação, Ciências e Letras, com a centros de pesquisa do país, conforme
finalidade de se ampliarem os conhecimentos idealizado pelos seus fundadores.
das ciências “puras”.
Durante a Nova República, cada estado
A Faculdade de Ciências e Letras foi brasileiro passou a contar com uma
criada, porém não foi instalada, no entanto, universidade pública federal em suas
instalaram-se modelos de organizações capitais. Neste período também surgiram
responsáveis pela formação docente, em universidades religiosas, católicas e

250
Revista Educar FCE - Março 2019

A LDB não concebe à docência universitária


presbiteriana, com este processo surge como um processo de formação, mas sim
a UNE, União Nacional dos Estudantes, como de preparação para o exercício do
como forma de organização dos alunos magistério superior, que deverá ser realizada
prioritariamente (não exclusivamente) nos
universitários. cursos de pós-graduação stricto sensu. Nestes,
ou mesmo nos cursos de pós-graduação
Na década de 1960, quando da criação lato sensu, em geral, essa preparação vem
ocorrendo por meio de uma disciplina de 45 a
da Universidade de Brasília, a formação 60 horas, com diferentes características. Apesar
de professores passa para a Faculdade de de restritas, conferem alguma possibilidade
Educação. A Lei de Diretrizes e Bases da de crescimento pedagógico aos docentes do
ensino superior. No entanto, é importante que
Educação de 1961, com base no Parecer N° se considere a exiguidade desse tempo para
292/62 do Conselho Federal de Educação profissionalizar qualquer profissional, incluindo,
estabeleceu que a preparação pedagógica portanto, a profissionalização para a docência na
não deveria mais se restringir ao último Universidade. (PIMENTA,2003, p.273).

ano do curso, convivendo com disciplinas


pertinentes à formação específica. As A Constituição Federal de 1988, a Lei de
disciplinas oferecidas para a formação Diretrizes e Bases da Educação Nacional
pedagógica eram: Psicologia da Educação, (LDBEN 9394/96) e a Lei nº 9.135/95,
Elementos da Administração Escolar, Conselho Nacional de Educação, definem
Didática e Prática de Ensino, sob a forma de a estrutura e o funcionamento do ensino
estágio supervisionado. superior, além de outros Decretos, Portarias
e Resoluções.
Com a promulgação da Lei n° 4.024/61,
a primeira Lei de Diretrizes e Bases da O sistema de pós-graduação brasileiro está
Educação Brasileira o modelo de instituições dividido em lato sensu e stricto sensu, e visa
de ensino superior no Brasil é reforçado, atender aos milhares de profissionais liberais,
mantendo a preocupação com o ensino em professores e estudantes que concluíram
detrimento da pesquisa. algum tipo de curso superior, e que desejam
complementar seus conhecimentos ou
O órgão responsável pelo planejamento, formação acadêmica, para atividades de
orientação, coordenação e supervisão pesquisa e docência.
da Política do Ensino Superior é a (Sesu)
Secretaria de Educação Superior, além da
responsabilidade de manutenção, supervisão
e desenvolvimento das (Ifes) Instituições
Públicas Federais de Ensino Superior e da
supervisão das instituições privadas de
educação superior.

251
Revista Educar FCE - Março 2019

A FORMAÇÃO E A PRÁTICA De acordo com Libâneo (2002, p.5) a


DOCENTE NO ENSINO didática é uma disciplina que estuda o
processo de ensino e os seus objetivos e
SUPERIOR conteúdos e a maneira como as ações são
organizadas no âmbito educacional para a
O aperfeiçoamento da docência universitária
exige, pois, uma integração de saberes garantia de uma aprendizagem efetiva e
complementares. Diante dos novos desafios significativa.
para a docência, o domínio restrito de uma área
científica do conhecimento não é suficiente. O A prática escolar, tem atrás de si condicionantes
professor deve desenvolver também um saber sociopolíticos que configuram diferentes
pedagógico e um saber político. Este possibilita concepções de homem e de sociedade e,
ao docente, pela ação educativa, a construção consequentemente, diferentes pressupostos
de consciência, numa sociedade globalizada, sobre o papel da escola, aprendizagem, relação
complexa e contraditória. Conscientes, docentes professor-aluno, técnicas pedagógicas, etc.
e discentes fazem-se sujeitos da educação. O
(LIBANEO, 1984, p.49).
saber-fazer pedagógico, por sua vez, possibilita
ao educando a apreensão e a contextualização do
conhecimento científico elaborado. (PIMENTA,
2003, p. 271) A década de 1980 caracterizou-se por
eventos locais e nacionais envolvendo a
A postura do professor em sala de aula formação do professor. Consolidavam-se
vem mudando ao longo do tempo com as as instituições democráticas; fortaleciam-
mudanças nos conceitos sociais. Houve se os direitos à cidadania, e elevava-se à
tempo em que ele possuía um papel definido, educação a responsável pela superação
possuía o conhecimento, no qual a intenção das desigualdades nacionais. Nos anos
era suprimida pelo poder autoritário que o 1990 ocorreram profundas modificações
mesmo exercia. Atualmente se consegue no sistema educacional brasileiro, a LDBEN
observar uma maior aproximação entre 9394/96 enfatiza as dimensões sociais e
professor e aluno. políticas da atividade educativa, incluindo a
dinâmica escolar, o relacionamento da escola
O conhecimento ideal é aquele que o com seu entorno mais amplo, a avaliação e a
transforma em cidadão, capaz de refletir e dá gestão.
sua cota de contribuição nas transformações
sociais. No entanto, para isso acontecer Com base nas ideias de Gil (2009,
o papel do professor deve ser a de um p. 33-34) o planejamento educacional
facilitador de aprendizagem aquele que prevê o funcionamento de todo o sistema
provoca no aluno um estimulo que a faça educacional, e em relação ao ensino superior,
aprender a aprender. E esse evento estará o MEC é o responsável por organizar os
intimamente relacionado desenvolvido por estudos e formular as diretrizes, identificando
esse professor com o educando. as necessidades. O planejamento curricular
ocorre no campo educacional e se concretiza

252
Revista Educar FCE - Março 2019

em planos e objetivos dos quais a universidade Com base nas ideias de Pimenta (2003)
pretende alcançar, todos voltados para o temos que é preciso que o professor
objetivo comum de favorecer o processo de do ensino superior aprenda a pensar e
aprendizagem. refletir coletivamente, expondo as suas
ideias, abandonando o hábito de executar
De acordo com Cunha (2004) o que se processos de planejamento, execução
espera dos docentes universitários é um e avaliação de suas atividades de forma
conhecimento aprofundado de sua área individual, tanto as relacionadas a pesquisa
de atuação, com base nas ciências e com quanto aquelas relacionadas ao ensino. Essa
profissionalismo, vinculando o saber com a mudança de concepção e prática docente
prática docente. Seria de grande importância deve ocorrer de maneira processual com a
conforme o autor, um aprofundamento construção de vínculos e com análise das
nos conhecimentos pedagógicos e uma situações vivenciadas, partindo assim para o
preocupação neste sentido, mesmo em se envolvimento com o grupo de trabalho.
tratando de alunos de nível superior, fato este
que não se encontra como uma preocupação Entendendo a Universidade como um serviço
de educação que se efetiva pela docência e
na história do ensino superior. investigação, suas funções podem ser sintetizadas
nas seguintes: criação, desenvolvimento,
O saber escolar é entendido como o conjunto transmissão e crítica da ciência, da técnica
dos conhecimentos selecionados entre os bens e da cultura; preparação para o exercício de
culturais disponíveis, enquanto patrimônio atividades profissionais que exijam a aplicação
coletivo da sociedade, em função de seus de conhecimentos e métodos científicos e para
efeitos formativos e instrumental. Longe de ser a criação artística; apoio científico e técnico ao
caracterizado como conjunto de informações desenvolvimento cultural, social e econômico
a ser depositado na cabeça do aluno, o saber das sociedades. (PIMENTA, 2003, p.270).
escolar constitui-se em elemento de elevação
cultural, base para a inserção crítica do aluno na
prática social de vida. (LIBÂNEO, 1990, p.12).
Segundo Veiga (2006) temos que estamos
diante de um processo de ampliação do
Segundo Pimenta (2003) temos três campo da docência universitária, desta
aspectos que podem contribuir para o maneira, é preciso considerar a docência
desenvolvimento profissional do professor como uma atividade especializada, à docência
universitário, as questões relacionadas a como profissão. A profissão é uma palavra
sociedade, como seus valores e as formas de construção social, segundo a autora,
de organização; o avanço da ciência no permeada por ações coletivas, nas quais os
decorrer dos anos; a consolidação de uma atores são os docentes universitários.
ciência da educação, que possibilite o acesso
aos saberes fundamentais no campo da As investigações sobre o processo de ensino
Pedagogia. e aprendizagem mostram novas formas,
novos desafios e demandas que requerem

253
Revista Educar FCE - Março 2019

isso, é preciso considerar que a pesquisa é uma


novas capacidades e conhecimentos dos atividade da vida cotidiana que se sistematiza
professores. Dinâmica variada de aula e e amplia o conhecimento, mas que também
da função docente quanto às teorias e pode desenvolver muito o ensino, e, finalmente,
é necessário considerar que o ensino precisa
práticas educativas. Os professores devem apoiar-se na pesquisa. (CASTANHO, 2009, p.
ser capazes de adequarem-se às contínuas 103).
mudanças, tanto no conteúdo de seu ensino
como na forma de ensinar. Segundo Cunha (2004) a carreira universitária
se estabelece na ideia de que a formação do
A educação na sociedade da informação, professor requer esforços apenas na dimensão
o modelo de professor cuja atividade está científica do docente, ou seja, com a pós-
fundamentada na sala de aula, poderá graduação strictu-sensu, nos níveis de mestrado
se tornar ultrapassado se não houver e doutorado, desta forma temos que para
atualização didático-pedagógica contínua. ser professor universitário, o importante é o
As redes de telecomunicações poderão domínio do conhecimento de sua especialidade
chegar a substituírem os professores se e das formas acadêmicas de sua produção.
estes se conceberem e se limitarem a meros
transmissores de informação. De acordo com Gatti (2003) para que
a profissão e a formação docente fossem
A docência requer formação profissional para satisfatórias seria necessário que os
seu exercício: conhecimentos específicos para
exercê-lo adequadamente ou, no mínimo, a mestrados, ao invés de aprofundar-se somente
aquisição dos conhecimentos e das habilidades na especialização e nos conhecimentos das
vinculadas à atividade docente para melhorar áreas, tivessem uma formação didática,
sua qualidade. (VEIGA, 2006, p.2)
para assim, poder articular a docência com
a pesquisa, levando a “indissociabilidade de
Castanho (2009) afirma que além da aula ensino e pesquisa”.
expositiva a metodologia de ensino universitário
deve prever diferentes ações didáticas A criatividade e a inovação científica
utilizando recursos diversificados. A pesquisa é nos dias atuais, são fundamentais para o
fundamental para que o professor universitário desenvolvimento da sociedade e a educação
busque os conhecimentos necessários para a universitária deve atualizar-se para
prática docente em uma sociedade cada vez acompanhar estas modificações e esse novo
mais informatizada e imediatista. Em relação a contexto da sociedade atual. Para atender
didática o autor afirma: o papel do ensino, da aprendizagem e da
pesquisa, o professor universitário deve se
É uma atividade voltada para a formação de manter atualizado e em constante formação
um conhecimento que auxilie a descobrir o
mundo em que vivemos, incorporando as para atender as demandas atuais.
experiências de vida e o saber já acumulado
pela história humana, e ajudando a resolver os É inerente ao papel docente ensinar
problemas atuais que a vida apresenta. Para

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Revista Educar FCE - Março 2019

conteúdos de qualidade, com qualidade e significativos, estabelecer uma relação verdadeira


com os educandos e verificar se seus alunos estão realmente aprendendo e quais
aprendizagens estão desenvolvendo. O professor deve estar qualificado e capacitado para
o exercício das suas atividades; precisa ser criativo e ativo etc. Qualificação e formação
continuada impactam positivamente na preparação de um docente apto para exercer suas
atividades sobre a realidade que irá atuar.

A atividade de professor universitário necessita de uma adequada preparação, seja para


adquirir conhecimentos ou para atualização, buscando o aperfeiçoamento de sua prática
em relação aos diferentes contextos que a sociedade apresenta nos dias de hoje. As novas
tecnologias de informação promovem, no contexto educacional, transformações para que
atenda as necessidades e demandas atuais.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos anos 1990 ocorreram profundas modificações no
sistema educacional brasileiro, a LDBEN 9394/96 enfatiza
as dimensões sociais e políticas da atividade educativa,
incluindo a dinâmica escolar, o relacionamento da escola
com seu entorno mais amplo, a avaliação e a gestão.

A formação docente ideal seria aquela que conciliasse à


docência com a pesquisa especializada e a pesquisa sobre a
ação docente, temos então que a Universidade é um espaço
para a busca e a construção do conhecimento científico. De
acordo com os autores pesquisados, à docência universitária ANA LÚCIA TEIXEIRA
exige a indissociabilidade entre ensino e pesquisa, buscando DE FREITAS
a produção e a socialização do conhecimento.
Graduação em Pedagogia pela
Pontifica Universidade Católica de
As investigações sobre o processo de ensino e São Paulo (1988); Pós-graduada
aprendizagem mostram novas formas, novos desafios em Psicopedagogia Clínica e
Institucional pelo Instituto Sedes
e demandas que requerem novas capacidades e Sapientiae (1993); Pós-graduada
conhecimentos dos professores. Dinâmica variada de aula e em Educação Especial pelo
da função docente quanto às teorias e práticas educativas. Centro Universitário Claretiano
(2014). Atua como Professora de
Os professores devem ser capazes de adequarem-se às Educação Infantil na Prefeitura
contínuas mudanças, tanto no conteúdo de seu ensino do Município de São Paulo na
como na forma de ensinar. Emei Marechal Odílio Denys,
atualmente nomeada Assistente
de Diretor de Escola no Cei Jardim
Espera-se dos docentes universitários um conhecimento Peri.
aprofundado de sua área de atuação, com base nas ciências
e com profissionalismo, vinculando o saber com a prática
docente, neste sentido seria de grande importância, um
aprofundamento nos conhecimentos pedagógicos e uma preocupação neste sentido, mesmo
em se tratando de alunos de nível superior.

De acordo com a legislação vigente o órgão responsável pelo planejamento, orientação,


coordenação e supervisão da Política do Ensino Superior é a (Sesu) Secretaria de Educação
Superior, além da responsabilidade de manutenção, supervisão e desenvolvimento das (Ifes)
Instituições Públicas Federais de Ensino Superior e da supervisão das instituições privadas
de educação superior.

256
Revista Educar FCE - Março 2019

O sistema de pós-graduação brasileiro está dividido em lato sensu e stricto sensu, e visa
atender aos milhares de profissionais liberais, professores e estudantes que concluíram
algum tipo de curso superior, e que desejam complementar seus conhecimentos ou formação
acadêmica, para atividades de pesquisa e docência.

257
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de diretrizes e bases da educação nacional nº 9.394/96.
Brasília: Secretaria da Educação, 1996.

CASTANHO, Sérgio & CASTANHO, Maria Eugênia (Org). Temas e Textos em Metodologia do
Ensino Superior. 6ª Ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 2009.

CUNHA, Maria Isabel da. Diferentes olhares sobre as práticas pedagógicas no ensino
superior: à docência e sua formação. Educação Porto Alegre – RS. Ano XXVII, n. 3. 2006.

FREITAS, Helena Costa Lopes de. A reforma do Ensino Superior no campo da formação
dos profissionais da educação: as políticas educacionais e o movimento dos educadores.
Educação & Sociedade, Brasília, v.20, n.68, p.17-44, dez. 1999.

GATTI, Bernadete A. Formação do professor pesquisador para o ensino superior: desafios.


Psicologia da Educação. Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da
Educação. 2003.

GIL, Antônio Carlos. Metodologia do Ensino Superior. 4ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009.

LIBÂNEO, José Carlos. Fundamentos teóricos e práticos do trabalho docente: estudo


introdutório sobre pedagogia e didática. Tese de doutorado. Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. 1990.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática: Velhos e Novos Temas. Goiânia: Edição do Autor, 2002.

PIMENTA, Selma Garrido, Léa das Graças Camargos Anastasiou, and Valdo José Cavallet.
Docência no ensino superior: construindo caminhos. Formação de educadores: desafios e
perspectivas. São Paulo: UNESP, 2003.

PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos. Docência no Ensino
Superior. São Paulo: Cortez, 2002.

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Docência universitária na educação superior. Docência na


Educação Superior. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira. 2006.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O ATO DE BRINCAR NA EDUCAÇÃO


INFANTIL - JOGOS E BRINCADEIRAS
RESUMO: A presente pesquisa tem como objetivo verificar a importância da construção da
aprendizagem da criança através do lúdico na educação infantil, e tem como objetivo mostrar que
o aprendizado construído através da ludicidade que traz benefícios para a criança se desenvolver
no seu ambiente escolar e social, compreender a relevância que o lúdico traz nesse processo
de ensino-aprendizagem através de jogos e brincadeiras. O trabalho se desenvolveu através
de pesquisas bibliográficas pautadas na realidade escolar. Apresenta um pouco da história do
início da educação e procura identificar que a introdução do lúdico nas práticas pedagógicas
pode transformar a aprendizagem infantil prazerosa, possibilitando assim resultados positivos. O
lúdico na educação infantil é conhecimento, construção de forma que as crianças melhorem seu
desempenho no aprendizado, demonstrando a satisfação e o interesse a cada jogo, brincadeira
e a cada novo desafio lançado. Constrói ideias, desafia a sensibilidade, a crítica e a criatividade,
cultiva um ambiente agradável para se construir a base para a formação da maturidade inicial
que auxilia no desenvolvimento educacional. Considerando como atividades lúdicas os jogos,
brincadeiras e músicas, fundamentadas por um expressivo referencial teórico, este trabalho
mostra a forma como devem ser aplicadas as atividades lúdicas na Educação Infantil para que
a criança se torne sujeito ativo do processo educacional, promovendo desenvolvimento físico,
mental e consequentemente, melhorando o desenvolvimento escolar e pessoal.

Palavras-Chave: Lúdico; Educação Infantil; Aprendizado; Criatividade;

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO devem ser aplicadas as atividades lúdicas


na Educação Infantil para que a criança se
A presente pesquisa tem como objetivo torne sujeito ativo do processo educacional,
verificar a importância da construção da promovendo desenvolvimento físico,
aprendizagem da criança através do lúdico mental e consequentemente, melhorando o
na educação infantil, e tem como objetivo desenvolvimento escolar e pessoal.
mostrar que o aprendizado construído
através da ludicidade que traz benefícios para
a criança se desenvolver no seu ambiente CONTEXTUALIZAÇÃO
escolar e social, compreender a relevância HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO
que o lúdico traz nesse processo de ensino-
aprendizagem. INFANTIL

O trabalho se desenvolveu através A criança com toda sua imaginação e


de pesquisas bibliográficas pautadas na inocência consegue fazer tudo que tem
realidade escolar. vontade, não se prende a conceitos ou
preconceitos, simplesmente luta por sua
Apresenta um pouco da história do início satisfação. Segundo TIBA (2006, p.113) é
da educação e procura identificar que a possível ensinar os alunos as regras comuns
introdução do lúdico nas práticas pedagógicas da sociedade:
pode transformar a aprendizagem infantil
prazerosa, possibilitando assim resultados Criar uma criança é fácil; basta satisfazer-lhe
as vontades. Educar é mais trabalhoso. Trata-
positivos. se de prepará-la para viver saudavelmente em
sociedade. (TIBA, 2006, p.113)
O lúdico na educação infantil é
conhecimento, construção de forma que
as crianças melhorem seu desempenho no O SURGIMENTO DA
aprendizado, demonstrando a satisfação e o EDUCAÇÃO INFANTIL NO
interesse a cada jogo, brincadeira e a cada
novo desafio lançado. Constrói ideias, desafia DECORRER DOS ANOS
a sensibilidade, a crítica e a criatividade, cultiva COMO ERA VISTA A
um ambiente agradável para se construir EDUCAÇÃO INFANTIL NO
a base para a formação da maturidade
inicial que auxilia no desenvolvimento PASSADO
educacional. Considerando como atividades
lúdicas os jogos, brincadeiras e músicas, Em 1822 foi proclamada a independência
fundamentadas por um expressivo referencial do Brasil. A lavoura cafeeira vem com todo
teórico, este trabalho mostra a forma como vapor no início do século, e as cidades passam

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Revista Educar FCE - Março 2019

se tornam os polos dinâmicos do crescimento período republicano que podemos observar


capitalista interno. Neste contexto cria-se os registros de creches públicas no Brasil.
a primeira escola oficial do Rio de Janeiro
(1880). No ano de 1888 foi sancionada a lei A creche tinha o objetivo de proporcionar
Áurea, oficialmente Lei Imperial nº 3.353, assistência à criança que era privada dos
que acaba com o sistema escravo no país. cuidados maternos por conta do trabalho da
Com isso se deu o início do recebimento de mãe, possuindo como intensão primordial
um número cada vez maior de imigrantes que impossibilitar o abandono das mesmas por
vinham à procura de trabalho assalariado. seus responsáveis. O jardim de infância tinha
a intenção de exercer a função de moralizador
Com todas estas alterações nasce um da cultura, passando para as crianças os
impasse: o que deve-se fazer com a educação mesmos padrões utilizados na França e na
das crianças que possuem menos de 07 anos? Bélgica. Sendo então “um antídoto contra
Na época a escola primária apresentava-se as ameaçadoras práticas que ensejavam
organizada de duas diferentes maneiras: de solidariedade com os setores explorados de
07 a 13 anos compreendia o ensino primário nossa sociedade” (KUHLMANN, 2000, p.
e de 13 a 15 o secundário. Até então a mãe 476).
cuidava do filho e protagonizava a educação,
naquele momento, abalizada como inicial, No que diz respeito à educação infantil,
entretanto com a lei do ventre livre e a ela acabou sendo discutida com mais elevada
pobreza das famílias, diversas delas tendiam importância no 1º Congresso Brasileiro
a abandonar os seus bebês ou entregando- de Proteção à Infância, ocasião em que se
os a “Roda dos Expostos” que permaneceu divulgou um levantamento da quantidade de
até o ano de 1950. creches e jardins de infância, apresentando
um total de 30 no ano de 1921. Na estatística
No ano de 1875 nasceu o primeiro efetuada para o segundo congresso (1924)
jardim de infância particular brasileiro, podia-se observar cerca de 47 creches e
elaborado por Menezes Vieira no Rio de 42 jardins, entretanto, infelizmente este
Janeiro, e mesmo que sua escola atenda congresso acabou não acontecendo.
a elevada aristocracia da época, Menezes
saia em defesa de que os jardins de infância Na concepção de KUHLMANN (2000), O
precisariam dar assistência às crianças negras jardim-de-infância passa a apresentar uma
libertas por conta do ventre livre e às com definição:
pouca condição econômica. No decorrer do
ano de 1882, Rui Barbosa evidencia que os Aos poucos, a nomenclatura vai deixar de
considerar a escola maternal como se fosse
jardins de infância precisariam desenvolver aquela dos pobres, em oposição ao jardim-de-
de maneira harmônica a criança. Entretanto, infância, passando a defini-la como a instituição
mesmo com todo este discurso é somente no que atenderia à faixa etária dos 2 aos 4 anos,
enquanto o jardim atenderia de 5 a 6 anos.

261
Revista Educar FCE - Março 2019

Mais tarde, essa especialização etária irá se


incorporar aos nomes das turmas em instituições educativo, abalizada como sendo a primeira
com crianças de 0 a 6 anos (berçário, maternal, etapa da educação Básica. Ela passa a ter
jardim, pré).(KUHLMANN, 2000, p.482) um papel transcendental como o primeiro
e mais importante passo para a efetivação
Através da regulamentação do trabalho de uma educação integral, proporcionando
feminino no ano de 1932, as creches a fundamentação para a constituição de
em organizações que possuíam mais de seres críticos, participantes, criativos que
30 funcionárias passam a ser de caráter procurem fazer uma renovação constante de
obrigatório. Esta realidade passou a fazer si mesmo e da sociedade.
parte da Constituição de 1988 no tocante da
educação infantil, onde está previsto creches A referência nacional para educação infantil
gratuitas para crianças de zero a seis anos, (1998, p. 23), evidencia sua compreensão
que se destinam as mães trabalhadoras. sobre este assunto assim:
Na perspectiva da Revista HISTEDBR On-
line, Artigo A. Educação Infantil na Década É importante salientar que hoje a Educação Infantil
não pode ser mais considerada apenas como um
de 1990, a pré-escola no Brasil vivenciou lugar de cuidados básicos de higiene, mas deve-
três fenômenos muito relevantes: se considerar, portanto que cuidar e educar devem
estar agregados. (BRASIL, 1998, p.23)
Para o pesquisador Vital Didonet, entre 1980 e
1990 a pré-escola no Brasil passou por esses três
fenômenos marcantes: A expansão quantitativa; Já os dizeres de KUHLMANN JÚNIOR
a formulação de propostas pedagógicas para o (2007) evidenciam o seu parecer no contexto
trabalho com crianças nos centros pré-escolares; de que é necessário melhorar para que se
e o reconhecimento do direito da criança à
educação desde o nascimento. Nos anos 80 uma alcance o padrão suficiente de qualidade:
crítica à educação compensatória, entendida
como aquela que compensa a ausência materna, A rede de educação infantil é bastante
reforça a expansão da pré-escola e coloca heterogênea. Se pensarmos no Brasil inteiro
em discussão a necessidade de qualidade no em termos de creches e pré-escolas, veremos
trabalho pedagógico com as crianças de 0 a 6. que há diferenças marcantes entre estas duas
instituições e entre as regiões ou tipos de
sistemas. A Constituição de 1988 incluiu a
educação infantil no sistema educacional, mas
A EDUCAÇÃO INFANTIL VISTA a Lei de Diretrizes e Bases, que instituiu essa

NOS DIAS ATUAIS inclusão, só ficou pronta em 1996. Desde então,


11 anos já se passaram e não podemos dizer
que, efetivamente, a educação infantil esteja
Assim como se faz observar na Lei de integrada ao sistema educacional como a lei
Diretrizes e Bases da Educação Nacional determina. Há muitas coisas ainda a serem feitas
para ver esta integração. Isto traz consequências
(Lei 93 94/96 – art.29), a Educação infantil para a qualidade das instituições. Falo no sentido
no Brasil no decorrer de inúmeros anos foi de haver uma estrutura de suporte dos sistemas
dar assistência, atualmente constitui um municipais para este tipo de rede. A educação
infantil custa caro, pois quanto menor a criança,
segmento de muita relevância no processo a proporção adulto/criança deve ser maior.

262
Revista Educar FCE - Março 2019

O que as prefeituras muitas vezes têm feito é


tentar escapar desta necessidade de incorporar Atualmente a Educação infantil começou a
as creches ao sistema educacional, lançando ser compreendida por uma nova perspectiva,
programas com a denominação de “alternativos”. dando mais valor a criança e sua cultura,
É claro que, do ponto de vista da assistência
social, é interessante que se desenvolva o maior considerando-a ativa e com capacidade de
número de programas para assistir às famílias, elaborar o seu próprio conhecimento. O
mas isto não pode ser feito em detrimento da professor se responsabiliza uma nova função,
organização do sistema de educação infantil. Há
certa resistência dos municípios em implementar a de mediador entre a criança e o mundo. A
esta rede de modo a atender a população em família participa em conjunto deste processo
uma escala mais ampla. (KUHLMAN, 2007, p.33) de ensino-aprendizagem e os conteúdos
são desenvolvidos de uma forma lúdica,
A realidade causa preocupações, propiciando respeito a bagagem cultural de
crianças queimam etapas importantes de cada um. Através deste objetivo que se criou
desenvolvimento e aprendizagem. Outro o Referencial Curricular Nacional para a
ponto importante e crítico é a falta de Educação Infantil, de modo a disponibilizar a
investimento público para desenvolvimento todas as escolas novas propostas pedagógicas
e a desvalorização dos profissionais. Vem se direcionadas para a criança tal como ela é.
discutindo a qualificação dos profissionais
que trabalham com educação infantil. A concepção de DIDONET (2001) leciona
Hoje não se pode continuar a deixar a que a criança é um ser pequenino, entretanto
educação infantil para segundo plano, onde exuberante de vida.
qualquer pessoa pode cuidar das crianças.
Cuidar não é suficiente, é necessário Falar da creche ou da educação infantil é muito
mais do que falar de uma instituição, de suas
desenvolver seu senso crítico e para isso os qualidades e defeitos, da sua necessidade social
profissionais precisam estar em constante ou da sua importância educacional. É falar da
desenvolvimento. Os profissionais que atuam criança. De um ser humano, pequenino, mas
exuberante de vida. (DIDONET, 2001, p.12).
nas escolas infantis devem possuir uma
formação sólida e consistente, acompanhada
de uma permanente e adequada atualização
em serviço, como é o caso das formações DEFINIÇÃO DO CONCEITO
continuadas que acontecem hoje nas escolas. DE LUDICIDADE
Sendo assim, é de responsabilidade das Surge através do “lúdico que é um adjetivo
redes de ensino fazer investimentos de masculino com origem no latim ludos que
maneira sistemática para a capacitação remete para jogos e divertimento” (BUENO,
de seus profissionais por meio de cursos dicionário Silveira Bueno).
de formação, assim como aproveitando as
experiências acumuladas daqueles que já A ludicidade é de extrema importância
trabalham com crianças há mais tempo. para o desenvolvimento mental da criança,

263
Revista Educar FCE - Março 2019

essas atividades deixam-nas livres para IMPORTÂNCIA DO CUIDAR


criar seu mundo de fantasias e estimular a E EDUCAR NA EDUCAÇÃO
imaginação. A sala de aula fica muito mais
leve e agradável, pois proporcionam às INFANTIL
crianças a oportunidade de ser livre para
criar. Com as brincadeiras o professor é capaz Realizar trabalhos com crianças pequenas,
de acompanhar o desenvolvimento cognitivo a primeira vista é de grande relevância
das crianças, pois o lúdico desenvolve conhecer seus interesses e necessidades.
atividades motoras e facilita a aprendizagem. Em outras palavras, saber na realidade quem
são e um pouco da história de cada uma,
Observando informações do conhecer a família, as peculiaridades que a
REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL sua faixa etária apresenta. Desta maneira
PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL – (1998. 3v.: se torna possível compreender quais são
il. Volume 1: Introdução; volume 2: Formação as reais possibilidades destas crianças,
pessoal e social; volume 3: Conhecimento salientando que, para elas, a etapa inicial é
de mundo. 1. Educação infantil. 2. Criança a porta de entrada para uma vida social mais
em idade pré-escolar. I. Título. CDU 372.3), ampla, longe do ambiente familiar.
podemos ver que as crianças transformam
brincadeiras e conhecimento: A ação pedagógica de consciência é o
cuidar e o educar, estabelecer uma visão
Nas brincadeiras, as crianças transformam os integrada do desenvolvimento da criança
conhecimentos que já possuíam anteriormente
em conceitos gerais com os quais brincam, respeitando a diversidade, o momento e
por exemplo, para assumir um determinado a realidade de cada uma são fundamentais
papel numa brincadeira, a criança deve para o processo educativo.
conhecer algumas de suas características. Seus
conhecimentos provem da imitação de alguém
ou algo conhecido, de uma experiência vivida O educador precisa estar em permanente
na família ou em outros ambientes, por relato observação e vigilância, para que o dia a dia
de uma coleta ou adulto, de senas assistidas
na TV, cinema ou narradas em um livro. A fonte não se transforme em rotinas mecanizadas,
de seus conhecimentos é múltipla, mas estes em regras pré-determinadas. Cuidar e educar
se encontram, ainda, fragmentados. É o ato de significa que a criança compreende o espaço/
brincar que a criança estabelece.
tempo. Ela precisa do apoio dos adultos
auxiliando a superar progressivamente a sua
criatividade, desenvolvendo a curiosidade e
maturidade. Garantir situações de cuidado,
brincadeiras e aprendizagens, contribui
para o desenvolvimento da capacidade
infantil. Aumenta a relação interpessoal,
respeito, confiança e o acesso às crianças

264
Revista Educar FCE - Março 2019

promoção da saúde. Para se atingir os objetivos


ao desenvolvimento das capacidades dos cuidados com a preservação da vida e com
de potencialidades corporais, afetivas, o desenvolvimento das capacidades humanas,
emocionais, estéticas e éticas, formando é necessário que as atitudes e procedimentos
estejam baseadas em conhecimentos específicos
seres felizes e saudáveis para uma sociedade sobre desenvolvimento biológico, emocional,
de base mais sólida. e intelectual das crianças, levando em conta
diferentes realidades socioculturais. (BRASIL,
1998, p.25)
Cuidar e educar passam a ser uma única
tarefa, o que no passado era tratado de forma
separada por instituições e profissionais Na função designada ao cuidar, é evidente
distintos, com este novo conceito, a o comprometimento do professor com a
educação infantil trata de forma unificada. criança, o contexto sócio-cultural surge como
No passado, as instituições organizavam determinante nas construções humanas e
seu espaço e sua rotina diária em função nas necessidades básicas de sobrevivência,
de ideias de assistência, de custódia e de diferentes em cada cultura. A compreensão
higiene da criança, esquecendo que educar do que a criança sente e pensa o que traz
fazia parte fundamental no processo de consigo, a sua história e seus desejos cria
desenvolvimento. Esse formato impedia que a capacidade de construção da grande
a criança sonhasse, fantasiasse e realizasse diversidade de experiências e brincadeiras
desejos. que se focam na linguagem infantil.

Alterar a concepção de educação Cabe ainda ressaltar que as instituições


assistencialista engloba que, especialmente, de educação infantil incorporem de forma
se responsabilizar pelas especificidades da integrada os papeis de cuidar e educar, não
educação infantil e rever princípios no que mais diferenciando, nem hierarquizando os
diz respeito à infância, as relações entre profissionais e instituições que trabalham
classes sociais, às responsabilidades da com crianças pequenas ou àqueles que
sociedade e a função do Estado diante de atuam com as de mais idade.
crianças pequenas.
Se fundamentando em dados do BRASIL, Informações do governo do BRASIL,
(1998, p. 25), as necessidades das crianças (1998, p.23) evidenciam que as crianças
precisam ser levadas em consideração, elas desenvolvem a identidade com a interação.
trazem dicas muito relevantes para nosso
meio educacional. A instituição de educação infantil deve tornar
acessível a todas as crianças que a frequentam,
indiscriminadamente, elementos da cultura
O cuidado precisa considerar, principalmente, que enriquecem o seu desenvolvimento e
as necessidades das crianças, que quando inserção social. Cumpre um papel socializador,
observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar propiciando o desenvolvimento da identidade
pistas importantes sobre a qualidade do que das crianças, por meio de aprendizagens
estão recebendo. Os procedimentos de cuidado diversificadas, realizadas em situações de
também precisam seguir os princípios de interação. (BRASIL, 1998, p.23)

265
Revista Educar FCE - Março 2019

Sendo assim, educar é proporcionar buscando construir junto com elas novos
às crianças, condições para que as recursos, novas tentativas, de maneira que
aprendizagens aconteçam nas brincadeiras a aprendizagem seja alcançada. Passa então
e precisam ser orientadas pelos adultos de a ser necessária uma parceria de todos para
maneira intencional com teorias que surgem o bem-estar do educando. Cuidar e educar
das orientações pedagógicas. Para que isto envolve pesquisa, dedicação, cooperação,
ocorra é necessário vivencia o sentido, a cumplicidade e, especialmente, amor de
percepção. todos os responsáveis pelo processo, que
apresenta-se dinâmico e em constante
Nessa concepção, “o professor precisa evolução.
saber selecionar as situações importantes
dentro da sala de aula, percebendo o Em todas as situações onde se relaciona
sentido de forma a auxiliar no processo de com outros indivíduos, se é educador e
aprendizagem e desenvolvimento de cada educando, isso porque se ensina, aprende-se
criança” (VYGOTSKY, 1991). Entretanto, trocando experiências e pratica-se o cuidar
cabe ainda salientar que estas aprendizagens, e o educar nas mais variadas atividades
de natureza variada, acontecem de maneira do dia a dia. As crianças pequenas ainda
integrada no processo de desenvolvimento estão desvendando o mundo, tudo é novo,
infantil. precisa ser trabalhado e aprendido, não são
independentes e autônomas para os próprios
Desta maneira, o processo educativo cuidados pessoais, necessitam de ajudada e
efetua-se diversas maneiras: na família, orientação para construir hábitos e atitudes
na rua, nos grupos sociais e, também, na corretas, fomentadas na fala e aprimoradas
instituição. Educar, nesta primeira fase da em seu vocabulário.
vida, não deve ser confundido com cuidar,
ainda que crianças de zero ano precisem Os dizeres de MACHADO (2001, p.51)
de cuidados muito importantes para que lecionam que brincar, construir e expressar-
se assegure sua própria sobrevivência. O se é a mesma coisa.
que precisa então ser discutido não são os
cuidados que as crianças precisam receber, Por volta dos cinco anos, então, brincar, construir
e expressar-se podem ser uma coisa só: a criança
entretanto as formas como elas precisam constrói cenas, objetos, cenários para sua
recebê-los, já que se alimentar-se, assear- brincadeira enquanto está se auto-expressando,
se, brincar, dormir, interagir são direitos da verbalmente e de outras formas também,
imaginárias ou simbólicas. (MACHADO, 2001,
infância. p. 51)

O educador necessita observar o


desenvolvimento e habilidade da criança como
uma formação inacabada, incessantemente

266
Revista Educar FCE - Março 2019

O PAPEL DA LUDICIDADE seria capaz de transcender os sentimentos e


E DO BRINCAR NO emoções das crianças.
DESENVOLVIMENTO As atividades lúdicas são qualquer atividade
INFANTIL que propicia a experiência por completo
do momento vivenciado pela criança, com
Os primeiros anos de vida são de grande esse contexto a criança consegue assimilar
importância na formação de uma criança, melhor o seu ato, o seu sentimento e o seu
isso porque é nesse período que a mesma pensamento. E para isso essa atividade deve
começa a constituir a sua identidade, ser coordenada e dirigida de forma correta,
estrutura física, afetiva e intelectual, é para que a vivência da mesma propicie novas
nesta etapa que precisamos adotar muitas experiências estimulantes para a criança.
estratégias, dentre elas as atividades lúdicas
que propiciam o desenvolvimento positivo Nas brincadeiras de faz de conta é
da criança, assegurando-lhe condições mais notório o quanto as crianças são criativas,
corretas para aprimorar suas competências. desempenham papéis, constroem
personagens, respeitam limites e se interagem
Na concepção de VIGOTSKY, com o no grupo, sendo assim as brincadeiras é uma
brinquedo a criança constrói relações com aprendizagem social.
os objetos, veja o relato:
Ainda na concepção de VYGOTSKY, “O
Com o brinquedo a criança constrói suas relações brinquedo cria uma zona de desenvolvimento
com os objetos, relações de posse, de utilização,
de abandono, de perda, de desestruturação que proximal da criança”.
constituem na mesma proporção, os esquemas
que ela produzirá com outros objetos na sua No brinquedo, a criança sempre se comporta
vida futura. Cercar a criança de objetos, tanto além do comportamento habitual de sua
no quadro familiar quanto no quadro das idade, além de seu comportamento diário; no
coletividades infantis (creches, pré-escolas), é brinquedo é como se ela fosse maior do que
inscrever o objeto, de um modo essencial, no é na realidade. Como no foco de uma lente
processo de socialização e é também, dirigir em de aumento, o brinquedo contém todas as
grande parte a socialização para uma relação tendências do desenvolvimento sob forma
com o objeto. (VIGOTSKY, 1984, p. 64) condensada, sendo, ele mesmo, uma grande
fonte de desenvolvimento”. (VYGOTSKY, 1989,
p.117)

Atualmente se faz observar instituições


de ensino imobilizando as crianças atrás de A criança que participa das atividades
uma mesa sentadas em uma cadeira, e assim lúdicas absorve novos conhecimentos e suas
restringindo o desenvolvimento motor e habilidades são desenvolvidas naturalmente,
psicossocial, não levando em consideração a o que torna para ela algo bem agradável,
relevância do brincar e de que maneira ele prazeroso e interessante.

267
Revista Educar FCE - Março 2019

O educador possui a possibilidade de A criança encontra através do lúdico o


trabalhar jogos, brincadeiras, para que isto equilíbrio entre o real e o imaginário. Na
ocorra é preciso a vivencia, o sentido, a infância o ato de brincar e buscar experiências
percepção. É necessário ao professor saber em grupos envolve atividades físicas, mentais
selecionar as ocasiões mais relevantes e sociais que desenvolvem o emocional e a
dentro da sala de aula, observando o sentido comunicação estes seguem até a vida adulta
e de que maneira irá ajudar o seu processo onde a criança apresenta características
de aprendizagem. O lúdico, na educação desenvolvidas de regras sociais e morais
infantil é de extrema relevância para o adquiridas com a prática do lúdico.
desenvolvimento da criança, isso porque
é atividade primária, a qual resulta em Já na compreensão de HORN (2004),
um benefício e aspecto físico, intelectual que apresenta o brinquedo como satisfação
e social. Podendo brincar, a criança das necessidades básicas da aprendizagem
desenvolve identidade e autonomia, tal infantil.
como a capacidade de socialização, por meio
da interação e experiências de regras diante O brinquedo satisfaz as necessidades básicas
de aprendizagens das crianças, como, por
da sociedade. exemplo, as de escolher, imitar, dominar,
adquirir competências, em fim de ser ativo em
Na Educação infantil a criança brinca, um ambiente seguro, o qual encoraje e consolide
o desenvolvimento de normas e valores sociais.
joga, dança tudo isso através das atividades
(HORN, 2004, p. 71).
lúdicas, e com isso é propiciado o agir, o
sentir, o pensar, dentro desse contexto ela
se desenvolve social e cognitivamente. A criança compreende com as brincadeiras,
A educação lúdica não é passatempo, músicas, costumes e valores o gosto de
brincadeira vulgar, diversão superficial. O aprender, tornando interessante e prazeroso
brincar na ludicidade é algo sério, é uma ação o uso do lúdico para aprimoramento do
inerente na criança, e aparece sempre em seu desenvolvimento social, cultural e
busca de algum conhecimento e de forma psicológico. De modo que com o uso das
transicional, transformando o pensamento contribuições históricas, passamos a ver
individual em coletivo. Essa educação com a educação lúdica como possibilidade de
base no lúdico traz um significado profundo desenvolvimento intelectual e físico, que
e se faz presente em todos os segmentos será usado por toda a vida.
da vida. Por exemplo, a criança que brinca
de boneca não está apenas se divertindo, As palavras de NACHMANOVITCH
ela está desenvolvendo diversas funções (1993) lecionam que a criança é comparada
cognitivas, sensórias e até mesmo sociais, diante do trabalho criativo com os diversos
pois o brinquedo não determina a brincadeira materiais.
da criança.

268
Revista Educar FCE - Março 2019

O trabalho criativo e divertimento; é a livre


exploração dos materiais que cada um escolhe. É muito importante que o lúdico seja
A mente criativa brinca com os objetos que ama. sempre motivado, pois é essencial na vivência,
O pintor brinca com a cor e espaço. O músico no crescimento saudável e natural de todas
brinca com o som e o silêncio. Eros brinca com
as amantes. Os deuses brincam o universo. As as crianças, além de ser importante para a
crianças brincam com qualquer coisa que possam formação crítica e criativa. Portanto ele deve
pôr as mãos. (NACHMANOVITCH, 1993, p.43) estar inserido nas atividades curriculares já
no momento do planejamento das aulas.
O brincar tem um significado especial
para a educação, pois a criança percebe o
meio em que vive e passa a conviver com DESENVOLVENDO ATITUDES
suas limitações, favorecendo assim sua DE AUTONOMIA ATRAVÉS
autonomia.A atividade lúdica jamais deverá
ser imposta e muito menos obrigatória, ela DO LÚDICO
deve ter um caráter livre. O professor deve
ter a consciência de oferecer atividades O brincar é o impulso natural da criança,
adequadas a cada fase do desenvolvimento com jogos e brinquedos elas intercalam a
dos seus alunos para respeitar esta liberdade. realidade e o faz de conta. O processo de
É direito de toda criança brincar, os ensino-aprendizagem é embasado pelo uso
educadores têm o compromisso de do lúdico de forma a ser capaz de desenvolver
possibilitar essa vivência, assegurando a um impulso natural da criança, que aliado à
sobrevivência dos sonhos e promovendo aprendizagem torna-se mais fácil à obtenção
o prazer de viver. Dessa forma, para do aprender devido à espontaneidade das
conhecer cada criança é preciso começar a brincadeiras através de uma forma intensa e
percebê-la a partir do ponto de vista dela total.
própria, reconhecendo a necessidade de
um momento para atividades lúdicas na No mundo do faz de contas, sonhar é
escola, onde acontecem diferentes formas descobrir através do trabalho que é possível
de comunicação, uma vez que é através formar e desenvolver crianças brincando
das brincadeiras que a criança se conhece, e aprendendo no ambiente escolar,
relacionando-se com outros, explorando transformando estes jogos e brincadeiras
objetos, experimentando situações de vida, em atividades prazerosas. A vivência na
hora de competição, hora de cooperação. educação infantil merece uma atenção de
A criança nessa fase ainda não assimila a forma especial, a cada momento uma nova
consciência do outro, mas a mesma gosta de descoberta, com dinâmicas construtivas
brincar, conversar e compartilhar com alguém deixando e facilitando para cada momento.
as suas vivencias, e é a partir daí que elas A criança fantasia, sonha, mas tudo isso com
adquirem a socialização e a tão importante uma realidade vivida, na família, na escola.
convivência. De forma que desenvolve um processo

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Revista Educar FCE - Março 2019

construindo um novo jeito de brincar e de brincar na sua infância, mais possibilidades


saber. A criança pensa de forma satisfatória ela terá na sua vida adulta. Por isso o brincar
como trata tudo que faz como que pensa significa compreender o ato de pensar e de
e como ela brinca. Por isso a brincadeira aprender a pensar, dando sentido de estar
direcionada é importante no desempenho junto no mundo.
da ludicidade. O ambiente escolar deve
ser transformado de forma que os jogos
e brincadeiras passem a serem atividades A IMPORTÂNCIA DA
construtivas para o dia a dia de cada um, ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO
considerando que durante este tempo. O
espaço seja para que eles desenvolvam toda LÚDICO NAS SALAS DE
sua atividade motora, o lúdico precisa ser EDUCAÇÃO INFANTIL
visto como uma atividade prazerosa tornando
o trabalho em sala de aula um aprendizado. O espaço é importante para as
Para que isso aconteça é preciso trabalhar crianças, pois é nele que ocorrem muitas
em diversos temas interessantes, o espaço aprendizagens que se realizam nos primeiros
deve ser tranquilo e calmo, estimulando as anos de vida e, sendo assim, ele tem de
crianças a desenvolver suas atividades e ser disponível e acessível a elas. A escola
capacidades, a aprender, conviver e respeitar não deve ser apenas uma transmissora
regras. de conhecimentos, mas um ambiente
estimulador que valorize a descoberta e a
O mundo infantil é cheio de fantasia, invenção, e, se assim acontecer, a criança
sonhos, descobertas, as crianças com fica mais motivada a querer sempre mais
suas brincadeiras têm oportunidade de conhecimentos, desenvolvendo, desse modo
construir, conhecer e crescer socialmente. a sua criatividade e criticidade. O meio físico
As brincadeiras os normais tomam o maior onde a criança está inserida contribui com o
tempo na infância e é através delas que nasce desenvolvimento da autonomia, capacidade,
a espontaneidade, com elas as crianças se sensibilidade, experimentar, descobrir e usar
conhecem, se socializam no contexto familiar a criatividade. A instituição deve oferecer
e social. ambientes estimuladores, tornando, assim, o
espaço um instrumento essencial para uma
Assim, o lúdico é chave central na boa qualidade de ensino.
educação infantil e no desenvolvimento
das crianças. DRUMMOND (2003, p.99) O meio influencia a aprendizagem
explica a relação do brincar e aprender: “A da criança, elas interagem de maneira
dificuldade pedagógica está justamente espontânea, em meios lúdicos. Sendo assim,
em aceitar que brincar é aprender, e que a criança nasce precisando de espaços que
aprender é brincar.” Quanto mais a criança lhe ofereçam liberdade em movimentos

270
Revista Educar FCE - Março 2019

que possibilitem sua socialização com o A brincadeira é um universo que envolve


mundo e com as pessoas que a cercam. O a criança, apresentar novos elementos
lúdico na sala de aula pode ser representado partindo do olhar que ela tem do mundo
por espaços decorados que possibilitem que a cerca, do mundo que pode ser criado
o desenvolvimento de atitudes relativas à através do faz-de-conta, oportuniza um
vida social das crianças. Trabalhar a ética, maior interesse por estas novas informações
cidadania, e trazer ao dia a dia uma formação e por consequência possibilita um maior
de conceitos enquanto brincadeiras aprendizado.
acontecem. A criança se estabelece no espaço
como uma relação natural e por intermédio Através da contextualização entre o
das brincadeiras que as crianças partilham, conteúdo que se pretende trabalhar e
de momentos prazerosos com o próximo, uma atividade lúdica, é possível acreditar
conhecem-se mutuamente. Também, nos no trabalho em educação sem haver a
espaços lúdicos, os jogos e brincadeiras ali dissociação entre o brincar e o aprender. A
desenvolvidos podem servir de apoio ao contextualização do conteúdo trabalhado em
professor, para diagnosticar as dificuldades jogos e brincadeiras pode ser uma estratégia
discentes, os seus desenvolvimentos nas para a construção de uma prática pedagógica
questões de estratégias, o respeito às regras através do ato de brincar sem que o professor
e ao colega. Sendo assim, pode-se afirmar separe a hora de “ensinar” e a hora de
que o educador estará mais próximo das “brincar”. Para ser possível separar o brincar
crianças, quando as atividades são lúdicas do ensinar o espaço precisa ser preparado
e mais dinâmicas. Pode-se constatar que para que o lúdico seja apresentado de forma
o lúdico vivenciado no contexto escolar, natural. A cada dia as crianças ficam mais
em relação às crianças, facilita-lhes a tempo na escola, para ser possível o uso do
aprendizagem e o desenvolvimento integral lúdico na educação é necessário que escola
em todos os aspectos. Enfim, desenvolve apresente um ambiente onde seja possível
o indivíduo como um todo, e, por isso, a ocorrer brincadeiras.
educação infantil usa este método como
fonte de formação para as crianças. Considerando-se as especificidades afetivas,
emocionais, sociais e cognitivas das crianças de
zero a seis anos, a qualidade das experiências
Para KISHIMOTO (1993) existe uma oferecidas que podem contribuir para o
esfera entre o social e o moral para a criança: exercício da cidadania devem estar embasadas
nos seguintes princípios: o respeito à dignidade
“Quando desenvolvido livremente pela e aos direitos das crianças, consideradas nas
criança, a brincadeira tem efeitos positivos suas diferenças individuais, sociais, econômicas,
na esfera cognitiva, social e moral” (1993, culturais, 32 étnicas, religiosas etc.; o direito
das crianças a brincar, como forma particular
p.102). de expressão, pensamento, interação e
comunicação infantil; o acesso das crianças
aos bens socioculturais disponíveis, ampliando
o desenvolvimento das capacidades relativas à

271
Revista Educar FCE - Março 2019

expressão, à comunicação, à interação social, ao


pensamento, à ética e à estética; a socialização
LÚDICO EM JOGOS
das crianças por meio de sua participação
e inserção nas mais diversificadas práticas
EDUCATIVOS
sociais, sem discriminação de espécie alguma; o
atendimento aos cuidados essenciais associados A ludicidade possibilita também a criação,
à sobrevivência e ao desenvolvimento de sua aflora a imaginação das crianças, elas se
identidade (BRASIL, 1998, p.13). tornam capazes de transformar um objeto
em algo real, quantas vezes encontramos
As escolas de educação infantil podem crianças usando latinhas de refrigerante
ser vistas como um local que favorece o como se fosse um carrinho, ou também
desenvolvimento infantil em seus diversos pode ser citado um brinquedo que é bem
sentidos, e o referencial da Educação Infantil conhecido, o jogo de botão onde imaginam
ao contemplar a brincadeira como uma das que os botões são jogadores.
questões presentes durante a vivência para
as crianças que fazem parte deste universo, Jogos educativos, cantigas de roda,
já apontam a importância dessa ação para o exercícios que estimulem a competição e
desenvolvimento e para o aprendizado da cooperação, são exemplos bem simples
criança. Esse espaço para o brincar dentro de se trabalhar o lúdico na escola. O lúdico
da escola através da inclusão do lúdico transforma o âmbito escolar menos cansativo,
nas propostas pedagógicas, possibilitam ele foge do ritual tradicional de chegada à
o desenvolvimento infantil, sobretudo, escola, aprendizagem padrão na sala de aula,
quando se trata da questão do imaginário, ida ao recreio, retorno a sala de aula, e em fim
da aquisição dos símbolos quando a criança a volta para casa. Muitas vezes a criança não
faz associações e recria no momento em que consegue falar de si mesmo, o lúdico é também
brinca proporcionando novas vivências e por uma maneira de interação social da criança
consequência desenvolvimento. com o mundo. Estimula também a criatividade
e torna o ambiente escolar mais atraente
Por meio dos jogos, a criança desenvolve para a aprendizagem. Nos últimos tempos
o senso de companheirismo, aprende a o jogo se tornou objeto de interesse para
conviver, a respeitar regras. Os jogos devem psicólogos, educadores, pesquisadores, como
constituir-se em atividades permanentes, decorrência da sua importância na educação
seja de modo lúdico ou didático, podendo infantil e por ser uma prática que auxilia o
contribuir para o desenvolvimento do desenvolvimento da criança e a construção do
raciocínio lógico, ampliação do vocabulário e seu potencial de conhecimentos. Na educação
a descobrir conceitos matemáticos. configurou-se um espaço natural de jogos e
brincadeiras e muito tem favorecido o ensino
e a aprendizagem e acredita que os jogos e as
brincadeiras são condições favoráveis para a
aprendizagem matemática.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Com a participação ativa da criança e a dos profissionais de educação de seu


atividade lúdica tem servido de argumentação processo de ensinar, a partir da redescoberta
para favorecer a concepção segundo a qual do brincar e, concomitantemente, do
aprende matemática brincando. ensinar, é desenvolvido o jogo com base
no conceito filosófico de Rizoma 1 , que
consiste na percepção da realidade em toda
O BRINCAR PAUTADO NO sua complexidade, ou seja, nos permite
LÚDICO COMO AÇÃO E estabelecer conexões entre aspectos
aparentemente distintos. Essa nova
PRODUÇÃO PEDAGÓGICA ferramenta de trabalho possibilita mostrar
NA EDUCAÇÃO INFANTIL ao grupo de crianças que desde beber um
copo de suco, lavar as mãos, se alimentar, até
Há a necessidade da consciência do resgate brincar de bola e fazer desenhos são ações
do brincar para aprender, utilizando jogos, que despertam diferentes conhecimentos e
desenhos, linguagens, técnicas, atividades percepções no universo infantil. A percepção
estéticas diversificadas e temáticas dos resultados através da implementação do
culturais contemporâneas multifacetadas lúdico 2 como metodologia principal, garante
como possibilidades da evolução de sua aos professores um desenvolvimento
expressão e criatividade. O pressuposto é educacional superior.
que o processo de criação infantil deve ser
ponto de partida da rotina, encorajando os O processo de ensino verticalizado, com
educadores a descobrir que as situações conteúdos formais e desconectados da
diferentes do dia a dia, nada mais eram que realidade dos estudantes não traz tanta
momentos de descobertas, daí um conjunto riqueza de experiências como esta atividade
de iniciativas planejadas com começo, meio e que se apresenta recreativa, onde a criança
fim foram aplicadas para o aprofundamento aprende com as brincadeiras. Não adianta eu
destas questões. chegar com um conteúdo fechado e explicar,
porque não funciona.
Dessa forma, através da percepção da
organização em meio ao caos, da necessidade Diversas linguagens devem ser trabalhadas
de se extrair conceitos que estavam sendo nesta proposta, linguagens que levam em
exprimidos pelos alunos durante os momentos conta as particularidades que cada estudante
de brincadeira e de atividades rotineiras do trás para a educação formal, experiências
cotidiano, existe a própria redescoberta únicas que absorveram anteriormente em
1 Rizoma é um modelo descritivo ou epistemológico na teoria filosófica de Gilles Deleuze e Félix Guattari. A noção de rizoma foi adotada da estrutura de algumas plantas cujos brotos podem ramificar-se em qualquer ponto,

assim como engrossar e transformar-se em um bulbo ou tubérculo; o rizoma da botânica, que tanto pode funcionar como raiz, talo ou ramo, independente de sua localização na figura da planta, servindo para exemplificar um

sistema epistemológico onde não há raízes - ou seja, proposições ou afirmações mais fundamentais do que outras - que se ramifiquem segundo dicotomias estritas. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Rizoma_(filosofia).

2 Atividade lúdica é todo e qualquer movimento que tem como objetivo produzir prazer quando de sua execução, ou seja, divertir o praticante. Sumariamente teríamos as seguintes características sobre elas:- são brinquedos ou

brincadeiras menos consistentes e mais livres de regras ou normas;- são atividades que não visam a competição como objetivo principal, mas a realização de uma tarefa de forma prazerosa;- existe sempre a presença de motivação

para atingir os objetivos. Desde os filósofos gregos que se utiliza esse expediente para ajudar os aprendizes. As brincadeiras e jogos podem e devem ser utilizados como uma ferramenta importante de educação. Frequentemente,

as atividades lúdicas também ajudam a memorizar fatos e favorecem em testes cognitivos. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Atividade_l%C3%BAdica. Acesso em:

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Revista Educar FCE - Março 2019

suas residências, com seus responsáveis, em A AUSÊNCIA DO LÚDICO NA


sua comunidade, no relacionamento familiar, EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS
com amigos, através dos meios midiáticos e
de sua cultura particular, portanto valorizar
CONSEQUÊNCIAS
essas nuances de forma prática foi uma
oportunidade para os profissionais de A educação de modo geral, vem passando
repensar a metodologia que estava sendo por uma crise duradoura no sentido da busca
aplicada. Diante da amplitude da proposta, por um significado maior para a mesma. As
que abrange linguagens que vão dos respostas tradicionais já não resultam mais
movimentos corporais até a música e artes na concordância do coletivo.
visuais, é necessária a mudança na forma de
pensar e atuar desses profissionais no que se Diretores, coordenadores, pedagogos,
refere ao planejamento da educação infantil professores, pais, alunos, enfim, todos
que disseminam em suas instituições. envolvidos neste processo já não depositam a
mesma confiança nos resultados tradicionais
Agora, cada gesto, objeto, brinquedo na qual depositavam em períodos anteriores.
se transforma em motivo de curiosidade Há a necessidade de novos caminhos, pois
e descobertas. Porém, esta proposta de certos mitos vêm sendo descortinados
brincadeira não pode ser desvinculada de a passos largos. Como bem constatou
um objetivo educacional, não é o lúdico pelo VASCONCELLOS (1997, p.231):
lúdico, afinal, dentro da educação formal
espera-se certo desenvolvimento intelectual Na escola, esta crise se manifesta de muitas
formas, mas com certeza uma das mais difíceis
e de expressão dos estudantes. Sem uma de enfrentar é a absoluta falta de sentido para
organização, sem um início, meio e fim, um o estudo por parte dos alunos. A pergunta
fim que não seja brusco, que não seja tomado “estudar para quê”, nos parece, nunca esteve
tão forte na cabeça dos alunos como agora. A
daquela criança, mas sim preparado, aí sim famosa resposta dada por séculos, “estudar para
acontece a verdadeira aprendizagem. Deste ser alguém na vida”, chega a provocar risos nos
ponto inicial, desejamos a seguir utilizar como alunos, ante a clara constatação de inúmeras
pessoas formadas, porém desempregadas ou
metodologia a realização de uma revisão muito mal-remuneradas. Estamos vivendo a
de bibliografia relacionada à educação em queda do mito da ascensão social através da
artes, uso do lúdico, linguagens artísticas escola!

como o desenho e outras manifestações,


sendo representações e aprimoramento do Essa crise causa desafios disciplinares
desenvolvimento humano dos alunos. encontrados diariamente na sala de aula e
na escola como um todo. Há a necessidade
da construção de uma disciplina consciente
e interativa.

274
Revista Educar FCE - Março 2019

O professor se torna um refém diante Percebemos que essa crítica leviana,


de um cenário onde encontram alunos que transfere a responsabilidade individual
que não encontram sentido nas aulas de para um terceiro, é uma das principais
um lado, contra cobranças de melhoria de causas da crise, e que, por conseguinte,
desempenhos numéricos do outro. Como leva as constatações dos docentes da
ZAGURY (2009, p.85) citou, há um ‘pedido necessidade desta ‘ajuda’. É um pedido para
de ajuda’ dos professores para ajudar na que os estudantes os ajudem (Professores)
motivação e disciplina dos estudantes: a ajudá-los a tornarem-se cidadãos com
uma capacidade de expressão aprimorada e
Alunos desmotivados e/ ou indisciplinados consciente de seus direitos e deveres.
acabam resultando num só problema, que
deve ter outras causas. Não podemos atribuir
apenas ao professor a tarefa de superá-lo. É um pedido para que a família os ajude
Mas ainda quando eles próprios admitem que (Professores) a ajudá-los neste papel de
não estão dando conta da situação. E isto não
pode ser ignorado. É um recado e um pedido de socializar 3 e formar seus filhos e filhas, como
ajuda. Sem dúvida, com alunos desmotivados e bem notou ZAGURY (2009, p. 89), “A família
indisciplinados, a qualidade do ensino não vai abriu mão de seu papel essencial de geradora
melhorar.
da ética e de primeira agência socializadora
das novas gerações.” Notamos que esta crise
Este ‘pedido de ajuda’ é uma maneira de de significado, que gera esse pedido de ajuda
entendermos por que a educação coletiva docente, que é potencializado pela ausência da
fracassa no Brasil de modo geral. Depositar participação familiar no processo educacional,
toda a responsabilidade deste insucesso acaba tendo algumas consequências sérias
nas costas dos docentes, eximindo as para o educando. Não ter a oportunidade
políticas públicas, influência midiática, papel de se fazer ouvir individualmente de forma
educativo fundamental dos responsáveis e respeitosa, ao expressar-se de forma mais
responsabilidade individual dos estudantes madura, acaba com oportunidades futuras de
pelo seu futuro, causa discrepâncias melhores inserções sociais.
grandiosas e que não ajudam a solucionar
esta crise: Uma sala de aula caótica com vários alunos
indisciplinados, professores desmotivados
É fácil e confortável criticar dizendo, a quantos que passam laconicamente para cumprir
queiram ouvir, que cabe ao professor encantar,
fascinar, deslumbrar crianças e jovens; seu turno, acaba não considerando a
que é obrigação do docente moderno ser individualidade dos educandos. Há a
empreendedor e criativo; que deve variar os necessidade de uma prática pedagógica que
métodos e técnicas de forma pedagogicamente
correta e avaliar qualitativamente. (ZAGURY, respeite os indivíduos em suas experiências
2009, p.235). particulares, e os capacite para melhor
expressá-las para o coletivo:
3 Socialização significa aprendizagem ou educação, no sentido mais amplo da palavra, aprendizagem essa que começa na primeira infância e só termina com a morte da pessoa.

A socialização implica na adaptação a certos padrões culturais existentes na sociedade, ou seja, é a tendência para viver em sociedade, é a civilidade (conjunto de formalidades, observadas entre si pelos cidadãos, quando bem

educados). Por socialização, escreve o sociólogo pernambucano Gilberto Freire (1900-1987) “É a condição do indivíduo (biológico) desenvolvido, dentro da organização social e da cultura, em pessoa ou homem social, pela

aquisição de status ou situação, desenvolvidos como membro de um grupo ou de vários grupos.” Disponível em http://www.significados.com.br/socializacao/ acesso em: 2017

275
Revista Educar FCE - Março 2019

[...] Do ponto de vista pedagógico, pressupõe-


irá se humanizar 4 e tornar-se aculturado5
se que a prática docente na Educação Infantil em cada parte de sua vida. Respeitar suas
tenha como ponto de partida a experiência e o características pessoais, identidade e
conhecimento prévios das crianças, considerando
suas ideias, hipóteses e explicações sobre si e
capacidade de cognição:
sobre o mundo que as rodeia. É importante
O trabalho com crianças da Educação Infantil
também que as salas de aula sejam organizadas
(0 a 6 anos) deve levar em conta o processo
de forma adequada às crianças, tornando-
de aprendizagem que se realiza de acordo
se ambientes prazerosos e agradáveis, que
com as fases de desenvolvimento da criança.
valorizem a criatividade e a espontaneidade dos
Contudo, é bom lembrar que cada criança
educandos, essas são condições importantes
é única, com identidade própria e um ritmo
para que as crianças possam, por meio de
singular de desenvolvimento. Portanto, além
situações pedagógicas dirigidas, desenvolverem-
de levar em conta o processo de maturação da
se em suas múltiplas potencialidades – corporais,
criança de modo geral e suas características
afetivas, emocionais, estéticas e éticas. (BRASIL,
individuais, é preciso propor situações que a
1998a, p.23) incentivem à conquista devagar da autonomia e
da individualidade em seus diversos contextos.
Detectar os conhecimentos prévios das crianças
Notamos que nos referenciais curriculares não é tarefa fácil. Implica que o professor
nacionais, já abarcaram essa perspectiva da estabeleça estratégias didáticas para fazê-lo.
consideração das experiências individuais, e (BRASIL, 1998c, p.33)

nós como docentes precisamos realizar essa


tarefa fundamental. As crianças precisam Durante a sua formação docente o
ser ouvidas para aprenderem a respeitar professor precisa ter em mente esses fatores,
a opinião alheia, e daí serem educadas de não só de caráter teórico, mas de preparação
maneira personalizada. prática de ferramentas didáticas que
identifiquem as características e interesses
O fato de incutirmos um conteúdo externo individuais, grau de maturação individual e
que muitas vezes não se relaciona com a adaptar estes dados ao conteúdo formal, daí
realidade cotidiana deste ser em formação, então planejar a estratégia dinâmica a cada
acaba produzindo uma educação estéril. Por plano de aula. Precisamos identificar o que é
mais ingênuas, fantasiosas e muitas vezes mais necessário ser dominado de modo geral,
equivocadas, a capacidade de se sentirem mas principalmente, o que é mais atraente e
acolhidas e terem a possibilidade de se prazeroso de modo individual.
exprimirem, propiciará uma condição afetiva
futura extremamente positiva. [...] as Artes Visuais devem ser concebidas como
uma linguagem que tem estrutura e as Artes
Visuais expressam, comunicam e atribuem
É necessário pensar as etapas de sentido a sensações, sentimentos, pensamentos
desenvolvimento humano, como esse ser e realidade por meio da organização de linhas,

4 Atribuir caráter humano a; conceder ou possuir condição humana: a narrativa humanizava os psicopatas; algumas entidades espirituais se humanizam na figura do ser humano. Tornar-se benéfico; fazer com que seja tolerável;

humanizar-se: humanizar um ofício, uma doutrina; o governo humanizou-se quando ouviu o povo. Tornar-se civilizado; atribuir sociabilidade a; civilizar-se: humanizar uma pessoa incivil; o Papa se humanizou através do convívio

com os fiéis. v.t.d. Regionalismo. Domar animais. (Etm. do francês: humaniser). Disponível em http://www.significados.com.br/?s=humanizar acesso em: 2017

5 Aculturação é o conjunto das mudanças resultantes do contato, de dois ou mais grupos de indivíduos, representante de culturas diferentes, quando postos em contato direto e contínuo. O termo assimilação é o que define todo

o processo que diz respeito às mudanças na personalidade das pessoas envolvidas no processo de aculturação. Disponível em http://www.significados.com.br/aculturacao/ acesso em:

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Revista Educar FCE - Março 2019

formas, pontos, tanto bidimensional como por meio das práticas artísticas; a apreciação
tridimensional, além de volume, espaço, cor e luz artística – que visa desenvolver a capacidade de
na pintura, no desenho, na escultura, na gravura, percepção e sentido das obras artísticas, tanto
na arquitetura, nos brinquedos, bordados, em relação aos elementos da linguagem visual
entalhes etc. (BRASIL, 1998c, p.85) quanto da linguagem material; a reflexão – que
promove o pensar sobre os conteúdos das obras
artísticas, a partir de questionamentos e dúvidas
Através destas organizações artísticas, levantadas pelos alunos sobre suas próprias
criações e também sobre outras produções.
podemos levar o educando tanto a refletir (BRASIL 1998c, p.89)
a realidade a sua volta, como também a
conhecermos mais da sua realidade, e Essas dimensões são fundamentais
adaptarmos os objetivos educacionais a para desenvolvermos e revertermos os
percepção dele, objetivando uma ampliação paradigmas educacionais 6 que identificamos
dupla: de sua capacidade de percepção e da nas passagens anteriores. Apenas com
melhoria da comunicação dessa percepção. soluções novas e criativas poderemos enfim
tocar intelectualmente os alunos, e o ensino
Por meio deste processo comunicativo, de artes pode proporcionar essas soluções.
podemos receber melhor as opiniões iniciais
destes educandos, e como eles percebem
suas relações com os pais/responsáveis, O LÚDICO COMO
professores, colegas de classe, instituições, ESTRATÉGIA DA AÇÃO
percepções midiáticas, e respeitando os
graus de maturação individuais, conseguimos
PEDAGÓGICA NO CONTEXTO
aprimorar nossa prática cotidiana. ESCOLAR
Precisamos utilizar várias dimensões para Após constatarmos as dificuldades do
o alcance do sucesso educacional, utilizando trabalho educacional, tanto as questões
o ensino de artes como uma solução criativa: rotineiras de preparação de aulas e
precisamos estimular o fazer artístico motivação para a aplicação das mesmas,
(para ouvirmos as opiniões e capacidades além de constatarmos mais especificamente
individuais), estimular a apreciação artística das particularidades no ensino de arte, como
(para ensinar os educandos a ouvirem a objetivação conceitual de ideias subjetivas
outras opiniões e possibilidades) e por fim, e difundidas de forma diferenciada em vários
estimular a reflexão artística (para confirmar, meios, percebemos uma crise de significado
desconstruir ou aprimorar as opiniões e que gera um pedido de ajuda docente.
capacidades individuais dos educandos):
Percebemos que esta crise se agrava à
[...] sugere que a prática das Artes Visuais, no medida que a participação familiar e a falta de
interior das instituições escolares, seja abordada
sob três dimensões principais: o fazer artístico espaço para a expressão individual dos alunos
– que busca desenvolver a criação pessoal é diminuída. Além de termos percebidos
6 Um paradigma educacional é um modelo usado na área da educação. Paradigmas inovadores constituem uma prática pedagógica que dá lugar a uma aprendizagem crítica e que causa uma verdadeira mudança no aluno. O

paradigma usado por um professor tem grande impacto no aluno, muitas vezes determinando se ele vai aprender ou não aprender o conteúdo que é abordado. A forma de aprendizagem das novas gerações é diferente das gerações

anteriores, e por isso um paradigma conservador não terá grande eficácia. Disponível em http://www.significados.com.br/paradigma/ acesso em:

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Revista Educar FCE - Março 2019

que o ensino de arte pode proporcionar práticas precisam fazer sentido para fazerem
essas soluções novas e criativas, tanto no os educandos identificarem qual relação elas
aspecto da expressão individual, quanto na têm com sua própria realidade:
admiração pelo trabalho do outro e mais
além na capacidade de reflexão do mundo. [...] as práticas educacionais surgem de
mobilizações sociais, pedagógicas, filosóficas, e,
no caso de arte, também artísticas e estéticas.
Vemos que os desafios identificados Quando caracterizadas em seus diferentes
podem encontrar como caminho a momentos históricos, ajudam a compreender a
questão do processo educacional e sua relação
comunicação. E a comunicação pode com a própria vida. (FERRAZ; FUSARI, 1993,
ser feita de diferentes formas, sendo as p.27)
diversas expressões artísticas das histórias
do mundo, oportunidades de discussão das Identificar essa responsabilidade do
mais variadas temáticas de desenvolvimento ensino lúdico, em especial o das artes visuais,
humano, por exemplo, desde a busca é tarefa fundamental para a tomada de
global desenfreada por bens materiais consciência da importância que o professor
(consumismo causado pelo capitalismo), até de artes tem na formação individual dos seus
a falta de recursos para a reforma estrutural educandos:
de várias partes da escola onde estudam.
As expressões artísticas diversificadas são [...] tal como a música, as Artes Visuais são
linguagens, e, portanto. uma das formas
um meio de comunicação fundamental para importantes de expressão e comunicação
aprimorarmos nossa didática e aprimorarmos humanas, o que, por si só, justifica sua presença
nossa ‘língua do mundo’: no contexto da educação, de um modo geral, e
na Educação Infantil, particularmente. (BRASIL,
1998c, p.85)
A comunicação entre as pessoas e as leituras de
mundo não se dão apenas por meio da palavra.
Muito do que se sabemos sobre o pensamento
e os sentimentos das mais diversas pessoas, Através de provocações estéticas,
povos, países, épocas são conhecimentos que é que se pode mediar à construção destes
obtivemos única e exclusivamente por meio de
suas músicas, teatro, pintura, dança, cinema, etc. saberes reflexivos diversos. Ao perceber as
(MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, 1998, p.14) temáticas preferidas pelos alunos podemos
perceber suas principais indagações.
Ao discutir com a turma as produções
Essa construção semântica se aprimora no estéticas individuais, o aluno sente que suas
reforço contínuo das práticas educacionais. manifestações artísticas têm importância,
Essas práticas necessitam ser expressivas, que seu ‘conteúdo pessoal’ existe e pode ser
de reflexão social, da filosofia cotidiana, de compartilhado com outros iguais.
práticas pedagógicas visando o indivíduo,
da discussão e expressão de momentos Nós precisamos desta atenção constante,
históricos recentes e passados. Essas esta necessidade de nos colocarmos

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Revista Educar FCE - Março 2019

disponíveis para a escuta dos nossos alunos. em sua atuação, é preciso saber desafiá-los
E dentro destas possibilidades notamos intelectualmente, criar provocações que
uma que pode se sobressair ainda mais: o sejam encaradas como desafios a inteligência
uso do lúdico, da brincadeira, como forma individual:
de desenvolver a criatividade, apresentar
conhecimentos através de jogos, de forma Há brinquedos que são desafios ao corpo, à sua
força, habilidade, paciência... E há brinquedos
divertida e interativa com os outros. que são desafios à inteligência. A inteligência
Precisamos usar o lúdico como ferramenta de gosta de brincar. Brincando ela salta e fica mais
mediação dos conteúdos, segundo Martins: inteligente ainda. Brinquedo é tônico para a
inteligência. Mas se ela tem de fazer coisas
que não são desafios, ela fica preguiçosa e
A atitude mediadora exige de nós o estar emburrecida. Todo conhecimento científico
disponível e atento ao outro, seja como começa com um desafio: um enigma a ser
observador ou como ouvinte, percebendo
decifrado! (ALVES. 2004, p.39).
conceitos e pré-conceitos, as preferências
e o que causa estranhamento. Ludicamente
podemos chegar até nossos alunos por vias mais
ousadas, menos “escolares”, mais repletas de Essa citação do recém falecido Rubem
vida que a arte reflete. (MARTINS,2005, p.121). Alves nos deixa um conselho com várias
dicas: precisamos de brinquedo para
inteligência, pois brincando ela salta e fica
A partir do momento que conseguimos mais inteligente ainda, se não há um desafio
desconstruir os paradigmas educacionais intelectual, a inteligência fica preguiçosa e
que trazem o tradicional na educação para estimular essa busca científica, é preciso
vertical, que consideramos o individual para de um enigma que cause desejo em ser
a reconstrução do processo e utilizamos a decifrado. O professor deve trazer consigo o
educação em artes como ferramenta criativa desejo de ensinar coisas úteis para estimular
para um novo fazer, instrumentalizar essa a arte de aprender contínua.
atuação faz-se necessário.
A comunicação lúdica, sem aquele
Precisamos considerar a inteligência tom monótono tradicional, que estimula
individual para a aprimorarmos, e a à criatividade ao invés da imposição de
inteligência gosta de brincar, quando ela informações, que estimula a expressão
não encontra lugar para se expressar, ao invés da rispidez da imposição de
ela se deprime e míngua. Da mesma conhecimentos, que estimula os sorrisos ao
forma que exercícios físicos tonificam o invés da crítica inerte, que estimula os elogios
corpo material, brincadeiras intelectuais sinceros às atuações positivas intelectuais ao
tonificam a inteligência. E identificar o que invés dos comentários depreciativos, enfim,
estimula a inteligência dos educandos é um essa relação sincera e profunda, é à base de
desafio, é preciso ter mais do que dados e uma educação concreta e eficaz.
informações, é preciso ser inteligente e sábio

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Nesse faz-de-conta da brincadeira, A IMPORTÂNCIA DE SE


reconstrói-se uma nova realidade, realidade TRABALHAR LUDICAMENTE
construída coletivamente, da valorização
das inteligências ali inseridas, de irmos uma PARA O DESENVOLVIMENTO
camada além das opiniões superficiais tão DE UM MELHOR
divulgadas pelos meios de comunicação APRENDIZADO
em massa, de respostas prontas, rasas, que
desinformam. É preciso jogar, é preciso ser
espontâneo e criativo, tanto em família, Por mais inspirado que um professor
como nos grupos sociais e principalmente na esteja ao dar uma aula sobre determinada
escola, assim auxiliaremos os educandos em produção artística (Um quadro, por exemplo)
sua formação cidadã 7, para a construção de que ele conheça, admire e se emocione
indivíduos eloquentes 8, e esse jogo é uma ao falar sobre, não vai substituir o nível de
ferramenta fundamental: participação e o esforço cognitivo individual
na reflexão sobre esta produção.
(...) acontece neste momento uma comunicação
profunda, sem medos, nem ameaças, onde
cada um se expressa livremente no lúdico. O Ao perguntar através de brincadeiras o que
jogo é ficção e ao mesmo tempo realidade. os alunos acreditam ser a intenção do artista
(HOLZMANN, 1998, p.19). naquela produção, como ele se esforçou para
pintar e qual deve ser a reação das pessoas
aquele trabalho, são formas mais próximas
da realidade do estudante de aprimorar sua
inteligência.

Não se pode negar o universo de


representações lúdicas individuais, pois ele
deve estar acima das imposições conteudistas.
Precisamos conhecer a trajetória do aluno,
deixá-lo brincar e se expressar, convidá-
7 Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais estabelecidos na constituição. Os direitos e deveres de um cidadão devem andar sempre juntos, uma vez que ao cumprirmos nossas obrigações permitimos

que o outro exerça também seus direitos. Exercer a cidadania é ter consciência de seus direitos e obrigações e lutar para que sejam colocados em prática. Exercer a cidadania é estar em pleno gozo das disposições constitucionais.

Preparar o cidadão para o exercício da cidadania é um dos objetivos da educação de um país. Disponível em http://www.significados.com.br/cidadania/ acesso em: 2017

8 Eloquente significa ser convincente, persuasivo e expressivo. Um indivíduo eloquente é aquele que possui a arte e o talento de convencer ou comover outras pessoas apenas falando. Ser eloquente é a arte de falar bem, é ter o

dom da oratória. Ser eloquente é uma característica muito importante nos dias atuais, as pessoas que tem facilidade em se expressar e convencer outras pessoas, acabam sempre tendo maiores benefícios em quem possui certa

timidez, ou não gosta de falar em público. Disponível em http://www.significados.com.br/eloquente/ acesso em: 2016

9 Cognitivo é uma expressão que está relacionada com o processo de aquisição de conhecimento (cognição). A cognição envolve fatores diversos como o pensamento, a linguagem, a percepção, a memória, o raciocínio etc., que

fazem parte do desenvolvimento intelectual. A psicologia cognitiva está ligada ao estudo dos processos mentais que influenciam o comportamento de cada indivíduo e o desenvolvimento intelectual. Segundo o epistemólogo e

pensador suíço Jean Piaget, a atividade intelectual está ligada ao funcionamento do próprio organismo, ao desenvolvimento biológico de cada pessoa. A teoria cognitiva criada por Piaget, defende que a construção de cada ser

humano é um processo que acontece ao longo do desenvolvimento da criança. O processo divide-se em quatro fases:

Sensório-motor (0 – 2 anos)

Pré-operatório ( 2 – 7 anos)

Operatório-concreto ( 8 – 11 anos)

Operatório-formal (a partir dos 12 anos até aos 16 anos, em média)A terapia cognitiva é uma área de estudo sobre a influência do pensamento no comportamento do indivíduo. A junção dos dois conceitos levaram à criação da

terapia cognitivo-comportamental (TCC), aplicada à psicoterapia. Disponível em http://www.significados.com.br/cognitivo/ acesso em:

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Revista Educar FCE - Março 2019

lo a participação cultural continuamente. É preciso reviver na escola aquele gostinho


Precisamos ajudá-lo a pensar por si mesmo, da infância que se divertia na rua e voltava
assumir seu papel crítico e ativo, valorizar para casa só ao pôr-do-sol, porém usando
sua criatividade: estas sensações diversas com objetivos
educacionais formais, utilizando mais a
Negar o universo simbólico lúdico, sob o ludicidade do que o rigor nestas construções.
argumento de que esse não é o papel da
instituição escolar, é negar o trajeto do
desenvolvimento humano e sua inserção Crianças felizes tornam-se adolescentes
cultural. É desviar a função da escola do mais participativos e menos ‘rebeldes’,
processo de construção de valores e de um
sujeito crítico, autônomo e democrático. É negar, apesar dessa ser uma característica comum
principalmente, as possibilidades da criatividade de maturação. A união de pais e educadores
humana (VASCONCELLOS, 2006, p.72). neste compromisso com a brincadeira irá os
estimular a se expressar e a se comunicar
Precisamos ousar brincar, ter humor com mais facilidade, sabendo que seus
e alegria na educação, ter como foco os sentimentos e pontos de vista têm espaço
universos simbólicos lúdicos que o ensino nas relações sociais:
de artes pode proporcionar. Na educação
Pais e educadores que respeitam as necessidades
infantil esta necessidade de brincar se faz da criança de brincar estarão construindo,
ainda mais presente. Ao desenhar, rabiscar portanto, os alicerces de uma adolescência mais
papéis, pintar, sujar-se de tinta, rir da sujeira, tranquila ao criar condições de expressão e
comunicação dos próprios sentimentos e visão
comparar resultados, rir de uma maçã pintada
de mundo (OLIVEIRA, 2000, p. 87).
de azul, embaralhar-se na explicação de sua
‘obra de arte’ são nesses detalhes que ela vai
se humanizando, se expressando, criando Para o desenvolvimento desta
vínculos e aprimorando seu relacionamento expressividade é necessária a construção
interpessoal 10 : desde a tenra infância deste arsenal
conceitual, é necessário a pintura com os
(...) é brincando que a criança se humaniza dedos, a explicação inocente do que estava
aprendendo a conciliar de forma efetiva a
afirmação de si mesma à criação de vínculos sendo representada, a escolha dos temas
afetivos duradouros. (...) o brincar abre caminho relevantes como o porquê do céu ser azul,
e embasa o processo de ensino/aprendizagem é necessária a imitação (cópia de técnicas
favorecendo a construção da reflexão, da
artísticas) de forma descompromissada, sem
autonomia e da criatividade (p. 7/8).
julgamentos, é necessário o exemplo do
10 Relacionamento interpessoal é um conceito do âmbito da sociologia e psicologia que significa uma relação entre duas ou mais pessoas. Este tipo de relacionamento é marcado pelo contexto onde ele está inserido, podendo

ser um contexto familiar, escolar, de trabalho ou de comunidade. O relacionamento interpessoal implica uma relação social, ou seja, um conjunto de normas comportamentais que orientam as interações entre membros de uma

sociedade. O conceito de relação social, da área da sociologia, foi estudado e desenvolvido por Max Weber. O conteúdo de um relacionamento interpessoal pode ser de vários níveis e envolver diferentes sentimentos como o

amor, compaixão, amizade, etc. Um relacionamento deste tipo também pode ser marcado por características e situações como competência, transações comerciais, inimizade, etc. Um relacionamento pode ser determinado e

alterado de acordo com um conflito interpessoal, que surge de uma divergência entre dois ou mais indivíduos. Por outro lado, o conceito de relacionamento intrapessoal é distinto mas não menos importante. Este conceito remete

para a aptidão de uma pessoa de se relacionar com os seus próprios sentimentos e emoções e é de elevada importância porque vai determinar como cada pessoa age quando é confrontada com situações do dia-a-dia. Para ter

um relacionamento intrapessoal saudável, um indivíduo deve exercitar áreas como a autoafirmação, automotivação, autodomínio e autoconhecimento. Disponível em http://www.significados.com.br/relacionamento-interpessoal/

acesso em: 2017

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Revista Educar FCE - Março 2019

professor (participar da brincadeira como um dos alunos deixando o papel de professor


de lado esporadicamente) para que os estudantes não mistifiquem as relações escolares,
enfim, passo a passo ele constrói sua própria definição do que se trata arte. Desta forma,
quando alguém der uma opinião depreciativa ou deturpada, quando ele ouvir alguma posição
superficial e equivocada na mídia, poderá criticamente expressar-se, reeducando-se e
auxiliando na educação geral da sociedade, fazendo-se ouvir, com eloquência e propriedade:

Ao pensar na palavra arte, por exemplo, o aluno precisa compreender o significado que esta palavra expressa.
Para aprender o significado, precisa saber relacionar outras informações mais simples. Quando for capaz de
dizer o que é arte usando o seu repertório simbólico é sinal de que foi capaz de perceber um conjunto de
aspectos de sua estrutura que, reunidos e interligados, deram a ideia do que constituí uma obra de arte. Neste
caso, o aluno ficou de posse de um conjunto significativo de informações inter-relacionadas que ajudam a
entender quando alguém fala sobre arte ou quando se expressa através dela. (SANTOS, 2006, p.21).

Por fim, se obteve que a educação carrancuda, vertical e que impõe conteúdos, não tem
mais espaço na identificação da crise que vivemos. Percebemos que a brincadeira com
objetivo, tendo os aspectos lúdicos mais relevância do que as lições formais, é um caminho
fundamental nesta solução, finalizamos com esta citação do poeta Carlos Drummond de
Andrade:

Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é
vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo pudemos constatar algumas considerações
finais. O lúdico é uma ferramenta que sempre foi usada no
ensino e tem eficácia, como vimos por muitos autores citados.
Também, vemos que é nos espaços lúdicos, nos jogos e nas
brincadeiras ali desenvolvidos que podem servir de apoio
ao professor, para diagnosticar as dificuldades discentes,
os seus desenvolvimentos nas questões de estratégias, o
respeito às regras e ao colega. Sendo assim, pode-se afirmar
que o educador estará mais próximo das crianças, quando
as atividades são lúdicas e mais dinâmicas. ANA MARIA RODRIGUES
MARTIM
Sabemos que utilizar menos o lúdico não é a resposta.
Graduação em Pedagogia pela
Saber como implementar o lúdico na educação infantil é Universidade Guarulhos (2004);
ainda a melhor forma de conquistar a criança. Pode-se Especialista em Psicopedagogia
assim com este estudo se constatar que o lúdico vivenciado pela Universidade .(2008);
Professor de Educação Infantil e
no contexto escolar, em relação às crianças, facilita-lhes a Ensino Fundamental - na EMEF
aprendizagem e o desenvolvimento integral em todos os Antonio Carlos de Andrada e
aspectos. Enfim, o lúdico desenvolve o indivíduo como um Silva, Professor de Educação
Básica I - na E.E. Prof. “Victório
todo, e, por isso, a educação infantil usa este método como Napoleão Oliani”
fonte de formação para as crianças.

283
Revista Educar FCE - Março 2019

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288
Revista Educar FCE - Março 2019

O PAPEL DO PROFESSOR DE
EDUCAÇÃO INFANTIL NA
ATUALIDADE
RESUMO: No decorrer das últimas décadas, a educação infantil no Brasil vem sofrendo mudanças
significativas, bem como o papel do professor e o que deve ser ensinado para os bebês e as crianças
pequenas. Importantes acontecimentos legais como a constituição de 1988 e a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação marcam estudos e esforços para adequar as crianças de zero a cinco anos
de idade a educação básica no Brasil. Influências da proposta Construtivista, baseada na teoria
Piagetiana começam a desenhar um novo cenário para a educação infantil, vindo a romper com
a proposta tradicional mecânica de ensino, dando espaço para os jogos e brincadeiras como um
elemento fundamental para o processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança. Em face
ao novo contexto educacional, o papel do professor também precisou ser modificado abrindo
mão do controle absoluto pedagógico, e passando a adquirir um papel de mediador e facilitador
na aprendizagem de seus alunos, dando o devido valor a brincadeira como a ferramenta para a
criança se expressar, aprender e se desenvolver.

Palavras-Chave: professor, brincar, criança, aprendizagem, desenvolvimento

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO Com os objetivos de responder os


questionamentos colocados acima e elucidar
Na atualidade, cada vez mais a vivência a importância do brincar para a aprendizagem
da criança em programas de Educação de crianças na faixa etária dos zero aos cinco
Infantil de qualidade tem sido apontada por anos de idade, contextualizando a ação
pesquisas nacionais e internacionais como docente nessa perspectiva, discorremos nos
indicador básico de bom desenvolvimento, dois títulos do presente trabalho, uma análise
além de configurar um espaço positivo no bibliográfica sobre obras e contribuições
processo de escolarização básica. Oliveira de importantes autores da atualidade, bem
(et al, 2012 ). como leis de grande importância para a
construção da Educação Infantil brasileira.
Diante disso, se faz necessária a
adequação de sistemas de ensino, propostas
curriculares e planejamentos, considerando UMA ABORDAGEM
que as crianças necessitam envolver-se HISTÓRICA SOBRE
com diferentes linguagens, valorizando o
lúdico, as brincadeiras e as culturas infantis. AS CONCEPÇÕES DE
Nesse sentido, o trabalho dos professores APRENDIZAGEM E O
de educação infantil no contexto em que PAPEL DO PROFESSOR NA
o brincar é visto como recurso privilegiado
no processo de ensino e aprendizagem, EDUCAÇÃO INFANTIL
tem sido ao longo das últimas décadas
amplamente discutido e é tema para o A educação para as crianças pequenas, mais
trabalho de pesquisa em questão. Uma vez especificamente as crianças de zero a cinco
que a concepção contemporânea de infância anos de idade vem sofrendo modificações
e Educação infantil embasada no brincar ao longo das últimas décadas no Brasil e
mostra-se imprescindível, as perguntas que no mundo, bem como o papel do professor
se colocam são: nesse cenário que foi sendo constituído até
a atualidade.
• Quais são as características e
competências necessárias ao professor de Em uma breve explanação desse período é
Educação Infantil da atualidade? possível perceber que os enfoques dados ao
• Como o professor pode em suas aulas, que a criança pequena deve aprender e como
abrir mão do controle e tomar a criança como deve aprender, foram sendo modificados
protagonista do conhecimento? através da implementação de políticas
• Como contemplar em seu planejamento voltadas ao atendimento desse público e
a dicotomia educar x brincar sem favorecer a através da adoção de propostas educacionais
um ou desfavorecer a outro? alicerçadas em estudiosos e suas concepções.

290
Revista Educar FCE - Março 2019

No Brasil, novos olhares para essa Segundo Angott (1994, apud


etapa começam a ser adquiridos a partir SAMMERHALDER & ALVES, 2011) os
da promulgação da Constituição Federal professores observados [...] ocuparam todo
(1988) e da Lei de Diretrizes e Bases da o seu período de aulas com tarefas onde
Educação Nacional (1996). Segundo Oliveira as crianças deveriam manter-se sentadas,
(et al.,2012), consolida – se legalmente desenvolvendo atividades de recorte-
a educação em creches e pré-escolas colagem, modelagem com massa, desenho e
como primeira etapa da Educação Básica pintura e especialmente, treino ortográfico
e desencadeia-se um processo bastante com letras e números, onde suas mãos
complexo de debate, definição e consolidação trabalhavam o tempo todo. Nessas atividades,
das decorrências político- institucionais em normalmente a criança era conduzida a seguir
torno do caráter pedagógico da Educação com exatidão a orientação da professora. As
Infantil[...] tentativas de criação da criança em geral
eram tolhidas e tachadas de „erradas‟.
Agrega-se a esse cenário a necessária
reflexão das redes de ensino, das unidades O professor então ocupava o lugar de
educacionais e do professor de educação transmissor de conhecimentos e detentor do
infantil em torno do tema. saber e a aprendizagem, possível somente
através absorção desses conteúdos.
Mediante a esse contexto, muitas ações Com foco na busca pela alfabetização,
e contradições acerca do que as crianças o jogo e a brincadeira foram sucumbidos a
pequenas deveriam de fato aprender foram essa necessidade.
aplicadas.
Dessa forma, de acordo com Angotti
Para Sommerhalder e Alves (2011) as (1994, apud SOMMERHALDER & ALVES,
décadas de 80 e 90 apresentaram forte 2011) quando as crianças tinham a
interesse pelo desenvolvimento, como meta oportunidade de brincar de forma mais
da educação da criança traduzindo-se na espontânea não havia a participação da
busca pela alfabetização. professora. As intervenções aconteciam em
alguns momentos de desentendimento entre
Angotti (1994, apud SOMMERHALDER as crianças ou em situações que pudessem
& ALVES, 2011), ao observar duas classes gerar perigo.
de educação infantil pública na cidade de
São Paulo, no começo da década de 1990, Para a autora nesses momentos de
pôde constatar o quão mecânico tinha sido jogo e de brincadeira espontânea em que
o trabalho junto às crianças pré - escolares. interesses e descobertas poderiam emergir,
as professoras estavam distantes.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A partir da década de 1990 em contradição como, quando e onde o jogo deva acontecer,
a essa prática de ensino, muitas instituições estando atrelado ao horário do intervalo, ao
educacionais começaram a adotar a proposta término das atividades escolares ou até como
Piagetiana. jogo associado às atividades pedagógicas
com fins de transmissão de conteúdos, sem
Para Krammer, (1999, apud a manifestação espontânea da criança.
SAMMERHALDER & ALVES 2011), os
estudos de Piaget que se sustentavam sobre Ao tornar parte na Educação Básica,
a investigação do processo de construção a partir da LDB, em 1996, a Educação
do conhecimento nos indivíduos, foram Infantil é chamada a refletir sobre a questão
transpostos para o campo pedagógico como curricular ao mesmo tempo em que garante
no caso de Emília Ferreiro, que estudou a especificidade da educação e cuidado dos
a psicogênese da alfabetização, trazendo bebês e crianças pequenas.
contribuições extremamente relevantes à
questão da alfabetização e à compreensão Anos depois, essas questões foram
do processo de aprendizagem do sistema especificamente tratadas nas Diretrizes
da língua escrita. A proposta construtivista, curriculares Nacionais para a Educação
baseada na teoria piagetiana, é caracterizada Infantil. A mesma cita a importância do
por essa autora de Tendência Cognitiva, planejamento de um currículo de Educação
cuja proposta para a educação pré-escolar Infantil ter como eixos norteadores a
enfatiza a construção do pensamento infantil interação e a brincadeira.
no desenvolvimento da inteligência e da
autonomia. As experiências vividas pelas crianças em suas
brincadeiras e seus jogos passam a ser vistas
como momentos construtivos e de riqueza
Nessa direção, Sommerhalder e Alves ( para o enriquecimento de conteúdos, de
2011, p. 51) nos elucida que: comportamentos ou de interesses das crianças
(SOMMERHALDER E ALVES, 2011, p.52)
A abordagem construtivista considera o brincar
como um elemento fundamental para o processo
de desenvolvimento e aprendizagem da criança, Nesse contexto o professor de educação
dado que esse seria uma forma da criança infantil, passa a ocupar o papel de mediador
resolver problemas e/ou situações problemas entre as crianças e a aprendizagem, utilizando
que surgem a partir de sua interação com o
meio. Com isso valoriza-se a presença do jogo interações e brincadeiras como fonte rica e
educativo da criança na educação infantil. imprescindível para que novas aprendizagens
o corram.
A presença do jogo na educação infantil
passa a ser vista como importante, mas na As práticas vivenciadas no espaço de
prática, ainda ocupa um lugar em que é educação Infantil, passam a ser vistas como
o professor que detém o controle sobre um instrumento que possibilita à criança

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Revista Educar FCE - Março 2019

o encontro de explicações sobre o que a tomar decisões, expressar sentimentos e


acontece ao seu redor e consigo mesma, valores, conhecer a si e ao outro, partilhar
enquanto desenvolvem modos próprios de brincadeiras, construir sua identidade,
resolver problemas, sentir e pensar. explorar o mundo dos objetos, das pessoas,
da natureza e da cultura na perspectiva de
Apesar das inúmeras divergências entre o compreendê-la, usar o corpo, os sentidos, os
jogo e a educação no decorrer das últimas movimentos e as várias linguagens. Enfim,
décadas, não se pode negar a íntima ligação sua importância se relaciona com a cultura
entre a criança e a intensa ação lúdica, o que da infância que coloca a brincadeira como
torna inevitável e indiscutível a presença do ferramenta para a criança se expressar,
jogo e da brincadeira no ambiente escolar. aprender e se desenvolver.
Embora indiscutível e inevitável, ainda é
muito comum, implícita ou explicitamente A autora nos traz uma considerável
a dualidade entre brincar e estudar nos definição sobre a importância do ato de
ambientes escolares. Contudo, concordamos brincar para o desenvolvimento da criança
com Régis de Morais (2005, apud nos mais diversos aspectos.
SOMMERHALDER & ALVES, 2011) quando
diz que para deixar nascer a disciplina, não Não por sem razão Winnicott (1975)
é necessário sufocar o jogo ou eliminar a refere-se ao jogo como uma experiência
alegria. na continuidade espaço-tempo, ou seja,
uma forma básica de viver. Para ele “é no
brincar, e talvez apenas no brincar, que a
PROFESSOR DE EDUCAÇÃO criança ou o adulto fruem sua liberdade
INFANTIL: A CONSTITUIÇÃO de criação”(Winnicott, 1975, apud
SOMMERHALDER & ALVES, 2011).
DO PROFESSOR BRINCANTE
Para Sommerhalder e Alves ( 2011, p.27)
Mediante as atuais concepções de “Na concepção Winnicottiana, a base do
aprendizagem infantil, dando destaque as viver criativamente, assim como sua origem,
brincadeiras e interações, vemos que as está no brincar. Daí sua importância para
atividades para a primeira infância devem o desenvolvimento da criança e seu valor
ser permeadas pelo jogo, brincadeira e as educativo”
interações ricamente demonstradas nesses
momentos. O jogo infantil é apresentado por Oliveira
(2010, apud PICCOLO e MOREIRA,
Para Kishimoto (2010, apud 2012) como um recurso privilegiado no
SOMMERHALDER & ALVES, 2011), Brincar é desenvolvimento da criança pequena. A
uma ação cotidiana para a criança que a impele autora defende a idéia de se ensinarem

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Revista Educar FCE - Março 2019

conteúdos por meio de jogos, porque eles espaços/ambientes e disponibilizando


facilitam a aprendizagem. materiais diversos dentro da proposta de seu
planejamento.
Uma situação vivida em sala de aula de
forma prazerosa certamente poderá se Para que as propostas sejam permeadas pela
ludicidade, é preciso que o ambiente preparado
transformar numa aprendizagem significativa seja um espaço de vivências alegres (inclusive
e, cada vez que se retomar aquele conceito se este ambiente for o interior de uma escola),
aprendido, virá junto uma sensação de de momentos de descobertas que permitam o
prazer em fazer novamente. Mas essa repetição
alegria, de prazer e de satisfação Toledo; do movimento deve acontecer por iniciativa da
Velardi; Nista-Picocolo, (2009, apud NISTA- própria criança, de querer sentir novamente a
PICCOLO, MOREIRA, 2012) emoção da alegria, a sensação de satisfação.
Isso exige que a proposta lúdica não possa se
distanciar das metas estabelecidas pelo professor.
Aqui vemos considerações de importantes Se ele quiser ensinar determinado conteúdo,
autores que reforçam a relevância do brincar esquecendo-se de oferecê-lo no mundo mágico
que a criança vive, isto é, desconectado da
no ambiente escolar. No entanto esses ludicidade, isso poderá significar para ela que a
momentos não devem possuir um carácter atividade não é brincadeira, afastando o prazer
puramente recreativo, mas devem unir- de brincar daquela situação ( NISTA-PICCOLO;
MOREIRA, 2012,p.70)
se ao oferecimento de propostas lúdicas
de intenção pedagógica pelas instituições
de educação infantil e seus professores. Nesses ambientes previamente pensados e
Aponta-se aqui, que o professor tem um planejados, Oliveira (et al,2012) acrescentam
papel fundamental na investigação de que professor deve se responsabilizar por
assuntos pertinentes às crianças de sua criar bons contextos de mediação entre
turma e na escolha em seu planejamento as crianças, seu entorno social e os vários
de atividades significativas e promotoras de elementos da cultura. Cabe-lhe a arte e
desenvolvimento. a competência de criar condições para
que as aprendizagens ocorram tanto nas
Entender o brincar, como a principal brincadeiras livres, quanto nas demais
linguagem da infância, compreende pensar situações orientadas intencionalmente,
práticas que envolvam jogos, brinquedos e considerando o desenvolvimento, a
brincadeiras e garantam o direito às crianças ação mental infantil, interações de maior
de se comunicarem e interagirem. É papel do qualidade envolvendo adultos e crianças
professor: planejar em suas aulas momentos e as interações que as próprias crianças
em que essa linguagem seja privilegia estabelecem enquanto brincam, produzem e
aprendem cooperativamente.
É preciso que o professor, enquanto
mediador, pense e planeje a atividade a É notório que um dos maiores estímulos
ser desenvolvida, considerando os tempos, para uma criança seja a companhia de outra

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Revista Educar FCE - Março 2019

criança, interagindo e aprendendo a conviver, Muito mais do que brincar/jogar


como uma oportunidade privilegiada de conjuntamente com as crianças, a atuação
aprendizagem e experiência. do professor aponta-se na direção de se
constituir um espaço favorável para que as
Uma proposta como essa, em um contexto crianças desenvolvam suas atividades lúdicas
de interações, demandará professores e imaginárias.
que entendam o valor desse momento e
o viabilizem, estimulando as diferentes Ter um espaço organizado para as crianças, do
qual elas se sintam realmente apropriadas e onde
interações entre as crianças no momento em estejam seguras, amplia as possibilidades de
que a brincadeira acontece . interações variadas, prolongadas, estimulantes,
afetivas, com diferentes parceiros, influenciando
o desenvolvimento de sua atividade criativa.
Nessas interações, as crianças põem à O espaço é assim considerado um elemento
prova seus saberes e podem ampliá-los. educador para essas crianças. (OLIVEIRA et al,
2012,p.82)
O professor, encoraja e incita a criança à
descoberta, à curiosidade e ao desejo de saber, Nessa direção, o professor pode também
quando acolhe suas vivência lúdicas e abre um contribuir para a ampliação das vivências
espaço potencial de criação, alegria e diversão. e experiências nas brincadeiras de suas
crianças, fornecendo-lhes materiais, ricos
A esse respeito, o professor não somente e variados, que favoreçam a criação da
acolhe as vivências lúdicas como também situação imaginária, mas sem exageros, uma
pode e deve participar delas. vez que elas são absolutamente capazes de
encontrar objetos e inventar brincadeiras
Fazemos referência a um professor que tenha com muita facilidade, o que lhes proporciona
sensibilidade para reconhecer a importância
do toque amoroso, do gesto de respeito e do imenso prazer.
acolhimento do imaginário e da fantasia da
criança[...] Propomos um professor brincante, Segundo Bacha (2002, apud
que se permita brincar junto com as crianças.
SOMMERHALDER & ALVES, 2011)
(SOMMERHALDER E ALVES, 2011, p.60)
ao explorarmos a dimensão imaginária
aprendemos a conhecer e a nos conhecer, o
Um professor brincante, não consiste que nos possibilita a descoberta e a elaboração
simplesmente em sugerir uma brincadeira ou do conflito que as angústias suscitadas
deixar que as crianças brinquem livremente, pela situação educativa instauram, e com
mas em brincar com elas, compartilhar suas isso, provocar uma mudança de postura do
criações, criar espaços para que possam professor frente ao processo educativo de
interagir e atribuir significados juntos e maneira que ele busque, em parceria com a
também de adentrar e se apropriar da cultura criança, um saber com sabor construído com
lúdica infantil. os fios da fantasia e da razão.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Nessa direção, Emerique (2004, apud SOMMERHALDER & ALVES, 2011) por fim nos
acrescenta:

[..]penso que o próprio processo de aprendizagem pode ser visto como uma grande
brincadeira de esconde-esconde ou de caça ao tesouro: tanto uma criança pré - escolar
brincando num tanque de areia, quanto um cientista pesquisando no laboratório de uma
universidade, estão lidando com sua curiosidade, com o desejo de descoberta, com a
superação do não saber, com a busca do novo, que sustentam a construção de novos saberes.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Constituição Federal de 1998 reconheceu a educação
de crianças de zero a cinco anos como direito do cidadão
e dever do Estado. Tal concepção também aparece na na
Lei de Diretrizes e bases da educação Nacional(1996),
compreendendo a criança como sujeito histórico social e de
direitos.

Em virtude das mudanças no contexto da educação


infantil no Brasil e no mundo, novos desafios se colocaram
às funções das instituições de ensino para essa faixa etária, ANA PAULA
bem como as formas de trabalho pedagógico do professor. MARQUES BATISTA
Ao professor coube a tarefa de reinventar sua profissão,
Especialista em Ludopedagogia
refletindo sobre como é entendido atualmente o processo pela faculdade Campos Elísios
de aprender e seu papel e atuação nesse processo. (ano 2019); Professora de
Educação Infantil no Centro
de Educação Infantil CEI CEU
Para adequar- se aos novos saberes e teorias, como por Jaguaré
exemplo da proposta construtivista Peagetiana, o professor
em sua postura precisou abrir mão do controle absoluto e de
práticas de ensino obsoletas e mecânicas como exercícios
repetitivos e mimeografados, característicos da proposta tradicional de ensino. Ante as
novas concepções, os jogos e brincadeiras passaram a exercer papel fundamentalmente
importante para o processo de aprendizagem e desenvolvimento infantil.

Perante a dicotomia ensinar e brincar, a ação lúdica da criança por muito tempo foi
restringida pela total direção do professor, em momentos pré estabelecidos como jogo
educativo ou como momento de recreação sem a devida intenção e atenção pedagógica
como um momento de construção de novos saberes.

.Além das teorias de Piaget, autores como Kishimoto, Sommerhalder, Alves, Oliveira,
Winnicott, Piccolo, entre outros citados e abordados no presente trabalho, trouxeram
importantes considerações sobre a importância do jogo e da brincadeira como um recurso
privilegiado de ensino e aprendizagem, sendo definido por Winnicott como uma forma
básica de viver.

Em virtude das novas demandas e necessidades das crianças e de propostas pedagógicas


aceitas pela comunidade educativa, novas posturas e competências passaram a fazer parte

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Revista Educar FCE - Março 2019

do trabalho docente em educação infantil. Termos como professor mediador, facilitador,


investigador, viabilizador, entre outros, tornaram-se comuns entre os profissionais. Investigar
assuntos pertinentes à sua turma, entender o brincar como principal linguagem da criança,
pensar e viabilizar práticas, tempos e espaços que envolvam jogos, brinquedos e brincadeiras
e garantir a interação e comunicação entre crianças e adultos nesses espaços, passaram a
serem atribuições da função de professores de educação infantil.

Conquanto, Sommerhalder e Alves (2011) fazem referências a um professor que tenha


sensibilidade em reconhecer a importância do toque amoroso, do gesto de respeito e do
acolhimento ao imaginário e fantasia da criança, aproximando o educar muito mais de uma
arte do que de procedimentos técnicos e mecanizados. Propõem um professor brincante,
que se permita brincar junto com as crianças.

Por fim, unimos a elas nossos anseios, para que cada vez mais dentro das salas de aula de
educação infantil, tenhamos professores brincantes, envolvidos e comprometidos com uma
aprendizagem mais significativa para nossas crianças.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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299
Revista Educar FCE - Março 2019

ALGUNS ASPECTOS DA SURDEZ E


O QUANTO PODEM INTERFERIR
NO DESENVOLVIMENTO DAS
CRIANÇAS
RESUMO: Este artigo tem como objetivo o estudo sobre o atendimento das crianças que
apresentam algum tipo de deficiência auditiva dentro da rede pública de ensino e o que
o professor que pretende atender essas crianças precisa saber, deve estudar, para dar um
atendimento especial e de qualidade para essas crianças. O professor precisa conhecer alguns
motivos pelos quais as crianças nascem com essa deficiência, o que pode causar no decorrer
dos anos, como se dá o desenvolvimento dessas crianças, especialmente o cognitivo e as
suas formas de se comunicar. Descrevendo um pouco os graus da surdez e suas diferenças,
e quanto a idade da perda auditiva interfere no aprendizado das crianças, algumas formas e
intensidades, além de descrever alguns fatores que as crianças podem vir a apresentar, e como
a familia pode acabar melhorando ou piorando o desenvolvimento da criança que apresenta
uma deficiência auditiva.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Comunicação; Deficiência Auditiva; Desenvolvimento.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO alternativas e as práticas pedagógicas mais


adequadas para as crianças que apresentam
Esse trabalho tem como objetivo descrever esse quadro.
um pouco sobre a deficiência auditiva, ou
como a grande maioria fala surdez, fazendo Infelizmente algumas crianças que
com que as crianças procurem diferentes apresentam deficiência auditiva não são
formas para se comunicar, sendo um assunto diagnosticadas rapidamente, o que causa
importante para quem trabalha com crianças com que sua comunicação com o mundo
com esse tipo de deficiência. seja precária, e algumas famílias acham
que é normal as crianças não esboçarem
As professoras precisam refletir sobre muitos barulhos, nem tentem falar, e são
os processos de instrução e sobre as consideradas algumas vezes como deficientes
estratégias comunicativas que devem ser mentais.
mais adequadas às formas de aprender das
pessoas que possuem essa deficiência. Os objetivos desse trabalho é ampliar o
conhecimento sobre a deficiência auditiva, e
Muitos estudos foram feitos sobre esse alguns pontos que precisam ser trabalhados
assunto, ajudando a oferecer certo saberes dentro da escola, com crianças com algum
para serem compartilhados nem sempre grau de deficiência.
resolvem as controvérsias que acontecem
com o sistema de comunicação mais Mostrando ao professor, que mesmo
adequado para a educação das crianças com a criança com deficiência auditiva pode
deficiência auditiva e o tipo de escolarização aprender como as demais, só que é
que seria o mais correto nesses casos. necessário que se tomem várias providências
e devemos estudar, para poder atender da
O trabalho abordará várias diferenças melhor maneira, oferecendo à essas crianças
que existem entre os graus de surdez um apoio e um ensino de qualidade.
e alguns aspectos tecnicamente mais
médicos. Além de fazer uma pequena analise O objetivo geral é mostrar que as crianças
no desenvolvimento das crianças com com alguma deficiência auditiva podem ter
deficiência auditiva, especialmente do ponto um desenvolvimento como qualquer outra
de vista cognitivo, da sua comunicação e sua criança, se tomada várias providências logo
sociabilidade. que diagnosticado alguma perda auditiva.

O intuito maior desse trabalho é Como professor que somos precisamos


apresentar várias propostas e orientações saber do que se trata e a melhor maneira de
sobre a educação de crianças com algum atender e ajudar no seu desenvolvimento.
tipo de deficiência auditiva, e as diferentes

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Revista Educar FCE - Março 2019

A SURDEZ situações adversas podem ocasionar a perda


de audição em qualquer idade da vida.
A surdez é uma perda auditiva e pode
ocorrer no período pré-natal e também O diagnóstico da surdez pode acontecer
durante ou após o nascimento da criança. logo nos primeiros dias de vida da criança,
Podendo ocorrer durante a gestação e não por meio do teste da orelhinha, exame esse
é possível identificar se a criança nascerá que pode apontar suspeitas, que devem ser
com alguma deficiência auditiva por meio verificadas novamente, confirmando ou não,
de exames, somente após o nascimento. A até mais ou menos quatro meses de idade,
perda auditiva pode ocorrer por algum fator por meio da realização de outros exames e
hereditário, que pode manifestar ou não, testes.
numa família pode haver ou não casos de
crianças com deficiência auditiva, podendo Muitos são os casos que a surdez é
se manifestar ao longo de gerações, não é diagnosticada quando a criança tem por
previamente definido. volta de um a dois anos, quando deveria
estar falando e não consegue, no qual a
Em alguns casos pode acontecer por família inicia uma corrida a fim de entender,
causas de doenças que ocorreram durante a aceitar e procurar alternativas educacionais
gestação da mãe, como: rubéola, meningite, e de saúde adequadas, depois que passa o
toxoplasmose, citomegalovírus, sarampo, susto.
sífilis e herpes. Alguns casos no qual a criança
nasce prematuramente ou quando o bebê Em diversos casos as crianças surdas
passa do tempo de nascer pode acarretar chegam à escola por volta dos cinco ou seis
numa perda auditiva. anos de idade, com um atraso significativo em
relação à aquisição de uma língua, o ideal seria
Não podemos deixar de falar de alguns que a criança surda tenha acompanhamento
fatores de risco, quando a gravida faz uso educacional bem mais cedo que as crianças
de algum entorpecente, drogas, ou alguns sem problemas auditivos, considerando-se
medicamentos, alcoolismo, radiação, etc. que a falta de acesso a uma língua a impede
Durante o nascimento, fatores como de se comunicar, de viver e perceber o mundo
as infecções hospitalares, ou a falta de plenamente.
oxigenação no cérebro, podem acabar numa
perda auditiva da criança. O quanto antes for diagnosticado que a
criança possui alguma deficiência auditiva
O uso de alguns medicamentos tóxicos, será melhor para ela, que pode ser exposta
infecções, e doenças como a meningite, o a algum tratamento, ou caso seja irreversível
sarampo e a caxumba infantil, exposição que ela aprenda o quanto antes o uso da
excessiva a ruídos, traumas diversos e outras língua de sinais, trazendo efeitos benéficos

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Revista Educar FCE - Março 2019

para a criança surda, caso contrário, haverá Quando esse problema acontece no
um enorme risco dela se tornar atrasada no aparelho médio, costuma ser por causa de
seu desenvolvimento global. algum traumatismo, no qual houve uma
perfuração do tímpano ou alguma alteração
As crianças com deficiência auditiva grave na parte dos ossinhos, podendo ser
e não conseguirem se comunicar oralmente, decorrência de uma má formação genética.
quando nascem em uma família ouvinte, que Os médicos observam em que local é
desconhecem a LIBRAS (Linguagem Brasileira a alteração para diagnosticar se houve
de Sinais), acabam não ouvindo as conversas, ou não algum problema e com isso pode
as palavras carinhosas, várias atividades destacar três tipos diferentes: a condutiva
como ouvir uma história, canções de ninar, e ou de transmissão, a neurossensorial ou de
diversos momentos de prazer pela palavra de percepção e a mista.
um adulto da família. E com isso ocorre um
prejuízo na construção de conhecimentos A surdez condutiva ou de transmissão é
da cultura no qual esta inserida e da língua quando ocorre algum problema na região do
propriamente dita, disponível às crianças ouvido externo ou no médio, impedindo ou
que escutam, desde quando nascem. dificultando a transmissão das ondas sonoras
até o ouvido interno.
Quando ocorre a exposição em LIBRAS,
as crianças surdas podem usufruir de todas Esse tipo de surdez geralmente não é muito
essas atividades, diminuindo, ou melhor, grave e nem duradora, com um tratamento
anulando esse atraso, as crianças por serem médico ou quando necessário uma pequena
curiosas e atentas aprendem com muita cirurgia acaba resolvendo esse problema.
facilidade os sinais e conseguem se expressar
rapidamente com os adultos que fazem uso A surdez condutiva altera na quantidade
dessa linguagem. da audição, não na sua qualidade, o grau
de perda auditiva fica até 60 decibéis,
A deficiência auditiva pode ser qualquer e normalmente não são graves para o
alteração produzida ou no órgão em si ou desenvolvimento da linguagem oral.
na via auditiva. O nosso aparelho auditivo é
dividido em: ouvido externo, ouvido médio e Nos casos de surdez neurossensorial ou
ouvido interno. de percepção a área na qual o problema
esta situado é no aparelho interno ou na
Esses problemas algumas vezes ocorrem via auditiva para o cérebro. É um problema
por uma otite, malformações ou falta do de origem genética, geralmente produzida
pavilhão auditivo. por intoxicação (uso de medicamentos),
por alguma infecção (meningite é um dos
maiores causadores de problemas auditivos),

303
Revista Educar FCE - Março 2019

ou por alterações vasculares e dos líquidos certa para ser implantado, para poder ajudar
linfáticos do ouvido interno. na formação da linguagem, entre outros
problemas.
Essa surdez afeta tanto a quantidade
como a qualidade da audição, fazendo com A implantação deve ser estudada caso a
que a pessoa escute menos, mas ouve caso, para que aconteça o melhor para essa
sons retorcidos, por causa aos possíveis pessoa que precisa.
resquícios auditivos de que a criança dispõe,
dependendo também da idade com que isso A surdez mista é quando a pessoa é
ocorreu, faz diferentes tipos de alterações, prejudicada tanto no ouvido interno ou na
ou seja, a frequência é diferente. via auditiva como no canal auditivo externo
ou médio. Sua origem pode ser por causa da
Costuma ser uma surdez permanente, pois surdez neurossensorial ou uma confluência
ainda não temos recursos para se tratar desse de causas próprias de cada tipo de surdez,
problema, nem mesmo com uma intervenção alguns casos uma alteração condutiva pode
cirúrgica para restabelecer a zona prejudicada acabar se estendendo ao ouvido interno e
e recuperar se quer parte da perda da provocando a surdez mista, várias alterações
audição; mas vem se desenvolvendo uma ósseas que podem afetar o componente
nova técnica, um implante coclear, que abre ósseo do ouvido de forma progressiva, à
uma grande possibilidade para as pessoas principio se manifesta em uma afecção
que apresentam esse problema. do ouvido médio podendo fazer com que
ocorra uma perda auditiva significativa ou
Esse implante consiste na introdução, até completa.
isso no ouvido interno, por meio de uma
operação, de um dispositivo eletrônico que O fator de variação do nível de surdez
transforma os sons externos em estimulação tem uma grande variabilidade, que muda
elétrica, fazendo com que as aferências conforme a idade da perda, a reação
sobre o nervo coclear, fazendo com que a emocional dos pais e parentes, com os
pessoa surda receba uma sensação auditiva transtornos que podem ocorrer junto, com o
e, reeducando de forma seu ouvido, para desenvolvimento da criança.
conseguir discriminar a linguagem e os sons.
Dois grandes fatores são as causas mais
Sabemos que uma intervenção cirúrgica, comuns que podem ser o motivo da surdez,
assim tão drástica tem seus prós e seus uma é a base hereditária e as adquiridas,
contras, e esse aparelho não estabelece a mas cerca de um terço das pessoas com
audição, significando que é necessário um deficiência auditiva não tem um diagnóstico
prolongado processo de reabilitação, e tem exato, sendo de origem desconhecida.
uma duração limitada , e tem uma idade

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Revista Educar FCE - Março 2019

Não é fácil determinar a causa da surdez, alguns sons e outros não. Entender toda essa
cerca de 30 a 50% é por causas hereditárias, complexidade inerente às perdas auditivas
sendo a principal razão, de origem genética é importante para perceber que diferentes
tem caráter recessivo. Em muitos casos a pessoas com perdas auditivas leves podem
perda da audição das crianças com pais escutar, ou não, sons diferentes.
ouvintes é genética, levando em conta que
apenas 10% das pessoas surdas têm pais O que merece muita atenção é o fato de que
também surdos. tanto a perda leve quanto a moderada pode
trazer algum prejuízo para a compreensão da
A surdez adquirida na maioria dos casos fala, visto que ambas concentram-se na faixa
esteja associada a outras lesões ou outros de percepção desse tipo de som.
problemas, sendo neonatal, várias infecções,
incompatibilidade de Rh ou rubéola, O grau pode ser avaliado por sua
podendo explicar vários casos em que as intensidade em cada um dos ouvidos em
crianças possuem surdez profunda, com função de diversas frequências, sendo
causa hereditária, com níveis intelectuais medidas em decibéis (dB).
mais elevados que os surdos com outro tipo
de etiologia. O grau de perda é classificada em quatro
níveis: leve, médio, sério e profundo.

OS GRAUS DA SURDEZ A frequência mostra à velocidade de


vibração de ondas sonoras, de grave a
Embora as pessoas entendam que agudas e é medida em Hertz (Hz), e são mais
existem graus distintos de perda auditiva, importantes para o entendimento da fala
um senso comum ainda possui a ideia de situam-se nas faixas médias.
que um indivíduo com uma perda auditiva
profunda, não é capaz de ouvir nada, e as Dentro da escola, costuma-se classificar
com perda leve, moderada ou severa ouvem de uma forma mais ampla, de acordo com
um pouco. Algumas pessoas consideram as necessidades educativas dos alunos:
surdas aquelas que não ouvem nada, e com hipoacústicas têm dificuldades na audição,
deficiência auditiva aquelas com algum tipo mas seu grau de perda não as impede de
de perda, o que no caso é um engano, pois adquirir a linguagem oral por meio da audição,
todas possuem uma deficiência auditiva, não mas precisarão da ajuda de prótese auditiva,
dependendo do grau, todas possuem algum pois ocorrem dificuldades na articulação
grau de deficiência auditiva. e na estruturação da linguagem e, por isso
se faz necessário algum tipo de intervenção
Quando a perda auditiva é leve, é possível logopédica.
observar que a criança consegue ouvir

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Revista Educar FCE - Março 2019

Quanto aos surdos profundos suas perdas A IDADE E SURDEZ


dificultam muito a aquisição da linguagem
oral por conta da audição, inclusive com A idade pela qual a criança tem perda
ajuda de amplificação, convertendo a visão auditiva tem uma grande repercussão em seu
como a principal forma de se comunicar. desenvolvimento posterior. Essa diferença é
divida em três tempos: congênita, quando
Em muitos casos o AASI (Aparelho de nasce, antes dos três anos de idade e depois
Amplificação Sonora Individual) ajuda a dos três anos de idade.
ouvir melhor, entretanto isso depende
muito do grau e do tipo de perda auditiva, Quando a criança sofre de uma perda
além da época da vida em que ocorreu a auditiva antes dos três anos de idade esse tipo
perda, significando que a pessoa com perda de surdez é denominada surdez pré-locutiva,
auditiva pré-linguística, ou melhor, antes pois acontece antes que a criança aprende a
da aquisição de uma língua oral, pode ter falar de forma clara e completa. Após os três
um aproveitamento bem diferente daquele anos de idade a surdez é denominada como
apresentado quando a pessoa surda pós- pós-locutiva, sendo após a aquisição da fala.
linguística, a que já teve a experiência
auditiva significativa, no que diz respeito Muito já foi estudado sobre quando
à construção de pensamento mediada por aconteceu a surdez, a forma e a intensidade
uma língua oraluaditiva. que ela apresenta em decorrência de uma ou
outra causa, e podemos perceber que a idade
Em alguns casos os aparelhos auditivos e o motivo diferem e muito no grau e nos
servirão apenas para pessoas com surdez problemas posteriores que podem acontecer
profunda perceberem ruídos e não para no desenvolvimento dessas crianças,
distinguirem os sons da língua de maneira especialmente se não é diagnosticado cedo.
fluida. Essas próteses em alguns casos de
surdez profunda podem se usados desde Estudos comprovaram que o nível de fala
pequenos, estimular as crianças a fazerem depende e muito do tempo em que foi a perda
uma escuta auditiva e o discernimento dos auditiva, pois com a pequena diferença no
sons vocálicos ou consonantais da língua, tempo em que a criança foi exposta à linguagem,
identificados somente pelos indivíduos que faz com que isso tenha pouca influência no
têm surdez moderada ou leve, mesmo assim, seu desenvolvimento com a linguagem, pois a
de forma gradativa de reabilitação auditiva competência da criança até três anos é muito
que vai desde a detecção, discriminação e pouca e não há uma organização da função
reconhecimento dos sons até a compreensão neurológica, as crianças que perdem a audição
da linguagem. depois dos três anos têm certa dominância
cerebral mais consolidada e conseguem manter
sua linguagem interna.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Quando atendemos crianças com dos pais diante desse fato, podendo ser o
problemas auditivos, precisamos levar mais e improvável, há pais que tentam negar a
em conta todos esses dados e estudos. existência de uma deficiência, tratando o filho
As crianças surdas pré-locutivas precisam como se fosse uma criança ouvinte, outros
aprender uma linguagem totalmente nova, desenvolvem atitudes de superproteção,
que nunca tiveram contato, pois não possuem colocando a criança dentro de um globo de
experiência com o som. Nas crianças que vidro, já os pais que tratam com uma forma
perderam a audição entre o segundo e o mais positiva, aceitam as consequências da
terceiro ano de idade conseguem chegar a surdez, criando um ambiente descontraído
um maior nível de competência linguística, de comunicação e se dispõem a aprender
mas sua estrutura ainda é frágil, mas o e a utilizar com seu filho uma comunicação
objetivo continua sendo a aquisição de um mais enriquecedora, fazendo com que a
sistema linguístico organizado quando a criança consiga desenvolver uma forma de
criança perde a audição. Quando a criança linguagem para se comunicar com as pessoas
perde a audição depois dos três anos, do seu circulo familiar e de amigos.
quando consideramos que ela consiga falar,
o objetivo é manter a linguagem já adquirida, Outro fator que diferencia e muito quando
enriquecê-la e complementá-la. a criança é surda e seus pais também são
surdos, pois aceitam com mais facilidade
a surdez da criança, compreendendo
ALGUNS FATORES melhor sua situação e oferecendo desde
QUE INTERFEREM NO cedo a criança um sistema adequado de
comunicação, a linguagem de sinais, que ela
DESENVOLVIMENTO adquirirá com maior facilidade.

Várias diferenças que as crianças com Os pais ouvintes, que são a maioria no
deficiência auditiva podem apresentar caso de crianças surdas, embora tenham
não dependem somente dos aspectos uma competência maior na linguagem
médicos, associados ao tipo, ou o grau e oral, demonstram maior dificuldade para
nem à época em que a surdez apareceu. encontrar um modelo de comunicação
Existem outros problemas capazes de adequada e o maior problema é que não
modificar substancialmente o curso do conseguem se colocar no lugar de seu filho,
desenvolvimento da criança. não compreendendo direito as experiências
vividas pela criança surda.
Muito depende da atitude os pais frente
da surdez de seu filho, influenciando A melhor forma de se garantir um
consideravelmente o seu desenvolvimento. desenvolvimento satisfatório é quando
É claro que ninguém pode prever a atitude a criança tem a possibilidade de receber

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Revista Educar FCE - Março 2019

a atenção adequada quando se detecta a surdez logo. A criança precisa de uma atenção
educativa que inclua a estimulação sensorial, com atividades comunicativas e expressivas, a
utilização da linguagem de sinais se a criança tiver uma surdez profunda, o desenvolvimento
simbólico, o envolvimento dos pais e a utilização dos resquícios auditivos da criança
favorecendo a superação das suas limitações decorrentes da surdez.

Uma educação adequada é a melhor maneira para um bom desenvolvimento nas crianças
surdas, quando é adaptada às suas possibilidades, com o uso de meios comunicativos de
que a criança necessita, facilitará e muito a sua aprendizagem, claro que esses objetivos são
mais difíceis de alcançar quando a criança com a deficiência precisa se acomodar a modelos
educativos que foram estabelecidos pensando apenas em crianças ouvintes.

O interesse da família em estabelecer, aprendendo a se comunicar com uma criança com


deficiência auditiva, faz com que a criança desde pequena tenha contato com a língua de
sinais, o que faz com que ela não tenham nenhuma perda no sentido da linguagem, pois
aprenderá a se comunicar, aprenderá tudo que uma criança ouvinte aprende, fazendo com
que se desenvolva de forma plena e saudável, não sofrendo tanto quanto uma criança que
fica excluída, já desde pequena em casa.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos perceber que quanto antes as crianças são
diagnosticadas com alguma deficiência auditiva, mas fácil
será a sua comunicação, pois percebido o problema o
quanto antes começar a ensinar a ela a língua de sinais, mais
fácil será a sua comunicação e não perdera nada no seu
desenvolvimento, pois crianças deixadas de lado por não se
comunicarem, vão perdendo o interesse na comunicação e
muitas vezes não se desenvolvem adequadamente.

Quando buscamos conhecer e estudar sobre deficiência ANA PAULA VENEGAS


auditiva, não importando o grau da perda, pois todos são
Graduação em Pedagogia pela
considerados deficientes auditivos, mas surdo é o indivíduo Faculdade Oswaldo Cruz, (2000).
que apresenta um grau profundo de perda auditiva, ou que Especialista em Psicomotricidade,
não escute nada mesmo. pela Faculdade São Marcos,
(2009). Especialista em Arte
Educação pelo Instituto Nacional
É necessário ter consciência que mesmo tendo perda de Educação, (2018). Especialista
auditiva nem todas as crianças apresentam problemas no em Neuropsicopedagogia pela
Faculdade Campos Elíseos (2019).
seu desenvolvimento cognitivo, mas é necessário que se Professora de Educação Infantil,
trabalhe com ela fazendo com que a perda no processo de designada na Diretoria de Ensino.
comunicação não se transforme em problemas maiores,
podendo fazer com que essas crianças alcancem as demais,
e mostrem que são iguais que as outras.

Não podemos considerar que as crianças com deficiência auditiva seja tratada como um
incapaz, pois não é.

Podemos perceber também que quando a criança é tratada por pais que apresentam o
mesmo problema que ela, eles são capazes de mostrar os sinais desde bem cedo, fazendo
com que a criança consiga se comunicar de forma clara, desde pequena, por isso é bom
destacar a importância em se diagnosticar com rapidez o problema auditivo.

Como professores, precisamos conhecer e estudar um pouco sobre a linguagem de sinais


e os cuidados que precisamos tomar quando trabalhamos com algum aluno com deficiência
auditiva, a principal atitude é sempre estar falando frente a frente com seus alunos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Crianças com algum tipo de deficiência auditiva não passam por várias experiências que
as demais crianças passam, mas conseguem se adequar e acompanhar facilmente uma sala
de aula dita normal, claro que várias atividades serão complicadas, mas tudo se olhando
do ponto de vista de uma pessoa com deficiência auditiva, depois acaba se tornando uma
prática inventar atividades que possam incluir a todos, sempre pensando em todos.

Dentro das escolas, podemos ter alguns alunos que possuem alguma forma de deficiência
auditiva e podem não terem sidos diagnosticados, e precisamos ter um pouco de tato,
observar e fazer alguns testes, especialmente com aqueles alunos que são desatentos, os
que quase não falam com mais de três anos de idade e até mesmo aqueles que falam alto
demais, mesmo estando do lado da pessoa com quem quer se comunicar.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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decreto nº 5626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436 de 24 de abril


de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais-LIBRAS e o art. 18 da Lei 10.098 de
19 de dezembro de 2000.

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com necessidades especiais. 2ª edição. Barueri: Manole, 2008.

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comunicação usada pelas pessoas com surdez. São Paulo: Ciranda Cultural, 2010.

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São Paulo: Cortez, 2005.

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VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes,


2001.

311
Revista Educar FCE - Março 2019

AS TEORIAS DO CURRÍCULO E
SUA RELAÇÃO COM AS PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS NOS DIAS ATUAIS
RESUMO: Este artigo tem por objetivo apresentar através de pesquisa bibliográfica, demonstrar
mediante um panorama, as diferentes teorias do currículo e sua aplicabilidade nas escolas
promovendo uma análise das diferentes teorias curriculares e o cotidiano da sala de aula;
abordando o processo histórico destas teorias e a constituição do currículo oculto frente ao
currículo formal no processo de ensino – aprendizagem e nas relações professor – aluno. As
reorganizações curriculares afetam diretamente as práticas docentes, seja na didática como
no processo de avaliação do desenvolvimento da aprendizagem dos alunos. As pedagogias
participativas apresentam propostas que buscam promover consideráveis reflexões sobre as
práticas na sala de aula e na qualificação dos registros do processo educativo dos alunos.

Palavras-Chave: Currículo; Aprendizagem; Relação Professor- Aluno; Didática

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO implícita para aprendizagens sociais


relevantes (...) o que se aprende no currículo
Ao discutir sobre currículo e sua oculto são fundamentalmente atitudes,
reorganização nos sistemas de ensino é comportamentos, valores e orientações....’’,
preciso compreender a importância e a (SILVA, 1999).
teoria dos currículos e sua história. Diversos
autores definem currículo, sua terminologia O currículo tem seu papel no ambiente
e sua aplicabilidade dentro e fora da sala de escolar e no fazer pedagógico, porque
aula. cotidianamente os alunos trazem suas
vivências, experiências para a sala de aula em
Segundo Silva (2002) o currículo surgiu diversos momentos, por isso, a importância
incialmente nos Estados Unidos no início do da contextualização das aprendizagens.
século XX, com o objetivo de propiciar uma
melhor racionalização do trabalho escolar. A teoria curricular pós – crítica emergiu
nas décadas de 70 e 80 criticando as
O currículo escolar tem seus enfoques outras teorias, tendo como foco o sujeito
porque tem em vista o conjunto de enfatizando as competências e habilidades e
práticas vivenciadas na instituição escolar, não somente os conteúdos de forma linear,
considerando as formas do currículo (formal, valorizando o multiculturalismo.
real e oculto), tendo como base o que, e
em que tempo os conteúdos devem ser ‘’Cada modelo de ser humano, corresponderá a
um tipo de currículo’’, portanto, ‘’o currículo é
ensinados. Há diferentes teorias curriculares,
uma questão de identidade’’ (SILVA, 2010).
como a teoria curricular tradicional citada
abaixo:
É importante ter clareza das questões de
‘’O currículo aparece, assim como o conjunto identidade, de diversidade, de aceitação de si
de objetivos de aprendizagem selecionados
que devem dar lugar à criação de experiências e do outro, para que estabeleça – se relações
apropriadas que tenham efeitos cumulativos pautadas no respeito e principalmente no
avaliáveis, de modo que se possa manter o diálogo, considerar o que os alunos sabem e
sistema numa revisão constante, para que
nele se operem as oportunas recomendações’’. vivenciam no processo de aprendizagem.
(SACRISTAN, 2000, p.46).
As teorias Curriculares abordam os
registros do processo educativo e sua
As teorias curriculares críticas definem importância de forma que tenha qualidade e
que o ‘’currículo oculto é constituído sejam importantes fontes de dados sobre o
por todos aqueles aspectos do ambiente desenvolvimento do aluno ao longo de seu
escolar que, sem fazer parte do currículo percurso no processo educativo.
oficial, explícito, contribuem de forma

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Revista Educar FCE - Março 2019

O CURRÍCULO E O concepção de que era preciso decidir sobre


REFLEXO NAS PRÁTICAS o que ensinar ganha força e, assim nas
diferentes teorias, em comum encontrava-
PEDAGÓGICAS ATRAVÉS se uma definição do currículo como plano
DAS REORGANIZAÇÕES formal das atividades /experiências de
CURRICULARES ensino e aprendizagem.

Toda reorganização curricular reflete O currículo é uma questão de identidade,


nas práticas pedagógicas, ou seja, no fazer implica em relações de poder. Os autores
pedagógico dos docentes diretamente com diferem quanto ao significado e a teoria
seus alunos cotidianamente. As políticas curricular, sendo a teoria curricular o reflexo
de descontinuidade comum em nosso país da prática na escola. Teorias curriculares são
das diferentes gestões influenciam neste concepções diferentes sobre a aplicabilidade
processo e por vezes, muitos trabalhos são do currículo em sua essência ao longo da
interrompidos, programas são alterados história é a definição do que ser ensinado,
ou cessados, há sempre a interrupção e o portanto, tem vários sentidos e concepções.
recomeço.
‘’ Na realidade não temo suma definição única
‘’ As reformas curriculares que a educação tem de currículo, cada teórico tem o seu próprio
sofrido, especialmente nos últimos anos, têm conceito ou definição, de modo que TABA
gerado mais problemas que soluções. Não é (1974), MACEDO (2002), SAVIANI (2003), SILVA
bem isto o que educadores e pais esperam. (1999), e tantos outros teóricos, apesar de todos
Ao contrário uma reformulação do currículo terem seus pontos de vista diferentes na maneira
é vista pela maioria como possibilidade de de conceituar o referido termo, por unanimidade
reorganização das práticas escolares, de modo convergem em identificar o currículo como
que os problemas sejam superados e novas produto da seleção natural, onde estão
perspectivas se apresentem para alunos, incluídos avaliação, organização, distribuição
educadores e pais.’’ (MATE,2001). e conteúdos programáticos, compreendendo
não apenas um conjunto de conhecimentos
acadêmicos ou científicos e saberes organizados
estruturalmente através de uma grade ou
Atualmente muito se pensa em desenho curricular, acontecendo aí, também à
reorganização curricular na rede pública ligação dos saberes e conhecimentos científicos
de ensino, porém, é preciso ter claro que com o processo didático-pedagógico’’. (AGUIAR,
2017).
o currículo é identidade e que cada escola
está inserida em um contexto diferente, ou
seja, diferentes identidades e sujeitos de A aplicação do currículo na prática é na
aprendizagem em diferentes contextos. sala de aula (aplicação do currículo formal),
conteúdo programático, as disciplinas, e se
Primeiramente é preciso compreender entrelaça com outras práticas que não estão
o significado do currículo e seu sentido na inseridas no currículo formal, o que são
sala de aula. Segundo Lopes e Macedo, a chamados de currículo oculto que engloba

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Revista Educar FCE - Março 2019

os valores e os temas transversais, ou seja, acompanham o aluno no início do Ensino


as práticas curriculares são influenciadas Fundamental, onde de fato o aluno entra nos
pela sociedade, política, economia, cultura, processos avaliativos.
tecnologia, a escola é o reflexo da sociedade,
até mesmo do que ocorre no seio familiar ‘’Essas idéias percebidas nas orientações legais
que dispomos atualmente são muito próximas
das famílias. das concepções que encontramos das diferentes
propostas curriculares das pedagogias
‘’(...) o currículo faz parte, na realidade, de participativas, produzem segundo Oliveira-
múltiplos tipos de práticas que não podem Formosinho (2007, p.15), uma ruptura com
reduzir-se unicamente às práticas pedagógicas uma pedagogia tradicional transmissiva para
de ensino; ações que são de ordem política, promover outra visão de ensino aprendizagem e
administrativa, de supervisão, de produção dos ofícios de aluno e professor. A centralidade
de meios, de criação intelectual, de avaliação, das famílias participativas está na participação
etc. e que, enquanto são subsistemas em dos atores na construção do conhecimento,
parte autônomos e interdependentes, geram refutando assim a idéia presente nas pedagogias
forças que incidem na ação pedagógica’’. transmissivas de conhecimento a ser transferido’’.
(SACRISTAN,1998). (PINAZZA, 2018).

Os registros pedagógicos são importantes


fontes de dados para a construção do AS TEORIAS CURRICULARES
processo de ensino – aprendizagem,são
registros que não somente qualificam o As teorias curriculares são representações
processo de aprendizagem mas também quanto à aplicabilidade do currículo na prática
a forma da didática desenvolvida e das conforme citado anteriormente, segundo
propostas dos professores de acordo com silva (1999): ‘’ teoria é uma representação,
as Diretrizes Curriculares. Na educação uma imagem, um reflexo, um signo de
infantil os registros são fontes muito ricas uma realidade que – cronologicamente,
porque através dele é possível observar ontologicamente –a precede’’.
o seu desenvolvimento deste bebês nos
Centros de Educação Infantil, onde, no Iniciandocomasteoriastradicionais,abordando
município permanecem até os três anos de a partir de agora as concepções de alguns autores
idade, após, são transferidos para as EMEIS sobre currículo. A teoria tradicional é focada na
– Escolas Municipais de Educação Infantil organização, formação como um processo de
onde permanecem até os cinco anos e onze linha de produção, reprodutivo, repetitivo. Para
meses, e após, dão início em sua jornada no Bobbit o currículo era uma mecânica em que a
Ensino Fundamental. Os registros realizados escola funcionasse como uma linha de produção
no CEI são de extrema importância, são de uma indústria (fabril, por exemplo), baseado
relatórios que contém informações sobre no modelo de administração de Taylor, onde os
aquele aluno desde bebê. As EMEIs recebem resultados eram vistos de forma racionalizada, e
estes relatórios e após, ambos os relatórios com rigorosidade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

não é desenvolver técnicas de como fazer


John Dewey liderou uma vertente currículo, mas desenvolver conceitos que nos
progressista que ia de embate à Bobbit permitam compreender o que o currículo faz’’.
gerando um contraste, para Dewey as (SILVA, 2010).

experiências, os saberes dos alunos deveriam


ser considerados nos planejamentos, bem Na década de 60 teve início uma mudança
como seus interesses. Se preocupava com neste panorama, de forma que as teorias
a construção da democracia e não apenas críticas do currículo passaram a propor
com questões de economia e mercado discussões importantes sobre a formação e
de trabalho. Nos Estados Unidos a visão o papel do professor, sendo teorias críticas
curricular de Bobbitt permaneceu até a propondo transformações.
década de 80.
No Brasil o educador Paulo Freire teve um
‘’O modelo progressista, sobretudo aquele importante papel na luta contra a educação
centrado na criança, atacava o currículo clássico
por seu distanciamento dos interesses e das tradicional, reprodutora, tecnicista,
experiências das crianças e dos jovens. Por estar denominada por ele de ‘’educação bancária’’,
centrado nas matérias clássicas, o currículo onde os alunos eram vistos como recipientes
humanista simplesmente desconsidera a
vazios á serem preenchidos, propondo
psicologia infantil’’. (SILVA,2010.)
uma ‘’educação problematizadora’’ como
alternativa a concepção bancária, sendo
Nesta concepção o foco era a técnica, a o fazer pedagógico um ato de diálogo,
reprodução, os conhecimentos prévios e os considerando o contexto em que o educando
anseios dos alunos não era considerados, o estava inserido, sua realidade e a possibilidade
foco da formação eram as atividades laborais de intervenção nesta realidade, ao contrário
preparando somente para a vida profissional, da educação bancária em que o educando
cultura da reprodução, tecnicismo, a é passivo, na educação problematizadora o
formação para o trabalho reprodutivo. A educando faz parte do processo enquanto
partir da década de 70 passou-se a contestar sujeito ativo participativo, capaz de intervir
este modelo tradicional técnico. Segundo em seu contexto.
Silva: as teorias críticas do currículo efetuam
uma completa inversão nos fundamentos A crítica à teoria tradicional faz – se em
tradicionais. virtude como já citado acima, da reprodução
baseada na cultura dominante gerando
uma dupla violência: a dominação cultural
‘’As teorias críticas desconfiam do status-quo, (exclusão social) gerando uma dupla violência
responsabilizando-os pelas desigualdades e
injustiças sociais. As teorias tradicionais eram a alienação, e a imposição de crenças e
teorias de aceitação, ajuste e adaptação. As valores.
teorias críticas são teorias de desconfiança,
questionamento e transformação radical. Para ‘’o resultado é que as crianças e jovens das
as teorias críticas de como fazer o importante classes dominantes são bem sucedidas na escola,

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Revista Educar FCE - Março 2019

o que lhes permite o acesso dos graus superiores do sistema educacional. As crianças e jovens das classes
dominadas, em troca só podem encarar o fracasso, ficando pelo caminho’’. (SILVA, 2010).

As teorias críticas surgiram para transformar e romper com as teorias tradicionais


questionando o papel da escola no processo cultural e social. A escola atua ideologicamente
através do currículo, é fundamental que haja criticidade, e uma resignificação do processo
educativo. São três os conceitos centrais de uma educação libertadora: transformação,
direito a voz, esfera pública.

As teorias se direcionam para as Teorias Pós – Críticas, que trazem as relações entre o
currículo e o multiculturalismo, sendo um movimento de reivindicações das minorias, dos
excluídos, sendo um movimento legítimo de luta por igualdade de direitos, e por políticas
públicas.

317
Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste artigo foi de explicitar a concepção de
currículo e sua prática nas escolas, de modo a favorecer a
compreensão do currículo pelos diferentes autores, bem
como as teorias curriculares e suas influências principalmente
para as classes menos favorecidas da sociedade.

As teorias tradicionais são focadas na técnica, na


reprodução, no mecanicismo, nesta teoria a escola é como
uma linha de produção/ reprodução; as teorias críticas e
pós- críticas surgiram para confrontar esta teoria curricular,
passando a considerar os conhecimentos prévios dos
alunos e seus interesses, é uma luta romper o paradigma
de reprodução das desigualdades, na qual a escola e o
currículo devem ser meios para estudantes e professores
exercerem suas habilidades, sua autonomia, sua criticidade
nos diferentes contextos da vida social, onde todos são ANA ROSA DINIZ
sujeitos ativos e envolvidos no ato de conhecer. JUNQUEIRA

Graduação em Pedagogia pela


Atualmente estamos vivendo um conturbado momento Faculdade Oswaldo Cruz, (2000).
político, econômico e social que refletem diretamente na Especialista em Psicomotricidade,
sala de aula através dos comportamentos dos nossos alunos pela Faculdade São Marcos,
(2009). Especialista em Arte
e, surgem muitas propostas de reorganização curricular, Educação pelo Instituto Nacional
porém, é preciso um olhar crítico, visto que, são inúmeros de Educação, (2018). Especialista
os desafios enfrentados pelos docentes e pelo atual sistema em Neuropsicopedagogia pela
Faculdade Campos Elíseos (2019).
educacional brasileiro, um dos grandes entraves é o choque de Professora de Educação Infantil,
gerações, por vezes, encontramos professores que insistem designada na Diretoria de Ensino.
em ministrar aulas como em décadas atrás, e o aluno de
hoje apresenta outro perfil, que reflete os comportamentos
atuais, mais que uma reorganização curricular (em termos
de conteúdos programáticos) é preciso formação docente
continuada, melhorias nas condições de trabalho e salários
dignos, colocando em prática um currículo flexível no qual
o aluno é um protagonista, sujeito ativo e participativo no
seu processo de ensino e aprendizagem, que seja capaz de
intervir na sua realidade social.

318
Revista Educar FCE - Março 2019

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319
Revista Educar FCE - Março 2019

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA
PSICOPEDAGOGIA
RESUMO: Neste artigo correlacionarei o lúdico como ferramenta psicopedagógica. A
palavra lúdico pode ser definida de várias formas, do ponto de vista educacional, segundo
ANTUNES,2003,p.17.”.. essencialmente visam estimular o crescimento e aprendizagem”. O
jogo é uma atividade que pode ser expressiva ou geradora de habilidades cognitivas gerais e
específicas PIAGET (2005) relaciona o jogo com a aprendizagem e o define também com um
comportamento que distorce a realidade para servir de papel expressivo no desenvolvimento
de certas habilidades cognitivas, mas não gerador da constituição do pensamento na criança.
Atraves dos jogos a criança pode reviver suas alegrias, seus medos, seus conflitos, resolvendo-
as a sua maneira e transformam sua realidade naquilo que desejam, internalizando regras de
conduta e valores que orientarão seu comportamento, com uma proposta criativa e recreativa
de caráter físico, mental e social A criança que brinca esta desenvolvendo sua linguagem oral,
seu pensamento associativo, suas habilidades auditivas e sociais, construindo conceitos de
relações de conservação, classificação, seriação, aptidões visu-espaciais e muitas outras.
(ANTUNES, 2003, P.19). Ela desenvolve, ainda, sua imaginação, atenção, imitação e memória,
além de amadurecer algumas competências para a vida coletiva, por meio da interação e da
utilização de regras e papéis sociais Ao brincar, a criança explora tudo o que pode naquele que
lhe é oferecido, questionando ou entrevistando e buscando o que está vivenciando, explorando
ao máximo, desenvolvendo-se psicologicamente e socialmente. Trabalha sua comunicação,
envolvendo-se com o mundo exterior tendo liberdade de se expressar, se envolver em
diferentes situações de que ela resolva. O trabalho psicopedagogico deve ser estabelecido em
função das necessidades da criança. Veremos a seguir a importância da utilização do ludico no
atendimento psicopedagogico,conhecendo e identificando a influencia do mesmo.

Palavras-Chave: Psicopedagogia; Lúdico; Aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO vicio e ao azar.


Entretanto Wajskop (1990,p.62-69)
Segundo Wajskop (1995,p.62-69) nas afirma que essa atitude de reprovação
sociedades ocidentais atuais, sempre que total modificou-se ao longo do seculo XVII,
se pensa na criança e nos seus cuidados e principalmente sob a influencia dos jesuitas.
educaçao, faz-se uma referencia ao brincar. A partir do seculo XVI, difundiam-se duas
Normalmente, a aceitação da brincadeira representaçoes infantis que estavam na base
como parte da infancia é consequencia da educação das crianças indias e mestiças no
de uma visão social de que brincar é uma Brasil; o mito da criança-santa e o da criança
atividade inata, inerente á natureza da que imita Jesus, cujas brincadeiras serviriam
criança. A autora afirma que a concepção de base para uma educação disciplinar e
de educaçao da criança que a vincula a uma integradora.
determinada forma de brincar tem origem
nas concepções romanticas de homem e Wajskop (1990,p.62-69) ressalta que
educação, tendo contribuido tambem a é apenas com a ruptura do pensamento
crescente distinção entre criança e adulto, romantico que a valorização da brincadeira,
como categorias sociais com direitos e da forma como a entendemos hoje, ganhou
deveres diversos que vem sendo construida espaço na educação das crianças pequenas.
pelos homens depois da Idade Media. Essa Sendo que hoje há uma tendencia das
diferenciação entre criança e adulto, em pre-escolas brasileiras a utilizar materiais
nossa sociedade, é equivalente aquela didaticos, brinquedos pedagogicos e
estabelecida entre brincar e trabalhar, pelo metodos ludicos de ensino e alfabetizaçao,
menos teoricamente. Na antiguidade, as cujos fins encontran-se no próprio material,
crianças participavam tanto quanto o adulto, dessa forma descontextualizando seu
das mesmas festas, dos mesmos ritos e uso dos processos cogntivos e historicos
mesmas brincadeiras. experimentados pelas crianças. Assim,
a maioria das escolas tem didatizado a
Segundo Ariés (1981,p.94) nessa época atividade ludica das crianças, restringindo-a
o trabalho não ocupava tanto tempo do a exercicios repetidos de discriminação
dia e nem tinha o mesmo valor existencial visomotora e auditiva, mediante o uso de
que lhe atribuimos nesse ultimo seculo. brinquedos, desenhos coloridos musicas
Gradativamente, esses jogos, brincadeiras ritmadas.
e divertimentos passam a sofrer uma
atitude moral contraditoria. Por um lado, Segundo Wajskop (1995,p.62-69) após a
eram admitidos seem reservas pela maioria introdução das teorias da privação cultural
das pessoas, por outro, eram proibidos e no pais, as atividades se apoiaram em
recriminados pelos moralistas e pela igreja, materiais ludicos e brinquedos, que por
que os associavam aos prazeres carnais, ao si só deveriam ser capazes de ensinar ás

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Revista Educar FCE - Março 2019

crianças os conteudos programaticos. Por Para Wajskop (1990,p.62-69) o brincar, numa


ser atividade controlada pelo professor, a perspectiva sociocultural, define-se por uma
brincadeira aparecia como um elemento maneira que as crianças tem para interpretar
sedutor oferecido á criança, que não podia ter e assimilar o mundo, os objetos, a cultura, as
a iniciativa de escolher o tema, nem mesmo relações e os afetos das pessoas. Por causa
o conteudo didatico seja transmitido. Utiliza- disso, transformou-se no espaço caracteristico
se o interesse da criança pela brincadeira da infancia para experimentar o mundo
para orientá-la para a escola. do adulto, sem sdentra-lo como participe
responsvel. Na brincadeira, as crianças podem
Brougére (1993,p.227) afirma que as pensar e experimentar,situaçoes novas ou
relaçoes encontradas entre brincadeira mesmo do seu cotidiano, isentas das pressoes
e educaçao no decorrer da historia situacionais.
contemporânea foram importantes para
transformar a imagem de frivolidade e No entanto, Wajskop (1990,p.70) ressalta
gratuidade que se tinha da atividade ludica. que é importante tambem pelo seu carater
A brincadeira precisou ser concebida como aleatorio,a brincadeira tembem pode ser o
uma vantagem evolutiva para manter-se espaço de reiteração de valores retrogrados,
enquanto atividade infantil, ela serve para conservadores, com os quais a maioria
alguma coisa, não pode ser futil. A biologia das crianças se confronta diariamente. A
fundou o valor educativo da brincadeira e contradição dessa atividade só pode ser
a psicologia, distanciando-se de sua origem encontrada e resolvida a partir de uma decisão
biologica, reconstroi essa concepçao. pedagogica e objetiva sobre os caminhos
que se quer ampliar para as crianças.
Brougére e Henriot (1993,p.126) propoe
uma analise socio- cultural do brincar a Segundo Vygotsky (1984,p.117) é na
partir de suas representaçoes nas diferentes brincadeira que a criança sempre se comporta
épocas. E afirmam que mais do que um alem do seu comportamento habitual de sua
comportamento a ser observado, a brincadeira idade , alem do seu comportamento diario, no
requer uma forma de pensamento para brinquedo é como se ela fosse maior do que
poder existir, e que a brincedeira aparece é na realidade, o brinquedo fornece estrutura
como portadora de um potencial educativo, basica para mudanças das necessidades e da
isto se deve, provavelmente, menos ás consciência, A ação na esfera imaginativa,
caracteristicas intrinsecas do indivíduo numa situaçao imaginaria, a criaçao das
em desenvolvimento e mais ás estrategias intenções voluntarias e a formaçao dos
estabelecidas pelas sociedades para fazzer planos de vida real e motivaçoes volitivas,
da criança um ser social. tudo aparece no brinquedo, que se constitui
no mais alto nivel de desenvolvimento pré-
escolar.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Wajskop (1990,p.70) caracteriza essas • As crianças decidem sobre o que, com


atividades da seguinte forma: quem, onde, com o que e durante quanto
tempo brincam. Decidem, no processo,
• Existe um enredo ou situação mudanças nos papeis, no uso dos objetos e
imaginaria a patir da qual as crianças nas açoes imaginaveis que se desenrolam.
brincam e se comunicam, atribuindo • As brincadeiras são desprovidas de
significados diversos ações e objetos. finalidades ou de objetivos explicitos.
Essa caracteristica pode ser identificada
por uma forma singular de utilizaçao da Partindo desse pressuposto, é possível
linguagem, atraves do condicional verbal constatar que uma das formas de trabalho
ou de sinasi e gestos coporais próprios a psicopedagogico é fazendo uso do ludico, que
brincadeira. seja no diagnostico, quer seja no tratamento.
• Ao brincar, as crianças podem atribuir
a si próprias outras caracteristicas,
fantasiando-se e representando papeis O LÚDICO COMO
como se fosse um adulto, outra criança, MOTIVAÇÃO NO
um boneco, um animal, etc. Podem,
tambem, manupular objetos ou bonecos
DESENVOLVIMENTO
para os quais são atribuidas caracteristicas INFANTIL
singulares.
• As crianças podem utilizar-se de Vygotsky produziu um campo tecnico no
objetos substitutos, ou seja, podem qual privilegia a linguagem e o significado no
atribuir aos objetos significados diferentes desejo de brincar. Quando uma criança evoca,
daqueles que normalmente possuem, atraves de uma palavra, um determinado
transforando-os em brinquedos. objto, esta explorando, atraves de signo, as
• As criançasimitam e representam as possíveis relações deste objeto com outros
interaçoes presentes na sociedade na qual objetos, coisas e pessoas e construindo o
vivem. conceito referente aquele objeto. No nivel
• Toda brincadeira possui regras que mental, estará expandindo o imaginario
são definidas e respeitadas por aqueles ao substituir elementos concretos por
que brincam. abstratos, colocando-os numa condição de
• È durante o processo de interação movimentação espacial e temporal e mais
e negociação entre aqueles que brincam amplos estará expandindo os elementos
que são atribuidos significados ás ações, fundamentais para a imaginação. Ao
aos objetos e aos personagens com os brincar, a criança explora e expande o real.
quais as crianças brincam. Isto quer dizer Consequentemente, amplia o imaginario e
que as brincadeiras se constroem durante desenvolve a inteligencia. A expansão dos
o processo de brincar. conceitos, atraves das generalizaçoes que a

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Revista Educar FCE - Março 2019

criança faz, propicia o movimento criativo e A teoria Froebeliana proporciona subsidios


contribui para a construção a inteligencia. para a compreensão da brincadeira como
ação livre da criança, e o uso dos dons, objetos
O brinquedo cria uma regiao de tensao como suporte de açao docente, permitindo a
criativa, a qual Vygotsky denominou de aquisiçao de habilidades e conhecimentos.
zona de desnvolvimento proximal: “região” Froebel concebe o brincar como atividade
de dominio psicologico em constante livre e espontanea, responsavel pelo
transformção, representada pela distancia desenvolvimento fisico moral, cognitivo,
entre o nivel de desenvolvimento real e o emocional, e os dons ou brinquedos, como
nivel de desenvolvimento potencial. No objetos que subsidiam atividades infantis.
brinquedo, a criança sempre age como se
ela fosse maior do que é na realidade, “
como no foco de uma lente de aumento, o USO DO LÚDICO
brinquedo contem todas as tendencias do NO DIAGNÓSTICO
desenvolvimento de forma condensada,
sendo, ele mesmo, uma grande fonte de PSICOPEDAGÓGICO
desenvolvimento”, (VYGOTSKY,1989,p.117).
No brincar, a criança constroi um espaço de
A introdução da brincadeira no contexto experimentação, de transição entre o mundo
infantil inicia-se, timidamente, com a criação interno e o externo. O processo lúdico é
dos jardins de infancia, fruto da expansao fundamental no trabalho psicopedagógico.
da proposta Froebeliana que influencia O uso de situações lúdicas é mais uma
a educação infantil de todos os países. A possibilidade de compreender o funcionamento
teoria Froebeliana considera o brincar não dos processos cognitivos, afetivos e sociais
apenas como atividade livre e espontanea em suas interferencias mutuas. A utilização
da criança, mas um suporte para o ensino, do ludodiagnóstico, já estruturado dentro de
permitindo a variação do brincar, ora como uma visão teorica na Psicopedagogia, auxilia
atividade livre, ora orientada. As concepções o terapeuta na construção de sua forma
froebelianas de educaçao, homem e própria de agir. O diagnostico de forma ludica
sociedade estão intimamente vinculadas ao facilita a comunicação, as intervenvenções e
brincar. Concepçoes de homem e sociedade pode revelar um momento esclarecedor com
envolvendo a liberdade do ser humano de mais facilidade, por exemplo: frustrações,
auto determinar-se buscam o conhecimento desestimulo, inquietações, etc. Ao se abrir
para a humanidade desenvolver-se e definem um espaço de brincar durante o diagnostico,
a função da educação infantil que se reflete já se está possibilitando um direcionamento
no brincar. de avanço e progresso, pois brincar é
saudavel, rompendo, assim, a fronteira entre o
diagnostico e o tratamento.

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Para Winnicott (1975,p.59) : “ A fundamentais do processo de construção


psicoterapia se efetiva na sobreposição de do saber como capacidade de inventario;
duas areas do brincar juntas”. É mportante adequação do significante-significado;
apoiar a observação em alguns pontos, como organização e integração.
a escolha do material e da brincadeira, o
modo de brincar e a relação com o terapeuta. Para Kishimoto (1999,p.28), “(…) O
renascimento vê a brincadeira como conduta
A brincadeira é importante para a livre que fornece o desenvolvimento da
Psicopedagogia, pois, a medida em que se inteligencia e facilita o estudo”.
faz a intervenção, estar diagnosticando e
tratando no que diz respeito ao aprender. O Em cada brinquedo, sempre se esconde
brincar, como instrumento de tratamento, uma relação educativa. Para a criança,
cria um espaço compartilhado de confiança, a brincadeira é a melhor maneira de se
favorecendo o avanço para a aprendizagem comunicar, um meio para perguntar e
significativa e ajudando a recuperar o prazer explicar, um instrumento que ela tem para
perdido de aprender e a autonomia. A se relacionar com outra criança, alem de ser
psicanalise infantil centra-se no jogo como um espaço de conhecimento sobre o mundo
um possibilitador de elaboração de situaçoes externo. É na brincadeira que a criança pode
traumaticas, de possibilidades criativas, conviver com seus sentimentos internos.
de aprendizagem, de identidade e de Os sentimentos devem ser preservados
dominio, experiencia, controle de ansiedade, neste espaço para que a criança possa
estabelecimento de contratos sociais e se expressar e expor. A criança utiliza o
trabalho do prazer. O brincar possibilita brinquedo para experimentar o mundo,
o desenvolvimento das significaçoes de saciar a curiosidade, aprender a vencer os
aprender, compreender a instalação de medos, enfim, desenvolver-se criativamente
patologias no aprender e a inter-relação para enfrentar novas situações que a
entre inteligencia, desejo e corporeidade. interessem. A brincadeira é um espaço de
A brincadeira é um jogo onde o impossivel aprendizagem, ajuda a elaborar papeis que
pode ser experimentado. Para Pain terão de exercer no futuro, alem de superar
(1985,p.51) : “ (…) a atividade ludica nos limitações. Brincadeiras e brinquedos são
fornece informações sobre o esquema que estruturadores do saber porque consiste
organiza e integra o conhecimento num em recursos dinamicos para aprender.
nivel representativo”. Por isso considera- Estes recursos dinamicos para aprender.
se de grande interesse para o diagnostico Estes recursos aumentam a oralidade dos
do problema de aprendizagem a “ hora do alunos, a concentração, e a cooperação.
jogo”. O importante é descobrir como a As brincadeiras são verdadeiros estimulos
criança brinca. A atividade ludica é canal do desenvolvimento intelectual, mantém
de aprendizagem onde se observa aspectos relações sociais, refletindo experiencias e

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Revista Educar FCE - Março 2019

valores da própria comunidade em que estão do seu eu, deformando-o para atender os
inseridas. seus desejos e fantasias. Afirma tambem
que o jogo tem uma evolução, começando
Kishimoto (1999,p.28) afirma que a com exercícios funcionais ( correr, saltar,
brincadeira é terapeutica (libertaria, curativa) jogar bolinha, etc.) e seguidos pelos jogos
e pedagogica, facilita a aproximação dos simbolicos (imitar, dramatizar). Aparecem
indivíduos, criando um clima de harmonia, depois os jogos de construção, que vão
comunicação, alegria e confronto dos aproximando-se cada vez mais do modelo,
desafios através do espirito ludico. A criança e os jogos de regras, introduzindo a logica
se desenvolve atraves da atividade do brincar, operatória.
neste sentido, a brincadeira pode ser vista
como atividade condutora que determina o Sara Pain (1986,p.50) observa que o
desenvolvimento da criança num mundo rico exercício de todas as funções semioticas
e em continua mudança, com um intercambio que supõe a atividade ludica possiblita uma
permanente entre a fantasia e a realidade de aprendizagem adequada, na medida em que
acordo com a fase evolutiva. É tambem uma é atraves dela que se constroem os codigos
forma de avanço para novos dominios da simbolicos e significativos e se proccessa
vida futura. os paradgmas do conhecimento conceitual,
ao se possibilitar, atraves da fantasia e do
Segundo Freud (vol.XX) o jogo é uma tratamento de cada objeto nas suas multiplas
atividade criativa e curativa, pois permite circunstancias possíveis.
á criança (re) viver ativamente as situações
dolorosas que viveu passivamente, Bossa (1994,p.86) afirma que do ponto de
modificando os enlaces dolorosos e vista afetivo, os jogos infantis reproduzem
ensaiando na brincadeira as suas expectativas situações psicologicas estruturantes na
da realidade. constituição do eu . A autora cita como
exemplo, os jogos de esconder-aparecer.
Conforme aponta Fernandez (1990,p.165) Esses jogos significariam a expressão do
que não pode haver construção do saber vinculo, ou seja, o vinculo mãe-filho, e a
se não se joga com o conhecimento, pois descoberta pela criança da mãe como objeto
o saber é a incorporação do conhecimento de amor separado de si.
numa importante ferramenta terapeutica.
Do ponto de vista cognitivo, significa a via Freud (1920) faz considerações sobre
de acesso ao saber. o caso de uma criança de um ano e meio (
jogo fort-da) que repetia uma brincadeira na
Piaget (1986,p.50) afirma que o jogo qual arremessava um carretel amarrado por
simbolico, que surge ao redor dos dois anos, um cordão de forma que desaparece ao ser
permite á criança assimilar o mundo á medida arremessado e voltasse a aparecer quando o

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Revista Educar FCE - Março 2019

garoto o puxava pelo cordão, simbolizando desta forma as saidas da mae. Segundo Freud
(1920) em Além do principio do prazer, ao simbolizar dessa maneira a partida e o retorno da
mãe, o garoto pode integrar de forma positiva em sua realidade psiquica uma experiencia
dolorosa, elaborando-a.

Alicia Fernandez (1990,p.111) assinala que a contribuição simbolica pessoal de significado


ao processo de aprendizagem vai recorrer, como o faz o sonho, aos restos diurnos, a um
reservatorio de cenas em movimento que tem a ver com a alimentação: movimento de
incorporação, arrebatar, mastigar a presa como uma fera, tomar como um bebe a mamadeira,
mastigar o alimento com prazer.

Bossa (1994,p.87) cita que alem dos jogos orais, tambem os jogos com argila, água,
areia, tinta plastica, etc, como representantes excrementicios em forma de substitutos
socialmente aceitos; os jogos com bonecas e animais como expressão da fantasia da criança
sobre a relação dos pais e os jogos como veiculos simbolizando as fantasias de penetração
e representando a forma de controle pulsional fornecem ao terapeuta elementos de analise.
A autora afirma que todos esses jogos tomados como referencia ao campo da aprendizagem
dizem de como a criança aprende, que coisas aprende, qual o significado do aprender, como
ela se defende do objeto do conhecimento e que operações mentais utiliza no jogo.

Ao propor a hora do jogo psicopedagogico, Fernadez (1990,p.171) usa como estrategia


para compreender os processos que podem ter levado á estruturação de uma patologia
no aprender, afirma que tal atividade possibilita o desenvolvimento e posterior analise das
significações do aprender para a criança.

Pain (1986,p.54) aponta que conhecer a aptidão da criança para criar, refletir,
organizar,integrar. A autora considera que quatro aspectos fundamentais da aprendizagem
podem ser extraidos da observação do jogo, distancia de objeto, capacidade de inventario,
função simbolica, adequação significante-significado, organização, construção de sequencia,
integração, esquemas de assimilação.

Bossa (1994,p.92) salienta a importância de o psicopedagogo jogar o jogo da criança ,


sem no entanto perder de vista o seu compromisso com a aprendizagem e lembrando que
toda relação do sujeito com o mundo, depois que deixar de ser consequencia de um reflexo,
demanda aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para uma criança o jogo é muito mais do que um simples
ato de brincar, é atraves dele que a criança se comunica com
o mundo e tambem se expressa. Para o psicopedagogo, ele
constitui um espelho, uma fonte de dados para compreender
melhor como se dá o desenvolvimento infantil e quais são
suas dificuldades de aprendizagem. Jogos e brincadeiras
não são somente divertimento ou recreação; são atividades
naturais e que satisfazem as necessidades humanas.

As crianças, muitas vezes, aprendem mais por meio dos


jogos do que por metodos tradicionais. Neles as crianças
são mais ativas mentalmente, pois essas atividades são ANALU PEREIRA
compativeis com o desenvolvimento das crianças, e isso PONCIANO
justifica seu uso na area da psicopedagogia e dentro da
Graduação em Pedagogia
instituição escolar. pela Faculdade Unicid (2015);
Professora de Educação Infantil
Weiss (2004) afirma que o espaço ludico durante o no CEI Pq. Edu Chaves.

diagnotico traz possibilidade de cura nas dificuldades de


aprendizagem, pois brincar é universal e saudavel e rompe
as fronteiras entre o diagnostico e o tratamento, uma vez
que o próprio diagnostico passa a ter um carater terapeutico. A sessão ludica diagnostica
se difere da terapeutica em alguns aspectos: enquanto o processo de brincar ocorre
esponteneamente na sessão terapeutica, na diagnostica há limites mais definidos e há uma
intervenção do psicopedagogo para observar a reação da criança em algumas situações do
jogo como: frustrações, desafios, entre outros comportamentos.

Em sintese, os jogos são adequados muito importantes para o desenvolvimento


harmonioso do ser humano. No campo da psicopedagogia, em função dos aspectos que se
pretende chegar, que é diagostico e tratamento das dificuldades de aprendizagem, os jogos
podem ser considerados uma excelente ferramneta tanto na clinica, como na instituição
escolar.

O jogo tem um papel fundamental, que deve ser aproveitado num trabalho psicopedagogico
e integrado com outras areas de desenvolvimento e aprendizagem infantil.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Porto Alegre: Artes Medicas, 1992.

331
Revista Educar FCE - Março 2019

JOGOS E BRINCADEIRAS DA
CULTURA AFRICANA NAS AULAS
DE EDUCAÇÃO FÍSICA
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo abordar a cultura africana e seus costumes,
assim como os jogos e brincadeiras que podem ser aproveitados nas aulas de educação física.
Mostrar que os jogos e as brincadeiras fazem parte da cultura e são criados pelas pessoas ao
longo do tempo, passando de geração em geração e podendo ser trabalhados nas aulas. Outro
fato a ser considerado é como a inclusão da cultura africana na grade curricular pode afetar a
socialização da criança na escola, de forma positiva.

Palavras-Chave: Cultura africana; Jogos e brincadeiras; Educação Física

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO UMA BUSCA DE IDENTIDADE:


COMO NOS APROPRIAMOS
A cultura africana está presente em nosso
cotidiano mais que imaginamos. Isso ocorre DA CULTURA AFRICANA
pela grande miscigenação dos povos. A
proposta desse estudo é realizar uma efetiva A formação do povo brasileiro é originada
pesquisa sobre a cultura africana e quais os pela miscigenação de diferentes povos
benefícios que ela pode nos trazer as aulas e etnias de todo o mundo e dos povos
de educação física. Sendo assim, o interesse indígenas, que aqui estavam antes mesmo do
pelo tema proposto neste projeto parte da processo colonizador e migratório. Depois
consideração de toda a problemática em da colonização dos portugueses, diferentes
torno da Lei n 10.639/2003 que faz incluir povos africanos vieram pelo processo
no currículo oficial da Rede de Ensino pública escravagista, por quase três séculos. Com a
e privada a obrigatoriedade da introdução da abolição da escravatura, no final do século
temática “História e Cultura Afro-brasileira” XIX, imigraram para o Brasil diferentes povos
nas disciplinas curriculares da escola. europeus e asiáticos.

O que podemos ver atualmente são poucas Contudo, devido aos povos africanos
instituições de ensino incluindo essa Lei em chegarem ao Brasil pela força da escravização,
seu currículo escolar, o que leva a questionar esses povos e seus descendentes nascidos
o porquê se dentro da nossa cultura brasileira no Brasil, os afro-brasileiros, se tornaram
tem tantos costumes, religiões, arte, música extremamente estigmatizados pelas classes
que já fazemos uso cultural. Ressaltando que burguesas, sofrendo ao final do século XIX
os jogos e as brincadeiras fazem parte da e durante todo o século XX um preconceito
cultura e são criados pelas pessoas ao longo racial e cultural, além da discriminação de
do tempo, passando de geração em geração classes sociais, comum em países capitalistas.
e podendo ser trabalhados nas aulas.
Para Souza (2006, p.47) “a escravidão é: (...)
Ressaltando os benefícios da Lei n situação na qual o escravo não é visto como
10.639/2003 e como fazer melhor proveito membro completo da sociedade em que vive,
dela em sala de aula, para inclusão social das mas como ser inferior e sem direitos (...)”
crianças. Assim, os resquícios de preconceito duram e
perduram até a atualidade. No entanto, para
O presente trabalho iniciará com um resgate a formação do povo e da cultura brasileira,
histórico da cultura africana, bem como, abordará não há como negar a importância das
discussões acerca de como nos apropriamos da culturas africanas e da sua contribuição para
mesma, pegando seus costumes, brincadeiras, a miscigenação do nosso povo.
jogos e diversos costumes.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A cultura é um sistema simbólico orientador práticas sociais referenciadas em princípios


das ações humanas. Foi a nossa capacidade ancestrais africanos. Estes princípios,
de simbolizar a experiência vivida que nos conforme esclarecem Mintz e Price (2003),
diferenciou das outras espécies. Os objetos têm funcionado na diáspora como elementos
empíricos, sons, gestos, rituais, instrumentos de uma sintaxe. Os referenciais simbólicos
de trabalho, alimentos, não são apenas são acionados de maneira seletiva e
respostas às nossas necessidades básicas, contextual, em um ambiente mutável. As
eles comunicam mensagens, possibilitam práticas culturais afro-americanas, embora
interações entre pessoas. A cultura orientadas pelos referenciais africanos, não
funciona em uma comunidade humana de são, portanto, reproduções ou cópias de
maneira análoga ao sistema linguístico. África nas Américas, mas reelaborações,
Enquanto conjunto de expressões sonoras, de caráter dinâmico, flexível, plástico e em
vocalizadas, a língua é descodificável apenas constante mutação.
pela comunidade de fala. Da mesma forma,
as ações humanas orientam-se pelos códigos A classificação dos povos a partir do
informados pela cultura. critério da língua se impôs como uma solução
importante no campo da Antropologia. Como
Os atos humanos são linguagens toda língua possui uma estrutura peculiar, foi
carregadas de sentido. Um tique nervoso, possível classificar diferentes povos a partir
mecânico, nada informa, mas uma deste critério, sem, contudo, hierarquizá-los.
piscadela apresenta múltiplos significados,
compreensíveis quando nos reportamos Sabe-se também que uma língua é sempre
ao contexto em que foi praticada (Geertz, derivada de um ramo ancestral comum,
1978). Os suportes empíricos da cultura, concebido como tronco linguístico. Percebeu-
roupas, anéis, brincos, pulseiras, amuletos, se igualmente que as línguas humanas se
são facilmente observáveis, mas os sentidos transformavam ao longo do tempo. Tornou-
que transmitem não podem ser apreendidos se possível identificar línguas mais próximas
diretamente, é preciso, situá-los no universo do tronco ancestral comum e outras mais
da cultura. Como nascemos e vivemos imersos distanciadas. As línguas aparentadas foram
em uma cultura particular raramente nos classificadas como pertencendo a uma
distanciamos para observá-la. Geralmente a mesma família linguística.
assumimos como um dado natural.
A partir deste critério foi possível aos
O conceito de cultura afro-brasileira estudiosos agrupar povos pertencentes ao
que propomos é tributário da concepção mesmo tronco linguístico, povos que falavam
de cultura enquanto linguagem simbólica. a mesma língua e povos que falavam línguas
Concebemos a cultura afro-brasileira aparentadas.
como um sistema simbólico orientador das

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Revista Educar FCE - Março 2019

O critério da língua nos auxilia a classificar Além das semelhanças linguísticas os


as diferentes sociedades africanas, a bantos compartilhavam semelhanças quanto
concebê-las como unidades na diversidade. à organização social e concepções religiosas.
Identificamos na África três grandes A religião banto possuía como característica
unidades linguísticas: A Afro-asiática, outrora a flexibilidade. Inexistia no sistema religioso
denominada camítico-semítica; A Niger- um controle sacerdotal ou ortodoxia rígida.
Congo (iorubá, fulani, ibo, fon e outras),
classificada historicamente como Sudanesa, O culto aos ancestrais apresentava-se,
universo este caracterizado pela grande porém, como um princípio geral. Nzambi
fragmentação linguística; A área Banto na Mpungo era “considerado o deus maior
qual se verifica maior unidade linguística; E a e criador do universo”, mas também era
Khoisan, pequena área na qual se encontram concebido como “ancestral original do
os hotentotes e bosquímanos. primeiro humano”. Seguindo-se a lógica da
descendência, os ancestrais estariam mais
A distribuição espacial dos povos próximos do ser supremo, por isso a razão
africanos coincide em grande parte com o em cultuá-los.
mapa linguístico. Para o estudo da cultura
afro-brasileira interessa-nos diretamente Os estudos históricos de Thornton (2009)
os grupos linguísticos iorubá, fon e banto, revalaram que a cosmologia religiosa banto
pois foram destes acervos sociolinguísticos convivia com a ideia de espíritos perigosos
que procederam, à época da escravidão, a ou inferiores. As concepções de ventura e
maioria dos africanos para o Brasil. desventura integravam este universo sagrado
(Mello e Souza, 2002), como consequência,
Os bantos se distribuem por toda a desenvolveu-se um complexo religioso
extensão da África, situada a partir da específico, que visava assegurar proteção
República dos Camarões até o extremo sul. contra os infortúnios. De acordo com
Apenas os bosquímanos e os hotentotes, Thornton, pequenos santuários contendo
presentes nesse amplo espaço geográfico, objetos de proteção (nkisi) foram edificados
falam línguas diferentes do tronco linguístico por diferentes povos bantos.
banto. O termo banto foi cunhado a partir
dos estudos de W. Bleck. Em 1860 este A cultura africana chegou ao Brasil com
pesquisador percebeu que existiam entre as os povos escravizados trazidos da África
línguas dos povos da África Central e Austral durante o longo período em que durou o
semelhanças estruturais. Notou também a tráfico negreiro transatlântico. A diversidade
presença de uma partícula comum, ntu, que cultural da África refletiu-se na diversidade
significava homem, enquanto o termo banto dos escravos, pertencentes a diversas etnias
era utilizado como plural, isto é, homens. que falavam idiomas diferentes e trouxeram
tradições distintas. Os africanos trazidos ao

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Revista Educar FCE - Março 2019

Brasil incluíram bantos, nagôs e jejes, cujas Decerto, o ensino de história e cultura afro-
crenças religiosas deram origem às religiões brasileira e africana, na escola da educação
afro-brasileiras, e os hauçás e malês, de básica, não se limita à discussão sobre o
religião islâmica e alfabetizados em árabe. preconceito racial. No entanto, mesmo que
crianças não tenham uma opinião formada
Os africanos contribuíram para a cultura acerca desse fenômeno, podem ou não
brasileira em uma enormidade de aspectos: reproduzirem estereótipos sobre a África, os
dança, música, religião, culinária e idioma. africanos, as pessoas negras no Brasil e suas
culturas, visto terem acesso à televisão e à
Outro ponto muito importante, que não internet, meios de comunicação nos quais os
pode ser esquecido, são as brincadeiras. estereótipos são constantemente veiculados
Mesmo que a vida dos escravos tenha e reproduzidos.
sido extremamente dura, quase sempre
em condições sub-humanas, a tradição Logo, em qualquer nível de escolaridade,
oral, aquela passada de pai para filho, é a é possível ao professor/a, a partir de
grande responsável por não deixar que essas um simples recurso, como uma gravura
brincadeiras sejam esquecidas. pertinente à história e a cultura afro-
brasileira e africana, trabalhar esses
conteúdos, sem necessariamente ter que
HISTÓRIA E CULTURA esperar o preconceito racial se manifestar
AFROBRASILEIRA E em sala de aula. Basta que tenha formação,
acesso ao material didático adequado e
AFRICANA: CONTEÚDOS E vontade política para reinventar sua prática,
ABORDAGENS NA SALA DE assim como a metodologia com que vai
AULA abordar esses conteúdos em sala de aula e
implementá-lo no currículo escolar.
Os conteúdos de história e cultura afro-
brasileira e africana podem ser trabalhados Para tanto, é imprescindível planejar as
em qualquer nível de escolaridade e a partir de ações a serem desenvolvidas, de modo que os
diversas abordagens. Geralmente, docentes conteúdos e as abordagens sejam compatíveis
dos anos iniciais do ensino fundamental I com os níveis de escolaridade das crianças e,
alegam que não trabalham os conteúdos de assim oportunizem a elas construírem outras
história e cultura afro-brasileira e africana referências acerca da África, dos/as africanos/
porque seus alunos/as são por demais as e das culturas que essa gente reinventou
crianças e ingênuos/as para entender tais no Brasil, como também perceberem e
conteúdos e não são preconceituosos. identificarem-se nas expressões culturais
afro-brasileiras, valorizando-as e respeitando-
as, pois também são suas.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A escola tem um importante papel na educação étnico-racial como processo em


discussão do reconhecimento pelos povos construção, visto perpassar pela história de
não afrodescendentes dessa importância. vida do/a professor/a (Gonçalves, 2011),
Portanto, é na escola que deverá haver o reorganização da escola na perspectiva
(re) conhecimento e a valorização dos povos emancipatória, revisão da cultura escolar,
negro-africanos no desenvolvimento social e reinvenção do currículo e das relações sociais
na formação da cultura brasileira. estabelecidas entre estudantes e professores
(Gomes, 2012). Assim como pela mudança
Para tanto, uma lei federal (Lei n concreta na realidade social da população
10.639/2003), alterou a Lei de Diretrizes e negra (Amâncio, 2008).
Bases da Educação Brasileira n 9.394/1996,
para incluir no currículo oficial da Rede de Analisar os projetos e a sua relação com a
Ensino pública e privada a obrigatoriedade efetivação da educação étnico racial revelou
da introdução da temática “História e Cultura as seguintes questões: a necessidade de o/a
Afro-brasileira” nas disciplinas curriculares professor/a constantemente refletir sobre
da escola. Embora a publicação da Lei, a sua prática, rever o currículo escolar, rever
temática ainda não é realidade no chão o material didático, ter acesso a discussão
escolar. Os professores e alunos, por não historiográfica recente, o que lhe possibilitará
conhecerem a fundo esse tema, ou por temor fazer novas abordagens em sala de aula.
a reações negativas ao mesmo, preferem não Ainda que os projetos elaborados denotem
abordar esse assunto. a presença dos conteúdos de história e
cultura afro-brasileira e africana na prática
A Lei, à medida que institucionalizou dos docentes, eles são tratados de modos
o ensino de história e cultura afro- pontuais e descontínuos.
brasileira e africana no currículo escolar
vem, provocando mudanças no cotidiano Apesar da lei não ser uma realidade
da escola da educação básica, sobretudo cotidiana das escolas, não se pode negar
porque docentes passaram a questionar suas que a formação da cultura brasileira está
práticas e a rever tanto o currículo com que intimamente ligada à história do negro no
até então trabalhavam como, por extensão, o Brasil. Por exemplo, observa-se que vários
material didático. O propósito das mudanças jogos, brincadeiras, comidas, temperos,
é atender às demandas colocadas por essa ritmos, músicas, danças, compõem um basto
lei, o que nem sempre se faz a contento. espólio cultural brasileiro, que descendem
diretamente deste povo quando foram
Pesquisadores/ as discutem sobre as trazidos de suas terras na África. Assim, a
experiências desenvolvidas por professores/ escola tem a obrigação moral, além da legal,
as em sala de aula e apontam a relação entre de elencar e valorizar todas essas absorções
a implementação dessa lei e a efetivação da e conquistas desses povos na formação da

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Revista Educar FCE - Março 2019

nossa cultura, a fim de diminuir, e até mesmo erradicar, os preconceitos e desigualdades


observadas desde o fim da escravidão.

Apesar da obrigatoriedade legal de as escolas da educação básica oportunizar o ensino


de história e cultura afro-brasileira e africana, esse conteúdo nem sempre se faz presente
no cotidiano da sala de aula, mantendo-se ausente do currículo escolar. Quando na prática
a escola deveria

Conceber professores e alunos como autores dos currículos, permanentemente construídos


como ‘obra de arte’, intencionada, emocionada, prazerosa devolver aos sujeitos da escola sua
dignidade de criadores, sujeitos ativos dos seus fazeres saberes, prazeres, únicos, singulares,
embora mergulhados num mundo social (e cognitivo) que os ultrapassa, mas também é por
eles tecido.

Implementar a Lei 10.639/2003 exige dos docentes em sala de aula a postura de


construtor do saber e de pesquisador, de modo que transponham as fronteiras impostas
pelo eurocentrismo, para que construam outras perspectivas de compreensão da história
da humanidade. Estas ações superam o colonialismo europeu como o único caminho a
possibilitar a compreensão da história. “O que interessa a nós é expulsar os colonialistas,
não necessariamente mata-los” (Freire, 1985, p. 6).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos concluir que a cultura africana está mais
presente em nosso cotidiano há muitos anos e com mais
frequência que pensamos. Apresentamos cada jogo,
brincadeira, costumes, religiões e assim conseguimos ver a
importância dela em nosso dia a dia.

Os africanos contribuíram para a cultura brasileira em uma


enormidade de aspectos: dança, música, religião, culinária e
idioma.
A capacidade de resistência subjetivo e política das ANDERSON GONZAGA
nações negras que aqui chegaram, mostram seu potencial LOPES CORREIA
e vigor, que mesmo diante das adversidades e violências
Graduação em Educação Física
vividas, enxertaram no ventre de cada região do Brasil, seus pela Faculdade UNIFEV Centro
costumes e formas de interpretação do mundo. Formas estas Universitário de Votuporanga
que se expressam desde as canções de ninar, os cuidados (2008); Professor de Ensino
Fundamental II – Educação Física
com a saúde, nas ervas, medicamentos e práticas religiosas, - na EMEF República do Panamá,
às festividades danças e sabedoria diante da vida. Professor de Educação Básica –
Educação Física - na EMEB Paulo
Prado.
Diante destas discussões cabe uma pergunta: porque a
inserção da população negra na história oficial parece se dar
apenas como escravizado?

Apesar do pouco avanço com o passar dos anos vemos


que está mais suscetível trazer a cultura africana para as
crianças. Assim podendo aproveitar melhor cada pedaço de
nossa história, e conhecer os antepassados.

339
Revista Educar FCE - Março 2019

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340
Revista Educar FCE - Março 2019

NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM
RESUMO: Este trabalho é de natureza descritiva, e tem por objetivo apresentar brevemente
a relação entre neurociência e aprendizagem, como aprendemos, o que determina nossas
aprendizagens, que fatores influenciam esse processo, buscando explicar como se dá a
aprendizagem em cada indivíduo, o que determina que alguns indivíduos tenham facilidade
na assimilação de uma disciplina e/ou conteúdo e como a neurociência pode contribuir ou
explicar a aprendizagem e o desempenho de alguns indivíduos na escola ou fora dela.

Palavras-Chave: Neurociência; Conhecimento; Aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO Umas das áreas de estudo do ser humano


que tem evoluído muito nas últimas décadas
Aprender tem em si especificidades é a neurociência. Inicialmente no estudo
e dimensões variadas, conhecer essas das patologias, mas ao longo do tempo e
dimensões é uma busca do ser humano para percebendo a vasta aplicação do aprendizado
o desenvolvimento de suas potencialidades as neurociências, tem contribuído e muito
que o tornam capazes de perceber, sentir e para que especialistas da área da educação
expressar suas palavras, diante do objeto de possam aplicar as teorias levantadas em prol
seu conhecimento, conhecer é superar as da melhoria da aprendizagem.
dimensões do físico, do mental, do social e
do espiritual na sua vida cotidiana. Esse artigo tem como finalidade apresentar
resumidamente o que é neurociência e sua
O sistema nervoso tem uma enorme relação com a educação, especialmente na
plasticidade, ou seja, um enorme potencial relação ensino-aprendizagem, como fator
em fazer e desfazer ligações entre as células orientador do trabalho docente.
nervosas como consequência das interações
permanentes com o ambiente externo e Alguns pesquisadores ao longo do tempo,
interno do organismo. A aprendizagem e a observando as diferenças apresentadas
mudança comportamental têm correlação pelos alunos na maneira como os mesmos
biológica, que é a formação e a efetivação das aprendem e se desenvolvem concluíram
ligações sinápticas entre as células nervosas. que a aprendizagem pode levar não só ao
aumento da complexidade das ligações em
O indivíduo aprende durante toda sua vida, um circuito neural, mas também a associação
quer seja em um processo de educação formal de circuitos até então independentes.
ou informal. Primeiramente aprende aquilo
que promoverá sua sobrevivência depois o A aprendizagem se define pela formação
que propiciará sua vida em comunidade. e consolidação das ligações entre as células
nervosas. É fruto de modificações químicas e
O desenvolvimento do ser humano passa estruturais no sistema nervoso de cada um,
por continuas transformações resultantes exigindo energia e tempo para se manifestar,
das interações com o meio. Tendo um sistema ou seja, a aprendizagem é um fenômeno
nervoso dotado de imensa plasticidade o ser individual e privado e vai obedecer ao
humano tem uma infinidade de caminhos e desenvolvimento histórico de cada um de
direções que seu desenvolvimento tomará em nós.
virtude do meio no qual nasceu, das práticas
culturais, das instituições que participa, do Todo indivíduo realiza aprendizagens
acesso a informação entre outros. durante toda a sua vida, quer no convívio
familiar ou fora dele e essas aprendizagens

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Revista Educar FCE - Março 2019

continuam em processo de transformação Mas seria possível medir a inteligência


devido as interações que realiza com o meio. de um indivíduo? A escola estaria apta a
O ser humano é dotado de uma infinidade classificar e trabalhar a inteligência de cada
de caminhos de desenvolvimento, porém a criança? E as avaliações aplicadas estariam
qualidade desse desenvolvimento depende de acordo com a inteligência de cada um.
dos estímulos do ambiente, da carga genética
dos pais. Durante muito tempo a escola utilizou-se
de testes padronizados para medir o que os
Cada indivíduo é único, consequentemente alunos aprenderam e para tanto atribuir-lhes
seria intuitivo se esperar que cada criança a quantidade de inteligência de cada um,
fosse observada ao entrar na escola, a fim classificando os que apresentassem melhor
de que suas dificuldades sejam avaliadas e desempenho em matemática como mais
classificadas, proporcionando ao docente as inteligentes.
informações necessárias para que as mesmas
possam ser sanadas, utilizando diferentes A avaliação focava os exames e sua
métodos de aprendizagem. função para identificar acertos e erros, o
que para muito significava fracasso pois
Entretanto, as escolas quantificam não conseguiam obter os tais acertos para
a capacidade do discente pelo seu garantir-lhes a aprendizagem, ou melhor
desenvolvimento em matemática e escrita não conseguiam mostrar sua inteligência,
(português), por conseguinte as crianças fator responsável por um grande número de
que não apresentam boas notas nessas duas evasão escolar, repetências e indisciplinas.
disciplinas não são inteligentes, ainda que
tenham bom desenvolvimento em educação
física, música, dança, artes visuais. NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO
Início do século XX, o psicólogo francês “A Pedra”
Alfred Binet em parceria com Theodore “O distraído, nela tropeçou,
Simon, desenvolvem um teste para avaliar o bruto a usou como projétil,
crianças com atraso mental, para que a o empreendedor, usando-a construiu,
partir desse pudessem receber atenção o campônio, cansado da lida,
especializada. O psicólogo Lewis Terman, dela fez assento.
adaptou o teste francês, rebatizando de Para os meninos foi brinquedo,
Stanford Binet, avaliando o desempenho em Drummond a poetizou,
aritmética, memorização de vocabulário, o Davi matou Golias...
exame foi o primeiro a classificar as pessoas Por fim;
por um quociente de inteligência (QI). o artista concebeu a mais bela escultura.
Em todos os casos,

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Revista Educar FCE - Março 2019

a diferença não era a pedra. ao comportamento tem origem no início


Mas o homem.” da ciência ocidental, quando os filósofos
(Pereira, Antônio (Apon); 2007). gregos começaram a especular as causas
do comportamento e a relacioná-las com a
Neurociência é a compreensão de como mente e o encéfalo.
sinais elétricos originados na mente humana
formam circuito neurais, determinando como René Descartes distinguiu corpo e mente.
percebemos, agimos, pensamos, lembramos. Na visão de Descartes o encéfalo medeia
Embora muitos estudos foram realizados a percepção, a ação motora, a memória, o
e ainda não há como determinar todos os apetite e as paixões, tudo o que pode ser
mecanismos utilizados pelo sistema nervoso encontrado nos animais inferiores. E a mente
de cada indivíduo. comanda as funções mentais superiores, a
experiência consciente do comportamento
Como o encéfalo se desenvolve? Como humano.
as células que o compõem se comunica
originando as informações? Qual a relevância No século XVIII, surgiram novas teorias, a
dessa comunicação na aprendizagem? de que o encéfalo seria uma tábula rasa que
seria preenchida com experiência sensorial.
O encéfalo, um órgão pensando pouco Immanuel Kant, acreditava que a percepção
mais de 1kg é capaz de conceber uma humana do mundo era determinada com
infinidade de possibilidades, descobrir novos características inerentes da mente ou do
pensamentos, sentimentos, aprendizagens, encéfalo.
criatividades, individualidades e ações
que nos definem como somos e como nos No século XIX Charles Darwin estabeleceu
relacionamos. o cenário para a compreensão do encéfalo
como a origem de todo o comportamento,
O encéfalo humano possui uma rede de o estudo da evolução se originou da
mais de cem bilhões de células nervosas investigação do comportamento dos animais
interligadas que constroem a percepção em ambientes naturais.
do mundo externo, a qualidade das
percepções sinápticas realizadas durante o No século XX Sigmund Freud introduziu
desenvolvimento do indivíduo representará a psicanálise como a primeira psicologia
a base da percepção, da ação, da emoção e cognitiva, a psicanálise estruturou os
do aprendizado não esquecendo que fatores problemas na tentativa de compreender a
genéticos e ambientais do comportamento mente humana. Em 1800 Franz Joseph Gall,
contribuem para essa formação. defendia que o encéfalo é o órgão da mente,
e que todas as funções mentais emanam
O pensamento psicológico em relação dele, afirmando que o córtex cerebral não

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Revista Educar FCE - Março 2019

funciona como um simples órgão, mas que informações a cerca do movimento dos
contém dentro dele muitos órgãos, Gall hemisférios cerebrais para o cerebelo.
enumerou inicialmente 27 regiões e muitas O Cerebelo modula a força e a amplitude do
outras foram adicionadas posteriormente. movimento e está envolvido no aprendizado
de habilidades motoras.
O sistema nervoso central é uma estrutura
bilateral, com duas partes principais, a medula Mesencéfalo – Controla muitas funções
espinal e o encéfalo. O encéfalo compreende sensoriais e motoras incluindo o movimento
seis estruturas principais: o bulbo, a ponte, dos olhos e a coordenação dos movimentos
o cerebelo, o mesencéfalo, o diencéfalo e o dos reflexos visuais e auditivos.
cérebro. No córtex cerebral, principalmente
ocorrem as operações da capacidade O Diencéfalo – Possui duas estruturas:
cognitiva humana, essa massa cinzenta cheia O tálamo que processa a maior parte das
de sulcos recobre os dois hemisférios, em informações que chegam ao córtex cerebral a
cada um dos hemisférios, o córtex que os partir do resto do sistema nervoso central e o
recobre é dividido nos lobos frontal, parietal, Hipotálamo que regula funções autônomas,
occipital e temporal. Cada lobo tem diversos endócrinas e viscerais.
dobramentos, para empacotar o maior
número de células nervosas em um espaço O Cérebro – compreende dois hemisférios
limitado. cerebrais, cada um deles consistindo em
uma camada mais externa e enrugada (o
O sistema nervoso central tem sete partes córtex cerebral) e três estruturas situadas
principais: mais profundamente (os núcleos da base,
o hipocampo e os núcleos da amigdala).
A medula espinal – Recebe e processa O córtex cerebral é dividido em quatro
informação sensorial da pele, das articulações, lobos distintos (frontal, parietal, occipital e
dos músculos dos membros e do tronco e temporal).
controla os movimentos dos membros e do
tronco. É subdividida nas regiões cervical,
torácica, lombar e sacral.

O Bulbo – diretamente rostral a medula


espinal, inclui diversos centros responsáveis
por funções autônomas vitais tais como:
digestão, respiração e controle dos
batimentos cardíacos.

A ponte – rostral ao bulbo retransmite

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Revista Educar FCE - Março 2019

O sistema nervoso funciona por meios do sistema nervoso é então a sua permanente
dos neurônios, células responsáveis pela plasticidade ou seja, a capacidade de fazer e
condução e processamento da informação, desfazer ligações entre os neurônios. O treino
os neurônios conduzem a informação por e a aprendizagem podem levar a criação de
meios de impulsos elétricos que passam novas sinapses e a facilitação de um fluxo de
para outras células por meio das sinapses, informação dentro de um circuito nervoso.
na qual é liberado um neurotransmissor.
Os neurônios formam circuitos completos Aprender não é memorizar informações,
entre si e se agrupam no interior do sistema como foi realizado por muito tempo nas
nervoso nas áreas de substância cinzenta. escolas. É preciso relacionar a informação
ressignificá-la e refletir sobre ela. A medida
As vias sensórias chegam ao cérebro em que aprende a criança e seu cérebro
por meio das cadeias neurais, que levam a se desenvolvem e constroem novos
informação até uma região do córtex. O córtex conhecimentos. A aprendizagem não é a
cerebral se organiza em unidades funcionais mesma para todos, ela também difere de
com regiões: primárias, secundárias e acordo com os níveis de desenvolvimento
terciárias que atuam de forma hierárquica de cada um, por isso quanto mais interações
para permitir a interação com o ambiente e o e estímulos uma criança sofrer mais
processamento das informações. aprendizagem ela apresentará, pois o cérebro
se modifica em contato com o meio durante
No processo de construção do cérebro toda a vida.
são formados em um número muito maior do
que será necessário para seu funcionamento
e muitas são descartadas porque não O CURRÍCULO E A ESCOLA
conseguiram realizar as ligações necessárias
ou por não estarem nos locais corretos. Um currículo escolar padrão entendia
a maioria dos alunos, se as crianças estão
Erros ocorridos na primeira fase do entediadas como é possível aprender
desenvolvimento do sistema nervoso, que por e desenvolver novos conhecimento e
problema genéticos ou ambientais, poderão participação das crianças?
trazer consequências para a vida toda.
Quando nascemos possuímos um circuito As escolas devem repensar seu currículo
básico que nos permite processar um tipo de ajudar seus alunos a desenvolver suas
informação, a medida que vamos interagindo inteligências, proporcionar atividades
e recebendo estímulos do ambiente nosso integradoras que favoreçam a interação e
sistema nervoso vai proporcionando a a aprendizagem dos alunos. Não podemos
formação de novas sinapses e manutenção esquecer em nosso dia a dia que:
das já existentes, uma característica marcante

346
Revista Educar FCE - Março 2019

O cérebro humano é maleável e pode se modificar constantemente;

Todas as crianças independentes de sua classe social, com necessidades especiais ou não
podem melhorar;

Um currículo de maior contraste para todas as crianças, resultará em atividades menos


tediosas e integradoras, com mais desafios;

Acreditar que as crianças estando em um ambiente integrado, alcançarão melhores


resultados;

Estarmos abertos as possíveis mudanças em nossas rotinas poderemos criar um escola


modelos para nossa crianças;

Que cada criança é única, e que a forma como assimila o conhecimento pode ser
diferenciada necessitando de mais ou menos tempo.

Torne o currículo mais profundo por meio da organização dos conceitos de currículo e
estruturas do conhecimento;

Ao final de cada processo busque a avaliação dos seus alunos, elas trarão norte para o
desenvolvimento de novos conteúdos.

O cérebro humano é desenvolvido para interagir com o mundo e fazer as modificações


conforme a qualidade das interações. Se as interações forem positivas e mantidas, a criança
obterá um conjunto de modificações. Se as interações forem negativas e intensas, a criança
obterá um conjunto de diferentes modificações nocivas ao desenvolvimento infantil.

347
Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou a
análise do que é neurociência e inteligência, e do mito de
que um QI elevado equivale a ter sucesso na vida.

É um mito a crença de que as escolas fazem bom uso


dos testes de QI quando os obtém, e mito também de que
podemos definir e medir coletivamente esse QI de maneira
que haja concordância entre a maioria das pessoas.

O ser humano realiza aprendizagens diversas durante ANDREA APARECIDA


toda a sua existência, resultantes de seu desenvolvimento TAVARES ALVES
biológico e das conquistas em função da vida social e da
Graduação em Pedagogia pela
cultura. Sendo dotado de um sistema nervoso de grande Universidade Federal de São
plasticidade, o ser humano segue o seu desenvolvimento Carlos (2012); Especialista em
acumulando experiências, e cada um tem seu ritmo, seus Neurociência pela Faculdade
Campos Elíseos (2018); Professor
pontos fracos e fortes na sua forma de aprender e se de Ensino Fundamental I - na
relacionar com o mundo. EMEF Gal Euclydes de Oliveira
Figueiredo, professor de educação
infantil – no CEU CEI Jaguaré.
A Inteligência é diferente de habilidade, pois ela pode ser
utilizada em vários domínios, e mesmo que cada um tenha
seu tempo é possível motivar o ser humano, de maneira a
mobilizá-la, para ajudar o indivíduo a aprender e não como uma forma de diferenciá-los.

A escola deve proporcionar um ambiente ideal para que haja aprendizagem de fato, para
isso algumas medidas seriam necessárias:

Relação mais próxima com o aluno, quando o educador conhece seus alunos ele saberá a
melhor forma de passar o conteúdo.

Além do quadro negro – o educador deve procurar outras formas de incrementar suas
aulas para torna-las mais atrativas utilizando histórias, debates, jogos, filmes, diagramas
exercícios.

Busca por projetos – A escolas consideradas modelos de educação apostam em projetos,


pois os alunos aprendem de forma interdisciplinar, desenvolvendo o raciocínio do aluno.

348
Revista Educar FCE - Março 2019

Avaliação da sala de aula – avalie constantemente não só o desempenho dos alunos nas
avaliações, mas seu processo de aprendizagem, ou seja todo o processo de assimilação e
participação em sala.

349
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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sala de aula. Artmed, 2001.

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Gardner como proposta didática para a prática da gramática nas aulas de língua estrangeira. 2017.

DA SILVA ALMEIDA, Rodrigo et al. A teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner
e suas contribuições para a educação inclusiva: construindo uma educação para todos.
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GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a Teoria na Prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

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LIMA, Elvira Souza. Desenvolvimento e aprendizagem na escola: aspectos culturais,


neurológicos e psicológicos. São Paulo: GEDH, 1997.

PEREIRA, Antônio (Apon). A Pedra. 2007. Disponível em < https://www.aponarte .com.


br/2007/08/pedra.html> acessado em 18 de março de 2019, ás 18 horas.

vvRevista Mundo estranho. Editora Abril – fevereiro de 2017.

Revista Nova Escola. Editora Abril – Junho/Julho de 2012.

350
Revista Educar FCE - Março 2019

A DIFICULDADE ENCONTRADA
ENTRE A GESTÃO E O CORPO
DOCENTE NO DESENVOLVER DO
TRABALHO
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo realizar um panorama geral acerca dos novos
padrões de gestão da educação básica brasileira e a dificuldade encontrada entre a direção e
o corpo docente no desenvolver do trabalho. A intenção é apresentar o gerenciamento dos
estabelecimentos de ensino segundo a perspectiva da Gestão Democrática, demonstrando
seu funcionamento e evidenciando, por meio desse, os avanços que a educação vivencia
atualmente em termos de autonomia e participação social nos processos de gestão da escola,
bem como os desafios e/ou obstáculos que ainda vivemos no que diz respeito à efetivação de
todos os princípios propalados pela Gestão Democrática.

Palavras-Chave: Dificuldade; Gestão; Corpo Docente.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO mudanças cada vez mais acentuadas na


sociedade. Com isso, a responsabilidade da
É inegável o fato de que a sociedade gestão educacional vai muito além da simples
atual vive em processo de constantes administração de recursos financeiros, de
transformações econômicas, políticas, pessoal ou do patrimônio escolar.
sociais, culturais, de valores e na forma de
ver e interagir no mundo. Paro (2000), esclarece que administrar uma
escola pública não se reduz à aplicação de
A escola, por sua vez, se encontra no uns tantos métodos e técnicas, importados,
interior deste processo de mudança e tem muitas vezes, de empresas que nada tem a
o desafio de contribuir na formação de ver com objetivos educacionais.
uma sociedade cada vez mais dinâmica. Os
estabelecimentos de ensino são unidades Seguindo o pensamento de Paro, cabe
especiais, são organismos vivos que fazem salientar que a gestão escolar das escolas
parte de um contexto socioeconômico públicas compreende inúmeras ações, dentre
e cultural, marcado pela pluralidade e elas a condução do trabalho dentro da escola,
diversidade. levando em conta a função social da escola,
empregando meios claros e compreensíveis
Cabe trazer à discussão o entendimento para se alcançar determinados fins.
do que é gestão educacional, de acordo com
Lück, Para Lück (2000), a mudança de paradigma,
que passa da simples administração para a
A gestão educacional corresponde à área gestão da escola é marcada por uma mudança
de atuação responsável por estabelecer o
direcionamento e a mobilização capazes de de consciência a respeito da realidade e da
sustentar e dinamizar o modo de ser e de fazer relação das pessoas na mesma - se assim
dos sistemas de ensino e das escolas, para realizar não fosse, seria apenas uma mudança de
ações conjuntas, associadas e articuladas,
visando o objetivo comum da qualidade do modelos. Essa mudança de consciência está
ensino e seus resultados. (Lück, 2006, p. 25) associada à substituição do enfoque de
administração, pelo de gestão.
Desta forma, de acordo com a autora, as
ações dos gestores educacionais devem ser
articuladas entre si e com a participação
de todos no processo, do planejamento à A GESTÃO ESCOLAR E SUA
execução, caso contrário, não alcançarão IMPORTÂNCIA
o sucesso almejado. Destaca-se, nestas
palavras da autora, a dinâmica necessária De uns anos pra cá, as escolas têm
na ação dos gestores educacionais e das percebido a importância de aliar ao trabalho
escolas, necessária para acompanhar as de seus gestores, a mão-de-obra de um

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Revista Educar FCE - Março 2019

profissional qualificado que atenda às Essa preocupação fez levar instituições


demandas educacionais, mas que tenha perfil de ensino superior criar cursos de
gerencial, do tipo administrativo. Propostas especializações destinados à formação
governamentais, literatura especializada e dos diretores, inspetores, supervisores,
até mesmo debates na área de administração orientadores, coordenadores, cada um
escolar têm demonstrado uma evolução no dentro de suas específicas designações, mas
que se refere ao perfil do diretor escolar. com o objetivo eloquente de difundirem
Essas mudanças são identificadas como ferramentas operacionais para a gestão
resultado de constantes mudanças na rotina escolar. Mas isso não foi o suficiente para
administrativa e até mesmo pedagógica mudar a cultura a qual delega ao diretor: a
das escolas, partindo de um pressuposto função de um gestor multiuso, se tornando
de que, medidas centralizadoras na gestão um verdadeiro “coringa” escolar.
educacional estariam sobrecarregando o
diretor. Um órgão dirigente de uma escola poderia
ser constituído hipoteticamente da seguinte
O desenvolvimento de uma cultura forma: Diretor eleito sendo este voltado
democrática participativa na escola exige para assuntos pedagógicos, Vice-diretor
a participação de todos que acercam o podendo focar nos assuntos administrativos,
trabalho do diretor nas questões políticas, os Coordenadores Pedagógicos divididos
pedagógicas e administrativas da educação, por níveis escolares ou turnos, Supervisor,
para um propósito de que ele consiga Orientador Educacional e um Gestor escolar
contribuir da melhor maneira para a que cuidaria das demandas que requerem
elaboração e execução de propostas que execução administrativa. Acompanhado a
contemplem a maioria. isto, caso venha a tona a formação de um
Colegiado, algum destes poderiam ocupar
A visão de que um pedagogo, um educador o cargo de Presidente do Colegiado, que
físico, um orientador educacional ou até teria também a presença de um professor
mesmo um coordenador pedagógico não representante do corpo docente, um membro
possa exercer funções administrativas, é uma representante do campo administrativo,
visão que pode ser considerada radical. Porém um representante da comunidade escolar,
a hipótese lógica da questão é: para saber podendo ser este um pai de aluno, um
administrar bem, tem que ter uma formação morador do bairro, um ex- -estudante, e até
e uma experiência gerencial, administrativa; mesmo uma força política ou empresarial
e separar as funções, ambos os profissionais que seriam escolhidos democraticamente
acerca de uma instituição escolar ganharão entre seus membros.
com isso, tanto na qualificação profissional
quanto no exercício pleno de suas funções. Mas para que uma proposta desta se
torne exequível, é importante rever o atual

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Revista Educar FCE - Março 2019

modelo de gestão escolar das escolas desenrolava desde os anos de 1950 e, que
públicas, buscando como fonte de inspiração, se agravava nos anos de 1970 e 1980 nos
modelos de gestão de escolas privadas que países subdesenvolvidos.
são escolas de sucesso, e se adequando às
normas e regimentos, - claro, de acordo com A crise do capitalismo foi uma crise
as leis às quais são submetidas esta escola, estrutural da sua forma de produção que até
seja municipal, estadual ou federal. Uma então era direcionada com base no modelo
escola democrática não pode ser gerida fordista, onde o trabalho era organizado de
por uma única pessoa. Ela deve ser gerida forma a concentrar um grande número de
pelo coletivo, privilegiando os espaços mais trabalhadores, com hierarquias de cargos,
amplos de discussão e decisão. sem nenhuma participação dos funcionários
na tomada de decisões.
As primeiras discussões acerca de uma
forma de gestão que proporcionasse uma Esta forma de produção produziu um
educação mais democrática e igualitária acúmulo do capital, causando assim uma crise
ocorreram durante a redemocratização do no seu modo de produção, ou seja, a crise
Brasil, nos movimentos sociais que lutavam do capital. A partir deste momento torna-se
para por um fim no governo militar e, necessário uma reestruturação na forma de
portanto, na ditadura militar. produção do capital, sendo o toyotismo o
modelo escolhido para tentar superar a crise.
Era um desejo antigo dos educadores O modelo toyotista de produção propunha
alcançarem uma educação democrática, a produção flexível, ou seja, a produção
de qualidade, capaz de formar o indivíduo nas fábricas passaria a ocorrer conforme a
autônomo. Uma educação igual para todos, demanda de pedidos, sem acumulação de
com o direito de acesso e permanência na produção.
escola garantidos.
O trabalho passou a ser organizado em
Em prol desse desejo, lutaram e equipes, onde os trabalhadores poderiam
contribuíram para a adoção da Gestão discutir sobre o seu trabalho procurando
Democrática para educação. sempre a melhor forma de se alcançar altos
níveis de produtividade. Neste momento,
Paralelamente a isso, discutiam-se, os funcionários das fábricas passam a ser
em eventos internacionais, uma reforma chamados para discutir sobre assuntos
educacional para a educação dos países inerentes a seus postos de trabalho,
Latino Americanos e do Caribe, como um rompendo com a forma de administração
mecanismo necessário para a modernização do fordismo, sendo assim, a administração
da economia desses países. Isso se dava passa a ser denominada gestão, sendo
pelo cenário de crise do capital que se esta denominação devido à nova forma de

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Revista Educar FCE - Março 2019

organização dos trabalhadores no novo Percebemos que o conceito de gestão


momento de produção capitalista. escolar ultrapassa o de administração
por ser este mais dinâmico, participativo
Este novo modelo de gestão implantadas e por abranger uma série de concepções
nas empresas fez com que surgisse o não abarcadas por este outro [o conceito
conceito de “fazer mais com menos”, sendo de administração], podendo-se citar a
que este influenciou a administração pública democratização do processo de construção
de outras instituições, não ficando a escola social da escola e realização de seu trabalho,
fora desta nova forma de administração. mediante a organização de seu projeto
político-pedagógico.
A gestão educacional, no contexto
dinâmico em que o mundo se encontra, Lück (2006) defende que, paralelamente
tem a necessidade de desenvolver novos à adoção do termo gestão na legislação
conhecimentos, habilidades e atitudes, e nas organizações escolares, ocorre
de forma a ultrapassar esta concepção de principalmente a adoção de princípios e
gestão como mera administração escolar. valores mais democráticos no ambiente
escolar. Consequentemente, há maior
É necessário um esforço especial por parte abertura à participação da comunidade
da gestão escolar, no sentido de promover escolar no cotidiano da escola, assim como
a articulação entre seu talento e energia possibilita uma visão mais abrangente dos
humana, recursos e processos, visando à problemas e necessidades educacionais
transformação dos seus alunos em cidadãos e da própria organização escolar. Com
participantes da sociedade. esta análise, pode-se afirmar que Gestão
educacional significa a gestão de sistemas
O termo gestão escolar possibilita de ensino e a gestão escolar, onde a ideia
ultrapassar o enfoque limitado de de gestão passa por todos os segmentos do
administração, levando em conta que os sistema, tanto em nível de gestão do sistema
problemas educacionais são complexos e de ensinos, quanto em nível de gestão de
necessitam de visão global e abrangente, escolas.
assim como ações articuladas, dinâmicas e
participativas. Na gestão, os processos pressupõem uma
ampla e continuada ação que se estende
Esta mudança, que não é apenas uma a dimensões técnicas e políticas que só
questão terminológica, representa novas produzem um efeito real quando unidas
ideias e estabelece, na instituição escolar, uma entre si.
orientação transformadora, a partir da rede de
inter-relações que ocorrem, dialeticamente, Na gestão educacional democrática, pode-
no seu contexto interno e externo. se destacar a criação de conselhos dotados

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Revista Educar FCE - Março 2019

de autoridade deliberativa e decisória, a Para Lück (2001), o próprio conceito de


participação da comunidade escolar na gestão já carrega em si a ideia de participação,
escolha dos diretores e o repasse direto de onde pessoas trabalham de forma associada
recursos financeiros às unidades escolares analisando situações, trocando experiências
como sendo medidas que visam contribuir e tomando decisões de forma conjunta.
para a construção de uma escola autônoma.
Esta mesma autora evidencia que o
Percebemos, porém, que as relações do desempenho de uma equipe depende da
sistema educacional são tecidas no dia-a- capacidade de seus membros de trabalharem
dia, assumindo as características produzidas em conjunto e solidariamente, mobilizando
pelos distintos processos de gestão a que são reciprocamente a intercomplementaridade de
sujeitas, o que demonstra o papel essencial seus conhecimentos, habilidades e atitudes,
do diretor escolar na busca por empreender com vistas à realização de responsabilidades
um forte espírito de equipe para cumprir os comuns: [...]“Por outro lado, a mobilização
objetivos educacionais, a partir do trabalho e o desenvolvimento dessa capacidade
coletivo. depende da capacidade de liderança de seus
gestores”. (Lück, 2008, p. 97).
A gestão escolar deve ser democrática,
com destaque para o relacionamento entre Neste sentido, a participação consiste na
seus profissionais, que buscam valores atuação consciente dos sujeitos no cotidiano
como igualdade, liberdade, transparência, escolar, que assumem serem membros de
honestidade, comprometimento e uma instituição social e que têm poder de
participação, favorecendo um ambiente exercer influência nas tomadas de decisões
saudável, motivador e construtivo. da escola.

Sabe-se que o trabalho do diretor escolar A formação continuada é outra


é necessário, mas que este profissional não característica bem marcante nas falas dos
tem em suas mãos o controle da produção sujeitos pesquisados. Pode-se perceber
e das decisões a respeito das políticas do que todas as professoras que responderam
sistema de educação do qual faz parte, como à entrevista consideram a formação
por exemplo, das diretrizes, das metas, dos continuada dos professores como sendo
projetos e dos programas. um dos principais motivos pelo sucesso
alcançado pela escola.
A participação é um dos princípios
básicos da gestão educacional democrática, A gestão escolar consiste no processo de
mobilização e orientação do talento e esforço
devendo ser estendida a todos os segmentos coletivos presentes na escola, associados com a
da comunidade escolar: professores, alunos, organização de recursos e processos, instigando,
funcionários, pais e comunidade. mobilizando competências, superando o enfoque
administrativo a partir do reconhecimento da

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Revista Educar FCE - Março 2019

dinâmica humana, promovendo a formação


dos professores, dos alunos, inovando, criando reciprocamente a intercomplementaridade de
espaços de aprendizagens significativas, seus conhecimentos, habilidades e atitudes,
desempenhando de forma efetiva seu papel com vistas à realização de responsabilidades
social (Lück, 2012, p. 32).
comuns: [...]“Por outro lado, a mobilização
e o desenvolvimento dessa capacidade
Conforme a mesma autora, os conceitos depende da capacidade de liderança de seus
de liderança e gestão se complementam, pois gestores”. (Lück, 2008, p. 97).
não se pode exercer gestão sem liderança.
Desta forma, Lück (2012), coloca algumas Neste sentido, a participação consiste na
características dos gestores escolares atuação consciente dos sujeitos no cotidiano
que agem como líderes, como: liderança escolar, que assumem serem membros de
compartilhada entre os membros da uma instituição social e que têm poder de
organização e determinada coletivamente, exercer influência nas tomadas de decisões
tomada de decisões distribuída, mediante da escola.
processos de reflexão e disseminação de
informações, sucesso atribuído ao trabalho A formação continuada é outra
em conjunto, papeis e funções assumidos característica bem marcante nas falas dos
de forma compartilhada, segundo o sentido sujeitos pesquisados. Pode-se perceber
de responsabilidade comum. Por isso, os que todas as professoras que responderam
gestores da escola devem agir de certa forma, à entrevista consideram a formação
como líderes no processo de gestão, de modo continuada dos professores como sendo
a mobilizar e orientar os profissionais dentro um dos principais motivos pelo sucesso
da escola. alcançado pela escola.

A gestão escolar consiste no processo de


A GESTÃO E A ATUAL mobilização e orientação do talento e esforço
SOCIEDADE coletivos presentes na escola, associados
com a organização de recursos e processos,
Para Lück (2001), o próprio conceito de
gestão já carrega em si a ideia de participação,
onde pessoas trabalham de forma associada
analisando situações, trocando experiências
e tomando decisões de forma conjunta.

Esta mesma autora evidencia que o


desempenho de uma equipe depende da
capacidade de seus membros de trabalharem
em conjunto e solidariamente, mobilizando

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dada a importância e as particularidades do tema,
esse artigo procurou ressaltar alguns aspectos essenciais,
deixando em aberto outras questões que poderão ser
desenvolvidas posteriormente com maior profundidade.

A Gestão Educacional parece ser um movimento


político da União dos Estados Brasileiros para que ocorra a
efetivação do proposto pela legislação vigente. No entanto,
é importante fazer a ressalva de que a ação prescritiva
dos programas federais tem imprimido às escolas públicas ANDREA GOMES MALTA
brasileiras ainda um modelo que não trabalha exatamente a DOS SANTOS
gestão democrática da educação. O modelo organizacional
Graduada em Letras, pela
das instituições escolares nacionais ainda é o modelo Faculdade UNIP, em 2009.
administrativo baseado no positivismo e no funcionalismo, Professora de Educação Infantil e
Ensino Fundamental na Prefeitura
Municipal de São Paulo.
Observa-se que a administração escolar ainda é regida
pelos pressupostos da administração empresarial e é
emergente a necessidade de uma mudança de paradigma
para que se possa efetivar a gestão democrática da educação.
A mudança primordial estaria vinculada à superação do
modelo administrativo vigente durante muito tempo no
campo educacional, pelos princípios da gestão.

358
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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LÜCK, Heloísa. Perspectivas da gestão escolar e implicações quanto à formação de seus


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PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Editora Ática, 1997.

VALERIEN, Jean. Gestão da escola fundamental: subsídios para análise e sugestões de


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SACRISTÁN, G. Os professores como Planejadores. IN: SACRISTÁN, Gimeno; GÓMEZ, Pérez


A.I. Compreender e transformar o ensino. 4º ed. São Paulo: Artmed, 1998.

SAVIANI, D; LOMBARDI, J. C. (orgs). Marxismo e educação: debates contemporâneos.


Campinas, SP: Autores Associados: HISTEDBR, 2005.

359
Revista Educar FCE - Março 2019

A INCLUSÃO EDUCACIONAL
RESUMO: O presente artigo analisa a inclusão na Educação, trazendo à tona discussões
pertinentes deste novo paradigma social, fundamentalmente para as crianças com alguma
deficiência, as quais têm seu processo de desenvolvimento cada vez mais estudado. O objetivo
desta pesquisa é verificar e analisar a interação social de crianças especiais. Neste estudo relata-
se a importância da educação especial para a formação e desenvolvimento dessas crianças
e a influência da estimulação precoce em relação à aprendizagem deste aluno. Pretende-se
com este artigo abordar algumas reflexões a respeito da inclusão na Educação, bem como as
experiências obtidas em sala de aula, sendo um dos objetivos refletir sobre as condições de
inclusão social a partir, e dentro da sala de aula. Outra preocupação presente diz respeito as
representações sociais, presentes na sociedade brasileira, ou melhor, no imaginário social, das
variadas formas de exclusão construídas e representadas por meio de estigmas e estereótipos.

Palavras-Chave: Educação; Inclusão; Interação

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO crianças e jovens com necessidades educativas


especiais é alcançada de forma mais eficaz em
escolas integradoras para todas as crianças
É um desafio grandioso iniciar-se uma de uma comunidade. É nesse ambiente que a
crianças com necessidades educativas especiais
reflexão sobre um projeto na área de inclusão podem progredir no terreno educativo e no
na Educação, objetivando uma educação da integração social. As escolas integradoras
voltada para todos, aproximando o aluno constituem um meio favorável à construção
da igualdade de oportunidades e da completa
e especialmente o professor numa relação participação; mas para ter êxito, requerem um
prazerosa com o conhecimento, nos moldes esforço comum, não somente dos professores e
idealizados pelos estudiosos da área em suas do pessoal restante da escola, mas também dos
colegas, pais, famílias e voluntários.
últimas propostas, como também, respeitar
as especificidades desses alunos: sua língua, As necessidades educativas especiais
seus anseios, sua relação familiar, etc. incorporam os princípios já comprovados de
uma pedagogia equilibrada que beneficia todas
as crianças. Parte do princípio de que todas
Nas últimas duas décadas, a tendência as diferenças humanas são normais e de que
educacional foi de fomentar a escola de a aprendizagem deve, portanto, ajustar-se às
necessidades de cada criança, ao invés de cada
qualidade para todos e lutar contra a criança se adaptar aos supostos princípios quanto
exclusão escolar de alunos com necessidades ao ritmo e a natureza do processo educativo.
especiais, de forma que todas as crianças Uma pedagogia centralizada na criança é
positiva para todos e, consequentemente, para
possam aprender juntas, independente de toda a sociedade.
suas dificuldades e diferenças.
As políticas educativas deverão levar em
conta as diferenças individuais e as diversas
O Brasil fez opção pela construção de um situações. Deve ser levada em consideração,
sistema educacional inclusivo ao concordas por exemplo, a importância da língua dos sinais
com a Declaração Mundial de Educação como meio de comunicação para os surdos,
e ser assegurado a todos os surdos acesso ao
para Todos e ao mostrar consonância com ensino da língua de sinais de seu país. Face à
os postulados produzidos em Salamanca necessidades específicas de comunicação de
(Espanha). surdos e de surdo-cegos, seria mais conveniente
que a educação lhes fosse ministrada em escolas
especiais ou em classe ou unidades especiais
A Declaração de Salamanca (Brasil, 1994), nas escolas comuns.
em seus pressupostos, afirma que:

A tendência da política social durante as duas Com base nesses dispositivos político-
últimas décadas foi de fomentar a integração
e a participação e de lutar contra a exclusão. filosóficos e nos dispositivos da legislação
A integração e a participação fazem parte da brasileira, o Conselho Nacional de Educação
dignidade humana e do gozo e exercício dos aprovou a Resolução nº 02/2001 que institui
direitos humanos. No campo da educação,
essa situação se refere no desenvolvimento as Diretrizes Nacionais para a Educação
de estratégias que possibilitem uma autêntica Especial na Educação básica.
igualdade de oportunidades. A experiência de
muitos países demonstra que a integração de

361
Revista Educar FCE - Março 2019

Contudo, a inclusão com garantia de o docente do seu papel fundamental de


direitos e qualidade de educação ainda é problematizador da realidade do educando,
um sonho a ser alcançado, um caminho a de modo que suas vivencias façam parte
ser construído, ao qual várias mudanças deste processo para que de fato se tenha um
serão necessárias: estruturais, pedagógicas significado na aprendizagem. Pois para Paulo
e sem dúvidas capacitação de professores Freire ensinar a pensar e problematizar sobre
no que se diz respeito a lidar com situações a realidade é a maneira mais correta de se
corriqueiras do dia a dia de sala de aula. produzir conhecimento, visto que, a partir daí
o discente terá a capacidade de reconhecer-
se como um ser social. “[...] aprender, é um
A INCLUSÃO, A SOCIEDADE E processo que pode deflagrar no aprendiz
A EDUCAÇÃO uma curiosidade crescente, que pode torná-
lo mais e mais criador”. (FREIRE, 1996, p.24)
Por meio da escola em que considera-se
como espaço privilegiado de construção de Desse modo, podemos dizer que diante
conhecimento e desenvolvimento de valores, dos métodos de alfabetização do autista, o
diante das crianças com necessidades aluno tem a necessidade de reconhecer-se
especiais tem deixado algumas indagações como um ser social, e essa tarefa fica a cargo
e desafios que não estão relacionados á do professor alfabetizador, que através de
deficiência dos alunos, mas sim ao descaso metodologias centradas no aluno, tenha o
de alguns profissionais docentes e algumas objetivo de conscientizá-lo como construtor
instituições, em relação à diversidade de seu conhecimento. Assim as estratégias
humana, a qual se constitui a população de alfabetização precisam ser trabalhadas de
brasileira. forma conjunta, incluindo a práxis. Segundo
Freire (1987, p.17) em sua obra nos faz refletir
Paulo Freire por exemplo, não discute sobre as condições de opressores e oprimidos
diretamente o tema de inclusão, mas no {...} Os opressores, falsamente generosos, têm
decorrer dos estudos percebe-se que sua necessidade, para que a sua “generosidade”
pedagogia é centralizada no sujeito. Diante continue tendo oportunidade de realizar-se,
desta concepção acreditamos que a educação da permanência injusta. (grifo do autor).
especial deva ser pensada de modo que o
discente seja visto como um ser construtor Diante de alguns artigos sobre educação
de seu conhecimento, capaz de interagir, inclusiva formam-se os elos de sabedoria
e que tenha materiais que estimulem suas e trabalho mútuo, tanto por parte dos
habilidades docentes, quanto da família que precisa
buscar materiais que estimulem o fazer
No contexto de seu livro “Pedagogia do da criança, levando em consideração o
Oprimido”, Paulo Freire procura conscientizar letramento que perdura por toda vida.

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Revista Educar FCE - Março 2019

É fundamental que a escola seja um defesa do direito de todos os alunos de


ambiente inclusivo e propício para o acesso estarem juntos, aprendendo e participando,
da pessoa autista e utilizar propostas sem nenhum tipo de discriminação”:
metodológicas de acordo com a necessidade
da criança. A educação inclusiva constitui um paradigma
educacional fundamentado na concepção de
direitos humanos, que conjuga igualdade e
Os profissionais da educação precisam diferença como valores indissociáveis, e que
estar preparados para lidar com esse tipo de avança em relação à ideia de equidade formal
ao contextualizar as circunstâncias históricas da
situação para que sejam tomadas medidas produção da exclusão dentro e fora da escola
cabíveis para a resolução do problema. (BRASIL, 2007, p.1)

Sabe-se que a participação da família tem


uma parte importante, pois muitas vezes a A educação inclusiva tem um passado de
rejeição começa dentro da própria casa. segregação, segundo a Organização Mundial
Santos (2008, p. 14) destaca que “Autismo da Saúde (OMS), 10% das pessoas têm algum
não é muito comum e a maioria das pessoas tipo de deficiência, o que representaria 15
não sabe nada sobre o assunto, levando os milhões de brasileiros, de acordo com o
pais a se sentirem muito sós e ignorantes Censo do IBGE de 2000. Em 2004, a fim de
a respeito da condição e o que devem aprimorar a formulação de políticas públicas,
realmente fazer”. o MEC passou a definir melhor as várias
categorias de deficiência (BIAGGIO, 2009,
É preciso levantar a discussão para o caminho p.21).
percorrido pela educação brasileira para
concretizar seu “projeto inclusivo”, que esbarrou
em “equívocos conceituais e dificuldades na Um novo desafio se impõe à prática docente
reorganização pedagógica”, os avanços da escola na contemporaneidade, o trabalho em equipe,
brasileira nessa direção têm acontecido de forma pois “o professor sozinho não pode de forma
lenta, pois ainda há “muita resistência por parte isolada transformar um centro educacional em
das instituições à inclusão plena e incondicional, espaço inclusivo, mesmo que sua sala de aula seja
e isso ocorre por causa da inexperiência com a um espaço inclusivo”, é necessário colaboração
e articulação entre toda a comunidade escolar,
diferença” (MANTOAN, 2010, p. 13). especialmente da família (DÍEZ, 2010, p. 21).

O sistema educacional brasileiro vem Percebe-se que a inclusão está presente


passando por significativas mudanças nas cada dia mais em nossos cotidianos, dessa
últimas décadas, e nesse contexto, o Ministério forma, a família e a escola devem caminhar
da Educação e a Secretaria de Educação lado a lado, para que o aluno com autismo
Especial (MEC/SEESP, 2007) ressaltam em possa ter um acompanhamento adequado
que: “o movimento mundial pela educação que contribuirá para o seu desenvolvimento
inclusiva é uma ação política, cultural, social integral e significativo.
e pedagógica”, que foi desencadeada “em

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Revista Educar FCE - Março 2019

A DEMOCRATIZAÇÃO Afora ações para garantir que as escolas


DA ESCOLA PÚBLICA E A se constituam em espaços de aprendizagem
para todos os alunos, na CF 88 (art. 205, inc.
INCLUSÃO III) está previsto que o Estado deve garantir
atendimento educacional especializado aos
Para BARROSO (2005, p.11) “a educandos com necessidades educacionais
democratização da escola pública, ou especiais (Res. 2/01), preferencialmente na
melhor, a sua refundação enquanto uma rede regular de ensino.
escola efetivamente popular - é uma tarefa -
desafio ainda em aberto para os educadores”. No Brasil, tradicionalmente, é a educação
O projeto - aparentemente irrealizável - é especial que tem se responsabilizado por
construir uma educação pública que seja, esse tipo de atendimento. Nesse sentido,
ao mesmo tempo, democrática (extensiva para Sousa e Prieto (2002, p.123), “tem-
a todos, indistintamente) e portadora de se previsto o ‘especial’ na educação
uma determinada qualidade, que seja referindo-se a condições que possam ser
socialmente referenciada e distante da lógica necessárias a alguns alunos para que se
excludente. Uma escola que consiga inserir viabilize o cumprimento do direito de todos
as novas gerações num mundo inteiramente à educação”. O que se tem como objetivo
transformado e distante daquele que precípuo, portanto, é a defesa da educação
originou a sua universalização. escolar para todos como um princípio.

Uma das tarefas é identificar Se o princípio da educação inclusiva vem


constantemente as intervenções e as ações se fortalecendo desde meados da década de
desencadeadas e/ou aprimoradas para que 1990, na prática é o modelo da integração
a escola seja um espaço de aprendizagem escolar que ainda predomina.
para todos os alunos. Isso exigirá novas
elaborações no âmbito dos projetos A educação inclusiva tem sido caracterizada
escolares, visando ao aprimoramento de sua como um “novo paradigma”, que se constitui
proposta pedagógica, dos procedimentos pelo apreço à diversidade como condição a ser
avaliativos institucionais e da aprendizagem valorizada, pois é benéfica à escolarização de
dos alunos. É importante ainda uma atenção todas as pessoas, pelo respeito aos diferentes
especial ao modo como se estabelecem as ritmos de aprendizagem e pela proposição
relações entre alunos e professores, além da de outras práticas pedagógicas, o que exige
constituição de espaços privilegiados para a ruptura com o instituído na sociedade e,
formação dos profissionais da educação, para consequentemente, nos sistemas de ensino. A
que venham a ser agentes co-responsáveis ideia de ruptura é rotineiramente empregada
desse processo. em contraposição à ideia de continuidade
e tida como expressão do novo, podendo

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Revista Educar FCE - Março 2019

causar deslumbramento a ponto de não ser criança, a construção de seus conhecimentos,


questionada e repetir-se como modelo que como cada uma reage e modifica sua forma
nada transforma. de sentir, pensar, falar e agir, o papel das
interações sociais e do ambiente nesses
Quando o objetivo é o atendimento de processos. Esses conhecimentos dariam aos
alunos com necessidades educacionais professores condições de pensar e agir com
especiais, muito desse novo discurso mais autonomia, de estruturar um ambiente
tem servido para condenar práticas da educativo que permita a construção efetiva
educação especial, sem, contudo ressaltar das competências consideradas importantes
que sua trajetória reflete em alto grau a na cultura e desenvolvimento global da
marginalização a que foi submetida pelas criança.
políticas educacionais, o que a fez constituir-
se também como alternativa com o poder Ao longo de sua história, muitos
de reiterar o isolamento social daqueles psicólogos vêm pesquisando e elaborando
em atendimento por essa modalidade de teorias sobre o desenvolvimento do ser
ensino. Tem ainda aparecido como a grande humano, o papel das interações sociais nesse
vilã, responsável quase que isoladamente desenvolvimento e sobre a aprendizagem.
pela perpetuação de fortes mecanismos Nesse contexto, poderia se apresentar pelo
de resistência à escolarização de todos em menos três concepções psicológicas: a
escolas regulares. O que se pode denunciar, inatista - que supõe que o desenvolvimento
com certa garantia de que seja posição humano é determinado por fatores genéticos,
consensual, é o descaso com que muitos de sendo que todas as características físicas e
nossos governantes ainda tratam a educação psicológicas de uma pessoa são herdadas
de pessoas com necessidades especiais. geneticamente de seus pais; a ambientalista
- que, ao contrário, acredita que a criança
Livros, artigos, seminários e congressos nasce sem que nada esteja determinado
sobre Inclusão Escolar, têm sempre um caráter biologicamente, de maneira que o meio
pedagógico em que quase nunca se fala das ambiente em que vive é que irá moldá-la,
questões psicológicas que envolvem e que estimulá-la e corrigi-la segundo um padrão
podem contribuir em muito para o sucesso ideal de comportamento; a interacionista -
da Inclusão Escolar. O curso de Pedagogia que, diferindo das duas primeiras, considera
tem pouquíssimas matérias de Psicologia. que tanto os fatores biológicos como
Quando há, apenas são repassadas de forma os ambientais são fundamentais para o
rápida as teorias tradicionais. Um conteúdo desenvolvimento humano e não podem ser
atualizado e maior de Psicologia poderá ajudar dissociados.
a melhorar as relações dos professores com
seus alunos por meio do conhecimento dos
processos e etapas do desenvolvimento da

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Revista Educar FCE - Março 2019

OS PROFESSORES E A INCLUSÃO
Para a maioria dos professores, assim como para grande parte da população, ainda há
aqueles velhos conceitos culturais referentes às pessoas com deficiência, como imaginar
que elas são doentes e/ou que não se desenvolveram ou aprendem como as demais. Ora,
a aprendizagem e o desenvolvimento humanos são individuais, ninguém tem um modelo a
seguir.

De fato, nenhum professor está preparado para trabalhar com a Inclusão Escolar até o
momento em que chegue à sua turma um aluno a ser incluído, ou seja, ninguém em nenhuma
situação está preparado para resolver algo que nunca vivenciou - o que muitas vezes exige
conhecimento de experiências anteriores. Será neste momento que veremos realmente
quem é o educador de verdade. O acomodado alegará não estar preparado, pois rejeitar um
aluno com essa alegação será muito mais fácil e rápido para se livrar da questão.

Mas o verdadeiro professor, consciente de seu compromisso e desafio ético de educar


a todos que pertencerem ao seu alunado, primeiro o receberá e somente depois irá se
informar, buscar o maior número possível de informações e recursos para promover
o desenvolvimento global daquele aluno. De modo geral, o bom educador reconhece
que sua formação é permanente, contínua e flexível e que ocorre em salas de aulas das
universidades, com o hábito e prática de leituras e de estudos, assim como também no
dia a dia das escolas, na convivência cotidiana com colegas de trabalho, com seus alunos,
com suas experiências familiares e na comunidade. O bom educador preocupa-se com
o seu processo de autoconhecimento, com a descoberta de conhecimentos e interesses
próprios, com suas motivações pessoais. Ele se permite autoconhecer em suas habilidades
e dificuldades, preparando-se bem para contribuir com a formação de qualquer aluno que
venha a integrar sua sala de aula.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante muitos anos, o conceito de Educação Especial
teve uma forte aceitação em nosso país. Era um modelo
educacional-médico, ou seja, instituições que mantinham
equipes multidisciplinares, formadas por professores
especializados, médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogas,
terapeutas ocupacionais, psicólogos e outros profissionais
menos comuns. Essa equipe tinha como meta habilitar
as pessoas que nasciam com algum tipo de deficiência
ou reabilitar aquelas que, ao longo de sua vida, viessem
adquirir alguma deficiência, seja por meio de doenças ou ANDREA HELENA DA
acidentes, dentre outros motivos. Eram os profissionais SILVA BERNARDES
que preparavam crianças ou pessoas com deficiência para
Graduação em Pedagogia pela
depois integrá-las na sociedade - e com muitos resultados Faculdade Campos Salles em
positivos. 1995 Professora de Educação
Infantil pela Prefeitura Municipal
de São Paulo.
Historicamente, pessoas com deficiência ficaram por
muito tempo escondidas do convívio social. Até que, cerca
de uma década atrás, nasceu o conceito de integração social.
Surgiram, por exemplo, entidades, centros de reabilitação,
clubes sociais especiais, associações desportivas, todas
dedicadas a pessoas com deficiência. A intenção principal
delas era preparar essas pessoas para ingressar e conviver
em sociedade.

A inclusão escolar está articulada a movimentos sociais


mais amplos, que exigem maior igualdade e mecanismos mais
equitativos no acesso a bens e serviços. Ligada a sociedades
democráticas que estão pautadas no mérito individual
e na igualdade de oportunidades, a inclusão propõe a
desigualdade de tratamento como forma de restituir uma
igualdade que foi rompida por formas segregadoras de
ensino especial e regular.

Fazer valer o direito à educação para todos não se limita


a cumprir o que está na lei e aplicá-la, sumariamente,
às situações discriminadoras. O assunto merece um

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Revista Educar FCE - Março 2019

entendimento mais profundo da questão de justiça. A escola justa e desejável para todos
não se sustenta unicamente no fato de os homens serem iguais e nascerem iguais.

As políticas educacionais não estabelecem uma remuneração descente para os


professores, que são obrigados a trabalhar dois e até três turnos, para conseguirem manter
sua sobrevivência, e a de sua família.

Por meio da convivência com as diferenças as crianças vão construindo o processo para
inclusão social, um mundo melhor, no qual todos saem ganhando, e com isso, possibilitando
falar em inclusão social real.

Acredita-se que o processo inclusivo deve permitir que o estudante desenvolva


suas potencialidades educativas com os outros estudantes, visto que a socialização não
necessariamente ocorre apenas na escola, pois é realizada em diversos ambientes.

368
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
AMARAL, Lígia Assumpção. Pensar a diferença: Deficiência. Coordenadoria Nacional para
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, Brasília, 1994.

BARTALOTTI, Celina Camargo. Inclusão Social das Pessoas com Deficiência: Utopia ou
possibilidade? Editora PAULUS. 2ª edição. SP, 2010. Pg. 8, 9, 11, 23 até 31.

DÍEZ, Anabel Moriña. Traçando os mesmo caminhos para o desenvolvimento de uma


educação inclusiva. Tradução Grupo Solucion-SP. Inclusão, Revista da Educação Especial.
Brasília, 2010. Vol. 5, nº. 1, p. 16-25.

FIGUEIRA, Emílio. Educação Inclusiva. Editora Brasiliense. São Paulo, 2011. Pg. 10, 11, 12,
13,14, 15,18, 19.

GUERRA, Alexandre; MORETTO, Amilton; FONSECA, Ana; CAMPOS, André; FREITAS,


Estanislau de; SILVA, Ronnie; RIBEIRO, Thiago. Organizadores: MANTOAN, Maria Teresa
Eglér; ARANTES, Valéria Amorim (Org.). Inclusão escolar: pontos e contrapontos. 3. Ed. São
Paulo: Summus, 2006.

MANTOAN, Maria Teresa Eglér; PRIETO, Rosângela Gavioli. Inclusão Escolar. Summus
editorial. 4ª edição. SP, 2006 Pg. 16, 17, 36, 37, 39, 40, 41

POCHMANN, Marcio; AMORIM, Ricardo. Atlas da Exclusão Social no Brasil. 2ª edição.


Editora Cortez. São Paulo, 2003. Pg. 09, 73, 74, 75, 76.

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Revista Educar FCE - Março 2019

OS ESTUDOS EM PSICOPEDAGOGIA
E A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA
O PROCESSO DE ENSINO E
APRENDIZAGEM
RESUMO: Este estudo traz uma revisão bibliográfica com o tema voltado ao estudo da
Psicopedagogia e as suas contribuições para as práticas de ensino e para o processo de
aprendizagem na escola, no que diz respeito ao atendimento e acompanhamento dos alunos
que apresentam alguma dificuldade em assimilar os conteúdos. Dentro desse tema, o objetivo
deste trabalho é apresentar e refletir acerca da importância dos estudos em Psicopedagogia
relacionadas a Educação. O psicopedagogo institucional trabalha na instituição escolar e
realiza o levantamento e compreensão, analisando as práticas que acontecem no âmbito
escolar e a atuação da equipe escolar. O objetivo do diagnóstico é compreender globalmente
a maneira como a criança aprende e o que está ocorrendo neste processo dificultando a
aprendizagem, depois de especificado o problema parte-se então para o encaminhamento
de ações para solucioná-los. O profissional em psicopedagogia indicará a dificuldade de
aprendizagem, que foi diagnosticada na sessão e depois da devolutiva ao paciente inicia-se
o processo de intervenção para integração escolar e social.

Palavras-Chave: Educação; Inclusão; Interação

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO psicopedagógica é compreender de que


maneira o indivíduo aprende e como se dá
O atendimento psicopedagógico e a este processo.
psicopedagogia são aliados no processo
de ensino e aprendizagem na escola e o O método escolhido para a intervenção
conhecimento desta área de atuação pode psicopedagógica vai interferir e influenciar
auxiliar o trabalho do professor em sala de diretamente os resultados obtidos, é
aula e a escola de uma maneira geral e estes preciso que se tenha bem claro quais são
conhecimentos se tornam fundamental para os propósitos da intervenção e qual é o
a compreensão de questões relacionadas a melhor instrumento a ser utilizado naquele
aprendizagem no cotidiano escolar. momento, baseado nas informações que
se tem daquele indivíduo e das queixas ali
O psicopedagogo exerce a função de dar apresentadas. Neste sentido o objetivo
suporte clínico e/ou pedagógico na escola geral desta pesquisa é compreender de
ou na clínica especializada. Quando atua que maneira a psicopedagogia e os testes
no âmbito educacional realiza o trabalho para avaliação psicopedagógica auxiliam no
voltado a prevenção e análise dos principais processo de ensino e aprendizagem e em
problemas de aprendizagem. A prevenção quais contextos se dá a sua utilização.
neste tipo de atendimento atua voltada ao
suporte para que a aprendizagem efetiva A criança até os dez anos está em processo
ocorra e que todos os alunos possam constante de aprendizagem, aprendendo a
aprender. lidar com o mundo e a lidar com si mesma,
o cérebro da criança nesta fase, está em
A Psicopedagogia surge com a formação biológica e o ambiente que a cerca
necessidade de identificação e compreensão interfere nessa formação, neste sentido, a
dos problemas de aprendizagem, tem como família, a escola e as relações que estabelecem
função indicar maneiras de intervenção nesta fase, têm extrema importância nesta
que colaborem para que o aluno tenha um fase de desenvolvimento.
aprendizado significativo e seja capaz de
construir conhecimentos. O objetivo do diagnóstico é compreender
globalmente a maneira como a criança
Para a Psicopedagogia o meio no qual o aprende e o que está ocorrendo neste
indivíduo está inserido é de fundamental processo dificultando a aprendizagem,
importância nesta análise dos fatores que depois de especificado o problema parte-
podem acarretar prejuízos na aprendizagem, se então para o encaminhamento de ações
e neste meio social, encontra-se a escola, a para solucioná-los. O profissional em
família e a sociedade. O intuito dos estudos psicopedagogia indicará a dificuldade de
psicopedagógicos e dos testes de avaliação aprendizagem, que foi diagnosticada na

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Revista Educar FCE - Março 2019

sessão e depois da devolutiva ao paciente aprendizagem, logo depois, passam a pensar


inicia-se o processo de intervenção para na instituição escola e no nível de atuação
integração escolar e social. distinto do psicopedagogo clínico e do
psicopedagogo educacional.

A PSICOPEDAGOGIA E A A Psicopedagogia curativa utilizava um


SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A método que buscava favorecer a readaptação
pedagógica dos alunos, auxiliando-o a
APRENDIZAGEM adquirir conhecimentos e a desenvolver a sua
personalidade. Era conduzida em grupos ou
A psicopedagogia pode ser definida como individualmente e foi introduzida na França.
um campo do conhecimento que tem a sua
atuação nos âmbitos educacional e clínico De acordo com as ideias de Oliveira (2011)
e tem por objetivo estudar a aprendizagem nos diferentes momentos da história, os
humana e como essa aprendizagem evolui estudiosos e pesquisadores demonstraram
ou é prejudicada devido a diferentes fatores uma preocupação de como os ambientes
que podem influenciar a sua aquisição. educacionais poderiam ter sucesso em
realizar a seleção de crianças ou proporcionar
Os primeiros cursos de pós-graduação o seu desenvolvimento. Muitas crianças que
no Brasil surgem na década de 1970. apresentaram algum tipo de dificuldade na
Inicialmente, com o objetivo de aumentar escola poderiam ter avançado caso, nesta
a quantidade de psicólogos, pedagogos época, fossem conhecidas algumas práticas
e educadores em geral, auxiliando no corretas de instrução. Neste sentido, até
entendimento e auxilio das dificuldades e mesmo os alunos que conseguiram êxito
problemas de aprendizagem, consideradas nestes modelos educacionais, poderiam ter
como distúrbios. Os estudos na Argentina obtido melhores resultados e desenvolvido
estavam bem avançados quando surgiu a diferentes habilidades e conhecimentos.
Pós-graduação em nível de especialização
no Brasil, primeiro em nível institucional, Para efeito de estudo, a Psicopedagogia
com uma visão psicopedagógica, cursos pode ser agrupada nas seguintes categorias:
referentes à criança, aos problemas em sala Psicopedagogia e Pedagogia com o foco no
de aula, dificuldades escolares, etc. indivíduo Pedagogicamente; Psicopedagogia
e Psicologia, com o foco no indivíduo
Em 1979, é instituído o primeiro curso Psicologicamente; Psicopedagogia e
no “Instituto Sedes Sapientae”, enfocando a problemas de aprendizagem com o foco nas
reeducação sob a ótica piagetiana e na Teoria situações em que não ocorre aprendizagem,
da Gestalt. Este curso tinha um enfoque mas que deveriam ocorrer; Psicologia e
terapêutico sobre os aspectos afetivos da fracasso escolar com o foco no indivíduo

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Revista Educar FCE - Março 2019

que não adquire conhecimento traçando um ocasionar as dificuldades de aprendizagem.


paralelo com o contexto social e a escola. De acordo com Ribeiro (2011) a dificuldade
Releva fatores externos como mediadores de aprendizagem pode ser definida como
na aprendizagem. um termo geral que se refere a um grupo
heterogêneo de desordens manifestadas
No século XIX, na Europa, começa por dificuldades significativas na aquisição
surgir a preocupação com os problemas de e utilização da compreensão auditiva, da
aprendizagem e as discussões envolviam fala, da leitura, da escrita e do raciocínio
filósofos, educadores e médicos. Foi matemático.
constituída neste período uma equipe médico
pedagógica para estudar os problemas Segundo Tabaquim (2003) o estudo das
neurológicos que poderiam interferir no questões neurobiológicas do comportamento
processo de ensino e aprendizagem. humano busca estabelecer relações entre os
processos mentais e as atividades celulares.
O fracasso escolar, por muitas vezes, A Neuropsicologia estuda os distúrbios das
está relacionado a falhas da aprendizagem, funções superiores que são produzidos
esses distúrbios podem estar relacionados por alterações cerebrais e investiga os
a diferentes áreas como leitura, escrita, distúrbios de comportamento adquiridos, é
ortografia, dentre outras, além destes uma ciência do conhecimento que estuda
aspectos podem relacionar-se a coordenação as relações entre cérebro e comportamento,
do movimento, organização espacial, etc. apresentando o funcionamento dos sistemas
cerebrais individuais em seus diferentes
O não aprender do indivíduo pode níveis, tanto em condições normais como
estar relacionado a um distúrbio ou a uma patológicas.
dificuldade escolar, nos dois casos, o indivíduo
apresenta rendimento escolar abaixo da O estudo em Neuropsicologia busca
média nas diferentes áreas de aprendizagem. realizar uma análise das alterações que
O distúrbio escolar tem origem orgânica, podem ocorrer nos casos de lesão cerebral,
neurológica, que pode ser resultante de explicitando como tais lesões podem
disfunções em diferentes áreas do cérebro. interferir nos processos psicológicos e
Os principais problemas são dislexia (falha permite a análise da atividade mental, com
no processamento da habilidade da leitura o acesso a informações a respeito das lesões
e da escrita), disgrafia (falha na escrita) em partes complexas do cérebro.
e discalculia (dificuldade para lidar com
conceitos e símbolos matemáticos). A neuropsicologia estuda as funções
do sistema nervoso e o comportamento
O diagnóstico em psicopedagogia é humano, a aprendizagem é definida como
utilizado para avaliar quais fatores podem uma mudança de comportamento resultante

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Revista Educar FCE - Março 2019

de uma experiência já vivenciada pelo todos os métodos de investigação, partindo


indivíduo, neste sentido, com a aprendizagem da entrevista inicial com os pais e a criança,
a ser constituída por processos neurais, a anamnese e aplicando os testes específicos,
neuropsicologia torna-se uma importante para então poder chegar a um diagnóstico das
ferramenta de estudo no contexto reais dificuldades apresentadas por aquela
educacional. criança. O trabalho conjunto com o professor
também é de fundamental importância para
Dificuldades, transtornos, distúrbios e obter resultados positivos no processo de
problemas de aprendizagem são expressões intervenção e assim “agir” diretamente nas
muito utilizadas para se referir as alterações dificuldades de aprendizagem apresentadas.
que muitas crianças apresentam na aquisição
de conhecimentos, habilidade motora e A atuação do psicopedagogo clínico é
psicomotora. O processo de aprendizagem terapêutica, considerando que o aluno
requer um certo nível de ativação, atenção se encontra em um estágio avançado
e seleção das informações recebidas, estes de dificuldades de aprendizagens. O
são elementos fundamentais para toda atendimento psicopedagógico clínico ocorre
a atividade neuropsicológica, que são fora do ambiente escolar, normalmente em
fundamentais para manter as atividades um consultório local em que é realizado
cognitivas. a coleta de dados para uma avaliação
individualizada.
Para o diagnóstico é importante que todas
as regras de relacionamento, sejam bem O processo do diagnóstico psicopedagógico
definidas desde o primeiro contato, sendo clínico compreende diversas fases segundo
claras para o paciente e a sua família, por Pain (1985) o motivo da consulta é
este motivo é necessário um contrato de fundamental para diagnosticar qual é o
atendimento no qual serão definidas funções, motivo que levou o paciente a procurar o
número de sessões previstas, horários e local atendimento, o paciente pode ser indicado
de atendimento, etc. para o atendimento pela instituição escolar,
pela família ou pelo médico.

AS FORMAS DE O psicopedagogo institucional trabalha na


DIAGNÓSTICO E instituição escolar e realiza o levantamento,
compreensão e análise de todas as ações
O TRABALHO DO desenvolvidas na escola relacionadas
PSICOPEDAGOGO a aprendizagem. Para Weiss (2002), o
diagnóstico psicopedagógico tem como
O psicopedagogo deve conhecer a queixa objetivo identificar os desvios e os obstáculos
que levou aquela criança até ele e utiliza de básicos na Aprendizagem que o impedem

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Revista Educar FCE - Março 2019

aprender conforme o esperado dentro das concepções educacionais e do meio social.


Desta forma, o papel do psicopedagogo é realizar as intervenções e os encaminhamentos
necessários.

O psicopedagogo clínico realiza diferentes tipos de atendimento, segue abaixo a descrição


de alguns deles:

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Revista Educar FCE - Março 2019

A abordagem psiconeurológica está cognitivos, afetivos e sociais. Segundo


centrada na ideia de que o comportamento Fernandez (1991), o diagnóstico tem como
está desorganizado em função de problemas objetivo buscar um modelo de aprendizagem
neurológicos e a abordagem Behaviorista adequado. Por meio da atividade lúdica é
acredita que o indivíduo é controlado pelo possível adquirir conhecimentos sobre a
meio ambiente externo, do qual recebem os criança e compreender de que forma ela se
estímulos, os quais interferem no aprender. organiza e representa o conhecimento, por
meio de seus esquemas mentais.
Os diagnósticos psicopedagógicas
são compostos por diferentes etapas, Com este tipo de diagnóstico é possível
segundo Weiss (2002) podemos destacar: a observar impedimentos no processo de
Entrevista Familiar Exploratória Situacional ensino e aprendizagem, tomando como base
(E.F.E.S) que busca compreender a queixa, e referencial as ideias de Piaget sobre os
envolvendo a escola e a família, neste processos de assimilação e acomodação. O
sentido, são elencadas as expectativas Psicopedagogo clínico conta com a parceria
familiares em relação ao indivíduo referente de diferentes profissionais da área médica e
a sua aprendizagem escolar, a atuação do psicológica.
profissional psicopedagogo e de que forma
o paciente compreende a importância do A psicopedagogia no campo clínico tem
atendimento. Neste momento é esclarecido como recurso principal à realização de
ao paciente e a família quais são os entrevistas operativas dedicadas a expressão
propósitos do atendimento e do diagnostico e a progressiva resolução da problemática
psicopedagógico. individual ou em grupo daqueles que a
consultam. Procura descobrir os fatores que
A Anamnese é uma entrevista, que possui levam o sujeito a não aprender ou apresentar
um foco mais específico, buscando levantar dificuldades de aprendizagem mesmo com a
os aspectos importantes a respeito da história intervenção preventiva.
do indivíduo na família, compreendendo
as relações que permeiam este ambiente O psicopedagogo clínico tem como dever
familiar e como o indivíduo é influenciado por compreender o porquê de o sujeito ter
esse convívio. Na Anamnese, são levantados determinada dificuldade de aprendizagem e
dados relativos as primeiras aprendizagens, como ele pode vir a aprender, desta forma
ao desenvolvimento do indivíduo, história compreender como se dará esse processo
familiar, clínica e educacional. de aprendizagem neste sentido, e essa
compreensão iniciará durante o diagnóstico.
As sessões lúdicas centradas na
aprendizagem são realizadas com crianças O enfoque preventivo é importante na função
do psicopedagogo, pois identifica possíveis
e buscam compreender os processos distúrbios no processo ensino-aprendizagem,

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Revista Educar FCE - Março 2019

objetivando favorecer processos de integração e trocas, considerando as características do indivíduo ou grupo.


Neste sentido, o psicopedagogo é um profissional apto para diagnosticar as dificuldades de aprendizagem,
através de intervenções preventivas e curativas, além de evitar o surgimento de outros. (DANTAS, 2011, p. 4)

Segundo Weiss (2002) os profissionais devem trabalhar em conjunto para construção de


novas práticas que consequentemente produzirão uma melhora no aprendizado, o trabalho
em conjunto dos profissionais das áreas da saúde, educação e psicologia é de fundamental
importância para o sucesso da intervenção e do tratamento e no ambiente escolar a troca
de informações entre os profissionais possibilitará a intervenção adequada nas dificuldades
de aprendizagem e o encaminhamento correto para cada caso.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para compreender os problemas de aprendizagem são
realizados diagnósticos e intervenções, que devem considerar
os fatores externos tanto quanto os fatores internos,
promovendo desta maneira uma intervenção adequada
aquele indivíduo em questão. A psicopedagogia atua no
sentido de intervir no contexto educacional, posicionando-
se entre o indivíduo e os objetos de conhecimentos
que são apresentados a ele. Desta maneira é possível
avaliar e diagnosticar quais fatores estão interferindo na
aprendizagem e trabalhar no sentido de resolvê-los. ANDRÉA RODRIGUES
MARIN DE SOUZA
O trabalho da Psicopedagogia deve ocorrer em
Graduação em Pedagogia pelas
consonância e parceria com a escola, desta forma poderá Faculdades Metropolitanas
contribuir de forma positiva para amenizar as dificuldades Unidas – FMU (1997). Atua como
relacionadas a aprendizagem que surgem no contexto Professora de Educação Infantil
na Prefeitura do Município de São
educacional, de forma conjunta, envolvendo todos os Paulo No CEI Vereador Joaquim
profissionais de educação. Thomé Filho.

A atuação do psicopedagogo clínico é terapêutica,


considerando que o aluno se encontra em um estágio
avançado de dificuldades de aprendizagens e que o
atendimento psicopedagógico clínico ocorre fora do
ambiente escolar, normalmente em um consultório,
momento em que é realizado a coleta de dados para uma
avaliação individualizada, tendo como recurso principal a
realização de entrevistas operativas.

O psicopedagogo educacional trabalha na instituição


escolar e realiza o levantamento, compreensão e análise das
práticas escolares em suas relações com a aprendizagem,
junto com os demais profissionais da escola, auxiliando
professores e demais funcionários envolvidos neste
processo.

Diagnosticar, no sentido em que temos na psicopedagogia,


é uma maneira de constatar que o indivíduo apresenta

378
Revista Educar FCE - Março 2019

alguma dificuldade na aprendizagem, dificuldade esta que, normalmente só é verificada


quando a criança chega a escola e passa a receber a instrução formal, com os parâmetros
impostos pela sociedade e meio cultural.

O psicopedagogo deve atentar-se as reações do indivíduo diante dos testes e das avaliações
propostas, a maneira como o sujeito se comporta durante a atividade é um facilitador no
processo de conhecimento dos fatores que estão prejudicando a aprendizagem. A avaliação
psicopedagógica deve ocorrer de maneira dinâmica e os instrumentos utilizados devem
abarcar as diferentes variáveis que se pretende avaliar e diagnosticar.

A psicopedagogia é um campo do conhecimento que se enquadra nas áreas da educação


e da saúde e tem como objeto de estudo a aprendizagem humana e seus padrões evolutivos
normais e patológicos, e para que o profissional psicopedagogo tenha êxito deverá considerar
o indivíduo em todos os seus aspectos, emocionais, psicológicos e sociais.

A criança está em processo constante de aprendizagem, aprendendo a lidar com o mundo


e a lidar com si mesma, o cérebro da criança nesta fase, está em formação biológica e o
ambiente que a cerca interfere nessa formação, neste sentido, a família, a escola e as relações
que estabelecem nesta fase, têm extrema importância nesta fase de desenvolvimento.

379
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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aprendizagem escolar. Rio de Janeiro: Lamparina, 2002. 13 ed.

380
Revista Educar FCE - Março 2019

A ESCOLA DO SÉCULO XXI NA


FORMAÇÃO SUPERIOR PELA
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
RESUMO: Questionando-se como foram criadas as escolas de ensino a distancia? Quem é o
educador destas instituições de ensino? O artigo foi desenvolvido na busca pela compreensão
sobre a história da educação à distância e o papel do educador universitário. Por meio da
revisão bibliográfica apresentaram-se as fundamentações e leis educacionais, que definem a
educação à distância e sua expansão, não deixando de comentar sobre o papel do Estado e do
governo na universalização brasileira. Considerando a fundamentação do tema pesquisado,
acredita-se na contribuição de saberes e valores oferecidos pelas instituições de ensino a
distância proporcionada pelas universidades por meio de seus pólos de ensino e educadores
de ensino superior. Considera-se necessário haver currículos e programas que proporcionem
uma educação de qualidade para todos.

Palavras-Chave: Educação; Inclusão; Interação

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO da educação superior no país, observou-se


que a legislação e as políticas educacionais,
Destacando-se a ênfase dada à educação organizadas ao longo da década de 1990
à distância (EAD), como forma de elevar até o presente, buscaram a ampliação do
às taxas de acesso a educação superior, acesso à educação superior no Brasil, não
apresentaram-se por meio de documentos só com a expansão das vagas e matrículas
divulgados pelo Banco Mundial Global nos cursos e tipos de Instituições de Ensino
Networked Readiness for Education Superior (IES) tradicionais, mas também via a
Preliminary findings from a Pilot Project to criação de novos tipos de IES, novos cursos
Evaluate the Impact of Computers and the e modalidades de educação.
Internet on Learning in Eleven Developing
Countries a discussão sobre o potencial da Acrescenta-se ainda que, os estudos sobre
aplicação dessa modalidade de ensino nos o pensamento do profissional de educação e
países em desenvolvimento. a reflexão, demonstram que o conhecimento
pedagógico gerado pelo educador do ensino
No Brasil, vem crescendo esse tipo de superior é um conhecimento ligado à ação
oferta, mesmo os cursos presenciais já podem prática, não podendo estar desvinculado da
ter 25% de sua carga horária ou créditos, relação teoria e prática.
realizados por meio de ensino não presencial.
Essa modalidade de ensino enquadra-se Acredita-se que os educadores contribuem
como uma das possíveis alternativas de com seus saberes, valores e experiências nessa
expansão do acesso, não só pelo aumento complexa tarefa de melhorar a qualidade do
de vagas nas Instituições de Ensino Superior ensino, sendo assim sua prática não deve ser
(IES) e cursos existentes, mas também com baseada na racionalidade técnica, mas sim na
novas modalidades de ensino, e novos tipos consciência de ampliar seus conhecimentos,
de cursos (sequenciais e tecnológicos). especialmente os pedagógicos, que facilitam
o confronto de suas ações cotidianas com
Dessa forma questiona-se como foram produções teóricas, contextualizando-as
criadas as escolas de ensino a distancia? Quem com um saber significativo.
é o educador destas instituições de ensino?

Para responder a essas perguntas HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO A


utilizamos como base a revisão bibliográfica DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR
em pesquisas teóricas sobre o tema
desenvolvido. Educação à distância (EAD), no Brasil não
é nenhuma novidade, pois se trata de um
Objetivaram-se mostrar que com base na processo de ensino aprendizagem na qual
análise realizada sobre o marco regulatório educando e educadores não ficam juntos

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Revista Educar FCE - Março 2019

fisicamente, mas podem manter contatos Em 1936, o início das atividades do


conectados por grandes tecnologias, como a Instituto Rádio Técnico Monitor, com
internet, e suas plataformas de redes sociais, programas dirigidos ao ensino da eletrônica;
podendo ser utilizado ainda por meio de Em 1941, a oferta dos primeiros cursos do
outros meios como: rádio, jornal, telefone e Instituto Universal Brasileiro, dedicado à
outros. formação profissional de nível elementar
e médio, utilizando material impresso; O
Existem três tipos de educação: projeto Minerva, que se iniciou em 1970
(PIMENTEL, 1995 e ALONSO, 1996 apud
1. Educação à distância, na qual RODRIGUES, 1998) irradiando cursos de
geralmente alunos e professores estão Capacitação Ginasial e Madureza Ginasial.
separados fisicamente no espaço ou
tempo, mas podem estar juntos por meio O projeto foi mantido até o início dos anos
de tecnologias de comunicação; 80; O projeto SACI de 1974, que atendia as
2. Educação presencial ou formal: Ensino quatro primeiras séries do primeiro grau. O
convencional, no qual professor e aluno projeto foi interrompido em 1977-1978; A
se encontram no mesmo lugar, acontece iniciativa da Universidade de Brasília (UnB),
nas escolas, em salas de aula, este tipo de nos anos 70, que pretendia ser a universidade
educação exige ambiente propício; aberta do Brasil, adquirindo todos os direitos
3. Educação Semipresencial: Em de tradução e publicação dos materiais do
determinados momentos são ministradas “Open University” da Inglaterra.
aulas presenciais e em outros momentos à
distância, por meio de tecnologias. Esta iniciativa não teve sucesso,
principalmente pela inadequação do discurso
A educação à distância é uma prática que de sua direção, que apresentava a educação
permite um equilíbrio entre as necessidades à distância como substituto da educação
e habilidades individuais e as do grupo, de presencial; O Tele curso 2° Grau, lançado em
forma presencial e virtual. 1978, e o Tele curso 2000, lançado em 1995,
pelas fundações Padre Anchieta (TV Cultura)
O marco inicial da Educação à Distância e Roberto Marinho, utilizando programas de
no Brasil foi em 1923, com a fundação da TV, vídeo e material impresso. Ainda está
Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, por sendo ofertado com cerca de 8.000 Tele
Roquete Pinto, transmitindo programas de salas no Brasil (NUNES, 1993, p. 12),
literatura, radiotelegrafia e telefonia, de
línguas, de literatura infantil e outros de O programa Um Salto para o Futuro, de
interesse comunitário (ALVES, 1994 apud 1991, numa parceria do Governo Federal,
RODRIGUES, 1998, p. 26). das Secretarias Estaduais de Educação e
da Fundação Roquette Pinto, destinado à

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Revista Educar FCE - Março 2019

formação de professores; O Programa de ponto claro de ruptura com a expansão da


Capacitação de Professores (PROCAP), internet na metade da década de 90. O uso
que se iniciou em 1997, por uma iniciativa intensivo de tecnologias da comunicação
do Governo do Estado de Minas Gerais, e da informação transforma o conceito
através de material impresso, programas clássico de distância, até então de uma
em vídeo e tutoria; O Laboratório de separação física entre o aluno e o professor
Ensino à Distância da Universidade Federal ou a instituição de ensino, para um conceito
de Santa Catarina - UFSC, com cursos de de integração virtual entre os agentes do
Mestrado em Engenharia de Produção, processo de ensino-aprendizagem que se
Especialização e Capacitação, oferecidas por estabelecem.
meio de videoconferência, Internet, material
impresso, vídeo aulas e teleconferência, que Para Kearsley (1996) a tecnologia da
iniciou as atividades em 1996. internet e a criação de ambientes virtuais
de aprendizagem para interface world wide
Esta modalidade de educação assume web (www) tornaram possível um cenário
várias formas no País e é promovida de trocas de aprendizagem, de atividades
por diversas instituições. Já existem colaborativas, acesso a conteúdos e
Universidades totalmente dedicadas a bibliotecas virtuais complementares, a
Educação à Distância. O que acorre é que qualquer tempo e lugar.
alguns setores de universidades presenciais
modelam cursos à distância para atender O ensino a distância experimenta vertiginosa
expansão mundial, no Brasil, país de porte
diversas clientelas (RODRIGUES, 1998, p. continental com grandes disparidades
29). socioeconômicas e crônicos problemas
educacionais foi invocado como tábua de
salvação. [...] Beneficiado por novos dispositivos
Sucinta Nunes (1993) que a Educação legais adquiriu a legitimidade e a visibilidade
à Distância no Brasil é caracterizada almejadas por diferentes segmentos do setor
historicamente pela descontinuidade de educacional. [...] Com interesses distintos,
educadores e negociantes celebram a difusão da
projetos principalmente os vinculados
educação à distância. (NOLETO, 2014, p. 2).
à atuação governamental pela falta de
memória administrativa e receio em adotar
procedimentos rigorosos e científicos de Como todo processo social ou educacional,
avaliação dos programas e projetos. Em suma, essa modalidade de ensino possui facetas
existe ainda no meio educacional brasileiro ambíguas e controversas, comporta tensões
demonstração de ceticismo quanto à eficácia e desenlaces antagônicos. Pode ampliar
e qualidade dos projetos de Educação à e melhorar a rede pública; no entanto,
Distância. têm contribuído significativamente para
promover interesses restritos e a privatização
A história da educação à distância tem um do ensino. A educação à distância, como todo

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Revista Educar FCE - Março 2019

bem ou serviço apropriado pela economia de O regime militar esvaziou essa tensão
mercado, sofre pressões e digressões. por meio da expansão do ensino privado.
Paradoxalmente, até mesmo os artífices das
Não se pode ignorar que, em diferentes políticas do governo perceberam os riscos
contextos, a adoção do ensino a distância da degradação de padrões educacionais pela
e de modalidades educacionais similares foi educação a distância apropriada por setores
provocada por fortes pressões sociais. O privados (BRAGA, 2011).
Centre National Enseignement à Distance
(CNED), na França, surgiu como alternativa Newton Sicupira (1973), articulista de
para a oferta de educação a contingentes de políticas educacionais do regime militar,
refugiados da Guerra Civil Espanhola, no final produziu um substancioso relatório sobre o
da década de 1930. Na ex-União Soviética assunto. Registra sua visita à Open University,
e em países socialistas do leste europeu, a do Reino Unido, com o objetivo de instruir a
busca de qualificação técnica resultou em criação de uma universidade similar no Brasil.
políticas de articulação entre educação e Poucos meses depois, esta proposta foi
trabalho. abandonada. O autor, emérito conservador,
advertiu para possíveis conseqüências da
Por meio de diversos programas, operários privatização do ensino a distância.
graduaram-se sem se afastar do trabalho
graças à educação à distância. Instituições de O receio de que o ensino a distância
ensino a distância contribuíram para superar acarretasse a deterioração de padrões
barreiras geográficas e climáticas, bem como educacionais ou se convertesse em estuário
para superar entraves da diversidade étnica. para o proselitismo de esquerda levou o
No Reino Unido, o Partido Trabalhista Inglês, Ministro da Educação, Ney Braga, a aventar
em 1962, formulou a proposta do Open outras prioridades para sustar a organização
University. A instituição seria fundada em deste projeto.
1969, na vigência de um governo conservador,
para viabilizar o atendimento a trabalhadores No Brasil, ao contrário do direito de
egressos do sistema educacional. tradição Anglo-americana, a principal
fonte do direito é a lei. A palavra lei pode
Sucinta Braga (2011) que a perspectiva de significar tanto norma geral emanada do
criação de Universidade Aberta, no Brasil, no Poder Legislativo, como qualquer norma de
início dos anos de 1970, esteve associada à direito escrito, desde a Constituição até um
oferta de vagas no ensino superior para conter decreto regulamentar ou mesmo decreto
a pressão das camadas médias. Desejosas individualizado (JOAQUIM, 2006, p. 2).
de ascensão social viram-se frustradas pelo
limitado número de matrículas na rede de A forma escrita é a manifestação mais
ensino superior. característica da lei e igualmente, está é a

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Revista Educar FCE - Março 2019

concepção adotada pelo Direito Educacional: nº. 9.870, de 23 de novembro de 1999);


Lei em sentido amplo; Lei em sentido Direito Ambiental (Lei nº. 9.797, de 27 de
estrito. O Direito Educacional tem como abril de 1999); Plano Nacional de Educação
fonte várias legislações no sentido amplo: (Lei 10.172, de nove de janeiro de 2001);
decretos, portarias, regulamento, regimento “Bolsa Escola” (Lei nº. 10.219, de 11 de abril
escolar, resoluções e pareceres normativos de 2001); Decreto nº. 3.860, de 9 de julho
dos conselhos de educação, tratados e de 2001, que dispõe sobre a organização
convenções internacionais. do ensino superior e avaliação de cursos e
instituições; Programa de Diversidade na
Contudo, a fonte primeira e fundamental Universidade (Lei 10.558, de 13 de novembro
do Direito Educacional brasileiro está na de 2002); Lei n. 10.639, de 9 de Janeiro de
Constituição federal. Trata-se do Título VIII, 2003, que altera a Lei no 9.394, de 20 de
da Ordem Social, Capítulo III, intitulado dezembro de 1996, para incluir no currículo
Da Educação, da Cultura e do Desporto, oficial da rede de ensino a obrigatoriedade
com uma soma de dez artigos dedicados à da temática “História e Cultura Afro-
educação (art. 205 a 214), com os princípios Brasileira” Programa de Complementação
do Direito Educacional. (JOAQUIM, 2005, p. ao Atendimento Educacional Especializado
5) às Pessoas Portadoras de Deficiência (Lei n.
10.845, de cinco de março de 2004), Sistema
Julga-se importante lembrar que, dentre Nacional de Avaliação da Educação Superior
as muitas leis que fluem da Constituição de (Lei 10.861, de 14 de abril de 2004); PROUNI
1988 em direção ao ordenamento jurídico- (Lei 11.096, de 13 de janeiro de 2005).
educacional, podemos destacar: as Leis de Quanto à educação à distância tem o art.
Diretrizes e Bases da Educação Nacional - 80 da LDBEN, cujos regulamentos estão
Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que disciplinados nos Dec. 2.494, de 10 de
estrutura a administração, declara princípios fevereiro de 1998, Dec. 256, de 27 de abril de
e procedimentos, regulamenta os currículos, 1998, Portaria Ministerial 301, de 7de abril
o ano escolar, os conteúdos programáticos de 1998 e Portaria 2.253, de 18 de outubro
e a duração dos cursos; Estatuto da Criança de 2001. Aqui, a educação à distância
e do Adolescente (Lei 8.069, de 13 de julho pode oferecer relevante contribuição
de 1990); Código de Defesa do Consumidor como instrumentos de inclusão digital e
(Lei nº. 8078, de 11 de setembro de 1990); educacional daqueles que historicamente
Conselho Nacional de Educação (Lei nº. foram discriminados pelo poder público e
9.131, de 24 de novembro de 1995); Fundo de pela sociedade (JOAQUIM, 2005, p. 7).
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental de Valorização do Magistério Para tanto, se faz necessária à
(Lei 9.424, de 24 de dezembro de 1996); democratização do acesso às tecnologias da
Decreto 3274/99; Anuidades Escolares (Lei comunicação e da informação, bem como

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Revista Educar FCE - Março 2019

a organização de uma cultura digital no REGULAMENTAÇÕES PARA


contexto educacional. A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Conforme Joaquim (2006, p. 9) a
NO BRASIL
consagração do direito à educação tem No Brasil, as bases legais para a
sido constantemente lembrada nas modalidade de educação à distância foram
declarações, tratados, convenções, cartas estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases
de princípios, compromissos, protocolos da Educação Nacional (Lei nº. 9394/96), que
e acordos internacionais, que buscam a foi regulamentada pelo Decreto n. 5622,
internacionalização do direito à educação. publicado no Diário Oficial da União - DOU
Esta tem como paradigma a Declaração de 20/12/05 (que revogou o Decreto nº.
Universal dos Direitos do Homem, aprovada 2494/98, e o Decreto nº. 2561/98 com
em Resolução da III Sessão Ordinária da normatização definida na Portaria Ministerial
Assembléia Geral das Nações Unidas, em n. 4361/04 (que revogou a Portaria
1948. Ministerial n. 301/98.

Nader (2011) se expressa dizendo ao Em 3 de abril de 2001, a Resolução n. 1 do


passo que a lei é um processo intelectual Conselho Nacional de Educação estabeleceu
que se baseia em fatos e expressa a opinião as normas para a pós-graduação lato e stricto
do estado, o costume é uma prática gerada sensu.
espontaneamente pelas forças sociais. Para
consolidação do costume como norma a) Educação Básica na modalidade de
obrigatória se faz necessária uma consciência Educação a Distância
social e jurídica da sua necessidade no
contexto social. O mesmo aplica-se ao De acordo com o Art. 30 do Decreto n.
Direito Educacional. 5.622/05, “As instituições credenciadas
para a oferta de educação à distância
Para Joaquim (2005) lei e costumes são poderão solicitar autorização, junto aos
formas de expressão do direito educacional. órgãos normativos dos respectivos sistemas
A lei seria a forma fundamental, principal e de ensino, para oferecer os ensinos
formal, nao passo que o costume uma das fundamentais e médios à distância, conforme
formas complementares, secundárias e § 4o do art. 32 da Lei no 9.394, de 1996”,
materiais. Em seguida, à jurisprudência, à exclusivamente para:
doutrina e aos princípios gerais do direito.
I - a complementação de aprendizagem;
ou
II - em situações emergenciais.
Para oferta de cursos a distância dirigida à

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Revista Educar FCE - Março 2019

educação fundamental de jovens e adultos, da análise. Para orientar a elaboração de um


ensino médio e educação profissional de projeto de curso de graduação à distância, a
nível técnico, o Decreto nº. 5.622/05 delegou Secretaria de Educação a Distância elaborou
competência às autoridades integrantes os documentos Indicadores de qualidade para
dos sistemas de ensino de que trata o cursos de graduação à distância disponível
artigo 8º da LDB, para promover os atos de no site do Ministério para consulta.
credenciamento de instituições localizadas
no âmbito de suas respectivas atribuições. As bases legais são as indicadas no
primeiro parágrafo deste texto.
Assim, as propostas de cursos nesses
níveis deverão ser encaminhadas ao órgão do c) Pós-graduação à distância
sistema municipal ou estadual responsável
pelo credenciamento de instituições e A possibilidade de cursos de mestrado,
autorização de cursos a menos que se trate doutorado e especialização à distância foram
de instituição vinculada ao sistema federal disciplinadas pelo Capítulo V do Decreto n.
de ensino, quando, então, o credenciamento 5.622/05 e pela Resolução n. 01, da Câmara
deverá ser feito pelo Ministério da Educação. de Ensino Superior (CES), do Conselho
Nacional de Educação (CNE), em 3 de abril
b) Educação Superior e Educação de 2001.
Profissional na modalidade de Educação a
Distância O artigo 24 do Decreto n. 5.622/05, tendo
em vista o disposto no § 1º do artigo 80 da Lei
No caso da oferta de cursos de graduação n. 9.394, de 1996, determina que os cursos
e educação profissional em nível tecnológico, de pós-graduação stricto sensu (mestrado
a instituição interessada deve credenciar-se e doutorado) à distância serão oferecidos
junto ao Ministério da Educação, solicitando, exclusivamente por instituições credenciadas
para isto, a autorização de funcionamento para tal fim pela União e obedecem às
para cada curso que pretenda oferecer. O exigências de autorização, reconhecimento e
processo será analisado na Secretaria de renovação de reconhecimento estabelecido
Educação Superior, por uma Comissão de no referido Decreto.
Especialistas na área do curso em questão e
por especialistas em educação à distância. No artigo 11, a Resolução n. 1, de 2001,
também conforme o disposto no § 1º do art.
O Parecer dessa Comissão será 80 da Lei n. 9.394/96, de 1996, estabelece
encaminhado ao Conselho Nacional de que os cursos de pós-graduação lato sensu
Educação. O trâmite, portanto, é o mesmo a distância só poderão ser oferecidos
aplicável aos cursos presenciais. A qualidade por instituições credenciadas pela União.
do projeto da instituição será o foco principal Os cursos de pós-graduação lato sensu

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Revista Educar FCE - Março 2019

diretamente ou mediante convênio com


oferecidos a distância deverão incluir, instituições nacionais, deverão imediatamente
necessariamente, provas presenciais e cessar o processo de admissão de novos alunos.
defesa presencial de monografia ou trabalho
de conclusão de curso.
Estabelece, ainda, que essas instituições
d) Diplomas e certificados de cursos estrangeiras deverão no prazo de noventa
à distância emitidos por instituições dias, a contar da data de homologação
estrangeiras da Resolução, encaminhar à Fundação
Coordenação de Aperfeiçoamento de
Conforme o Art. 6º do Dec. 5.622/05, Pessoal de Nível Superior (CAPES) a relação
os convênios e os acordos de cooperação dos diplomados nesses cursos, bem como
celebrados para fins de oferta de cursos dos alunos matriculados, com a previsão do
ou programas a distância entre instituições prazo de conclusão.
de ensino brasileiras, devidamente
credenciadas, e suas similares estrangeiras, Os diplomados nos referidos cursos deverão
deverão ser previamente submetidos à encaminhar documentação necessária para o
análise e homologação pelo órgão normativo processo de reconhecimento por intermédio
do respectivo sistema de ensino, para que da CAPES.
os diplomas e certificados emitidos tenham
validade nacional. Apesar de certas divergências pontuais,
começa se a chegar a um conjunto
A Resolução CES/CNE 01, de 3 de abril relativamente homogêneo de características
de 2001, relativa a cursos de pós-graduação, que acabam por conceituar a educação à
dispõe, no artigo 4º, que distância e dar-lhe uma dimensão prática
adaptada aos dias atuais e às demandas por
Os diplomas de conclusão de cursos de pós- universalização de processos de ensino.
graduação stricto sensu obtidos de instituições
de ensino superior estrangeiras, para terem Julga-se importante observar que a
validade nacional, devem ser reconhecidos e educação a distância não deve ser vista como
registrados por universidades brasileiras que substitutiva da educação convencional,
possuam cursos de pós-graduação reconhecidos
e avaliados na mesma área de conhecimento e presencial, pois, são duas modalidades do
em nível equivalente ou superior ou em área mesmo processo e a educação a distância
afim. não concorre com a educação convencional,
tendo em vista que não é este o seu objetivo,
Vale ressaltar que a Resolução CES/CNE e acredita-se que nem poderá ser.
n. 2, de 3 de abril de 2001, determina no
caput do artigo 1º, que Se a educação a distância apresenta como
característica básica a separação física e,
Os cursos de pós-graduação stricto sensu principalmente, temporal entre os processos
oferecidos no Brasil por instituições estrangeiras, de ensino e aprendizagem, isto significa não
somente uma qualidade específica dessa

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Revista Educar FCE - Março 2019

modalidade; mas, essencialmente, um desafio a ser vencido, promovendo-se de forma combinada, o avanço
na utilização de processos industrializados e cooperativos na produção de materiais com a conquista de novos
espaços de socialização do processo educativo. (ARAÚJO, 2011, p. 7).

Esta modalidade de ensino não pode ser encarada como uma panacéia para todos os
males da educação brasileira. Há um esforço muito grande dos educadores e pesquisadores
da educação em mostrar que os problemas da educação brasileira não se concentram
somente no interior do sistema educacional, mas, antes de tudo, refletem uma situação de
desigualdade e polaridade social, produto de um sistema econômico e político perverso e
desequilibrado.

Certamente que a educação, nas suas mais diversas modalidades, não tem condições de sanear nossos
múltiplos problemas nem satisfazer nossas mais variadas necessidades. Ela não salva a sociedade, porém, ao
lado de outras instâncias sociais, ela tem um papel fundamental no processo de distanciamento da incultura,
da criticidade e na construção de um processo civilizatório mais digno do que este que vivemos. (LUCKESI,
1989, p. 10).

Nesse sentido, a educação a distância pode contribuir de forma significativa para


o desenvolvimento educacional de um país, notadamente de uma sociedade com as
características brasileiras, na qual o sistema educacional não consegue desenvolver as
múltiplas ações que a cidadania requer.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando-se as reflexões sobre o papel do educador
de ensino superior proporcionada pelas universidades
representam um forte referencial para enriquecermos
nossas discussões e amadurecer nossa prática enquanto
educadores, pode-se considerar que o presente estudo
abordou questões, que de certa forma implicam num
repassar de nossa atuação, e que, favorecerá a inverter a
prática tradicional em prática construtiva capaz de oferecer
ao graduando subsídios para enfrentar os desafios da
profissão.

Em se tratando do papel do educador do ensino superior


deixou-se claro que o mesmo exerce suas funções na ANDREIA ALVES CAIRES
mais elevada das competências, buscando sempre atrair a
Professora de Educação Infantil e
atenção do aluno, por meio de sua postura e suas didáticas Ensino Fundamental na Prefeitura
pedagógicas diversificadas. do Estado de São Paulo No CEI
Américo de Souza, Licenciada
em Pedagogia pela Universidade
Embora a educação superior nos dias atuais seja baseada Guarulhos (UNG) e Pós-Graduada
em propostas impostas pelas leis educacionais sancionadas em Psicopedagogia pelo INEQ
pelo Ministério da Educação e articuladas pela lei de Email: andreiacaires2016@gmail.
com
diretrizes e bases não podem dizer que nossa pesquisa
encerra-se aqui, pois se deixa em aberto uma dimensão
universitária enorme sobre a educação a distância que
merece ser pesquisada e fundamentada, a fim de dar maior
ênfase a nossa pesquisa.

391
Revista Educar FCE - Março 2019

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393
Revista Educar FCE - Março 2019

O ENSINO DE ARTES NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: As artes sempre estiveram presentes na vida humana de forma marcante
e acompanham a evolução do ser e sua interação com o meio, além de uma forma de
expressão e comunicação. Como um dos primeiros recursos que o ser humano adquire
para se expressar quando criança, as artes na educação são um importante recurso para
o desenvolvimento infantil. O ensino de artes ainda é recente e vem passado por diversas
alterações para promover um bom desempenho. Neste trabalho, através de uma revisão
bibliográfica, abordamos um pouco da historicidade do ensino de artes, de sua importância
na educação infantil, abordamos algumas limitações sobre o ensino de artes e analisamos as
perspectivas da BNCC para um novo ensino de artes. Por fim buscamos refletir sobre como
é possível contornar estas limitações enquanto educadores.

Palavras-Chave: Ensino de artes; Educação infantil; Expressão e comunicação;


Desenvolvimento infantil.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO A arte não carrega consigo apenas a


intenção de transmitir uma mensagem. Ao
Seja como forma de comunicar-se ou longo da história a arte foi utilizada como
expressar-se, a arte é um elemento presente decoração, como adereço, para glorificar reis
na vida humana desde os primórdios e imperadores ou para louvar divindades,
da existência. A representação artística como material religioso, como objeto
antecede em muito a escrita, como nos contemplativo. Em alguns momentos da
apresentam as figuras rupestres. Até hoje história a arte foi utilizada como veículo
não há como afirmar se a arte rupestre foi da critica social, enquanto em outros foi
feita como uma pré-linguagem, como arte utilizada como o próprio objeto de repressão.
contemplativa, afresco religioso ou apenas
como hobbie para retratar aquilo que era Como elemento presente na vida de todo
visto. Provavelmente nunca tenhamos ser humano, direta ou indiretamente, a arte
uma resposta sobre aquilo que aconteceu tem papel significativo no seu cotidiano, e
eras atrás, porém ainda que estas figuras o ambiente escolar não seria exceção, uma
permaneçam como incógnitas, é interessante vez que uma criança desenvolve primeiro a
observar como a arte acompanha e participa habilidade de desenhar, e posteriormente a
da vida humana desde seus primórdios. de escrever. Estando amplamente presente
– na educação infantil principalmente - hoje
A arte está presente na vida das pessoas o ensino de arte, ou educação artística, é
desde que o ser humano passou a procurar uma matéria obrigatória segundo a LDB.
por linguagens escritas. A formação de
uma linguagem escrita formal e dotada se A Educação Infantil é um período marcante
significado é o que separou o ser humano na vida das crianças, por isso são muito
moderno do Homo sapiens a cerca de 350 importantes os primeiros conhecimentos
mil anos. A arte se transformou e reinventou que os alunos recebem. As artes devem
durante estes tantos anos à medida que ser trabalhadas de forma significativa pelos
surgem novas mídias, técnicas, tecnologias, professores, tanto por ser uma forma de
demandas e, principalmente, à medida que linguagem quanto por estar presente no
o ser humano se reinventa. A arte que era cotidiano de todos os indivíduos.
produzida há mil anos era extremamente
diferente daquela produzida há cem anos; Sendo assim, o trabalho a seguir apresenta
essa também é muito diferente da arte que uma revisão bibliográfica de livros, artigos e
é produzida há um ano; e essa arte feita um pesquisas acadêmicas, onde trabalharemos
ano é, provavelmente, bastante diferente sobre o ensino de artes na educação
daquilo que é produzido hoje. Com esse infantil. No primeiro capítulo faremos um
pensamento, buscamos elucidar como a arte breve levantamento histórico das principais
acompanha o ser humano. alterações e mudanças no ensino de artes

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Revista Educar FCE - Março 2019

no Brasil desde a fundação do modelo ensino de técnicas artísticas. Nesse ensino


tradicional de escola que conhecemos predominava a produção de figuras, do
hoje. Essa pesquisa é importante para desenho do modelo vivo, do retrato, da cópia
compreender o contexto histórico em que o de estamparias, obedecendo a um conjunto
ensino de artes se aplica, já que no terceiro de regras rígidas (SILVA e ARAÚJO, 2007).
capítulo retomaremos alguns fatos citados.
Formou-se o barroco brasileiro, a partir
No segundo capítulo, através das pesquisas da junção do modelo Barroco português
dos autores Duarte Junior, Barbosa, com a produção artesanal brasileira. A
Ana Mae e Lowerfeld, como base para a partir do século XIX, com a influência do
argumentação, buscaremos compreender neoclassicismo na Europa, o início da criação
qual é a importância do ensino de artes na de um curso superior acadêmico em artes.
educação infantil.
A partir de 1948 começou a difundir-se
Por ultimo, no terceiro capítulo deste no Brasil o movimento Escolinhas de artes.
trabalho, buscaremos citar algumas das Escolas particulares eram voltadas para a
principais limitações para o ensino de artes. formação de arte-educadores, em períodos
É através da reflexão sob as falhas do ensino de dois anos. Um período bastante curto para
que podemos buscar aprimorá-lo e construir transformar um estudante em educador.
um ensino cada vez melhor.
A escola tradicional iniciou-se com a
instauração da República e havia uma
ARTES COMO COMPONENTE preocupação com o Ensino da Arte, que se
CURRICULAR baseava no Desenho como fazer técnico
e científico, não como um aprendizado
Ao analisar a história do Ensino da significativo e de qualidade. O teórico Rui
Arte no Brasil, é que o mesmo passou por Barbosa buscava a implantação da Arte como
várias transformações. Antes, reduzia-se o disciplina obrigatória nas escolas primárias
conteúdo a um ensino mecanizado. Hoje, e secundárias. Um importante marco foi a
há uma grande preocupação em reconhecer Academia de Belas-Artes. A educação só
a Arte como disciplina indispensável na passou a ser mais democrática, valorizando
formação do ser humano (FERREIRA, 2015). os aspectos psicológicos dos alunos e o
processo de aprendizagem após o início da
O ensino de artes teve início no Brasil na Escola Nova, em 1930. Com o rompimento
era colonial por meio do contato dos nativos dos ideais da escola tradicional o educador
com os Jesuítas. Foi empregado o ensino de passou a enfatizar a livre expressão dos
artes literárias, com o objetivo catequizar alunos.
os povos e um dos seus instrumentos era o

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Revista Educar FCE - Março 2019

O ensino de artes tornou-se uma matéria disciplina nas escolas. Através da LDBN de
obrigatória a partir da criação da Lei Federal 96, ordenou-se o ensino de artes em três
nº 5692, denominada “Diretrizes e Bases da eixos principais e norteadores: A produção
Educação”. Essa lei estabeleceu uma educação artística, a contemplação – da própria
tecnológica que visava profissionalizar a produção, da produção de colegas ou dos
criança na 7ª série, sendo a escola secundária trabalhos de artistas.
completamente profissionalizante. Esta foi
uma maneira de profissionalizar mão-de- Propostas desta natureza têm como
obra barata durante o regime da ditadura objetivo que a criança construa conhecimento
militar de 1964 a 1983. na área de artes visuais DESENVOLVA a
criatividade, apresente uma postura de
Para Barbosa (1987), no currículo pesquisa, demonstre senso crítico e faça a
estabelecido em 1971, as artes eram atualização de informações visuais com seu
aparentemente a única matéria que poderia próprio trabalho (MORENO, 2007, p.40).
mostrar alguma abertura em relação às
humanidades e ao trabalho criativo, porque Depois dos estudos de alguns autores,
mesmo filosofia e história haviam sido compreende- se que o ensino de arte
eliminadas do currículo. está baseado na interdisciplinaridade, no
interculturalismo e na aprendizagem dos
Naquele período não tínhamos cursos de conhecimentos artísticos, a partir da inter-
arte-educação nas universidades, apenas relação entre o fazer, o ler e o contextualizar
cursos para preparar professores de desenho, arte (SILVA e ARAÚJO, 2007). Portanto,
principalmente desenho geométrico. o ensino de arte deve ser interdisciplinar
com ele mesmo, através das diferentes
A arte não era considerada como linguagens, assim também com outras áreas
disciplina, mas como “área generosa”; de conhecimento humano.
contraditoriamente, os professores tinham
de explicar objetivos, conteúdos, métodos e Segundo Gouthier (2008, p.19): “Com a
avaliações. Inseguros, apoiavam-se em livros nova LDBN, é extinta a Educação Artística e
didáticos de má qualidade. (IAVELBERG, entra em campo a disciplina Arte, reconhecida
2003, p.115) oficialmente como área do conhecimento”. O
autor destaca que:
Passado este período histórico, o ensino
de artes encontra uma nova transformação De acordo com o referencial curricular
nacional para educação infantil, a presença das
em 1996, com a Lei de Diretrizes e Bases Artes Visuais na educação infantil, ao longo da
da Educação Nacional (LDBN) nº 9394/96 história, tem demonstrado um descompasso
que determinou a obrigatoriedade e o entre os caminhos apontados pela produção
teórica e a prática pedagógica existente. Em
reconhecimento do conteúdo de Arte como muitas propostas as práticas de Artes Visuais são

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Revista Educar FCE - Março 2019

entendidas apenas como meros passatempos


em que atividades de desenhar, colar, pintar e Os alunos e os educadores são sujeitos da
modelar com argila ou massinha são destituídas aprendizagem. Sendo assim, é imprescindível
de significados (RCNEI, 1998, p. 87). a interação entre eles, onde o principal
produto seja o processo de criar e fazer
juntos, pois é nessa parceria que acontece
QUAL A IMPORTÂNCIA o desenvolvimento da criatividade. Ferreira
DO ENSINO DE ARTES NO (2015) afirma que o educador é mediador
entre o conhecimento e o aluno, é necessário
CURRÍCULO? que se aproprie das artes, explore-as e
produza-as de maneira significativa. Faz-
Atualmente as crianças estão indo para a se necessário sempre estimular os alunos
escola cada vez cedo, isso pode ser notado a serem pesquisadores, despertando sua
principalmente em famílias de classe média criatividade, incentivando habilidades como
ou inferior, onde ambos os pais trabalham observar, imaginar, criar, sentir, ver, admirar.
fora para suprir as despesas da casa, ou
mesmo quando a/o mãe/pai sustentam suas Para Chagas (2009), a arte é patrimônio
residências sozinhos. Partindo disto, pode-se da humanidade, e se manifesta nas diversas
afirmar que além do aprendizado adquirido culturas, o aluno desenvolverá, através do
pela família, as crianças também recebem contato com a mesma, a compreensão das
informações no ambiente escolar. Portanto é diferentes culturas existentes, valorizando
neste ambiente que a criança ficará boa parte o que é próprio de sua cultura. Em síntese,
de seu tempo e é este ambiente que deverá através da arte o aluno tem a possibilidade
proporcionar experiências significativas para de observar o mundo a sua volta, em toda a
o seu desenvolvimento. sua pluralidade e significados, refletir sobre
isto e aplicar esta reflexão em seu próprio
Segundo Valério (2011), nesta fase ambiente, conforme sua própria percepção.
as crianças precisam ser incentivadas a Um exercício de observação e reflexão
experiências lúdicas e significativas, que natural que acompanha o ser humano em
explorem a criação, emoção e sensibilidade. todo momento da sua vida.
É no ensino da arte que as crianças terão o
contato com estes elementos fundamentais Este processo de criação em que a criança
para a construção humana. Além de oferecer faz a seleção, interpretação e reformulação
oportunidade de auto expressão, as artes dos elementos, é de extrema importância, pois
visuais são consideradas um importante meio ela direciona para o trabalho artístico parte
para o desenvolvimento social, pois é através de si própria expressando seus pensamentos,
das aulas de artes que ocorrem importantes sentimentos e emoções. Portanto nesta fase
possibilidades de interações sociais e trocas é importante que a criança tenha a liberdade
de experiências. de se expressar sem que haja a interferência

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Revista Educar FCE - Março 2019

do adulto, no sentido de influenciar e O questionamento norteador desse


direcionar a criança a utilizar determinado estudo investigou a relevância do trabalho
esquema de cores ou até mesmo na maneira com as Artes na Educação Infantil. O saber
de pintar formas prontas. Sem perceber, o artístico das crianças na Educação Infantil é
adulto interfere no processo criativo e inibe cheio de concepções e ideias que revelam
a criança a utilizar a arte como meio de auto valores e significados. Desta forma, as Artes
expressão. (LOWENFELD, 1977, p.23). Visuais representam um saber artístico que
proporcionará o desenvolvimento estético,
Para Valério (2001), se defende que este criativo e expressivo da criança na Educação
processo de criação em que a criança faz a Infantil, auxiliando no seu processo de
seleção, interpretação e reformulação dos formação intelectual, afetivo e social.
elementos é de extrema importância, pois
ela direciona para o trabalho artístico parte Segundo Lowenfeld (1977), o ensino de
de si própria, e expressa seus pensamentos, artes não busca aplicar apenas saberes e
sentimentos e emoções. Logo nessa fase é conceitos artísticos, como também trabalha
importante que a criança tenha a liberdade com diversos campos do saber e proporciona
de se expressar sem que haja a interferência amplo desenvolvimento na educação
do adulto, no sentido de influenciar e infantil. Conforme sintetizado por Valério
direcionar a criança a utilizar determinado (2011), o ensino de artes também exerce
esquema de cores ou até mesmo na maneira desenvolvimento nos seguintes aspectos:
de pintar formas prontas. Sem perceber, o
adulto interfere no processo criativo e inibe Desenvolvimento social, pois é através das
a criança a utilizar a arte como meio de auto aulas de artes que ocorrem à possibilidade de
expressão. (LOWENFELD, 1977). interação social, há a trocas de experiências,
onde a criança é capaz de compreender
Para a pesquisadora Ferreira (2015), as e observar o mundo ao seu redor, além de
Artes Visuais estão presentes no cotidiano poder expressar-se livremente e aplicar suas
de forma marcante, atualmente é preciso observações em seu próprio universo.
notar a importância da imagem na cultura.
É vivenciando a Arte desde criança que a Desenvolvimento físico, onde se manifesta
sociedade aprenderá a valorizar a sua cultura. a capacidade de coordenação visual e
Toda a comunicação se baseia na imagem motora da criança, na maneira que controla
ou no som. Comunicar-se é fundamental seu corpo, orienta seu traço e dá expressão
para a convivência coletiva. O ensino de a suas aptidões. Vale lembrar que o ensino
artes é a primeira mediação entre a criança de artes não se limita ao desenho. As artes
e a compreensão do uso de imagens e sons podem se desdobrar em dança, canto,
como comunicação, uma vez que até então teatro, performances, esculturas, colagens,
essa expressão era instintiva. entre tantas outras. Um bom planejamento

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Revista Educar FCE - Março 2019

de aula pode abranger um amplo leque de Desenvolvimento perceptual, onde a


possibilidades. conscientização da variação da cor, das formas,
dos contornos e texturas pode ser progressiva
Desenvolvimento intelectual, pode ser na medida em que o contato com essas e outras
demonstrado de acordo com o conhecimento experiências perceptuais lhe é apresentado. É
que está à disposição da criança quando possível utilizar do ensino de artes para ensinar
desenha, é apreciado na compreensão à lógica, com conceitos científicos, com palavras
gradativa que a criança tem de si próprio e do e números. O ensino de artes é uma matéria
seu meio. Através do ensino de artes também bastante abrangente neste sentido, uma vez
se pode abranger diversos conteúdos e que as artes são naturalmente voltadas para a
trabalhar de forma interdisciplinar. percepção do ser humano.

Desenvolvimento emocional, neste Desenvolvimento criador, pois desde os


caso o desenvolvimento está diretamente primeiros rabiscos as crianças são capazes
relacionado com a intensidade que a criança de inventar suas próprias formas e colocar
tem com sua obra, que pode variar entre nelas algo de si própria. Através do ensino de
baixo nível de envolvimento, com repetições artes, tanto educador quanto aluno podem
estereotipadas e alto nível de envolvimento ultrapassar os limites da teoria e utilizar das
quando está empenhada em retratar algo técnicas artísticas sem se engessar A padrões
realmente importante pra ela. “Somos seres ou regras. O escritor Koestler, Arthur cita
integrais, dotados de sentimentos, emoções, que a criatividade é um tipo de processo de
pensamentos e experiências, que fazem aprendizagem em que o professor e o aluno
de nós seres únicos e especiais, e desta se encontram no mesmo indivíduo.
forma levamos esta bagagem de vivencias e
emoções em todo e qualquer conhecimento Vale citar aqui um importante pensamento
e aprendizagem que agregamos.” (Trecho da de PEREIRA (2010) onde a autora nos
coluna publicada por Daniel Silva Santos). afirma que o ato de aprender, embora
sofra influência do meio, do coletivo, é
Desenvolvimento estético, pois são extremamente individual, visto que cada
capazes de organizar o pensamento, a sujeito aprende da forma como pode, no seu
sensibilidade e a percepção para a expressão tempo, no seu ritmo.
de um todo coeso. Através do ensino de
artes – principalmente na educação infantil Segundo Ana Mae Barbosa:
– a criança pode trabalhar sua concepção de
“belo”, experimentar e descobrir o que lhe é “É preciso que os professores saibam que não é
qualquer método de ensino da arte que corresponde
agradável aos sentidos ou não. ao objetivo de desenvolver a criatividade, da mesma
maneira que é preciso localizar a arte da criança no
complexo mais totalizante da criatividade geral do
indivíduo. (Barbosa, 1990, p. 89)”.

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Revista Educar FCE - Março 2019

LIMITAÇÕES NO ENSINO DE Escolinhas. O Governo federal desenvolveu


ARTES em 1973 cursos de licenciatura em artes que
teriam um prazo de dois anos. Para Barbosa
Diversos fatores limitam o imenso potencial (1998), seria impossível passar para um
do ensino de artes na educação. Para Barbosa jovem universitário noções de didática, artes
(1998), este fator tem procedência histórica. visuais, teatro, música e dança em tão pouco
Para abordar este assunto, precisamos tempo.
retomar parte do que foi apresentado no
primeiro capítulo desta pesquisa. Em 1948 Em sua pesquisa, Barbosa (1998) comenta
iniciou-se o movimento escolinhas de artes. sobre como há a divergência entre o que
Movimento este que ocorreu paralelamente os arte educadores gostariam de ensinar
com a ditadura militar. O ensino de artes para o que realmente é ensinado. Enquanto
nas escolas era principalmente voltado estes acreditam trabalhar a criatividade dos
para uma metodologia engessada aos alunos, suas aulas são baseadas em desenhos
livros didáticos. Naquele determinado geométricos e repetições.
momento da história, o currículo escolar era
amplamente tecnológico, logo o ensino de É preciso que os professores saibam que
artes não poderia ficar muito atrás, sendo não é qualquer método de ensino da arte que
principalmente voltado para o desenho corresponde ao objetivo de desenvolver a
geométrico. criatividade, da mesma maneira que é preciso
localizar a arte da criança no complexo mais
Apesar de todas as alterações e mudanças totalizante da criatividade geral do indivíduo.
que o currículo sofreu nas ultimas décadas, (BARBOSA, 1990, p. 89)
principalmente em 1971, não podemos
desconsiderar as reações de todas estas A pesquisa de Ana Mae Barbosa tem 20
mudanças. anos, e as licenciaturas de artes já sofreram
diversas mudanças até os dias de hoje – seja
Em sua pesquisa, Barbosa (1998) aponta na duração ou no currículo – mas ainda é
aquilo que ela acredita ser um importante possível encontrar traços desta limitação no
ponto de partida para muitas das limitações ensino.
do ensino de artes: O movimento escolinhas
de artes e o século que sucedeu a LDB de Em uma reflexão mais recente, Valério
71 não preparavam o arte-educador para ser (1977) nos trás alguns pensamentos
um professor, mas sim um transmissor de interessantes e que dialogam perfeitamente
saberes artísticos. A Lei Federal que tornou com a pesquisa de Ana Mae Barbosa.
obrigatório o ensino de artes nas escolas, não
pôde assimilar, como professores de arte, os Para Valério (1977), um aspecto que
artistas que tinham sido preparados pelas contribui para essa visão de arte como

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Revista Educar FCE - Março 2019

produto esteticamente belo, é a não identificamos como maçantes, trabalhosas,


formação dos professores na área de arte. Ela em outros termos: são as obrigações que
observa como alguns professores estão mais temos que cumprir, mais ou menos a
preocupados com a beleza estética do que o contragosto, e que nos permitem sobreviver.
processo criativo das crianças como produto Já as agradáveis, prazerosas, são aquelas
final. O que deveria importar, segundo reservadas às nossas férias e feriados, isto
Lowenfeld, é o “processo da criança- o seu é, as que guardamos para usufruir após
pensamento, os seus sentimentos, em suas terem sido cumpridas as nossas maçantes
percepções, em suma, em suas reações ao obrigações. (DUARTE JÚNIOR, 2012, p.11)
seu ambiente”. (VALÈRIO, 1977, p19.) Para Valério (1977), na sociedade em que
Segundo Lowenfeld, este tipo de atividade vivemos deve-se separar os sentimentos e
é um fator inibidor no sentido de que “a emoções de nosso raciocínio e intelecção, há
criança obrigada a seguir determinado locais onde podemos nos expressar e a locais
contorno, acha-se impedida, por nós, de que devemos deixar de lado nossas emoções.
resolver, criativamente, suas próprias O mesmo aconteceria nas escolas, como
conexões”. (LOWENFELD, 1997) um microcosmo semelhante à sociedade,
ficamos “presos” dentro de quatro paredes,
Em muitas propostas, as práticas de não podemos expressar nossas emoções para
Artes Visuais são entendidas apenas como não atrapalhar no nosso desenvolvimento
meros passatempos em que atividades de intelectual.
desenhar, colar, pintar e modelar com argila
ou massinha são destituídas de significados Por este motivo, o trabalho com artes na
(RCNEI, 1998, p. 87). Muitas das vezes educação infantil deve ser bem planejado,
essas propostas pedagógicas são entendidas e as atividades propostas pelo professor
assim por falta de conhecimento por parte devem favorecer o desenvolvimento
do educador, pois para ele a criança está integrado das capacidades criativas das
pintando, desenhando, como se fosse um crianças, considerando a imaginação, o
passatempo. Quando um professor age pensamento, a percepção, a intuição e a
assim está desvalorizando a criatividade e o cognição inerentes a cada período escolar,
fazer artístico dessa criança. pois proporciona grandes descobertas às
crianças e o conhecimento é construído de
Segundo Duarte Junior, este pensamento modo criativo, lúdico e divertido. “A arte não
das artes como passatempo se origina possibilita apenas um meio de acesso ao
do suposto de que as respostas devem mundo dos sentimentos, mas também o seu
necessariamente passar por um conflito desenvolvimento, a sua educação” (DUARTE
básico em nosso estágio atual de civilização, JÚNIOR, 2012, p.66).
que entre o “útil” e o “agradável”; isso seria:
as coisas úteis, “sérias”, são aquelas que

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Revista Educar FCE - Março 2019

Para a autora Mirian Celeste Martins: No Ensino Fundamental, o componente


curricular Arte está centrado nas seguintes
“É do educador que nasce o brilho dos olhos linguagens: as Artes visuais, a Dança, a
dos aprendizes. Pois o educador é aquele que
prepara uma refeição, que propõe a vida em grupo, Música e o Teatro. Essas linguagens articulam
que compartilha o alimento, que celebra o saber.” saberes artístico e envolvem práticas de criar,
(MARTINS, 1998, p.129). ler, produzir, construir, exteriorizar e refletir
sobre formas artísticas. A sensibilidade, a
Ou seja, para contornar esta limitação intuição, o pensamento, as emoções e as
historicamente imposta sob as artes como subjetividades se manifestam como formas
um passatempo, o educador tem que ter de expressão no processo de aprendizagem
iniciativa de promover atividades instigantes, em Arte.
ser voraz ao pesquisar coisas novas, ter
o desejo de ensinar e fazer do ensinar um “Nesse sentido, as manifestações
momento mágico. Mas sabemos que para artísticas não podem ser reduzidas às
o ensino em artes ser de fato satisfatório produções legitimadas pelas instituições
depende de muitas variantes, como a culturais e veiculadas pela mídia, tampouco
formação dos professores, da metodologia a prática artística pode ser vista como
por eles utilizada, sendo que algumas vezes a mera aquisição de códigos e técnicas. A
própria instituição considera as aulas de arte aprendizagem de Arte precisa alcançar a
hora de lazer. Neste caso, o educador fica experiência e a vivência artísticas como
sem liberdade de inovar em seu ensino, pois prática social, permitindo que os alunos
está obrigado a seguir o currículo escolar. sejam protagonistas e criadores. A prática
artística possibilita o compartilhamento de
saberes e de produções entre os alunos por
PERSPECTIVAS TRAZIDAS meio de exposições, saraus, espetáculos,
PELA BNCC performances, concertos, recitais,
intervenções e outras apresentações e
A Base Nacional Comum Curricular eventos artísticos e culturais, na escola ou
(BNCC) é um documento de que define em outros locais.” (BNCC, 2017, p. 193).
o conjunto orgânico e progressivo de
aprendizagens essenciais que todos os alunos A BNCC propõe que a abordagem das
devem desenvolver ao longo das etapas e linguagens articule seis dimensões do
modalidades da Educação Básica, de modo conhecimento que, de forma indissociável
a que tenham assegurados seus direitos e simultânea, caracterizam a singularidade
de aprendizagem e desenvolvimento, em da experiência artística. Desta forma, com
conformidade com o que preceitua o Plano tais dimensões a BNCC busca incentivar a
Nacional de Educação (PNE). criação, a crítica, a estesia, a expressão, a
fruição e a reflexão.

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Revista Educar FCE - Março 2019

“A referência a essas dimensões busca facilitar o processo de ensino e aprendizagem


em Arte, integrando os conhecimentos do componente curricular. Uma vez que os
conhecimentos e as experiências artísticas são constituídos por materialidades verbais e
não verbais, sensíveis, corporais, visuais, plásticas e sonoras, é importante levar em conta
sua natureza vivencial, experiencial e subjetiva.” (BNCC, 2017, p. 193).

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As crianças são extremamente curiosas e maravilhadas
pelo aprender. Ao longo de suas vidas adquirem várias
experiências, elas exploram, sentem, agem, refletem e
elaboram sentidos de suas experiências. Com base nisso,
a arte deve ser entendida como uma linguagem que tem
estrutura e características próprias.

Segundo Rubem Alves no seu artigo, para as crianças o mundo


é um vasto parque de diversões. As coisas são fascinantes,
provocações ao olhar. Mas, para que o ensino da arte faça ANDREIA JODAS
realmente sentido e estimule esta curiosidade é importante NOGUEIRA
que a experiência vivenciada seja realmente significativa.
Graduação Pedagogia pela
Universidade de São Paulo (2005),
Como apontado por diversos autores, o ensino de artes Lato-Sensu Especialista em
no Brasil passou por diversas mudanças. Seja de formado, de Psicopedagogia Institucional pela
Faculdade de Tecnologia Módulo
inserção no currículo escolar, de ideologia ou de influencia. As Paulista (2016), Professora
artes estão naturalmente ligadas ao mundo exterior, então é de Educação Infantil e Ensino
totalmente natural que sofra alterações para acompanhar o meio Fundamental I na Rede Municipal
de Educação de São Paulo – EMEF
daqueles que a estudam e a praticam. As artes são algo que Rodrigo Melo Franco de Andrade.
acompanha o ser humano em todas as suas alterações e nuances,
logo, mudanças em seu ensino são naturais. Porém algumas das
mudanças podem ser danosas para a educação ao longo prazo.

Neste trabalho abordamos como a tecnologização da disciplina em 1971 ainda afeta a


forma como se leciona artes. Ainda é bastante presente o pensamento de que o ensino de
artes é um segundo recreio, como um simples passatempo.

O ensino de artes na educação infantil é um tema amplo, onde é possível trabalhar de


forma interdisciplinar, e promover – direta ou indiretamente – muitos desenvolvimentos e
saberes. Além disso, é no campo das artes onde o aluno pode se expressar livremente, e
aprender valores importantes para vivência em sociedade.

Para superar este pensamento engessado das artes como mero passatempo, é
necessária, antes de tudo, a reflexão dos profissionais da educação, sobretudo daqueles que
lecionam ou fazem uso das artes na educação, sobre como estes abordam a matéria? Se o
conteúdo transmitido é baseado em promover a livre expressão e em expandir os horizontes
das crianças, ou se suas aulas são baseadas em modelos de repetição.

405
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.
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Conclusão de Curso apresentado no Curso de Pedagogia– Universidade Federal Fluminense,
Angra dos Reis, 2017.

407
Revista Educar FCE - Março 2019

A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE


FADAS NO DESENVOLVIMENTO
INFANTIL
RESUMO: Esta pesquisa busca discutir a contribuição dos Contos de Fadas para o processo
de ensino e aprendizagem da criança, além de verificar como o professor pode fazer uso desta
ferramenta em sala de aula de forma a contribuir com o desenvolvimento infantil. Sabe-se que
no desenvolvimento da linguagem oral, a criança amplia suas possibilidades de comunicação
e inserção ao mundo letrado. Ao falar ela comunica seus sentimentos e ideias. A linguagem
da criança é desde o início social, pois ao se comunicar, relaciona-se socialmente. Ela não
pede permissão ao adulto para entrar no mundo da escrita, aprendem por meio de diversos
tipos de intercâmbios sociais e também quando presenciam familiares em diferentes atos
de leitura e escrita. Para alcançar a finalidade da escrita, a criança passa por um processo
biológico, cognitivo e social de aprendizagem. Por meio da leitura interage com o ambiente
letrado. Os Contos de Fadas possuem uma magia universal que é a capacidade de prender
a atenção das crianças. Sendo uma leitura que encantam as crianças, os professores podem
utilizá-los como recurso, por meio de diversas estratégias.

Palavras-Chave: Criança; Desenvolvimento; Escrita; Leitura; Professor.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO etapa aponto questionamentos relevantes


a respeito da importância dos Contos de
Esta pesquisa surgiu a partir da necessidade Fadas como recurso de leitura e produção
que senti em investigar a importância do faz de textual na alfabetização.
conta no processo de ensino e aprendizagem
da criança, em especial o conto de fadas.
Kishimoto e Formosinho (2013) afirmam OS CONTOS DE FADAS
que a criança no seu universo se utiliza das COMO FACILITADORES DE
brincadeiras infantis, da imaginação, da
categorização e das regras. Essas atitudes APRENDIZAGEM
servem para fundamentar a posição da criança
na sociedade e na realidade em que vive. Sabe-se que a criança aprende e se
desenvolve por meio do brincar e do
Este estudo tem como objetivos discutir imaginar. Sendo assim, o faz de conta
a contribuição dos Contos de Fadas para surge no imaginário infantil como uma
o processo de ensino e aprendizagem da importante ferramenta que contribui para
criança. Busca-se ainda verificar como o o desenvolvimento integral da criança, pois
professor pode fazer uso desta ferramenta esta possibilita que a criança altere sua
em sala de aula de forma a contribuir realidade, que viaje pelo mundo mágico da
com o desenvolvimento infantil. Sendo a imaginação de forma criativa. Kraemer (2008,
aprendizagem da linguagem oral e escrita um p.1), afirma que “os contos de fadas possuem
dos elementos mais importantes para que uma magia universal, que é a capacidade de
as crianças ampliem suas possibilidades de prender a atenção das crianças”. Nos Contos
inserção e participação nas diversas práticas de Fadas as crianças podem imaginar e viver
sociais, é de grande relevância que ainda na personagens de um mundo de fantasia. Essa
Educação Infantil a criança tenha acesso a fantasia poderá ser vivida durante a leitura de
livros infantis, que viaje pelo mundo mágico um livro ou por meio de um filme. Os Contos
da imaginação. Desta forma, ao utilizar de Fadas nos possibilita reviver agradáveis
os Contos de Fadas na aprendizagem e momentos vividos na infância.
desenvolvimento da linguagem oral e escrita
das crianças tem-se a intenção de promover Os contos de fadas desafiam o tempo
encantando as crianças. Têm aceitação garantida
experiências que tenham significado em seu
com o público infantil porque retratam paixões
processo de alfabetização. humanas e exploram temas que atraem as crianças,
como conflito entre o bem e mal, vida e morte,
medo e coragem etc., temas estes que exercem
A pesquisa está organizada em dois
misto de fascinação e temor. (KRAEMER, 2008 p.1).
momentos, no primeiro momento abordo
sobre a linguagem oral e escrita e sua
importância na vida da criança. E na segunda

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Revista Educar FCE - Março 2019

Ainda segundo a autora, os Contos de que em sua estrutura básica, sempre estão
Fadas têm a intenção de dar respostas aos presentes os elementos constantes, o número
anseios da humanidade como “segurança, e a sequência das funções. De acordo com
justiça, amor, rivalidade, medo e rejeição” Kraemer (2008, p.6): “nos contos de fadas
(KRAEMER, 2008 p.2). Trabalham os valores há sempre o herói, a busca, os obstáculos,
morais e contribuem para a formação do a conclusão baseada nas suas ações”.
adulto. Apesar de serem fantasiosas, retratam Percebe-se que a criança no seu imaginário
algo bem real. representado pelos personagens dos Contos
de Fadas, consegue superar obstáculos,
A criança intuitivamente compreende que, enfrentar problemas, resolver conflitos e ter
embora estas estórias sejam irreais, não são falsas;
que ao mesmo tempo em que fatos narrados não um amadurecimento emocional.
acontecem na vida real, podem ocorrer como uma
experiência interna e de desenvolvimento pessoal; É como se o conto de fadas, admitindo que
que os contos de fadas retratam de forma imaginária é humano sentir raiva, esperasse apenas dos
e simbólica os passos essenciais do crescimento adultos o autocontrole suficiente para não serem
e da aquisição de uma existência independente. arrebatados por ela, já que seus desejos raivosos e
BETTELHEIM (2004, p.89) apud KRAEMER (2008, grotescos tornam-se fatos - mas os contos frisam
p.2). as consequências maravilhosas para uma criança
se ela se empenha num pensamento ou desejo
positivo. A desolação não induz a criança, no conto
A autora afirma ainda que os Contos de fadas, a ter desejos vingativos. Ela deseja apenas
boas coisas, mesmo quando tem amplas razões
de Fadas estiveram presentes no folclore para desejar coisas ruins para os que a perseguem
europeu. As histórias eram contadas, [...] BETTELHEIM (2004, p.89) apud KRAEMER
recontadas e adaptadas em cada região e (2008, p.07).
a cada geração. Destaca que os escritores
recolheram esses contos e compilaram em Para Bettelheim (2004), os Contos de
obras. Quando esses escritores compilaram Fadas deveriam ser lidos ou narrados para
esses contos tornaram-se famosos. Entre dar oportunidade da criança a imaginá-
os autores mais famosos estão Charles los a partir de sua experiência pessoal. É
Perrault, Jacob e Wilhelm Grimm (irmãos necessário que o professor esteja sempre
Grimm). Ainda segundo Kraemer (2008), atento para os reais interesses dos alunos,
Hans Christian Andersen também escreveu conforme apontam os RCNEI’s (1998ª):
Contos de Fadas, mas diferentemente dos
outros autores, ele criou suas próprias Ao ler uma história para as crianças, que está
trabalhando não só a leitura, mas também, a fala,
histórias. Esse autor é considerado o pai da a escuta, e a escrita; ou, quando organiza uma
literatura infantil, pois escreveu Contos de atividade de percurso, que está trabalhando tanto
Fadas pensando nas crianças. a percepção do espaço, como o equilíbrio e a
coordenação da criança. Esses conhecimentos
ajudam o professor a dirigir sua ação de forma mais
Pesquisadores e estudiosos analisaram consciente, ampliando as suas possibilidades de
os Contos de Fadas e chegaram à conclusão trabalho. (BRASIL, 1998, p. 53).

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Revista Educar FCE - Março 2019

O papel do professor em todos os fazer uma leitura prazerosa, além de entrar


momentos de suas ações em sala de aula em contato com imagens que estimulam a
possui grande valor para a criança que a percepção visual.
cada instante solicita por uma educação
pautada em suas necessidades. É necessário Explorar a estrutura dos gêneros textuais é dar
ferramenta as crianças organizarem espacialmente
um constante olhar do professor para os suas escritas de forma adequada, de acordo com
interesses dos alunos para que sua prática a função que necessitam que ela adquira em cada
faça sentido para a criança. contexto [...]. Também pode propor que as crianças
pesquisem de que forma as pessoas trocavam
mensagens em outras épocas [...]. Uso de mapas
para localizar as cidades [...]. (PICCOLI; CAMINI,
A RELEVÂNCIA DO CONTO 2012 p.96)

DE FADAS PARA NO
Assim sendo, com essas práticas a criança
DESENVOLVIMENTO DA explora o espaço, o tempo, levanta hipóteses,
CRIANÇA PEQUENA pesquisa, levanta possibilidades de respostas,
organiza ideias e se alfabetiza. Corso (2006)
A criança ainda pequena poderá construir aponta para a importância do imaginário
uma relação prazerosa com a leitura e ao infantil está em constante desenvolvimento
compartilhar este prazer com seus colegas quando a criança vivencia as experiências de
ou familiares estará vivenciando situações imaginar por meio dos contos de fadas.
de aprendizagens positivas. Quando o
professor realiza com frequência leituras Boa parte das histórias infantis ocorre na floresta
ou inclui a tarefa de atravessá-la. É o espaço o qual
de um mesmo gênero está propiciando às passa a missão de sair para o mundo para provar
crianças oportunidades para que conheçam algum valor, como ser capaz de sobreviver aos seus
as características próprias do gênero, isto perigos, trazer um objeto ou tesouro, tarefas mais
usuais dos heróis dos contos de fadas. (CORSO,
é, identificar se o texto lido é, por exemplo,
CORSO, 2006, p.37).
uma história, um anúncio, etc.

São inúmeras as estratégias das quais o O posicionamento de Corso (2006)


professor pode lançar mão para enriquecer as
atividades de leitura, como comentar previamente possibilita a compreensão de que os contos
o assunto do qual trata o texto; permitir as crianças de fadas contribuem para o desenvolvimento
levantem hipóteses sobre o tema a partir do título; da capacidade de resolver problemas que
oferecer situações que situem a leitura; criar um
certo suspense, quando for o caso [...] RCNEI (1998, a criança começa a desempenhar por meio
p.141 v.3). dessas ações de imaginar a realidade da
forma que ela acha melhor, procurando
Sendo assim, os Contos de Fadas podem resolver os mistérios que aparece da forma
ser oferecidos pelo professor como gênero que em seu imaginário melhor compreende
textual, o qual a criança terá oportunidade de naquele momento.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Os contos de fadas são ímpares, não só como


forma de literatura, mas como obras de arte
A IMPORTÂNCIA DA
integralmente compreensíveis para a criança como
nenhuma outra forma de arte o é. Como sucede
LINGUAGEM ORAL E ESCRITA
com toda grande obra de arte, o significado mais
profundo do conto de fada será diferente para a
mesma pessoa em vários momentos de sua vida. A Segundo o Referencial Curricular
criança extrairá significados diferentes do mesmo Nacional para Educação Infantil - RCNEI
conto de fada, dependendo de seus interesses e
necessidades do momento. (BETTELHEIM, 2002, (1998), ao aprender uma língua, a criança
p. 20). amplia suas capacidades de comunicação
e expressão e o acesso ao mundo letrado.
Essa ampliação relaciona-se com o
De acordo com a abordagem de Bettelheim desenvolvimento da criança em processo
(2002) os contos de fadas se constituem no gradativo das capacidades associadas às
imaginário infantil de diferentes formas no quatro competências linguísticas básicas,
decorrer da vida, o que hoje é uma história, ou seja, escutar, falar, ler e escrever. Ainda
em alguns anos terá outro contexto e para segundo o RCNEI (1998), a linguagem oral
a criança será uma nova história a cada está presente no cotidiano das crianças
experiência que vivenciar. e seu desenvolvimento serve, além de
comunicação entre os seres humanos,
É ouvindo histórias que se pode sentir também para as crianças expressarem seus
emoções importante, como a tristeza, a raiva, a
irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a sentimentos e ideias.
insegurança, a tranquilidade, e tantas outras mais,
e viver profundamente tudo o que as narrativas De acordo com Silva (2015, p.5): “é
provocam em quem as ouve - com toda a amplitude,
significância e verdade que cada uma delas fez (ou justamente no ambiente que se pode atuar
não) brotar... Pois é ouvir, sentir e enxergar com os de forma eficaz para contribuir na aquisição
olhos do imaginário! (ABRAMOVICH,1999, p. 17). e no desenvolvimento do uso da linguagem
oral e da linguagem escrita”. É por meio da
É importante que o professor interação do indivíduo com o ambiente
disponibilize para as crianças a leitura de que a maturação biológica acontece. Para
livros de faz de conta, a leitura do professor Vygotsky, segundo Silva (2015), a linguagem
também possibilita que a criança viaje pelo da criança é desde o início social; pois ao
mundo da imaginação, criando sua realidade se comunicar, relaciona-se socialmente e
de acordo com o que ouve durante a leitura. influencia as pessoas a sua volta, visto que há
uma relação afetiva entre o desenvolvimento
do pensamento e o desenvolvimento social.

Segundo o RCNEI (1998), a criança não


pede permissão ao adulto para entrar em
contato com a escrita. Elas aprendem por

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meio de diversos tipos de intercâmbios sociais e também quando presenciam familiares em


diferentes atos de leitura e escrita. “ler jornais, fazer uma lista de compras, anotar um recado
telefônico, seguir uma receita culinária, buscar informações em um catálogo, escrever uma
carta para um parente distante, ler um livro de histórias, etc.” (RCNEI, 1998 p. 122 v. 3).
Sendo assim, a criança começa a elaborar hipótese sobre a escrita. Quanto mais contato ela
tiver com esses portadores textuais e quanto mais observar que pessoas a sua volta utilizam
a leitura e a escrita em seu cotidiano, melhor será sua compreensão e melhor saberá lidar
com as questões da linguagem escrita. Ao materializar a palavra, a criança escreve. Para
alcançar a finalidade da escrita, a criança passa por um processo biológico, cognitivo e social
de aprendizagem. Carvalho (2005) aponta que:

Nesta perspectiva, Vygotsky seleciona a escrita como um dos aspectos da cultura em que a ideia de progresso
cultural, é a princípio, evidente. A fala, os sistemas de escrita e de contagem servem a uma dupla função – a de preservar
a tradição e funcionar, também, como instrumentos para o controle crescente da vida humana [...] (CARVALHO, 2005
p.28).

Sendo assim, o crescimento social e interpessoal na evolução da história se deu por conta
da função da escrita no cotidiano e desenvolvimento da espécie humana. O desenvolvimento
da escrita percorre um caminho que passa pela história da civilização. Este caminho resume-
se na “substituição, primeiro, de linhas e rabiscos por figuras e imagens e posteriormente, de
figuras e imagens por signos”. (LURIA, 1998, p.168 apud CARVALHO, 2005, p.30).

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este estudo foi possível discutir sobre a importância
dos Contos de Fadas para o processo de ensino e
aprendizagem da criança, sendo possível perceber que
os contos de fadas se constituem como uma importante
ferramenta que contribui para o processo de ensino e
aprendizagem da criança.

A linguagem da criança é desde o início social, pois


ao se comunicar, relaciona-se socialmente. Ela não pede
permissão ao adulto para entrar no mundo da escrita, ANDREIA MANGETTI
aprendem por meio de diversos tipos de intercâmbios sociais RIGUETTI
e também quando presenciam familiares em diferentes atos
Graduação em Pedagogia pela
de leitura e escrita. Para alcançar a finalidade da escrita, Faculdade Sumaré (2014);
a criança passa por um processo biológico, cognitivo e Especialistas em Educação
social de aprendizagem. Por meio da leitura interage com o Especial - Altas habilidades e
Superdotação pela Universidade
ambiente letrado. Estadual de São Paulo - UNESP
(2017); Professor de Educação
Os Contos de Fadas possuem uma magia universal Infantil e Ensino Fundamental I
na Prefeitura de São Paulo - EMEI
que é a capacidade de prender a atenção das crianças. Sendo Afrânio Peixoto.
uma leitura que encantam as crianças, os professores podem
utilizá-los como recurso, por meio de diversas estratégias.
Verificou-se ainda com a pesquisa que o professor pode
fazer uso desta ferramenta em sala de aula de forma a contribuir com o desenvolvimento
infantil, propondo estratégias que possibilitem a inserção dos contos de fadas na rotina da
criança em sala de aula, é no desenvolvimento da linguagem oral, que a criança amplia suas
possibilidades de comunicação e que ao falar ela comunica seus sentimentos e ideias.

Percebe-se que a criança no seu imaginário representado pelos personagens dos


Contos de Fadas, consegue superar obstáculos, enfrentar problemas, resolver conflitos e ter
um amadurecimento emocional. Ao realizar com frequência a leitura de um mesmo gênero
para as crianças, como Contos de Fadas, o professor está proporcionando oportunidades
para que as crianças conheçam as características próprias do gênero, ajudando a criança
a identificar os tipos de textos literários. Explorando os diversos temas que os Contos de
Fadas oferecem, é possível possibilitar as crianças em idade escolar exploração do espaço,
do tempo, levantamento de hipóteses, diversas pesquisas, possibilidades de argumentos e
respostas, organização de ideias.

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Revista Educar FCE - Março 2019

É o constante olhar do professor sobre sua prática que torna a criança protagonista de
suas ações, possibilitando que vivenciem experiências de ensino e aprendizagem que faça
sentido para seu desenvolvimento integral.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Revista Educar FCE - Março 2019

A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E


BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
RESUMO: Esse artigo tem como objetivo descrever a importância dos jogos e das brincadeiras
nas escolas de educação infantil e na atuação dos professores como intelectuais, agentes
transformadores para a formação das crianças. Para as crianças é de extrema importância
todos os momentos lúdicos no seu desenvolvimento. Os professores precisam administrar o
tempo e os espaços pensando nesses momentos, no qual as brincadeiras livres sejam feitas
pelas crianças, sempre com um olhar observador, além de registar o que puder sobre esses
momentos, interferindo só quando necessário, podendo também brincar com as crianças.
Precisamos estabelecer diferentes relações sociais, exigindo da escola a formação de um
novo aluno, que seja capaz de atuar na sociedade, melhorando seu futuro de vida. O professor
precisa estar capacitado, promovendo uma prática educativa transformadora, se tornando
um pesquisador e construindo conhecimentos para uma promoção de igualdade, visto que
o ato de brincar com seus alunos, pode contribuir e muito nas atividades, enriquecendo à
dinâmica das relações sociais na escola.

Palavras-Chave: Brincar; Cidadania; Pesquisa-ação; Pós-formal; Professores transformadores.

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INTRODUÇÃO que a escola seja desafiada, buscando


formar um novo tipo de trabalhador, que
Esse artigo busca mostrar a importância haja criticamente dentro da sociedade,
que tem os jogos e as brincadeiras na priorizando sua formação, para que tenha
Educação Infantil e qual deve ser a atitude do capacidade intelectual, preparando para
educador no papel de agente transformador, enfrentar todas as transformações que
pois a nossa realidade mudou no decorrer ocorrem e que sempre irá evoluindo.
dos anos.
Veremos como pode ter ocorrido o inicio
Com a globalização vêm também as novas dos jogos e do brincar, e como podemos levar
relações políticos sociais, expandindo cada a brincadeira mais à sério dentro de nossas
vez mais a ciência, tecnologia e a informação. salas de aula.
E com isso a escola vai ficando para traz, pois
não há um acompanhamento disso dentro Devemos educar nosso aluno para
das salas de aula. ser um cidadão critico reflexivo e
dinâmico, capacitado intelectualmente e
A aceleração acaba produzindo mudanças profissionalmente para atender as exigências
na produção de bens de consumo, acabando do mercado. E para isso o professor precisa
com barreiras do tempo e do espaço, atuar também de maneira crítica e reflexiva.
referente à informação, mas interferem
em fatos e acontecimentos, sabemos que Como educadoras o objetivo desse estudo
as comunidades mais pobres são as que é discutir algumas atitudes e comportamentos
mais sofrem, não acompanhando todos os dos professores de educação infantil, em
avanços tecnológicos, fazendo com que relação ao brincar a partir de experiências e
ocorra mudanças nos valores culturais, de estudos sobre atividades lúdicas e como
transformando o meio ambiente, que sofre são importantes para o desenvolvimento
com a ação da ambiciosa do homem, que infantil.
só busca retirar riqueza da natureza, sem
reconstruir o que destruiu. Esse artigo tem como objetivo analisar a
importância do brincar e das dinâmicas na
Essas mudanças acabam precisando de educação infantil, com crianças de cinco
uma mão de obra diferente, fazendo com que anos juntos com os professores e observar
o trabalhador se torne obsoleto, precisando a utilização das brincadeiras e dinâmicas
buscar sempre novas qualificações, exigindo na capacidade de aprendizagem dos alunos
que seja capaz de pensar e agir de maneira pequenos.
cada vez mais eficaz frente às mudanças,
buscando um aperfeiçoamento pessoal e Com esse artigo tentamos mostrar que
profissional. Tantas mudanças fazem com o educador deve produzir o seu próprio

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Revista Educar FCE - Março 2019

conhecimento e deve assumir uma postura O educador que deixa as crianças livres
capaz de pensar e de examinar diariamente às vezes é visto como um marginal, pois não
suas aulas e suas atitudes cotidianas, apresenta uma ordem dentro de sala de aula,
ensinando com amor e dedicação, formando mas isso precisa ser trabalhado entre seus
alunos cidadãos. pares e superiores.

O objetivo específico desse artigo é


discutir atitudes e comportamentos do A IMPORTÂNCIA DOS
professor, em formação inicial e que atuam JOGOS E BRINCADEIRAS NA
na educação básica, em relação ao brincar e
a partir de sua experiência na participação
EDUCAÇÃO INFANTIL
em uma atividade lúdica.
A constante reflexão das práticas
Fazendo com que os educadores pedagógicas é uma iniciativa básica
desenvolvam uma prática educacional para que a escola possa se tornar um
voltada para seus alunos, tornando-os verdadeiro ambiente para a aprendizagem.
pessoas atuantes e críticos. Buscamos analisar sobre a contribuição das
brincadeiras e dos jogos no desenvolvimento
Precisamos tomar consciência que nossas da aprendizagem das crianças, pois a
atitudes como educadores de educação utilização deles estimula a aprendizagem na
infantil devem ser repensadas, elevando o educação infantil, por meio dos mesmos, a
conhecimento do professor à respeito das aprendizagem acontece de maneira lúdica
atividades lúdicas. e muito significativa proporcionando ao
educando o prazer de aprender.
O jogo e o brincar devem ser um tema
bastante estudado dentro das escolas de É por meio das brincadeiras e dos jogos
Educação Infantil, no qual a criança esta que a criança constrói o seu universo,
dentro da fase correta para aprender diversos manipulando-o e trazendo para a sua
valores e com isso aprendem de forma mais realidade, situações inusitadas do seu mundo
significativa. imaginário.

Devemos ter consciência que só com O brincar possibilita o desenvolvimento,


o estudo sobre determinados assuntos, não sendo apenas um instrumento didático
teremos poder de mudar algumas atitudes facilitador para o aprendizado, pois os jogos
que ao passar do tempo foi se enraizando e as brincadeiras influenciam em áreas do
nas escolas de Educação Infantil. desenvolvimento infantil como: motricidade,
inteligência, sociabilidade, afetividade e sua
criatividade. O brinquedo contribui e muito

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Revista Educar FCE - Março 2019

para a criança exteriorizar seu potencial Precisamos como educadores, entender


criativo. melhor as necessidades e dificuldades mais
imediatas do sujeito e utilizar as atividades
Percebemos que a criança brinca e lúdicas justamente na busca de possibilidades
joga, desde os primeiros anos e logo toma de aprendizagem e compreensão não só de
consciência do imaginário, da imitação conteúdos, mas de valores também.
e das regras, tornando também fonte de
prazer. Por meio do brincar, a criança tem Utilizar os jogos para ensinar é um
uma experiência vivenciada, uma vez que a caminho para o educador desenvolver
mesma descobre um mundo mágico, inventa, aulas mais interessantes, descontraídas e
cria, estimula habilidades, a curiosidade e em dinâmicas, podendo competir em igualdade
especial a sua independência. de condições com os inúmeros recursos a
que os alunos têm acesso fora da escola,
A criança constrói suas próprias ideias despertando ou estimulando sua vontade de
sobre o mundo que a cerca, mediante a frequentar com assiduidade a sala de aula e
realização dos jogos e brincadeiras, refletindo incentivando seu envolvimento no processo
com isso seu desenvolvimento psicológico e ensino-aprendizagem, já que aprende e se
cognitivo em que se encontra. diverte ao mesmo tempo.

No momento que o professor de Educação Nesse processo o professor é a peça


Infantil compreender a importância de fundamental, devendo ser um elemento
se avaliar os mecanismos e raciocínio essencial. Educar não se limita em repassar
empregados em cada brincadeira, deixa de informações ou mostrar apenas um caminho,
lado o certo e o errado. Passando a valorizar ajudando as crianças a tomarem consciência
todas as ideias elaboradas pelas crianças, de si mesmas, e da sociedade em que vive
competindo ao professor apenas conduzir e deve interagir. O professor deve oferecer
o aluno a refletir, para que a própria criança várias ferramentas para que a criança possa
faça suas reformulações e atinja de maneira escolher seus caminhos, construir valores,
significativa o seu aprendizado. ter uma visão de mundo e considerar as
circunstâncias adversas que cada um irá
Quando jogos e brincadeiras são utilizados encontrar.
dentro da escola, com uma visão pedagógica
estimula o desenvolvimento psicomotor,
emocional, afetivo, cognitivo entre outras O BRINCAR
áreas de aprendizagem, mas devemos
identificar as necessidades individuais de O conhecimento e entendimento dos
cada aluno para que possa estabelecer uma fatores etiológicos das dificuldades de
estratégia que supra essas carências. aprendizagem, bem como a significação

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emocional do problema na família e na desenvolve e enriquece sua personalidade e


escola, leva o professor a determinar qual simboliza um instrumento pedagógico que
o instrumento que poderá fazer com que o leva ao professor a condição de condutor.
aluno aprenda de maneira mais fácil, e os
jogos podem ser utilizados sempre que for
conveniente. O JOGO
Por meio do jogo conseguiremos estimular O jogo surgiu com o crescimento
a concentração, adequar estratégias, treinar intelectual da humanidade e a necessidade
a coordenação motora, proporcionar uma de passar o tempo ocioso. Não temos como
forma de treinar a perseverança e criar afirmar com certeza como se deu seu início
situações no qual o aluno desenvolva pois pode ter sido antes da escrita.
atitudes de cooperação com o grupo, e assim,
promover o processo ensino-aprendizagem A primeira aparição de jogos que temos,
em um ambiente favorável para que a são manuscritos milenares, que falam de
criança atinja os objetivos propostos em jogos praticados em todas as regiões do
cada atividade que fará. planeta. Claro que não poderemos dizer com
certeza quando, em que lugar e quais foram
A atividade do jogo, quando realizada os primeiros jogos da humanidade.
com certa frequência em sala de aula,
promove uma gradativa autonomia para a Algumas teorias afirmam que o primeiro
iniciativa, responsabilidade e organização jogo foi chamado de Jogo da Evolução, e foi
com as tarefas escolares, favorecendo o praticado pelos Neanderdhais. Era um jogo
desenvolvimento da autodisciplina, assim, bem simples e rude, jogado com um grande
não há desgaste na relação. osso, com esse jogo foram delimitando o
domínio de territórios, batia no adversário e
A ideia de um ensino despertado pelo ganhavam seu espaço.
interesse do aluno acabou transformando
o sentido do que se entende por material Algumas outras invenções foram
pedagógico e cada criança ou adolescente, influenciadas a partir dessas represálias, um
passou a ser um desafio à competência do outro tentou criar um jogo, no qual a Terra
professor e este percebeu que a força que era plana, e esse conceito ainda hoje perdura
comanda o processo de aprendizagem até os dias atuais. Na Idade Média chegaram
é o interesse. É assim que o jogo ganha a usar a cabeça de inimigos decapitados
um espaço como a instrumento ideal de para representar a forma terrestre, mas
aprendizagem, na medida que estimula a mostraram-se pouco práticas, porque
interesse do aluno. O jogo ajuda a criança e impediam a visão de todo o tabuleiro e as
adolescente a construir novas descobertas, peças caiam com muita facilidade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A história dos jogos tem seus períodos de para o processo do ensino-aprendizagem. O


altos e baixos, fazendo grandes nomes, hora jogo deve ser utilizado como facilitador da
produzindo verdadeiros algozes. Acreditasse formação do aluno.
que Júlio César criou diversos jogos de
estratégia, mas infelizmente este fato não As regras dos jogos devem ser simples e o
jogo se torna mais interessante à medida que os
pode ser confirmado, pois esses jogos se estudantes começam a criar estratégias elaboradas
queimaram no grande incêndio de Roma. e se aprimoram na antecipação das jogadas.
(SMOLE, 2004, p.59).
Apesar de tudo, os jogos proliferaram
pelo mundo, e com as grandes navegações Considerando que na pedagogia
as culturas se encontraram e trocaram tradicional existe uma grande dificuldade no
informações, nesta época foram criadas as aprendizado, então temos a convicção de
primeiras empresas de exportação de jogos, que a metodologia utilizada ainda nos dias
passo fundamental para o crescimento do de hoje não é a mais apropriada.
setor. Livros históricos dão conta de que
marinheiros jogavam diversos tipos de jogos O jogo apresenta algumas etapas no
de tabuleiros em suas demoradas viagens aprendizado, e ocorrem da seguinte forma:
rumo ao desconhecido.
Jogo livre - etapa da curiosidade; Regras do
Existem várias formas para que possamos jogo - as próprias crianças começam a impor
deixar o estudo da matemática mais amigável, regras: fazer montagens, classificar, ordenar,
algumas delas são as brincadeiras, os jogos, etc.; Jogo do isomorfismo - as crianças
etc. O brincar na fase inicial principalmente começam a perceber semelhanças entre
faz parte da vida, é um momento espontâneo, os diversos jogos praticados. Desenvolve-
no qual a criança pode expressar-se, se a parte quantitativa e semelhanças;
desenvolver o lado cognitivo, intelectual, Representação - conscientização de uma
social, etc. abstração por meio de um processo de
representação da situação; Linguagem
Na pedagogia tradicional, o uso de jogos inventada - a criança toma plena consciência
não era bem visto, uma vez que a escola da abstração. É capaz de descrever,
deveria ser um centro nos quais os alunos representar e verbalizar a abstração; e
devem sair preparados para enfrentar Teoremas - Última etapa, a criança já é capaz
o mundo do trabalho e tornarem-se de manipular sistemas formais.
cidadãos para a sociedade. Como trabalho
e brincadeiras não combinam então esta Utilizar jogos neste processo vai estimular
prática não era bem-vinda. Na pedagogia o aluno no desenvolvimento do seu raciocínio
atual, já temos outras vertentes, nos quais os lógico. O jogo desperta no aluno a vontade e
jogos passam a ter fundamental importância a curiosidade em tentar solucionar o desafio

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Revista Educar FCE - Março 2019

proposto. A atividade lúdica desenvolve o AS CONTRIBUIÇÕES DOS


raciocínio, as habilidades, o conhecimento, JOGOS E DAS BRINCADEIRAS
etc. A criança consegue aprender muito com
as brincadeiras, de forma saudável e prazerosa. NO DESENVOLVIMENTO
INFANTIL
É por meio dos jogos que meninos tímidos
liberam as emoções reprimidas no seu Durante décadas as crianças brincavam
eu, tendo a oportunidade de se mostrar e a partir dos saberes que eram passados por
conhecer seus colegas. Esses conseguem seus pais, avós, tios ou até por vizinhos.
sentir-se seguros a partir do momento em Atualmente houve uma mudança nas formas
que se veem inseridos no grupo. A interação de brincadeiras, bem como nos próprios
é indispensável, pois i ponto de vista das brinquedos. Antigamente os brinquedos eram
crianças é diferente da de um adulto e a vida confeccionados pelos pais e avós, eram feitos à
social da mesma acontece na maioria do mão, agora há uma gama enorme de brinquedos
tempo com seus colegas. confeccionados pela indústria, que passou a
criar e a produzir brinquedos em todo o mundo.
O ser humano tem necessidades físicas e
sociais, estas supõem uma reestruturação da Os brinquedos e jogos, agora são
personalidade e respeito à heterogeneidade vinculados à algum desenho da televisão,
do mesmo. Similarmente acontece que a e esse modismo, faz uma grande parte das
criança que tem uma vida escolar, percebe crianças logo cedo serem consumistas,
a necessidade de agir em harmonia com querendo sempre ter todos os brinquedos,
outras. Por isso são estabelecidas as normas pois para a indústria, é fácil fazer vários
de convivência e compartilham: participação, modelos, mas que fazem o mesmo propósito
cooperação, interdependência e superação de um, mudando cores, figurinhas, e a
de conflitos. televisão trabalha vários personagens para
que isso se torne cada vez mais um círculo
Os jogos trabalham a ansiedade vicioso, inventam o carro, a casa, os animais
encontrada em muitas crianças, fazendo de estimação, tudo que podem inventar
com que elas concentrem-se mais e à partir de um personagem, esgotando a
melhore o seu relacionamento interpessoal criatividade e fazendo com que as crianças
e autoestima. Quando realizados de forma sintam a necessidade de “ter” e às vezes nem
prazerosa e atraente dentro da matemática, brincam com tantos brinquedos.
ajudam a diminuir problemas apresentados,
desenvolvendo relação de confiança entre Precisamos fazer com que nossas
professor x alunos x alunos, bem como crianças aprendam a fazer seus próprios
a comunicação de pensamento, corpo e brinquedos com a ajuda dos seus parentes,
espaço afim de interação no meio. desenvolvendo a criatividade e raciocínio.

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Revista Educar FCE - Março 2019

É preciso que os professores se apropriem em seu mundo, tentando recuperar o


do brincar, trazendo para dentro do universo lúdico no mundo adulto, sensibilizando e
escolar, utilizando essa ferramenta de conscientizando professores para viverem
maneira sistemática, reconhecendo que o um novo papel, o de facilitadores do lúdico
brincar aproxima da criança o aprendizado, o no ambiente escolar.
brincar é uma atividade fundamental para o
desenvolvimento das crianças, pois quando Essa formação lúdica que os professores
brincam desenvolvem diversas capacidades precisam ter, implica na necessidade de
como atenção, memória e sua imaginação. compreensão do brincar como parte de ser
educador, somente brincando é que se pode
Grande parte das crianças consideram saber sobre o que é brincar.
seus professores adultos afetivamente
importantes, especialmente quando acolhe O professor deve vivenciar o jogo e a
e aceita suas vivências lúdicas, ouvindo e brincadeira, sem se infantilizar, de modo
abrindo espaço para a criação, buscando que possa observar o seu ser brincante,
instigar a crianças à descobertas, provocando assumindo suas dificuldades iniciais, na
a curiosidade e o desejo de aprender, a perspectiva de provocar uma mudança de
criança pequena considera seus professores postura frente ao universo lúdico.
como parceiros na busca de um aprendizado.
O lúdico é de grande importância para
Quando brincam as crianças criam e as crianças, pois sem distinção de idade ou
recriam, e isso muito importante para seu classe social, estas atividades lúdicas devem
desenvolvimento educacional. A capacidade constar no contexto político pedagógico
de criação e o processo sublimação acabam da escola, compreendendo os jogos, as
exigindo uma enorme ocorrência de brincadeiras e os próprios brinquedos, tanto
satisfação compatível com o princípio da as brincadeiras de antigamente, bem como
realidade. as atuais, pois são de cunho educativo e
auxiliam na aprendizagem dos alunos, assim
A criatividade pode ser entendida como como no convívio social. É com a interação
a criação de uma nova realidade externa que as crianças vão desenvolvendo suas
com base numa realidade interna, podendo criatividades e liberdades, o brinquedo
alcançar ilimitados desejos no plano da traduz o real para a realidade infantil. Com a
criação simbólica, de maneira a potencializar brincadeira, a inteligência e sua sensibilidade
recursos intelectuais e emocionais para a estão sendo desenvolvidas. A presença
produção individual e social. de atividades lúdicas na prática educativa
articula-se na forma espontânea e dirigida,
Nosso maior desafio como educadores é em que ambas são educativas.
acolher a brincadeira da criança, entrando

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Revista Educar FCE - Março 2019

Na fase espontânea que se constitui o brincar cotidiano da criança, que flui e é mobilizado
a partir de questões internas do sujeito, sem nenhum comprometimento com a produção
de resultados pedagógicos. O caráter educativo do brincar é uma atividade formativa,
que pressupõe o desenvolvimento integral do sujeito quer seja, na sua capacidade física,
intelectual e moral, como também a constituição da individualidade, a formação do caráter e
da personalidade de cada um. Na fase dirigida há a presença das brincadeiras como atividades
cujo objetivo específico é o de promover a aprendizagem de um determinado conceito, ou
seja, além de serem marcados pela intencionalidade do educador.

Ao estudarmos vimos que a brincadeira se torna extremamente importante para o


desenvolvimento da criança, pois dessa forma que as crianças se relacionam de várias
maneiras com significados e valores, nas brincadeiras elas percebem o que vivem e o que
sentem. A brincadeira faz parte e sentido na vida das crianças, o faz de conta as crianças
reproduzem várias situações concretas de adultos.

O professor deve utilizar certas brincadeiras como ferramenta de suas aulas facilitando o
aprendizado, devendo sempre dar espaço para as brincadeiras lúdicas, pois assim auxiliará no
aprendizado das crianças. A partir do brincar as crianças se comunicam, interagem, consigo
mesma, com as outras e com o mundo em que estão inseridas.

O adulto tem um papel fundamental, de estimular a criança com músicas, sons de objetos,
animais e mostrando diversos elementos, materiais e cores. O ato de se brincar com as
crianças favorecem a descoberta e com o passar do tempo vai evoluindo conforme o interesse
delas e o valor que o objeto lhe interesse.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com todos os avanços tecnológicos e as mudanças
culturas, os professores precisam pesquisar e aplicar
novos conhecimentos, quando estamos munidos de novas
ferramentas enfrentamos os desafios do cotidiano com
mais facilidade, fazendo com que o trabalho se torne um
desafio, buscando maiores chances de desenvolverem novas
relações sociais que estão impostas pela sociedade.

Os professores precisam repensar na formação de nossos


alunos, buscando ajuda-los a tomar um rumo ideal para a
realização de um bom projeto e futuro de vida. A escola deve
resgatar o poder político da população para a elaboração de ANGELITA FARIA
melhores valores sociais, buscando a emancipação humana, MARQUES DE OLIVEIRA
em busca de uma verdade democrática.
Graduação em Letras pela
UNIESP (2008); Graduação em
Na perspectiva de trabalho em sala de aula, as atividades Pedagogia pela UNIARARAS
e os jogos não devem substituir as atividades escolares, mas (2012); Especialista em LIBRAS
pela UNINTER (2014) Professor
pode ser utilizado como recurso dentro do processo ensino- de Educação Infantil na EMEI
aprendizagem e como instrumento de diagnóstico quanto Antônio Pereira de Lima.
às necessidades e dificuldades de cada criança.

O jogo é uma estratégia muito simples e agradável e deve


sempre ser colocada em prática, pois é visível a motivação
que as crianças adquirem quando estão jogando. O jogo propicia recursos capazes de
contribuir para o desenvolvimento das funções cognitivas da criança.

O jogo é útil para a alfabetização, colabora para a aprendizagem e prepara a criança para
a vida em sociedade.

Devemos pensar na formação do individuo, para ser um critico, com consciência


reflexiva, capazes de imaginar um mundo menos cruel. Capaz de indagar diante as injustiças
sociais, discriminação das classes menos favorecidas, negros, índios, mulheres e todos que
injustiçados socialmente.

Queremos sonhar com um mundo melhor e para isso devemos ser capazes de cria-lo.

426
Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE
FÍSICA PARA AS CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
RESUMO: Este presente trabalho tem como principal objetivo discutir a importância da
atividade física nas crianças e adolescentes, com dimensões biológicas, físicas, psicológicas e
até mesmo culturais. A prática de atividades físicas pode beneficiar todas as crianças, jovens
ou adultos, além da oportunidade para diversão, estar com amigos e manter-se saudável
e em forma. A atividade física também tem sido associada com os benefícios psicológicos
principalmente entre os jovens e crianças, melhorando o seu controle sobre sintomas de
ansiedade e depressão. Da mesma forma, a participação na atividade física pode ajudar no
desenvolvimento cognitivo, afetivo e social, oferecendo oportunidades de autoexpressão, a
construção de autoconfiança, interação e integração social. Também tem sido sugerido que
a atividade física nos jovens facilita a adoção de outros comportamentos saudáveis como,
por exemplo, evitar o uso de álcool, tabaco e drogas e demonstrar um melhor desempenho
acadêmico. A atividade física e o esporte são aliados à saúde das nossas crianças e jovens,
mantendo-os fisicamente ativos trará benefícios que durará uma vida inteira.

Palavras-Chave: Escola; Educação Física; Atividade Física; Saúde e qualidade de vida.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO por um lado o mundo globalizado facilita a


comunicação entre as pessoas, por outro,
Mas o que é atividade física? A atividade cada vez mais transforma esta comunicação
física é definida como um conjunto de ações em uma convivência virtual. Os jovens atuais
que um indivíduo ou grupo de pessoas pratica encontram-se muito mais pela internet ou pelo
envolvendo gasto de energia e alterações celular do que pessoalmente. As atividades
do organismo, por meio de exercícios que mudam de lugar e, consequentemente, a
envolvam movimentos corporais, com mobilidade, fator determinante do tipo de
aplicação de uma ou mais aptidões físicas, sociedade, atual torna-se reduzida.
além de atividades mental e social, de modo
que terá como resultados os benefícios à Atualmente, a atividade física é listada
saúde. como um dos principais indicadores de saúde.
“A Organização Mundial de Saúde (OMS,
No Brasil, o sedentarismo é um problema 2009) vem estimulando a participação e a
que vem assumindo grande importância. As prática a serem desenvolvidos em atividades
pesquisas mostram que a população atual físicas de lazer”. Dentre as quais reduzirem o
gasta bem menos calorias por dia, do que número de horas gastas com atividades que
gastava há 100 anos, o que explica porque incentivam o sedentarismo e a vida social
o sedentarismo afetaria aproximadamente reclusa das pessoas em geral. As tecnologias
70% da população brasileira, mais do que da informação e comunicação são realidade
a obesidade, a hipertensão, o tabagismo, o na sociedade vigente. A cada dia verificamos
diabetes e o colesterol alto. O estilo de vida ser impossível imaginar a vida sem ela,
atual pode ser responsabilizado por 54% do principalmente para as pessoas dessa
risco de morte por infarto e por 50% do risco geração. Essa realidade passa a contribuir
de morte por derrame cerebral, as principais para a formação de crianças, adolescentes e
causas de morte em nosso país. Assim, futuros adultos sedentários, já que desde as
vemos como a atividade física é assunto de crianças da mais tenra idade são seduzidos por
saúde pública. ela, e as atividades físicas, antes naturais da
fase da infância, geralmente são substituídas
A sociedade apresenta dados alarmantes por horas a fio de sedentarismo em frente à
em relação à juventude no mundo. São TV, computador e jogos de game.
estudos que enfatizam o crescimento da
obesidade infantil e juvenil, problemas de Portanto, faz-se necessário refletir sobre
saúde ligados ao sedentarismo dos jovens os benefícios dos avanços tecnológicos
e adultos. Sugerimos, portanto, que, a incorporados a nossa prática cotidiana.
integração entre o corpo e a mente na Reconhecer que a tecnologia tem um papel
formação integral da criança e do adolescente importante no mundo de hoje, é parte do
não está sendo devidamente valorizada. Se processo de evolução da sociedade, porém,

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Revista Educar FCE - Março 2019

cabe alertar que, quando esta é mal utilizada, novo olhar do professor de Educação Física,
poucos são os benefícios trazidos para o como agente de mediação entre a educação
desenvolvimento dos adolescentes, estando e a saúde, na busca de práticas educativas
os mesmos em processo de formação. E, a formativas. Considerando que a qualidade
escola, ciente dessa realidade deve cumprir de vida é um conjunto de relações essenciais
seu papel social de formar cidadãos, e essa favoráveis a saúde física, mental e social,
formação envolve corpo e mente, portanto a essa visão poderá ser ampliada se:
valorização da saúde física e mental precisa
fazer parte da proposta política pedagógica A atividade física, combinada com uma
das escolas, envolvendo educação e saúde alimentação adequada e uma maneira suave
como parte do processo de formação de de conviver com situações de tensão e
indivíduos com qualidade de vida. ansiedade evita a totalidade dos males ditos
modernos. Não é à toa que a Organização
Mundial de Saúde (OMS) considera a
QUAL A IMPORTÂNCIA DA atividade física como fator primordial na
ATIVIDADE FÍSICA E DA melhoria do bem-estar físico, emocional
e social. Ela também eleva a autoestima.
EDUCAÇÃO FÍSICA PARA A (NUNES, 2004, p. 20)
SAÚDE DOS NOSSOS JOVENS
E CRIANÇAS? Sendo assim, comportamentos
inesperados e ausência de comunicação são
A Educação Física Escolar deve ter como indícios de que o adolescente está tentando
proposta promover o desenvolvimento desenvolver uma identidade diferenciada
físico e cognitivo, a socialização, a educação dos adultos. Tal comportamento favorece
pelo movimento, o cuidado com o corpo, uma situação de carência e isolamento e o
tudo isso a partir de desenvolvimento de favoritismo pelos relacionamentos virtuais.
competências e habilidades propostas para O que deixa muito a desejar quanto às
cada série ou ciclo, respeitando o ritmo e manifestações motoras e lúdicas voltadas a
o desenvolvimento do aluno. E, levando atividades físicas. Conforme Mello e Tufik
em conta a importância de oportunizar (2004, p. 51) “na adolescência os transtornos
esse desenvolvimento e produção de de humor são caracterizados por condutas
conhecimento, por meio de atividades como: diminuição das atividades diárias,
lúdicas, jogos cooperativos, socialização do negativismo, comportamento social, perda da
conhecimento, desenvolvimento de hábitos autoestima, ansiedade e déficits cognitivos”.
e valores cidadãos e trabalho de equipe,
dentre outras habilidades. A concepção A maioria das doenças se desenvolve por
de qualidade de vida como resultado de meio de múltiplos fatores, dentre os quais
corpo e mente em movimento, exige um a inatividade física. Sendo essas e outras

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Revista Educar FCE - Março 2019

práticas favoráveis ao sedentarismo e a vida esportivas durante a adolescência


social reclusa das pessoas em geral. É preciso contribuem para a atividade física de lazer
estar atento, pois o reflexo desse tipo de na vida adulta” (ALVES, 2005, p.291), o que
comportamento influência negativamente, vem a favorecer uma maior sociabilidade
também, na aprendizagem das crianças entre pessoas de uma mesma faixa etária,
e adolescentes, gerando problemas de a prevenção e adequação a qualidade de
aprendizagem e/ou de comportamento. vida adulta, visando aspectos cognitivos,
motores, lúdicos, funcionais e sociais.
Nesta perspectiva, se torna relevante
associar a importância da atividade física O homem se apropria da cultura corporal
a um estilo de vida de melhor qualidade, dispondo sua intencionalidade para o lúdico,
visando à saúde física e mental, seja em o artístico, o agnóstico, o estético ou outros,
momentos de lazer ou mesmo em práticas de que são representações, ideias, conceitos
Educação Física. Considerarmos que a área produzidos pela consciência social...
de Educação Física hoje contempla múltiplos (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 62).
conhecimentos produzidos e usufruídos
pela sociedade a respeito do corpo e do Por essas considerações, tais práticas
movimento. Entre eles são fundamentais devem coincidir com as expectativas do
as atividades culturais de movimento adolescente. O seu sentido de lazer com
com finalidades de lazer, expressão de a realidade de sua própria vida, com suas
sentimentos, afetos e emoções, e com motivações, podendo ser por meio de jogos,
possibilidades de promoção, recuperação e lutas, danças. O importante é fazer dessas
manutenção da saúde. práticas um meio de promoção a saúde física,
mental e um momento de lazer de qualidade.
Portanto, a atividade física auxilia em De acordo com Reverdito e Scaglia (2003,
prevenções quanto aos riscos de futuras p.137). “o homem poderá ser, depois, o que
doenças e favorece a interação social. Na foi a criança”.
maioria das vezes, ela deveria funcionar
como elemento motivador para o aluno A atividade física não está relacionada
participar de todas as práticas educativas e somente ao aspecto motor e físico, mas
sociais da escola. também ao sentido de abranger aspectos
positivos a vinculação de valores e
Por estar em uma face de transição, atitudes associados a manifestações de
o adolescente apresenta o estereótipo paz, justiça, liberdade, respeito, cidadania,
atual, interagem-se por meios virtuais e disciplina, cooperação, responsabilidade
tecnológicos, limitando sua convivência e e principalmente lazer. Sendo, portanto
uma maior interação social com pessoas favoráveis ações voltadas a essa proposta, o
de sua faixa etária. “Práticas de atividades estudo e a busca por informações relacionadas

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Revista Educar FCE - Março 2019

quanto às contribuições da atividade física a ATIVIDADE FÍSICA E AS


socialização do adolescente. CRIANÇAS DE HOJE
O que leva um adolescente de um
determinado grupo, em uma sociedade Na sociedade contemporânea, com o
na qual a tecnologia é tão avançada a não avanço do desenvolvimento das tecnologias
reconhecer a atividade física como um fator da informação, houve um retrocesso em
determinante para a qualidade de e ao lazer? termos de adesão aos movimentos corporais
No que a este fato, com ele poderá afetar e um aumento na inatividade física por parte
gerações futuras na perspectiva de um das pessoas. Neste cenário, o sedentarismo
estilo de vida saudável? Estando os jovens encontrado terreno fértil para a sua
em processo de transformação, de transição proliferação e tem potencializado muitas
social, o que os mesmos idealizam sobre as atenções quanto a ameaças a qualidade de
gerações futuras? O que pensam os alunos vida. Neste quadro o sedentarismo constitui-
de uma escola de Ensino Fundamental sobre se como um fator de risco determinante
essas necessidades para sua vida futura? para a saúde. Vieira, (2002), afirmam que
“a inatividade física constitui-se no fator
Desta forma, pesquisar a influência da mais importante para o desenvolvimento
atividade física na qualidade de vida dos da obesidade. Estudos recentes envolvendo
adolescentes das escolas municipais, a indivíduos jovens confirmam que o nível
partir da visão do professor, justifica-se por de atividade física está inversamente
oportunizar reconhecer na percepção do relacionado à incidência de sobrepeso e
docente como o tema tem sido abordado obesidade”.
em situações práticas de Educação Física
Escolar. Ao escolher o tema “A importância Assim como os adultos, o adolescente não
da atividade física para a formação social do está imune à realidade deste. Ele, por estar
adolescente”, foi com o intento de pesquisar em uma fase em que “fazer parte de um
possibilidades de dimensões teóricas e grupo” constitui um acontecimento de busca
práticas, tanto quanto às atividades físicas de identidade, em uma fase de transição
e ao seu desempenho dos alunos quanto ao da infância para o mundo adulto. Os
convívio social do mesmo. adolescentes procuram interagir por meios
de recursos tecnológicos, pois o mundo
virtual é uma realidade na qual os mesmos
se expressam. Deste modo, deixam a desejar
no que diz respeito à prática cotidiana de
atividade física.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Apesar das várias evidências, a maioria no desenvolvimento do adolescente e na


dos adolescentes leva uma vida sedentária. redução dos riscos de futuras doenças, além
Sendo a inatividade física fator determinante de exercer importantes efeitos psicossociais”.
a promoção de risco de doenças. Alves Os jovens tem como prioridades o grupo, a
(2005) cita estudos epidemiológicos que privacidade e a busca por uma identidade.
apontam forte associação entre atividade Eles estão mais atentos às novidades virtuais
física ou aptidão física e saúde. Pesquisas e tecnológicas, o que os afastam de uma
que apontam a inatividade física como convivência natural e ativa. Desta forma,
um fator de risco para doenças, tais como: buscam por se relacionar por meios virtuais,
cardiovasculares, hipertensão arterial e isto contribui para o estabelecimento de uma
obesidade, dentre outras doenças. E, que barreira entre os mesmos e o convívio social.
além de diminuir a incidência de fatores
de risco, para vários problemas de saúde, Devide (2002) faz referência a diversos
contribui ainda no controle da ansiedade, estudos e pesquisas que contribuem para
da depressão, das doenças pulmonares desmistificar a saúde, reconhecendo que,
obstrutivas crônicas, da asma, além de além do médico, o trabalho conjunto dos
proporcionar melhor autoestima e ajuda no diversos profissionais deve ter como objetivo
bem-estar e socialização dos cidadãos. A “educar” os indivíduos e adotar práticas que
partir dos dados estatísticos coletados, Alves aperfeiçoem sua saúde e da comunidade.
(2005) concluiu que ser fisicamente inativo Nesta perspectiva a saúde passa a ser uma
durante a adolescência pode aumentar a questão didático-pedagógica. Em virtude
probabilidade de hábitos sedentários na vida disto, a Educação Física no contexto escolar
adulta. tem a possibilidade de ampliar o alcance
de seus conteúdos, envolvendo aspectos
Guedes et al. (2001, p. 188) destacam que relacionados à educação para a saúde, por
os benefícios da prática de atividade física e meio de incentivos para melhorar o estilo de
riscos do sedentarismo associados a saúde e vida e os hábitos diários, visando à melhoria
ao bem estar são amplamente documentados da qualidade de vida dos alunos.
na literatura. No entanto, maior número de
estudos procura envolver sujeitos adultos. Para Lazzoli (1998) do ponto de vista
Pouco se conhece com relação aos hábitos de saúde pública e medicina preventiva,
de prática física de adolescentes. promover a atividade física na infância e
na adolescência significa estabelecer uma
Como esclarece o autor, apesar de todas as base sólida para a redução da prevalência
evidencias quanto à importância da atividade do sedentarismo 18 na idade adulta,
física regular, atualmente são poucos os contribuindo, dessa forma, para uma melhor
jovens que a tornam uma prática diária. qualidade de vida da população. Com isso
Para Vieira (2002), “a atividade física auxilia fica comprovado que para termos adultos

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Revista Educar FCE - Março 2019

saudáveis é necessário incutir nas crianças procurar movimentar-se mais no dia a dia,
e adolescentes os benefícios de hábitos subir escadas, correr, participar de atividades
saudáveis e atividades físicas pelos resultados de lazer ao ar livre. E, não necessariamente
positivos para a nossa qualidade de vida. deixar os relacionamentos virtuais, mas
dosar sua prática. Faz-se necessário construir
Caparro (2005) destaca que a preocupação mecanismos de combate a inatividade física
com a higiene e saúde vem desde a Escola entre os adolescentes na busca de uma
Nova, proposta que levava aos professores melhor qualidade de vida, que favoreça a
a pensar a Educação Física a partir de saúde e a vida social futura. Segundo Hallal
uma concepção biológica, ou seja, fica et al. (2006, p. 127) “estratégias efetivas de
comprovado que para termos adultos combate ao sedentarismo na adolescência
saudáveis é necessário incutir nas crianças são necessárias devido à sua alta prevalência
e adolescentes os benefícios de hábitos e sua associação com a inatividade física na
sadios e atividades físicas pelos resultados idade adulta”.
positivos para a nossa qualidade de vida.
Apesar de várias evidências, a maioria dos
adolescentes leva uma vida sedentária. ATIVIDADES MAIS
Sendo a inatividade física fator determinante INDICADAS PARA CADA
a promoção de risco de doenças.
FAIXA ETÁRIA
Quanto aos benefícios para os jovens em
termos de relações sociais, compreende-se É importante estar sempre atento e
que articular atividade física e vida social perceber o desenvolvimento de cada criança
é uma possibilidade que contribui para o independentemente da idade, mas de uma
desenvolvimento humano, especificamente forma geral podemos dizer que:
para o adolescente. Neste sentido, Barbosa
(1991) descreve algumas vantagens para a • Crianças em idade pré-escolar: precisam
prática do esporte: “estimula a socialização, de atividades próprias ao seu potencial para
serve como um antídoto natural de vícios o desenvolvimento da motricidade, sendo
ocasiona maior empenho na busca de fundamental que em todos os momentos as
objetivos, reforça a autoestima, ajuda a atividades sejam lúdicas.
equilibrar a ingestão e o gasto de calorias e
leva a uma menor predisposição a moléstias”. • 4 aos 6 anos: Os joguinhos começam a
ficar interessantes. As atividades deverão ser
realizadas com jogos e brincadeiras.
O que é essencial ressaltar é a mudança
de hábitos diários dos adolescentes, os • 7 anos em diante: Serão trabalhadas
mesmos devem se tornar mais ativos, atividades com diferentes exercícios de

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Revista Educar FCE - Março 2019

recreação e competição, o que estimula muito a criança. Já poderão ser introduzidos também
o atletismo (corridas, saltos e lançamentos – de forma simplificada), a natação, pequenos
jogos entre outros.

• 11 aos 14 anos: A proposta aplicada já inclui, além de muita recreação, os jogos


desportivos, não sendo aconselhado, no entanto, determinado tipo de desporto por faixa
etária e sim, seguindo o desejo da criança. Sempre estimulando o aprendizado variado para
que ela possa, no futuro, se dedicar ao que mais gosta a fim de ter qualidade de vida na fase
adulta.

• Acima dos 15 anos: o desporto propriamente dito, atividades físicas ligadas ao lazer,
danças, lutas, esportes de quadra, corridas, ginastica de academia.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Atividade Física tem como proposta contribuir para
a formação global da criança e do adolescente, tendo
em vista a área de atuação tanto no desenvolvimento de
habilidades cognitivas quanto na promoção da saúde e
qualidade de vida. O modo de vida atual, para a maioria das
crianças e adolescentes incentiva o sedentarismo, o que
comprovadamente traz repercussões negativas para a saúde
dos mesmos. Cabe as pessoas uma conscientização, para
que haja o desenvolvimento de situações do cotidiano ou
atividades destinadas à pratica de atividades físicas, visando ANITA REY SINMON
a proposta de saúde e qualidade de vida. A atividade física
Graduação em Educação Física
consiste em exercícios bem planejados e bem estruturados, pela Universidade Unisa (UNISA
realizados repetitivamente. Eles conferem benefícios 1991). Professora de Ginástica
aos praticantes e têm seus riscos minimizados através de Artística do Colégio Emilie
de Villeneuve, professora de
orientação e controle adequados. Esses exercícios regulares Educação Física do fundamental I
aumentam a longevidade, melhoram o nível de energia, a e II da Emef Prestes Maia.
disposição e a saúde de um modo geral. Afeta de maneira
positiva o desempenho intelectual, o raciocínio, a velocidade
de reação, o convívio social. O que isso quer dizer? Há
uma melhora significativa da sua qualidade de vida. O que
precisamos ressaltar é o investimento contínuo no futuro,
a partir do qual as pessoas devem buscar formas de se
tornarem mais ativas no seu dia-a-dia, como subir escadas,
sair para dançar, praticar atividades físicas regulares,
buscando a saúde e o convívio social. A palavra de ordem é
MOVIMENTO.

437
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Guanabara. Rio de Janeiro, 2004

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Centro Colaborador da OMS para a Família de Classificações Internacionais em Português.
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 7. ed.,
10. rev, 1. São Paulo: Edusp, 2009. v. 3

REVERDITTO, R.S: SCARGLIA, A.J. Pedagogia do esporte: jogos coletivos de invasão/ Riller
Silva Reverdito e Alcides José Scaglia. . Editora Phorte, São Paulo, 2009.

438
Revista Educar FCE - Março 2019

VIEIRA, Valéria Cristina Ribeiro, PRIORE, Sílvia Eloiza y FISBERG, Mauro. A atividade física
na adolescência. Adolesc. Latinoam. [online]. Ago. 2002, vol.3, no.1

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Revista Educar FCE - Março 2019

A RELAÇÃO DO PROFESSOR COM


A IDENTIDADE DA CRIANÇA
NA PRÉ-ESCOLA
RESUMO: ENas atividades simples que ocorrem no dia a dia das crianças, percebemos o
desenvolvimento e a ampliação dos seus conhecimentos. O presente artigo se propõe a
discutir a importância do professor na construção da identidade da criança. Acreditando ser
a educação a base de um mundo melhor, entendemos que esta deve ser totalmente livre de
preconceito, e afirmando que cada um de nós tem uma personalidade diferente, viemos de
um contexto familiar, social e econômico distinto, e somos dotados de valores e concepções
diversas. Para a construção do artigo foi realizada uma pesquisa bibliográfica, auxiliando-nos
a ter um olhar observador e compreender a relação da escola com o desenvolvimento dessa
identidade.

Palavras-Chave: Criança; Identidade; Educação.

440
Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO cristaliza apenas no plano do conhecimento teórico,


mas também no da sensibilidade, da ação e da
comunicação (VANNUCCHI, 1999, p. 21).
Esse artigo se propõe a discutir a
importância do professor na construção No Brasil, infelizmente, não aprendemos
da identidade da criança. Com isto, nessa a valorizar a cultura do nosso país e sim
perspectiva, a atenção à diversidade é uma falsa ideia de igualdade de culturas. Ao
indispensável, e a educação, e principalmente invés de valorizarmos e reconhecermos as
a educação infantil, se constitui juntamente culturas regionais e brasileiras, defendemos
com o desenvolvimento das crianças, uma ideia de igualdade de uma única cultura,
que estão se constituindo como sujeitos ou seja, a escola defende essa ideia de que
autônomos, críticos e conscientes de seus todos somos iguais, desta maneira, a escola
direitos e deveres. Os objetivos específicos valoriza uma cultura uniforme.
desse artigo nos trazem a importância dos
educadores para a construção da identidade Desta forma, esta pesquisa questiona a
das crianças, a formação inicial e continuado prática docente voltada para a construção da
do professor como tema importante para a identidade da criança e o quão é importante
qualidade de ensino e por fim, o papel do a formação do professor.
educador na educação lúdica.

O Brasil é um dos países de maior OS EDUCADORES


diversidade cultural e racial do mundo, TRABALHANDO PARA
possuindo descendentes e imigrantes de
vários países, cada grupo humano constitui A CONSTRUÇÃO DA
suas próprias leis e organização, possuindo IDENTIDADE DAS CRIANÇAS
estilos diferentes de liderança e coordenação
da vida em comum. E é desta maneira que A educação não começa na escola.
nos diferenciamos dos demais países, pois Ela começa muito antes e é influenciada
vivemos numa suposta democracia racial, por muitos fatores. Ao longo de seu
religiosa, sexual, política e social. Não temos desenvolvimento físico e intelectual, passa
guerras civis, mas em compensação há o por várias fases, na qual a escola dá vida,
desprezo da cultura do outro. isto é, o ambiente familiar, as condições
socioeconômicas da família, o lugar onde se
A cultura não existe em seres humanos genéricos, mora. Os acessos aos meios de informação
em situações abstratas, mas em homens e mulheres
concretos, pertencentes a este ou àquele povo, a têm uma importância muito grande. Os
esta ou àquela classe, em determinado território, primeiros anos são decisivos, estudos
num regime político A ou B, dentro desta ou demonstram que a criança tem sua estrutura
daquela realidade. Somente se poderá conceituar
cultura como auto-realização da pessoa humana básica de personalidade definida até os 02
no seu mundo, numa interação dialética entre os (dois) anos de idade, muito antes, portanto,
dois, sempre em dimensão social. Algo que não se

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Revista Educar FCE - Março 2019

do período da escola obrigatória, e durante ou ignoraram, que estes espaços são


esse período é importante que os professores constituídos com as diferenças, que
e os pais busquem desenvolver nas crianças mediante essas, também adquirimos novos
atitudes, valores, estabelecendo regras e conhecimentos. Neste sentido, Costa nos
limites possíveis e necessários à estruturação aponta:
da personalidade e consequentemente uma
educação adequada ao convívio social. Para (...) a escola e o currículo como campos em que
estão em jogos múltiplos elementos, implicados
que assim, a criança possua desde cedo em relações de poder, compondo um terreno
a noção de respeito, igualdade e justiça, privilegiado da política cultural. Considero as escolas
conhecendo os seus limites e dos limites e seus currículos como territórios de produção,
circulação e consolidação de significados, como
do outro e do meio, participe na construção espaços privilegiados de concretização da política
coletiva de regras, reconheça as diferentes de identidade (COSTA, 2001, p.9).
formas de preconceito e injustiça, e a
capacidade de comunicação, expressão e A escola deve estar oportunizando
relacionamento. Não se tratando de uma conteúdos culturais, relacionados à
avaliação intelectual, matemática, mas de comunidade em que as crianças estão
um sentimento: o sentimento de não – inseridas, proporcionar o conhecimento
indiferença. de outras culturas, assim como promover
gincanas culturais, debates, palestras e outras
A educação por si só não é capaz de efetuar atividades deveriam ser metas principais ao
no mundo as mudanças necessárias, mas se pensar em trabalhar com a diversidade
pode contribuir para que elas aconteçam. cultural em nosso ambiente escolar;
Seu espaço é mais amplo que a escola em bem como trazendo para a escola toda a
si, pois a educação se dá na escola e fora comunidade, para que assim possa se realizar
dela, por toda a vida (KONDER, 2002). No o objetivo mestre: a integração das pessoas.
espaço desta pesquisa, no entanto, busco E é de uma forma solidária e participativa
compreender o processo que se dá dentro que a escola pode e deve contribuir para a
do ambiente das instituições de ensino, formação de cidadãos conscientes, críticos e
como um espaço privilegiado da educação solidários.
e fundamentalmente como um espaço
produtor e reprodutor de cultura e com No trabalho pedagógico o que é proposto
isso, produtor e reprodutor também de uma pelo adulto e vivido pelas crianças deve
rede de significados que corresponde a uma levar em consideração as manifestações
determinada realidade simbólica. das crianças, que é o seu tempo, suas
necessidades e sua cultura.
Relacionar cultura com as instituições
de ensino nos lembra exclusão, porque as As relações de afetividade vivenciadas
instituições escolares ainda não perceberam, entre as crianças; entre as crianças e

442
Revista Educar FCE - Março 2019

os adultos e entre os adultos, também qualificação profissional era específica para


pode trazer confrontos em relação a suas contratar o adulto a cuidar das crianças e
convivências. O período de adaptação entre interagir com elas.
as crianças em relação a outras crianças e
aos adultos será em longo prazo, pois cada Deste profissional espera-se que tenha
um terá mais afinidade com uns do que paciência, capacidade para expressar afeto
com outros. O que não poderá acontecer é e firmeza para conduzir as crianças. Pouco
virar uma exceção porque a interação entre se exige de elementos mais elaborados
todos os atores da escola (desde a faxineira acerca do desenvolvimento infantil. Os
até a diretora) deve ser parte integrante cargos eram subdivididos em berçarista,
do processo de desenvolvimento com a com conhecimentos e habilidades voltados
realidade natural, social e cultural. ao desenvolvimento físico das crianças;
recreacionista, especialistas em lazer para
orientar à infância e professor polivalente
A FORMAÇÃO INICIAL que interajam com as crianças desde o
E PERMANENTE DOS nascimento.
PROFESSORES Dessa forma, o modelo idealizado
é traduzido em “tias” boas, pacientes,
A Educação Infantil é vista por alguns carinhosas, guiadas somente pelo coração e
educadores como uma etapa que não pela intuição.
necessita de planejamento. Este pensamento
é o reflexo da formação inicial do educador No entanto, essa concepção, baseada
de educação infantil. na feminização do magistério que atribuía
atributos de gênero, ao magistério infantil
A história da formação de docentes para vem se modificando, sobretudo, com base na
a Educação Infantil é bastante recente, pois regulamentação profissional e da inserção da
não havia uma preocupação com esse nível de Educação Infantil, como nível de ensino, na
ensino e, consequentemente, muito menos, nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
com a qualificação de seus professores. Nacional (LDBEN).

Durante muito tempo, a professora A LDBEN foi um marco importante para


de Educação Infantil era identificada e o campo educacional, na ótica de alguns
reconhecida, principalmente, pela sua teóricos, pois instaurou um conjunto de
afetividade, pelo seu dom maternal. Assim, reformas que vêm sendo implantadas e
reforçava-se a concepção de educadora, mobilizando vários setores educacionais, de
“forjada” mediante o seu perfil como mulher, modo mais específico, a formação docente
com o seu “dom de educar” inato. Essa dos profissionais da educação básica.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Portanto, os professores que possuem cordiais, acolhedoras e estimulantes com os


a formação nesse nível estão garantidos seus alunos.
por lei, para exercer a sua profissão, nessas
etapas da educação. Na citada Constituição
Federal, no título II, Dos Direitos e Garantias O PAPEL DO EDUCADOR NA
Fundamentais, dentro do capítulo I se EDUCAÇÃO LÚDICA
refere aos Direitos e Deveres Individuais e
Coletivos, e em seu artigo 5º afirma: “XXXVI A decisão de se permitir envolver no mundo
– a lei não prejudicará o direito adquirido, o mágico infantil seria o primeiro passo que o
ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. professor deveria dar. Explorar o universo
infantil exige do educador conhecimento
Por outro lado, na atualidade, há certo teórico, prático, capacidade de observação,
consenso sobre a necessidade de formação, amor e vontade de ser parceiro da criança
em nível superior, para os professores da neste processo. Nós professores podemos
Educação Infantil, pois o conhecimento, por meio das experiências lúdicas infantis
cada vez mais se torna complexo e diverso, obtermos informações importantes no
demandando a necessidade de professores brincar espontâneo ou no brincar orientado.
qualificados e competentes para atuarem em
todos os níveis de ensino. No brincar espontâneo, as crianças
brincam daquilo que lhe vêm à cabeça, e
Há uma grande preocupação em formar o neste momento podemos observar suas
educador pesquisador com posicionamento ações lúdicas, já no dirigido, podemos propor
crítico. Diante de qualquer leitura e desafios com propósitos específicos.
estudos voltados a diferentes abordagens
possam refletir e discutir o que está sendo Segundo Kramer (1989), todas as
informado. Enfatizam também a importância atividades desenvolvidas pelo educador
do planejamento do seu trabalho, pois devem ter objetivos claros contendo níveis
estabelecendo metas, estratégias não perdem diversos de dificuldades, afim de que as
o foco de seus objetivos. O planejamento aqui crianças participem e usem sua criticidade e
é entendido como instrumento orientador criatividade.
do trabalho docente, como norteador das
intencionalidades das professoras e como Embora, este trabalho seja o ideal a
possibilidade de proceder à ampliação e ser buscado, é difícil de ser atendida em
diversificação dos repertórios culturais das curto prazo, principalmente, no campo da
crianças. Neste novo modelo de formação Educação Infantil que integra, há pouco
também é exigido que o educador tenha tempo, a educação básica, no país. Mas isso
originalidade, habilidades para realizar não pode ser um impedimento para que o
atividades variadas, que mantenha relações educador não renove sua prática.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Estes dados são importantes para abordar espaços externos e até mesmo para dentro
a questão desta temática. da comunidade, mostrando as crianças os
riscos e perigos existentes em seu bairro e
O educador será um grande aliado da qual a melhor forma de lhe dar com estes,
criança quando permite que as atividades oferecendo-lhes alternativas de melhoria ou
propostas á elas sejam vivenciadas em dando espaços para que elas mesmas digam
diferentes espaços da instituição. o que fazer.

Desde sua infância a criança é Na pós-modernidade a criança deixa de


acompanhada pelo adulto e quando entra ser tabula vazia, de quem espera o adulto
no sistema de ensino suas particularidades preencher seus vazios, e passa a ser co-
entram em conflito com o que é proposto por construtor de conhecimentos, identidades
um novo adulto (até então desconhecido por e cultura, participando das tomadas de
ela). Novas regras, comportamentos atitudes, decisões democráticas contribuindo para os
gestos, entre outros, serão vivenciados pelas recursos e para as produções sociais.
crianças no cotidiano escolar fazendo parte
de sua jornada. A criança não precisa da autorização do
educador para se opor a algo, pois desde o
O educador solicitado a cuidar ou a brincar início de sua vida a criança é rica e engajada
com a criança deve ter um comportamento com o mundo para começar a aprender.
que condiz com a realização das brincadeiras.
Ele deve estabelecer uma ordem ou regras O adulto muitas vezes solicitado a cuidar da
para que não haja brigas (que é normal criança cuida do seu próprio vir a ser, podendo
entre crianças). Assim, deverá interferir nas até se sentir responsável pela vida da criança.
brincadeiras quando necessário, não poderá Esta responsabilidade é transformada em
dar opiniões ou interromper as brincadeiras cuidado preocupado de afastar tudo aquilo
com gritos e gestos indevidos, nunca que atrapalha, abrindo um espaço para um
deverá se mostrar impaciente ou ficar em caminho sem frustrações. Além de encontrar
constantes silêncios. O diálogo é importante na criança suas limitações e possibilidades.
para acrescentar o vocabulário e estimular a A criança tem sua própria maneira de
fala das crianças. O educador deve mostra- pensar, agir e vive o tempo todo exposto a
se atento, disposto, sensível e prestativo as riscos (que é natural do ser mortal). Assim, o
solicitações das crianças, além de criar novas educador responsável pela criança se adianta
brincadeiras e possibilitar a criatividade para ao acontecimento, impedindo-as de correr
novas invenções. maiores riscos, deve apenas proporcionar um
olhar estimulador que acompanha a criança
As brincadeiras devem se estender no seu desenvolvimento para a exploração
para além das salas de aula, explorando os do mundo.

445
Revista Educar FCE - Março 2019

Por isso, a criança pequena deve ser levada ações lúdicas, já no dirigido, podemos propor
a sério. Ativa e competente, ela tem ideias e desafios com propósitos específicos.
teorias que não só valem ser ouvida, como
também merecem confiança e, quando for o Segundo Kramer (1989), todas as
caso questionamento e desafio. atividades desenvolvidas pelo educador
devem ter objetivos claros contendo níveis
Ela não existe apenas no lar da família, diversos de dificuldades, afim de que as
mas também nos ambientes mais amplos. crianças participem e usem sua criticidade e
Ela não é um inocente separado do mundo. criatividade.
Ao contrário disso, a criança pequena no
mundo como ele é hoje, incorpora este Embora, este trabalho seja o ideal a
mundo, é influenciado por ele, mas também ser buscado, é difícil de ser atendida em
o influencia e constroem significados. curto prazo, principalmente, no campo da
Educação Infantil que integra, há pouco
Assim, é de direito de cada criança tempo, a educação básica, no país. Mas isso
expressar-se e de viver plenamente sua não pode ser um impedimento para que o
infância, considerando suas características, educador não renove sua prática.
diversidade cultural, etnia, gênero e
sexualidade. Estes dados são importantes para abordar
a questão desta temática.

O PAPEL DO EDUCADOR NA O educador será um grande aliado da


EDUCAÇÃO LÚDICA criança quando permite que as atividades
propostas á elas sejam vivenciadas em
A decisão de se permitir envolver no mundo diferentes espaços da instituição.
mágico infantil seria o primeiro passo que o
professor deveria dar. Explorar o universo Desde sua infância a criança é
infantil exige do educador conhecimento acompanhada pelo adulto e quando entra
teórico, prático, capacidade de observação, no sistema de ensino suas particularidades
amor e vontade de ser parceiro da criança entram em conflito com o que é proposto por
neste processo. Nós professores podemos um novo adulto (até então desconhecido por
por meio das experiências lúdicas infantis ela). Novas regras, comportamentos atitudes,
obtermos informações importantes no gestos, entre outros, serão vivenciados pelas
brincar espontâneo ou no brincar orientado. crianças no cotidiano escolar fazendo parte
de sua jornada.
No brincar espontâneo, as crianças
brincam daquilo que lhe vêm à cabeça, e O educador solicitado a cuidar ou a brincar
neste momento podemos observar suas com a criança deve ter um comportamento

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Revista Educar FCE - Março 2019

que condiz com a realização das brincadeiras. Ele deve estabelecer uma ordem ou regras para
que não haja brigas (que é normal entre crianças). Assim, deverá interferir nas brincadeiras
quando necessário, não poderá dar opiniões ou interromper as brincadeiras com gritos e
gestos indevidos, nunca deverá se mostrar impaciente ou ficar em constantes silêncios.
O diálogo é importante para acrescentar o vocabulário e estimular a fala das crianças. O
educador deve mostra-se atento, disposto, sensível e prestativo as solicitações das crianças,
além de criar novas brincadeiras e possibilitar a criatividade para novas invenções.

As brincadeiras devem se estender para além das salas de aula, explorando os espaços
externos e até mesmo para dentro da comunidade, mostrando as crianças os riscos e perigos
existentes em seu bairro e qual a melhor forma de lhe dar com estes, oferecendo-lhes
alternativas de melhoria ou dando espaços para que elas mesmas digam o que fazer.

Na pós-modernidade a criança deixa de ser tabula vazia, de quem espera o adulto


preencher seus vazios, e passa a ser co-construtor de conhecimentos, identidades e cultura,
participando das tomadas de decisões democráticas contribuindo para os recursos e para as
produções sociais.

A criança não precisa da autorização do educador para se opor a algo, pois desde o início
de sua vida a criança é rica e engajada com o mundo para começar a aprender.

O adulto muitas vezes solicitado a cuidar da criança cuida do seu próprio vir a ser, podendo
até se sentir responsável pela vida da criança. Esta responsabilidade é transformada em
cuidado preocupado de afastar tudo aquilo que atrapalha, abrindo um espaço para um
caminho sem frustrações. Além de encontrar na criança suas limitações e possibilidades.
A criança tem sua própria maneira de pensar, agir e vive o tempo todo exposto a riscos
(que é natural do ser mortal). Assim, o educador responsável pela criança se adianta ao
acontecimento, impedindo-as de correr maiores riscos, deve apenas proporcionar um olhar
estimulador que acompanha a criança no seu desenvolvimento para a exploração do mundo.

Por isso, a criança pequena deve ser levada a sério. Ativa e competente, ela tem ideias e
teorias que não só valem ser ouvida, como também merecem confiança e, quando for o caso
questionamento e desafio.

Ela não existe apenas no lar da família, mas também nos ambientes mais amplos. Ela não é
um inocente separado do mundo. Ao contrário disso, a criança pequena no mundo como ele
é hoje, incorpora este mundo, é influenciado por ele, mas também o influencia e constroem
significados.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Assim, é de direito de cada criança expressar-se e de viver plenamente sua infância,


considerando suas características, diversidade cultural, etnia, gênero e sexualidade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tudo que ocorre no processo de desenvolvimento infantil,
apresenta se em contextos e cenários que favorecem o ato
de aprender, que pode expressar-se de modo problemático
ou não, e, para ter uma melhor compreensão do aluno e de
como aprende ou não, pode-se dizer que, para uma criança
se desenvolver educacionalmente é preciso que haja ajuda
de todo os sujeitos competentes deste processo – aluno,
pais e professores. Pois, uma criança não aprende sozinha,
é pelo trabalho que envolve primeiramente a família e a
escola, no qual os educadores são a base fundamental, mas ANTONIA LEDA DO
não a única para o desenvolvimento de uma criança. NASCIMENTO XIMENES

Graduação em Pedagogia pela


Quando o professor for oportunizar qualquer atividade, Universidade Metodista de São
ele deve aproveitar cada momento e resgatar as culturas das Paulo (2012); Especialista em
crianças, ele não precisa de um momento especial ou uma Educação Infantil pela Faculdade
Campos Elísios (2018); Professora
atividade especial sobre este tema, para estar abordando de Educação Infantil no CEI
este assunto, ele pode contribuir para o desenvolvimento Vereador Rubens Granja
integral da criança e oferecendo oportunidades para
que sejam alunos conscientes, tendo assim, um melhor
aprendizado.

Este trabalho abordou de maneira simplificada algumas


estratégias condutivas do professor, bem como padrões
comportamentais evidenciados pessoais e de condutividade.
Entretanto, é de grande valia perceber que só acabaremos
com os preconceitos culturais valendo se do momento em
que a escola estiver disposta a renovar as suas práticas
pedagógicas. As atividades devem proporcionar o resgate
das vivências da cultura de cada indivíduo, explicando e
valorizando as diferenças – de raças, religiões, políticas,
econômicas – existentes dentro de cada grupo, de cada
sociedade.

449
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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KRAMER, S. A Política do pré-escolar no Brasil: a arte do disfarce. Rio de Janeiro: Achiamé,


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KONDER, Leandro. A questão da ideologia. São Paulo, Companhia das Letras, 2002

VANNUCHI, Aldo. Cultura Brasileira: O que é, como se faz. Loyola, SP 1999.

450
Revista Educar FCE - Março 2019

CONTRIBUIÇÕES DO LÚDICO
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Este artigo tem como base propor a discussão sobre a contribuição do lúdico
na educação infantil. As brincadeiras lúdicas ajudam na elaboração do saber, podendo ser
aprendidos como estado em que as crianças são capazes de ilustrar seus diferentes tipos de
sentimentos, assim sendo aos poucos entender a existência do outro. São as brincadeiras que
ajudam a aprimorar o contato entre as crianças, formalizando com que vivam momentos de
contribuição, grupos de trabalho e obediência. É necessário também explicar a importância
do educador nessa metodologia lúdica e ainda as melhoras que o brincar possibilita. Dessa
maneira, acredita-se disponibilizar uma leitura mais clara acerca da relevância do brincar na
vida da criança.

Palavras-Chave: Criança; Educação Infantil; Educador; Brincadeiras Lúdicas.

451
Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO uma nova pedagogia, já que são muitas as


dificuldades que as escolas têm em realizar
Nossa intranquilidade está direcionada em um trabalho de qualidade e são inúmeros os
analisar como as atividades lúdicas ajudam desafios que os educadores enfrentam para
no desenvolvimento e na aprendizagem das desempenharem suas atividades escolares
crianças da Educação Infantil. As atividades e tornarem-se formadores de opiniões. A
e os jogos são a essência da influência e problemática que norteou o estudo foi:
seu uso deixa um trabalho pedagógico que de que maneira a prática educativa lúdica
autoriza a produção do saber de um jeito pode atuar como ferramenta facilitadora à
contextualizado no mundo infantil. aprendizagem?

As atividades lúdicas se ministradas de forma O presente estudo pretende mostrar a


adequada, possibilitam condições acertadas prática educativa lúdica como ferramenta
ao desenvolvimento físico, emocional, motor facilitadora na aprendizagem da educação
cognitivo e social. São lúdicas as atividades infantil e a importância em adquirir outras
que ajudam as experiências completas do estratégias de ensino, insistindo nas
momento, agregando o ato, pensamento e mudanças metodológicas da educação
o sentimento. A criança se expressa e capta infantil como uma das ações primordiais no
conhecimentos quando está praticando ensino educacional e quais as contribuições
alguma atividade lúdica. das brincadeiras e dos brinquedos para o
desenvolvimento integral das crianças.
A criança é automotiva para qualquer atividade,
em especial a lúdica, sendo que tendem a entender
a importância de atividades lúdicas para seu
desenvolvimento, deste modo, favorece a procurar A CRIANÇA E O LÚDICO
pelo retorno e pela continuação de algumas
atividades. (Schwartz - 2002, p. 139-168) Crianças menores provam desejos inimagináveis
de serem realizados na hora e, para determinar
essa tensão, a criança rodeia-se num mundo de
As atividades lúdicas são importantes imaginação em ação (Minestrina, 2006, p.185-188).
no desenvolvimento das crianças, e
agentes facilitadoras dos relacionamentos Diante disso, a criança tem um incremento
e das experiências no âmbito escolar. psicológico e cultural que se descreve ao
Porque a mesma ajuda na imaginação e, psíquico. Isso assemelhasse que a criança se
essencialmente, as mudanças do sujeito em organiza como uma pessoa de individualidade
relação ao seu objeto de aprendizagem. própria e como participante de um grupo.
No sentido de vista filosófica o brincar é
Diante desse contexto, nota-se que apresentado como uma engrenagem para
ao longo dos tempos a educação tem contestar a racionalidade. No tocante ao
apresentado a necessidade de implantar psicológico, o brincar está exposto em

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Revista Educar FCE - Março 2019

tempo e do espaço escolar, como garantia da boa


qualquer desenvolvimento da criança nas “arte de ensinar”, e da ideia de que fosse dada à
varias formas de mudança de seu costume. criança a oportunidade de aprender coisas dentro
Do ponto de vista sociológico, a brincadeira de um campo abrangente de conhecimentos.
tem sido percebida como a forma mais pura
de introdução das crianças na sociedade; Por meio de materiais pedagógicos como
brincando, a criança entende as crenças, quadros, modelos e atividades diferentes,
costumes, regras, roupas do ambiente em como passeios, deveriam ser realizadas
que mora. com as crianças de acordo com suas idades,
auxiliando-as a desenvolver aprendizagens
Através do lúdico e de sua história são recuperados abstratas e a estimular sua comunicação oral.
os modos e costumes das civilizações. As
possibilidades que o ele oferece à criança são
enormes: é capaz de revelar as contradições
existentes entre a perspectiva adulta e a infantil O DOCENTE DA
quando da interpretação do brinquedo; travar
contato com desafios, buscar saciar a curiosidade EDUCAÇÃO INFANTIL
de tudo, conhecer; representar as práticas sociais,
liberar riqueza do imaginário infantil; enfrentar e A ideia de Alves (1987 – p.22) sobre
superar barreiras e condicionamentos, ofertar a
criação, imaginação e fantasia, desenvolvimento o lúdico está ancorada quando ele diz: O
afetivo e cognitivo. (Feijó - 1992, p.185) lúdico se baseia na atualidade, ocupa-se do
aqui e do agora, não prepara para o futuro
O exame de textos básicos da educação inexistente. Sendo o hoje a semente de qual
escritos por filósofos revela que, desde germinará o amanhã.
a Antiguidade, havia quem defendesse a
ideia da atividade do próprio aluno como Podemos dizer que o lúdico favorece a
propulsora de seu crescimento intelectual utopia, a construção do futuro a partir do
(como Sócrates, Santo Agostinho e presente. O profissional da educação tem
Montaigne) e o valor da brincadeira na como papel ser um condutor das brincadeiras.
aprendizagem (já destacado por Platão em A Sempre que possível o profissional da
República). educação deve ser participativo nas
brincadeiras e valer-se do momento para
Segundo Oliveira (2011, p. 37), Comênio perguntar com as crianças sobre as mesmas.
afiançava que:

O cultivo dos sentidos e da imaginação precedia O PAPEL DA LUDICIDADE


o desenvolvimento do lado racional da criança.
Impressões sensoriais advindas da experiência NA EDUCAÇÃO INFANTIL
com manuseio de objetos seriam internalizadas
e futuramente interpretadas pela razão. Também A criança, por meio da brincadeira reedita
a exploração do mundo no brincar era vista como
uma forma de educação pelos sentidos. Daí sua o discurso para fora e o coloca para dentro,
defesa de uma programação bem elaborada, com elaborando seu próprio pensamento. A
bons recursos materiais e boa racionalização do

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Revista Educar FCE - Março 2019

linguagem tem fundamental papel no ajudam fortemente no amadurecimento total


incremento cognitivo da criança à medida da criança e que todas as dimensões estão
que organiza seus conhecimentos e ainda essencialmente vinculadas: a sabedoria, a
auxilia na estruturação dos processos em meiguice, a mobilidade e a sociabilidade são
andamento. indivisíveis, sendo a meiguice a que auxilia a
energia fundamental para o avanço psíquico,
De acordo com Vygotsky (1984, p.97): intelectual, moral, e motriz da criança.

A brincadeira incorpora para as crianças uma “zona Se divertir é o mesmo que aprender, pois
de desenvolvimento proximal” que não é outra
coisa senão o intervalo entre o momento presente se divertir e o jogar constitui um espaço para
de desenvolvimento estabelecido pela capacidade pensar, tendo em vista que a criança progride
de entender autonomamente uma questão, e o no raciocínio, aperfeiçoa o pensamento,
momento presente de desenvolvimento potencia
analisada através da solução de um questionamento determina contatos sociais, compreende
sob a inclinação de um adulto ou com o auxílio de o meio, correspondem desejos, fortalece
um companheiro mais gabaritado. habilidades, entendimento e capacidade
de criar. As relações que o brincar e o
Mediante as atividades lúdicas, a criança jogar oportunizam, ajudam a suplantação
reedita muitas circunstâncias vividas em seu do egocentrismo, favorecendo o auxílio e
dia a dia, as quais, pela imaginação e pelo faz a afinidade, e ingressam particularmente
– de- conta, são reconduzidas. na divisão de jogos e brinquedos, novos
sentidos para uso e aproveitamento.
Esta interpretação do dia a dia se dá por
meio do arranjo entre experiências passadas
e novas experiências de capacitação e BRINCADEIRAS E
reprodução do real, de conclusão com suas BRINQUEDOS
estimas, necessidades, e paixões. Estas
situações são primordiais para a atividade Entre os séculos XIII ao XVII, na sociedade
criadora do homem. ocidental as pessoas tinham as crianças
como adultos pequenos, aos sete anos a
O desenvolvimento não é sequencial, criança começava um estágio importante da
mas vem em um crescimento gradual e sua vida ou iniciava na escola ou entrava no
neste percurso, a imaginação se fortalece. mercado de trabalho.
Uma vez que a criança brinca e aprende se
capacitando para um determinado tipo de Antigamente na sociedade, as brincadeiras
conhecimento. e jogos eram a melhor maneira de encurtar os
laços e permanecer a sociedade junta neste
As colaborações das atividades lúdicas no tempo. O brincar é a primeira inicialização
desenvolvimento integral mostram que elas do mundo que se aparece na vida da criança.

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Hoje a inicialização deste instante de brincar Por muito tempo nas escolas, isso era
esta se perdendo no tempo, porque os mostrado de maneira muito limitado pensava
caminhos cheios de tecnologia e robotizados somente em áreas particulares: matemática
levam aos seres humanos para caminhos (números), linguagem (ler escrever) não se
facilitados, seja no pensar como no agir. O dedicavam as dificuldades que incentivavam
professor tem que ser eficiente no processo o pensar lógico ou a capacidade de criar
de execução dos conceitos e significados por exemplo. O brincar se avulta em muitas
que são passados culturalmente. matérias do que outras em que a criança
não alcança. Portanto, o brincar auxilia nos
A imaginação aparece da ação momentânea obstáculos de aprendizagem.
da criança muito pequena e nunca aparece
nos animais. Na etapa pré-escolar manifesta Precisamos ser claro, que os brinquedos
na criança sonhos que não devem ser não necessitam ser usados como um artifício
prontamente realizados ou esquecidos, em dia de chuva, e sim como uma ferramenta
então ela e circunda num mundo de sonhos pedagógica.
e ilusório, o mundo dos brinquedos.
Segundo Kishimoto (Froebel, 1912c, p.55
O mundo da infância e do brincar é com apud KISHIMOTO, 1998, p. 68). Froebel,
certeza uma caixa de metáforas, na qual se filósofo do período romântico, conhecido
abre para o mundo imaginário, demonstrando como “psicólogo da infância”, foi o primeiro
um percurso metodológico. É o mundo em a colocar os jogos e brincadeiras como
que a criança se leva da realidade e voa pelas parte essencial do trabalho pedagógico,
asas da imaginação, maravilhando se com o para ele:
mundo colorido e abstrato das brincadeiras e
dos brinquedos, na análise do sentido literal A brincadeira é a atividade espiritual mais pura
do homem, neste estagio e ao mesmo tempo,
das coisas, de permanecer e de ficar. Uma das típico da vida humana enquanto um todo da
indispensáveis alterações é que hoje temos vida natural interna no homem e de todas as
consciência que nossas crianças se fortalecem coisas. Ela dá alegria, liberdade, contentamento,
descanso externo e interno, paz com o mundo...
cognitiva e carinhosamente a partir do brincar. A criança que brinca sempre, com determinação
auto - ativa, perseverando, esquecendo sua
Para Almeida (2011, p.1): fadiga física, pode certamente torna - se um
homem de terminado, capaz de auto sacrifício
para a promoção do seu bem e de outros.
A afetividade é estimulada por meio da vivência,
na qual o educador estabelece um vínculo de afeto
com o educando. A criança necessita de estabilidade
emocional para se envolver com a aprendizagem. O uso do brincar como objeto pedagógico
O afeto pode ser uma maneira eficaz de se chegar tem de ser olhado, com precaução e clareza.
perto do sujeito e a ludicidade, em parceria, um
carinho estimulador e enriquecedor para se atingir Brincar é um exercício necessariamente
uma totalidade no processo de aprender. lúdico. Como atividade infantil, pela qual há

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construção de conhecimentos, eles devem Para Kishimoto:


ser usados na escola.
A aquisição de novas informações depende do
método aplicado, sendo que as informações
Brincar é uma ação que acontece no devem ser transmitidas visando às descobertas
campo dos sonhos, senso assim, ao brincar, por meio da brincadeira, e, ocorre a partir
estar-se-á formalizando o emprego da dos conhecimentos prévios do educando.
“O ato lúdico representa um primeiro nível
linguagem simbólica. Poder brincar já é um de construção do conhecimento, o nível do
processo calmante. Na brincadeira a criança pensamento intuitivo, ainda nebuloso, mas que
trabalha-se cognitivamente, socialmente e já aponta uma direção” (1998, p. 144).
carinhosamente.
Entretanto não pode deixar a margem à
Ao passo que, ao brincar as crianças sistematização do ensino. O fato de brincar
concedem diversos significados aos objetos tem diversas funções, como um simples
definidos, uma colher vira um remo, sendo passa tempo à conquista de normas sócias,
um ato que ocorre por meio da metacognição. aquisição da linguagem, entre outras.
Quando a criança brinca, ela está exercitando
De acordo com Barros (2011, p.1): e especulando a sua cultura e as leis inclusas
nela.
Antigamente, as crianças não tinham tantos
brinquedos, como as de hoje e, por isso, tinham
que usar mais a criatividade para criá-los. Usando As culturas da infância não devem ser
tocos de madeira para fazer carinhos, pedrinhas, expressas de forma soltas e isoladas dos
legumes e palitos para fazer animais, palha para contextos sociais da vida das crianças, e sim
fazer bonecas, pano ou meias para fazer bolas.
como um contexto em volta do qual suas
relações sociais e culturais, consigam ser
As brincadeiras que alegravam expostas. Deste modo, é que amparamos
antigamente e que alegram hoje fazem parte as relações emocionais, sociais, culturais
da cultura popular. e materiais distintos das crianças que
representam exemplos diários das produções
As brincadeiras populares estão no das crianças.
momento em qualquer lugar e são passados
de geração em geração. O brincar também As brincadeiras de faz de conta, os jogos
auxilia para que as crianças consigam de construção e aqueles que possuem
desenvolver o ato de resolver problemas, regras, como os jogos de tabuleiros, jogos
ajudando para essa técnica a partir originais, etc., oferecem o aumento das
de três componentes: a conquista de sabedorias infantis por meio da atividade
nova informação, sua transformação ou lúdica. É o adulto, na figura do educador,
reaproveitamento e avaliação. por consequência, que, na escola infantil,
auxilia a estruturar o campo das brincadeiras

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Revista Educar FCE - Março 2019

na vida das crianças. Portanto é ele que Segundo o Referencial Curricular Nacional
estrutura sua base, segundo sua lembrança para a Educação Infantil (1998, p. 28):
de determinados objetos ou fantasias, da
demarcação e arranjo dos espaços e do A brincadeira é uma linguagem infantil que
mantém um vinculo essencial com aquilo que é
tempo para se divertir. o “não brincar”. Se a brincadeira é uma ação que
ocorre no plano da imaginação isto implica que
Por meio das brincadeiras os educadores aquele que brinca tenha o domínio da linguagem
simbólica.
devem olhar e constituir uma visão dos
métodos de desenvolvimento das crianças
em conjunto e de cada uma em particular, Portanto é necessário haver consciência
anotando suas aptidões de uso das da diferença que existe entre a brincadeira e
linguagens, bem como de suas aptidões o mundo real que lhe forneceu conteúdo para
sociais e dos recursos afetivos e emocionais se realizar. Nesse propósito, para brincar é
de que tem. necessário apoderar-se de elementos da
realidade atual de maneira que atribua novos
Brincando a criança descobre e entende o sentidos. Essa característica da brincadeira
mundo a sua volta, pela curiosidade explora ocorre por meio da articulação entre os
coisas e momentos novos, deste mundo sonhos e a imitação do mundo real. Toda
real tão pavoroso extraordinário ao mesmo brincadeira é uma reprodução transformada,
tempo. Comunicando ludicamente com o no esboço das emoções e das ideias, de uma
mundo real, por meio de desenhos, danças, realidade vivida antes. Isso quer dizer que
cantos, rabisco bagunça brincadeiras, etc, uma criança, por exemplo, bate com ritmos
a criança organiza uma harmônica sintonia nos pés e imagina - se subindo uma arvore,
entre os dois. está vendo sua ação pelo o que representa
da situação e por uma atitude mental e não
Entende-se que o brincar para a criança somente pela compreensão imediata dos
é algo essencial para o seu crescimento e objetos e situações.
aprimoramento, porque desta forma lúdica,
busca entender o mundo real da pessoa No momento das brincadeiras as crianças
adulta, brincando com ele abusivamente, de conseguem simbolizar a vida real mediante
várias maneiras simbólicas. do imaginário, usando o faz de conta
transformam - se em heróis, seres de
Na educação infantil todo o conhecimento outros planetas, animais diferentes, objetos
é adquirido mediante a forma lúdica, porque inanimados e assim conseguem experiências
assim a criança tem o prazer em aprender, de muitos conceitos quando estão brincando.
em virtude do entendimento que se mistura A brincadeira é uma linguagem infantil que
com a brincadeira. preserva um vínculo primordial com aquilo
que é o deixar de brincar. Se a brincadeira

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é um comportamento que aparece no plano Observamos educadores que se viram


do faz de conta isto provoca que aquele com lixo e materiais reciclados, fazendo
que brinca tenha o comando da linguagem trabalhos admiráveis. A dedicação e o
simbólica. encorajamento são primordiais quando o
tema é extremamente sério: brincar.
Para brincar é necessário que as crianças
tenham certa autonomia para decidir seus O brincar deixa, ainda, entender a lidar
amigos e os papéis que irão ter dentro de um com as emoções afetivas. Por meio do
determinado assunto e historia, do qual o brincar, a criança balanceia as tensões
desenvolvimento deriva somente da vontade originárias de seu mundo cultural, erguendo
de quem brinca. sua individualidade, sua identidade pessoal
e sua personalidade. Mas, é Piaget que nos
Piaget (1973 apud LA TAILLE, 1992, p.47): elucida o brincar, mostra uma dimensão
altamente evolutiva com as crianças de varias
A afetividade e a razão constituíram termos idades, mostrando habilidades específicas,
complementares:” a afetividade seria a energia,
o que move a ação é construída através da apresentando jeitos diferentes de brincar.
vivência, enquanto a razão seria o que possibilita
ao sujeito identificar desejos, sentimentos O brinquedo incita certas realidades. Uma
variados, e obter êxito nas ações. No entanto
quando a criança recebe afeto atenção carinho interpretação é algo presente no lugar de
ela consegue crescer e desenvolver - se com algo. Interpretar é atender a alguma coisa e
segurança e determinação. autorizar seu chamamento, mesmo em sua
exiguidade. O brinquedo põe a criança na
Pela chance de viver brincadeiras de faz de presença de réplicas: tudo o que tem no dia
conta e feitas por elas mesmas, às crianças a dia, na natureza e construções humanas.
devem incorporar seus pensamentos para Tem a permissão de dizer que um dos
a deliberação de problemas que lhes são propósitos do brinquedo é oferecer à criança
importantíssimos e significativos. Permitindo um suplente dos objetos reais, para que possa
a brincadeira, consequentemente, cria - se manuseá-los. Duplicando diversos tipos de
um espaço por intermédio do qual as crianças realidades, não mostrando simplesmente
conseguem mostrar o mundo e interiorizar objetos, mas sim, uma totalidade social.
uma assimilação particular sobre as pessoas,
os sentimentos e as muitas experiências. A realidade mostrada sempre adiciona
mudanças: tamanho, formas atenuadas e
Há algo importantíssimo para carregarmos simples, decoradas ou ainda, características
em nossa jornada pedagógica: não importa ou aspectos humanos a animais, deuses,
o tamanho ou a qualidade do material que elementos da natureza e constituintes da
temos, se nossa atividade na sala de aula não realidade em geral. Os brinquedos também
é incontestável. podem adicionar, um faz de conta preexistente

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feito por intermédio de desenhos animados, seriados de ficção científica com robôs, mundo da
televisão, mundo encantado dos contos de princesas, histórias de piratas e índios.

Ao apresentar realidades de faz de conta, os brinquedos exteriorizam, prioritariamente,


personagens na forma de bonecos, como brinquedos articulados ou super - heróis, misturados
de homens, animais, máquinas e monstros. O brinquedo recomenda um mundo de faz de conta
à criança e simboliza a visão que o adulto tem da criança. No caso da criança, o faz de conta
muda de acordo com a idade: para pré - escolar de três anos, está cheio de animismo; de 5 a
6 anos, constitui preferencialmente elementos da realidade. O adulto adota nos brinquedos
imagens que mudam por meio da sua cultura.

O brinquedo enquadra sempre alusão ao tempo de infância do adulto com interpretações


transmitidas pela memória e imaginação. O termo brinquedo não deve ser limitado à pluralidade
de sentidos do jogo, porque sugere criança e tem uma proporção material, técnica e cultural.
Como objeto, é sempre base de brincadeira. É provocante material para fazer provir o faz de
conta infantil, tendo vínculo justo com o nível de seu conhecimento.

Entre os pontos de vistas sobre o brincar, sobressai as de Froebel, o primeiro filósofo a explicar
seu uso para ensinar nas pré-escolares. Outros recorrem a deduções do autor para explicar o
aumento de escolas infantis, fazendo formas diferentes de projetar o lúdico na escola.

Compreende também que a criança precisa de inclinação para seu aperfeiçoamento. Os


programas froebelianos ajudam a incorporação de exercício orientado e livre mediante ao uso
de brinquedos e brincadeiras.

Nesta visão, a brincadeira pode deixar de ser apenas coisa de criança e passar a ser algo mais
séria, digna de ficar presente entre recursos didáticos qualificado de compor uma ação docente
vinculada com os alvos do processo de aprendizagem.

Portanto, mesmo nas formas de arte, como em outras maneiras do brincar, há uma riqueza
de melhorias e oportunidades criativas para que crianças e adultos mostrem seu pensamento e
contemple o talento dos outros.

É correto afirmar que todos, sem exceção, recebemos a arte, assim como a criamos, e quase
todos nós, sabemos do que gostamos e adoramos por intermédio de nossas experiências,
individualidades e eficiências, ou até mesmo sabe se mostrar de formas comunicáveis aos outros.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que na escola é admissível o educador se
desprender e usar os jogos como uma forma de aprofundar
os conteúdos pragmáticos. Para que isso seja possível
é necessário que o professor distingue momentos de
conteúdo com a atividade lúdica, mas, para isso, o jogo é
uma forma e não somente esta. Os jogos e os brinquedos
são hoje objetos importantes na Educação Infantil, desde
que coloquemos num argumento educativo que se apoia na
atividade e convívio entre elas.

É procurando novas maneiras de ensinar mediante do


lúdico que conquistamos uma educação de qualidade e APARECIDA LEMOS
que certamente possa ir ao encontro das importâncias e HOHMANN
inevitabilidade da criança. Porém é necessário dizer que
Graduação em Artes Visuais
uma atividade lúdica não é somente a soma de brincadeiras; pela Universidade Metropolitana
é, além disso, uma forma de ser, de ficar, de pensar e admirar de Santos – UNIMES (2012);
a escola. É necessário conhecer o mundo da criança, no seu Especialista em Educação
Inclusiva pela Faculdade Campos
sonho, na sua brincadeira e, a partir deste ponto, brincar Elíseos (2015); Professora de
com ela. Quanto mais espaços lúdicos, deixarão as crianças Ensino Fundamental II e Médio –
mais felizes, abertas as novas brincadeiras, criativas e Artes – na EMEF Professor Primo
Pascoli Melaré.
independentes.

Acreditamos que a ludicidade é importantíssima para o


aperfeiçoamento das competências motoras das crianças,
visto que, é por intermédio dos jogos e brincadeiras que
a criança se sente incentivada. Desta forma também,
a experiência da aprendizagem tende a ser um recurso
vivenciado divertidamente.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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FEIJO, O. G. O corpo e movimento: Uma psicologia para o esporte. Rio de Janeiro: Shape,
1992.

MINESTRINA V. e BEYER M. A. O lúdico – Uma forma de educar na Ed. Infantil. In. Revista
de divulgação técnico _ científica do ICPG. Vol.3, n.9, p.185 – 188, 2006.

NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil. Porto alegre: Propil, 1994.

OLIVEIRA, Zilma de M. R. de. Educação Infantil: fundamentos e métodos. 7 ed. São Paulo;
Cortez, 2011.

PIAGET, Jean. A formação simbólica da criança. Rio de Janeiro: Zhar, 1975.

VYGOTSKY, L. S. A formação sócia da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984

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Revista Educar FCE - Março 2019

O QUE É O FRACASSO ESCOLAR


E POR QUE IMPLEMENTAR UMA
NOVA PEDAGOGIA?
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo procurar explicar o que é o fracasso escolar
e como ele é associado não apenas ao desempenho negativo dos alunos no âmbito escolar,
mas também como acontece devido a problemas no processo de ensino-aprendizagem das
escolas, muitas vezes por falta de organização ou interesse por parte do corpo docente.
Como consequência deste fracasso recorrente, surgem as Pedagogias Diferenciadas que
visam trabalhar e entender as individualidades de cada aluno, como e porquê aprender o
que devem aprender e principalmente, focam em ensinar o que será útil e relevante na vida
escolar e social do aluno. Porém, ainda existem muitas questões acerca de como ou porquê
implementar uma nova pedagogia nas escolas, e é também sobre isso que discutiremos.

Palavras-Chave: Pedagogia Diferenciada; Fracasso Escolar; Aluno; Professor.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO Na pedagogia diferenciada há um tripé


inexistente até então no ensino tradicional:
A Pedagogia diferenciada surge para aluno – professor – saber, onde cada um
combater o insucesso escolar e pretende deles têm importância significativa na vida
organizar melhor o espaço e tempo dos escolar do aluno e este se torna também o
alunos para respeitar suas individualidades foco essencial do que será ensinado.
e traçar, a partir daí caminhos diferentes
que venham a desenvolver competências Cada linha pedagógica tem um porquê
comuns. e deve ser respeitada e compreendida. A
escolha por este tema se deu ao perceber que
A partir de estudos e novos programas a utilização das pedagogias diferenciadas tem
educacionais, tem-se notado que as crescido muito no Brasil e se espalhado por
pedagogias diferenciadas surgem para romper diversas escolas. De acordo com Clarapède
a visão de um ensino que considera que (1973) a escola sob medida acabou se
todos aprendem de forma igual, procurando tornando uma necessidade pois cada ano que
mudar esta formula, assim individualizando passa é mais difícil ensinar a mesma coisa, ao
cada aluno e seu aprendizado, tornando o mesmo tempo, para o mesmo aluno, afinal
ensino algo significativo e centrado em cada eles mudam constantemente. A preocupação
um. Diferente do que acontece no ensino em ajustar o ensino às individualidades
tradicional, onde todos os alunos aprendem dos alunos serve para respeitar cada um e
na mesma forma, ao mesmo tempo, e incluí-los ao ensino de forma mais humana e
precisam obter resultados de que este correta, cada um ao seu tempo.
conhecimento está sendo absorvido.
O presente artigo tem como objetivo
A preocupação em ajustar o ensino explicar o que é a Pedagogia Diferenciada
dentro das características individuais dos e porquê se fala tanto em adaptar o ensino
alunos diz respeito não só ao bom senso e focá-lo no aluno procurando assim
pedagógico, mas também é uma exigência conscientizar professores e escolas que
de igualdade diante da cultura e da existem diversas maneiras de ensinar e
aprendizagem, portanto, promover essas manter o aluno e o professor como foco.
pedagogias diferenciadas é um desafio que
envolve reflexão, conhecimento e mudança
na forma de pensar e ensinar, tendo em O FRACASSO ESCOLAR
vista que essas mudanças nos alunos podem
demorar a serem vistas, mas que serão bem O fracasso escolar pode ser, muitas vezes,
desenvolvidas e devem ser colocadas em gerado no interior das escolas partindo de
prática o tempo todo. uma falta de organização pedagógica, de uma
estruturação fraca e de práticas pedagógicas

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Revista Educar FCE - Março 2019

que já não funcionam mais tão bem. Porém, Segundo Perrenoud (1997), o fracasso
ainda hoje, as escolas buscam explicações escolar é a consequência de dificuldades
para este fracasso nos alunos ou em suas de aprendizagem, de uma falta objetiva de
famílias disfuncionais ou em seus problemas conhecimentos e competências, acreditando
sociais e pessoais e não focam o problema que todos devem ser e aprender igualmente,
no que realmente importa: o funcionamento portanto é necessário trabalhar com a
pedagógico da escola. realidade constante em que vivemos e
transformá-la em algo favorável para todos,
Podemos dizer que, por diversos motivos, procurando levar em consideração as
nem sempre a escola consegue atingir seus diferentes realidades em uma mesma sala de
objetivos institucionais e acaba se deparando aula.
com situações onde os alunos não conseguem
cumprir com o que se é esperado deles. Por Há uma luta para vencer esse insucesso
este motivo há o equívoco em acreditar que escolar que afeta diretamente as
este seja o porquê do fracasso escolar nas representações e práticas dos professores
escolas, sem levar em consideração suas por isso o corpo docente precisa proporcionar
realidades e dificuldades individualmente. condições adequadas às diferentes
características dos alunos e utilizar-se de
Para que haja um envolvimento da parte estratégias diferenciadas para alcançar o
dos docentes, o professor deve tomar uma objetivo proposto.
atitude, analisar seus alunos e os tipos de
dificuldades que eles podem ter, explorar Mas afinal, o que estaria causando esse
avaliações formativas que os ajudem no fracasso escolar? Podemos dizer que é
processo de aprendizagem, que pense em uma mistura da avaliação do professor
novas práticas de ensino, estando sempre junto a seu método de ensino, assim como
aberto a novas ideias que possam ajudá-lo. a estruturação institucional da escola ou
seria um problema causado pelo sistema
Mesmo que uma didática proposta seja educacional como um todo? O que se pode
aplicada à uma sala toda, será tão adequada concordar é que tudo depende do ponto de
quanto inadequada para pelo menos metade vista analisado e o mais importante aqui é
dos alunos. Isso se dá pelo fato de que uma entender que deve haver o descentramento
sala não aprende da mesma forma e não do problema apenas no aluno e começar a
alcança os mesmos resultados envolvendo avaliarmos também a escola como um todo,
suas habilidades afetivas, cognitivas, sociais afinal, se houve mesmo um fracasso escolar,
e motora, limitando assim o alcance destes o aluno não pôde ter causado isso sozinho
alunos para um “sucesso” escolar. tendo sofrido também com as consequências
da escola.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Podemos dizer então, que a dificuldade aprendizado, individualizando assim seu


de aprendizagem acaba gerando o insucesso percurso de formação.
escolar surge quando algo atrapalha o laço
entre o aluno e o aprender. E é justamente “Adaptar a ação pedagógica ao aprendiz não
é renunciar a instruí-lo nem abdicar dos objetivos
para diminuir o índice de insucesso e fracasso essenciais. Diferenciar é lutar para que as
escolar e com o intuído de acolher o aluno desigualdades diante da escola atenuem-se e para
em suas dúvidas e dificuldades que surgem que o nível de ensino se eleve simultaneamente.
(Perrenoud, 1997, p.7).”
as Pedagogias Diferenciadas, procurando
trazer novas ideias e objetivos tanto para o
benefício das escolas como dos alunos. A partir dos resultados de uma pesquisa
realizada na década de 1970, o professor
pode levar seus alunos ao sucesso se
PEDAGOGIA DIFERENCIADA: conseguir produzir uma diferenciação
O QUE É? pedagógica ao ajustar sua forma de ensinar
e os meios utilizados.
A Pedagogia Diferenciada implica em estar
atento às diferenças e ao mesmo tempo gerar Para Tomlinson, essa diferenciação
oportunidades iguais para todos baseadas pedagógica ocorre sempre que o professor
em suas diferenças. Para Gomes (2011, p. 47) responde às diversidades de seus alunos
“diferenciar é estabelecer diferentes vias”. e adapta ou modifica as aulas para criar
uma situação de aprendizagem favorável e
Quando falamos de Pedagogias possível. Os tipos de Pedagogia diferenciada
Diferenciadas falamos sobre igualdade foram surgindo e crescendo com o passar dos
o tempo todo e em todos os contextos, anos, ampliando ainda mais essa estratégia.
porém o tratamento de igualdade na sala
de aula é, na verdade, uma desigualdade na
aprendizagem dos alunos e os diferencia e MAS POR QUE DIFERENCIAR?
separa. Nos últimos anos têm-se procurado
introduzir as pedagogias diferenciadas nas Levando em consideração que cada aluno
escolas, procurando uma transformação que possui interesses, necessidades, pontos
responda bem às expectativas e necessidades fortes e fracos, estilo e ritmos diferentes
de cada aluno para que todos consigam atingir torna-se essencial essa diferenciação para
os objetivos propostos pelos professores e que o aluno compreenda melhor o que lhe é
impostos pela sociedade. Mas afinal, o que é ensinado e sinta-se valorizado pelo professor
essa Pedagogia diferenciada? que trabalha com essas individualizações.

Para Perrenoud (1997), a pedagogia Na Pedagogia Diferenciada procura-se


diferenciada foca no aluno e em seu integrar novos tutorias entre alunos e fazer

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Revista Educar FCE - Março 2019

com que eles colaborem nos estudos e nas instaurar uma nova pedagogia exige pesquisa
estratégias de aprendizagem. O professor e conhecimento, além de ter em mente que
aqui se torna um organizador de respostas as novas metodologias enfrentam muitos
enquanto os alunos discutem e trabalham problemas: como o aluno realmente aprende?
entre si para o entendimento da matéria. Como é possível criar uma relação entre o
O aluno se torna um autor ativo de sua saber e o instaurar dentro das instituições?
aprendizagem e parceiro do professor. Qual deve ser a relação professor/aluno?
Essas são questões que devem ser pensadas
Para que ocorra a Pedagogia Diferenciada e resolvidas antes de qualquer escola
é importante ter em mente que as aulas tentar implementar uma das pedagogias
devem ser pensadas para que os alunos diferenciadas em seu sistema de ensino,
aprendam coisas reais e que possam ser afinal, a pedagogia diferenciada deve servir
aplicadas em sua rotina, além disso, as aulas tanto para os alunos e seu aprendizado
devem atender à diversidade dos alunos e quanto para os professores que trabalharão
respeitar suas diferenças. com ela.

Para Tomlinson, há três motivos para que Para que seja possível implementar a
a pedagogia diferenciada aconteça: Pedagogia Diferenciada nas escolas é preciso
colher informações sobre os alunos em relação
1. Tornar a aprendizagem acessível ao seu conhecimento e competências, sobre
para todos, independentemente de suas o que ainda não estudaram e seus maiores
características cognitivas ou pessoais; interesses. Para que essa implementação seja
2. Tornar a aprendizagem algo eficaz e; realizada com sucesso, a UNESCO (2004)
3. Motivar os alunos a aprender sugere três perguntas básicas baseadas na
ativamente. técnica KWL:

Estudos também mostram que os principais 1. O que eu já sei? (K – What do I


motivos para aderir à uma pedagogia KNOW)
diferenciada é que a nossa inteligência varia, 2. O que eu quero saber? (W – What do
nosso cérebro tem sede de significação e I WANT to learn?)
conseguimos aprender melhor com desafios 3. O que eu aprendi? (L – What did I
realistas. Esses princípios são essenciais para LEARN?)
o professor planejar suas aulas e entender
melhor seus alunos e o que esperar de cada Segundo especialistas é acerca das
um. respostas à estas perguntas que será
possível determinar o interesse dos alunos
Portanto, essa diferenciação vem, na e dedicar-se a trabalhar com uma Pedagogia
verdade, para ajudar e incluir. Porém, Diferenciada.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Porém, esta não é uma fórmula que dará por obstáculos ou incidentes que podem
certo com certeza, é apenas uma maneira de acontecer e nos forçam a tomar decisões
trabalhar com o que os alunos se interessam mais importantes. O acompanhamento dos
e em procurar integrá-los no mundo escolar, alunos da parte do professor também é algo
tornando-os ativos em toda sua vida que não exige muito e que, portanto, se
acadêmica. não há um erro ou problema à vista, não há
porquê mudar a maneira que está utilizando
para ensinar. Isso não quer dizer que o
AFINAL, COMO professor esteja negligenciando seus alunos
IMPLEMENTAR UMA ou sua aula, mas apenas que não há motivo
para que aja diferente.
PEDAGOGIA DIFERENCIADA
NAS ESCOLAS? Porém, mesmo que o problema não
seja visível, é algo para o qual os olhos do
Julgando que o fracasso escolar realmente professor devem estar sempre atentos,
se dá por conta das práticas pedagógicas procurando a todo momento se desafiar e
das escolas e que, portanto, deve-se mudar aceitar que às vezes mudanças são boas e
a maneira de ensinar, fica a dúvida: quando beneficentes para ambos aluno e professor
sabemos se um aluno deve avançar ou regredir e, portanto, ser capaz de praticar um ensino
em alguma atividade ou matéria? Como mais estratégico e focado.
julgar se ele está realmente aprendendo
ou perdendo tempo? Para Perrenoud, esse Por outro lado, uma decisão frágil pode
problema “é uma situação didática e toma colocar todo este processo em um estado de
forma de uma regulação interativa e de uma erro constante. Como falamos anteriormente,
diferenciação integrada, fundada sobre os é importante fazer perguntas aos alunos
obstáculos encontrados e outros dados”. que seremos capazes de responder pois
saber suas dúvidas e questões que devem
Os desafios que existem acerca do ser trabalhadas é essencial para que haja
rendimento e interesse dos alunos são uma progressão no método de ensino.
didáticos, mas suas restrições são um A problemática nessa situação precisa
problema da gestão. Propor novas ideias e distinguir claramente os conhecimentos e
novas pedagogias para serem implementadas procedimentos que não são verbalizados ou
pode ser muito difícil. conscientizados através de uma observação
formativa que, segundo Perrenoud, possui
Primeiro existe a dificuldade de três competências, e é importante lembrar
encontrar um meio termo entre como agir que estes tipos de observação e registro
ativamente e passivamente. Normalmente devem ser complementares.
nosso funcionamento mental é ativado

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Revista Educar FCE - Março 2019

1. Observar para regular uma atividade que já está em andamento; algo que podemos
chamar de regulação interativa, que seria uma diferenciação interna de determinada
situação (Allal, 1988);

2. Observar para que possamos orientar os alunos a outros cenários de aprendizagem


dentro do mesmo espaço/tempo de formação; o que também pode ser chamado de
diferenciação interna em um dispositivo ainda mais amplo;

3. E, observar para que possamos orientar os alunos para outros espaços/tempos de


formação; o que podemos chamar de diferenciação interna a um ciclo de aprendizagem.

Claro que, além de realizar essa observação formativa, os professorem devem continuar
atentos às necessidades dos alunos e às mudanças que podem julgar ser necessárias.

Implementar uma nova pedagogia nas escolas vai além de apenas estudar e entender
novos conceitos, deve-se entender para que esta pedagogia serve e como ela será aplicada
aos seus alunos e desenvolvida pelos professores. A mudança de um tipo de ensino para
outro deve ser progressiva e natural para que todos aproveitem esta mudança de maneira
positiva.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido ao recorrente fracasso escolar, viu-se uma
necessidade em implementar novas formas de ensino e
aprendizagem e foi a partir de estudos sobre as Pedagogias
Diferenciadas que as escolas começaram a agir para superar
este fracasso.

O fracasso escolar acontece por diversos motivos e nem


sempre está ligado apenas ao desempenho dos alunos e, o
que foi sendo observado nos últimos anos, é que para que
haja um melhoramento no ensino e na maneira que o aluno APARECIDA ROLIM DA
adquire o conhecimento transmitido pelo professor, deve SILVA RUBINHO
haver não só a vontade de inovar e entender as dificuldades
Graduação em Letras pela
dos alunos como também compreendê-los como indivíduos Faculdade Campos Elíseos (2019);
e ensinar temáticas que vão além da escola. Especialista em Pedagogia pela
Faculdade Anhanguera (2013);
Professora de Educação Infantil e
As pedagogias diferenciadas surgem para diferenciar e ao Ensino Fundamental I - na EMEI
mesmo tempo incluir os alunos a partir de seus conhecimentos Dinah Silveira de Queiroz.
prévios, interesses e capacidades. Uma mesma sala de aula
possui diversos alunos que devem aprender a mesma coisa,
mas isso não significa que todos tenham o mesmo ritmo ou interesse que o outro, e é
justamente por isso que a implementação das Pedagogias Diferenciadas se torna essencial
no ensino hoje em dia.

Claro que, para que essa implementação seja realizada com sucesso as escolas devem
analisar seus alunos, suas dificuldades e interesses e fazer perguntas pertinentes ao que se
quer mudar e diferenciar. Não basta querer uma Pedagogia Diferenciada porque é diferente,
mas sim porque os alunos devem ser o foco total do ensino e integrá-los de maneira geral
acaba sendo a melhor escolha.

A mudança de uma pedagogia tradicional para uma diferenciada é trabalhosa e exige muito da
parte docente da escola, por isso deve ser pensada com antecedência e procurar integrá-la aos
alunos e professores de forma natural e progressiva, visando o aceitamento de ambas as partes.

Portanto, faz se necessário entender e compreender como e porquê introduzir uma


Pedagogia Diferenciada e entender como sua implementação será positiva para os alunos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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aprendizagens significativas em crianças do contexto pré-escolar? 2016. Tese de Doutorado.

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br/conteudo/artigos/direito/fracasso-escolar/26427>. Acesso em: 14 de mar. 2019.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A INFLUÊNCIA DA LUDICIDADE PARA


O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DO
ALUNO COM MÚLTIPLA DEFICIÊNCIA.
RESUMO: A temática refere-se à influência de atividades lúdicas (jogos, brinquedos e
brincadeiras) no desenvolvimento global do aluno com múltipla deficiência na esfera
social, motora e cognitiva. A ludicidade pode ser uma possibilidade inovadora como
estratégias de aprendizagens. Elas baseiam-se em brincadeiras que despertam o desejo
de aprender brincando. Por isso, são consideradas importantes no processo de aquisição
e desenvolvimento de habilidades. Reconhecemos que as atividades lúdicas facilitam de
forma significativa na melhora da motricidade global e fina, no processo de aquisição de
conhecimento e na sociabilização de crianças com múltipla deficiência. Nesse contexto,
foram criados jogos lúdicos que desperta e instiga a imaginação; criatividade; memória;
socialização; expressão corporal e motora. Espera-se que essas atividades lúdicas possam
contribuir para o desenvolvimento global da criança com múltipla deficiência; ampliar a
compreensão e entendimento do outro; e de estreitar laços de afetividade.

Palavras-Chave: Múltipla Deficiência; Ludicidade; Desenvolvimento Global; Comunicação;


Educação Especial.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO bibliográfica em livros e pela internet,


tendo como referencial teórico, títulos
Este estudo diz respeito à influência da sobre ludicidade aplicada em crianças com
ludicidade para o desenvolvimento global deficiência.
do aluno com múltipla deficiência, definida
segundo Brasil. MEC (2002), como a criança Espera-se que este trabalho venha
que: contribuir para que crianças com múltipla
deficiência possa desenvolver-se suas
“…tem mais de uma deficiência associada. habilidades gerais com o apoio da ludicidade.
É uma condição heterogênea que identifica
diferentes grupos de pessoas, revelando
associações diversas de deficiências que FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
afetam, mais ou menos intensamente, o SOBRE DEFICIÊNCIA
funcionamento individual e o relacionamento
social “(MEC/SEESP, 2002). MÚLTIPLA

Este trabalho busca identificar a A investigação empreendida neste trabalho


importância das atividades lúdicas que perpassa por uma análise que necessita do
colaboram no desenvolvimento de entendimento claro do que se entende por
habilidades em crianças com deficiência deficiência múltipla. Para tal é apresentada
múltipla em seu desenvolvimento motor, a seguir a concepção do Ministério de
socialização e cognição. Educação.

Justifica-se, na compreensão que O termo deficiência múltipla tem sido


atividades lúdicas favorecem de forma utilizado, com frequência, para caracterizar
significante na melhoria da motricidade o conjunto de duas ou mais deficiências
global e fina, no processo de aquisição de associadas, de ordem física, sensorial, mental,
conhecimento e na sociabilização de crianças emocional ou de comportamento social. No
com múltipla deficiência. entanto, não é o somatório dessas alterações
que caracterizam a múltipla deficiência,
O objetivo deste estudo é analisar mas sim o nível de desenvolvimento, as
a contribuição da ludicidade para o possibilidades funcionais, de comunicação,
desenvolvimento global do aluno com interação social e de aprendizagem que
múltipla deficiência, tais como: jogos, determinam as necessidades educacionais
brinquedos e brincadeiras. dessas pessoas (MEC, 2006a, p. 11).

Para a realização, seguiu-se uma É importante destacar ainda as condições


metodologia orientada pela pesquisa médicas de crianças com deficiência

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Revista Educar FCE - Março 2019

múltipla, conforme estabelece o Ministério • deficiência física associada a


da Educação (MEC, 2006b, p.11). transtornos mentais;
• Sensorial e psíquica:
1. Apresentam mais dificuldades no • deficiência auditiva associada à
entendimento das rotinas diárias, gestos ou deficiência mental;
outras habilidades de comunicação; • deficiência visual associada à
deficiência mental;
2. Demonstram dificuldades acentuadas • deficiência auditiva associada a
no reconhecimento das pessoas significativas transtornos mentais.
no seu ambiente; • Sensorial e física:
• deficiência auditiva associada à
3. Realizam movimentos corporais sem deficiência física;
propósito; • deficiência visual associada à
deficiência física;
4. Apresentam resposta mínima a barulho, • Física, psíquica e sensorial:
movimento, toque, odores e/ou outros • deficiência física associada à
estímulos. deficiência visual e à deficiência mental;
• deficiência física associada à
Ainda no que concerne a definição do que deficiência auditiva e à deficiência mental;
seja deficiência múltipla, o programa TECNEP • deficiência física associada à
(2008) afirma que deficiência múltipla: deficiência auditiva e à deficiência visual.

é a deficiência auditiva ou a deficiência Esta mesma autora ao tratar das


visual associada a outras deficiências (mental causas da deficiência múltipla esclarece
e/ou física), como também a distúrbios que ela origina-se em fatores pré-natais,
neurológicos, emocionais, linguagem e perinatais ou natais e pós-natais. O quadro
desenvolvimento educacional, vocacional, a seguir, relaciona condições diversas
social e emocional, dificultando a sua que provocam múltipla deficiência. Os
autossuficiência. exemplos citados são alguns dentre muitos
outros e caracterizam condições individuais
Sem esgotar o assunto, cabe destacar diferenciadas de gravidade. Para o autor,
que a deficiência múltipla, de acordo com muitas das deficiências mencionadas nesse
Carvalho (2000, p.54), manifesta-se nas quadro podem ser evitadas, desde que haja
seguintes dimensões: iniciativas familiares e governamentais.

• Física e psíquica:
• deficiência física associada à
deficiência mental;

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Revista Educar FCE - Março 2019

Cabe salientar que o conhecimento sobre a deficiência múltipla, conforme afirmação de


Carvalho (2000, p 60),
[...] serve de base para evitar maior interferência adversa na vida da pessoa e reduzir seus efeitos sobre ela, bem
como mediar à promoção humana. Ajuda a prevenir deficiências decorrentes das já existentes e a instrumentalizar o
indivíduo para atuar eficientemente frente às demandas ambientais.

A família, a escola e a comunidade têm um papel relevante nesse processo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

JOGOS LÚDICOS e autoestima. Através deles desenvolvem-


se habilidades como a atenção, a memória, a
É apresentada a seguir a definição imitação e a imaginação. Segundo Dallabona
Kishimoto apud Froebel (1988, p.74) sobre e Mendes (2004, s/ p):
jogos lúdicos:
As técnicas lúdicas fazem com que a criança
É a qualidade daquilo que estimula através da aprenda com prazer, alegria e entretenimento,
fantasia, do divertimento ou da brincadeira, trata- sendo relevante ressaltar que a educação lúdica
se de um conceito bastante utilizado na educação, está distante da concepção ingênua de passatempo,
principalmente a partir da criação da ideia de “jardim brincadeira vulgar, diversão superficial.
de Infância,” bem como o uso de jogos e brinquedos,
que deviam ser organizados e sutilmente dirigidos
pelo professor.
Além do mais, estudiosos reforçam a
Outra concepção relevante refere-se o relevância do ato de brincar na contribuição
significado do termo brincar, que pode ser para o aumento da atenção da criança
definida, por Ferreira (2007) na seguinte perante o brinquedo, como
elucidação:
Brincadeira é o ato ou efeito de brincar, é o
Brincar é uma necessidade básica assim como momento em que se utilizando o brinquedo, a
é a nutrição, a saúde, a habitação e a educação, criança brinca. Na brincadeira a atenção da criança
brincar ajuda a criança no seu desenvolvimento se prende ao brinquedo e ao ato de brincar, explorar
físico, afetivo, intelectual e social, pois, através integralmente os atributos do objeto da brincadeira,
das atividades lúdicas, a criança forma conceitos, como, por exemplo, sua cor, forma, sua textura, sua
relaciona ideias, estabelece relações lógicas, espessura, sua consistência, seu odor seu sabor,
desenvolve a expressão oral e corporal, reforça suas possibilidades, utilizando-se para isso dos
habilidades sociais, reduz a agressividade, integra-se sentidos do corpo como um todo.
na sociedade e constrói seu próprio conhecimento.
Os jogos lúdicos são de grande
Nas explanações do autor, percebe-se prestabilidade para o processo de ensino-
que a ação de brincar é uma necessidade aprendizagem, servem como estratégias
intrínseca e inata ao ser humano. Faz-se pedagógicas para potencializar as
necessário as atividades recreativas para aprendizagens e o desenvolvimento das
que as crianças possam desenvolver suas crianças.
habilidades socioemocionais, psicomotoras
e cognitivas. Segundo Kishimoto (1999, p. 13):

Os jogos lúdicos ainda possuem importante O jogo como promotor da aprendizagem e


do desenvolvimento passa a ser considerado nas
papel no desenvolvimento humano, pois práticas escolares como importante aliado para o
eles refletem as formas que se pensa e ensino, já que colocar o aluno diante de situações
age. São de extrema importância para o lúdicas como jogo pode ser uma boa estratégia
para aproximá-lo dos conteúdos culturais a serem
desenvolvimento da identidade, autonomia
veiculados na escola.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Os jogos lúdicos contribuem em diversos


aspectos na evolução das capacidades das Verifica-se que os jogos lúdicos contribuem
crianças. Destaca-se para o progresso dos de forma singular para o progresso global da
processos mentais. Outro aspecto substancial criança. Porém é recomendável que se crie na
refere-se à possibilidade de compreensão escola um lugar para refletir sobre as práticas
dos desejos das crianças com múltipla pedagógicas que envolvem o universo
deficiência. Os jogos lúdicos colaboram de lúdico. Conforme defende (BRENELLI apud
forma primordial para o entendimento da PAVANELLO; CAWAHISA, 2010, p. 9):
linguagem receptiva e expressiva feita pelo
locutor e receptor. Os progressos que as crianças podem apresentar
por meio de uso de jogos somente acontecem
quando, em sala de aula, se cria um “espaço para
Os jogos favorecem o domínio das habilidades pensar”. Ou seja, os desenvolvimentos cognitivo,
de comunicação, nas suas várias formas, facilitando afetivo e pedagógico só acontecerão se a criança
a autoexpressão. Encorajam o desenvolvimento encontrar na escola um lugar para experimentar
intelectual por meio do exercício da atenção, o prazer da atividade lúdica, o domínio de si, a
e também pelo uso progressivo de processos criatividade, a afirmação da personalidade e a
mentais mais complexos, como comparação e
valorização do eu.
discriminação; e pelo estímulo à imaginação. Todas
as vontades e desejos das crianças são possíveis de
serem realizadas através do uso da imaginação, que Foram criados jogos lúdicos que desperta e
a criança faz através do jogo. (GIOCA, 2001, p.22)
instiga a imaginação; criatividade; memória;
socialização; expressão corporal e motora.
As crianças com múltipla deficiência devem Espera-se que essas atividades lúdicas
ser estimuladas o mais precocemente possível possam contribuir para o desenvolvimento
para que possa promover o desenvolvimento global da criança com múltipla deficiência;
das percepções. Estas são aliadas para o ampliar a compreensão e entendimento do
desenvolvimento de mecanismos cognitivos. outro; e de estreitar laços de afetividade.
Os espaços lúdicos são imprescindíveis para
aguçarem as percepções sensoriais como
esclarece a afirmação de Machado, (2005, p. 34):

A criança portadora de necessidades educativas


especiais precisa desde muito cedo, estar com outras
crianças e aprender a desfrutar dessa oportunidade que
se constitui em um dos principais objetivos da inclusão.
Considera-se como espaços lúdicos de inclusão
aquele que contém equipamentos e brinquedos que
favoreçam a integração entre as crianças apesar de suas
diferenças. As crianças de deficiência sensorial física e/
ou mental poderão desfrutar desse espaço. Brinquedos,
jogos e brincadeiras ajudam as crianças portadoras de
deficiência a se prepararem socialmente 36 quando
estas por sua vez frequentam uma escola comum.

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Revista Educar FCE - Março 2019

BRINCADEIRA COM BOLAS DE SABÃO


Objetivo:

Promover a interação e socialização entre professor-aluno, estimular a criatividade e


trabalhar a coordenação motora e a expressão corporal. Instigar a habilidade cognitiva.

Materiais:

- Artefato de haste de bambu com lã;


- Água;
- Detergente;
- Recipiente Plástico.

Desenvolvimento:

Os alunos segurarão as hastes de bambu uma em cada mão. Depois, mergulharão a lã no


recipiente plástico, onde contém a mistura de detergente e água. Eles terão que levantar as
hastes com a película de sabão já formada entre o circulo de lã.

Feito esse procedimento, eles movimentarão para frente e para trás até que desprenda a
bola de sabão, também poderão assoprar ou aguardar o vento para o mesmo efeito. Podem
estourar as bolas de sabão, tentar manuseá-las ou apreciar o seu deslocamento.

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Revista Educar FCE - Março 2019

BRINCADEIRAS COM BARQUINHOS DE PAPEL E COM


AVIÕEZINHOS
Objetivo:

Promover a interação e socialização entre professor-aluno, estimular a criatividade e


trabalhar a coordenação motora e a expressão corporal. Instigar a habilidade cognitiva.

Materiais:

Barquinhos
- palitos de sorvete;
- caixinhas de suco recicladas;
- tesoura;
- bastão de cola quente;
- pistola de cola quente.

Aviõezinhos
- papel de sulfite colorido.

Desenvolvimento:

Num primeiro momento, conta - se histórias com barcos e aviões, em seguida são
confeccionados com dobraduras.

Os aviões de papel são soltos pela turma em que o aluno faz parte em um ambiente
aberto.

Os barcos são colocados em uma bacia com água e os alunos são estimulados a assoprar
os barcos, fazer ondas com a água para observar como os barcos se movimentam.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse estudo é importante para a formação profissional,
bem como para aumentar os conhecimentos do tema à
prática educativa lúdica: funcionando como ferramenta para
facilitar na educação infantil e de possibilitar ao professor e a
escola propostas de metodologias diversificadas por meio dos
jogos didáticos e brincadeiras. Também, da necessidade em
trabalhar novas metodologias de ensino que ajude despertar
o interesse do aluno contribuindo para a formação do mesmo.

Dessa maneira, o processo de desenvolvimento ARCÂNGELO ROSA


é necessário para que diferentes habilidades sejam JUNIOR
despertadas para desenvolver ações afetivas, cognitivas e
Graduação em Ciências Biológicas
corporais, pois isso fortalece as relações entre educadores pela Universidade Braz Cubas
e educandos através de atividades práticas, sendo que, (2000); Graduação em Pedagogia
é com brincadeiras que as crianças desenvolvem desde pela Uninove (2011); Professor de
Ensino Fundamental II na EMEF:
o seu nascimento até a fase adulta as relações afetivas Des. Achilles de Oliveira Ribeiro.
que são constituídas e possibilitam noções de limites e
espaços que poderão ser aprimoradas de acordo com seu
desenvolvimento.

O estudo sobre a utilização do lúdico na educação


infantil poderá abrir um caminho no cotidiano escolar
para que ocorra a reunião dos vários aspectos do ser
humano, tais como: corporal, emocional, mental e espiritual
proporcionando para os envolvidos, no caso professor e
alunos se conhecerem melhor, além de conseguir aprender
lidar melhor com as próprias dificuldades e com as do outro.

Por essa razão, o professor que costuma utilizar


as brincadeiras no seu cotidiano escolar reconhece a
importância destas por si só e proporciona aos seus alunos
a sua vivência com essas brincadeiras. Já, aquele professor
que não se entrega às atividades, que não tem que não gosta
de brincar, terá maior dificuldade em vivenciar o lúdico e em
ter um olhar sensível para a prática lúdica dos seus alunos,
impossibilitando-os de vivenciá-lo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

É importante compreender que atividades lúdicas nas aulas não são apenas uma brincadeira,
e sim um momento de socialização e aprendizado. O lúdico para ser significativo, quando
acaba tendo pontos em comum com a realidade do educando não sendo algo isolado. Assim,
a tarefa do professor é a de conciliar os objetivos pedagógicos com o lúdico a ser introduzido.

O professor deve ter consciência das vantagens do lúdico, e com isso adequará a
determinadas situações de ensino, podendo utilizá-las de acordo com suas necessidades.
Contudo, as aulas lúdicas devem ter a função de transmitir os conteúdos e combiná-los,
pois, dessa maneira, o aluno conseguirá perceber que não está apenas brincando em aula,
mas que estará armazenando conhecimentos, melhorando o desenvolvimento pessoal e
sociocultural, que é algo indispensável para o desenvolvimento da educação.

Por isso, seria interessante a realização de trabalhos futuros que investiguem um número
maior de estudantes e instituições, para que se obtenha informações importantes sobre
o assunto pesquisado. É importante constatar que a aprendizagem irá ocorrer, mas seria
relevante analisar a utilização do lúdico durante a aprendizagem e ao mesmo tempo conseguir
alcançar o controle emocional e o domínio afetivo dos envolvidos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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482
Revista Educar FCE - Março 2019

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
RESUMO: A história de analfabetismo no Brasil remonta ao período colonial. Desde há
muito tempo o país vem lutando para a erradicação deste problema social. O contexto do
analfabetismo está rodeado por problemas sociais que contribuem para que os índices,
ainda nos dias de hoje, sejam alarmantes. A educação é um direito de todos e a própria
Constituição Federal (1988) garante isso no seu artigo 6º: “são direitos sociais a educação, a
saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição”. O letramento leva o indivíduo a um outro estado no qual as suas capacidades
são potencializadas sob vários aspectos: social, cultural, cognitivo, linguístico, histórico,
entre outros. A pessoa passa a fazer parte das decisões de transformação e se torna um
agente impulsionador de mudanças. Passa a ser não mais um coadjuvante, mas autor da
própria construção da vida.

Palavras-Chave: Múltipla Deficiência; Ludicidade; Desenvolvimento Global; Comunicação;


Educação Especial.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO vários aspectos: social, cultural, cognitivo,


linguístico, histórico, entre outros. A
A história de analfabetismo no Brasil pessoa passa a fazer parte das decisões
remonta ao período colonial. Desde há muito de transformação e se torna um agente
tempo o país vem lutando para a erradicação impulsionador de mudanças. Passa a ser não
deste problema social. O contexto do mais um coadjuvante, mas autor da própria
analfabetismo está rodeado por problemas construção da vida.
sociais que contribuem para que os índices,
ainda nos dias de hoje, sejam alarmantes. LETRAMENTO E
Falar de problemas de escolarização é falar ALFABETIZAÇÃO
de problemas como desigualdade, miséria,
políticas públicas ineficientes e desemprego. Conceituar o termo alfabetização parece
Todos esses fatores contribuem para a não algo simples, algo que já é dado como
erradicação do analfabetismo. conhecido, familiarizado, é um termo que
já está no vocabulário de pessoas letradas e
Por outro lado, observa-se um esforço não letradas. Entende-se, dessa forma, como
crescente, por parte do Governo, para que um conceito definido e expresso na própria
tal situação seja menos degradante. Houve linguagem do senso comum. Não se torna
iniciativas muito positivas com programas assim tão difícil interpretar e conceituar o
sócias que propiciaram o ingresso de jovens termo no limite da consciência daqueles que
e adultos à educação. A educação é um não sabem ler e nem escrever.
direito de todos e a própria Constituição
Federal (1988) garante isso no seu artigo Para que se entenda de forma clara
6º: “são direitos sociais a educação, a saúde, e precisa, faz-se mister analisar o termo
a alimentação, o trabalho, a moradia, o Alfabetização dentro de uma compreensão
transporte, o lazer, a segurança, a previdência etimológica. O significa etimológico parte
social, a proteção à maternidade e à infância, do sentido de levar à aquisição do alfabeto,
a assistência aos desamparados, na forma isto é, ensinar a ler e a escrever. Assim, a
desta Constituição”. especificidade da Alfabetização é a aquisição
do código alfabético e ortográfico, por meio
Partindo desse princípio, compreende- do desenvolvimento das habilidades de
se que a educação e uma sociedade letrada leitura e de escrita.
são de fundamental importância para o
desenvolvimento e crescimento de um país. Segundo Magda Soares (2003) nas
Uma sociedade bem desenvolvida é uma palavras analfabetismo e analfabeto aparece
sociedade bem alfabetizada. O letramento o prefixo a(n). Nesse sentido, analfabeto é
leva o indivíduo a outro estado no qual as aquele que é privado do alfabeto, que falta
suas capacidades são potencializadas em o alfabeto, é aquele que não conhece o

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Revista Educar FCE - Março 2019

alfabeto, que não sabe ler e escrever. “Ao alfabetização – métodos sintéticos (silábicos
pé da letra, significa aquele que não sabe ou fônicos) e métodos analíticos (global),
nem o alfa, nem o beta – alfa e beta são as que padronizaram a aprendizagem da leitura
primeiras palavras do alfabeto grego; em e da escrita. No entanto, não se tem a
outras palavras: aquele que não sabe o bê-a- pretensão de discorrer sobre esses métodos
bá” (SOARES, 2003, p. 30). neste trabalho. Apenas elucidar os referidos
métodos no processo de alfabetização.
Na palavra analfabetismo, aparece
ainda o sufixo –ismo: indicando “o modo de Sendo assim, pode-se conceituar
proceder” como analfabeto. O analfabetismo, alfabetização da seguinte maneira:
nesta perspectiva, é um estado, uma
condição, o modo de proceder daquela que Nesse sentido, define-se alfabetização – tomando-
se a palavra em seu sentido próprio – como o processo
é analfabeto (SOARES, 2003). Alfabetizar, de aquisição da “tecnologia da escrita”, isto é, do conjunto
portanto, é ensinar a ler e a escrever. Ainda de técnicas – procedimentos, habilidades – necessárias
nesta palavra, observa-se o sufixo –izar: para a prática da leitura e da escrita: as habilidades de
codificação de fonemas em grafemas e de codificação
indicando “o modo de tornar, fazer com”. de grafemas e fonemas, isto é, o domínio do sistema
Alfabetizar, dentro desta compreensão, é de escrita (alfabeto, ortográfico); as habilidades motoras
tornar o indivíduo capaz de ler e escrever. Por de manipulação de instrumento e equipamentos para
que a codificação e decodificação se realizem, isto
sua vez, alfabetização é a ação de alfabetizar, é, a aquisição de modos de escrever e de modos de
de tornar “alfabeto” (SOARES, 2003). ler – aprendizagem de uma certa postura corporal
adequada para escrever ou para ler, habilidades de
uso de instrumento da escrita (lápis, caneta, borracha,
De princípio, pode causar “estranheza corretivo, régua, de equipamentos como máquina de
o uso dessa palavra ‘alfabeto’, na expressão escrever, computador...), habilidades de escrever ou ler
‘tornar alfabeto’. É que dispomos da palavra seguindo a direção correta da escrita na página (de cima
para baixo, da esquerda para a direita), habilidades de
analfabeto, mas não temos o contrário dela: organização espacial do texto na página, habilidades de
temos a palavra negativa, mas não temos a manipulação correta e adequada dos suportes em se
palavra positiva” (SOARES, 2003, p. 31). escreve e nos quais se lê – livro, revista, jornal, papel sob
diferentes apresentações e tamanho (folha de bloco, de
almaço, aderno, cartaz, tela de computador...) (SOARES,
Ao longo da história, essas ações 2003, p. 91).
foram tornando-se mais complexas, e
suas definições se ampliaram, passando a De maneira simplificada, afirma-se que
envolver, notadamente a partir da década alfabetização é o processo pelo qual se adquire
de 90, do século passado, um novo termo: o domínio de um código a das habilidades
o letramento. A alfabetização considerada de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja, é o
como o ensino das habilidades de domínio da tecnologia, conjunto de técnicas,
“codificação” e “decodificação” foi transposta que auxilia na arte e na ciência da escrita. O
para a sala de aula, no final do século XIX, exercício efetivo e competente da tecnologia
mediante a criação de diferentes métodos de da escrita denomina-se letramento.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A palavra letrado e iletrado, assim como ajudando a entender o próprio fenômeno.


analfabeto, são de conhecimento comum, Ele vai indicar que se o termo “letramento”
não precisando buscar grandes explicações surgiu é porque um fato novo se evidenciou,
para conceituá-las. O letrado é aquele que no qual um nome era preciso. A palavra
é versado em letras, é o erudito. Versado letramento é uma tradução do inglês para o
em letras significa ser versado em literatura, português da palavra literacy.
línguas. O iletrado é aquele que não tem
conhecimentos literários, que não é erudito, Literacy deriva da palavra latina littera,
analfabeto ou quase analfabeto. que significa letra. O sufixo ¬–cy indica
qualidade, condição, estado. Litercy,
Para Soares (2003, p. 32), o sentido portanto, é condição de ser letrado. Aqui
que tem “atribuído aos adjetivos letrado e o termo literacy diferencia-se do termo
iletrado não está relacionado com o sentido empregado no português, tendo uma
da palavra letramento”. Isto porque a palavra conotação muito mais ampla do termo usual.
letramento ainda não está dicionarizada, visto A palavra literate, no inglês, tem a conotação
que a sua introdução na língua portuguesa de ser “educado”, não somente a fim de ser
se deu de forma muito recente. Não se sabe respeitoso ou gentil, mas, especificamente, o
precisar, exatamente, quando essa expressão sentido da habilidade de ler e escrever.
surgiu pela primeira vez.
Nesse sentido, o “literante” dentro de
Parece que a palavra letramento apareceu pela uma conotação inglesa é o adjetivo que
primeira vez no livro de Mary Kato: No mundo da
escrita: uma perspectiva psicolinguística, de 1986. [...] caracteriza a pessoa que domina a literatura
A palavra letramento não é, como se vê, definida pela e a escrita. Já o termo literacy “designa o
autora e, depois dessa referência, é usada várias vezes estado ou condição daquele que é literante,
no livro; foi, provavelmente, essa a primeira vez que a
palavra letramento apareceu na língua portuguesa – daquela que não só sabe ler e escrever, mas
1986 (SOARES, 2003, p. 32-33). também faz uso competente e frequente da
leitura e da escrita” (SOARES, 2003, p. 36).

Sobre isso, Mary Kato (1986, p. 45) Seguindo essa compreensão, torna-se
vai afirmar que “ainda que a chamada perceptível a diferença entre saber ler e
norma-padrão, ou língua falada culta, é escrever – ser alfabetizado – e a condição-
consequência do letramento, motivo por estado de quem sabe ler e escrever – o
que, indiretamente, é função da escola letrado –, que não significa, simplesmente, o
desenvolver no aluno o domínio da linguagem erudito. Isto é, a pessoa que aprende a ler
falada institucionalmente aceita”. e a escrever – alfabetizada – e faz uso da
leitura e da escrita no seu contexto sócio-
Por outro lado, Soares (2003) dá uma dica histórico, dando sentido ao seu mundo e
importante em relação ao próprio conceito, transformando as realidades – o letrado

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– é diferente da pessoa que não sabe ler social, cultural, cognitivo, linguístico,
e escrever – analfabeto -, ou, mesmo que histórico, entre outros. A pessoa passa a fazer
saiba ler e escrever – alfabetizada -, não faz parte das decisões de transformação e se
uso da leitura ou da escrita no seu contexto torna um agente impulsionador de mudanças.
sócio-histórico – não letrado -, não vive a Passa a ser não mais um coadjuvante, mas
condição-estado de quem sabe ler e escrever autor da própria construção da vida.
e prática e leitura e a escrita.
Soares, no livro Letramento no Brasil
Soares (2003, p. 36), nesta perspectiva, vai (2003, p. 91-92), vai definir letramento da
elucidar, de forma muito clara, o que significa seguinte forma:
essa condição-estado do ser letrado:
Ao exercício efetivo e competente da tecnologia
Estado ou condição: essas palavras são importantes da escrita denomina-se letramento, que significa
para que se compreendam as diferenças entre habilidades várias, tais como: capacidade de ler ou
analfabeto, alfabetizado e letrado; o pressuposto é escrever para atingir diferentes objetivos – para informar
que quem aprende a ler e a escrever e passa a usar a ou informar-se, para interagir no imaginário, no estético,
leitura e a escrita, a envolver-se em práticas de leitura e para ampliar conhecimento, para seduzir ou induzir, para
de escrita, torna-se uma pessoa diferente, adquire um divertir-se, para orientar-se, para apoio à memória, para
outro estado, uma outra condição. catarse...; habilidade de interpretar e produzir diferente
Socialmente e culturalmente, a pessoa letrada já tipos e gêneros de textos; habilidades de orientar-se
não é a mesma que era quando analfabeta ou iletrada, pelos protocolos de leitura que marcam o texto ou de
ela passa a ter outra condição social e cultural – não lançar mão desses protocolos, ao escrever; atitudes de
se trata propriamente de mudar de nível ou de classe inserção efetiva no mundo da escrita, tendo interesse e
social, cultural, mas de mudar seu lugar social, seu modo prazer em ler e escrever, sabendo utilizar a escrita para
de viver na sociedade, sua inserção na cultura – sua encontrar ou fornecer informações e conhecimentos,
relação com os outros, com o contexto, com os bens escrevendo ou lendo de forma diferenciada, segundo
culturais torna-se diferente. as circunstâncias, os objetivos, o interlocutor...

Há a hipótese de que tornar-se letrado é Por isso, fala-se muito, nos dias hodiernos,
também tornar-se cognitivamente diferente: em analfabetismo funcional. O analfabeto
a pessoa passa a ter uma forma de pensar funcional é aquele que aprendeu a ler, a
diferente da forma de pensar de uma pessoa escrever e a identificar números, mas que
analfabeta ou iletrada. não sabe decodificar, de forma simples, o
que se lê e o se escreve ou realizar operações
Ser letrado significa muito mais do que matemáticas simples. Fala-se, também,
saber ler e escrever; significa a condição de um analfabetismo absoluto, em que a
de possibilidade da transformação do pessoa não teve nenhum ou pouco acesso à
indivíduo no contexto sócio-histórico bem educação. As duas formas de analfabetismo
determinado. O letramento leva o indivíduo a comprometem o desenvolvimento pessoal e
outro estado no qual as suas capacidades são social do indivíduo.
potencializadas mediante vários aspectos:

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Revista Educar FCE - Março 2019

Portanto, a alfabetização e o letramento A IMPORTÂNCIA DA


são processos distintos, de natureza ALFABETIZAÇÃO NA
essencialmente diferente, entretanto, são
interdependentes e mesmo indissociáveis. APRENDIZAGEM
O letramento, nesse sentido, deveria ser o
processo natural da alfabetização. Porém, O conceito de aprendizagem é muito
a alfabetização não precede e nem é pré- amplo e sua definição permeia diversas
requisito para o letramento, ou seja, para a teorias. É muito corrente o uso dos
participação em práticas sociais de escrita. substantivos “ensino” e “aprendizagem” para
Uma pessoa não alfabetizada pode sim ter fazer referência aos processos “ensinar” e
níveis de letramento que foram adquiridos “aprender”. Mas nem sempre fica claro que as
ao longo da vida. São as pessoas que tem palavra referem-se a um “processo” e não a
“sabedoria”, muito mais que a teoria, elas “coisas estáticas” ou fixas. Nem sequer pode
têm a experiência vivencial. ser dito que correspondam a dois processos
independentes ou separados. As respostas
Dessa forma, a educação passa a ter tradicionais não satisfazem. Definições como
outra conotação. Educação, em sentido as de dicionário (ensinar é “dar instrução a”,
experiencial, completa-se na busca pelo “doutrinar”, “mostrar com ensinamento”,
“saber”. Saber é um vocábulo que vem do “demonstrar”, “instruir” etc.) são meros
latim sapere que significa ter gosto, exalar sinônimos ou redundâncias e não diferem
um cheiro, perceber pelo sentido do gosto. muito das definições entre profissionais
Em sentido figurativo, entende-se como ter da Educação (“transmitir conhecimento
inteligência, ter conhecimento, compreender ou conteúdo”, “informar”, “preparar”, “dar
etc. O saber, compreendido dessa forma, consciência” etc.).
não é sinônimo de erudição, mas, antes de
tudo, é expressão experiencial da vida, nos Paulo Freire denunciou que essas
seus mais diversos aspectos. É uma atitude expressões são compatíveis com o que define
de compreensão do homem e do mundo, uma “concepção bancária” de educação e
buscando alargar a mente e aperfeiçoar cada não permitem o desenvolvimento de uma
vez mais o conhecimento humano. “prática educacional” adequada. “Este é
um pensar que percebe a realidade como
processo, que capta em constante devenir e
não como algo estático. Não se dicotomiza a si
mesmo na ação. Banha-se permanentemente
de temporalidade cujos riscos não teme”
(FREIRE, 1996, p.47).

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Revista Educar FCE - Março 2019

Antes, contudo, de uma definição mais Numa linguagem mais neuropsicológica,


teórica e conceitual, faz-se mister uma pode-se entender todo o dinamismo
conceituação etimológica, até para bem de aprender como “uma mudança de
entender os diversos significados e a sua comportamento resultante de prática ou
relação dentro de uma compreensão mais experiência anterior. Também pode ser
formal. Aprendizagem vem de aprender, vista como a mudança de comportamento
do prefixo ad, que significa “junto”, mais viabilizada pela plasticidade dos processos
prehendere, com o sentido de levar para si. neurais cognitivos” (ROMERO, BEBER,
Aprendizagem, etimologicamente, significa BAGGIO & PETRY, 2006, p. 224).
levar para junto de si, ou, de forma mais
metafórica, levar junto da memória. “É algo Aprendizagem é condição de possibilidade
que se realiza dentro da cabeça do indivíduo de conhecimento de tudo aquilo que é
– no seu cérebro” (GAGNÉ, 1980, p. 4) externo, cultural e histórico. Ou seja, é um
Entende-se aqui “levar para junto de si” processo contínuo que ocorre durante toda a
como algo atribuído, algo que é agregado, que vida do indivíduo, desde a mais terra infância
passa a fazer parte. É processo. E esse passar até a mais avançada velhice. Assim, pode-se
a fazer parte é o processo de aprendizagem. definir esse processo como o ato de aprender
“A aprendizagem é chamada de um processo ou adquirir conhecimento por intermédio da
porque é formalmente comparável a outros experiência ou de um método de ensino.
processos humanos orgânicos, tais como
a digestão e respiração. Entretanto, a A natureza da aprendizagem humana
aprendizagem é um processo muito intrincado e o interesse constante em compreender
e complexo, algo apenas parcialmente como o homem constrói conhecimento já
compreendido atualmente” (Ibid., p. 4). eram objetos de estudo na Antiga Grécia:
na formulação socrática de que o homem
Evidentemente, a aprendizagem é um processo deveria, antes de tudo, conhecer a si
do qual são capazes certos tipos de organismos
vivos. Muitos animais, incluindo os seres humanos, mesmo e na convicção de Platão, de que os
mas não as plantas. É um processo que torna conhecimentos do homem foram adquiridos
estes organismos capazes de modificar seu de uma vida anterior.
comportamento de modo relativamente rápido,
de uma forma mais ou menos permanente, de tal
modo que não tenha que ocorrer frequentemente, O desenvolvimento das disciplinas
em cada nova situação. Um observador externo científicas no século XIX, entre elas a
pode reconhecer que houve aprendizagem quando
observa a ocorrência da mudança comportamental Psicologia, foi de fundamental importância
e também a permanência desta mudança. Inferindo para o esclarecimento e aperfeiçoamento
destas observações está um novo “estado de diferentes teorias sobre o processo de
permanente”, atingido pelo aluno (Ibid, p. 5).
construção do conhecimento e demais teorias
cognitivas que se preocupam em investigar o
desenvolvimento desta capacidade humana.

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Revista Educar FCE - Março 2019

No século passado, muitas pesquisas baseadas no mundo a partir das interações por ele
em experimentos e observações contribuíram estabelecidas. Contudo, é importante que
para a abertura de um campo de estudos os processos para tais transformações se
que mais tarde iria se estruturar em torno façam com vistas a contar efetivamente com
de diferentes teorias cognitivas ou teorias o indivíduo, conforme por Agnes Heller: “[...]
de aprendizagem, ressaltando os aspectos o homem torna-se indivíduo na medida em
relacionados aos processos de construção e que produz uma síntese em seu EU, em que
desenvolvimento do conhecimento, o papel transforma conscientemente os objetivos
da educação e demais atividades relacionadas e as aspirações sociais em objetivos e
ao sujeito que aprende. aspirações particulares de si mesmo e em que,
desse modo, socializa ‘sua particularidade’”.
Este processo pode ser analisado por meio (HELLER, 1982, p. 80). Portanto, de forma
de várias vertentes, mas independentemente conceitual, a aprendizagem pode ser
da prioridade que dão a determinados definida como o processo de aquisição de
fatores, um ponto comum presente nas informações, conhecimentos, habilidades,
teorias da aprendizagem é o paralelismo valores e atitudes possibilitados por meio do
entre as representações e condições internas estudo, do ensino ou da experiência.
do indivíduo e as situações externas a ele.
A aprendizagem é um processo complexo,
O ambiente do aluno, frequentemente, inclui um pois sua fonte encontra-se no meio natural-
professor, assim como outros alunos. O professor
tem muitas coisas a fazer e pode estar ocupado em social, abrangendo os hábitos que formamos
atividades que promovam a aprendizagem em um e a assimilação de valores culturais ao longo
número de alunos diferentes, simultaneamente. do processo de socialização. Nele ainda
Os outros aprendizes na mesma situação,
interagindo com um grupo, em equipes ou pares, intervêm muitos fatores internos de natureza
ou como indivíduos, podem estar aprendendo psicológica e biológica que interagem entre
as mesmas coisas, coisas diferentes, ou podem si e ambos com o meio externo. Assim, a
mesmo não estar aprendendo. Para entender e
reconhecer a aprendizagem que se está realizando, situação em que ocorre a aprendizagem pode
é necessário que se relacionem estes vários tipos ser compreendida como o momento em que
de características do ambiente ao processo que a criança enfrenta uma exigência externa,
se espera que ocorra no aluno, individualmente
(GAGNÉ, 1980, p. 6). e, portanto, social, e consequentemente
mobiliza e desenvolve respostas para atender
de maneira satisfatória essa exigência.
Tendo em vista a ação do indivíduo
sobre o meio e a maneira como cada ser Ainda que não se possa se restringir aos
humano organiza, aprende e interioriza processos ocorridos exclusivamente no
as informações de uma dada realidade, a ambiente escolar, o reconhecimento de que há
aprendizagem resulta em uma transformação uma característica individual no modo como
que tem por base as experiências do sujeito cada pessoa aprende implica necessariamente

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Revista Educar FCE - Março 2019

em uma revisão crítica e constante avaliação da República (1889) houve grande interesse
dos processos de ensinar e aprender, em qualificar a mão de obra para atender o
reconhecendo a existência de diferentes estilos processo de urbanização e industrialização.
de aprendizagem, planejando e aplicando
estratégias de ensino de acordo com os ritmos Esse processo se deu de forma muito lenta
de aprendizagem de cada aluno. e muito segregaria. O acesso à educação não
era tão democrático e havia disparidade na
Portanto, a aprendizagem não se resume implementação de um projeto nacional. Em
apenas a adquirir conhecimento, “mas 1946, o país foi marcado por um período
criar as possibilidades para a sua própria importante na busca da erradicação do
produção ou a sua construção (FREIRE, analfabetismo. A UNESCO, no plano
1996, p. 21). Configura-se como processo internacional, tornou pública a sua luta
e produto inacabados e diferentemente contra o analfabetismo auxiliando os países
desenvolvidos. Compreender e intervir de subdesenvolvidos a reverter esse quadro.
forma propositiva sobre diferentes ritmos de Em princípio a entidade implementou vários
aprendizagem resulta, por parte do sujeito projetos em todos os continentes (de 1966
que aprende, na construção do conhecimento a 1973) e, mais tarde (em 1980), adotou a
e no aprimoramento do desenvolvimento promoção de projetos regionais. A partir desse
cognitivo, tornando-o o maior responsável momento surgiu a noção de alfabetização
pelo controle da própria aprendizagem, funcional, concebida pela UNESCO e que,
capaz de refletir e pensar com autonomia conforme Barbosa (1994, p. 29), “tem por
assim como aplicar o conhecimento a novas objetivo proporcionar condições efetivas
situações ao longo da vida. para que os indivíduos possam enfrentar
com competência satisfatória as diversas
situações que o mundo lhes propõe”.
RELAÇÃO ENTRE
ANALFABETISMO, POBREZA Fala-se em educação, nos tempos
modernos, evidenciando um caráter amplo,
E DESIGUALDADE democrático, plural e irrestrito. A escola
brasileira tem se esforçado por garantir
O analfabetismo está relacionado o ingresso do aluno à educação de base,
diretamente com a pobreza, desigualdade e cumprindo um dos pilares da sociedade
com políticas públicas que garantam o acesso moderna. Contudo, a permanência de
à educação de forma democrática. Nem crianças e jovens no espaço educacional, é
sempre a educação no Brasil foi tomada como um desafio crescente, demonstrando uma
primordial e de interesse público. Sempre triste realidade.
esteve relegada a questões de interesse
político. Contudo, depois da Proclamação

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Revista Educar FCE - Março 2019

O plano de valorização da educação poucos, vem sendo reduzido no Brasil. Em


e, consequentemente do aluno, permeia 2004 a porcentagem nessa faixa etária era de
problemas que envolvem uma ampla cadeia 11,5%, já em 2012 essa taxa passa a ser de
reflexiva, instaurando desdobramentos 8,7%. Essa redução é ainda mais expressiva
complexos, contraditórios e em alguns casos no Norte e Nordeste, onde estão localizados
assustadores. A educação não depende só os maiores índices de analfabetismo do
de novos incentivos, edifícios e materiais país. Entre a faixa de 15 a 19 anos, a Pnad
coloridos e atraentes, mas, também, de um de 2012 registra taxa de analfabetismo de
olhar clínico para diversos envolvimentos, 1,2%, índice muito inferior à média geral,
desenvolvimentos, rupturas e análises com o que demonstra a efetividade de políticas
resultados satisfatórios, como, por exemplo, públicas em curso para a educação básica.
o número considerável de analfabetos
funcionais no Brasil: uma realidade Desde os anos 80, do século passado,
preocupante. o Ministério da Educação tem construído
uma política educacional sistemática no que
Segundo Naoe (2012), as taxas de tange ao enfrentamento do analfabetismo.
analfabetismo no Brasil, normalmente Programas como Brasil Alfabetizado é uma
tratadas dentro do universo de números e ação do governo federal desenvolvida em
metas, deveriam, segundo especialistas em colaboração com estados, Distrito Federal
educação, ser também analisadas dentro da e municípios. O programa garante recursos
área de política social e econômica, já que a suplementares para a formação dos
população considerada analfabeta é a mesma alfabetizadores; aquisição e produção de
que sofre de outros problemas que afligem o material pedagógico; alimentação escolar e
país. O mapa do analfabetismo, dessa forma, transporte dos alfabetizandos. Prevê, ainda,
coincide com o mapa do desemprego, da bolsas para alfabetizadores e coordenadores
fome, e da falta de moradia. voluntários do programa.

A pessoa não é analfabeta porque ela deseja Incentivos nesse nível, é fundamental para
ser, mas por um sistema de desigualdade. Ou uma ação efetiva e comprometida com a
seja, a pessoa não nasce analfabeta, mas é o erradicação do analfabetismo, integrando a
próprio sistema social que a condiciona a ser alfabetização a políticas de jovens e adultos,
analfabeta. Esse sistema atinge, na maioria para que os estudantes tenham condições
dos casos, pessoas simples e de regiões mais de dar continuidade em seu processo
vulneráveis, como o Norte e Nordeste. educacional.

Segundo estudo do PNAD (Pesquisa Mas analfabetismo está intrinsicamente


Nacional por Amostra de Domicilio) (2012), relacionado com desigualdade social. E a
o analfabetismo de jovens e adultos, aos desigualdade, assim como a educação, é um

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Revista Educar FCE - Março 2019

problema endêmico no Brasil. Os problemas renda do país. No outro extremo, 40% dos
sociais do Brasil ficam evidenciados e mais pobres concentravam somente 13,3%
podem ser compreendidos com o auxílio e da renda do país. A disparidade é enorme, e
interpretação de indicadores sociais. Houve contribuí para o analfabetismo.
um progresso muito considerável destes
indicadores nos últimos anos, notadamente Em 2011, o Ministério do Desenvolvimento
em relação ao aumento da expectativa Social e Combate à Fome calculou, tomando-
de vida, queda da mortalidade infantil, se como base dados do IBGE e estudos do
acesso a saneamento básico, coleta de lixo Ipea, que existam 16,2 milhões de brasileiros
e diminuição da taxa de analfabetismo. (8,6% do total) vivendo na miséria extrema
Contudo, apesar dos avanços, há diferenças ou com ganho mensal de até R$ 70. Nesse
regionais ainda são enormes, especialmente panorama, as regiões Nordeste (18,1%)
em relação ao nível de renda. e Norte (16,8%) lideram o levantamento,
ao passo que o Sul tem menos gente
Os problemas sociais se evidenciam de extremamente pobre (2,6%).
forma clara, sobretudo, com o IDH (Índice
de Desenvolvimento Humano), o qual o De acordo com Vasconcellos et al (1999),
Brasil, entre 188 países e territórios, fica na entre os anos de 1950 e 1990, a divisão
79ª posição de acordo com dados de 2015 regional de renda ficou praticamente
divulgados pela ONU (Organização das inalterada, com algum crescimento da
Nações Unidas), embora tenha uma economia participação das regiões Centro-Oeste e
forte, sendo considerada a oitava economia Norte, em decorrência da expansão da
do mundo. Nota-se que condições e recursos fronteira agrícola. Em 1990, a região Sudeste,
para alcançar posições mais consideráveis, com 42% da população brasileira, respondia
tem, o que falta são políticas que propiciem por quase 60% da renda do país, ao passo
realmente esses avanços, especialmente na que o Nordeste, com 30% da população,
área da educação. possuía 15% da renda.

A base de dados do PNUD (2015) mostra De acordo com os dados do Ipea (2012)
que o Brasil está entre os 10 mais desiguais (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) a
do mundo. Há uma enorme desigualdade no concentração fez com que a riqueza ficasse
Brasil, e isso impede o avanço do país em concentrada em poucos municípios e foi
diversos setores. Segundo dados do IBGE ampliada em decorrência da centralização
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de gastos e investimentos públicos, o que
(2012), houve uma redução na desigualdade causou o congelamento e desestímulo aos
social no Brasil nos últimos dez anos, mas não desenvolvimentos regional e local. “Em
muito expressiva, tendo em vista que 10% 1920, os 10% municípios economicamente
da população mais rica concentrava 42% da mais ricos tinham 55,4% de participação no

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Revista Educar FCE - Março 2019

PIB, ampliaram para 72,1% em 1970 e para do solo, são elementos que, de alguma
78,1% em 2007” (Ipea, 2012). forma, dificultam o progresso em aéreas já
debilitadas.
Ainda segundo dados do IBGE (2010),
seis capitais brasileiras concentram 25% de Agregado a esses fatores, a região
todo Produto Interno Bruto (PIB) do país: com maior concentração de pobreza é o
São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Nordeste, que possui áreas com altos índices
Belo Horizonte e Manaus. De acordo com o de miséria, analfabetismo, desnutrição, em
mesmo estudo, as diferenças regionais em virtude de uma estrutura socioeconômica
cada estado também são claras, visto que, frágil e marcada pela desigualdade social,
em 2008, os cinco maiores municípios do ocasionalmente agravada pelas secas
Amazonas eram responsáveis por 88,1% do periódicas da região e inexistência de
PIB estadual, assim como no Amapá (87,6%) rios, que impedem o desenvolvimento da
e Roraima (85,4%). agricultura.

Vasconcellos (1999) vai apontar alguns Todos esses aspectos contribuem não só
motivos como responsáveis pelas diferenças para a desigualdade social, mas também para
regionais: 1) falta de políticas públicas para a evasão escolar. No qual muitas crianças
a inclusão social da massa populacional ou jovens são levados a trabalharem muito
vinda abruptamente do processo escravista; cedo para ajudar no sustento da família.
2) o processo de industrialização de cunho Os últimos dados do IBGE (2010) sobre
concentrador; 3) a divisão de terras em analfabetismo configuram um mapa de
latifúndios e voltada para uma minoria; 4) desigualdades com base em fatores já
as baixas taxas de absorção e remuneração levantados acima: concentração de terra, de
da mão de obra e crises econômicas renda e de oportunidades. Esse é o preço
acompanhadas por longos períodos que o país paga pelo descaso do Estado em
inflacionários mais sentidas pelas classes muitas regiões do Brasil, e por uma série de
menos favorecidas. fatores que contribuem para o crescimento
da desigualdade.
Paralelo à essas dificuldades, algumas
áreas não conseguem se desenvolver em O Brasil tem quase 14 milhões de
decorrência do isolamento geográfico e da analfabetos, segundo o IBGE (2010). A
ineficiência do poder público para atender maior parte encontra-se na região Nordeste,
várias demandas, como desenvolver a em municípios com até 50 mil habitantes,
infraestrutura básica, atrair investimentos e na população com mais de 15 anos, entre
gerar empregos. Alguns municípios também negros e pardos e na zona rural, isto é,
não conseguem organizar-se localmente. encontra-se na população historicamente
Condições climáticas, assim como as marginalizada. O censo vai revelar que houve

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Revista Educar FCE - Março 2019

uma redução significativa de 29% em relação aos números apresentados em 2000, mas
ainda insatisfatória, especialmente, quando considerados os critérios utilizados pelo IBGE.
Considera-se alfabetizada a pessoa capaz de ler e escrever um bilhete simples. Esse conceito
é muito polêmico entre os pesquisadores, visto que se se for utilizado um critério um pouco
mais exigente, esse índice sobe drasticamente.

O analfabetismo no Nordeste chega a 28% na população de 15 anos ou mais, em


municípios com até 50 mil habitantes, onde a proporção de idosos não alfabetizados é de
aproximadamente 60%. Embora o número de analfabetos absolutos esteja diminuindo, como
aponta o IBGE (2010), outros índices, como o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf)
indicam que aumenta o número de pessoas que não conseguem utilizar o conhecimento
da língua para se inserir nas práticas sociais de uso da leitura e da escrita. Se levado em
consideração essa parcela da população chamada de “analfabetos funcionais”, o número
saltaria de 14 milhões para quase 35 milhões. É um número muito expressivo e que faz
repensar o modo como se ensina no Brasil.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Diversos programas foram lançados, pelo Governo, na tentativa de erradicar o


analfabetismo: Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos de 1947; a Campanha
Nacional de Erradicação do Analfabetismo de 1958; o Programa Nacional de Alfabetização,
baseado no método Paulo Freire, de 1964; o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral)
entre os anos de 1968 e 1978; a Fundação Nacional de Educação de Jovens e Adultos
(Educar) de 1985; o Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania (Pnac) de 1990; o
Plano Decenal de Educação para Todos de 1993; e, no final do último século, o Programa
de Alfabetização Solidária, de 1997. Já neste século, tem-se o programa federal “Brasil
Alfabetizado”.

Portanto, nota-se que, em cada governo, foram promovidos esforços a fim decombater o
analfabetismo, que se mostra, ainda nos dias de hoje, um problema social crônico no Estado
brasileiro. Como já está confirmado, mediante diversos programas de incentivo, não basta
somente ensinar a ler e escrever, como se isso fosse sinônimo de alfabetização, é necessário
levar a pessoa a um desenvolvimento sócio-econômico-cultural. A educação deve perpassar
o todo da vida, levando o indivíduo a uma transformação sócio-histórico efetiva.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Muitos Programas Federais sofreram Por fim, erradicar o analfabetismo é uma


críticas contundentes por não levar o meta válida, como tem tentado os programas
indivíduo à inclusão social, visto que por acima citados, porém, isso exige um esforço
participarem de tais programas eram ainda maior e traz consigo outro fantasma, o
estigmatizados como ignorantes. Outra da exclusão social, ligado a aspectos como a
crítica era quanto ao método e a duração do democratização dos bens culturais, o acesso à
programa: muitos desses programas tinham cultura, justiça, moradia e trabalho. Reduzir os
o intuito de ensinara a ler e a escrever num índices de analfabetismo até sua erradicação
curto período de tempo. Toda uma vida total é um compromisso assumido pelo
foi construída pelo indivíduo sem o uso da Brasil em diversas ocasiões e documentos,
leitura e da escrita e não é nada fácil mudar inclusive a própria Constituição garante isso
isso. Para os indivíduos que são analfabetos como um direito. É direito de toda cidadão
até os 15 anos ou mais, definitivamente não brasileiro ter acesso à educação, e educação
é hábito ler e escrever e é impossível se de qualidade.
mudar o hábito de vida de alguém somente
com um ano de curso de alfabetização. “Acabar” com o analfabetismo em números,
no entanto, pode não significar, em termos
Além da interrupção brusca, muitas vezes reais, uma mudança efetiva. O Brasil pode
“forçada” por diversos motivos, há outros até cumprir essas metas de alfabetização,
problemas nos programas de alfabetização de mas esses números nunca vão representar
jovens, ligados à condição de miséria social a real situação da exclusão educacional e
dessa parcela da população e que dificultam do analfabetismo no país. Sempre por trás
sua entrada e permanência em tais programas, dos números estão ocultas as atrocidades
como a falta de estrutura de transporte praticadas com a educação em relação aos
coletivo, falta de escolas no campo, fome, a seus aspectos qualitativos. O qualitativo é
necessidade de trabalhar etc. A formação dos sacrificado em prol do quantitativo para se
docentes também é um fator que preocupa. cumprir metas, para mostrar números aos
Não há a exigência que sejam profissionais organismos internacionais que fornecem
de educação para atuar como alfabetizadores recursos para a melhoria da educação em
nesses programas, basta ter o ensino médio países subdesenvolvidos como o Brasil.
completo para tal. Essa precarização acaba
afetando o processo, comprometendo os Nesse sentido, acabar com o analfabetismo
resultados esperados ou as metas pretendidas no Brasil significa acabar com a exclusão
com sua implantação. Também há o descaso social, acabar com as desigualdades que
nos cursos de magistério, pois nem todos assolam milhares de brasileiros e ferem o
(uma grande maioria) querem trabalhar com a princípio de igualdade e direito. Acabar com
educação de adultos, visto que isto exigiria uma o analfabetismo é possibilitar dignidade e
postura pedagógica totalmente diferenciada. respeito a cada cidadão; é dar condição de

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Revista Educar FCE - Março 2019

crescimento e possibilidade de participação nas decisões de transformação do país. Acabar


com o analfabetismo é possibilitar que um novo mundo seja criado ar redor de cada pessoa.
É possibilitar sonhos e transformações.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação é o bem mais precioso de uma nação. Um país
desenvolvido e transformado socialmente é um país que
optou por acreditar em cada ser humano como agente de
transformação e de sonhos. A alfabetização não só possibilita
o acesso ao entendimento de tetos, mas possibilita o acesso
à compreensão de mundo e a uma condição-estado de
interpretação da própria vida.

Verificou-se, portanto, que uma sociedade bem


desenvolvida é uma sociedade bem alfabetizada. O
letramento leva o indivíduo a outro estado no qual as
suas capacidades são potencializadas por meio de vários
aspectos: social, cultural, cognitivo, linguístico, histórico,
entre outros. ARLETE DOS SANTOS
PACHECO
Observou-se, também, a importância da alfabetização
Graduação em Pedagogia pela
para a aprendizagem. Aprendizagem vem de aprender, do UNISA – Universidade Santo
prefixo ad, que significa “junto”, mais prehendere, com o Amaro (2001); Especialista em
sentido de levar para si. Aprendizagem, etimologicamente, Educação Para a Diversidade
pela Faculdade Campos
significa levar para junto de si. Aprendizagem é condição de Elíseos (2011); Especialista em
possibilidade de conhecimento de tudo aquilo que é externo, Alfabetização e Letramento pela
cultural e histórico. Ou seja, é um processo contínuo que Faculdades Integradas Campos
Salles (2017); Professora de Sala
ocorre durante toda a vida do indivíduo, desde a mais tenra de Apoio Pedagógico em Língua
infância até a mais avançada velhice. Portuguesa na EMEF Prof. Leão
Machado.

Conclui-se, dessa forma, que o analfabetismo está


relacionado diretamente com a pobreza, desigualdade e
com políticas públicas que garantam o acesso à educação
de forma democrática. Ninguém nasce analfabeta, mas esse
processo é gerado por uma série de fatores que contribui para
tal evento. Erradicar o analfabetismo está intrinsicamente
relacionado com a erradicação da exclusão social e da
desigualdade. Acabar com o analfabetismo é possibilitar
dignidade e respeito a cada cidadão; é dar condição de
crescimento e possibilidade de participação nas decisões de
transformação do país.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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501
Revista Educar FCE - Março 2019

ARTE E MUSICALIDADE:
PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO
BÁSICA
RESUMO: Este artigo visa refletir sobre as questões que permeiam o universo da Arte na
educação, com ênfase na Educação Infantil, analisando suas particularidades, possibilidades
e o papel do educador na perspectiva da implantação de uma educação significativa e de
qualidade social.

Palavras-Chave: arte, educação infantil, desenvolvimento, educação musical.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO com as relações da criança e do mundo que


a cerca, pois a educação é um dos alicerces
Em épocas passadas e sob o pensamento para esse caminho.
neoliberal, o que se aprende no ensino de
Arte tem pouco a ver com as reivindicações, O objetivo de pesquisa neste trabalho foi
estratégias de racionalidade produtiva e um estudo de questões fundamentais do
competitiva e da eficácia que a sociedade ensino de Arte para elaborar um currículo
reivindica. Hoje, as teses inatistas ou amplo desta área com crianças pequenas.
ambientalistas, constante nos debate Em seguida, abordamos o currículo de Arte
através dos séculos, há uma concepção, uma na Educação Infantil é descrito por meio dos
filosofia que sustenta que os seres humanos conteúdos de Artes Visuais e Música, formas
construindo o conhecimento a partir do fato metodológicas para realizar com eles nas
de viverem em contextos transformados salas de aula.
pelas concepções, ações e artefatos
produzidos pelas gerações precedentes. Neste momento do desenvolvimento, é
necessário que a criança experimente a Arte,
Essa concepção foi denominada de a importância do pensar, o agir, do criar, e do
construtivista. Em todas as culturas, os expressar de forma a construir não só própria
instrumentos não só são utilizados, mas história, mas a história do lugar onde vive, do
também se ensinam. O papel das atividades mundo, entendendo dessa forma o contexto
práticas que aprendemos a realizar em social, que participa ou que está inserida. O
diferentes contextos educativos e como educador tem extrema importância nesse
forma de relacionarmos e construirmos processo. É necessário definir com as crianças
significados é um ponto de partida para os o objetivo da atividade antes de qualquer
estudos sobre como os processos ocorrem coisa a fazer a “alimentação estética” por
psicologicamente. Pesquisas mais atuais da meio de observação de obras, conhecimento
psicologia do desenvolvimento manifestam de artistas que fizeram a história, materiais
que esse processo de construção de que possibilitem a criança o manuseio e a
significados se produz em função de um descoberta.
contexto que se constrói de acordo com uma
necessidade de interpretar a realidade. Para A manifestação artística tem em comum
explicar a construção de significado podem com o conhecimento científico, técnico ou
ser adotadas várias perspectivas. filosófico o seu caráter de criação e inovação.
Essencialmente, o ato criador, em qualquer
A arte enquanto processo de construção de dessas formas de conhecimento, estrutura e
conhecimento da criança é aprofundada neste organiza o mundo, respondendo aos desafios
trabalho de forma histórica e contextualizada que dele emanam, num constante processo
no Brasil. O processo artístico humaniza-se de transformação do homem e da realidade

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Revista Educar FCE - Março 2019

circundante. O produto de ação criadora, a da cultura que vive e dos conhecimentos que
inovação, é resultante do acréscimo de novos adquire com a vivência diária. O processo de
elementos estruturais ou da modificação criatividade se dá de formas diferenciadas
de outros. Regido pela necessidade básica na prática humana, ora se dá através da
de ordenação, o espírito humano cria, capacidade criadora na combinação de
continuamente, sua consciência de existir elementos resignificados, ora se dá de forma
por meio de manifestações diversas. Desse a relacionar o cotidiano a situações de
modo, enquanto linguagem, a arte auxilia- aprendizagem que se redimensionam a partir
nos a “ler” nossas experiências ao lidar com da realidade de cada um.
o mundo externo em nossa organização
interna, contribuindo, por meio da expressão Quando se pensa em arte na escola, parece
dos conflitos decorrentes de nossa situação relevante refletir sobre valores, emoções,
no universo sociocultural a que pertencemos sentimentos e significações construídas
para a compreensão e interpretação do duplo por meio desta forma de comunicação e
que somos. Assim, além de “ler”, por meio de expressão.
um sistema simbólico “escrevemos”, via arte,
nossas experiências vividas. A Educação através da Arte vem se
caracterizando pelo posicionamento
idealista, direcionado para uma relação
PERSPECTIVAS SOBRE subjetiva com o mundo. Embora tenha tido
O ENSINO DE ARTES NO pouca repercussão na educação formal,
contribui com a enunciação de uma visão
ENSINO BÁSICO de arte e de educação com influências
recíprocas. Na educação artística nota-se uma
O ensino de Artes exige tanto do professor preocupação somente com a expressividade
como do aluno a criatividade, inventividade individual, com técnicas, mostrando-se, por
e busca constante de conhecimentos. outro lado, insuficiente no aprofundamento
Reconhece-se que no âmbito educacional do conhecimento da arte, de sua história e
muito se tem enfatizado a questão da das linguagens artísticas propriamente ditas.
criatividade, dando-lhe várias definições,
entre elas considerando os jeitos sociais, Outro ponto importante é a reflexão
em alguns outros pontos, estudiosos da quanto a Arte enquanto disciplina. Há que
criatividade humana tem tentado conceituá- se compreender que esta área de ensino
la de forma similar ou igualitária como conta com objetivos diversos que levam a
nascida das noções cognitivas. aprendizagem, como propõe os Parâmetros
Curriculares Nacionais:
A criatividade é a expressão de todas as
habilidades criativas do ser humano, diante

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Revista Educar FCE - Março 2019

O intuito do processo de ensino e objetiva o uso da criatividade de cada aluno,


aprendizagem de Arte é o de capacitar os pois ao desenvolver suas habilidades de
estudantes a humanizarem-se melhor como expressão artística a criança e ao adolescente
cidadãos inteligentes, sensíveis, estéticos, estarão aptos para a aprendizagem, também
reflexivos, criativos e responsáveis, no refletindo a relação da Arte com a construção
coletivo, por melhores qualidades culturais da história da humanidade.
na vida dos grupos e das cidades, com ética
e respeito pela diversidade (PCN, 1997, p. A atitude positiva do professor neste
173). sentido, é fundamental para a interação,
confiança na comunicação e construção de
Assim, o ensino de Arte não pode estar vínculos dentro do contexto da aprendizagem
relacionado a improvisação, mas deve primar através da arte no ensino fundamental. Para
pelo planejamento que englobe elementos isso é importante que o professor não use
advindos da cultura, valores, crenças, as dificuldades do aluno como referência. As
vivências, ideologias, metas e sentimentos de mensagens positivas podem ser transmitidas
diferentes alunos, não devendo ao educador de forma simples, direta, reforçando e
ferir ou menosprezar cada um desses elogiando as tentativas de acerto, utilizando,
aspectos. É importante ainda considerar as quando necessário, Artes Visuais como
potencialidades individuais e coletivas do forma de comunicação e interação.
grupo de alunos que se trabalhar.
O papel da arte na educação é grandemente
O trabalho do professor deve estar afetado pelo modo como o professor e o
voltado para uma metodologia embasada na aluno veem o papel da arte fora da escola.
criatividade, mas sem fugir ao entendimento [...] A arte não tem importância para o
da turma que atende. Lembrando que para homem somente como instrumento para
cada fase do ensino fundamental muda-se o desenvolver sua criatividade, sua percepção,
foco, a forma de ensinar e a linguagem utilizada. etc., mas tem importância em si mesma, como
É necessário que o educador também se assunto, como objeto de estudo (BARBOSA,
desprenda do que é extremamente teórico e 1995, p. 90-113).
busque instrumentos que relacione também
a prática cotidiana de arte, despertando em Partindo da importância da arte como
seus alunos todas as suas potencialidades. potencial de criatividade do aluno, percebe-
O respeito às ideias e a vontade artística de se que a escola deve colaborar no seu
cada um também é primordial. processo de ensino para que os alunos
aprendam a desenvolver habilidades que
Em suma, o ensino de artes na escola, ampliem o seu potencial, não só criativo,
tanto no ensino fundamental quanto ensino mas também, artístico.
médio, deve promover de maneira clara e

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Revista Educar FCE - Março 2019

É importante que o professor saiba A necessidade da Arte-Educação é:


organizar a gradação dos assuntos no âmbito ampliar o âmbito e a qualidade da experiência
do fazer e apreciar arte. Propor atividades estético-visual. Existem quatro hipóteses para
de ensino, considerando os mais simples e um currículo de arte-educação: experiência
os mais complexos. O professor deve estar estética e visual; as artes plásticas, as telas,
atento as faixas etárias, interesses e direitos artesanatos, arte popular, mídia eletrônica;
de acesso aos bens culturais artísticos no a produção de Arte para o crescimento em
mundo contemporâneo. O professor assume extensão e qualidade da estética visual;
papel de mediador no desenvolvimento informações sobre a experiência estética
cognitivo do aluno. facilitando o âmbito e a qualidade dessa
experiência.
Diante destes aspectos é relevante
citar que, como historicamente pode-se Citamos os estímulos que provocam
observar, a arte na educação possuía um esteticamente as artes de massa. De
perfil de recreação e de desenvolvimento qualquer forma a história em quadrinhos,
emotivo e motor. Todo o desenvolvimento pôsteres, televisão, filmes e todas as outras,
do aluno deve ter, como ponto de parida, a são informadas sobre arte por intermédio do
experimentação e sensibilização. A disciplina envolvimento com as Belas Artes.
de artes fará com que o aluno desenvolva
a percepção, a expressão corporal, musical, As artes populares e o artesanato na
de maneira natural que proporcionará uma sala de aula podem ser um fruto natural
estimulação permanente. dos interesses extraescolares dos alunos.
Existe na natureza visual maior quantidade
A arte Educação precisa de um forte de itens, como colcha da vovó, do que na
conceito central. A maioria das ideias que música folclórica. Os nós que estão nas
tendem fornecer uma direção curricular para artes plásticas deveriam ser mais rápidos do
a arte educação, não reflete suas ajudas que os que estão em outras formas de arte,
específicas. no sentido de explorar essas áreas para a
educação.
As experiências com a arte são meramente
um meio para algum fim mais importante, A colcha da vovó é a forma com que cada
admirável como veículo. aluno traz sua bagagem em particular que
poderá ser a colcha da vovó, pôsteres de
Os programas de Arte Educação tem sido artistas, mídia fílmica (cinema e televisão),
o uso da arte como meio de elucidar os etc. Devemos explorar esses interesses
meios onde os mundos sociais, econômicos pessoais.
e político agem, podendo ser desenvolvidos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Sendo contemporâneas no estilo as artes controle” são palavras-chave, de uma corrente,


da tela são dramáticas, musicais e visuais. “liberdade” e “iniciativa” são o lema da outra.
Sua popularidade é dividida pelas massas A lei é afirmada aqui, a espontaneidade é
e coletividade, em vez de ser limitada e proclamada ali (Dewey,1902).
elitista. Seu caráter artístico é comumente
mais óbvio que sutil. Dewey, afirma é uma lição que vale a pena
reaprendermos, a solução para a excessiva
Os caminhos podem ser através do qual rigidez não é o laissez-faire, e também não
a arte-educação possa atingir o jovem e é solução adotar o meio termo. Há quatro
incrementar o âmbito e a qualidade da coisas principais que as pessoas fazem com
sua experiência estética. Ao reduzirmos a arte: elas veem arte; elas entendem o lugar
isto a um ateliê de desenvolvimento de da arte na cultura através dos tempos; elas
atividades, teremos: produção da história fazem julgamento sobre suas qualidades;
em quadrinhos; produção de filmes e vídeos; elas fazem arte.
desenhos ou recriação de espaços urbanos.
Essas operações constituem no DBAE: a
Precisamos procurar outros meios para produção; a crítica; a história; estética da arte.
aumentar os conteúdos para que possamos A realização dessas intenções educacionais
promover uma reação maior a qualquer depende da existência de um currículo
forma das artes visuais. que crie probabilidade das experiências
nos quatro itens, na qual a sequência e a
A arte tem conteúdo específico a oferecer, continuidade são de suma importância.
algo inerente às artes. O aprendizado artístico
com materiais de arte, o papel do professor Os bons materiais curriculares, além
de forma ativa e exigente. A boa educação de guiar, libertam. Eles guiam e sugerem
significa mais que aprender a ler, escrever e conteúdos, atividades e objetivos. Para
trabalhar com computadores. À medida que Ana Mãe a crítica da Arte, História da Arte
a reforma curricular vai se consolidando, as a Estética são instrumentos que garantem
artes conquistam seu lugar nas escolas. a experiência que a arte torna possível.
A arte acomoda uma ampla ajuda ao
A Arte não pode ficar sem vida, como tem desenvolvimento das experiências.
ocorrido com o que ensinamos em todos os
níveis da educação. Os significados que a arte possibilita visam
como objetivos gerais expandir as formas de
A educação norte-americana na sua leitura e escrita. Em nossa cultura, as palavras,
história tem duas tensões: desenvolvimento números, movimentos, imagens, padrões de
e características. A visão centrada na criança formas e sons, são formas por meios das
enfatiza a idiossincrasia pessoal. “Orientação e quais os significados são representados.

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Sem estrutura, não se atinge a A educação em arte propicia o


automaticidade. E, sem internalização não desenvolvimento do pensamento artístico
existe magia e da percepção estética, o educando
desenvolve sua sensibilidade, percepção e
imaginação, tanto ao realizar formas artísticas
ARTE E MUSICALIDADE NA quanto na ação de apreciar e conhecer as
ESCOLA formas produzidas por ele e pelos outros,
pela natureza e nas diferentes culturas.
Como um expressar humano, e como
expressão, a Arte, envolve todas as linguagens O fazer artístico é o processo resultante
(instrumento de exteriorização, revelação e da manipulação de um material, um
intercâmbio), possibilitando a captação e a objeto ou uma ideia com metas objetivas
interação entre o homem e o seu meio em expressivas e estéticas, desta forma capaz
busca do almejado equilíbrio. de conter e transmitir emoções. A forma do
processo criativo em arte tem sido abordada
Quando a pessoa se utiliza do processo por diferentes teóricos e as diferenças
de criação, o seu corpo, sua percepção, dependem da faceta do processo criativo
seus conceitos, sua emoção, sua intuição, que eles focalizam.
estão integrados em único momento. Jung
chamou a atenção para dois movimentos O mundo dos sons, das cores e do
básicos da consciência - um de fora para movimento marca presença junto às crianças.
dentro: introversão; outro de dentro para Queiramos ou não, é evidente que a criança
fora: extroversão. As obras de arte mostram já vivencia a arte produzida pelos adultos,
esses dois mundos, o interno e externo e a presente em seu cotidiano. É obvio que
interação destes dois. Nesse movimento, as essa arte exerce vivas influências estéticas e
polaridades humanas, descritas por Jung, artísticas na criança, e que a criança com ela
como: sensação, pensamento, sentimento e interage de diferentes maneiras.
intuição podem ser expressas e integradas.
Nos momentos de brincadeiras ou durante
Segundo Bruton, por meio da prática da os recreios escolares as crianças revivem seus
arte, o homem pode chegar mais perto da personagens favoritos da televisão, cantam
“alma”. A arte cumpre seu propósito mais as músicas ouvidas no rádio ou reproduzidas
elevado e adquire um significado mais na tradição regional.
valioso quando se torna veículo para a
beleza “espiritual”. Ela embeleza a existência Alguns autores apontam que os programas
humana, e, também, expressa a existência de televisão, são muito apreciados por
divina. crianças, em especial as propagandas, jingles
e desenhos animados. Portanto, aparecem

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nos desenhos e jogos infantis os super- tanto da natureza quanto da cultura


heróis, ou mesmo elementos contidos em como um todo. Para enriquecer as aulas é
programações para crianças e até naquelas necessário solicitar que as crianças levem
dirigidas aos adultos. para escola, por exemplo, elementos que se
refiram a um determinado assunto de arte a
As crianças apropriam-se das imagens, ser trabalhado.
sons e gestos contidos nas mensagens
veiculadas pelas mídias, reelaborando-os Desta maneira, havendo o interesse em
reutilizando-os na maioria das vezes de uma trabalhar a percepção de formas e seus
maneira pessoal. elementos, como textura, cores, pode-
se colecionar da natureza – flores, folhas,
Por isso, no trabalho de intermediação gravetos, pedras, etc. ou de materiais
educativa em arte os professores devem produzidos pelo homem como tecidos,
focalizar também as mídias, o universo pedaços de papéis, rótulos, embalagens,
tecnológico, as mais recentes produções de fotografias, ilustrações, objetos de uso
design e de comunicação visual, musical ou cotidiano, sons, canções de outros, que serão
outras que componham nossa ambiência. reunidos na classe como material auxiliar
para as aulas de Arte.
O objetivo é a ampliação dos saberes das
crianças em arte, podendo-se descobrir os Uma conversação interessante sobre esses
componentes artísticos por meio de leitura, materiais favorece os aspectos perceptivos,
apreciação, interpretação e análise mais sendo que esse processo dinâmico auxilia a
crítica dessas produções comunicativas. compreensão de formas, imagens, símbolos,
ideias.
O professor terá o trabalho educativo de
intermediar os conhecimentos existentes A música quando utilizada na Educação
da criança e oferecer condições para novos Infantil serve de ferramenta incentivadora
estudos, pois a criança está em constante da criatividade nas crianças, e um fator de
assimilação de tudo aquilo com que entra desinibição numa convivência coletiva. É
em contato no seu meio ambiente. Portanto, muito eficaz nesta fase da educação. Desde
é necessário saber lidar com os fatos em a gestação, as crianças antes de nascerem
sala de aula, constituindo a sua metodologia já possuem uma relação com os sons da voz
de trabalho. A principal tarefa do educador materna, fase em que se forma a memória
é auxiliar o desenvolvimento dessas sonora nas crianças.
observações e percepções das crianças.
Essa memória fetal é responsável por
Qualquer conceito estético ou artístico preparar o vínculo entre mãe e filho depois
pode ser trabalhado a partir do cotidiano, do corte do cordão umbilical. Depois do

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nascimento, as músicas que acalentam Ao se estabelecer na criança o jogo, o


e embalam o sono do bebê fortalecem a trabalho, a imaginação e a razão, solidificam-
memória sonora nos pequenos e a relação se o polo extremo da assimilação espontânea
com a mãe. do real, para o sistema lógico de significação,
organizadas no espaço e tempo.
Já no período pré-escolar as canções de
ninar ajudam a aproximar as crianças do A atividade lúdica se insere no
educador. As brincadeiras com palmas, rodas conhecimento baseado no fazer segundo
e cirandas ajudam no desenvolvimento da Bachelard. O indivíduo criador se expressa
percepção e atenção da criança desde cedo. intuitivamente complementando ao
conteúdo, conhecimento, vontade,
Passando a interagir e participar cada sentimento e a aparência. Há na fruição lúdica
vez mais intensamente com racionalidade uma interação nos jogos infantis, que por
na experiência, assimilando regras lógicas meio artístico, joga esteticamente revelando
gerais, o universo do adulto é o meio de um fator de conhecimento cultural.
desenvolvimento da criança. Criando
situações e espaços para o exercício da Todas as experiências e ações estéticas
liberdade, a criança age e faz sobre da resultam na: alegria do fazer, compreender,
matéria e o tempo momentos da ação. espontaneidade e concentração e como
adversário o inusitado e maravilhoso, com a
Três são os tipos de conhecimento beleza do momento.
figurativo: a percepção, a imitação e a
imagem mental, Piaget cita o fazer artístico Segundo o Referencial Curricular Nacional
do desenvolvimento da criança se estabelece “a música no contexto da Educação Infantil
nos jogos de ficção e jogos de construção. O vem, ao longo de sua história, atendendo
jogo de exercício é o primeiro que aparece a vários objetivos, alguns dos quais alheios
na criança, surge depois o jogo simbológico, às questões próprias dessa linguagem. Tem
que à medida que a criança cresce transforma sido, em muitos casos, suporte para atender
gradualmente em representações, a vários propósitos, como a formação de
bidimensionais e tridimensionais. hábitos, atitudes e comportamentos (...)
Essas canções costumam ser acompanhadas
Temos ainda o jogo das regras sociais por gestos corporais, imitados pelas crianças
ou interindividuais, diferentes do símbolo. de forma mecânica e estereotipada”, p.47
São nos jogos de construção que estão as
questões específicas da arte, que permitem O ambiente escolar para a criança deve
a transição entre as três categorias de estar repleto de repertórios musicais,
jogo, por envolver, transformar e acomodar principalmente com os sons da natureza e
simbolismos. a relação de entendimento entre o barulho

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Revista Educar FCE - Março 2019

e o silêncio, elementos diferenciadores no de passar pela experiência, pelo fazer, criar


entendimento de uma música verdadeira. e pensar sobre; o que envolve a realização,
a parte motora, a escuta, a reflexão, os
É necessário sempre diversificar os conceitos que a própria criança constrói.
repertórios do pré-escolar, as crianças
gostam de ter contato com diferentes estilos Em seus estudos e pesquisas Brito, pauta
musicais. As danças e rodopios é um bom o seu trabalho com as crianças em cima
exercício físico e ajuda no desenvolvimento do estudo do som e do silêncio. Para ela
da fala. para que a criança possa entender música
é necessário construir esse conceito. Brito
A música na Educação Infantil deve aponta “perceber gestos e movimentos sob a
ser uma importante fonte de estímulos, forma de vibrações sonoras é parte de nossa
equilíbrio e momento feliz para a criança. integração com o mundo em que vivemos”,
Cada momento musical deve incentivar a partir disso podemos entender a nossa
ações, comportamento motores e gestuais. paisagem sonora, um mundo musical ao qual
Entendemos a musicalidade como uma estamos sempre cercados.
tendência que leva o ser humano para a
música, quanto maior a musicalidade e mais Trazendo a criança para nossa discussão,
cedo a mesma é incentivada no indivíduo, podemos afirmar que esse mundo (paisagem
mais rápido será seu desenvolvimento. sonora), já faz parte muito cedo da vida
das crianças, ou melhor, esse contato com
A proposta de Brito para se trabalhar o mundo de vibrações já se dá desde a sua
a música na Educação Infantil vem se vida uterina”. Na escola de música desta
desenvolvendo há vinte anos na sua carreira educadora as crianças começam a fazer aulas
de educadora musical, possuindo várias a partir dos três anos, aproximadamente, pois
pesquisas sobre o assunto. Ela mostra ela acredita que a criança tem autonomia
uma visão da música não como objetivo para inventar e pensar sobre a música. Para
funcional, mas como elemento importante essas crianças, o primeiro exercício a ser
para a formação do homem. A música deixa trabalhado é a invenção de uma canção com
de ser só entretenimento, e passa a agir os nomes das crianças, com o objetivo de
como elemento para aprendizado, estímulo integração do grupo e a improvisação de
da percepção e desenvolvimento das instrumentos. Logo após, são explorados os
linguagens. jogos baseado no som e silêncio.

Para Brito, a educação musical para crianças Os primeiros anos de aprendizagem


é um processo continuo de construção, de são propícios para que a criança comece a
preferência ao longo prazo. Os processos de entender o que é linguagem musical, aprenda
construção do conhecimento musical tem a ouvir sons e a reconhecer diferenças entre

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Revista Educar FCE - Março 2019

eles. “Todo o trabalho a ser desenvolvido na Educação Infantil deve buscar a brincadeira
musical, aproveitando que existe uma identificação natural da criança com a música. A
atividade deve estar muito ligada à descoberta e à criatividade”, (2007), aponta Teca Alencar
em suas pesquisas.

Segundo Brito, o inicio do aprendizado da notação se dá partir do momento em que ela


faz sentido para as crianças. “Ler música é ler sons, caso contrário à leitura fica mecânica e
surda”.

O interesse mais definido por um instrumento em particular começa com a alfabetização,


quando a criança vai entrando no mundo da precisão, da consciência.

A criança se comunica como mundo desconhecido que a rodeia de diversas maneiras,


utilizando as expressões desde os seus primeiros meses de vida. De início, a linguagem é
movimento, é grito, é choro ou é riso, até transformar-se palavra. A partir daí a criança começa
outras formas de expressão: o salto, o gesto, sons, ruídos, a garatuja, ou seja, tudo que o faça
exteriorizar o que acontece em seu mundo interior, estimulado pelo mundo exterior.

Ao chegar até a escola, na Educação Infantil, a expressividade da criança é facilmente


perceptível ao professor. E este precisa estar atento para as mudanças comportamentais do
aluno, estimulando-o cognitivamente, desafiando sua psicomotricidade e, principalmente,
sua afetividade. Dessa maneira, ele estará garantindo o desenvolvimento integral da criança.

De maneira gradativa, a criança vai se soltando manifestando saltos e gritos, e as garatujas


vão se transformando em mímica, dança, canto, desenho e modelagem. A brincadeira lúdica
ou o jogo lúdico, pouco a pouco e naturalmente vai se transformando em jogo dramático.

É importantíssimo destacar que o professor, ao orientar as primeiras atividades de expressão


da criança, precisa considerar, antes de tudo, suas manifestações espontâneas, a única coisa
que permitirá a ela exteriorizar sua personalidade. Muitas sequelas podem ser deixadas por
uma condução irresponsável no que diz respeito à prática dessas atividades, dentre elas um
bloqueio, de que podem resultar em vários problemas, como timidez, agressividade, falta de
fluência verbal e gestual, dificuldade de relacionamento com os companheiros e outros mais.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As perspectivas curriculares de educação artística
para a compreensão da cultura visual distinguiram e
abordam produtos a partir de um novo campo de estudos
interdisciplinares.

A organização do conhecimento não pode admitir regras


universais, e a possibilidade de ordenação dos conteúdos
não pode ter uma forma única. Há maneiras de organizar o
ensino que favoreçam a aprendizagem para alguns grupos
de alunos, que se adapte melhor as finalidades educativas. BERENICE MONTEMURRO
BUENO
Sempre será necessário reorganizar cada trajetória
Graduação em Pedagogia
curricular estabelecendo diálogo com o que acontece nas Licenciatura Plena pela
diferentes experiências de sala de aula, da escola e de fora Faculdade Fundação Santo André
dela. Essas mudanças são levadas em conta o que propomos (09/12/1998); Pós Graduada em
Gestão Escolar pela Faculdade
para o ensino da cultura visual. Monte Alto ( 10/09/2011);
Professor de Educação Infantil e
Trata-se de desenvolver uma perspectiva de estudo que Fundamental I.

tem a intenção de estabelecer coerência entre problemas,


com a finalidade de opor-se ao potencial etnocentrista e
unidirecional das disciplinas atuais e de como se refletem
nos livros-textos.

Dessa forma, um currículo de educação para a


compreensão da cultura visual deve partir do conhecimento
crítico, tornando transparentes as concepções ocultas,
subjacentes, mediante a iniciação de um processo de
alteração criado para liberar e reforçar os diferentes grupos
de indivíduos. Os professores podem ajudar os alunos
a explorar as representações da cultura visual de uma
perspectiva transdisciplinar, com diferentes teorias sociais
e interpretações, e considerando a representação visual
como uma questão de convenções que se define por suas
condições históricas de origem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A educação escolar é a formadora da reconstrução de sua própria identidade em relação às


diferentes construções da realidade que lhe cercam e que necessita aprender a interpretar.

Aprender é processo: social, comunicativo e discursivo, onde o papel do docente não deve
limitar-se a realizar uma intervenção ativa, planejada e intencional para formar aprendizagens
necessárias para o desenvolvimento global do aluno.

A aprendizagem da Arte é obrigatória pela Lei de Diretrizes e Bases -LDB - no Ensino


Fundamental e no Ensino Médio, no entanto essa obrigatoriedade não é suficiente para
garantir a existência da Arte no currículo. Somente a ação do professor pode torná-la
essencial para favorecer o crescimento individual e o comportamento dos cidadãos. Ao
Poder Público cabe propiciar meios para que os professores desenvolvam a capacidade de
compreender, e conceber a Arte.

A Arte-Educação tem sua missão de favorecer o conhecimento das diversas formas de


Arte. A Arte é um grande desafio pois, nos coloca questões que nos permite utilizar diversas
áreas do conhecimento, ela desafia, questiona, e levanta hipóteses.

A arte contemporânea é discutida por vários estudiosos e especialistas. Ela é complexa e


consequentemente seu ensino também. É necessário investimento na significação da Arte,
do artesanato e do design nas escolas, nas pesquisas, no artista e no educador juntos, e
rejeição da segregação cultural na educação como afirma Paulo Freire.

Uma mediação sempre será a articulação entre as histórias pessoais e coletivas dos
aprendizes de Arte. O educador deve ser capaz de criar situações que possam ampliar a
leitura e compreensão das pessoas, sobre sua cultura e seu mundo. No ensino da Arte é
preciso pensar em desafios instigantes e estéticos.

O papel da Arte na educação está relacionado aos aspectos artísticos e estéticos do


conhecimento. Expressar o modo de ver o mundo nas linguagens artísticas dando forma e
colorido é uma das funções da Arte na escola.

A educação estética tem como lugar privilegiado o ensino da Arte, entendendo por
educação estética as várias formas de leitura, de fruição que podem ser possibilitadas às
crianças no seu cotidiano. É preciso educar o olhar da criança desde a Educação Infantil. O
ensino da Arte contemporânea busca possibilitar atividades interessantes e acessíveis às
crianças.

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REFERÊNCIAS
BARBOSA, Ana. MAE. (1981). Imagem no ensino da Arte: ano oitenta e novos tempos, São
Paulo: Perspectiva, 1981.

(ORG.). Arte-educação: leitura no subsolo. São Paulo: Cortez, 1997.

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para


Educação Infantil. Secretaria de Educação Fundamental, Brasília, 1998, vol. 3.

FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios: um ensaio sobre música e


educação. São Paulo: Editora da UNESP, 2008.

MARQUES, Isabel. A. Arte em Questões, São Paulo: Digitexto Editora, 2012

PILLAR, Analice Dutra (org.) A educação do olhar no ensino das artes. Porto Alegre: Mediação,
1999.

São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Divisão de


Educação Infantil. Parques sonoros da educação infantil paulistana. – São Paulo: SME /
COPED, 2016.

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A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO
DE HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
RESUMO: Através de uma pesquisa realizada em livros e trabalhos acadêmicos que versem
sobre a temática ficou evidente que muitas crianças apresentam dificuldades de aprendizagem
durante o processo da alfabetização. O objetivo principal desta pesquisa foi o de investigar,
intervir, amenizar e estimular uma aprendizagem construtivista, envolto à afetividade,
com ações planejadas, dialogadas, significativas, e sistematizadas a partir do cotidiano e
dos interesses que envolvem duas instituições seculares: a família e a escola com o eixo
voltado às necessidades dos educandos. Todo este processo foi desenvolvido com leituras
e releituras de vários autores comprovadamente envolvidos com a problemática visando
que a criança apresente avanços com resultados positivos e significativos e família e escola
despertem para a importância de estreitar as relações no processo ensino aprendizagem.

Palavras-Chave: Dificuldade de Aprendizagem; Alfabetização; Criança; Família; Afetividade

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INTRODUÇÃO poderiam estar solucionados a partir de


uma ação mais competente, eficiente e
Atualmente, no cenário educacional abrangente da escola. Hoje, para além do
brasileiro, existem paradigmas que afetam fracasso escolar dos nossos educandos,
diretamente a atuação dos principais atores a escola passa a ser responsabilizada por
sociais na relação ensino-aprendizagem. É não conseguir oferecer alternativas que
cada vez mais recorrente a culpabilização alterem este quadro negativo, inclusive no
da ausência da família no acompanhamento avanço, acesso e permanência de crianças
do processo educacional da criança, o que e adolescentes em idade de frequentar o
gera, em alguns casos, a justificativa pela ensino regular.
inatividade da ação pedagógica do professor,
que, equivocadamente, ao menos em minha Foi com base nestas reflexões que, após
opinião e na opinião de diversos autores, um debate que objetivava a realização do
como perceberemos no transcorrer da leitura Planejamento Escolar 2012, achei oportuno
deste trabalho de pesquisa, não se sente realizar o trabalho, ora apresentado, para,
responsável pelo todo que compreende este a partir dele, provocar a problematização
processo. Segundo a afirmação de parte de outro viés presente no universo escolar:
destes profissionais, à escola cabe permitir o um recorte necessário sobre as dificuldades
acesso à leitura e escrita e, por conseguinte, de aprendizagem que tal situação – relação
ao conhecimento e, portanto, a socialização família-escola – ajuda ou dificulta o pleno
do indivíduo, sua conduta ética e moral, seus desenvolvimento do escolar.
anseios e inserção no mundo em sociedade
estaria a cargo da família, corresponsável Como profissional que atua na Educação
inclusive, pelo processo de desenvolvimento Infantil, a qual está contida na LDB, Lei de
das habilidades mínimas na trajetória escolar Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
do aluno. como a modalidade que configura como a
primeira etapa da Educação Básica, a qual
Por outro lado, a divulgação de dados, deve ser considerada de suma importância
nas várias esferas de governo, geralmente e, justamente por isso está em perfeita
em forma de ranking, provoca um olhar consonância com o estudo deste tema,
desconfiado da sociedade para o universo acredito que esteja nela a possibilidade
escolar, ao mesmo tempo em que remete a em detectar vários problemas que possam
escola o rótulo de “salvadora da pátria”, vez facilitar a inserção da criança que realmente
que afirma que vários problemas sociais, possua alguma dificuldade e torne mais
econômicos, ambientais e de posturas branda a sua atuação no Ensino Fundamental.
mais sensíveis frente ao combate do
individualismo, dentre vários outros conflitos Desta forma, cumpre-me perguntar:
presentes na sociedade contemporânea, Como duas instituições que “supostamente”

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Revista Educar FCE - Março 2019

trabalham em separado podem se unir Conforme consta em Polity (1998, p.73),


frente à facilitação do processo ensino o termo Dificuldade de Aprendizagem é
aprendizagem das crianças? definido pelo Instituto Nacional de Saúde
Mental (EUA) da seguinte forma:
E para responder a esta questão/problema
tratei de não especificar ou conceituar esta Segundo a autora, esse termo é definido
ou aquela dificuldade de aprendizagem ou de várias maneiras, por diferentes autores,
distúrbios, com suas semelhanças e diferenças, diferindo-se quanto à origem: orgânica,
como denominam alguns estudiosos, mas intelectual/cognitiva e emocional (incluindo-se
tratá-la de forma ampla sem a presunção aí a familiar). O que se observa na maioria dos
de elaborar uma receita infalível para uma casos é um entrelaçamento desses aspectos.
convivência mais saudável e rentável, para o
aluno, entre as duas instituições. Para a compreensão das possíveis
alterações no processo de aprendizagem é
Sabemos que o processo de aprendizagem necessário considerar-se tanto as condições
é pessoal e a construção dessa internas do organismo (aspecto anátomo-
aprendizagem ocorre de diferentes maneiras funcional e cognitivo), quanto às condições
alterando-se de um sujeito para outro, as externas (estímulos recebidos do meio-
características individuais diferenciam-se ambiente) ao indivíduo. Fatores como
em particularidades pessoais que em alguns linguagem, inteligência, dinâmica familiar,
casos independem da aprendizagem. afetividade, motivação e escolaridade, devem
desenvolver-se de forma integrada para que
Esta dificuldade poderá acontecer o processo se efetive (ROGERS, 1988).
por vários motivos dentre eles destaco
a metodologia inadequada, ausência de Este trabalho refere-se ao papel da família
afetividade familiar e ou escolar e um olhar no desenvolvimento da aprendizagem da
mais cuidadoso perante as dificuldades criança quanto ao aspecto psicológico,
apresentadas pela criança durante o processo emocional, social e de estimulação dos
educacional. aspectos cognitivos.

As dificuldades de aprendizagem, Sabe-se que as crianças que apresentam


segundo Rogers (1988), podem significar dificuldades de aprendizagem, geralmente,
uma alteração no aprendizado específico possuem uma baixa autoestima em função
da leitura e escrita, ou alterações genéricas de seus fracassos e que esses sentimentos
do processo de aprendizagem, onde outros podem estar vinculados aos comportamentos
aspectos, além da leitura e escrita, podem de desinteresse por determinadas atividades,
estar comprometidos (orgânico, motor, tempo de atenção diminuído, falta de
intelectual, social e emocional). concentração e outros.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A família, desconhecendo as necessidades são relevantes no desenvolvimento da


da criança e a maneira apropriada de lidar criança, havendo, portanto, a necessidade
com esses aspectos, muitas vezes, necessita de maior compreensão desse processo, por
de orientações que lhe dê suporte e lhe parte dos profissionais, para que possam
possibilite ajudar seu filho. Fatores como intervir de forma mais abrangente diante da
motivação, formas de comunicação, estresses problemática.
existentes no lar, influenciam o desempenho
da criança no processo de aprendizagem, e Em muitos casos, em um trabalho
os psicopedagogos, muitas vezes, sentem- especializado com crianças apresentando
se limitados quanto às orientações a dificuldade de aprendizagem, não é suficiente
serem dadas pela falta de conhecimento transmitir aos pais as atividades específicas
aprofundado sobre os diversos aspectos a serem realizadas; outros aspectos ligados à
familiares que podem contribuir para um família, à escola ou relacionados a dificuldades
resultado mais desejável. em outras áreas do desenvolvimento também
estão presentes, e é necessário ouvir os pais,
Vários comportamentos manifestados analisar a situação e buscar caminhos que
pelas mães também levam a questionar facilitem o desenvolvimento global da criança.
a respeito da influência familiar sobre a
aprendizagem. Segundo Marturano (1999), há Alguns pais confiam seus filhos com
mães que demonstram excessiva ansiedade dificuldade de aprendizagem aos professores
quanto a superação da dificuldade da acreditando que o mau desempenho da
criança; outras que se mostram impacientes criança seja proveniente apenas de si mesma,
quanto ao desempenho insatisfatório que o sem questionar sua possível participação
filho apresenta; mães que atribuem todo o nessas alterações.
problema à criança e a caracterizam como
“preguiçosa”, “lerda”, “distraída”; mães que A importância da participação da
negam a dificuldade que a criança demonstra; família no processo de aprendizagem é
mães que não acompanham as atividades de inegável e a necessidade de se esclarecer
seu filho e mães que punem a criança pela e instrumentalizar os pais quanto as suas
seu fracasso nas atividades escolares. possibilidades em ajudar seus filhos com
dificuldades de aprendizagem é evidenciada
Isso acontece pelo fato de os ao manifestarem suas dúvidas, inseguranças
pais desconhecerem como ocorre a e falta de conhecimento em como fazê-
aprendizagem e, portanto, necessitam de lo. Conforme Martins (2001, p.28), “essa
orientações específicas a esse respeito. problemática gera nos pais sentimentos
Sabe-se, também, que, muitas vezes, os de angústia e ansiedade por se sentirem
conflitos familiares estão associados a essas impossibilitados de lidar de maneira acertada
manifestações e que as relações familiares com a situação”.

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Acredita-se que um programa de frequenta e pelas características próprias,


intervenção familiar seja de fundamental como temperamento.
importância para o desenvolvimento e
aprendizagem da criança. O relacionamento As crianças possuem uma tendência
familiar, a disponibilidade e interesse dos natural, instintiva que as direciona ao
pais na orientação educacional de seus desenvolvimento de suas potencialidades.
filhos, são aspectos indispensáveis de ajuda Os pais devem ter conhecimento desse
à criança. Em um trabalho de orientação a processo para que não dificultem ou impeçam
pais, de acordo com Polity (1998), é possível o crescimento espontâneo da criança.
despertar a sensibilidade dos mesmos para Pela falta de compreensão da natureza e
a importância destes aspectos, dando-lhes a necessidades básicas do ser humano, os
oportunidade de falar sobre seus sentimentos, pais, muitas vezes, prejudicam a busca do
expectativas, e esclarecendo-lhes quanto às próprio desenvolvimento, pela criança. O
necessidades da criança e estratégias que modo como os pais lidam com seus filhos
facilitam o seu desenvolvimento. pode ajudá-los no desenvolvimento das suas
potencialidades e no relacionamento com o
Através das experiências e relações mundo, possibilitando-lhes o enriquecimento
interpessoais, a família pode promover o pessoal através das experiências que o meio
desenvolvimento intelectual, emocional e lhes proporciona.
social da criança. Ela pode criar situações no
dia-a-dia que estimularão esses aspectos, O processo educativo (desenvolvimento
desde que esteja desperta para isso. Além gradativo da capacidade física, intelectual
disso, a participação da criança nas atividades e moral do ser humano) familiar deve ser
rotineiras do lar e a formação de hábitos adequado para possibilitar à criança o
também são importantes na aquisição dos sucesso na aprendizagem, proporcionando-
requisitos básicos para a aprendizagem, lhe a motivação, o interesse e a
pois estimulam a organização interna e a concentração necessária para a apreensão
habilidade para o ‘fazer’, de maneira geral do conhecimento.
(MARTURANO, 1998).
A adequação desse processo compreende
A família tem um papel central no o atendimento às necessidades da criança
desenvolvimento da criança, pois é dentro quanto à presença dos pais compartilhando
dela que se realizam as aprendizagens suas experiências e sentimentos, orientação
básicas necessárias para o desenvolvimento firme quanto aos comportamentos adequados,
na sociedade, como a linguagem, sistema possibilidade de escolhas, certa autonomia
de valores, controle da impulsividade. As nas suas ações, organização da sua rotina,
características da criança também são oportunidade constante de aprendizagem e
determinadas pelos grupos sociais que respeito e valorização como pessoa.

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A criança necessita de equilíbrio e indisciplina ocorrem e podem ser causadas


entre condutas disciplinares e diálogo, pela ausência de limites. A primeira geração
compreensão e carinho. Num processo educou os filhos de maneira patriarcal,
educativo os pais experienciam a isto é, os filhos eram obrigados a cumprir
necessidade de um trabalho de autoanálise, as determinações que lhes eram impostas
de reestruturação de seus comportamentos, pelo pai. A geração seguinte contestou
crenças, sentimentos e desejos. Os pais esse sistema educacional e agiu de maneira
precisam conquistar em relação a si mesmos, oposta, através da permissividade. Os jovens
primeiramente, o que querem que os filhos ficaram sem padrões de comportamentos e
sejam: justos, disciplinados, honestos, limites, formando uma geração com mais
responsáveis (GRUNSPUN, 1985). Esse liberdade do que responsabilidade.
processo ocorre nas vivências do dia-a-dia,
na medida em que pais e filhos comunicam- Tanto na família quanto na escola,
se de maneira transparente e sincera, falando segundo Tiba (1999, p.45), há “a necessidade
de suas percepções, suas dúvidas, objetivos, de orientação às crianças quanto às
emoções, aprendendo uns com os outros. regras disciplinares, para que elas possam
desenvolver a capacidade de concentração e
Criar filhos não significa torná-los de apreensão dos conceitos”. A aprendizagem
perfeitos, pois os pais têm muitas dúvidas se dá de maneira gradativa e não será
e estão sujeitos a muitas falhas; mas o que possível sem a participação ativa do aluno,
é necessário é tentar identificar os conflitos de maneira disciplinada, orientada.
e desfazê-los, aprendendo a conviver com
essas situações. Através dos conflitos os Os pais devem preparar os filhos para
pais desenvolvem a percepção de si mesmos arcarem com suas responsabilidades. Na
e de seus filhos. Essas situações estimulam medida em que a criança vai aprendendo
pais e filhos a instalar um diálogo verdadeiro, a cuidar de si mesma, vai experimentando
expondo o entendimento e sentimento em a sensação gratificante da capacidade de
relação às experiências cotidianas. Por outro enfrentar desafios. E cada realização é um
lado, aspectos fundamentais do processo aprendizado que servirá de base para um
educativo revelam que os pais devem ter novo aprendizado. Assim, realizando suas
respeito sobre o que o filho sente, mas cabe vontades e necessidades, a criança vai
a eles negar com firmeza e determinação gostando de si mesma, desenvolvendo a
as atitudes que possam contrariar o que autoestima.
desejam para a educação de seus filhos
(TIBA, 1999). O relacionamento familiar também é
fundamental no processo educativo. A
Dificuldades escolares apresentadas pelas criança estará muito mais receptiva às
crianças, relacionadas à falta de concentração instruções dos pais, se os membros da

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família se respeitarem entre si, procurando prejudicam a aquisição de conhecimentos


conversar e colaborar um com o outro. como também, na maioria delas, são apenas
É importante a participação dos pais na resultantes de problemas educacionais ou
vida dos filhos, numa convivência como ambientais que não estão relacionados a um
companheiros, compartilhando emoções, o comprometimento cognitivo. Desse modo,
que contribui muito para a disciplina. faremos análises que não compreenderão
uma diferenciação entre dificuldades de
Todos esses aspectos citados e muitos aprendizagem ou dificuldade escolar e
outros são fundamentais para que o distúrbio de aprendizagem, embora existam
desenvolvimento da criança se efetive. autores que os diferenciem.
Portanto, a família necessita da ajuda
dos profissionais na aquisição desses Não se trata também de buscarmos
conhecimentos básicos e essenciais para aprofundamento nas questões voltadas a
que possa cumprir seu papel de facilitadora Dislexia, Disfasia, Disortografia, Disgrafia,
do processo de aprendizagem de seus Discalculia, Lesão Cerebral ou TDAH e sim
filhos, através de comportamentos mais levantarmos posicionamentos teóricos que
adaptativos. envolvem a temática relacionada aos atores
– público alvo – deste trabalho, quais sejam:
pais, alunos e professores.
O PAPEL DA FAMÍLIA
NO PROCESSO ENSINO- A aprendizagem é o processo por meio
do qual a criança se apropria ativamente do
APRENDIZAGEM conteúdo das experiências humanas, daquilo
que o seu grupo social conhece. Para que ela
Neste capítulo inicial é fundamental aprenda e supere as dificuldades precisará
delimitar como será entendido aqui, o interagir com outros seres humanos,
conceito “dificuldade de aprendizagem”, já especialmente com os adultos e com outras
que há na literatura científica, discordâncias crianças mais experientes. E esta primeira
e consensos entre distúrbio e dificuldade de convivência está inserida no contexto
aprendizagem. De acordo com Ciasca (2003) o familiar.
distúrbio de aprendizagem se caracteriza por
uma disfunção do sistema nervoso central, “A família é o lugar indispensável para a garantia
da sobrevivência e da proteção integral dos filhos
já a dificuldade escolar está relacionada e demais membros, independentemente do arranjo
especificamente à um problema de ordem familiar ou da forma como vêm se estruturando. É a
ou origem de método de ensino. Contudo, família que propicia os aportes afetivos e, sobretudo
materiais necessários ao desenvolvimento e bem-
Dockrell & McShane (2000) afirmam que estar dos seus componentes. Ela desempenha um
as dificuldades de aprendizagem podem papel decisivo na educação formal e informal, e é
ser decorrentes de déficits cognitivos que em seu espaço que são absorvidos o valor ético
e humanitário, em que se aprofundam os laços

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de solidariedade. É também em seu interior que


se constroem as marcas entre as gerações e são Existem fatores socioeconômicos,
observados valores culturais”. (Kaloustian, 1988, descritos pelos autores (Muñoz et. al,
p.65) 2005) dos quais os pais participam, sem
poderem facilmente modificá-los. Entre eles
A educação familiar é um elemento encontram-se as más condições de moradia,
imprescindível na formação da personalidade a falta de espaço, de luz, de higiene, assim
da criança, pois, é no seio familiar que como da alimentação mínima necessária para
constitui-se e desenvolve-se valores o crescimento e desenvolvimento infantil
morais, de juízo, éticos, sua criticidade adequado.
e cidadania que refletirá diretamente no
seu envolvimento escolar. É no contexto Conforme afirma Del Prette & Del Prette
familiar que se lapida e consolida na maioria (2005), os pais utilizam três alternativas para
dos casos o caráter da criança que virá a promover a competência social dos filhos:
tornar-se adulto. A família desempenha um o estabelecimento de regras através de
papel importante na formação do indivíduo, orientações, manejo de consequências por
pois permite e possibilita a constituição de meio de recompensas/punições e servindo
sua essencialidade. É nela que o homem como exemplo.
concebe suas raízes e torna-se um ser capaz
de elaboração alargador de competências Autores citados por Bolsoni-Silva &
próprias. Marturano (2002) apontam habilidades
parentais que interferem na aprendizagem
Muñoz, Fresnada, Mendoza, Carballo & e socialização dos filhos. Dialogar com os
Pestun (2005) descrevem fatores familiares filhos. Expressar os sentimentos dos pais
contribuintes citados por pesquisas para os seus filhos e aceitar os sentimentos
científicas para o transtorno da leitura, que dos filhos. Evitar o uso de punições,
acreditamos serem importantes para as privilegiando a utilização de recompensas
diversas dificuldades de aprendizagem. São aos comportamentos adequados. Ignorar
apontados como aspectos agravantes das o comportamento inadequado, não dando
dificuldades na aquisição de conhecimentos atenção a ele. Cumprir promessas, pois os
o alcoolismo, as ausências prolongadas, as pais ao prometerem e não cumprirem faz
enfermidades e o falecimento dos pais. A com que os filhos sintam-se enganados,
violência doméstica e a separação conjugal prejudicando o relacionamento familiar e
também afetam o ensino. Em relação aos servindo de exemplo de que não é obrigatório
irmãos, são ressaltadas as relações de cumprir com a palavra. Entendimento do
competitividade e rivalidade. Os maus hábitos casal quanto à educação dos filhos e a
(permitidos ou negligenciados pelos pais), participação de ambos os progenitores na
como assistir televisão demasiadamente e divisão de tarefas educativas. Habilidade
falta de descanso também contribuem. de dizer não, negociar e estabelecer regras

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Revista Educar FCE - Março 2019

para os filhos. Os pais precisam pedir tarefas outras atividades, que organizem um tempo
para os filhos de forma que sejam capazes mesmo que seja pouco, mas que seja um
de cumprir conforme idade e as habilidades tempo de qualidade, para uma relação com os
que possuem. A habilidade de desculpar- seus filhos de amor, respeito, compreensão,
se precisa ser considerada, pois os pais troca, socialização e crescimento. Neste
ao pedirem desculpas, estão admitindo sentido, precisam abrir mão da oferta de
os próprios erros e ensinando os filhos a brinquedos, televisão, videogame, para que
comportarem-se de forma parecida, o que é a atenção dessas crianças seja preenchida,
desejo dos pais. enquanto se ocupam com outras atividades
esquecendo-se de dar o carinho e o amor que
A participação dos pais nas atividades estas crianças necessitam tanto. E também,
escolares também é de suma importância, eles precisam ter a exata compreensão de
além das habilidades parentais. Sampaio, que não podem delegar para a escola o dever
De Souza & Costa (2004) acreditam que de educar com valores morais e afetivos, pois,
é relevante realizar um treinamento de além de propiciar fortes condições para as
pais para o auxilio do filho na realização dificuldades de aprendizagem, ainda trazer
adequada das tarefas de casa e com isso um grande prejuízo para a relação familiar.
estar atentos para condições antecedentes
aos comportamentos envolvidos no estudar,
os próprios comportamentos e as condições A CRIANÇA E SUA RELAÇÃO
consequentes a eles. As condições COM O UNIVERSO ESCOLAR
antecedentes são: ambiente organizado,
bem iluminado, silencioso, horário fixo de
estudo, material escolar completo e atraente. Muito tem se falado sobre as dificuldades
As respostas envolvidas compreendem: de aprendizagem que as crianças enfrentam
atenção aos prazos de entrega, postura na escola, os motivos que levam as mesmas
corporal adequada e métodos adequados a fracassarem e o papel fundamental da
de estudo. As condições após a execução do família. Mas e a escola? O que ela pode
ato de estudar são consequências positivas, fazer para ajudar seus alunos? O professor, a
como elogios e recompensas. coordenação pedagógica e outros membros
da equipe da escola? A escola deve ser
De fato, a família é o primeiro lugar que um lugar onde as crianças sintam vontade
passa segurança, que acolhe a criança após de ir, que peçam aos pais para levarem e
o nascimento. É importante que a criança acima de tudo, um lugar que possibilite o
encontre no lar proteção, segurança e apoio conhecimento, a aprendizagem. Por que
psicológico. Para um bom desenvolvimento então a escola, com tantas obrigações com
físico, mental e cognitivo, é necessário, seus alunos é uma das causas das dificuldades
mesmo que os pais tenham outros filhos, de aprendizagem?

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Revista Educar FCE - Março 2019

Segundo Piaget, à medida que o ser se situa sejam elas situadas no campo ou na cidade,
no mundo estabelece relação de significações, lugares estes geralmente descuidados pelo
isto é, atribui significados à realidade em poder público, discutir sobre a poluição
que se encontra. Esses significados não são dos riachos, dos córregos, os baixos níveis
faculdades estáticas, mas, ponto de partida de bem-estar das populações, os lixões
para atribuição de outros significados. Hoje, e os riscos que oferecem à nossa saúde.
os grandes objetivos da Educação são: Questioná-los fazendo comparações com
ensinar a aprender, ensinar a fazer, ensinar a estruturas e vantagens que bairros nobres
ser, ensinar a conviver em paz, desenvolver têm sobre os de periferia, dentre outras
a inteligência e ensinar a transformar questões pertinentes ao assunto.
informações em conhecimento. Para atingir
esses objetivos, o trabalho de alfabetização Desenvolvermos e construirmos com
precisa desenvolver o “letramento” das nossos alunos reflexões críticas sobre os
situações reais que estão vivendo. acontecimentos que envolvem o nosso
planeta em todos os aspectos sejam eles:
“O letramento é entendido como produto políticos, econômicos, educacionais,
da participação em práticas sociais que usam a
escrita como sistema simbólico e tecnologia [...]. ambientais, questões de cunho racial, de
São práticas discursivas que precisam da escrita etnias, ações discriminatórias, regionais,
para torná-las significativas, ainda que às vezes sociais entre tantos outros aspectos
não envolvam as atividades específicas de ler
ou escrever (Parâmetros Curriculares Nacionais relacionados a esta questão. Toda esta
BRASIL, 1998, p.19)”. dimensão sistematizada e dialogada de
forma significativa irá ajudá-los a entender
Os PCNs propõem um currículo baseado o seu contexto, incitando-o a pensar e agir
no domínio das competências básicas e que como um cidadão consciente, crítico, ativo
esteja em consonância com os diversos e participativo perante a sociedade na qual
contextos de vida dos alunos. está inserido.

Segundo Freire (1996), Ensinar exige Muitos estudos defendem o papel


respeito aos saberes dos educandos, da interação social no processo da
precisamos como educadores discutir com aprendizagem. Consequentemente, os
os alunos a razão de ser de alguns desses aspectos afetivos emergem como dimensão
saberes em relação com o ensino dos social do desenvolvimento humano.
conteúdos.
“Segundo GALVÃO (2000), Wallon
Como educadores devemos aproveitar argumenta que as trocas relacionais da
e respeitar as experiências que trazem os criança com os outros são fundamentais
nossos alunos, aproveitar os contextos e para o desenvolvimento da pessoa.” A
situações que se apresentam, em evidências, afetividade, o diálogo, a liberdade de

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Revista Educar FCE - Março 2019

expressão são elementos fundamentais para conseguem fazer uma leitura da corporeidade
os avanços que a criança pode apresentar e da expressão, percebendo dificuldades,
na sua forma de apreender a aprender. limitações. A partir de então estabelece
Sabemos que a realidade das salas de aula com este aluno uma relação de afetividade
nas escolas públicas, muitas vezes não nos facilitando a construção do conhecimento,
permite perceber simples gestos que podem tornando-o mais preciso e prazeroso.
tornar-se problemas futuros e ou até mesmo
presentes no contexto escolar, por isso, Wallon (1978) afirma que a criança acessa o
precisamos sempre nos auto avaliarmos para mundo simbólico por meio de manifestações
não sermos cúmplices em alguns casos, das afetivas que se estabelece entre elas e os
dificuldades de aprendizagem apresentadas adultos. Para ele, à medida que o indivíduo se
pelos nossos educandos. desenvolve cria-se uma forma de expressão
mais complexa. O docente passa ser um
As ideias de mediação e internalização ponto de referência para o aluno, por isso
encontradas em Vygotsky (1994) permitem deve-se redobrar o cuidado na relação entre
defender, que a construção do conhecimento o professor e o aluno. É importante ressaltar,
ocorre a partir de um intenso processo de que toda relação pedagógica tem dimensão.
interação entre as pessoas.
“Na relação pedagógica, o que se aprende não
é tanto o que se ensina, mas o tipo de vínculo
O papel do outro tem uma importância educador/educando que se estabelece na relação”.
fundamental enquanto formação do sujeito, (GARCIA.1998, p.41).
já que o outro é importante na construção
do que sou, pois, sozinho não há conflito Pela relação que estabelece na sala
e não terá modificação. A interação com de aula, o professor ao ensinar, exerce
o outro, desperta no sujeito a capacidade significativa influência sobre o aluno que
de buscar novas significações e trocas de aprende, levando-o a alterar, modificar e
conhecimento. E indubitavelmente, é no transformar atitudes, ideias habilidades e
espaço escolar que esta relação se intensifica. comportamentos. Sua atuação ultrapassa,
no entanto, a simples transmissão de
As escolas devem estar preparadas conhecimentos. Como professor preciso me
para receber os alunos, mas para que esse mover com clareza na minha prática.
“acolhimento” tenha sucesso integralmente
é preciso que os profissionais que atuam A relação ensinar e aprender não se limita
diretamente com os discentes tenham uma ao espaço da sala de aula. Ela é muito mais
formação adequada. ampla, estendendo-se além da escola na
medida em que as expectativas e necessidades
Quando os profissionais são capacitados sociais bem como a cultura, valores éticos,
e possuem uma formação continuada, eles morais e intelectuais, os costumes, as

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Revista Educar FCE - Março 2019

preferências, entre outros fatores presentes dialogada com os alunos, na construção coletiva
na sociedade, tem repercussão direta no do saber valorizando a realidade social do aluno.
trabalho educativo.

(...) saber que ensinar não é transferir CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS


conhecimento, mas criar as possibilidades para a
sua própria produção ou a sua construção . Quando PARA AS CRIANÇAS
entro em uma sala de aula de aula devo estar
sendo um ser aberto a indagações, a curiosidade, As estruturas familiares estão mudando a
as perguntas dos alunos, as suas inibições: um ser
crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que cada dia e isto está trazendo alguns reflexos
tenho – a de ensinar não de transferir conhecimento. para o desenvolvimento do aluno em sala de
(FREIRE. 1996, p 47). aula. Muitas vezes os pais delegam a função
de educar somente á escola se ausentando
Segundo Freire é necessário desmistificar das reuniões e atividades escolares fazendo
que a escola tem como função primordial com que o aluno se desinteresse de sua
transferir conhecimentos de uma geração a carreira estudantil.
outra, o oficio do professor vai, além disso. É
importante destacar que na relação professor/ A família em conjunto com a escola deve
aluno o conhecimento é construído dia a buscar bastante esforço e empenho para
dia, onde ensino e aprendizagem acontecem que a aprendizagem da criança seja em
concomitantemente. sua totalidade beneficiada. Almeida (1999,
p.107 apud Leite e Tassoni, 2002, p.127),
O discente no decorrer do processo diz que: as relações afetivas se evidenciam,
pedagógico precisa construir a capacidade pois a transmissão do conhecimento implica,
de perceber-se como ser atuante e não necessariamente, uma interação entre
apenas um ser passivo, sendo “sombra” do pessoas. Portanto, na relação professor
professor. Os alunos de diferentes meios aluno, uma relação humana, o afeto está
sociais chegam até a escola trazendo uma presente.
bagagem de características culturais e
pessoais, que influenciam diretamente na Pelo que foi citado acima, percebemos
sua relação pedagógica com o conhecimento, que a intervenção com pais é essencial e
e consequentemente determina a maneira deve permitir com que eles analisem os seus
pela qual responde as exigências próprias do comportamentos. É importante, também,
processo ensino aprendizagem. que se façam intervenções com a criança
para que se aumente o repertório dela em
Dessa forma, entendemos que o professor habilidades sociais.
deixa de ser o transmissor de conhecimentos
numa relação vertical, e assume a condição A criança deve ser capaz de pedir e aceitar
de educador que, num processo de interação auxílio na realização das tarefas escolares.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Iniciar, manter e terminar conversação que se percebam como únicos e valiosos,


com colegas, irmãos e pais. Expressar não necessitando se igualar a outros ou a
suas opiniões para professores, amigos e uma “normalidade”, mas sendo capazes de
familiares. Recusar-se a fazer o que não quer, aprender com as experiências vividas.
como: destruir materiais de outros colegas
e cabular aulas por influência de amigos. Os familiares comumente culpam a
Analisar situações conflitantes bem como criança pela dificuldade de aprendizagem.
formas de resolvê-las, tais como brigas entre Afirmam que os filhos são responsáveis
colegas e acusações injustas por parte de pelo problema, pois acreditam não eles não
professores e pais. tenham interesse pelos conteúdos escolares,
são preguiçosos para realizar as tarefas, são
O aumento das habilidades da criança distraídos, menosprezam os esforços que os
melhora não somente as relações familiares, pais fazem por eles e são “malcriados”.
como também o ser ajustamento em relação
à escola. Contudo, o trabalho com pais e Tal crença faz com que as crianças se
crianças, é comprometido por questões responsabilizem por algo que não compete
socioeconômicas ou pessoais. Há pais que somente a elas, o que prejudica a autoestima,
dizem: “Não posso faltar ao serviço para vir bem como gera reações emocionais de
toda semana, pois não terei dinheiro no final tristeza, irritabilidade, cansaço e, com
do mês.”, “Trabalhamos o dia todo, à noite, frequência, desinteresse pelo estudo. Além
cansados, é que não temos paciência para disso, essa ideia não oportuniza a busca de
ensinar ou ver as tarefas”. Outros pais ou auxílio adequado à criança, ou seja, uma
responsáveis, como avós, têm problemas de avaliação médica, psicológica e pedagógica
saúde, dentre tantos outros. Tais problemas que verifique os motivos da dificuldade e
comprometem o seguimento dos encontros, que direcione quais são as modificações
a execução das atividades pedidas, como necessárias, sendo estas no âmbito da
acompanhar a realização das atividades para família, da escola e da própria criança.
casa dos filhos, e conversar com professores
na escola. Os pais devem aprender a estabelecer
regras bem definidas e viáveis. É necessário
São informações que demonstram a que os pais dialoguem com a criança sobre
importância de se oportunizar que os sujeitos o motivo das regras, negociando com o filho
envolvidos reflitam sobre a história vivida em as que podem ser flexibilizadas. Os pais
relação à dificuldade escolar e ao estigma de devem também ser firmes na verificação
se ter ou de ser um filho que não aprendeu do cumprimento delas. No caso da
na mesma velocidade que outras crianças. desobediência à regra, antes de aplicar uma
Assim se pode atribuir um novo significado punição, como castigo ou bronca, deve-se
para as experiências de fracasso. É relevante investigar com o filho quais foram as razões

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para o não cumprimento dela, de modo José e Coelho (2002) colocam que as
que saibam evitar o desrespeito a norma. crianças não conseguem acompanhar o
Tais habilidades de refletir sobre as regras, currículo estabelecido pela escola e, porque
negociá-las e pensar sobre as consequências fracassam, são classificados como retardados
das mesmas no contexto da família, são mentais, emocionalmente perturbados ou
importantes para que a criança também simplesmente rotulados como alunos fracos
aprenda a respeitar as normas da escola, e multirrepetentes.
dialogar com os professores sobre elas e
explicarem-se e desculparem-se quando não Souza (1996) afirma que o ambiente de
foram capazes de cumpri-las. origem da criança é altamente responsável
pelas suas atividades de segurança no
Strick e Smith (2001) ressaltam que o desempenho de suas atividades e na
ambiente doméstico exerce um importante aquisição de experiências bem sucedidas,
papel para determinar se qualquer criança o que faz a criança obter conceito positivo
aprende bem ou mal. As crianças que sobre si mesma, fator importante para a
recebem um incentivo carinhoso durante aprendizagem.
toda a vida tendem a ter atitudes positivas,
tanto sobre a aprendizagem quanto sobre si Para Garcia (1998) é possível conceber a
mesmas. Essas crianças buscam e encontram família como um sistema de organização, de
modos de contornar as dificuldades, mesmo comunicação e de estabilidade. Esse sistema,
quando são bastante graves. a família, pode desordenar a aprendizagem
infantil, o mesmo que podem fazer os fatores
As autoras colocam que o estresse sociais tais como a raça e o gênero na escola.
emocional também compromete a
capacidade das crianças para aprender. A O autor ainda refere que as dificuldades
ansiedade em relação a dinheiro ou mudanças de aprendizagem devem ser diagnosticadas
de residência, a discórdia familiar ou doença de forma diferente em relação a outros
pode não apenas ser prejudicial em si mesma, transtornos próximos, ainda que, frente a
mas com o tempo pode corroer a disposição presença em uma pessoa de uma dificuldade
de uma criança para confiar, assumir riscos de aprendizagem e de outro transtorno, seja
e ser receptiva a novas situações que são necessário classificar ambos os transtornos,
importantes para o sucesso na escola. sabendo que se trata de dois transtornos
diferentes.
Para Fernandez (1990) quando o
fracasso escolar se instala, profissionais
(fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos,
psicopedagogos) devem intervir, ajudando
através de indicações adequadas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o aumento do número de crianças nas escolas, as
estatísticas do fracasso escolar tornaram-se cada vez mais
evidentes. O que faz com que alguns alunos aprendam e
outros não? Encontrar explicações para o fato, bem como os
meios para sua superação constituíram-se em motivações
para a realização da pesquisa, ora em desenvolvimento,
concebida com os objetivos de detectar as causas geradoras
de dificuldades na área de leitura e de escrita em alunos de
5ª séries do Ensino Fundamental e verificar a eficiência das
atividades de reflexão e de operação sobre a língua como
meios de superação dessas dificuldades, onde pretendemos
provar que parte desse fracasso está diretamente relacionada
à questão socioeconômica, e a escola, como direito de todo
cidadão deve desenvolver mecanismos que possibilitem o BRUNA MAZERINO
sucesso do aluno com dificuldades de aprendizagem.
Licenciada em Pedagogia pela
Unicid em 2011. Pós-Graduada
O alcance social e prático deste trabalho está na em Educação Fundamental
possibilidade de se evidenciar que ao aluno de baixa renda, pela FCE em 2018. Professora
de Educação Infantil e Ensino
de certa forma sofre uma espécie de exclusão pedagógica, Fundamental da Rede Pública
em função das suas dificuldades de aprendizagem oriunda Municipal e Estadual.
da sua condição social, que acaba tornando-se uma
exclusão social, pois este aluno, caso a escola, não assuma
suas responsabilidades acabará sendo vítima da evasão
ou repetência, em função do seu padrão linguístico, o que
resultará na reprodução da exclusão social a que ele já está
submetido.

A importância das intervenções nas dificuldades de


aprendizagem e da participação familiar é frequentemente
apontada por outros projetos que buscam a família como
mediadora e ativa do processo de aprendizagem. Porém, há
ainda um vasto caminho de enfrentamento das dificuldades
como recursos financeiros, preparo técnico e as próprias
características das constituições familiares, fatores
estes fundamentais para a adesão e continuidade nestes
programas.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O presente trabalho nos mostrou que a construção do conhecimento através da


concepção construtivista, ou seja, que a educação deve acontecer a partir de um ato/ação
de humanidade e de amor entre educador educando. Ambos são cúmplices neste processo,
no qual trocam saberes, conhecimentos contínuos e ambos vão descobrindo e construindo
novos valores, conhecimentos, experiências de vida e de mundo, dentro do contexto social,
cultural e político em que vivem.

O processo da alfabetização deve ser significativo e condizente com a realidade do


educando, pois, o educador deve conhecer o seu educando, investigá-lo e entender o seu
contexto. A aprendizagem deve vir de encontro com o que o aluno vivencia, partindo de
elementos do seu cotidiano e que estes saberes adquiridos lhes sejam úteis, proporcionado
ao mesmo enfrentar, conquistar, amenizar e superar obstáculos, desafios, expectativas de
oportunidades, objetivos almejados e principalmente que esta criança torne-se um adulto
consciente, ativo e participativo junto á sociedade, dentro de um universo complexo e
dinâmico em que vivemos, que este ser tenha uma vida digna, provedor de ações críticas,
possuidor de uma ótica clara e objetiva de mundo, sabendo respeitar e ser respeitado e
que o diálogo seja sempre sua principal ferramenta para o alcance de êxitos em sua vida,
almejando-se que esta criança, seja não só um indivíduo alfabetizado e sim “Letrado”.
Ficou evidente a importância da família e da afetividade neste processo, de acordo com as
dificuldades.

Concluímos que a participação efetiva e afetiva dos educadores e da família no processo


de alfabetização é fundamental para que a criança desenvolva-se de forma positiva, cabendo
aos pais a tarefa de orientar seus filhos e encaminhá-los na vida escolar e do educador
auto avaliar-se constantemente em relação à sua postura e metodologia, proporcionando
experiências educacionais significativas de cunho qualitativo e servindo-lhes de espelho
com bons exemplos.

531
Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo elucidar pontos principais acerca do processo
de inclusão de pessoas com Deficiência Intelectual na escola comum que envolve o
oferecimento de condições físicas, pedagógicas e sociais para que esse aluno com
necessidades especiais possa aprender e a exercer seu papel de cidadão, tendo direito a uma
educação de qualidade, com oportunidades de aprendizagens que possam humanizá-los. E,
especialmente, a formação docente para o desenvolvimento do trabalho pedagógico, tendo
em vista que no momento as escolas comuns estão recebendo diversos alunos com as mais
variadas deficiências, mesmo alunos com Deficiência Intelectual, e o que podemos verificar
é que esses alunos com Deficiência Intelectual têm maiores dificuldades no seu processo de
aquisição de leitura e escrita o que acarreta o fracasso desses alunos ao concluírem o ensino
fundamental, muitos não estarão alfabetizados.

Palavras-Chave: Deficiência; Intelectual; Formação; Docente.

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INTRODUÇÃO exclusivamente aos que tinham deficiência


intelectual, pois as pessoas superdotadas
Deficiência é o termo usado para definir também são excepcionais por estarem na
a ausência ou a disfunção de uma estrutura outra ponta da curva da inteligência humana.
psíquica, fisiológica ou anatômica. Diz
respeito a atividades exercida pela biologia De 1981 a 1987 aproximadamente, era
da pessoa. Esse conceito foi definido pela utilizado o termo “pessoas deficientes”.
Organização Mundial de Saúde (OMS). A Alguns líderes de organizações de pessoas
expressão pessoa com deficiência pode ser com deficiência contestaram o termo
aplicada referindo-se a qualquer pessoa que “pessoa deficiente” alegando que ele sinaliza
vivencie uma deficiência continuamente. que, a pessoa é inteira deficiente, o que era
Contudo, há de se observar que em contextos inaceitável para eles.
legais ela é utilizada de uma forma mais
restrita e refere-se à pessoa que está sob o Passou-se a utilizar então, “pessoas
amparo de uma determinada legislação. portadoras de deficiência”, é utilizado
somente em países de língua portuguesa, e
Deficiência é o nome dado a toda perda foi proposta para substituir o termo “pessoa
parcial ou permanente ou anormalidades deficiente” Pela lei do menor esforço, logo
de uma estrutura ou funções psicológicas, reduziram este termo para “portadores de
fisiológicas ou anatômicas. Até deficiência”.
aproximadamente 1960, o termo utilizado
era “os incapacitados” e significava de início O “portador de deficiência” passou a ser
“indivíduos sem capacidades” e, mais tarde, um valor agregado à pessoa. A deficiência
evoluíram e passaram a significar “indivíduos passou a ser um detalhe da pessoa. De
com capacidades residuais”. 1990, aproximadamente, até os dias de hoje,
o artigo 5º da Resolução CNE/CEB nº2,
Uma variação foi o termo “os incapazes”, de 11/10/01, explica que as necessidades
que significava “indivíduos que não são especiais decorrem de três situações,
capazes” de fazer alguma coisa por causa da uma das quais envolvendo dificuldades
deficiência que apresentavam. Na década de vinculadas à deficiência e dificuldades não
50 também surgiram as primeiras unidades da vinculadas a uma causa orgânica. “Pessoas
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais. com Necessidades Especiais” surgiram
Entre 1960 e 1980, aproximadamente, “os primeiramente para substituir “deficiência”
defeituosos” significavam “indivíduos com por “necessidades especiais”. Daí a expressão
deficiência intelectual”. “portadores de necessidades especiais”.
Depois, esse termo passou a ter significado
O movimento mostrou que o termo próprio sem substituir o nome “pessoa
“os excepcionais” não poderia referir-se com deficiência”. De início, “necessidades

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Revista Educar FCE - Março 2019

especiais” representavam somente um novo deficiência que apresentavam. Na década de


termo. 50 também surgiram as primeiras unidades da
Também nessa época, surgiram “crianças Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais.
especiais”, “alunos especiais”, “pacientes Entre 1960 e 1980, aproximadamente, “os
especiais” e assim por diante numa tentativa defeituosos” significavam “indivíduos com
de amenizar a contundência da palavra deficiência intelectual”.
“deficiente”. Independente da maneira
como são chamados, o mais importante é o O movimento mostrou que o termo
respeito mútuo e a consciência de que todos “os excepcionais” não poderia referir-se
nós somos imperfeitos. exclusivamente aos que tinham deficiência
intelectual, pois as pessoas superdotadas
Deficiência é o termo usado para definir também são excepcionais por estarem na
a ausência ou a disfunção de uma estrutura outra ponta da curva da inteligência humana.
psíquica, fisiológica ou anatômica. Diz
respeito a atividades exercida pela biologia De 1981 a 1987 aproximadamente, era
da pessoa. Esse conceito foi definido pela utilizado o termo “pessoas deficientes”.
Organização Mundial de Saúde (OMS). A Alguns líderes de organizações de pessoas
expressão pessoa com deficiência pode ser com deficiência contestaram o termo
aplicada referindo-se a qualquer pessoa que “pessoa deficiente” alegando que ele sinaliza
vivencie uma deficiência continuamente. que, a pessoa é inteira deficiente, o que era
Contudo, há de se observar que em contextos inaceitável para eles.
legais ela é utilizada de uma forma mais
restrita e refere-se à pessoa que está sob o Passou-se a utilizar então, “pessoas
amparo de uma determinada legislação. portadoras de deficiência”, é utilizado
somente em países de língua portuguesa, e
Deficiência é o nome dado a toda perda foi proposta para substituir o termo “pessoa
parcial ou permanente ou anormalidades deficiente” Pela lei do menor esforço, logo
de uma estrutura ou funções psicológicas, reduziram este termo para “portadores de
fisiológicas ou anatômicas. Até deficiência”.
aproximadamente 1960, o termo utilizado
era “os incapacitados” e significava de início O “portador de deficiência” passou a ser
“indivíduos sem capacidades” e, mais tarde, um valor agregado à pessoa. A deficiência
evoluíram e passaram a significar “indivíduos passou a ser um detalhe da pessoa. De
com capacidades residuais”. 1990, aproximadamente, até os dias de hoje,
o artigo 5º da Resolução CNE/CEB nº2,
Uma variação foi o termo “os incapazes”, de 11/10/01, explica que as necessidades
que significava “indivíduos que não são especiais decorrem de três situações,
capazes” de fazer alguma coisa por causa da uma das quais envolvendo dificuldades

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Revista Educar FCE - Março 2019

vinculadas à deficiência e dificuldades não estimular a reflexão e a discussão social a seu


vinculadas a uma causa orgânica. “Pessoas respeito, faz-se necessário que se localize o
com Necessidades Especiais” surgiram conjunto de mudanças de ideias que permear
primeiramente para substituir “deficiência” sua história.
por “necessidades especiais”. Daí a expressão
“portadores de necessidades especiais”. A esse respeito Aranha (1979) destaca que
Depois, esse termo passou a ter significado ao buscar dados sobre o tipo de tratamento
próprio sem substituir o nome “pessoa dado a pessoa com deficiência da idade
com deficiência”. De início, “necessidades antiga e na idade média, descobre-se que
especiais” representavam somente um novo muito pouco se sabe, na verdade. A maior
termo. parte das informações provém de passagens
encontradas na literatura grega romana,
Também nessa época, surgiram “crianças na Bíblia. Encontra-se uma recomendação
especiais”, “alunos especiais”, “pacientes feita por Mohamed, no quarto verso do
especiais” e assim por diante numa tentativa quarto suro, encorajando que se alimente
de amenizar a contundência da palavra e se abrigue aqueles desprovidos da razão,
“deficiente”. Independente da maneira tratando-os com amabilidade.
como são chamados, o mais importante é o
respeito mútuo e a consciência de que todos Aranha (1979, p.22), “enfatiza que o
nós somos imperfeitos. primeiro hospital psiquiátrico surgiu nessa
época e se proliferou, mas da mesma forma
que os asilos e conventos, usavam lugares
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA para confinar, ao invés de tratar as pessoas”.
INTELECTUAL: UM BREVE
Dessa forma entendemos que as novas
HISTÓRICO ideias foram sendo produzidas tanto na área
da medicina, como na filosofia e na educação.
Muitos nomes foram utilizados para a A relação da sociedade com a pessoa com
pessoa com deficiência intelectual: débil, deficiência, a partir deste período, passou a se
imbecil, retardado mental, deficiente diversificar, caracterizando-se por iniciativas
mental, dentre outros. De acordo com de institucionalização total, de tratamentos
Aranha (1979, p.17), não se pode ignorar o médicos e de busca de estratégia no ensino.
longo e importante processo histórico que
produziu configurado numa luta constante Historicamente, a primeira integração
de diferentes minorias, na busca de defesa e da área de estudos que lidam com pessoas
garantia de seus direitos ao passo que seres com deficiência passou a ser o assunto da
humanos e cidadãos. Tendo por objetivo área médica, psicológica, pedagógica, social,
favorecer a compreensão desse processo e política, econômica e de outras tantas cabíveis.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Para Mazzota (1994, p.36), a primeira luta a mental e só passamos a utilizar efetivamente
ser vencida pela pessoa com deficiência está o termo Deficiência Intelectual a partir da
em conquistar o seu direito de participação declaração de Montreal sobre Deficiência
em sua sociedade e não como participantes Intelectual, aprovada em 06/10/2004 pela
necessitando que alguém esteja com elas. É organização Mundial de Saúde (OMS, 2004).
certo que determinados graus de deficiência
físicas e mentais não lhe permitem autonomia Deficiência intelectual é o “funcionamento
e tenham que ser tutelados. intelectual significativamente inferior à
média, com manifestações antes dos 18 anos
A esse respeito Mazzota (1994) coloca e limitações associadas a duas ou mais áreas
que a participação consiste na intervenção de habilidades adaptativas”. Hoje, quando se
ativa na sua construção de uma sociedade, e fala de inclusão escolar, o maior debate gira
a realização mediante a tomada de decisões em torno do acesso do aluno com deficiência
e das atividades sociais e em todos os níveis. intelectual, especialmente quando ele
Assim sendo, observamos que os aspectos apresenta graves comprometimentos
sociais responsáveis pela discriminação cognitivos.
social da pessoa com Deficiência Intelectual,
não são somente os aspectos biológicos Considera-se deficiência intelectual
de sua deficiência, e sim, quando nossa segundo a definição da AAIDD,
mente refere-se a um inválido, um cego, um American Association on Intellectual
defeituoso ou um maluco. and Developmental Disabilities. Em
tradução para o português: Associação
Entendemos que a sociedade marginaliza Americana de Deficiências Intelectual e de
quando afirma que o indivíduo com Desenvolvimento: A deficiência intelectual é
Deficiência Intelectual não consegue uma deficiência caracterizada por limitações
modificar sua situação, levando a completa significativas tanto no funcionamento
omissão dessa sociedade em relação à intelectual e no comportamento adaptativo
organização de serviços oferecidos para em pelo menos duas das seguintes áreas de
aqueles que têm necessidades individuais habilidades: comunicação, auto-cuidados,
específicas. Atualmente, utilizamos o termo vida doméstica, habilidades sociais,
Deficiência Intelectual. relacionamento social, uso de recursos da
comunidade, auto- suficiência, saúde e
segurança, habilidades acadêmicas, lazer e
O QUE É DEFICIÊNCIA trabalho.
INTELECTUAL?
São muitos os conceitos de deficiência
A deficiência Intelectual foi conhecida intelectual, mas o atual modelo da Associação
durante muitos anos como deficiência Americana de Deficiência Intelectual e

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Revista Educar FCE - Março 2019

Desenvolvimento (AAIDD), nos traz uma os apoios, potencialmente durante o ciclo da


concepção funcional e multidimensional que vida.
facilita a compreensão e os planejamentos
dos apoios necessários à inclusão das pessoas Ressaltamos que, dependendo das
com deficiência intelectual na sociedade. condições pessoais, a situações de vida e
faixa etária, os apoios variação em duração
Entende-se como apoio: auxílios que e intensidade, podendo ser oferecidos por
melhore o funcionamento da vida da pessoa, qualquer pessoa, seja ela: professor, amigo,
em cinco dimensões: habilidades intelectuais, psicólogo, familiar, entre outros, destinadas
comportamento adaptativo, participação, a melhorar o funcionamento da pessoa
interação e papéis sociais, saúde e contexto. com deficiência intelectual no cotidiano,
favorecendo uma melhor qualidade de vida.
Essa visão amplia o foco na intervenção
nas seguintes áreas: ensino e educação, vida De acordo com o Decreto de nº 3.298, de
doméstica, vida em comunidade e, emprego, 20 de dezembro de 1999 (BRASIL, 1999):
saúde, segurança, desenvolvimento
humano, proteção e defesa, além das áreas A deficiência mental é um funcionamento
intelectual significativamente inferior à média, com
comportamentais e sociais. Para tanto, manifestação antes dos dezoito anos e limitações
considera-se quatro graus de apoios, associadas a duas ou mais áreas de habilidades
conforme o nível de comprometimento adaptativas, tais como: (a) comunicação, (b) cuidado
pessoal, (c) habilidades sociais, (d) utilização dos
intelectual manifestado: recursos da comunidade, (e) saúde e segurança,
(f) habilidades acadêmicas, (g) lazer e (h) trabalho.
Primeiro nível Intermitente, baseado (BRASIL, 1999, p.30)
em necessidades específicas e oferecidos
em certos momentos por um determinado O Funcionamento intelectual também
período (curto prazo), e com características chamada inteligência refere-se à capacidade
episódicas (a pessoa nem sempre precisa mental geral, como aprendizado, raciocínio,
de apoio) e com intensidade variável. resolução de problemas, e assim por diante.
Segundo nível Limitado: consistente durante O comportamento adaptativo é o conjunto
atividades específicas, oferecido ao longo de habilidades conceituais, sociais e práticas
de um período (longo prazo), porém com que são aprendidas e realizadas por pessoas
tempo limitado. Terceiro nível Extensivo: em suas vidas cotidianas a deficiência
é necessário apoio regular (diário) em pelo intelectual se manifesta antes dos 18 anos
menos alguns ambientes (escola, trabalho, de idade.
lar) sem limitação quanto ao tempo. E
Quarto nível Pervasivo: constante, de alta A Convenção da Guatemala, internalizada
intensidade, nos diversos ambientes, envolve à Constituição Brasileira pelo Decreto
uma equipe maior de pessoas administrando 3956/2001, no seu artigo 1º define

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Revista Educar FCE - Março 2019

deficiência como [...] “uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou
transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida
diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social”. Essa definição ratifica a
deficiência como uma situação.

Como o próprio nome aponta a deficiência intelectual pode ser entendida como o não
funcionamento da mente conforme os padrões normalmente encontrados em seres humanos.
Caracterizam-se pela parcialidade dos processos e/ ou do exercício das funções psicológicas
superiores. (Vygotsky, 1991).

A questão do diagnostico dessa deficiência ainda é hoje bastante desafiante má educação


de alunos com deficiência intelectual. No inicio do reconhecimento dessa população, houve
um predomínio de fatores orgânicos na etiologia de suas limitações, a crença da imutabilidade
do perfil apresentado e, consequentemente, a ausência de credibilidade na educabilidade do
sujeito.

Segundo Pessoti (1984), a hegemonia do saber médico a respeito da deficiência intelectual


assim como se apresentava: A deficiência mental, que após a inquisição se tornara um
problema médico e não mais teológico, passara de um enfoque supersticioso a um tratamento
naturalista, por parte de muitos médicos e raros pedagogos, essa atitude naturalista, porem
não implica necessariamente a abordagem cientifica da questão.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao fim desta pesquisa podemos compreender melhor
os aspectos da deficiência intelectual, e sabemos que não
é fácil trabalhar com estes alunos, sobretudo pela falta
de informações disponíveis sobre os mesmos, muitas
vezes a família não busca o acompanhamento necessário,
e por meio deste artigo buscamos elucidar os pontos
principais sobre a deficiência intelectual, para viabilizar o
trabalho pedagógico docente, pois esse aluno exige mais
atenção, mais sensibilidade e compreendemos quando os
professores da sala regular da escola comum são tomados
pelo sentimento de angustia, pois ainda alguns desses
professores têm a visão de que irão “curar” o aluno com
deficiência intelectual, quando na verdade o objetivo não
é esse. E, o objetivo ao se trabalhar com o aluno com CAMILA CRISTINA DO
deficiência intelectual é de possibilitar a sua construção NASCIMENTO
de conhecimentos e aprendizagens para que esses alunos
Graduação em letras - Português/
sejam como um cidadão autônomo e independente. Inglês pela Universidade Nove
de Julho (UNINOVE), Graduação
em Pedagogia pela Universidade
Brasil, Especialização em
Docência no Ensino Superior, pela
Universidade Brasil. Professora
da rede municipal de ensino.

542
Revista Educar FCE - Março 2019

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544
Revista Educar FCE - Março 2019

GÊNERO NA EDUCAÇÃO INFANTIL


RESUMO: Este artigo trata das relações de gênero existente nos processos de socialização
de crianças pequenas na Educação Infantil. Buscou-se compreender como ocorrem as
desigualdades entre gêneros, bem como os processos de discriminação presentes. A escola
tem se apresentado como um local reprodutor de uma cultura que promove a desigualdade.
Nas brincadeiras, nos jogos e atividades é estimulada uma educação sexista, ou seja,
meninos e meninas se desenvolvem com conceitos discriminatórios sobre gênero, sobre
o que é esperado, reforçando os padrões de feminilidade e masculinidade pensados e
impostos por uma cultura predominante, em descompasso com a superação dos processos
de discriminação.

Palavras-Chave: Deficiência; Intelectual; Formação; Docente.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO uma formatação com espaços, tempos,


organizações e práticas construídas no seio
Nos dicionários de língua portuguesa, a das intensas relações entre crianças e entre
infância é tida como o período de crescimento crianças e adultos.
do ser humano, ou seja, se estende do
nascimento à puberdade. Assim, esta etapa Considera-se que as relações das crianças
se refere aos primeiros anos de vida que na educação infantil apresentam-se como
terão consequências positivas ou negativas forma de introdução de meninos e meninas
influenciando toda a vida do indivíduo. na vida social, quando passam a conhecer e
aprender seus sistemas de regras e valores,
O primeiro contato da criança com grupos interagindo e participando nas construções
sociais fora da família é a escola, mais sociais (FINCO 2003). Finco ainda aborda
precisamente na educação infantil. Neste que ao considerar as ligações entre as
local as crianças podem passar a maior parte crianças, é possível levantar a hipótese de
do tempo em contato com outras crianças. que os estereótipos dos papéis sexuais,
De acordo com Faria (2006, p. 285) os comportamentos pré-determinados,
os preconceitos e discriminações são
(...) neste espaço da sociedade vivemos as construções culturais, que existem nas
mais distintas relações de poder: gênero, classe,
idade, étnicas. Desse modo é necessário estudar relações dos adultos, mas ainda não foram
as relações no contexto educativo da creche e pré- “disseminadas” na cultura da criança.
escolas onde se confrontam adultos - entre eles,
professor/a, diretora, cozinheira, guarda, pai, mãe,
secretário/a de educação, prefeito/a, vereador/a, A Educação Infantil de qualidade inclui a
etc.-; confrontam-se crianças, entre elas: menino, discussão das questões de gênero. Faz-se
menina, mais velha, mais nova, negra, branca, judia, então indispensável pensar sobre práticas,
com necessidades especiais, pobre, rica, de classe
média, católica, umbandista, atéia, “café com leite”, habilidades e configurações corporais
“quatro olhos”, etc.; e confrontam-se adultos e infantis e também sobre os modelos nelas
crianças - a professora e as meninas, a professora e referenciados, como relações sociais de
os meninos, o professor (percentual bastante baixo,
mas existente e com tendência a lento crescimento) gênero, processadas, reconhecidas e
e os meninos, o professor e as meninas, o professor valorizadas na e pela cultura na qual se
e a mãe da menina. inserem. É importante perguntar como
esses mecanismos se fazem presentes na
Finco e Vianna (2009) traz em seu educação de meninas e meninos; de que
trabalho que é nessa relação singular que maneiras são inscritos em seus corpos,
o protagonismo da criança ganha destaque como normatizam, disciplinam, regulam e
e que a potencialidade do convívio em controlam seus comportamentos, posturas,
suas diversas formas de relações pode verdades e saberes.
propiciar uma nova interação. Trata-se de
um universo com características próprias,

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Revista Educar FCE - Março 2019

DESAFIO DA IGUALDADE e meninas não sejam incentivados a reprimir


seus sentimentos. Quando educamos
Escutar frases como “pilotar fogão é coisa crianças que expressam o que sentem,
de menina”, “jogar bola é coisa de menino”, fazemos com que elas tenham um diálogo
ou então, “deixe de ser mulherzinha”, é aberto com a família, estabelecendo uma
comumente em nossa sociedade educacional. comunicação para solucionar seus conflitos,
Quando crianças escutam frases nestes valorizando cada ser em nossa cultura (PLAN
sentidos elas diminuem as possibilidades de INTERNACIONAL, 2016).
ser menino ou menina. Desta forma, faz-se
necessário o incentivo para que brinquem Por oposição a frase “chorar não é coisa
juntos, dividam seus brinquedos e expressem de homem”, está sendo reforçado que chorar
seus sentimentos. é peculiar à mulher, logo, denota como um
ser inferior.
Não se deve estimular a exclusividade
de brinquedos apenas para meninas e A partir do momento que as crianças
meninos. Os educadores devem respeitar as entendem que chorar é algo comum e natural
preferências e singularidades de cada criança para ambos os sexos, ajudamos a educá-las
para que elas descubram as brincadeiras que sem relação de desigualdade.
mais gostam, assim poderão desenvolver
suas potencialidades. (FINCO, 2003)
UMA ARTICULAÇÃO
Fundada em 1937, a Plan International, NECESSÁRIA: EDUCAÇÃO
Organização não-governamental, não-
religiosa e apartidária que defende os direitos INFANTIL E GÊNERO
das crianças, adolescentes e jovens, com
foco na promoção da igualdade de gênero. Muitos dos trabalhos voltados para a
Em seu material educacional (2016) destaca educação da pequena infância têm aumentado
que, quando frisamos a divisão de brinquedo consideravelmente nos últimos anos. Grande
para menino ou menina, reforçamos parte deles remete-se especialmente às
estereótipos de gênero, deixando de lado questões de desenvolvimento motor,
as características individuais. Meninos afetivo e cognitivo da criança, bem como as
que brincam de casinha com meninas, por questões ligadas à formação de profissionais,
exemplo, terão maior facilidade de entender propostas pedagógicas e curriculares e
a divisão de tarefas domésticas por meio do políticas públicas para a faixa etária de zero
brincar. Repreender o choro de meninos com a seis anos. São relatos de experiências
frases como: “pare de chorar que isso não é vivenciadas no cotidiano das escolas infantis,
coisa de homem”, também é muito comum. porém não chegam a tratar das relações de
Muito importante que desde cedo meninos gênero ali presentes.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Constata-se, então, que a produção visual dos sexos e na utilização da linguagem.


acadêmica brasileira carece de estudos nesta Browne, por exemplo, analisa a história do
área. Como Fúlvia Rosemberg (1990) relata atendimento às crianças desde o século XIX
pouco se escreveu sobre a educação de até a década de 70, procurando demonstrar
meninos e meninas na educação infantil. Ela como algumas teorias científicas têm se
observa que alguns trabalhos têm se limitado preocupado em explicar as diferenças entre
a discutir a relação professor/a - aluno/a pessoas ou grupos tomando como base
ou então o sexismo nos livros didáticos. a herança biológica ou o ambiente. Elas
Contudo, importantes estudos têm sido feitos observam ainda que, desde o berçário as
em outros países, abordando as relações de crianças são tratadas de forma diferente em
gênero na infância, em especial nas escolas. função do sexo, listando uma série de áreas
Marina Subirats (1986) constatou que na ou situações em que isto se dá. Em relação
Espanha há poucos estudos sobre relações ao choro, por exemplo, as autoras observam
de gênero na escola. Ao pesquisar turmas de que os bebês masculinos são atendidos mais
crianças entre quatro e seis anos de idade, rapidamente quando choram, uma vez que
procurou mostrar que, desde a escola infantil, muitas atendentes acham que meninos não
a criança aprende a desvalorizar todas as devem/podem chorar, tratando, desta forma
atividades consideradas femininas. de suprir as suas necessidades.

Constatou-se também que o gênero Já o choro das meninas, ao contrário, é


feminino era afetado por uma negação mais tolerado.
constante, desde a linguagem utilizada,
referindo-se às crianças sempre no Trazendo também uma importante
masculino, até mesmo à negação sistemática contribuição para o entendimento das
de toda e qualquer conduta que pudesse questões de gênero e poder presentes nas
ser identificada com comportamentos escolas infantis está Valerie Walkerdine
considerados “femininos”. Ela concluiu que (1989). Em sua análise, feita em algumas
a suposta igualdade existente na escola não escolas inglesas, observou que os meninos
surgia pela integração das características costumavam assumir, por intermédio da
presentes em ambos os gêneros, mas pela linguagem, uma posição de autoridade
negação ou exclusão de um deles. A autora frente às meninas, e também entre eles, o da
afirma que é preciso aguçar o olhar para competitividade. Estes estudos nos permitem
perceber novas formas de discriminação, observar o quanto os comportamentos são
que têm se tornado cada vez mais sutil. construídos a partir das concepções presentes
Desenvolvidos na Inglaterra, os estudos numa dada sociedade, determinando assim
de Naima Browne e Pauline France (1988), efeitos de verdade que vão constituir os
enfatizam o quanto sexismo e racismo se indivíduos.
manifestam nas ações, na representação

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O QUE DIZEM OS Algumas profissionais levantam hipóteses


PROFESSORES como, meninos que não se expressam
corporalmente por meio da dança, ou
No vídeo “Educadoras falam sobre reprimem seus sentimentos; supõem que
igualdade de gênero na escola”, do Guia Fora são eles que têm medo de dançar por ser
da Casinha (2016), as professoras Elisa Cortez uma expressividade considerada “feminina”.
e Michele Mendonça, ambas educadoras da São citadas ainda situações de conflito na
Rede Pública de São Paulo relatam sobre rotina escolar, como a de um menino que
o cotidiano e as práticas que reforçam ou tem vontade de usar vestido e uma menina
desconstroem as desigualdades de gênero que tem vontade de jogar bola. Por que o
presentes na sociedade. Guia Fora da Casinha garoto não pode brincar de boneca? Afinal,
é um site de entretenimento e cultura o pai não cuida do filho? Não dá banho?
para pais, filhos e cuidadores ocuparem e Não alimenta?. As autoras refletem sobre
aproveitarem a cidade de São Paulo. o cotidiano desconstruindo ideias do que
é considerado socialmente como certo ou
Michele Mendonça (2016) expõe ainda errado.
que crianças pequenas que já dizem palavras
como “boiola”, “coisa de bichinha” entre Cortez (2016) aborda que, trabalhar a
outros adjetivos pejorativos, de forma expressão do afeto até o papel social de
geral, carregam esse tipo de concepção homem e mulher nas brincadeiras, se é
dos próprios responsáveis que fazem necessário.
comentários preconceituosos. Ela ainda
destaca que a criança pequena não possui Como proposta, foi sugerida uma inversão
um gênero formado, pois gênero é muito de papéis, propuseram quem gostaria de ser
mais uma questão social do que natural e é a pai e mãe e quem gostaria de ser a criança.
sociedade que impõe. As crianças se dispuseram das formas mais
variadas, na qual foi possível observar famílias
O rompimento de padrões socialmente com dois pais, com duas mães, apenas de
aceitos costuma ser socialmente mal visto e crianças e famílias com uma pessoa.
ridicularizado, uma das maneiras eficientes
de reafirmar que cada um teria que se Outra proposta abordada foi de oferecer
conformar aos padrões tradicionais de materiais não estruturados, como tecidos,
gênero e, especialmente, ao lugar que lhe ao invés de vestidos. Potes, ao invés de
cabe na sociedade. São preconceitos que utensílios domésticos. A criança fica livre
não resistem à razão, nem aos novos tempos para utilizar a imaginação e criar a finalidade
e que continuamos a considerar verdades de cada objeto. Cortez e Mendonça (2016)
intocáveis, nos costumes e nas regras definem o que buscam com suas práticas
inflexíveis. hoje: “Hoje tentamos criar espaços na qual a

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Revista Educar FCE - Março 2019

criança vive livre para expressar suas vontades e necessidades [...]”.

Na construção de cantinhos, as profissionais (CORTEZ; MENDONÇA, 2016) buscam não


separar cantinhos de boneca ou de carrinho deixando os espaços que propiciem a exploração
e não o reforço de padrões e regras pré-determinadas. Roupas podem virar brinquedos,
vestidos podem virar chapéus, entre tantas outras possibilidades. Os espaços devem ser
diversos e possibilitarem a escolha daquilo que despertar vontade, sem restrições.

Brincar de tudo é uma forma de você estimular a liberdade da criança. Sem imposições.
O enriquecedor dentro dessa prática não sexista é poder proporcionar uma gama de
oportunidades e vivências que refletirão ao longo de sua vida.

550
Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi dito, pode-se dizer que abordar as
relações de gênero na escola é de extrema importância, pois
o sistema educacional brasileiro coloca como um de seus
objetivos os de combater a promoção da desigualdade de
gênero, uma vez que esta desigualdade não é condizente
com uma sociedade democrática.

Ainda que diante de diversas opressões, meninos e


meninas ainda praticam, experimentam, inventam e criam,
recordando que o modo como estão sendo educados pode
contribuir para limitar suas iniciativas e suas aspirações, mas
também para se tornarem felizes e autônomos.

Para a efetiva mudança em diferentes níveis da educação, CAMILA UENO


englobando não apenas a legislação, o sistema educativo,
Graduação em Pedagogia pela
as unidades escolares e os currículos, como também a Universidade Nove de Julho
capacitação e formação do profissional, a paridade do (2013); Professora de Educação
professorado, os livros didáticos e a interação entre Infantil - no CEI Inez Menezes
Maria.
professoras, professores, alunos e alunas. Delineia, assim,
um possível caminho para uma política pública de igualdade
de gênero a partir da unidade escolar.

551
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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552
Revista Educar FCE - Março 2019

A CONSTRUÇÃO DO
CONHECIMENTO POR MEIO DA
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
RESUMO: A educação à distância (neste artigo citada pela expressão EaD) no contexto
brasileiro ainda é um mar a ser desbravado por docentes e discentes, tendo em vista que se
trata de uma modalidade de ensino relativamente recente no cenário brasileiro, e, se tratar
processo de ensino-aprendizagem com alunos separados fisicamente bem como do professor,
circunstância pouco explorada na realidade brasileira. O trabalho aqui apresentado vem por
meio das leituras e reflexões sobre a bibliografia levantada acerca do tema (faz-se importante
ressaltar a escassez que estudos na área em comparação com outros temas da educação),
abordar o desenvolvimento do EAD no Brasil em prol da construção do conhecimento.

Palavras-Chave: Ensino; Distância; Modalidade; Educação.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO A CONSTRUÇÃO DO
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si CONHECIMENTO POR MEIO
mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados
pelo mundo”.
DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Paulo Freire
A EaD teve seu início com a definição de
As diversas modalidades de ensino qual nomenclatura no cenário internacional
são importantes para todo o processo de utilizar para esta nova modalidade de ensino,
aprendizagem das pessoas, com o avanço da e, como relata HACK (2011):
Educação no Brasil, a falsa ideia que temos que
estar presentes juntamente com o professor A busca da origem da expressão EaD nos leva
a um dos pioneiros no estudo da temática, o
no mesmo espaço físico para viabilizar o educador sueco Börje Holmberg, que confessou
desenvolvimento deste processo de maneira a Niskier (2000) ter ouvido a expressão na
eficiente e eficaz está se desmitificando ao universidade alemã de Tübingen. Para Holmberg
(apud NISKIER, 2000), em vez de citar “estudo
passo que a EAD está crescendo no cenário por correspondência”, os alemães usavam os
brasileiro cada dia mais. termos Fernstudium (Educação a Distância) ou
Fernunterricht (Ensino a Distância). Niskier (2000)
ainda destaca que o mundo inglês conheceu a
Este crescimento está diretamente ligado expressão a partir de Desmond Keegan e Charles
ao fato das pessoas desprenderem cada vez Wedemeyer. Para Aretio (1996), estudioso
menos tempo para se deslocar e custear um espanhol da EaD, apesar de existirem diferentes
denominações para a modalidade, atualmente
curso presencial no qual terá como despesas: se aceita, de forma generalizada, o nome de
mensalidades, transporte, alimentação e Educação a Distância. Inclusive o organismo
acima de tudo tempo. mundial que agrupa as instituições de EaD,
denominado desde a sua fundação em 1938
como International Council for Correspondence
Tempo este que se torna mais precioso e Education (ICCE) – Conselho Internacional de
caro com a modernidade e a velocidade das Educação por Correspondência –, trocou seu
nome na 12ª Conferência Mundial, no ano de
informações. 1982, para International Council for Distance
Education (ICDE) – Conselho Internacional de
Ademais, trazer e descrever a importância Educação a Distância. (HACK, 2011, p.13).

desta modalidade de ensino e seus desafios


neste trabalho significa colocar a qualidade No cenário brasileiro temos a
da educação como foco, na qual a otimização regulamentação desta modalidade de
do tempo e a qualidade do ensino é tarefa educação por meio do Decreto nº 2.494
desafiadora para as instituições bem como (1998) da Presidência da República, na qual
para os discentes. é destacado no seu artigo primeiro:

Educação a Distância é uma forma de


ensino que possibilita a autoaprendizagem,
com a mediação de recursos didáticos

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Revista Educar FCE - Março 2019

sistematicamente organizados, apresentados


em diferentes suportes de informação, utilizados Portanto, a EaD de acordo com Hack
isoladamente ou combinados, e veiculados pelos (2011):
diversos meios de comunicação. (BRASIL, 1998,
não paginado). A EaD será entendida, portanto, como uma
modalidade de realizar o processo de construção
do conhecimento de forma crítica, criativa e
Dando continuidade à definição da EaD, contextualizada, no momento em que o encontro
faz-se importante salientar a diferença entre presencial do educador e do educando não
ocorrer, promovendo-se, então, a comunicação
ensino e educação a distância, como afirma educativa através de múltiplas tecnologias.
Demo In. Hack (2011): (HACK, 2011, p. 15).

A educação à distância será parte natural Sendo assim, não são admitidas distinções
do futuro da escola e da universidade. Valerá
ainda o uso do correio, mas parece definitivo ou preconceitos entre as modalidades
que o meio eletrônico dominará a cena. Para se presencial e a distância, pois em ambas há
falar em educação à distância é mister superar a troca e o aluno não está isolado, ambas
o mero ensino e a mera ilustração. Talvez fosse
o caso distinguir os momentos, sem dicotomia. promovem a consolidação da aprendizagem
Ensino à distância é uma proposta para socializar significativa ao aluno, e o Ministério da
informação, transmitindo-a de maneira mais Educação em seus documentos oficiais deixa
hábil possível. Educação à distância, por sua
vez, exige aprender a aprender, elaboração clara esta posição, como relata Azevedo In.
e consequente avaliação. Pode até conferir Litto (2004):
diploma ou certificado, prevendo momentos
presenciais de avaliação. (HACK, 2011, p. 15). Os avanços do ensino a distância nos últimos
anos foram importantes para o Brasil e sabe
­se que atualmente o MEC não mais hostiliza
A EaD é uma modalidade concebida, esse ensino como ocorria há pouco tempo e
especialmente, para alcance dos alunos que até os ampara; isso é provado com a existência
de uma Secretaria de Educação a Distância no
não tem condições de frequentar os cursos MEC, o que era inconcebível há alguns anos. O
presenciais, por questões financeiras, em sua elevado número de alunos nos cursos de ensino
maioria dos cursos EaD tem o custo menor, a distância — mais de 2,5 milhões de alunos — e
o seu melhor desempenho nos exames do Enade
pois as caraterísticas do custeio desta em relação aos de cursos tradicionais são prova
modalidade são diferentes da modalidade disso. (AZEVEDO In. LITTO, 2004, p. 5)
presencial.
A qualidade do ensino está diretamente
Os cursos disponibilizados nesta ligada ao processo de troca entre os
modalidade têm poucos encontros envolvidos, em linhas gerais, o aluno da
presenciais, o que diminui o custo fixo da EaD tem que ser disciplinado e curioso no
instituição de ensino, e, em alguns casos não sentido de buscar outras fontes além das
há encontros presenciais. E, os materiais são disponibilizadas nos materiais referentes
disponibilizados virtualmente, diminuindo o ao curso que está estudando a fim de sanar
custo para o aluno. suas eventuais dúvidas bem como levado

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Revista Educar FCE - Março 2019

aprendiz. Ou seja, o conhecimento é construído


pelo professor a este comportamento pelo aprendiz em cada uma das situações em
de desbravador do conhecimento dando que ele está utilizado ou experimentado. Um dos
sugestões de leituras, vídeos etc., o que leva aspectos importantes do construtivismo está
no fato de que a realidade pode ser abordada
à construção do conhecimento de maneira sob várias perspectivas para possibilitar
prática o que viabiliza a consolidação da ao aprendiz a apropriação de tal realidade,
aprendizagem pelo aluno. segundo as diversas óticas sob as quais ela
pode ser considerada. Assim, os processos e
os resultados de uma prática construtivista são
Temos estudos disponíveis que mostram diferentes de um indivíduo e de um contexto
que o conhecimento é consolidado de a outro, pois a aprendizagem acontece pela
interação que o aprendiz estabelece entre os
maneira efetiva e positivo quando o aluno tem diversos componentes do seu meio ambiente.
papel ativo na construção do conhecimento. Ainda queremos adicionar à nossa definição
de EaD a compreensão que encontramos em
Vygotsky (1993, 1998) de que a interação
Como salienta Mauri In. Coll (2006): social é imprescindível para a aprendizagem e
o desenvolvimento do ser humano. Em outras
A aprendizagem, entendida como construção palavras: as pessoas adquirem novos saberes a
de conhecimento, pressupõe entender tanto partir de suas várias relações com o meio. Na
sua dimensão como produto quanto sua concepção do autor, a mediação é primordial
dimensão como processo, isto é, o caminho na construção do conhecimento e ocorre,
pelo qual os alunos elaboram pessoalmente os entre outras formas, pela linguagem. Assim,
conhecimentos. Ao aprender, o que muda não a singularidade do indivíduo como sujeito
é apenas a quantidade de informação que o sócio-histórico se constitui em suas relações
aluno possui sobre um determinado tema, mas na sociedade, e o modo de pensar ou agir
também a sua competência (aquilo que é capaz das pessoas depende de interações sociais e
de fazer, pensar, compreender), a qualidade do culturais com o ambiente. (HACK, 2011, p. 16)
conhecimento que possui e as possibilidades
pessoais de continuar aprendendo. Dessa
perspectiva, é óbvia a importância de ensinar Nesta modalidade o ensino o processor
o aluno aprender a aprender e a de ajuda-lo a
compreender que, quando aprende, não deve tem como papel primordial a mediação do
levar em conta apenas o conteúdo objeto da conhecimento, utilizando de materiais atrativos
aprendizagem, mas também como se organiza aos alunos. Estes materiais fazem parte de um
e atua para aprender. Por sua parte, o ensino é
entendido como um conjunto de ajudas de aluno grande desafio a ser superado pelas instituições
e à aluna no processo pessoal de construção escolares, como afirma Lobato (2009):
de conhecimento e na elaboração do próprio
desenvolvimento. (MAURI In. COLL, 2006. p. 88) Dessa forma, a EAD, por meio de diversos
recursos didáticos e com apoio de uma
organização tutorial, busca mecanismos que
Assim, temos que a abordagem propiciem a aprendizagem autônoma do
construtivista está diretamente ligada à EaD, estudante. Mas, para que esse processo se
legitime, vários fatores são levados em conta,
como reafirma Hack (2011): dentre os quais, um dos mais importantes vem
a ser o material didático, pois, na educação à
Com base na abordagem construtivista, distância, o material a ser usado didaticamente
entenderemos a EaD como uma prática não se resume apenas na escolha de um livro-
educativa que busca aproximar o saber do texto ou de textos avulsos. Faz-se necessário,

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Revista Educar FCE - Março 2019

nesse sentido, que o material venha a com diversas possibilidades de interação: chat,
proporcionar múltiplas interações ao discente e, aula web, fórum, portfólio, livros da disciplina
consequentemente, a aprendizagem qualitativa. produzidos por professores em parceria com
(LOBATO, 2009, p. 4) outros autores, email, biblioteca digital, física e
outros. (VAGULA, 2012, p. 8)

E, como salienta Vagula (2012), a


construção do conhecimento não é algo No que se refere a ampliação da EaD temos
desligado da realidade do aluno, para ter diversos fatores a favor desta modalidade,
significado a aprendizagem deve levar em especialmente, a flexibilidade de acesso aos
conta o contexto do aluno: conteúdos e ao tempo que aluno tem para
estudar dentro do seu cotidiano, o aluno
Assim, devemos partir do principio que o intercala sua vida social ou tempo que ele
currículo refere-se às situações vividas pelo
professor e aluno e suas relações sociais. Não pode pode disponibilizar aos estudos favorecendo
ser separado do contexto social, é um elemento o ingresso e a permanência no curso, o
que interfere na formação do aluno, um processo que muitas vezes não ocorre com o ensino
social, diretamente relacionado a um momento
histórico e as relações que a sociedade estabelece presencial que é rígido quanto a periodicidade
com o conhecimento.. (VAGULA, 2012, p. 3) e regularidade do desenvolvimento das aulas.

Esta flexibilidade é a grande bandeira da


Ademais, para consolidar a interação entre EaD, porém há alguns obstáculos que a EaD
professor e aluno, bem como com os outros deve transpor, como afirma Sousa et. al. (2013):
alunos, é interessante o uso de chats, vídeo
conferências, fórum, etc., estas ferramentas Apesar de a educação a distância ser uma
modalidade que vem ganhando cada vez mais
se apresentam para estimular a interação espaço no cenário educacional brasileiro, ela
entre todos de maneira significativa na também apresenta desvantagens, tais como:
troca de conhecimentos e a consolidação da alto custo da produção do material didático, que
requer profissionais especializados, excesso de
aprendizagem. conteúdos teóricos, falta de uma biblioteca real
aos alunos, preconceito por falta de pessoas mais
Como relata Vagula (2012): conservadoras e desinformadas, disponibilidade de
um computador com acesso a internet, o que nem
sempre é acessível a todas as regiões e a todos os
Concebemos a EaD como proposta de alunos e conhecimentos de informática e multimídia
ensino e aprendizagem que possibilita a
por parte dos alunos. (SOUSA, 2013, p. 34)
interação entre aluno, professor e tutor,
mediado por ferramentas da comunicação, que
rompe barreiras culturais, de tempo e espaço Obstáculos que estão sendo minimizados
geográfico. Envolve planejamento, a partir da
realidade dos alunos, um projeto pedagógico tendo em vista a disseminação do acesso
que possa orientar as ações dos docentes, com à internet bem como as tecnologias de
foco na interdisciplinaridade e atendimento às informação, levando o aluno ao acesso de
regionalidades. Nesse contexto, deve contar
conteúdos sistematizados e informações.

557
Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Contudo, a EaD ainda pode ser considerada como mar
a ser desbravado, pois sua história é recente e se encontra
em processo de aprimoramento do uso das tecnologias,
do currículo articulado com a realidade do aluno, nas
necessidades educacionais da sociedade moderna e na
velocidade da informação. Nestes aspectos é importante
salientar o dinamismo que esta modalidade exige do
professor em acompanhar as novas tecnologias e estudos
acerca dos temas que tratará em suas aulas e na bibliografia
em geral que cada dia tem descobertas significativas em
todas as áreas de conhecimento.

CARLA FERREIRA DE
ARAUJO

Graduação em Letras pela


Faculdade UNIMESP (2013);
Especialista em Metodologia
e Didática do Ensino Superior
pela FACITEP (Faculdade de
Ciências e Tecnologia Paulistana)
de São Paulo (2016); Professor
de Educação Infantil e Ensino
Fundamental I na EMEF
João Ramos – Pernambuco -
Abolicionista.

558
Revista Educar FCE - Março 2019

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560
Revista Educar FCE - Março 2019

A GESTÃO DEMOCRÁTICA NO ENSINO


PÚBLICO E AS SUAS PRINCIPAIS
FORMAS DE CONSOLIDAÇÃO
RESUMO: Esta pesquisa trata de uma revisão bibliográfica com o foco voltado à Gestão
Democrática na escola pública. Dentro desse tema, o objetivo deste trabalho é conhecer
os pressupostos da Gestão Democrática na escola pública e apresentar os aspectos da
legislação pertinente ao tema escolhido. Analisar e explicitar as definições e concepções
do Projeto Político Pedagógico e do Conselho de Escola, bem como o papel que estas duas
esferas desempenham na consolidação dos princípios de uma gestão democrática. Neste
tipo de gestão a participação de todos é fundamental para a democratização do processo
pedagógico. O papel do diretor de escola perpassa pelo pressuposto que o mesmo deve
atender as novas demandas em uma gestão que conta com a participação de todos, nas
decisões coletivas, nas definições e na análise de questões comuns dentro do ambiente
escolar. A existência do Projeto Político Pedagógico (PPP) é um dos pilares mais fortes na
construção da gestão democrática e participativa nas Unidades Educacionais, sendo um
plano orientador das ações e práticas pedagógicas.

Palavras-Chave: Gestão Democrática; Ensino Público; Projeto Político Pedagógico; Conselho


de Escola.

561
Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO com todos os atores envolvidos no processo


educacional. Este documento por conter
Este estudo aborda a Gestão Democrática tantas informações que caracterizam e dão
na Escola Pública e traz como objetivo geral: “vida” a Unidade Educacional se converte
pesquisar e conhecer os princípios que em um instrumento de avaliação e de
regulamentam a Gestão Democrática na Escola planejamento das ações em que todos os
Pública e objetivos específicos: Identificar os membros da escola participam para a tomada
aspectos legais que fundamentam o tema em de decisões e definição dos caminhos a serem
questão; analisar e explicitar as definições e percorridos para uma prática pedagógica
concepções do Projeto Político Pedagógico pautada na aprendizagem efetiva e no
Educacional e do Conselho de Escola e o sucesso escolar.
papel que desenvolvem como elementos na
consolidação da Gestão Democrática. Com o Projeto Político Pedagógico, o
diretor escolar é capaz de concretizar a
Um dos princípios de gestão pode ser participação coletiva de todos que constituem
caracterizado pelo fato de reconhecer a a equipe educacional, na definição de metas
participação de todos, como de fundamental para a garantia dos direitos de aprendizagem
importância para o sucesso das ações e para e desenvolvimento dos bebês e crianças,
a democratização do processo pedagógico. A meninos e meninas, jovens e adultos,
gestão escolar é responsabilidade do diretor que são educados e cuidados na Unidade
de escola, porém, não só dele e tem como Educacional. Com um PPP bem estruturado
objetivo estabelecer a unidade e integração e elaborado num processo coletivo, tendo
de todas as ações da escola de modo que se o compromisso com a qualidade social da
concentrem na formação e aprendizagem educação, ganhando uma identidade.
dos alunos.

A mudança de paradigma de administração ESCOLA PÚBLICA X GESTÃO


para gestão vem ocorrendo nos sistemas DEMOCRÁTICA
de ensino e nas organizações, delineando
perspectivas para uma gestão competente Um dos princípios de gestão democrática
que garanta a participação das pessoas e participativa pode ser definido pelo
envolvidas no processo educacional, nas reconhecimento de que a participação
decisões, com o compromisso de melhoria de todos é fundamental para a sua
dos resultados educacionais. consolidação para a democratização do
processo pedagógico. A gestão escolar é
Cada Unidade Educacional tem autonomia responsabilidade do diretor de escola, porém,
para a formulação do seu Projeto Político não só dele e tem como objetivo estabelecer
Pedagógico de forma coletiva e conjunta a unidade e integração de todas as ações

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Revista Educar FCE - Março 2019

da escola de modo que se concentrem na entendimento ou participação, neste caso,


formação e aprendizagem dos alunos. os resultados nem sempre são satisfatórios,
por não haver envolvimento das pessoas.
A autonomia competente citada pela autora
pressupõe que todos os “atores” envolvidos, Pensar numa educação democrática é pensar
numa educação feita para todos e com
participem das decisões coletivamente, todos, que promova igualdade de condições,
respeitando a legislação vigente que rege observando as diferenças, as desigualdades, as
a gestão, neste sentido, é que podemos desigualdades, as diversidades culturais, étnicas,
sociais, políticas e econômicas. Nesse sentido,
afirmar que a autonomia é limitada pelo fato partir da democracia como valor maior da gestão
de o grupo tem o poder de decisão, desde pedagógica de uma instituição educacional
que amparados pela lei vigente. implica compreender o currículo como conjunto
de ações que, para além de planos, objetivos,
procedimentos e aspectos organizacionais,
A Gestão não se confunde com a ideia de compreendam como se configura o cotidiano,
mero gerenciamento de condições pessoais como são as práticas educacionais de cada
ou materiais, nem tampouco se reduz a instituição, quais são as crenças e os valores que
especificações estatutariamente estabelecidas habitam os lugares e como se dão as interações
a cargos e funções, que são legitimadas em entre os diferentes sujeitos da comunidade
forma de atribuições legais de um dado exercício educativa. (SÃO PAULO, 2019, p. 179-180)
profissional. Compreende-se aqui a possibilidade
de acolher um significado alargado ao termo,
em que todos estão implicados com a prática É importante haver um entendimento
educativa como prática social. (SÃO PAULO,
entre todos os profissionais (professores,
2019, p. 179)
alunos, funcionários e pais de alunos)
dirigindo a instituição de uma maneira mais
A escola possui uma autonomia relativa aberta necessitando que todos, em conjunto
para gerir as suas ações no que concerne dividem as tarefas e responsabilidades nas
a tomar decisões coletivas que estejam em ações e atuações no contexto escolar.
conformidade com a legislação em vigor.
A natureza do trabalho que o diretor
O que devemos ter bem claro é o sentido desenvolve na instituição escolar exige
de gestão destacando a diferença entre o trabalho cooperativo na organização e
autoridade e autoritarismo, autoridade refere- de autoridade na escola, a partir de uma
se à responsabilidade na execução de suas gestão com maior força diante do Estado e
ações e responsabilidades, já o autoritarismo maior legitimidade diante da comunidade
não leva em conta a competência e sim o educativa. Não basta mudar a terminologia
cargo que a pessoa ocupa. Quando o gestor ou apenas o termo utilizado é necessário
exerce uma posição autoritária ele não é que os gestores educacionais tenham um
capaz de mostrar a sua equipe quais são os novo olhar e compreendam as demandas
seus propósitos e objetivos e esta equipe atuais da sociedade. Neste sentido, todos os
passa a cumprir ordens, sem questionar e sem esforços devem ser desprendidos no sentido

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Revista Educar FCE - Março 2019

de garantia da aprendizagem e do sucesso O PPP pode ser definido como projeto


educacional, numa visão mais igualitária e porque traz as propostas de ação a serem
mais justa. executadas, como político por ser a escola um
local de formação de cidadãos conscientes
[...] a equipe gestora não é responsável e pedagógico porque organiza os projetos
exclusiva pelo currículo. Todavia, exerce papel
importante no trabalho colaborativo da escola, e atividades educativas relacionadas ao
como articuladora da avaliação institucional, da processo de ensino e aprendizagem. Este
formação permanente das(os) professoras(es), e documento constitui uma das maneiras mais
destes com a construção, o redimensionamento
e os registros coletivos e participativos do PPP. eficazes de auxílio na construção da gestão
(SÃO PAULO, 2019, p. 182) democrática e participativa nas Unidades
Educacionais, sendo um plano orientador
Com a Constituição Federal de 1988 a das ações e práticas pedagógicas.
educação passa por transformações em
seu papel na sociedade e uma nova visão A construção coletiva, participativa e
genuinamente democrática do Projeto Político
passa a vigorar neste sentido do processo de Pedagógico (PPP) como expressão das intenções
democratização política em que vivia o país. e como vivência de propostas pedagógicas que
Assim, termos como democracia, gestão traduzam a marca identitária de cada Unidade
é de suma importância para a concretização da
democrática e participação coletiva passam tão sonhada gestão democrática. Nas palavras
a vigorar neste contexto histórico. de Azanha (2006, p.104), “elaborar o projeto
pedagógico é um exercício de autonomia”. (SÃO
PAULO, 2019, p. 180)
A Constituição Federal Brasileira de 1988
traz em seu texto no Art. 206 que o ensino
será ministrado com base no princípio de Por meio do PPP o gestor reconhece e
gestão democrática do ensino público. concretiza a participação de todos os atores
envolvidos no processo educacional, na
definição de metas para a garantia dos direitos
FORMAS DE CONSOLIDAÇÃO de aprendizagem e desenvolvimento dos
DA GESTÃO DEMOCRÁTICA bebês e crianças, meninos e meninas, jovens
e adultos, que são educados e cuidados na
NA ESCOLA Unidade Educacional.
O Projeto Político Pedagógico (PPP)
constitui-se como um dos elementos de Com um PPP bem estruturado e elaborado
consolidação da gestão democrática da num processo coletivo, tendo o compromisso
educação. O PPP é um documento que traz com a qualidade social da educação, a escola
o conjunto de metas que se deseja alcançar ganha uma identidade clara e segurança para
para a concretização dos objetivos da tomar decisões.
unidade educacional.

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Para a concretização do PPP o diretor O Projeto Político Pedagógico deverá


de escola deve acompanhar e avaliar a sua prever as formas de organização da Unidade
execução de forma coletiva, em conjunto Educacional como os espaços e ambientes,
com a comunidade educativa, conselho de os materiais, garantindo o acesso e a
escola e supervisão escolar, garantindo os participação de todos os bebês e crianças,
princípios da gestão democrática. incluindo as com deficiências, transtorno
global do desenvolvimento, superdotação
O PPP deve se orientar para a escuta e o ou altas habilidades, de diferentes etnias,
protagonismo da criança, efetivando uma
proposta curricular que se concretize pela classes sociais, culturas e religiões.
participação e pelo diálogo permanente
com bebês, as crianças e as suas famílias/ As formas de avaliação e acompanhamento
responsáveis, no sentido de problematizar,
explicitar práticas e projetar novas possibilidades das aprendizagens das crianças constam no
de viver a infância. Nesse contexto, precisamos PPP e seguem as recomendações previstas
perguntar como as(os) professoras(es), as na legislação em vigor, contendo a descrição
crianças e os bebês, as famílias/responsáveis e
a comunidade participam da construção deste das formas e dos instrumentos de registro
documento. (SÃO PAULO, 2019, p. 183) que compõem a documentação pedagógica
utilizada pela Unidade Educacional,
A equipe escolar deve planejar estratégias inclusive controle da frequência, a avaliação
que possibilitem a construção de relações Institucional também em conformidade com
de cooperação que favoreçam a formação a legislação em vigor é parte integrante do
de parcerias, atendendo às reivindicações PPP.
da comunidade local em consonância com
os propósitos pedagógicos da unidade Assumir a gestão democrática do processo
pedagógico implica assumir que tanto bebês e
educacional e promovendo a efetiva crianças como famílias/responsáveis podem
participação de todos os envolvidos neste e devem fazer escolhas e são coautoras do
processo. planejamento da escola. Crianças, bebês,
famílias/responsáveis e comunidade são agentes
tão potentes na construção da proposta curricular
A Unidade Educacional deve prever em da instituição quanto as(os) educadoras(es).
seu PPP como será realizada a articulação Cabe salientar que isso não diminui e nem retira
o lugar das(os) professoras(es) no planejamento
da gestão da Unidade Educacional com e na proposta curricular. (SÃO PAULO, 2019, p.
os órgãos auxiliares, dentre eles temos o 185)
Conselho de Escola e a Associação de Pais
e Mestres (APM). No próximo capítulo desta A discussão do Projeto Político Pedagógico,
pesquisa falaremos mais detalhadamente sua elaboração, reelaboração e revisão
sobre as funções do Conselho de Escola e devem ocorrer nos momentos coletivos,
a sua contribuição para a concretização da como reuniões pedagógicas, conselho de
gestão democrática da escola pública. escola, conselho de classe, dentre outros.
O diretor de escola é o responsável em

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articular o Projeto Político Pedagógico diretor escolar também é responsável pelos


em colaboração com todos os envolvidos projetos com a comunidade e deve garantir
no processo educacional, deve fornecer e a execução de maneira eficaz dos planos e
subsidiar juntamente com o coordenador metas.
pedagógico, as ações necessárias para a
efetivação deste documento, para então O conselho de escola desempenha um
realizar as intervenções as alterações que importante papel no exercício da democracia
forem necessárias. da escola pública e pode ser entendido como
um dos elementos que contribuem para
Para a consolidação da gestão democrática a consolidação da gestão democrática na
do ensino público os gestores devem ter escola, conforme pressuposto inicial desta
consciência da importância do PPP como pesquisa.
um documento que vai nortear as ações ali
desenvolvidas, não tratando este documento Reúne os diferentes membros da equipe
apenas como um documento burocrático escolar e tem o propósito de discutir, definir,
cumprimento exigências legais. avaliar e acompanhar o Projeto Político
Pedagógico da escola que como vimos no
O envolvimento da comunidade no capítulo anterior é definido como projeto
trabalho de criação do PPP é de fundamental porque traz as propostas de ação a serem
importância para o atendimento de seus executadas, como político por ser a escola um
propósitos, contribuindo para que a escola local de formação de cidadãos conscientes
construa a sua identidade e tenha a segurança e pedagógico porque organiza os projetos
para tomar decisões, nos remetendo ao e atividades educativas relacionadas ao
conceito de autonomia relativa, sempre processo de ensino e aprendizagem.
respeitando a legislação vigente. Quando
a comunidade participa dos processos A Portaria 2565/08 da Secretaria Municipal
educativos, o trabalho do gestor é facilitado, de Educação normatiza a composição
no qual todos são parte integrante deste do Conselho de Escola nas Unidades
processo e as decisões tomadas no coletivo Educacionais da Rede Municipal de Ensino.
fortalecem as relações desenvolvidas neste De acordo com esta portaria o Conselho de
espaço educativo. Escola será composto pelo membro nato que
é o Diretor de Escola e pelos representantes
O diretor de escola é a pessoa responsável eleitos, formado pela equipe docente
por articular o PPP e deve garantir que (Professores) em exercício na Unidade
o processo de criação do projeto seja Educacional, pela equipe técnica (Assistente
democrático, é o responsável pelos recursos de Diretor e Coordenador Pedagógico), pela
que serão mobilizados para que se consiga equipe de apoio à educação (Secretário de
alcançar as metas e atingir os objetivos. O Escola, Agente de Apoio Agente Escolar,

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Agente da Administração/Vigilância e Auxiliar Técnico de Educação), pela equipe discente


(alunos a partir do 4º Ano do ciclo I) e pelos pais e responsáveis pelos alunos.

O Governo Federal, pela Portaria Ministerial 2896/2004 criou o Programa de


Fortalecimento dos Conselhos Escolares, no qual publicou cadernos contendo discussões
sobre as atribuições e o seu funcionamento.

A constituição da escola democrática não pode ser concebida sem a participação ativa de
professores e alunos, mas a sua realização demanda também a participação democrática de
outros seguimentos que compõe a equipe escolar e o exercício da cidadania crítica por seus
atores, sendo o produto de um processo de construção coletiva.

O estilo da gestão participativa acentua a necessidade de “prever formas organizativas e procedimentos mais
explícitos de gestão e de articulação das relações humanas” no ambiente escolar: interações entre pessoas
com cargos diferentes, especialidades distintas e histórias de vida singulares que compartilhem objetivos
comuns e decidam, de forma pública, participativa e solidária, os processos e os meios de conquista desses
objetivos. (LIBÂNEO, 2003, p.382).

De acordo com as orientações do Currículo da Cidade de São Paulo a gestão democrática,


que requer e remete às práticas participativas construídas no encontro e no diálogo entre
os diferentes sujeitos e os diferentes saberes, é consolidada na divisão de significados,
processos e ações do fazer pedagógico. Organiza-se numa ação situada, por meio da qual
os sujeitos envolvidos pensam sobre as suas próprias ações e realizações, perguntam sobre
elas, investigam os seus fazeres, expõem crenças, contradições e ambiguidades, para então
problematizá-las e transformá-las.

Segundo Sacristan (1999) o processo de gestão democrática na escola não se resume apenas
na participação e sim todas as práticas irão refletir quais valores são almejados e trabalhados
neste contexto. Para o fortalecimento da gestão democrática na escola é necessário garantir
reais possibilidades de participação e organização colegiada que são fundamentais para a
garantia da democratização das relações na unidade escolar. O fortalecimento do Conselho
Escolar, buscando formas de ampliar a participação ativa de professores, coordenadores,
estudantes, funcionários, pais de estudantes e comunidade local é muito importante para a
efetivação da gestão democrática.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma gestão democrática na educação prevê a divisão
de responsabilidades no processo de tomada de decisões
envolvendo todos os segmentos da unidade educacional
para a busca de soluções que se adequem as necessidades
reais da escola.

A mudança de paradigma de administração para gestão


vem ocorrendo nos sistemas de ensino e nas organizações,
delineando perspectivas para uma gestão competente que
garanta a participação das pessoas envolvidas no processo
educacional, nas decisões, com o compromisso de melhoria CARLA SIMONE VICENTE
dos resultados educacionais. TAVARES DE OLIVEIRA

Graduada em Pedagogia pela


O conceito de gestão de escola também se refere ao Universidade Metropolitana de
ambiente autônomo e participativo, no qual todas as Santos (2015); Especialista em
pessoas trabalham coletivamente em busca do alcance de Administração com Ênfase em
Educação, Diversidade e Inclusão
objetivos comuns. Para que isso ocorra na prática é preciso Social pela Faculdade Campos
definir os objetivos que se pretende alcançar e que todos os Elíseos (2018). Professora de
atores envolvidos neste processo estejam conscientes dos Educação Infantil na Prefeitura
do Município de São Paulo, atua
propósitos e objetivos que almejam. como Assistente de Diretor na
Emei Coronel José Canavó Filho.
A autonomia pressupõe que todos os “atores” envolvidos,
participem das decisões coletivamente, respeitando a
legislação vigente que rege a gestão, neste sentido, é que
podemos afirmar que a autonomia é limitada, no qual o
grupo tem o poder de decisão, desde que amparados pela
lei vigente.

Analisando a legislação vigente, fica claro que com a Constituição Federal de 1988 a
educação passa por transformações em seu papel na sociedade e uma nova visão passa a
vigorar neste sentido do processo de democratização política em que vivia o país.

Cada Unidade Educacional tem autonomia para a formulação do seu Projeto Político
Pedagógico de forma coletiva e conjunta com todos os atores envolvidos no processo
educacional. Este documento por conter tantas informações que caracterizam e dão “vida” a
Unidade Educacional se converte numa ferramenta de planejamento e avaliação.

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REFERÊNCIAS
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05 de outubro de
1988. Brasília, 1988.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da


Educação Nacional. Brasília, 1996.

BRASIL. Portaria Ministerial 2896/2004. Programa Nacional de Fortalecimento dos


Conselhos Escolares. Brasília, 2004.

LIBÂNEO, J. C. et al. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez,
2003.

PARO. Vitor Henrique. Formação de Gestores Escolares: a atualidade de José Querino


Ribeiro. Educ. Soc., Campinas, vol. 30, n. 107, p. 453-467, maio/ago. 2009.

SACRISTÁN, J.G. Poderes instáveis em educação. Porto Alegre: Artmed, 1999.

SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo


da Cidade: Educação Infantil. São Paulo. SME. COPED. 2019.

SÃO PAULO (SP). Portaria 2565/08 - Normatiza a Composição do Conselho de Escola que
especifica nas Unidades Educacionais da Rede Municipal de Ensino. São Paulo: SME. 2008.

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A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO
PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
RESUMO: Este Trabalho de conclusão de curso tem como objetivo conscientizar sobre a
importância da afetividade no processo de ensino e aprendizagem. Infelizmente, entre os
educadores da maioria das Instituições de Ensino, é forte a ideologia de que o aprendiz pode
ser dividido em duas partes: físico e mental, razão e emoção ou cognitivo e afetivo. Vamos
nos ater a este último citado: cognitivo e afetivo, focando precisamente na afetividade,
refletindo se podemos realmente pensar nessa dicotomia do ser humano no complexo
processo de ensino-aprendizagem. Inicialmente abordamos pareceres e teorias de renomados
estudiosos no campo da afetividade como Piaget, Vygotsky e Wallon, que embasam suas
teorias na psicogenética e na abordagem sócio-cultural, ambos, em seus estudos, mostram
a complexidade que se dá neste diálogo entre a cognição e afetividade, cada um discorre
em sua teoria com suas especificidades; um dando maior ênfase a um ponto que o outro, no
entanto percebemos que elas se entrelaçam, produzindo um efeito positivo para o estudo
sobre a relação da indissociação do indivíduo. Refletiremos no papel do psicopedagogo no
âmbito escolar como facilitador das interações e da promoção de uma afetividade eficaz na
aprendizagem, para tal reflexão, buscamos Nos estudos de Nádia Bossa mostraR a história
e evolução da psicopedagogia no Brasil. O trabalho apresentado dá impulso a um caminho
árduo e recompensador aos profissionais ligados a uma forma significativa de ensinar, pois
busca levar à consciência dos educadores que a criança é um ser integral que pensa, que age
e que, sobretudo, sente.

Palavras-Chave: afetividade; aprendizagem; desenvolvimento

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INTRODUÇÃO ouvir gritos e imposições de educadores


com discurso de disciplinar, mas que acabam
A relação entre afetividade e aprendizagem pela generalização de todo corpo discente.
é um tema raramente discutido e ocultado Ouve-se insultos e exposições de erros,
na esfera educacional. Pouco se fala deste que são comuns em que está em fase de
tema, mas a afetividade é um dos fatores de aprendizagem, como se não houvesse
sucesso ou fracasso no processo de ensino e tolerância nas relações, ou até como se não
aprendizagem. houvesse relações, separando a criança o seu
lado emocional, dizendo que os alunos não
Piaget, Vygotsky e Wallon já vinham, em vão à escola para fazerem dos professores
suas obras, apontando a importância da amigos, mas sim para aprenderem.
afetividade para o ser humano e para sua
aprendizagem. Aliás, foi por meio destes Esse discurso muito falado e pouco
autores que se deu o contato inicial com este pensado reflete o quanto bebemos da
assunto. fonte de teorias tradicionais e dicotômicas
do individuo, teorias estas que separam
O objetivo deste estudo é refletir que não a criança, com a afirmativa de que escola
há uma divisão do ser humano, somos feitos é só para estudar e aprender conteúdos.
integralmente de cabeça e coração, afeto e Tais situações são refletidas ao decorrer do
cognição. O lado da afetividade interfere no ano letivo dos alunos, como notas baixas,
processo de aprendizagem e é tão importante aumento da violência, falta de diálogo e
quanto o lado cognitivo. desinteresse para aprender, sendo mais fácil
lançar a culpa à toda sorte, menos ao fato da
A experiência no magistério permitiu a instituição olhar o aluno de forma integral –
observação das relações entre a afetividade corpo e mente, afeto e cognição.
e a aprendizagem das crianças. Em nossos
dias, grande parte do tempo que os alunos Tais impressões foram reforçadas no
passam com um adulto experiente que possa percurso deste curso de pós-graduação. O
lhe trocar saberes se dá na escola e com o contato com a psicopedagogia estimulou
professor, tempo este maior que com os um aprofundamento do assunto e surgiram,
pais, pois na maioria dos casos trabalham e então, alguns questionamentos como: O
a convivência quantitativa, no que se refere quanto a afetividade pode influenciar a
a tempo, é pouca, vemos aqui a importância aprendizagem de um indivíduo? Como a
que se tem os conteúdos e, também, relações psicopedagogia se posiciona neste tema?
emocionais nas escolas. Como o pedagogo pode facilitar este processo
de aprendizagem? De fato podemos separar
Ao passar por entre os corredores das o individuo entre afeto e cognição?
Instituições Educacionais não é incomum

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Observa-se que tais questionamentos o profissional desta área tem ao reconhecer


levam justamente ao campo da o bom desenvolvimento da afetividade como
psicopedagogia, pois é uma área parte de um ensino eficaz e de qualidade.
interdisciplinar, um campo de atuação que
lida com o conhecimento, sua aquisição, Para uma melhor compreensão do tema,
distorções diferenças e desenvolvimento por foram utilizados autores como Arantes
meio de diversos processos e estratégias, (2003), Bossa (2000), La Taille, Oliveira,
considerando sempre a individualidade do Dantas (2016), Rego (2009), entre outros.
aprendiz.
A partir da leitura dos autores supracitados
Está comprometida com a melhoria das buscou-se a compreensão dos conceitos de
condições pessoais do sujeito que aprende. afetividade e aprendizagem dando subsídios
para uma reflexão sobre a importância
Desta forma, esta pesquisa delimita-se da afetividade no processo de ensino e
por desenvolver uma reflexão a cerca da aprendizagem sob o olhar da psicopedagogia,
afetividade e sua influência na aprendizagem. tendo como finalidade o incentivo ao diálogo
com os educadores para que assim como
O desenvolvimento deste trabalho exigiu evoluíram os estudos possam evoluir para
a realização de várias leituras e pesquisas uma forma contemporânea e eficaz de se ver
bibliográficas. O esclarecimento da o aluno, buscando uma formação integral
afetividade de acordo com os mais famosos do aluno que aprende, que emociona, que
autores da psicogenética é fundamental para pensa e que sente.
uma melhor compreensão do tema, desta
forma o trabalho está estruturado em dois Uma vez que o aprendizado se dá através
capítulos. de relações interpessoais e não apenas com
exposições de conteúdos, como muitos ainda
Neste estudo a afetividade será abordada pensam é necessário que repensemos nossas
à luz das teorias de Piaget, Vygotsky e Wallon, práticas. Conteúdos, temos facilmente
em suas abordagens singulares que, no divulgados por livros e hoje proliferado
entanto, se fundem quanto à importância da pelas redes midiáticas, agora relações de
afetividade no desenvolvimento do individuo, afeto se dá através de contato de gente com
num segundo momentos veremos o conceito gente. Assim se dá uma relação integral e
de psicopedagogia, buscando, também, efetivamente a integralidade do ser.
abordar de forma objetiva a introdução da
psicopedagogia no Brasil e seus desafios,
concomitantemente com os avanços das
pesquisas do ramo da aprendizagem, suas
aquisições e seus facilitadores, e o papel que

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A afetividade é comumente interpretada


como uma ‘energia’, portanto, como algo que
impulsiona as ações (...). O desenvolvimento
Para entendermos o papel da afetividade da inteligência permite, sem dúvida, que a
motivação possa ser despertada por um numero
no processo de ensino-aprendizagem cada vez maior de objetos ou situações (...) A
abordaremos concepções teóricas de afetividade é a mola propulsora das ações, e a
grandes estudiosos neste campo. razão está a seu serviço.

Wadsworth (1995) pondera ainda que


JEAN PIAGET na ótica piagetiana todo processo de
desenvolvimento inerente ao ser humano
Na teoria de Jean Piaget, o tema afetividade passa pela dimensão social e envolve
não é frequentemente relacionado. Ele cognição, afeto e moral. Segundo ele, durante
escreveu pouco sobre o tema, mas isso não os últimos 30 anos, tanto psicólogos, quanto
significa que ele não considerava importante. educadores, voltaram à atenção mais para
Para ele a afetividade não se resume às o papel dos conceitos cognitivos do que
emoções e aos sentimentos, mas envolve para os conceitos afetivos da sua teoria. Ele
também as tendências e vontades. próprio, mesmo reconhecendo o aspecto
afetivo como importante, concentrou sua
Para Piaget, como cita Souza(2003): atenção mais no aspecto cognitivo.

São centrais... os seguintes pressupostos: O interesse, para Piaget, seria o elemento


• Inteligência e afetividade são diferentes
em natureza, mas indissociáveis na conduta poderoso e comum de afetividade que,
concreta da criança, o que significa que não há por sua vez, influencia nossa seleção de
conduta unicamente afetiva; atividades intelectuais, ou seja, a seleção
• A afetividade interfere constantemente no
funcionamento da inteligência, estimulando-o ou não é provocada pelas atividades cognitivas,
perturbando-o, acelerando-o ou retardando-o; mas pela afetividade, o que Piaget chama de
• A afetividade não modifica as estruturas interesse.
da inteligência, sendo somente o elemento
energético das condutas.

Para Piaget (1976) o afeto é uma ferramenta CONTRIBUIÇÕES DE LEV


primordial para o desenvolvimento cognitivo. VYGOTSKY
A afetividade por sua vez, desempenha um
papel fundamental no funcionamento da Vygotsky vê o homem como um ser que
inteligência, sem ele, não existe motivação, pensa e raciocina, mas, também, como um
nem interesse, nem necessidade e por ser que sente, se emociona, deseja, imagina
consequência o desenvolvimento da e se sensibiliza.
inteligência pode ser prejudicado. Nas
palavras de La Taille (1992:65):

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Ele não separa o intelecto do afeto, O sujeito visto pelos olhos de Vygotsky
pois busca entender o sujeito como uma é um ser histórico-cultural, é produto do
totalidade. desenvolvimento de processos físicos e
“Referimo-nos à relação entre intelecto mentais, cognitivos e afetivos, internos e
e afeto. A sua separação enquanto objetos
de estudo é uma das principais deficiências externos.
da psicologia tradicional. Uma vez que esta
apresenta o processo de pensamento como Os processos cognitivos e afetivos como
fluxo autônomo de pensamentos que pensam
por si próprios, dissociados da plenitude da vida, o modo de pensar e o modo de sentir são
das necessidades e dos interesses pessoais, das carregados de conceitos, relações e práticas
inclinações e dos impulsos daquele que pensa.” sociais de um determinado fenômeno
(VYGOTSKY, 1998, P 6-7)
histórico e culturais, logo afetividade humana
é constituída culturalmente.
Segundo ele são os desejos, necessidades,
emoções, motivações, interesses, impulsos e “... por meio do modelo vygotskyano é possível
concluir que as funções psíquicas humanas
inclinações do ser humano que dão origem estão intimamente vinculadas ao aprendizado,
ao pensamento e este exerce influência à apropriação (por intermédio da linguagem) do
sobre o aspecto afetivo. legado cultural de seu grupo... O longo caminho
do desenvolvimento humano segue, portanto,
Em sua perspectiva, conhecimento e
do social para o individual (REGO, 2003)
afetividade não são separadas no individuo,
apesar de diferentes elas se inter-relacionam
no processo de desenvolvimento.
CONCEITO DE AFETIVIDADE
“Quem separa desde o começo o pensamento
do afeto fecha para sempre a possibilidade DE HENRI WALLON
de explicar as causas do pensamento, porque
uma análise determinista pressupõe descobrir A teoria de Henri Wallon é baseada numa
seus motivos, as necessidades e interesses, os visão não fragmentada do desenvolvimento
impulsos e tendências que regem o movimento
do pensamento em um ou outro sentido” humano, busca compreendê-lo do ponto
(VYGOTSKY, 1993:23) de vista do ato motor, da afetividade, da
inteligência e das relações que o individuo
Para ele, as dimensões do afeto e da estabelece com o meio. As suas investigações
cognição estão desde cedo dialeticamente foram concentradas nos primeiros anos de
relacionadas. Nesse contexto, o repertório vida.
cultural, as experiências e as interações
com outras pessoas são fundamentais para Em sua linha de estudo, dá destaque às
a compreensão do desenvolvimento com emoções e às contradições entre esta e outros
relação à afetividade. campos funcionais no desenvolvimento,
adotando para o estudo os fatores de origem
orgânica e social.

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O principio das emoções, denominado para CONCEITO DE


Wallon como período impulsivo emocional, PSICOPEDAGOGIA
encontra-se nas primeiras relações que
o bebê estabelece com a mãe, ou adulto O termo psicopedagogia no Novo
próximo que interage com ele, justificando Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa
assim, que o surgimento das emoções precede é definido como “aplicação da psicologia
o da representação e da consciência de si. experimental na pedagogia” (1992, p.VIII). No
Por meio de gestos impulsivos, contorções entanto, a psicopedagogia é reconhecida por
ou espasmos corporais, bem como das mais ter caráter interdisciplinar, haja vista que são
primitivas expressões emocionais como vários os campos escolhidos para se tratar
choro ou o sorriso, o bebê chama a atenção da especialização tais como: Pedagogia,
das pessoas ao seu redor, ou seja, ele afeta Psicologia, Fonoaudiologia, Lingüística,
as pessoas que retornam o afeto a ele, uma Medicina, Psicanalise, Filosofia, entre outros.
ação reciproca afetiva.
O caráter interdisciplinar pode ainda ser
Com o desenvolvimento psíquico, a percebido em Scoz:
origem dos estados emocionais se alargam
e a afetividade vai desenvolvendo maior Psicopedagogia, área que estuda e lida com o
processo de aprendizagem e com os problemas
independência dos fatores corporais. A fala e dele decorrentes, recorrendo aos conhecimentos
a organização mental faz com que as emoções de várias ciências, sem perder de vista o fato
se organizem e se expressem através de educativo, nas suas articulações sociais mais
amplas (SCOZ, 1996:12).
palavras, essa organização ou reflexão mental
fará com que se reduzam as manifestações da
emoção, no entanto, quando a emoção não Podemos constatar por experiências e
conseguir ser convertida em ação motora estudos que a Psicopedagogia é uma área de
ou mental, quando ela fica pura e intensa, atuação, de estudo e aplicação que recorre
haverá desorganização, podendo ser esta à outras vertentes, mas o seu maior espaço
desorganização um gerador de problemas de de atuação é no campo da psicologia e da
aprendizagem. educação.

A história da construção do individuo na A Profª Mestre Sandra Regina Stanziani


teoria walloniana será constituída por uma Higino Mesquita em seus artigos do curso
alternância entre momentos dominantes de Psicopedagogia Institucional e Clinica da
afetivos ou dominantes cognitivos, mas não Universidade São Caetano do Sul – USCS,
são separados, apenas dominantes. diz:

Se acreditamos que o ser aprende à partir


das relações que estabelece com o outro e
que devemos considera-lo em sua globalidade

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e o mesmo deve ser observado dentro de


seu contexto. Estaremos preocupados com o para o problema. Por muitos anos até às
modo como ele aprende e assim responde ao ultimas décadas vemos desculpa de atribuir
que lhe é solicitado e não a respostas prontas o sucesso e fracassos dos alunos a fatores
e padronizadas a que muitos são submetidos
dentro do processo de aprendizagem. individuais, neste sentido:

Os problemas educacionais no Brasil têm


sido objeto de pesquisa de muitos estudiosos. A
Neste ponto, os estudos nos remetem à grande parte deles tem enfocado especificamente
preocupação de como a criança aprende, o tema fracasso escolar, e alguns deles, ainda
levando em consideração a sua totalidade, hoje, atribuem como causa do fracasso escolar
os problemas individuais dos alunos. Esta ideia
para isso é necessário que as áreas se cruzem lamentavelmente também é compactuada por
para entendo o ser em sua complexidade. alguns professores, revelando a existência de
um ensino conservador que, geralmente, impõe
todas as culpas ao próprio aluno. (CURONICI &
Logo, podemos entender a Psicopedagogia MCCULLOCH,1999:54)
como uma área interdisciplinar, que lida
com o conhecimento, sua ampliação, sua
aquisição, suas distorções, suas diferenças e Com essas preocupações, em 1958, surge
seu desenvolvimento, considerando sempre a primeira experiência psicopedagógica
a individualidade de quem aprende. Está com a criação do Serviço de Orientação
comprometida com a melhoria das condições Psicopedagógica (SOPP) da “Escola
pessoais de quem adquire o conhecimento e Guatemala” na extinta Guanabara. O
do ambiente que se estabelece na relação do SOPP buscava a melhoria da relação
processo de ensino e aprendizagem. professor e aluno, criando um ambiente
mais receptivo para a aprendizagem,
partindo das experiências anteriores dos
PSICOPEDAGOGIA NO alunos. Conforme essa experiência atuava,
BRASIL apareceram várias clínicas psicopedagógicas
pelo país atendendo demanda de crianças
O principal desafio do sistema escolar até que eram encaminhadas pelas escolas, por
a década de 60 era do acesso e permanência apresentarem baixo rendimento escolar.
do ensino à todos, tanto de crianças como de
adultos que não o obtiveram. Para superar Embora os estudos e serviços pedagógicos
esse desafios foi feito politicas publicas ara cresciam , Bossa (2000), revela que no Brasil,
o acesso, mesmo que não em sua totalidade por muito tempo se explicou o problema
em sua eficiência. Nessa mesma época da aprendizagem como produto de fatores
os altos índices de evasão e repetência, orgânicos, na década de 70 foi amplamente
refletindo, assim, o fracasso escolar, era tema difundida a ideia de que tais problemas teriam
preocupante para estudo de profissionais da como causa uma disfunção neurológica não-
educação buscarem estratégias e respostas detectável em exame clínico (...) chamada

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disfunção cerebral mínima. Ainda nas Em 1988, a “Associação de Psicopedagogo


palavras da autora: de São Paulo” transforma-se na “Associação
Brasileira de Psicopedagogia”. Pelo tempo de
O rótulo DCM foi apenas um dentre os sua existência a associação tem promovido
vários diagnósticos empregados para camuflar
problemas sociopedagógicos traduzidos encontros, congressos, com o objetivo da
ideologicamente em termos de psicologia reflexão da formação do psicopedagogo e
individual. Termos como dislexia, disritmia e repensar as possibilidades de intervenção da
outros também foram usados para este fim.
psicopedagogia no percurso educativo.
(BOSSA, 2000:49)

Atualmente, a oferta de cursos de


No principio da década de 70 surgiram psicopedagogia aumentou, tendo como
em nível institucional, diversos cursos com desafios uma formação psicopedagógica
enfoque psicopedagógico, antecedendo a de qualidade, a ampliação do campo de
criação de cursos formais de especialização e atuação para as instituições, a construção da
aperfeiçoamento. Em 1979, surge o primeiro identidade do Psicopedagogo e a delimitação
Curso Regular de Psicopedagogia, (criado do seu campo de atuação. Tendo como, ainda,
por Maria Alice Vassimon) e Madre Cristina a raiz de sua natureza e como objeto de
Sodré Dória, no Instituto Sedes Sapientiae, estudo o processo de ensino e aprendizagem
em São Paulo. A este respeito: e as dificuldades deste processo.

Maria Alice Vassimon, preocupada com a


perspectiva de um homem global, percebido
a partir de referencias intelectuais, afetivas e
O PAPEL DO
corporais, questionando o mito da psicologia na
época e com uma grande vontade de retomar
PSICOPEDAGOGO
a educação como área de conhecimento COMO FACILITADOR DO
mais atuante, faz uma proposta para que o
Instituto Sedes Sapientiae, até então ocupado DESENVOLVIMENTO À LUZ
por psicólogos e psicanalistas, abrisse o seu
espaço para um curso que valorizasse a ação DA AFETIVIDADE
do educador. (SCOZ e MENDES In BOSSA,
2000:55) Fora os saberes culturas familiares, a
educação formativa é o primeiro agente
socializador. Para que o psicopedagogo,
Em 1980, inicia-se uma reflexão sócio- no trabalho com o aprendiz, atue com
política do fracasso escolar, sendo um profissionalismo e competência é necessário
problema não apenas de aprendizagem, mas que se crie um ambiente afetivo de
de ensino e de como ele é feito. É criada, segurança onde a criança se sinta protegida.
nesta mesma década, a “Associação de É preciso que se tenha a consciência de que
Psicopedagogo de São Paulo”. ao primeiro contato a criança sinta-se bem
recebida, pois em um ambiente que ela seja

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Revista Educar FCE - Março 2019

respeitada em relação às suas emoções e aos esta sendo afetiva, mostrando o que está
seus sentimentos haverá um aprendizado sentindo, está se expressando, mas por falta
cognitivo mais significativo. de maturidade não consegue fazer de forma
como os adultos fariam com mais facilidade.
Cabe ao psicopedagogo, como parte É neste ponto que a criança estabelece laços
integrante do processo de ensino e de confiança, na ação de como o adulto,
aprendizagem, ter a responsabilidade e o que está disposto a me ajudar em minhas
compromisso com o aluno de dificuldade de dificuldades, agirá nos meus momentos de
aprendizagem, dando apoio, não somente desequilíbrio.
nos conteúdos de natureza cognitiva, mas
também, para que este se torne um cidadão De acordo com Saltini:
participativo na sociedade como um todo.
a serenidade e a paciência do educador,
mesmo em situações difíceis, faz parte da paz
Nas relações afetivas, tanto de que a criança necessita. Observar ansiedade, a
desenvolvimento coletivo, quanto ao perda de controle e a instabilidade de humor,
processo individualizado de aprendizado vai assegurar à criança ser o continente de
seus próprios conflitos e raivas, sem explodir,
é interessante que o psicopedagogo crie elaborando-os sozinha ou em conjunto com o
laços afetivos, no entanto deve ser mostrado educador. A serenidade faz parte do conjunto
que essa relação não é de fazer todas as de sensações e percepções que garantem
elaboração de nossas raivas e conflitos. Ela
vontades, mas agir com paciência, dedicação conduz ao conhecimento de si mesmo, tanto do
e afeto para que o aprendizado se torne educador quanto da criança. (Saltini1997, p.91):
muito mais prazeroso e efetivo, pois num
ambiente autoritário vemos facilmente um
desinteresse pela aprendizagem e o oposto Temos assim que o psicopedagogo, como
disso também, um ambiente sem limites educador, tome consciência de que suas
afetivos a criança pode ficar confusa nesse ações são fundamentais para que se tenha
processo sendo prejudicada no aprendizado, um bom trabalho e que a partir de atitudes de
até mesmo no exercício da cidadania e respeito consiga contagiar e levar uma ação
convivência com outros. reflexiva do ensino aos alunos facilitando a
superação das dificuldades de aprendizagem.
Em alguns momentos de hostilidade Tendo em sua filosofia de ensino que as
das crianças, desafiando o adulto em sua emoções e os sentimentos fazem parte e são
prática, alguns destes cometem atitudes importantes nessa relação e nesse processo,
equivocadas. No entanto, é necessário tanto para o sucesso quanto para o fracasso
manter a calma, dialogar para entender a raiz de cidadãos conscientizados do papel que
do problema, na maioria das vezes a criança exercem e exercerão na sociedade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As teorias expostas no presente artigo quebraram a
tradicional divisão entre afetividade e cognição. Com
o embasamento teórico estudado foi mostrado que os
aspectos afetivos e cognitivos da mente humana não são
opostos, mas sim, articulados.

Uma realidade incontestável é que crianças aprendem


o tempo todo. O processo de ensino e aprendizagem
é constante e como vimos, ele se dá de forma integral e,
sobretudo, afetivo. Muitas vezes, a dificuldade em aprender CIBELE FABRÍCIO
está na forma em que o educador se coloca diante dos SAMPAIO SCHROEIDER
alunos, demorando anos para uma criança vencer esses
Graduação em Pedagogia pela
traumas. Universidade do Grande ABC.
– Uni ABC (2012); Especialista
À luz da dissociação do ser, mostra-nos a necessidade em Psicopedagogia Clinica
e Institucional pela USCS –
de inserirmos no cotidiano educacional, o trabalho com os Universidade de São Caetano
sentimentos e afetos, para isso precisamos ter a vontade do Sul (2019); Professor de
e o vigor para mudarmos a educação estabelecida e Educação Infantil no CEI (Centro
de Educação Infantil) Maria Cursi,
transformar os afetos, emoções e sentimentos em objetos Professor de Educação Infantil
de aprendizagem. Se tais objetos forem incorporados e Ensino Fundamental na EMEF
ao sistema educacional, a escola estaria mais próxima à Rodrigo Mello Franco de Andrade.

realidade dos alunos em sua vida cotidiana, em consequência


teríamos uma educação integral e de qualidade.

É inerente que se reconheça em todos ambientes


facilitadores da aprendizagem que uma boa afetividade é
um propulsor para desenvolvimento de um todo.

Caímos aqui numa forte questão: se não rompermos a


separação, infelizmente ainda aceita no meio educacional,
da aprendizagem centrada apenas nos aspectos cognitivos
da mente humana e da vida cotidiana do individuo atrelada
às emoções, como teremos uma qualidade?

A essa pergunta cabe uma reflexão: é necessário que nós,


psicopedagogos, nos comprometamos como educadores,

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Revista Educar FCE - Março 2019

facilitando o desenvolvimento integral das crianças, fazendo com que conheçam os conteúdos
científicos, reflitam sobre a aplicação deste na vida e conscientizá-lo do papel que exercem
na sociedade, exercendo a cidadania.

Precisamos romper o velho e mau discurso de que um bom desempenho educacional


depende de um estado afetivo saudável e atribuir qualquer dificuldade de aprendizagem a
um distúrbio afetivo devido às dificuldades familiares. De acordo com os teóricos estuados
sabemos que a família não é a única responsável pelo desenvolvimento afetivo da criança,
precisamos ponderar o nosso papel que no plano cognitivo ou intelectual terá impacto muito
positivo sobre a vida afetiva, não esquecendo a criança em sua integralidade.

Ao reconhecermos que não podemos dividir a criança em duas partes, tomaremos nova
posição em relação ao processo de ensino-aprendizagem. Sendo iminente a reflexão do
ser como integral. Ao mesmo tempo que auxiliamos em sua dificuldade de aprendizagem,
precisamos tomar uma posição de afetividade eficiente, como relata Wallon, preocupar-nos
com nossa postura frente ao aluno para que ele sinta em nós segurança para acertar, e até
mesmo errar, entendo que errar faz parte do processo de aprender. Construindo laços de
segurança.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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sistêmico sobre as dificuldades escolares. Bauru: Edusc, 1999.

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relações que se constroem em sala de aula na visão do aluno adulto. SP: UNICAMP, Disponível
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VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O PAPEL DO ESTADO FRENTE


ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS
EDUCACIONAIS
RESUMO: O presente texto tem como objetivo discutir e analisar o papel do Estado com
a educação, à reforma do Estado nos anos 90. Apresenta as teorias de Estado e conceitos
utilizados por Jhon Ralws que são importantes e que podem fornecer indícios para refletir
sobre as políticas públicas educacionais à luz do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
da Educação Básica e da Valorização dos Profissionais da Educação, Fundeb.

Palavras-Chave: Estado; Políticas Educacionais; Justiça.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento


da Educação Básica e de Valorização dos
Nos dias atuais muito se tem discutido Profissionais da Educação, o FUNDEB. Assim
sobre o futuro da educação pública e o poderemos então fazer nossas conclusões
papel dos diversos atores sociais para com finais sobre o presente artigo.
a mesma. Com ascensão do neoliberalismo
e as mudanças após a reforma do Estado,
o cenário educacional tem perdido sua TEORIAS DO ESTADO E SUA
relevância em relação à importância na INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO
elaboração de políticas pelo Estado e, assim,
deixando o seu papel para terceiros. No
presente texto em um primeiro momento Para o entendimento do sistema político
iremos analisar a influência que as teorias do educacional, Torres (1995) afirmam que a
Estado exercem sobre a educação e partindo discussão das teorias do Estado é fundamental
desse pressuposto conceituaremos o Estado para a educação, pois, os debates para a
de Bem Estar Social e Estado Neoliberal, e resolução dos problemas educacionais
discutiremos brevemente suas ideologias e o dependem dessa teoria, bem como esse novo
futuro das escolas públicas com as reflexões modelo neoliberal reflete uma grande mudança
de Torres e Gentili. no caráter do Estado, dando espaço para novas
visões de educação considerando a globalização
Em um segundo momento abordará as mundial do capitalismo, destacam-se assim o
consequências da Reforma do Estado após estado de bem estar social e estado liberal. Do
os anos 90, na educação, especificaremos ponto de vista político, os liberais acreditam
segundo Bresser as atividades que são na necessidade do Estado e na sua função de
exclusivas do Estado, os serviços sociais proteger as liberdades individuais, impondo
e científicos do Estado e a produção de restrições aos indivíduos e ao mesmo tempo
bens serviços para o mercado e, assim, assegurando gozar da liberdade por intermédio
pontuando a delimitação de seu papel. das leis. O Estado é uma construção social e
Pontuaremos também as contribuições de a sociedade se organiza para organização do
Dermeval Saviani e seu posicionamento Estado. O governo como suprema autoridade
frente aos ideais da Reforma, a pedagogia política e considerando algumas tradições
corporativa e as políticas educacionais. Para contemporâneas como a constituição do
um terceiro e ultimo momento, abordaremos cidadão, questão da cultura política da
os conceitos de John Ralws partindo da nação; democracia liberal discute problemas
“justiça como equidade” para reflexões de e responsabilização; marxismo enfatiza a
políticas públicas educacionais justas para questão do poder do Estado; sociologia Max
uma sociedade. Partindo disso, faremos uma Weber, exercício de autoridade do Estado.
breve apresentação dos investimentos à luz Assim, segundo Torres (1985) o exercício de

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poder do Estado faz-se ao exercício de ato As teorias do Estado exercem influencia


de força sobre a sociedade civil, por meio de também sobre a Educação, já que uma
aparatos de força do Estado, muitas vezes depende da outra. Essas teorias de Estado
exercido com a finalidade favorecer algumas sustentadas pelas colisões governamentais
classes privilegiadas, política, econômica e pelas burocracias educacionais irão
e socialmente. O Estado não é um agente influenciar no planejamento e na operação do
exclusivo na luta das classes, mas também para sistema educacional. Por fim, toda a discussão
intervir no papel de legislador, sancionador e de reforma educacional, envolve competição
executor das leis sociais, supervisionando de pontos de vistas contraditórios. Em uma
sua aplicação e estabelecendo as praticas de perspectiva de Torres (1995), o Estado de
punição. (TORRES, 1982 apud OFFE) visando à bem estar social surgido na Europa representa
questão central da prática Estatal, contradição um acordo entre o trabalho e o capital. Nos
entre promover o acumulo de capital e ao Estados Unidos foi criado o New Deal,
mesmo tempo, promover a legitimidade do denominado por Roosevelt. Trata-se de uma
capitalismo como um todo, propõe um aspecto constituição de governo na qual o acesso aos
analítico, baseado na teoria dos sistemas. Para bens de saúde, educação, seguridade social,
o autor, o Estado é um mediador das crises no salário e moradia são entendidos como um
capitalismo e para lidar com as contradições direito do cidadão. Outro importante ponto
como a socialização da produção e a apropriação de vista é que o modelo funciona com a
privada da mais valia, ou seja, tem que se ideia de uma economia industrial de corte
expandirem suas funções institucionais. Na Keynesiano, ou seja, de pleno emprego e
visão de (TORRES, 1982 apud OFFE) O Estado maior intervenção do Estado na Economia.
é um sistema administrativo autorregulador Na América Latina, a sociedade civil tinha
que reflete um grupo de regras e convenções um forte intervencionismo nas formações
institucionais que se fortificam historicamente. estatais, havia pontos diferentes ao de bem
Uma vez que o Estado aparece como um estar social, principalmente ao que se refere
pacto de dominação que intermédia às crises à falta de um seguro desemprego. Este
recorrentes do capitalismo e tenta impedir último tem um significativo papel para a
que elas afetem as condições de produção evolução da sociedade e cultura e contribuiu
deste mesmo sistema, a perspectiva de classe também para o crescimento do mercado
do Estado não se baseia na representação de interno, substituindo a importação como
interesses de setores específicos. Em resumo, um modelo central. Ressalta-se ainda que
a ideia liberal de Estado se dá sobre a noção expansão em termos de educação ocorresse
de poder público e se difere do governo do sob os estados que eram similares ao de bem
ser governado. Assim, o Estado possui uma estar social.
independência da sociedade civil e serve de
conciliador entre as classes sociais. O papel e a função da educação pública
foram expandidos, ainda que segundo as
premissas estatais do passado. Na medida em

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Revista Educar FCE - Março 2019

que a educação pública postulava a criação de


um sujeito pedagógico disciplinado, o papel, inúmeras ocasiões por governos neoliberais,
a missão, a ideologia e o treinamento de o melhor estado, é o estado mínimo”.
professores,assim como as noções fundamentais (TORRES, 1995, p.115).
do currículo escolar e do conhecimento oficial,
foram todos profundamente marcados pela
filosofia predominante no estado, Isto é, uma Os modelos neoliberais compartilham das
filosofia liberal, ainda que paradoxalmente premissas do capitalismo avançado, para
estatizante. (TORRES, 1995, p.113).
eles as atividades do setor público ou estatal
são vistas como ineficientes, improdutivas,
antieconômicas e como desperdício social, ao
AS PREMISSAS DE UM passo que o setor privado é eficiente, efetivo,
ESTADO NEOLIBERAL produtivo e por se menos burocrático atende
com maior eficiência as demandas do mundo
Segundo Torres os governos neoliberais moderno. Diferente do modelo de estado
propõem noções de mercados abertos e do bem-estar social, o estado neoliberal
tratados de livre comércio, redução do favorece apenas as necessidades do mundo
setor público e diminuição da intervenção dos negócios. Mas não há um total abandono
do Estado na economia e na regulação das políticas públicas, nem dos mecanismos
do mercado. Outro aspecto importante de disciplina e coerção, o desmonte é
deste modelo é a redução drástica do feito seletivamente dirigindo-se a alvos
setor estatal e a reorientação da produção específicos, pois há necessidade de pacificar
industrial e agrícola para exportação. Em áreas de conflitos. Para melhor compreensão
curto prazo, o objetivo deste pacote de do desenvolvimento do Neoliberalismo é a
política pública é a redução do déficit fiscal globalização do capitalismo, “a categoria
e do gasto público, da inflação e das taxas de globalização em mundo econômica
de câmbios e tarifas. Em médio prazo, o pós-fordista é fundamental para entender
ajuste estrutural baseia-se nas exportações as transformações do capitalismo e as
como motor para o desenvolvimento. Em transformações do modelo estatal neoliberal”
suma, os princípios do estado neoliberal são (TORRES, 1995, p. 117). Vale reiterar no
constituídos por um conjunto de teorias e principal paradoxo entre o modelo neoliberal
grupos de interesses vinculados à economia e o neoconservador que repercutirá em
da oferta, monetaristas, setores culturais domínios diferentes, uma vez que os
neoconservadores, grupos que se opõem às mesmos estimulam a autonomia individual,
políticas distributivas de bem-estar social mas por outro lado promovem as obrigações
e setores preocupados com o déficit fiscal. públicas de todos os cidadãos, inconciliáveis
Para os neoconservadores e neoliberais, com o individualismo possessivo. Não há
economicamente falando, as empresas possibilidade de conciliação neste modelo
estatais e parestatais só sobrecarregam de filosofia política, dado a diversidade das
o estado, “como tem sido assinalado em preferências individuais, e não é possível

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o Estado ser o local de negociação de agudo no Terceiro Mundo, é desejável na


tais referências e para que isso ocorresse perspectiva conservadora, fundamentada no
haveria que ter um conjunto de normas individualismo competitivo e nas ideologias
de comportamento estáveis, baseadas em fundadas no princípio da meritocracia, que
uma estrutura estatal madura, uma política legitimam a divisão hierarquizante e desigual
pública racional, baseada em um modelo das modernas sociedades de mercado.
legal-racional, e no contexto de bases Cidadania, neste contexto neoliberal, perde
consensuais amplamente aceitas na cultura seu conteúdo democrático, assim como se
política de uma sociedade. perdem a concepção da necessidade dos
direitos,inerente à cidadania no contexto
Gentili (1995) ressalta os regimes da democracia, que aparecem como causas
neoliberais investem em mudanças culturais para a acomodação e desvalorização do
e ideológicas que desintegrem a legitimidade mérito individual. Ainda que o neoliberalismo
da educação como direito e a existência da defenda como pressuposto a intervenção
escola pública, para assegurar a reestruturação mínima do Estado, o mercado livre coloca
política, econômica e social que lhes o Estado em um papel de exercício de
favoreça, por meio da redução das noções violência coerciva que garanta a legitimação
como as de democracia e de direito à mera do modo neoliberalista de conduzir o
formulação discursiva. A ofensiva Neoliberal mercado, “o Estado exerce a violência para
contra escola pública se dá por meio de garantir a violência do mercado” (GENTILI,
medidas políticas de caráter dualizante, e de 1995, p. 239). O Estado de Bem-Estar, em
uma série de estratégias culturais no intuito teoria, baseia-se por princípios democráticos
de romper a lógica do sentido sobre qual a com intuito de minimizar as desigualdades,
educação e escola torna-se genuinamente por meio de ações de caráter assistencial,
um direito de todos. Para Gentili (1995) o o que suscitou a reações contrárias dos
neoliberalismo é a alternativa histórica à conservadores e neoliberais, uma vez que
crise do capitalismo fordista, década de 60 tais intervenções políticas nesse sentido
e início da de 70, e seus níveis específicos, fomentam, ao invés de minimizar, os efeitos
culminando em uma reestruturação do não igualitários da sociedade.
capitalismo no sentido global e a imposição
de uma nova hegemonia político-ideológica. [...] as políticas de bem estar social têm como
objetivo lidar com problemas que eram tratados
O capitalismo atravessa historicamente por estruturas tradicionais como a família, a
diversas dinâmicas de crise, permanentes e Igreja ou a comunidade local. Quando tais
cíclicas. As contradições peculiares a esse estruturas se desmoronam, o Estado intervém
para assumir suas funções. Neste processo,
tipo de sociedade mantêm relativamente o Estado debilita ainda mais o que resta das
estáveis temporariamente, sendo estruturas tradicionais. Surge daí a necessidade
substituídas por novas em outros adventos maior de assistência pública do eu havia sido
prevista, e a situação piora, em vez de melhorar.
de crise. O caráter dualizado/dualizante, mais
(apud Hirrschman, 1992, p.35)

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O neoliberalismo precisa de uma nova que em outras palavras e de uma forma


ordem cultural, e o conceito de propriedade velada pretende apagar a Educação de
é reduzido na sociedade de mercado a qualidade como direito para as maiorias.
uma concepção materialista, individualista O neoliberalismo precisa incluir um novo
e integral de direito a algo, ainda que conceito de Educação em nossa sociedade,
negando o “direito de propriedade” a outros, para a construção de uma nova cultura
produzindo desigualdades de riqueza e voltada para a geração de outras formas
poder, contrariando os princípios de uma de consenso que possibilitem a reprodução
sociedade democrática. Nesse contexto, a simbólica de sociedades dualizantes. Duas
desigualdade assume a função de estimulo à estratégias discursivas fundamentam essa
competição e exercício da meritocracia, por mudança cultural: o discurso da qualidade
tanto, assumindo um papel positivo na lógica e o discurso que liga educação e trabalho
neoliberal, enquanto o Estado tem função de demasiadamente. A qualidade como
conservar e defender a propriedade e o direito propriedade, ou seja, tendo seu conceito
a ela. As organizações comunitárias, igrejas, reduzido ao conceito de propriedade, é
associações de moradores, e instituições um dos atributos no mercado dos bens
descentralizadas sem interferência estatal, educacionais. Sendo propriedade, fica sujeita
são apontadas como as melhores opções à condição de bem de mercado, o que legitima
para dar conta das desigualdades e a exclusão do acesso a ela e retira do estado
discriminações educacionais por meio da o dever de garanti-la, pressupondo que ao
caridade, na perspectiva da Nova Direita, democratizá-la produzirá justamente uma
que concebe a educação de qualidade educação de baixa ou nenhuma qualidade. A
como propriedade, demonstrando assim falta da qualidade passa a ser problema do
a tendência antidemocrática dessa forma mercado que, autocorretivo, deve resolver
de organização, que sujeita o bem-estar ao invés do Estado. A Nova Direita persegue
das maiorias aos interesses dos sistemas e obcecadamente a ligação entre o universo
interesses neoliberais e conservadores. do trabalho e o educacional, “na moderna
sociedade de mercado, o emprego (como
a educação de qualidade) não é direito,
O DESTINO DA nem deve sê-lo.” (GENTILI, 1985, P. 247).
EDUCAÇÃO PÚBLICA O emprego não é considerado direito no
sistema neoliberal, e está sujeito à lógica
Gentili (1995) afirma que neoliberalismo da competitividade do mercado. Por isso, a
invade a escola pública, usando de diversas educação de qualidade como propriedade,
estratégias políticas, na qual os serviços podendo ser comprada/vendida com a
públicos são prestados por terceiros, o finalidade de competir no mercado por
Estado atuando indiretamente, e ao mesmo empregos e no mercado político, torna o
tempo uma política de reforma cultural, discurso neoliberalista sobre o assunto

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ainda mais antidemocrático, uma vez que é o país em caso de guerras e promover o
possível apropriar-se do bem de educação desenvolvimento econômico e social, tem
de qualidade e não ter acesso a empregos. o poder de legislar, punir, tributar e realizar
Em um mercado dirigido a novas formas transferências financiadas pelos impostos,
de competição que produzem escassez ou seja, o conceito de Estado o torna uma
de empregos, essa marginalização dos entidade monopolista por acepção. No
indivíduos da sociedade a tornam cada vez entanto, além dessas atividades que próprias
menos democrática e mais desigual. do Estado liberal, há as atividades que próprias
do Estado entendido como Estado Social:
formular políticas na área econômica e social,
A REFORMA DO ESTADO por meio das transferências para Educação,
saúde, assistência social, previdência, defesa
Bresser (1997) salienta que a reforma do meio ambiente e estímulo à arte, tendo
do Estado dos anos 90, é vista como em vista que são atividades que envolvem
redefinição do papel do Estado, envolvendo direitos humanos fundamentais que toda
a delimitação de sua abrangência, dado ao sociedade deve assegurar a seus cidadãos.
grande crescimento do último século em Na reforma do Estado proposta por Bresser,
termos de pessoal, receita e despesas. O algumas atividades devem ser exclusivas
estado em termos de despesa varia quase do Estado, em um núcleo estratégico,
entre 30 a 50 % do PIB. Ao longo dos anos outras só servem para agravar as crises
foi reconhecendo que o Estado não deve fiscais tornando o Estado ineficiente sendo,
ser responsável por todos os setores e que portanto, a publicização (transferência para
sua reforma significa definir o seu papel e o o setor público não estatal) uma saída para
que não lhe é especifico deixar a cargo para superação da visão dicotômica (público e
o setor privado e para o setor publico não privado) tão enraizada em nossa sociedade
estatal. Para delimitar as funções do Estado e necessária para redefinir as relações entre
é necessário identificar nitidamente as três Estado e sociedade.
áreas de atuação: as atividades exclusivas
do Estado, os serviços sociais e científicos O reconhecimento de um espaço público não
estatal tornou-se particularmente importante e
do Estado e a produção de bens serviços momento em que a crise do Estado aprofundou
para o mercado, a partir daí fica claro que as a dicotomia Estado – setor privado, levando
atividades exclusivas do Estado advêm da muitos a imaginar que a única alternativa à
propriedade estatal é a privada. (BRESSER,
própria definição, ou seja,“ o Estado, que é a
1997, p 26,27).
organização burocrática que detém o “poder
extroverso” sobre a sociedade civil existente
em um território” (BRESSER, 1997, p.22), Entendendo que público é aquilo que está
cabe ao Estado garantir a ordem interna, voltado para o interesse geral, não devendo,
a propriedade e os contratos, defender portanto, ser limitado ao estatal, uma vez que

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o espaço público é mais amplo que estatal nos anos 90, que preconiza a redução do
pode ser ou não estatal, Bresser lembra que tamanho do Estado e inclusive a reforma do
a aceitação desse espaço é fundamental para ensino no Brasil, vem substituir o tecnicismo
que se redefina as relações Estado-sociedade inspirado no taylorismo-fordismo, adaptando
possibilitando novas formas de controle as ideias ao toyotismo.” Estamos, pois, diante
social direto e de parcerias abrindo um novo de um neotecnicismo: o controle decisivo
olhar para a democracia. Entre as atividades se desloca do processo para os resultados”.
que devem ser exclusivas do Estado: legislar, (SAVIANI, 2011, p. 168). A reforma do Estado
impor a justiça, manter a ordem, defender também influenciou as reformas educativas
e representar o país no exterior, policiar, incluindo a redução de custos e dividindo as
arrecadar impostos, regulamentar atividades contas e investimentos públicos com outros
econômicas, fiscalizar o cumprimento das setores. Com as novas mudanças houve
leis e a produção de bens e serviços para o uma substituição do controle do processo
mercado, encontra-se as atividades na área educativo para os resultados, ou seja, a
social e científica: como escolas, creches, eficiência e produtividade são garantidas por
hospitais, centros de pesquisas científicas, meio da avaliação desses resultados.
museus, assistências aos carentes, que
apesar de não serem próprias do Estado, não “Eis porque a nova LDB (Lei n.9.394, de
20/12/1996) enfeixou no âmbito da União a
justificando- se, portanto sua permanência responsabilidade de avaliar o ensino em todos
no Estado e não poderem ser direcionadas os níveis compondo um verdadeiro sistema
para obtenção de lucros, privatização, surge nacional de avaliação. E para se desincumbir
dessa tarefa o governo federal vem instituindo
a publicização como uma terceira forma exames e provas de diferentes tipos. Trata-se
de propriedade, a propriedade pública não de avaliar os alunos, as escolas, os professores
estatal, ou entidades do terceiro setor. e, a partir dos resultados obtidos, condicionara
distribuição de verbas e a alocação dos
Para Bresser (1997), as organizações recursos conforme os critérios de eficiência e
públicas não estatais são uma opção que a produtividade” (SAVIANI, 2011, p.168).
sociedade encontra para a privatização. O
crescimento das organizações públicas não Em suma, o autor faz uma critica a
estatais tem sido gigantesco e considerado “pedagogia corporativa” que só vem
um fator fundamental para o fortalecimento aumentando principalmente no ensino
da sociedade civil e o desenvolvimento superior com diversas instituições oferecendo
econômico da região ou país em que isso cursos em diversas áreas de acordo com os
ocorra embora não seja muito estudado. interesses do mercado, reduzindo o trabalho
Isso se deve ao fato das instituições serem do professor ao de treinador para os futuros
organizações mais adequadas habilitadas agentes do mercado, e a educação perde
para realizar serviços sociais e que podem seu papel no desenvolvimento do indivíduo
ser fiscalizados mais diretamente pelos e de sua consciência, ficando restrita a uma
cidadãos. “No entanto, a reforma do Estado educação para o trabalho. Dermeval Saviani

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elucida também que um dos fatores para o POLÍTICAS PÚBLICAS EM


fracasso nas políticas publica de educação UMA PERSPECTIVA DE
é a falta de uma ideologia definida e que
seja coerente com as reais necessidades da
RALWS
sociedade educativa. Não se trata apenas de
dobrar o valor do PIB, mas, transferir todos A justiça como equidade continua sendo
os recursos para a educação. Não se trata uma das principais preocupações teóricas, as
de colocar a educação para competir com questões das desigualdades que ocorrem no
outros setores, e sim usá-la como frente sistema liberal e a justiça, primeira virtude
para resolver os problemas da economia, das políticas sociais. A proposta de Rawls
ativando o comércio, e promovendo um (2000) começa com um contrato social, tenta
crescimento na arrecadação de impostos, juntar a liberdade individual e a justiça social,
que o Estado poderá utilizar para um maior na qual essas duas tendências uma tende a
investimento na área de abastecimento, complementar a outra, ou seja, se houver
energia e transporte. apenas a liberdade certamente à justiça
social será deficiente, portanto, um indivíduo
Queremos frisar que nos países que tem mais bens continuará com mais e os
subdesenvolvidos a educação não pode ser um
luxo, um instrumento destinado a preencher menos favorecidos com menos. No mesmo
o ócio. “Ela precisa responder a um apelo caso se apenas houver a justiça social, a
dramático; sim, educar para sobreviver, para liberdade ficará em déficit porque limita aos
subsistir, eis a primeira exigência que a análise
da estrutura do homem brasileiro nos impõe.” indivíduos a liberdade de possuírem mais
(SAVIANI, 2011, p 55). bens, logo, para uma sociedade justa teria
que haver a junção de ambas. Segundo Rawls,
Levando em conta essa linha de para o estabelecimento de um contrato social
pensamento, fica clara a importância de imparcial todos os indivíduos não poderiam
investimentos na educação, pois, sem ela, não colocar seus interesses particulares, o autor
é possível qualquer tipo de desenvolvimento define o que ele conceitua de “posição
econômico e social. O Estado é um importante original”, trata-se de uma situação hipotética
instrumento que pode ser utilizado para lutar de total desconhecimento de sua cultura,
contra as políticas educacionais vigentes. situação social e econômica para não interferir
em suas escolhas. Para tal imparcialidade
seria necessário que as pessoas fossem
cobertas pelo “véu de ignorância”, que
consiste no desconhecimento de quaisquer
condições de vida dos indivíduos. Esse
véu de ignorância seria necessário porque
as pessoas desconhecendo suas futuras
condições estabeleceriam critérios para

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Revista Educar FCE - Março 2019

as expectativas de longo prazo dos menos


organização de uma sociedade que favorecidos. Se tal fim for alcançado dando-se
fornecesse maior vantagem para todos e que mais atenção aos mais talentosos, é permissível;
promovesse os valores necessários mínimos caso contrário, não. E, ao tomar essa decisão,
não se deve aferir o valor da educação apenas
que permitissem a todos uma vida digna no tocante à eficiência econômica e ao bem-
com igualdade de liberdade para todos e o estar social. Tão ou mais importante é o papel da
mínimo possível de desigualdades sociais. educação de capacitar uma pessoa a desfrutar
da cultura de sua sociedade e participar de suas
Para promoção desses dois princípios o atividades, e desse modo de proporcionar a cada
Estado precisa aplicá-los. indivíduo um sentido seguro de seu próprio valor
(RAWLS, 2009, §17, p. 121).

Da mesma forma que o Estado deve


garantir o princípio da diferença e o da Nesse sentido, a educação não deve
igualdade de oportunidades, o princípio ser encarada apenas pelo ponto de vista
da diferença admite certas desigualdades econômico ou social, mas principalmente
econômicas e sociais desde que, os que como direito que todo indivíduo tem de
se encontram em melhores condições desfrutar do patrimônio cultural construído
beneficiem os menos favorecidos, assim, não pela humanidade, de participar de atividades
é injustos determinados grupos ascenderem culturais, de ter expectativa na realização de
econômica e socialmente tendo em vista seus planos, enfim de fazer parte da sociedade,
que, foram frutos de suas escolhas. E o e de uma sociedade norteada pelos princípios
princípio da igualdade de oportunidade é que da igualdade de oportunidades. Desta forma
o Estado garanta as mesmas oportunidades a educação cumpriria seu principal papel que
de acesso às variadas funções e posições de é emancipar o indivíduo e também por ser
uma sociedade. A Teoria da Justiça de Rawls um dos principais bens primários orientada
nos oferece a oportunidade de reflexão na pelos princípios da justiça. A educação e a
área da educação, partindo do princípio que cultura são fundamentais na construção
a mesma não é somente um direito, mas de da autoestima de um indivíduo, portanto
questionar qual o papel do Estado na garantia não deve ser vista somente pelo prisma de
do mesmo. John Rawls (2009) acredita que “preparação para o trabalho”, lógico que não
a educação é uma importante ferramenta há problema nisso, desde que esse não seja
na superação das desigualdades sociais seu único objetivo. É preciso considerar que
possibilitando que a pessoa possa usufruir um indivíduo que tem acesso a uma gama
de uma maior quantidade de bens primários, de cultura, literatura, música, atividades
assim mediante a oferta de oportunidades físicas, artísticas, produções científicas e
educacionais e de políticas sociais aumenta- tecnológicas entre outras, torna-se uma
se as perspectivas, inclusive dos menos pessoa com um nível maior de discernimento,
favorecidos. capaz de desenvolver-se, de traçar metas
até alcançá-las. Portanto como parte do
[...] o princípio da diferença alocaria segundo princípio, é papel da sociedade
recursos para a educação,digamos, para elevar

591
Revista Educar FCE - Março 2019

democrática oferecer oportunidades iguais Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


de educação para todos, assim mesmo diante (IBGE) conforme as populações de cada
das desigualdades econômicas, sociais e município; as faixas populacionais são fixadas
culturais haverá possibilidade de equidade cabendo a cada uma delas um coeficiente
social. individual, o mínimo é 0,6 para municípios
com até 10.188 habitantes e no máximo
4,0 aqueles acima de 156 mil e na renda per
O FUNDEB capita do Estado, que também é divulgada
pelo IBGE; e dos impostos: Imposto sobre
Criado em 2006, pela Emenda Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)
Constitucional n° 53 e normatizado pela Imposta sobre produtos Industrializados
Lei n° 11.494/2007 e pelo Decreto n° (IPI) Imposto sobre Transmissão de Causa
6.253/2007 o Fundo de Manutenção e Morte (ITCMD), Imposto sobre propriedade
Desenvolvimento da Educação Básica e de de Veículos Automores (IPVA) cota parte
Valorização dos Profissionais da Educação de 50% do Imposto Territorial Rural (ITR)
(FUNDEB) contempla toda educação básica, e transferências dos estados, do Distrito
da creche ao ensino médio, no intuito Federal e dos municípios, vinculados à
de substituir o Fundo de Manutenção e educação por força do disposto no Art.
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
de Valorização do Magistério (FUNDEF) que A União aplicará, anualmente, nunca menos
de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os
esteve vigente de 1997 a 2006. Segundo Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo,
o Ministério da Cultura (MEC), o FUNDEB da receita resultante de impostos, compreendida
representou um enorme ganho em relação proveniente de transferências, na manutenção
e desenvolvimento do ensino. (Constituição
ao FUNDEF, possibilitando aos municípios
Federal, 1988).
maiores investimentos nas etapas escolares
que estão sob sua responsabilidade. É
um fundo especial, de natureza contábil e Além desses recursos, ainda compõe
âmbito estadual, de acordo com o site do o Fundeb, a título de complementação,
MEC, composto por percentuais das receitas uma parcela de recursos federais, sempre
do Fundo de Participação dos Estados (FPE) que, no âmbito de cada estado, seu valor
e Fundo de Participação de Municípios por aluno não alcançar o mínimo definido
(FPM), que são uma das modalidades de nacionalmente. Independentemente da
transferência de recursos financeiros da origem, todo o recurso gerado é redistribuído
União para os Estados, prevista no art. 159 p O prazo estipulado para finalização do
item 1b da Constituição Federal. De acordo FUNDEB era do período de 2007-2020,
com Tribunal de Contas da União (TCU) e sua implantação iniciou-se em 1° de
compete a eles apenas calcular e fixar os janeiro de 2007 e foi concluído em 2009.
valores com base nos dados fornecidos pelo No site do Ministério da Educação – MEC

592
Revista Educar FCE - Março 2019

está disponível o manual do FUNDEB com de ensino e os profissionais da educação,


informações em tópicos referentes ao fundo. defende o MEC. Segundo a Organização para
A fiscalização de contas dos recursos é Cooperação e Desenvolvimento Econômico
feita pelo Tribunal de Contas dos Estados e (OCDE), o Brasil em 2011 gastou 19% do
Municípios, os Estados que recebem recursos gasto público em educação, sendo que a
federais sofrem fiscalização também do média é de 13%, o que representou 6,1% do
Tribunal de Contas da União e Controladoria Produto Interno Bruto (PIB) e a média para
Geral da União. O Ministério Público atua em OCDE é de 5,6%. Porém o valor calculado
parceria com o Tribunal de Contas apenas por estudante em todos os níveis da
se for acionado em caso de irregularidades educação está abaixo da média, uma vez que
e para garantir os direitos educacionais a média da OCDE é de R$ 8.952,00 dólares
previstos na Lei. Os recursos do FUNDEB e o Brasil na distribuição desse valor institui
são distribuídos de acordo com os dados R$ 2.985,00 dólares, sendo o segundo
apontados pelo Censo escolar mais recente valor mais baixo entre todos os países da
realizado anualmente pelo Instituto Nacional OCDE. Fica claro que o Brasil investe muito
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio em educação, até mais que alguns países
Teixeira – INEP, no site do MEC, o último desenvolvidos, no entanto, comparando a
censo escolar disponível para consulta é porcentagem do Programa de Avaliação da
o de 2012. A distribuição dos recursos Qualidade da Educação (PISA), o país acaba
obedece alguns critérios estipulados pela Lei em termos de qualidade, bem distante de
Ordinária 11494/10 conforme Art. 10 será seus investimentos, ou seja, o 60° posição
proporcional, levando em conta as seguintes ocupada pelo Brasil em 2015 no ranking
diferenças entre etapas, modalidades, e tipos mundial da educação está absurdamente
de estabelecimento de ensino de educação desproporcional ao investimento realizado.
básica, municipal ou estadual, rural ou urbana. Porém, as instituições públicas de ensino
Em 2015 o valor anual mínimo estabelecido superior é que ficam com a maior parte dos
por aluno foi de R$ 2.545,31, neste ano de investimentos, e entre os países que compõe
2016, alcança R$ 2.739,87. A meta é que a OCDE, no Brasil está à maior diferença
o FUNDEB propicie à redistribuição dos de gasto entre os níveis educacionais, o
recursos vinculados a educação, por meio gasto com o aluno da educação superior
de planos de distribuição de recursos pelo compreende 93% do PIB per capita brasileiro,
país de acordo com o desenvolvimento entretanto o valor gasto por aluno da
social e econômico de cada região. Desta educação básica vem aumentando, de 1995
forma o FUNDEB tem suas bases e a 2011 o acréscimo foi de 128%. Esses dados
diretrizes na promoção da inclusão sócio levantados pela OCDE sobre o gasto público
educacional abrangendo toda a educação em educação têm como meta oferecer um
básica permitindo sua universalização como instrumento que possibilite aos Gestores
direito dos cidadãos, valorizando a qualidade de políticas educacionais, uma avaliarem e

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Revista Educar FCE - Março 2019

compararem com os demais países seus sistemas de educação, para que possam refletir
sobre melhorias nas políticas educacionais. Para o professor da Universidade de São Paulo
(USP), José Marcelino Rezende investimento em educação é que pode colocar o Brasil em
outro patamar. Pinto (2007) destaca que, Funde teve significativos avanços, inclusive com
uma maior participação dos pais no conselho, essa nova legislação também abrange uma série
de medidas que impedem os membros do Executivo e parente dos mesmos, prestadores de
serviço, pais que ocupem cargos públicos de confiança atuar nesses conselhos. No intuito de
coibir o controle do Executivo nos conselhos. Além do papel do conselho de supervisionar
o Censo Escolar e fiscalizar os gastos do Fundeb, têm que supervisionar a elaboração da
proposta orçamentária anual, acompanhar a aplicação dos recursos e prestações de conta.
(Programa Nacional de Apoio ao Transporte- PNATE e a Educação de Jovens e Adultos- EJA).
Embora com esses avanços alguns problemas haja alguns fatores negativos, como a falta de
estrutura administrativa própria dos conselhos para auxiliar suas ações, não há um valor
mínimo por aluno para assegurar um ensino de qualidade e os alunos atendidos por duas
redes diferentes e com padrões de qualidades diferentes, certamente dificulta as parcerias.
Pinto propõe então que se amplie a parcela da União no financiamento da Educação Básica
e que ao invés de se ter escola Estadual ou Municipal, que se tenham escolas públicas, e os
recursos do fundo ficariam sob fiscalização dos conselhos fiscais locais, e não nas secretarias
municipais.

FORMAÇÃO
Fundeb também prevê a capacitação dos profissionais da educação utilizando as verbas
referentes aos 40%, não destinadas à remuneração dos mesmos na atualização e ano
aprofundamento dos conhecimentos profissionais, ou seja, formação continuada, no entanto
o MEC não credencia instituições para esse fim, os Conselhos Estaduais e/ou Municipais
de Educação é que deverão ser acionados para verificação de eventuais exigências para
credenciamento de qualquer instituição.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das pesquisas realizadas, conclui-se que a
educação é de suma importância no desenvolvimento do
indivíduo em todos os aspectos, pois é só por meio da
educação que o homem pode transformar a si e a sociedade.
O patrimônio cultural construído até hoje, pertence a toda
a humanidade, portanto um direito inalienável, que não
pode ser exclusivo de uma pequena parcela de pessoas em
virtude de posições que ocupem na sociedade, negligenciar
esse direito não oferecendo equidade de oportunidades de
educação para todos, é impedir o indivíduo de desenvolver-
se integralmente, e o direito de gozar uma vida plena e
significativa. Partindo dessas premissas, e entendendo o CIBELLE BENTO SANTOS
Estado como organização burocrática e que cabe a ele entre
Graduação em Pedagogia pela
outras coisas, promover o desenvolvimento econômico e Faculdade Uniesp Santo André
social da sociedade, os investimentos em educação tornam- (2016); Especialista em Legislação
se prioridade do Estado. Alguns avanços já foram feitos, com Educacional pela Faculdade
Campos Elíseos (2018); Professor
a substituição do FUNDEF pelo FUNDEB, porém percebe-se de Educação Infantil - no CEI
que os recursos disponibilizados são insuficientes para uma Ângela Maria Fernandes.
educação de qualidade frente à demanda de nosso país, bem
como o gerenciamento que se faz desses recursos. Temos
um longo caminho a percorrer, uma vez que, a construção
de uma sociedade justa e democrática somente será possível
se pautada em princípios de equidade de oportunidades e
educação de qualidade para todos.

595
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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RALWS, John. Justiça e Democracia. 1° Ed, Trad. Irene A. Paternot; São Paulo: Martins fontes,
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TORRES, Carlos Alberto. Pedagogia da Exclusão: o neoliberalismo e a crise da escola pública.


Petrópolis- RJ, Vozes, 1995.

596
Revista Educar FCE - Março 2019

MODOS DE SUBJETIVAÇÃO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL: UM OLHAR
SOBRE O CURRÍCULO
RESUMO: A compreensão da criança, de sua infância e cultura passou por inúmeras
transformações no decorrer da história em reposta às configurações sociais e aos diversos
vetores de força e poder, que também interviram em seu processo de educação. Na Educação
Infantil o cuidar e o educar são processos indissociáveis organizados em práticas educacionais
expressas no currículo. Este artigo procura discutir as propostas pedagógicas voltadas para
este nível de ensino, refletindo sobre a articulação entre os modos de subjetivação dos
infantis presentes em diversos currículos e a possibilidade de novas práticas na Educação
Infantil.

Palavras-Chave: Infância; Educação Infantil; Currículo; Culturas.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO sujeito e sociedade. Assim, entendemos


que os significados e sentidos atribuídos
Estudos sobre a Educação Infantil e suas às práticas nesta etapa da educação muitas
práticas tem crescido de forma significativa vezes reproduz uma ideia equivocada sobre
nas últimas décadas, uma vez que esta infância e currículo.
modalidade de ensino tem se apresentado
cada vez mais importante e necessária no Para tal, será utilizada a pesquisa
processo de formação dos sujeitos. Inúmeras bibliográfica, partindo de autores que tratam
leis e decretos regulamentam e garantem o da sociologia da criança e da infância, história
direito à educação em creches e escolas, como da educação infantil, teóricos do currículo e
por exemplo, a Lei de Diretrizes e Bases da prática docente por meio de livros, trabalhos
Educação Nacional (LDBEN), a Constituição acadêmicos (teses) e artigos científicos.
Federal de 1988, e o Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), que asseguram esses A discussão se inicia com um breve histórico
espaços formativos como complementares sobre a educação institucionalizada e a
à educação familiar. Além do embasamento educação infantil, ressaltando as diferentes
legal, a produção acadêmica sobre este nível leituras da criança e sua infância na história.
de ensino tem refletido sobre a aprendizagem, Em um segundo momento reflito sobre a
desenvolvimento, cultura infantil, práticas articulação do currículo e a subjetividade das
pedagógicas, técnicas de planejamento, crianças, destacando as diversas relações
avaliação, dentre outros temas relevantes de poder presentes neste dispositivo
para maior compreensão deste fenômeno. pedagógico e buscando identificar o elo entre
o currículo, a sociedade e os sujeitos infantis
Considerando a importância desta da pós-modernidade. Por último, embasada
temática, este artigo propõe analisar e discutir nas teorias pós-críticas do currículo, busco
os inúmeros fatores que determinaram e sugerir caminhos e elementos a serem
influenciaram na elaboração dos currículos considerados na construção de uma proposta
e práticas pedagógicas da Educação Infantil, pedagógica para a Educação Infantil.
refletindo sobre os conceitos de educação,
sociedade, criança, infância e cultura infantil
que permeiam a ação docente neste nível PRA QUE EDUCAÇÃO
de ensino. Este debate pretende contribuir INFANTIL?
para a reflexão dos profissionais da área a
respeito da formação oferecida nas creches Definir a função social da escola, e
e pré-escolas, considerando a sociedade em específico da Educação Infantil, é um
contemporânea e suas configurações, uma vez processo complexo, pois está estritamente
que é por meio do currículo e suas propostas relacionado ás configurações sociais e
que projetamos um determinado tipo de ás relações de poder. No entanto, torna-

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Revista Educar FCE - Março 2019

se necessário compreendermos de forma Tais objetivos ainda são considerados na


breve a transformação da escola, e de seus escola contemporânea, no entanto esse
objetivos, e a inserção da Educação Infantil e antagonismo da educação escolar não
das crianças neste processo. atende mais as necessidades da sociedade
atual, como reforça Macedo (2010, p.14)
Paulatinamente, as práticas sociais e
as transformações políticas transferiram a educação perde em parte a sua importância
no momento em que o indivíduo deixa de ser
da família para a escola o papel de educar visto prioritariamente como um cidadão e passa a
as crianças e jovens. No final do século ser visto como um trabalhador. Quando, à mercê
XVIII, a escola se pautava em regras e do mercado, a escola não educa e preocupa-
se em treinar habilidades e competências
disciplinas rígidas, influenciada pela Igreja alienantes, pois não propiciam qualquer análise
e por moralistas e não se destinava apenas crítica da realidade e apenas invocam, mediante
às classes nobres, já que muitos nem a o controle e a submissão, para a reprodução
social (MACEDO, 2010, p.14).
frequentavam, pois continuavam com seus
preceptores familiares, responsáveis pela
sua educação (BARRICELLI, 2007). Para Pérez Gómez (1998), a escola não é
capaz de proporcionar a igualdade em uma
A “escola clássica” do final do século sociedade desigual, o desafio e o objetivo
XIX, frequentada pela nobreza, era da escola contemporânea estão em preparar
norteada por três princípios, de acordo cada indivíduo para intervir na sociedade,
com Touraine (1999): trazer a luz da razão desenvolvendo conhecimentos e condutas
e do conhecimento àqueles considerados para tal. Corroborando com as ideias de
desprovidos dos mesmos; a educação moral, Touraine (1999) quando coloca que a escola
atribuindo à educação um valor universal; na era da globalização e da cultura de massas
criação de uma nova ordem social baseada na deve dar importância à diversidade cultural
competência e no conhecimento. O modelo e histórica, com a valorização dos sujeitos,
clássico submetia-se aos ideais e valores da proporcionando o exercício da democracia.
classe dominante.
Dentro deste contexto, de forma geral, a
Com a ascensão das indústrias e do Educação Infantil acompanhou os mesmos
capitalismo, a escola se vê diante da conceitos da escola. Teve sua afirmação
necessidade da formação de trabalhadores. através das lutas dos movimentos feministas
Assim, segundo Pérez Gómez (1998) na busca por acesso ao trabalho. Assim as
sua função não era apenas transmitir creches tinham um papel de assistência e
conhecimentos e ideias, mas também controle das crianças, filhos de trabalhadoras,
procedimentos, atitudes e comportamentos, o que posteriormente se estendeu às demais
docilizando o sujeito para inserção no famílias, ainda que de forma precária e parcial,
mercado de trabalho e na vida pública. com caráter estritamente assistencialista ou

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Revista Educar FCE - Março 2019

sanitário, desconsiderando sua dimensão acerca do que é a criança, de como educá-


educativa, social e cultural. la e como desenvolvê-la, estabelecendo
inúmeras concepções e práticas destinadas
Historicamente, o processo de á elas. Essas condições colocam a criança no
escolarização das crianças passou por centro da família e como preocupação social,
intensas transformações, mas é a partir reforçando cada vez mais a necessidade de
do século XVIII que há uma crescente controle dos sujeitos infantis.
preocupação em estruturar dispositivos de
controle e socialização para a sua vida social, Apoiada pelas teorias da psicologia do
o que resultou na Educação Infantil atual. desenvolvimento, Macedo (2010) afirma que
na década de 1960 a Educação Infantil passou
Conforme Barricelli (2007) na sociedade a ter como objetivo treinar as crianças para
dos séculos XIII, XIV e XV não havia a educação escolar, em especial compensar
diferenciação entre a criança e o adulto. a defasagem cultural das crianças pobres,
A criança participava da vida social do em relação ás crianças da classe média,
adulto em iguais condições, assim que oferecendo assim conhecimentos prévios
adquirisse certo desenvolvimento físico e necessários ao processo de escolarização. Já
certa independência. Assim, por volta dos na década de 1980 os movimentos sociais
sete anos já compartilhava da vida adulta, urbanos passaram a focar o direito da
havendo pouco espaço para a infância. A criança à educação de qualidade, delegando
partir do século XV, a representação da à sociedade esta função, e passaram a
infância passou a ser a ingenuidade e a questionar a necessidade de incluir no
pureza, e posteriormente nos séculos XVI e currículo os conhecimentos e produções de
XVII houve um grande repúdio às práticas outros grupos culturais, além de considerar
infantis. Assim os adultos acreditavam que neste processo os diferentes marcadores
a criança precisava ser controlada e domada sociais. Dessa forma, nos anos de 1990
para o convívio em sociedade. Com a a criança deixa de ser objeto de análise
finalidade de promover uma educação mais somente da medicina, da psicologia ou da
adequada e disciplinada, a partir do século pedagogia e passa a ser considerada como
XVIII e XIX houve um grande interesse em uma categoria social, e a infância, como um
entender como funciona a mentalidade fenômeno analisável nas suas relações com a
infantil, em se apropriar da infância como estrutura social e cultural (MORUZZI, 2008).
objeto de atenção. Nesse momento a maior
preocupação era a sua educação moral, Com o ingresso da criança na escola
torna-la um “homem bom” e preservá-la retardou‐se o período em que as crianças
das sujeiras da vida (sua inocência), e os eram inseridas na vida adulta, e o intervalo
cuidados com a saúde e higiene pessoal. A entre os primeiros anos e a vida social
partir daí surge uma série de conhecimentos foi preenchido pelos anos de escola. Aos

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poucos, a família e a escola confinaram a além do ensinar, mas acolher e cuidar. Sendo
infância e a submeteram a um rígido controle assim, cabe refletirmos como a organização
disciplinar, iniciando também um processo curricular pode favorecer e reconhecer os
de padronização e homogeneização. diferentes sujeitos desse nível de ensino,
possibilitando uma formação democrática
Em conclusão, o confinamento da infância e cidadã desde os primeiros contatos com a
ocasionou-lhe sérios problemas sócio-
politico-culturais. A cultura produzida pela escola.
infância livremente nos espaços públicos foi
progressivamente sendo assimilada pelos A modernidade a partir de discursos
espaços privados à medida que a urbanização e a
vida burguesa avançavam. [...] Sem poder brincar científicos, pedagógicos, escolares, familiares
livremente pela cidade, a criança perde não etc. criou tecnologias de controle para a
apenas o espaço físico, mas, sobretudo, altera vigilância, treinamento e disciplinamento das
estruturalmente suas condições de produzir e
de se relacionar com a cultura, com a sociedade, crianças, traçando um modelo universal e
com a vida política (PERROTI, 1990, p. 92 apud idealizado de infância (DORNELLES, 2005).
MACEDO, 2010, p.19). Dessa forma,

A partir desse contexto, inicio aqui ainda se vive sob o efeito da produção da
infância moderna, contudo, não é mais possível
uma discussão sobre a necessidade de se tratar de uma só infância como a preconizada
reconhecimento da criança como sujeito pela modernidade. É preciso que pelo menos
cultural, de suas possibilidades, e de se leve em consideração que existem muitas
outras infâncias. Existem infâncias mais pobres
valorização de suas práticas e saberes dentro e mais ricas, infâncias do Terceiro Mundo e dos
do ambiente escolar. Assim, precisamos países mais ricos, infâncias da tecnologia e dos
refletir sobre as formas de subjetivação da buracos e esgotos, infâncias superprotegidas,
abandonadas, socorridas, atendidas, desamadas,
criança e da infância presentes nos currículos amadas, armadas, etc. Contudo, a modernidade
e práticas escolares, uma vez que as crianças ocidental, ao universalizar e naturalizar apenas
tornam-se objetos de uma intervenção uma destas infâncias como dependente e
necessitando de proteção, passou a deixar
calculada e interessante para inúmeros de lado a sua diversidade. Em função disso,
setores. (BUJES, 2000) se acaba esquecendo que as infâncias são
múltiplas e inventadas como produtos sociais e
históricos. Muitas das crianças que vivem suas
infâncias hoje fazem parte de um mundo em que
OS CURRÍCULOS E OS explodem informações (DORNELLES, 2005, pp.

SUJEITOS 71-72).

Vimos acima que a Educação Infantil A autora sugere que as crianças da


assumiu diferentes propostas e objetivos contemporaneidade “escapam” do modelo
ao longo da história. Entendemos que além proposto pela modernidade e nos apresenta
do processo de educação e socialização, a as crianças ninjas e as crianças cyber. As
pré-escola assumiu responsabilidades para crianças ninjas, referência ao desenho

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Revista Educar FCE - Março 2019

“Tartarugas Ninjas” que vivem no esgoto, são negociados constantemente, ou seja, o


são aquelas que vivem a margem das currículo não pode ser considerado como
tecnologias, do consumo, da família, do lar, um instrumento técnico, mas vinculado a
que se encontram em situação de abandono, uma forma de regulação política e cultural.
lutam dia-a-dia pela sobrevivência, escapam Portanto, se faz necessário pensarmos
da proteção e vigilância dos adultos, querem sobre as diversas formas de regulação que
fazer parte do modelo econômico e social, permeiam a Educação Infantil.
mas são diariamente excluídos. Já as
crianças cybers são altamente globalizadas, Quando pensamos em currículo
com acesso às tecnologias de informação, relacionamos diretamente aos conteúdos
conhecimento e entretenimento, não que serão desenvolvidos. Mas, pensar no
necessitam dos adultos para aprender, estão currículo está sempre vinculado a uma
sempre á frente sobre as novas invenções estratégia de política cultural, a um projeto
tecnológicas e também fogem, de certa de ser humano, já que interfere na produção
forma, do controle dos adultos. As crianças de representações e identidades e determina
pós-modernas aprendem que o poder está a formação de um tipo de sujeito. Como
diretamente relacionado à felicidade, que coloca Macedo (2010, pp. 29-30)
possuir certas coisas (inclusive marcadores
sociais) é uma forma de poder. Assim, “[...] [...] a escolha de determinados conhecimentos
é justificada com base nesse objetivo formativo.
são capturadas pelas regulações de poder” Se desejarmos formar uma pessoa para que ela
(DORNELLES, 2005, p.90). seja de determinada forma, devemos ensinar-
lhe como ser assim. Ser assim, e não de outra
forma, tem a ver com a formação da identidade
É preciso compreender que as crianças e e da subjetividade. Podemos afirmar então
os modelos de infância são produções sociais que as teorias do currículo estão relacionadas
e históricas, e todas elas se encontram no diretamente com as questões de identidade
e que a seleção de conhecimentos envolve
ambiente escolar: crianças sem pai, sem disputas de poder (as quais, por sua vez, se
mãe, com dois pais ou duas mães, com pais expressam nas teorias curriculares) (MACEDO,
presidiários, crianças bandidas, crianças 2010, pp. 29- 30).

hiperativas, crianças consumidoras, crianças


do funk, das favelas, do hip-hop, das músicas Dessa forma, é importante pensarmos de
infantis, dos carrinhos automatizados, dos que forma as diferentes teorias curriculares
tablets, crianças descendentes de bolivianos, contribuem para a formação de um tipo de
de brancos, índios e negros, enfim crianças sujeito, e não de outro.
diferentes. Mais do que isso, precisamos
refletir sobre o processo educativo desses Para Silva (1999) as teorias do currículo se
sujeitos. A escola, seu currículo e suas práticas dividem em três correntes desenvolvidas ao
são parte do complexo campo da cultura, longo do tempo: teorias tradicionais, teorias
onde os significados e as representações críticas e teorias pós-críticas. A primeira

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Revista Educar FCE - Março 2019

foca o processo de ensino-aprendizagem influência dos movimentos sociais, surgem


e a eficiência, baseada em uma concepção também vários estudos que discutem e
tecnicista. A segunda corrente discute as relacionam de forma mais ampla a escola
questões sociais presentes no currículo, e a sociedade. Assim, as teorias críticas do
com ênfase na classe social, libertação e currículo questionaram o caráter reprodutor
emancipação. E a terceira, teorias pós- da escola, alteraram o olhar sobre as práticas
críticas discutem conceitos como identidade escolares e influenciaram as discussões
e subjetividade, apontam outros marcadores sobre o currículo (MACEDO, 2010).
sociais no currículo como gênero, raça,
etnia, sexualidade etc. e se baseiam nos A partir desses estudos as teorias pós-
estudos sobre cultura e multiculturalismo. críticas permitiram entender que
Para Hall (1997) a subjetividade pode ser
entendida como o conjunto de significados o currículo nunca é apenas um conjunto
neutro de conhecimentos, que de algum modo
e representações que constituem os sujeitos aparece nos textos e nas salas de aula de uma
e suas identidades, por meio de práticas nação. Ele é sempre parte de uma tradição
culturais, sejam elas discursivas ou não. seletiva, resultado da seleção de alguém,
da visão de algum grupo acerca do que seja
Assim, esse campo teórico entende que os conhecimento legítimo. É produto das tensões,
sujeitos são formados pelos discursos que o conflitos e concessões culturais, políticas e
permeiam. econômicas que organizam e desorganizam um
povo (APPLE, 1995, p.7).

Nas primeiras décadas do século XX
a escola tradicional (modelo clássico de Pérez Gomes (1998) complementa esta
educação) centrada no conhecimento bom e ideia ao afirmar que os alunos ao assimilarem
belo produzido pelo homem recebeu críticas os conteúdos, discursos e práticas
severas. De um lado pelos que argumentavam presentes no currículo, configuram ideias
por um currículo mais técnico, mais útil para e representações subjetivas que afirmam e
a vida moderna, voltado para a formação reproduzem uma única ordem, conveniente
para o trabalho e vida prática; de outro para a manutenção do status quo.
pelos estudiosos que acreditavam em uma
educação centrada na criança, considerando Apesar dessa intensa argumentação á
sua realidade e seu cotidiano, um currículo respeito do currículo e sua contribuição
pautado na psicologia infantil. O movimento na formação dos sujeitos, na Educação
da escola nova surge a partir destas críticas, Infantil ainda persistem concepções á favor
propondo mudanças no currículo tradicional, do modelo clássico, considerando a escola
com diferentes propostas pedagógicas como espaço de uma única cultura, a cultura
que consideravam o interesse dos alunos dominante.
e uma maior participação dos mesmos
na aprendizagem. Nesse período, com a

603
Revista Educar FCE - Março 2019

As propostas pedagógicas da Educação padronização da criança e do mundo infantil,


Infantil foram fortemente influenciadas e a concepção de uma única forma de
pela ideia de desenvolvimento “natural” aprendizagem não reconhecem a diversidade
dos sujeitos a partir da sua interação com presente na escola, as diferentes realidades
o ambiente, em especial pelos estudos econômicas e socioculturais, unificando as
provenientes da Psicologia em seus diferentes ações didáticas e as práticas voltadas para a
ramos, que normatizaram e normalizaram educação das crianças.
as crianças e seu desenvolvimento. Os
diferentes discursos sobre a criança e sua Lemos (2007) aponta um processo
infância atendem a interesses particulares de “pedagogização” da cultura infantil,
de cada campo do saber e tornam dominante transformando sua linguagem, textos e
um modo de concebê-las, construindo a produções em dispositivos instrumentais
ideia de um sujeito ideal. Tais concepções e didáticos, desprovidos de sentidos e
influenciam e justificam o surgimento de significados. A autora reforça que a cultura
teorias e práticas que devem ser dominadas infantil não é valorizada como artefato
para a educação e controle sobre os sujeitos cultural e social no espaço escolar, assim a
infantis e ao serem tomadas como universais música, as cantigas de roda, os desenhos, os
mascaram a existência de marcadores contos, o folclore, os brinquedos de montar,
sociais no processo educativo. As verdades os jogos de regras etc. que são permeadas por
construídas sobre a infância são reforçadas inúmeras relações e modos de subjetivação,
pelos dispositivos pedagógicos que operam são tratados com um caráter estritamente
na constituição destes sujeitos. técnico e determinista nas dinâmicas
institucionais.
Para Bujes (2001), as representações
criadas em torno do “ser criança”
(raciocinante e inocente) são narrativas TRAÇANDO OUTROS
culturais que colonizam as nossas CAMINHOS
percepções sobre o fenômeno e acabam por
orientar as práticas voltadas para a infância. A partir das discussões anteriores sobre
Assim, esses conceitos universalizados a função social da escola, em específico da
mascaram as diferenças culturais e reforçam Educação Infantil, e a importância de se
práticas de vigilância, controle e domínio da pensar o currículo como um artefato político,
subjetividade infantil. social e cultural que organiza o processo de
produção de sentidos e significados, é viável
Em geral, as propostas curriculares para refletirmos sobre propostas pedagógicas
a Educação Infantil desconsideram os que considerem estes conceitos, com base
aspectos sociais e culturais do conhecimento nas teorias pós-críticas do currículo.
e do desenvolvimento. A idealização e

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Revista Educar FCE - Março 2019

Para tal, é fundamental reforçar que essas mais complexa da sociedade e que se
teorias entendem que o sujeito é formado preocupe com a formação democrática dos
a partir das diversas práticas discursivas e alunos, desde a educação infantil.
não discursivas, e pelos diversos saberes
que o cercam. Assim, sua identidade não é Macedo (2010) aponta alguns fatores a
fixa, ela está em constante movimentação, serem considerados na construção de um
ou seja, os objetivos formativos não são currículo para a Educação Infantil atento
certezas, e sim possibilidades. Portanto, as à valorização das diferentes culturas e
teorias pós-críticas explicam e entendem experiências das crianças. Um primeiro
o currículo, o sujeito, a sociedade, o ponto sugerido pela autora é dar voz às
conhecimento, a pedagogia sob diferentes crianças, incluir nas propostas pedagógicas
leituras, questionando as relações de poder seus saberes, desejos e necessidades, se
e os processos de subjetivação presentes distanciando assim do adultocentrismo tão
na educação institucionalizada. Para essas presente ao longo da história e contrariando
teorias não existem modos certos de ensinar, a ideia de “adulto em miniatura”. O segundo
técnicas de planejamento, lista de conteúdos elemento está relacionado a organização dos
ou conhecimentos que devem ser legitimados, tempos e espaços nos currículos e valorização
mas é fundamental a problematização do da cultura infantil, reconhecendo-a como
currículo (MACEDO, 2010). Kramer (1997) forma de linguagem e expressão, rica
ainda ressalta a importância do papel em sentidos e significados culturalmente
do professor na construção da proposta construídos. Por último ressalta a necessidade
pedagógica, considerando a realidade da de superar a compreensão do conhecimento
sua escola, as necessidades, possibilidades e como algo fragmentado, tendo assim um
saberes do seu grupo. olhar integrado sob as diferentes áreas do
conhecimento. Moruzzi (2008) complementa
Neste sentido, a intenção aqui não é impor com outros aspectos relevantes para a
uma proposta como única e verdadeira, pois elaboração dos currículos e destaca a urgente
necessidade de reconhecer nas propostas
pensar uma proposta pedagógica única curriculares as diferentes infâncias e culturas
pressupõe pensar um conceito uniformizador
de criança, de jovem, de adulto; de professor de infantis, entendendo a criança como sujeito
educação e de sociedade, um conceito que por que interpreta o mundo, que age e modifica
generalizar, desrespeita as diferenças –seja de seu meio através de suas produções, ou
etnia, sexo, classe social ou cultura (KRAMER,
seja, compreendê-la como parte da dinâmica
1997, p. 21-22)
social e cultural.

A intenção deste tópico é refletir sobre


um currículo que possibilite a crítica e
transformação social, promova uma análise

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Revista Educar FCE - Março 2019

Para Neira (2008, p.59)

à escola de Educação Infantil cabe, portanto, elaborar currículos e práticas pedagógicas que tomem como
pressuposto a condição de cada sujeito enquanto sujeito cultural em constante produção e reconstrução. A
brincadeira a dança, a mímica, a arte e todas as formas de expressão conhecidas e com as quais as crianças se
envolvem devem ser compreendidas como produtos culturais aprendidos, ressignificados e construídos pelas
crianças, ou seja, componentes do repertório da cultura infantil, aquilo que as distingue dos outros grupos,
que delimita a sua singularidade (NEIRA, 2008, p. 59).

Bujes (2001, p.230) complementa essa ideia ao propor que

pensar as experiências de educação institucionalizada das crianças pequenas supõe estarmos atentos
para as demais práticas culturais em que elas estão inseridas, supões romper com uma visão “incontaminada”
do espaço e das práticas escolares, da sua “assepsia” e da sua “neutralidade”. Supõe, também, abandonar
várias narrativas românticas sobre a infância: a da sua inocência, a da sua bondade, a da neutralidade e da
espontaneidade de sua progressão cognitiva, entre tantas outras. (BUJES, 2012, p.230)

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das contribuições dos diferentes teóricos do
currículo, da educação e da educação infantil, é possível
repensarmos o currículo e suas práticas como sistemas
de significação, que atribuem determinados sentidos e
significados às experiências e compreensão da realidade,
neste caso das crianças.

Neste trabalho revelamos como a leitura da criança,


de seu mundo, sua cultura, suas necessidades etc. são
contaminadas pelo adultocentrismo, muitas vezes de forma
romântica e ingênua, negando-a como sujeito social. A partir
daí, levantamos de que forma as propostas educacionais, por CINTIA CRISTINA DE
meio de seus currículos, incidem sobre a subjetividade das CASTRO MELLO
crianças, ou seja, nesta concepção o currículo é entendido
Graduação em Educação Física
para além da ideia de lista de conteúdos ou técnicas de pela Universidade Estadual
aprendizagem, mas como um artefato político e cultural que Paulista (2006); Mestre em
reflete um projeto de sujeito e sociedade que pretendemos Educação pela Universidade Nove
de Julho (2014); Professora de
por meio das práticas pedagógicas. Educação Física na EMEF Franklin
Augusto de Moura Campos.
Apresentamos também outro olhar sobre a elaboração de
propostas para a Educação Infantil, levando em consideração,
especialmente, a voz das crianças, sua importância enquanto
ator social e a participação do professor na construção das
práticas.

Portanto, entendemos que uma escola para a cidadania e


para a democracia só será possível quando as vozes de seus
atores estiverem presentes em seus currículos e práticas,
desde sua inserção no processo de escolarização. A criança
produz saberes, constrói suas próprias experiências e
leituras do mundo, atribui significados aos elementos que
compõem sua cultura. Uma educação que coloque no centro
do trabalho pedagógico a criança e sua infância e reconhece
as diferentes culturas infantis, certamente está no caminho
de uma formação mais humana e integral.

607
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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NEIRA, Marcos Garcia. Educação física na educação infantil: algumas considerações para
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N.F. & SCHNEIDER, O. (orgs.), Educação física para a educação infantil: conhecimento e
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PÉREZ GÓMEZ, A. I. As funções sociais da escola: da reprodução à reconstrução crítica


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transformar o ensino. Porto Alegre: ARTMED Editora, 1998, Cap.1.

609
Revista Educar FCE - Março 2019

AÇÃO EDUCATIVA: PROJETOS DE


MEMÓRIA DA UNIVERSIDADE DE
SÃO PAULO
RESUMO: O presente artigo pretende apresentar dois projetos de memória com idosos
da Universidade de São Paulo. Serão retratados o Estação Memória e o projeto do Museu
de Arqueologia e Etnologia da Universidade. Estas ações com a terceira idade mostram
a importância dos museus e da USP para preservar e difundir a Memória, especialmente
para esta parcela da sociedade que às vezes não é levada em conta em ações educativas.
Desta forma, estes projetos podem propiciar aos idosos a oportunidade de ter uma relação
prazerosa com os novos conhecimentos construídos e adquiridos no decorrer do trabalho
educativo. Além de incentivar entre os idosos a reflexão sobre si mesmos quanto ao papel
que tiveram e ainda têm na sociedade.

Palavras-Chave: Estado; Políticas Educacionais; Justiça.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO MEMÓRIA: A FUNÇÃO


SOCIAL DOS MUSEUS
Na Universidade de São Paulo (USP), existe
o Programa Universidade Aberta à Terceira
Idade da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Para muitas pessoas o museu é um local
da USP, que tem por objetivo possibilitar ao para guardar coisas velhas. Projetos de
idoso aprofundar conhecimentos em alguma memória servem para provar que museu é um
área de seu interesse e ao mesmo tempo local de memória viva e dinâmica. Trazendo
trocar informações e experiências com os também conhecimento e descobertas.
jovens. É aberto algumas vagas em diversas
disciplinas, regulares, da Universidade, onde Museus não tem mais apenas a função
o idoso pode se matricular e frequentar as de guardar, preservar e catalogar coleções,
aulas, possibilitando integração com os mas eles também investigam e comunicam,
alunos da graduação. produzindo conhecimentos que contribuem
tanto para a construção de memória como
Entretanto, na USP existem projetos para uma concepção crítica da sociedade.
específicos de memória com e para os idosos, (CHAGAS, 2005, p. 53)
como o Estação Memória do departamento
de Informação e Cultura (CBD) da Escola O museu é um lugar de memória e como
de Comunicações e Arte (ECA) e o projeto tal, esta instituição se propõe a dar espaço
de ação educativa com a terceira idade da para que diferentes grupos sociais tenham
professora Judith Mader Elazari (educadora suas histórias de vida preservadas, estudadas
do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE). e compartilhadas. Esta é a forma de o museu
reconhecer as identidades dos povos,
Neste trabalho, procurou-se dar um valorizando-as assim como as suas culturas.
panorama geral sobre estes projetos (ELAZARI, 2009. p. 338)
e a importância dos museus e da USP
para preservar e difundir a Memória, “Os bens culturais produzidos em diferentes
sociedades fazem parte do Patrimônio Cultural.
especialmente para esta parcela da sociedade É um dos papéis do museu guardar e preservar
tão importante, e às vezes esquecida, que estes bens [...]. Identidade e memória vão
são os idosos. garantir a produção e reprodução dessas
práticas”. (ELAZARI, 2009, p. 339)

Nos museus é praticado a educação não


formal, que procura considerar e recriar a
cultura dos povos envolvidos fazendo com
que a bagagem cultural de cada um seja
respeitada e esteja presente no processo

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Revista Educar FCE - Março 2019

educativo. Assim, os educadores tanto fato de algumas histórias sobre São Paulo
ensinam como aprendem, ressignificando serem divulgadas e outras não.
as identidades, desta forma, a memória tem
mais possibilidade de se colocar aberta a Com esta indagação, o professor que é do
ações transformadoras. (ELAZARI, 2009, p. departamento CBD/ECA, na época chamado
339) de Departamento de Biblioteconomia e
Documentação, criou o projeto “Memórias
Considera-se os idosos como criadores de do Baixo Pinheiros”, que reunia uma seleção
cultura ou agentes de um processo cultural e de depoimentos de pessoas da região. A
o museu como uma instituição cultural, com a proposta era dar voz a essas pessoas e suas
finalidade de resgate, comunicação, reflexão memórias, estabelecendo uma relação entre
sobre processos de produção cultural, por as experiências dos velhos com a vida dos
grupos diversificados. (ELAZARI, 1997, p. mais jovens que ali habitavam.
88)
A ideia ganhou espaço físico em 1997,
ESTAÇÃO MEMÓRIA com a chegada da professora Ivete Pieruccini
(docente e pesquisadora da ECA-USP).
Na época a professora atuava na Rede de
Os encontros acontecem todas às Bibliotecas infanto-juvenis da cidade de São
quartas-feiras às 14 horas em uma sala do Paulo, assim ela conseguiu apoio da Secretaria
CBD, no prédio central da ECA. Os velhos, Municipal de Cultura para criar um espaço
com idades entre 70 a 90 anos, se reúnem em Pinheiros que sediasse não apenas os
para relembrar suas memórias. Este grupo estudos e a coleta dos depoimentos, como
faz parte de uma iniciativa no estudo da também promovesse oficinas de memória.
memória pela comunidade acadêmica.
Em 2008, a Secretaria Municipal pediu
Além destas reuniões, o grupo faz a desapropriação do espaço, e o projeto
passeios para se reunir com jovens de encontrou apoio na ECA, que desde então,
escolas ou entidades parceiras e assim poder serve como sede para os encontros do grupo.
discutir seu passado eo presente dos alunos,
fazendo estes encontros uma oportunidade Hoje em dia a Estação conta com
de aproximação de gerações distintas. aproximadamente 40 participantes, entrando
8 ou 9 pessoas por ano vindos do Programa
A ideia nasceu de um projeto de pesquisa da Universidade Aberta à Terceira Idade,
do professor Edmir Perrotti (atualmente além de ter baixas de 1 ou 2 por ano, por
docente aposentado da USP) em 1986, motivos como falecimentos.
depois de uma conversa que o professor
teve com uma senhora que questionou o De maneira geral, o grupo é composto por

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Revista Educar FCE - Março 2019

pessoas com no mínimo nível fundamental atividade extramuros da universidade com


de educação, são de classe média, alguns um encontro prazeroso, educativo e de
imigrantes ou descendentes de famílias reflexão para ambas as partes. (ELAZARI,
europeias e moradores de Pinheiros e 1997, p. 93)
entorno.
De acordo com a professora Judith, os
A partir de 2013, foi possível, graças ao objetivos do projeto eram:
programa “Aprender com Cultura e Extensão”
da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da 1. Diversificar a clientela de atendimento
USP, acrescentar bolsistas alunos ao projeto. do Serviço Educativo;
Assim, além de ajudar nas organizações 2. Propiciar aos idosos uma maior
e dinâmicas do encontro, estes alunos convivência e um conhecimento mais
conseguem registrar e publicar postagens aprofundado sobre o trabalho realizado em
em um blog sobre os encontros. culturas antigas e atuais;
3. Incentivar entre os idosos a reflexão
sobre si mesmos quanto ao papel que tiveram
PROJETOS PROFª. JUDITH e ainda têm na sociedade;
ELAZARI (MAE/USP) 4. Trocar ideias sobre a importância
cultural e do museu e suas relações com a 3°
As primeiras atividades educativas com o Idade;
público da Terceira idade no MAE, ocorreram
em 1989, quando foram atendidos idosos Para a realização do projeto foram
da Faculdade de Saúde Pública da USP. contatados tanto grupos de 3° Idade
Foram trabalhadas questões relativas à independentes como institucionalizados
memória individual e coletiva, relacionadas (ligados ao Serviço Social da Indústria-SESI,
às experiências vividas por cada um, Secretaria Municipal de Cultural e Igreja
problematizadas as questões sobre a Católica). Participou cerca de duzentas e
preservação das minorias. (ELAZARI, 2009, trinta e cinco pessoas, quase todas mulheres
p. 94) (não chegando a dez homens).

Em novembro de 1994 foi proposto, pela Considerando este um projeto com êxito,
professora Judith Mader Elazari, o projeto onde possibilitou o contato com a memória
Piloto “Patrimônio Cultural e Memória: a coletiva de quem também faz a história, mas
3º idade no MAE/USP”, projeto este que que nem sempre é solicitado para contá-la.
funcionou até outubro de 1995.
A partir de 2005, o museu desenvolve um
Pretendia-se fazer da oportunidade do projeto em forma de oficina, com duração
trabalho com idosos no MAE/USP uma de um semestre e com reuniões semanais

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Revista Educar FCE - Março 2019

de duas horas. Este projeto chamou- Já a segunda oficina, chamava-se “Oficina


se inicialmente “Oficina da Memória: A da Memória: A terceira Idade Construindo o
Terceira Idade Construindo Conhecimento”, conhecimento no MAE/USP”. Este grupo se
entretanto algumas pessoas procuraram formou espontaneamente, após a divulgação
achando que era para melhorar a memória e feita pelo programa universidade aberta para
desistiram. Desta forma, em 2008 o projeto a terceira idade.
mudou para “Arqueologia e Memória: Oficina
para a Terceira Idade”. (ELAZARI, 2009, p. Os dois grupos se reuniram em 2006, o
100) primeiro grupo as reuniões aconteciam na
Associação de Moradores da Comunidade
No artigo intitulado Ação educativa de São Remo e o segundo grupo se reunia na
em museus: a Terceira Idade construindo sala de atividades Educativas do MAE.
conhecimento a partir de objetos no MAE/
USP (2009), a professora Judith faz um Os objetivos gerais destas oficinas foram
estudo de caso com duas oficinas que tiveram idênticos para ambos os grupos, sendo
metodologia de trabalho semelhantes e apenas os dois últimos itens dirigidos para o
resultados diferenciados. grupo da

Os dois grupos eram de origem bem Comunidade São Remo, conforme a seguir:
diferentes, a primeira oficina “Encontros com
Idosos: “Escavando” a memória a partir de 1. Tornar mais rica a vida dos integrantes
objetos”, projeto em parceria com o MAE e o da Terceira Idade;
Centro de Saúde Escola do Butantã (ligado à
faculdade de medicina da USP). Eram idosos 2. Propiciar aos idosos a oportunidade
que já se reuniam com a educadora de de ter uma relação prazerosa com os novos
saúde e agentes comunitárias de saúde do conhecimentos construídos e adquiridos
Centro de Saúde, na Comunidade São Remo, no decorrer do trabalho educativo;
comunidade esta que localiza-se a cerca
de 200 metros do MAE (vizinha da Cidade 3. Incentivar os velhos a refletirem sobre
Universitária da USP). seu papel na sociedade, tanto no passado
como hoje.
Constou da programação cultural deste
grupo, uma visita ao MAE, justamente no 4. Refletir sobre a memória individual e
dia da inauguração da exposição “Memória sua relação com a coletiva na medida em
e Vivências” montada por outros idosos de que forem reconstruídas e compartilhadas
uma outra oficina da terceira idade. Após, pelo grupo;
foram feitos algumas reuniões. (ELAZARI,
2009, p. 101)

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5. Desenvolver por meio de ação Sobre as características dos dois grupos,


educativa e do trabalho com a memória pode se observar bastante discrepância
relações do cotidiano de cada um com (ELAZARI, 2009, p. 102):
o sentimento de pertencimento e de
identidade; ● Escolaridade: todos os integrantes
da São Remo eram analfabetos ou semi-
6. Compreender que a instituição analfabetos, ao passo que os da oficina
museológica é um lugar de memória, onde da memória tinham no mínimo nível
se procura dar espaço a diferentes grupos fundamental, não sendo incomum nível
sociais; universitário;

7. Promover a troca de experiência ● Procedência geográfica: os da São


entre os velhos de modo que possibilite a Remo vieram todos de alguns estados do
sua valorização como seres produtores e Nordeste Brasileiro, chegando a São Paulo
consumidores de Cultura; na idade adulta, já os da outra oficina
eram da cidade de São Paulo, do interior
8. Possibilitar aos participantes dos do estado ou de outros países;
grupos que ressignifique o passado por
eles abandonado ou deixado de lado na ● Infância: os de São Remo só tinham
sociedade em que vivem; lembranças tristes, ao passo que os
da outra Oficina consideram esta fase
9. Discutir questões relacionadas à bastante positiva e faziam questão de
saúde, não apenas físicas, mas que também recordar;
possam desenvolver a valorização do ser
humano na sua totalidade; ● Envelhecimento: os de São Remo
encaram a velhice como um descanso e
10. Socializar com o público em geral, recolhimento merecido depois de tanto
em forma de exposição, os conhecimentos tempo de trabalho duro e desgastante,
construídos a partir de objetos biográficos; todos estão aposentados ou recebem
pensão alimentícia. Já o outro grupo, este
11. Conhecer, e dar a reconhecer, a período é de alegria, liberdade e de novos
história da Comunidade São Remo a partir conhecimentos;
da memória de alguns de seus habitantes
mais antigos e socializá-la entre os seus ● Saúde física: todos os integrantes de
moradores. São Remo tinham algum problema de saúde.
Tiveram que trabalhar prematuramente,
trabalho duro e pesado, má alimentação
e insalubridade. Os do outro grupo não

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Revista Educar FCE - Março 2019

precisaram trabalhar na infância, não executaram trabalhos braçais pesados e algumas


mulheres foram apenas donas de casa;

● Lazer: os idosos da São Remo tinham como lazer a televisão, atividades nas suas
respectivas Igrejas e visita a parentes, ao passo que os da oficina tinham o hábito de ir
ao cinema e teatro, viajar pelo Brasil e fora dele, participar de atividades especiais para a
terceira idade e etc.;

● Situação econômica: este item não foi aprofundado, mas era muito visível a discrepância
econômica entre os dois grupos.

Como conclusão destes projetos, a professora acredita que o museu cumpriu algumas de
suas funções, sobretudo a de ser um lugar de memória, desenvolver ações educativas em
suas práticas sociais como as que foram desenvolvidas nas oficinas apresentadas.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível concluir que todos estes projetos apresentados
contribuíram e contribuem para que a autoestima dos
idosos seja estimulada na medida que procura desvendar a
potencialidade de cada um. Gerando um maior conhecimento
do outro e de si mesmos.

Os trabalhos com públicos especiais dão oportunidade


para que se compreenda sua importância dentro da
sociedade em que vivem, identifiquem-se como grupo social
e que seu processo de construção de conhecimentos seja
lúdico e prazeroso.
CÍNTIA DIAS DE SOUZA
Esta temática é muito rica e abre margem para diversos
Professora de Educação Infantil
trabalhos e recortes, não se esgotando o debate. Como na Rede Municipal de São
crítica, gostaria de ter comparado melhor estes projetos e Paulo. Artigo apresentado como
talvez fazer uma crítica ao projeto Estação Memória (onde requisito parcial para aprovação
do Trabalho de Conclusão
fui bolsista por um tempo) e o Oficina da memória que são do Curso de Especialização e
projetos muito importantes, entretanto com idosos de uma Educação Especial em Deficiência
classe social e realidade bem diferentes da do grupo de Intelectual.
São Remo, que são marginalizados em seu meio social e na
sociedade em geral.

O valor de todos os projetos é inegável, entretanto,


contribuir com a autoestima e se importar com a memória
desse grupo da São Remo tem uma importância e beleza
muito superior.

617
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
APLLE, Michael W. Repensando Ideologia e Currículo. In: SILVA, Tomaz Tadeu. & MOREIRA,
Antonio Flávio (orgs.). Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 1995, pp.39-57.

BARRICELLI, Ermelinda. A reconfiguração pelos professores da proposta curricular de


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618
Revista Educar FCE - Março 2019

A EVOLUÇÃO DA PRÁTICA
PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO
ESPECIAL E INCLUSIVA
RESUMO: Este artigo busca refletir sobre a Educação Especial e Inclusiva sobre as fases
pelas quais a Educação Especial está evoluindo na prática pedagógica. Os principais desafios
da área da educação, as barreiras, a discriminação, as práticas pedagógicas, dentre outras,
que dificultam ou impedem o conhecimento e a aprendizagem de todos na escola. Para
tanto, por meio de pesquisa bibliográfica, o trabalho procura apontar que historicamente a
inclusão desde o seu surgimento passou por diversas etapas e movimentos que lhes trouxe
muitos desafios. O texto aborda, entre outros aspectos, a necessidade de se repensar a
prática pedagógica inclusiva como elemento fundamental de inclusão escolar na educação
infantil. Inclusão, portanto, não significa simplesmente matricular os educandos com
necessidades específicas, mas significa dar ao professor e a escola o suporte necessário à
sua ação pedagógica.

Palavras-Chave: Educação Inclusiva; Educação Especial; Prática Pedagógica.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO chama de auto formação. A escola pode ser


esse ambiente, a partir do que os educadores
O objetivo deste artigo é discutir a inclusão estejam buscando aprimorar suas práticas.
de alunos com necessidades especiais Este ato educativo está centrado na
nas escolas regulares. Debater este tema diferenciação curricular inclusiva, à procura
se sustenta no fato de que a mencionada de vias escolares diferentes para dar resposta
inclusão, não é uma realidade em todas à diversidade cultural, implementando
as escolas do país, visto que a educação uma práxis que contemple diferentes
inclusiva parte da intenção de que todos são metodologias que tenham em atenção os
iguais. ritmos e os estilos de aprendizagem dos
alunos.
Essa igualdade de direitos está implícita
na Constituição da República Federativa do Construção de espaços para reflexão
Brasil. Deve ser ressaltado que o conceito crítica, flexibilização e criação de canais de
da escola inclusiva conforme as Diretrizes informação nas escolas, alianças e apoios
Curriculares Nacionais para a Educação entre os profissionais e implementação de
Especial (MEC/SEESP, 1998, p.15),” implica políticas públicas de valorização e formação
uma nova postura da escola comum, que docente. Portanto, precisamos conceber a
propõe no projeto político pedagógico, formação continuada dos educadores como
no currículo, na metodologia de ensino, elemento crucial para a (re) construção da
na avaliação, e na atitude dos educandos”, instituição escolar.” (ALMEIDA, 2004, p.28).
ações que favoreçam a integração social e
suas opções por práticas heterogêneas. Mas existem práticas educativas que
estão em desacordo com o proposto pelas
A Educação Especial já não é mais diretrizes da Educação Especial, oferecem
concebida como um sistema educacional um ensino segregado que está longe de
paralelo segregado, mas como um conjunto possibilitar aos seus alunos o acesso ao
de medidas que a escola regular põe ao serviço currículo nacional comum.
de uma resposta adaptada à diversidade dos
alunos.
PARADIGMAS
Segundo Sadalla (1997), a formação do EDUCACIONAIS
educador que atua na Educação Especial
e Inclusiva precisa ir além da presença de A proposta da Educação Inclusiva ganhou
professores em cursos que visem mudar força, a partir da segunda metade da
sua ação no processo ensino-aprendizagem, década de 90 com a difusão da conhecida
é necessário que essa formação se torne Declaração de Salamanca, que entre outros
contínuo, pois segundo Mantoan (2004), pontos, propõe que “as crianças e jovens com

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Revista Educar FCE - Março 2019

necessidades educativas especiais devem ter Recursos e métodos de ensino mais


acesso às escolas regulares que a elas devem eficazes proporcionam aos deficientes
se adequar”. (UNESCO, 1994, p.15). maiores condições de adaptação social,
superando, pelo menos em parte, suas
A Educação Especial que por muito tempo dificuldades e possibilitando sua integração
configurou-se como um sistema paralelo e par
de ensino, vem redimensionando seu papel
antes restrito ao atendimento direto do A frequência regular da escola não basta
educando com necessidades especiais, para alcançar as metas de desenvolvimento.
para atuar, prioritariamente como suporte à Há alunos que avançam pelos diferentes ciclos
escola regular no recebimento deste aluno. de escolaridade sem adquirir as habilidades
necessárias para sua progressão. Este fato
Segundo Glat (1989), os médicos foram é preocupante, principalmente em relação
os primeiros que despertaram para a ao ensino direcionado ao aluno com NEE
necessidade de escolarização dessa clientela que, muitas vezes, é deficitário, inexistente
que se encontrava “misturada” nos hospitais ou inadequado, reduzindo inclusão à mera
psiquiátricos, sem distinção de idade, presença física em sala de aula.
principalmente no caso da deficiência mental.
Nas instituições especializadas o trabalho Cada caso deve ser observado e é vital que
era organizado com base em um conjunto de o professor compreenda as particularidades,
terapias individuais, e pouca ênfase era dada as limitações e as potencialidades de todos
à atividade acadêmica, que não ocupava os alunos, com especial as crianças com NEE
mais do que uma pequena fração do horário (necessidades educacionais especiais).
dos alunos.
É lícito afirmar que os alunos com
Apesar dos avanços, Bueno (1993) destaca necessidades educacionais mais específicas
que a Educação Especial funcionava como e urgentes deveriam ser contemplados por
um serviço paralelo, com métodos ainda de uma prática pedagógica particularmente
forte ênfase clínica e currículos próprios. As mais talhada e mais cuidada para atender
classes especiais implantadas nas décadas as essas normas específicas. É comum ouvir
de 70 e 80 serviram mais como espaços os professores alegando falta de tempo,
de segregação para aqueles que não se de condições, de recursos, de apoio ou de
enquadravam no sistema regular de ensino, formação profissional para não preparar
do que uma possibilidade para ingresso na material adequado, particularmente para
rede pública de alunos com deficiências, cuja alunos com necessidades especiais.
maioria ainda continuava em instituições
privadas. O professor nem sempre é capacitado
para lidar com situações adversas, o que

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Revista Educar FCE - Março 2019

Pode se considerar, portanto, que o


condiciona negativamente sua atuação paradigma que hoje conhecemos por Educação
enquanto mediador do processo ensino- Inclusiva não representa necessariamente uma
aprendizagem. A neurociência é uma ruptura, por toda parte, cantando e dançando
com as pernas. (GALLO, 1999, p. 92).
ferramenta valiosa na busca por soluções

que tornem os alunos capazes, à sua maneira,
de aprender e alcançar os objetivos que são Muito têm sido enfatizados sobre
propostos em cada etapa escolar. E apesar a educação voltada para o respeito às
dos avanços dos ideários e de projetos diferenças, convívio com as diferenças,
político-pedagógicos, muitas instituições de direito às diferenças. Mas se iniciam os
ensino ainda não implementarem ações que grandes desafios da educação inclusiva.
favoreçam a formação de seus professores
para trabalharem com a inclusão. Para tanto, Desde quando se instaurou um único
é importante que eles compreendam o sistema de escola regular, instituições
contexto sócio-histórico da exclusão e o da de ensino em geral começaram a rejeitar
proposta de inclusão. matrículas de alunos com alguma deficiência,
mesmo sendo proibido por lei, uma vez
A legislação brasileira prevê que todos que é dever da escola introduzir o aluno
os cursos de formação de professores, do às questões sociais, culturais e científicas,
magistério à licenciatura, devem capacitá-los sendo direito incondicional de todo ser
para receber, em suas salas de aula, alunos humano. As justificativas dessas instituições
com e sem necessidades educacionais se resumem a falta de recursos para atender
especiais, dentre os quais os alunos com as necessidades dos alunos. Este quadro vem
deficiências. mudando gradativamente.

Ainda há poucas oportunidades de A educação inclusiva requer mais do que


capacitação. Elas são fundamentais, pois recursos materiais adequados, é necessário
não servem apenas para influenciar os mão de obra qualificada para exercer o
sentimentos dos professores em relação à trabalho nas escolas. É extremamente
educação inclusiva, mas também para que importante que os professores se preparem
os educadores possam refletir as propostas para receber esses alunos e estejam aptos
de mudanças que podem mexer com os seus a ensinar igualmente e os alunos também
valores e crenças e até transformar a sua precisam de orientação adequada e tempo
prática educacional. para se adaptarem à nova realidade em
sala de aula. Tanto os chamados “normais”,
Silva (2009) declara que “incluir com quanto os alunos com necessidades especiais
a finalidade educacional exige atitude e passam por novas experiências de interação
colaboração dos colegas em relação aos e convivência que devem ser uma extensão
integrados”. das relações em casa. Éna convivência

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Revista Educar FCE - Março 2019

com um grupo de diferentes aptidões, outras, estão permitindo os cientistas


capacidades, sexo, cor e tantas outras que compreenderem mais claramente os
a criança constrói sua identidade, testa seus trabalhos do cérebro e a natureza da mente.
limites e consequentemente, aprende. Estas ferramentas de imagem funcional do
cérebro aliadas à integração de diversas
Mesmo com tantos desafios enfrentados disciplinas que investigam a aprendizagem
dia a dia, a educação especial inclusiva humana e desenvolvimento a fim de reunir
esta instalada no sistema educacional e educação, biologia e ciência cognitiva. Os
cabem agora aos pais, professores, gestores professores devem explorar formas indicadas
educacionais e governos se unirem para de responder a toda essa revolução que
garantir recursos, meios e instrumentos para dominará o cenário educacional no próximo
que as experiências sejam bem-sucedidas de milênio.
inclusão escolar em todo país.
Mesmo com tantos desafios enfrentados
Escola inclusiva é uma escola onde se dia a dia, a educação especial inclusiva esta
celebra a diversidade, encarando-a como uma
riqueza e não como algo a evitar, em que as instalada no sistema educacional e cabem
complementaridades das características de cada agora aos pais, professores,
um permitem avançar, em vez de serem vistas
como ameaçadoras, como um perigo que põe
em risco a nossa própria integridade, apenas O ato de aprender é um ato de plasticidade
porque ela é culturalmente diversa da do outro, cerebral modulados por fatores intrínsecos
que temos como parceiro social” (CESAR, 2003, (genéticos) e extrínsecos (experiências).
p.119).
Sendo assim, dificuldades, dificuldades
para a aprendizagem seriam resultados de
algumas falhas intrínsecas ou extrínsecas
NEUROCIÊNCIA NA desse processo.
EDUCAÇÃO ESPECIAL
Quando se fala em Neurociência, deve-se
compreender como o estudo ou um conjunto
O conhecimento proporcionado pela de conhecimentos relativos ao sistema
neurociência pode ajudar a escola e os nervoso.
professores a tornarem o aprendizado mais
eficiente e mais interessante para o aluno. É o conjunto de disciplinas que tratam do
sistema nervoso e que nasceu da busca das
bases cerebrais da mente humana. (LENT, 2008,
Várias disciplinas contribuem para o p. 02).
avanço do conhecimento. A neurociência
cognitiva é a mais recente estabelecida, e O cérebro é o responsável pelo raciocínio
provavelmente a mais importante (OCDE, lógico do ser humano e, diante da sua atuação,
2002). Técnicas como neuroimagem, entre pode-se assimilar processar, acomodar

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Revista Educar FCE - Março 2019

novas informações, lembrar-se daquelas já


existentes na memória e também associá-las O professor não necessita ter amplo
para, por exemplo, formular uma resposta conhecimento médico e fisiológico do
mais apropriada para um determinado cérebro, mas compreender que a educação
problema. engloba diversas áreas do conhecimento e
deve considerar a diversidade da composição
O cérebro recebe, processa e organiza do indivíduo.
as informações, sejam elas provenientes de
sons, de imagens, de textos, de músicas ou A educação é o feixe central da
interdisciplinaridade que engloba aspectos
de discursos. A partir daí ele descarta ou antropológicos, fisiológicos, biológicos e
armazena aquelas que julgam necessárias psicológicos da espécie humana. (MORALES,
para o indivíduo. Quanto mais estímulos o 2011, p. 06).
cérebro receber de diferentes fontes, maior
será a capacidade de aprendizagem. Os estados mentais são provenientes
de padrões de atividades neural, então
Toda vez que houver uma associação a aprendizagem é alcançada através da
entre uma nova informação e a já obtida, estimulação das conexões neurais, podendo
o aluno ativará a memória e isso facilitará ser fortalecida ou não, dependendo da
a compreensão dos conhecimentos e os qualidade da intervenção pedagógica.
significados dos conceitos, fazendo com que o
ensino se torne realmente uma aprendizagem É vital que o professor compreenda
e não apenas uma memorização. as particularidades, as limitações e as
potencialidades de todos os alunos,
Aprendizagem, memória e emoções ficam com especial à criança com necessidade
interligadas quando ativadas pelo processo educacional especial.
de aprendizagem.
A finalidade primária da escola é
Entender o funcionamento do cérebro promover o desenvolvimento de habilidades
humano pode contribuir para uma aula mais psicomotoras, cognitivas, afetivas e sociais,
eficaz. transmitirem o conhecimento, desenvolver
a capacidade crítica dos alunos e despertar
A neurociência na formação de docentes, a criatividade. Entretanto, encontramos
de forma a prepará-los para contribuírem problemas relacionados á prática docente,
para uma educação de qualidade e favorecer sobretudo quando verificamos práticas
um processo ensino aprendizagem que enraizadas em procedimentos repetitivos e
respeita as limitações e o potencial da criança, centradas no professor, colocando o aluno
em particular do aluno com necessidades numa posição passiva e de mero receptor de
especiais. conteúdos prontos.

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Devem-se levar em consideração os todas as deficiências, a saber: deficiência,


procedimentos didáticos utilizados pelo incapacidade e desvantagem social. Em
docente, refletir sobre a prática pedagógica 2001, essa classificação foi revista e
para uma educação que vai além da reeditada não contendo mais uma sucessão
transposição do aprendizado e possibilite linear dos níveis, mas indicando a interação
um processo educativo que transforme o entre as funções orgânicas, as atividades e a
sujeito consciente de suas responsabilidades participação social. O importante dessa nova
enquanto agente transformador. definição é que ela destaca o funcionamento
global da pessoa em relação aos fatores
A neurociência constitui como a ciência do contextuais e do meio, re-situando-a entre
cérebro e a educação como ciência do ensino as demais e rompendo o seu isolamento.
e aprendizagem e ambas têm uma relação
de proximidade porque o cérebro tem uma Essa definição motivou a proposta de
significância no processo de aprendizagem substituir a terminologia “pessoa deficiente”
da pessoa. por “pessoa em situação de deficiência”.
(Assante, 2000, p. 21). A ideia dessa
Podemos afirmar o inverso também, de proposta é a de mostrar a vantagem de
que a aprendizagem interessa diretamente integrar os efeitos do meio nas apreciações
ao cérebro. da capacidade de autonomia de uma pessoa
com deficiência.
O foco principal da neuroeducação
é agregar o conhecimento sobre a Em consequência, uma pessoa pode sentir
funcionalidade do cérebro a favor da criação uma discriminação em um meio que constitui
de várias estratégias educativas que facilitem para ela barreiras que apenas destacam a sua
a aprendizagem. A neuroeducação traz deficiência, ou ao contrário ter acesso a esse
novas contribuições com embasamentos na meio, graças às transformações deste para
neurociência para a promoção da inovação atender as suas necessidades.
das práticas pedagógicas com o objetivo de
aumentar a qualidade da educação da escola A Psicanálise, por exemplo, traz a dimensão
brasileira e do sucesso escolar das crianças. do inconsciente, uma importante contribuição
que introduz os processos psíquicos na
determinação de diversas patologias, como
EDUCAÇÃO E a questão da deficiência mental. A inibição,
DEFICIÊNCIA MENTAL desenvolvida por Freud, pode-se definir
pela limitação de determinadas atividades,
Na procura de uma compreensão mais causada por um bloqueio de algumas
global das deficiências em geral, em 1980, funções, como pensamento, por exemplo.
a OMS, propôs três níveis para esclarecer

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Revista Educar FCE - Março 2019

A debilidade define a maneira particular amarram o desenvolvimento do processo


de o sujeito lidar com o saber, podendo ser escolar, em todos os seus níveis e séries.
natural ao sujeito, por caracterizar um mal- Diante disso, a saída encontrada pela
estar fundamental em relação ao saber, maioria desses professores é desvencilhar-
ou seja, todos nós temos algo que não se desses alunos que não acompanham as
conseguimos ou não queremos saber. Mas turmas, encaminhados para qualquer outro
também define uma patologia, quando o lugar que supostamente entenda como
sujeito se fixa numa posição débil, de total ensiná-los.
recusa de apropriação do saber. Além de
toda essa pluralidade de conceitos e que O número de alunos categorizados
em muitos casos são antagônicos, existe a como deficientes mentais foi ampliado
dificuldade de se estabelecer um diagnóstico enormemente, abrangendo todos aqueles
diferencial entre o que seja “doença mental” que não demonstram bom aproveitamento
e “deficiência mental”, principalmente no escolar e com dificuldades de seguir as normas
caso de crianças pequenas que estão na disciplinares da escola. O aparecimento de
idade escolar. novas terminologias e outras contribuem
para aumentar a confusão entre casos de
O aluno com deficiência mental tem deficiência mental e aqueles que apenas
dificuldade de construir conhecimento como apresentam problemas na aprendizagem,
os demais e de demonstrar a sua capacidade por motivos que muitas vezes são devidos às
cognitiva, principalmente nas escolas que próprias práticas escolares.
mantêm um modelo conservador de atuação
e uma gestão autoritária e centralizadora. Caso as escolas não mudarem, essa
Essas escolas apenas acentuam a deficiência situação de excludência generalizada
e, em consequência, aumentam a inibição, tenderá a aumentar provocando cada vez
reforçam os sintomas existentes e agravam mais queixas vazias e maiores.
as dificuldades do aluno com deficiência
mental. Tal situação ilustra o que a definição O atendimento educacional especializado
da Organização Mundial de Saúde - OMS de para o aluno com deficiência mental deve
2001 e a Convenção da Guatemala acusam permitir que esse aluno saia de uma posição
como agravante da situação de deficiência. de “não-saber”, ou de “recusa de saber” para
se apropriar de um saber que lhe é próprio,
O caráter elitista, meritocrático, ou melhor, que ele tem consciência de que o
homogeneizador e competitivo dessas construiu.
escolas oprimem o professor e o reduz a
uma situação de isolamento e impotência, Quando o atendimento educacional
principalmente frente aos seus alunos com permite que ao aluno traga a sua vivência
deficiência mental, pois são aqueles que mais e que se posicione de forma autônoma e

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Revista Educar FCE - Março 2019

criativa diante do conhecimento, o professor Direito que prevê não somente a garantia à
sai do lugar de todo o saber. Dessa maneira, vaga/presença, mas também à acessibilidade,
o aluno pode se questionar e modificar sua ou seja, à eliminação dos obstáculos que
atitude de recusa do saber e sua posição de impedem a plena participação nos processos
“não saber”. Ele, então, pode se mobilizar educacionais. Assim, se partimos do
e buscar o saber. Na verdade, é tomando pressuposto de que toda pessoa aprende e
consciência de que não sabe, que o aluno tem direito a educação e compreendermos
pode se mobilizar e buscar o saber. a deficiência a partir do paradigma social,
devemos reconhecer que, se um estudante
A liberdade de criação e de posicionamento tenha deficiência ou não ele aprende a origem
autônomo do aluno diante do saber permite do problema não está nas suas características
que sua verdade seja colocada, o que é intelectuais, mas, sim, em possíveis barreiras
fundamental para os alunos com deficiência presentes na escola.
mental. Ele deixa de ser o “repeteco”, o
eco do outro e se torna um ser pensante e Na perspectiva inclusiva, um estudante
desejante de saber. com deficiência intelectual não tem idade
mental diferente da cronológica nem é menos
inteligente que os demais. Ele é diferente,
EDUCAÇÃO E DEFICIÊNCIA como todos os outros. Com algumas
INTELECTUAL características que se sobressaem, talvez.
Mas é importante lembrar que na educação
As políticas e práticas pautadas nos inclusiva a diferença é reconhecida como um
paradigmas da segregação e da interação, valor e cada um têm o direito de ser como é.
historicamente, responsabilizavam as
próprias crianças e adolescentes com No discurso cotidiano que reproduz o
estigma social da deficiência intelectual, novos
deficiência intelectual pelo chamado estudos buscam dirimir esse equívoco provando
“fracasso escolar”, legitimando sua exclusão que a pessoa com deficiência intelectual não
com base no diagnóstico. possui ausência de inteligência, tem, sim,
algumas características cognitivas distintas, mas
não impedimento para aprender. “O deficiente
No entanto, há alguns anos, tal intelectual aprende de acordo com suas
compreensão de deficiência baseada na características e em ritmo próprio “(RODRIGUES,
2013, p. 54).
perspectiva médica e em aspectos clínicos
deu lugar ao modelo social, que passou a
considerar fatores que são externos à pessoa: Podemos entender o sujeito que
as barreiras presentes no ambiente. Esse possui DI como alguém que possui uma
novo conceito fundamenta a abordagem organização qualitativamente diferente
inclusiva, que concebe a educação como um e que é capaz de realizar aprendizagens,
direito de todos, sem exceção. porém, a construção de conceitos se

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Revista Educar FCE - Março 2019

dá de forma diferenciada, necessitando Dentre os principais tipos de deficiência


para tal, de estratégias e procedimentos intelectual com causas genéticas estão as
pedagógicos apropriados. O educador Síndromes de Down, X Frágil, Angelman
deve permitir aos educandos a exploração e Prader-Willi. Apesar de serem doenças
da auto expressão e desenvolvimento da diferentes, todas apresentam em comuns
sua criatividade. A arte deve ser sinônima alterações no desenvolvimento das funções
de exteriorização de emoções, pois essas cognitivas (raciocínio, memória, atenção,
também ao serem questionadas também juízo), da linguagem, das habilidades motoras
produzem conhecimento e é uma forma de e da socialização, que são as características
se autoconhecer. da deficiência intelectual.

Montoan (2008) avalia que, diante A deficiência intelectual é definida pela


dos avanços conceituais que a baixa capacidade de compreender, aprender
contemporaneidade nos apresenta no e aplicar informações e tarefas novas ou
processo educativo, os antigos princípios que complexas. Caracteriza-se pela falta de
orientavam a educação desses indivíduos concentração, dificuldade em interagir
deixam de existir, endossados na evidência e se comunicar e baixa capacidade de
dos processos interativos que permeiam as compreensão linguística (não compreendem
relações entre idade cronológica e objetos a escrita ou precisam de um sistema de
de aprendizagem, habilidades intelectuais aprendizado especial).
alternativas e valorização dos papéis sociais
representados pelas pessoas com deficiência Necessidades educativas especiais (...) são
alunos que têm dificuldades de aprendizagem,
mental, no deixar de aprender por obrigação. muito ligeiras ou mais graves, no plano intelectual
ou no domínio da escrita e da leitura. A maioria
De acordo com Oliveira (2008}, a dos alunos tem insucesso nas aprendizagens
básicas. Muitos deles são jovens que têm
condição de deficiência intelectual não pode perturbações afetivas ou do comportamento,
nunca predeterminar qual será o limite de mais ou menos grave e de origem adversa.
desenvolvimento do indivíduo. A educação (ARMSTRONG, 2003, p. 87).
na área da deficiência intelectual deve
atender às suas necessidades educacionais Para pensarmos em inclusão temos que
especiais sem se desviar dos princípios mudar os paradigmas que a acompanham pela
básicos da educação proposta às demais história educacional e formação profissional,
pessoas. ou seja, mudar práticas, valores conteúdos
programáticos e materiais utilizados.
Essa constante busca de respostas
pedagógicas relativas à inclusão de alunos com
deficiência intelectual na escola regular, ainda Segundo Hegarty (1986), necessidades
segundo (MONTOAN, 2008, p.36). educativas especiais é um conceito relativo
que se define em função da necessidade de

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ajuda adicional que as crianças requerem alunos mudou que as crianças e adolescentes
quando frequentam as escolas comuns. A de hoje não são mais os mesmos que tiveram
legislação brasileira, em termos de legislação, acesso à escola do passado. O preconceito
considera como clientela da educação é destacado quando se trata do aluno com
especial aqueles alunos com deficiência física, dificuldades para aprender por ser ou por
visual, auditiva, mental, múltipla, transtornos estar deficiente, do ponto de vista intelectual,
globais de desenvolvimento (autismo) e altas social, afetivo, emocional, físico, cultural e
habilidade/superdotação, para a priorização outros. Existem também preconceitos de
de atendimentos educacionais especializados alunos de raça negra, de famílias de religiões
e para recebimento de benefício de populares, filhos de famílias desestruturadas,
de mães solteiras e pais omissos, drogados e
Mantoan (2004) enfatiza que reconstruir marginalizados.
os fundamentos de escola de qualidade para Nesse sentido, ressalta-se que apesar
todos, remete-se em questões específicas da escola não ser capaz de sozinha efetuar
relacionadas ao conhecimento e a transformações sociais, é ela quem pode
aprendizagem, ou seja, considera-se que o ato estabelecer os primeiros princípios de uma
de educar supõe intenções, representações inclusão escolar. Portanto, a escola como
que temos do papel da escola, do professor, espaço inclusivo, deve considerar como
do aluno, conforme os paradigmas que os seu principal desafio, o sucesso de todos os
sustentam. alunos, sem nenhuma exceção.

A autora ainda relata que a escola A inclusão de alunos com necessidades


educacionais especiais na rede regular de ensino
inclusiva exige mudanças de paradigmas, não se restringe aos esforços da escola, inclui
que podem ser definidos como modelos, também a construção de redes de colaboração
exemplos abstrata que se materializam com a família e a sociedade fortalecendo o
combate à intolerância e às barreiras atitudinais,
de modo imperfeito no mundo concreto. bem como a compreensão da diversidade no
Possa também ser entendida, segundo uma desenvolvimento infantil (ARRUDA; ALMEIDA,
concepção moderna, como um conjunto de 2004, p. 16).
regras, normas, crenças, valores, princípios
que são partilhados em um grupo em um A criança, como todo ser humano, é um
dado momento histórico e que norteiam o sujeito social e histórico e faz parte de uma
nosso comportamento, até estarem em crise, organização familiar que está inserida em uma
porque não nos satisfazem mais, não nos dão sociedade, com uma determinada cultura.
mais conta dos problemas que temos para Assim, a qualidade da estimulação no lar e a
solucionar. interação dos pais com a criança se associam
Segundo Machado (2001) ainda existem ao desenvolvimento e a aprendizagem de
diretores, professores e pais que apresentam crianças com necessidades educacionais
certa “ignorância” em aceitar que o perfil dos especiais

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Revista Educar FCE - Março 2019

Os pais e familiares de crianças com necessidades educacionais especiais necessitam


de informações sobre a natureza e extensão da excepcionalidade; quanto aos recursos e
serviços existentes para a assistência, tratamento e educação, e quanto ao futuro que se
reserva ao portador de necessidades especiais.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer deste artigo, pudemos concluir que a Inclusão
da Pessoa com Deficiência na Escola Regular é um processo
que exige respeito, dedicação e compreensão ao próximo,
tanto das instituições de ensino, quanto as pessoas que
recebem este aluno, aceitando as diferenças de cada um.

É preciso que, antes de tudo o próprio aluno com deficiência


se aceite dentro de seus limites para que seja incluído na
sociedade. A nova Política de Educação Inclusiva enquanto CINTIA FERNANDES DA
política publica, tem sustentado novas propostas no campo SILVA FRANÇA
da Educação Especial, no que diz respeito à formação dos
Graduação em Pedagogia pela
profissionais para atuarem na área, organização dos serviços Faculdade de Tecnologia e
e as características dos alunos que compõe este universo. Negócios Carlos Drummond de
Andrade (2012); Professora da
Rede Municipal de São Paulo.
A legislação e os textos pesquisados para a elaboração
desse trabalho sobre educação inclusiva deixam bem claro
que renovação pedagógica exige, em primeiro lugar, que a
sociedade e a escola adaptem-se ao aluno com necessidades
especiais, e não o contrário.

Nos dias de hoje, a educação é um direito de todos, previsto


em lei, reforçado na declaração dos Direitos Humanos
e em pequenos ou grandes projetos, programas, ações,
regulamentações e tantos outros discursos que tentam fazer
esse ideal se concretizar. E que seja um direito de todos
“os todos”, não apenas dos “todos” considerados capazes
de atingir critérios pré-estabelecidos de desempenho, dos
“todos” que se enquadram nos comportamentos da maioria
ou dos considerados merecedores de estarem nos bancos
escolares. Em segundo, que o professor, que é considerado
o agente determinante da transformação da escola, deve
ser preparado adequadamente para gerenciar o acesso às
informações e conhecimentos por parte dos alunos.

Percebemos que nem todos os professores estão


preparados para a educação inclusiva, e isso pode ocasiona

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Revista Educar FCE - Março 2019

resistências de alguns às inovações educacionais, como a inclusão, ao considerarem que


a proposta de uma educação para todos é válida, porém impossível de ser concretizada,
levando em conta o número de alunos e as circunstâncias em que se trabalha nas escolas
da rede pública de ensino. Demonstra-se, mais do que nunca, que os professores devem
capacitar-se, acreditar e, principalmente, aceitar a inclusão, tornando, assim, a sua sala de
aula um ambiente propício à construção do conhecimento, tanto do aluno com necessidades
especiais, quanto dos demais.

Defendo que o trabalho precisa ser coletivo, com tutorias, com todos juntos, por isso
aprendizagem é cooperativa, um ajudando o outro, quer seja professor-professor, professor-
especialista, professor-aluno, aluno-especialista, aluno-aluno, enfim quem sabe ensina.

A sala de aula deve ser um espaço coletivo, circular, não linear, o poder é de todos, todos
tem algo para ensinar, fazer, compartilhar e aprender.

Enquanto a estrutura escolar mantiver o poder centrado no professor fica inviável


qualquer inclusão.

A Escola Inclusiva respeita e valoriza todos os alunos, cada um com a sua característica
individual e é à base da Sociedade para Todos, que acolhe todos os cidadãos e se modifica,
para garantir que os direitos de todos sejam respeitados.

Essa é base da Educação Inclusiva: considerar a deficiência de uma criança ou de um


jovem como mais uma das muitas características diferentes que os alunos podem ter.

As instituições escolares ainda estão se adaptando para o recebimento dos alunos com
necessidades especiais. Há dúvidas e incertezas gerando angústia em muitos professores,
os quais se sentem incapacitados para atenderem a esses alunos. A realidade é que existem
poucos profissionais capacitados para a demanda de alunos com necessidades especiais.

Atualmente, existem amparos legais para que as pessoas com necessidades especiais
tenham acesso a saúde, educação e ao trabalho, mas é preciso discutir ainda forma para
acessar essas necessidades básicas do homem. Nos últimos anos na tentativa de incluir
todos os alunos no ensino regular, muitas discussões estão sendo realizadas, especialmente,
no que se refere ao local que essas pessoas deveriam estudar.

Ainda existem muitas contradições e ambiguidades que permeiam esta modalidade de


educação.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
GLAT, R; Nogueira. Políticas Educacionais e a formação de professores para Educação
Inclusiva no Brasil. Revista Integração, Brasília, v.24, p.22-27, 2002.

MANTOAN, M.T.E. Compreendendo a Deficiência Mental. Novos caminhos educacionais.


São Paulo, 2002.

MEC/BRASIL. Ministério da Educação do Brasil. Educação Especial: Deficiência Mental.


Brasília, 1998.

MORALES, R. Educação e Neurociências: Uma via de mão dupla. In: Reunião GT 13: Educação
Fundamental, p.28, 2011.

UNESCO, Declaração de Salamanca e linha de ação. Necessidades Educativas Especiais.


Brasília, 1994.

SILVA, Aline Maria da. Educação especial e inclusiva escolar: História e fundamentos.
Curitiba: Intersaberes, 2012.

SILVA, F. Morino. A importância das neurociências na formação de professores: Momento


diálogos em Educação, v.21, n.1, p.29-50, 2009.

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Revista Educar FCE - Março 2019

TRANSTORNO OPOSITOR E DESAFIADOR: UMA


ANÁLISE DAS COGNIÇÕES E AÇÕES INFANTIS
RESUMO: O Transtorno Opositor e Desafiador (TOD) é definido por um padrão recorrente
de caráter negativista, desafiador, desobediente e hostil dirigido a figuras de autoridade. O
Transtorno Opositor e Desafiador é caracterizado por uma desobediência quase generalizada.
Diante de uma instrução que desagrada a criança, essa pode então demonstrar oposição
passiva (parece concordar com o pedido, mas intencionalmente falha em responder), ou
oposição ativa (a criança grita, e cria impedimentos graves às demandas atribuídas). Lançando
objetos, ou confrontado e desafiado por um "não" olhando nos olhos, ou passiva-agressiva
oposição propriamente dita (a criança parece cumprir o pedido do adulto, mas dói demais
ou quebra da ação. A criança se recusa a cumprir as instruções e depois se recusa a cumprir
as sanções impostas pelos pais. Em alguns casos, os pais até sentem que a criança assumiu a
casa e que, no final, é ele quem decide. Nos casos mais graves, a criança, além de se recusar
a se curvar à autoridade, procura provocar o adulto.

Palavras-Chave: Transtorno; Educação; Família; Sociedade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO
Devemos primeiro aqui destacar que a forçado a fazer um determinado acordo,
oposição é uma fase normal, saudável e deve estar confiante de que seus pais o
até desejável no desenvolvimento de uma estão impondo para seu bem, assim ela é
criança. Com a idade de dois anos, a criança disciplinada.
entende que ele tem algum controle sobre
seu ambiente, mas especialmente sobre Na infância, um distúrbio de oposição
as pessoas ao seu redor. Ela entende que geralmente ocorre por uma das seguintes
pode dizer não a um pedido feito, coisa razões: A criança não é reconhecida por
que provavelmente nunca o fez. As vezes seus pais em suas necessidades, em sua
descobre que recebe mais atenção quando individualidade e em sua busca por autonomia,
se opõe a um pedido do que quando o seus pais não conseguiram estabelecer
cumpre normalmente. A oposição da criança, uma relação de confiança mútua, a criança
então, tem a função primordial de capacitá- aprendeu que a oposição compensa (por
la a afirmar sua individualidade. A criança exemplo, ele recebe mais atenção quando se
confronta seus pais pela primeira vez, opõe do que quando ele cumpre, ou ele sabe
passando-lhes a mensagem de que pode ter que, se ele se opuser, tem chances de para
desejos distintos do que exigem dela, e que, ter sucesso). Há também um componente
como indivíduo, pode afirmar seus desejos. É genético que predispõe algumas crianças a
a "fase do não" que se inicia. adotarem comportamentos de oposição.

Esta fase deve, no entanto, desaparecer Note que uma fase de oposição normal
e a criança deve retornar em harmonia aos e desejável aparece na adolescência. A
convívio hierárquico familiar com seus pais. oposição cumpre novamente a mesma função
Esta harmonização deve ser feita por uma de afirmar autonomia e individualidade. O
abordagem de ambos os lados. Os pais adolescente começa a ter opiniões diferentes
devem reconhecer a individualidade do filho, das dos pais e nem sempre quer seguir
deixando-o fazer as coisas por conta própria, o caminho que eles traçaram para ele. O
quando assim ele solicitar, deixando-o fazer adolescente também quer ser capaz de fazer
escolhas e decisões mediadas pela atenção e as coisas sozinho de forma independente.
valorizando a autonomia da criança. A criança Essa oposição é de suma importância para
deve perceber que seus pais estão impondo levar o adolescente a se tornar um adulto
uma estrutura que deve ser mantida para sua independente.
própria segurança. A criança deve então ter
grande confiança em seus pais, muitas vezes Na psicologia infantil, eles estão incluídos
até mesmo uma confiança cega. Mesmo sob o termo atividades de "detecção precoce"
que ele não entenda por que ele está sendo destinadas a descoberta de um

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Revista Educar FCE - Março 2019

transtorno em seus primeiros estágios. implausível, mas os pais em alguns casos


Esta detecção precoce é muito importante respondem com um argumento igualmente
nesta especialidade porque ao diagnosticar implausível – "Bem, é isso, você pode viver
o transtorno nos estágios iniciais de vida com um de seus amigos se quiser!" –,
torna-se transcendente em outras áreas. A uma vez que nunca deixariam seu filho ir
dificuldade nasce entre outras coisas da falta morar em outro lugar. Esta argumentação,
de qualificação adequada e da verbalidade portanto, leva a nada em termos de resolver
latente na criança, da necessidade de a situação. Após um certo número de
usar informações fornecidas pelos pais repetições da instrução, com argumentação,
e coabitantes que quase todos os casos vão para o segundo estágio, a ameaça. A
sintomas psíquicos também podem ser criança é então ameaçada de punição ou
componentes de certos comportamentos ou perda de privilégio. O presente trabalho
mudanças evolutivas da criança. buscará delinear um panorama geral do dito
transtorno, esperamos contribuir com isso
“[...] um padrão global de desobediência, para o debate acadêmico.
desafio e comportamento hostil. Os pacientes
discutem excessivamente com adultos,
não aceitam responsabilidade por sua má A OPOSIÇÃO E OS
conduta, incomodam deliberadamente os
demais, possuem dificuldade de aceitar
CONDICIONAMENTOS
regras e perdem facilmente o controle se as PSICOLÓGICOS
coisas não seguem a forma que eles desejam.”
(SERRAPINHEIRO et al. 2004, p. 273).
No primeiro ano de vida, esses propósitos
estão relacionados pois com a conquista
Inicialmente os pais fazem um pedido da autonomia e são expressos por
para a criança, ou negam-lhe algo que ele desenvolvimento da linguagem, a capacidade
deseja. Para isso, a criança se opõe e começa de explorar e do autocontrole. É normal que
a discutir. Em resposta aos argumentos a criança chore visando obter o que quer e
da criança, os pais explicam, reexplicam, que o choro deve ser preocupante apenas
reformulam e explicam novamente sua quando excessivo, e acompanhado por
decisão. Este é o começo da argumentação. distúrbios do sono, distúrbios alimentares,
Então os pais entram nos argumentos da ansiedade excessiva em relação a estranhos,
criança e frequentemente se desvia nesse sem contato visual, não sorrindo ou com
momento em um argumento irracional, rigidez muscular excessiva.
porque a criança usa argumentos irracionais.
Por exemplo: "Todos os meus amigos têm Entre 1 e 3 anos de idade, o objetivo
este brinquedo e não eu". Neste exemplo, do desenvolvimento salvo relação com a
o argumento da criança é obviamente confiança básica dos adultos atenderá às suas

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Revista Educar FCE - Março 2019

necessidades, nas respostas do corpo e no Outros sinais de aviso estariam


desenvolvimento da coordenação muscular. relacionados ao ambiente da criança. No que
As dificuldades normais nessa idade são uma diz respeito ao relacionamento pais-filhos-
exploração constante, incluindo corrida, escola que podem ser observados durante
teatral em entrar nas copias das vivências, a consulta psiquiátrica, os sinais podem ser
na busca ativa por atenção e curiosidade detectados indicando uma inter-relação
nas partes do seu corpo. O problemas inadequada e tempo emocional da criança.
significativos são aqueles que têm a ver
com distúrbios do sono (terrores noturnos)
e distúrbios de comportamento alimentar, DEFINIÇÃO DO CAMPO
nenhuma aparência incapaz de separar da COGNITIVISTA
mãe sem sentir ansiedade extrema, birras e
não iniciar o carrinho do esfíncter. Alguns estudos tentaram se concentrar
nas ficções cognitivas concretas que
Os recursos mais destacados do TOD são: fundamentam o TOD e como esclarecê-los,
negativismo, hostilidade e comportamento enfatizando funções executoras, envolvidas
desafiador Existem muitos graus nesta no desenvolvimento dos dutos disruptivos.
tabela, dentro da qual o problema é, quanto Estes incluem a memória de trabalho,
mais a atitude desafiadora prevalece a autorregulação, flexibilidade cognitiva ou
oposição se amplia, essa atitude também capacidade de mudar e a capacidade de
ocorre em relação ao pai e professores (é resolver problemas através do planejamento
predominantemente com a mãe), e quanto e organização. Estudos que caracterizaram
mais o sujeito se recusa a admitirmos crianças com transtorno de déficit de atenção
conselhos, correções e punições. Alguma e hiperatividade(TDAH) em associação com
redes psicanalíticas sustentam que as origens a TOD, identificaram disfunções cognitivas
do TOD pode ser baseado em perturbação importantes na memória e trabalho, que se
desta etapa, que tem a ver com os modelos manifestam por dificuldades em discernir
aqueles de exemplo e autoridade paterna as consequências de um determinado
e os impulsos do "sim-não" da criança em comportamento baseado em uma
desenvolvimento. experiência anterior. As consequências não
podem ser antecipadas potencialidades dos
“O processo de socialização consiste atos, que podem finalmente acabar sendo
em uma aprendizagem social, através da vistos como comportamentos oposicionistas
qual aprendemos comportamentos sociais e desafiantes.
considerados adequados ou não e que
motivam os membros da própria sociedade a “Há relativa escassez de trabalhos sobre
nos elogiar ou a nos punir.” (SAVOIA, 1989, o Transtorno Desafiador Opositor, de forma
p. 55) geral e a literatura sugere que fatores diversos
podem contribuir para o aparecimento do

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Revista Educar FCE - Março 2019

problema. Em especial, é possível afirmar


que ainda há poucos estudos direcionados
ciclo começar, a partir da solicitação inicial,
a investigar os fatores determinantes
conta-se até três para a criança cumprir.
que contribuem para o aparecimento do Assim, cortamos as pontes. Nós isolamos a
problema.” (PAULO e RONDINA, 2010, p.2- criança e paramos completamente de interagir
3) com ela por alguns minutos. Uma criança
não pode ficar sozinha em uma ilha deserta.
A oposição só existe se houver alguém para
Intimamente relacionado ao conceito revidar a criança. Ao cortar a interação e a
de detecção, logo no início encontramos argumentação, cortamos o combustível para
a "resiliência" que é referida à capacidade o motor da oposição. Durante este ciclo, a
de se adaptar satisfatoriamente a apesar tensão aumenta em ambos os lados. Isso
da presença de adversidades significativas nos leva ao estágio em que os pais tomam
ir a qualidade do risco ou proteção de uma uma decisão punitiva em relação à criança. O
situação específica que é dada pela interação pai está com raiva, ele impõe uma sanção à
de muitos fatores que podem variar de tal criança, que muitas vezes ele não consegue
forma que, em certas circunstâncias, cria segurar uma vez que a tensão diminui. Neste
uma característica que é protetora e em caso, a criança aprende que, de fato, as
outras, de risco. punições não são válidas. Mas no momento
da punição em questão, enquanto a tensão
Em geral, eles são considerados é forte, a criança pode explodir e construir
como fatores de proteção uma série de uma crise (agressão), o que agrava ainda mais
circunstâncias, como ter bom funcionamento a situação.
intelectual, facilidade para relações sociais,
uma boa rede de apoio, bom temperamento
junto com senso de humor, alta autoestima e MEIOS DIFERENTES DE
boa saúde, talento e confiança. Como fatores ENCARAR O TOD
de risco estão a capacidade intelectual
abaixo da média, no caso escolar, problemas
acadêmicos, alterações de conduta na escola, As crianças estão constantemente sendo
relações empobrecidas com seus iguais, colocadas em condições inóspitas, que
ausência de uma figura adulta de apoio ou as prejudicam, mas elas também podem
falta de consideração no ambiente familiar promover a resiliência. Entre elas pobreza,
e a utilização de métodos disruptivos de superlotação escolar, violência intrafamiliar,
mentira. desemprego, trabalho infantil e criminalidade
colocam em ação de grupos regados de
A argumentação é o combustível que pouco acesso à cobertura das necessidades
mantém vivo o ciclo de oposição. Ao cortar básicas e distribuição injusta de renda, pode
o argumento, corta-se a oposição. Quando o se comportar como fatores ambientais que

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são interrelacionais com fatores genéticos privilégios. A outra criança que tem uma
para modular o comportamento. personalidade corajosa, que muitas vezes
esquece as instruções e para o qual as
“[...]crianças com TDO apresentam quais o desempenho acadêmico é menos
significativamente mais disfunção familiar automático ao olhar do herói (irmão ou irmã)
até do que controles psiquiátricos. Há uma e descobre que ele nunca pode chegar a este
clara relação entre TDO e sofrimento e mau padrão.
funcionamento familiares. Infelizmente,
devido à natureza transversal da maioria “Um tema ou padrão amplo, difuso;
desses estudos, é difícil definir a direção da formado por memórias, emoções e
associação entre desagregação familiar e sensações corporais; relacionado a si
TDO.” (SERRAPINHEIRO et al. 2004, p. 273). próprio ou aos relacionamentos com outras
pessoas; desenvolvido durante a infância ou
adolescência; elaborado ao longo da vida do
Alguns autores constituem um estudo
indivíduo; disfuncional em nível significativo”
epidemiológico da frequência de TOD e
(YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, 2008, p.
suas parcerias com outras entidades. Em um
22).
estudo foram encontrados elementos que
integraram o quadro conceitual de crianças
agressivas e pró-sociais: cultura escolar, clima Não o ajuda a ser o herói na família, ele
escolar, ambiente familiar, pro-socialização e já é levado por outro que ele conhece bem
agressividade. A pro-socialização representa incapaz de desalojar. Assim, para ter um
um elemento de temperamento o que pode lugar tão importante em sua família, ele só
favorecer o surgimento de regras devida tem que ir para o papel de vilão. Aquele que
sociais e proteger comportamentos se torna o oposto do outro. Desobediente,
agressivos e violentos. (TAVARES, 2007, p. excitado e desagradável. Se a criança
75,) descobre que não consegue obter o amor de
seus pais – e de outras esferas – através do
Mas qual é o vínculo com o distúrbio sucesso, pelo menos conseguirá sua atenção
de oposição na criança? Bem, este enredo pelo fracasso. É muito mais recompensador
bem sucedido reproduzido em sua família, obter uma forte reação dos pais porque algo
nos irmãos. Quando uma criança exibe foi feito de forma errada do que obter uma
naturalmente um comportamento sábio reação indiferente, porque você se deu bem,
e obediente, e o sucesso escolar é fácil, mas não tanto quanto o herói da família.
naturalmente o coloca na posição de herói (TAVARES, 2007, p. 75,)
em casa. Ele é elogiado por seus sucessos,
seu bom comportamento é enfatizado, ele Como em um filme, aquele que se dá bem,
é segurado em nossos braços, exclamando mas não tanto quanto o herói, ou, na melhor
como ele é orgulhoso e recompensado por das hipóteses, recebe um papel de

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apoio, secundário. Nenhuma criança quer OUVIR AS CRIANÇAS AUXILIA


ser um papel de apoio, então o papel do vilão NO PROCESSO
se torna a alternativa para obter um papel
de liderança. Tudo isso está acontecendo
inconscientemente e até insidiosamente A atitude da criança com o meio deve
durante vários meses ou anos. Mas ser observada antes de entrar no cerne da
gradualmente os papéis são acampados, questão, se apresentada uma ansiedade
polarizados e cada criança age de acordo com desproporcional ao separar as partes
seu caráter em construção fruto do meio. constituintes do seu mundo, se ela obedece
as ordens que eles lhe dão, ou até mesmo,
O estudo de TOD que começa na fase se o transtorno mais grave e crônico e
da infância e na adolescência, leva-nos a comportamental mostram deterioração em
considerar a agressão e violência, ligadas várias áreas, como dificuldades na mecânica
à situações e relações ambientais e sócio social, às vezes direitos, escassas realizações
familiares. As hipóteses mais utilizadas acadêmicas e vocações se uma deterioração
são baseados na aprendizagem social que no desenvolvimento da comunicação
a criança faz, como a oposição violenta, e interpessoal. (BARRETO, 1981, p.307)
que geralmente têm sua expressão máxima
no coração dos "ambientes socialmente As formas mais extremas de TOD tem
desfavorecidos cronicamente mantido". um transtorno co-mórbido associado a ele
métodos de observação cada avaliador deve
Esses comportamentos violentos tem empregar mais de um método de observação,
uma extensão, e em muitos casos sofrem como entrevistas, escalas declaração
solidificação, durante a adolescência (Avaliação, Inventário de Hospedagem
e na idade adulta pode se transformar Infantil e escala de Agressão Aberta),
gradativamente em um transtorno de avaliação relatórios neuropsicológicos e
personalidade antissocial. Encontramos aqui escolares.
uma linha de continuidade entre violência
infantil e a do adulto, em muitos casos com O primeiro passo, antes do início de
origem social previsíveis e, portanto, sujeitas qualquer Inter comportamento, é diferenciar
a normas de prevenção. Existem fatores se o comportamento de uma criança é
de risco que causam metade dos casos os enquadrado em uma variante de normalidade
distúrbios comportamentos na infância ou deve ser considerado patológica, tendo
podem evoluir na idade adulta de uma forma em conta os parâmetros de persistência,
negativa, bem como fatores de proteção frequência e intensidade. A abordagem
que capacitam adequadamente podendo popular baseia-se na hipótese de que as
representar uma boa técnica para preservar crianças com mau comportamento estão em
esses problemas. (BARRETO, 1981, p.307) conformidade com as seguintes suposições:

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são obstinados, manipuladores, coercitivos, epistemológica, isto é, antecedentes,


rude, controladora, desafiadora eles comportamento e sequências. Crianças
procuram por atenção. Portanto, de acordo desafiadoras (BATISTA, 2006, p. 78). Um dos
com esta abordagem, a intervenção deve programas mais usais é o chamado Crianças
estar preparado para mostrar quem está no desafiadoras de base comportamental.
comando e qual é o adulto correto, para que Consiste em etapas com que se destinam
assim obedeçam. (BATISTA, 2006, p. 75) a adquirirem comportamentos positivos
Obviamente, este modelo não costuma que ajudam a alcançar o sucesso na escola
fornecer soluções prontas desde que e nas suas relações sociais. As estratégias
o problema não é uma ignorância da usadas são projetadas para reduzir repouso
criança sobre quem dá ou o que o bom e comportamento de oposição e mencionar
e mau comportamento. Os programas comportamentos de colaboração. Este baseia-
de intervenção de uma perspectiva se no pressuposto de que comportamentos
teórica comportamental abrange todos positivos tenderão a aumentar se a criança
os contextos: família, escola e a própria recebe um prêmio ou reconhecimento por
criança. Antecedentes, comportamento e eles, em tanto que os negativos tenderão
consequências, maioria dos modelos de a morrer se forem ignorados ou gerarem
intervenção analícas comportamentais consequências negativas.
baseiam-se na análise da abordagem

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dissemos anteriormente que há coisas para lembrar nos
casos de oposição. O segundo (e talvez o mais importante) é:
dedicação a criança e zelar por seu sucesso, novamente dê-
lhe tempo de qualidade. Esta é a necessidade mais importante
para uma criança. Um estudo de macacos bebês mostrou
que era mais importante para eles estarem próximos de suas
mães do que se alimentar. Diante de uma escolha forçada,
preferiam privar-se de comida do que privar-se de sua mãe.
Basicamente, somos apenas primatas avançados e isso ilustra
o quanto as crianças também precisam de atenção. CLARICE RIBEIRO DOS
Para quem não conviveu com um filho oposto, amar seu SANTOS NUNES
filho parece óbvio. Para o pai que experimenta a oposição
Graduação em Pedagogia
e a provocação de uma criança todos os dias, o amor que
pela Universidade IGUAÇU,
julgamos incondicional às vezes parece abalado. E assim concluído em 2007,
começa um ciclo em que tentamos evitar a criança porque Especialização em Educação
prevemos um contato desagradável. Quanto mais tentamos Especial com ênfase e Altas
evitá-lo, mais a criança precisará ter certeza de que seus pais habilidades e Superdotacão pela
ainda estão lá para ele. Universidade Estadual Paulista
Assim, ele adotará comportamentos ainda mais opostos " Júlio de Mesquita Filho" (2017)
e provocativos, a fim de provocar uma reação e obter essa Professora de Educação Infantil
atenção de seus pais ou professores. Um exemplo típico e Fund l na Emei Cel. Walfrido
para os pais de crianças dentre as quais é: quando se jogam de Carvalho.
sozinhos, a forma calma e composta, vamos evitar a todo
o custo para ver a criança não quebrar este belo momento
de paz. Percebemos a criança como uma bomba prestes
a explodir e evitamos esta bomba, por medo de causar a
explosão. Assim, a criança que tem um comportamento
exemplar neste momento não receberá atenção de seus pais.
Ela logo perceberá que a melhor maneira de conseguir essa
atenção será explodir.
Assim, o aspecto mais importante será estabelecer um
vínculo forte e inabalável de confiança entre a criança e seus
pais e propor uma socialização dentro de parâmetros que
caibam nas demandas apresentadas. Para isso, é essencial
passar tempo e qualidade com ela todos os dias por 20 a 30
minutos no mínimo.

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A criança muitas vezes procura atenção negativa através de


sua oposição, na qual ela não consegue obter atenção positiva.
Também deve ser notado que uma criança será mais relutante
em objetar se sentir que corre o risco de quebrar um forte
vínculo positivo com os pais, e se ele sentir que não tem nada
a perder em seu relacionamento (ou mesmo se sentir que está
ganhando atenção). A criança deve sentir um vínculo de forte
apego. Vale ressaltar aqui a importância do investimento não
só da mãe, mas também do pai, escola e comunidade muitas
vezes. Recomenda-se também inverter a interação negativa
usando tantas palavras positivas quanto possível para a criança
oposta. Ele é elogiado por seus sucessos e esforços, e lhe é dito
que é amado e orgulhoso dele. O contato físico, como abraços
e beijos, são formas poderosas de fortalecer o vínculo entre os
quais e o mundo que os cerca.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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IN: PATTO, M. H. S. Introdução a psicologia escolar. São Paulo: T A Queiroz, 1981. p. 296 -
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BATISTA, C. A. M. Educação inclusiva: Atendimento educacional especializado para a


deficiência mental. 2ºed. Brasília: MEC/SEESP, 2006.

PAULO, Marta Mantovanelli de e RONDINA, Regina de Cássia. Os principais fatores que


contribuem para o aparecimento e evolução do transtorno desafiador opositor (TDO).
Garça:Faef. 2010. Revista Científica Eletrônica de Psicologia. Ano VIII – Número 14.

SAVOIA, Mariângela Gentil. Psicologia social. São Paulo: McGraw-Hill, 1989.

SERRA-PINHEIRO, M. A., SCHIMITZ, M.; MATTOS, P. et al. Transtorno desafiador


de oposição: uma revisão de correlatos neurobiológicos e ambientais, comorbidades,
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TAVARES. M. Módulo IV - Estratégias Específicas em Entrevista: a entrevista estruturada


para o DSM-IV. In.: CUNHA, J. A.; et al. Psicodiagnóstico-V. 5.ed. Porto Alegre: Artmed,
2007.

YOUNG, J. E.; KLOSKO, J. S.; WEISHAAR, M. E. Terapia do esquema: guia das técnicas
cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed, 2008.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A SOCIALIZAÇÃO DO ALUNO COM MÚLTIPLAS


DEFICIÊNCIAS
O objeto desse artigo é a socialização do aluno com múltiplas deficiências. A educação
inclusiva tem como finalidade favorecer a todos o acesso ao conhecimento, mediando junto
aos alunos a capacidade destes utilizarem esse conhecimento para o exercício da cidadania,
respeitando a diversidade cultural e suas características pessoais. Essa revisão da literatura
teve como objetivo geral obter conhecimentos relacionados à socialização do aluno com
múltiplas deficiências por meio de uma revisão da literatura e como objetivos específicos
apontar a importância do atendimento educacional especializado para o aluno com múltipla
deficiência, realizar uma breve explanação sobre a educação inclusiva e sua importância para
a socialização do aluno com múltiplas deficiências. Nesse ambiente de inclusão, observa-se
que a socialização do aluno com múltiplas deficiências é um tema de significativa relevância
quem vem conquistando espaço cada vez maior em debates e discussões que abordam a
necessidade de a escola atender às diferenças intrínsecas à condição humana. Para atender
aos objetivos da educação inclusiva e à diversidade, os professores devem ter competência
profissional, desenvolver projetos educativos mais amplos e diversificados, que se adaptem
às diferentes necessidades dos alunos. As disposições legais e normativas refletem uma
concepção democrática da educação que não admite nenhum tipo de exclusão de crianças,
jovens ou adultos. Ao professor cabe ter conhecimentos que o permitam dominar os saberes
necessários para a educação inclusiva, de modo a ter condições de assumir o processo em
toda sua complexidade.

Palavras-chave: Aprendizagem; Distúrbios de aprendizagem.; Múltiplas deficiências;Educação


inclusiva.

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INTRODUÇÃO
A deficiência múltipla é caracterizada por As pesquisas sobre deficiências múltiplas
um conjunto de duas ou mais deficiências, no Brasil surgiram no início do século XXI,
de ordem física, sensorial, mental, entre a partir da publicação pelo Ministério
outras associadas. Consiste em uma condição da Educação e Cultura do "Programa de
que afeta em maior ou menor intensidade o Capacitação de Recursos Humanos do
funcionamento individual e social dos sujeitos Ensino Fundamental: Deficiência Múltipla,
com essa deficiência (BRASIL, 2006, p.43). pela Secretaria de Educação Especial, no ano
de 2000” (MASINI, 2011, p. 64).
A inclusão escolar da pessoa com
necessidades educacionais especiais é De acordo com Magalhães, Rocha e
um tema de significativa relevância que Pletsch (2013), para avaliar as necessidades
vem conquistando espaço cada vez maior educacionais desses alunos, deve-se observar
em debates e discussões que abordam a as condições em que suas deficiências
necessidade de a escola atender às diferenças apresentam-se, considerando-se que esses
intrínsecas à condição humana. aspectos não são apenas resultados de um
somatório de fatores.
A legislação defende e garante documentos
em que todas as crianças devem ser acolhidas É necessário levar em consideração o
pela escola, independente de suas condições nível de desenvolvimento, as possibilidades
físicas, intelectuais, sociais, emocionais funcionais, de comunicação, interação social
(SILVEIRA; NEVES, 2006, p.79). e de aprendizagem.

A situação de alunos com severos Devem ser acompanhadas as necessidades


comprometimentos e com escolarização que não se restringem ao âmbito escolar,
plena, ainda é um desafio contundente em porém, também influenciam diretamente
meio à realidade educacional brasileira. no processo de desenvolvimento da
aprendizagem.
A deficiência múltipla pode ser responsável
por uma ampla possibilidade de associação Com base no exposto, esse estudo tem
de deficiências, as quais podem variar como objetivo geral obter por meio de
conforme o número, a natureza, o grau e a uma revisão da literatura conhecimentos
abrangência das deficiências em questão; relacionados à socialização do aluno com
consequentemente, também variam os efeitos múltiplas deficiências e como objetivos
dos comprometimentos na vida e prática das específicos apontar a importância do
pessoas que a apresentam (MAGALHÃES; atendimento educacional especializado para
ROCHA; PLETSCH, 2013, p.5). o aluno com múltipla deficiência, realizar uma

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Revista Educar FCE - Março 2019

breve explanação sobre a educação inclusiva RESULTADOS


e sua importância para a socialização do
aluno com múltiplas deficiências. Aqui são citadas algumas publicações
envolvendo o tema com base em nove
Para elaboração desse estudo utilizou-se publicações. Os resultados dos artigos
o método de revisão da literatura na base permitiram contextualizar o tema.
de dados computadorizada da Biblioteca
Regional de Medicina (BIREME) e o A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
levantamento no banco de dados LILACS Nacional incentivou o desenvolvimento da
(Literatura Latino-Americana em Ciências educação e assumiu o compromisso com
de Saúde) na biblioteca eletrônica SciELO – uma educação de qualidade, introduzindo
Scientific Electronic Library Online (Biblioteca um capítulo específico que orienta para o
Científica Eletrônica Online), identificadas atendimento às necessidades educacionais
a partir dos seguintes descritores: especiais dos alunos, o qual deve ter início
aprendizagem, distúrbios de aprendizagem, na educação infantil.
múltiplas deficiências, educação inclusiva.
No Brasil, a educação de alunos com
A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a múltipla deficiência no ensino regular
partir de material já elaborado, constituído tem deixado uma grande lacuna. Até
principalmente de livros e artigos científicos recentemente, as crianças com múltipla
e tem como principal vantagem permitir a deficiência eram educadas separadamente
cobertura de um maior número de fenômenos em escolas especiais ou instituições
(GIL, 2009). destinadas ao atendimento de alunos com
deficiência mental (BRASIL, 2006, p.47).
A inclusão escolar pressupõe mudanças
físicas relacionadas a posturas frente às O termo deficiência múltipla é
concepções presentes na escola. frequentemente utilizada para caracterizar
o conjunto de duas ou mais deficiências
Um dos confrontos de maior significância associadas, tanto de ordem física, sensorial,
é o que se refere à formação de professores mental, emocional ou de comportamento
em níveis teóricos, práticos e pessoais, que, social.
na maioria das vezes, apresenta-se bastante
insólita para construir práticas capazes de O somatório dessas alterações não
estimular a autonomia, a criatividade e a caracteriza a múltipla deficiência, mas o
ampliação das competências do aluno com nível de desenvolvimento, as possibilidades
deficiência múltipla (SILVEIRA; NEVES, funcionais, de comunicação, interação social
2006, p.80). e de aprendizagem que determinam as
necessidades educacionais dessas pessoas
(BRASIL, 2006, p.48).

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Revista Educar FCE - Março 2019

Masini (2011) observa que no Brasil, Nessa perspectiva, a inclusão de alunos com
pesquisas referentes às deficiências dificuldades acentuadas de aprendizagem
sensoriais têm sido realizadas por professores no sistema comum de ensino requer não
especialistas em diferentes áreas. apenas a aceitação da diversidade humana,
mas implica em transformação significativa
O termo deficiência múltipla tem sido de atitudes e posturas.
utilizado para caracterizar o conjunto de
duas ou mais deficiências associadas, de Em relação à prática pedagógica, à
ordem física, sensorial, mental, emocional ou modificação do sistema de ensino e à
de comportamento social. organização das escolas para se adequar às
especificidades de todos os alunos (SILVEIRA;
O desempenho e as competências dessas NEVES, 2006, p.82).
crianças são heterogêneos e variáveis.
Pesquisa realizada Rocha e Pletsch
Alunos com níveis funcionais básicos (2018), no período de 2012 e 2014, permitiu
e possibilidades de adaptação ao meio concluir que garantir acesso ao ambiente
podem e devem ser educados em classe escolar não é suficiente, pois são necessários
comum, mediante a necessária adaptação investimentos financeiros para melhorar
e suplementação curricular. Porém, aqueles a estrutura física e o acesso a recursos de
com mais dificuldades, poderão precisar comunicação alternativa e, principalmente,
de processos especiais de ensino, apoios garantir aos alunos condições de trabalho e
intensos, contínuos e currículo alternativo formação continuada.
que correspondam as suas necessidades na
classe comum (BRASIL, 2006, p.49). Da mesma forma, são necessários
investimentos em pesquisas sobre as diversas
O processo de inclusão escolar deve dimensões que envolvem o debate sobre a
comprometer-se com ações voltadas escolarização de sujeitos com deficiências
efetivamente para o desenvolvimento dos múltiplas, em especial, nos casos mais graves.
alunos, independentemente da severidade
de seus comprometimentos. Destaca-se que após a análise da
literatura nacional e internacional disponível
Suas necessidades também precisam nas principais bases de dados científicos,
ser identificadas e atendidas; as políticas verificou-se que há contradições e falta
públicas precisam estar mais próximas da de consenso na definição do que seria a
realidade destes alunos para que realmente deficiência múltipla.
tenham a possibilidade de se desenvolver
(MAGALHÃES; ROCHA; PLETSCH, 2013,
p.6).

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Revista Educar FCE - Março 2019

DISCUSSÃO de infraestrutura, de materiais, do currículo


escolar, das práticas que lhe são direcionadas
A deficiência múltipla é composta pela e em outros aspectos necessários para que
associação entre duas ou mais deficiências o desenvolvimento destes alunos possa ser
primárias (intelectual/física/sensorial), com concretizado (ROCHA; PLETSCH, 2018,
impactos bastante variáveis na vida de uma p.180).
pessoa.
Nesse contexto, a escola inclusiva tem
Pode ocorrer em diversas combinações como princípio fundamental que todas
de deficiências, as quais variam conforme o as crianças deveriam aprender juntas,
número, a natureza, o grau e a abrangência das independentemente de dificuldades ou
deficiências em questão; consequentemente, diferenças que possam ou venham a
os efeitos dos comprometimentos variam na apresentar.
vida e prática das pessoas que a apresentam
(ROCHA; PLETSCH, 2015; ROCHA, 2017 A educação inclusiva introduziu uma
apud ROCHA; PLETSCH, 2018, p.174). nova forma de ver os outros, assim como a
educação, pois a educação inclusiva implica
Desde a década de 1990 o Brasil adere em modificação a sociedade como pré-
e legitima a educação inclusiva por meio da requisito para a busca do desenvolvimento
assinatura de declarações internacionais e da e exercício da cidadania (FERRAZ; ARAÚJO;
promulgação de leis e decretos. Porém, no CARNEIRO, 2010, p.13).
que tange a sua implementação, este ainda é
um campo repleto de desafios. O cenário acadêmico reconstruiu a
A proposta da educação inclusiva amplia Educação Física também enquanto área
a população a ser incluída na escola, pois, inclusiva, envolvendo aos poucos, as
diferentemente da educação especial, a diferentes dimensões e características dos
educação inclusiva diz respeito a todos alunos, com respeito e consideração a sua
aqueles tradicionalmente dela excluídos. participação nas aulas.
Assim, a educação inclusiva também está
voltada às crianças e adolescentes pobres, A educação inclusiva foi consolidada
negros, indígenas, imigrantes, em conflito legalmente, porém, ainda tem apresentado
com a lei, entre outros (DIAS; ROCHA; dificuldades para se efetivar na realidade,
ANDRADE, 2015, p. 453). conforme afirma Carvalho et al. (2017).
Para se efetivar o processo de aprendizagem
e o desenvolvimento desses alunos é
importante refletir acerca das necessidades
educacionais especiais apresentadas por
cada indivíduo a fim de buscar adequações

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Revista Educar FCE - Março 2019

SOCIALIZAÇÃO DO criança inclusa está inserida, dando a devida


ALUNO COM MÚLTIPLAS importância para significativa contribuição
na vida escolar dessa criança.
DEFICIÊNCIAS
Ainda é um desafio, principalmente aos
Até recentemente, as crianças com profissionais de educação, que deve atender
múltipla deficiência eram educadas esses educando com qualidade, para que
separadamente em escolas especiais ou os objetivos e o desenvolvimento sejam
instituições destinadas ao atendimento de alcançados, conscientizando a sociedade
alunos com deficiência mental. a valorizar a diversidade humana (SILVA;
ARRUDA, 2014, p.5).
O que tem sido feito em relação à inclusão
desses alunos no sistema comum de ensino Portanto, requer uma minuciosa revisão
constitui, geralmente, experiências isoladas. dos planos e estratégias utilizados pelos
professores, para avaliar alunos com
No ambiente escolar discute-se necessidades especiais, verificando o grau
frequentemente, se esses alunos podem se de dificuldade de cada um em sala de aula,
beneficiar de sistemas inclusivos de ensino descobrindo habilidades e potencialidades
em virtude de acentuadas necessidades que precisam ser exploradas e modificadas
especiais relativas a particularidades de ambas as partes, capacitando melhor o
em seu processo de desenvolvimento e profissional.
aprendizagem.
Ferraz, Araújo e Ferreiro (2010) entendem
Além das adaptações de equipamento, que na educação regular, a inclusão
existem muitas outras que podem ser de crianças com múltiplas deficiências
encontradas em empresas especializadas, não depende do grau de severidade da
como acionadores especiais, mouses deficiência ou do nível de seu desempenho
adaptados, teclados especiais, além de intelectual, mas sim, da probabilidade de
equipamentos especiais, como impressoras interação, acolhida, socialização, adaptação
braile, monitores com telas sensíveis ao do indivíduo ao grupo e, principalmente, da
toque etc. (BRASIL, 2006). modificação da escola para acolhê-lo.

Contudo, o planejamento do professor de Para que a inclusão escolar seja satisfatória,


educação especial não deve ser diferente do o acesso aos serviços educacionais
professor de classes regulares, já que num disponíveis na sociedade deve ser garantido
sentido mais amplo, deve atender a todos. o mais cedo possível, incluindo aquelas
crianças com problemas mais severos no
É importante que os professores, demais desenvolvimento.
alunos e famílias se adaptem ao meio que a

650
Revista Educar FCE - Março 2019

Destaca-se que incluir não significa apenas


inserir crianças na sala de aula, e sim adaptar
objetivos, atividades ou caso seja necessário
dar mais tempo para que a criança consiga
aprender.

A inclusão é considerada como a maior


oportunidade para diminuir os preconceitos,
porém, não deve ser realizada sem que sejam
consideradas as condições em que será
desenvolvida. Deve-se verificar o que pode
ser oferecido para amenizar as dificuldades
trazidas pela deficiência.

651
Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação inclusiva tem buscado superar os antecedentes
de isolamento, discriminação e preconceito. Tem causado
questionamentos, principalmente quando se pensa na
escola regular e sua infraestrutura física e particularmente
de recursos humanos.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB
9394/96), ao reconhecer a Educação Especial como
modalidade de ensino que permeia todos os níveis escolares,
deixa claro que não há nos sistemas de ensino, tipos
separados de educação. CLAUDIA DO AMARAL
A Educação Especial não é um subsistema e as unidades PEREIRA
escolares devem ter um conjunto de recursos organizados
Graduação em Geografia pela
e disponibilizados para que todos os alunos possam
Universidade Metropolitana de
desenvolver suas competências com respeito e dignidade, Santos (2012); Especialista em
entre eles os que necessitam de apoios diferenciados. Alfabetização pela Faculdade
Uma boa escola inclusiva depende essencialmente Campos Elíseos (2016);
de diretores e professores preparados, de um currículo Professora de Educação Infantil
adaptado ao cotidiano, com instalações físicas adequadas e Fundamental I – na EMEF
(como biblioteca, laboratórios e salas de aula que não Professora Idêmia de Godoy
estejam superlotadas), da vivência cultural dos estudantes
e da participação da comunidade. Porém, são necessárias
ações efetivas do governo, como destinação de verbas e
melhor valorização do professor.
O sucesso da inclusão de alunos com necessidades
especiais e de uma sociedade inclusiva depende da ação
conjunta de toda população.
A literatura consultada é unânime ao afirmar que uma das
implicações da inclusão escolar mais discutida diz respeito
à formação do corpo docente das escolas, tanto a formação
inicial como a continuada.
Para que possam atender às demandas da educação
inclusiva, é necessário que os professores sejam capacitados
para transformar sua prática pedagógica, considerando o
fato de ser o principal agente do processo de aprendizagem.
Aprender a trabalhar com a inclusão é um desafio para os
docentes e para escola, pois exige mudanças de hábitos e
atitudes.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A literatura consultada é unânime ao afirmar que uma das


implicações da inclusão escolar mais discutida diz respeito à
formação do corpo docente das escolas, tanto a formação inicial
como a continuada.
Para que possam atender às demandas da educação inclusiva, é
necessário que os professores sejam capacitados para transformar
sua prática pedagógica, considerando o fato de ser o principal
agente do processo de aprendizagem.
Aprender a trabalhar com a inclusão é um desafio para os
docentes e para escola, pois exige mudanças de hábitos e atitudes.
Em síntese, o adequado e competente funcionamento das
salas de recursos multifuncionais, o atendimento rigoroso aos
critérios de elegibilidade dos alunos e de utilização de recursos,
serão capazes de garantir que as práticas educativas inclusivas
em classes de ensino regular possam ocorrer com segurança para
todos os alunos.
A capacitação dos professores no curso de especialização em
Atendimento Educacional Especializado – AEE, na modalidade
à distância tem como objetivo prover um ensino de qualidade,
tanto para alunos com deficiências e transtornos globais de
desenvolvimento, quanto para todos os alunos.

653
Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DAS CRIANÇAS
NOS ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo conceituar o lúdico no processo da
aprendizagem, ressaltando com isso a sua importância no desenvolvimento infantil por meio
do cognitivo, dando um significado ao processo do ensino e aprendizagem nos espaços de
educação infantil, no qual nos permite observar atentamente todas as ações e metodologias
que quando utilizadas possibilitem efetivamente a integração da criança com o mundo que
a rodeia, ampliando assim a formação social de cada uma delas. Dessa forma o lúdico na
educação infantil promove qualitativamente habilidades capazes de construir a identidade,
fomentando nesse processo uma maior compreensão que por si só tem a finalidade de
inserir a criança na prática de atividades lúdicas e nesse contexto, o desenvolvimento
infantil ocorre de maneira global, ou seja, atinge ou até mesmo comtempla diversas fases
do desenvolvimento das crianças. E assim sendo, o lúdico está intrínseco no ato de brincar,
expondo a necessidade de se ter um olhar que identifique possivelmente certas falhas na
atuação do professor nos espaços de educação infantil, que por ora, tem um entendimento
pouco comum sobre a importância do brincar e das brincadeiras infantis. Partindo desse
pressuposto o papel do lúdico na educação infantil concerne na busca de estratégias que
estimulem também o desenvolvimento cognitivo, aumentando a percepção, a memória,
entre outros aspectos de maneira significativa.

Palavras-Chave: lúdico, desenvolvimento, cognitivo, aprendizagem, educação.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO
O ser humano possui diversas etapas críticas e criativas, estabelecendo um contato
em sua vida, estando sempre apto para com objetos que fazem parte integrante das
descobrir o novo, aprender, tomar decisões brincadeiras ou brinquedos. Por intermédio
e apropriar-se de novos conhecimentos por do jogo lúdico a criança se desenvolve muito
meio da interação com o outro, construindo mais rapidamente.
seu caráter, tendo o domínio sobre o meio
em que vive e assim é a criança logo que O brincar na educação infantil colabora
nasce, aprende e está apta a conhecer para que haja o desenvolvimento da criança
novas oportunidades de se desenvolver e representa na realidade uma necessidade
amplamente. de envolvimento cultural, isto é, muitas das
crianças carregam historicamente por parte
O lúdico tem uma importância muito de sua família as mais variadas formas de
grande na educação infantil e com base brincar, se apropriando também de todos os
no cognitivo é capaz de permitir cada vez espaços e objetos, além de tempo de brincar
mais novas descobertas em seu universo que se torna algo que não se pode separar,
infantil. É nos espaços de educação infantil indissociável.
que o lúdico se fundamenta mais e mais,
dando condições das crianças ampliarem
de maneira coletiva ou individual o seu A LUDICIDADE NOS ESPAÇOS
repertório, seja musical, artístico, oral, DE EDUCAÇÃO INFANTIL
entre outros. Nessa perspectiva, é muito
importante que os profissionais de educação
infantil se atentem às atividades, brinquedos Para Vygotsky o ato de brincar é um
ou brincadeiras que garantam às crianças o importante papel na constituição do
pleno desenvolvimento social. pensamento infantil quando se é atribuído
ao cognitivo, visto que é brincando que
Historicamente a criança faz do ato de a criança consegue revelar a sua inteira
brincar uma mega “operação” que expõe intenção com o lúdico dentro do ambiente
efetivamente a subjetividade em suas de educação infantil, bastando apenas
próprias ações, estando ela em total harmonia reproduzir o seu entendimento, levando-se
com o ambiente educacional, descobrindo em consideração a sua vivência de forma a
e aprendendo sempre coisas novas pelo ampliar seu repertório.
meio do caminho e é importante ressaltar
o planejamento das atividades que irão ao De acordo com Oliveira (1995) que nos
longo do percurso acontecer, a fim de fazer diz:
com que as crianças sejam participativas,

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Revista Educar FCE - Março 2019

[...] Vygotsky dá importância ao papel


realidade é um processo imprescindível
do outro social no desenvolvimento dos
indivíduos cristaliza-se na formulação de
da vida das crianças, sendo portanto uma
um conceito específico dentro de sua teoria,
condição necessária para que a criança se
essencial para a compreensão de suas ideias desenvolva em todos os aspectos, sejam
sobre as relações entre desenvolvimento eles cognitivo, lúdico e cultural, e será por
e aprendizado: o conceito de zona de meio de uma interação com o outro que ela
desenvolvimento proximal (OLIVEIRA, 1995, irá desmontar claramente suas intenções no
p. 58). ato da brincadeira, por exemplo. A ludicidade
por sua vez desperta o interesse das crianças
No entanto é necessário que a escola de aprenderem de forma prazerosa, na
possa repensar em como está trabalhando qual se dá por meio das atividades lúdicas
a questão da ludicidade nos ambientes que são em sua grande maioria a principal
educacionais, ou seja, precisa considerar característica de desenvolvimento delas.
a individualidade de cada um para dar
seguimento na construção de sua própria Podemos então afirmar que brincar é
identidade, além de contribuir para que suas extremamente análogo ao ato de aprender,
crianças alcancem os objetivos propostos de especialmente quando da formação do
acordo com o projeto pedagógico da escola. cidadão, e consequência disso o sucesso
pedagógico acontecerá paulatinamente e
Jamais poderemos negar a importância do em seu tempo. Desta maneira o lúdico nos
lúdico na educação infantil e numa perspectiva espaços de educação infantil se tornará
geral ao passo que a aprendizagem segue em sempre imprescindível, isto é, essencial tanto
seu trajeto cognitivo, tanto as brincadeiras para a criança quanto para os professores.
quanto os brinquedos ganham adeptos na
apropriação adequada de internalização dos Todavia a ludicidade não pode ser
mesmos, respeitando cada faixa etária bem restringida somente às brincadeiras ou aos
como o tempo que cada uma tem para se jogos durante a infância, haja vista que toda
desenvolver. atividade livre é composta inteiramente
pelo lúdico, seja em casa ou nos ambientes
Segundo Brougère, (2010) nos afirma que: escolares, dando suporte e criando
oportunidade de socialização durante os
A brincadeira não é inata, pelo menos nas momentos coletivos, proporcionando assim
formas que ela adquire junto ao homem. A atividades lúdicas que mexam também com
criança pequena é iniciada na brincadeira por os sentimentos e as emoções da criança.
pessoas que cuidam dela, particularmente Ainda segundo Brougère, (2010):
sua mãe. (BROUGÈRE, 2010, p. 104).

[...] brincadeira aparece como a atividade


De acordo com o autor a brincadeira na que permite à criança apropriação dos códigos

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Revista Educar FCE - Março 2019

culturais e seu papel de socialização foram,


muitas vezes, destacados. (BROUGÈRE,
pode expressar seus sentimentos e medos
2010, p. 65).
do mundo em que ela está inserida, além de
conseguir reconhecer as diferentes maneiras
de expor seus próprios conhecimentos.
Partindo desse pressuposto o ato de Conforme Meyer (2008) nos diz que:
brincar na realidade nem sempre será no
coletivo, ou seja, poderá ocorrer também Na Educação Infantil, o lúdico é importante
no individual, uma vez que sozinha ela será para o crescimento das crianças, inclusive
capaz de criar situações cognitivas como é o intelectualmente, pois as brincadeiras trazem
caso do faz de conta para em algum momento consigo um brincar compromissado com a
qualidade de vida da criança. (MEYER, 2008,
expor suas necessidades, estando ou não de
p. 22).
posse de algum tipo de brinquedo.
A brincadeira por si só dentro dos espaços
de educação infantil vem carregada de Sendo assim os educadores serão os
emoções culturalmente sociais e nessa responsáveis em tornar o ambiente propício
concepção, o lúdico consegue atingir o seu para que aconteça tal desenvolvimento, em
maior objetivo, o de envolvimento em cada que a criança adquire a sua volta diversos
ação proposta pelo professor de educação conhecimentos, desenvolvendo habilidades
infantil que vai muito além das expectativas e será com o auxílio das atividades lúdicas
delas, ou seja, são muito comuns que sejam que se estenderão momentos de prazer
abordados situações capazes de conduzir o e harmonia, lembrando que para serem
desenvolvimento cognitivo tão logo que se motivadas é necessário que haja respeito
iniciem as atividades. entre as faixas etárias, bem como a
intencionalidade em se propor toda ou
qualquer brincadeira que explore o lúdico e
APRENDIZAGEM E o cognitivo delas.
DESENVOLVIMENTO: UM
Conforme Falcão (2002) diz:
OLHAR POR MEIO DO
LÚDICO NA EDUCAÇÃO As atividades lúdicas fazem com que

INFANTIL as crianças aprendem com prazer, alegria e


sendo relevante ressaltar que a educação
Tratar esse tema na educação infantil para lúdica está diante da concepção única de
passatempo e diversão. A educação lúdica
muitos não é muito fácil, porém entendemos
é uma ação inerente na criança e aparece
que é no ato de brincar que a criança de
sempre como uma única forma transicional,
fato se socializa e desenvolve, já que ele é
em direção a algum conhecimento. (FALCÃO,
muito importante para o desenvolvimento
2002, p. 26).
psicológico e social da criança, e por meio dele

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Revista Educar FCE - Março 2019

CRIANÇA, JOGOS,
Compreender a relevância da atividade BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS
lúdica que está associada ao processo de NA EXPLORAÇÃO DO LÚDICO
aprendizagem ameniza um pouco a questão
de descaracterizar o ato de brincar como
sendo algo simples para elas, embora É por meio dos brinquedos, jogos ou
haja a intenção de possibilitar e promover brincadeiras que a criança tem a capacidade
o desenvolvimento e a aprendizagem, de desenvolver-se globalmente e sendo
em outras palavras, a incorporação de assim, tem aflorada a sua criatividade na
brincadeiras ou atividades que se façam conquista de seu espaço na educação infantil,
explorar diretamente o lúdico é valido em participando ativamente de ações conjuntas
todo o percurso da educação infantil como com as demais crianças, promovendo uma
um todo. integração que amplie além do lúdico o seu
cognitivo durante todo o seu processo de
De acordo com Novaes (1992) que nos aprendizagem.
afirma:
Por sua vez os espaços lúdicos precisam ser
O ensino, absorvido de maneira lúdica, ambientes que fomentem o desenvolvimento
passa adquirir um aspecto significativo e a aprendizagem de uma maneira geral,
e efetivo no curso de desenvolvimento especialmente com a socialização, e que cada
da inteligência da criança. Desse modo, etapa da educação infantil seja respeitada,
brincando a criança vai construindo e
fazendo menção a primeira infância, na qual
compreendendo o mundo ao seu redor.
constitui atividades livres e espontâneas
(NOVAES, 1992, p.28).
que possam auxiliar o papel do professor no
fornecimento de cada proposta pedagógica.
E será com base nessas definições que
constataremos que as crianças estão Segundo Ronca (1989) nos diz que:
desenvolvendo a criatividade, a imaginação
e a curiosidade, em um processo contínuo O movimento lúdico, simultaneamente,
que se inicia assim em que nasce, se torna-se fonte prazerosa de conhecimento, pois
caracterizando por meio de aquisições nele a criança constrói classificações, elabora
sucessivas de conhecimentos, articuladas sequências lógicas, desenvolve o psicomotor
e a afetividade, e amplia conceitos das várias
entre si e o mundo que a cerca.
áreas da ciência. (RONCA, 1989, p. 27).

Contudo o brincar é parte integrante do


mundo da criança, significando na prática
um instrumento capaz de não só trazer

660
Revista Educar FCE - Março 2019

aliado para o ensino, já que colocar o aluno


descontração aos pequenos, mas fornecer
diante de situações lúdicas como jogo pode
a eles a oportunidade de desenvolvimento ser uma boa estratégia para aproximá-lo dos
porque eles aprendem brincando e conteúdos culturais a serem veiculados na
experimentam novas linguagens que lhes escola. (KISHIMOTO, 1994, p. 13).
conferem habilidades extras e aguçam a
sua curiosidade, descobrindo cada vez mais
coisas novas, além de estimular a autonomia Com base nessa afirmação percebemos
e a autoconfiança, proporcionando-lhes uma quanto é importante saber lidar com as
maior concentração nas brincadeiras que atividades lúdicas nos diferentes espaços
envolvam o lúdico e o cognitivo durante e momentos, sempre planejando e
todo processo de aprendizagem. promovendo grandes conquistas e trocas de
experiências entre elas, lembrando-se que
De acordo com Vygotsky (1989) que nos essa é uma prioridade no papel do professor
afirma: de educação infantil. O lúdico sempre estará
relacionado a tudo que transmita prazer
A brincadeira, a criação de situações e alegria, e para isso um bom ambiente
imaginárias surge da tensão do indivíduo e harmonioso é inevitável no cotidiano das
a sociedade. O lúdico liberta a criança das crianças.
amarras da realidade. (VIGOTSKY, 1989,
p.84).
Quando consideramos que o professor
é na verdade uma figura fundamental na
Atualmente quem trabalha na educação educação dessas crianças, é fato relevante
infantil precisa necessariamente estar que a brincadeira sempre ocupe um excelente
preocupado com a maneira em que propicia espaço na vida delas. Sendo assim, jogos e
atividades lúdicas às crianças, demonstrando brincadeiras são uma fonte de puro prazer
total conhecimento na abordagem dessas e alegria, e faz com que a criança descubra
brincadeiras, jogos ou brinquedos para não aos poucos a concepção das atividades
perder o foco na construção da identidade da pedagógicas na contribuição do processo de
criança que dependerá de como as atividades ensino e aprendizagem.
serão apresentadas, sabendo-se que tanto os
jogos quantos os brinquedos e as brincadeiras A escola também tem o seu papel no
precisam estar atrelados a um propósito real, desenvolvimento das crianças e para isso
nunca devendo ficar na mesmice. um dos seus principais objetivos é o de
proporcionar a integração e a socialização
Para Kishimoto (1994) o jogo é: nesses espaços educacionais, criando
ambientes propícios para potencializar
Promotor da aprendizagem e do atividades lúdicas.
desenvolvimento, passando a ser considerado
nas práticas escolares como importante

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Revista Educar FCE - Março 2019

Segundo Friedman (1996) nos diz que: Segundo Dohme (2003) diz:

O jogo não é somente um divertimento [...] as atividades lúdicas podem colocar o


ou uma recreação. Atualmente o jogo não aluno em diversas situações, onde ele pesquisa
pode ser visto e nem confundido apenas e experimenta, fazendo com ele conheça suas
como competição e nem considerado apenas habilidades e limitações, que exercite o diálogo,
imaginação, principalmente por pessoas que liderança seja solicitada ao exercício de valores
lidam com crianças da educação infantil. ético e muitos outros desafios que permitirão
(FRIEDMANN, 1996, p. 75). vivências capazes de construir conhecimentos
e atitudes. (DOHME, 2003, p, 113).

Dentro dessa realidade alguns brinquedos


ou brincadeiras despertam o interesse das A aprendizagem por meio do lúdico é um
crianças na qual verificamos a possibilidade fator importante para que haja a apropriação
de vê-las expressarem alegremente o seu da imaginação, na qual a criança constrói
contentamento por meio do sorriso em seus seu mais alto nível de conhecimento,
lábios que por ora nos remete a olharmos conectando-se à fantasia, associando-a a sua
atentamente para dentro de nós com base própria realidade, ficando evidente o quanto
em uma revisão e reflexão de nossa prática os professores de educação infantil precisam
pedagógica, muitas das vezes sem finalidade trabalhar para alcançar tal objetivo.
nenhuma.
Conforme nos afirma o RCNEI - Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil
LUDICIDADE UMA (1998):
FERRAMENTA IMPORTANTE
NA EDUCAÇÃO INFANTIL [...] por meio das brincadeiras os professores
podem observar e constituir uma visão dos
processos de desenvolvimento das crianças
Como é de nosso conhecimento, é por em conjunto e de cada uma em particular,
registrando suas capacidades de uso das
meio do lúdico que a criança aprende a
linguagens, assim como de suas capacidades
agir cognitivamente e que a ludicidade
sociais e dos recursos afetivos e emocionais
para o ser humano é uma necessidade em
que dispõem. (VOLUME 1, 1998, p. 28).
qualquer idade e não pode ser vista apenas
como diversão ou passatempo porque o
desenvolvimento do aspecto lúdico facilita Todavia o lúdico na Educação Infantil
o desenvolvimento psicomotor, cultural precisa ser trabalhado desde cedo com as
e social da criança, além de estimular o crianças porque somente assim a criança terá
processo de socialização na construção do a possibilidade de ter o seu potencial elevado
conhecimento e de sua identidade. quando da questão do desenvolvimento

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Revista Educar FCE - Março 2019

e quando utilizamos o lúdico como uma De acordo com Redin (2000):


ferramenta nos ambientes de educação
infantil, fica bastante evidente o despertar de O lúdico é a mediação universal para o
um novo mundo, com base em seu universo desenvolvimento e a construção de todas as
infantil, contudo, precisamos esclarecer habilidades humanas. De todos os elementos
que quanto mais rápido a aprendizagem do brincar, este é o mais importante: o que a
criança faz e com quem determina a importância
for desenvolvida, mais rápido ela irá
ou não do brincar. (REDIN, 2000, p. 36).
compreender tudo o que está a sua volta.

Conforme nos afirma Kishimoto (2000): Portanto é na educação infantil que se


estimula a capacidade de criação, abstração,
Para Piaget ao manifestar a conduta fantasia, cognição, bem como os aspectos
lúdica, a criança demonstra o nível de seus emocionais e sociais na criança, promovendo
estágios cognitivos e constrói conhecimentos. assim os processos de socialização que
(KISHIMOTO, 2000, p.32). ajuda no desenvolvimento cognitivo,
possibilitando o seu crescimento intelectual
Partindo desse pressuposto o professor e motor. No entanto, estimular a criança a
é a peça fundamental nesse processo, brincar em um ambiente especialmente
devendo ser encarado como um elemento lúdico é se beneficiar da ferramenta com
essencial. Educar não se limita em repassar ousadia, ou seja, deixar que brincadeiras,
informações ou mostrar apenas um caminho, jogos, brinquedos e qualquer outro tipo de
aquele caminho em que o professor considera atividade venham acompanhados não só de
o mais correto, mas é ajudar a pessoa a um mero passatempo, mas de descobertas e
tomar consciência de si mesmo, do outro e conhecimento.
da sociedade.
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR
Por meio das atividades lúdicas os
conteúdos tornam-se cada vez mais NO DESENVOLVIMENTO DA
significativos, o ambiente escolar se torna CRIANÇA
mais alegre e o desenvolvimento físico,
afetivo e cognitivo da criança oportuniza-a Brincar para a criança é algo assim bem
em uma mediação entre vida e escola. Assim natural e espontâneo, porém para muitos
a brincadeira é, na verdade, uma forma de adultos o brincar é algum tipo de passatempo,
divertimento típico da infância da criança, ou seja, ao vermos uma criança querendo
ou seja, uma atividade natural que não chamar a nossa atenção para alguma
implica em compromisso, planejamento, coisa ou situação, dizemos logo a ela “vai
organização ou seriedade e que envolve brincar” e imediatamente a criança procura
vários comportamentos espontâneos e no ambiente alguma coisa para “fazer” ou
geradores de prazer. “brincar”, o que na realidade está

663
Revista Educar FCE - Março 2019

completamente errado essa nossa forma Como já vimos anteriormente, a escola tem
de pensar quanto ao ato de brincar para ela. por finalidade promover o desenvolvimento
global das crianças por meio de uma
Basicamente é um ato inerente à vida da aprendizagem bastante significativa e
criança desde sempre e jamais deveria ser por ser um espaço em que se aprende
desprezado tal ação, tal ato, de qualquer brincando, a brincadeira deve ser agregada
modo a criança aprende através do brincar ao desenvolvimento intelectual das crianças.
e mesmo que de maneira simbólica, ele Em outras palavras, a escola precisa valorizar
descarrega de forma agradável e prazerosa o lúdico porque somente assim haverá a
o seu excesso de energias contidas em um estimulação completa da criatividade e da
corpo que se movimenta para cima e para sociabilidade das crianças, além de fortalecer
baixo de um lado para o outro. os laços de afetividade entre elas e a escola.

Assim nos afirma Winnicott (1975): Todas as atividades que são realizadas
nos ambientes de educação infantil trazem
A criança brinca para buscar prazer, consigo o desenvolvimento psicomotor e
para controlar ansiedade, para estabelecer socioafetivo das crianças e será por meio
contatos sociais, para realizar a integração da do brincar que elas irão associar a intenção
personalidade, por fim para comunicar-se com das atividades, já que o lúdico é o nosso
as pessoas. (WINNICOTT, 1975, p. 32).
parceiro cotidiano. A criança se utiliza do seu
imaginário infantil para barganhar com os
Assim o brincar é uma combinação de ficção adultos, a fim de satisfazer seus mais remotos
com a realidade por meio de seu universo desejos, criando expectativas mesmo que
infantil, no qual elas vão incorporando de aquém de suas necessidades reais.
maneira lúdica a percepção da realidade e
representando em seu papel por meio do A ludicidade normalmente estimula a
imaginário infantil condição simples de ser expressão corporal da criança e a linguagem
criança, sempre crescendo e adquirindo mesmo que ela não tenha acesso a algum
conhecimento. tipo de brinquedo, mas ela sabe brincar, se
expressa muito bem quando algo lhe interessa,
De acordo com Vygotsky (1989) que nos assim, na medida em que a criança interage
diz que: com o outro e com os objetos aos poucos,
ela construirá relações sociais que irão
A criança aprende muito ao brincar. O que favorecer gradativamente o conhecimento e
aparentemente ela faz apenas para distrair-se estabelecerá uma sociabilização plena.
ou gastar energia é na realidade uma importante Segundo nos afirma Zanluchi (2005) que:
ferramenta para o seu desenvolvimento
cognitivo, emocional, social, psicológico. A criança brinca daquilo que vive; extrai sua
(VYGOTSKY, 1989, p.45).

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Revista Educar FCE - Março 2019

imaginação lúdica de seu dia-a-dia, portanto,


as crianças, tendo a oportunidade de brincar,
Ainda segundo Vygotsky (1998):
estarão mais preparadas emocionalmente
No brincar, a criança consegue separar
para controlar suas atitudes e emoções dentro
pensamento, ou seja, significado de uma
do contexto social, obtendo assim melhores
palavra de objetos, e a ação surge das idéias,
resultados gerais no desenrolar da sua vida.
não das coisas. (VYGOTSKY, 1998, p.127).
(ZANLUCHI, 2005, p.91).

De acordo com que nos afirma Oliveira


Na educação infantil uso do lúdico é (2000):
cercado pela utilização de metodologias que
façam parte de um aprendizado que preveja O brincar, por ser uma atividade livre que
ações que sejam adequadas e agradáveis não inibe a fantasia, favorece o fortalecimento
às crianças dentro do seu universo, da autonomia da criança e contribui para a
respeitando-se as suas características não formação e até quebra de estruturas
defensivas. [...] a menina não apenas imita e se
próprias e especialmente resguardando-as
identifica com a figura materna, mas realmente
de sofrerem quando adultas pela falta da
vive intensamente a situação de poder gerar
empregabilidade do brincar.
filhos, e de ser uma mãe boa, forte e confiável.
(OLIVEIRA, 2000, p. 19).
Para Vygotsky (1998), a essência do
brincar é:
No entanto, o processo de desenvolvimento
A criação de uma nova relação entre cognitivo ocorre de forma diferente em cada
o campo do significado e o campo da criança, na qual cada uma alcança estágios em
percepção visual, ou seja, entre situações no momentos também diferentes. Conhecendo
pensamento e situações reais. Essas relações os principais estágios do desenvolvimento
irão permear toda a atividade lúdica da criança,
infantil, a diferença existente entre eles, é
e serão também importantes indicadores do
possível estabelecer alguns princípios básicos
desenvolvimento da mesma, influenciando
que orientem a metodologia que deverá
sua forma de encarar o mundo e suas ações
ser adotada em atividades na educação
futuras. (VYGOTSKY, 1998, p. 137).
infantil. Nesse processo de construção do
conhecimento, as crianças utilizam os mais
Nesse pressuposto o brincar desempenha diferentes tipos de linguagens, exercendo a
um importante papel na socialização da capacidade que possuem de terem hipóteses
criança com o ambiente educacional, mas e ideias próprias e originais sobre tudo aquilo
para tanto podendo ser partilhado em que buscam conhecerem.
qualquer outro ambiente social, permitindo-
lhes aprender a relacionar-se com o outro
além de comunicar-se e cooperar na
autoestima.

665
Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando-se o tema abordado neste artigo, é
importante pensar em novas pesquisas que possam
evidenciar as interações ocorridas entre as crianças e seu
mundo por meio da cognição, a fim de que possamos avaliar
todos os níveis possíveis de apropriação de significados,
sejam eles normas e valores que são realizados enquanto se
desenvolvem as atividades lúdicas.
Para a criança é por meio do universo lúdico que se
abrangem os diferentes ambientes frequentados por ela, a
fim de que o lúdico venha servir de instrumento de mediação CLÁUDIA SILVA DOS
nas diversas relações que se evidencia. Para tanto a escola SANTOS
serve de facilitadora para que algumas atividades lúdicas
Formação em Magistério pelo
possam ocorrer, permitindo então uma interação maior entre
Instituto de Educação Sarah
escola e família, e ao mesmo tempo podendo favorecer uma Kubitschek (1989); Graduação
maior proximidade entre as crianças e os brinquedos ou em Letras pela Faculdade
brincadeiras nas quais ela está inserida. Unigranrio (1999); Especialista
É por meio de jogos, brinquedos e brincadeiras que se em Neurociência pela Faculdade
dá a promoção que desenvolve todo o aspecto cognitivo Campos Elíseos (2018);
e social destas crianças, reforçando as capacidades das Professora de Educação Infantil
crianças criarem perspectivas para lidarem com as diversas na rede municipal de São Paulo.
circunstâncias da vida.

666
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

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DOHME, Vânia. Atividades Lúdicas na educação: o caminho de tijolos amarelo. Petrópolis,


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FALCÃO, Ana Patrícia Bezerra. RAMOS, Rafaela de Oliveira. A importância do brinquedo


e do ato de brincar para o desenvolvimento psicológico de crianças de 5 a 6 anos. Belém,
2002.

FRIEDMANN, Adriana. Brincar: Crescer e aprender – o resgate do jogo infantil. São Paulo:
Moderna, 1996.

MEYER, Ivanise Corrêa Rezende. Brincar e Viver: Projetos em Educação Infantil. 4ª. Ed. Rio
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NOVAES, J.C. Brincando de Roda: Rio de Janeiro: Agir, 1992.

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1989.

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ZANLUCHI, Fernando Barroco. O brincar e o criar: as relações entre atividade lúdica,


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668
Revista Educar FCE - Março 2019

A CONTRIBUIÇÃO DO DIREITO EDUCACIONAL NA


EDUCAÇÃO BRASILEIRA DE QUALIDADE
O Direito Educacional no Brasil, é muito importante para a área educacional, principalmente
em relação à educação Básica, que devido a legislação vigente é gratuita e obrigatória. No
Brasil, muitas crianças não frequentavam as escolas de ensino, não aprendendo nem a
alfabetização, e principalmente não eram vistas como crianças e sim como adultos, tendo
que muitas vezes ter que trabalhar no lugar de estudar, e com as leis que foram promulgadas,
as crianças, tem seus direitos preservados, fazendo-o com que estude em todos os níveis
básicos da educação, que vai da educação infantil, ao ensino médio. A educação básica no
Brasil ganhou contornos bastante complexos nos anos posteriores à Constituição Federal
de 1988 e, sobretudo, nos últimos oito anos. Analisá-la não é fácil exatamente porque as
contingências que a cercam são múltiplas e os fatores que a determinam têm sido objeto
de leis, políticas e programas nacionais.

Palavras-chave: Direito Educacional; Educação Básica; Legislação.

669
Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO DIREITOS EDUCACIONAIS


O Brasil apresenta, de forma agravada, No Brasil, o Direito Educacional, tem no seu
algumas características próprias de países fundamento histórico como pilar o alvará de
em desenvolvimento, entre as quais enorme D. Sebastião, datado de 1564, onde o mesmo
desigualdade na distribuição da renda e fixava parte dos dízimos e direitos El Rei em
imensas deficiências no sistema educacional. todo Brasil, para aplicações missionárias. A
partir destes recursos, Portugal financiava e
Os PCN’S tem o objetivo de garantir a administrava o ensino jesuíta no Brasil.
todas as crianças e jovens brasileiros de
qualquer lugar do país o direito de usufruir O Direito Educacional é o conjunto de
do conjunto de conhecimentos reconhecidos normas, princípios, leis e regulamentos
como necessários para o exercício da que versam sobre as relações de alunos,
cidadania. professores, administradores, especialistas
e técnicos, enquanto envolvidos, mediata
A legislação garante ais educandos um ou imediatamente, no processo ensino-
estudo que visa o estudo da sociedade, a aprendizagem. É o conjunto de normas, de
sociologia, que demonstra o qual é importante todas as hierarquias: Leis Federais, Estaduais
te respeitar o próximo para termos uma vida e Municipais, Portarias e Regimentos que
social justa e igualitária. disciplinam as relações entre os envolvidos
no processo de ensino aprendizagem.
No Brasil, o Direito Educacional é
primordial para a área educacional, pois a O Direito Educacional é derivado do
necessidade de garantir uma adequada Direito Clássico, nem do Direito Romano
educação básica ao conjunto da população e e nem do Direito Histórico, pois o mesmo
de oferecer oportunidades de escolarização surge da contemporaneidade, ou seja, do
posterior a parcela crescente de jovens Direito Civilizado, isto é, que foi aplicado por
parece, finalmente, ter deixado de ser gerações civilizadas atuais.
apenas afirmação retórica de boas intenções
que ficam apenas no papel, e conforme a “"O Direito Educacional, como disciplina
legislação vigente as crianças, jovens e até nova que é, não pode ser visto e estudado
mesmo os adultos tem direito a educação tão somente dentro dos limites da legislação.
básica, mas não apenas quantitativa, e sim Muito ao contrário, deve ser tratado à luz
das diretrizes que lastreiam a educação e os
qualitativa.
princípios, que informam todo o ordenamento
jurídico. Tanto no caso das relações de trabalho
como nos relacionamentos da educação,
legislação seria apenas um corpo sem alma;
continua Susseking; uma coleção de leis

670
Revista Educar FCE - Março 2019

esparsas e não um sistema jurídico dotado de educação" É de grande relevância o Direito


unidade doutrinária e precisos objetivos, o que Educacional como sendo uma disciplina
contraria uma inquestionável realidade” autônoma, mesmo este sendo muito recente, é
FILHO (2010. p. 63) resultado natural da evolução da educação na
época contemporânea e do desenvolvimento
das ciências jurídicas.
A partir de 1917, que o Direito Educacional Ávaro Melo Filho (2010. p. 12)
começa a surgir, tendo como berço a
Constituição Mexicana. Daí ele desponta Segundo Amélia Hamze Profª FEB/CETEC,
com seus princípios e normas gerais que são o direito Educacional enfatiza três contornos
incluídos nos dispositivos constitucionais de principais:
forma mais vasta.
• O conjunto de normas reguladoras
No ano de 1919 uma nova constituição na dos relacionamentos entre as partes
qual já se dispunha dos princípios norteadores envolvidas no processo-aprendizagem;
da educação russa, visto que da antiguidade
até a época da Revolução Francesa, não se • A faculdade atribuída a todo
tinha expressa na constituição nenhuma ser humano e que se constitui na
referência sobre Direito Educacional. prerrogativa de aprender, de ensinar e
de se aperfeiçoar e
Direito Educacional não é diferente de
Legislação do Ensino, já que conceituamos • O ramo da ciência jurídica
o Direito Educacional como sendo um especializado na área educacional.
conjunto de normas, princípios, que reagem
as formas de transmissão de ensino para A Educação como Direito Social na
uma boa aprendizagem, isto é, que põe em Constituição Federal reza no seu Art. 6º, que
prática a Legislação de Ensino. Assim sendo, são direitos sociais: a educação, a saúde, o
a Legislação de Ensino se restringe ao estudo trabalho, o lazer, a segurança, a previdência
do conjunto de normas sobre a educação, o social, a proteção à maternidade e à infância,
Direito Educacional possui um campo mais a assistência aos desamparados. No Art.
abrangente. 205: A educação, direito de todos e dever
do Estado e da família, será promovida e
Segundo Ávaro Melo Filho (2010. p. 12) incentivada com a colaboração da sociedade,
o Direito Educacional está relacionado a visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
sociedade em que estamos inseridos. seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho.
"pode ser entendido como um conjunto
de técnicas, regras e instrumentos jurídicos A Educação é direito público subjetivo,
sistematizados que objetivam disciplinar e isso quer dizer que o acesso ao ensino
o comportamento humano relacionado à fundamental é obrigatório e gratuito; o

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Revista Educar FCE - Março 2019

não oferecimento do ensino obrigatório sistema educativo que o ministra, a um


pelo Poder Público (federal, estadual, conjunto específico de anos de escolaridade,
municipal), ou sua oferta irregular, importa correspondendo, na generalidade dos casos,
responsabilidade da autoridade competente. aos primeiros seis a nove anos.
Compete ao Poder Público recensear os
educandos no ensino fundamental, fazer- De acordo com a Classificação
lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou Internacional Normalizada da Educação
responsáveis, pela frequência à escola. (ISCED), a educação básica inclui:

De acordo com a Lei de Diretrizes e 1. Primeiro estágio ou educação


Bases da Educação Nacional nº. 9394/96, a primária: correspondente à
Educação Básica compreende as seguintes aprendizagem básica da leitura, da
níveis: escrita e das operações matemáticas
simples;
• Educação Infantil (de crianças de 04
meses á 05 anos); 2. Segundo estágio ou ensino
secundário inferior: correspondente à
• Ensino Fundamental (de crianças de consolidação da leitura e da escrita e às
06 anos á 14 anos); aprendizagens básicas na área da língua
materna, história e compreensão do
• Ensino Médio (de 14 anos a 17 anos). meio social e natural envolvente.

As suas modalidades são: educação Alguns sistemas educativos, em particular


especial, educação de jovens e adultos, os de países em desenvolvimento, incluem
educação profissional, e com a nova na educação básica a educação pré-escolar
legislação do ensino de história na sociedade e os programas de ensino de segunda
vigente, fica obrigatório inserir no currículo oportunidade destinados à alfabetização
escolar a educação indígena e afro-brasileira. de adultos, dando ao educando que não
frequentou o ensino regular a oportunidade
EDUCAÇÃO BÁSICA NO de conclui-lo, com objetivo de uma
educação para todos e promover melhora do
CONTEXTO HISTÓRICO desenvolvimento social.
BRASILEIRO
No Brasil, a educação básica compreende
A educação básica ou ensino básico é o a educação infantil, o ensino fundamental e o
nível de ensino correspondente aos primeiros ensino médio, e tem duração ideal de dezoito
anos de educação escolar ou formal. Esta anos. É durante este período de vida escolar
denominação corresponde, consoante o que toma-se posse dos conhecimentos

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Revista Educar FCE - Março 2019

mínimos necessários para uma cidadania A fonte principal dos recursos federais
completa. Serve também para tomada de provém dos 18% da receita líquida de
consciência sobre o futuro profissional e área impostos que, por injunção constitucional,
do conhecimento que melhor se adapte. são destinados à educação.

O papel fundamental que deve caber ao A competência normativa e a necessidade


Ministério da Educação é o de constituir uma de modernização
instância de formulação da política nacional,
de orientação e coordenação dos sistemas O orçamento constitui o instrumento mais
de ensino, assim como o de redistribuição eficaz de atuação política do Ministério.
de recursos, de forma a compensar as É através da distribuição criteriosa dos
disparidades locais e regionais, em benefício recursos que o MEC pode cumprir suas
da população como um todo. Associado funções supletivas, redistributivas e,
ao papel redistributivo, cabe-lhe também inclusive, as de coordenação do sistema. Para
um papel supletivo, no sentido de atuar esta última finalidade conta, entretanto, com
em áreas nas quais estados e municípios outros instrumentos, que derivam de suas
não encontram condições ou recursos atribuições normativas e se consubstanciam
para satisfazer às necessidades do sistema em decretos, instruções, projetos de
educacional. lei enviados ao Congresso Nacional e
regulamentações burocráticas em geral. O
O Ministério possui dois instrumentos Conselho Federal de Educação é o principal
básicos para cumprir suas funções. O primeiro organismo de regulamentação. Relativamente
é o orçamento; o segundo, sua competência aos 1º e 2º graus, o instrumento fundamental
normativa. do Conselho é o estabelecimento do
currículo mínimo, que deve garantir uma
O orçamento base uniforme na formação escolar em todo
o território nacional. No ensino superior,
Como vimos, no conjunto dos recursos além do currículo mínimo, o Conselho conta
públicos destinados à educação, a ainda com o poder do credenciamento das
participação federal é de 26%, portanto instituições e o reconhecimento dos cursos.
bem menor que a dos estados (45,2%) e dos No caso de instituições de ensino que não
municípios (28,6). Entretanto, ao passo que são universidades, depende do Conselho,
estes últimos estão dispersos, os recursos inclusive, a fixação do número de vagas.
federais estão altamente concentrados em
uma única instância decisória, o MEC, e A Constituição Federal no Art. 227, diz: "É
têm, por isso mesmo, um peso muito grande dever da família, da sociedade e do Estado
dentro do sistema. assegurar a criança e ao adolescente, com
absoluta prioridade, o direito a vida, a

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Revista Educar FCE - Março 2019

saúde, a alimentação, a Educação, ao lazer, Educação Básica, juntamente com o ensino


a profissionalização, a cultura, a dignidade, ao fundamental e o ensino médio. Segundo a
respeito, a liberdade e a convivência familiar LDB em seu artigo 29:
e comunitária, além de colocá-lo a salvo de
toda forma de negligencia, discriminação, “A educação infantil, primeira etapa da
exploração, violência, crueldade e opressão" educação básica tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança até seis anos
Ao ressaltar que a educação é direito de idade, em seus aspectos físico, psicológico,
intelectual e social, complementando a ação da
público subjetivo (direito social ao acesso ao
família e da comunidade”.
ensino fundamental), dizemos que todos têm
direito à educação e que é na origem da fonte
de direito, na Constituição Federal, Estadual Segundo os Referenciais, o papel da
ou Municipal, que habita esse direito. educação infantil é o CUIDAR da criança em
espaço formal, contemplando a alimentação,
No Brasil, segundo Emenda Constitucional a limpeza e o lazer (brincar). Também é
nº 59, de 11 de novembro de 2009 seu papel EDUCAR, sempre respeitando o
- Desvinculação das Receitas da União caráter lúdico das atividades, com ênfase no
incidente sobre os recursos destinados à desenvolvimento integral da criança.
manutenção e desenvolvimento do ensino de
que trata o art. 212 da Constituição Federal, Não cabe à educação infantil alfabetizar a
dá nova redação aos incisos I e VII do art. criança. Nessa fase ela não tem maturidade
208, de forma a prever a obrigatoriedade neural para isso, salvo os casos em que
do ensino de quatro a dezessete anos, a alfabetização é espontânea, por isso a
sendo assim a educação básica encontra-se ênfase da educação infantil é ESTIMULAR
dividida nas seguintes etapas: as diferentes áreas de desenvolvimento da
criança, aguçar sua curiosidade, sendo que,
• Educação Infantil: para isso, é imprescindível que a criança
esteja feliz no espaço escolar.

• Ensino Fundamental:

Desde 1996 com a nova Lei de Diretrizes


e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96),
a educação infantil passou a integrar a

674
Revista Educar FCE - Março 2019

Anos Finais – compreende do 6º ao 9º


ano.

Os sistemas de ensino têm autonomia


para desdobrar o Ensino Fundamental em
ciclos, desde que respeitem a carga horária
mínima anual de 800 horas, distribuídos em,
no mínimo, 200 dias letivos efetivos.

A responsabilidade pela matrícula das


crianças, obrigatoriamente aos 6 anos de
idade, é dos pais. É dever da escola, tornar
público o período de matrícula.

Além da LDB, o Ensino Fundamental é


O Ensino Fundamental é um dos níveis regrado por outros documentos, como as
da Educação Básica no Brasil. O Ensino Diretrizes Curriculares Nacionais para o
fundamental é obrigatório, gratuito (nas Ensino Fundamental, o Plano Nacional de
escolas públicas), e atende crianças a partir Educação (Lei nº 10.172/2001), os pareceres
dos 6 anos de idade. e resoluções do Conselho Nacional de
Educação (CNE) e as legislações de cada
Desde 2006, a duração do Ensino sistema de ensino.
Fundamental, que até então era de 8 anos,
passou a ser de 9 anos. A Lei de Diretrizes • Ensino Médio:
e Bases da Educação (LDB 9395/96) foi
alterada em seus artigos 29, 30, 32 e 87,
através da Lei Ordinária 11.274/2006, e
ampliou a duração do Ensino Fundamental
para 9 anos, estabelecendo como prazo para
implementação da Lei pelos sistemas de
ensino, o ano de 2010.

O Ensino Fundamental passou então a ser


dividido da seguinte forma:
O ensino médio consiste na última etapa
Anos Iniciais – compreende do 1º ao 5º na educação básica no Brasil. Ele tem a
ano, sendo que a criança ingressa no 1º ano duração média de três anos e antecede o
aos 6 anos de idade. ingresso ao ensino superior.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O objetivo desta etapa de ensino é dar uma tornar obrigatório o ensino médio,
formação voltada para o mercado de trabalho, disponibilizando mais vagas para atender a
além de aprimorar os conhecimentos do todos os concluintes do ensino fundamental,
cidadão já adquiridos nas etapas anteriores e conforme o estabelecido no Plano Nacional
como ser humano dotado de razão. de Educação (PNE).

Ainda que o ensino médio seja a etapa O ensino médio também pode ser
final da educação básica, ele ainda não é oferecido junto com a formação para o
considerado obrigatório e de acordo com a exercício de profissões técnicas, desde que
Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação, esta modalidade de ensino atenda a formação
esta responsabilidade é dos Estados. Eles e o objetivo geral desta etapa.
têm esta função de, progressivamente,

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Constituição Federal de 1988, diferentemente da maioria
dos instrumentos internacionais com força normativa, faz
menção expressa à importância da qualidade da educação,
tratando-a como um princípio basilar do ensino a ser
ministrado, conforme se verifica no inciso VII do artigo 206;
assim sendo, ela garante o direito à educação com “padrão
de qualidade” para todos. Mas é a Educação Básica dos 04
aos 17 anos de idade que foi aclamada como obrigatória
e gratuita (BRASIL, CF, art. 208, inciso I, EC 59/2009), CLEONE ROBERTA DE
considerada um direito público e subjetivo, sendo dever do SOUZA
Estado promovê-la (BRASIL, CF, art. 208, § 1º). Por isso, este
Graduação em Pedagogia
trabalho focou a análise do direito à qualidade da Educação
pela Faculdade Metropolitana
Básica e nas possibilidades de ser exigido juridicamente, ou de Santos, Estado de São
seja, na sua justiciabilidade, pois somente ele implica em uma Paulo (2010); Especialista em
obrigação positiva do Estado. Desse modo, verificou-se que Artes Visuais pela Faculdade
a Constituição Federal, sem dúvida alguma, sendo a matriz Metropolitana de Santos, Estado
das demais legislações, é a que mais claramente traduz a de São Paulo. (2015); Professora
exigibilidade jurídica do direito à qualidade da Educação de Ensino Básico no CEI – Centro
Básica, quando destaca que o ensino será ministrado com de Educação Infantil Diretora
base na garantia do padrão de qualidade (BRASIL, CF, art. Elfrida Zukowski Jardim.
206, VII), sendo dever do Estado assegurar gratuitamente a
Educação Básica dos 04 aos 17 anos de idade (BRASIL, CF,
art. 208, I). Além disso, determina que o acesso ao ensino é
direito público subjetivo (BRASIL, CF, art. 208, § 1º) e que,
quando este não for oferecido pelo Poder Público, ou for
oferecido de forma irregular, importa responsabilidade da
autoridade competente (BRASIL, CF, art. 208, § 2º). Essa
oferta irregular significa que não condiz com a normalidade,
com a regularidade, sendo contrária à lei ou à justiça.
No caso da qualidade da educação, mais especificamente
da Educação Básica, a Constituição Federal, além do artigo
206, inciso VII, consagra também, no artigo 211, parágrafo
primeiro, que cabe à União, em matéria educacional, a função
redistributiva e supletiva, de forma a garantir o padrão
mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica
e financeira aos estados, ao Distrito Federal e aos

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Revista Educar FCE - Março 2019

municípios.
Melhorar a educação é fundamental para qualquer sociedade
crescer de forma sustentável no longo prazo com justiça social,
ou seja, melhorar a educação no Brasil para que possamos
crescer mais, com mais produtividade e justiça social.
A educação melhora a produtividade dos trabalhadores e de
suas firmas, facilitando inovações tecnológicas e a aplicação de
novas técnicas gerenciais. Além disso, como a elite econômica
de qualquer país já tem um alto nível educacional, aumentos
posteriores na escolaridade e na qualidade da educação
favorecem principalmente as famílias mais pobres, aumentando
a ascensão social e a mobilidade Inter geracional e diminuindo a
pobreza e a desigualdade.
Portanto, temos no Direito educacional, a porta aberta da
interação entre, educando (alunos), e educador, instituição
educacional (escola) e sociedade (comunidade). Assim sendo,
estamos com certeza utilizando o Direito Educacional como um
recurso para o desfecho do processo de ensino e aprendizagem
não apenas quantitativo, mas também qualitativo.
Para ensinar a ler e a escrever é preciso que o profissional da
área da educação seja esse tipo de modelo, consequentemente
será mais fácil ter um aluno leitor e produtor eficiente.
Os responsáveis pela educação básica no Brasil devem se
preocupar com a formação daqueles que prepararam os futuros
leitores, porque se na base houver o interesse e a habilidade na
leitura, quando adulto, esta habilidade tenderá a estender nos
níveis superiores da educação.
Portanto nas instituições de ensino é fundamental que usem o
lúdico em sala de aula para conseguir alfabetizar os alunos, pois
assim aprendem por prazer, e todas as informações transmitidas
tornará em aprendizagem, pois por meio das brincadeiras, o
educando encontra apoio para superar suas dificuldades de
aprendizagem, e consegue viabilizar uma maneira de achar
soluções, e superá-las, e não apenas memorizar.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Fundamental. 2. ed. RJ: DP&A, 2000.

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Revista Educar FCE - Março 2019

OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO
INCLUSIVA NO ENSINO REGULAR
RESUMO: Hoje muito se fala no termo inclusão, que consiste em inserir crianças com
deficiências em ambientes acolhedores e com profissionais preparados, garantindo
oportunidades e equidade, porém inúmeros desafios são encontrados. O equívoco no
entendimento do conjunto dessas ações provoca a necessidade de rever essas práticas.
O aluno com deficiência não pode se sentir diminuído ou fracassado, é necessário buscar
estratégias no planejamento para que a adaptação seja mais um benefício na busca pelos
seus direitos. Aceitar a diversidade, eliminar barreiras e pensar no coletivo, são maneiras
de alcançar o respeito e mudar o sistema educacional excludente e seletivo. A reflexão é a
resposta para muitas perguntas.

Palavras-Chave: Inclusão; Deficiência; Profissionais; Prática; Diversidade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO
Esse artigo apresenta uma reflexão sobre Existem diferentes formas de aprender
a inclusão escolar na rede regular de ensino. e ensinar, mas o que se vê são ambientes que
A educação inclusiva se tornou um processo não acolhem, recebem e profissionais que
educacional ambivalente, na qual valorizar não se atualizam para atender o novo não
a diferença, com base na semelhança é acompanham as mudanças. É necessário sair
garantido na legislação, porém o grande da comparação e valorizar as oportunidades,
desafio é efetivar as ações e promover uma repensando suas práticas, buscando
educação de qualidade e equidade, com uma estratégias e se ajustando ao novo sistema
pratica pedagógica que contemple a todos. educacional. O aluno com limitação precisa
Unir as dicotomias Educação Inclusiva e ter suas habilidades estimuladas, superando
Educação Regular irá garantir o acesso seus medos sem a resistência dos que o
e a permanência dos alunos e minimizar rodeia.
a carência de pessoas que já sofreram
discriminação.
POLÍTICA PÚBLICA X INCLUSÃO
Compreender a complexidade desse
tema, ampliar o conhecimento e trabalhar O termo inclusão é muito vasto e aborda
com a diversidade; assegura o direito tanto no lado educacional quanto no lado
dos alunos de serem atendidos nas suas social. Muito já se sabe sobre o assunto,
respectivas necessidades. Repensar o porém muito esclarecimentos ainda
sentido de inclusão é o primeiro passo para precisam ser alunados. A política pública,
realizar a singularidade de um ensino tão há algumas décadas viabilizam alternativas
descaracterizado do seu real objetivo. para a melhoria do ensino e garantir assim
a inserção e a integração dos alunos que
Hoje a educação inclusiva busca e encontram atrasados em razão de suas
posicionamento de todos os setores da necessidades.
educação, visto que a reformulação dos
parâmetros não está sendo aplicado na Muitas vezes esses alunos encontram
prática. Não basta conhecer, é preciso abordar dificuldades para que a lei, as medidas e suas
o tema, respeitar o ritmo e acompanhar quem ações sejam concretizadas e seus direitos
busca o ideal e não o real. Vale ressaltar que conquistados.
a inclusão não é tarefa fácil, mas necessária
e buscar formação, apoio e ação, assim é o Acesso ao ensino regular, com participação,
melhor caminho. aprendizagem e continuidade nos níveis
mais elevados do ensino; transversalidade da
modalidade de educação especial desde a

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Revista Educar FCE - Março 2019

educação infantil até a educação


superior; oferta do atendimento educacional
sabe-se que a democratização continua em
especializado; formação de professores para
detrimento com a qualificação e a efetivação
o atendimento educacional especializado; da lei que tanto bem faria se fosse realmente
formação de professores para o atendimento eficaz.
educacional especializado e demais profissionais
da educação para a inclusão; participação Preparar o aluno para a vida oferecendo
da família e da comunidade; acessibilidade subsídios e ensinando o respeito à diversidade
arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, chama-se desenvolvimento.
nas comunicações e informação; e articulação
intersetorial na implementação das políticas O alcance da meta é uma tarefa que exige
públicas (BRASIL, 2008, p15) práticas em benefícios da equidade e da
qualidade.
Hoje é comum a interpretação equivocada
do tema, pois a ênfase no individual ainda
prevalece. A ignorância que acerca o assunto QUALIDADE DE ENSINO
é ainda muito discutido e precisa ser
reforçada para que seja relevante o trabalho O direito à educação é uma luta histórica
com eles. e o caminho para melhorar as condições de
vida é obrigação de todos. A perspectiva de
Incluir pessoas com necessidades especiais uma escola com qualidade no ensino, com
com alunos citados como “normais” diminui suas limitações se vincula ao movimento
os danos causados. em defesa a necessidade de transformação
do sistema regular, que vem consequência
A descentralização da educação especial, atinja a todos.
currículo diversificado e recursos apropriados
foram formas para suprir a carência e a Os sistemas de ensino devem matricular
emergência da reorganização da educação. A todos os alunos, cabendo às escolas organizar-
educação inclusiva não é diferenciada, existe se para o atendimento aos educandos
uma trajetória que possibilita analisar sua com necessidades educacionais especiais,
assegurando as condições necessárias para
importância. O crescente número de alunos
uma educação de qualidade para todos (MEC/
com necessidades especiais na rede regular
SEESP, 2001)
de ensino, nos remete a uma redefinição
da implementação e ruptura das ações já
existentes. Medidas destinadas ao desenvolvimento,
o debate tem por objetivo abranger a
O fator social modificou o sistema escolar educação especial que faz parte da educação
e destacou a inclusão como elemento comum. É importante ressaltar que número
determinante para abolir a desigualdade, mas quantitativo não remete a qualidade.

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Matrículas, profissionais e recursos não de inclusão e enfrentar as dificuldades é uma


garantem comprometimento e sim práticas e forma de se comprometer e transformar a
estratégias. vida dessas crianças.

É imprescindível que o percurso para a A implantação da educação inclusiva exige


efetivação seja por meio dos investimentos, constantes questionamentos, dinâmica e
políticas públicas, acessibilidade, currículo, mudanças, favorecendo a formação do aluno
mas é importante deixar claro que o ambiente na área social e cognitiva. Porém existem
(escola) e o profissional (educador) também desafios a serem encarados. O educador
precisam estar preparados, para que se se sente despreparado para receber alunos
alcance o objetivo desejado. inclusivos e não encontra estímulo para
mudar a sua prática. A ignorância que
Para melhorar a qualidade de ensino, envolve o educador acerca do assunto é um
todos devem estar envolvidos, pois na problema que impede o caminho a solução.
busca da qualidade exclusão não se encaixa.
Autonomia, flexibilidade e adaptação Participar de cursos e formação
são formas de alcançar nem que sejam continuada, utilizar os recursos disponíveis,
parcialmente os resultados. usar suas habilidades e conhecimentos,
sendo mediador, contribuem no processo de
Há distanciamento entre as políticas aprendizagem e oportunidades.
públicas e a escola/funcionários (prática),
sendo preciso sem dúvida, aprofundar e Se preparar para a diversidade, ter um
persistir para que ninguém seja eximido de projeto político pedagógico que funcione
sua responsabilidade e assim o aluno que e superar os obstáculos é a função do
é o único alvo tenha a oportunidade de ser educador. É ele que deve procurar subsidio
assistido por todos, permanecendo assim para que a sua aula faça diferença na vida do
a parceria escola, governo, família, aluno e aluno.
sociedade.
Refletir sobre suas práticas, intervir
quando necessário, perceber a importância
PAPEL DO EDUCADOR da afetividade, aplicar estratégias, tudo
com medidas destinadas à aceitação das
O educador está inserido num meio diferentes. O educador é o instrumento, é a
que vive em constante mudança. São possibilidade e é o vínculo pedagógico que
experiências diárias e rótulos que carregam deve acrescentar ao nosso percurso. Não
pela maioria. É um trabalho constante e basta acolher, é preciso se comprometer e
suas interferências podem responder suas criar condições para o seu desenvolvimento,
dúvidas e meios. Compreender o processo preparando-os para a vida.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Para que a escola se torne inclusiva é los, encontrando caminhos para consolidar
preciso valorizar a diversidade, mudar sua um melhor atendimento para as crianças que
consciência e ter o aluno como elemento já nascem excluídas.
enriquecedor. Perseverança e persistência,
mudança no modo de trabalhar e respeitar O desconhecido assusta, mas algumas
a individualidade, só traz benefícios para medidas precisam ser implementadas para
todos, alcançando para que se espere o somar os problemas que tanto causam
ingresso e a permanência. desigualdades. As práticas diminuem a
carência e aumentam as oportunidades.

PAPÉIS DA ESCOLA
INFLUÊNCIA NA
A educação pública mantém índices EDUCAÇÃO INCLUSIVA
altos que continua no sistema educacional.
Questionar a inclusão não é suficiente para
resolve o problema, mas conhecer o processo A educação inclusiva e suas barreiras é uma
e ir atrás de soluções. significativa discussão, no entanto pouca
atenção tem sido dada as particularidades
Analisar as características dos alunos, do problema. A educação inclusiva vem do
acolher estratégias e criar condições para ambiente social e sofre influências externas,
que o aluno e a família se sintam dignos porém é no ambiente escolar que o aluno
e estimulados a encontrar sua própria ganha força.
identidade. A escola precisa se transformar,
se adequar e caminha em direção ao seu Até o momento, há pouca
objetivo, valorizando e respeitando o aluno concordância entre teoria (políticas públicas)
como individuo capaz que busca o seu lugar e prática (escola), apesar das necessidades
na sociedade. de mudanças, é difícil ignorar que acesso
e permanência ainda estão longe de serem
São formas de minimizar e combater inseparáveis.
essa exclusão tão nítida. Ações e metas,
acompanhamento do trabalho docente até A escola precisa incluir da melhor forma
alcançar a satisfatória. possível, refletindo o processo de inclusão,
buscando informações e fornecendo
O papel da escola é ser um espaço social, instruções. Se adaptar a nova realidade é
que oferece para ser ouvinte, contribuindo função de todos, buscando qualificação,
para suas funções explícitas. O desafio quebrando resistência e não transferindo
enfrentado pelas escolas é lidar com a responsabilidade. O educador com
diversidade e encontrar formas de superá- intervenções diárias, rotina, metodologias

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diferenciadas levará o aluno a conhecer todas as formas de comunicação, socialização e


compreensão.

Durante todos esses anos, foi percebido que os alunos precisam de apoio e recursos que
realçam suas habilidades. É importante ressaltar que o aluno inclusivo não é incapaz, ele é
diferente e por isso que família e escola precisam trabalhar em parceria.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo tem como objetivo apresentar a situação
dos alunos com necessidades especiais na rede regular de
ensino. É resultado de pesquisas bibliográficas, no qual
se pode concluir que a Educação Inclusiva é um processo
educacional gradativo e constante. A inclusão escolar é uma
ação urgente, com medidas destinadas à busca de identidade
e a valorização da diversidade, igualando as oportunidades
com comprometimento e responsabilidade.
CRISTIANE AMARO
Hoje muito se fala de exclusão, preconceito e discriminação, DA SILVA
porém existe a possibilidade de minimizar as dificuldades
Graduação em Pedagogia pela
que os alunos encontram ao se deparar com o novo. É um
Universidade da Cidade de
desafio para pais e profissionais da educação, pois para incluir São Paulo (2014); graduação
é necessária uma busca constante de informação. Esses em História pelo Instituto
obstáculos encontrados no trajeto amplia o aprendizado de Superior de Educação Elvira
ambos. Dayrell (2016); pós-graduada
em Educação Inclusiva pela
A inclusão é um ideal no qual romper barreiras, traçar metas Faculdade Campos Salles (2018);
e articular ações ressalta a importância para esses alunos no Professora de Educação Infantil
pertencer e no conviver, mudando o olhar e sugerindo uma e Ensino Fundamental I - na
transformação, desafiando a ruptura e a postura de todos. EMEF João Ribeiro de Barros,
Professora de Educação Básica I
Potencializar a adaptação desses alunos torna-os mais - na EE Annita Guastini Eiras.

confiante, mais compreensivos e mais capazes. É o melhor


benefício no processo ensino-aprendizado.

Com o intuito de refletir a inclusão social deve-se mudar


o pensamento da sociedade e o parâmetro para classificá-
lo, levantando questionamento e considerando os entraves
como experiência e integração, humanizando-os.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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CAVALLEIRO, E. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na


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WALLON, H. Psicologia da Educação e da Infância. Lisboa, Portugal: Editorial Estampa, 1975.

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Revista Educar FCE - Março 2019

PSICOMOTRICIDADE: O ESTÍMULO
PELA ATIVIDADE LÚDICA
RESUMO: O desenvolvimento infantil é composto de vários processos complexos de abrangem
aspectos fisiológicos, cognitivos, emocionais e comportamentais, além do universo das relações
que produzem estímulos significativos para o processo de maturação do indivíduo. A criança
descobre o mundo, e a partir desta descoberta constrói a própria concepção de existência. A
família e a escola são os primeiros contatos que a criança têm nos primeiros anos de vida. E
os personagens que compõe estes grupos são fundamentas para o processo de maturação da
criança. Na fase escolar, fora do contexto da família a criança passa a ter seu desenvolvimento
integrado a técnicas e saberes que otimizaram o seu processo de aprendizagem, é neste
momento que a Psicomotricidade entra como uma ciência neurofuncional, que compreende
o homem como um ser totalitário e que os aspectos que compões sua existência atuam
como um sistema integrado reagindo e interagindo o tempo todo durante o processo de
desenvolvimento ao logo da vida. No universo infantil, para que a criança consiga se desenvolver
de forma saudável e efetiva, a atividades lúdicas, ou seja, o contato com o mundo por meio das
brincadeiras e atividades motivadoras e prazerosas, são ferramentas eficazes que associadas
a psicomotricidade atuam como facilitadores para qualidade do trabalho dos educadores que
atuam com estas ferramentas. Este trabalho buscou mediante a esta revisão bibliográfica
abordar a associação das duas ferramentas, fomentando sobre o benefício desta associação
para o desenvolvimento infantil e o trabalho do educador.

Palavras-Chave: Inclusão; Deficiência; Profissionais; Prática; Diversidade.

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INTRODUÇÃO as crianças. A psicomotricidade toma como


ferramenta o lúdico no desenvolvimento
A criança cresce e se desenvolve infantil, rompendo com o paradigma clínico
naturalmente como em qualquer processo da prática, assim o profissional educador, que
maturação orgânico, entretanto para que atua levando consideração o universo lúdico
esse desenvolvimento ocorra de forma da criança, pode trabalhar na promoção de
saudável é de extrema importância o contato um desenvolvimento motor abrangente,
com o mundo. Pela brincadeira é possível que potencializa as possibilidades e
perceber as capacidades e habilidades, aprendizagem e superação dos desafios que
motoras, inteligíveis, emocionais e sociais da possam aparecer durante o desenvolvimento
criança e observar se o seu desenvolvimento infantil.
psicomotor está ocorrendo dentro do
previsto para cada fase do desenvolvimento De acordo com Périco (et al. 2015), a
humano. Os pais, a família e os psicomotricidade, contribui de maneira
educadores, no contato diário com a totalitária para esse desenvolvimento,
criança, possuem um papel fundamental visando uma educação integra e abrangendo
neste processo de maturação, pois apenas todas as funções, sendo as cognitivas,
no descobrir o outro a criança conhece a si inteligíveis, motoras, emocionais e sociais.
mesma, isso só é possível por meio destas
relações. Nos primeiros anos de vida a Para Beckert (2015), fica cada vez mais
criança se desenvolve e aprende por meio evidente que o desenvolvimento psicomotor
da observação e da curiosidade, no entanto atua potencialmente nos processos de
quando existe o estimulo esse processo é aprendizagem e alfabetização, por possuir
ainda mais efetivo, pois além de desenvolver o que segundo a autora denomina a “dupla
suas capacidades motoras, intelectuais função” de ser preventivo e terapêutico,
e sociais, ela pode também desenvolver considerando que a ação psicomotora amplia
habilidades específicas relacionadas ao as possibilidades de controlar o corpo e a
mundo acadêmico, artístico como: música, mente, assim como as funções adaptativas
dança, artes plástica e também modalidades com o meio onde a criança está inserida.
esportivas.
Associar a psicomotricidade a brincadeira
Todas estas habilidades podem ser é facilitar o desenvolvimento da criança
associadas as atividades por meio das integralmente, permitindo que o indivíduo
brincadeiras, tanto em casa quanto na escola. amplie seu entendimento sobre suas
As atividades lúdicas possuem um valor capacidades corporais, coordenação motora
extraordinário quando se trata de desenvolver global, lateralidade, força, além de aumentar
aspectos emocionais e afetivos, além de a percepção, atenção e concentração,
estimular a criatividade e sociabilização entre convívio social, compreender a importância

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Revista Educar FCE - Março 2019

e a diferença entre ganhar e perder. (SOUZA Platão dizia que o corpo era separado
et al, 2017) da alma, como uma caixa ou morada
temporária que preservava um espírito
Este estudo considerou os desafios imortal. Já Aristóteles defendia que o corpo
envolvidos no processo de aprendizagem humano era uma matéria produzida pelo
em esferas global, o desenvolvimento da espírito, afirmando que a alma tinha forma
psicomotricidade nasce não apenas como física, originando os primeiros estudos
um campo de estudo e observação do psicomotores, sobre a ginástica na época,
desenvolvimento, mas como ferramenta e como a atividade física beneficiava o
essencial para ampliar as formas de desenvolvimento e condicionamento físico.
aprendizagem, que neste contexto podem (MATTOS, 2016 p.9)
estimular o autoconhecimento e domínio
sobre o próprio corpo, as emoções e adesão Os atenienses, por exemplo, cultuavam
de novas habilidade. Assim, este estudo o corpo, valorizando a prática de exercícios
pretendeu produzir uma reflexão sobre a de ginástica para educação corporal, já os
amplitude do desenvolvimento psicomotor soldados romanos e espartanos faziam uso
para as crianças através da brincadeira e os das técnicas para o condicionamento físico
benefícios desta associação. e treinamento para combate. (SOUZA, 1997
p.21)

PSICOMOTRICIDADE O principal conceito da psicomotricidade


nasceu da Neurologia. Os médicos que
É evidente que eu, minha alma, pela qual investigavam patologias que acometiam
sou o que sou, é completa e verdadeiramente os córtex cerebrais, mapearam o cérebro e
diferente do meu corpo, e pode ser ou elaboraram um modelo anátomoclínico para
existir sem ele.” “Penso, logo existo.” cada sintoma que haviam necessariamente
(DES¬CARTES,1979 p. 84). que corresponder a uma lesão anatómica,
o que chamaram de “Método estático
Historicamente a psicomotricidade aparece anátomoclínico” que associava cada
vinculada a valorização do corpo, por meio da sintoma uma lesão específica no cérebro
exposição da musculatura, delineada e perfeita, correspondente (relação direta e de
muito comum na antiguidade, pois esta, causa¬lidade entre a lesão e os sintomas).
representava a força masculina da época. Esta (MATTOS, 2016 p.10)
concepção histórica é ainda mais profunda,
os filósofos e pensadores neste período, e Essa época foi considerada o período
buscavam compreender o funcionamento e localizacionista onde o corpo estaria representado
a composição dos tecidos e músculos que no cérebro, de cabeça para baixo, na parte superior
revestiam a alma. (TAILLE et al., 2004 p.95) e externa do cérebro, em ambos os lados com
representação motora na frente e sensitiva atrás.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Nesse momento histórico, o corpo era visto como


uma máquina. (MATTOS,2016 p.20)
psíquicas, à inteligência e à afetividade
contradizendo a ideia de que o corpo e
mente são aspectos humanos que atuam
Desde então estudos sobre os movimentos separadamente, mas sim reafirma a
corporais foram aprofundados e rodeados interdependência de ambos. Esta etiologia
de diversas teorias, passando por Rene de Dupré, foi seguida posteriormente por
Descartes no século XVIII, que desassociava vários autores sendo estes; HEAD com
o pensamento dos movimentos corporais, a teoria do Esquema Corporal; SHLIDER
a pensava que a alma não atuava sobre a as com a imagem do corpo; Piaget, que
funções executivas motoras. Por seguinte, no aprofundou suas pesquisas em compreender
século XIX, os estudo sobre a neurofisiologia o desenvolvimento das crianças e Wallon
que associava as disfunções motoras apenas (1925), com a teoria das emoções e tônus,
a lesões cerebrais, e ainda no início do século sendo pioneiro no desenvolvimento da
XX, Dupré, com estudos sobre as definições da psicomotricidade. (LOUREIRO, 2009 apud
“síndrome da debilidade motora”, compostas FERNANDES E BARROS, 2015 p.4).
por movimentos involuntários (sincinesias),
dificuldade de relaxamento voluntário da Wallon, assim como Jean Piajet, debruçou
musculatura, incapacidade sem danos ou lesões seu estudos sobre o desenvolvimento
extrapiramidal, que instigaram os pesquisadores infantil, para compreender o funcionamento
da época a esclarecem sobre quis aspectos da psique humana, profundidade de sua
neurológicos estariam associados a tais teoria engajou outros profissionais de áreas
distúrbios.(FERNANDES E BARROS, 2015 p.3) distintas como a medicina a pedagogia
e a psicologia a tentarem a “reeducação
O olhar sobre os distúrbios funcionais que psicomotora”, partindo de uma intervenção
deslocou o foco dos estudos médicos, que tônica, mental, motora e afetiva que
acabou ficando obsoleto. O fato ocorreu considera a relação como meio de agir e
pela descoberta de que alguns distúrbios reagir ao outro. (FERNANDES e BARROS,
funcionais não estavam conectados 2015 p.3)
diretamente com uma determinada lesão,
mas que poderiam ser de outras naturezas Vayer e Le Boulch, desenvolvem a
não anatômicas, assim diante transtornos educação psicomotora, esta segundo
funcionais, surgiu a necessidade de Vayer (1984) “é uma ação pedagógica e
expansão e participação interdisciplinar que psi¬cológica, utilizando meios da Educação
investigariam as causas destes sintomas que Física, com o objetivo de normalizar ou
estavam além das ciências neurológicas. melhorar o comportamento da criança”. Para
(MATTOS, 2016 p.11) Le Boulch, a educação psicomotora fornece
De acordo com Loureiro (2009), Dupré base para o desenvolvimento infantil
integra os movimentos com às funções independentemente se a criança possui

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Revista Educar FCE - Março 2019

algum tipo de limitação ou não, e assegura e mente, sendo que uma não opera sem a
o desenvolvimento funcional. (MATTOS, outra, em todos os aspectos o indivíduo
2016, p.22) sente uma emoção que emite uma resposta
motora.
Segundo Mattos, (2016) Henri Wallon,
correlacionava as emoções e a afetividade Baseando na perspectiva dos estudos
com a forma de interagir com o mundo, de Wallon, Guilmain introduz um protótipo
dentro do desenvolvimento infantil. O de exame psicomotor, posteriormente
desenvolvimento da personalidade, as consolidado com Pierre Vayer, que tinha
emoções e o desenvolvimento motor como objetivo compreender que as ações
ocorrem simultaneamente. De acordo com são consequências de emoções. E cria um
a autora, Wallon denomina de “diálogo modelo de reeducação psicomotora baseado
tônico” a comunicação entre a mãe e o bebê, em exercícios de educação sensorial através
este diálogo é manifestos pelas trocas e do desenvolvimento de atividades manuais
rações tônicas e afetivas, caracterizando a que demandavam atenção, essa ferramenta
“hipertonia do desejo”, que se manifesta pelo era indicada por Guimain, para tratar
aumento do tônus da criança, quando existe distúrbios de comportamento. (MATTOS,
a necessidade de ser alimentada, aquecida 2016 p.16)
ou simplesmente do afago da mãe. A
“hipotonia de satisfação” segundo o Wallon Entretanto, a psicomotricidade pode ser
ocorre quando a pulsão do bebê é satisfeita definida como o estudo da relação entre o
após mamar, ser trocado e receber o afeto. processo de desenvolvimento do corpo e
movimento e as funções cerebrais que e suas
De acordo com Santos (2012), com o origens cognitivas e orgânicas. Para Levin,
passar das décadas, o com a evolução dos (1995), a psicomotricidade vai muito além
estudos da psicomotricidade, que foram disso, refere-se a forma com que o sujeito
desenvolvidos em diferentes vertentes, se comunica através do corpo, por gestos,
aprofundando-se em um olhar clinicamente movimentos, tensões, seu eixo corporal,
específico, epistemologicamente utilizando sendo assim, o corpo fala o que muitas vezes
práticas educativas, reeducativas, também a boca não consegue dizer. (LEVIN, 1995
influenciadas pela neuropsiquiatria e apud. MATTOS, 2016 p.20)
contribuições da psicologia genética, que
já passavam a considerar, que os aspectos Trata-se de observar a relação entre
mentais e emocionais atuavam sobre um o pensamento e a ação, e as emoções
desenvolvimento motor inteligível, ou envolvidas nos movimentos corporais
seja, não se trata apenas de olhar para o juntamente com o aprendizado construído
movimento individualmente, mas de um a partir de tais movimentos. As atividades
olhar que agrega as funções entre o corpo físicas, por exemplo, são fundamentais para

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Revista Educar FCE - Março 2019

o desenvolvimento motor e para os aspectos fornece a oportunidade participativa da


cognitivos e emocionais dos humanos. criança, desempenhando através de dança,
A psicomotricidade está diretamente canto, jogos, brinquedos e brincadeiras sua
relacionada o desenvolvimento e a maturação expressão corporal durante as atividades
do corpo de onde se origina as aquisições oferecidas pelo educador. (BATISTA, 2006
cognitivas, afetiva e orgânicas, assim a partir p.8)
do desenvolvimento psicomotor o indivíduo
adquire a consciências de movimentos Os grandes precursores da
corporais integrados, emoções que os leva psicomotricidade ampliaram o campo de
a resposta motora. (PIAGET; VYGOTSKY; desenvolvimento desta ciência permitido
WALLON, 1992 apud. TAILLE et al., 2004 que esta fosse aplicada em outros setores,
p.93) e a escola é um dos melhores locais para a
prática.
Sendo assim, no desenvolvimento da
criança, existe a necessidade de ampliação A partir, principalmente das propostas de Wallon,
do campo que proporcione experiências Piaget e Vygotsky e revitalizadas por Bruner,
e atividades coletivas que estimulem e a questão da aprendizagem tem evoluído de
aprimorem a criatividade, que possibilitem modo significativo nas teorias modernas e pós-
modernas. Existindo hoje, farto reconhecimento
a atuação espontânea, e contribua para o
de que o fenômeno da aprendizagem é
amadurecimento, desta forma é possível
intrinsecamente reconstrutivo, no sentido preciso,
também proporcionar concomitantemente
de que é marcado pela conjunção de dinâmicas
o desenvolvimento de práticas corporais,
desconstrutivas, aperfeiçoando as condições do
autocuidado, higiene e lazer (BATISTA, 2006 saber pensar e mostrando ao educador como e
p.10) quando intervir. (BATISTA, 2006 p.11)

Para Rossi (2012, p.2) “A escola exerce um
papel fundamental para o desenvolvimento O papel da psicomotricidade
psicomotor da criança”. Entretanto, a associada a educação infantil, visa
psicomotricidade inserida nas atividades promover a oportunidade de colocar
escolares do ensino infantil faz uso da o corpo em movimento estimular o
criatividade, curiosidade e a busca de desenvolvimento sensoriomotor, a postura
novas experiências com o seu corpo e sua a as relações envolvidas neste processo
mobilidade. de desenvolvimento, além de atuar de
forma preventiva em relação as possíveis
Na escola é possível disponibilizar o dificuldades que possam surgir durante a
tempo, dedicando e valorizando a criança em aprendizagem da criança. (MATTOS, 2016
potencial, com o uso de recursos amplos e p.23)
criativos de ensino e educação, este espaço

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Revista Educar FCE - Março 2019

DESENVOLVIMENTO MOTOR O desenvolvimento motor natural


e saudável ocorre de acordo com uma
De acordo com Rossi (2012 p.3), em perspectiva sistemática para cada etapa
estudos atuais sobre o desenvolvimento do desenvolvimento, cronológica esperada
motor em esferas sendo: a longitudinal, e organizada, ou seja, cada movimento ou
que mapeia vários aspectos do habilidade adquirida antecede a próxima
comportamento motor do sujeito ao longo habilidade esperada a ser desenvolvida.
de anos, mensurando as alteração que estão Podemos observar a evolução do
associadas a idade, pela esfera transversal, desenvolvimento motor nos bebês, por
o que permite que o pesquisador observe e exemplo, no desenvolvimento da “pressão”,
avalie, simultaneamente, amostras variadas que é o ato de tentar pegar algo, com os
de pessoas em diversas faixas etárias, dedos fechados dentro da palma da mão,
desta forma a coleta de dados apresenta as após desenvolvem a habilidade de pinçar
diferenças no desenvolvimento de cada grupo para agarra coisas pequenas, a ação de
no decorrer do tempo. A esfera do estudo erguer a cabeça e sustentam quando estão
longitudinal misto, combinando aspectos de bruços, posteriormente o esperado é que
e a esfera longitudinal com a transversal ele engatinhe, tente se levantar apoiado em
que associados promovem acesso a todos um objeto e por fim andar, assim o sistema de
os dados inclusive descreve as diferenças e ação se torna mais complexo de acordo com
alterações, das funções do desenvolvimento a habilidade aprendida. “O sistema de ação
como também das funções etárias. são combinações cada vez mais complexas
de habilidades motoras que permitem um
As habilidades motoras básicas espectro mais amplo e preciso de movimentos
como agarrar, engatinhar e andar, são e um controle maior do ambiente” (PAPALIA
habilidades natas dos seres humanos, para e FELDMAN, 2013 p.159)
o desenvolvimento destas habilidades
basta que o indivíduo tenha espaço para se O desenvolvimento motor e a percepção
movimentar e liberdade para explorar o que sensorial já nos primeiros meses de vida,
podem fazer. Segundo as autoras Papália e permitem o aprendizado através do contato
Feldman (2013 p.159) “Quando o sistema com o ambiente possibilitando que a criança
nervoso central, músculos e ossos estão já avalie qual caminho percorrer, a experiência
preparados e o ambiente oferece as devidas motora, juntamente com a consciência
oportunidades para a há exploração e a das modificações corporais, modela o
prática, os bebês continuam surpreendendo comportamento dos movimentos, já que
os adultos ao seu redor com novas assim a criança consegue prever as respostas
habilidades.” corporais para cada movimento. Assim, as
conexões bidirecionais entre a percepção
e a ação vão se desenvolvendo de acordo

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com a maturação do cérebro, possibilitando De acordo com Mattos (2016 p. 66-68) os


a aprendizagem e o reconhecimento de si movimentos de desenvolvem nos primeiros
na interação com o mundo. (ADOLPH e anos de vida e as habilidades motoras
EPPLER, 2002 apud. PAPALIA e FELDMAN, fundamentais (HMF), se estabelecem aos
2013 p.162) 6 anos de idade em crianças saudáveis. As
(HMF) são separadas em três grupos sendo;
A teoria do sistema dinâmico de Thelen,
contrapõe-se a teoria do desenvolvimento • Habilidades Estabilizadoras, sendo
motor tida apenas como geneticamente todos os movimentos que englobam
programada, ou seja, automaticamente estabilidade, (força e gravidade) em
ordenados para cada etapa. Thelen (1983), pontos fixos ou moveis. Conhecidos
explica que este desenvolvimento não pode também como movimentos axiais que
ser observado apenas por este ângulo, mas se desenvolvem dos 2 meses aos 6
sim considerar que a criança e o ambiente anos de idade, que são os “movimentos
compõem um sistema interligado, dinâmico de tronco e membros que conduzem
que motiva a exploração do movimento, o corpo em uma posição estacionária.”
impulsionando a sua força muscular. De Que se definem pela habilidade de se
acordo com o processo de maturação a equilibrar com de um pé só; caminhada
criança vai experimentando e autorregulando direcionada; rotação e desvios.
a intensidade, a energia a velocidade de
cada movimento, e descobrindo por si como • Habilidades locomotoras, que é
proceder para alcançar uma finalidade. a projeção do corpo, para a mudança
(THELEN, 1983, apud. PAPALIA e FELDMAN, de um ponto fixo para outro, em
2013 p. 163) cada etapa do crescimento, como por
exemplo: Correr (18 meses-25 meses),
O desenvolvimento psicomotor de saltos verticais, horizontais e mistos
acordo com Batista (2006), dentro do (18 meses - 5 anos), saltito (3 anos - 6
desenvolvimento normal da criança, ela anos), galope (4 anos - 6 anos) e saltos
tende adquirir maior controle mental sobre mais altos (4 anos – 6 anos).
seus movimentos, assim aponta para alguns
requisitos que definem um desenvolvimento, • Habilidades motoras especializadas,
dentre estes ter um aparelho físico adequado que é a combinação de refinamentos que
para respostas, sentidos (acuidade sensorial), contribuem para o desenvolvimento de
capacidade de processar e interpretar as habilidades esportivas, e execução de
informações. Ainda algumas condutas movimentos complexos, que demandam
psicomotoras básicas se dividem entre treinamento, ensino técnico, prática e
equilíbrio, coordenação motora global (fina e encorajamento.
grossa) e respiração.

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Revista Educar FCE - Março 2019

quatro aspectos: nomeação das partes do corpo;


Deste modo é possível observar
localização das partes do corpo; conscientização
que o desenvolvimento motor ocorre das partes do corpo; utilização das partes do
biologicamente e otimizado a partir das corpo[...]. (MATTOS, 2016 p.82)
experiências no ambiente, e as tarefas em
si, envolvidas no processo de movimento Para Negrine, (1995 apud, ROSSI,
corporal, desenvolvendo primeiramente 2012 p.8), A educação psicomotora pode ser
a partir dos reflexos, que atuam como justificada, na fase pré-escolar por ter papel
uma espécie de teste neutomotor para os fundamental na prevenção de dificuldades de
mecanismos estabilizadores, locomotores aprendizagem, estes estímulos contribuem
e de manipulação, que antecedem a para a formação da personalidade do
autoconsciência ou auto percepção do indivíduo que se estabelece aos 7 anos de
indivíduo. (ROSSI, 2012 p.5) idade, nesta fase a criança cria mecanismos
internos inconscientes, ou seja, ferramentas
O Esquema corporal, é fundamental para que a priori atuam inconscientemente para
a construção da personalidade da criança, depois expandir e entrar em interação com
de acordo com Hurtado (1991), trata-se da o universo externo, partindo desta interação
representação quase que global, específica o indivíduo explora sua criatividade,
e diferenciada da consciência corporal. Para curiosidade e adquire habilidades sociais,
Vayer (1982), o esquema corporal, trata- tendo como agentes estimuladores deste
se de uma resposta complexa que formada processo os pais e educadores, que são
por uma síntese das mensagens recebidas a elementos fundamentais na construção
partir de estímulo externos que compõe a simbólica da criança.
percepção de si mesmo. (HURTADO, 1991;
VAYER, 1982 apud SILVA et al, 2017 p.320)
O LÚDICO
Mattos (2016), esclarece como definição
do esquema corporal como o conhecimento O lúdico é parte intrínseca do
do próprio corpo a partir de; desenvolvimento humano, entretanto,
exerce a função vital na prática atividades
[...] informações proprioperceptivas; interoceptivas educativas em varia etapas da vida
e exteroceptivas, evolutiva porque o corpo muda escolar, atuando diretamente sobre o
de tamanho, peso e medidas que influenciam desenvolvimento psíquico, físico e social do
por sua vez, nas possibilidades de coordenações Indivíduo. (PÉRICO et al, 2015 p.3417)
funcionais; que implica em uma representação
: poder falar das partes do corpo, das funções e
O trabalho lúdico foi inserido nas
das relações espaciais da dimensão temporal do
atividades escolares por meio das atividades
corpo; pode ser medido, comparado e pesado; ser
culturais, de acordo com Périco (et al, 2005,
pré-consciente e consciente, sendo um conceito
intuitivo e cinético do corpo que possuem
p. 3412), “como reflexo de um contexto

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cultural a ludicidade representa a essência da criança, essa interação amplia sua conexão
de uma sociedade em seu determinado com o mundo, interno e externo estimulando
momento histórico.” Assim, o lúdico torna- sua imaginação, elaboração de regras e
se fundamental para o desenvolvimento organização e permite a sociabilização
psicossocial humano, as atividades através da troca e interação com o outro.
lúdicas promovem o desenvolvimento de (VYGOTSKY, 1995 apud. SILVA,2004 p.6)
mecanismos que possibilitam a resolução
de problemas, estimula a criatividade e as O ato de brincar é a melhor metodologia para
relações sociais. Ainda segundo os autores, dar à criança, condições de desenvolver suas
o dinamismo proporcionado pelas atividades potencialidades e caminhar, de descoberta em
lúdicas de cada indivíduo, contribuído para descoberta; criando soluções para suas dúvidas
e aprendendo a viver e a conviver com seus
o desenvolvimento saudável do corpo e da
pares. O desenvolvimento mental se constrói,
mente. (PÉRICO et al, 2015 p.3419)
paulatinamente; é uma equilibração progressiva,

uma passagem contínua, de um estado de menor
Para Batista (2006 p.9), o lúdico é inserido
equilíbrio para um estado de equilíbrio superior.
nos anos iniciais do ensino infantil, como (PIAGET 1987 p.211 apud BATISTA 2006 p.27)
uma possibilidade que agrega muitos valores
as disciplinas, atraindo o interesse da criança
e promovendo o respeito, a solidariedade, A brincadeira proporciona troca mutua de
a paciência, a gentileza, humildade, e a aprendizagem entre criança e educador, a
possibilidade de trabalho em grupo. Para aplicação dos conceitos de psicomotricidades
a autora os valores são essenciais no aliadas as atividades lúdicas possibilita a
desenvolvimento da personalidade, assim expressão de sentimentos e pensamentos na
os jogos e brincadeiras, promovem uma interação com o meio e ainda contribuem para
aprendizagem divertida e permitem trabalhar identificação de debilidades coexistentes
o desenvolvimento psicomotor da criança. e resolução de problemas que possam
Assim como observado por Rossi: surgir em torno do desenvolvimento da
aprendizagem da criança. Com a aplicação
No estágio escolar, a prioridade constitui da psicomotricidade são identificadas
a atividade motora lúdica, fonte de prazer, dificuldades que colocam a criança em
permitindo a criança prosseguir na organização de sofrimento, como: não conseguir realizar uma
sua “imagem de corpo” ao nível do vivido servindo atividade simples dentro de uma brincadeira,
de ponto de partida na sua organização prática em
ou dificuldades inerentes a aprendizagem
relação ao desenvolvimento de suas atitudes de
acadêmica, por exemplo, o professor poderá
análise perceptiva. (ROSSI, 2012 p.09)
traçar estratégias específicas que atuem
positivamente no desenvolvimento desta
O Brincar para Vygotsky(1995), está criança. (ROSSI, 2012 p.9)
diretamente relacionado a cultura do universo

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O processo de aprendizagem, a partir do estimulo lúdico possibilita a compreensão das


capacidades e habilidades a cerca de uma gama de possibilidades e criar e de movimentar.
Souza (et al 2017), aponta para a importância e o desejo da criança de participar das atividades
por conta própria, sendo indispensável que o educador desenvolva um manejo técnico e
pedagógico que não obrigue autoritariamente a criança a participar da atividade, mas possa
desenvolver uma atividade atrativa e motivacional que contorne a possível dificuldade que
a criança possa apresentar diante da sua proposta.

As atividades lúdicas a criança aprende a conhecer, fazer e conviver, estas atividades
promovem autoconhecimento e reconhecimento do mundo e do outro, alinhado o
pensamento, raciocínio, atenção com fazer, realizar uma tarefa pré-determinada ou
elaborada por ele mesmo, comunicar-se interagir, solução de conflitos que por sua vez
está alinhado com o conviver que é um dos maiores desafios dos seres humanos nos dias
de hoje, a sociabilização entre pessoas só podem ser realizada a partir deste processo de
autoconhecimento. (MARINHO et al, 2007 p.208)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A psicomotricidade aplicada ao desenvolvimento infantil
no âmbito escolar tem como meta estimular a criança se
movimentar e reconhecer por meio do movimento as suas
próprias capacidades e habilidades, além de saber que é está
no mundo. A criança sente, percebe e aprende com as coisas
(objetos, dança, música,) e com os outros, se organizando
física e mentalmente mediante ao mecanismo de resposta da
interação com o ambiente.

Ao considerar o lúdico como agente estimulante para o CRISTIANE MATOS


desenvolvimento da inteligência, é possível que por intermédio FERREIRA
desta ferramenta a criança expresse a sua imaginação e
Graduação em Pedagogia pela
desenvolva a sua criatividade. Isto, possibilita também com
Faculdade Sumaré de Educação
que a criança adquira a capacidades de concentração e Superior (2016); Professora de
atenção, linguagem e o desenvolvimento como habilidades Educação Infantil no CEMEI
acadêmicas e esportivas. Os jogos e brincadeiras deixam JARDIM NORONHA
de ser simples divertimento, promovendo a autonomia da
criança, sendo fundamentais para o seu amadurecimento,
trazendo o autoconhecimento que o tornará mais preparado
para as outras fazes da vida.

Este trabalho buscou compreender o funcionamento da psicomotricidade através do
estímulo lúdico na infância, deste modo a partir dos dados apresentados, percebe-se a valia
da associação das técnicas pois associam a aprendizagem a atividades que proporcionam
prazer e motivação.

A criança aprende e é motivada por aquilo que é gostoso e desperta seu interesse, neste
aspecto a educação psicomotora responde a função de estimular, desenvolver, explorar e
modelar os aspectos físicos, cognitivos, emocionais e comportamentais do indivíduo, mas
é de extrema importância que a criança sinta-se amparada e que o educados forneça esse
suporte de forma adequada, compreendendo as possíveis dificuldades e limitações que a
criança possa apresentar, de modo que possa desenvolver um trabalho condizente com os
aspectos que promovem o desenvolvimento saudável da criança.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

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ROSSI, F.S. Considerações sobre a Psicomotricidade na Educação Infantil


Revista Vozes dos Vales da UFVJM: Publicações Acadêmicas – MG – Brasil – Nº 01 – Ano I –
05/2012 Reg.: 120.2.095–2011 Disponível em: www.ufvjm.edu.br/vozes Acesso em 22 de Mar.
de 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

OS TRANSTORNOS - NAS CRIANÇAS E


ADOLESCENTES LIDANDO COM FRUSTRAÇÕES
RESUMO: Com base na observação desse tipo de problema vivenciado na unidade escolar,
buscou-se auxiliar essas crianças e suas famílias a procurarem ajuda de profissionais da saúde
mental e ao mesmo tempo, que esses profissionais pudessem orientar o professor quanto ao
seu trabalho pedagógico, para que essas crianças e adolescentes pudessem acompanhar o
processo de ensino-aprendizagem. Por ser uma preocupação global esse tipo de transtorno,
faz-se necessário um olhar diferenciado para que esses alunos sejam inseridos em um
ambiente educativo propício à aprendizagem e no qual eles sintam-se seguros e capazes de
aprender.

Palavras-Chave: Saúde Mental; Serviços de Saúde; Professor; Criança e Adolescente.

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INTRODUÇÃO
como se desenvolvem a atenção, a memória,
Quando se fala em transtornos mentais
a linguagem, a emoção e cognição, o que
da criança e do adolescente, pensa-se na traz valiosas contribuições para se alcançar a
criança desde o seu nascimento, onde há a educação. (MALUF,2005).
necessidade do acompanhamento pediátrico
conforme o seu crescimento, porém nas Diante disso, a estrutura pedagógica
camadas mais humildes da nossa sociedade escolar precisa apresentar conteúdo
esse fato é praticamente nulo, pois os programático, dinâmica de grupo e individual
responsáveis só levam seus filhos ao posto com alunos que apresentam diversidade
de saúde quando apresentam um problema cognitiva. A didática tem que ser direcionada
muito grave. e seletiva, buscando compreender se a
dificuldade apresentada tem ligação com
Para Maluf (2005) defender o sucesso o ambiente sociofamiliar ou se trata de um
escolar depende do apoio familiar. O apoio distúrbio neurológico.
dos professores e à escola é indispensável
para o desenvolvimento da capacidade de Segundo Boarini, além de não existir
aprender e chegar à condição de autonomia, oferta suficiente que atenda crianças com
objetivo maior da educação. necessidades de atenção especial em saúde
mental, a maior parte do tempo desse
“Conhecer o funcionamento cerebral é profissional está voltada para atendimentos
fundamental para compreender como se dá a que, na maioria das vezes, não são tão
aprendizagem de todas as pessoas, em todas necessários. Assim, esse tipo de atendimento
as idades e situações, especialmente na escola, acaba por contribuir ainda mais para o
frente à educação formal. Mas é importante
crescimento dessa demanda que precisa da
ressaltar que como a Neurociência cognitiva
assistência neuropsicopedagógica.
objetiva estudar e estabelecer relações entre
cérebro e cognição principalmente em áreas
Quando essa assistência atende crianças
relevantes para a educação, o diagnóstico
precoce de transtornos de aprendizagem está
e adolescentes que apresentam dificuldades
entre as prioridades da Neuroaprendizagem, escolares, acaba por descobrir que esses
o que revelará também melhores métodos problemas são apenas a ponta do iceberg de
pedagógicos de desenvolver a aquisição de outros que nem imaginamos que existem,
informações e conhecimentos em crianças e esses precisam ser atendidos por um
com transtornos e dificuldades do aprender, profissional especialista em saúde mental.
assim como a identificação de seus estilos
individuais de aprendizagem no contexto Por outro lado, há ainda uma grande
escolar. Isso tudo deve-se primordialmente dificuldade para que a criança e o adolescente
às descobertas neurocientíficas em torno de sejam encaminhados aos serviços de

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Revista Educar FCE - Março 2019

saúde mental, o preconceito. Tanto por Diversos são os transtornos mentais que
parte dos pais e professores, como do surgem na criança e no adolescente, temos:
próprio profissional, pois ainda são poucas transtornos alimentares, de humor, de
as iniciativas na assistência a crianças e ansiedade, de conduta, por uso de substâncias
adolescentes que sofrem com transtornos tóxicas, esquizofrenia e depressão.
mentais.
Assim, precisamos conhecer um pouco
É sabido que um dos desafios na mais sobre o que chamamos – criança
assistência à saúde mental é a necessidade normal – pois precisamos saber identificar
do diálogo entre os diferentes saberes como pelo menos os mais comuns que são: a
a pedagogia, a psicologia e a medicina. depressão e a ansiedade na infância para
mais tarde conseguirmos identificar também
os transtornos da adolescência.
OS TRANSTORNOS - NAS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES A depressão atinge a qualidade de vida
da pessoa, pois é um processo que evolui e
Sabemos que o sucesso do indivíduo provoca um desânimo profundo em relação
está ligado ao bom desempenho escolar, ao futuro, insatisfação com a vida, levando
por isso, um número cada vez maior de ao isolamento.
crianças são atendidas por neuropediatras,
psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos Sendo assim, é mais fácil de se identificar
e, mais recentemente, neuropsicopedagogos nos adultos, mas na criança ela se manifesta
(Santos, 2011). quando a mesma se queixa com mais
frequência de dores em partes do corpo, de
Temos conhecimentos de que termos dificuldade para dormir, de ter pesadelos e
como: distúrbios, dificuldades, transtornos, medo, e começa a se isolar dos colegas.
discapacidades são problemas encontrados
na literatura e, muitas vezes, são empregados Para tratar a depressão infantil é preciso
de forma inadequada, porque a presença de recorrer à psicoterapia que é muito eficaz,
uma dificuldade de aprendizagem não implica, na maioria dos casos. Quando o caso é mais
necessariamente, em ser um transtorno. Uma grave há a necessidade também de ter o
dificuldade pode ser transitória, não ligada a auxílio de medicamentos.
uma alteração funcional do sistema nervoso,
por exemplo, uma inadequação pedagógica, É muito importante que a família, o
ou um problema emocional da criança pode, psicólogo e o pedagogo estejam em contato
simplesmente, ser um momento atípico na para que o tratamento seja realmente
vida da criança, possível de ser superado. eficaz, pois estarão sempre trocando

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Revista Educar FCE - Março 2019

informações que serão importantes para o


acompanhamento e tratamento da criança. No entanto, a violência ainda é o maior
fator de contribuição para o estresse e o
Quanto à ansiedade, geralmente ela surgimento desses transtornos, pois a família
se origina de um misto de sentimentos e é o modelo para o aprendizado de padrões
sensações que precedem um acontecimento comportamentais, emocionais e sociais dos
importante, sendo considerada um filhos.
sentimento normal, porém se persiste na vida
da criança, torna-se um transtorno, causa Quando a violência está presente, a
baixa qualidade de vida e leva ao estresse. família atua como modelo negativo e gera
comportamentos que prejudicam a interação
Tem sua origem, geralmente, devido social e a saúde mental das crianças e
aos conflitos familiares, devido às brigas adolescentes.
e separações. E, na escola também pode
ocorrer, dependendo do modo como a criança Situações de violência física, abuso
se relaciona com seus colegas e seu professor. sexual e violência psicológica impactam no
desenvolvimento emocional e cognitivo da
A criança que apresenta esse transtorno, criança e do adolescente, e, isso reflete no
demonstra preocupações fora dos padrões comportamento em sala de aula.
infantis, pois é muito agressiva, tem muito
medo, além de demonstrar sintomas físicos Para Souza, as emoções internas,
como vômitos, dores de cabeça e diarreia. sentimento de inferioridade, frustração
e perturbação emocional impactam na
A psicoterapia também é muito indicada autoestima e depressão. Esses problemas
para o controle da ansiedade infantil, e estão sujeitos à forma como suas dificuldades
também a interação com o professor e os são vistas pelos pais e pelos educadores, pois
cuidados dos pais, sempre na medida certa, o ambiente dominante no lar influencia a
sem excessos. vida escolar das crianças, ou seja, se em casa
existe um clima tenso, provavelmente essa
Para o psiquiatra e psicanalista Mario Costa criança, que já tem algumas dificuldades em
Pereira, professor da Unicamp, o contexto de relação a sua aprendizagem, também será
alta competitividade que se apresenta desde uma criança tensa. (SOUZA,1996).
muito cedo na vida torna as pessoas mais
propensas à angústia. E o que se nota com a A escola não deve rotular esses alunos, e
medicalização excessiva dos pacientes é uma sim focar em suas habilidades, pois quando se
busca por adaptá-los ao contexto, ao invés conhece o que o aluno tem de bom, abre-se
de compreender as origens mais profundas e uma porta para a construção de um vínculo
complexas dos sintomas. positivo com as demais áreas de

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Revista Educar FCE - Março 2019

aprendizagem nas quais o aluno precisa se Rochael (2009), mostra-nos algumas


aprimorar. diretrizes que podem ser usadas pelo
professor no dia a a dia com as crianças ou
É preciso que o professor foque em adolescentes que apresentam transtornos
descobrir os talentos que esse aluno possui que afetam a aprendizagem.
e incentivá-lo a desenvolvê-lo.
Porém, não se trata de uma receita de
Para Pacheco (1996), o desânimo e a sucesso, e sim de um norte para que o
desistência, em muitos casos, partem da sala professor faça as adaptações necessárias, de
de aula, pois as crianças, muitas vezes são acordo com o que ele conhece de seu aluno,
avaliadas como alunos que não conseguem sendo assim, o professor deve evitar:
acompanhar a demanda de aprendizagem,
sendo vistas apenas como não sendo o aluno “Ressaltar as dificuldades do aluno,
ideal. diferenciando-o dos demais; mostrar
impaciência com a dificuldade expressada
Porém, a escola não deve estar focada no pela criança ou interrompê-la várias vezes
ou mesmo tentar adivinhar o que ela quer
aluno ideal, pois não vivemos em um mundo
dizer completando sua fala; - corrigir o
ideal e não há sociedade nem ser humano
aluno frequentemente diante da turma,
ideal. Somos seres em constante aprendizado
para não o expor; - ignorar a criança em sua
e crescimento.
dificuldade.”(ROCHAEL, 2009, p. 3).

Sendo assim, a dificuldade de aprendizagem


não é um problema só do estudante, é um E, o professor deve adotar outras atitudes,
problema da escola e da família também. tais como:

Após esses estudos, entendendo que “Não forçar o aluno a fazer as lições quando
os principais problemas encontrados em estiver nervoso por não estar conseguindo;
crianças e adolescentes são os que nascem explique a ele suas dificuldades e diga que está
no ambiente familiar e escolar, é preciso um ali para ajuda-lo sempre que precisar . Evitar
que o aluno se sinta inferior; considerar o
trabalho diferenciado que chegue até os pais
problema de maneira serena e objetiva; avaliar
das crianças que apresentam algum tipo de
o desempenho do aluno pela qualidade de seu
transtorno.
trabalho; proponha jogos na sala; não corrija as
lições com canetas vermelhas ou lápis; procure
Buscamos algumas diretrizes para que os usar situações concretas nos problemas.”
educadores possam se apoiar e selecionar as (ROCHAEL, 2009).
que mais se apropriarem ao caso do aluno,
pois essas diretrizes são globais.

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Revista Educar FCE - Março 2019

É preciso que o professor reflita sobre as de aprendizagem mediada. E, conforme


causas dos problemas de aprendizagem de Vygotsky (1991), aprender possibilita o
seus alunos não para se culpar, mas para despertar de processos internos do indivíduo,
poder ajudá-los a minimizar esses problemas. fazendo a ponte entre o desenvolvimento do
sujeito com seu entorno sociocultural.
O trabalho em parceria com os profissionais
da saúde, incluindo o neuropsicopedagogo Segundo o autor:
é de suma importância, pois quando
conseguimos identificar o problema e Aprendizado não é desenvolvimento,
encaminhar essas crianças e adolescentes entretanto, o aprendizado adequadamente
aos profissionais adequados, a parceria organizado resulta em desenvolvimento mental
se estabelece e o aluno tem uma melhora e põe em movimento vários processos de
desenvolvimento que, de outra forma, seriam
considerável.
impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado
é um aspecto necessário e universal do processo
Como educadores queremos que nossos
de desenvolvimento das funções psicológicas
alunos acertem sempre, por isso precisamos
culturalmente organizadas e especificamente
mudar nosso olhar sobre as dificuldades humanas. (VYGOTSKY, 1991, p. 101).
de aprendizagem, pois essas dificuldades
nos mostram como esses alunos pensam
e como conseguiram absorver o que foi LIDANDO COM FRUSTRAÇÕES
passado, levando-nos a identificar possíveis
transtornos que eles apresentam, e, que, Segundo o pensamento de Lima (2002):
muitas vezes, passam despercebidos. “Toda criança pode aprender a ler e escrever,
mas não em qualquer situação. Mas está claro,
A linguagem usada em sala de aula também que não é em qualquer situação
também é um aspecto a ser pensado, pois a para todas as crianças. As condições para que
ocorra aprendizagem vão variar de acordo com
diferença de cultura entre os estudantes e o
seu período de formação, pois todo processo
professor pode causar conflito e dificuldade
de aprendizagem deve estar articulado com a
de comunicação e consequentemente
história de cada indivíduo.” (LIMA, 2002, p.15)
dificuldade em identificar os problemas
desses estudantes.
De acordo com Sisto (2001), dificuldade
Para Vygotsky (1993), todos os seres de aprendizagem associa-se à questão do
humanos são capazes de aprender, mas é fracasso escolar, caracterizado pela evasão e
necessário adaptar a nossa forma de ensinar. repetência.

Sabemos que a apropriação da O termo “dificuldade de aprendizagem”


cultura intelectual se dá por processos surgiu da necessidade de compreender

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Revista Educar FCE - Março 2019

o motivo pelo qual um grupo de alunos, • discriminação auditiva como


aparentemente normais, apresentava a capacidade ou não de percepcionar
constantemente a experiência do insucesso diferenças entre sons;
escolar, principalmente em se tratando de • dificuldades de percepção visual
leitura e escrita. como as dificuldades de observar pormenores
e dar significado ao que é observado;
Conforme nos diz Garcia (1997): • desordem por déficit de atenção
e hiperatividade que caracterizada por
“... a escola antecipa o fracasso social através frequentes estados de desatenção e
da seleção, rotulação, discriminação e exclusão, impulsividade condicionam a aprendizagem.
apesar do seu discurso democratizante. O
fracasso escolar vem sendo o primeiro degrau O professor será o primeiro a perceber
na escalada para o fracasso social e para
esses distúrbios, cabendo a ele rever sua
manutenção do status quo.” (GARCIA, 1997,
prática pedagógica, principalmente onde a
p.51)
dificuldade de aprendizagem persistir. Ele
deverá investigar com criticidade para poder
As dificuldades de aprendizagem como: ajudar essas crianças, encaminhando-as
distúrbios de memória falta de atenção, quando necessário.
bloqueios de aprendizagem nas diversas
matérias dos conteúdos escolares, Um dos fatores de suma importância para
dificuldades de raciocínio lógico, matemática, se levar em conta pelos professores dentro
leitura e escrita, baixa estima, falta de de sala de aula é a capacidade de conseguir
motivação, entre outros. lidar com as frustrações, pois o ambiente
escolar, muitas vezes, não é capaz de superar
Correia e Martins (2006), apud Arranca os desafios. Esse é um fator que pode
(2007, p.10) apontam as principais contribuir para que aconteçam falhas no
dificuldades de aprendizagem identificadas desenvolvimento da aprendizagem levando a
ainda na pré-escola: defasagem, desarmonia, problemas afetivos
e emocionais e também ao baixo rendimento
• dislexia como dificuldade no escolar. Isso causa tensão e frustração,
processamento da linguagem cujo impacto ocorrendo o desinteresse e eventualmente
se reflete na leitura e na escrita; uma aversão aos estudos, devido ao baixo
• dispraxia como dificuldade de fator afetivo promovido pela escola e pela
planificação e coordenação motora; família. Muitas vezes o aluno precisa cumprir
• disgrafia como a dificuldade na atividades impostas por um currículo escolar
escrita; inquestionável, que não tem a ver com seus
• discalculia como a dificuldade de anseios e expectativas, pois são atividades
realização de cálculos matemáticos; que não contemplam suas necessidades de
vida.

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Revista Educar FCE - Março 2019

[...] Sentimentos básicos de alegria e


Esses sintomas se manifestam, pois
tristeza, sucesso e fracasso experimentados
em relação aos objetos e situações também
há níveis elevados de preocupação e
serão experimentados, futuramente, em pensamentos negativos por parte desses
relação às próprias pessoas, o que dará origem alunos como: “não sou capaz”, “vou tirar nota
aos sentimentos interindividuais. (SISTO, 2001, baixa”, “vou me enganar”, “vão rir de mim”,
p.102). entre outros.

As expectativas fazem parte do nosso As consequências desses sintomas


cotidiano, elas são oportunidades que nos são: alunos com menor foco de atenção,
permitem crescer, pois com elas descobrimos dificuldade em organizar seu tempo,
nossos potenciais, criamos novas formas de incapacidade de autocrítica, diminuição, da
viver e agir. autoconfiança, etc.

Por isso, muitas vezes é difícil lidar com A ansiedade sentida prejudica a
as frustrações, pensemos no velho clichê preparação dos alunos para a aprendizagem,
“o copo está meio cheio ou meio vazio?” – causando desconforto, e consequentemente
A maioria das vezes o problema não está comprometendo o desempenho.
na situação, mas sim em como olhamos
para ela. Muitas vezes não podemos mudar Quando o aluno percebe seu insucesso
a realidade em que estamos vivendo, mas escolar, esse sentimento remete-o ao
podemos mudar nossa posição diante dela. fracasso e consequentemente ao abandono.
Isso é motivo de preocupação e alerta para
Esse deve ser nosso olhar em relação aos a escola e para os pais. E esse é o momento
problemas com nossas crianças e adolescentes, de uma intervenção psicopedagógica, pois
pois nem sempre conseguiremos sucesso focaliza o sujeito na sua relação com a
com eles, ou mesmo mudar a realidade em aprendizagem.
que vivem, mas podemos amenizar suas
angústias, suas frustrações, fazendo com Seria muito interessante que toda
que percebam que podem ir muito além do instituição de ensino pudesse contar
que acreditam. com a existência de psicopedagogos para
auxiliar no trabalho do pedagogo, fazendo
Alguns alunos apresentam sintomas de uma intervenção para reeducar a prática
ansiedade de desempenho escolar, pois pedagógica dos professores, para a melhoria
enfrentam diversas situações como avaliação, do ensino-aprendizagem.
testes, exames, apresentações de trabalhos,
responder questões oralmente, entre outras.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A psicopedagogia e a neuropsicopedagogia trabalhará em Instituições Escolares, Centros


ainda são pouco estudadas como uma e Associações Educacionais, Instituições
metodologia que ajude no desenvolvimento de Ensino Superior, Terceiro Setor (como
do trabalho escolar e no combate aos ONGs e OSCIPs); e o profissional com
problemas de aprendizagem dos alunos. Porém titulação Hospitalar será responsável pelo
quando os educadores fazem uma reflexão trabalho em Ambientes Hospitalares como
sobre suas práticas é possível perceber que Ambulatório, Unidades de Intervenção, Setor
o trabalho desses profissionais é primordial Administrativo do Hospital, Brinquedotecas
para amenizar os problemas dos transtornos ou Oficinas; portanto o profissional da
mentais na criança e no adolescente e neuropsicopedagogia tem ampla área de
por consequência haver uma melhora no atuação e uma grande contribuição para a
processo de ensino-aprendizagem. Para área da Educação Inclusiva.
tanto, é preciso estruturar ações conjuntas
e estratégias que contribuam como solução O neuropsicopedagogo deve atuar ainda na
para diminuir esses problemas. linha de frente para a implantação da Educação
Especial Inclusiva mais humanizadora, e
A Sociedade Brasileira de também ressignificar as práticas educativas
Neuropsicopedagogia (SBNPq)classifica de forma que possa estabelecer e promover
o perfil desse profissional da seguinte práticas pedagógicas significativas,
forma: o profissional com título de Clínico transformadoras e emancipatórias, levando
atuará na especificidade do indivíduo em conta o funcionamento do cérebro,
e seu espaço de atuação pode ser em estimulando o neuroaprendiz a fazer uso
Consultórios ou Clínicas, Postos de Saúde das múltiplas inteligências, transformando-
e Centros de Referência de Atendimento as em conhecimentos significativos para sua
Social; o profissional com título Institucional própria vida.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para que a realidade no cotidiano escolar possa ser
modificada, cabe ao educador e à escola adotarem
uma postura crítico-reflexiva ao lidarem com os alunos,
principalmente, com aqueles com histórico de uma trajetória
marcada pelo insucesso escolar, pois quanto a esse aspecto
concordamos com Weisz (2001, p.60) ao dizer que “ não
é o processo de aprendizagem que deve se adaptar ao de
ensino, mas o processo de ensino é que tem de se adaptar
ao de aprendizagem”. DANIELE NERY SANTOS
LIMA
Não podemos esquecer de que o sucesso escolar é uma
Graduação em Letras pela
realidade atingível se acreditarmos que o neuroaprendiz pode
Universidade Paulista
vencer suas dificuldades, e que os obstáculos que tiver em UNIP(2013); 2ª Graduação pela
seu aprendizado, e apenas mais um desafio a ser superado. Aldeia de Carapicuíba- Falc.
(2014)... PÓS Graduação em
O professor que receber em sua sala de aula alunos de alfabetização e Letramento Pela
aprendizagem lenta estará diante de uma tarefa desafiadora Universidade Nove de Julho-
que será ajuda-los a se adaptarem à escola. Uninove ( 2018), Professor de
Educação Infantil no Cei Neide
Existem outras causas que provocam a lentidão da Ketelhut
aprendizagem, não só transtornos mentais. Há também
problemas emocionais, defeitos físicos, falta de incentivo,
hábitos inadequados de estudo, condições familiares
instáveis, entre outras.

Por isso a opinião do pedagogo, psicólogo, psicopedagogo,


neuropsicopedagogo, pode tranquilizar pais e professores a
cerca do problema detectado.

O papel do professor na observação dos primeiros


sintomas é de vital importância para que os especialistas de
outras áreas possam atuar também. Este é mais um motivo
para que o professor esteja em constante atualização.

Concluímos então que essa pesquisa foi um norte de muita


importância na vida dos educadores, pois contribuiu para o

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Revista Educar FCE - Março 2019

crescimento pessoal e profissional, fazendo-os acreditar que são capazes de identificar e ajudar
crianças e adolescentes que apresentam transtornos a enfrentarem seus desafios durante o
processo de ensino-aprendizagem provenientes de uma trajetória marcada pelo insucesso
escolar e por problemas familiares, juntamente com o profissional da neuropsicopedagogia.

Segundo Hennemann (2012):

“A Neuropsicopedagogia ainda é um livro com muitas páginas em branco. [...] os profissionais desta área
precisam mostrar aos demais o que estão fazendo, como estão fazendo. O livro precisa ocupar lugar no tempo
e no espaço das livrarias de nosso país”. (HENNEMANN, 2012)

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Revista Educar FCE - Março 2019

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715
Revista Educar FCE - Março 2019

BRINCAR HEURÍSTICO
RESUMO: A pesquisa a seguir relata sobre as contribuições da brincadeira livre com objetos
não estruturados ou de largo alcance para as crianças bem pequenas em ambientes de vida
coletiva, por meio de propostas que promovam a exploração, descoberta e autonomia,
como o brincar heurístico e o cesto dos tesouros. A criança entre 5 e 6 anos encontra-
se em uma fase na qual o egocentrismo é predominante nas suas ações, pensamentos e
sentimentos. A metodologia utilizada é sempre a da observação durante o desenvolvimento
dos jogos e brincadeiras heurísticas, pois além das observações durante as sessões, são
captados e gerados recursos imagéticos para análise de dados, aos poucos a criança inicia
a tolerância social, cria vínculos afetivos, divide o espaço, cria situações na qual o “meu” é
substituído pelo “teu”, e assim aprende brincando. O objetivo está em analisar como o brincar
heurístico contribui para o desenvolvimento social e cognitivo das crianças, diante dos dados
gerados é possível constatar as reais contribuições do brincar heurístico, o conhecimento
cognitivo sempre é muito mais intenso que o social. Momentos de brincadeiras livres são
imprescindíveis e necessitam de tempo, e sempre proporciona momentos para o aluno /
criança evoluir. O espaço e materiais adequados servem para potencializar as descobertas
das crianças.

Palavras-Chave: Crianças bem pequenas; Brincadeira livre; Cesto dos tesouros; Brincar
heurístico, Educação Infantil.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO A brincadeira instintivamente é usada pelo


bebê para descobrir o mundo. Porém com
Cabe aos professores, em sua prática tantas inovações no mercado de vendas, às
docente, propiciar situações de aprendizagem vezes esquecemos de propor o imaginário
que levem ao desenvolvimento de habilidades para nossos bebês e crianças. Este artigo
e de conteúdos que possam responder às trata justamente desse tema, o brincar
necessidades dos alunos ao meio social que imaginário sem formalidades.
habitam.

O grande número de brinquedos que O QUE É O BRINCAR


são produzidos atualmente no mercado, HEURÍSTICO?
sugere que há certa compreensão por
parte dos adultos de que a brincadeira em A pesquisa trata a importância do brincar
si é importante para seus filhos, ou seja, as heurístico na aprendizagem infantil tendo
crianças em geral. O educador deve ser capaz como objetivo de analisar as necessidades
de mediar sem ser intrusivo e de acompanhar do espaço de tempo para brincadeiras na
sem ser omissivo ou indiferente, em todas construção de aprendizagem das crianças
essas organizações de brincadeiras. contribuindo para reflexão de pesquisas
das brincadeiras no cotidiano escolar. Para
O brincar heurístico deve sempre fazer realizar estudo sobre esse tema foram
parte da vida de nossas crianças, pois é nele feitas pesquisas bibliográficas sobre o tema
que ela vai expor toda sua necessidade e abordado revelando a importância do lúdico
sentimentos. E por meio deste artigo iremos nas práticas educativas porque ao aprender
destacar a importância do brincar. brincando se torna mais motivador, podendo
ser explorado o desenvolvimento cognitivo e
O brincar faz parte do ser criança, e suas capacidades.
isso é fantástico, pois tem expressivo
efeito por si só, o brincar, além de A problemática da pesquisa contribui para
auxiliar no desenvolvimento infantil, nas construir o conhecimento, e é necessário
esferas emocional, intelectiva, social e fazer valer do lúdico para formação do ser
física, demonstrando a sua fundamental crítico, fazendo das crianças principais
importância neste período riquíssimo do ser protagonistas de seu aprendizado com
humano, ou seja, a sua própria estruturação, estratégias de qualidade não só com
a base construtiva do que tenderemos a conteúdo tradicional, mas é necessário que
chegar ao desencadear de nossas vidas, o professor observe o quanto é importante o
dando-nos o asseguramento necessário para processo de ensino aprendizagem por meio
progressão natural do ciclo humano. do lúdico.

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Revista Educar FCE - Março 2019

De acordo com Oliveira (2002) por desenvolver conhecimentos relevantes,


intermédio das brincadeiras, ocorre o como, por exemplo, memória, imitação,
estimulo do desenvolvimento cognitivo atenção, imaginação, entre outros, que
da criança. É por meio do brincar, que a proporcionem à criança o desenvolvimento
criança consegue uma experiência real, de determinadas áreas da personalidade, a
percebe-se assim um universo mágico, saber: afetividade, motricidade, inteligência,
imaginário, criativo, estimulante para as sociabilidade e criatividade.
habilidades, à curiosidade e em especial
para a independência da criança e o seu Em sua teoria, Pestalozzi (1969), partiu
aprendizado. Ao elaborar suas hipóteses a do princípio que o sujeito se estabelece
criança organiza suas próprias ideias sobre nas relações com os outros, por intermédio
o mundo que a rodeia, reproduzindo com de atividades essencialmente humanas,
isso o seu desenvolvimento psicológico e mediadas por ferramentas técnicas e
cognitivo em que se encontra. semióticas.

O brincar é a atividade principal do dia a dia. É Neste sentido, a brincadeira da criança


importante porque dá o poder à criança para representa uma posição de privilégio para
tomar decisões, expressar sentimentos e valores, a análise do processo de construção do
conhecer a si, os outros e o mundo, repetir ações sujeito, quebrando as barreiras com o olhar
prazerosas, partilhar brincadeiras com o outro,
tradicional de que está é uma atividade
expressar sua individualidade e identidade,
espontânea de satisfação de instintos
explorar o mundo dos objetos, das pessoas, da
infantis. O autor ainda fala da brincadeira
natureza e da cultura para compreendê-lo, usar
como uma forma de expressão e adaptação
o corpo, os sentidos, os movimentos, as várias
linguagens para experimentar situações que lhe
do mundo das relações, das funções e das
chamam a atenção, solucionar problemas e criar. ações dos adultos, também desenvolveu uma
Mas é no plano da imaginação que o brincar pesquisa que chamou de Brincar Heurístico
se destaca pela mobilização dos significados. para a aprendizagem e desenvolvimento de
(KISHIMOTO, 2009, p. 01). crianças, em colaboração com educadoras
de vários países. Este olhar deve-se ao
Segundo Oliveira (2002) o ato de brincar ponto de vista em que a criança explore
não significa especialmente apenas diversão sua criatividade, se desenvolva e consiga se
sem fundamento e razão, caracteriza-se expressar por meio de brincadeiras.
como uma das maneiras mais complexas da
criança comunicar-se consigo mesma e com o A palavra “heurístico” vem do grego
mundo, ou seja, o desenvolvimento acontece euriskoe significa descobrir, a criança começa
por intermédio de trocas experimentais a alcançar a compreensão de algo.
mútuas de toda sua vida. Sendo assim, por
meio da brincadeira, a criança consegue

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Revista Educar FCE - Março 2019

O foco do brincar está na descoberta dizer deixar para lá, deixar com que ela se
que a criança consegue fazer e também na vire sozinha, mas sim é simplesmente obter
manipulação de objetos como sementes, um olhar voltado para que a criança tenha
caixas, tapetes de borracha, bolas de direitos de escolher e seu professor deve
pingue-pongue, novelos de lã, etc. Em ser seu mediador, mas não a conduzindo
outras palavras, conforme Pestalozzi (1969), diretamente.
o brincar heurístico envolve oferecer a um
grupo de crianças, uma grande quantidade de
objetos para que elas brinquem, manipulem A IMPORTÂNCIA DA
livremente sem a intervenção dos adultos, BRINCADEIRA LIVRE
sendo eles pais ou educadoras.
A brincadeira está intimamente ligada
Conclui-se que o brincar heurístico com o à aprendizagem, isto acontece, porque a
uso do Cesto de Tesouros, possa nos oferecer criança não separa o momento de brincar,
uma experiência de aprendizagem ampla para do momento de aprender ou qualquer
os bebês que estão na fase de descobertas outro momento. Sua brincadeira é a sua
pelo mundo. Proporcionar o brincar aprendizagem, pois é no momento que ela
heurístico em instituições infantis é buscar a brinca que ela consegue absorver todo seu
resolução cuidadosa de pequenos detalhes, aprendizado de maneira prazerosa e isso fica
como: tempo, espaço, materiais adequados e gravado em sua memória.
gerenciamento. O papel do professor é o de
organizador e mediador, e não o de iniciador. É importante o cuidado de não confundir
Os bebês brincarão com concentração e sem os momentos de brincadeiras exclusivamente
conflitos por longos períodos, desde que lhes como portadores de aprendizagens e
sejam oferecidos quantidades generosas planejar brincadeiras sempre com este
de objetos cuidadosamente selecionados, e intuito, a brincadeira deve ser livre, pois
organizados para tal brincadeira. ela aprenderá por si só, isso acontece de
maneira natural. Essa postura poderia causar
Que lugar ocupa a brincadeira livre na sala um protecionismo excessivo do adulto ao
de aula na educação infantil? O que pensam orientar, e sempre estar conduzindo os
os educadores a este respeito? Um rápido momentos de brincadeira com um propósito
olhar sobre as salas de aulas de educação específico, com objetivos marcados e
infantil e suas práticas pedagógicas, nos cronometrados.
deixa um confronto com a realidade na
qual a brincadeira livre deixa de ser apenas O homem não brinca mais, a criança
para seu próprio aprendizado e passa a ser pequena começa a fazer imitações do
um abandono por parte das educadoras. O homem que não brinca mais e vai acabar sem
deixar a criança livre para brincar, não quer nunca ter brincado, pois infelizmente nossa

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Revista Educar FCE - Março 2019

“época”, pode-se falar assim, as brincadeiras De acordo com Perrenoud (1999) há pouca
foram sendo deixadas de lado e substituídas discussão sobre a infância e sua educação,
por tecnologia, na qual o jogo brinca, e os limitando a organização de um sistema de
movimentos são virtuais e não da própria ensino e de propostas metodológicas para
criança. o ensino das crianças pequenas. Isso limitou
as potencialidades e as oportunidades de
A criança só vê a mãe usando aparelhos desenvolvimento, comprometendo a visão
elétricos, não vê a mãe sacudindo a roupa, educacional na infância e dos trabalhadores
cantarolar enquanto bate um bolo, até nesse nível educativo.
mesmo ir á lojas se tornou cansativo, pois
tudo é online. A mãe e o pai são portadores Por meio do brinquedo e brincadeiras
de aparelhos que precisam fazer tudo o mais a criança pode desenvolver a imaginação,
rápido possível. Em vez do canto, da dança, confiança, autoestima, e a cooperação, no
o barulho dos motores domésticos. A grande meio em que se insere.
variedade de objetos que podem fazer parte
de um Cesto de Tesouros significa que não há O modo que a criança brinca mostra seu
necessidade de incluir um objeto que produz mundo interior, revela suas necessidades
ansiedade, curiosidade, conhecimento nas e isso permite a interação da criança com
educadoras, em relação à sua segurança. as outras crianças e a formação de sua
personalidade. Para isso é necessário que as
O prazer que provem das brincadeiras escolas de Educação Infantil proporcionem
guarda o sentido do prazer pelo viver, ser, condições e promovam situações de
investigar, sentir, tocar, viver com o outro, atividades conforme as necessidades das
vibrar com vitórias e enfrentar derrotas, enfim, crianças, oportunizando a estimulação para
de verdadeiramente fazer, brincar, ser livre. o seu desenvolvimento integral.

A educação infantil se insere em um Por meio de diversos estudos realizados


contexto histórico e social decorrente das nos últimos anos sobre a criança, educadores
mudanças produzidas pelo capitalismo sugerem que o brincar para ela é essencial,
industrial no século XIX, que passou a principalmente porque é assim que aprende,
incorporar o trabalho feminino e da criança e sempre a brincadeira e o brinquedo
no sistema fabril. Embora, segundo Aranha estarão fortemente relacionados com a
(2006), no período anterior da Revolução aprendizagem em si. As crianças até os três
Industrial e durante ela, a questão da anos de idade, quando jogam, não percebem
educação já ocupasse o pensamento nessa ação qualquer diferença com o que os
de grandes filósofos, que defenderam a adultos consideram um trabalho. Vivem a
importância da educação para todos os seres fase que Piaget chamava de anomia e, dessa
humanos. forma, não podem compreender regras.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Assim adoram ajudar a mãe a varrer a casa desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e
ou fazer bolos, não porque exista valor ou a interação com amigos, jogos e brincadeiras
utilidade nessas ações, mas porque são essas trabalham de forma lúdica e estimula o
as atividades interessantes e divertidas. Essa raciocínio lógico da criança, eles funcionam
forma de pensar, entretanto, modifica-se, como facilitadores na aprendizagem.Para
e já a partir dos quatros a cinco anos é que compreensão e um maior aprofundamento
buscam benefícios por meio do jogo, mesmo sobre os estudos relativos aos jogos e
que estes sejam o elogio da sua ação. brincadeiras e sua relação com o processo de
aprendizagem e do desenvolvimento integral
Por intermédio das brincadeiras a das crianças da Educação infantil.
criança acaba explorando o mundo a sua
volta livremente, pois é a partir daí que ela A formação da criança era viabilizada
constrói seu aprendizado, e é nesse espaço por meio dos brinquedos e dos jogos que
que a criança acaba criando um mundo de ela executava. Por meio das brincadeiras as
fantasias e manifesta seus sentimentos, se crianças descobrem o mundo a sua volta,
sentindo cada vez mais segura para interagir. construindo a sua própria realidade, dando-
lhe um significado. Rosseau (1982) considera
É brincando também que a criança que o brincar na Educação Infantil implica
aprende a respeitar regras, a ampliar o seu definir o que se pensa da criança, que mesmo
relacionamento social e a respeitar a si pequena sabe de muitas coisas, interage com
mesmo e ao outro. Para realizar esse trabalho, pessoas, se expressa com gestos e olhares
contamos com uma bibliografia ampla, com e mostra como é capaz de compreender o
leituras de livros, artigos, revistas e sites mundo. O brincar é uma ação livre que não
sobre o tema abordado, além de pesquisar exige como condição um produto final. Ao
grandes autores e pensadores. Desta forma conceituar o jogo como uma atividade que
poderemos evidenciar o quão as crianças desenvolve o intelecto da criança, constatou
aprendem brincando, pois, o mundo em que no decorrer dos seus estudos, que por meio
vive é descoberto por meio de jogos que vão dos jogos a criança muda seu comportamento
dos mais fáceis até os mais variados. Os jogos e exercita a sua autonomia, pois aprendem a
para as crianças são uma preparação para a julgar argumentar, a pensar, a chegar a um
vida adulta, são por meio das brincadeiras, consenso.
e seus movimentos e a interação com outras
crianças e com os objetos, que elas vão O estudo que pretendemos realizar com
desenvolver suas potencialidades. este artigo é uma pesquisa bibliográfica,
referente aos jogos e brincadeiras na Educação
O jogo não pode ser visto apenas Infantil trabalhando com a psicomotricidade,
como divertimento ou apenas como fundamentada nas reflexões de leituras de
brincadeiras para distração, ele favorece o textos de autores diversos, e também de

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Revista Educar FCE - Março 2019

livros, revistas, sites e arquivos. Teremos como instrumento de investigação, uma pesquisa
quantitativa por meio de questionários investigativos com professores da Educação Infantil
e observação dos alunos da educação infantil durante as brincadeiras.

A infância realmente foi determinada pelas viabilidades dos adultos, modificando-se


bastante ao longo da história. Até o século XII, as condições gerais de higiene e saúde eram
muito precárias, o que tornava o índice de mortalidade infantil muito alto. Nesta época não
se dava importância às crianças e com isso o índice de mortalidade só aumentava, pois não
existia nenhuma preocupação com a higiene das crianças.

A valorização e o sentimento atribuídos à infância nem sempre existiram da forma como


hoje são concebidas e difundidas, tendo sido modificadas a partir de mudanças econômicas
e políticas da estrutura social. Percebe-se essas transformações em pinturas, diários de
família, testamentos, igrejas e túmulos, o que demonstram que a família e escola nem sempre
existiram da mesma forma.

A concepção de infância configura-se como um aspecto importante que aparece e que


torna possível uma visão mais ampla, pois a ideia de infância não está unicamente ligada à
faixa etária, a cronologia, a uma etapa psicológica ou ainda há um tempo linear, mas sim a
uma ocorrência e a uma história. Neste sentido considerar a criança hoje como sujeito de
direitos é o marco principal de toda mudança legal conquistada ao longo do tempo, porém
antes dessa mudança podemos perceber que muitas coisas aconteceram, muitas lutas e
desafios foram travados no decorrer da história para que se chegasse a concepção atual, a
criança deve brincar e expor seus sentimentos e prazeres por meio de brincadeiras livres na
qual ela mesma possa se conduzir.

Cabe aos professores, em sua prática docente, propiciar situações de aprendizagem


que levem ao desenvolvimento de habilidades e de conteúdos que possam responder às
necessidades dos alunos ao meio social que habitam.

O grande número de brinquedos que são produzidos atualmente no mercado, sugere


que há certa compreensão por parte dos adultos de que a brincadeira em si é importante
para seus filhos, ou seja, as crianças em geral. O educador deve ser capaz de mediar sem ser
intrusivo e de acompanhar sem ser omissivo ou indiferente, em todos esses organizadores
de brincadeiras o brincar heurístico deve sempre fazer parte da vida de nossas crianças, pois
é nele que ela vai expor toda sua necessidade e sentimento.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É brincando que a criança se descobre e consegue se
expressar de maneira livre e saudável. A criança tem uma
mentalidade semelhante à do artista, pois ambos ingressam
facilmente no universo do faz de conta, aplicando o dom de
fantasiar a tudo e fingindo que algo é, na verdade, alguma
coisa bem diferente, ela inventa, ela constrói ela faz e desfaz.
A brincadeira pode ser representada por meio de várias
formas, uma delas é simplesmente deixar a criança expor
seus movimentos.
DÉBORA CAETANO
DA SILVA PINHEIRO
Graduação em Pedagogia pela
Universidade Nove de Julho
em 2016; Especialista em
Ludopedagogia pela Faculdade
Campos Elíseos em 2018;
Professor de Educação Infantil na
Rede da Prefeitura de SP.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
OLIVEIRA, Glória Aparecida Pereira. A concepção de egressos de um curso de Pedagogia
acerca da contribuição do trabalho de conclusão de curso. 2003. Dissertação (Mestrado)
Faculdade de Educação – Universidade Estadual de Campinas. São Paulo, 1994.

PESTALOZZI, J. (1746) – Cartas sobre Educação Infantil (1969) – (Traducción de José M. Q.


Cabanas) – Madrid: Editorial Tecnos.

PERRENOUD, P. et alli – As competências para ensinar no século XXI: a formação dos


professores e o desafio da avaliação; Porto Alegre: Artmed, 1999.

ROSSEAU, Jean Jacques, Discurso sobre educação – RidendoCastigat Mores. 1962.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O EDUCAR NA CRECHE
RESUMO: O presente artigo pretende mostrar a importância do educar na creche,
priorizando o fazer pedagógico no dia a dia das instituições de educação infantil, ainda que
este esteja aliado aos cuidados pessoais dispensados aos bebês e crianças, como alimentação,
higienização e segurança pessoal.

Como o próprio tema – o educar na creche – sugere, o foco principal desse artigo é destacar
o papel educativo da creche nos dias de hoje, confrontando a ideia inicial da instituição como
local assistencialista, ou seja, que cuida de bebês e crianças enquanto as mães trabalham ou
somente como instituição que atende bebês e crianças órfãs.

Palavras-Chave: Creche; Educação Básica; Educação Infantil;

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO
A relação entre o cuidar e o educar na Como base bibliográfica usarei algumas
creche é um tema bastante discutido nos publicações do MEC e da Secretaria
cursos de formação de professores e em Municipal de Educação de São Paulo que
eventos relacionados à educação infantil, falam sobre a Educação Infantil e também do
aqui no Brasil cada vez mais sustenta-se a cuidar e educar na creche.
mudança de paradigma em relação à creche,
enfatizando a necessidade de incluir a prática
pedagógica no trabalho com bebês e crianças EDUCAÇÃO INFANTIL DE
de até 3 anos (faixa etária atendida na creche) 0 A 3 ANOS DE IDADE?
e não somente priorizar os cuidados pessoais
no atendimento da faixa etária mencionada. Uma grande mudança educacional
aconteceu no Brasil a partir do momento
Tenho observado que a sociedade de em que a Educação Infantil passou a ser
uma forma em geral ainda hoje enxerga o vista como início da Educação Básica,
papel da creche como assistencialista – e à possibilitando a todas as crianças a partir de
concepção de cuidado, atenção e abrigo - e 0 ano ter acesso aos centros de educação
sustenta a ideia de que a creche é um local infantil e a uma educação de qualidade.
destinado somente a cuidar dos bebês e
crianças, pouco reconhecendo e valorizando Segundo a LDB em seu artigo 29: “A
as possibilidades pedagógicas no dia-a-dia educação infantil, primeira etapa da educação
da creche. básica tem como finalidade o desenvolvimento
integral da criança até seis anos de idade, em
Então, pretendo através deste artigo seus aspectos físico, psicológico, intelectual
mostrar a importância do fazer pedagógico e social, complementando a ação da família
no dia a dia da creche, focando na função e da comunidade”. Portanto, esse direito é
educacional que os centros de educação previsto na lei, é uma conquista educacional
infantil devem ter nos dias atuais. e não mais um serviço assistencial prestado
às famílias e crianças pelo poder público.
É necessário refletir sobre o papel
do profissional que trabalha em creche, Em 1988, com a Constituição Federal, a
considerando sua função e responsabilidade educação de crianças de 0 a 6 anos de idade
social, mas principalmente, educacional. É tornou-se um direito de todas as crianças
importante ter um foco educativo no dia a e, consequentemente, um dever do Estado,
dia da creche? É possível aliar o cuidar e o que tem como principal responsabilidade
educar na educação infantil? Essas e outras garantir o acesso de todas as crianças na
questões serão abordadas neste artigo. educação infantil e oferecer uma educação

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Revista Educar FCE - Março 2019

pública, de qualidade, capaz de formá-las Diretrizes e Bases da Educação (1996), a


integralmente, ou seja, em todas as áreas do mudança de paradigma da educação infantil
seu desenvolvimento pessoal. ganhou força, pois ambas também garantem
o direito de todas as crianças à educação
Nos fundamentos legais, conforme citado infantil, principalmente das crianças de 0 e 3
anteriormente, a Constituição Federal de anos de idade.
1988, em seu artigo 208, inciso IV, determina
que o dever do Estado para com a educação No âmbito da educação, a Lei de Diretrizes
da criança de 0 a 6 anos será efetivado e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei
mediante a garantia de atendimento em 9.394, de 20 de dezembro de 1996, reitera
creches e pré-escolas, apontando o caráter o dever constitucional do Estado com a
educacional desses estabelecimentos. educação infantil (art. 4º) definindo-a como a
primeira etapa da educação básica, devendo
Até então, o acesso das crianças nessa ser oferecida em creches ou entidades
faixa etária – 0 a 6 anos – a educação infantil equivalentes, para crianças de até três anos
era pouco estimulado, pois considerava-se a de idade e em pré-escolas para crianças de 4
ideia de uma educação assistencialista, ou a 6 anos de idade (art. 30).
seja, as crianças mais carentes, com maior
vulnerabilidade social tinham prioridade para A partir de então, observamos uma
frequentar os centros de educação infantil. mudança na concepção de educação infantil
e infância, principalmente porque as leis
Por sua vez, os profissionais da área garantiram direitos educacionais a partir de
priorizavam o cuidado de bebês e crianças 0 ano, antes ofertados somente para a faixa
que frequentavam os centros de educação etária de 3 a 6 anos de idade.
infantil, pouco valorizando a educação e
formação integral das crianças. Neste caso, Novas oportunidades foram dadas aos
cuidados pessoais, alimentação e higiene profissionais da educação em relação à
eram mais importantes do que desenvolver educação infantil, pois abriu-se um enorme
atividades ou promover experiências campo para pesquisa, discussão e mudanças
pedagógicas com as crianças. de paradigmas em relação às práticas
pedagógicas, sobretudo na formação desses
O Estatuto da Criança e do Adolescente profissionais.
– ECA, Lei 8.069, de 13 de julho de 1990,
em seu artigo 54, reafirma o dever do Estado Em São Paulo, por exemplo, na última
em assegurar atendimento, em creche e década, as creches eram administradas
pré-escola, às crianças de zero a seis anos e supervisionadas pela Secretaria de
de idade. Com o Estatuto da Criança e do Assistência Social, psicólogos e assistentes
Adolescente em 1990 e da LDB (Leis de sociais eram diretores das creches e

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Revista Educar FCE - Março 2019

coordenavam todo o trabalho desenvolvido O EDUCAR NA CRECHE


com as crianças. Tal fato reforça o modo
como a creche era vista e administrada pelo O Referencial Curricular Nacional para
governo, ou seja, tinha uma função somente a Educação Infantil é um dos principais
assistencialista. documentos que norteiam o trabalho na
educação infantil, segundo os Referenciais,
Há quase duas décadas as creches o papel da educação infantil é cuidar, educar
tornaram-se responsabilidades da Secretaria e proporcionar momentos de lazer (brincar)
Municipal de Educação e não mais da com ênfase no desenvolvimento integral das
Secretaria de Assistência Social, fato que crianças.
proporcionou uma grande mudança na
educação básica do município, pois todas as Uma das tarefas mais necessárias para
creches passaram a ser vistas como centros qualquer instituição de educação infantil é
de educação infantil. considerar a importância do educar em suas
práticas cotidianas nas creches e centros
Logo, a creche não é mais um local de educação infantil em todo o Brasil. O
de atendimento à crianças órfãs ou um cuidar continua sendo prática comum nas
depósito de crianças de pais que trabalham... instituições de educação infantil, porém, há
Finalmente foi reconhecida como um centro um grande esforço para que experiências
para educação infantil, com profissionais pedagógicas sejam incluídas nas rotinas das
formados para desenvolver integralmente creches, garantindo efetivamente, o acesso à
essa criança, tendo como base princípios, educação infantil e à educação de qualidade.
projetos e experiências pedagógicas voltadas
para as necessidades reais de cada indivíduo. O educar na creche deve proporcionar
condições para que a criança de 0 a 3 anos
Com base nos marcos legais citados de idade consiga se desenvolver como
anteriormente, verifica-se que a educação ser social, tornando-se sujeito do meio
infantil integra o sistema de ensino, sendo em que vive. É importante desenvolver
um dever do Estado e organiza-se segundo suas emoções, afetividade, a coordenação
normas do Sistema Educacional vigente. motora, a linguagem e a criatividade, entre
Portanto, precisamos ter bem claro que outras áreas do desenvolvimento humano.
a oferta de vagas em creches e escolas de
educação infantil pública não se trata de um O profissional que educa a criança de 0
favor, mas sim um direito de todas as crianças a 3 anos tem a responsabilidade de planejar
de 0 a 6 anos. e executar experiências pedagógicas que
considera o saber pessoal de cada criança
para a construção de um saber coletivo e
vice e versa. Deve proporcionar meios para

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Revista Educar FCE - Março 2019

que esse saber seja construído, respeitando a outros adultos e ampliar seus saberes a partir
individualidade de cada um, permitindo uma dessas vivências e trocas.
aprendizagem significativa e bem sucedida a
todos. O brincar é o modo de aprender da
criança, muito mais que um direito, é uma
A responsabilidade em incluir o educar atividade indispensável que promover seu
na creche transpassa os limites do cuidar, desenvolvimento integral, é muito mais que
diversos documentos foram publicados pelo uma forma de passatempo ou lazer, faz parte
MEC e Prefeitura Municipal de São Paulo, do processo educativo na educação infantil.
com o intuito de orientar sobre as mudanças
de paradigmas na educação infantil, sendo Enfim, ao pensar na possibilidade de incluir
assim, fica claro que os novos padrões o educar na rotina das creches, devemos
para esta etapa da educação básica estão superar o olhar do passado, em que a creche
relacionados à qualidade do serviço oferecido era vista como local de cuidado das crianças
e da importância do educar na faixa etária de de 0 a 3 anos de idade e privilegiar mais este
0 a 3 anos de idade. espaço como um ambiente educacional, rico
em experiências pedagógicas que colocam
O educar é, portanto, proporcionar bebês e crianças como protagonistas do
situações de cuidados, brincadeiras e processo de aprendizagem e desenvolvimento
aprendizagens para todas as crianças, pessoal.
indiscriminadamente, que possam contribuir
para o seu desenvolvimento pessoal e
interpessoal, acrescentando à sua formação
elementos culturais e sociais para ampliar
seus conhecimentos individuais.

Na perspectiva de contribuir para a


formação de crianças felizes e saudáveis,
a educação nessa faixa etária – 0 a 3 anos
– poderá auxiliar no desenvolvimento
das capacidades de apropriação dos
conhecimentos corporais, afetivos,
emocionais, cognitivos, estéticos e éticos.

Na creche, bebês e crianças precisam


explorar objetos, experimentar o corpo,
aventurar-se pelo espaço escolar, brincar,
comunicar-se com outras crianças e com

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante entendermos que a educação infantil no
Brasil, a partir da Constituição Federal de 1988, o ECA e a
LDB, tornou-se fundamento da Educação Básica, instituída
por lei como direito das crianças de 0 a 6 anos de idade e
dever do Estado. Dessa forma, a educação infantil perde sua
identidade assistencial e ganha um caráter educacional.

Essa mudança lança um desafio aos governos de aproximar


o que diz a lei à atual educação básica, tendo como maior
responsabilidade garantir o acesso de todas as crianças
menores de 6 anos às instituições de ensino e oferecer DANIELA APARECIDA
uma educação infantil de qualidade, que supra todas as DA SILVA
necessidades de desenvolvimento do bebê e da criança.
Graduação em Pedagogia pela
Faculdade Sumaré (2008);
Com a mudança de concepção de criança e desenvolvimento, Especialista em Gestão Escolar
em conjunto com quebra de paradigmas sobre o educar e e Coordenação Pedagógica pela
cuidar na educação infantil, todo esforço das escolas devem Faculdade Gama Filho (2010);
estar voltados para cumprir o papel socializador, propiciando Professora de Educação Infantil
o desenvolvimento da identidade das crianças, por meio na EMEI Papa João Paulo II.
de experiências pedagógicas diversificadas, realizadas em
situações de interação, respeitando sempre a diversidade e
individualidade de cada criança.

O referencial curricular diz que


A instituição de educação infantil deve tornar acessível a
todas as crianças que a frequentam, indiscriminadamente,
elementos da cultura que enriquecem o seu desenvolvimento
e inserção social. Cumpre um papel socializador, propiciando
o desenvolvimento da identidade das crianças, por meio de
aprendizagens diversificadas, realizadas em situações de
interação (BRASIL, 1998, p. 23).

Sendo assim, como profissionais da educação infantil,


devemos ter o olhar voltado para as formas particulares que
os bebês e crianças se apropriam do conhecimento e de
novas experiências, logo, bebês e crianças devem estar no

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Revista Educar FCE - Março 2019

centro do processo pedagógico da creche.

As mudanças nas leis da educação básica envolvem aceitar as especificidades da educação


infantil e rever as concepções sobre a infância, as relações e responsabilidades da sociedade
e principalmente, o papel do Estado diante das crianças pequenas.

Trouxeram também uma nova concepção de criança, que é vista como um ser completo,
que interage socialmente e está em processo permanente de construção como ser humano,
conforme o RCNEI (1998, v. 01, p. 21) “As crianças possuem uma natureza singular, que as
caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio”.

De acordo com RCNEI:


Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens
orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das
capacidades infantis de relação interpessoal, de ser, e estar com os outros em uma atitude
básica de aceitação, respeito, confiança, aos conhecimentos mais amplos da realidade social
e cultural.

Logo, o processo educativo de bebês e crianças é muito importante para sua vida e deve
ser valorizado pelas creches e famílias pois o educar é a base do desenvolvimento do ser
humano. Valorizar a criança em seu processo de aprendizagem inicia-se com os bebês na
primeira infância, um período importante, pois, durante os primeiros meses de vida o bebê
se desenvolve muito rápido e aprende a fazer inúmeras conexões entre o que sente e o
mundo ao seu redor.

Enfim, a Educação infantil deixou de ser um espaço assistencialista e passou a ser um


ambiente de aprendizagem, ao contrário do que acreditavam anteriormente que a infância
era uma preparação para a vida, ela passou a ser considerada como parte da própria
aprendizagem e desenvolvimento de bebês e crianças, por isso, é inegável a importância do
educar na educação infantil.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
ANNA BONDIOLI, Anna; MANTOVANI, Susanna. Manual de Educação Infantil: de 0 a 3
Anos. São Paulo, Artmed, 1998.
BARBOSA, Maria Carmem Silveira. Por amor e por força: rotinas na educação infantil. São
Paulo, Artmed, 2006.

BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil. Lei Federal de 05/10/1988.


Brasília: Senado Federal, 2000.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Lei Nº 8.069, de 13 de Julho de


1990.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Lei Federal n.º 9.394, de
26/12/1996.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros nacionais de


qualidade para a educação infantil/Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica
– Brasília. DF. Vl 1.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros nacionais de


qualidade para a educação infantil/Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica
– Brasília. DF.Vl 2.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.


Referencial curricular nacional para a educação infantil— Brasília: MEC/SEF, 1998. Vl. 1.

SME. Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Orientações


curriculares: expectativas de aprendizagens e orientações didáticas para Educação Infantil
/ Secretaria Municipal de Educação – São Paulo: SME / DOT, 2007.

SME. Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. A Rede em rede:


a formação continuada na Educação Infantil – fase 1 / Secretaria Municipal de Educação. –
São Paulo : SME /DOT, 2007.

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Revista Educar FCE - Março 2019

DEFICIÊNCIA AUDITIVA NO
CONTEXTO EDUCACIONAL
RESUMO: Neste artigo abordamos o tema deficiência auditiva: sua definição, características
gerais frente à escolarização, a língua brasileira de sinais, o papel do interprete, a história da
Educação dos Surdos e sua caminhada para chegar a ter uma educação para surdos, a trajetória
da História dos surdos no Brasil e no mundo, sem deixar de fora noções importantíssimas
como: a audição e o som. A deficiência auditiva é um dos distúrbios físicos mais comuns nos
dias de hoje. Ao passo que em alguns o grau de perda auditiva seja tão pequeno que talvez
ele nem perceba, outros são tão surdos que não conseguem ouvir a voz humana por mais
amplificada que seja.

Palavras-Chave: Deficiência; Educação; Auditiva; Escolarização.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO
Abordamos o tema deficiência auditiva: Depois do congresso de Milão, em
sua definição, características gerais frente 1880, a língua de sinais ficou proibida na
à escolarização. A deficiência auditiva é um educação dos surdos, dando assim, força
dos distúrbios físicos mais comuns nos dias para outros métodos já colocados em prática
de hoje. anteriormente. São estes o oralismo, a
comunicação total, o bilinguismo, a pedagogia
Alguns homens famosos, às vezes, dos surdos e a mediação intercultural, porém
transformam a sua deficiência auditiva estes métodos comprometiam o aprendizado
em uma vantagem. Exemplos disto são: o dos surdos, que muitas vezes, saiam das
grande Velho Estadista norte-americano escolas com qualificações inferiores e as
Bernard Baruch, que desligava seu aparelho habilidades sociais limitadas.
quando não estava interessado em ouvir
assuntos impertinentes; Thomas Edison, que Felizmente, esta realidade vem mudando
dizia que era a surdez, a responsável por no decorrer dos últimos vinte anos,
sua grande concentração e Beethoven, que porque alguns direitos foram adquiridos
compôs a conhecidíssima “nona sinfonia” já pela comunidade surda, um deles é o
na condição de surdo. Porém, para muitos, reconhecimento da LIBRAS (língua brasileira
a surdez é ainda vista como um fardo, sobre de sinais) como língua. A partir da Declaração
tudo para os ouvintes, que em razão da de Salamanca, a inclusão dos deficientes
falta de conhecimento da cultura surda e do no processo educacional, também vem
preconceito, enxergam as deficiências em se tornando cada vez mais comum esta
geral como um ônus constante. realidade.

Durante muitos anos acreditava-se que A fim de elucidar o tratamento que os surdos
os indivíduos surdos não podiam ter uma recebiam antigamente, e com o passar dos
educação e por isso, eles eram rejeitados anos as mudanças e avanços conquistados,
pela sociedade e depois eram isolados em perguntamo-nos; De que maneira ocorreu o
asilos para que fossem protegidos, enfim, os reconhecimento dos deficientes auditivos na
viam como “anormais” ou “doentes”. sociedade brasileira?

O ouvintismo sempre foi uma das Foi realizada uma pesquisa bibliográfica para:
concepções destes educadores que se levantarmos a história do surdo e suas conquistas
preocupavam apenas em “curar” os surdos, ao passar dos anos, reconhecer a trajetória do
reabilitando a fala e fazendo treinamentos deficiente auditivo no Brasil, ampliar o trabalho
auditivos. de alfabetização para o deficiente auditivo,
identificar a história do surdo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A sociedade surda percorre uma longa Consiste na redução ou ausência da


trajetória para serem reconhecidos como capacidade de ouvir determinados sons,
cidadãos de direitos, assim como qualquer conforme o grau da intensidade, por causa
outro cidadão com ou sem deficiência. de fatores que afetam as orelhas internas,
médias ou externas. O indivíduo pode nascer
Com o passar dos anos a sociedade passa com esta deficiência ou adquiri-la no decorrer
a enxergar o surdo de outra forma, como de sua vida, em razão de doenças ou à falta
um cidadão com direitos e deveres como de cuidados com o aparelho fonador.
qualquer outro, entretanto, isso se deu com
uma triste visão assistencialista. Para a capacidade de audição de uma
pessoa ser considerada normal, ela precisa
Quando começaram a discutir sobre a ter a habilidade de detectar sons até 20 dB
educação dos surdos e as metodologias N.A. (decibéis, nível de audição).
para que se desse o aprendizado deles, o
tema central sempre esteve ligado à língua, Antigamente os surdos eram considerados
ou seja, se seria oral ou de sinais. Um fato também como deficientes mentais, mas com
curioso é que foram sempre os ouvintes o passar do tempo descobriu-se que eles
que se autoconferiram o poder de tomar não desenvolviam a inteligência devido à
essas decisões. Como não havia escolas para dificuldade de comunicação que tinham para
surdos, surgiram diversos professores que com os ouvintes. E foi com o desenvolvimento
desenvolveram seus trabalhos por meio de das linguagens de sinais e das línguas orais
diferentes métodos de ensino. é que se pode entender que eles possuíam
inteligência e poderiam desenvolvê-la como
qualquer outro indivíduo.
A DEFICIÊNCIA AUDITIVA
Segundo o Prof. Dr. Ricardo Ferreira Bento TIPOS DE DEFICIÊNCIA
e “De acordo com a Organização Mundial da AUDITIVA
Saúde (OMS), a deficiência auditiva afeta
cerca de 10% da população mundial, sendo Condutiva
a principal causa de deficiência física crônica Ocorre, na maioria das vezes, em virtude
sem tratamento no mundo, nos dias atuais. de corpos estranhos depositados no
Uma em cada 1000 crianças tem algum canal auditivo externo, tampões de cera,
problema auditivo ao nascimento”. inflamações, má formação congênita ou
perfuração do tímpano. Caracteriza-se pela
Além de deficiência auditiva, existem interferência na transmissão do som desde
outros dois modos no qual ela também é o conduto auditivo externo até a orelha
conhecida e estes são: surdez ou hipoacusia. interna, e na maioria dos casos pode ser

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Revista Educar FCE - Março 2019

Em muitos casos, o diagnóstico médico consegue


tratada e revertida por meio de remédios
identificar a causa mais provável da perda auditiva,
ou operações. mas nem sempre isso é possível. A ocorrência de
gestações e partos com histórico complicado,
Sensório- Neural bem como a manifestação de doenças maternas
Pode ser originada ainda no ventre da no período próximo ao nascimento da criança,
mãe por causa de problemas no pré-natal podem inviabilizar a identificação dessa causa.
tais como a, sífilis, rubéola, toxoplasmose, Por isso mesmo, em cerca de 50 por cento dos
herpes, toxemia, alcoolismo, diabetes etc. casos, a origem da deficiência auditiva é atribuída
Também podem ser causada por traumas a “causas desconhecidas”. Quando se consegue
físicos, prematuridade, baixo peso ao descobrir a causa, o mais frequente é que ela se
nascimento, trauma de parto, meningite, deva a doenças hereditárias, rubéola materna e
encefalite, caxumba, sarampo etc. meningite. (REDONDO, MARIA CRISTINA DA F
& CARVALHO, JOSEFINA MARTINS, 2000, p. 8)

Este tipo de deficiência se dá quando existe


alguma lesão nas células sensoriais auditiva Graus de surdez - Classificação BIAP
ou no nervo auditivo e pode se dar, também (Bureau International d’Audiophonologic)
pelo uso de aparelhos sonoros com volume
muito alto ou a exposição a barulhos por - Leve – entre 20 e 40 dB (observa-
muito tempo. Neste caso, a perda auditiva se quando a pessoa tende a aumentar
pode ser solucionada mediante aparelhos progressivamente a intensidade de sua voz,
amplificadores, porém nos outros acima sem se dar conta que ouve menos, porém
descritos ela pode ser irreversível. ela, na maioria dos casos, não necessita de
aparelhos de amplificação sonora individual
Mista –AASI, apenas com o aumento do volume
Ocorre quando há uma junção das duas dos sons ela já consegue escutar).
outras já citadas, ou seja, interferências na
condução do som no conduto auditivo e - Média – entre 40 e 70 dB (observa-se
na recepção do som por lesões nas células quando o indivíduo faz trocas na fala, tem
sensoriais auditivas ou no nervo auditivo. dificuldades de ouvir ao telefone, fala muito
“hein?!” e precisa de apoio visual).
Surdez Central
Não está necessariamente ligada a lesões - Severa – entre 70 e 90 dB (Observa-
ou problemas na recepção ou condução se quando o indivíduo escuta apenas os
de sons pelas orelhas, mas sim pelo sons fortes, não conseguindo ouvir ruídos
Sistema Nervoso Central, que apresenta importantes do cotidiano como: campainha,
seus mecanismos de processamento de fala e TV).
informação sonora afetados.

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Revista Educar FCE - Março 2019

- Profunda – mais de 90 dB (Observa-se Este exame deve ser feito antes da criança
quando o indivíduo somente escuta os sons completar três meses de vida, porque assim
que emitem vibrações, como um avião ou pode-se descobrir perdas precoces, que
um trovão. O restante dos ruídos ele não poderão dificultar no futuro o aprendizado
consegue escutar nada; da linguagem.

1º Grau: 90 dB
2º Grau: entre 90 e 100 dB IMPLANTE COCLEAR
3º Grau: mais de 100 dB
Por intermédio de uma incisão atrás da
orelha em forma de “C” ou de “S” os médicos
O TESTE DA ORELHINHA implantam um dispositivo eletrônico na
cóclea do paciente e estes estimulam os
Em 2 de agosto de 2010, o presidente nervos que levam a mensagem ao cérebro.
Luis Inácio Lula da Silva sancionou a lei nº Por fora da orelha fica um microfone para
12303 (Anexo III), que torna obrigatório o captar os sons e levá-los até o dispositivo.
teste da orelhinha ainda nas dependências
das maternidades em que ocorrem os Pode acontecer de o deficiente não ter o
nascimentos das crianças. nervo auditivo em razão da má formações
congênitas, fraturas ou retiradas de tumores
A técnica utilizada é a de Emissões nesta região, mas mesmo assim ainda dá
Otoacústicas Evocadas (EOAs). para fazer o implante ligando o dispositivo
diretamente ao núcleo coclear dorsal.
Colocam um pequeno fone na orelhinha
da criança por alguns minutos e produzem O custo desta operação fica em torno de
estímulos sonoros e captam o retorno destes R$ 70.000,00, porém existem pessoas que
estímulos (eco), registrando no computador conseguem pelo SUS. É só entrar na fila e
se a cóclea (partes internas da orelha) está esperar, às vezes nem demora tanto.
funcionando.

O resultado se dá por meio de um gráfico HISTÓRIA DOS SURDOS NO


e um protocolo de avaliação juntamente com BRASIL E NO MUNDO
o laudo é enviado à mãe e ao médico.
A língua Brasileira de sinais e suas ricas
Caso seja detectada alguma deficiência, características possibilitam as pessoas com
imediatamente a criança é encaminhada aos deficiência auditiva na aquisição de uma
profissionais responsáveis para avaliações nova língua contribuindo diretamente para
completas de sua audição. sua inclusão na sociedade. Segundo dados do

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Revista Educar FCE - Março 2019

IBGE 2000 o número de pessoas surdas é de Edward Milller Gallaudet (1837-1917)


aproximadamente 12 milhões, sendo assim, possuía uma concepção totalmente oposta ao
a sociedade e as entidades educacionais oralismo ele defendia o método manualista.
não podem negligenciar a língua de sinais,
uma vez que, ela representa um elo de Alexander Grahan Bell (1847-1922)
comunicação entre os surdos e o mundo. defensor da metodologia oralista e a não-
aceitação do surdo, já que acreditava que
Na antiguidade a sociedade excluía os somente a língua oral era única e completa.
surdos de seu convívio social, tirando deles
direitos básicos como: promover matrimonio Durante um congresso em Milão, no ano
e acumular riquezas. Também foram de 1880, os representantes de vários países
cometidas atitudes abusivas que envolviam decidiram pela proibição de sinais, já que
desde sacrifícios aos deuses até execução acreditavam que o mesmo atrapalhava no
no mar ou fogo. Naquela época não existia desenvolvimento da fala e na criação de
preocupação da formação educacional dos ideias. Assim ficou autorizado o método
sujeitos surdos, já que não eram considerados oralista e a completa retirada do método
cidadãos comuns. No século XVII na Espanha manualista. Durante o período de 1880 até
surgiram alguns dos educadores importantes meados de 1970, prevaleceu o oralismo
que marcaram a educação dos surdos como: invadindo a Europa e tornando-se educação
obrigatória.
Ponce de Leon, primeiro educador que
quebrou as barreiras em relação à capacidade No ano de 1971 em Paris foi realizado
dos surdos, ele utilizava um método próprio, um congresso mundial de surdos que tinha
e ensinou os filhos surdos de nobres a ler, como definição discursar sobre o uso da
escrever e até mesmo filosofia. língua de sinais e pesquisas com os métodos
oralista e manualista, visto que o oralismo
Em (1579-1629) Juan Pablo Bonet deu não superava as expectativas do momento
continuidade ao trabalho de Ponce de Leon. em relação à comunicação e a educação dos
Publicou o livro Reducción de lãs arte para surdos.
enseñar a habla a los mudos. Neste trabalho
ele introduziu a língua de sinais e o alfabeto No Brasil, a educação dos surdos se deu
manual como ferramentas para ajudar no na época do segundo império por influência
desenvolvimento da leitura e da escrita das do francês Eduard Ernest Huet, ele solicitou
pessoas surdas. ao imperador Dom Pedro II a fundação da
primeira escola para surdos. Assim, em 1857
Heinicke (1723-1790) deu inicio á foi fundado no Brasil, o Instituto Nacional de
construção do oralismo. Educação de Surdos (INES). Deu-se inicio a
criação formal da Língua Brasileira de Sinais

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Revista Educar FCE - Março 2019

como forma de comunicação e expressão na inclusão da disciplina LIBRAS em escolas e


educação. A LIBRAS é uma mistura da língua cursos de formação de educação especial.
de sinais Francesa com a comunicação usada
pelos Brasileiros surdos de diversas regiões. Não existe padronização da LIBRAS com
a Língua Portuguesa (LP), isso porque a
Inicialmente o (INES) trabalhava somente LIBRAS é um idioma gestual-visual e utiliza
com a língua de sinais, posteriormente, a modalidade espaço-visual, assim como
devido à influência do congresso em Milão, (Quadros, 1997) cita que na LIBRAS o
que proibia o uso de sinais igualmente aos emissor utiliza um conjunto de movimentos
sinais que estavam sendo usado no INES, para comunicar-se o receptor usa os olhos
o mesmo passou a usar o método oralista ao invés do ouvidos, ao passo que a língua
(método no qual o surdo é estimulado a falar). oral, usa a modalidade auditivo-oral. Existem
Nessa fase acreditava-se que o oralismo várias possibilidades na LIBRAS que não
promovia inclusão, desenvolvimento da fala estão expressas diretamente nas palavras,
e aproximava os surdos da realidade dos além de ter suas próprias gramáticas, regras
ouvintes, já que a habilidade de falar era e estruturações ela fornece as características
considerada uma condição necessária para necessárias para a formação de uma
o surdo ser considerado um cidadão apto língua (fonológica, sintática, semântica e
dentro da sociedade. pragmática). Como qualquer outra língua
a LIBRAS possui suas particularidades e
Na década de 1970, a educadora Ivete influência de variações regionais.
Vasconcelos da Universidade de Gallaudet
veio ao Brasil para divulgar suas pesquisas, As línguas de sinais são sistemas
apresentando a metodologia da comunicação abstratos de regras gramaticais, naturais
total caracterizado por métodos e técnicas às comunidades surdas dos países que as
orais, sinais, gestos e expressões corporais. utilizam. Assim como as línguas faladas, as
línguas de sinais não são universais cada país
Educadoras como Lucinda Ferreira Brito, apresenta a sua própria particularidade.
Eulália Fernandes realizaram pesquisas e assim (QUADROS, 1997, p.01).
contribuirão para o bilinguismo ser difundido.
A língua de sinais se dá mediante as
No Brasil a LIBRAS já foi oficialmente seguintes combinações:
reconhecida como segunda língua. A lei • Configuração das mãos.
n° 10.436 de 24 Abril 2002 (Anexo I) a • Ponto de articulação.
reconhece como forma de comunicação, • Movimentos/os sinais podem ter
expressão e transmissão de ideias e fatos, movimentos ou não.
garantindo atendimento adequado nas • Expressão facial ou corporal.
instituições públicas além de assegurar a

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Revista Educar FCE - Março 2019

• Simplificação da grafia de sinais,


representados pela letra maiúscula. A modalidade sucessiva é marcada
• Nomes próprios ou palavras que não pelo ensino da primeira língua (LIBRAS) e,
possuem sinais são representados pela somente após adquirir conhecimento de
datilologia com uso do hífen. língua materna e dominá-la, deverá aprender
• Os verbos são representados no á segunda língua (português).
infinitivo.
• Pronomes pessoais são representados Em outros países experiência com bilíngue
pelo sistema de pontuação. está tendo resultado satisfatório um exemplo
é na Suécia.
Em LIBRAS não há representação para
gêneros (masculino e feminino) o sinal O bilinguismo passou a ser desenvolvido naquele
representado por palavra da LP que possui país a partir de 1981, quando o parlamento Sueco
este gênero termina com o símbolo @ para aprovou uma lei que estabelecia que os surdos
deveriam ser bilíngue. Dois anos depois um novo
reforçar a ideia de ausência e não criar
currículo escolar inseria em sua grade o ensino da
confusão.
língua de sinais, e, assim hoje os surdos aprendem
na escola a gramática da língua de sinais, o

PROPOSTA BILÍNGUE alfabeto digital e tem acesso as informações gerais


e internacionais de surdos. O papel do outro na
escrita de sujeitos surdos. (GUARINELLO, 2007,
O bilíngue surge como reivindicação dos p.47)
surdos pelo direito á sua língua e de conhecer
as pesquisas feitas no campo da língua
de sinais. Ela é uma proposta educacional Medidas como essas introduzem os surdos
que possibilita integrar a criança surda na sociedade e assim dão oportunidade
no convívio escolar dando ao educando para eles mostrarem seu potencial. Embora
a oportunidade de conhecer duas línguas ainda seja recente a proposta bilíngue
simultaneamente. A proposta bilíngue no Brasil, existem esforços por partes de
apresenta duas modalidades: simultânea e a educadores na implantação de projetos,
sucessiva. que futuramente podem dar bons frutos,
como é o caso da Suécia. Ao passo que isso
A simultânea envolve o ensino paralelo da as escolas que disponibilizam aulas com a
segunda língua (portuguesa) com a primeira linguagem de sinais possuem instrutores
(LIBRAS) promovendo para a pessoa surda surdos que auxiliam as crianças a adquirir
à oportunidade de conhecer a proposta estes conhecimentos.
bilíngue com diferentes educadores, ou seja,
a língua de sinais com educadores surdos e a
portuguesa com professores ouvintes.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O PAPEL DO INTÉRPRETE/ tradutor é considerado uma figura de extrema


TRADUTOR importância nas salas de aula para agregar
conhecimentos aos alunos com deficiência
Com a inclusão do surdo na sociedade auditiva, normalmente daquele que não tem
houve o reconhecimento formal da LIBRAS, acesso a LIBRAS no contexto familiar.
também surgiram regulamentações para
inserção de educadores especializados em
língua de sinais, que possam atuar em sala CURIOSIDADES
de aula. Surge a lei nº10. 436 de 24 abril
2002 (Anexo I) e o decreto nº5. 626 de 22 Voce Sabia Que...
dezembro 2005 (Anexo II), no qual legitima
a atuação e formação de LIBRAS e Língua Rômulo, o fundador de Roma, por volta
Portuguesa, também a obrigatoriedade do de 753 a.C. decretou que todos os surdos
ensino de LIBRAS no ensino básico e no recém-nascidos e crianças até aos três anos
superior. de idade teriam de ser incinerados, porque
eram um peso e problema para o Estado. ?
Tendo como base a política de inclusão (RADUTZKY, 1992)
escolar, o MEC propõe por meio das
Diretrizes da Educação Especial, a atuação do Voce Sabia Que...
intérprete da língua de sinais no processo de
aprendizagem desde o ensino fundamental (...) Espanha que tanto fez pela educação
ao médio para os alunos com deficiência do surdo, é curioso de como Ramirez de
auditiva. Carrion desenvolveu um processo de “cura”
de surdos, cuja a receita era a seguinte: raspar
O tradutor/intérprete é a pessoa que a cabeça (...), aplicar-lhe uma mistura de
domina fluentemente as duas línguas (LIBRAS Brandy, salitre, óleo de amêndoas e petróleo,
e LP). Ele atua em sala junto ao educador e pondo-se atrás do surdo reza-se a inevitável
que trata dos conteúdos da classe. O papel e medieval reza, bem alto, é claro, até porque
do intérprete é de fazer a interpretação estava-se perante um surdo. A única garantia
simultânea ou consecutiva dos conteúdos deste remédio era que, mesmo que o surdo
dada pelo professor. A atuação desses não se curasse, ficava careca, podendo assim
profissionais está sendo muito valorizada, dividir as suas preocupações entre a surdez
visto que faz a integração da comunicação e a calvície?
entre pessoas surdas e ouvintes. O campo
de trabalho também é bem amplo, podendo
exercer a profissão em: reuniões, cursos,
palestras, debates, entrevistas, audiências,
visitas, sala de aula, etc... Assim o intérprete/

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Revista Educar FCE - Março 2019

A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO para si próprio e para a sociedade. Desta


DOS SURDOS forma os surdos mal tinham o direito de
viver e a educação era algo muito distante
Ao contrário do que podemos pensar, da realidade destas pessoas.
a caminhada para educação dos surdos
foi longa, com várias discussões, barreiras Sem escola para ensiná-los, e sem leis que
segregações e adversidades. Sendo pudessem garantir seus direitos à educação,
modificada ao longo dos anos. Durante algumas pessoas tentavam ensiná-los, porém
muito tempo os surdos vêm buscando seu cada um à sua maneira.
espaço, contudo a idéia da sociedade nem
sempre foi de inclusão, fazendo com que É somente no fim da Idade Média que
a história dos surdos ficasse marcada por finalmente as pessoas passam a encarar a
muita discriminação e humilhação. surdez como uma deficiência, passa a ser
analisada pela medicina, e não mais por
Na antiguidade, cada país graças a sua crenças religiosas.
cultura e crenças tratava os surdos a sua
maneira. Na Grécia todos tratavam os surdos A primeira escola de surdos é criada em
como seres incompetentes, sem capacidade Madri, entretanto somente quem tinha
de raciocínio, sendo assim, os surdos ficavam acesso eram os filhos de pessoas nobres,
afastados da educação escolar, isolados e que lutavam para que os mesmos fossem
sem direitos, muitas vezes eram condenados alfabetizados, porque sem alfabetização não
à morte. Os povos Romanos, influenciados poderiam ter como herança os bens de sua
pelos gregos, pensavam e agiam da mesma família, e o governo teria direito a tudo. Neste
forma e diziam que as crianças com surdez período a educação dos surdos ficou baseada
eram um peso e um problema para o estado. em interesses econômicos, sem que todos
tivessem acesso. Os demais eram colocados
Com o passar do tempo algumas coisas em asilos com pessoas das mais diferentes
se modificavam, mas sempre baseadas em anormalidades, porque acreditavam que elas
crenças. Já na Idade Média, Santo Agostinho não poderiam se desenvolver.
defendia que, os pais que tinham filhos
surdos pagavam algum pecado. Sendo assim, Com o interesse de alguns estudiosos pela
o catolicismo que predominava na época, educação dos surdos começam a surgir então
acreditava que as pessoas com surdez algumas oportunidades, porém com muitas
não teriam vida eterna, como o evangelho discussões, uma vez que cada um defendia
pregava, já que os mesmos não poderiam um plano de ensino. Alguns defendiam o
fazer parte dos rituais religiosos, porque oralismo, outros os bilinguismo. Com o
não iriam proferir os sacramentos. Era como passar do tempo algumas leis e escolas para
se as pessoas com surdez fossem um fardo surdos foram surgindo conforme citado
anteriormente.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Todavia os surdos ainda continuavam comunicação do aluno com deficiência


a busca de seu espaço de igualdade, e foi auditiva. Algumas crianças utilizam a Língua
segundo a Declaração de Salamanca lei de Brasileira de Sinais (LIBRAS), estas são as
inclusão que conquistaram seu espaço nas chamadas bilinguista, outras interagem pela
escolas regulares de ensino. fala, a chamada comunicação aurioral, com
ajuda de aparelhos de amplificação.
A lei foi estabelecida, e realmente, os
alunos com surdez chegaram às escolas A educação destes alunos deve multiplicar-
regulares, mas ainda não houve investimento se gradualmente conforme o ritmo de
de fato, para que a lei caminhe de acordo aprendizagem. O aprendizado das crianças
com o que está descrito nos papéis. com ou sem deficiência deve ser divertido e
prazeroso.
Devemos considerar, no entanto, que
todos nós, surdos ou ouvintes, vivemos Seguem algumas dicas retiradas da revista
em uma sociedade que tem como base guia escola para que os alunos em geral
linguística a língua materna dos falantes tenham um bom desempenho na sala de
nativos do país (Brasil-português), e não aula:
a Língua Brasileira de Sinais (realidade de
um grupo minoritário). Segundo a lei, cada • A manipulação de materiais concretos
sala que tem alunos com surdez deveria ter nas atividades facilita a compreensão.
um interprete para facilitar a comunicação • O silêncio é primordial, especialmente
entre professor e aluno, todas as escolas para aqueles que utilizam aparelho.
deveriam contar com este atendimento, para • O reconhecimento e o incentivo nas
que nenhuma escola se negasse a incluir um tentativas de comunicação das crianças
aluno, independente de sua deficiência, mas fazem com que as mesmas se sintam seguras.
dados levantados pela revista nova escola, • Sempre utilizar palavras chaves para
mostra que, muitas escolas ainda não fazem mudança de assunto.
parte dessa realidade. • Não de privilégios para os alunos com
deficiência, trate todos da mesma forma.
Diante destas dificuldades, a absorção • Trabalhe em equipe, pois fortalece o
do conteúdo por parte do aluno com vinculo.
deficiência depende muito do educador,
exige dos professores paixão pela docência, A seguir citaremos algumas atividades que
habilidades, sensibilidade, flexibilidade para poderão ser utilizadas em sala de aula.
adaptações e acima de tudo criatividade.

O professor antes de realizar qualquer


atividade, precisa conhecer os tipos de

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ANÁLISE DE ATIVIDADES “Um jogo de atenção na leitura e de


soletração de alfabeto manual que constitui
“O que você viu ontem” em autentico desafio para os iniciantes”.
Uma maneira incrível para promover
curiosidade e desenvolver-lhes capacidade Cada jogador, na sua vez, soletra claramente
de conversação em libras e da abstração. uma palavra, utilizando o alfabeto manual e
não pode repetir.
Escolher um jogador para ser interrogado
e os, demais fazem as perguntas em libras. Os demais jogadores tentam entender a
palavra. Quando ele acaba de ser soletra,
O jogador a quem vai interrogar escolhe cada um diz em libras o que acha que leu.
um objeto, um animal ou uma pessoa que viu
no dia anterior e escreve num papel: “Ontem Os que acertaram ganham um ponto cada
eu-ver um animal”. Os demais jogadores um.
fazem perguntas em libras, um de cada vez,
para adivinhar o que o companheiro viu. Este Análise
somente responde em LIBRAS, “Sim” ou “ Muito importante nessa atividade é o
Não “ levantamento de hipóteses. Do que o aluno
pode ter entendido, o foco na atenção e a
O primeiro que adivinhar o que o dinâmica faz dessa aula uma verdadeira
companheiro viu deve transmitir as interatividade, o aluno precisa buscar
escondidas em LIBRAS e depois ler no palavras em seu vocabulário e também estar
papel. Acertou-se, se junta ao companheiro, atento nas palavras novas que irão surgir. Só
se errou cai fora e o mesmo procedimento é necessário atentar-se para que a marcação
continua com o restante dos jogadores. de pontos tenha uma finalidade clara.

Análise “Continue a História”


Os alunos encontraram nesta atividade Este reforça a imaginação dos participantes
uma maneira diferente de se relacionar com e diverte, pelas situações incríveis que são
as perguntas, para que venham acertar a relatadas.
resposta. É necessário montar estratégias e
por meio destas aprimorar o entendimento Um Jogador começa a contar em LIBRAS
da Língua de Sinais - LIBRAS e os caminhos uma historia inventada durante um minuto.
que são possíveis para a comunicação.
Terminando o tempo, o próximo deve
“Mensagem Soletrando em alfabeto retomá-la no ponto em que foi interrompida
manual” e continuá-la, acrescentado o que lhe
ocorrer durante outro minuto. Cada jogador

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Revista Educar FCE - Março 2019

tem um minuto para perseguir a historia, interesse dos educandos, mediante o ato de
conduzindo-a até onde quiser. Os resultados contar histórias e se relacionarem uns com
sempre são surpreendentes e divertidos. os outros, expressando os pensamentos,
priorizando o que acham importante e
Análise engraçado. Desta forma, desenvolvem
Trabalhar de forma que desperte a invenção a comunicação entre eles e acabam
dos alunos, torna a aula mais empolgante, conhecendo novas expressões e linguagens
além de despertar a criatividade e aguçar o utilizados por intermédio da LIBRAS.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da história dos surdos foi possível observar que
as pessoas portadoras de deficiência auditiva sempre foram
descriminadas e inferiorizadas, mesmo tendo os mesmos
valores e capacidades dos ouvintes. No Brasil tivemos
conflitos entre o método oralista e o de sinais, no qual os
“ouvintes” determinavam o certo e o errado.
Considera-se o educar como: dar condições para pessoa
desenvolver uma boa aprendizagem, não importando qual
seja sua deficiência, visto que a arte de educar não é mais
restrita ao núcleo dos considerados “normais”.
Depois da lei de inclusão dos alunos com deficiência nas
escolas, imposta pelo MEC, é que começaram a olhar estas
pessoas como seres humanos, dando-lhes a oportunidade de
frequentar os mesmos lugares (igualmente a escola) que os DANIELA PATRICIA
ouvintes frequentam, porém é difícil encontrá-los, eles não ALMEIDA MACHADO
vão a órgãos públicos, por falta de comunicação. É por falta
Graduação em Pedagogia pela
de comunicação que muitos surdos abandonaram a escola e
Faculdade Sumaré (2012);
por consequência até hoje, não compreendem muito bem as Especialista em Psicopedagogia
palavras em português, haja vista, que nem todas as escolas escolar pela Faculdade
têm profissionais especializados e interpretes para mediar o Unicastelo (2013); Graduação
dialogo entre professor e aluno, porém toda esta revolução em Geografia pela faculdade
é uma grande conquista. E hoje se escuta muito na inclusão UNIJALES (2018); Professora
e educação para todos e devagar iremos mudar o cenário de Educação Infantil e Ensino
dos deficientes auditivos, proporcionando-lhes uma cultura Fundamental I - na EMEF Quirino
voltada tanto para a LIBRAS quanto para a língua portuguesa Carneiro Renno.
e despertando o interesse de aprender cada vez mais.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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pdf. Acesso em: 24 Mar. 2019.

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Revista Educar FCE - Março 2019

ANEXO I
Presidência da República
Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos


LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002.

Regulamento Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais -


Libras e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu


sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de
Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados.
Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de
comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com
estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias e
fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.
Art. 2o Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias
de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua
Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das
comunidades surdas do Brasil.
Art. 3o As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de
assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de
deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor.
Art. 4o O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e
do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial,
de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua
Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais -
PCNs, conforme legislação vigente.
Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade
escrita da língua portuguesa.
Art. 5o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 24 de abril de 2002; 181o da Independência e 114o da República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Paulo Renato Souza

Este texto não substitui o publicado no DOU de 25.4.2002

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Revista Educar FCE - Março 2019

ANEXO II
Presidência da República
Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos


DECRETO Nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005.

Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002,


que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e
o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição,
e tendo em vista o disposto na Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, e no art. 18 da Lei no 10.098, de 19
de dezembro de 2000,

DECRETA:

CAPÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES


Art. 1o Este Decreto regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, e o art. 18 da Lei no
10.098, de 19 de dezembro de 2000.
Art. 2o Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva,
compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente
pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras.
Parágrafo único. Considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e
um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz.

CAPÍTULO II

DA INCLUSÃO DA LIBRAS COMO DISCIPLINA CURRICULAR


Art. 3o A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação
de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia,
de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
§ 1o Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento, o curso normal de nível
médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia e o curso de Educação Especial são considerados
cursos de formação de professores e profissionais da educação para o exercício do magistério.
§ 2o A Libras constituir-se-á em disciplina curricular optativa nos demais cursos de educação superior
e na educação profissional, a partir de um ano da publicação deste Decreto.

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Revista Educar FCE - Março 2019

ANEXO III
Presidência da República
Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos


LEI Nº 12.303, DE 2 DE AGOSTO DE 2010.

Dispõe sobre a obrigatoriedade de realização do exame


denominado Emissões Otoacústicas Evocadas.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu


sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o É obrigatória a realização gratuita do exame denominado Emissões Otoacústicas
Evocadas, em todos os hospitais e maternidades, nas crianças nascidas em suas dependências.
Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 2 de agosto de 2010; 189o da Independência e 122o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
José Gomes Temporão

Este texto não substitui o publicado no DOU de 3.8.2010

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Revista Educar FCE - Março 2019

A NEUROCIÊNCIA E A DIFICULDADE
DE APRENDIZAGEM
RESUMO: Este artigo, tem como objetivo discutir sobre as ferramentas neuropsicopedagógicas
utilizadas no diagnóstico e intervenção nas dificuldades de aprendizagem. A
neuropisicopedagogia enquanto área de reflexão e ação com foco nos fatores psicológicos.
A Neuropsicopedagogia, como uma ciência que abrange, estudando o ser que aprende
com reflexão e ação sobre o trabalho pedagógico com foco nos fatores psicológicos do
desenvolvimento e da aprendizagem, sem arriscar uma conceituação, tem como objetivo
básico contribuir para que, o sujeito, a escola ou a sociedade seja alcançado dentro de seus
processos de aprendizagem. Sendo assim, busca primeiro fazer uma observação e uma análise
do sintoma no âmbito mais global, por meio de jogos, desenhos, brincadeiras que contribuam
para a criação de vínculo. Com um enfoque do diagnóstico de atuação, a Neuropsicopedagogia
clínica trabalha no sentido de cuidar com que os problemas de aprendizagem sejam
prevenidos, ou seja, antes que aconteçam, ocorra uma ação neuropsicopedagógica, embora
o ponto de partida seja a queixa.

Palavras-Chave: Psicopedagogo; Intervenção; Neuropsicopedagógica, Ferramentas


diagnósticas.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO serem trabalhadas: convivência, prazer,


desafio, limite, empatia, pensar, elaboração,
O diagnóstico clínico regra, percepção, tolerância, significados de
Neuropsicopedagógico, assim como a vitória/derrota. Material a ser colhido será
intervenção é realizado no consultório exatamente como cada sujeito aprendente
(clínica) Neuropsicopedagógico. Segundo lida com estas situações e que ponto podem
Sampaio (1995) é importante que o ambiente colaborar ou comprometer seu processo de
de intervenção Neuropsicopedagógica seja aprendizagem, além de dar a oportunidade
um ambiente agradável e convidativo. de a criança escolher qual o desafio ele
enfrentara primeiro.
Durante o processo de observação do
psicopedagogo, são realizadas diversas A neuropsicopedagogia como ciência
atividades com ferramentas para definir as é muito importante, pois ela é a ciência
dificuldades de aprendizagem diagnosticadas que estuda o aprendizado, fazendo uma
para serem gradativamente trabalhadas anamnese, vendo os caminhos que as crianças
e superadas. Para isto, o psicopedagogo fazem para aprender, porem a avaliação não
utilizará ferramentas lúdicas como jogos e serve apenas para identificar problemas, mas
desenhos, leitura e escrita, conto de histórias, também para traçar estratégias para que o
computador e internet, entre outras que caso do aluno seja solucionado.
forem oportunas.

Segundo Piaget (1996), por meio deste FALANDO DA INCLUSÃO


trabalho à criança adquire um novo meio E AS DIFICULDADES DE
para se concentrar e de aprender a se
concentrar, ter limites, ganhar e perder, APRENDIZAGEM
desenvolver o raciocínio lógico e adquirir
maturidade e maior atenção, construindo O conjunto de processos educacionais
sua autonomia. A utilização de ferramentas decorrentes da execução de políticas
da neuropsicopedagogia clínica, como jogos articuladas, impeditivas de qualquer forma de
interativos e desenhos podem ajudar as revelar segregação e de isolamento, buscava alargar o
dificuldades e desejos dos aprendentes em acesso à escola regular, ampliar a participação
questão. E a partir das hipóteses, indícios e assegurar a permanência de TODOS
revelados e reflexões sugeridas, o relatório OS ALUNOS nela, independente, de suas
Neuropsicopedagógico é feito por uma particularidades. Sob o ponto de vista prático,
equipe interdisciplinar, exemplos mais a educação inclusiva garante a qualquer
comuns são psicólogos e fonoaudiólogos. criança o acesso ao Ensino Fundamental, nível
Nos jogos interativos, inúmeras questões de escolaridade obrigatório a todo cidadão
podem ser observadas para posteriormente brasileiro (CARNEIRO, 2013).

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Revista Educar FCE - Março 2019

As crianças brasileiras, também foram As contribuições da ´escola nova´ para


deixadas nas ruas para morrerem ou na roda a educação especial, tiveram um efeito
dos expostos para serem cuidadas pelas contrário daquilo que se buscava, com
instituições religiosas (BRASIL, 2008). a exclusão dos deficientes das escolas
regulares. O atendimento aos deficientes
Em 1874, fundou-se em Salvador, Bahia, se manteve com a ajuda de instituições e
a primeira instituição que atendia as pessoas organizações filantrópicas. Além disso, não
com deficiência mental, o Hospital Juliano foram conceituados os variados graus de
Moreira (BRASIL, 2008). deficiência, dificultando o atendimento e
o progresso educacional dessas crianças
Dentro dos princípios higienistas, em 1903, (BRASIL, 2008).
no Rio de Janeiro, a deficiência mental tornou-se
problema de saúde pública e esses deficientes O professor, dentro da perspectiva
foram relegados ao Pavilhão Bourneville, que inclusiva e com uma escola de qualidade,
foi a primeira Escola Especial para Crianças não deve duvidar da capacidade e das
Anormais e o Hospício de Juquery. A medicina possibilidades de aprendizagem dos alunos
influenciou na forma como essas pessoas e muito menos prever quando esses alunos
seriam tratadas até 1930, sendo substituída não irão aprender. Ter um aluno deficiente
pela Psicologia e Pedagogia (BRASIL, 2008). em sala de aula, não deve ser um empecilho,
para que, suas práticas pedagógicas, com
Um dos primeiros médicos psiquiatras a relação ao deficiente sejam menores de
estudar a Deficiência Mental no Brasil, foi idade qualidade ou em menor tempo.
Ulysses Pernambucano de Melo Sobrinho.
Ele enfatizou a necessidade do atendimento Dentro desse contexto a autora explica
médico-pedagógico com uma equipe que ainda, não justifica um ensino à
multidisciplinar (BRASIL, 2008). parte, individualizado, com atividades que
discriminam e que se diz ´´adaptadas´´ às
Com a chegada da `´escola nova´´ no possibilidades de entendimento de alguns.
Brasil, a Psicologia consegue se inserir A aprendizagem é sempre imprevisível,
na Educação, utilizando-se de testes de portanto, o professor deve considerar a
inteligência e identificando as crianças com capacidade de todos os alunos, deixando
alguma deficiência. A educadora Helena de rotulá-los e de categorizar seus alunos,
Antipoff, criou em Minas Gerais, o serviço de entendendo que todos são capazes de
diagnóstico e classes especiais nas escolas assimilar conhecimento e de produzi-los
públicas. Foi fundadora da Sociedade (MACHADO, 2013).
Pestalozzi, influenciando a criação da
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais Cunha (2015) comenta que, embora
(APAE), em 1854 (BRASIL, 2008). saibamos que na educação especial há

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Revista Educar FCE - Março 2019

casos degenerativos muito severos, são os possíveis discentes com necessidades


ainda assim, essas pessoas, mesmo que especiais e desenvolver com eles atividades
impossibilitadas no espaço pedagógico e e ações pedagógicas.
afetivo, por meio de atuação de profissionais
interessados e dedicados, podem receber um Percebe-se ainda para a autora, a
acompanhamento educacional reabilitativo proposição que o professor atualmente
em seu próprio lar. São ações inclusivas além continua ligado com o modelo da educação
dos muros da escola. tradicional que, continua se organizando com
base no modelo médico-pedagógico, que
Continuando na sua linha de pensamento, acaba se confundindo com o conhecimento
o autor, explica que quando o educador da educação especial. Estudos mostram que
trabalha com a informação da educação a grande dificuldade do professor é aceitar
inclusiva, sua prática conclui todos os níveis a crítica a esse modelo, que está vinculado
e modalidades de ensino: da educação ao pensamento dominante, não somente
especial, passando pela educação básica e na educação especial, mas na educação de
atingindo a educação de jovens e adultos, modo geral, causando por muitas vezes ao
alcançando assim a diversidade discente nas resultado do fracasso escolar.
diferentes etnias, culturas e classes sociais.
O professor deve observar, avaliar e mediar, Ainda segundo a autora, na atualidade, a
para que os recursos pedagógicos de que proposta dos professores tem como máxima
a escola possui sejam apropriados para a inclusão. Porém sua manutenção tem sido
aqueles que ensinam e para os que recebem o modelo médico-pedagógico que nos faz
o aprendizado. pensar se este caminho está levando a qual
caminho? Sucesso ou fracasso?
Michels (2006), explica que a formação
de licenciatura, especificamente no curso Se for verdade que para a democratização
de Pedagogia, com habilitação em educação da escolarização os alunos com deficiência
especial, e não em uma de suas áreas por meio de inclusão do ensino regular, terão
definidas pelas deficiências e deverá estar que ser superadas as barreiras impostas pelos
relacionada com o atendimento educacional educadores não especializados e modificados
dos alunos com deficiência. as práticas escolares na perspectiva da
absorção com qualidade, das mais diversas
Seguindo ainda no pensamento da diferenças culturais, linguísticas, étnicas,
autora, podemos notar a variação de tipos sociais e físicas. É também verdadeiro que
de formações continuadas e ela poderá ser a contribuição da área da educação especial
a modalidade para formar os professores não se fará presente enquanto permanecer
para a educação especial. Aos professores hegemônico o modelo médico-pedagógico
capacitados cabe a tarefa de identificar quais (MICHELS, 2006).

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Revista Educar FCE - Março 2019

O autor ainda explica que outras escolas pedagógicas para que o professor chegue a
se deparam diante do dilema de incluir o este aluno de maneira satisfatória, sabendo-
educando, optando pela idade biológica se que a Neuropsicopedagogia tem por
ou por sua capacidade de aprendizagem: objetivo o trabalho com a aprendizagem,
distorção idade-série. Há indivíduos que com o conhecimento, sua aquisição,
possuem atrasos no desenvolvimento, desenvolvimento e distorções. Realiza este
cuja maturação cognitiva está abaixo das trabalho através de processos e estratégias
pessoas da mesma idade. No entanto, não se que levam em conta a individualidade da
inclui um aluno de doze anos em um grupo crança. Portanto a avaliação é necessária
de crianças de 7, mas é adequado que ele empenhada com a melhoria de condições de
conviva e aprenda com os outros da mesma aprendizagem, orientando pais e professores,
faixa etária, pois esse é o seu grupo social. utilizando instrumentos para correlacionando
Uma diferença desproporcional certamente dados auxiliando as crianças.
traria dificuldades para o processo inclusivo
e para a dinâmica da sala de aula. Não é nossa Huguet, diz que no processo de ensino/
intenção culpabilizar ou exigir da escola ou do aprendizagem: pais e professores para que se
professor o que não foi concedido de forma obtenha esta boa relação entre família-escola,
ampla e irrestrita à educação: condições atribui fundamentalmente a responsabilidade
ideias para que todas as escolas pudessem na escola. O grau em que os familiares
estar preparadas e adaptadas, e todos os possam elaborar expectativas positivas em
profissionais formados e capacitados. Porém relação ao bem-estar e à educação de seus
é nosso dever não perder as esperanças filhos na escola vai depender da colhida
e, acima de tudo, trabalhar para a legítima que esta oferecer não somente aos alunos,
inclusão de nossos alunos. mas à família em seu conjunto, assim como
dos esforços destinados a manter e a cuidar
dessa relação (HUGUET, 1996, p. 26)
A INTERVENÇÃO
NEUROPSICOPEDAGÓGICA: Torna-se necessário ainda a figura do
psicopedagogo, como o profissional que
CONTRIBUIÇÃO NO também se dedica ao assessoramento da
PROCESSO DE APRENDER NA instituição escolar, visando assegurar ao
EDUCAÇÃO INFANTIL profissional desta instituição as condições
necessárias para uma melhor compreensão
do complexo processo de ensinar e aprender.
Por meio da avaliação Mas devido a grande complexidade
neuropsicopedagogica são traçados dos problemas de aprendizagem, a
meios para que o aluno possa aprender Neuropsicopedagogia passa a ter um caráter
a aprender, traçando metas e propostas multidisciplinar, buscando conhecimento em

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Revista Educar FCE - Março 2019

diversas outras áreas de conhecimento, além na visão diagnóstica dos problemas de


da psicologia e da pedagogia. aprendizagem escolar”. (WEISS, 2001,
prefácio) Para Vygotsky (1989 apud WEISS,
Há necessidade da noção de linguística, 2001, p. 26) a aprendizagem da criança
para explicar como ocorre o desenvolvimento começa “muito antes da aprendizagem
da linguagem humana, enfatizando os escolar e que esta nunca parte do zero.
processos de aquisição da linguagem oral Toda aprendizagem da criança na escola
e escrita. Ele nos reporta à conhecimentos tem uma pré-história”. Assim, construção
sobre o desenvolvimento neurológico, sobre poderá ocorrer sob forma de estruturas
suas disfunções que acabam dificultando complexas, e a ideia já vem sendo aceita
a aprendizagem; de conhecimentos pela maioria dos autores que lançam mão
filosóficos e sociológicos, que nos oferece de Neuropsicopedagogia para cuidar do
o entendimento sobre a visão do homem, assunto. Há de se destacar as capacidades
seus relacionamentos a cada momento e metas na questão do aprender que são
histórico e sua correspondente concepção substanciais para esse aprendizado.
de aprendizagem.
Uma das ideias bem difundidas é
O que se contata é que o exercício da aquela que pensa a inteligência como uma
Neuropsicopedagogia não é para quem quer, capacidade, dom ou vocação que possuímos
e sim, para quem pode. Não se deve ter independentemente de nossos esforços
domínio teórico, mas cabe uma percepção ou dos ensinamentos que recebemos na
seletiva a crítica. É importante unir a escola ou na vida. Segundo a visão inatista, a
saúde emocional, do Psicopedagogo a sua doutrina que afirma o caráter inato das ideias
capacidade em transitar entre as relações no homem, sustentando que independe
familiares, muitas vezes de fundo complexo, daquilo que ele experimentou e percebeu
haja vista que as famílias estão sempre em após o seu nascimento. Segundo Houaiss
processo de reorganização e suscitando (2002) o que somos, ou seja, o essencial
sempre possíveis saídas. Deve-se mostrar de nossa constituição ou inteligência
de modo simples e claro, a complexidade se expressa como revelação de nossas
do fazer Neuropsicopedagógico, e, assim, capacidades. Sendo uma revelação cabe-nos
amparar o leitor nesse aspecto. descobrir, desvendar as qualidades que lhe
são inerentes e que guardam um segredo
Com isso pode- se alimentar um saber que vale a pena ser descoberto e respeitado
prático dentro da dinâmica de experiências, como uma limitação, ainda que no melhor de
fundamentado por algumas teorias. Lembra- seus sentidos.
se que a Neuropsicopedagogia, “como uma
das áreas responsáveis pela aprendizagem, Lima (2005) comenta que a visão
tem muito a aprender e muito a contribuir inatista valoriza uma dimensão estrutural

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Revista Educar FCE - Março 2019

de inteligência: forma de organização concepções educacionais. Uma delas é


mental, capacidade de resolver problemas, bastante conhecida como o professor
conjunto de padrões ou esquemas transmissor de um saber produzido no
conceituais, físicos ou de raciocínios cujo exterior da profissão, ou seja, o professor
processo de desenvolvimento não pode ser como técnico.
reduzido, por exemplo, aos mecanismos
de aprendizagem ou qualquer outra forma Em oposição a esta visão, novas tendências
externa de intervenção. Por isso, nessa vêm apostando no psicopedagogo reflexivo
visão a inteligência muda muito pouco com capaz de criar seu próprio caminho
a experiência. Nessa linha de raciocínio a profissional, que é coletivo, construído no
inteligência é concebida como limitação, algo caminhar pedagógico, um psicopedagogo
que não pode avançar além de certo ponto. reflexivo que saiba lidar com as múltiplas
Já do ponto de vista de aprendizagem, o dificuldades encontradas em sua profissão.
modelo valorizado nesse contexto, está na Investir na formação docente é o primeiro
seleção de objetos e materiais adequados às passo para que o professor seja capaz de
necessidades e possibilidades das crianças, à elaborar suas práticas, transformando-as
cópia ou rotinas. quando necessário para alcançar o aluno.

Outra visão muito comum de inteligência Assumir que o processo de mudança


é aquela que advém do empirismo, no qual da criança se faz com participação do
ela é resultante das qualidades positivas psicopedagogo, e para tal se faz necessário o
ou negativas da experiência de cada um e investimento em formação contínua. Temos
seu desenvolvimento compõem-se de um que reforçar a necessidade de se tratar o
somatório das aprendizagens que houve ensino como uma profissão dinâmica, em
oportunidade de se fazer. (LIMA, 2005) desenvolvimento, onde o professor toma
Trata-se de uma visão causal ou dependente para si a responsabilidade que lhe compete
de inteligência, pois é consequência de ações ao definir os rumos da mudança educacional,
ou estimulações positivas em favor de seu um sujeito capaz de produzir mudanças
desenvolvimento ou daquelas que puderam sociais, políticas e culturais.
inibir a expressão de aspectos negativos ou Outro item que não pode faltar em um
de contextos desfavoráveis, o que poderá psicopedagogo reflexivo é a preocupação
prejudicá-la. É preciso necessário acreditar com o planejamento e avaliação de suas
na capacidade das pessoas, devendo ajudá- aulas, isso só ocorre se o professor registrar
las a ascender ao nível representativo do suas ações, avanços e dificuldades dos
pensamento. alunos. O registro representa muito mais que
um roteiro de aula ou uma enumeração de
Nas reformas educacionais o atividades desenvolvidas com seus alunos.
psicopedagogo se depara com várias Escrever sobre a prática faz pensar e refletir

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sobre cada decisão que foi ou será tomada, Daí a importância das crianças terem
permitindo aprimorar o trabalho diário e amplas oportunidades de exploração e
adequá-lo com frequência ás necessidades conhecimento do mundo que a cerca,
dos alunos. como fonte de prazer e cabe ao professor
proporcionar este momento de amor pela
O que não falta na análise do atendimento leitura.
de um psicopedagogo são oportunidades
para colocar ideias e reflexões em prática. Aprender pode ser entendido como o
Ao fazer o planejamento, por exemplo, ele processo de modificação do modo de agir,
pode antecipar o que pretende alcançar sentir e pensar de cada pessoa que não pode
em questão de desenvolvimento, sem essa ser atribuído á maturação orgânica, mas á sua
reflexão, o docente corre o risco de estar experiência positiva e prazerosa. A prática da
sempre improvisando. ludicidade como algo diário torna-se hábito,
praticando assim o escutar, imaginar e o
Em cada uma das escritas reflexivas feitas recontar.
pelo psicopedagogo, há elementos, para
que ele cresça como profissional e melhore Quando a criança trás para o atendimento
seu desempenho, desde que elas sejam o relato de um conto de forma espontânea,
compartilhadas com um formador que o divertida, inteligente, representa um
oriente, uma parceria do corpo escolar como passaporte para a família assegurar-se de
um todo, onde o professor não está sozinho. que o cotidiano da criança é mágico, cheio de
descobertas e de demonstrações de prazer.
Buscar despertar na criança o fascínio pela
fantasia do mundo da ludicidade é um desafio O atendimento e a análise com uso da
para todo profissional. Particularmente ludicidade e histórias proporcionam para
quando se trabalha com crianças pequenas, criança á oportunidade de fazer sentido do
cujas competências para agir, interagir e contexto e de experimentar a construção
modificar seu ambiente têm sido cada vez conjunta, vivenciando processos onde
mais estudado. aspectos linguísticos e afetivos da maior
importância são acionados em decorrência
O que as pesquisas que vêm sendo do próprio ato de contar história, onde as
realizadas sobre o desenvolvimento humano pessoas ficam em geral próximas umas das
têm apontado é que a criança é que a criança é outras, trabalhando temas como: perdas,
um sujeito competente, ativo e agente de seu frustrações, medos, etc.
desenvolvimento. Nas interações com outros
em seu meio, em atividades socioculturais Não se sabe muito sobre o assunto,
concretas, as crianças mobilizam saberes e entretanto, o que se conhece permite
ao mesmo tempo que os modificam. que se elaborem projetos buscando

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Revista Educar FCE - Março 2019

parceiros ideais para transformar a escola A NEUROCIÊNCIA E FAMÍLIA


de um espaço de exclusão num espaço JUNTOS NO MESMO
de inclusão, solidariedade, aprendizagem,
desenvolvimento e amor. Pois, aprender é
PROPÓSITO
ampliar o significado da vida. (LIMA, 2005).
Para o autor o aprendizado é algo que permeia A partir, das primeiras experiências de
a vida de qualquer indivíduo, independente aprendizagem escolar, a criança revive,
de sua formação escolar, e ocorre a todo repete e expressa sua maneira pessoal,
instante, pois é incrível a capacidade de particular de lidar com a realidade, esta
captura e armazenamento de informações maneira representa uma reedição da história
que possui o cérebro. de suas relações passadas, cada dia é um
novo aprendizado, junto com sua família
Nesse modo de agir, não existe, e seu meio inserido. Adverte-se que a
entretanto, treino ou exercício de questão da aprendizagem deve ser tomada
coordenação motora que leve a criança a também sob o ponto de vista transferencial,
vir a se expressar a criatividade. A avaliação já que nela o sujeito repete seu modo
Neuropsicopedagógica efetiva pode particular de se relacionar com os objetos
ser construída através do levantamento da mesma maneira com que vivenciou em
e integração de um bom número de seus acontecimentos passados. Sempre no
informações significativas, tal como a aprendizado da criança é imprescindível o
dinâmica familiar, os processos ocultos nela papel da família, vista como objeto de análise,
envolvidos e através das informações obtidas a família também passa pelo processo de
no âmbito escolar. Esta é fundamental para a observação com o psicopedagogo, já que
análise dos procedimentos de ensino, sobre trazem as formas ocultas de inter-relações
a afetividade e as relações significativas que entre seus membros, as regras que governam
o sujeito estabelece. sua dinâmica e os papéis que cada membro
desempenha dentro dela.
Dessa forma, as questões que o circundam
envolvem a possibilidade de aceitar a lei Disso se extrai a seguinte vertente:
da cultura e de que o conhecimento é não compete apenas à escola a função de
sempre parcial, já que proporciona sempre a educar, mas também à família que tem
possibilidade de novas buscas. o papel importantíssimo no dia a dia da
criança, com seus costumes, culturas e
hábitos. Por conseguinte, a linguagem pode
ser caracterizada como um objeto efetivo
de avaliação acerca do desenvolvimento
cognitivo e afetivo dos seres humanos. Ela se
edifica a partir da ação da criança no mundo

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Revista Educar FCE - Março 2019

em que vive, sendo expressa, num primeiro mais angustia nos adultos presentes do que
momento, através da ação e do gesto, e na própria criança, o adulto vê-se de mãos
em seguida, por meio do levantamento de atadas diante de tais fatos e ocorrências.
hipóteses.
Contudo, a pesquisa nessa área norteia
Alguns sintomas do TOD são: agir que são múltiplos os pontos que devem
deliberadamente, discutir com os adultos, não ser observados, para se afirmar se o
aceitar regras, ser vingativa, extremamente transtorno é o TOD ou não, o TOD tem
teimosa, desafia os adultos, não obedecem às forte ligação com as famílias, dependendo
ordens lhes dada, estão sempre com a razão, dos comportamentos dos pais em casa ou
gritam, choram para conseguir seus objetivos fora dela, os filhos reagira de acordo com as
e até enfrenta o adulto com violência física pessoas do seu convívio, pais separados que
como tapas, ponta pés, empurrões, e outros tende a fazer todos os gostos dos filhos para
tipos de agressões, não assume seus erros suprir suas faltas podem estar alimentando
colocando a culpa sempre em outras pessoas. esse TOD, pois as crianças muitas vezes
No entanto esses comportamentos também para conseguirem o que querem fazem birra,
são características de outros transtornos, esperneia, joga-se ao chão, fazendo com
como déficit de atenção e a hiperatividade. que o adulto lhe atenda a seu gosto para
A observação de tais transtornos faz parte não chateá-la, esse comportamento cresce à
do tratamento, medida que a criança vai crescendo, dando
abertura para outros tipos de agir contrário
Segundo KAPLAM; SADOCK E GREB ao que lhe é exigido.
(2003, p.996, grifo do autor) “os dois
transtornos possam ser variantes evolutivas Ao chegar na escola essa criança leva
um do outro, sendo o transtorno de conduta a para os professores e colegas esse tal
progressão natural do transtorno desafiador comportamento, assim os professores muitas
opositivo com a maturação da criança”. vezes desconhecendo tal comportamento
do aluno, enfrenta verdadeira batalha para
Geralmente criança com TOD agem de poder ensinar, em muitos casos o aluno
forma emotiva, atacando seus familiares de chega a atacar os professores fisicamente
modo a não se sentir culpada, toda vez que o e verbalmente, não aceitando obedecer às
adulto tenta lhe chamar a atenção tentando regras geram verdadeiros conflitos.
impor-lhe algum tipo de repreensão ela
se volta contra o adulto jogando para esse As dificuldades são imensas principalmente
adulto ou outra pessoa próxima a culpa do se os pais forem alheios a esse tipo de
seu erro, nesse sentido sente-se ilesa de transtorno, transferindo para a escola
qualquer responsabilidade, e acredita ser ela resolver a questão no sentido de “Educar”,
a pessoa que nada fez. Esse tipo de ação causa e ensinar, esses geralmente acreditam que o

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problema é externo a família, e muitas vezes de caráter e o melhor convívio familiar.


ele é interno, portanto de origem familiar,
esse transtorno pode estar relacionado a Quanto aos distúrbios de linguagem, há
vários aspectos, sejam eles de autoridade enorme preocupação quanto a compreensão
onde o pai exige total obediência da criança, de como a criança se comunica e o que
ou de pais liberais que deixa a criança fazer significa comunicar-se, como fazê-lo
o que bem quer nos dois sentidos os pais oralmente, de como será sua construção e
precisam ser ouvidos, orientados, ensinados, de sua relação com todo o desenvolvimento
a necessidade do dialogo da escola com os da criança. Com efeito, a escola, a família e o
pais é fundamental para que cheguem a um Psicopedagogo podem servir de apoio para
equilíbrio emocional e social. auxiliar a criança no desenvolvimento de
sua linguagem, com atividades que através
A parceria escola/família é de grande dos atendimentos neuropsicopedagógicos
relevância para que cheguem a um são elaborados e traçados para o
entendimento de como lidar com essas desenvolvimento de seu aprendizado. Assim,
crianças, uma vez que precisa de uma ação a avaliação Neuropsicopedagógica parte
conjunta para a formação de um futuro do pressuposto de que a aprendizagem
adulto com responsabilidade social, caráter compreende uma tarefa de construção e de
e respeito para com o seu próximo. domínio do objeto do conhecimento, sendo o
sujeito o principal agente de apropriação do
Vendo que tudo tem o começo na família, a saber. Dessa forma, pode-se entender que as
escola através de um psicopedagogo busque dificuldades de aprendizagem como questão
informações de como é o convívio dos pais pertinente à etapa de desenvolvimento da
com a criança, nesse sentido a coleta de criança, reconhecendo-se as condições de
informações é importante para que se crie aprendizagem, bem como a identificação de
uma ação direcionada a ajudar essa criança e suas áreas de facilidade e de dificuldade.
seus pais. O papel da escola é fundamental
pois as orientações passadas para os pais Conclui-se que a trajetória de
podem ser de grande valia se os pais assim aprendizagem da criança, como aprendente
as seguirem, por outro lado os professores pode em momentos de sua vida permear
buscam formas de trazer essa criança para o processo de formação integral de suas
ele em sala de aula, falando com o aluno com capacidades cognitivas, motoras, afetivas
firmeza, porém com respeito, sem gritar e e também das capacidades relacionadas
mesmo sem julgá-lo. à linguagem, à lógica e à socialização.
Entretanto, para se detectar problemas de
Numa ação conjunta desses dois polos aprendizagem existem inúmeros meios e
escola/família pode se chegar aos objetivos, instrumentos pedagógicos para se prevenir
que são sociabilidade, o respeito a formação e evitar tais obstáculos na trajetória escolar

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Revista Educar FCE - Março 2019

dos educandos. Mas o ideal é desenvolver uma nova compreensão acerca de cada criança
enquanto sujeito singular, e único protagonista de sua própria história desvencilhando-a de
rótulos e patologias, que podem ficar gravadas no passado da criança.

Por isso, o papel da Neuropsicopedagogia possibilita o atendimento à educandos com


dificuldade de aprendizagem, de forma única e integral, viabilizando um amplo e rico
embasamento teórico de apoio, estejam os sujeitos aprendentes em qualquer faixa etária de
aprendizagem e de desenvolvimento humano. Finalmente, com o apoio oferecido através
dessa pesquisa, espera-se que a Neuropsicopedagogia voltada para uma ação multidisciplinar,
possa ter como fundamento o processo global da compreensão do mundo presente, pela
unidade do conhecimento e pela criação de uma nova forma de gerenciar a vida.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que hoje, a Neuropsicopedagogia vem construindo
seu corpo teórico principalmente por meio da integração
entre a Psicanálise e a Epistemologia Genética, que tentam
explicar os problemas de aprendizagem que podem surgir
no decorrer da trajetória escolar de uma criança, de maneira
com que não podemos mais como professores ,simplesmente
rotular uma criança por falta de interesse em aprender ,mas
sim deve-se como psicopedagogo investigar a causa dos
problemas enfrentados por cada um dos alunos inseridos no DÉBORA GOMES LEAL
contexto escolar.
Professor de Educação Infantil na
Refletindo sobre o desenvolvimento cognitivo e da
Rede da Prefeitura de SP
construção do conhecimento, juntamente com os processos Artigo apresentado como
inconscientes e afetivos do sujeito, é possível prevenir e requisito parcial para aprovação
detectar o que pode estar ocorrendo com ele de uma maneira do Trabalho de Conclusão do
mais profunda e singular, por meio de atividades lúdicas no Curso de Especialização em
atendimento neuropsicopedagógico, como a Anamnese citada Neuropsicopedagogia
no contexto do artigo apresentado, tendo a possibilidade de
se chegar ao cerne das questões que impossibilitam a sua
aprendizagem. Portanto, os procedimentos de intervenção
do Psicopedagogo são realizados a partir da observação
sistematizada das atividades espontâneas da criança. No
caso de crianças menores é essencial refletir principalmente
sobre suas brincadeiras, e o discurso parental frente às suas
dificuldades de aprendizagem. Logo, a ação da criança ou de
qualquer pessoa reflete em sua estruturação mental, o nível
de seu desenvolvimento cognitivo e afetivo emocional.

Em verdade, quanto mais ele se adapta à realidade


externa, gradativamente aumenta sua necessidade interna
de organização coerente. O oposto também ocorre, ou seja,
quanto mais se amplia à realidade interna, há a necessidade
de se organizar perante a realidade externa. Quanto mais
a criança organiza de forma sistemática e consciente suas
representações, mais ela caminha para o período operatório,
como a escrita e o número. Do ponto de vista afetivo-

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Revista Educar FCE - Março 2019

emocional, percebe-se como parte de um todo significativo, quer na família, escola, como
alguém ativo, participativo, criativo e aceito, verdadeiramente ligado de forma interativa e
dócil num meio coerente requerendo uma compreensão subjacente.

Há de se frisar que a criança, através do uso de várias manifestações simbólicas, como a


linguagem, a brincadeira e até mesmo a imitação, pode descobrir-se como protagonista da
própria história de vida com gradativa tomada de consciência e a ressignificação da realidade,
conforme sua capacidade de assimilá-la. Acredita-se que o brincar impele a criança para
socializar-se, já que ela precisa aceitar o outro como um ser separado dela. Com o decorrer
dos tempos, adquire um conceito social de regras, na medida em que os combinados devem
ser respeitados, a agilidade mental aumenta consideravelmente, as dramatizações são
muito mais complexas e emotivas. Nesse contexto, deve-se dizer que a expressão gráfica se
apresenta como manifestação da totalidade cognitiva e afetiva. Quanto mais a criança confia
em si e no meio, mais ela se arrisca a criar e a se envolver com o que faz. Assim, pode-se
avaliar que a criança segura, consegue se concentrar na atividade porque ameaças internas e
externas não a pressionam, além do mais, se soltar com mais facilidade, acreditando no que
faz, identifica-se com suas representações.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre
necessidades educativas especiais. Brasília: Corde, 1990.

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SERRA-PINHEIRO, M. A., SCHIMITZ, M.; MATTOS, P. et al. Transtorno desafiador de


oposição: uma revisão de correlatos neurobiológicos e ambientais, comorbidades, tratamento
e prognostico. Revista Brasileira de Psiquiatria, v.26, n.4, p273-276. Dec. 2004.

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Revista Educar FCE - Março 2019

DISCIPLINA DE CIÊNCIAS DA
NATUREZA E O COMBATE AO
TRÁFICO E ANIMAIS SILVESTRES
RESUMO: Desde o descobrimento até os dias de hoje, a abundância de fauna e flora em
nosso país desperta o interesse de muitos alunos. Nas cidades brasileiras estima-se que
vinte e dois por cento dos lares mantém aves, somando cerca de seis milhões de brasileiros.
Milhares de aves chegam todos os dias aos grandes centros urbanos, e estima-se que esse
comércio chegue à cifra dos bilhões. Querer acabar com o hábito milenar do homem de viver
com outros animais parece quase impossível. Acabar com a corrupção das autoridades, com
a ganância dos traficantes, com a ignorância dos “passarinheiros”, e de outros tantos que tem
o comércio desses animais como complementação de sua renda, é um assunto complexo.
Portanto conclui-se que somente a educação sobre os danos causados por esse tipo de
comercio pode levar a formar cidadãos muitas conscientes de que suas atitudes individuais
refletem diretamente no meio ambiente.

Palavras-Chave: Tráfico de Animais; Educação; Comércio ilegal, Meio Ambiente.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO traficantes sejam descobertos. A maior parte


do público consumidor está no Rio de Janeiro
O ensino sobre a preservação do meio e em São Paulo. (Renctas, 2003).
ambiente através do combate ao comércio
ilegal de animais silvestres devem ser Os meios de transporte mais usados
analisado com critério e objetivos reais de pelos traficantes são caminhões, ônibus
conservação das espécies. interestaduais e carros particulares. Os
animais são transportados nas piores
Tráfico é o comércio ilegal. Traficar animais condições possíveis. São escondidos em
significa capturá-los na natureza, prendê-los e fundos de malas ou caixotes, sem ventilação,
vendê-los com o objetivo de ganhar dinheiro. e ficam vários dias sem comer e sem beber.
Participando disso, estamos contribuindo Resultado: de cada 10 animais capturados,
para o tráfico de animais. Acredita-se que o nove morrem no caminho e um chega às
comércio ilegal de animais movimente cerca mãos dos compradores. (Cobrap.org.br,
de 10 bilhões de dólares por ano em todo 2007)
o mundo. Só o tráfico de drogas e armas é
maior. (Relatório Renctas, 2001) Este trabalho teve como principal objetivo
colocar em discussão na escola, a partir da
Há uma relação entre o tráfico nacional e análise da bibliografia pertinente, o tráfico
o internacional: o Brasil possui um grande de animais da fauna brasileira, enfatizando
comércio interno de animais, que sustenta as alternativas para a sua preservação.
os traficantes que agem no país e servem
como intermediários para os traficantes
internacionais. Se o tráfico interno diminuir, DADOS JURÍDICOS
o número de animais brasileiros levados para
o exterior também será menor. (Relatório De acordo com a Lei editada em janeiro
Renctas, 2001). de 1967, número 5.197/67, entende-
se por fauna silvestre: “os animais de
A maioria dos animais silvestres é quaisquer espécies, em qualquer fase do seu
capturada nas regiões Norte, Nordeste desenvolvimento que vive naturalmente fora
e Centro-Oeste. Mas a principal rota de do cativeiro”. Passou a considerar os animais,
transporte desses animais está no sentido seus ninhos, abrigos e criadouros naturais,
da região Nordeste para o Sudeste. Há propriedades do Estado.
verdadeiras redes organizadas para enganar
a fiscalização existente nas principais Em fevereiro de 1988, a lei nos 7.653
rodovias do país. Essas redes agem de forma passou a considerar o comércio de animais
que os animais sejam transportados por até silvestres como crime, dividindo-o em dois
3.000 quilômetros de distância sem que os grupos: a desobediência aos artigos 4o, 8o,

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Revista Educar FCE - Março 2019

10o e 14o, punidos com um a três anos de 2 - Exóticas, são aquelas não originárias
reclusão. de fauna brasileira.
3 – Domésticas: animais de convívio do
A primeira Portaria a de número 132 que ser humano, dele dependentes e que não
permitia a utilização de animais nativos repelem seu julgo.
para fins comerciais foi publicada em 1988, 4 – Domesticados, animais de
ela possibilitou um incremento grande na populações ou espécies advindas da
prática de reprodução de jacarés, peixes seleção imposta pelo homem, e que
e capivaras. Agora, temos a Portaria 118, alterou as características presentes nas
mais atualizada e que permitiu o início da espécies originais.
implantação de Criadouros Comerciais para 5 – Em criadouros, aqueles nascidos,
pássaros canoros, inclusive. Assim é que, reproduzidos e mantidos em condições de
temos hoje, no Brasil, mais de uma dezena manejo, controlados pelo homem, ainda
deles nesse tipo de atividade. que removidos do ambiente natural e que
não possam ser mais introduzidos por
O ECO 92, Agenda 21, considera o animal razões de sobrevivência em seu habitat de
silvestre como um recurso natural sustentável. origem.

A maioria dos animais apreendidos Artigo 2o - É vedado
jamais retorna aos seus habitats de origem,
sendo ínfimo o número de espécies 1 – Ofender, agredir fisicamente
apreendidas comparado ao total de animais animais, sujeitando o mesmo a qualquer
comercializados. Citemos algumas definições tipo de experiência, prática ou atividade
presentes na lei: capaz de causar-lhe dano ou sofrimento,
bem como as que provoquem condições
Lei no 11.977, de 25 de agosto de 2005, aceitáveis de existência.
Vigente no Estado de São Paulo: 2 – Manter animais em lugares
desprovidos de asseio ou que lhes impeça
Capitulo I, Artigo 1o, Parágrafo único, a movimentação, descanso ou que lhes
consideram-se os animais; privem a luminosidade.
3 – Obrigar animais a trabalhos
1 – Silvestres, aqueles encontrados excessivos ou superiores as suas forças e
livres na natureza, pertencentes as a todo ato que resulte em sofrimento para
espécies nativas, migratórias, terrestres obter esforços que não se alcançariam
ou aquáticas, que tenham o ciclo de vida senão com castigos.
dentro dos limites do território nacional, 4 – Não propiciar a morte rápida e
ou órgãos jurisdicionais brasileiros, ou em indolor a todo animal cujo abate seja
cativeiro sob a autorização federal. necessário para o consumo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

5 – Não propiciar a morte rápida e atestado de saúde fornecido pelo médico


indolor a todo o animal cuja eutanásia seja veterinário.
recomendada. • Licença de transporte do IBAMA para
6 – Vender ou expor a venda animais animais da fauna silvestre brasileira.
em áreas publica sem a devida licença da
autoridade competente. TRÁFICO DE AVES
Documentos necessários no transporte
de Animais Nos cinco ecossistemas encontrados
em nosso país, a saber, o amazônico
Na exportação exige-se: (floresta amazônica), o atlântico (mata
atlântica e o sistema lagunar/restinga, e
• Requerimento de importação ou manguezal oceânico), o cerrado (Centro-
exportação do Ministério do Meio Oeste), a caatinga (Nordeste) e o pantaneiro
Ambiente. (Sudoeste), encontram-se 208 espécies de
aves ameaçadas de extinção. (www.apasfa.
• Certificado Zôo Sanitário Internacional org.br).
CZI, fornecido pelo ministério da
Agricultura. O gerenciamento, controle, proteção
e preservação, tanto da fauna quanto da
• Licença da CITES/IBAMA quando flora pertencem principalmente ao Instituto
o animal pertencer a lista da CITES Brasileiro do Meio Ambiente e de Recursos
(Convenção Internacional Sobre o Naturais Renováveis - IBAMA.
Comércio de Fauna e Flora Silvestre).
Divide-se o tráfico de animais em
• Licença de importação ou exportação duas vertentes. O tráfico com o objetivo
do IBAMA quando o animal não pertencer de abastecer o mercado interno, utiliza
a lista da CITES. diferentes tipos de transportes e segue rotas
que se iniciam no Norte e Nordeste do país
No transporte dentro do território e têm como destino os grandes centros
brasileiro: urbanos.

• Guia de transporte animal - GTA. Tem Já a segunda vertente tem como


validade de 8 dias, sendo emitido pelo consumidor final, cidades como Miami,
Posto de Defesa Sanitária do Ministério Bruxelas, Amsterdã, Frankfurt, e Cingapura,
da Agricultura, ou por um veterinário iniciando-se nas cidades de Belém, Itajaí,
credenciado pelo mesmo. Florianópolis, Campo Grande, Rio de Janeiro
• Para obter esse documento, o e São Paulo. Cidades da América do Sul como
transportador deve apresentar um Bogotá, e Assunção, são intermediárias no

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Revista Educar FCE - Março 2019

tráfico, servindo como depósitos antes dos Apresentar formas de comunicação


animais alcançarem seu destino final. especial entre seus membros.

A burocracia encontrada em operações Ter um eficiente aparato de proteção


aeroportuárias dificulta o trabalho das jurídica.
autoridades brasileiras. Nesse comércio
é constante a apreensão de animais em Utilizar métodos de persuasão que vão
território estrangeiro, daí a importância desde a propina até a eliminação do desafeto.
das normas operacionais que permitam (Relatório Renctas, 2001)
prosseguir no trabalho de fiscalização. Há bons
resultados envolvidos com a participação A captura de animais selvagens no interior
de autoridades alfandegárias estrangeiras, do Brasil, seja como reforço alimentar ou para
tendo como resultado, o retorno de animais manutenção como um mascote doméstico,
ao Brasil. (Relatório Renctas, 2001) talvez seja um elo mais fraco nesse comércio
mantido pela atual conjuntura político social
Há projetos para elaboração de um Cd- e econômica de nosso país.
rom pelo IBAMA, com cópias espalhadas por
todo o país, inclusive aeroportos, permitindo Somando-se essa inocente, mas não
a autoridade fiscalizadora identificar a inconseqüente tradição aliada a ganância de
espécie apreendida, seus hábitos, situação traficantes, e a irreflexão de compradores, os
legal, e outros, facilitando o trabalho de resultados são desastrosos. Desenvolvem-
fiscalização das autoridades responsáveis. se mercados nos quais a matéria prima é
extremamente delicada e finita.
Animais como sapos, macacos, cobras,
aranhas e outros, têm como objetivo Nesse mercado encontram-se: Jovens,
atender a pesquisas na área biomédica. desempregados, lavradores, pescadores,
Peixes ornamentais, aves, e alguns insetos, caminhoneiros, motoristas de ônibus, enfim,
visam atender a demanda ávida de grandes pessoas que transitam entre a área rural e os
colecionadores. (Renctas, 2003). médios e grandes centros urbanos.

Como já dito anteriormente, o tráfico Nos centros urbanos, traficantes locais,


de animais representa o terceiro maior lojistas e criadouros supostamente legais,
em volume de recursos. E como crime vendem esses animais para o consumidor
organizado, caracteriza-se por: Burlar os final, ou para compradores internacionais.
controles oficiais. (Renctas, 2003).

Manter o máximo de sigilo nas operações.

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Revista Educar FCE - Março 2019

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS Geralmente o canto é uma forma de


DAS ESPÉCIES MAIS vocalização com maior tempo de duração
para o pássaros. (BERTINI, 2000; POUGH et
PROCURADAS al., 2003).

A devastação de áreas torna-se o maior Regiões controladoras do canto (RCC),
problema que ameaça todas as formas de localizadas no encéfalo das aves, envia
vida, não justificando a falta de atitude na estímulos aos neurônios que controlam os
procura de eficientes métodos para conservar músculos vocais. Há uma intensa produção de
nossa avifauna, seja a criação em cativeiro neurônios durante o período de aprendizado
ou não, animais esses que são importantes do canto. (BERTINI, 2000; POUGH et al.,
dispersores de semente na natureza. 2003).

Estima-se que em 22 por cento dos lares Característica essa que se reflete no
brasileiros criam-se aves, com certeza grande tamanho, e na quantidade de neurônios
parte desse percentual pertencem a ordem nesse período. Normalmente esse tipo de
Passeiformes, que incluel cerca de 60% vocalização só ocorre nos machos jovens em
(sessenta por cento) de todas as espécies período reprodutivo. Nas espécies em que
de aves viventes, com tamanho, bico, asas as fêmeas cantam, a Regiões controladoras
e caudas variáveis. Com quatro artelhos do canto são semelhantes a dos machos.
funcionais, três para frente e um para trás,
não unidos por palmouras, não reversíveis Nas fêmeas que não vocalizam, infere-
e todos no mesmo plano. Sendo divididos se que essas regiões estão ligadas ao
em quatro subordens e sessenta e quatro reconhecimento de vocalizações dos machos.
famílias. (Renctas,2003).
A maioria das espécies possui uma
Estão incluídas nessa Ordem além da variedade de cantos, algumas possuem
subordem SubOrdem Tyranni com a Família centenas. E como um comportamento
Tyrannidae, em que se inclui o bem-te-vi aprendido de geração a geração, ele pode
(Pitangus sulphuratus), por exemplo. Há a apresentar variantes entre a mesma espécie
SubOrdem Passeres com diversas famílias, de diferentes regiões, além de variações
quem incluem os curiós (Oryzoborus individuais na mesma região. (BERTINI,
angolensis) canários (Serinus spp), sábias 2000; POUGH et al., 2003).
(Turdus spp), pitas (Pitta guajana), os
tangarás (Chiroxiphia caudata), e mais Em geral o canto do macho identifica
centenas de espécies canoras conhecidas sua espécie sua espécie, a ocupação do seu
pelo observador comum. território.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Como consequência da seleção sexual, o comportamento a ser estudado na criação


canto do macho acompanha uma postura em cativeiro.
corporal própria e penugem diferenciada,
Há espécies em que os machos decoram os A vocalização existe em uma gama de
ninhos com adereços para esse mesmo fim. espécies, no entanto as aves são as únicas
que tem a siringe como órgão vocal.
Características essas, que indicam um
bom estado nutricional, e ausência de Esse órgão localiza-se ‘na base da traqueia
parasitas, enfim uma referência para a fêmea onde os dois brônquios bifurcam-se. A
que seleciona o parceiro de forma a manter traqueia é sustentada por anéis cartilaginosos
os filhotes no período de cuidado parental. e músculos circundam e sustentam os
(BERTINI, 2000; POUGH et al., 2003). brônquios.

Em consequência da demanda de recursos Pássaros Canoros tem de cinco a nove
e o extenso cuidado que requerem os músculos siringiais, papagaios têm três,
filhotes, a monogamia em que normalmente enfim a quantidade ou até mesmo a ausência
ambos participam do cuidado parental é a desses músculos, varia entre as espécies.
forma de acasalamento dominante entre as (BERTINI, 2000; POUGH et al., 2003).
aves representando cerca de 93% (noventa e
três por cento). (BERTINI, 2000; POUGH et O papagaio é a ave mais vendida no Brasil
al., 2003). e no exterior. Depois dele vêm as araras, os
periquitos, micos, tartarugas e tucanos.
O processo chamado de imprinting
descreve o aprendizado recebido em um A família Psitacídea é formada por aves
período critico na vida do filhote que bastante agitadas, com o bico encurvado,
identifica os pais, se orientando pelo som com a mandíbula superior recurvada sobre a
e movimentos produzidos. Se um objeto inferior, adaptadas para a alimentação a base
ou um animal, inclusive o homem atender a de sementes e frutos. São normalmente
essas características, será identificado como zigotactilos. São ruidosas e algumas espécies,
pai, e permanecerá na memória do filhote quando cativas, aprendem a pronunciar
essa lembrança que não poderá ser anulada. palavras com extrema perfeição, destacando-
(BERTINI, 2000; POUGH et al., 2003). se aí a Amazona aestiva (papagaio verdadeiro),
tido como o mais ruidoso entre os papagaios
Em filhotes que reconhecem o genitor brasileiros.
uma ave de outra espécie, reproduzira o
canto do pai adotivo, influenciado inclusive Essa família é representada por aves
a escolha do seu parceiro sexual. Tornando- distribuídas pelas zona tropicais e temperadas
se um importante detalhe da fisiologia e em todo o globo, sendo o Brasil o maior

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Revista Educar FCE - Março 2019

detentor dessa diversidade em todo o mundo, com 72 espécies catalogadas. É um grupo


com características marcantes e únicas, apesar da grande variação de tamanho encontrada
(25 a 1500g). Segundo a taxonomia de Sibley-Ahlquist,

Os membros desta família não apresentam dimorfismo sexual. Nas araras a cor dominante
é o vermelho e o azul, com algumas exceções como o caso da ararajuba (Aratinga guarouba),
em que a cor varia entre o amarelo ouro e o verde bandeira.

Dentro de quatro a cinco anos já entram em idade reprodutiva, podem viver 50 anos ou
mais em condições ideais de cativeiro.

Alimentam-se em arbustos frutíferos, em áreas abertas, descendo até o chão para
procurar alimentos. Tem como alimento favorito, sementes de frutas, desprezando quando
bem alimentado, a polpa.

São em sua maioria monogâmicas, gregárias, e vivem em bandos com ninhos próximos
uns dos outros, onde os machos alimentam as fêmeas enquanto estas chocam os ovos.

Os ninhos são feitos em troncos, paredões rochosos, e arvores. Os ovos são relativamente
grandes e geralmente pode atrair predadores. (Alderton, 2004).

A Família Ramphastidae, pertencente a Ordem Piciformes, está restrita a região central e
sul de nosso continente. Possui pernas e pés fortes, artelho externo oponível na maioria das
espécies. São facilmente distinguíveis pelo tamanho do bico, que é excepcionalmente grande.

Representantes dessa família, como os tucanos alimentam-se basicamente de frutas,
sendo importantes dispersores de sementes. Ocasionalmente alimentam-se de ovos e
filhotes de outras espécies de aves.

São arborícolas e conforme as espécies podem pesar pouco mais de meio quilo, e viver
até quinze anos.

A maioria das aves atuais evoluiu no final do Eoceno, a cerca de 50 milhões de anos.

As aves, em sua maioria, são diurnas, orientam-se visualmente, são estimuladas por cores,
movimentos e padrões análogos aos dos seres humanos, tornando esse animais excelentes
referencia de estudos para os biólogos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista a necessidade de preservamos o meio
ambiente, não somente nossas matas, mas toda a variedade
de fauna que através de uma relação mutualística equilibram-
se e quando o educando passa a entender as relações
ecológicas presentes em todos esses dados que nos são
apresentados. Começa a perceber como é nocivo para todo
o planeta atitudes como manter um animal silvestre dentro
de casa.
DIEGO DANIEL DUARTE
DOS SANTOS

Graduação (Licenciatura e
Bacharelado) em Ciências
Biológicas pela UNIB -
Universidade Ibirapuera
(2007), Licenciatura Plena em
Matemática (2016) e Pedagogia
(2017) pela Universidade
Cruzeiro do Sul; Especialista
em Ensino da Biologia pela USP
- Universidade de São Paulo
(2012); Professor de Ensino
Fundamental II - Ciências - na
EMEF Duque de Caxias.

774
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Renctas, Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais. São Paulo, 2007


Disponível em: <http://www.renctas.org.br>. Acesso em: 14 de fev. 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

O BRINCAR E SUA IMPORTÂNCIA


NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Este artigo mostra como a brincadeira influencia no desenvolvimento da
criança nos aspectos sociais, mental e físico, o brincar tem um papel fundamental para
o desenvolvimento biopsicossocial da criança. É nesse momento que ela se desenvolve,
explora característica de personalidade, fantasias, medos, desejos, criatividade e elabora o
mundo exterior a partir de seu campo de visão. A criança precisa experimentar, ousar, tentar,
conviver com as mais diversas situações. Brincar com outras crianças, com adultos, com
objetos, com o meio. A brincadeira individual também é importante, mas brincando com o
outro, essa criança desenvolve seu convívio social As crianças necessitam de brinquedos e
brincadeiras que favoreçam seu desenvolvimento, suas habilidades, coordenação motora
grossa e fina, estruturação, espaço temporal e lateralidade. Nossos pequenos estão em uma
fase de descoberta, a brincadeira caracteriza vínculo importante com o seu meio social,
seus familiares e amigos, e é desse convívio com o outro, que a criança começa a formar
sua ideia de mundo. A brincadeira é uma linguagem natural da criança e é importante que
esteja presente na escola desde a Educação Infantil para que o aluno possa se colocar e se
expressar por meio das atividades lúdicas. Também ressalto que a prática do brincar pode ser
de grande vália nas atividades pedagógicas, pois, as crianças estão perdendo esse momento
prazeroso entrando muito cedo na fase adulta.

Palavras-Chave: Brincadeiras; Lúdico; Desenvolvimento; Educação Infantil

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INTRODUÇÃO A escola é o ambiente ideal para o


crescimento e desenvolvimento das crianças.
O direito de brincar adquire conhecimentos, Na interação da criança com seus colegas
desenvolve a sociabilidade, o intelectual de sala, entre ela e o professor e com todos
e o emocional por meio do lúdico, é de os membros da comunidade escolar é que a
fundamental importância na vida da criança. criança aprende a conviver, dividir e ser.
Para compreender melhor a sua importância
e o surgimento dos jogos retomaremos a Os conflitos das relações, as trocas e a
sua origem por meio da história: A palavra necessidade de esperar o outro e a descoberta
jogo vem do latim “iocus” que significa de que ela não é o centro das atenções é um
diversão, brincadeiras. O jogo advém das jogo que faz com que a criança construa a
antigas civilizações. Gregos e Romanos já sua identidade e conquiste autonomia que a
conheciam a sua importância para educar prepare para uma convivência saudável com
as crianças. Reconhecer a especificidade o outro. Estabelecer as regras desse jogo é
da criança, suas necessidades, as diferentes função que o adulto deve construir junto
fases pelas quais ela passa até atingir a com o grupo. Tudo isso pode ser pensado
idade adulta são fatores fundamentais para como uma grande brincadeira em que tendo
realizar um trabalho de qualidade que tenha o adulto como modelo elas possam vivenciar
como objetivo o desenvolvimento pleno das por intermédio dos vários papéis diferentes
crianças. Cabendo ao professor pesquisar as (situações) do dia a dia.
informações e estudos teóricos que o ajude a
explorar essas possibilidades visando atingir O objetivo desse trabalho é compreender
todas as metas educacionais previstas para e associar todas as ideias e convicções sobre
cada etapa de vida da criança que tem o seu o brincar e como o jogo pode contribuir como
direito à educação assegurada por lei. Uma ferramenta, na prática, pedagógica para o
das características marcantes das crianças desenvolvimento infantil e as aprendizagens
pequenas é a sua curiosidade em relação em qualquer fase da vida de qualquer
às descobertas do meio em que vivem. Essa indivíduo.
disposição da criança e a sua energia criativa
devem ser consideradas pelo professor ao Confirmar que o ato de brincar não
planejar as suas atividades. consiste apenas em reservar um espaço
em um momento qualquer e deixar a
Podemos afirmar que por intermédio do criança com seus brinquedos. Ressaltar a
lúdico é possível transformar a aprendizagem importância da intervenção do adulto em
e torná-la muito mais significativa para especial o professor por ser um pesquisador
qualquer fase e em especial para os pequenos de sua prática, pode utilizar e planejar a
que brincando constroem e desconstroem brincadeira com seus alunos possibilitando
conceitos e estruturas. a eles formarem personalidades e construir

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Revista Educar FCE - Março 2019

conhecimentos. É essa ideia do jogo como impulso natural da criança funcionando, como
ferramenta útil para o aprendizado que um grande motivador, e por meio do jogo
vem ampliando a sua importância na escola, obtém prazer e realiza um esforço espontâneo
deixando de ser considerado um simples e voluntário para atingir o objetivo, o jogo
divertimento para se transformar em uma mobiliza esquemas mentais, e estimula o
ponte entre a infância e a idade adulta. pensamento, a ordenação de tempo e espaço,
integra várias dimensões da personalidade,
Diante desses fatores considero a afetiva, social, motora e cognitiva.
participação da criança na construção das
brincadeiras um fator fundamental e que Por isso o educador é a peça fundamental nesse
não deve ser desconsiderado pela escola e processo, devendo ser um elemento essencial.
ainda, que o professor poderá se utilizar para Educar não se limita em repassar informações
incentivar a criatividade e interesse deles, na ou mostrar apenas um caminho, mas ajudar a
criança a tomar consciência de si mesmo, e da
resolução das questões e problematizações
sociedade. É oferecer várias ferramentas para
que forem surgindo durante as brincadeiras.
que a pessoa possa escolher caminhos, aquele
que for compatível com seus valores, sua visão
A conscientização do profissional de
de mundo e com as circunstâncias adversas
educação e o conhecimento de que a criança que cada um irá encontrar. Nessa perspectiva,
deve ser estimulada, já nos primeiros meses segundo o Referencial Curricular Nacional da
de vida e que o jogo faz parte de todas as Educação Infantil. (BRASIL, 1998, p. 30)
fases do crescimento humano é de suma
e extrema importância, já que vimos por O ato de brincar é importantíssimo para
intermédio dos teóricos que o brincar é a crianças de qualquer idade. É na brincadeira
forma natural com a qual estabelecemos os simbólica que elas irão desenvolver e
primeiros contatos com o mundo que nos reproduzir as realidades vivenciadas no
cerca, tendo início ao nascer e sugar ou chorar dia a dia, provocando inúmeras vezes as
para ganhar aconchego e carinho, portanto, acomodações de novas aprendizagens.
desperdiçar essa ferramenta que pode se
tornar aliada dos profissionais da Educação Aproveitamento deste instrumento
em suas metas de ensinar ao aluno de forma poderoso de aprendizagem em qualquer fase
muito mais dinâmica, alegre e significativa é da criança, e é a partir do concreto que as
o principal objetivo desse trabalho. crianças aprendem.

De acordo com Kishimoto (2002) o jogo é Permitir que elas experimentem


considerado uma atividade lúdica que tem objetos desestruturados permitir que elas
valor educacional, a utilização do mesmo no transformem pela imaginação uma sucata em
ambiente escolar traz muitas vantagens para o um objeto “real” do cotidiano, demonstrando
processo de ensino aprendizagem, o jogo é um nessas ações, as suas angústias e desejos.

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De acordo com o Referencial Curricular Nacional


Trazer o lúdico como ferramenta para a
da Educação Infantil (1998) a partir da importância
aprendizagem das crianças e jovens para eles da ludicidade que o professor deverá contemplar
experimentarem papéis diferentes mediante jogos, brinquedos e brincadeiras, como princípio
a imitação dos personagens. norteador das atividades didático-pedagógicas,
possibilitando à criança uma aprendizagem
O profissional da educação pode pensar prazerosa. Assim, a ludicidade tem conquistado
em estratégias de brincadeiras, na escolha das um espaço na educação infantil.
diversas maneiras que o brincar está posto na
cultura de cada sociedade, nas possibilidades Devemos considerar, ainda, que por
que as brincadeiras e jogos podem ter como a intermédio da brincadeira a criança resolve
gente de sua prática pedagógica. seus conflitos internos e assimila novas
aprendizagens, além da importância da
Conhecer melhor o público com quem socialização que a brincadeira promove na
trabalham, considerando sua faixa etária e vida da criança, mesmo que muitas vezes,
necessidades peculiares de sua fase de vida. a criança brinque com outro e pareça não
interagir com o outro. É por meio dessa
Levar a criança a conhecer diferentes interação, essa troca entre seus pares, que as
manifestações culturais, considerando as crianças significam e resignificam os objetos
atitudes de interesse, respeito e participação e espaços, atendendo essa necessidade de
frente a elas, bem como a valorização da agir (imitar) o mundo adulto que a cerca.
diversidade.
Os jogos e as brincadeiras têm importante
Mostrar a importância do lúdico na vida papel, também no desenvolvimento das
da criança e como ela vem sendo introduzida diversas linguagens, tão importantes nas
na vida dos mesmos. aprendizagens das crianças (e adultos), além
de possibilitar a inserção do indivíduo na
A escolha desse tema surgiu de inúmeras sociedade de forma harmoniosa, auxiliando
indagações a respeito das ações das escolas no se desenvolvimento físico e psíquico.
em suprir a demanda por espaço para que
as crianças exerçam o direito de brincar. O brincar é uma necessidade básica e é
Sabemos que em virtude dessa carência e a direito, da criança, sendo uma experiência
falta de segurança, que diferente de décadas humana, rica e complexa, que auxilia no
passadas em que as crianças brincavam amadurecimento da identidade e da autonomia.
nas ruas, hoje as crianças estão cada vez
mais confinadas em espaço minúsculo de A criança organiza seu pensamento
casa ou apartamentos pequenos tendo os por meio de vivências simbólicas e é na
jogos e brinquedos eletrônicos como únicos imaginação que a realidade se constrói pela
companheiros. fantasia e a fantasia pela realidade.

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É brincando que ela expressa sentimentos e


emoções que ela mesma desconhece; é brincando
A IMPORTÂNCIA DO
que ela manifesta as suas potencialidades e, assim, BRINCAR
através de experiências as mais variadas, vai
aprendendo a viver, libertando-se de seus medos e Para melhor compreender o tema
amadurecendo de dentro para fora, devagarzinho escolhido começará a estudar como as
e com a segurança que só as coisas naturais e brincadeiras e os meios lúdicos, interferem
verdadeiras oferecem. (CUNHA, 1995, p.8) de forma positiva para o desenvolvimento
da criança.
A brincadeira é uma ferramenta muito
importante na educação e um dos problemas Muitos estudiosos buscam por meio de
frequentes nas escolas é o fato das crianças seus estudos, chamar a atenção sobre a
que ao entrarem no ensino fundamental, importância do “Brincar” no comportamento
enfrentam as transformações brutais de humano, especialmente durante a infância,
diminuição dos espaços, antes muito mais considerando que a ação de brincar possibilita
amplos da CEIS (Centros de Educação ao indivíduo inserir-se na sociedade de
Infantil) e EMEIS, além da obrigatoriedade forma harmoniosa, auxiliando também no
das avaliações e provas e os momentos desenvolvimento físico e psíquico.
menos propícios às brincadeiras, suas
carteiras enfileiradas e os jogos e o lúdico Os jogos e brincadeiras são representações
restrito as poucas aulas de educação física. que imitam as ações reais num contexto
As Escolas muitas vezes não são construídas imaginário, a ação lúdica valoriza o fator
e nem possuem projetos que respeitem as social. Na brincadeira a criança se comporta
necessidades das faixas etárias das crianças além do comportamento habitual de sua
pequenas agora já incluídas nos projetos idade, além de seu comportamento diário,
de educação para todos. Esse problema no brinquedo assume papéis, como se fosse
aumenta se observarmos que cada vez mais outro e maior do que ela realmente é na
diminui a idade de entrada da criança na realidade, extrapolando a si mesmo.
escola fundamental.
O brincar faz com que as crianças criem e
Vale lembrar a importância da formação vivenciem um mundo “fantástico”, colocando
continuada do professor e da necessidade de o que elas representam no mundo real,
uma abordagem de pesquisa da necessidade ou até mesmo acrescentando o que elas
do brincar nas atividades educacionais sem gostariam que existisse. O trabalhar com o
confundir que toda brincadeira deve ter uma lúdico faz com que a criança aprenda não só
intencionalidade, isto é, deve ter um objetivo conteúdos didáticos, pedagógicos, mas sim
claro. Para isso o professor deve planejar suas a se socializar, respeitar o outro, respeitar
aulas, registrar, refletir suas ações, replanejar as regras numa forma mais que especial,
e mudar estratégias. brincando.

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Quero aqui destacar, a mudança na forma Hoje é comum ver crianças em tenra
de brincar por intermédio da história e de idade (antes mesmo dos 3 anos de idade),
como a sociedade e a cultura influenciaram que sabem mexer em computadores, que
na concepção de brinquedos e brincadeiras. sabem utilizar celulares com jogos, que
Antigamente, a sociedade brasileira tinha jogam vídeo-games, com uma agilidade
uma vida bucólica e as brincadeiras desta superior aos adultos a sua volta. Para nós
época eram baseadas mais na oralidade, com futuros educadores, fica a dúvida, se estes
as cantigas de roda, as parlendas, os ditos brinquedos são educativos e positivos para
em forma de rima e os brinquedos eram o desenvolvimento das crianças.
confeccionados pelas próprias crianças, que
utilizavam o que tinham em mãos como De qualquer forma, não podemos esquecer
palitos, sabugo de milho, utilizando assim, já que o brincar faz parte da cultura, pois, nela se
na construção do brinquedo sua criatividade. introduz a prática, conhecimento constituído
Outros brinquedos eram confeccionados pelo sujeito dentro do fator histórico e
pelos adultos, bonecas de pano, carrinhos social, na qual a criança estabelece outras
com sobras de madeira, carrinhos de lógicas e fronteiras de significação da vida.
rolimã, na qual a criança participava destas A criança não nasce sabendo brincar, porém,
construções observando como eram ela aprende desde muito cedo, nas relações
construídos. com o sujeito, o outro e a cultura. Nesta
perspectiva as atividades lúdicas, vão além
Com a industrialização, o clima campestre do brincar porque proporcionam o equilíbrio
foi trocado pela agilidade da cidade, e os emocional, intelectual e cultural. Embora,
espaços para brincadeiras, ficaram mais ainda hoje, muitas crianças trabalhem e são
limitados, diminuindo as brincadeiras ao privadas desse direito, ou até mesmo porque
ar livre. As fábricas passaram a construir está rodeada de adultos que consideram que
brinquedos mais sofisticados, encantando “brincar é perda de tempo”.
cada vez mais as crianças e podando sua
criatividade no fazer os próprios brinquedos. Todas as crianças precisam usufruir os benefícios
emocionais, intelectuais e culturais que as
Com a chegada das tecnologias, os atividades lúdicas proporcionam, mas nem todas
brinquedos foram ficando cada vez mais as crianças têm essa oportunidade, ou porque
precisam trabalhar, ou porque precisam estudar,
eletrônicos, valorizando mais o interior
ou porque não podem atrapalhar os adultos.
das casas como espaço de brincadeiras, e
(CUNHA, 2004, p.39)
atualmente as crianças não saem mais para
brincar nos quintais (quase que inexistentes
atualmente), nas ruas, nas praças, tornando- A sociedade consumista tem violado o
as pouco ativas fisicamente. direito à infância, que é invadida, por um
mundo adulto e artificializado, que nega às

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suas crianças o direito ao brincar. Em particular as crianças dos centros urbanos, devido à
expansão imobiliária e pelas rotinas dos ambientes impróprios para brincar são sufocadas
e impedidas de expandir sua alegria de viver e de descobrir o mundo e muitas vezes sendo
submetidas a um absurdo conjunto de rotinas, impostas pela família e pela sociedade. A
criança é treinada a ser consumidor e desde cedo seduzidas por um consumo pelo consumo,
empobrecendo sua infância, valorizando o “ter” ao invés do “ser”.

O brinquedo “(...) surge a partir de sua necessidade de agir em relação não apenas ao mundo mais amplo dos
adultos.”, entretanto, a ação passa a ser guiada pela maneira como a criança observa os outros agirem ou de
como lhe disseram, e assim por diante. À medida que cresce, sustentada pelas imagens mentais que já se
formou, a criança utiliza-se do jogo simbólico para criar significados para objetos e espaços. Vygotsky, Luria &
Leontiev (1998, p. 125)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da realização desta pesquisa e desenvolvimento
desse trabalho, avaliamos e concluímos que a escola,
professores e alunos, muito tem a ganhar quando planejam
com intencionalidade e privilegiam a brincadeira, o brinquedo
e o jogo, durante suas aulas. Crianças e adolescentes sempre
dão o melhor de si, neste tipo de atividade, porque são
atividades que exigem planejamento e pensar em estratégias.
Resgatar brincadeiras junto aos pais e comunidade é uma
atividade prazerosa e enriquecedora para todos os que dela DINAIR DE ASSIS
participam além de propiciar aos pais a participação na vida ANTUNES
escolar de seus filhos.
Graduação em Artes Plásticas
pela faculdade Marcelo
O jogo nesse caso serve para estreitar os laços afetivos. O Tupinambá (1993);
jogo é um rico recurso didático, que além de tudo, traz prazer Graduação em Pedagogia pela
e alegria aos envolvidos. Porém, muitos educadores ainda Universidade de Franca (1997);
veem os jogos regrados de maneira negativa, porque julgam Especialista em Educação
que estimulam a competitividade, no entanto, acredito que Ambiental pela Faculdade
depende do papel do professor enquanto mediador e que a Campos Elíseos (2016);
disputa pode ser benéfica, aliviando tensões diante da vida Professora de Educação Infantil
tão estressante e competitiva que temos, porque é exercício, e Ensino Fundamental l
muitas vezes de saber perder e saber ganhar, mas que traz Professora de Educação Infantil
embutido um processo que implica colaboração, cooperação na EMEI Virgílio Távora
e respeito mútuo e às regras, extremamente importantes
para a vida em sociedade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Ed. Universidade de São Paulo, 1998.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O PROCESSO DE APRENDIZAGEM ATRAVÉS DE


JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS PARA
CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS
RESUMO: O uso de brinquedos, jogos e materiais pedagógicos, do ponto de vista
psicopedagógico, necessita da percepção do contexto em que se encontram inseridos. É
preciso que o professor e/ou psicopedagogo identifiquem a matriz simbólica anterior do
objeto, para entender melhor as necessidades e dificuldades mais imediatas dos alunos.
Crianças com problemas motores necessitam de materiais especialmente criados, para auxiliá-
las nas atividades pedagógicas: cadeiras adaptadas, materiais específicos para a escrita etc.
Quando a criança que não fala enrijece o corpo indicando que pode estar chegando a hora
de mudar a atividade, principalmente comcrianças portadoras de lesão cerebral, que não
falam, mas que apresentam nível de compreensão normal (quadriplégicos, paraplégicos etc.).
É fundamental estar atento aos indicadores sutis de cansaço do aluno. Esta pode ser a única
forma de fazer o outro sentir que ela não quer fazer o que é proposto. Assim, o professor
pode, neste momento, perguntar se ela deseja descansar ou continuar a trabalhar, uma vez
que ela não consegue sozinha fazer o deslocamento de atividade e material.

Palavras-Chave: brinquedos; brincadeiras e jogos.

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INTRODUÇÃO METODOLOGIA
O crescente interesse sobre a utilização de Foi desenvolvida uma revisão de literatura,
jogos, brinquedos e brincadeiras o universo exploratória, de caráter descritivo em artigos
da educação tem suscitado a necessidade científicos, livros, periódicos indexados , em
de aprofundamento nessa área. Esse bases de dados eletrônicas, com o propósito
interesse é constatado na literatura dirigida de identificar os conceitos aplicados na
a educadores, em especial nas últimas aprendizagem de crianças portadoras de
décadas (ROSELENE CREPALDI , 2006). necessidades especiais utilizando jogos,
Ligado ao desenvolvimento das ciências, por brincadeiras e brinquedos.
meio do jogo é possível compreender melhor
o ser humano, sua individualidade, sua
diversidade, as relações que desenvolve e, DEFINIÇÃO CONCEITUAL
por consequência, a construção da sociedade DE BRINQUEDOS E
em que vivemos. Seu uso como ferramenta
didática é frequente nas diferentes faixas BRINCADEIRAS
etárias, por proporcionar a descontração Definir o conceito dos termos brinquedo
de jovens e adultos em momentos de e brincadeira é uma tarefa de grande
aprendizagem. complexidade dada a abrangência e
polissemia da palavra (CARNEIRO, 2003).
O jogo aparece nas manifestações Dessa maneira, estudiosos do tema, sem um
culturais e tem acompanhado a evolução da consenso, definem esses termos apoiados
humanidade. Este trabalho tem a intenção de em características das atividades, situações
ampliar os conceitos sobre jogo, brinquedo e comportamentos dos indivíduos e grupos
e brincadeira, porque acreditamos que, ao num dado período e contexto social,
aprofundar o conhecimento sobre o tema, podendo ser considerados como sinônimos.
não com o valor em si mesmo, passaremos Incorporado às línguas românicas, o termo
a valorizá-lo como ação, como atitude e, ludus foi substituído por iocus, iocare
principalmente como direito. (ROSELENE referindo-se também à representação
CREPALDI, 2006). cênica, aos ritos de iniciação e aos jogos
de azar passando, com o tempo, a indicar
Segundo Carneiro (2003, p. 34), , estudiosos movimento, ligeireza e futilidade.
do tema, sem um consenso, definem esses
termos apoiados em características das
atividades, situações e comportamentos
dos indivíduos e grupos num dado período
e contexto social,podendo ser considerados
como sinônimos.

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BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS passa a assimilar o que é real ao eu, de forma


NO PROCESSO DE a permanecer centrada sobre si mesma.
APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS Para Vygotsky (1999), o jogo é o elemento
COM NECESSIDADES ESPECIAIS que impulsiona o desenvolvimento do
ser humano. Tem caráter central na vida
Segundo Piaget, o brincar (para a criança) da criança, como uma das maneiras de
é uma forma de assimilar o real e adaptar- participação social. Ao brincar, a criança
se ao mundo social dos adultos, permitindo, representa papéis presentes em sua cultura
assim, suprir suas necessidades afetivas e que ainda não pode exercer por não estar
cognitivas. O termo brinquedo, verificamos preparada. A criança internaliza regras e
seu uso mais comumente ligado a um encontra soluções para os conflitos que lhe
objeto,industrializado ou não, mas que dê são impostos na vida real.
suporte à ação de jogar e/ou brincar.
Segundo Gilles Brougère (2014), o jogo
Barbosa e Botelho (2008) em “Jogos e é uma atividade de segundo grau, ou seja,
brincadeiras na educação infantil”afirmam aprendida por meio de inter-relações sociais,
que de acordo com Piaget as manifestações que garante aos indivíduos a possibilidade
lúdicas acompanham o desenvolvimento da de um certo afastamento da realidade para
inteligência uma vez que vinculam-se aos recriação dessa realidade.
estágios de desenvolvimento cognitivo.
Concluindo, o que caracteriza a atividade
Seguindo a idéia mencionada por lúdica é mais o significado e o estado de
(Negrine, 1994) de que na teoria piagetiana espírito de quem está brincando do que a
a assimilação e acomodação são levadas ao atividade em si.
equilíbrio no ato da inteligência, é cabível
dizer que na atividade lúdica infantil a criança A intervenção psicopedagógica veio
assimila novas informações bem como as introduzir uma contribuição mais rica
acomodam nas suas estruturas mentais. no enfoque pedagógico. O processo de
aprendizagem da criança é compreendido
Na opinião de Piaget, o jogo começa como um processo pluricausal, abrangente,
quando a criança deixa de realizar uma implicando componentes de vários eixos de
atividade pelo simples prazer de fazer e passa estruturação: afetivos, cognitivos, motores,
a realizá-la com um sentido, ou seja, joga sociais, econômicos, políticos etc.
simbolicamente. Para ele, o jogo, brincadeira,
ou atividade lúdica, é fundamental no A causa do processo de aprendizagem,
desenvolvimento cognitivo do ser humano. bem como das dificuldades da aprendizagem,
Assim, por meio de simbolismo a criança deixa de ser localizada somente no aluno e

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Revista Educar FCE - Março 2019

no professor e passa a ser vista como um desestigmatização, seria o da mediação,


processo maior com inúmeras variáveis que tanto a humana, como a instrumental.
precisam ser apreendidas com bastante E é na instrumental que aparece o jogo
cuidado pelo professor e psicopedagogo. como recurso fundamental na educação
de crianças deficientes mentais. O artigo
seguinte ressalta o uso de brinquedos e
O DESENVOLVIMENTO jogos na intervenção psicopedagógica de
DA CRIANÇA COM crianças com necessidades especiais, de Leny
Magalhães Mrech, de certa forma aprofunda
NECESSIDADES ESPECIAIS aquilo que foi anteriormente analisado.
Froebel Zatz apud Froebel (2006, p.15).l, A autora faz uma crítica contundente aos
filósofo alemão do século XIX, foi um conceitos piagetianos mais divulgados
dos primeiros a enfatizar a importância nos cursos superiores, tais como estágios
do brinquedo e da atividade lúdica para do desenvolvimento, e todos aqueles que
o desenvolvimento da criança. O artigo tiveram formação acadêmica, nessa área,
trata da questão do jogo, do brinquedo nas últimas décadas são testemunhas desse
e da brincadeira, e suas articulações com empobrecimento da epistemologia genética.
as crianças com necessidades especiais: a
pedagogia, a psicopedagogia, a avaliação, o Para se contrapor a essa tendência, a
fracasso escolar, as propostas curriculares e autora propõe a noção de equilibração ea
outros temas percorrem essa seção. O texto O re-equilibração das estruturas cognitivas
jogo e o fracasso escolar, de Sahda Marta Ide, como conceito central dessa concepção de
inicia tratando dos testes-padrão de medidas construção do conhecimento. Discute os
de inteligência e seu questionamento como universalismos das teorias que nos amarram
instrumento adequado para a avaliação das e propõe a busca de singularidades. Nesse
crianças portadoras de deficiências. A autora momento, ela busca a psicanálise, trazendo
indica, como saída desse ciclo avaliação por o desejo, o outro, o não saber, e, de forma
testes e medidas e diagnóstico de fracasso muito interessante, passa da visão da para a
escolar, a procura das causas desses fracassos alienação social e cultural utilizando Roland
e encontra, na bibliografia estudada, algumas Barthes e Pierre Bourdieu.
generalizações com referência às famílias,
às escolas, à atitude do educador e, a partir A necessidade da desnaturalização dos
dessa análise de causas do fracasso escolar, lugares de saber e não saber,de aprendentes
propõe alternativas educacionais de reversão e ensinantes e da dialética dessas relações
dessa situação. individuais e sociais é fundamental para
pensar a construção do conhecimento.
Segundo a autora, o elemento central
para essa ação diferenciada, destinada à

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Os jogos, os brinquedos e os materiais O que são os brinquedos e materiais


pedagógicos são analisados quanto à sua pedagógicos enquanto objetos
possibilidade de interferir nas estruturas estruturadores do conhecimento e do saber?
de alienação social e individual do saber
estereótipos, relações transferenciais, Primeiramente brinquedos, jogos e
estruturado e/ou estruturante. Depois a materiais pedagógicos não são objetos que
autora apresenta a noção de modalidade de trazem em seu bojo um saber pronto e
aprendizagem, isto é, o tipo de relação que acabado. Ao contrário, eles são objetos que
cada sujeito, a partir da sua própria história, trazem um saber em potencial. Este saber
constrói ao conhecer o mundo, conceito este potencial pode ou não ser ativado pelo aluno.
desenvolvido por Alícia Fernandes a partir da Em segundo lugar, o material pedagógico
psicanálise e da psicologia genética. não deve ser visto como um objeto estático
sempre igual para todos os sujeitos.
O texto conclui com a análise das relações
das modalidades de aprendizagem e as O material pedagógico é um objeto
ofertas de ensinagem e coloca as experiências dinâmico que se altera em função da cadeia
com jogos e materiais pedagógicos como simbólica e imaginária do aluno. Em terceiro
modos de pluralização destas modalidades lugar, o material pedagógico traz em seu
e também com um apelo ao trabalho bojo um potencial relacional, que pode ou
educacional voltado ao desenvolvimento não desencadear relações entre as pessoas.
das diversas formas da inteligência. Crianças Assim, o objeto que desencadeou relações
com problemas motores necessitam de muito positivas em uma classe pode ser
materiais especialmente criados, para auxiliá- o mesmo que retardará outra. Em quarto
las nas atividades pedagógicas: cadeiras lugar, o material pedagógico são objetos
adaptadas, materiais específicos para a que trazem em seu bojo uma historicidade
escrita etc. Principalmente com crianças própria. Além de portar a historicidade de
portadoras de lesão cerebral, que não falam, cada aluno e professor, eles apresentam
mas que apresentam nível de compreensão também a historicidade da cultura de uma
normal (quadriplégicos, paraplégicos etc.), dada época.
é fundamental estar atento aos indicadores
sutis de cansaço do aluno. Por exemplo, poderíamos pensar que a
boneca da Grécia antiga apresenta em seu
Quando a criança que não fala enrijece o bojo as mesmas características simbólicas
corpo pode estar chegando a hora de mudar e imaginárias da boneca contemporânea.
de atividade. Esta pode ser a única forma de Mas será que isto é verdadeiro? Conforme
fazer o outro sentir que ela não quer fazer o a Sociologia e a História Antiga, as bonecas
que é proposto. Assim, o professor pode, neste gregas estavam inseridas em sociedades
momento, perguntar se ela deseja descansar. distintas do ponto de vista sócio-econômico.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A sociedade grega era escravagista, com não só dentro da escola como também fora
um lugar peculiar em relação à posição da dela.
mulher. Em Esparta, a mãe destruía os filhos
que apresentavam algum tipo de deficiência. A idéia de desenvolver jogos e brinquedos
Privilegiava-se mais o vínculo da mãe com para pessoas com necessidades especiais
a sociedade do que com a criança. Nosso não é nova. Nem foi nossa intenção
conceito de maternidade é diferente da desenvolver um trabalho inédito. Entretanto,
concepção de maternidade da Grécia antiga, sentimos urgência em investigar o verdadeiro
o que acaba afetando também a visão do significado dos materiais lúdicos juntos a
objeto concreto boneca. esses alunos, bem como sua capacidade
de diminuir as diferenças existentes dentro
Quando se lida com brinquedos, jogos e dos grupos observados.Pode o brinquedo
materiais pedagógicos deve-se atentar a e o jogo serem facilitadores do processo
uma enorme quantidade de estruturas de inclusivo?
alienação no saber que cercam estes objetos.
É preciso que elas sejam identificadas com Terão esses recursos possibilidades
precisão, para que o processo de intervenção concretas de aceitação entre as crianças
psicopedagógica se realize mais facilmente. especiais, as crianças “normais” e professores
Uma dessas grandes incertezas vivenciadas dentro da sala de aula? Podem ser
pela escola atualmente é a inclusão de significativos enquanto causadores de novas
crianças com necessidades especiais junto à experiências no convívio, no aprendizado e
classe ditas “normais”. no desenvolvimento de valores éticos como
o respeito às diferenças, espírito de equipe,
São grandes as dúvidas e receios por parte criatividade, responsabilidade e imaginação?
dos profissionais em educação. Percebe-
se a enorme confusão até mesmo na Qual o papel do professor no processo de
conceitualização e diferenciação de termos desenvolvimento dos jogos?
como necessidade educativa especial ,
necessidade especial e dificuldade de Possibilitará o desenvolvimento da auto -
aprendizagem. imagem desses alunos e de seus colegas?

A palavra inclusão é muito falada, mas


pouco compreendida. As diferentes formas
de desenvolvimento do processo inclusivo
ainda são fatores desconhecidos pela maioria
dos professores que tentam trabalhar da
melhor maneira possível, mas totalmente
desamparados em termos de referenciais

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Revista Educar FCE - Março 2019

COMO ESCOLHER OS No caso das limitações auditivas, as


BRINQUEDOS ADEQUADOS brincadeiras corporais são as mais indicadas.
Jogos de percussão são interessantes, pois
E OUTROS MATERIAIS DE possibilitam perceber a vibração do som e
ACORDO COM A FAIXA ETÁRIA? ampliar a sensibilidade.

É necessário observar os estímulos ideais Piaget ainda marca sua importância ao


para cada caso.A criança precisa de desafios classificar os jogos em jogo de exercício, jogo
para sentir-se estimulada, assim como êxito simbólico e jogo de regras. Wallon, filósofo
na exploração do brinquedo. O que vale e psicólogo francês, tanto quanto Piaget,
é que o pequeno sinta-se valorizado pela considera a imitação do real, comportamento
conquista, seja ao montar um bloco ou comum nas crianças pequenas, como fonte
apertar um botão. “À medida do possível, as do aparecimento da representação mental e,
crianças devem ser expostas às experiências e por consequência, das brincadeiras.
brincadeiras naturais da idade. O importante
é ter pessoas preparadas para facilitar e Também classifica os jogos em: funcionais,
mediar a interação”, alerta. de ficção, de aquisição e de construção. Esse
estudioso divide as atividades lúdicas (jogos)
Estratégias como texturizar, sonorizar em etapas. Para ele, o que caracteriza uma
ou iluminar móbiles, chocalhos e demais atividade lúdica é a sua finalidade em si
acessórios possibilitam que o objeto seja mesma, ou seja, quando uma atividade é tida
melhor percebido. A música, o canto e a como um meio destinado a um fim, ela perde
representação de histórias são indicados para suas características lúdicas.
qualquer criança, inclusive as com limitações
graves no leito. Vale abusar de máscaras, Vygotsky, professor e pesquisador
fantasias, bonecos e super heróis, uma boa soviético, acredita que o jogo é o elemento que
alternativa aos distúrbios comportamentais. impulsiona o desenvolvimento. Ele pontua
Para estimular a percepção visual, vale lançar dois elementos importantes na brincadeira
mão de lanternas, purpurina e laminados. Os infantil: a situação imaginária e as regras.
rostos de brinquedos com muitos detalhes Para o autor, nos primeiros anos de vida, a
e cores contrastantes ajudam a organizar brincadeira é a atividade predominante e tem
esquemas visuais. Utilizar os demais sentidos a função de criar zonas de desenvolvimento
na brincadeira como a audição e o tato é proximal. A interação social da criança,
fundamental. ao brincar com seus parceiros, permite a
ampliação gradual do conhecimento infantil.
As crianças com limitações motoras devem Jerome Bruner, (2002) também oferece sua
ter seu acesso facilitado a diversos ambientes contribuição na investigação da brincadeira
e posições que possibilitem a exploração. utilizando-se da linguagem. Para esse autor,

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Revista Educar FCE - Março 2019

a mediação do adulto durante o jogo permite vive. Por meio do jogo a criança internaliza
à criança a aquisição de um sistema de regras e encontra soluções para os conflitos
signos importantes para sua inserção social e que lhe são impostos na vida real. A criança
resolução de problemas. Brincadeiras, como tende a imitar a realidade no seu faz de
a de esconder o rosto, tornam-se ações conta, atuando num nível superior ao que se
comunicativas entre o bebê e a mãe, com encontra. Para o professor Gilles Brougère, o
suas significações próprias. conceito de jogo e o espaço que ocupa nas
relações sociais estão
Para Brougère, investigador francês
contemporâneo, o jogo é um produto das Diretamente ligados à cultura. Para ele,
relações sociais, onde há necessidade de por ser o jogo uma atividade de segundo
decisão e sua existência se caracteriza por grau, ou seja, aprendida por meio de inter-
regras. Apresenta caráter fútil, não tem relações sociais, é, ao mesmo tempo,
consequências sobre a vida em si, é incerto, um mecanismo psicológico que garante
não se sabe como ou quando terminará. aos indivíduos a possibilidade de certo
Jogo e cultura como pudemos verificar nas afastamento da realidade para recriação
teorias do brincar, é na e por meio da cultura dessa realidade. Concluindo, o que caracteriza
que as brincadeiras e jogos se materializam. a atividade lúdica é mais o significado do
A importância da brincadeira na sociedade comportamento e do estado de espírito de
está no fato de o jogo ser um dos elementos quem está brincando do que a atividade
centrais da cultura. Em seus estudos identifica em si. A aceitação ou não dessa atividade
características de comportamentos lúdicos depende diretamente da interpretação do
na lei, na guerra, nas ciências, na poesia e contexto cultural onde a atividade lúdica está
na Filosofia (HUIZINGA apud KISHIMOTO, acontecendo. A cultura lúdica compreende
1998). um conjunto de atividades, procedimentos,
palavras, gestos e silêncios que permitem
Para Vygotsky (apud KISHIMOTO, 1998) interpretações comuns, dentro de um
o jogo é o elemento que impulsiona o determinado grupo social.
desenvolvimento do ser humano e, portanto,
tem caráter central na vida da criança, por O direito de brincar o processo de
considerá-lo como uma das maneiras de construção e formulação dos Direitos Naturais
participação social. Dessa forma, ao brincar, do Homem e do Cidadão, elaborados nos
a criança representa papéis presentes em sua séculos XVII e XVIII, possibilitou a conquista
cultura, que ainda não pode exercer por não de um novo patamar de desenvolvimento
estar preparada. Isso gera desenvolvimento, para a humanidade.
à medida que a criança se envolve em graus
de conhecimento das regras de conduta, A Revolução Industrial, o desenvolvimento
presentes na cultura e na sociedade em que das ciências médicas, a urbanização, entre

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Revista Educar FCE - Março 2019

outros fenômenos sociais, foram modificando dela consequente, como Estatuto da


a vida em sociedade e, por consequência, a Criança e do Adolescente, a Lei Orgânica
maneira de tratar as crianças, que durante da Assistência Social e a Lei de Diretrizes
muito tempo foram tidas como adultos em e Bases da Educação Brasileira Decorrente
miniatura. Porém, foi somente no início do da Constituição de 1988, o Estatuto da
século XX, como resultado das Grandes Criança e do Adolescente (ECA) Lei 8.069,
Guerras, um grande contingente de crianças de julho de 1990, dispõe sobre a proteção
ficou em situação de abandono, com alto integral à criança e ao adolescente (art. 1.o).
índice de mortalidade infantil que, por Seus títulos e artigos detalham os direitos
indicação da Organização das Nações Unidas das crianças e adolescentes, estabelecendo
(ONU), o UNICEF passou a desenvolver diretrizes para a elaboração de políticas que
projetos de auxílio à melhoria da qualidade os assegurem. Encontramos no Capítulo II
de vida das crianças, em especial em países que trata do Direito à liberdade, ao respeito
pobres. e à dignidade, Art. 16.

O ano de 1959 representa um dos O direito à liberdade compreende os


momentos emblemáticos para o avanço seguintes aspectos: I ir, vir e estar nos
das conquistas da infância. Neste ano, as logradouros públicos, espaços comunitários,
Nações Unidas proclamaram sua Declaração ressalvadas as restrições legais; II opinião
Universal dos Direitos da Criança, de e expressão; III crença e culto religioso; IV
significativo e profundo impacto nas brincar, praticar esportes e divertir-se; V
atitudes de cada nação diante da infância. participar da vida familiar e comunitária, sem
Nela a ONU reafirmava a importância de discriminação; VI participar da vida política
se garantir a universalidade, objetividade na forma da lei; VII buscar refúgio, auxílio
e igualdade na consideração de questões e orientação. (BRASIL, 1990) . Algumas
relativas aos direitos da criança. A criança situações, como a hospitalização, também
passa a ser considerada, pela primeira vez podem privar a criança do direito, de brincar.
na história, prioridade absoluta e sujeito Algumas vezes os procedimentos médicos
de Direito, o que por si só é uma profunda podem causar dor ou precisam ser
revolução. (MARCÍLIO, 1998, p. 49) Esta Feitos longe das famílias, por pessoas
nova concepção de criança um ser sujeito de que as crianças não conhecem provocando
direitos implica a adoção de medidas legais e as crianças sentimentos como angústia,
implementação de ações que garantam seu insegurança, medo e tristeza. (VIEIRA;
desenvolvimento pleno. CARNEIRO apud BOMTEMPO; ANTUNHA;
OLIVEIRA, 2006). Nessas Circunstâncias,
No âmbito nacional, movimentos sociais conforme muitas investigações recentes
influenciam pesquisadores e legisladores na demonstram, o brincar apresenta-se como
elaboração da Carta Magna e da legislação alternativa para aliviar a tensão da espera

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Revista Educar FCE - Março 2019

e também contribui para o conhecimento O que determina sua efetiva existência é o


da sua enfermidade e a aceitação dos comprometimento, desdobrado na atuação
tratamentos. dos profissionais e na conscientização dos
usuários dos estabelecimentos de saúde, não
Para alterar esse cenário, em 1995 o Conselho só para cumprir a Lei, mas porque acreditam
NacionaldosDireitosdaCriançaedoAdolescente que a criança tem o direito de ser criança, e
(Conanda) emitiu a Resolução Conanda 41, de de brincar; e porque brincar também pode
17 de outubro de 1995, que estabelece em seu auxiliar na sua recuperação.
parágrafo 9: 9 Direito de desfrutar de alguma
forma de recreação, programa de educação Assim, fazemos nossas as palavras de
para a saúde, acompanhamento do currículo Vieira e Carneiro (apud BOMTEMPO;
escolar, durante sua permanência hospitalar ANTUNHA; OLIVEIRA, 2006): Acreditamos,
(BRASIL, 1995). Em 1999, graças à mobilização também, que é necessário que pessoas de
de profissionais sensíveis à causa, juntamente a todos os ramos profissionais e interessadas
familiares de crianças hospitalizadas, a deputada no tema, cada vez mais busquem formação
Luiza Erundina elaborou o Projeto-Lei sobre a adequada para criar espaços para expressão
obrigatoriedade da existência de brinquedotecas da cultura infantil; elaborar projetos de
vinculadas aos serviços de saúde, à semelhança implementação de espaços para a criança
de outros países, em especial na Europa, como brincar, valorizar o brinquedo e as atividades
Portugal, por exemplo, que possui Carta da lúdicas e criativas; integrar ações de cultura,
Criança Hospitalizada do Instituto de Apoio à educação e saúde, utilizando o lúdico como
Criança (IAC). ferramenta. Porque brincar é importante,
é gostoso e é legal! Texto complementar
Todo esse Esforço culminou na Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação*
promulgação da Lei n.o , de 21 de março de (BARBOSA, 2009).
2005, que estabelece a obrigatoriedade da
existência de brinquedotecas nos hospitais O jogo, nesse texto, vincula-se ao sonho,
que ofereçam atendimento pediátrico, em à imaginação, ao pensamento e ao símbolo.
especial naquelas que ofereçam atendimento Crianças com necessidades especiais &
pediátrico em regime de internação. o jogo, o brinquedo e as brincadeiras, o
texto O jogo na organização curricular para
O conceito de brinquedoteca está descrito deficientes mentais, de Maria Luisa Sprovieri
no artigo 2.o da Lei como: Art. 2. [...] espaço Ribeiro, inicia com uma análise das práticas
provido de brinquedos e jogos educativos, tradicionais de atendimento às crianças com
destinados a estimular as crianças e seus necessidades especiais e com resistências
acompanhantes a brincar (BRASIL, 2005). pessoais e sociais a uma mudança de
Sabemos, no entanto,que somente a letra da concepção desse tipo de atendimento.
Lei não garante a existência desses espaços.

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Utilizando-se de características do jogo, de acordo com Gilles Brougère, tais como


a necessidade de espaço, papéis, materiais e tempo do jogo para pensar o currículo,
denuncia a cultura do trabalho individualizado, isto é, isolado, do educador de crianças com
necessidades especiais, que não está presente nos debates dos demais educadores e áreas de
conhecimento dentro das escolas. Denuncia esta experiência de prática social de educador
como criador único do currículo ou criatura que aplica os currículos dos tecnocratas. Para a
autora Maria Carmen Silveira Barbosa , é necessário ousadia nos professores de educação
especial para que utilizem na construção de suas propostas educativas as discussões
coletivas e contemporâneas de currículo e quebrem uma visão tão “conformada” desse tipo
de atendimento educativo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fundamental é perceber o aluno em toda a sua
singularidade, captá-lo em toda a sua especificidade, em
um programa direcionado a atender às suas necessidades
especiais. É a percepção desta singularidade que vai
comandar o processo e não um modelo universal de
desenvolvimento. Isto porque o uso do modelo universalista
máscara normalmente uma concepção preestabelecida do
processo de desenvolvimento do sujeito.

Na intervenção psicopedagógica deve-se evitar as chamadas


“profecias auto-realizadoras”, isto é, prognósticos que o
professor lança a respeito do processo de desenvolvimento EDILENE COSTA
de seu aluno sem levar em consideração o seu desempenho. CONCEIÇÃO VALENTIM
É preciso que o professor ou psicopedagogo também altere
Graduação em Pedagogia. pela
a sua forma de conceber o aprendizado.
Faculdade UNIÍTALO (2007);
Especialista em Psicopedagogia
A Educação Especial e a Psicopedagogia propiciam esta clínica e institucional pela
forma mais aprofundada de se trabalhar com o aluno. Elas Faculdade UNIÍTALO (2011);
levam em consideração as necessidades específicas de cada Graduada em História pela
aluno, privilegiando-se a “escuta” do que está realmente Faculdade UNILAGES (2017)
acontecendo naquele momento. Isso porque o sistema Professor de Educação Infantil na
simbólico e imaginário do aluno é único, não se devendo rede publica municipal da cidade
lidar com ele a partir de esquemas generalizadores. No caso de São Paulo.
mencionado, o professor poderia analisar o processo da
criança como uma experiência de prática social de educador
como criador único do currículo ou criatura que aplica os
currículos dos tecnocratas.

O uso de brinquedos, jogos e materiais pedagógicos, do


ponto de vista psicopedagógico, necessita da percepção
do contexto em que se encontram inseridos. É preciso
que o professor e/ou psicopedagogo identifiquem a matriz
simbólica anterior. Para a autora, é necessário ousadia
nos professores de educação especial para que utilizem
na construção de suas propostas educativas as discussões
coletivas e contemporâneas de currículo e quebrem uma

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Revista Educar FCE - Março 2019

visão tão conformada desse tipo de atendimento educativo. A formação do educador através
da vivência, da discussão e da reflexão do jogo.

Todas essas atividades, que se realizam em um processo de maior ou menor interação, são
muito importantes quando se pensa no aspecto da socialização, no decorrer do qual a criança
constrói, elabora e transforma as estruturas cognitivas que lhe permitirão apropriar-se do
conhecimento. Por isso, é necessário que lhe sejam dadas oportunidades de tomar decisões,
estimulando suas iniciativas e a curiosidade que lhe é própria, o que lhe permitirá expressar
e descobrir o que pensa. Assim agindo, estaremos contribuindo para que ela compreenda
o significado dos elementos que constituem seu universo e resignifique esses elementos
integrando-se em um mundo cada vez mais complexo, mas nem por isso menos humanizado.
Tudo o que foi visto evidencia, a nosso ver, a importância do brincar na vida da criança em
idade pré-escolar. Conhecer por que brinca e como brinca a criança, com certeza, nos permite
penetrar em um mundo mágico, em que existem medos, angústias e alegrias. É através do
brincar que a criança começa a perceber as características dos objetos, seu funcionamento
e os acontecimentos ao seu redor. Participando com ela nessa atividade, podemos ajudá-la
a construir e a dirigir seu raciocínio para uma visão crítica da própria realidade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

A IMPORTÂNCIA DO
APRENDER BRINCANDO
RESUMO: Este estudo tem o objetivo de salientar a importância do brincar, do brinquedo,
das brincadeiras, do jogo, bem como do próprio movimento e da ludicidade no processo
de ensino-aprendizagem e, para isso, procurou-se evidenciar o pensamento e as ideias de
estudiosos desde o século passado e o quanto esses estudos têm influenciado e nos favorecido
desde tempos remotos a repensar práticas pedagógicas a partir do movimento lúdico no
processo de alfabetização, buscando a valorização da criança e contribuindo também com
a possível alternativa pedagógica de inter-relacionar o movimento humano como fonte de
prazer, alegria e conhecimento no ambiente escolar de modo a desenvolver habilidades
necessárias ao ser humano para sua participação autônoma e efetiva em sociedade.

Palavras-Chave: Tráfico de Animais; Educação; Comércio ilegal, Meio Ambiente.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO O jogo é um elo integrador entre os


aspectos motores, cognitivos, afetivos
Este estudo apresenta assuntos e sociais. Devemos considerar que é
relacionados ao corpo, ao movimento e à brincando e jogando que a criança ordena o
ludicidade e destaca temas que contribuem mundo a sua volta, assimilando experiências
para o processo de alfabetização e valorização e informações, incorporando atividades,
da criança na formação da sua cidadania. atitudes e valores.

Esta pesquisa tem por objetivo geral


fazer que haja uma reflexão sobre o papel O MOVIMENTO E O JOGO
construtivo que o brinquedo, o brincar e
o jogo exercem no desenvolvimento do Para compreendermos a educação pelo
educando. corpo em movimento, necessitamos de uma
visão geral das características do processo
São ainda objetivos específicos deste de desenvolvimento infantil. Entender esse
estudo perceber o brincar como fundamental processo significa entender a amplitude das
para a aprendizagem da criança ao dar estruturas de natureza motora, cognitiva,
ênfase à imaginação, criatividade e ao social e afetiva, inter-relacionando o
interesse em participar do processo de movimento corporal aos jogos e aos
construção do conhecimento. Além disso, brinquedos das crianças.
enfatizar a necessidade de os professores
alfabetizadores proporcionar uma ação O ato motor faz parte do movimento que
interdisciplinar facilitando vivências começa a existir na vida fetal e, originando
lúdicas-pedagógicas para contemplar o do mais profundo do ser, vai se propagar no
desenvolvimento pleno do aluno. espaço exterior por meio do ato voluntário
logo nos primeiros meses de vida da criança.
Diante da importância do brincar surge um Com ele, tem origem o jogo, ou seja,
problema: como evitar a desvalorização do investimento na ação.
movimento natural e espontâneo da criança
em prol do conhecimento formalizado? O “pegar” para a criança é a primeira
Nota-se que este expulsa o brinquedo manifestação da sua escolha, do seu “brincar”
e a ludicidade do espaço de liberdade e isso já é o início de um aprendizado. A
e exigências da cidadania, ignorando as criança descobre o prazer de brincar com
dimensões educativas da brincadeira e suas mãos, pés, depois, com todos os seus
do jogo como forma de atividade capaz outros membros. É o prazer de ver e viver o
de estimular a vida social e construtiva da seu corpo em movimento e é a progressiva
criança. aprendizagem de “domínio do corpo”, por
meio do jogo corporal, que acompanha

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Revista Educar FCE - Março 2019

as diferentes organizações funcionais da de descoberta para a criança. Porém, utilizar


criança. jogos para o desenvolvimento das atividades
pedagógicas vai depender da concepção que
Wallon (1986), psicólogo francês, se tem de jogo, de criança, de aprendizagem
menciona que, ao observar a inteligência e desenvolvimento.
prática que já trabalha com o ato motor e
perspectivo, a criança já utiliza recurso da Winnicott (1975), psicanalista inglês,
representação preparando a instalação da estudioso do crescimento e desenvolvimento
inteligência teórica. infantil, considera que o ato de brincar é um
fazer que requer tempo e espaços próprios
A criança vive um intenso processo de e constitui, para a criança, experiências
desenvolvimento. Nela se expressa a própria culturais que facilitam o crescimento, o
natureza e, a cada instante, surge uma nova relacionamento grupal, a comunicação
função. A primeira atividade é brincar e é por consigo mesma e com os outros.
meio desse brincar que ela desperta para o
mundo, para uma série de outras atividades Analisando tal concepção, notamos que,
que se desencadeiam levando-a a descobrir no ato de brincar tanto o adulto quanto
novas formas de aprendizagem. a criança estão plenamente libertos para
a criação. A criança brinca para adquirir
Para a criança, o movimento é a sua experiências, para controlar sua ansiedade,
realidade imediata e espontânea pela para estabelecer contatos sociais integrando
forma como experimenta as coisas e lhes sua personalidade e também por prazer.
dá vida própria. O domínio do corpo e a
conquista sensorial e intelectual do espaço Vygotsky (1987), ao enfatizar o jogo,
estabelecem-se a partir do movimento atribui relevante papel ao ato de brincar na
nos diversos locais em que se encontra. A constituição do pensamento infantil. Por
capacidade da criança perceber, programar meio da brincadeira, a criança reproduz o
e realizar ações favorece a aquisição de discurso externo e o internaliza construindo
aprendizagens básicas, importantes para seu próprio pensamento. Ao brincar, ela
seu desenvolvimento corporal e para sua aceita regras da brincadeira e executa tarefas
adaptação social. imaginárias as quais ainda não se sente apta
a realizar.
Os jogos podem contribuir
significativamente para o processo de O jogo e a brincadeira são por si só
construção do conhecimento da criança uma situação de aprendizagem, portanto
como mediadores das aprendizagens não são coisas distintas. As regras e a
significativas. Estudos comprovam que o imaginação favorecem o desenvolvimento
jogo, além de ser uma fonte de prazer, é fonte de comportamentos além dos habituais.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Para Wallon (2010), o jogo se confunde Ele destaca que o jogo é uma forma
muito com toda atividade global da criança, de atividade particularmente poderosa
mesmo que seja espontâneo e não receba para estimular a vida social e a atividade
seus objetivos das disciplinas educativas. construtiva da criança. Sendo assim,
Segundo ele, os jogos estão divididos em: apresenta uma classificação que segue a
puramente funcionais, de ficção, de aquisição, presente ordem:
e de fabricação. Os jogos puramente
funcionais relacionam-se a uma atividade 1. Jogo de exercício: simples prazer
que busca efeitos: mover os dedos, tocar funcional ou prazer produzido pela tomada
objetos, produzir ruídos e sons, dobrar os de consciência das novas capacidades
braços ou as pernas. São jogos elementares. adquiridas.
Os jogos de ficção consistem em atividades 2. Jogo simbólico: representação de um
cuja interpretação é mais ampla, mas objeto ausente ou de simulação funcional.
também mais próxima a certas definições 3. Jogo de construção: as crianças fazem
mais diferenciadas: o jogo de bonecas, de reproduções exatas dos quatro aos sete
cavalo de pau, etc. Os jogos de aquisição anos e seus símbolos se tornam cada vez
se relacionam com a capacidade de olhar, mais imitativos; por esse motivo, o jogo
escutar e realizar esforços para perceber simbólico se integra ao exercício sensório-
e compreender; perceber e compreender motor ou intelectual e se transforma em
relatos, canções, coisas e seres, imagens, jogo de construção.
etc. Os jogos de fabricação se resumem em 4. Jogo de regras: combinações sensório-
agrupar objetos, combiná-los, modificá-los, motoras ou intelectuais de competência
transformá-los e criar outros novos. dos indivíduos e reguladas por um código
transmitido de geração em geração ou por
Sendo assim, a compreensão infantil é tão acordos improvisados.
somente uma simulação que vai do outro a si
mesmo e de si mesmo ao outro. A importância do jogo de regras surge
quando aprendemos a lidar com a delimitação:
no espaço, no tempo, no tipo de movimento
OS JOGOS NA INFÂNCIA válido, na utilização dos objetos e do corpo.
Refere-se ao que pode e ao que não pode,
Ao falar do uso de jogos no processo de é o que garante uma certa regularidade e,
desenvolvimento humano, destacam-se portanto, organiza a ação tornando-a orgânica.
vários autores. Piaget (1976, p.18) descreve
quatro estruturas básicas de jogos infantis, Piaget (1976) vê no jogo um processo
que vão se sucedendo e se sobrepondo. de ajuda ao desenvolvimento da criança;
acompanha-a, pois, ao mesmo tempo, é uma
atividade própria de seu crescimento.

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A criança aprende com seu corpo em O BRINCAR E O BRINQUEDO


movimento e, melhor ainda, no espaço NO DESENVOLVIMENTO
da liberdade, criatividade e ludicidade.
Portanto, é necessário que qualquer INFANTIL
professor, sobretudo os dos anos iniciais,
tenha essa ideia geral de como a criança se Brincar é uma atividade lúdica criativa
desenvolve. Pois, segundo Santos, “a criança que permite entrar no mundo da fantasia.
tem um corpo, e é um ser que construirá seu Ao brincar, criança e adultos transformam a
processo cultural pelo seu próprio corpo e realidade e a realidade os transforma; criam
movimento”. (PIAGET, 1976, p. 40). personagens e mundos de ilusão, colocam-se
diante do risco, do improviso, do suspense.
Na fase dos anos iniciais, o brincar e Não há necessidade de alcançar resultados.
o jogar constituem o mais alto grau de Existem apenas expectativas que podem dar
desenvolvimento da criança, porque é a certo ou não.
manifestação espontânea imediatamente
provocada por uma necessidade do interior Brincar com o corpo é descobri-lo. É
mesmo. descobrir a si mesmo. A autodescoberta
se desenvolve a partir da percepção das
Para um observador, toda vida interior possibilidades e das limitações de cada um.
do homem está já presente nos jogos
espontâneos e livres desde o momento da Quando se fala em brincar surgem em
infância. Santos (1998, p. 47) diz que toda nossa mente duas ideias: a primeira refere-se
a vida futura do homem - até seus últimos à criança; a segunda, a uma atividade rotulada
passos sobre a terra - tem sua raiz nesse como “nada séria”. O brincar faz parte da
período. criança, ou melhor, é a própria criança.
Quando olhamos para uma criança, quando
Os jogos na infância devem acrescentar escutamos suas conversas ou observamos
ocupações espontâneas da mesma: imitações seus comportamentos, notamos que sua
da vida e de seus fenômenos; expansão de vida é toda tomada pelo lúdico. Brinquedo e
livres imagens e manifestações do espírito criança são indissociáveis.
humano, de seu pensamento e sentimento.
Machado (1994) diz que a criança busca
Enfim, os jogos desta idade são ou devem significados, procura dar um sentido à
ser o descobrimento da faculdade vital, do sua existência, ao mesmo tempo em que
impulso da vida; produtos da plenitude integra, aos poucos, sua personalidade,
da vida, da alegria de viver que existe nas desenvolvendo o sentimento de estar
crianças. dentro do próprio corpo, sentimento esse
que vai surgindo com os cuidados corporais

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Revista Educar FCE - Março 2019

indispensáveis a ela. em relação àquilo que vê. Assim, é alcançada


Brincando e jogando, a criança reproduz uma condição em que a criança começa a agir
suas vivências, transformando o real de independentemente daquilo que vê. Pode-se
acordo com seus desejos e interesses. Na avaliar que a liberdade de ação que os adultos
brincadeira, a criança assimila e constrói sua e as crianças possuem é adquirida após um
realidade, por isso, a ludicidade deve permear longo processo de desenvolvimento.
o espaço escolar a fim de transformá-lo em
um local de descobertas, de imaginação, de No brinquedo, a criança opera com
criatividade. significados desligados dos objetos e
ações aos quais estão habitualmente
O brinquedo caracteriza-se, ainda, pela vinculados; entretanto, uma contradição
presença do outro. Brincar é estar junto a muito interessante surge, uma vez que, no
outro. É sentir o gesto, o olhar, o calor do brinquedo, ela inclui, também, ações reais
companheiro. O brinquedo aproxima as e objetos reais. Isto caracteriza a natureza
pessoas por meio da socialização, torna-as de transição da atividade do brinquedo: é
amigas, porque brincar significa sentir-se um estágio entre as restrições puramente
feliz descobrindo o mundo que as cerca. situacionais da primeira infância e o
pensamento adulto, que pode ser totalmente
É através da busca, da descoberta e da desvinculado de situações reais.
apropriação do mundo que os seres humanos
inventam e reinventam palavras, atos, No brinquedo, espontaneamente, a criança
ações, objetos, leis e normas. Os brinquedos usa sua capacidade de separar significado do
historicamente são criados e recriados pelo
objeto sem saber que o está fazendo. Dessa
homem. E a criança que é um ser em pleno
forma, por meio do brinquedo, a criança
processo de apropriação da cultura elaborada
atinge uma definição funcional de conceitos
historicamente, precisa participar deles de uma
ou de objetos e as palavras passam a se
forma espontânea e criativa. Só assim elas serão
curiosas, críticas confiantes e participativas,
tornar parte de algo concreto.
na resolução de problemas relacionados ao
conhecimento necessário para se apropriar do No brinquedo, a criança segue o caminho
mundo da cultura civilizatória. (SANTOS, 1998, do menor esforço, ela faz o que mais gosta
p. 58). de fazer, porque o brinquedo está unido ao
prazer e, ao mesmo tempo, aprende a seguir
É enorme a influência do brinquedo no os caminhos mais difíceis, subordinando-se
desenvolvimento de uma criança. É com a regras e, por conseguinte, renunciando ao
o brinquedo que a criança aprende a agir que ela quer, uma vez que a sujeição a regras
cognitivamente. Na brincadeira, os objetos e a renuncia à ação impulsiva constitui o
perdem sua força determinadora. A criança caminho para o prazer no brinquedo.
vê um objeto, mas age de maneira diferente O brinquedo cria na criança uma nova

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Revista Educar FCE - Março 2019

forma de desejo. Ensina-a a desejar, Não podemos pensar na criança como


relacionando seus desejos a um “eu” fictício, um adulto em miniatura. Ela precisa falar,
ao seu papel no jogo e a suas regras. Dessa correr, saltar, jogar, brincar, rir, sorrir, fazer,
forma, as maiores aquisições de uma criança para mais tarde compreender melhor o seu
são conseguidas no brinquedo, aquisições contexto sociocultural.
que no futuro tornar-se-ão seu nível básico
de ação real e moral. Por meio da ludicidade, podemos devolver
à criança a liberdade de brincar e de ser
criativa. No brincar, a criança foge dos
A LUDICIDADE tributos da eficácia, do formal e arrisca-se
NO PROCESSO DE na escolha de outros caminhos, como, por
exemplo, permitir que o medo de errar seja
ALFABETIZAÇÃO substituído pelo prazer e pela alegria de criar.

Para ensinar e aprender com prazer é O ato de brincar contribui para o


preciso compreender melhor as crianças. desenvolvimento saudável e para o equilíbrio
Pois, antes de frequentar a escola, elas dos pequenos. Mais do que uma simples
vivem no seu mundo real cheios de desejos e diversão, o lazer é uma forma da criança
paixões que fazem parte de suas brincadeiras pesquisar, aprender e descobrir novas
e movimentos. Porém, ao chegarem à escola, possibilidades, além de experimentar papéis
ela encontra uma realidade totalmente sociais diferentes e ampliar a interação com
diferente da sua. Anulando tudo aquilo que os outros. Especialistas garantem que a
representa sua forma de viver, compreender brincadeira ajuda a formar adultos menos
e apropriar-se de seu contexto sociocultural. violentos e pessoas mais criativas.

A criança deve ser auxiliada em seu processo A criança que brinca desenvolve melhorar
de desenvolvimento e de suas capacidades, as habilidades sociais. Aprende conceitos da
como: tomada de decisões, construção e vida e respeitando esses conceitos na diversão,
apreensão de regras, cooperação, diálogo, aprende a respeitar também seu cotidiano.
solidariedade sem, contudo, desvalorizar o
que ela já aprendeu por meio das brincadeiras Esconde-esconde, cabra-cega, amarelinha
espontâneas. e outras brincadeiras de rua estão sendo
praticamente extintas nos dias de hoje.
Brincar, como a principal linguagem da A violência crescente e a movimentação
infância, compreende práticas que envolvem do trânsito são fatores que restringem as
jogos, brinquedos e brincadeiras que crianças a procurar diversão dentro de casa,
garantem o direito à criança de comunicar-se, geralmente recorrendo à televisão e aos
de interagir, de aprender, de viver e conviver. jogos eletrônicos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A criança que não tem muitas oportunidades para brincar livremente e que não compartilha
com os pais esses momentos de descontração pode apresentar problemas comportamentais
no futuro. Dificuldades de expressão e de socialização são alguns deles. Quando brinca, ela
desenvolve o pensamento criativo, a coordenação motora, aprende regras de convivência e
cooperação, além de exprimir seus medos, desejos e expectativas. Em outras palavras, garante
um crescimento saudável e possibilita a formação de um adulto autônomo e equilibrado.

Por tudo isso, é importante que a escola valorize o brincar nos anos iniciais e permita que
o brinquedo e a brincadeira façam parte do processo de construção do conhecimento e da
aprendizagem da criança.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os jogos, enquanto contribuição ao processo de
alfabetização, auxiliam muito na educação integral do
indivíduo, pois podem dar conta de uma reflexão sócio
histórica do movimento humano, oportunizando à criança
investigar e problematizar as práticas corporais e lúdicas
advindas das mais diversas manifestações culturais e
presentes no seu cotidiano.

Entendemos que é possível criar na sala de aula um


ambiente favorável ao processo de desenvolvimento e EDILEUSA SANTANA
aprendizagem das crianças por meio de atividades lúdicas. DOS SANTOS
Mas, será necessário explorar a expressão livre e criadora das
Graduada em Pedagogia pela
próprias atividades das crianças para alcançar os objetivos
Universidade de Guarulhos
propostos. Neste sentido, o grande desafio é alfabetizar
(1988); Especialista em
a criança a partir do seu próprio cotidiano, sem deixar Psicopedagogia Institucional
de lado a aprendizagem social (conhecimento elaborado pela Faculdade de Conchas
historicamente). (2015); Professora de Ensino
Fundamental 1 da Rede
Em estudos realizados sobre aprendizagem e Municipal de Ensino da Cidade
desenvolvimento infantil, Negrine (1994, p. 20) afirma que de São Paulo; Professora
“quando a criança chega à escola, traz consigo toda uma pré- de Ensino Fundamental 1
história, construída a partir de suas vivências, grande parte da Prefeitura Municipal de
delas através da atividade lúdica”. Segundo esse autor, é Itaquaquecetuba.
fundamental que os professores tenham conhecimento do
saber que a criança construiu na interação com o ambiente
familiar e sociocultural para formular sua proposta pedagógica.

Nesta perspectiva, o professor alfabetizador deverá contemplar a brincadeira como


princípio norteador das atividades didático-pedagógicas, possibilitando às manifestações
corporais encontrarem significado pela ludicidade presente na relação que as crianças
mantêm com o mundo.

O jogo, as brincadeiras, o brinquedo são elementos mediadores da aprendizagem e do


desenvolvimento humano e do movimento corporal e são fundamentais no processo de
construção do conhecimento e especialmente na alfabetização e, por isso, não devem faltar
na vida escolar de toda criança.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil. Porto Alegre: Prodil, 1994.

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WALLON, Henri. Do ato ao pensamento: ensaio de psicologia comparada. Trad. J. Seabra


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WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

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Revista Educar FCE - Março 2019

ALUNOS AUTISTAS NO
ENSINO FUNDAMENTAL
RESUMO: Os transtornos do desenvolvimento infantil são extremamente debilitantes e
requerem uma dedicação especial e quase total da família e de todos os envolvidos. Estudo
de revisão da literatura que teve como objetivo geral contextualizar a importância da
inclusão de alunos autistas no ensino fundamental e como objetivos específicos abordar
as interações sociais que envolvem a criança autista no contexto pedagógico e identificar
as possíveis interações com demais alunos e professora. O autismo caracteriza-se por
um desenvolvimento bastante atípico na interação social e comunicação, assim como o
repertório bastante restrito de finalidades e interesses, características essas, que podem
resultar em isolamento da criança e da sua família. Porém, a inclusão escolar pode ser uma
oportunidade de convivência com outras crianças da mesma faixa etária criando um espaço
de aprendizagem e desenvolvimento. A criança quando ingressa na escola passa a interagir
com um novo ambiente e uma nova realidade, ambos diferentes daquela a qual estava
acostumada na relação com a família. Esse ingresso é marcado por demandas, expectativas
e rituais relacionados a esse novo ambiente. A escola tem a função específica de instruir e
trabalhar o conhecimento historicamente produzido e possibilitar a participação da criança
nesse processo histórico. Um trabalho de socialização é essencial, no sentido de evitar o
preconceito e a discriminação ainda existentes, proporcionando uma prevenção primária,
por meio de elucidações junto às escolas e pessoas afins.

Palavras-Chave: Autismo; Interação social; Ensino fundamental; Educação inclusiva.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO Um dos principais desafios apontados


por professores para realizar esse tipo de
Transmitido pelo autor Gomes (2007) que o inclusão são os prejuízos na comunicação,
aumento da eficácia das estratégias de ensino tipicamente evidenciados por alunos com
que possibilitam a aquisição de habilidades esse diagnóstico.
básicas e que complementam as dificuldades
clássicas do transtorno; crianças com autismo Trata-se de um estudo bibliográfico
têm mostrado um ganho no repertório geral retrospectivo de revisão da literatura, que
e, consequentemente, tornam-se hábeis a teve como objetivo geral contextualizar a
aprender comportamentos mais complexos, importância da inclusão de alunos autistas
necessários aos conteúdos acadêmicos. no ensino fundamental e como objetivos
específicos abordar as interações sociais
Martins e Monteiro (2017) relatam que, que envolvem a criança autista no contexto
a princípio, o autismo foi descrito em 1943, pedagógico e identificar as possíveis
por Leo Kanner, psiquiatra austríaco que interações com demais alunos e professora.
apresentou onze casos de crianças, sendo
oito meninos e três meninas, com sintomas Lakatos e Marconi (2010) lecionam
que se caracterizam pelo isolamento social, que a pesquisa bibliográfica ou de fontes
problemas na comunicação e movimentos secundárias abrange toda bibliografia já
estereotipados e repetitivos, em um artigo publicada em relação ao tema de estudo,
com o título “Transtornos autísticos do publicações avulsas, boletins, jornais,
contato afetivo”. revistas, livros, pesquisas, entre outras
fontes. Assim, a pesquisa bibliográfica não é
Cerca de setenta anos após a primeira mera repetição do que já foi dito ou escrito
descrição desse transtorno, surgiram várias sobre certo assunto, pois possibilita propiciar
tentativas para explicá-lo nas mais diversas o exame de um tema sob um novo enfoque
áreas do conhecimento e teorias, porém, ou abordagem, permitindo chegar a novas
ainda não há um consenso em termos conclusões.
de delimitação de causas e intervenções
eficazes, somente hipóteses (MARTINS; O levantamento foi realizado em
MONTEIRO, 2017, p.219). periódicos nacionais indexados em bases
eletrônicas de dados de Literatura Latino-
Nas últimas décadas, de acordo com o Americana em Ciências da Saúde (LILACS) e
ponto de vista de Gomes e Nunes (2014), os Scientific Electronic Library Online (SciELO),
aspectos polêmicos envolvendo o processo e demais publicações referentes ao tema,
de inclusão de alunos autistas nas salas de utilizando-se as seguintes palavras-chave em
aula comuns têm provocado amplos debates. português: autismo, interação social, ensino
fundamental, educação inclusiva.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A apresentação dos resultados obtidos foi A apresentação dos resultados foi realizada
realizada de forma descritiva, possibilitando de forma descritiva, possibilitando ao leitor a
ao leitor a avaliação do conteúdo. avaliação do conteúdo. A produção científica
referente ao período e tema em questão foi
Lima e Laplane (2016) referem que as representada por nove referências, incluindo
causas específicas e definitivas para explicar um livro de metodologia. A seguir são tecidos
o autismo ainda não foram totalmente breves comentários sobre o tema estudado.
conhecidas.
Oliveira et al. (2017) relatam que a partir da
Os estudos apontam que o transtorno atinge mobilização dos familiares levou à aprovação
com maior preponderância o sexo masculino inédita de uma lei federal específica para o
(três a quatro meninos para uma menina), porém, autismo. Em 27 de dezembro de 2012, foi
as meninas tendem a ser mais seriamente sancionada a Lei nº 12.764, que “Institui a
comprometidas quando são afetadas. Política Nacional de Proteção dos Direitos da
Pessoa com Transtorno do Espectro Autista”
Lima e Laplane (2016) observam que na (BRASIL, 2012). Além de reconhecer a pessoa
literatura veicula um conjunto variável de com TEA como “pessoa com deficiência,
características tais como: dificuldades de para todos os efeitos legais” (Lei nº 12.764, §
relacionamento interpessoal; aversão a 2o), produz incidências em diversos campos,
contato físico e a manifestações de carinho; como na esfera assistencial, político/
atraso ou ausência de linguagem verbal, gestora,científico/acadêmica,educacional/
mímica e gestual; pouca responsividade pedagógica, bem como no campo dos direitos
a estímulos sonoros, fala e solicitações básicos.
de interação; pouco contato visual com o
interlocutor; pouco uso da expressividade Foram obtidas 20 publicações nas bases de
facial para expressar emoções; dados consultadas e referenciados 9 artigos
comportamentos repetitivos, ritualizados e um livro de metodologia científica. A seguir
e estereotipias; dificuldades para aceitar são citadas algumas publicações que deram
mudanças e novidades nas rotinas e na suporte à realização desse artigo.
interação.
Segundo Martins e Monteiro (2017), os
estudos mais recentes sobre o transtorno
RESULTADOS estão no campo das neurociências e
genética que buscam encontrar alguma
Com base nos resultados obtidos são justificativa fisiológica ou fator genético
citados alguns estudos que ilustram as responsável pelo autismo. Contudo, apesar
pesquisas realizadas por profissionais das extensas pesquisas nesse campo, ainda
abordando o tema estudado. não foi identificado nenhum fator específico

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Revista Educar FCE - Março 2019

responsável pelo desencadeamento do o objetivo de identificar o que as produções


transtorno. científicas nacionais, publicadas entre 2008
e 2013, têm revelado sobre a inclusão
Pela análise realizada por Benitez e de pessoas com TEA no Brasil, concluiu
Dominiconi (2014), tendo como objetivo que a presença desses alunos em escolas
operacionalizar e avaliar uma capacitação regulares, teve um aumento expressivo após
de professores da sala de aula regular, a popularização do paradigma da inclusão.
da educação especial e pais, para criar
condições capazes de vislumbrar o ensino O desconhecimento sobre a síndrome
compartilhado de leitura e escrita para alunos e a carência de estratégias pedagógicas
incluídos em escola regular com deficiência específicas pode acarretar poucos efeitos na
intelectual e autismo, concluiu que o ensino aprendizagem desta população.
compartilhado de leitura e escrita para esses
alunos com deficiência intelectual e autismo, Nunes, Azevedo e Schmidt (2013, p. 558)
criou condições para desenvolver estratégias lecionam que:
inclusivas, de modo a operacionalizar as
orientações descritas nos documentos A inclusão educacional escolar, no Brasil, é
atuais em relação à inclusão escolar, a partir uma ação política, cultural, social e pedagógica
do envolvimento de agentes educacionais. que visa garantir o direito de todos os alunos
de estarem juntos, aprendendo e participando
(BRASIL, 2007). A Educação Especial vem
Em estudo descritivo realizado por Lima e
sendo discutida no Brasil a partir da Declaração
Laplane (2016), que analisou os microdados
Universal dos Direitos Humanos, em 1948. Mas,
do município de Atibaia provenientes do
apesar da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Censo da Educação Básica entre 2009
Nacional propor que as pessoas com deficiência
e 2012, os resultados mostraram que as deveriam ser inseridas, preferencialmente, no
matrículas desses alunos estão concentradas ensino regular, foi apenas a partir da Constituição
no ensino regular e na rede pública. de 1988 e sob a influência da Declaração de
Jomtien (1990) e da Declaração de Salamanca
Uma parcela desses alunos é atendida (1994), que, em nosso país, começou a ser
por instituições de educação especial. O discutida a universalização da Educação, e a ser
estudo aponta para a grande evasão escolar implementada nas escolas regulares uma política
e destaca que de uma maneira geral, o de Educação Inclusiva, culminando com a Política
processo de escolarização de alunos com Nacional de Educação Especial na perspectiva
autismo não se conclui e poucos chegam a da Educação Inclusiva (2008).
cursar o ensino médio.
Nunes, Azevedo e Schmidt (2013)
Através da revisão da literatura realizada acrescentam que as ações governamentais
por Nunes, Azevedo e Schmidt (2013), com ampliaram o ingresso de crianças com

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Revista Educar FCE - Março 2019

autismo em classes comuns após o advento DISCUSSÃO


da política de 2008.
Segundo Campos e Fernandes (2016), o
Dados do Censo Escolar do Ministério da autismo caracteriza-se pelo desenvolvimento
Educação indicam que no ano de 2006, havia atípico na interação social, capacidade
2.204 alunos com o diagnóstico de autismo, cognitiva e comunicação, e pela presença
inseridos em escolas regulares; no ano de de um repertório restrito de atividades e
2012, esse número aumentou para 25.624. interesses.
Neste cenário, é indispensável avaliar os
aspectos qualitativos desse acesso. Referente aos critérios diagnósticos, o
laudo médico é baseado em observações
Observa-se que no decorrer dos anos, a comportamentais e em informações
presença de alunos com autismo, em escolas relatadas pelos pais. A partir da observação
regulares, teve um expressivo aumento, após das características do comportamento, é
a popularização do paradigma da inclusão e, possível classificar a gravidade, mensurar
consequente, extinção das escolas especiais. progressos ou retrocessos e programar
Portanto, considera-se importante destacar intervenções.
que a inclusão não precisa ser compreendida
como uma dicotomia entre inclusão/exclusão, Na Classificação Internacional de Doenças
classes especiais ou salas regulares (NUNES; (CID-10), o autismo é classificado nos
AZEVEDO; SCHMIDT, 2013, p. 557). transtornos invasivos do desenvolvimento
(TID); é definido como um grupo de
Portanto, do ponto de vista de Martins e transtornos que se caracterizam por
Monteiro (2017), as principais explicações alterações qualitativas das interações sociais
correntes envolvendo o autismo, são aquelas recíprocas, dificuldades de comunicação e
oriundas das teorias afetivas, cognitivas e um repertório de interesses e atividades
comportamentais. restrito, estereotipado e repetitivo (MICCAS;
VITAL; D’ANTINO, 2014, p.3).
Destaca-se que a escola tem um papel
fundamental no processo de significação, pois Martins e Monteiro (2017) citam que
se constitui como o espaço de construção o aspecto nuclear do transtorno autista
de significados e elaboração de sentidos de é a dificuldade em estabelecer relações
uma determinada cultura e contexto social. interpessoais, o que na perspectiva
histórico-cultural é considerado central para
o desenvolvimento do sujeito. Contrastando
com os programas desenvolvidos por
outras perspectivas teóricas, as propostas
fundamentadas nos estudos de Vygotsky

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Revista Educar FCE - Março 2019

enfatizam a necessidade de investir nas refere às possibilidades de desenvolvimento


possibilidades de interações sociais para da criança deficiente, a partir das relações
garantir a superação das dificuldades de sociais estabelecidas com as pessoas ao seu
relacionamento com os outros do grupo entorno.
social.

Teodoro et al. (2016) citam que de ALUNOS AUTISTAS NO


acordo com a Lei Diretrizes e Bases (LDB ENSINO FUNDAMENTAL
9.394/96) no Art. 59. Inciso I “currículos,
métodos, técnicas, recursos educativos e
organização específicos, para atender às suas Apesar dos comprometimentos descritos
necessidades” é possível realizar algumas relacionados à interação do autista com o
adaptações curriculares dependendo outro, a ênfase nas relações sociais pode ser
da necessidade que cada aluno autista a chave que possibilita o desenvolvimento
apresenta, incluindo atividades que facilitam desses sujeitos. A criança autista, geralmente
a interação com os demais alunos da sala. é vista com uma série de impossibilidades
determinadas pelas características em seu
Lima e Laplane (2016) citam que nas comportamento e muito pouco foi dito sobre
últimas décadas a inclusão escolar é uma das possibilidades de atuar junto a esses sujeitos,
políticas que tem promovido a escolarização promovendo interações com os mesmos
de todos os alunos. (MARTINS; MONTEIRO, 2017, p.220).

Os documentos internacionais e a Estudos apontam a presença de prejuízos


legislação brasileira têm contribuído para graves na interação social e nas comunicações,
difundir o conceito e normatizar as práticas tanto verbais como não verbais, além
inclusivas, que de um modo geral envolvem da ausência de atividades imaginativas,
o ensino regular, a Educação Especial e as substituídas por comportamentos repetitivos
instâncias públicas e privadas. e estereotipados. É característico o fato
de que os alunos com autismo apresentem
Martins e Monteiro (2017) destacam bom desempenho em tarefas da área de
que esse transtorno não foi estudado linguagem; esses resultados podem ser
por Vygotski, tendo em vista que o autor atribuídos a uma estimulação adequada
faleceu no ano de 1934 e os primeiros (MICCAS; VITAL; D’ANTINO, 2014, p.5).
relatos difundidos por Leo Kanner sobre os
“Transtornos do Espectro Autista” datam Teodoro et al. (2016) assinalam que a
do ano de 1943. Contudo, as proposições sala de aula deve ter um número reduzido
teóricas do autor são pertinentes ao estudo de alunos para que o professor atenda a
sobre o distúrbio, principalmente no que se todos de maneira eficaz de modo que ele

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não seja sobrecarregado. Porém, cada caso deve ser analisado individualmente pela equipe
pedagógica e de saúde responsável pelo acompanhamento da criança e/ou do adolescente.

Algumas crianças e adolescentes com autismo, geralmente com outras deficiências


associadas, conseguem uma melhor adaptação em escolas especiais, depende das
características individuais de cada um, do momento de vida e de desenvolvimento no qual
se encontra.

Nesse sentido, as propostas educacionais focam métodos específicos que tendem a valorizar
a execução de tarefas, a inibição de ações consideradas indesejáveis ou incompreensíveis,
geralmente não valorizando a interação social e a abstração (MARTINS; MONTEIRO, 2017,
p.217).

O trabalho realizado com autistas, baseados em visões organicistas e comportamentais


evidencia técnicas mais estruturadas que não vislumbram possibilidades de interação
mais efetivas com esses sujeitos, ao contrário, muitas vezes acabam causando maior
distanciamento e a escola, que muitas vezes não sabe como lidar com essa clientela, pois a
escolarização de autistas ainda é um novo processo, acaba perpetuando essas concepções
e, consequentemente, essa forma de distanciamento (MARTINS; MONTEIRO, 2017, p.215).

Observa-se que a Educação Especial também é de extrema importância, já que um


atendimento especializado, antes da inclusão escolar, ajuda a criança a desenvolver suas
habilidades, reafirmando a ideia de que toda criança tem direito a educação e acesso à escola
regular, e devem ter oportunidades de avanço, mostrando caminhos para que a organização
da educação especial seja realizada (TEODORO et al., 2016, p.127).

Martins e Monteiro (2017) destacam que a educação, desse modo, deve assumir o papel de
uma elevação num caminho anteriormente visto como plano, alavancando o desenvolvimento
da criança, principalmente nos casos de crianças com qualquer deficiência, como no caso do
autismo, no qual o papel da educação deverá ser mais atuante, pois a criança necessitará de
um auxílio e envolvimento mais efetivo do outro.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os transtornos do desenvolvimento infantil são bastante
debilitantes, como se pode perceber, exigindo uma dedicação
especial e quase total da família e de todos os envolvidos.

Crianças com autismo estão cada vez mais expostas aos


conteúdos acadêmicos nas salas de aula regulares, o que
requer estratégias de ensino adequadas as suas necessidades,
considerando-se que são fundamentais para a entrada,
permanência e progresso dessa população na escola. EDILSON DA
SILVA SANTOS
O professor de Educação Infantil e Ensino Fundamental
Graduação em Licenciatura Plena
não pode ignorar a necessidade de adquirir conhecimentos
em Matemática. Em 16 de agosto
específicos para garantir a permanência dos alunos com de 2001 pela Universidade
necessidades educativas especiais nas escolas regulares. Iguaçu – UNIG , Especialista em
Matemática ,pela Universidade
O autismo infantil apresenta grandes dificuldades no Nova Iguaçu – UNIG. Professor
diagnóstico, uma vez que envolve várias doenças com de Ensino Fundamental II e
diferentes quadros clínicos que têm como fator comum Médio da EMEF Professora
o sintoma de autismo. É uma síndrome definida por Idêmia de Godoy.
alterações presentes, em geral, por volta do terceiro ano
de vida e que se caracteriza pela presença de desvios nas
relações interpessoais, linguagem/comunicação, jogos
e comportamentos, caracterizados por um déficit social
caracterizado pela incapacidade de se relacionar com o
outro, geralmente relacionado a um déficit de linguagem e
alterações de comportamento.

Um trabalho de socialização é essencial, no sentido de


evitar o preconceito e a discriminação ainda existentes,
proporcionando uma prevenção primária, por meio de
elucidações junto às escolas e pessoas próximas. Deixar
essas crianças viverem no seu mundo particular é muito
cômodo e parece ser uma maneira de negar responsabilidade
para com esses seres humanos e suas famílias angustiadas,
necessitadas de esperança.

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Cabe à escola adaptar-se para atender às especificidades desses alunos, o que requer
mudanças na estrutura e no funcionamento da escola, na formação dos professores e nas
relações família-escola.

Em síntese, o professor deve ter conhecimentos que o permitam dominar os saberes


necessários para a educação inclusiva, de modo a ter condições de assumir o processo em
toda sua complexidade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

O USO DO LÚDICO
NA ALFABETIZAÇÃO
RESUMO: O uso do lúdico na alfabetização tem sido alvo de muitas reflexões dada a
importância no desenvolvimento das crianças. A brincadeira é compreendida como situação
imagética criada pelo contato das crianças com a realidade social. Por meio do lúdico, a
criança recria aquilo que sabe de forma espontânea, inserindo conhecimentos novos. Nesta
perspectiva, o lúdico dentro da sala de aula tem real significado no processo de ensino
aprendizagem. Este artigo tem como objetivo abordar sobre as atividades lúdicas no
cotidiano das escolas e sobre sua importância para a alfabetização, para que o brincar não se
torne um passa tempo, mas sim uma atividade que visa o desenvolvimento do aluno. Neste
trabalho traz se uma discussão sobre a relevância do lúdico enquanto proposta pedagógica
para fomentar a alfabetização e por conseguinte o letramento.

Palavras-Chave: Lúdico; Ensino; Alfabetização.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO Sendo assim, a presença do lúdico tem


sido objeto de muitas investigações no
Na educação observa-se diferentes campo educacional, dada a sua importância
materiais didáticos que podem contribuir no desenvolvimento da criança.
com o aprendizado do educando e o seu
desenvolvimento. O lúdico é um desses Com o advento das novas tecnologias
recursos, que sendo utilizado corretamente (celulares, tablets, aplicativos e etc.) e
é essencial para a aprendizagem e o brinquedos cada vez mais autônomos e
desenvolvimento infantil. interativos, as crianças vem perdendo os
espaços de brincadeiras e imaginação. Hoje
Sabe-se que a ludicidade faz parte do dia a em dia as brincadeiras e os brinquedos
dia da criança. É por meio dela que a criança encerram dentro de si um objetivo sem
aprende, demonstra os seus sentimentos e trazer consigo espaços para a realização de
suas vontades. O lúdico é a principal atividade hipóteses. Há a necessidade de se trazer a
que responde as necessidades infantis, que baila que as crianças precisam de desafios
permite o descobrir a si mesma e ao mundo, para a acomodação de novos conhecimentos,
é ainda por meio dele que a criança cria o propondo sempre a construção de
seu mundo imagético e que posteriormente conhecimentos por meio de tentativas e real
será reproduzido no âmbito real. Lopes diz: significado.

“Brincar é uma das atividades fundamentais para Os pais cada vez mais compram brinquedos
o desenvolvimento da identidade e da autonomia. e esquecem que ele por si só não estimula
O fato de a criança, desde muito cedo poder a imaginação. O próprio brincar é que ativa
se comunicar por gestos, sons e mais tarde, a área cognitiva dos pequenos. Não se tem
representar determinado papel na brincadeira,
mais o hábito de sentar no chão com os
faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas
filhos e brincar, relegando este papel para a
brincadeiras, as crianças podem desenvolver
escola. O faz de conta perdeu muito espaço
algumas capacidades importantes, tais como a
atualmente.
atenção, a imitação, a memória, a imaginação.
Amadurecem também algumas capacidades de

socialização, por meio da interação, da utilização Porém, muitas vezes, os professores não
e da experimentação de regras e papeis sociais”. usam desse incrível material para estimular
(LOPES, 2006 p.110). os alunos, quanto mais velha a criança fica,
menos ela brinca. Outro fator agravante desta
Na sociedade, o espaço para brincar dentro realidade é que as escolas estão perdendo
das escolas está sendo substituído por afazeres os espaços do lúdico para acomodar novas
que não permitem a criança imaginar, exigindo salas de aula. Poucas escolas possuem
delas cada vez mais responsabilidades que brinquedoteca e muitas tiveram que adaptar
não são adequadas as faixas etárias. este espaço para receber novas classes com

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Revista Educar FCE - Março 2019

mais alunos para atenderem a demanda. Mas precedente de uma tendência a satisfação
a relevância de se trabalhar com o lúdico imediata desses desejos, o comportamento
ultrapassa espaços, pois mesmo em uma da criança muda. Para resolver essa tensão, a
sala de aula com alguns materiais é possível criança em idade pré-escolar envolve-se num
desenvolver um trabalho que estimule a mundo ilusório e imaginário onde os desejos
imaginação do aluno. não realizáveis podem ser realizáveis e esse
mundo é o que chamamos de brinquedo.
(VIGOTSKY, 2007, p. 108).
A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO
PARA AS CRIANÇAS
Quando a criança está representando
Por meio da brincadeira, ela tem um um personagem em suas brincadeiras, ela
comportamento de referência maior do que não faz uso de um personagem específico,
é na realidade, realiza simbolicamente o mas sim de um tipo conhecido. A criança
que mais tarde poderá realizar na vida real. reproduz o que é típico, geralmente o que
Vigotsky (2007) destaca que: pode ser generalizado em uma situação. No
jogo de “faz-de-conta”, a criança experimenta
[...] o brinquedo cria uma zona de diferentes papéis sociais, funções sociais
desenvolvimento proximal da criança. No generalizadas a partir da observação do
brinquedo, a criança sempre se comporta além mundo dos adultos.
do comportamento habitual da sua idade, além
do seu comportamento diário; no brinquedo é
O jogo simbólico ou “faz de conta”
como se ela fosse maior do que é na realidade.
é inerente ao ato de criar fantasias, é
Como no foco de lente de aumento, o brinquedo
ferramenta imp- rescindível à leitura do
contém todas as tendências do desenvolvimento
mundo, levando a criança a ser autônoma,
sob forma condensada, sendo, ele mesmo, uma
grande fonte de desenvolvimento. (p.122)
criativa e exploradora de sentidos e
significados, segundo Oliveira (2002). Os
jogos são pré requisitos para a apreensão
Segundo Vigotsky (2007), a criança das regras sociais e ajudam a criança, desde
procura suprir seus desejos por meio do ato cedo, praticar para a vida futura.
de brincar. Mas esses desejos não podem ser
satisfeitos de imediato, o que leva a criança a Quando a criança brinca, pode-se
buscar situações imaginárias como solução. analisar seu comportamento e por meio
desta observação, inserir o comportamento
No inicio da idade pré-escolar, quando padrão para determinada sociedade,
surgem os desejos que não podem ser levando em consideração o professor como
imediatamente satisfeitos ou esquecidos, e mediador. Com a ajuda de brinquedos,
permanece ainda a característica do estágio jogos e brincadeiras a capacidade cognitiva

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Revista Educar FCE - Março 2019

da criança avança, usando o que aprende, ensinando-lhe a conviver com os outros,


nestas situações, na vida real. enfim lhes ensinando a complexidade de
uma sociedade. É por meio do lúdico que as
As crianças, muitas vezes, utilizam objetos crianças desenvolvem percepção do próprio
diferentes como brinquedos, tais como eu e do “outro”. A ludicidade desenvolve
caixas de papelão, folhas de plantas, tampas também o conhecimento cognitivo, motor
de panelas e etc., isso se dá pois, ela faz uso e etc. Enfim, o lúdico é fundamental para o
do sentido imaginário do objeto e não do aprendizado de toda criança, desenvolvendo
sentido real daquilo que utiliza. por conseguinte a alfabetização e o
letramento.
De acordo com Leontiev (1994), o
brinquedo surge na criança no início da idade
pré-escolar, no momento em que ela sente a O USO DO LÚDICO NA
necessidade de agir não apenas com os objetos ALFABETIZAÇÃO
que fazem parte de seu ambiente físico e que
são acessíveis a ela, mas com objetos que O brincar é uma atividade importante no
ela ainda não tem domínio, sendo estes os período da infância e está perdendo o seu
objetos do cotidiano dos adultos. Para saciar espaço. A autora Flavia de Barros diz:
essa necessidade a criança brinca, e durante
a atividade lúdica ela faz parte desse mundo, “Percebeu-se a grande preocupação dos
esforçando-se para agir como um adulto, por professores, especialmente no final da Educação
exemplo, dirigir um carro, andar a cavalo ou Infantil, em antecipar a alfabetização da criança,
fazer comida. É na atividade e, sobretudo, reduzindo seus espaços de brincar. Diante dessa
realidade, sentiu-se a necessidade de aprofundar
por meio do brinquedo que a criança supera
estudos na área. (BARROS, 2009, p.35)”.
os limites da manipulação dos objetos que a
cercam e se insere num mundo mais amplo.
O brincar está perdendo espaço cada
O brinquedo é a atividade principal da criança, vez mais para a “alfabetização”, mas um não
aquela em conexão com a qual ocorrem as mais exclui outro, é necessário compreender que
significativas mudanças no desenvolvimento o brincar facilita a alfabetização e utilizar
psíquico do sujeito e na qual se desenvolvem os o lúdico nas aulas não é perda de tempo,
processos psicológicos que preparam o caminho
os profissionais da educação, precisam
da transição da criança em direção a um novo
entender que a criança não é um adulto em
e mais elevado nível de desenvolvimento.
miniatura.
(LEONTIEV, 1994, p. 122).

Ao cortar o lúdico da alfabetização, a escola


A brincadeira muda a criança; com bloqueia a organização independente das
o lúdico a criança adquire cooperação, crianças para a brincadeira, infantilizando-as,

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Revista Educar FCE - Março 2019

tabuleiro que exigem a compreensão do número


como se sua ação simbólica servisse apenas e das operações matemáticas, nos brinquedos de
para exercitar e facilitar a transmissão de encaixe, que trabalham noções de sequência, de
determinada visão do mundo, definida a tamanho e de forma, nos múltiplos brinquedos
priori pela escola. (WAJSKOP, 1995, p.64). e brincadeiras cuja a percepção exigiu um olhar
para o desenvolvimento infantil e materialização
Deve-se entender que o lúdico é da função psicopedagógica: móbiles destinados
um facilitador no processo de ensino- à percepção visual, sonora ou motora; carrinhos
aprendizagem, fazendo com que as munidos de pinos que se encaixam para
brincadeiras proporcionem prazer para as desenvolver a coordenação motora, parlendas
crianças, não sendo uma obrigação realizar para a expressão da linguagem, brincadeiras
as atividades lúdicas somente com o objetivo envolvendo músicas, danças, expressão motora,
da alfabetização, mas também de interação gráfica e simbólica”. Kishimoto (2003, p.36)

social, de recriação da cultura infantil, arte


e tradições populares. Mário de Andrade Na alfabetização o lúdico pode ser um
apresentava propostas e acreditava que: poderoso instrumento para que os alunos
possam refletir sobre o sistema de escrita.
... as crianças, em sua diversidade cultural,
trocavam, produziam e consumiam cultura, Utilizando jogos e brincadeiras a criança se
constituindo-se como pertencentes ao conjunto mobiliza refletindo sobre o funcionamento
de brasileiros e paulistanos. do sistema de letras, adquirindo novos
conhecimentos nesta área e pondo em xeque
o que ela já aprendeu. Mas nem tudo se
PORQUE USAR O LÚDICO aprende durante a brincadeira, é necessário
NA ALFABETIZAÇÃO que o professor crie situações em que as
crianças sistematizem a aprendizagem
Muitos estudiosos defendem a ideia de segundo o que elas vivenciaram durante a
que a escola precisa promover uma educação parte lúdica. Assim como propõe kishimoto:
mais lúdica e criativa, sugerindo que a criança
aprenda com prazer. “A utilização do jogo potencializa a exploração
e construção do conhecimento, por contar com
Segundo Kishimoto: a motivação interna, típica do lúdico, mas o
trabalho pedagógico requer a oferta de estímulos
“O brinquedo educativo data dos tempos externos e a influência de parceiros bem como a
do renascimento, mas ganha força com a sistematização de conceitos em outras situações
expansão da Educação Infantil [...]. Entendido que não jogos”. kishimoto (2003, pp.37/38):
como recurso que ensina, desenvolve e educa
de forma prazerosa, o brinquedo educativo Nesse sentido o papel do professor ou
materializa-se no quebra-cabeça, destinado a
mediador é selecionar variados recursos,
ensinar formas ou cores, nos brinquedos de

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Revista Educar FCE - Março 2019

incluindo o lúdico para que o aluno possa aprender de fato. Isso não quer dizer que o brincar
traz o saber pronto e acabado, mas que é um instrumento a mais para a construção dos
saberes que estão em constante construção em uma criança. Segundo Maluf:

“Os professores, aos poucos, estão buscando informações e enriquecendo suas experiências para entender o
brincar e como utilizá-lo para auxiliar na construção do aprendizado da criança. Quem trabalha na educação
de crianças deve saber que podemos sempre desenvolver a motricidade, a atenção e a imaginação de uma
criança brincando com ela. O lúdico é parceiro do professor”. Maluf (2003, p.29)


O professor pode iniciar seu planejamento partindo do que as crianças já sabem e
inserindo suas brincadeiras e jogos preferidos no aprendizado que ele quer construir com
aqueles alunos. A partir de jogos conhecidos a criança pode criar novas regras que melhor
se adequem aquele determinado assunto ou tema.

O uso do lúdico em sala de aula visa a aquisição de oportunidades para que os alunos
atuem como sujeitos na construção do próprio conhecimento, quer seja matemático, de
raciocínio, de escrita e etc.

Toda criança tem direito de brincar, e desde pequenas estas já se encontram no âmbito
escolar, dentro de uma sala de aula, sendo muitas vezes inadequadas às necessidades dos
alunos, tais como mobiliário e material. Esse é um dos motivos de citar a importância das
reflexões e estudos sobre o brincar na Educação Infantil.

O ser humano necessita criar as próprias opiniões, ser ativo, dinâmico, responsável, e o
lúdico é um grande auxiliar no desenvolvimento cognitivo, físico e afetivo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O lúdico é fundamental no desenvolvimento das crianças.
A infância é uma fase que marca a vida do indivíduo, é nessa
fase que as habilidades e potencialidades começam a ser
desenvolvidas. O professor ou o mediador pode e deve
aproveitar essa época criativa da criança para desenvolver
os conteúdos a serem trabalhados.

Utilizando o lúdico nas escolas, o professor ou mediador
estão incentivando a criança a agir de maneira ativa, reflexiva, EDNA APARECIDA
questionadora, curiosa, tornando-a um sujeito ativo na DA COSTA
construção do próprio conhecimento.
Graduação em Pedagogia pela

UNESP Universidade Estadual
Quanto mais espaço lúdico a escola proporciona, mais Paulista (2005); Pós-Graduação
alegre, espontânea, criativa, autônoma e afetiva a criança em Psicopedagogia pela FIG
será. Faculdades Integradas de
Ciências Humanas Saúde e
Assim sendo, incluir o lúdico nas aulas é extremamente Educação de Guarulhos 2012;
relevante, pois as brincadeiras, jogos e etc. auxiliam o Professora de Ensino Infantil e
desenvolvimento da imaginação e da criatividade, levando Fundamental I na prefeitura de
à construção da aquisição da escrita, raciocínio lógico e São Paulo, na CEI Parque Novo
aspectos físico, motor e cognitivo da criança tanto no Ensino Mundo.
Infantil, quanto em outras etapas de estudos.

827
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
BARROS, Flávia Cristina Oliveira Murbach de. Cadê o brincar? da educação infantil para o
ensino fundamental. São Paulo: UNESP, 2009.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.


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MEC/SEF 1988.

CHATEAU, Jean. O jogo e a criança. São Paulo: Summus, 1987.

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FORTUNA, Tânia Ramos. O Lugar do brincar na Educação Infantil. Revista Pátio Educação
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HUIZINGA, Johan. Homo ludens. São Paulo: Perspectiva, 1990.

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6ª ed., (org.): Cortez, 2002.

LEONTIEV, A. Os princípios psicológicos da brincadeira pré escolar. In VIGOTSKII, L.; LURIA,


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Universidade de São Paulo, 1988.

LOPES, A. C. T. Educação infantil e registro de práticas. São Paulo: Cortez, 2009.

MALUF, Ângela Cristina Munhoz. Brincar prazer e aprendizado. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky; Aprendizado e desenvolvimento um processo sócio –


histórico. 3. Ed. São Paulo: Scipione, 1995.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1998.

WAJSKOP, G. Brincar na Pré-Escola. São Paulo: Cortez, 1995.

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Revista Educar FCE - Março 2019

MEMORIAL DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E A RELAÇÃO


COM A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA)
RESUMO: Destaca a importância da relação da Educação de Jovens e Adultos (EJA) com o
memorial de formação acadêmica (percurso formativo) tendo em vista que a formação do
educador da EJA precisa estar em diálogo com o cotidiano e com as práticas desenvolvidas
nesta modalidade, as quais serão amadurecidas no processo de reflexão crítica, levando a
uma reelaboração dos saberes em movimento. Dessa forma, defende-se uma perspectiva
emancipatória para a EJA por entendermos que a Educação de Jovens e Adultos é um direito
importante e valioso, uma condição prévia para que o cidadão possa interagir com aspectos
básicos da sociedade. Nesse sentido, a escola, instituição precípua para o ensino e para
a aprendizagem, deve se aproximar e se conectar com práticas educativas comunitárias e
dialogadas, articulando-se às redes sociais mais amplas, uma vez que, ao pensarmos em
processos educativos não escolares, torna-se evidente como a educação se encontra imersa
numa pluralidade de contextos sociais. Portanto, acreditamos ainda que é na Educação
Popular que se instala a possibilidade do exercício pleno do fazer pedagógico como um
ato político, visto que tomamos a consciência que a educação não é um fazer neutro. Fazer
educação não é transmitir saberes e conhecimentos, mas, como nos alerta Paulo Freire,
fazer educação é um ato político que promove a superação da consciência ingênua para
a construção da consciência crítica, na consecução de uma Educação libertadora para a
construção de uma sociedade mais justa, igualitária e feliz.

Palavras-Chave: Memorial de formação; Educação de Jovens e Adultos; Educação Popular;


Paulo Freire.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO e culturas. Portanto a EJA se torna um dos


espaços em que os educandos desenvolvem
A escola é responsável pela garantia e a capacidade de pensar, ler, interpretar
promoção do desenvolvimento pleno do e reinventar o seu mundo, por meio da
cidadão, tornando-o consciente da sua atividade reflexiva. A mediação entre jovens
criticidade, capacitando-o para não só agir e adultos seus saberes e o conhecimento
como intervir na superação das desigualdades científico são recursos de transformação de
sendo um agente de transformação. Cabe sua realidade.
a escola promover atitudes e habilidades
permitindo ao educando adquirir valores Nesse memorial de formação procurarei
e conhecimentos básicos, estimulando-o a descrever o meu percurso formativo
exercitar sua autonomia numa convivência com relação a EJA enquanto educador,
social saudável. coordenador pedagógico e supervisor
escolar, bem como, minhas vivências e
A Educação de Jovens e Adultos tem como práticas pedagógicas pautadas na visão e no
função social a promoção da inclusão social, pensamento de Paulo Freire e na ênfase da
emancipatória e democrática de jovens Educação Popular caracterizada por valorizar
e adultos na sociedade, proporcionando os saberes produzidos e reconhecê-los
sua inserção e qualificação no mercado de como referência para o desenvolvimento de
trabalho, atribuindo aos educandos, o papel práticas pedagógicas significativas.
de sujeitos ativos no processo de construção
de conhecimentos exercendo sua cidadania. Para Paulo Freire (1987) um professor
A EJA – Educação de Jovens e Adultos tem o dedicado para a educação popular tem que
compromisso com a formação humana com acreditar em mudanças, não pode ensinar
o acesso a cultura, de modo que os alunos apenas a ler e escrever, é preciso haver
aprimorem sua consciência crítica e adotem uma mudança de paradigma, e transmitir
atitudes éticas para o desenvolvimento de esperanças, fazer com que o aluno se
sua autonomia intelectual. transforme em sujeito pensante, crítico e
consciente do que lhe envolve no dia a dia,
O sentido da EJA é propiciar a todos a o professor tem que ter prazer, alegria e
construção de conhecimentos por toda a transmitir aos alunos.
vida. Sua base é o caráter incompleto do
ser humano, uma educação permanente Jovens, adultos, idosos, histórias que
na criação de uma sociedade baseada na se assemelham e diferenciam. Excluídos
igualdade e diversidade. É necessário que a do ensino regular, e/ou não se adequando
Educação de Jovens e Adultos proporcione ao sistema de ensino proposto, distantes
aos alunos diversas formas de socialização da escola por alguns anos trazem consigo
por meio das várias áreas do conhecimento vivencias que acarretam diretamente

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Revista Educar FCE - Março 2019

seu processo de ensino e aprendizagem. 3º. Momento: enquanto Supervisor


Identidades construídas no decorrer de suas Escolar na implantação de políticas
caminhadas, recheadas de sonhos, encantos, públicas da Secretaria Municipal de
frustrações, vontades e ideias. A EJA é a Educação (SME) por meio do Programa de
própria diversidade sendo ressignificada Reorganização Curricular e Administrativa,
pelos sujeitos que dela fazem parte. Tantas Ampliação e Fortalecimento da Rede
diferenças, algumas semelhanças, muitas Municipal de Ensino de São Paulo –
singularidades emaranhadas num caldeirão Programa Mais Educação São Paulo.
de culturas. Assim, se faz necessário pensar no
currículo e na construção de conhecimentos
e temas geradores que serão relevantes EDUCADOR NA
na vida desses alunos. Conhecimento MODALIDADE EJA
esse baseado no respeito às diferenças,
valorizando as distintas experiências. Lecionei vários anos na Educação de
Jovens e Adultos (EJA) e pude constatar
A Educação de Jovens e Adultos representa que como modalidade educacional que
uma promessa de efetivar um caminho atende a educandos-trabalhadores, tem
de desenvolvimento de todas as pessoas, como finalidades e objetivos o compromisso
de todas as idades. Nela, adolescentes, com a formação humana e com o acesso à
jovens, adultos e idosos poderão atualizar cultura geral, de modo que os educandos
conhecimentos, mostrar habilidades, aprimorem sua consciência crítica, e adotem
trocar experiências e ter acesso a novas atitudes éticas e compromisso político,
culturas construídas cotidianamente, na para o desenvolvimento da sua autonomia
consecução de uma educação libertadora e intelectual.
transformadora.
Nesses anos pude refletir com outros
colegas e identificamos algumas situações-
PERCURSO FORMATIVO – EJA problemas recorrentes na Modalidade EJA,
a saber:
Meu percurso formativo com relação a
Educação de Jovens e Adultos se deu em Problemática percebida:
três momentos diferentes, a saber:
• As especificidades e singularidades dos
1º. Momento: enquanto educador da educandos jovens e adultos necessitam de
Modalidade EJA; garantias e visibilidade;
2º. Momento: enquanto coordenador
pedagógico responsável pela formação dos • É um público que foi marcado
professores que atuam na Modalidade EJA; geralmente pelo fracasso em várias

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Revista Educar FCE - Março 2019

tentativas de frequentar as instituições • A questão da intergeração; e


educacionais e, por diversas razões,
acabaram por desistir da continuidade de • A diversidade e as diferenças, dentre
seus estudos, seja por questões de trabalho outras.
ou familiar. E por negação de seus direitos
acabam sentindo-se, assim, excluídos; Não obstante, baseados em nossa prática
enquanto professores reflexivos, elencamos
• Por várias razões, geralmente, algumas intervenções possíveis, a saber:
apresentam baixa autoestima;
Intervenções Possíveis:
• A Educação de Jovens e Adultos
não deve ser uma reprodução do Ensino • Expressar as intenções no Projeto
Fundamental Regular, e sim, a busca Político Pedagógico (PPP), plano de
constante da transformação da realidade trabalho, planos de ensino, planejamentos
local; diários dos educadores e educadoras que
atuam na EJA;
• Conteúdos [escolares]
determinados e isolados, muitas vezes • Necessidade de um investimento
descontextualizados, não considerando a intenso por parte das instituições
realidade do educando; educacionais (educadores) para conquistá-
los (os educandos) e mantê-los no acesso,
• As especificidades dos alunos da permanência e a conclusão dos estudos;
EJA mostram que são provenientes de
áreas empobrecidas, migrantes, com uma • Superar a visão compensatória;
passagem curta pela escola, marcada pelo
fracasso onde foram excluídos da escola • Respeitar a diversidade de gênero e
regular e trabalham informalmente; as identidades dos educandos;

• São jovens (a partir de seus 15 anos) • Requer uma abordagem curricular


que ingressam no EJA nas etapas finais próxima e adequada às demandas da
para concluir o Ensino Fundamental; realidade local;

• Existem, por esta pluralidade, conflitos • Favorecer o diálogo entre os projetos;


entre os adolescentes, os jovens e os
adultos; • Construção de um novo saber
libertador e significativo.
• Histórico de vida escolar (ou a falta
dele);

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Revista Educar FCE - Março 2019

COORDENADOR que não obteve escolarização ou não deu


PEDAGÓGICO NA continuidade aos seus estudos por fatores,
muitas vezes, alheios à sua vontade.
MODALIDADE EJA
Portanto, dada à diversidade dos sujeitos
Enquanto coordenador pedagógico da EJA, procurava ressaltar na formação
entendo que o papel fundamental da dos professores, estratégias didático-
construção curricular para a formação dos pedagógicas que enfatizavam a interação,
educandos desta modalidade de ensino a troca, o diálogo, pela certeza de que
é fornecer subsídios para que se afirmem aprender exige ação coletiva, entre sujeitos
como sujeitos ativos, críticos, criativos com saberes variados, mediados ou não
e democráticos podendo: aprender por velhas e novas linguagens tecnológicas.
permanentemente; refletir de modo crítico; Assim, a atuação do educador da EJA
agir com responsabilidade individual e é fundamental para que os educandos
coletiva; participar do trabalho e da vida percebam que o conhecimento tem a ver
coletiva; comportar-se de forma solidária; com o seu contexto de vida, que é repleto de
acompanhar a dinamicidade das mudanças significação. Os docentes se comprometem,
sociais; enfrentar problemas novos assim, com uma metodologia de ensino que
construindo soluções originais com agilidade favorece uma relação dialética entre sujeito-
e rapidez, a partir do uso metodologicamente realidade-sujeito. Se esta relação dialética
adequado de conhecimentos científicos, com o conhecimento for de fato significativa,
tecnológicos e sócio históricos. então as metodologias escolhidas foram
adequadas.
Assim, entendo que a EJA deve ter uma
estrutura flexível e ser capaz de contemplar Assim, a formação do educador da EJA
inovações que tenham conteúdos precisa estar em diálogo com o cotidiano
significativos. Nesta perspectiva, há um e com as práticas desenvolvidas nesta
tempo diferenciado de aprendizagem e não modalidade, as quais serão amadurecidas
um tempo único para todos. Os limites e no processo de reflexão crítica, levando
possibilidades de cada educando devem ser a uma reelaboração dos saberes em
respeitados; e cabe as Diretrizes Nacionais movimento. Trata-se de uma concepção de
Curriculares para a Educação de Jovens e formação que valoriza os saberes vivenciais,
Adultos apresentar propostas viáveis para como também, os conhecimentos que
que o acesso, a permanência e o sucesso do proporcionam mudanças no cotidiano. Essa
educando nos estudos estejam assegurados. tarefa de reconfigurar currículos impõe
Deve contemplar ainda ações pedagógicas a formação docente continuada, como
específicas que levem em consideração o professor pesquisador, porque por meio dela
perfil do educando jovem, adulto e idoso professores e educadores poderão revelar

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Revista Educar FCE - Março 2019

seus fazeres e ressignificar seus dizeres, a alternativas tem mais chance de


partir do que, efetivamente, sabem e pensam. aprofundamento das questões específicas
que perpassam a EJA, quando articuladas
Neste sentido, defende-se uma perspectiva em uma perspectiva intercultural e
emancipatória para a EJA, pois, os jovens, interdisciplinar, nas quais as propostas
adultos e idosos que dela fazem parte pedagógicas incorporem não apenas os
são, em sua grande maioria, trabalhadores conteúdos específicos dos diferentes
oriundos das camadas populares, excluídos grupos culturais das escolas, mas ainda
do sistema educacional e oprimidos de procurem desvelar os processos de ensino-
diferentes formas. Assim, ao retornarem à aprendizagem não formais pelos quais esses
escola, demandam educadores, currículos e saberes foram constituídos.
práticas pedagógicas que considerem suas
histórias de vida, promovam sua participação Algo que me incomodava enquanto
efetiva no processo do conhecimento, coordenador pedagógico que acompanhava
gerando aprendizagens significativas, os professores da Modalidade EJA é que no
com ressonância no seu cotidiano. Dessa nosso Projeto Político Pedagógico quase não
forma, trabalhar na EJA é se confrontar se mencionava a proposta curricular da EJA
cotidianamente com os dilemas de uma ou as suas ações propositivas. Diante disso,
modalidade de ensino que tem na sua origem na EMEF Pracinhas da FEB no ano de 2016 e
a desigualdade e a exclusão, e, nesse sentido, início de 2017 antes de ser designado como
é imprescindível garantir aos professores Supervisor Escolar fizemos uma construção
a importância desses espaços e tempos de coletiva para uma proposta pedagógica para
formação, onde possam efetivamente se ressignificar a EJA em nossa escola.
reunir com seus pares para estudar, trocar
experiências, questionar o proposto, discutir Nesse sentido, e por entender que a escola
com os especialistas/formadores, reinventar é responsável pela garantia e promoção
a formação, revisitando os princípios do desenvolvimento pleno do cidadão,
de diversidade, diálogo e autonomia, tornando-o consciente da sua criticidade,
perpassados pela dimensão do direito a uma capacitando-o para não só agir como intervir
educação de qualidade destinada às camadas na superação das desigualdades sendo
populares. um agente de transformação e que cabe
a escola promover atitudes e habilidades
Portanto, devemos lutar para assegurar permitindo ao educando adquirir valores
a formação continuada dos professores da e conhecimentos básicos, estimulando-o a
modalidade EJA no desenvolvimento de exercitar sua autonomia numa convivência
uma proposta curricular emancipatória e social saudável.
libertadora, uma vez que, a consecução de
propostas curriculares transformadoras/

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Revista Educar FCE - Março 2019

Assim, o interesse da Unidade (os) participantes da EJA.


Educacional é fortalecer as ações voltadas
para implementação de um currículo que Partimos do pressuposto de que a
contemple as especificidades da EJA, bem participação das (os) estudantes da EJA, em
como a sua inserção no Projeto Político todas as etapas do processo é essencial e
Pedagógico, como prevê: que são sujeitos da construção do PPP e do
currículo da EJA.
“(...) a Nota Técnica nº. 8, que compõe os
Subsídios para Implantação do Programa Mais Diante do exposto foram sugeridas as
Educação São Paulo, evidencia e considera seguintes estratégias:
as singularidades e especificidades da EJA no
que diz respeito às necessidades educacionais,
• Escrita coletiva da proposta do PPP
sociais e culturais dos educandos jovens e adultos
envolvendo todos (as) os (as) participantes
que frequentam as Unidades Educacionais e
da EJA;
os Espaços Educativos desta modalidade da
Educação Básica.”
• Estabelecimento de eixos a serem
discutidos, analisados e articulados;
Além disso, os professores juntamente
com os membros da gestão, passaram Primeiro eixo: Diferenças
a desenvolver um trabalho integrado, • Respeito e valorização das diferenças;
fazendo uso de um tempo, em conjunto,
para planejamentos e estudos, objetivando • Conhecimentos (epistemologia);
a elaboração de uma proposta de currículo
significativo e vinculado às práticas sociais • Relações entre diferentes sujeitos;
dos(as) estudantes.
• Possibilidades de diferentes caminhos
de aprendizagem.
CONSTRUÇÃO DO PROJETO
POLÍTICO PEDAGÓGICO - EJA Segundo eixo: Aprendizagem
• Conteúdo formal escolar;
2016/2017
• Tempos e ritmos de aprendizagem;
Ao pensarmos a proposta pedagógica
da EJA optamos por partir das realidades • Produção X reprodução;
da EMEF Pracinhas da FEB. Percebemos a
necessidade de construirmos um caminho • Conhecimento X informação;
de investigação que nos possibilitasse a
compreensão e o conhecimento acerca das • Autonomia e responsabilidade;

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Revista Educar FCE - Março 2019

• Ensino como pesquisa;

Terceiro eixo: Pertencimento e Intervenção


• A forma como o conhecimento atua sobre a realidade;

• Canais de participação e intervenção.

Desenvolvimento e ação para efetivação do trabalho


• Apresentação da proposta para todas (os) e abertura de espaço para intervenções;

• Divisão em pequenos grupos de trabalho (nas salas de aula organizar grupos no


máximo 10 participantes com a (o) professora (or) fazendo a mediação ;

• Diálogo e registro; (nomear um escriba e um apresentador);

• Socialização (plenário) com todos os grupos;

• Análise e sistematização das propostas;

• Texto final e apresentação em plenário.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

Após a conclusão dos trabalhos a escrita programação diversificada seguindo uma linha
final foi aprovada pelo Conselho de Escola sociocultural e educativa, desenvolvendo
e inserida no Projeto Político Pedagógico da várias atividades como: cursos/oficinas,
Unidade. workshops, palestras, espetáculos teatrais e
musicais para toda a população.
Não obstante, além dessa ação realizada
em nossa Unidade desenvolvemos também A parceria com nossa unidade educacional
um Projeto chamado: “EJA em Movimento: ocorria mensalmente, ora levávamos os
cultura, cidadania e diversidade no ambiente alunos na Casa de Cultura, ora os eventos se
escolar”, que buscava promover uma realizavam na nossa escola, como: Coral Seiva
educação de qualidade com um currículo da Vida: ampliar o repertório cultural dos
emancipatório, que visava estabelecer um alunos e possibilitar a reflexão sobre questões
ambiente escolar, vivo e dinâmico, favorável relacionadas a 3ª. idade; Noite dos Tambores:
à aprendizagem dos alunos da EJA através refletir sobre a importância do instrumento
de atividades mensais que ampliavam o musical – tambor – estabelecendo relações
repertório cultural e acadêmico dos alunos. com a cultura negra e sua contribuição para a
Assim, os temas desenvolvidos mensalmente musicalidade no mundo; e Conjunto Retrato:
surgiam a partir da realidade dos alunos, seus apresentar o gênero musical “Choro” aos
anseios e desejos por meio de assembleias alunos, professores e funcionários.
realizadas semanalmente no pátio interno
da nossa escola. Organizava-se um Outro espaço de educação popular
calendário/cronograma com as atividades e comunitário que frequentávamos era a
apresentações a serem desenvolvidas quer COOPERIFA na mesma região da DRE de
no âmbito escolar ou espaços extraescolares. Campo Limpo, onde era realizado o Sarau
da COOPERIFA, onde era valorizado a
Dentre esses espaços de Educação literatura divergente, a literatura suburbana
Popular Comunitária frequentávamos a e litera-rua também ganharam ecos entre
Casa Popular de Cultura da Região de M` os autores, bem como, os termos literatura
Boi Mirim & Guarapiranga que foi fundada hip-hop, literatura de testemunho, literatura
em 10 de março de 1984, por uma rede engajada e literatura da violência. O maior
de entidades e movimentos sociais, que representante desses saraus é Sergio Vaz que
transformou-se no primeiro polo cultural do procura mobilizar múltiplas representações
Bairro de Piraporinha – Zona Sul, mantida sociais, práticas e identidades a uma
e administrada pela comunidade. Em 1992, população marginalizada econômica, racial
vincula-se a Secretaria Municipal de Cultura e socialmente, e que apresenta restrição
(SMC), fazendo parte do Projeto Casas ao exercício da cidadania, menor acesso a
de Cultura do Município de São Paulo. equipamentos e serviços públicos, maior
Atualmente a Casa de Cultura possui uma percurso para o trabalho e de vulnerabilidade

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Revista Educar FCE - Março 2019

a riscos ambientais quando comparados a SUPERVISOR ESCOLAR NA


bairros historicamente tidos como centrais MODALIDADE EJA
ou nobres.
No dia 23 de fevereiro de 2017 fui
Outro evento importantíssimo que designado Supervisor Escolar na DRE Capela
ocorria, ora em nossa unidade educacional, do Socorro e minha ação supervisora estava
ora na Casa Popular de Cultura M’Boi Mirim, direcionada para 10 escolas do Setor 4, a
localizada na zona sul de São Paulo era a saber: 02 (duas) EMEFs; 02 (duas) EMEIS;
apresentação do Panelafro: valorizando a 01 (um) CEI direto; 04 (quatro) CEIS Rede
cultura popular e afro-brasileira na periferia, Parceira e 01 Escola Particular de Educação
o Panelafro, projeto organizado pelo grupo Infantil.
Espírito de Zumbi já se tornou uma tradição
na região e se dedica a resgatar as raízes da Dentre as principais atribuições do cargo
música, dança, rodas de ciranda, maracatu, de Supervisor Escolar, podemos elencar:
afoxé, samba de roda, samba de coco, roda
de capoeira entre outras manifestações I. Orientar, acompanhar e avaliar a
culturais, junto aos moradores do território. implementação das diretrizes da política
educacional do sistema municipal de
O grupo Espírito de Zumbi nasceu da educação nas unidades educacionais
proposta de difundir as diversas manifestações da rede pública, conveniada e privada,
da cultura popular junto à comunidade do considerando as especificidades locais;
M´Boi Mirim, disseminando a linguagem
artística e cultural no fortalecimento de II. Orientar, acompanhar e avaliar a
temas sócio educativos e na construção de implementação do projeto pedagógico
uma cidadania mais participativa. das unidades educacionais;

Uma de duas principais frentes de atuação III. Acompanhar e avaliar juntamente


consiste em oferecer ao jovem da periferia com a comunidade educativa os impactos
um trabalho educativo, aliando lazer, esporte da formação continuada na melhoria
e cultura, por meio da prática da capoeira e das aprendizagens dos alunos e da ação
da cultura afro-brasileira. Sem dúvida esse docente;
período foi marcante para a minha trajetória
profissional enquanto Coordenador IV. Acompanhar e avaliar o
Pedagógico e guardo com muito carinho em desenvolvimento da proposta pedagógica
minhas memórias essa fase. e os indicadores de aprendizagem das
avaliações internas e externas com vistas
às aprendizagens e ao desenvolvimento
dos alunos;

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Revista Educar FCE - Março 2019

V. Acompanhar o funcionamento das Ensino dos educadores e gostaria de citar as


unidades educacionais, construindo principais reflexões desenvolvidas junto as
cronograma de encontros regulares com unidades supervisionadas, a saber:
as mesmas, buscando, em parceria com
a comunidade educativa, as formas mais EJA: Gênero e Identidades
adequadas de aprimoramento do trabalho Juntamente com a comunidade
pedagógico e a consolidação da identidade educacional das unidades educacionais
da instituição. reconhecer e respeitar a diversidade de
gênero e as identidades dos educandos
Minha ação supervisora tem como objetivo significa escutar, dar voz e rosto a esses
oferecer aos educadores que atendem a EJA sujeitos e às suas semelhanças e diferenças,
temas e reflexões que dialoguem com o fazer configurando-se como um dos princípios
diário, apontando caminhos que inspirem a para a assunção da educação como
construção do Projeto Político Pedagógico direito humano fundamental. O debate
que leve em conta as especificidades da e o estudo sobre as questões de gênero,
Educação de Jovens e Adultos, servindo corpo e sexualidade são necessários para a
como elemento constitutivo e constituinte formação identitária dos jovens e adultos,
de práticas pedagógicas significativas. bem como para as suas esferas de atuação
social. Um currículo comprometido com a
Nesse sentido, procuro ressaltar que formação da identidade e a consideração
a escola deve se comprometer com a dos diferentes perfis dos educandos não
emancipação educacional e social dos pode prescindir dessas temáticas, uma
jovens, participando da construção de uma vez que elas estão presentes nas relações
rede de proteção social e do enfrentamento cotidianas das turmas.
à violência e à discriminação, possibilitando
o empoderamento dos jovens para viverem EJA: o trabalho com o Corpo
seu cotidiano de maneira autônoma e cidadã. Entender a caracterização do corpo
dos jovens e adultos, a construção da
autonomia, o autoconhecimento e a
TEMAS GERADORES expressão estão intrinsecamente ligadas à
inserção social, ao exercício da cidadania e
Minha ação supervisora no decorrer à possibilidade de melhoria de vida.
desses anos foi contribuir com a ideia de
que temas geradores podem estabelecer O currículo da EJA deve entender o
um diálogo com os Projetos Políticos - corpo na sua dimensão social e considerar
Pedagógicos (PPPs), Projetos Especiais de os saberes e as histórias que cada
Ação (PEAs) das Unidades Educacionais educando carrega no próprio corpo.
e dos Espaços Educativos e nos Planos de Considerar a expressão corporal nos

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Revista Educar FCE - Março 2019

espaços educativos é uma oportunidade Não obstante, em uma sociedade


dos educadores proporcionarem aos marcada historicamente pela exclusão
educandos a construção de novas relações social, o trabalho político-pedagógico
corporais, de maneira individual e coletiva, deve pautar-se na inclusão social, na
tomando as características como ponto de construção democrática e participativa e
partida para a proposição e realização de na superação das desigualdades sociais.
projetos significativos. Precisam fazer parte deste currículo
temas que despertem o senso crítico, que
EJA: a Interdisciplinaridade dialoguem com a cultura, a ideologia, a
Valorizar um currículo interdisciplinar estrutura social e as relações de poder.
que dialogue com aspectos significativos
dos conhecimentos historicamente Educar-se significa transformar relações,
acumulados, do cotidiano dos educandos e o modo de pensar e agir socialmente.
das áreas do conhecimento. Os educadores,
de posse destes saberes, devem articular Portanto, a Educação como um ato
o trabalho em prol da inserção social do político coloca o sujeito frente à realidade
educando. Daí a importância do Projeto de maneira crítica e consciente para
Político-Pedagógico como articulador dos que possa compreender, se apropriar e
processos de ensino e aprendizagem. interferir nesta realidade.

Perceber que os jovens e adultos EJA e as Tecnologias Digitais


necessitam de uma pedagogia sustentada Atualmente, os educandos utilizam
nas relações, nas interações e em práticas a internet e aprendem em rede, uma
educativas intencionalmente voltadas vez que estão inseridos na sociedade
para o convívio social e o exercício da contemporânea. Não é mais possível
cidadania. alfabetizar e dar continuidade aos estudos
de pessoas jovens e adultas ignorando
EJA e a dimensão política e social do dinâmicas, concepções e tecnologias
Currículo que norteiam os processos sociais
contemporâneos. A cultura da internet
A dimensão política e social do currículo inspirou uma mudança significativa no
deve ser considerada em seu papel processo de ensino e aprendizagem,
humanizador, de formação plena dos favorecendo a capacidade crítica e criativa
sujeitos envolvidos no processo educativo, dos educandos e educadores.
incluindo as dimensões éticas, culturais,
estéticas e de autonomia intelectual. As tecnologias digitais devem contribuir
para as necessidades educacionais e nas
interações pedagógicas, incentivando

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Revista Educar FCE - Março 2019

a aprendizagem em pares, o trabalho A EJA precisa conhecer a EJA


colaborativo, a reorganização, o A pluralidade dos jovens e adultos que
desenvolvimento e a flexibilização do frequentam a EJA da Rede Municipal de
currículo, com a proposição de pesquisas Ensino de São Paulo é uma realidade.
e projetos que atendam às expectativas Para além do conhecimento do perfil dos
da aprendizagem ao longo da vida. educandos, a proposta de reorientação
curricular para a EJA alicerça- se, em
EJA e a Educação Especial uma educação humanista e popular,
Reconhecer os direitos das pessoas com comprometida com a construção de
deficiências constitui ainda um significativo um novo saber realmente libertador e
desafio para a sociedade brasileira, quer significativo, levando em conta o acesso
do ponto de vista das políticas públicas, à produção cultural da humanidade. Os
dos contextos educativos, pensando nas educandos são sujeitos que têm suas
metodologias de ensino e aprendizagem e trajetórias humanas, sociais, culturais e
nos currículos, quer do ponto de vista da cognitivas. É preciso reconhecer o jovem
emancipação destes educandos para viver e o adulto na riqueza de suas trajetórias
a vida em sociedade. para a reflexão e proposição do currículo.

Assim, um currículo que atenda essa Além disso, a Rede Municipal de Ensino
diversidade deve promover estratégias de São Paulo oferece a EJA em cinco formas
diferenciadas ao organizaras atividades, de atendimento - EJA Regular, MOVA -
reorganizar o espaço educativo e as SP, CIEJA, CMCT e EJA Modular, sendo
relações estabelecidas nos diferentes que cada uma apresenta singularidades e
contextos, considerando que os educandos especificidades.
apresentam diferenças de ritmos, possuem
saberes e experiências de vida diversas Portanto, conhecer essas formas de
e necessidades específicas. Portanto, atendimento e valorizá-las é importante
acolher a diversidade na EJA é reafirmar pela compreensão de que a diversidade
a característica desta modalidade da é positiva e necessária para a garantia do
Educação Básica e ressaltar que uma direito dos jovens e adultos à educação
Escola Pública com qualidade social é pública de qualidade. Enquanto Supervisor
aquela que inclui a todos, considerando Escolar devo conhecer essas formas de
as singularidades e especificidades, ao atendimento e farei uma breve descrição
mesmo tempo em que emancipa para o de cada uma.
exercício da cidadania.
EJA – Regular
É oferecida nas EMEFs - Escolas
Municipais de Ensino Fundamental;

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Revista Educar FCE - Março 2019

EMEFMs - Escolas Municipais de Ensino CIEJA – Centro Integrado de Educação de


Fundamental e Médio; e EMEBs - Escolas Jovens e Adultos
Municipais de Educação Bilíngue para O CIEJA é uma Unidade Educacional que
Surdos, tem como objetivo ampliar as atende jovens e adultos em três períodos
oportunidades de acesso à educação e (manhã, tarde e noite), em até seis turnos
de conclusão do Ensino Fundamental. O diários, articulando em seu Projeto
curso, que funciona no período noturno,
das 19h às 23h, é presencial, tem duração Político Pedagógico o Ensino
de 4 anos e está dividido em quatro Etapas: Fundamental e a Qualificação Profissional
Etapa Alfabetização (2 semestres), Etapa Inicial. Os cursos têm duração de quatro
Básica (2 semestres), Etapa Complementar anos e são estruturados em quatro
(2 semestres) e Etapa Final (2 semestres). Módulos: Módulo I (Alfabetização), Módulo
Cada etapa tem duração de 200 dias II (Básica), Módulo III (Complementar)
letivos. e Módulo IV (Final). Cada módulo tem
duração de 1 ano e 200 dias letivos e
MOVA-SP – Movimento de Alfabetização são desenvolvidos em encontros diários
O MOVA-SP é uma parceria entre a de 2 horas e 15 minutos (3 horas/aula).
Secretaria Municipal de Educação de São A qualificação profissional inicial está
Paulo e Organizações da Sociedade Civil organizada em Itinerários Formativos,
com a proposta de estabelecer classes definidos a partir das necessidades da
de alfabetização inicial para combater comunidade e características locais,
o analfabetismo, oferecendo o acesso desenvolvidos de forma articulada e
e continuidade à educação de forma a integrada ao Ensino Fundamental.
contemplar as necessidades dos jovens
e adultos. As salas do MOVA-SP estão CMTC – Centro Municipal de Capacitação
instaladas em locais onde a demanda por e Treinamento
alfabetização é grande, geralmente as aulas O CMCT oferece a jovens e
são dadas em associações comunitárias, adultos, interessados em qualificar-se
igrejas, creches, empresas, enfim, lugares profissionalmente, cursos de formação
em que há espaço para a abertura da sala profissional inicial de curta duração
e necessidade da comunidade. As classes nas áreas de panificação, confeitaria,
são agrupadas em núcleos e desenvolvem elétrica residencial, mecânica de autos,
atividades educativas e culturais informática, corte e costura e auxiliar
presenciais, por 2 horas e meia, durante 4 administrativo. A cidade de São Paulo
dias da semana, de segunda a quinta-feira. possui dois CMCTs: – Unidade I e a
Unidade II – ambas jurisdicionadas à DRE
São Miguel.

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Revista Educar FCE - Março 2019

EJA Modular
É oferecida nas EMEFs - Escolas Municipais de Ensino Fundamental – que aderiram ao
Projeto EJA Modular. É um curso presencial oferecido no período noturno, apresentando
uma adequação dos componentes curriculares obrigatórios organizados em módulos
de 50 dias letivos e também atividades de enriquecimento curricular. É realizada em
quatro Etapas: Alfabetização, Básica, Complementar e Final. Cada Etapa é composta
por 4 Módulos independentes e não sequenciais, cada um com 50 dias letivos. Os
módulos se desenvolvem em encontros diários de 2 horas e 15 minutos (3 horas/aula). A
complementação da carga horária diária, 1 hora e 30 minutos (2 horas/aula), é composta
por atividades do enriquecimento curricular de presença optativa para os educandos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatamos e entendemos que a Educação de Jovens e
Adultos é um direito importante e valioso, uma condição prévia
para que o cidadão possa interagir com aspectos básicos da
sociedade: ler livros, escrever ou entender cartazes, sentar
à frente de um computador e saber manuseá-lo, votar com
consciência e escrever o próprio nome em registros, ler um
manual de instrução e mesmo usar um caixa eletrônico. Assim,
observamos que os alunos integrantes da EJA retornaram às
instituições escolares não só em busca de um certificado ou EDSON SERNAGIOTTO
diploma. Esperam muito mais do que ler, escrever e fazer
cálculos, eles pretendem continuar os estudos e utilizá-los Graduação em Administração de
para sua formação crítica e social. Enxergam a escola como Empresas com Ênfase em Recursos
uma chance, uma oportunidade para um futuro melhor. Humanos pelo Instituto Hoyler
(1997); Licenciatura e Bacharelado em
Nesse sentido, a escola, instituição precípua para o ensino Matemática pela Universidade Ibirapuera
e para a aprendizagem, deve se aproximar e se conectar com (2003); Licenciatura em Pedagogia pela
práticas educativas comunitárias e dialogadas, articulando- Universidade Bandeirantes (2005),
se às redes sociais mais amplas, uma vez que, ao pensarmos Licenciatura em Geografia pela Faculdade

em processos educativos não escolares, torna-se evidente Issed/Faved (2018); Especialista em

como a educação se encontra imersa numa pluralidade de Educação Matemática pela Pontifícia

contextos sociais. Universidade Católica de São Paulo


(2006), Especialista em Psicopedagogia
pela Universidade Nove de Julho
Com isso, as práticas pedagógicas devem ser marcadas
(2010); Especialista em Ludopedagogia
pela participação efetiva dos sujeitos nela envolvidos, sejam
pelo Instituto Nacional de Educação e
eles educandos ou educadores, com o fim de promover
Qualificação Profissional (INEQ – 2018);
uma transformação social, em bases políticas e, almejando Professor de Ensino Fundamental II e
uma sociedade permeada por valores humanos de justiça, Médio – Matemática na EMEF Joaquim
igualdade e éticos. Bento Alves (2009-2013), Professor de
Educação Básica – Matemática – PEB
Dessa forma, procurei ao longo da minha trajetória II na EE Samuel Wainer (1995-2015).
profissional e no meu envolvimento com a EJA ressaltar e Atualmente Coordenador Pedagógico na
valorizar uma proposta pedagógica que parta do princípio Prefeitura do Município de São Paulo e
de que a construção de uma educação básica para jovens desde 2016 exercendo o cargo designado

e adultos - voltada para a cidadania - não se resolve de Supervisor Escolar na DRE Capela do

apenas garantindo oferta de vagas, mas proporcionando Socorro.

ensino comprometido com a qualidade social da educação,

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Revista Educar FCE - Março 2019

ministrado por professores capazes de incorporar ao seu trabalho os avanços das pesquisas
nas diferentes áreas do conhecimento e de estar atentos às dinâmicas sociais e suas
implicações no âmbito escolar. Acredito ainda que é na Educação Popular que se instala
a possibilidade do exercício pleno do fazer pedagógico como um ato político, visto que
tomamos a consciência que a educação não é um fazer neutro. Fazer educação não é transmitir
saberes e conhecimentos, mas, como nos alerta Paulo Freire, fazer educação é um ato político
que promove a superação da consciência ingênua para a construção da consciência crítica.
Sendo assim, devemos romper com a visão compensatória da Educação de Jovens e Adultos
e avançarmos para uma concepção que seja no mínimo: Reparadora: refere-se à entrada de
jovens e adultos no âmbito dos direitos civis. A restauração de um direito a eles negado - o
direito a uma escola de qualidade; Equalizadora: refere-se à igualdade de oportunidades que
possibilite oferecer aos indivíduos novas inserções no mundo do trabalho, na vida social e
nos demais canais de participação;

Qualificadora: refere-se à educação permanente, com base no caráter incompleto do ser


humano, cujo potencial de desenvolvimento e de adequação pode se atualizar em contextos
escolares e no conhecimento formal ou informal.

Porém, para que isso ocorra é imprescindível valorizar e respeitar as experiências


e conhecimentos dos alunos, visando a melhoria da sua condição de vida, bem como, a
elaboração e a implantação de uma proposta curricular emancipatória, voltada para a
igualdade de oportunidades quanto à inserção na vida social, no mundo do trabalho visando
ao desenvolvimento intelectual com seleção de conteúdos, materiais didáticos, metodologias
adequadas de ensino/avaliação e com flexibilidade nos horários adequados a população
trabalhadora nessa modalidade corroborando com uma formação inicial e continuada
dos professores adequada, inovadora e transformadora na consecução de uma Educação
libertadora para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e feliz.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

LEMOS, H.F. Memorial Acadêmico. Mestrado em Ciências da Educação. Quixeramobim.


2014. Disponível em <https://pt.slideshare.net/hlemos1000/>. Acesso em 4 de abril de
2019.

PINTO, Álvaro Vieira. Sete lições sobre educação de adultos. 11. ed. São Paulo: Cortez,
2000.

SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Programa Mais Educação São Paulo:
subsídios para a implantação. São Paulo: SME/DOT, 2014.

SILVA, J. Q. G. O memorial no espaço da formação acadêmica: (re) construção do vivido e


da identidade. Perspectiva, Florianópolis. 2010. Disponível em <www.perspectiva.ufsc.br>.
Acesso em 4 de abril de 2019.

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Revista Educar FCE - Março 2019

DESAFIOS DA PROFISSÃO DOCENTE


RESUMO: Este artigo visa abordar alguns dos desafios encontrados pelos professores
dentro de sala de aula, primeiramente abordaremos que é necessário identificar as formas
de aprendizagem dos alunos, para dar continuidade com o processo de aprendizagem. O
educador acima de tudo necessita ter consciência que não está sozinho, devendo saber
dos seus deveres e dos seus direitos, lutando por uma educação cada vez mais inclusiva,
permitindo o crescimento da comunidade à qual esta inserido e o seu crescimento pessoal e
profissional, sempre à procura de aprender cada dia mais, a fim de ensinar cada dia melhor.
É interessante ressaltar, na importância do professor identificar a melhor forma de ensinar
para cada aluno, tendo em vista as múltiplas inteligências, totalizando em sete faculdades
mentais, ou inteligências, que serão apresentadas.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Formação; Docente; Educação.

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INTRODUÇÃO transformador, com um poder enorme sobre


seus alunos, e isso precisa ser de forma
A profissão de educador é a mais importante consciente, intervindo na formação de seus
de todas as profissões pois é capaz de formar alunos, isso deve ser levado como uma das
as pessoas, ensinando-as ler, escrever, principais responsabilidades de um educador.
pesquisar e refletir. Transmitindo valores
éticos, certas atitudes ficam marcadas para O professor não é visto por seus alunos
sempre nas crianças especialmente e parte apenas dentro da sala de aula, então
delas são levadas para toda a vida adulta. precisamos ter o mesmo discurso fora de sala
de aula, nas reuniões ou fora da escola. Ao
Esse trabalho tem como objetivo discutir existir alguma controvérsia entre as posturas
sobre como o professor deve repassar como professor, acabam por desnortear os
seus conhecimentos para seus alunos, seus educandos, fazendo com que percam o
comprometendo-se em trabalhar de forma fundamento principal da vida em sociedade,
ética, respeitando as diferenças, mostrando pois precisamos ser bons, dentro e fora da
quando puder os diferentes fatos que escola, no mercado, numa palestra, numa
acontecem dentro de sala de aula, mostrando reunião, na cantina dentro da escola, em
diferentes atitudes de conformidade com todos os locais públicos, pois podemos nos
seus princípios morais. deparar com alunos, ensinamos mais com
atitudes do que com palavras, pois vemos
Um bom educador surge com aulas diversos discursos por ai, em entrevistas,
interdisciplinares, estimulantes e que mostre em filmes, sem uma claridade de princípios
que tem criatividade, buscando sempre éticos de conduta.
integrar o ensino e a pesquisa, transmitindo
o seu conhecimento científico de modo O objetivo principal desse trabalho é
bem pessoal, didático e coerente com a sua descrever um pouco sobre a prática reflexiva
conduta. do professor, frente aos desafios do dia a dia
dentro de sala de aula.
O educador precisa ter um perfil adequado
a faixa etária com que trabalha, não
restringindo apenas a deter conhecimentos OS DESAFIOS DA PRÁTICA
técnicos referentes à sua disciplina, pois a DOCENTE
todo o momento é tido como referência de
conduta para seus alunos, por isso precisa
ser uma pessoa exemplar. O professor precisa identificar a forma de
cada aluno aprender, também é necessário
É de fundamental importância que que identifique uma forma atrativa, prazerosa,
o professor perceba que é um agente de modo que prenda a atenção desse aluno.

849
Revista Educar FCE - Março 2019

Em nossa sociedade, a cultura de As tecnologias da comunicação e da


entretenimento ocupa um papel cada vez informação cumprem hoje um papel de
mais central, o prazer imediato tem se crivo: quem usa, quem não as usa. Quem é
tornado a lei máxima. Nada que exija rigor, moderno, quem é ultrapassado.
disciplina e esforço continuado e que produza
resultados em médio e longo prazos tende a O aluno hoje é muito disperso, pela
ser valorizado. No qual fica o professor e a quantidade de informação que eles têm hoje
aula diante da enorme pressão da sociedade, via internet, o mundo acaba sendo muito mais
do aluno e da família que exigem a um só interessante do que a própria sala de aula.
tempo uma escola cada vez mais prazerosa, O professor precisa ter muitos argumentos
mas formadora de indivíduos disciplinados para conseguir chamar a atenção, os alunos
para um mercado de trabalho competitivo, estão cada vez mais críticos, a abordagem do
punidor de baixos resultados e premiador de professor tem que ser diferente.
sucesso rápido.
Outro grande desafio que o professor
É tarefa do professor incentivar e ir adiante encontra, quando se depara com uma rede
na formulação da curiosidade dos alunos. Não pública de ensino, é a quantidade excessiva
se trata de dar respostas, mas de equacionar de alunos por sala, vindos de diferentes níveis
as possibilidades de seu entendimento. culturais, alguns sem estímulo nenhum,
provenientes de famílias nas quais pai e mãe,
A história da humanidade, a análise das mal sabem escrever seu próprio nome, não
ciências, as descobertas da psicologia, o são letrados, nem tem condições auxiliar no
questionamento filosófico, a ligação com os desenvolvimento escolar desse aluno.
eventos mundiais, a curiosidade que questiona
o cotidiano, a visita e percepção das culturas É necessário que se conheça o aluno
locais e globais são as tarefas mais ricas do que se tem em cada escola, que o Projeto
docente que alargam, com base nas divisórias Político Pedagógico dessa escola seja voltado
da sala de aula, a vida do conhecimento. para esse aluno, para essa comunidade na
qual a escola está inserida, que se tenha a
A apropriação das Ciências e das participação de todos para uma construção
Tecnologias de forma crítica é uma das coletiva, valorizando esse aluno e o seu
formas pedagógicas do desenvolvimento da conhecimento, pois a partir da valorização
curiosidade epistemológica. Eles são temas e do aluno teremos como resposta o que tanto
problemas nascidos nas aulas, como um mar procuramos que é a valorização do professor.
nos quais navegam as tarefas do professor
no seu desafio de inaugurar a curiosidade Infelizmente o professor algumas vezes é
pelos velhos conhecimentos acumulados e colocado em uma escola longe, com difícil
criar um novo mundo de conhecimentos. acesso e com isso tenta se remover no ano

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seguinte, e muitas escolas são consideradas tem como objetivo ao educador, rever seu
de passagem, no qual o professor ingressante planejamento, com base nos interesses e
acaba permanecendo às vezes por alguns necessidades dos alunos.
meses, fazendo com que nem conheça
direito a comunidade para com a qual
trabalha, essas escolas com difícil acesso são A PRÁTICA REFLEXIVA DO
prejudicadas, pois ao seu redor não existam EDUCADOR
professores qualificados para atender essa
população, pois para estudar a comunidade O educador sempre precisa buscar o seu
são necessários vários meses de observação desenvolvimento, o seu enriquecimento
e trabalho, por outro lado quando o professor de competências, para poder alcançar um
cria raízes numa determinada escola, pode salto de qualidade na educação, como
até conhecer a comunidade, mas precisa estar também precisa mudar significativamente
atento as mudanças, que o tempo, a mídia e na formação e identidade profissional,
a cultura geram, dentro dessa comunidade e para poder se dedicar ao seu ofício de ser
em consequência da escola na qual leciona. educador.

Devemos ensinar tudo o que é importante Todos refletem sobre algo, mas isso não
de várias maneiras (por meio da linguagem, torna a pessoa um profissional reflexivo,
da lógica, de trabalhos artísticos, do debate, a consciência de pensamento e reflexão,
do humor etc.), pois assim mais redes neurais não é um ato avulso, isolado, nem muito
são ativadas e maior será o processo que o menos uma forma que deve acontecer de
levará à compreensão do conhecimento. Ou tempos em tempos ou em alguns episódios,
seja, da mesma forma que existem diversas é algo que precisa ter organização, registro e
maneiras de ensinar, também existem transformação.
diversas maneiras de aprender.
Houve diversas mudanças dentro da
Por fim, vamos falar do desafio de avaliar, educação por conta da globalização,
que está instituído em todo processo ajudando a fornecer indicadores de que a
de ensino, supondo que cada instituição profissão de professor precisa que o indivíduo
educacional tenha um projeto que faça tenha muitos conhecimentos, várias ideias,
sentido para seu aluno, como elemento habilidades nos procedimentos, estratégias
de seu pleno desenvolvimento, capaz de diversificadas de ensinar, devem lidar com
prepará-lo para o exercício da cidadania e seus alunos e ter excelentes atitudes, valores,
qualificá-lo para o mundo do trabalho, e que hábitos e condições pessoais para o ensino.
esteja alinhado com valores da cultura local,
regional e nacional. A avaliação tem que O verdadeiro conhecimento é saber,
estar em sintonia com a prática cotidiana e fazer e ser. Para ser um bom educador

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são necessárias diversas aptidões: teoria, educandos a tomar consciência de si


experiência, valores e atitudes, em cada mesmo, dos demais e da sociedade a qual
pessoa se combinam de diferentes jeitos. estão inseridos. Fornecendo ferramentas
para que possam escolher, entre diversos
A nova concepção da profissão de caminhos, aquele que é mais compatível
educador é necessário ampliar algumas com seus valores, e a visão de mundo, e as
fórmulas já estabelecidas, e um aprendizado circunstâncias adversas que irão encontrar
profissional adequado que inclui ter durante o seu crescimento.
autonomia, habilidade de deliberação e
capacidade criadora. O educador é um ser extremamente
reflexivo, desde o momento que consegue
O educador na sua formação precisa trabalhar como professor, tentando entender
entender que a aprendizagem é um processo a melhor forma de completar sua tarefa,
contínuo e que requer uma análise cuidadosa mas sempre tenta progredir continuamente,
desse aprender em suas diferentes etapas, mesmo que não tenha aparecido nenhuma
evolução e concretizações, para assim dificuldade, mas só pelo prazer ou
redimensionar alguns conceitos alicerçados simplesmente por não conseguir evitar,
na busca da compreensão de ideias novas pois refletir transforma a sua identidade e
que surgem e dos valores. traz uma enorme satisfação profissional.
Conquistando métodos e ferramentas
É de grande importância a formação conceituais baseadas em diversos saberes e
adequada de educadores, seus desempenhos conquistas de interação com outros colegas
e o trato do conhecimento, delineando novos de profissão. Construindo com isso novos
rumos na prática pedagógica. conhecimentos, reinvestidos na ação. Não
se limitando apenas ao que já aprendeu
O educador é um estudioso no seu no período de formação inicial, nem ao
cotidiano como um ser histórico e socialmente que descobriu nos seus anos iniciais como
contextualizado, facilitando uma definição de educador, reexaminando constantemente
uma nova ordem pedagógica e na intervenção suas práticas, objetivos, procedimentos, suas
da realidade no que diz respeito à prática e evidencias e seus saberes, se aperfeiçoando
a formação dos docentes. As possibilidades permanentemente, pois teoriza sua prática,
do desempenho de uma prática educacional consigo ou com a equipe que trabalha.
significativa muito se devem à rica história
de vida dos profissionais da educação. O educador que pretende trabalhar
construtivamente com seus alunos avalia
Ensinar não é apenas repassar informações suas características e suas necessidades
ou mostrar o caminho mais rápido para concretas, escutando o que seus alunos
aprender, mas é no fundo ajudar aos seus oferecem, como pensamentos, ideias prévias

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e algumas hipóteses. Dentro das situações os problemas enfrentados dentro de sala


concretas, considera o que a criança é capaz de aula, reflexões sobre a qualidade e de
de fazer por sua conta e o que é capaz de avaliação do que está sendo trabalhado,
fazer com alguma ajuda ou em grupo. buscando um crescimento profissional e
desenvolvimento de competências.
Só após essa avaliação o professor decide
a próxima atividade e as formas concretas de Reconhecer uma competência não passa
organizá-las, considerando o interesse dos só de uma identificação de situações a serem
seus alunos, a motivações e as curiosidades atinadas, de problemas a serem resolvidos,
dos mesmos. Levando a negociar o currículo, de decisões que precisam ser tomadas,
tendo sempre seus objetivos educativos mas também para explicitar os saberes, as
definidos e a realidade de seus alunos, não capacidades, os esquemas de pensamento
só avaliando seus alunos, mas analisando a e as orientações éticas necessárias que
atividade que pretende propor, identificando os alunos apresentam em determinada
o sentido de sua aplicação, a motivação e o situação. Definindo-se competência como
estímulo ao pensamento de seus alunos. uma aptidão para que possam enfrentar
situações problemas, mobilizando de uma
Ao se trabalhar com aprendizagem estamos forma correta, rápida, pertinente e se
envolvendo um contínuo movimento de possível de forma criativa, com múltiplos
reflexão, no qual o educador possa ensinar recursos cognitivos (conhecimentos prévios,
seus alunos é preciso que reveja seu modo habilidades, aptidões, elementos, valores,
de aprender e de construir a experiência. atitudes, planos de percepção, de avaliação
e de raciocínio).
Um educador reflexivo aceita e faz parte
do problema, refletindo sobre sua relação Para que isso aconteça é preciso um
com o saber, com os indivíduos envolvidos no desenvolvimento de práticas reflexivas
processo ensino aprendizagem, com o poder, por parte dos educadores para propiciar o
com as instituições, com as tecnologias e desenvolvimento de competências em seus
com a cooperação, refletindo também sobre alunos, esse exercício de competências exige
a sua forma de superar limites ou de poder um nível alto de elaboração mental, fato
se transformar de forma mais eficaz, com ligado a dificuldades presentes na criação de
gestos técnicos. situações problemas que propiciando uma
verdadeira aprendizagem.
A prática reflexiva geralmente possui
ajuda, baseando-se em conversas informais, O conhecimento exige uma presença
ou em trabalhos coletivos de profissionais curiosa do sujeito diante do mundo, e requer
que interagem, em prática de análise do sua ação transformadora sobre a realidade
seu trabalho pedagógico, de trocas sobre em que vive.

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Só aprende verdadeiramente quem se com a equipe; apoio e participação da gestão


apropria do aprendido, transformando-o, escolar; envolvimento dos pais; utilização
reinventando-o e conseguindo aplicar em das tecnologias; enfrentamento dos deveres
alguma situação concreta. e dos dilemas éticos da profissão e o
gerenciamento de uma formação continuada.
As pessoas que são atormentadas
por conteúdos e não são desafiados não O professor precisa tomar a
aprendem. responsabilidade moral de ser um
multiplicador de novas ideias, permitindo
A capacidade técnica não pode ser qualidade e condições de desenvolvimento
focalizada, numa perspectiva humanista e dos seus educandos, adquirindo a tarefa de
científica, a não ser dentro do contexto de ampliar a própria consciência, envolvendo as
uma realidade cultural total. formas invisíveis de como refletir sobre seu
trabalho e quais direções ele pode procurar,
A educação para ser humanista, tem que ser para aprender e manter uma formação
libertadora e uma das preocupações básicas, constante.
devendo ser o aprofundamento da tomada
de consciência que se opera nos homens ao Qualquer profissional da educação precisa
passo que agem, ou seja, trabalham. estar em constante busca de conhecimento,
e precisa compreender o sentido de ética,
Algumas situações criadas em sala de aula para repassar para seus alunos e mostrar a
promovem mera reprodução de conteúdos, partir de suas atitudes o que significa, pois
e não uma aprendizagem significativa, o atitudes em conformidade com princípios
educador precisa desenvolver e objetivar gerais de moral e ética ensinam mais do
a transformação de uma ação educacional que apenas tratar o assunto com teoria
previamente estabelecido em uma propriamente dita.
intervenção adequada, frente a necessidade
da sua sala de aula. Um bom professor torna suas aulas
interdisciplinares, estimulando a criatividade,
Uma boa prática reflexiva precisa ser buscando levar seus educandos integrem
baseada nas competências profissionais, o ensino e a pesquisa, transmitindo o
ligadas às transformações da profissão de conhecimento científico da sua disciplina, de
educador, podemos então descrever: a uma forma muito pessoal, com didática e que
organização e estimulação; o gerenciamento seja coerente com a sua conduta, exemplos
e a progressão das aprendizagens; a ensinam muito mais.
evolução dos dispositivos de diferenciação;
envolvimento dos educandos em suas Os alunos precisam participar da
aprendizagens e em seu trabalho; trabalho construção e do desenvolvimento das ações

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educativas conscientes, que promovam suas potencialidades e capacidades de criação e


soluções e respostas adequadas, se tornando um cidadão. Isso tudo se dá com atividades
lúdicas desafiadoras, criativas e significativas, fazendo com que seus educandos se tornem
agentes participantes, com autonomia e critica em relação à comunidade que estão inseridos,
achando os problemas e tentando criar soluções para resolver as situações de uma forma
criativa e eficaz.

Um educador que possui atitude reflexiva possibilitará uma crítica mais complexa do
oficio da sua profissão, estabelecendo uma relação que analise o saber sendo essencial para
a construção da sua identidade, sendo um educador competente.

O educador precisa resgatar as qualidades de uma carreira que antigamente era reconhecida
por sua nobreza na hierarquia das profissões liberais.

Cabe ao educador aceitar que precisa envolver mais do que transmitir conhecimentos
técnicos, precisando de algumas características ligadas ao domínio afetivo, gostar do que faz.
Alguns professores são tão importantes na formação de seus alunos que acabam marcando
suas vidas para sempre, muitos escolhem determinada disciplina por preferência, depois
que consegue entender o que o educador quis explicar, tornando algo muito interessante. A
força da palavra do educador tem na formação do educando é impressionante.

O educando espera que o mestre transmita lições e práticas sobre respeito, moral,
tolerância, compreensão, paciência, amizade e sabe esperar o momento certo para poder
expressar sua opinião e perguntar o que não conseguiu entender, sem levar sua pergunta
seja feita de forma impertinente.

Antes de tudo o professor precisa saber o que é ética, acreditando na ética e usar isso no
seu cotidiano.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos dos problemas do ensino brasileiro estão
relacionados ao professor, mas não podemos generalizar.
Este profissional, que tem o papel de assegurar às crianças o
direito de aprender, não é vítima do sistema. E nem é o único
responsável pelos baixos índices educacionais do país

O direito básico do profissional é ser valorizado - o que


significa ter acesso à formação e planos de carreira, entre
outros. Tudo isso depende de uma política educacional, ELAINE APARECIDA
ainda uma realidade distante para o Brasil. WOSZAK

Graduação em Ciências Biológica


Muitos estados e municípios ainda não têm, por exemplo,
pelo Instituto de Biociências da
seu estatuto do magistério, documento que contempla os USP (1999), Complementação
direitos e deveres do profissional. Iniciativas pontuais e Pedagógica pela FALC (2011),
isoladas de algumas redes, porém, conseguem assegurar Especialista em Direito Aplicado
alguns dos direitos e deveres do educador. à Educaçãopela Faculdade
Campos Elíseos(2016); Professor
A postura que o educador assume diante das diversas de Ensino Fundamental II
situações vivenciadas pelo aluno com transtorno de Ciências e Médio Biologia - na
aprendizagem é crucial para que esse aluno se envolva EMEF CEU Jaçanã.
completamente ou, pelo contrário, para que se sinta
marginalizado ou discriminado pela condição que apresenta.
Estar motivado para aprender é uma das características que determinarão o sucesso ou o
fracasso escolar; portanto, o professor deve assumir a responsabilidade direta pelo processo
de aprendizagem desses alunos. A motivação é o impulso interior que estimula e direciona
o comportamento do indivíduo. Quando os alunos supõem que falharão, tornam-se
dependentes dos outros e arriscam pouco; cabe, então, ao educador, incentivar, estimular,
elogiar, desafiar e criar um ambiente educacional propício para a aprendizagem.

Um bom educador surge com aulas interdisciplinares, estimulantes e que mostre que
tem criatividade, buscando sempre integrar o ensino e a pesquisa, transmitindo o seu
conhecimento científico de modo bem pessoal, didático e coerente com a sua conduta.

Precisamos resgatar as qualidades de uma carreira que antigamente teve um
reconhecimento, e que nas sociedades mais ricas do mundo, a educação ainda esta na moda,
é valorizada, pois é uma carreira muito nobre na hierarquia das demais profissões liberais.

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A CONTRIBUIÇÃO DO BRINCAR NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Durante esse artigo apresenta-se a necessidade do planejamento e da
organização do tempo e do espaço para a realização do jogo e da brincadeira de forma
efetiva. O trabalho com os jogos e as brincadeiras durante o desenvolvimento infantil são
de extrema importância, em visto que por meio deles a criança apresenta vários aspectos
sócio – emocionais. Considera-se que a realização deste artigo proporciona inquietações e
desencadeia pensamentos acerca das novas formas de trabalho que associam os jogos e as
brincadeiras ao cotidiano escolar. Nós somos construtores de nossa própria história, dessa
forma, as crianças constroem um mundo cheio de imaginação e criatividade. Por meio dos
jogos e brincadeiras as crianças despertam sua imaginação, ampliando seu repertório de
conhecimentos, aprendendo brincando.

Palavras-Chave: Memorial de formação; Educação de Jovens e Adultos; Educação Popular;


Paulo Freire.

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INTRODUÇÃO Por meio dos jogos e brincadeiras a criança


começa a receber estímulos, habilidades
Nos dias atuais os jogos e brincadeiras e atitudes necessárias à sua participação
passaram a fazer parte das atividades social, a qual só poderá ser atingida
direcionadas para aprendizagens em diversos completamente mediante a convivência
eixos. com seus companheiros da mesma idade e
também com os mais velhos.
Se falar em jogos, geralmente, faz-se
associação a um divertimento, brincadeira, O significado de brincar é muito mais
passa-tempo que obedece à regras complexo do que as definições encontradas
observadas durante a realização dessas nos diversos dicionários existentes.
atividades, contudo sabe-se que o jogo é um Aurélio (2003, p. 12) define o brincar como
processo lúdico e criativo que possibilita ao “divertir-se, recrear-se, entreter-se, distrair-
sujeito da ação modificar imaginariamente a se, folgar”. Tal gesto também pode ser,
realidade, pois funciona como elo integrador segundo o dicionário Michaelis (2012, p. 17),
entre os três domínios do conhecimento o “entreter-se com jogos infantis e divertir-se
psicomotor, cognitivo e o afetivo-social. fingindo exercer atividades cotidianas do dia
a dia adulto”. Ou seja, brincar é algo muito
A aprendizagem depende em grande presente na vida do ser humano, ou pelo
parte da motivação: as necessidades e os menos deveria ser.
interesses da criança são mais importantes
que qualquer outra razão para que ela se Segundo Oliveira (2000, p. 37):
ligue a uma atividade.
O brincar não significa apenas divertir-se sem
Durante este artigo pretendo fazer fundamento e razão, caracterizando-se como
algumas reflexões sobre a importância dos uma das formas mais complexas da criança em
jogos e das brincadeiras no cotidiano escolar, comunicar-se consigo mesma e com o mundo,
ou seja, o desenvolvimento dá-se por meio de
contribuindo para aprendizagem de uma
trocas experimentais mútuas estabelecidas
forma lúdica.
durante toda sua vida.

Piaget acreditava que o conhecimento


se forma aos poucos nos indivíduos, que o A capacidade para imaginar, fazer planos,
constroem progressivamente no decorrer de apropriar-se de novos conhecimentos, surge,
uma atividade de adaptação. nas crianças, através do brincar. A criança,
por intermédio da brincadeira, das atividades
Os jogos e as brincadeiras estimulam lúdicas, atua, mesmo que simbolicamente,
o desenvolvimento do conhecimento, nas diferentes situações vividas pelo
tornando-se um processo espontâneo. ser humano, reelaborando sentimentos,

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conhecimentos, significados e atitudes, Não devemos considerar o jogo apenas


podendo, assim, preparar-se para a vida e como uma competição, pois a concepção
seus diversos desafios, sem ter diretamente de jogo está interligada tanto ao brinquedo
vivenciado as situações em si. quanto à brincadeira.

De acordo com MATTOS (2011p.386): “O


TEORIAS E REFLEXÕES jogo é uma atividade que se desenvolve com
SOBRE OS JOGOS E AS regras que permitem indicar um vencedor”.
BRINCADEIRAS Os estágios descritos por Piaget nos
Durante as brincadeiras, todos os aspectos mostram as leis que regem o desenvolvimento
da vida da criança convertem - se em temas humano. Por isso devemos respeitar os
de jogos, portanto na escola, o conteúdo interesses e aptidões das crianças em
a ser lecionado como papel do adulto relação à fase em que se encontram, quando
especialmente treinado para ensinar, deve lhe damos brinquedos ou lhe propomos
ser cuidadosamente planejado para atender atividades lúdicas.
as reais necessidades da criança.
No período sensório-motor, de zero a
Para Dante (1998, p. 49): vinte e quatro meses, a criança passa dos
comportamentos reflexos aos automatizados
As atividades lúdicas podem contribuir e chega aos voluntários em um constante
significativamente para o processo de construção crescimento físico e mental. É um período de
do conhecimento da criança. Vários estudos a grande exploração do espaço e de enormes
esse respeito vêm provar que o jogo é uma fonte descobertas.
de prazer e descoberta para a criança [...]

No período de operações concretas,


Estudos sobre a aprendizagem e do encontramos por volta dos dois aos quatro
desenvolvimento infantil vêm salientando a anos. O estágio pré-operacional, pré-
importância do jogo no universo da criança, conceitual, onde os melhores brinquedos
pois as mesmas brincam grande parte do seu são representados pelos de empilhagem,
tempo, e o jogo constitui um dos recursos encaixe, modelagem e construção.
mais eficazes de ensino para que a criança
adquira conhecimentos sobre a realidade. Dos três aos cinco anos a criança
atravessa o período de grande criatividade,
O desenvolvimento é responsável pela ela dramatiza o seu dia-a-dia e coloca sua
formação dos conhecimentos: ela sempre fantasia em quase todas as situações reais.
resulta de uma interação entre o sujeito,
principal fonte do desenvolvimento, e o meio. No período pré-operacional-intuitivo, dos

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quatro aos sete anos, inicia-se um acúmulo da criança. “É por meio do lúdico que
de conhecimento. Há maior atenção e ela vai incorporando certos valores à
concentração em suas atividades, que são sua personalidade e ampliando o seu
mais sociais, pois a criança começa a perceber conhecimento de mundo”. (SOLER, 2006)
e aceitar regras, brincando mais em grupo.
Piaget (1978), diz que “a atividade lúdica é o
No período das operações, de sete aos berço obrigatório das atividades intelectuais
doze anos, a criança passa do concreto da criança, sendo, por isso, indispensável à
para o raciocínio abstrato e já domina prática educativa”.
completamente sua motricidade. Os
brinquedos são representados pelos jogos de Dentro do brincar, os jogos têm a função
raciocínio, memória, competição, destreza e de socializar, dar um enfoque nas regras e
teatro. desenvolver habilidades, pois todo o jogo
implica em um ato de brincar. E na sua
Segundo Kishimoto (1994), os termos execução o professor pode explorar aspectos
jogo e brincadeira têm sido empregados e atividades de forma a criar um ambiente de
popularmente com o mesmo sentido. Já para aprendizagem rico e espontâneo.
Friedmann (1996), a palavra lúdico caracteriza
o jogo, a brincadeira e o brinquedo. O avanço nas teorias educacionais
começaram a se tornar um desafio ao
De acordo com Kishimoto (2010 p.01): desempenho do professor, exigindo dele
novas competências.
Para a criança, o brincar é a atividade principal
do dia-a-dia. É importante porque dá a ela o Segundo Leif (apud RIZZI; HAYDT, 1986),
poder de tomar decisões, expressar sentimentos o jogo apresenta quatro motivos que levam
e valores, conhecer a si, aos outros e o mundo, de os educadores a utilizá-los com frequência:
repetir ações prazerosas, de partilhar, expressar
sua individualidade e identidade por meio 1- O jogo corresponde ao impulso natural da
de diferentes linguagens, de usar o corpo, os criança, e neste sentido satisfaz uma necessidade
sentidos, os movimentos, solucionar problemas interior, pois o ser humano apresenta uma
e criar. tendência lúdica.
2- A atitude do jogo apresenta dois elementos
que o caracterizam: o fazer e o esforço
Segundo Vygotsky (1989 p.113.), “a
espontâneo, como o jogo leva o prazer sua
criança faz o que ela mais gosta de fazer,
principal característica é a capacidade de
porque o brinquedo está unido ao prazer”.
absorver o jogador de forma intensa e total,
criando um clima de entusiasmo.
As brincadeiras e jogos infantis são 3- A situação do jogo mobiliza os esquemas
elementos indispensáveis para a formação mentais, e sendo uma atividade física e mental,

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aciona as funções psicológicas e as operações


simbólicos próprios. Ao mesmo tempo, é uma
mentais, estimulando pensamento.
4- O quarto motivo é decorrente de anteriores,
atividade específica da infância, considerando
o jogo integra as várias dimensões da que, historicamente, esta foi ocupando um
personalidade: afetiva, motora e cognitiva, e à lugar diferenciado na sociedade. Porém,
medida que gera envolvimento emocional, apela alguns teóricos relacionam o lúdico ao jogo
para a esfera afetiva. e estudam profundamente sua importância
na educação.

Os jogos e as brincadeiras propiciam a Huizinga (1990) foi um dos teóricos


ampliação dos conhecimentos infantis por que mais se aprofundou estudando o jogo
meio da atividade lúdica. em diferentes culturas e línguas (grego,
mandarim, japonês, hebraico, latim, inglês,
O brincar é considerado ação que induz alemão, holandês, entre outras). Esse teórico
ao prazer, e para SANTINI ( 1996), brincar verificou a origem da palavra – em português,
a cima de tudo é exercer o poder criativo “jogo”; em francês, “jeu”; em italiano, “gioco”;
do imaginário humano construindo um e, em espanhol “juico”. Jogo advém de “jocus”
universo, do qual o criador ocupa o lugar (latim), cujo sentido abrangia apenas gracejar
central, através de simbologias originais ou traçar.
inspiradas no universo de quem brinca e,
é nesta ação que a criança desenvolve- Por possuir uma definição diretamente
se como ser criativo, pois a relação onírica relacionada ao brincar, ao divertimento e
com as situações do mundo em sua volta ao encanto, terminando por transformar o
permitem-na criar sua cultura ao mesmo ambiente em que se encontram, as atividades
tempo que identifica-se com a sociedade lúdicas podem ser interpretadas como
em que faz parte. A criança tem, ao fazer o qualquer ação ou atividade que tenham como
que gosta (brincar) despertando um desejo objetivo produzir prazer e divertimento ao
de desvendar o desconhecido, são sujeitos praticante no momento de sua execução.
ativos que quando interagem com o outro,
com o meio, com o objeto ou consigo mesma Na brincadeira, a criança está sempre se
adquirem de certa foram conhecimentos. comportando acima de sua idade, acima
de seu comportamento usual do dia a dia;
A brincadeira, na perspectiva sócio- na brincadeira ela está, por assim dizer, um
histórica e cultural, é um tipo de atividade pouco adiante dela mesma. O brinquedo
cuja base genética é comum àquela da arte, contem uma forma concentrada como no
ou seja, trata-se de uma atividade social, foco de uma lupa, todas as tendências
humana, que supõe contextos sociais e de desenvolvimento; é como se a criança
culturais a partir dos quais a criança recria tentasse pular acima de seu nível usual.
a realidade através da utilização de sistemas

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Revista Educar FCE - Março 2019

Ao brincar, a criança tem consciência outro também conversava, isso ocorre nas
de que está imaginando uma suposta atividades onde as crianças percebam que o
situação, cuja característica fundamental é amigo também tinha braços, pernas, ou seja,
sua relação com a realidade. Ao abordar o possuíam algo semelhante ao seu próprio
tema, Leontiev (1991) deixa explícito que, corpo. Segundo HEINKEL (2000): “a troca
nas premissas psicológicas do jogo, não há de saberes entre as crianças participantes da
elementos fantásticos. Para ele há uma ação ação lúdica, ativa o pensamento cognitivo e
real, uma operação real e imagens reais de afetivo”.
objetos reais, mas a criança, apesar de tudo,
tende a agir com um objeto qualquer como Brincando a criança cria, recria e inventa
representante de um objeto real, age com a novas manifestações adequando-se a sua
vara como se fosse um cavalo, e isto indica realidade, ela é capaz de entrar num estado
que há algo imaginário no jogo como um de sonhos e fantasias, onde encontra espaço
todo, que é a situação imaginária. Sendo para representar o mundo de sua forma,
assim, o autor acentua a importância da descobrindo ao mesmo tempo soluções para
compreensão que a ação tem no brinquedo. os obstáculos surgidos no seu faz de conta
Portanto, a ação, no brinquedo, não provém e que servirá para usa vivência ao longo do
da situação imaginária, mas, pelo contrário, seu desenvolvimento.
é esta que nasce da discrepância entre a
operação e ação; assim, não é a imaginação Brincando é possível trabalhar diversas
que determina a ação, mas são as condições formas de aprendizagem com a criança,
da ação que tornam necessária a imaginação pois é natural dela o ato de brincar. Pode-se
e dão origem a ela. Rego (1995) coloca que trabalhar a motricidade, o cognitivo, o lado
a brincadeira representa a possibilidade de emocional e social de cada uma, e o papel do
solução do impasse causado, de um lado, educador é fundamental para que haja êxito
pela necessidade de ação da criança e, de neste processo.
outro, por sua impossibilidade de executar
as operações exigidas por essas ações. Os jogos e brincadeiras nas sociedades
antigas tinham o propósito de estreitar os laços
A medida que a criança entra no que há coletivos e de união de uma sociedade, uma
demais emocionante no ato de brincar com o vez que nesta época o trabalho não ocupava
outro, ou consigo mesma, toma consciência muito tempo das pessoas (ARIÉS, 1981).
de sua auto-imagem e conhece um outro ser Historicamente, os jogos e as brincadeiras
que não seja ela própria. Isto foi percebido foram alvos de diversas pesquisas, e
na experiência realizada, quando os alunos podemos observar que sua valorização
sentavam ao lado dos colegas e começavam deu-se a partir de teorias propostas por
a falar sobre o que havia acontecido ontem, filósofos e pedagogos com estudos feitos no
de que brincou, e da mesma forma o campo da educação ao longo de vários anos,

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Revista Educar FCE - Março 2019

comprovando cientificamente a importância novas possibilidades de invenções. Para


do brincar para o desenvolvimento das isso, necessita do meio físico e social, onde
crianças pequenas. poderá construir seu pensamento e adquirir
novos conhecimentos de forma lúdica, onde
A valorização do brincar nem sempre foi há o prazer a aprendizagem.
bem vista na história das crianças pequenas.
Segundo Wajskop (1995), somente com a Os jogos proporcionam a imaginação às
ruptura do pensamento romântico que a crianças, sendo assim, elas criam situações
brincadeira ganha seu espaço na educação. e resoluções para os problemas. São capazes
de lidar com dificuldades, com o medo, dor,
Na escola é possível o professor se soltar e perda, conceitos de bem e mal, que são
trabalhar os jogos como forma de difundir os reflexos do meio em que vivem.
conteúdos. Para isso, entendo ser necessário
a vivência, a percepção e o sentido, ou seja, Ao valorizar o jogo, podemos percebê-
o educador precisa selecionar situações lo como atividade natural, espontânea e
importantes dentro da vivência em sala de necessária a todas as crianças, tanto que o
aula; perceber o que sentiu como sentiu e brincar é um direito da criança, reconhecido
de que forma isso influencia o processo de em declarações, convenções e em leis em
aprendizagem; além de compreender que nível mundial.
no vivenciar, no brincar, a criança é mais
espontânea. “Sem dúvida, os conteúdos Para Piaget (1971) o jogo envolve
podem ser trabalhados com o uso do jogo. A não apenas uma forma de desafogo ou
criança pode trabalhar ou fixar um conteúdo entretenimento para gastar energia das
com a atividade lúdica. Mas, para isso, o jogo crianças, mas um meio que contribui e
é uma das estratégias e não a única”. enriquece o desenvolvimento intelectual.

Entendo ainda que o primeiro passo Kramer (1992) nos diz que a ludicidade é
para se trazer o lúdico, a brincadeira para um traço da personalidade da criança até a
dentro da escola, é o resgate da infância dos fase adulta, com importante função no estilo
próprios educadores, a memória. “Do que cognitivo, ou seja, na alegria, no senso de
brincavam, como brincavam, lembrarem-se humor e na espontaneidade.
de uma figura especial.
As brincadeiras abrangem grande parte
O jogo é uma importante ferramenta do desenvolvimento da criança, quando
no processo de aprendizagem lúdica na representa situações observadas no cotidiano
alfabetização. Durante o jogo, a criança e que futuramente a criança irá vivenciar.
toma decisões, resolve seus conflitos, vence Criando situações imaginárias confrontada
desafios, descobre novas alternativas e cria com o real, desenvolve suas capacidades

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Revista Educar FCE - Março 2019

e habilidades, as quais muitas vezes não Brincar supõe sempre liberdade,


conhecem; dessa forma desenvolve o “eu”. envolvimento e espontaneidade. Leva a
criança a aprender a organizar seu campo
O brincar não é uma qualidade inata da criança. perceptivo, suas ideias e suas experiências,
Segundo Brougère (1998 p.103-104) “brincar e a entrar em contato com suas emoções
não é uma dinâmica interna do indivíduo, mas e sentimentos. Propicia dessa forma a
uma atividade dotada de uma significação social integração dinâmica respeitando o próprio
que, como outras, necessita de aprendizagem”. ritmo da criança e fortalecendo a alegria de
Isto é, a criança aprende a brincar e isto se dá pertencer a um grupo.
desde as primeiras interações lúdicas entre
mãe e bebê. Desta forma, a brincadeira pode As brincadeiras e os jogos no contexto
ser vista, como um espaço de sociabilização, de escolar podem ser utilizados com os
apropriação de cultura, de tomada de decisões seguintes propósitos: de entretenimento
e invenções e do domínio da relação com os e diversão, para o desenvolvimento de
outros. O autor afirma, sinteticamente, portanto: determinadas habilidades e competências
e como ferramentas na construção de uma
A brincadeira é então um espaço social, já aprendizagem significativa.
que não é criado por natureza, mas após uma
aprendizagem social, e supõe uma significação
conferida por vários jogadores (um acordo). [...] OS JOGOS E AS
Esse espaço social supõe regras. Há escolha e
decisão continuada da criança na introdução
BRINCADEIRAS NO
e no desenvolvimento da brincadeira. Nada DECORRER DOS SÉCULOS
mantém o acordo senão o desejo de todos os
Do ponto de vista histórico, a análise do
parceiros. Na falta desse acordo, que pode
ser negociado longamente, a brincadeira
jogo é feita a partir da imagem da criança
desmorona. A regra produz um mundo específico presente no cotidiano de uma determinada
marcado pelo exercício, pelo faz-de-conta, época. O lugar que a criança ocupa num
pelo imaginário. Sem riscos, a criança pode contexto social e específico, a educação a
inventar, criar, experimentar neste universo. que está submetida e o conjunto de relações
[...] Portanto, a brincadeira não é somente um sociais que mantém com personagens
meio de exploração, mas também de invenção. do seu mundo – tais aspectos permitem
(BROUGÈRE, 1998b, p.192-193). compreender melhor o cotidiano infantil e,
em tal cotidiano é que se tem a formação de
Dessa forma, surge, na teoria do autor, a sua autoimagem e a imagem do seu brincar.
condição de a criança criar na brincadeira,
pois essa situação comporta menos riscos As atividades consideradas lúdicas,
e mais possibilidades de descobrir novas representadas pelos jogos, brinquedos
experiências e novos comportamentos. e dinâmicas diversas, são manifestações

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Revista Educar FCE - Março 2019

presentes no cotidiano das pessoas e, levando o autoritarismo governamental


portanto, na sociedade desde o início da da época a fechar os “jardins-de-infância”
humanidade. Todo ser humano “sabe o daquele país, por volta de 1851. Na mesma
que é brincar, como se brinca e por que época, influenciada por Froebel, algumas
se brinca” (SANTOS, 2010, p. 11), porém, experiências educacionais para as crianças
muitas vezes, o lúdico e as atividades lúdicas pequenas foram realizadas no Brasil.
são resumidos somente ao ato de brincar
infantil, e associados diretamente às crianças A escola vem se modificado, encontrando-
– resultado, talvez, de um “preconceito” se, atualmente, em um cenário de
culturalmente estabelecido ao brincar. modernidade; vem lutando para vencer
todos os novos desafios que surgem a cada
Celestin Freinet (1896-1966) foi um geração. Atualmente, constata-se que a
dos educadores que renovaram as práticas instituição escolar não vem conseguindo
pedagógicas de seu tempo. Para esse garantir a apropriação de conteúdos, não
educador, a educação deveria extrapolar preparando o indivíduo nem para o mercado
a sala de aula, e a integração da criança a de trabalho e nem para a vida.
vida social deveria ser valorizada. Atitudes
manuais, jogos, desenho livre, a relação As mudanças que estão ocorrendo
atividade-prazer é o eixo central da educação na escola tendem, no futuro, a mudar a
popular. educação por completo, e um dos caminhos
viáveis pode ser a utilização das atividades
O educador alemão Froebel (1782-1852), lúdicas, uma vez que estas têm possibilidade
que considerava as brincadeiras como o de ajudar na busca de mudanças – tendem
primeiro recurso para aprendizagem, foi a ser mais abertas, criativas e dinâmicas
pioneiro na introdução à brincadeira no (SANTOS, 2010).
cotidiano escolar infantil. Aquele educador
elaborou canções e jogos para educar, Se para a criança, em alguns casos, o
fazendo uso de sensações, emoções e recreio é o momento mais esperado, devido
brinquedo pedagógicos, enfatizando o valor ao divertimento com seus amigos e ao
da atividade manual, e defendendo uma ambiente mais leve, por que a escola tem
proposta educacional que incluía atividades que recusar a presença do brincar e do lúdico
de cooperação e o jogo. Froebel, seguindo em muitos momentos? O ambiente escolar
suas convicções, fundou a escola infantil tem que ser obrigatoriamente maçante?
destinada aos menores de oito anos e, (SANTOS, 2010).
posicionando uma proposta educacional
que dava ênfase à liberdade da criança. Por muito tempo, a escola foi vista pelos
Por este motivo, passou a ser visto como alunos como algo enfadonho, obrigatório,
uma ameaça ao poder político alemão, sem sentido e entediante, e quando os

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Revista Educar FCE - Março 2019

educadores ofereciam brinquedos, eram Brincar é genético na criança e é


criticados pelos pais e mesmo por colegas fundamental para o seu desenvolvimento
de profissão de estarem perdendo tempo. psicossocial. Através da interpelação da
Contudo, com a revelação de que o brincar criança com os brinquedos ela desenvolve o
pode possuir intencionalidade educativa, raciocínio, a criatividade e a compreensão do
descobriu-se um processo que tornou a mundo.
aprendizagem algo que os alunos se sentem
atraídos e que desejam. Tal ação auxilia a Wajskop (1995, p.68) afirma: “Brincar
escola a cumprir não somente sua função de é a fase mais importante da infância – do
ensinar, mas também a sua função de educar. desenvolvimento humano neste período
O trabalho lúdico deve deixar claro a que veio – por ser a auto ativa representação do
e que não se resume a somente ensinar os interno – a representação de necessidades e
conteúdos conceituais, mas também educar impulsos internos”.
a partir do desenvolvimento físico, cognitivo,
social e moral. Com a brincadeira a criança aumenta sua
sensibilidade visual e auditiva, desenvolve
Para a criança, brincar é viver. De acordo habilidades motoras e cognitivas.
com Santos (1999), a história da humanidade
tem nos mostrado que as crianças sempre O lúdico tem sido utilizado como
brincaram e, certamente, continuarão instrumento educacional desde a pré-história
brincando. Brincar faz parte da essência da onde o homem primitivo se utilizava de rituais,
criança e quando isso não acontece algo que muito se assemelham as brincadeiras
pode não estar bem. de roda, para exercer domínio sobre a caça,
a pesca e até mesmo o poder sobre os
Podemos verificar que o brincar está fenômenos da natureza, esses rituais faziam
presente em todas as dimensões do ser parte de suas crenças e eram transmitidos
humano e, de modo especial na vida das de pais para filhos. Já na antiguidade greco-
crianças. A criança aprende a brincar romana as atividades lúdicas como o jogo
brincando e brinca aprendendo. estava ligado a atividades para relaxamento
e entretenimento.
Segundo Chateau (1987, p.14) de “Uma
criança que não sabe brincar, uma miniatura Na Idade Média os jogos como muitas
de velho, será um adulto que não saberá atividades artísticas foram considerados
pensar”. Para manter-se em harmonia consigo impuros e, portanto, proibidas.
mesma, com seus semelhantes e com o
mundo que a cerca, a criança precisa brincar; No Renascimento ele surge como um
precisa inventar e reinventar o mundo. instrumento para facilitar o estudo e
desenvolver a inteligência. É reabilitado

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Revista Educar FCE - Março 2019

então a partir do século XVI, com ideias de pensadores humanistas como Rousseau, Dewey,
Vygotsky, Piaget, entre outros, estes humanistas deixaram importantes estudos sobre o
brincar, enfocando principalmente seu valor educativo. Estudos continuam provando que
a atividade lúdica deve ser utilizada em sala de aula como importante ferramenta para o
desenvolvimento de habilidades psicológicas, sociais e motoras. Conforme afirma Kishimoto
(1997, p 42), “o jogo torna-se uma forma especial para aprender os conteúdos escolares”.

Brincando a criança experimenta situações, conflitos e supera desafios, que vão


proporcionar, além do próprio prazer de brincar, o seu pleno desenvolvimento.

A educação contemporânea traz muitos desafios para aqueles que nela trabalham e aos
que se dedicam a sua causa, não há como estagnar-se em uma única e exclusiva metodologia
de ensino é preciso utilizar-se de todos os recursos possíveis para que a escola transforme-
se em um lugar especial que desperte na criança a vontade de aprender.

O lúdico fornece à criança um desenvolvimento sadio e harmonioso. Ao brincar, a criança


aumenta sua autoestima e independência; estimula sua sensibilidade visual e auditiva.

Através do lúdico na educação, conseguiremos uma escola melhor e mais atraente para as
crianças. É preciso saber como adentrar ao mundo da criança; no seu sonho, no seu jogo e,
a partir daí, jogar com ela.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda há muito a ser estudado e discutido sobre a educação
das crianças pequenas e sobre quais os melhores métodos de
ensino. Isso também nos leva a pensar que tipo de cidadão
queremos formar para o futuro de nossa sociedade.

Mediante os estudos já realizados vimos que o brincar é


essencial na interação social da criança com o seu meio.

A brincadeira lúdica ajuda a criança a expandir seu ELAINE BENTO DA SILVA


imaginário e desenvolver diversas formas de aprendizagem.
Utilizar jogos e brincadeiras no cotidiano escolar não é Graduação em Pedagogia pela
somente uma forma de diversão e, sim, um método de Universidade Nove de Julho - UNINOVE
aprendizagem e desenvolvimento, tendo o professor como em 2016. Graduação em Letras, pelo
mediador e este se utilizando de planejamentos que auxiliem Centro Universitário Sant´Anna em 2012.
e estimulem a participação das crianças. Professora de Educação Infantil pela
Prefeitura Municipal de São Paulo.
A educação traz muitos desafios aos que nela trabalham
e aos que se dedicam a sua causa. Muito já se pesquisou,
escreveu-se e se discutiu sobre a educação, mas o tema é
sempre atual e indispensável, pois seu foco principal é o ser
humano. Então, pensar em educação é pensar no ser humano,
em sua totalidade, em seu corpo, em seu meio ambiente, nas
suas preferências, nos seus gostos, nos seus prazeres, enfim,
em suas relações vivenciadas.

A escola deve compreender que ela mesma, por um


determinado tempo da história pedagógica, foi um dos
instrumentos da imobilização da vida, e que esse tempo já
terminou. A evolução do próprio conceito de aprendizagem
sugere que educar passe a ser facilitar a criatividade e, deve-
se abandonar de vez, a ideia de que apreender significa a
mesma coisa que acumular conhecimentos sobre fatos,
dados e informações isoladas numa autêntica sobrecarga da
memória.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens


orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das
capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude
básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos
mais amplos da realidade social e cultural.

Entende-se que educar ludicamente não é jogar lições empacotadas para o educando
consumir passivamente. Educar é um ato consciente e planejado, é tornar o indivíduo
consciente, engajado e feliz no mundo.

871
Revista Educar FCE - Março 2019

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873
Revista Educar FCE - Março 2019

PSICOMOTRICIDADE E
APRENDIZAGEM: CONTRIBUIÇÕES
PARA AS PRÁTICAS ESCOLARES NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Este artigo tem por objetivo apresentar os conceitos sobre os estudos de
Psicomotricidade relacionados a aprendizagem na Educação Infantil. A psicomotricidade é
definida como a ciência que estuda o homem, o seu corpo em movimento e a capacidade
humana relacionar-se com as pessoas e com os objetos. Com base no pressuposto desta
pesquisa busca-se refletir sobre a importância da Psicomotricidade para auxiliar o processo
de ensino e aprendizagem, em suas teorias sobre a maneira como a criança percebe o seu
corpo e como se expressa com ele. Na educação infantil, fase em que são desenvolvidos os
aspectos psicomotores, seu esquema corporal, lateralidade e orientação espaço temporal. A
pesquisa teórica foi a base dos estudos em psicomotricidade e os estudos eram pautados nos
aspectos do desenvolvimento motor da criança, com o tempo os estudos passaram a elencar
questões relacionadas as relações entre o atraso intelectual e o atraso no desenvolvimento
motor da criança e por fim as pesquisas passam a abranger os campos da habilidade manual
e das funções motoras relacionadas a idade biológica.

Palavras-Chave: Práticas Escolares; Educação Infantil; Psicomotricidade; Aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO um desenvolvimento motor adequado e


tome consciência de seu corpo, aprendendo
Esta pesquisa tem como tema principal a localizar-se no espaço e no tempo.
a Psicomotricidade, partindo deste tema,
o objetivo deste trabalho é apresentar e A psicomotricidade passa a ser difundida
refletir acerca da importância do estudo no Brasil, por meio dos cursos das
da Psicomotricidade no desenvolvimento universidades nos diferentes estados do
da criança e de que maneira a educação país. No início a psicomotricidade era vista e
psicomotora está relacionada ao processo de a analisada como um recurso pedagógico que
Ensino e Aprendizagem na Educação Infantil. tinha por objetivo corrigir alguns distúrbios
de desenvolvimento, e o público atendido
Esta pesquisa justifica-se à medida que eram as crianças consideradas excepcionais,
é de fundamental importância conhecer os que eram atendidas nas escolas especiais da
conceitos que envolvem a psicomotricidade época.
relacionada a criança na Educação Infantil
tornando possível compreender aspectos Na Educação Infantil a educação
fundamentais relacionados ao movimento psicomotora irá permitir a compreensão
do corpo e a coordenação, que se constituem da forma como a criança toma consciência
como elementos fundamentais para o de seu corpo e das possibilidades de se
sucesso na aprendizagem, em seus aspectos expressar por meio dele, e é relevante
cognitivos e motores. nesse período, onde a criança desenvolve
seus aspectos psicomotores, seu esquema
A educação psicomotora é uma técnica corporal, lateralidade, orientação espaço
e passa pelos mesmos caminhos de uma temporal, etc.
aprendizagem natural, primeiro através de
exercícios motores, onde o corpo se desloca
e o sujeito percebe as diferentes noções;
segundo, por meio de exercícios sensório
motores, com a manipulação de objetos
possibilitando a percepção de diversas
noções; e por último por meio de exercícios
perceptomotores, em que são realizadas
manipulações mais sutis e a percepção visual.

Na educação infantil esses aspectos


devem ser observados e levados em
consideração à medida que é extremamente
importante que a criança, nesta fase, tenha

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONCEITO DE INFÂNCIA E EDUCAÇÃO INFANTIL


De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil temos as
seguintes definições:

Nos séculos XV e XVI, passa a surgir a necessidade e a preocupação em educar e escolarizar


as crianças, surge assim os modelos educacionais com as diferentes concepções de como as
crianças deveriam ser educadas nesta época.

As mulheres, passaram a se organizar para cria alguns espaços no qual as crianças


pudessem ser atendidas, esses locais podiam ser residências ou alguns espaços religiosos e
as crianças que recebiam este atendimento eram aquelas que se encontravam em situações
de risco, abandono ou até mesmo maus tratos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

De acordo com Kramer (1999) as uma mudança de concepção e paradigma,


concepções de criança, infância e Educação desvinculando-se do sentido de assistência e
Infantil são construções sociais e foram guarda, passando a concepção de educação
formadas ao longo dos anos, tais concepções para todas as crianças, e não de maneira
nem sempre expressam os mesmos quase que exclusiva de mães trabalhadoras.
significados, são carregadas de histórias
e valores e modificadas de acordo com o Quando analisamos a educação infantil
contexto social no qual estão inseridas e do e a sua história temos que o contexto
momento histórico. histórico traz marcantes diferenças entre
as definições, propósitos e objetivos do
Foi durante os séculos XV e XVI que atendimento em creches e em jardins de
os modelos educacionais começaram infância. A diferença se constitui no público
a surgir, com diferentes objetivos e atendido (crianças pobres e da elite) e
propostas, atendendo a diferentes nas formas de atendimento (educação ou
públicos e apresentando uma preocupação cuidado, instrução ou guarda). Neste sentido
diferenciada com a infância e as diversas podemos compreender a dificuldade em
maneiras e métodos para se educar e se reconhecer a educação da infância em
escolarizar as crianças da época. Nesta fase creches como pertencente ao contexto
existiam instituições que apresentavam um educacional de hoje em dia, o paradigma de
caráter extremamente relacionado a religião creche vinculada a assistência e a guarda de
e a formação de bons hábitos e valores, crianças está enraizado na formação cultural
esperados naquele contexto social da época. de nossa história na educação.

[...] durante o século XIX, uma nova função passa O atendimento realizado na Educação
a ser atribuída à pré-escola, mais relacionada à Infantil, com a Escola Novista, traz uma
ideia de [educação] do que de assistência. São alteração nas propostas educacionais de
criados, por exemplo, os jardins de infância por atendimento as crianças pequenas de 0 a 3
Froebel nas favelas alemãs, por Montessori nas
anos, com o intuito de diminuir o abandono
favelas italianas, por Reabodif nas americanas
das crianças e para que as mães pudessem
etc. A função dessa pré-escola era de compensar
trabalhar.
as deficiências das crianças, sua pobreza, a
negligência de suas famílias... Assim, podemos
observar que as origens remotas da educação
Joaquim José Menezes Vieira foi o
pré-escolar se confundem mesmo com as origens fundador do primeiro jardim de infância no
da educação compensatória, tão difundida nas Rio de Janeiro no ano de 1875, esse jardim
últimas décadas. (KRAMER, 1987, p. 23). de infância pertencia a iniciativa privada e
atendia somente as crianças que pertenciam
Neste novo contexto que passa a ser as classes da elite e somente meninos. De
difundido, a educação da infância tem acordo com Kuhlmann (2003), os estudiosos

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Revista Educar FCE - Março 2019

e a sociedade da época defendiam que a Somente com a LDBEN 9394/96 (Lei de


criança pequena deveria permanecer com a Diretrizes e Bases da Educação Nacional)
família e com a mãe, e estas deveriam educar é que se modificam e surgem novas
as crianças seguindo os padrões elaborados regulamentações quanto ao atendimento das
pelos diferentes segmentos da sociedade. crianças na educação infantil, neste momento
este tipo de ensino passa a responsabilidade
[...] a infância constitui uma realidade que da Secretaria de Educação, o que traz uma
começa a ganhar contornos a partir dos séculos mudança em todos os aspectos, desde a
XVI e XVII. [...] As mudanças de sensibilidade formação de professores até as concepções
que se começam a verificar a partir do de ensino e aprendizagem neste contexto
Renascimento tendem a deferir a integração no
educacional.
mundo adulto cada vez mais tarde e, a marcar,
com fronteiras bem definidas, o tempo da
infância, progressivamente ligado ao conceito
da aprendizagem e de escolarização. Importa,
PRINCIPAIS CONCEITOS
no entanto, sublinhar que se tratou de um SOBRE PSICOMOTRICIDADE
movimento extremamente lento, inicialmente E APRENDIZAGEM
bastante circunscrito às classes mais abastadas.
(PINTO, 1997, p. 44).
[...] o desenvolvimento intelectual e o
desenvolvimento afetivo estão intimamente
ligados na criança: a psicomotricidade quer
Segundo CONRAD (2000) o jardim de justamente destacar a relação existente entre a
infância teve sustentação com base nas motricidade, a mente e a afetividade e facilitar
teorias que supunham a comunhão entre a abordagem global da criança por meio de uma
as crianças, por si só, como um fator de técnica. (MEUR, 1989, p.5)
favorecimento da educação e aprendizagem.
Neste sentido, a educação tinha um vínculo A pesquisa teórica foi a base dos estudos
maternal e as concepções previam o em psicomotricidade e os estudos era
desenvolvimento do homem em sua relação pautados nos aspectos do desenvolvimento
com a natureza. motor da criança, com o tempo os estudos
passaram a elencar questões relacionadas
Neste contexto social, surgem modelos de as relações entre o atraso intelectual e o
educação voltados a valorização de um tipo atraso no desenvolvimento motor da criança
de comportamento almejado pela sociedade e por fim as pesquisas passam a abranger os
da época, surgindo assim as teorias infantis campos da habilidade manual e das funções
de desenvolvimento, que posteriormente motoras relacionadas a idade biológica.
virão a modificar as concepções de educação
na infância.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Segundo Fonseca (2001) quando pensamos em Psicomotricidade, o corpo tem a sua


importância no sentido da qualidade relacional e não deve ser considerado como algo que
pode ser treinado ou aperfeiçoado, o corpo não deve ser dominado para a automatização.
De acordo com Araújo (1992) com a criação da escala para avaliação dos aspectos do
desenvolvimento da criança é que foi possível analisar as capacidades e potencialidades
da criança e a sua relação com o desenvolvimento psicomotor, considerando a idade em
relação ao desenvolvimento e verificando o que é esperado para determinada idade.

O movimento é um suporte que ajuda a criança a adquirir o conhecimento do mundo em que a cerca através
de percepções e sensações, pois o indivíduo não se constrói de uma só vez, mas paulatinamente através de
interação com o meio de suas próprias realizações. [...] O esquema corporal não é conceito aprendido, que se
possa ensinar, uma vez que não depende de treinamento. Ele se organiza pela experimentação do corpo da
criança, que é uma forma de expressão da individualidade. (SILVA, 2010, p.11)

Neste sentido, torna-se possível utilizar-se de exames e materiais para verificar se há


algum atraso no desenvolvimento, além desses aspectos era possível verificar algum
problema ou comprometimento de origem neurológica. Segundo Meur (1989) com o tempo
o estudo ultrapassa os problemas motores e surgem pesquisas também as ligações com a
lateralidade, a estruturação espacial e a orientação temporal por um lado e, por outro, as
dificuldades escolares de crianças de inteligência normal.

De acordo com as ideias de Coste (1978) a Psicomotricidade resulta de um processo que


envolve a história do corpo, esse processo foi marcado por reformulações com o passar dos

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Revista Educar FCE - Março 2019

tempos, o que nos permite a compreensão das atuais concepções sobre o tema. Além disso,
a psicomotricidade pode ser conceituada como uma ciência que envolve a educação e a
saúde, sendo aplicada tanto nas escolas como nos atendimentos psicológicos.

Segundo Gallardo (2009), a psicomotricidade chega no Brasil em meados dos anos 70,
tendo uma concepção de pensamento voltada a uma maneira de recuperar e reabilitar o
corpo das pessoas que participaram da guerra. Com o tempo, a psicomotricidade ampliou
seus estudos nas áreas ligadas à aprendizagem, abordando aspectos como o trabalho com a
coordenação motora, o equilíbrio, lateralidade e a organização espaço-temporal. Com estes
estudos foi se adquirindo a base necessária para um melhor desenvolvimento cognitivo, o
que resulta na educação pelo movimento no Brasil.

A educação psicomotora pode prevenir e detectar problemas de aprendizagem, ela
aperfeiçoa e normaliza o comportamento geral da criança, desenvolvendo consciência,
domínio e equilíbrio do próprio corpo. Segundo Lebouch (2001) a educação psicomotora deve
ser praticada desde a mais tenra idade, conduzida com perseverança, permite inadaptações,
difíceis de corrigir quando já estruturadas.

O esquema corporal é um elemento de suma relevância durante o processo de
desenvolvimento é o reconhecimento, a percepção que a criança tem do seu próprio corpo
um período em que ela desenvolverá sua personalidade e irá perceber que seu corpo lhe
obedece e que poderá utilizá-lo não só para movimentá-la mas também para agir.

Nesse período revela-se a importância do Educador nesse processo, pois há uma grande
necessidade de uma intervenção e interação do mesmo com a criança desenvolvendo suas

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Revista Educar FCE - Março 2019

capacidades de forma que ela possa adquirir conhecimento de seu corpo e do meio em que
vive. É necessário que o educador tenha em mente a importância da motricidade desde
a educação infantil orientando e estimulando a criança desenvolvendo suas habilidades
e competências sempre com movimento na escola, pois é através dele que se dará uma
educação psicomotora de qualidade.

A estruturação espacial é a percepção do mundo exterior, primeiramente a criança tem


como referencial o seu próprio eu e posteriormente a sua referência será outras pessoas ou
objetos, ou seja, é a tomada de consciência de seu próprio corpo em um meio ambiente que
dá a possibilidade para a criança organizar-se e organizar materiais e objetos e movimentá-los.

Neste sentido, a estruturação espacial faz parte da vida de todos os indivíduos e por isso,
este aspecto deve ser trabalhado no ambiente escolar por meio do jogo e da brincadeira,
o educador pode desenvolver a noção espacial na criança, possibilitando o movimento, o
brincar a todo instante na sala de aula.

A criança passa a metade do dia na escola, daí a importância da pedagogia do movimento e daí a urgência
em considerar as primeiras necessidades vitais da criança que muitas vezes são contrariadas sob o pretexto
de ordem, barulho. A criança tem necessidades de caminhar e de correr. Desde o maternal as crianças são
empilhadas em locais estreitos. Uma criança pequena se fatiga rapidamente em uma posição determinada.
(LEBOUCH, 2001, p.13).

O esquema corporal é a tomada de consciência pela criança de suas possibilidades motoras


de agir e se expressar sendo assim é importante que a criança possa agir sob seu corpo e
obter informações sobre o mesmo de forma concreta e não por meio de imagens como é
realizado de maneira tradicional.

A lateralidade é um aspecto da educação psicomotora muito importante, pois ao ser bem


trabalhada com exercícios psicomotores levando a criança, a saber, de fato o que é direita e
esquerda em si e no outro, ajuda a prevenir futuros distúrbios nesse sentido, pois quando o
educador tem o objetivo de propor a criança atividades que facilitem a tomada de consciência de
seu corpo e suas ações, proporciona um desenvolvimento mental, corporal e afetivo da criança.

A estruturação temporal é a capacidade de se situar diante dos acontecimentos, como


por exemplo, antes, durante e depois, neste sentido a criança passa a tomar consciência do
caráter irreversível do tempo. Essa noção de tempo é muito abstrata e torna-se difícil para
a criança compreende-la, desta maneira, cita-se a importância do educador no processo de
desenvolvimento da criança durante toda a educação infantil.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento de experiências concretas na escola
desenvolvendo a percepção do meio no qual está inserida,
é de fundamental importância e auxilia na forma como
a criança age sobre seu corpo, o local e os objetos que a
cerca. A atuação do professor, neste sentido, deve ser
pautada na formação de sujeitos em seu processo de ensino
e aprendizagem, tenho uma noção clara de seu papel como
educador de infância. Não basta apenas conhecer as técnicas,
é preciso a reflexão sobre o processo de desenvolvimento ELAINE CRISTINA DE
cognitivo, social e psicomotor da criança. JESUS SOUZA
Graduação em Pedagogia pelo Centro
O esquema corporal é um elemento de suma relevância Universitário Sant’Anna (2010);
durante o processo de desenvolvimento é o reconhecimento, Especialista em Arte Educação
a percepção que a criança tem do seu próprio corpo um pela Faculdade Mozarteum (2014);
período em que ela desenvolverá sua personalidade e irá Professora de Educação Infantil e Ensino
perceber que seu corpo lhe obedece e que poderá utilizá-lo Fundamental I - na EMEI Felipe Mestre
não só para movimentá-la mas também para agir. Jou; Professora de Educação Infantil – no
CEI Vila Brasilândia.

Cabe ao educador dar importância a esse aspecto da


psicomotricidade, pois ao ser bem trabalhado na educação
infantil, a criança terá sucesso em suas atividades de
ordenação, ao contar fatos ou histórias, em suas relações
na sala de aula e em seu meio social. Neste contexto, a
brincadeira e o jogo também é um grande auxiliar neste
processo de desenvolvimento.

É necessário que o educador tenha em mente a importância da motricidade desde a


educação infantil orientando e estimulando a criança desenvolvendo suas habilidades e
competências sempre com movimento na escola, pois é com ele que se dará uma educação
psicomotora de qualidade.

Com base nas indagações dos autores citados pode-se perceber a relação e a importância
entre corpo, mente e movimento, notando que o meio social no qual a criança está
inserida pode favorecer as suas experiências psicomotoras, por meio de experiências
concretas, possibilitando a exploração e permitindo que ela apresente posteriormente um
desenvolvimento corporal, mental e afetivo adequado a sua faixa etária, diminuindo o risco
de algum transtorno psicomotor futuro.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Brasília: Secretaria da Educação, 1996. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/secad/
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de Mestrado em Educação). 2000.

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infância e sua educação: materiais, práticas e representações. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

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Universidade Cândido Mendes. Instituto a Voz do Mestre. Rio de Janeiro. 2010.

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AVALIAÇÃO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: A avaliação é contínua, o tempo inteiro está observando os alunos, para avaliar
devemos ter um olhar sensível voltado á criança, verificando se estão se desenvolvendo
e atingindo os objetivos estabelecidos pelo plano pedagógico. Trata-se de um trabalho
constante e complexo. O trabalho deve ser aperfeiçoado para se tornar ainda mais
minucioso, mais objetivo e, também, mais claro para as famílias entenderem o processo e
os critérios pelos quais seus filhos são avaliados. A avaliação na educação infantil parte de
um importante processo ensino-aprendizagem, tem se tornado tema de muitas pesquisas,
debates e discussões acadêmicas.

Palavras-Chave: Avaliação da Aprendizagem; Professores; Formação de Professores; Poder;


Estudos.

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INTRODUÇÃO AVALIAÇÃO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Considerando-se que as crianças se
desenvolvem de forma aceleradíssima em É imprescindível que o professor busque
termos da oralidade, da evolução motora e de constantemente mecanismos que o tornem
novas descobertas, em tempos e em aspectos observador, não só do aluno como de si próprio,
muito diferentes de uma criança para outra, analisando a sua prática pedagógica e o que
a avaliação da aprendizagem contempla ela influencia no desenvolvimento do aluno.
várias interrogações e indefinições quanto É necessário que o professor tenha, além
à efetivação, na prática, de uma concepção de um alicerce teórico, autoconhecimento,
que tenha por intenção a melhoria da ação senso crítico e humildade para reconhecer
educativa. seus erros, suas falhas e estar aberto a novas
tentativas, sempre visando ao melhor para
Segundo Jussara Hoffmann, no seu livro seus alunos.
realizado sobre Avaliação e Educação Infantil
– Um olhar sensível e reflexivo sobre a Em relação à escolha do tema de estudos,
criança, avaliação refere-se a um conjunto de um assunto não surge de maneira espontânea,
procedimentos didáticos que se estendem é decorrente de situações e interesses que
por um longo tempo e em vários espaços influenciam as escolhas do pesquisador.
escolares, de caráter processual e visando, A fim de relevar a escolha pelo tema há
sempre à melhoria do objeto avaliado. três vertentes que justificam a opção pelo
objeto de estudo: o interesse profissional
Avaliar tem por conceito: não julgar, não e pessoal, a relevância para a educação
apontar, mas acompanhar um percurso brasileira e o preenchimento das lacunas
de vida da criança, através de registros e do conhecimento. Esta pesquisa ajuda
olhares, durante o qual ocorrem mudanças profissionalmente professores a refletirem
em múltiplas dimensões com a intenção sobre sua prática e sobre concepções de
de favorecer o máximo possível seu avaliação até refutadas pelos mesmos, mas
desenvolvimento. assim mesmos empregados no cotidiano
escolar. Além da questão profissional, o
Falar de avaliação é algo que mexe interesse pessoal, pois a vida escolar é
instantaneamente com todos os sujeitos cercada de práticas avaliativas desvinculadas
envolvidos no processo ensino aprendizagem. da aprendizagem.
Usando uma expressão popular, discorrer
sobre o tema é “cutucar a ferida” de muitos Apesar de haver muitos estudos
professores e provocar reações distintas e acadêmicos pertinentes a avaliação escolar e
conspícuas em alunos. a relação professor-aluno, não há trabalhos,
de acordo com os bancos de pesquisa

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analisados, que articule avaliação, poder, e o novo conteúdo. Sabe o que realmente
punição e perpetuação de um ciclo. conta? Um professor criativo e amável, que
tem paciência e percebe quais as diferenças
Além de apresentar as possíveis cognitivas de cada um e age para que todas
concepções de avaliação dos professores e as dificuldades sejam superadas.
alunos, as relações de poder legitimadas pela
avaliação e as percepções e sentimentos dos A Avaliação é um instrumento para
sujeitos quanto à avaliação, temos a questão Aprendizagem Professor/Aluno ambos
das conseqüências da perpetuação de uma aprendem juntos e assim vão construindo e
avaliação independente do processo ensino- adquirindo conhecimentos. È um processo
aprendizagem, e a perpetuação de um ciclo de constantes acontecimentos e é nesses
aparentemente infindável. acontecimentos que se constrói que se
aprende que se realiza que se conquista
Seguindo o Parecer CNE/CEB nº que enfrenta desafios e se supera conflitos.
20/2009 a avaliação deve acontecer da È durante este tempo/ momentos que se
seguinte maneira: A avaliação interna seria busca o esperado e até mesmo o que não se
a avaliação da aprendizagem e está voltada espera.
para os acontecimentos e experiências que
acontecem na sala de aula e na escola como Avaliar nunca foi fácil. Este texto contribui
um todo, onde os sujeitos envolvidos são para a reflexão de nossa prática docente.
aqueles que fazem parte do processo ensino Rever alguns conceitos sobre “Avaliar”. No
aprendizagem. É por meio desta avaliação que contexto acima ficou evidente que a avaliação
se pode avançar e construir conhecimento a não é meramente uma forma de quantificar
partir do erro. A avaliação externa seria a a aprendizagem, mas um processo imbuído
avaliação de sistemas educacionais. nesta. A relação professor/aluno também é
edificada neste processo e o docente deve
estar atento às diversas formas de aprender,
A AVALIAÇÃO DA respeitando a diversidade na turma.
APRENDIZAGEM
Todos os dias nós passamos por avaliações
Apesar de toda a subjetividade das e ao mesmo tempo avaliamos, portanto, a
avaliações, não podemos nos eximir da avaliação no decorrer da aprendizagem é
responsabilidade de avaliar o quanto o aluno essencial para que possa ter evolução no
efetivamente aprendeu de determinado crescimento escolar, profissional e social, já
assunto. O progresso acadêmico depende do que, a avaliação é um instrumento e o fator
aprendizado linear, caso contrário, o aluno principal para que se tenha a certeza que está
chegará em um estágio muito defasado e havendo o conhecimento e a aprendizagem.
não conseguirá acompanhar o raciocínio Porém a avaliação é uma prática complexa por

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Revista Educar FCE - Março 2019

não ter uma definição, mas sim uma forma de para o desenvolvimento, para o aprendizado;
ajudar o desenvolvimento da aprendizagem o papel do avaliador é de testar e estimular os
do aluno, averiguando os pontos fortes e sujeitos a serem testados; e os métodos são
fracos, para chegar ao objetivo proposto. objetivos, técnicos, enquanto na avaliação
Onde sabemos que existem outras formas responsiva não há prazo, pois a avaliação
que levam a punição, autoritarismo, retenção é contínua, o avaliador é estimulado pelos
e outras que serve de medidas e controles. sujeitos e suas atividades e os métodos
Todavia, a avaliação é um trabalho minucioso não são objetivos e formais, são subjetivos,
que requer conhecimento quando se trata de não estão centrados em exames ou testes,
avaliar alguém, nos aspectos quantitativos mas na contínua observação. A avaliação
ou qualitativos. formativa descrita por Scriven (1978 apud
Depresbiteris, 1989) seria aquela que fornece
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a informações importantes para a melhoria
Educação Infantil (DCNEI) determinam, desde de um programa no todo como também em
2009, que as instituições que atuam nessa partes, seções ou até parcelas do programa
etapa de ensino criem procedimentos para a que podem ser melhorados.
avaliação do desenvolvimento das crianças.
Esse processo não deve ter como objetivo Afonso (2000) afirma que a avaliação
a seleção, a promoção ou a classificação formativa é a avaliação contínua, que pode ser
dos pequenos e precisa considerar “a realizada por “uma pluralidade de métodos e
observação crítica e criativa das atividades, técnicas”. Estes métodos e técnicas incluem
das brincadeiras e interações das crianças observação livre e sistemática, auto-
no cotidiano” e empregar múltiplos registros. avaliação, entrevista, trabalho em grupo,
Tais apontamentos, no entanto, ainda geram dentre outras atividades. Perrenoud (1999)
dúvidas e interpretações equivocadas. utiliza-se desta avaliação formativa para
descrever a lógica de uma avaliação voltada
A avaliação tradicional é formal, é única e para a aprendizagem.
não há espaço para conflitos e debates ao
contrário da avaliação sensível e responsiva Avaliar é construir e reconstruir o
que é informal e que admite o conflito, não conhecimento. É buscar estratégias que
é apenas consensual. A base do design, permitem a formação do aluno para sua
ou seja, a base da criação, idealização e inserção na sociedade com conhecimento
desenvolvimento na avaliação tradicional prévios, ou seja, que o aluno tem a condição
é objetiva e técnica enquanto na avaliação de prosseguir sua caminhada com a base
responsiva a base deste desenvolvimento alicerçada. Para que o sistema avaliativo
está relacionada aos sujeitos envolvidos. venha ao encontro da realidade a “rede”
Ainda confrontando as diferenças, na precisa contribuir (família, equipe diretiva,
avaliação racional há um prazo estabelecido professores, SME, conselho tutelar,

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assistência social, psicólogos ....) cada um se questionarem, o porque o educando se


cumprindo o seu papel de forma cooperada encontra em determinada maneira e assim
visando sempre o processo avaliativo de ,traçar planos e projetos para resgatar a
cada aluno. tenção do mesmo.Por fim poderíamos propor
aos professores uma mudança: trabalhar
com a avaliação formativa, diagnóstica,
PROPOSTAS PARA mediadora e dialógica durante um período
MUDANÇAS determinado, seguindo a orientação de um
grupo de gestão.
Muitos estudiosos que tem se dedicado a
estudar avaliação atrelada a aprendizagem, é Para Ariés (1981), historicamente, a
preciso que estes professores em formação infância realmente foi determinada pelas
conheçam, discutam práticas para que a viabilidades dos adultos, modificando-se
incidência que o ciclo se perpetue diminua ou bastante ao longo da história. Até o século XII,
se acabe. O curso de formação de professores as condições gerais de higiene e saúde eram
possui uma grade curricular centrada em muito precárias, o que tornava o índice de
algumas disciplinas pedagógicas, comumente mortalidade infantil muito alto. Nesta época
a disciplina que trata de avaliação é a Didática. não se dava importância às crianças e com
Como no curso de Formação de professores, isso o índice de mortalidade só aumentava,
há disciplinas didáticas separadas por pois não existia nenhuma preocupação com
segmentos, a cada etapa de ensino o tema a higiene das crianças.
avaliação deveria ser trabalhado, contudo
pelo que se percebe pouco se dedica a este Conforme Ariés (1978) a percepção
assunto. Para que um ciclo seja quebrado, de infância e seus conceitos nem sempre
é preciso, inicialmente, que os professores existiram, em prol da criança, foram sendo
e alunos conheçam a história da avaliação, construídos de acordo com as modificações
percebam a diferença de concepções. O e com a organização da sociedade e das
segundo passo seria uma autoanálise, estruturas econômicas em vigor.
onde o professor pudesse se ver na sala de
aula, perceber seu comportamento e suas Para Kramer (1999), a concepção de
atitudes. E o terceiro passo seria confrontar infância da forma como é vista hoje é
a realidade com uma possível transformação. relativamente nova. Segundo a autora
Estes passos seriam essenciais para que todo podemos localizar no século XVIII o início
professor pudesse analisar sua prática. da ideia de infância compreendida como
uma fase amplamente singular que deve ser
A primeira proposta para um professor respeitada em suas particularidades.
avaliar sua prática , seria discutir avaliação
com outros professores da instituição, e

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Revista Educar FCE - Março 2019

Segundo Ariés (1981), as modificações era logo introduzido meio dos adultos,
ocorreram a partir de mudanças econômicas compartilhando de todos os seus trabalhos
e políticas da estrutura social. Com o passar e jogos. De uma criança inocente e pequena,
do tempo, como demonstra a história, está se transformava rapidamente em um
encontramos diferentes concepções de jovem, deixando passar as etapas da infância.
infância. A criança era vista como um adulto
em miniatura, e seu cuidado e educação A transferência de valores e dos
eram realizados somente pela família, em conhecimentos, e de modo mais amplo, a
especial pela mãe. Havia algumas instituições socialização da criança, não era, portanto de
alternativas que serviam para cuidado das nenhuma forma assegurada nem direcionada
crianças em situações prejudicadas ou pela família. Esta criança se distanciava
quando rejeitadas. rapidamente de seus pais, e podemos dizer
que durante muitos séculos a educação e
Ariés (1981) relata que até por volta do a aprendizagem foram garantidas graça a
século XVI, não havia nenhum sentimento convivência da criança ou do jovem com
com relação ao universo infantil. A concepção outros adultos. Neste sentido a criança era
de infância, até este momento, baseado inserida em meio aos adultos para aprender
no abandono, pobreza, favor e caridade, as coisas que devia saber ajudando os adultos
neste sentido era ofertado um atendimento a fazê-las.
precário às crianças; havia ainda grande
número de mortalidade infantil, devido Naquela época, a criança era levada
ao grande risco de morte pós-natal e às à aprendizagem através da prática. Os
péssimas condições de saúde e higiene da trabalhos domésticos não eram considerados
população em geral. Em virtude dessas humilhantes, era constituído como uma
decorrências e dessas condições uma criança maneira comum de inserir a educação tanto
que morria era logo substituída por outra em para os mais abastados, como para pobres.
sucessivos nascimentos, pois na época ainda Porém pelo fato da criança sair muito
não havia, como hoje existe, o sentimento cedo do seio da família, fazia com que ela
de cuidado, ou paparicação, pois as famílias, escapasse do controle dos pais, mesmo que
naquela época, entendiam que a criança que um dia voltasse a ela, tempos mais tarde,
morresse não faria falta e qualquer outra depois de adulta, o vínculo primordial havia
poderia ocupar o seu lugar. se quebrado.

Para o autor o período da infância era Durante muito tempo segundo o Ariés,
minimizado a seu período mais frágil, a infância foi colocada à margem pela
enquanto a criança ainda não conseguia sociedade e do seio familiar, exposta à
bastar-se; ficava no seio da família, porém, vontade e as ordens dos adultos, ficando
mal adquiria algum desembaraço físico, até mesmo numa situação de invisibilidade

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Revista Educar FCE - Março 2019

social. A observação em prol da infância Le Goff (1984) afirma que no universo


deu-se de maneira lenta, em um processo de romano, a criança dependia do pai para sua
construção social. formação. O domínio do pai era completoe
a criança que rejeitasse seu patrio poder era
Conforme Kramer (1995) as crianças desprezada. A dependência do pátrio poder
foram vistas por muito tempo como seres seria capaz de acolher ou enjeitar segundo
imperfeitos e incapazes, e se encontravam os atributos físicos que mostrava, se
em meios aos adultos sem qualquer capricho apresentasse alguma deficiência, geralmente
e atenção diferenciada. Esse olhar só mudou era recusado.
a partir do século XII. No que cabe ao respeito
à infância, pode-se perceber que esta não Conforme Price (1996), na Idade Média
tinha valor algum para a sociedade da época, prevaleceu o hábito cristão, dando uma nova
pois sua própria família mantinha as crianças visibilidade para a infância, neste período
em segundo plano, não ofereciam a menor histórico, novos argumentos sobre a infância
atenção, carinho, valor e respeito. irão beneficiar uma condição melhor para as
crianças. Ao poucos surgiu o entendimento e
Para a sociedade medieval, o mais sentimento de que as crianças são especiais
importante era que a criança crescesse e diferentes, e, portanto, dignas de ser
rapidamente para poder participar e ajudar estudadas.
no trabalho e nas demais atividades do
mundo dos adultos. Neste período todas Ariés (1981) ressalta que, até o início da
as crianças por volta dos sete anos de época moderna ainda não existia um olhar
idade, não importando sua condição social, direto para a infância, esse período era
eram inseridas em famílias estranhas para considerado como um período de transição,
aprenderem a fazer os serviços domésticos. sem maiores considerações, ou seja, a criança
Segundo o autor até mesmo perante a arte tinha uma infância curta, e sua passagem era
a infância foi ignorada. Por volta do século pouco valorizada. Foi a partir do século XVII
XII, a arte medieval não conhecia a infância que a criança começou a ser valorizada e
como uma fase da criança, e nem ao menos passou a ter o seu próprio espaço nas imagens
demonstrava interesse em representá-la. É por ele analisadas. A partir deste momento
impossível compreender que essa ausência surgiram determinados sentimentos com
se deva tão somente à incapacidade ou a falta relação à infância e os devidos cuidados
de habilidade das crianças. O mais provável com a dignidade e moral da criança também,
é que não houve um lugar reservado no este fato foi relacionado com a chegada da
pensamento das pessoas neste período, para burguesia começando com as famílias dos
a criança. nobres da sociedade, para os mais pobres.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Segundo Ariés (1981), a aparição da A CRIANÇA E SUA HISTÓRIA


criança como parte da sociedade acontece DENTRO DA EDUCAÇÃO
de forma paulatina durante os séculos XII
e XVII, o autor destaca esse fator através
INFANTIL PARA AVALIAÇÃO
do estudo de temas metafísicos religiosos
presentes na iconografia medieval. No início Segundo Zilma de Oliveira (1994),
a criança aparece em símbolos religiosos antigamente não existia um olhar afetivo
representando os anjos e o menino Jesus, para criança e não havia preocupação com
depois retratando à infância da Virgem seu desenvolvimento, ela era vista como um
Maria e dos outros santos. Nos séculos XV e adulto em miniatura e o que a diferenciava
XVI, a criança aparece em retratos reais que era apenas a força e o tamanho. Não existiam
são encontrados inicialmente nas esfinges valores que fossem assegurados pela família,
funerárias. mas sim pelos adultos do seu convívio.

De acordo com Kuhlmann (1998), De acordo com Oliveira (1994),houve


podemos compreender que toda criança tem um questionamento impulsionado pelo
infância, porém não se trata de uma infância Movimento da Escola Nova de como essa
idealizada, e sim concreta, histórica e social. criança deveria se desenvolver, foi então no
A questão central não é se a criança teve ou século XX que surgiram grandes teóricos
tem infância, mas sim compreendermos se a como Comenius, Pestalozzi, Froebel, Maria
criança vivenciou ou vivencia a mesma. Montessori e Rousseau, Piaget e Vygotsky com
ideias inovadoras que contribuíram para que
A concepção de infância, então, configura- essa criança tivesse um bom desenvolvimento
se como um aspecto importante que aparece nos anos iniciais, sabendo que é no início da
e que torna possível uma visão mais ampla, vida que construímos grandes homens, e
pois a ideia de infância não está unicamente dessa maneira ele poderá ser inserindo na
ligada a faixa etária, a cronologia, a uma etapa sociedade sabendo dos seus direitos e deveres.
psicológica ou ainda há um tempo linear, mas Com a contribuição de Comenius, Pestalozzi,
sim a uma ocorrência e a uma história. Froebel, Maria Montessori, Rousseau, Piaget e
Vygotsky ideias foram adiante, e até hoje essas
Neste sentido considerar a criança hoje ideias estão inseridas na Educação Infantil com
como sujeito de direitos é o marco principal propósito de ajudar no desenvolvimento da
de toda mudança legal conquistada ao longo criança.
do tempo, porém antes dessa mudança
podemos perceber que muitas coisas Comenius (apud MORUGGI, 2002) foi
aconteceram, muitas lutas e desafios foram quem elaborou o plano da escola maternal
travados no decorrer da história para que se no ano de 1637, ele trazia a ideia de educar
chegasse a concepção atual. as crianças menores de 5 anos, pois sua

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Revista Educar FCE - Março 2019

proposta era de algum modo auxiliar Como afirma Aranha (2006), a infância
as crianças para futuramente levá-las a nem sempre foi concebida como nos dias
fazerem aprendizagens abstratas e para atuais, pois esteve sujeita as mudanças
isso, suas recomendações eram que, as socioeconômicas, políticas culturais que
crianças deveriam desfrutar de materiais as sociedades passaram. A composição da
e atividades que sejam diversificadas, família, os registros familiares e eclesiásticos,
materiais pedagógicos ricos em um ambiente entre outros aspectos, também não foram
que fossem favoráveis para educação das os mesmos, as mudanças demonstram que
crianças ,Comenius responsabilizou os pais ocorreram transformações, não se podendo
pela educação antes dos 7 anos de idade, tomar cada período como algo acabado.
pois afirmava que dentro dos lares que inicia
o ensino. No ano de 1657 usou a palavra Dessa forma, nesta época a criança era
Jardim da Infância para nomear o local de considerada um pequeno adulto, que podia
aprendizagem das crianças. executar as mesmas tarefas de um adulto.
A rápida passagem da infância para a vida
Portanto, Aranha (2006) fala da pouca adulta era o que importava. Nesse sentido,
discussão sobre a infância e sua educação, havia necessidade de distinção entre essas
limitando a organização de um sistema de duas etapas da vida, crianças e adultos
ensino e de propostas metodológicas para usavam o mesmo traje.
o ensino das crianças pequenas. Isso limitou
as potencialidades e as oportunidades de De acordo com LeGoff (1984), a partir do
desenvolvimento, comprometendo a visão século XVII, há um crescimento das cidades
educacional na infância e dos trabalhadores devido ao comércio, a Igreja Católica perde o
nesse nível educativo. poder com o surgimento da burguesia, sendo
a Igreja a responsável pela assistência social
De acordo com Aranha (2006), desde a e educação.
Idade Moderna existe o entendimento de que a
criança é um ser diferente do adulto,portadora No período seguinte, época moderna, a
de características específicas, psíquicas educação passa por transformações, novos
e comportamentais.Contudo, isso não é métodos educacionais são propostos.
uma característica natural, que sempre se E segundo Aranha (2006), João Amos
manifesta da mesma maneira, ao contrário, Comenius (1592-1670) se tornou o grande
existe entre o período infantil e o adulto uma educador da época, pois defendeu novas
concepção cultural e histórica, que determina práticas educativas além de uma educação
os papéis das crianças e dos adultos, sendo em total para todos, “ensinar tudo a todos”, para
virtude disso, necessário estudar a educação que todos possam atingir o ideal da pansofia.
infantil dentro dos contextos próprios e não
pela natureza da infância.

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Aranha (2006) afirma que o objetivo em alguns Estados da Confederação


central da educação de Comenius era formar Germânica, onde se instituiu a educação
o bom cristão, um homem moral, devendo obrigatória dos6aos 12 anos.
ser sábio nos pensamentos, dotado de
verdadeira fé em Deus e capaz de praticar No século XIX, influenciados pelas
ações virtuosas, estendendo-se a todos: os mudanças econômicas e sociais, surge uma
pobres, os portadores de deficiências, os nova concepção de educação com Pestalozzi,
ricos e às mulheres. Froebel, Montessori e Rousseau, como
afirma Aranha (2006). Para os pensadores,
Segundo Luzuriaga (1976), as concepções a pré-escola era encarada como uma forma
teóricas de Comenius apresentavam de superar a miséria, a pobreza, a negligência
consistência, mas sempre procuraram das famílias. Mas sua aplicação ocorreu
articular dois campos: do filosófico ao efetivamente no século XX, depois muitos
religioso, onde a educação para todos seria movimentos que indicavam o precário
possível através da organização e divulgação trabalho desenvolvido nesse nível de ensino,
do saber. Mas, nem o caráter inovador da prejudicando a escola elementar.
sua proposta pode garantir que elas fossem
postas em prática de uma maneira mais Pestalozzi 1746-1827, (Nova Escola
ampla, logicamente no contexto histórico 2008), traz seu pensamento como proposta
da época e também da trajetória de vida do na crença da bondade do ser humano,
autor. e na caridade praticada em torno das
classes menos favoráveis, ele entusiasma
Para Aranha (2006), é a partir do século XVI, empresários a construir creches para os
que surgiram as descobertas científicas, as filhos dos operários, pregou que a principais
quais provocaram o prolongamento da vida, funções para o desenvolvimento das crianças
ao menos da classe dominante. No mesmo são suas habilidades naturais e inatas,
século, surgem duas atitudes contraditórias dizia que a criança tem que ser educada
no que se refere à concepção de criança: em um ambiente o mais natural possível
uma a considerava ingênua, inocente e é colocando para fora o que tem dentro de
traduzida pela “paparicação” dos adultos; si, sendo assim favorável para construção
enquanto a outra a considerava imperfeita do desenvolvimento do caráter infantil.
e incompleta e é traduzida pela necessidade Discípulo de Pestalozzi, Froebel (1782-
do adulto moralizar a criança. 1852) foi considerado o primeiro educador
a apostar nos brinquedos, ele mostra a
De acordo com Aranha (1998), no século importância dos desenhos e das atividades
XVII a educação ainda não tinha conseguido que requeremos movimentos corporais.
se firmar de maneira universal e pública. Mas
algumas mudanças puderam ser observadas

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Revista Educar FCE - Março 2019

Em 1837, na Alemanha, Froebel cria o preconceito. Defensor de uma aprendizagem


jardim da infância tendo como base as ideias que deveria ocorrer por experiências, de forma
de Pestalozzi. Froebel era influenciado por diferenciada, ele enfatiza que a infância é uma
um ideal político de liberdade, quando ele traz fase que se pensa, se vê e se sente um mundo
esse espaço relacionado ao desenvolvimento de maneira própria. Segundo Rousseau a
da criança ele propõe condições que infância não era apenas uma preparação para
favoreçam esse desenvolvimento, e vida adulta, existia um valor, e para ele, seria
assim as crianças se tornavam livres nesse momento que a atitude do educador
para compreender a si própria, através de deveria de ser a mais natural possível.
ambientes diversificados com recursos
pedagógicos, elas poderiam se expressar de Com seu pensamento Rousseau teve um
diferentes maneiras com atividades ricas para papel importante na educação moderna,
construção do desenvolvimento, segundo ele era a favor de ensinar a criança a viver
Froebel o conhecimento chega através de para então trazer a ela uma aprendizagem
manuseios de objetos, e participação em que poderia levá-la ao exercer sua liberdade.
diversas atividades de livre expressão.Maria Como observa, o contexto socioeconômico
Montessori 1870-1952, (Nova Escola 2008), influenciou o início da Educação Infantil, que
é um dos grandes nomes, que aparece não possuía uma proposta concreta voltada
como construtores de ideias na educação para a instrução, ligava-se a tradição da
infantil, Montessori defendia que uma das educação informal familiar.
funções da educação era de certa forma
favorecer o progresso infantil de acordo com As mudanças econômicas, sociais e culturais
as necessidades de cada criança. Sua marca que ocorriam na Europa, no campo educacional
foi trazer materiais de uso pedagógico que repercutiram em alguns intelectuais brasileiros,
beneficiava o desenvolvimento da criança, que tentaram apresentar propostas para
foi ela a própria responsável pela diminuição imprimir novos rumos à educação brasileira.
do tamanho da mobília usada pelas crianças
na pré-escola, desenvolveu jogos e materiais Essa etapa da história em que a concepção
essências para uso educativo, com materiais de infância se construiu transformou
apropriados para estimular e desenvolver, a visão que se tinha das crianças. Os
colocando a criança diante de situações pequenos passaram a ter lugar de destaque
que poderiam colaborar para evolução de na sociedade, que passou a valorizar a
diversas funções psicológicas. infância. Essa valorização contribuiu para
o desenvolvimento do olhar pedagógico
Outro grande pensador foi Rousseau dentro da educação, preocupada com as
1712-1778, (Nova Escola 2008),que novas adaptações de métodos educacionais
colaborou para educação infantil criando uma que satisfizessem as novas demandas
proposta educacional contra autoritarismo e desencadeadas por estas transformações.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Aranha (1998), afirma que atualmente a concepção de que a criança é um ser com
características bem diferentes dos adultos, um ser particular e de direitos, tem gerado as
maiores mudanças na Educação Infantil. Essa nova concepção tem tornado o atendimento às
crianças de 0 a 5 anos ainda mais específico, exigindo do educador uma postura consciente
de como deve ser realizado o trabalho com as crianças pequenas, mostrando as suas
especificidades e as suas necessidades enquanto criança e enquanto cidadão.

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI 1998) traz a concepção
de infância como construída historicamente e a ideia de que atualmente não há apenas uma
maneira de se considerar a criança, pois há múltiplas diversidades de realidades sociais,
culturais, étnicas e etc. que podem interferir nessa noção de infância. Sabemos que existem
crianças que trabalham que são exploradas, que sofrem maus tratos e abusos, que não
possuem seus direitos garantidos.

As pesquisas feitas por (RCNEI-1998), relativas à infância apontam que ao propormos algo
às crianças devemos aproximar nosso ponto de vista ao delas. Não existe um método ideal
de relações entre adultos e crianças, porém devemos levar em consideração as diferentes
condições de vida de um grupo escolar e perceber a criança como sujeito de direitos e capaz
de criar seu próprio espaço.

A concepção de infância (RCNEI-1998), que temos nos dias atuais é uma visão construída
historicamente, em que é possível perceber o contraste existente entre a atualidade e
algumas décadas atrás. A criança passou a ocupar um local de destaque na sociedade muito
diferente da época em que sua presença era praticamente imperceptível. Nesta época na
sociedade medieval, as crianças eram inibidas de participar socialmente da vida comunitária
e eram tratadas como um pequeno adulto, passando despercebidas suas características e
peculiaridades.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com todas essas considerações, a avaliação
deverá ser realizada para observar, registrar, acompanhar e
interferir no processo de apropriação do conhecimento da
criança, e o professor deverão e acompanhar o grupo de
crianças e também cada criança individualmente. Pudera fazer
parte de um filme, mas longe disso a poderosa avaliação está
não é atriz, nem personagem, mas garantiu sua personificação
na realidade das salas de aula. Para muitos o sentido e a
função da avaliação é de salvadora e heroína por garantir ELÂINE LOPES
benefícios a quem abraça um instrumento que legitima poder. Professora de Educação Infantil na Rede
Para outros, o medo e o poder de palavras que os limitam da Prefeitura de SP. Artigo apresentado
fazem da avaliação uma vilã. Ao longo de séculos o sentido como requisito parcial para aprovação
da palavra avaliação, exame ou teste foi se modificando. do Trabalho de Conclusão do Curso de
Denominações como avaliação classificatória, verificação, Especialização.
avaliação tradicional, racional, responsiva, criterial, somativa,
formativa, mediadora e emancipatória são algumas das
que são utilizadas por autores que discorrem sobre o
tema. Perante algumas situações presenciadas ao longo de
quatro meses e meio em um estágio no magistério, algumas
questões surgiram tais como: Quais são as concepções que
professores e alunos tem sobre avaliação? Ela é uma forma
de legitimar o poder? A avaliação é considerada ainda em
pleno século XXI uma forma de punir, disciplinar, certificar e
excluir? Como quebrar este ciclo? Ao longo do estudo pode-
se observar que a concepção de avaliação presente na atmosfera escolar, e está vinculada a
classificação, seleção e punição se tornando uma forma de legitimar o poder e autoridade dos
professores. A punição está atrelada a avaliação e também a disciplina dos alunos. Podemos
concluir então que, a avaliação na Educação Infantil não é utilizada como instrumento de
retenção das crianças, mas ela é usada para observar constantemente de maneira crítica o
seu envolvimento e desenvolvimento nas atividades promovidas pelo educador no que diz
respeito às brincadeiras e as interações ocorridas no cotidiano, em seu processo de ensino
e aprendizagem. O olhar do professor sempre deve estar atento e voltado para o progresso
da criança.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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maio de 1984 p. 51-54.

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AQUINO, Júlio Groppa. A violência escolar e a crise da autoridade docente. São Paulo:
Caderno Cede ano XIX, nº 47, dezembro/1998.

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de 1971. BRASIL. Planalto. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394 de 20
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BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução


aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.

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Revista Educar FCE - Março 2019

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA:
UMA ABORDAGEM DA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DO
ENSINO FUNDAMENTAL I
RESUMO: Este trabalho visa fortalecer a pertinência e a divulgação das concepções
progressistas de educação valendo-se do conceito de mediação de Vygotsky da formulação
de uma prática que leve a aprendizagem significativa e da utilização da metodologia dialética
como norteadora dessas formulações. Para a elaboração deste estudo foi realizada uma
pesquisa bibliográfica, optando por alguns autores, dada a sua relevância, entre eles Libâneo
(1994), Vasconcelos (1994), Vygotsky e Kohl (2001), que puderam dar um embasamento
teórico em relação ao tema. A metodologia utilizada neste trabalho é a pesquisa qualitativa,
que enfatizou nosso problema de pesquisa, dando base de forma clara e precisa.

Palavras-Chave: Prática Pedagógica; Aprendizagem Significativa; Mediação.

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INTRODUÇÃO essência Liberal e Progressista. Dentro do


escopo geral do trabalho, o primeiro capítulo
A pesquisa apresentada pretende contribuir tem a incumbência de revelar aos leitores,
para que os professores reflitam sobre sua como vem sendo transformadas as práticas
prática pedagógica, entendendo o papel da pedagógicas em sala de aula, bem como, a
escola e relacionando-o ao contexto social colaboração e o avanço das pesquisas acerca
dos seus alunos. Ampliar o conhecimento das metodologias de ensino, buscando
dos professores sobre as diversas tendências garantir neste percurso o esclarecimento
educativas, bem como suas transformações da relação intrínseca entre sua prática e
em sala de aula. Importante para que os o objetivo final de seu trabalho enquanto
educadores façam uma leitura do contexto professor.
no qual estão inseridos e uma revisão das
interações, possibilitando que eles entendam O segundo capítulo tem como finalidade
os vários aspectos que estão relacionados ao uma reflexão sobre em que consistem as
processo de ensino-aprendizagem e o ato de condições ideais de aprendizagem, sobre o
ensinar, podendo dessa forma repensar o seu que o professor deve fazer concretamente
trabalho, rever suas práticas, se apropriar de para facilitar o processo de ensino-
procedimentos e referenciais. Conhecer as aprendizagem dos alunos, tornando a
tendências pedagógicas e refletir que sujeitos aprendizagem significativa.
desejam formar qualificando o ensino e
melhorando a aprendizagem permitindo a No terceiro capítulo utilizamos as
formação de indivíduos que possam interagir formulações teóricas, de Vygotsky, quanto
com as informações que estão ao seu redor. a mediação bem como elementos essências
para entender essa formulação (instrumentos
Dessa maneira é através de pesquisa e signos), fazemos uma reflexão sobre
documental que se pretende responder à a contribuição da metodologia dialética
seguinte questão: como a prática pedagógica dentro da prática pedagógica do professor,
do professor do Ensino Fundamental I pode apontando seus fatores benéficos para a
desencadear uma aprendizagem significativa. construção de um trabalho condizente às
necessidades dos educandos.
No primeiro capítulo a busca se encerra
em descrever aos leitores um relato histórico
sobre as tendências pedagógicas, suas A PRÁTICA PEDAGÓGICA AO
concepções e sua formação ideal de homem. LONGO DA HISTÓRIA
São abordadas as tendências; Tradicional,
Renovada, Tecnicista, Libertadora, Crítico- O ensino surgiu devido ao desenvolvimento
Social dos Conteúdos - subdivididas da sociedade, da produção e das ciências,
conforme citado no trecho acima de como uma atividade intencional, visando à

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Revista Educar FCE - Março 2019

instrução do indivíduo para o desenvolvimento cunho progressista – Pedagogia Libertadora


da sociedade. Desde muito tempo existem e Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos.
sinais de formas de instrução, por exemplo,
na Antiguidade Clássica (gregos e romanos)
desenvolviam formas de ação pedagógica TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
em mosteiros, igrejas e universidades. DE CUNHO LIBERAL
As mudanças nestas formas foram Nesse grupo encontramos as teorias que
ocorrendo quando a escola passa a se tornar segundo teóricos entendem a educação
uma instituição, o processo de ensino passa como um instrumento de equalização social,
a ser sistematizado. Os adultos começam com a finalidade de integrar seus membros
a intervir na atividade de aprendizagem, na sociedade, reforçar os laços sociais,
estabelecendo uma intenção pedagógica na promover a união, garantindo a integração
atividade de ensino, enquanto isso também de todos os indivíduos.
acontecia grandes mudanças nas formas
de produção, na ciência e na cultura. Dessa • Pedagogia Tradicional
maneira, Libâneo (1994, p. 59) afirma que: O entendimento de Libâneo (1994) acerca
dessa corrente caracteriza a educação a
“(...) ia crescendo também a necessidade de partir da influência de agentes externos
um ensino ligado às exigências do mundo da na formação do aluno. Dessa maneira
produção e dos negócios e, ao mesmo tempo, um a “aprendizagem” acontece através da
ensino que completasse o livre desenvolvimento transmissão do conhecimento, das grandes
das capacidades e interesses individuais”.
verdades acumuladas pela humanidade, o
processo de ensinar é centrado no professor
No decorrer da história da educação e do que expõe e interpreta as informações.
desenvolvimento das práticas pedagógicas,
vários pesquisadores influenciaram com O principal meio utilizado pelo professor
suas ideias as ações dos educadores, criando para ensinar é a palavra, este supõe que
princípios e métodos de ensino que atendiam ouvindo e fazendo exercícios repetitivos, os
às necessidades daquela determinada época. alunos “gravem” a informação para depois
reproduzi-la, seja através de perguntas
Nos últimos anos diversos estudos realizadas pelo professor ou por meio
foram dedicados à história da Didática no de avaliações. Para que o aluno consiga
Brasil e suas relações com as tendências memorizar o que foi exposto pelo professor
pedagógicas, assim os autores classificaram é importante que ele “preste atenção”,
essas tendências em dois grupos: as de cunho sendo ele um sujeito passivo que recebe
liberal – Pedagogia Tradicional, Pedagogia o conhecimento de maneira pronta e sua
Renovada e tecnicismo educacional; e as de tarefa é apenas de decorá-lo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

não é o professor nem a matéria, é o aluno


O objetivo desta Pedagogia é formar os
ativo e investigador. O professor incentiva,
alunos ideais, desligados da realidade que o orienta, organiza as situações de aprendizagem,
cercam, e o ensino é trabalhado desvinculado adequando-as às capacidades de características
dos interesses dos alunos e dos problemas individuais dos alunos”.
reais da sociedade.

• Pedagogia Renovada • Pedagogia Tecnicista


A Pedagogia Renovada surge no final do Da escola renovada não se pôde esperar
século XIX, agrupando correntes que se o que se desejava, pois esta resultou em
opõem à Pedagogia Tradicional. O movimento frustrações nas esperanças que depositaram
de renovação da educação, como afirma na reforma da escola. Dessa maneira surgiram
Libâneo (1994, p.62), se preocupou com a tentativas de desenvolver uma espécie
ideia de que: de “Escola Nova Popular”, focando agora
a preocupação dos métodos pedagógicos
“A escola não é uma preparação para a na eficiência instrumental, articulando–se
vida, é a própria vida (...)”. uma nova teoria educacional, surge assim, a
pedagogia tecnicista.
Nesta corrente se valoriza o aluno
como um sujeito dotado de liberdade, Essa pedagogia desenvolveu-se no Brasil
iniciativa e interesses próprios, sujeito da na década de 50, à sombra do progressivismo,
sua aprendizagem e agente do seu próprio e ganhou autonomia nos anos 60, para se
desenvolvimento. São respeitadas suas constituir especificamente como tendência.
capacidades e aptidões individuais, tendo Esta reestruturou o processo educativo,
a individualização do ensino segundo os tornando-o objetivo e operacional, sendo
ritmos próprios de aprendizagem. imposta às escolas pelos organismos oficiais,
por ser compatível com a economia, à política
O papel do professor é de colocar o aluno e ideologia do regime militar.
em condições favoráveis à realização do
processo de ensino-aprendizagem, partindo Na pedagogia tecnicista o elemento
das suas necessidades e estimulando os principal passou a ser a organização racional
seus interesses, para que ele possa buscar dos meios, do fazer. O professor e aluno
por si mesmo conhecimentos e experiências. passam a ocupar posição secundária, de
Segundo Libâneo (1994, p. 65): executores de um processo, sendo que esse
processo é planejado por especialistas. Nesta
“Trata-se de colocar o aluno em situações em corrente é o processo que define o que os
que seja mobilizada a sua atividade global e que professores e os alunos devem fazer, quando
se manifesta em atividade intelectual, atividade e como farão.
de criação, de expressão verbal, escrita, plástica
ou outro tipo. O centro da atividade escolar

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Revista Educar FCE - Março 2019

O objetivo dessa pedagogia é formar • Pedagogia Libertadora


indivíduos eficientes, capazes de Nesta concepção o papel do professor
contribuírem em uma parcela para o aumento é de orientar a aprendizagem dos alunos e a
da produtividade. Para que isso aconteça a atividade escolar é centrada na discussão de
didática que o professor trabalhava estava temas sociais e políticos. Libâneo (1994, p.
voltada para a racionalização do ensino, no 69) coloca que:
uso de meios e técnicas mais eficazes e boa
parte dos livros didáticos que eram usados “(...) poder-se-ia falar de um ensino centrado
nas escolas, eram elaborados com base na na realidade social, em que professor e alunos
tecnologia da instrução. analisam problemas e realidades do meio
socioeconômico e cultural, da comunidade local,
com seus recursos e necessidades, tendo em
Mas esta ideia acabou gerando um caos no
vista a ação coletiva frente a esses problemas e
campo educativo, causando descontinuidade,
realidades”.
heterogeneidade e fragmentação do trabalho
pedagógico.
O trabalho escolar é realizado através
do processo de participação ativa nas
TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS discussões e nas práticas sobre as questões da
DE CUNHO PROGRESSISTA realidade social imediata. Nestas discussões,
os relatos de experiências vividas pelos
Nesse segundo grupo, estão as teorias alunos, as pesquisas, os trabalhos em grupo,
que entendem a educação como um fazem com que surjam temas geradores que
instrumento de discriminação social. Estas podem ser sistematizados para a consolidação
teorias concebem a sociedade marcada pela do conhecimento. Dessa maneira, na visão
divisão de classes, que se relacionam à base desta concepção, o professor é entendido
da força, de condições de produção da vida como um coordenador das atividades que se
material. As tendências de cunho progressista organizam através da ação em parceria com
estavam interessadas em propostas voltadas os alunos.
para os interesses da maioria da população,
que foram adquiridos com maior solidez por • Pedagogia Crítico-Social dos
volta dos anos 80. Conteúdos
Esta segunda corrente se inspirou
Na tentativa de se formular propostas e no materialismo histórico dialético e se
desenvolver estudos no sentido de se tornar constituiu como movimento pedagógico
possível uma escola que atendesse aos voltado para a educação popular, para
interesses concretos do povo, destacam-se a a valorização da escola pública e para o
Pedagogia Libertadora e a Pedagogia Crítico- trabalho do professor com a preocupação de
Social dos Conteúdos. um ensino de qualidade para o povo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Para a Pedagogia Crítico-Social dos conhecimento dos conteúdos científicos,


Conteúdos, deveria haver uma difusão dos dos métodos de estudo, habilidades e
conhecimentos a todos, para que houvesse hábitos de raciocínio científico, para que
participação efetiva do povo nas lutas sociais. eles formem uma consciência crítica diante
Libâneo (1994, p. 70) afirma que esta corrente: das realidades sociais e capacitando-os a
assumirem a condição de agentes ativos de
“Não considera suficiente colocar como conteúdo transformação perante as lutas sociais.
escolar à problemática social cotidiana, pois
somente com o domínio dos conhecimentos, Partindo dos pontos levantados e
habilidades e capacidades mentais podem os considerando que a sala de aula é um dos
alunos organizar, interpretar e relaborar as suas
espaços em que o aluno vai aprender a
experiências de vida em função dos interesses
elaborar e expressar melhor suas ideias e a
de classe”.
re-significar suas concepções, é essencial
que o professor pense em suas práticas
É dada grande importância ao processo pedagógicas, a partir do contexto social que
de ensino, entendendo as ações de ensinar e ele e seus alunos estão inseridos, que tipo de
aprender como uma unidade desse processo, sujeito ele deseja formar, para a partir destes
mas cada uma possuindo seus pontos pontos o professor pensar e organizar suas
específicos. A preocupação desta pedagogia ações, uma metodologia mais viável, para
é com a direção do processo de ensinar, este que atinja os objetivos estabelecidos em
deve ter em vista finalidades sócio-políticas relação à formação de seus alunos.
e pedagógicas, promovendo a auto-atividade
dos alunos e a aprendizagem. Libâneo (1994, Diante das constatações e reflexões
p. 70) ainda completa que o ensino desta trazidas no primeiro capítulo apontamos
tendência tem: para a seguinte conclusão, com efeito,
as tendências pedagógicas de cunho
“(...) a tarefa de proporcionar aos alunos o progressista se aliadas geram um constructo
desenvolvimento de suas capacidades e educativo capaz de abarcar as questões
habilidades intelectuais, mediante a transmissão mais relevantes diante da realidade social de
e assimilação ativa dos conteúdos escolares grande parte dos nossos alunos.
articulando, no mesmo processo, a aquisição

de noções sistematizadas e as qualidades
Após nossas constatações, levantamos os
individuais dos alunos que lhe possibilitam a
seguintes aspectos como fundamentais:
auto-atividade e a busca independente e criativa
das noções”.
• A ênfase nas discussões em grupo a
respeito das questões sociais;
Para o ensino e para instrução é atribuído • As pesquisas feitas pelos alunos geram
o papel de proporcionar aos alunos o temas, que por sua proximidade real facilitam

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Revista Educar FCE - Março 2019

a sistematização de novos saberes e com o afinal o conteúdo foi insignificante para ele
desenvolvimento de um raciocínio lógico, naquela ocasião, e não irá perceber como
é preciso que se evidencie neste processo, o que aprendeu poderá ser conduzido para
para os alunos, que é nesta experiência que o passo seguinte. Dessa maneira o ideal
de fato surge e se consolida o conhecimento. é que o professor apresente o plano geral
do conteúdo para depois passar às partes
específicas.
CONTRIBUIÇÃO DO
PROFESSOR PARA É fundamental que o educador conheça,
domine o assunto que irá trabalhar e as
TORNAR SIGNIFICATIVA A capacidades de seus alunos, podendo assim
APRENDIZAGEM DE SEUS realizar um trabalho que seja compreensível
ALUNOS para eles.

Como já foi esclarecido anteriormente, Para que o conteúdo não deixe os
para que um conteúdo seja significativo ele alunos “entediados” com repetições, o
deve se relacionar ou estar associado com ideal é que o professor saiba o que estes já
alguma coisa já conhecida, que tenha sentido aprenderam e quais são os seus interesses.
para o aprendiz. Outra maneira de se trabalhar o conteúdo
é através da descoberta, pois permite que
O autor Kuethe (1978, p. 86) afirma que: os mesmos testem diferentes hipóteses,
mas mesmo deixando os alunos livres
“Quanto maior for o número de associações que para experimentarem suas tentativas,
um dado conteúdo suscitar, mais significativo é fundamental a presença do educador
será (...)”. orientando e direcionando o trabalho deles.
Kuethe (1978, p. 89) completa que:
Sendo assim, como o professor pode tornar
a aprendizagem de seus alunos significativa, “(...) se alguma coisa a ser aprendida é significativa
desencadeando, consequentemente, um em função do que já foi aprendido, o aluno
ensino de qualidade? assimilará com facilidade o novo conteúdo”.

Em primeiro lugar é importante que o Quando o aluno adquiriu uma estrutura
professor tenha em mente que sua tarefa é intelectual poderá aprender conteúdos
fazer com que o conteúdo a ser trabalhado compatíveis rapidamente, assim, uma das
seja significativo para o aluno e que este principais tarefas do professor é de tornar
não deve ser trabalhado em partes isoladas, o conteúdo significativo para o aluno,
pois o aluno não irá conseguir recordar o possibilitando que este relacione o novo com
que aprendeu em um passado distante, o já aprendido, dessa maneira, para que isto

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Revista Educar FCE - Março 2019

aconteça é essencial uma metodologia, uma Para iniciarmos nossas reflexões trazemos
ação educativa que crie essas condições. a definição de mediação encontrada no
dicionário Michaelis (online):
O professor tem objetivos a alcançar com
sua prática educativa e sendo eles quais “me.di.a.ção
forem, as metas não serão alcançadas se sf (lat mediatione) 1 Ato ou efeito de mediar.
não houver algum método ou processo 2 Intercessão. 3 Astr Instante de culminação
que permita que os alunos caminhem em de um astro. 4 A divisão de cada versículo de
um salmo em duas partes, que é marcada com
direção a estas. A palavra método quer dizer
inflexão da voz, quando o ofício é cantado. 5
o caminho para se chegar a um determinado
Dir Contrato especial pelo qual uma pessoa,
lugar; ou seja, método é o caminho para
mediante remuneração, se incumbe de empregar
se alcançar os objetivos estipulados pelo
o seu trabalho ou diligência para obter que duas
planejamento de ensino. ou mais pessoas, interessadas num determinado
negócio, se aproximem com o fim de o realizar. 6
É importante que o professor tenha clareza Dir Interferência de uma ou mais potências, junto
que sua prática educativa deve considerar a de outras dissidentes, com o objetivo de dirimir
realidade de seu aluno, de relacioná-lo ao pacificamente a questão ocorrente, propondo,
contexto social, permitindo que desde cedo encaminhando, regularizando ou concluindo
ele participe da construção de seu próprio quaisquer negociações nesse sentido.”
conhecimento, contribuindo assim para que
ele se desenvolva gradativamente à medida Desta definição podemos destacar os
que reconhece a utilidade em se conhecer seguintes pontos, a começar pela de número
determinados conhecimentos, com base em 2: Intercessão, necessariamente implica
suas próprias necessidades; sua função deve em uma ação (encontrada também no que
ser de mediador da aprendizagem, criando se refere ao sentido de mediar, ficar entre
situações e condições ótimas para que seus dois pontos); do quinto ponto destacamos
alunos produzam uma interação construtiva o trabalho de conjunção entre pessoas
com o objeto de conhecimento. buscando sua aproximação e a realização de
algo; do sexto ponto destacamos que esta
interferência pode se dar em uma ou mais
MEDIAÇÃO E DIALÉTICA potências e suas possibilidades de propor,
encaminhar e concluir objetivos.
Aqui damos início à discussão que é a
Mediação, na qual buscaremos traçar a Transpondo esses aspectos evidenciados
importância do entendimento deste conceito para o campo da educação, podemos dizer
diante da construção de um trabalho que, essa intercessão implicativa de uma
significativo aos alunos e ao professor. ação, nos aponta a ideia de que o trabalho
do professor jamais está livre de intenções,

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Revista Educar FCE - Março 2019

já que é uma de suas funções, planejar educativo, possibilita a nós estudantes,


atividades, ações como meio para se atingir professores e leigos, um clareamento de sua
uma meta. complexa relação quanto ao que se refere às
contribuições de todo corpo teórico do qual
Já o trabalho de conjunção entre pessoas faz parte.
buscando obter a realização de um fim, mais
ligado ao trabalho do advogado, frente a Adentrando no campo educativo,
um acordo entre partes, pode-se transpor podemos nos utilizar da definição, mais geral,
para a necessidade de o professor trazer de Mediação exposta por Kohl (2001, p. 26):
ao ambiente educativo uma harmonia, não
no sentido de homogeneizar as buscas “Mediação, em termos genéricos, é o processo
pessoais, ou mesmo o entendimento de de intervenção de um elemento intermediário
um determinado tema, mas no sentido de numa relação; a relação deixa, então, de ser
apontar as diferenças existentes como ponto direta e passa a ser mediada por esse elemento.”

de partida para uma vivência mais crítica,


para que todos cresçam observando que a Podemos dizer então que esse processo de
diversidade nos possibilita o levantamento intervenção de um elemento intermediário
de inúmeros aspectos de uma determinada numa relação, pode se referir tanto ao
temática. material (concreto, no sentido de palpável)
trazido ou formulado pelo professor para
Quanto às possibilidades de propor, facilitar a compreensão de um determinado
encaminhar e concluir objetivos refere-se tema (exemplo: o livro) quanto à fala do
também ao trabalho realizado anterior à sua professor em aula, que pode suscitar algum
entrada em sala, já que é imprescindível ao tipo de representação mental geradora
professor a sensibilidade de construir um de um elo a mais entre o seu aluno e o
trabalho no qual possa se pautar em diferentes conhecimento. Diante disto então a relação
formas para se atingir um mesmo resultado, antes direta passa a ser mediada.
já que é sabido que o conhecimento não se
dá em nenhuma igualdade, seja ela de ritmo Para nos ajudar a compreender traremos
ou de tempo, portanto, se faz necessário trecho citado por Kohl (2001), no qual escreve
uma compreensão íntima da realidade vivida brilhantemente sobre uma das pesquisas de
naquela comunidade, pois criar diferentes Vygotsky:
acessos não garante a excelência do ensino.
“Vygotsky trabalha, então, com a noção de
que a relação do homem com o mundo não é
Podemos ver que o conceito de uma relação direta, mas, fundamentalmente,
mediação antes mesmo de adentrar em uma relação mediada. As funções psicológicas
superiores apresentam uma estrutura tal
suas considerações de cunho estritamente
que entre o homem e o mundo real existem

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Revista Educar FCE - Março 2019

mediadores, ferramentas auxiliares da atividade


humana. Vygotsky distinguiu dois tipos de
Juntamente com seus colaboradores
elementos mediadores: os instrumentos e os
Vygotsky fez diversos experimentos, com
signos...” (p. 27) relação a percepção e a ação motora, na qual
foi detectada grande modificação na reação
dos indivíduos pesquisados, com a mediação
Para o trabalho do professor podemos de signos:
observar que o instrumento, pode-se
compreender, sendo um elemento que “Numa primeira fase do experimento havia um
“reside” entre o aluno e o conhecimento, conjunto de figuras e a cada figura correspondia
se faz importante salientar que este uma tecla de um teclado. Quando uma figura
instrumento, podemos usar o lápis como era mostrada à criança, a tecla correspondente
deveria ser pressionada. As crianças tinham
exemplo, existe para um objetivo, que no
dificuldade de decidir rapidamente que tecla
caso seria escrever, ou seja, ele representa
apertar vacilando em seus movimentos, indo
a função para a qual foi criado, sendo uma
e vindo entre as várias teclas, até escolher
conexão entre o indivíduo e o mundo.
a que devia ser pressionada. Numa segunda
fase do experimento os pesquisadores
Segundo Kohl (2001, p. 30): introduziram marcas identificadoras nas
teclas que auxiliavam a sua correspondência
“São inúmeras as formas de utilizar signos como com as figuras. A introdução dessas marcas
instrumentos que auxiliam no desempenho modificou radicalmente o desempenho das
de atividades psicológicas. Fazer uma lista de crianças. Em vez de vacilarem entre as teclas,
compras por escrito, utilizar um mapa para fazendo movimentos desordenados, as crianças
encontrar determinado local, fazer um diagrama passaram a focalizar sua atenção nas marcas, e
para orientar a construção de um objeto, dar um selecionar a tela apropriada a partir da relação
nó no lenço para não esquecer um compromisso estabelecida entre a figura mostrada e o signo
são apenas exemplos de como constantemente que a representava.” (Kohl 2001, p. 31)
recorremos à medição de vários tipos de signos
para melhorar as nossas possibilidades de
armazenamento de informações e de controle Diante das constatações apontadas
da ação psicológica. “ nesta pesquisa podemos dizer que, a
utilização de signos e instrumentos
facilitam a compreensão e a formulação de
Os signos são chamados por Vygotsky conhecimentos, fica evidente então que no
de instrumentos psicológicos, pois auxiliam planejamento de seu trabalho o professor
no controle das ações psicológicas, e não deve se valer do uso dessas ferramentas.
concretas, ou seja, o signo é uma marca
externa ao indivíduo que regulamenta Dessa forma, a partir dos aspectos
processos internos na complementação de apresentadas no presente trabalho,
tarefas que exigem memória ou atenção. consideramos como fundamental que o

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Revista Educar FCE - Março 2019

professor preocupado com sua prática, faça uso das contribuições da metodologia dialética
para assim construir uma aprendizagem significativa.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não se pode mais admitir a concepção de que o professor
é um transmissor de conhecimento e o aluno é um mero
agente passivo. Essa ideia não se encaixa com a sociedade
atual em que vivemos em que há receptores que devem ser
sujeitos sociais que interagem com as mídias e com as outras
informações e conhecimentos de seu cotidiano.

Dessa maneira, as escolas devem se preocupar com a


formação que irão dar a seus alunos, possibilitando que
eles se transformem em sujeitos participativos, reflexivos,
críticos, podendo analisar as diferenças que estão ao seu ELIZETE C. BENTO
redor. O educador deve ter consciência reflexiva sobre o
Graduação em Pedagogia pela Faculdade
que faz e por que faz, contando com referencias que possam de Ciências Humanas, saúde e Educação
guiar fundamentar suas ações, possibilitando que haja uma de Guarulhos (2002); Professora de
reforma no ensino. Ele deve estar sempre se questionando, Educação Infantil e Ensino Fund. I - EMEI
procurando transformar sua prática educativa numa ação de Professora Leila Maria Fontelles Farias.
qualidade.

Para maiores esclarecimentos sobre este tema, foram


pesquisados alguns autores que deram embasamentos
teóricos sobre o assunto.

LIBÂNEO (1994), afirma que a escolha metodológica


é responsabilidade do professor. O autor considera que
a escola é uma das peças fundamentais na formação dos
indivíduos, é responsável em integrar o sujeito na sociedade,
em desenvolver suas capacidades, assim é grande a
responsabilidade dos educadores, cabendo-lhes a escolha
sobre qual concepção de vida deve ser trazida para a sala de
aula e quais métodos e conteúdos devem ser trabalhados,
os que valorizam e memorização ou os que proporcionam
o domínio dos conhecimentos e a capacidade de reflexão,
crítica e criatividade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O estudioso ressalta que é importante que os educadores façam uma leitura do contexto
no qual estão inseridos para escolherem que prática pedagógica e desenvolve-la em sala de
aula.

VASCONCELOS (1994) acredita que o educador deve romper com a metodologia


tradicional. Em sua obra traz aspectos da metodologia dialética, mostrando para o leitor o
tipo de formação que ela proporcionará.

Ele explica que na metodologia tradicional, o professor é considerado um transmissor,


pois passa para o aluno, através da verbalização o conteúdo, e o aluno recebe como um
mero agente passivo. O autor afirma que neste tipo de metodologia, a atividade que os
alunos desenvolvem é mecânica, desprovida de sentido para eles, pois a realidade deles não
é trabalhada, dessa maneira, o grande problema do educador utilizar essa prática educativa,
é o alto risco do aluno não aprender devido ao baixo nível de interação entre sujeito – objeto
de conhecimento – realidade, contribuindo para a formação de um indivíduo passivo e não
crítico. Ele ressalta que o único trabalho do aluno é memorizar para depois repetir quando
for solicitado.

Na Metodologia Dialética, segundo o autor, a concepção de aluno que se tem é de um


ser ativo e de relações, ressaltando que o conhecimento deve ser construído pelo sujeito a
partir de suas relações com os outros e com o mundo.

O professor é entendido como um mediador, ele irá acompanhar o aluno na relação sujeito
– objeto de conhecimento – realidade, ele irá criar situações para que os alunos sintam
a necessidade de pensar, de refletir e reelaborar, construindo dessa forma o seu próprio
conhecimento. Vasconcelos (1994) ressalta que o que o aluno traz de conhecimento não
deve ser ignorado, pois o novo vai ser construído a partir do já existente. Ao fazer o aluno
pensar, o professor estará fornecendo a sua autonomia, preparando-o para atuar de forma
criativa, crítica e reflexiva.

Vygotsky foi outro autor pesquisado, pois a sua contribuição em relação ao aprendizado
e desenvolvimento do sujeito é de grande importância para o tema proposto.

KOHL (2001), em seus estudos afirma que Vygotsky defende que o homem se transforma
de ser biológico em sócio - histórico, num processo em que a cultura é parte importante,
pois as funções psicológicas irão se desenvolver a partir da interação do indivíduo com o
meio físico e social em que vive.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O estudioso afirma que o indivíduo aprende desde o nascimento e que a aprendizagem


tem relação com o desenvolvimento, modificando os mecanismos biológicos do sujeito.
Ele entende aprendizagem como um processo pelo qual o sujeito irá adquirir informações,
habilidades, atitudes, a partir do seu contato com o meio externo.

As funções psicológicas são apoiadas de um lado nas características biológicas e por outro
lado, construídas ao longo da história do sujeito, isto é, os processos mentais inferiores como,
por exemplo, de recordação, assimilação, que já são do desenvolvimento natural do indivíduo,
a partir de vivências, experiências, do contato com o meio social, o sujeito irá internalizar
os conceitos, significados, superando estas funções elementares e transformando-as em
funções psicológicas superiores, possibilitando que agora o indivíduo compare, intérprete,
julgue, levante hipóteses, critique.

Assim, é importante que se dê a oportunidade do aluno pensar sobre os fatos que estão
sendo trabalhados, pois participando da construção do seu pensamento, ele estará se
desenvolvendo intelectualmente, adquirindo autonomia, responsabilidade e criticidade.

Diante das formulações apontadas, questionamos como podem ainda existir professores
que não consideram o contexto social que seus alunos estão inseridos e que valorizam
atividades mecânicas. Até que ponto os cursos de formação inicial têm oferecido repertório
básico para os novos professores atuarem de uma forma diferente, será o professor o único
culpado? Onde estão os coordenadores, orientadores que não estão acompanhando o
trabalho do educador, que não estão desenvolvendo projetos de formação continuada, a
qual ultimamente se faz tão necessária.

Se já na década de 90, os autores realizavam estudos em torno do processo de ensino-
aprendizagem dos alunos e sobre a prática pedagógica do professor, apontando o que o uso
de um e de outro método proporcionava, e que era necessário se romper com a metodologia
tradicional, e por que ainda hoje, com a globalização, a comunicação de massa e com a
mundialização das informações, que requer a formação de sujeitos críticos, reflexivos,
que interpretem o contexto que estão vivendo e que interajam neste, ainda encontramos
educadores que contribuem para a formação de indivíduos passivos, que concordam com o
que lhe são apresentados.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
KOHL, Marta de Oliveira. Vygotsky- Aprendizado e Desenvolvimento- Um processo sócio-
histórico. 4.ed. São Paulo: Scipione, 2001.

KUETHE, James L. O processo ensino – aprendizagem. 3.ed. Porto Alegre: Globo, 1978.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática- Coleção Magistério 2º grau. Série formação do professor.
São Paulo: Cortez,1994.

VASCONCELOS, C. dos S. Construção do Conhecimento em Sala de Aula. São Paulo:


Libertad, 1994.

http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra=mediação

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Revista Educar FCE - Março 2019

PRÁTICAS LÚDICAS DE APRENDIZAGEM


NO CONTEXTO ESCOLAR
RESUMO: Este artigo trata das práticas lúdicas de aprendizagem no contexto de
aprendizagem escolar e aborda os principais conceitos sobre o tema. O objetivo deste artigo
é apresentar de que maneira as práticas lúdicas favorecem a aprendizagem significativa na
escola em todas as suas etapas e modalidades. A Ludicidade no contexto educacional é
vivenciada em todas as práticas e aprendizagens, não há separação entre o momento do
brincar e de aprender, o lúdico permeia todas as ações e a aprendizagem se estabelece
com a brincadeira. Desta maneira, o lúdico promove o respeito as características individuais
e a manifestação espontânea das crianças. O lúdico é um facilitador da aprendizagem e
auxiliar no desenvolvimento da criança, quando brinca, a criança estabelece relações nos
mais variados contextos, imagina, cria e confronta situações reais com situações imaginárias,
produzindo cultura e conhecimento, desenvolvendo suas capacidades e suas habilidades.

Palavras-Chave: Jogos e Brincadeiras; Lúdico; Aprendizagem; Práticas Escolares.

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INTRODUÇÃO modo livre, sem perder de vista a necessidade


de se apresentarem situações que levam ao
Os jogos e brincadeiras constituem- aprendizado de novas regras de leitura e
se como indispensáveis no processo de escrita, elaboradas pela própria criança.
aprendizagem, durante o jogo, a criança é
instigada a tomar decisões, fazer escolhas e Nas práticas escolares da Educação
resolver conflitos, desta maneira cria novas Infantil, o lúdico permeia todas as ações, nos
possibilidades e assume diferentes papeis, momentos destinados somente ao brincar e
além disso, proporcionam a imaginação às nos momentos destinados a aprendizagens
crianças na qual elas são capazes de criar com propósitos diferenciados, em todos estes
situações e lidar com dificuldades e medos, momentos a ludicidade está contextualizada
reproduzindo situações que refletem o meio nas práticas.
em que vivem.
Na educação para a infância, deve-se
Para o desenvolvimento do trabalho com garantir que a criança vivencie todas as
o lúdico na educação é necessário que o situações possíveis de aprendizagem lúdica,
professor tenha objetivos claros em relação de movimento corporal, de brincadeiras de
as atividades propostas e quanto ao que se faz de conta, rodas de história, permitindo
pretende alcançar com as suas intervenções. que a criança crie e imagina e desenvolva sua
Neste sentido, as formas de avaliação, criatividade, percebendo-se como produtora
o diálogo e a didática que está sendo de cultura e ser que integra o meio social no
proposta para o trabalho com os conteúdos qual está inserida.
matemáticos é extremamente importante
para o sucesso na aprendizagem e para a
construção de conhecimentos. A APRENDIZAGEM LÚDICA
NAS DIFERENTES PRÁTICAS
O lúdico nas práticas escolares
proporciona uma aprendizagem significativa, ESCOLARES
além de entreter e divertir, a criança
aprende brincando e experimentando novas Segundo as Diretrizes Curriculares
ideias e novas ações nos fazeres cotidianos Nacionais para a Educação Infantil (2010),
da escola, desenvolvendo diferentes a proposta pedagógica das escolas deve
habilidades e competências essenciais para atender a sua função pedagógica, para
a aprendizagem. tanto deve oferecer condições para o
exercício de direitos pelas crianças; assumir
O trabalho do professor consiste em a responsabilidade de cuidar e educar;
propor atividades que permitam à criança possibilitar que as crianças convivam com
manifestar-se por escrito e oralmente de os adultos ampliando os seus saberes;

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Revista Educar FCE - Março 2019

impõe e há um acordo – mesmo que não dito em


oportunizando experiências para todas as voz alta – no grupo que brinca junto sobre como
crianças e acesso aos bens culturais. os personagens se comportam: “professora faz
assim”, “cinderela faz assim”, “mãe com bebê
As instituições escolares têm um grande faz assim” e as regras precisam ser respeitadas
desafio: planejar e materializar um currículo como condição para que a brincadeira aconteça.
cujas práticas pedagógicas contribuam Assim, as crianças aprendem a seguir regras e
para que cada indivíduo possa desenvolver combindados por prazer. Também aprendem
potencialmente sua inteligência cognitiva, a conviver com outras crianças: aprendem que
emocional e social, dessa forma, são urgentes as outras também tem ideias e propostas, e vão
as discussões, debates, reflexões que aprendendo a respeitá-las. (SÃO PAULO, 2019,
fomentem a materialização de um currículo p. 87)
integrado que escuta, respeita e acolhe as
vozes das crianças. Quando utilizamos o jogo com uma proposta
didática ele tem um propósito diferenciado
A palavra lúdico é apresentada em da brincadeira livre e espontânea, com o jogo
diversas culturas como algo que se liga ao temos que seguir as regras e as orientações,
jogo, brinquedo, a diversão, contudo, sua o tempo programado, a ordem das ações a
definição é transcendental. São notórias serem desenvolvidas, etc., já na brincadeira,
as relações entre o jogo e arte presentes a criança é livre para dar significado as suas
em nosso cotidiano e aprofundados na ações e conduzir o brincar da forma que lhe
necessidade de comunicação. convier, baseada no contexto no qual está
inserida aquela ação de brincar e quais as
Na criação cultural o espaço lúdico abre relações que ela estabelece naquele instante.
espaço para possibilidades de criação,
diálogo, interatividade com o objeto e com Os jogos e brincadeiras são importantes
outros indivíduos, não se limitando apenas ferramentas no processo de desenvolvimento
aos aspectos técnicos, complicados, porém, e de aprendizagem das crianças, quando
simples e profundo. Na busca por uma representam situações observadas no
arte denominada conhecimento outrora cotidiano, criando situações imaginárias
atividade com significado é essencial que confrontada com o real e desenvolvendo
sua fundamentação seja embasada na práxis, suas capacidades e habilidades. Além de
no momento vivido, interligado o eu-outro, proporcionar uma aprendizagem significativa
fantasia e realidade. as brincadeiras e os jogos, promovem um
ambiente lúdico atraente para as crianças,
De um modo geral, as regras dos jogos são contribuindo para o desenvolvimento de
impostas às crianças: antes de iniciar-se o jogo, habilidades e competências.
as regras são avisadas. No caso da brincadeira
de papéis, esse movimento é diferente: a criança
precisa seguir as regras que o papel adotado

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Revista Educar FCE - Março 2019

e os significados culturais do meio em que


Com base nas ideias de Piaget (1978), o vivem. Nesse sentido, brincar é uma experiência
mais importante na estrutura de jogo são as por meio da qual os valores, os conhecimentos,
regras que devem ser respeitadas por todos as habilidades e as formas de participação
os envolvidos e com a aprovação de todos, social são constituídos com a ação coletiva das
podendo sofrer alterações de acordo com a crianças. (SÃO PAULO, 2019, p. 88)
necessidade dos envolvidos no jogo. No jogo
de regras, a criança passa a pensar no aspecto De acordo com Macedo (2005) o lúdico,
coletivo e social, pois deve adequar-se àquele em sua perspectiva simbólica, significa que
conjunto de regras ali estabelecidas. Neste as atividades são modificadas e históricas,
tipo de jogo, o individualismo é abandonado, uma relação entre a pessoa que faz e aquilo
pois caso as regras não sejam cumpridas, o que é feito ou pensado é uma forma de
jogo perde o seu sentido e a sua finalidade. projeção de desejos, sentimentos e valores,
que expressam possibilidades cognitivas ou
O currículo integrador é baseado no modos de incorporar o mundo e a cultura
pressuposto de que a aprendizagem e que vive.
desenvolvimento ocorrem ao longo da
vida e concebe bebês e crianças com Os jogos de faz de conta são aquelas
potencialidades que se ampliam à proporção brincadeiras nas quais as crianças assumem
que estabelecem relações e interações com o papeis e fingem que uma ação ou um objeto
mundo que as cercam, nesse sentido, a escola tem um significado diferente daquele que lhe
deve considerar esses sujeitos de forma é dado de forma habitual. Neste contexto de
integrada, propondo experiências e vivências brincadeiras, as crianças reproduzem gestos
desafiadoras, relevantes e contextualizadas e falas de seu cotidiano e de seu convívio
que vão ampliando as possibilidades de social e escolar, além desta reprodução, as
aprendizagem e desenvolvimento levando crianças criam as suas próprias histórias
em consideração as especificidades da e roteiros com a imaginação e realidade,
infância como um momento único, dessa misturando os diferentes contextos e
forma, as brincadeiras, as interações e os assumindo diferentes enredos nas interações
projetos realizados levando em consideração com as outras crianças.
a escuta das manifestações infantis é o
alicerce. Os jogos de construção são aquelas
brincadeiras em que a criança constrói ou cria
No brincar, as crianças expressam e alguma coisa a partir de diferentes materiais,
comunicam suas experiências, reelaboram-nas, segundo Kishimoto (2002) estes jogos tem
reconhecendo-se como sujeitos pertencentes uma estreita relação com as brincadeiras de
a determinado grupo social e a um contexto faz de conta, com eles as crianças constroem
cultural. Por meio das brincadeiras, aprendem
cenários para os seus jogos simbólicos.
sobre si mesmas, sobre os homens e as mulheres
e as suas relações com o mundo, sobre os objetos

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Revista Educar FCE - Março 2019

Com base nas ideias de Sommerhalder criança tenha a oportunidade de desfrutar


(2011) podemos afirmar que a abordagem de tais aprendizagens.
construtivista considera o brincar um
elemento fundamental para o processo de De acordo com Grando (2000) a atividade
desenvolvimento e aprendizagem da criança, de jogo, no contexto do processo ensino e
dado que esse seria uma forma da criança aprendizagem da Matemática, é apresentada
resolver problemas e situações problemas ao aluno como uma ação real e séria, que
que surgem a partir de sua interação com o envolve compromisso e responsabilidade.
meio. Com isso, o jogo é valorizado no espaço Os jogos fazem parte do contexto social
educativo da criança na educação infantil. e cultural dos alunos e, neste sentido,
evidencia-se a necessidade de respeitar e
A criança brinca de faz de conta a partir das valorizar os jogos já de conhecimento do
relações sociais que ela conhece: brinca de aluno, sejam os tradicionais, seja os que vão
casinha tematizando as relações e os papeis sendo culturalmente criados, desta forma,
sociais na família/responsáveis, brinca de escola, o professor deve atentar-se para aqueles
de cabeleireira. Quando a(o) professora (or)
conhecimentos que os alunos apresentam a
amplia o conhecimento das atividades humanas
ele e trazem para o contexto da sala de aula.
pelas crianças, amplia os temas das brincadeiras
depois de conhecer uma oficina mecânica, as
Segundo Almeida (1998) a brincadeira
pessoas e suas atividades, as crianças terão
um tema novo para suas brincadeiras, depois
além de contribuir e influenciar na formação
de observar as atividades numa loja, num da criança integra-se ao mais alto espírito
supermercado, numa frutaria (o que fazem os de uma prática democrática pois investe em
funcionários, os clientes, o dono), as crianças uma produção séria do conhecimento, sua
podem tematizar essas atividades. (SÃO PAULO, prática promove a interação social, tendo em
2019, p. 87) vista o forte compromisso de transformação
e modificação do meio.
Na Educação Infantil as ações são permeadas
pelo contexto lúdico de aprendizagem, com Com base nos estudos das diferentes áreas
a construção de práticas que possibilitem a como Sociologia, Psicologia e Linguística
criança aprender por meio do lúdico e das temos que o brincar revela a maior parte das
interações que estabelecem com os demais expressões na infância, com a brincadeira, o
em seu contexto social e escolar. Os jogos sujeito é capaz criar culturas e aprendizados
e brincadeiras auxiliam no processo de significantes. Na brincadeira, a troca de
desenvolvimento da criança e contribuem experiências entre os pares oportuniza
para uma aprendizagem significativa, tanto uma gama de recursos para ampliar os seus
nos momentos de brincadeira dirigida como pensamentos, seja com as outras crianças ou
nos momentos do brincar livre e o professor com os adultos que realizam as intervenções
deve estar atento em contribuir para que a durante o ato de brincar. Com a brincadeira

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Revista Educar FCE - Março 2019

É preciso oportunizar que todas as crianças


de faz de conta, a criança ensaia diferentes participem da experiência lúdica e, se preciso for,
papeis e representa situações vivenciadas mudar a rotina, de modo a propiciar a participação
em seu meio cultural, ampliando a sua e inclusão de todos. As (os) professoras
capacidade de imaginar, criar e reinventar (es) têm ainda a tarefa de fazer tentativas e
histórias. gradativamente ir oferecendo experiências
que as crianças gostem; possibilitar que as
Para efetivação do desenvolvimento crianças possam escolher vivências (oferecendo
no sentido global é fundamental práticas possibilidades de escolha); encorajar, sempre
inovadoras, políticas desenvolvimento que possível, que as próprias crianças convidem
democráticas no ponto de vista da Arte as que não se sentem incluídas a participar das
mais próxima do povo; é necessário brincadeiras. (SÃO PAULO, 2019, p. 93)
constituir um sujeito que consiga perceber
o desenvolvimento e a Arte como meio de Segundo as Orientações Curriculares
novas possibilidades de aprendizagem com (2007) todas as formas de brincadeira
sentido e significado para sua vida e das aprendidas pelas crianças são enriquecidas
gerações futuras. com o trabalho feito no conjunto das
experiências por elas vividas nas outras
Segundo Santos (2006) a aprendizagem, dimensões, como: a linguagem verbal e
quando é significativa para o aprendiz, possui a contagem de histórias, a dimensão das
um grande valor e o trabalho com as artes linguagens artísticas e também dos saberes
plásticas, baseado nos aspectos lúdicos, cria que a criança vai construindo no momento
sentido e significado para o aprendizado, pois em que pensa o mundo social e o da natureza,
conforme o autor, os jogos estão centrados e a dimensão do conhecimento de medidas,
na mesma busca do novo, do simbolizar, do proporções, quantidades.
imaginar e do criar.
De acordo com as orientações do Currículo
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação da Cidade de São Paulo (São Paulo, 2019)
Nacional (LDBEN 9394/96) estabelece que a falamos de brincadeira para nos referirmos a
criança pequena tenha um desenvolvimento diferentes ações das crianças que envolvem
integral e desde a sua promulgação, o lúdico e, por isso, privilegiam o processo, e
ocorreram inúmeras atualizações em seu não um resultado visível. Um bebê brincando
texto. Uma das alterações que se refere a com suas mãos ou pés, explorando objetos
Educação Infantil trata da obrigatoriedade do que colocamos ao seu redor; uma criança
ingresso da criança na educação infantil aos um pouco maior transportando água com
4 anos de idade, não sendo mais facultativa uma latinha para molhar a terra e fazer uma
a matrícula desta faixa etária na Educação estradinha para passar com um carrinho; uma
Infantil. criança maior fazendo circular um pequeno
caminhão e se colocando no lugar do

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Revista Educar FCE - Março 2019

motorista que entrega produtos de casa em casa; crianças em torno de um jogo de mesa ou
correndo pelo pátio; seja qual for a brincadeira, as crianças estão sempre aprendendo quem
elas são, como as coisas funcionam, estão percebendo o mundo ao seu redor e formando
uma memória do que fazem e aprendem.

A produção das culturas infantis vai se tornando cada vez mais complexa conforme
os adultos- educadores- possibilitam relações e interações significativas, provocam o
levantamento de hipóteses, disponibilizam a exploração de objetos, materiais, brinquedos
diversos e organizam espaços educativos provocadores. Assim, o papel do adulto educador/
educadora vai muito além de apenas oferecer possibilidades e experiências diversificadas
do brincar. É preciso avançar nessa concepção, assim, o educador e educadora é parte do
grupo, observa, reflete e interpreta as ações das crianças legitimando suas “vozes”, nesse
sentido, avalia as práticas e potencializa o brincar criando possibilidades para maximizar o
desenvolvimento e aprendizagem.

A criança quando envolvida com a arte e com a ludicidade, cria e percebe os objetos
simbólicos. A criança precisa vivenciar ideias em nível simbólico para compreender o
significado na vida real. O pensamento da criança evolui a partir de suas ações, razão pela qual
as atividades são tão importantes para o desenvolvimento do pensamento infantil. Mesmo
que conheça determinados objetos ou que já tenha vivenciado determinadas situações, a
compreensão das experiências fica mais clara quando as representam em seu universo de
faz de conta.

Segundo Ramos (2011) as atividades lúdicas possibilitam fomentar a formação do


autoconceito positivo; o desenvolvimento integral da criança já que, com tais atividades,
a criança se desenvolve afetivamente, convive socialmente e opera mentalmente; brincar
ajuda as crianças no seu desenvolvimento físico, afetivo, intelectual e social, pois, com as
atividades lúdicas, as crianças formam conceitos, relacionam ideias, estabelecem relações
lógicas, desenvolvem a expressão oral e corporal, reforçam habilidades sociais, reduzem a
agressividade, integram-se na sociedade e constroem seu próprio conhecimento.

Os jogos tradicionais infantis são aquelas brincadeiras que fazem parte da cultura popular
e são transmitidas de geração em geração e segundo Kishimoto (2002) algumas conservam
sua estrutura inicial e outras vão se modificando com o passar do tempo. Os jogos são
importantes no desenvolvimento infantil e é necessário que sejam criadas situações
favoráveis para que passem a fazer parte do cotidiano das crianças, tanto em situações
espontâneas, como em situações dirigidas e orientadas pelos adultos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os jogos e brincadeiras abrangem grande parte do
desenvolvimento da criança, quando representam situações
observadas no cotidiano, criando situações imaginárias
confrontada com o real e desenvolvendo suas capacidades
e habilidades. O lúdico nas práticas escolares proporciona
uma aprendizagem significativa, além de entreter e divertir, a
criança aprende brincando e experimentando novas ideias e
novas ações nos fazeres cotidianos da escola, desenvolvendo
diferentes habilidades e competências essenciais para a EVANDRO FABRÍCIO
aprendizagem. AMÉRICO DE CAMPOS
Graduação em Educação Física pela
A ludicidade faz parte de todos os contextos de Universidade Bandeirante – UNIBAN
aprendizagem proporcionados a criança e a brincadeira (2001); Graduação em Pedagogia pela
e o jogo possuem uma intencionalidade e um propósito Universidade Bandeirante - UNIBAN
bem definido, por meio do lúdico a criança aprende e se (2007); Especialista em Treinamento
desenvolve na infância, além disso, os jogos podem ser Desportivo pelas Faculdades
trabalhados com diferentes intencionalidades auxiliando Metropolitanas Unidas – FMU (2009);
a criança a compreender regras e a seguir determinados Especialista em Educação para a

esquemas, contribuindo para a aprendizagem de conceitos Diversidade e Cidadania pela Faculdade

no futuro. São Luís de França (2018); Especialista


em Docência do Ensino Superior pela

A educação compreende que o brincar e o jogar favorecem Faculdade Brasil (2018); Professor de
Ensino Fundamental II na Prefeitura do
o desenvolvimento de habilidades físicas, cognitivas, sociais
Município de São Paulo.
e afetivas. Dentre elas: a criatividade, o raciocínio lógico, a
representação simbólica, o planejamento, a capacidade de
respeitar regras, de considerar diversos pontos de vista e de criar vínculos consistentes

O jogo na educação se torna um recurso pedagógico à medida que envolve a criança e


torna a atividade mais prazerosa e interessante, estimulando o pensamento e contribuindo
nas relações de aprendizagem e no desenvolvimento dos aspectos cognitivo, afetivo e motor.

Quando pensamos em Ludicidade na sala de aula, podemos afirmar que se trata de


educar com prazer e alegria e a postura do educador é um fator determinante para que
a aula aconteça de forma lúdica. Essa forma de trabalho é a base da aprendizagem, tanto
na educação infantil como nos anos iniciais do ensino fundamental e as atividades devem
despertar a atenção e motivar o aluno.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Paulo de. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. 9. ed. São Paulo: Loyola, 1998.

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05 de outubro de


1988. Brasília, 1988.

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Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Conhecimento de Mundo. 3
vol. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL. MEC. CNE. Resolução nº 05, de 17 de dezembro de 2009. Diretrizes Curriculares


Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 2009.

GRANDO, R.C. O conhecimento Matemático e o uso de jogos na sala de aula. Campinas: FE/
UNICAMP. Tese de Doutorado, 2000. 183 p.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O Jogo e a Educação Infantil. Florianópolis: Perspectiva.


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PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

RAMOS, Danielle Cristina; RIBEIRO, Sheila Maria; SANTOS, Zuleica A. G. Os jogos no


desenvolvimento da criança. In: ROSA, Adriana (Org.). Lúdico & Alfabetização. Curitiba:
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SANTOS, Santa Marli Pires dos. Educação, Arte e Jogo. Rio de Janeiro: Vozes, 2006.

SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo


da Cidade: Educação Infantil. São Paulo. SME. COPED. 2019.

SÃO PAULO. SME. DOT. Orientações Curriculares: expectativas de aprendizagens e


orientações didáticas para Educação Infantil. SME. São Paulo: SME/DOT, 2007.

SOMMERHALDER, Aline. Jogo e a Educação da Infância: muito prazer em aprender. 1ed.


Curitiba, PR: CRV, 2011.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A IMPORTÂNCIA DO USO DA
TECNOLOGIA NO ENSINO
DE HISTÓRIA
RESUMO: Tendo em vista os desafios que o uso das Tecnologias impõem na sociedade
atual, a área da Educação não pode ficar de fora, dessa forma, o ensino de história também
tem que adentrar nesse novo mundo. Assim sendo, o texto discute acerca das inovações
tecnológicas na disciplina de História, explicitando seus desafios e compromissos diante da
sua situação atual no contexto social brasileiro. Por meio do uso das Tecnologias no ensino de
História o aluno pode se desenvolver para além dos conteúdos da disciplina, desenvolvendo
a criticidade, a autonomia e os conceitos básicos de cidadania para conseguir ser inserido na
vida em sociedade de forma satisfatória e eficiente.

Palavras-Chave: Metodologia; História; Tecnologia; Professor.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO rompidos, O papel do governo e o professor


– só para refletir!, A utopia pode torna-se
O mundo tem passado por um processo realidade no ensino de História?
de mudanças onde a tecnologia tem sido
a mentora dessas transformações. Com Para nortear as discussões nos
o advento tecnológico as informações e delimitaremos do século XIX ao XXI,
as comunicações passaram a ser dadas fundamentado em pesquisa de campo,
em tempo real, influenciando as relações leituras bibliográficas, estudos diversos
internas e externas entre os países, de artigos com a finalidade de discutir
tornando o mundo globalizado e tendo a relevância do uso das ferramentas
forte influência na economia, política, tecnológicas na educação no mundo
cultura e consequentemente impulsionado a contemporâneo, as propostas oferecidas
educação a sair do surrealismo e buscar seu pelo governo, as transformações ocorridas
espaço nesse contexto globalizado. no ensino de História, importância do uso
das TICs, os paradigmas a serem rompidos e
Esse momento conhecido como terceira a valorização do professor.
revolução industrial fez com que o governo
repensasse o modelo educacional oferecido
no país. Não cabe mais o sistema educacional O ADVENTO DA
ficar preso a velhos modelos implantados. TECNOLOGIA NO MUNDO
Mudar se faz necessário. No entanto o que
se observa no âmbito escolar de alguns CONTEMPORÂNEO
municípios da Bahia, como Catu e São Os avanços tecnológicos foram constantes
Sebastião é a inoperância dos novos recursos na história da humanidade. Cada tempo tem
no ensino. Tal a importância desse artigo um elemento diferencial que revolucionou a
em abordar questões que discuta e reflita sua geração. Não se faz necessário especificar
sobre essas mudanças, assim como levantar épocas, apenas lembrar alguns: a invenção
os indícios pelos quais os docentes não têm do fogo, da cerâmica, da roda, do aqueduto,
acompanhado essas transformações. da máquina a vapor etc. Ao seu tempo, cada
um marcou a vida de diferentes civilizações,
Com isso o trabalho faz uma análise alterado continuamente os hábitos de vida.
superficial do novo modelo de educação No século XX o computador e a internet
implantado no país discutindo questões foram os grandes mentores da revolução
pertinentes acerca da influência da tecnológica contemporânea, globalizando e
tecnologia no ensino da disciplina de interligando em tempo real as informações e
História como: O advento da tecnologia no as comunicações no mundo.
mundo contemporâneo, O ensino de história
do século XIX ao XXI, Paradigmas a serem

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Revista Educar FCE - Março 2019

Na primeira metade do século XX, às Hoje, viver sem computador e sem internet
vésperas da 2ª guerra mundial, nasce a ideia é praticamente inviável. Os suportes, como
do computador, o MARK I apresentado livros, revistas, jornais tornaram-se, de
pelo professor de Havard, Howard Aiken. certa forma, obsoletos. Rapidamente as
Em 1943 com a ajuda da IBM e da Marinha informações tornaram-se digitais. A rede
Americana, Howard, concretiza a ideia mundial de computadores World, Wide
do primeiro computador eletrônico. É Web torna-se uma grande concorrente
importante ressaltar as dimensões do desses recursos utilizados, interligando os
PC, como comumente é conhecido, para quatro cantos do mundo em tempo real. É
vislumbrar a rapidez da sua evolução. difícil encontrar alguém que não tenha pelo
menos ouvido falar em termos como email,
O primeiro computador era menos orkut, site. Uma nova dimensão de leitura
poderoso que certas calculadoras atual. e veiculação de informações implicaram
O MARK I possuía 2,5 m de altura, 18m também numa nova forma de lidar com o
de comprimento, pesava 30ton, continha conhecimento.
750.000 partes e mais de 700 km de cabos.
Hoje, o menor computador pesa em torno O sistema educacional, ainda que a passos
de 1kg, os nets boocks. Sem falar que, lentos, se ver forçado pelas circunstâncias
pode se obter informações e se comunicar do progresso cultural e tecnológico a sair
com pessoas em qualquer parte do mundo, do surrealismo. Não cabe mais em pleno
por meio do aparelho de celular conectado século XXI fazer vistas grossas a essas
a inernet, através do molder, que cabe na transformações e continuar utilizando giz e
palma da mão. louça como recursos. Como não ter como
diferencial na aprendizagem as bibliotecas
Em 1961, chega o primeiro computador on-lines, os sites de pesquisa, blogs ou até
ao Brasil, o UNIVAC, para o IBGE. A mesmo as redes de relacionamentos?
popularização do computador começou
na década de 80 com os desktops e
os laptops. Nas décadas de 90 a 2000 O ENSINO DE HISTÓRIA DO
efetivamente essas máquinas tornam- SÉCULO XIX AO XXI
se mais acessíveis as massas populares
sendo de grande impacto nas populações O novo milênio apresenta um novo
mundiais. Possibilitou-se novas formas de desafio para o ensino de História. Como lidar
comunicação e principalmente, agilidade nas com a descarga de inovações e informações
transações econômicas. Os relacionamentos sem nos deixar sugar pela onda neoliberal
pessoais e os hábitos em geral passaram dos achismos? De que forma podemos
por transformações tão profundas que nos utilizar a internet para enriquecer o ensino
remete a uma nova dimensão cultural. de História sem podar o ser humano da

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Revista Educar FCE - Março 2019

sua formação crítica? Essas reflexões trás compreensão dos processos e dos sujeitos
um despertamento para a responsabilidade históricos, o desvendamento das relações
de repensar algumas práticas pedagógicas que se estabelece entre os grupos humanos
dessa disciplina. É relevante, mostrar que é em diferentes tempo e espaço. Então como
possível desenvolver uma prática no ensino articular o uso de novos procedimentos
de História adequada aos novos tempos que metodológicos para desenvolver pelo menos
envolva a nova geração: rica de conteúdo, com razoabilidade o que a lei e os objetivos
socialmente responsável e sem ingenuidade de História propõem? Para tentar responder
e/ou nostalgia. a tais questionamentos será feita uma análise
de algumas políticas públicas do país.
A lei de Diretrizes e Base da Educação
Nacional, 9394/96, no seu artigo 22, indica Desde 1995 a educação brasileira convive
o caminho a perseguir na educação básica: com a proposta de transversalidade, atrelada
“desenvolver o educando, assegurar-lhe aos Parâmetros Curriculares Nacionais
a formação comum indispensável para o (PCNs), publicado pelo Ministério de
exercício da cidadania e fornecer-lhes meios Educação. A partir da necessidade de se
para progredir em seu trabalho e em seus discutir questões sobre a realidade brasileira
estudos posteriores.”. Enfim, a finalidade da especialistas de diversas áreas do ensino
escola básica, segundo a lei, não se restringem fez uma análise da problemática no país e
a assimilação maior ou menor de conteúdos apresentou cinco temas transversais para a
prefixados, mas se comprometem a articular educação nacional: ética, pluralidade cultural,
conhecimento, competências e valores com saúde, orientação sexual e meio ambiente. A
o objetivo de capacitar os alunos a utilizarem proposta é que esses temas sejam referencial
das informações para transformações da dos conteúdos das diversas disciplinas e
sua própria personalidade, assim como para que estes possam nortear a elaboração dos
atuar de maneira efetiva na transformação objetivos, programas e conteúdos que serão
da sociedade. desenvolvidos nas escolas.

Essas observações gerais, trás Os PCNs ao trabalhar os eixos temáticos


uma indagação! Como vincular essas no ensino de História propõe que o ensino
transformações aos conteúdos básicos e oferecido tenha sentido para o aluno, por
os conceitos do ensino de História para isso deve começar a partir da sua própria
favorecer uma aprendizagem que norteia história e referenciais locais, o trabalho deve
os alunos na sua formação de cidadãos desdobrar-se para inserir essa realidade
autônomos, críticos, participativos, que em questões locais e regionais, aguçando a
possa atuar na sociedade com competência, curiosidade e a compreensão da necessidade
dignidade e responsabilidade? Ora, o objetivo de uma visão mais ampla para a questão do
primeiro do conhecimento histórico é a que para sua particularidade. O passado

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Revista Educar FCE - Março 2019

então deve ser interrogado a partir de conhecimento. Pode-se obter informações


questões que nos inquietam no presente, através de revistas, jornais, cinema, TV,
caso contrário, estudá-lo fica sem sentido. internet. Sem dúvida que a informação
chega pela mídia, mas só se transforma
Na atual conjuntura da revalorização do em conhecimento quando devidamente
ensino de História se faz necessário que o organizada. Confundir informação com
aluno tenha o direito de ter conhecimento conhecimento tem sido um dos grandes
dos processos históricos que aconteceram ao problemas da educação. Exatamente porque
longo dos anos para compreender o momento acontece a enxurrada de informações, em
histórico atual. Pode uma árvore se alimentar todos os sentidos imaginado é que se torna
sem ter suas raízes fixas ao solo? Poderia ela importante o papel do professor de História.
existir se não fossem suas raízes? As raízes é
que a fixa ao solo, extrai sais minerais, água e O professor é o elemento que estabelece
conduz as demais partes do seu tronco para a intermediação entre o patrimônio cultural
alimentá-la. Assim, é o ensino de História, / histórico da humanidade e o universo
trabalhado superficialmente, sem levar o sociocultural do educando, por isso é
aluno a entender como se deu a cadeia dos indispensável que ele conheça bem tanto
períodos históricos. um quanto o outro. Isso quer dizer que um
bom professor precisa ter conteúdo. Cultura.
É necessário compreender que para Acima de tudo ser perceptível e sensível a
se ter um ensino critico é imprescindível realidade de vida do aluno. Isto quer dizer que,
que se compreenda, tenha conhecimento o professor saiba aproveitar e transformar
e informação necessária para não tecer as informações obtidas pela internet, tão
críticas sem fundamentos, baseadas utilizada pelos alunos, em conhecimento
simplesmente nos achismos, no que ouviu para enriquecer suas aulas.
ou leu em alguma revista ou jornal. Sem o
respeito ao acontecido a História vira ficção.
Interpretar não pode ser confundido com PARADIGMAS A SEREM
inventar. É relevante, conhecer, entender e ROMPIDOS
compreender toda a dinâmica da História
para se ter propriedade do que se fala. Há alguns anos foi lida numa jornada
pedagógica uma mensagem que chama
Concluindo a resposta da questão que muito a atenção. Dizia o seguinte: “Certa vez
abre a discussão desse texto, “De que forma um homem tinha passado por um processo
podemos utilizar a internet para enriquecer o de congelamento e acordou no século XXI.
ensino de História sem poldar o ser humano Quando ele saiu do local onde havia sido
da sua formação crítica?”. De antemão é congelado ficou completamente perdido.
necessário desmistificar informação de Não conseguia reconhecer absolutamente

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Revista Educar FCE - Março 2019

nada. A igreja, as casas, a farmácia, campo de Em 2007 o Ministro da Educação, Fernando


futebol, club, tudo estava diferente. Parecia Haddad lançou o Plano de Desenvolvimento
que estava em outro planeta. Mas, ao da Educação (PDE), contendo trinta ações,
percorrer alguns quarteirões se deparou com com a finalidade de melhorar a Educação
um lugar familiar, a escola. Parou, olhou e Básica (Ensino Infantil ao Médio) no país,
entrou. Finalmente ele se sentia em casa. Viu no prazo de quinze anos. Essas ações visam
que era mesmo a Terra, pois havia carteiras combater os problemas sociais que inibem o
enfileiradas, o quadro negro, giz e mesa do ensino e o aprendizado com qualidade. Entre
professor logo a frente.” algumas destacarei a “inclusão digital ” que
viabiliza conjuntamente através da União,
Alguns anos se passaram, seis, sete, dez estados e municípios equipar as escolas com
anos, não se dá para precisar, a verdade é laboratório de informática.
que em pleno século XXI percebe-se que
apesar das mudanças referentes a educação Tomando como base a cidade de Catu,
nas leis 9394/96, nos Plano de Educação com cerca de 56 mil habitantes, na rede
e nos PCNs é que, ainda constata-se que municipal de educação sete escolas tem
essa realidade continua sendo praticamente laboratório de informática, dessas, apenas 3
a mesma. As escolas do ensino básico, por estão funcionando precariamente. As demais,
exemplo, mudaram muito pouco, ou quase tem os computadores, mas não estão em
nada, em alguns lugares! Em alguns vilarejos, atividade. E o que está acontecendo? Por que
cidades, principalmente no sertão, pantanal não se usa devidamente os laboratórios de
e alguns interiores do Brasil continuam a informática? De acordo a dados estatísticos
mesma. O que se vê é o velho professor, do CURSO PROINFO INTEGRADO
quadro, giz e carteiras. Isso quando o lugar e realizado na cidade, em 2010, apenas 30%
o mobiliário não estão em estado lastimável dos professores sabiam lidar com recursos
de conservação. do computador e da internet e cerca de 70%
demonstraram ter conhecimento superficial
Como romper os paradigmas enfrentando de informática. Infelizmente, esses dados
tal situação?! Não será tomada aqui como comprovam que existe uma carência de
base da crítica a precariedade das escolas professores preparados para lidar com o
citadas, mas a utilização dos recursos mundo da tecnologia.
tecnológicos. Algumas escolas situadas no
perímetro urbano dispõe desses recursos Visitando algumas escolas da rede
nas salas de aula, mas o professor persiste Estadual de ensino das cidades de Catu e
nos métodos de ensino obsoleto. O que está São Sebastião do Passé, em 2010 e 2011,
acontecendo? Onde está a falha? Quem são detectou-se que todas as unidades de
os responsáveis por tal situação? ensino têm equipamentos de última geração,
como laboratório de informática, datashow,

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Revista Educar FCE - Março 2019

telão. As salas têm TV pendrive, aparelho de e um mísero salário que mal dá para a sua
DVD. Constatou-se que, apesar de estarem sobrevivência!?
equipadas, os aparelhos não são utilizados
porque o professor não tem conhecimento
dos recursos do computador, desenvoltura O PAPEL DO GOVERNO E
com a internet e tem dificuldade para operar O PROFESSOR – SÓ PARA
os aparelhos disponíveis.
REFLETIR!
O que se pode constatar com tudo isso? O primeiro compromisso da atividade
É possível mobiliar uma casa de taipa, sem profissional de ser professor (o trabalho
energia, com móveis e objetos de última docente) é certamente de preparar os
geração? Fica sem sentido, é o que nos parece. alunos para se tornarem cidadãos ativos
Que utilidade terá os objetos se não tem e participantes na família, no trabalho e
energia para usá-los? Será que não tem mais na vida cultural e política. Independente
lógica se edificar o alicerce e construir uma da profissão o professor é a base dessa
casa segura, para depois pensar em mobiliá- construção, do novo ser profissional. Mas,
la apropriadamente? Se há condições para antes de tudo necessita de reconhecimento
mobiliar não se terá também para construir? e valorização, por parte do governo e da
Não é preciso ser economista para saber própria sociedade, pelo papel primordial que
que na lógica do investimento, para se ter exerce na formação das pessoas. O trabalho
um bom retorno, primeiro se constrói uma docente visa também à mediação entre a
estrutura firme, sólida, para depois mobiliar. sociedade e os alunos. Libâneo afirma que,
como toda a profissão, o magistério é um ato
Quando se fala em paradigmas a serem político porque se realiza no contexto das
rompidos, o professor aqui não será relações sociais.
crucificado. Já basta o descrédito sofrido
por parte da sociedade e desrespeito pelo Em 1993 foi elaborado pelo Ministério da
governo. Faz-se menção, também ao velho Educação (MEC) o documento Plano Decenal
chavão dos governantes que investem de Educação para Todos, destinado a cumprir
tanto na educação e não dão a devida no período de uma década (1993 a 2003),
importância de valorizar a sua mão de obra as resoluções da Conferência Mundial de
prima, o professor. Se o homem mencionado Educação Para Todos, realizada em Jomtien,
na mensagem fosse descongelado hoje, na Tailândia, em 1990, pela Unesco, Unicef,
por certo ele se identificaria logo com o PNUD e Banco Mundial. O plano pauta-se na
professor. É relevante que o “mestre” busque preocupação da comunidade internacional
capacitar-se para lidar com a nova era do com a educação, por causa do novo cenário
conhecimento, mas como é possível com social advindo da sociedade da informação.
cargas horárias exaustivas de 60h e/ou 80h O objetivo prioritário deste é assegurar

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Revista Educar FCE - Março 2019

conteúdos mínimos de aprendizagem que atendam a necessidades elementares da vida


contemporânea, a crianças, jovens e adultos até o ano 2003.

Em 2007 o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) aprovado pelo Presidente da


República Luiz Inácio Lula da Silva e pelo Ministro da Educação Fernando Hadda também
estabeleceu objetivos e ações para melhorar a Educação no País, tendo como prioridade a
Educação Básica. O plano prevê várias ações que visam identificar e solucionar os problemas
que afetam diretamente a Educação brasileira, mas em nenhuma delas foi mencionado a
questão salarial do professor. Em 2014 foi lançado o novo Plano Nacional de Educação
(PNE) com metas a cumprir de 2014 a 2024, composto por 20 metas para a Educação. O
novo plano, segundo a avaliação do ministro, terá como foco a valorização do magistério e
qualidade da Educação: Atentemos para as metas mencionadas seguir:

“Meta 1: Universalizar, até 2016, o atendimento escolar da população de 4 e 5 anos, e


ampliar, até 2020, a oferta de Educação Infantil de forma a atender a 50% da população de
até 3 anos.
Meta 2: Universalizar o ensino fundamental de nove anos para toda população de 6 a 14
anos.
Meta 3: Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17
anos e elevar, até 2020, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85%, nesta faixa
etária.
Meta 4: Universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o atendimento escolar aos
estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação na rede regular de ensino.
Meta 5: Alfabetizar todas as crianças até, no máximo, os oito anos de idade.
Meta 6: Oferecer Educação em tempo integral em 50% das escolas públicas de Educação
Básica.
Meta 7: Atingir as seguintes médias nacionais para o Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (Ideb):

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Revista Educar FCE - Março 2019

Meta 8: Elevar a escolaridade média os professores da Educação Básica possuam


da população de 18 a 24 anos de modo a formação específica de nível superior,
alcançar mínimo de 12 anos de estudo para obtida em curso de licenciatura na área de
as populações do campo, da região de menor conhecimento em que atuam.
escolaridade no País e dos 25% mais pobres, Meta 16: Formar 50% dos professores da
bem como igualar a escolaridade média entre Educação Básica em nível de pós-graduação
negros e não negros, com vistas à redução lato e stricto sensu, garantir a todos formação
da desigualdade educacional. continuada em sua área de atuação.
Meta 9: Elevar a taxa de alfabetização Meta 17: Valorizar o magistério público
da população com 15 anos ou mais para da Educação Básica a fim de aproximar
93,5% até 2015 e erradicar, até 2020, o o rendimento médio do profissional do
analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a magistério com mais de onze anos de
taxa de analfabetismo funcional. escolaridade do rendimento médio dos
Meta 10: Oferecer, no mínimo, 25% das demais profissionais com escolaridade
matrículas de Educação de Jovens e Adultos equivalente.
na forma integrada à Educação profissional Meta 18: Assegurar, no prazo de dois
nos anos finais do Ensino Fundamental e no anos, a existência de planos de carreira para
Ensino Médio. os profissionais do magistério em todos os
Meta 11: Triplicar as matrículas da sistemas de ensino.
Educação Profissional Técnica de nível Meta 19: Garantir, mediante lei específica
médio, assegurando a qualidade da oferta. aprovada no âmbito dos Estados, do Distrito
Meta 12: Elevar a taxa bruta de matrícula Federal e dos Municípios, a nomeação
na Educação Superior para 50% e a taxa comissionada de diretores de escola vinculada
líquida para 33% da população de 18 a 24 a critérios técnicos de mérito e desempenho
anos, assegurando a qualidade da oferta. e à participação da comunidade escolar.
Meta 13: Elevar a qualidade da Educação Meta 20: Ampliar progressivamente o
Superior pela ampliação da atuação de investimento público em Educação até
mestres e doutores nas instituições de atingir, no mínimo, o patamar de 7% do
Educação Superior para 75%, no mínimo, do produto interno bruto do País, até o quinto
corpo docente em efetivo exercício, sendo, ano de vigência do plano e 10% ao fim do
do total, 35%doutores. plano.
Meta 14: Elevar gradualmente o número
de matrículas na pós-graduação stricto sensu O que se pode perceber nesses planos
de modo a atingir a titulação anual de 60 mil e ações do governo? Quais destes
mestres e 25 mil doutores. estabelece como objetivo ou meta principal
Meta 15: Garantir, em regime de o reconhecimento e valorização justa da
colaboração entre a União, os Estados, o profissão docente? Será que este último?
Distrito Federal e os Municípios, que todos Atentando para as metas do último

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Revista Educar FCE - Março 2019

Plano, citada uma por uma anteriormente, quantas se refere, ao devido reconhecimento
profissional do professor? A meta 17 menciona a equiparação (fala-se de aproximação)
salarial do magistério público da Educação Básica aos demais profissionais com escolaridade
equivalente. No entanto em 2008 – já com atraso de 3 anos – o Piso Salarial Profissional
Nacional pela Lei nº 11.738 a pretensão foi de reajustar 15,85%, sendo que a remuneração
mínima do professor de nível médio e jornada de 40 horas semanais passariam a ser R$
1.187,00. O professor do ensino básico em 1º de outubro de 2010 teria um reajuste um
pouco mais dos seus 950,00 (novecentos e cinquenta reais) para 1.024,67 (mil, vinte e quatro
reais e sessenta e sete centavos) por uma jornada de 40h semanais.

Infelizmente, a equiparação salarial dos docentes aos demais profissionais com escolaridade
equivalente é uma realidade bem distante. Pelo depoimento da professora Amanda Gurgel
no programa do Faustão dia 22/05 deste ano ressaltando a indignação do seu salário de
950,00 (novecentos e quarenta reais) por uma jornada de 40h semanais, dá indícios que
no país está desigualdade é mais acentuada do que parece. Refazendo os cálculos do piso
salarial estabelecido pelo MEC numa jornada de 20h semanais o professor do ensino básico
recebe, com base no salário mínimo atual (545,00) um pouco menos do que o salário mínimo
dado aos trabalhadores com escolaridade mínima para o desempenho da função. Ao concluir
a licenciatura, que fica em média quatro anos de estudo, após a diplomação, tem no salário
um acréscimo de 50,00 (cinquenta reais).

Fazendo-se uma comparação salarial dos mais variados profissionais percebe-se a


disparidade salarial do professor. Esse éo quadro superficial da realidade do magistério
no país. Onde está a ação do governo quando estabelece como foco a valorização dos
profissionais e a qualidade na Educação apontada no novo Plano Nacional de Educação?

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tema pode ser direcionado para várias vertentes, mas
a discussão será direcionada para as possibilidades que o
professor tem, principalmente o de História, de capacitar-se
para enfrentar o novo mundo do conhecimento.

Incontestavelmente hoje o conhecimento está ao alcance


de todos. Os aparatos tecnológicos a hipermídia faz com
que as informações estejam ao alcance do homem. Para
que o professor esteja apto para mediar e transformar essas EVELIN PEREIRA
informações em conhecimento é necessário primeiro que MONTAGNINI
esteja capacitado para lidar com as ferramentas tecnológicas Graduação em Pedagogia pela
do novo mundo. Universidade Metropolitana de santos
(2016); Professora de Educação Infantil
O ensino de História com os aparatos tecnológicos a no Centro de Educação Infantil Jardim
disposição deixa de ser uma mera discussão do passado. A Silveira
tecnologia avançou de tal forma que hoje é possível sentir a
emoção das descobertas mais remotas do homem. A exemplo,
do museu arqueológico o Museu do Homem Americano, no
Piauí. O visitante passa um pincel sobre a tela de exposição e
faz com que os vestígios de ossos ou algum tipo de cerâmica
vá surgindo. Induz a sensação de estar no passado, no ato da
descoberta.

O computador e a internet também se tornam grandes


aliados para enriquecer os recursos metodológicos no ensino
de História. As aulas podem deixar de serem decorebas,
copistas e contar apenas com o livro didático para tornarem-
se dinâmicas, envolventes, instigantes e estimuladoras do
senso crítico do educando.

Professores, alunos, historiadores ou apenas interessados


podem acessar a rede de computadores para obter dados
sobre os mais diferentes assuntos, inclusive História. A
disponibilização do conteúdo de História na internet passou
a ter várias possibilidades de uso, porque podem variar de
artigos, livros, visitas a museu virtual, bibliotecas on-line,

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Revista Educar FCE - Março 2019

feitos por historiadores profissionais, que mesclam opiniões e memórias.

Assim, o ensino de História se beneficia grandemente das possibilidades tecnológicas:


desde a digitalização, acesso on-line e disponibilização de fontes, passando pelo intercâmbio
rápido de informações das mais diversas possibilidades de discussão em termos globais. O
estudo disponível na internet também pode oferecer amplas possibilidades para análises da
memória coletiva e da recriação de identidades virtuais.

Por outro lado, a internet também oferece os mais variados riscos para o homem, como os
sites de relacionamentos, á exposição de informações pessoais, dados de cartões de crédito,
de banco etc. A internet é responsável, muitas das vezes, por multiplicar as informações
sem compromisso metodológico. A rede está repleta de sites com informações históricas
questionáveis. Então, como utilizar uma ferramenta repleta de riscos e incontrolável na vida
das pessoas a favor do ensino de História?

O ensino de História pode se beneficiar na medida em que capacitar alunos e professores


a selecionar e a distinguir as fontes de onde foram extraídas suas informações e assim
fazer com que a internet se constitua num recurso didático e pedagógico a mais. Cabe
ao leitor digital tornar-se apto para diferenciar a qualidade da relevância das informações
disponibilizadas na mídia.

Daí a grande importância da preparação do professor para mediar o conhecimento


do neomundo. O governo possibilita essa preparação através do Programa Nacional de
Informática na Educação (PROINFO). Mas como o professor tem condições de investir na sua
capacitação com um salário que mal dá para a sua sobrevivência? O Governo oferece o curso
de capacitação, mas não disponibiliza meios para que aja um investimento para solidificar tal
conhecimento. Como é possível comprar um computador com um ganho ínfimo?

Paulo Freire cita em uma frase que: “A educação é um ato de amor, por isso, um ato
de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade, não pode fugir a discussão
criadora, sob pena de ser uma farsa.”

Educar é um ato de amor, pois se assim não fosse essa profissão já estaria extinta. Porém,
não basta tão somente o amor é necessário aptidão e, principalmente, estímulo salarial.
Para que a utopia torne-se realidade no ensino de História se faz necessário existir um
compromisso maior por parte do governo com a educação no país. Mais investimentos
tecnológicos nas escolas e uma valorização real do magistério.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Revista Educar FCE - Março 2019

A NEUROCIÊNCIA APLICADA A
APRENDIZAGEM DO DEFICIENTE
INTELECTUAL
RESUMO: Questionando se a escola pública desempenha um papel ambíguo frente à
diversidade na qual de um lado, abriu as portas aos alunos com deficiências físicas; de
outro não se preparou para isso quando deveria ter se preparado. Objetivou-se discutir o
que é a deficiência intelectual, seus fatores e causas. Abrange-se o campo da inclusão do
deficiente intelectual debatendo o estudo e as técnicas utilizadas para tornar mais acessível
ao aluno deficiente intelectual, o acesso à educação completa e concreta. Por meio da
revisão bibliográfica em livros, artigos e teses pretenderam-se mostrar que a importância do
tema está no fato de que, a criança com deficiência intelectual deve ser assistida da mesma
forma que as demais, isto é, é preciso que ela tenha condições sociais e educacionais de
desenvolver-se por completo, para que também possa atuar concretamente na sociedade
que integra.

Palavras-Chave: Neurociência; Deficiência Intelectual; Prática educativa; Aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO Objetivou-se discutir o que é a deficiência


intelectual, seus fatores e causas. Abrange-
As novas expectativas na educação trazidas se o campo da inclusão do deficiente
pelas mudanças na sociedade trouxeram. São intelectual debatendo o estudo e as técnicas
diversos os estudos, que procuram, a cada utilizadas para tornar mais acessível ao aluno
dia, tornar a educação mais inclusiva, mais deficiente intelectual, o acesso à educação
dinâmica, mais integrada à realidade do aluno, completa e concreta.
e com isso formar cidadãos conscientes de
seu papel da sociedade. Porém muito ainda Pretendeu-se mostrar que a importância
precisa ser trabalhado e buscado. do tema está no fato de que, a criança com
deficiência intelectual deve ser assistida
Uma necessidade ainda evidente é da mesma forma que as demais, isto é, é
a inclusão do deficiente intelectual na preciso que ela tenha condições sociais
educação. Por diversos motivos ainda e educacionais de desenvolver-se por
torna-se difícil manter pessoas com algum completo, para que também possa atuar
tipo de deficiência em salas comuns. Talvez concretamente na sociedade que integra.
pela falta de profissionais qualificados, A metodologia de estudo deu-se a partir
falta de espaço físico adequado, entre de referenciais teóricos, onde foi possível
outros. Para tanto é necessário haver um por meio de revisão bibliográfica observar
desenvolvimento educacional voltado ao uma série de conceitos importantes, visando
deficiente intelectual, onde haja também o bom desenvolvimento da aprendizagem da
uma interação entre ambiente físico e social, criança e o papel de pais e educadores nesta
sendo que os membros desta cultura, como função tão importante que é educar uma
pais, avós, educadores e outros, precisam criança com necessidades especiais.
ajudar a proporcionar à criança participar de
diferentes atividades, levando a criança a um
saber construído pela cultura e modificando- DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
se por meio de suas necessidades biológicas
e psicossociais. Quando falamos em deficiência
intelectual, temos que seu conceito abrange
Questiona-se então, se a escola pública o funcionamento intelectual, que seria
desempenha um papel ambíguo frente à evidenciado como inferior à média estatística
diversidade na qual de um lado, abriu as das pessoas e, principalmente, em relação à
portas aos alunos com deficiências físicas; dificuldade de adaptação ao meio em que
de outro não se preparou para isso quando vive.
deveria ter se preparado.
Segundo a descrição do DSM-IV
(2014) (MENDES, 1995), a característica

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Revista Educar FCE - Março 2019

essencial do Retardo Mental é quando a Os mesmos critérios que definem a


pessoa tem um “funcionamento intelectual deficiência intelectual, também estipulam
significativamente inferior à média, sua ocorrência, que normalmente ocorre
acompanhado de limitações significativas no antes dos 18 anos, caracterizando assim
funcionamento adaptativo em pelo menos um transtorno do desenvolvimento e não
duas das seguintes áreas de habilidades: uma alteração cognitiva como é a Demência
comunicação, autocuidado, vida doméstica, (BARTALOTTI, 2001).
habilidades sociais, relacionamento
interpessoal, uso de recursos comunitários, Assim, para que se possa definir o
auto-suficiência, habilidades acadêmicas, funcionamento mental, os estudiosos no
trabalho, lazer, saúde e segurança”. assunto utilizam o quociente de inteligência
- QI, método capaz de medir a capacidade da
Porém, a questão aqui levantada é que não inteligência em números.
devemos pensar na deficiência intelectual
como uma condição em si mesma, um estado A necessidade de se utilizar dos conceitos
patológico bem definido, mas sim como uma de inteligência para poder, também, explicitar
condição mental relativa, principalmente a deficiência mental se faz necessário, pois
quando relacionada à educação, ao a inteligência é a habilidade de se adaptar
desenvolvimento da criança. efetivamente ao ambiente, seja fazendo uma
mudança em nós mesmos ou mudando o
A deficiência será sempre relativa em relação ambiente.
aos demais indivíduos de uma mesma cultura,
pois, a existência de alguma limitação funcional, Diante disto observa-se que quando a
principalmente nos graus mais leves, não seria inteligência do indivíduo é relativamente
suficiente para caracterizar um diagnóstico de
baixa, mais difícil torna-se sua adaptação ao
Deficiência Mental, se não existir um mecanismo
meio sozinho, e neste sentido ele necessitará
social que atribua a essa limitação um valor de
de outros para que isto ocorra, é aí que
morbidade. E esse mecanismo social que atribui
ocorre a deficiência.
valores é sempre comparativo, portanto, relativo
(MENDES, 1995, p. 62).
Segundo Bartalotti (2001), para adaptar-
se ao ambiente satisfatoriamente, o
Portanto, a deficiência intelectual é um indivíduo deve se utilizar da capacidade de
estado onde existe uma limitação funcional integrar várias modalidades d os sentidos
em qualquer área do funcionamento (sensoriais) de modo a constituir uma noção
humano, considerada abaixo da média geral de consciência da situação presente, além
das pessoas pelo sistema social onde se disso, deve desenvolver uma capacidade de
insere a pessoa. aprendizagem, finalmente, deve desenvolver
uma capacidade de agir objetivamente.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A inteligência humana é um atributo mental funcionais, têm um prejuízo mínimo nas


multifatorial, envolvendo a linguagem, o áreas sensório-motoras e podem apresentar
pensamento, a memória, a consciência. Assim comportamentos similares aos das crianças
sendo, a inteligência pode ser considerado de sua idade que não são deficientes.
um atributo mental que combina muitos
processos mentais, naturalmente dirigidos à Esse grupo constitui a maioria, cerca de
adaptação à realidade (BARTALOTTI, 2001). 90%. No centro da escala estão às crianças
com nível de comprometimento intelectual
Visto este conceito, temos que a base mais acentuado, pôr capazes de adquirir
estrutural da inteligência humana é o habilidades constantes. Representam,
pensamento formal, isto é, a capacidade aproximadamente, 10% dessa população.
de desenvolver uma operação mental Apenas cerca de 5% apresentam um
que permite aproveitar os conhecimentos rebaixamento intelectual significativo,
adquiridos da vida social e cultural, combiná- com frequência associado os outros
los logicamente e alcançar uma nova forma comprometimentos (ROCHA, 2010).
de conhecimento (BALLONE, 2015).
Nos primeiros anos da infância, essas
O processo de Pensamento se inicia com crianças adquirem pouca, ou nenhuma,
as cinco sensações presentes na vida do ser fala comunicativa e apresenta prejuízos
humano, os cinco sentidos, e termina com substantivos no desenvolvimento sensório-
o raciocínio dialético, onde uma idéia se motor. Beneficiando-se com a estimulação
associa a outra e, desta união de ideias nasce multissensorial, também requerendo um
uma terceira. ambiente estruturado, favorável a seu
desenvolvimento e aprendizagem, com apoio
O pensamento humano se dá em uma e acompanhamento constantes (MANTOAN,
cadeia infinita de representações, conceitos 2008).
e juízos, sendo a fonte inicial de todo esse
processo a experiência sensorial. Nessa escala, podemos encontrar uma
enorme variedade de formas de apresentação
e de condições de desenvolvimento e
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL de aprendizagem. Em suma o índice de
pessoas com comprometimento cognitivo
Conforme Rocha (2010, p. 5) o grau de pouco acentuado é predominante com
comprometimento intelectual das crianças aproximadamente 85%. Os indivíduos com
com deficiência mental abrange uma escala maior comprometimento correspondem
variada. Em uma das extremidades estão à menor parcela dessa população. Boa
às crianças que desenvolvem habilidades parte da população com comprometimento
sociais e de comunicação eficientes e intelectual pouco acentuado esta excluída da

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Revista Educar FCE - Março 2019

escola pública. Outra parte esta matriculada processo de construção de cada individuo,
em classes especiais da rede pública e um seja ou não deficiente (BRASIL, 1998, p. 96).
pequeno grupo esta integrado em classe ou
em escola comum. A educação a que nos referimos tem um caráter
amplo e complexo, envolvendo todas as ações
Tendo isto em vista, é importante provocar e as relações planejadas ou não, formais ou
os professores no sentido de despertá-los informais produzidas pelo individuo e para ele,
tendo como propósito uma atitude continua de
para a questão da inclusão e da integração
preparar e se preparar, formar e se formar, pela
do aluno com deficiência mental no espaço
vida e para ela. Assim entende-se, lembrando-
social. Esse espaço não inclui apenas a
nos de Freinet (2004), para quem a “Educação
escola e a família, mas também ruas, praças,
não é uma formula de escola, mas sim uma obra
parques, feiras, clubes enfim todos os de vida” (SALES, 2018, p. 08).
espaços que possam ser ocupados por esses
alunos, em direção a sua autonomia e a sua
participação social. O processo educacional voltado para as
pessoas com deficiência mental deveria ser
Para superar as barreiras do preconceito, pensado nessa mesma perspectiva, ou seja,
um caminho possível passa, por um lado, pelo tendo em vista a preparação para a vida
conhecimento da condição de deficiência, na na família, na escola e no mundo. Se isso
dimensão do sujeito; e, por outro lado, pelas ocorresse, o processo educacional resultaria
atitudes e pelo comportamento da sociedade, naturalmente em convívio e participação
na dimensão social. Somente assim social.
poderemos efetivar ações que garantam o
pleno acesso dessa parcela da população aos Porém, como os mitos e preconceitos
recursos sócios educacionais disponíveis. O ainda rondam o imaginário da grande
acesso a recursos educacionais não é apenas maioria das pessoas, deve continuar falando
um direito do cidadão com deficiência, mas em Educação Especial, com todas as
também uma das vias que pode garantir o especificidades que lhe são próprias ou, por
exercício de sua cidadania e a apropriação vezes, impróprias (BRASIL, 1998).
da mesma.
A aprendizagem ao contrario do pensam muitos
Refletir sobre a integração da pessoa com responsáveis, não depende só das condições
deficiência mental implica necessariamente internas inerentes ao individuo que aprende.
repensar o sentido atribuído à educação. Ela constitui o corolário do equilíbrio de tais
condições internas de aprendizagem com as
Implica, portanto, atualizar nossas
condições externas de ensino inerentes ao
concepções e dar um nono significado aos
individuo que ensina: como Piaget nos ajuda a
propósitos educacionais, compreendendo a
compreender, a adaptação a situações e exige um
complexidade e a amplitude que envolve o
equilíbrio e uma organização entre o processo

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de assimilação do exterior para o interior e de


que sua educação seja efetiva. Neste sentido
acomodação do interior para o exterior (SALES,
2018, p. 12).
vemos que a terapia ocupacional aparece
como um meio de tornar mais eficaz qualquer
tipo de aprendizagem para esta criança.
A aprendizagem sequencializada, baseada
em avaliações especificas individualizada e O eixo fundamental da terapia ocupacional
em programações curriculares na base dos segundo Bartalotti e Yonezaki (2008) é a
princípios cientifico do desenvolvimento, compreensão da ação humana, pois o homem
pode fazer autênticos milagres. A se constrói em sua ação no mundo.
organização sistemática de processos de
modificação de comportamento encadeados O desenvolvimento humano conforme
por aproximações sucessivas de dificuldade Vygotsky (2008) é um processo sócio-cultural
e aplicação de teorias de aprendizagem no qual o homem se desenvolve a partir da
humana, bem como a adoção da análise de apropriação que faz da cultura, apropriação
tarefas e de objetivos baseados de acordo com esta que só é possível mediante um processo
o potencial de aprendizagem do educando, de relação com outros homens (TRINDADE,
pode produzir efeitos imprevisíveis em 2011).
termos de aprendizagem.
O deficiente mental durante muito tempo
A aprendizagem é o reflexo do ensino. A foi visto como alguém que dificilmente
qualidade de uma é o produto do outro. A atingiria um grau de complexidade psíquica.
organização de aprendizagem subentende a Dessa forma os trabalhos dirigidos a essas
otimização dos recursos humanos e didáticos pessoas mantinham preocupações voltadas
do ensino. Tradicionalmente em pedagogia ao treinamento de hábitos e adequação de
e muito principalmente em educação condutas consideradas importantes para a
especial, quando o educando não aprende vida.
é considerado incompetente, indiferente
ou desmotivado. A orientação pedagógica Vygotsky (2008) nos ensina a observar o
atualizada inclina-se para a adoção da analise deficiente mental como alguém diferente
de tarefas. (pois não se nega à diferença, a deficiência),
a criança com deficiência mental desenvolve
processos diferenciados para poder seguir
TERAPIA OCUPACIONAL E no seu desenvolvimento cognitivo. O autor
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ensina que não importa o caminho seguido,
mas sim o resultado alcançado.
Quando uma criança apresenta algum tipo
de deficiência mental, é preciso que haja a A terapia ocupacional permite não
intervenção de mais de um profissional, para somente o desenvolvimento de habilidades,

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mas também que esta habilidade esteja Pensando especificamente na criança com
encadeada em um contexto de significação deficiência mental, o terapeuta ocupacional
que permita à pessoa com deficiência mental muitas vezes, tem dificuldade de selecionar e
construir um raciocínio flexível, no sentido de discriminar estímulos do meio, de organizá-los
fazer uso desta habilidade como instrumento de maneira que possam ser compreendidos
de transformação e compreensão do mundo. e transformados em ações significativas. O
terapeuta ocupacional trabalha construindo,
Neste sentido quando uma criança com estas crianças e suas famílias, ações que
com problemas mentais é assistida por a auxiliem a desenvolver uma compreensão
um terapeuta ocupacional, este pode sobre o mundo que a cerca (BARTALOTTI e
analisar a ação da criança e intervir, YONEZAKI 2008).
tendo como base uma interpretação do
encadeamento, das interrelações dos Assim, o terapeuta ocupacional trabalha a
componentes neuromotores, perceptivos, motricidade, entendida como uma manifestação
cognitivos, sócio-emocionais (BARTALOTTI do desejo de estar e atuar no mundo.
e YONEZAKI 2008). Desenvolve, portanto, ações específicas que
visem ao desenvolvimento da motricidade a
partir da (ou estimulando a) ação intencional,
O processo terapêutico ocupacional configura-
através de atividades que promovam situações
se em um caminho para a libertação possível
concreta e simbolicamente mediadas. Faz uso de
da regulação externa, através da construção do
conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil
sujeito como indivíduo, alguém que reconhece
e sobre a deficiência de maneira geral, assim
suas necessidades, desejos, possibilidades e,
como de técnicas de manipulação e abordagem
fazendo uso desta consciência, age. Retomando
terapêutica para estabelecer um processo
a discussão realizada sobre integração/
terapêutico baseado na tríade terapeuta-
inclusão social, podemos afirmar que a Terapia
criança/família-atividade, no qual cada um
Ocupacional tem aqui um papel primordial
dos integrantes assume o papel de agente/
(BARTALOTTI e YONEZAKI 2008, p. 49).
transformador. (BARTALOTTI e YONEZAKI
2008, p. 51).
Assim, observa-se neste contexto o papel
do terapeuta ocupacional, que é o profissional Uma parte de suma importância no
que estuda e intervém na ação humana, no trabalho com a terapia ocupacional, ainda
cotidiano. No trabalho com pessoas com segundo a mesma autora, é o realizado junto
deficiência mental sua intervenção se volta, com a família, tornando-se parte integrante
justamente, para a construção da ação do processo terapêutico, pois tem como
significativa, para a ação independente. É objetivo favorecer a construção de um olhar
importante entender que independência é sobre a criança, que perceba suas diferenças,
mais do que a capacidade de fazer sozinho: mas, ao mesmo tempo, valorize e estimule
é a capacidade de decidir o que deseja fazer. suas produções.

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Neste sentido, terapeuta e família novos tratamentos para uma grande gama de
precisam desenvolver uma parceria distúrbios do sistema nervoso, que debilitam
no acompanhamento do processo de e incapacitam milhões de pessoas todos os
desenvolvimento da criança, estabelecendo anos. Apesar dos progressos durante a última
uma relação de confiança que permita a década e os séculos que a precederam, ainda
abordagem do cotidiano familiar e, mais existe um longo caminho a percorrer antes
especificamente, do lugar da criança nesse que possamos compreender completamente
cotidiano (BARTALOTTI e YONEZAKI 2008). como o encéfalo realiza suas impressionantes
façanhas. Entretanto, essa é a graça em ser um
neurocientista: nossa ignorância acerca da
NEUROCIÊNCIA E O função cerebral é tão vasta que descobertas
PROCESSO DE ENSINO excitantes nos esperam a qualquer momento
(BEAR, 2010, p. 21).
APRENDIZAGEM
A Neurociência estuda as variações entre Uma das questões que levantam debates
o comportamento e a atividade cerebral, a respeito da proposta de uma educação
tratando-se de um campo interdisciplinar orientada para a inclusão é como praticá-
que abrange várias outras disciplinas la. Lembramo-nos a todo o momento,
como neuroanatomia, neurofisiologia, da importância de nosso papel como
neuroquímica, neuroimagem, genética, formadores de cidadãos; ao mesmo tempo
neurologia, psicologia, psiquiatria e em que, embora também sejamos cidadãos,
pedagogia. Essas ciências reunidas formam a nem sempre somos respeitados como tal; de
Neurociência e juntas investigam o sistema forma que muitas vezes somos impedidos
nervoso procurando entender como ele se de exercer nós mesmos, nossos próprios
desenvolve, sua aparência entre indivíduos e deveres de cidadania e assim, de servir de
espécies bem como ele deixa de funcionar exemplo àqueles que formamos, por faltar-
(HENNEMANN, 2012). nos às condições básicas.

Em suma a Neurociência revela como O primeiro papel do professor neste


o cérebro produz nosso comportamento, processo é decidir. Decidir-se não por
procurando perceber a individualidade de conteúdos linguísticos ou matemáticos, mas
cada um, e a partir daí entender como as sim, pela sociedade, que esta necessita de
lesões no cérebro interferem no modo de ser cidadãos críticos, conscientes e produtivos.
dos indivíduos.
A formação futura de uma sociedade cada
O desenvolvimento atual das Neurociências vez mais inclusiva depende, e muito de uma
é verdadeiramente fascinante e gera grande formação escolar inclusiva e que precisa ser
esperanças de que em breve, tenhamos presente, e não futura. Não há uma prática

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pedagógica inclusiva que possa ser dada, o não saber e o problema, são essenciais
precisamos primeiro analisar quem está para a vida, que não há respostas prontas,
excluindo e de que maneira esta exclusão que a aprendizagem é uma construção que
está acontecendo, para então, decidirmos o se dá no dia a dia.
que podemos fazer.
Deficientes físicos necessitam de
Por outro lado, no processo de investigação profissionais comprometidos, que gostam
redescobrimos nossa autonomia, uma vez do que fazem e que se sensibilizem com as
que não precisamos esperar por maiores dificuldades das pessoas com deficiência. Um
iniciativas governamentais para começarmos desafio que se coloca para a efetiva inclusão
a agir. escolar de pessoas com necessidades
especiais é parte dos professores uma
A postura pedagógica dos professores formação fundamentada nos pressupostos
passou por um processo de reconstrução, da educação inclusiva.
orientada em conjunto com o próprio corpo
docente, num trajeto envolvendo desde a O educador pode desempenhar um
sala de aula, passando pela coordenação importante papel na percepção dos alunos de
e Direção, até a secretaria da educação, que esses têm potencialidades e limitações
dependente do desenvolvimento da diferentes. Sugerem propostas de atividades
capacidade interna da escola como um todo, em que os alunos sejam estimulados sobre
bem como um compromisso abertamente suas habilidades e identificadas suas
assumido, por cada participante da pesquisa. limitações. (STAIMBACK E STAIMBACK
1999, p.23).
Para que a escola se transforme num local
de produção cultural e de transformação O professor necessita de atualização
social, ela não pode se restringir enquanto permanente, buscar sempre informações.
influência e interferência rica no universo Saber somente sobre a sua área de atuação
do aluno. Uma mudança importante não é mais suficiente para atender as
e fundamental para os professores necessidades dos alunos. O processo
trabalharem com crianças com necessidades educativo precisa estar vinculado ao contexto
especiais é a possibilidade de pensar numa social, em que o aluno está inserido. Para
escola inclusiva, criar espaços adequados, isso deve conhecer e usar as tecnologias,
ter especialistas para apoio e um trabalho bem como outros recursos pedagógicos.
contínuo com as famílias.
O acesso a Internet é uma ferramenta
Quando se fala inclusão, é preciso escutar que pode facilitar na inovação de propostas
as crianças com necessidades especiais, pedagógicas alternativas, bem como no
buscar respostas, lidar com a incerteza, com contato com o conhecimento de ponta para

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comparar e avaliar as propostas. Isso se faz possível, desde que as escolas estejam equipadas
tecnologicamente.

Segundo Galvão (2006), entre os grupos de tecnologias utilizadas na educação especial,


destaca-se os softwares voltados à acessibilidade de pessoas com necessidades especiais,
tais recursos integram o aluno ao sistema de computadores, e cada vez mais ganha espaço
na sociedade.

As tecnologias estão presentes em cada uma das pegadas que o ser humano deixou sobre
a terra, ao longo de toda a sua história. Desde um simples pedaço de pau que tenha servido
de apoio, de bengala, para um homem no tempo das cavernas, por exemplo, até as modernas
próteses de fibra de carbono que permitem, hoje, que um atleta com amputação de ambas
as pernas possa competir em uma Olimpíada, disputando corridas com outros atletas sem
nenhuma deficiência (LÉVY, 1999 apud GALVÃO FILHO, 2009, p. 38).

O professor deve observar quais as reais necessidades destas crianças e muitas vezes
analisar caso por caso a fim de poder proporcionar possibilidades para que a criança possa
desenvolver sua cognição através do que lhe é disponibilizada no meio virtual.

Sabe-se que a inclusão na escola regular não resolverá a questão da deficiência da criança,
visto que é um problema real, clínico e objetivo, mas ela será amenizada à medida que a
sociedade se preparar para receber essa criança, porque, não podemos ser ingênuos a ponto
de acreditar que apenas uma lei resolverá a questão.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na atualidade muito se discute sobre a situação da vida de
uma pessoa com deficiência, principalmente a sua entrada
e permanência na escola, além do preparo dos professores
para adaptar a criança deficiente com o objetivo de prolongar
sua permanência na escola.

É preciso que saibamos analisar cada criança, cada


necessidade, e ao mesmo tempo saibamos também que
todas elas são iguais, e não podem ser excluídas do convívio FABIANA CRISTINA
social e educacional. CIRINO
Graduação em Letras pela Universidade
Acredita-se que a Neurociência possa servir de ferramenta paulista - UNIP (2008); Licenciada em
importantíssima no processo de ensino aprendizagem, bem Pedagogia pela Universidade Nove de
como descobrir grandes avanços para o desenvolvimento de Julho – UNINOVE (2014); Especialista
deficientes intelectuais. em Educação Inclusiva pela Faculdade
Campos Elíseos (2018); Professora de
A Neurociência busca desvendar o desenvolvimento Ensino Infantil - Língua Portuguesa na
humano, bem como seus desvios, numa perspectiva de EMEI Leila Maria Fonteles Farias.

processo evolutivo da espécie, e evolutivo individual, além


de sócio-histórica.

Espera-se que cada educador tenha a consciência em


formar indivíduos que estejam em harmonia consigo próprio
e com a natureza, que demonstrem equilíbrio interior,
ponderação, respeito com próximo, que sejam cidadãos
participantes dentro das suas capacidades cognitivas e
físicas, conhecedores e conscientes de seus direitos e
deveres. E por que não dizer, dotados com capacidades
de análise para poderem reconhecer suas próprias falhas
e avaliar as experiências que vivenciam, tendo em vista o
aperfeiçoamento constante e donos de espírito construtivo
e senso de responsabilidade.

O educador deve ser consciente de que não conseguirá


sanar todos os problemas apresentados, mas dentro da
sua prática pedagógica e através de suas ações, poderá

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Revista Educar FCE - Março 2019

respeitar os alunos e suas particularidades. Estamos convencidos também, que a inclusão


e a construção do conhecimento serão eficientes na medida em que forem pautados nos
pilares básicos da educação. Essa qualidade só será possível à medida que resgatarmos a
consciência crítica e filosófica, com o desenvolvimento de projetos e do diálogo, valorizando
a ética e a cidadania, capacitando o educador, mostrando a sua importância diante desse
processo.

Acreditar nesses princípios é fazer do ambiente escolar um local de troca de experiências,


respeitarem as individualidades e as diferenças, abandonar as discriminações e os preconceitos,
promover a solidariedade e dizer não a violência. Somos todos iguais, porém temos nossas
particularidades, mas mesmo assim respiramos o mesmo ar. Circunstancialmente, alguém
sabe mais sobre determinado assunto, mas, assim que ensina e o outro aprende o saber já
se torna um bem comum. Assim a vida vai irrigando terrenos ingênuos, onde brotarão mais
saberes, com alegria e entusiasmo para viver.

Consideram-se imprescindível que as pessoas que cercam a criança tornem seu mundo
menos complexo e mais acessível as suas necessidades. Na educação, o acesso da criança
com deficiência intelectual deverá ter uma infinidade de ferramentas a qual trabalhar,
possibilitando uma integração efetiva e tornando seu desenvolvimento escolar muito mais
rico e abrangente.

946
Revista Educar FCE - Março 2019

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948
Revista Educar FCE - Março 2019

A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA
FORMAÇÃO DAS CRIANÇAS DE
ZERO A TRÊS ANOS
RESUMO: A presente pesquisa pretende analisar as contribuições da música na formação
das crianças, especialmente na faixa etária de zero a três anos. Como objetivos específicos
encontram a integração e motivação das crianças por meio da música, o desenvolvimento
da concentração, as brincadeiras envolvendo a invenção, a imitação e a reprodução de sons,
além disso, enfatizamos a importância da música na formação de seres humanos melhores.
Faz parte da metodologia, o levantamento bibliográfico baseado em livros de diferentes
autores que estudam a importância da música na formação das crianças, bem como as leis
que respaldam seu uso em contexto escolar.

Palavras-Chave: Criança; Música; Educação; Desenvolvimento.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA


NA FORMAÇÃO DAS
Esta pesquisa tem como objetivo mostrar
a importância da música na formação de CRIANÇAS DE ZERO A TRÊS
crianças de zero a três anos, com isso, é ANOS
apresentado um histórico da música na vida
dos homens em diversos momentos, e em “A música é uma terra sem fim. Cada
diferentes espaços, incluindo na Educação caminho que se toma é sempre uma
Infantil. descoberta. É um mundo cheio de tesouros
com significados e valores profundos para
Será apresentada a história da música e todas as pessoas, independentemente do
sua evolução na sociedade, mostrando suas sexo, idade, classe social ou nível cultural.
contribuições, bem como a importância É o alimento para o espírito.” (MATTOSO,
da música desde o nascimento dos seres 1998, p.7)
humanos, bem como no contexto escolar.
Há um enfoque em como a música se faz Há muita teoria referente à origem e a
presente na vida das pessoas antes mesmo presença da música na história do homem
do nascimento, e depois como o contato na sociedade, o fato é que a linguagem
com a voz da mãe é importante para o musical sempre esteve presente na vida dos
desenvolvimento do bebê. Depois, como a indivíduos. A história da música começa com
música está inserida no contexto escolar e os a história do homem, portanto, para poder
benefícios que a mesma traz. E para finalizar adaptar a vida primitiva da Idade da pedra, o
há uma reflexão sobre a influência da música homem inventou utensílios e armas que lhe
com crianças de zero a três anos, refletindo permitiam caçar e trabalhar a terra. Utilizou-
sobre como este trabalho pode acontecer se também de objetos, como ossos, pele
na creche, na prática, e os benefícios que de animais, bambu, entre outros, a fim de
este trabalho propicia, dentre eles: aflorar a construir seus instrumentos musicais.
sensibilidade, desenvolver a comunicação e
favorecer as relações interpessoais. Desde muito tempo tem se perguntado qual
a sua função na sociedade, e principalmente
se esta função ou funções tem atingido seus
objetivos. Entreter, comunicar, estabilizar as
culturas, e contribuir para a integração das
sociedades, entre outras prováveis funções,
sempre lhe foram atribuições inatas.

Aristóteles, em suas propostas de


modelos educacionais já atribuía à música

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Revista Educar FCE - Março 2019

um complemento importante à educação de Portanto, em cada período histórico


corpo e mente. apresenta o desenvolvimento musical,
seguindo sua cultura e entendimento
Confúcio, na antiga China comentava transformando a prática musical nos
sobre a importância do músico para a dias atuais. Desta maneira torna-se um
harmonia política e social do império. Conta- complemento, por meios de ritmo, melodia,
se que de tempos em tempos, músicos de harmonia, que predomina na vida do ser
todas as regiões da China se reuniam em humano, tanto espiritual e intelectual,
festivais para tocar em conjunto, mas com que por meio da música o homem pode
um único objetivo – afinar seus instrumentos transformar-se, transformar seus costumes
a partir de um único referencial tonal. Desde e o que é transmitido oralmente.
modo poderiam retornar para as suas
regiões levando um instrumento calibrado Pode-se afirmar que a música também
uniformemente que poderia produzir música traz o desenvolvimento da inteligência e
afinada em unidade e integridade moral por da cultura humana. E uma de suas funções
todo o império. é a de utilizá-la com a finalidade das
pessoas exteriorizarem suas emoções, ou
A música continua fazendo parte do cenário seja, expressar suas alegrias, tristeza e
das atividades humanas, evoluindo em arte inquietações.
e técnica, mas que ao mesmo tempo vem
perdendo importância no contexto cultural, Pode-se dizer que a igreja foi uma das
encontrando-se, na atualidade, relegada as primeiras instituições a perceber algumas
imposições dos consumismos das mídias, destas qualidades para a música Ocidental.
passando a ser um produto de qualidade Durante os rituais religiosos, as vozes do
duvidosa e de conteúdo superficial, e que coro faziam com que os fiéis tivessem a
talvez por este motivo também esteja sendo sensação de estar rodeado pelos “Anjos do
desvalorizada e de certo modo esquecida Senhor” e em pleno céu cristão, além de
pela própria escola. sentirem a pureza e a alegria de serem filhos
do Criador, usufruindo aqui os benefícios de
A música passou por diversos momentos sua casa. Vale comentar que o cantochão era
durante todos os períodos históricos, executado por vozes masculinas e possuíam
transformando-se e trazendo consigo novas regras muito rígidas de composição e
definições e pensamentos, expandindo-se execução, onde a melodia deveria ser
para todo o mundo com a capacidade estética construída sem muitos saltos, conservando-
de transmitir sentimentos, expressões e se monótona e com apenas uma nota mais
valores culturais. alta que as outras, e a execução deveriam ser
de uma suavidade angelical, e por se tratar
de música litúrgica não deveria ter nenhum

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Revista Educar FCE - Março 2019

tipo de acompanhamento instrumental composta de canções de amor e dança


harmônico ou melódico, e muito menos de acompanha por instrumentos como o
instrumentos de percussão, pois isto poderia pandeiro, harpa, violão entre outros.
desconcentrar os fiéis, fugindo assim do
objetivo primordial daquele momento: a Como já foi comentado, o entendimento
elevação do espírito. que existia no período era a música como
louvor a Deus, e as músicas tocadas em
A concepção de Pitágoras se inicia e cerimônias eram “canto Gregoriano” e
predomina na Idade Media, onde, a música a música monofônica (possui uma única
é idealizada como um sistema de sons e linha melódica). Logo a igreja levou ao
ritmos e dirigido pelas leis da matemática, conhecimento musical para crianças, pois
tornou-se o principal nome da mitologia fazia parte da fé cristã.
musical da idade média, e com isso trouxe
a concepção fundamentada no simbolismo e No período do Renascimento o povo busca
na especulação teórica dos números, e com inovar as práticas da igreja, transformando a
isso podemos afirmar que sua compreensão música em universal, e fazendo uso da música
era como ciências (razão) e não como artes. profana, quer dizer não religiosa, mudando
assim o comportamento cultural que os
Uma das funções essenciais da música é romanos assumiam para com a música, neste
o pedagógico, formar-se dentro da escola, momento diferenciava-se muito dos gregos,
lidar com a ética e a estética, influenciar rompendo por completo e dando lugar à
positivamente na construção da moral e sensualidade.
caráter, podendo assim formar e transformar
– formar pela arte e música, transformar pela Após o período renascentista surge a
conscientização dela. música Barroca, valorizando manifestações
culturais e artísticas, e também com
Esta ideia de Pitágoras prevalece então influência dramática e muito elaborada
em toda Europa medieval: o conceito que a surge a ópera musical. Em seu oposto surge
música era vista como uma ciência (razão) a música clássica, trazendo a valorização dos
defendida pelos teóricos do período histórico instrumentos, por meio da orquestra.
e para outros teóricos defendia que a ideia
era vista como incorporação e expressão de O Romantismo surge para trazer emoção
respeito, fé e dedicação cristã que envolve ao extremo apresentando sentimentos e
entre Deus e o indivíduo. pensamentos mais profundos, enquanto a
música nacionalista buscava a representação
Existiam também as músicas consideradas do seu povo e suas culturas por meio de
profanas, vinculadas às tradições não músicas folclóricas.
religiosas sem o intuito ao louvor, mas sim

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Revista Educar FCE - Março 2019

Desde então se expandiram novas O antropólogo musical norte americano


técnicas e estilos musicais, tendo seu Allan Merrian conseguiu enfocar essas
significado a cada período histórico, e sendo funções da música de modo muito peculiar
compreendida pelos seus contemporâneos, e até pedagógico como salienta Vanda
pois como toda a manifestação artística, ela é Freire no livro “Música e Sociedade” em sua
contextual, corresponde aos acontecimentos interpretação.
intelectuais e culturais do seu tempo.
Nesta linguagem atribuímos à
Hoje a escola recebe e trabalha com esta compreensão por meio de tons emocionais
linguagem, considerando que a música assim e afetivos, das dimensões dos sentimentos,
como todas as outras linguagens produz tornando-se mais definidos quando é falada
conhecimento e forma o individuo. e não só escrita, ou seja, por meio da música
são geradas diversas vozes, inflexões do ser
Música é uma palavra de origem grega humano que se expressa através dos seus
que tem o significado a “força das musas”, sentimentos.
ou seja, eram ninfas que ensinavam os seres
humanos acreditar nos Deuses e Heróis, por Desta forma, chamaremos então de sentimento
meio de teatro e cantos, pois os povos eram a todas essas maneiras de apreensão direta
espirituais e religiosos, cada um expressava de “nosso estar no mundo”, ou seja, todas
seus sentimentos para seus deuses através as percepções que temos de nossa situação,
das diretamente, e que acompanham as
da música, batendo as mãos e os pés com
simbolizações. (JUNIOR, 2007, p.75)
objetivo que tivessem boas colheitas, que
chovesse, para ter sorte, vitórias, proteção
para guerra e caçada. O ser compreende e se “vê” no mundo de
acordo com as percepções que ele vivência,
Consequentemente a música se torna percebe (aprende) o que é do humano,
tão consumida e tão preferida, desde a sua se comunica, se relaciona por meio da
primeira aparição até hoje. Ela satisfaz e linguagem.
representa o nosso estado de espírito, e ela
nos dá enumeras opções de escolhas, além A música não é só uma forma de expressão
de entreter, expressar emoções e satisfazer e sentimento, mas uma maneira espontânea,
representando o nosso estado de espírito, e a arte de relacionar sons e silêncio, e se faz
através disso nos possibilitam lembranças, presente no nosso cotidiano.
recordações, emoções envolvendo todo
nosso sentimento por meio da simbolização. Para algo se tornar música, pode ser
Portanto muito pode ser estudado da música intencional, que é quando o individuo tem a
em relação à sociedade em todos os tempos intenção de produzir um som a ser ouvido
e em diversas culturas. ou não intencional onde não se possui a

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Revista Educar FCE - Março 2019

intenção, assim, como o ruído que se definiu O contato da criança com a música antes
como música, valorizando seu valor estético. do seu inicio na escola é fundamental para seu
aprendizado, pois no processo pedagógico
o barulho do mar, o vento soprando, as folhas entende-se como música um procedimento
balançado no coqueiro... ouvimos o bater de que envolve diferentes fatores como sentir,
martelos, o ruído de máquinas, o motor de experimentar, imitar, criar, tornando a criança
carros ou motos... o canto dos pássaros, o miado mais sensível, coordenada, comunicativa e
dos gatos, o toque do telefone ou despertador...
receptiva. Este processo de musicalização
ouvimos vozes e falas, poesia e música...(BRITO,
em bebês começa de forma espontânea
p.17 , 2003).
pelo contato com diferentes sons, inclusive
a música.
Educar musicalmente tem por finalidade
sensibilizar o indivíduo tornando-o apto Com os bebês, as músicas presente no dia
a expressar-se por meio da música, seja a dia, sejam de dormir, as de roda de música
pela execução, pela composição ou ou as parlendas, enfim, a música em geral
ainda pela simples apreciação, fazendo tem papel importante no desenvolvimento
evoluir neste indivíduo competências e favorecendo a fala, o cognitivo e afetivo,
habilidades musicais, sempre associadas ao estreitando os laços entre adulto e criança.
conhecimento artístico, histórico e cultural.
Desenvolvendo nele senso estético. Há crianças que acompanham uma
música seguindo o pulso, sem que haja
Além desta finalidade que a autora uma organização prévia dela, ou mesmo
reforça acredito na importância de oferecer são capazes de criar suas próprias canções
atividades ricas de música às crianças a fim explorando instrumentos, pois reproduzem
de auxiliá-las a expor suas emoções. gestos, experimentam e assim, criam.

Receber a música é um fenômeno corporal. A música possui extrema importância


Antes mesmo do nascimento o bebê já no desenvolvimento do indivíduo como
lida com sons do corpo da mãe e após o procedimento de criação, ou seja, proporciona
nascimento já entra em contato com o mundo condições para que a criança expresse suas
sonoro, todos os tipos distintos de sons ideias e sentimentos, e quando está ligada à
produzidos através de nós seres humanos, educação é essencial para o desenvolvimento
animais e objetos, ou seja, o contato com o do corpo, da afetividade e do intelecto.
som é inevitável, seja por meio da mãe ou
de outras pessoas. Segundo BRITO (2003), A música é uma linguagem capaz de
a voz materna constitui um material sonoro expressar e comunicar sensações, através
especial por conter vínculo afetivo. de sons e silêncios integrando os aspectos
afetivos, cognitivos e estéticos, promovendo

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Revista Educar FCE - Março 2019

a comunicação e a interação. E, além disso, A cada faixa etária ocorrem diferentes


possui sua forma lúdica incluindo as formas etapas de conhecimento cabe a nós docentes
de jogos infantis piagetianas com as três ter o conhecimento de qual fase a criança
dimensões atuais na música: sensório motor esta e quais objetivos trabalhar, resgatando
(associado à exploração do gesto e do som), também as experiências vividas e valorizar a
simbólico (associado ao valor expressivo) história de cada criança e situa - lá no espaço
e com regras (associado à organização e e tempo.
estruturação da linguagem musical).
A música é uma linguagem cuja noção
O educador deve estar atento para se constrói com base em experiências.
observar a exploração dos bebês no Todos devem poder tocar um instrumento,
ambiente sonoro, propondo experiências experienciar a percepção, para assim
musicais, e acima disso, deve respeitar a conseguir construir sua própria ideia. A
singularidade de cada criança bem como a linguagem musical na escola deve conter o
relação que elas construirão com a música. trabalho vocal; interpretação e criação de
Importante ressaltar que esta observação canções; brinquedos cantados e rítmicos;
deve ter atuação, quando necessário. O jogos que ajuntam som, movimento e
educador precisa estar animado, estimulando dança; sonorização de histórias. Construir
as crianças e informando-as, enriquecendo instrumentos também é uma atividade bem
seus saberes, para que ampliem seus rica, utilizando vários recursos de sucata.
conhecimentos de forma integral.
Devemos ressaltar o interesse dos alunos
Por meio de experiências oferecidas às em relação aos gêneros e estilos para que
crianças, inicialmente de manuseio dos conheçam tais gêneros e assim ampliar seus
instrumentos, faz com que explorem e conhecimentos. Sendo assim:
percebam a variedade e intensidade que os
sons produzem. O trabalho com música deve se organizar
de forma a que as crianças desenvolvam as
É de suma importância ressaltar a grande seguintes capacidades: ouvir, perceber e
influência que a música exerce sobre a descriminar eventos sonoros diversos, fontes
sonoras e produções musicais, brincar com a
criança. Por isso, os jogos ritmados são
musica, imitar, inventar e reproduzir criações
muito utilizados no início dos anos de vida.
musicais para se expressar, interagir com os
A música é linguagem, por este motivo
outros e ampliar seu conhecimento do mundo,
precisamos utilizar e exercitar o mesmo
perceber e expressar sensações, sentimentos
desenvolvimento que usamos da linguagem e pensamentos, por meio de improvisações e
falada. Isto é devemos expor a criança uma interpretações musicais. (Referencial Curricular
relação com a música e dialogar com ela Nacional para a Educação Infantil, 1998,
sobre a mesma. p.70/71).

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Revista Educar FCE - Março 2019

Estudando cada um desses fatores a Por meio de danças, letras, coreografias,


criança terá um melhor acréscimo na sua letras de canções e leituras musicais. Assim
formação. O educador deve buscar obras a memória é exercitada de várias maneiras.
que tenham semelhanças com trabalhos Favorecendo o desenvolvimento em várias
infantis estudados, para o aumento do temáticas.
mundo musical e para ter bom êxito deve
despertar a motivação na criança, despertar A música contribui para as noções
o senso musical e criar uma sensibilidade. Os espaciais e temporárias, favorecendo a
temas são variados e podem ser selecionados percepção dos sentidos e se tornando aliada
da música popular, da clássica ou folclórica, na educação formal e colaborando para o
enfim, há diversidade. desenvolvimento da criança.

Mesmo as pessoas não dando muito valor O educador pode buscar músicas
a música no desenvolvimento da criança, e que relacionam com seus conteúdos
mesmo sendo avaliada como uma linguagem desenvolvidos em sua temática, para tornar
difícil de trabalhar justamente pela falta a aula mais dinâmica e auxiliar a recordar
de familiaridade com a arte no processo informações.
de formação deste professor, as crianças
interagem com a música, e isso ajuda muito A música não deve servir somente como
na educação geral. O mais importante é apoio para outras temáticas e sim como
integrar a música no contexto educacional, e linguagem artística favorecendo a expressão
não transformá-la em recreação. e a cultura, proporcionando uma reflexão e
tornando o aluno mais crítico.
A música em sua história educacional
vem atendendo vários objetivos e também Assim como as atividades de musicalização
como suporte para boas maneiras. Com a prática do canto também traz benefícios
isso, essas músicas vêm acompanhadas de para a aprendizagem, por isso deveria ser
gestos mecânicos. Esse processo vem sendo mais explorada na escola. Bréscia (2003)
repensado, mas ainda vemos em várias afirma que cantar pode ser um excelente
escolas a defasagem na área da música e companheiro de aprendizagem, contribui
o não sucesso da integração da música no com a socialização, na aprendizagem de
contexto escolar, ela se torna assim como as conceitos e descoberta do mundo. Tanto no
outras temáticas, algo pronto para se apenas ensino das áreas do conhecimento quanto
reproduzir. Tornando a música algo sem valor nos momentos de entrada e saída cantar
e até mesmo sem sentido, não despertando e ouvir música pode ser um veículo de
a sensibilidade, ou seja, o sentir, o viver e o compreensão, memorização ou expressão das
apreciar a música. emoções. Além disso, o canto também pode
ser utilizado como instrumento para pessoas

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Revista Educar FCE - Março 2019

aprenderem a lidar com a agressividade. Ou contempla atividades de música mas dentro


seja, aprender uma canção, ouvir músicas da área de artes, sendo assim, a música
e realizar brinquedos rítmicos, estimulam divide espaço com outras linguagens. O
e auxiliam no gosto pela atividade musical, curso superior contempla então música,
proporcionando a vivência de elementos teatro, dança e artes plásticas, e tenta muito
dessa linguagem. precariamente formar um professor que em
tres anos tem que ser capaz de conhecer
Por meio da brincadeira a criança se este fazer artístico em quatro linguagens,
relaciona com o mundo e brincando ela normalmente o que se vê na maioria das
se torna curiosa e receptiva, descobre escolas é o professor que lida com artes
instrumentos, cria e admira músicas de todos plásticas e em alguns casos também com
os povos. A criança que convive com a música teatro, talvez esta constatação tenha
se torna mais comunicativa e harmoniosa, levado a cabo a resolução de se instituir a
consequentemente mais feliz. obrigatoriedade.

A música, segundo MATTOSO é uma Depois de um tempo de quase trinta


representação sonora da vida cultural dos anos de ausência dos currículos da escola
povos, sendo assim é um reflexo da história de pública, a música recebeu novamente o
cada sociedade. Nosso país é rico em cultura, status de disciplina com a LDBN nº 9394/96
cabe aos adultos ensinar as crianças a apreciá- e recentemente a lei 11769/08 a torna, por
la e transformá-la por meio da criação. mais uma vez, obrigatória em todas as escolas
brasileiras de ensino básico. Contudo essa
No ambiente escolar, a música se faz grande ausência nos leva a repensar como
presente em vários momentos da rotina que transplantar mais uma vez em nosso ensino.
vai além das rodas de músicas. A música
amplia o repertório cultural das crianças, e Embora entendemos como um grande
o professor oferece oportunidades para que progresso essa volta da educação musical, os
o corpo e a voz sejam trabalhados, seja em docentes terão muito que trabalhar para que
grupo ou individualmente. O educador pode se torne efetivo e acomode uma educação
apresentar a diversidade cultural existente em musical transformadora, pois, o governo
nosso país, e em outros, além da diversidade federal vetou do projeto de lei o artigo que
de instrumentos, ritmos, épocas e estilos. o profissional responsável a desenvolver
essa disciplina tivesse que ser um professor
A música já fazia parte do currículo das especialista. Mas, com este veto, as várias
escolas públicas, mas em 1971 sob a lei de instâncias da educação ainda não sabem
número 5692 foi dada a autorização para a como irão implantar o ensino da música nas
retirada desta disciplina sendo substituída escolas. Qual será a representação deste
pela disciplina de Educação Artística, que profissional?

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Revista Educar FCE - Março 2019

Em qualquer linguagem o professor de o objetivo deste texto, é argumentar a


Artes tem liberdade para atuar dentro da sua necessidade e a importância da educação
disciplina, com ele achar mais conveniente, e estética, por esta razão Paulo Freire
assim vária aspectos entram em consideração, fundamenta esta pesquisa, sobretudo pela
o público, o espaço da escola, a direção, e o estreita coerência entre teoria e prática.
lugar que a arte ocupa naquela determinada
escola isto determina o que trabalhar e de Paulo Freire é antes de tudo um educador,
que maneira. sua vasta obra, estende-se pela área da
comunicação, e é dotada de implicações
Os Parâmetros Curriculares Nacionais políticas. Seu pensamento está voltado
atentam para que a música seja um meio para dar ao processo educativo condições
de propiciar criação e apreciação musical essenciais para que este contribua para a
mais significativa, construindo capacidades, realização plena do indivíduo na sociedade.
habilidades e competência em música.
Partindo do pressuposto de que, a
Conhecer novos ritmos, que traz toda uma educação deve ter a visão global do aluno,
carga de cultura, como os estilos musicais, com sentimentos e emoções, aí é que se
como por exemplo, o movimento Hip-Hop, torna importante o estudo das dimensões
uma escuta atenta, crítica e questionadora estéticas no pensamento de Paulo Freire.
do meio ambiente. Sendo assim o PCN “A sua teoria fundamenta-se em uma ética
coloca que: inspirada na relação: “homem-mundo”, isto
é, ser capaz de se relacionar com as pessoas
(...) Construindo sua competência nesta e com a sociedade” (FREIRE, 2001, p.30)
linguagem, sabendo comunicar-se., e expressar-
se musicalmente, o aluno poderá, ao conectar o Nesta busca valorizam-se todas as formas
imaginário e a fantasia aos processos de criação, de expressão humana. Assim conforme nos
interpretação e fruição, desenvolver o poético, a
apresenta Freire, a beleza não é privilégio
dimensão do sensível, que a música traz ao ser
de uma classe, mas de uma construção
humano. (PCNs de Artes – Música, 1997, p. 81)
compartilhada por todos, precisando ser
conquistada por meio de experiências
Não temos muito músicos atuando em capazes de recriar o mundo.
escolas, quando trabalham na área da
educação estão centralizados em escolas A arte, em suas diversas atividades desperta
livres e não-formais, ONGs, fundações, nos alunos, novos valores, desenvolvendo o
projetos sociais, igrejas e associações. sentido da apreciação estética do mundo,
estabelecendo interações através de
Muitos são os teóricos que resolveram se linguagens artísticas.
dedicar ao estudo da estética, no entanto

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Revista Educar FCE - Março 2019

Este breve caminho pelas ideias de de outras pessoas ou do próprio ambiente,


Paulo Freire se justifica para se pensar que que fala por si.
a educação é de corpo inteiro, e a arte,
principalmente neste trabalho colocado, a De acordo com BRITO (2003, p. 41) “até
música traz uma consciência do outro quando os dois anos, o desenvolvimento musical é
eu conheço o seu ritmo, e toda a sua cultura, muito intenso, e sem dúvida a voz (integrada
e que sem dúvida ele estimulava a educação ao movimento) é um elemento de grande
pelo caminho da alegria, da curiosidade para importância neste contexto”.
poder justamente possibilitar a criação, e a
gente sabe que tudo isso exige ousadia e Com isso, fica evidente a importância
coragem. das brincadeiras com a voz, sejam canções,
imitações de animais e ruídos.
Neste caso vale optar pela estética e
sensibilidade e continuar apostando na arte. A música não tem como objetivo formar
músicos, mas formar seres humanos
Agora mais um desafio, fazer com que a melhores, capazes de realizar seus projetos
música esteja dentro de um currículo, mas e obter sucesso por meio das múltiplas
que acima de tudo tenha sentido, que as linguagens. O trabalho com música deve
propostas dadas aos alunos façam realmente ser feito por meio de estimulação, e nunca
parte de uma experiência significativa, que com treinamento mecanicista, que perdem o
contribuam para o processo criativo do sentido às crianças.
aluno.
A música é trabalhada, por alguns
Desde o nascimento o bebê já se expressa educadores, apenas para formação de hábitos,
e se comunica. Seu choro manifesta suas para melhorar a disciplina, condicionar a
necessidades e vontades. É atento aos rotina, entre outros, apenas para atingir
sons produzidos pelos pais e familiares que objetivos pertinentes à formação das
estão presentes em sua vida, e à medida crianças. Essas canções são acompanhadas,
que vão observando, vão tentando imitar os frequentemente, por gestos mecânicos,
gestos dos adultos. Esta interação faz com fazendo com que as possibilidades de se
que se desenvolvam melhor afetivamente, escutar e pensar a música sejam deixados de
cognitivamente e musicalmente. lado.
Os balbucios são importantes, afinal é a
primeira forma de comunicação verbal para A falta de especialização dos educadores
com os adultos e é por meio deles que a faz com que a música não seja trabalhada
fala se concretiza, se desenvolvendo assim a devidamente. Houve um avanço no que
forma de emitir sons. E os sons vão evoluindo diz respeito à educação: houve uma
à medida que os bebês ouvem, seja por meio diminuição significativa de folhas impressas,

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Revista Educar FCE - Março 2019

em que a criança só precisava pintar, bem Por meio da observação o professor


como repetição de letras e números, sem consegue perceber como as crianças lidam
significado nenhum para as crianças. Sendo com os sons e como cada uma age diferente,
assim, a música também precisa deste provocando o som de uma determinada
avanço, parar de apresentar às crianças forma, mostrando um som específico e
apenas canções prontas, e sempre dirigidas próprio. Esses sons (produzidos pelas
pelo professor. É necessário, deixar que as crianças, e estimulados pelo adulto) auxiliam
crianças experimentem e criem, e apreciem as crianças na repetição dos sons e na
a música por meio da criação. Importante apropriação da fala e da linguagem.
ressaltar que todas as crianças devem ter o
direito de cantar e tocar algum instrumento, A importância de se trabalhar a música com
mesmo que pareçam que não possuem dom crianças tão pequenas deve-se ao fato, de
ou jeito para tal, visto que a competência que, ela está diretamente ligada aos sentidos,
musical acontece por meio da prática e da e por meio de estímulos elaborados pelos
orientação, a partir do momento que a criança educadores a criança desenvolve e aprimora
sinta-se valorizada, estimulada, onde todo o sua escuta ampliando suas habilidades
processo é considerado, não apenas o final. perceptivas (GRANJA, 2006).
Importante ressaltar que o educador deve
valorizara cultura em geral e não apresentar A escola é um espaço de múltiplas
somente o que aprecia. aprendizagens, por isso, é o local ideal,
apropriado para pesquisar e vivenciar
O educador é sempre o exemplo para oportunidades únicas. Por meio da música
as crianças, por isso, é essencial atentar-se a criança desenvolve o prazer em ouvi-las
ao tom de voz que utiliza com as crianças, e se desenvolve de forma global, para isso
sem gritar e sem forçar a voz. Também pode o educador precisa estimular, adequar as
usar destes meios (com a voz) para contar aprendizagens às vivências das crianças e
histórias, sejam contos de fadas ou falas de apresentar objetivos claros.
animais, enriquecendo esses momentos.
Os momentos da rotina em que o
O trabalho de musicalização na creche professor costuma trabalhar utilizando a
acontece, na maioria das vezes, integrado música podem ser ricos e eficazes quando
ao movimento corporal. O ideal, é que é criado um vínculo entre as crianças e o
o professor inicie seu fazer a partir dos professor, facilitando assim a comunicação,
movimentos naturais dos bebês, e com isso e consequentemente a interação.
amplie seus movimentos, a fim de garantir
equilíbrio e alegria. Todas as atividades em O início do trabalho com música para
que a música está envolvida devem ser crianças tão pequenas é difícil no início,
trabalhadas de forma lúdica. pois o tempo de concentração deles é muito

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Revista Educar FCE - Março 2019

curto, mas ao longo do tempo, em que eles emitem. Importante que esteja à disposição
se apropriam das atividades propostas e das crianças essa diversidade de materiais
da rotina, eles se concentram e tornam-se para que possam aguçar a curiosidade e
mais participativos demonstrando atenção, criarem. Atentar para que os instrumentos
entusiasmo e envolvimento nas atividades industrializados não sobressaiam, visto que
propostas. Quando as músicas são faz com que a criança brinque de músico,
apresentadas e ensinadas pelo adulto, no não dando a importância devida ao som que
caso, o professor, a criança após um período ela produz.
apropria-se das canções e executa os gestos
tendo ou não a participação do adulto. Quando as crianças são estimuladas a
criarem os instrumentos, elas adquirem
Segundo o RCNEI (1998, p. 51): intimidade com a música e a atividade
torna-se significativa. Esta criação pode
O ambiente sonoro, assim como a presença da iniciar mostrando instrumentos prontos,
música em diferentes e variadas situações do artesanais, industrializados, confeccionados
cotidiano fazem com que os bebês e crianças pelo professor, e assim, as crianças utilizam
iniciem seu processo de musicalização de forma de sua criatividade pra criarem novos objetos
intuitiva. Adultos cantam melodias curtas,
por meio dos quais já existem. E se apropriam
cantigas de ninar, fazem brincadeiras cantadas,
dos diferentes sons que os distintos objetos
com rimas, parlendas etc., reconhecendo o
emitem. O ambiente de criação deve ser
fascínio que tais jogos exercem. Encantados
lúdico e a criatividade, valorizada. À medida
com o que ouvem, os bebês tentam imitar e
responder, criando momentos significativos
que os instrumentos são criados, o educador
no desenvolvimento afetivo e cognitivo, pode contar a história da evolução da criação
responsáveis pela criação de vínculos tanto com dos instrumentos, levando-os a novas
os adultos quanto com a música. Nas interações possibilidades de invenção, e fazendo com
que se estabelecem, eles constroem um que reflitam sobre as diferentes culturas
repertório que lhes permite iniciar uma forma de valorizando-as.
comunicação por meio dos sons.

Para se trabalhar música na creche é Além da criação dos objetos sonoros,


preciso variar as fontes sonoras. Podem-se a decoração dos mesmos é um momento
confeccionar objetos com material reciclável importante neste processo, pois a criança
ou outros materiais, ou mesmo valorizar os fica motivada ao se perceber autora destas
brinquedos populares tais como a matraca, criações.
os chocalhos dos bebês, sinos, brinquedos
com sons de animais, entre outros. Desde A brincadeira e as canções são atividades
cedo as crianças podem explorar diferentes prazerosas e criam afetividade entre o grupo
materiais e observar os diferentes sons que envolvido. O educador deve cantar e envolver

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Revista Educar FCE - Março 2019

as crianças, sem pedir que as mesmas cantem significa apenas cantar enquanto se conta,
mais alto, já que precisam diferenciar o cantar mas, valorizar cada momento a história,
do gritar. À medida que imitam o que ouvem alternando a entonação da voz (grave ou
elas desenvolvem a expressão musical. Vale aguda), com mais ou menos intensidade,
enfatizar que não há necessidade de cantar fazendo com que a criança perceba a
em todos os momentos da rotina, para que diversidade sonora e expressiva. Utilizar
a música não se torne mecânico e repetitivo. objetos e o corpo tornam esses momentos
Para isso, é importante deixar que a criança ricos. O educador que conta a história pode
use sua imaginação, e não apenas siga os realizar esses sons, bem como outra pessoa,
gestos ensinados pelo educador, usando sua escondida, levando as crianças a aguçarem
criatividade e, sem a obrigação de repetir cada vez mais a curiosidade estimulando a
sempre os mesmos gestos. Há a necessidade atenção.
de ensinar às crianças diferentes músicas
de diferentes gêneros, apresentando as Por isso, a necessidade do educador de
diferentes culturas, de diferentes povos, para ensinar os sons às crianças e a importância
que sejam estimuladas a criarem, partindo do silêncio. Contudo, faz-se necessário
do que já existe. Nosso país é rico em compreender que o trabalho em que a música
cultura e diversidade e as mesmas devem ser está envolvida deve ser ricamente planejado,
valorizadas. Com isso, a escola é um excelente e não apenas servir de pano de fundo para
local para se trabalhar com a música e a outras atividades. É preciso planejamento,
diversidade que existe. Importante ressaltar dar importância a esses momentos e não
que, devemos aproveitar o que cada criança apenas deixar a música tocando o dia
conhece, mas isso não significa trabalhar todo no ambiente sem que haja critério,
apenas com músicas transmitidas pela mídia, planejamento prévio.
que costumam apresentar um repertório
empobrecido, visto a diversidade existente. Importante ressaltar que a avaliação será
sempre comparando a criança a ela mesmo,
Crianças nesta faixa etária possuem um em todo seu processo de realização, de
tempo de concentração curto, as histórias forma a considerar seu ponto de partida e
infantis, e o hábito de ouvi-las precisa ser chegada, visando os progressos alcançados
ensinado e estimulado. Frequentemente por cada criança.
percebemos que os educadores ao iniciarem
essas atividades com crianças tão pequenas A maneira que a avaliação dar-se-á é
introduzem músicas às histórias. Segundo continua, de forma a considerar as vivências
BRITO (2003,p. 161) “a história também das crianças, servindo de suporte ao trabalho
pode tornar-se um recurso precioso do do educador, norteando seu trabalho e
processo de educação infantil”. Mas isso não organizando e reorganizando suas ações.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo ressaltar a importância
da música na formação das crianças, especialmente, as da
faixa etária de zero a três anos. Evidenciei os benefícios que
a música traz ao desenvolvimento do ser humano, auxiliando
em sua formação. Que, mesmo sendo crianças tão pequenas,
elas aprendem e são protagonistas de sua própria história, e
a música as auxilia neste crescimento, ao mesmo tempo em
que favorece as relações interpessoais.
FABIANA RIBEIRO DE
Pude também contribuir, de forma clara e objetiva, ALMEIDA
exemplificando o como fazer, sendo estruturado inicialmente Graduação em Licenciatura em
pelos teóricos, e colocados em prática no dia a dia com as Pedagogia pela Universidade do Grande
crianças. Ficando explícita a contribuição da música para o ABC(2011); Especialista em Alfabetização
desenvolvimento das crianças. e Letramento pela Faculdade Estácio
(2016); Pós graduação Latu senso em
Neuropsicopedagogia pela Faculdade
Campos Elíseos (2018); Professora de
Educação Infantil, no CEI Jardim Santo
André.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria Fundamental. Referencial
curricular nacional para a educação infantil, Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva. São
Paulo: Átomo, 2003.

BRITO, Teca Alencar de. Musica na Educação Infantil. ed. São Paulo: , 2003.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 25ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.

GADOTTI, Moacir.org. Paulo Freire: uma bibliografia. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo
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HARNONCOURT, Nikolaus. O discurso dos sons. Rio de Janeiro – SP: Jorge Zahar Editor,
1989.

HOWARD, Walter. A música e a criança. 4. ed. São Paulo, Summus, 1984.v.19.Novas buscas
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JEANDOT, Nicole. Explorando o universo da música. São Paulo: Scipone, 1990.

ROSA, Helenice Scapol Villar. A importância da educação musical na educação infantil.


(monografia), Universidade Metodista de São Paulo de São Paulo, São Bernardo do Campo
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ROSA, Nereide Chilro Santa. Educação musical para á pré – escola. São Paulo: Ática, 1999.

SCHAFER, Murray. O ouvido pensante. São Paulo – SP, Unesp, 1991.

MATTOSO, Célia. Todo tom: Caderno de Aprendizagem Musical; ilustrações: Dédo Tenório
– São Paulo: C. Mattoso, 1998. 1° edição.

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Revista Educar FCE - Março 2019

RELAÇÕES ENTRE A DIVERSIDADE


E O TRABALHO COM AS
NECESSIDADES EDUCACIONAIS
ESPECIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: O presente estudo tem como intuito propor reflexões sobre as questões
pertinentes à diversidade e à inclusão dos alunos com necessidades educacionais
especiais na educação infantil, diante da conjuntura de problemas que afetam o nosso
sistema educacional. Considerando estas premissas, busca-se na literatura especializada
as possibilidades e caminhos para que se efetivem as políticas públicas de inclusão e se
amplie o olhar, considerando a diversidade como um fator fundamental para o sucesso das
práticas pedagógicas desenvolvidas na educação infantil. A metodologia de pesquisa aqui
utilizada teve cunho bibliográfico como ponto de partida para as reflexões que são urgentes
e fundamentais para a melhoria da qualidade educacional das crianças.

Palavras-Chave: Diversidade; Educação infantil; Necessidades educacionais especiais.

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INTRODUÇÃO Neste cenário, torna-se importante


indagar: é importante que as crianças
A era contemporânea representa um convivam com práticas pedagógicas voltadas
período de amplos debates a respeito da à diversidade? Os alunos com necessidades
revisão das práticas escolares que impedem educacionais especiais devem frequentar as
o acesso ou dificultam a realização dos escolas de ensino regular?
projetos educacionais de milhares de pessoas,
sobretudo de grupos tradicionalmente Diante dessa nova demanda escolar,
excluídos da escolarização formal. percebe-se que ainda há muitas dificuldades
no sistema escolar para a concretização e a
Neste novo cenário educacional, a educação efetivação de uma escola inclusiva.
inclusiva vem sendo implantada como um
modelo educacional, apontando problemas Mesmo com todo o esforço para a
e desafios que implicam na adoção desta implementação da política educacional
proposta no contexto da realidade escolar inclusiva, e de que tenham sido desenvolvidas
brasileira, sobretudo no que tange ao processo inúmeras experiências favoráveis, a verdade
de escolarização de alunos com necessidades é que grande parte das escolas de educação
educacionais especiais ou outras diferenças infantil em nível nacional ainda carece das
significativas de desenvolvimento. condições institucionais mínimas necessárias
para sua viabilização.
A busca por uma escola inclusiva perpassou
anos para que hoje esse direito fosse Para que uma escola se torne inclusiva,
assegurado em lei, e todos os alunos com ela tem que transformar sua organização,
necessidades educacionais especiais tivessem sua estrutura, suas práticas pedagógicas
o acesso aos estabelecimentos de ensino. e curriculares, adequar seus espaços e
recursos materiais, e sobretudo, capacitar
Objetivo geral: seus professores para atender à diversidade
Colaborar com uma um processo escolar dos discentes que nela ingressam.
que forme sujeitos de conhecimento,
garantindo a reflexão, a humanização e o É necessário que se reconheça e se trabalhe
respeito às diferenças, tendo em vista a com as diferenças individuais dos alunos,
nossa imersão na diversidade. sobretudo aquelas que afetam diretamente
o processo ensino-aprendizagem. Caso
Objetivo específico: contrário, o aluno deixará de ser excluído da
Problematizar o papel social da escola e escola, mas continuará excluído na própria
a inclusão dos alunos com necessidades escola, já que não terá como se apropriar do
educacionais especiais na rede regular de conhecimento nela veiculado.
ensino.

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NECESSIDADES No entanto, a realidade comprova a


EDUCACIONAIS NA existência de escolas nas quais as condições
físicas e organizacionais das turmas, e a
EDUCAÇÃO INFANTIL jornada de trabalho do professor, entre outros
A educação infantil, como primeira etapa fatores, não permitem o planejamento de
da educação básica, é uma grande conquista uma intervenção pedagógica individualizada
para a sociedade, visto sua importância de qualidade.
residir no fato de a criança participar de
um ambiente que favoreça o seu pleno Busca-se a transformação das escolas
desenvolvimento, aprendizagem e bem- em espaços abertos à diversidade humana,
estar. rompendo com antigos paradigmas e
internalizando novos conceitos referentes à
As novas configurações escolares avaliação, planejamento e prática pedagógica.
deram destaque ao papel da criança Pois não há como falar em inclusão escolar
como protagonista do seu processo de sem repensar a compreensão destas
ensino e aprendizagem e isso aponta para questões. A escola só passa a ser inclusiva,
a necessidade de uma escuta e de uma a partir do momento em que se passa a
percepção sobre as necessidades infantis e a entender o aluno como um ser singular, com
respeito das suas percepções sobre o mundo, necessidades específicas.
remodelando as práticas pedagógicas.
O convívio com as diferenças na educação
Nessa perspectiva, RINALDI (2002) infantil pode promover a manifestação de
considera que a criança é produtora de posturas éticas em sala de aula, colaborando
cultura, de valores e é um sujeito de direitos com a formação de valores como o respeito
que tem competência para aprender e se e a solidariedade. As crianças constroem
comunicar por intermédio de diferentes saberes e, no relacionamento com seus pares,
linguagens. Por isso, é tão importante o olhar podem entender que a inclusão das crianças
para a singularidade de cada criança nas com necessidades educacionais especiais
escolas de educação infantil. ampliam os significados pertinentes ao seu
desenvolvimento integral.
É necessário que se reconheça e se trabalhe
com as diferenças individuais dos alunos, Segundo CURY (2005) é importante que
sobretudo aquelas que afetam diretamente sejam garantidas as políticas públicas que
o processo ensino-aprendizagem. Caso implementem e validem os direitos instituídos,
contrário, o aluno deixará de ser excluído da pois a garantia do acesso por si só não é eficaz.
escola, mas continuará excluído na própria
escola, já que não terá como se apropriar do Uma escola sem diversidade seria uma
conhecimento nela veiculado. instituição artificial, desprovida da identidade

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que se dá pelo reconhecimento da diferença, além disso, parte do pressuposto do direito


a marca registrada de cada uma das pessoas de todos à educação.
que a compõem.

A criança não nasce com concepções e A DIVERSIDADE NA


opiniões já formadas, mas o seu meio de EDUCAÇÃO INFANTIL
convivência é que pode contribuir para a
discriminação ou para o acolhimento, por A escola é um espaço de formação e
isso se torna primordial que as práticas de socialização das novas gerações. Ela se
pedagógicas desenvolvidas nas salas de aula configura como um local propício à reflexão,
sejam democráticas e abertas às diferenças. ao diálogo e à promoção da diversidade,
especialmente na inclusão de pessoas com
A inclusão remete a equidade e a valores necessidades educacionais especiais.
éticos que não podem ser classificados
como temporários, pois ela traduz uma ação De acordo com Mantoan (2003),não há
social que instiga desafios nos sistemas uma trajetória linear e previsível no contexto
educacionais. As ações inclusivas apontam do trabalho pedagógico com a inclusão,
para uma sociedade mais democrática, pois as ações e as relações construídas
justa e humana, que vê na diversidade a nesse projeto devem ser pautas em linhas
possibilidade de emancipação dos sujeitos. de reflexão e pensamento baseados na
diversidade. É um trabalho educativo de
A viabilidade do trabalho com as cunho coletivo, de modo que a cumplicidade
necessidades educacionais especiais desde e o comprometimento de todos sejam os
a educação infantil precisa de um aparato principais requisitos para que ela se efetive.
legal e de suportes na formação docente,
para que haja maior promoção de ações Ao professor não cabe priorizar uma só
pedagógicas democráticas, enriquecendo o cultura, uma só linguagem. O aluno deve
desenvolvimento, as experiências infantis e ser visto como um sujeito com aptidões e
as relações interpessoais por intermédio da dificuldades diferenciadas. Na educação
diversidade. escolar, deve-se procurar conciliar as
diferenças individuais, respeitando as
Nesse sentido, é fundamental que se diversidades culturais, sociais e individuais.
atente ao detalhe de que a educação é um
processo dialético que acontece como fruto Enquanto não se considerar e não se
da interação entre seres humanos e entre promover a construção de estratégias de
eles e a estrutura no qual estão inseridos. ensino tão diversificadas quanto forem as
Os educadores tem que acreditar que uma possibilidades interativas de aprendizagem,
educação efetiva e de qualidade é possível, a padronização e as dificuldades estarão

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Revista Educar FCE - Março 2019

sempre cristalizadas em um dos polos a valorização do processo de aprendizagem


evidenciados no aluno, no professor, na dos alunos e a inclusão dos alunos.
escola ou na família.
As crianças apresentam características e
De acordo com CORREIA (2008), ao necessidades próprias nos seus processos de
providenciarem-se serviços adequados e apropriação do conhecimento, muitas vezes,
apoios suplementares nas classes regulares, diferentes dos demais alunos no domínio das
os alunos com necessidades educacionais aprendizagens e, umavez que precisem de recursos
especiais podem atingir os objetivos que pedagógicos e metodologias educacionais
lhe foram traçados, tendo em conta as suas específicas, entende-se que é primordialmente
características e prioridades. necessário que a escola se prepare.

A colaboração de diversos profissionais Segundo GUIJARRO (1999), as adaptações


e especialistas da área é fundamental, pois nos currículos das escolas são relevantes
implica em compartilhar o espaço da sala para que o planejamento de atividades e a
de aula, bem como a responsabilidade de organização da estrutura escolar possam
planejar, organizar e avaliar os conteúdos contemplar a diversidade que compõe uma
e a apropriação dos conhecimentos por sala de aula, incentivando o progresso dos
parte do aluno. Entretanto, para que isso alunos e o alcance de objetivos em cada
aconteça, de fato, é necessário que exista etapa de seu processo acadêmico.
uma parceria, uma relação de cumplicidade,
e um entendimento mútuo entre esses Antes da realização das adaptações
profissionais. curriculares, é necessário oferecer aos
alunos um conjunto de medidas pedagógicas
Sabe-se, porém, que as demandas que possam compensar as dificuldades no
escolares são bem mais amplas e complexas processo de aprendizagem.
do que unicamente o trabalho com alunos
com NEE (necessidades educacionais As políticas públicas de inclusão
especiais), pois os princípios da escola necessitam de aparatos e apoios, tanto em
inclusiva solicitam apoios para todos os nível material quanto humano. Percebe-se
alunos com dificuldades significativas no seu que muitas vezes as escolas carecem desses
processo de aprendizagem. recursos, dificultando a implementação dos
espaços institucionais inclusivos. Os alunos
Nesse contexto, um dos maiores desafios com necessidades educacionais especiais
da escola consiste na promoção e na precisam acessar escolas que estejam se
efetivação de projetos e estratégias que transformando, que adequem suas propostas,
se distanciem de modelos retrógrados planejamentos, currículos e metodologias de
vigentes até pouco tempo, tendo como foco ensino em prol dessa diversidade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

De acordo com HENRIQUES (2012), na precisam ser preparados e acompanhados


educação inclusiva o fundamental é que se no processo de inclusão pelo fato de
garanta a qualidade a todos os alunos, de estarem num universo diferente deles.
modo que a diversidade seja apontada tanto A identidade pessoal e social é essencial
nas potencialidades como nas necessidades para o desenvolvimento de todo indivíduo,
das crianças. O acesso aos diferentes saberes enquanto ser humano, enquanto cidadão.
deve ser mobilizado na perspectiva de uma
educação cada vez mais significativa. MENDES (2006) adverte que só o acesso
não é suficiente, e traduzir a filosofia de
O que se busca, neste processo, é que inclusão das leis, dos planos e das intenções
todos tenham o acesso ao conhecimento e para a realidade dos sistemas e das escolas
aprendam a dele se utilizar no gerenciamento requer conhecimento e prática.
de suas vidas cotidianas no espaço comum da
comunidade. Percebe‐se que a função social Salienta-se que o ambiente escolar
da escola não se limita a ações temporárias ideal para os alunos com necessidades
e imediatistas, mas a novos paradigmas que educacionais especiais deve ser um espaço
sustentem e influenciem transformações rico e desafiador, no qual a interação
positivas na sociedade. com os colegas entre si concorra para o
desenvolvimento de suas potencialidades,
De acordo com MACHADO (2009), a possibilitando a construção e a troca de
inclusão vai além do que é habitual, não se saberes e valores.
prende a estereótipos e perfis de alunos com
padronizações. A escola tem uma clientela Se não houver atenção sistemática
multifacetada e, como tal, precisa desenvolver às necessidades educacionais especiais
práticas de aprendizagem mais diversificadas, individuais do aluno que se manifestam em
contemplando os ideais inclusivos. sua interação com o contexto da sala de
aula, o processo ensino-aprendizagem ficará
Nessa mesma perspectiva, KASSAR (2005) prejudicado, tornando, na prática, inviável
considera que a escola precisa se renovar e sua inclusão escolar e seu desenvolvimento
se reciclar diante das novas configurações acadêmico e intelectual de modo geral.
educativas que se apresentam no cotidiano
das classes escolares. A formação escolar O respeito à diversidade pode ser construído
deve incentivar o desenvolvimento dos dia após dia em sala de aula, dependendo
alunos segundo os interesses, necessidades exclusivamente da interação entre discentes
e peculiaridades de cada criança ou grupo. e docentes e das oportunidades dadas por
meio de atividades que possibilitem a troca
Na escola regular, os alunos com e socialização do conhecimento.
necessidades educacionais especiais

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Revista Educar FCE - Março 2019

O professor como mediador desse processo construtivo, pode possibilitar o diálogo, o


respeito ao outro, às diferenças, o amor ao próximo, o cuidado com a natureza. É a partir
disso que se constrói uma sociedade mais justa.

Torna-se essencial a diversificação da prática pedagógica, de modo que o acesso e a


participação de cada aluno sejam garantidos com equidade. As crianças não são sujeitos
idênticos, por isso não podem estar participando de um processo educacional limitado.

Velhos modelos e paradigmas devem ser repensados, pois a diversidade é um elemento


escolar e social, que faz parte do cotidiano das pessoas em diferentes categorias, tempos e
espaços.

A diversidade enriquece e humaniza a sociedade, quando reconhecida, respeitada e


atendida em suas especificidades. Por isso, é importante que em sua prática pedagógica o
professor reconheça o respeito à diversidade como fator necessário e imprescindível para as
relações humanas.

É preciso compreender que a diversidade está dentro da escola e das salas de aula, é preciso
percebê-la, valorizá-la, falar sobre ela, pensar junto no que fazer quando uma necessidade
educacional exige resposta educativa, para que a aprendizagem ocorra.

MANTOAN (1997), ao tratar da diversidade, evidencia uma mudança necessária de


paradigma nos sistemas educativos, nos postulados científicos e na sociedade. Dessa
maneira, é importante que a pauta de discussões sobre a inclusão não se esgote, a fim de
validar práticas educacionais abrangentes e mais acolhedoras.

Sabe-se que um longo percurso precisa ser percorrido e muitas lacunas se abrem, pois o
processo de ensino e de aprendizagem é bastante complexo e o professor de sala regular
precisa estar intimamente envolvido com seus alunos, necessitando de suportes que lhe
deem condições também de atuar com alunos com necessidades educacionais especiais.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As políticas públicas inclusivas se caracterizam como
ações inovadoras e recentes no contexto dos agrupamentos
sociais, tanto nos setores políticos, culturais, educacionais,
como em outros mais restritos. Frente a esse novo cenário,
o papel e a função social da escola precisam ser adequados,
para que os sistemas educacionais tenham mais qualidade.

Nesse contexto, é fundamental que as condições


pedagógicas e de estrutura dos espaços escolares sejam
revistas e planejadas de uma maneira mais pontual e dinâmica.

As mudanças no contexto escolar se fazem necessárias


e urgentes, para que o acesso e o atendimento aos alunos FABIANA RIBEIRO DE
com necessidades educacionais especiais sejam garantidos, MACEDO COSTA
respeitando-se as singularidades de cada aluno. Na
Graduação em Psicologia pela FMU em
educação infantil, deve haver um olhar mais atento para 1.999 e em Pedagogia pela Uniban em
o desenvolvimento das crianças, permeado por condutas 2.005 ; Professora de Educação Infantil
democráticas e éticas, a fim de que as limitações dos alunos e Ensino Fundamental I na EMEI Heitor
sejam superadas e suas potencialidades sejam estimuladas. Villa Lobos.

O atendimento de crianças com necessidades educacionais


especiais nas escolas de ensino regular deve instigar as
habilidades e competências cognitivas de modo interativo,
favorecendo as relações interpessoais e o equilíbrio emocional.

Com o crescente número de alunos na educação infantil, aumenta também a diversidade


com que se tem de lidar dentro de uma sala de aula e consequentemente o trabalho do
professor é ampliado e ganha novos desafios, o que nem sempre resulta em um trabalho
satisfatório, visto as condições pouco favoráveis nas quais trabalha um educador no Brasil.

O movimento da inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais precisa


ser uma ação não apenas educacional, mas também social e político no que se refere a
estratégias de intervenção consciente e responsável, no contexto educacional, para que no
futuro as crianças venham também, defender o direito de todos os alunos desenvolverem e
concretizarem as suas potencialidades.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
CURY, Carlos Roberto Jamil. Políticas inclusivas e compensatórias na educação básica.
Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 35, n. 124, p. 11-32, jan./abr. 2005.

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Ibero-Americano de Educação Especial, Foz do Iguaçu, 1999.

HENRIQUES, R. M. O Currículo Adaptado na Inclusão de Deficiente Intelectual. Disponível


em: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/489-4.pdf . Acesso em 03/2019.

KASSAR, M. de C. M. Matrículas de crianças com necessidades educacionais especiais na


rede de ensino regular: do que e de quem se fala? In: Inclusão: políticas públicas e práticas
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MACHADO, R. Educação Inclusiva: Revisar e Refazer a cultura escolar. In: MANTOAN, M. T.


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MANTOAN, M. T. E. A integração de pessoas com deficiência: contribuição para uma reflexão


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MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer? São Paulo:
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MENDES, E. G. Desafios atuais na formação do professor em educação especial. Revista


Integração, Brasília: MEC / SEESP, ano 14, v. 24, p. 12-17, 2006.

RINALDI, Carlina. Reggio Emilia: a imagem da criança e o ambiente em que ela vive como
princípio fundamental. In: GANDINI, L.; EDWARDS, C. Bambini: a abordagem italiana à
educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2002.

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A EXPERIÊNCIA DO ATO DE
LER NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Este trabalho possui o escopo de entender a importância do ato de ler e como
a participação do professor, neste processo, é de vital importância, isso desde a Educação
Infantil, na qual o aluno ainda tem seus primeiros contatos com as letras do alfabeto e nem
tem noção da junção de sílabas, até mesmo nos últimos anos da educação escolar obrigatória,
quando o aluno já deveria estar devidamente treinado para o ato da leitura, o professor deve
participar como ativamente para que o aluno não somente goste de ler, mas também possua
um senso crítico para a leitura, criando as mais variadas estratégias adequadas às crianças
para alcançar este objetivo.

Palavras-Chave: Leitura; Professor; Educação; Infantil.

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INTRODUÇÃO Todavia, este processo deve começar


já na Educação Infantil, antes e durante
A leitura é uma das maiores conquistas a alfabetização, para que este gosto pela
do ser humano. Seja como forma de leitura seja consolidado na pós-alfabetização,
comunicação, diversão, entretenimento, utilizando-se para isso dos mais variados
cultura, educação, a transmissão de meios e métodos condizente com a idade e
informações e conhecimentos não somente com o perfil deste aluno.
pela oralidade, mas também por códigos,
chamado palavras, revolucionou a sociedade O objetivo geral deste artigo é
humana e todos os seus níveis. compreender a importância do ato de ler,
e como isso se dá em sala de aula desde a
Neste sentido, percebe-se outra revolução Educação Infantil, buscando compreender a
quando a escrita e a leitura começa a ser importância e o papel do professor neste ato
democratizada à toda sociedade em geral, da leitura mesmo antes da alfabetização.
pela maioria das civilizações humanas,
retirando o domínio e a exclusividade de O objetivo específico deste trabalho é
pequenos grupos sociais, como, por exemplo, descrever como a leitura pode ser estimulada
os homens, livres e nobres, em sala de aula, desde a educação infantil
até os anos da educação obrigatória, além
Umas das instituições responsáveis por de identificar como o professor pode e deve
esta revolução é a escola, local preparado para participar deste processo de forma efetiva
a produção, disseminação e multiplicação do e ativa, levando o aluno a ter prazer pela
conhecimento. Desde há muito, seu maior leitura, e não somente por obrigação.
meio de comunicação ainda é a escrita,
mesmo em meio da transformação digital da Este tema justifica-se o seu estudo, pois,
educação. Por este motivo, para garantir a apesar de clara e evidente importância do
sua efetividade a primeira atividade cognitiva ato de ler, muitas vezes percebe-se que
da escola é ensinar a criança a ler e escrever. as crianças alfabetizadas e os alunos mais
avançados não encontram prazer na leitura,
O professor, peça fundamental neste ou olhando por outro ângulo, não foram
processo, deve ter a consciência da devidamente preparados ou estimulados
importância de orientar seus alunos sobre o para isso na Educação Infantil e nos anos
ato de ler. Mas não somente a leitura pura e subsequentes da vida escolar.
simples, mas aquela leitura transformadora,
crítica, que faz do leitor não somente um O problema que deve ser enfrentado é
agente passivo, receptor de informações, mas que o professor de Educação Infantil deve ter
alguém que faz da leitura um instrumento participação ativa neste processo, todavia,
para mudar, ao menos, o seu próprio mundo. nem mesmo o docente possui esse gosto,

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psicológicas superiores (a consciência) da


preparo ou estímulo pela leitura. Por isto criança. O conteúdo da experiência histórica do
este artigo pretende estimular o professor a Homem, embora esteja consolidado nas criações
ler e ensinar seus alunos a serem leitores e materiais, encontra-se também generalizado e
se prepararem para transmitir este gosto aos reflete-se nas formas verbais de comunicação
seus alunos. entre homens, sobre este conteúdo. (OLIVEIRA,
2000, p.17)
Este artigo também pretende fazer uma
singela homenagem ao Professor e Pensador Podemos, então, considerar que o homem
brasileiro Paulo Freire, um dos maiores desenvolveu-se histórica e psicologicamente
pensador e educador que tanto estimulou a com o advento da linguagem. A linguagem
leitura pelo mundo. escrita e falada alterou a realidade do ser
humano em sua convivência em social. Por
isso que a linguagem é muito mais do que
A IMPORTÂNCIA um meio de comunicação. Por outro ângulo,
DO ATO DE LER verificamos que “Linguagem e realidade se
prendem dinamicamente. A compreensão do
Desde o início da história da humanidade, texto a ser alcançado por sua leitura crítica
o homem já buscava uma forma para se implica a percepção das relações entre texto
comunicar de forma escrita. As pinturas e o contexto”. (FREIRE, 2003, p. 13), e, deste
rupestres, a primeiras manifestações modo, a linguagem torna-se um modo de ler
registradas do homo sapiens já demonstravas e transformar o seu mundo e realidade.
a necessidade do ser humano colocar suas
ideias em um local que ficasse registrado, em Pra exercer e exercitar a linguagem, veio a
outras palavras, escrever em um código em toda a escrita e, consequentemente, a leitura.
que outros possam ler e interpretar o que Com isto, o ser humano pode registrar suas
está registrado. ideias, sentimentos, desejos, além de suas
percepções da realidade, com a utilização
Desde então, o ser humano não parou das palavras escrita, de um modo que outra
de desenvolver este modo de comunicação, pessoa, em outro momento e em outro local,
criando as letras e as palavras, que nada possa tomas conhecimento deste conteúdo.
mais são do que códigos previamente
estabelecidos, em que todos os membros de Mas se a linguagem possibilitou que o
uma comunidade que conhecem tal código mundo pudesse melhorar o entendimento
possam se comunicar de forma mais precisa. da realidade que o cerca, isso ocorreu, em
grande parte, pela capacidade da escrita e da
Este fato inaugurou o surgimento da linguagem. leitura, ou seja, a transmissão de conteúdo
E diante deste ensinamento, aprendemos que pelo uso das palavras.
o uso da linguagem se constitui na condição mais
importante do desenvolvimento das estruturas

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Revista Educar FCE - Março 2019

A realidade do homem nunca mais foi a conteúdos, opiniões que expandem o


mesma depois da escrita e da leitura, pois, pensamento daquele que exerce este
passou a olhar sua realidade de uma forma hábito, abrindo espaço para o exercício e o
diferente. Podemos afirmar que “a leitura aprimoramento da capacidade cognitiva.
da palavra não é apenas precedida pela
leitura do mundo, mas por certa forma de Por isso a leitura deve ser estimulada deste
‘escrevê-lo’ ou de ‘reescreve-lo’, quer dizer, dos primeiros anos da criança, primeiro pelos
de transformá-lo por meio de nossa prática pais, e depois pela Escola, em que a criança
consciente”. (FREIRE, 2003, p. 41). nem ainda foi alfabetizada.

Este movimento de leitura e transformação


do mundo ocorre porque, com o advento AS EXPERIÊNCENCIAS DE
da leitura, foi possível o homem tomar LEITURA DOS ALUNOS NA
contato com outras leituras de mundo, de
outras pessoas, o que inexoravelmente EDUCAÇÃO INTANTIL
transformou sua própria visão da realidade, Dado o contexto em que vivemos, no qual
criando um movimento entre a leitura do as crianças, jovens e adultos são diariamente
mundo e a própria realidade, tendo como bombardeadas por estímulos eletrônicos e
resultado deste movimento a transformação digitais podemos ser levados a pensar que
da realidade. Este movimento é constante e as pessoas hoje em dia não possuem mais o
inerente à existência humana pós-linguagem, hábito de leitura.
por isso, “este movimento do mundo à
palavra e da palavra ao mundo está sempre Diferentemente do que se possa imaginar,
presente. Movimento em que a palavra dita todo aquele que foi alfabetizado, de uma
flui do mundo mesmo por meio da leitura maneira ou de outra possui certa experiência
que dele fazemos”. (FREIRE, 2003, p.40) de leitura em seu cotidiano. O que podemos
e devemos questionar é sobre a qualidade
Por isso, a leitura de um livro, ou qualquer desta experiência de leitura.
outro documento que possua conteúdo
expresso por palavras é muito mais do que Grande parte a comunicação realizada
uma codificação e palavras, mas é fluxo de pelos smartphones ocorrem de maneira
tradução do mundo daquele que escreve e escrita, os documentos oficiais ou contratos
daquele que pratica o hábito da leitura. de consumos são escritos, o que força a
qualquer um a estabelecer um contato com
Deste modo, mostra-se claro que leitura é a palavra. Ocorre que este contato é vazio
um instrumento poderoso para que a pessoa, de conteúdo criativo, ou que envolva a
desde a infância, possa abrir sua mente e os imaginação e
seus horizontes para novos conhecimentos,

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Revista Educar FCE - Março 2019

“imaginar é perceber mentalmente, ter Ou seja, antes de qualquer atuação junto


uma ideia sobre algo que não está presente aos alunos, é importante que o docente tenha
realmente. Isto é, quando imaginamos a disciplina intelectual para gostar de ler o
transcendemos a experiência, com seus mundo por meio dos livros e não somente
dados e fatos.” (SÁTIRO, 2012, p. 25) os populares, que também devem ser lidos,
mas também a literatura brasileira e mundial
Esta falta de diversificação no conteúdo consolidada pela crítica e pelo tempo.
da leitura diminui bastante sua qualidade,
pois, se a palavra é sim para ser utilizado Essa importância é pelo simples fato que
para facilitar a comunicação em aplicativo provavelmente o professor é aquele que
de celular, facilitar o consumo, e outras conduz o aluno ao primeiro contato com
atividades práticas da sociedade, também a leitura da palavra, já que nem sempre os
serve transmitir ideias, sentimentos, sutilezas alunos possuam pais alfabetizados ou que
e isso geralmente só é possível por meio de tenha este interesse em iniciar contato dos
livros, elaborados por escritores que possuem filhos com os livros.
a capacidade para isso, os chamados livros
literários. E dado este fato do primeiro contato dos
livros com o professor, será a primeira vez que
São livros que devem ser lidos por todas a criança vai começar a abrir seus horizontes
as pessoas, independentes de idade, sexo, por meio de conteúdos de pessoas as quais
religião ou ideologia, em razão da sua não conhecem ou não tem contato pessoal,
universalidade, além de sua qualidade com apenas por meio das palavras contidas os
relação ao conteúdo e ao vernáculo. Ocorre livros.
que nem mesmo os professores possuem o
hábito deste tipo de leitura, o que se dizer É importante entender que a criança já
dos alunos que não possuem qualquer possui a própria leitura do Mundo que passará
estímulo para fazê-lo. a ser transformada a cada dia ao iniciar seu
contato com a leitura, tanto pela leitura e voz
É importante atentar com relação à do professor, quanto a sua própria leitura,
quando o processo de alfabetização começar
necessidade que temos, educadores e a dar seus frutos.
educandos, de ler, sempre e seriamente, os
clássicos neste ou naquele campo do saber, É neste momento inicial que a criança deve
de nos adentrarmos nos textos, de criar uma ter as melhores experiências com o livro e com
disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a
as palavras. É papel de o professor direcionar
nossa prática enquanto professores e estudantes
e encaminhar a criança para uma leitura de
(FREIRE, 2003,p. 35)
qualidade, mas isso não pode ser realizado
de forma impositiva e constrangedora para

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Revista Educar FCE - Março 2019

o espírito e resgatar significado para a nossa


o aluno, pois toda experiência negativa será
existência. (BUSATTO, 2003, p. 45)
associada ao ato de ler, transformando um
ato extremamente prazeroso, em algo chato,
maçante e até repulsivo. A história é o primeiro contato da criança
com uma literatura de qualidade, fazendo
Quando o professor entende esta com que sua imaginação seja trabalhada e
necessidade quanto à iniciação à leitura e influenciada e por isso mesmo, sem perceber
incorpora isso à sua didática, fica bem mais a criança criará o mundo e a fantasia descrita
fácil traçar as estratégias para levar seus na história utilizando toda bagagem que
alunos a sentir prazer na leitura. possui conforme sua vivência.

Uma forma de história utilizada para


ESTRATÉGIA PARA divertir as crianças são os contos, que
ESTIMULAR A LEITURA
são o resultado de uma criação imaginária que
NA EDUCAÇÃO INFANTIL tem como objetivo divertir os seres humanos
A estratégia para estimular o gosto da e que tem um valor educacional inconfundível,
leitura pelo aluno deve começar antes porque, entre outras coisas, cultivam a
capacidade de se emocionar/leitores. É por isso
mesmo da alfabetização. Isso porque, como
que utilizar contos para introduzir as crianças na
refletimos no início deste artigo, a leitura é
realidade social e linguística te sido uma prática
parte da construção da linguagem. Deste
comum em todas as épocas da humanidade e em
modo, o aluno, desde o início da carreira
todas as civilizações. (SÁTIRO, 2012, p. 63)
escolar, deve ter contato com a utilização da
linguagem, e isso de forma prazerosa.
Mas a atividade não deve ser passiva,
Não existe melhor estratégia para isso do ou seja, a criança não deve apenas ouvir,
que o ato de contar história, trabalhando do contrário torna-se ainda mais produtiva
assim a imaginação e a criatividade por se incluir perguntas relativas ao texto para
meio da linguagem. A necessidade de que a criança possa refletir sobre o que leu,
contar história, desde a primeira infância e assim estimular a leitura crítica desde os
da criança, vai muito além da estratégia de primeiros anos da vida escolar. E para esta
boa experiência na iniciação da leitura, mas atividade,
também para isso, ou seja, existe para
as perguntas para desenvolver as habilidades
formar leitores, para fazer da diversidade cultural de pensamento são perguntas amplas que se
uma realidade efetiva; valorizar as diferentes encaixam em qualquer conteúdo, devendo
etnias, manter a história viva nas mentes; para portanto ser adaptadas ao universo linguístico
se sentir vivo, para encantar e sensibilizar quem da criança e ao contexto no qual serão utilizadas.
ouve; para dar estímulo à imaginação; alimentar O melhor momento para utilizá-las será decidido

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Revista Educar FCE - Março 2019

pelo educador, tanto pode ser ao longo da


Esse barulho e esse rebuliço devem ser
realização das atividades propostas, como após
a realização destas no momento de diálogo entre
visto como algo totalmente positivo, pois
todas as crianças. (SÁTIRO, 2012, p. 77)
as crianças ficam com este comportamento
quando estão empolgados com alguma coisa.
E é assim mesmo que deve ser mostrando a
Com esta ferramenta de diálogo biblioteca como algo mágico e empolgante.
direcionado para refletir sobre o texto, as
crianças serão obrigadas a pensarem sobre É importante eu os alunos vejam e percebam
tudo o que ouviram, formando opinião, o ato do professor em tirar o livro da estante
ideias e sentimentos sobre a história, e explicar que os livros estão disponíveis para
mudando assim sua leitura de mundo, o que que eles façam o mesmo, desde que depois
é o objetivo da leitura, como tem visto até devolvam ou coloquem em local reservado
aqui. para isso, ou seja, ensinar que a biblioteca
também é um local de organização.
Importante também que esta leitura seja
efetuada na biblioteca da escola, o local mais Depois do término da atividade da leitura
apropriado para a atividade, e de conto de história além dos diálogos
dirigidos é interessante deixar a criança pegar
e uma biblioteca é um centro de descoberta e alguns livros para tomar contato inicial com
de provocações para olhar, mexer e encontrar a literatura individualmente, mesmo que não
algo de saboroso e novo... de possibilidades esteja completamente alfabetizado e mesmo
de sentar numa mesa e ficar por muito tempo que a maioria dos livros não seja para a faixa
virando páginas e páginas de livros raros. Um
etária da criança.
lugar onde se possa folhear qualquer espécie
de livro publicado, brincar com dicionários,
O importante é a criança pegar gosto pela
buscar palavras que não conhece, imagens em
leitura pelo fato de ter contato como os livros.
livros de arte ou em revistas ou jornais antigos...
E, sobretudo, possibilidade de encontrar
Isso porque, ao pegar os livros do seu interesse,
toda a espécie de livro que proporcione poderá ler palavras que já conhece e ver algumas
encantamento, ludicidade, prazer de descoberta. figuras com que se identifique, e assim criar
(ABRAMOVICH, 2006, p. 163) cada vez mais familiaridade com a literatura.
Para isso é importante alguns cuidados, como
por exemplo, se a escola for frequentada por O professor não precisa ficar preocupado
alunos de outras séries, reservar o dia da história em direcionar para livros clássicos ou
somente para as crianças da Educação Infantil, direcionados para a idade do aluno. Mesmo
em razão ao barulho e ao rebuliço provocado que o aluno goste de folhear livros populares
pelas crianças dessa idade. e massificados, em um primeiro momento, o
importante é fazer o aluno gostar de ler, sem
qualquer imposição ou limitação.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Com esta estratégia, o professor terá uma maior probabilidade de alcança a mente e o
coração do aluno de Educação Infantil para ter um maior gosto pela leitura, melhorando
sua experiência como leitora durante toda sua vida escolar e adulta. Será também um leitor
ativo, que transformará e ser á transformado pela leitura do mundo por meio dos livros, de
forma crítica e reflexiva, tendo como resultado pessoas melhores.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A leitura assim como qualquer outra atividade realizada
pelo ser humano deve ser estimulada desde os primeiros
anos da vida da criança. E se a família não tem condições de
proporcionar este estímulo, a escola se torna o principal locus
de estímulos e estratégias para que os alunos passem a ter
prazer na leitura e tenha a percepção de sua importância.

Este artigo teve o objetivo demonstrar a importância da


leitura para a vida do aluno, isso porque ao utilizar a escrita
e a leitura como parte da linguagem, a criança abre seus FABIANA VIEIRA
horizontes ao perceber o mundo à sua volta de uma forma DE MESQUITA
diferente, podendo transformá-lo e ser por ele transformado.
Graduada em Pedagogia pela
Além disso, inicia uma trajetória de desenvolvimento Universidade Cidade de São Paulo (2011)
cognitivo propiciado pelo trato com a palavra. Especialista em Direito Aplicado à
Educação pela Faculdade Campos Elíseos
Ocorre que as experiências das crianças, jovens e adultos (2017)
com a leitura nem sempre São as mais estimulantes. Desde Professora de Educação Infantil e
a primeira infância as crianças são estimuladas por meio de Professora de Ensino Fundamental na
brinquedos eletrônicos que não evita que as pessoas tenham Prefeitura da Cidade de São Paulo.

contato com a leitura, mas faz com que esta leitura seja de
baixíssima qualidade. Primeiro pela falta de criatividade
envolvida na leitura que não é fruto de literatura desenvolvida
para isso, e por outro lado, em razão da questionável
qualidade diante da língua portuguesa formal.

Por isso, para reverte esta situação, cabe ao professor estabelecer estratégias, desde a
Educação Infantil, para estimular a leitura pelos alunos, mesmo antes da alfabetização.

E a principal estratégia é o conto de histórias, seja em biblioteca ou em rodas de histórias


ou ainda em ambientes externos e diversificados ,seguida de um diálogo reflexivo. Deste
modo o aluno será treinado para aprender a ler e a refletir sobre sua leitura, transformando-
se em um leitor ativo e reflexivo.

Este artigo também é uma homenagem ao grande pensador e pedagogo brasileiro Paulo
Freire que tanto estimulou a leitura não só no Brasil, mas também no mundo.

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REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: Gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.

BUSATTO, Cléo. Contar e Encantar: pequenos segredos das narrativas. Petrópolis: Editora
Vozes, 2003.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Editora Moderna, 2003.

OLIVEIRA, Zilma de M. Ramos. A criança e seu desenvolvimento. São Paulo: Editora Cortez,
2000.

SÁTIRO, Angélica. Brincar e pensar com crianças de 3 a 4 anos. São Paulo: Editora Ática,
2012.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O PAPEL DA ESCOLA NO
COMBATE À IDEAÇÃO DO
SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA
RESUMO: O referido trabalho versa sobre a realidade do adolescente do século XXI e seus
inúmeros problemas sociais, quase sempre ligados à necessidade de um encaixe dentro da
sociedade. O objetivo é refletir sobre a questão do suicídio e o papel da escola no combate à
ideação do suicídio na adolescência, atuando para identificar aqueles que necessitam de ajuda
e, dessa forma, oferecer apoio e acionar a família, para juntos debater o problema e prevenir
a ocorrência da ação. Dessa forma, foram analisadas a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC), que traz entre suas competências gerais o autoconhecimento, o autocuidado e a
empatia, e demais fontes que englobam essa temática na faixa etária escolhida. Já para a
construção do arcabouço teórico destacam-se os seguintes autores: Meleiro (2004), Wang;
Santos; Berlote (2004), Bahls (2002). Espera-se contribuir para a discussão sobre o papel
da escola em relação à prevenção e, nas situações de ocorrência, como proceder junto à
comunidade escolar. É necessário desmitificar o assunto, promover o debate na escola e
amparar os alunos que enfrentam problemas de adequação social, bullying, isolamento,
depressão e baixa autoestima, levando-os acreditar ser o suicídio a solução.

Palavras-Chave: Competências socioemocionais; Suicídio na adolescência. Prevenção na escola.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO Ao ter que desempenhar uma função


tão central na vida dos estudantes, a escola
O suicídio é ainda um tabu em nossa precisa preparar seus professores para
sociedade. No entanto, o crescimento no reconhecer precipitantes de suicídio, ou seja,
número de ocorrências com adolescentes é necessário ser capaz de identificar sintomas.
evidencia a necessidade de estudo e debate Para isso, atenção e escuta atenta são
envolvendo profissionais de diversas áreas ferramentas fundamentais. O adolescente
do conhecimento. De acordo com o Boletim precisa ser levado a sério, somente assim
Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em será possível responder, adequadamente
Saúde 2017), em seu Boletim Epidemiológico, aos seus apelos. É preciso lembrar que a
esta é a quarta causa de morte entre jovens. adolescência é uma fase em que o indivíduo
pode perder suas referências e, muitas vezes,
A realidade do adolescente do século XXI tem sua autoestima abalada, fazendo surgir
é permeada por inúmeros problemas sociais, um sentimento de não pertencimento, o que
como a toxicodependência, a marginalidade, pode resultar na perda do sentido da vida,
a delinquência e doenças sexualmente resultando em suicídio.
transmissíveis. Muitos desses assuntos são
hoje discutidos na escola, mas o suicídio Diante do exposto, percebe-se que apontar
permanece um tema velado. Essa atitude culpados ou achar uma causa desencadeante
pode ser justificada, visto que convencionou- da tentativa de suicídio não resolve a
se afirmar que falar sobre suicídio gera mais questão, uma vez que é difícil estabelecer
suicídio. Apesar do cuidado que o tema com segurança a existência de um único
pede, é necessário refletir sobre a questão motivo. De acordo com as características
e buscar formas de prevenção. A literatura do indivíduo, existem diversos fatores
especializada ressalta que a grande maioria que podem ser identificados como fatores
dos suicidas sinalizaram sua intenção. No determinantes ou desencadeantes. Não se
entanto, esses sinais de alerta podem não pode, igualmente, generalizar, afirmando
ter sido reconhecidos e isto é exatamente que um adolescente buscou a morte porque
o que precisa ser repensado, envolvendo estava deprimido, brigou com os pais ou é
nesta reflexão não apenas profissionais e usuário de drogas. A questão é complexa e
familiares, mas também a escola, sobretudo demanda aprofundamento, conhecimento
porque hoje está em falta outros círculos sobre a dinâmica de relações que permeiam
sociais, além da família. Portanto, a escola a vida desses estudantes.
ocupa um papel ainda mais relevante na
vida dos adolescentes e esta pode ser uma O presente artigo buscou investigar o
relação boa ou ruim. É no ambiente escolar estado emocional em que se encontram
que acabam eclodindo muitos dos conflitos pessoas que cometem o suicídio, a relação
experenciados pelos adolescentes. do adolescente com esta temática para

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encontrar formas de tratamento no Desde 950 a Organização Mundial de


âmbito escolar, incluindo a prevenção e a Saúde (OMS) é responsável por monitorar
posvenção. Nesse sentido, torna-se válido dados mundiais, analisando as taxas de
buscar fundamentação na Base Nacional suicídio. No entanto, somente em 1998 é
Comum Curricular (BNCC), quando trata que essas análises se tornaram mais severas,
das competências socioemocionais. Assim, constatando-se quantitativamente os casos
ao desenvolver o autoconhecimento, o de suicídio, em intervalos de cinco anos,
autocuidado, estes adolescentes podem considerando as ocorrências fatais em cento
aprender a superar conflitos e o sentimento e cinco países e categorizando os indivíduos
de inadequação, recuperando sua autoestima pela idade e sexo. No resultado obtido, a
e alcançando equilíbrio emocional. China liderou a lista, com 195.000 suicídios
cometido no período avaliado (WANG;
SANTOS; BERLOTE, 2004).
CONCEITO E EPIDEMIOLOGIA
Já no Brasil, as avaliações estatísticas
Com derivação latina, sui, que significa si iniciaram a partir de 1980, também por meio
mesmo, e caedes, ação de matar, o suicídio da OMS, e até o ano 2000 houve redução
foi primariamente registrado na Inglaterra significativa das taxas de suicídio no país, se
pelo dicionário Oxford English Dictionary, comparadas aos demais, mas ainda ocupando
em 1661, sendo definido como “ato de matar o 9º lugar do ranking mundial. Vale salientar,
a si mesmo intencionalmente”. Contudo, o porém, que quando se considera o Índice de
assunto não foi mencionado até 1755, o que Densidade Demográfica, o Brasil cai para 71º
já evidenciava preocupação e pudor com lugar (WANG; SANTOS; BERLOTE, 2004).
relação ao ato do suicídio (MELEIRO et al.,
2004). Razões como desemprego, disparidade
social, classe econômica baixa e limitações de
Meleiro et al. (2004, p. 14) resgatam o escolaridade interferem no crescimento das
conceito construído por Émile Durkheim, taxas de suicídio, fazendo com que o cidadão
em 1897, para contextualizar o tratamento entre em descrença, acrescido a estados
dispensado ao tema, que ganhou maior depressivos e/ou vícios em substâncias
atenção com o passar do tempo: “Todo caso lícitas ou não, o que os encaminha à prática
de morte que resulta direta ou indiretamente suicida (WENZEL; BROWN; BECK, 2010).
de um ato positivo ou negativo realizado
pela própria vítima, a qual sabia dever ele Apesar do aumento nas taxas, a motivação
produzir este resultado. A tentativa é o ato ao suicídio é assunto pouco dialogado
assim definido que falha em levar a morte”. e até mesmo esforços publicitários de
conscientização sofrem ocultação social pela
objeção em pronunciar conteúdos correlatos

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Revista Educar FCE - Março 2019

à morte (BARBOSA; MACEDO; SILVEIRA, por descendência, violência sexual, casos de


2011). O receio é causar o efeito inverso: suicídio de parentes ou amigos (OMS, 2006).
aumentar o número de ocorrências. Esta
questão é lembrada por Roskosz et al. (2016, Diante do acima disposto, o suicídio é a
p. 4): racional vontade de morrer. É um processo
racional porque aquele que o comete
Este fato pode ser explicado pelo preconceito, tem conhecimento das consequências do
estigma e receio de instigação do ato suicida ato. De acordo com Araújo et al. (2010), o
existentes ainda hoje dentro da sociedade e comportamento suicida pode ser dividido
das famílias, gerando assim um tabu em torno em três categorias: a ideação suicida –
do assunto. Existe ainda uma banalização das
pensamentos, ideias, planejamento e
expressões do desejo de morte e da depressão,
desejo de se matar; a tentativa de suicídio
que são um dos principais fatores envolvidos na
e o suicídio consumado. Das três, a ideação
ideação suicida. Além disso, a falta de informação
suicida merece atenção por se configurar um
com relação ao manejo destas situações, faz com
que o assunto se torne evitado e até mesmo
importante preditor de risco para o suicídio,
velado. ou seja, ele pode ser considerado um indício
do que está por vir. É considerando, segundo
Werlang et al. (2005), a etapa inicial para a
Apesar do estigma, o crescimento efetivação. Isso significa que a decisão de
estatístico modificou o tratamento cometer suicídio não ocorre com celeridade.
dispensado ao suicídio, passando a ser
considerado uma questão de saúde É frequente no comportamento desses
pública. Prevalecendo ainda casos no sexo indivíduos alguma indicação prévia, uma
masculino, mas com transição entre idosos espécie de aviso, sobre a ideia de atentar
e adolescentes acima de 14 anos (ROSCOSZ contra a própria vida. Igualmente importante
et al., 2016). é mencionar que, conforme atesta a literatura
especializada, há uma grande probabilidade
Conforme material de apoio para de, após uma primeira tentativa de suicídio,
conselheiros elaborado pela OMS, o período ocorrerem outras, até que se alcance o
da adolescência é o com maior predisposição intento (BORGES et al., 2006; ESPINOZA-
a ideação suicida, já vez que corresponde a GOMEZ et al., 2010). Sobre o processo,
maiores mudanças sociais, emocionais e Krüger e Werlang (2010) estabelecem que
problemas como o bullying, uso abusivo entre a ideação suicida, tentativas e suicídio
de substâncias, problemas familiares que concretizado, pode transcorrer tempo
podem trazer transtornos e ampliar-se à suficiente para intervenção.
tentativa suicida. A cartilha da OMS também
aponta fatores como negligência familiar,
transtornos psicológicos e/ou psiquiátricos

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Revista Educar FCE - Março 2019

SUICÍDIO E ADOLESCÊNCIA comportamentais e afetivos. A falta de


convivência com os pares, durante a infância
A transição da infância para a adolescência e/ou a adolescência, pode constituir-se,
traz à tona crises existenciais, que podem conforme dispõem Prieto e Tavares (2005), um
ocasionar pensamentos suicidas mesmo que fator de risco ao suicídio. Os pesquisadores
eventualmente. Tal fato é qualificado como defendem que as trocas afetivas com pares,
parte do entendimento no significado da nesta fase do desenvolvimento, minimizam
vida e da morte. A depender do indivíduo experiências adversas, promovendo uma
em transição, esses sentimentos podem ou maior sensação e pertencimento.
não ser compartilhados no círculo familiar
(MOREIRA; BASTOS, 2015). As exigências sociais e psicológicas,
normalmente impostas no período da
Permeando essa transição da infância à adolescência, são consideradas como um
fase adulta, vem a sensação de inadequação, fator relevante nos estudos sobre suicídio
uma vez que o adolescente não se vê mais na adolescência, explicando, parcialmente, o
como criança, mas também não dispõe elevado número de ocorrências. Muitos jovens
das habilidades, psíquicas e socioafetivas, enfrentam nesta fase grandes mudanças e a
necessárias para lidar com toda essa descoberta de novas habilidades, levando-os a
carga emocional e buscar a resolução do enfrentardesafios de diferentes complexidades
problema. Isso explica porque, normalmente, (STEINBERG, 2000). A frustração em não
a adolescência é marcada por angústias conseguir administrar essas demandas pode
sociais, emocionais e físicas que, por sua vez, impulsionar muitos jovens a desenvolverem
trazem dúvidas e conflitos. Apesar destas pensamentos e comportamentos suicidas.
condições, a tendência suicida adolescente Conforme preleciona a literatura especializada
sofre depreciação pela sociedade, que sobre o assunto, é na adolescência
banaliza o adolescente no que concerne à que, ocasionalmente, podem aparecer
frustração em decorrência das mudanças pensamentos de morte, em decorrência dos
sofridas, desencadeando, muitas vezes um ajustes contextuais e situacionais impostas
comportamento autodestrutivo, podendo por essa fase (WERLANG et al., 2005).
resultar na ideação suicida e/ou concretização Essas ideias de morte também podem ser
do suicídio (WENZEL; BROWN; BECK, 2010) consideradas uma estratégia para lidar com
problemas existenciais (o sentido da vida e da
De acordo com Dutra (2002), dentre os morte), conforme afirmam Borges et al. (2006).
adolescentes que tentam o suicídio, a solidão Caso esse desajuste não seja superado, há um
é um sentimento muito comum. A ausência agravamento, aumentando, com o passar dos
de amigos, a falta de ter alguém para dividir anos, as tentativas de suicídio e o suicídio
suas experiências, angústias e tristezas é consumado, especialmente após a puberdade
um catalisador de problemas emocionais, (BAHLS, 2002).

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A temática relativa ao suicídio, atualmente, O PAPEL DA ESCOLA:


tornou-se mais frequente em diálogos DIÁLOGO E RESOLUÇÃO DE
sociais. Tal debate passou acontecer devido
às alarmantes estimativas fornecidas pela CONFLITOS
OMS. Segundo a citada organização, podem Sobre esses aspectos, percebe-se que a
ocorrer cerca de1,53 milhões de suicídios até escola tem um importante papel, uma vez
o ano de 2020, expectando trinta suicídios que é uma das instituições sociais principais
por minuto (MELEIRO et. al, 2004). do convívio com o adolescente, sendo parte
de grande parte do dia dele. Com relação à
A ideação suicida é considerada um fator de temática, sua função é o de prover informação
risco para o comportamento suicida. Alguns de qualidade para essa comunidade escolar,
estudos a associam ao risco de tentativas construir conhecimento acerca das temáticas
e estima-se que 60% dos indivíduos que e dialogar com outros atores da rede, como
consumaram o ato tinham-no idealizado familiares e equipamentos de assistência
previamente. Werlang, Borges e Fensterseifer social. Sabendo, no entanto, que a escola,
(2005) a consideram uma característica não deve resolver essas questões sozinha,
frequente no período da adolescência, mas contar com apoio de uma equipe
uma vez que faz parte do processo de especializada ou, direcionar casos específicos
desenvolvimento de estratégias, que são para o Centro de Valorização da Vida (CVV).
forma de lidar com problemas existenciais
como, por exemplo, compreender o sentido Algo que cabe à escola fazer, nesse sentido
da vida e da morte. informativo, está previsto na Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), dentro da visão
Quando se trata do Brasil, entre 1980 e para o Ensino Médio e mesmo para a Educação
o ano 2000, houve aumento significativo de Infantil, uma vez que não são mais tão raros
21%, em sua maioria cometido por pessoas os casos de crianças que estão na fase inicial
do sexo masculino. Acerca da faixa etária que pode levar à consumação do ato, que é
adolescente, Abasse et al. (2009), indicam a ideação suicida, já citada. Dentro da BNCC
crescimento de 47,5%, nos anos 2000 a 2004. considera-se uma educação integral que
ajude crianças e adolescentes a identificar
O crescimento estatístico, esta área seus estados emocionais, expressá-los de
de estudo apresenta bastante viabilidade formas construtivas, e a saber procurar e
em consequência de sua invisibilidade na pedir ajuda.
sociedade. Ante os fatos evidenciados,
objetiva-se aprofundar o tocante aos Essa conscientização, além de transpor as
sinais que evidenciem a ideação suicida, barreiras que ainda tratam o tema como tabu,
considerando especialmente a atenção é dar aos jovens condições de trabalhar suas
negligenciada aos adolescentes. emoções e com isso ter uma identificação

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precoce de situações que possam levar a um agravo de um quadro depressivo, erradicando


esse agravo e sanando, caso possível. Por ser particular de cada caso, a escola pode
fornecer condições para que os próprios jovens se identifiquem nas situações de sofrimento
psicológico.

Ainda assim, há alguns sinais que devem ser vistos não como exagero, mas como alerta à
ideação suicida, como casos comuns em que os jovens se queixam de problemas e afirmam
não aguentar mais viver, querer desaparecer. Casos assim devem ser vistos com atenção e
jamais serem ignorados. Caso um professor identifique sinais como estes, a direção e a família
devem ser comunicados em caráter de urgência. Nesse momento, entra em pauta ainda
mais a participação de uma equipe que possa lidar com a situação e trabalhar não apenas
no indivíduo em que ela foi identificada, mas em toda a comunidade escolar parte de seu
convívio. Ali deve ser sentido como um ambiente seguro para se expressar os sentimentos,
ações, palavras, pensamentos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante assegurar que o indivíduo veja na figura
do professor alguém disposto a resgatá-lo e ajudá-lo nesse
processo de reprogramar os próprios pensamentos. É
necessário promover na escola a sensação de segurança do
alunado, viabilizando momentos para que uma intervenção
seja feita – antes que já não haja o que ser feito. Um ponto
de destaque é a percepção do professor como ser que se
comunica com o aluno, não apenas como mero instrutor ou
aquele que repassa conhecimentos, mas alguém humano e
que se detém diante de súplicas quase mudas de um indivíduo FÁBIO ROBERTO
que se sente perdido e desorientado. A BNCC contempla MANENTE DOS SANTOS
essas questões quando elenca dentre as competências gerais
Especialista em Gestão Escolar pela
que devem ser trabalhadas na escola o autoconhecimento e Faculdade Campos Elísios (2018).
o autocuidado, mas inclui a empatia como fundamental. Esta Professor de Educação Básica II; na Rede
empatia não deve ser desenvolvida apenas nos estudantes. particular de ensino.
Todos da escola precisam reconhecer o valor da escuta atenta
e do olhar humanizado, promovendo a valorização do outro
e a percepção deste outro de forma singular, o que favorece
a identificação de sinais de que ele possa estar enfrentando
problemas emocionais, prevenindo resultados extremos
como o suicídio.

Não se pode, portanto, desconsiderar o serviço que a


escola necessita fazer diante da comunidade escolar: o de informar e conscientizar a todos
os integrantes nesse processo, uma vez que há casos em que o suicídio é atingido como
autoafirmação diante de um grupo e, trabalhando-se no mesmo grupo esta questão, evita-
se que a exigência de tamanho teste, a quem quer que seja que queira fazer parte dele.

Nessa fase de adequação, os olhares de todos, em especial o do universo escolar, devem


estar firmados em cada passo desses adolescentes, e, a qualquer sinal de desvio, cabe à
escola intervir adequadamente, nunca numa atitude solitária, mas, conforme já citado, em
ações conjuntas com a família e especialistas.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

A BRINCADEIRA E A CULTURA
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Este artigo consiste em estudar a brincadeira como instrumento cultural
importante no momento de ensinar, possibilitando uma aprendizagem sólida e significativa,
sendo identificada como técnica facilitadora do processo educacional, uma vez que a cultura
faz parte do contexto social da criança, busca-se por meio destas atividades estimular o
contato com outras crianças valorizando sua individualidade, respeitando suas diferenças
considerando seus valores e as bagagens já adquiridas. A relevância do tema se dá também
no desenvolvimento estrutural, lógico e material da criança, pois, ao brincar, a mesma
consegue transformar o contato abstrato em concreto, exteriorizando tudo o que se ensina,
e transformando e ignorando tudo que não é significativo. Desta forma é preciso buscar
novas técnicas, o que nos arremeteu a pesquisar sobre a importância da brincadeira como
meio de disseminação cultural, contribuindo para o desenvolvimento da criança como
indivíduo participante da sociedade a qual está inclusa.

Palavras-Chave: Criança; Desenvolvimento; Aprendizagem; Cultura; Brincadeira;

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INTRODUÇÃO habilidades favorecendo a construção e o


acesso a novos aprendizados desenvolvendo-
A escolha deste tema, foi realizada com se, valorizando a integração criança/ mundo/
o intuito de analisar como a educação adulto.
pode oferecer uma educação que promova
a construção do conhecimento e o As brincadeiras baseadas em experiencias
desenvolvimento de habilidades significativas culturais ganham espaço possibilitando o
para crianças por meio das brincadeiras desenvolvimento das habilidades manuais,
baseadas na cultura local, trazidas pelas a criatividade, enriquecem a experiência
crianças como saber adquirido com o passar sensorial, além de promover a socialização
do tempo. entre as crianças.

Entendo que a criança não vem a escola Segundo Friedmann (1996), quando a
vazia, uma vez que desde o seu nascimento criança brinca, ela realiza mais do que um ato
a criança encontra-se em constante de brincar, a criança realiza a comunicação
aprendizado, diante das experiências que com o mundo tornando-o uma verdadeira
lhe são oferecidas e desenvolvidas durante fonte de dados assim brincadeira acontece
todo seu percurso de desenvolvimento. A em vários e diferentes momentos do
bagagem trazida por ela, vem de contatos cotidiano infantil, porém, devido a uma falha,
sociais de grupos aos quais ela está inserida, na escola está fica em segundo ou terceiro
seja em contato com o grupo família, o grupo plano, pois o educador em sala de aula se
amigo, etc. preocupa primeiro com o planejamento,
depois com os objetivos a serem seguidos
Este fato torna-se relevante diante da o que demanda muito tempo, atrapalhando
observação de que as crianças conseguem assim o momento de brincar.
assimilar as atividades propostas todas as
vezes em que são colocadas em contato com O objetivo geral deste artigo é então
o mundo diante de atividades lúdicas que compreender que a criança não vem
lembram o lugar que vieram, favorecendo vazia, ela traz consigo experiências que
seu desenvolvimento como um todo, tendo antecede sua entrada na escola sendo
como característica os conhecimentos este saber um elemento importante para
já assimilados culturalmente, tornando a seu desenvolvimento dentro da proposta
brincadeira pautada na cultura um elemento de aprendizagem da educação infantil.
transformador. Permitindo elencar então como objetivo
específico desta analise a real importância
Por meio do ato de brincar a criança se da brincadeira para o desenvolvimento
baseia no que já conhece, e por meio deste infantil, observando qual a importância de
conhecimento testa, treina e desenvolve valorizar a bagagem anterior trazida pela

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criança, tornando-a participante do processo e social. Sendo necessário realizar a prática


e não somente mera espectadora da sua da multicultural idade nos planejamentos das
construção. aulas desde a primeira infância.Diante disso
a multiculturalidade não se coloca a frente
É preciso desde o início, garantir que a das culturas, e valorizá-las favorece a busca
criança se veja dentro do processo, dando pela liberdade, favorecendo o respeito entre
significado real a sua aprendizagem desde os elas, permitindo a livre expressão garantindo
primeiros anos de sua vida escola, pois é na o seu direito de ser (FREIRE, 1992).
infância que a criança começa a desenvolver
sua cidadania e recebe saberes que lhe são Um espaço multicultural, visa modificar o
significativos para toda vida. pensamento das pessoas que nele convivem,
não permitindo atitudes discriminatórias,
sobrepondo-se ao preconceito, construindo
A BRINCADEIRA E A CULTURA uma nova forma ética de respeitar as
NA EDUCAÇÃO INFANTIL diferenças, sendo papel primordial da
escola organizar e proporcionar este espaço
A escola é um ambiente voltada para aos alunos, para que seja desenvolvida
as reflexões sobre as diversas visões de a autoestima dos alunos favorecendo a
determinados assuntos e costumes, dando percepção de que todos fazem parte da
ênfase também a modificação destes mesma escola, do mesmo grupo e da mesma
mesmos costumes, para transformar a sociedade.
cultura, portanto, seu papel é a busca de
informação e conhecimento que derivem a A escola tem o papel de mostrar para as
modificação e evolução do ser humano. crianças que cada um é um, e todos somos
diferentes, seja fisicamente, mentalmente,
Diante disto, cabe a escola buscar a ou na personalidade, porém que apesar
transformação e a modificação da visão da destas diferenças, todas as pessoas são
sociedade desde a infância, uma vez que a humanas e tem suas valorizações, e merecem
informação disseminada no ambiente em que respeito, porém sabe-se que isto não ocorre
a criança nasce diz respeito algumas ideias na pratica escolar, ainda, sendo importante,
que erroneamente fortificam o preconceito, contemplar todas as etnias e realizar as
dando início a este ainda na infância. trocas de experiência entre elas.

O Brasil é um país multicultural, sendo Segundo Vygotsky apud Oliveira (1991)


papel da escola trabalhar todas as formas de desenvolvimento é o processo por meio do
cultura para formar corretamente a sociedade. qual o indivíduo se constrói ativamente nas
Sendo necessário favorecer os alunos de relações que estabelecem com os meios
outras culturas, evitando a exclusão cultural físicos e sociais, e suas características. Isto

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Revista Educar FCE - Março 2019

porque o desenvolvimento possui uma situações lúdicas que estimulem a criança


dinâmica e um ritmo de atuação própria, que a experimentar, testar, refazer, buscar,
resultam da atuação de princípios funcionais pensar, é importante, para que a mesma
que agem como uma espécie de lei constante tenha suporte adequado para realizar a
(Wallon apud Galvão, 2005). assimilação do que se busca ensinar, para
tanto, ao apoiar-se nas brincadeiras que
Para que estas características sejam trabalham toda esta gama de informações
adquiridas pelos indivíduos, é necessário oferecendo um leque de opções para que a
que sejam formadas as ações e operações criança possa chegar ao produto final, é de
motoras mentais, como, empilhar, puxar, suma importância, pois assim o aprendizado
comparar, ordenar que são construídas se torna mais significativo e prazeroso para
inicialmente por meio do ato de brincar quem o recebe, tornando-se eficiente para o
(Vygotsky apud Oliveira,1991). quem o recebe.

Esta fase está ligada as conquistas Segundo Kishimoto (1993, p.15), “A origem
infantis, e ao autodomínio, o que dá origem do jogo e da brincadeira é desconhecida,
a socialização. Este fato por sua vez, se porém caracteriza – se por serem de
baseia no desenvolvimento cognitivo e atividade e atitudes livres, na qual a criança
afetivo do indivíduo, acrescentando a estes brinca pelo prazer de realizá-las, sendo
o desenvolvimento da linguagem, ligando-se uma manifestação espontânea que possui a
diretamente a construção do conhecimento função de perpetuar a cultura infantil”.
cultural da criança.
A palavra brincadeira engloba, portanto,
Esta construção de conhecimento se muitos aspectos, sendo necessário, relevar
dá por meio do desenvolvimento e da que apesar de brincadeira ser um termo
aprendizagem, definidos por Piaget (apud impreciso porque assume vários significados,
Seber) da seguinte forma: aprendizagem, é o uma vez 3 que a atividade é livre e voluntária.
ponto essencial da construção, tendo como (Kishimoto,1993, p. 10). Se imposta, deixa
partida as inteirações com o meio, ou seja, de ser brincadeira.
da cultura local. Ela diz respeito à totalidade
das estruturas criadas pela aprendizagem Entende–se então que o brincar representa
oferecida pelo meio. um fator interessante no desenvolvimento
social da criança, pois, é por meio do brincar
Entende-se, portanto, que a assimilação que o ser humano amplia sua capacidade de
da aprendizagem desencadeia o agir em seu mundo culturalmente simbólico
desenvolvimento total do indivíduo, na infância.
permitindo-lhe estruturar cognitivamente
seu conhecimento. Apoiar o aprendizado em

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Revista Educar FCE - Março 2019

É durante este período que a criança de situações que a criança é estimulada,


necessita ter contato com diferentes incentivando assim a participação da mesma
brincadeiras, pois, tais experiências são por meio de um objeto significativo para ela.
saudáveis e apropriadas ao desenvolvimento
infantil, e precisam ser proporcionadas. A imaginação infantil se caracteriza por
sua fertilidade, isto é, por sua capacidade
O brincar torna-se um recurso de criar imagens. Unindo o lúdico e a
imprescindível na construção da identidade cultura ao processo educativo estimula-se
cultural e da autonomia, contribuindo também à construção do conhecimento de forma
para o desenvolvimento da linguagem. Por eficiente, pois, oportuniza-se o sucesso a
meio das brincadeiras a criança expressa variadas habilidades e conhecimentos.
o seu processo de faz de contas, atribui a
vida a seres inanimados e encontra prazer Desta maneira deve-se olhar as
em imaginar situações diferentes da que brincadeiras como instrumento valioso
está vivendo, o que contribui para resolver no desenvolvimento infantil, tornando as
conflitos e entender situações adversas do atividades atraentes aos olhos recebendo
meio. uma dimensão educativa incomensurável.
“Quanto mais a criança se adapta às
Atualmente, os Referenciais Curriculares realidades físicas e sociais a que está inclusa
Nacionais de Educação Infantil (2006), culturalmente vai se entregando menos
explicitam o direito que toda criança tem às brincadeiras lúdicas que priorizam o
de viver experiências significativas em sua imaginário”. (WAJSKOP, 2001, p. 33). O
educação infantil, ressaltando o quanto contato com diferentes tipos de brincadeiras
é possível aprender por meio de jogos, durante o período infantil pode favorecer o
brincadeiras, danças e práticas esportivas. processo de aprendizagem desde que sejam
adequadas a faixa etária e a necessidade das
A utilização da brincadeira educativa crianças.
com objetivos pedagógicos auxilia o
desenvolvimento da criança. “Ao manipular A experiencia e aprendizagem anterior, por
objetos, a mesma desenvolve sua meio das experiencias de seus antepassados
capacidade sensório-motora e interage com transmitidas por meio do tempo servem como
o meio crescendo física, emocionalmente e recursos que a criança usa para obter prazer e
socialmente” (FRIEDMANN,1996, p. 17). para se ajustar a um mundo incompreendido
ou temido. Quando brinca o “faz de conta”
Ao servir-se deste método, o professor sabe que sua conduta não é racional para
está colaborando para o sucesso do processo os outros, mas, não está se preocupando
ensino-aprendizagem, isto quer dizer que em convencê-los. Friedman, (1996), ressalta
durante esta prática ocorre a potencializarão ainda que as brincadeiras educativas voltadas

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para incentivar o desenvolvimento cognitivo Para Piaget apud Friedman (1996, p. 65),
e são importantes para a construção de “o brincar e o jogar, são fatores de grande
novos conhecimentos. importância no desenvolvimento cognitivo
que deriva da interação da criança com o
A cultura então deveria ser valorizada uma meio ambiente”.
vez que nela encontra-se um aspecto muito
significativo, no qual devemos dispensar Para tal distinção levantam-se os seguintes
um olhar especial, pois com a brincadeira critérios: O brinquedo e a brincadeira devem
retém muita atenção e observação das ter um fim em si mesmo, ser espontâneo,
crianças, esta pode se torna uma forte dar prazer, ser uma atividade que envolva
aliada no trabalho a ser desenvolvido, com motivações intensas. Ao brincar, a criança
o principal dever de resgatar a atividade incorpora o mundo a sua maneira.
lúdica como caminho para espontaneidade
e o desenvolvimento integral das crianças, Para Piaget o brincar é a mais alta
favorecendo a aprendizagem de diferentes expressão de jogo simbólico, pois, possibilita
culturas. à criança o desenvolvimento de habilidades
pessoais como audição, classificação de
Antigamente costumava-se brincar sons, identificação e verbalização que dão
nas ruas, casa, parques, etc., com muita base para a interpretação de experiências
criatividade, porém, diante de tanta diversas. Estes fatores são importantes, pois,
violência, as crianças perderam o espaço de ajudam o desenvolvimento psicológico da
brincar coletivamente. Muitas crianças ainda criança.
não podem brincar, pois, necessitam cada
vez de mais cedo ajudar os pais no sustento Para Vygotsky (1987), a criança ao brincar
da família ou tem de participar de grande está aprendendo, pois é ao jogar que a
quantidade de atividades extracurriculares criança se transporta para além do seu
impostas pelos pais. comportamento habitual vivenciando todas
as experiências como se fossem mais velhas
Diante desta realidade, muitas crianças do que são. O autor acreditava também
participarão de brincadeiras somente na que o jogar possui três características: a
classe, sendo que este ambiente se torna imaginação, a imitação e a regra que estão
extremamente importante para auxiliar o presentes em todos os tipos de brincadeiras,
desenvolvimento e a troca de experiências sejam elas, faz de conta, tradicionais ou com
entre adultos e crianças, A maioria dos autores regras...
expõe características para o comportamento
e a importância do brincar e do não brincar. Brincar é importante e necessário em
qualquer idade, na primeira escola é muito
mais, pois a mudança brusca de ambientes e

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Revista Educar FCE - Março 2019

situações assustam, e com certeza este não é sozinha utilizando maneira correta os jogos
o objetivo desta fase escolar (Fridman,1996). e brinquedos.

Tanto Piaget quanto Vygotsky acreditam Segundo o RCNEI (Referenciais


que o jogo permite que as crianças realizem Curriculares Nacionais de Educação
várias operações mentais e elaborem novas Infantis), “A organização de situações de
ideias. Para Wallon apud Kishimoto (1996) o aprendizagem orientadas ou que dependem
jogo estimula o trabalho em equipe levando de uma intervenção direta do professor
seus participantes a refletir sobre as relações permite que as crianças trabalhem diversos
interpessoais, tornando-se um recurso conhecimentos. Essas experiências não
fascinante. Trabalhar os jogos culturais devem estar baseadas apenas na proposta
possibilitam a expressão autentica do grupo. dos professores, mas, essencialmente na
escuta das crianças e na compreensão do
As interações grupais funcionam como papel que desempenham a experimentação
microcosmos , nos quais podemos captar e o erro na construção do conhecimento”
seus medos, ansiedades e condições. O (RCNEI, 1998, p. 13).
brincar pautado na cultura, assume dois
papéis importantíssimos no desenvolvimento Para Freire (2001) o brincar não
do indivíduo, estas servem de termômetro representa apenas o vivido, serve também
que mede o problema existente no grupo; E para preparar para o futuro, é neste espaço
trabalhando-se em grupo é possível corrigir livre das pressões que as habilidades são
os problemas criados. desenvolvidas, servindo como suporte para
dificultar suas fases quando necessário, haja
Quando a criança está motivada a participar vista a afirmação do autor : “a aquisição de
do processo ensino- aprendizagem, ela se uma nova fase de jogo não exclui a anteriores”
concentra mais e melhor, não apresentando (FREIRE, 2001, p. 117).
problemas de disciplina tornando-
se participativa, e concentrando suas Assim acontece com a criança, o
energias nas situações de aprendizagem. conhecimento não é esquecido, mas é
(Kishimoto,1996). acumulado, oferecendo maiores graus de
dificuldade e assimilação conforme ocorrem,
Neste momento, o papel do professor é contribuindo para a disseminação da cultura
importantíssimo nas atividades lúdicas como a qual o indivíduo está inserido.
fator fundamental para aprender. Além de
motivador o professor tem papel importante Por meio da brincadeira as crianças
de orientador, pois é orientando e ensinando exploram objetos que as cercam melhorando
que as crianças verificaram suas habilidades, sua agilidade física desenvolvendo os sentidos
capacidades e atividades para sustentar-se e pensamentos, muitas vezes sozinhos e

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outras vezes em grupo, reconhecendo assim Brincadeiras então apresentam-se


seu espaço e o dos demais (FREIRE, 2001, p. atreladas a uma rica gama de movimentos,
93). permite o desenvolvimento do aluno como
um todo, sem que ele perceba, sendo realizada
Para conseguir o avanço esperado é as atividades de formas descontraídas. A
necessário que a criança seja inserida no função da brincadeira cultural é portanto,
ambiente de brincar, buscando ao mesmo favorecer a interação dela com o mundo,
tempo soluções, reflexões, análise e ajudando a se sentir bem com o meio social,
criação. Valendo-se destes pontos a criança promovendo condições para que ocorra um
desenvolve a imaginação podendo não só convívio social agradável desenvolvendo
resolver problemas e situações, mas por meio suas habilidades sociais, levando a criança a
da criatividade encontra várias maneiras compreender a necessidade de cooperação
de resolvê-las ampliando suas habilidades com seus pares, desenvolvendo atividades
conceituais. de independência.

Permitir a criança o direito de brincar, A cultura local ainda, auxilia a também no


buscando ampliar seu conhecimento por desenvolvimento intelectual das crianças,
meio de informações culturais, fornecidas facilitando a fonética, e o entendimento da
por festas, folguedos, danças ritmos, história, oferecendo a formação crítica do
e brincadeiras folclóricas favorece a indivíduo, despertando a curiosidade da busca
possibilidade de abrir uma janela para seu do novo, favorecendo o reconhecimento
emocional, pois na infância encontra-se com das diversas coisas existentes no mundo:
suas raízes e entende como estas funcionam pessoas, animais, objetos, países, etc.,
dentro da sociedade em que está inserida. contribuindo ainda no desenvolvimento
Tais brincadeiras entre outras funções, das crianças em relação à resolução de
tem como prioridade, ajudar aos alunos a problemas, sequenciação, memorização e
desenvolver suas habilidades motoras como, raciocínio lógico, além de favorecer lhes a
permitir que a criança tome consciência aquisição de uma postura consciente.
de seu corpo, e suas partes além de seus
respectivos movimentos. Ao perceber seu Por meio da brincadeira desenvolve-se a
próprio desenvolvimento físico, a criança coordenação motora, atividades intelectuais,
reconhece seu corpo como veículo de movimentos, lateralidade, corpo humano. De
informação e comunicação com o meio acordo com Piaget, a utilização das atividades
físico e humano desenvolvendo- as psico e motoras, contribuem com o desenvolvimento
motoramente, coordenando seu equilíbrio cognitivo da criança, ampliando seu
lateralidade e movimentos, associado ao aprendizado intelectual, possibilitando
respeito pelo espaço do outro favorecendo compreender e ser compreendido no mundo
seu senso espacial. em que vive.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A brincadeira contribui para que este Esta valorização é facilmente realizada


desenvolvimento seja efetivo e significativo por meio das brincadeiras infantis oferecidas
servindo com apoio didático pedagógico graças ao vasto repertório de atividades
valorizando a cultura infantil. Os textos e devido as inteirações diversas para que as
os esquemas e as repetições das cantigas de crianças possam entrar em contato com as
roda, oferecem uma vivência muito rica da mais diversas linguagens, favorecendo o
estrutura da língua materna, a sua estrutura desenvolvimento de suas habilidades.
rítmica, diferente da linguagem corrente,
constitui-se num diferente tipo de vivência Percebe-se, que a brincadeira mostra
do idioma por meio de quadrinhas, rimas, etc., um pouco da personalidade da criança,
que fazem parte de um diferente repertório devendo o professor estar atento para
de cantigas de roda. conhecer todas as crianças. Incentivando a
troca trabalhando com a socialização entre
O contato com este material amplia e as crianças, o professor ensina a controlar
favorece a apropriação de formas cada vez o sentimento de posse contribuindo com a
mais complexas de linguagem. As brincadeiras formação do cidadão desenvolvendo valores
com enfoque cultural permitem, portanto, sociais coletivos.
um acesso intermediário entre este mundo
ilusório e a realidade, oferecendo a criança à Os professores de Educação Infantil devem
chance de interagir com o mundo. ter esclarecimento quanto à importância das
brincadeiras, para isto o profissional deve
Durante o aprendizado infantil, com ser ativo, que tome decisões e que leve em
músicas que às vezes tornam-se até conta as formas de pensar da criança, deve
repetitivas aos olhos dos adultos as crianças também estimular a cooperação entre as
estão treinando habilidades que não podem crianças, pois as relações de socialização
ser ensinadas durante o dia a dia, pois esta favorecem e influem na aprendizagem.
socializa com o outro, saberes que vieram
gravados na memória de seus pais e foram Na sala de aula o professor e os alunos
passados de geração em geração. sentem-se presos, pois a sala é marcada pela
seriedade e o conteúdo é garantia de que o
Para valorizar o trabalho com as papel da escola foi realizado com competência,
brincadeiras é preciso então, observar como utilizando-se das brincadeiras, de forma
as crianças se expressam, e o modo como que estas ocupem o lugar do conteúdo, na
estas o fazem, e como estas ocupam lugar concepção de muitos especialistas estamos
em suas vidas, é normal observar as crianças trabalhando de maneira diferenciada
cantando o tempo inteiro, ao realizar uma obtendo mais sucesso do que por meio de
atividade, ou ao distrair-se entre uma lousas cheias de informações que as vezes
brincadeira ou outra. passam despercebidas.

1002
Revista Educar FCE - Março 2019

A escola é um ambiente voltada para as reflexões sobre as diversas visões sobre


determinado assunto e costumes, dando ênfase também a modificação de costumes, culturas
racistas, e ignorância, assim seu papel é a busca de informação e conhecimento que derivem
a modificação e evolução do ser humano.

Diante disto, cabe a escola buscar a transformação e a modificação da visão de diferenças


culturais existentes na sociedade, seu papel quanto instituição deve ser o de valorizar e
favorecer a visualização e o respeito entre elas. Por meio do conhecimento e da informação
permite o conhecimento do diferente minimizando o preconceito uma vez que a criança é
colocada em contato direto com saberes que garante a construção de um saber significativo.

Trabalhar a cultura na escola é extremamente interessante, que contribuindo com questões


educacionais permanentes e necessárias de se discutir uma vez que estas são voltadas para
o racismo, a violência racial, e a diversidade cultural existente contribuindo para a quebra
dos estereótipos históricos existentes.

1003
Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entendemos que as brincadeiras são ricas em aspectos
culturais, que são passados durante o aprendizado dos
textos e aprendizado das melodias das canções, a partir daí
estabelece-se aprendizagens que garantem o surgimento
de uma linguagem capaz de trabalhar os sentimentos, e
afetos próprios do ser humano, imprimindo significados aos
diversos sons transmitidos.

As trocas mediadas pelo processo de brincar dentro da


cultura do grupo, nos permitem ensinar e compreender FABIO VALIM
melhor a realidade que nos cerca, contribuindo para a DOS SANTOS
formação coletiva do indivíduo, por meio da exploração
Graduação em Ciências Físicas e
interna e externa oferecidas durante sua realização das Biológicas e Matemática pela FEOB
atividades propostas. - Faculdade Octavio Bastos (1997);
Mestre em Educação, Comunicação
Os limites oferecidos dentro das propostas permitem dar e Administração pela Faculdade São
a criança alicerces para que se perceba o que pode ou não Marcos (2007); Coordenador Pedagógico
se pode fazer, o que vem a ser dentro e fora, ser ou não - na EMEI Sena Madureira, Professor de
ser, pertence ou não pertence, etc, oferecendo as crianças Educação Básica - Matemática- na E. E.

equilíbrio lateralidade, respeito, e senso ético para conviver Domingos Quirino Ferreira.

em sociedade.

Enquanto se brinca, organizam-se movimentos no


espaço, promovendo o desenvolvimento de estruturas
temporais sem as quais as crianças não poderiam expressar-
se de forma coerente, representando diferentes níveis de
desenvolvimento cognitivo das crianças.

Trabalhar as brincadeiras focando o eixo cultural em


sala de aula hoje, significa mais do que uma atividade
pedagógica, significa oferecer a crianças a diversidade
cultural que a muito esteve perdida, sendo substituída pela
mídia e brinquedos eletrônicos, é oferece a criança, acesso
a um mundo diversificado e com experiências novas, e com
possíveis descobertas que possibilitam a construção de
novos conhecimentos.

1004
Revista Educar FCE - Março 2019

Conclui-se que as crianças brincam porque estas precisam aprender, desenvolver a


fala, comunicar-se com o outro, e ao mesmo tempo em que aprende ela se movimenta,
criando uma integração direta entre seu corpo, seus amigos e seu meio de forma completa
e significativa.

Por meio da brincadeira as crianças exploram objetos que as cercam melhorando sua
agilidade física desenvolvendo os sentidos e pensamentos, muitas vezes sozinhos e outras
vezes em grupo, reconhecendo assim seu espaço e o dos demais, entendendo com se vive
em sociedade.

Para conseguir o avanço esperado é necessário que ao valer-se destes pontos a criança
desenvolva a sua imaginação podendo não só resolver problemas e situações, mas por
meio da criatividade encontra várias maneiras de resolvê-las ampliando suas habilidades
conceituais, o professor deve ser aquele companheiro que brinca e incentiva a turma. Este
deve fazer com que as crianças o sintam como amigo participante e ativo, e ao mesmo
tempo, ensinar a criança a valorizar o brinquedo e compreender que este está fazendo parte
do aprendizado.

Comparada com a situação escolar, o brincar possibilita a construção de regras que


permitem que a criança se comporte de forma diferenciada do que ela realmente é,
transformando o que é natural e permitindo que ela entenda seus diversos papéis sociais,
esta favorece então excelentes oportunidades para contribuir a linguagem da criança com
diferentes objetos e possuindo diferentes situações estimulando a linguagem externa e a
ampliação do vocabulário. despercebidas.

Todas as manifestações, quando são levadas ao conhecimento das crianças de maneira


criativa, permitem que a curiosidade delas pelo tema se agucem, transformando as realidades
formando assim cidadãos conscientes das diferenças e da diversidade cultural a quais
estamos expostos, e fazemos parte dela.

Tal afirmativa é necessária pois a escola é o local que frequentemente tem esta mistura
de raças e tal diversidade, e também é o local no qual frequentemente há episódios de
discriminação por motivos mais variados, seja ele por cor, por raça, ou por cultura, tendo
diversos problemas com alunos que apresentam baixos rendimentos e problemas psicológicos,
sendo papel social fundamental da escola ensinar as crianças a compreenderem e respeitar
as diferenças uma vez que tal compreensão é fundamental para desenvolver a cidadania.

1005
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
FRIEDMANN. A. (ORG) O DIREITO DE BRINCAR : A BRINQUEDOTECA. São
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WAJSKOP, G. BRINCAR NA PRÉ-ESCOLA, 5ªed, São Paulo: Ed. Cortez, 2001.

1006
Revista Educar FCE - Março 2019

O DESENHO E AS CORES NA
PRIMEIRA INFÂNCIA NA PERSPECTIVA
DA PEDAGOGIA WALDORF
RESUMO: O objetivo desse é apresentar uma reflexão sobre a importância do desenho no
desenvolvimento da criança, pois o objeto de estudo reflete a imaginação e o pensamento da
criança de maneira única e como objetivos específicos: Apresentar a importância do desenho
no processo avaliação emocional e psicológico da criança; Estabelecer a relação do desenho
com o processo evolutivo da escrita infantil. A metodologia usada será através da pesquisa
bibliográfica de teses e livros que falam sobre o assunto, além de teorias de pensadores que
nos fala da importância do desenho no processo de construção do conhecimento da criança.
Neste sentido, justifica-se a presente pesquisa, por perceber cada desenho realizado pelas
crianças pode vir a ser um reflexo de seus sentimentos, pensamentos e atitudes na formação
da sua personalidade e do seu caráter.

Palavras-Chave: desenvolvimento, sentimento, descoberta, vivencia.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A ARTE COMO Neste sentido, a importância da arte desde


INSTRUMENTO NA a educação infantil no desenvolvimento da
criança a cada vez se faz mais necessária, pois
FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO vivemos em um mundo onde o imediatismo,
Baseada na antropologia a pedagogia rouba de nossas crianças a chance de
Waldorf, tem um olhar muito especifico para despertar o sentimento de apreciação e
o desenvolvimento do indivíduo, dentre construção de uma opinião própria, formando
desta filosofia as fase da vida tem grande todos por iguais em um só gosto, em um só
significado neste processe e uma das mais pensamento e em uma só escolha. A linguagem
importantes é o período que se destaca do 0 artística abre um grande espaço dentro do
aos 6 anos, onde a criança está aprendendo a universo infantil, tornando possível formar
se estabelecer na vida, pois quando a infância pessoas mais sensíveis e que valorizam mais
é vivenciada, Intensa e prazerosa, constrói- as habilidades de competências do outro de
se boas recordações, que permanecem como que somente as suas, e este trabalho deve ser
tesouros sempre presentes que auxiliam desenvolvido pelos profissionais que atuam
na superação das adversidades da vida junto a criança pequena e também em todo
estimulando a busca de dias melhores e de processo letivo que vão construir o pensar e a
novas experiências. identidade desta criança.

Neste sentido, a educação através da arte


proporciona estas boas recordações, porque PRIMEIRA INFÂNCIA: UM
possibilita que o aprendizado aconteça com o MUNDO DE DESCOBERTAS
mesmo entusiasmo e dedicação que a criança
se dedica às suas brincadeiras infantis. Sendo A vida já começa cheia de momentos
assim, o olhar mais cuidadosos para a criança emocionantes dentro da barriga da mão, logo
na primeiras infância tendo a arte como depois que nasce vem os primeiros passos, as
instrumento de desenvolvimento, contempla primeiras palavras, a relação de confiança com
as necessidades básicas do ser humano, pois o meio e com o outro, tudo isto se constitui na
trabalha todos os sentidos que compõe sua primeira infância, período compete dos 0 aos
formação seja no campo afetivo ou cognitivo 06 anos de idade, sendo mais decisiva ainda
Segundo ARFOUILLOUX no período de 0 a 03 anos, onde acontece a
descoberta dos movimentos, o desfralde e
“... o desenho da criança fascina. A criança a linguagem. É também na primeira infância
desmancha o seu brinquedo quando o adulto que biologicamente a criança começa a
chega, mas o desenho permanece como coisas desenvolver seus sistema neurológico que
escritas. Ele é um traço, é um testemunho” nesta fase acontece em grande medida, ou
(ARFOUILLOUX, 1988, p.128).
seja, é o período em quem mais os neurônios
estabelecem suas sinapses, assim como a sua

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Revista Educar FCE - Março 2019

constituição psíquica. É a fase em que muitas este conhecimento facilita o trabalho dentre
coisas que a criança vai carregar pela vida de cada fase em que a criança se encontra,
toda se constitui. e isto vai fazendo um diferencial na relação
que estas crianças vem a estabelecer com a
A primeira infância é um mundo onde tudo sociedade.
é novidade, cores, sabores, cheiros, texturas,
sons, movimentos e as relações com todo este
universo é algo que leva tempo e estratégias A IMPORTÂNCIA DO DESENHO
para se desenvolver. Todas as experiências NO DESENVOLVIMENTO DA
vivenciadas nesta fase, são decisivas para que
se tenha a personalidade, a autonomia e a CRIANÇA
formação cognitiva que se tem na fase adulta. Antes de tudo, o desenho é uma atitude
estética e ética que forma partes da educação
Com um olhar mais voltada para a harmonia de um individua, pois desenhar é ficar no limite
do home com a natureza e o meio em que entre o imagina e o fazer, entre o pensamento
vive, na pedagogia Waldorf, a criança pequena e os sentidos. Sendo assim o fato das crianças
tem um espaço muito amis destinado ao se expressam e buscam conhecer o mundo
desenvolvimento a partir das vivencias. Pois através da arte, tendem a ser um processo
este período é de extrema importância. evolutivo de conhecimento e educação, seus
Através de atividades pensadas para ampliar o desenhos são o que elas sentem e pensam em
desenvolvimento infantil a criança é preparada relação ao que está em seu redor.
para estabelecer com harmonia a relação dela Segundo Luquet, (apud MERLEAU-PONTY,
com a humanidade trabalhando aa cognição e 1990),
a afetividade em parceria sempre, no auxílio
ao desenvolvimento infantil, respeitando “O desenho é uma íntima ligação do psíquico
sua forma de pensar, criar e vivenciar cada e do moral. A intenção de desenhar tal objeto
experiências e assim construir seu próprio não é senão o prolongamento e a manifestação
conhecimento, não como uma reprodução da sua representação mental; o objeto
representado é o que, neste momento, ocupará
do que temos já posto a sociedade, mas sim
no espírito do desenhador um lugar exclusivo
a partir do seu olhar o que vem a construir
ou preponderante” LUQUET (apud MERLEAU-
um novo olhar sobre o meio e assim promova
PONTY, 1990, p.130), .
uma nova forma de pensar e agir, e assim
transforme o meio em que está inserido com
mais afeto e criatividade. Embora os primeiros rabiscos que as crianças
façam no papel possam não ter sentido
A convivência de uma forma acolhedora, algum, para os adultos, essas garatujas são
promove que se conheça o temperamento parte importante do desenvolvimento e deve
desta criança, o que é algo muito difícil, pois ser encorajadas, pois o desenho corresponde

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Revista Educar FCE - Março 2019

a uma maneira de ver o mudo que é próprio Os primeiros desenhos da criança são só
de cada criança, algo que é exposto a partir movimento. É comum a criança ultrapassar os
dos riscos, pois o desenho é a linguagem da limites da folha e rabiscar a mesa. Podemos
criança. distinguir dois tipos de movimentos: o círculo
e a reta que são formas primordiais.
O desenho infantil a muito vem sendo
estudado, no que diz respeito ao traçado, as Aos poucos, os movimentos caóticos se
cores, a utilização do espaço e no diferentes acalmam e a criança consegue fazer traços
papeis humanos e em que momento este mais bem conduzidos e começa a surgir a
desenho começa apegar forma, usavam espiral desenhada de fora para dentro, parece
perceber através deu uma sequência por idade que a criança está buscando seu centro ou
em que momento a criança ia acrescentando se recolhendo para dentro de seu corpo. E
e mentos que deixavam o desenho cada no final desta fase surge o círculo fechado e
vez mais perto do contexto real vivenciado, quando a criança consegue fechar o círculo
pois a prática de desenhar com liberdade e é comum encher folhas e folhas com esta
diferentes materiais é muito mais que mexer forma.
coma as mãos, é um processo em que o corpo
todo participa, nesta produção Depois surge a cruz e também o ponto
(algumas vezes dentro do círculo) mostrando
que a criança já não é totalmente una com
A IMPORTÂNCIA DO o mundo como antes, mas já consegue
DESENHO E DAS CORES separar-se um pouco e olhá-lo a partir de
si mesma, ela começa a usar o pronome eu
NO DESENVOLVIMENTO para se referir a si mesma.
DA CRIANÇA NA
PEDAGOGIA WALDORF • Dos três aos cinco anos

O DESENHO INFANTIL Depois dos três anos a criança passa a se


relacionar de forma nova com o mundo, ela
O desenho livre infantil, quando não passa a se deixar tocar pelas percepções que
é influenciado pelo adulto, mostra o os órgãos dos sentidos trazem do mundo.
desenvolvimento da consciência da criança No desenho começam a aparecer raios de
e também o seu estado de amadurecimento dentro para fora dos círculos. Agora a criança
físico. já pode se relacionar e brincar com outras
crianças. Também surge no desenho figuras
• O desenho da criança de um ano e com “antenas” ou com pernas “compridas”
meio a três anos somente o rosto tem algum detalhe como
olhos e boca, mas o resto do corpo ainda

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Revista Educar FCE - Março 2019

não é consciente, ainda não é desenhado. descritiva do desenho aumenta, a criança


Quando a criança está com quatro anos começa a desenhar animais e atividades
surgem formas novas, ela passa a dividir a humanas: mulher cozinhando, homem
folha de papel com traços fortes formando dirigindo caminhão, etc. Quando ela começa
diferentes áreas e surgem também as a desenhar relações (criança/cachorro, mãe/
escadinhas que lembram muito o esqueleto filho, pessoas juntas) ela está pronta para
humano, a coluna vertebral. Nesta fase a entrar na escola. Este é o desenvolvimento
criança cresce e perde seu aspecto de bebê do desenho de uma criança saudável,
com a barriga redonda e a respiração muda crescendo em um ambiente adequado às
de uma respiração bucal para uma respiração suas necessidades. É importante lembrar que
abdominal. Aos cinco anos surgem os mais importante do que o resultado final do
primeiros desenhos ilustrativos, a criança desenho é o processo, isto é, a liberdade de
não desenha mais apenas aquilo que ela é poder se expressar livremente conquistando
interiormente, mas começa a desenhar o cada nova etapa gradativamente. O desenho
mundo a sua volta. Casinhas, árvores, balões, de formas produz a ativação das forças
estrelas, etc. começam a surgir misturado criadoras e dirige-se ao ritmo interno que
com as formas descritas anteriormente. harmoniza, estimula e acalma despertando
qualidades humanas superiores. A folha de
• Dos cinco aos sete anos papel representa seu espaço ou seu espelho
e a reta é o rastro de um movimento, a
Quando a criança completa cinco anos, forma continua trabalhando dentro da
seu tórax está formado e os seus membros pessoa mesmo depois de tê-la desenhado.
e a sua musculatura se desenvolvem e a Quando feita antes de dormir permanecerá
criança ganha nova consciência de suas mãos trabalhando com mais intensidade em seu
e de seus pés. Ela aprende a pular corda, inconsciente.
a andar de pernas de pau, e as habilidades
manuais se desenvolvem. O andar da criança Ao fazer a forma não apoiar o antebraço,
se torna mais individualizado possibilitando este deve ficar no ar. Apenas a ponta do lápis
identificar seu temperamento através da de cera deve manter contato com o papel.
observação. Estas mudanças se refletem no Utilizar a outra mão para segurar a folha na
desenho da figura humana que passa a ser posição certa na mesa. O lápis de cera é sua
desenhada pela criança com pernas fortes extensão, sua atenção deve estar na ponta
e as mãos ganham dedos, nem sempre do lápis, assim, enquanto você desenha a
no número certo. Os objetos desenhados forma, ela estará sendo vivenciada.
no papel que antes eram desenhados
como se estivessem flutuando, agora são Comece com uma cor mais clara para que
colocados no limite inferior da folha como possa fazê-la e refazê-la, depois com uma
se estivessem sobre o chão. A riqueza cor mais forte siga fazendo aquela que lhe

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Revista Educar FCE - Março 2019

traz a satisfação com a beleza da forma. Na profundidade: céu, mar, etc. No jardim de
beleza se encontra a harmonia, o equilíbrio, infância idade entre 0 e 03 anos, a criança
a leveza, o ser na sua magnitude. deve ter apenas vivências, impressões, se
relacionar com as cores.

AS CORES E SEUS O amarelo: A partir de um centro forte, o


SIGIFINCADOS PARA O amarelo irradia para a periferia. O amarelo
tende a se expandir, irradiar, trazer luz. É
PROCESSO DE EVOLUÇÃO uma cor relacionada à criação.
DA CRIANÇA
O verde: O verde é firme e tem limites
Reconhecer e expressar sentimentos é um em cada folha vegetal, poisesta relacionado
longo aprendizado para a criança e tem início sempre com a natureza
na primeira infância. Trabalhar a aquarela
molhada com crianças é um exercício O vermelho: O vermelho traz calor às
em que as cores têm mais importância outras cores. Não só calor, mas também
do que a forma. As cores são expressões alegria e entusiasmo.
de sentimentos, cada uma possui uma
qualidade única, possibilitando diferentes O encontro das cores é o caminho das
expressões. O primeiro passo é conhecer as descobertas feitas pela criança a partir do
cores. Deve-se começar por conhecer cada processo de vivencia, a criança expressará
cor individualmente, sem misturar. Numa uma grande quantidade de tonalidades e
aula trabalha-se só o azul, na outra semana intensidades, e tudo isso será vivenciado a
o amarelo e na outra o vermelho. Como são partir do sentimento, pois descobrirá sempre
diferentes! O importante é a vivência. novas possibilidades, vivenciando a cor lado
a lado ou quando se encontram pode fazer
Qualidade das cores uma importante descoberta: a de como as
cores se comportam. O importante é que
No contexto da Pedagogia Waldorf, nasça dentro dela um sentimento interior
algumas cores possuem uma determinas gerado pelas cores, e que nesse mundo de
importância e assim adquire um significado tons ela adquira um sentimento de vida, esse
mito especial dentro do aprendizado. processo será enriquecido se antes de pegar
o pincel ouviu algo que estimule sua fantasia
O azul : interioriza e aprofunda o como versos, contos de fadas, etc.
sentimento, e ao mesmo tempo acalma,
promovendo um relaxamento e trazendo
uma sensação de amplidão. O azul tende
a se contrair e trazer uma sensação de

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Revista Educar FCE - Março 2019

POSTURA DO PROFESSOR
No universo dos docentes como formadores de culturas a partir de suas prática, está
carregado de práticas obsoletas, mas que fazem parte de seu repertório enquanto alunos
que foram, um exemplo são as folhas com desenhos prontos, a determinação das cores
para pintar os elementos, a humanização das letras com carinhas e olhinhos, a limitação dos
espaços e do tempo para a realização do desenho. Todas estas questões premiam as práticas
educativas, pois foi dessa forma que se aprenderam durante seu percurso escolar, estudos
apontam que este tipo de desenho com sua mesma matriz, está no universo educacional a
mais de cem anos, o que nos mostra o quanto a reprodução vem sendo feita e o quanto a
valorização da criança por parte do professor vem sendo podada, desvalorizada e anulada.

Diante deste contexto, o caminho desse formar um professor Waldorf, passa


necessariamente pela arte, não para formar um artista, mas sim porque o professor precisa
perceber como se ativar diante da criança, pois se torna criativo, para trazer qualquer
conteúdo para seus alunos, tendo sempre muito claro o objetivo de apoiar o desenvolvimento
da criatividade das crianças a partir do fazer artístico, o professor necessita ter em mente
que, para a criança envolver-se nas atividades artísticas como o desenho e a pintura, ela
necessita sentir-se emocionalmente bem no espaço que ocupa e na relação com os adultos
e as outras crianças presentes. Precisa que se perceba como um ser estimulador atento e
sensível para acompanhar a riqueza da descoberta do belo, deixando as crianças circularem
pelos ambientes e promover o envolvimento na atividade realizada, com a inspiração e
interesse da criança, respeitando o universo infantil.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Permitir a criação da criança no ato de desenhar é permitir
que ela venha a ser um adulto confiante e uma criança
autônoma e decidida em seus desejos, porem com respeito e
conhecimento da importância de respeitar o espaço do outro.
Neste sentido, trabalhar como o olhar da Pedagogia Waldorf,
onde a expressão artística através do desenho e das cores
vem a ser um resgate deste período, onde respeita cada
etapa dando o devido valor as descobertas e construção de
valores como o de respeito à vida, em tempos de mecanizar
e transformar a primeira infância como uma reprodução do FABÍOLA OLIVEIRA
mundo adulto, atropelando os momentos fundamentais para DIAS GÓES
seu desenvolvimento.
Graduação em Pedagogia pela
Universidade Metropolitana de
Dentro deste contexto, percebe-se a necessidade de Santos(2015); Especialista em Educação
se promover ambientes onde promova aprendizados Musical pela Faculdade Campos Elíseos
significativos, porque precisa-se promover o melhor para (2017); Professora de Educação Infantil
a criança pequena, e isso significa que as mudanças da no CEI Ângela Maria Fernandes.
sociedade, das tecnologia, do mundo, acontecem de maneira
avassaladora. E a criança está inserida neste emaranhado
de avanços tecnológicos que acabam matando, de certa
forma esse viver infantil, onde as suas emoções podem ser
a seu tempo, neste sentido o desenho é na verdade um
instrumento, que auxilia o desenvolvimento da criança e que
vem sendo discutido já há algumas décadas, e seu estudo
está ganhando importância entre os professores mais atentos
e cuidadosos frente à produção artística infantil, pois hoje
já não se pode considerar como sendo apenas rabiscos, na
verdade são linhas expressivas que trazem uma carga muito
grande de informações sobre o desenvolvimento da criança
em especial na primeira infância.

1014
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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IMAGEM E REPRESENTAÇÃO, 3ª ed., Rio de Janeiro: Zahar,1990

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VYGOTSKY, L.S. A FORMAÇÃO SOCIAL DA MENTE, São Paulo: Martins Fontes, 1987.

WAJSKOP, G. BRINCAR NA PRÉ-ESCOLA, 5ªed, São Paulo: Ed. Cortez, 2001.

1015
Revista Educar FCE - Março 2019

AS CONTRIBUIÇÕES DA
NEUROPSICOPEDAGOGIA NO
PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM
RESUMO: O presente estudo destina-se a falar sobre os distúrbios de aprendizagem: o que
são, como ocorrem e quais as alternativas de intervenção e tratamento, bem como o trabalho
em sala de aula e a observação da gestão pedagógica escolar a fim de promover o sucesso
do aluno, fazendo uma breve explicação do que realmente vem a ser o termo distúrbio de
aprendizagem, uma vez que, para muitos, este ainda é desconhecido ou mal compreendido e
serão evidenciados alguns distúrbios de aprendizagem, como identificá-los e a ação de uma
equipe multidisciplinar em relação ao assunto. Em uma abordagem teórica será evidenciada
a mediação da equipe pedagógica a fim de proporcionar uma aprendizagem significativa e
adequada.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Intervenção; Reflexão

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO Em 1919, Kurt Goldstein intensificou tal


estudo quando fez um trabalho com soldados
A criança em fase de alfabetização que tinham voltado da primeira Guerra
enfrenta grandes desafios como a aquisição Mundial, os quais apresentavam distrações e
do conhecimento linguístico, o que permite hiperatividade.
afirmar que as dificuldades de aprendizagem
começam na infância. Os distúrbios Ainda outros prosseguiram esses estudos,
de aprendizagem envolvem o universo como Alfred Srauss e Heinz Werner. Só
escolar de forma a dificultar o processo de em 1963 que a expressão “distúrbios de
aprendizagem, portanto faz-se necessário aprendizagem” foi utilizada pela primeira vez.
compreendê-los e distingui-los no sentido de
proporcionar uma proposta pedagógica que Quem o utilizou foi o professor Sam
contemple a todos os alunos. Dessa forma, Kirk, em um evento de conferência entre
o objetivo deste trabalho é compreender pais e professores em Chicago. Esse termo
o processo de aprendizagem dos alunos foi utilizado para se referir às crianças com
para que desenvolvam ações a fim de inteligência normal, todavia com grande
superar as dificuldades e os distúrbios de dificuldade de aprendizagem.
aprendizagem, oportunizando uma prática
docente mais eficaz e uma aprendizagem As terminologias eram utilizadas de acordo
significativa, por meio de intervenções da com o diagnóstico realizado: prejuízo cerebral
Neuropsicopedagogia. Nesse contexto, cabe mínimo, baixa aprendizagem, incapacidades
ainda, por meio de uma revisão bibliográfica, perceptivas. Tudo isso, na verdade, se
classificar e compreender alguns distúrbios resume a distúrbios de aprendizagem, o que,
de aprendizagem, suas causas, formas de na época, não foi entendido.
prevenção e tratamento.
Diante desses diversos termos e definições,
o grupo de pais, na companhia de Samuel
UMA DEFINIÇÃO PLAUSÍVEL Kirk, chegaram ao acordo de que a melhor

AO TERMO terminologia que caracterizaria tais crianças


seria Learning Disabilities (Distúrbios de
Aprendizagem). Nessa definição, Kirk expôs que
Foi por volta de 1800 que os estudos
os Distúrbios de Aprendizagem se referem a
sobre Distúrbios de aprendizagem tiveram
uma disfunção ou mais do processo psicológico
início. Franz Joseph Gall atentou-se a adultos
que envolve distúrbio ou desenvolvimento lento
que sofreram lesão cerebral, perdendo a de processos de fala, linguagem, leitura, escrita,
habilidade de expressar-se por meio da fala, aritmética ou outras áreas escolares, incluindo,
mas com permanência da inteligência. também, as desabilidades perceptivas, prejuízo
cerebral, disfunção cerebral mínima, dislexia e
desenvolvimento de afasia. Porém, não estão

1017
Revista Educar FCE - Março 2019

incluídas as dificuldades provenientes como


No tocante às causas dos distúrbios de
resultado primário de deficiências visuais,
auditivas ou motoras, de retardo mental, de
aprendizagem, Bender (2001) e Smith (2008)
distúrbio emocional e de desvantagem social ou constam que os pesquisadores não têm muitas
econômica. (GARCIA, 1998; OLIVEIRA, 2011; indicações sobre o porquê dessa ocorrência.
HALLAHAN; KAUFFMAN; PULLEN, 1944 apud Segundo Belinda Franceschini (2015, p.100),
FRANCESCHINI et al , 2015 p. 99).
As crianças com distúrbios de aprendizagem
Os primeiros estudos foram datados apresentam discrepância significativa e
pela medicina e posteriormente por outros inexplicável no desenvolvimento entre suas
profissionais que disseram ser os distúrbios funções cognitivas ou entre algumas áreas
de seu desempenho acadêmico e suas outras
de aprendizagem um problema na habilidade
capacidades ou realizações. Entretanto, para
social da pessoa.
que a observação dessas discrepâncias seja
efetiva, há a necessidade de conhecimento
Há muito que se definir em relação
sobre as diversas fases do desenvolvimento
ao termo, uma vez que, para muitos não infantil. (KIRK; GALLAGHER, 1996 apud
há entendimento. Segundo o Código FRANCESCHINI et al 2015, p. 100).
Internacional de doenças (CD), os distúrbios
de aprendizagem enquadram-se nos Programas de prevenção aos distúrbios
Transtornos do desenvolvimento psicológico de aprendizagem se fazem necessários,
e nessa categoria tem-se a dislexia, a disgrafia, pois os investimentos, segundo estudos,
a discalculia e a dificuldade de soletração. são realizados somente quando já foi dado
o diagnóstico, o qual deve ser feito por
O DSM (Diagnósticos de Transtornos equipe multisseriada: médico, pedagogo,
Mentais) em seu sexto item diz que fonoaudiólogo e psicólogo.
transtornos específicos de aprendizagem
não são mais subdivididos em transtornos de Cada profissional, de acordo com
leitura, transtornos de cálculo ou transtornos instrumentos variados de avaliação, chegam
de expressão escrita. juntos a um diagnóstico que traga uma
melhor qualidade de vida à pessoa.
Uma vez que a aprendizagem é um
processo amplo e gradativo, cabe distinguir
transtornos de dificuldade de aprendizagem. O ALGUNS DISTÚRBIOS DE
transtorno refere-se a problemas na aquisição APRENDIZAGEM:CARACTERÍSTICAS
e desenvolvimento de funções cerebrais
importantes ao ato de aprender, dado que E INTERVENÇÃO
dificuldade varia desde a adaptação escolar Esta pesquisa de base bibliográfica tem
ao plano político-pedagógico da instituição como aportes teórico-metodológicos os
escolar até o ambiente vivido pela criança.’ trabalhos dos seguintes autores: Cinel

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Revista Educar FCE - Março 2019

(2004), Coll (2004), Franceschini (2015) e trêmulo ou com irregularidade, escrita muito
Shirmer (2004) que abordam as seguintes lenta ou muito rápida, espaçamento irregular,
temáticas ou questões sobre o assunto ou erros ou marcas que podem impossibilitar
tema discutidos neste artigo. totalmente a leitura, não alinhamento do
texto e uso incorreto do instrumento com
Nesta pesquisa foram analisados alguns que escrevem. Se apresentar todo ou quase
artigos, teses e outros trabalhos científicos todo esse conjunto de características, a
que discutem e apresentam reflexões, criança possui o distúrbio.
sugestões que podem contribuir para uma
maior compreensão da temática apresentada Nor Cinel (2003) aponta como causas
neste artigo. consideráveis ao desenvolvimento da
disgrafia os distúrbios da motricidade fina
Dentre os mais recorrentes distúrbios e os da ampla, distúrbios da coordenação
de aprendizagem destacam-se a dislexia, visomotora, precariedade de organização
a disgrafia e a discalculia. De acordo com tempo-espacial, problemas de lateralidade e
Belinda Franceschini (2015, p. 101), direcionalidade e no último caso, o equívoco
pedagógico. Em Belinda Franceschini (2015,
Crianças disgráficas são aquelas que apresentam p. 102), é afirmado que
dificuldades no ato motor da escrita, tornando
a grafia praticamente indecifrável; sendo assim, Os distúrbios da motricidade fina e ampla
disgrafia é a perturbação da escrita no que diz compreendem disfunções psiconeurológicas ou
respeito ao traçado das letras e à disposição anomalias na maturação do sistema nervoso
dos conjuntos gráficos no espaço utilizado. central, levando à falta de coordenação entre
Relaciona-se, portanto, esta às dificuldades o que a criança se propõe a fazer (intenção) e
motoras e espaciais. (CINEL, 2003 apud a respectiva ação. Para que os mecanismos
FRANCESCHINI et al, 2015 , p. 101). da escrita sejam adquiridos pela criança,
é necessário saber orientar-se no espaço
Segundo alguns estudos já realizados
(motricidade ampla), ter consciência de seus
foi constatado que crianças com disgrafia membros e da mobilização destes, bem como ter
escrevem de forma diferente ou em a capacidade de individualizá-los (motricidade
desacordo ao padrão, apresentando uma fina) a fim de pegar o lápis ou a caneta e riscar,
caligrafia deficiente, com letras idênticas e traçar, escrever, desenhar. (CINEL, 2003 apud
mal elaboradas. FRANCESCHINI et al 2015 , p. 102).

São características comuns a este Quando é citada a coordenação


distúrbio: letra muito grande ou muito visomotora, está-se referindo à harmonia
pequena (macrografia e micrografia), letra dos membros superiores, inferiores e todo o
totalmente ilegível, traçado excessivamente corpo a um estímulo visual. Ainda em Belinda
grosso ou excessivamente suave, grafismo Francechini (2015, p.102),

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Revista Educar FCE - Março 2019

No que se refere à organização têmporo-


espacial, observa-se a relação entre a orientação
uma vez que esse processo deve ser de forma
e a estrutura do espaço e tempo. A deficiência
lúdica.
nesse campo faz com que as crianças escrevam
invertendo as letras e combinações silábicas, Para se ter sucesso no trabalho com
desobedecendo o sentido correto de execução linguagem escrita, é necessário estimular
das letras e escrevendo fora das linhas por não a descoberta e utilização da lógica do
terem orientação sobre como utilizar a folha de pensamento do pensamento para a
papel. (CINEL, 2003 apud FRANCESCHINI et al construção de palavras e textos, assim
2015, p.102). como para a representação de fonemas,
propiciar chances de desenvolver a escrita
Mais adiante, a mesma autora afirma que e a leitura espontânea, trabalhar de forma
sistemática as funções da escrita, esclarecer
Os problemas de lateralidade e de direcionalidade as diferenças entre língua falada e língua
podem ser causados por perturbações do escrita (é importante a criança saber que
esquema corporal, pela má organização do fala e escrita são maneiras diferentes de
próprio corpo em relação ao espaço ou por se expressar a linguagem). De acordo com
desarranjos de ordem afetiva. Quando as
Belinda Franceschini (2015, p.104),
crianças apresentam esses problemas, estes
podem ser observados de diversas maneiras:
Do ponto de vista do atendimento educacional,
(i) lateralidade mal-estabelecida ou dominância
Coelho (2012) faz referência ao comportamento
não claramente definida- exemplo: inversão de
dos professores. Expõe que, para ajudar um aluno
letras na leitura ou na escrita; (ii) sinistrismo ou
com disgrafia, o professor deve inicialmente
canhotismo contrariado – exemplo: a dominância
estabelecer um bom relacionamento com a
da mão esquerda contraposta ao uso forçado
criança e fazê-la perceber que sua presença é
e imposto da mão direita; (iii) lateralidade
relevante para apoiá-la quando mais precisar.
cruzada- exemplo: a dominância da mão direita
Para isso, é importante perceber o momento que
em conexão com o olho esquerdo, ou da mão
é necessário providenciar ajuda ao aluno e como
esquerda com o olho direito. (CINEL,2003 apud
fazer isto, bem como reforçar positivamente
FRANCESCHINI et al 2015 , p.103 ).
e caligrafia da criança. (FRANCESCHINI et al
2015, p.104).
Em relação ao erro pedagógico, este ocorre
quando há falhas no processo de ensino, Existem alguns fatores essenciais para a
estratégias inadequadas de ensino e até postura correta do grafismo: desenvolvimento
mesmo falta de conhecimento no assunto. psicomotor, desenvolvimento do grafismo em
si e especificidade do grafismo da criança,
A intervenção da disgrafia ocorre pela nos quais o educador deve se atentar aos
forma direta nas habilidades de leitura, com aperfeiçoamento das habilidades relacionadas
associação às atividades que dizem respeito à escrita, com atividades pictográficas (pintura,
ao processamento fonológico da linguagem, desenho, modelagem) e escriptográficas

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Revista Educar FCE - Março 2019

(utilização de lápis e papel), além de corrigir Outros estudiosos dizem que este tipo de
erros característicos do grafismo, como por dislexia provém da forma de aprendizado
exemplo, forma e tamanho. escolar, tendo mudança na aquisição de
capacidades específica de leitura.
Em relação à dislexia, o que se constatou
foi relatado por Carolina R. Schirmer, Denise Já a dislexia adquirida é tida como a
R. Fontoura, Magda L. Nunes (2004, p.100) perda da habilidade de ler e escrever após
a ocorrência de dano cerebral, o qual
Durante o período de aprendizagem, mais pode atingir regiões do cérebro que são
especificamente, no processo de alfabetização, a responsáveis pela leitura e ortografia. Este
criança é exposta a aprender diversas habilidades, tipo de distúrbio possui maior ocorrência em
como habilidades motoras, linguísticas e adultos do que crianças.
cognitivas, afim de realizar a decodificação das
palavras e ter a habilidade motora suficiente
Há também uma subdivisão em dislexia
para a execução das atividades, resultando no
central e dislexia periférica. Na primeira, “[...]
aprendizado dos processos de leitura e escrita.
ocorre o comprometimento do processamento
(SCHIRMER; FONTOURA; NUNES, 2004,
p.100).
linguístico dos estímulos, ou seja, alterações
no processo de conversão da ortografia para
Nesse sentido, a dislexia é entendida como fonologia” (SCHIRMER; FONTOURA; NUNES,
distúrbio de aprendizagem, produto de um 2004, p. 100). Já na dislexia periférica, “[...] ocorre
déficit específico na linguagem. o comprometimento do sistema de análise
visuo-perceptiva para leitura, havendo prejuízos
As grandes marcas dos disléxicos as quais na compreensão do material lido” (SCHIRMER,;
fazem com que se perceba o distúrbio são: FONTOURA; NUNES; 2004, p. 100).
a incompreensão na leitura e na escrita,
desenvolvimento da fala e da linguagem, Utilizando-se de tentativas fonológicas e
dificuldade na identificação de letras, ortográficas para se ater ao processo de leitura, a
confusão de letras na grafia, confusão de criança o faz durante o processo de aprendizagem.
sons semelhantes, inversões de sílabas ou Carolina R. Schirmer, Denise R. Fontoura, Magda
palavras, supressão ou adesão de letras ou L. Nunes (2004, p.107) ressaltam
sílabas, imaturidade fonológica, TDAH.
[...] porém, que o processo de aquisição do
Existem dois tipos de dislexia: a do sistema da escrita ou do alfabeto é evolutivo,
desenvolvimento, cuja origem é neurológica, no qual a criança se depara com os erros e
em que a genética constitui fator de risco. acertos que são questões implícitas no processo
de aprendizagem. (SCHIRMER; FONTOURA;
Além disso, está relacionada também à
NUNES, 2004 apud p.107).
prematuridade, ao baixo peso no nascimento
e a déficits cognitivos. A atenção de certas características na

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Revista Educar FCE - Março 2019

Educação Infantil ou no Ensino Fundamental podem significar sinal de alerta para obstáculos
atuais ou futuros na linguagem.

No tocante às dificuldades matemáticas, o transtorno conhecido é discalculia, palavra que


vem do grego e significa “contar mal”.

Ainda assim, as dificuldades matemáticas podem ser conhecidas por dois termos:
Discalculia ou Discalculia do Desenvolvimento ou Acalculia.

A causa da discalculia provém do comprometimento funcional específico do sistema


nervoso central. Algumas causas são de origem genética que interagem de forma complexa
com o ambiente. Há poucos estudos sobre métodos de superação da discalculia. As
comorbidades são bem aceitas na intervenção.

Por ser um assunto pouco conhecido, a discalculia não faz parte da rotina dos professores,
no sentido de preveni-la.

Alguns autores dizem que o atendimento educacional adequado seria a autoconstrução e


o automonitoramento.

O diagnóstico tem de ser realizado por meio de equipe multisseriada a fim de que o educando
possa ser avaliado em suas particularidades e tenha assim, uma qualidade de vida garantida.

Devido a essa diversidade tão grande que envolve o processo de ensino há necessidade
também de se fazer adaptações ao currículo, a fim de promover garantia de aprendizagem a
todos. Tais adaptações utilizam os seguintes meios, segundo César Coll, Álvaro Marchesi e
Jesus Palácios (2004, p. 286-287):

a) Necessidades educativas, condições do aluno e do contexto escolar:


1. Necessidades educativas do aluno em termos de competência com relação às aprendizagens contempladas no currículo escolar.
2. Condições do aluno que facilitam ou dificultam o processo de ensino e aprendizagem.
3. Condições do contexto escolar, sobretudo da classe, que facilitam ou dificultam o processo de ensino e aprendizagem.
b) Tipos de atuações educativas que devem ser desenvolvidas na escola:
1. Decisão quanto à escolarização (em uma escola regular ou em uma escola de educação especial).
2. Decisão quanto à proposta curricular que, em função das competências poderia concretizar-se em uma adaptação do currículo.
3. Decisão com respeito às ajudas e aos apoios pessoais ou aos materiais necessários.
c) Tipos de atuações educativas que devem ser desenvolvidas no âmbito familiar. (COLL; MARCHESI; PALACIOS, 2004, p. 286-
287).

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio de revisão bibliográfica, este estudo discorreu
acerca dos distúrbios de aprendizagem, abordando causas,
tratamentos e formas de prevenção, associando o trabalho
da neuropsicopedagogia como fonte de ajuda e até mesmo
como meio de se proporcionar melhor qualidade de ensino
aos alunos portadores de distúrbios de aprendizagem.

Como ponto inicial, destaca-se o professor como imagem


principal na detecção de um distúrbio de aprendizagem, pois
é na sala de aula que este é observado. FLAVIA CRISTINA
PEREIRA FIGUEIREDO
Posteriormente, quando encaminhado para equipe
Graduação em Matemática pela
multidisciplinar, mediante relatório, o aluno passará por Faculdade de Ciências e Letras de São
avaliação psicopedagógica. Quando constatado o distúrbio, José do Rio Pardo (2000); Especialista
adaptações ao currículo e ao projeto pedagógico escolar se em Neuropsicopedagogia pela Faculdade
fazem necessárias. Campos Eliseos (2019); Professor de
Ensino Fundamental II – Matemática – na
Enfim, é com trabalho em equipe, seriedade e reflexão Etec Arnaldo Pereira Cheregatti.
que o aluno chegará ao sucesso na aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
CINEL, B. N. C. Disgrafia: prováveis causas dos distúrbios e estratégias para a correção da
escrita. Revista do professor. Porto Alegre, v. 74, n.19, p.1925, 2003. Disponível em: <http://
educacao.salvador.ba.gov.br/ site/documentos/espaco-virtual/espaco-praxispedagogicas/
DIFICULDADE%20DE%20APRENDIZAGEM/disgrafia.pdf> Acesso em: 15.jun.2019.

COLL, César; MARCHESI, Álvaro; PALÁCIOS, Jésus. Desenvolvimento psicológico e


educação: transtornos de desenvolvimento e necessidades educativas especiais. Artmed,
2004.

FRANCESCHINI. Belinda T; ANICETO. Gabriela; OLIVEIRA D. Sabrina; ORLANDO. Rosimeire


M. Distúrbios de aprendizagem: disgrafia, dislexia e discalculia.

SCHIRMER, C.R.; FONTOURA, D. R.; NUNES, M. L.; Distúrbios da aquisição da linguagem e


da aprendizagem, Jornal de Pediatria, v. 80, n. 2, p. 95-103, 2004.

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Revista Educar FCE - Março 2019

AVALIAÇÃO APRENDIZADO
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo investigar as metodologias e as estratégias
de avaliação utilizadas nas séries iniciais do Ensino Fundamental. O pressuposto teórico
adotado consiste na ideia de que, os métodos de avaliação deveriam ser utilizados pelo
professor com a intenção de diagnosticar o processo de construção da aprendizagem dos
educando. Na escola, a avaliação, deve ter como finalidade dar um juízo de valor, o que
significa uma afirmação qualitativa sobre um dado objeto, sendo este satisfatório o quanto
mais se aproximar do ideal estabelecido. A atual prática da avaliação escolar tem mostrado
como sua função classificação e não o diagnóstico. O julgamento de valor, que teria função
de possibilitar uma nova tomada de decisão sobre o objeto avaliado, tem uma função
estática de classificar um objeto a um ser humano histórico num padrão definitivamente
determinado. Essas classificações são determinadas em números que somadas ou divididas
tornam-se médias. Sendo assim, enquanto classificatória, a avaliação não tem a finalidade
de auxiliar na reflexão sobre a prática e retornar a ela, mas sim, como um meio de julgar a
prática e torná-la estratificada.

Palavras-Chave: Avaliação; Diagnóstica; Ensino-aprendizagem; Instrumentos de avaliação.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO SIGNIFICANDO O
ENSINO, APRENDIZAGEM
O ato de avaliar implica na coleta, na análise e
na síntese dos dados que configuram o objeto E AVALIAÇÃO DO
da avaliação, acrescido de uma atribuição RENDIMENTO ESCOLAR
de valor ou de qualidade, que se processa
a partir da comparação da configuração do É de suma importância para a reflexão
objeto avaliado com um determinado padrão e significação do conceito da avaliação do
de qualidade previamente estabelecido para rendimento escolar faz-se necessário que
aquele tipo de objeto. O valor, ou, a qualidade os educadores rebusquem ressignificar,
atribuído ao objeto conduz a uma tomada de discutam primeiramente sobre como
posição a seu favor ou contra ele. Esta tomada entendem o ensino e a aprendizagem uma
de decisão é o posicionamento a favor ou vez que ambas as práticas geram a avaliação.
contra o objeto, ato ou curso da ação, a partir Em virtude disso, durante o processo
do valor ou qualidade atribuído, conduz a avaliativo os educadores devem ter em
uma decisão nova: manter o objeto como está mente que avaliar denota discorrer, tomar
ou atuar sobre ele. Segundo Luckesi (2002), parte, debater, conviver, crescer, apreender
a avaliação, diferentemente da verificação, objetivando o desenvolvimento irrestrito de
envolve um ato que ultrapassa a obtenção da seus alunos.
configuração do objeto, exigindo decisão do
que fazer com ele. A verificação é uma ação Sendo assim, cabe ao professor pensar
que “congela” o objeto; a avaliação, por sua e desenvolver a avaliação de seus alunos
vez, direciona o objeto numa trilha dinâmica como uma maneira de que, por meio dela
da ação. A avaliação da aprendizagem não eles possam adquirir autoconfiança, respeito
se constitui matéria pronta e acabada, neste por si e pelo próximo, equilíbrio emocional,
sentido que esta pesquisa foi desenvolvida autonomia de comunicação, responsabilidade
com o intuito de conhecer e buscar os subsídios para com sua vida e com o mundo. Para que tal
que fundamentem futuramente o caminho situação realmente ocorra, é necessário que
a ser desenvolvido pelo professor durante o educador/avaliador tenha discernimento
o processo de avaliação dos educando. Ao sobre a ligação intrínseca entre educação,
avaliar o professor deve utilizar técnicas ensino, aprendizagem, avaliação.
diversas e instrumentos variados, para que se
possa diagnosticar o começo, o durante e o Muitos estudiosos e pesquisadores sobre
fim de todo o processo avaliativo, para que a a temática tratada afirmam que sendo
partir de então possa progredir no processo a educação, o ensino e a aprendizagem
didático e retomar o que foi insatisfatório para interligados é importantíssimo que haja a
o processo de aprendizagem dos educando. plena interação entre avaliador e avaliados,
conforme é exposto por Jussara Hoffmann:

1026
Revista Educar FCE - Março 2019

(...) a confiança mútua entre educador e avaliação são considerados para o processo,
educando no que se refere à reorganização isto é, somente utilizam-se das notas ou
conjunta do saber pode transformar o ato conceitos, esquecendo-se da importância
avaliativo em um momento prazeroso de da humanização durante a avaliação do
descoberta e de troca de conhecimento. rendimento de seus alunos.
(HOFFMANN, 1994, p.80).
Nesse contexto apresentado cabe
Entretanto, apesar da justificativa da ressaltar que avaliar o rendimento escolar
autora, nota-se pelos dados apresentados não significa simplesmente solicitar que ele
por diversos autores em seus estudos que faça uma prova escrita ou oral ou reprová-
a avaliação escolar é confundida e mesmo lo ou não ao final de um ano ou semestre
praticada na maioria das vezes como letivo. Tal atitude significa apenas levar
cobrança e julgamento. em consideração os seus conhecimentos
técnicos ou não sobre os conteúdos a ele
Outro apontamento realizado pelos transmitidos pelo professor.
pesquisadores e estudiosos e que
colaboraram para que a avaliação dos alunos Avaliar significa ter seriedade e
seja punitiva é a competição, ou seja, quando responsabilidade para com a formação
o aluno acerta recebe estímulo, quando erra integral do aluno; não usar o aluno para
a reprimenda é maior e o aluno geralmente é uma educação depositária de informações
“rotulado” com termos nem sempre aceitáveis compartimentadas; não utilizar o conselho
ou publicáveis, uma vez que são classificados de classe de forma vingar-se de alunos
por termos pouco ou nada louváveis. indisciplinados:

O sistema governamental, os gestores A avaliação deve ser integral considerando


da educação, os educadores, familiares e o aluno como um ser total e integrado e
sociedade em geral precisam observar as não de forma fragmentada. Os professores
demandas e significações que a avaliação precisam verificar o conhecimento prévio
do rendimento escolar requer para que não de seus alunos, com isso conseguindo
se torne punitiva e um fator a mais para a planejar seus conteúdos e detectar o que
exclusão social. o aluno aprendeu nos anos anteriores.
Precisa também identificar a dificuldades de
A avaliação do rendimento escolar deve aprendizagem, diagnosticando e tentando
ser utilizada no intuito de esclarecer o que identificar e caracterizar as possíveis causas.
muitas instituições e muitos educadores O professo também deve estabelecer ao
não vem respeitando o espaço no qual o iniciar o período letivo, os conhecimentos
aluno está inserido e também não estão que seus alunos devem adquirir bem como as
refletindo acerca de quais instrumentos de habilidades e atitudes a serem desenvolvidas.

1027
Revista Educar FCE - Março 2019

Esses conhecimentos e habilidades devem resultados. Segundo Vasconcellos (2003),


ser constantemente avaliados durante a reflexão crítica dos instrumentos de
a realização da atividade, fornecendo avaliação remete o professor a alguns
informações tanto para o professor como questionamentos voltados ao como são
para o aluno sobre o que já foi assimilado preparados os instrumentos, como analisados
e o que ainda precisa ser dominado. Caso o e corrigidos, como é feita a comunicação dos
aluno não consiga atingir as metas propostas, resultados e o que se faz com os resultados
cabe ao professor organizar novas situações obtidos. Todos esses aspectos necessitam
de aprendizagem para dar a todos, condições ser amadurecidos pelo professor. Porém,
de êxito nesse processo. a elaboração do instrumento é um ponto
crucial nessa reflexão. Ao elaborar um
Nota-se pelas concepções da autora que instrumento de avaliação, Vasconcellos
a avaliação do rendimento escolar ainda está (2003), chama a atenção para alguns critérios
sendo praticada de forma punitiva porque que o professor necessita considerar, ou
muitas escolas e educadores ainda se atêm seja, verificar se são essenciais, reflexivos,
à medição das notas e não das competências abrangentes, contextualizados, claros e
e habilidades dos alunos e isso precisa ser compatíveis com o trabalho realizado pelo
urgentemente modificado, afinal, eles são professor com o aluno. Ao lado dos aspectos
pessoas e não máquinas. que envolvem a escolha do instrumento de
avaliação, professor dispõe ainda, de um
número significativo de instrumentos. Na
INSTRUMENTAÇÃO impossibilidade de se esgotar as a totalidade
DE AVALIAÇÃO dos instrumentos, foi realizado um recorte,
para a apresentação nesse estudo. Utilizou-
Os instrumentos de avaliação possibilitam se como critério, os instrumentos mais
o acompanhamento da aprendizagem do comuns no uso diário do professor e que
aluno, visto que expressam o que o aluno propiciam maior possibilidade de aplicação
aprendeu, deixou de aprender ou ainda precisa na prática diária. São abordados, a prova, a
aprender. Os instrumentos apresentam observação, o portfólio, o relatório, conselhos
registros de diferentes naturezas: expresso de classe e o mapa conceitual. No entanto,
pelo próprio aluno (provas, cadernos, vale ressaltar que a limitação desse trabalho,
textos e outros) ou expresso pelo professor impossibilita a apresentação de todos os
(pareceres, registro de observação, fichas e instrumentos de avaliação que, igualmente,
outros). Há instrumentos de avaliação que são importantes de serem considerados no
são mais utilizados e precisam ser refletido processo educativo.
quanto a sua elaboração; adequação
aos objetivos, conteúdo e metodologia;
aplicabilidade; correção e devolução dos

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Revista Educar FCE - Março 2019

PRÁTICA PEDAGÓGICA E FORMAS DE AVALIAÇÃO


A prática pedagógica e as formas de avaliação muitos professores não escolhem as formas
de avaliação de acordo com os objetivos a atingir e tão pouco diversificam os meios utilizados
e confundem critérios com meios ou formas de avaliar. A sua prática pedagógica se torna
falha ao passo que não compreendem o processo educativo, especificamente no que diz
respeito à avaliação da aprendizagem e os critérios de avaliação.

Segundo Luckesi (2003, p.37): Quando estamos junto a pessoas, a qualificação e a decisão
necessitam de ser dialogadas. O ato de avaliar não é um ato impositivo, mas sim dialógico
amoroso e construtivo. Pessoas, quando estão sendo avaliadas, necessitam e devem participar
da sua própria qualificação, frente aos critérios que estão postos e que também pode ser
partilhada sem essa participação, a avaliação de pessoas pode tornar-se simplesmente um
julgamento classificatório e não uma verdadeira prática de avaliação. A eficácia e pertinência
de um determinado modo de avaliar dependem do contexto em que ele está inserido, das
metas almejadas no planejamento de ensino e aprendizagem relacionados, e das pessoas
envolvidas nesse processo. Por isso, é importante a escolha, utilização desses meios, quer
seja: observação, provas, trabalhos de pesquisas, relatórios ou outros. “É importante que
a forma de avaliação seja escolhida de acordo com os objetivos que se deseja atingir. É
também fundamental que se ofereça ao aluno diversas oportunidades de mostrar seu
desempenho, evidentemente evitando fazer do processo de ensino um mecanismo de
só aplicar instrumentos de avaliação” De presbíteros (1998). Ao saber da importância da
utilização dos meios, de antemão, já é possível discernir critérios de formas. Um professor
que compreende bem o processo pedagógico conseqüentemente tem uma boa prática.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do exposto pode ser concluído que a compreensão
de avaliação do rendimento escolar é frequentemente
relacionada à ideia de dar notas ao aluno em virtude apenas
ao seu desempenho comportamental e de absorver e
devolver os conteúdos que lhe foram transmitidos por meio
de tarefas e provas, principalmente escritas, algo que precisa
ser modificado com urgência, visto que um novo enfoque
possibilitará o fortalecimento no aspecto quantitativo e
qualitativo da aprendizagem dos educando.
FÁTIMA REGINA
A avaliação do rendimento escolar na atualidade tem DA ROCHA
como objetivo a classificação do aluno, por isso necessita ser
Graduação em Ciências Sociais pela
refletida e transformada, pois a apreensão de habilidades ou Faculdade de Ciências e Letras Teresa
não e, por conseguinte, o desenvolvimento de competência Martin (1990). Graduação em Geografia
ou incompetência do aluno não resulta apenas da escola licenciada pela Faculdade de Ciências e
ou do professor, e sim de todos aqueles que participam do Letras de Araras (2000). Graduação em
contexto escolar e social do educando. Pedagogia licenciada pela Universidade
Bandeirantes de São Paulo (2004).
Um possível caminho para transformar a avaliação Especialista em Docência do Ensino

punitiva em formativa está relacionado à modificação dos Superior pela Faculdade Campos Elíseos

instrumentos de avaliação determinados pelas concepções (2013). Professora/Gestora Escolar

e modelos da realidade das escolas em que os educadores pela Secretaria Estadual da Educação

atuem. Os professores precisam deixar de pensar e se (aposentada). Professora de Educação


Infantil e Fundamental I - Secretaria
importar com o tipo de conhecimento que o aluno adquiriu, e
Municipal de São Paulo na EMEI Jardim
sim, com o tipo de nota que o aluno obteve. A nota, portanto,
Monjolo I.
passará assim a apresentar um objetivo diferente da mera
reprodução do rendimento do aluno.

Este trabalho comprova que a avaliação do rendimento escolar punitiva é usada como
instrumento para exclusão escolar e social.

Portanto, a reflexão acerca da avaliação do rendimento escolar como libertadora para a


vida deve enfocar a criticidade e senso analítico do aluno.

1030
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
Avaliação da Aprendizagem na escola: reelaborando conceitos e recriando a prática. Salvador:
Malabares Comunicação e Eventos, 2003.

HOFFMAN, Jussara. Avaliação Mito & Desafio – Uma perspectiva construtivista. 13 ed.
Porto Alegre: Educação & Realidade, 1994.

PERRENOUD, Philippe. Práticas Pedagógicas, profissão Docente e Formação. Perspectivas


sociológicas. (trad. de Helena Farias, Helena Tapada, Maria João Carvalho e Maria Nóvoa).
Lisboa: Publicações D. Quixote, VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Avaliação: concepção
dialético-libertadora do processo do processo de avaliação escolar. Avaliação desmistificada.
Tradução: Patrícia C. Ramos. Porto Alegre: Artmed. 2001. LUCKESI, C. C.

SANTOS, Monalize Rigon da; VARELA, Simone. A Avaliação como um Instrumento


Diagnóstico da Construção do Conhecimento nas Séries Inicias do Ensino Fundamental.
Revista Eletrônica de Educação. Ano I, No. 01, ago. / dez. 2007.

1031
Revista Educar FCE - Março 2019

MELHORIA NA APRENDIZAGEM DO ALUNO DO EJA

MELHORIA NA APRENDIZAGEM
DO ALUNO DO EJA
RESUMO: Esse artigo faz uma análise reflexiva sobre o fracasso escolar e a participação
da família na melhoria da aprendizagem dos alunos do EJA. Nesta análise, procuramos
compreender a aprendizagem e as dificuldades de aprendizagem, esta última é possível
causadora do fracasso escolar. Alguns problemas que surgem no aluno, durante o processo
de aprendizagem, mas que o maior problema está na educação e também na família. Portanto,
acreditamos que quando houver melhoria na educação da EJA, também haverá melhoras no
processo de aprendizagem e uma perfeita harmonia no convívio familiar. ‘

Palavras-Chave: Fracasso; Escola; Família; Aprendizagem; Eja.

1032
Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO história como uma modalidade de ensino


que não requer, de seus professores,
No Brasil uma das marcas mais negativas estudo nem especialização, com um campo
em relação a Educação é a desigualdades eminentemente ligado à boa vontade.
que compromete o seu exercício de forma Em razão disso, são raros os educadores
eficaz. Entretanto, a Educação de Jovens e capacitados na área. Na verdade, continua
Adultos tem importância significativa para arraigada a ideia de que qualquer pessoa
a sociedade e para o indivíduo, pois, com que saiba ler e escrever pode ensinar jovens
esse ensino diminui analfabetismo, marca e adultos com essa falsa premissa não se tem
negativa para um país e consequentemente levado em conta para se desenvolver um
aumentarão os índices de pessoas letradas ensino adequado a esta clientela exige-se
que conseguem empregos formal. Para tanto, formação inicial específica e geral consistente,
é necessário que as unidades de ensino assim como formação continuada.
tenham conscientização de sua importância,
compreendendo esta modalidade de ensino Para que a EJA tenha significado é
e elaborando planos de ações que satisfaçam necessário que o educador tenha uma base
as reais necessidades do público que nela se de conhecimentos que servem para uma
matricula. prática eficiente ao aluno nela matriculado
tenha um processo de ensino e aprendizagem
Para Santos, ao se referir formação do de forma qualificada e eficaz.
professor para Educação de Jovens e Adultos
afirma Desse modo, a Educação de Jovens e
adultos, necessita de mais reconhecimentos
[...] nos cursos oferecidos em instituições para o seu público alvo. Sabe-se, que todo
formadoras, sente-se a necessidade de cidadão tem seus direitos e deveres na
aprofundamentos teórico-práticos em relação à sociedade e, não é diferente com as pessoas
Educação de Jovens e Adultos. Um dos pontos que por estes motivos não conseguiram
que mais afeta o ensino da EJA é a formação
concluir o ensino fundamental ou não
do professor devido a não inclusão da EJA,
conseguiram se quer ser alfabetizado e não
nos currículos das instituições, bem como a
sabem nem ler nem escrever. Para tanto,
dificuldade de colocar em prática os princípios
espera-se mais empenhos das políticas
políticos e pedagógicos defendidos pela EJA,
por falta de subsídios que deveriam ter sido
públicas voltadas para a Educação de Jovens
adquiridos no curso de formação. (SANTOS, e Adultos, para que estes não se sintam
2003, p.19) excluídos de seus direitos.

A mesma autora, ao se Referir a Machado Portanto, a Educação de Jovens e Adultos


(1998), destaque que a educação de jovens se apresenta para a sociedade e para os
e adultos foi vista no decorrer de sua jovens e adultos, como uma grande conquista

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Revista Educar FCE - Março 2019

e para os professores, instituições de ensino É necessário estimular o desenvolvimento


e sobre tudo, para os governantes como dos alunos através de relações estabelecidas
um grande desafio em fazer que o ensino com seus aprendizados trazidos do meio familiar
aconteça. empírico, motivando-os ao estudo prazeroso da
leitura e levando em conta seu convívio social.
A EJA, é uma oportunidade de possibilitar Assim, nota-se a relevância de se trabalhar
a essas pessoas que por algum motivo dentro da realidade da criança transformando o
deixaram a escola uma escolarização, para conhecimento do senso comum em científico,
que a partir de então, possam buscar cada respeitando o seu estágio de desenvolvimento.
vez mais qualificação pessoal e profissional,
quanto maior for o investimento nesta Falar da leitura no contexto escolar é falar no
modalidade de ensino melhor para o país, vazio, se não partimos para a prática da leitura
que preparará pessoas melhorando a desde a educação infantil.
qualificação profissional que é de extrema
importância para o indivíduo e para o país, por Assim, se realmente a leitura é trabalhado na
proporcionar conhecimentos fundamentais educação infantil, então nossas crianças serão
para o exercício do trabalho e da cidadania. futuros leitores críticos e participativos.

Um professor que ensine e ao fazê-lo


A EDUCAÇÃO DE JOVENS transmita a seu aluno a esperança, passa a ser
E ADULTOS NAS PRÁTICAS espelho para este aluno. É esta esperança que
faz com que este aluno mude a direção de sua
ATRIBUÍDAS vida para o mundo.
Com os avanços tecnológicos e as
transformações educacionais percebidas na área
de língua portuguesa nos últimos anos, nota-se O PERFIL DO ALUNO DA EJA
cada vez mais a necessidade de atualização dos E SUA PERSPECTIVA FUTURA-
profissionais do ensino na intenção de viabilizar
um ambiente escolar em consonância com as LETRAMENTO LITERÁRIO
novas teorias de ensino e, ao mesmo tempo, A escola a qual a pesquisa foi realizada, fica
atraente aos alunos. na capital da cidade de Bahia em uma região
denominada zona leste. Pertence a rede
É primordial que se entenda a atividade de Municipal de Ensino, oferecendo a clientela
leitura na educação de jovens e adultos para do bairro, a modalidade de ensino regular
a formação de leitores que possam desfrutar do Ensino Fundamental anos finais e Ensino
dessa ferramenta indispensável, não somente Médio durante o período diurno e no noturno
no espaço escolar, mas estendendo seu uso a modalidade Educação de Jovens e Adultos,
para toda vida. ensinos fundamental anos iniciais e finais.

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Revista Educar FCE - Março 2019

De acordo com os dados coletados na secretaria da escola, em média a escola possui


certa de 980 alunos, até o presente momento da pesquisa. Deste total de alunos, 98 estão
matriculados na Educação de Jovens e Adultos no ensino fundamental anos iniciais e 122
alunos nos anos finais do ensino fundamental. Neste caso vamos considerar apenas os alunos
da modalidade Educação Jovens e Adultos sendo referencias de nossos estudos, totalizando
220 alunos ou seja 23% dos alunos total matriculados na escola.

Agora passamos a analisar a quantidade de pessoas do sexo feminino e masculinos


matriculado na escola.

Em relação ao sexo, 46% dos alunos matriculados, masculino e 54% são do sexo feminino,
uma diferença de 8%, isto significa que as mulheres estão frequentando a modalidade em um
número relativamente maior que os homens, esta proporcionalidade pode a vir compactuar
com as estatísticas atuais que indicam que em nosso pais o número de pessoas do sexo
feminismo é relativamente maior que a do sexo masculino. (IBGE, 2010)

Outro dado analisado foi a faixa etária dos alunos matriculas, para a nossa surpresa
podemos perceber que a faixa etária destes alunos vem a cada ano ficando mais jovem.
Separamos os dados para melhor compreensão em Faixa Etária do sexo feminino e masculino
em gráficos separados.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Em relação ao sexo feminina o maior número de pessoas matriculadas na modalidade de


ensino nasceu no ano de 1991, portanto possuem 24 anos, as alunas mais novas nasceram
em 1992, as pessoas do sexo feminismo mais com maior idade nasceu no ano de 1971,
portanto apresentam 44 anos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Em relação ao sexo masculino a faixa etária do aluno mais velho matriculado é 21 anos
mais velho que a aluna com mais idade do sexo feminino, percebe assim que possivelmente
os alunos do sexo masculino estão demorando mais para voltar para a escola em relação a
mulheres. Por um outro lado o aluno do sexo masculino mais novo, nasceram no ano de 1994,
apresentando 21 anos de idade, já as alunas do sexo feminino com melhor idade apresentam
25 anos. As Faixas etárias entre os alunos do sexo masculino com maior incidência nasceram
no ano de 1988, com 22% dos matriculados, já as alunas do sexo feminino nasceram em
1991, com 18% dos matriculados.

Passamos analisar através das fichas cadastrais, a quantidade de vezes que os alunos se
matricularam na EJA e abandonaram o ano letivo.

Apenas 5% nunca abandonaram a escola, apesar de estarem relativamente atrasado em


relação a idade/ano, 50% dos alunos matriculado já abandonaram mais de 4 vezes a escola,
percebemos assim que há fortes atrativos que levam os alunos a não continuarem seus
estudos, a escola parece ser a primeira opção em ser abandonada em detrimento de outros
assuntos. Porém mesmo abandonando por tantas vezes, os alunos voltam para a instituição,
caracterizando que apesar de todos os problemas a escola possui credibilidade perante o
aluno.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Como mencionado anteriormente todos os alunos estão matriculados no período


noturno, pois a escola só oferece esta opção, mas para serem dispensado da Educação Física,
componente curricular obrigatório, de acordo com a Lei nº 10.793 – de 1 de dezembro de
2003, precisam comprovar que trabalhem de forma formal, através da cópia da carteira
assinada, ou de forma informal por uma declaração dos empregadores, que tenha por mais
de 6 horas diárias. Além disso as mulheres que apresentam filhos e os maiores de 30 anos
são dispensados da atividade. Os alunos que estão servindo o serviço militar, aqueles que
comprovem através de atestado médico a sua inaptidão para atividades físicas e os alunos
portadores de deficiência. Em relação aos 220 alunos, analisamos os que apresentam menos
de 30 anos independente do sexo para ver quais são os motivos que os levam a serem
dispensados da atividade física. Ressalvo que a direção da escola informa que todos os 220
alunos matriculados não realizam a Educação Física, os nascidos a partir de 1986.

Dos alunos matriculados 60% entregaram declaração de trabalho sem comprovação de


estarem trabalhando com os devidos registros e direitos legais, a escola ressalta por meio
da Direção da Escola, que não são verificados a legalidade do documento, a não ser através
de denúncias. Das 9% que apresentam prole, todas são mulheres, uma vez que a legislação
vigente ampara apenas as mães e não os pais. Apenas uma pessoa apresentou atestado
médico para a dispensa da atividade Física.

A análise realizada e apresentada até este momento na pesquisa foi realizada por
documentações presente nos prontuários dos alunos matriculados na escola. A partir deste

1038
Revista Educar FCE - Março 2019

ponto apesentaremos resultados realizados • “Agora que meus filhos estão grandes e
com uma amostra dos alunos em pesquisa sabem se virar sozinhos, vou fazer a minha
informal, durante o estágio realizado, nos parte, pois eles já estão encaminhados”.
meses de fevereiro, março e abril destes
anos vigente em uma escola da capital de • “Voltei a estudar por que me separei
São Paulo, na região leste da cidade. de meu marido, antes não podia porque
ele não deixava, agora posso realizar o
Por tanto, foram utilizadas três temáticas meu sonho de ser professora”.
ao conversar de forma informar com os
alunos: • “Voltei a estudar, pois pretendo fazer
• Por que revolveu voltar a escola para faculdade, quero ter uma vida melhor”.
concluir seus estudos?
• O que levou ao atraso escolar? • “Além de aprendem, voltei para a
• O que pretende fazer após a conclusão escola para ver os meus amigos, conversar,
da Educação básica? ficar por dentro das atualidades, ter um
momento de prazer”
Dos 220 alunos matriculados,
conversamos com 10% dos matriculados, É interessante notar que os motivos que
em três dias de aula, durante o período do trazem os alunos de volta a escola são vários,
intervalo. Escolhemos alunos com faixas alguns alegam, a satisfação pessoal, outros
etárias diferenciadas. motivos de trabalho, a pretensão em fazer
faculdade e até de socializar com amigos.
Em relação a primeira temática, sobre
o porquê de o aluno voltar para a escola, Partimos para a próxima temática, sobre o
recebemos as seguintes respostas: atraso no processo e escolaridade:

• “Voltei a estudar por uma satisfação • “Estou atrasada em relação a escola,


pessoal, ficava muito triste quando meu pois tive que parar para cuidar de meus
filho perguntava, até que ano na escola filhos enquanto o meu marido trabalhava,
eu tinha ido, pois naquele momento meu mas agora estão todos crescidos e posso
filho estava na minha frente. Resolvi voltar a estudar”.
voltar e estou muito feliz com que estou
aprendendo”. • “Quando eu era criança tinha que
trabalhar para ajudar a minha mãe que
• “No meu caso foi por causa do tinha muitos filhos e o meu pai foi embora
trabalho, na empresa em que estou se não de casa, como sou o mais velho tive que
estuda é mandado embora” parar de estudar para ajudar a minha mãe”

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Revista Educar FCE - Março 2019

• “O trabalho foi sempre um grande problema, pois a maioria das vezes o horário do
emprego era no mesmo horário que da escola”.

• “Eu morava na roça e lá não tinha escola, meus pais eram muito pobres e sempre
mudavam de sítios e cada veze ia para mais longe”.

Os apontamentos indicam que o trabalho sempre foi um dos motivos que levam os alunos
a abandonarem a escola, pois precisam optarem ou trabalham e se sustentam ou estudam e
passam necessidades. Outra alegação perante as alunas do sexo feminino é sobre a criação
dos filhos, muitas são mães muito cedo e não há outra alternativa a não ser cuidado com os
filhos.

Sobre a última temática, o que pretende fazer após a conclusão da educação básicas,
tivemos as seguintes respostas:

• “Ainda não sei, pois vai depender das minhas condições financeiras, se eu tiver
condições quero fazer um curso para aprender a falar inglês, acho muito bonito que fala”.

• “Pretendo fazer um curso de Técnico de Segurança do Trabalho ou Logística, acho boa


a profissão”.

• “ Quero fazer faculdade para ser professora, este sempre foi o meu sonho e sei que
posso conseguir”

• “ Quero conseguir um emprego melhor, com carteira assinada e ter um plano de saúde
para a minha família, pois trabalho hoje sem registro e ganho pouco”,

• “Quero fazer concurso para a Policia Civil! ”

A perspectiva sobre a sua formação futura apresenta várias vertentes, uns querem ser
professores, outros fazer cursos técnicos, concursos públicos, mas tem aqueles que não
sabem o que pretende, pois precisam analisar os fatores financeiros.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É preciso considerar o fato de que o professor, quando
se torna comprometido com o aluno e com uma educação
de qualidade, fazendo do aluno alvo do processo ensino-
aprendizagem, e cumprindo seu papel de orientador e
facilitador do processo, legitima assim a teoria de uma
facilitação da aprendizagem, através da interação entre
sujeitos, ultrapassando, desse modo, a mera condição de
ensinar.

No entanto, muitos fatores levam a questionar se esta FERNANDA


prática educativa vem realmente acontecendo de maneira SAMPAIO GOMES
satisfatória nas instituições. Muitas vezes, as relações entre
Licenciada em Letras (Português/Inglês)
os sujeitos acabam por se contrapor, sejam por motivos em 2005. Professora de língua Inglesa no
econômicos, sociais, políticos ou ideológicos, demonstrando Ensino Fundamental II, e médio pela Rede
falhas no cotidiano e lar, bem como limitações quanto Municipal de Ensino.
à aquisição do conhecimento no processo ensino-
aprendizagem.

Na realidade, a prática docente tem uma parcela não só


significativa na relação professor e aluno, mas quase que
definitiva em todo o processo. A arrogância didática do
detentor do saber e a “segurança” que o mesmo tem de que
seu poder, seus conhecimentos ilimitados são suficientes,
pode produzir um aprendizado equivocado e covarde, uma vez que este acredita que a culpa
é somente do aluno quando os resultados não condizem com as suas expectativas.

1041
Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

MELHORIA NA APRENDIZAGEM DO ALUNO DO EJA

O BRINCAR E A BRINCADEIRA
DENTRO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: O brincar e a brincadeira estão presentes na vida de qualquer bebê ou criança
dentro do seu meio social, por esse motivo esses elementos são fundamentais dentro da
educação infantil. Desse modo, é preciso ter um olhar atencioso enquanto a criança interage
com seus brinquedos, brincadeiras, amigos e o mundo ao seu redor e saber o momento do
professor interferir ou complementar de maneira a aprofundar ou enriquecer o momento
que esta sendo vivenciado. Ao brincar, sozinha ou em grupo a criança consegue se expressar,
demonstrar seus sentimentos, recriar situações do seu cotidiano, levantar suas hipóteses
dentro de determinados assuntos, movimentar-se e explorar seu corpo e espaço.

Palavras-Chave: Brincar; brincadeira; Interação; Educação Infantil

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO De acordo com a LDB em seu artigo


29: A educação infantil, primeira etapa da
O presente artigo demonstra a importância educação básica tem como finalidade o
da brincadeira e do brincar dentro da desenvolvimento integral da criança até
educação infantil para o desenvolvimento cinco anos de idade, em seus aspectos
pleno das crianças em toda sua esfera cultural, físico, psicológico, intelectual e social,
cognitiva, físico, etc. complementando a ação da família e da
comunidade.
Percebe-se que ao brincar bebês e crianças
recriam e criam experiências, levantam Assim, as creches são consideradas o inicio
hipóteses e conclusões, descobrem novidades, de todo o processo de desenvolvimento
expressam seus desejos e sentimentos de intelectual, motor, afetivo-social, dentre
uma maneira lúdica e agradável. Além disso, outros que as crianças terão oportunidade
conseguem explorar corpo e espaço. Todas de vivenciar dentro dessas instituições.
essas vivências transformam-se em novos Esse primeiro contato com a instituição
conhecimentos e aprendizados. é de total importância e de grande
impacto durante toda a sua formação. É
Reconhece a importância do professor fundamental que professores e funcionários
nesse processo de aprendizado e descobertas, estejam comprometidos e sabendo da sua
visto que atua como mediador ou agente das importância dentro desse processo de
situações que enriquecerão o dia a dia dos construção de vivências significativas da
alunos. faixa etária em questão. De acordo com
a autora Mafuf (2008, p. 13) em seu livro
Entende a criança como protagonista das Atividades Lúdicas para a Educação Infantil/
suas descobertas. Conceitos, orientações e práticas:

Os primeiros anos de vida são decisivos na


O BRINCAR E A BRINCADEIRA formação da criança, pois se trata de um período

DENTRO DA EDUCAÇÃO em que ela esta construindo sua identidade


e grande parte de sua estrutura física, afetiva
INFANTIL e intelectual. Sobretudo, nesta fase, deve-se
adotar várias estratégias, entre elas as atividades
Atualmente, a Educação Infantil é vista como
lúdicas que são capazes de intervir positivamente
o início do processo do Ensino básico e não mais
no desenvolvimento da criança, suprindo suas
como algo assistencialista que visava apenas o
necessidades biopsicossociais, assegurando-lhe
cuidar da integridade e da higiene das crianças, condições adequadas para desenvolver suas
ou como um espaço onde o responsável competências.
“deposita” sua criança para que consigam
trabalhar ou fazer suas tarefas domésticas.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Dentro dessa perspectiva, uma das É capaz de transformar objetos não


maneiras mais eficientes e presentes no estruturados como pneus, tecidos, potes,
convívio das crianças, dentro e fora do palitos, caixas, cones, objetos reciclados
âmbito de ensino, está o brincar. Para Jesus e da natureza em ferramentas essenciais
(2010, p. 07): dentro do seu repertório imaginário. Não
é difícil observar uma criança dentro de
... a brincadeira é o ato onde a criança expressa uma caixa dizendo que está em seu carro
suas emoções, uma mistura de realidade com ou num enorme foguete espacial; ou até
ficção, um adulto é sempre tomado com exemplo, mesmo, utilizar de cones e bambolês para
para expressar o que ela vê e o que vivência. transformar em uma ponte para se livrar
de terríveis jacarés famintos. Assim, dentro
Brincando sozinha ou em grupo, a criança desse amplo universo, conseguem com o
levanta situações de seu dia-a-dia e se lúdico, desenvolver-se em seus aspectos
expressa de variadas formas. “A brincadeira sociais e psicomotores. De acordo com o
é um espaço educativo fundamental da Referencial Curricular Nacional da Educação
infância”, afirma Abramowicz (1995, p. 56). Infantil (BRASIL, 1998, p. 27, v.01):
Ao brincar, a criança interpreta situações
do seu cotidiano: brinca de dar aulas para O principal indicador da brincadeira, entre as
suas bonecas, utiliza vocabulário que crianças, é o papel que assumem enquanto
escutou em conversas adultas presenciadas brincam. Ao adotar outros papéis na brincadeira,
em determinada situações, dirigi automóveis, as crianças agem frente à realidade de maneira
não-literal, transferindo e substituindo suas
faz compras, trabalha em grandes empresas,
ações cotidianas pelas ações e características
faz leitura de livros e revistas, demonstra
do papel assumido, utilizando-se de objetos
seus sentimentos dentro de determinado
substitutos.
assunto, etc. Criam e recriam maneiras de
solucionarem o que esta sendo levantado na
brincadeira. Assim, Santos (2002, p.12): Dentro desse contexto, é preciso que
o professor crie estratégias lúdicas para
(...) uma necessidade do ser humano em qualquer proporcionar momentos de interação com o
idade e não pode ser vista apenas como diversão. outro para que esse tipo de vivência seja mais
O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a produtivo dentro do planejamento. A relação
aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social que a criança constrói junto aos seus colegas e
e cultural, colabora para uma boa saúde mental,
professores tendem além de mais divertidos,
prepara para um estado interior fértil, facilita
criar diferentes hipóteses e descobertas de
os processos de socialização, comunicação,
novas culturas e conhecimentos. Pereira
expressão e construção de conhecimento.
(2008, p. 122) comenta sobre o professor:

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Revista Educar FCE - Março 2019

A professora é importante para ensinar, propor,


incentivar, auxiliar nas brincadeiras, mas
corpo por dentro de um pneu sem tocá-
também é importante para ajudar as crianças a
lo, precisará criar estratégias para que a
se relacionarem uma com as outras. Não se trata atividade se conclua de maneira satisfatória,
apenas de ensinar a brincar com esse ou aquele explorando todo seu equilíbrio, noções
brinquedo, mas sim de ensinar a brincar com de lateralidade, percepção do seu corpo,
outras crianças e de aprender a se relacionar etc. Para isso, atividades como “pintem
com outras pessoas. apenas dentro do circulo”, “colem essas
bolinhas em torno dessa linha”, “o que esta
Quanto mais a criança é exposta e dentro ou fora”, se tornam extremamente
provocada dentro e junto ao seu grupo, ela desnecessárias, pois não desafia a criança
encontra melhores meios de se relacionar em nada. É responsabilidade de o professor
com dificuldade, defeitos, espertezas, saber mediar, observar e até mesmo interferir
pontos de vistas diferenciados enfim, com as nas brincadeiras quando necessário e
qualidades e defeitos do seu próximo e das escolher as vivências que são significativas a
contribuições que o outro tem a oferecer. sua turma, fazendo os registros necessários
Nesse processo, é importante a participação sobre como pensam e interage cada criança
do professor em trazer materiais, situações e dentro das suas brincadeiras com ou sem
atividades que favoreçam essa dinâmica em falas expressas.
grupo e saiba como interagir nas situações
que possam surgir. Não apenas em relações Um dos locais favoritos das crianças são
comportamentais, mas que o professor as áreas externas das escolas, normalmente
ofereça aos seus alunos possiblidades de fica o tanque de areia, o parquinho, a quadra
explorar tudo e de diferentes formas os de esportes, a piscina, a brinquedoteca,
espaços, brinquedos e brincadeiras dentro biblioteca, dentre outros lugares que devem
da unidade escolar. De acordo com Sitta ser aproveitados cotidianamente. Nesses
(2008, p. 115). espaços as crianças poderão conhecer
novos amigos, explorar corpo e espaço
(...) não basta a escola ter espaços físicos amplos com toda a liberdade, resolver situações
e de qualidade se a professora não os utiliza problemas como a queda de um amigo de
como mediadores, organizando-os de maneira algum brinquedo ou compartilhar o mesmo
que as crianças possam explorá-los ao máximo baldinho de areia para juntos construírem um
em suas brincadeiras.
castelo, encontrar curiosidades como galhos,
flores, folhas, bichos, insetos, pedras, poças
Nos momentos de brincadeiras elas de água, lama e muitas outras coisas que aos
também são desafiadas a criarem hipóteses olhos dos adultos não são tão interessantes.
ou soluções para o que está vivenciando seja Por esse motivo, o professor deve estar
relacionada a sentimentos ou a seu corpo. atento a curiosidade das crianças, para que
Por exemplo, ao ser desafiado a passar seu juntos construam seu plano de aula, a partir

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Revista Educar FCE - Março 2019

da escuta e interesse dos seus alunos.

As crianças são atentas e curiosas, e de um percurso ao outro, como a caminhada da


sala até o refeitório ou do parque até a quadra de esportes, podem encontrar um mundo
de encantamentos e novidades. Essa interação com o espaço é de grande importância para
novas descobertas e não devem ser desprezadas pelos seus professores.

Por meio das brincadeiras lúdicas os professores podem incluir benefícios a rotina e facilitar,
por exemplo, o desfralde, a degustação de novos alimentos, escovação de dentes, cuidar dos
seus pertences, dentre outras atividades que estão dentro da rotina. Para Kishimoto (2006,
p. 36):

Quando as situações lúdicas são intencionalmente criadas pelo adulto com vistas a estimular certos tipos de
aprendizagem, surge a dimensão educativa. Desde que mantidas as condições para a expressão do jogo, ou seja,
a ação intencional da criança para o brincar, o educador está potencializando as situações de aprendizagem.

Muitas das crianças passam a maior parte do seu tempo nas escolas ou creches e será
o local de mais importância quanto a sua socialização, descobertas, aprendizados, dentre
outros.

O professor deve estar atento ao que se passa nas brincadeiras, o que ela sente em relação a
determinado objeto ou circunstâncias e encontrar meios de trabalhar com cada especificidade.
Muitos demonstraram sentimentos de tristeza, rebeldia e esse comportamento podem estar
visíveis em suas interações.

Oportunizar momento de lazer e interação com brinquedos, amigos e espaços é essencial


para que consigam brinca e se expressar com mais autonomia e liberdade.

Contudo, o ato de brincar e a brincadeira são inerentes à criança. Reconhecer e apropriar


essas ferramentas como base pra uma educação infantil de sucesso demonstra que o
professor entende seu papel dentro do contexto e da importância que esse ato tem na vida
dos seus alunos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reconhecer a importância da Educação Infantil em todos
os seus aspectos, principalmente por se tratar do inicio da
Educação Básica.

Dentro das vivencias que a escola propõe mais a


colaboração fundamental do professor como mediador e
agente de situações enriquecedoras no processo de escuta e
planejamento do seu trabalho junto aos seus alunos, entende
a criança como ser protagonistas das suas descobertas e
aprendizados, capazes de construir seu próprio conhecimento GISELE MUKAI DE
diante dos fatos. MIRANDA NOVAIS
Graduação em Pedagogia pela Faculdade
A brincadeira e o brincar são inerentes a criança, reconhecer Braz Cubas (2011); Especialista em
esse fato é o principio para uma educação infantil de sucesso. Alfabetização e Letramento pela
Faculdade de Conchas (2016); Professora
Por meio das interações com o outro ou com o meio através da Educação Infantil na Prefeitura de São
das brincadeiras, a criança é capaz fazer novas descobertas, Paulo.
expressar seus sentimentos e ideais, explorar corpo e todo o
espaço, dentre outros benefícios que as ajudarão com ouras
situações futuras.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
ABRAMOWICZ. Anete. Creches: Atividades para Crianças de Zero a Seis Anos, São Paulo,
Moderna, 1995

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Janeiro, Brasport, 2010

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content&view=article&id=15860&Itemid=1096 Acesso em 18 de Jan. de 2019

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)

MALUF. Angela Cristina Munhoz. Atividades Lúdicas para Educação Infantil Conceitos,
Orientações e Práticas, Rio de Janeiro, Vozes, 2008

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de Educação Infantil. Dissertação (Mestrado em Educação), Programa de Pós Grduação em
Educação. Universidade Federal de Uberlândia. Minas Gerais. 2008

SANTOS. Marli Pires dos. O Lúdico na Formação do Educador. Rio de Janeiro. Vozes. 2002

SITTA. Kellen Fabiana. As Possibilidades de Mediação dos Espaços nas Brincadeiras e


Aprendizagens das Crianças na Educação Infantil. Dissertação (Mestrado em Educação),
Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal de São Carlos. São Paulo,
2008

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Revista Educar FCE - Março 2019

MELHORIA NA APRENDIZAGEM DO ALUNO DO EJA

O REGISTRO COMO
INSTRUMENTO AUXILIADOR DA
PRÁTICA PEDAGÓGICA
RESUMO: O presente artigo discorre sobre a importância dos registros como prática
rotineira no contexto educacional, refletindo sobre a sua inferência no processo de ensino-
aprendizagem como instrumento que permite a consolidação do histórico de construções
de conhecimentos que são adquiridos em contato com as práticas pedagógicas ofertadas.
Inicia correlacionado a ação de registrar com a necessidade do homem de concretizar seus
feitos. Em sequência, pontua as características do registro, o interrelacionando com o
cotidiano escolar. Em continuidade, mostra a dificuldade dos professores em efetivar esta
prática. Conclui, apresentando a necessidade dos professores de se apropriaram deste
conhecimento para que utilizem o registro como auxiliar das suas práticas pedagógicas.
Traz por objetivo favorecer uma reflexão crítica sobre a importância do registro na escola,
possibilitando amplificar a visão dos professores sobre a valia deste instrumento. Tem como
metodologia uma pesquisa de revisão de literatura.

Palavras-Chave: Registro; Avaliação; Documentação Pedagógica.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO a reflexão crítica sobre a importância dos


mesmos e sua valia na escola.
Muito tem se discutido a respeito
dos registros no contexto educacional, Para compor o teor do desenvolvimento
ressignificando sua importância e trazendo deste artigo, foi escolhida a metodologia
novas concentrações que maximizam sua de pesquisa científica baseada na revisão
essencialidade no processo de ensino- de literatura, na qual selecionou-se
aprendizagem como recurso que auxilia artigos científicos que discorrem sobre o
a visualização dos professores sobre a tema, primando pela constituição de uma
construção do conhecimento dos seus abordagem qualitativa.
educandos.

Perante a visão que muitos professores A IMPORTÂNCIA DO


possuem de que o registro é um documento REGISTRO PARA O HOMEM
que tem o intuito de atender as demandas
burocráticas provindo das legislações O registro é uma ação humana que
vigentes, a constituição dos registros se acompanha os indivíduos desde os
tornam apenas obrigações inerentes à primórdios. Segundo Lima (2016), esta
função, não sendo utilizados com sua real prática é visualizada nos desenhos dos
finalidade. homens primitivos que utilizavam deste
registro para perpetuar acontecimentos que
Partindo deste pressuposto, o artigo traz vão contando a história dos seus feitos e
uma concepção de registro como coletor consolidando a forma de raciocínio que vai
de dados que permitem uma análise mais sendo constituída mediante a sua relação
crível, real, detalhada, coerente e concisa com o meio, ou seja, o registro favorece o
do processo de ensino-aprendizagem, levantamento de hipóteses e a aquisição
verificando os educandos como protagonistas de aprendizagens que são constantemente
da construção do seu conhecimento por avaliadas como positivas ou negativas.
meio das suas interações com o outro e com
o meio. Voltando o olhar para os tempos primitivos
observamos que o homem sempre utilizou o
O objetivo almejado do artigo é que, registro como uma forma de perpetuar suas
mediante a compilação de argumentos, o ideias ao longo do seu percurso. Os registros
feitos nas cavernas mostram o modo de vida
professor maximize o seu conhecimento
e as formas de resolução dos problemas que
sobre os registros e a importância do mesmo
enfrentavam naqueles tempos. (LIMA, 2016, p.
como avaliação contínua de sua pratica
1)
e pedagógica e do processo de ensino-
aprendizagem dos educandos, favorecendo

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Revista Educar FCE - Março 2019

Com os registros, afirma Haracemiv e em fatos que marcam vivencias que são
Santana (2013), o homem passa a contar a importantes para os indivíduos e como tal,
sua história, de onde vem e como vivencia permeiam a rememoração de ações que são
suas experiencias, propiciando reflexões que fundamentais para o aperfeiçoamento e
geram a evolução humana. possibilitação de novas ações.

O registro através da escrita é uma das primeiras Ao longo do tempo outras formas de registro
manifestações da humanidade. Ela está presente foram surgindo, mas sempre com o objetivo de
em nosso cotidiano desde os tempos primórdios, deixar uma marca para (re)contar uma história
onde os povos sentiram a necessidade de – o processo vivenciado pelos participantes de
registrar através de símbolos tudo o que faziam. um dado momento. Assim, diferentes formas de
Assim é até hoje, a escrita está presente na vida registro foram sendo aprimoradas pelo tempo:
do ser humano, e através dela podemos saber de os quadros, os diários, as cartas, os desenhos,
onde viemos, todos os acontecimentos ocorridos as fotos, os relatos, as mensagens, as gravações
até hoje e serve para uma organização geral no e vídeo gravações, as atuais ferramentas do
mundo. (HARACEMIV; SANTANA, 2013, p. 3) computador e das redes sociais. Todas deixando
suas marcas e perpetuando a história. (LIMA,
Partindo deste pressuposto, é visível 2016, p. 2)
que o registro tem potencialidade e ainda
é utilizado pois a sua eficiência maximiza as
aprendizagens dos indivíduos, se tornando Ainda na ótica de Lima (2016), o registro é
uma prática corriqueira para os seres um importante instrumento para consolidar
humanos no cotidiano de vida. Os indivíduos um momento. Ele auxilia na tradução de um
registram de diferentes formas momentos e acontecimento que vai se modelando com
espaços que foram significativos para eles, vivencias posturas e constituindo uma história
seja com foto, vídeos, textos, entre outros. única do indivíduo. Nele aparecem diversos
elementos que permitem contextualizar
Perpassa a esfera da memória, pois como em tempo e espaço situações que já foram
cita Haracemiv e Santana (2013), esta vividas e dar indícios de como o indivíduo
memória não é história. A memória é falha progride, amadurece e se desenvolve.
e o recontar baseado em arquivamento
não sólido dos acontecimentos gera o E Haracemiv e Santana (2013) afirmam,
esquecimento de simples mais notáveis fatos ainda, que o registro tem dentro das suas
que fazem toda a diferença na compreensão características um compromisso com a
do processo que gerou a significação do verdade. A forma com que ele é registrado
momento. traduz o momento e o espaço das vivencias
dos indivíduos e estes são elementos
O registro,. para Lima (2016), é uma forma fundamentais para que a história seja
de contar e recontar uma história pautada relembrada com maior riqueza de detalhes.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A sua função se encontra em copilar dados vão se apropriando dos conhecimentos e


que servem de fonte de consulta, como coloca a maneira com que levantam, selecionam
Haracemiv e Santana (2013), que permitem e atuam com as hipóteses que vão sendo
tal rememoração e a reflexão de como o levantadas. Neste contexto, o registrar
individuo era e estava em determinado se configura com ação que possibilita a
momento e como se encontra na atualidade, revisão dos professores e educandos sobre
possibilitando comparar as evoluções ou a constituição dos aspectos inferentes na
regressões humanas, avaliando situações que construção do conhecimento.
causam impactos significativos nos mesmos.
Mediante a organização dos registros que
Compreendendo a importância do registro, vão se formando no processo de ensino-
se torna claro que ele é essencial para o aprendizagem, Haracemiv e Santana (2013)
contexto educacional. Constituído pelos apontam que a história educacional vai se
professores e pelos educandos, este registro construindo, dando suporte para reflexões
conta uma história educacional, em que os sobre os progressos e dificuldades dos
professores e educandos, em conjunto, se educandos, o que gera análise sobre a
tornam os protagonistas de aprendizagens proposta das atividades que são ofertas e o
fundamentais para a sua formação cidadã redimensionamento das práticas pedagógicas
social. futuras para melhor atender as necessidades
dos educandos.
Dessa forma, considerar o registro como
ferramenta que auxilia o planejamento e Segundo Haracemiv e Santana (2013),
avaliação dos progressos e dificuldades dos o registro faz parte da trajetória histórica
educandos, é garantir práticas pedagógicas dos educandos, favorecendo intervenções
mais adequadas e efetivas que propiciem a e ações pedagógicas mais efetivas que
construção de um conhecimento significativo. maximizem a aquisição de aprendizagens
dos educandos e a construção de um
conhecimento significativo.
O REGISTRO COMO
INSTRUMENTO Os registros dentro da escola também podem ser
visto como uma trajetória histórica do alunado, pois,
EDUCACIONAL ampliam a visão dos avanços e fragilidades, que no
O registro, de acordo com Lima (2016), decorrer do processo possam ser sanados. Através
dos registros o professor avalia erros e acertos, como
retrata a ação investigativa tanto dos
também poder lançar mão de metodologias que
professores quanto dos educandos sobre
venham a enriquecer e melhorar sua prática, dentro
o processo de ensino-aprendizagem. É por
de uma visão coletiva todos podem colaborar para
meio deste registro que ocorre uma avaliação
os possíveis avanços dentro do cotidiano escolar.
contínua sobre a forma com os educandos (HARACEMIV; SANTANA, 2013, p. 7)

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Revista Educar FCE - Março 2019

A construção deste registro, na perspectiva educandos. A observação subsidiada por


dos autores acima, deve ser embasada um registro concreto, traz as relações e
no planejamento, na intencionalidade e interações dos educandos entre eles e
na prática pedagógicas. Ele deve conter com a atividade proposta, possibilitando a
elementos e ser o espelho do trabalho do visualização dos elementos intervenientes
professor. Os feitos que serão anotados positiva e negativamente no processo
parte da visão dos professores sobre as de ensino-aprendizagem, o que propicia
ações significativas que propiciam chegar o replanejamento das atividades pelos
aos objetivos que foram estabelecidos no professores.
planejamento. Esta relação que permite a
avaliação sobre a prática pedagógica em [...] a avaliação da aprendizagem pressupõe
consonância com as aprendizagens que os reflexão sobre a prática para diagnóstico das
educandos adquiriram no contato com a dificuldades e avanços dos estudantes e da
atividade oferecida. própria prática docente. Assim, a avaliação,
enquanto reflexão crítica sobre a realidade,
deveria ajudar a descobrir as necessidades do
Corroborando com Haracemiv e Santana
trabalho educativo, perceber os verdadeiros
(2013), Lima (2016) evidencia que o registro
problemas para resolvê-los. (BATISTA et al,
é uma ferramenta de suma importância para
2015, p. 31165)
a visualização da prática pedagógica do
educador. Os pontos que são registrados
trazem o cotidiano escolar, as interferências Ao considerar o registro como um
do professor e o protagonismo dos educandos. instrumento essencial para a avaliação,
Se não é possível ver estes aspectos, existe Haracemiv e Santana (2013) o trazem como um
algum problema que deve ser diagnosticado auxiliador da rememoração da participação
para práticas pedagógicas futuras. dos educandos, suas ações, suas falas, suas
percepções, seu envolvimento, enfim, o seu
Isto também é observado quando direcionamos processo de ensino-aprendizagem. Por meio
o olhar para a sala de aula. O registro tanto do deste registro o professor consegue visualizar
professor como do aluno permite contar uma como as interações foram favoráveis ou
história de um determinado momento que nos desfavoráveis para o desenvolvimento dos
possibilita compreender a prática pedagógica,
mesmos. A avaliação, neste contexto, se pauta
tanto na área da escrita matemática, quanto das
da correlação do planejamento, da prática
outras áreas do conhecimento.
pedagógica e da motivação e interação dos
(LIMA, 2016, p. 2)
educandos, possibilitando visualizar quais os
Assim, também, enfatizam Batista et conhecimentos que foram constituídos e se
al (2015) que citam a importância do estes se enquadravam na intencionalidade
registro para o diagnóstico das dificuldades proposta desde o início.
e progressos individuais e coletivos dos

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Revista Educar FCE - Março 2019

Para Batista et al (2015), o registro se A riqueza de detalhes que serão


constitui como uma fonte de coleta de incluídos no registro é importante para a
informações sobre os educandos e a prática contextualização futura quando este registro
pedagógica, possibilitando que o processo for consultado, favorecendo que o momento
de ensino-aprendizagem seja acompanhado seja relembrado com autenticidade.
com mais atenção e, por meio da análise
crítica-reflexiva destes processos, favorece Os elementos que vão fazendo parte
o redirecionamento de práticas cotidianas. do registro são fonte que favorece o
planejamento, replanejamento, avaliação e
Diante destas assertivas, é visível que o reavaliação, pois permitem a análise de como
registro é muito importante para o processo ocorreu o desenvolvimento das atividades e o
de ensino-aprendizagem no que concerne a processo de ensino-aprendizagem, com foco
reflexão e avaliação sobre como ocorrem as no protagonismo dos educandos e em como
interações dos educandos com as atividades as atividades trazem motivação para estes. Ao
propostas, permitindo compreender a registrar, como pontua Lima (2016), o professor
construção do conhecimento individual dos consegue visualizar o desenvolvimento
mesmos. dos educandos e intervir para maximizar a
construção do seu conhecimento.

CUIDADOS IMPORTANTES Este registro pode e deve se dar de


PARA A CONSTITUIÇÃO diversas formas e deve ser realizado tanto
prelo professor quanto pelo educando.
DOS REGISTROS Segundo Lima (2016), quando o professor
Os registros devem ter fidelidade com os registra, ela relata a sua percepção sobre o
fatos que são observados. “Achismos”, como processo de ensino-aprendizagem e quando
cita Haracemiv e Santana (2013), não trazem o educando registra é capaz de se verificar
veracidade aos fatos. Dessa forma, observar como individuo ativo neste processo como
e registrar no momento que a interação está protagonista do mesmo.
ocorrendo é essencial para dar valia aos
registros. A prática pedagógica é alvo da avaliação
que o registro possibilita. Ainda na ótica de
Quem não registra não faz história! Ficar só na Lima (2016), esta avaliação possibilita que
oralidade, corre-se o risco de muitos achismos. o educador encontre os pontos fracos e
Devendo sim, partir dos relatos e experiências, fortes da proposta de atividade oferecida
mas posteriormente, escrever, anotar, para que aos educandos. Dessa forma, o resgate dos
se possam superar os desafios, ajustar o que
registros traz uma diversidade de benefícios
precisa de ajuste e se possível, incrementar e
para a construção de um conhecimento
melhorar. (HARACEMIV; SANTANA, 2013, p.
significativo.
18)

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Revista Educar FCE - Março 2019

Direcionando o olhar para as possíveis aprendizagens dos alunos, o ato de registrar torna-se também um
instrumento imprescindível ao (re)planejamento e à (re)avaliação do professor. Ao analisar um registro realizado
pelo aluno, se tem a possibilidade de constatar os conhecimentos que ele traz, o que ainda precisa construir,
as intervenções e mediações que se fazem necessárias. (LIMA, 2016, p. 5)

Com esta perspectiva, Haracemiv e Santana (2013) evidenciam que o professor, ao utilizar dos
registros, comprava sua prática pedagógica e os progressos que os educandos vão adquirindo com
sua atuação. Atesta sua competência e a importância da participação mediadora no processo de
ensino-aprendizagem.

O próprio professor, na visão de Haracemiv e Santana (2013), constrói e reconstrói seus saberes
com o registro, pois a reflexão trazida por eles, permite que que analisem o seu papel e sua atuação
no processo de ensino-aprendizagem.

Mas, na atualidade existem alguns desafios atrelados a resistência dos professores em realizar
estes registros. Segundo Haracemiv e Santana (2013), as queixas dos professores se dá pela possível
falta de compreensão sobre a importância dos registros e o quanto eles auxiliam no planejamento e
avaliação das práticas pedagógicas e sua incidência na aquisição de aprendizagens dos educandos.

Tal relutância acaba dando ao registro uma função burocrática de atendimento a documentos
oficiais que legislam e cobram dos professores a constituição destes. A falta de propriedade que os
professores têm apresentado, segundo Haracemiv e Santana (2013), é reflexo de uma formação
inicial incipiente e de uma futura formação continuada com pouca reflexão sobre o assunto e
grande cobrança da realização do registro.

Para que o Plano de Trabalho Docente se efetive é preciso avançar para além do aspecto burocrático e legal.
Este documento necessita ser condição imprescindível para o trabalho docente, sem o qual não é possível
desenvolver o processo ensino-aprendizagem, o qual deve ser intencional e planejado. (HARACEMIV;
SANTANA, 2013, p. 6)

Sendo assim, cabe a equipe de coordenação pedagógica trazer a temática para dentro da
escola, nos horários de formação, propiciando reflexões mais profundas sobre este registro para
que os professores visualizem como o registro é aliado deles na visualização dos progressos e
dificuldades individuais dos seus educandos.

Incentivar a prática e transformá-la em habitual é uma meta importante para a escola, pois,
por meio dos registros, a história educacional dos educandos vai se formando, se concretizando,
se construindo e os resultados observados são mais que satisfatórios, são prazerosos, gerando
a valorização do professor.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos elementos que o desenvolvimento do artigo
propiciou, foi possível observar que o registro subsidia a
prática docente pelo fato de concretizar momentos, tempos
e espaços em que é possível ver quais são as ações dos
educandos realizadas para construir seu conhecimento.

O registro é fundamental para a práxis da prática docente,


pois sua composição se dá com o detalhamento da prática
pedagógica em ação e do envolvimento dos educandos com as
atividades ofertadas. Ao resgatar os registros os professores GLEICE CARVALHO
são capazes de levantar os pontos positivos e negativos da MARTINS
dinâmica ocorrida durante a atividade, assim como observar
Graduação em Pedagogia pela
os pontos de interesses dos educandos, escuta essencial Faculdade Unasp – Centro Universitário
para a construção dos próximos planejamentos. Adventista (2005); Especialista em
Psicopedagogia pela Faculdade Unasp
Ao elencar os pontos positivos e negativos, o professor – Centro Universitário Adventista
repensa sua prática, reconstrói os seus saberes e amplia seus (2006); Professor de Educação Infantil
conhecimentos ao buscar estratégias de ações para melhorar e Ensino Fundamental I na EMEF
sua prática. Porém, essa finalidade do registro só é possível João Amós Comenius e Professora de

se esta tornar um hábito para os professores, uma prática Educação Básica na EE Prof. Maria Paula

cotidiana, compondo com pequenos recortes um processo Marcondes Domingues.

até que se chegue a um produto.

Portanto, os professores precisam enxergar o currículo como um instrumento fundamental


para o cotidiano escolar, possibilitando construir a história educacional dos estudantes com
evidências dos seus progressos e superação de limites. Para isso, o incentivo deve vir de uma
formação inicial e continuada adequada e qualificada.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
BATISTA, Giovani de Paula et al. PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO E REGISTRO DA
APRENDIZAGEM NA PRÁTICA DOCENTE. XII Congresso Nacional de Educação, 2015,
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Acesso em: 06 jun. 2019.

LIMA, Rosana de Fátima Lima. REGISTRAR PRA QUÊ? PRA QUEM? IV Encontro
de Educação Matemática nos Anos Iniciais e III Colóquio de Práticas Letradas, São
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fae23ece21e1e0b535704aaf74cecfc9.pdf>. Acesso em: 06 jun. 2019.

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AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASIL

AS HERANÇAS DA
CULTURA NEGRA NO BRASIL
RESUMO: O tráfico no atlântico foi responsável pela entrada de milhões de africa-nos no
Brasil. Estes e seus descendentes marcaram de forma decisiva cons-trução teórica e cultural
brasileira. Após a dura travessia do atlântico, os africa-nos eram vendidos nos mercados de
escravos. Não havia nenhum tipo de preocupação em manter uma família ou pessoas de um
mesmo grupo étnico-linguístico reunidas. A maioria, após ser comercializadas, era conduzida
aos locais de trabalho, como as grandes fazendas, ou as regiões de extração mine-ral. Mas
não foi apenas nas áreas rurais e de mineração que os africanos e os afrodescendentes
trabalharam. Eles foram empregados também nas vilas e nas cidades, em atividades
diversas: abertura e calçamentos de ruas; constru-ção de moradias, prédios públicos, igrejas,
chafarizes, entre outras; serviços domésticos; produção artesanal; comércio ambulante; etc.
Os africanos escra-vizados trouxeram com eles conhecimentos tecnológicos já adquirido
junto ao seu povo e no Brasil, empregaram esse saber em diversas atividades ou o adaptaram
para as tarefas exigidas no período da escravidão. Eles faziam as ferramentas e trabalhavam
com elas. Como também influenciaram nossa cul-tura nas artes, danças, culinária, religiões,
sua língua, suas festas entre outras heranças deixadas pra os brasileiros.

Palavras-Chave: Costumes; Heranças; Africanos; Brasileiros.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO Durante muito tempo, mitos e preconceitos


de toda espécie esconde-ram do mundo
Esse artigo tem como objetivo entender a real história da África. As sociedades
como foi é marcante a cultura africana na africanas passavam por sociedades que não
sociedade brasileira da qual vêm nossos podiam ter história. Apesar de importantes
costumes nossas crenças nossas tradições, trabalhos efe-tuados desde as primeiras
ou seja, a nossa formação como nação. décadas do século XX por pioneiros como
Conhecer e entender nos-sas raízes e nossa Leo Fro-benius, Maurice Delafosse e
identidade. Arturo Labriola, um grande número de
especialis-tas não africanos, ligados a certos
Descobrir nossas raízes significa postulados, sustentava que essas socieda-
descobrirmos uma parte de nós que es- des não podiam ser objeto de um estudo
tava escondida, apagada pelo descaso e científico, notadamente por falta de fontes e
pelo desconhecimento da sociedade. Seja documentos escritos.
em nossa árvore genealógica, seja nos
costumes, na religião, na culiná-ria, na dança, Com base nessa problemática, um
no artesanato ou, enfim, na tradição deixada conhecimento adequado sobre o pas-sado
por nossos ances-trais e passada de pais para da África, uma tomada de consciência no
filhos, é a nossa história, o nosso patrimônio tocante aos elos que unem os Africanos
cul-tural que nos faz sentir orgulho do que entre si e a África aos demais continentes,
somos e de quem somos despertando-nos tudo isso deveria facilitar, em grande medida,
para a preservação de nossa herança cultural a compreensão mútua entre os povos da
(GOMES, 2005, p. 183). Terra e, além dis-so, propiciar sobre tudo
o conhecimento de um patrimônio cultural
Ao falarmos de africanidades levamos cuja riqueza consiste em um bem de toda a
em consideração a dinâmica civili-zatória Humanidade.
que foi ressignificada e reconstruída pelos
afrodescendentes em solo brasileiro. Estas A metodologia utilizada para a elaboração
podem ser percebidas nos vários traços de deste artigo foi á pesquisa bi-bliográfica
nossa cultura es-palhadas por diferentes em literaturas acadêmicas e documentos
lugares do Brasil: “[...] na capoeira, nas ficcionais disponíveis em livros impressos e
comunidades de quilombos, casas religiosas em artigos, e revistas em meios eletrônicos
de candomblé e umbanda, nos bairros de pre- que abordam as temáticas estudadas.
dominância negra, nas danças e ritmos, na
intelectualidade, na oralidade, tec-nologias,
em todas as expressões do ser negro e
afrodescendente” (VIDEIRA, 2005, p. 218).

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA dendê, da pimenta-malagueta, do quiabo


NEGRA NO BRASIL e de pratos como o an-gu, caruru, acarajé,
vatapá, xinxim, quibebe, o tutu de feijão á
Os milhões de negros africanos trazidos mineira, no uso mais frequente da abobora,
para o Brasil realizavam uma vi-agem sem jerimum e da melancia. Embora o nordeste
volta impedidos de carregar quaisquer tenha sido a área que mais recebeu maior
pertences e separados de seu povo, traziam influência dos povos africanos, não há
no coração a memória, suas crenças, seus um só lugar do Brasil nem mesmo os
ritos, seus deu-ses. predominantemente europeus estados de
Santa Catarina e Rio Grande do Sul que não
Oliveira (2006) faz uma análise da tenha sido transformado pela cultura negra.
cultura negra no Brasil a fim de apon-tar
um cosmo visão de mundo africana que, Para a cultura africana, de acordo com
em sua opinião, é o fundamento último da Ribeiro (1996), a dança, o canto e a música
identidade negra brasileira. Tal identidade tornam-se um tripé indissolúvel. Estas
sustenta-se na tradição africana. No entanto, três expressões encontram-se unidas em
esclarece que esta não é estática, pois seus várias manifestações culturais, criando uma
elementos estruturantes são flexíveis e variedade sonora e percussiva peculiar
renováveis. Manter vivas essas tradições à musicalidade e dança africana e afro-
faz parte do processo de resistência brasileira. A cultura africana apresenta
cultural. É ancestralidade que nos permite em seu centro a necessidade de integrar
entender a lógica que organiza os elementos elementos que compõem o mundo e a
estruturantes dessa cultura, pois “[...] tanto a realidade. Na diversidade da cultura negra o
força vital, o universo, a palavra, o tempo, a corpo en-contra-se integrado, dança-se com
pessoa, os processos de sociali-zação, os ritos a voz, canta-se com o corpo e a música se
funerários, a família, a produção e o poder expressa em todos estes elementos.
são estruturados a partir da ancestralidade”
(OLIVEIRA, 2006, p. 157). No Brasil colonial, os habitantes dos
povoados e vilas dedicavam me-tade dos
As influencias da cultura africana na dias do ano á realização de festas religiosas.
formação da cultura brasileira é no-tória está Essas festas aconteci-am nas ruas, na forma
na culinária, na religião, na dança, na arte, etc. de desfiles, a música, o teatro, a dança e a
Como seria o Brasil sem a riquíssima cultura beleza das vestes e objetos, como mastros,
trazida pelos negros escravizados vindos da estandartes e bandeiras, compunham um
áfrica sob as mais árduas condições. grande espetáculo itinerante.

A alimentação do brasileiro se africanizou Foi a partir dessas celebrações religiosas que


desde cedo, com a introdução do azeite de nasceu a maioria dos festejos populares que

1062
Revista Educar FCE - Março 2019

conhecemos hoje. Os africanos escravizados para alguns dos principais artistas europeus,
e seus descendentes encontraram nessas como Matisse, Braque e Picasso.
celebrações festivais um modo de preser-var
muitas de suas tradições. A festa de Nossa No Brasil durante quase três séculos
Senhora do Rosário, por exem-plo, nela alem quase toda arte que se produzia era religiosa.
do batuque bem á maneira africana, dois Os artistas da época aprendiam sua arte
escravos eram eleitos rei e rainha do Congo e nas corporações de ofí-cio, cada ofício
seguiam com seu cortejo festivo até a igreja tinha sua corporação. Havia a corporação
onde eram coroados. dos escultores, a dos douradores, dos
entalhadores, dos ferreiros, dos carpinteiros
Rei e rainha estão presentes hoje no e assim por diante.
maracatu, folguedo que foi in-corporado
pelo carnaval que mantém a forma de Nas corporações, os mestres, como
cortejo a exemplo da antiga festa de Nossa eram chamados às pessoas que possuíam
Senhora do Rosário. No maracatu desfilam, muita experiência em determinado ofício,
além do rei e rai-nha, príncipes, guerreiros, ensinavam aprendizes na que, em sua maioria,
embaixadores e baianas. eram negros e mestiços já que a sociedade
colonial via as atividades manuais com
No Brasil existem algumas festas preconceito, chegavam mesmo a considerá-
tradicionais que são celebradas em todo las indignas de homens brancos livres.
país todos os anos, como São João, o Natal
e o carnaval. Essas festas tem origem em um Como afirma Batiste (1960, apud Duarte
tempo muito distante, em que os homens 2010, p.37): “a escravidão não somen-te
pediam aos deu-ses proteção e colheitas separa como une o que separa”. A capacidade
fartas, nesses rituais, havia comidas, bebidas, de resistência subjetiva e política das nações
músi-cas e danças, essas festas além do negras que aqui chegaram, mostram seu
divertimento traz um sentimento de perten- potencial e vigor, que mesmo diante das
cimento de uma família, um grupo, de uma adversidades e violências vividas, enxertaram
comunidade, de um país. no ven-tre de cada região do Brasil, seus
costumes e formas de interpretação do mundo.
A arte é uma das marcas mais fortes dos
povos africanos. Ela une uti-lidade e estética
e está nos objetos, na música, na dança, na O ESTUDO E A VALORIZAÇÃO
pintura corporal, no artesanato e nos rituais DA CULTURA AFRO-
sagrados. A valorização da arte africana só
aconte-ceu no final do século XIX, com a BRASILEIRA E AFRICANA
realização de uma exposição em Bruxelas, O enfrentamento da desigualdade entre
em 1897 e se tornou fonte de inspiração brancos e negros no país e a educa-ção para

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as relações étnicas e raciais ganhou maior conhecimento do professor com a gestão é


relevância com a Consti-tuição de 1988. O tão importante quanto”, afirma a professora
reconhecimento da prática do racismo como Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva. “São
crime é uma das expressões da decisão da revolucionárias essas experiências que
sociedade brasileira de superar a herança estimulam o aluno a aprender para construir,
per-sistente da escravidão. Recentemente, e não aprender para repetir”.
o sistema educacional recebeu a res-
ponsabilidade de promover a valorização O estudo dessas matrizes é de suma
da contribuição africana quando, por meio importância para o entendimento da
da alteração da Lei de Diretrizes e Bases da formação da cultura brasileira. Sobremaneira
Educação Nacional (LDB) e com a aprovação a visão deturpada da história da África,
da Lei 10.639 de 2003, tornou-se obrigatório ligada apenas, por exemplo, a guerras tribais,
o ensino da his-tória e da cultura africana calamidades naturais ou doenças e endemias,
e afro-brasileira no currículo da educação que era apresentada nas escolas, levaram à
básica. criação de uma lei que garantisse o estudo
das memórias ligadas ao povo africano que
Passando-se a exigir que as escolas foi trazido para cá e serviram de base para a
brasileiras de ensino fundamen-tal e médio formação da cultura que te-mos hoje. Para
incluam no currículo o ensino da história e Munanga e Gomes, (2006),
cultura afro-brasileira. Essa foi uma mudança
essencial para que as pessoas tivessem mais “a Lei nº 10.639, promulgada pelo Presidente
reco-nhecimento sobre a origem da cultura da Repú-blica Federativa do Brasil em 2003,
afro brasileira muito refugiado africano depois de 115 anos da abo-lição da escravidão,
vem para o Brasil para fugir de guerras e veio justamente reparar essa injustiça feita não
apenas aos negros, mas a todos os brasileiros,
perseguições políticas ou religiosas, mas
pois essa história esquecida ou deformada
quando chegam aqui são tratados com
pertence a todos, sem discri-minação de cor,
racismo e discriminação. A socie-dade
idade, sexo, gênero, etnia e religião”. (p. 18)
brasileira é construída sobre uma revisão
das civilizações africanas. A dinâmica da
sociedade é a mesma há cinco séculos, mas Aprovada as Diretrizes Curriculares
as questões muda-ram e hoje temos a lei. Nacionais para a Educação das Relações
Étnico-Raciais e para o Ensino de História
As escolas que trabalham questões e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Essas
raciais e da cultura afro-brasileira estão diretrizes orientam os estabelecimentos
“desconstruindo um sistema-mundo que de ensinos, seus pro-fessores e todos os
existe desde o século 16”. “A formação envolvidos no processo educacional para
das secretarias de Educação sobre o ações voltadas para o reconhecimento e
tema é importante, mas a cons-trução do valorização da história, cultura e identidade
dos afro-descentes.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Para Gomes (2004), a escola como espaço de so-ciabilidade constitui-se em um local privilegiado para a
superação dos conflitos e preconceitos raciais. Sendo as-sim, o trabalho com a literatura infantil afro-brasileira
pode ser um elemento potencializador das discussões e supe-rações dos mitos raciais no âmbito escolar.

Atualmente é muito comum ser visto em Bibliotecas Escolares a litera-tura afro-brasileira,


ganhando um espaço de visibilidade social. Este tipo de literatura surge em função das
populações afrodescendentes presentes na escola, que, ao longo dos anos, não foi tratada
como uma população que de-tém uma cultura e uma história dignas de valorização e respeito.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 2012 e 2016, o número de
brasi-leiros que se autodeclaram pretos aumentou 14,9% no país. No mesmo período, também cresceu a
quantidade dos que se consideram pardos, enquanto diminuiu o per-centual de brancos na população. O
motivo da população negra e parda ter aumentado possa ser o entendimento e o reconhecimento quanto
pessoa negra identificando tra-ços genéticos, conhecendo melhor a cultura se libertando de preconceitos por
falta de conhecimento.

Foi de grande valia á introdução no currículo o ensino de história da cultura afro-brasileira


para que a sociedade valorize e conheçam suas origens combatendo os preconceitos que se
instalaram desde a época da escravidão de que ser negro é ser inferior. Com os estudos da
cultura afro-brasileira des-cobrimos uma cultura rica em saberes com tradições milenares
que influencia-ram nossa cultura, essas descobertas faz com que as pessoas negras, pardas
e descendentes se sintam parte dessa cultura e aceitem com maior facilidade suas origens.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escravidão chegou ao fim, o ex-escravo tornou-se
igual perante a lei, mas isso não lhe deu garantias de que
ele seria aceito na sociedade, sem acesso a terra e sem
qualquer tipo de indenização por tanto tempo de traba-
lhos forçados, geralmente analfabetos, vítimas de todo tipo
de preconceito, muitos ex-escravos permaneceram nas
fazendas em que trabalhavam, ven-dendo seu trabalho em
troca da sobrevivência. Os negros que não moravam nas
ruas passaram a morar, quando muito, em míseros cortiços.
O preconceito e a discriminação e a ideia permanente de
que o negro só servia para traba-lhos duros, ou seja, serviços
pesados deixaram sequelas desde a abolição da escravatura
até os dias atuais.
ILZA RODRIGUES
Na história do Brasil ao relatar sobre o tráfico negreiro, ao FERREIRA
relatar a Lei Áurea, enfim, histórias tristes onde o negro está Graduação em Pedagogia pela Faculdade
sempre subestimado em com-paração ao branco por esses UNOPAR (2009); Especialista e
motivos foram de grande importância à imple-mentação no Educação a Distância: Planeja-mento,
currículo o estudo da cultura afra brasileira para valorizar as Implementação e Gestão pela Faculdade
raí-zes e heranças do povo africano, diante desse contexto CENTRO UNIVERSITÁRIO CLARETIANO
uma data muito espe-cial e histórica foi promulgada no (2013); Professora de Ensino
calendário escolar nacional em 2003. Con-tudo, somente a Fundamental I Educação Básica na EMEF
Lei 12.519 de 10 de novembro instituiu oficialmente o Dia Jairo de Almeida

Na-cional de Zumbi e da Consciência Negra como dia 20 de


novembro.

Este dia, é dedicado para pensarmos sobre a importância


da cultura e do povo africano em nosso país. Eles sempre
foram muito importantes em nos-sa história, construindo
junto com a gente um país tão rico como é o Brasil. Já parou
para pensar quanta coisa linda eles trouxeram? Música
dança artes, esportes e também grande participação na área
política e social.

Além de Zumbi, outros negros marcaram a história do


nosso país, co-mo o escultor Aleijadinho, o escritor Machado

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Revista Educar FCE - Março 2019

de Assis, o poeta Castro Alves, o inventor André Rebouças, compositora Chiquinha Gonzaga,
entre muito ou-tros. Diante os estudos e pesquisas realizadas em variáveis fontes de informa-
ções a conclusão é que os povos africanos contribuíram com a formação de nossa atual
sociedade em todas as esferas com a arte, a língua, a culinária, a religião, a organização,
entre outros costumes herdados desses povos que sofreram por mais de 300 anos nesse
solo sem desistir de lutar pelos seus ide-ais e a tão sonhada liberdade que tem reflexo nos
dias atuais, que seja exem-plo de resistência respeito, admiração e valorização da nossa
sociedade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
OLIVEIRA, Eduardo David de. Cosmovisão africana no Brasil: ele-mentos para uma filosofia
afrodescendente. Curitiba: Editora Gráfica Popular, 2006.
RIBEIRO, Ronilda Iyakemi. A alma africana no Brasil. Os Iorubas. São Paulo: Editora Odu-
duwa, 1996.

História geral da África, II: África antiga / editado por Gamal Mokhtar. 2º ed. rev. –Brasília :
UNESCO, 2010.

História geral da África, III: África do século VII ao XI / editado por Mo-hammed El Fasi. –
Brasília : UNESCO, 2010. 1056 p.

BERUTTI. Flávio. Pequenos exploradores. 1º edição. Curitiba. Editora Positiva, 2014.

A Inserção Da Cultura Afro-Brasileira Nos Currículos.Disponível em :http://fsd.edu.br/


revistaeletronica/arquivos/3Edicao/artigo19%20DELYDIA.pdf. Acesso em: 5 de mar. 2019;

As consequências do fim da escravidão no Brasil. Disponível em:


https://escolakids.uol.com.br/as-consequencias-do-fim-da-escravidao-no-brasil.htm.
Acesso em 12 de mar. 2019;

Dia da Consciência Negra: Disponível em: http://www.portaldarmc.com.br/noticias-brasil-


e-mundo/2018/11/dia-da-consciencia-negra. Acesso em: 7 de mar. 2019;

População que se declara preta cresce 14,9% no Brasil em 4 anos, aponta IBG. Disponível
em: https://g1.globo.com/economia/noticia/populacao-que-se-declara-preta-cresce-149-
no-brasil-em-4-an. Acesso em: 4 de mar. 2019;

A cultura de base africana e sua relação com a educação escolar. Disponível em: https://
educacao.uol.com.br/noticias/2013/05/15/ensino-da-Acul¬tura-afro-brasileira-ainda-
enfrenta-desafios-dizem-especialis-tas.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em: 6 de mar. 2019;

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GESTÃO DEMOCRÁTICA EM ESCOLAS PÚBLICAS

SER PROFESSOR DE BEBÊS E CRIANÇAS


PEQUENAS NAS CRECHES E CENTROS DE
EDUCAÇÃO INFANTIL; OS DESAFIOS DE
PRÁTICAS DOCENTES NÃO CONTEÚDISTAS
RESUMO: Esse artigo tem por objetivo fazer uma reflexão sobre os desafios de ser professor
de bebês e crianças pequenas nas creches e centros de educação infantil públicas do
município de São Paulo, fazendo uma reflexão sobre a identidade desse profissional que
vem se configurando há poucos anos, suas especificidades de trabalho com base em uma
concepção de criança e infâncias que valoriza as culturas e os fazeres infantis. Destaca-
se ainda o fazer pedagógico desse profissional, sua capacidade de observador atento e de
realizador de uma escuta sensível que reverbera em práticas que propõe, conversa, acolhe,
pesquisa, surpreende-se, valoriza e ressignifica ações e práticas permitindo vivências ricas
a partir dos interesses individuais e coletivos dos bebês e crianças pequenas colocando- os
sempre no centro do projeto político pedagógico.

Palavras-Chave: Bebês; Crianças pequenas; Professor; Infância; Protagonismo

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A AÇÃO DOCENTE PARA E O compromisso para e com a criança


COM BEBÊS E CRIANÇAS pequena faz parte dos princípios básicos
para o êxito da ação docente. O professor
PEQUENAS de infância vem desenhando sua identidade
Após a Constituição federal de 1988 e profissional há pouquíssimos anos, tudo
as legislações que norteiam a educação isso desde que a educação infantil passou
brasileira vigente, inúmeras mudanças a ser reconhecida como com uma fase muito
aconteceram em relação à concepção de importante no desenvolvimento infantil, na
criança e de educação para infância. A construção de suas identidades, garantindo
criança passou a ser vista como sujeito de assim os direitos de aprendizagem de bebês
direitos, que não se limitou apenas ao caráter e crianças pequenas, criando condições para
social, mas também educacional, com ênfase que se manifestem, pensem sobre o mundo
não somente ao acesso a educação infantil, que estão inseridos, criem estratégias,
mas essa deve garantir a qualidade no hipóteses e desenvolvam narrativas. Na
atendimento dos bebês e crianças pequenas, educação infantil atual, os antigos alunos
com vivências significativas que vislumbre deram vez aos bebês crianças pequenas.
o desenvolvimento integral dos bebês, Vivências significativas são os conteúdos
meninos e meninas. da educação infantil. Com os avanços das
concepções de criança e infância, teve que se
A garantia da qualidade perpassa pelo redesenhar a carreira do magistério daqueles
princípio básico do cuidar e educar como que atuam com essas crianças. Atualmente
ação indissociável e que complementa a é muito explicito os direitos à brincadeira,
responsabilidade da família. Para se pensar a participação, as múltiplas aprendizagens,
em educação infantil de qualidade, é preciso as variadas maneiras de se expressar e
que haja um conjunto de autores envolvidos de ser acolhida em suas especificidades.
nas ações pedagógicas cotidianas. Para tal o professor de educação infantil
não atua sozinho, como nas concepções
“É a relação acolhedora e atenta entre adultos passadas, sendo o detentor do saber e dos
e crianças que possibilita a constituição desses conhecimentos.
autores como produtores de conhecimento,
fortalecendo a identidade de educadoras e O professor da infância deve pensar no
educadores como profissionais comprometidos
trabalho para e com a infância, contemplando
com a educação e orientada pelos princípios
documentar as vivências, cuidar e pensar
democráticos e possibilitando que bebês e
em propostas que comtemple as múltiplas
crianças construam os seus percursos nas
linguagens, materiais, tempos espaços
relações sociais de que fazem parte, mediados
pelo mundo e pelas culturas presentes nos
e interações, de forma a favorecer o
espaços educacionais” (São Paulo, Currículo desenvolvimento integral dando assim
Integrador da Infância Paulistana 2015, p. 30) visibilidade para as aprendizagens. Quando

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Revista Educar FCE - Março 2019

se está nessa relação ele pode provocar consolida por meio de múltiplas experiências
novos desafios e desdobramentos com nas ações cotidianas. A imaginação, a
ampliação de repertório e consequentes fantasia, a investigação, as escolhas, o
aprendizagens. protagonismo, as múltiplas possibilidades de
descobertas, devem fazer parte do cotidiano
“O papel fundamental que professoras e em ações individuais, em grupo e até mesmo
professores têm na organização das experiências nos momentos de ócio, contemplação e
que bebês e crianças vivem nas Unidades observação.
Educacionais exige que planejem sua prática
pedagógica e a replanejem com os bebês e as
O professor tem um papel fundamental
crianças de sua turma, selecionem, organizem e
para a construção das aprendizagens
disponibilizem materiais, organizem as formas
infantis, mas ele não atua sozinho, podemos
de gestão do tempo, atentem para estabelecer
dizer que nesse processo de construção
relações democráticas com o grupo de crianças,
colegas e famílias, proponham e organizem
o protagonismo é compartilhado, envolve
vivências com e para as crianças e avaliem todo três principais atores: criança, professor e
esse percurso a partir da interação, observação conhecimento, em um movimento cíclico,
e diálogo com os sujeitos envolvidos nos que muda de direção e posição, mas sempre
processos.” (São Paulo, Currículo Integrador da contínuo, não podendo se elencar quem é o
Infância Paulistana 2015, p.40) mais importante dos três, mas por meio da
consonância dos três, que podemos definir a
Pensar o aprender e ensinar nas infâncias, qualidade das ações pedagógicas.
exige um novo olhar sobre as práticas
cotidianas, olhar este que valorize os Um grande desafio para o professor
diferentes autores, suas especificidades nas de educação infantil nesse processo de
ações, suas escolhas, relações e interações construção de sua identidade profissional,
como instrumentos inerentes a produção de é aprender a enxergar e compreender a
seus conhecimentos. criança em sua integralidade. As concepções
que o professor da infância reverbera em
COMO OS BEBÊS E suas práticas pedagógicas precisa garantir os
CRIANÇAS APRENDEM direitos de aprendizagem da infância.

A sensibilidade na escuta sensível, o


olhar atento, as parcerias com as famílias,
são imprescindíveis para as aprendizagens
dos bebês e crianças pequenas em seu
pleno desenvolvimento. Todo o contexto
de vivências leva a produção e valorização
das culturas infantis em uma ação que se

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TEMPOS, ESPAÇO, em seu processo formativo e de suas


MATERIAIS, RELAÇÕES produções individuais e coletivas. p.29
E INTERAÇÕES: “(...) aprendem por meio da interação com as
PLANEJAMENTOS QUE pessoas e com as coisas. O seu desenvolvimento

TENHAM AS CRIANÇAS biológico é importante, mas é a experiência que


a criança vive, o lugar que ela ocupa nessas
COMO PROTAGONISTAS experiências vividas (se é sujeito atuante,
envolvido, interessado, curioso, participante
O ponto de partida no processo de
ou se é alguém que apenas segue ordens; que
aprendizagem na infância, é enxergar a criança
ouve, mas não fala; que escuta, mas não é
em sua individualidade, valorizando suas
escutado; que obedece, mas não é chamado a
culturas, os contextos que traz consigo, suas pensar, a decidir, a fazer parte da vida na escola)
vivências, potencialidades e necessidades. e o contexto histórico e cultural em que está
O planejamento deve ser flexível e trazer à inserida contribuem com sua aprendizagem.
tona as vozes infantis, esse planejamento (...) a aprendizagem depende da interação
não pode ser pensado valorizando conteúdos entre crianças, entre elas e os adultos e do
e objetivos, mas sim os tempos, espaços, acesso que elas têm ao meio sócio-histórico-
materiais, relações e interações, partindo da cultural (do mundo que se apresenta para elas).
observação de como as crianças elaboram É a aprendizagem com as experiências vividas,
suas hipóteses, quais são suas culturas, quais portanto, que impulsiona o desenvolvimento.
são seus interesses e anseios, como e com Este não é natural ou genético, e sim produto
o quê brincam? Esses podem ser possíveis das experiências ativamente vividas pelas
crianças em contato com crianças de diferentes
questionamentos que sinalizem um ponto
idades, com adultos e com o mundo de objetos,
de partida e não uma regra a ser seguida, e
relações, linguagens, conhecimentos, hábitos
partir de então passa-se a propor situações
e costumes, valores, formas de pensar de falar
de vivências que potencialize tudo o que ela
e de se expressar com que a criança entra em
apresentou e possa também ampliar seus contato (São Paulo, Currículo Integrador da
repertórios partindo da observação atenta e Infância Paulistana 2015 p- 36)
da escuta sensível que se deu anteriormente.
É preciso sempre pensar que todos os tempos O espaço físico da unidade educacional nos
que os bebês e as crianças pequenas estão mostra que os ambientes e espaços podem
frequentando nas unidades de educação apresentar uma linguagem silenciosa potente.
infantil, são tempos educativos e não só os Eles nos instruem em muitos aspectos, como
momentos das “atividades pedagógicas”, olhar, participar, oportunizar, favorecer, agir,
segundo o currículo integrador da infância ressignificar. Um espaço de convivência
paulistana, bebês, crianças e suas famílias, limpo, arejado, organizado, claro, com fácil
assim como educadoras e educadores são acesso aos materiais, objetos diversos e
observadores, participantes e protagonistas brinquedos é totalmente diferente de um

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espaço com muitos móveis, que dificultam de faixas etárias, que trazem consigo
a circulação e ocupam um espaço que diferenças de interesses e de possibilidades,
poderia ser livre, ou ainda cheio de objetos para os bebês e as crianças bem pequenas
e brinquedos fora do alcance das crianças é importante espaços que garantam apoio
e com pouca ventilação e escura. Cada um para as tentativas de locomoção segura,
destes espaços reflete uma concepção de como barras de apoio tanto nas salas como
educação, de infância, de criança e cuidado. A em trocadores, tapetes, almofadas e rolinhos
projeção dos ambientes de atendimento são de apoio para aqueles que estão adquirindo
a consolidação das concepções intrínsecas sustentação e também para se recostarem
no projeto educacional da unidade. Pesquisas quando sentirem esse desejo. Uma sala com
apontam que se os espaços nas unidades múltiplas possibilidades também traduz
educacionais são bem planejados, o professor as vozes infantis, pois, assim o professor
de educação infantil não ocupa o principal pode observar as interações, interesses e
foco, saindo assim do papel adultocêntrico, preferências de escolhas dos bebês. Destaca-
viabilizando um ambiente que valoriza as se também com bastante importância,
produções e interesses infantis com múltiplas locais de organizar pertences das crianças,
possibilidades de repertórios, sendo assim preferencialmente com fotos para que eles
um dos principais focos de um professor de reconheçam e associem suas imagens e até
infância é oportunizar um ambiente em que as de suas famílias aos seus objetos pessoais
crianças, brinquem, explorem, experimente, e também os transicionais, diminuindo a
convivam, construam com liberdade distancia de seus lares e os espaços coletivos
criativa exercitando o prazer de fazer parte de convivência cotidiana. O ambiente ainda
tanto individualmente, como também em deve ser flexível para cumprir o papel de ser
pequenos grupos de livre escolha. desafiador e de instigar a curiosidade e criar
uma identidade que não é imutável, mas sim
Os ambientes devem atender as múltiplas inquietante e inovadora, que traga marcas
necessidades das crianças e como passam dos percursos realizados e das conquistas
períodos de até dez horas nas unidades alcançadas, uma boa maneira de retratar
de atendimentos, precisam conviver em esse aspecto, seria com fotos e imagens
ambientes os mais agradáveis possíveis, com significativas das crianças, assim como suas
situações e espaços que provoquem desafios, diversas produções.
mas que primordialmente ofereça segurança,
dessa forma pode levar também os bebês Os materiais que farão parte desse dia a
e as crianças a despertar suas curiosidades, dia, não só nos espaços e ambientes, mas
múltiplos interesses, exploração de diferentes para os momentos de diferentes propostas
materiais e situações de maneira autônoma e vivências também devem ser muito bem
e muitas vezes independente. Tudo isso pensados e analisados, os brinquedos prontos,
deve ser pensado respeitando as diferenças oferecem poucos ou nenhum desafio, eles se

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bastam e nem sempre permitem que a criança Para o adulto muitas vezes é difícil pensar
tenha vivências significativas. Uma avaliação no tempo que não seja o chrónos, que é o
quanto as possibilidades de exploração, de tempo cronológico, pelo qual nos guiamos.
criação, de qualidade dos materiais e suas As crianças usam o tempo kairós, da
materialidades, são também importantes criação e o tempo aion, da intensidade do
nas escolhas. As materialidades presentes tempo da vida humana, cabe ao professor
nos cotidianos das infâncias podem ser mediar e intermediar todos esses tempos,
compostas por diversos elementos que levará sem apagar o tempo de fruição, que é
a criança a criar, pesquisar, inventar, sempre especialmente o tempo da infância, com
pensando anteriormente nas experiências todas as suas descobertas, encantamentos e
que se que proporcionar. As interações são poesia. Articular uma rotina que comtemple
também muito importante desenvolvimento os tempos longos das vivências intensas,
integral dos bebês e crianças pequenas, elas das experiências, diferente do tempo da
devem acontecer entre os pares do dia-a- produtividade. É preciso para isso escutar o
dia, assim como nos diferentes educadores e que a criança diz e também o que ela não
crianças de faixa etária diferente, pares mais diz, essa escuta não é passiva, ela é ativa,
experientes, sempre possibilitarão ampliação constante e respeitosa, para se trabalhar com
de repertório, assim como o cuidado de si e uma grupo de crianças pequenas, é preciso
do outro, construção de identidade coletiva organizar as singularidades individuais.
e individual, além de outras aprendizagens Mesmo que com ações indiretas, o professor
significativas. planeja experiências significativas, com
elementos que possibilite a investigação,
criação, descobertas e encantamentos.
A ROTINA NO CEI: JORNADAS Nesses processos devemos sempre ter
COM EXPERIÊNCIAS muito claro que o que importa não em que
vai resultar, mas sim ao inesperado da ação
SIGNIFICATIVAS das crianças, como eles olham, para onde
Pensar em uma rotina no CEI é sempre olham, qual tempo que isso os envolve,
um grande desafio, pois, quando pensamos como exploram os objetos e materiais, como
que essas crianças tão pequenas tem suas compartilham, quem foram seus pares, ou
individualidades, como traçar uma jornada se brincaram sozinhos, pois, com essas
que comtemple as demandas de cada experiências os bebês e crianças pequenas
um e de todos, sem o engessamento das produzem e expressam suas múltiplas
propostas? Nesse momento cabe a equipe linguagens.
da unidade pensar em maneiras de viabilizar
vivências significativas que contribuam para
o desenvolvimento integral respeitando
sempre os tempos individuais e coletivos.

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OS DESAFIOS DO ressignificar as práticas em um movimento


PROFESSOR DA INFÂNCIA de ação, reflexão, ação, com intervenções
que ampliam as vivências e descobertas
As crianças de um grupo, apesar de viverem em
infantis sobre o mundo que estão inseridas.
um mesmo território sócio-histórico-cultural,
não podem ser vistas de forma massificada,
Esse movimento requer estudos intensos
como se todas fossem iguais, como se tivessem dos decentes pelo fazer infantil, assim
a mesma história e as mesmas características. como pela arte, tecnologia, natureza,
As crianças, com suas experiências e suas manifestações culturais, ciência, entre outros
possibilidades de viver a infância, produzem um conhecimentos, para poder proporcionar às
processo de ressignificação pessoal e constroem crianças proximidade com esses saberes, que
continuamente as suas identidades pessoais e nem sempre estão presentes nas propostas
sociais. Reconhecer os bebês e as crianças reais para os bebês e crianças pequenas nas
e concretas que frequentam as instituições de unidades de atendimento educacional. Dessa
Educação Infantil como produtoras de cultura forma, é entendido que o planejamento
é propiciar as condições essenciais para o nunca está finalizado com atividades e
acesso a processos de apropriação, renovação e
propostas definitivas antes do encontro
articulação de conhecimentos e aprendizagens
com as crianças, ele vai sendo construído e
nas diferentes linguagens, assim como o direito
decidido com o grupo de crianças, em alguns
à brincadeira, à convivência e à interação com
momentos o adulto convida as crianças a se
outras crianças. (São Paulo, Currículo da Cidade
2019 p-129)
envolver em situações pedagógicas, como
em uma boa contação de história, leitura,
Encontramos muitos desafios nas práticas exploração de materiais de largo alcança,
docentes com as crianças pequenas e uma roda de dança ou de música e ou
um podemos destacar aqui alguns deles. qualquer elemento da cultura, passa então
Ter condições de relacionar as práticas a observar como essas se envolvem ou não
pedagógicas com os conhecimentos com esse convite, como conversam, como
sobre a infância, para se possibilitar interagem nesses momentos, se observam, o
propostas e ambientes que desafiem que pesquisam e dessa forma, as crianças dão
e possibilitem descobertas múltiplas, pistas de como gostariam de ampliar aquela
buscando garantir múltiplas experiências. Os experiência vivenciada, não definem um
conhecimentos teóricos sobras as infâncias caminho, mas com base em suas iniciativas
e o desenvolvimento infantil não tem a individuais e coletivas sinalizam com
capacidade de responder as indagações múltiplas linguagens seus desejos, saberes e
que surgem quando buscamos os percursos desafios a percorrer. Por meio da observação
pedagógicos a se fazer junto com as atenta do adulto e do olhar sensível, quando
crianças, mas nos apoia na compreensão e ele procura capturar o que a criança quer
interpretações que vivenciamos com elas. mostrar, ele poderá avaliar as possibilidades
Partindo dessas interpretações podemos de intervenção e de ampliação de repertório

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Revista Educar FCE - Março 2019

partindo do que os bebês e crianças apresentaram, de acordo como isso se dá, possibilita
ou não a continuidade. É sempre válido destacar que o que vai configurar esse depois, é a
sensibilidade e o interesse do professor em lidar com aquilo que observou e apreendeu, do
contrário, tudo não passará de um momento, inviabilizando a construção de um percurso de
vivencias coletivas com singularidades e individualidades.

Quanto mais se consegue estar com as crianças, estreitando vínculos e afetos, mais ela
estará na relação, já que, a criança pequena tem uma grande necessidade da presença do
adulto, nas unidades de atendimento, em especial do professor, que é o sujeito que articula
os saberes, desejos e necessidades das crianças baseado sempre em seus estudos sobre e
para com as infâncias.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo possibilitou entender como foi de extrema
importância a mudança do perfil profissional do professor de
educação infantil que atua diretamente com bebês e crianças
pequenas. O atendimento dos bebês e crianças pequenas
tem muitas especificidades e particularidades que nem de
longe se assemelha à docência em sala de aula dos alunos de
outras faixas de ensino ,as crianças ganharam visibilidade e
protagonismo, de suas potencialidades e capacidades, afinal
a criança já nasce com potencial investigativo e criador, cabe
as unidades e seu corpo docente especializado, promover INALDA MARIA DE
ambientes, tempos, materiais interações e relações que LIMA CORDEIRO
viabilizem essas capacidades, em que a criança seja o centro
Graduação em Pedagogia pela Faculdade
do projeto político pedagógico formando uma narrativa com Unicapital (2007); Professora de
vivências que reverberem pela vida desses bebês e crianças Educação Infantil – no CEI Jardim Tietê
pequenas. Quando o professor da infância, especialmente
da primeiríssima infância pode construir e reconstruir suas
concepções de criança e infância passam a enxergar essas
crianças e suas infâncias com um novo olhar, tudo isso claro
que pautados em muitos estudos a fim de se construir novas
práticas, mais respeitosas e significativas. Entender o real
papel do professor de educação infantil, o seu protagonismo
compartilhado e a função social do atendimento de crianças
tão pequenas nas unidades educacionais com base nos
estudos mais atuais, amplia e garante vivências cada vez mais
significativas que despertam as mais diversas aprendizagens.

1077
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
BARBOSA, M. C. S.- Especificidades da ação pedagógica com bebês. portal.mec.gov.br/
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da Cidade: Educação Infantil – São Paulo: SME/ COPED, 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

GESTÃO DEMOCRÁTICA EM ESCOLAS PÚBLICAS

GESTÃO DEMOCRÁTICA
EM ESCOLAS PÚBLICAS
RESUMO: Este artigo aborda sobre o histórico da gestão escolar no Brasil. Sobre democracia
e princípios norteadores para a distribuição do poder dentro das comunidades escolares.
Analisa a importância da participação de todos nas decisões tomadas, desde dinheiro gasto
até problemas enfrentados pelos alunos, professores e etc.

Palavras-Chave: Democracia; Escola pública; Distribuição de poder.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO garantir o acompanhamento e a participação


nas deliberações a serem adotadas pelos
O estudo deste tema teve início no processo respectivos sistemas de ensino, é um
histórico da gestão escolar e democrática, da exercício democrático. Os efeitos da gestão
participação no sistema de ensino e da escola escolar ultrapassam os muros da escola
pública. até mesmo da comunidade em que ela está
inserida. Saber lidar com interdependências
A gestão, numa perspectiva democrática, para por em prática a proposta pedagógica
possui características próprias e para efetivá- de seu estabelecimento é uma competência
la deve-se promover o envolvimento e a importante.
participação de toda comunidade escolar.
A gestão democrática tem por objetivo Não se pode mais conceber a escola como
envolver todos os segmentos interessados arraigada em princípios de autoritarismo,
na construção de propostas coletivas de antidemocrata e ditatorial, e sim numa visão
educação. Há de se pensar nessa gestão como que deixa de ser utópica, pois é um processo
responsabilidade de todos não esquecendo, real de cidadania que leva a agir de forma
principalmente, das especificidades que cada compartilhada e participativa na distribuição
escola apresenta. do poder dentro da instituição de ensino.
Por isso, a descentralização, o pluralismo, a
A democracia supõe convivência e o autonomia, a participação e a transparência,
diálogo entre pessoas que pensam de são fundamentais como princípios norteadores
modos diferentes e que querem coisas de uma gestão democrática.
distintas. O aprendizado democrático
implica a capacidade de discutir, elaborar e
aceitar regras coletivamente, assim como HISTÓRICO DA GESTÃO
a superação de obstáculos e divergências, DEMOCRÁTICA
por meio de diálogo para a construção de
propósitos comuns. Encontra-se também Administrar no sentido etimológico,
diversidade e conflitos de interesse. Uma do latim administrare é o ato de gerir, de
gestão participativa do ensino público busca governar e de dirigir negócios públicos
diálogo com base em formas colegiadas e ou privados. Administração, do latim
princípios de convivência democráticas. administratione, deve-se entender a própria
ação de administrar.
A gestão democrática se faz no exercício
da cidadania de pais, alunos, professores e, O administrador é homem que dispõe dos
também, entidades ou pessoas representativas meios e dos recursos necessários para obter
da comunidade local. A realização de reuniões alguns resultados. Resultados certos, e isto é
periódicas e regulares, com o objetivo de um administrador. (TEIXEIRA, 1961, p. 84-89)

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Revista Educar FCE - Março 2019

A forma conhecida de administração é movimentos urbanos pela educação pública


oriundo do modo capitalista de produção que (GOHN, 1985: SPOSITO, 1993), bem
trata da administração dos negócios públicos como em sindicatos dos profissionais da
e que aos poucos foi sendo confundida com a educação pela democratização do Estado,
Gestão do Estado e com a de todo o aparato possibilitou a construção de um novo olhar
que tornava possível a acumulação primitiva para a administração escolar, prevalecendo
de capital. Foi se desenvolvendo, também, a o debate sobre a implementação da gestão
administração dos negócios privados, sendo democrática na educação (CUNHA, 1991).
que primeiro formam as corporações de
ofícios, depois as empresas manufatureiras e As regras aplicadas na rede escolar eram
no decorrer a gestão da fábrica, seguindo das as mesmas empregadas nas empresas. No
grandes corporações e sociedades anônimas. decorrer das transformações da sociedade, a
instituição escolar também foi se modificando,
Somente no século XIX surge a moderna tornando-se cada vez mais complexa para
administração conhecida, que fundada numa atender as novas demandas. Compreender o
lógica de racionalização do trabalho, visa processo histórico que ocorreu na sociedade
maior produtividade e a ampliação do lucro, é de extrema importância para se entender a
coordenando os trabalhos dos funcionários e forma como se constituíram as instituições
por sua vez controlando as pessoas ou órgãos escolares, inclusive as diferentes maneiras
nas mais diversas atividades sociais e políticas. como se concebeu e se concretizou a
Administração Escolar no Brasil e bem como
É possível ver que a administração era a evolução histórica do cargo de Diretor de
fundada em uma concepção ampliada Escola e do seu papel social e político.
da divisão do trabalho. Portanto, há aqui
uma administração ligada a produção ou a Para Ganzeli, a utilização do termo gestão
prestação de serviços. democrática, apesar de controvérsia, buscou
contrapor, naquele momento político, ao
A necessidade de grandes mudanças era termo administração educacional, termo
evidente, mas havia um longo caminho a carregado do sentido tecnocrático, que via
ser percorrido, pois o capitalismo no século o diretor como mero executor da política
XIX marca a desigualdade, o supérfluo, não educacional.
garante trabalho para a sociedade, não é
democrática e é devastadora. Nesta fase No âmbito do sistema de ensino das
do liberalismo a expectativa do trabalho era escolas, procurava-se reproduzir a lógica
sangue, suor e lágrimas. da competição, as regras do mercado, com
formação de um mercado educacional.
Nos anos 80, as lutas sociais levadas Buscava-se a eficiência pedagógica que tem
a cabo pela população organizada em sido levada a efeito, em geral, mediante a

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Revista Educar FCE - Março 2019

avaliação como constante dos resultados, e incorporação das técnicas e linguagens da


estabelecimento de ranking e gerência de informática e da comunicação, abertura
qualidade total. das universidades aos financiamentos
empresariais, pesquisas práticas e utilitárias,
Com a LDB 9394/96 vem a gestão produtividade são encontradas no discurso
democrática do ensino público, a coexistência neoliberal para a educação, mas são
de instituições públicas e privadas, de questões desafiadoras e que temos o
ensino, a garantia de padrão de qualidade e enorme comprometimento na reflexão sobre
a valorização do profissional da educação. E estas questões para trilhar o caminho mais
com o princípio da gestão democrática, vem condizente com as necessidades da nossa
a participação dos profissionais da educação comunidade.
na elaboração do projeto político-pedagógico
da escola (art.14, inciso I), participação da Nesse sentido vê-se a importância da
comunidade escolar e local em conselhos escola em estar sempre projetando, formando
de escola (art. 11, inciso II). A questão do a partir das necessidades e expectativas
financiamento da educação básica como de toda a comunidade escolar e poder
PDDE (Programa de Dinheiro Direto na construir um projeto político-pedagógico
Escola), o FUNDEF (Fundo de Manutenção como um processo reflexivo em relação as
e Desenvolvimento de Ensino Fundamental mudanças que possam ocorrer quando se
e de Valorização do Magistério), a renda fizer necessário. E para essa construção é
mínima e outros. necessária toda a comunidade escolar, pois
com a dinâmica de trabalho, a escola afirma
Os aspectos principais para a condução da a sua autonomia sem, no entanto, deixar de
política educacional foram consubstanciados manter relações com as esferas municipais,
nos seguintes eixos: redução do estaduais e federais da educação nacional. “A
analfabetismo, ênfase na educação básica, gestão democrática possui duplo significado:
descentralização das ações administrativas e pedagógico, porque pode levar a escola
incentivo que na verdade o enfoque dado ao pública a ajudar na construção da cidadania,
analisar as “prioridades e estratégias” para educando com responsabilidade, e político,
a educação, Torres observa que na verdade por buscar o equilíbrio entre decisões de
o enfoque dado a questão educacional, vários segmentos, sem renunciar ao princípio
privilegia a lógica do mercado. da unidade de ação.” (PRAIS, 1992)

O neoliberalismo trouxe este enfoque A busca da qualidade de ensino pressupõe
educacional associado com princípios também o princípio da gestão democrática
mercadológicos, pois qualidade total, como orientador da construção de uma escola
modernização, adequação do ensino a que valorize as relações estabelecidas pelos
competitividade do mercado, na vocalização, indivíduos em seu cotidiano. É preciso ter

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Revista Educar FCE - Março 2019

clareza da escola que existe e a escola que se os sistemas de ensino. Igualmente, liberdade,
quer e também ter um plano de ação, ou seja, pluralismo, gratuidade, valorização dos
metas ou objetivos específicos, justificativas, profissionais de ensino e garantia de padrão
estratégias, avaliações, projetos, recursos, de qualidade são os outros princípios que a
históricos da unidade e do patrono, grêmio, Constituição articula a gestão democrática
horário e tudo que se fizer necessário, desde do ensino. Este princípio constitucional
que esteja de acordo com as necessidades constitui uma das garantias do direito à
da comunidade. “Hoje, tudo é decidido pelo participação. Ele possibilita as pessoas,
coletivo escolar, respeitando-se os limites independentemente de sua situação social e
próprios de cada um. Acho que a construção cultural, intervir na construção de políticas e
constante de um fazer educativo integrado e na gestão das instituições educacionais.
comprometido que torna as nossas escolas
diferentes das demais.” (Revista gestão em
rede, out/nov, 1999, p. 4) GESTÃO

Pode-se dizer que a democracia supõe Dentro de uma gestão democrática o
convivência e o diálogo entre pessoas que gestor deve estar sempre em alerta, ou seja,
pensam de modos diferentes e que querem identificando se há participação de diferentes
coisas distintas. O aprendizado democrático pessoas que compõem a comunidade, se a
implica a capacidade de discutir, elaborar e escola está contribuindo para a realização dos
aceitar regras coletivamente, assim como princípios estabelecidos no artigo 1 da LDB
a superação de obstáculos e divergências, 9394/96 e no artigo 206 da Constituição
por meio de diálogo para a construção de Federal e se todos estão exercendo o direito
propósitos comuns. Encontra-se também de cidadania participando dos processos de
diversidade e conflitos de interesse. Uma planejamento e tomada de decisões.
gestão participativa do ensino público busca,
pelo diálogo com base em formas colegiadas A participação é um processo educativo
e princípios de convivências democráticas. tanto para a equipe gestora quanto para
os demais membros da comunidade
Muitas são as concepções sobre gestão escolar e local. É importante estabelecer
e democracia. Inicialmente, pode-se definir coletivamente as finalidades e os objetivos
gestão democrática como um tipo de almejados e também os alcançados.
gestão político-pedagógico e administrativa,
orientada por processos de participação Evidentemente, uma educação
das comunidades escolas e local. Tanto participativa favorece a aquisição de
a Constituição brasileira quanto a LDB habilidades de valor na participação na
estabelecem a gestão democrática como administração na idade adulta. Participar
modo próprio de gerir as escolas públicas e também implica um desejo. Pessoas

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Revista Educar FCE - Março 2019

educadas em contextos muito autoritários reconhecer o patrimônio das instituições


podem simplesmente preferir não participar. educativas (escolas, bibliotecas,
Esse aspecto parece essencial, visto equipamentos) como um bem comum, que
que a participação implica um alto grau é a expressão de um valor reconhecido por
de envolvimento e, com frequência, o todos, o qual oferece vantagens e benefícios
envolvimento implica desgaste emocional coletivos. Sua utilização por algumas pessoas
ou mesmo físico. não exclui o uso pelas demais. É um bem de
todos, todos podem e devem zelar pelo seu
A gestão democrática dos sistemas de uso e sua conservação.
ensino e das escolas públicas requer a
participação coletiva das comunidades “A administração escolar inspirada na
escolares e também local na administração cooperação recíproca entre os homens deve
dos recursos educacionais financeiros, de ter como meta a constituição, na escola, de
pessoal, de patrimônio, na construção e um novo trabalhador coletivo que, sem os
constrangimentos da gerência capitalista e da
na implementação do projeto educacional.
parcelarização desumana do trabalho, seja uma
Também implica compartilhar o poder,
decorrência do trabalho cooperativo de todos
descentralizando-o, incentivando a
os envolvidos no processo escolar, guiados por
participação e respeitando as pessoas e
uma “vontade coletiva”, em direção ao alcance
suas opiniões; desenvolvendo um clima dos objetivos verdadeiramente educacionais da
de confiança entre os vários segmentos escola”.(Paro,1986, p. 160)
das comunidades; ajudando a desenvolver
competências básicas necessárias à
participação como, por exemplo, saber ouvir, A gestão democrática contribui para que,
saber comunicar suas ideias, etc. em cada escola, crianças, jovens e adultos
possam se desenvolver como sujeitos e
A participação proporciona mudanças se aperfeiçoar. Isso implica o aprendizado
significativas na vida das pessoas, na medida coletivo, de princípios de convivência
em que elas passam a se interessar e se democrática. Mas isso não ocorre de
sentir responsáveis por tudo que representa qualquer maneira. Existem leis e normas que
interesse comum. Assumir responsabilidades, regulamentam essa participação. No artigo
escolher e inventar novas formas de relações 206, inciso VII da Constituição Brasileira
coletivas fazem parte do processo de afirma que o ensino deve ser ministrado
participação e trazem possibilidades que de acordo com o princípio de gestão
atendam a interesses coletivos. democrática.

O processo de gestão democrática na Na LDB 9394/96, art. 14 diz que os
escola produz, também, efeitos culturais sistemas de ensino definirão as normas de
importantes. Ele ajuda a comunidade a gestão democrática do ensino público na

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Revista Educar FCE - Março 2019

educação básica, de acordo com suas peculiaridades. Cada sistema de ensino tem autonomia
para a elaboração de normas próprias de gestão democrática.

A palavra autonomia citada neste artigo vem do grego e significa capacidade de
autodeterminar-se, aquele que estabelece suas próprias leis (autos – si mesmo, nomos – lei).
O sentido etimológico é, portanto, de autogoverno, autoconstrução. Uma escola autônoma,
do ponto de vista da gestão, seria aquela que se autogoverna. No entanto, sabe-se que a
escola não possui essa autonomia, ou seja, a autonomia na escola é determinada socialmente.

Para Gagoni (1993, p. 199), a luta pela autonomia da escola insere-se no seio da própria
sociedade, portanto, é uma luta dentro do instituído, contra o instituído, para instituir uma
outra coisa. A eficácia desta luta depende muito da ousadia de cada escola em experimentar
o novo e não apenas de pensá-lo. Mas, para isto, é necessário percorrer um longo caminho
de construção da confiança na escola e na capacidade dela resolver seus problemas por ela
mesma, de se autogovernar. A autonomia se refere a criação de novas relações sociais que
se opõem as relações autoritárias existentes.

Sabe-se que envolver as comunidades locais e escolar é uma tarefa complexa, pois articula
interesses, sentimentos e valores diversos. Nem sempre é fácil, mas compete as equipes
gestoras pensar e desenvolver estratégias para motivar as pessoas a se envolver e participar
na vida da escola.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir que a gestão democrática se faz no
exercício da cidadania de pais, alunos, professores e, também,
com entidades ou pessoas representativas da comunidade
local. A realização de reuniões periódicas e regulares, com o
objetivo de garantir o acompanhamento e a participação nas
deliberações a serem adotadas pelos respectivos sistemas
de ensino, é um exercício democrático.

A expressão “gestão democrática do ensino” sintetiza
diferentes formas de participação coletiva das comunidades
escolar e local nos processos de administração dos recursos
(financeiro, de pessoal, de patrimônio) e na construção dos
projetos educacionais. O modo como ela é exercida pode ISABEL APARECIDA DIAS
ser fortalecido por meio de ações que promovam, articulem
Graduação em Pedagogia pela PUC
e envolvam as instituições de deliberação coletiva que
Pontifícia Universidade Católica de São
integram os sistemas de ensino. Paulo (2002); Pós-Graduação em Gestão
Educacional pela Universidade Estadual
Mais participação significa democracia, quando as pessoas de Campinas 2007; Professora de Ensino
envolvidas dispõem de capacidades e autonomia para decidir Infantil e Fundamental I na prefeitura de
e pôr em prática suas decisões. São Paulo, na CEI Parque Novo Mundo.

Algumas escolas já dão oportunidades às diferentes
manifestações e expressões de diferentes grupos. Desse
modo, permitem a circulação de ideias, o desenvolvimento
do que é lúdico, preparando professores para vivenciarem a
realidade de novos modelos de relacionamento com alunos
e exercitarem novos papéis. Assim, criam uma atmosfera
baseada no debate e na orientação a respeito da função
de professores e gestores favorecendo a livre expressão.
É importante ter em mente as formas como todos podem
e devem atuar. Como o modelo tradicional, autoritário é,
frequentemente, a referência básica dos educadores, vigora
a ideia de que eles devem ensinar como foram ensinados,
imitando situações que viveram como alunos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Por vezes nossa preocupação com a escola ideal nos impede de vê-la tal como ela é. Há o
desafio de procurar favorecer/promover a agregação de alunos, professores e a comunidade
externa em torno de interesses comuns, para desenvolver maior compromisso com o projeto
da escola.

Trabalhar com o sentido da realidade e das possibilidades, ou, como diz Paulo Freire, em
Pedagogia da Autonomia (1996): “Mudar a educação é difícil, mas é possível”.

Identificar espaços e estratégias de mobilização são objetivos que, por sua vez, têm como
finalidade revelar novas possibilidades de participação democrática. Ao procurar modificar a
realidade, se quer que essas experiências sejam benéficas. Mas, trabalhar, também, por uma
sociedade melhor e mais justa, e esperar que essas ações possam se refletir na formação.
O desenvolvimento das capacidades pessoais se faz em novas condições sociais que se
constroem na caminhada democrática.

Os efeitos da gestão escolar ultrapassam os muros da escola até mesmo da comunidade em
que ela está inserida. Para promover uma participação responsável e consequente, o gestor
deve ser capaz de reconhecer e avaliar os vínculos entre as propostas elaboradas em sua
escola e as políticas e os programas de outras entidades. Saber lidar com interdependências
para pôr em prática a proposta pedagógica de seu estabelecimento é uma competência
importante.

No livro Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa uma frase do personagem Diadorim,
“... a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de
muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar aumentar a cabeça, para o
total.” (p. 439)

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

SURDOCEGUEIRA E DEFICIÊNCIA
MÚLTIPLA: NECESSIDADES E
PAPEL DO PROFESSOR
RESUMO: O artigo vem expor como pode ser realizada a inclusão de um aluno surdocego e/
ou deficiências múltiplas na escola. Sabe-se que nos dias de hoje há o direito a matrícula de
alunos com deficiências, transtornos do espectro autismo, altas habilidades e superdotação,
entre outras necessidades educacionais especiais nas escolas de ensino público regular no
Brasil, pois, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu que o direito à escolarização de toda
e qualquer pessoa, a igualdade de condições para o acesso e para a permanência escolar.
A metodologia da pesquisa utilizada foi qualitativa de cunho bibliográfico, utilizando-se de
dois recursos como estratégias para o desenvolvimento da aprendizagem e autonomia para
o aluno surdocego no cotidiano escolar. O procedimento utilizado foi a análise de obras
bibliográficas sobre o tema, o aluno surdocego e sobre o uso das referidas estratégias de
ensino. Como objetivo a pesquisa buscou compreender quais as estratégias de ensino,
bem como recursos pedagógicos, podem bem propiciar a inclusão e o desenvolvimento
educacional de um aluno com surdocego na escola. A aplicação de recursos e estratégias de
comunicação acessíveis e contextualizadas ao aluno surdocego, são indispensáveis ao seu
desenvolvimento.

Palavras-Chave: Inclusão; Estratégias; Desafios Educacionais; Aluno Surdocego.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO Bosco, Mesquita e Maia, asseveram: Há


quatro categorias para pessoas com surdo
O texto faz uma abordagem diante de uma cegueira sendo elas:
revisão sistemática de obras que envolvem a
inclusão e as estratégias pedagógicas de ensino • Indivíduos que eram cegos e se
regular com alunos com surdocegueira. tornaram surdos;

Verifica-se que o trabalho com o aluno • Indivíduos que eram surdos e se


com surdocegueira, matriculado no ensino tornaram cegos;
regular, tornou-se um desafio para o
desenvolvimento prático e pedagógico, tendo • Indivíduos que se tornaram surdo
como problemática deste trabalho: Quais cegos;
estratégias de ensino podem favorecer o
desenvolvimento educacional dessa criança? • Indivíduos que nasceram ou adquiriram
Será que os professores do ensino básico surdo cegueira precocemente, ou seja, não
regular, estão devidamente preparados para o tiveram a oportunidade de desenvolver
uso dos recursos e estratégias pedagógicas e linguagem, habilidades comunicativas ou
acessíveis para alunos com Surdocego? Quais cognitivas nem base conceitual sobre a
as necessidades de comunicação e autonomia qual possam construir uma compreensão
podem transformar o aprendizado escolar desse de mundo. (2010, p. 45).
alunado?
Embora para os autores supracitados o
Para tanto as referidas questões, direcionaram surdocego possui dificuldades ou limitações
os nossos estudos e pesquisas, pois por meio em observar, compreender, lançar de si o
delas buscamos recursos para desenvolvimento comportamento de membros da família e
educacional, para o início de uma comunicação o de outras pessoas, animais que tenham
e para estabelecer conceitos para esta criança. contato, isso carecido as perdas visuais e
auditivas que ele apresenta.

QUEM É O ALUNO Nascimento (2006), afirma que essa


SURDOCEGO: AFIRMAÇÕES deficiência e seus obstáculos, trazem
dificuldades no desenvolvimento escolar
SOBRE DEFICIÊNCIA e autônomo do estudante surdocego,
A surdocegueira, para Bosco, Mesquita e que irá necessitar de diferentes recursos
Maia (2010) pode ser congênita ou adquirida, e estratégias pedagógicas para alcançar
e segundo a idade em que a surdocegueira desenvolvimento autônomo, intelectual e
se situou, ela pode ser considerada em Pré educacional.
linguística ou Pós linguística.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Para Nascimento (2006) as decorrências Sá (2007), corrobora que em alguns casos


das limitações visuais e auditivas nas pode ocorrer a perda de audição, ou seja, a
interações podem ser minimizadas com surdocegueira. As pessoas cegas têm mais
a introdução do toque. Várias crianças capacidades de desenvolver as informações
parecem não gostar de serem tocadas por táteis, auditivas, sinestésicas e olfativas,
não conseguirem identificar a origem e o pois elas apelam a esses sentidos com mais
sentido do toque. Nesses casos, a utilização frequências para entender e guardar na
de objetos e/ou toques familiares à criança memória as informações. Todavia, a audição
poderão ser usados como meio intercessor cumpre um papel relevante na seleção e
entre a criança e o professor. Esse é um fator codificação dos sons que são significativos
formidável no sucesso das interações. e úteis.

Compreende-se que a criança surdacega Por meio da pluralidade das experiências, a


não possui condições para responder variedade e qualidade do material, clareza, a
e compreender as demandas do meio, simplicidade e a forma como comportamento
necessitando, por isso, que esses aspectos exploratório é estimulado e desenvolvido
lhes sejam ensinados. que se dá a competência e a habilidade
para compreender, interpretar e adquirir a
Segundo Erikson (2002) a função do informação.
professor intérprete ou guia-intérprete
junto à criança surdocega será o de suprir Assegura Nascimento (2006) que a
sua carência de funcionamento sensorial aprendizagem vai depender do modo como
com estímulos organizados e significativos, a criança surda cega institui seu contato
solicitando a construção de sua consciência com o meio e este com ela, de qual o
e imagem corporal, seu desenvolvimento recurso utilizado na comunicação e a de
motor e afetivo, e também sua autonomia. sua capacidade de ser compreendida e de
compreender as exigências do seu universo
Já a cegueira, de acordo com Sá (2007) familiar, escolar, social e cultural.
pode ocorrer de maneira grave ou total
nas funções da visão comprometendo a Assim como pensamos no trabalho
capacidade de perceber cor, tamanho, pedagógico escolar com o estudante surdocego,
distância, forma, posição ou movimento faz-se importante analisar a necessidade
em um campo mais o menos abrangente. de adequação de estratégias pedagógicas
Podendo acontecer desde o nascer (cegueira acessíveis e eficazes para o desenvolvimento
congênita), ou após (cegueira adventícia, do ensino aprendizagem desse aluno. Portanto,
frequentemente conhecida como adquirida) é necessário o uso de materiais e recursos de
em consequência de causas orgânicas ou referência, sendo que esse tem anulados os
acidentais. sentidos da visão e audição.

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Revista Educar FCE - Março 2019

É necessário apreciar as diferentes e possam estar organizados para a inclusão e


estratégias, bem como outras modalidades de para o desenvolvimento do aluno surdocego,
comunicação, desenvolvimento pedagógico necessário também que uma pessoa
e de socialização no entendimento desse possa estar intercedendo e apresentando
aluno. informações de maneira integral e coerente
para escola a fim de tornar o ambiente
O espaço para pessoas com surdocegueira, adequado e acessível ao aluno com
segundo Bosco, Mesquita e Maia surdocegueira
(2010), deve ser planejado e organizado
adequadamente, beneficiando a interação Bosco, Mesquita e Maia (2010), afirmam
com pessoas e objetos. Isso irá auxiliá-la a que se na infância não for constituída uma
realizar antecipações, conseguir pistas e comunicação efetiva a pessoa pode crescer e
com quem quer estar e quais atividades que torna-se um jovem ou adulto com condutas
espera fazer. inadequadas para se comunicar. Se a criança
surdocega receber a aprendizagem por meio da
Bosco, Mesquita e Maia (2010), afirmam, língua de sinais tátil, logo na primeira infância
que é preciso impulsionar ensinar o indivíduo e em suas primeiras interações de vida, terá
com surdo cegueira, para que consiga seguramente um melhor desenvolvimento
utilizar sua visão e audição residuais com intelectual, diferente do que ter experiências
informações sensoriais que instigue sua sem esse aprendizado comunicacional ou
curiosidade. tê-lo tardiamente. A ausência da língua
de sinais ou de seu aprendizado precoce,
Através dos brinquedos e brincadeiras, intervém no desenvolvimento escolar do
é admissível estimular a participação da aluno surdocego.
criança com baixa visão na vida familiar, na
escola e na comunidade. A crença no desenvolvimento e
potencialidade do indivíduo também deve
Para Ropoli (2010, p. 10), hoje em dia, a ser a crença do educador, ou seja, para o
escola, para melhor atender a todos tem de desenvolvimento do aluno, o professor
sofrer alterações, pois a escola ainda não é precisa acreditar em seu potencial. Deste
completamente inclusiva. As escolas poderão modo, os alunos com deficiências necessitam
a partir de novas estratégias apropriadas a ser ensinados a desenvolver os demais
perspectiva da inclusão, encontrar recursos sentidos remanescentes de forma que esses
para seus desafios. Tais mudanças devem ser conhecimentos possam equilibrar aqueles
adotadas e decididas pelo grupo escolar que não possuem.

É imprescindível que os professores e


demais educadores escolares, compreendam

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Revista Educar FCE - Março 2019

SOLUÇÕES E ESTRATÉGIAS Em meio as estratégias importantes para


QUE DESENVOLVAM o desenvolvimento do estudante surdocego,
encontrar-se o uso de objetos de referências,
A AUTONOMIA, A que segundo e Maia et al (2008), são objetos
COMUNICAÇÃO, que têm significação especiais, os quais têm
A INTERAÇÃO E O o papel de substituir a palavra e, podendo
assim, representar pessoas, objetos, lugares,
APRENDIZADO DO atividades ou opiniões associadas a eles.
ESTUDANTE SURDOCEGO
Bosco, Mesquita e Maia (2010), confirmam
Não é só através das brincadeiras, mas por que as caixas de antecipação, devem ser
meio de diversas estratégias que é possível empregadas com crianças que ainda não têm
observar o desenvolvimento do estudante nenhum sistema formal de comunicação. Ela
surdocego, com o intuito de estimular a permite conhecer os primeiros objetos de
socialização, desenvolver autonomia e referência que precipitarão as atividades e o
independência, além do desenvolvimento conhecimento das primeiras palavras.
educacional.
Diversas estratégias são importantes
É na respectiva inclusiva que se forma para o desenvolvimento escolar do aluno
a escola das diferenças. As diferenças dos surdocego, a fim de que possua autonomia,
alunos são reconhecidas diante do processo conforto e desenvolvimento educacional.
educativos e na busca participativa e o Tais estratégias, envolvem, a arquitetura,
progresso e todos que a escola comum iluminação, materiais e recursos, dentre
se torna inclusiva, essas novas práticas outros aspectos, que veremos.
dependem de mudanças que vão além da
sala de aula e da escola. Um ensino para Para Bosco, Mesquita e Maia (2010) alunos
todos deve se pautar pela sua qualidade. Um com baixa visão que sejam surdocegos,
ensino de qualidades depende de iniciativas, necessitam de bastante contraste entre
tanto dos profissionais que compõem uma os materiais para que possam perceber e
rede educacional quanto de pais e alunos. compreender o ambiente. Já a luz solar pode
ser utilizada, e na sala de aula e recomendado
Assim, é importante analisar as condições o uso de lâmpadas incandescentes, pois
singulares e globais do estudante, para que funciona bem para alunos com baixa visão.
sejam implantadas estratégias importantes e
apropriadas para o desenvolvimento de cada Para cada aluno, há diferentes
aluno. necessidades de adequações de acordo
com suas especificações. Segundo Bosco,
Mesquita e Maia (2010) compreende-se que

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Revista Educar FCE - Março 2019

o estudante surdocego e que possui boa visão central, deve estar sentado no meio ou fundo
da sala nas fileiras centrais, para que assim possa receber informações e ter uma boa visão
do educador.

Para os educandos que fazem uso da leitura labial para se comunicar, é necessário que
esse estudante, permaneça sentado pelo menos a três metros de distância da principal fonte
da atividade, ou seja, do professor, o que promove o uso de resíduos visuais, caso tenha.

Quando o educador anda por toda a sala, isto se torna um desafio para os alunos com
surdocegueira, pois eles não conseguem seguir as direções, tanto visuais quanto auditivas
do educador. Também é importante, evitar os lugares que causam reflexos para esses alunos.
O aluno surdocego, precisa da ajuda de um mediador para receber as informações de forma
apropriada

Há alguns sistemas de mapas conceituais, que sistematizam as competências esperadas


nas Situações de Aprendizagem, em meio a eles está o mapa organizado na forma de uma
teia. Este ajuda o professor da sala comum a organizar e a planejar o desenvolvimento das
capacidades do aluno nas diferentes situações de aprendizagem, como por exemplo, na
preparação de receitas culinárias.

O tato, é um dos fundamentais sentidos, utilizado como uma ferramenta para o aprendizado
de alunos com surdocegueira, pois as experiências táteis são eficazes para desenvolver
conceitos e concretizar aprendizados.
Indispensável adaptar diversos matérias didáticos, que são encontrados na própria escola,
isso pois, as adequações promovem acessibilidade para esse alunado, havendo também a
utilização dos próprios materiais de seus colegas.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos à conclusão de que é necessário a garantia de
acesso e aprendizagem, bem como a participação de todos
os alunos nas escolas contribuindo para uma nova cultura
e valorização das diferenças rumo ao uma educação mais
humanística.

Necessário promover a garantia de acesso e aprendizagem,


bem como a participação de todos os alunos nas escolas.
A importância de uma boa organização pedagógica e
administrativa das escolas para que possa ser criado espaços
exclusivos.

A falta de sistemas adequados de comunicação, interferem


nos estágios de desenvolvimento da linguagem que podem JANAÍNA APARECIDA DE
levar mais tempo para ocorrer, portanto, são necessárias OLIVEIRA BARBIERI
ações e estratégias que sistematizem a comunicação de Graduação em Pedagogia pela Faculdade
forma adequada a fim de que o estudante tenha um melhor UNIMEP – Universidade Metodista
acesso ao ensino. de Piracicaba (2006); Especialista em
Educação Especial e Inclusiva com
Por meio da rotina utilizada como recurso de antecipação ênfase em Surdez e Libras, pela FACEL
de situações e de tarefas propostas para a criança no -Faculdade de Administração, Ciências,
ambiente escolar, traz a ela mais equilíbrio emocional, educação e Letras (2017); Professora
promoveu limites e regras, o que tornou a criança mais atenta de Ensino Fundamental I bilíngue para

aos instrumentos e materiais que levam a ela conhecimento surdos - EMEBS Helen Keller.

e autonomia.

A escola necessita de um profissional especialista na área


de surdocegueira preparado para orientar os professores
e demais educadores no ambiente escolar e acompanhar
a criança em seu processo de aprendizagem, a fim de
tornar a escola mais acessível a esse aluno. Portanto, são
indispensáveis ao desenvolvimento a aplicação de recursos
e estratégias de comunicação e aprendizados acessíveis e
contextualizadas às habilidades da criança surdocega.

1094
Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA
MELHORIA DA APRENDIZAGEM
DOS ALUNOS DO EJA
RESUMO: Esse artigo faz uma análise reflexiva sobre o fracasso escolar e a participação
da família na melhoria da aprendizagem dos alunos do EJA. Nesta análise, procuramos
compreender a aprendizagem e as dificuldades de aprendizagem, esta última é possível
causadora do fracasso escolar. Alguns problemas que surgem no aluno, durante o processo
de aprendizagem, mas que o maior problema está na educação e também na família. Portanto,
acreditamos que quando houver melhoria na educação da EJA, também haverá melhoras no
processo de aprendizagem e uma perfeita harmonia no convívio familiar.

Palavras-Chave: Fracasso; Escola; Família; Aprendizagem; Eja.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO história como uma modalidade de ensino


que não requer, de seus professores,
No Brasil uma das marcas mais negativas estudo nem especialização, com um campo
em relação a Educação é a desigualdades eminentemente ligado à boa vontade.
que compromete o seu exercício de forma Em razão disso, são raros os educadores
eficaz. Entretanto, a Educação de Jovens e capacitados na área. Na verdade, continua
Adultos tem importância significativa para arraigada a ideia de que qualquer pessoa
a sociedade e para o indivíduo, pois, com que saiba ler e escrever pode ensinar jovens
esse ensino diminui analfabetismo, marca e adultos com essa falsa premissa não se tem
negativa para um país e consequentemente levado em conta para se desenvolver um
aumentarão os índices de pessoas letradas ensino adequado a esta clientela exige-se
que conseguem empregos formal. Para tanto, formação inicial específica e geral consistente,
é necessário que as unidades de ensino assim como formação continuada.
tenham conscientização de sua importância,
compreendendo esta modalidade de ensino Para que a EJA tenha significado é
e elaborando planos de ações que satisfaçam necessário que o educador tenha uma base
as reais necessidades do público que nela se de conhecimentos que servem para uma
matricula. prática eficiente ao aluno nela matriculado
tenha um processo de ensino e aprendizagem
Para Santos, ao se referir formação do de forma qualificada e eficaz.
professor para Educação de Jovens e Adultos
afirma Desse modo, a Educação de Jovens e
adultos, necessita de mais reconhecimentos
[...] nos cursos oferecidos em instituições para o seu público alvo. Sabe-se, que todo
formadoras, sente-se a necessidade de cidadão tem seus direitos e deveres na
aprofundamentos teórico-práticos em relação à sociedade e, não é diferente com as pessoas
Educação de Jovens e Adultos. Um dos pontos que por estes motivos não conseguiram
que mais afeta o ensino da EJA é a formação
concluir o ensino fundamental ou não
do professor devido a não inclusão da EJA,
conseguiram se quer ser alfabetizado e não
nos currículos das instituições, bem como a
sabem nem ler nem escrever. Para tanto,
dificuldade de colocar em prática os princípios
espera-se mais empenhos das políticas
políticos e pedagógicos defendidos pela EJA,
por falta de subsídios que deveriam ter sido
públicas voltadas para a Educação de Jovens
adquiridos no curso de formação. (SANTOS, e Adultos, para que estes não se sintam
2003, p.19) excluídos de seus direitos.

A mesma autora, ao se Referir a Machado Portanto, a Educação de Jovens e Adultos


(1998), destaque que a educação de jovens se apresenta para a sociedade e para os
e adultos foi vista no decorrer de sua jovens e adultos, como uma grande conquista

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Revista Educar FCE - Março 2019

e para os professores, instituições de ensino É necessário estimular o desenvolvimento


e sobre tudo, para os governantes como dos alunos através de relações estabelecidas
um grande desafio em fazer que o ensino com seus aprendizados trazidos do meio
aconteça. familiar empírico, motivando-os ao estudo
prazeroso da leitura e levando em conta seu
A EJA, é uma oportunidade de possibilitar convívio social. Assim, nota-se a relevância
a essas pessoas que por algum motivo de se trabalhar dentro da realidade da
deixaram a escola uma escolarização, para criança transformando o conhecimento do
que a partir de então, possam buscar cada senso comum em científico, respeitando o
vez mais qualificação pessoal e profissional, seu estágio de desenvolvimento.
quanto maior for o investimento nesta
modalidade de ensino melhor para o país, Falar da leitura no contexto escolar é falar
que preparará pessoas melhorando a no vazio, se não partimos para a prática da
qualificação profissional que é de extrema leitura desde a educação infantil.
importância para o indivíduo e para o país, por Assim, se realmente a leitura é trabalhado
proporcionar conhecimentos fundamentais na educação infantil, então nossas crianças
para o exercício do trabalho e da cidadania. serão futuros leitores críticos e participativos.

Um professor que ensine e ao fazê-lo


A EDUCAÇÃO DE JOVENS transmita a seu aluno a esperança, passa a
E ADULTOS NAS PRÁTICAS ser espelho para este aluno. É esta esperança
que faz com que este aluno mude a direção
ATRIBUÍDAS de sua vida para o mundo.
Com os avanços tecnológicos e as
transformações educacionais percebidas na
área de língua portuguesa nos últimos anos, O PERFIL DO ALUNO DA EJA
nota-se cada vez mais a necessidade de E SUA PERSPECTIVA FUTURA-
atualização dos profissionais do ensino na
intenção de viabilizar um ambiente escolar em LETRAMENTO LITERÁRIO
consonância com as novas teorias de ensino A escola a qual a pesquisa foi realizada, fica
e, ao mesmo tempo, atraente aos alunos. na capital da cidade de Bahia em uma região
denominada zona leste. Pertence a rede
É primordial que se entenda a atividade de Municipal de Ensino, oferecendo a clientela
leitura na educação de jovens e adultos para do bairro, a modalidade de ensino regular
a formação de leitores que possam desfrutar do Ensino Fundamental anos finais e Ensino
dessa ferramenta indispensável, não somente Médio durante o período diurno e no noturno
no espaço escolar, mas estendendo seu uso a modalidade Educação de Jovens e Adultos,
para toda vida. ensinos fundamental anos iniciais e finais.

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Revista Educar FCE - Março 2019

De acordo com os dados coletados na secretaria da escola, em média a escola possui


certa de 980 alunos, até o presente momento da pesquisa. Deste total de alunos, 98 estão
matriculados na Educação de Jovens e Adultos no ensino fundamental anos iniciais e 122
alunos nos anos finais do ensino fundamental. Neste caso vamos considerar apenas os alunos
da modalidade Educação Jovens e Adultos sendo referencias de nossos estudos, totalizando
220 alunos ou seja 23% dos alunos totais matriculados na escola.

Agora passamos a analisar a quantidade de pessoas do sexo feminino e masculinos


matriculado na escola.

Em relação ao sexo, 46% dos alunos matriculados, masculino e 54% são do sexo feminino,
uma diferença de 8%, isto significa que as mulheres estão frequentando a modalidade em um
número relativamente maior que os homens, esta proporcionalidade pode a vir compactuar
com as estatísticas atuais que indicam que em nosso pais o número de pessoas do sexo
feminismo é relativamente maior que a do sexo masculino. (IBGE, 2010)

Outro dado analisado foi a faixa etária dos alunos matriculas, para a nossa surpresa
podemos perceber que a faixa etária destes alunos vem a cada anos ficando mais jovem.
Separamos os dados para melhor compreensão em Faixa Etária do sexo feminino e masculino
em gráficos separados.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Em relação ao sexo feminina o maior número de pessoas matriculadas na modalidade de


ensino nasceu no ano de 1991, portanto possuem 24 anos, as alunas mais novas nasceram
em 1992, as pessoas do sexo feminismo mais com maior idade nasceu no ano de 1971,
portanto apresentam 44 anos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Em relação ao sexo masculino a faixa etária do aluno mais velho matriculado é 21 anos
mais velho que a aluna com mais idade do sexo feminino, percebe assim que possivelmente
os alunos do sexo masculino estão demorando mais para voltar para a escola em relação a
mulheres. Por um outro lado o aluno do sexo masculino mais novo, nasceram no ano de 1994,
apresentando 21 anos de idade, já as alunas do sexo feminino com melhor idade apresentam
25 anos. As Faixas etárias entre os alunos do sexo masculino com maior incidência nasceram
no ano de 1988, com 22% dos matriculados, já as alunas do sexo feminino nasceram em
1991, com 18% dos matriculados.

Passamos analisar através das fichas cadastrais, a quantidade de vezes que os alunos se
matricularam na EJA e abandonaram o ano letivo.

Apenas 5% nunca abandonaram a escola, apesar de estarem relativamente atrasado em


relação a idade/ano, 50% dos alunos matriculado já abandonaram mais de 4 vezes a escola,
percebemos assim que há fortes atrativos que levam os alunos a não continuarem seus
estudos, a escola parece ser a primeira opção em ser abandonada em detrimento de outros
assuntos. Porém mesmo abandonando por tantas vezes, os alunos voltam para a instituição,
caracterizando que apesar de todos os problemas a escola possui credibilidade perante o
aluno.

Como mencionado anteriormente todos os alunos estão matriculados no período


noturno, pois a escola só oferece esta opção, mas para serem dispensado da Educação Física,

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Revista Educar FCE - Março 2019

componente curricular obrigatório, de acordo com a Lei nº 10.793 – de 1 de dezembro de


2003, precisam comprovar que trabalhem de forma formal, através da cópia da carteira
assinada, ou de forma informal por uma declaração dos empregadores, que tenha por mais
de 6 horas diárias. Além disso as mulheres que apresentam filhos e os maiores de 30 anos
são dispensados da atividade. Os alunos que estão servindo o serviço militar, aqueles que
comprovem através de atestado médico a sua inaptidão para atividades físicas e os alunos
portadores de deficiência. Em relação aos 220 alunos, analisamos os que apresentam menos
de 30 anos independente do sexo para ver quais são os motivos que os levam a serem
dispensados da atividade física. Ressalvo que a direção da escola informa que todos os 220
alunos matriculados não realizam a Educação Física, os nascidos a partir de 1986.

Dos alunos matriculados 60% entregaram declaração de trabalho sem comprovação de


estarem trabalhando com os devidos registros e direitos legais, a escola ressalta por meio
da Direção da Escola, que não são verificados a legalidade do documento, a não ser através
de denúncias. Das 9% que apresentam prole, todas são mulheres, uma vez que a legislação
vigente ampara apenas as mães e não os pais. Apenas uma pessoa apresentou atestado
médico para a dispensa da atividade Física.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A análise realizada e apresentada até • “No meu caso foi por causa do
este momento na pesquisa foi realizada por trabalho, na empresa em que estou se não
documentações presente nos prontuários estuda é mandado embora”
dos alunos matriculados na escola. A partir
deste ponto apesentaremos resultados • “Agora que meus filhos estão grandes e
realizados com uma amostra dos alunos sabem se virar sozinhos, vou fazer a minha
em pesquisa informal, durante o estágio parte, pois eles já estão encaminhados”.
realizado, nos meses de fevereiro, março
e abril destes anos vigente em uma escola • “Voltei a estudar por que me separei
da capital de São Paulo, na região leste da de meu marido, antes não podia porque
cidade. ele não deixava, agora posso realizar o
meu sonho de ser professora”.
Por tanto, foram utilizadas três temáticas
ao conversar de forma informar com os • “Voltei a estudar, pois pretendo fazer
alunos: faculdade, quero ter uma vida melhor”.

• Por que revolveu voltar a escola para • “Além de aprendem, voltei para a
concluir seus estudos? escola para ver os meus amigos, conversar,
• O que levou ao atraso escolar? ficar por dentro das atualidades, ter um
• O que pretende fazer após a conclusão momento de prazer”
da Educação básica?
É interessante notar que os motivos que
Dos 220 alunos matriculados, trazem os alunos de volta a escola são vários,
conversamos com 10% dos matriculados, alguns alegam, a satisfação pessoal, outros
em três dias de aula, durante o período do motivos de trabalho, a pretensão em fazer
intervalo. Escolhemos alunos com faixas faculdade e até de socializar com amigos.
etárias diferenciadas.
Partimos para a próxima temática, sobre o
Em relação a primeira temática, sobre atraso no processo e escolaridade:
o porquê de o aluno voltar para a escola,
recebemos as seguintes respostas: • “Estou atrasada em relação a escola,
pois tive que parar para cuidar de meus
• “Voltei a estudar por uma satisfação filhos enquanto o meu marido trabalhava,
pessoal, ficava muito triste quando meu filho mas agora estão todos crescidos e posso
perguntava, até que ano na escola eu tinha voltar a estudar”.
ido, pois naquele momento meu filho estava
na minha frente. Resolvi voltar e estou muito • “Quando eu era criança tinha que
feliz com que estou aprendendo”. trabalhar para ajudar a minha mãe que

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Revista Educar FCE - Março 2019

tinha muitos filhos e o meu pai foi embora de casa, como sou o mais velho tive que parar
de estudar para ajudar a minha mãe”

• “O trabalho foi sempre um grande problema, pois a maioria das vezes o horário do
emprego era no mesmo horário que da escola”.

• “Eu morava na roça e lá não tinha escola, meus pais eram muito pobres e sempre
mudavam de sítios e cada veze ia para mais longe”.

Os apontamentos indicam que o trabalho sempre foi um dos motivos que levam os alunos
a abandonarem a escola, pois precisam optarem ou trabalham e se sustentam ou estudam e
passam necessidades. Outra alegação perante as alunas do sexo feminino é sobre a criação
dos filhos, muitas são mães muito cedo e não há outra alternativa a não ser cuidado com os
filhos.

Sobre a última temática, o que pretende fazer após a conclusão da educação básicas,
tivemos as seguintes respostas:

• “Ainda não sei, pois vai depender das minhas condições financeiras, se eu tiver
condições quero fazer um curso para aprender a falar inglês, acho muito bonito que fala”.

• “Pretendo fazer um curso de Técnico de Segurança do Trabalho ou Logística, acho boa


a profissão”.

• “Quero fazer faculdade para ser professora, este sempre foi o meu sonho e sei que
posso conseguir”
• “Quero conseguir um emprego melhor, com carteira assinada e ter um plano de saúde
para a minha família, pois trabalho hoje sem registro e ganho pouco”,

• “Quero fazer concurso para a Policia Civil!”

A perspectiva sobre a sua formação futura apresenta várias vertentes, uns querem ser
professores, outros fazer cursos técnicos, concursos públicos, mas tem aqueles que não
sabem o que pretende, pois precisam analisar os fatores financeiros.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É preciso considerar o fato de que o professor, quando
se torna comprometido com o aluno e com uma educação
de qualidade, fazendo do aluno alvo do processo ensino-
aprendizagem, e cumprindo seu papel de orientador e
facilitador do processo, legitima assim a teoria de uma
facilitação da aprendizagem, através da interação entre
sujeitos, ultrapassando, desse modo, a mera condição de
ensinar.

No entanto, muitos fatores levam a questionar se esta


prática educativa vem realmente acontecendo de maneira
satisfatória nas instituições. Muitas vezes, as relações entre
os sujeitos acabam por se contrapor, sejam por motivos
econômicos, sociais, políticos ou ideológicos, demonstrando JANINA DOS PASSOS
falhas no cotidiano e lar, bem como limitações quanto BRAGA DE ALMEIDA
à aquisição do conhecimento no processo ensino- Licenciada em Ciências Biológicas, pela
aprendizagem. UNG em 2003, pós-graduada em Gestão
escolar pela FCE em 2018; Professora
Na realidade, a prática docente tem uma parcela não só de Ensino Fundamental e Médio na Rede
significativa na relação professor e aluno, mas quase que Pública Municipal e Estadual.
definitiva em todo o processo. A arrogância didática do
detentor do saber e a “segurança” que o mesmo tem de que
seu poder, seu conhecimento ilimitado são suficientes, pode
produzir um aprendizado equivocado e covarde, uma vez
que este acredita que a culpa é somente do aluno quando os
resultados não condizem com as suas expectativas.

1105
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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1108
Revista Educar FCE - Março 2019

CONTAÇÃO DE HISTÓRIA
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: O presente artigo aborda a importância da contação de história na Educação
Infantil. A valorização desse segmento da educação e o papel do educador vêm se expandindo,
pois com o educador a criança pode aprender a se socializar-se, ampliando suas relações
com o outro e seu modo de entender a vida. Abordaremos nesse trabalho a ampliação que
pode se dar dentro do espaço pedagógico e o trabalho dos professores, podendo ser grandes
instrumentos de aprendizagem. O estudo desse tema possibilita também entender que a
contação de história pode incitar as crianças à praxe da leitura e assim cooperar para a sua
formação social e pessoal num todo.

Palavras-Chave: Contação; História; Criança.

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INTRODUÇÃO Média, surgiram os menestréis que eram


poetas e contadores de histórias de lugares
O objetivo desta pesquisa é ampliar o distantes. Contavam em viva voz, contos
espaço da contação de história nas escolas, que iam criando e recontando por meio de
sendo assim um importante instrumento de outras histórias. Os menestréis entravam em
aprendizagem para a criança, considerando palácios e aldeias, muitos saíram das cortes
os aspectos físicos, a interação, imaginação, e se tornaram errantes, apresentando-se em
sentimentos, percepções e o desenvolvimento diversos locais para a população, e assim,
físico e social. Abordaremos as sobre divulgavam as obras de outros autores.
reflexões teóricas dos autores que servirão
como apoio para a prática desempenhada As histórias eram comunicadas oralmente
pelo educador na Educação Infantil. Iremos e passadas de geração em geração
ressaltar também o quanto é importante as sobrevivendo apenas na memória, passando
crianças ouvirem histórias, pois desenvolvem a dividir o espaço com a escrita, dentro das
a criatividade e a linguagem verbal e corporal. classes dominantes. Com o nascimento da
Apresentaremos a contação de histórias escrita as histórias passaram a ser registradas,
como grande aliada para a aprendizagem da tanto os relatos de eventos, como em relatos
criança e instrumento de destaque para o de eventos imaginados. Os contos populares
professor em sala de aula. deram origem à literatura infantil.

Tahan (1966, p.27) cita que durante o


O CONTEXTO HISTÓRICO DA século XVII, a literatura infantil foi fundada
CONTAÇÃO DE HISTÓRIA como gênero, época em que as modificações
na parte estrutural da sociedade surgiram no
Nas civilizações primitivas as histórias campo artístico.
eram contadas ao redor da fogueira, ou
seja, um episódio sociocultural, por meio do Portanto, os contos foram direcionados à
qual os povos adquiriam suas culturas, suas criança, especialmente na Educação Infantil
tradições e comunicavam-se de forma oral. em torno dos contos de fadas em que a
As histórias, os contos e as fábulas eram psicanálise se voltava para a concepção
realidade e fantasia e com o passar do tempo ideológica da Educação Infantil.
foram se modificando.
Segundo Coelho (1991, p. 140), no século
No entanto, o homem percebeu que XIX, em meio os autores que se destacam
além de entreter-se, a história originava são os Irmãos Griim que agrupam contos de
a admiração e a aceitação das pessoas, fundo folclórico, sentido mais humanitário
fazendo com que o contador de história e extinguindo detalhes violentos e
fosse o centro de toda atenção. Na Idade compreendendo a “moral da história”.

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Várias histórias e contos estão: A Branca de por meio de palavras, lugares e situações
Neve o os Sete anões, A Bela Adormecida, somente o imaginário pode chegar.
Chapeuzinho Vermelho, O Pequeno Polegar.
Afirma Tahan:
A Literatura Infantil Brasileira era marcada
por traduções de aventuras, fábulas e contos, A criança e o adulto, o rico e o pobre, o sábio
enquanto o ensino da leitura geralmente era e o ignorante, todos, enfim, ouvem histórias
focada na Constituição do Império, do código com prazer – uma vez que estas histórias sejam
Criminal, dos Evangelhos, e algumas vezes de interessantes, tenham vida e possam cativar
a atenção. A história narrada, lida, filmada,
um resumo da História do Brasil, onde quem
dramatizada, circula em todos os meridianos,
obtinha o ensino era parte da elite.
vive em todos os climas. Não existe povo algum
que não se orgulhe de suas histórias, de suas
De acordo com a autora no Brasil, esta
lendas e de seus contos característicos. É a lenda
arte de contar história teve sua linhagem a expressão mais delicada da literatura popular.
enraizada entre a comunidade por influência O homem, pela estrada atraente dos contos
do resgate do folclore, presente na cultura e histórias, procura evadir-se da vulgaridade
indígena, nas comunidades quilombolas, cotidiana, embelezando a vida com uma sonhada
nos aspectos artísticos de grupos circenses espiritualidade. Decorre daí a importância das
e teatrais ou na simples disseminação histórias. (p. 15).
das atividades artístico-culturais dos
romanceiros, trovadores, poetas, cantadores Durante séculos a contação de histórias
de viola e carpideira. Pode ser envolta uma eram transmitidas por pais, avós, tios,
típica amostra da cultura popular brasileira. passando por pessoas mais velhas para as
novas gerações, construindo uma ligação
No final do século XX ela surgiu no cinema, afetuosa e cultural.
na televisão e está conquistando a as mídias.
Segundo Tahan, (1966, p. 16) “A história Neste século XXI, a novo formato do
narrada, lida, filmada ou dramatizada, circula contador de histórias passa a ser o monitor
em todos os meridianos, vive em todos os de TV, o CD-ROOM, o DVD, fazendo usos
climas, não existe povo algum que não se da multimídia, da robótica e da Internet. As
orgulhe de suas histórias, de suas lendas e tecnologias podem ainda substituir o homem
seus contos característicos”. com sua perfeição e eficiência, mas não
supre no assunto dos conhecimentos e dos
Durante o século XX, as imagens tornaram- sentimentos expressos espontaneamente no
se a dados indispensáveis nas histórias e momento da contação de história.
uma importante apresentação audiovisual.
A ação de contar histórias permanece
muito importante nos dias de hoje, pois cria

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Segundo Bussatto (2006, p.30): A IMPORTÂNCIA DO


DOCENTE NA CONTAÇÃO
É assim que se apresenta o contador de histórias
do século XXI: O contador contemporâneo
DE HISTÓRIA
agenda e se prepara para a sua apresentação, Segundo Didonet (2001, p. 13),
ajusta-se ao espaço físico, muitas vezes usa primeiramente a instituição de Educação
um figurino que o caracteriza enquanto
era voltada ao assistencialismo. Devido
personagem-narrador aguarda o público entrar,
às mulheres terem que trabalhar fora e a
e só então inicia o espetáculo, em alguns casos
necessidade de deixar seus filhos nesse
permeados por aparatos cênicos.
período, surgiram às creches e pré-escolas,
passando a cumprir os papéis básicos às
No entanto, com a correria do cotidiano, as crianças, o de cuidar e educar.
famílias acabam se dispondo cada vez menos
de tempo para explorar a contação histórias, Enquanto as famílias mais abastadas pagavam
deixando muitas vezes essa responsabilidade uma babá, as pobres se viam na contingência
para a escola. de deixar os filhos sozinhos ou colocá-los numa
instituição que deles cuidasse. Para os filhos das
mulheres trabalhadoras, a creche tinha que ser
Durante um certo tempo, o hábito de
de tempo integral; para os filhos de operárias
contar histórias nas escolas era somente
de baixa renda, tinha que ser gratuita ou cobrar
uma ação de recreação, prazer e momento
muito pouco; ou para cuidar da criança enquanto
de tranquilidade para as crianças, pois a
a mãe estava trabalhando fora de casa, tinha
essência legítima sobre a contação de história que zelar pela saúde, ensinar hábitos de higiene
foi se distanciando no mesmo compasso em e alimentar a criança. A educação permanecia
que a tecnologia foi se aperfeiçoando. assunto de família. Essa origem determinou
a associação creche, criança pobre e o caráter
Assim, a Educação está inovando esse assistencial da creche. (DIDONET, 2001, p. 13).
costume popular, como forma estratégica
para o desenvolvimento da linguagem oral e Ao passar do tempo, o conceito cuidar
escrita, pois se abrange que a concepção do se expandiu aos cuidados intelectuais,
leitor advém pela atividade do escutar e do aprender a ler, escrever, conceitos morais,
recontar. normas, costumes e valores, tornando-
se necessários para o desenvolvimento
cognitivo da criança para assim, conviver em
sociedade. A Educação Infantil se valorizou,
sendo fundamental no desenvolvimento da
criança, pois completa a ação da família e da
sociedade no que diz respeito ao completo
desenvolvimento da criança.

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conhecimentos, mas intermediando a construção


De acordo com Antunes (2006, p. 60), de conceitos e de significações;
com a valorização da Educação Infantil Seja um (a) especialista em jogos, mas que
logo o papel de educador também vem se os descubra não como elemento apenas de
destacando. Com isso, por meio do educador recreação e lazer, mas como ferramenta usada
que a criança terá a menção de socialização, pela mente para explorar todas as inteligências
expandindo suas relações, alargando seu e para transformar de forma significativa a
costume de compreender a vida. maneira de pensar da criança
[...];Que seu olhar sobre o desenvolvimento
[...] em toda educação, o que mais marca é, humano não seja de apenas encanto e jamais de
primeiro, o amor; depois, o exemplo; e, em infantilização, mas de integral comprometimento
terceiro lugar, o ensino, seria essencial que o com a profissão, com as conquistas da ciência e
(a) educador (a) infantil tivesse ilimitado amor a com o trabalho [...]. (ANTUNES, 2006, p. 60).
sua profissão e integral condição de transmiti-
la através de seus atos, seus gestos e de suas
O ato de contar histórias vem ressurgindo
intervenções. Que gostasse muito de crianças e
no campo educacional, abrangendo as
que mostrasse extremamente sensível ao afeto
diversas possibilidades que a contação
que desperta [...] (ANTUNES, 2006, p.60).
de histórias provoca dentro do ambiente
educacional.
O papel de educador deve ser levado muito
a sério, pois a Educação Infantil é considerada O principal objetivo de contar história
um método de formação consecutiva, vai muito além do entretenimento, incita
devendo gostar do que faz e renovar-se a fantasia da criança, abrangendo assim,
a todo o momento, havendo sempre o diferentes objetivos envolvendo a uma
acréscimo da qualidade na educação da pedagogia programada. Pode ser considerada
criança. Em menção aos educadores desse uma tática importante na prática da Educação
segmento da educação, o autor observa que Infantil, proporcionando interação entre as
é necessário que: crianças e o educador em sala de aula. É
uma atividade que potencializa a linguagem
Sejam desafiadores, inquietos, responsáveis e infantil, mexe com a imaginação e auxilia no
sobretudo estudiosos para que se mantenham processo de leitura e escrita da criança.
sempre ao lado dos avanços científicos
da neurologia, pedagogia, psicologia e A contação de história como estratégia
psicopedagogia e que saibam transpor essas
deve desenvolver a aptidão de produção
conquistas para sua ação junto às crianças [...];
e abrangência textual e a criança deve
Dominem estratégias de ensino que possibilitem
entender de forma consciente que os sons
que as crianças ensaiem, estruturem projetos,
anexos às letras são os mesmos da fala e que
façam explorações, elaborem hipóteses,
desenvolvam conjeturas que as ajude a
esses podem ser manipulados. O docente
sair do egocentrismo [...], jamais incutindo precisa compreender a busca da informação

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como algo prazeroso que lhe apresente um que almeja desenvolver o gosto em ouvir
olhar diferente do que tinha anteriormente, e ler. Já que não se pode obrigá-la, mas
buscando por meio de histórias a atenção da descobrir formas de convencer a criança
criança para que no futuro se desenvolvam para que busque a leitura.
gerações de leitores e escritores.

Segundo Abramovich (1991), a ação de A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NA


ouvir contos é o início para a aprendizagem de APRENDIZAGEM DA CRIANÇA
se tornar um leitor. Adaptar esses momentos
didático-educativas constitui habilitar as Durante muitos séculos, a história oral
crianças para que possam expandir todas era usada como recurso de difusão de
as suas potencialidades dentro da língua conhecimentos, costumes, crenças, valores
materna. morais e éticos. A contação de história
abordada em sala de aula pode ser vista
[...] o ato de ler é incompleto sem o ato de necessariamente como diversão, mas ao
escrever. Um não pode existir sem o outro. avaliar podemos conferir que a história sendo
Ler e escrever não apenas palavras, mas ler e descrita, constitui uma relação de troca entre
escrever a vida, a história. Numa sociedade o narrador (educador) e o ouvinte (criança).
de privilegiados, a leitura e a escrita são um
privilégio. Ensinar o trabalhador apenas a
Com base em Capel (2009) que diz:
escrever o seu nome ou assiná-lo na Carteira
Profissional, ensiná-lo a ler alguns letreiros na
Aliados às funções do mito, a atividade teatral, a
fábrica como ‘perigo’, ‘atenção’, ‘cuidado’, para
performance cênica e o teatro contribuem para
que ele não provoque algum acidente e ponha
a compreensão da arte e da história como meios
em risco o capital do patrão, não é suficiente
de interpretação simbólica do mundo. O aluno-
(GADOTTI, 2000, p. 17).
professor-ator mobiliza sua linguagem e sua
sensibilidade, socializa-se. A vivencia teatral do mito,
por sua vez reúne elementos de aprofundamento
Mormente, a literatura oral na sala de aula
dos temas, dinamiza o processo da compreensão
pode ser desenvolvida de múltiplas formas,
dos conteúdos míticos e sua apropriação em
juntamente com as diferentes disciplinas. diversos períodos históricos. (p. 23)
O contato real da criança com o livro e
com a ação de ouvir e contar história deve O hábito de ouvir histórias desde cedo
ser estreada de forma gradual, prazerosa e auxilia a estimular a concentração da criança
afável desde muito cedo. e ao lado com o ambiente de alegria e
interesse pela história, pode-se chegar a
Sobretudo, fazer com que a criança se outros objetivos. Além de aprender, educar,
empenhe pela leitura é um dos objetivos da desenvolver a inteligência insere-se um teor
escola e em especial a contação de história programático ou perceber o que passa na vida

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pessoal da criança, sendo que muitas vezes pode se descobrir contextos que estão incomodando,
aonde a própria criança fala sem medo ou vergonha e com muita espontaneidade.

Portanto é necessário que o educador escolha com muito cuidado e carinho a história
que irá contar à criança. Deve ser apropriada aos materiais do educador e à faixa etária da
criança, em nível que a história trabalha como uma alavanca e tem importância primordial
no processo narrativo.

As instituições de Educação Infantil podem resgatar o repertório de histórias que as crianças ouvem em casa e
nos ambientes que frequentam, uma vez que essas histórias se constituem em rica fonte de informação sobre
as diversas formas culturais de lidar com as emoções e com as questões éticas, contribuindo na construção da
subjetividade e da sensibilidade das crianças. (BRASIL,1998, p.143).

Os contos de fadas são as excêntricas histórias que de maneira simples e peculiar falam
das perdas, abandono, morte, medo fome, violência e baseiam-se nos teores do inconsciente
coletivo, em sentimentos comuns a toda a humanidade, por isso encontramos histórias bastante
parecidas em diversas culturas pelo mundo e em diversas épocas que geralmente expressam
sentimentos complexos de um modo fácil de entender principalmente pelas crianças.

Na contação de história o lúdico é trabalhado para o enriquecimento de procedimentos


criativos e que fortalece a capacidade de interação e criação, formalizando o processo de
identificação da criança com as histórias, onde o mal está tão presente quanto o bem, o
bandido e mocinho, obstáculos a ser vencido, o herói que vence a luta, entre outros. A criança
de alguma forma acaba se identificando, aparecendo escolhas de solução que permita que a
vitória aconteça, mostra a possibilidade de não desistir diante dos desafios.

No modo geral a história leva a criança para um mundo onde as ações dos personagens e
suas aventuras vivenciadas são repletas de significados e proporciona mecanismos para que
enfrente os problemas de maneira saudável e criativa e como lidar com as emoções.

A história grava-se, indelevelmente, em nossas mentes e seus ensinamentos passam ao patrimônio moral de
nossa vida. Ao depararmos com situações idênticas, somos levados a agir de acordo com a experiência que,
conscientemente, já vivemos na história. (TAHAN, 1966, p.22).

O ato de contar história não deve ficar limitado somente nas instituições de ensino, deve
estar também presente no hábito familiar, pois a literatura infantil é algo importante para o
desenvolvimento intelectual e emocional da criança.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse artigo apresentou uma reflexão do uso da contação
de história no dentro do ambiente pedagógico e sua
importância nessa relação entre o educador e a criança no
ensino e aprendizado.

A contação de história é considerada muito importante


na transmissão do conhecimento para as futuras gerações,
emaranhando realidade e fantasia. Mesmo com a constante
modernização, o exercício da contação de história vem
ganhando espaço na educação e sua valorização das
atividades lúdicas.

Quando trabalhada de forma adequada, ela pode cooperar


para o desenvolvimento das diferentes habilidades da JÉSSICA CHEINE
criança, permitindo-a que tenha uma apreensão maior e BENATO LIMA
melhor do mundo, promovendo a conduta social de forma Graduação em Pedagogia pela
independente e crítica. Universidade Metodista de São Paulo
(2010); especialista em Educação Infantil
O primeiro contato de muitas crianças no ambiente pela Universidade Metodista de São
educativo ocorre desde cedo, pois muitas frequentam a Paulo (2012); Professor de Educação
escola ainda muito pequenas. A contação de história e Infantil e Ensino Fundamental I na
uma prática de aprendizado, pois estimula e desenvolve a EMEI Jardim Americanópolis, Prefeitura
imaginação dos educandos. Municipal de São Paulo.

A utilização de contação de história na educação


infantil aborda muitos pontos positivos. Os ouvintes têm a
oportunidade de traçar um caminho infinito de descobertas,
compreensões, diversos vocabulários, sentido crítico,
proporcionando a imaginação. Portanto, o contador tem a
chance de criar e recriar por meio da história um clima ou
situação de resgate da memória, e então, ambos têm uma
aula mais emotiva e participativa.

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REFERÊNCIAS
ANTUNES, Celso. Educação Infantil: Prioridade Imprescindível. Petrópolis: Vozes, 2006.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental.


Brasília: MEC/SEF, 1998.

BUSATTO, Cléo. A arte de contar histórias no século XXI: tradição e ciberespaço. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2006.

CAPEL, Heloisa Selma Fernandes. Mito e Performance: a interface do professor de história.


Goiânia, Projeto, 2009.

COELHO, Nelly Novaes. Panorama histórico da literatura infanto-juvenil. 4. ed. São Paulo:
Ática, 1991.

DIDONET, Vital. Creche: a que veio, para onde vai. In: Educação Infantil: a creche, um bom
começo. Em Aberto/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. v 18, n. 73.
Brasília, 2001.

GADOTTI, M.; FREIRE, P.; GUIMARÃES, S. Pedagogia: diálogo e conflito. 5. ed. São Paulo:
Cortez, 2000.

TAHAN, Malba. A arte de ler e contar histórias. Rio de Janeiro: Conquista, 1966.

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VALORIZAÇÃO DO ENSINO
TÉCNICO INTEGRADO
RESUMO: A integração curricular do ensino médio e técnico e seu impacto na formação
profissional do aluno, realizando também o levantamento histórico da educação profissional,
contextualizando-a com a política pública de educação, a vivencia do ensino integrado médio
e técnico e expectativas dos cursos, desenvolvimento pedagógico e professores do Centro
Paula Souza.(Etec) A intenção é compreender a organização curricular do ensino integrado,
a qualidade da formação do aluno para o mercado de trabalho e a prática da realização do
ensino a importância para os alunos.

Palavras-Chave: Ensino médio, Ensino técnico, Ensino técnico integrado a Médio.

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INTRODUÇÃO mercado de trabalho? Quais as perspectivas


destes alunos?
O Ensino Médio Integrado surge como
uma preparação técnica para a cidadania e Para a escola, basicamente, o currículo é
para a inserção da juventude no mercado de o caminho percorrido pelo professor em sala
trabalho. Porém, é necessária uma análise de aula, ou seja, a organização das disciplinas
para averiguar se a formação que estes alunos e conteúdo para a formação do aluno,
recebem cumpre realmente com este objetivo. baseada em legislação vigente. De acordo
com Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005), o
Ensino Público Brasileiro inserido dentro sentido do termo integrado na formação do
da estrutura capitalista moderna, adquire aluno no ensino técnico integrado ao ensino
características próprias deste modo de médio é da totalidade, na compreensão
produção. Isto é, em uma sociedade flexível, do todo, analisando as partes, a educação
pautada no mercado de trabalho, a educação fica considerada como completude social.
tem que cumprir com a formação dos jovens O ensino integrado busca a formação do
com a finalidade de ocupar futuras vagas aluno englobando o ensino médio e ensino
neste sistema. Esta afirmação está presente técnico, ao mesmo tempo, fazendo com que
na Lei de Diretrizes e Bases de Educação o aluno comece tenhas as competências e
(LDB) do ano de 1996. Consta em seu habilidades necessárias para a inserção no
conteúdo que a formação do 2 Sistema de mercado de trabalho.
Educação deve ser voltada a formação para
o mercado de trabalho e para a cidadania. É
nesta perspectiva, que é publicado o decreto O ENSINO MÉDIO REGULAR
n. 5.154/2004 com o objetivo de inserir uma
nova concepção de ensino médio e educação Mesmo existente desde o início do século
profissional e tecnológica. O Ensino Médio XX, só após a Era Vargas, o ensino médio
Integrado, possui a função de formar os foi caracterizado como ensino de segundo
jovens para executar profissões técnicas, ou grau pela Lei 4.024 de 1961 (BRASIL, 1961),
seja, uma educação profissional integrada também conhecida como a primeira Lei de
a educação básica. Busca-se com esta Diretrizes e Bases da Educação Nacional
lei, superar o antagonismo entre trabalho (LDB). No Art. 33 é caracterizado como “a
intelectual e trabalho manual, com um ensino educação de grau médio, em prosseguimento
pautado na realidade brasileira. Contudo, a ministração na escola primária, destina-se
este tipo de ensino contém problemáticas à formação de adolescente”. Já na década de
estruturais que levam a seguinte reflexão: 1990, foi aprovada a atual Lei de Diretrizes e
a educação está realmente cumprindo com Bases da Educação Nacional – LDB (BRASIL,
seu objetivo, disponibilizando aos alunos um 1996), caracterizando o ensino de segundo
ensino de qualidade que os leve a inserção no grau como ensino médio.

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dos fundamentos científico-tecnológicos dos


A atual LDB (BRASIL, 1996) confere uma processos produtivos, relacionando a teoria com
nova identidade, determinando que o ensino a prática, no ensino de cada disciplina.
médio seja parte integrante da educação
básica. A atual Constituição Federal (BRASIL,
1988) já prenunciava essa concepção, Também no Art. 36 explicita que o
por meio do inciso II do Art. 208 que “a ensino médio é a “etapa final da educação
progressiva extensão da obrigatoriedade e básica” (BRASIL, 1996). Em outras palavras,
gratuidade ao ensino médio”. Após a Emenda cabe a esta etapa da educação básica o
Constitucional nº14/96 (BRASIL, 1996) que aprimoramento das competências básicas,
modificou a redação para “a progressiva situando o educando como sujeito produtor
universalização do ensino médio gratuito”. de conhecimento e participante do mundo
Desta forma, a atual Constituição Federal do trabalho. A Lei 9.394 (BRASIL, 1996)
(BRASIL, 1988) confere a todos brasileiros muda a identidade do ensino médio após
esse nível de ensino como direito de todo a Lei 5.692 (BRASIL, 1971) cujo segundo
cidadão, porém deixando de ser obrigatório. grau tinha a função de preparar para o
O ensino médio, caracterizado como prosseguimento nos estudos e habilitar para
educação básica, no Art.22 da LDB “tem o exercício de uma profissão técnica, em
por finalidades desenvolver o educando, outras palavras, uma formação mais ampla.
assegurando-lhe a formação comum O Art. 1º § 2º da LDB (BRASIL, 1996) refere-
indispensável para o exercício da cidadania se que o ensino médio “deverá vincular-se ao
e fornecer-lhe meios para progredir no mundo do trabalho e à prática social”. Desta
trabalho e em estudos posteriores” (BRASIL, forma, tem como função desenvolver valores
1996). No Art. 35 da LDB (BRASIL, 1996), e competências necessárias à integração
o ensino médio, etapa final da educação de seu projeto individual ao projeto da
básica, com duração mínima de três (3) anos, sociedade em que se situa. Também de dar
terá como finalidades: aprimoramento do educando como pessoa
humana, incluindo a formação ética e o
I - a consolidação e o aprofundamento desenvolvimento da autonomia intelectual e
dos conhecimentos adquiridos no ensino do pensamento crítico. Ainda no que tange o
fundamental, possibilitando o prosseguimento Art. 1º § 2º da LDB (BRASIL, 1996), o ensino
de estudos; II - a preparação básica para o médio continua a preparar e dar orientação
trabalho e a cidadania do educando, para
básica para a integração do aluno ao mundo
continuar aprendendo, de modo a ser capaz de
do trabalho, garantindo competências para
se adaptar com flexibilidade a novas condições
seu aprimoramento profissional, onde o
de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
desenvolvimento das competências o aluno
III - o aprimoramento do educando como
pessoa humana, incluindo a formação ética e
deverá continuar aprendendo, de forma
o desenvolvimento da autonomia intelectual autônoma e crítica, em níveis complexos
e do pensamento crítico; IV - a compreensão de estudos. Hoje, o ensino médio tem a sua

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organização curricular como referência mais reprovação e abandono considerados altos e


importante os requerimentos do exame preocupantes conforme tabela apresentada
para ingresso à educação superior. Os que acima.
chegam ao ensino médio destinam-se, em
sua maioria, aos estudos superiores para
terminar sua formação pessoal e profissional. O ENSINO TÉCNICO
CONCOMITANTE AO
A Constituição Federal de 1988 assegura
que todo cidadão tem o direito do acesso ENSINO MÉDIO
à escola. A Meta 3 do Plano Nacional de
Educação, em vigência desde 2014, busca O curso técnico de nível médio
garantir esse direito e estabelece que todos os concomitante ou subsequente é oferecido
jovens de 15 a 17 anos devem estar na escola a quem já concluiu o ensino fundamental
em 2016. Segundo o indicador calculado e tenha concluído ou estejam cursando no
pelo Todos Pela Educação, a partir dos dados mínimo o segundo ano do ensino médio
da PNAD/IBGE, a taxa de atendimento segundo Resolução 94 (MEC, 2015). O
não apresentou um crescimento constante, ensino técnico inicia-se no Brasil com o
apesar de a porcentagem ter aumentado idealizador Antonio Francisco Paula Souza,
nos últimos 10 anos. Em 2015 a média um dos fundadores da Escola Politécnica.
nacional atingiu a marca de 84,3%, ou seja, Patrono do maior centro de educação
em números absolutos, aproximadamente profissional e tecnológica da América Latina,
8,3 milhões de jovens estavam na escola e o “Centro Paula Souza”, foi um dos mentores
pouco mais de 1,5 milhão de alunos estavam intelectuais e técnicos da educação para o
fora do sistema educacional. trabalho (BATISTA, 2011). Mas a partir de
1964, a educação brasileira foi organizada
A taxa de atendimento oscilou durante os com o objetivo de atender às demandas
últimos anos. De 2009 a 2013, a taxa teve um das transformações na estrutura econômica
crescimento de 0,9 pontos percentuais, e no do país, adequando o sistema educacional
ano seguinte (de 2013 a 2014), diminuiu em 0,7 às necessidades da expansão capitalista. A
pontos. Em 2015, houve uma recuperação e a reforma para o ensino médio foi realizada
taxa cresceu 1,7 pontos. Desse modo, o ritmo através da Lei 5692 (BRASIL, 1971) que
irregular da taxa de atendimento para jovens criou o ensino de primeiro e segundo grau,
de 15 a 17 anos revela que, se mantivermos tornando o último a ser obrigatoriamente
esse comportamento, a meta não deverá ser profissionalizante, o que antes era dividido
cumprida em 2016. Mesmo com a oferta do em sistema propedêutico e profissionalizante,
ensino médio após políticas educacionais tendo o aluno a optar por qual sistema
para ampliação da oferta, os indicadores gostaria de realizar. Em 1972, o Parecer 45
da modalidade apresentam números de (BRASIL, 1972) recolocou a dualidade da

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educação geral e da formação profissional no O ENSINO MÉDIO


ensino médio. A história do ensino técnico INTEGRADO À EDUCAÇÃO
no Brasil pode ser compreendida a partir
do desenvolvimento de forças produtivas PROFISSIONAL
e de relações econômicas, por meio das Após o Decreto 5.154 (BRASIL, 2004),
concepções de trabalho e de cultura que os na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da
grupos sociais produzem. Isto é observado Silva, institui-se a modalidade de ensino
por meio da atual Constituição Federal médio integrado à educação profissional
(BRASIL, 1988) no Art. 205 que cita que a de nível médio. O ensino integrado é um
educação é um direito de todos e dever do sistema que possibilita ao jovem ter uma
Estado e da família e “deve ser promovida e formação integral em um único currículo,
incentivada com a colaboração da sociedade, que vai além daquilo que é necessário para o
visando o pleno desenvolvimento da mercado de trabalho ou para o seu processo
pessoa para o exercício da cidadania e sua de escolarização e formação continuada.
qualificação para o trabalho”. É, portanto, a possibilidade de o aluno
fazer uma escolarização profissional com
Com a atual LDB (BRASIL, 1996) e com uma formação mais sólida. Sob a ótica de
o Decreto nº. 2.208/97 (BRASIL, 1997) os inserção dos jovens no mundo do trabalho,
cursos técnicos profissional de nível médio dados do relatório do MEC – Educação para
passam a ser oferecidos concomitante ou todos no Brasil – 2000 a 2015 mostra que
sequencialmente. Na concepção do MEC, antes do Decreto 5.154 (BRASIL, 2004),
o ensino médio é a etapa final da educação indicam que a população entre 15 e 24 anos
básica, que passa a ter a característica de totalizam 34 milhões de pessoas, sendo
terminalidade. Em 23 de julho de 2004, o que, 55% estão fora da escola e 45% estão
governo federal revoga o Decreto 2.208 à margem do mercado de trabalho. Diante
(BRASIL, 1997) por meio do Decreto deste cenário, a estruturação do ensino
nº. 5.154 (BRASIL, 2004) e define que a médio integrado à educação profissional é
“educação profissional técnica de nível vista como prioridade social, tendo como
médio será desenvolvida de forma articulada desafio assegurar melhores condições de
com o ensino médio” e que esta articulação inserção profissional para jovens egressos do
entre a educação profissional técnica de nível ensino fundamental.
médio e o ensino médio “dar-se-á de forma
integrada, concomitante e subsequente ao No programa federal de implantação
ensino médio”. Após o Decreto nº. 5.154 desta modalidade de ensino (BRASIL, 2004),
(BRASIL, 2004) observa-se, de 2008 a 2013, tem-se que sua finalidade e resultado serão:
que um número maior de jovens está optando integrar-se à gestão da educação nacional,
pela educação profissional antes mesmo da em especial à educação básica, apontando
conclusão do ensino médio. para a integração com o ensino superior;

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Revista Educar FCE - Março 2019

contemplar a participação efetiva dos QUANTO AO INGRESSO


trabalhadores nos espaços decisórios, tendo
em vista a construção de uma nova trajetória O ensino médio no Brasil é a etapa final
para a produção e difusão de ciência e da educação básica e integraliza a formação
tecnologia, de modo a abrir a possibilidade que todo brasileiro deve ter para enfrentar
de que a produção do conhecimento possa com melhores condições a vida adulta. De
ser utilizada em favor de interesses mais acordo com a LDB (BRASIL, 1996), isto
amplos e do atendimento das demandas corresponde a assegurar a todos os cidadãos
materiais que dizem respeito à melhoria das a oportunidade de consolidar e aprofundar
condições de vida da maioria da população os conhecimentos adquiridos no ensino
e redefinição das finalidades e os projetos fundamental.
de educação dos trabalhadores, de modo a
contemplar novas prioridades e alternativas No que se refere às formas de ingresso
que impactem as suas condições de trabalho a LDB (BRASIL, 1996) estabelece que não
e existência. haja idade mínima para o acesso ao ensino
médio regular, no entanto, devido à oferta
Com a implantação desta modalidade obrigatória do ensino fundamental dos seis
de ensino nas escolas públicas, tanto (6) aos quatorze (14) anos, este acesso pode
estaduais como federais, e em escolas ocorrer a partir dos quinze (15) anos de
privadas, o número de matrículas aumenta- idade. Já para o ensino médio integrado além
se consideravelmente em cursos integrados. do ingresso conforme está para o ensino
Segundo dados do Censo Escolar da regular, o Decreto 5.154 (BRASIL, 2004) no
Educação Básica, de 2008 a 2013 houve seu Art. 4º define que a escola irá adotar
um aumento de 513 mil matrículas. Em uma organização didática ao qual o ingresso
2008, 511.679 alunos faziam ensino técnico se dará por meio de processo seletivo.
concomitante ao ensino médio e, em 2013,
esse número foi de 648.366, o que representa O que estabelece a legislação quanto ao
um aumento de 26,7%, todavia, destaca- ingresso Ensino médio regular Oferecido
se também que apesar de uma redução do somente a quem já tenha concluído o
número de matriculados observada em 2010 ensino fundamental Ensino médio integrado
a partir deste ano o crescimento tem sido Oferecido somente a quem já tenha
intensificado, que estes números estejam concluído o ensino fundamental e aprovação
relacionados com a Lei nº. 11.892 (BRASIL, por meio de processo seletivo Ensino técnico
2008) que institui a Rede Federal de Educação concomitante ao ensino médio Oferecido
Profissional, Científica e Tecnológica e cria somente a quem está matriculado, pelo
os Institutos Federais de Educação, Ciência menos, no segundo ano do ensino médio e
e Tecnologia (IFs). aprovação por meio de processo seletivo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Na escola deste estudo, a organização nivelamento dos níveis de aprendizado


didática tratava que para matrículas no de alunos. No item ingresso aos cursos
ensino médio integrado era dado por meio integrados, como o autor mostra, a escola é
de sorteio, visto que possibilitava maior marcada por heterogêneos e diversificados
acesso ao curso. Após a disponibilização interesses, valores e projetos que afetam a
da nova organização didática, o acesso ao sua gestão. Pelo questionário fornecido aos
curso integrado é dado em aprovação por docentes e gestores, acreditam que a forma
meio de processo seletivo. Além disso, de de ingresso ao curso integrado está correta,
acordo com a Lei nº. 12.711(BRASIL, 2012), por processo seletivo com testes de múltiplas
são reservadas, no mínimo, 50% das vagas questões, mas pela visão dos pedagogos e
aos candidatos que cursaram integralmente assistentes sociais, tal meio de ingresso não é
o ensino fundamental em escola pública, adequada, pois não garante o mesmo direito
dentre estas, 50% serão reservadas para de entrada em um curso integrado. Sendo
candidatos que tenham renda per capita assim, diversos interesses e opiniões para
bruta igual ou inferior a 1,5 salário-mínimo um único objetivo, aluno em sala de aula. A
(um salário-mínimo e meio). Das vagas para escola recebe os alunos a partir de diferentes
estudantes egressos do ensino público, os mecanismos de entrada, contudo, na prática
autodeclarados pretos, pardos ou indígenas caberá ao gestor da unidade escolar decidir
preencherão, por curso e turno, no mínimo, como organizar esta realidade frente a
percentual igual ao dessa população, legislações diferentes e, como identificou o
conforme último censo do Instituto Brasileiro questionário, um conjunto de profissionais
de Geografia e Estatística (IBGE) para o com conhecimento limitado frente a estas
Estado de São Paulo, de acordo com a Lei nº. questões. Dito de outro modo, terreno fértil
12.711(BRASIL, 2012). para a anarquia organizada.

Com relação ao ingresso dentro da


escola investigada, a forma de ingresso por ENSINO MÉDIO INTEGRADO
meio de processo seletivo é utilizada de À EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
forma como prevê a organização didática.
Mesmo se algum curso não consegue fechar E TECNOLÓGICA: HISTÓRICO
turma, é realizado outro processo seletivo E PRINCÍPIOS
simplificado, com aplicação de outra prova
ou até mesmo é feito uma chamada pública Como observa Ciavatta (2012, p. 83),
para alguns cursos técnicos concomitantes/ continuamente são criados novos termos
subsequentes. Com as duas últimas formas para expressar novas realidades ou para
de ingresso, os cursos que utilizaram de tal projetar ideologicamente novas ideias que
modo de ingresso apresentam problemas esperamos se tornar realidade. Formação
de evasão e a constante preocupação em integrada é um exemplo disso. Com relação

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Revista Educar FCE - Março 2019

à EPT, o referido termo está presente no Dessa maneira, a concepção de formação


Decreto nº. 5.154, de 23 de julho de 2004, integrada possibilita a superação da dualidade
que regulamenta o parágrafo 2º do artigo 36 histórica da educação brasileira: para uns, a
e os artigos 39 a 41 da Lei nº. 9.394/96, que elite dirigente, uma formação propedêutica
estabelece as diretrizes e bases da educação preparatória para o nível superior; para
nacional. Conforme o artigo 4º do Decreto os demais, a maioria da sociedade, uma
nº. 5.154/04, “a educação profissional educação voltada para a formação de mão-
técnica de nível médio (...) será desenvolvida de-obra destinada a atender as necessidades
de forma articulada com o ensino médio”. do mercado capitalista. Temos, assim, uma
O parágrafo 1º desse Artigo define as divisão social do trabalho que Didática
formas pelas quais se dará essa articulação: e Prática de Ensino na relação com a
“integrada, oferecida somente a quem já Sociedade EDUECE - Livro 3 01945 separa
tenha concluído o ensino fundamental (...)” a ação de executar (o trabalho manual) das
ou “concomitante, oferecida somente a quem de pensar, dirigir ou pensar (o trabalho
já tenha concluído o ensino fundamental ou intelectual). A integração entre o ensino
esteja cursando o ensino médio (...)” (BRASIL, médio e a EPT sugere um rompimento com
2004, grifo nosso) o dualismo estrutural da educação brasileira
e fundamenta-se na concepção de trabalho
Mas o que significa integrar? Nos como princípio educativo no sentido de que
dicionários da língua portuguesa, o verbo este forma trabalhadores capazes de atuar
integrar é considerado como o mesmo como dirigentes e cidadãos. Pode-se afirmar
que completar, inteirar, incorporar, unir-se que a ideia de ensino médio integrado tem
formando um todo harmonioso, fazer entrar como alicerce uma literatura cujos expoentes
num conjunto ou num grupo. No âmbito são Marx, Gramsci, Lukács dentre outros.
da educação, o termo é comumente usado Portanto, é na educação socialista que
quando nos referimos às múltiplas mediações encontramos a origem remota da formação
históricas que concretizam os processos integrada como destaca Ciavatta (2012, p.
educativos. Para Ciavatta: 86). No Brasil, o fortalecimento da ideia de
integração entre a formação geral e a EPT
No caso da formação integrada ou do ensino se dá no cenário político dos anos 1980,
médio integrado ao ensino técnico, queremos marcado pelas críticas ao tradicional dualismo
que a educação se torne geral se torne parte da sociedade e da educação brasileira e pelas
inseparável da educação profissional em todos lutas em prol da democracia e em defesa da
os campos onde se dá a preparação para o
escola pública. É nesse quadro que ocorre
trabalho: seja nos processos produtivos, seja nos
a elaboração da Constituição de 1988 e,
processos educativos como a formação inicial,
alguns anos após, a criação da nova LDB que
como o ensino técnico, tecnológico ou superior
respalda a possibilidade de integração. Os
(2012, p. 84).
anos 1990 foram marcados por uma política

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educacional que estabeleceu o divórcio entre a ciência Didática e Prática de Ensino


o ensino médio e a educação profissional na relação com a Sociedade EDUECE -
(MOURA, 2013, p. 152), porém, o novo Livro 3 01946 compreendida como os
século se inicia com mudanças políticas conhecimentos produzidos pela humanidade
trazidas pela eleição do Presidente Lula que, que possibilita o contraditório avanço
em 2004, através do Decreto nº. 5.154/04, produtivo; e a cultura, que corresponde
não apenas tornou possível a integração, mas aos valores éticos e estéticos que orientam
também revogou o Decreto nº. 2.208/97, as normas de conduta de uma sociedade.
que impedia essa prática. Após esse breve (RAMOS, 2007, p. 04)
histórico sobre a ideia de formação integrada
na educação brasileira, torna-se necessário O trabalho é percebido como parte
apresentarmos as concepções e princípios do processo de formação e de realização
dessa integração que, segundo Ramos (2007; humana e não apenas como uma prática
2010) seriam: 1- a formação unilateral; econômica que se vende, tal qual ocorre na
2- a indissociabilidade entre educação sociedade capitalista. Ele é a ação humana de
profissional e educação básica; 3- a integração interação com a realidade para a satisfação
de conhecimentos gerais e específicos de necessidades e produção de liberdade.
como totalidade. São pressupostos que Nesse sentido, trabalho não é emprego,
se “diferenciam significativamente do que mas produção, criação, realização humanas.
se vem configurando como uma natureza Compreender o trabalho nessa perspectiva
profissionalizante dessa etapa da educação é compreender a história da humanidade,
básica”. (RAMOS, 2010, p. 54) O primeiro as suas lutas e conquistas mediadas pelo
sentido expressa uma concepção de conhecimento humano. (RAMOS, 2007;
formação humana, com base na integração 2010) Ao agir sobre o meio material o homem
de todas as dimensões da vida no processo se diferencia dos animais pois, ao contrário
formativo, quais sejam: o trabalho, a ciência destes últimos, ele “faz da sua atividade vital
e a cultura: um objeto de sua vontade e consciência.
(...) reproduz a natureza, o que lhe confere
A integração, no primeiro sentido, liberdade e universalidade”. Ao assim
possibilita formação unilateral dos sujeitos, proceder, o homem produz conhecimento
pois implica a integração das dimensões que “sistematizado sob o crivo social e por
fundamentais da vida que estruturam um processo histórico, constitui a ciência”.
a prática social. Essas dimensões são o (RAMOS, 2010, p. 48-49) Essa concepção
trabalho, a ciência e a cultura. O trabalho de formação unilateral vê a cultura num
compreendido como realização humana sentido ampliado, como a articulação
inerente ao ser (sentido ontológico) e entre o conjunto de representações e
como prática econômica (sentido histórico comportamentos e o processo dinâmico de
associado ao respectivo modo de produção); socialização, constituindo o modo de vida de

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uma população determinada. (RAMOS, 2010, estes não podem aguardar a conclusão dos
p. 49) O segundo princípio da integração, a seus estudos para só depois ingressar em
indissociabilidade entre educação profissional uma atividade econômica. Para ela, “a forma
e educação básica, aponta para a necessidade integrada do ensino médio à educação
de profissionalizar jovens e adultos para o profissional na sociedade atual apresenta-se
mundo do trabalho. Simões (2007) destaca como condição necessária para a travessia
que diante do cenário brasileiro do trabalho em direção ao ensino médio politécnico e
informal e do subemprego, a formação à superação da dualidade educacional, em
técnica, mesmo subordinada aos interesses busca da efetiva transformação da estrutura
do capital, tem assumido uma importância social”. Ademais, afirma Ramos (ibidem, p. 11):
para a emancipação e o desenvolvimento O ensino técnico é uma experiência na qual
pessoal e coletivo de jovens trabalhadores. os jovens, ao se relacionarem com a técnica
Na sua pesquisa sobre jovens de camadas e a tecnologia – ciência materializada em
populares que realizaram cursos técnicos, força produtiva – apreendem o significado
esse autor conclui que: formativo do trabalho, não no sentido
moralizante que sustentou as políticas
O Ensino Técnico articulado com o Ensino Médio, educacionais no início no século XX, mas
preferencialmente Integrado, representa para a sob o princípio ontológico de que a plena
juventude uma possibilidade que não só colabora formação humana só pode ser alcançada
na sua questão da sobrevivência econômica e à medida que o ser desenvolve suas
inserção social, como também uma proposta
capacidades de decisão e ação sustentadas
educacional, que na integração de campos do
pela unidade entre trabalho intelectual e
saber, torna-se fundamental para os jovens na
manual. O terceiro sentido da formação
perspectiva de seu desenvolvimento pessoal e
integrada, a integração de conhecimentos
na transformação da realidade social que está
inserido. A relação e integração da teoria e prática,
gerais e específicos como totalidade, rompe
do Didática e Prática de Ensino na relação com com a fragmentação do conhecimento
a Sociedade EDUECE - Livro 3 01947 trabalho e a hierarquização deste impostas pelo
manual e intelectual, da cultura técnica e a cultura paradigma positivista. Uma visão cartesiana
geral, interiorização e objetivação vão representar da ciência leva-nos a compreender que
um avanço conceitual e a materialização de uma disciplinas como história, geografia, física,
proposta pedagógica avançada em direção à química, biologia, dentre outras, fornecem-
Politécnica como configuração da educação nos as teorias, enquanto que as disciplinas
média de uma sociedade pós-capitalista. especificamente técnicas as aplicam na
(SIMÕES, 2007, p. 84). prática. Assim, teoria e prática tornam-se
campos separados e até oponentes. (...)
Para Ramos (2007, p. 10-11), enquanto o nenhum conhecimento específico é definido
Brasil for um país marcado pela exploração como tal se não consideradas as finalidades
capitalista da mão-de-obra dos trabalhadores, e o contexto produtivo em que se aplicam.

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Como afirma Ramos (2007, p. 15-16), a historicidade dos fenômenos e do conhecimento


dá vida aos conteúdos de ensino e representa o movimento da humanidade Didática e Prática
de Ensino na relação com a Sociedade EDUECE - Livro 3 01948 em busca do saber. Ela
expressa a capacidade humana de produzir conhecimentos e tomar decisões quanto ao seu
próprio destino, tornando-se sujeito e não objeto de uma trama social que desconhece. Além
disso, permite-nos ver a nós mesmos como intelectuais e como potenciais dirigentes dos
rumos que nossas vidas e que a sociedade pode vir a tomar. Essas reflexões são necessárias
no ensino médio porque ele é uma etapa fundamental na formação dos sujeitos, haja vista
a relação que se manifesta entre ciência e forças produtivas. É no ensino médio que os
sujeitos estão fazendo escolhas, dentre estas, está a formação profissional.

INGRESSO EM ESCOLAS TÉCNICAS


Para reforçar essa afirmação, há o Decreto de lei n. 5.154/2004, que prevê no artigo
4º, § 1º, inciso I – Integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino
fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional
técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, contando com matrícula única
para cada aluno (BRASIL, 2004, sn). As Escolas Técnicas Estaduais do Centro Paula Souza
que oferecem a modalidade de ensino técnico integrado ao ensino médio, apresentam
o currículo corresponde à união da formação geral, referente à Base Nacional Comum e
formação técnica profissional. Em diversos eixos tecnológicos, o ensino integrado busca
atender o mercado de trabalho nas diversas áreas, devido à formação completa oferecida
ao aluno, conforme regimento comum das escolas técnicas. Artigo 35: § 1º - Na Educação
Profissional Técnica de Nível Médio na forma integrada, o curso será desenvolvido de modo
a assegurar, simultaneamente, o cumprimento das finalidades estabelecidas para a formação
geral e as condições de preparação para o exercício de profissões técnicas, observada a
legislação vigente (CEETEPS, 2013, p. 9 e 10). À partir do ano de dois mil e dezesseis todas as
escolas técnicas estão oferecendo o Ensino Técnico Integrado ao Ensino Médio, em diversas
habilitações profissionais.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Metodologia da Integração O ensino-aprendizagem, na
forma de oferecimento do Ensino Técnico Integrado ao Ensino
Médio, deverá priorizar a integração, em todos os sentidos,
entre a Formação Profissional (Ensino Técnico) e a Formação
Geral (Ensino Médio), de modo a otimizar o tempo e os
esforços de professores e alunos e os recursos disponíveis,
para o objetivo comum de trabalhar as competências
conjuntamente, de tal modo que elas se complementem e
se inter-relacionem, por meio de projetos interdisciplinares
e de diferentes tipos de atividades, nas quais as habilidades,
conhecimentos e valores desenvolvidos nos componentes
curriculares referentes à Formação Geral (Ensino Médio)
sejam contextualizados e exercitados nas práticas da
formação profissional. Os componentes curriculares da JÉSSICA KASTEIN
Formação Geral (Ensino Médio) devem prover a Formação RODRIGUES
Profissional (Ensino Técnico) com as Bases Científicas Graduação em Física pelo Centro
necessárias ao desenvolvimento das Bases Tecnológicas Universitário Dr. Hermíno Ometto –
requisitadas pela formação profissional, e as atividades UNIARARAS – (2015); Graduação em
práticas dos componentes profissionalizantes devem ser Pedagogia pela Universidade Estadual
encaradas, também, como laboratórios de experiências Paulista – UNESP – (2013); Especialista
para demonstração de teorias científicas na área das várias em Administração da Educação com
Ciências e da percepção. Ênfase no Ensino pela Faculdade Campos
Elíseos – FCE - (2018); Professor de

As expectativas de aluno que inicia um curso integrado se Educação Básica – Física - na ETEC

torne um cidadão apto atuar na sociedade como profissional Tenente Aviador Gustavo Klug

na área de escolha do aluno. Por exemplo se ele escolheu


cursar o ensino integrado a técnico em Administração este
aluno, após a conclusão do aluno em 3 anos tempo duração
do curso, além das disciplinas da base comum, ele também
adquira os conhecimentos específicos do curso para estar
apto para mercado de trabalho. Durante os cursos a maioria
das escolas técnicas no caso na escola do estado SP(Etec),
na realização do curso é ofertado oportunidade de estagio,
podendo ser remunerado ou não dependendo a empresa,
fazendo que este aluno se envolva com os processos, e
consequência disso o mercado de trabalho, a escola também

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Revista Educar FCE - Março 2019

realiza com alunos visitas técnicas no curso de Administração a visita acontece em empresa
onde vai ver todos os setores da empresa, (produção, logística, compras, financeiro o
processo total até chegar ao consumidor final )este aluno terá um contato maior entre teoria
e pratica, mostrando qual a realidade do mercado de trabalho optou em cursar.

As vantagens de cursar o técnico integrado, tendo como objetivo e proporcionar um


cidadão responsável, ético e profissional, porque além das competências e das habilidades
que convém ao curso, seguindo o matriz curricular, também temos os valores e atitudes que
são trabalhados com alunos, buscando solidariedade, respeito, igualdade. Os professores
desenvolve projetos extra classes como por exemplo: gincana, festa junina, teatro, arrecadação
de alimentos, arrecadação produtos higiene, ração para os animais, isso é feito em parceria
com alunos pra desenvolver estes projetos social, pois o foco das escolas incentivar os alunos
no trabalho social.

O aluno ou futuro aluno quando opta em escolher curso integrado, deve ter a consciência
que terá um ensino vai proporcionar uma maior qualidade de aprendizado, por amplia o
leque de conhecimento, criando um ponte entre matérias da base comum e as disciplinas
técnicas, então de acordo com curso escolhido a série e ano, podendo até cursar dezessete
matérias no decorrer do ano letivo, uma das desvantagens sobrecarrega este aluno, e senão
tiver focado no seu futurado, não saberá lidar com isso, e por outro lado se tiver focado as
consequências são ser uma pessoa organizada, principalmente relacionada o tempo, o curso
exigira maior tempo dedicação, maior tempo de estudo, responsabilidade, contribuindo para
este adolescente se torne adulto responsável e profissional.

As escolas técnicas do estado SP (Etec), oferecem os cursos todos gratuitos, então o aluno
ao concluir o curso terá formação do médio além de uma formação técnica profissional.
Todos os cursos são realizados e oferecido de acordo, com as competências e habilidades
referentes aos cursos, visando valores e atitudes e bases tecnológicas nas disciplinas técnicas.

1130
Revista Educar FCE - Março 2019

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1133
Revista Educar FCE - Março 2019

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Esta monografia tem como objetivo avaliar a importância da Educação Infantil
na vida das crianças e como este espaço pode ser um ambiente alfabetizador. É importante
percebermos que a Educação Infantil e a Alfabetização são ações efetivas dos educadores
alfabetizadores, introduzindo a leitura e a escrita nessa importante etapa, tema central os
espaços que podem ser utilizados na escola para o ensino aprendizagem e propiciar diferentes
oportunidades dentro do espaço escolar, e em locais diversificados, a fim de buscar melhorar
a qualidade desse conhecimento fazendo com que ele seja o mais satisfatório possível. A
opção metodológica foi pela pesquisa bibliográfica.’

Palavras-Chave: Educação Infantil. Ambiente Alfabetizador. Alfabetização.

1134
Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO local, pela alegria da mudança e pelo prazer


de interagir com o meio onde está.
O ambiente escolar é um espaço no qual
grande parte das crianças passa seu tempo, Neste contexto, o objetivo desta
é um dos lugares que permitem e produzem monografia é apresentar uma proposta
a socialização e a aprendizagem. A estrutura de conhecer os espaços da escola para se
física da escola, assim como sua organização, tornarem ambientes alfabetizadores, sendo o
manutenção e segurança revelam muito professor o principal agente desta atividade,
sobre a vida que ali se desenvolve e sobre as buscando alternativas dentro da própria
possibilidades de uso de seus vários espaços instituição e não apenas na sala de aula ou
para mediar e auxiliar o processo de ensino nos ambientes tradicionais.
aprendizagem.
Bem como a compreensão da contribuição
A organização do espaço físico e dos da alfabetização para o processo ensino
ambientes devem ser de forma acolhedora, aprendizagem, sabendo que não se pode
contribuir para tornar mais prazeroso o deixar de lado o letramento, pois anda junto,
processo que ali acontece, este espaço deve independente se é na educação infantil ou
ser considerado como um espaço físico qualquer outro nível de ensino. Conceituar,
e pedagógico, adaptado e pensado para entender, analisar e valorizar a contribuição
atividades diferentes e significativas. da alfabetização para o processo de ensino
aprendizagem são os objetivos deste
Nas atividades cotidianas que ocorrem texto, pois eles fazem parte do ambiente
no ambiente escolar o espaço deve ser alfabetizador.
organizado para dar possibilidades e oferecer
um “ambiente alfabetizador”, repleto de ALFABETIZAÇÃO E
materiais que o auxiliam em sua prática, ele LETRAMENTO NA
deve ser tão útil quanto os outros ambientes,
como o parque, biblioteca, refeitório entre EDUCAÇÃO INFANTIL
outros. Antes de pensarmos no ambiente
alfabetizador importa termos clareza da
O professor, de acordo com seus projetos singularidade da leitura, na construção e
e objetivos, pode escolher esses ambientes reconstrução deste espaço.
para desenvolver várias atividades, que
poderão ou não passar a fazer parte de sua A leitura não pode ser resumida ao
rotina semanal, como jogos, leituras, aulas simples fato de decodificação, ela é muito
de arte, expressão corporal, etc. Buscando mais profunda, saber juntar letras não das
sempre espaços onde a criança possa estar crianças leitoras, tampouco letrados, dessa
socializada e instigada pela novidade do forma são decodificadores de conteúdos, a

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Revista Educar FCE - Março 2019

A palavra letramento é uma tradução para o


leitura deve apresentar sentido e mudança, português da palavra inglesa literacy; que significa a
ser instigante, estimulante e proporcionar o condição de ser letrado, ou seja, é o que caracteriza
desenvolvimento de ser autônomo, integrado a pessoa que domina a leitura e a escrita, é aquele
a sociedade, que é letrada, pois em todos os que não só sabe ler e escrever, mas também faz
lugares a leitura é presente. uso competente e frequente da leitura e da escrita
(TFUNI, 2006, p. 37).
Podemos ler tudo a nossa volta, a criança
pequena também, pois não só a escrita, mas Ser letrado e tomar posse da leitura e da
a imagem, o gesto, o olhar, a paisagem, enfim escrita, ser integrado a ela é muito mais que
o espaço, lemos quando percebemos que alfabetização, é o estado ou condição de
alguém está triste, bravo, feliz ou alegre. quem interage com diferentes portadores
de leitura e de escrita, com diferentes
O conceito letramento, ainda precisa ser gêneros e tipos de leitura e de escrita,
muito trabalhado, o ato de ler precisa ser com as diferentes funções que a leitura e a
desmistificado, para que possamos despertar escrita desempenham na nossa vida. Enfim:
nas crianças a sede do prazer da leitura. letramento é o estado ou condição de quem
se envolve nas numerosas e variadas práticas
Conforme Soares (2002) sociais de leitura e de escrita.

Não se ensina uma criança a ler, é ela quem se ensina Segundo Ferreiro e Teberosky (2001)
a ler com a ajuda de seus professores, colegas, vivemos numa sociedade letrada, com
instrumentos da aula, pais e de todos os leitores linguagem oral e escrita e dependemos
encontrados, nesse ponto é que temos dificuldades, da leitura para a convivência, pois quando
na estimulação da criança, ela aprende observando.
saímos pela cidade deparamos com letreiros,
placas, jornais, rótulos. A criança convive
Os conceitos de alfabetização e com isso desde cedo, portanto o letramento
letramento utilizados por TFUNI (2006) são chega primeiro do que a alfabetização, ou de
definidos da seguinte forma: “Alfabetização entrar na escola, pois convive com leitura,
é a ação, de alfabetizar, de tornar “alfabeto”, escrita tanto em casa como na comunidade
para letrado: “versado em letras, erudito; em que vive.
iletrado”, já para palavra letramento, que
ainda é um termo novo, segundo esta autora A alfabetização na vida das crianças e
apareceu pela primeira vez no livro de Mary sua contribuição para o processo ensino
Kato “No mundo da escrita: uma perspectiva aprendizagem e a importância que ela tem
psicolinguística”, de 1986; onde a palavra desde o primeiro contato com a leitura e
letramento foi utilizada várias vezes pela escrita são fundamentais.
autora.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Desta forma, a escola se torna espaço e aceitar que a criança já vem para a escola
ambiente para a criança juntamente com o com conhecimento do meio em que vive.
professor e a família, devem ser mediadores
do processo de ensino aprendizagem da Cabe ressaltar que a função pedagógica da
criança. Enfatizar a construção de uma Educação Infantil envolve o favorecimento
metodologia que prioriza o papel do aluno, de novas aprendizagens, considerando as
da família e do professor/leitor. Bem como crianças como parte da totalidade que as
de todas as pessoas partindo da importância envolve. Todas as atividades desenvolvidas
que têm a alfabetização não deixando de nessa etapa de ensino precedem, de alguma
lado o letramento. forma, a aprendizagem das técnicas de
leitura e escrita e, sem dúvida, beneficiam o
A alfabetização e o letramento realmente processo de alfabetização.
estão ligados, desse modo os educadores – nós
- devemos buscar um melhor entendimento Conforme ABRAMOVAY e KRAMER
para as práticas das metodologias citadas, cabe (1987):
a escola repensar sua atuação e auxiliar seus
educadores nas dúvidas pertinentes ao assunto. Se as atividades realizadas na pré-escola enriquecem
as experiências infantis e possuem um significado
Conforme SOARES (2012), uma teoria real para a vida das crianças, elas podem favorecer
coerente para a alfabetização deverá o processo de alfabetização, quer em nível do
reconhecimento e representação dos objetos e das
basear-se em um conceito desse processo
suas vivências, quer a nível da expressão de seus
suficientemente abrangente para incluir a
pensamentos e afetos (ABRAMOVAY; KRAMER,
abordagem “mecânica” do ler/escrever, o
1987, p. 37).
enfoque da língua escrita como um meio de
expressão/compreensão, com especificidade
e autonomia em relação à língua oral, e, A alfabetização é definida por Soares
ainda, os determinantes sociais das funções (2004) como “a ação de ensinar/aprender
e fins da aprendizagem da língua escrita. a ler e a escrever”. Isto é, de acordo com
ela, uma pessoa alfabetizada é aquela que
A escola é um espaço que não deve ser “adquiriu as tecnologias do ler e escrever
somente uma transmissora de conhecimento de modo a envolver-se nas práticas sociais
tradicional, mas, sobretudo, um lugar onde se de leitura e escrita”. Compreendemos que
criam condições para tomada de consciência ser alfabetizado traz consequências sobre
critica voltado para a compreensão da o indivíduo, alterando o seu estado ou
realidade social, a fim de transformá-la. condição social, uma vez que “a introdução
da escrita em um grupo até então ágrafo tem
A alfabetização e o letramento devem sobre esse grupo efeitos de natureza social,
fazer parte do trabalho do professor ao cultural, política, econômica, linguística”

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Revista Educar FCE - Março 2019

(SOARES, 2004). O “estado” ou “condição” Esses conceitos envolvem ações distintas,


que o indivíduo ou grupo social passa a ter mas processos que se complementam, pois,
sob o impacto dessas mudanças é que é assim como afirma a autora:
designado por letramento (SOARES, 2004).
O ideal seria alfabetizar letrando, ou seja, ensinar
Portanto, ao pensarmos sobre o a ler e a escrever no contexto das práticas sociais
letramento é “o estado ou condição que da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se
adquire um grupo social ou um indivíduo tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado
(SOARES, 2004).
como consequência de ter-se apropriado da
escrita e de suas práticas sociais” (SOARES,
2004). Socialmente estamos permeados pela
escrita, essas duas atividades fazem parte do
Para Kleiman (1995), o letramento pode contexto de muitas crianças que convivem,
ser definido, hoje, como “um conjunto de em maior ou menor grau, dependendo de
práticas sociais que usam a escrita, enquanto seu meio social, com atividades e material de
sistema simbólico e enquanto tecnologia, leitura e escrita. Com essa convivência, tanto
em contextos específicos e para objetivos a alfabetização quanto o letramento são
específicos”. construídos e desenvolvidos antes mesmo
de chegarem às instituições de educação
Então, compreendemos que a alfabetização infantil.
pode ser entendida, como a aprendizagem
da leitura e da escrita. Refere-se ao processo A esse respeito, Ferreiro e Teberosky
de apropriação e compreensão do sistema (2001, p. 42-43) afirmaram que:
de escrita que leva o aluno a ler e a escrever
com autonomia. O letramento, por sua vez, As atividades de interpretação e de produção de
refere-se à aprendizagem dos usos sociais das escrita começam antes da escolarização, como
atividades de leitura e escrita, quando assim parte da atividade própria da idade pré-escolar;
for exigido em determinadas situações, de a aprendizagem se insere (embora não se separe
dele) em um sistema de concepções previamente
modo a atender às necessidades demandadas
elaboradas e, não pode ser reduzido a um conjunto
por elas.
de técnicas perceptivo motoras.

Segundo Soares (2009, p. 7):


As crianças convivem com material escrito
Na impossibilidade de determinar que a palavra e vivenciam experiências de uso da escrita
alfabetização passe a significar, não só a nos mais variados contextos. Com isso,
aprendizagem do sistema alfabético, mas também favorecem a construção do conhecimento
a aprendizagem dos usos sociais e culturais desse em torno do código oral e escrito e o seu uso
sistema, é que a “invenção” da palavra letramento
nas diversas ações.
tornou-se necessária.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Ao se referir aos diferentes níveis e tipos


de letramento que uma pessoa pode atingir, De acordo com o autor, é necessário
Soares (2004) afirma que, tanto em relação à mostrar às crianças a função social da
leitura quanto à escrita, esses níveis podem leitura e da escrita, ou seja, a importância
variar de acordo com as necessidades, e o funcionamento da escrita em nossa
demandas do indivíduo e do seu meio, além sociedade. Para isso, o desenvolvimento de
do contexto social e cultural a que pertencem. algumas atividades que possibilitam inserir
as crianças em um contexto amplo, rico,
Diante disso, ao ingressarem na educação fecundo e permeado de múltiplas linguagens,
infantil as crianças já possuem certo grau de as quais, automaticamente, as levarão para a
letramento. Em alguma medida, este pode, a linguagem escrita, é essencial na educação
partir de então, ser desenvolvido juntamente infantil.
com as atividades de leitura e escrita que se
realizam nessa etapa do ensino, dependendo Segundo Filho:
do objetivo trabalho da professora, ou seja, do
direcionamento dado por ela em sua prática, Fazer um gesto, um desenho, uma pintura, uma
promover condições ao desenvolvimento gravura, um movimento, uma dança, uma escultura,
desse processo. uma maquete, brincar de faz-de-conta, decifrar
rótulos, seriar códigos, ouvir histórias, elaborar listas,
discutir impressões de notícias de jornal, elaborar
Essas atividades relacionadas à linguagem
cartas, trabalhar com receitas, realizar visitas a
escrita desenvolvidas na Educação Infantil
bancos, museus, e supermercados e interagir com
“enriquecem as experiências infantis e
gibis, livros, poesias. Parlendas, ouvir música, enfim,
possuem significado real para a vida das
a interação com as diferentes linguagens é essencial
crianças; elas podem favorecer o processo e antecede às formas superiores da escrita (FILHO,
de alfabetização” (ABRAMOVAY; KRAMER). 2009, s/p).

A alfabetização, segundo Filho (2009), “é Para ele, na educação infantil, a leitura e


um processo complexo e que não tem idade a escrita devem permanecer intimamente
para acontecer, sobretudo se entendermos relacionadas à oralidade e às experiências
que a alfabetização não se dá pelo treino das culturais das crianças, fazendo que a aquisição
habilidades de “decodificação” e “codificação” do código escrito seja compreendida como
de códigos”. Nesse sentido, a alfabetização atividade de expressão, comunicação e
na fase da educação infantil deve considerar registro de experiências.
a leitura e a escrita como instrumentos
culturais, complexos e interligados às Soares (2009) afirma que os rabiscos,
diferentes experiências sociais e culturais os desenhos, os jogos, as brincadeiras de
que permeiam o mundo infantil (FILHO, faz de conta representam a fase inicial da
2009). aprendizagem da língua escrita. Inclusive,

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Revista Educar FCE - Março 2019

atividades presentes nessa etapa de ensino de educação infantil, deve-se trabalhar o


por seu caráter lúdico como a repetição letramento, fazendo que:
de parlendas, a brincadeira com frases
e versos trava-línguas e as cantigas de As crianças tenham a liberdade de
roda constituem passos em direção à expressão e que possam experimentar as
alfabetização. Isso porque tais atividades múltiplas linguagens, como a música, a dança,
propiciam o desenvolvimento da consciência artes, leituras da literatura infantil clássica
fonológica, aspecto fundamental para a e brasileira, histórias em quadrinhos, jogos,
compreensão do princípio alfabético. Além brinquedos e brincadeiras e tantas outras
disso, quando as crianças de 4 e 5 anos (SOUZA, 2008, p. 277).
de idade são incentivadas por meio de
atividades adequadas e de natureza lúdica Soares (2009) salienta que a leitura
num ambiente “no qual estejam rodeadas de frequente de histórias para crianças é
escrita com diferentes funções: calendário, a principal e indispensável atividade de
lista de chamada, rotina do dia, rótulos letramento na educação infantil, uma vez
de caixas de materiais didáticos etc.”, elas que essa atividade “leva a criança a se
poderão apresentar evolução em direção familiarizar-se com a materialidade do texto
ao nível alfabético muito rápido (SOARES, escrito”, além de enriquecer o seu vocabulário
2009). e proporcionar o “desenvolvimento de
habilidades de compreensão de textos
Souza (2008), referindo-se ao letramento escritos, de inferência, de avaliação e de
no contexto infantil, afirmou que o trabalho estabelecimento de relações entre fatos”
realizado em sala de aula deve oportunizar (SOARES, 2009).
aos alunos todo o tipo ou vários tipos de
linguagens escritas e orais, como: “livros Conforme essa autora, a leitura de
infantis, receitas, culinária, bulas de remédio, histórias deve ser acompanhada por
jornais, revistas, cartas, bilhetes, rótulos estratégias adequadas de leitura. Além disso,
e tudo que lemos e escrevemos da nossa é importante que as crianças tenham acesso
realidade”, que podem ser caracterizados a diferentes gêneros textuais e a diferentes
como atividades de letramento. portadores de texto.

De acordo com essa autora, deve-se De acordo com estes autores utilizados
estimular a criança a participar ativamente no embasamento teórico a educação
do processo de construção da leitura e da infantil deve desenvolver a alfabetização e o
escrita constituinte do seu meio sociocultural, letramento nessa etapa de ensino, é possível
bem como trabalhar as práticas sociais da perceber a indissociabilidade desses dois
leitura e da escrita (SOUZA, 2008). Por isso, processos. Soares (2009) afirmou que: “Na
desde que as crianças chegam à instituição educação infantil devem estar presentes

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Revista Educar FCE - Março 2019

tanto atividades de introdução da criança Criar um ambiente alfabetizador é


ao sistema alfabético e suas convenções – organizar a sala de aula de maneira que em
alfabetização – quanto as práticas sociais da cada classe de alfabetização deve ter um
leitura e da escrita: o letramento”. canto ou área de leitura, onde deve conter
vários tipos de material escrito, como
Considerar o desenvolvimento das jornais, revistas, gibis, dicionários, folhetos,
habilidades de leitura e escrita num processo panfletos, embalagens, rótulos, receitas
de inserção no contexto das práticas médicas, etc. Quanto maior for variedade,
sociais da leitura e da escrita. Isso remete mais adequado para realização de variadas
ao questionamento das concepções de atividades de exploração, classificação, busca
alfabetização e letramento das educadoras, de semelhanças e diferenciação. A presença
pois elas determinam o seu fazer pedagógico da variedade de material é fundamental onde
e, com isso, a proeminência desses processos se realiza uma ação alfabetizadora.
na aprendizagem infantil.
Este ambiente alfabetizador, para as
Portanto, o letramento e a alfabetização crianças é fundamental principalmente as
estão presentes nas atividades que permeiam que em seu cotidiano não convivem com
toda a educação infantil. uma multiplicidade de situações de uso da
linguagem escrita, dessa forma contribuindo
Após a breve reflexão sobre os para que essas crianças tenham experiências
conceitos de alfabetização e letramento e oportunidades da construção do
para compreendermos um pouco mais conhecimento da linguagem escrita.
sobre o nosso desenvolvimento cognitivo,
verificaremos neste capítulo o é ambiente Para ser utilizado um ambiente
alfabetizador, no nosso caso especifico nos alfabetizador na sala de aula, é preciso
espaços da escola. ter conhecimento, pois sem nenhum
conhecimento mais aprofundado do que isso
Em princípio as crianças, são sujeitos de realmente significa, os resultados não serão
conhecimento que crescem em comunidades satisfatórios, não adianta ter uma variedade
letradas, com código escrito, constroem de textos sem saber o que fazer com eles.
conhecimento sobre a leitura e a escrita,
antes que seja ensinada sistematicamente, O que deve ser feito com esse material,
e as explorações das crianças com relação além de disponibilizar num canto da sala, é
à escrita e à leitura, e neste processo ter uma construção de um todo, para ser um
elas vão criando sentidos e se tornando ambiente alfabetizador, incluído os materiais,
“naturalmente” usuárias da língua escrita, essa construção vai acontecer através das
Emília Ferreiro propôs o que passou a ser interações que o professor vai realizar entre
denominado como “ambiente alfabetizador”. as crianças e esses materiais, e propondo

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Revista Educar FCE - Março 2019

situações para a utilização da linguagem do Ensino Fundamental para nove anos e


escrita. instituiu a obrigatoriedade do ingresso das
crianças nas escolas aos seis anos de idade.
O educador que tem como finalidade
principal a aprendizagem de seus alunos. Esta reorganização do ensino fundamental
Deve proporcionar uma sala de aula que lhes de nove anos que inclui crianças de seis anos
permita ter acesso a diversos tipos de cultura nesta modalidade de ensino na qual deverá ser
escrita, com os quais possam interagir. alfabetizada, ou seja, ler, escrever e produzir
textos com autonomia e desenvoltura.
Uma das funções estabelecidas pelos
Parâmetros Curriculares Nacionais para Anteriormente a LDB 9394/96 enfatiza
língua portuguesa é levar o aluno a “utilizar que “cada município, e supletivamente, o
a linguagem escrita de modo atender as Estado e a União, deverá matricular todos os
múltiplas demandas sociais, responder educandos a partir dos sete anos de idade
a diferentes propósitos comunicativos e facultativamente, a partir dos seis anos
e expressivos e considerar as diferentes no ensino fundamental”, ou seja, incluir
condições de produção de discurso”, ou seja, crianças de seis anos na escola e ampliar de
que o aluno além de alfabetizado, faça uso oito para nove anos de duração a Educação
da leitura e da escrita em práticas sociais. Fundamental. Em 2006, pela Lei 11.274
ocorre a alteração da redação dos artigos 29,
A partir dos anos 80, houve uma 30, 32 e 87 da LDB 9394/96, organizando
transformação no conceito de aprendizagem desta forma o ensino fundamental para nove
da escrita e da leitura. Ao invés de se anos, com matrícula obrigatória das crianças
preocupar “como se ensina”, o foco passou a a partir dos seis anos de idade.
ser “como se aprende”.
O contato com a língua escrita acontece
Anteriormente as crianças ingressavam desde a infância, os próprios pais, mesmo
nas escolas apenas aos 7 anos, e tinham um inconscientemente, facilitam o processo
contato mais direto com a cultura escrita a de aprendizagem na medida em que
partir desta idade. As histórias eram contadas proporcionam o contato com diversos
oralmente, não valorizando o material portadores de texto.
escrito. Hoje há uma grande diversidade de
livros infantis, especialmente elaborados A criança cresce em meio a uma sociedade
para crianças em processo de alfabetização. letrada, e está em contato com a linguagem
A educação brasileira passou nos últimos escrita por meio de diferentes portadores
anos por processos de significativas de texto como livros, jornais, embalagens,
mudanças, sobretudo no ano de 2006, com revistas, cartazes, placas de ônibus, entre
a Lei nº 11.274/06, que ampliou a duração outras.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O grande desafio do educador é alfabetizar O ambiente alfabetizador, portanto, deve


letrando, ou seja, proporcionar interações ser organizado de forma que se constitua
com a cultura escrita de forma que o aluno uma ferramenta de aprendizagem, e que
faça uso social da linguagem escrita. inclua diversos gêneros textuais, os quais
devem estar acessíveis e permitir uma
Para compreender melhor o termo interação com os mesmos.
alfabetizar letrando, é necessário definirmos
o que é alfabetizar e o que é letramento, Tal ambiente não valoriza apenas a
conforme elaboramos no capítulo anterior, aparência, o material escrito deve estar
alfabetizar é simplesmente ensinar a leitura relacionado com as atividades desenvolvidas,
e a escrita, o domínio do funcionamento de acordo com as necessidades dos alunos,
do sistema alfabético, ou seja, saber ler e o que possibilita as crianças construírem seu
escrever convencionalmente. Letramento próprio conhecimento, e, neste processo
é utilizar a escrita e a leitura em práticas dinâmico de aprendizagem, o professor é o
sociais. mediador.

Segundo o Referencial Curricular para O ato de ler e escrever não são inatos ao
Educação Infantil, as crianças que são ser humano e depende de um período de
provenientes de famílias que a leitura e a aprendizagem, passando da alfabetização
escrita são marcantes, apresentam maior para a escrita e da escrita para a capacidade
facilidade para lidar com as questões da de leitura.
escrita, do que aquelas que não têm este
modelo de praticas de leitura em seu lar. Antes de entrar na escola as crianças
já interagem com múltiplas formas de
Conforme Teberosky (2003) um ambiente textos, mas é no início da alfabetização
alfabetizador “é aquele em que há uma que elas passam a interagir de maneira
cultura letrada, com livros, textos – digitais mais sistematizada, tornando-se capazes
ou em papel – um mundo de escritos que de conhecer estruturas diversas, linguagens
circulam socialmente. A comunidade que usa específicas, regras; exemplo: por que escreve,
a todo o momento esses escritos, que faz para que, para quem, quando acontece o
circular ideias que eles contêm, é chamada fato, onde, como se escreve. O texto escrito
alfabetizadora”. Permitindo desta maneira, se apresenta como objeto cultural dentro ou
a inserção da língua escrita no cotidiano da fora da escola e, por esta razão, precisa ser
criança, seja por meio de revistas, jornais, objetivo e apresentar singularidade.
gibis, livros, cartazes, das palavras na lousa,
ou de situações cotidianas, como outdoors, Segundo a autora ler não implica apenas
letreiro de ônibus ou metrô, caixas eletrônicos em que o leitor apreenda o significado, e
entre outros. sim, que consiga trazer para o texto lido

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Revista Educar FCE - Março 2019

a visão e experiência que possui, implica los. Por esta razão, os materiais escritos,
na interação direta entre leitor e texto, sejam os das prateleiras da biblioteca ou
permitindo elementos para a construção de os disponíveis em sala de aula, devem estar
novos textos. sempre ao alcance das crianças.

O aluno não lê para aprender a ler, lê para É imprescindível que o professor escolha
atingir objetivos, para viver e interagir com os materiais de forma criteriosa, para
os outros, estimular o lúdico, ampliar os garantir qualidade e atratividade, facilitando
esquemas cognitivos através de pesquisas e a compreensão das crianças. Este processo é
projetos criados. possível, através de materiais de linguagem
simples, com clareza de ilustrações e
A criança desenvolverá interesse pela sentidos, características de previsibilidade
leitura e escrita através da percepção de do texto, níveis de repetições.
sua importância. Os materiais precisam
fazer sentido para o seu mundo e trabalhar, A troca do material em um ambiente
simultaneamente, diversos aspectos, desde alfabetizador é o que mostrará o
a leitura e escrita até a sistematização e desenvolvimento do trabalho. Logo, os
reflexão dos conceitos abordados. materiais que permanecem sem troca, ao
longo do processo de aprendizagem provam
As crianças ao serem expostas à um que não foram usados como ferramentas
mundo letrado, passam a fazer a leitura de ensino, mas simplesmente como objetos
de signos mesmo que ainda não saibam decorativos. Já, os materiais que são trocados
ler convencionalmente, são capazes de periodicamente provam seu valor funcional
reconhecer a marca do refrigerante predileto, e sua riqueza como recurso educativo.
assim como a marca do produtos consumidos Teberosky (2003) reforça a riqueza dos
em casa, por exemplo. textos extracurriculares e a importância do
“ambiente alfabetizador” rico em diversos
Segundo Teberosky (2003), os materiais, sem restrições. Assim as crianças
professores possuem a responsabilidade podem interagir com o seu mundo dentro
de criar um ambiente alfabetizador rico e fora da escola, “a leitura é um objeto do
em materiais apropriados, levando em mundo e no mundo”.
conta o conhecimento prévio das crianças,
garantindo um trabalho contínuo e gradativo É necessário que os educadores
para o processo de aprendizagem. percebam que as crianças não aprendem
a ler e escrever apenas por que vêem os
A disponibilidade e acomodação dos outros lendo e escrevendo. Elas só obterão
materiais escritos determina o nível de este interesse uma vez que sentirem-se
interesse que as crianças terão em manuseá- estimuladas, criando experiências, tateando

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Revista Educar FCE - Março 2019

o objeto de estudo, traçando possibilidades


com os objetos que o meio lhe oferece. Mas O fato de estar exposto ao mundo
também existe a necessidade de adultos- escrito não lhe atribuirá o conhecimento
condutores que sejam capazes de estimular e a aprendizagem, mas é interagindo e
suas curiosidades e ajuda-los a conduzirem participando desse processo que terá
este processo de forma sistematizada. condições de avançar na aquisição do
conhecimento.
Uma sala de aula não se caracterizará
um ambiente alfabetizador por conta dos E o conhecimento não é algo que vem de
materiais que o compõe, mas sim, pelas ações cima para baixo, mas sim adquirido com as
voltadas para a leitura e escrita. O professor trocas de experiências, através das vivências
que se mostra leitor, lendo e escrevendo com o outro e com o meio. E é justamente
aos seus alunos, fará com que seus alunos esse meio que pode fazer a diferença quando
entendam a importância e complexidade se trata de atribuição de significado, ou seja,
destes atos e sintam-se cada vez mais no ambiente, no espaço proporcionado.
estimulados e desafiados a descobrirem as
funções sociais e culturais da linguagem. Moreira (2007) afirma que:

Ao pensar em ambiente alfabetizador, O ambiente de aprendizagem escolar é um


imediatamente visualizamos às salas de aulas lugar previamente organizado para promover
completamente ilustradas com cartazes, oportunidades de aprendizagem e que se constitui
alfabeto, figuras, numerais, livro didático de forma única na medida em que é socialmente
construído por alunos e professores a partir das
e as atividades pedagógicas propostas
interações que estabelecem entre si e com as
diariamente.
demais fontes materiais e simbólicas do ambiente
Em um passado não muito distante,
(MOREIRA, 2007, p. 32).
acreditávamos que a aprendizagem
acontecesse seria necessário cartilha, As salas e espaços não podem ser
método silábico, quadro e um professor à desinteressantes, e sim, atrativos e vise além
frente ministrando e articulando tudo isso do aspecto cognitivo, o social, o afetivo, o
ao mesmo tempo e estava aí a receita pronta psicomotor.
e acabada de um aluno alfabetizado.
Considerando esse ponto de vista, a escola
Hoje percebemos que isso só não basta deve ser um local onde a aprendizagem possa
e não atinge o verdadeiro significado do ser acontecer de forma sistematizada e coesa
alfabetizado, é preciso mais, pois somente a considerando as necessidades do aluno. O
sala de aula abarrotada de textos e outros ambiente onde é ministrada grande parte das
diversos não garantirão o sucesso das aulas planejadas, nem sempre é aquele que
crianças. vai conseguir alcançar os objetivos almejados.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Com relação à estrutura de uma escola, percebemos que ela é composta por várias
dependências e muitas têm disponíveis além das salas de aulas: pátios, quadra de esportes,
biblioteca, brinquedoteca, auditório, refeitório, parque infantil.

Cada espaço citado é destinado à sua funcionalidade e propósitos que fazem com que
a escola caminhe para exercer seu papel na sociedade. E sendo assim, o espaço destinado
à sala de aula por si só, nem sempre garante a aprendizagem significativa que tanto as
crianças necessitam e é preciso analisar as possibilidades existentes ao redor e constatar
que há condições da criança aprender em um espaço que até então não era visto para esta
finalidade.

Quando a escola tem condições de oferecer todos esses espaços para o favorecimento
da aprendizagem atuando de forma positiva na construção do conhecimento, a tarefa de
ensinar e mediar se torna mais fácil e menos desgastante tanto para os alunos quanto para
o professor, pois trata-se de um ambiente riquíssimo com várias possibilidades e condições
de se alcançar os objetivos pretendidos.

Para Souza (2005):

(...) a oportunidade de estar em um ambiente planejado e cuidado para elas, pensando de forma humanizadora,
buscando ser um espaço de promoção da vida, do crescimento, do desenvolvimento e da aprendizagem, sem perder
de vista que isso terá também consequências positivas para todos os demais atores envolvidos nesse processo de
promoção/construção da qualidade, no âmbito da instituição educativa e das famílias dessas crianças (SOUZA, 2005,
p. 122).

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com tantos recursos e opções mais atraentes para as
crianças que existem atualmente, a escola precisa ser
a melhor delas, os ambientes alfabetizadores onde são
desenvolvidos trabalhos diversificados, dinâmicos, atrativos,
contextualizados, significativos para que de fato ocorra
uma aprendizagem verdadeira, no qual haja interesse em
novas descobertas, busca pelo desconhecido e isso só será
realmente possível se a criança perceber essa intenção por
parte da escola e do professor, que é a peça fundamental
nesse processo.

O professor é responsável por fazer com que a criança


tenha necessidade de ir para escola, de ter a certeza que JOCESLAINE GOMES
naquele ambiente ele encontra respostas para muitas CAMPOS
perguntas e de maneira prazerosa, pois talvez, este seja o
Formada em Pedagogia atua na rede
lugar mais acolhedor que a criança conheça. pública da Prefeitura do Município de São
Paulo há dois anos.
Esta monografia apresenta de forma simples o ambiente
alfabetizador como cativante, aconchegante, instigante,
inspirador, incentivador, capaz de consolidar, afirmar e
reafirmar conceitos ou simplesmente por abaixo, toda e
qualquer conclusão que se tenha encontrado, fazendo com
que a criança retome novamente de onde parou e recomece
do principio se necessário for.

Apresentamos aqui como os ambientes alfabetizadores


precisam ser antes de tudo, apresentados às crianças, não
como mais um espaço disponível, mas como “o lugar”, do
saber, do aprender, do criar, do produzir, da troca, e da
construção do conhecimento.

1147
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Revista Educar FCE - Março 2019

ASPECTOS EDUCACIONAIS
BRASILEIROS E A FORMAÇÃO
PARA A CIDADANIA
RESUMO: A educação no Brasil nem sempre foi para todos. Durante a maior parte da história
nacional, o foco de ensino foi a formação de uma pequena elite intelectual. Durante os
vários momentos políticos brasileiros, a perspectiva educacional moldou-se de acordo com
a filosofia mercantilista, o que interferiu diretamente nos objetivos e conteúdos das práticas
pedagógicas. Tais práticas envolvem peculiaridades docentes, e dentre elas, podemos
destacar os tipos de avaliações. A avaliação também é um mecanismo de aprendizagem e
deve ser usado como tal, ou seja, em prol do desenvolvimento do educando. Durante muito
tempo a avaliação foi executada de modo classificatório e excludente. A proposta de uma
avaliação contínua e formativa leva a observância do desenvolvimento global do discente e
tem por objetivo formar o cidadão em seus vários aspectos e não apenas classificá-lo. Desta
forma, a verdadeira avaliação deve constituir-se em um instrumento de ensino e aprendizado.

Palavras-Chave: Avaliação, Instrumento de Ensino, Metodologia, Didática

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO (Quatro anos de escolaridade) tinha


condições de conseguir um emprego.
No início da colonização pelos
portugueses, o Brasil era um ambiente Em 1968 começou pelo rádio o MOBRAL
multilíngüe, pois além da língua portuguesa – Movimento Brasileiro de Alfabetização e
européia, havia várias línguas indígenas em foi dado um dos primeiros passos em busca
uso. A propagação dos valores e da cultura da universalização do ensino.
dos povos ameríndios dava-se de forma oral.
É preciso salientar que os esforços em prol
Os Jesuítas iniciaram a catequese dos da educação foram progressivos e apoiados
índios e com isso, o ensino no Brasil. Desde em leis relativas à educação, promulgadas nos
os primórdios a educação de qualidade já era anos de 1961, 1971 e 1996, porém muitas
privilégio de uma elite colonizadora. questões ainda precisam ser melhoradas para
que o país alcance qualidade na educação.
Em 1808, com a vinda da corte portuguesa
ao Rio de Janeiro, os horizontes educacionais Dentre os quesitos que influenciam
foram aumentados, mas ainda possuíam um diretamente o aprendizado e a formação para
teor elitista. a cidadania, temos a avaliação como ponto
chave, pois ela pode desencadear motivação
Apenas na década de 1930, tivemos ou desistência no educando.
os primeiros movimentos em prol de uma
educação em maior escala, mas ainda A partir deste enfoque, é preciso rever
imperava o caráter excludente, pois tais os conceitos, âmbitos e impactos que os
protestos não contemplavam o ensino de métodos avaliativos causam nos discentes
Jovens e Adultos (Aqueles que não tiveram e no sistema educacional no mundo atual e
acesso aos estudos na idade ideal.) e não globalizado.
davam conta da universalização educacional.

Em 1945, após a Segunda Guerra Mundial, AS LEIS DE DIRETRIZES


começou a busca por uma educação formal e E BASES DA EDUCAÇÃO
com um pensamento positivista em relação
ao ensino. BRASILEIRA E OS
MOMENTOS SÓCIO-
No Brasil a educação teve um grande CULTURAIS
impulso com a Industrialização, pois até
1970 não se exigia o diploma para o ingresso Os objetivos educacionais seguem os
no mercado de trabalho, desta forma, quem princípios de formação do indivíduo para
cursava o ensino chamado de “primário” a cidadania e vida em sociedade, porém,

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Revista Educar FCE - Março 2019

encontramos focos diferentes em cada O jargão muitas vezes utilizado de


momento histórico. “Educação para Todos”, deveria ser
modificado em “Educação de qualidade para
A primeira vista, todos convergem para um Todos”, pois apesar da relativa correção no
mesmo ponto, mas à medida que analisamos fluxo de alunos no ensino fundamental,
o modus operandi pedagógico de cada época, a sociedade enfrenta o baixo índice de
fica claro que as ideologias dominantes e qualidade do ensino público na etapa básica.
as tendências do mercado capitalistas são Mais uma vez, percebemos que o quesito
marcantes na esfera educacional. avaliativo é de fundamental importância,
para que tenhamos condições de visualizar
No Brasil, podemos destacar três a realidade do sistema educacional.
momentos marcantes para o sistema Somente com base nas informações obtidas,
educacional, pois as promulgações das LDBs poderemos agir em prol do novo tipo de
(Leis de Diretrizes e Bases da Educação) nos discente que encontramos na comunidade
anos 1961, 1971 e 1996 mudaram os rumos global.
educativos de seu tempo.
A problemática encontrada no aprendizado
Cada lei, durante sua vigência, moldou o durante a educação básica, influi diretamente
tipo de conteúdo, método e foco do processo na qualidade do ensino superior. Alunos
de ensino-aprendizagem e deixou profundas vindos do ensino médio, com baixa capacidade
marcas em suas relativas gerações de alunos. de abstração, com grandes defasagens de
habilidade leitora e deficiência redacional
Quesitos como modo avaliativo, (Principalmente argumentativa) constituem
conteúdos, método, e ainda o tipo de relação um desafio aos professores e instituições de
entre professor e educando constituem-se ensino superior. analisar cada uma das três
em um nó estratégico na escola, pois podem LDBs, poderemos ter um panorama mais
agir de forma a moldar, excluir e mecanizar amplo sobre os paradigmas educacionais
em vez de formar os alunos para a vida em que agem sobre os estudantes universitários
sociedade. brasileiros. Por que é preciso englobar todos
os momentos educacionais? Exatamente
Cada tipo de LDB, agiu de acordo com porque no ensino superior encontramos
seu momento social, histórico e político, o jovem recém saído do ensino médio e
e podemos usar alguns aspectos para também o adulto proveniente dos modelos
caracterizá-las, dentre eles, podemos de ensino anteriores a LDB 9394/96.
destacar a relação entre o “saber “, sua
motivação e seu tipo. Em todos os momentos, poderemos
observar que os alunos passaram por
fases de condicionamentos psicológicos

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Revista Educar FCE - Março 2019

positivos e negativos. A todo o tempo, é O método avaliativo era totalmente


notório a importância do fator relacional, classificatório e quantitativo, o que
entre o professor, o aluno, o conteúdo, o desprezava qualquer forma de desvio ao
método e o tipo avaliativo. Através destes mensurado pelo ranking ou score alcançado
vieses poderemos traçar um paralelo entre pelo aluno. As “provas” tornaram-se um
os períodos de vigência das três leis que meio de controle e até mesmo punição a
disciplinaram o sistema educacional. comportamentos indesejados.

Desta forma, a avaliação na escola


A LDB 4024 de 1961: tradicional tornou-se uma ferramenta de
exclusão. O aluno que não se adequava ao
A lei 4024/61 que disciplinou por molde, automaticamente era colocado a
uma década os parâmetros educacionais margem do sistema através de repetências.
brasileiros teve várias peculiaridades. Ela foi
caracterizada pela Tendência Liberal e pela Apesar dos atuais esforços para modificar
Concepção Tradicional. a maneira em que a avaliação é praticada,
os docentes e a própria escola encontram
O modelo da escola tradicional foi o mais dificuldades em implantar outro tipo de
aplicado na maior parte da história ocidental sistema.
desde o século XVIII. Seus aspectos são
alvo de várias críticas, incluindo muitos Na LDB 4024/61 desprezava o
parâmetros apresentados por Michel conhecimento do aluno, de maneira que
Foucault, em seu livro “Punir e Vigiar”. apenas os do professor eram válidos, isso
configurava a relação vertical entre professor
O foco era totalmente centrado no e aluno.
professor, que “transmitia” o conhecimento
aos alunos. Os educandos eram considerados Na lei falava-se de preceitos de igualdade
como receptáculos e eram dispostos em propagados pela revolução francesa mas
fileiras e com tendência passiva. na prática, a exclusão estava presente. O
primeiro fator preponderante é que não
O método de ensino valorizada a havia vagas para todos e o critério de seleção
memorização, o que levava a uma era uma prova de admissão. O segundo
mecanização, uma busca por modelos pré- argumento era que os jovens e adultos que
estabelecidos e por homogeneidade. Esse não tiveram chance de estudar na idade
desprezo pelas diferenças causou exclusão, própria, também não tinham o direito de
não apenas nos aspectos sociais, mas cursar a escola pública.
também cognitivos.

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No momento político entre 1961 (Data A LDB 5692 de 1971


da lei) até 1971, encontramos os primórdios
do regime militar e a formação de uma Na década de 1970 imperava no Brasil o
população consciente de seus direitos não regime militar, que controlava com mão de
era premissa educacional. ferro as questões políticas e administrativas
do país. Esse controle também foi sentido no
Para o mercado de trabalho, era necessário sistema educacional.
que o candidato tivesse apenas os quatro
anos iniciais de estudo, o chamado primário. A nação encontrava-se no ápice do
processo de industrialização, que ainda que
Percebemos que desde a primeira lei de tardia, exigia mão de obra qualificada.
diretrizes e bases da educação, os interesses
mercadológicos capitalistas estavam A LDB 5692/71 estendeu a escolaridade
envolvidos nos rumos e objetivos do ensino. obrigatória do ensino público para oito
anos (Primeiro Grau), com a possibilidade
A formação para a vida era apenas de o aluno cursar o Segundo Grau, porém,
um conceito reservado para a elite, que mediante ingresso por meio de admissões.
dominante, investia na formação de seus
filhos. Este conceito elitista pode ser A fundamental implementação desta lei
encontrado até os dias atuais, uma vez que foi a instituição do ensino técnico, que visava
no século XXI, encontramos maior acesso a formação de mão de obra para o mercado de
vaga, porém, não podemos dizer a mesma trabalho industrial.
coisa no que se refere à educação de
qualidade para todos. Também podemos considerar que para a o
governo militar, a formação de uma mão de
Além dos quesitos sócio-econômicos, obra proletária era muito interessante, pois
muitos aspectos podem ser apontados para criando uma classe “operária”, desprovida de
este problema, e podemos citar o fato de pensamento crítico, os embates ideológicos
que professores que estudaram em escolas seriam menores.
tradicionais, encontram dificuldades e
ensinar de maneiras diferentes, em relação Ao contrario da década anterior, em que
àquelas que aprenderam enquanto alunos. o mercado de trabalho exigia apenas quatro
anos de estudos, agora, a demanda era por
A escola tradicional, de certa maneira, oito anos mínimos de escolaridade e quem
ainda está presente nas escolas e academias possuía o ensino técnico tinha melhores
brasileiras, tanto nos métodos, como condições salariais.
principalmente nos modos avaliativos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Assim, no Brasil, criaram-se as escolas A formação para a cidadania e para a


técnicas, e como exemplo, podemos destacar complexidade não foi um dos objetivos reais
as unidades educacionais fundadas no deste momento a educação brasileira.
Estado de São Paulo, como o SENAI, SESI e
posteriormente a ETEC.
A LDB 9394 de 1996
O foco e o valor continuavam sobre o
professor, mas agora, a “técnica” também Embasada nos preceitos da Constituição
era de extrema importância. O aluno não era Brasileira de 1988, a LDB 9394/96, propunha
valorizado e tampouco seus conhecimentos um sistema educacional que atendesse as
prévios, porém, primava-se pela reprodução necessidades de uma formação voltada para
das técnicas de trabalho. a complexidade da vida em sociedade.

Foram implantados os modelos americanos Trouxe aspirações de um ensino focado


de Fordismo e Tailorismo nas empresas, mas nos desafios esperados para o século XXI,
tais paradigmas, também formam interpostos como os apontados por Jaques Delors, em
no sistema educacional. seu relatório sobre educação para UNESCO.

Podemos fazer uma comparação simbólica Delors apontou como sendo quatro pilares
entre a linha de produção industrial e o sistema educacionais os fatores:
educacional, pois cabia a escola produzir material
humano para alimentar a crescente demanda do • Aprender a aprender;
mercado capitalista por mão de obra. • Aprender a fazer;
• Aprender a conviver;
Mais uma vez, a mecanização do ensino e • Aprender a Ser;
a implantação de modelos pré-estabelecidos
de conduta e aprendizado causaram exclusão, Teoricamente, o objetivo educacional é a
castração intelectual e defasagem cognitiva formação para a cidadania e a preparação
entre os estudantes provenientes da Elite e para a complexidade da sociedade global,
da massa popular. mas infelizmente, ainda notamos a força
do mercado capitalista por traz das bases
A LDB 5692/71 foi de Tendência Liberal educacionais. Prova disto é a necessidade
e Concepção Tecnicista, mas reproduziu os para o campo do trabalho da escolaridade
mecanismos da escola tradicional. mínima de ensino médio e da gradativa
tendência de exigência de ensino superior.
A avaliação manteve-se embasada em
padrões quantitativos, classificatórios e com A LDB 9394/96 também é marcada
modelos prefixados. pela visão de uma educação em favor

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dos excluídos, pois designa modalidades UM NOVO CONCEITO


específicas para o atendimento de jovens e EDUCADIONAL OU APENAS
adultos que não tiveram oportunidade de
estudar, em prol das comunidades indígenas UMA CAMUFLAGEM PARA O
e também dos alunos com necessidades ANTIGO SISTEMA?
educacionais especiais.
Para Luis Carlos de Freitas, a Lei 9394/96
A concepção de ensino deixou de ser possui uma máscara construtivista, mas uma
focada no professor e na técnica e voltou-se base constituída pelo neoliberalismo, com
para as necessidades dos alunos, ou seja, o escolas funcionando de maneira tradicional
educando passou a ser valorizado, através da e excludente.
teoria construtivista.
A lógica social da escola é a qualidade
Assim, a educação passou a ser de para todos, de acordo com os moldes da
tendência progressista e concepção atual LDB, mas como aplicar este idéia se os
construtivista, e uma de suas bases, é a próprios estudantes são desiguais?
valorização dos conhecimentos prévios dos
educandos. Uma das inovações encontradas na lei
9394/96 é que os sistemas de ensino podem
A LDB 9394/96 trouxe muitos avanços, usar a progressão continuada como forma
mas hoje, após mais de uma década de de seqüenciar os diversos estudos. Freitas
vigência, também é foco de muitas críticas, critica esta progressão quando salienta que
tanto em suas concepções, como também os conteúdos continuam fragmentados
em seus métodos pedagógicos, como por em séries e não em ciclos reais de
exemplo os processos de avaliação. desenvolvimento.

Mais uma vez a avaliação tornou-se um Este problema faz com que em vez de
ponto estratégico, que deve ser ponderado progressão continuada o sistema fique preso
com cuidado, pois caso não seja usada em em um formato de progressão automática,
prol da aprendizagem, tornar-se-á mais uma que impossibilita a qualidade de ensino-
vez em uma ferramenta de exclusão. aprendizado para todos.

Outro quesito controverso, novamente


recai sobre a avaliação, que ainda permanece
fixada em critérios classificatórios, agora
associada a valores, competências e
habilidades.

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Deste modo, a escola não se demonstra Paulo Freire, em seu Livro Pedagogia da
voltada para valores progressistas, uma Autonomia, define várias características
vez que suas bases continuam fixadas em importantes para os professores, e dentre
paradigmas tradicionais que constituem a elas, podemos destacar:
gênese da exclusão.
• Rigorosidade Metódica;
O CONSTRUTIVISMO E SUAS • Necessidade de pesquisar;
INTERPRETAÇÕES • Respeito aos saberes dos educandos;
• Rejeição a qualquer forma de
Na década de 1980, quando as primeiras discriminação;
noções do construtivismo foram implantadas • Respeito à autonomia do educando;
nas escolas brasileiras, os professores não • Humildade, tolerância e luta pelos
entenderam a proposta em suas particularidades. direitos dos educadores;
• Disponibilidade para o diálogo;
Os docentes interpretaram que o • Saber escutar;
construtivismo seria primado a partir da • Convicção de que a mudança é
simples exposição e contato dos alunos possível;
com o objeto de ensino, eximindo o
professor de maiores responsabilidades.
Essa interpretação errônea da teoria AS FORMAS AVALIATIVAS
construtivista fez com que toda uma geração
fosse prejudicada. Assim, fica claro que a avaliação é um nó
estratégico na educação e pode desencadear
Cesar Coll mostrou em seus estudos, que o fracasso escolar ou grandes progressos.
o construtivismo não é baseado no simples
contato entre objeto e educando, mas que O sucesso dependerá da maneira como a
a chave é a mediação docente, ou sejá, o avaliação será empreendida, pois se utilizada
professor é fundamental para que o aluno em prol do real aprendizado, pode trazer
avance em seus conhecimentos. Coll define ótimos resultados.
que é preciso que os professores sejam
orientadores, facilitadores e guias. Charles Hadiji desenvolveu os diversos aspectos
da avaliação e através de seus estudos podemos
Jamais devemos classificar a educação observar os vários modelos de execução.
como simples transmissão de conhecimento.
De acordo com Coll, Vigotsky e Brunner, é Quem avalia deve ater-se nas ações e
preciso trabalhar de maneira a criar apoios, não nos esteriótipos, pois é necessário um
para que os educandos possam ter êxito em olhar diferenciado para vários aspectos, que
seus diversos aprendizados. constituem a avaliação formativa.

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Hadiji define a avaliação formativa como uma utopia promissora, pois com ela, tanto os
educadores como os educandos podem obter vários benefícios, antes inacessíveis.

A avaliação formativa é processual e promove interações e leitura de mundo. Dentre suas


características podemos destacar as prognosticas, diagnosticas.

Ao aluno, cabe a capacidade de auto regulação e consciência de seus erros, para, a partir
deste ponto trabalhar a construção de seu aprendizado.

A avaliação formativa traz consigo as propostas de:

• Desencadear os comportamentos a observar (Por isso ela também é informativa);


• Interpretar os comportamentos observados (Quem observa interpreta);
• Comunicar e remediar as dificuldades (Quem interpreta remedia);

O tipo de avaliação descrito é o contrário da chamada classificatória, pois o modelo


formativo é um processo de interação entre o aluno e o professor.

Se o objetivo é que a avaliação deixe de ser um elemento de exclusão e torne-se


um instrumento de ensino, precisamos que ela seja voltada para o modelo formativo
construtivista.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As crianças desenvolvem-se a partir de um contexto
histórico e social. Nesse contexto, ela cria e recria seu mundo
por meio de suas experiências de acordo com as interferências
externas. Isto é, a partir do contato com outros sociais mais
experientes, amplia seu conhecimento e organiza suas ideias
e sentimentos a respeito de si mesmos.

Investigar como elas aprendem, o que trazem consigo,


como se relacionam com seus pares e as condições do meio
em que vivem, devem ser preocupações constantes do
professor no contexto escolar; bem como as situações que
passam para chegar a determinados níveis de conhecimento JORGE FERNANDO
e serem capazes de estabelecer relações cada vez mais INÁCIO
avançadas, desenvolvendo também a sua autonomia.
Jorge Fernando Inácio, Graduação
em Letras pela Faculdade FAENAC –
Em outras palavras, é preciso conhecer os educandos Faculdade Editora Nacional (2007); E
buscando proporcionar condições favoráveis para a especialista em Ensino Superior Professor
aprendizagem e seu contexto, questionando: Quem são eles? de Ensino Fundamental II e Médio –
Em qual realidade social está inseridos? A quais processos Língua Inglesa na Rede Pública de Ensino
de humanização/desumanização estão cotidianamente – EMEF Vinícius de Moraes. E-mail:
expostos? Que importância tem a educação em suas vidas? Profess.jorge@gmail.comn.


No dia a dia da escola, observa-se que os educandos
não são iguais, não há um tipo único de aluno. Por isso,
quando se consegue detectar as necessidades específicas
e individuais de cada um, o trabalho do educador torna-
se muito mais eficaz e satisfatório. A educação inclusiva
implica, portanto, que todas as pessoas de uma determinada
comunidade aprendam em interação e de forma heterogênea,
independente se sua origem, suas condições pessoais, sociais
ou culturais, incluídos aqueles que apresentam qualquer
problema de aprendizagem ou deficiência.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

CONTOS AFRICANOS NO
ENSINO FUNDAMENTAL I
RESUMO: Com base na Lei 10.639/03, os contos de origem africana devem ser inseridos no
currículo escolar, afim de garantir a aproximação do alunado à cultura africana, a seus ideais,
suar virtudes, seus mitos, sua moralidade e em especial seu importante papel na construção
da cultura brasileira. Tal necessidade visa a formação de um cidadão crítico que respeite a
diversidade e a pluralidade da cultura brasileira, se desprendendo de preconceitos que ainda
persistem em nossa sociedade. É preciso desenvolver nos educadores o pensamento crítico
quanto ao papel do professor na manutenção ou modificação de práticas eurocêntricas
na escola, que indiscutivelmente privilegiam as características e os elementos culturais de
origem europeia, em detrimento dos traços negros e mesmo as religiões de matriz africana.
Tal situação vem trazendo prejuízos a inúmeros alunos e alunas pardos ou negros em
todo o Brasil. Portanto, o ensino de contos oriundos da cultura africana, em suas diversas
formas, objetiva a aproximação dos alunos com os elementos culturais africanos e propicia
a valorização da cultura africana, dos traços étnico-raciais dos próprios alunos de origem
africana e, acima de tudo o respeito a diversidade e a pluralidade e o multiculturalismo tão
presentes no Brasil.

Palavras-Chave: Currículo Escolar; Cultura Africana; Diversidade.

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INTRODUÇÃO Como foco na promoção à cidadania e a


formação de um ser crítico e consciente de
O presente Artigo tem como objeto seu papel social, este artigo também tem
explanar a relevância dos contos de origem como objetivo conscientizar educadores
africana no ensino de literatura infantil nos quanto ao seu crucial trabalho na luta contra
anos iniciais do Ensino Fundamental, em a desigualdade social e o preconceito, bem
contraposição aos contos de origem europeia como na promoção de uma visão educacional
que, embora sejam muito importantes na que respeite a beleza como provinda de
construção do saber de crianças em todo várias raças e o protagonismo de todas na
o Brasil, tem um espaço exacerbado no literatura a que as crianças são expostas na
ambiente escolar e privilegiam a visão idade escolar.
eurocêntrica, impossibilitando ao educando
negro e pardo sua identificação como É preciso que todos os educadores e
indivíduo e seu próprio reconhecimento. professores, reflitam e repensem a sua
Tais contos não oportunizam aos educandos prática, ou mesmo a da escola, na formação
perceber a pluralidade e a diversidade de cada uma das crianças que lhe são
brasileira e muito menos se perceberem e se entregues, sempre reformulando o ato de
enxergarem nos mesmos. educar, numa busca incansável pela melhor
formação social e cidadania.
O seu objetivo é demonstrar a importância
dos contos africanos na formação de um Nesse sentido a Constituição Federal
cidadão capaz de perceber a influência da de 1988 é muito clara quando no Art. 205
cultura africana na sociedade brasileira, assim estabelece que a educação é direito de
como respeitar e entender a diversidade e todos os brasileiros, sendo um dever do
o multiculturalismo que compõem o povo Estado, da sociedade e da família, e que
brasileiro. deve visar o pleno desenvolvimento da
pessoa. Tal artigo assegura iguais direitos a
O problema abordado na presente todos, independentemente de raça, credo ou
monografia é o uso e a necessidade cada vez religião, entre eles os afro-brasileiros. Deve-
mais expressiva de aproximar os educandos se indagar sobre o pleno desenvolvimento
de temas e elementos de outras culturas e como alcançá-lo, sendo uma meta da qual
desde bem cedo, incluindo, mas não se educadores precisam ter foco, estratégia e
reduzindo apenas, a cultura africana, com planejamento, além de formação acadêmica
o intuito de evitar o eurocentrismo tão que forneça o conhecimento adequado e as
discriminatório, excludente e, por vezes, reflexões acerca da diversidade encontrada
velado, porém tão evidente em todas as na cultura brasileira.
modalidades de ensino no Brasil.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Com a finalidade de propiciar de forma A QUASE AUSÊNCIA DO


mais adequada a efetivação desse artigo, a Lei NEGRO NA LITERATURA
10.639/2003, estabelece a obrigatoriedade
do ensino de história e cultura africanas ESCOLAR
e afro-brasileiras nas escolas. Permite, Ao refletirmos sobre os contos e as histórias
portanto, a identificação de negros e pardos que as quais os educandos são expostos na
com as suas origens e características étnicas, escola, especialmente os chamados clássicos
aos quais não é possível identificar nos contos da literatura infantil, fica evidente a quase
tradicionais, sempre de origem europeia ausência de personagens negros.
e com a valorização de cultura e aspectos
físicos dos povos considerados brancos, Se pensarmos em histórias que todas
em detrimento da população negra e parta, as crianças no Brasil conhecem de cor e
sempre invisível ou ignorada na literatura salteado como; Branca de Neve e os sete
dita tradicional nas escolas. anões, Cinderela, Chapeuzinho Vermelho,
o Pequeno Polegar, Rapunzel, O príncipe
Para tanto, a legislação principia–se, no rã, entre muitas outras, todas elas terão em
Capítulo 1, tratando da importância dos comum a visão eurocêntrica e tendo como
contos de origem africana em adição ao protagonistas personagens brancos. Tais
currículo, como forma de contrapor os contos contos de fadas, embora muito importantes
de origem europeia, que não permitem a na escola, pelo enredo e tradição, não
auto reconhecimento dos alunos de origem permitem que o educando pardo ou negro
africana com os elementos presentes nos se enxergue ou se perceba nas mesmas.
mesmos, levando essa parcela da população
a ignorar ou desconhecer o seu valor É importante que se mude essa visão, que
histórico-social, suas características físicas, privilegio o branco e sua história, muitas vezes
ou mesmo fomentando a discriminação, por como caráter civilizatório, e se expanda para
não permitir a esse grupo a sua valorização a valorização das outras culturas que deram
devida. origem ao Brasil e que constituíram as bases
para a construção da brasilidade.
Também a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 Além dos contos, deve-se valorizar
de dezembro de 1996) no Art. 2º, inciso também a própria história de luta dos
IV, estabelece que uma das finalidades da movimentos sociais que defendem e
educação brasileira deve ser o “respeito a defenderam o negro, numa visão não restrita
liberdade e apreço a tolerância’. Garantindo ao período escravagista, mostrando o negro
a difusão das ideias de igualdade e respeito não apenas como escravo, mas como agente
aos concidadãos, essencial à uma sociedade e protagonista de sua luta.
plural e democrática.

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Revista Educar FCE - Março 2019

da população brasileira, a partir desses dois


A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
grupos étnicos, tais como o estudo da história
Nacional, no Art. 25, parágrafo 9, determina: da África e dos africanos, a luta dos negros e
dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra
Conteúdos relativos aos direitos humanos e a
e indígena brasileira e o negro e o índio na
prevenção de todas as formas de violência contra
formação da sociedade nacional, resgatando as
a criança e o adolescente serão incluídos, como
suas contribuições nas áreas social, econômica e
temas transversais, nos currículos escolares
política, pertinentes à história do Brasil.(BRASIL,
de que trata o caput deste artigo, tendo como
1996)
diretriz a Lei nº 8.069, de 13 de julho de
1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente),
Dessa forma, tal artigo reforça a urgência
observada a produção e distribuição de material
de se tratar, explanar e discutir, com base
didático adequado. (BRASIL, 1996)
na literatura, por meio também de contos
africanos, a relevância social e cultural dos
Pode-se reforçar, portanto, o caráter legal africanos na identidade do povo brasileiro,
de necessidade de se abordar a discussão assim como identificar e repreender práticas
desses temas em todas as disciplinas discriminatórias, disfarçadas de hábitos e
escolares, incluindo o ensino de língua tradições excludentes.
portuguesa, no caso, no que se refere a
leitura de contos como estímulo ao respeito, Ainda se tratando da LDBEN, o Art. 27,
à diversidade étnica e racial. inciso I, a Lei estabelece, no que se refere aos
conteúdos curriculares da educação básica,
Na seguinte Lei também se exorta, no Art. que estes observarão “a difusão de valores
26, parágrafo 4 que ‘o ensino da História fundamentais ao interesse social, aos direitos
do Brasil levará em conta as contribuições e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem
das diferentes culturas e etnias para a comum e à ordem democrática’. Mais uma vez
formação do povo brasileiro’. Isso reforça o há um alicerce legal para a prática de leitura
compromisso dos educadores em promover e trabalho valendo-se de contos africanos,
as discussões sobre as contribuições dessas pois os mesmos, certamente podem fazer
culturas na música, a dança, na culinária, tal difusão de valores, assim como abririam a
na religiosidade, na literatura e em todos possibilidade para o respeito ao bem comum,
os outros aspectos da identidade do povo possibilitando a todos a oportunidade de
brasileiro. observar e valorizar traços e elementos de
outras culturas além da europeia.
No Art. 26-A, parágrafo primeiro
estabelece que: No Capítulo 2 desse trabalho serão
abordados e apresentados alguns
O conteúdo programático a que se refere este livros e contos de origem africana, que
artigo incluirá diversos aspectos da história possibilitam a abertura do diálogo quanto
e da cultura que caracterizam a formação

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Revista Educar FCE - Março 2019

ao multiculturalismo e o respeito aos de direitos e se ver como seres ativos no


afrodescendentes e a valorização da cultura processo de mudança e melhoria social.
africana como elemento essencial na
formação da cultura brasileira. Nesse contexto a literatura e seus
primeiros contatos são essenciais na
Não aceitável que a escola e os educadores aquisição de cultura e na formação do
se omitam quanto a essas questões. Uma educando, propiciando o desenvolvimento
vez que tal omissão não apenas corrobora da leitura e da escrita.
com a manutenção do preconceito e da
discriminação sofrida por negros e pardos, É por meio da literatura, dos contos e das
mas, de certa forma, apoia e mantém essas histórias que as crianças têm contato com
práticas seculares, já que ao não falar e o mundo, e assim passam também a pensar
discutir sobre tais temas, a instituição em si no mundo e no mundo em que vivem.
torna o discriminar um ato aceitável e Começam, portanto, a se entender como
não repreensível, tratado, muitas vezes, gente e entender todo tipo de gente.
como normal e típico no ambiente escolar, De acordo com Abramovich,
justamente no período de formação de
caráter que os estudantes enfrentam. É através duma história que se podem descobrir
outros lugares, outros tempos, outros jeitos
Portanto, o presente trabalho apresenta de agir e de ser, outra ética, outra ótica... É
uma alternativa aos moldes educacionais no ficar sabendo História, Geografia, Filosofia...
sem precisar saber o dome disso tudo (...)
que tange a literatura abordada nas escolas
(ABRAMOVICH, 1991, p.17 )
de Ensino Fundamental I, a fim de garantir
a difusão de elementos africanos e permitir
uma visão de respeito à diversidade cultural Partindo dessa premissa, é crucial a
brasileira e de proporcionar aos afro- contação de histórias, de contos populares e
brasileiros o seu reconhecimento, muitas folclóricos, de contos de fadas e outros tipos
vezes negado na escola. no ensino fundamental I, propiciando ao
aluno a aquisição de conhecimentos sobre
a cultura as primeiras impressões sobre a
OS CONTOS AFRICANOS sociedade e mesmo as origens da mesma.
E SUA IMPORTÂNCIA Possibilita assim ao educando a significação
desses conteúdos na sua vida, no seu dia-a-
dia, na sua família, e proporciona à criança a
É na escola geralmente que os alunos base para se entender e entender o mundo.
encontram os primeiros significados de Para Abramovich (1997) ler é mais do que
cultura e sociedade e, por consequência decodificar palavras e frases é “abrir as
começam a se compreender como cidadãos comportas para entender o mundo através

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Revista Educar FCE - Março 2019

dos olhos dos autores e da vivência das Adormecida, Branca de Neve e os Sete
personagens...” Anões, Cinderela, Rapunzel, Chapeuzinho
Vermelho, entre outros. Todos esses contos,
Para que a escola consiga desenvolver embora importantes na formação do
adequadamente a sua função como universo literário escolar, apresentam outra
formadora de cidadãos leitores, é necessário característica comum; o total ofuscamento
um trabalho que disponibilize ao aluno uma dos negros, indígenas e pardos. Obviamente
grande diversidade de textos literários, isso se deve ao fato de sua origem ser
dando assim o suporte para que amplie o europeia. Entretanto, porque não propiciar
seu reportório cultural, assim como sua que, ao invés de se explorar exaustivamente
compreensão de mundo. esses contos, sejam abordadas em aulas
diversificadas, contos com elementos
Os educadores devem ter sempre em africanos, lendas do folclore vasto da África,
mente a necessidade de formar um aluno que músicas e danças de origem africana?
valorize a literatura como essencial, porém
prazerosa e que enriqueça a sua autoestima. Deve-se denotar que muitos professores,
em virtude de suas próprias visões de
mundo, suas próprias concepções religiosas
ALGUMAS PUBLICAÇÕES ou autoafirmações, apresentem dificuldade
LITERÁRIAS E SUA ou mesmo relutância para abordar temas
como a religiosidade, a mitologia, a dança
CONTRIBUIÇÃO PARA A e a música africana. É um fato explícito que
PROMOÇÃO DA no Brasil o Candomblé, a Umbanda e as
CULTURA AFRICANA demais religiões de matriz africana sofram
discriminação forte, assim como algumas
Embora sejam poucas, algumas publicações danças e músicas, e isso certamente não
recentes podem ser utilizadas em trabalhos foge à realidade escolar.
escolares, no contexto de gêneros textuais,
para que se proponham sequências didáticas Muitos professores se sentem
ou mesmo projetos pedagógicos, que desconfortáveis em explorar a diversidade
valorizem a cultura africana e quebrem o étnica ou religiosa no meio escolar. As
tradicional eurocentrismo tão arraigado nas justificativas mais comuns são a receio da
escolas. opinião dos pais e responsáveis legais pelo
aluno, a má formação do docente ou mesmo
É muito comum, ao se propor trabalho o despreparo em lidar com o concerne a
com contos, a imediata conotação com os conteúdos da matriz africana. Por sermos
contos de fadas geralmente denominados um país de maioria cristã é praticamente um
tradicionais. Logo se pensa em Bela dilema, se não uma luta, realizar um trabalho

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Revista Educar FCE - Março 2019

que vislumbre a africanidade na escola. Sempre aparecem as mesmas explicações sobre


o bom e velha “religião não se discute”. E, por não se discutir, são lançadas a margem da
sociedade desde muito cedo as crianças negras e pardas.

É muito comum falar de cristianismo ou evangelismo na escola, embora seja inadequado,


há uma certa facilidade em lidar com temas cristãos. Entretanto, o mesmo não se mostra
quando se fala em orixás, em Candomblé, em Umbanda. A expressão religiosa resume-se ao
que convém ao cristianismo e nada mais.

Porém é dever dos educadores quebrar paradigmas que, embora sejam a opinião da
maioria, ferem e deturpam a realidade de alguns alunos. É muito fácil defender a maioria,
mas, e a discriminação que sofre a minoria? Por que tornar invisíveis a religiosidade africana,
os orixás, as lendas e o folclore africano, quando se pode contextualizá-lo com os planos de
ação e projetos da escola?

É com isso em mente que se propõe a abordagem e o trabalho com os livros citados a
seguir. Não de forma isolada, mas acompanhados de trabalhos e projetos que enfatizem
a realidade brasileira, a história dos diversos povos que originaram a população brasileira,
sempre exortando e exaltando a diversidade, o respeito.

Como excelentes exemplares de literatura rica para se assegurar um trabalho plural, pode-
se citar; África: contador de histórias de bolso, de Ilan Brenman; Três contos africanos de
adivinhação, escrito por Rogério Andrade Barbosa e um ótimo livro para se demonstrar os
tradicionais e populares contos de adivinhação, bem como alguns costumes da tradição
africana; Como as histórias se espalharam pelo mundo, também escrito por Rogério Andrade
Barbosa; O baú das histórias – Um conto africano, de autoria de Gail E. Haley.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho com contos africanos pode ser uma excelente
alternativa para se contrapor aos contos de origem europeia.
Esse artigo não tem por objetivo acabar com o uso da
literatura com contos de fadas considerados tradicionais,
mas refletir quanto a necessidade de se trabalhar com outros
contos, que possam ser exemplos de como o negro e o pardo
também podem ser protagonistas de histórias envolventes
e que sejam exemplos que valorizem a beleza, os costumes
e as tradições advindas da cultura africana, sobretudo de
acordo com a realidade brasileira.

É muito importante que o educador perceba que todos


os alunos e alunas, precisam saber de suas origens de forma
adequada, e que valorizem e se percebam como igualmente JOSÉ GENILSON
belos, fortes e como bons exemplos de cidadania. FERREIRA
Graduação em Pedagogia pela
Há um grande caminho pela frente, para se alcançar uma Universidade Braz Cubas (2012); Segunda
educação mais justa e que respeite a pluralidade cultural Licenciatura em História pela Faculdade
presente no Brasil. No entanto, é um trabalho possível se Campos Elíseos (2018); Especialista em
houver engajamento, seriedade e foco nas necessidades Cultura Africana pela Faculdade Campos
que os educandos demonstrem para se constituírem como Elíseos (2018); Professor de Ensino
cidadãos críticos e reflexivos, conscientes de suas origens e Fundamental I - Polivalente - na EM
orgulhosos de suas crenças e características. Professor Jacks Grinberg, em Mogi das
Cruzes.

Bem como na promoção da valorização do multiculturalismo


e das boas relações étnico-raciais no nosso país. Algo
extremamente importante quando se almeja um país
mais justo e igualitário, que não deprecie alguma cultura
diferente, mas que valorize todas as culturas e todas as raízes
como tendo a mesma importância na constituição do povo
brasileiro.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: Gostosuras e Bobices. 2 ed.São Paulo: Editora
Scipone Ltda, 1991.

BARBOSA, Rogério de Andrade. Como as histórias se espalharam pelo mundo; ilustraçoes


Graça Lima. 1. Ed. São Paulo: DCL, 2002.

BARBOSA, Rogério de Andrade. Três contos africanos de adivinhação. 1. Ed. São Paulo:
Paulinas, 2009.

BRENMAN, Ilan. Contador de histórias de bolso: África. 1. Ed. São Paulo: Moderna, 2008.

BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da


educação nacional. Disponível em: < https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/
id/70320/65.pdf >. Acesso em 18 Dez. 2018;

BRASIL. Lei 10.639, de 09 de janeiro de 2003. Altera a Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de


1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo
oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “histórica e cultural afro-brasileira” e
dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/
L10.639.htm>. Acesso em 18 Dez. 2018;

HALEY, Gail E. “O baú das histórias – Um conto africano”. Tradução para o portugués Gian
Calvi. 2ª ed. Petrópolis, RJ. Editora Autores e Agentes e Associados, 1998.

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Revista Educar FCE - Março 2019

DOMINOBIO: UMA FORMA DIVERTIDA


DE APRENDER BIOLOGIA, PROMOVENDO
DISCUSSÕES E ENRIQUECENDO O PROCESSO
DE ENSINO-APRENDIZAGEM
RESUMO: A falta de motivação dos educandos, quase sempre consequência de metodologias
ultrapassadas onde o professor é o centro do processo, transmitindo seus conhecimentos de
forma linear e unilateral é um dos motivos que levam os alunos ao desinteresse e fracasso
escolar. Jogos educativos tornam as aulas atrativas e agradáveis e têm a função de atrair a
atenção dos alunos, podendo ser usados como apoio para reforçar conteúdos estudados e
introduzir conceitos novos que servirão como disparadores, aguçando a curiosidade e o desejo
de aprender nos alunos. DominoBio é um jogo onde os alunos aprendem diversos conceitos
importantes da Biologia por meio da atividade lúdica e aprendem analisar e interpretar
imagens. Foi realizada uma análise de observação e verificou-se que os alunos não tinham
domínio sobre diversos conceitos importantes, tais como relações ecológicas, cadeia e teia
alimentar, tipos de pirâmides ecológicas e suas funções, tipos celulares, organelas celulares
e suas funções, mitose, meiose, DNA, gene, engenharia genética, microbiologia, entre
outros; que foram então adicionados ao jogo. Inicialmente os alunos apresentaram muita
dificuldade na execução do jogo, porém a cada partida foram se apropriando dos conceitos,
tornaram-se independentes e autônomos, resolviam tudo entre si, os que apresentavam
mais dificuldades esclareciam dúvidas com alunos que estavam mais avançados. O objetivo
desse artigo é discutir a importância da introdução de práticas educativas inovadoras,
principalmente na Educação Básica, especialmente a prática de jogos na aprendizagem
e reforço de conteúdos importantes, sua função na sociabilização dos educandos e no
desenvolvimento de habilidades de trabalho em grupos.

Palavras-Chave: Ensino-aprendizagem; Metodologias inovadoras; Jogos pedagógicos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO requerem professores altamente capacitados


e envolvidos com a educação. Concordamos
Um dos principais motivos que levam com MULLER (2002) que diz que a aula
os alunos ao desinteresse e fracasso não pode ser considerada apenas uma mera
escolar é a falta de motivação, quase transferência de conhecimento, devemos
sempre consequência de metodologias também nos preocupar com o conteúdo
tradicionalistas ultrapassadas nas quais emocional e afetivo, que faz parte da facilitação
geralmente o professor é o centro do da aprendizagem. Portanto, devemos pensar
processo, o detentor do conhecimento, o e repensar nossas práticas pedagógicas,
“poderoso, sabe tudo” que transmitirá tais adaptar o modo de ensinar de acordo com o
conhecimentos de forma linear e unilateral. tipo de aluno com que nos deparamos a cada
Porém um professor atualizado e preocupado ano, proporcionando aulas mais prazerosas e
com a aprendizagem de seus alunos deve atrativas para que tenhamos sucesso na árdua
concordar com PIAGET (1998), que diz que tarefa de ser Professor/Educador. Para isso,
o aluno não é um ser passivo cujo cérebro precisamos entender que o que era uma aula
deve ser preenchido, mas um ser ativo, cuja prazerosa e produtiva para alunos a dez, cinco
pesquisa espontânea necessita de alimento. ou até mesmo para alunos do ano anterior,
talvez não seja para o atual ou para uma sala
Segundo PIAGET: específica.

[...] assim como, para crescer um órgão tem De acordo com VASCONCELOS e BRITO,
necessidade de alimento, o qual é por ele uma escola que possibilita uma aprendizagem
solicitado na medida do seu exercício, também prazerosa é cuidadosa, trabalha criticamente
cada atividade mental, desde as mais elementares a disciplina intelectual da criança,
às tendências superiores, tem necessidade,
estimulando-a e desafiando-a a engajar-
para se desenvolver, de ser alimentada por uma
se seriamente na busca do conhecimento
constante contribuição exterior (PIAGET, 1967,
(VASCONCELOS e BRITO, 2006, p. 102). A
p. 115).
grande reclamação que se ouve por parte
Não é possível desconsiderar as dos alunos é que as aulas são chatas e
transformações que a sociedade sofreu ao monótonas e cabe aos professores torná-
longo do tempo, bem como as transformações las mais atraentes e dinâmicas, prendendo a
dos educandos, portanto, fazem-se também atenção dos alunos de modo que aos poucos
necessárias mudanças e adequações nas os educandos alcancem uma maturidade
metodologias de ensino e no modelo de e independência intelectual. Criada essa
educação de um modo geral. Cabe aqui situação atrativa e agradável em sala de
ressaltar que aulas dinâmicas, atrativas e aula, progressivamente os alunos se verão
ao mesmo tempo capazes de promover imersos na busca do conhecimento de forma
desafios estimuladores do aprendizado autônoma.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Segundo FIALHO: geralmente são vistas pelos alunos como


uma forma de carinho e preocupação com a
A exploração do aspecto lúdico, pode se aprendizagem. Nessa perspectiva, os jogos
tornar uma técnica facilitadora na elaboração com finalidade educativa têm a função de
de conceitos, no reforço de conteúdos, na atrair a atenção dos alunos e são usados como
sociabilidade entre os alunos, na criatividade apoio para reforçar conteúdos estudados
e no espírito de competição e cooperação,
e introduzir conceitos novos que servirão
tornando esse processo transparente, ao ponto
como disparadores, aguçando a curiosidade
que o domínio sobre os objetivos propostos na
e o desejo de aprender nos alunos. Os jogos
obra seja assegurado (FIALHO, 2007, p. 16).
pedagógicos ou jogos educativos como
são chamados por alguns autores recebem
É importante ressaltar que aulas práticas, algumas definições que diferem um pouco
com dinâmicas de grupo, jogos e com material entre si, mas que coincidem no fato de
pedagógico manipulativo precisam ser muito terem como função estimular os educandos
bem elaboradas previamente para que no processo de ensino e aprendizagem e
alcancem os objetivos previstos e isso requer proporcionar formas prazerosa, dinâmica
tempo e esforço por parte do professor. e atrativa de aprender. De acordo com
Concordamos com FIALHO (2007), que diz NICOLETTI E FILHO (2004) os jogos
que com esse tipo de aula o retorno pode educativos têm a finalidade de fazer com
ser bastante significativo, de qualidade e que os alunos aprendam de forma natural,
gratificante, quando o docente se dispõe a prazerosa e dinâmica, pois promove desafios
criar novas maneiras de ensinar, deixando de que despertam no educando o interesse na
lado a “mesmice” das aulas rotineiras. busca do conhecimento, além de oferecer um
maior envolvimento social entre os alunos,
Além desse esforço, o professor ainda bem como a formação de conceitos éticos,
precisa trabalhar horas afinco fora da sala, de solidariedade, de regras, de trabalho em
elaborando aulas e confeccionando materiais grupo, de respeito mútuo, etc. De acordo
e isso geralmente sem remuneração. Diante com DONDI E MORETTI (2007), os jogos
de tantos obstáculos, percebe-se que educativos podem ser definidos como
apenas poucos professores que sonham com aqueles que possuem um objetivo didático
uma transformação e estão comprometidos explícito e podem ser adotados ou adaptados
com a aprendizagem dos alunos e em para melhorar, apoiar ou promover os
formar indivíduos dotados de criticidade processos de aprendizagem em um contexto
e autonomia transcendem essas barreiras de aprendizagem formal ou informal.
na educação básica brasileira. Materiais Concordamos plenamente com esses autores
pedagógicos manipulativos, principalmente que ainda acrescentam que os jogos possuem
quando confeccionado pelo próprio regras e possibilitam o entretenimento,
professor e práticas educacionais atrativas devendo, portanto, como qualquer outro

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Revista Educar FCE - Março 2019

recurso didático e metodológico, possuir jogo chamado “Aventuras de Jack” que


objetivos definidos, coerência nas estratégias auxilia crianças em adquirir capacidades
utilizadas e favorecer o alcance dos objetivos linguísticas necessárias para reconhecer
de aprendizagem. Durante um jogo é palavras mediante a identificação de letras.
possível detectar informações sobre como o Outro exemplo da importância da utilização
jogador pensa e como soluciona problemas dos jogos no ensino e aperfeiçoamento
ocasionais (MACEDO et al., 2000). Diversos de determinadas habilidades na educação
pesquisadores apontam a importância infantil é o jogo desenvolvido por SIQUEIRA
do jogo como recurso para educar e et al. (2011) com o objetivo de ajudar
desenvolver a criança, desde que respeitadas crianças com deficiência em leitura e
às características de atividades pedagógicas escrita (SIQUEIRA, BARROS, MARQUES,
além das lúdicas. Através dos jogos a criança MONTEIRO, 2011). Jogos citados por estes
aprende a agir, sua curiosidade é estimulada, e outros autores, assim como o jogo descrito
adquire iniciativa e autoconfiança, e um aqui nesse estudo, podem, de acordo com um
elevado desenvolvimento da linguagem, do olhar crítico do professor, serem adaptados
pensamento e da concentração (MARQUES, e empregados em alunos de outras faixas
2010). Apesar de não ser o objetivo desse etárias. Da mesma forma que podem ser
artigo discutir a origem e a história da usados nas diferentes faixas etárias, os jogos
aplicação de jogos educativos, mas podemos educativos também podem ser usados com
dizer que essa prática teve sua origem a sucesso em qualquer área ou disciplina,
muito tempo e em culturas diferentes. Por desde que bem planejados e elaborados.
exemplo, de acordo com ALMEIDA, na Grécia Em Biologia podemos citar o exemplo do
Antiga, um dos maiores pensadores, Platão jogo “Super Trunfo Árvores Brasileiras”,
(427-348), afirmava que os primeiros anos desenvolvido por CANTO e ZACARIAS
da criança deveriam ser ocupados com jogos (2009) como um instrumento facilitador para
educativos, praticados pelos dois sexos, sob o ensino dos biomas brasileiros. Podemos
vigilância e em jardins de infância (ALMEIDA, também citar outras áreas como o ensino de
2003, p. 119). princípios/conceitos da Análise Experimental
do Comportamento para adultos e jovens
É importante salientar que os jogos (FERREIRA et al., 2013; HAYDU, 2014);
educativos podem ser usados desde a em intervenções terapêuticas, “Baralho das
educação infantil até mesmo no ensino de Emoções” (CAMINHA e CAMINHA, 2010) e
jovens e adultos com as mesmas taxas de “Será Que Conheço Você?” (MOURA, 2006);
sucesso, desde que elaborados de acordo área da Educação, exemplo no ensino de
com os propósitos específicos e com o acentuação (CEZAR et al., 2008). DominoBio
alunado em questão. O trabalho desenvolvido – Dominó Biológico, descrito em nosso
por SCARDOVELLI et al. (2004), voltado estudo é um jogo onde os alunos aprendem
para a educação infantil consiste em um diversos conceitos importantes da Biologia

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Revista Educar FCE - Março 2019

por meio da atividade lúdica e aprendem SONDAGEM DOS


analisar e interpretar imagens, uma forma CONHECIMENTOS PRÉVIOS
de linguagem muito usada nas ciências
biológicas, uma habilidade de extrema E DAS DIFICULDADES DOS
importância para a formação dos jovens de ALUNOS
um modo geral.
O projeto surgiu a partir de uma análise
Esse artigo visa salientar a importância da de observação, ou seja, uma avaliação
introdução de práticas educativas inovadoras qualitativa realizada nas primeiras semanas
e atrativas para os alunos, especialmente a do mês de Agosto onde se verificou que
prática de jogos na aprendizagem e reforço os alunos não haviam se apropriado de
de conteúdos importantes, bem como diversos conceitos importantes trabalhados
a importância de jogos na promoção da no primeiro semestre, e que também havia
interação social entre os alunos e do trabalho uma defasagem muito grande de conteúdos
em grupos para um pleno desenvolvimento de anos anteriores que seriam de crucial
cognitivo do educando. importância para que pudessem assimilar
os novos conteúdos subsequentes. Os
alunos mostravam-se desestimulados e era
METODOLOGIA muito comum ouvir frases como: “Biologia
é muito difícil, eu não consigo entender”;
Este projeto foi desenvolvido durante o “Biologia é muito chato, cheio de nomes
segundo semestre de 2016, entre os meses difíceis, sem sentido e complicado”; “nunca
de Agosto a Novembro na Escola Estadual consegui aprender esses nomes estranhos
Napoleão de Carvalho Freire, situada no da Biologia”, entre outras. Observadas suas
bairro de Moema em São Paulo; escola dificuldades e limitações, foi conversado
pertencente à Diretoria de Ensino Centro- com os alunos de forma clara, explicando-
Oeste da Rede Estadual de Ensino. O trabalho lhes que em Biologia o mais importante
foi realizado em 12 salas de Ensino Médio e não é aprender ou memorizar uma lista de
contou com aproximadamente 350 alunos. O nomes difíceis e complicados e sim entender
desenvolvimento desse estudo não contou os conceitos como um todo, entender
com nenhum tipo de apoio financiamento. como os processos biológicos funcionam e
suas funções nos organismos vivos, como
os organismos interagem entre si e com o
ambiente e a importância de cada ser vivo na
natureza, por menor que seja esse indivíduo,
bem como a importância dos fatores não
vivos para a manutenção e equilíbrio da
vida na Terra. Percebemos nessas conversas

1175
Revista Educar FCE - Março 2019

que os alunos geralmente eram avaliados de DESENVOLVIMENTO DO


forma errônea, não só em Biologia, mas em MATERIAL PEDAGÓGICO
praticamente todas as disciplinas. Não era
raro ouvir dos alunos: “sempre me dou mal MANIPULATIVO (JOGO)
em Biologia, pois não consigo decorar esses Dentre os conteúdos com defasagem
nomes grandes e esquisitos”. Essa etapa de aprendizagem, que eram muitos, foi
do estudo, onde realizamos a sondagem, realizada uma extensiva pesquisa de
diagnosticando avanços, problemas, conceitos importantes da Biologia presentes
dificuldades e todos os dessabores com grande frequência em Vestibulinhos
enfrentados pelos alunos na Disciplina de para ETECs, vestibulares e até mesmo em
Biologia foi de crucial importância para provas do Exame Nacional do Ensino Médio
o sucesso do projeto. Entendemos que a (ENEM). Para confecção do jogo, foram
avaliação diagnóstica constitui-se de uma selecionados diversos conteúdos, tais como:
sondagem, sendo de suma importância para relações ecológicas harmônicas (mutualismo,
que o professor perceba em que situação cooperação, inquilinismo, protocooperação,
de desenvolvimento o aluno se encontra, e etc.); relações ecológicas desarmônicas
dessa forma possua elementos concretos (predação, competição, parasitismo, etc.);
para verificar o que o aluno aprendeu e o cadeia e teia alimentar, tipos de pirâmides
que se faz necessário para sanar dificuldades ecológicas e suas funções, tipos celulares,
diagnosticadas. É uma etapa importante do organelas celulares e suas funções; tipos
processo de ensino e aprendizagem que de divisão celular: mitose e meiose e suas
objetiva verificar se conceitos considerados funções específicas nos determinados
pré-requisitos para o entendimento de organismos, estrutura e função do DNA,
conteúdos subsequentes foram assimilados, genes, engenharia genética, microbiologia,
ou seja, nessa sondagem o professor terá uma dentre muito outros conceitos importantes.
ideia da maturidade intelectual e cognitiva
do aluno. De acordo com HAYDT, não é O jogo DominoBio contém 28 peças e foi
apenas no início do período letivo que se confeccionado com papel Paraná. As imagens,
realiza a avaliação diagnóstica. No início de palavras chaves e suas respectivas definições
cada unidade de ensino, é recomendável que foram impressas em papel sulfite nas medidas
o professor verifique quais as informações das peças previamente recortadas em papel
que seus alunos já têm sobre o assunto, e Paraná e coladas sobre as mesmas. Após a
que habilidades apresentam para dominar secagem da cola, as peças foram recobertas
o conteúdo. Isso facilita o desenvolvimento com papel contact para que ficassem com
da unidade e ajuda a garantir a eficácia do um aspecto bonito e para impermeabilizá-
processo ensino e aprendizagem (HAYDT, las, uma forma de conservar o material por
2000, p. 20). mais tempo, já que o jogo deveria ser usado
durante aproximadamente quatro meses e

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Revista Educar FCE - Março 2019

seria manuseado por 350 alunos em média. Para um pleno desenvolvimento do projeto, foi
necessário confeccionar oito jogos com conceitos diferentes em cada um deles. Essa quantidade
permitiu que a sala inteira participasse simultaneamente e que os grupos fossem trocando os
jogos entre si a cada partida, de modo que todos os alunos tivessem contato com todos os
conceitos em questão. A Figura 1 (A-D) mostra quatro exemplos dos jogos confeccionados.

APLICAÇÃO DO JOGO (EM DUPLAS OU GRUPOS)


Após algumas semanas de sondagem, diagnosticando as dificuldades mais comuns, escolha
criteriosa dos conteúdos e confecção do jogo, o mesmo foi apresentado aos alunos, bem como foram
discutidos os objetivos pedagógicos do jogo. Em seguida foi solicitado que formassem grupos. Após
a formação dos grupos, as regras que estão descritas a seguir, foram entregues para cada um deles.

CARACTERÍSTICAS E REGRAS DO JOGO:


• O jogo contém 28 peças
• Cada jogador receberá sete (7) peças
• O jogo poderá ser jogado de dois a quatro jogadores
• Quando jogado em dupla ou trio, se um dos jogadores não tiver a peça solicitada na
jogada, deve retirar nas peças excedentes até encontrar a peça apropriada.
• O grupo ou dupla decide da forma que quiserem quem deverá iniciar o jogo
• A conservação do material é de responsabilidade da dupla ou grupo
• Grupos que danificarem o material, amassando-o, sujando-o, rabiscando-o, etc. não
participarão das próximas aulas com material manipulativo.
• Cada definição de conceito presente nas peças será inserida na imagem ou palavra
correspondente no Dominó (Ex. Espécie – indivíduos muito semelhantes entre si e que
são capazes de cruzar e gerar descendentes férteis)
• Quando o jogador não souber que peça encaixar numa determinada situação,
não compreender o conceito em questão, deverá haver uma discussão entre todos os
jogadores e caso não cheguem a um acordo o professor poderá ser chamado para explicar
o conceito para o grupo para que o jogo possa prosseguir.
• Ganhará o jogo quem ao final eliminar todas as peças ou tiver o menor número de
peças caso o jogo trave, lembrando que o objetivo principal do jogo não é ganhar e sim
aprender novos conceitos, bem como reforçar conceitos já estudados.
• Ao final do jogo será conferido pelo grupo e professor se o número de peças está
correto e se as mesmas não foram danificadas.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
RESISTÊNCIA E ACEITAÇÃO

Inicialmente alguns alunos apresentaram certa resistência


ao jogo, pois apesar de ter sido explicado, ainda não
compreendiam bem os reais objetivos e apresentavam muitas
dificuldades na execução da partida. Isso devido ao fato de
apresentarem uma defasagem muito grande em relação aos
conteúdos presentes no jogo. Apesar de inúmeras discussões
entre os integrantes de cada grupo sobre os conceitos e
imagens apresentados, a presença do professor era solicitada
com muita frequência para esclarecer dúvidas. Tal dificuldade
encontrada inicialmente na aplicação do jogo deu-se também JOSÉ OLIVEIRA
devido ao fato de a maioria dos alunos não levarem o jogo a DOS SANTOS
sério, encarando-o apenas como uma forma de divertimento,
Graduação em Ciências Biológicas pela
de passar o tempo. Tal pensamento é consequência do uso Universidade Guarulhos (2005); Mestre
indiscriminado de jogos, sem planejamento e sem objetivos em Biologia Molecular e Bioquímica
pedagógicos, realizado pela maioria dos professores, pela Escola Paulista de Medicina da
que também veem os jogos apenas como uma forma de Universidade Federal de São Paulo
prender a atenção dos alunos e mantê-los quietos dentro – UNIFESP-EPM (2008); Doutor em
de certos limites, principalmente nos finais das aulas quando Genética Humana e Médica pelo Instituto
todo o conteúdo programado para o dia já foi transmitido de Biociências da Universidade de São

e antes ou pós-feriados prolongados, ocasião em que Paulo – IB-USP (2013); Pós Doutorado

geralmente encontram-se poucos alunos em sala de aula. em Genética Humana e Médica pelo

Foi conversado diversas vezes com os alunos e esclarecido Instituto de Biociências da Universidade

os verdadeiros objetivos do jogo, que não se tratava apenas de São Paulo – IB-USP (2016); Professor
de Ensino Fundamental II – Ciências
de divertimento, muito menos para passar o tempo de aula
Físicas e Biológicas na EMEF Doutor
e sim uma maneira para facilitar a aprendizagem, em que
Elias de Siqueira Cavalcanti, Professor de
eles poderiam aprender de forma descontraída, fugindo um
Ensino Médio – Biologia na EE Pereira
pouco da monotonia de aulas tradicionais. De acordo com
Barreto.
KISHIMOTO (2003), ao jogarem, os alunos demonstram Contato: jose@ib.usp.br
seriedade e concentração, contudo, como atividade lúdica,
o jogo também é acompanhado de risos, de alegria e de
divertimento. Concordamos plenamente com esse autor e
verificamos no presente estudo que a cada partida os alunos
iam se apropriando dos conceitos e pegando o gosto pelo
jogo e com o passar do tempo a presença do professor quase

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Revista Educar FCE - Março 2019

não era solicitada, eles resolviam tudo entre si, os que apresentavam mais dificuldades
esclareciam dúvidas com alunos que estavam mais avançados. De acordo com MULLER, o
professor cria uma situação de comunicação entre os alunos com um propósito educativo,
buscando meios e caminhos, de acordo com o que a situação e a classe pedem; ele intervém
pouco, muito ou nada, colocando os alunos como sujeitos de sua própria reflexão, utilizando-
se da curiosidade natural (MULLER, 2002, p. 277). As intervenções foram muitas de início,
poucas no meio desse projeto e ao final os alunos estavam autônomos, não sendo mais
necessárias as intervenções do professor. Dessa forma, foi possível trabalhar com um grande
número de conceitos novos, bem como reforçar conceitos já estudados em um período
relativamente curto, e o melhor, de forma descontraída e agradável para os alunos.

Além da aprendizagem, tornou-se nítido que o jogo propiciou o trabalho em equipe,


houve cooperação entre os alunos, além de promover a sociabilização. A Figura 2 (A-D)
mostra alguns jogos montados após os alunos finalizarem as partidas. Na Figura 3 é possível
observar a ampliação de uma das peças inseridas no jogo (Figura 2D).

INTERAÇÃO E TRABALHO EM GRUPO

Este jogo educativo com finalidade pedagógica promove o trabalho em duplas ou em


pequenos grupos e a interação entre os alunos, tornando possível discussões sobre os
temas trabalhados e consequentemente facilita o processo de ensino e aprendizagem. A
cada dia torna-se evidente ser de extrema importância desenvolver nos nossos educandos
habilidades de trabalho em equipe, de cooperação, respeito ao próximo e de um pensamento
coletivo, pois é dever da educação não apenas ensinar uma lista de conteúdos, mas formar
indivíduos que saibam exercer sua cidadania e conviver em harmonia na sociedade na
qual estão inseridos (OLIVEIRA-SANTOS, 2016). Uma sociedade composta por indivíduos
dotados de um pensamento crítico e com capacidade de opinar e argumentar de forma
coerente, mantendo, no entanto, um pensamento de coletividade e respeito aos demais de tal
sociedade será naturalmente organizada e desenvolvida. De acordo com MORO, para haver
aprendizagem e desenvolvimento, é necessário o conflito e para que esse ocorra precisa-
se da confrontação de ideias opostas, que são facilmente encontradas nas discussões nos
pequenos grupos (MORO, 1991). Quando necessário os conflitos são mediados pelo professor
e promovem no aluno habilidades de expressar ideias, de argumentação, ouvir diferentes
opiniões e respeitar as ideias dos indivíduos do grupo do qual faz parte. O trabalho em
grupo, seja através de jogos, brincadeiras, roda de conversa para discussão de determinado
assunto, montagem de murais ou maquetes, etc. faz com que o aluno busque fontes e formas
de provar que seu ponto de vista é o correto, ou seja, estimula o aluno na construção do

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Revista Educar FCE - Março 2019

seu próprio conhecimento, dessa forma o educando se apropria de tal conhecimento de


forma significativa. Quanto aos jogos, concordamos com FIALHO que diz que jogando, o
indivíduo se depara com o desejo de vencer que provoca uma sensação agradável, pois as
competições e os desafios são situações que mechem com nossos impulsos. De acordo com
TIBA, ao perceber que não sabe, o ser humano tem a tendência natural de buscar meios de
aprender, já que é dotado de inteligência e, em consequência, de curiosidade. Associando
estes dois atributos, pode surgir a criatividade, que fornece a base para as grandes invenções
da humanidade. O espírito aventureiro instiga às descobertas (TIBA, 1998, p.46).

Segundo SILVEIRA E BARONE:

[...] os jogos podem ser empregados em uma variedade de propósitos dentro do contexto de aprendizado. Um
dos usos básicos e muito importantes é a possibilidade de construir-se a autoconfiança. Outro é o incremento
da motivação. [...] um método eficaz que possibilita uma prática significativa daquilo que está sendo aprendido.
Até mesmo o mais simplório dos jogos pode ser empregado para proporcionar informações factuais e praticar
habilidades, conferindo destreza e competência (SILVEIRA e BARONE, 1998, p.02).

Concordamos com GOMES et al. (2001), que diz que o jogo didático é utilizado para
atingir determinados objetivos pedagógicos, sendo uma alternativa para se melhorar o
desempenho dos estudantes em alguns conteúdos de difícil aprendizagem. E acrescentamos
que, se bem elaborado e planejado o jogo é uma excelente opção para reforçar conteúdos
estudados, bem como para introduzir conceitos novos, principalmente conceitos que tenham
certa relação com outros já estudados, formando dessa forma uma ponte entre o conhecido
e o não conhecido, despertando a curiosidade natural do aluno. De acordo com PIAGET o
jogo não pode ser visto apenas como divertimento ou brincadeira para desgastar energia,
pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, social e moral (PIAGET, 1967,
p.32). Concordamos com MOYLES que cita que a estimulação, a variedade, o interesse, a
concentração e a motivação são igualmente proporcionados pela situação lúdica (MOYLES,
2002, p.21). O jogo de regras publicado por SANTOS e ORTEGA é um instrumento que
se encaixa como uma das possibilidades para o trabalho do professor, uma vez que cria
uma situação lúdica, motivadora e desafiadora, capaz de mobilizar e desenvolver aspectos
cognitivos (SANTOS e ORTEGA, 2009, p.47).

A utilização dos elementos lúdicos na sala de aula não demanda muitos recursos e
vem cada vez mais se mostrando uma excelente ferramenta no processo de aquisição
do conhecimento, o que já resultou em diversas propostas realizadas por docentes de
diferentes níveis escolares (BENEDETTI et al., 2009). Segundo RAMOS e WEIDUSCHAT,
é muito mais fácil e eficiente aprender por meio de jogos. E isso é válido para todas as

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Revista Educar FCE - Março 2019

idades, desde o maternal até a fase adulta. O jogo em si possui componentes do cotidiano,
e o envolvimento desperta o interesse do aprendiz, que se torna sujeito ativo do processo
(RAMOS e WEIDUSCHAT, 2002, p.6).

Porém como citado anteriormente, devemos ressaltar que aulas com materiais pedagógicos
manipulativos, incluindo os jogos, para que alcancem os objetivos previstos requer tempo e
esforço por parte do professor, pois precisam ser muito bem planejadas e elaboradas para
que não se torne algo vago, sem objetivos bem definidos e o pior, mais cansativo do que uma
aula tradicional para os alunos. Vale ressaltar também que a aplicação de jogos em sala de
aula pode apresentar algumas desvantagens quando não usado com cautela. Concordamos
com GRANDO (2001) que diz que entre as desvantagens, é importante citar o tempo gasto
que é maior, e se o professor não estiver preparado, pode existir um sacrifício de outros
conteúdos; além de quando mal aplicado, o jogo pode ter caráter puramente aleatório,
ou seja, os alunos jogam por jogar; e também existe o perigo da perda de ludicidade pela
interferência constante do professor.

AVALIANDO A EFICÁCIA DO JOGO EM SALA DE AULA

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, a avaliação subsidia o professor


com elementos para uma reflexão contínua sobre a sua prática, sobre a criação de novos
instrumentos de trabalho e a retomada de aspectos que devem ser revistos, ajustados ou
reconhecidos como adequados para o processo de aprendizagem individual ou de todo o grupo
(BRASIL, 1997, p. 81). Neste estudo, priorizamos uma avaliação qualitativa que foi realizada
de forma contínua, através da observação. De início os alunos apresentaram muita dificuldade
nas partidas, por não saberem que peças usarem. Observou-se que após algumas semanas
os educandos assimilavam os conceitos e apresentavam muita desenvoltura no jogo. Foram
geradas muitas discussões entre os integrantes de cada grupo, gerando conflitos e dessa forma
propiciando um aprendizado significativo. De acordo com LUCKESI, a avaliação apresenta-se
como meio constante de fornecer suporte ao educando no seu processo de assimilação dos
conteúdos e no seu processo de constituição de si mesmo como sujeito existencial e como
cidadão (LUCKESI, 1997, p.174). Concordamos com HOFFMANN que diz que a avaliação deixe
de ser o momento terminal do processo educativo [...] para se transformar na busca incessante
de compreensão das dificuldades do educando e na dinamização de novas oportunidades de
conhecimento (HOFFMANN, 1995, p. 21). De acordo o artigo 24 da LEI DE DIRETRIZES E
BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL 9394/96, a avaliação do desempenho do aluno deve
ser contínua e cumulativa, prevalecendo os aspectos qualitativos sobre os quantitativos e os
resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Concordamos com LIBANEO que diz que a avaliação é uma tarefa didática necessária e
permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino
e aprendizagem. Através dela os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho
conjunto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos a fim de
constatar progressos, dificuldades, e reorientar o trabalho para as correções necessárias
(LIBANEO, 1994, p.195). Segundo CALDEIRA, a avaliação escolar é um meio e não um fim
em si mesma; está delimitada por uma determinada teoria e por uma determinada prática
pedagógica. Ela não ocorre num vazio conceitual, mas está dimensionada por um modelo teórico
de sociedade, de homem, de educação e, consequentemente, de ensino e de aprendizagem,
expresso na teoria e na prática pedagógica (CALDEIRA, 2000, p. 122). Apesar de em nosso
estudo a avaliação ter sido qualitativa e ter acontecido de forma contínua, através da
observação dia a dia dos avanços dos educandos, de suas discussões produtivas e da aquisição
de autonomia constatada ao longo do processo, queríamos algo concreto e decidimos realizar
uma avaliação onde verificamos a aprendizagem dos conceitos presentes no jogo.

Os alunos estavam muito envolvidos no jogo, falavam de diversos conceitos com


facilidade e desenvoltura nesse estágio do projeto, porém tínhamos a preocupação que o
fato de falarmos em avaliação fizesse com que se sentissem pressionados, prejudicando os
resultados, pois de acordo com VASCONCELOS, a prática da avaliação escolar chega a um
grau assustador de pressão sobre os alunos, levando a distúrbios físicos e emocionais: mal-
estar, dor de cabeça, “branco”, medo, angustia, insônia, ansiedade, decepção, introjeção de
autoimagem negativa (VASCONCELLOS, 1995, p. 37). Concordamos com ESTEBAN, que diz
que a avaliação classificatória não é somente um elemento justificador da inclusão/exclusão,
ela está constituída pela lógica excludente dominante em nossa sociedade (ESTEBAN, 2004,
p. 85). Portanto, foi conversado com os alunos claramente sobre a avaliação que não seria
classificatória e nem punitiva e serviria apenas para verificar o aprendizado e retomar de
forma mais atenciosa conceitos nos quais eles apresentaram mais dificuldades, portanto ficou
claro para os educandos que se tratava de uma ferramenta necessária que visava à melhoria
do processo de ensino e aprendizagem. No momento em que percebemos que os alunos se
sentiam seguros e que haviam entendido realmente os objetivos da avaliação; a realizamos.
Os resultados da avaliação estão apresentados nas FIGURAS 4 a 6. Os resultados foram
plenamente satisfatórios e concluímos com este estudo que a aplicação de jogos pedagógicos,
quando utilizados de forma correta e com objetivos bem definidos, é extremamente útil na
aprendizagem e reforço de conteúdos importantes do currículo e que essa prática deve ser
estimulada, principalmente entre os docentes da Educação Básica pública.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

ANEXOS

Figura 1: Exemplo de quatro dos jogos confeccionados para o desenvolvimento do


estudo. Como citado anteriormente, cada jogo contém 28 peças. Como podemos observar
nos exemplos (A-D), as peças apresentam imagens ou palavras-chave que durante a partida
deverão ser inseridas nas respectivas definições. Imagem de autoria própria.

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Figura 2: Exemplo de alguns jogos montados após finalização das partidas. As fotos (A-
D) foram retiradas em um momento do estudo em que os alunos haviam se apropriado dos
conceitos e jogavam com muita facilidade. A peça destacada pontilhada em azul na Figura
2D, que mostra a imagem de uma membrana plasmática e sua definição está ampliada na
Figura 3. Imagem de autoria própria.

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Figura 3: Peça do jogo ampliada. A peça destacada na Figura 2D está aqui ampliada.
Mostra uma membrana plasmática e sua definição de forma simplificada. Ao total foram
confeccionados sete jogos e muitos conceitos foram discutidos de forma direta ou
indiretamente. Imagem de autoria própria.

Figura 4: Distribuição das notas. O gráfico apresenta a distribuição das notas obtidas
em porcentagem. Podemos verificar que os dados apresentam uma distribuição normal,
apresentando-se em sino. Imagem de autoria própria.

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Figura 5: Rendimento dos alunos. Este gráfico, construído a partir do Gráfico 1, mostra
em porcentagem as notas obtidas abaixo de 5 e entre 5 e 10. Apesar de não termos como
foco uma avaliação quantitativa, podemos verificar que 78% dos alunos avaliados obtiveram
resultados satisfatórios entre 5 e 10, mostrando a eficácia da metodologia. Imagem de
autoria própria.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Figura 6: Média geral e por sexo. Apesar de os meninos geralmente apresentarem maior
afinidade com jogos, os dados apresentados mostram que não houve diferenças significativas
nos resultados entre os sexos. Imagem de autoria própria.

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GESTÃO DEMOCRÁTICA EM ESCOLAS PÚBLICAS

JOGOS E BRINCADEIRAS
NO COTIDIANO ESCOLAR
RESUMO: O presente artigo trata das contribuições dos jogos e brincadeiras no processo
de aprendizagem na educação infantil, partindo do pressuposto de que esses recursos
pedagógicos contribuem de forma significativa para a aprendizagem e o desenvolvimento
dos alunos. Propõe-se, então, um aperfeiçoamento da prática docente, por meio da criação
de momentos que oportunizem a criança o exercício do seu direito de ser criança. Jogos e
brincadeiras envolvem conceitos e habilidades que são trabalhadas com crianças da Educação
Infantil que devem ser utilizados em situações de recreação ou em sala de aula. Estas
atividades desenvolvem a atenção, a memorização, a percepção espacial, noções básicas
de cores e formas geométricas. Cabendo ao professor, respeitar a característica e forma de
pensar e agir de cada criança. Além de proporcionar aos alunos condições adequadas ao
desenvolvimento físico, motor, cognitivo, social e emocional.

Palavras-Chave: Jogos; Brincadeiras; Desenvolvimento.

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INTRODUÇÃO e compartilhando sua alegria de brincar. Em


contrapartida, se o ambiente escolar é muito
A infância é um período privilegiado da sério, rígido e sem motivações, as crianças
vida humana, na qual a aprendizagem e o pouco expressam seus pensamentos,
desenvolvimento ocorrem por meio das sentimentos emoções, por receio e medo de
atividades lúdicas. O ato de brincar possibilita serem constrangidas.
o processo de aprendizagem da criança,
facilitando a construção do conhecimento, da A utilização de jogos e brincadeiras para
autonomia e da criatividade, estabelecendo, trabalhar regras e combinados no processo
uma relação estreita entre jogo e aprendizagem. de ensino e aprendizagem é o grande foco.
Segundo Vygotsky (1989, p. 53) aponta
O objetivo geral deste trabalho é mostrar também, que toda atividade lúdica da criança
como os jogos e brincadeiras poderão possui regras. A situação imaginaria de qualquer
contribuir para o processo de aprendizagem, tipo de brinquedo já contem regras que
pois essas atividades lúdicas retém o interesse demonstra características de comportamento.
das crianças e são suportes pedagógicos Nesse sentido o lúdico é fundamental para o
indispensáveis na sala de aula. desenvolvimento cognitivo, pois o processo
de vivenciar situações imaginarias leva a
Por intermédio das brincadeiras e jogos criança ao desenvolvimento do pensamento
que a criança explora o meio em que vive abstrato, quando novos relacionamentos são
e aprende mais sobre os objetos da cultura criados entre significações e interações com
humana; internalizando assim regras e papeis objetos e ações.
sociais da sociedade em que pertence.
De forma prazerosa as atividades lúdicas “brincando (...) as crianças aprendem (...),a
ajudam as crianças no desenvolvimento da cooperar com os companheiros (...), a obedecer
linguagem oral, a atenção, o raciocínio e a as regras do jogo (...), a respeitar os direitos
habilidade do manuseio, além de resgatar suas dos outros (...) a acatar a autoridade (...), a
assumir responsabilidade,a aceitar penalidades,
potencialidades e os seus conhecimentos.
que lhe são impostas (...), a dar oportunidades
Desenvolvendo naturalmente a imaginação,
aos demais (...), enfim, a viver em sociedade”.
a espontaneidade, o raciocínio mental, a
(Kichimoto,1993 p.110).
criatividade e a expressão corporal.

Durante as brincadeiras que a criança Podemos considerar que a brincadeira é de


aprende a respeitar regras, ampliando então extrema importância para o desenvolvimento
o seu relacionamento social e o respeitar a infantil, que os jogos e brincadeiras no
si mesmo e ao outro. Por meio do lúdico a processo de aprendizagem são recursos que
mesma expressa-se com maior facilidade, despertam nas crianças o interesse pelo
exercendo sua liderança, e sendo liderados aprender por meio de vivências prazerosas.

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Dessa forma, percebem-se as diversas razões envolve na ação lúdica acaba se afastando
que levam os educadores a trabalharem no da sua rotina cotidiana, que é alterada pelo
ambiente escolar as atividades lúdicas. mundo simbólico, que realiza e satisfaz os
seus desejos, as suas emoções e os seus
prazeres, pois no mundo real dificilmente
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR conseguiria alcançar este prazer.

A brincadeira é uma linguagem natural da Para Vygotsky (1998) o jogo simbólico


criança e é necessária sua presença na escola é como uma atividade típica da infância
desde a Educação Infantil para que o aluno e essencial ao desenvolvimento infantil,
possa se colocar e se expressar por meio ocorrendo a partir da aquisição da
de atividades lúdicas. O brincar se torna representação simbólica, impulsionada
importante no desenvolvimento da criança pela imitação. Desta maneira, o jogo pode
de maneira que as brincadeiras e jogos que ser considerado uma atividade muito
vão surgindo gradativamente na sua vida importante, pois por meio dele a criança
desde os mais funcionais até os de regras. cria uma zona de desenvolvimento proximal,
Estes são elementos que proporcionarão com funções que ainda não amadureceram,
experiências, possibilitando a conquista e mas que se encontram em processo de
a formação da sua identidade. Para uma maturação, ou seja, o que a criança irá
aprendizagem eficaz é preciso que o aluno alcançar em um futuro próximo. Aprendizado
construa o conhecimento, assimile os e desenvolvimento estão inter-relacionados
conteúdos. E o jogo é um excelente recurso desde o primeiro dia de vida, é fácil concluir
para facilitar a aprendizagem, neste sentido, que o aprendizado da criança começa muito
Carvalho (1992, p.14) afirma que: antes de ela frequentar a escola. De acordo
com o Referencial Curricular Nacional da
(...) desde muito cedo o jogo na vida da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 23):
criança é de fundamental importância, pois
quando ela brinca, explora e manuseia tudo Educar significa, portanto, propiciar
aquilo que está a sua volta, através de esforços situações de cuidado, brincadeiras e
físicos se mentais e sem se sentir coagida aprendizagem orientadas de forma
pelo adulto, começa a ter sentimentos de integrada e que possam contribuir para o
liberdade, portanto, real valor e atenção as desenvolvimento das capacidades infantis
atividades vivenciadas naquele instante. de relação interpessoal de ser e estar com os
outros em uma atitude básica de aceitação,
O exercício lúdico além de provocar o respeito e confiança, e o acesso, pelas
desenvolvimento do ser que brinca, também crianças aos conhecimentos mais amplos da
o seduz profundamente, chegando a desligá- realidade social e cultural.
lo do mundo real. Assim, quando a criança se

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O ato de brincar acontece em determinados JOGOS E BRINCADEIRAS


momentos do cotidiano infantil, neste COMO RECURSOS NO
contexto, Oliveira (2000) aponta o ato
de brincar, como sendo um processo de PROCESSO ENSINO-
humanização, no qual a criança aprende APRENDIZAGEM
a conciliar a brincadeira de forma efetiva,
criando vínculos mais duradouros. Assim, É importante que o professor conheça
as crianças desenvolvem sua capacidade as contribuições dos jogos e brincadeiras
de raciocinar, de julgar, de argumentar, de para a aprendizagem e desenvolvimento das
como chegar a um consenso, reconhecendo crianças para realizar essas atividades de
o quanto isto é importante para dar início à forma consciente e eficaz em sua prática. As
atividade em si. De acordo com o Referencial atividades lúdicas têm um conceituado papel
Curricular Nacional da Educação Infantil no ensino, sendo que as mesmas devem ser
(BRASIL, 1998, p. 27, v.01): vistas como forma alegre e prazerosa de
aprender, procurando desenvolver no aluno
O principal indicador da brincadeira, o espírito investigador e a criticidade, bem
entre as crianças, é o papel que assumem como os sentimentos de disciplina, seriedade
enquanto brincam. Ao adotar outros papéis e respeito mútuo.
na brincadeira, as crianças agem frente à
realidade de maneira não-literal, transferindo O professor precisa reconhecer a
e substituindo suas ações cotidianas pelas importância das atividades lúdicas para
ações e características do papel assumido, o desenvolvimento social, emocional
utilizando-se de objetos substitutos. e intelectual dos alunos, pois são nas
brincadeiras que as crianças interagem com o
A brincadeira é importante para o mundo, ordenando, desorganizando, destrói
desenvolvimento infantil na medida em que e reconstrói tudo ao seu redor. Considerando
a criança pode transformar e produzir assim que nossos alunos são seres pensantes com
novos significados. Em situações em que a vontades e desejos, pois baseado em Paulo
criança é estimulada, é possível observar que freire devemos criar maneiras que nossos
rompe com a relação de subordinação ao educando se interesse em aprender, de uma
objeto, atribuindo-lhe um novo significado, o forma prazerosa. Portanto o lúdico é uma
que expressa seu caráter ativo, na construção das técnicas mais utilizadas nas instituições
do seu próprio desenvolvimento. escolares, pois por meio desta pratica se
desenvolvem várias inteligências além
de permitir que o seja o protagonista no
processo ensino aprendizagem.

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Ao brinca, a criança está pensando, criando além de sistematizar o conhecimento que foi
e desenvolvendo, dentre outros fatores, o construído, para que o jogo não seja visto
pensamento crítico. Pois, a escola de Educação apenas como diversão, mas como algo que
Infantil tem a função de promover a construção estimule o aprendizado. Cabe ao professor
do conhecimento, assim como em todos os explorar e adaptar as situações cotidianas do
outros níveis de educação , desta construção educando às atividades escolares, para tanto,
depende o próprio processo de constituição é de suma importância que domine as idéias
dos indivíduos, portanto a escola deve utilizar e o método que ele deseja trabalhar, com o
o jogo como um instrumento indispensável da intuito de que o aluno construa seu próprio
prática pedagógica e componente relevantes conhecimento, e tenha consciência de que os
da proposta curricular principalmente em jogos propostos são meios para atingir seus
matemática, no qual deve estar voltado para propósitos e não fins em si mesmo. Segundo
a necessidade que a criança tem em construir ANTUNES (1998):
sua lógica operatória e, consequentemente,
as estruturas mentais dos números e das “O jogo ocasional, distante de uma cuidadosa
operações elementares, procurando envolvê- e planejada programação, é tão ineficaz quanto
la para que se sinta encorajada a refletir sobre um único momento de exercício aeróbico para
suas ações , a aprender a pensar, a explorar quem pretende ganhar maior mobilidade física e,
por outro lado, uma grande quantidade de jogos
e descobrir, de forma que não tenha medo,
reunidos em um manual somente tem validade
porque pensar, explorar e descobrir são os
efetiva quando rigorosamente selecionados e
pilares da educação. Segundo ANTUNES
subordinados à aprendizagem que se tem em
(1998),
mente como meta” (p.37).

“ O jogo ganha um espaço como ferramenta ideal


da aprendizagem, na medida em que propõe Percebe-se por meio de experiências
estímulo ao interesse do aluno, que como todo em sala de aula, o quanto é importante a
pequeno animal adora jogar e joga sempre ludicidade na aplicação dos conteúdos.
principalmente sozinho e desenvolve níveis
No entanto, vejo que muitos professores
diferentes de sua experiência pessoal e social. O
ainda resistem em inovar as suas práticas,
jogo ajudo-o a construir sua novas descobertas,
se acomodando no método tradicional, que
desenvolve e enriquece sua personalidade e
julgam ser o mais eficiente e mais prático
simboliza um instrumento pedagógico que leva
ao professor a condição de condutor, estimulador
de ser trabalhado, na qual o professor é o
e avaliador da aprendizagem” (p.36). transmissor do conhecimento, e os alunos são
os receptores, decorando conceitos que ao
O professor ao utilizar jogos e brincadeiras longo do tempo serão esquecidos. Para Cury
como recurso pedagógico deve planejar a (2003) o objetivo fundamental dos professores
sua aplicação, para que então possa desfiar é ensinar os alunos a serem pensadores, e não
seu aluno e abrir sua mente para descoberta, transmissores de informação.

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De acordo com Kishimoto (2002) o jogo é considerado uma atividade lúdica que tem
valor educacional, a utilização do mesmo no ambiente escolar traz muitas vantagens para
o processo de ensino aprendizagem, o jogo é um impulso natural da criança funcionando,
como um grande motivador, é por intermédio do jogo obtém prazer e realiza um esforço
espontâneo e voluntário para atingir o objetivo, o jogo mobiliza esquemas mentais, e estimula
o pensamento, a ordenação de tempo e espaço, integra várias dimensões da personalidade,
afetiva, social, motora e cognitiva.

A criança ao jogar, não só incorpora regras socialmente estabelecidas, mas também cria
possibilidades de significados e desenvolve conceitos é o que justifica a adoção do jogo
como aliado importante nas práticas pedagógicas. Para que as atividades lúdicas ocorram
de forma adequada é necessário que o educador organize o tempo, os espaços adequados e
ofereça materiais para as crianças

A partir dessa reflexão, ficou claro que o educador é o grande responsável pelo
desenvolvimento e o alcance da aprendizagem do aluno, por meio da integração dos
conteúdos com a ludicidade. É por meio da pratica diferenciada do educador que o educando
será instigado a aprender de maneira mais alegre.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo nos possibilitou a constatação que as atividades
lúdicas influenciam de forma significativa no processo de
ensino aprendizagem e desenvolvimento, pois a criança
aprende enquanto brinca. Assim, a criança estabelece com
os jogos e as brincadeiras uma relação natural e consegue
manifestar seus desejos e sentimentos, suas angústias e
entusiasmos, sua passividades e agressividades, e é por meio
da brincadeira que a criança se envolve na partilha com o
outro, se conhece e conhece o outro.

Além da interação, a brincadeira e o jogo são mecanismo


para desenvolver a memória, a linguagem, a atenção,
a percepção, a criatividade e habilidade para melhor
desenvolver a aprendizagem. Brincando e jogando a JOYCE SANTOS DE
criança terá oportunidade de desenvolver capacidades SOUZA FERREIRA
indispensáveis para seu pleno desenvolvimento, tais como Graduação em Pedagogia pela
atenção, afetividade, o hábito de concentrar-se, dentre Universidade de Guarulhos (2010);
outras habilidades. Nessa perspectiva as atividades lúdicas Especialista em Educação Infantil pela
vêm contribuir significativamente para o importante Faculdade Campos Elísios (2018);
desenvolvimento das estruturas psicológicas e cognitivas do Professor de Ensino Fundamental I - na
aluno. EMEF Armando Cridey Righetti, Professor
de Educação Infantil - na EMEB Paulo
Para a criança o lúdico é uma preparação para a vida Alexandre Mosca Cintra.

adulta, pois é por meio da imaginação que ela projeta sua vida
futura, e cabe a escola e aos professores propiciar um meio
adequado para as brincadeiras, descobertas, crescimento e
desenvolvimento integral das crianças.

Para que o processo de ensino aprendizagem seja um


sucesso o mesmo deve ser bem planejado e com objetivos
claros. A formação continuada do professor é fundamental,
o mesmo deve se aperfeiçoar e buscar novas maneiras de
ensinar, e depois o resultado virá no aluno com a aquisição
de novos conhecimentos e domínio daquilo que lhe foi
ensinado. Partindo do pressuposto que o aluno é ativo
e protagonista no processo de ensino aprendizagem. O

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Revista Educar FCE - Março 2019

professor assume o papel de mediador do conhecimento, um facilitador da aprendizagem. E


os jogos e brincadeiras são os recursos indispensáveis, que tornam a aprendizagem em algo
prazerosa e envolvente

Cabe, portanto, ao educador refletir sobre sua postura em relação ao ensinar, aprender
e ao avaliar seu aluno dentro da metodologia lúdica, garantindo um significado concreto e
a possibilidade de um trabalho que integre as diversas áreas de conhecimento. É relevante
trabalhar com jogos e brincadeiras no contexto escolar, de modo que envolva a diversidade
cultural e desperte à vontade e aprender. Ressaltando que o aspecto lúdico facilita a
aprendizagem e o desenvolvimento integral nos aspectos físico, social, cultural, afetivo e
cognitivo. Enfim, contribui para o desenvolvimento do indivíduo como um todo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Petrópolis. Rio de Janeiro. 2001

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KISHIMOTO, TizukoMorchida. Jogos tradicionais Infantil: O jogo, a criança e a educação.


Petrópolis: Vozes 1993.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-


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PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e


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Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. - Brasília: MEC/SEF, 1998, volume: 1 e 2.

VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes.

1200
Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

AÇÃO SUPERVISORA NAS ESCOLAS DA


PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO: UM
OLHAR SISTÊMICO SOBRE AS CRECHES PARCEIRAS
RESUMO: Trata o presente de uma discussão acerca do papel e importância da figura do
supervisor escolar como um agente fundamental no que tange a qualidade na educação
das crianças e bebês atendidos pela educação infantil: creches principalmente nas redes
parceiras/conveniadas. A proposta é de analisar alguns documentos e portarias elaboradas
para nortear o trabalho do supervisor com vistas também na melhoria nas condições de
atendimento e trabalho dos profissionais que atuam nessas comunidades escolares. Busca-se
assim, compreender a necessidade das crianças e familiares que necessitam do equipamento
creche, revisitando as práticas norteadoras dialógicas; acredita-se desta forma, que mais do
que garantir o acesso a vaga dos bebês, tão mais importante é garantir condições de abrigo,
proteção, alimentação, ambientes acolhedores com profissionais capazes de compreender
e atuar nesse sentido. Assim como na rede direta, a necessidade de diálogo também é
imprescindível ao trabalho pedagógico: ouvir e compreender as aspirações das família e
bebês para revisitar as práticas. Deste modo, esse artigo propõe uma reflexão do papel do
supervisor no que tange as ações necessárias em busca de uma melhoria da qualidade de
educação na rede conveniada.

Palavras-Chave: Ação Supervisora; Rede de Parcerias; Convênios; Qualidade; Formação;


Legislação Educacional; Educação Infantil; Creches.

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INTRODUÇÃO Esse artigo então dialoga com esse tema


tendo em vista a melhoria da qualidade das
Percebe-se com frequência nas unidades relações escolares que contribui tanto para
educacionais públicas, um distanciamento facilitar o trabalho de todos atores envolvidos
entre supervisores e comunidade escolar. no processo pedagógico, diretamente
Alguns supervisores resistem às novas como diretores, professores, alunos, pais,
atribuições advindas da nova concepção e indiretamente e não menos importantes,
de escola e sua diversidade de culturas pessoal da limpeza, manutenção, secretaria.
e organizações. Assim, há um conflito Trazendo melhor reflexão e compreensão dos
constante nos corredores das escolas e uma papéis que cada um exerce, aumentando a
animosidade gerada por uma falta de diálogo. colaboração que favorece o desenvolvimento
do aluno e as relações dentro do ambiente
Em contraponto, há uma vasta legislação escolar.
e literatura para amparar as práticas
administrativas e pedagógicas. O supervisor
então se vê com uma demanda além da FUNDAMENTOS DA PRÁTICA
fiscalizadora na busca de uma qualidade de SUPERVISORA
atendimento às crianças e bebês.
“Ao superpoder orientador e controlador
contrapõe-se uma concepção mais pedagógica da
A busca em resignificar a ação escolar supervisão concebida como uma co-construção,
e papel do supervisor ainda é bastante com os professores, do trabalho diário de todos
discutida. A falta de compreensão do papel na escola. O supervisor passa, assim, a ser parte
de alguns supervisores precisa ser superada integrante do coletivo dos professores, e a
para padronização da sua atuação nas supervisão realiza-se em trabalho em grupo. ”
unidades, sobretudo, as da rede parceira, (RANGEL, p.07)
uma vez que a rede direta se apresenta mais
adiantada em seu processo de maturação Por muito tempo, a ação do supervisor
pedagógica/administrativa em decorrência escolar era compreendida como fiscalizadora,
do tempo de existência. meramente burocrática sendo marcada por
um distanciamento da comunidade escolar.
Esse artigo propõe a discussão das
vantagens de uma relação mais qualitativa Com o crescimento das demandas atuais,
entre supervisão e escola, partindo de um os problemas econômicos, políticos, culturais
posicionamento do próprio supervisor, como e éticos, transcendem uma ação meramente
parte técnica mais experiente, usando como controladora. A diversidade, o respeito às
ponte a vasta biografia e legislação que a minorias, o tratamento da liberdade e justiça
Prefeitura Municipal de Educação de São precisam ser vistos com uma ótica mais
Paulo dispõe. humanista, filosófica e transcultural.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Nessa perspectiva, a ação supervisora questionar, motivar, despertando neles o


precisa alcançar para além dos papéis da desejo, o prazer, o envolvimento com o
secretaria, focando o processo didático, pelo trabalho desenvolvido e dividindo as alegrias
qual o currículo se implementa em sala de dos resultados obtidos.
aula, e na necessidade de que a formação
e a ação supervisora preparem-se para o Com a implementação dos Parâmetros
acompanhamento e atualização no cotidiano Curriculares Nacionais (Brasil, MEC,1997), a
escolar (RANGEL, p.08). supervisão educacional pode ser uma grande
aliada do professor na implementação,
A escola constitui um espaço de associada à avaliação crítica, desses
aprendizagem completa, ou seja, um tipo de parâmetros. Porém, para o alcance desse
aprendizagem onde se estudam desde os objetivo, é necessário que a supervisão
conteúdos curriculares até a formação para seja vista por uma perspectiva baseada na
exercício da cidadania. Atualmente a escola participação, na cooperação, na integração
deixa de ser um ambiente sombrio e opressivo e na flexibilidade. Nesse âmbito, reconhece-
como era no passado passando a ser um se a necessidade de que o supervisor e o
estabelecimento de diálogo e liberdade com professor sejam parceiros, com posições
desenvolvimento harmônico e prazeroso e interlocuções definidas e garantidas na
em seu ambiente, pois os profissionais da escola (ELMA LIMA apud Rangel, p.08)
educação tratam à cultura e valores morais
e éticos. A ação supervisora, desenvolvida nas
escolas, deve ser essencialmente a de
É preciso que o trabalho do profissional acompanhar a atualização pedagógica e
da educação se constitua num compromisso normativa, com especial atenção, em ambos
político, pedagógico e coletivo para poder os casos, aos fundamentos determinados na
cumprir melhor a tarefa de formar cidadãos. LDB 9.394/96; propiciar oportunidades de
Nesse sentido, percebe-se que há uma estudo e interlocução aos professores, em
hierarquia dentro do contexto escolar. atividades coletivas, que reúnam professores
Ocorre que para o trabalho do educador que desenvolvem um mesmo conteúdo nas
possa ter sentido há a necessidade de uma diversas séries e níveis escolares; propiciar
responsável atuação dos demais membros oportunidades de estudo e decisões coletivas
do ambiente escolar. Dentre os quais fazem sobre o material didático. (RANGEL, 2001, p.
parte aluno, os professores, o supervisor, 40).
diretor e demais membros da escola.
Para Rangel (2001) no que se refere à
O supervisor escolar, objeto de pesquisa descrição de métodos e técnicas de ensino,
do presente estudo, cuja função é orientar a ação supervisora pode incentivar o estudo
o grupo de professores, desafiar, instigar, de princípios metodológicos, enfatizando,

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Revista Educar FCE - Março 2019

nas sessões de estudo, elementos pontuais tarefas objetivamente; quando ele facilita
para a escolha do método, atitudes de estudo aos professores a aquisição de informações
(ler, debater, avaliar, reelaborar conceitos e relativas a conteúdos e metodologias, quando
práticas). ele permanece como centro irradiador de
todas as ações desenvolvidas na escola
Como afirma Lima (2006), dificilmente (RANGEL, 2001).
a supervisão escolar será totalmente
aceita por todos os profissionais da escola,
principalmente no que se refere às mudanças, ORIENTAÇÃO NORMATIVA
pois muitos profissionais são resistentes às Nº01/13: A HORA E VEZ DA
mudanças, no entanto existem possibilidades
para eliminar e/ou diluir estas barreiras. EDUCAÇÃO INFANTIL NA PMSP

Percebe-se que a supervisão pedagógica A Lei de Diretrizes e Bases em seus artigos


tem o sentido de promover e preparar para prevê:
a mudança, algumas medidas que serão
sempre necessárias. Art. 29. A educação infantil, primeira
etapa da educação básica, tem como
Como afirma Pires (1990), o supervisor finalidade o desenvolvimento integral da
pedagógico pode amenizar e/ou canalizar criança de até 5 (cinco) anos, em seus
os possíveis conflitos para que o processo aspectos físico, psicológico, intelectual e
de mudanças ocorra naturalmente. Para o social, complementando a ação da família
autor, precisa-se de um tempo necessário e da comunidade. (Redação dada pela Lei
ao processamento dessas mudanças e as nº 12.796, de 2013)
dificuldades para seu alcance tendem a ser Art. 30. A educação infantil será
tanto maiores quanto mais complexas forem oferecida em:
às modificações pretendidas. As mudanças I - Creches, ou entidades equivalentes,
ligadas aos conhecimentos são as mais fáceis; para crianças de até três anos de idade;
supõem a apreensão de novas informações Art. 31. Na educação infantil a avaliação
ou o enriquecimento de informações far-se-á mediante acompanhamento e
anteriores acumuladas. registro do seu desenvolvimento, sem
o objetivo de promoção, mesmo para o
Os objetivos da escola sejam acesso ao ensino fundamental.
administrativos, didáticos pedagógicos Art. 31. A educação infantil será
e até os relacionamentos interpessoais organizada de acordo com as seguintes
na escola e mesmo entre as famílias dos regras comuns:
alunos, serão facilitados à medida que o I - Avaliação mediante acompanhamento
supervisor pedagógico desempenhe suas e registro do desenvolvimento das crianças,

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Revista Educar FCE - Março 2019

sem o objetivo de promoção, mesmo para supervisora principalmente na rede parceira, a


o acesso ao ensino fundamental; fim de obter um padrão mínimo de qualidade
II - Carga horária mínima anual de 800 no atendimento nesses equipamentos, no
(oitocentas) horas, distribuída por um qual debateremos mais à frente.
mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho
educacional; O documento configura a educação infantil
III - atendimento à criança de, no como “território privilegiado” da infância, o
mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o educador como responsável pela construção
turno parcial e de 7 (sete) horas para a do cenário para a criação infantil e, por
jornada integral; possibilitar às crianças múltiplas experiências
IV - Controle de frequência pela sobre o mundo e sobre as coisas sem deixar
instituição de educação pré-escolar, de serem crianças. (O.N., Apresentação).
exigida a frequência mínima de 60%
(sessenta por cento) do total de horas; Esse documento considera a pluralidade
V - Expedição de documentação das comunidades e as singularidades
que permita atestar os processos de dos contextos educacionais dos bebês,
desenvolvimento e aprendizagem da compreendendo todos que participam
criança. (Incluído pela Lei nº 12.796, de do processo como autores desse projeto
2013) educacional em um movimento de
interlocução entre esses atores sociais.
Temos uma ampla legislação que norteiam
as ações e papéis na escola, garantindo e Aqui, a educação infantil prevê um processo
preservando o direito das crianças em sua formativo que não acontece meramente
primeira etapa da infância. em um ambiente formal. Ela se dá na vida
familiar, convivência humana, instituições,
A Secretaria Municipal de Educação de manifestações culturais, movimentos sociais,
São Paulo, rede pioneira em atuação na dentre outros. Ela se constitui como um
educação infantil, lançou em 2014 uma vasta processo formativo ao longo da vida e que é
documentação para organizar as demandas considerado pela escola e seus agentes.
exigidas pela Lei e Portarias a fim de nortear o
trabalho realizado nas unidades educacionais Sendo assim, as trocas e interações entre
de forma intencional. Visando avanços com educadores/escola e comunidade não só
relação às concepções de criança, infância fazem parte de uma prescrição legal, como
e educação infantil, incluindo a avaliação, favorecem a atuação da escola, na medida
nasce a Orientação Normativa Nº01/13. em que as famílias reconhecem seu papel,
e são devidamente orientadas, de forma
Esse é só um dos documentos que o simples e direta, sobre as possibilidades de
supervisor se baseia na construção de sua ação atuação.

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Revista Educar FCE - Março 2019

À medida que esse contato entre escola e única forma de obter mudanças significativas
família passa a ser mais efetivo, tendem a ser no cenário educacional.
menos conflituoso, mais cortês em um clima
mais amistoso. Essa aproximação deve partir do supervisor,
referência educacional, parte técnica e mais
Cabe então ao supervisor trazer esse olhar experiente e capaz para elaborar meios de
para unidade a fim de que seja cumprida as abordagem mais efetivas a fim de atingir o
prescrições legais, repertoriando naquilo público alvo da sua atuação.
que a unidade ainda carece se apropriar. Sua
função aí é objetivar e zelar pela qualidade O supervisor é o sujeito que faz a leitura
e aplicação dos documentos municipais em da escola em sua totalidade (RANGEL, p.13).
voga. Sendo assim, ele é o agente capaz de trazer
elementos mais reflexivos na formação das
comunidades educativas.
A INOVAÇÃO DO PAPEL DO
SUPERVISOR ESCOLAR Assim sendo, o supervisor se apropria
das normas e documentos prescritivos a fim
(...) a) compreender o significado da educação
de garantir a infraestrutura adequada ao
integral e o papel da escola elementar; b)
compreender o significado do currículo, de
atendimento dos bebês e crianças da rede
suas partes, organização, desenvolvimento
municipal. Não se trata de uma tarefa fácil,
e avaliação; c)compreender a função de pois por muitas vezes se faz necessária ações
administrador e do supervisor na busca de de inspeção, inerentes a função. Todavia,
eficiência do trabalho; d) compreender o papel quando o papel de formador é comprido,
do supervisor como líder do setor educacional; há melhor entendimento por parte dos
e) familiarizar-se com os vários recursos técnicos profissionais da escola de modo a reduzir as
da supervisão escolar; f) desenvolver habilidades ações de controle pelo convencimento em
necessárias à aplicação das técnicas da responder às necessidades dos educandos.
supervisão (BERNARDES,1983 apud POSSANI,
p.50) Para que o supervisor escolar consiga
atingir seus objetivos, deve traçar o perfil da
A mudança de paradigma do supervisor escola dentro do projeto político pedagógico
escolar depende da mudança do olhar sempre orientando, ajudando os professores,
desse profissional. Compreender-se como alunos e pais. Estes sim devem fazer com que
liderança, coordenador, estimulador da o trabalho escolar seja um modelo de busca
compreensão contextualizada e crítica, da e aprendizado em seu dia a dia.
sua própria ação, da comunidade e escola,
tendo como objetivo a qualidade de ensino, Aprofundando-se no Projeto Político
buscando unir forças em um objetivo comum, Pedagógico de uma Escola (PPP), percebe-

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Revista Educar FCE - Março 2019

se que as funções do supervisor dentro do contexto escolar devem estar voltadas para o
planejamento, a organização, e a programação de atividades curriculares capazes de delinear
mudanças.

A avaliação escolar também é um tipo de investigação propícia ao supervisor escolar


quanto à revisão de seus procedimentos. Cabe a ele reorientar a unidade escolar a seguir
caminho da aprendizagem que propiciem um melhor resultado externo. Este resultado passa
a se tornar como sinal para uma reflexão e autocrítica para o professor perceber o que se
pode melhorar dentro de sala de aula. Para isso, a PMSP conta também com a avaliação
institucional “indicadores de qualidade da Educação Infantil Paulistana” documento
elaboração para sistematizar essa proposta.

Segundo Pires (1990) o supervisor escolar tem diferentes qualidades. Suas principais
qualidades é efetivamente ser capaz de promover a interação entre os grupos que atuam na
escola, zelar pela qualidade do ensino, colaborar diretamente com os professores, com os
alunos e suas famílias, e acima de tudo, transforma-los em instrumentos capazes de facilitar
mudanças

A busca por uma educação de qualidade nesse contexto é constituída pela necessidade de
mobilizar todos esforços para organização não só de rotinas pedagógicas, mas organizações
para adequações físicas, como limpeza, mobiliário, manutenção dos espaços, atendimento às
orientações e normas do DAE (Departamento de Alimentação Escolar) dentre outras ações,
conforme Portarias (SME nº4548/2017 e nº7450/15).

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ação do supervisor escolar é atribuída a funções complexas,
de apoio e parceria, com o diretor e coordenador pedagógicos e
com o grupo de professores, ao qual lidera, passa a ser a essência
do desenvolvimento de seu trabalho. O Supervisor Escolar,
portanto, é o profissional orientador do trabalho pedagógico
desenvolvido pelos professores em uma escola.

Em relação a todos os profissionais das instituições de


ensino o supervisor é quem estabelece o posicionamento
de fazer, agir, movimentar e envolver-se interagindo na
comunidade dos relacionamentos na escola, em sala de aula
nas quais os alunos estão inseridos.

Cabe ao supervisor escolar atue a partir da produção do JULIANA GOUVEIA


professor – o aprender do aluno – e preocupar-se de modo MIGUEL
especial com a qualidade dessa produção. Portanto, o objeto Graduação em Letras pela Faculdade
de trabalho do supervisor é a aprendizagem do aluno através FIG- UNIMESP (2006) e Pedagogia pela
do professor, onde ambos trabalham como numa equipe um Faculdade UNAR (2008); Especialista em
dependendo do outro. Psicopedagogia Clínica e Escolar pela
Faculdade UNINOVE (2009); Professora
Frente os resultados encontrados na escola o supervisor de Educação Básica - na Prefeitura
apresenta-se como um líder, pois ele coloca resultados, Municipal de Guarulhos e Supervisora
dinamiza encontro e orienta conceitos e práticas na escola. Escolar na Prefeitura Municipal de São

O supervisor reúne conhecimento para buscar soluções para Paulo.

as questões escolares fazendo do espaço escolar intercâmbio


de experiências buscando sempre uma alternativa para um
novo caminhar.

Estamos passando por mudanças em nosso que cotidiano


que por muitas vezes não sabemos como conduzir, essas
mudanças vêm ocorrendo em maneiras tão desproporcionais
que vem interferindo em todos os ambientes pelo qual
circulamos.

Em termos de escola, por exemplo, esta vem enfrentando


dificuldades de ordem social e econômica, sejam elas públicas

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Revista Educar FCE - Março 2019

ou privadas, o que se reflete diretamente no desenvolvimento do trabalho pedagógico


desenvolvido. Cabendo ao Supervisor escolar se responsabilizar por fatores que ele deve
interferir e intervir para um melhor resultado nas avaliações escolares com a finalidade de
contribuir efetivamente com a qualificação do trabalho docente passando a se encontrar em
novos desafios e com o objetivo de formar-se para poder formar, servir para poder liderar,
agir para poder transformar.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Indicadores de Qualidade da Educação Infantil Paulistana. São Paulo: SME/DOT,2016.

LIMA, Elma Correa. Refletindo políticas públicas e educação. In: Supervisão e Orientação
Educacional: perspectivas de integração na escola. Cortez Editora, 2006

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Orientação Normativa nº01: avaliação na educação infantil: aprimorando olhares – Secretaria


Municipal de Educação – São Paulo: SME/DOT, 2014

POSSANI, LOURDES DE FÁTIMA PASCHOALETTO (organizadores) - Ação Supervisora: tendências


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supervisor-escolar/19026 Acesso em março/2019

Disponível em: https://www.sinesp.org.br/index.php/179-saiu-no-doc/2265-portaria-n-4-548-


de-19-05-2017-estabelece-normas-para-a-celebracao-e-o-acompanhamento-de-termos-de-
colaboracao-entre-a-sme-e-organizacoes-da-sociedade-civil-visando-a-manutencao-em-regime-
de-mutua-cooperacao-de-centros-de-educacao-infantil-cei-0-a-3-anos Acesso em março/2019

Disponível em: http://www.sedin.com.br/new/index.php/portaria-no-7-4502015-aprovada-a-


deliberacoes-do-cme-09-e-212015-padroes-de-qualidade-na-educacao-infantil/ Acesso em
março/2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS –
LER E OUVIR HISTÓRIAS INFANTIS
RESUMO: Este artigo tem como principal objetivo discutir a importância de se contar histórias
para crianças, visto que esse momento propicia prazer e descobertas e contribui de forma
significativa para o desenvolvimento social, afetivo e intelectual da criança. A contação de
histórias é uma das primeiras maneiras de se transmitir conhecimentos, além de estimular
a imaginação dos pequenos e incentivar a criatividade e a manifestação de diversas formas
de expressão. Por este motivo, a “hora da leitura” deve ser um momento constante na vida
da criança. Para tratar do referido assunto, buscamos o aporte de múltiplos autores, como:
Abramovich (2006), Zilberman (2003), Coelho (2000), Dohme (2000), Amarilha (1997),
dentre outros. A metodologia utilizada consistiu na revisão literária especializada. Segundo
Abramovich (2006, p.29), “Ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o
ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de
novo. Afinal, tudo pode nascer dum texto!”

Palavras-Chave: Leitura; Incentivo à Leitura; Contação de história; Desenvolvimento.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO familiares - condição para a leitura fluente e para


a produção de textos; possibilitar produções
orais, escritas e outras linguagens; informar
Contar histórias é uma das práticas mais como escrever e sugerir sobre o que escrever;
antigas que se tem registro da humanidade. possibilitar ao leitor compreender a relação
As pessoas contam histórias desde o início que existe entre a fala e a escrita; favorecer a
do desenvolvimento das habilidades de aquisição de velocidade na leitura; favorecer a
comunicação. De extrema importância estabilização de formas ortográficas.
para a formação da criança, ouvir histórias
possibilita o aflorar do imaginário, do Ouvir histórias de forma lúdica e prazerosa
interesse, das novas ideias, do intelecto, das desenvolve o pensamento crítico e oferece
descobertas e das emoções, desenvolvendo aos pequenos a possibilidade de conhecer
assim todo o potencial da criança, levando-a um mundo encantador, mas, também, cheio
a pensar, questionar, duvidar e perguntar. de conflitos e dificuldades que precisam ser
Inserir as crianças no mundo dos livros desde enfrentados.
bem pequenas, incentivando e despertando
nelas o interesse, o hábito, o gosto e o prazer Para Puig (1998, p.69),
pelo ato de ler é tarefa de todos. As histórias
preservam culturas, valores e compartilham “a criança quando ouve histórias, consegue
conhecimentos. perceber as diferenças que mostram os
personagens bons e maus, feios e bonitos,
Em geral, a criança entra em contato com poderosos e fracos, facilita à criança a
compreensão de certos valores básicos da
o mundo da leitura primeiramente por meio
conduta humana ou do convívio social. Através
das histórias apresentadas oralmente por
deles a criança incorporará valores que desde
seus familiares. Posteriormente, a prática de
sempre regem a vida humana”.
escutar histórias é estendida ao ambiente
escolar, onde o processo de aprendizagem é
aprofundado. Neste sentido, o presente estudo tem por
objetivo então destacar a importância de se
Os Parâmetros Curriculares Nacionais ler para as crianças e valorizar a prática de
(1997, p. 64-65), definem a importância contação de histórias.
da inserção da leitura no ambiente escolar
como:
LER E OUVIR
ampliar a visão de mundo e inserir o leitor na
HISTÓRIAS INFANTIS
cultura letrada; estimular o desejo de outras
leituras; possibilitar a vivência de emoções, o A criança de zero a seis anos de idade está
exercício da fantasia e da imaginação; expandir descobrindo o mundo, ao mesmo tempo em
o conhecimento a respeito da própria leitura;
que se descobre e descobre o outro, por meio
aproximar o leitor dos textos e os tornar

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Revista Educar FCE - Março 2019

das experimentações que tem possibilidade alegria. Algumas dessas emoções podem se
de realizar. Ela se utiliza de experiências mostrar inteiramente novas para a criança e
para construir seu conhecimento, tornando- é as experimentando que se aprende a lidar
se um ser ativo no seu próprio processo de cada vez melhor com cada uma delas.
desenvolvimento e aprendizagem.
Esse envolvimento da criança pode fazer
O primeiro contato que a criança tem com com que ela se identifique com os conflitos
o texto se dá por meio da oralidade: histórias dos personagens, o que esclarece melhor
contadas por adultos, que podem ser de algumas de suas dificuldades, ajuda-a a
livros, inventadas ou até mesmo, histórias encontrar um caminho para a resolução
de sua própria vida. Ao ouvir uma história desses conflitos.
interessante, a criança começa, quase que
imediatamente, a imaginá-la, tornando-se Envolver-se com a história se torna
um expectador ou participante ativo desse prazeroso não somente para a criança, mas
momento prazeroso. também para quem a conta, seja pela escolha
do livro, pela maneira escolhida de contar a
Por meio das histórias contadas, é possível história, pelos recursos utilizados, ou ainda
estimular sua imaginação e criatividade. pelas características próprias do leitor. Seu
Imaginando e criando, a criança terá a interesse aumenta também pela fonte e pela
possibilidade de conhecer diferentes forma de como são obtidas essas histórias.
lugares, tempos e formas de agir e viver, Por isso, não é exagero dizer que a atividade
além de satisfazer diversas curiosidades de contar histórias é muito importante para
que tem sobre o mundo e desenvolver a formação do futuro leitor. É quem pode
relações interpessoais, por meio do uso das transformá-lo em alguém capaz não só de ler
informações obtidas nas histórias ouvidas e livros, mas também de ler o mundo.
lidas.
A arte de contar histórias é algo que
De acordo com Cunha (2003), em vez de ultrapassa os limites da recreação e do
propiciar, sobretudo repouso e alienação, entretenimento para a criança. Trata-se de
como ocorre com formas passivas de lazer, a uma aprendizagem tão importante e rica
leitura exige um grau maior de consciência e como qualquer outra. Por isso, merece ter
atenção, uma participação ativa do leitor, ou seu espaço determinado e valorizado nas
seja, da criança. instituições de Educação Infantil, tornado-se
uma atividade permanente.
Por meio da imaginação, a criança vai
se envolvendo com a história contada e Ao contar uma história para a criança, não
experimentando, também, diversas emoções se pode fazer isso de qualquer jeito, pegando
como tristeza, raiva, medo, bem estar, o primeiro instrumento que se vê na frente.

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Revista Educar FCE - Março 2019

É importante selecionar adequadamente ao enredo da história, sussurrar quando a


a história. É necessário fazer uma seleção personagem fala baixinho, levantar a voz
inicial, levando em conta, entre outros, os quando uma algazarra acontece e usar com
seguintes fatores: o ponto de vista literário, humor os sons onomatopéicos, os ruídos e
o interesse do ouvinte e a sua faixa etária. os espantos.

O leitor deve respeitar o nível de O leitor pode acrescentar detalhes à


desenvolvimento da criança, além de escolher história, mas sem alterar o seu enredo.
títulos interessantes, com bons textos e Além disso, não deve privar a criança de
ilustrações. Deve se preparar atentamente conhecimentos novos, devendo se ater aos
para a história, lendo-a para si antes de fatos e às palavras, assim como se encontram
contá-la, para assim poder “interpretá-la”, de no texto. O contador deve conversar com o
forma a dar vida à historia que está sendo grupo sobre o que mais chamou a atenção
contada, usando sua expressão corporal e dos ouvintes, fazendo comentários.
sua voz.
Durante a leitura de uma história não
É possível aguçar a curiosidade das é necessário nenhum tipo de recurso, a
crianças antes de começar a contar uma não ser um bom livro e a voz do leitor. No
história, dizendo o nome do autor ou dando entanto, na atividade de contar a história, é
dicas objetivas e claras a respeito do assunto. permitido lançar mão de recursos para torná-
Deve-se propiciar um clima tranquilo, la mais interessante e convidativa, mas sem
despertando o interesse delas e facilitando a exageros. A utilização de objetos pode ajudar
sua concentração. a criança a imaginar e a construir a narrativa.

Para isso, é importante que o local escolhido Ouvir histórias é poder sorrir, suscitar o
para essa atividade seja aconchegante e imaginário, ter a curiosidade respondida em
convidativo, de forma que elas se sintam à relação a tantas perguntas, encontrar ideias
vontade. No entanto, isso não impede que para solucionar questões, além de ser uma
se realize esta atividade em diversos lugares possibilidade de descobrir o mundo em que
como embaixo de uma árvore, no parque, vivemos. Contar histórias é uma arte. Deve
na biblioteca, ou onde o leitor e as crianças dar prazer a quem conta e ao ouvinte. As
escolherem. histórias têm finalidades em si. Contadas ou
lidas, devem constituir sempre uma fonte de
Entretanto, não basta somente se atentar alegria e encantamento.
para esses aspectos, quem está lendo deve
gostar da história e se envolver com ela, de Ouvir histórias é um acontecimento tão
forma a contagiar também as crianças. O prazeroso que desperta o interesse das
tom de voz deve ser agradável e adequado pessoas em todas as idades. Se os adultos

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Revista Educar FCE - Março 2019

adoram ouvir uma boa história, a criança é ou contos maravilhosos, poemas, ficção, etc.
capaz de se interessar e gostar ainda mais Tem, nesta perspectiva, a possibilidade de
por elas, já que sua capacidade de imaginar é envolver o real e o imaginário. De acordo
mais intensa. com Sandroni& Machado (1998, p.15) “os
livros aumentam muito o prazer de imaginar
É fundamental para a formação da criança coisas. A partir de histórias simples, a criança
que ela ouça muitas histórias desde pequena. começa a reconhecer e Interpretar sua
O primeiro contato da criança com um experiência da vida real”.
texto é realizado oralmente, quando lhe são
contadas os mais diversos tipos de histórias. É importante contar histórias mesmo para
A preferida, nesta fase, é a história da sua as crianças que já sabem ler, pois segundo
vida. A criança adora ouvir como foi que ela Abramovich (1989, p.23) “quando a criança
nasceu, ou fatos que aconteceram com ela sabe ler é diferente sua relação com as
ou com pessoas da sua família. histórias, porém, continua sentindo enorme
prazer em ouvi-las”. Quando as crianças
À medida que cresce, já é capaz de maiores ouvem as histórias, aprimoram a
escolher a história que quer ouvir, ou a parte sua capacidade de imaginação, já que ouvi-
da história que mais lhe agrada. É nesta fase, las pode estimular o pensar, o desenhar,
que as histórias vão tornando-se aos poucos o escrever, o criar, o recriar. Num mundo
mais extensas, mais detalhadas. A criança hoje tão cheio de tecnologias, no qual as
passa a interagir com as histórias, acrescenta informações estão tão prontas, a criança
detalhes, personagens ou lembra-se de fatos que não tiver a oportunidade de suscitar
que passaram despercebidos pelo contador. seu imaginário, poderá, no futuro, ser um
Essas histórias são fundamentais para que indivíduo sem criticidade, pouco criativo,
a criança estabeleça a sua identidade e sem sensibilidade para compreender a sua
compreenda melhor as relações familiares. própria realidade.

Outro fato relevante é o vínculo afetivo Portanto, garantir a riqueza da vivência


que se estabelece entre o contador das narrativa desde os primeiros anos de vida
histórias e a criança. Contar e ouvir uma da criança contribui para o desenvolvimento
história, aconchegado a alguém que se gosta, do seu pensamento lógico e também de sua
é compartilhar uma experiência gostosa, na imaginação, que, segundo Vigotsky (1992,
descoberta do mundo das histórias e dos p.128) caminham juntos: “a imaginação é um
livros. momento totalmente necessário, inseparável
do pensamento realista.”. Neste sentido, o
Algum tempo depois, as crianças passam a autor enfoca que na imaginação a direção da
se interessar por histórias inventadas e pelas consciência tende a se afastar da realidade.
histórias dos livros, como: contos de fadas

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Revista Educar FCE - Março 2019

Esse distanciamento da realidade por meio FORMANDO LEITORES


de uma história, por exemplo, é essencial E OUVINTES
para uma imersão mais profunda na própria
realidade: “afastamento do aspecto externo O caminho para a formação do leitor
aparente da realidade dada imediatamente transcorre pelos momentos de ouvir histórias,
na percepção primária possibilita processos visto que a mente humana é ávida pelo
cada vez mais complexos, com a ajuda dos encantamento provocado por novidades e
quais a cognição da realidade se complica e mistérios. De acordo com a voz e as palavras
se enriquece”. (VIGOTSKY, 1992, p.129) do contador de histórias articulam-se as
emoções e enredos que ressoam aos ouvintes
O contato da criança com o livro pode e estabelecem relações incontáveis, de cujos
acontecer muito antes do que os adultos processamentos os conceitos acerca da vida
imaginam. Muitos pais acreditam que a humana se formulam e se reformulam.
criança que não sabe ler não se interessa por
livros, portanto não precisa ter contato com Conforme Abramovich (2006) contar
eles. O que se percebe é bem o contrário. histórias é uma arte que equilibra o que é
Segundo Sandroni& Machado (2000, p.12) ouvido com o que é sentido e pensado. As
“a criança percebe desde muito cedo, que crianças gostam de vários gêneros literários,
livro é uma coisa boa, que dá prazer”. As sejam histórias curtas, longas, contos de
crianças bem pequenas interessam-se pelas fadas, lendas, sejam elas contadas por outras
cores, formas e figuras que os livros possuem pessoas ou lidas por elas próprias. E para
e que mais tarde, darão significados a elas, que a história tenha mais vida, o contador
identificando-as e nomeando-as. deve conhecer bem a história, e envolver
as crianças, de modo que conquiste delas a
É importante que o livro seja tocado pela confiança, e desperte atenção e admiração.
criança, folheado, de forma que ela tenha
um contato mais íntimo com o objeto do seu E para criar um clima de encantamento é
interesse. A partir daí, ela começa a gostar necessário fazer as pausas, criar intervalos
dos livros, percebe que eles fazem parte de para que a criança possa construir
um mundo fascinante, no qual a fantasia se imaginariamente seu cenário, visualizar
apresenta por meio de palavras e desenhos. seus monstros, criar seus dragões, vestir-
se de princesa, sentir o galope do cavalo, o
De acordo com Sandroni& Machado barulho dos bichos, dos aviões ou dos carros,
(1998, p.16) “o amor pelos livros não é coisa e perceber com o sensorial e o emocional
que apareça de repente”. É preciso ajudar todos os componentes do contexto do qual
a criança a descobrir o que eles podem emerge a história.
oferecer. Assim, pais e professores têm um
papel fundamental nesta descoberta: serem
estimuladores e incentivadores da leitura.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Segundo Vygotsky (1992), há uma Como caracteriza Cademartori:


evidente diferença entre o comportamento
na vida real e o comportamento no mundo Tradicionalmente a literatura infantil apresentou,
fantástico. Entretanto, o comportamento com por determinação pedagógica, um discurso
brinquedos, a atuação no mundo imaginário monológico que, pelo caráter persuasivo, não
abria brechas para interrogações, para o choque
cria uma zona de desenvolvimento proximal,
das verdades, para o desafio da diversidade,
na medida em que os conceitos evoluem.
tudo se homogeneizando numa só voz, no caso,
Isso ocorre de maneira semelhante com as
a do narrador. (1987, p. 24).
histórias, entre o imaginário do brinquedo
e das histórias. Estas criam uma zona de
desenvolvimento proximal, aproximando Para superar essa postura autoritária o
conceitos reais já adquiridos com outros narrador deverá portar-se como artista, abrir
conceitos em potencial, que são esclarecidos horizontes, propor a reflexão e a recriação,
com auxílio dos adultos. não encaminhar a criança para uma única
interpretação da vida, mas a várias.
Abramovich (2006) descreve que o
destino da narração dos contos é o de Em Cadematori (1987) várias pesquisas já
ensinar as crianças a escutar, a pensar e tornaram conhecida a importância existencial
imaginar. Visto que por meio de uma história das narrativas clássicas para as crianças,
a criança pode sentir emoções importantes: visto que facultam não só a identificação
tristeza, alegria, medo, amor, raiva. As como também possibilitam uma prospecção,
histórias além de desenvolver a sensibilidade ou seja, a reformulação das expectativas pela
emocional, propiciam, segundo a autora, o apresentação de novas perspectivas.
seu desenvolvimento social e cognitivo, no
qual aprendem naturalmente outros modos Por ter uma ampla receptividade entre
de ser, sentir e viver. as crianças, torna-se necessário valorizar
os contos clássicos ou populares por se
Com base nesse discurso, o processo da constituírem em ponte entre as vivências
constituição do ser humano passa a depender lúdicas pré-escolares e as experiências que
de sua formação conceitual. Portanto, a a escola pretende facultar. Entretanto, o
infância se caracteriza como o momento falante só se relaciona ativamente com sua
primordial dessa constituição e a literatura língua por meio de uma interação afetiva e
é um dos principais meios colaborativos intelectiva com o sistema linguístico, em que
desse processo. Além disso, a literatura é língua e falante deixam de ser estáticos, para
também meio de libertação do domínio e da se redimensionarem pela ação recíproca.
manipulação da sociedade.
A importância da obra de ficção na escola
é problematizada por Zilberman (2003),

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Revista Educar FCE - Março 2019

que vê na natureza formativa um aspecto


em comum entre a literatura e a escola. A Partindo de pressupostos de que a
autora salienta que a literatura tem amplos capacidade humana à individual é relevante
pontos de contato com o cotidiano do em determinadas situações, e nem todas as
leitor, independentemente da fantasia e da crianças respondem igualmente conforme
discrepância do contexto em que uma obra os estímulos oferecidos. Acredita-se que
é concebida e ainda assim, se comunica com o desenvolvimento cognitivo e lúdico
seu destinatário atual. juntamente com a literatura pode ser
trabalhada de forma concisa, podendo
As obras de ficção ajudam o leitor a superar vários bloqueios já existentes, ou
conhecer melhor seu próprio mundo. que aparecerão no percurso da vida escolar
Portanto, a criança (ou o leitor em formação) da criança. A literatura é um dos aspectos
terá mais estímulo imaginativo com a ficção mais importantes para a criança como ponto
do que na recepção de postulados que devam de partida para aquisição de conhecimentos,
ser decorados. meio de comunicação e socialização.

A literatura infantil é constituída em sua Inicialmente, o livro é só um brinquedo.


essência, por pressupostos lúdicos, ou seja, É na presença do adulto, no momento
relativo ao mundo dos sonhos que na maioria em o mesmo leva a criança a iniciar seu
são mágicos, levando a criança ao mundo relacionamento com ele (livro) é que a levará
fantástico. Neste enfoque, os brinquedos e a descobrir seu verdadeiro sentido e suas
as atividades lúdicas, muitas vezes foram os múltiplas possibilidades.
responsáveis pela transmissão da cultura de
um povo, de uma geração para outra. A ludicidade desempenha um papel
muito importante no processo educativo.
Essas atividades lúdicas têm objetivos Com o lúdico, a criança adquire confiança,
diversos, usados para se divertir, outras criatividade, motivação, além de desenvolver
vezes para socializar, para promover a união várias habilidades como: coordenação,
de grupos e, num enfoque pedagógico, concentração e agilidade. O mundo lúdico é
como um instrumento para transmitir um mundo no qual a criança está em constante
conhecimento. Faz-se necessário que exercício, cheio de fantasias, imaginação,
os educadores repensem sua prática jogos e brincadeiras. Isso proporciona o
pedagógica por meio de novas lógicas mais crescimento e o desenvolvimento, além de
abertas e humanas. A educação necessita estimular a curiosidade, a autoconfiança e a
instrumentalizar as crianças de forma a tornar autonomia.
possível a construção de sua autonomia,
responsabilidade e cooperação. O contador de história também
desempenha um importante papel neste

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Revista Educar FCE - Março 2019

encontro entre a criança e o mundo lúdico, auxilia no desenvolvimento do sujeito.


pois cabe a ele a função de mediar a ligação Entende-se que a palavra oral é essencial
entre as crianças e as obras literárias. para o desenvolvimento da criança, pois
é fundamental para o desenvolvimento
Tendo em vista que a literatura infantil e construção do ser psicológico, social
e ludicidade têm importante contribuição e cultural; porém, é pouco empregada e
para o desenvolvimento da linguagem, explorada nas famílias, escolas e em lugares
do pensamento e da atenção da criança, por ela frequentados.
além de ser uma forma prazerosa, propicia,
ainda, a ampliação de sua visão para novas Percebe-se nas escolas a dificuldade do
realidades, tornando-se um ser humano mais uso da palavra narrada, por conta do ritmo
crítico e criativo, portanto mais cidadão. acelerado e exigência das instituições
escolares não permitirem um tempo
diferenciado para que alunos e professores
A ARTE DA CONTAÇÃO DE desfrutem dessa experiência.
HISTÓRIAS NAS ESCOLAS
Os professores, que estão sobrecarregados
O momento de contação de histórias com as atividades cotidianas e têm o
infantis contribui para o desenvolvimento compromisso de cumprir o currículo, somado
do indivíduo em formação. Segundo Cunha com a responsabilidade de formar e educar
(2003), quando se leva o livro à infância, crianças, devem realizar obrigações como
pretende-se criar hábitos de leitura, atividades lúdicas, recreios, e tantos outros
empregando a literatura como forma de cuidados que o levam a deixar a prática da
enriquecimento, pois, a leitura é uma forma narrativa em segundo plano.
ativa de lazer e exige um grau de consciência
e atenção com a participação do leitor, Neste sentido, concorda-se com o
diferente de outras formas de lazer que posicionamento que afirma que se deve
propiciam repouso e alienação. refletir sobre a crise da narrativa no mundo
contemporâneo e sobre o significado do
A referida autora afirma que é ato de contar histórias. Diante destas
imprescindível que a escola procure afirmações, torna-se indispensável rever
desenvolver no aluno formas ativas de lazer, a importância da literatura infantil para
incentivando-o a tornar-se crítico, criativo, reintegrá-la de forma dinâmica e criativa no
mais consciente e produtivo. cotidiano escolar. Assim, acredita-se que o
professor deva reconstruir e organizar suas
Neste sentido, acredita-se que a práticas, para possibilitar aos seus alunos
literatura tem papel relevante neste essa experiência maravilhosa, ajustada às
aspecto, pois além de ser forma de lazer, condições do mundo contemporâneo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

É fundamental que a criança possa Ainda de acordo com Battaglia (2003), em


vivenciar a palavra e a escuta em todas as uma época de mudanças extraordinariamente
suas possibilidades, explorando diferentes rápidas em que se vive, a literatura tem papel
linguagens, capturando-as e apropriando-se fundamental na reformulação de valores e na
do mundo que a cerca, para que este se desvele conscientização das crianças que são seres
diante dela e se torne fonte de interesse em formação, preservando princípios éticos
vivo e permanente, fonte de curiosidade, e respeito aos direitos humanos.
de espantos de desejos e descobertas,
numa dinâmica em que ela se socialize e se Neste processo, cabe ao professor o papel
manifeste de forma ativa, cri(ativa), (particip) fundamental de mediação entre a criança e a
ativa em qualquer situação, não apenas literatura, incumbindo a ele o compromisso
“recebendo” passivamente, mas produzindo do estudo, da reflexão, do conhecimento das
e (re)produzindo cultura. obras infantis e de seus critérios de seleção,
pois é da sua formação pessoal como leitor
Desta forma, a narrativa compartilhada que dará vida ao texto preenchendo suas
entre crianças e professor estimulará o prazer lacunas com a própria existência.
de contar, ouvir, ler e criar novas histórias
de forma lúdica e interativa, renovando o Leitor que relaciona com a literatura pela
conhecimento, no âmbito subjetivo, em via do prazer estético e como exercício
aspectos objetivos e de socialização. Neste de vida. Leitor que, sendo educador,
sentido, o educador deve criar formas apresenta a literatura para as crianças como
significativas e expressivas de comunicação brincadeira levada a sério, uma brincadeira
com a criança por meio do ato de contar, que, partindo da palavra acontece “dentro da
ler e de ouvir histórias, possibilitando que cabeça”, pondo em ação o corpo, a razão e
a criança encontre significados para sua a sensibilidade, numa relação plena do ato
própria existência. de conhecer. Na concepção da autora, a
literatura está aí para ser lida e, como leitura,
Battaglia (2003) fala da urgência de a escola ser vivida.
repensar o papel atribuído à literatura dentro
de seus projetos pedagógicos, pois se vive Para que essa vivência não se perca,
em uma sociedade que valoriza a velocidade, o professor tem papel fundamental na
a informação, o temporário e o descartável mediação entre a criança e a literatura. Neste
e assim a experiência com a literatura é sentido, acredita-se que cabe ao professor
desvalorizada. A autora fala que é necessário incluí-la em seu planejamento, pois ele que
alargar e diversificar as oportunidades de traçará os passos iniciais no espaço escolar,
conhecimento do mundo, oportunizando incentivando e aguçando a curiosidade das
vivências que façam as crianças apropriarem- crianças e contribuindo para desenvolver o
se de suas histórias de vida. hábito da leitura na criança.

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Muitos adultos e adolescentes apresentam linguagem que a criança traz, e a partir dela
dificuldade de compreensão e/ou reprodução orientá-la e ensiná-la a forma correta.
de textos, embora tenham muitos anos
de escolarização. Assim, é necessária uma O hábito de ler deve começar nos
revisão dos objetivos de alfabetização, primeiros anos de vida da criança e mesmo
visando contribuir para a formação de leitores antes desta ingressar na escola. Contudo,
e escritores competentes, sendo uma tarefa percebe-se que a criança de hoje se sente
especialmente reservada aos professores. cada vez mais desestimulada à leitura, devido
às várias tecnologias que usam no seu dia a
No contexto da educação infantil acredita- dia, entre estes a televisão, o computador
se que a linguagem oral é de suma importância e o videogame que, além de alienar, pode
e fundamental para o desenvolvimento prejudicar o desempenho e a criatividade
psicológico, social e cultural da criança, da criança. Pais e educadores devem tomar
pois é por meio das relações pessoais que a consciência da urgência da necessidade de
criança se desenvolve, e tem sua inserção e promover o interesse da criança pela leitura,
participação nas práticas sociais. A linguagem o que, além de reduzir seu tempo em frente
oral é a que tem maior importância, pois é à televisão, e que dará uma bagagem muito
o instrumento mais utilizado neste nível maior de conhecimento e poderá estimular a
de escolarização, já que as crianças nesta imaginação e a criatividade.
idade não leem e não escrevem. É por meio
da linguagem oral que o adulto possibilita o A sala de aula é um lugar privilegiado para
contato da criança com os textos, ao ler para o desenvolvimento do gosto pela leitura
ela, ao conversar sobre os textos lidos. e um importante setor para o intercâmbio
da cultura literária, sendo um espaço que
A oralidade deve trabalhar dois pontos poderá ser o berço de futuros autores,
importantes: a própria comunicação que escritores e artistas. Se os educadores
estabelece com base na linguagem que a fizerem da literatura infantil um momento
criança já domina, ou seja, quando a criança de lazer, de modo que o aluno sinta prazer
entra na escola, já é capaz de dialogar, em ler uma história, não como uma tarefa a
narrar fatos e histórias, brincar com colegas mais para cumprir, estarão colaborando para
e adultos, pedir ajuda etc; e o uso da o seu desenvolvimento integral. O professor
linguagem como um importante mediador poderá levar a criança a se interessar pelo
do conhecimento letrado, visto que a tema da leitura por meio de canções,
escola de educação infantil para crianças de expressão corporal, dança, observação,
famílias pouco escolarizadas talvez seja a contato com a realidade.
mais importante instituição no sentido de ter
acesso ao mundo letrado. Por este motivo, A literatura infantil é um dos suportes
o professor deve conhecer e valorizar a básicos para o desenvolvimento do processo

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Revista Educar FCE - Março 2019

criativo da criança, pois ela oferece ao dúvidas ou a compreensão do texto, ou


leitor uma bagagem de conhecimentos ainda selecionar os livros mais adequados à
e informações capazes de provocar uma biblioteca da sala, de acordo com a idade dos
ação criadora, proporcionando também alunos. Nos dias atuais, é dever do professor
novas experiências e o desenvolvimento garantir o direito das crianças de usufruir
de suas fantasias e criatividade. O melhor dos prazeres que as histórias proporcionam.
instrumento e a técnica mais eficiente são o Para isso, é preciso primeiro criar o hábito e o
amor e a criatividade, unidos à preocupação gosto pela leitura, para só então proporcionar
com os objetivos do trabalho, com o nosso momentos em que a leitura valha por ela
público e com a mensagem a ser transmitida. mesma, por tudo que ela proporciona.
É preciso que o professor goste de literatura
infantil, que ele se encante com o que lê, pois Acredita-se que contar histórias é uma
somente assim poderá transmitir a história experiência significativa tanto para quem
com entusiasmo e vibração. Se o professor conta quanto quem ouve, mas empregado
for um apaixonado pela literatura Infantil, por poucos professores. Sobre o uso da
provavelmente, os alunos se apaixonarão literatura, se o educador for um profissional
também. Muitas vezes lemos uma história comprometido não apenas com o conteúdo
e não gostamos, uma criança lê a mesma a ser trabalhado, mas também com sua
história e fica encantada. Isso pode acontecer qualidade, seguramente estará contribuindo
porque lemos com a cabeça de adulto. para que o aluno de amanhã seja mais
consciente na luta pela transformação da
O presente estudo defende que, antes de educação e da sociedade como um todo, a
trabalhar o texto com os alunos, o professor fim de que haja mais justiça e igualdade de
precisa ler e gostar da história, planejar direitos para todos.
como motivará os alunos a ouvi-la e contá-
la com entusiasmo para então despertar Contar histórias é uma tarefa importante na
neles o gosto e interesse pela leitura. O educação infantil e a narrativa para crianças
mais importante ao contar uma história é pequenas envolve todas as oportunidades
o envolvimento da criança e que a criança de interação que a mesma tem com seu
quando se identifica com alguma parte da mundo de imaginação, sendo que o ouvir e
narrativa, ela deve ter espaço para falar de ler histórias de diferentes modos oportuniza
sua experiência relacionada à história, pois, apreender melhor a realidade. Assim, o
quando há identificação, a criança ouve com professor deve perceber se as histórias estão
mais interesse e atenção. instruindo, comovendo e agradando, pois, ao
contar histórias, deve saber a quem contar,
Há muitas maneiras de se avaliar um quando contar, o que contar e como contar.
conteúdo de literatura. O professor deve
acompanhar a leitura no sentido de esclarecer

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Revista Educar FCE - Março 2019

Dessa forma, acredita-se que o livro é um dos principais meios de mediação de uma história
e que todos devem ter acesso a eles. A literatura infantil deve proporcionar aprendizagens,
vivências e emoções, favorecendo o desenvolvimento completo e emancipatório do
ser humano. Neste sentido, as ações que empregam a literatura infantil precisam ser
sistematizadas, tornando-se uma grande aliada no processo escolar. Assim, acredita-se que
todas as atividades educativas devam ser planejadas.

Neste caso, o planejamento do professor deve ser assumido como um processo de
reflexão, de intencionalidade. Por envolver todas as situações e ações do educador, deve ser
uma atitude crítica do trabalho docente e, para tanto, o planejamento não deve ser como
uma forma pronta e acabada, mas flexível, para que o educador possa repensar sua prática,
revisando, buscando novos caminhos para sua prática pedagógica.

O educador, ao contar histórias, pode também variar na escolha de recursos e, mesmo que
não seja um exímio contador de histórias, o uso desses recursos poderá facilitar e transformá-
lo em um artista de dotes especiais e um mestre capaz de transmitir com segurança e
entusiasmo o texto às crianças. Acredita-se que o professor, ao contar histórias, além de
planejar, ler, gostar da história e fazer opção pela melhor história para a faixa etária de seus
ouvintes, possa usar diferentes recursos para contar com mais entusiasmo e despertar em
seus alunos o gosto pela leitura.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O “contador” precisa ser habilidoso, é necessário “entrar”
na história e levar junto todos os ouvintes. Diversos recursos,
como, imagens, sons, instrumentos musicais, materiais
alternativos, devem ser utilizados para que o momento
seja ainda mais aprazível. Algumas dicas e técnicas também
podem ajudar. A linguagem corporal do “contador” tem
grande relevância para o processo.

O ambiente, mesmo que simples, deve ser favorável JULIANA LEANDRO


à contação de história. Pode ser ao ar livre ou em locais FERIANCE DE OLIVEIRA
fechados, porém é necessário estar livre de qualquer
Graduação em Letras pela Universidade
distração ou desconforto. Além da escolha do ambiente, há a Guarulhos (2004) e em Pedagogia pela
necessidade de se perceber o momento ideal para se contar Faculdade Associada Brasil (2016);
histórias. Especialista em Ludopedagogia pela
Faculdade Campos Elíseos (2019);
No ato da contação de história, a criança se identifica Professora de Ensino Fundamental II -
com os personagens. Essa identificação desperta várias Língua Portuguesa.
emoções e faz com que os pequenos coloquem para fora
seus sentimentos e vençam suas emoções. Além disso,
a contação aguça a curiosidade das crianças e desperta o
interesse em conhecer mais histórias. A tendência é que
naturalmente se tornem habilidosos leitores e o processo de
ensino-aprendizagem será mais rápido e prazeroso.

Essas habilidades podem se desenvolver por meio da


literatura no cotidiano escolar. O professor deve facilitar
o processo de ensino-aprendizagem dos seus educandos
e a contação de histórias pode ser uma maneira eficiente
de inserir os conteúdos de forma prazerosa, promovendo
o desenvolvimento da criança, além da imaginação, da
criatividade e de seu senso crítico.

O ideal da literatura é entreter, instruir e educar as


crianças. O prazer deve estar acima de tudo, quando se trata
da leitura literária. A primeira função do livro infantil é a
estético-formativa, a educação da sensibilidade, pois reúne

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Revista Educar FCE - Março 2019

a beleza. É desse modo que a literatura pode intervir no processo ensino-aprendizagem, pois
lendo e ouvindo histórias o sujeito desenvolve sua sensibilidade, seu gosto artístico, como
também amplia sua maneira de ver e entender o mundo (COELHO, 2000).

Este contato com os livros e histórias auxilia o desenvolvimento no aspecto cognitivo, na


aquisição da linguagem oral e na socialização, na construção de regras e limites na relação
com o outro e, sobretudo, no aspecto afetivo que trabalha com o vínculo e a constituição
do sujeito.

Ao contar uma história para uma criança, uma história real ou imaginária, dá-se a
oportunidade a ela de conhecer as lendas, histórias, contos e fatos de um determinado local.
Porém, as histórias contadas ou lidas, devem ser de interesse da criança, estimulando novas
leituras, criatividade, ampliando a visão de mundo dos alunos, de uma forma prazerosa e
mágica.

Portanto, concluímos que a contação de histórias deve ser uma prática rotineira das
escolas, pois a valorização desta atividade interfere no desenvolvimento integral da criança,
além de estimulá-la a conhecer e apaixonar-se pelo mundo da leitura, de forma a garantir
sujeitos críticos e bons leitores.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

DEGRADAÇÃO DOS BIOMAS BRASILEIROS


RESUMO: O Brasil é o segundo país com a maior cobertura vegetal do mundo, ficando
atrás apenas da Rússia. Entretanto, o desmatamento está reduzindo de forma significativa a
cobertura vegetal no território brasileiro. São aproximadamente 20 mil quilômetros quadrados
de vegetação nativa desmatada por ano em consequência de derrubadas e incêndios. No
Brasil, houve um grande avanço no desmatamento com a chegada dos portugueses em 1500,
os quais exploravam o pau-brasil para venda na Europa. A exploração de madeira ainda existe,
na maioria das vezes de forma ilegal. Atualmente, o desmatamento ocorre principalmente
para a prática da atividade agropecuária. Porém, a construção de estradas, hidrelétricas,
mineração e o processo intensivo de urbanização contribuem significativamente na redução
das matas. Esse processo de retirada da cobertura vegetal acarreta vários fatores negativos
ao meio ambiente, entre eles se destacam: perda da biodiversidade, empobrecimento do
solo, emissão de gás carbônico na atmosfera, alterações climáticas, erosões, entre outros.
Isso tudo traz sérios problemas às populações humanas, pois a alteração do ambiente causa
um desequilíbrio nos recursos naturais, dos quais, somos dependentes. Construção de
corredores ecológicos, recuperação de solos degradados, plantio de matas ciliares, estudo
criterioso de possíveis intervenções no ambiente e um manejo sustentável da região, são
algumas práticas que podem preservar parte da vegetação e sua biodiversidade presente.

Palavras-Chave: Conscientização;Desmatamento; Preservação; Queimadas; Reflorestamento.

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INTRODUÇÃO Pampa e Pantanal. Dentre eles, apenas a


Floresta Amazônica possui um relativo grau
O presente artigo visa retratar com dados de preservação, apesar do aumento do
atualizados o índice de desmatamento no desmatamento nos últimos anos.
Brasil, suas principais causas e algumas
alternativas para redução da devastação e
recuperação de áreas que foram degradadas. AMAZÔNIA
O país conta com a segunda maior cobertura
vegetal do planeta, portanto, é de extrema O desmatamento da Amazônia é motivo
importância a sua preservação, considerando de grande preocupação para o mundo. Isso
que sua influência é de ordem global, como o porque ele leva a alterações significativas no
clima, por exemplo. funcionamento dos ecossistemas, gerando
impactos sobre a estrutura e a fertilidade dos
No Brasil, a devastação das áreas naturais solos e sobre o ciclo hidrológico, constituindo
ainda é um problema grave e preocupante importante fonte de gases do efeito estufa.
para o bem-estar das futuras gerações,
embora o país tenha tido alguns avanços Por outro lado, zerar o desmatamento
nos últimos anos. É fundamental a criação na Amazônia traria benefícios ambientais
de políticas públicas para a conscientização e sociais para o Brasil e para o mundo.
da população sobre a importância da Entretanto, o desmatamento na Amazônia
preservação do meio ambiente, visto que tem aumentado desde 2012, e pelos dados
somos dependentes dos recursos que ele recentes, tende a continuar.
fornece.
Entre as principais causas do desmatamento
Ainda com relação ao poder público, são da Amazônia podem-se destacar a
necessários maiores esforços em programas impunidade a crimes ambientais, retrocessos
que facilitem a criação de áreas de proteção em políticas ambientais, atividade pecuária,
ambiental, recuperação de áreas degradadas estímulo à grilagem de terras públicas e a
e pouco produtivas, reflorestamento de retomada de grandes obras.
matas ciliares, maior controle de intervenções
no ambiente e um forte incentivo no manejo Foram 55 milhões de hectares derrubados
sustentável. entre 1990 e 2010, mais do que o dobro
da Indonésia, o segundo colocado. O ritmo
Com relação a cobertura vegetal, o Brasil da destruição, nas últimas duas décadas,
está dividido em biomas, que é um espaço foi 170 vezes mais rápido do que aquele
geográfico com características específicas, registrado na Mata Atlântica durante o Brasil-
dos quais destacamos os principais: Colônia. Cerca de 20% da floresta original
Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, já foi colocada abaixo sem que benefícios

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Revista Educar FCE - Março 2019

significativos para os brasileiros e para o Campanhas ambientais levaram empresas


desenvolvimento da região fossem gerados. a estabelecerem a Moratória da Soja, que
boicota compras de áreas desmatadas após
A poluição gerada pelas queimadas, por 2006. A França, por exemplo, anunciou
exemplo, causa mortes, aumento de casos bloqueios paulatinos a importação de
de doenças respiratórias e alterações no commodities que contribuam para o
clima regional, que podem pôr em risco a desmatamento no mundo, incluindo o da
produtividade no campo. Amazônia.

O desmatamento da Amazônia não se Dez anos após a Moratória da Soja, que


converteu em riqueza para a maior parte dos passou a bloquear produtores que plantaram
habitantes da região, visto que, os municípios em áreas de novos desmatamentos, a área
da Amazônia estão entre os de menor IDH plantada passou de 1,2 milhão de hectares
(Índice de Desenvolvimento Humano) e IPS para 4,5 milhões de hectares devido ao plantio
(Índice de Progresso Social) do país. Em um em áreas de pastagens. O grande estoque de
primeiro momento, o acesso fácil aos recursos áreas mal aproveitadas na região resulta, na
naturais produz uma explosão de riqueza maioria das vezes, do desmatamento para
no município, mas que fica concentrada especulação fundiária (grilagem), por meio da
nas mãos de poucos e se esgota em poucos invasão de terras públicas, frequentemente
anos. O resultado são cidades inchadas, com com uso de trabalho análogo ao escravo.
infraestrutura deficiente, altos índices de
desemprego e baixa concentração de renda Em 2016, pelo menos 24% do
per capita. desmatamento ocorreu em florestas públicas
ainda não destinadas. Essa grilagem também
A contribuição econômica do está ligada a uma pecuária bovina de
desmatamento para a economia é mínima. baixíssima eficiência: 65% da área desmatada
Toda a área desmatada durante o período de na região está ocupada por pastagens, com
2007 a 2016 representou somente 0,013% taxa de lotação média de menos de uma
do PIB médio desse mesmo período. cabeça de gado por hectare.

O argumento de que o desmatamento As medidas implementadas entre 2005 e


da Amazônia é necessário para aumentar a 2012 derrubaram as taxas de desmatamento
produção agropecuária é inválido, uma vez na região em cerca de 70% e indicam que
que já existe uma enorme área desmatada os elementos necessários para atingir
que vem sendo mal utilizada em pastagens, o desmatamento zero se encontram
originando áreas degradadas. presentes. Entre eles estão os acordos pelo
fim do desmatamento pela agropecuária, o
aumento da eficiência da pecuária nas áreas

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já abertas, a criação de áreas protegidas (Unidades de Conservação e terras indígenas) e o


cumprimento do Código Florestal.

As doenças e mortes causadas pelo desmatamento da Amazônia decorrem, principalmente,


das queimadas. A redução do desmatamento associados às queimadas na Amazônia evitou
de 400 até 1.700 mortes precoces por doenças respiratórias por ano entre 2001 e 2012, na
América Latina. A queda do desmatamento reduziu a taxa de nascimentos prematuros e de
crianças com peso abaixo do normal.

Em 2016 o desmatamento da Amazônia foi responsável pela emissão de 26% das


emissões de gases de efeito estufa. O agravamento das mudanças climáticas promovido
pelo desmatamento da Amazônia carrega consigo fortes prejuízos econômicos, podendo
levar a uma redução de 1,3% do PIB nacional em 2035 e de até 2,5% em 2050. A perda do
PIB agropecuário seria ainda mais grave: entre 1,7% e 2,9% em 2035 e de 2,5% a 4,5% em
2050.

CAATINGA
A Caatinga tem como principal característica o fato de ser o único bioma exclusivamente
brasileiro. Mesmo assim, estudos divulgados pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação
da Biodiversidade do Cerrado e Caatinga (CECAT) alertam que esse é o domínio florestal

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menos conhecido cientificamente da América são diversos, em razão da importância


do Sul, tanto em termos geográficos quanto da vegetação para a região que ocupa.
em observações biológicas. De toda forma, Além disso, existem indícios ainda não
à medida que as pesquisas sobre o bioma comprovados de que a Caatinga possa ser
avançam, mais se descobre que ele é um mais eficiente na absorção de gás carbônico
ambiente natural mais rico em biodiversidade na atmosfera do que as florestas tropicais,
do que se pensava. haja vista que estas últimas produzem
uma quantidade de CO2, mais ou menos
Embora tenha uma grande importância equivalente ao que absorvem.
para as condições naturais da região
do Nordeste brasileiro, a caatinga vem Outra consequência do desmatamento da
sendo desmatada sobremaneira ao longo Caatinga é a desertificação. Sabe-se que nas
dos últimos anos. Segundo pesquisas do regiões de clima mais quente e com pouca
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, precipitação, o que se verifica em algumas
cerca de 45% dos 734.478 km² originais de das áreas ocupadas por esse bioma, a
sua vegetação foram desmatados até o ano tendência de desertificação é alta em virtude
de 2010. No ano de 2015, um estudo mais da desidratação dos solos ocasionada pelo
aprofundado revelou que há uma proporção elevado índice de evaporação. Com a remoção
de 40% de caatinga preservada para 45% de da vegetação, o problema é intensificado,
caatinga degradada, 7,2% de solo exposto, além de tornar os solos mais expostos e, por
6,5% de lavoura e 0,7% de corpos d’água. isso, altamente propensos a erosões e outros
Entre as áreas degradadas, cabe destaque problemas ambientais, como a salinização.
para o espaço nos territórios de Alagoas,
Ceará, Bahia e Pernambuco. Em resposta a essa problemática, o
Ministério do Meio Ambiente elaborou
A vegetação desse domínio natural possui um planejamento para combater o
um alto poder calorífico, sendo bastante desmatamento local por meio da criação do
adequada para a utilização como lenha. PPCaatinga (Plano de Ação para a Prevenção
Essa característica, associada à grande e Controle do Desmatamento na Caatinga).
necessidade energética de uma região que O objetivo é a criação de um planejamento
sofre com a falta de investimentos e de que vise reduzir a degradação crescente da
presença do Estado, é a principal causa do vegetação e que leve em consideração as
desmatamento da Caatinga. Estima-se que particularidades fitogeográficas da Caatinga.
30% da energia utilizada pelas indústrias Além disso, estão sendo elaboradas iniciativas
locais advenham dessa prática de extração para reflorestamento, recuperação dos
da lenha da vegetação do semiárido. solos e das bacias hidrográficas da região,
principalmente o semiárido do chamado
Os efeitos do desmatamento da Caatinga “polígono das secas”.

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Revista Educar FCE - Março 2019

De toda forma, é preciso também que o As principais causas da devastação do


governo nas esferas municipais, estaduais Cerrado são o avanço das queimadas e a retirada
e federal opte por ações de planejamento de suas matas para a utilização do solo na
que visam diversificar as fontes de energia agropecuária. A área de sua ocupação original
locais, sendo essa uma região com elevado configura-se, hoje, como o principal local
potencial para a produção de energia solar e fornecedor de grãos do Brasil, com destaque
eólica, e também priorizar a sustentabilidade para a soja, que é voltada, principalmente,
da região. Falar em desenvolvimento para o mercado externo. Tal processo ocorreu
sustentável é falar em manter o crescimento graças aos avanços dos sistemas de cultivo,
econômico sem diminuir a disponibilidade de que permitiram a instalação de lavouras em
recursos naturais e as áreas de preservação locais antes considerados pouco propícios,
disponíveis. pois os solos do Cerrado são muito ácidos
e apenas a aplicação da calagem (correção
do pH do solo através da adição de calcário)
CERRADO pode corrigir essa dificuldade.

Um dos mais ricos e importantes domínios Outro motivo foi o desinteresse do poder
naturais do Brasil é o Cerrado, localizado em público em preservar esse domínio natural,
boa parte da região Centro-Oeste e também visto os poucos esforços de sua conservação
em partes das regiões Norte, Nordeste e ao longo do século XX e a não inclusão do
Sudeste do país. Embora o seu ambiente Cerrado nas áreas de preservação natural
apresenta importantes funções ambientais na Constituição promulgada em 1989. Além
para espécies animais, vegetais e, também disso, apenas 3% da área do Cerrado é formada
para nascentes e leitos de rios, o seu processo por reservas e unidades de conservação, o
de devastação acentuou-se ao longo das que é considerado um índice muito baixo.
últimas décadas e boa parte de sua formação Vale lembrar ainda que mesmo essas áreas
original foi destruída. de proteção ambiental sofrem pressão de
fazendeiros e grileiros para a sua ocupação.
O processo de desmatamento do Cerrado
consolidou-se ao longo da segunda metade Apenas nos últimos anos é que medidas
do século XX, graças aos avanços da públicas de preservação do Cerrado foram
agropecuária para o interior do país nesse adotadas, fazendo com que, a partir de 2006,
período. Dados revelam que menos de 48% o seu processo de destruição começasse a
da vegetação original encontra-se total ou diminuir, embora ainda seja elevado. Dados da
parcialmente conservada, e para piorar, Organização de Conservação Internacional
o desmatamento vem aumentando nos estima que, caso o processo de devastação
últimos anos, sendo maior até mesmo que o do Cerrado continue, suas reservas durarão
da Amazônia. somente até 2030.

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As principais consequências do desmatamento do bioma Cerrado envolvem a extinção


de algumas espécies animais e vegetais, com a perda da biodiversidade, além do impacto
gerado sobre o leito de muitos rios importantes para o país, a exemplo do São Francisco,
que passará a contar com cada vez menos nascentes. Outro efeito é a degradação de outros
domínios naturais que dependem direta e indiretamente do bioma Cerrado, o que inclui,
principalmente, o Pantanal Mato-Grossense.

Atualmente, o Cerrado é considerado um hotspot, termo que se refere ao conjunto de


áreas do planeta com alta biodiversidade e que se encontram ameaçadas, carecendo de
maiores atenções a fim de manter a sua preservação. No Brasil, existe apenas mais um
hotspot além do Cerrado, que é a Mata Atlântica. Espera-se que, em um futuro próximo,
a devastação desse importante domínio natural seja totalmente interrompida e ao menos
algumas partes de sua vegetação sejam reflorestadas e recuperadas.

MATA ATLÂNTICA
A Mata Atlântica é uma das florestas mais ricas em diversidade de espécies e uma das
mais ameaçadas do planeta. O bioma abrange área de cerca de 15% do total do território
brasileiro, que inclui 17 Estados (Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do
Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte,
Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe), dos quais 14 são costeiros. Hoje,

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restam apenas 12,4% da floresta que existia Sete estados beiram o desmatamento
originalmente e, desses remanescentes, 80% zero, com desflorestamento em torno de
estão em áreas privadas. 100 hectares (1 Km²). O Ceará e Espírito
Santo, com 5 hectares (ha), são os estados
Ela é a casa da maioria dos brasileiros, com o menor total de desmatamento no
abriga cerca de 72% da população, sete período. São Paulo (90 ha) e Espírito Santo
das nove maiores bacias hidrográficas do ganharam destaque pela maior redução
país e três dos maiores centros urbanos do desmatamento em relação ao período
do continente sul americano. Essa floresta anterior. Foram 87% e 99% de queda,
possibilita atividades essenciais para a nossa respectivamente. Os demais estados no
economia, tais como, agricultura, pesca, nível do desmatamento zero foram: Mato
geração de energia, turismo e lazer. Grosso do Sul (116 ha), Paraíba (63 ha), Rio
de Janeiro (49 ha) e Rio Grande do Norte (23
O desmatamento da Mata Atlântica entre ha).
2016 e 2017 teve queda de 56,8% em
relação ao período anterior (2015-2016). Neste levantamento, 59% dos 17 estados
No último ano, foram destruídos 12.562 da Mata Atlântica tiveram queda do
hectares (ha), ou 125 Km², nos 17 estados do desflorestamento, incluindo os quatro que
bioma. Entre 2015 e 2016, o desmatamento mais desmatam. A Bahia, primeiro estado do
foi de 29.075 ha. Este é o menor valor total ranking de desmatamento, suprimiu 4.050
de desmatamento da série histórica do hectares, mas teve queda de 67%; Minas
monitoramento, realizado pela Fundação Gerais (3.128 ha), reduziu 58%; o Paraná
SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de (1.643 ha), é o terceiro, e reduziu 52% e Piauí
Pesquisas Espaciais (INPE). (1.478 ha), o quarto, que reduziu 53%.

Marcia Hirota, coordenadora do Atlas e A crise econômica é um fator que pode


diretora-executiva da SOS Mata Atlântica, ter contribuído para a queda, ao afetar os
destaca que, apesar de o desmatamento investimentos dos setores produtivos e
continuar, há motivo para comemoração. “Em reduzir seu poder econômico, mas seria
um momento político e eleitoral importante necessário novos estudos para comprovar
para o País, a Mata Atlântica dá o seu recado: essa relação.
é possível reduzir o desmatamento. Com
o compromisso e o diálogo entre toda a
sociedade, incluindo proprietários de terras, PAMPA
governos e empresas, podemos alcançar o
desmatamento ilegal zero, vislumbra ela. O Pampa está restrito ao estado do Rio
Grande do Sul, onde ocupa uma área de
176.496 km² (IBGE, 2004). Isto corresponde

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Revista Educar FCE - Março 2019

a 63% do território estadual e a 2,07% do território brasileiro. As paisagens naturais do


Pampa são variadas, de serras a planícies, de morros rupestres a coxilhas. O bioma exibe
um imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. As paisagens naturais do Pampa
se caracterizam pelo predomínio dos campos nativos, mas há também a presença de matas
ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro, formações arbustivas, butiazais, banhados e
afloramentos rochosos.

A estrutura da vegetação dos campos, se comparada à das florestas é mais simples e


menos exuberante, mas não menos relevante do ponto de vista da biodiversidade e dos
serviços ambientais. Ao contrário, os campos têm uma importante contribuição no sequestro
de carbono e no controle da erosão, além de serem fonte de variabilidade genética para
diversas espécies que estão na base de nossa cadeia alimentar.

Por ser um conjunto de ecossistemas, o Pampa apresenta flora e fauna próprias e grande
biodiversidade, ainda não completamente descrita pela ciência. Trata-se de um patrimônio
natural, genético e cultural de importância nacional e global.

Desde a colonização, a pecuária extensiva sobre os campos nativos tem sido a principal
atividade econômica da região. A progressiva introdução e expansão das monoculturas e das
pastagens com espécies exóticas têm levado a uma rápida degradação e descaracterização
das paisagens naturais do Pampa. Estimativas retratam que em 2008 restavam apenas
36,03% da vegetação nativa do bioma Pampa (CSR/IBAMA, 2010).

Em relação às áreas naturais protegidas no Brasil, o Pampa é o bioma que tem menor
representatividade no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), representando
apenas 0,4% da área total brasileira protegida por unidades de proteção ambiental.

A criação de unidades de conservação, a recuperação de áreas degradadas e a criação


de mosaicos e corredores ecológicos foram identificadas como as ações prioritárias para a
conservação, juntamente com a fiscalização e educação ambiental.

O fomento às atividades econômicas de uso sustentável é outro elemento essencial


para assegurar a conservação do Pampa. A diversificação da produção rural, a valorização
da pecuária com manejo do campo nativo, juntamente com o planejamento regional, o
zoneamento ecológico-econômico e o respeito aos limites ecossistêmicos são o caminho
para assegurar a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento econômico e social do
bioma.

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Revista Educar FCE - Março 2019

PANTANAL
O Complexo do Pantanal, ou simplesmente Pantanal, é um bioma constituído principalmente por
uma savana estépica, alagada em sua maior parte, com 250 mil quilômetros quadrados de extensão,
altitude média de 100 metros. Está situado no sul de Mato Grosso e no noroeste de Mato Grosso do
Sul, ambos estados do Brasil, além de também englobar o norte do Paraguai e leste da Bolívia.

O Pantanal, terra do belíssimo Tuiuiú e de outras 4,7 mil espécies conhecidas de animais
e plantas, já perdeu 18% de sua área para o desmatamento, causado principalmente, pela
criação extensiva de gado. Os dados são da ONG WWF-Brasil, que alerta para o sério
risco da extinção de várias espécies, com danos imensuráveis para biodiversidade, além da
disponibilidade de água para a própria população humana.

Embora seja o menor dos biomas brasileiros, o Pantanal fornece cerca de R$ 560 bilhões
ao ano em serviços ambientais para todo o planeta, em forma de água, solos produtivos, ar
de qualidade, diversidade de peixes e regulação do clima.

Segundo Júlio César Sampaio, coordenador do Programa Cerrado Pantanal da WWF-Brasil,


“esse valor econômico do Pantanal não é considerado nas análises de viabilidade de grandes
projetos de infraestrutura como, por exemplo, hidrovias e Pequenas Centrais Hidrelétricas
(PCHs) que podem causar impactos ainda não compreendidos a todo o ecossistema”.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O professor José Sabino, da Universidade Anhanguera de Mato Grosso do Sul (Uniderp),


alerta sobre o risco da implantação das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) no Pantanal.
Na Bacia do Alto Paraguai há planejamento de se construir em torno de 115 PCHs.
Isoladamente elas causam pouco impacto, mas em conjunto podem criar um impacto sem
precedentes à hidrodinâmica do pulso de inundação do Pantanal, vital para os ciclos naturais
da planície pantaneira.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Brasil possui a segunda maior cobertura vegetal do
mundo, exercendo, portanto, influências a nível global. Um
exemplo clássico da importância da vegetação que cobre o
país é o clima, que sofre interferência direta das florestas,
principalmente, a amazônica, que determina o regime de
chuvas de grande parte da América do Sul.

A degradação dos biomas brasileiros se intensificou com o


desmatamento provocado pela chegada dos portugueses em
1500, que faziam da madeira fonte de renda. Atualmente, a
madeira ainda é extraída de forma ilegal em algumas regiões,
mas o ambiente natural tem perdido espaço considerável
para atividades como agropecuária, construção de estradas JUNIO CESAR POLACHINI
e usinas hidrelétricas, mineração e urbanização.
Graduação em Ciências-Licenciatura
Plena pela Faculdade FAIJales (2003);
Os efeitos provocados pela diminuição dos ambientes Especialista em Gestão Educacional pela
naturais são catastróficos, considerando que somos Faculdade FAMOSP (2015); Professor
dependentes dos recursos oferecidos pelos mesmos. de Ensino Fundamental II - Ciências - na
Dentre os graves problemas, podemos citar, a perda da EMEF Procópio Ferreira, Professor de
biodiversidade local, o empobrecimento dos solos, as Ensino Médio - Biologia - na EE Iria Kunz
erosões, a desertificação e as queimadas, que poluem o ar Irma.

e emitem gás carbônico contribuindo para o aquecimento


global.

O país ainda possui uma porcentagem razoável do seu


território coberto por vegetação, porém é necessário
que a sociedade ao todo se conscientize da importância
de preservar o que sobrou, para garantir recursos para a
população atual e as novas gerações. Para isso é necessário
um engajamento dos eleitores nas suas escolhas, elegendo
representantes que coloquem em prática políticas ambientais
que fortaleçam a preservação da natureza.

A construção de corredores ecológicos (plantio de uma


faixa de vegetação) é uma alternativa para ligar regiões
preservadas e assim, manter a circulação da variabilidade

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Revista Educar FCE - Março 2019

genética das espécies. O reflorestamento de matas ciliares (vegetação localizada às margens


de rios, córregos e nascentes) é muito importante para a manutenção das espécies na região
e ainda impede o assoreamento dos leitos de água.

Atualmente, existem vastas áreas disponíveis para a agropecuária, porém mal utilizadas,
com o tempo, se tornaram degradadas. A recuperação dos solos degradados vai proporcionar
uma maior produção sem que haja a necessidade da devastação de outras áreas naturais.
Alguns países já boicotam a compra de produtos oriundos de áreas de desmatamento,
exercendo pressão para a prática de uma agropecuária sustentável.

A criação de novas áreas de proteção ambiental torna essas regiões menos vulneráveis,
visto que passam a ser monitoradas, dificultando a ação de grileiros, por exemplo. O turismo
ecológico pode ser uma forma de manejo sustentável dessas áreas e ainda um importante
gerador de lucros.

Práticas que alterem significativamente o ambiental natural, como mineração e construção


de usinas e estradas, devem passar por estudos criteriosos, a fim de avaliar os impactos
que poderão ser causados naquela região, para que fatores como o clima e a diversidade
biológica tenha o mínimo possível de interferência, mantendo as características originais do
meio ambiente.

Por fim, o Brasil é um país de dimensões continentais, com extensas áreas de grande
potencial energético eólico e solar, que colocado em prática, traria grandes benefícios ao meio
ambiente, pois algumas regiões ainda utilizam a madeira como fonte de energia, evitando
assim, o desmatamento, a poluição do ar e a construção de novas usinas hidrelétricas, que
alteram consideravelmente o ecossistema.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
https://brasilescola.uol.com.br/brasil/desmatamento-caatinga.htm. Acesso em 08 de mar de
2019.

https://brasilescola.uol.com.br/brasil/desmatamento-cerrado.htm. Acesso em 08 mar de 2019.

https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/desmatamento-no-brasil.htm. Acesso em 08
de mar de 2019

https://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/meioambiente/2018-08-20/brasil-maior-
desmatamento.html. Acesso em 08 de mar de 2019.

https://www.ecycle.com.br/6743-desmatamento-da-amazonia.html. Acesso em 08 de mar de


2019.

http://www.mma.gov.br/biomas/pampa. Acesso em 08 de mar de 2019.

https://www.todamateria.com.br/desmatamento/ Acesso em 08 de mar de 2019.

https://www.sosma.org.br/projeto/atlas-da-mata-atlantica/dados-mais-recentes/ Acesso em
08 de mar de 2019.

https://www.xapuri.info/pantanal-2/desmatamento-coloca-em-risco-biodiversidade-do-
pantanal/ Acesso em 08 de mar de 2019.

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

A INFLUÊNCIA DA ARTE
NO PROCESSO PEDAGÓGICO
RESUMO: Este artigo tem como objetivo fazer uma relfexão sobre a artes na Educação Infantil
e do currículo de artes tendo como base fundamentos teóricos e históricos do materialismo
dialético, podemos perceber que os estudos revelaram as dificuldades em se trabalhar
com arte dentro das escolas por falta de materiais e às vezes por falta de uma formação
adequada, além de não compreender as especificidades de cada aluno e do conhecimento
artístico que ele carrega, muito há que ser trabalhado, planejado e, é necessário que haja um
acompanhamento e diversas avaliações sistemáticas, promovendo assim as mudanças de
concepções e ações tanto das escolas quanto das faculdades que não formam professores
de artes da forma que deveria e das formações contínuadas dentro de cada escola.

Palavras-Chave: Arte; Educação; Linguagem; Percepção.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO determinado artista representar algum fato,


e queriam parecer vitoriosos.
O trabalho com artes deve esclarecer
a relação entre o estudo de Arte e a sua A arte durante os anos passou por
prática, esse trabalho tem como objetivo diferentes passou por transformações e
descrever sobre o que consta sobre esse diversos conceitos foram sendo aprimorados
tema dentro do currículo escolar e como ou destruídos, para dar lugar à novos
geralmente acontece dentro das unidades conceitos.
escolares, especialmente da rede pública de
ensino. A arte trabalha com a reprodução As manifestações artísticas modernas
emocional da vivência das pessoas de uma vêm construindo sua história ao longo dos
região num certo período, como era o seu anos, associando sempre a fatos políticos,
desenvolvimento em relação aos materiais polêmicos, sociais, culturais e econômicos
e técnicas utilizadas, sendo uma fonte rica de cada período que transcorreu, mudando
de registros de diferentes sentimentos, da conforme o estilo da sociedade.
história e seus acontecimentos, de uma
sociedade. É uma forma de registrar a Sabemos que as expressões artísticas
história, carregado de emoção e técnica. nasceram de forma oral, passando para as
paredes de cavernas, com materiais que
Esse trabalho tem como objetivo refletir os homens tinham nas mãos, como carvão
sobre a formação de professores de artes, sangue e terra e depois era contada de
tendo como referência a proposta de inserção geração em geração, de tribo em tribo.
dos acadêmicos nos espaços profissionais
do campo artístico, num currículo integrado, O surgimento da arte vem desde os
não só pensando nas Artes Visuais como primórdios, quando os homens ainda não
nas outras vertentes: Música e Teatro que tinham inventado a escrita e viviam em
na maioria das vezes nem são trabalhadas pequenos agrupamentos e eram nômades,
pois as Artes Visuais são mais fáceis ou o e estavam aprendendo sobre a natureza e
educador tem mais facilidade em transmitir. como sobreviver, desenvolvendo algumas
explicações para as mudanças climáticas, e
Cada sociedade fez reproduções de suas com isso surgiu a religião e a crença em algo
realidades, utilizando o que tinham em mais poderoso que os homens.
mãos e usando uma diferente linguagem
visual, como material expressivo. As artes Dentro da licenciatura em Artes temos
em vários momentos da história foram aulas de música, teatro, pintura, escultura,
utilizadas para contar um fato ocorrido, mas fotografia, entre outras matérias. Mas nem
geralmente pelos homens que tinham poder todos os estudantes de Artes possuem
na época, pois eram eles que pagavam para aptidão para ensinar música, teatro, cada

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Revista Educar FCE - Março 2019

indivíduo tem uma aptidão, por isso há erámos enganados nas pinturas de fatos
licenciaturas voltadas para cada vertente: que ocorreram à muito tempo e descrever
Artes Visuais, Música e Teatro, todas corretamente a história.
elas englobam a Arte, mas nem todos os
estudantes saem sabendo o suficiente para Infelizmente a arte ainda é tratada como
dar uma boa aula que englobe música, teatro matéria curricular, mas que não tem tanta
e artes visuais. importância como Português, Matemática e
algumas outras, é tratada como uma distração
Nas escolas é necessário que se reflita para as crianças e não tendo a importância
sobre o currículo de Artes, talvez dividindo as correta.
vertentes em ciclos ou semestres, dentro dos
anos no qual a matéria deve ser trabalhada, As famílias geralmente desconsideram
sendo necessário que houvesse projetos a aula de arte dentro da escola, por não se
específicos em diferentes momentos e tratar de nada que fará com que a criança
espaços. ganhe dinheiro, é mais importante que saiba
ler, escrever e fazer contas.
O objetivo desse trabalho é descrever um
pouco sobre como a história da arte e como
ela se faz importante dentro do universo OS BENEFÍCIOS DO
escolar como um todo, desde as escolas TRABALHO COM ARTES
infantis até o ensino médio, a arte é uma
fonte riquíssima no aspecto cultural, social e O trabalho com artes acaba por oportunizar
histórico da humanidade. diversas vivências em autoestima e
diferentes aprendizagens, por meio de vários
Esse artigo tem como objetivo específico procedimentos, inúmeras atividades que
mostrar a importância da arte para as podemos trabalhar com nossas crianças,
crianças, pois elas criam arte brincando, e jogos lúdicos e brincadeiras coletivas.
tanto a brincadeira como a arte desenvolvem Conseguimos coletar muitas atividades só
diversos aspectos nas crianças. observando as crianças quando brincam, e
com isso elas aprendem a utilizar diversos
Esse trabalho se justifica pela importância materiais, sendo capaz de resolver diversos
que a arte tem nas nossas vidas, pois desde problemas, utilizando a criatividade e
um pacote de bolacha tem alguma arte, até abstraindo; sendo capaz também de expressar
mesmo obras de museu, tudo é pensado seus sentimentos, e suas opiniões, além de
de forma criativa, artística, tentando fazer fazer inúmeras perguntas complexas para
com que determinado produto seja perfeito conseguir e aprender as opções disponíveis
na foto, precisamos trabalhar mais arte na resolução de algum problema que surgiu
dentro das escolas, mostrando o quanto no seu brincar.

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Revista Educar FCE - Março 2019

As crianças conseguem escolher por conta As atividades de trabalhar o conceito de


própria as atividades que querem brincar e releitura de uma obra artística, no geral
que consigam envolver mais crianças, pois são pretendem ampliar os entendimentos a partir
sociáveis, sem preconceitos, especialmente de materiais diversos.
na educação infantil. As crianças falam com
clareza orações complexas e compostas, Nas aulas de artes esperamos que as
e com 5 anos já apresentam um bom crianças aprendam que estão contribuindo
vocabulário, isso se ela foi estimulada para o desenvolvimento da sua imaginação,
desde pequena. As crianças aprendem bem atenção, criatividade, concentração,
a esperar sua vez, conseguem transmitir expressão artística, percepção visual,
recados e conseguem desenvolver uma boa noção espacial, além de apreciar e expor os
conversa com pessoas ou mesmo em grupo, resultados dos seus trabalhos, valorizando
quando bem orientadas conseguem até com isso também o resultado, o que na
descrever o significado de algumas palavras verdade é o mais importante para as crianças.
em sensações.
As crianças passam a identificar alguns
As aulas de arte tem objetivos conceituais conceitos e situações que estão ao seu
que desenvolvem as capacidades para redor e parcialmente, como coisas e objetos
trabalhar com artes visuais na educação funcionam, entendendo a hora e o conceito
infantil; reconhecendo a importância de social de tempo e espaço. Na educação
apresentar obras de artistas importantes, infantil a criança apresenta a motricidade
propondo as crianças uma releitura de grossa e fina já bem controlada, conseguindo
determinada obra; fazendo com que adquiram andar de bicicleta, nadar, pular corda, entre
conhecimentos que proporcionem diversas tantas outras coisas que crianças gostam
experimentações em desenho, pintura, de fazer e outras que precisam saber fazer
escultura, recorte e colagem, pois a releitura para se tornarem mais independentes como
não necessariamente precisa utilizar o mesmo tirar e colocar a sua roupa, amarrar o tênis e
material que a obra foi feita, fazendo com que especialmente se limpar.
seja uma experiência muito rica em detalhes e
sensações para as crianças. Quando trabalhamos com crianças
na educação infantil percebemos que as
O resultado final geralmente não importa, crianças podem entender de formas mais
o que mais importa são os procedimentos que diversificadas alguns sentimentos e trabalhar
as crianças elaboram: como organizam seus com eles de forma independente, sendo
materiais, sendo necessário proporcionar capazes de se acalmarem sozinhas, quando
uma diversidade de experimentações; ninguém fica perto, conseguem resolver
demonstrando sempre interesse no que estão alguns pequenos conflitos, antes de ir falar
fazendo, ampliando seus conhecimentos. com algum adulto.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Desde pequenas podemos perceber a O ENSINO DE ARTES


curiosidade das crianças que é natural delas, NA PRÁTICA
diante de tudo que acontece em sua volta,
tudo é perguntado, tudo é bem observado, Dentro dos Parâmetros Curriculares
a fase dos “porquês” é bem complicada para Nacionais em Arte, faz referência a todas as
nós adultos, pois às vezes nem sabemos o linguagens artísticas (dança, artes visuais, música
que responder na hora, e o melhor é falar e teatro), pois a polivalência das linguagens deve
que vai aprender antes de responder tal ter presença fundamental no currículo escolar.
pergunta, e geralmente a criança esquece Devemos estar atentos à normalização que se
depois, pois são inúmeras por hora, e um dos faz, pois, a escola que acaba decidindo qual a
ideais mais presentes dentro do currículo modalidade artística que pretende trabalhar e
é a importância de darmos escuta para as geralmente é escolhido as Artes Visuais.
crianças. Algumas perguntas nos deixam em
situações complicadas, pois geralmente não Dentro dos Parâmetros Curriculares
são assuntos pertinentes à idade da criança, Nacionais, a Arte mostra as múltiplas linguagens
que acaba ouvindo um recorte de alguma no currículo e a dimensão de produzir, apreciar
situação e vem perguntar para o professor, e contextualizar a arte como uma experiência
pois sabe que a família pode não gostar e educativa e estética, que trabalha muito o
acabar deixando ela de castigo. cognitivo dos educandos.

Dentro da educação infantil o que mais O problema para o desenvolvimento das
deve ser trabalhado são os aspectos de sua múltiplas linguagens que a Arte oferece dentro
inteligência, para continuar se desenvolvendo de uma sala de aula normal é que as escolas
de forma plena a sua criatividade e seu não possuem uma estrutura para a atuação da
senso crítico, nada mais importante do que pratica do teatro, numa forma efetiva em função
fazer com que as crianças pensem o que é de falhas na estrutura e nos desdobramentos
bom para elas, o que é bom para os demais, em outras questões, que são conjunturais que
sem prejudicar ninguém e o mais importante estão estabelecidos pela grade curricular, que
de tudo, que a criança consiga abstrair e se destina poucas aulas de Artes na semana, a
colocar no papel do outro, percebendo o que carência de material; falta de professores com
é ruim para o outro é ruim para ela também, a formação adequada; a desvalorização da área
então não pode fazer para o outro o que em relação às outras disciplinas do currículo,
você não gostaria que fizesse com você. pois Artes não reprova, só pesa numa hora
em que o aluno está “pendurado” em outras
As crianças quando entendem suas emoções disciplinas.
à medida que vão crescendo e se desenvolvendo,
são capazes de controlar seus impulsos e Tais problemas agravam quando somados
expressá-las diante de determinadas situações. a outros da educação como um todo, pelos

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Revista Educar FCE - Março 2019

baixos salários da categoria educacional,


a falta de tempo para a preparação do Temos poucos livros que tratam sobre o
professor e o preparo didático das aulas, a ensino de Teatro, e uma pouca instrução nos
insuficiência e má qualidade do material apontamentos dos eixos norteadores.
disponível nas escolas, o espaço que precisa
estar pronto para a próxima aula, e assim vai. O ensino de Teatro tem conteúdos bem
formulados, mas as características são
Dentro das Leis de Diretrizes e Bases (LDB genéricas ou totalizadoras.
9394/96) que estabelecem orientações
para a educação nacional e relacionam- Isso reflete nossa preocupação quanto ao risco de o
se diretamente com o Ensino das Artes ao ensino se tornar muito teórico, situando-se, a maior
afirmarem os princípios de que: parte do tempo, no plano discursivo, recaindo na
didática tradicional, em um aprendizado baseado
A educação deve ter abrangência de processos na memorização, na prática apenas decorativa das
formativos pelas manifestações culturais; que é um possibilidades de um ato verdadeiramente criador.
fim da educação “a liberdade de aprender, ensinar, (PEREGRINO, 2008, p.105)
pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a
arte e o saber”. (GOVERNO FEDERAL, 1996). Os PCNs foram feitos e difundidos
antes da elaboração das Diretrizes
As críticas pelo ponto de vista de todas as Curriculares Nacionais (DCN) para os
linguagens artísticas, acaba se tornando uma Ensinos Fundamental e Médio, nos quais
realidade. Podemos pontuar uma falha que necessitariam delimitar a formulação de tais
reflete na distância entre a teoria descrita e Parâmetros. A produção dos Parâmetros
a prática na linguagem específica do Teatro. não teve conhecimento, nem ajuda dos
professores, seus encaminhamentos foram
A arte do Teatro para as séries iniciais acaba muito questionados, pois sugeriam que o
tendo um caráter vago com o argumento que planejamento curricular fosse com temas e
poderiam ser aplicados a qualquer área do projetos de modo que os conteúdos seriam
conhecimento, vemos que há uma falta de deixados para um segundo momento.
orientação didática específica, especialmente
nas séries iniciais. Acabou tendo uma falta na clareza na
sua fundamentação teórica para subsidiar
O Teatro acaba tendo uma abordagem o trabalho do educador, causando
meio superficial da opção epistemológica esvaziamento desses conteúdos.
que fundamenta a importância dele dentro
das etapas do desenvolvimento das crianças. Mesmo assim os Parâmetros Curriculares
Acabam empregando algumas terminologias Nacionais em Arte, foi um enorme avanço
específicas de forma errônea, como o Jogo. para os Educadores de Arte, que precisam

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Revista Educar FCE - Março 2019

fortalecer e dar sequência a essas conquistas, pois essa é uma história de muitas lutas e que
ainda precisa ser trabalhada.

Tudo precisa ser bastante difundido, discutido e pensado em algumas resoluções que
sejam práticas acerca dos rumos desses documentos que desenvolvam de uma forma mais
atenta à Música e ao Teatro dentro das escolas, como uma prática pedagógica, ações que
fortaleçam a área do conhecimento e para que efetivem as contribuições cognitivas, sociais
e psicológicas que podem vir a oferecer para a educação do nosso país.

O PLANEJAMENTO DAS AULAS DE ARTE


Planejar e refletir sobre o papel da arte como uma prática humana, na construção histórica, da forma que
vivemos e pensamos, precisaram estabelecer diferentes procedimentos e estratégias para a organização
das aulas de artes, buscando os conhecimentos necessários, pegando como referências alguns aspectos.
Interpretando, criando estratégias e procedimentos na elaboração do planejamento de suas aulas.

Uma boa escola não deve ignorar as funções vitais que as artes desempenham dentro da nossa
sociedade, pois possibilitam o autoconhecimento; a construção do pensamento critico e da consciência;
e o desenvolvimento da expressão e criação. Fazendo com que conheçamos mais sobre nosso povo e
sobre a nossa própria história, suas ideias e concepções de mundo.

Quando planejamos um cronograma de conteúdos precisamos levar em conta os documentos oficiais


que direcionam o Ensino do Brasil; a série para que estamos lecionando; o conteúdo que deve ser
trabalhado; a finalidade e o objetivo desse conteúdo; que estratégias devem ser utilizadas; que recursos
temos à disposição e do que é necessário para o desenvolvimento dos saberes em artes; número de aulas
disponíveis, para dividir o conteúdo de forma satisfatória; que forma usar para avaliar os alunos; de que
fontes serão tiradas o conteúdo.

Ao trabalharmos com os códigos expressivos das linguagens artísticas, devemos usar uma maneira
simples, de acordo com a faixa etária dos nossos alunos e suas experiências anteriores, adquiridas dentro
e fora da escola, para que possam se apropriar adequadamente destes códigos, como aprenderão durante
o ano letivo.

As artes apresentam várias linguagens artístico-culturas em suas especificidades, favorecendo a


articulação do velho em novo, o processo de apropriação quanto os de produção devem ser entendidos
como interligados e intimamente entrelaçados às possibilidades de autoria dos sujeitos em seu fazer e
pensar, e de autonomia nas associações expressões.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Crianças inseridas no processo de ensino-aprendizagem,
desde a Educação Infantil até a alfabetização, por meio do
contato com a Arte e seus elementos, mostraram que este tipo
de comunicação, bem como a construção do conhecimento
que conferiram às atividades, até então, desenvolvidas
como a oralidade; a leitura e a escrita, que reciprocamente,
se entrelaçaram para que atingíssemos o objetivo: leitura
coletiva e subjetiva das imagens, suas contribuições e com
grandes interpretações de seus conteúdos.

Estes procedimentos provocaram uma grande revolução


na maneira de entender o uso da linguagem artística; as
produções foram entendidas como verdadeira expressão KÁTIA CAPELOSA
de cultura, ou seja, observa-se o respeito e a liberdade às SILVA GARCIA
formas que as crianças se expressavam para atingir a norma
Graduação em Pedagogia pela Faculdade
padrão a fim de se comunicar por meio de suas criações e UNG, (2002), Graduação em Artes
reproduções artísticas. pelo Centro Universitário de Araras Dr.
Edmundo Ulson” (2006); Especialista
As intervenções que ocorrem, sem interromper o processo em Ludopedagogia pela Faculdade
criativo da criança, acreditando-se no potencial artístico da de Educação & Tecnologia Iracema
mesma; caminhos de busca para ampliação do vocabulário (2017) Especialista em Musicoterapia
utilizado; incentivo à liberdade de expressão. pela Faculdade Campos Elíseos (2018).
Professora de Educação Infantil no CEI

Para que cada uma delas, dentro de suas possibilidades, Parque Edu Chaves.

construa uma visão subjetiva; limites indispensáveis ao


desenvolvimento e apropriação, ao trabalhar no coletivo
saberes necessários para construções maiores, que
oportunizam novos saberes, tão necessários para aquisição
de novas funções e estruturas se fazem muita diferença, pois
acreditamos não bastar apenas oferecer oportunidades, de
aprendizagens ou orientá-las nesse sentido, mas, em várias
ocasiões.

Mostrar-lhes as interdições significativas de apoio mútuo


e a colocação das crianças em situações reais de escrita, a fim
de que, a partir de certas confrontações, pudessem se situar

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Revista Educar FCE - Março 2019

de forma mais realista na aplicação efetiva das aprendizagens escolares em suas rotinas
diárias.

Precisamos ter consciência que o ensino da Arte esta muito mais voltada para o social,
outra questão é sua importância para a vida dos seres humanos que vivem em sociedade,
o homem é um ser político que precisa viver em sociedade. A maior preocupação é dar
uma base e orientá-los, de maneira que consigam ensinar a alfabetizar esteticamente seus
alunos, com uma proposta pedagógica, na qual esteja de acordo com a LDB (Lei de Diretrizes
e Bases), mas é de livre escolha do professor o conteúdo e a metodologia que aplicará dentro
de sua aula e a forma com que avaliará seus educandos.

O professor de Artes precisa ter uma visão sobre o que rege sua matéria e ter consciência
do seu papel dentro da aprendizagem de seus alunos e da sociedade como um todo, pois
o professor acaba tendo um papel político, podendo deixar que suas aulas tenham que
trabalhar só em datas comemorativas ou mostrar a história e o que podemos transformar
dentro da sociedade em que vivemos especialmente nas salas de aula do ensino médio.

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

A ORGANIZAÇÃO DOS CANTINHOS TEMÁTICOS


NA ROTINA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: A temática do artigo está relacionada a organização dos cantinhos temáticos nas
instituições de Educação Infantil. Destaca algumas concepções da Educação Infantil, o papel ativo
do educador neste contexto e a importância desta ação educativa em prol do desenvolvimento
das crianças, por favorecer um ambiente lúdico, prazeroso e diversificado. Tem como objetivo
fomentar a discussão sobre a importância dos cantinhos temáticos na educação infantil, por meio
de uma organização planejada e intencional, que possibilite vivências agradáveis e estimulantes,
bem como a reflexão e discussão pelos educadores, que por vezes, relutam em utilizar o recurso.
Para isso, constam referências sobre a temática que enriquecem a percepção sobre as diferentes
maneiras de organizar os tempos e espaços nas instituições infantis, contribuindo assim, para o
desenvolvimento pleno dos bebês e crianças. A metodologia foi baseada em pesquisa qualitativa,
sendo que para o levantamento dos dados utilizou-se pesquisa bibliográfica em mídia digital e
impressa. Obteve como resultado que o uso de cantinhos temáticos no cotidiano da Educação
Infantil é primordial para as aprendizagens individuais e coletivas, bem como para as descobertas
infantis e a aproximação das crianças, ao favorecer a criação de vínculos entre elas. Deste modo,
é fundamental que os educadores que ainda não o utilizam, repensem as suas práticas, visto
que o uso deste recurso constitui-se em uma oportunidade essencial no cotidiano dos bebês e
crianças pequenas, por estimular o respeito, a escuta, a imaginação, o faz de conta, a socialização,
a autonomia e a cognição, dando voz e vez à eles.

Palavras-Chave: Cantinhos temáticos; Educação Infantil; bebês e crianças pequenas; ambiente


lúdico; tempo e espaço.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO experiências dos bebês e crianças pequenas


nas instituições de Educação Infantil.
O presente artigo tem como tema “A
organização dos cantinhos temáticos O presente trabalho iniciará com as
na rotina da Educação Infantil”. Sua concepções da educação infantil na
importância se dá, devido a necessidade atualidade, bem como, abordará discussões
de propiciar aos bebês e crianças pequenas acerca do papel do educador na organização
que frequentam instituições de educação do tempo/espaço e finalizará tratando
infantil, um ambiente lúdico, prazeroso e da importância dos cantos temáticos
rico de oportunidades de exploração, em destinados aos bebês e crianças pequenas
que sejam concebidos como protagonistas que frequentam as instituições de Educação
de suas descobertas e aprendizagens. A Infantil, o que aponta subsídios para a
motivação para o estudo desta temática garantia da qualidade na educação infantil,
surgiu na prática escolar de docência na atentos às necessidades da educação integral
Educação Infantil, em especial nos Centros deste público.
de Educação Infantil da rede municipal de
São Paulo (CEI), em que foi observado como Com espaços e tempos organizados
os cantinhos temáticos podem favorecer desta forma, é possível garantir inúmeras
as aprendizagens, descobertas e interação experiências para as crianças, ampliando
dos bebês e crianças pequenas, mas que as possibilidades de aprendizagem com
nem sempre são planejados, valorizados e momentos de interação com os professores,
utilizados com a importância que merecem colegas da turma e de outras, por meio de
pelos educadores. Nota-se também que a vivências intencionais, planejadas e seguras.
temática é pouco discutida por profissionais Os cantinhos temáticos em sala de aula,
da área da Educação. motivam a criação de um ambiente lúdico,
aconchegante, prazeroso e de aprendizagem
O objetivo geral deste artigo é fomentar a para todos.
discussão sobre a importância dos cantinhos
temáticos na educação infantil, por meio de
uma organização planejada e intencional do A EDUCAÇÃO INFANTIL E
tempo e espaço, que possibilite vivências SUAS CONCEPÇÕES
agradáveis e estimulantes, possibilitando a
reflexão e discussão pelos educadores. Os Antes de iniciarmos a temática
objetivos específicos são propor uma reflexão propriamente dita, é preciso esclarecer
a respeito da concepção da Educação Infantil as concepções presentes no âmbito da
na atualidade; explorar o papel do educador educação infantil atualmente, que estão
da infância e conhecer na prática como os intimamente relacionadas com a promoção
cantinhos temáticos podem enriquecer as de espaços lúdicos e diversificados. Temos

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na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 9.394/96, Art.29, que a educação infantil, “[...] primeira
etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de
até cinco anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando
a ação da família e da comunidade”. Sabe-se que as creches, centros de educação infantis
e escolas de educação infantil estão cada vez mais, sendo reconhecidas como instituições
educativas, que cuidam e educam bebês e crianças pequenas.

Neste contexto, o bebê/criança é concebido como um sujeito pleno, multidimensional


e histórico, que nas interações constrói a sua identidade, ao brincar, imaginar, observar,
experimentar, questionar, sendo capaz de construir conhecimentos e produzir cultura. Para
conceber o bebê/criança como protagonista do processo de desenvolvimento, as propostas
cotidianas nas instituições de educação infantil, devem atender aos interesses infantis,
explorar as experiências individuais e coletivas, além de respeitar o desenvolvimento e as
potencialidades de cada um.

Para favorecer o desenvolvimento infantil, é essencial que haja um processo no qual,


educar e cuidar sejam ações indissociáveis no cotidiano, em que o adulto educador seja
parceiro nas aprendizagens e descobertas dos bebês e crianças.Com apoio das Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010, p. 18), entende-se que as propostas
pedagógicas devem respeitar os princípios:

Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às


diferentes culturas, identidades e singularidades.
Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática.
Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações
artísticas e culturais.

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Para contemplar tais princípios, a privilegiados para o desenvolvimento


concepção de aprendizagem deve ser do público atendido, que possuem na
baseada no brincar como fonte inesgotável organização de sua rotina a chave para o
de exploração, curiosidade e investigações. sucesso das propostas cotidianas:
Além das brincadeiras, considera-se que a
aprendizagem de bebês e crianças pequenas A rotina na educação infantil pode ser facilitadora
também é provocada pela convivência com ou cerceadora dos processos de desenvolvimento
diferentes parceiros (adultos e crianças). e aprendizagem. Rotinas rígidas e inflexíveis
desconsideram a criança, que precisa adaptar-
se a ela e não o contrário, como deveria ser;
Sobre as experiências que bebês e crianças
desconsideram também o adulto, tornando
vivem na Educação infantil, São Paulo (2006,
seu trabalho monótono, repetitivo e pouco
p. 25), destaca que elas “[...] devem possibilitar
participativo (BRASIL, 1998, p. 73).
à criança o encontro de explicações
sobre o que ocorre à sua volta e consigo Sabe-se que no cotidiano da Educação
mesma, enquanto desenvolvem formas Infantil as interações entre crianças e adultos
de sentir, pensar e solucionar problemas”. são muito presentes, sendo que “[...] ideias e
Por meio das experiências lúdicas consigo, experiências que acontecem em diferentes
com os outros, com objetos, brinquedos, ambientes e momentos, consolidam um fazer
materiais, atividades diversificadas e com o pedagógico que deve primar pelo respeito
mundo, que acontecem muitos avanços no às infâncias” (SÃO PAULO, 2015, p. 16). Por
desenvolvimento infantil. isso, torna-se fundamental que o educador
que atua em instituições de educação
Daí, emerge a importância de que as infantil, tenha claro o seu papel na formação
práticas cotidianas nas instituições de integral de cada bebê e criança no cotidiano,
Educação Infantil assumam o caráter lúdico, como será discutido a seguir.
com atividades ora livres, ora dirigidas, que
envolvam as diferentes experiências infantis,
que valorizem as infâncias, a exploração do O EDUCADOR E A
mundo e a interação. Além disso, que sejam ORGANIZAÇÃO DOS TEMPOS
planejadas e replanejadas com respeito às
individualidades, interesses, diversidade E ESPAÇOS
e capazes de propiciar tempos e espaços Considera-se que as relações e as
lúdicos. interações entre os atores das instituições de
educação infantil (bebês, crianças e adultos)
Ao partir destas concepções, entende- promovem o desenvolvimento de autonomia
se que as instituições de educação infantil: e de aprendizagens, sendo “[...] a atuação
Centros de educação infantil, Creches, intencional dos educadores importante na
Escolas de educação infantil são locais constituição dos ambientes, na organização

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dos tempos e na seleção e organização diversificadas mediadas por adultos com


dos brinquedos, materiais e objetos” (SÃO olhar sensível às necessidades dos bebês e
PAULO, 2015, p. 9). das crianças.

Neste contexto, quando falamos em De acordo com São Paulo (2006),


espaço, segundo Zabalza (1998, p. 232), com relação ao tempo, “[...] há que se
“[...] refere-se ao espaço físico, ou seja, aos problematizar a existência de longas esperas
locais para a atividade caracterizados pelos de crianças e bebês em filas, nos berços, nos
objetos, pelos materiais didáticos, pelo momentos introdutórios à entrada e saída
mobiliário e pela decoração”, mas ele precisa diária; espera para uso do banheiro ou para
tornar-se um ambiente. O que isso significa? ter as fraldas trocadas, entre outros”. No uso
Que ele acolha as necessidades dos bebês dos cantinhos, a preocupação com tempo
e crianças nos mais diversos momentos também é relevante e sobre ela, o Instituto
individuais, coletivos, livres ou dirigidos. Avisá-la (2007, s.p.) reforça que em algumas
Para o mesmo autor “[...] o ambiente refere- instituições, os professores acreditam que
se ao conjunto do espaço físico e às relações seja melhor oferecer a proposta dos cantinhos
que se estabelecem no mesmo (os afetos, em um único dia da semana inteiro ou ainda
as relações interpessoais entre crianças e um tempo longo em dois dias da semana,
adultos, entre crianças e sociedade em seu por exemplo, mas isso não é o ideal, pois
conjunto)”. além de tantas outras atividades da rotina
na educação infantil é “melhor a constância
Entende-se assim, que o ambiente, não da proposta e em menor tempo [...]. Vale
precisa ser somente a sala de aula, mas deve intercalar momentos nos quais a condução
contemplar os demais espaços externos da da sala é realizada pelo professor com outros
instituição e até mesmo fora dela, como a nos quais crianças e professor compartilhem
rua, o bairro, a cidade. O ambiente escolar, as ações”.
é formado por vários fatores interligados,
assim, [...] os elementos que podem No dia a dia das instituições de educação
favorecer o planejamento do educador, são: infantil, observar como os bebês e crianças
as interações e relações, o manejo do tempo, brincam e se relacionam pode nortear o
a estruturação do espaço, a seleção e uso de planejamento dos educadores. É a partir
materiais” (SÃO PAULO, 2007, p. 28). “[...] das realidades lúdico-culturais que
podemos ‘desenhar’, conforme os estágios
Além do espaço/ambiente, temos também de desenvolvimento e dos repertórios
outro fator importante: o tempo em uma específicos, propostas adequadas a cada
instituição de educação infantil. Ele precisa grupo e a cada criança” (FRIEDMANN, 2012,
ser vivido para oportunizar as aprendizagens p. 43). Por isso, é muito importante que o
o desenvolvimento, as experiências educador busque ampliar o repertório das

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brincadeiras, para que assim, sejam ainda de interações, os educadores podem


mais ricas as experiências infantis. Sobre o proporcionar agrupamentos variados, com
desenvolvimento infantil, pode-se refletir turmas de crianças da mesma idade e também
que: de idades diferentes, sendo fundamental que
este ambiente seja acolhedor e estimulante.
O desenvolvimento é lento, requer tempo, mas
o tempo por si mesmo, pelo simples fato de Zabalza (1998, p. 158) corrobora com
passar no relógio, não produz desenvolvimento. esta ideia, ao afirmar que a organização
A aprendizagem e o desenvolvimento são feita pelo professor deve permitir “os tipos
construídos, ou não, na riqueza da experiência que
de interação diferenciadas (criança-criança,
o tempo possibilita ou não. Assim, uma área de
criança-adulto, pequeno grupo, grande
atividade do educador (a) é a de organizar o tempo
grupo ou solitário)”. Para Oliveira (2013),
diário (ZABALZA, 1998, p. 158).
em tais propostas, as crianças menores são
Neste sentido, vale destacar que no desafiadas ao conviverem com as maiores,
planejamento, o educador deve prever as que por sua vez, podem explorar o ato de
atividades, os espaços, materiais, objetos e cuidar, proteger, ensinar e também perceber
brinquedos estruturados/não estruturados como ele mesmo está se desenvolvendo,
adequados e atrativos, uma vez que o brincar comparado às crianças menores.
deve ser a atividade principal da criança e
a ausência de um planejamento pautado Isso significa que juntar bebês/crianças,
nos interesses infantis pode causar pouco em um ambiente estruturado, com
envolvimento dos bebês e crianças. Para móveis, brinquedos, materiais e objetos
Kishimoto e Freyberger (2012, p. 143), “caso variados, garante uma boa proposta para o
o educador não realize um planejamento desenvolvimento infantil? Não. É também
intencional, só se reproduz práticas o olhar atento e sensível do educador, bem
espontaneístas, de um brincar pobre, sem como nas suas ações e intervenções que
recursos e materiais adequados”. as possibilidades do lúdico dá qualidade ao
brincar, por meio da observação, interação,
Por outro lado, a própria organização intervenção e desafios propostos por ele em
da instituição em “grupos” por idade, pode um ambiente acolhedor.
nos fazer pensar que este é o tipo de
agrupamento mais produtivo para a turma, A existência de um ambiente acolhedor, porém,
mas será? É preciso refletir que existem outras não significa eliminar os conflitos, disputas e
possibilidades de promover interações: com divergências presentes nas interações sociais, mas
outras turmas, educadores, espaços, etc. pressupõe que o professor forneça elementos
afetivos e de linguagem para que as crianças
De acordo com as Diretrizes Curriculares
aprendam a conviver, buscando as soluções
Nacionais da Educação Básica (2013),
mais adequadas para as situações com as quais
para proporcionar diferentes experiências
se defrontam diariamente. As capacidades de

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interação, porém, são também desenvolvidas


quando as crianças podem ficar sozinhas, quando
intencionalmente preparadas, para as
elaboram suas descobertas e sentimentos e
vivências infantis, os chamados “cantinhos
constroem um sentido de propriedade para as temáticos” ou apenas “cantinhos”.
ações e pensamentos já compartilhados com outras
crianças e com os adultos, o que vai potencializar De acordo com o Instituto Avisa Lá (2007,
novas interações. Nas situações de troca, podem s.p), pode-se defini-los como “[...] uma
desenvolver os conhecimentos e recursos de que modalidade de organização do espaço e do
dispõem, confrontando-os e reformulando-os trabalho que oferece várias possibilidades de
(BRASIL, 1998, p. 31). atividades ao mesmo tempo, de modo que
as crianças possam escolher onde estar e
Vale refletir que para valorizar a forma o que fazer”. É possível considerar que “[...]
de organização dos tempos e espaços na com a chegada dos ‘cantos’ e a organização
educação infantil, é preciso que o educador funcional das salas de aula, aconteceu uma
repense o seu papel e explore formas de verdadeira revolução na forma de conceber
como ampliar a qualidade das intervenções uma aula de Educação Infantil e na forma de
com os bebês e crianças pequenas na organizar o trabalho na mesma”. (ZABALZA,
instituição de educação infantil. Desse 1998, p. 229).
modo, entende-se que esta organização
“deve considerar o imprevisto, mas não o Muitas vezes o educador acredita que ao
improviso, possibilitando reorganizações e escolher com o que e com quem os bebês/
intervenções sempre que necessárias, com o crianças vão brincar em cada momento
movimento de mobiliários, equipamentos e da rotina, colabora de forma eficaz para a
materiais, respeitando, assim, a produção das interação e desenvolvimento deles. Para
culturas infantis” (SÃO PAULO, 2015, p. 20). Oliveira (2013), quando somente o adulto
Diante dos desafios para uma organização promove formas coletivas de participação da
que contemple as especificidades das criança, pode comprometer a interação dela
infâncias, temos os cantinhos temáticos que quando, por exemplo, propõe que todas as
serão explorados a seguir. crianças brinquem com jogos de montar ou
com massa de modelar simultaneamente.

OS CANTINHOS TEMÁTICOS Por isso, é preciso refletir sobre as


NA EDUCAÇÃO INFANTIL propostas que de fato, colaboram para a
interação e desenvolvimento infantil. Neste
Sabe-se tanto pelos estudos dos autores contexto, temos os cantinhos temáticos, com
que tratam da educação infantil, quanto inúmeras possibilidades de dar autonomia,
pela experiência enquanto professora, que vez e voz aos bebês e crianças pequenas,
uma das formas apropriadas de se organizar como visualiza-se na figura a seguir:
os espaços são as áreas demarcadas e

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É importante destacar que para os cantinhos, os educadores podem contar também


com as ideias e sugestões das próprias crianças, que ficam muito felizes ao participarem da
proposta, desde a sua arrumação. Tal atividade lúdica permite que a criança se movimente
de um cantinho para o outro livremente e para isso, os cantinhos devem envolver diferentes
atividades, como:

[...] áreas de biblioteca, de faz-de-conta, de pintura, de construção, de música, de teatro, de atividades (jogos) na
mesa, de informática (nas unidades que contam com computadores nas salas). A justificativa para tal arranjo é que
o mesmo favorece mais as interações dos grupos de crianças e melhor as orienta ao redor de um foco, permitindo a
elas oportunidades de escolha. Esses cantinhos podem ser fixos ou arrumados a cada dia, segundo a programação
do professor ou as sugestões das crianças (SÃO PAULO, 2007, p. 33-34).

Ao analisar sobre os “cantinhos” na prática da instituições de educação infantil, temos


geralmente estes e outros como o cantinho do supermercado, da casinha, das profissões
(cabeleireiro, médico, escritório, etc.), do trânsito, com fantasias, cabana, tecidos, livros,
papéis, papelões, brinquedos não estruturados e muitos outros que tanto os educadores,
quanto as próprias crianças, podem sugerir e criar.

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Quanto aos benefícios, eles permitem que cada criança possa “[...] interagir com pequeno
número de companheiros, possibilitando-lhes melhor coordenação de suas ações e a
criação de um enredo comum na brincadeira o que aumenta a troca e o aperfeiçoamento da
linguagem (OLIVEIRA, 2005, p. 195).

A seguir, apoia-se em Barboza e Volpini (2015) para listar os tipos de cantos temáticos
mais comuns e sugestão de como organizá-los:

• Canto da leitura: pode ter letras móveis, caixas de histórias, teatrinho de papelão,
almofadas, aventais, livros, revistas, gibis e fantoches.
• Canto da dramatização: pode ter tecidos, fantasias, maquiagens, perucas, roupas,
sapatos, bolsas, colares, chapéus e espelho.
• Canto de artes: pode ter materiais variados, como tinta, massa de modelar, canetinhas,
pincel, giz de cera, lápis de cor, papéis variados, papelão e outros suportes.
• Canto da casinha: pode oferecer objetos estruturados e não estruturados, tais como
fogão, “panelas, pia, geladeira, mesa, sofá, televisão, passadeira, ferro, frutas plásticas e
embalagens de alimentos, camas ou berços, aparelhos usados de telefone etc.” (BARBOZA
E VOLPINI, 2015, p. 22).
• Canto do médico: deve oferecer “toucas, máscaras, luvas cirúrgicas, embalagens de
remédios, esparadrapo, jalecos, papel, bonecas, que sirvam de pacientes [...]”, entre outros
objetos. (BARBOZA E VOLPINI, 2015, p. 22).
• Outros cantos: pode-se criar cantos variados de acordo com a criatividade, necessidade,
interesse e sugestão de adultos ou crianças. Como a seguir, é possível visualizar o cantinho
do cabeleireiro.

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Deve-se levar em conta que desde pequenas para dar papéis diferentes às crianças”.
as crianças são capazes tanto de colaborar Nas intervenções pontuais, o adulto pode
na organização de um ambiente brincante, contribuir para que a criança amplie ou
quanto de fazer escolhas, escolhendo com até mesmo modifique o roteiro inicial,
quem brincar, conversar, sentar-se perto ou “introduzindo novas experiências, que
compartilhar os brinquedos, ou seja, ela deve tornam a brincadeira mais rica e complexa,
ser protagonista nos processos de interação. com vários personagens e diálogos mais
Por isso, considera-se que é tão importante a longos. A criança não nasce sabendo brincar,
oferta de materiais diversificados e acessíveis mas aprende com adultos e outras crianças”.
às crianças, bem como “[...] a organização (KISHIMOTO E FREYBERGER, 2012, p. 100).
de ambientes de forma confortável e
orientadora das ações infantis favorecem Vale destacar que nas propostas dos
o desenvolvimento da autonomia nas suas cantinhos temáticos, o educador precisa
escolhas e a participação delas em várias superar a repetição de propostas, ou seja,
atividades em um mesmo dia” (SÃO PAULO, não é recomendável oferecer somente as
2006, p. 33). mesmas atividades da turma do ano anterior,
para a atual. É preciso perceber que o grupo e
Baseado em Kishimoto e Freyberger cada criança é outra, com novas percepções,
(2012), é possível refletir sobre uma cena expectativas que exigem um novo olhar. Ao
no cantinho temático das profissões e pensar em propostas, vale virar as mesas ao
como o professor pode se inserir nesta contrário para formar um barco, disponibilizar
brincadeira para ampliar as interações. Uma almofadas em um canto para leitura, tirar
criança está fazendo o papel de “médico”. as cadeiras do lugar ou até mesmo do
A professora entra na brincadeira e oferece espaço. É necessário também perceber se os
um lápis, (que agora é entendido como um cantinhos planejados, atendem as questões
termômetro) para medir a temperatura da de acessibilidade, segurança, higiene e
boneca. Ela pode, por exemplo, questionar atratividade.
se o paciente está ou não com febre.
Durante a brincadeira, a professora também Diante de tantas possibilidades ricas e
pode oferecer papel para que o “médico” diversificadas para o uso dos cantinhos
faça a receita dos medicamentos e entregue temáticos na educação infantil, ainda há
para a “mãe”. Desde que as crianças aceite resistência por alguns professores, seja
bem a participação da professora, ela pode pela necessidade de organização prévia, de
seguir brincando, dando orientações verbais planejamento, ou pela queixa de estrutura
e também sugerindo “procedimentos para física inadequada ou materiais insuficientes,
outros “médicos” cuidarem do ouvido, da embora seja constatado que “[...] mais do
garganta, da perna ou do braço quebrado, que material, são necessárias propostas e
indicando outras especialidades médicas ideias para compor os cantos”, ou seja, não

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precisam de grandes estruturas físicas, nem de materiais sofisticados, aliás, os materiais de


baixo custo bastante recomendados (INSTITUTO AVISALÁ, 2007, s.p.).

Os cantinhos também são deixados de lado pelos educadores, com a justificativa de que
com o seu uso, o ambiente parece desorganizado e as crianças indisciplinadas, uma vez que
vários objetos, cenários, brinquedos e construções transformam o espaço e as crianças ficam
livres para explorá-los. Além disso, tais professores podem acreditar que oferecer sempre
os mesmos brinquedos de montar, massa de modelar ou livros infantis para as crianças, por
exemplo, permite que eles (professores) tenham mais controle da situação, uma vez que a
criança estará sentada em sua cadeira brincando com os colegas daquela única mesa. Este
aspecto é bastante preocupante e precisa ser superado, em especial nas instituições de
educação infantil. De acordo com o Instituto Avisalá (2007) “o trabalho com cantos não
constitui apenas um momento de aprendizagem da criança, mas também do professor, que
aprende a segurar seu impulso de sempre controlar a situação”.

Pelo que foi discutido até aqui, fica claro que o planejamento e uso criativo dos cantinhos
são essenciais, visto que precisa ser um espaço especialmente organizado para acolher as
experiências de aprendizagens que promovam o desenvolvimento dos bebês e crianças
pequenas instituições de educação infantil. É urgente que os professores que atuam nesta
etapa, superem a visão tradicional de educação e compreendam os benefícios dos cantinhos
são capazes de proporcionar.

Uma forma de fomentar a reflexão e discussão sobre as possibilidades do uso dos cantinhos
temáticos na educação infantil é por meio de formação para os educadores. Algumas opções
são a leitura espontânea de livros, revistas, vídeos e observação de práticas cotidianas
envolvendo a temática; os horários coletivos de estudos como ocorrem nos CEIs e EMEIs,
envolvendo a coordenação pedagógica e professores (Projeto Especial de Ação); Cursos de
atualização presenciais ou a distância e ainda as Especializações na área da Educação Infantil.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A trajetória percorrida permite concluir que nas
instituições de educação infantil o bebê e a criança pequena,
precisam ser concebidos como protagonistas do processo de
desenvolvimento em um ambiente no qual, o educar e cuidar
sejam ações indissociáveis no cotidiano e o educador seja
parceiro nas descobertas. Para isso, a brincadeira constitui-
se a principal oportunidade, tanto de desenvolvimento,
quanto de aprendizagem e interação deste público.
KATIA DE
O estudo dos autores pesquisados, trouxe considerações OLIVEIRA ALVES
bastante relevantes quanto ao uso dos cantinhos temáticos
Graduação em Pedagogia pela
para favorecer o lúdico e enriquecer as experiências infantis. Universidade Santo Amaro (2006);
Também proporcionou uma reflexão sobre o importante Especialista em Educação Infantil pelo
papel do educador que atua nas instituições de educação Centro Universitário FMU (2010);
infantil, na organização adequada e criativa do tempo e Atuou como Professora e Coordenadora
espaço. Pedagógica na Escola de Educação
Infantil Miniatura e atualmente é
Foi possível constatar que o uso dos cantinhos temáticos, Professora de Educação Infantil no CEI

não exige grandes estruturas físicas, nem materiais de difícil Vila Império.

acesso, mas a criatividade, intencionalidade e planejamento


dos professores, que ao contarem com a participação das
crianças para organizar os espaços e também dar ideias, podem ter muitas surpresas positivas.

Quanto a problemática elencada, de que nem todos professores de educação infantil
utilizam, planejam ou consideram os cantinhos como um recurso primordial para bebês
e crianças, constatou-se que é necessário o uso de cantinhos temáticos no cotidiano da
Educação Infantil para favorecer as aprendizagens individuais e coletivas, bem como para as
interações e descobertas infantis. Neste contexto, é preciso que tais educadores consigam
romper as barreiras do desconhecimento e superar antigas concepções de educação,
permitindo assim, que reconheçam no uso dos cantinhos as inúmeras possibilidades de dar
autonomia, vez e voz aos bebês e crianças pequenas.

Assim, conclui-se que o estudo desenvolvido foi de grande valia para a minha formação
e atuação profissional, pois proporcionou uma reflexão ampla, a aquisição de novos
conhecimentos e a comprovação de que o uso dos cantinhos temáticos nas instituições de
educação infantil é valioso e imprescindível.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Revista Educar FCE - Março 2019

O USO DO CONTO NA EDUCAÇÃO


INFANTIL E O DENVOLVIMENTO
DA LÍNGUA
RESUMO: Esta pesquisa traz a reflexão das possibilidades do uso do conto na Educação
Infantil, segundo a visão sociointeracionista e buscamos também analisar o tratamento
dado à oralidade das crianças pelos professores como ferramenta facilitadora do ensino e
aprendizagem da língua e fazer com as crianças experenciem a literatura infantil de forma
livre e criativa. Considerando que a linguagem oral do cotidiano é carregada de um rico
arsenal de conhecimento de mundo e difere da linguagem literária contida nos livros, a
ação verbal através da partilha de experiências de leituras proporcionará uma aprendizagem
significativa, já que favorece a capacidade de agenciar e articular informações, uma vez que
essas linguagens podem ser aproveitadas pelo professor em suas práticas educativas de
forma enriquecedora. Por isso esse tema foi abordado nesta pesquisa que tem como foco
mostrar as possibilidades do uso do conto na Educação Infantil.

Palavras-Chave: Literatura Infantil. Conto. Aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO Algumas crianças ao iniciar sua vida escolar,


nunca tiveram acesso a qualquer tipo de
Para entendermos um pouco sobre os livro infantil. Vê-se que é indispensável para
contos e necessário também conhecermos a formação de uma criança, ouvir histórias. É
a Literatura Infantil que nos cerca e saber assim que se inicia a aprendizagem para ser
usá-la para garantir uma interação entre as um leitor, e sendo um leitor compreenderá
crianças. Toda a criança ao nascer convive com mais criticidade o mundo em que vive.
com adultos falando a sua volta. Quando
bebês as músicas de ninar fazem parte de sua Nesta pesquisa trataremos de explicitar
vida, e conforme vão crescendo as histórias este caminho percorrido pela Educação
infantis vão adquirindo espaço em suas Infantil, assim como trazer um breve histórico
vidas, porém nem toda a criança tem esses de como a literatura infantil se estabeleceu
privilégios, e somente terão este contato na no ambiente escolar. E como esta prática
escola. O contato com textos e especialmente está presente nos ambientes onde a criança
contos muitas vezes só ocorrerá na escola. não lê. Por isso pensamos a importância de
refletir sobre o professor como mediador
A Educação Infantil como fase inicial em seu e leitor e sobre os estágios psicológicos da
currículo traz a Literatura Infantil como uma criança e a literatura que lhe apresentada.
prática interdisciplinar e a relacionada com
outros modos de expressão (o movimento,
a imagem, a música). Porém nem sempre O PAPEL DA LITERATURA
foi assim. Muito foi construído com leis, INFANTIL NA ESCOLA
diretrizes e orientações pedagógicas para
que a criança que hoje chega aos espaços de Nem sempre a literatura esteve presente
Educação Infantil possa ter contato com os na escola, somente partir do século XIX os
diversos portadores textuais. laços entre a escola e literatura se estreitaram.
A escola se tornou o espaço onde as crianças
ZILBERMAN (1998, p.18), afirma que deveriam adquirir e dominar a língua escrita
então cabia a escola desenvolver esta
a escola assume um papel duplo – o de introduzir capacidade.
a criança na vida adulta, e ao mesmo tempo, o de
protegê-la contra as agressões do mundo exterior, De acordo com LAJOLO & ZILBERMANN,
muitas vezes até tem assumido o papel da família, “a escola passa a habilitar as crianças para o
que é o de educar. Muitas famílias atribuem esse
consumo das obras impressas, servindo como
papel para a escola por falta de tempo ou de
intermediária entre a criança e a sociedade
uma estrutura familiar, que falta amor, respeito,
de consumo”. (2002, p.25)
harmonia, diálogo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Assim, surge outro enfoque relevante para parte pelas obras de Monteiro Lobato, no
a literatura infantil, que se tratava na verdade que se refere ao Brasil. Ela então, se ramifica
de uma literatura produzida para adultos e por todos os caminhos da atividade humana,
aproveitada para a criança. valorizando a aventura, o cotidiano, a família,
a escola, o esporte, as brincadeiras, as
Seu aspecto didático-pedagógico de minorias raciais, penetrando até no campo
grande importância baseava-se numa linha da política e suas implicações.
moralista, paternalista, centrada numa
representação de poder. Era, portanto, Hoje a dimensão de literatura infantil
uma literatura para estimular a obediência, é muito mais ampla e importante. Ela
segundo a igreja, o governo ou ao senhor. proporciona à criança um desenvolvimento
Uma literatura intencional, cujas histórias emocional, social e cognitivo indiscutível.
acabavam sempre premiando o bom e
castigando o que é considerado mal, seguindo Segundo ABRAMOVICH (1997) quando
à risca os preceitos religiosos e considera a as crianças ouvem histórias, passam a
criança um ser a se moldar de acordo com visualizar de forma mais clara, sentimentos
o desejo dos que a educam, podando-lhe que têm em relação ao mundo. As histórias
aptidões e expectativas. trabalham problemas existenciais típicos da
infância, como medos, sentimentos de inveja
Até as duas primeiras décadas do século e de carinho, curiosidade, dor, perda, além
XX, as obras didáticas produzidas para a de ensinarem infinitos assuntos.
infância, apresentavam um caráter ético-
didático, ou seja, o livro tinha a finalidade É através de uma história que se pode
única de educar, apresentar modelos, moldar descobrir outros lugares, outros tempos,
a criança de acordo com as expectativas dos outros jeitos de agir e de ser, outras regras,
adultos. outra ética, outra ótica. É ficar sabendo
história, filosofia, direito, política, sociologia,
A obra dificilmente tinha o objetivo antropologia etc. sem precisar saber o nome
de tornar a leitura como fonte de prazer, disso tudo e muito menos achar que tem
retratando a aventura pela aventura. Havia cara de aula (ABRAMOVICH, 1997, p.17)
poucas histórias que falavam da vida de
forma lúdica, ou que faziam pequenas viagens Neste sentido, quanto mais cedo a criança
em torno do cotidiano, ou a afirmação da tiver contato com os livros e perceber o prazer
amizade centrada no companheirismo, no que a leitura produz, maior será a probabilidade
amigo da vizinhança, da escola, da vida. de ela tornar-se um adulto leitor. Da mesma
forma através da leitura a criança adquire
Nos anos 70 a literatura infantil passa por uma postura crítico-reflexiva, extremamente
uma revalorização, contribuída em grande relevante à sua formação cognitiva.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Quando a criança ouve ou lê uma história A leitura é um processo no qual o leitor


e é capaz de comentar, indagar, duvidar ou realiza um trabalho ativo de construção do
discutir sobre ela, realiza uma interação significado do texto. Segundo COELHO
verbal, que neste caso, vem ao encontro das (2002) a leitura, no sentido de compreensão
noções de linguagem de BAKHTIN (1992). do mundo é condição básica do ser humano.

Para ele, o confrontamento de ideias, de A compreensão e sentido daquilo que o


pensamentos em relação aos textos, tem cerca inicia-se quando bebê, nos primeiros
sempre um caráter coletivo, social. contatos com o mundo. Os sons, os odores,
o toque, o paladar, são os primeiros passos
O conhecimento é adquirido na para aprender a ler. Ler, no entanto, é
interlocução, o qual evolui por meio do uma atividade que implica não somente a
confronto, da contrariedade. decodificação de símbolos, ela envolve uma
série de estratégias que permite o indivíduo
Assim, a linguagem segundo BAKTHIN compreender o que lê. Neste sentido, relata
(1992) é constitutiva, isto é, o sujeito constrói os PCN’s (2001, p.54.):
o seu pensamento, a partir do pensamento
do outro, portanto, uma linguagem dialógica. Um leitor competente é alguém que, por
iniciativa própria, é capaz de selecionar,
A vida é dialógica por natureza. Viver dentre os trechos que circulam socialmente,
significa participar de um diálogo: interrogar, aqueles que podem atender a uma
escutar, responder, concordar etc. necessidade sua. Que consegue utilizar
estratégias de leitura adequada para abordá-
Neste diálogo, o homem participa todo e los de forma a atender a essa necessidade.
com toda a sua vida: com os olhos, os lábios,
as mãos, a alma, o espírito, com o corpo todo, Assim, pode-se observar que a capacidade
com as suas ações. Ele se põe todo na palavra para aprender está ligada ao contexto pessoal
e esta palavra entra no tecido dialógico da do indivíduo.
existência humana, no simpósio universal.
(BAKHTIN, 1992, p112) Desta forma, LAJOLO (2002) afirma que
cada leitor, entrelaça o significado pessoal
E é partindo desta visão da interação social de suas leituras de mundo, com os vários
e do diálogo, que se pretende compreender significados que ele encontrou ao longo da
a relevância da literatura infantil, que história de um livro, por exemplo.
segundo afirma COELHO (2001, p.17), “é um
fenômeno de linguagem resultante de uma O ato de ler então, não representa
experiência existencial, social e cultural.” apenas a decodificação, já que esta não está
imediatamente ligada a uma experiência,

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Revista Educar FCE - Março 2019

fantasia ou necessidade do indivíduo. De De sorte que, lemos o mundo, quando


acordo com os PCN’s (2001) a decodificação lemos espetáculos teatrais, novelas, jornais,
é apenas uma, das várias etapas de romances, textos técnicos, cartas, folders
desenvolvimento da leitura. etc. Assim, lemos quando vemos TV ou
quando abrimos um livro.
A compreensão das ideias percebidas,
a interpretação e a avaliação são as outras Ler para uma criança é antes de tudo um
etapas que segundo Bamberguerd (2003, ato de generosidade e de responsabilidade do
p.23) “fundem-se no ato da leitura”. Desta professor que, ao emprestar a voz para que
forma, trabalhar com a diversidade textual, o autor fale às crianças, também assegura a
segundo os PCN’s (2001), fazendo com que elas o direito de ingressarem nesse universo
o indivíduo desenvolva significativamente as letrado, antes mesmo de saber os nomes das
etapas de leitura é contribuir para a formação letras.
de leitores competentes.
ZILBERMAN (1998, p.21), aborda as
E percebido apesar de todas as orientações relações entre literatura e escola; segundo
comum em sala de aula a prática de leitura a autora, ambas compartilham um aspecto
de diferentes gêneros independente da em comum: a natureza formativa. Tanto a
faixa etária. No entanto, muitos confundem obra de ficção como a instituição de ensino
estratégias pedagógicas de trabalho de estão voltadas à formação do indivíduo ao
contar histórias com leitura propriamente qual se dirigem. No entanto, as obras infantis
dita. Assim, ora presenciamos excelentes apresentam um mundo encantado, onde a
contadores de histórias fantasiados criança pode fantasiar várias coisas com seu
e proporcionando encantamento e enredo e personagens. É possível através
desenvolvimento do faz de conta infantil, de um livro realizar atividades diversas, nas
ora presenciamos leituras bem-feitas em que quais a criança coloca sua imaginação e toda
a professora lê vai destacando a importância sua criatividade em prática, despertando
dos detalhes e das imagens. muitas vezes um artista que está escondido
dentro de si.
A leitura é considerada um ato cognitivo na
medida em que envolve processos cognitivos A importância do professor ao ler é
múltiplos, como também é um ato social e imensurável, pois ele traz o mundo para
envolve pelo menos dois sujeitos - leitor dentro da escola, especialmente na Educação
e autor – que interagem entre si, a partir Infantil assim também se faz importante que
de objetivos e necessidades socialmente o professor como leitor e mediador saiba
determinados. os tipos de portadores trazer e faixa etária
indicada.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A LITERATURA E OS la oferecendo-lhe brinquedos, álbuns,


ESTÁGIOS PSICOLÓGICOS chocalhos musicais, entre outros. Assim,
ela poderá manuseá-los e nomeá-los e com
DA CRIANÇA a ajuda de um adulto poderá relacioná-los
Durante o seu desenvolvimento, a criança propiciando situações simples de leitura.
passa por estágios psicológicos que precisam
ser observados e respeitados no momento Segunda infância (a partir dos 2/3 anos) é o
da escola de livros para ela. início da fase egocêntrica. Está mais adaptada
ao meio físico e aumenta sua capacidade e
Essas etapas não dependem exclusivamente interesse pela comunicação verbal. Como
de sua idade, mas de acordo com COELHO interessa- se também por atividades lúdicas,
(2002) do seu nível de amadurecimento o “brincar” com o livro será importante e
psíquico, afetivo e intelectual e seu nível significativo para ela.
de conhecimento e domínio do mecanismo
da leitura. Neste sentido, é necessária a Nesta fase, os livros adequados, de
adequação dos livros às diversas etapas acordo com ABRAMOVICH (1997) devem
pelas quais a criança normalmente passa. apresentar um contexto familiar, com
predomínio absoluto da imagem que deve
Existem cinco categorias que norteiam sugerir uma situação.
as fases do desenvolvimento psicológico
da criança: o preleitor, o leitor iniciante, o Não se deve apresentar texto escrito, já
leitor-em-processo, o leitor fluente e o leitor que é através da nomeação das coisas que
crítico. a criança estabelecerá uma relação entre a
realidade e o mundo dos livros. Livros que
O preleitor: categoria que abrange duas propõem humor, expectativa ou mistério
fases. Primeira infância (dos 15/17 meses são indicados para o preleitor. A técnica
aos 3 anos). Nesta fase a criança começa a da repetição ou reiteração de elementos é
reconhecer o mundo ao seu redor através do segundo COELHO (2002, p.34) “favoráveis
contato afetivo e do tato. Por este motivo ela para manter a atenção e o interesse desse
sente necessidade de pegar ou tocar tudo o difícil leitor a ser conquistado”.
que estiver ao seu alcance.
O leitor iniciante (a partir dos 6/7 anos)
Outro momento marcante nesta fase é a Essa é a fase em que a criança começa a
aquisição da linguagem, onde a criança passa apropriar-se da decodificação dos símbolos
a nomear tudo a sua volta. gráficos, mas como ainda se encontra no
início do processo, o papel do adulto como
A partir da percepção da criança com “agente estimulador” é fundamental.
o meio em que vive, é possível estimulá-

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Os livros adequados nesta fase devem ter O tema deve girar em torno de um conflito
uma linguagem simples com começo, meio e que deixará o texto mais emocionante e
fim. As imagens devem predominar sobre o culminar com a solução do problema.
texto.
O leitor fluente (a partir dos 10/11 anos)
As personagens podem ser humanas, O leitor fluente está em fase de consolidação
bichos, robôs, objetos, especificando sempre dos mecanismos da leitura. Sua capacidade
os traços de comportamento, como bom e de concentração cresce e ele é capaz de
mau, forte e fraco, feio e bonito. compreender o mundo expresso no livro.

Histórias engraçadas, ou que o bem Segundo COELHO (2002) é a partir


vença o mal atraem muito o leitor nesta dessa fase que a criança desenvolve o
fase. Indiferentemente de se utilizarem “pensamento hipotético dedutivo” e a
textos como contos de fadas ou do mundo capacidade de abstração. Este estágio,
cotidiano, de acordo com Coelho (p. 35) “eles chamado de pré-adolescência, promove
devem estimular a imaginação, a inteligência, mudanças significativas no indivíduo. Há um
a afetividade, as emoções, o pensar, o querer, sentimento de poder interior, de ver-se como
o sentir”. um ser inteligente, reflexivo, capaz de resolver
todos os seus problemas sozinhos. Aqui há
O leitor-em-processo (a partir dos uma espécie de retomada do egocentrismo
8/9anos). A criança nesta fase já domina o infantil, pois assim como acontece com as
mecanismo da leitura. Seu pensamento está crianças nesta fase, o pré-adolescente pode
mais desenvolvido, permitindo-lhe realizar apresentar um certo desequilíbrio com o
operações mentais. Interessa-se pelo meio em que vive.
conhecimento de toda a natureza e pelos
desafios que lhes são propostos. O leitor fluente é atraído por histórias que
apresentem valores políticos e éticos, por
O leitor desta fase tem grande atração heróis ou heroínas que lutam por um ideal.
por textos em que haja humor e situações Identificam-se com textos que apresentam
inesperadas ou satíricas. O realismo e o jovens em busca de espaço no meio em que
imaginário também agradam a este leitor. vivem, seja no grupo, equipe, entre outros.
Os livros adequados a esta fase devem
apresentar imagens e textos, estes, escritos É adequado oferecer a esse tipo de leitor
em frases simples, de comunicação direta e histórias com linguagem mais elaborada. As
objetiva. De acordo com Coelho (2002) deve imagens já não são indispensáveis, porém
conter início, meio e fim. ainda é um elemento forte de atração.
Interessam- se por mitos e lendas, policiais,
romances e aventuras. Os gêneros narrativos

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Revista Educar FCE - Março 2019

que mais agradam são os contos, as crônicas e dos livros digitalizados, o objeto livro não
e as novelas. O leitor crítico (a partir dos perderá seu lugar, sua identidade que passou
12/13 anos) nesta fase é total o domínio da a conviver como continuidade da história.
leitura e da linguagem escrita. Sua capacidade Isso quer dizer que o novo necessariamente,
de reflexão aumenta, permitindo-lhe a não substitui o antigo, mas passa a coexistir
intertextualização. com ele.

Desenvolve gradativamente o pensamento É bom refletirmos sobre a dimensão


reflexivo e a consciência crítica em relação dos aprendizados cognitivos por meio do
ao mundo. Sentimentos como saber, fazer trabalho com o reconto oral das histórias:
e poder são elementos que permeiam o desenvolvimento da expressão oral, estrutura
adolescente. O convívio do leitor crítico com da narrativa, sequência e encadeamento de
o texto literário, segundo COELHO (2002, fatos, ampliação de repertório, apropriação
p.40) “deve extrapolar a mera fruição de da linguagem que se escreve de vocabulário
prazer ou emoção e deve provocá-lo para e expressões etc. Mas também é oportuno
penetrar no mecanismo da leitura”. pensarmos sobre a magia que a leitura tem
na vida de quem a cultiva, sobretudo quando
O leitor crítico continua a interessar- ela ganha uma dimensão socializador a ao
se pelos tipos de leitura da fase anterior, ser representada, recontada.
porém, é necessário que ele se aproprie dos
conceitos básicos da teoria literária.
OS CONTOS E O
De acordo com Coelho “a literatura é DESENVOLVIMENTO
considerada a arte da linguagem e como
qualquer arte exige uma iniciação. Assim, DA LINGUAGEM ORAL
há certos conhecimentos a respeito da
literatura que não podem ser ignorados pelo É importante para a formação de qualquer
leitor crítico”. criança ouvir histórias, pois suscita o
imaginário infantil, estimula o intelecto e a
Saber cada estágio e como levar a leitura formulação de hipóteses desenvolvendo
a estas crianças não é fácil. Aqui nosso assim, o potencial e as habilidades da criança.
propósito é conhecer estas fases para saber
como interagir principalmente com crianças O trabalho com os contos, faz com que
na Educação Infantil e nos anos iniciais. a criança desenvolva a linguagem oral e
escrita é viajar pelo mundo dos livros e da
Como buscar a esta interação e imaginação, encantando e despertando na
desenvolver a vontade de ler, isto ainda é criança a curiosidade e o desejo por novas
possível apesar das facilidades da internet descobertas e aprendizagens.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O homem, na qualidade de ser de relações, uma coleção de documentos intitulados


possui a capacidade de transmitir o que pensa Referenciais Curriculares Nacionais (RCNEI)
e sente através de elementos da linguagem destinada a Educação Infantil. RCNEI estão
como gestos, sinais, sons, símbolos ou reunidas propostas para a renovação do ensino
palavras; assim se comunica com o mundo nas escolas de educação infantil brasileiras,
que o cerca. e muitas as áreas de conhecimento foram
contempladas – Linguagem, Matemática,
Os variados meios para expressar Movimento, Artes e Natureza e Sociedade.
ideias, elaborar significados e transmitir O volume três contém objetivos, conteúdos
conhecimentos evoluíram ao longo da e orientações didáticas aos professores
história. No que remete à linguagem oral, e às pessoas de apoio que atuam nessas
MARCUSCHI (2001) afirma que: instituições.

a fala (enquanto manifestação da prática oral) é De acordo com o RCNEI (1998), e


adquirida naturalmente em contextos informais possibilita a ampliação da formação do sujeito
do dia-a-dia e nas relações sociais e dialógicas a fim de que tenha uma consciência crítica
que se instauram desde o momento em que a e transformadora, assim como possibilita
mãe dá seu primeiro sorriso ao bebê. Mais do que
a interação social com outras pessoas, a
a decorrência de uma disposição biogenética, o
orientação de suas ações e a construção de
aprendizado e o uso de uma língua natural é uma
muitos conhecimentos. Isto se dá a partir
forma de uma inserção cultura e socialização.
da promoção de experiências significativas
ampliando, assim, as capacidades de
Se pensarmos que adentro de uma história comunicação e expressão e o acesso ao
há gestos, sinais, sons e símbolos presentes mundo letrado pelas crianças.
veremos a importância de trabalhar com as
crianças o conto em suas diversas formas. O Referencial relaciona o desenvolvimento
Portanto, os contos permitem que a da fala e da capacidade simbólica à
linguagem flua com mais naturalidade à ampliação dos recursos intelectuais, assim
medida que é empregado para evocar e como relaciona a ampliação da capacidade
dirigir as situações em que a criança está se comunicativa oral à participação de conversas
integrando. cotidianas, em situações de escrita e canto de
música, em brincadeiras, e inclusive naquelas
É neste momento que a brincadeira- que envolvem a leitura de textos diversos.
simbólica torna-se representativa seja através
de objetos, gestos e palavras e a interação Afirma também que a oralidade tem
adulto-criança contribui significativamente destaque nos momentos da roda e de
para o desenvolvimento da criança. Em conversas, sendo que essa estratégia que
1998 O Ministério da Educação publicou compõe a rotina escolar é avaliada como

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Revista Educar FCE - Março 2019

produtora de monólogos. Em desacordo Mesmo numa contação de história, está


com isto diz que: É por meio do diálogo que em jogo muita aprendizagem as observações
a comunicação acontece. Ou seja, “é a partir e anotações podem traçar caminhos
das inúmeras interações que as crianças novos para a conquista da linguagem oral
vão apropriando-se das convenções da e posteriormente a linguagem escrita.
linguagem”. (p. 121, v.3). Realmente, precisamos conhecer referências
de ensino já instituídas, para podermos criar
Em consequência do processo de outras referências.
apropriações sucessivas da fala do outro cada
criança irá produzir construções linguísticas Criar, imaginar requer conhecer o
mais complexas, no decorrer do Referencial tradicional, o convencional, referências de
relaciona o desenvolvimento da fala e boas práticas. A intenção não é reproduzir
da capacidade simbólica à ampliação dos um modelo, mas conhecer modelos possíveis
recursos intelectuais, assim como relaciona para poder criar o nosso e torná-lo também
a ampliação da capacidade comunicativa uma referência para futuros professores. Um
oral à participação de conversas cotidianas, bom planejamento e preciso mesmo porque
em situações de escrita e canto de música, na educação infantil tem crianças de 0 a 5
em brincadeiras, e inclusive naquelas que anos.
envolvem a leitura de textos diversos.
A roda de leitura pelo professor pode ser
Uma das formas que pode também uma maneira de iniciar uma conversa sobre
privilegiar o desenvolvimento da oralidade o livro que contribuirá para diferentes
parte da leitura e escuta de histórias, em aprendizagens das crianças. Para que toda
que a linguagem escrita e oral encontram- leitura ocorra como previsto a organização do
se entrelaçadas, encaminhando-se para tempo deve ser um dos principais objetivos
a reconstrução da história lida – recontar da roda de histórias é construir familiaridade
histórias, prática que acolhe as contribuições das crianças com os livros e a leitura.
de experiências e conhecimentos das
crianças, as quais em sua fala carregam seus Para habituara as crianças a leitura em voz
modos próprios e particulares de pensar, alta que pode ser feita pelo professor na roda
formando elos de troca e ajuda mútua. de história, é uma atividade permanente na
rotina da Educação Infantil.
A proposta por mais interessante que
seja pode não ser adequada ao objetivo A indicação dos livros favoritos também
pretendido por e necessário o professor pode ocupar esse espaço, com periodicidade
conhecer seus alunos. semanal, por exemplo, marcando o dia de
emprestar e devolver os livros da biblioteca
de sala.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A organização de um painel coletivo é uma dica interessante para promover a troca de


todas as crianças que participam da comunidade leitora da escola.

Todas essas atividades envolvem as crianças nas diferentes práticas da nossa língua. Outra
necessidade que e responsabilidade do professor é cuidar do material que se vai expor ao
grupo: o texto que é apresentado às crianças faz diferença na qualidade da leitura que elas
personagens infantilizadas e empobrecidas que não ampliam o que vão aprender e, muitas
vezes, reforçam enganos e ideias preconceituosas ou estereotipadas.

É importante escolher textos que possibilitem às crianças uma primeira leitura, antecipando-
se ao professor. O professor pode decidir como usar os que ele possui na escola. É possível,
por exemplo: de linguagem, para apreciar o texto bem escrito; mais gosta para o restante da
sala ou para outras crianças da escola.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desenvolver o interesse e o hábito pela leitura é um
processo constante, que começa muito cedo, em casa,
aperfeiçoa-se na escola e continua pela vida inteira. A criança
que houve histórias desde cedo, que tem contato direto
com livros e que seja estimulada, terá um desenvolvimento
favorável ao seu vocabulário, bem como a prontidão para a
leitura.
KÁTIA MEDEIROS DA
Se o professor acreditar que além de informar, instruir ou SILVA
ensinar, o livro pode dar prazer, encontrará meios de mostrar
Graduação em Normal superior - Faculdade
isso à criança. E ela vai se interessar por ele, vai querer buscar Uniararas (2007); Pós-graduação Em
no livro esta alegria e prazer. Tudo está em ter a chance de Psicopedagogia Institucional e Clínica-
conhecer a grande magia que o livro proporciona. Enfim, a Faculdade Brasil. (2014); Graduação em
literatura infantil é um amplo campo de estudos que exige Artes na Unijales (2016); Professor de
do professor conhecimento para saber adequar os livros Ensino Fundamental e Educação Infantil
às crianças, gerando um momento propício de prazer e CEI- Parque Cocaia, Professora de
estimulação para a leitura. Educação Básica - na EE.Dr. Aniz Badra.

O sentir e do pensar estimulado nas leituras de diversos


contos fazem com que as crianças entendem bem a
linguagem dos símbolos presentes nessas histórias. As
crianças reinventam o seu dia-a-dia, o jogo do “faz de conta” e
tantos outros que as divertem e distraem em tempos vividos
entre a imaginação e a realidade. Histórias não garantem a
felicidade nem o sucesso na vida, mas ajudam.

Afinal, certa dose de otimismo é preciso, pois, embora a


ficção não tenha o poder de salvar o mundo, ela, pelo menos,
o enriquece. Afinal uma vida feliz se faz de histórias: as que
vivemos as que contamos e as que nos contam.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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1279
Revista Educar FCE - Março 2019

JOGOS E BRINCADEIRAS
COMO RECURSO DIDÁTICO
RESUMO: O presente artigo tem a finalidade de refletir sobre o ensino da língua portuguesa
e matemática para as séries iniciais do ensino fundamental. O objetivo é refletir como
ocorre o processo de ensino/ aprendizagem da língua materna e da matemática por meio
de brincadeiras e atividades lúdicas. Sabe-se que o período de estudo referente ao ensino
fundamental é um momento de muitas descobertas e realizações para os educandos.
Justamente por esse motivo há a necessidade cada vez mais eminente de se aprender a
língua portuguesa e matemática de forma satisfatória a fim de formar um cidadão completo
e apto a resolver as necessidades do mundo moderno. Trazendo ao aluno paixão e vontade
de aprender brincando matérias/ conceitos tão importantes para o desenvolvimento de
qualquer cidadão.

Palavras-Chave: Língua portuguesa; Matemática; Brincadeiras; Aprendizado; Aluno; Lúdico.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO para conseguir finalizar um jogo por exemplo.


Segundo Vygotsky (apud ROLIM,GUERRA e
O termo lúdico tem aparecido TASSIGNY, 2008,p.177 )
frequentemente nas discussões sobre a nova
perspectiva educacional voltada as séries “O brincar relaciona-se ainda com a
iniciais do ensino fundamental. Tanto os aprendizagem. Brincar é aprender; na brincadeira,
professores quanto os teóricos da educação reside a base daquilo que, mais tarde, permitirá à
vem tentando esclarecer a importância do criança aprendizagens mais elaboradas. O lúdico
torna-se, assim, uma proposta educacional para
brincar nos anos iniciais de qualquer criança.
o enfrentamento das dificuldades no processo
ensino-aprendizagem”.
Através de atividades lúdicas o educando
forma conceitos, seleciona ideias, estabelecem Vários teóricos contemporâneos
lógicas, integra percepções, faz estimativa, vai defendem a utilização de jogos e brincadeiras
socializando-se, promovendo situações que como recursos didáticos necessários para as
o leva a estabelecer relações sociais com o
aprendizagens de crianças e adolescentes.
grupo ao qual está inserido, estimulando seu
Sabe-se que existem diversos matérias e
raciocínio no desenvolvimento de atitudes que
estudos recentes que apresentam inúmeras
exigem reflexões e enquanto função educativa
formas de usar jogos e brincadeiras para
proporciona a aprendizagem, seu saber, sua
compreensão de mundo e seu conhecimento.
ensinar matemática por exemplo. O ideal é
(NOGUEIRA, 2007, p. 9) fazer um levantamento das necessidades de
cada sala/ ano escolar e localizar brincadeiras/
Frente às demandas escolares atuais e ao jogos que contemple tais dificuldades.
desinteresse de alguns alunos é necessário Vale ressaltar que este artigo não tem a
buscar meios para estimular a vontade de intenção de informar que somente os jogos e
aprender elementos tão importantes para a brincadeiras serão necessários para garantir
vida de qualquer cidadão como o Português o aprendizado de vários conteúdos, mas sim
e Matemática. Esses conceitos escolares que este recurso é extremamente rico quando
cercam nossas atividades diárias e, portanto, se trata de crianças e adolescentes, portanto,
a escola tem a obrigação de conseguir ao construir uma seqüência didática pode-se
desenvolver aprendizagens significativas utilizar desses artefatos para garantir uma
dentro de vários campos da ciência. Ao aprendizagem significativa.
propor jogos e atividades diferenciadas
ao aluno ele tenta executar a atividade
proposta como uma forma de desafio e o O BRINCAR E A INFÂNCIA
aprender é conseqüência. As crianças são
altamente estimuladas por competições O termo lúdico vem do latim “ludus” e
e desafios. O que as leva a mobilizar possui um extenso significado. Em geral está
conhecimentos prévios e levantar hipóteses associado a brincadeiras, passatempos, jogos

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Revista Educar FCE - Março 2019

e etc. O lúdico sempre fez parte do cotidiano que a brincadeira: É o lugar da socialização,
das crianças e da vida do ser humano em da administração da relação com o outro,
geral. Os gregos e romanos já desenvolviam da apropriação da cultura, do exercício da
atividades lúdicas para entreter toda a família decisão e da invenção.
inclusive os adultos.
Durante o ato de brincar vários
A oposição entre atividade lúdica e função elementos são desenvolvidos; a interação
do real pode mostrar em que sentido a social, o respeito mútuo entre os amigos,
criatividade da criança se parece com o jogo. o conhecimento corporal e espacial, o
Pela função do real, os atos se integram ao desenvolvimento cognitivo e o respeito
conjunto das circunstâncias que os tornam às regras. Analisando todo esse contexto
eficazes: circunstâncias exteriores que lhes podemos redimensionar para o espaço
permitem inserir-se, para modificá-las, no escolar, ou seja, ao desenvolver brincadeiras
curso das coisas; circunstâncias mentais durante a infância a criança assimila aquilo
que os põem a serviço da realidade de um que foi proposto na brincadeira, construindo
propósito, de uma conduta, da solução de assim pontes para o saber e tendo sua
um problema. A distinção, aliás, é apenas criatividade e curiosidade aguçadas.
provisória. Pois o lugar, os meios e o final de
toda realização só pode estar, decididamente,
no mundo exterior. (WALLON, 2010, p. 57) COMO APRENDER
PORTUGUÊS E
O jogo e a brincadeira é uma necessidade
na vida da criança, pois por meio destas MATEMÁTICA BRINCANDO
atividades as crianças podem expressar Os educandos do século XXI possuem
seus sentimentos, expressões e vontades. muitas informações. O avanço tecnológico
O brincar é inato a criança e é responsável fez com que essa nova geração de alunos
pelo desenvolvimento de suas habilidades tivessem tudo ao alcance de um clique, no
físicas, motoras e intelectuais. Durante as entanto, toda essa facilidade para obter
brincadeiras algo muito importante também informações não leva ao conhecimento.
é desenvolvido: as regras. Essas regras Também com a era digital as brincadeiras
nortearão o futuro da criança e de acordo tornaram-se mais virtuais e solitárias, o que
com Brougeré (1995, p.103) “As regras não por vezes torna as pessoas mais egocêntricas e
preexistem à brincadeira, mas são produzidas egoístas. Nesse novo cenário mundial a escola
à medida que se desenvolve a brincadeira”. continua usando as mesmas ferramentas
Ao brincar as regras são desenvolvidas e para ensinar conteúdos importantes para
aquele que não as respeitar será penalizado a vida de todos. A velha lousa, giz e alguns
e poderá até sair das brincadeiras, sendo livros didáticos não são mais suficientes a
assim Brougeré (1995, p.103) destaca ainda esta nova fase da humanidade. Precisamos

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Revista Educar FCE - Março 2019

de novas metodologias, novas práticas que área de exatas. Isso acontece também porque
sejam capazes de prender a atenção dos muitos alunos não compreendem a essência
alunos e os façam se interessar pelo prazer da Matemática, ou seja, sua importância no
de aprender. desenvolvimento de atividades simples do dia
a dia de qualquer cidadão. Sobre isso disserta
Aprender a Língua Portuguesa parece fácil, Dewey (1979 apud Grando, 2000) que,
afinal é o nosso idioma, no entanto diversos “aprender matemática significativamente
estudos vem mostrando que um grande implica em conhecer o conceito a partir de
percentual de alunos chega ao ensino médio suas relações com outros conceitos, notar
sem saber ao menos escrever corretamente como ele funciona”. A Matemática está
o próprio idioma. Isso gera uma enorme presente em tudo, porém devido a essa
dificuldade na fase adulta. Uma vez que para construção educacional errônea de separar
conseguir um bom emprego o cidadão tem o aprendizado por matérias/ gavetas de
de ao menos conseguir se expressar de forma conhecimentos não conseguimos notar
eficiente e clara. As práticas e metodologias a importância dos números em nosso
utilizadas atualmente para o ensino de Língua cotidiano.
Portuguesa estão claramente obsoletas
o que faz com que alguns professores Frente a essa realidade a área educacional
repensem o ensino de nossa língua materna precisa se voltar às novas praticas e
utilizando aspectos lúdicos e atrativos para metodologias que envolvam a área
conseguir cativar essa nova geração de tecnológica e os artefatos que envolvem o
estudantes. Para Santos ( 2001, p.15) “A mundo moderno. O conhecimento não pode
ideia de que é preciso que os profissionais mais ser separado por partes, precisamos
de educação reconheçam o real significado desenvolver nossas habilidades de forma
do lúdico para aplicá-lo adequadamente, completa e ensinar nossos alunos que o
estabelecendo a relação entre o brincar e “saber” serve para resolver problemas do dia
o aprender a aprender”. Essa idéia é uma a dia e que todas as áreas de conhecimentos
grande barreira para alguns profissionais da são importantes para o desenvolvimento
educação. Alguns ainda enfrentam alguma completo dos cidadãos. Precisamos ensinar
resistência porque pensam que o brincar não nossas crianças a verem um mondo repleto
traz consigo aprendizagens suficientes e que de desafios e capacitá-las a superá-los.
brincar para aprender é perca de tempo. Precisamos além de estimulá-las tocar em
sua auto-estima. O aluno precisa se sentir
Com o ensino da Matemática as pesquisas capaz e para isso muitas vezes a cobrança
no campo educacional tem sido ainda pior. deverá começar por brincadeiras e jogos que
Uma vez que os resultados são assustadores o estimulem a ser criança, ou seja, a brincar
e mostram que jovens a adolescentes saem da e fazer desse brincar uma oportunidade para
escola sem possuir conhecimentos básicos na novos aprendizados.

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BRINCADEIRAS PARA APRENDER PORTUGUÊS E MATEMÁTICA


É possível aprender brincando? De acordo com os estudos mais recentes não só é possível
como garante a qualidade de aprendizado. Os jogos e brincadeiras permitem ao educando
uma melhor fixação do conteúdo e maior interesse para aprender. Segue abaixo relação de
jogos e brincadeiras que podemos realizar durante o ensino fundamental.

JOGO DA VELHA DEADIÇÃO E SUBTRAÇÃO


Neste jogo o aluno será estimulado a exercitar a observação, a dedução e a antecipação.

Organização da sala: duplas

Material necessário: dois quadriculados 3x3 e lápis colorido.

O jogo inicia em um quadriculado com nove casas em que os jogadores se alternam


tentando completar três casas sucessivas ( diagonal, vertical ou horizontal) impedindo que
o adversário faça o mesmo. Para a mesma casa escolinha o adversário muda a cor do lápis.
Os dois participantes se alternam na jogada escolhendo números de 0 a 9 os quais podem
ser utilizados uma única vez. È vencedor aquele que ao colocar o número obtenha soma 10
nas três casas sucessivas.

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Revista Educar FCE - Março 2019

BINGO DE DIVISÃO E MULTIPLICAÇÃO


O objetivo desta atividade é desenvolver as habilidades de realizar contas de multiplicação
e divisão, auxiliando no desenvolvimento do raciocínio lógico dos alunos.

Organização da sala: individual.

Material necessário: Cartela de bingo, pedras para o bingo e canetas coloridas.

Como jogar: O professor sorteia as operações relacionadas na imagem abaixo. O aluno


deverá realizar o cálculo e marcar na sua cartela o resultado da operação. Ganha o aluno que
acertar o maior número de continhas.

JOGO DA COESÃO E COERÊNCIA


O objetivo desse jogo e despertar nas crianças a consciência textual. Torná-las capazes de
identificar a coerência e a coesão das frases/ textos.

Material: embalagem de leite para montar cubos e folhas coloridas para encapá-los.
Palavras impressas (cubo 1- artigos e pronomes, cubo 2 – substantivos, cubo 3 – verbo de
ligação, cubo 4 – adjetivos).

Organização da classe: Posicionar a sala ou um determinado grupo em circulo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Após nomear as caixas com as palavras descritas acima, selecionar alguns alunos para
irem jogando os cubos. Ao deixá-los cair questioná-los sobre a formação das frases e deixá-
los analisar as combinações dos cubos a cada jogada. Construindo significado, coesão e
coerência.

LEITURA EM PALITO DE PICOLÉ


O objetivo deste jogo é fazer com que os jogadores leiam e montem suas histórias que
estarão fragmentadas no palito de sorvete. Essa atividade poderá ser feita com os próprios
textos dos alunos.

Material: palitos de picolé e textos impressos em tiras.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após analisar a concepção e desenvolvimento das
competências de leitura e escrita assim como refletir
sobre a importância da matemática fica evidente que
todos os recursos possíveis são necessários para enfatizar
a necessidade da aprendizagem de forma significativa. Em
especial a necessidade da aquisição de novos conhecimentos
que auxiliem os alunos a resolverem problemas de seu
cotidiano. O Brasil há anos vem lutando para aumentar os
níveis de alfabetização e melhoria no ensino, no entanto, para
aqueles que estão constantemente em sala de aula, todo o LAÍS LOPES PRADO
trabalho feito até então se mostra ainda ineficiente. Faltam Graduação em Letras pela Faculdade
recursos financeiros e pessoais, incentivo, políticas públicas integradas de Ribeirão Pires (2011) e
de qualidade e leis que favoreçam o sucesso educacional. Pedagogia pela Faculdade São José (2014)
Vários aspectos negativos são discutidos diariamente . Especialista em Linguística e Literatura
nas escolas brasileiras e, sobretudo na educação pública, pela Unicamp (2012) e Educação Inclusiva
porém só ressaltar os aspectos negativos também não são pela Faculdade integrada Campos Sales
suficientes. Cabe a cada integrante da educação tentar fazer (2017). Professora Ensino Fundamental
algo para melhorá-la, mudar o paradigma educacional sem II e médio- Língua Inglesa na EMEF

depender de auxílios externos, afinal, eles parecem nunca Deputada Ivete Vargas e EE Profª Judith

chegar. Sendo assim, cabe a cada professor deixar a sua marca Piva Oliveira.

e tornar o aprendizado menos cansativo. Sim, aprender é


algo extremamente cansativo e por vezes entediante, porém
só por meio do conhecimento é que poderemos transformar
a realidade a nossa volta.

O brincar motiva, apaixona e gera conhecimento de


forma leve. Fica evidente que este não é um brincar
descompromissado. É um brincar pensado, articulado, com
intenções claras e objetivas e acima de tudo com uma bela
finalidade: aprender sendo criança. O brincar estimula o
hormônio da felicidade e sendo assim o conhecimento se
internaliza com alegria e gera prazer naquele que aprende
sendo dificilmente esquecido.

‘Cabe ao professor estimular e desenvolver esse prazer


ao aprender. No entanto, sabemos também que várias

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Revista Educar FCE - Março 2019

dificuldades permeiam o território escolar, mas criar possibilidades de distração e relaxamento


auxilia até mesmo o docente a desenvolver um bom trabalho e a sentir-se mais leve frente às
exigências da sociedade. Trabalhar com crianças cria a possibilidade de eternizar a infância e
aproveitar a fase mais bela da vida por mais tempo. Que a ludicidade e a criatividade vire uma
prática constante nas realidades escolares. Que a magia do aprender não dependa somente
daquilo que não possuímos e que a esperança por dias melhores não morra em nossas
escolas. Com certeza não mudaremos o mundo, mas auxiliaremos a transformar as pessoas.
Que cada professor e aluno brinquem mais, ousem mais e aprendam mais mutuamente.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Martins Fontes, 2010.

ROLIM, Amanda A. M.; GUERRA, Siena S. F.; TASSIGNY, Mônica M. Uma leitura de Vygotsky
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Artigo disponível em http://brincarbrincando.pbworks.com/f/brincar%2B_vygotsky.pdf.
Acessado em 18 mai.2018.

GRANDO, regina Célia. O conhecimento matemático e o uso de jogos na sala de aula. Tese
doutorado, Faculdade de educação,2000.

SOARES. Maria Vilani. Aquisição da linguagem segundo a psicologia interacionista: Três


abordagens.

SANTOS, Marli Pires dos. A ludicidade como ciência. Petrópolis: Vozes, 2001.

TERESA CRISTINA. Vygotsky uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis:


Vozes, 1997.

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

A VISUALIDADE ARTÍSTICA
EM CRIANÇAS DE 0 A 6 ANOS
RESUMO: O presente Artigo “A Visualidade Artística em Crianças de 0 a 6 Anos”, tem co-mo
objetivo conhecer e compreender a percepção sensorial e os estímulos da arte no processo
de ensino-aprendizagem em crianças de 0 a 6 anos onde a Educação Infantil acontece. A
aquisição de conhecimento se dá de maneira lúdica, descontraída onde a brincadeira torna-
se o eixo das descobertas e do desenvolvimento infantil na vida de crianças que frequentam
a creche de 0 a 3 anos e após essa experiência partem para novas descobertas com novos
estí-mulos sensoriais formando e estruturando conceitos e exercícios de experi-mentação do
conhecimento integrando as diferentes linguagens que a criança se utiliza para sua formação
no seu próprio aprendizado. Urge novas formas de pensar a visualidade artística e seus
estímulos sensoriais próprios na faixa etária aprofundada, onde o respeito à individualidade
da criança é de funda-mental importância uma vez que a criança não é mais uma. Ela é única,
e o seu desenvolvimento precisa ser respeitado e o professor na capacitação des-te ser que
estará junto com criança durante todo seu desenvolvimento sócio, cognitivo, psicológico e
físico vai olhar, acolher e estar junto com a criança nessa jornada que o constitui enquanto
ser humano.

Palavras-Chave: Arte; Criança, Educação Infantil; Aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO professor que não sabe, tem dificuldades


de lidar com a criança, não saber como
No período de 1999 a 2005 vivemos os organizar do choro a brin-cadeira e em que
momentos de implementação da Lei de condições de trabalho esses professores
Diretrizes e Bases da Educação Nacional estão situados es-pecificamente no que se
(LDBEN 9394/96). Nessa etapa, se assim refere ao processo de ensino-aprendizagem
podemos dizer, foi realizada uma pesquisa na edu-cação Infantil.
para saber como as Secreta-rias Municipais
da Educação faziam; e, da maneira como A contribuição da parte da psicologia
a Educação Infantil estava e está sendo histórico-cultural e da sociologia da
organizada de forma muito intensa ,no infância podem nos ajudar a sistematizar
que chamamos de interferência da Política as experiências que são produzi-das nos
na Gestão da Educação Infantil ,tem se estímulos sensoriais em crianças na faixa
acentuado de maneira significativa no etária do 0 aos 6 anos.
processo de ensino-aprendizagem nas
crianças de 0 a 6 anos.
POLÍTICAS PÚBLICAS NA
A centralização político-pedagógica e EDUCAÇÃO INFANTIL
administrativa da Secretaria tem pouca
participação do chão da escola, nos Parece nos pertinente alertarmos para o
mobiliza diante da falta de autono-mia dos fato de que existem adultos que cer-ceiam
professores, muito embora, evidentemente, as interações infantis. Temos crianças que
haja resistências. não brincam, nas festas não podem dançar,
não podem correr, não podem encostar no
Apesar do aumento do curso de formação/ coleguinha, no ami-guinho. No planejamento
capacitação para professores, ainda é em situações de aprendizagem e a condução
descontínua e de muita curta duração. Isso de ati-vidades com muitas contradições como
demonstra a fragilidade na formação dos o controle do corpo da criança com mania,
professore. Os gestores, muitas vezes não deboche, carinhos e sorrisos, mas também,
tem participação o que demonstra falta de rispidez, castigo, gritos, rai-va, impaciência e
formação para os gestores presentes até humilhações de todos os tipos.
hoje demons-trando o enfraquecimento
da autoridade e legitimidade da gestão, Essas são situações que vivenciamos
repercutindo na Instituição Educacional. não só com os adultos, mas no contexto
familiar, no ambiente escolar e muitas
Quando nos referimos sobre a formação vezes percebemos isso nos vários setores
dos profissionais que atuam na regência e segmentos de nossa sociedade. A partir
em sala de aula, estamos falando desse disso, a Escola é vista como passagem e a

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Revista Educar FCE - Março 2019

qualidade de ensino com a criança desde a A Educação Infantil precisa e deve


Creche é marcada por coisas que se devem contribuir para a formação do leitor numa
ensinar para a criança. perspectiva da linguagem e da cultura. É
papel da Educação Infantil produzir nas
Cada idade tem, em si mesma, a identidade crianças o desejo de aprender, o desejo de ler
própria, que exige uma educação própria, uma e escrever confi-ando nas suas possibilidades
realização própria, enquanto idade e não en- de se desenvolver e de criar. Esse trabalho
quanto preparo para outra idade. Cada fase pre-cisa ser necessariamente realizado com
da idade tem sua identi-dade própria, suas
a música, com a dança, com a literatu-ra,
finalidades próprias, tem que ser vivida na
com brincadeiras, etc.
totali-dade dela mesma e não submetida a

futuras vivências que muitas vezes não chegam
Urge a necessidade de enfrentarmos
(ARROYO, 1994, pp. 17-21).
as tensões que na gestão escolar com
políticas públicas de formação que tornem
Existe nessa forma de pensamento uma a experiência prazerosa, que possamos
coisificação do trabalho desen-volvido e ter práticas de narrativas históricas e
um anonimato muito forte com professores que possamos recuperar as histórias dos
que falam sobre interação e observam professores que muitas vezes se encontram
nas atividades de alfabetização, cultura e em situações de ex-trema pobreza.
escrita onde o papel da Educação Infantil
na formação do(a) leitor(a) não tem sido A Educação Infantil é de fundamental
priorizado nessa etapa da Educação e, como importância para o estímulo sócio cognitivo
profissionais da Educação, temos que estar da criança que está intrinsecamente ligado a
alerta com relação a esse fato e provocar conhecimento de valo-res, afetos e atenção,
uma discussão seguida de reflexão porque a seriedade e uso. A formação deve favorecer
produção acadêmica não tem acompanhado experiên-cias com conhecimento científico
ao menos do ponto de vista quantitativo com a arte, a cultura, o cinema, o teatro, a
essas transformações. pintura, os museus, as bibliotecas capazes de
humanizar e fazer compreender o sentido da
Quando nos referimos as Políticas vida para além do cotidiano.
Públicas na Educação Infantil, lem-bramos
que o primeiro diagnóstico da Educação Pré- O processo de ensino da Educação Infantil
Escolar no Brasil foi de 1975 onde apontava deverá favorecer o querer da criança, em
que 21 milhões de crianças totalizando aprender, em descobrir a linguagem e todas
3,51% do atendi-mento incluindo a rede as suas possibilida-des, onde a brincadeira
pública e rede privada de ensino (KRAMER, deverá ser vista como eixo do currículo na
2006). Educação e nos primeiros anos do Ensino
Fundamental.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O maior desafio da Educação Infantil se 3. A Identidade dessas Etapas – O


estende até a formação dos professores, que é a Educação Infantil? Esta-mos em
portanto, das Políticas de Formação que um momento privilegiado da criança
consigam enfrentar o fato de eu a Educação onde podemos discutir, refletir sobre a
se baseia no conhecimento do mundo e no especificidade da Educação Infantil que
reconheci-mento do outro, incluímos aqui torna essa etapa da Educação Básica
toda a discussão sobre diversidade em todos específica, própria, com características
os níveis e o enfrentamento dos preconceitos muito próprias.
que muitas vezes se cristalizam nessa fase
nas crianças de 0 a 6 anos. Isso nos faz pensar que se tivéssemos uma
Educação Infantil de altís-sima qualidade
que nós só vamos e podemos pensar isso
APRENDIZAGEM DA LEITURA a partir de uma uto-pia onde é possível
E DA ESCRITA NA uma Educação Infantil sensacional, com
qualidade, com criticidade. A resposta para
EDUCAÇÃO INFANTIL isso está na criança uma vez que a criança
A aprendizagem da leitura e da escrita e a é dife-rente. A criança menor de 6 anos é
relação desse aprendizado com a frequência diferente da criança com 6 anos completos.
da Educação Infantil está recheado de
tensões. É muito importante que a Educação A aprendizagem da leitura e da escrita, ou
tenha determinado pressupostos, trabalhe seja, sobre o ensino da lin-guagem escrita,
com determinada concepção de ensino e uma vez que a Escola nasceu com missão de
aprendizado, de língua e de escrita. ensinar a ler e a escrever. Conferimos uma
importância social nessa aprendizagem e a
1. Componentes de Leitura e Escrita esse objeto de conhecimento que está no fato
– O que significa, quais as im-plicações de lermos e escrevermos, uma vez que essa
sociais e cognitivas, políticas e econômicas expectativa é gerada a partir da apropriação
tem para a cri-ança que aprende e para a desse objeto de conhe-cimento para que se
sociedade que se organiza a partir da lei- tornem usuárias, que que se tornem leitores
tura e da escrita. competentes, ou seja, não queremos só que
a criança tenha acesso, que conheça, que
2. Concepções de Ensino e sai-ba que isso existe, nós queremos que a
Aprendizagem da Leitura e da Escrita criança passe a ser usuária.
– Como aprendemos, que habilidade,
mobilizamos, o que acontece com quem Cultivaremos antes de tudo esse desejo inato da
aprende a ler e a escrever são questões criança de se co-municar com outras crianças, de
que geram novas tensões. fazer conhecer ao redor de si seus pensamentos,
seus sentimentos, seus sonhos e suas esperanças.
Assim, aprender a ler, a escrever, a se familiarizar

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Revista Educar FCE - Março 2019

com o essencial daquilo que chamamos de


cultura será para ela função tão natural quanto a
O ato de ler e escrever são ações humanas
de aprender a andar (SANTOS, 2005).
que nos constituem como sujeitos humanos
e que, portanto, a criança por ser um sujeito
sociocultural em direito ao acesso e a esse
Portanto, saber ler e escrever abre portas bem cultural.
para saber e ter acesso a ou-tros bens
culturais. Aprender a ler e a escrever exige A aprendizagem desperta o interesse da
uma ação e uma ativida-des sistematizada, criança uma vez que a criança não só pode
planejada, eficaz, controlada o que é muito aprendem mas ela deseja aprender que
próprio ao me-nos deveria ser das Instituições quer e faz isso insisten-temente com muita
Escolares. Aprender a língua escrita e se tor- curiosidade e volúpia, uma vez que é sujeito
nar usuária da língua pressupões esse trabalho inserido num cultura letrada e, portanto,
sistematizado, organizado, metódico. com desejo de se tornar membro dessa
cultural ela uso concreto ainda que não
Discutir o ensino e aprendizagem da leitura consiga codificar e decodificar plenamente
e da escrita e o momento mais apropriado de essa linguagem. No entanto, é possível
fazer isso tem tudo a ver com construção da ensinar a linguagem escrita respeitando as
Identidade, das etapas que trabalham esse características da infância.
tipo de aprendizado envolvendo todas essas
questões e suas tensões intrínsecas. Deveríamos ter a preocupação de fazer
com que a criança queira ler, fa-zer com
O que se ensina na Educação Infantil que ela queira escrever e fazer com que ela
sobre leitura e escrita depende do que a se sinta capaz de ler e escreve o que pode
criança pode, deseja, necessita e tem direito parecer uma formulação muito simples
de aprender. Portanto, a forma de ensinar mas que exige uma grande capacitação
deve assegurar o direito de viver a infância. dos profissionais da Educação para darem
conta de todos esses enunciados, conceitos
A criança é o eixo da aprendizagem na e prática na arte de possibilitar a leitura e a
Educação Infantil a partir de um direito que escrita para a criança.
a criança tem à Educação. As nossas práticas
demonstram que a criança não está tendo Precisamos trabalhar o direito de a
esse direito respeitado. Não é porque não criança aprender sem massacrar a criança
se trabalha ou porque se trabalha algo que a partir de suas ações que estão no correr,
não é trabalho com a linguagem escrita e no brincar, interagir com outras crianças.
des-sa forma, a criança se vê desrespeitada. Se faz necessário tornar a brincadeira como
Criamos algo onde o foco não é a criança e centro da apren-dizagem infantil, uma vez
nem o seu direito à Educação. que é através da brincadeira que a criança
adquire cultura. É preciso trabalhar de forma

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Revista Educar FCE - Março 2019

integrada as linguagens, a literatura, os seja, com crianças da mesma faixa etária na


contos, a oralidade e a escrita garantindo a Creche que atende a faixa etária do 0 aos
intertextualidade, multiplicidade de gêneros 3 anos e da Educação Infantil que atende
discursivos. a criança dos 4 aos 5 anos e 11 meses. E
a importância de se expressar, de trocas, a
diversifi-cação do vocabulário dessa faixa
A FUNÇÃO DA etária, as brincadeiras que são constituintes
EDUCAÇÃO INFANTIL desse crescer e que são pré-requisitos para
todo o crescimento e desenvolvi-mento
O desenvolvimento infantil acontece infantil.
de 0 a 6 anos e qualifica o atendimento a
primeira infância e as possiblidades do seu Precisamos nos lembrar que cada
desenvolvimento dede a mais ten-ra idade. criança tem o seu ritmo de desenvol-
vimento. A individualidade precisa ser e
De 0 a 3 anos a criança desenvolve suas estar preservada onde a criança apre-senta
ações cognitivas na Creche uma vez que enormes diferenças a partir de sua faixa
a criança precisa ser estimulada por meio etária. É preciso respeitar as diferentes fases
da interação, por meio dos vínculos que do desenvolvimento da criança a partir das
vai fazendo e precisa ter acesso a várias suas experiências que vão sendo construídas
oportunidades e estímulos para o seu pleno a partir de sua natureza cronológica.
desenvolvimento.
A interação do respeito e da interação
Essa etapa da Educação Infantil é com a qualidade responsiva com a criança
constituinte para todo desenvolvi-mento possibilita a autonomia da criança é um dos
da criança nos seus diferentes aspectos pontos fundamentais para o desenvolvimento
de linguagens e relações pos-sibilitando infantil. Precisa ter a interação com o
uma melhor transição no seu processo de cuidado uma vez que está desenvolvendo a
educação em tantas ou-tras funções da sua sua corporalidade, a fala, o andar da criança.
vida. Portanto,n essa fase o cuidado é indissociável
da própria aprendizagem que criança vai
A Educação Infantil tem esse papel de fazendo, experimentando, concretizando.
estímulo, de suporte, de criação de vínculos
e de preparo dessas funções executivas que A complexidade do desenvolvimento
serão importantes para avida da criança e da criança pressupõe atividades mediante
depois dessa criança como adulto. exploração do mundo, da interação com o
adulto como referência e, posteriormente,
É de fundamental importância que a com outas crianças. Essas atividades vão se
criança se desenvolva com seus pares, ou complexificando a partir do desenvolvimento

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Revista Educar FCE - Março 2019

das respostas que a criança vai demonstrando No ato de brincar está todo o
no seu próprio amadurecimento humano. desenvolvimento da linguagem e organi-
zação do pensamento, da tranquilidade
São muitas questões que são envolvidas interna que cada criança precisa, para se
no processo de desenvolvi-mento da criança tornar pré-requisitos obrigatórios que virão
não só do ponto de vista cognitivo, mas do no futuro. Portanto, se a criança passar
ponto de vista comportamental e familiar. pela primeira infância com qualidade, com
atenção, com respeito, com certeza com 7
O processo de aprendizagem se inicia anos a criança se alfabetizará caso ainda não
com o ato de brincar e vai até a formalização esteja alfabetiza-da.
dos conceitos educacionais básicos para
ingressar nas outras etapas da Educação As mudanças são necessárias e precisam
Básica. Se a criança passar por todos esses ser adaptadas as rotinas na regência em sala
caminhos sendo estimulada, respeitando de aula pelos professores. Por outro lado,
sua individualidade e o respeito a cada um temos que consi-derar o papel da Educação
é possível a diminuição das desigualdades infantil e no processo de alfabetização, isso
sociais em nossa sociedade. é de extrema importância uma vez que a
criança da mesma forma que ala é exposta
As possibilidades e os objetivos do à diferentes linguagens: linguagem da
desenvolvimento de aprendizagem nesse música, do corpo, a linguagem verbal que
circuito educacional da criança não podem está presente no nosso dia-a-dia que deve
desconsiderar os elementos regionais e locais, se levar em conta e apresenta-da a criança
uma vez que, é de fundamental importância na Educação Infantil como parte do seu
levar em conta o contexto onde se concretiza cotidiano.
o processo de ensino-aprendizagem e o
que acorre em seu entorno, trazendo esses É importante ler para criança, que ela possa
elementos para dentro do sistema educacional. ter acesso à leitura, manu-seio de livros,
perceber que o mundo em nossa volta é um
A criança precisa se apropriar da sua própria componente de lin-guagem falada e linguem
cultura para se fortalecer o aprendizado e é escrita. Esse componente de preparo para a
de fundamental importância e dá sentido as alfabe-tização desde o começo na Educação
experiências vi-venciadas pela criança no Infantil, de fato deixa a criança mais
seu processo de aprender a aprender. preparada para depois entrar no processo
de alfabetização mais segura co-nhecendo
A antecipação da alfabetização está no mais quais são as diferentes funções eu
brincar da e com a criança de 0 a 5 anos e 11 a linguagem verbal traz. Isso precisa ser
meses com certeza a criança está fortalecida visto nesse conjunto de linguagens e nesse
e preparada para aprender a ler e a escrever. conjunto de estí-mulos. A linguagem visual

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Revista Educar FCE - Março 2019

permeia a criança com algo que faz parte contribuem, ao interiorizar-se, para ritualizar
de sua constituição de ser humano. Hoje e formalizar as condutas, incorporam-
temos o visual invadindo todos os espaços se na própria estrutura da personalidade,
onde estamos. É comum a criança visualizar, ao mesmo tempo que orientam uma
memorizar e guardar imagens que farão parte determinada visão de mundo, já que existe
do seu repertório. Portamos participamos e uma estreita interrelação entre os processos
somos parte de uma sociedade da imagem. de subjetiva-ção e de objetivação (VARELA,
1996, p. 76).

BRINCAR – TEMA CENTRAL Por exemplo, o professor ao trazer uma


DA EDUCAÇÃO INFANTIL brincadeira de supermercado trabalha-
se o campo de experiência das formas, de
Em 2010, as Diretrizes Nacionais para a classificação de diferentes coisas ,como
Educação Infantil foram reafirmadas pelo trazer a linguagem matemática para crianças
CNE – Conselho Nacional de Educação já no final da Edu-cação infantil; tem-se uma
com dois eixos estruturantes que são as intencionalidade no brincar e a criança vai
interações e o brincar que precisam perpassar fazendo suas experimentações a partir daí.
todo o processo de de-senvolvimento de Se não existir a interação e o brincar com a
aprendizagem da criança. interação pedagógica a Educação Infantil não
acontece, não se concretiza. O ouvir a criança
A questão do brincar quando olhamos e essa interação para o desenvolvimento da
para o ambiente da Educação Infantil é autonomia são fundamentais par o sucesso
fundamental, onde a criança vai desenvolver da aprendizagem.
a sua autonomia, fazer as suas hipóteses,
descobrir o mundo. A Educação Infantil não exige uma
obrigatoriedade do material diário, a criança
É importante que existe no campo poderá desenvolver suas competências e
educacional uma intencionalidade habilidades a partir de várias linguagens,
pedagógica que precisa estar presente. Tem música, desenho, teatro, manuseio de um
o brincar solto, livre, divertido, que precisa livro, consciência cor-poral, estímulo motor,
estar presente, mas o professor na sala com coordenação, movimentação, desenho,
as crianças também há uma intencionalidade leitura. Isso de-pende das metodologias
pedagógica no brincar que vai contribuir e do Projeto Político Pedagógica de
para esses ob-jetivos do desenvolvimento e cada Instituição Educacional levando em
aprendizagem da criança. consideração a demanda que atende no
contexto onde a aprendizagem se concretiza.
Os controles socialmente induzidos
através da regulação do espaço e do tempo

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Revista Educar FCE - Março 2019

A FAMÍLIA, A CRIANÇA E A ESCOLA NA APRENDIZAGEM


Como incluir a família no processo de aprendizagem da criança sem a desi-gualdade social
e as segregações que existem em diversas realidades em nosso país?

Todo cuidado que se tem para acolher a criança precisa ser recíproco aos pais. Os pais
precisam serem acolhidos pela Escola. Muitos pais são mari-nheiros de primeira viagem e
estão com o primeiro filho, outro com quatro, cin-co, seis, ... Para cada filho um acolhimento
e um olhar diferenciado. Então, a Escola precisa se aproximar ada vez mais das famílias. Esse
tripé precisa fun-cionar de forma muito harmônica para o bem-estar da criança.

Precisa haver confiança, precisa haver um entendimento para o que acontece naquele
contexto escolar e os pais precisam estar dentro da Escola, que participando, quer atuando,
quer sendo ouvido, eles não precisam serem atendidos o tempo todo em seus desejos uma
vez que nem sempre a Escola poderá desempenhar esse papel.

A Escola precisa dialogar com os pais. Isso pode não ser de imediato, mas o pai precisa
ser ouvido. Se ele esteva na Escola e ele quer falar, ele pre-cisa ter um tempo para ser
ouvido. Esse é o melhor caminho, dialogar, organi-zar e facilitar o que for possível dentro da
Instituição Escolar.

Cada Escola tem sua filosofia. O país quando escolhe uma Escola de-lega sua confiança à
Instituição que irá atender seu(s) filho(s) na aquisição de conhecimento para cuidar, educar,
olhar e fazer no campo da Educação tudo isso sem esquecer de acolher a família.

Algumas Escolas fecham os portões para a participação dos pais, não podemos deixar
de levar em consideração esse fato. Precisamos entender quais são as preocupações e as
demandas da família.

O diálogo é importante não só para atender todas as demandas, mas sabe-se que existem
demandas que não fazem parte do escopo da Escola e que deveriam fazer. É uma via de mão
dupla. Precisa clarear o que a família poderia estar fazendo dentro da casa. Essa via de mão
dupla precisa existir.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação como um instrumento para o alcance dos
objetivos comuns à toda a sociedade, à serviço da promoção
humana. Essa visão, no entanto, contra-põe-se à realidade
brasileira. De fato, nossa sociedade é excludente, segrega-
dora, marcada por conflitos de classe e limitações da estrutura
educacional, sob o domínio do capital e de suas relações
sócio-político-econômicas historicamente determinadas.
Refletir, discutir sobre os problemas que nos afetam em
nosso cotidiano é tarefa de todos.

A educação é um fenômeno social, e como tal, sofre ação
e influência daquele domínio e, portanto, reveste-se de
um caráter intencional, o qual, na maioria das vezes, tem-
se colocado a favor dos interesses das classes e grupos KÁTIA KATSUE NISHIO
hegemônicos, que não apenas se apoderam e se mantém
Graduada em Pedagogia pela Pontifícia
detentores do capital mas também se fazem expressar pelas Universidade Católica de São Paulo
dimensões material e simbólicas. – PUC-SP (1987), Especia-lista em
Audiocomunicação pela PUC-SP (1987),
A aprendizagem passa pelo corpo. Então, brincar, cair, Professora de Ensino Fundamental 1, na
levantar, se ralar, isso é clássico na primeira infância e é EMEF Tenen-te José Maria Pinto Duarte..
necessário. Nesse estágio, a criança precisa ter a oportunidade Licenciatura em Matemática – Unijales (
de experimentar esse corpo em todas as valências. A criança 2015)
precisa disso.

É necessário entender a criança na Educação Infantil a partir do cuidado de educação
como um ser integral que está inserida num contexto socioeconômico que é particular. A
criança não pode e vista isoladamente e nem fra-gmentada. Isso precisa estar presente na
Educação para que os objetivos da Educação Infantil sejam alcançados e completados pela
criança de forma satisfatória.

O respeito a individualidade da criança e é de fundamental importância uma vez que
a criança não é mais um, ela é única e o seu desenvolvimento precisa ser respeitado e o
professor na capacitação deste ser o que vai estar junto com criança durante todo seu
desenvolvimento sócio, cognitivo, psicoló-gico e físico e que vai olhar, acolher e estar junto
com a criança nessa jornada que o constitui enquanto ser humano.

1299
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

A IMPORTÂNCIA DO MOVIMENTO
CORPORAL E CRIATIVO
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Este artigo apresenta-se com objetivo de investigar a importância do movimento
corporal e criativo na educação infantil tendo como embasamento o conhecimento do corpo
e a exploração dos movimentos e como está sendo realizado. Para o desenvolvimento desse
trabalho foi realizado uma pesquisa e análise sobre a questão levantada, tanto no campo
prático, quanto no bibliográfico. Ao se falar do trabalho e da necessidade do movimento
corporal este vem sempre ligado ao âmbito funcional, mecanizado e estereotipado, ou seja,
uma prática pedagógica para o desenvolvimento motor, a exploração de novas habilidades,
jogos e atividades dirigidas, movimentos que se repetem nas canções infantis, entre outras.
Porém, o que se questiona não é uma crítica ao trabalho dirigido, mas sim, oportunizar
e proporcionar situações para o movimento criativo permitindo a liberdade de criação da
criança livremente. Desta forma o artigo vem para atentar a necessidade do trabalho com a
linguagem corporal tanto o movimento corporal e criativo e a importância de ambos estarem
elencados.

Palavras-Chave: Movimento Corporal; Criatividade; Liberdade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO A expressão corporal é bem mais ampla e


todas elas são válidas, porém, o que coloca
A escolha por estudar o movimento em questão e reflexão são as práticas
corporal e criativo, na educação infantil pedagógicas com liberdade de movimentos
tem como objetivo evidenciar a importância livres.
da expressão corporal e o importante
papel deste trabalho como processo no Permitir a criança a se manifestar e expor
desenvolvimento da criança. seus sentimentos, criatividade e realidade
vivenciada por ela, ou seja, é uma maneira
Partindo desta perspectiva pode-se de comunicação.
afirmar que o movimento é parte integrante
da vida humana, e este não se restringe Segundo Isabel Porto Filgueiras: (2002, p.5)
somente o deslocar de um lado para o outro,
mas sim, uma linguagem corporal, no qual, “Pelo movimento a criança conhece mais sobre
expressamos nossas emoções, pensamentos si mesma e sobre o outro, aprendendo a se
e sentimentos. relacionar. O movimento é parte integrante da
construção da autonomia e identidade, uma vez
que contribui para o domínio das habilidades
Por meio deste estudo, deseja-se mostrar
motoras que a criança desenvolve ao longo da
a importância da linguagem corporal no
primeira infância.”
desenvolvimento e aprendizagem das
crianças da primeira infância, ampliando
suas competências corporais, tanto imitando A partir destes questionamentos
como também criando. apontados, podemos afirmar que o educador
é responsável para que esta linguagem seja
Partindo deste ponto observa-se no desempenhada com êxito.
cotidiano escolar as carências das práticas
pedagógicas que contemplem a linguagem É por meio da proposta de uma prática
corporal integrada ao projeto pedagógico. diferenciada do educador que a criança irá se
expressar e desenvolver de forma saudável e
Também, nota-se que, ainda estamos prazerosa.
enraizados em uma tradição escolar na qual
a prática é controladora onde a criança “(...) validar os avanços motores das crianças,
fica “presa” a comandos preestabelecidos respeitar e valorizar suas diferentes
na condução dos movimentos, como por características corporais e promover situações
exemplo, a dança com movimentos prontos, lúdicas para a aprendizagem dos diferentes
aspectos ligados ao movimento (...)” (Orientações
exercícios físicos e gestos das músicas
Curriculares: expectativas de aprendizagens e
infantis.
orientações didáticas para Educação Infantil,
p.61/ 62).

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Revista Educar FCE - Março 2019

“é uma linguagem através da qual o ser humano


Desta forma, pretende-se mostrar por
expressa sensações, emoções, sentimentos e
meio deste artigo, algumas observações
pensamentos com seu corpo”.
realizadas no âmbito escolar como também a
inclusão de algumas atividades neste campo
que foram aprimoradas e planejadas por meio A partir de então, a criança percorre um
de inovações e criações de novas estratégias, caminho de aprendizagem interagindo com
oportunizando criar movimentos livre, o meio em que está inserido e ampliando
contribuindo assim com sua criatividade, suas possibilidades de movimento como:
autonomia e formação plena. engatinhar, andar, manipular objetos, etc.

(...) a liberdade precisa ser “alimentada” pelo Progressivamente vai desenvolvendo


professor, para que a criança não se restrinja um sistema complexo de coordenação e
ao repertório de movimentos que já conheça habilidades motoras próprias a cada estágio
e os repita mecanicamente (...)” (Orientações de seu desenvolvimento.
Curriculares: expectativas de aprendizagens e
orientações didáticas para Educação Infantil,
Ao ser inserida em um ambiente escolar,
p.71).
a criança inicia um processo de novas
descobertas, onde é primordial garantir
Nesse sentido, pretende-se por meio deste espaços adequado para que a criança explore
artigo colocar em reflexão que a prática de e desenvolva novos movimentos superando
movimentos mecânicos restringe o potencial e descobrindo novos desafios.
da criança como também desperta a atenção
de crianças com atitudes passivas. O Referencial Curricular para a Educação
Infantil (RCNEI) traz no primeiro volume, em
seus objetivos propostos, o trabalho com o
O MOVIMENTO NA corpo e o movimento, que são:
EDUCAÇÃO INFANTIL
– Descobrir e conhecer progressivamente seu
O movimento é a primeira expressão na próprio corpo, suas potencialidades e seus
vida do ser humano que se inicia na vida limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de
intrauterina e se intensifica até o nascimento. cuidado com a própria saúde e bem estar;

– Brincar, expressando emoções, sentimentos,


Ao nascer, a criança utiliza como meio
pensamentos, desejos e necessidades;
de comunicação a expressão corporal
demonstrando suas necessidades por gestos,
– Utilizar as diferentes linguagens (corporal,
pelo qual, aprende a exteriorizar suas ideias musical, plástica, oral e escrita) ajustadas às
e seus desejos. Segundo Stokoe; Harf (1987, diferentes intenções e situações de comunicação,
p.15) de forma a compreender e ser compreendido,

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Revista Educar FCE - Março 2019

expressar suas ideias, sentimentos, necessidades


A movimentação das crianças por meio
e desejos e avançar no seu processo de
construção de significados enriquecendo cada
da dança vai além de uma representação
vez mais sua capacidade expressiva.
funcional, ou seja, uma coreografia
(BRASIL, 1998a, p.61) ensaiada, mas sim, exprimir naturalmente
os movimentos criativos, a descoberta
Desta forma fica explicito pelo referencial pelo corpo e sua potencialidade cinética,
a importância do trabalho com movimento exploração do espaço e a interação com o
corporal, bem como resgatar todas as outro.
possibilidades humanas, dando ênfase para
o desenvolvimento psíquico e físico. Neste sentido, nas palavras de Patrícia
Stokoe e Ruth Harf (1987):
Portanto a dança, a música, os jogos e
o canto é uma ferramenta para colocar (...) a dança não é apenas uma cópia ou imitação
em prática as atividades corporais, no de criações alheias; damos também o nome
qual permite a valorização a uma relação de dança a essa criação pessoal, que não está
mais viva e criativa com o próprio corpo, distante das possibilidades de nenhuma pessoa
já que, como demonstramos, está baseada
possibilitando uma leitura do que as crianças
naquilo que todos temos, nosso corpo e seus
nos comunicam corporalmente.
movimentos funcionais, mas com uma categoria
a mais: a criatividade (...).
O movimento humano, portanto, é mais do
que simples deslocamento do corpo no espaço:
constitui-se em uma linguagem que permite às Dentro desta perspectiva, o papel do
crianças agirem sobre o meio físico e atuarem professor é de extrema importância para o
sobre o ambiente humano, mobilizando as
desenvolvimento do aluno. Portanto cabe
pessoas por meio de seu teor expressivo.
a ele propor situações ricas nesta prática,
(BRASIL, 1998b, p.15)
contemplando dentro de seu planejamento:
tempo, espaço e materiais que contribuíam
Podemos considerar então que, o com a exploração de maneira organizada e
movimento corporal é de suma importância objetiva, a fim de fazer desta linguagem um
para o desenvolvimento da criança e cabe a exercício para a sociabilização, ou seja, a
escola dar continuidade e explorar a todo o construção de um ser humano mais criativo,
momento esta linguagem a fim de provocar e crítico e original.
liberar a expressividade do educando.

Dentre a possibilidade de exploração de


movimento, a dança é uma manifestação
cultural e um grande aliado para se colocar
em prática esta linguagem.

1305
Revista Educar FCE - Março 2019

DANÇA: MOVIMENTO Sendo assim, é necessária uma prática


CORPORAL E CRIATIVO NA pedagógica que permita sem distinção,
atividades, danças, entre os movimentos
EDUCAÇÃO INFANTIL cotidianos, que se dão pela naturalidade e
Por muito tempo, a dança na escola foi liberdade daqueles considerados “corretos”.
sinônimo de reproduções de coreografias
prontas apenas para representações em Portanto, é de suma importância propor
datas comemorativas, podando assim, a situações de experiências que os levem
expressão de liberdade das crianças. a explorar o universo musical (danças),
estimulando e permitindo que a criança se
A fim de reverter esta prática o Referencial conheça melhor, desenvolvendo sua noção
Curricular para a Educação Infantil, de esquema corporal e também permitindo
Orientações Curriculares entre outros a comunicação com o outro.
documentos, tem apresentado a importância
do trabalho neste campo de experiências que É por meio desta demonstração de
contemple não somente uma representação, expressão que o professor articula e apoia
mas, o respeito da movimentação espontânea suas descobertas, permitindo condições para
da criança em diversos momentos da rotina a produção do conhecimento de maneira
escolar. integral e não fragmentada.

Na busca por esse aperfeiçoamento, a Falando especificamente da Linguagem


dança surge como recurso didático que corporal, o questionamento e a reflexão é
valoriza e enriquece os movimentos por meio saber até que ponto é oportunizado esta
de brincadeiras, histórias e músicas, como prática na rotina da educação infantil, de
também, leva a criança a uma percepção forma que contemple o movimento criativo
mais aguçada nos ritmos e melodias. e funcional.

A dança permite que a criança coloque Embasado no artigo 3º das Diretrizes


em “jogo” uma relação mais criativa com o Curriculares Nacionais para Educação
corpo, assim como, a exploração do mesmo, Infantil, dispõe que:
não distinguindo os movimentos funcionais
dos expressivos. O currículo da Educação Infantil é concebido
como um conjunto de práticas que buscam
“Entre os pequenos, as atividades cotidianas articular as experiências e os saberes das
mais simples são carregadas de brincadeira, de crianças com os conhecimentos que fazem parte
exploração de movimento, de dança”, (BRASIL, do patrimônio cultural, artístico, ambiental,
Fabio, dramaturgo da Companhia de Caleidos científico e tecnológico, de modo a promover o
SP) desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5
anos de idade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Portanto pode-se afirmar que todas as CORPO, DANÇA E MÚSICA –


experiências devem ser exploradas. As UM MEIO DE COMUNICAÇÃO
crianças nesta faixa etária são vivazes, se
movimenta o tempo todo; pois é por meio NA EDUCAÇÃO INFANTIL
do corpo que elas falam. Dançar é uma atividade que está
associada à música, pelo qual, se libera
Nesse sentido, segundo Sônia Kramer: estímulos espontâneos de movimentos que
expressam e comunicam suas emoções. O
O trabalho pedagógico na Educação Infantil prazer, os gostos, sentimentos positivos e
(...) não precisa ser feito sentado em carteiras; negativos também estão no corpo, portanto,
o que caracteriza o trabalho pedagógico é a podemos afirmar que o corpo expressa uma
experiência com o conhecimento científico e comunicação não verbal.
com a literatura, a música, a dança, o teatro, o
cinema, a produção artística, histórica e cultural
Pensando especificamente a dança na
(...)
educação infantil cumpre um importante
Sendo assim, espera-se que a escola de papel que permite a criança a brincar, criar,
Educação Infantil direcione um currículo para explorar, imaginar e improvisar, colocando
a construção de um trabalho pedagógico com em “jogo” sua forma de ser e estar no mundo.
um “olhar” mais direcionado para a criança
em sua integralidade. Baseando-se nesta ideia, colocou-se em
prática a dança como meio de expressão e
Pensando na concepção da Educação comunicação, de forma intencional, a fim de
Infantil podemos concluir como: contemplar e explorar a multiplicidade de suas
funções e manifestações. Este percurso de
(...) um oásis, um lugar onde se torna criança, criação e de fruição permitiu que as crianças
onde não se trabalha, onde se pode crescer, se movimentassem com liberdade, explorando
sem deixar de ser criança, onde se descobre (e o espaço de forma espontânea e lúdica.
se conhece) o mundo através do brincar, das
relações mais variadas com o ambiente, como
Contrapondoaosmovimentospredeterminados
os objetos e as pessoas, principalmente entre
para a realização de uma dança se observa que
elas: as crianças. (FARIA, 2003) – Orientação
as crianças representam os movimentos prontos
normativa nº 01/13 p. 11
de forma inaceitável, demonstrando certo
desconforto do que está sendo realizado.

(...) Já com uma criança com menos de oito anos


existe uma realidade neurológica, ela ainda não
está preparada para repetir e compreender essa
ação, criando assim uma disciplina imposta e
não construída (...). (Uxa Xavier)

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Revista Educar FCE - Março 2019

Esta nova proposta de “liberdade” com os movimentos, mostrou um novo caminho de


trabalho com a música e a dança, contribuindo com a valorização e o diálogo que a criança
tem com o mundo e com seu corpo, como também, a expressão de prazer, autoconhecimento
e sociabilidade.

“As crianças podem, sim, compreender seu corpo e sua movimentação de uma forma criativa e, ao mesmo
tempo, criar e compor sua dança. Esse é o movimento do processo de aprendizagem, da criação do repertório
de movimento, uma espiral sem fim”. (Uxa Xavier)

Sendo assim, podemos afirmar que não existe molde para se copiar, cada ser é único.
Portanto, cabe ao professor esta mudança, em que, se faz necessário adotar uma nova
postura a sua prática a fim de fazer desta linguagem, algo significativo e criativo. Entretanto,
esta prática não exime o professor de direcionar informações, movimentos e ajustes quando
necessário, por isso é importante manter o foco das intervenções, tanto na hora de planejar
e organizar, como também nos ajustes que poderão ser feitos no decorrer na atividade
proposta.

Desta forma, o professor deve observar cada criança, a fim de interpretar e avaliar os gestos
exposto por eles e suas intenções comunicativa. Também devemos salientar a importância
da organização de sequências para o aprendizado de determinado repertório, como também,
um planejamento que acompanhe os avanços de determinadas competências corporais, a
fim de ampliar as competências motoras, como jogo ou a dança.

Diante das leituras bibliográficas sobre o tema abordado, e nas experiências que foram
presenciadas pode-se afirmar que, o trabalho com o movimento seja tratado de forma
integrada, sendo foco de atenção de um trabalho educativo intencional que contribua nas
questões atitudinais, com a capacidade de se expressar e interagir com os outros, de forma
progressiva, a autonomia e criatividade dentro uma perspectiva lúdica, flexível e relacional.

1308
Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao explanar este tema, buscou-se estudar as contribuições
do movimento corporal e criativo na educação infantil.
Para todos aqueles que trabalham nesta etapa de
escolaridade, é possível constatar a influência que a
linguagem corporal pode proporcionar para a construção de
um ser humano mais criativo, crítico e original.

O papel do professor deve ser o de organizar, planejar


situações permanentes e diversas em sua rotina para que
a criança possa ter autonomia nas suas escolhas, e dentro
deste contexto, propiciar situações que constitua um meio
de expressão para criança.
LAUDICEIA OLIVEIRA
Uma linguagem corporal rica e diferenciada será evidenciada Graduação em Pedagogia pela UNICID
quando a importância da mesma for valorizada, de fato, desde (2001); Professora de Educação Infantil
os primeiros anos de escolaridade, destacando-se assim, a e Ensino Fundamental I - na EMEI
importância da expressão de liberdade na educação infantil. Professora Leila Maria Fontelles Farias.

Assim, cabe a instituição escolar, oferecer oportunidades


criativas e dialógicas, ampliando as capacidades e as
experiências das crianças de modo que elas possam
transformar o mundo com autonomia. “A criança que não
arrisca e não explora seu corpo em movimento não será uma
criança saudável e depois quem sabe um adolescente desorganizado”. (Uxa Xavier)

Dentro deste contexto, buscamos retratar a importância da dança no processo de


desenvolvimento de potencialidades e de uma nova visão de mundo por parte da criança.

É de suma importância que a estrutura curricular, na Educação Infantil, contemple na


prática, a real importância no processo de formação da criança em seus aspectos motor,
psicológico, social e cognitivo.

Após refletir as atividades propostas diárias na educação infantil, pode ser observado
que o movimento funcional está muito enraizado na prática pedagógica, como também,
o trabalho com a dança como evento ou apresentação de datas comemorativas, podando
assim, a expansividade e criatividade da criança.

1309
Revista Educar FCE - Março 2019

Pensando nesta prática de forma tão restrita, é preciso ressaltar que, quando se trata
liberdade nos movimentos, muitas vezes, nos vem à mente, acidentes que acontecem
quando expomos o nosso corpo. Partindo desta afirmação, devemos refletir e planejar
situações seguras que contribuam para o bom desenvolvimento das atividades. O que não
pode acontecer é ser uma justificativa para não se colocar em prática estas experiências.

Pensando na orientação Normativa do Perfil do educador da Infância podemos sintetizar


como:

“(...) criar condições, organizar tempos e espaços, selecionar e organizar materiais de forma criativa (...),
possibilitar a ampliação das experiências das crianças (...) (Orientação Normativa nº 01/13, p. 17)”.

Diante destas reflexões, podemos concluir que a concepção de Educação Infantil é bem
mais ampla e que esta deve ser estimulada, a fim de que as crianças tenham condições de
expandir seus horizontes e expor naturalmente uma linguagem liberta e livre.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental. Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil. Introdução. v. 1, v. 3 Brasília: MEC/SEF, 1998a.

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Avaliação na educação infantil: aprimorando os olhares. São Paulo: Secretaria Municipal de Educação: SME
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Diretoria de Orientação Técnica. Orientações curriculares: expectativas de aprendizagem e orientações


didáticas para educação infantil. São Paulo: SME / DOT, 2007, p. 71.

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culturainfancia.com.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=331:danca-saude-e-crian
ca&catid=36:danca&Itemid=57> Acesso em 20 Fev. 2019.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O GÊNERO CAUSO COMO


INCENTIVADOR DA LEITURA
E DA ESCRITA NO ENSINO
FUNDAMENTAL
RESUMO: Neste artigo, objetiva-se tratar da importância do gênero causo no Ensino
Fundamental no que diz respeito ao incentivo da contação de histórias, da leitura e da escrita
no âmbito escolar, bem como fora dele. Trata-se de mostrar como o referido gênero é de
suma importância para que os alunos se reconheçam como autores de sua trajetória através
do ouvir, do contar, do ler e do escrever. Pretende-se mostrar como abordar o gênero causo
em sala de aula tendo como base as vivências dentro e fora da sala de aula.

Palavras-Chave: Contar Histórias; Leitura; Escrita; Causos

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO À medida que a linguagem é um


instrumento que media as relações sociais
O que são as histórias? do discente com o ambiente em que convive,
quando este educando ouve as histórias, ele
De acordo com BUSATTO (2006, p. 21), é estimulado a ler histórias, tornando-se um
histórias constituem verdadeiras fontes de leitor e, consequentemente, um ser social,
sabedoria, uma vez que possuem um papel histórico e cultural. Assim, a contação de
cujo foco é a formação da identidade. Faz histórias constitui uma exemplar fonte de
pouco tempo que elas foram redescobertas aprendizagem, já que é um dos meios mais
como fonte de conhecimento da vida e se eficazes do desenvolvimento sistêmico da
tornaram um recurso de grande riqueza para linguagem e da personalidade, que atrairá o
os docentes. A ampliação da comunicação e discente para a leitura, como bem destacou
de seus recursos, bem como a globalização das Busatto (2006, p. 5).
informações impactou na linguagem falada, o
que indica uma tendência ao sucumbimento ABRAMOVICH (2001, p. 16) ressalta que
desta. Entretanto, concomitantemente a é muito importante para qualquer criança
isso, surgiu a necessidade de resgatar os ouvir muitas histórias, pois escutá-las é o
valores tradicionais. Dessa forma, a tradição início da aprendizagem para ser um leitor
oral dos causos reapareceu e está ganhando e, por conseguinte, ter um caminho com
espaço cada vez maior na sociedade e, por infinitas descobertas e compreensões da
conseguinte, na esfera escolar. Ou seja, contar vida.
histórias não é mais somente transmitir e
resgatar ensinamentos de uma geração para Existem variadas formas de contar
outra, pois agrada a variados tipos de públicos histórias e encantar os alunos. Entretanto,
por proporcionar o prazer de ouvir, atiçando a não se pode confundir ler com contar
curiosidade e, também, aguçando o imaginário histórias, pois são atividades diferentes e
das pessoas. Isso fez com que o causo tomasse com suas respectivas finalidades. Acerca
espaço entre os educadores, tornando-se uma disso, OLIVEIRA (2006, p. 04) destaca que as
rica possibilidade nas escolas. histórias contadas oralmente possuem uma
força de transmissão que é proporcionada
Conforme salienta SILVA (2014, p. 1): pela voz, pelo olhar e pela gesticulação do
contador de histórias. Este, por sua vez, pode
Da vida para a escola, esse microcosmo social, alegrar ou entristecer sua plateia. Ao contar
o contar histórias tem sido utilizado como histórias, são usadas as próprias palavras,
estratégia pedagógica para formar leitores havendo, também, variação nas versões
no meio escolar (...). A história auxilia o destas e criação de recursos mais próximos
amadurecimento psicológico da criança, ajuda-a
da oralidade.
na compreensão de suas emoções e, portanto, a
lida melhor com elas e com o meio que a rodeia.

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A criança aprende mais sobre a língua que se fala,


amplia seu repertório e seu universo imaginário,
proporcionam uma ligação entre linguagem
percebe que as histórias podem ser mudadas
e cognição no âmbito escolar. Acerca
e começa a criar suas próprias histórias. Ao ler disso, BAKHTIN (2003, p. 53) destaca que
o professor apresenta aos alunos o universo as significações sociais são gradualmente
letrado, instigam a curiosidade pelos livros e construídas por meio das práticas sociais
seus conteúdos. Neste caso a história é sempre que se estabelecem na forma de gêneros. Ou
a mesma, independente de quem a lê. Podemos seja, os gêneros do discurso é que colocam
modificar a entonação, a altura ou o timbre da forma na fala como também organizam as
voz, mas o texto é sempre o mesmo. A leitura formas gramaticais. Cada gênero possui sua
traz consigo marcas específicas da língua escrita peculiaridade e apendemos a moldar a fala a
e que não utilizamos cotidianamente ao falar. cada forma, distinguindo os gêneros através
(OLIVEIRA, 2006, p. 4). da linguagem e da disposição gramatical
utilizadas. Caso os gêneros não existissem,
É de responsabilidade do educador a comunicação verbal seria praticamente
fazer a mediação do processo de ensino- impossível.
aprendizagem, aguçando nos discentes o
interesse pela leitura, oralidade e escrita, de
maneira que a produção textual aconteça CARACTERÍSTICAS DO
naturalmente e de forma significativa. GÊNERO CAUSO
Por isso, o contar histórias é fundamental
no âmbito escolar. Conforme salienta Como seriam, então, as características
GIRARDELLO (2016, p.5), a persistência inerentes ao gênero Causo?
do papel da narrativa na rede em que as
configurações contemporâneas da cultura, Acerca dos causos, é preciso salientar que
bem como a riqueza da oralidade popular eles carregam um mundo mítico. Além disso,
e a necessidade de que ela se torne mais são histórias cuja memorização é fácil devido
reconhecida e valorizada pelos educadores à linguagem simples e objetiva e, também,
constituem algumas das questões que pela espontaneidade com que são contadas.
permeiam o espaço escolar e nos sensibilizam São histórias que instigam a imaginação dos
de forma mais direta, uma vez que os gêneros discentes.
discursivos são a linguagem concreta
(a colocada em prática) de enunciados BENJAMIN (1986, p. 8) reforça que
considerados estáveis que acontecem em o que mais facilita a memorização das
ambientes sociais variados. Os gêneros narrativas é a concisão, pois ela as salva
discursivos apresentam, portanto, uma da análise psicológica, pois quanto maior a
condição específica no que se refere às naturalidade com que o narrador “renuncia
estruturas discursivas e, também, às funções às sutilezas psicológicas, mais facilmente a
caracterizadoras da linguagem. Assim, história se gravará na memória do ouvinte,

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Revista Educar FCE - Março 2019

mais completamente ela se assimilará à sua segmentos: lúdica (que explora o riso); crítica
própria experiência e mais irresistivelmente (sustentada na ironia); revide (que evidencia
ele cederá à inclinação de recontá-la um dia”. a vingança) e aterrorizante (que desperta o
medo). É, assim, uma forma particular de se
Faz-se necessário que, ao narrar um causo, contar um tipo de história, como também, a
haja uma performance a fim de que se prenda maneira de falar o já dito e recriar o mundo
a atenção do ouvinte. Para isso, o narrador por meio das histórias.
precisa viver em sua mente a história antes
de contá-la, dando-a vida e trazendo-a para No Dicionário HOUAISS, o verbete
fora do papel. “causo” é definido como uma marca de
regionalismo brasileiro. Sua etimologia vem
De acordo com HARTMANN (2013, p. 61), do cruzamento de caso e causa: aquilo que
as crianças organizam sua própria experiência aconteceu, caso, ocorrido. É uma narração
vivida contando histórias, podendo, assim, geralmente falada, não muito extensa e que
refletir sobre ela e, também, transformá-la. trata de um acontecimento real ou fictício.

É fundamental, ao trabalhar o gênero O gênero causo mostra a preocupação


causo, que o contar ocorra de forma clara em agradar, atender ao gosto dentro de uma
para que o ouvinte possa gravar a história e relação interativa. Ele segue as características
saber recontá-la reproduzindo claramente os e regras do texto falado, sendo marcado
fatos, pois os causos retratam o povo e suas ostensivamente pela oralidade. Nele, há
raízes. Ler significa mais do que simplesmente uma preocupação com as habilidades
decodificar palavras, uma vez que consiste linguísticas e performáticas para que se crie
numa prática em que o leitor, através da e se reconstrua o evento narrado. Assim, ao
compreensão textual, supera os limites do iniciar o texto, o contador incita à crença na
texto, integrando-o ao seu conhecimento veracidade do fato contado, pois o próprio
o que poderá resultar numa transformação contador demonstra confiar nele. Dessa
pessoal e social. Ou seja, a leitura pressupõe forma, trata-se de um gênero discursivo que
que o leitor leia o texto nas linhas, nas se articula com variadas manifestações que
entrelinhas e por detrás das linhas. vem sendo resgatadas de maneiras diversas,
tais como: celebrações de festas, receitas
O gênero causo apresenta fatos reais de culinária regional, trabalhos artesanais
ou fictícios contados de forma lúdica e e exploração de seus temas em programas
engraçada e podem apresentar rimas, educacionais (danças e artes circenses). Os
trabalhando a sonoridade das palavras. Trata- causos são marcados pela sociabilidade,
se de um gênero próprio, com características com bem afirma CÂNDIDO (1971), pois
temático-discursivas que são definidas e fazem parte da cultura de agrupamentos nas
estruturadas para a constituição de quatro zonas rurais e são uma espécie de modus

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vivendi dessas populações, manifestando- Produzir um texto é um processo complexo


se na educação das crianças, na construção que exige atividades em distintos níveis, os
e reparos de igrejas e casas, preparativos quais variam da ativação de conhecimentos
de festas ou velórios e execução de tarefas acerca do assunto e sobre o gênero textual
gerais que propiciam reuniões nas quais os à decisão sobre como integrar os conteúdos
causos são contados. para que sejam articulados com outros
elementos de forma que haja organização,
COMO ABORDAR A ESCRITA DO elaboração e interação. Não se trata de um
GÊNERO CAUSO NA ESCOLA? simples acréscimo de ideias: trata-se de um
processo que requer atenção, exposição e
Atualmente, o ensino de Língua Portuguesa estrutura, pois atua como um mecanismo
por meio dos gêneros textuais tem se tornado de desenvolvimento da aprendizagem do
uma prática constante entre os docentes. discente, a partir do momento em que ele
Diante disso, tem-se um panorama no qual ativa suas competências comunicativas para
os professores buscam um método eficiente produzir o texto.
para fazer com que o discente domine
um número maior de gêneros textuais De acordo com ANTUNES (2003, p. 54),
e, paralelamente, o desenvolvimento da a escrita “compreende etapas distintas e
competência discursiva que os alunos integradas de realização (planejamento,
precisam desenvolver para que tenham um operação/textualização e revisão), as quais,
bom desempenho comunicativo na esfera por sua vez, implicam, da parte de quem
social em que estão inseridos. É necessário escreve uma série de decisões”.
que os alunos também saibam, a partir de um
determinado gênero, elaborar outros textos Para que haja uma escrita de qualidade,
cuja adequação deve estar de acordo com as é necessário planejamento. Como salienta
diferentes situações vivenciadas no seu dia MENEGOLLA e SANT’ANNA (2012, p. 150),
a dia. o planejamento da escrita exige alguns
requisitos.
Conforme os Parâmetros Curriculares
Nacionais – PCN - (1998, p. 23), o sujeito ser Planejar é prever o que se quer alcançar,
capaz de utilizar a língua de modo variado com que elementos, com quais estratégias
consiste em um dos aspectos da competência e para que, buscando uma resposta segura
discursiva, a fim de que possa produzir para ideias e ideais previstos, através de um
questionamento global sobre a melhor maneira
diferentes efeitos de sentido e adequar o
de concretizarmos o que pretendemos. Sendo
texto a distintas situações de interlocução,
aconselhável buscarmos as soluções alternativas
sejam elas orais ou escritas.
em equipe, de forma integrada e inteirada [...]
(MENEGOLLA; SANT’ANNA, 2012, p.150)

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Assim, planejar um texto não significa uma De acordo com BARREIRO e PEREIRA
ação irrefletida, mas que considera todos (2007, p. 07),
os envolvidos no processo de formação
educacional, ou seja, professor e aluno. [...] o desenvolvimento da escrita deve combinar
Acerca disso, LUCKESI (2011, p. 125) afirma a aquisição de competências específicas, a aplica
que o ato de escrever implica numa escolha, pelo aluno no momento da produção textual,
ou melhor, não é viável usar todos os recursos com o acesso às funções desempenhadas
pela diversidade de textos, no seio de uma
e ensinar conteúdos quaisquer a qualquer
comunidade. (BARREIRO & PEREIRA, 2007, p.
momento para qualquer público.
07)

Sobre o planejamento da escrita,


MENEGOLLA & SANT’ANNA (2012, p. 19) Dessa forma, depreende-se que os alunos
destacam que as características inerentes a necessitam desenvolver determinadas
todo o planejamento são: “o conhecimento competências exigidas no momento da
da realidade, das urgências, necessidades e escrita. Tais competências estão circunscritas
tendências; definição de objetivos claros e aos seguintes elementos: quem escreve, para
significativos; determinação de meios e de quem escreve, com quais objetivos, sobre o
recursos disponíveis; estabelecimento de que escreve e quais repostas pode obter.
prazos e etapas para a execução”. Assim, o texto deve ser trabalhado como
um processo que segue etapas específicas,
O PNLD (2014, 18) orienta que bem como deve corresponder aos requisitos
acima elencados.
As propostas de produção escrita devem visar
à formação do produtor de textos e, portanto, Independentemente do gênero, a
ao desenvolvimento da proficiência em escrita. desenvoltura da produção textual ocorre
Nesse sentido, não podem deixar de: 1. Considerar no momento em que se elege o que deve
a escrita como uma prática socialmente situada,
ser trabalhado e, também, compreende-se
propondo ao aluno condições plausíveis de
o como se deve trabalhar o gênero textual,
produção do texto; 2. Abordar a escrita como
pois, somente assim, os conhecimentos
processo com o objetivo de ensinar explicitamente
poderão se articular e resultar num produto
os procedimentos envolvidos no planejamento,
na produção, na revisão e na reescrita dos textos;
a ser partilhado tanto no âmbito escolar
3. Explorar a produção de gêneros ao mesmo como fora dele.
tempo diversos e pertinentes para a consecução
dos objetivos estabelecidos pelo nível de ensino Concernente à produção de causos, cabe
visado; 4. Desenvolver as estratégias de produção destacar que o planejamento e a avaliação
relacionadas tanto ao gênero proposto quanto ao funcionam como orientadores para o
grau de proficiência que se pretende levar o aluno professor, uma vez que direciona o ensino
a atingir (PNLD, 2014, p.18). deste gênero textual em sala de aula.

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Para que o gênero causo seja abordado Esses procedimentos envolvem operações
em sala de aula e resulte numa boa produção complexas que interferem nas questões
oral e escrita, é necessário que o docente notacionais, bem como no sentido.
conte o causo, interpretando-o (no caso de
leitura compartilhada do texto impresso) ou A retextualização não consiste em
trabalhe com recursos multimídia em sala melhorar o causo, transformando o texto
de aula: vídeos ou áudios que podem ser oral, (cuja característica é o vivenciamento
encontrados nas mídias sociais. e a interpretação do que se conta e que é
considerado por muitos algo descontrolado e
Cabe ao professor, portanto, seguir as caótico) em texto escrito (aparentemente mais
etapas: organizado), pois tal processo está relacionado
com a passagem de uma ordem a outra sem que
1) Pesquisar causos, seja em livros ou nenhuma seja considerada melhor que a outra,
nas mídias; uma vez que ambas cumprem funções distintas
e são adequadas de acordo com a situação.
2) Selecionar o causo levando em conta
a turma do Ensino Fundamental para qual A premissa para que se trabalhe com os
leciona; causos em sala de aula é a escolha de bons
modelos, sejam eles escritos, gravados ou
3) Contação da história (causo); filmados. Assim, os alunos terão acesso às
características do gênero e, também, aos
4) Trabalhar a linguagem presente nas recursos usados pelos autores.
falas das personagens e do narrador;
Escolher bons modelos de causos é
5) Abordar questões pertinentes ao importante para que os alunos não entendam
gênero causo; o gênero como inferior ao compararem com
outros gêneros, tais como o conto, a notícia,
6) Propiciar aos alunos uma encenação as histórias em quadrinhos.
do causo lido, ouvido ou assistido;
Outro recurso importante consiste no docente
7) Orientar a elaboração da contação orientar os alunos a gravar, seja com filmadora,
do causo oralmente; celular ou até mesmo gravador, os causos. Trata-
se de um passo importante para a contação
8) Orientar, por fim, a recontação ou do causo e, também, para a retextualização.
retextualização do causo num texto Ouvir o professor contar o causo pode ser
escrito ou solicitar a produção de um imprescindível, mas, nas gravações podem ser
causo inédito ou já conhecido pelo aluno. registrados certas informações e detalhes que
podem se perder na memória.

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Transcrever o causo mostra aos alunos as diferenças entre o que se fala e o que se
escreve. Trata-se do registro fiel (ou quase fiel) do que foi contado: o aluno deve preservar
as palavras tal como foram ditas, incluindo repetições, marcadores de fala, inadequações de
conjugação nominal e verbal e mostrar as indicações de pausa na fala, podendo estas serem
representadas por reticências.

Vale lembrar que, ao fazerem suas produções textuais, os alunos precisam refletir acerca
do que é necessário para transformar o relato oral (contação da história) em um texto escrito
sem que haja descaracterização do gênero.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há muito tempo, as histórias estão presentes em nossa
cultura, por isso, o hábito de contá-las, bem como de ouvi-
las possuem inúmeros significados.

No que tange à literatura oral, cabe destacar que ela


segue um caminho próprio, uma vez que são histórias que
ultrapassam o tempo, estando relacionada ao cuidado afetivo,
à construção da identidade e, também, ao desenvolvimento
da imaginação.

De acordo com FREIRE (1988, p.11), “a leitura do mundo


precede a leitura da palavra”. Assim, o leitor atuante em sua
comunidade compreende que a escrita não foi a primeira LEILA ISABELITA PEREIRA
fixação cultural usada. Basta mostrar ao aluno que, bem FERREIRA DE OLIVEIRA
próximo a ele, há muitas coisas para serem relatadas e,
Graduação em Letras pela Faculdade
para isso, necessita-se de um “olhar de estrangeiro” para a de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
comunidade, ou seja, observar de forma atenta os detalhes. da USP (2005); Mestre em Letras pela
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Ademais, vale destacar que o relato de causos faz com que Humanas da USP (2009); Professora de
o estudante se aproxime do contexto em que está inserido Ensino Fundamental II e Médio- Língua
podendo, dessa forma, participar ativamente da narração e Portuguesa - na EMEFM Professor
da escrita de sua identidade. Derville Allegretti, Professora de Ensino
Fundamental II e Médio – Língua

Cabe ao professor repensar sua prática pedagógica para Portuguesa - na EMEFM Vereador

que possa constatar ser o ensino em sala de aula o introdutor Antônio Sampaio.

da transmissão de informação e, como contrapartida, a


aprendizagem é tida como armazenamento de informações.

Ler e escrever consistem em fenômenos dialógicos,


resultantes do trabalho de sujeitos históricos. Dessa maneira,
deve-se oportunizar e incentivar o discente a falar sobre
sua vida, seu cotidiano, levando em conta os aspectos que
constituem o gênero da narrativa (o narrador e seu ponto de
vista, a desenvoltura dos causos, o conflito, a importância das
personagens). Acerca disso, BAKHTIN (2003, p. 302) afirma
que a escolha do gênero é o ponto inicial para a comunicação,

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assim, cada gênero é endereçado a um determinado círculo de leitores capazes de perceber,


reconhecer e entender o gênero.

Ao docente cabe buscar uma aprendizagem significativa de resgate dos causos da


transmissão oral das diversas tradições, bem como dos usos de rituais, de artes, danças que
estão envolvidas nas distintas histórias contadas sejam elas numa determinada comunidade
ou situação, usando um método que consiste na dialética das perspectivas do letramento.

Explorar acontecimentos fictícios contados pela comunidade é uma boa ferramenta


para que se instrumentalize a qualidade da leitura e para que se possibilite ao discente
compreender a literatura narrativa como expressão de competências linguísticas, uma vez
que trata de comportamentos, ofertando visões peculiares da comunidade e focalizando as
relações sociais.

Escolher o gênero causo para trabalhar leitura e escrita no Ensino Fundamental é uma
ótima escolha, visto que esse gênero está presente no cotidiano das pessoas desde a primeira
infância: são lidas, contadas e ouvidas diversas histórias desde a mais tenra idade, o que
remete a uma memória, já no Ensino Fundamental, em que ler e escrever sempre foi uma
atividade prazerosa. Isso deve ser bem aproveitado pela escola para que haja colaboração
no processo de reaproximação com a leitura e a escrita no intuito de formar um aluno leitor
e escritor.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS CONTRIBUIÇÕES DAS MÚSICAS E


PARLENDAS PARA A APRENDIZAGEM
RESUMO: A presente pesquisa, resultante de revisão bibliográfica, tem o intuito de analisar
o modo com a música e a aprendizagem se relacionam. Compreendendo que a aprendizagem
oral e escrita não se resume apenas em decifrar signos lingüísticos, esse trabalho com músicas
e brincadeiras cantadas tem a finalidade de situar os alunos no mundo do letramento através
do lúdico. Utilizando uma atitude de prática inovadora na aprendizagem do ler e escrever, é
possível reforçar a expressão oral para que os alunos percebam a leitura como algo prazeroso
e necessário. Busca-se, também, as contribuições que as parlendas podem oferecer a todo
o processo de aprendizagem linguística, motora e social das crianças. Foi verificado que
a alfabetização deve ser mediada pelo professor de forma constante, mas com respeito
aos ritmos dos alunos, bem como diferentes métodos, de modo que as intervenções e as
propostas precisam ser contextualizadas e significativas para que o aluno também possa ser
letrado. As parlendas são uma ferramenta de trabalho com grande potencial neste sentido.

Palavras-Chave: Música; Parlenda; Aprendizagem; Letramento.

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INTRODUÇÃO indo em direção ao todo, isto é, o trabalho


origina-se das letras/fonemas, segue pelas
Neste artigo, buscou-se conhecer como a sílabas, palavras, sentenças e textos.
música pode contribuir para a aprendizagem
e a aquisição da alfabetização, para que É possível encontrar também métodos que
seja possível estimular a reflexão sobre a aliam essas duas estruturas, congregando
linguagem musical com base nas brincadeiras princípios do método analítico e do método
cantadas, trabalhar a ortografia das letras, sintético.
palavras e frases, desenvolver a leitura, a
escrita e a oralidade, explorar o conhecimento Tais métodos foram observados nos
prévio das crianças sobre a cultura musical períodos históricos da alfabetização no
e brincadeiras populares da nossa cidade e Brasil, sobretudo, nos livros didáticos ou nas
região. cartilhas que perduram até os dias de hoje. Em
cada momento histórico, vemos a presença
A criança chega ao universo escolar com de novas e antigas concepções, gerando
diversas marcas adquiridas em seu meio disputas teóricas com posicionamentos
cultural. As parlendas são parte destas contrários ou favoráveis a determinados
representações simbólicas que a família, métodos.
muitas vezes, transmite às crianças.
Mais do que partilhar de uma ou outra
O objetivo desta pesquisa é compreender maneira de ensinar a linguagem escrita, é
o processo de alfabetização e o modo como necessário compreender os fundamentos
as parlendas podem ser apropriadas para o que compõem os métodos de alfabetização,
enriquecimento a aprendizagem. analisando seus limites e possibilidades de
aplicação, visando superar as dificuldades
A complexidade das relações sociais do aprendiz e auxiliá-los na construção do
exigiu aprimoramento e simplificação do saber.
código linguístico, assim como dos métodos
de ensinar a decodificação (decifração) da Deve-se compreender que os métodos
língua escrita. de alfabetização não são neutros e, por
isso, carregam intenções políticas, sociais
Tais métodos de ensino são classificados e culturais que ora procuram manter o
conforme suas estruturas. O método status quo da sociedade, ora visam realizar
analítico parte do todo para chegar até as trabalhos de conscientização e emancipação
partes, ou seja, o processo de alfabetização humana.
inicia por textos, seguindo das sentenças,
palavras, sílabas e letras/fonemas. Já os
métodos sintéticos iniciam-se das partes

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Revista Educar FCE - Março 2019

A RELAÇÃO ENTRE MÚSICA E


APRENDIZAGEM Dessa forma, o professor acaba
fortalecendo traços culturais dos indivíduos
A utilização da música no contexto escolar e também pode fazer com que entendam e
proporciona que a escuta coloque o aluno respeitem os gostos e a cultura de outras
diante de um patrimônio cultural musical, pessoas. É importante lembrar que a música
como também da grande gama de sons que assume diferentes significados dependendo
ele vive. de cada cultura, segundo Penna (2008, p.21):

O homem vive rodeado de uma sinfonia [...] uma linguagem cultural, consideramos familiar
de sons e que estes têm diferentes aquele tipo de música que faz parte de nossa
propriedades que quando manipulados ou vivência; justamente porque o fazer parte de nossa
ouvidos individualmente, demonstram suas vivência permite que nós nos familiarizemos com
os seus princípios de organização sonora, o que
diferenças.
torna uma música significativa para nós.

Além disso, dentre as diversas


possibilidades e intenções do trabalho É importante lembrar que cada pessoa
educacional com música, estão aspectos tem um repertório sonoro acumulado,
como: memorizado que acompanha qualquer
cidadão por toda vida.
[...] auxiliar crianças, adolescentes e jovens no
processo de apropriação, transmissão e criação É natural que o ser humano estabeleça
de práticas músico-culturais como parte da relação, fazendo vínculos e acostumando-
construção de sua cidadania. O objetivo primeiro se com padrões de organização o que nos
da educação musical é facilitar o acesso à
permite estabelecer vínculos com pessoas,
multiplicidade de manifestações musicais da nossa
costumes e tradições do local onde vivemos.
cultura, bem como possibilitar a compreensão
Dessa forma:
de manifestações musicais de culturas mais
distantes. Além disso, o trabalho com música
[...] a compreensão da música, ou mesmo a
envolve a construção de identidades culturais
sensibilidade a ela, tem por base um padrão
de nossas crianças, adolescentes e jovens e o
culturalmente compartilhado para a organização
desenvolvimento de habilidades interpessoais
dos sons numa linguagem artística, padrão este
(HENTSCHKE; DEL BEM, 2003, p.181).
que, socialmente construído, é socialmente
apreendido – pela vivência, pelo contato
Segundo as autoras, o professor deve
cotidiano, pela familiarização – embora também
propiciar aos alunos um contato com
possa ser aprendido na escola (PENNA, 2008, p.
uma gama maior de estilos e gêneros,
29).
proporcionando a diversidade e expandindo
o universo musical dos mesmos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A importância do contato do ensino de Quando trabalhamos a música na escola,


música nas escolas pode também contribuir nosso aluno acaba inserido num personagem
para que o processo ocorra. Assim, torna- que se constitui de expressões corporais,
se importante para a criança começar a se faciais, gestos e expressões vocais que
relacionar com a música no ambiente escolar, servem para inseri-lo ao convívio coletivo.
pois é nessa fase que ela constrói os saberes
que irá utilizar para o resto de sua vida. É importante salientar que os sons podem
acontecer além das expressões do corpo,
Qualquer proposta de ensino que considere essa pela vibração de objetos que se diferenciam
diversidade precisa abrir espaço para o aluno dependendo da forma como é acionado,
trazer música para a sala de aula, acolhendo-a, podendo sair mais forte, mais fraco, longo,
contextualizando-a e oferecendo acesso a curto, grave ou agudo, assim se faz o som, a
obras que possam ser significativas para o seu
música.
desenvolvimento pessoal em atividades de
apreciação e produção (BRASIL,1997, p.75).
Essa divisão nos faz pensar em cada gênero
ou forma musical existente em nosso universo,
Existe uma infinidade de composições com linguagens diferentes a públicos distintos.
musicais no mundo todo e de várias épocas.
O Brasil possui uma infinidade de ritmos, A linguagem musical deve estar presente nas
estilos musicais e instrumentos. Os nossos atividades [...] de expressão física, através de
ritmos fazem parte do nosso vocabulário e exercícios ginásticos, rítmicos, jogos, brinquedos
é a partir deles que vamos entender a nossa e rodas cantadas, em que se desenvolve na
criança a linguagem corporal, numa organização
música e a de outras culturas.
temporal, espacial e energética. A criança
comunica-se principalmente através do corpo
A aprendizagem escolar precisa incluir a criança
e, cantando, ela é ela mesma, ela é seu próprio
de forma significativa, como agente ativo e criativo.
instrumento (ROSA, 1990, p. 22-23).
É imprescindível que estes aspectos sejam levados
em conta do processo educativo, pois: Para Freire (1997) a apropriação da
alfabetização e do letramento passa por uma
Os métodos utilizados pela escola para cumprir contextualização necessária para que seja
sua finalidade específica são bastante variados: efetiva.
incluem desde métodos autoritários e unilaterais,
que se baseiam na transmissão pura e simples Estudar seriamente um texto é estudar o estudo
da matéria pelo professor, até métodos em de quem, estudando, o escreveu. É perceber
que a aprendizagem se faz a partir das próprias o condicionamento histórico-sociológico do
experiências dos alunos, em que estes, ao invés conhecimento. É buscar as relações entre o
de receber passivamente conhecimentos prontos, conteúdo em estudo e outras dimensões afins do
elaboram seu próprio conhecimento da realidade conhecimento. Estudar é uma forma de reinventar,
(PILLETI, 1993, p. 87). de recriar, de reescrever – tarefa de sujeito e não

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Revista Educar FCE - Março 2019

de objeto. Desta maneira, não é possível a quem Um conjunto de palavras de arrumações rítmicas em
estuda, numa tal perspectiva, alienar-se ao texto, forma de versos que rimam ou não. Ela se distingue
renunciando assim à sua atitude crítica em face dos demais versos pelas atividades que acompanha,
dele (FREIRE, 1989, p. 12). seja jogo, brincadeiras ou movimento corporal.

A pardenda se apresenta como um rico


Assim, a música, no processo de recurso pedagógico que promove a diversão,
aquisição da linguagem escrita, favorece por meio de seu ritmo, causando impactos
esta aproximação e a apropriação por no desenvolvimento motor, lingüístico e
parte do aluno, que poderá, com sua ajuda, cultural.
consolidar seu conhecimento linguístico e
suas habilidades comunicativas. Conforme A sonoridade deste texto reproduzido
Cagliari (1997) “um falante nativo não pela tradição oral possui um importante
comete erros lingüísticos a não ser em papel na fase infantil para a interação e para
situações raríssimas” (p. 35). a aprendizagem lúdica, seja de forma coletiva
ou individual. Melo (1997, p. 37) sinaliza que:
Observamos que a música está presente
em acontecimentos diversificados em que As parlendas constituem aspectos do folclore das
existem músicas orquestradas, infantis, crianças inteiramente caracterizado, distinto, não
religiosas ou músicas para dançar ou ainda, se confundindo, em absoluto, com nenhuma outra
música instrumental, vocal, erudita, popular manifestação folclórica desse período da existência.
Desde as mais simples, ditas ou citadas pelos pais,
entre outras.
para entreter meninos, até as mais complexas, já
recitadas pelas próprias crianças, conservam em
Para representar uma música do nosso
comum estes dois pontos de contato: são sempre
vocabulário, muito conhecida por todos nós,
rimas ou ditos instrutivos ou satíricos.
apresentamos o samba, que é conhecido
no mundo por ser uma arte brasileira, com Os textos orais possibilitam situações de
jeito, cores e marca de um povo. O samba desenvolvimento da expressão das crianças,
faz parte de um gênero de música popular de modo que a diversidade dos textos
brasileira, realizado pelo povo. que circulam possui funções que não se
restringem ao acalanto e à diversão, pois
cumprem também uma função comunicativa
AS PARLENDAS COMO e, por conseguinte, educativa.
RECURSOS MUSICAIS NA
As parlendas podem ser classificadas
ALFABETIZAÇÃO da seguinte forma, conforme Cascudo
(1984): parlendas, de fato, que possuem a
Heylen (1987 p.13), afirma que a parlenda finalidade do divertimento, e as mnemônicas,
pode ser definida como: caracterizadas pelo fim de ensinar algo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Melo (1997), entretanto, efetuou a imersão cultural, a socialização e o contato


seguinte subdivisão das parlendas: simples, com o sistema escrito.
para o entretenimento ou o ato de ninar, e
aquelas recitadas pelas próprias crianças, É sintomático o valor biológico, psicológico e social,
considerando um determinado objetivo. pois as parlendas e os jogos que as acompanham
favorecem e estimulam um desenvolvimento
A classificação se deu, então, da seguinte biopsicossocial. Pelo uso do corpo, o indivíduo e,
em primeiro lugar, a criança,, desenvolve o seu
forma: “brincos, mnemônicas e parlendas
crescimento, reforça a musculatura e aumenta
propriamente ditas” (MELO, 1997, p. 38).
a agilidade. O corpo em movimento além de
provocar prazer, torna a pessoa dinâmica e alerta.
Outra forma de parlenda também pode
As manifestações expressivas das parlendas se
ser encontrada, no campo da oralidade: os torna também criativa pelo seu caráter competitivo
trava-línguas. e execução em grupo. È no grupo que o indivíduo
se molda, se transforma, encontra meios o para
Consiste em um verso, palavra ou expressão, na alimentar e controlar a afetividade, aprende a
maioria das vezes de pronunciação difícil e cuja conviver e se socializar pela norma do bom senso
repetição depressa provoca sempre deturpações (HEYLEN, 1987, p. 162).
dos termos e conseqüentemente o seu sentido
de origem. (…) Não há denominação fixa, própria A poética da parlenda promove a
para este tipo de parlenda. Amadeu Amaral e
interiorização do texto oral de forma
Alcides Bezerra denominavam-na, simplesmente,
prazerosa, de forma que tal performance
travalínguas. Alexina de Magalhães Pinto estudou
viabiliza a exploração de conhecimentos que
a parlenda sob o título geral de ―Exercícios de
dicção‖. Cecília Meireles preferiu chamá-las ―
integram elementos linguísticos e motores.
Parlendas com Obstáculos‖. Para Rodrigues de É importante considerar que, no contexto
Carvalho são ―Problemas para desenferrujar a da sala de aula, cada criança precisa ser
língua.‖ Fora do país, Maria Cadilla de Martinez inserida em um contexto significativo, o que
utiliza denominação especial para essas rimas, é possível por meio das parlendas por conta
dizendo textualmente: ―… ellas tienem por de suas representações folclóricas, as quais
objeto el corregirles dificuldades enunciativas possuem expressivo valor histórico, como
(MELO 1997. p. 72). frisa Heylen (1987, p. 152-153):

A parlenda é de domínio popular e oferece As primeiras manifestações das parlendas são


amplas possibilidades de trabalho pedagógico vivenciadas na intimidade do ambiente familiar
por conta da dinamicidade das palavras, o pelos pais, parentes e agregados. Posteriormente,
ritmo e a ludicidade. Muitas são as habilidades quando as parlendas são executadas nos
grupos infantis, existe uma familiaridade no
a serem exploradas pelos educadores ao se
relacionamento dos participantes (HEYLEN,
trabalhar com uma parlenda, entre elas o
1987, p. 152-153).
desenvolvimento oral, rítmico, auditivo, a

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A parlenda pode ser utilizada como uma importante ferramenta didática, especialmente
para contribuir ao desenvolvimento de uma aprendizagem contextualizada, com vistas à
apropriação do sistema alfabético e ao letramento.

Para que os educandos adquiram as habilidades de leitura, é fundamental o ensino


sistemático, consciente e diretivo do professor.

O aluno deve ser visto como sujeito ativo na sua aprendizagem, assim é possível entender
o professor como um mediador entre as exigências de uma sociedade grafocêntrica e o
aluno.

Essa medicação é realizada com sucesso quando o professor intervém, ensina e facilita o
processo de aprendizagem. Aprender a ler e escrever não ocorrem espontaneamente, dessa
forma, para que essa mediação seja realizada com sucesso, o professor precisa saber como
se dá a aquisição da escrita e da leitura pelo aluno, conhecendo os níveis de alfabetização
pelos quais o aprendiz está caminhando.

Do mesmo modo, a compreensão da linguagem escrita só será realmente útil a partir do


momento que a criança compreender os usos e as funções da leitura e da escrita, através da
interação de diferentes tipos de texto disponibilizado pelo professor no ambiente escolar.

O grande desafio de ser professor alfabetizador é o fato de que sua atuação é decisiva
em relação à inserção do aluno no mundo letrado. Ignorar a responsabilidade desta função
não condiz com as teorias educacionais críticas, voltadas ao desenvolvimento humano e à
democratização do conhecimento.

Neste contexto, trabalhar parlendas pode possibilitar a compreensão da natureza do


sistema alfabético, além do funcionamento da linguagem oral e a prática da escrita.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da presente pesquisa foi possível verificar
que é importante selecionar brincadeiras cantadas que
estimulem as crianças, pelo ritmo e sonoridade da letra.
Dispor em cartaz ou no quadro-negro o nome das cantigas
mais populares, colocar algumas cantigas no aparelho de
som e dialogar com as crianças sobre as mesmas, estimular
a escolha das cantigas mais ouvidas ou que as crianças mais
gostam, trabalhando os temas das músicas e explorando o
tipo de letras e a forma gráfica das palavras, formar grupos
em sala de aula para elaborar um texto em forma de escrita
ou desenho, explorando o imaginário das crianças, promover
a leitura de rimas ou repetições de melodia presentes nas
músicas ouvidas pelas crianças. LUANA KAINA SANTOS
Graduação em Pedagogia, pela Faculdade
A fim de ampliar as possibilidades de aprendizagem por Universidade Paulista – UNIP (2015).
meio da música, é importante analisar o nível de aprendizagem Especialista em Letramento, pela
das crianças, atentando para as hipóteses de leitura, escrita faculdade Campus Elíseos (2017).
e oralidade, mantendo registro diário do processo evolutivo Professor de educação Infantil e Ensino
das crianças e fazer eventuais adequações ao projeto, caso Fundamental I na EMEI Profª Rosa Maria
os objetivos não sejam alcançados. Dôgo de Resende.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Portuguesa. Volume 2. Brasília, MEC/SEEF, 1997.

BRAIT, Beth. Língua e Linguagem. 2 ed. Ática: São Paulo, 2002.

BRITO, Gilson. A canção do Aratatá. Escola. São Paulo: n°126, p. 28. Ano XIV. Outubro, 1999.

CAGLIARI. Luiz Carlos. Alfabetização e Lingüística. 10 ed. Scipione: São Paulo, 1997.

CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Belo Horizonte: Editora Italiana
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FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler – em três artigos que se completam. 31 ed. São Paulo:
Cortez, 1997.

HENTSCHKE, Liane; DEL BEN, Luciana. Aula de música: do planejamento e avaliação à prática
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HEYLEN, Jacqueline: Parlenda, riqueza folclórica: base para educação e iniciação à música. São
Paulo: Hucitec/Pró-memória, 1987.

MELO, Veríssimo de. Folclore Infantil. Belo Horizonte: Editora Italiana Limitada, 1997.

PENNA, Maura. Música(s) e seu ensino. Porto Alegre: Sulina, 2008.

PILETTI, Nelson. Sociologia da Educação. Editora Ática, 1993.

ROSA, Nereide Shilaro Santa. Educação Musical para 1ª a 4ª série. Editora Ática, 1990.

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

A EDUCAÇÃO INFANTIL E AS
APRENDIZAGENS LÚDICAS NA INFÂNCIA
RESUMO: Este artigo busca analisar o contexto lúdico na Educação Infantil, a sua
importância e as práticas pedagógicas permeadas neste contexto de aprendizagem. Os jogos
e brincadeiras, aqui definidos como contexto lúdico de aprendizagem são fundamentais e
estão presentes em todas as ações na Educação Infantil. O lúdico na educação se torna
um recurso pedagógico envolvendo a criança e proporcionando prazer e interesse, neste
sentido estimula o pensamento e favorece as relações que permeiam a aprendizagem e
o desenvolvimento em todos os seus aspectos, emocional, motor e cognitivo. A inserção
de jogos e brincadeiras que proporcionam o contato com a linguagem oral e escrita na
educação infantil não visa a alfabetização precoce mas sim poder oportunizar às crianças
que aprendam sobre as palavras no momentos de brincadeira. O educador é o mediador
no processo de desenvolvimento infantil, neste sentido, é possível pensar que a partir das
brincadeiras, adultos e crianças podem criar diferentes formas de brincar possibilitando a
criação de um espaço em que o lúdico é o principal elemento da aprendizagem. O lúdico
deve ser abordado como uma proposta pedagógica com objetivos definidos e estratégias
para a sua execução, promovendo um ensino e uma aprendizagem significativa.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Lúdico; Jogos e Brincadeiras; Educação Infantil.

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INTRODUÇÃO Durante o jogo a criança se expressa de


diferentes maneiras, comunicando-se com
Este estudo trata de uma revisão os colegas e com todos que estabelecem
bibliográfica cujo objetivo geral é analisar relações com ela no processo de ensino e
de que maneira o lúdico contribui para o de aprendizagem. O jogo contribui para o
processo de ensino e aprendizagem e tem desenvolvimento integral do sujeito da ação.
como objetivos específicos apresentar de De acordo com Macedo (2005) o lúdico,
que maneira os jogos e brincadeiras são em sua perspectiva simbólica, significa que
utilizados como recurso pedagógico na as atividades são modificadas e históricas,
escola e qual é a abordagem dos conteúdos uma relação entre a pessoa que faz e aquilo
na perspectiva lúdica de aprendizagem. que é feito ou pensado é uma forma de
Temos como justificativa para esta pesquisa projeção de desejos, sentimentos e valores,
a necessidade de reconhecer e analisar que expressam possibilidades cognitivas ou
o trabalho com jogos e brincadeiras no modos de incorporar o mundo e a cultura
contexto educacional, na perspectiva de que vive.
um aprendizado significativo e inserido nas
propostas de Letramento. Segundo Porto (2004) a ludicidade pode
se manifestarem toda e qualquer ação do
A Educação Infantil é capaz de promover ser humano em que ele se sinta inteiro,
aprendizagens e experiências com um presente, em contato consigo mesmo, e que
enorme significado para as crianças, a escola esse contato seja capaz de expressar sua
é um espaço de promoção e ampliação das verdadeira essência, ou seja, sua verdadeira
capacidades de comunicação e expressão e forma de ser, sentir, pensar e agir.
de acesso ao mundo letrado pelas crianças,
favorecendo o desenvolvimento das
capacidades relacionadas as competências CONTEXTOS LÚDICOS
de falar, escutar, ler e escrever. DE APRENDIZAGEM NA
A brincadeira e o jogo na aprendizagem INFÂNCIA
é um recurso pedagógico e contribui para De acordo com Macedo (2005) o lúdico,
o processo de desenvolvimento e formação em sua perspectiva simbólica, significa que
da criança, estimulando o pensamento e a as atividades são modificadas e históricas,
criatividade e melhorando as relações entre uma relação entre a pessoa que faz e aquilo
os seus pares, adultos e crianças, além de ser que é feito ou pensado é uma forma de
fator fundamental para o desenvolvimento projeção de desejos, sentimentos e valores,
da criança na faixa etária que compreende a que expressam possibilidades cognitivas ou
Educação Infantil. modos de incorporar o mundo e a cultura
que vive.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O conceito de infância ao longo dos Segundo Brougère (2002) Froebel trouxe


anos vem sofrendo alterações, a falta de uma importante contribuição quando aponta
uma história da infância aponta para a que a originalidade está no vinculo que ele
incapacidade por parte do adulto, de ver estabelece entre suas teses sobre o papel do
a criança em sua perspectiva histórica. jogo na primeira infância e a concepção de um
A criança era considerada um adulto em material estimulante, específico, manipulável
miniatura por não haver distinção entre o e simbólico. A exploração do material em
mundo adulto e o mundo infantil e quando si que se torna uma ação educativa e não
passava o período de dependência física o material, o material por si só não exerce
da mãe, as crianças eram incorporadas ao sobre a criança nenhuma ação educativa,
mundo dos adultos. seu efeito depende da ação e iniciativa da
criança em explorar suas potencialidades.
Em um segundo momento, no conceito
de infância, a sociedade passa a perceber a Com base nos estudos das diferentes áreas
inocência da criança, separando-a da vida dos como Sociologia, Psicologia e Linguística
adultos, momento este em que as crianças temos que o brincar revela a maior parte das
passam a frequentar a escola e a participar expressões na infância, com a brincadeira, o
da vida social. O conceito de sociologia da sujeito é capaz criar culturas e aprendizados
infância, recorrente nos dias atuais traz uma significantes. Na brincadeira, a troca de
visão de infância como uma construção experiências entre os pares oportuniza
social em que as crianças são protagonistas. uma gama de recursos para ampliar os seus
pensamentos, seja com as outras crianças ou
Falamos de brincadeira para nos referirmos a com os adultos que realizam as intervenções
diferentes ações das crianças que envolvem o durante o ato de brincar. Com a brincadeira
lúdico e, por isso, privilegiam o processo, e não de faz de conta, a criança ensaia diferentes
um resultado visível. Um bebê brincando com suas papeis e representa situações vivenciadas
mãos ou pés, explorando objetos que colocamos
em seu meio cultural, ampliando a sua
ao seu redor; uma criança um pouco maior
capacidade de imaginar, criar e reinventar
transportando água com uma latinha para molhar
histórias.
a terra e fazer uma estradinha para passar com
um carrinho; uma criança maior fazendo circular
um pequeno caminhão e se colocando no lugar do
Os jogos e brincadeiras estão vinculados
motorista que entrega produtos de casa em casa; no processo de ensino de aprendizagem na
crianças em torno de um jogo de mesa ou correndo Educação Infantil, não há aprendizagem sem
pelo pátio; seja qual for a brincadeira, as crianças o lúdico permeando as práticas escolares,
estão sempre aprendendo quem elas são, como as toda a aprendizagem na infância é pautada
coisas funcionam, estão percebendo o mundo ao e concebida com a ludicidade. Com a
seu redor e formando uma memória do que fazem e brincadeira a criança é capaz de se expressar
aprendem. (SÃO PAULO, 2019, p. 85) de diferentes maneiras e reproduzir situações

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cotidianas, realizando referências com o seu no momento em que estão vivenciando as


meio social e com as ações que presencia propostas trazidas pelo educador.
em seu cotidiano, tanto na escola como fora
dela. No brincar, as coisas podem se tornar outras
coisas, o mundo pode virar de ponta-cabeça.
Os trabalhos com jogos, no que se refere aos Isso permite as crianças se descolar da realidade
aspectos cognitivos, visam contribuir para que imediata e viajar por outros tempos e lugares, criar
as crianças possam adquirir conhecimentos e ações e interações, ser muitos e outros: cachorro,
desenvolver suas habilidades e competências leão, cavalo, fada, princesa, guerreira, bruxo,
e oferecer um rico arsenal de possibilidades, super-herói, mãe, pai, bebê, médica, professor.
contribuindo para a construção de relações (SÃO PAULO, 2019, p. 85-86)
sociais, cuja direção é aprender a considerar
De acordo com Brougère (2002), aprende-
limites e agir de forma respeitosa com as pessoas.
se a brincar, e um dos momentos essenciais
(MACEDO, 2005, p. 24)
para a aprendizagem são as interações entre
a mãe e o bebê. Ainda com base no autor, é
Segundo Piaget (1971) o jogo e as brincando que a criança se apropria da cultura
brincadeiras mobilizam esquemas mentais: lúdica, que segundo ele é um conjunto de
estimula o pensamento, a ordenação regras e significações que permitem tornar
de tempo e espaço, integrações, várias a brincadeira possível. A cultura lúdica não
dimensões afetivas, sociais, motoras e é transferida para a criança, uma vez que ela
cognitivas, favorecendo a aquisição de é coprodutora, sendo assim, uma produção
condutas e desenvolvimentos de habilidades da sociedade adulta, incluindo a reação das
como coordenação, destreza, rapidez, força meninas e meninos à produção cultural que,
e concentração. é de certa maneira, a eles imposta.

Na Educação Infantil, há uma série de O jogo é a construção do conhecimento,


atividades programadas com o objetivo de principalmente, nos períodos sensório-motor
estimular a aquisição dos conhecimentos e pré-operatório. Agindo sobre os objetos,
e das habilidades necessários para o as crianças, desde pequenas, estruturam seu
espaço e o seu tempo, desenvolvem a noção
desenvolvimento da criança. Segundo Piaget,
de causalidade, chegando à representação e,
a criança já nasce com as pré-condições
finalidade, à lógica.” As crianças ficam mais
neurológicas do conhecimento, mas as
motivadas a usar a inteligência, pois querem jogar
condições de fato se dão com atividades que
bem; sendo assim, esforçam-se para superar
ele denomina jogos (de exercício, simbólicos obstáculos, tanto cognitivos quanto emocionais.
e de regras, conforme as idades). Essas (KISHIMOTO, 1993, p. 96)
atividades serão mais prazerosas se forem
consideradas e respeitadas as emoções, os O lúdico, como ferramenta de
sentimentos e as necessidades das crianças aprendizagem, deve ser orientado por

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Revista Educar FCE - Março 2019

profissionais com conhecimento, a fim de Os jogos de faz de conta são aquelas


monitorar o brincar dentro de uma linha brincadeiras nas quais as crianças assumem
pedagógica, cultural e com estratégias papeis e fingem que uma ação ou um objeto
voltadas para a formação do conhecimento tem um significado diferente daquele que
das crianças, sendo dentro e fora da escola, lhe é dado de forma habitual.
esse processo de aprendizagem deve ser
voltado para a efetivação do indivíduo como Os jogos tradicionais infantis são aquelas
um todo. brincadeiras que fazem parte da cultura
popular e são transmitidas de geração em
Com base em Kishimoto (2002) o jogo geração e segundo Kishimoto (2002) algumas
é diferente do brinquedo, no jogo existem ainda conservam sua estrutura inicial e outras
algumas regras e para ser efetivado é vão se modificando com o passar do tempo.
necessário que esteja dentro de um contexto
e que todos os participantes façam parte Os jogos de construção são aquelas
daquele contexto ali sugerido. O brinquedo brincadeiras em que a criança constrói ou cria
não possui regras e a criança pode imaginar alguma coisa a partir de diferentes materiais,
e se relacionar com o mundo por meio das segundo Kishimoto (2002) estes jogos tem
brincadeiras. uma estreita relação com as brincadeiras
de faz de conta, pois as crianças constroem
Segundo Leite (2006) ao falarmos nas cenários para os seus jogos simbólicos.
regras, nos jogos de enredo, não estamos
minimizando sua importância, quando as Embora também reconhecendo a importância
crianças brincam de escola, elas obedecem do apoio do adulto nas brincadeiras infantis,
às regras institucionais que funcionam nessa individuais ou em pequenos grupos, não
esfera, quando brincam de organizar uma minimizamos a relevância do brincar livre,
espontâneo no desenvolvimento social, afetivo
festa, elas atendem às regras que são ditas
e cognitivo da criança. Assim, entendemos que
na sociedade e assim por diante.
tanto as brincadeiras livres ou espontâneas
quanto aquelas apoiadas pelos adultos podem ter
Ao se colocar no lugar do outro, deve fazer como
um efeito positivo no desenvolvimento infantil e
o outro. Esse outro é, de modo geral, um adulto,
devem estar presentes na educação de crianças
e para fazer de conta que é o personagem adulto,
pequenas. (BRANDÃO, 2011, p. 54)
a criança abre mão de sua vontade imediata para
fazer como o personagem faz, de acordo com seu
estereótipo. Desse modo, exercita a separação
Os jogos de regras são aqueles jogos em
entre o “eu quero” e o “eu devo”: enquanto está
que as regras orientam as ações de cada
fazendo de conta que é a princesa, não deve
jogador e também podem estar presentes
brigar, nem correr atrás de ninguém ou gritar.
(SÃO PAULO, 2019, p. 86-87)
nos jogos de faz de conta. Os jogos didáticos
são aqueles que estão inseridos no cotidiano

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Revista Educar FCE - Março 2019

escolar, com finalidades claras e articuladas As brincadeiras e os jogos são


ao currículo dos diferentes campos do saber. extremamente prazerosos e a experiência
pautada na ludicidade torna-se muito mais
Os jogos são importantes no interessante aos olhos da criança, a escola
desenvolvimento infantil e é necessário que garante o brincar em suas atividades
que sejam criadas situações favoráveis de aprendizagem vai contribuir para que a
para que possam ser parte do cotidiano das criança tenha os seus direitos respeitados
crianças, tanto em situações espontâneas, e a sua aprendizagem garantida de maneira
como em situações dirigidas e orientadas significativa.
pelos adultos. Nas diferentes situações
de jogos e brincadeiras, as crianças se Além de se divertirem ouvindo histórias, as
manifestam e expressam aspectos relativos crianças também se envolvem, espontaneamente
às suas vivências cotidianas, reproduzindo ou após estímulo dos familiares e professores, em
e ensaiando papeis e contextualizando suas brincadeira em que fazem de conta que “leem em
voz alta”. Ao fazer de conta que leem, as crianças
experiências com aquelas vivenciadas em
encenam situações sociais em que a escrita se
seu meio social.
faz presente e tendem a imitar os modos como os
adultos praticam as atividades de ler diferentes
Neste contexto, a linguagem verbal se
gêneros discursivos. Nesses momentos, elas
torna extremamente importante momento reproduzem não apenas o conteúdo da história,
no qual as crianças representando tais papeis mas também trechos do texto. Ao modificarem
imitam o modo de falar e o vocabulário alguns trechos que não sabem de memória, é
utilizado na sociedade, elas brincam de falar comum observamos o esforço em continuar o
como se fossem outras pessoas, revelando a texto construindo sequencias linguísticas com
atenção que elas prestam à língua. estilo de linguagem semelhante ao adotado
pelos autores. (BRANDÃO, 2011, p.60-61)
Segundo Brandão (2011) cenas
semelhantes podem ser assistidas em Brincando de ler as crianças desenvolvem
diferentes lugares, como nas casas das habilidades e aprendem a refletir sobre
crianças. Reconhecemos muitas vezes a língua, familiarizando-se com os textos
como os professores das crianças lidam literários, ampliando o repertório textual
com ela na escola quando assistimos a cena e apropriando-se da linguagem escrita e
em que brincam de escolinha imitando os oral. As brincadeiras com palavras incluem
professores. Avaliamos também como os brincadeiras de roda, adivinhas e jogos de
pais interagem com elas quando brincam de regras.
casinha e mostram os modos como estes se
comportam. Segundo Brandão (2011) brincando
com as palavras, as crianças podem
desenvolver a consciência fonológica, que

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Revista Educar FCE - Março 2019

envolve capacidades variadas de refletir conscientemente sobre unidades sonoras. Tal


desenvolvimento é especialmente relevante porque, além de resgatar experiências culturais,
contribuem para o próprio processo de alfabetização.

As situações de jogos com as palavras podem também constituir atividades permanentes na rotina da classe
de Educação Infantil e por meio delas as crianças poderão refletir, de forma lúdica, sobre as dimensões sonora
e escrita das palavras da língua (por exemplo, observar que palavras que começam ou terminam com o mesmo
som tendem a ser escritas da mesma forma; que uma palavra é maior que outra porque possui uma quantidade
maior de segmentos sonoros/escritos, etc.) (BRANDÃO, 2011, p. 68)

Os jogos e brincadeiras abrangem grande parte do desenvolvimento da criança, quando


representam situações observadas no cotidiano, criando situações imaginárias confrontada
com o real e desenvolvendo suas capacidades e habilidades. Além de proporcionar uma
aprendizagem significativa as brincadeiras e os jogos, no contexto escolar, podem ser
utilizados como entretenimento e diversão e para o desenvolvimento de determinadas
habilidades e competências.

A inserção de jogos e brincadeiras que proporcionam o contato com a linguagem oral e


escrita na educação infantil não visa a alfabetização precoce mas sim poder oportunizar às
crianças que aprendam sobre as palavras nos momentos da brincadeira.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os jogos e brincadeiras são importantes ferramentas que
auxiliam no processo de aprendizagem lúdica na educação,
durante o jogo, a criança toma decisões, resolve seus
conflitos, vence desafios, descobre novas alternativas e cria
novas possibilidades, além disso, proporcionam a imaginação
às crianças no qual elas são capazes de criar situações e
lidar com dificuldades e medos, reproduzindo situações que
refletem o meio em que vivem.

O brincar é atividade própria da criança, sua forma


de estar diante do mundo social e físico e interagir com
ele, na brincadeira a criança estabelece relações com os
demais parceiros e constrói conhecimento e cultura. Com a LUCIANA
brincadeira a criança se desenvolve e passa a compreender DONATO OLIVEIRA
o mundo que a cerca, por meio das relações que estabelece
Graduação em Pedagogia pela
ao brincar. Universidade Metropolitana de Santos
(2014); Especialista em Formação Docente
Conclui-se que quando a criança brinca de ler, desenvolve pela Faculdade de Ciências e Tecnologia
habilidades e aprende a refletir sobre a língua, familiarizando- Paulistana (2018); Professora de Educação
se com os textos literários, ampliando o repertório textual e Infantil e Ensino Fundamental I - na EMEI
apropriando-se da linguagem escrita e oral. Todos os jogos Felipe Mestre Jou.
incentivam as funções motoras e devem ser oferecidos à
criança em forma de brincadeira, a escola deve pensar que
as atividades lúdicas oferecem à criança uma melhora na sua
aprendizagem e no seu desenvolvimento psicomotor.

A educação compreende que o brincar e o jogar favorecem


o desenvolvimento de habilidades físicas, cognitivas, sociais
e afetivas. Dentre elas: a criatividade, o raciocínio lógico, a
representação simbólica, o planejamento, a capacidade de
respeitar regras, de considerar diversos pontos de vista e
de criar vínculos consistentes, aspectos que encorajam a
autonomia e são necessários para que a criança, gradualmente,
entenda a si própria, sua cultura, sua importância na vida dos
outros e futuramente na sociedade.

1340
Revista Educar FCE - Março 2019

Quando pensamos em Ludicidade na sala de aula, podemos afirmar que se trata de


educar com prazer e alegria e a postura do educador é um fator determinante para que
a aula aconteça de forma lúdica. Essa forma de trabalho é a base da aprendizagem, tanto
na educação infantil como nos anos iniciais do ensino fundamental e as atividades devem
despertar a atenção e motivar o aluno.

1341
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Curitiba, PR: CRV, 2011.

1343
Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA
COMO MÉTODO DE ENSINO E
APRENDIZAGEM
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo conscientizar a importância da música como
método de ensino e aprendizagem, buscando o desenvolvimento e a integração do ser nas
áreas cognitiva, afetiva e social. A finalidade deste estudo é demonstrar que a música não
é somente uma associação de sons e palavras, mas sim, um rico instrumento facilitador do
processo de aprendizagem que pode dinamizar as instituições de ensino, pois ela desperta o
indivíduo para um mundo prazeroso e satisfatório, envolvendo a mente e o corpo, facilitando
a aprendizagem e o desenvolvimento do educando, que é o sujeito principal deste estudo.

Palavras-Chave: Educação; Distância; Acesso; Legislação; Democratização.

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INTRODUÇÃO Vale salientar que as dimensões se


estruturam, no fator sócio histórico que é
O trabalho aqui apresentado abordará a constituído de condicionantes culturais.
interação Professor-Aluno na aprendizagem Neste contexto será abordado o diálogo,
sob os enfoques literários, psicológicos, sócio condicionante fundamental para uma boa
históricos e afetivos, buscando compreender interação entre o professor e o aluno.
suas influências na aprendizagem do ensino
fundamental, já que, a educação é uma Segundo Paulo Freire (1967 p. 66):
atividade sócio-política na qual consiste a
relação entre sujeito: Professor e aluno na “[...] o diálogo é uma relação horizontal. Nutre-se
sociedade. de amor, humildade, esperança, fé e confiança”.

Para que se entenda a dimensão desta Na fala de Freire, percebe-se o vínculo


relação faz-se necessário conceituar entre o diálogo e o fator afetivo que norteará
Interação: Processo interpessoal pelo a virtude primordial do diálogo, o respeito aos
quais indivíduos em contato modificam educandos não somente como receptores,
temporariamente seus comportamentos uns mas enquanto indivíduos.
em relação aos outros, por uma estimulação
recíproca contínua. A interação social é o As relações afetivas que o aluno estabelece
modo comportamental fundamental em com os colegas e professores são grande valor
grupo. (DICIONÁRIO DE PSICOLOGIA, p. na educação, pois a afetividade constitui a
439). base de todas as reações da pessoa diante
da vida.
Na interação Professor-Aluno, a escola
enquanto instituição educativa desempenha Sabendo que as dificuldades afetivas
um papel fundamental, sendo palco das provocam desadaptações sociais e escolares,
diversas situações que propiciam esta bem como perturbações no comportamento,
interação principalmente no que tange sua o cuidado com a educação afetiva deve
dimensão socializante, a qual prepara o caminhar lado a lado com a educação
indivíduo para a convivência em grupo e em intelectual.
sociedade.
A presente pesquisa buscará conhecer a
Assim, também é função da escola teoria acima descrita que poderá contribuir
a dimensão epistêmica, onde ocorre a a uma boa convivência no interior das
apropriação de conhecimentos acumulados, instituições educativas onde ocorrem, antes
bem como a qualificação para o trabalho, de tudo, um contato humano entre pessoas
dimensão profissionalizante. que pensam e agem e têm, sobretudo,
sentimentos. É preciso respeitar o outro no

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Revista Educar FCE - Março 2019

seu modo de ser e assim, garantir um bom em ambientes com pessoas que não tiveram
relacionamento, possibilitando um clima de uma boa formação escolar, sua linguagem
confiança. terá muitas falhas. O estudante carente usa
uma linguagem pobre em vocabulário e em
sua estruturação. Seus colegas de famílias de
O ESPAÇO DA ESCOLA melhor posição social, que cresceram entre
pessoas com algum grau de instrução, teriam
O perfil da educação brasileira apresentou domínio de um proveitoso vocabulário.
significativas mudanças nas últimas décadas.
O desempenho dos alunos remete-nos à COLL (1996:95) afirma que:
necessidade de considerarem a formação do
professor, como sendo requisito fundamental “Os alunos formam seu próprio conhecimento
para a melhoria dos índices de aprovação, por diferentes meios: por sua participação
repetência e evasão do ensino. em experiências diversas, por exploração
sistemática do meio físico ou social, ao escutar
atentamente um relato ou uma exposição feita
As expectativas do professor sobre o
por alguém sobre um determinado tema, ao
desempenho dos alunos podem funcionar
assistir um programa de televisão, ao ler um livro,
como uma “suposição de autorrealização”.
ao observar os demais e os objetos com certa
Isto é: o aluno de quem o professor espera
curiosidade e ao aprender conteúdos escolares
menos é o que realiza menos, ao passo propostos por seu professor na escola”.
que aqueles de quem se espera um bom
desempenho acabam, na realidade, por Os regulamentos e exigências escolares
apresentá-lo. Assim, as taxas de evasão também são vistos como causas dos
evidenciam a baixa qualidade do ensino e a problemas que a educação enfrenta. Logo
incapacidade dos sistemas educacionais e das de início há uma extrema falta de vagas, a
escolas de garantir a permanência do aluno, escola tem uma localização que dificulta
penalizando os alunos de nível de renda mais o trajeto de ida e volta dos alunos. Depois
baixos. Exatamente por fazerem parte de temos os horários estabelecidos pelas
famílias desprovidas de recursos, as crianças escolas, que são muito criticados por não
não têm acesso ao mínimo de informações atenderem a realidade da população. Outro
culturais no lar, e por isso, chegam à escola fator que dificulta a permanência e o bom
em situação de inferioridade em relação à desempenho dos alunos na escola são, as
maioria dos estudantes de classes mais altas. despesas com materiais exigidos pela escola
como: uniforme, livros, taxas, etc..., Isso
Uma criança que faça parte de uma família porque na maioria dos casos, os pais não
de poucos recursos, sua alimentação será podem comprar o que a escola exige.
deficiente e, por isso, seu desenvolvimento
físico e sua saúde serão deficientes. Por viver

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Revista Educar FCE - Março 2019

Todos esses regulamentos não são é obrigatório, sem levar em conta o que a
problemas para as crianças de classe média, criança está fazendo ou qual é a sua vontade
cujos pais são bem empregados. No entanto, no momento.
para as crianças de famílias pobres, estas
exigências representam grandes dificuldades Há, por parte do professor, uma vigilância
e obstáculos para conseguir aprovação na constante e ameaças, gerando um clima
escola. de tensão entre as crianças, por estarem
sempre antecipando as consequências de
A família é colocada como principal seus “maus atos”: o aluno corre o rico de ficar
responsável pelo fracasso dos alunos, não sem recreio, de ser retirado após as aulas,
sendo questionadas, as condições materiais além de outras ameaças de castigo. Quem é
de vida dessas famílias, nem sua participação “bem-comportado” recebe recompensas e é
nas relações sociais de produção que são o apresentado como modelo aos colegas.
que determinam, em última instância, as
possibilidades de assistência aos filhos. “Mas os tempos mudaram e mudaram muito.
Essas conclusões ideológicas eximem os Hoje, uma suspensão transformou-se num
professores de observar sua própria atuação prêmio, seja ela de um dia ou mais. Algumas
no contexto escolar, sua participação na escolas, mesmo mantendo o sistema de
suspensão, são mais esclarecidas, suspendem
seletividade e, principalmente, a função
os alunos de suas atividades didáticas e
da escola como reprodutora da sociedade
recreativas, mantendo-o em seu recinto através
desigual na qual se insere.
da organização de trabalhos nas bibliotecas ou
coordenações, e aproveitam para encaminhá-lo
“A escola não pode ser propriedade de um
aos serviços de orientação educacional. Nesses
partido; e o mestre faltará em seus deveres
casos, o prêmio não é tão grande”. WERNECK
quando empregue a autoridade de que dispõe
(1999:60)
para atrair seus alunos à rotina de seus
preconceitos pessoais, por mais justificados que A atitude do professor em sala de aula é
lhes pareçam”. DURKHEIM (1978:49)
importante para criar climas de atenção e
concentração, sem que se perca a alegria. As
Em várias salas de aula nota-se a exigência aulas tanto podem inibir o aluno quanto fazer
constante de disciplina, o estabelecimento que atue de maneira indisciplinada. Portanto,
de uma relação autoritária entre o professor o papel do professor é o de mediador e
e seus alunos, o trabalho obrigatório e facilitador; que interage com os alunos na
repetitivo. Um dos meios de controlar a construção do saber. Neste sentido, é muito
disciplina é a divisão do tempo. Há hora importante ajudar os professores a saberem
determinada para entrar, sair, para o recreio, ensinar, garantindo assim que todos os
a merenda, para tomar água, para ir ao alunos possam aprender e desenvolver seu
banheiro, etc. O cumprimento do horário raciocínio.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Alguns professores sentem que seu mais elevada finalidade: permitir o aluno a
relacionamento com os alunos determina o chegar ao conhecimento.
clima emocional da sala de aula. Esse clima
poderá ser positivo, de apoio ao aluno, Nesse contexto, a qualidade de atuação
quando o relacionamento é afetuoso, cordial. da escola não pode depender somente
Neste caso, o aluno sente segurança, não da vontade de um ou outro professor. É
teme a crítica e a censura do professor. Seu preciso a participação conjunta da escola, da
nível de ansiedade mantém-se baixo e ele família, do aluno e dos profissionais ligados
pode trabalhar descontraído, criar, render à educação, assim como, o professor deve
mais intelectualmente. Porém, se o aluno reorganizar suas idéias e reconhecer que o
teme constantemente a crítica e a censura aluno não é um sujeito que só faz receber
do professor, se o relacionamento entre informações, suas capacidades vão além do
eles é permeado de hostilidade e contraste, conhecimento que lhes é “depositado”. Para
a atmosfera da sala de aula é negativa. tanto, o professor não mais será o “dono do
Neste caso, há o aumento da ansiedade do saber” e passará a ser um orientador, alguém
aluno, com repercussões físicas, diminuindo que acompanha e participa do processo de
sua capacidade de percepção, raciocínio e construção de novas aprendizagens.
criatividade.
Como bem destaca CECCON (1998),
Se a aprendizagem, em sala de aula, para que a sociedade possa mudar é preciso
for uma experiência de sucesso, o aluno que nós provoquemos mudanças de forma
constrói uma representação de si mesmo significativa para o indivíduo. Entende-se,
como alguém capaz. Se ao contrário, for uma portanto, que as escolas devem comparar
experiência de fracasso, o ato de aprender sua relação com a comunidade e ainda, criar
tenderá a se transformar em ameaça. O um clima favorável ao aprendizado, onde
aluno ao se considerar fracassado, vai buscar a contribuição e o compromisso são peças
os culpados pelo seu conceito negativo e fundamentais para obtermos a verdadeira
começa achar que o professor é chato e que escola, isto é, uma escola democrática, onde
as lições não servem para nada. todos tenham acesso a coletividade.

Procura-se, portanto, romper as diferenças “Somente uma outra maneira de agir e de pensar
de professor e aluno consagrados pela escola pode levar-nos a viver uma outra educação que
tradicional. Os papéis tradicionalmente não seja mais o monopólio da instituição escolar
desempenhados pelo professor que é o de e de seus professores, mas sim uma atividade
permanente, assumida por todos os membros
ensinar, transmitir e dominar e pelo aluno
de cada comunidade e associada de todas as
que é o de aprender, receber passivamente
dimensões da vida cotidiana de seus membros”.
e obedecer devem ser mudados. Só assim a
FREIRE (1980:117)
escola poderá efetivamente atender a sua

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Revista Educar FCE - Março 2019

RESGATANDO A HISTÓRIA DA e a vinda da Família Real para o Brasil-Colônia,


EDUCAÇÃO NO BRASIL a educação e a cultura tomariam um novo
impulso, com o surgimento de instituições
A História da Educação no Brasil é o culturais e científicas, de ensino técnico e
estudo da evolução da educação do ensino, dos primeiros cursos superiores (como os de
da instrução e das práticas pedagógicas no Medicina nos Estados do Rio de Janeiro e da
Brasil. Evolui em rupturas marcantes e fáceis Bahia).
de serem observadas.
Todavia, a obra educacional de D. João
A história da educação no Brasil começa VI, meritória em muitos aspectos, voltou-
em 1549 com a chegada dos primeiros padres se para as necessidades imediatas da Corte
jesuítas, inaugurando uma fase que haveria Portuguesa no Brasil. As aulas e cursos
de deixar marcas profundas na cultura e criados, em diversos setores, tiveram
civilização do País. Movidos por intenso o objetivo de preencher demandas de
sentimento religioso de propagação da fé formação profissional.
cristã, durante mais de 200 anos, os jesuítas
foram praticamente os únicos educadores Esta característica haveria de ter uma
do Brasil. enorme influência na evolução da educação
superior brasileira. Acrescente-se, ainda, que
Embora tivessem fundado inúmeras a política educacional de D. João VI, na medida
escolas de ler, contar e escrever, a prioridade em que procurou, de modo geral, concentrar-
dos jesuítas foi sempre a escola secundária, se nas demandas da Corte, deu continuidade
grau do ensino onde eles organizaram uma à marginalização do ensino primário.
rede de colégios de reconhecida qualidade,
alguns dos quais chegaram mesmo a oferecer Com a Independência do País, conquistada
modalidades de estudos equivalentes ao em 1822, algumas mudanças no panorama
nível superior. sócio-político e econômico pareciam
esboçar-se, inclusive em termos de política
Em 1759, os jesuítas foram expulsos de educacional. De fato, na Constituinte de
Portugal e de suas colônias, abrindo um 1823, pela primeira vez se associa sufrágio
enorme vazio que não seria preenchido nas universal e educação popular - uma como
décadas subsequentes. As medidas tomadas base do outro. Também é debatida a criação
pelo Ministro de D. José I - o Marquês de de universidades no Brasil, com várias
Pombal - sobretudo a instituição do Subsídio propostas apresentadas.
Literário, imposto criado para financiar o
ensino primário, não surtiram nenhum efeito. Como resultado desse movimento de
Só no começo do século seguinte, em 1808, idéias, surge o compromisso do Império,
com a mudança da sede do Reino de Portugal na Constituição de 1824, em assegurar

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Revista Educar FCE - Março 2019

“instrução primária e gratuita a todos os Na década de 1920, devido mesmo ao


cidadãos”, confirmado logo depois pela Lei panorama econômico-cultural e político que
de 15 de outubro de 1827, que determinou se delineou após a Primeira Grande Guerra,
a criação de escolas de primeiras letras em o Brasil começa a se repensar. Em diversos
todas as cidades, vilas e vilarejos, envolvendo setores sociais, mudanças são debatidas e
as três instâncias do Poder Público. Teria anunciadas. O setor educacional participa do
sido a “Lei Áurea” da educação básica, caso movimento de renovação. Inúmeras reformas
tivesse sido implementada. do ensino primário são feitas em âmbito
estadual. Surge a primeira grande geração
Da mesma forma, a idéia de fundação de educadores - Anísio Teixeira, Fernando
de universidades não prosperou, surgindo de Azevedo, Lourenço Filho, Almeida Júnior,
em seu lugar os cursos jurídicos em São entre outros, que lidera o movimento, tenta
Paulo e Olinda, em 1827, fortalecendo o implantar no Brasil os ideais da Escola Nova
sentido profissional e utilitário da política e divulga o Manifesto dos Pioneiros em
iniciada por D. João VI. Além disso, alguns 1932, documento histórico que sintetiza os
anos depois da promulgação do Ato pontos centrais desse movimento de idéias,
Adicional de 1834, delegando às províncias redefinindo o papel do Estado em matéria
a prerrogativa de legislar sobre a educação educacional.
primária, comprometeu em definitivo o
futuro da educação básica, pois possibilitou Surgem nesse período, as primeiras
que o governo central se afastasse da Universidades Brasileiras, do Rio de
responsabilidade de assegurar educação Janeiro-(1920), Minas Gerais-(1927),
elementar para todos. Assim, a ausência de Porto Alegre-(1934) e Universidade de
um centro de unidade e ação, indispensável, São Paulo-(1934). Esta última constitui o
face às características de formação cultural e primeiro projeto consistente de universidade
política do País, acabaria por comprometer a no Brasil, daria início a uma trajetória cultural
política imperial de educação. e científica sem precedentes.

A descentralização da educação básica, A Constituição promulgada após a


instituída em 1834, foi mantida pela Revolução de 1930, em 1934, consigna
República, impedindo o Governo Central de avanços significativos na área educacional,
assumir posição estratégica de formulação e incorporando muito do que havia sido
coordenação da política de universalização debatido em anos anteriores. No entanto, em
do ensino fundamental, a exemplo do que 1937, instaura-se o Estado Novo outorgando
então se passava nas nações europeias, nos ao País uma Constituição autoritária,
Estados Unidos e no Japão. Em decorrência, registrando-se em decorrência um grande
se ampliaria ainda mais a distância entre as retrocesso.
elites do País e as camadas sociais populares.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Após a queda do Estado Novo, em Neste período, do fim do Regime Militar


1945, muitos dos ideais são retomados aos dias de hoje, a fase politicamente
e consubstanciados no Projeto de Lei de marcante na educação, foi o trabalho do
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, economista e Ministro da Educação Paulo
enviado ao Congresso Nacional em 1948 Renato de Souza. Logo no início de sua
que, após difícil trajetória, foi finalmente gestão, através de uma Medida Provisória
aprovado em 1961 (Lei nº 4024). extinguiu o Conselho Federal de Educação
e criou o Conselho Nacional de Educação,
No período que vai da queda do Estado vinculado ao Ministério da Educação e
Novo, em 1945, até a Revolução de 1964, Cultura. Esta mudança tornou o Conselho
quando se inaugura um novo período menos burocrático e mais político.
autoritário, o sistema educacional brasileira
passará por mudanças significativas, Mesmo que possamos não concordar
destacando-se entre elas o surgimento, com a forma como foram executados alguns
em 1951, da atual Fundação CAPES programas, temos que reconhecer que,
(Coordenação do Aperfeiçoamento do em toda a História da Educação no Brasil,
Pessoal do Ensino Superior), a instalação do contada a partir do descobrimento, jamais
Conselho Federal de Educação, em 1961, houve execução de tantos projetos na área
campanhas e movimentos de alfabetização da educação numa só administração.
de adultos, além da expansão do ensino
primário e superior. Na fase que precedeu a Até os dias de hoje muito tem se mexido no
aprovação da LDB/61, ocorreu um admirável planejamento educacional, mas a educação
movimento em defesa da escola pública, continua a ter as mesmas características
universal e gratuita. impostas em todos os países do mundo,
que é mais o de manter o “status quo”, para
O movimento de 1964 interrompe essa aqueles que frequentam os bancos escolares,
tendência. Em 1969 e 1971, são aprovadas e menos de oferecer conhecimentos básicos,
respectivamente a Lei 5540/68 e 5692/71, para serem aproveitados pelos estudantes
introduzindo mudanças significativas na em suas vidas práticas.
estrutura do ensino superior e do ensino
de 1º e 2º graus, cujos diplomas estão
basicamente em vigor até os dias atuais. O SISTEMA EDUCACIONAL
E A ESCOLA
A Constituição de 1988, promulgada após
amplomovimentopelaredemocratizaçãodoPaís, A atual estrutura e funcionamento da
procurou introduzir inovações e compromissos, educação brasileira decorre da aprovação da
com destaque para a universalização do ensino Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei
fundamental e erradicação do analfabetismo. n.º 9.394/96), que, por sua vez, vincula-se

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Revista Educar FCE - Março 2019

às diretrizes gerais da Constituição Federal cadeiras mais apropriadas para a educação


de 1988, bem como às respectivas Emendas infantil, que mal cabem suas pernas, pátios
Constitucionais em vigor. pequenos e sem cobertura, sem refeitório,
quadras esportivas sem cobertura, isso
Para Oliveira (2005) o sistema educacional quando elas existem, pois nem toda escola
geralmente impõe padrões de conduta que as conta com essa melhoria.
escolas devem seguir. Esses padrões, muitas
vezes, são fora da realidade particular de A própria organização do tempo escolar é
cada escola, o que gera tensão, desmotivação desmotivadora. Horários rígidos, atividades
e incapacidade de realizar a contento o repetitivas, o intervalo fracionado, quando
trabalho pretendido. uns estão no pátio, outros estão estudando,
dependendo da logística do prédio escolar
A educação básica tem por finalidade torna-se impossível qualquer aproveitamento
desenvolver o educando, assegurar-lhe pedagógico, pois o trânsito e o barulho de
a formação comum indispensável para o alunos nos corredores e no pátio atrapalham
exercício da cidadania e fornecer-lhe meios e causam ansiedade e indisciplina nos que
para progredir no trabalho e em estudos ainda estão em sala.
posteriores (art. 22). Ela pode ser oferecida
no ensino regular e nas modalidades de As próprias relações entre seus membros se
educação de jovens e adultos, educação dão de cima para baixo; alunos que obedecem
especial e educação profissional, sendo ao professor que obedece ao coordenador,
que esta última pode ser também uma que obedece ao diretor, que obedece à
modalidade da educação superior. secretaria de estado e assim por diante.
Isso acaba por gerar descontentamento,
Turmas numerosas, faltas de condições que inconscientemente, ou não, reflete nas
materiais, estrutura física inadequada, falta relações em sala de aula.
de recursos financeiros. Com o crescente
aumento da oferta de vagas nas escolas Sendo assim o comportamento
públicas para o ensino fundamental e médio, indisciplinar não é simplesmente uma ação,
não houve uma estruturação adequada que mas uma reação aos fatores externos ao
acompanhasse esse crescimento. aluno.

Observando nossas escolas em seu A Lei de Diretrizes e Bases da Educação


cotidiano, nos deparamos corriqueiramente Nacional define para a educação básica,
com situações aceitas pacificamente como: nos níveis fundamental e médio, a carga
salas inadequadas, com iluminação deficiente, horária mínima anual de oitocentas horas,
carteiras e cadeiras sem conforto, sucatadas, distribuídas por um mínimo de duzentos dias
alunos de 7ª e 8ª séries, por exemplo, em letivos de efetivo trabalho escolar, excluído

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Revista Educar FCE - Março 2019

o tempo reservado para os exames finais; para a educação superior, o ano letivo regular tem
a duração de, no mínimo, duzentos dias de efetivo trabalho acadêmico, também excluído o
tempo destinado aos exames finais.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É preciso considerar o fato de que o professor, quando
se torna comprometido com o aluno e com uma educação
de qualidade, fazendo do aluno alvo do processo ensino-
aprendizagem, e cumprindo seu papel de orientador e
facilitador do processo, legitima assim a teoria de uma
facilitação da aprendizagem, através da interação entre
sujeitos, ultrapassando, desse modo, a mera condição de
ensinar.

No entanto, muitos fatores levam a questionar se esta


prática educativa vem realmente acontecendo de maneira
satisfatória nas instituições. Muitas vezes, as relações entre
os sujeitos acabam por se contrapor, seja por motivos LUCILENE DACIULIS
econômicos, sociais, políticos ou ideológicos, demonstrando CAETANO
falhas no cotidiano e lar, bem como limitações quanto
Licenciada em Pedagogia pela Unicid em
à aquisição do conhecimento no processo ensino- 2004. Professora de Educação Infantil e
aprendizagem. Fundamental I na rede pública estadual e
municipal de São Paulo.
Na realidade, a prática docente tem uma parcela não só
significativa na relação professor e aluno, mas quase que
definitiva em todo o processo. A arrogância didática do
detentor do saber e a “segurança” que o mesmo tem de que
seu poder, seu conhecimento ilimitado são suficientes, pode
produzir um aprendizado equivocado e covarde, uma vez
que este acredita que a culpa é somente do aluno quando os
resultados não condizem com as suas expectativas.

Com toda essa mínima produtividade, o que ocorre é a


morte da criatividade, reproduzindo assim o que já existe.

Certamente, a simples mudança de paradigmas não garante


de forma alguma uma mudança de concepção pedagógica, ou
seja, de prática escolar. A superação de valores tidos como
indispensáveis hoje, apesar de ultrapassados, já não são
suficientes para os avanços necessários na prática docente.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Para o educador, o ensinar deve ser uma arte, uma ciência e um conjunto de técnicas
que são utilizadas para se alcançar um objetivo. Através de alguns subsídios, toma-se fácil
conduzir o processo de aprender a raciocinar, a refletir e usar a própria criatividade. No
momento em que o educador preocupa-se em educar com arte, toma-se comprometido com
o aluno e com uma educação de qualidade, fazendo do aluno um alvo do processo ensino-
aprendizagem e cumprindo seu papel de orientador no processo.

De fato, a teoria legitima a prática, embora esta, sem o constante aprofundamento teórico,
perca rapidamente sua consistência. Atualmente, o questionamento para a melhoria gira
em tomo de cursos de capacitação, materiais didáticos, melhores condições de trabalho e
remuneração. Felizmente, ainda existem professores que faz do ensino um ideal e lutam
para ajudar a construir um mundo melhor, onde se tenha acesso a uma educação digna e
extensiva a todos, sem fome emocional, educacional e física, sem drogas e sem miséria.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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1357
Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

A LITERATURA INFANTIL E A
FORMAÇÃO DE LEITORES
RESUMO: Este artigo tem como objetivo analisar teoricamente o papel da Literatura Infantil
na formação de leitores, e o papel dos contos de fadas pelo encantamento que os mesmos
proporcionam. É por meio da leitura literária, que os professores têm grande chance de
formar leitores competentes e críticos.

Palavras-Chave: Literatura Infantil; Leitura; Contos de Fadas; Leitores.

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INTRODUÇÃO A literatura infantil deve ser mostrada


de uma forma prazerosa, que divirta e
A literatura infantil ainda é por muitos emocione. Que leve a criança a imaginar, ou
considerada como literatura de menor valor, seja, a ingressar no mundo do maravilhoso. A
tendo uma condição marginal em relação a leitura deve ser sinônimo de espontaneidade,
outras literaturas. Era encarada pela crítica liberdade e prazer. Para isso, o professor
como um gênero secundário equiparada ao deve deixar o aluno escolher o livro de
brinquedo para manter a criança entretida e seu interesse ou pelo menos palpitar, não
quieta. negando, a ele, a liberdade de divergir.

Sabemos que um dos principais papéis


da literatura infantil é divertir e formar A ORIGEM DA LITERATURA
leitores. Mas a forma que a literatura é INFANTIL NO BRASIL
imposta na escola, em vez de conquistar,
termina afastando a criança da literatura. Desde sua origem a literatura tem como
Que o excesso do pedagógico não produz função desenvolver as mentes, expandir as
conhecimento e estigmatiza a criança tirando emoções, paixões, desejos, sentimentos,
dela inúmeras possibilidades de construir têm a oportunidade de ampliar, transformar
reflexões a partir de sua criatividade e ou enriquecer sua experiência de vida.
também não desenvolvendo o gosto pela
leitura. Cada época apresentou a literatura à sua
maneira. Conhecer a literatura que cada
O objetivo geral deste artigo é dissertar a época dedicou às suas crianças é uma forma
respeito da importância da literatura infantil de entender os valores e ideais em que cada
para despertar a imaginação e desenvolver sociedade se baseou.
o hábito da leitura que permitirá à criança
o desenvolvimento integral, ampliando sua A literatura infantil brasileira apareceu
leitura de mundo e a leitura de si mesma. tardiamente, pouco antes da virada para o
século XX, permanecendo por muito tempo
Como objetivos específicos, serão sob o domínio cultural europeu. Por isso,
apresentados alguns elementos referentes nossa literatura tem contribuições européia,
ao papel do professor frente ao desafio do africana e indígena e da literatura oral
trabalho com a literatura infantil no contexto trazida pelos primeiros colonizadores. A elas
escolar e aspectos correspondentes ao se somaram as histórias das escravas negras,
processo histórico que deu origem à literatura que andavam de engenho em engenho
infantil no Brasil. transmitindo às outras negras, amas dos
meninos brancos. O contato com a cultura
indígena trouxe inúmeros elementos que

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Revista Educar FCE - Março 2019

vieram enriquecer esse imaginário: figuras fantasia, realidade cotidiana, realidade


como a Iara, o Minhocão, o Matitaperê e histórica, realidade mítica e realismo
muito mais. Na Europa percebe-se que o maravilhoso. Já Cecília Meireles e Clarice
folclore foi de suma importância na formação Lispector, inspiradas pelas obras de Lobato,
de narrativas infantis. Já no Brasil havia um contribuíram para um novo olhar sobre
repertório popular, porém não havia avanço a literatura infantil. Na mesma linha que
nos escritos infantis. Lobato, elas escrevem voltado para o diálogo
com a criança.
Com Monteiro Lobato nasce a literatura
infantil genuinamente brasileira. Seus textos A literatura infantil vem seguindo várias
retratam a realidade social do período, com tendências de produção. E durante esse
seus personagens contemporâneos. Mas período várias discussões surgiram como:
a literatura para criança era tratada como a quem pertenceria a literatura infantil, à
literatura escolar. Monteiro Lobato consagra arte literária? Ou à área pedagógica? São
a literatura infantil brasileira rompendo polêmicas que vêm de longe, pondo-se em
com conceitos maniqueístas: certo e questão a finalidade da literatura destinada
errado, bom e mau. O caráter didático e às crianças.
moralizante vai dando lugar a uma literatura
autêntica, passando a dar ênfase ao uso de Constata-se que o gênero infantil vem, ao
onomatopeias e de neologismos, que são longo do tempo, passando por transformações
presença constante em seus textos. oriundas do aparecimento de um bom
número de novos autores e muitos livros
Seu sucesso irrestrito entre os pequenos leitores para a criança. Este aparecimento não nos
decorreu, sem dúvida, de um fator decisivo: garante boa qualidade literária. Esperamos
eles se sentiam identificados com as situações que o aumento da produção de uma literatura
narradas; sentiam-se à vontade dentro de uma destinada às crianças implicará, também,
situação familiar e afetiva, que era subitamente
em maior preocupação com a qualidade,
penetrada pelo maravilhoso ou pelo mágico,
refletindo assim no aparecimento de novos
com a mais absoluta naturalidade. [...] Monteiro
leitores.
Lobato o fazia no Brasil dos anos 20: fundia o
Real e o Maravilhoso em uma única realidade.
(COELHO, 1991 p. 227)
A LITERATURA INFANTIL
Muitos escritores, como Graciliano E SUAS IMPLICAÇÕES
Ramos, Viriato Corrêa, Érico Veríssimo e
outros também se dedicaram à produção de PEDAGÓGICAS
texto infantil, mas sem darem continuidade Um dos grandes questionamentos que
à linha de Monteiro Lobato. Direcionaram- envolvem a literatura infantil é se ela é
se a diferentes tipos de narrativas: de pura didática ou lúdica e qual seria sua finalidade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Segundo Zilberman (1982, p. 22) a relação apresentam qualidades de formação humana


entre a literatura e a escola tem um aspecto a serem descobertas pelas crianças.”
comum: a formação do indivíduo.
É necessário que o professor introduza
Para Colomer (2007, p.31), na sua prática pedagógica a literatura de
cunho formativo, para que contribua com
[...] o objetivo da educação literária é, em o crescimento e a identificação pessoal
primeiro lugar, o de contribuir para a formação da criança, propiciando a percepção de
da pessoa, uma formação que aparece ligada diferentes resoluções de problemas,
indissoluvelmente à construção da sociabilidade despertando a criatividade e autonomia
e realizada através da confrontação com textos
necessária na formação da criança. Além
que explicitam a forma em que as gerações
disso, ela pode desenvolver a imaginação,
anteriores e as contemporâneas abordaram
os sentimentos, a emoção através de uma
a avaliação da atividade humana através da
aprendizagem prazerosa.
linguagem.

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais Para isso é primordial que se apresente


(1997, p. 29) encontramos: uma boa obra literária. Obras que apresentam
a realidade de forma nova e criativa,
É importante que o trabalho com o texto literário possibilitando a criança uma formação rica
esteja incorporado às práticas cotidianas da sala em aspectos lúdicos e imaginativos e com
de aula, visto tratar-se de uma forma específica procedimentos pedagógicos adequados,
de conhecimento. Essa variável de constituição levando-a a compreender o texto e seu
da experiência humana possui propriedades
contexto.
compositivas que devem ser mostradas,
discutidas e consideradas quando se trata de
De acordo com o Referencial Curricular
ler as diferentes manifestações colocadas sob a
Nacional (1998, v.3 p. 114), a “oferta de
rubrica geral de texto literário.
textos supostamente mais fáceis e curtos,
para crianças pequenas, pode resultar em
É evidente que o primeiro objetivo da um empobrecimento de possibilidades de
literatura infantil é dar prazer ao leitor, acesso à boa literatura”.
diverti-lo e emocioná-lo. E através deste
prazer estimular a criança a ser um futuro Entendemos que a escola que objetiva a
leitor, a ter consciência crítica e desenvolver formação do leitor, deve ter como princípios
sua expressividade verbal. o ensino da literatura. Para isso, torna-se
inevitável pensar a qualidade do material
Para Meireles (1951, p. 38) “a literatura literário oferecido aos alunos e a formação
infantil não é como tantos supõem um dos professores mediadores da leitura
passatempo, pois, os livros infantis literária.

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O conto de fadas simplifica todas as situações.


Mas a literatura infantil não deve ser feita
(BETTLHEIM, 2002)
essencialmente com intenção pedagógica,
didática ou para incentivar hábito de É nesse sentido que os Contos de Fadas
leitura. A literatura infantil é antes de tudo podem ser decisivos para a formação da
arte. Neste sentido Carvalho (1983, p. 19) criança em relação a si mesma e ao mundo à
escreveu “tirar da criança o encanto da sua volta. Segundo Vieira (2005) “o conto de
fantasia pela arte, particularmente a arte do fadas é um estimulo encorajador na luta da
desenho, da forma, das cores e a literatura vida, em que se valoriza os princípios éticos
(representa todas elas) é sufocar e suprimir na relação com o outro: o mal é denunciado
toda a riqueza do seu mundo interior.” e o bem valorizado.”

Ainda de acordo com os Parâmetros Talvez por esses motivos, na maioria das vezes,
Curriculares Nacionais (1997, p. 29), o conto apresenta um protagonista que precisa
vivenciar, fora de casa, uma série de peripécias,
A literatura não é cópia do real, nem puro contando com a ajuda de fatores mágicos, que
exercício de linguagem, tampouco mera fantasia podem ser animais ou objetos, com os quais
que se asilou dos sentidos do mundo e da enfrentará os obstáculos ou inimigos que se
história dos homens. Se tomada como uma lhes apresentam. Todos os seus atos deverão
maneira particular de compor o conhecimento, culminar no sucesso da empreitada, atingindo
é necessário reconhecer que sua relação com o os objetivos e eliminando o inimigo, ou seja, o
real é indireta. Ou seja, o plano da realidade pode antagonista. (OLIVEIRA, 2008)
ser apropriado e transgredido pelo plano do
Há os que sejam contra aos contos de
imaginário como uma instância concretamente
formulada pela mediação dos signos verbais
fadas e há os que sejam a favor. Os que são
(ou mesmo não verbais conforme algumas contra alegam que os mitos e lendas são
manifestações da poesia contemporânea) mórbidos e violentos, além de apresentarem
soluções mágicas para problemas complexos.
O Maravilhoso sempre foi e sempre será Os que são a favor dos contos de fadas,
um dos elementos mais importantes da acreditam que os valores e verdades dos
literatura infantil. Através do prazer ou das contos mostram a necessidade de lutarmos
emoções que as estórias lhe proporcionam, pelos nossos objetivos.
as tramas das personagens vai agir em seu
consciente, ajudando a resolver os conflitos Há os que condenem os fantásticos contos de
interiores nessa fase da vida. fadas. Fantásticos também é que isso aconteça,
pois não conseguimos entender como é possível
É característico dos contos de fadas colocar um condenar-se inocência e beleza, uma vez que
dilema existencial de forma breve e categórica. as inocentes estórias de Fadas, mesmos com
Isto permite a criança aprender o problema algumas implicações negativas só podem
em sua forma mais essencial, onde uma trama encantar e enriquecer o espírito da criança. E
mais complexa confundiria o assunto para ela. os argumentos apresentados contra os contos

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de fadas são tão fracos de conteúdos, quanto das formas de ler, de perceber, de detalhar, de
pobres de sensibilidade. Assim entendemos. raciocinar, de sentir... o quanto a realidade é um
(CARVALHO, 1983, p. 21) impulsionador (e dos bons!!!) para desencadear
nossas fantasias [...]
Cabe a educação formar consciência
de mundo da criança que deve começar Atualmente surgiu uma nova literatura
desde cedo e um dos meios que podem ser infanto-juvenil que corresponde a uma
usados para orienta-las é o conto de fadas, necessidade do tipo do leitor a que se
já que inconscientemente a criança entra destina, e com a época em que ela está
em contato com a sabedoria humana, e seu vivendo. Esta literatura trata de problemas
mundo interior vai se enriquecendo. Há atuais da realidade como: testemunhar
em cada história uma verdade vital em que o mundo cotidiano, informar costumes e
a virtude é exaltada e o mal é castigado e hábitos e preparar os pequenos leitores para
sem dúvidas podem ser ótimos guias para os enfrentarem problemas sem ilusões.
pequenos aprendizes.
Para Coelho (1987, p. 105), o que hoje
...é preciso lembrar que tais narrativas se define a contemporaneidade de uma
fundamentam em “lições de vida” dadas pela literatura,
sabedoria dos povos, que, desde a origem dos
tempos, vêm constituindo a humanidade em ...é sua intenção de estimular a consciência
continua evolução. (COELHO, 2005) crítica do leitor; levá-lo a desenvolver sua
criatividade latente; dinamizar sua capacidade
A área do maravilhoso, da fábula, dos mitos de observação e reflexão em face do mundo
que o rodeia; e torná-lo consciente da complexa
e das lendas tem linguagem metafórica que
realidade em transformação que é a Sociedade,
se comunica facilmente com o pensamento
onde ele deve atuar, quando chegar a sua vez de
mágico, natural da criança. É por isso que o
participar ativamente do processo em curso.
conto de fadas vive até hoje. Para Abramovich
(2004, p. 120), “é por lidar com conteúdos da
sabedoria popular, com conteúdos essenciais A criança que desde cedo entra em
da condição humana, é que esses contos de contato com a leitura terá uma compreensão
fadas são tão importantes, perpetuando-se maior de si e do outro. Terá a possibilidade
até hoje”. de desenvolver sua criatividade e ampliar os
horizontes da cultura e do conhecimento,
Em virtude do que foi mencionado, ainda percebendo o mundo e a realidade que a
citando Abramovich (2006, p.138) cerca.

Pois é só estarmos atentos ao nosso processo Poucas crianças têm o hábito de ler em
pessoal, às nossas relações com os outros e nosso país. A maioria tem o primeiro contato
com o mundo, à nossa memória e aos nossos com a literatura apenas quando chega à
projetos, para compreender que a fantasia é uma

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Revista Educar FCE - Março 2019

escola. Quando chega ao Ensino Fundamental vira obrigação, pois infelizmente muitos de
nossos professores não gostam de trabalhar com a literatura infantil e talvez desconheçam
técnicas que ajudem a “dar vida às histórias” e que, consequentemente, produzam
conhecimentos ou tenha que cumprir o programa da escola. Muitos não levam em conta o
gosto e a faixa etária em que a criança se encontra, sendo que muitas vezes o livro indicado
ou lido pelo professor está além das possibilidades de compreensão dela em termos de
linguagem.

Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o
início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descobertas
de compreensão de mundo... (ABRAMOVICH, 2006, p.16)

Percebe-se que é comum nas escolas utilizar-se dos livros de literatura, quando a criança
já está alfabetizada, como paradidáticos com uma intencionalidade determinada. Com isso
o paradidático extingue a experiência prazerosa da leitura e se iguala as atividades do livro
didático. Pois livros literários não são livros paradidáticos e devem deixar de ser utilizados
como tal.

Diante dessa circunstância é papel do educador apresentar ao aluno diversos gêneros


literários, para que o aluno tenha um amplo repertório e com isso desperte a curiosidade
pelos misteriosos signos da escrita, desafiando-o, para que ele crie suas próprias hipóteses,
abrindo as portas para o universo da leitura, em que a criança irá livremente adentrar
conduzida por suas preferências.

Desenvolver o hábito pela leitura é um processo constante que começa muito cedo e
continua pela vida. A literatura infanto-juvenil é o caminho que leva a criança ao universo da
leitura de maneira lúdica. Através do seu poder mágico e divertido faz com que a atenção das
crianças se volte a ela. Entretanto, a escola muitas vezes não tem proporcionado aos seus
alunos essa magia e ludicidade da literatura infantil. A leitura não é apresentada à criança de
forma prazerosa, daí vem à má formação de nossos leitores. Consequentemente, teremos
adultos que não sentem prazer pela leitura e nem a adotam como uma prática social.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As reflexões apresentadas neste artigo, permitem-nos
concluir que, para a formação de leitores, é necessário que
o incentivo à leitura vá além do que é oferecido pela escola.
É necessário que haja espaços que ofereçam diversidades
de obras, como bibliotecas públicas, ou outros espaços que
possam tornar a leitura prazerosa.

Lembramos que a Literatura Infantil contribui para a


formação do leitor literário quando a obra literária sugere
indagações ao leitor, estimulando a curiosidade e, instigando
assim, a produção de novos conhecimentos. Há evidências
também que existem equívocos na escolha do material e nos
métodos utilizados pelos educadores no desenvolvimento do LUIZ FERNANDO
trabalho com leitura. E que estas verificações problemáticas NOGUEIRA OLIVEIRA
exigem a ampliação da compreensão da natureza específica
Graduação em Letras pela UNESP (2003);
da literatura na escola por parte dos educadores. Graduação em Pedagogia pela UNIBAN.
(2007); Supervisor Escolar na Prefeitura
de São Paulo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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ZILBERMAN, Regina. A Literatura Infantil na Escola. São Paulo. Global Editora: 1982.

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

FORMAÇÃO, PRÁTICA E
PROFISSÃO DOCENTE
RESUMO: Por um longo período prevaleceu no âmbito das Instituições de Ensino que
para se capacitar um bom professor neste nível, necessário seria dispor de comunicação
fluente e vasto conhecimentos relacionados à disciplina que pretendesse lecionar. A
justificativa dessa afirmação fundamenta-se no fato de o corpo discente das escolas serem
constituído por adultos, diferentemente do corpo discente do ensino básico, constituído por
crianças e adolescentes. A metodologia utilizada para esta Pesquisa de caráter Bibliográfico
Qualitativo tem por finalidade fazer uma análise para ressignificar a prática docente. Existe a
necessidade de uma formação continuada com base nos cursos de formação de professores
que devem propiciar um espaço de trabalho, de reflexão e de orientação tendo presente as
novas tecnologias de informação e comunicação na Educação, dentro de uma perspectiva
de revalorizar e ressignificar a atividade docente, considerando o papel do professor
imprescindível no pro-cesso de ensino-aprendizagem.

Palavras-Chave: Didática; Docência; Prática Docente; Formação.

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INTRODUÇÃO A nossa proposta é enfatizar e efetuar


a pesquisa sobre o assunto pro-posto no
A profissão docente é permeada por referido trabalho, uma vez que precisamos
inúmeras dificuldades encontradas no dia- ter a consciência do papel do professor e
a-dia da sala de aula. Quando falamos em a importância da didática em suas práticas
formação de professores nos referimos pedagógicas, assim como ter a consciência de
às Licenciaturas em que estudos na área que os alunos nos dias atuais são “críticos” e
demonstram que os Cur-sos, em sua maioria, pos-suem uma visão “holística” de tudo que
são noturnos, em finais de semana, ou até é apresentado em sala de aula, uma vez, que
mesmo à dis-tância, como foi ressaltado por somente na prática é que realmente tem-se
Freitas em reportagem à Revista Nova Escola condições de verificar e perceber que os
(NOVA ESCOLA, 2007, Nº 16). professores estão a cada momento sendo
“avaliados e analisados” pelos alunos.
A Docência exige preparo, atenção e
dedicação. Formação esta que muitas vezes
deixa a desejar nos aspectos qualitativos, A DIDÁTICA NA
dificultando a prepara-ção desses FORMAÇÃO DOCENTE
acadêmicos para o exercício de sua profissão,
ser professor, ser e estar em regência em sala O termo didática deriva do grego didaktiké,
de aula. que tem o significado de arte do ensinar.
Seu uso difundiu-se com o aparecimento da
A formação dos professores é um assunto obra de Jan Amos Comenius (1592–1670),
interessante e urge para o avanço no processo Didactica Magna, ou Tratado da arte universal
ensino aprendizagem na qual depende, em de en-sinar tudo a todos, publicada em 1657.
grande parte, da atuação do professor. A Nos dias atuais, nos deparamos com muitas
formação dos professores, seus desafios, definições diferentes de didática, mas quase
seus di-lemas são de suma importância todas apresentam-se co-mo ciência, técnica
quando nos propomos discutir a prática do- ou arte de ensinar.
cente.
Uma definição obtida em dicionário a vê
A formação do professor é fator de se como parte da Pedagogia que trata dos
extrema importância, visto que na sa-la preceitos científicos que orientam a atividade
de aula e as exigências dessa atividade em educativa de modo a torná-la mais eficiente
regência cotidiana. A prática pedagógica (HOUAISS, 2001, p. 22). Com efeito, a
é o corpo de ação do professor, é ela que Pedagogia é reconhecida tradicionalmente
efetiva os objetivos do ensino e fundamenta como a arte e a ciência de ensinar.
a educação como direito do cidadão.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Para Masetto (1977, p. 32), Didática é “o de Pedagogia da “Escola Nova” ou da “Escola


estudo do processo de ensino-aprendizagem Ativa”.
em sala de aula e de seus resultados” e
surge, segundo Libâ-neo (1994), “enquanto A literatura referente a essas tendências
os adultos começam a intervir na atividade é muito extensa e envolve obras de autores
de aprendi-zagem das crianças e jovens como: Ovide Decroly (1871-1973), da
por intermédio da direção deliberada e França, Édouard Clapa-réde (1873-1940),
planejada do ensino, ao contrário das formas da Suíça, de John Dewey (l859-l953), dos
de intervenção mais ou menos espontâ-neas Estados Unidos. Esses movimentos surgiram
de antes” (LIBÂNEO, 1994, p. 58). dentro de um contexto histórico-social que
teve como foco principal o processo de
Até o final do século XIX, a Didática industrialização, com a burguesia industrial
encontrou seus fundamentos qua-se que firmando-se como classe hegemônica e
exclusivamente na Filosofia. Isso pode ser interessada, consequentemente, na difusão
constatado não apenas nos trabalhos de de suas ideias liberais.
Comenius, mas também nos de Jean Jacques
Rousseau (1712-1778), Johann Heinrich O movimento escola novista surgiu como
Pestalozzi (1746-1827), Johann Friedrich uma nova forma de tratar os problemas da
Herbart (1777-1841) e de outros pedagogos educação, procurando fornecer um conjunto
desse período. As obras desses autores, no de princípios ten-dentes a rever as formas
entanto, mostraram-se bastante adiantadas tradicionais de ensino. A Escola Nova
em relação as concepções psi-cológicas pretendia ser um movimento de renovação
dominantes em seu tempo. pedagógica de cunho fundamentalmente
técni-co, que buscava aplicar na prática
A partir do final do século XIX, a Didática educativa os conhecimentos derivados das
passou a buscar fundamentos também nas ciências do comportamento. Com efeito, a
ciências, especialmente na Biologia e na partir da segunda década do século XX, a
Psicologia, graças às pesquisas de cunho Didática passou a seguir os postulados da
experimental. No início do século XX, por Escola Nova.
sua vez, surgi-ram numerosos movimentos
de reforma escolar tanto na Europa quanto Como essa perspectiva afirmava a
na América. Embora diversos entre si, necessidade de partir dos interesses
esses movimentos reconheciam a insufici- espontâneos e naturais da criança, passou-
ência da didática tradicional e aspiravam a se a valorizar os princípios de ati-vidades,
uma educação que levasse mais em conta liberdade e individualização. Abandonou-
os aspectos psicológicos envolvidos no se a visão da criança como um adulto em
processo de ensino. Cos-tuma-se reunir miniatura para centrar-se nela como um ser
essas tendências pedagógicas sob o nome capaz de adaptar-se a cada uma das fases

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Revista Educar FCE - Março 2019

de sua evolução. Assim, do aluno passivo tradicionais e de acreditar ingenuamente


ante os co-nhecimentos transmitidos pelo em sua espontanei-dade. Como as
professor passou-se ao aluno que se auto mudanças introduzidas pela Revolução de
edu-ca ativamente num processo natural, 1930 não foram suficientes para abalar
sustentado pelos interesses e ações significativamente o conservadorismo
concretas de seus colegas. das elites brasi-leiras, a Escola Nova não
conseguiu modificar de maneira significativa
A ideia básica da Escola Nova é a de que o os mé-todos didáticos utilizados nas escolas
aluno aprende melhor por si próprio. A atenção brasileiras. Mas no meio acadêmico uni-
às diferenças individuais e a utilização de versitário, o ensino da Didática continuou
jogos educativos passaram, portanto, a ter até a década de 1950 a privilegiar objetivos,
maior destaque. Dessa forma, a Didática da temas e procedimentos metodológicos de
escola Nova passou a considerar o aluno como inspiração escolanovista.
sujeito da aprendizagem. O que cabe-ria ao
professor seria colocar o aluno em situações No início da década de 1950 até o final
em que fosse mobilizada a sua atividade da década de 1970, o ensino da Didática
global, possibilitando a manifestação de privilegiou métodos e técnicas de ensino
suas atividades verbais, escritas, plásticas com vistas a garantir a efici-ência da
ou de qualquer outro tipo. O centro da aprendizagem dos alunos e a defesa de sua
atividade escolar não seria, portanto, nem neutralidade cientifica. O tecnicismo passou
o professor nem a matéria, mas o aluno a assumir uma posição fundamental no
ativo e investiga-dor. Ao professor caberia discurso educa-cional e consequentemente
sobretudo incentivar, orientar e organizar no ensino da didática.
as situa-ções de aprendizagem, adequando-
as às capacidades e às características in- A didática enfatiza a elaboração de
dividuais dos alunos. planos de ensino, a formulação de objetivos
instrucionais, a seleção de conteúdos,
No Brasil, as ideias da Escola Nova as técnicas de exposição e de condução
tornaram-se conhecidas na década de 1920 de trabalhos em grupo e a utilização de
e foram muito prestigiadas após a Revolução tecnologias a serviço da efi-ciência das
de 1930, graças ao tra-balho de educadores atividades educativas.
como Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira
e Lourenço Filho. Estas ideias, no entanto, A didática passou a ser vista sobretudo
receberam muitas críticas, especialmente como um conjunto de estraté-gias para
dos educadores mais conservadores. proporcionar o alcance dos produtos
educacionais, confundindo-se com a
A Escola Nova foi acusada de não exigir Metodologia de Ensino. Seus propósitos
nada dos alunos, de abrir mão dos conteúdos eram, pois, os de “fornecer subsídios

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Revista Educar FCE - Março 2019

metodológicos aos professores para ensinar sua própria pessoa, em suas qualidades e
bem, sem se perguntar a serviço do que e de habili-dades. Assim, acabam por demonstrar
quem se ensina” (OLIVEIRA, 2003, p. 13). que fazem uma inequívoca opção pelo
ensino.
Essa tendência acentuou-se com a adoção
das políticas de cunho de-senvolvimentista Esses professores percebem-se como
pelo governo militar que se instalou em especialista em determinada área do
1964, que tinha a formação de mão-de-obra conhecimento e cuidam para que seu
como o referencial central da educação. conteúdo seja conhecido pelos alu-nos. A sua
arte é a arte da exposição (LEGRAND, 1976,
p. 63). Seus alunos, por sua vez, recebem a
APRENDIZAGEM E informação, que é transmitida coletivamente.
DOCÊNCIA Demons-tram a receptividade e a assimilação
correta por meio de “deveres”, “tarefas” ou
Uma das principais questões relacionadas “provas individuais”. Suas preocupações
à atuação do professor uni-versitário refere- básicas podem ser expressas por in-dagações
se à relação entre ensino e aprendizagem. como: “Que programa devo seguir?” “Que
Trata-se de um as-sunto bastante polêmico, critério deverei utilizar pa-ra aprovar ou
apesar de alguns autores considerarem-no reprovar os alunos?”
uma fal-sa questão. Para Abreu e Masetto
(1986), uma das mais importantes opções Mas há professores que veem os alunos
feitas pelo professor dá-se entre o ensino como os principais agentes do processo
que ministra ao aluno e a aprendi-zagem que educativos. Preocupam-se em identificar
este adquire. suas aptidões, necessidade e interesses com
vistas a auxiliá-los na coleta das informações
Muitos professores, ao se colocarem à de que neces-sitam no desenvolvimento de
frente de uma classe, tendem a se ver como novas habilidades, na modificação de atitudes
especialistas na disciplina que lecionam a e comportamentos e na busca de novo
um grupo de alunos interessados em assistir significado nas pessoas, nas coisas e nos fatos
a sua as aulas. Dessa forma, as ações que suas atividades estão centradas na figura
desenvol-vem em sala de aula podem ser do aluno, sem suas apti-dões, capacidades,
expressas pelo verbo ensinar ou por correla- expectativas, interesses, possibilidades,
tos, como: instruir, orientar, apontar, guiar, oportunidades e condições para aprender.
dirigir, treinar, formar, amoldar, pre-parar, Atuam, portanto, como facilitadores da
doutrinar e instrumentar. A atividade desses aprendiza-gem, segundo a linguagem
professores, que, na maio-ria das vezes, utilizada por Carl Rogers (1902-1987). Os
reproduz os processos pelos quais passaram educa-dores progressistas, preocupados
ao longo de sua formação, centraliza-se em com uma educação para a mudança, consti-

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Revista Educar FCE - Março 2019

tuem os exemplos mais claros de adoção equívocos. Há professores que exageram o


desta postura. Seus alunos são in-centivados peso a ser atribuído às qualidades pessoais
a expressar suas próprias ideias, a investigar de amizade, carinho, compreensão, amor,
com independência e a procurar os meios tolerância e abnegação e simplesmente
para o seu desenvolvimento individual e incluem a tarefa de ensinar de suas cogitações
social. funcionais. Alicerçados no princípio de que
“ninguém ensina nin-guém”, atribuído a
À medida que a ênfase é colocada na Rogers, muitos professores simplesmente
aprendizagem, o papel predomi-nante do se eximem da obrigação de ensinar. Na
professor deixa de ser o de ensinar, e passa verdade, o que passam a fazer nada mais é
a ser o de ajudar o aluno a aprender. Neste que, mediante o argumento da autoridade,
contexto, educar deixa de ser a arte de dissimular sua competência técnica. Além
introduzir ideia na cabeça das pessoas, mas de disso, à medida que esses professores
fazer brotar ideias (WERNER; BOWER, 1984, desprezam a tarefa de ensinar, “entram no
pp. 1-15). As preocupações básicas desses jogo das classes dominantes, pois a esta
professores por sua vez, são expres-sas em interessa um professor bem-comportado, um
indagações como; “Quais as expectativas missionário de um apostolado, um abnegado;
dos alunos?” “Em que medi-da determinada tudo, me-nos um profissional que tem como
aprendizado poderá ser significativo para função principal o ensino” (ALMEIDA, 1986.
eles?” “Quais as estratégias mais adequadas p. 78).
para facilitar seu aprendizado?”
Para muitos professores universitários,
Consciente ou inconscientemente, os essa polêmica não existe. Boa parte desses
professores tendem a enfatizar um ou outro professores aprendeu seu oficio como os
polo, o que faz com que sua atuação se antigos aprendiam: fa-zendo. Os professores
diversifique significati-vamente. Em apoio universitários não recebem preparação
à postura que enfatiza o ensino, costuma- pedagógica es-pecifica e menos ao longo
se lembrar que o magistério é uma vocação, da sua vida profissional raramente tem a
que a missão do professor é a de ensinar, oportuni-dade de participar em cursos,
que para isso é que ele se preparou e que, à seminários ou reuniões sobre os métodos
medida que seja um especialista na maté-ria de ensino e avaliação da aprendizagem. A
e que domine por meio da metodologia de pedagogia fica, portanto, ao sabor dos dotes
ensino, o que é repassado aos alunos. naturais de cada professor.

A ênfase na aprendizagem, a despeito O que de fato ocorre é que a grande


de seus inegáveis méritos hu-manistas e maioria dos professores universitá-rios
do embasamento nas modernas teorias e ainda vê o ensino especialmente como
pesquisas educacionais, também tem gerado transmissão de conhecimento me-diante

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Revista Educar FCE - Março 2019

aulas expositivas. Muitos estão certamente as aulas passam geral-mente a requerer


atentos às inovações peda-gógicas, revisão, que é feita coloquialmente com a
sobretudo no referente à tecnologia material participação dos alunos.
de ensino, mas muitos outros mantêm uma
atitude conservadora.
DIDÁTICA E FORMAÇÃO
Isto não significa que os professores DOCENTE
negligenciem a qualidade do en-sino, mas
que, de modo geral, não tem incentivos para A didática é a “arte de ensinar” (GIL, 2010,
desenvolver a sua ca-pacidade pedagógica p. 2). Ele segue citando Co-menius, que
que, muitas vezes, não dispõe de informação afirmava que didática é a “arte de ensinar
comple-mentar necessária para a solução tudo a todos” e Masetto (1997), afirma que
de problemas, estruturando racionalmente didática “é o estudo do processo de ensino-
os conhecimentos, entrelaçando o que lhe é aprendizagem em sala de aula e de seus
transmitido com o que ele próprio procura. resultados”.

O ensino passa a ser mais do que a A Instituição de Ensino moderna, adequada


transmissão de conhecimento. Passa a exigir deve corresponder às ne-cessidades atuais
o fornecimento de métodos e de ferramentas e possuir professores com perfil científico
para o desempe-nho desse papel ativo. metodológico que atendam as competências
Dessa forma, a atenção principal na ação necessárias: capacidade de planejar, executar
educativa transfere-se, em grande parte, do e avaliar didaticamente.
ensino para a aprendizagem. O professor,
mais do que transmissor de conhecimento, é A didática é uma disciplina que estuda o
um facilitador da aprendizagem. processo de ensino no seu conjunto, no qual
os objetivos, conteúdos, métodos e formas
Embora a polêmica persista, não é difícil orga-nizativas da aula se relacionam entre
constatar que o ensino se torna muito mais si de modo a criar as condições e os modos
eficaz quando os alunos de fato participam. de garantir aos alunos uma aprendizagem
As aulas tornam-se muito mais vivas e significativa. Ela ajuda o professor na direção
interessantes quando são entrecortadas com e orientação das tarefas do ensino e da
perguntas feitas aos alunos. Elas conduzem aprendizagem, fornecendo-lhe segurança
a rumos diferentes, conforme as respostas profissional (LIBÂ-NEO, 2002, p. 5).
dos alunos.
O professor deve ser um conhecedor
Uma resposta suscita uma informação da disciplina que aplica; uma pes-soa
adicional que suscita outra per-gunta e, versátil e abrangente no campo do
consequentemente, outra resposta, assim, saber, permanentemente aberto para a

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O processo de ensino consiste de uma combi-


investigação e atualização de conhecimento. nação adequada entre o papel de direção do
Precisa enxergar o que acontece em sala professor e a atividade independente, autônoma
de aula, como os alunos apreendem o que e criativa do aluno (LIBÂNEO, 2002, p. 6).
está sendo ensinado, or-ganizando espaço
e tempo, estratégias de intervenção são Para Perrenoud (2001):
mais oportunas no âmbito do ensino-
aprendizagem. Ensinar é fazer parte de um sistema e trabalhar
em diversos níveis. Durante muito tempo, a
Por isso, é preciso limitar-se ao fato de que cultura individualista dos professores incitou-
os professores saibam razoavelmente mais os a considerar que seu ambiente começava
que seus alunos, que não descubram o saber na porta de sua sala de aula. Todavia, a
a ser ensinado na véspera de sua aula e que o complexidade atual obriga a tratá-los como
dominem suficientemen-te para não se sentirem mem-bros de um grupo com um papel coletivo
em dificuldade ante o menor problema im- e a questionar seus hábitos e suas competências
previsto [...]. Quanto mais avançamos rumo a no espaço da equipe, do estabelecimento de
didáticas sofisticadas, pedagogias diferenciadas ensino e da coletividade local, bem como no
e construtivistas, mais esperamos que o espaço propriamente pedagógico e didático
professor tenha domínio dos conteúdos que (PERRENOUD, 2001, p. 57).
lhe permita não só pla-nejar e ministrar cursos,
mas também partir das perguntas dos alu-nos, A celebração deste processo somente
de seus projetos e intervir na regulação de ocorrerá com a presença da didá-tica. Mais
situações de ensino-aprendizagem que podem uma vez vê-se a sua importância.
ser muito menos planejadas que uma su-cessão
de lições [...]. Em suma, a aparente evidência [...] Muitos professores universitários exercem
de que “deve saber o que ensina” abrange uma duas atividades: a de profissional de determinada
grande diversidade de representa-ções quanto área e a de docente, com predominância da
à extensão dos saberes a dominar, à natureza primeira. Por essa razão tendem a conferir
desse domínio, com relação ao saber que ele menos atenção às questões de natureza didática
envolve e aos seus vínculos com a transposição [...] (GIL, 2010, p. 5).
didática (PERRENOUD, 2001, pp. 16-17).

O professor não é apenas um entendedor,


No ensino e aprendizagem está implícito a perito de certa disciplina, mas um indivíduo
interrelação professor e alu-no e a presença inventivo, que evolui (pelo menos deveria)
da didática servindo de interface. com a análise de ca-da momento educacional
e com a sua prática didática, pois as atividades
Em que consiste o processo de ensino e didá-tico-pedagógicas são essenciais para
aprendizagem? O princípio básico que define o desempenho adequado das suas tare-
esse processo é o seguinte: o núcleo da fas. Sendo assim, o professor universitário
atividade docente é a relação ativa do aluno com deverá ser capaz de:
a matéria de estudo, sob a direção do professor.

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conhecimentos construídos e em construção,


• Conhecer, compreender e analisar os numa perspectiva multi e interdisciplinar [...];
processos educativos e suas mudanças; proce-der a constantes balanços críticos do
conhecimento produzido no seu campo (as
• Conhecer, compreender e relacionar as técnicas, os métodos, as teorias), para dele
teorias educativas com a contemporaneidade se apro-priar, e criar novos diante das novas
e seus elementos; necessidades que as situações de ensinar
produzem (PIMENTA & ANASTASIOU, 2010, p.
• Conhecer as teorias educativas 49).
contemporâneas de acordo com as imagens
temporais que assumem os moldes É entendido que a didática é um dos
pedagógicos; campos da pedagogia. Seu papel não é apenas
metodológico; também é investigativo, visa
• Determinar as relações que existem estabelecer e fun-damentar o ensino e a
no processo de ensino e aprendizagem; aprendizagem com fins de colaborar com
a própria na-tureza da educação que é a
• Compreender e valorizar o sentido do formação total do indivíduo.
conhecimento, da univer-sidade, dos alunos
e de si mesmo como pessoa e docente; A didática diz, pois, das finalidades do ensinar
dos pontos de vista político-ideológicos
• Contribuir com a pauta epistemológica (conhecimento e formação das sociedades),
da universidade. éti-cos (conhecimento e formação humana),
psicopedagógicos (das re-lações entre
conhecimento e desenvolvimento) e os
Distancia-se do perfil de hoje o professor
propriamente di-dáticos (organização dos
apenas preocupado com os fundamentos e os
sistemas de ensino, de formação..., modos de
conteúdos da disciplina que leciona. Conhecê-
ensinar..., da construção de conhecimentos)
los, evidentemente, é importantíssimo, mas
(PIMENTA & ANAS-TASIOU, 2010, p. 67).
compreender a maneira como a mente opera
o conhecimento e assimila-o é primordial (AN-
Portanto, “didática constrói o ensino e a
TUNES, 2002, p. 15).
aprendizagem; e vice-versa”.
A didática deve existir como instrumento
catalisador deste processo. Os professores universitários quando indagados
sobre o conceito de didática dizem [...] com
A tarefa da didática é a de compreender o base em suas experiências que ter didática é
funcionamento do ensino em situação, suas saber ensinar e muitos professores sabem a
funções sociais, suas implicações estruturais; matéria, mas não sabem ensinar (PIMENTA &
rea-lizar uma ação autorreflexiva como ANASTASIOU, 2010, p. 82).
componente do fenômeno que estuda, porque Na época em que vivemos, em que
é parte integrante da trama de ensinar [...]; por
a criatividade e inovação científica em
em re-lação e diálogo com outros campos de

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Revista Educar FCE - Março 2019

situando-se numa perspectiva trans-formadora


todos os ramos da ciência são cruciais
da educação e do ensino (MACHADO, 1999, p.
para o desenvolvimento do indiví-duo e da 95).
sociedade, deve-se buscar uma educação
de qualidade sob a égide de uma didática As teorias e as práticas devem ter relações
empolgante, contagiante e que atenda o diretas durante a formação do professor, as
papel do ensino, da aprendizagem. quais são aprendidas durante o curso de
formação de profes-sores e nas práticas
cotidianas ligadas a função do educar.
PRÁTICA DOCENTE E Contudo, um dile-ma se apresenta quando o
QUALIDADE profissional da educação inicia suas funções:
uma crise de identidade. Essa crise fica
O que uma pessoa faz, sem dúvida, evidente em suas práticas desenvolvidas no
expressa o que ela é. O professor, quando interior da sala de aula.
atua, expressa sua condição humana,
por mais que a este possa ser concebida Para que o Professor seja reconhecido como
sua ação como algo predominantemente o grande agente do pro-cesso educacional
técnico. É claro que essa ação se dá em é necessário investir nele, pois todos os
interação com outros seres humanos que se aspectos materiais oferecidos por qualquer
influenciam mutu-amente, sendo a ação, na instituição não se compara a importância do
realidade, a expressão de um sujeito dotado papel do Professor. Dessa forma, a qualidade
de uma cultura subjetiva. O social não anula de sua formação é essencial para a trans-
as singularidades e não é possível consi- formação da educação e do ensino.
derar a ação educativa entre pessoas sem
contemplar os sujeitos individual-mente. O professor é o grande agente do processo
educacional. A alma de qualquer instituição de
A formação de educadores é um ensino é o professor. Por mais que se invista
assunto discutido e pensado por diver-sos em equipamentos, de futebol – sem negar a
importância de todo es-se instrumental –, tudo
profissionais da área da educação, ocupando
isso não se configura mais do que aspectos
um espaço de destaque nos questionamentos
materiais se comparando ao papel e à importância
político educacionais.
do professor (CHALITA, 2004, p. 161).

A formação de professores é uma temática que,


cada vez mais, ocu-pa um papel de destaque Diante dessa constatação cabe questionar
nas discussões político-educacionais, seja a formação profissional da educação, ao
nas políticas públicas, seja nas corporações mesmo tempo em para evocar a luta pela
profissionais do magis-tério. Quase sempre
valorização docente. Com relação a formação
vinculada à questão da melhoria da qualidade do
docente a Lei de Diretrizes e Bases da
ensino, apresenta-se como um dos importantes
Educação, em seu artigo 62, faz saber que:
pilares das pro-postas de inovação curricular

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Revista Educar FCE - Março 2019

A formação de docentes para atuar na educação fecunda entre teoria e prática, compromisso
básica far-se-á em nível superior, em curso com a humanização competente da moderni-
de licenciatura, de graduação plena, em uni- dade. A faculdade de pedagogia deve construir,
versidades e institutos superiores de educação, concretamente, o que é aprender a aprender,
admitida, como for-mação mínima para o saber pensar, propedêutica básica, avali-ação
exercício do magistério na educação infantil e nas permanente do desempenho dos professores
quatro primeiras séries do ensino fundamental, a e alunos. Deve ser a usina teórica e prática do
oferecida em nível médio, na modalidade normal processo inovador pela via do conhe-cimento
(BRASIL, 1996). construído (DEMO, 2004, p. 117).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação É de suma importância que as faculdades


garante a formação docente tendo como que lidam com os cursos de licenciaturas,
fundamentos: almejem uma formação, voltada ao
aprender a aprender, do sa-ber pensar e
Porém, a garantia da formação para os consequentemente do saber fazer. Portanto,
docentes, nem sempre significa garantia de a qualidade da edu-cação reflete diretamente
qualidade na educação. Diante disso, deve na forma como o profissional percebe e
se atentar para a qua-lidade dos Cursos de executa seu trabalho.
Pedagogia, os quais são os responsáveis pela
formação do docente da primeira fase do Sobre isso há perfis diferenciados de
Ensino Fundamental. docentes da educação a saber: “o que você
está fazendo? Dando aula! E você faz o
Para Demo (2004), o Curso de Pedagogia, mesmo? Não! Construo um país, formo uma
referência da educação, po-deria ser geração (RONCA & TERZI, 2001, p. 73).
concebido como um laboratório pedagógico
que desenvolvesse a arte do aprender a Com relação à educação há muita
pensar, do saber pensar e do olhar reflexivo expectativa, acredita-se que compete ao
sobre a prática do-cente. docente corresponder, mas vale lembrar que
a maior parte dos docentes da educação não
A primeira providência está na revisão estão sendo ou não foram preparados para
absolutamente radical do que é hoje Pedagogia, na esse tipo de postu-ra.
direção do aprender a aprender, exterminando-se
a exclusividade didática “ensino/aprendizagem”, Não queremos afirmar que o docente é
nela e em todos os outros cursos. Trata-se de
vítima de sua própria formação, visto que
recuperar e de institucionalizar a pes-quisa como
ele pode e deve, como ator social, buscar
inspiração fundamental da vida acadêmica,
melhorias à sua capacita-ção, mas o processo
inclusive da educação como um odo. Isso supõe
formativo muitas vezes o domestica
que a mudança deve começar nas faculdades de
educação (pedagogia), para dar o exemplo ade-
afastando-o da pes-quisa e da criatividade
quado de excelência e produtividade, ligação lhe ensinando o “construtivismo” de Piaget,

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Freire, Fer-reiro e tantos outros, como prática de uma hipocrisia sem fim. Demo (2004) ex-
plicita com clareza essa situação:

Concretamente falando, o professor é vítima de um processo de trei-namento que o estigmatiza como repassador
copiado. Destituído de propedêutica básica, afastado da pesquisa, alheio à inovação pelo conhecimento, não
sabe mais que “dar aula”, entendendo por dar aula o repasse da cópia da cópia. Com certeza, há nisso uma
forma de cultivar a ignorância, que coíbe a cidadania ou a faz de segunda classe (DEMO, 2004, p. 55).

O docente deve buscar a qualidade constante em sua formação, não se tornando um


mero repassador de conhecimentos. A atualização do profissio-nal da educação amplia sua
condição de orientar e direcionar aprendizagens, que envolvem conhecimentos específicos
e visão de mundo, ou seja, forma-ção integral do educando. É preciso ressaltar a importância
da pesquisa como algo que norteará a vida acadêmica de futuros profissionais da educação
para posteriormente fazerem a diferença na sala de aula.

Em se tratando de qualidade total da educação o docente tem que ser bem formado e bem
remunerado, uma vez que “[...] a valorização do professor representa a estratégia principal
da educação qualitativa” (DEMO, 2000, p. 56). Remuneração é algo que deve estar sempre
na pauta do dia, embora não re-fletiremos essa questão, o docente deve ser o centro como
já mencionamos anteriormente, deve ser valorizado e a valorização do docente começa por
uma boa formação, o salário, ou seja, uma boa remuneração é consequência.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A interdependência deve existir entre didática e
metodologia e seus be-nefícios para o processo de ensino e
aprendizagem par uma educação de qualidade a fim de atender
as demandas da sociedade, destacando as mu-danças que
estão acorrendo quanto à importância da didática. Assim, a
didáti-ca, ao cumprir o seu papel de “arte de ensinar” legitima
a presença docente no cenário educacional.

Este trabalho, apoiando-se em pesquisa bibliográfica,


procurou deixar claro que o principal desafio docente e
da Instituição de Ensino nos dias atu-ais não é a falta de
conhecimento, mas, sim, como trabalhar o conhecimento
positivamente para o crescimento do ser humano e da LUIZELINA FARIAS LIMA
sociedade.
Graduação m em Pedagogia com
habilitação com Supervisão Escolar
A didática, vista como ciência e a arte de ensinar, aplicada e Administração Escolar pela UNIP –
com padrões metodológicos contextualizados e eficientes, Universidade Paulista, 2002; Professora
construirá por meio da difusão do conhecimento existente, de Educação Infantil CEI Jardim Taipas.
seres humanos realmente inteligentes, integralizados e
socialmente bem definidos.

A didática quando conhecida e aplicada efetivamente,


torna-se veículo de validação da necessidade do corpo
docente como elemento facilitador do processo de ensino
e aprendizagem, e da universidade como instituição de-
tentora e divulgadora de conhecimentos.

Sob uma perspectiva educacional considerou-se uma visão docente inovadora necessária
aos novos tempos e apresentou-se um tipo de mentali-dade que deve existir na prática
docente. Esta visão é transformadora, pois trabalha para criar uma mente globalizada em um
mundo globalizado; busca constantemente o desenvolvimento pessoal e institucional; aguça
a dúvida e combate a conformação com a mediocridade; planta a cooperação e desesti-mula
a concorrência egoísta; impulsiona e fortalece a educação; desperta e alimenta uma mente
que aprende e apreende criativamente.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Paulinas, 1984.

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E AS NOVAS


NECESIDADES DAS GERAÇÕES: UMA
RELAÇÃO DE APRENDIZADO BILATERAL
RESUMO: Este estudo busca colocar a Educação a Distância dentro do contexto da
sociedade atual, por meio de um recorte histórico. Para tanto nos prosemos a analisar o
processo histórico, bem como as instâncias que fizeram e fazem da EaD uma signatária da
expansão tecnológica e dos recursos utilizados, abordando as vantagens, as desvantagens,
os desafios e as perspectivas desse sistema de ensino, bem como a possibilidade de que
essa modalidade de educação tem nem sua função democratizante. A informação e as
comunicações, principalmente no campo do desenvolvimento tecnológico, oferecem
ferramentas úteis para a sociedade em diferentes campos, incluindo a educação. Além
disso, a sociedade do conhecimento enfrenta novos desafios concernentes aos sistemas
educacionais e para as pessoas que devem seguir os processos educativos durante toda a
vida. Nesse contexto, a educação a distância é uma resposta crítica e viável a uma demanda
generalizada de educação, particularmente por pessoas que não podem acessar a educação
em sala de aula.

Palavras-Chave: Educação; Distância; Acesso; Legislação; Democratização.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO No contexto da sociedade da informação e das


tendências educacionais modernas, a educação
A educação a distância é um dos temas mais enfrenta novos desafios, uma vez que se torna um
discutidos atualmente, e encontra um apoio muito sistema de formação cultural em sua relação com a
eficiente nas novas tecnologias da informação sociedade, com a introdução revolucionária e uso
e comunicação (TIC’s). Em todo o mundo esse intensivodetecnologiasdeinformaçãoecomunicação
modelo de educação é amplamente aplicado, nas condições socioeconômicas do momento, com
proporcionando um espaço de intercâmbio entre vistas a identificar e solucionar os problemas de
professores e alunos, pesquisadores e especialistas integração de ensino, cuidado e pesquisando para
em determinado assunto. Disponibilizando assim uma elevar a qualidade da formação profissional com
grande quantidade de informações que podem ser maior contribuição para o desenvolvimento social.
consultadas de qualquer lugar e a qualquer momento.
O objetivo desse trabalho veio de encontro
A educação a distância como parte de nosso com algumas inquietações que nos levaram a sua
sistema educacional deve contribuir para alcançar a preparação nas quais as seguintes investigações
integração cultural entre a universidade e a sociedade, foram revisadas: A evolução da Educação a Distância,
trabalhar de forma cooperativa com a educação Educação a Distância e sua ligação com a cultura
presencial e oferecer uma contribuição significativa atual, a cultura da educação presencial, as barreiras da
paramaterializaraideiadetornarosistemaeducacional educação a distância e qual a função dos professores
um grande avanço. nessa modalidade.

O papel que as tecnologias da informação Podemos dizer que o termo educação a distância
e comunicação (TIC’s) pode desempenhar na pode ter uma série de variantes que se integram
aprendizagem também foi justificado, pelo número em um processo, individual e coletivo, permitindo a
de sentidos que podem estimular, pelo seu potencial formação, atualização e renovação do conhecimento.
na qualidade indispensável da formação e na O processo educativo, em suas diferentes variantes,
manutenção, permanência e postura crítica com baseia-se na utilização de diferentes tecnologias
relação as informações as quais são alvo dos esforços. da informação e comunicação e, em alguns casos,
Diversos estudos, clássicos, mostraram que 10% do baseia-se na utilização da Internet, promovendo
que se vê é lembrado, 20% do que se ouve, 50% do uma aprendizagem colaborativa, aberta e flexível.
que se vê e ouve, e 80% do que se ouve, vê e faz. A introdução de computadores na educação
Em outras palavras, algumas das TICs são perfeitas estabeleceu um novo padrão e novas maneiras de
para promover a qualidade das informações, como se fazer educação à distância. Embora inicialmente
as multimídias, que combinam diferentes sistemas pudéssemos pensar que a educação a distância nos
simbólicos e sistemas interativos, em que os alunos, levaria a um retrocesso, agora com as TIC’s como
além de receberem informações por meio de códigos redes sociais é permitido repensar o conceito de
diferentes, precisam realizar diversas atividades. distância através de uma educação ligada à crescente
presença de computadores em instituições de ensino
superior, permitindo a comunicação tanto síncrono

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Revista Educar FCE - Março 2019

em meados do século XIX. A EaD tem sido adotada em


em tempo real, quanto independente do tempo,
diversos países e com várias possibilidades de atuação.
assíncrono, promovendo uma interação bidirecional. Entre os propósitos da EAD temos a democratização do
saber; formação e capacitação profissional; atualização
de professores; educação aberta e continuada e uma
EVOLUÇÃO DA educação que promove a cidadania.” (CASTANHO, 2012.
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA p, 2)

Os avanços sociais e políticos, a necessidade de Esses fatores, intimamente ligados uns aos
preparo para o mundo do trabalho, a falta de sistemas outros, juntamente com as teorias filosóficas que
convencionais adaptados às mudanças da vida atual eliminaram a existência de privilégios e permitiram
e o crescimento irrefreável das ciências da educação que o conhecimento fosse um direito de todos os
e da tecnologia tornaram possível o desenvolvimento homens, apoiaram o desenvolvimento da educação à
de educação à distância em todo o mundo. distância. Os avanços sócio-políticos, trouxeram nesse
sentido, vários eventos interessantes: A demanda por
“[...] a educação reflete as transformações da base material educação aumentou graças à superlotação, à explosão
da sociedade e, por isso, não está acima da sociedade, demográfica e à democratização dos estudos, que
mas consiste em uma dimensão concreta da vida material passaram a ver ofertados em salas convencionais
e que se modela em consonância com as condições de que impediam a relação individual do professor com
existência dessa mesma sociedade.” (BUENO; GOMES,
o aluno. Além disso, as grandes guerras e revoluções
2011, p. 54)
levaram algumas sociedades diretamente afetadas
a buscar novas rotas educacionais acessíveis e tão
No entanto, a educação a distância passou por uma eficazes quanto possíveis. Algumas pessoas que
evolução incrível para alcançar o que conhecemos moram em áreas distantes dos centros educacionais
hoje. Pode-se dizer que tem sido desde meados do convencionais, especialmente nas áreas rurais,
século XVIII, quando a história dessa modalidade de compunham camadas da população que estavam
ensino começou. Com o surgimento e a invenção desassistidas e incapazes de ter acesso à educação.
da imprensa e o surgimento da educação por Migrantes, donas de casa, internos hospitalizados
correspondência teve início os primeiros impulsos também entram nesse grupo.
educacionais não presenciais. A expansão das
tecnologias navais fez com que as informações fossem Antes de tudo isso, passou a ser necessário criar
difundidas num ritmo cada vez mais veloz. Então, o instituições disponíveis para esses grupos ou adaptar
uso da mídia – aqui não nos referimos a ideia de mídia as existentes para cobrir essa nova demanda. Há
digital – foi colocado em benefício da educação e com um fator adicional que se baseia na ideia de que é
esse cenário o início da modalidade. necessário aprender ao longo da vida. Atualmente,
a ideia compartilhada e bastante difundida é que
“O processo histórico da Educação a Distância foi marcado a educação não se limita ao período escolar, mas
por experimentações, sucessos e fracassos. Sua origem há sempre algo novo para aprender. Essa ideia de
foi caracterizada pela educação por correspondência educação permanente inaugura um novo marco na
iniciada no final do século XVIII e com ampla divulgação educação e gera um novo panorama educacional à

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Revista Educar FCE - Março 2019

medida que novas situações surgem: pessoas que desenvolvimento da imprensa e avanço do serviço
devem combinar sua vida pessoal com os estudos postal. Alguns programas de treinamento propunham
ou seu trabalho com as atividades acadêmicas, etc. um texto escrito – às vezes manuscrito – que era
As estruturas convencionais, definitivamente, não enviado por correio aos alunos, buscando reproduzir
podiam mais responder a essa ideia. uma aula presencial. Logo perceberam que esse tipo
de aprendizado era bastante difícil porque não era
Outro fator que deu origem à educação a distância acompanhado de guias para auxiliaro aluno, nem tinha
foi o avanço da ciência da educação. Efetivamente, exercícios, avaliações, etc. A relação do aluno com o
mais planejamento começou e a ênfase foi colocada seu centro de estudos era muito básica e, portanto,
na metodologia, na qual o professor, nos níveis de passou a se repensar a figura do professor mais para
educação de adultos, não desempenha um papel tão uma ideia de conselheiro que pudesse responder
relevante porque as pessoas preferem aprendizado por correio às dúvidas dos alunos, além de corrigir as
pessoal, mais reflexivo e individual. Junto com esse avaliações e retornar o trabalho concluído corrigido.
avanço no pensamento humano e na abertura O contato entre o aluno e o professor foi assim
do leque de formas de aprendizagem, surgem estabelecido, mesmo que não fosse pessoalmente.
transformações tecnológicas. Isso permite reduzir a
distância. A educação a distância, embora usada por
academias e centros semanticamente relevantes,
“[...] deve estar atento a “tudo” e a “todos”, analisando as é um fenômeno tão antigo quanto a invenção do
certezas apresentadas pelos professores em formação; selo, permitindo o desenvolvimento de cursos
analisando o processo de aprendizagem destes e trazendo por correspondência. O conceito corresponde a
questões que mantenham os professores na busca pelo uma filosofia de educação envolvendo abertura e
conhecimento. [...] O professor formador precisa estar
disponibilidade, enfatizando a flexibilidade esperada
presente virtualmente, sendo habitante do ambiente
dos novos esquemas de treinamento e educação.
virtual” (OLIVEIRA, 2012, p. 81-82).

“Uma comunidade virtual é construída sobre as afinidades


Os avanços técnicos ocorrem tanto na área de interesses, de conhecimentos, sobre projetos mútuos,
de comunicação quanto na informática, com em um processo de cooperação ou de troca, tudo isso
equipamentos de gravação, transmissão de texto, independentemente das proximidades geográficas e das
filiações institucionais” (LÉVY, 2000, p. 127).
etc. Todo esse desenvolvimento pode ser dividido em
etapas
A expressão “e-learning” surgiu no final dos anos
90, simultaneamente nos dois lados do Atlântico. O
O ENSINO POR termo referia-se à evolução da educação a distância
CORRESPONDÊNCIA baseada, pelo menos em parte, no uso das tecnologias
e da Internet. Embora nos últimos anos a educação
NA GÊNESE DA EaD a distância também tenha mudado, pode-se dizer
A educação por correspondência nasceu no que o estágio da educação dos anos 80 veio com a
final do século XIX e início do século XX, após o evolução da informática e programas flexíveis de

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educação assistida por computador que fizeram com o caso do cinema, rádio, televisão ou dos primeiros
que esse método se sedimentasse em escala global. computadores, independentemente do seu impacto
Um momento posterior é aquele em que começamos na sociedade. Por outro lado, além de sua onipresença,
a trabalhar nos campi virtuais, algo que a princípio não essas tecnologias também se distinguem das
existia. Enquanto todos estes desenvolvimentos não anteriores que muitasvezes impunham um modelo de
podem ser datados com precisão, é bem verdade que, uso. Tecnologias de controle pessoal de informação,
neste momento, tudo pode ocorrerse forprovado que fazem o controle para o professor, dando-lhe cada
o sistema EaD que faz uso de todas as ferramentas vez mais a capacidade, por meio da unificação digital
tecnológicas que a modernidade colocou à disposição e facilidade de redes de acesso, adaptar os recursos
dos estudantes. a especificidade de qualquer situação educacional e
estratégica. E, não menos importante é, para escolher
Entre as décadas de 1980 e 1990, a EAD progrediu, a evoluir no seu próprio ritmo. Neste contexto, o que
principalmente em projetos relacionados à informática dizer dessa revolução escolar anunciada?
e a idiomas estrangeiros, graças ao desenvolvimento
do ensino em informática, o vídeo e a fita K-7. Nesse
período, estamos presenciando a consolidação do EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E
sistema de comunicação e transporte, essencial para A DEMOCRATIZAÇÃO DA
a EAD, porque o Brasil é um país cujas dimensões
são agigantadas em territorialidade. Mas para a maior EDUCAÇÃO
parte do XX, o Brasil não possuiu qualquer regulação e A educação a distância de seu advento aos dias
procedimento de acreditação pública no campo da EAD. atuais passou por diferentes períodos históricos, está
Essa situação tem duas consequências que dificultam o ganhando posição e se destacando na sociedade
desenvolvimento desse tipo de educação. A primeira é moderna. Indubitavelmente será o sistema de
que os alunos não têm certeza de ver o aprendizado à ensino do século XXI nos países desenvolvidos e
distância reconhecido; a segunda é que as instituições emergentes. Os altos déficits públicos na maioria dos
privadas não são incentivadas a intervir nesse mercado casos exigem cortes nos investimentos e redução
sem um marco legal. Os materiais eram enviados por dos gastos, o que implica em cortes de pessoal e
correio e caracterizaram-se como comportamentalistas. material, enquanto a população continua crescendo,
O feedback era feito através da avaliação escrita feita principalmente em países emergentes. A educação a
pelo aluno e corrigida pelo professor. distância é considerada uma forma de atender a uma
demanda cada vez maior da população que busca o
Se o sonho determinista tradicional permanece, ensino básico, superior e profissional, além de cursos
no entanto, as tecnologias mudaram amplamente sua de atualização.
natureza. Por um lado, as tecnologias de informação e
comunicação que conhecemos hoje são radicalmente “[...] as tecnologias de comunicação e informação atuais
diferentes de suas antecessoras, na medida em que oferecem meios facilitadores, mas, de forma isolada, não
estão se tornando “mercadorias”, tecnologias do garantem em absoluto novas formas de ensinar, pensar
consumo cotidiano presentes em todas as atividades e conviver. O que se tem agora é a oportunidade de
desenvolver um ambiente com a possibilidade técnica
humanas profissionais ou recreativas. Este não foi

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de entrelaçar a cultura, a prática social, saberes, a prática


conteúdo, teórico, abstrato, elitista, desarticulado e
pedagógica, a ciência, expressando-se por diferentes
linguagens, na tentativa de produzir novos sentidos
que não coincide com a realidade.
e, em consequência, uma nova paisagem educativa.”
(NAJMANOVICH, 2001 p. 44) Por esses motivos é viável investir recursos
escassos na educação tradicional, ou devemos tentar
Por outro lado, há uma preocupação generalizada corrigir essa forma caótica de ensino? Outro aspecto
com o futuro do Estado, ou seja, a impossibilidade importante que deve ser analisado é que a educação a
de atender a serviços sociais essenciais: educação, distância pode servir para complementar a educação
saúde, segurança, previdência, etc., essenciais para convencional sem causar competição numa ação
a população. Desse modo, permeados ao uso das mútua cumprindo o compromisso de formação
tecnologia, os governos vem procurando maneiras e promoção de novas leituras de mundo, modos
de atender às necessidades básicas das pessoas, ao de pensar e encarar a vida A complementaridade
mesmo tempo em que buscam métodos para obter beneficiará ambos os sistemas de ensino, além de
soluções aos crescentes desafios. Nesse mundo oferecer ao aluno a possibilidade de escolher.
em que as mudanças são cada vez mais velozes e
apresentam complexidades e contradições, além A educação a distância vem provando ser um
do aspecto econômico, é necessário considerar que complemento exemplar para o ensino em sala de
uma parcela significativa da população mundial está aula, uma vez que permite levar a educação as mais
desempregada e carece urgentemente de atualização diversas regiões – inclusive aquelas que se viram
a fim de se lançar ao mercado de trabalho, ou então privadas do sistema de ensino – que de outra forma
alguma atualização para reinserção nele.As constantes não teria sido possível seu alcance.
atualizações são necessárias em quase todas as do
conhecimento e requer recursos humanos criativos,
atualizado nas mais recentes tecnologias. A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E
A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
Atualmente, principalmente em países emergentes,
a educação convencional não consegue atender A educação a distância é oficialmente nascida
quantitativa e qualitativamente. Por exemplo, no no Brasil com a Lei 9.394 de dezembro de 1996,
Brasil, o sistema convencional de educação exclui um durante o primeiro mandato do Presidente Fernando
número cada vez maior de indivíduos, pois apresenta Henrique Cardoso. Esta lei estabelece novas diretrizes
uma metodologia de ensino arcaica, conteúdo dentro da educação nacional e reconhece, regula e
desatualizado e professores mal preparados e apoia a EAD. Anteriormente, não houve regulação
remunerados. A educação convencional visa fornecer ou garantia de qualidade por parte do estado, mas já
educação básica e superior a jovens e adultos para havia muitas conquistas por meio do aprendizado por
o mundo do trabalho. Cada dia mais vemos que correspondência. E isto, paradoxalmente, por iniciativa
esse mundo do trabalho não existe mais e que não de organizações dependentes do Estado.
tem perspectiva imediata de crescimento. Há quase
unanimidade entre os estudantes quanto ao tipo de Tratando-se de uma modalidade de educação, na
ensino ministrado pelos agentes convencionais de qual as definições referentes à função docente ainda

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caminham no sentido de construir elementos que desenvolver aspectos significativos, psicomotores,


deem características, alguns pontos são relevantes cognitivos e afetivos dos educandos. Para tanto, se
nesse sentido, pois as principais disposições que utiliza de métodos de comunicação não adjacentes,
tratam da EaD no âmbito legal representam um marco que podem servir de impeditivos ao tempo e espaço
da expansão educacional apresentada no artigo 80 que se encontram os protagonistas do processo, esse
da LDB (Lei 9.394 de 1996), cujas disposições no motivo cria uma favorável zona de interesse aos alunos
caput indicam que “o Poder Público incentivará o adultos compromissados com o mercado de trabalho.
desenvolvimento e a veiculação de programas de É importante apresentar um referencial teórico
ensino a distância, em todos os níveis e modalidades didático na EaD, pois sua teoria se apresentando
de ensino, e de educação continuada”. enquanto um método de prática guiada faz com que
o sistema a distância implique na capacidade do aluno
“§ 1º A educação a distância, organizada com abertura estudar por si mesmo, ao mesmo tempo que mostra a
e regime especiais, será oferecida por instituições ele que não está só, pois dessa maneira propor-se-ão
especificamente credenciadas pela União. meios de interação entre instrutores, organização de
§ 2º A União regulamentará os requisitos para a realização apoio e instituição criando um diálogo de mão dupla.
de exames e registro de diploma relativos a cursos de
educação a distância. “Art. 19. A oferta de cursos superiores na modalidade a
§ 3º As normas para produção, controle e avaliação de distância admitirá regime de parceria entre a instituição
programas de educação a distância e a autorização para de ensino credenciada para educação a distância e outras
sua implementação, caberão aos respectivos sistemas de pessoas jurídicas, preferencialmente em instalações
ensino, podendo haver cooperação e integração entre os da instituição de ensino, exclusivamente para fins de
diferentes sistemas.” (DECRETO Nº - 9.057, DE 25 DE funcionamento de polo de educação a distância, na forma
MAIO DE 2017) a ser estabelecida em regulamento e respeitado o limite da
capacidade de atendimento de estudantes.
O distanciamento notado entre professores e § 1º A parceria de que trata o caput deverá ser formalizada
alunos, a comunicação por meio do uso da mídia, em documento próprio, o qual conterá as obrigações das
representam inovações que vieram no bojo da EaD entidades parceiras e estabelecerá a responsabilidade
constituindo um desafio apresentado às instituições exclusiva da instituição de ensino credenciada para
de ensino. Isso porque exigem investimentos nas educação a distância ofertante do curso quanto a:
áreas da tecnologia e infraestrutura avançada para I - prática de atos acadêmicos referentes ao objeto da
viabilizar a mediação enquanto altera a cultura de parceria;
professores e alunos que por meio de um modelo II - corpo docente;
pedagógico presencial tem as bases fundamentais III - tutores;
desconstruídas em parte, caracterizando por meio da IV - material didático; e
ausência dos entes num mesmo tempo e espaço a V - expedição das titulações conferidas.” (DECRETO Nº -
9.057, DE 25 DE MAIO DE 2017)
lacuna da atualização deficitária.

É necessário perceber que a educação a distância O Ministério da Educação (MEC) criou uma
propõe um desenvolvimento pautado na articulação estrutura administrativa da EAD, na qual por meio
das atividades pedagógicas as quais buscam de uma secretaria, específica para Educação a

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Distância desenvolve manuais de avaliação e regras para o credenciamento de Instituições, autorizações e


reconhecimentos dos cursos, essas prerrogativas têm feito com que seja possível que a educação a distância
trilhe um desenvolvimento em concomitante à Educação Presencial. Contudo, existe a perspectiva da
confluência de ambas modalidades, contando com um fator comum as duas, ou seja, a necessidade das novas
tecnologias de informação e de comunicação (TIC’s) para o bom desenvolvimento das atividades educativas.
Desse modo, viabiliza-se mais a transposição de barreiras em criar instrumentos de gestão e administração do
sistema de ensino que possibilitem a melhoria da qualidade do ensino ofertado, assim como, a estrutura justa
da EaD de acordo com a realidade educacional brasileira.

Acreditamosqueessamodalidadedeensinotendeaganharmaiscamponamedidaemqueodesenvolvimento
tecnológico vai ganhando espaço em territórios que outrora fora insipiente, as áreas do conhecimento buscam
cada vez mais atualização das plataformas digitais e conteúdo que estimulem o potencial criativo dos alunos.
Por outro lado, existe a crítica por parte dos professores – em muitos casos os mais tradicionalistas – que veem
na EaD uma fora de pasteurização conceitual e precarização da profissão.

ALGUMAS PONDERAÇÕES PROFISSIONAIS NO CAMINHO DA EaD


Como foi demonstrado, a educação a distância oferece grandes possibilidades e também apresenta algumas
desvantagens. Por um lado, a educação é um ato de socialização e isto também se aplica à educação a distância,
mas em muitos casos limitados a interações pedagógicas. A maior desvantagem é que o aluno é isolado com
o tutor e colegas muitas vezes virtuais, o aluno tem dificuldade de acesso a recursos educacionais. A pouca
oportunidade de socializar com professores e colegas, e raramente a participar em atividades culturais ou
esportes, comunidade promovidos pela sua instituição são entraves a serem analisados.

Por outro lado, no processo educacional convencional o aluno aprende com base nos conteúdos estudados
e na experimentação em laboratório, mas mudanças de atitude também ocorrem em função do contato direto
com o professor e com os colegas. Na educação a distância, a redução de oportunidades de encontros face a
face também reduz a possibilidade de mobilizar atividades por meio do contato direto com outras pessoas.

Outro aspecto importante no processo educacional tradicional é o feedback que o professor oferece aos
alunos em relação ao seu desempenho nas diferentes atividades pedagógicas, e isso é construtivo na medida
em que o aluno se torna próximo do momento em que os avanços ou limitações são percebidas. Na interação
direta entre professor e alunos, o feedback pode ser imediato, enquanto na educação a distância é mais lento
e, em alguns casos, pode chegar quando o aluno já avançou para outro tópico ou atividade. Embora novas
ferramentas digitais permitam a comunicação síncrona, isso nem sempre é possível devido a diferenças no
gerenciamento do tempo e no número de alunos atribuídos a cada tutor.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Buscamos no presente trabalho desenvolver uma reflexão
acerca do desenvolvimento da EaD desde suas fundações até
os dias atuais. A Educação a Distância vem ganhando cada
vez mais espaço no mundo moderno e propiciando novas
formas de aprendizagem significativas e democratizantes.

Desde o surgimento por meio de cartas a EaD busca


diminuir barreiras e criar pontes, diminuir as distâncias entre
quem busca formação e as instituições formadoras. A EaD
foi uma proposta que revolucionou o campo educativo
porque proporcionou quebras de paradigmas presentes no
tradicionalismo da sala de aula e da educação enquanto
privilégio de alguns grupos sociais citadinos, que deixava – LIGIA PAPERINI SILVA
por exemplo – campesinos distantes do processo, isso levou Professora de Educação Infantil e Ensino
à resistência dos setores profissionais mais conservadores. fundamental l na Rede Municipal de São
Paulo. Artigo apresentado como requisito
“O processo educacional mediado pelas Tecnologias da Informação parcial para aprovação do Trabalho de
e Comunicação adquire dimensões que precisam ser exploradas Conclusão do Curso de Especialização em
segundo as perspectivas da era das redes. As relações educativas Supervisão Escolar.
possibilitam trocas comunicativas multidirecionadas, baseadas na
participação, na colaboração e na interação entre todos os agentes.
Rompe-se assim com os velhos modelos pedagógicos baseados na
comunicação unilateral que privilegia o professor, desconsiderando
as peculiaridades do aluno.” (NETO, 2009, p. 45)

Em seu processo histórico fizemos alguns recortes com


relação a gênese e aos momento de fundamentação do
sistema de EaD. Acreditamos que para que essa modalidade
venha se fortalecer faz-se mister a participação dos Estados
propondo leis que estimulem sua participação, bem como
estimulem, valorizem e atualizem professores para sua
continuidade no sistema de ensino.

Dentre as características da educação a distância,


destacam-se algumas que dão identidade, como o papel
do aluno, a flexibilidade, o uso de recursos tecnológicos, a

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função dos recursos educacionais e a separação entre alunos e professores. Algumas dessas
propriedades podem ser vantajosas para os estudantes e outras desfavoráveis, já que muito
disso depende das circunstâncias e do perfil do aluno, da instituição e das necessidades
referentes a formação que se busca. Enquanto para alguns, autonomia significa a oportunidade
de tomar suas próprias decisões e ter controle sobre o processo educacional, para outros
pode ser uma dificuldade na medida em que eles não dispõem de disciplina ou controle para
assumir o seu processo formativo, mesmo assim, ainda há muitos aspectos que carecem ser
avaliados.

Por fim, a educação a distância enfrenta resistência desde a sua criação, muitos questionam
sua efetividade no que tange formar profissionais competentes, tem seus defensores e
seus críticos, no entanto, é mantido, cresceu e se fortalece no curso de aproximadamente
duzentos anos. Atualmente, milhões de pessoas estudam à distância e muitos tantos outros
milhões estudaram e colheram os frutos desse processo de aprendizagem.

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REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei no. 9.394, de 20 dez. 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996.

_____________. DECRETO No - 9.057, DE 25 DE MAIO DE 2017. Diário Oficial da União,


Brasília, 23 de maio de 2017

CASTANHO, Sandra Maria. A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL. VXIII


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Ceará, Assembleia Legislativa. Universidade do Parlamento Cearense. A TAQUIGRAFIA E


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LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. Tradução de Luiz
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__________. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2000.
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NETO, A. S. Didática e design instrucional. Curitiba: IESDE Brasil S.A. 2009.

OLIVEIRA, Agnaldo de. Formação continuada de professores de matemática a distância:


estar junto virtual e habitar ambientes virtuais de aprendizagem. 88f. Dissertação (Mestrado
em Educação Matemática) – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Campo Grande,
MS, 2012.

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AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E AS NOVAS


NECESSIDADES DAS GERAÇÕES: UMA
RELAÇÃO DE APRENDIZADO BILATERAL
RESUMO: Este estudo busca colocar a Educação a Distância dentro do contexto da
sociedade atual, por meio de um recorte histórico. Para tanto nos prosemos a analisar o
processo histórico, bem como as instâncias que fizeram e fazem da EaD uma signatária da
expansão tecnológica e dos recursos utilizados, abordando as vantagens, as desvantagens,
os desafios e as perspectivas desse sistema de ensino, bem como a possibilidade de que
essa modalidade de educação tem nem sua função democratizante. A informação e as
comunicações, principalmente no campo do desenvolvimento tecnológico, oferecem
ferramentas úteis para a sociedade em diferentes campos, incluindo a educação. Além
disso, a sociedade do conhecimento enfrenta novos desafios concernentes aos sistemas
educacionais e para as pessoas que devem seguir os processos educativos durante toda a
vida. Nesse contexto, a educação a distância é uma resposta crítica e viável a uma demanda
generalizada de educação, particularmente por pessoas que não podem acessar a educação
em sala de aula.

Palavras-Chave: Educação; Distância; Acesso; Legislação; Democratização.

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INTRODUÇÃO combinam diferentes sistemas simbólicos


e sistemas interativos, em que os alunos,
A educação a distância é um dos temas além de receberem informações por meio de
mais discutidos atualmente, e encontra um códigos diferentes, precisam realizar diversas
apoio muito eficiente nas novas tecnologias atividades.
da informação e comunicação (TIC’s). Em
todo o mundo esse modelo de educação é No contexto da sociedade da informação
amplamente aplicado, proporcionando um e das tendências educacionais modernas,
espaço de intercâmbio entre professores a educação enfrenta novos desafios, uma
e alunos, pesquisadores e especialistas em vez que se torna um sistema de formação
determinado assunto. Disponibilizando assim cultural em sua relação com a sociedade,
uma grande quantidade de informações que com a introdução revolucionária e uso
podem ser consultadas de qualquer lugar e a intensivo de tecnologias de informação e
qualquer momento. comunicação nas condições socioeconômicas
do momento, com vistas a identificar e
A educação a distância como parte de solucionar os problemas de integração de
nosso sistema educacional deve contribuir ensino, cuidado e pesquisando para elevar
para alcançar a integração cultural entre a a qualidade da formação profissional com
universidade e a sociedade, trabalhar de maior contribuição para o desenvolvimento
forma cooperativa com a educação presencial social.
e oferecer uma contribuição significativa
para materializar a ideia de tornar o sistema O objetivo desse trabalho veio de
educacional um grande avanço. encontro com algumas inquietações que
nos levaram a sua preparação nas quais as
O papel que as tecnologias da informação seguintes investigações foram revisadas: A
e comunicação (TIC’s) pode desempenhar na evolução da Educação a Distância, Educação
aprendizagem também foi justificado, pelo a Distância e sua ligação com a cultura atual,
número de sentidos que podem estimular, a cultura da educação presencial, as barreiras
pelo seu potencial na qualidade indispensável da educação a distância e qual a função dos
da formação e na manutenção, permanência professores nessa modalidade.
e postura crítica com relação as informações
as quais são alvo dos esforços. Diversos Podemos dizer que o termo educação a
estudos, clássicos, mostraram que 10% do distância pode ter uma série de variantes
que se vê é lembrado, 20% do que se ouve, que se integram em um processo, individual
50% do que se vê e ouve, e 80% do que se e coletivo, permitindo a formação,
ouve, vê e faz. Em outras palavras, algumas das atualização e renovação do conhecimento.
TICs são perfeitas para promover a qualidade O processo educativo, em suas diferentes
das informações, como as multimídias, que variantes, baseia-se na utilização de

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diferentes tecnologias da informação e No entanto, a educação a distância passou


comunicação e, em alguns casos, baseia-se por uma evolução incrível para alcançar o que
na utilização da Internet, promovendo uma conhecemos hoje. Pode-se dizer que tem
aprendizagem colaborativa, aberta e flexível. sido desde meados do século XVIII, quando
A introdução de computadores na educação a história dessa modalidade de ensino
estabeleceu um novo padrão e novas começou. Com o surgimento e a invenção
maneiras de se fazer educação à distância. da imprensa e o surgimento da educação
Embora inicialmente pudéssemos pensar por correspondência teve início os primeiros
que a educação a distância nos levaria a um impulsos educacionais não presenciais. A
retrocesso, agora com as TIC’s como redes expansão das tecnologias navais fez com
sociais é permitido repensar o conceito de que as informações fossem difundidas num
distância através de uma educação ligada ritmo cada vez mais veloz. Então, o uso da
à crescente presença de computadores em mídia – aqui não nos referimos a ideia de
instituições de ensino superior, permitindo a mídia digital – foi colocado em benefício
comunicação tanto síncrono em tempo real, da educação e com esse cenário o início da
quanto independente do tempo, assíncrono, modalidade.
promovendo uma interação bidirecional.
“O processo histórico da Educação a Distância
foi marcado por experimentações, sucessos e
EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO fracassos. Sua origem foi caracterizada pela

À DISTÂNCIA educação por correspondência iniciada no


final do século XVIII e com ampla divulgação
em meados do século XIX. A EaD tem sido
Os avanços sociais e políticos, a
adotada em diversos países e com várias
necessidade de preparo para o mundo do
possibilidades de atuação. Entre os propósitos
trabalho, a falta de sistemas convencionais
da EAD temos a democratização do saber;
adaptados às mudanças da vida atual e formação e capacitação profissional; atualização
o crescimento irrefreável das ciências da de professores; educação aberta e continuada
educação e da tecnologia tornaram possível e uma educação que promove a cidadania.”
o desenvolvimento de educação à distância (CASTANHO, 2012. p, 2)
em todo o mundo.
Esses fatores, intimamente ligados uns aos
“[...] a educação reflete as transformações da base outros, juntamente com as teorias filosóficas
material da sociedade e, por isso, não está acima da que eliminaram a existência de privilégios
sociedade, mas consiste em uma dimensão concreta e permitiram que o conhecimento fosse
da vida material e que se modela em consonância com um direito de todos os homens, apoiaram o
as condições de existência dessa mesma sociedade.” desenvolvimento da educação à distância.
(BUENO; GOMES, 2011, p. 54) Os avanços sócio-políticos, trouxeram nesse
sentido, vários eventos interessantes: A

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demanda por educação aumentou graças à Efetivamente, mais planejamento começou


superlotação, à explosão demográfica e à e a ênfase foi colocada na metodologia, na
democratização dos estudos, que passaram qual o professor, nos níveis de educação
a ver ofertados em salas convencionais que de adultos, não desempenha um papel
impediam a relação individual do professor tão relevante porque as pessoas preferem
com o aluno. Além disso, as grandes guerras aprendizado pessoal, mais reflexivo e
e revoluções levaram algumas sociedades individual. Junto com esse avanço no
diretamente afetadas a buscar novas rotas pensamento humano e na abertura do
educacionais acessíveis e tão eficazes quanto leque de formas de aprendizagem, surgem
possíveis. Algumas pessoas que moram em transformações tecnológicas. Isso permite
áreas distantes dos centros educacionais reduzir a distância.
convencionais, especialmente nas áreas
rurais, compunham camadas da população “[...] deve estar atento a “tudo” e a “todos”,
que estavam desassistidas e incapazes de analisando as certezas apresentadas pelos
ter acesso à educação. Migrantes, donas de professores em formação; analisando o processo
casa, internos hospitalizados também entram de aprendizagem destes e trazendo questões
que mantenham os professores na busca pelo
nesse grupo.
conhecimento. [...] O professor formador precisa
estar presente virtualmente, sendo habitante do
Antes de tudo isso, passou a ser necessário
ambiente virtual” (OLIVEIRA, 2012, p. 81-82).
criar instituições disponíveis para esses
grupos ou adaptar as existentes para cobrir
essa nova demanda. Há um fator adicional Os avanços técnicos ocorrem tanto na
que se baseia na ideia de que é necessário área de comunicação quanto na informática,
aprender ao longo da vida. Atualmente, a ideia com equipamentos de gravação, transmissão
compartilhada e bastante difundida é que a de texto, etc. Todo esse desenvolvimento
educação não se limita ao período escolar, mas pode ser dividido em etapas
há sempre algo novo para aprender. Essa ideia
de educação permanente inaugura um novo
marco na educação e gera um novo panorama O ENSINO POR
educacional à medida que novas situações CORRESPONDÊNCIA
surgem: pessoas que devem combinar sua vida
pessoal com os estudos ou seu trabalho com
NA GÊNESE DA EaD
as atividades acadêmicas, etc. As estruturas A educação por correspondência nasceu
convencionais, definitivamente, não podiam no final do século XIX e início do século
mais responder a essa ideia. XX, após o desenvolvimento da imprensa e
avanço do serviço postal. Alguns programas
Outro fator que deu origem à educação a de treinamento propunham um texto escrito
distância foi o avanço da ciência da educação. – às vezes manuscrito – que era enviado

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Revista Educar FCE - Março 2019

por correio aos alunos, buscando reproduzir pelo menos em parte, no uso das tecnologias
uma aula presencial. Logo perceberam que e da Internet. Embora nos últimos anos a
esse tipo de aprendizado era bastante difícil educação a distância também tenha mudado,
porque não era acompanhado de guias pode-se dizer que o estágio da educação dos
para auxiliar o aluno, nem tinha exercícios, anos 80 veio com a evolução da informática
avaliações, etc. A relação do aluno com o e programas flexíveis de educação assistida
seu centro de estudos era muito básica e, por computador que fizeram com que esse
portanto, passou a se repensar a figura do método se sedimentasse em escala global.
professor mais para uma ideia de conselheiro Um momento posterior é aquele em que
que pudesse responder por correio às dúvidas começamos a trabalhar nos campi virtuais,
dos alunos, além de corrigir as avaliações algo que a princípio não existia. Enquanto
e retornar o trabalho concluído corrigido. todos estes desenvolvimentos não podem
O contato entre o aluno e o professor foi ser datados com precisão, é bem verdade
assim estabelecido, mesmo que não fosse que, neste momento, tudo pode ocorrer se
pessoalmente. for provado que o sistema EaD que faz uso
de todas as ferramentas tecnológicas que
A educação a distância, embora usada a modernidade colocou à disposição dos
por academias e centros semanticamente estudantes.
relevantes, é um fenômeno tão antigo
quanto a invenção do selo, permitindo Entre as décadas de 1980 e 1990, a
o desenvolvimento de cursos por EAD progrediu, principalmente em projetos
correspondência. O conceito corresponde relacionados à informática e a idiomas
a uma filosofia de educação envolvendo estrangeiros, graças ao desenvolvimento
abertura e disponibilidade, enfatizando a do ensino em informática, o vídeo e a fita
flexibilidade esperada dos novos esquemas K-7. Nesse período, estamos presenciando
de treinamento e educação. a consolidação do sistema de comunicação
e transporte, essencial para a EAD, porque
“Uma comunidade virtual é construída sobre as o Brasil é um país cujas dimensões são
afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre agigantadas em territorialidade. Mas para
projetos mútuos, em um processo de cooperação a maior parte do XX, o Brasil não possuiu
ou de troca, tudo isso independentemente qualquer regulação e procedimento de
das proximidades geográficas e das filiações
acreditação pública no campo da EAD.
institucionais” (LÉVY, 2000, p. 127).
Essa situação tem duas consequências que
dificultam o desenvolvimento desse tipo de
A expressão “e-learning” surgiu no final educação. A primeira é que os alunos não
dos anos 90, simultaneamente nos dois têm certeza de ver o aprendizado à distância
lados do Atlântico. O termo referia-se à reconhecido; a segunda é que as instituições
evolução da educação a distância baseada, privadas não são incentivadas a intervir nesse

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Revista Educar FCE - Março 2019

mercado sem um marco legal. Os materiais EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


eram enviados por correio e caracterizaram- E A DEMOCRATIZAÇÃO
se como comportamentalistas. O feedback
era feito através da avaliação escrita feita DA EDUCAÇÃO
pelo aluno e corrigida pelo professor. A educação a distância de seu advento
aos dias atuais passou por diferentes
Se o sonho determinista tradicional períodos históricos, está ganhando posição
permanece, no entanto, as tecnologias e se destacando na sociedade moderna.
mudaram amplamente sua natureza. Por Indubitavelmente será o sistema de ensino
um lado, as tecnologias de informação e do século XXI nos países desenvolvidos
comunicação que conhecemos hoje são e emergentes. Os altos déficits públicos
radicalmente diferentes de suas antecessoras, na maioria dos casos exigem cortes nos
na medida em que estão se tornando investimentos e redução dos gastos, o que
“mercadorias”, tecnologias do consumo implica em cortes de pessoal e material,
cotidiano presentes em todas as atividades enquanto a população continua crescendo,
humanas profissionais ou recreativas. principalmente em países emergentes. A
Este não foi o caso do cinema, rádio, educação a distância é considerada uma
televisão ou dos primeiros computadores, forma de atender a uma demanda cada vez
independentemente do seu impacto na maior da população que busca o ensino
sociedade. Por outro lado, além de sua básico, superior e profissional, além de
onipresença, essas tecnologias também se cursos de atualização.
distinguem das anteriores que muitas vezes
impunham um modelo de uso. Tecnologias “[...] as tecnologias de comunicação e informação
de controle pessoal de informação, fazem o atuais oferecem meios facilitadores, mas, de forma
controle para o professor, dando-lhe cada vez isolada, não garantem em absoluto novas formas
mais a capacidade, por meio da unificação de ensinar, pensar e conviver. O que se tem agora
é a oportunidade de desenvolver um ambiente
digital e facilidade de redes de acesso, adaptar
com a possibilidade técnica de entrelaçar a cultura,
os recursos a especificidade de qualquer
a prática social, saberes, a prática pedagógica, a
situação educacional e estratégica. E, não
ciência, expressando-se por diferentes linguagens,
menos importante é, para escolher a evoluir
na tentativa de produzir novos sentidos e, em
no seu próprio ritmo. Neste contexto, o que consequência, uma nova paisagem educativa.”
dizer dessa revolução escolar anunciada? (NAJMANOVICH, 2001 p. 44)

Por outro lado, há uma preocupação


generalizada com o futuro do Estado,
ou seja, a impossibilidade de atender a
serviços sociais essenciais: educação, saúde,
segurança, previdência, etc., essenciais para

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Revista Educar FCE - Março 2019

a população. Desse modo, permeados ao uso Por esses motivos é viável investir recursos
das tecnologia, os governos vem procurando escassos na educação tradicional, ou
maneiras de atender às necessidades básicas devemos tentar corrigir essa forma caótica de
das pessoas, ao mesmo tempo em que ensino? Outro aspecto importante que deve
buscam métodos para obter soluções aos ser analisado é que a educação a distância
crescentes desafios. Nesse mundo em que pode servir para complementar a educação
as mudanças são cada vez mais velozes e convencional sem causar competição numa
apresentam complexidades e contradições, ação mútua cumprindo o compromisso de
além do aspecto econômico, é necessário formação e promoção de novas leituras de
considerar que uma parcela significativa da mundo, modos de pensar e encarar a vida
população mundial está desempregada e A complementaridade beneficiará ambos
carece urgentemente de atualização a fim de os sistemas de ensino, além de oferecer ao
se lançar ao mercado de trabalho, ou então aluno a possibilidade de escolher.
alguma atualização para reinserção nele. As
constantes atualizações são necessárias em A educação a distância vem provando ser
quase todas as do conhecimento e requer um complemento exemplar para o ensino
recursos humanos criativos, atualizado nas em sala de aula, uma vez que permite levar a
mais recentes tecnologias. educação as mais diversas regiões – inclusive
aquelas que se viram privadas do sistema de
Atualmente, principalmente em países ensino – que de outra forma não teria sido
emergentes, a educação convencional possível seu alcance.
não consegue atender quantitativa e
qualitativamente. Por exemplo, no Brasil, o
sistema convencional de educação exclui A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
um número cada vez maior de indivíduos, E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
pois apresenta uma metodologia de ensino
arcaica, conteúdo desatualizado e professores A educação a distância é oficialmente
mal preparados e remunerados. A educação nascida no Brasil com a Lei 9.394 de dezembro
convencional visa fornecer educação básica de 1996, durante o primeiro mandato do
e superior a jovens e adultos para o mundo Presidente Fernando Henrique Cardoso.
do trabalho. Cada dia mais vemos que esse Esta lei estabelece novas diretrizes dentro
mundo do trabalho não existe mais e que não da educação nacional e reconhece, regula
tem perspectiva imediata de crescimento. e apoia a EAD. Anteriormente, não houve
Há quase unanimidade entre os estudantes regulação ou garantia de qualidade por parte
quanto ao tipo de ensino ministrado pelos do estado, mas já havia muitas conquistas por
agentes convencionais de conteúdo, teórico, meio do aprendizado por correspondência.
abstrato, elitista, desarticulado e que não E isto, paradoxalmente, por iniciativa de
coincide com a realidade. organizações dependentes do Estado.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Tratando-se de uma modalidade de viabilizar a mediação enquanto altera a


educação, na qual as definições referentes cultura de professores e alunos que por meio
à função docente ainda caminham no de um modelo pedagógico presencial tem
sentido de construir elementos que as bases fundamentais desconstruídas em
deem características, alguns pontos são parte, caracterizando por meio da ausência
relevantes nesse sentido, pois as principais dos entes num mesmo tempo e espaço a
disposições que tratam da EaD no âmbito lacuna da atualização deficitária.
legal representam um marco da expansão
educacional apresentada no artigo 80 da É necessário perceber que a educação a
LDB (Lei 9.394 de 1996), cujas disposições distância propõe um desenvolvimento pautado
no caput indicam que “o Poder Público na articulação das atividades pedagógicas
incentivará o desenvolvimento e a veiculação as quais buscam desenvolver aspectos
de programas de ensino a distância, em significativos, psicomotores, cognitivos e
todos os níveis e modalidades de ensino, e afetivos dos educandos. Para tanto, se utiliza
de educação continuada”. de métodos de comunicação não adjacentes,
que podem servir de impeditivos ao tempo
“§ 1º A educação a distância, organizada com e espaço que se encontram os protagonistas
abertura e regime especiais, será oferecida por do processo, esse motivo cria uma favorável
instituições especificamente credenciadas pela zona de interesse aos alunos adultos
União. compromissados com o mercado de trabalho.
§ 2º A União regulamentará os requisitos para
É importante apresentar um referencial
a realização de exames e registro de diploma
teórico didático na EaD, pois sua teoria se
relativos a cursos de educação a distância.
apresentando enquanto um método de prática
§ 3º As normas para produção, controle e
guiada faz com que o sistema a distância
avaliação de programas de educação a distância
e a autorização para sua implementação,
implique na capacidade do aluno estudar por
caberão aos respectivos sistemas de ensino, si mesmo, ao mesmo tempo que mostra a ele
podendo haver cooperação e integração entre que não está só, pois dessa maneira propor-
os diferentes sistemas.” (DECRETO Nº - 9.057, se-ão meios de interação entre instrutores,
DE 25 DE MAIO DE 2017) organização de apoio e instituição criando um
diálogo de mão dupla.

O distanciamento notado entre professores “Art. 19. A oferta de cursos superiores na


e alunos, a comunicação por meio do uso da modalidade a distância admitirá regime de
mídia, representam inovações que vieram parceria entre a instituição de ensino credenciada
no bojo da EaD constituindo um desafio para educação a distância e outras pessoas
jurídicas, preferencialmente em instalações
apresentado às instituições de ensino. Isso
da instituição de ensino, exclusivamente para
porque exigem investimentos nas áreas da
fins de funcionamento de polo de educação
tecnologia e infraestrutura avançada para
a distância, na forma a ser estabelecida em

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Revista Educar FCE - Março 2019

regulamento e respeitado o limite da capacidade


de atendimento de estudantes.
Acreditamos que essa modalidade de
§ 1º A parceria de que trata o caput deverá
ensino tende a ganhar mais campo na medida
ser formalizada em documento próprio, o qual em que o desenvolvimento tecnológico vai
conterá as obrigações das entidades parceiras ganhando espaço em territórios que outrora
e estabelecerá a responsabilidade exclusiva da fora insipiente, as áreas do conhecimento
instituição de ensino credenciada para educação buscam cada vez mais atualização das
a distância ofertante do curso quanto a: plataformas digitais e conteúdo que
I - prática de atos acadêmicos referentes ao estimulem o potencial criativo dos alunos.
objeto da parceria; Por outro lado, existe a crítica por parte
II - corpo docente; dos professores – em muitos casos os mais
III - tutores; tradicionalistas – que veem na EaD uma fora
IV - material didático; e de pasteurização conceitual e precarização
V - expedição das titulações conferidas.”
da profissão.
(DECRETO Nº - 9.057, DE 25 DE MAIO DE
2017)

ALGUMAS PONDERAÇÕES
O Ministério da Educação (MEC) criou PROFISSIONAIS NO
uma estrutura administrativa da EAD, na qual
por meio de uma secretaria, específica para CAMINHO DA EaD
Educação a Distância desenvolve manuais de Como foi demonstrado, a educação a
avaliação e regras para o credenciamento de distância oferece grandes possibilidades e
Instituições, autorizações e reconhecimentos também apresenta algumas desvantagens.
dos cursos, essas prerrogativas têm feito com Por um lado, a educação é um ato de
que seja possível que a educação a distância socialização e isto também se aplica à
trilhe um desenvolvimento em concomitante educação a distância, mas em muitos casos
à Educação Presencial. Contudo, existe limitados a interações pedagógicas. A maior
a perspectiva da confluência de ambas desvantagem é que o aluno é isolado com
modalidades, contando com um fator comum o tutor e colegas muitas vezes virtuais, o
as duas, ou seja, a necessidade das novas aluno tem dificuldade de acesso a recursos
tecnologias de informação e de comunicação educacionais. A pouca oportunidade de
(TIC’s) para o bom desenvolvimento das socializar com professores e colegas, e
atividades educativas. Desse modo, viabiliza- raramente a participar em atividades culturais
se mais a transposição de barreiras em criar ou esportes, comunidade promovidos
instrumentos de gestão e administração do pela sua instituição são entraves a serem
sistema de ensino que possibilitem a melhoria analisados.
da qualidade do ensino ofertado, assim
como, a estrutura justa da EaD de acordo Por outro lado, no processo educacional
com a realidade educacional brasileira. convencional o aluno aprende com base

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Revista Educar FCE - Março 2019

nos conteúdos estudados e na experimentação em laboratório, mas mudanças de atitude


também ocorrem em função do contato direto com o professor e com os colegas. Na
educação a distância, a redução de oportunidades de encontros face a face também reduz a
possibilidade de mobilizar atividades por meio do contato direto com outras pessoas.

Outro aspecto importante no processo educacional tradicional é o feedback que o professor


oferece aos alunos em relação ao seu desempenho nas diferentes atividades pedagógicas,
e isso é construtivo na medida em que o aluno se torna próximo do momento em que
os avanços ou limitações são percebidas. Na interação direta entre professor e alunos, o
feedback pode ser imediato, enquanto na educação a distância é mais lento e, em alguns
casos, pode chegar quando o aluno já avançou para outro tópico ou atividade. Embora novas
ferramentas digitais permitam a comunicação síncrona, isso nem sempre é possível devido a
diferenças no gerenciamento do tempo e no número de alunos atribuídos a cada tutor.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Buscamos no presente trabalho desenvolver uma reflexão
acerca do desenvolvimento da EaD desde suas fundações até
os dias atuais. A Educação a Distância vem ganhando cada
vez mais espaço no mundo moderno e propiciando novas
formas de aprendizagem significativas e democratizantes.

Desde o surgimento por meio de cartas a EaD busca


diminuir barreiras e criar pontes, diminuir as distâncias entre
quem busca formação e as instituições formadoras. A EaD
foi uma proposta que revolucionou o campo educativo
porque proporcionou quebras de paradigmas presentes no
tradicionalismo da sala de aula e da educação enquanto
privilégio de alguns grupos sociais citadinos, que deixava – MARCIA PEREIRA DE
por exemplo – campesinos distantes do processo, isso levou ANDRADE DO CARMO
à resistência dos setores profissionais mais conservadores. Graduação em Pedagogia pela Faculdade
UNIB em 10/12/2003; Especialista em
“O processo educacional mediado pelas Tecnologias da Informação
Psicopedagogia pela Universidade Iguaçu
e Comunicação adquire dimensões que precisam ser exploradas
em 25/06/2005; Professora de Ensino
segundo as perspectivas da era das redes. As relações educativas
Fundamental I - Polivalente – na Escola
possibilitam trocas comunicativas multidirecionadas, baseadas na
Municipal Acácia, Professora de Educação
participação, na colaboração e na interação entre todos os agentes.
Infantil no CEI Vila Capela.
Rompe-se assim com os velhos modelos pedagógicos baseados na
comunicação unilateral que privilegia o professor, desconsiderando
as peculiaridades do aluno.” (NETO, 2009, p. 45)

Em seu processo histórico fizemos alguns recortes com relação a gênese e aos momento
de fundamentação do sistema de EaD. Acreditamos que para que essa modalidade venha
se fortalecer faz-se mister a participação dos Estados propondo leis que estimulem sua
participação, bem como estimulem, valorizem e atualizem professores para sua continuidade
no sistema de ensino.

Dentre as características da educação a distância, destacam-se algumas que dão identidade,


como o papel do aluno, a flexibilidade, o uso de recursos tecnológicos, a função dos recursos
educacionais e a separação entre alunos e professores. Algumas dessas propriedades podem
ser vantajosas para os estudantes e outras desfavoráveis, já que muito disso depende das
circunstâncias e do perfil do aluno, da instituição e das necessidades referentes a formação

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que se busca. Enquanto para alguns, autonomia significa a oportunidade de tomar suas
próprias decisões e ter controle sobre o processo educacional, para outros pode ser uma
dificuldade na medida em que eles não dispõem de disciplina ou controle para assumir o seu
processo formativo, mesmo assim, ainda há muitos aspectos que carecem ser avaliados.

Por fim, a educação a distância enfrenta resistência desde a sua criação, muitos questionam
sua efetividade no que tange formar profissionais competentes, tem seus defensores e
seus críticos, no entanto, é mantido, cresceu e se fortalece no curso de aproximadamente
duzentos anos. Atualmente, milhões de pessoas estudam à distância e muitos tantos outros
milhões estudaram e colheram os frutos desse processo de aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental,
(1998). Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, v. 3.

FREIRE, Paulo, (2000). A educação Na Cidade. 4ª ed. São Paulo: Cortez.


Arte Na Educação Infantil. Disponível em: <http://www.construirnoticias.com.br/arte-na-
educacao-infantil/> Acesso em: 14 setembro, 2018

Diversidade Educacional Na Era Digital. Disponível em: <http://


diversidadeeducacionalnaeradigital.blogspot.com/2011/08/importancia-das-artes-visuais-
na.html> Acesso em: 14 setembro, 2018

JOLY, Ilza, Zenker, Leme, (2000). Um Processo de Supervisão de Comportamentos de


Professores de Musicalização Infantil Para Adaptar Procedimentos de Ensino. Tese de
Doutorado (Educação) São Carlos: UFSCar, 2000

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DA CULTURA
INFANTIL:
NEGRAESPAÇO
NO BRASILa
DE APRENDIZAGEM , EXPERIMENTAÇÃO E
SOCIALIZAÇÃO

CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL:


ESPAÇO DE APRENDIZAGEM,
EXPERIMENTAÇÃO E SOCIALIZAÇÃO
RESUMO: Neste artigo apresenta-se a discussão referente à organização dos espaços nos
Centros de Educação Infantil (CEIs) destacando do município de São Paulo.
Tem como objetivo analisar a importância do espaço para a aprendizagem e desenvolvimento
da criança, investigar de que maneira facilita a prática educativa, e como são utilizados no
dia a dia das instituições. Aborda-se a importância da organização do espaço no processo
educativo, e a adequação dos espaços físicos propícios para a qualidade dos espaços.
Considera-se a organização do espaço importante ferramenta pedagógica, que auxilia na
prática educativa e proporciona diferentes vivencias a criança. Desta forma, destaca-se
a importância da pesquisa e estudo voltada a um olhar diferente sobre a organização dos
espaços nas instituições da cidade de São Paulo.

Palavras-Chave: Organização dos espaços; Aprendizagem; Desenvolvimento; Prática educativa.

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INTRODUÇÃO EDUCAÇÕES INFANTIS E


CULTURA DA INFÂNCIA
O presente trabalho propõe a apresentar a
discussão sobre a organização dos espaços na O Referencial Curricular Nacional para
Educação Infantil, com o intuito de pesquisar a Educação Infantil, elaborado e difundido
exclusivamente a organização dos espaços pelo Ministério da Educação e do Desporto
nas creches do município São Paulo. O (MEC), em 1988, em consonância com a
objetivo principal da pesquisa em andamento LDB, integrou o processo de regularização
remete para a organização dos espaços dos da Educação Infantil, mas não se constitui em
CEIs paulistanos e sua importância para instrumento legal obrigatório a ser seguido
a aprendizagem e o desenvolvimento da pelos educadores dessa faixa etária. Consiste
criança, como também a maneira como em um “guia de reflexão” cujo objetivo é
os espaços facilitam a prática educativa e constituir para a elaboração dos projetos
como são utilizados no desenvolvimento das educacionais propostos pelas instituições de
atividades. Educação Infantil.

Este artigo apresentará um pouco da O Referencial, composto de três volumes,


história e contexto da educação infantil, consiste em uma resposta que o MEC procura
assim como o currículo, especialmente nos dar às necessidades de orientação apontadas
CEIs, hoje sendo a matricula um direito da por estudos realizados e que resultam
criança, onde a mesma tem função de cuidar na população do documento “Proposta
e educar. Destaca-se também a importância Pedagógica e Currículo em Educação
da organização do espaço no processo Infantil- um diagnóstico e a construção de
educativo. O trabalho proposto busca auxiliar uma metodologia de análise”. “Entre outras
na percepção da qualidade dos espaços, constatações institucionais para a garantia
como também na construção e adequação da qualidade nessa etapa educacional” (p.14)
de ambientes propícios para atividades
pedagógicas, auxiliando o educador em sua Assim, a referencial parte da perspectiva
prática diária e contribuindo em vivências de ser incorporado ao projeto educacional
significativas para a criança. Neste contexto, da instituição caso ele traduza a vontade
justifica-se a relevância e importância desta dos educadores envolvidos e atenda
pesquisa, com proposito de investigar a às necessidades específicas de cada
organização dos espaços na Educação equipamento.
Infantil.
Sobre aos CEIs, o texto revela que essas
instituições visaram atender às finalidades
sociais diferente, ao longo da história, no
Brasil e no mundo. Muitas dessas instituições

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Revista Educar FCE - Março 2019

objetivaram, em sua origem, o combate à que a criança interage com o mundo, por
pobreza. Surgiu como recurso de garantir meio de varias linguagem e do brincar.
a sobrevivência da criança, o que lhes
garantiam um caráter assistencialista, porém Quanto à concepção de educação, o texto
muita coisa mudou nos últimos anos. refere-se ás funções do educar e do cuidar.

O Referencial alerta para o fato de que: Educar significa “proporcionar situações


de cuidados, brincadeiras que possam
a modificação de uma concepção” de educação contribuir para o desenvolvimento das
assistencialista envolve a assunção de capacidades infantis de relação interpessoal,
especialidades da Educação Infantil, a revisão de ser e estar com os outros em uma atitude
de concepções sobre a infância a das “relações básica de aceitação, respeito e confiança, e
entre as classes sociais, as responsabilidades
o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos
da sociedade e o papel do estado diante das
da realidade social e cultural” (p.23).
crianças pequenas. (p. 7)

Cuidar é compreendido na instituição da


Quanto às especificidades da Educação Educação Infantil como parte integrante
Infantil, é assinalado que esta deve promover da “embora possa exigir conhecimentos e
a integração entre os aspectos físicos, habilidades e instrumentos que extrapolam
emocionais, afetivos e sociais da criança, a dimensão pedagógica” envolvendo
alertando que privilegiam os aspectos conhecimento e cooperação de outras áreas.
físicos, outras enfatizam as necessidades
emocionais e outras, ainda, ressaltam o A integração entre as funções de educar
aspecto cognitivo. e de cuidar é colocada no documento como
uma necessidade, de modo a não ser mais
A concepção de criança proposta pelo diferenciar ou hierarquizar os profissionais
referencial tem com um modelo interacionista e instituições que atuam com a criança
de homem pelo qual a criança se desenvolve pequena e /ou aqueles que lidam com a
influenciada pelo meio social em que vive ao criança menor.
mesmo tempo em que atua sobre ele. Essas
influências chegam até a criança por meio Além disso, as novas funções da Educação
do outro com o qual ela interage e que, na Infantil (aquelas decorrentes da inclusão
maioria das vezes, é a família. Nesse processo da creche no sistema de ensino) devem
interativo, ela se desenvolve de modo ser realizadas por meio de um “padrão de
singular, criando uma identidade própria, qualidade”. Nota-se, nesses dois aspectos, o
embora haja características comuns a esse flagrante reconhecimento da criança de 0 a
período. Ressaltam-se nessa concepção a 3 anos no mesmo patamar da criança 4 a 6
atividade e a expressividade singulares com anos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Mas é visível a mudança no planejamento no


currículo, principalmente “a partir da perspectiva
conhecimentos de forma crítica, criativa e
sistêmica, pressupõe como método de trabalho
consistente.
no qual professores apresentam objetivos
educacionais gerais, mas não formulam objetivos
específicos para cada projeto ou atividade de OS ESPAÇOS DENTRO DO
antemão. Em vez disso, formulam hipóteses CEIs E A APRENDIZAGEM
sobre o que poderia ocorrer com base em seu
conhecimento das crianças e das experiências Os espaços devem ser organizados de
anteriores. (RINALDI: 1999,113). forma a desafiar a criança nos campos:
cognitivo, social e motor. Oportunizando
Pode haver reflexão enfocando a criança, a criança de andar, subir, descer e pular,
sujeito de nossas práticas, e suas relações com através de várias tentativas, assim a criança
a sociedade atual. Para tanto, é necessário estará aprendendo a controlar o próprio
tornar presente as relações passado- corpo, um ambiente que estimule os
presente-futuro, buscando compreender, sentidos das crianças, que permitam a elas
através da trajetória da infância na história, receber estimulação do ambiente externo,
o que é ser criança hoje. Tal compreensão como cheiro de flores, de alimentos sendo
possibilita-nos enxergar como e por onde preparados. Sentindo a brisa do vento, o
podem ocorrer mudanças qualitativas no calor do sol, o ruído da chuva.
tempo presente.
Experimentando também diferentes
Pensar uma proposta para a Educação texturas: liso, áspero, duro, macio, quente,
Infantil que seja capaz de enfrentar as frio. Carvalho & Rubiano dizem que:
questões que afetam as relações entre a
criança e a sociedade, não devemos imaginar a variação da estimulação deve ser procurada
que seja possível a existência de um modelo em todos os sentidos: cores e formas; músicas
único, adequado a todas as crianças e e vozes; aromas e flores e de alimentos sendo
realidades, pois isso será contrário a tudo feitos; oportunidades para provar diferentes
sabores. (2001, p.111)
o que sabemos sobre as diferenças que
constituem as crianças, famílias e educadores,
fruto de suas diferentes inserções históricas Personalizar o ambiente é muito
e culturais na sociedade. importante para a construção da identidade
pessoal da criança, tornar a criança
Podemos e devemos, entretanto, pensar competente é desenvolver nela a autonomia
em alguns eixos orientado¬res da construção e a independência. Ao oferecer um ambiente
das práticas pedagógicas, que deverão rico e variado se estimulam os sentidos e os
ser priorizados, no sentido de garantir às sentidos são essenciais no desenvolvimento
crianças a possibilidade de construírem seus do ser humano.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A sensação de segurança e confiança é Como garantir o espaço e o tempo para


indispensável visto que mexe com o aspecto que as diversas modalidades de brincar
emocional da criança. Oportunizando aconteçam? Nos CEIs, quais são as atividades
as crianças de interagirem e em certos com as quais as crianças se ocupam? Quais
momentos que desejarem ficarem sozinhas as experiências necessárias para que uma
brincando. Carvalho e Rubiano afirmam que: criança interaja? Com trazer o brincar como
eixo norteador do currículo?
Todos os ambientes construídos para crianças
deveriam atender cinco funções relativas Os bebes engatinham, andam, manipulam
ao desenvolvimento infantil, no sentido de objetos, buscam aconchego, brincam
promover: identidade pessoal, desenvolvimento de esconde-esconde, cantam, dançam,
de competência, oportunidades para
disputam objetos, ouvem histórias, planejam
crescimento, sensação de segurança e confiança,
festas, brincadeiras, fazem amigos, choram e
bem como oportunidades para contato social e
são consoladas, e muito mais. Assim, quando
privacidade. (2001, p.109).
olhamos as formas como a cultura tecida no
cotidiano, vemos as crianças aprendendo
Para que os espaços favoreçam o constantemente.
brincar, os educadores dos CEIs devem
ter consciência de que a brincadeira é um Quais espaços organizar para que a
processo de relações entre as criança e o experiência do brincar seja essencial para
brinquedo e das crianças entre si e com que a criança e que possa ser produtora
os adultos, e que ato de brincar é muito de cultura, manifestando-se por diferentes
importante para o desenvolvimento integral linguagens.
da criança.
É sabido que na tarefa de garantir às
As crianças se relacionam de varias formas crianças seu direito de viver a infância e
com as brincadeiras, pois, existem varias desenvolver-se, os CEIs, devem organizar
possibilidades de brincar: solitariamente; em seu currículo para que possa ampliar as
grupo; entre crianças de idades diferentes; possibilidades infantis de ter o brincar o
entre adultos e crianças. brincar no cotidiano.

Existem diferenças também entre: Nesse esforço, os CEIs, devem assegurar


brincadeiras organizadas pelas próprias a todas as crianças o direito de ter acesso
crianças; brincadeiras tradicionais; jogos; a informações que lhes ajudem a observar
atividades lúdicas propostas pelo adulto, com e a construir significações pessoais sobre o
conteúdos específicos a serem atingidos. mundo e sobre si mesmas.

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Revista Educar FCE - Março 2019

As Diretrizes Curriculares para a Educação Segundo o REFERENCIAL CURRICULAR


Infantil de 2009 – DCNs e o documento NACIONAL (1998), para a educação infantil
Práticas Cotidianas na Educação Infantil: , o desenvolvimento da criança acontece
Bases para a reflexão sobre as orientações através do lúdico é necessário que a criança
curriculares, muitos princípios da do currículo brinque, tenha prazer para crescer, precisa
holístico (integral) aparecem. do jogo como forma de equilíbrio entre ela
e o mundo, portanto, a atividade escolar
Nas DCNs está posto que o currículo é: deverá ser uma forma de fazer e de trabalho,
fazendo com que a criança tenha um
um conjunto de práticas que buscam desenvolvimento completo.
articular os saberes e experiências das
crianças com o patrimônio cultural, artístico, Brincar é uma das atividades fundamentais
ambiental, cientifico e tecnológico, de modo para o desenvolvimento da identidade e da
a promover o desenvolvimento integral da autonomia. O fato de a criança, desde muito
criança cedo, poder se comunicar por meio de gestos,
sons e mais tarde representar determinado papel
na brincadeira faz com que ela desenvolva sua
Entretanto, existem muitas escolas que não vêem
imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem
a importância do brinquedo e a atividade lúdica
desenvolver capacidades importante tais como
para a criança, achando que só a alfabetização
a atenção, a imitação, a memória, a imaginação.
é importante. De acordo com FREIRE (1997 p
Amadurecem também algumas capacidades
20). “De que nada vale esse enorme esforço
de socialização, por meio da interação e da
para alfabetização se a aprendizagem não foi
utilização e experimentação de regras e papeis
significativa. E o significado, nessa primeira fase
sociais. (REFERENCIAL CURRICULAR, 1998, p.
de vida depende, mais do que qualquer outra, da
22).
ação corporal”.

KISHIMOTO (2000), afirma que, enquanto Para PIAGET (1971) a escola desempenha
brinca, o ser humano vai garantindo a um importante papel no desenvolvimento da
integração social além de exercitar seu criança, visto que as trocas proporcionadas
equilíbrio emocional e atividade intelectual. pelo ambiente escolar permitem o
É na brincadeira também que se selam desenvolvimento da mesma. Porém a fim
parcerias, porém o aprendizado não deve de contribuir com esse desenvolvimento a
estar presente só na escola, mas também escola deve estabelecer um ambiente onde
como parte do dia-a-dia, na medida em que a criança interaja e troque conhecimento a
a criança progride em seu desenvolvimento partir de sua realidade.
e amadurecimento é necessário que ela
manifeste o que é próprio de cada etapa de A escola ao valorizar as atividades lúdicas,
sua vida. ajuda a criança a formar bom conceito de

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Revista Educar FCE - Março 2019

mundo em que a afetividade, a sociabilidade Assim a atividade lúdica, o jogo, o


e a criatividade serão estimuladas. A partir brinquedo e a brincadeira são essenciais no
de um trabalho onde a ludicidade será desenvolvimento e na educação da criança,
valorizada, poderemos oportunizar o resgate uma vez que partindo do pressuposto de que
de potencial de cada disciplina. Cada um é brincando e jogando que a criança ordena o
pode desencadear estratégias lúdicas para mundo á sua volta, assimilando experiências,
dinamizar seu trabalho, que certamente, será informações e assim, incorporando valores.
mais produtivo, prazeroso e significativo.
As pesquisas revelam que durante os
Pode-se dizer que a atividade lúdica, o primeiros anos de vida, a criança assimila
jogo, permite liberdade de ação, naturalidade conhecimentos, habilidades e hábitos,
e prazer que raramente são encontrados formando capacidades, qualidades e
em outra atividade escolar. O lúdico é valores morais para a vida toda. Daí entra
essencial para uma escola que se proponha a importância da atividade lúdica nessa
não somente o sucesso pedagógico, etapa da vida, onde o desenvolvimento
como também à formação do cidadão. A das esferas cognitivas, motoras e afetivas
convivência de forma lúdica e prazerosa são potencializadas, por isso é necessário
com a aprendizagem proporcionará a estimular.
criança, estabelecer relações cognitivas às
experiências vivenciadas. As atividades lúdicas proporcionam
a vivencia do aqui agora, integrando a
O desenvolvimento motor sofre grande ação, o pensamento, onde podem ser uma
influencia do meio social e biológico, podendo brincadeira, um jogo ou qualquer outra
sofrer alterações durante o seu processo. Sabe- atividade que possibilite alegria e prazer.
se que a escola é um dos locais de oferta de
espaço adequado para o desenvolvimento
Ao brincar, a criança assimila conceitos,
motor da criança, visto que o brincar significa o
experiências, vivencia. A capacidade de
meio mais importante para as aprendizagens dos
brincar possibilita ás crianças um espaço para
pequenos ( GALLAHUE E OZMUN, 2005, p.72).
resolução dos problemas que as rodeiam.

VYGOTSKY (1998) atribuiu relevante O brincar é um ato social que permite uma
papel ao ato de brincar na constituição do comunicação através de gestos, mesmo que
pensamento infantil, mostrando que é no não haja comunicação verbal. É no brincar que
brincar, jogar que a criança revela seu estado a criança tem a oportunidade de expressar o
cognitivo, visual, auditivo, tátil e motor. A que está sentindo ou necessitando, é através
criança por meio da brincadeira constrói seu das brincadeiras de faz de conta que ela
próprio pensamento. constrói o seu mundo imaginário situado em
experiências vividas.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Por meio das brincadeiras as crianças motoras, cognitivas ou lingüísticas, alem de


podem manifestar certas habilidades que permitir expressar as diferentes expressões
não seriam esperadas para a sua idade. vivenciadas em seu contexto sociocultural.
Segundo VIGOTSKY (1998), a partir dessa
manifestação de habilidades cria-se o O brincar leva as crianças “ao mundo do
conceito de “zona de desenvolvimento imaginário, da fantasia”, e a partir daí, as
proximal” que consiste na distancia entre crianças encontram sentido para sua vida, é
aquilo que a criança consegue e sabe fazer nas brincadeiras que idéias se concretizam e
sem o auxilio de um adulto e o que é capaz que as experiências são construídas de muitos
de realizar com a ajuda de um adulto ou modos e repetidas tantas vezes quanto à
uma criança mais velha, que depois realizará criança quiser. As situações vivenciadas são
sozinha. transportadas para as brincadeiras e sentidas
como na realidade.
É nesse contexto que o jogo pode ser
considerado um excelente recurso a ser Nesse sentido, quando brinca, a criança
usado quando a criança entra na “escolinha”, carrega consigo, angústias frustrações
já que é parte essencial de sua natureza, e todo o estado emocional, construindo
podendo favorecer tanto os processos que dessa maneira, sua personalidade. Através
estão em formação, como outros que serão desta, ultrapassa limites e obstáculos, e
completados. Podemos analisar a importância principalmente na primeira infância, adquire
dos jogos no desenvolvimento infantil e de e desenvolve habilidade para conseguir
salientar a contribuição na aprendizagem, superar dificuldades e ou enfrentar desafios
visto que o jogo é uma atividade própria que poderão surgir na vida adulta.
da infância podendo se desenvolver de
maneira individual ou coletiva, contribuindo Brincando, as crianças aprendem a
dessa forma com a socialização através das cooperar com os “amiguinhos”, a obedecer às
relações com o seu eu e tudo que o cerca. Os regras, a respeitar, a acatar a “autoridade”, a
jogos trazem possibilidades de crescimento assumir responsabilidade, a dar oportunidade
pessoal, pois quando a criança brinca ou aos demais, enfim, a viver em sociedade
participa de jogos, libera necessidades e (ROJAS 2006).
interesses espontaneamente.
Segundo FREIRE (1997), as brincadeiras
O brincar está estritamente ligado ao têm grande significado no período da infância,
fator social, pois é um meio utilizado pela onde de forma segura e bem estruturada pode
criança para que ela possa relacionar com o estar presente nas aulas de Educação Física
ambiente físico e social no qual está inserida, dentro da sala de aula e no dia a dia. O que
despertando assim sua curiosidade e a criança aprende quando pequena, serve de
ampliando seus conhecimentos e habilidades base para uma aprendizagem superior.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Através desta pesquisa, fica possível crianças estão pequenas e que brincadeiras
perceber que a atividade lúdica e o jogo e jogos adequados à faixa etária devem estar
intervém no processo de desenvolvimento e presentes em todos os momentos .
aprendizado da criança. O jogo é agradável,
motivador e enriquecedor, possibilitando o As Orientações Curriculares: Expectativas
aprendizado de varias habilidades e também de aprendizagem e Orientações Didáticas /
auxilia no desenvolvimento mental, na SME. SP trás como tema norteador o brincar
cognição e no raciocínio infantil. A ludicidade na Educação Infantil.
precisa ser valorizada por todos.
Ao brincar as crianças são desafiadas
A análise dos resultados desse estudo, às situações novas ou incongruentes
resultante de exploração bibliográfica, nos construídas de diferentes formas, elas
mostra a importância da estimulação através exploram e fazem encaminhamentos
de atividades lúdicas, no desenvolvimento inovadores com diferentes parceiros. As
da criança na primeira infância, como brincadeiras também são espaços de poder
é importante os primeiros anos de vida que as crianças ocupam para exercer o
para o desenvolvimento humano. Os pais, controle não só sobre si mesmas, mas para
babás, professores e facilitadores em geral, se diferenciar e confrontar os adultos e a
precisam está bem informada sobre isso, pois cultura do mundo adulto.
exerce papel relevante na formação, pois
a criança evolui no seu desenvolvimento, Todas as formas de brincadeira aprendidas
descobre, inventa, experimenta, pergunta, pelas crianças são enriquecidas com o
troca informações e vai construindo trabalho feito no conjunto das experiências
o seu conhecimento sobre o mundo e por elas vividas nas outras dimensões, como:
desenvolvendo sua inteligência. Esse a linguagem verbal e a contagem de histórias, a
processo diz respeito à totalidade da criança dimensão das linguagens artísticas e também
e a forma como ela se insere no mundo. dos saberes que a criança vai construindo
enquanto pensa o mundo social e o da
natureza, e a dimensão do conhecimento de
A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS medidas, proporções, quantidades.
E BRINCADEIRAS NO CEIS
O importante é o professor compor
Ao refletirmos sobre os espaços devemos um conjunto de atividades lúdicas que
também atentar como as crianças de 0 a 3 se promovam as culturas infantis e a construção
relacionam com as brincadeiras. pelas crianças de um olhar diferenciado para
o mundo. Para apoiar o desenvolvimento
Percebemos como a organização dos da criatividade das crianças no brincar, o
espaços possibilitam a aprendizagem destas professor necessita:

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• ter em mente que, para a criança envolver-se em brincadeiras, ela necessita sentir-
se emocionalmente bem no espaço que ocupa e na relação com os adultos e as outras
crianças presentes, e precisa querer brincar.

• lembrar que a criança brinca no seu dia-a-dia, não apenas nos minutos destinados ao
parque, o que vai exigir um planejamento do conjunto das atividades das crianças que
considere o caráter essencialmente lúdico das vivências infantis.

• ser um observador atento e sensível da brincadeira voltado para acompanhar a riqueza


das interações infantis que aí ocorrem.

• organizar oportunidades para a realização de brincadeiras diversificadas segundo


os interesses de diferentes grupos, deixando as crianças circularem pelos ambientes e
envolverem-se em diferentes tipos de jogos.

• conhecer os jogos e brincadeiras infantis (seus temas, materiais, personagens,


etc.);estimular as crianças a assumir personagens na brincadeira de faz-de-conta;

• garantir oportunidade para a criança brincar isoladamente e em grupos, com parceiros


da mesma idade e de idades diferentes (não apenas os da sua própria turma), de forma
livre ou mediada pelo professor;
• incentivar a autonomia das crianças na organização de materiais e na criação de
cenários, enredos e papéis para brincar;

• disponibilizar objetos, indumentárias e outros elementos que apoiem as crianças


a imitar situações da vida cotidiana, a assumir determinados papéis, ou a reproduzir as
ações do personagem de uma história lida pelo professor em outra situação;

• ajudar as crianças na superação dos conflitos desencadeados em suas brincadeiras;

• criar condições para que as brincadeiras possam ocorrer no interior do prédio, em sua
parte externa, ou no campinho gramado ou praça, vizinhos ao CEI;

• apoiar a ampliação do repertório de brincadeiras e a diversidade de possibilidade de


brincar das crianças, além do faz-de-conta: jogos de regras, brincadeiras cantadas, jogos
de tabuleiro, entre outros;

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• incentivar as crianças a tomar as brincadeiras vividas como assunto tanto nas rodas
de conversa quanto nas situações comunicativas informais envolvendo professores e
crianças;

• ajudar as crianças a organizar os espaços e os objetos que estruturam o enredo, o


cenário e os papéis adotados no faz-de-conta;
• cuidar para que as regras propostas pelo grupo para um determinado jogo sejam
mantidas, e assumir o papel de juiz em um jogo de regra, ou em um jogo esportivo;

• assumir um papel em um faz-de-conta considerando as situações criadas pelas crianças


tanto em relação aos temas, personagens, clima emocional etc., e as regras, materiais
utilizados, organização do espaço, formas de cada criança desempenhar certos papéis.

Como também já foi os materiais disponíveis para a brincadeira devem;

• ser bastante diversificados e flexíveis – brinquedos (convencionais, industrializados


e artesanais) e materiais não estruturados (papelão, tecidos, pneus e outros materiais
reaproveitáveis), favorecendo as invenções infantis.

• incluir fantasias e adereços que possibilitem às crianças viverem diferentes papéis.

• contar com a presença de objetos da própria cultura, incluindo diferentes portadores


de textos, que podem alimentar variados enredos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de o estudo ainda não apresentar dados concretos,
entende-se que a organização dos espaços necessita ser
entendida pelos profissionais da educação como essencial
no contexto escolar, sendo ferramenta pedagógica que pode
ser utilizada de forma positiva na prática educativa como
também favorecer para a aprendizagem e desenvolvimento
da criança.

Portanto cabe ao educador planejar e refletir sobre o espaço


educativo adequado, sendo acolhedor, sociável, e contribua
à criança na sua rotina diária interligando conhecimentos de
família, escola e sociedade.
MARIA DAS GRAÇAS REIS
O espaço deve ser desafiador, estimulador, aconchegante, BOMFIM
que desperte o interesse, participação, proporcionando
Graduação em Pedagogia, Pontifícia
o brincar, criar, imaginar, construir suas brincadeiras, do Universidade Católica (2002); Graduação
significado, permitindo a produção de conhecimento em Historia, Centro Universitário de
durante a brincadeira, para que a criança supere seus limites Araras (2008). Professora de Ensino
e construa suas potencialidades, desenvolvendo diferentes Fundamental e Educação Infantil trabalha
áreas de conhecimento de forma cognitiva e motora. no CEI Parque Cocaia.

Neste sentido, entende-se que o presente estudo poderá


servir de subsídio para refletir a organização do espações
das instituições de educação infantil do município de São
Paulo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

A IMPORTÂNCIA DA
PARLENDA NO PROCESSO DE
ALFABETIZAÇAO E LETRAMENTO
RESUMO: Este artigo parte do pressuposto de que o Letramento é um conceito criado
para referir-se ao uso da língua escrita não somente na escola, decorrente da vivência do
ler e escrever, em que possuem uma significação, uma funcionalidade para os indivíduos.
Os atos corriqueiros do cotidiano estão carregados de ensinamentos sobre a língua, que
deve ser tomado como experiências sociais destes na construção da leitura e escrita, na
sistematização desta, não fragmentando o processo de alfabetização e letramento, que
ocorrem juntos. Nesse sentido, por intermédio de experiências do ensino-aprendizagem,
buscou-se compreender a importância da parlenda no processo de alfabetização e letramento
de crianças, pontuando os benefícios deste tipo de texto para a prática pedagógica. Desse
modo, em um contexto lúdico, analisou-se a parlenda por sua rica influência na cultura
infantil, bem como seu domínio nas brincadeiras tradicionais, considerando a importância
desse tipo de texto na alfabetização e letramento das crianças.

Palavras-Chave: letramento; alfabetização; letramento; parlendas.

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INTRODUÇÃO Além disso, elas estimulam a imaginação,


a fantasia e a criatividade tornando o
Essa pesquisa tem por objetivo geral aprendizado agradável e prazeroso,
fazer uma pesquisa sobre como as parlendas propiciando as crianças devolver e ampliar
podem auxiliar as crianças nas series iniciais vários campos de experiencia.
a ampliarem seu conhecimento de mundo
e consequentemente devolver habilidades Deste modo, podemos afirmar que a
cognitivas favorecendo a aprendizagem, brincadeira é de extrema importância para
mas especificamente, Evidenciar como a evolução das crianças podendo vivenciar
as parlendas pode ser um rico recurso situações que desenvolva sua convivência
para desenvolver a oralidade ampliando a em grupo representando papeis sociais e
compreensão de mundo, colaborando para consequentemente aprimorar seu senso
que façam relação do falado e do escrito. crítico.

A pesquisa foi desenvolvida baseada Assim podemos dizer que as atividades


na observação da pratica docente com lúdicas infantis oferecem um rico material
alunos das series iniciais que apresentam a ser utilizado, uma vez que os jogos, as
dificuldades em relação a alfabetização. parlendas, as brincadeiras cantadas fazem
Notou-se que tais dificuldades podem ser parte do cotidiano das crianças, portanto elas
amenizadas definindo uma nova postura em estão presentes não só no seio da família ou
relação ao processo ensino-aprendizagem no pátio da escola, mas também em sala de
proporcionando melhor qualidade ao aula.
processo em questão.
Deste modo, o processo de ler e de
Sendo assim, utilizou -se aqui a parlenda escrever, vai além de entender os sons
como um dos recursos auxiliares para a das letras do alfabeto e inclui um método
melhoria do ensino obtendo-se assim, dinâmico da construção do significado da
melhores resultados visto que a parlenda escrita, pois o contexto social e cultural
apresenta características que o torna lúdico é um aspecto importante a considerar na
e prazeroso para as crianças. compreensão da arte de aprender.

A parlenda apresenta uma abordagem Assim, de modo geral, observa-se que o


especial na pesquisa por ser um texto que está aluno transfere para as diversas situações
presente no convívio da criança tornando a dos cotidianos os objetos de estudo e que
atividade mais dinâmica e contextualizada permite fazer relações enquanto agente de
permitindo que elas possam estabelecer seu próprio conhecimento, organizando seus
interações e construírem significados, problemas da aprendizagem e estratégias
ampliando o seu conhecimento de mundo. utilizadas para resolve-los, para que isso

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ocorra é necessário promover situações de escrita alfabético em um ambiente que


onde eles possam construir novos saberes. rompe com essa prática. O fato é que não
se pode deixar de lado o desenvolvimento
Dessa maneira, busco despontar nessa de atividades para a aprendizagem da língua,
pesquisa como as atividades com parlendas que contemplem elementos que remetam ao
coopera para o desenvolvimento da lúdico.
linguagem oral, favorecendo a aprendizagem,
pois os textos por serem curtos e fáceis Weisz (2004) enfatiza que “para que
de memorizar auxilia na alfabetização e o aluno possa pôr em jogo o que sabe, a
letramento. escola precisa autorizá-lo e incentivá-lo a
acionar seus conhecimentos e experiências
Nas brincadeiras das crianças percebemos anteriores fazendo uso deles nas atividades
que elas conseguem interpretar diversos escolares” (p.66).
papeis sociais estimulando sua capacidade
criadora e interação com o outro. Sendo Tomando essas afirmações, alfabetizar
assim, entendemos que o lúdico proporciona torna-se primordial, se levar em conta
meios para que a criança vivencie situações aspectos que envolvam práticas de
diversas ampliando seu conhecimento e letramento, que remetam o sentido social da
facilitando a aprendizagem. leitura e da escrita. Confirmam -se então na
aprendizagem da nossa língua, que não há
Dessa maneira, a parlenda deve fazer parte lugar para práticas que separem esses dois
do cotidiano escolar, auxiliando no processo processos.
de ensino-aprendizagem e resgatando
elementos culturais folclóricas muitas vezes Diante disso, é notório que
esquecidas nas escolas. promover atividades lúdicas beneficia o
desenvolvimento do processo de ensino-
aprendizagem pois proporciona aos alunos
O LÚDICO NO PROCESSO diferentes maneiras de refletirem sobre o
DE ALFABETIZAÇAO sistema de escrita e consequentemente
favorecer um ensino mais voltado a formação
E LETRAMENTO:POR de um cidadão crítico e reflexivo.
QUAL RAZÃO UTILIZAR A
PARLENDA? Além disso, as parlendas, por serem fáceis
de memorizar, auxilia o aluno a fazer os
O processo de alfabetização e letramento ajustes da fala e a escrita proporcionando
como já se discorreu, deve ser também desafios cognitivos para que progridam na
perpassado pelo lúdico, pelo prazer. As aprendizagem, como também, oportunizam
crianças não podem se apropriar do sistema os mesmos desenvolverem estratégias

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de leitura como a antecipação, em que as de memorizar. É possível acompanhar as


crianças têm a oportunidade de prever musicas com palmas e escoações sonoras.
informações e suporem situações sobre a
leitura Os textos apresentam uma característica
própria em relação ao som que facilita o
Desta maneira, percebe-se que é entendimento entre a oralidade e a escrita.
possível despertar o interesse dos alunos Sendo assim, propicia um avanço significativo,
desenvolvendo atividades prazerosas e pois a criança estrutura a linguagem e seus
significativas no cotidiano escolar. signos brincando e compreendem que a
escrita e a leitura são meios de se comunicar,
de cantar, recitar.
DEFINIÇÃO DE PARLENDAS
Segundo CASCUDO (1979) os versos das
Parlendas fazem parte das manifestações parlendas tem dois objetivos;
orais da cultura popular, são versos rimados
que fazem parte do folclore brasileiro. A) Entreter, acalmar e divertir as crianças;

O conceito de parlenda desenvolvido por B) Escolher quem deve iniciar o jogo


Almeida e Baroukh (2013), os autores se ou aqueles que devem tomar parte da
referem que a palavra parlenda deriva dos brincadeira.
termos “parlar” ou “parlengar”, que significam
“tagarelar”. São conhecidas também como Assim, por constituir-se parte da literatura
“lenga-lengas”. oral, a parlenda pode se apresentar como
uma grande ferramenta na aprendizagem da
Um exemplo são os trava-línguas, as escrita e da leitura por parte das crianças.
quadrinhas, as fórmulas de escolha. Outras
parlendas se destinam à memorização de
números, de informações utilizadas no dia a CONCEITO DE LETRAMENTO
dia, como dias da
Assim também como o conceito de
semana ou meses do ano, e são chamadas de alfabetização, o conceito de letramento deve
“cantigas mnemônicas. (ALMEIDA E BAROUKH, ser de todo esclarecido: conforme Soares
2013, p. 44) (2004 b) necessita-se afirmar que letramento
é o desenvolvimento de comportamentos
As parlendas são conhecidas pelo e habilidades de uso competente da
simbolismo poético, são versos rimados leitura e da escrita em práticas sociais:
e com ritmo. A maioria das parlendas são distinguem-se tanto em relação aos objetos
curtas e por essa razão são muito fáceis de conhecimento quanto em relação aos

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processos cognitivos e linguísticos de aprendizagem e, portanto, também de ensino desses


diferentes objetos. (p. 97).

Portanto, alfabetizar e letrar são processos, indissociáveis. devem funcionar de maneira


integrada e articulada.

Assim, a criança constrói seu conhecimento ortográfico e alfabético da língua, por


meio de situações de letramento, ou seja, interagindo com materiais escritos, imersos em
sua realidade, participando e compreendendo as práticas sociais da leitura e da escrita, e
desenvolvendo competências e habilidades no uso da língua (SOARES, 2004b).

Dessa forma, não se pretende julgar este ou aquele método, mas compreender que o
processo de alfabetização não pode mais ser pensado como uma repetição mecânica de
letras e sílabas, uma decodificação de sinais.

Não há como negligenciar o conhecimento prévio das crianças, visto que este se carrega
de significados, e significados estes que esclarecem e norteiam construções sobre a
aprendizagem da língua. É necessário romper com práticas conteudistas, repetitivas e pensar
que as crianças possuem suas próprias teorias sobre o funcionamento da língua.

Elas vão testando estas teorias conforme vão sendo apresentadas às estruturas que
compõem esta língua e as hipóteses que levantam sobre ela as fazem descobrir, por suas
experiências, como ela funciona, na interação com o outro, na investigação, na troca, “pois
as crianças aprendem a escrever escrevendo, e para isso lançam mão de vários esquemas:
perguntam, procuram, imitam, copiam, inventam, combinam” (SMOLKA, 1988).SOARES
(2001:38) cita que:

Letramento é o resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais da leitura e escrita. O estado ou
condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita e
de suas práticas sociais.

Diante dessa citação é possível afirmar que para haver o letramento o indivíduo necessita
compreender a função social da leitura e da escrita apropriando-se da linguagem para que a
utilize com significado.

Conclui-se então na aprendizagem da nossa língua, que não há lugar para práticas que
separem esses dois processos.

1423
Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A intenção da presente pesquisa teve como objetivo,
direcionar a prática pedagógica ao entendimento e
apropriação de conceitos fundamentais inerentes ao
processo de alfabetização e letramento, por meio de textos
que as crianças conhecem de memória, e que direcionam
a prática docente, para uma atuação competente e crítica
necessária às demandas educacionais da contemporaneidade,
imbricadas na dinâmica social em que as relações de ensino- MARIA APARECIDA
aprendizagem se articulam, na apropriação de instrumentos FEITOSA
para a aquisição da leitura e da escrita, especificamente e
Graduação em LETRAS pela Faculdade
como este tipo de texto é imprescindível para o processo de UNICASTELO (1999)
ensino-aprendizagem.

Deste modo, a escola toma para si a importante utilidade


de favorecer e possibilitar o acesso aos instrumentos
necessários à aquisição do saber elaborado, colocando o
sujeito docente e a escola como principais articuladores e
organizadores básicos para esse processo de apropriação.

Nesse sentido, procurou-se constatar que a utilização do


gênero textual, parlenda, em atividades de alfabetização,
aproveitando-se de seu peso cultural e de seu domínio na
oralidade favorece a construção de novos conhecimentos
e colabora na aquisição da escrita, pois os textos facilitam
esse domínio.

Deste modo é possível perceber que a ofertas de textos que fazem parte do cotidiano do
aluno favorece a aprendizagem, pois permite que os mesmos possam ajustar seus saberes
superando assim suas dificuldades.

Assim, concluiu-se que o processo de alfabetização e letramento necessita garantir que


se estabeleça relações com o uso social que se faz da leitura e da escrita, e que este pode se
valer de gêneros textuais que povoam e carregam de cultura a vida dos sujeitos.

É este tipo de texto que deve ser inerente ao processo de alfabetização, aquele que
procede da vida real de cada criança.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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WEISZ, Telma. Como fazer o conhecimento do aluno avançar. In.: O diálogo entre o ensino
e a aprendizagem. São Paulo: Editora Ática, 2004, p. 65-82

1425
Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

A INCLUSÃO DE CRIANÇAS
PORTADORAS DE NECESSIDADES
ESPECIAIS NO CONTEXTO ESCOLAR
RESUMO: Este artigo tem como objetivo principal discorrer sobre a inclusão de crianças
portadoras de necessidades especiais no âmbito educacional no contexto escolar, apontando
o papel da escola e do professor frente a essas crianças. Quanto à escola, cabe o acolhimento
das crianças com deficiência, seja física, visual, intelectual, com problemas de comportamento
de conduta, de aprendizagens, os superdotados, enfim, todas as minorias discriminadas. Já o
professor deve ser um facilitador que contribui com o ensino-aprendizagem. Cabe ressaltar
a importância da interação professor-aluno e aluno-aluno, bem como, as atividades lúdicas,
uma vez que a criança interage e aprende brincando.

Palavras-Chave: Inclusão; Contexto Escolar; Professor; Criança; Escola Inclusiva.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO necessidades educacionais dos alunos nas


escolas de um determinado bairro” e afirma
A Constituição Federal de 1988 afirma que, que: A educação inclusiva tem sido discutida
todos são iguais perante a Lei, sem distinção em termos de justiça social, pedagogia,
de qualquer natureza, garantindo-se, dentre reforma escolar e melhorias nos programas.
outros, o direito à vida, visando a que No que tange à justiça social, ela se relaciona
cada um busque a plenitude do seu existir, aos valores de igualdade e aceitação.
participando ativamente na construção da As práticas pedagógicas em uma escola
sua vida pessoal, tendo uma existência digna, inclusiva precisam refletir uma abordagem
feliz e de qualidade. Dessa forma, o presente mais diversificada, flexível e colaborativa do
artigo tem como tema A Inclusão de Crianças que em uma escola tradicional. A inclusão
Portadoras de Necessidades Especiais no pressupõe que a escola se ajuste a todas
Contexto Educacional. as crianças que desejam matricular-se em
sua localidade, em vez de esperar que uma
A educação inclusiva é conceituada como determinada criança com necessidades
uma característica político-ideológica, especiais se ajuste à escola (integração)
como uma proposta a ser compreendida (PACHECO, 2007, p. 15).
e almejada, visto que se relaciona à
aspiração da educação para todos, aos Dessa forma, percebe-se que a educação
princípios de uma escola que seja capaz inclusiva está fundamentada em uma
de promover aprendizagens significativas, concepção político-ideológica de educação
independentemente das condições, das democrática, ou seja, em uma escola
características, das possibilidades e das que garanta possibilidades igualitárias
limitações do seu aluno. de aprendizagem a todos os alunos,
independentemente de suas possibilidades
Segundo Mendes (2010), a educação ou limitações.
inclusiva proporciona o desenvolvimento
e manutenção de um estado democrático, Por isso, podemos entender que a
visto que as relações estabelecidas na escola educação é condição para a inserção
se estendem para a sociedade e vice-versa, social e produtiva das pessoas com ou sem
em que uma contribui com a outra no sentido deficiência. E, no plano coletivo, a educação
de impulsionar e trabalhar para a construção inclusiva é requisito para a construção de
de uma sociedade inclusiva. uma sociedade melhor.

Pacheco (2007, p. 14), ao conceituar Para a ONU, os princípios da política


a educação inclusiva, esclarece que “o de educação inclusiva defendem que a
termo ‘educação inclusiva’ cobre várias inclusão de crianças com deficiência no
tentativas de atender à diversidade total das ensino regular requer e significa participação

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Revista Educar FCE - Março 2019

social, econômica, política e cultural da vida torna modalidade não mais substitutiva, mas
em comunidade, sendo: acesso à educação complementar ou suplementar, transversal
gratuita e compulsória; equidade, inclusão a todos os níveis, etapas e modalidades
e não discriminação; direito à educação de da educação. Na perspectiva inclusiva, à
qualidade (UNESCO, 2005, 2009; UNDP, educação especial coube disponibilizar
2011). recursos e serviços, realizar o atendimento
educacional especializado e orientar quanto
Contudo, os sistemas educacionais a sua utilização no processo de ensino e
inclusivos, ou seja, os sistemas de ensino que aprendizagem nas turmas comuns do ensino
assumem os princípios da educação inclusiva, regular. A PNE-EI de 2008 apresenta o
são considerados pela Unesco, a forma mais histórico do processo de inclusão escolar
eficaz de combater atitudes discriminatórias, no Brasil para embasar políticas públicas
para a construção de uma sociedade mais promotoras de uma educação de qualidade
justa e igualitária e para o alcance de uma - para todos os alunos, tornando-se uma
Educação Para Todos -. A ideologia é que, visto das políticas sociais que tem como meta
que a educação é um direito fundamental a garantia dos direitos humanos e das
básico e a chave para o desenvolvimento e políticas de alívio da pobreza, tendo como
para a erradicação da pobreza, somente o objetivo “o acesso, a participação e a
acesso a uma educação de qualidade pode aprendizagem dos alunos com deficiência,
redimensionar as possibilidades de vida de transtornos globais do desenvolvimento e
uma criança com deficiência, bem como altas habilidades/superdotação nas escolas
sua inserção nas atividades laborais futuras. regulares, orientando os sistemas de ensino
O não acesso à educação pode levar a um para promover respostas às necessidades
agravamento da situação de pobreza. Além educacionais especiais” (BRASIL, 2008, p.
disso, pode acabar por representar um alto 14, IV).
custo para a economia dos países, tanto pelo
gasto com assistência social como pela falta Neste sentido a educação inclusiva
de mão de obra produtiva (UNESCO, 2005, é conceituada como uma característica
2009). político-ideológica, como uma proposta a
ser compreendida e almejada, visto que se
No ano de 2008, o ex-Presidente Luis relaciona à aspiração da educação para todos,
Inácio Lula da Silva, sancionou a macropolítica aos princípios de uma escola que seja capaz
Nacional de Educação Especial na Perspectiva de promover aprendizagens significativas,
da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008). Tal independentemente das condições, das
macropolítica elaborada à luz dos preceitos características, das possibilidades e das
da Convenção Internacional sobre os limitações do seu alunado. Para tanto, é
Direitos das Pessoas com Deficiência, CDPD válido compreender os aspectos conceituais
(CDPD, 2009). Nela a educação especial se e filosóficos que permeiam a educação

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Revista Educar FCE - Março 2019

inclusiva, bem como quais são os desafios especiais possam participar integralmente
enfrentados na contemporaneidade, para em um ambiente rico de oportunidades
que esta finalidade seja concretizada. educacionais com resultados favoráveis,
alguns aspectos precisam ser considerados,
O termo “educação inclusiva” foi uma destacando-se entre eles: a preparação e
proposta de aplicação prática ao campo a dedicação da equipe educacional e dos
da educação de um movimento mundial, professores; o apoio adequado e recursos
denominado “Inclusão Social”, que é posto especializados, quando forem necessários;
como um novo paradigma, que implicaria às adaptações curriculares e de acesso ao
na construção de um novo processo. O currículo.
movimento pela inclusão social está atrelado à
construção de uma sociedade democrática, na A política educacional de inclusão
qual todos deverão conquistar sua cidadania, é proposta no Parecer n° 17/2001
na qual a diversidade será respeitada e como superação das práticas sociais
haverá aceitação e o reconhecimento político vinculadas a exclusão, a segregação e a
das diferenças. Trata-se em suma de um integração, rompendo com as relações que
movimento de resistência contra a exclusão tradicionalmente foram estabelecidas com
social que historicamente vem afetando as pessoas com deficiências.
grupos minoritários e que é caracterizado por
movimentos sociais que visam à conquista Segundo o documento analisado, a
do exercício do direito ao acesso a recursos inclusão educacional é parte integrante da
e serviços da sociedade (MENDES, 2010, p. “construção de uma sociedade inclusiva”.
22). Para isso, “verificou-se a necessidade de
reestruturar os sistemas de ensino, que
Dessa forma, a inclusão é para todos devem organizar-se para dar respostas
os alunos com deficiência seja física, às necessidades educacionais de todos
visual, intelectual, para os com problemas os alunos” (BRASIL, 2001, p. 8), uma vez
de comportamento de conduta, de que “cada aluno vai requerer diferentes
aprendizagens, para os superdotados, enfim, estratégias pedagógicas (...) não como
para todas as minorias e para a criança que é medidas compensatórias e pontuais, e sim
discriminada por qualquer outro motivo. como parte de um projeto educativo e social
de caráter emancipatório e global” (BRASIL,
2001, p. 7).
PAPEL DA ESCOLA
A justificativa para essa proposta,
Segundo os Parâmetros Curriculares portanto, baseia-se no argumento de que o
Nacionais (BRASIL, 1999, p.33), para que atendimento às necessidades educacionais
os alunos com necessidades educacionais especiais de crianças, jovens e adultos

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Revista Educar FCE - Março 2019

privilegiou por muito tempo classes e escolas da escola regular requer que os sistemas
que separavam essa população dos demais educacionais modifiquem, não apenas as
alunos, e essas práticas contribuíram para suas atitudes e expectativas em relação
desenvolver o preconceito e a segregação. a esses alunos, mas, também que se
organizem para formar uma real escola para
O movimento de integração escolar é todos. E, uma escola para todos requer uma
afirmado como tendo grande importância dinamicidade curricular que permita ajustar
na luta contra essas condições. Contudo, o fazer pedagógico às necessidades dos
segundo o Parecer, as escolas não se alunos. (BRASIL, 1999, p.31):
modificavam, pressupondo “o ajustamento
das pessoas com deficiência para sua É preciso dinamicidade curricular. De
participação no processo educativo acordo com os Parâmetros Curriculares
desenvolvido nas escolas comuns” (BRASIL, Nacionais – Adaptações Curriculares
2001, p. 17). Além disso, muitos foram (BRASIL,1999, p.32), o projeto pedagógico
equivocadamente encaminhados para da escola, como ponto de referência para
classes especiais, reforçando a promoção de definir a prática escolar, deve orientar a
rotulações na escola. operacionalização do currículo, como um
recurso para promover o desenvolvimento e
Nesse sentido, o Parecer afirma a política aprendizagem dos alunos, considerando-se
de inclusão como “um avanço em relação ao os seguintes aspectos: A) A atitude favorável
movimento de integração escolar” (BRASIL, da escola para diversificar e flexibilizar o
2001, p. 17). Dessa forma, entendemos por processo de ensino-aprendizagem, de modo
escola inclusiva aquela na qual o ensino e a atender às diferenças individuais dos
a aprendizagem, as atitudes e o bem-estar alunos; B) A identificação das necessidades
de todos os educandos são considerados educacionais para justificar a priorização
igualmente importantes. de recursos e meios à sua educação; C) A
adoção de currículos abertos e propostas
Para Jossianenn (2012), uma escola na qual curriculares diversificadas, em lugar de uma
não há discriminação de qualquer natureza concepção uniforme e homogeneizadora
e que valoriza a diversidade humana como de currículo; D) A flexibilidade quanto à
recurso valioso para o desenvolvimento de organização e o funcionamento da escola,
todos, é uma escola que busca eliminar as para atender à demanda diversificada
barreiras à aprendizagem para educar de dos alunos; E) A possibilidade de incluir
forma igualitária todos os meninos e meninas professores especializados, serviços de apoio
da comunidade. e outros, não convencionais, para favorecer
o processo educacional.
Quanto ao currículo, ver as necessidades
especiais dos alunos atendidas no âmbito

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Revista Educar FCE - Março 2019

Torna-se relevante ressaltar que, segundo grupos minoritários. Dessa forma, toda e
os Parâmetros Curriculares Nacionais qualquer criança deve ser recebida na escola,
(1999, p.33), para que os alunos com calorosamente, não apenas pela direção e
necessidades educacionais especiais possam equipe de apoio, mas pelos professores e
participar integralmente em um ambiente demais alunos.
rico de oportunidades educacionais com
resultados favoráveis, alguns aspectos Como a educação é condição essencial
precisam ser considerados, destacando-se para a inserção social e produtiva das
entre eles: a preparação e a dedicação da pessoas com deficiência e, no plano coletivo,
equipe educacional e dos professores; o a educação inclusiva é requisito para a
apoio adequado e recursos especializados, construção de uma sociedade melhor, pra
quando forem necessários; as adaptações tanto, torna-se necessário um profissional
curriculares e de acesso ao currículo. que tematiza a prática.

Uma escola inclusiva caracteriza-se, Um profissional que tematiza a prática está


fundamentalmente, pelo compromisso com aberto para a discussão, não procura resultados,
o direito de todos à educação, à igualdade de mas busca soluções, pesquisa, compartilha suas
oportunidades e à participação de cada uma dúvidas, questionamentos e oferece auxílio para
a construção de propostas conjuntas que façam a
das crianças, adolescentes, jovens e adultos
diferença em seu dia-a-dia. (ALMEIDA, 2007, p. 2)
nas várias esferas da vida escolar.

“O professor deve ser um amigo,


PAPEL DO PROFESSOR facilitador e, alguém que está na sala de
aula por inteiro, percebendo as relações e
O artigo 208 da Constituição Federal de nelas intervindo quando necessário”. Para
1988 assegura à pessoa com necessidades isso, o professor deve ter conhecimento
especiais, o direito de frequentar a rede dos conteúdos a serem trabalhados com
regular de ensino, seja ela pública ou os alunos, principalmente, quando há na
particular. A educação escolar inclusiva sala portadores de necessidades especiais.
brasileira para as pessoas com deficiência é (ANTUNES, JUNGBLUT, 2008, p.1)
garantida legalmente, tanto pela Constituição
Federal como pela Lei de Diretrizes e Bases Com relação ao ensino-aprendizagem,
da Educação Nacional nº. 9.394/1996, que Batista (2006), postulam o seguinte:
é uma dimensão fundante da cidadania,
e tais princípios são indispensáveis para Aprender é uma ação humana criativa,
políticas que visam à participação de todos individual heterogênea e regulada pelo sujeito
nos espaços sociais e políticos e mesmo para da aprendizagem, independentemente de sua
reinserção no mundo profissional destes condição intelectual ser mais ou ser menos
privilegiada. São as diferentes idéias, opiniões,

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Revista Educar FCE - Março 2019

níveis de compreensão que enriquecem o processo escolar e que clareiam o entendimento dos alunos e
professores – essa diversidade deriva das formas singulares de nos adaptarmos cognitivamente a um dado
conteúdo e da possibilidade de nos expressarmos abertamente sobre ele. Já ensinar é um ato coletivo, no
qual o professor disponibiliza a todos alunos sem exceção um mesmo conhecimento. Ao invés de adaptar
e individualizar/diferenciar o ensino para alguns, a escola comum precisa recriar suas práticas, mudar suas
concepções, rever seu papel, sempre reconhecendo e valorizando as diferenças. (BATISTA, 2006, p.13).

Entretanto, para que este processo aconteça, torna-se relevante o olhar atento do professor
a todos os alunos, pois através da sua fala, de seus gestos, e as construções coletivas do
conhecimento, considerando que a interação que ele proporciona levará a perceber o processo
de aprendizagem do aluno ou as dificuldades geradas por ele. (ANTUNES, JUNGBLUT, 2008)

Conforme Silva (2014, p.21): “a atenção recebida na escola reflete na criança, fazendo
com que tome consciência do mundo de diferentes maneiras em cada etapa de seu
desenvolvimento”. Para tanto, torna-se relevante, um professor compromissado com a
educação inclusiva.

Com relação a inclusão, o professor deve procurar aprender tudo o que puder sobre
necessidades educacionais especiais e proporcionar atividades recreativas com componentes
auxiliadores às crianças, ainda reconhecer que o seu empenho pode fazer uma grande
diferença na vida de uma criança.

No percurso histórico da nossa sociedade a criança sempre existiu, a infância por sua vez
nem sempre. Entretanto, é sabido que o jogar e o brincar é atividade bastante importante
para o desenvolvimento da criança, pois através desse ato a criança utiliza a sua imaginação e
fantasia para buscar reproduzir a sociedade e o mundo ao qual ela está inserida, transformando
e produzindo novos significados.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escola e o professor frente as crianças portadoras de
necessidades especiais tendo em vista a inclusão que está
em vigor, tem um papel fundamental quanto ao acolhimento
dessas crianças portadoras de deficiências ou dificuldades
de aprendizagem, de comportamentos, dentre outros.

Já o professor, melhor do que qualquer outro profissional,


além do acolhimento, deve estar preparado para detectar
problemas cruciais na vida de toda e qualquer criança que por
ele passar e ser um facilitador desse ensino – aprendizagem.

O ato educar e incluir não são atos solitários, eles MARIA EULÁLIA DOS
necessitam de parcerias, de trocas, de profissionais que SANTOS NETO
percebam cada indivíduo e suas diferentes especificidades
Graduação em Pedagogia pela Faculdade
nos mais diferentes modos de ser e estar no grupo. Sumaré (2013); Especialista em Educação
Inclusiva pela Faculdade Campos Elíseos
(2017); Professora de Educação Infantil
no CEI Nazaré.

1433
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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1435
Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

A IMPORTÂNCIA DO DESENHO
INFANTIL NO PROCESSO
ENSINO-APRENDIZAGEM
RESUMO: Este artigo tem como finalidade, analisar a importância do desenho no processo
ensino-aprendizagem com o intuito de provocar os professores para uma reflexão sobre o
desenho infantil e seus benefícios como ferramenta pedagógica, passando a valorizar o desenho
infantil como forma de linguagem. Diante do estudo fica evidente que o desenho espontâneo
auxilia o desenvolvimento da criança em todos os aspectos. Para compreender o processo,
será realizado um estudo sobre o histórico da Arte e do ensino da Arte no Brasil. Também
será realizada uma descrição sobre desenho, evolução no tempo e no espaço e a evolução do
grafismo, no qual é possível conhecer e compreender os diversos níveis de desenvolvimento
do desenho, segundo os autores acima citados. O resultado obtido com a pesquisa evidencia a
importância do desenho no processo ensino-aprendizagem e que os desenhos estereotipados
ainda muito utilizados pelos professores em sala de aula, demonstram o desconhecimento por
parte do professor sobre a essa importância do desenho.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Desenho; Desenvolvimento; Educação; Estereótipos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO relação ao desenho e como subtítulo, será


pesquisado “o desenho e seus estereótipos”.
Este artigo tem como tema, a importância
do desenho infantil no processo ensino- Para as crianças o desenho é faz uma
aprendizagem. Para a criança desenhar e grande diferença para o seu desenvolvimento
brincar tem o mesmo significado, sendo e no processo ensino/aprendizagem, e os
assim uma atividade lúdica, e muitas vezes professores precisam utilizar o desenho
o desenho infantil é desvalorizado pelos como ferramenta pedagógica.
adultos, que não compreendem que por
meio deste, a criança pode expressar seus A metodologia desta pesquisa tem como
medos, angústias, alegrias, ou seja, os seus base pesquisas bibliográficas consultadas
sentimentos interiores. em livros, artigos de revistas e sites da
internet referentes ao tema, além dos PCNs
A organização se dará da seguinte forma: (Parâmetros Curriculares Nacionais) de Artes
“Um breve histórico da Arte no Brasil”, já e os Referenciais Curriculares Nacionais da
que o desenho faz parte das Artes Visuais Educação Infantil.
e é necessário compreender o processo de
evolução da Arte para compreender também O objetivo é que este artigo sirva como
o processo do desenho e como subtítulo, fonte de pesquisa para quem desejar se
“A história do ensino na Arte no Brasil”, aprofundar no tema na área da educação.
descrevendo o percurso até os dias atuais.
O objetivo geral desta pesquisa é
Trataremos sobre “o desenho”, no qual compreender a importância do desenho
consta a concepção de desenho para infantil por meio da arte e que o mesmo é capaz
diversos autores, em seguida será descrita, “a de auxiliar no processo ensino-aprendizagem,
evolução do desenho no tempo e no espaço”, já que auxilia no desenvolvimento geral da
pois sabe-se que o desenho está presente criança.
na vida do homem, desde a Pré-História e
por meio dele é possível compreender fatos Por trabalhar alguns anos na área da
históricos e/ou culturais e como subtítulo educação, tenho percebido que as aulas
será pesquisada “a evolução do desenho/ de artes que deveriam estar voltadas
grafismo”, nos quais estarão descritas as ao desenvolvimento das habilidades e
fases desenvolvimento do desenho infantil. capacidades artísticas, sem a intenção de
formar artistas, na verdade, acabam por
É necessário que o desenho no universo oferecer desenhos prontos e estereotipados,
infantil, seja um tema trabalhado pelos muitas vezes voltados a datas comemorativas
profissionais da educação, pois é importante para que as crianças pintem e decorem.
conhecer como a criança age e pensa em

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Revista Educar FCE - Março 2019

Pensando nisso, resolvi me aprofundar A Arte na verdade, está presente desde a


nessa pesquisa com o intuito de compreender Pré-História, quando o homem desenhava
até quem ponto essas atividades são nas cavernas, desenhos esses denominados
significativas aos alunos e se as mesmas são rupestres, que são imagens gravadas em
capazes de proporcionar o desenvolvimento rochedos.
do ensino- aprendizagem e o que faz com
que muitos professores trabalhem dessa Esses desenhos são artes primitivas,
forma. no qual o homem expressa cenas de seu
cotidiano, como: dança, caça, rituais e além
de desenhá-los, pintava-os com argila e
A ARTE NO BRASIL sangue de animais.

A definição de Arte é muito ampla, não Essa arte permitiu que a possibilidade de
possuindo uma definição exata. Sua definição entender como viviam os homens naquela
depende da concepção de cada cultura. época. Além da arte da Pré-História, existiu
também a arte primitiva advinda dos índios,
“Uma atividade que supõe a criação de sensação que é composta por pinturas e esculturas.
ou de estados de espírito, de caráter estético,
carregados de vivência pessoal e profunda, Após o período da Colonização, o Brasil
podendo suscitar em outrem o desejo de recebeu influências diversas, como: dos
prolongamento ou renovação [...] a capacidade
portugueses, holandeses e especialmente
criadora do artista se expressar ou transmitir tais
dos africanos, influências essas que refletiram
sensações ou sentimentos [...] (FERREIRA, 1988,
também na cultura popular.
p. 46)

No início do século XIX, surgiu o estilo


Já Bueno (2007, p. 90), define arte Barroco, que surgiu por meio da influência
como, conjunto de preceitos para a perfeita francesa.
execução de qualquer coisa; atividade
criativa [...]. O marco da História da Arte no país,
aconteceu no ano de 1922, quando houve
Garcia Junior, sintetiza a Arte como: a Semana da Arte Moderna que ocorreu em
São Paulo, fase preconizada por Mário de
Uma experiência humana de conhecimento Andrade e Anita Malfatti.
estético que transmite e expressa ideias e
emoções na forma de um objeto artístico Nesse período iniciou-se a fase da Arte
(desenho, pintura, escultura, arquitetura etc.) e Moderna, que tinha a intenção de marcar o
que possui em si o seu próprio valor. (GARCIA
período quebrando padrões e chocando a
JUNIOR, 2007, p. 7)
sociedade e é a arte mais valorizada no país.

1438
Revista Educar FCE - Março 2019

implantou-se de acordo com os modelos


É a fase em que os artistas desenvolvem europeus que se mantiveram por mais de um
estilo próprio de pintura. século”. (MAZZAMATI; 2012, p.31)

Não houve uma fácil aceitação da Arte


Moderna no início, pois não existia os Em 1948, no Rio de Janeiro, Augusto
padrões estéticos existentes até então. Rodrigues, Margaret Spencer e Lucia
Valentim, fundaram a Escolinha de Arte do
Sobre a história da arte, Gombrich diz o Brasil (EAB), que teve seu nome alterado
seguinte: posteriormente para Movimento de
Escolinhas de Arte (MEA) e sua proposta era
Ignoramos como a arte começou, tanto quanto educar por meio da arte.
desconhecemos como se iniciou a linguagem.
Se aceitarmos o significado de arte em função A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da
de atividades tais como a edificação de templos educação Nacional), em 1971, artigo 7º
e casas, realização de pinturas e esculturas, ou
incluiu no currículo escolar a Educação
tessitura de padrões, nenhum povo existe num
Artística como atividade educativa e não
mundo sem arte. (GOMBRICH; 1985, p. 19)
como disciplina e deveria conter: Artes
Plásticas, Educação Musical e Artes Cênicas.
Por meio da Arte, o ser humano é capaz de
desenvolver sua criação e imaginação, além O curso de arte-educação foi criado em
de aprender a respeitar as diferenças, já que 1973, nas universidades para atender a LDB,
ela está presente em toda parte do nosso que tornou obrigatório o ensino das artes
cotidiano. nas escolas. Iniciou-se então a pedagogia
tecnicista por meio da Licenciatura Curta e
mais tarde Licenciatura Plena.
A HISTÓRIA DO ENSINO DA
ARTE NO BRASIL Em 1983, foi criado na universidade de
São Paulo, o curso de Pós-Graduação em
A história do ensino da Arte no Brasil Arte-Educação, sob a orientação de Ana
teve início com os Padres Jesuítas, que eram Mae Barbosa.
responsáveis pela oficina de artesãos em
processos informais. Com a nova LDB nº 9394/96, o ensino de
Arte passou a ser obrigatório, ou seja, passou
Segundo Mazzamati (2012): a ser uma disciplina, conforme consta no
Artigo 22 - § 2º O ensino de arte constituirá
O ensino da Arte no Brasil, que começou componente curricular obrigatório, nos diversos
oficialmente no século XIX, após a vinda da níveis da educação básica, de forma a promover
família real portuguesa e a transferência da o desenvolvimento cultural dos alunos.
capital do império luso para o Rio de Janeiro,

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Revista Educar FCE - Março 2019

Para que a Lei fosse cumprida, o Ministério Mazzamati (2012, p. 12), considera o
da Educação lançou os PCNs (Parâmetros ato de desenhar como uma “conversa”, que
Curriculares Nacionais) e segundo consta, possibilita o pensamento rever e processar
“a Arte é um campo de conhecimento e seu informações, numa constante relação entre
ensino é obrigatório em todos os níveis da o ser que desenha e o mundo.
educação. Sendo a aprendizagem significativa
em arte quando o objeto de conhecimento é O autor ainda afirma:
a própria arte”.
Desenhar é pensar por meio de formas e
linhas. É observar e fazer relações. É acumular
O DESENHO imagens, ocupar com elas um espaço, devolver
as imagens para o mundo. Mesmo com a
moderna tecnologia dos meios de comunicação,
O desenho é o meio de comunicação mais
como os computadores ou a televisão, o ato de
antigo que existe, já que está presente desde
desenhar continua reproduzindo tal processo:
a Pré-História, quando o homem desenhava
captar a imagem da realidade, colocá-la em um
nas cavernas para se expressar.
determinado espaço, nesse caso a máquina, e
projetá-la de volta para o mundo, redimensionada
Ferreira (1988, p. 221) define desenho, pelo olhar. (MAZZAMATI; 2012, p.27)
como “representação de formas sobre uma
superfície por meio de linhas, pontos e
manchas; a Arte é a técnica de representar O desenho é forma de expressão e
com lápis, pincel, etc., um tema real ou comunicação dos sentimentos e sensações
imaginário, expressando a forma”. interiores do ser humano.

Sendo assim, o desenho é a representação


do pensamento. A EVOLUÇÃO DO DESENHO
NO TEMPO E NO ESPAÇO
Segundo Porcher (1982; p.106), “o desenho
é um ato de inteligência, desenhar é um ato No final do século XIX, surgiram os
inteligente. Isto quer dizer notadamente primeiros estudos sobre desenhos que se
que para a criança ele representa uma das tem registrado.
maneiras fundamentais de apropriar-se do
mundo e, em particular, do espaço”. Como já mencionado no capítulo anterior,
o desenho está presente desde a Pré-
Por meio do desenho a criança se apropria História.
do mundo que a cerca, além de ser uma das
formas de aquisição do fazer artístico. De acordo com Mazzamati (2012, p. 12),
“em cada época, e também de época para

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Revista Educar FCE - Março 2019

época, o modo de conceber o desenho A EVOLUÇÃO DO GRAFISMO


apresenta diferenças, dependendo dos
valores culturais de determinada sociedade No decorrer do tempo e da história,
ou do momento histórico específico” o desenho vem sendo estudo de vários
teóricos, até mesmo por acreditarem que o
Na Idade Média, o desenho representava o desenho é precursor da escrita.
poder da igreja junto à classe desfavorecida.
Nesse período, surgiram também as Souza define grafismo, como:
iluminuras, que na verdade eram documentos
e livros acompanhados de pinturas e Grafismo é o resultado de uma tendência
desenhos. natural, expressiva, onde o processo de
desenvolvimento gráfico infantil está ligado
Já entre os séculos X e XVI, o desenho ao desenvolvimento físico, social, intelectual
e afetivo-social da criança. E a representação
passou a ter técnicas próprias para a sua
gráfica do mundo, começando com o desenho
realização.
para só depois chegar ao convencional – Processo

de Desenvolvimento/Escrita. O desenho é
Os orientais utilizaram os desenhos para
uma forma de manifestação da arte, onde é
criarem os ideogramas. transferido para o papel imagens e criações de
sua imaginação. (SOUZA; 2010, p.10)
No século XVI na Europa, o desenho se
tornou uma ferramenta para a investigação
científica do mundo. O desenvolvimento da criança é marcado
por diversas fases que são marcadas por
Já na década de 90, houve uma grande mudanças difíceis de serem notadas nas
evolução no desenho, surgindo diversas quais termina uma fase e inicia a outra, pois,
modalidades: desenho artístico, industrial, trata-se de um desenvolvimento contínuo.
grafite, entre outros.
A seguir serão apresentadas abordagens
Antigamente, o desenho era visto apenas de alguns teóricos renomados sobre o
como uma representação da linguagem desenvolvimento do grafismo e/ou desenho.
e muitos autores como: Piaget, Vigostky,
Luquet, Lowenfel, Derdik, entre outros Segundo Baptista (2012, p.1), Luquet
acreditam que por meio do desenho é (1876-1965), distingue como quatro os
possível compreender a criança e sua forma estágios do desenho infantil: o realismo
de ser e de agir. fortuito, que inicia por volta dos 2 anos de
idade, o realismo falhado, que inicia por volta
dos 3 e 4 anos, o realismo intelectual que vai
dos 4 até mais ou menos 12 anos de idade e

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Revista Educar FCE - Março 2019

Na garatuja, a criança tem como hipótese que


o realismo visual que começa geralmente aos o desenho é simplesmente uma ação sobre
12 anos de idade onde a criança substitui a a superfície, e ela sente prazer ao constatar
transferência pela opacidade, e seu desenho os efeitos visuais que essa ação produziu. A
demonstra perspectiva. percepção de que os gestos, gradativamente,
produzem marcas e representação mais
Ainda, segundo o autor, esses estágios organizadas permite à criança o reconhecimento
podem variar de acordo com a maturidade de dos seus registros”. (BRASIL: RCNs, 1998, p. 92)
criança, o meio em que vive e outros fatores.
Ainda sobre as garatujas são classificadas
Para Piaget (1896-1980), a inteligência se em desordenadas e controladas.
desenvolve pela combinação da percepção
com a motricidade que é a fase de nível Garatujas desordenadas: essa fase não
sensório motor. possui formas nem direção definidas e é
caracterizada por movimentos repetitivos.
Piaget classifica as etapas do As crianças querem desenhar em qualquer
desenvolvimento infantil como: espaço: parede, mesa, toalha e não possui
controle visual do que faz. É uma atividade
Garatuja (2 à 7 anos de idade) – fase que lhe proporciona prazer.
sensório motora. Garatujas são rabiscos
confusos e desordenados. Já na garatuja controlada, a criança
consegue identificar-se em seu desenho.
Derdyk, define, garatuja como: Consegue dominar o espaço sem sair dele. É
quando a criança começa a atribuir nomes às
A criança rabisca pelo prazer de rabiscar, de suas garatujas e também relaciona o desenho
gesticular, de se aprimorar. O grafismo que com o meio. É comum nessa fase, fazer uma
daí surge é essencialmente motor, orgânico, descrição verbal enquanto desenha. É uma
biológico, rítmico. Quando o lápis escorrega pelo fase muito importante para a criatividade e é
papel as linhas surgem. Quando a mão para, as
também imprescindível o estímulo por parte
linhas não acontecem. Aparecem, desaparecem.
dos adultos.
A permanência da linha no papel se investe de
magia e esta estimula sensorialmente a vontade
Lowenfeld e Brittain (1977, p.117),
de prolongar este prazer. (DERDYK, 2004, p.56)
afirmam que “a forma como essas primeiras
garatujas forem recebidas pode ter enorme
Nos RCNs (Referenciais Curriculares importância em seu contínuo crescimento.
Nacional da Educação Infantil), descreve a É lamentável que a própria palavra ‘garatuja’
importância da garatuja, como: tenha conotações negativas para os adultos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Muitos adultos veem as garatujas apenas Para que a criança possa evoluir nas
como rabiscos sem nenhuma importância. fases e estágios do desenho e do grafismo
é importante que ela tenha a oportunidade
Etapa pré-esquemática (por volta dos 3 de desenhar e brincar, para que se sinta
anos de idade). Nessa fase, a garatuja vai motivada e curiosa para avançar em suas
dando lugar a uma representação definida. aprendizagens.
O corpo humano é representado com um
círculo e linhas como pernas. Por volta dos
4 anos de idade, a criança projeta seus O DESENHO NO UNIVERSO
sentimentos nos desenhos e no final da fase, INFANTIL
passa para uma fase mais criativa e relaciona
seu desenho ao pensamento e à realidade. Para a criança o ato de desenhar é sinônimo
de brincar. Dessa forma, o desenhar e o
Etapa esquemática (por volta dos 7 anos brincar podem ser considerados atividades
de idade). A criança já consegue fazer uma lúdicas e sendo assim, são capazes de
relação entre o desenho e a realidade. Nessa desenvolver potencialidades cognitivas e
fase, a criança costuma fazer a linha de emocionais.
base para desenhar. Já no final dessa fase,
a criança costuma fazer uso constante das O desenho é uma das formas de aquisição
formas geométricas. do fazer artístico que é capaz de proporcionar
à criança, além do saber artístico também o
A etapa pseudo-naturalista (à partir dos saber cultural.
12 anos de idade). A criança não necessita
mais da observação do real e utiliza as cores Segundo os RCN (Referências Curriculares
de forma consciente e na representação Nacional da Educação Infantil):
das figuras humanas, representa as
características sexuais de forma exagerada. No início, a criança trabalha sobre a hipótese
O desenho é resultado da aprendizagem de que o desenho serve para imprimir tudo o
voluntária em relação à arte. Os desenhos que ela sabe sobre o mundo e esse saber estará
abstratos aparecem nessa fase e existe uma relacionado a algumas fontes, como a análise da
experiência junto a objetos naturais (ação física
crescente consciência estética.
e interiorizada); o trabalho realizado sobre seus
próprios desenhos e os desenhos de outras
Quando a criança chega na adolescência é
crianças e adultos; a observação de diferentes
comum deixar de desenhar com freqüência,
objetos simbólicos do universo circundante; as
nessa fase começa a desenvolver seu senso imagens que cria. (BRASIL, RCN, 1988, p. 93)
crítico.
É por meio do desenho que as crianças
manifestam suas emoções, como: alegria,

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Revista Educar FCE - Março 2019

caminhada pelo quintal do imaginário. (DERDYK:


tristeza, raiva. É a maneira que a criança
2004, p. 19)
encontra para se comunicar com o mundo
que a cerca. O desenho é importante no processo de
desenvolvimento da linguagem, é a maneira
Para Moreira (2002), o desenho contempla da criança expressar a forma como enxerga
todas as possibilidades de desenvolvimento, tudo que acontece ao seu redor.
despertando a imaginação, a observação, a
comparação, a oralidade e o respeito pelas O desenho infantil é uma forma de
diferenças. materialização da imaginação da criança,
desenhando a criança retrata a realidade
Mazzamati acredita que: conceituada.

Desenhar é pensar por meio de formas e linhas. Para Derdyk (1993, p.10), o ato de desenhar
É observar e fazer relações. É acumular imagens, é “um jogo que não exige companheiros,
ocupar com elas um espaço, devolver as imagens onde a criança é dona de suas próprias
para o mundo. Mesmo com a moderna tecnologia regras”. Nesse jogo solitário, ela vai aprender
dos meios de computadores ou a televisão,
a estar só, “aprender a só ser”. Sendo assim, a
o ato de desenhar continua reproduzindo tal
criança aprende a brincar sozinha e resolver
processo, captar a imagem da realidade, colocá-
seus conflitos por meio de seus desenhos,
la em um determinado espaço, nesse caso a
no qual pode extravasar seus sentimentos.
máquina e projetá-la de volta para o mundo,
redimensionada pelo olhar. (MAZZAMATI, 2012,
p. 27) Iavelberg, afirma que:

O desenho é a maneira que criança Fazer desenho, ler o próprio trabalho e o


encontra de relacionar com o meio em que dos colegas podem garantir ao aluno uma
vive e é considerado uma atividade aprendizagem eficaz. Os desenhos que os alunos
lúdica e utilizá-lo como forma de comunicação realizam na escola a partir da escolha de temas,
técnicas e materiais através de suas ideias e
é um fato marcante para a infância.
motivação pessoal, podem ser considerados

o motor de seu interesse e satisfação com a
Quando a criança desenha, a criança
área de conhecimento, colaborando com o
muitas vezes expressa tudo o que vê, mas
desenvolvimento artístico e estético do aluno.
não todos os detalhes, somente o que ficou (IAVELBERG; 2008, p. 78)
de significativo a ela.
O desenho cria condições para a criança ter
A criança enquanto desenha, canta, dança, conta uma imaginação criadora e é capaz também
histórias, teatraliza, imagina ou até silencia de proporcionar experiências sensoriais e
[...]. O ato de desenhar impulsiona outras emotivas.
manifestações, que acontecem juntas, numa
unidade indissolúvel, possibilitando uma grande

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Revista Educar FCE - Março 2019

Aos poucos, a criança vai desenvolvendo Mesmo com diversos estudos na área,
o conceito da arte, por esse motivo a a arte ainda vem sendo ensinada de forma
observação se faz necessária. errônea, como consta nos PCNs:

Quando a criança tem acesso à diversas Em muitas escolas ainda se utiliza, por
linguagens artísticas, passa a conhecer e exemplo, o desenho mimeografado com formas
apreciar manifestações artísticas e assim, estereotipadas para as crianças colorirem, ou se
desenvolver com mais facilidade a sua apresentam “musiquinhas” indicando ações para
a rotina escolar (hora do lanche, hora da saída).
capacidade criadora, por meio da observação,
Em outras, trabalha-se apenas com a auto-
exploração e experimentação.
expressão; ou, ainda os professores estão ávidos
por ensinar história da arte e levar os alunos a
Outra questão, é que não basta fazer com
museus, teatros e apresentações musicais ou de
que a criança produza trabalhos artísticos é dança. Há outras tantas possibilidades em que o
necessário também, que a criança aprecie e professor polivalente inventa maneiras originais
reflita sobre a arte para que possa ocorrer a de trabalhar, munido apenas de sua própria
aprendizagem. iniciativa e pesquisa autodidata. (BRASIL, PCNs,
2001, p.26)
O desenho infantil tem sido usado de
forma inadequada nas escolas e por esse Quando a criança se habitua a atividades
motivo, não é dado a ele o devido valor. pré-estabelecidas ou estereotipadas, sente
dificuldade em se expressar livremente, seja
Para que o desenho da criança tenha por meio de desenhos ou atitudes.
significado, ela deve ser indagada sobre seu
desenho. Não é possível fazer uma análise do A esse respeito, Lowenfeld e Brittain,
desenho, sem que se saiba o que representa dizem o seguinte:
para a criança.
É lamentável que os adultos encorajem,
freqüentemente, esse modo de expressão,
O DESENHO E SEUS pedindo aos jovens que copiem ou tracem formas

ESTEREÓTIPOS vazias de significado, ou até, como poderia fazer


um professor de aritmética, pedindo a uma
menino que copie dez vezes um símbolo para
A arte vista como forma de expressão é
um papagaio de papel. A maioria das crianças é
a maneira que as pessoas encontram para
capaz de vencer tais imposições: contudo, uma
retratar a maneira como percebe o meio em
criança acostumada a depender de tais modelos
que vive e o desenho é uma das formas de e que faça bem esse tipo de cópias, recebendo
expressão existentes. também elogios do professor por seu trabalho
bem organizado, pode perder a confiança em
seus próprios meios de expressão e recorrer a

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Revista Educar FCE - Março 2019

repetições estereotipadas como um mecanismo


passatempo. Muitos ainda, vêem a aula de
de evasão. Tal atividade mecânica, automática,
não tem lugar na arte nem na aritmética.
arte, como oportunidade para se trabalhar
(LOWENFIELD e BRITTAIN; 1977, p. 37-38). datas comemorativas com desenhos
prontos, sem levar em consideração as
O desenho pré-estabelecido propõe que diversas oportunidades de se trabalhar os
a criança realize suas atividades de forma diversos aspectos referentes à Arte. Isso não
mecânica, o que não ocasiona prazer e sendo ocorre por displicência e sim por falta de
assim, não pode ocorrer troca de saberes. conhecimento.

Derdyk afirma que: Lowenfeld e Brittain acreditam que:

“O ato de copiar, diferentemente carrega “Se fosse possível que as crianças se


um significado opressor, censor, controlador. desenvolvessem sem nenhuma interferência no
Poderíamos dizer que a necessidade de copiar mundo exterior, não seria necessário estímulo
igualzinho não inclui e não autoriza a criança algum para seu trabalho artístico. Toda criança
de ser autora da ação. O ato de copiar é vazio usaria impulsos criadores profundamente
de conteúdo, mera reprodução impessoal”. arraigados, sem inibição, confiantes em
(DERDYK, 1989, p.110) seu próprio meio de exprimir-se. Quando
ouvimos uma criança dizer: ‘Não sou capaz de
Quando uma criança aprende a copiar,
desenhar’, podemos estar certos de que houve
sua capacidade criadora é privada e alguma espécie de interferência em sua vida”.
consequentemente sua visão de mundo (LOWENFELD E BRITTAIN, 1977, p.19)
também. O mesmo ocorre com os desenhos
prontos apresentados à criança, ela assimila Ao invés de apresentar desenhos prontos,
esses modelos como sendo os únicos é importante que se apresente imagens,
corretos e aceitos. Daí surge a questão da fotos, figuras e objetos para que a criança
criança dizer que não sabe desenhar. Na possa observá-los e a partir de então, criar
verdade, não é que não sabe desenhar, mas seu próprio modelo. Isso faz uma grande
acredita que seus desenhos não estão de diferença para o desenvolvimento da criança.
acordo com os modelos apresentados.
Em relação aos estereótipos, Cunha
Quando é fornecido à criança um modelo afirma:
para que seja copiado, a criança deixa de ser
vista como um ser pensante e sim como um Para que as crianças tenham possibilidades
mero reprodutor de técnicas, sem levar em de desenvolverem-se na área expressiva, é
conta suas necessidades e interesses. imprescindível que o adulto rompa seus próprios
estereótipos, afim de que consiga realizar
intervenções pedagógicas no sentido de trazer
Muitos professores não dão valores ao
a tona o universo expressivo infantil. (CUNHA,
desenho infantil, utilizando-o apenas como
2006, p. 10)

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Revista Educar FCE - Março 2019

Muitas vezes, o professor querendo um A LDB-9394/96 estabelece no 2º, do


resultado final favorável (ao que é belo art 26 que: “O ensino de arte constituirá
para ele), acaba interferindo no processo de componente curricular obrigatório, nos
criação da criança. Para que isso aconteça, diversos níveis da educação básica, de
o professor determina como a criança deve forma a promover o desenvolvimento
desenhar e quais as cores utilizar para pintar cultural dos alunos”. Observando esse item
e cabe à criança apenas reproduzir o que é da lei, percebemos que é muito importante
pedido. trabalhar a arte no âmbito escolar, pois ela
nos ajuda a perceber e valorizar a pluralidade
Para abandonar a prática de desenhos cultural no país. Por meio dela conseguimos
estereotipados estabelecidos que o expressar o nosso jeito de ver e pensar sobre
professor realize em sala de aula atividades varias questões culturais e educativas.
que propiciem a criança a fazer uso de sua
criatividade e sendo ele apenas um mediador A educação em arte propicia o desenvolvimento
dos conhecimentos sem interferência nos do pensamento artístico e da percepção
resultados, permitindo que a criança faça estética, que caracterizam um modo próprio de
uma reflexão de seu próprio trabalho e ordenar e dar sentido à experiência humana: o
aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção
também dos trabalhos alheios.
e imaginação, tanto ao realizar formas artísticas
quanto na ação de apreciar e conhecer as formas
Dessa forma, a criança terá condições de
produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza
se tornar um indivíduo crítico e observador,
e nas diferentes culturas. (BRASIL, PCN, p. 17)
o que facilita em sua aprendizagem em todos
os aspectos.
Muitas vezes, a criança só tem acesso
ao desenho e ao ato de desenhar quando
A IMPORTÂNCIA DO ingressa na escola. Quando isso ocorre,
DESENHO INFANTIL NO seu desenvolvimento sofre mudanças
significativas, pois além de ter acesso à
PROCESSO ENSINO- diversos materiais para desenhar, passa
APRENDIZAGEM também a ter a interação com os colegas,
tendo a possibilidade de desenvolver e
O estudo da arte, auxilia os alunos nos ampliar seu repertório criativo e imaginativo.
demais eixos de aprendizagem, como consta
nos PCNs Arte (1988, p. 19), “um aluno que Por meio do desenho da criança, o professor tem
exercita continuamente sua imaginação a possibilidade de identificar o estado emocional da
estará mais habilitado a construir um texto, mesma, desde que conheça e compreenda as fases
a desenvolver estratégias pessoais para do desenvolvimento do desenho e acompanhe
resolver um problema matemático”. também as produções da criança.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Segundo Mazzamati:

O uso de estratégias lúdicas para o ensino o desenho nos anos iniciais do Ensino Fundamental tem como
objetivo desfrutar a ideia sedimentada de que o desenho tem como finalidade chegar a um resultado estético
determinado. (MAZZAMATI, 2012, p. 61).

É necessário que o professor apresente materiais diversos para que a criança possa se
expressar livremente e a função desse professor é respeitar e valorizar as produções da
criança.

O desenho de uma forma ou de outra estão interligados, pois antes da criança escrever
convencionalmente, ela utiliza o desenho para se comunicar.

Se o desenho e as experiências de vida da criança são valorizados, o professor pode


aproveitá-los para inserir a escrita de forma natural, juntamente com a sua função social.
Para que isso ocorra, é importante que o professor crie um ambiente e criativo, na qual a
criança será capaz de apreciar e respeitar suas produções diversas e também à dos colegas.

Portanto, sabendo que o desenho é uma forma de comunicação com o meio, é necessário
que seja dado a ele a devida importância para que a criança sinta segurança em se
expressar e dessa forma se desenvolver plenamente tanto psicologicamente, socialmente e
culturalmente.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como se sabe, o desenho está presente na vida do homem
desde o período da Pré-História e está ligado ao meio de
comunicação, sendo assim, ele precede a escrita.

Passando por períodos distintos a história da Arte foi


evoluindo até os dias de hoje, mas o marco da história da Arte no
Brasil ocorreu no ano de 1922 com a Semana da Arte Moderna.

O mesmo ocorreu com o ensino na Arte no Brasil que


ocorria de forma restrita, mas por meio da LDB (Lei de MARIA SIMONE DA
Diretrizes e Bases) com a Lei 9394/96, o ensino da arte passou COSTA PONTEDURA
a se constituir como componente curricular obrigatório, nos
Graduação em Pedagogia, pela UNICSUL
diversos níveis da educação básica. (2009); Professora de Educação Básica
I, na Escola da Prefeitura de Guarulhos
Mas somente a promulgação da lei não foi o suficiente, Vinícius de Moraes.
foi necessária a implantação de cursos de formação de
professores na área específica e também o lançamento dos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) que serve como
auxílio aos professores, na execução de seu trabalho.

O conhecimento das fases do desenho pode também


contribuir para o trabalho do professor, que poderá utilizar o
desenho da criança como ferramenta pedagógica, trabalhando
de forma correta, despertando na criança, a curiosidade,
prazer, a estética, além da construção do conhecimento.

Por falta de conhecimento, muitos professores utilizam


atividades estereotipadas ou pré-estabelecidas. Isso ocorre
pela ânsia do professor de ver a perfeição (segundo ele
próprio, do que é belo) nos desenhos da criança e por
esse motivo, propõe atividades dirigidas, no qual diz como
a criança deve fazer e que cor deve pintar. Agindo dessa
forma, acaba bloqueando a criatividade da criança, que vai
se acostumando com desenhos prontos que quando não
consegue fazer da forma como lhe é apresentada, se diz
incapaz de desenhar.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Compreendendo as fases do desenho, o professor poderá realizar uma mediação eficaz,


mas para que isso aconteça é preciso que a criança seja motivada a desenhar livremente e
que tenha a oportunidade de apreciar suas próprias produções como também as produções
alheias, desenvolvendo assim o senso crítico, o senso estético e sua autoconfiança.

Por meio desta pesquisa, foi possível fazer uma relação entre o desenvolvimento infantil
e a evolução do desenho e os dois caminham paralelamente e se entrelaçam e auxiliam no
processo ensino-aprendizagem.

1450
Revista Educar FCE - Março 2019

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1452
Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA
NA CONSTRUÇÃO DA GESTÃO
DEMOCRÁTICA
RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre a importância da família para
a construção da gestão democrática, esta reflexão visa principalmente mostrar que, apesar
de haver toda uma estrutura legal para a implementação da gestão democrática nas escolas,
ela acaba não acontecendo porque a escola, que tem o papel de conscientizar as famílias
e verdadeiramente abrir oportunidades de fazer esta integração, acaba por não fazer, ou
fazer de maneira não satisfatória. O presente trabalho tem também os objetivos de refletir
sobre as duas instituições que são importantes para a formação da criança: a saber família e
escola, sendo que, nesta última, o foco se dá na gestão democrática.

Palavras-Chave: Família, Educação, Escola, Gestão Democrática.

1453
Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO criança, ou seja, a família e o estado (que


delega esse papel às escolas), afirma-se nesse
O presente trabalho tempo objetivo refletir parágrafo que “todo poder emana do povo”
sobre a interação entre a família e a escola, assim fica-se claro que a família tem papel
com o objetivo de tornar o aprendizado para fundamental na educação e nas tomadas de
a criança mais efetivo, porque parte-se da decisão que a escola continuamente faz.
ideia de que se a família e a escola unirem No que se refere à gestão da escola faz-se
forças, de modo a entender a criança como pouca questão de terem os pais inseridos
um todo, sua aprendizagem pode ter uma efetivamente nos conselhos da escola, e na
melhora significativa. Pretende-se refletir tomada de decisão sobre as verbas que a
também sobre os porquês dessa interação escola recebe, fala-se aqui de experiências
que é comprovadamente benéfica à criança vivenciadas, chega-se a ser comum ter
não acontece efetivamente, é comum, por inscrito nos conselhos como pais de alunos,
exemplo, professores afirmarem que se aqueles professores que tem filhos na escola,
sentem desconfortáveis com a presença assim a tomada de decisão fica “muito mais
dos pais na escola “querendo controlar” seu simples”. Libâneo (1998) afirma que
trabalho, assim como é também comum ouvir a criança, ao perceber que seus pais estão
dos pais que a “função da escola é educar” e interessados em seu aprendizado, acabam
desse modo, os pais passarem essa missão se dedicando muito mais à escola, somente
para a escola e esperar dela os resultados. A por sentirem que o que estão fazendo não é
Constituição Federal (CF), em seu artigo 205, em vão. É sabido que o primeiro lugar onde a
afirma que a educação é direito de todos e criança busca reconhecimento, é em seu lar,
dever da família e do Estado, é um ponto ela quer deixar seu pai ou mãe orgulhosos
de partida básico, por vezes erroneamente por algo que ela está fazendo bem, em
interpretado como, “a família leva a criança algumas conversas com crianças levadas à
até a escola, e a escola faz o resto”, no direção, para conversar sobre indisciplina, a
entanto, o na continuação do artigo citado é frase “ninguém liga pra mim” é muito ouvida,
dito ainda que “será promovida e incentivada e esse “ninguém” citado por elas, geralmente
a colaboração da sociedade”, fica mais do que é alguém de sua família. Deve-se refletir
evidente aí que apenas levar a criança para aqui também que é bastante comum os pais
a escola não significa que a família cumpriu serem trabalhadores em tempo integral e
seu dever, assim como apenas receber seus horários não coincidirem com os da
esta criança não significa que a escola, escola, refletir-se-á aqui o que a escola pode
igualmente, cumpriu seu dever. Logo fazer para melhorar esses contatos, levando-
no artigo seguinte da CF está um parágrafo se em conta também essa importante
único que fala sobre a gestão democrática, problemática. As famílias da atualidade
deixando claro que essa democracia envolve apresentam configurações diferentes de
todas as partes interessadas na educação da como eram uma ou duas gerações atrás e a

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Revista Educar FCE - Março 2019

escola precisa também repensar esse novo recentes relatam as diferenciações das
contexto, algumas atividades positivas nesse famílias levando em conta a regionalização,
sentido já estão sendo feitas, como por os espaços, os acontecimentos históricos e
exemplo, a troca gradual de festa do Dia das os grupos sociais das quais elas pertenciam.
Mães e Dia dos Pais pela atual Festa do Dia
da Família na Escola que geralmente tem Na região nordeste a maior característica
ocorrido entre os meses de maio e agosto eram os homens poderosos e as mulheres
com o objetivo de não excluir as famílias que submissas e educadas, denominadas como
tem dois pais ou duas mães, ou que a criança sinhazinhas. Segundo Samara (1980, pág. 29)
é criada somente pela mãe, carinhosamente
chamadas de pães, pois esta realiza os papéis, “Já no Sul ao invés de sinhazinhas, são
assim como crianças que são criadas por uma encontradas as bandeirantes. Dado o caráter
das avós, que foram adotadas, ou também militar e estratégico da colonização do
que o primeiro, ou segundo casamento se Sudeste, as mulheres foram convocadas a
desfez e há a figura do padrasto ou madrasta e administrar fazendas e a controlar a escravaria
dos irmãos que vem desses relacionamentos na ausência do homem, o bandeirante
anteriores. desbravador, frequentemente ausente”

Ainda em São Paulo, outra característica


A FAMÍLIA: que diferenciava da família patriarcal era o
CONTEXTUALIZAÇÃO aumento de homens que optavam pela vida
de solteiros, mas que apesar disso tinham,
HISTÓRICA em sua maioria, filhos ou afilhados sob sua
A sociedade tem passado por profundas responsabilidade direta ou indireta. Também
mudanças que tem afetado de forma crescia a frequência do concubinato,
fundamental a estrutura e equilíbrio das aumentando significativamente o número de
famílias. Entretanto, essas mudanças tiveram filhos ilegítimos.
períodos distintos, os quais se relacionaram
com o contexto histórico, político, Por muito tempo o modelo patriarcal e
sociocultural e econômico no país. extensivo foi sinônimo da definição de família
brasileira, no qual, as mulheres brancas e
O período colonial no Brasil foi marcado de famílias com poder aquisitivo alto eram
pela escravidão e pela produção rural, e educadas para o casamento. Essas mulheres
naquela época a família foi definida pela em relação à educação de seus filhos podiam
história como patriarcal e extensa, sobretudo contar com o apoio de escravas da casa
na região nordeste como nos relata Gilberto grande, as quais poderiam ser as amas de
Freyre em sua consagrada obra Casa-Grande leite e também as cuidadoras das crianças
& Senzala. Todavia estudos históricos mais brancas.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Ao homem, chefe de família, cabia o papel que faziam parte dessa composição, ainda
de provedor e autoridade máxima diante segundo Kaloustian (2011, pág 13)
dos filhos, da mulher e de seus escravos,
em nome da preservação da honra de seus “Assim, a sua composição apresentava de
dependentes. uma forma simplificada uma estrutura dupla:
um núcleo central acrescido de membros
Os casamentos eram baseados em subsidiários. O núcleo central era composto
interesses econômicos e sociais arranjados pelo chefe da família, esposa e legítimos
entre as famílias de poder aquisitivo descendentes (filhos e netos por linha
compatíveis, sendo possível inclusive o materna ou paterna).A estrutura da camada
casamento entre parentes, como primos, periférica era menos delineada, pois a
tios e sobrinhas, cunhados com o objetivo absorção de membros subsidiários (parentes,
de proteção da propriedade e do poder. A filhos ilegítimos ou de criação, afilhados,
aprovação desse casamento era concedida amigos, serviçais, agregados e escravos) é
apenas pelo pai que era a autoridade máxima. que tornava esse modelo complexo, já que
uma mesma unidade domiciliar agrupava
Conforme Kaloustian (2011, pág 42) os componentes de várias origens.”
matrimônios realizados a partir da decisão
dos pais acabavam por resultar em punições Para as camadas mais pobres da sociedade,
de diversos tipos e podiam significar a principalmente para os escravos era
exclusão dos filhos no direito à herança da interessante ter a proteção de uma família
família o mesmo ainda cita que poderosa da qual dependia financeiramente
e da qual poderia “pertencer”. Mais
“Na sociedade brasileira, especialmente interessante ainda era para o poderoso
no século XIX, os matrimônios se realizavam patriarca, pois seu poder aumentava diante
num círculo limitado e estavam sujeitos a do número de pessoas que dependiam dele,
certos padrões e normas que agrupavam os as quais ele poderia influenciar.
indivíduos socialmente em função da origem
e da posição socioeconômica ocupada. Este modelo de sociedade começa
Tal fato, entretanto, não chegou a eliminar gradualmente a se alterar após dois fatos
a fusão dos grupos sociais e raciais, que históricos bem relevantes para o país:
ocorreu paralelamente através das uniões A Abolição da Escravatura (1888) e a
esporádicas e da concubinagem” Proclamação da República, (1889), tais fatos
foram importantes porque levou a uma
As famílias patriarcais eram consideradas reestruturação da economia, das relações de
extensas diante da característica de terem trabalho, cultura, modo de vida, deslocamento
além da autoridade do homem, sua esposa e reconfiguração social, fica-se evidente
e filhos, outros agregados como parentes portanto, que essas desestruturações todas

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Revista Educar FCE - Março 2019

afetaram de certo modo, as configurações ao bem estar social, sendo essa camada da
familiares. Kaloustian (2011, pág 42) afirma população discriminada e desprotegida,
que gerando filhos também desprotegidos,
discriminados e desrespeitados enquanto
“A Proclamação da República introduziu seres humanos.
no país um conjunto de modernizações
que envolvem o fim do trabalho escravo e “À massa de ex-escravos foi vedada a
a urbanização (com deslocamento para o propriedade da terra, pois argumentava-se
início da industrialização), como também sobre a impossibilidade de se fazer reforma
o deslocamento para o eixo centro-sul dos agrária sem que a “massa” estivesse preparada
pólos de desenvolvimento econômico e de – “educada” como sugere Nabuco(10),pois
decisão política.” sem a tutela do senhor o ex-escravo não teria
condições humanas, tais como inteligência,
Surge então uma nova organização da aptidão etc. (biologicamente falando) para
família moderna espelhando-se no modelo cultivar sozinho a terra, a despeito de ser
da família burguesa com modismos da família pelo seu trabalho que toda a lavoura fora
francesa, tradicional e firme em seus valores estruturada”. Kaloustian (2011, pág. 32)
morais. Com esse novo modelo europeu,
veio uma nova composição de família nuclear Com a Revolução Industrial ocorrida na
com pai, mãe e poucos filhos. Europa (1870) e principalmente após a II
Guerra Mundial (1945) ,que também ocorreu
Embora o homem continuasse a ser o principalmente no continente europeu, a
detentor do poder e de autoridade, o papel da mão de obra feminina aumentou, em virtude
mulher passou por mudanças significativas, da dificuldade da presença masculina no
pois agora além de ser esposa e mãe ela mercado de trabalho, mesmo exercendo
passa a ser também educadora dos filhos e ocupações em condições precárias de
um apoio para que o marido pudesse prover trabalho, com baixa remuneração e sem a
a família. Essa mulher deveria ser muito bem devida proteção social algumas mulheres
educada, prendada, boa mãe e estudar para se viram obrigadas a sair da função de
poder ensinar aos filhos. E a família negra, boas esposas, boas mães e educadoras,
como fica diante dessas transformações? fazendo com que a família sofresse novas e
Pois bem, como o povo africano/negro era significativas mudanças.
considerado biológica e socialmente uma
raça inferior, não havia nenhuma política de Assim, a família de características
atendimento à essas famílias, pois acreditava- hierarquizadas passou a se estruturar como
se que qualquer tentativa seria ineficaz uma família, em que a “igualdade” feminina
diante da ignorância desse povo.A esse povo passou a existir. A mulher inicia um processo
também foi negado o direito à educação e de participação mais efetiva na sociedade,

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Revista Educar FCE - Março 2019

em atividades educativas, profissionais, desigualdades sociais, e tantas coisas que


culturais, artísticas e políticas, afetando influenciam nosso relacionamento com as
significativamente a educação no contexto pessoas próximas.
familiar. Há que ressaltar que as aspas na
igualdade conquistada pela mulher devem- Diante disso, a família se adapta ao que
se a fatores sociais presentes até o momento ocorre fora de seu ambiente interno. Todas
social: mesmo ela trabalhando e ajudando essas mudanças levaram definitivamente
no sustento da família, a responsabilidade à incorporação da mulher ao mercado de
com o cuidado dos filhos ainda recai, em sua trabalho, transferindo a ela, parcial ou em
maioria, para a mãe; mesmo desempenhando muitos casos, total, a responsabilidade do
as mesmas funções que os homens o salário orçamento doméstico, tornando-se arrimo
da mulher tende a ser menor; e mesmo em de família, pois o ganho do marido já não
casos que a mulher possui o maior salário é mais suficiente ou pelo desemprego do
da família, é ainda o homem visto como o mesmo ou mesmo pela ausência do marido
chefe da família, no entanto, esses casos ou companheiro no seio familiar.
estão diminuindo com o passar do tempo,
a igualdade está se tornando cada vez mais Tudo isso vem definitivamente
real. sobrecarregando a mulher, pois para ela não
tem sido fácil assumir esse papel e ainda ser
a responsável pela educação dos filhos e
COMPOSIÇÕES FAMILIARES assumir o controle do lar enquanto “dona de
E A CONTEMPORANEIDADE: casa”.

APROXIMANDO O OLHAR Ouvimos frequentemente muitas críticas


em relação ao funcionamento das famílias. A
Na medida em que a sociedade passa frase mais ouvida pelo censo comum é que
por transformações sociais, econômicas, uma determinada família é desestruturada.
culturais, políticas e até mesmo religiosas Todavia não temos famílias estruturadas
a família também sofre mudanças. Ela tem ou desestruturadas, o que temos hoje são
assumido ou renunciado, por diversas novos arranjos familiares, a maneira como
interferências as funções de proteção e cada núcleo funciona e se organiza.
formação de seus membros.
A família se estabelece a partir de decisão
Os papéis na família se modificam à de algumas pessoas conviverem assumindo
medida que a sociedade muda.Pertencemos o compromisso de uma ligação entre si,
a uma sociedade capitalista e globalizada, incluindo uma relação de cuidado entre os
na qual nos deparamos com empregos adultos e deles para com as crianças que
mal remunerados, desemprego, miséria, aparecem nesse contexto. Esse compromisso

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Revista Educar FCE - Março 2019

é cumprido independentemente de FAMÍLIAS MODERNAS E SEUS


formalidades legais da nossa sociedade civil PROBLEMAS MODERNOS
que regem casamentos, divórcios e adoção
de crianças e adolescentes. Então pensemos como a família tão
conhecida por nós vem se tornando
Vivemos no século XXI e ainda esperamos cada vez mais algo estranho, complexo e
uma composição familiar no modelo europeu desconhecido, por não ser dada a devida
nuclear burguês do século XIX, não que atenção a uma entidade tão fundamental
esse modelo não seja mais possível, pois para todos os seres humanos.
ainda é possível encontrá-lo e é inclusive
muito almejado, visto o grande número de Os problemas nas relações familiares vem
casamentos realizados. se acentuando, de forma gradativa, porém
cada vez com mais intensidade. A falta de
As grandes mudanças entre esses tempo e os desencontros propiciam uma
séculos nos trouxeram novas composições distância maior entre pais e filhos.
familiares de mães solteiras, pais solteiros,
divórcios com novos casamentos (madrastas, A família ideal deveria ser alicerçada
padrastos, meios-irmãos etc.), casais pelos pais, mas quando estes não exercem
homossexuais, crianças sendo criados suas funções, por falta de tempo, por falta
pelas avós, ou qualquer outro membro da de orientação, por falta de priorização e
família. Na verdade o que encontramos são até por falta de interesse, a fragilidade da
seres humanos em busca da tão esperada e família se torna latente, até porque delegam
sonhada felicidade. e transferem a educação dos valores morais
ao encargo, das avós, das babás e da escola
Apesar da modificação no atual perfil da na figura principal do professor.
família, essa não deixa de ser um importante
núcleo de crescimento para todos seus Com a ampliação do acesso à tecnologia e
componentes. Nenhuma instituição por por estarmos lidando no século XXI com uma
melhor que seja, consegue substituir a geração extremamente informatizada, que já
família, entendendo que as experiências de nasceu na era da informática, por muitas vezes
seus membros favorecem o desenvolvimento a qualidade do tempo doméstico e familiar
da personalidade e do caráter, considerando fica tomado pelos televisores, pelos DVDs e
a natureza das relações interpessoais como suas várias possibilidades de filmes infantis,
fator chave, e como a criança é atendida computadores, tablets, internet, telefones
em suas necessidades básicas físicas e celulares, vídeo games dos mais variados e
emocionais, em um ambiente estável, avançados modelos, os quais atualmente
independente da estrutura familiar, pois é são a companhia e a distração mais comuns
nela que se inicia o processo de socialização. dos filhos, contribuindo sobremaneira para

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Revista Educar FCE - Março 2019

desafiar e modificar o relacionamento e a Neste contexto, diante das novas


comunicação familiar. configurações familiares, percebe-se que o
sistema familiar moderno está vulnerável.
Muitas famílias sobrecarregam os filhos É inegável a importância dos pais junto aos
com atividades externas, para assim ocupar filhos, não no sentido da família nos moldes
o tempo que não podem estar com eles, tradicionais, mas no sentido participativo,
pensando que assim estão garantindo um independente dos arranjos familiares e das
futuro melhor para seus filhos e cobrindo formas de relacionamento e funcionamento
sua ausência, mas esquecem de observar das mesmas, lembrando sempre que esta
suas reais necessidades afetivas no âmbito tem substancial atribuição na construção
familiar. de valores, crenças, limites e projeto de vida
dos filhos, agindo sempre com moderação e
[...] “a família desempenha um papel decisivo na sem exageros.
educação formal e informal, é em seu espaço que
são absorvidos os valores éticos e humanitários “É dever da família, da sociedade, e do
e onde se aprofundam os laços de solidariedade. Estado assegurar à criança e ao adolescente,
É também em seu interior que se constroem com absoluta prioridade, o direito à vida, à
as marcas entre as gerações e são absorvidos saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
valores culturais”. (KALOUSTIAN, 2011, p. 12) profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária além de colocá-los a salvo de toda
Diante disso é realmente preocupante
forma de negligência, discriminação, exploração,
que ela passe esse papel para as tecnologias,
violência, crueldade e opressão” (CF art. 227)
pois como passar valores éticos, morais e
humanitários por meio da mídia que em
muitos casos manipula a população com Os pais têm como papel principal o
suas informações para formar uma sociedade cuidado, a educação, passando o respeito
segregadora, quando não amplia a visão para mútuo, protegendo, reformulando
a diversidade e respeito cultural e étnico. significados e transmitindo valores de
diversas naturezas, como religiosos e
[...] “A família é o espaço indispensável para a morais, entre outros, e ainda escolhas de
garantia da sobrevivência de desenvolvimento e lazer, interação, diálogo e compreensão,
da proteção integral dos filhos e demais membros, elementos indispensáveis, para minimizar o
independentemente do arranjo familiar ou da impacto da atual conjuntura social nos lares
forma como vem se estruturando. É a família
brasileiros. Nessa sociedade consumista,
que propicia os aportes afetivos e, sobretudo
onde muitas vezes o que vale mais é o que
materiais necessários ao desenvolvimento e bem-
se tem e não o que se é, as famílias buscam
estar dos seus componentes”. (KALOUSTIAN,
cada vez mais suprir necessidades materiais
2011, p. 12)
de consumo, buscando obter produtos

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Revista Educar FCE - Março 2019

conservar o emprego que nem, sempre traduz


ditados pela mídia e pelo convívio social para
em compensação econômica adequada para as
se sentir minimamente pertencentes a um perdas emocionais na família, principalmente,
grupo. Esse consumo se estende aos adultos em relação às crianças”
e crianças que cada vez mais são expostas ao
consumo e são alimentadas com presentes
para suprir as ausências. Constantemente as Na citação anterior José Martins Filho
famílias se veem na posição de passar para fala de uma camada da sociedade que
outras pessoas as suas funções, pois seu aparentemente possui um poder aquisitivo
maior tempo está absorvido à sobrevivência mais estável, todavia não podemos nos
e manutenção financeira. Delegam a outros esquecer das camadas mais vulneráveis
as funções de educar, dar atenção, carinho, financeiramente, da população que vive em
afeto, escuta, alimentação. Que qualidade condições precárias de subsistência, vivendo
terá para a criança pequena esse tempo que com salário mínimo, empregos informais
passa com profissionais pagos para cuidar cuja remuneração mantém a alimentação,
delas, cujas funções são tão importantes vivendo em territórios violentos, mas que
quanto as da família, mas o envolvimento mesmo com suas dificuldades busca um
afetivo é extremamente subjetivo? E no status social, um valor que foi agregado à
fim para quem fica a obrigação de passar população brasileira com a acessibilidade de
noções básicas de convivência, de cuidado produtos com a globalização.
de amor? Entretanto algumas famílias
estão tão perdidas em suas funções e Todas essas transformações afetaram
atribulações que a convivência com outros diretamente a educação dos filhos e
profissionais pertencentes a outras agências transferiram de certa forma, a incumbência
socializadoras, como a escola, por exemplo, da educação das crianças à escola, sem
pode ser mais saudável. Segundo Martins que esta seja diretamente responsável por
(2012 pág 28) esse processo, uma vez que esse atributo,
em primeira instância, é do núcleo familiar,
“(...) tais profissionais se comportam melhor independente de sua estrutura, vínculos ou
do que parentes neuróticos e angustiados, funções que mantém.
que correm sem parar na luta para sobreviver
ou, o que é pior, para pagar os custos de É preciso então que a escola seja sensível
um comportamento altamente consumista,
às particularidades de cada família e de seus
pressionados por um marketing agressivo que
membros, para formar uma parceria real,
exige dos mais jovens um consumo exagerado,
pois tal realidade não isenta a instituição
que leva à necessidade de ganhar cada vez
familiar de seu papel educador, primordial
mais, porque sempre é preciso ter um pouco
mais: o novo celular, o carro do ano ou, às
ao desenvolvimento e integração do filho à
vezes, é verdade, se faz necessário saldar a sociedade.
prestação da casa, manter o status social ou

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Revista Educar FCE - Março 2019

A GESTÃO EDUCACIONAL do ensino público, na forma da lei”, vale


ressaltar que o principio anterior garante
No capítulo anterior fez-se uma o acesso aos cargos escolares por meio de
reflexão sobre a família e as suas muitas concurso público, em períodos anteriores ao
configurações, passando-se por uma de 1988 as escolhas desses cargos se davam
explicação histórica para se entender seu por meio de escolhas ou de vereadores,
contexto e configurações atuais e se propor ou de pessoas escolhidas pela própria
que, a partir desse entendimento, a escola comunidade, tais escolhas limitavam o lado
de se desprenda de todo tipo de preconceito técnico da profissão, assim como a tomada
e posturas que venham a dificultar a relação de decisão pois eram sempre determinadas
entre as duas partes. por interesses que por vezes eram alheios
aos interesses pedagógicos.
É comum por parte de alguns membros
da escola, pedirem a aproximação da Com estes dois incisos garantidos na lei,
família quando a criança está apresentando conseguiu-se oferecer uma qualidade maior
mal comportamento ou rendimento, essa ao trabalho docente realizado até então,
aproximação no entanto, não é dialógica, mas assim como se garantiu a continuidade da
sim, punitiva, a escola passa para a família família dentro da escola, podendo decidir
a responsabilidade do fracasso do aluno sobre os rumos da escola, porém dando uma
até aquele momento e cobra dela, atitudes estabilidade para que o gestor pudesse tomar
que possam fazer essa criança melhorar, ou suas decisões colocando-se os interesses
enquadrar no que a escola espera dele. pedagógicos em primeiro lugar, à priori,
essas leis parecem excludentes, mas não são.
Tal postura não é a que se defende
neste trabalho, mas será abordada mais a A gestão democrática passou a envolver em
frente, neste capítulo, busca-se apresentar sua tomada de decisão todos os envolvidos
o que se é dito e entendido sobre Gestão com a educação, ou seja, a denominada
Educacional, mas principalmente sobre “comunidade escolar” que envolve pais,
a Gestão Democrática em seu recente professores, estudantes, os funcionários
contexto histórico e como fazer com que ela do quadro escolar, como os vigias, agentes
se torne cada vez mais democrática. de limpeza, secretários dentre outros ( que
variam conforme a cidade e localização da
O termo Gestão Democrática ganhou escola) assim como da equipe gestora, que
relevância após a promulgação da geralmente envolvem diretor, vice-diretor e
Constituição Federal de 1988, na qual em seu coordenação pedagógica.
artigo 206 afirma que o ensino deve seguir
alguns princípios para a sua realização, e o A definição da gestão democrática como um
6º apresentado é do da “gestão democrática dos princípios do ensino da educação pública

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Revista Educar FCE - Março 2019

brasileira, teve sua regulação apresentada por A segunda estratégia fala sobre repasse
duas leis complementares e muito importantes de verba e aumento da função dos grupos
na Educação atual: A Lei de Diretrizes e Bases de conselheiros para várias áreas como
da Educação Nacional (LDB - Lei 9.394/96) e alimentação, espaço físico adequado,
no Plano Nacional da Educação, na Meta 19, observação do uso que se faz com os recursos
que teve sua vigência inicial no ano de 2011 e que a escola recebe e meios desses conselhos
se estenderá até o ano de 2020. poderem fiscalizar com mais intensidade, por
exemplo, tendo veículos próprios,ou pelo
Na LDB, a gestão democrática é também menos ajuda de custo para esse trabalho,
definida como um dos princípios, mas na cidade de São Paulo, por exemplo, na
aqui fica claro que sua realização fica em Rede Municipal de Ensino, existe o CRECE
conformidade com as leis específicas de - Conselho de Representantes de Conselho
cada Sistema de Ensino, desde que, como de Escolas que tem essa função, a partir do
não pode ser diferente, não vá contra o que que os conselheiros escolares percebem em
se defende a Constituição Federal. suas unidades de ensino, levam para essa
instância maior que vai averiguar o que se
Na meta 19 do Plano Nacional de pede, inclusive essas questões legais, porém,
Educação, PNE são elencada oito estratégias ninguém deste Conselho, até o momento,
que tem objetivo de fomentar a Gestão recebeu verba nenhuma assim como nenhum
Democrática, essas estratégias começam tipo de auxílio de custo.
por ações que devem ser realizadas pelas
esferas federais, até as locais, vale a pena A terceira estratégia tem o objetivo de
citar cada uma dessas estratégias, por isso incentivar Fóruns Permanentes de Educação
se comentará sobre elas a seguir. em âmbito nacional, a fim de entre
outras coisas, acompanhar a evolução dos
A primeira diz respeito ao repasse de verbas cumprimentos das metas do PNE, talvez
da União para os entes federados até se esses fóruns estejam acontecendo em algum
chegar à escola e também fala sobre a escolha lugar, mas não na cidade na qual trabalho.
de diretores e gestores prioritariamente
por meio de critérios técnicos de mérito e A quarta estratégia visa o fortalecimento
desempenho, aqui pode-se entender que o dos grêmios estudantis, que são organizações
concurso público é um meio de escolha, mas de alunos com o objetivo de despertar neles
não o único, há que se ressaltar que ainda é uma formação cidadã, pois vários conceitos
comum nas cidades do interior, a escolha ser são aprendidos para os alunos que fazem
por meio de indicações; neste tópico ainda parte de um grêmio, dentre os quais: direito
se ressalta a participação da comunidade ao voto, saber ouvir ao próximo, pensar no
escolar na tomada de decisão das verbas que bem comum, dentre outras características
chegam até a escola. fundamentais para a vida em sociedade,

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Revista Educar FCE - Março 2019

faz-se menção também à consolidação da que é a realização e a escrita do mesmo, as


associação de pais, que na prática, existe escolas acabam fazendo somente uma vez,
com o nome de APM, Associação de Pais de uma maneira não muito clara e após isso
e Mestres que ainda é muito associado ao o documento fica engavetado e não se fala
dinheiro em forma de contribuição que os mais nele, há escolas em que os professores
pais mandam para colaborar com a escola, afirmam nunca ter visto este documento,
mas que pode ser um grupo independente, muito menos os pais e outros membros.
organizado somente pelos pais, com o poder
de fazer representações frente aos outros Tal falta de participação também envolve
conselhos e podem inclusive, ter um espaço a escrita dos regimentos escolares e das
próprio de organização dentro da escola. avaliações das ações da escola, de modo
que poucos pais são chamados para esse
A quinta estratégia tem o mesmo intuito momento, com “chamadas públicas” em locais
que a segundo, mas com pouca diferença, de pouca circulação dos pais nas escolas,
pois naquela se trata sobre a formação assim tanto o PPP quanto as avaliações
dos conselheiros e nessa, a formação dos sobre as ações da escola, em sua maioria não
conselhos, vale lembrar que estes conselhos acontece.
desempenham um papel muito importante
no cotidiano escolar, uma vez que possuem No que se refere à sétima estratégia,
autonomia para fiscalizar e deliberar pode-se dizer que ocorre com relativo
livremente sobre diversos assuntos, a sucesso nas escolas, as verbas que chegam
presença da população e de membros da tem uma estrutura e um controle que
comunidade escolar deve ser altamente tornam difícil a realização de desvios e estas
divulgada e estimulada. também costumam vir especificadas para
em que devem ser gastadas, as prestações
A sexta estratégia toca num ponto de contas também costumam ocorrer de
fundamental na escola, mas que na prática maneira transparente e aberta aos membros
ainda está longe de acontecer a contento:a dos diversos Conselhos, assim como da
participação das famílias na construção APM que costuma ter participação ativa não
e revisão constante do Projeto-Político- só na prestação de contas, mas também na
Pedagógico (PPP) da unidade escolar. Em tomada de decisão dos gastos.
linhas gerais pode-se dizer que o PPP é a
identidade da escola, tudo o que ela defende, No que se refere à autonomia pedagógica
seus ideias, a identificação com a comunidade apresentada nesta estratégia, todo
em que está inserida e quais os objetivos professor se orgulha de ter a liberdade,
que aquela escola pretende alcançar devem claro que dentro do que orienta a LDB e os
estar descritos de maneira clara e objetiva Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN’s
nesse documento; dada a complexidade - de trabalharem o que julgarem relativo à

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Revista Educar FCE - Março 2019

turma e à escola na qual ele está atuando, vale lembrar que essa autonomia foi colocada não
só no PNE, mas também na CF de 1988, porque naquela época o Regime da Ditadura não
dava essa liberdade ao professor, assim como, aos administradores e gestores.

A oitava e última estratégia discorre sobre a formação específica de gestores e diretores,


assim como a escolha por meio de concurso público e de provimento de cargos, levando-
se em conta critérios técnicos, até antes da promulgação da CF era comum o cargo ser
oferecido à pessoas que não tinham nenhuma relação com a escola, mas que eram indicadas
se conhecessem as pessoas certas, atualmente em escolas do interior, tal prática ainda existe,
mas tem sido cada vez mais denunciada e a tendência é que nos próximos anos, deixe de
existir.

As estratégias apresentadas acima conseguem representam o que se tem feito e como


se é entendida a gestão democrática a partir da CF de 1988, essas metas representam
apenas uma totalidade do que se é feito e muitas delas ainda não acontecem totalmente,
pois conforme já dito, estas entraram em vigor em 2011 e pretende-se que sejam alcançadas
até 2020, mas é possível a partir desse recorte de estratégias se entender o que se espera
da gestão democrática atualmente e de todos os principais envolvidos na sua concretização.

É sabido que o papel do diretor nesse processo é bastante importante, mas não é o único,
depende também de políticas públicas, assim como verbas que auxiliem na modernização
constante da escola, engajamento por parte de professores, pais, alunos, demais funcionários
da escola, da comunidade e dos conselhos que podem auxiliar muito nesse processo.

No entanto, pode-se observar que em vários momentos se aponta a integração dos dois
grupos apresentados aqui, a saber: gestão e família, e é desta integração que se trata os
próximos capítulos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A reflexão inicial trouxe algumas configurações pelas
quais as famílias passaram ao longo dos anos até se chegar
às suas múltiplas configurações atuais, buscou-se apresentar
no capítulo seguinte o que as principais leis brasileiras
dizem sobre a gestão democrática e finalmente, buscou-se
apontar caminhos para que ela seja de fato implementada no
cotidiano escolar.

A quantidade de leis, livros e autores sobre o tema, só


demonstram a sua importância e apontam para o fato de
que a gestão democrática é tão relevante e essencial para a
construção de uma educação de qualidade, que já devia estar
ocorrendo como uma prática já totalmente incorporada e
cristalizada no cotidiano escolar, no entanto, ela nem sempre
ocorre de fato pois pode ser mascarada com atividades que MARILEI DA SILVA
parecem democráticas, mas de fato não são. COUTO LIMA
Graduação em pedagogia pela faculdade
É fundamental nesse processo que a educação seja Centro Universitário Ítalo Brasileiro (2011);
entendida como uma cão social que possui muita importância Graduação em História pela Faculdade
em seu contexto de criação de consciência, não só isso, de Metropolita de Santos (2014); Pós graduação
necessidade de superação da discriminação social que afeta em Práticas Educacionais pelo Instituto de
a milhares de brasileiros. Educação e Qualificação Profissional – INEQ
(2018) Professor de Ensino de Educação
É preciso um projeto pensado a longo prazo e que tenha Infantil e Ensino Fundamental I na EMEF

abrangência nacional que permita o real crescimento dos Constelação do Índio.

estudantes e de suas famílias, além da própria escola e


consequentemente, do país, porque pensar em gestão
democrática é pensar na democracia em si, e esta, apesar de
já estar em um país democrata, precisa ser estimulada com pequenas ações, que podem vir
a crescer paulatinamente, mostrando resultados cada vez maiores.

De acordo com Rescia e Gentilini (2001) pág. 15

“as instituições escola e família são frutos da sociedade que, por meio delas, educa, socializa e civiliza os
cidadãos em prol de seu desenvolvimento. Como produções sociais, tanto a escola como a família, são
instituições educativas e sofrem, constantemente, modificações de acordo com as finalidades e exigências do
contexto socioeconômico, político e cultural que as produzem”.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Estas alterações aconteceram nas famílias, mas muitas escolas tendem ainda a resistir
às essas tais mudanças mantendo-se uma tradição pedagógica que já não faz mais sentido,
métodos de avaliação, de ensino, de controle da indisciplina, busca por uma autoridade que
chega a ser análoga a época do ensino militar, festa de dias mães e dos pais, sem considerar
a diversidade atual e outras posturas que tem sido, mas que precisam ainda ser repensadas
e deixadas de lado.

Estas mudanças tem o objetivo de levar a escola a ter uma comunicação maior, mais direta
e mais respeitosa com a família e alunos a fim de se entender seus anseios e poder oferecer
maneiras de se caminhar e se desenvolver igualmente, a escola, portanto, apresenta certa
ambiguidade.

Tal ambiguidade reside no fato de que, de um lado ela se apresenta como um local que
somente passa e reproduz conteúdos que ela julga pertinentes para a vida dos alunos, a
partir de padrões e modelos pré-estabelecidos, que, por vezes replica as injustas estruturas
sociais.

Por outro lado, a ambiguidade está na representação de uma realidade em constante


movimento por esta ser inserida em um contexto de conflituoso, fazendo uso de sua força
para se estabelecer.

A escola também pode ser vista como um lugar em que todas as formas de diferenças sejam
acolhidas, entendidas e respeitadas, essas diferenças sociais, culturais, físicas, religiosas,
dentre outras, podem ser respeitadas e entendidas nesse espaço e consequentemente,
reverberar na sociedade.

Como se apresentou aqui neste trabalho, a escolha pela democracia tem o sentido de
ampliação da escuta e da tomada de decisões no espaço escolar, de modo a ouvir e a prestigiar
todos os envolvidos, buscando-se sempre pela resolução dos mais variados conflitos.

Pode-se concluir portanto, que a gestão democrática é uma realidade dentro da realidade
pedagógica brasileira, mas ela precisa ainda ser debatida e posta em prática, pois precisa
da união entre as instituições família e escola, cabendo à esta dar abertura e conscientizar
aquela a participar efetivamente da vida escolar dos seus filhos, e trazer contribuições que
possam facilitar e aumentar a qualidade da educação, cabe a esta também não ver a escola
como inimiga, que apenas ressalta os “defeitos” do seu filho, a missão tanto da escola quanto
da família é a mesma: educar e ajudar no desenvolvimento pleno da criança e do adolescente.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

A MAGIA DA HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO


RESUMO: A literatura infantil é um caminho que leva a criança a desenvolver a imaginação,
emoções e sentimentos de forma prazerosa e significativa. A leitura na fase da infância visa
aguçar a crítica do pequeno leitor, ampliar seu conhecimento linguístico sendo um caminho
para conhecer diferentes tipos de textos e vocábulos. O ato de ler é mais do que decifrar
códigos, é construir o significado do texto, abrindo caminhos para infinitas descobertas e
compreensão do mundo. Através das histórias elas se descobrem, descobrem a outros lugares,
outras maneiras de agir e obtêm novas visões mágicas da vida. Desta forma, reconhecer a
importância da literatura infantil e incentivar a formação do hábito de leitura na idade em
que todos os hábitos se formam, isto é, na infância, é o que este artigo vem propor. O
presente estudo inicia com um breve histórico da literatura infantil, apresenta conceitos de
linguagem e leitura, enfoca a importância de ouvir histórias e do contato da criança desde
cedo com o livro e finalmente esboça algumas estratégias para desenvolver o hábito de ler.

Palavras-Chave: Literatura infantil; Histórias; Desenvolvimento.

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INTRODUÇÃO através da leitura, da escrita, da linguagem


oral ou visual.
Existem dois fatores que contribuem para
que a criança desperte o gosto pela leitura: Diante disso, a escola busca conhecer e
curiosidade e exemplo. Neste sentido, o livro desenvolver na criança as competências da
deveria ter a importância de uma televisão leitura e da escrita e como a literatura infantil
dentro do lar. Os pais deveriam ler mais para pode influenciar de maneira positiva neste
os filhos e para si próprios. No entanto, de processo. Assim, Bakhtin (1992) expressa
acordo com a UNESCO (2005) somente 14% sobre a literatura infantil abordando que por
da população tem o hábito de ler, portanto, ser um instrumento motivador e desafiador,
pode-se afirmar que a sociedade brasileira ele é capaz de transformar o indivíduo em
não é leitora. Nesta perspectiva, cabe à um sujeito ativo, responsável pela sua
escola desenvolver na criança o hábito de ler aprendizagem, que sabe compreender o
por prazer, não por obrigação. contexto em que vive e modificá-lo de
acordo com a sua necessidade.
O que se percebe é que a literatura, bem
como toda a cultura criadora e questionadora, Esta pesquisa visa a enfocar toda a
não está sendo explorada como deve nas importância que a literatura infantil possui,
escolas e isto ocorre em grande parte, ou seja, que ela é fundamental para a
pela pouca informação dos professores. aquisição de conhecimentos, recreação,
A formação acadêmica, infelizmente não informação e interação necessárias ao ato de
dá ênfase à leitura e esta é uma situação ler. De acordo com as ideias acima, percebe-
contraditória, pois segundo comentário de se a necessidade da aplicação coerente de
Machado (2001, p.45) “não se contrata um atividades que despertem o prazer de ler, e
instrutor de natação que não sabe nadar, estas devem estar presentes diariamente na
no entanto, as salas de aula brasileira estão vida das crianças, desde bebês. Conforme
repletas de pessoas que apesar de não ler, Silva (1992, p.57) “bons livros poderão ser
tentam ensinar”. presentes e grandes fontes de prazer e
conhecimento. Descobrir estes sentimentos
O estudo realizado tem por objetivo, desde bebezinhos poderá ser uma excelente
verificar a contribuição da literatura infantil conquista para toda a vida.”.
no desenvolvimento social, emocional e
cognitivo da criança. Ao longo dos anos, Apesar da grande importância que a
a educação preocupa-se em contribuir literatura exerce na vida da criança, seja
para a formação de um indivíduo crítico, no desenvolvimento emocional ou na
responsável e atuante na sociedade. Isso capacidade de expressar melhor suas ideias,
porque se vive em uma sociedade onde as em geral, de acordo com Machado (2001),
trocas sociais acontecem rapidamente, seja elas não gostam de ler e fazem-no por

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Revista Educar FCE - Março 2019

obrigação. Mas afinal, por que isso acontece? Então, aos adultos, num geral, cabe a
Talvez seja pela falta de exemplo dos pais ou reflexão da importância desse assunto, pois
dos professores, talvez não. contar e ouvir histórias para as crianças
desde seus primeiros anos de vida é uma
prática edificante que desperta dentro de
A MAGIA DAS HISTÓRIAS cada um o gosto pela leitura e a construção
e ampliação de seu conhecimento.
Segundo Oliveira (2009), sugere-se que
comece a resgatar os contos e histórias Isso porque, conforme Oliveira (2009), a
conhecidas pelas crianças, tanto eles quanto literatura infantil descreve nas histórias o
o professor poderão contar oralmente os mundo de uma forma simbólica, por meio da
contos e suas histórias para os demais. fantasia, do sonho e do mágico, rompendo
barreiras e limitações do real, criando
Assim, o hábito da leitura torna-se a circunstância para que a criança apesar da
maneira de construção do conhecimento sua pouca idade, se defronte com questões
mesmo antes de saber ler, pois, é de ouvi- complicadas da realidade como, por exemplo:
las que se treina a relação com o mundo, o egoísmo, a fraternidade, a competição, a
fazendo do momento de contar, recontar, colaboração, a fidelidade, a falsidade, entre
inventar e ouvir o estímulo para manter viva outras questões.
a importância da leitura. Oliveira (2009)
acrescenta que a criança que, desde muito Dessa forma, a leitura é um recurso que
cedo, entrar em contato com a obra literária, trabalha de dentro para fora, do simples para
terá uma compreensão muito maior de si e do o complexo, onde a criança irá fazer escolhas
outro, tendo a oportunidade de desenvolver e se informar sobre o mundo que a cerca.
seu potencial criativo e ampliar seus
horizontes da cultura e do conhecimento, “O conto ajuda a tornar claro, complicada
dessa maneira, sua visão será melhor em relação prática, pois suas imagens iluminam
relação ao mundo e da realidade que a cerca. o problema relativo à vida, esse é o papel
do conto com sua linguagem figurada e
Certamente, por esse motivo que a autora emocional” (1982 apud Oliveira, Maria
Oliveira (2009) nos fala que a literatura infantil Alexandre de, 2009:79).
deveria estar presente na vida da criança da
mesma forma que se oferece o leite em sua Sendo assim, colocamos a importância de
mamadeira, pois ambos cooperam para o criar ocasiões e lugares onde à criança possa
desenvolvimento dos indivíduos, ou seja, um ampliar e adquirir novas experiências pessoais
é o alimento para seu desenvolvimento físico enriquecendo-as por meio da leitura. Nesse
e o outro para o desenvolvimento intelectual sentido, o educador ou o adulto em geral tem
e afetivo. o papel fundamental de inserir ou oferecer o

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Revista Educar FCE - Março 2019

livro para as crianças, considerando que esse à alfabetização a partir da introdução de


instrumento é de extrema importância para aspectos literários, tais como narrativas de
transformar o universo infantil no suporte livros infantis e vivência a partir de histórias.
para manifestar a imaginação e estimular a
criatividade. O texto literário desenvolve a competência
da abstração, visto que todas as experiências
De acordo com Faria apaud Poslaniee & vividas pelos educandos são simbólicas
Houyel (2009, p.18), “a formação do leitor na e por isso devem ser imaginárias. Outra
infância não pode prescindir de determinadas competência que o texto literário pode
competências ligadas à compreensão do desenvolver é a capacidade de dedução,
texto e consequentemente, à satisfação que principalmente em textos que deixam
este pode proporcionar à criança”. lacunas abertas, para serem resolvidas ao
longo do contexto.
Há duas fontes de competência para
propiciar da satisfação da criança, sendo: De acordo com Faria (2009, p; 21):

1) As que as crianças já têm como


bagagem, antes mesmo de obterem contato Todo livro oferece ao leitor uma
com o espaço escolar; complexidade – maior ou menor – para
destrinchar; e o leitor é também portador de
2) As que a criança adquire na escola ou uma complexidade – mais ou menos grande
em atividades de leitura, como visitação a – no ato da leitura. Se a complexidade do
bibliotecas ou a centros culturais. livro é menor do que a dor leitor, este se
aborrecerá. Ao contrário, se o livro é muito
Para Faria apud Poslaniee & Houyel (2009, complexo para a complexidade do leitor, este
p.18 -19), existem quatro competências que só utilizará certos aspectos, ou não chegará
as crianças têm antes da alfabetização: a entra no livro.

a) Domínio da língua oral; É muito importante que o próprio professor
b) Domínio da capacidade abstrata de tenha uma formação literária básica, para
associar; que possa elaborar suas aulas, introduzir
c) Conhecimento sobre objetivos da os conteúdos e escolher os livros que irá
literatura; trabalhar e quais competências pretende
d) Conhecimento intuitivo de que ler é desenvolver com aquele tipo de literatura
compreender. e para isso há algumas etapas essenciais ao
planejamento e execução das atividades que
A partir do ingresso da criança a escola, desenvolvem as competências de leitura e
há a ampliação das competências anteriores escrita, como:

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1) PREMATURIDADE DE LEITURA práticas literárias, conquistando o que almeja


para os seus educandos.
- Levantamento de presunção, alusão;
- Conhecimento anterior;
- Exploração do título, do autor, do CONTAR HISTÓRIAS
assunto, imagem.
“O ouvir histórias pode estimular o
2) EXPOSIÇÃO E LITERATURA TEXTUAL desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar,
- Contato com o texto; o teatral, o imaginar, o brincar, o ver o livro,
- Verificação das proposições levantadas; escrever, o querer ouvir de novo (a mesma
história ou outra). Afinal, tudo pode nascer
3) ESTUDO LÉXICO dum texto!” (ABRAMOVICH, 1995, p. 23).
- Significação das palavras desconhecidas,
sinônimos, antônimos;
- Diferentes significados expressos na O advento globalização trouxe mudanças
mesma palavra; consideráveis na sociedade como uma
toda a tecnologia de ponta substituiu
4) ABRENGÊNCIA muitos hábitos. A TV, os computadores, os
- Busca de informações e dados que estão videogames e tantas mídias tomaram lugar
presentes, de forma explícita ou implícita, nos do bom e velho livro.
textos, permitindo o melhor entendimento
dos mesmos. Muitos não veem o porquê de ler um livro,
se há possibilidade de ouvir a mesma história
5) INTERPRETAÇÃO em um áudio-livro, ou assisti-la em filme
- Envolve o conhecimento de mundo, as em um tempo bem reduzido. Ler passou a
inferências e opiniões que vão além do texto. ser uma obrigação, muita só leem quando
há necessidade escolar e mesmo assim,
6) ESCRITA TEXTUAL inúmeras vezes substituem a leitura da obra
- Deve ser realizada sempre a partir de uma na íntegra, por uma resenha on-line.
situação real de comunicação, permitindo ao
aluno inserir-se no contexto do enunciado A escola cotidianamente vem perdendo o
escrevendo, portanto, não apenas para o seu papel como estimuladora da literatura
professor. para os educandos, já não há mais o uso
contínuo de livros paradidáticos e muito
A partir do conhecimento de toda a menos avaliações da leitura.
estrutura responsável pela construção das
competências e aplicação destas na prática, A leitura dever ser cultivada desde a
o professor obterá sucesso na aplicação das primeira infância. É muito importante

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Revista Educar FCE - Março 2019

quando a mãe conta histórias para o seu filho Segundo Cavalcanti (2009), quando
ainda bebê, pois mesmo sem interagir ou realizamos a leitura ou contamos uma
entender, este vai se sentindo confortável e história, o faz através de um gesto voluntário
concentrado, até o momento ao qual passa a de buscar um preenchimento que nos envia
ter entendimento do contexto criando prazer um prazer, nos mantendo em sintonia com
e admiração pelas histórias. a descoberta do novo. Sendo assim, o gosto
pela leitura é algo que se provoca pelo afeto
O alicerce para o interesse da literatura e o gosto e o prazer são recursos essenciais
deve começar bem cedo, onde o professor que devemos buscar para a inclusão do hábito
deverá criar meios para que os alunos de ler nas escolas alcançando nossos leitores
possam se ambientar com as histórias, meios que, por meio dessa prática, se tornaram
como o acesso e manuseio a livros, contação leitores apaixonados e comprometidos.
de histórias, encenação, introdução de
princípios a partir dos contos, entre outros. Sobre o mesmo ponto de vista Costa
(2007) acrescenta que cabe não esquecer
Para Cavalcanti (2009), o leitor infantil que todo trabalho de formação de leitores
pode ser muito facilmente envolvido para a literatura não pode, em momento
pelo momento de ouvir a história, desde algum, menosprezar ou deixar em segundo
que este momento seja bem conduzido. plano o papel do professor enquanto
Pensando nisso, para narrar à história de mediador e enquanto exemplo de leitor,
forma sedutora, prazerosa e envolvente o pois “aprender a ler requer que se ensine a
contador - no caso o educador - precisa ser ler”, tarefa importante para o educador ao
apaixonado pelo mundo do faz de conta, inserir a leitura literária como caminho de
pois estar comprometido afetivamente com transformação e conhecimento e de forma
a narrativa é ponto principal, isso porque a prazerosa. Certamente, preparado para a
história precisa ser contada com sentimento, leitura, à criança compreenderá que o livro
entrega e partilha. é um passaporte para o ilimitado mundo da
ficção ou da realidade. As histórias podem
De acordo com Cavalcanti (2009), o bom ser contadas com recursos variados para
contador de história é alguém que possui que o aluno possa interatuar com o meio e
a virtude natural para fazer da palavra o criar gosto pela leitura, como a utilização de
canto mágico das narrativas. Dessa forma, fantoches, dedoches, reprodução do texto
podemos dizer que a história leva a criança com artesanato, encenação...
para um passado misterioso, o instiga para o
futuro onde se pode viajar pelas galáxias, ou A partir da literatura a criança começa
seja, é possível ir até onde sua imaginação a entender os princípios e os fatos sociais,
chegar. despertam o sentido fático, se emocionando
e criando expectativas com o texto.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Quando as histórias passam a ser OUVIR HISTÓRIAS


arquivados na memória, propiciam aos
educandos a comparação com a sua própria Ouvir histórias é um acontecimento tão
experiência, mesmo quando eles não prazeroso que desperta o interesse das
estão conscientes de notar semelhanças. A pessoas em todas as idades. Se os adultos
necessidade de se criar o gosto pela leitura adoram ouvir uma boa história, um “bom
trará sim imensos benefícios que tornarão causo”, a criança é capaz de se interessar
o indivíduo agente ativo no processo de e gostar ainda mais por elas, já que sua
interação, socialização, criatividade e etc. capacidade de imaginar é mais intensa. A
Logicamente que isso deve se dá através da narrativa faz parte da vida da criança desde
diversificação das atividades desenvolvidas quando bebê, através da voz amada, dos
no processo de ensino e aprendizagem. acalantos e das canções de ninar, que mais
tarde vão dando lugar às cantigas de roda,
A exposição à leitura das histórias a narrativas curtas sobre crianças, animais
no núcleo familiar durante a pré-escola ou natureza. Aqui, crianças bem pequenas,
proporciona a muitas crianças ao sucesso já demonstram seu interesse pelas histórias,
escolar e ampliam um interesse lúdico com batendo palmas, sorrindo, sentindo medo ou
respeito às atividades de leitura e escrita, imitando algum personagem. Neste sentido,
exercitadas pelos adultos que a rodeiam. é fundamental para a formação da criança
que ela ouça muitas histórias desde a mais
O aprendizado da leitura se dá a partir tenra idade. O primeiro contato da criança
das experiências pessoais, devemos, com um texto é realizado oralmente, quando
entretanto ir além deste contexto individual. o pai, a mãe, os avós ou outra pessoa conta-
A curiosidade é impulsionada do processo lhe os mais diversos tipos de histórias. A
de aprendizado, vindo a se transformar preferida, nesta fase, é a história da sua
em necessidade e esforço para “alimentar” vida. A criança adora ouvir como foi que ela
o imaginário, desvelar os mistérios do nasceu, ou fatos que aconteceram com ela
mundo e permitir ao leitor desenvolver um ou com pessoas da sua família. À medida que
autoconhecimento através de como e o que cresce, já é capaz de escolher a história que
lê. O processo de leitura acontece, coletando quer ouvir, ou a parte da história que mais
experiências na medida em que se organizam lhe agrada. É nesta fase, que as histórias vão
os conhecimentos adquiridos, se estabelece tornando-se aos poucos mais extensas, mais
as inter-relações entre essas experiências detalhadas.
e no processo de resolução dos problemas
que se nos apresentam. “A leitura do mundo A criança passa a interagir com
precede sempre a leitura da palavra e a as histórias, acrescentam detalhes,
leitura desta implica a continuidade da leitura personagens ou lembra-se de fatos que
daquela.” (FREIRE, 1982). passaram despercebidos pelo contador.

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Essas histórias reais são fundamentais para Portanto, garantir a riqueza da vivência
que a criança estabeleça a sua identidade, narrativa desde os primeiros anos de vida
compreender melhor as relações familiares. da criança contribui para o desenvolvimento
Outro fato relevante é o vínculo afetivo que do seu pensamento lógico e também de sua
se estabelece entre o contador das histórias imaginação, que segundo Vigotsky (1992,
e a criança. Contar e ouvir uma história p.128) caminham juntos: “a imaginação é um
aconchegada a quem se ama é compartilhar momento totalmente necessário, inseparável
uma experiência gostosa, na descoberta do do pensamento realista.”. Neste sentido, o
mundo das histórias e dos livros. autor enfoca que na imaginação a direção da
consciência tende a se afastar da realidade.
Algum tempo depois, as crianças passam a Esse distanciamento da realidade através de
se interessar por histórias inventadas e pelas uma história, por exemplo, é essencial para
histórias dos livros, como: contos de fadas uma penetração mais profunda na própria
ou contos maravilhosos, poemas, ficção, etc. realidade:
Tem nesta perspectiva, a possibilidade de
envolver o real e o imaginário que de acordo “Afastamento do aspecto externo
com Sandroni & Machado (1998, p.15) aparente da realidade dada imediatamente
afirmam que “os livros aumentam muito o na percepção primária possibilita processos
prazer de imaginar coisas. A partir de histórias cada vez mais complexos, com a ajuda dos
simples, a criança começa a reconhecer e quais a cognição da realidade se complica e
interpretar sua experiência da vida real”. se enriquece. (VIGOTSKY, 1992, p.129)”.

É importante contar histórias mesmo para O contato da criança com o livro pode
as crianças que já sabem ler, pois segundo acontecer muito antes do que os adultos
Abramovich (1997, p.23) “quando a criança imaginam. Muitos pais acreditam que a
sabe ler é diferente sua relação com as criança que não sabe ler não se interessa por
histórias, porém, continua sentindo enorme livros, portanto não precisa ter contato com
prazer em ouvi-las”. Quando as crianças eles. O que se percebe é bem ao contrário.
maiores ouvem as histórias, aprimoram a Segundo Sandroni & Machado (2000, p.12)
sua capacidade de imaginação, já que ouvi- “a criança percebe desde muito cedo, que
las pode estimular o pensar, o desenhar, o livro é uma coisa boa, que dá prazer”. As
escrever, o criar, o recriar. Num mundo hoje crianças bem pequenas interessam-se pelas
tão cheio de tecnologias, onde as informações cores, formas e figuras que os livros possuem
estão tão prontas, a criança que não tiver a e que mais tarde, darão significados a elas,
oportunidade de suscitar seu imaginário, identificando-as e nomeando-as.
poderá no futuro, ser um indivíduo sem
criticidade, pouco criativo, sem sensibilidade É importante que o livro seja tocado pela
para compreender a sua própria realidade. criança, folheado, de forma que ela tenha um

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contato mais íntimo com o objeto do seu interesse. A partir daí, ela começa a gostar dos
livros, percebe que eles fazem parte de um mundo fascinante, onde a fantasia apresenta-se
por meio de palavras e desenhos. De acordo com Sandroni & Machado (1998, p.16) “o amor
pelos livros não é coisa que apareça de repente”. É preciso ajudar a criança a descobrir o que
eles podem oferecer. Assim, pais e professores têm um papel fundamental nesta descoberta:
serem estimuladores e incentivadores da leitura.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Num mundo tão cheio de tecnologias em que se vive,
onde todas as informações ou notícias, músicas, jogos,
filmes, podem ser trocados por e-mails, CDs e DVDs o lugar
do livro parece ter sido esquecido. Há muitos que pensem
que o livro é coisa do passado, que na era da Internet, ele
não tem muito sentido. Mas, quem conhece a importância
da literatura na vida de uma pessoa, quem sabe o poder que
tem uma história bem contada, quem sabe os benefícios que
uma simples história pode proporcionar, com certeza haverá
de dizer que não há tecnologia no mundo que substitua o
prazer de tocar as páginas de um livro e encontrar nelas um
mundo repleto de encantamento. Se o professor acreditar NEIDE MARIA DA
que além de informar, instruir ou ensinar, o livro pode dar LUZ SANTOS
prazer, encontrará meios de mostrar isso à criança. E ela vai
Graduação em Pedagogia pela
se interessar por ele, vai querer buscar no livro esta alegria Universidade do Grande ABC-UNIABC
e prazer. Tudo está em ter a chance de conhecer a grande (2010); Especialista em Educação Infantil
magia que o livro proporciona. Enfim, a literatura infantil pela Faculdade Mozarteum de São Paulo-
é um amplo campo de estudos que exige do professor FAMOSP (2014); Professora de Educação
conhecimento para saber adequar os livros às crianças, Infantil no CEI Vereador Roberto Gomes
gerando um momento propício de prazer e estimulação para Pedrosa.
a leitura. Professores que oferecem pequenas doses diárias
de leitura agradável, sem forçar, mas com naturalidade,
desenvolverá na criança um hábito que poderá acompanhá-
la pela vida afora. Para desenvolver um programa de leitura
equilibrado, que integre os conteúdos relacionados ao currículo escolar e ofereça certa
variedade de livros de literatura como contos, fábulas e poesias, é preciso que o professor
observe a idade cronológica da criança e principalmente o estágio de desenvolvimento de
leitura em que ela se encontra.

O tema “A magia da História na Educação” é fascinante e quem se ocupa com ele fica
triste ao ver como essa “arte” está desaparecendo aos poucos. Mas ao mesmo tempo, o
tema faz nascer à esperança de que o maravilhoso tempo em que a magia de contar histórias
preenchia o dia-a-dia em nossos lares está voltando silenciosamente. Contudo, se a criança
não lê é porque não lhe estão apontando caminhos para o desfrute de bons e belos textos...
Que existem (tantos) e são fáceis de achar... Literatura é arte, literatura é prazer...

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, F. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.

CAVALCANTI, Joana. Caminhos da literatura infantil e juvenil: dinâmicas e vivências na ação pedagógica. 3° Ed. São
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ZILBERMAN, Regina.Aliteratura infantil da escola. São Paulo: Global, 1985.

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA
EDUCAÇÃO FÍSICA INFANTIL
RESUMO: No mundo da criança existe a necessidade do lúdico, quando brinca ela está
pensando, criando e desenvolvendo, desta forma, os jogos, os brinquedos e as brincadeiras
ajudam a construir o conhecimento, vivenciando ações como atenção, imitação e memória
poderá também classificar, ordenar, resolver problemas e desenvolver dentre outros o
pensamento crítico e quanto ao educador poderá trabalhar ludicamente demostrando
seriedade e aplicando conteúdos que desenvolvam a construção do conhecimento e de
trabalho em equipe, analisando o desenvolvimento corporal e de pensamento.

Palavras-Chave: Lúdico; Educação Física Infantil;Desenvolvimento Infantil; Ambiente


Escolar.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO O brincar proporciona aprendizagem


e também permite que o adulto se torne
Este trabalho de pesquisa conceitua a perceptivo para reconhecer as necessidades
importância do lúdico no desenvolvimento da criança. Este trabalho tem como objetivo
infantil dentro da educação, vivenciando auxiliar professores, pais, cuidadores de
com prazer os significados diferenciados crianças em geral, e aqueles que de alguma
no processo de aprendizagem, sendo que forma possam ajudar no desenvolvimento e
o brincar é um método para o estímulo na aprendizagem da criança, mostrando que
na vida social e o desenvolvimento da a brincadeira é a forma de desenvolvimento
criança. Ela descobre o mundo, desenvolve para toda a vida.
o imaginário, a criatividade e a percepção.
Educar ludicamente significa que a criança
estará preparada para todos os segmentos A CRIANÇA E O LÚDICO
da vida. Através dos estímulos lúdicos os
professores da educação infantil podem A criança é antes de tudo um ser feito
proporcionar aos alunos uma melhora no para brincar e ela como todo ser humano
desenvolvimento da aprendizagem como faz parte de uma sociedade familiar com
aquisição de conhecimento emocional, uma determinada cultura, mas sabemos que
podendo ter a possibilidade de soluções de boa parte destas crianças enfrenta desde
pequenos problemas. cedo condições precárias sendo exploradas
por adultos através do trabalho infantil
A justificativa da escolha deste tema se (CAVALARI e Colls., 2010).
dá pelos resultados insatisfatórios, neste
sentido o lúdico pode contribuir de forma Há muitos e muitos anos atrás as crianças
significativa para o desenvolvimento do ser participavam juntos com os adultos das
humano, de qualquer idade, auxiliando na mesmas festas, das mesmas brincadeiras.
aprendizagem, no desenvolvimento social, Naquela época os paistinham mais tempo
pessoal e cultural, porém, o lúdico não é para ficar com seus filhos, sendo que o pai
a única forma para melhoria do ensino- saía para trabalhar e a mãe é quem cuidava
aprendizagem, mas é uma ponte que auxilia dos filhos. A participação dos pais, da
para que os resultados sejam melhores. No comunidade, os jogos e divertimentos eram
contexto escolar os professores são capazes para todos, assim a sociedade estreitava
de compreender as crianças, que por sua seus laços afetivos e se sentiam unido.
vez estão em seu desenvolvimento geral,
assim os educadores podem promover O desenvolvimento da criança traz
novas aprendizagens nas áreas cognitivas e vantagens sociais, afetivas e cognitivas, o
afetivas. brinquedo é como se fosse maior do que é a
realidade, pois fornece estrutura básica para

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Revista Educar FCE - Março 2019

mudanças das necessidades e da consciência. do corpo, sentido de direção entre outros,


A ação numa situação de criação voluntária e e no espaço social desenvolve a expressão
imaginária o brinquedo se constitui no nível corporal que favorece a criatividade
mais alto de desenvolvimento pré-escolar. favorecendo na preparação para a vida futura
As trocas de relações de uma criança com a perante a sociedade (OLIVEIRA, 2008).
outra são fundamentais para o crescimento
como pessoa. No comportamento diário das crianças
do simples brincar é algo que se destaca
Este processo comunicativo, expressivo como essencial para seu desenvolvimento
como a imitação entre elas, expressa seus e aprendizagem. Jogo e brincadeira como
desejos de participar e até de se diferenciar recursos da construção da identidade, a
de outros construindo seu jeito próprio e autonomia infantil e das diferentes linguagens.
ao se referir às trocas de relações entre as Brinquedos não devem ser explorados só
crianças, fica bem clara a importância do para o lazer, mas também como elemento
crescimento da criança como ser humano. No enriquecedor que promove a aprendizagem,
momento do brincar elas estão obtendo troca melhorando seu relacionamento com o
de informação, expressando suas vontades, mundo (OLIVEIRA, 2008).
diferenciadamente uma das outras, mas com
o mesmo objetivo. Essa diferença faz com A brincadeira e o jogo são as melhores
que cada uma delas tenha sua personalidade maneiras da criança comunicar-se sendo um
diferenciada e não seja manipulada. O jogo é instrumento que ela possui para relacionar-
um meio que se encontrou para que a criança se com outras crianças e é através das
faça um à atividade física e ao mesmo tempo atividades lúdicas que ela pode conviver com
tenha desenvolvimento físico e mental. os diferentes sentimentos que fazem parte
(VYGOTSKY, 1984). da sua realidade interior, ela irá se conhecer
melhor e irá aceitar a existência dos outros,
Lúdico quer dizer “jogos” e “brincadeiras” estabelecendo suas relações sociais. Na vida
e faz parte do desenvolvimento humano da criança é fundamental que ela brinque,
vivenciado a cada movimento e em cada explore, manuseie tudo o que está á sua
ação. Através do brinquedo, brincadeira volta, utilizando seu esforço físico, mental e
e jogos são onde a criança entra no seu sem se sentir coagida pelo adulto, começa
mundo imaginário. Com isso a criança sente a ter sentimentos de liberdade e satisfação
prazer e se diverte ao mesmo tempo. Essa nas atividades vivenciadas no momento. Os
atividade por ser espontânea funcional e jogos e as atividades lúdicas tornam mais
satisfatória. O objetivo de produzir prazer e significativas à medida que a criança se
de divertimento ao mesmo tempo, e que o desenvolve através da manipulação de objetos
educando desenvolve habilidades cognitivas, variados, ela reconstrói e reinventa coisas,
motoras, a atenção, o ritmo, posicionamento adaptando. Essa adaptação só é possível

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Revista Educar FCE - Março 2019

se ela própria esta evoluindo internamente, consideração pelas regras e a improvisação


transformando essas atividades lúdicas, em de material é estimular a criatividade da
linguagem escrita o que é abstrato (PIAGET, criança para que ela também possa fazer o
1975, p.156). mesmo, criar um brinquedo do seu próprio
gosto. O jogo de construção é mais uma
Segundo Kishimoto (2010), a brincadeira forma de desenvolvimento da criança, uma
quando é apontada como atividade mudança no ato de brincar. Por fim isto
espontânea da criança, sozinha ou em grupo, irá despertar o interesse da criança em
e construído uma ponte entre a fantasia aprender e a criar algo diferente. Materiais
e a realidade, o que leva a aprender lidar diversificados trazem o lúdico como uma
com dificuldades psicológicas e situações forma de aprendizado e desenvolvimento:
não bem compreendidas e aceitas em seu “O jogo contém um elemento de motivação
universo, levando a solucionar problemas, que poucas atividades teriam para a primeira
ampliando suas possibilidades linguísticas, infância: o prazer da atividade lúdica”.
psicomotoras, afetivas, sociais e cognitivas. (FREIRE, 2010, p.69 e 75).

As atividades lúdicas são a essência da A brincadeira refere-se ao comportamento


infância. Retornar a história e a evolução do espontâneo ao realizar regras estipuladas
homem na sociedade, vamos perceber que pelos próprios participantes e o brinquedo
a criança não era considerada como hoje, é identificado como o objeto da brincadeira,
antigamente ela não tinha existência social, desta forma, a brincadeira está mais ligada
era considerada miniatura do adulto, nas ao sentido de gratuidade, de uma ação livre
classes alta era educado para o futuro e nas de compromisso, com possibilidades da
classes baixas só começa a ser valorizada existência de regras flexíveis e determinadas,
quando ela podia ser útil ao trabalho, enquanto a brincadeira durar, por aqueles
colaborando na renda familiar. Nesta que dela participam. O jogo também possui
perspectiva a brincadeira infantil ajuda a regras que são modificadas, quando os
criança na ação que facilita a expressão de interesses de quem estão jogando diminui,
sentimentos na relação social com outras portanto podem ser flexíveis. O brinquedo
pessoas do seu meio (OLIVEIRA, 2008). manuseado, manipulado na atividade lúdica,
O jogo contribui com o desenvolvimento pode ser utilizado como tal, nos jogos. Muitos
infantil, evolui de um simples jogo de profissionais da área educacional utilizam
exercício que é o movimento corporal a ludicidade como um recurso pedagógico,
sem verbalização; passa pela fase do faz- como jogos e brincadeiras, pois os recursos
de-conta, fantasia, que é uma espécie de da utilização do lúdico auxilia a transposição
transição para o social até chegar ao jogo dos conteúdos para o mundo do educando.
de construção que é aquele marcado pela O lúdico aplicado à prática pedagógica não
atividade coletiva de intensificar trocas e a apenas contribui para a aprendizagem da

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criança, mas possibilita ao educador aulas educador precisa ter além da prática, ter
mais dinâmicas e prazerosas (QUEIROZ, uma base teórica que possibilite aplicar
2003). o lúdico com um embasamento científico
comprovado, sendo peça chave desse
O desenvolvimento da criança deve processo educacional. Desta forma os
trazer benefícios que possibilite desenvolver professores compreendem melhor toda sua
habilidades e competências para o capacidade e potencial de contribuir para
aprendizado e uma das formas a se ensinar com o desenvolvimento da criança através
uma atividade é através do jogo, na fase do lúdico. O professor da educação infantil
inicial da aprendizagem é utilizado jogos para exercer bem o seu ofício necessita ter
educativos, com ele se acredita que a criança uma compreensão do que vem ser o lúdico,
desenvolva uma personalidade enriquecida e não e apenas ter uma visão fragmentada,
e aperfeiçoada pelo brinquedo, pois o o lúdico é inerente a todas as crianças e
lúdico, o brincar é bem aceito pelas crianças basta deixá-las brincar livremente para que
(LAVORSKI e VENDITTI, 2008). se desenvolvam, mas saber que mediar
às brincadeiras e os jogos que a criança
Segundo o Referencial Curricular da está realizando são proporcionar uma
Educação Infantil (1998), o lúdico faz com aprendizagem significativa (HUTIM, 2010).
que a criança possa desenvolver o pessoal, Diante dos avanços em todos os campos e
social, cultural facilitando o processo de das mudanças rápidas em todos os setores,
socialização, construção do conhecimento, é necessário buscar novos caminhos para
comunicação, expressão corporal e enfrentar os desafios, assim será inevitável
colabora para uma boa saúde mental e buscar o prazer para o trabalho, para a vida,
através das brincadeiras a aprendizagem através da competência, da criatividade e
contribui para o desenvolvimento de forma do comportamento. O trabalho a partir da
integrada, desenvolvendo capacidades de ludicidade abre caminhos para envolver
relacionamento interpessoal, aceitando estar todos em uma proposta interacionista,
e ser parte da realidade social e cultural. dando importância ao resgate de cada
potencial. Através de este resgate
desencadear estratégias lúdicas para que
O PAPEL DO PROFESSOR seu trabalho venha ser mais prazeroso
produtivo e significativo. É só do prazer que
O profissional deve no ambiente escolar surge a disciplina e a vontade de aprender.
deve estar observando e investigando os É necessário repensar os conteúdos e as
acontecimentos a sua volta assim saberá práticas pedagógicas, substituindo a rigidez
direcionar as brincadeiras e jogos, pois esta pela passividade pela vida, compreender e
tarefa de alfabetizar e desenvolver através reconstruir o conhecimento (DALLABONA e
do lúdico necessita de uma formação. O MENDES, 2004).

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Observar as brincadeiras é extremamente eficiente também se deve levar em conta o


importante, pois analisando o educador estágio real de desenvolvimento da criança
reconhecerá as necessidades e poderá e habilidades e conhecimento que possui e
intervir se achar necessário sem reprimir ou a cultura onde vive (QUNTÃO e cols., 2004).
desestimular a criança elas devem respeitar
seu espaço, aprender a conviver com as O desenvolvimento da criança segue uma
outras crianças, assim aprenderá a respeitar sequência motora, cognitiva que acontece
as regras brincando. Brincar é necessário lenta ou acelerada, dependendo do estimulo
como comer, beber, ter saúde, para que que recebe, por volta dos dezoito aos vinte
possa fazer parte da sociedade. O professor e quatro meses de idade a criança reage sem
é muito importante, ele pode conduzir a pensar, depois desta fase ela vai adquirindo
brincadeira ou o jogo de várias formas: funções que são muito importantes para que
estimulando o imaginário, construindo o possa ter participação com o meio em que
brinquedo, facilitando para que a criança vive que é o andar e falar. O estímulo que
se utilize de regras para os jogos, pois ela recebe das pessoas que estão a sua volta,
constrói e imagina um mundo em seu espaço ajuda na sua atividade mental, iniciando
(MELLO e VALLE, 2005). sua vida social, em casa, na escola, que sem
dúvida será essencial, levando a criança a
adquirir confiança e adaptar-se a diferentes
A CRIANÇA E A EDUCAÇÃO convívios. Cada fase da criança exige do
FÍSICA profissional ficar atento para oferecer
estímulos adequados e sempre estar em
O Educador, profissional de Educação contínuo aperfeiçoamento para oferecer
Física deve conhecer os estágios de o melhor para cada fase através de jogos,
desenvolvimentos na educação infantil, brincadeiras ou esporte, auxiliando no
esse conhecimento irá garantir os desenvolvimento integral do educando
estímulos adequados para cada etapa de (QUNTÃO e cols., 2004).
desenvolvimento. Desta forma o trabalho
será harmonioso no desenvolvimento motor, Segundo Cavalari (et all 2010), o educador
cognitivo e afetivo. O professor possui precisa estar atento durante a atividade
ferramentas e materiais valiosos que desperta proposta, pois se necessário deverá fazer
estímulos, pois o movimento é a principal uma intervenção assim que perceber que a
necessidade para que o desenvolvimento atividade está sendo direcionada para fora
humano se integre com a motricidade, da proposta inicial planejado pelo professor,
emoção e a diversificação de pensamentos, podendo para o jogo ou brincadeira, pois cabe
e esse desenvolvimento se dá na utilização ao educador escolher a atividade que levará
de brincadeiras, jogos, brinquedos e do a criança a refletir, expressar suas ideias,
esporte. E para que esse processo seja desta forma a criança estará se descobrindo,

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vivenciando o jogo e podendo modificar e que acompanhado por especialista, pois


inventar novas regras. A criança passa por caso contrário a brincadeira ou jogo passa de
diversas fases de manipulação, descobertas, desenvolvimento para uma disputa divertida,
invenções, mas o educador deve conhecer o assim deixa de ser instrutiva (CAVALARI e
jogo antes de aplicar para que saiba se estará Colls., 2010).
alcançando suas expectativas. O educador
deve facilitar a integração, participação Através desta pesquisa verificou-se
durante a prática da atividade e também ser que o lúdico sempre existiu, por se tratar
participante. O jogo deve ser específico e de de uma atividade necessária, através do
interesse da criança, dando a oportunidade jogo podemos expressar sentimentos
para que aconteça a participação de todos positivos ou negativos. As informações
ativamente, possibilitando uma avaliação pesquisadas através e jogos tem um papel
constante, antes, durante e após o termino muito importante na formação do homem.
da atividade e que também possa existir Considerar que a brincadeira tem relação
relação com as disciplinas escolares. A com a Educação Infantil resulta em reflexão
escolha dos materiais a serem utilizados nas sobre atividades e práticas educativas
atividades deve proporcionar aos alunos normalmente assumidas pelos profissionais
oportunidades de exploração, de ação, de em contato com as crianças. É necessário
manipulação, desde que respeitada à fase ter conhecimento específico no ambiente
de desenvolvimento de cada um, pois caso escolar, pois existe a necessidade de saber
a atividade não estiver de acordo com a em que fase a criança se encontra. Essa
fase da criança poderá trazer desinteresse e formação por parte do professor, a busca
frustação. de conhecimento, é muito importante. Levar
jogos para sala de aula sem saber o que está
Os jogos realizados na sala de aula trabalhando e com isso aplicar de forma
contribuem para socialização entre os indevida pode acarretar em descontrole. As
educandos, atitudes como senso de atividades devem ser planejadas e voltadas
justiça, respeito, cooperação, obediência para a realidade do aluno, com critérios
as regras, iniciativa coletiva e pessoal avaliativos durante e após as atividades
e responsabilidade. Através do jogo se lúdicas.
desencadeia o elo da vontade e do prazer
de participar de uma atividade. O lúdico A partir do momento em que as atividades
desperta na criança o interesse para explorar começaram a ser oferecidas em sala de
ambientes interessantes e atraentes, mas aula, se verifica um avanço nos diferentes
precisamos ressaltar que o lúdico é apenas o processos de aprendizagem, quando a
meio, uma ferramenta, um instrumento para criança é trabalhada de maneira lúdica vão
o desenvolvimento educacional, significa se somando e dão lugar ao um processo
que se for utilizado de forma correta e desde total, global. Isto justifica a importância de se

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trabalhar com uma série de atividades lúdicas, pois é o conjunto destas que irá transformar
à medida que as crianças são conduzidas a tomar consciência das ações exercidas sobre os
objetos.

Observar e registrar as brincadeiras espontâneas das crianças, suas falas e os brinquedos
que inventam, assim como nossas atitudes, ideias e dificuldades frente a essas situações,
podem ser uma forma de começar a modificar nossa própria prática profissional.

São estas ideias que podem auxiliar a pensar, a organização, o trabalho com as crianças,
impulsionando novos investimentos na formação dos profissionais de educação infantil.
Precisamos nos colocar como parte do processo, investigando, estando sempre em busca de
novos horizontes, pois como educadores participantes, temos a responsabilidade de mediar
conhecimentos através da brincadeira e do jogo para que a absorção por parte da criança
seja prazerosa e com muitos desafios e informações.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observando pudemos perceber que a ludicidade além
de ser diversão também é prazerosa, e é uma forma de
aprender, consequentemente desenvolver competências e
habilidades, adquirindo situações que estimulam momentos
de criatividade e crescimento cultural, intelectual e
desenvolvimento das inteligências múltiplas. Nesta proposta
surge por parte dos educadores um envolvimento, junto com
os profissionais da Educação Física, a responsabilidade de
ensinar e aprender, passa a ser muito maior, poderíamos
levar mais a sério, a brincadeira, o jogo, dentro do ambiente
escolar.
NEIVA MATOS SANCHES
Graduação em Educação Física Licenciatura
pela Faculdade Bandeirante de Educação
Superior (2008); Graduação em Educação
Física Bacharel pela Universidade Camilo
Castelo Branco (2009); Graduação em
Pedagogia pela Universidade Nove de
Julho (2010); Especialista em Educação
Física Escolar pela Universidade Nove
de Julho (2012), Professora de Educação
Infantil e fundamental I – na EMEI Alice
Alves Martins, Professora de Ensino
Fundamental II – Educação Física - na EE
Prof. Mario Manuel Dantas de Aquino.

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REFERÊNCIAS
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Argumento. Curitiba. V.23, nº 40, p.43 – 48, Janeiro/Março 2005.

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VYGOTSKY, L.S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

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AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

COMO AVALIAR NA FASE


INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO
RESUMO: O artigo aborda da reflexão sobre relatórios de avaliação descritiva que os
alfabetizadores estão fazendo atualmente para documentar o processo de apropriação da
escrita e da leitura de seus alunos. Questiona-se se o ser realizado, a avaliação descritiva
possibilita a superação da classificação e avaliação excludente. A escola é para todos, mas
não conseguiu garantir o aprendizado de todos que entram nela. A expansão do ensino
fundamental a partir de 2006, de oito para nove anos, com mais um ano de alfabetização,
criou possibilidades de reorganização curricular das escolas. Após seis anos dessa medida,
podemos nos perguntar: O que mudou com a extensão do ciclo de alfabetização?

Palavras-Chave: Avaliação; Ensino; Alfabetização.

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INTRODUÇÃO sócio histórico que teve força na década de


1990 e, mais recentemente, o que evidencia
Na década de 1980, as taxas de a necessidade de inserir a criança na fala
insucesso escolar eram altas, principalmente que e escrita, ainda não são suficientes para
na escolaridade, houve repetição e solucionar o problema.
especialmente em classes de alfabetização.
Como as diretrizes para a reorganização
Pesquisas mostram que 52,5% das crianças curricular foram a avaliação relativa, com
matriculadas na educação sistemática uma substituição de notas por registros
repetem o primeiro ano a cada ano e cerca de descritivos - na busca pelas categorias
2% já nesta fase de escolaridade (RIBEIRO, excludentes que uma declaração pode
1991). Além disso, uma parcela significativa apresentar - este artigo reflete para os
das crianças nem tinha conseguido ingressar resultados da avaliação que alfabetização
na escola. docentes documentam documentalmente
o processo de apropriação da escrita dos
No início do século XXI, do ponto de vista alunos.
de entrada, o problema da escola foi resolvido
no Brasil, uma vez que praticamente todas as A discussão sobre uma avaliação foi
crianças de 7 anos estavam matriculadas na vigorosa no século passado XX e, a partir
escola. daí, ele está por perto para superar a
avaliação qualificativa e exclusiva por
No entanto, os indicadores do SAEB um modo de avaliação que tem como
de 2003, 24,8% dos alunos do ensino intenção diagnosticar o processo de ensino
fundamental, foram de 13,3% entre a 1ª e a / aprendizagem para promover e manter o
4ª séries e de 11,5% entre a 5ª e a 8ª séries. aluno inserido em um grupo que aprende e
E a taxa de abandono nos primeiros quatro avança nenhum desenvolvimento de suas
anos alcançou 7,5% e, nas séries finais do unidades intelectuais.
Ensino Fundamental, os 12% (BRASIL, 2005).
Nessa discussão, entre vários conceitos
As crianças existentes foram mantidas na e ideias debatidas, estava a questão da
escola; o problema da alfabetização pode ser necessidade de acompanhar a construção
encontrado ao longo do ensino fundamental. do conhecimento do aluno enfatizando
Temos, portanto, um problema que persiste, dados qualitativos desse processo. Desde
ou seja, ainda é o suporte a ser guiado, então, tem-se afirmado que a avaliação da
problemas presentes. aprendizagem / desenvolvimento de uma
criança alternativa para superar referências
Estudos e pesquisas sobre a alfabetização numéricas ou referência a graus de
de um projeto construtivista, um projeto aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A avaliação descritiva foi recentemente Estas, registradas, constituem dados da


oficializada para as escolas públicas estaduais história vivenciada por aluno e professor na
de Santa Catarina e, consequentemente, instituição escolar. Entretanto, a realização
para muitas redes municipais. Sendo esta do registro escrito da aprendizagem do aluno
forma de registro avaliativo colocada pelo evidenciou a complexidade da questão quando
poder público como prática a ser consolidada a organização curricular permanece a mesma,
nas escolas, como tem sido implementada? ou seja, visando a realização de resultados
Como os professores respondem a essa fixados pelos educadores em um tempo comum
demanda? a todos os alunos.

Nosso objetivo aqui é analisar os registros Considerando que as metas de alfabetização


de avaliação descritiva e como as escolas vêm não são alcançadas por meio de algumas
implementando essa prática na região. Foram atividades, mas de um tempo de trabalho com
analisados documentos de seis escolas da área a linguagem escrita, por meio de um conjunto
de pesquisa: registros descritivos de avaliação de ações e reflexões do aluno sobre esse objeto
referentes às classes de 1 e 2 anos de estudo. de conhecimento, é necessário apresentar o
movimento do aluno nesse processo.
Ensino Fundamental e excertos dos
depoimentos de alfabetizadores dessas É importante ressaltar que o registro descritivo
escolas. Em relação aos registros de avaliação, que o professor faz de um aluno não consegue
escola, registros de avaliação dos alunos das explicar toda a riqueza da realidade vivida,
referidas turmas do primeiro bimestre 2012, uma vez que os dados coletados resultam de
a fim de analisar as mais recentes práticas de uma tela de seleção subjetiva. Isso não invalida
registro desenvolvidas. essa ação. Existem muitas reflexões que esses
registros de avaliação tornam possíveis.

COMO VEM SE EFETIVANDO Considerando que há dois alunos da mesma


UM PRÁTICA DA AVALIAÇÃO classe, que para Y aparece referência à leitura
e escrita (no entanto, nenhuma referência a
DESCRITIVA gêneros textuais diferentes), enquanto em a
Acompanhar a aprendizagem de cada aluno avaliação de X esses itens fundamentais não
de forma descritiva a memória do processo de são mencionados.
alfabetização, dando visibilidade ao movimento
em direção a uma aprendizagem cada vez mais No processo de apropriação da leitura e
complexa. A interação que o professor mantém da escrita, no caso de X, o aluno compreende
com os alunos no dia a dia, há situações as histórias lidas pelo professor ou colegas?
vivenciadas ou significativas no processo de Mostra interesse por livros? Interpreta através
produção da criança. de desenhos, narrativas ouvidas? O design

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mencionado, por exemplo, é uma linguagem A avaliação está sendo incorporada no


gráfica importante quando é realizada no próprio trabalho em sala de aula, uma vez que
sentido de expressar algo. o melhor método de avaliação é o método de
ensino. (VASCONCELLOS, 1998, p.79).
Os desenhos de X ocorrem em que contexto,
em relação à linguagem escrita específica, utiliza Na avaliação de X estas questões não são
letras do alfabeto e faz tentativas de escrita? consideradas, há apenas referência à sua
Escreva seu nome e identifique os nomes dos suposta dificuldade. Dificuldades geralmente
colegas? Os que respondem a essas perguntas surgem quando o foco é apenas sobre o que é
indicariam questões relevantes do caminho ensinado, sem considerar o movimento daquele
que X faz no aprendizado da linguagem escrita. que aprende.
Por que não encontramos referências a esses
aspectos da aprendizagem / desenvolvimento Quando não se considera o ponto de partida
nos registros de avaliação? da criança, seu conhecimento inicial ao entrar
na escola, é comum o professor comparar o
Esses detalhes estão sendo negligenciados desenvolvimento dos alunos uns com os outros,
pelos professores ou há importância na relação o que faz com que os rótulos entre os colegas.
de ensino? Podemos inferir que, para o professor, Certamente a escola com conceitos que o aluno
descrever a situação de aprendizagem de um X ainda não tinha elaborado; assim, não faz
aluno que está se apropriando da escrita é mais sentido comparar a aprendizagem de um com o
difícil em relação àquele que já demonstra esse outro, evidenciando a lentidão de X.
aprendizado. Lendo os relatórios de avaliação,
descobrimos que os primeiros escritos (os Segundo Hoffmann (2008: 41): O processo de
mais distantes da convenção) não estão sendo aprendizagem do aluno não segue programado
considerados ou interpretados. a priori pelo professor. É na escola todos os dias
que os alunos revelam os tempos e condições
O manuscrito, embora distante da convenção, necessários ao processo.
revela que o aluno já aprendeu a representação
da fala, que é um aprendizado complexo e O tempo de avaliação é devido às suas
importante para o processo de alfabetização. É demandas e estratégias de aprendizagem e não
a partir deste conhecimento que o aluno pode ao curso de atividades inicialmente planejadas
obter uma escrita atual e uma leitura fluente. pelo professor. Um processo não é cumprido ao
Considerando que novos conhecimentos são mesmo tempo por todos, pois não representa o
dados a partir do anterior, é necessário que o mesmo desafio [...]
aluno se expresse e que o professor acompanhe
essa expressão para interagir, favorecendo sua Existem intenções de ensino / aprendizagem
elaboração em níveis e complexidades mais sendo perseguidas pelo professor e são
amplos. referências para avaliação. No entanto, em

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Revista Educar FCE - Março 2019

um currículo organizado em uma perspectiva seus registros, a dificuldade em lidar com as


educacional de aprendizagem, a avaliação é um diferenças no ritmo de aprendizado dos alunos
acompanhamento do processo de reflexão e e, sem análise crítica, ao longo do tempo. Na
reelaboração do conhecimento pelo aluno. escola, essas diferenças se transformam em
desigualdades ou simplesmente corroboram
Deste modo pensar, propor atividade de com elas.
ensino ou avaliação é questionar o incerto, o
inédito ou o diferente, já que vários são os pontos Os professores tendem a tratar os alunos
de vista e o tempo dos alunos na elaboração de de acordo com os julgamentos de valor que
conceitos. Hoffmann (1993, p.40), diz que os fazem. Aqui começa a ser jogado o destino
dos estudantes - para o sucesso ou fracasso.
“[...] não se trata de buscar respostas únicas para As estratégias de trabalho do professor em sala
as diversas situações enfrentadas, mas de construir de aula são perpassadas por tais julgamentos e
uma prática que respeite o princípio da máxima determinam, consciente ou inconscientemente,
confiança na possibilidade de aprendizagem do o investimento que o professor fará nesse ou
aprendiz”. “Os registros em Y e X mostram que a
naquele estudante.
avaliação do professor está considerando apenas
o lado do ensino. Aqueles que não têm um ritmo
É nessa informalidade que joga o destino
compatível com o que é esperado não têm espaço
das crianças mais pobres. Para que todos
para mostrar seu pensamento e seu aprendizado é
desconsiderado. Consequentemente, a percepção
os alunos sejam incluídos no processo de
sobre esse aluno será “não saber” ou “ter dificuldade”. ensino / aprendizagem, a mediação docente
é fundamental, promovendo um ambiente
Com esse sentido, a avaliação coloca um lugar de confiança onde avanços e dificuldades são
para cada aluno e acaba se isolando, dificultando tomados como parte do processo de ensino e
a conversa. Com isso, a potencialidade da prática aprendizagem.
pedagógica se perde [...] devido à colaboração E repercutem em ações pedagógicas que
entre sujeitos com diferentes conhecimentos desencadeiam novos conhecimentos. Na
de aprendizagem e desenvolvimento. perspectiva histórico-cultural da mediação
educacional que ocorre em situações de
A diferença nos ajuda a entender que interlocução entre o aluno e seus pares - outras
somos sujeitos com particularidades, com crianças da turma no processo de apropriação
nossas próprias experiências, constituídas nos da linguagem escrita - que, em situações
processos coletivos dos quais participamos, significativas de troca de experiências,
dentro e fora da escola; colocar em diálogo desencadeiam o desenvolvimento umas das
enriquece a ação pedagógica [...] (ESTEBAN, outras. Vygotsky, em seus estudos, observou
2003). que consideramos como aprendendo apenas as
questões que já se consolidaram.
Os professores pesquisados mostram, em

1495
Revista Educar FCE - Março 2019

No desenvolvimento da criança, enquanto precisamos aprender a ver o desenvolvimento


prospectivamente, isto é, considerar os conceitos que estão em desenvolvimento, mas que o
sujeito apenas manifesta com a ajuda de outro.

Como Vygotsky (1988) observou, o que o sujeito faz com a ajuda do outro é um importante
indicador de desenvolvimento futuro, porque o que é feito hoje com ajuda, amanhã será feito
com autonomia. O conhecimento do professor sobre o conteúdo da alfabetização, criança
O desenvolvimento e o contexto social em que está inserido o aluno é fundamental para uma
avaliação qualitativa.

Distanciados de uma perspectiva investigativa, de reflexão e discussão sobre estes aspectos,


tornam-se vazios e sem sentido e muitas vezes apenas evidencia atitudes ou procedimentos
escolares: Devido à dificuldade em descrever o processo de aprendizagem, muitas escolas ou
mesmo redes educacionais construíram folhas de avaliação ou desempenho dos alunos. Nestas
fichas estão escritos os conteúdos trabalhados dos objetivos da alfabetização e, a partir destes, o
professor aponta o que foi aprendido ou desenvolvido pelo aluno.

Existem várias fichas de avaliação elaboradas pelas redes ou escolas de ensino. No entanto, o
conteúdo sempre aparece em uma linearidade que não corresponde à realidade da aprendizagem.
Além disso, essas fichas de avaliação teriam que ser muito grandes para dar conta da complexidade
da alfabetização e, mesmo assim, aspectos fundamentais do processo de desenvolvimento infantil
ou das relações de ensino seriam deixados de fora.

Para as escolas da rede estadual de ensino da região sul de Santa Catarina, segundo depoimento
de uma professora, os alfabetizadores desenvolveram conjuntamente - durante um curso de
capacitação - uma avaliação a ser seguida. No entanto, na implementação de tal modelo, eles
não cumpriram o seu propósito. Pais queixaram-se da quantidade de itens e complexidade das
expressões, não podendo acompanhar o desenvolvimento de suas crianças na escola.

Os professores também não estão satisfeitos e estão reelaborando este modelo porque
considera que ele não atende aos propósitos da avaliação. O papel de avaliação não satisfaz, mas
os professores precisam de referências para ter um olhar atento ao processo de aprendizagem da
escrita.

Os autores entendem que um bom roteiro de observação pode ajudar a identificar o


desenvolvimento de crianças, contribuindo assim para a auto avaliação e, consequentemente, o
treinamento daqueles que avaliam.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Descobrimos que o registro de avaliação escrito por
alfabetizadores manteve a mesma classificação e perspectiva
de exclusão que foram superadas.

Trazer impressões gerais sobre os alunos com dados


inconsistentes quanto à apropriação de leitura e escrita, com
ênfase em atitudes e comportamentos.

O processo de aprendizagem ainda é visto em uma


sequência linear com as definições e objetivos dos
professores sobrepondo-se ao aprendizado do aprendiz,
pois o currículo escolar mantém o foco no processo de PATRÍCIA TEIXEIRA
ensino, consequentemente, a avaliação segue esse viés, já CAVALLOTTI SILVA
que ensino / aprendizagem / avaliação são inseparáveis.
Graduação em Pedagogia pela
UniversidadeCidade de São Paulo (2016).
Continuidade na perspectiva de avaliação em outro que Especialista emEnsino Fundamentalpela
uma perspectiva pedagógica não é abandonada por meio de Faculdade Campos Elíseos (2018).
ordenanças ou normas. O novo na educação é construído por Professora de EducaçãoInfantil e Ensino
educadores de questionamento e inquietação que emergem Fundamental I daPrefeitura de São Paulo.
da prática cotidiana.

Mesmo diante de fragilidades nos registros de avaliação, é


importante ressaltar a possibilidade de superação das formas
excludentes de avaliação, evidenciando que os professores
em condições adversas (considerando o tempo disponível para realização dos registros e o
número de alunos sob sua responsabilidade) em colocando em prática uma nova maneira de
avaliar e registrar a ação pedagógica.

A teoria da avaliação precisa dar indicações aos professores de estratégias de compreensão


e intervenção no processo de reelaboração do conhecimento de alunos e professores.

Nesse sentido, a formação continuada de professores, com tempo para registro / discussão /
planejamento com seus pares na escola são requisitos necessários para o redimensionamento
do conceito de avaliação e democratização do ato pedagógico.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências
naturais. Brasília, 1998.

ESTEBAN, Maria Teresa. A avaliação no cotidiano escolar. In: ESTEBAN, M.T. (Org.) Avaliação
uma prática em busca de novos sentidos. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

HOFFMANN, Jussara. Avaliação mediadora uma prática em construção da pré-escola a


universidade. Porto Alegre: Mediação, 1993.

SOARES, Luciana de A. A Prática pedagógica da avaliação escolar: um processo em constante


construção, 2006.

SILVA, Janssen Felipe da; HOFFMANN, Jussara; ESTEBAN, Maria Teresa. Práticas avaliativas
e aprendizagens significativas: em diferentes áreas do currículo. Porto Alegre: Mediação,
2003.

VASCONCELLOS, Celso dos S. Avaliação da aprendizagem: práticas de mudança – por uma


práxis transformadora. São Paulo : Libertad, 1998.

1498
Revista Educar FCE - Março 2019

O PAPEL DO PROFESSOR
DE EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: A Educação infantil hoje é vista como uma instituição que integra as funções de
educar e cuidar e que considera as crianças nos seus contextos sociais, ambientais e culturais
e que possibilita interações e praticas sociais com diversas linguagens e contato com os mais
variados conhecimentos para a construção de uma identidade autônoma. Para isso é preciso
que o professor tenha claro qual o seu papel na formação plena do aluno, pois o trabalho
pedagógico nessa fase requer saberes e fazeres necessários para a atuação docente
considerando a fase de desenvolvimento e a livre expressão das crianças que através das
possibilidades e experiências vividas ampliam e desenvolvam todas as dimensões humanas:
imaginativa, lúdica, estética, afetiva, motora, cognitiva, social, criativa, expressiva e linguística
que são desenvolvidas através dá linguagem oral e escrita, matemática, artística, corporal,
musical, temporal e espacial. O Trabalho do Professor de Educação Infantil apresenta
dificuldades em estabelecer relações entre teoria e prática para o desenvolvimento do seu
trabalho, apresentando práticas que nem sempre vão ao encontro das necessidades de
aprendizagem da criança. Por isso é importante estudar o trabalho docente de professores
na Educação Infantil.

Palavras-Chave: Educação infantil; Trabalho; atividades.

1499
Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO simplesmente precisando de cuidados, mas


também de vivenciar experiências que as
A Educação Infantil vem mudando ao longo fazem refletir sobre sua vida e o mundo.
dos anos, de forma crescente, acompanhando
a intensificação da urbanização, a participação Em 1998 o MEC elaborou currículos
da mulher no mercado de trabalho, a de Educação Infantil para as instituições e
organização e a estrutura da família na professores e em 1999 o Conselho Nacional
atualidade e a conscientização da sociedade de Educação (CNE) publicou as Diretrizes
da importância das experiências na primeira Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.
infância, o que motivou o movimento da Esses documentos são, hoje, os principais
sociedade civil e de órgãos governamentais instrumentos para elaboração e avaliação
por demandas por uma educação institucional das propostas pedagógicas das instituições
para crianças de zero a seis anos, reconhecido de Educação Infantil do país e fornece ao
na Constituição Federal de 1988 que engloba Professor os conhecimentos necessários para
as creches e pré-escolas dentro da educação a prática docente nos dias atuais.
Básica, sendo dever do Estado e direito da
criança, como trata o artigo 208, inciso IV. A Educação infantil hoje é vista como uma
instituição que integra as funções de educar
O Estatuto da criança e do Adolescente, e cuidar e que considera as crianças nos seus
1990, destaca também o direito da criança a contextos sociais, ambientais e culturais e
este atendimento. Em 1994 o MEC publicou que possibilita interações e praticas sociais
o documento Política Nacional de Educação com diversas linguagens e contato com
Infantil que estabeleceu metas como a os mais variados conhecimentos para a
expansão de vagas e políticas de melhoria construção de uma identidade autônoma.
da qualidade no atendimento às crianças, Para isso é preciso que o professor tenha
entre elas a necessidade de qualificação dos claro qual o seu papel na formação plena
profissionais, que resultou no documento do aluno, pois o trabalho pedagógico nessa
por uma política de formação do profissional fase requer saberes e fazeres necessários
de Educação Infantil. Com a criação da Lei de para a atuação docente considerando a fase
Diretrizes e Bases da Educação (LDB), 1996, de desenvolvimento e a livre expressão das
a Educação Infantil passou a ser a primeira crianças que através das possibilidades e
etapa da Educação Básica, integrando-se aos experiências vividas ampliam e desenvolvam
ensinos Fundamental e Médio. todas as dimensões humanas: imaginativa,
lúdica, estética, afetiva, motora, cognitiva,
A criança passou a ser vista como ser social, criativa, expressiva e linguística que
histórico que estabelece relações, sendo são desenvolvidas através dá linguagem oral
assim, produtora de cultura e integrante da e escrita, matemática, artística, corporal,
mesma, preparada para a Educação e não musical, temporal e espacial.

1500
Revista Educar FCE - Março 2019

O Trabalho do Professor de Educação tornem adultos funcionais, participativos,


Infantil apresenta dificuldades em responsáveis, independente de classe social,
estabelecer relações entre teoria e prática a qual pertence ou do grupo étnico a qual
para o desenvolvimento do seu trabalho, fazem parte.
apresentando práticas que nem sempre
vão ao encontro das necessidades de É na primeira infância que se estabelecem as
aprendizagem da criança. Por isso é bases do desenvolvimento físico, intelectual
importante estudar o trabalho docente de e psicossocial. Esse desenvolvimento inicia
professores na Educação Infantil. na família que continua sendo a instituição
primordial de cuidado e educação dos filhos,
O intuito desse trabalho é investigar como principalmente nos seus primeiros anos de
é esse processo numa escola de Educação vida, por mais que esta tenha se modificado
Infantil. Sendo assim, o objetivo é conhecer na sua estrutura, nas formas de exercer suas
o perfil e o trabalho do Professor de funções e nos papéis intrafamiliares em
Educação e compreender como é o trabalho relação à produção das condições materiais
do Profissional da Educação Infantil e o que e culturais de sobrevivência e na função
se espera desse profissional? geracional, a família ainda tem o papel de
proporcionar uma educação com base sólida
• Apontar e discutir a importância de e segura no contato com as adversidades
estar sempre se atualizando e buscando culturais e sociais, características do período
novos conhecimentos, através de cursos, de amadurecimento, devem acolher apoiar, e
palestras e troca de experiências com os acompanhar a criança em seu lar, satisfazer
colegas, diante as dificuldades. suas necessidades de saúde, alimentação,
afeto, brincadeiras, comunicação, segurança
• Compreender e avaliar as dificuldades e aprendizagem e conquista progressiva de
e encontradas para o desenvolvimento do autonomia nos anos iniciais da vida.
seu trabalho.
No caso de vulnerabilidade, diante as
condições da família em exercer, tais funções
A IMPORTÂNCIA DA é dever do Estado, segundo o Estatuto
INFÂNCIA E DA EDUCAÇÃO da Criança e do Adolescente, 1990 que
estabelece no seu art. 4º, o seguinte dever:
INFANTIL
A primeira infância é um momento É dever da família, da comunidade, da
extremamente importante que marca a sociedade em geral e do poder público
vida de cada individuo é uma das mais assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação
importantes etapas para o desenvolvimento dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
humano para que as futuras gerações se
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao

1501
Revista Educar FCE - Março 2019

respeito, à liberdade e à convivência familiar e


a Educação Infantil que se constitui em
comunitária.
um conjunto de referencias e orientações
Com o passar dos anos, a expansão da pedagógicas que têm como finalidade
Educação Infantil no Brasil tem ocorrido contribuir com as práticas educativas de
de forma progressiva nas ultimas décadas, qualidade, considerando as especificidades,
acompanhando a intensificação da afetivas, emocionais, sociais e cognitivas
urbanização, da participação da mulher das crianças de 0 a 6 anos, contribuindo
no mercado de trabalho e as mudanças na para o exercício de cidadania das crianças
organização e estrutura das famílias. Hoje brasileiras.
em dia pode- se dizer que com todas essas
mudanças no âmbito familiar a sociedade A educação infantil atua sobre dois eixos
está mais consciente da importância da fundamentais: a interação e a brincadeira.
primeira infância, o que motivou demandas A proposta pedagógica e as atividades
por uma educação institucional para crianças devem considerar estes eixos, incluir as
de 0 a 6 anos. crianças de uma maneira lúdica, a partir da
brincadeira, da pesquisa, dar possibilidade
A Educação Infantil constitui um segmento da criança de levantar hipóteses, dela
importante no processo educativo, as falar, de usar simbolicamente as coisas que
creches e as pré-escolas passam a ser permitirá que seu raciocínio seja feito dessa
reconhecidas no sistema de Educação maneira, propiciar o contato com livros,
Básica como a primeira etapa da Educação tecnologia, instrumentos musicais, deixar
Básica na nova Lei das Diretrizes e Bases com que através do objeto concreto ela use
da Educação Nacional (LDB, Lei 9394/96). a imaginação e o transforme no que quiser,
A partir daí tanto a creche quanto a pré- como quiser é na infância que objetos e
escola são incluídas na política educacional, animais ganham vida é o mundo da fantasia,
seguindo uma concepção pedagógica e não é direito da criança viver experiências
mais assistencialista. prazerosas e enriquecedoras nas instituições.

Esta perspectiva pedagógica vê a criança Deve-se levar em conta que as crianças


como um ser social, histórico, pertencente possuem uma natureza muito singular, que
a uma determinada classe social e cultural. pensam, sentem e veem o mundo através
Parte daí a necessidade de se construir das relações sociais de um jeito muito
um ambiente voltado ao atendimento próprio, deixando de considerar a concepção
institucional à criança pequena, as creches de criança de forma homogênea, pois em
e as pré-escolas passam a ter uma função diferentes cidades, classes sociais e étnicas
educacional explicita, a legislação pôs nesse ainda mais tratando de crianças brasileiras
caminho e nos trás uma série de documentos que vivem e enfrentam um cotidiano muito
como Referencial Curricular Nacional para diversificado, a família e o meio social e

1502
Revista Educar FCE - Março 2019

outras instituições as marcam, sendo assim, e de muita pobreza, crianças desde cedo
as fazem sujeitos sociais e históricos que vão para as ruas, passam fome, deixam de
buscam compreender o mundo em que estudar para trabalhar.
vivem, através das relações sociais e com o
meio, construindo seu conhecimento e visão A história mundial nos mostra que a
de mundo. exploração do adulto sobre a criança vem
ocorrendo desde épocas bem antigas, é
O Referencial Curricular Nacional para uma fatalidade, mas ainda é a realidade de
Educação Infantil (1998, p.22) deixa claro muitas crianças brasileiras. Por outro lado
o grande desafio da Educação Infantil e dos deparamos com crianças de classe média/
profissionais da área que terão um trabalho alta que passam horas com aparelhos
árduo e de muita aprendizagem: eletrônicos e desejam cada vez mais
brinquedos e roupas caras, preferência de
Compreender, conhecer e reconhecer o jeito marca, fora a alimentação incorreta que trará
particular das crianças serem e estarem no sérias consequências para sua saúde mais
mundo é o grande desafio da educação infantil e tarde.
de seus profissionais. Embora os conhecimentos
derivados da psicologia, antropologia, sociologia,
O assunto do trabalho não é discutir o
medicina etc. possam ser de grande valia para
que é certo ou errado, e sim discutir o que
desvelar o universo infantil apontando algumas
precisa ser mudado ou não nas politicas
características comuns de ser das crianças, elas
permanecem únicas em suas individualidades e
publicas, na sociedade, na família, porque
diferenças. todos sabem que muita coisa precisa ser
feita, mas é deixar claro que independente de
A criança é reconhecida com um sujeito de culturas, costumes e realidades diferentes,
direitos à educação, que devem ser atendidos as crianças não deixam de ser criança, ela
por instituições escolares e governamentais, não se tornará o que não é, mas sim adulto
portanto a educação infantil é direito da que trará consigo uma bagagem cultural e
criança, dever do estado e opção da família, por isso a faz ser histórico e que tem direito
satisfazendo suas necessidades de formação. de viver sua infância no seu tempo e de
forma saudável, usufruindo da imaginação, a
fantasia, a criação, a brincadeira, entendida
AS CRIANÇAS DA ATUALIDADE como experiência de cultura, o estudo para
o seu desenvolvimento, que a fará crescer
O universo infantil é marcado por sadia e a tornará um adulto feliz.
características que as fazem sujeitos sociais
e históricos, marcadas por contradições
das sociedades em que estão inseridas.
Infelizmente vivemos em um mundo desigual

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Revista Educar FCE - Março 2019

O PAPEL DA EDUCAÇÃO durante o brincar, que se estabelecem durante


INFANTIL NA FORMAÇÃO toda sua vida. Durante a brincadeira a criança
pode desenvolver capacidades importantes
DO CIDADÃO como a atenção, a memória, a imitação, a
A Educação Infantil é algo mágico, único imaginação, ainda propiciando à criança o
e essencial na vida do homem. Muito mais desenvolvimento de áreas da personalidade
que cuidar é educar e brincar. Três palavras como afetividade, motricidade, inteligência,
que bem trabalhas juntas formam o cidadão sociabilidade e criatividade.
de amanhã. Vivenciar experiências que
marcarão sua vida e reforçarão, ao longo dela, De acordo com o Referencial Curricular
as atitudes de autoconfiança, de cooperação, Nacional da Educação Infantil (BRASIL,
solidariedade e responsabilidade. 1998, p. 27, v.01): O principal indicador
da brincadeira, entre as crianças, é o papel
As experiências infantis na Educação que assumem enquanto brincam. Ao adotar
infantil interferem positivamente e outros papéis na brincadeira, as crianças
significativamente no desenvolvimento agem frente à realidade de maneira não-
humano e na formação do cidadão critico/ literal, transferindo e substituindo suas ações
reflexivo devido às consequências que cotidianas pelas ações e características do
partem de algumas ações como: O brincar papel assumido, utilizando-se de objetos
que é uma forma de comunicação, é por substitutos. Portanto, a brincadeira
meio deste ato que a criança pode produzir e de fundamental importância para o
o seu cotidiano. desenvolvimento infantil, à criança cria e/
ou reproduz situações cotidianas, o que
O ato de brincar possibilita o processo colabora na construção da sua identidade,
de aprendizagem da criança, pois facilita a da imagem de si mesmo e do mundo que a
construção da reflexão, da autonomia e da cerca, lidando com os sentimentos e trazendo
criatividade, estabelecendo, desta forma, uma alegria e divertimento ao brincar.
relação entre jogo e a aprendizagem. Exige
da criança a participação e engajamento, A Educação infantil proporciona
com ou sem o brinquedo, sendo uma forma experiências que ao serem vivenciadas
de desenvolver a capacidade de manter-se contribuem e muito para a formação do
ativo e participante. individuo social e cultural, tendo em vista
a formação do cidadão critico/reflexivo.
Segundo Oliveira (2000) o brincar Experiências que trabalhem a autonomia da
caracteriza-se como uma das formas mais criança, que é trabalhada em um processo
complexas que a criança tem de comunicar- continuam que permite à criança a diminuir
se consigo mesma e com o mundo. O a dependência do adulto e obter uma maior
desenvolvimento acontece através de trocas, segurança em si mesma.

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Revista Educar FCE - Março 2019

À medida que a criança adquire universo da leitura e da escrita, estamos


capacidades que lhe permitem um controle contribuindo a compreensão de textos
motor e verbal mais eficaz, verifica-se, da e na escrita, ampliando o vocabulário,
sua parte, uma crescente disponibilidade despertando a curiosidade e formando
para explorar, descobrir e comunicar-se com um adulto adepto a leitura. Ao desenhar a
o mundo ao seu redor, momento em que o imaginação aflora e nesse momento que
termo autonomia ganha maior espaço em as emoções, os desejos, a preferencia por
sua vida. É primordial incentivar os pequenos cor, ou desenho é escolhido pela criança, é
aos cuidados com o corpo, a organização de trabalhada a psicomotricidade e noção de
seus materiais, a colaboração na organização espaço.
da sala, a alimentação, hábitos saudáveis, a
responsabilidade, a construção autônoma
das atividades, exposições de ideias e O AMBIENTE E OS
pensamentos dentre outros. PROFISSIONAIS DE
Desenvolvendo, assim, e formando cidadão EDUCAÇÃO INFANTIL
critico/reflexivo, propiciando experiências As instituições escolares são compostas por
que fortaleçam sua autoconfiança. O profissionais que atuam em diferentes cargos
movimento, a forma, que as crianças utilizam como: direção, coordenação pedagógica,
para conhecer o mundo. professores, atendentes e agentes
operacionais, todos têm a importância e a
Desenvolvendo habilidades para atuar no tarefa de ampliar as experiências às crianças,
meio em que vivem, no dia-dia e até mesmo dando a elas, o acesso e a apropriação de
em situações não comuns vivenciadas por conhecimentos que não são constituídos
ela. A educação Infantil propicia através de espontaneamente pelo ser humano.
brincadeiras dirigidas o desenvolver toque, a Profissionais mediadores, que juntos, buscam
segurança, o traçado, a ação motriz, controle por uma educação de qualidade, visando à
sobre os braços, pernas e movimentos em formação e o desenvolvimento da criança de
gerais, a direção, etc. Através de atividades forma integral. É dever de todos que atuam
como: correr, pular, dançar, desenhar, em instituições educativas.
utilizar a massinha de modelar, entre outros
que geralmente ocorrem diariamente na O ambiente deve ser visto pelos
Educação Infantil. profissionais e entre as famílias como
acolhedor, onde haja cooperação, respeito
A arte, a leitura, a escrita e o desenho às diferenças, explicitação de conflitos,
são experiências que permite e influencia cooperação, complementação, negociação
o desenvolvimento da criatividade, da e procura de soluções e acordos que devem
imaginação. Ao introduzir as crianças ao ser à base das relações entre os profissionais

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Revista Educar FCE - Março 2019

da educação. As crianças devem se sentir O professor deve buscar informações


seguras, tranquilas e alegres é importante necessárias para o trabalho que desenvolve
à equipe propiciar um bom clima e relações ter diálogo com a família dos educandos,
amigáveis no ambiente de trabalho. com, a comunidade e colegas de profissão é
essencial para a qualidade do seu trabalho,
Então, é necessário que todos tenham visando o aprendizado e o atendimento das
clareza de suas funções dentro da esfera crianças. É necessário que os educadores
educativa e mais que isso que tenham tenham em mente a importância do seu
em mente a importância das relações que trabalho na educação infantil que muito
estabelece com os colegas de trabalho, com mais que cuidar é ter atitudes conscientes
os pais, a comunidade e particularmente com de cuidado no educar.
as crianças. O trabalho é coletivo, dinâmico,
intencional, todos são responsáveis pela O papel do professor de Educação Infantil
construção do projeto educacional e do no processo de ensino aprendizagem é o seu
clima institucional. compromisso de Cuidar e Educar diariamente,
tendo em vista que é ele que conduz o seu
trabalho, tomando decisões em relações a
TRABALHO DO PROFESSOR seleções dos objetivos e conteúdos a serem
NA EDUCAÇÃO INFANTIL alcançados pelas crianças de acordo com a
faixa – etária e suas limitações, assim, como
Falando dos profissionais que atuam em as metodologias, e recursos que se utilizará
sala de aula, é importante lembrar que muitos para que ocorra a aprendizagem o vinculo
não têm qualificação profissional, portanto afetivo entre professor é aluno é essencial
não são professores e muitas vezes acabam e estão intimamente ligadas á cognitivas.
desqualificando o processo de ensino e Para isso é fundamental que o profissional
aprendizagem nas instituições escolares. da Educação tenha o domínio do conteúdo
cientifico, sólida fundamentação teórica
Segundo o Referencial Curricular o professor que dê sustentação a sua prática docente
deve ser Polivalente, ter competência para diariamente, o que se adquire por meio da
abranger os cuidados básicos essenciais informação.
até conhecimentos específicos das diversas
áreas do conhecimento. Ter consciência que
também é um aprendiz, que para alcançar O LÚDICO E SUAS
seus objetivos e contribuir para a formação CONTRIBUIÇÕES
dos educandos, demanda por sua vez,
uma formação bastante ampla, refletindo Na Educação Infantil devem ser
constantemente sobre sua prática. consideradas e contidas no planejamento
escolar, atividades lúdicas. É fundamental o

1506
Revista Educar FCE - Março 2019

olhar dos professores e coordenadores para elaboração de atividades pedagógicas voltadas


para a aprendizagem das crianças através do lúdico.

De acordo com Vygotsky (1998) é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera
cognitiva. Um ambiente de motivação para as crianças, assim, cabe ao professor propor
conceitos que os preparam para a leitura, para os números, conceitos de lógica, entre outros.
Brincadeiras que ensinam trabalho em equipe na resolução de problemas, aprendendo assim
expressar seus próprios pontos de vista em relação ao outro.

Através dessas brincadeiras educativas, as crianças transferem para o mesmo sua


imaginação e, além disso, cria seu imaginário do mundo de faz de conta. As crianças são
capazes de construir a aprendizagem através do brincar, criando e imaginando situações
simbólicas entre o mundo real e o mundo a ser construído com bases nas suas expectativas e
anseios. Pois é através dessas atividades que as crianças se preparam para a vida , assimilando
a cultura do meio que em que vivem se integrando e adaptando-se as condições que o
mundo lhe oferece, respeitando e assumindo seu papel como ser social.

O professor é o mediador nesse processo, é necessário estar atento á idade e as


necessidades de cada faixa etária, para á escolha de materiais adequados e para que ocorra
a aprendizagem criativa e social é necessário o vinculo entre professor e aluno que juntos
trabalharam para que ocorra o ensino-aprendizagem infantil, mas para isso é essencial
que o professor torne esses momentos de aprendizagem ricos em materiais, propiciando
oportunidades prazerosas para a aprendizagem por meio de jogos e brincadeiras.

Sendo assim, a ludicidade permite um trabalho pedagógico que possibilita produção de


conhecimento da criança através do brinquedo de forma natural. Ao brincar a criança libera
seus sentimentos, se diverte, explora, constrói conhecimento. Brincar é bom e fundamental
para qualquer idade, pois, dá prazer, principalmente na Educação Infantil.

1507
Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse estudo mostrou a importância de conhecer o
trabalho do professor de educação infantil, pois ao longo
dos anos com as mudanças decorrentes na sociedade as
experiências na primeira infantil foram vistas com outro
olhar. Conscientes da qualidade de ensino na educação
infantil, políticas públicas foram criadas para atender essas
exigências, então as instituições deixaram de simplesmente
cuidar e passaram a educar e a brincar com fundamentos
teóricos e objetivos a serem alcançados por cada faixa etária
visando o desenvolvimento infantil pleno, respeitando o
tempo e as limitações de cada criança.
PAULA RENATA
Mas para que haja uma educação infantil de qualidade ARAÚJO FERRO
é necessário que os profissionais que atuam na educação
Graduação em Pedagogia pela Faculdade
infantil, estejam unidos e cientes dos desafios impostos pela São Paulo. Ano de conclusão 2015 .
sociedade, dentro do espaço escolar, trocas de experiências Professora de Educação Infantil.
contribuem positivamente na efetivação da aprendizagem,
buscar novos métodos, formas de ensino, cursos, enriquece o
profissional e é isso que a sociedade espera dos profissionais
da educação, que sejam polivalentes, reflexivos e conscientes
de sua função educacional-social, devem gostar de crianças
e de estar em companhia delas.

Como mediadores do conhecimento os professores devem oferecer um ambiente que


estimule as interações sociais, um ambiente enriquecedor de imaginação, onde a criança possa
atuar de forma autônoma e ativa, brincando, que além de facilitar às práticas pedagógicas as
crianças irão construindo seu próprio processo de aprendizagem.

O trabalho mostra o que o educador infantil e as instituições esperam desses profissionais


que a relação da teoria e a prática são essenciais para execução do seu trabalho no dia a
dia, mas que muitas vezes são impraticáveis por falta de apoio, tempo, material, espaço, mas
é imprescindível a exclusão do lúdico na educação infantil, pois os jogos e as brincadeiras
são atividades sociais privilegiadas de interação especifica e fundamental que garantem
a interação e construção do conhecimento da realidade que as crianças vivenciam nas
instituições de ensino, em casa, na comunidade, pois estão sendo sujeito produtor de sua
própria história.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A Educação traz muitos desafios aos que nela trabalham e se dedicam diariamente, pois
estamos lidando com o ser humano, lindando com sua totalidade, em seu ambiente, nas suas
preferências. Educar é um ato de amor, de entrega ao outro. Ser educador é muito, mas que
passar os conhecimentos, alcançar metas, é aos poucos criando vinculo com aquele ser que
foi entregue a você, tornando significativas as trocas, ser paciente, acolhedor, saber ouvir,
saber ensinar a criança a lidar com as emoções, com os conflitos, a ter limites, respeitar
regras.

As relações estabelecidas entre professor e aluno devem ser de forma que a criança se
sinta amada, segura, alegre, se sinta valorizada . A educação Infantil assume entre suas
responsabilidades a de estimular e proporcionar relações sociais e desenvolvimento afetivo
em parceria com a família.

Os educadores precisam ter em mente qual é o seu papel e o que esperam de seus alunos
e se realmente querem formar cidadãos, pude perceber neste trabalho que os professores
tem a consciência da sua importância no desenvolvimento e na educação dessas crianças
e que todos se empenham e dão o melhor de si para formar cidadãos críticos/reflexivos
empenhados na construção de um mundo mais humano e melhor para todos .

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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VYGOTSKY, L.S. A Formação Social da Mente. 6ª ed. São Paulo, SP. Martins Fontes Editora
LTDA, 1998.

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

ARTE, MUSEU E EDUCAÇÃO:


UMA BREVE REFLEXÃO
RESUMO: O artigo apresenta uma reflexão acerca dos conceitos atribuídos aos termos:
Arte, Museu e Educação e suas contribuições, quando trabalhados em conjunto, para o
desenvolvimento global do indivíduo. É através da Arte que o artista expressa seus
sentimentos mais íntimos e expõe impressões não ditas, ela possibilita que haja a
comunicação sem que a palavra seja dita; pode vir por meio de uma música, de uma dança,
de um quadro ou de um simples jarro de barro. Por tanto, para que o sujeito se desenvolva
em sua totalidade é preciso que tenha suas habilidades artísticas devidamente incentivadas
desde tenra idade, juntamente com as demais habilidades necessárias para o seu sucesso no
convívio em sociedade. A educação formal oferecida pela instituição escolar ao associar-se
a missão educativa Não-Formal presente nos Museus facilitou a propagação do acesso ao
conhecimento e a cultura pela população; esse envolvimento do cidadão com a instituição e
sua rotina, tornou-o ou procurou torná-lo cada vez mais consciente de sua cultura, história
e responsabilidade em preservá-la.

Palavras-Chave: ; Educação; Museologia; Pedagogia.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO Esse Centro Cultural passou de um local de


entretenimento, para um lugar de pesquisa,
A Educação constitui um dos principais de troca de experiências, de preservação
sustentáculos da formação e desenvolvimento e conhecimento para crianças, jovens e
da personalidade humana, além de representar adultos ao estabelecer uma relação com a
a base da sociedade desde a antiguidade à escola. O contato com a Arte desde cedo
contemporaneidade. Por meio dela o homem é benéfica para a criança em sua formação
evolui, ele registra sua história, demonstrado como indivíduo e cidadão.
através de sua Arte, o conhecimento adquirido
através da educação, que pode acontecer de Por isso estabeleceu-se a articulação
três formas: pelo Ensino Formal, Informal ou entre a Arte, o Museu e a Educação,
Não-Formal. para a formação integral do sujeito e
desenvolvimento pleno de sua cidadania.
O indivíduo ao nascer inicia sua Educação Estudiosos como: Assunção (2003), Farthing
Informal, por meio da interação com sua (2010), Duarte Junior (1991), Guilhermano
família e comunidade; anos depois, segue (2010), Marandino (2008) e Toro (2006)
aprendendo na Instituição Escolar, de modo foram alguns dos autores que colaboraram
Formal, com a mediação de um professor, na conceituação do acima posto.
que irá norteá-lo no conhecimento. Em
determinado momento, entretanto, o sujeito
trava contato com ONGs, Centros Culturais, MAS, SERÁ QUE É ARTE?
Museus etc. fora do ambiente escolar, em
uma Educação Não-Formal, completando Prosser (2012) em sua obra apresenta a
assim aprendizagem. Arte como personificação, à materialização
dos sentimentos internos do artista e diz
O Museu é um espaço Educativo Não- que é por meio dela que este expressa seus
Formal, que durante muito tempo foi sentimentos mais íntimos e impressões não
considerado como um lugar de coisas velhas, ditas, porém pensadas, sobretudo que o
antiquadas e muitas vezes sem valor, ou cerca. A Arte pode vir como a releitura de
então, muito valiosas e, por isso, inacessíveis. algo, e, mesmo assim, sempre será diferente,
pois, ela terá o olhar do artista e este é
Todavia, com o passar dos séculos, pessoal e único. Cada artista coloca algo
o advento dos avanços tecnológicos, o de si em tudo que produz, que constrói ou
crescente incentivo das Artes nas escolas cria, é impossível um escultor não colocar
e, a necessidade de novas metodologias um pouco do seu sentimento, ou de seu
educativas para contextualizar o processo de pensamento na peça que está esculpindo.
ensino-aprendizagem, acabou aproximando
a Educação Formal da Não-Formal.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A arte pode ser considerada uma expressão


do universo cognitivo e afetivo de cada um,
De fato, desde a pré-história o homem
pois revelamos o que sentimos e pensamos
fez uso da Arte, produzindo desenhos em
quando trabalhamos com ela. Pode ela ser uma cavernas e rochas. “O termo ‘arte rupestre’
reelaboração da realidade, pois cada pessoa é usado para descrever a prática que os
vê uma mesma coisa de maneira diferente e a povos antigos tinham de pintar e entalhar a
reconstrói usando formas, ritmos, linguagens e rocha e empilhar pedras para formar grandes
elementos diversos (PROSSER, 2012, p.6). desenhos no chão” (FARTHING, 2010, p.16).

A construção de uma obra de Arte Os primeiros objetos feitos pelo homem


transpassa a racionalidade humana, ela foram para sua sobrevivência, úteis para
envolve a habilidade comunicativa do o seu cotidiano. Segundo Farthing (2010)
sujeito, certa percepção de estética, seus as primeiras obras de Arte encontradas na
sentimentos, emoções, desejos, anseios e África datavam de mais de 70 mil anos e
expectativas quanto à ligação que pretende apresentavam formas simétricas, criando
estabelecer com o espectador de sua obra. A adornos em pedras utilizando os mais
Arte permite que a cultura de outros povos e variados materiais disponíveis na natureza,
etnias seja conhecida e apreciada por todos, ocre (terra colorida), alguns tipos de plantas,
assim como seus pensamentos e ideais. sangue e gordura de animais etc. Os
desenhos eram feitos com os próprios dedos
Contudo, as produções artísticas não ou com o auxílio de uma pena, pelos ou osso
são invenções da contemporaneidade, na de animal.
verdade, a impressão que se tem é que elas
sempre existiram, uma vez que, toda “[...] As mais antigas obras de arte conhecidas –
cultura [...] produziu arte, seja em suas formas dois primeiros bastões entalhados em ocre,
mais simples, como enfeitar o corpo com encontrados na caverna Blombos, no litoral do
tinturas, seja nas formas mais sofisticadas, sul do Cabo, na África do Sul – foram feitas a
77 mil anos. Essas peças simples são decoradas
como o cinema e terceira dimensão, na nossa
com linhas cruzadas riscadas na pedra, a fim de
civilização. A arte nos acompanha desde as
criar um desenho geométrico (FARTHING, 2010,
cavernas” (DUARTE JUNIOR, 1991, p.38).
p.16).
Gombrich (1993) complementa, comentando
que:
Apesar de se desconhecer o verdadeiro
Ignoramos como a arte começou, tanto quanto sentido dos primeiros símbolos encontrados
desconhecemos como se iniciou a linguagem. desenhados em cavernas, supõe-se que
Se aceitarmos o significado de arte em função tenham relação com religião e magia. “É
de atividades tais como a edificação de templos provável que nos primórdios, a arte esteve
e casa, realização de pinturas e esculturas, ou
ligada às manifestações religiosas e primitivas.
tessituras de padrões, nenhum povo existe no
Ambas – arte e religião constituíam um todo
mundo sem arte (p.19).

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Revista Educar FCE - Março 2019

indivisível, que só posteriormente foi partido A evolução da Arte acontece segundo o


em dois fenômenos distintos”, acrescenta contexto histórico em que é produzida, a
Duarte Junior (1991, p.38). cada época ela apresenta uma tendência, um
novo estilo; ela tem o poder de suscitar em
A Arte, sem dúvida, esteve presente em quem a admira os mais variados sentimentos,
todos os tempos e em todas as sociedades que vão do prazer ao completo desprazer. Por
e, foi através dela que a cultura, a religião isso é necessário que a homem desenvolva
e a história dos povos ficaram registradas, a habilidade artística desde pequeno, pois
variando conforme o lugar e a época em que ela o ajudará na fase de alfabetização, em
foram produzidas. Farthing (2010) explica expressar suas emoções, a ter criatividade,
que: sensibilidade e percepção, a refinar a
motricidade e a exercer a criticidade.
Ao longo da história, nenhuma sociedade,
por mais baixo que tenha sido seu nível de A Arte possui uma intencionalidade e está
existência material, deixou de produzir arte. só será descoberta se o espectador estudar
Representações e decorações, assim como sobre ela, seu histórico, tempo e local que
a narração de histórias e a música, são tão
foi produzida. Ao aprender ele será capaz de
naturais para o ser humano quanto a construção
observar, analisar, ponderar, criticar e tecer
de ninhos é para os pássaros. Ainda assim,
comentários acerca da Arte observada. Ao ser
as formas de artes variaram radicalmente em
contemplada, ao passar a possuir significado,
épocas e lugares diversos, sob a influência de
diferentes circunstâncias culturais e sociais
essa Arte torna-se uma Obra de Arte.
(FARTHING, 2010, p.8).
A obra de arte é o resultado de uma busca
A filósofa norte-americana Susanne interior para identificar e apreender o sentido
Langer, em seus estudos, pontua que a Arte das coisas, da vida e da maneira de estar do
e a linguagem são resultadas das conexões mundo com os outros. Surge da admiração e
da contemplação do mundo, e sua finalidade é
mentais primarias humanas. O homem
comunicar, convocar e contribuir para evocar
produziu uma imaginação rudimentar de
novos sentidos, para dar sentido a própria vida.
algo que presenciou e procurou reproduzi-
A arte é um ato ético, na medida em que procura
la, bem como atribuir a ela um som (DUARTE
recuperar e proteger o sentido da dignidade
JUNIOR, 1991). do espírito humano (TORO et. al, 2006, p.13 –
grifos do autor).
As civilizações de todos os tempos
procuraram registrar sua história de
várias maneiras; através do canto, dança, Toro (2006) chega a comparar a unidade
encenação, pintura, artesanatos, arquitetura, escolar com uma Obra de Arte, uma vez que
esculturas, dentre outros, registrando assim ela procura formas para promover o saber, ela
sua cultura. seleciona os conhecimentos que as gerações

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É de conhecimento corrente que a palavra


passadas acumularam e os apresenta para as
museu se origina na Grega antiga. Mouseion
próximas gerações de uma forma atraente. denominava o templo das nove musas, ligadas
a diferentes ramos das artes e das ciências,
Se entendermos a educação como a criação de
filhas de Zeus com Mnemosine, divindade da
condições estáveis para que cada geração possa
memória. Esses templos não se destinavam a
se apropriar dos melhores saberes disponíveis
reunir coleções para a fruição dos homens; eram
em uma sociedade, todo ato educativo é uma
locais reservados à contemplação e aos estudos
obra de arte: selecionar os melhores saberes
cientificos, literários e artísticos (s/p – grifos do
disponíveis em uma sociedade implica entender
autor).
profundamente o que contribui para a dignidade
humana, o que contribui para tornar possíveis
Mas, foi no século III a.C., no Palácio de
os direitos humanos. Todo bom educador é um
artista porque faz de cada aluno uma obra única
Alexandria que o mouseion começou a se
de dignidade e projeção sobre os outros (p.13 – parecer com o Museu conhecido na atualidade,
grifos do autor). construção majestosa, com grandes acervos,
apresentando uma multiplicidade de objetos
“A obra de arte é sempre social – o próprio de variados temas, vindos de diversos
artista é, também espectador de sua obra. lugares, contando infinidade de histórias.
Ela carrega em si suas próprias categorias Duarte (2007) comenta que, em seu trabalho,
de veracidade; forma e conteúdo caminham “Edward Alexander enumera uma série de
juntos”, sintetiza Leite e Ostetto (2005, p.20). objectos que fariam parte do mouseion
alexandrino, dos quais destacamos os
A visita a Museus é uma ótima forma de objectos astronómicos e cirúrgicos, dentes
entrar em contato com Artes e Obras de de elefante, cabeças de animais [...]” (p. 44
Artes de variados autores, culturas e etnias, – grifos do autor). ”A noção contemporânea
de diferentes épocas. de Museu, embora esteja associada à arte,
ciências e memória, como na antiguidade,
adquiriu novos significados ao longo da
ARTE–OBRA DE ARTE – MUSEUS história” (JULIÃO, 2018).

“A palavra museu vem da palavra grega Durante a Idade Média a igreja católica
mouseion, que significa templo das musas ou torna-se a principal colecionadora de objetos
local onde elas se reúnem [...]” (ASSUNÇÃO, antigos e, ao término da era medieval, os
2003, p.77) ou ainda, lugar separado para reis e nobres passaram a assumir o papel
a ampliação do saber filosófico, onde a de colecionadores, agora os acervos eram
mente descansa, com pensamentos plenos compostos por relíquias, utensílios sagrados,
e criativos, livres de inquietações, pronta religiosos e livros, vistos apenas por
para as Artes e às ciências. Julião (2018) convidados.
complemente informando que:

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Revista Educar FCE - Março 2019

No século XIV surgiram outros grupos Do século XV ao XVIII as coleções


sociais: os cientistas, os humanistas e os acumuladas com as descobertas do Novo
artistas. Com o Renascimento e as grandes Mundo, logo vieram a dar origem aos
navegações surge o antecessor do Museu, Museus. O primeiro Museu moderno foi o
o “gabinete de curiosidades,” formado pela Ashmolean Museum, da Universidade de
coleção de objetos raros da biologia mineral, Oxford, “em 1683 foi à primeira instituição
vegetal e animal. Guilhermano (2010) explica que abriu suas portas à sociedade, uma
que: bem definida, certamente, de estudantes e
cientistas” (GUILHERMANO, 2010, p.66),
O caminhar histórico da instituição passa público que teria o conhecimento necessário
pelas galerias reais, bastante difundidas no para compreender sua exposição; na mesma
Renascimento pelos gabinetes de curiosidades época o parlamento inglês criou o Museu
e câmaras de maravilhas, onde se reunia uma Britânico.
série de antiguidades ou objetos exóticos, para a
apreciação de seu dono e seus convidados (p.66).
O Museu do Louvre, na França, foi o
primeiro a abrir suas portas para o público,
Os “gabinetes curiosidades”, também desde 1793, suas coleções puderam ser
poderiam ser conhecidos por “gabinetes de apreciadas pela população em geral.
raridades”, segundo definição de Assunção
(2003): O museu como conhecemos hoje, como
espaço de visitação pública iniciou-se com o
Os gabinetes de raridades foram criados, desde British Museum, em Londres e com Musée
a Antiguidade, por grandes colecionadores, du Louvre, me Paris. Sobre o nascimento
como soberanos e nobres que tenham como desse museu moderno, há uma disputa
objetivo reunir na sua coleção particular objetos para saber quem veio antes e, sobretudo,
e obras de grande valor que fossem memoráveis.
que veio. Por muito tempo se atribuiu
Esta era uma das formas pelas quais se poderia
à antiguidade – e tradição – ao Museu
confirmar o seu poder, como podemos observar
parisiense. Formado pelas coleções reais
na Roma Antiga, momento em que as pilhagens
acumuladas ao longo de várias gerações,
de guerra formaram as primeiras coleções (p.77).
as obras de arte expostas no antigo palácio
do Louvre foram vistas pelo público pela
Segundo Duarte (2007) o vocábulo “[...] primeira vez em 1793. Inicialmente o Museu
museu aparece pela primeira vez às coleções funcionava em dias específicos e tinha por
de Cosme de Médicis, em finais do século missão permitir o acesso popular às obras
XV76. Este foi um período particularmente de arte, antes conhecidas somente pelos
fértil na história do coleccionismo e, homens ricos e nobres. O Louvre nasce
consequentemente, na história da com duas das principais funções do Museu:
museologia [...]” (p. 47), afirma a autora. colecionar e exibir as coleções ao público

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(GUILHERMANO, 2010, p.66-67 – grifos do como Museu Nacional, que possuía um


autor). modesto acervo de história nativa e assim se
manteve até o final desse século, somente
Guilhermano (2010) explica que foi do após 1860, surgem então os Museus:
Museu Britânico que surgiu a inspiração para
a construção do hoje são as universidades e, do Exército (1864), da Marinha (1894), o
sua maior função na época era justamente Paranaense (1876), do Instituto Histórico e
a de ensinar. Estudos mostraram que a Geográfico da Bahia (1894), destacando-se,
Museologia teve seu início nas coleções nesse cenário, dois museus etnográficos: o
Paraense Emílio Goeldi, constituído em 1866, por
mediterrâneas e no acervo anglo-saxônico,
iniciativa de uma instituição privada, transferido
que trás para o Museu um caráter educativo.
para o Estado em 1871 e reinaugurado em
1891, e o Paulista, conhecido como Museu do
Em suma, até o final do século XVIII os
Ipiranga, surgido em 1894 (JULIÃO, 2018).
Museus educavam por meio da exposição
de Artes, utensílios naturais e culturais,
com uma grande mistura de coleções, Os Museus brasileiros tinham as
que posteriormente foi se tornando mais características dos europeus e norte-
organizada e especializada, dividida por americanos e assim como eles carregavam
área de pesquisa e conhecimento; com a a ideologia propagada pela Revolução
Revolução Francesa (1789) e o movimento Francesa, possuindo em seu acervo objetos
democrático da abertura dos Museus ao natural e cultural do país e do mundo,
público, as coleções até então privadas, cuidadosamente coletado e catalogado,
passaram a ser patrimônio público. pronto para ser estudado; atendo-se,
portanto, ao caráter educativo da instituição.
Assunção (2003) em sua obra “O
Patrimônio” aponta Museu como sendo: Os serviços educativos museal surgiram
para viabilizar os projetos governamentais
[...] uma instituição permanente, sem fins que apresentava a necessidade de unir a
lucrativos, a serviço da sociedade e de seu Educação Formal, mas voltada a teoria, à
desenvolvimento, aberta ao público que educação prática, contudo a princípio estes
adquire, conserva, pesquisa, expõe e divulga as serviços não contavam com profissionais
evidências materiais e os bens representativos
capacitados e com conhecimento pedagógico
do homem e da natureza, com a finalidade de
para a função.
promover o conhecimento, a educação e o lazer
(p.78 – grifos do autor).
Durantes as visitas aos Museus,
Os primeiros Museus brasileiros datam professores, em sua maioria, somente
o século XIX; D. João VI, em 1818 funda o acompanhavam seus alunos, visto que não
Museu Real, no Rio de Janeiro, hoje conhecido estavam preparados para responderem

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Revista Educar FCE - Março 2019

do conceito de ecomuseu. Esse conceito


a questões relacionadas às exposições
tinha como eixo principal o fomento da
visitadas, pouco conheciam sobre as Artes relação da sociedade com seu patrimônio em
expostas e o Museu tinha somente o um determinado território. Sua inspiração
curador, profissional conhecedor da história vinha dos museus nórdicos ao ar livre, cujas
do acervo presente no estabelecimento. Ele preocupações educativas ajudaram a fomentar
procurava mesmo sem um conhecimento uma nova maneira de contextualizar os objetos
pedagógico, da melhor forma possível, passar e de preservar as tradições culturais passadas e
seu conhecimento aos estudantes. presentes de uma determinada sociedade (p.10).

Por volta do século XX houve um Assunção (2003) em seus estudos explica


aumento nas visitas aos Museus e com com mais detalhes o que vem a ser o ICOM,
elas a necessidade da inovação no modo com seus objetivos, papel, interesses, dentre
de exposição de seu acervo, pois, com outros:
um público cada vez mais heterogêneo
foi preciso criar novas estratégias, que [...] foi criado [...] como uma associação não-
envolvessem, interessassem e ensinassem os governamental, sem fins lucrativos, associada
visitantes. Para isso elaborou-se exposições à UNESCO*, tendo como proposta dedicar-se
separadas por tipo de público, com exibições ao desenvolvimento de museus, da profissão
do museólogo, da preservação do patrimônio
para leigos e para especialistas. Porém,
cultural e da troca de informações cientificas no
sua mudança mais significativa aconteceu
âmbito internacional.
na segunda metade do século XX, quando
os serviços educativos passaram a prestar
Os objetivos principais do ICOM são: encorajar
um atendimento específico e os Museus e sustentar a criação, o desenvolvimento e
começaram a ter um caráter educativo com a gestão profissional de museus de todas as
definição didático metodológica. categorias; fazer conhecer e compreender a
natureza, as funções e o papel dos museus a
A ICOM – International Council of serviço da sociedade e do seu desenvolvimento;
Museums foi a primeira associação dos organizar a cooperação entre museus e
profissionais de Museu, seu presidente membros da área museológica de diferentes
foi Georges-Henri Rivière (1897-1985), o países; representar, defender e promover os
também fundador do “ecomuseu”, como interesses de todos os profissionais de museus,
explica Marandino et al (2008) abaixo: sem interesse; estimular o progresso e a difusão
do conhecimento no domínio da museologia e
Em 1948 foi fundado na França o Internacional de outras disciplinas concernentes à gestão e às
Council of Mouseums (ICOM), primeira atividades de um museu (p.61).
associação internacional de profissionais de
museus. Para presidência foi eleito Georges-
Henri Rivière, fundador do Musée des Arts
et Traditions Populaires (França) e criador

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Revista Educar FCE - Março 2019

NOVA MUSEOLOGIA Jacobucci (2006) declara esclarecendo


que:
Ainda segundo Marandino et al (2008)
uma Nova Museologia é elaborada a partir [...] desta forma, podemos então enxergar
expansão do conceito atribuído ao Museu os museus e centros culturais como espaços
e Patrimônio, que traça uma metodologia privilegiados de formação, pois oferecem
entretenimento ilustram conhecimento seguindo
de ação, fazendo com que os múltiplos
de disparador para a ampliação de saberes
seguimentos da sociedade interagissem mais
adquiridos, podendo, inclusive, ser o espaço
com o Museu, passando assim a sentirem-
de aprofundamento desses conhecimentos,
se parte integrante deste e responsáveis
uma vez que, de uma forma geral, os museus
pela proteção do seu Patrimônio e essa e centros culturais não oferecem somente
premissa girou o mundo e fixou-se exposições temporárias ou itinerantes, mas
principalmente na América Latina, nas outras atividades, como cursos e palestras,
décadas seguintes, quando o Museu ficou empréstimos e /ou consulta de acervo para
ainda mais conhecido como instrumento fins de pesquisa, biblioteca, videoteca ou
de ação social, o transformador e suas audioteca, alguns, inclusive, oferecem atividade
“[...] exposições e das ações educacionais, de formação continuada para professores (p.55
veículos dessa transformação” (p.10). Para apud TAVANO, 2015, p.48).
que a museologia atinja seus objetivos esta
usa de interdisciplinaridade e metodologias
da contemporaneidade, buscando MUSEUS E EDUCAÇÃO
aproximar a população às suas, muitas
vezes desconhecidas, riquezas históricas e As tendências pedagógicas da educação
culturais. em Museus, segundo Valente (2002)
apresenta-se em 3 gerações: “Museus de
Quanto o professor leva o aluno ao História Natural (primeira geração); Museu
Museu é um incentivo para que este de Indústria (segunda geração) e Museus de
expanda sua percepção do mundo, sua Fenômenos e Conceitos Científicos (terceira
forma de comunicação e compreenda que a geração) (p.11 – grifos do autor)”.
aprendizagem acontece tanto dentro quanto
fora das salas de aula. O educador Fernando de Azevedo
(1894-1974), em 1920, comandou as
“Cabe ao museu realizar exposições, primeiras ações educativas nos Museus
cursos, seminários, conferências e outros brasileiros, com propostas técnicos-
eventos que atendam às necessidades da pedagógicas influenciadas pelos princípios
sociedade, cumprindo assim o seu papel de escolanovistas, sugere inovações no sistema
prestação de serviço público” (ASSUNÇÃO, museal adequando-o para, juntamente
2009, p.78). com a instituição de ensino, promover o

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Revista Educar FCE - Março 2019

conhecimento por meio de uma aprendizagem Foi dedicada maior atenção à Terceira
Não-Formal. Valente (2002) explica que: geração visto que foi neste período que
se valoriza a autonomia do sujeito frente
Os Museus da Terceira Geração surgem no início à aprendizagem e sua interação com
do século 20, propondo uma nova forma de o meio. Através do uso de “aparatos e
comunicação com o público. O Deitshes Meuseum exposições passam a dispor do conjunto de
é marco dessa interpretação caracterizando-se evidência oriundas das pesquisas de ensino
pelo uso de aparatos com movimento cientifico
aprendizagem,” declara Valente (2002, p.13).
tecnológico, por meio do esclarecimento do
A partir do momento que a criança passou
público e da melhor comunicação com ele,
a tomar consciência de sua importância no
faz uso de novas estratégias de inatividade. A
processo do aprender, em que ela mostrou
proposta é a do girar manivelas do tipo bands
on. Acredita-se, assim, que o visitante, ao fazer
interesse e soube reconhecer, através da
funcionar o aparato, assimile facilmente os interação com a Arte aquilo que a agradava
princípios científicos ali envolvidos. (p.12-13 – ou não, deu-se um grande passo para a
grifos do autor) formação de seu senso crítico, tão importante
para a vida em sociedade.
A intencionalidade da Terceira Geração
era fazer o público interagir com a exposição, Aqui fica importante ressaltar que
deixando de agir como mero expectador. educação, bem como todo o processo da
Valente (2002) continua dizendo que: aprendizagem humana, ocorre efetivamente
de três modos: Formal, Não-Formal e
Esse tipo de inatividade enriquece as instituições Informal.
com a exibição de fenômenos científicos e a
ênfase na ação dos visitantes. Reconhece-se aí Marandino et al. (2008) em sua obra
preceitos da abordagem pedagógicas propostas apresenta que Crombs, Prosser e Ahmed, em
pela Tendência Liberal Renovadora da escola
1973 foram quem realizaram a divisão do
nova. Além dessa o tecnicismo também está
sistema educacional em três categorias:
presente nos aparatos que são apresentados
a partir de passos programados, pelo quais, ao
• educação formal: sistema de educação
visitante, é conferido uma única resposta sem
hierarquicamente estruturado e
que precise controlar variáveis. Dessa forma, o
cronologicamente graduado, da escola primária
que se promove é uma ciência acabada com uma
à universidade, incluindo os estudos acadêmicos
única verdade. A discussão as implicações sociais
e as variedades de programas especializados
do desenvolvimento da ciência e da tecnológica
e de instituições de treinamento técnico e
são introduzidas aqui com a incorporação das
profissional.
preocupações educacionais para melhoria do
ensino de ciências, na tentativa de minimizar
• educação não-formal: qualquer atividade
o analfabetismo cientifico e tecnológico da
organizada fora do sistema formal de educação,
sociedade. (1969 Exploratório) (p.12-13 – grifos
operando separadamente ou como parte
do autor).

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Revista Educar FCE - Março 2019

de uma atividade mais ampla, que pretende As práticas da educação não formal se
servir a clientes previamente identificados desenvolvem usualmente extramuros escolares,
como aprendizes e que possui objetivos de nas organizações sociais, nos movimentos, nos
aprendizagem. programas de formação sobre direitos humanos,
cidadania, práticas identitárias, lutas contra
• educação informal: verdadeiro processo desigualdades e exclusões. Elas estão no centro
realizado ao longo da vida em que cada indivíduo das atividades das ONGs nos programas de
adquire atitudes, valores, procedimentos e inclusão social, especialmente no campo das
conhecimentos da experiência cotidiana e das artes, educação e cultura (p. 12).
influências educativas de seu meio – na família,
no trabalho, no lazer e nas diversas mídias de É preciso não confundir Educação
massa (p.13 – grifos do autor). Não-Formal com assistencial, pois não
é doada, mas, sim adquirida através do
Na Educação Informal o conhecimento e as compartilhamento de experiências.
aprendizagens acontecem ao longo da vida,
por meio da interação social e experiências A educação formal é aquela desenvolvida
vividas, os principais agentes são familiares nas escolas, com conteúdos previamente
e sua comunidade. Está ligada ao processo demarcados; a informal como aquela que os
de socialização do sujeito é através dela indivíduos aprendem durante seu processo de
socialização - na família, bairro, clube, amigos,
que a pessoa adquire seus valores, crenças,
etc., carregada de valores e cultura própria,
estabelece suas relações sociais, defini
de pertencimento e sentimentos herdados;
sua religião, adquiri determinado gosto ou
e a educação não formal é aquela que se
comportamento etc.
aprende ‘no mundo da vida’, via os processos
de compartilhamento de experiências,
Quando se fala em Educação Formal é principalmente em espaços e ações coletivas
aquela institucionalizada, promovida pelas cotidianas (GOHN, 2006, p. 28).
escolas, com currículo que segue regras
determinadas segundo seus objetivos A Terceira Geração dos Museus os
acadêmicos, mediados por um docente. Essa aproximou mais da população em geral,
é justamente uma das maiores diferenças tornando o indivíduo cônscio de sua
entre elas, enquanto a Educação Formal tem atuação no processo de aprendizagem,
um lugar específico para acontecer, as outras ele passou a buscar construir o próprio
duas não. conhecimento. Enquanto isso, o Museu dos
anos 80 passa a ser estruturado segundo as
Já a Educação Não-Formal ocorre de modo teorias construtivistas, promovendo assim
coletivo promovidos em Centros Culturais, a interação entre o indivíduo e o meio,
ONGs e Museus, dentre outros. Vercelli tornando a aprendizagem, um processo
(2013) pontuou que ela acontece fora da dinâmico.
escola e promove a inclusão e a igualdade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Essa experiência possibilita que o conhecimento se construa entre o sujeito e o objeto,


a sala de aula deixa de ser a fonte do saber e a cidade, em especial o Museu, neste caso,
torna-se um estímulo para o jovem e para a criança como local de aprendizagem, reflexão,
prazer e interação social.

Contudo, para que a aprendizagem aconteça efetiva e eficazmente, o Museu precisa ter
suas intensões educações claras, cada exposição tem que ser rigorosamente planejada,
observando-se o público a ser atendido e suas principais características, para que a
exposição se torne acessível a ele, traçando estratégias que possibilitem a interação entre
todos os participantes: o mediador (educadores museal), professor e público (visitantes e
alunos), e facilite a escolha da metodologia pedagógica que melhor se adequa ao processo
de aprendizagem.

Ao definir os objetivos educativos da atividade, ao selecionar os conteúdos que serão enfatizados, ao planejar
as formas e estratégias usadas na visita e durante a mediação, ao definir os papéis do mediador, do público,
do professor ou dos demais participantes da ação e como se relacionam, estaremos fazendo opções que
remetem a determinadas concepções pedagógicas. Do ponto de vista do planejamento das ações educativas
nos museus, é importante que os educadores, incluindo nesse grupo os mediadores, identifiquem os aspectos
mencionados e façam opções conscientes sobre os modelos pedagógicos preponderantes em suas práticas
(MARANDINO et al., 2008, p.16).

Leite e Ostetto (2005, p. 29) encerram ao afirmarem que um bom exemplo disso é de
alguns Museus que fazem uso de alguns recursos específicos, como “[...] teatro de fantoches,
jogos, etc. [...]” para atrair o público infantil, demonstrando compreender a necessidade de
haver um atrativo para a criança, algo próprio de sua idade, de sua fase de desenvolvimento,
para só então dar continuidade em sua evolução e aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A função da escola não é trazer o conhecimento pronto
para o estudante, mas sim incentivá-lo a desenvolver um
olhar crítico, analítico e reflexivo, fazer com que este que
procure respostas para as mais variadas questões impostas
pelo cotidiano. Ela também não é a única fonte do saber,
todos podem aprender por meio da interação com o outro,
esteja onde for isso inclui no Museu.

O Museu é um estabelecimento de exposição de múltiplas


culturas também e, diferente do que muitos acreditam, ele
não é apenas um espaço de Educação Não-Formal, uma vez
que o professor pode utilizá-lo para aprofundar determinado PRESCILIA GUILHERMINA
conteúdo curricular, atribuindo-lhe um caráter Formal. BENTO
Todavia, a visita museal realizada com amigos, mesmo com
Graduação em Letras pela Faculdade
os colegas de classe, de forma descontraída, trocando FASB “Faculdade de São Bernardo”
experiências, pode assumir perspectiva Não-Formal ou (1994); Especialista em Psicopedagogia
Informal. Clínica e Institucional pela Universidade
“Cândido Mendes” (2016); Professora de
O contato com os bens culturais, com Obras de Artes Ensino Fundamental II – Língua Inglesa -
constitui uma forma de sensibilização individual que permite na EMEF “Presidente Campo Salles”.
que o educando se aproprie de múltiplas linguagens, fazendo
com que suas relações interacionais se tornem mais amplas,
favorecendo sua criticidade, criatividade e originalidade.

Quando a criança tem contato desde cedo com as múltiplas formas que as Artes podem
tomar, mais rapidamente sua personalidade se forma, seus gostos e preferências se definem,
há a ampliação de seu senso crítico e reflexivo.

O contato com Museus traz aos estudantes uma experiência única de viver a cidadania
em sua plenitude, eles têm a possibilidade de apreciar e cuidar de seu patrimônio, de sua
cultura.

A Arte, História e Educação nos Museus permite que se preserve o passado, viva o presente
e pense no futuro, respeitando e valorizando as diferenças.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

OS CONCEITOS DE GÊNERO
E SEXUALIDADE NA ESCOLA
RESUMO: Esta pesquisa, resultante de revisão bibliográfica, apresenta uma apreciação sobre
as questões de gênero e sexualidade no que diz respeito ao caráter culturalmente construído
das diferenças e das identidades, caráter este que toma a aparência de uma ordem natural
de todas as coisas. Consideram-se o indivíduo e as implicações sociais que resultam deste
processo, as relações de poder que são estabelecidas ao serem fixadas uma identidade de
gênero e uma identidade sexual, que são o masculino e o heterossexual, percebidas como
referências sólidas e centrais que determinam um parâmetro consagrado. O papel da escola
nos processos de produção de identidades, reforço de diferenças, disciplinamento dos
corpos e comportamentos é alvo de reflexão para uma mudança da prática pedagógica que
opera na lógica dicotômica da relação masculino-feminino e heterossexual-homossexual.

Palavras-Chave: Escola; Gênero; Sexualidade; Diversidade.

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INTRODUÇÃO cultural que implicam diretamente na maneira


como a sociedade percebe cada indivíduo
Este estudo bibliográfico se propõe a e no papel que lhe atribui. A sexualidade
analisar o papel da escola como agente de passa por um processo de imposição social
perpetuação e de transformação cultural diretamente ligada ao gênero conferido
em relação aos conceitos de gênero e ao sujeito, de maneira que determinações,
de sexualidade instituídos na sociedade expectativas, exigências e limitações fazem
contemporânea. Para tanto, serão levantados parte do processo de atribuição de gênero e
aspectos relevantes sobre a maneira como de sexualidade, afetando na construção da
as questões de gênero e sexualidade são identidade de cada um.
abordadas no currículo e nas práticas
escolares. A dominação masculina se faz presente na
classificação e padronização do gênero e da
A reflexão sobre a forma de classificar e sexualidade no sentido de preservar e manter
conceituar o gênero feminino e masculino, os interesses do patriarcado, ocasionando
assim como a sexualidade que lhes é desigualdade, repressão e subordinação.
atribuída, é imprescindível para que se possa
compreender a maneira como papeis sociais É preciso considerar que a escola possui
são culturalmente elaborados e transmitidos, papel fundamental no que diz respeito à
com a significativa participação da escola, manutenção dos conceitos e das ideias
por meio da qual tais ideologias e valores estabelecidas, assim como na possibilidade
podem ser perpetuados ou questionados a de transformar o olhar da sociedade sobre
ponto de colocar em dúvida padrões há muito tais aspectos, por meio de uma Educação
estabelecidos, baseados em desigualdade crítica e que respeite a diversidade dos
decorrente de sexismo. indivíduos.

Pretende-se analisar a construção dos


conceitos de gênero, assim como as formas A CONSTRUÇÃO E A
de elaboração e expressão sexual, apontar DISSEMINAÇÃO DO CONCEITO DE
aspectos de dominação e subordinação de
gênero a serem considerados sob o ponto GÊNERO E DE SEXUALIDADE NA
de vista ideológico e cultural e identificar a SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
forma como a escola lida com a questão de
gênero e sexualidade. Para compreender a forma como o gênero
masculino e o feminino começaram a ser
Esta pesquisa parte de hipóteses instituídos nas sociedades Ocidentais, é
levantadas, as quais sugerem que o gênero necessário revisitar a História para que
surge de uma construção e uma convenção possamos perceber o quanto a sexualidade

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Revista Educar FCE - Março 2019

do indivíduo, já que era o corpo que precisava


humana intrigou a ciência, tornando-
adequar-se ao comportamento, ou, em outros
se objeto de conhecimento a partir de termos, o sexo ao gênero, e não como passou a
sistemática observação a fim de que fosse ser na época de Debay, quando o sexo tornou-
desvendada a natureza do ser humano. se determinante do comportamento (MARTINS,
2004, p. 29).
De acordo com Martins (2004), os homens
da ciência, especialmente os médicos, que A partir da ideia de que era preciso
eram vistos então como “especialistas em considerar as diferenças entre os órgãos
olhar e examinar os corpos e estabelecer as sexuais, de maneira que esta distinção
verdades sobre a Natureza e a identidade originasse duas classificações diferentes
dos indivíduos”, estavam empenhados em de tais órgãos que corresponderiam não
dominar a questão sexual na segunda metade somente a nomeações específicas, mas
do século XIX. A autora aponta ainda: também a um determinado comportamento
social do indivíduo, teve início a oposição
Saber exatamente qual o sexo verdadeiro de binária masculino-feminino pautada no
cada pessoa era uma preocupação relativamente corpo e validada pela ciência.
recente, algo que começara a surgir na
documentação médica e jurídica por volta [...] a definição social dos órgãos sexuais, longe
da segunda metade do século XVIII, quando de ser um simples registro de propriedades
as diferenças passaram a ser observadas e naturais, diretamente expostas à percepção, é
utilizadas na construção do conhecimento produto de uma construção efetuada à custa
sobre a Natureza e na organização da sociedade de uma série de escolhas orientadas, ou melhor,
(MARTINS, 2004, p. 24). através da acentuação de certas diferenças, ou
do obscurecimento de certas semelhanças. A
representação da vagina como um falo invertido,
É importante salientar que até o século
que Marie-Christine Pouchelle descobriu nos
XIX a forma de classificar os corpos era escritos de um cirurgião da Idade Média, obedece
bastante diferente daquilo que viria a seguir. às mesmas oposições fundamentais entre o
Havia o modelo do sexo único, no qual positivo e o negativo, o direito e o avesso, que se
anatomistas do século XVI não percebiam o impõem a partir do momento em que o princípio
corpo atrelado diretamente à representação masculino é tomado como medida de todas as
de homem e mulher na sociedade, como coisas (BOURDIEU, 2011, p. 23).
indica Martins:
Uma forma fixa e estável de sexualidade
[...] por mais que os anatomistas vissem as e de gênero, que não admite dúvidas,
diferenças, elas não tinham significado. É paradoxos ou contradições, passa a vigorar na
por isso que até o século XIX alguns órgãos sociedade, e é exatamente o contexto social
sexuais femininos continuaram a ter a mesma em que o indivíduo encontra-se inserido
denominação dos órgãos masculinos e, no
que vai moldá-lo de acordo com aquilo que
caso dos hermafroditas, aceitava-se a escolha

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Revista Educar FCE - Março 2019

sexo masculino quanto toda a espécie humana.


é considerado universal, natural e correto,
Aprendemos que, em muitas situações, a palavra
buscando afastá-lo das possibilidades da supõe todas as pessoas, englobando, portanto,
pluralidade, da diversidade e da instabilidade. homens e mulheres (LOURO, 1997, p. 66-67).

O que vivenciamos na contemporaneidade Esta prática da linguagem sugere que


é a aparência natural e permanente de tais o parâmetro e o referencial para todos os
constructos. seres humanos se encontra no homem. Algo
tão corriqueiro e usual quanto a linguagem
O processo de “fabricação” dos sujeitos é serve como ferramenta de manutenção
continuado e geralmente muito sutil, quase das relações hierárquicas e de poder entre
imperceptível. Antes de tentar percebê-lo pela os gêneros. Louro (1997) defende que “a
leitura das leis ou dos decretos que instalam linguagem não apenas expressa relações,
e regulam as instituições ou percebê-lo nos
poderes, lugares, ela os institui; ela não
solenes discursos das autoridades (embora
apenas veicula, mas produz e pretende fixar
todas essas instâncias também façam sentido),
diferenças”. O mesmo ocorre em diferentes
nosso olhar deve se voltar especialmente para
instâncias da vida social do sujeito. Por
as práticas cotidianas em que se envolvem todos
os sujeitos. São, pois, as práticas rotineiras e
exemplo, na escola, onde a distinção de
comuns, os gestos e as palavras banalizados meninos e meninas produz e reafirma padrões
que precisam se tornar alvos de atenção classificatórios, restritivos e valorativos.
renovada, de questionamento e, em especial, de Louro (2010) afirma que “a sexualidade
desconfiança. A tarefa mais urgente talvez seja não é apenas uma questão pessoal, mas
exatamente essa: desconfiar do que é tomado é social e política”, sendo ela fruto de um
como “natural” (LOURO, 1997, p. 63). aprendizado pelo qual passam todos os
sujeitos e que se dá de diversas maneiras e
Os códigos compartilhados, os discursos durante toda a vida.
e as representações constroem e atribuem
aos corpos e às identidades a diferença, [...] podemos entender que a sexualidade
a qual se manifesta na concretude e na envolve rituais, linguagens, fantasias,
materialidade da vida. De acordo com representações, símbolos, convenções...
Louro (1997), a linguagem é um importante Processos profundamente culturais e plurais.
Nessa perspectiva, nada há de exclusivamente
código neste sentido, pois carrega em si a
“natural” nesse terreno, a começar pela própria
marca da diferenciação desigual que indica
percepção de corpo, ou mesmo de natureza
superioridade e inferioridade em relação aos
(LOURO, 2010, p. 11).
gêneros.

A conformidade com as regras de linguagem Aquilo que é ou não natural é definido


tradicionais pode impedir que observemos, por através de processos culturais, e por
exemplo, a ambigüidade da expressão homem meio destes mesmos processos ocorrem
— que serve para designar tanto o indivíduo do

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Revista Educar FCE - Março 2019

transformações na natureza e na biologia, de IMPLICAÇÕES NA


acordo com a autora, que também observa CONSTITUIÇÃO DA
que a heterossexualidade é tida como a
sexualidade normal e natural do ser humano, IDENTIDADE DO INDIVÍDUO
entretanto, é empregado enorme esforço, E NO ÂMBITO SOCIAL
vigilância e investimento social no sentido
da construção desse dado aparentemente A doutrina pela qual os indivíduos passam
universal. a fim de se tornarem homens ou mulheres no
sentido inerente a cada um destes gêneros,
Os corpos ganham sentido socialmente. A determinados pelo órgão sexual com o qual
inscrição dos gêneros – feminino ou masculino – nasceram, tem amplo impacto em suas vidas.
nos corpos é feita, sempre, no contexto de uma
determinada cultura e, portanto, com as marcas Os princípios presentes neste quadro
dessa cultura. As possibilidades da sexualidade –
se dão na relação social, de maneira que
das formas de expressar os desejos e prazeres –
cada cultura se apropria e os transmite por
também são sempre socialmente estabelecidas
meio de códigos comuns que permeiam
e codificadas. As identidades de gênero e
o convívio e dão significado à vida em
sexuais são, portanto, compostas e definidas por
relações sociais, elas são moldadas pelas redes
sociedade, dentro da qual são estabelecidas
de poder de uma sociedade (LOURO, 2010, p. posições e oposições entre indivíduos
11). para regulamentar o funcionamento da
organização, esclarecendo que:
É na relação que se dá a diferença, e os
significados dessa diferença são atribuídos Por cultura entendemos toda a produção de
socialmente, de forma continuada, imposta significados simbólicos que dão sentido à vida
ou sutil, para que tais elementos adquiram em sociedade, nossas crenças e valores, nossos
aparência de natural e estabeleçam um modos de ser e estilos de vida, os códigos
morais e éticos, a organização das instituições
parâmetro de normalidade ao qual tudo
que regram nossa vida, tudo isso constitui
aquilo que se apresentar em oposição será
manifestações visíveis da produção cultural e
considerado como estranho, subversivo,
simbólica (SEFFNER, 2011, p. 40).
desviado e anormal.

A percepção de si e dos demais é afetada por


esse conjunto de informações e prescrições
que chegam a cada sujeito de forma, por
vezes subjetiva e simbólica, ou claramente
imposta como regra a qual não se deve e
nem se pode subverter. Estes conceitos
e valores são introjetados de maneira tão

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Revista Educar FCE - Março 2019

profunda que, como sinaliza Louro (2010) certos postos de trabalho cavou profundo
“frequentemente nos apresentamos (ou nos fosso entre suas experiências e as dos
representamos) a partir de nossa identidade homens”, de acordo com Saffioti (2004). Essa
de gênero e de nossa identidade sexual. Essa segregação da experiência é uma violência
parece ser, usualmente, a referência mais que deixou marcas profundas e duradouras,
‘segura’ sobre os indivíduos”. contra as quais as mulheres tiveram que
lutar incansavelmente para que esta corrida,
Saffioti (2004) afirma que “o conceito na qual largaram em desvantagem, torne-se
de gênero pode representar uma categoria mais justa ao longo do caminho.
social, histórica, se tomado em sua dimensão
meramente descritiva”. É necessário [...] a inegável desigualdade existente entre
considerar o ser humano em sua totalidade, homens e mulheres, observada nitidamente por
sendo ele uno e indivisível. meio de mecanismos concretos - ora sutis, ora
ostensivos -, entre os quais está a valorização
de atributos considerados masculinos em
A indicação arbitrária de quem e como
detrimento de elementos tidos como femininos
o indivíduo deve ser, de acordo com as
(RAMIRES, 2011, p. 131-132).
expectativas destinadas a ele em relação à
interiorização e ao cumprimento de seu papel
social, assim como a posição que ocupará Louro (2002) sugere que existam a posição
dentro deste grupo, é um forte instrumento central e a excêntrica no que diz respeito
de dominação, de maneira que, segundo às “posições-de-sujeito” na sociedade. A
Seffner (2011), “ a produção de identidades de posição central, que indica universalidade,
gênero e sexuais está diretamente envolvida estabilidade e unidade, é o parâmetro a
com relações de poder na sociedade, que partir do qual será determinado aquilo que
a todo momento posicionam homens e é excêntrico e, portanto, problemático,
mulheres numa hierarquia”. uma vez que possui a marca da diversidade,
da pluralidade, da instabilidade e da
A denominação de “segundo sexo” implica particularidade.
um lugar para o feminino de segundo
elemento, abaixo do masculino, que é tido Dessa forma, no centro encontram-
como o primeiro, ou seja, a identidade que se os homens brancos, heterossexuais,
serve de referência, aponta Louro (2002). que apresentam uma identidade sólida
permanente e confiável e denunciam na
A desigualdade gerada por esse mecanismo oposição a excentricidade das mulheres, dos
estabeleceu uma verdadeira desvantagem homens e mulheres negros e dos sujeitos
para o sexo feminino dentro da sociedade homossexuais.
no âmbito do trabalho, por exemplo, uma
vez que “a marginalização das mulheres de

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Revista Educar FCE - Março 2019

À diferença das mulheres, que estão socialmente


A autora também alerta para o fato de que
preparadas para viver a sexualidade como uma
concedemos aparência natural, universal e experiência íntima e fortemente carregada de
permanente a este lugar central privilegiado afetividade, que não inclui necessariamente
a partir de sua contínua afirmação e a penetração, mas que pode incluir um amplo
reafirmação. Assim, nos esquecemos de seu leque de atividades (falar, tocar, acariciar, abraçar
caráter construído. etc.), os rapazes tendem a “compartimentar” a
sexualidade, concebida como um ato agressivo,
A experiência da sexualidade dos e sobretudo físico, de conquista orientada para
indivíduos sofre graves interferências neste a penetração e o orgasmo (BOURDIEU, 2011, p.
contexto em que existe algo considerado 30).
correto e aceitável, e seu completo oposto.
O campo da sexualidade pode, então, ser
[...] o sexo que não visa à procriação, quando extremamente permeado pelas simbologias
assumido por indivíduos como regra para a vida, assimiladas ao longo da construção do
é mal visto. Daí vem uma das possibilidades sujeito e da elaboração de sua visão de si e
de explicar a noção de identidade marcada do mundo.
sexualmente, sexo pelo puro prazer do sexo, sem
outro objetivo, que não o tesão. Seguramente o Se a relação sexual se mostra como uma relação
sexo marcado pelo prazer é ainda pouco aceito social de dominação, é porque ela está construída
em termos sociais (SEFFNER, 2011, p. 49-50). através do princípio de divisão fundamental
entre o masculino, ativo, e o feminino, passivo,
e porque este princípio cria, organiza, expressa e
É preciso ponderar que todas as identidades
dirige o desejo – o desejo masculino como desejo
sociais, incluindo as sexuais e de gênero, são
de posse, como dominação erotizada, e o desejo
fragmentadas, instáveis, históricas e plurais,
feminino como desejo da dominação masculina,
entretanto, estes são fatores ignorados
como subordinação erotizada, ou mesmo,
quando “a admissão de uma nova identidade em última instância, como reconhecimento
sexual ou de uma nova identidade de gênero erotizado da dominação (BOURDIEU, 2011, p.
é considerada uma alteração essencial, uma 31).
alteração que atinge a essência do sujeito”,
segundo Louro (2010). Este movimento que norteia, orienta e
determina comportamentos, posições e
A desvalorização da mulher a coloca visões de si mesmo e do mundo, restringindo
numa posição precária na sociedade, porém e limitando cada ser humano em suas
a repressão em relação à experiência do múltiplas experiências, é resultado do
próprio corpo e às vastas possibilidades de esforço e do trabalho constante da sociedade
experimentação e expressão sexual é um em estabelecer verdades predeterminadas e
fator que afeta a percepção e a vivência da regular os indivíduos em nome da ordem e
sexualidade. da gestão de grupo.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O PAPEL DA ESCOLA COMO comuns a problemas recorrentes. Ela


AGENTE CONSTRUTOR, constitui um conjunto comum de esquemas
fundamentais, [...] a partir dos quais se
DISSEMINADOR E articula [...] uma infinidade de esquemas
TRANSFORMADOR DO particulares”, como afirma Bourdieu
CONCEITO DE GÊNERO E (2011). Estes esquemas fundamentais que
cada sujeito recebe são profundamente
SEXUALIDADE interiorizados e deles derivam suas aquisições
A escola é um meio em que ocorrem de esquemas posteriores e a organização de
interações diretas entre os indivíduos. É, seu pensamento.
provavelmente, o primeiro contato que
temos com grandes grupos sem relação de Independentemente das representações
parentesco, que se submetem às mesmas coletivas, tais como a representação do homem
regras de convivência e dentro dos quais como resultado de uma longa evolução ou a
existe uma clara heterogeneidade no que representação de mundo governado por leis
necessárias e imutáveis e não por um destino
tange aos mais diversos aspectos dos seres
caprichoso ou por uma vontade providencial,
humanos.
cada sujeito recorre inconscientemente a
disposições gerais [...], ou seja, esquemas de
Mais do que isso, “a cultura escolar
pensamento do real, fazendo com que aquilo que
propicia um corpo comum de categorias pensa seja pensável para ele como tal e na forma
de pensamento que torna possível a particular pela qual é pensado (BOURDIEU,
comunicação”, segundo Bourdieu (2011). 2011, p. 212).
Sendo assim, dentro dessas categorias de
pensamento, os indivíduos se veem, se
reconhecem e se compreendem. A escola tem grande responsabilidade
na construção e no processo de aquisições
O que os indivíduos devem à escola é sobretudo de categorias e esquemas elementares
um repertório de lugares-comuns, não apenas um de pensamento, os quais irão nortear em
discurso e uma linguagem comuns, mas também significativa medida a percepção e atuação
terrenos de encontro e de acordo, problemas do indivíduo no mundo durante toda a
comuns e maneiras comuns de abordar tais
vida, portanto é de extrema importância
problemas comuns (BOURDIEU, 2011, p. 207).
que dediquemos atenção ao modo como as
questões de gênero e de sexualidade serão
Entretanto, compartilhar de uma apresentadas, elaboradas e vivenciadas por
determinada lógica de pensamento não é estes sujeitos durante a escolarização.
suficiente para a constituição dos sujeitos
numa sociedade, considerando que “cultura Sob o refúgio dos afetos e diante do ataque
não é apenas um código comum de respostas cerrado das agressões, podemos dizer que esta
experiência escolar é praticamente universal nas

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Revista Educar FCE - Março 2019

sociedades contemporâneas industriais ou pós-


industriais. A escola configura-se assim como
sentidos são produzidos no espaço escolar
primeiro lugar de encontro sistemático com
e incorporados por meninos e meninas,
a diversidade humana, na qual, por um lado, o tornam-se parte de seus corpos”.
contato mútuo pode ser altamente enriquecedor,
mas por outro pode ser disparador de atrito e Para Louro (1997) “é indispensável que
disputas: de visões de mundo, de interesses reconheçamos que a escola não apenas
particulares e de grupos, de anseios e projetos reproduz ou reflete as concepções de gênero
tanto individuais quanto coletivos (RAMIRES, e sexualidade que circulam na sociedade,
2011, p. 134). mas que ela própria as produz”. A proposta
da escola é, claramente, a constituição
Este momento delicado em que a realidade de sujeitos que atendam aos padrões da
da vida em sociedade se constrói diante dos sociedade, ou seja, sujeitos masculinos e
indivíduos exige uma mediação adequada femininos heterossexuais. Sobre isso, a
e é neste contexto que devemos pensar a autora destaca:
escola como uma instituição que, acima de
tudo, se preocupa em normatizar ações, Os livros didáticos e paradidáticos têm sido
comportamentos e posturas que marcarão objeto de várias investigações que neles
cada sujeito de maneira permanente. examinam as representações dos gêneros,
Somado a isso, a instituição escolar apresenta dos grupos étnicos, das classes sociais. Muitas
dessas análises têm apontado para a concepção
clara característica segregativa desde seu
de dois mundos distintos (um mundo público
surgimento, classificando, produzindo e
masculino e um mundo doméstico feminino), ou
reforçando diferenças.
para a indicação de atividades “características”
de homens e atividades de mulheres. Também
A escola que nos foi legada pela sociedade
têm observado a representação da família típica
ocidental moderna começou por separar adultos
constituída de um pai e uma mãe e, usualmente,
de crianças, católicos de protestantes. Ela
dois filhos, um menino e uma menina (LOURO,
também se fez diferente para os ricos e para os
1997, p. 70).
pobres e ela imediatamente separou os meninos
das meninas (LOURO, 1997, p. 57).
Dessa forma são desconsiderados
ou denegados os conflitos, as trocas, a
Para pensar a forma de construção do diversidade de organizações e arranjos
pensamento sobre os aspectos gerais da familiares e sociais e as múltiplas atividades
vida, no que se inserem gênero e sexualidade, exercidas pelos sujeitos. Louro (1997) coloca
é preciso antes considerar os efeitos uma reflexão sobre esta prática: “de quem
da escolarização sobre cada indivíduo, falam, afinal, as teorias de desenvolvimento
especialmente em relação à disciplina do ou as psicopedagogias, senão de um sujeito
próprio corpo e das próprias emoções, como universal – pretendendo que o que se diz
aponta Louro (1997), “gestos, movimentos, sobre ele seja válido para a compreensão de

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Revista Educar FCE - Março 2019

ser adiada para mais tarde, para depois da escola,


meninos e meninas?”. A autora também alerta
para a vida adulta. É preciso manter a “inocência”
para o fato de que o modo como a escola e a “pureza” das crianças (LOURO, 2010, p. 26).
separa meninos e meninas durante atividades
escolares em situações de grupos de estudo
ou competições reforçam a dicotomia. Aquele que se desviar do esperado,
Além disso, os sujeitos são convalidados manifestando sua sexualidade em momento
ou desqualificados por conta da divisão, da indevido, receberá repreensão imediata.
hierarquização e da subordinação presentes Louro (2010) ressalta ainda que por meio
nos currículos (que arbitrariamente ditam o do disciplinamento “aprendemos a vergonha
que é objeto de conhecimento adequado e e a culpa; experimentamos a censura e o
necessário e o que não é) no ordenamento e controle. Acreditando que as questões da
nos instrumentos de avaliação. sexualidade são assuntos privados, deixamos
de perceber sua dimensão social e política”.
A escola, (assim como outras instituições
como a família e a religião), empreende Este cenário pode piorar muito quando os
grande investimento no sentido de afirmar interesses e desejos do indivíduo não atendem
e desenvolver nos alunos características à norma heterossexual, uma vez que em
distintivas de gênero, fazendo-os crer que nome da afirmação da heterossexualidade,
estão aprendendo a ser o que são ou o que a homossexualidade é rejeitada. Em relação
devem ser. A questão é: então não deveriam à sexualidade, Louro (2010) declara que “o
sê-lo espontaneamente? Se existe caráter lugar do conhecimento mantém-se [...] como
natural nas diferenças entre meninos e o lugar do desconhecimento e da ignorância”.
meninas, por que há necessidade de promover A autora também esclarece que na escola
constantes esforços para que adquiram o ocorra o exercício de uma pedagogia da
que estaria inscrito em sua natureza? sexualidade, que torna legítimas algumas
Ao serem estabelecidas identidades de práticas e identidades sexuais, ao passo em
gênero consideradas normais, a elas vincula- que reprime e marginaliza outras. Contudo,
se também uma ideia de identidade sexual essa identidade sexual alternativa àquela
normal: a identidade heterossexual. Louro estabelecida pela norma é extremamente
(2010) lembra que: necessária para a existência e a sustentação
da identidade sexual legitimada, a qual se faz
Nesse processo, a escola tem uma tarefa a partir da contraposição.
bastante importante e difícil. Ela precisa se
equilibrar sobre um fio muito tênue: de um Existe uma grande preocupação com os
lado, incentivar a sexualidade “normal” e, perigos representados pela instabilidade
de outro, simultaneamente, contê-la. Um
da fluidez das identidades sexuais e
homem e uma mulher “de verdade” deverão
de gênero, uma vez que elas permitem
ser, necessariamente, heterossexuais e serão
questionar o caráter fixo de todas as outras
estimulados para isso. Mas a sexualidade deverá

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Revista Educar FCE - Março 2019

formas de identidade que constituem o reconhecimento, mas de rejeitar qualquer


sujeito dentro da sociedade, a qual se referência ao centro. A autora defende ainda
sente ameaçada em relação à subversão a que no campo educacional não se pode mais
seus valores considerados estruturantes. ignorar estes sujeitos, considerando que
Louro (2010) esclarece que “multiplicam-se sinais e códigos culturais constituem a todos
categorias sexuais, borram-se fronteiras e, nós, sem exceção. Estas questões devem
para aqueles que operam com dicotomias deixar de representar um problema para
de demarcações bem definidas, essa educadores e educadoras e passar a serem
pluralização e essa ambiguidade abrem um vistas como algo constituinte do nosso
leque demasiadamente amplo de arranjos tempo, um tempo em que não se pretende
sociais”. eliminar a diferença, mas identificar sua
multiplicação. Ações desestabilizadoras, que
O referencial de identidade na sociedade desconstruam a aparência natural daquilo
é o masculino heterossexual e é dentro que é construído e atribuído aos indivíduos
deste modelo que a escola organiza, se fazem necessárias para que seja possível
estrutura e opera toda a sua dinâmica e perceber o caráter móvel, provisório e plural
conteúdos, colaborando para a construção de todas as posições.
de uma verdade sobre os indivíduos e seus
corpos, reforçando e produzindo diferenças Birtzman (2010) observa em relação aos
que passarão a tomar caráter natural, professores e professoras:
de maneira que seja sempre reforçada a
identidade central, afirma Louro (2002). A Em primeiro lugar, eles e elas devem estar
autora esclarece também que o educador dispostos a estudar a postura de suas escolas e
e a educadora devem refletir sobre esta a ver como essa postura pode impedir ou tornar
prática no sentido de identificar quais são possíveis diálogos com outros professores
e com estudantes. As professoras precisam
os jogos de poder nela contidos, os conflitos
perguntar como seu conteúdo pedagógico
as disputas e as implicações sociais que
afeta a curiosidade do/a estudante. Elas devem
passam pela escola. Deve-se pensar não em
estar preparadas para serem incertas em suas
como promover tolerância e respeito, de
explorações e ter oportunidades para explorar
maneira a corroborar assimetrias e inserir a extensão e os surpreendentes sintomas de
a ideia de condescendência, mas em como sua própria ansiedade. Mas juntamente com a
incitar a análise cultural, para que se possa análise de por que a sexualidade é tão difícil de
compreender que a diferença é sempre ser discutida no conteúdo escolar, deve também
constituída numa relação e se configura haver uma disposição por parte das professoras
numa atribuição feita a partir de um lugar. para desenvolver sua própria coragem
É necessário observar que assumir a posição política, numa época em que pode não ser tão
de excêntrico não se trata simplesmente popular levantar questões sobre o cambiante
de se opor à posição central ou esperar conhecimento da sexualidade (BIRTZMAN,
2010, p. 109).

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Revista Educar FCE - Março 2019

atividade restrita a pequenas notas pessoais.


Louro (1997) sugere que seja
Isso fez a escrita cursiva perder um pouco da sua
imprescindível que passemos a questionar importância no mundo moderno. Apesar disso,
não somente o que ensinamos, mas também o método das cartilhas e a escola continuam
a maneira como ensinamos e o que aquilo insistindo na escrita cursiva. Alguns professores
que ensinamos significará para nossos/ acham que, se os alunos começam a escrever
as alunos/as. As teorias que norteiam o com letras de fôrma, não vão aprender a escrever
trabalho pedagógico também precisam ser letras cursivas, e no processo de alfabetização
alvo de problematização, até mesmo aquelas o alvo a ser atingido é a bela escrita cursiva,
consideradas críticas. redondinha, igual para todos. Padronizar a escrita
cursiva desse modo é ir contra a sua própria
A autora também aponta para a necessidade natureza, cuja característica fundamental é ser
de atentarmos para a nossa linguagem, no expressão gráfica individualizada (CAGLIARI,
sentido de identificar o sexismo, o racismo 1999, p. 220).

e o etnocentrismo que nela podem estar


contidos. Precisamos estar dispostos/as a A escrita sofreu grande impacto pelo
combater o binarismo que rege as relações advento da máquina de escrever, pois esta
de gênero, considerando a pluralidade das tornou-se um paradigma, dando à escrita
organizações e combinações de gênero e de próprio punho um aspecto de algo
sexualidade, lembrando que os/as próprios/ ultrapassado.
as educadores/as estão envolvidos/as e
inseridos/as nos arranjos escolares nos quais Na atualidade, ocorre algo similar em
tais elementos estão presentes. É preciso ter relação ao computador e os demais aparatos
em mente que a escola não só transmite e tecnológicos que oferecem às pessoas novas
produz conhecimentos, mas que ela também formas se comunicarem-se por meio da
fabrica sujeitos ao produzir identidades escrita, sem o uso de lápis e papel:
étnicas, de gênero e de classe, as quais
são produzidas por meio de relações de Com relação aos sistemas de escrita, está em jogo
desigualdade e são objeto de manutenção a sempre presente luta entre escrita ideográfica
cotidiana da instituição escolar, porém a e fonográfica e entre escrita pictográfica e
prática escolar é uma prática política sujeita escrita não-figurativa. Do ponto de vista teórico,
não há nada a acrescentar: os usos da escrita até
à transformação e à subversão que precisa
hoje já exploraram bastante as possibilidades
da contribuição dos educadores/as para que
de todos os sistemas. Porém, há um problema
sua modificação se torne possível.
novo aqui. [...], se imaginarmos que, no futuro,
vamos escrever através de computadores, o ato
A escrita cursiva tem um uso quase
de escrever terá muitas características próprias,
exclusivamente pessoal. Com o grande
diferentes das que usamos hoje, a começar pelo
desenvolvimento tecnológico das máquinas
não uso de caneta e papel. O mundo da imagem
de escrever (chegando até o computador), a
estará em plena forma e as palavras escritas, na
escrita deixou de ser feita à mão, ficando essa

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Revista Educar FCE - Março 2019

maioria das vezes, não passarão de simples rótulos para tarefas específicas que o computador realizará. Ler
uma obra literária, produzida com letras do alfabeto, será coisa do passado, uma coisa de arqueologia, assim
como vemos, hoje, as escritas antigas, como a egípcia, a cuneiforme, os livros iluminados da Idade Média, etc.
As histórias serão contadas através da fala gravada (CAGLIARI, 1999, p. 221).

O autor salienta que “a imensa maioria dos livros tem nos papéis uma bomba-relógio. [...] O
computador é o único que pode salvar o livro de sua extinção física e, conseqüente extinção
cultural” (CAGLIARI, 1999, p. 221). Esta se apresenta como uma questão a ser objeto de
reflexão em nossa sociedade nos dias atuais, pois cabe compreender que as transformações
provocadas por quaisquer que sejam as inquietações humanas que as acarretem, devem ser
consideradas e analisadas, porém, devemos abraçar o que novo apresenta de positivo, sem
desprezar e descartar aquilo que ainda possui seu lugar na vida em sociedade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio deste estudo foi possível verificar a forma
como a preocupação com a classificação dos indivíduos
a partir de seus órgãos sexuais foi determinante no que
tange à maneira como o sujeito seria percebido e atuaria na
sociedade a partir de então. Seu comportamento passaria a
ser ditado pela dicotomia masculino–feminino, em que seria
inserido arbitrariamente, de acordo com seu órgão sexual. A
corroboração científica teve importante papel na construção
da ideia de verdades biológicas a respeito do gênero e da
sexualidade.

Formas fixas e estáveis de identidade sexual e de gênero PRISCILA ALMEIDA SILVA


tomaram aparência de naturais e permanentes, ignorando
Graduação em Pedagogia, pela Faculdade
seu caráter construído, provisório, plural e móvel. Esse das Américas (2010); Especialista em
processo se constitui nos discursos, nas simbologias, nas Educação e Sociedade pela Universidade
representações que ocorrem no interior de cada cultura, e Cidade de São Paulo – UNICID (2012);
que estabelecem as oposições a partir das quais são definias Especialista em Sociopsicologia pela
as diferenças e a elas são conferidos determinados sentidos, Fundação Escola de Sociologia e Política
que são interiorizados de modo a parecerem inscritos na de São Paulo – FESPSP (2013); Professor
ordem das coisas. de educação Infantil e Ensino Fundamental
I na EMEF Alferes Tiradentes.

O mecanismo em que se estabelecem diferenças apresenta


um parâmetro de comparação ideal fixado no masculino e no
heterossexual, de maneira a tornar aquilo que se coloca em
oposição a estas duas características elementos desviados do centro. O feminino é tido
como um desvio construído a partir do masculino, porque este constitui uma referência
universal. São ignoradas as variações no interior de cada gênero ao ser aplicada a lógica
da polarização masculino/feminino. A mulher aparece numa condição de subordinação, de
“segundo sexo”, o que afeta todas as suas experiências. Este processo de fabricação de
diferenças implica na instituição de relações de poder que permeiam a vida em sociedade, o
que faz desta uma questão política.

Para a construção daquele que é considerado o gênero correto, ou seja, que está de acordo
com o órgão sexual do indivíduo, a sociedade realiza grande investimento e vigilância. O
que denuncia a falsa ideia de naturalidade das atribuições de masculinidade e feminilidade.
A escola desempenha um papel importante neste cenário, ensinando o silenciamento e

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Revista Educar FCE - Março 2019

a dissimulação, o (auto)controle, educando os corpos e disciplinando desejos, emoções


e comportamentos. Estes empreendimentos são feitos em nome da ideia de um sujeito
universal que interiorize e exerça a identidade sexual e a identidade de gênero que são
esperadas.

A escola reforça, transmite e produz identidades e é sobre este aspecto importante da


vida em sociedade que os/as educadores/as precisam refletir e problematizar para que seja
possível desconstruir a aparência natural do que é construído. Não se pode pretender que
a escola seja o único fator responsável por transformar toda a sociedade, tampouco esperar
que sejam eliminadas as relações de poder, mas é preciso que nos reconheçamos todos
como sujeitos cujas características são atribuídas a partir de convenções sociais, mas que
todas as posições de sujeito são móveis e plurais. A partir de então, devemos repensar as
práticas pedagógicas vigentes, que são pautadas na lógica da desigualdade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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SEFFNER, Fernando. Identidade de gênero, orientação sexual e vulnerabilidade social:


pensando algumas situações brasileiras. In: VENTURI, Gustavo; BOKANY, Vilma. (Orgs.)
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São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2011.

1541
Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DA CULTURA
INFANTIL:
NEGRAESPAÇO
NO BRASILa
DE APRENDIZAGEM , EXPERIMENTAÇÃO E
SOCIALIZAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO
DE HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
RESUMO: Este artigo traz a contação de histórias na educação infantil e sua importância
para a formação da criança enquanto cidadã. Buscamos, por meio deste, realizar um estudo
de como a contação de histórias na educação infantil é importante para as crianças, bem
como o contato com livros desperta a imaginação e a criatividade da criança. A contação
de histórias têm relação direta com a arte e cultura, bem como trabalhar por completo a
comunicação oral da criança. Além de buscar a compreensão do trabalho com contação de
histórias, também teremos um pouco sobre a formação do professor como mediador desse
processo de contar e encantar as crianças, atingindo objetivos simples, porém, não tão fáceis,
que são os de atrair a atenção das crianças, possibilitar a compreensão de mundo e de si
mesmo. Assim sendo, buscaremos com esse artigo trazer a contação de histórias como uma
atividade humana, significativa, cheia de vivências especiais, aprendizagens e experiências.

Palavras-Chave: Contação de Histórias; Desenvolvimento; Educação Infantil; Criança.

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INTRODUÇÃO O momento da contação de histórias é


muito importante para a criança, estimulando
A contação de histórias é uma prática a sua curiosidade e atenção. A contação de
essencial na educação infantil, pois possibilita histórias é o momento em que a imaginação
o desenvolvimento e aprendizagem das das crianças toma forma e se concretiza, pois
crianças, que desde muito pequenas já têm um livro é capaz de fazê-la viajar sem sequer
necessidades de vivenciar seus sonhos, suas sair do lugar.
fantasias, seus encantos, por meio das mais
diversas demonstrações artísticas, e a leitura Para a realização deste artigo fizemos uso
é uma delas. Na infância são construídas as de pesquisa bibliográfica em livros, revistas,
primeiras experiências de vida, sendo assim, estudos, artigos, dentre outros materiais
são necessários momentos que estimulem o disponíveis de forma a enriquecer nosso
pensar, o sentir, o expressar, o experienciar, estudo sobre contação de histórias e suas
todos os fatores correspondentes a contação facetas.
de histórias que despertem a sensibilidade,
a emoção e o autoconhecimento da criança,
na mesma medida em que ensina e prepara LITERATURA INFANTIL
para a vida.
Segundo Coelho (2002), a literatura infantil
Este artigo têm como principal objetivo têm inicio a partir do século XVIII, quando a
ampliar as informações que temos sobre criança passa a ser considerado como um ser
a contação de histórias na educação diferenciado do adulto, com necessidades
infantil e as suas contribuições, buscando de uma educação que a preparasse para a
responder questionamentos como: Quais as vida adulta. Antes dessa situação a criança
contribuições que a contação de histórias acompanhava a vida social de um adulto e
traz para a educação infantil? Como a leitura consequentemente compartilhava a mesma
pode ser um recurso pedagógico na educação literatura, sem preocupar-se se a leitura era
infantil? Como deve ser o trabalho realizado ou não apropriada para a faixa etária. Nesta
pelo professor de educação infantil acerca época as crianças eram distinguidas em dois
da leitura e contação de histórias? Todos tipos: crianças da nobreza e das classes
esses questionamentos são comuns dentro desprivilegiadas. As crianças da nobreza
da educação infantil, pois muitas e muitas liam geralmente clássicos, já as crianças das
vezes os próprios professores e demais classes ditas desprivilegiadas liam ou ouviam
profissionais da educação não conseguem histórias de aventuras, lendas, contos
ver a importância real que a leitura traz para folclóricos, e assim nasceu a literatura
o desenvolvimento infantil. de cordel, uma literatura de interesses
populares.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Em busca de uma literatura adequada para prática para o entretenimento, diversão e


infância, houve adaptações dos clássicos e o lazer.
folclore tornou-se o conto de fadas, porém
não eram voltados para as crianças. Conforme o surgimento e evolução dos
sistemas de escrita, a contação de histórias
Os primeiros livros voltados para as que eram vistas como práticas superiores
crianças foram escritos por pedagogos, com foram perdendo espaço em virtude da
o único objetivo de práticas pedagógicas, separação entre a cultura instruída e da cultura
pois a escolarização obrigatória e a leiga, tendo em vista que reunir pessoas ao
importância da educação eram de interesse redor de fogueiras para ouvir lendas, contos
no desenvolvimento social. e histórias, independentemente de serem
reais ou inventadas se tornou algo simples
Na década de 70 (século XX), houve um e pouco valorizada intelectualmente, vista
desenvolvimento com grandes autores apenas como passatempo, até porque não
e editoras, com produções brasileiras de era algo que rendia ganhos financeiros a
literatura infantil e infanto-juvenil, ainda, com ponto de ser considerada ação inferior.
traduções de grandes clássicos estrangeiros.
Assim entendido, antes da escrita, os saberes
Ler histórias para crianças é fundamental da humanidade eram transmitidos por meio
para que a mesma possa apropriar-se de da oralidade e, a medida que o falar tornou-
um imaginário social, enriquecendo assim se insuficiente para expressar e manifestar a
cultura de uma sociedade, o homem começou a
seu vocabulário, e aprimorando formas de
pensar em materiais palpáveis que organizassem
interpretação.
o conhecimento adquirido, isto é, a escrita.

Dessa forma, a oralidade materializou-se
A leitura e seu incentivo desde muito cedo,
trazendo consigo a necessidade da leitura em
faz com que as crianças tomem isto como um determinado suporte, decorrendo que as
parte de sua rotina, tornando-se assim um histórias foram narradas a partir de um texto
adulto critico, que sabe interpretar um texto escrito, causando impacto positivo entre os
corretamente e que possua um vocabulário ouvintes, posto que a qualidade dos escritos
amplo. fosse mais bem elaborada e a multiplicidade dos
textos tornou-se mais socializada (SCHERMACK,
A contação de histórias é uma pratica 2012, p. 01).
bastante antiga e surgiu bem antes da
escrita, quando as pessoas faziam uso da Por meio do reconhecimento das artes
oralidade para narrar acontecimentos para em geral, uma fonte indispensável para a
a comunidade, transmitindo assim, valores, formação humana, a contação de histórias
ensinamentos, costumes, mitos e crenças de volta a ganhar espaço na sociedade.
geração a geração, também faziam uso dessa

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Revista Educar FCE - Março 2019

A ARTE DE CONTAR projetos e momentos de interação da família


HISTÓRIAS com a leitura.

O primeiro contato da criança com o O Referencial Curricular Nacional para
texto dá-se por via oral ou visual, por meio Educação Infantil (RCNEI, 1998), estabelece
de histórias contadas ou por imagens a elas que a educação infantil seja a primeira etapa
apresentadas pelos seus familiares, seja em da educação básica e têm como principal
álbuns de fotografias, livros infantis na hora objetivo auxiliar o trabalho educativo diário
de dormir, dentre outros. para que a criança tenha um desenvolvimento
integro. Ao referir-se sobre a leitura o RCNEI
Contar histórias deve fazer parte da rotina (1998, p. 135), afirma que:
do professor, independentemente da idade
das crianças, as histórias por sua vez devem A leitura de histórias é um momento em
ter conteúdo interativo e lúdico. O professor que a criança pode conhecer a forma de viver,
deve ter meios para atrair a atenção das pensar, agir e o universo de valores, costumes
crianças, fazer que elas observem cada e comportamentos de outras culturas
página dos livros e desvendem os mistérios situadas em outros tempos e lugares que
que existem dentro delas. não o seu. A partir dai ela pode estabelecer
relações com sua forma de pensar e o modo
Para Coelho (2002), ouvir histórias de ser do grupo social ao qual pertence.
estimula a criança a adquirir o hábito da
leitura por toda sua vida, tendo em vista A literatura infantil vai muito além do prazer
que as famílias também devem contribuir em que a criança sente ao ouvir histórias,
lendo para as crianças em sua casa. E isso envolve auxiliar a criança a construir
interessante que a escola, tenha projetos sentimentos, bem como, valores e ideias.
coletivos ou individuais, para cada turma, O educador precisa ter uma postura ativa e
para que trabalhem a questão da leitura estimuladora, para que consiga conquistar
em vários contextos, deixando com que a futuros leitores críticos e criativos, pois é
família se envolva com as histórias dos livros, ouvindo histórias que sentimos grandes
oferecendo materiais para registros (escritos emoções, como tristeza, raiva, irritação, bem-
e desenhos), e que a família juntamente com estar, medo, alegria, insegurança e tantos
a criança consiga expressar o que sentiram outros mais sentimentos que provocam em
ao ler e ouvir a história. Infelizmente ainda quem ouve.
encontramos famílias com pouco hábito
de leitura, uma vez por escassez de livros 1O educador precisa transparecer toda a
e outra realmente pela falta de prática em emoção que a história causa, para tanto é
leitura, por esse motivo, é interessante que necessário ter conhecido o texto antes, para
a escola derrube essa barreira construindo não correr o risco de ter que improvisar e

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Revista Educar FCE - Março 2019

falhar no momento da contação de histórias abordagem o cotidiano familiar da criança,


é preciso passar a realidade existente no com textos em caixa alta, os quais podem
livro para a criança. Portanto, o contador ser lidos e dramatizados por adultos, de
de histórias deve se preparar, oferecendo forma que a criança perceba a relação entre
para quem ouve tons, vibrações, vozes e o mundo real e o mundo da palavra, também
todo o efeito necessário para fazer que a é interessante que os livros possuam muitas
fantasia de quem ouça, sejam estimuladas. ilustrações, para que mesmo sem saber ler
O narrador precisa estar preparado para as crianças consigam envolver-se na história.
deparar-se com palavras pouco utilizadas, É importante que os livros sempre estejam
bem como, com questões que podem acabar ao alcance das crianças. Repetir histórias
com preconceitos e possibilidades de outras também é uma forma de conquistar e manter
interpretações da história pelos alunos. a atenção e interesse da criança pré-leitora,
pois a primeira vez que conta-se a história
Como já mencionado anteriormente, não é uma grande novidade, na segunda eles já
é somente a escola que deve reservar um sabem o que irá acontecer, então passam a
espaço para a leitura, mas a escola pode e procurar outros detalhes na história.
deve estender para o ambito familiar, como
podemos observar no RCNEI (1998, p.135): O espaço, no qual a leitura acontece deve
Deixar as crianças levarem um livro para ser acolhedor, preparado para atender as
casa, para ser lido junto com seus familiares, necessidades da criança, deve ser convidativo
é um fato que deve ser considerado. As e confortável, permitindo que as crianças
crianças desde muito pequenas podem circulem e falem sobre os acontecimentos
construir, uma relação prazerosa com a livremente.
leitura. Compartilhar essas descobertas
com seus familiares é um fator positivo A utilização de recursos materiais também
nas aprendizagens das crianças, dando um costuma ser bastante interessante para
sentido mais amplo para a leitura. a contação de histórias, como fantoches,
tecidos, chocalhos, acessórios característicos
A literatura deve ser apresentada para dos personagens da história e até mesmo
as crianças de maneira que os textos sejam teatros, em que as crianças participem como
adequados para cada faixa etária. A leitura personagens da história.
deve ser dividida em categorias, desde o
pré-leitor até a segunda infância. A categoria
denominada pré-leitor divide-se em duas A LITERATURA INFANTIL E A
fases, sendo uma a primeira infância (dos 15 PRÁTICA PEDAGÓGICA
meses aos 3 anos), segunda infância (dos 2
ou 3 anos até os 6 anos), os livros adequados Quando bem preparado o momento da
para essa fase são os que têm como principal contação de histórias, as crianças revivesciam

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Revista Educar FCE - Março 2019

sentimentos conforme a história narrada o aprimoramento na forma de expressão e


isso pode contribuir para o desenvolvimento na interação na sociedade em que se vive.
emocional, afetivo, crítico, da criatividade, do
vocabulário e da concentração, entre outros A preparação antecipada do ambiente,
fatores importantes nesta fase de formação tornando-o mais aconchegante é muito
da criança. Ao passo de que Meireles (1984, interessante para chamar a atenção das
p. 29) afirma que o livro infantil, quando bem crianças, os livros disponibilizados no alcance
dirigido a criança, transmite os pontos de delas, grande variedade de títulos de livros,
vista que este acredita serem mais úteis para sendo estes, pequenos, grandes, gibis, livros
o processo de formação de leitores. 3D, dentre outros, almofadas espalhadas no
chão, podendo-se montar ainda uma cabana
Quanto a preparação para contação de é deixar com que o ambiente seja mais um
histórias, é necessário que os professores atrativo para uma boa leitura. Deixar com
escolham os livros a serem contados de que as crianças escolham o que querem que
acordo com os objetivos propostos para seja lido para elas também é uma forma de
trabalhar com as crianças, ou por datas democratizar a leitura e deixa-las mais a
comemorativas (quando trabalhadas), ler vontade e sentirem-se participativas com
a sinopse antes de iniciar a leitura é um esse momento.
atrativo para as crianças demonstrarem ou
não interesse pela história. A escola é um dos ambientes que mais
favorece a leitura e o seu incentivo durante
Durante a leitura as ilustrações são itens toda a infância. Muitos alunos não conseguem
que chamam muita a atenção das crianças, ter contato com a leitura em casa, pelos mais
pois é por meio da ilustração que também diversos motivos, e na escola lhe é proporcionado
interagem com a história e criam outros à possibilidade desse contato literário.
acontecimentos, que não contém no texto,
por isso é importante que o professor Góes (1991, p. 34), aborda a importância
analise bem o livro antes de começar a de uma biblioteca na escola:
contar para as crianças, preferindo os que
contem variedade de imagens grandes e A biblioteca têm um papel tão essencial quanto
que despertem o interesse da criança. A insubstituível. Na biblioteca, crianças que tiveram
leitura diária de histórias para as crianças tantas dificuldades em seus lares, principalmente
proporciona um contato maior entre as as dos meios com poucos recursos, poderiam
se desenvolver. Essas crianças encontrariam,
crianças e os professores e até mesmo
então, no livro, sua entrada para um mundo
entre as próprias crianças em si, pois é
mais amplo. Teriam a oportunidade, também,
neste momento que desenvolvem a sua
do encontro com adultos diferentes dos do seu
imaginação, a criatividade, o pensar, o querer
convívio habitual: outros pais, funcionários,
e o sentir, proporcionando assim as crianças professores, etc.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Durante as contações de histórias é necessário que as professoras façam uso das mais
diversas emoções, expressões, entoações, e até mesmo de improvisações adequadas durante
a narração do texto, pois este tipo de atitude por parte das professoras estimula e desperta
o interesse do aluno com relação à narração, tornando assim, a leitura como um momento
lúdico para todos os sujeitos envolvidos. Podemos sempre dizer que as metodologias
adotadas pelas professoras no ato de contar as histórias destacam a importância dessa
prática no cotidiano escolar e que contribui positivamente para o desenvolvimento da
criança. O momento de contar histórias pressupõe um bom planejamento, um desejo e deve
ser executado com prazer. Se não for assim, entendemos que será muito difícil o aluno levar
a prática de leitura em sua formação como sujeito, pois a partir do momento em que o aluno
começa a relacionar o momento de contar historia em um momento monótono, em que ele
não pode se expressar, se comunicar com o outro, ele irá ver a leitura como apenas uma
obrigação ou até mesmo como um castigo.

Contar histórias é poder conhecer melhor a criança, criar um vínculo com ela, porém, para
que isso aconteça, é necessário conquistar a confiança da criança, ela não deve ter medo de
se expressar, de dar opiniões na história, de explicar o que entendeu a criança ouvinte deve
ter confiança na professora, saber que se ela não conseguir se expressar a professora irá
ajudar com que isso aconteça.

Crianças que ouvem histórias são capazes de interpretá-las, reconhecer mensagens, criar
consciência e tornar-se um cidadão crítico. O momento de contar histórias é um momento
que poderá auxiliar o desenvolvimento da criança. Abramovich (1997, p. 23), diz neste
sentido, “Ouvir histórias pode estimular o” desenhar, a musicalização, o sair, o ficar, o pensar,
o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, escrever, ouvir, sendo assim, percebemos a
importância deste momento na educação infantil, momento o qual, deve ser muito bem
planejado e desejado por todos os envolvidos. O ato de contar histórias é uma arte e envolve
todos em um papel fundamental para o sucesso.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio deste artigo, pudemos observar tudo o que a
contação de histórias pode favorecer na vida de uma criança.
Não existe alguém melhor para falar sobre a literatura
infantil do que a própria criança, pois é ela quem ouve as
histórias e quem poderá interpretá-la, relacioná-la a vida real
e classificá-la como boa ou ruim, dentre outros aspectos.
Grandes autores relatam em seus estudos, que quando uma
história for bem interpretada, provavelmente as crianças
irão lembrar-se dela em sua fase adulta e irão recontá-las a
outras crianças.

Podemos perceber o interesse das crianças sob as histórias, PATRÍCIA FREITAS
especialmente ao ver a capa colorida, com personagens, OLIVEIRA
ilustrações que fazem com que as crianças demonstrem Graduação em Pedagogia pela Faculdade
grande ansiedade para que o livro se abra e o professor, São Camilo (2006); Especialista em Gestão
por meio de sua narrativa, logo desvende tudo o que existe Educacional pela Faculdade Campos
guardado em suas páginas. Elíseos (2017); Professora de Educação
Infantil na Rede Municipal de São Paulo
O momento de contar histórias deve ser planejado, (2010) atualmente no CEI Vereador
desejado e executado com prazer, para que a criança leve Renato Antonio Checchia na Dre Pirituba
essa prática de leitura para toda a sua formação como – Jaraguá.

sujeito, pois a partir do momento em que a criança começa a


relacionar-se com a história e como um momento de prazer,
troca de experiências e aprendizagem.

A contação de histórias, ao contrário da percepção equivocadas de algumas pessoas,
não está em desuso, nunca esteve, ela está bem viva e difusa em toda a sociedade, o que
ocorre é que seu reconhecimento ainda não tenha alcançado a plenitude de acordo com seu
verdadeiro valor.

Recomenda-se que em todas as unidades de educação infantil, elaborem projetos de
leitura, nos quais as crianças possam levar livros emprestados para junto com sua família
possa explorá-los, leituras em grandes grupos dentro da escola e até mesmo teatros, em que
a contação de histórias sejam os principais personagens.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: Gostosuras e Bobices. São Paulo: Spicione, 1997.

BRASIL. Educação, Ministério e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental;


Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil Brasília: MEC/SEF, 1998. v. 1.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: Teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna,
2002.

GOÉS, Lucia Pimentel. Introdução a Literatura Infantil e Juvenil. 2. Ed. São Paulo: Pioneira,
1991.

MEIRELES, Cecília. Problemas de Literatura Infantil. 4 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1984.

SCHERMACK, Keila de Quadros. A contação de histórias como arte performática na era


digital: convivência em mundos de encantamento. 2012. Disponível em: Acesso em: 20
Maio 2018.

ZILBERMAN, Regina; LAJOLO, Marisa. Um Brasil para Crianças: Para Conhecer a Literatura
Infantil Brasileira: Histórias autores e textos. 4 ed. Global Univer

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DA CULTURA
INFANTIL:
NEGRAESPAÇO
NO BRASILa
DE APRENDIZAGEM , EXPERIMENTAÇÃO E
SOCIALIZAÇÃO

A INFLUÊNCIA DA LITERATURA INFANTIL


FOMENTANDO O DESPERTAR LEITOR
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Vivemos um momento histórico e cultural ímpar, um paradoxo na pequena
infância, onde está etapa do início da Educação Básica, ou seja, a Educação Infantil se
encontra em destaque, e tornou-se objeto de muitos estudos e pesquisas, em todas as áreas
da Pedagogia, Psicologia, Neurociências entre outras ciências, que são capazes de influenciar
as experiências de aprendizagens. Contudo nesta etapa da infância que é muito importante
a ênfase nos campos de aprendizagem, e verifica-se que evidências neurocientíficas vem
ressignificando esse campo de aprendizagens da neurociência, assim, não podemos deixar
de perceber que é fundamental não só a compreensão da literatura presente na infância,
tal qual, a importância da formação inicial continua do professor favorecendo a mediação
histórico cultural das infâncias garantindo assim, as especificidades da criança pequena na
Educação Infantil.

Palavras-Chave: Literatura Infantil; Formação; Educação infantil.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO de Literatura Infantil na pequena infância


precisamos considerar as vivências dessa
Considerando assim, as diferentes criança no contexto em que se encontra
infâncias históricas e culturais que vivenciam inserida, percebendo quais os benefícios
concomitantemente a Educação Infantil, que a Literatura poderá causar na pequena
devemos destacar a importância fundamental infância.
que a Literatura exerce sobre a vida humana,
e em especial para a criança pequena. Se através da Literatura infantil a criança
poderá resolver entraves do dia a dia,
Em vista dos argumentos, queremos formando assim sua própria identidade,
aprofundar de que maneira a literatura sendo através do estímulo a criança se
poderá afetar não só a criança na pequena intimizará que universo de maravilhamento
infância, como também paulatinamente para que é a literatura infantil.
vida inteira.
Porém, nem todos, da Instituição de
Entende-se que para que o professor Educação Infantil conhecem os benefícios
tenha propriedade ao ensinar a criança sobre de ser ler uma obra literária para a criança
Literatura Infantil, é preciso que o mesmo pequena cotidianamente, podendo
revisite sua formação inicial e continua. desenvolver sua própria compreensão de
mundo.
Tendo em vista os aspectos observados,
cabe a todos educadores da infância investir
no conhecimento teórico, como também PERCURSOS DA
revisitar as memórias da própria infância, LITERATURA INFANTIL
fazendo uma reflexão para saber qual a
melhor maneira de mediar o ensino da Partindo do pressuposto que vivenciamos
Literatura Infantil na Educação Infantil.A na contemporaneidade diferentes infâncias
Influência da Literatura Infantil fomentando na Educação Infantil. Infâncias que, se
o despertar leitor na Educação Infantil. apresentam em contraste com as infâncias
de décadas anteriores, com crianças ativas
Em virtude do que foi mencionado, o com as tecnologias móveis, advindas de
objetivo específico desse trabalho é destacar famílias singulares.
a criança como agente transformador da
história, através do acesso as práticas Nesse sentido constituindo nova
culturais. concepção de criança e pequenas infâncias
ímpares. Kuhlmann Junior (2001) destaca
Dessa forma para ter uma ação docente que, “pensar a criança na história significa
com prosperidade ao mediador o ensino considerá-la como sujeito histórico e isso

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Revista Educar FCE - Março 2019

requer compreender o que se entende A autora enfatiza que, através da literatura


por sujeito histórico”. Pensar as crianças possibilita a criança a vivenciar ludicamente
concretas, na sua materialidade, no seu no cotidiano a resolução de entraves, o sonho
nascer, no seu viver ou morrer, expressam do impossível através do imaginário entre
a inevitabilidade da história e nela se fazem outros sentimentos que se desenvolvam na
presente nos diferentes momentos. infância.

Atualmente verifica-se a necessidade Sendo assim, o desenvolvimento do


da Educação Infantil se constituir em imaginário na pequena infância, ou seja,
espaços contemplados para as vivências na Educação infantil quando vivenciado
dessas infâncias, privilegiando a criança coletivamente, envolve as crianças com
pequena com atividades que compõe ideias, tornando-as transformadoras de
campos de experiências para o seu pleno situações, na qual intimizam e interpretam o
desenvolvimento, sendo a Educação Infância mundo e o contexto no qual se encontram
fase essencial de aprendizagens diversas. inseridas.

Contudo, observa-se de muitos campos de Destaca Abramovich (1977), quando as


aprendizagem a serem desenvolvidos nessa crianças ouvem histórias, passam a visualizar
primeira etapa da Educação Básica. Entre de forma mais clara, sentimentos, que
os campos que se destacam, a literatura têm em relação do mundo, as trabalham
infantil por ser uma forma de transmissão de problemas existenciais típicas da infância
valores culturais e históricos de diferentes como medo, sentimento de inveja, de
gerações para gerações, favorecendo a carinho, curiosidade, dor, perda, além de
construção da identidade da criança, sendo inserirem infinitos assuntos.
que, também recentemente através de
pesquisas, afirma-se que a literatura pode [...] ler histórias para crianças, sempre, sempre
formar a mente humana, assim contribuindo [...] É poder sorrir, rir, gargalhar com as situações
para aprendizagem infantil. vividas pelos personagens, com a ideia do contar
ou com o jeito de escrever dum autor, então poder
ser um pouco cúmplice desse desenvolvimento
De acordo com Coelho (2000). A Literatura
de humor, de brincadeira, de divertimento [...] É
Infantil é, antes de tudo, literatura: ou
também suscitar o imaginário, é ter curiosidade
melhor é arte: fenômeno de criatividade
respondida em relação a tantas perguntas, é
que representa o mundo, o homem, a vida,
encontrar outras ideias para solucionar questões
através da palavra, na verdade ela funde os como as personagens fizeram [...] (Abramovich,
sonhos com a vida prática, o imaginário e o 1977, p.17).
real, as ideias e suas possíveis realizações.
Assim, na perspectiva de destacar a
fundamental importância que a Literatura

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Revista Educar FCE - Março 2019

Infantil tem na constituição da criança na Já segundo Coelho (1987), os primeiros


pequena infância da Educação Infantil, registros dos contos de fada de 4000 A.
discorremos sobre o breve percurso do início C., feitos pelos egípcios, com o “livro do
da Literatura Infantil no Brasil. mágico”. Na sequência aparecem na Índia,
Palestina (velho testamento) na Grécia
Sendo, dentre as mais diversas clássica, sendo o Império Romano o principal
manifestações de arte destaca-se a literatura divulgador das histórias mágicas do Oriente
por tocar profundamente disseminando para o Ocidente. A materialidade sensorial
heranças e valores culturais de uma do Oriente, com a luxuria da Arábia, Persa,
comunidade e até de uma civilização sendo Irã e Turquia, se contrapunham à Cultura dos
através da linguagem que se distingue os Celtas e Bretões no ocidente, cheia de magia
homens das demais criaturas, enfatizando e espiritualidade.
assim a fundamental importância da
Literatura na contemporaneidade, que se Diversas pesquisas e estudos afirmam
originou no passado. que até o século XVII não existia a categoria
“Infância”, as crianças sempre educadas em
De acordo com Cândido (1972) o autor casa, educação não formal, onde as crianças
afirma que, a literatura de todos os povos aprendem histórias apropriadas para adultos.
se originou oralmente. Apesar de surgir
epistemologicamente (da palavra do latim De acordo com Amarilha (1997) afirma
littera, letra) a literatura surgiu no berço da que somente no termino do século XVIII que
humanidade, quando o homem ainda não se conquista um conceito de acordo com as
tinha a noção da escrita, e ainda se viviam especificidades da infância. Com a intenção
em tribos nômades, convivendo com os de educador a nova geração vigente intuito
fenômenos naturais, aos quais almejavam de ensiná-los nos moldes civilizatório que
compreender através dos primeiros cultos se impunham, com a Revolução Francesa
religiosos. Lendas e canções transmitidas e o processo da individualização, em toda
oralmente por gerações através da a Europa, que se destacava também como
pictografia, ou seja, pinturas e desenhos espaços propriamente para produção
simbólicos nas paredes das cavernas, que cultural ao público emergente iniciando
passaram a registrar as tradições, oralmente assim, uma literatura didática, na qual se
e paulatinamente através também das usava a ludicidade apenas como recurso
tabuletas os traços, papiros e pergaminhos. para a instrução. E a partir desta fase os
Afirma o autor que sendo desse jeito que livros dos adultos passaram a ser adaptados
as primeiras obras literárias conhecidas são para as crianças, com diversas fontes como:
registros escritos de composições advindas contos populares, lendas e fabulas se iniciou
de remota tradição oral. no primeiro repertório de literatura para as
crianças, que não tinha um objetivo estético,

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Revista Educar FCE - Março 2019

onde se destacava o perfil institucional Assim, afirma Coelho (1991) autores que
pedagógico. escreveram livros para crianças no período
de transição entre os séculos XIX e XX
Ainda conforme Amarilha (1997) que introduziram e patrocinaram a literatura,
destaca que no Brasil a Literatura Infantil mas somente com o sucesso de Monteiro
demorou de se manifestar. E em torno de Lobato e Tales de Andrade, contudo editoras
1900 que podemos traçar os primeiros começaram contemplar o Gênero. Porém
textos dessa natureza, contudo aqui no Brasil não garantia a autonomia das publicações
a Literatura Infantil também ela apresenta voltadas para escolarização e mantendo sob
com características encontradas na Europa. “controle” à criatividade e a fantasia que eram
disciplinadas com isso o estado controlava a
Portanto partimos do pressuposto de publicação de livros destinados à infância.
diversas pesquisas e estudos sobre a
implantação da Literatura no Brasil não surgiu Coube a Monteiro Lobato (1882-1948) a tarefa
espontaneamente e nem se originou do povo. de instaurar o “divisor de águas” que separa
Sem desconsiderar a existência de alguns o Brasil de ontem e o Brasil de hoje. Fazendo
registros datados do século XIX, a produção a herança vigorar sobre o seu tempo, Lobato
alcança o caminho criado que a Literatura Infantil
e publicação de fato foram entre os séculos
estava necessitando. Rompe, estereótipos e abre
XIX e XX, que introduziram e patrocinaram
as portas para novas ideias e formas que o nosso
a Literatura, com o surgimento de livros de
século exigia (Coelho, 1991, p.223).
literatura e livros de educação religiosa para
crianças e jovens com a intenção de incentivar
a valorização nacionalista, destinados para a A autora ainda destaca a popularização
instituição escolar, com intuito de disciplinar da Leitura Infantil, porém o que mais se
os alunos. destacou foi o escritor Monteiro Lobato,
foi o escritor que marcou a Literatura no
Enfim Monteiro Lobato é um marco na passado e ainda hoje na contemporaneidade
Literatura Infantil Coelho (1985), sendo que que iniciou sua carreira infanto-juvenil com o
em 1937, consolidaram as bases democráticas livro “A menina narizinho arrebitado” pelo o
da Educação Nacional, atingindo vários que desencadeou muitos outros títulos que
setores com as ideias reformistas, ou seja, o misturavam a ludicidade, o encantamento
da cultura concomitantemente a Literatura dentro do universo do faz de conta.
alcança um grande patamar, galgando a
atenção das autoridades, resultando assim, Sendo que, através desse percurso
na criação da Biblioteca Infantil Monteiro podemos compreender a importância
Lobato, em 1936 em São Paulo. histórica cultural e social da Literatura
Infantil para pleno desenvolvimento.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A IMPORTÂNCIA DA sendo de suma importância, que os adultos


LITERATURA INFANTIL responsáveis ficarem alertas, se intuem a
formar gerações felizes na vida.
FOMENTANDO O DESPERTAR
DO PEQUENO LEITOR NA Assim convocando as instituições
EDUCAÇÃO INFANTIL educacionais assegurar o pleno
desenvolvimento de crianças tão pequenas.
A Educação Infantil contemporânea
tem o grande desafio de compreender as (...) Ambas as instituições famílias e escolas
especificidades dessa fase tão essencial da estão enraizada em identidades sociais, étnicas,
pequena infância. culturais e religiosas. Portanto a convivência
produtiva com padrões e valores familiares e
comunitários na instituição de Educação Infantil
Considerando que a Educação Infantil
é necessária para manter relações que discutam
do século XXI é a primeira etapa da
e reflitam sobre as identidades e as diversidades
Educação Básica, onde convivem as
das crianças (RCNEI, 1998, p.33).
diferentes infâncias, advindas de diferentes
comunidades, cidades, estados e até países,
com variadas construções sociais e perfis de Considerando a Educação Infantil
infância, família e sociedade, como também contemporânea como um espaço
de costumes históricos e sociais. contemplado de vivências e de diferentes
aprendizagens construídas cotidianamente
Elias José (2009) o autor enfatiza, que na pequena infância. E nesse novo ensino
toda a sociedade se modificou radicalmente, da infância é fundamental o despertar da
desde os costumes, ou seja, as pessoas criança para o imaginário infantil.
mudaram como também o mundo adulto se
distanciou do mundo infantil. Destacando- De acordo com Kleiman (1992), a autora
se pelos responsáveis que delegam a considera a leitura um ato cognitivo na
responsabilidade de cuidar da criança a medida em que envolve processos cognitivos
terceiros, muitas vezes a criança cresce múltiplos como percepção e reflexão sobre
sem referência de alguém da família, pois um conjunto complexo de componentes.
na contemporaneidade todos tem objetivos E também é um ato social e envolve pelo
para vencer. menos dois sujeitos-leitor que interagem
entre si, a partir de objetivos e necessidades
Outras vezes, destaca o autor, as crianças socialmente determinados. De sorte que,
só tem a companhia das máquinas, ou seja, TV lemos o mundo, quando lemos espetáculos
e, às vezes o computador, que precocemente teatrais, novelas, jornais, romances, textos
alimentam a alma e o imaginário com o técnicos, cartas, folders, etc. diferentes
consumismo e o prazer no viés negativo culturas, das habilidades comunicativas

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Revista Educar FCE - Março 2019

entre outros benefícios que só as histórias de livros para escolha das crianças. Ainda
podem proporcionar na pequena infância. assim, existem algumas escolas que não
priorizam a leitura, como algo essencial da
Assim, enfatiza o RCNEI (1998). É de infância, não investem ao menos em uma
grande importância o acesso por meio da biblioteca para fácil acessibilidade e incentivo
litura pelo professor a diversos tipos de para o aluno. Contudo, priorizam apenas
natureza escritas, uma vez que isso possibilita as necessidades físicas, ignorando assim
as crianças o contato com práticas culturais a fundamental necessidade de fortalecer
mediadas pela escrita. Comunicar práticas de também o espírito, a emoção e a inteligência.
leitura permite colocar as crianças no papel de
“leitoras” que podem relacionar a linguagem Promovendo futuramente um adulto
com os textos, os gêneros, os portadores capaz, que fará sua leitura de mundo,
sobre os quais eles se apresentam: livros, capacitado para se expressar através da
bilhetes, revistas, cartas, jornais etc. leitura e escrita, ou seja, preparado para vida.

Além disso, a autora Abramovich (1993) Nesse sentido, Kramer (2003) destaca
afirma que, é de suma importância para a a importância de a criança poder vivenciar
formação de qualquer criança ouvir muitas outros contextos.
e muitas histórias. “Escutá-las é o início do
aprendizado”. [...] as crianças de classes populares
fracassam porque apresentam “desvantagens
Assim, através do universo literário infantil socioculturais”, ou seja, carência de ordem social.
comprometido com as especificidades da Tais desvantagens são perturbações, ora de
origem intelectual ou linguística, ora de origem
criança a mesma, adentra um universo
afetiva (KRAMER, 2003, p.32).
encantado mágico, no qual a criança poderá
vivenciar a ludicidade e o faz de conta, com
muito mais apropriação do qual a criança Com essa perspectiva Amarilha (1993)
que se já encontra alfabetizada. enfatiza que, a literatura cria a possibilidade
de vivenciar o simbólico dualmente em
Destaca Elias José (2009) que muitos diferenciados níveis, sendo, o nível da
responsáveis nem sempre oferecem o livro palavra, quando requer a atenção sobre a
infantil para criança, sendo a função do livro própria criança, concernindo a literatura
de despertar o imaginário da criança através um produto de linguagem. A autora afirma
do maravilhamento e encantamento. que, na literatura, a palavra é o elemento
de maior destaque, pois, ela cria o universo
Por outro lado, o autor afirma que, as escolas imaginado, tornando-se necessário para
compromissadas com a boa formação da devida compreensão de uma história,
infância, oferecendo variadas possibilidades entendendo-se as palavras que são códigos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Contudo, o outro nível em que se POSSÍVEIS AÇÕES ATRAVÉS


efetiva é o da criança que se identifica DA LITERATURA INFANTIL
com os personagens de uma narrativa,
proporcionando assim, não só ao leitor,
NA PEQUENA INFÂNCIA E A
mas ao ouvinte a possibilidade de viver o FORMAÇÃO DOCENTE
fascínio do imaginário na viagem através da
literatura como leitor e ouvinte. Podendo Enfim, a cada fase do desenvolvimento
assim, resolver angustia e entraves através na Educação Infantil é singular, é necessário
da imaginação e fantasia cotidianamente, ou a plena atenção no olhar do professor das
seja, iniciando a compreensão do mundo que infâncias para saber ensinar todos esses
a cerca. saberes que são socialmente construídos de
acordo com a faixa etária do desenvolvimento
De acordo com as Orientações Curriculares, e até para poder ampliar o contexto que a
Expectativas de Aprendizagem e orientações criança se encontra inserida. Ainda embasados
Didáticas da Educação Infantil (2007) afirma nas Orientações Curriculares (2007 p.86)
que cabe ao professor também despertar
os diversos tipos, que são identificados de BERÇÁRIO 1 – No dia a dia o professor
acordo com seu perfil comportamental e, deverá fazer a mediação para que a criança
entre eles estão: leitores que gostam de possa perceber a entonação de voz, não só
comentar ou indicar algo que jê leram, outros na contação de história, como também ao se
que preferem dividir suas leituras nas férias, comunicar cotidianamente.
dividindo com seus pares as diferentes
interpretações conforme a sua compreensão BERÇARIO 2 – As narrações do professor, de
da leitura, há os que problematizam o que se contos ou repetição, trechos de histórias, poderão
evidencia, nos textos literários ou não. Como ter as expressões próprias do educador como
há também, os que antecipam o contexto ferramenta para despertar o interesse da criança.
linear, os que gostam de revisitar os trechos
que apreciavam, os que desenvolvem MINI-GRUPO – As crianças tem o
uma simpatia pelo autor, tal qual os que professor como exemplo, imitando o
contestam o autor. Compreendendo que a comportamento leitor do professor,
criança aprende através das interações com através dos gestos, posturas a maneira
seus pares, com os adultos educadores da como o professor manuseia o livro, entre
comunidade escolar. outras, reconhecendo os livros de histórias
que são lidas para crianças no cotidiano,
demonstrando ao professor sua preferência,
e até reconhecendo partes da história
através das ilustrações e imagens ou por se
lembrarem de passagens da história.

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Revista Educar FCE - Março 2019

PRIMEIRO-ESTÁGIO – Ao acompanhar De acordo com Elias José (2009) O Livro


as histórias lidas pelo professor, a criança infantil, para crianças quando ela lê ou
ao ouvir poderá distinguir uma narrativa quando ainda não é alfabetizada (caso da
oral e a leitura de histórias reconhecendo Educação Infantil) leem para ela, torna-se
o repertório de contos de fada, ou seja, um brinquedo que fomenta o interesse pelas
as narrativas clássicas e modernas que o coisas com a sensibilidade, criatividade,
professor lê no dia a dia, acompanhando inteligentes e belas. Sendo assim, aprende-
trechos das histórias de repetição, sempre se a vivenciar os entraves cotidianos e
com base nas imagens, conhecendo os apropriando-se da realidade que nos cerca.
diferentes usos dos livros.
Contudo, crianças que não são incentivadas
SEGUNDO E TERÇEIRO ESTÀGIOS – a ampliarem seu repertório imaginário
Nessa fase o professor deverá fomentar através da leitura literária, pela dramatização,
na criança a usar elementos da linguagem pela música e das artes plásticas, se tronarão
que se escreve no reconto de narrativas, adultos com os próprios sentimentos.
recontando histórias de repetição ou
acumulativas apoiados nos livros, mantendo Ampliando no dia a dia não só o vocabulário
a linguagem que se escreve. Podendo da criança pequena, como também as
assim, se apropriar da narração de histórias vivências na Educação Infantil, que poderá
usando dos próprios recursos expressivos afetar essa criança para a vida toda.
embasados nas narrações do professor.
Para que se tenha plena compreensão das
Segundo a autoraFerreiro (1992) destaca produções dessa fase da infância épreciso
que que, o professor não só revisite e amplie sua
formação como também revisite a própria
O ato de leitura é um ato mágico. O que existe infância e possa recordar o maravilhamento
por traz dessas marcas para que o olho incite de ouvir uma história e da presença da
a boca a produzir linguagem? Certamente literatura infantil na sua própria infância.
é uma linguagem peculiar, bem diferente
dacomunicação face a face. Quem lê não olha
Nesta perspectiva é preciso reconhecer
para o outro, mas para a página (ou qualquer
os variados tipos de infância contemporânea
outra superfície sobre a qual as marcas foram
que se relacionam na Educação Infantil
realizadas). Quem lê parece falar para o outro,
através do social, do histórico e do cultural
porém o que diz não é a sua palavra, mas a
palavra de um Outro que pode ser desdobrada
de cada uma dessas crianças. É de suma
em muitos outros saídos não se sabe de onde, importância, para que não só o professor,
também escondidos atrás das marcas (Ferreiro, mas para que também todos os educadores
1992, p.35) da instituição de educação infantil aplicarem
sua formação e revisitarem suas próprias

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Revista Educar FCE - Março 2019

infâncias, afim de ressignificar e compreender melhor o universo da criança, na pequena


infância, que ainda não está alfabetizada, mas que transitam pelo letramento e a leitura de
mundo, contemplada na Educação Infantil.

Tratando-se a Educação Infantil um período de grandes aquisições, não só neurológicas


como fisiológicas, comportamental de acordo com o Referencial Curricular Nacional para
Educação Infantil (1998) a criança na infância ainda não se apropriou da leitura propriamente
dita, tem no professor um mediador, pois, quando o professor lê para crianças a mesma se torna
um ouvinte assim, a escrita transforma-se em uma forma de leitura para crianças pequenas.
Favorecendo as vivências, podendo o professor da pequena infância, propiciar no dia a dia
a leitura do mesmo gênero, para que as crianças criem uma intimidade e reconheçam cada
gênero, ampliando o repertório de histórias, tal como, propiciando as trocas de informações,
opiniões e até comentários.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entende-se que, o acesso à Literatura Infantil por meio
da mediação do professor ao amplo universo literário,
comprometido com as especificidades da infância, propicia à
criança não só as vivências de diferentes infâncias culturais
e históricas, como há também outras realidades, e vivências
através do maravilhamento e encantamento. Adentrando
assim, a um universo mágico, que tanto a infância
contemporânea necessita na atualidade, para que através
dessa prática poderá resolver por si própria os entraves
cotidianos, reconheçam diversos gêneros literários como PATRICIA MEG
também ampliando não só o vocabulário como o repertório AYRES SOUSA
de história, criando oportunidade de a criança vivenciar o
Graduação em Pedagogia pela
simbólico. Universidade Paulista UNIP (2006);
Especialista em Pós Docência Universitária
Dado o exposto, poderá assim, a criança na educação pela Universidade Paulista UNIP (2012);
Infantil transitar tanto pelo letramento, quanto pela literatura Professora de Educação Infantil no CEI
de mundo tão apropriada na educação infantil. Ver. Laercio Corte.

E se levando acreditar que a formação inicial e continua do


professor de educação Infantil, poderá fazer toda a diferença
na mediação de acordo com as especificidades da criança
pequena.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

A NEUROPSICOPEDAGOGIA
E A EDUCAÇÃO
RESUMO: O presente trabalho quer ser um instrumento a mais sobre a temática da
Neuropsicopedagogia enquanto ciência que estabelece seu rol de estudos de como os
aspectos da neurociência podem ajudar nos processos de ensino aprendizagem. Por isso,
discorreremos sobre os conceitos básicos da Neuropsicopedagogia, seu campo de atuação,
de quanto o emocional e o social são importantes para o cognitivo e a aprendizagem e
quão importante é compreender como funciona a memória e compreender seus níveis é
imprescindível para a prática pedagógica. Ainda trataremos dos questionamentos de como
as dificuldades psicomotoras e o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade podem
ser um fator dificultador para as relações de aprendizagens e os desafios que essas situações
colocam diante do universo escolar.

Palavras-Chave: Neuropsicopedagogia; Educação; Memória, Dificuldades de Aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO ocorrências que se apresentam no percurso


de vida de cada indivíduo. Compreender
Sabendo que a Neuropsicopedagogia esses mecanismos e como eles funcionam
é o conjunto dos saberes constituídos nos processos de ensino crucialmente é
historicamente da Neurologia, da um aliado dos profissionais de educação no
Psicopedagogia, da Fonoaudiologia e a Terapia sentido da promoção das aprendizagens e
Ocupacional, podemos assim iniciar afirmando como ela se dá no cotidiano escolar.
que entender cada vez mais profundamente
como a neuropsicopedagogia pode auxiliar É importante dizer que algumas das
profissionais da educação na compreensão disfunções cognitivas podem ser silenciosas
de fatores cognitivos, o comportamento e quase imperceptíveis, por isso, projetos
e a linguagem desembocando assim em que visem desde ações de políticas públicas
possíveis melhorias nos processos de ensino até pedagógicas realizadas no chão da sala
e aprendizagem. de aula, como por exemplos, por meio de
jogos diversos, práticas esportivas variadas,
Diante disso, convém dizer que múltiplos métodos educativos e a própria
percepção dos familiares e dos aspectos da
Por meio das funções executivas, é que o ser vida social do educando.
humano não só será capaz de gerar pensamentos
e respostas inteligentes mas também de Falando sobre o meio em que o educando
analisar, filosofar, pensar sobre o pensamento, vive e convive, é importante deixar claro
programar ações, gerar, retardar ou suprimir
que, Piaget na verdade não abordou
respostas, desenvolver a teoria da mente – por
somente a questão cognitiva como também
onde será capaz de antecipar pensamentos e
fez relações de como o conhecimento se dá
comportamentos de outras pessoas – controlar
na ação do educando com o meio em que
e regular o processamento da informação no
cérebro e, principalmente, aprender. (ROBERT
está inserido, posto isso, Piaget afirma que
METRING, 2016, p. 26) “o conhecimento resultaria de interações
que se produzem no meio caminho entre os
Tomando como premissa a afirmação acima, dois, dependendo, portanto, dois ao mesmo
fica claro a necessidade de compreender tempo” (PIAGET, 1973).
nos espaços escolares como os princípios
fundamentais da neuropsicopedagogia
podem nortear as ações pedagógicas com O COGNITIVO, O
vistas a verificar como se constituem as EMOCIONAL E O SOCIAL
análises que as pessoas fazem de situações
diversas, sobre como refletem e pensam É de amplo conhecimento que desde o
sobre suas ações cotidianas ou esporádicas desenvolvimento embrionários, passando
e assim, como antecipam possíveis pela maturidade, pelo envelhecimento e pela

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Revista Educar FCE - Março 2019

morte, esses são fenômenos sequencias da inteligência artificial, a Filosofia, a Psicologia,


existência de cada ser humano, inclusive, a Linguística e a Antropologia).
naquilo que tange ao sistema nervoso. Dessa
forma, é importante destacarmos que a Retomando Piaget (1973), o pesquisador
inteligência também seguirá uma organização é enfático ao estabelecer quatro fases
de sequência, haja vista que o sistema do desenvolvimento que acontecem
nervoso está em constante transformação. cronologicamente um após o outro,
mesmo que haja uma variação de ritmo de
Dessa forma indivíduo para indivíduo devido a questões
de ordem cultural ou social. Essas quatro
O desenvolvimento neural segue uma fases são conhecidas como sensório-motor,
sequência de etapas que conduzem à gradativa pré-operatório, operatório concreto e
especialização dos neurônios juvenis, à sua operatório formal. Cada uma dessas fases
agregação e à formação de circuitos neurais entre apresenta características específicas de
eles. As células nervosas se dividem várias vezes,
organização, compreensão e adaptação de
mas em certo momento interrompem o ciclo
aprendizagens que após serem superadas
celular, migram para locais de destino, adquirem
ou apreendidas elevam o educando à outra
suas características morfológicas, funcionais e
fase sucessivamente, num movimento
químicas, emitem axônios que crescem a locais
distantes e lá estabelecem sinapses. (LENT apud
de assimilação e acomodação de saberes
Marta Pires Rocha, 2016, p 37) fazendo com que o educando desenvolva
habilidades de realizar tarefas perceptivas,
Uma exemplificação clara da afirmação motoras e cognitivas.
acima é que a neurociência em seus
vários níveis de enfoque, particular ou No mesmo conceito de compreensão de
interdisciplinarmente apresenta que o aspectos da aprendizagem, o pesquisador
cérebro humano pode ser estudado a partir Damásio se debruça sobre os fundamentos
do seu funcionamento celular; dos sistemas neurais da razão e apresenta como a
funcionais (visão, audição, motor, paladar etc); capacidade de refletir e fazer inferências de
do comportamento das estruturais neurais uma forma organizada podem ocorrer
(sono, atenção, emoção); do comportamento
cognitivo (comportamentos, capacidades, ... não tenham se desenvolvido, quer em termos
aspectos da linguagem, consciência, tomada evolutivos, quer em termos de cada indivíduo
de decisão e planejamento). em particular, sem a força orientadora dos
mecanismos de regulação biológica, dos quais
a emoção e o sentimento são expressões
‘Além dos citados acima, Rocha (2016,
notáveis. Tem sido tão óbvio que a mente
apud GARDENER, 1994, p. 38) defenderá
surge da atividade dos neurônios, que apenas
que devemos incluir nesses estudos
se fala desses como se o seu funcionamento
situações específicas que abarcam a
pudesse ser independente do funcionamento

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Revista Educar FCE - Março 2019

do organismo. Mas, à medida em que fui


investigando perturbações da memória, da
A MEMÓRIA: FATOR CRUCIAL
linguagem, e do raciocínio em diferentes seres PARA O SUCESSO ESCOLAR
humanos com lesões cerebrais, a ideia de que a
atividade mental, dos seus aspectos mais simples Sobre a memória, pode-se afirmar que é
aos mais sublimes, requer um cérebro e um corpo uma habilidade necessária e importante para
propriamente dito, tornou-se notoriamente o pleno desenvolvimento do ser humano a
inescapável. (Damásio, 2014, p.41) fim da promoção de uma vida saudável e
produtiva e que nascemos com uma estrutura
Embora, Piaget e Damásio apresentem anatômica cerebral pronta para codificar,
modelos interacionistas, ambos os armazenar e recuperar informações. No
pesquisadores enveredam-se por caminhos entanto, somente isso não é suficiente para
diferentes em seus estudos e enfoques. garantir uma performance ideal, uma vez
Piaget traz afirmações no campo do que ao longo da existência de cada indivíduo
desenvolvimento de habilidades essenciais à precisa-se haver estimulação para que
vida e as questões de habilidades adaptativas. possamos alcançar as estruturas superiores
Já Damásio tem seu enfoque na gênese, almejadas. Isto é, nascemos e começamos a
nos modos de conhecimento até o nível de receber uma série de informações, mesmo
pensamentos altamente elaborados, como que de forma incipiente, mas que serão de
por exemplo, a constituição do pensamento fundamental necessidade para a aquisição
científico. Isso não significa que um ou de competências futuras, tais como, a
outro autor é superior ao outro no que traz linguagem, o desenvolvimento motor, as
de contribuições ao campo científico, uma lembranças de episódios, espaços, pessoas
vez que ambos têm como tema central etc.
a compreensão do funcionamento do
organismo como um todo e não somente o Sabendo que a memória embora não é
cérebro. uma estrutura, mas um mecanismo atrelado
ao sistema nervoso estabelecendo seu
Um dado importante a se mencionar é funcionamento por meio de cooperação e
que Piaget em seus estudos não estabelece integração e que nos auxilia na recuperação
as relações entre as correspondências entre e retenção de informações, podemos afirmar
as estruturas celulares e a molecular da que a memória é de suma importância para o
cognição. Isso, muito provavelmente, por estabelecimento das capacidades cognitivas,
que durante seus estudos não havia ainda uma vez que codificação, armazenamento e
recursos tecnológicos que viabilizasse seus recuperação de informações são essenciais
estudos nesse campo. no processo de ensino-aprendizagem.

É importante dizer que determinadas


situações são mais fáceis ou difíceis de

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Revista Educar FCE - Março 2019

serem memorizadas. É o caso, por exemplo, informações recebidas pelos professores


de uma criança que sofre bullyng na escola. em sala de aula. Por isso, a real necessidade
Pelo bullyng se apresentar como uma de estímulos diversificados no ambiente
ameaça à criança, determinadas áreas do escolar, desde a repetição de informações
cérebro são acionadas numa tentativa de até a assimilação por associações.
defesa e deixando marcas psicológicas. Da
mesma forma, situações de intenso prazer, Destacaremos a seguir os tipos de
como ganhar um campeonato ou um torneio memória:
deixará marcas positivas na vida da criança.
Memória sensorial: ligada aos nossos
BUENO e OLIVEIRA (2004, p. 150), irão órgãos sensoriais (visão, audição, olfato,
afirmar que a consolidação da memória se paladar, tátil) não depende de nossa
dará primordialmente pela amígdala cerebral consciência para que seja acionada. Sendo
que faz parte do sistema límbico, sobretudo assim recebemos o estímulo e imediatamente
se nessa experiência houver algum tipo de a memória sensorial entra em ação, caso seja
emoção envolvida. uma informação importante é armazenada,
se não, é descartada.
Alguns estudos com neuroimagem também
foram realizados, tendo eles confirmado Memória imediata ou de curtíssimo
a participação da amígdala na modulação prazo: relacionada às áreas pré-frontais é
da memória emocional, especialmente na a capacidade de reter palavras, números
codificação. (Cahill, apud Bueno e Oliveira,
e imagens. Normalmente dura de 1 a 3
2004, p.150).
minutos.

É comum haver questionamentos do Memória de curto prazo: também conhecida


porquê não esquecemos de como dirigir um como memória primária ou depósito de curto
carro, andar de bicicleta ou dar laços nos prazo é limitada a uma quantidade pequena
sapatos, mesmo que fiquemos muito tempo de informações, ou seja, sete itens. Dura
sem realizar tais ações e, em contrapartida, de alguns minutos até 6 horas. Salientamos
esquecemos com frequência conceitos e que para a informação recebida dure até
conteúdos que aprendemos na aula do dia 6 horas, ela precisa ser importante para o
anterior. indivíduo que a recebeu. Por exemplo, para
uma criança sai de casa, vai até o vizinho e
Para compreender esses fenômenos, é de pede o número de telefone que a mãe lhe
suma importância compreender que há cinco solicitou para o vizinho e o repassa pra sua
tipos de memória que atuam de maneira mãe num espaço de 30 segundos e depois
distinta no cérebro do aluno armazenando vai brincar na rua, jogar vídeo game e após
e processando de diferentes formas as seis horas não lembra mais do número não

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há a indicação de um problema de memória, Sobre o déficit de memória


pois o número do vizinho não é importante
para essa criança. Os déficits de memória da fonte estariam mais
presentes em crianças, cujos lobos frontais
Memória operacional: conhecida também possuem desenvolvimento mais lento, e em
como memória de trabalho. Esse tipo de idosos, com propensão a neuropatologias com o
avançar da idade, bem como em esquizofrênicos
memória tem como função reter uma
cujos déficits de monitoramento da fonte
informação por um curto período de tempo com
estariam em forma de delírios. (Sampaio, 2014,
a finalidade de analisar, selecionar, e comparar
p.58)
a informação ou informações recebidas com
outras da memória de curta ou longa duração. É
na memória operacional que se estabelecem as Problemas endócrinos, metabólicos,
tarefas cognitivas de raciocínio, compreensão de depressão, ansiedade, uso de drogas,
e resolução de problemas. cansaço, distúrbios do sono, estresse e má
alimentação podem dificultar a capacidade
Memória de longo prazo: conhecida de retenção de informações e devem
também como memória de longa duração. É ser motivos de investigação neurológica,
formada pela memória declarativa ou explícita psicológica, psicopedagógica, da família e da
e a memória não declarativa ou implícita. A escola.
memória de longo prazo não declarativa se
dá nas situações de práticas de repetição Esses fatores normalmente não afetam
e de condicionamento simples. A memória diretamente a memória, mas sim a atenção
de longo prazo declarativa pode se dar por e a concentração. No entanto, quando
meio de situações onde prestamos bastante muito intensos podem provocar alterações
atenção à informação para compreendê- temporárias da memória. É o caso dos
la ou por realizações de conexões ou conhecidos “brancos’ que ocorrem em
associações entre novas informações ou situações de ansiedade intensa. (Godoy,
informações que já possuímos, é o processo 2004, p.59)
de consolidação. A memória de longo prazo
declarativa está associada a aprendizagem Os alunos costumam ter estratégias
formal e sistemática. próprias para memorizar conteúdos
escolares, no entanto, muitas vezes
Por isso podemos afirmar amparadas em exercícios de memorização
com finalidades de realizarem uma prova. No
Quanto mais tempo um determinado item entanto, quando esses testes passam acabam
permanece no deposito de curto prazo, maior é a esquecendo dos conceitos memorizados pois
probabilidade de que ele venha a ser transferido foram armazenados por um curto período
para o de longo prazo. (Bueno e Oliveira, 2004, do tempo. Diante disso, a simples repetição
p.137)

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para ir bem numa prova sem uma orientação técnicas para memorização poderão melhorar
adequada não é um bom método de estudo, o rendimento escolar dos alunos e identificar
pois em geral são ruins ao longo prazo. possíveis distúrbios de aprendizagem
associados ou não a memória.
Uma estratégia boa e viável é quando o
professor ensina seus alunos a realizar táticas
de memorização com recursos e técnicas DIFICULDADES
adequadas que organizem as informações PSICOMOTORAS E
por meio de códigos, imagens e até mesmo
rimas que se constituirão em situações SUA RELAÇÃO COM
eficazes de aprendizagem efetiva para além DIFICULDADES DE
de provas e testes. APRENDIZAGEM
Uma possibilidade é Estudar as relações que emanam das
dificuldades psicomotoras e as dificuldades
Nossa memória funciona melhor quando as de aprendizagem tem sido cada vez mais
informações são relacionadas de maneira urgente haja vista que, segundo LURIA apud
fazer sentido para nós, principalmente quando FONSECA (p. 103):
podemos relacionar com alguma informação que
já possuímos. Memorizar figuras aleatórias não A qualidade do perfil psicomotor da criança, por
faz sentido para o nosso cérebro, já encaixá- que reflete o grau de organização neurológica das
las em um contexto como o sistema límbico, três principais unidades, está indubitavelmente
responsável por nossas emoções e, como já associada ao seu potencial de aprendizagem,
dissemos anteriormente, o que esta área tende quer em termos de integridade, quer
a ser mais consolidado. (Sampaio, 2016, p. 61) fundamentalmente em termos de dificuldade.

Isto é, realizar associações podem


melhorar o desempenho escolar dos alunos, A primeira unidade funcional regula o tônus
ao passo que compreende-se o contexto do cortical e exerce a função de alerta regulando
que é estudado. as funções vitais durante o sono. Essa unidade
funcional estrutura-se pelo tronco cerebral,
Para situações de aprendizagem onde diencéfalo e as regiões e mediais do córtex.
é primordial memorizar nomes de partes
do sistema digestório, circulatório, ossos A segunda unidade funcional obtém, capta,
do corpo e outros poderá se trabalhar com processa e guarda as informações oriundas
técnica de associações de palavras. do mundo exterior por meio da análise visual
e auditiva e pelo córtex sensitivo. Estrutura-
Diante disso, compreender como a se pelos lobos occiptal, temporal parietal,
memória funciona e quais as melhores regiões posteriores e laterais do neocórtex.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A terceira unidade funcional organiza as escrita explorar tamanhos e formas de letras,


ações conscientes, programa, regula e verifica forma, quantidade realizando comparações
as atividades mentais e a motrocidade. É entre palavras parecidas.
composta pelos lobos frontais e depende da
primeira e segunda unidades para que sua
ação seja eficiente e eficaz. TDAH: DESAFIOS DE
UMA EDUCAÇÃO
Se a Motrocidade está ligada à integração
da tonicidade, da postura, da equilibração CONTEMPORÂNEA
e da musculatura, e por isso, depende O Transtorno de Déficit de Atenção/
do desenvolvimento ósseo-muscular, a Hiperatividade, mensurado pela sigla TDAH,
Psicomotrocidade está atrelada a um campo é um dos transtornos que já se destacam
mais amplo que compreende a regulação desde a infância, assim como por exemplo,
inteligível incluindo como se dá a elaboração, os Transtornos dos Espectro Autista.
planificação, regulação, controle e execução
e assim estão intimamente ligadas ao O TDAH por tratar-se de um transtorno de
desenvolvimento neurológico e motor. origem no neurodesenvolvimento apresenta
suas características acentuadamente em
Por isso, podemos afirmar que a problemas comportamentais e frequentes
Psicomotrocidade une a educação do desatenção e/ou hiperatividade ou mesmo a
movimento corporal e do intelecto, da impulsividade.
ação e do pensamento, das funções
neurofisiológicas e psíquicas. Como já mencionado, por ser o TDAH
um transtorno do neurodesenvolvimento
Diante disso, ressalta-se a importância de seus sintomas são presentes antes mesmo
desde a Educação Infantil, nos primeiros anos da fase escolar e antes da puberdade. Os
do Ensino Fundamental e os professores de sintomas, geralmente, são estáveis ao longo
Educação Física desenvolveram atividades do desenvolvimento da pessoa e seus riscos
que promovam a desenvolvimento da são muito comumente atribuídos a fatores
motrocidade e da psicomotrocidade. genéticos. Um dos principais sintomas,
Atividades essas que envolvam e explorem a como também já mencionado e que chama
motrocidade global, lateralidade, orientação a atenção dos pais e família desde cedo é a
espacial, orientação temporal e equilíbrio. desatenção.
Ainda se faz importante de forma disciplinar
realizar atividades que contemplem noções Por tratar-se de um transtorno de
de direção (em cima e embaixo, dentro e fora, neurodesenvolvimento, é importante que
subir e descer, longe e perto, cheio e vazio) seja detectado quanto mais cedo possível
além de no processo de aquisição de leitura e pois um importante aliado para amenizar

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Revista Educar FCE - Março 2019

tais sintomas é o autocontrole. Posto isso, E quais são esses domínios cognitivos
quanto mais precoce se dá o diagnóstico mais prejudicados? Dentre eles, aqueles de
mais cedo as intervenções poderão diminuir controle executivo, isto é, os que abarcam as
os prejuízos acumulados ao longo do tempo funções executoras revelados em situações
e é, exatamente, aí que a neuropsicologia por que requerem memória operacional,
ser um campo multidisciplinar que estuda os controle inibitório, flexibilidade cognitiva,
processos e as funções mentais do cérebro planejamento e resolução de problemas.
pode ser uma importante aliada na busca de
ferramentas clínicas que auxiliem e interfiram Outros aspectos também podem
nos processos cognitivos e comportamentais ocasionar implicações negativas ao cotidiano
para o entendimento do potencial de aos indivíduos com TDAH, são eles: aversão
adaptação funcional do examinando. a atraso ou espera e recompensas que
não tenham seu efeito imediato. Não é
É importante deixar claro, que os exames raro o TDAH apresentar comorbidades
neuropsicológicos por si só não são suficientes com Transtorno de Oposição Desafiante,
para determinar o diagnóstico de TDAH, pois Transtorno de Conduta, Transtornos de
embora os testes levem em consideração a Ansiedade, Transtornos Depressivos, bem
investigação da quantidade, intensidade e como, outras patologias psiquiátricas. Além
frequência de sintomas comportamentais, disso, especificamente no campo cognitivo
idade e início dos sintomas, ainda é necessário ainda podem apresentar Dislexia, Discalculia
excluir outros problemas de saúde e levar e Déficits Fonológicos.
em conta todos os fatores cotidianos da vida
social do indivíduo. Sem subjugar outros prejuízos, fica
portanto evidente, que entre os campos mais
Conforme afirmam COSTA, PAIVA, afetados da vida do indivíduo com TDAH está
PAULA, MIRANDA e MALLOY-DINIZ (2017, o desenvolvimento nas atividades escolares
p. 70) e que embora um exame não seja suficiente
para determinar clinicamente o TDAH, as
Nem todos os indivíduos apresentarão contribuições da Neuropsicologia realiza
dificuldades, nem todas as dificuldades serão uma função primordial na identificação
permanentes ou generalizáveis e, com alta dos sintomas do TDAH, na investigação de
probabilidade, cada paciente apresentará um comorbidades e na definição de terapias
conjunto específico de prejuízos e não todos
diversas com vistas ao acompanhamento
eles.
e auxílio nos profissionais que podem
determinar uma intervenção farmacológica
ou não farmacológica.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Neuropsicopedagogia como conjunto dos
saberes constituídos historicamente da Neurologia, da
Psicopedagogia, da Fonoaudiologia e a Terapia Ocupacional,
e consequentemente o profissional de neuropsicopedagogia,
pode ser um importante aliado da promoção e da melhoria
da Educação uma vez que em seus saberes traz uma gama
de ciências que procuram compreender o vasto mundo
do comportamento humano a partir do funcionamento do
sistema nervoso e do cérebro.
RAFAEL ANDRADE
No mesmo viés, com a chegada de crianças com diversos DOS SANTOS
tipos de deficiências nas unidades escolares, desde
Graduação em Letras – Língua Portuguesa
dificuldades psicomotoras, TDAH, entre muitas outras não e Língua Inglesa pela Universidade
citadas nesse trabalho, a Neuropsicopedagogia auxilia a Paulista (2006); Graduação em Pedagogia
compreensão de quais características podem acometer – Universidade Uninove (2009). Professor
crianças com essas patologias fazendo o profissional de de Ensino Fundamental II e Médio – Língua
educação refletir de como pode promover metodologias Portuguesa - na EMEF M’ Boi Mirim I,
e práticas que ensejem na promoção integral de todos os atuando na Coordenação Pedagógica.
educandos sem distinção. Professor de Ensino Fundamental II
e Médio – Língua Inglesa – na EMEF
Procópio Ferreira.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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para o trabalho com Linguagem Escrita em turmas de seis anos de idade.

1573
Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DA CULTURA
INFANTIL:
NEGRAESPAÇO
NO BRASILa
DE APRENDIZAGEM , EXPERIMENTAÇÃO E
SOCIALIZAÇÃO

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
NA ESCOLA
RESUMO: O objetivo geral deste artigo é aferir sobre a compreensão e possíveis maneiras que
o professorado de Artes pode utilizar as Histórias em Quadrinhos (HQs) em sala de aula. Por
meio dos conceitos da linguagem mista das Histórias em Quadrinhos e explanações artísticas.
Para tanto, em conformidade com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), os estudos
propõem analisar os sistematicamente questões da leitura, interpretação e produção de Arte.
E a Abordagem Triangular será a teoria base para esta aferição e com os fundamentos de
diversos educadores bem como: Ana Mae Barbosa, Rama e Vergueiro, Paulo Freire e Paulo
Ramos. Seguiremos a metodologia de uma análise empírica a fim de explanar as inferências
que compõem o sentido educacional e artístico na linguagem das HQs. Refletimos aqui
as potencialidades do uso dos quadrinhos nas aulas de Arte como um recurso pedagógico
apropriado e metodologicamente sistematizado. A partir de uma construção teórica e
analítica, constatamos que entre essas potencialidades passíveis de desenvolvimento estão o
pensamento crítico, a leitura de mundo, a contextualização e a imaginação.

Palavras-Chave: Processo de Ensino Aprendizagem; Metodologias; Histórias em Quadrinhos;


Ensino de Artes.

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INTRODUÇÃO e sua interação com o mundo colorido e


repleto de arte, criação e conhecimento.
A utilização dos HQs em sala de aula se
configurou um tabu durante muito tempo. O
ambiente escolar não era o “local” adequado A UTILIZAÇÃO DOS
para a inserção deste modelo de arte, pois este QUADRINHOS NA SALA DE
nem mesmo era considerado arte por muitos
educadores. Apresentado como portador de AULA- UMA CONSTRUÇÃO
uma linguagem informal e empobrecida as METODOLÓGICA
HQs permaneceram no campo popular e de
distanciaram da escola. A imaginação e a curiosidade são atributos
das crianças durante o processo de ensino
Encarar as HQs como instrumento aprendizagem na educação, assim os
pedagógico constitui-se ainda em um grande professores de Artes devem utilizar esses
desafio. Há um descompasso histórico na elementos para fomentar o desenvolvimento
educação brasileira, que ao apresentar do alunado. Para tanto, a linguagem mista das
novas metodologias que priorizam a histórias em quadrinhos deve ser considerada
contextualização, constrói-se uma resistência como recurso pedagógico que fomentem o
em aceitar outros instrumentos além do aprendizado, pois as Hqs possuem diversos
livro didático. Essa metodologia, por nós subsídios narrativos visuais que colaboram
apresentada neste artigo, busca estimular o para a construção de sentido e a leitura de
rompimento destas visões e a construção de mundo.
uma nova epistemologia e acentuada revisão
metodológica. O importante é observar que a linguagem
oferecida pelas Hqs não se resume a escrita,
O uso das HQs no ambiente escolar não se proporcionando um avanço significativo
resume somente ao ensino de artes, estende- em relação a contextualização de imagens
se a todas as disciplinas pois é uma ferramenta e significação de símbolos e linguagens. É
essencialmente interdisciplinar. No entanto, claro que se faz necessário que o docente
neste artigo, buscamos aprofundar o seu uso possa selecionar, nesta fase, quadrinhos que
no ensino de artes. sejam menos complexos, com características
objetivas, figuras curtas e interligadas,
Construindo uma problematização, favorecendo o entendimento do alunado em
elencamos alguns pontos que teorizam questão.
e sistematizam o uso das HQs como
ferramenta pedagógica possível em sala de Nessa perspectiva, o docente de
aula, ampliando os olhares interdisciplinares Artes pode contextualizar a curiosidade
e alçando estimular a imaginação dos alunos empírica dos alunos com a linguagem das

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Revista Educar FCE - Março 2019

HQs, bem como: desenhos, cores, balões, externar e ressignificar a criatividade por
onomatopeias e arte sequencial a fim de meio da Arte.
incentivar o gosto pela leitura ao decorrer do
processo de alfabetização de maneira lúdica “Nível Fundamental [...]: nos primeiros anos, não
e significativa: se pode identificar qualquer salto na capacidade
expressiva dos alunos, que evoluem de forma
“Pré – Escolar: Os alunos se encontram nas sistemática e gradual para maior reconhecimento
primeiras iniciativas de representação (etapa e apropriação da realidade que os circunda.
pré-esquemática), atendendo a necessidades Aos poucos, a criança vai deixando de ver a si
motoras e emocionais. Em seu trabalho com a mesma como o centro do mundo e passa a
linguagem, os resultados obtidos são menos incorporar os demais a seu meio ambiente, ou
importantes que o processo. A relação desses seja, evoluindo em termos de socialização. Da
estudantes com os Quadrinhos é basicamente mesma forma, começa aos poucos a identificar
lúdica, sem que interfira uma consciência crítica características específicas de grupos e pessoas,
sobre as imagens que aparecem nas Histórias podendo ser apresentada a diferentes títulos ou
em Quadrinhos, tanto nas que recebem do revistas em Quadrinhos, bem como ser instada
professor como naqueles que eles próprios a realizar trabalhos progressivamente mais
produzem. Nessa fase, é muito importante elaborados, que incorporem os elementos da
cultivar o contato com a linguagem das HQs, linguagem dos Quadrinhos de uma forma mais
incentivando a produção de narrativas breves intensa. ” (RAMA; VERGUEIRO, 2014, p. 28).
em Quadrinhos, sem pressioná-los quanto a
elaboração de textos de qualidade ou a cópia de Contudo, no segundo ciclo de aprendizagem
outros modelos. ” (RAMA; VERGUEIRO, 2014, p. do ensino Fundamental, o alunado entra
27-28). em uma face de transição entre a infância
e a puberdade, nesse aspecto o docente de
Freire (2013, p. 33) versa “a curiosidade Artes deve possibilitar o uso da linguagem
como inquietação indagadora, como da HQs para contextualizar inúmeros temas
inclinação ao desenvolvimento de algo, como problemas com a finalidade de auxiliar a
pergunta verbalizada ou não, como procura compreensão do alunado em relação ao seu
de esclarecimento”, assim a decorrer das lugar na sociedade:
aulas é importante que o educador estimule
a curiosidade e criatividade dos alunos, “Nível Fundamental [...]: os alunos se integram
principalmente na educação infantil. mais à sociedade que os rodeia, sendo capazes
de distinguir os níveis local e regional, nacional
Todavia, no primeiro ciclo de aprendizagem e internacional, relacioná-los entre si e adquirir
a consciência de estar em um mundo muito mais
do ensino fundamental II é preciso asseverar
amplo do que as fronteiras entre sua casa e
o desenvolvimento intelectual e cognitivo
escola. O processo de socialização se amplia, com
dos alunos, assim o professor pode utilizar
inserção em grupos de interesse e a diferenciação
as HQs como uma maneira de produzir,
entre os sexos. Têm a capacidade de identificar

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Revista Educar FCE - Março 2019

detalhes das obras em Quadrinhos e conseguem um tipo de material que desafie sua inteligência.
fazer correlações entre eles e sua realidade Por outro lado, são também, muito pressionados
social. As produções próprias incorporam a pelo coletivo perdendo às vezes um pouco da
sensação de profundidade, a superposição sua espontaneidade ao terem que confrontar
de elementos e a linha do horizonte, fruto de suas opiniões pessoais com as do seu grupo.
sua maior familiaridade com a linguagem dos Nas produções próprias, buscam reproduzir
Quadrinhos.” (RAMA; VERGUEIRO, 2014, p. 28). personagens mais próximos da realidade, com
articulações, movimentos e detalhes de roupas
Aqui constrói-se a partir desta que acompanham o que veem ao seu redor. “
metodologia uma ferramenta de suma (RAMA; VERGUEIRO, 2014, p. 29).
importância pedagógica. Os quadrinhos
contribuem para a criação como um aspecto Construindo um diálogo interdisciplinar,
de desenvolvimento cognitivo, ampliam a o professor de artes pode estabelecer
leitura e os aspectos viso-espaciais e facilitam nesta idade uma ponte com as disciplinas
a troca de ideias e aumentam a sociabilidade de história, sociologia e filosofia para
dos alunos. É recorrente que ao trazer esta contextualizar as ideologias presentes nos
ferramenta para a sala de aula, expressam- quadrinhos.
se atitudes de compartilhamento e troca de
interesses como ressalta os autores acima Ao apresentar, por exemplo, a luta
citados. da personagem “Capitão América” e o
“Nazista”, é possível estabelecer vínculos
Entretanto, no Ensino Médio, o alunado contextualizados com fatos como a
está ressignificando seus conhecimentos Segunda Guerra Mundial. As aulas tornam-
em relação a sociedade, e com muitos se significativas e estimulantes quando
questionamentos buscam respostas em ousa-se trazer uma linguagem para além do
relação ao que está aprendendo, por este livro didático sem perder a importância do
motivo é importante que o professor de Artes conteúdo, tão urgente para esta faixa etária.
fomente as Hqs em suas sequencias didáticas
para contextualizar e assim transformar a Assim, Freire (2013) versa a respeito da
realidade dos alunos: importância de favorecer as experiências
individuais de cada aluno, a fim de promover o
“Nível Médio: Os estudantes dessa fase se pleno desenvolvimento intelectual, por meio a
caracterizam pela mudança de personalidade, relação entre alunos, professores e a sociedade.
devido à passagem da adolescência para a
idade adulta. Passam a ser mais críticos e Estimula-se de acordo com Freire (2013) o
questionadores em relação ao que recebem
pensamento crítico, a imaginação e a leitura
em aula, não se submetendo passivamente a
de mundo, que se amplia quando saímos do
qualquer material que lhes é oferecido. Tendem
mundo “fictício” e interpretamos o “mundo
também a ter uma desconfiança natural (e
real”.
saudável) em relação aos meios, demandando

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Revista Educar FCE - Março 2019

Dessa maneira, ao decorrer de todo processo de ensino aprendizagem na Educação Básica


o professor de Artes deve afiançar a emancipação intelectual e cultural do alunado:

“É isso que nos leva, de um lado, à crítica e à recusa ao ensino “bancário”, de outro, a compreender, apesar
dele, o educando a ele submetido não está fadado a fenecer; em que pese o ensino “bancário”, que deforma
a necessária criatividade do educando e do educador, o educando a ele sujeitado pode, não por causa do
conteúdo cujo “conhecimento” lhe foi transferido, mas por causa do processo mesmo de aprender, dar, como
se diz na linguagem popular, a volta por cima esperar o autoritarismo e o erro epistemológico do “bancário”.”
(FREIRE, 2013, p. 27)

Portanto, a Linguagem das Histórias em Quadrinhos garante uma diversificada


possibilidade de usos pedagógicos em sala de aula, a fim de favorecer o processo de ensino
aprendizagem dos alunos. Por meio, das características visuais e verbais das Hqs, por exemplo:
onomatopeias, desenhos iconográficos, perspectivas, balões, cores, entre outros o professor
pode contextualizar de maneira crítica inúmeros temas problemas para os educandos desde
a alfabetização até reflexões sobre as mazelas da sociedade contemporânea.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo procurou elucidar estratégias a partir de
referenciais teóricos da utilização das Hqs como ferramenta
pedagógica, a ser utilizado em sala de aula com uma proposta
metodológica estruturada.

Verificou-se que é possível, através desta ferramenta
estimular a imaginação e o pensamento crítico do aluno
desde o ciclo de alfabetização (ensino fundamental I) até
o ensino médio, dada as especificidades de cada ciclo é
possível estimular as potencialidades de cada aluno através RAFAEL DA SILVA PEREIRA
de uma arte que muitas vezes se viu marginalizada no campo
educacional.
Graduação em Letras pela Faculdade
UNISANTANA (2014) e Artes Visuais pela
Partindo de um princípio freiriano, que prioriza a Faculdade FAMOSP (2016); Especialista
significação e a contextualização como eixos norteadores em Especialista em Docência no ensino
da ação pedagógica, propõe-se a partir do uso das Hqs uma superior pela Faculdade FMU. (2015);
construção metodológica, não só no campo do ensino das Professor de Ensino Fundamental II e
artes, mas em um contexto de interdisciplinaridade trazer Médio - Artes - na EMEF Prof. André
para a sala de aula um recurso que é estimulante e concreto Rodrigues de Alckmin.

para o alunado.

Revisada as possibilidades teóricas e concretas do uso das
Hqs em sala de aula, elencamos que, de acordo com cada ciclo
se faz necessário as adaptações que requerem do professor,
com maior enfoque, o de artes, uma habilidade para reconhecer as reais necessidades de seu
público, que pode se dar por uma estimulação da criação de outras imagens, da ampliação
da linguagem, da escrita e leitura ou da ressignificação de sentidos históricos atribuídos ao
campo da ficção.

Em uma sociedade complexa, como a nossa, dita uma “sociedade das imagens” não se
pode negar a potencialidade deste recurso em sala de aula. Aponta-se como um possível
futuro diálogo para a linguagem “mimética” estabelecida no campo das redes sociais (não
discutido neste artigo), que incide no mesmo campos ideológico, discursivo que durante
muitos anos apresentou-se restrito ao mundo dos quadrinhos.

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Buscou-se construir então uma forma de exprimir uma ação pedagógica que se baseia
na criatividade e releitura de mundo, enxergando potencialidades em uma arte renegada
historicamente no ambiente escolar. Mais que um manual de orientações práticas o
que propomos neste artigo é estimular e inquietar a ação docente para explorar outros
instrumentos que superam as visões limitadoras do livro didático que aprisionam o sistema
escolar e empobrecem outras leituras e estímulos criativos no ambiente escolar.

Portanto, cabe ao professor de artes e também aos especialistas das demais áreas construir
um diálogo interativo com metodologias alternativas, e que a partir de uma elaboração
sistemática possam trazer para a sala de aula os quadrinhos como um recurso metodológico
e pedagógico transformador no ambiente escolar.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DA CULTURA
INFANTIL:
NEGRAESPAÇO
NO BRASILa
DE APRENDIZAGEM , EXPERIMENTAÇÃO E
SOCIALIZAÇÃO

O LÚDICO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E


ADULTOS: COMO TORNAR AS AULAS MAIS
DINÂMICAS PARA ESSA POPULAÇÃO
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo descrever sobre a importância de se
trabalhar com o lúdico na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Apresenta a utilização
dessa ferramenta: o lúdico, nos anos iniciais da educação e como essa vai sendo esquecida
conforme os anos de escolarização se passam. Discorre as dificuldades encontradas pelos
jovens e adultos que voltam a estudar, sendo o cansaço um dos pricipais fatores para a
grande evasão encontrada nessa fase da escolarização. Descreve a vivência na sala de aula
da EJA, o que possibilitou a verificação das necessidades e dificuldades desses alunos e, a
partir disso, apresenta a colaboração de diversos atores e pesquisadores da área, no que diz
respeito sobre a importância da utilização de métodos lúdicos na educação.

Palavras-Chave: Educação de jovens e adultos; Lúdico

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INTRODUÇÃO A ludicidade também ganha destaque


na Psicologia voltada ao desenvolvimento
O lúdico há muito vem sendo discutido infantil. Teóricos como Jean Piaget e Levy
como uma importante ferramenta no Vygotsky enfatizam a importância do lúdico
processo ensino aprendizagem de crianças. no desenvolvimento da criança. Piaget
No dicionário da Língua Portuguesa (1998) considera a atividade lúdica uma
apresenta-se como: “relativo a jogos, ação obrigatória na educação infantil, pois
brinquedos e divertimento” (FERREIRA, através do jogo a criança assimila, podendo
2010). Do latim “ludus” significa brincar transformar a realidade. Já Vygotsky (apud
(DICIONÁRIO PRIBERAN). De acordo com OLIVEIRA, 2010) contribui informando que o
Teixeira (1995), o lúdico apresenta dois brinquedo proporciona as maiores aquisições
elementos: o prazer e o esforço espontâneo. da criança e, no futuro, se tornarão o nível
Nesse sentido, os dois elementos estão inter- básico de ação real e moralidade. Assim,
relacionados, pois o prazer está relacionado para o autor, os jogos e as brincadeiras são
ao entusiasmo, “absorvendo” o indivíduo atividades humanas, unindo imaginação,
de forma intensa e total, proporcionando a fantasia e realidade, produzindo novas
motivação, sendo caracterizado como um formas de interpretação, tornando-se um
interesse intrínseco, onde surge um esforço processo importante no desenvolvimento
para a obtenção dos objetivos. E, pelo fato infantil (VYGOTSKY, 1991).
de o esforço ser provido de um prazer, esse
se torna espontâneo e não imposto. Na mesma linha de raciocínio, Paulo Freire,
grande estudioso dessa população. através
Porém, sua definição vai além. Inúmeros de uma pedagogia libertadora, enfatizava a
autores definem a atividade lúdica de forma importância de uma educação que parta da
diferenciada, onde encontramos não somente realidade concreta dos alunos, não somente
o divertimento e o prazer. De uma forma geral, uma educação voltada à alfabetização, mas
é possível entender o lúdico como sendo uma também à realidade concreta de oprimido
atividade dinâmica, proposta com ou sem que se encontram os jovens e adultos,
intencionalidade pedagógica, individual ou tornando-os capazes de realizar uma leitura
coletiva, com ou sem o uso de ferramentas crítica do mundo. Para tanto, mostrava
complementares (brinquedo, jogo, etc). a importância de trabalhar com temas
Assim, o presente trabalho irá defini-lo como geradores na EJA (Educação de Jovens e
qualquer atividade que seja diferenciada de Adultos) pois a partir de sua realidade, o
uma atividade formal e/ou engessada, ou seja, aluno tem a possibilidade de enxergar sua
o lúdico estará ligado às atividades onde o condição de oprimido, podendo evoluir
dinamismo estará presente, proporcionando (apud NASCIMENTO, 2005). Nesse sentido,
a liberação de expressões, sentimentos, o lúdico pode contribuir com a expressão de
criatividade, divertimento, entre outros. realidades, ou seja, de culturas, modos de

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viver e pensar dos alunos, fazendo-os refletir LÚDICO: DEFININDO O


sobre suas vidas, e também sobre a vida do TERMO
outro.
O termo “lúdico” apresenta diversas
Para mostrar a importância do lúdico no definições. Há autores que o associam ao
desenvolvimento humano, serão utilizadas prazer, à alegria, à satisfação. No dicionário
as contribuições de importantes educadores está relacionado ao divertimento, ao jogo e
e pesquisadores que marcaram de forma à brincadeira (FERREIRA, 2010). Do latim
significativa os rumos da pedagogia, temos a contribuição definindo-o como
como também de autores que contribuem “jogo” (DICIONÁRIO PRIBERAN).
para enfatizar a importância do lúdico no
desenvolvimento do ser na vida adulta. Na literatura há uma infinidade de
Dessa forma, é possível utilizar-se de tão definições. O lúdico pode ser caracterizado
rica ferramenta, o lúdico, também para como algo natural que, por ser uma atividade
um trabalho voltado aos alunos com idades de entrega gratuita, faz com que o sujeito se
mais avançadas, e não somente às crianças, envolva plenamente (CAILLOIS, 1986). Para
pois, como dito anteriormente, o lúdico Freinet (1998) a atividade lúdica proporciona
contribui para o desenvolvimento de novos bem estar e eleva o indivíduo à zona superior.
aprendizados. E, pesquisas que demonstram Luckesi (2004) colabora ao afirmar que a
os motivos de evasão nessa modalidade, irão ludicidade vai além de uma atividade como
colaborar para que seja possível traçar os lazer, pois a ludicidade é o momento onde
grandes obstáculos vivenciados pelos alunos o indivíduo, através do seu interior vivencia
da EJA. o momento lúdico, ou seja, ela é interna ao
sujeito. Sentimentos como o prazer e a alegria
É fundamental um olhar mais atento às surgem em decorrência da confraternização
necessidades dessa população, tornando o com o grupo, mas quem sente é o sujeito.
ensino mais prazeroso e menos conteudista. Soares e Porto (2006) concordam com
A reflexão crítica sobre a prática docente Luckesi (2004), ao afirmarem que o lúdico é
é essencial para repensa-la, muda-la e um fenômeno subjetivo, onde pensamento,
transforma-la (FREIRE, 1996). Dessa forma, emoção e ação não se dissociam.
o presente trabalho tem como principal
norteador a seguinte questão: “Quais as O fato de estar associado ao prazer, à
possibilidades de se utilizar o lúdico como alegria, ao divertimento, sugere-se que o
mediação da aprendizagem de alunos jovens lúdico necessariamente envolva os jogos e as
e adultos, e qual o papel do professor nesse brincadeiras. Porém, em acordo com Canda
processo?” (2006, p.140), qualquer atividade em que o
sujeito se sinta inteiro, pode se configurar
numa atividade lúdica, pois “a atividade pode

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ser considerada lúdica quando o sujeito.[ ]... engessada e formal. Dessa forma, há de se
se encontra inteiro...[ ], quando sentimentos, considerar diversas características inseridas
pensamentos e ações estão agindo de forma pelos autores citados, mas não propriamente
integrada.” uma especificidade.

A autora contribui em seu pensamento com


um exemplo: quando ouvimos uma música e A IMPORTÂNCIA DO
sentimos bem estar, nos entregamos fielmente LÚDICO NA INFÂNCIA
à escuta, e passamos a refletir sobre os relatos
contidos nela, portanto, estamos desenvolvendo O lúdico sempre esteve presente na vida
uma atividade lúdica (idem, 2006). humana. Na História Antiga há relatos de que
a brincadeira era exercida por toda a família,
Quanto ao termo “jogo” também muito mesmo no ensinamento dos ofícios dos pais
associado ao lúdico, temos a manifestação de para os filhos. O campo da Educação Física
Elkonin (1980), alertando quanto à distinção também ganhou grande importância quando
desses dois termos e não a fundamentação os povos primitivos davam às crianças a
de que são sinônimos. Para o autor, o jogo liberdade de aproveitarem os “jogos naturais”
é uma forma particular de atividade lúdica. (SANT’ ANNA e NASCIMENTO, 2011).
Nesse sentido, não corresponde a qualquer
tipo de interação, mas sim em uma atividade Teóricos como Jean Piaget e Levy
que estabeleça os papéis sociais e as ações a Vygotsky, importantes nomes da psicologia
eles derivadas. e da pedagogia, também contribuíram com
esse tema. Piaget et al (1985, 1986) nos
Diante do esboço acima, para critérios coloca a importância da interação com o
desse trabalho, a definição do termo meio, da necessidade e da possibilidade, na
“lúdico” não se prenderá em uma ou medida que estes fatores são essenciais para
algumas características específicas, mas o querer realizar uma atividade. Seguindo
sim, seguirá na direção e no entendimento essa linha de raciocínio, o autor nos remete
de que “lúdico” significa qualquer atividade ao pensamento de que são necessárias
que demonstre uma dinâmica, envolvendo atividades que realmente façam sentido
interação ou não (pois podemos realizar à criança, e que sejam possíveis de serem
uma atividade lúdica de forma solitária, realizadas, pois assim haverá o prazer
como escutar uma música, como no exemplo e a motivação em realiza-la, tornando-
citado acima), e que proporcione um prazer se um importante fator no processo de
no sentido de envolvimento em realizar desenvolvimento infantil, como também no
determinada atividade, ou seja, um prazer processo ensino aprendizagem. Para tanto,
que seja resultado de uma mudança na segundo o autor, a mediação deve se inserir
forma de se realizar uma atividade antes em um contexto de evolução e descobertas.

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Já Levy Vygotsky (apud, OLIVEIRA, mas também no corpo, no desenho, na


2010), estabelece uma relação entre jogo e construção e na arte, ou seja, as expressões
aprendizagem, no sentido de que deve haver através do concreto, com trabalhos manuais,
uma interação com alguém mais experiente os esportes e os desenhos (DUBREUCQ,
ou mais velho. Para o autor, a interação com 1993). Decroly (apud COSTA, 2011)
o outro (possuidor de mais experiência) é acreditava que as crianças não são como
essencial para o desenvolvimento da criança. folhas em branco, nem mesmo são como os
adultos, apenas são diferentes. As crianças
Conceituados teóricos, pesquisadores e vem ao mundo com uma “imensa reserva de
educadores também contribuem no que diz equipamento nervoso”, possuidor de aspecto
respeito à importância do lúdico na formação nervoso, porém dependente do ambiente ao
do ser humano, no contexto escolar. Jean- qual está inserido para poder se desenvolver.
Ovide Decroly (apud NASCIMENTO e
MORAES, 1998), médico belga, também Mais um colaborador no que se refere
se dedicou às pesquisas educacionais. ao lúdico na aprendizagem de crianças é o
Estabeleceu em seus estudos a presença da educador francês Celéstin Freinet, trazendo
expressão artística e o papel social preventivo para as salas de aula atividades como: aulas-
na escola. À escola ficaria o compromisso de passeio, jornal na sala de aula, imprensa na
estreita relação com a sociedade, integrando escola, livro da vida e correspondência na
os aspectos de vida das crianças, ensinando- escola. Focado no interesse das crianças,
as a aprender em processo prazeroso, Freinet propôs uma metodologia que
atendendo aos interesses e necessidades dos viabilizasse a autonomia infantil, tornando
alunos. Portanto, o conceito de interesse é as aulas práticas, ao invés de aulas passivas
primordial em seu pensamento, pois segundo e entediadas. As práticas na escola
ele, a necessidade gera o interesse e somente deveriam trabalhar com a motivação, ação,
este leva ao conhecimento. Seu método comunicação, pesquisas, entre outros. Para
consiste em três etapas: a observação, a o autor, atividades que sejam estimuladas
associação e a expressão. Desse modo, a favorecem a realização de forma mais
observação seria uma atitude constante no agradável, não só para crianças, mas em
processo educativo. adultos também. O contrário pode ocorrer
quando as atividades são impostas, e sem
Da observação é possível um entendimento considerar as necessidades e características
referente ao tempo e espaço do observado, dos envolvidos (FREINET, 2011).
onde a criança, através das expressões,
externaria o aprendido. Assim como Freinet, o educador Loris
Malaguzzi, também apoiou o uso do lúdico na
Para Decroly, as expressões são múltiplas, educação infantil. Para o pedagogo, fundador do
não configurando-se apenas na linguagem, Sistema de Reggio Emilia de Educação Municipal

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para a Primeira Infância, é necessário uma O LÚDICO NA IDADE ADULTA


“pedagogia da escuta”, ou seja, além do professor
“estar atento à fala, é preciso estar disponível e ter Partindo da certeza de que o lúdico,
sensibilidade para ouvir as cem, as mil linguagens, quando bem aplicado, é fator fundamental
símbolos e códigos que as crianças usam para se no processo ensino aprendizagem, como
expressar” (RINALDI, 2002). também no desenvolvimento infantil, fica
evidente que a ludicidade deva fazer parte
Para tanto, é necessário que a criança da vida das crianças. Ao mesmo tempo, é
possa explorar o seu ambiente, que deve possível encontrar informações que revelam
estar organizado de forma a proporcionar que as atividades lúdicas diminuem conforme
ricas possibilidades, para posteriormente se se passam os anos de escolarização.
expressar através das inúmeras linguagens
presentes na infância, como: pintura, De acordo com Macedo; Petty e Passos
desenho, movimento, palavras, colagens, (2007), é lamentável que no ensino
etc. O saber escutar compreende o entender fundamental e também, em alguns casos,
as diversas maneiras de expressão, para na educação infantil, não é dado o devido
isso, o educador deve ter a sensibilidade, o valor aos esquemas lúdicos das crianças. A
tempo de escutar, um tempo fora do tempo progressão das séries implica na aplicação
cronológico, cheio de silêncio. Seria uma de “conceitos científicos, linguagem das
escuta interior, pois todas as formas de convenções e os signos arbitrários, com seus
expressão estão carregadas por emoções poderes de generalidade e abstração” (idem,
(EDWARDS, 1999). Por isso a necessidade p. 20).
de uma escuta não só com os ouvidos, mas
também com os outros quatro órgãos do Algumas pesquisas demonstram que, um
sentido (visão, tato, paladar e olfato). dos maiores motivos da diminuição do lúdico
nas séries seguintes da educação infantil,
Fica claro nesse momento que o lúdico seria o fato de os conteúdos se tornarem
vem sendo pensado desde tempos remotos, mais intensos, não restando tempo para
ganhando muita força no que diz respeito à a aplicação de atividades que envolvam
educação infantil. Inúmeras são os autores a ludicidade, apesar de os professores
(teóricos, pesquisadores e educadores) que entenderem a importância de tais atividades
comprovam essa contribuição, desde que, (CARDIA, 2011). E, pelo fato do lúdico estar
aplicada corretamente, para que não se associado ao tempo, um tempo “livre”, a
transforme em atividades sem sentido ou ludicidade mais uma vez ganha força somente
sem intencionalidade. Portanto, é necessário na fase infantil (FERREIRA, et all, 2004).
um olhar atento por parte do professor
para que haja um aprendizado significativo Outros autores corroboram afirmando
através do uso do lúdico na escola. que a ludicidade fica atada quando a

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educação torna-se complexa e, quando essa Com isso, temos o “furto do lúdico”
mesma educação torna-se resistente às (ALVES e MARCELLINO, 2006), resultado
atividades lúdicas (GARÔFANO; CAVEDA; do despendimento da maior parte do
VALENZUELA, 2005). tempo do indivíduo ao trabalho, reduzindo
a manifestação do lúdico, pois o mesmo
Tal fato pode ser comparado ao que ocorria está historicamente associado à infância,
com as crianças dos séculos XIV ao XVII. De sendo visto de forma preconceituosa e inútil
acordo com Ariès (1981), nesse período, as pelos adultos. Além disso, está diretamente
crianças apresentavam funções especiais relacionado por alguns autores ao brinquedo,
nas festas e nas reuniões familiares. Porém, o que torna a distância entre o lúdico
após os sete anos de idade, eram forçadas e o adulto ainda maior (DUMAZEDIER,
a abandonarem os trajes infantis e iniciarem 1976). Os mesmos autores enfatizam que,
atividades de educação, baseada em uma quando há o tempo livre, o tempo fora do
leitura moralista e pedagógica do século XVI. trabalho, novamente o lúdico perde espaço,
Seguindo esse percurso, Lorenzine (2002, p. pois existem outras prioridades a serem
29), complementa: “ [...] a criatividade, como cumpridas pelos adultos. E, essa forma
atividade infantil, é perdida na idade adulta, de enxergar o lúdico, pode caracterizar as
e é preciso recupera-la.” atitudes dos profissionais ligados à educação,
não dando uma maior importância a esse
Vivemos em uma sociedade capitalista, tipo de atividade.
cuja escola é vista como formadora de
mão de obra para o mercado de trabalho, Para Marcellino (2002), é necessário
promovedora da ascensão social, aliada que as atividades lúdicas atendam todas
à ideia de uma educação produtivista as pessoas, de todas as faixas etárias, mas
(FRIGOTTO, 1994). Essa realidade pode esse atendimento deve estar voltado aos
explicar o motivo de arrancar das crianças, interesses, devem estimular a participação
conforme crescem, a ludicidade, tornando e devem receber orientações adequadas
as aulas e a escola um espaço voltado às que permitam a opção. Nas palavras de
demandas da contemporaneidade, tirando Pylro & Rossetti (2005): “é necessário estar
das pessoas as formas mais simples e puras disponível, sendo essa disposição marcada
de exploração e integração ao mundo. Dessa por um estado físico e psíquico que se
forma, parece não mais necessário manter manifestará na dinâmica do comportamento
os prazeres e a liberdade de expressão, mas lúdico”.
sim uma educação a serviço do capital ou,
segundo Mészaros (2005), uma propagação Porém, é importante salientar que
de conformidade, o que resulta na aceitação existem exceções. Um bom exemplo é o
da divisão de classes sociais. da professora de química Eliana Moraes
de Santana. Docente há 12 anos, notou

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que o lúdico poderia ser um aliado no internas ao sujeito, lhe proporcionando bem
processo ensino aprendizagem da turma do estar. Conforme o indivíduo se desenvolve,
9º ano do ensino fundamental. A atividade também modificam-se as ludicidades, porém,
criada pela professora serviu de tese para isso não quer dizer que um adulto não possa
sua dissertação de mestrado. Utilizando- brincar como criança.
se do emocional, verificou que os alunos
se sentem mais motivados em atividades Outros autores nos orientam quanto a
lúdicas ligadas às emoções individuais presença do lúdico na vida adulta. Muitas
(JORNAL DO PROFESSOR, 2013), onde vezes nos deparamos, no mundo do trabalho,
podemos encontrar sintonia com o que foi em entrevistas de emprego, por exemplo,
dito anteriormente em relação a afetividade com dinâmicas de grupo. Através dessas
no processo de desenvolvimento, exposto dinâmicas, repletas de estratégias para
por Jean Piaget. A professora trabalha computar valores, atitudes, reações, espírito
constantemente com o lúdico na sala de aula, de solidariedade, companheirismo, entre
não somente com esses alunos, mas também outros, dos entrevistados, os responsáveis
com os de outras séries. pelo recrutamento do pessoal, ganham um
riquíssimo acervo sobre os interessados
De acordo com o professor Luckesi pela vaga de emprego, pois através dessas
(2005), vivenciar o lúdico é um caminho dinâmicas consegue-se observar muitos
para o inconsciente e para a construção dados que, por vezes ficam “escondidos”
de identidade, não só de crianças, mas em uma simples conversa (RIBEIRO, 2007).
de adultos também. Em experiências Isso comprova como a ludicidade auxilia
com seus alunos de pós graduação da no desenvolvimento das expressões, e que
Universidade Federal da Bahia, o professor está presente em todas as faixas etárias.
relata que trabalha com o lúdico em suas Anteriormente foi citada a colaboração do
aulas, concretizando a certeza de que as Dr. Winnicott, quanto a importância a ser
atividades lúdicas permitem um caminho dada nas manifestações adultas, muitas vezes
real para o inconsciente reprimido, como reprimidas. Dessa forma, fica evidente que o
também para a criatividade, possibilitando lúdico favorece a libertação de sentimentos
a criação de uma individualização saudável. diversos.
Segundo o professor, “para os adultos, as
atividades lúdicas são catárticas, o que quer O lúdico também está presente nos
dizer libertadora das fixações do passado e tratamentos de algumas patologias mentais.
construtoras das alegrias do presente e do Françoise Dolto (1984) no que se refere ao
futuro” (idem p.11). Luckesi (idem, 2005) tratamento de distúrbios alimentares como
também nos lembra que, o lúdico para a anorexia e bulimia, mostrou que a inclusão
criança se difere do lúdico para o adulto. de materiais lúdicos permite a expressão do
São outros tipos de atividades, mas que são paciente, já que muitas

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vezes o mesmo não consegue se comunicar escola após anos sem frequenta-la, bem
verbalmente (ou por falta de vontade, ou por como, com idades avançadas (idosos), são
medo, ou por angústia) e, através de lápis, suficientemente capazes de conquistarem
papel, tinta, consegue se expressar através novos aprendizados, como também contribuir
de outras fontes visuais, como figuras, para o aprendizado dos colegas mais novos.
palavras, etc.
Os alunos que se encaixam nessa
Em outro estudo, pode-se observar a característica educacional são os jovens
significativa contribuição do uso de cores e adultos frequentadores da Educação de
para um melhor diagnóstico do Transtorno Jovens e Adultos, população alvo de estudo
Obsessivo Compulsivo, pois o aumento de do presente trabalho, onde foi vivenciada
determinadas cores, em testes específicos a experiência em sala de aula, ocasionando
realizados em pacientes, implicam nos em uma reflexão sobre a forma como são
principais sintomas dessa patologia realizadas as aulas.
(AMARAL; SILVA e PRIME, 2002).
A Educação de Jovens e Adultos (EJA),
Dessa forma, fica claro que o lúdico de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases
não deve ser visto apenas como atividade da Educação Nacional, Lei/9394/96, é
infantil, sendo a fase adulta (assim como destinada às pessoas que, por quaisquer
crianças maiores e adolescentes) também motivos não puderam concluir os estudos,
merecedora de suas contribuições. Apesar ou não tiveram acesso à ele na idade regular
de encontrarmos em trabalhos e pesquisas (BRASIL, 1996). Assim, o Parecer 11/2000
dados que comprovam tal importância, é (BRASIL, 2000), registrou três funções para
necessária uma mudança no modo de se o ensino de EJA:
ver e trabalhar com o lúdico na educação,
na prática, a fim de atender à todos, não - Função Reparadora: é uma oportunidade
diminuindo a ludicidade conforme as crianças para a inclusão de jovens e adultos no
crescem. processo de escolarização, de modo a
respeitar as especificidades socioculturais
dos educandos e é uma reparação a um
EDUCAÇÃO DE JOVENS E direito negado historicamente aos indivíduos
ADULTOS (EJA) para a conclusão de sua formação escolar;

A construção do conhecimento ocorre - Função Equalizadora: deve possibilitar um


por toda a vida, principalmente quando nível técnico e profissional que desenvolva
estamos ligados às pessoas mais experientes habilidades e competências na educação
e a meios que a favoreçam. Tal fato reforça extraescolar e na vida, sendo vital para o
a ideia de que pessoas que retornam à exercício da cidadania;

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- Função Qualificadora: visa formar trabalho, capacitando-os a pensar de forma


para além da sala de aula e prevê o crítica e reflexiva, bem como, possuidores
acompanhamento nos quadros escolares e de capacidades em lutar por seus direitos.
não escolares, de modo a possibilitar acesso Também cabe à escola proporcionar
dos alunos ao mercado de trabalho e acesso ensinamentos quanto às finanças, elaboração
às políticas públicas. de currículos, uso de tecnologias, entre
outros, permitindo uma melhor capacitação
É nesse princípio que as ações pedagógicas dos alunos.
devem estar envolvidas, a fim de estabelecer
um grau de qualidade no ensino, como O educador Paulo Freire manifestou grande
também minimizar a evasão escolar, tão interesse e contribuiu de forma significativa
presente nessa modalidade. Sendo, um dos em relação à educação de jovens e adultos,
principais motivos da grande evasão o fato de alertando para uma educação que fosse
os alunos, praticamente em sua totalidade, libertadora, no sentido de conscientiza-los
trabalharem durante o dia e frequentarem a quanto à sua realidade de oprimido, fazendo-
escola à noite. os refletirem criticamente, para assim
tornarem-se capazes de lutar por melhores
Nesse contexto podemos observar que, se condições, conquistando sua liberdade.
por um lado muitos alunos voltam à escola Dessa forma, os indivíduos devem assumir
na intenção de uma melhor colocação no um compromisso ético e político, atitudes
mercado de trabalho, e ainda afirmam que que devem estar presentes na prática
“sem uma boa educação, nada se consegue” pedagógica, de modo a transformarem sua
(Palavras do aluno J., 2ª Etapa, 1ºSegmento realidade social (FREIRE, 1987).
– EMEF-EJA), por outro estão os problemas
gerados pelas más condições do trabalho Para que haja os processos de
atual, concretizando, muitas vezes, em nova conscientização e humanização é necessário
desistência dos estudos. que o indivíduo esteja em permanente
contato com sua realidade concreta, pois
Ademais, por se tratar em grande parte de somente assim é que terá condições
trabalhos que exijam força física, os alunos da de “enxergar” sua real condição, para
EJA chegam à escola muito cansados. Muitas posteriormente ser transformada. Porém,
vezes, se sentem desmotivados e faltam em como demonstra Zitkoski (2010), essa
muitas aulas. tarefa não é fácil, pois muitos desses alunos
estão vinculados culturalmente à uma
À EJA fica a responsabilidade não de situação de opressão, devendo o trabalho
introduzir os alunos no mercado de trabalho, de conscientização ser capaz de transformar
mas sim de oferecer uma educação onde os em um novo indivíduo aquele que, por toda
alunos possam refletir sobre o mundo do a vida, se viu e, se aceitou, na condição

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de oprimido. Nesse sentido, Freire (1987) concretiza em mais desânimo por parte
demonstra a pedagogia da esperança, não dos alunos. Como já dito anteriormente,
como acomodação das situações, mas sim conforme se passam os anos de escolarização,
pautada na ideia de luta constante para a o lúdico diminui drasticamente, chegando a
conquista das transformações, contrariando não existir já no ensino fundamental I. Assim,
ideologias dominantes e permitindo a é fácil observar a carência de atividades
reflexão crítica. lúdicas na EJA, já que essas estão muito
associadas à criança pequena, como também
Portanto, a educação não pode estar os estudos estão praticamente voltados ao
vinculada à memorização de conteúdos que, desenvolvimento infantil.
por muitas vezes, não fazem sentido algum
ao aluno, ou seja, uma “educação bancária” Portanto, já que o lúdico proporciona
(FREIRE, 1987, p.33), onde informações são melhores condições de desenvolvimento e
depositadas nas mentes dos alunos, que as capacidades diversas, pode ele contribuir na
recebem passivamente, não encontrando aprendizagem dos alunos da EJA, a fim de
ligação nenhuma com a sua realidade, mas promover aulas mais dinâmicas, contribuindo
aceitando-as. Dessa forma, a educação torna- para uma maior permanência desses alunos
se alienadora, impedindo uma visão crítica e em sala de aula. Lembrando que, o presente
curiosa dos alunos, diminuindo as chances trabalho não tem a finalidade de discutir as
de libertação, e mantendo-os diminuídos na condições de trabalho desses alunos, mas
sociedade. sim de promover estratégias que melhorem
as condições das aulas, a fim de diminuir
O conhecimento de mundo que o aluno a evasão dessa modalidade de ensino,
traz para a escola torna-se primordial para a provocada, em grande parte, justamente pelo
conquista dos objetivos na educação. Cada cansaço decorrido dos trabalhos realizados
um carrega consigo uma cultura, uma história por esses alunos.
de vida, e nenhum ser humano possui uma
melhor que a do outro. Pelo contrário, é
através das relações, que as trocas permitem ATIVIDADES LÚDICAS NA EJA
novos aprendizados. Portanto é necessário,
além de conhecer os alunos, respeitar a sua O planejamento de uma aula é
visão de mundo, e trabalhar em cima desses imprescindível para um bom resultado, não
conhecimentos, valores, modos de pensar, só para o aluno, mas para que o próprio
pois isso trará significados ao estudante. professor consiga se organizar e se auto
avaliar. Assim, é importante que o professor
A dinâmica presenciada na sala de aula, estabeleça os objetivos que se quer alcançar
da escola observada, apresenta métodos quando pensa em uma atividade, ou seja,
tradicionais, ou seja, sem dinamismo, o que o que ele quer que seus alunos aprendam,

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qual o resultado que ele espera, será que mas o aluno, sujeito do processo ensino
há relação com a aula posterior? Portanto, aprendizagem, tem todo o direito em saber
ao planejamento cabe primeiramente o que irá aprender e o porquê daquela
estabelecer os objetivos, definir o tipo de aprendizagem. Não podemos permitir que os
avaliação que poderá mostrar se as metas alunos (seja qual for a modalidade de ensino),
foram alcançadas e, por fim, decidir o tipo aprendam conteúdos com o pensamento:
de atividade que seja compatível com os “Para que aprender isso? Será que algum
objetivos e avaliação (LEMOV, 2011). dia vou usar isso em minha vida?”. Ao
compreender a importância de se aprender
Doug Lemov (2011) faz importantes algo, o aluno torna-se mais responsável e
recomendações para que haja um maior estimulado a continuar (idem, 2011). E, tão
estímulo durante as aulas, como é o caso importante quanto as demais, nunca permitir
do “Gancho”. Convido o leitor, a refletir que o aluno não esclareça uma dúvida, ou
sobre alguma aula de que tenha sido muito mesmo, que não consiga expressar suas
gratificante após um entusiasmo criado pelo ideias e modos de resolução:
docente. Muitas vezes, só de ouvir falar em
determinada disciplina ou tema de aula, “Como professor,...[...] buscando oportunidades
os alunos já “torcem” o nariz imaginando constantes de avaliar o que seus alunos são
que será cansativo ou muito difícil. Porém, capazes de fazer enquanto você ensina...[...]
Esperar pelo fracasso acidental para descobrir
quando ao iniciar a aula, o professor faz algo
que algo deu errado significa pagar por um preço
que chame a atenção de seus alunos, seja
demasiado alto pelo conhecimento”. (idem, p.
com uma música que envolva o tema, seja
116).
uma piada, ou uma charada, por exemplo, há
grandes chances de os alunos se envolverem
de forma espontânea, o que fará grande Diante do exposto e, com a certeza de que
diferença na atenção desprendida por eles. o lúdico é algo importante não somente na
Para Lemov: faixa etária infantil, como também na vida
adulta, seja na escola ou na vida pessoal,
“O gancho – um curto momento introdutório, cabe-nos uma reflexão: “Por que, ao invés de
que captura tudo que há de interessante e expor na lousa uma operação aritmética 15
envolvente na matéria e coloca isso bem diante + 9, não podemos trabalhar essa atividade na
da classe – é uma maneira de inspirar e engajar forma de um bingo? ou; “Será que não seria
os alunos” (LEMOV, p 93, 2011)
mais interessante realizar um jogo de cartas
para uma atividade de Língua Portuguesa,
Informar aos alunos tudo o que será ao invés de simplesmente pedir para que
proposto, como também as metas de cada os alunos separem as sílabas no caderno?”.
unidade, atividade, trabalho, projeto, etc.: É importante salientar que, as atividades
não basta o professor saber os objetivos, lúdicas não precisam e nem devem ser a

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única maneira de troca de conhecimentos. e flexibilidade na tomada de decisões, ou


Porém, faz-se necessário seu uso com certa seja, na resolução do problema; pela sua
regularidade, justamente para que haja um característica informal, não mantem uma
maior interesse por parte dos alunos. pressão do ambiente, alterando o clima
de forma positiva; desenvolvimento de
Muitas atividades são possíveis utilizando- estratégias;favorece a socialização entre
se o lúdico como ferramenta, como o bingo: os alunos, é também motivador; exige
comum em festas populares, quermesses e participação ativa do aluno.
reuniões familiares, o bingo amador é muito
atraente, principalmente na população adulta. Outra possibilidade de trabalhar com
Trata-se de uma jogo composto por cartelas o lúdico na EJA é a utilização de jogos de
(normalmente com 24 números) e um globo cartas, como o Jogo de Baralho: Pif Paf.
contento bolas numeradas com números do Também conhecido por Cacheta, esse jogo
1 ao 99. Um indivíduo fica responsável por pode contemplar acima de 2 jogadores.
“cantar” os números, ou seja, sortear uma Normalmente utiliza-se dois baralhos
bola por vez e ditar o número impresso na comuns de 52 cartas cada. As cartas são
mesma. Ao jogador, cabe verificar em sua contempladas pela numeração de 2 a 10,
cartela se há o número sorteado e, havendo, além de 4 figuras Ás (corresponde ao número
fazer a marcação. Em cada situação há regras 1 e é representada pela letra A), Valete
distintas, mas geralmente vence o jogador (corresponde ao número 11 e é representada
que completar uma linha, como também pela letra J), Dama (corresponde ao número
a cartela toda (ABRABINCS, s/d). Apesar 12 e é representada pela letra Q) e Rei
de ser uma atividade presente em algumas (corresponde ao número 13 e é representada
escolas, isso acontece exclusivamente pela letra K). Cada grupo de 13 cartas possui
no Ensino Fundamental, com crianças. um naipe diferente. Ao todo o baralho é
Portanto, é possível aplica-la aos alunos formado por 4 naipes (copas , ouros , paus e
da EJA, principalmente pelo fato desse espadas ) (D´ORSI e MAGICIAN, s/d).
jogo fazer parte da rotina dos estudantes,
tornando-se esse, o ponto forte da atividade, Cada jogador recebe 9 cartas e, no
minimizando o formalismo encontrado nas restante do baralho (maço ou monte) é virada
aulas de Matemática, onde o professor uma carta que servirá de curinga. O curinga
expõe na lousa uma operação e os alunos corresponde sempre à carta posterior que
a copiam e resolvem no caderno. Algumas foi virada, e que substituirá qualquer carta
possibilidades conquistadas através dos no jogo. Mas o baralho também pode conter
jogos (KISHIMOTO, 1994 e GRANDO, 1995): um curinga (figura), não sendo necessária
o jogo é caracterizado por sentimentos de a vira da carta do monte. Ao jogador cabe
alegria e prazer, trazendo efeitos positivos; fazer 3 jogos com 3 cartas cada, podendo ser
sua ação proporciona novas combinações de sequência (ex: 2, 3 e 4) do mesmo naipe,

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ou valores iguais - trinca (ex: 3, 3 e 3), porém com naipes diferentes (MEGAJOGOS s/d).
Possibilidades dos Jogos de Cartas (MACEDO, 2013): raciocínio; antecipação de jogadas;
previsão das consequências da ação.

Também é possível utilizar o artesanato (tão frequente na rotina de muitos adultos,


inclusive como fonte de renda) para trabalhar com a interdisciplinariedade. A arte não se
baseia em unicamente desenhar e pintar figura, muito mais que isso, a Arte, seja qual for
sua natureza, envolve sentimentos, expressões, dizeres nas mais diversas linguagens e
formas. Segundo as Propostas Curriculares 1º Segmento da EJA (BRASIL, 2001, p. 189),
as expressões artísticas envolvem as mais variadas “manifestações (música, dança, teatro,
pintura, escultura, arquitetura, etc)”, enfatizando “seu valor para o desenvolvimento da
cultura e da identidade dos povos”.

De acordo com Proença (2007), os objetos presentes no cotidiano das pessoas, estão
carregados por significados específicos e evidentes, como o garfo, o lápis, etc. Tal fato já
ocorre desde tempos remotos, com os povos antigos e primitivos. A autora também enfatiza
que, além de os objetos serem criados para suprir necessidades e desejos, há também os
que são criados como forma de expressão de sentimentos, aspirações, valores e desejos, o
que se tornam “obras de arte”, demonstrando a cultura e a diversidade de povos distintos.
Assim sendo, podemos embarcar nessa dimensão artística, evidenciando a profissão dos
estudantes da EJA, conseguindo com isso a valorização do trabalho pois, em sua grande
maioria, ocorre o preconceito e a discriminação dos tipos de profissões exercidas por essa
população. Além disso, é possível valorizar os saberes dos estudantes em momentos de
lazer, trabalhando com a arte e outras disciplinas.

Podemos perceber a grande variedade de temas e atividades que podem ser trabalhados
em sala de aula, a partir do lúdico e das características dos alunos. Espera-se com isso que,
em alguns momentos, essas atividades lúdicas possam criar um maior ânimo e empenho
nos alunos, fazendo com que permaneçam mais tempo na escola, como também se sintam
valorizados por suas histórias de vida.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho permitiu evidenciar a importância
do lúdico na educação de crianças da Educação Infantil,
como também para alunos de outras modalidades de ensino,
inclusive a Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Os alunos da EJA possuem características próprias, estilos


de vidas muito diferentes dos alunos de outras modalidades.
Portanto, à esses alunos, faz-se necessário um trabalho
específico, dando importância à essas características. Sendo
o lúdico de fundamental importância, podemos unir tal RENATA DE
atividade com as especificidades da EJA, conquistando aulas CARVALHO BARRA
mais dinâmicas e interessantes.
Graduação em Pedagogia pela Faculdade
Anhembi Morumbi (2014); Especialista
O processo ensino aprendizagem ocorre através da em Educação de Jovens e Adulto pela
atuação dos sujeitos, ou seja, professor e alunos. Desse Faculdade Campos Elíseos (2016);
modo, o papel do professor é o de proporcionar um ensino Professora de Ensino Fundamental I e
significativo. Porém, a prática docente depende de fatores Educação Infantil - na EMEF João Ramos
internos e externos ao sujeito, ou seja, ao professor fica a Pernambuco, Abolicionista
responsabilidade de constantemente rever suas práticas,
assim como modifica-las quando necessário, quebrando
paradigmas e estabelecendo o que realmente será
significativo aos seus alunos, adaptando e transformando
suas aulas de acordo com as características e necessidades
dos estudantes.

A atual pesquisa finaliza-se com a certeza de que há sempre motivos para querer uma
transformação, como também sempre haverá meios de conquistar novos horizontes. Um
dos fatores chaves para o sucesso, em qualquer meio, é primeiramente, a vontade em querer
mudar e melhorar.

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VYGOTSKY, Levy. A Formação Social da Mente. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

1601
Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

JOGOS E BRINCADEIRAS COMO


ESTRATÉGIAS DE ENSINO EM LÍNGUA
INGLESA NO ENSINO FUNDAMENTAL
RESUMO: Nas escolas de ensino fundamental da Cidade de São Paulo o brincar tornou-se
o foco no estudo de língua inglesa no ciclo I do ensino fundamental. Propondo reinventar as
aulas de inglês, com jogos e brincadeiras para um ensino de qualidade na era da informação,
o ensinoatravés do lúdico torna as aulasde inglêssignificativa no processo de aprendizagem,
levando o aluno a ter suas habilidades cognitivas desenvolvidas. A brincadeira e os jogos são
dessa forma uma estratégia de ensino que protagonizam o sujeito e o convida a construir
uma aprendizagem contextualizada, em que a interação entre aluno com aluno e seus
professores, criam um ambiente prazeroso em sala de aula. As inteligências são provocadas
e dessa forma o sujeito aprende a aprender de uma forma animada, o professor é visto dessa
forma não apenas aquele que transmite conhecimento, mas aquele que provoca o sujeito
a desenvolver suas habilidades, mediando assim os conhecimentos ofertados em sala de
aula. Os jogos e brincadeiras tem-se mostrado uma estratégia de ensino no estudo de língua
inglesa no ciclo I nas escolas da cidade de São Paulo.

Palavras-Chave: jogos, brincadeiras, aprendizagem

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO CURRÍCULO DA CIDADE


DE SÃO PAULO EM LÍNGUA
O presente trabalho visa mostrar que jogos
e brincadeira são estratégias de ensino para INGLESA
o estudo de língua inglesa, com uma nova A sociedade da informação ou do
ressignificação, o currículo da cidade de São conhecimento, como é denominado o
Paulo foca o brincar como eixo norteador atual momento no Brasil e no mundo como
para o ciclo I no estudo de língua inglesa. efeito da globalização ,vem ansiar porum
ensino de língua Inglesa mais atrativo
A língua inglesa é um instrumento de para os ciclos de aprendizagens .Ociclo da
aprendizagem para estimular os diversos Alfabetização tem como foco principal o
tipos de inteligência, provocar o aluno brincar, que conformeCurrículo da cidade de
a querer aprender e criar um ambiente São Paulo em língua inglesa p73,é por meio
prazeroso de aprendizagem pode ser uma dasvivências lúdicas ,com jogos, brincadeiras
grande estratégia de ensino. que envolvem cantar,desenhar,recitar, entre
outras, que as crianças iniciam o processo
Aulas expositivas não fazem por si só de agenciamentosocial e,portanto,o
interessante aos alunos, as crianças aprendem brincar é, por assim dizer, a atividade de
o que é interessante a elas, brincar e jogar aprendizagemfundamental para esses
quando se aprende um idioma contextualiza sujeitos.
a aprendizagem de forma significativa.
Na prefeitura municipal de São Paulo
O brincar no ensino de língua inglesa as crianças desde o 1°ano participam
quando direcionado pode ajudar o indivíduo doprocesso de alfabetização em língua
a desenvolver suas capacidades cognitivas, o Portuguesa, concomitante ao aprendizadode
professor de inglês pode propor atividades língua Inglesa. A aquisição da linguagem
lúdicas que estimulem os alunos a escrita mantém uma relação dereciprocidade
desenvolverem suas inteligências mesmo entre ações de ler e escrever, na medida em
essas não sendo linguísticas ou matemáticas que essas práticasde linguagem são inseridas
como a muito tempo a escola vem fazendo. no contexto social. Assim, as crianças
nas aulas delíngua inglesa vivenciarão as
Segundo Gardner uma atividade práticas e usos que dela são feitos, apesar de
lúdica pode ajudar a desenvolver os sete alinguagem escrita não ser objeto de ensino
tipos de inteligências,atividades como no Ciclo de Alfabetização.
música,mímica,bingo de palavras,memory
game, entre outras convida o aluno a participar Os aprendizados em língua materna como
da aula de inglês de forma prazerosa. o de língua inglesa pautam-se emsituações
de interações socias e vivências concretas

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Revista Educar FCE - Março 2019

de Aprendizagem que envolvem o uso Os jogos fazem a sala de aula uma


da língua nos primeiros anos do ciclo do atmosfera prazerosa e além de despertar
ensino fundamental,na interação de uma olado lúdico cria aprendizado por meio da
criança com a outra e com o professor que cooperação e da motivação, além defavorecer
se constroemuma significação ao que deve o desenvolvimento cognitivo das crianças.
ser aprendido. Conforme apresentado
nocurrículo de São Paulo, o trabalho para o As habilidades das crianças podem ser
ciclo de Alfabetização como édenominado desenvolvidas quando as brincadeirase jogos
os primeiros anos do ensino fundamental, são direcionados e aliados a determinado
prevê um trabalhofocado na ação do brincar, tipo de inteligência(GARDNER, Howard,
tendo como característica principal vivências 1995).
queprivilegiem a linguagem oral, através
da música, de jogos, de brincadeiras em
línguainglesa. Provocando assim a criança a INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS
construir um reportório com o idioma aser O QUE SÃO ELAS?
aprendido para construir o conhecimento
em Inglês. A teoria das inteligências múltiplas foi
proposta pelo Dr. Howard Gardner em1983,
essa teoria propõe que um indivíduo que sabe
OS JOGOS E A lidar com eficácia emequações matemáticas
APRENDIZAGEM não é mais inteligente que outro com
dificuldades emnúmeros.
Jogos e brincadeiras são ações que permitem
o indivíduo estimular suacriatividade, ainda Essa proposta de Gardner identificou
a aguçar fantasia e realidade, produzir novas sete tipos diferentes de inteligência: a
relações depossibilidades de interpretação, linguística, a lógico-matemática, a espacial,
de expressão e ação de interação de criançase a sinestésica, a musical, aintrapessoal e
adultos (Currículo de SP, p73). Atividades a interpessoal. Há ainda a inteligência
lúdicas fazem parte de nossasvidas desde naturalista e emocionaldefendida por outros
muito tempo atrás até os dias atuais. (Lago, Andreza p20,2007).

A criança compreende o mundo quando As escolas embora receberam a
bebê através da interação com a mãe,que denominação de espaço da informação
através de estímulos como da linguagem e doconhecimento ainda priorizam dois
ou brincadeiras apreende omundo tipos de inteligência: a linguística e a
(Vygotsky,2007). lógicomatemática.

Por essa razão, a teoria de Gardner enfatiza que
os alunos terão suas habilidades aproveitadas de

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Revista Educar FCE - Março 2019

maneira mais eficaz quando a Educação for vista


de uma maneira mais ampla, segundo a qual os
Inteligência Espacial: A inteligência visual-
professores utilizam metodologias, atividades
espacial está ligada a visão e a noção de
e exercícios diversos que possam atingir espaço. Indivíduos com inteligência espacial
positivamente todos os alunos com diferentes predominante são muito bons em visualizar
tipos de inteligências e não somente os que e manipular mentalmente objetos.
possuem habilidades linguísticas e matemáticas.
(Lago Andreza, p20). Inteligência Musical: A inteligência musical
tem como característica ser sensívelao
TIPOS DE INTELIGÊNCIA universo do ritmo, da música e da audição.
PROPOSTO POR GARDNER Indivíduos com a inteligênciamusical
predominante apresentam grande
Segundo Howard Gardner existem 7 sensibilidade aos sons, ritmos, tonse
centros de inteligências, são elas`: música. Eles geralmente sabem cantar, tocar
instrumentos musicais ecompor músicas.
Inteligência Linguística:esse tipo de
inteligência está relacionado com ahabilidade Inteligência Interpessoal: Indivíduos que
da palavra escrita ou falada. Indivíduos possuem inteligência interpessoal sãobons
com alto nível de inteligêncialinguística em interagir com outras pessoas, são
apresentam facilidade com as palavras e com extrovertidos, sensíveis aossentimentos de
as línguasestrangeiras. outras pessoas, são bons em trabalho em
equipe.
Inteligência corporal sinestésica: A
inteligência sinestésica está relacionadacom Inteligência Intrapessoal: A inteligência
o movimento do corpo. Na teoria, indivíduos intrapessoal está relacionada com
com esse tipo de inteligênciaaprendem a introspecção e as capacidades de
melhor quando envolvidos em atividades autorreflexão. Aqueles que apresentam
que exigem movimentomuscular. essainteligência são tipicamente
introvertidos e preferem trabalhar sozinhos.
Inteligência lógico-matemática:
A inteligência lógico matemática Quando o professor se dá conta que
estárelacionada com a lógica, abstrações, pode ajudar seus alunos a desenvolversuas
razão e números. Indivíduos comesse tipo habilidades, ele tentará mudar sua didática e
de inteligência destacam-se nas Ciências metodologia em sala deaula. Proporcionando
Exatas, como aMatemática, no Xadrez, assim um ambiente prazerosa em sua aula
na programação de Dados e em outras de inglês,explorando o tipo de inteligência
atividades queenvolvem lógica e números. de cada aluno, considerando o educando
deforma singular.

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Revista Educar FCE - Março 2019

BRINCADEIRAS EJOGOS EM INGLÊS


Segundo Lago Andreza algumas brincadeiras e jogos em inglês podem desenvolver a
inteligência musical, sinestésica, matemática, interpessoal, intrapessoal, linguística e espacial.
Consideremos duas brincadeiras e a que tipo deinteligência elas estão relacionadas.

1.What’s the movie? (musical intelligence)

Tópico: Filmes e músicas


Nível: Todos
Material: Temas musicais de filmes famosos
Procedimento

O professor deve dividir os alunos em grupos, colocar em áudio os primeiros segundos de


cada tema musical. O grupo que souber o filme do tema musical corre e escreve no quadro.
O vencedor será o grupo que avinhar o maior número de filmes.

2. Who’s Missing (inteligência interpessoal)


Tópico: vocabulário (vestimentas, cores, tamanhos e formas)
Nível: todos
Material :Nenhum
Procedimento

O professor deve pedir aos alunos que memorizem o que cada um de seus colegas está
vestindo, tipo de roupa, cor, tecido, tamanho. Pedir aos alunos que fechem os olhos e retire
um aluno da sala, os alunos individualmente terão de adivinhar quem não está presente
na sala descrevendo o que a pessoa está usando. O vencedor será o aluno que conseguir
descrever o colega corretamente.

Atividades antigas versadas em inglês são ótimas quando compartilhadas em língua


materna, O aluno consegue ampliar seu repertório de palavras na língua estudada.Hot-
Potato,saymon says,Bingo de palavras inglesas dentre outras.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho vem tentar elucidar as aulas de inglês
com jogos e brincadeiras, uma estratégia de aprendizagem
necessária no ciclo I das escolas da cidade de São Paulo.

O estudo de língua inglesa constitui-se componente


curricular nos primeiros anos das escolas municipais de SP
e é através do brincar que ela se estabelece de forma plena.
Professores e alunos são dessa forma estimulados a focar
em brincadeiras e jogos como aula, pois as crianças ainda
não estão alfabetizadas em língua materna, dessa forma o RENATA SIMONE
foco nos primeiros anos do ciclo I nas aulas de português e DO BEM RAMOS ALVES
inglês é o brincar.
Graduação em Letras pela Faculdade
Integradas Teresa Martin(1997);
Apresentando dessa forma atividades simples, capazes de Especialista em Aprendizagem da Língua
ajudar a propiciar um ambiente prazeroso, e aprendizagens Inglesa pela Faculdade Unesp (2010);
significativas em sala de aula os jogos e brincadeiras são Professora de Ensino Fundamental II
capazes de através da aula de inglês desenvolver não Inglês - na EMEF Remo Rinaldi Naddeo.
só a inteligência linguística como as demais. Além disso Atualmente cursando Pós-graduação em
integra professor e aluno, aluno e aluno na construção do Didática da língua Inglesa pela Faculdade

conhecimento de língua inglesa. Campos Elíseos.

1607
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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VYGOTSKY, Lev S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes,2007

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DA CULTURA
INFANTIL:
NEGRAESPAÇO
NO BRASILa
DE APRENDIZAGEM , EXPERIMENTAÇÃO E
SOCIALIZAÇÃO

O DESENHO INFANTIL E A
IMPORTÂNCIA DA ARTE
PARA CRIANÇA
RESUMO: O tema da pesquisa “O desenho infantil e a importância da Arte para criança”
justiça-se, pois, trabalhar com o desenho na educação infantil exige muito conhecimento
a respeito do desenvolvimento da criança. As crianças manifestam seus sentimentos,
suas emoções quase sempre por meio dos desenhos. São por meio dos desenhos que elas
conseguem soltar sua imaginação e representar o que está a sua volta. Portanto, ter um olhar
diferenciado sobre as produções artísticas das crianças da Educação Infantil, percebendo-a
como uma manifestação de seu desenvolvimento cognitivo e afetivo pode ser um diferencial
deste segmento educacional. O presente trabalho tem por objetivo contribuir para educadores
da Educação Infantil a repensar sobre as concepções e metodologias a respeito da Arte por
meio dos desenhos, sobre sua prática, as possibilidades de novas linguagens e técnicas e os
reais objetivos desse ensino, bem como compreender o exercício do desenho das crianças e
suas evoluções, valorizando a possibilidade da expressão e da criação.

Palavras-Chave: Arte; Criação; Desenhos

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO cultivado seja utilizado como uma forma de


desenvolvimento da criança, respeitando e
A pesquisa traz como tema “O desenho valorizando seus esquemas de representação.
infantil e a importância da arte para criança”,
justifica-se essa abordagem, pois, a criança De forma mais específica, busca-se
desenha muito antes de entrar para a escola, compreender, entre os autores consultados,
portanto antes desse momento é possível que em que medida a criança cria por si mesma
ela já tenha vivenciado várias oportunidades os seus esquemas de representação pelo
e dos mais vários tipos de representações desenho, em que medida esses esquemas
gráficas. são elaborados a partir da influência do meio
onde ela vive e, por fim, em que medida
As crianças desenham reproduzindo esses esquemas podem ser alterados de
cultura, isto é, espaços e tempos nos quais forma positiva ou negativa pela intervenção
se inserem. Na verdade, tanto reproduzem do professor.
como também produzem e nessa reprodução
ou produção a criança atribui significados A metodologia adotada para o estudo é a
oriundos das suas experiências, ao mesmo pesquisa bibliográfica, preferindo-se o apoio
tempo em que vivenciam novas experiências. de autores mais versados sobre a questão,
Vê-se, assim, que o desenho é para a criança que, com suas experiências diretas ou pela
uma forma de linguagem por meio da qual síntese que fazem das experiências de outros
ela procura se expressar. autores, fornecem amplo material para que o
assunto seja devidamente aprofundado.
A hipótese trabalhada é a de que o desenho,
assim como outras manifestações da criança,
sintetiza os esquemas de representação por ARTE E DESENHO INFANTIL
ela construídos na sua interação constante
com os sistemas presentes na cultura que O trabalho com a arte é um elemento
a envolve. Ou seja, desenvolvimento do fundamental na educação, por possuir por
desenho da criança se dá em conformidade despertar e expressar uma diversidade de
com os modelos sociais por ela absorvidos sentidos, sentimentos e imaginação. Martins
e vividos, o que significa dizer que crianças (1998, p. 34) afirma que, “antes mesmo
de diferentes meios sociais desenvolvem de saber escrever, o homem expressou e
esquemas de representação também interpretou o mundo em que vivia pela
diferentes. linguagem da arte. O autor cita a importância
da arte dentro e fora das escolas:
O objetivo geral do estudo é avaliar
em que medida o professor de educação Assim a arte é importante na escola,
infantil pode contribuir para que o desenho principalmente porque é importante fora dela.
Pode ser um conhecimento construído pelo

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homem por meio dos tempos, a arte é um


O novo dicionário Houaiss da língua
patrimônio cultural da humanidade e todo ser
humano tem direito ao acesso a esse saber.
portuguesa (2009) nos dá o significado da
(MARTINS, 1998, p.13). palavra desenhar: deriva do latim designo,
que quer dizer: marcar, traçar, notar,
Em complemento as citações acima desenhar, indicar, designar, dispor, ordenar.
Martins (1998) vê a arte como importante
ferramenta do ensinar e aprender. A iniciação das crianças no mundo
dos desenhos, formas, e cores, deve ser
Transformar as atividades isoladas das aulas estimulada a acontecer o quanto antes, e
de arte em ensinar/aprender arte por meio de o trabalho realizado com os bebês desde
projetos, criando situações de aprendizagem por a creche tem grande influência para o
meio de sequências articuladas continuamente desenvolvimento das crianças, por ocupar
avaliadas e relampejadas, pode se converter numa
um grande papel na vida das crianças. Suas
eficiente atitude pedagógica (MARTINS,1998,
primeiras obras são os rabiscos:
p.158).

Rabiscar – Colocar um giz grosso de cera na mão


A arte proporciona, essa possibilidade de do bebê e deixar que ele produza seus primeiros
magnitude, tornando seu olhar cada vez mais rabiscos em um papel grande sobre o chão. As
aberto ao que se já tem e ao novo. crianças se divertem com movimento de rabiscar
e se encantam com as marcas que conseguem
deixar no papel. (BRASIL, 2012, p.18).
As manifestações artísticas criam
sempre oportunidades para inúmeras
brincadeiras. A diversidade de experiências O desenho é composto de três elementos
culturais favorece brincadeiras coletivas básicos: o material que é usado na criação, o autor
e dão oportunidades para as crianças se desta produção e a própria produção originada.
relacionarem. Tais experiências no campo Para Edith Derdyk (2003) o desenho possui
das artes devem fazer parte da vida diária das significado mágico em todas as áreas que assume:
crianças na programação curricular. (BRASIL,
2012, p.45). Seja no significado mágico que o desenho
assumiu para o homem nas cavernas, seja no
As crianças gostam muito de desenhar, desenvolvimento do desenho para a construção
procuram qualquer motivo para rabiscar, de maquinários no início da era industrial, seja
na sua aplicação mais elaborada para o desenho
brincar com os lápis, traçam círculos
industrial e a arquitetura, seja na função de
semicírculos regulares e irregulares, gostam
comunicação que o desenho exerce na ilustração,
de usar os dedos como pincel na areia, na
na história em quadrinhos, o desenho reclama a
tinta. Quando possuem um lápis ou giz é
sua autonomia e sua capacidade de abrangência
uma verdadeira festa. como um meio de comunicação, expressão e
conhecimento (DERDYK, 2003, p.29).

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Revista Educar FCE - Março 2019

As ideias de Derdyk (2003) tratam o É fazendo uso da linguagem gráfica que


desenho como forma de ação sobre o mundo, elas reconstroem a realidade externa e
manifestando seus desejos de representação. adéquam-na a sua realidade interna.

O desenho também é uma manifestação da Para Holm (2007, p.23) “cada desenho
inteligência. A criança vive a inventar explicações, é único. Não consigo ver as similaridades,
hipóteses e teorias para compreender a realidade. somente as diferenças. O desenho, com
O mundo para a criança é continuamente certeza, é comunicação.
reinventado. Ela reconstrói suas hipóteses e
desenvolve capacidade intelectiva e projetiva,
De acordo com Rosa Iavelberg (1995),
principalmente quando existem possibilidades
o desenvolvimento da capacidade de
e condições físicas, emocionais e intelectuais
desenhar ocorre num processo conforme
para elaborar essas “teorias” sob forma de
atividades expressivas. Enquanto houver criança
as relações e interações sociais, os contatos
desenhando, representando, construindo, com as produções artísticas, imagens e as
inventando, processando o consumo deste mundo oportunidades de as crianças desenharem,
ficcional que lhes é apresentado como realidade, experimentarem cores, traçados, suportes e
está poderá ser fruída de maneira inteligente, movimentos
sensível e indagadora (DERDYK, 2003, p.54).

O desenho evidencia as ideias que as LINHAS


crianças constroem sobre o mundo a sua
volta, destacando o processo da construção Desenhar é mais uma maneira de se
de conhecimentos por elas vivenciado. expressar, exteriorizar os pensamentos,
organizar as ideias, tornar concreto o que
até então era apenas um pensamento, uma
ELEMENTOS GRÁFICOS imaginação. É sem dúvidas, uma representação
de formas sobre uma superfície, utilizando
A criança desenha muito antes de entrar pontos, linhas, manchas, ludicidade, trabalho
para a escola, portanto antes desse momento artístico.
é possível que ela já tenha vivenciado várias
oportunidades e dos mais vários tipos de Segundo Mazzamati, (2012, p.129)
representações gráficas. “As linhas no desenho são a diversão do
desenhista, elas sobem, descem, esticam,
As crianças podem desenhar, pintar e colorir. encurtam, param, conforme o nosso desejo.
Assim, aprendem e representam o mundo das Existem as linhas retas, tortas, pontilhadas,
cores e das formas. Por meio dessa expressão verticais, horizontais, diagonais”.
produzem imagens gráficas, adquirem autonomia
e precisão de gestos. (ABRAMOWICZ e
WAJSKOP, 1999, p.85).

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Revista Educar FCE - Março 2019

FORMAS PONTO
Por meio dos desenhos que as crianças De acordo com Mazzamati (2012, p.132)
iniciam seu interesse e imaginação, “o ponto no desenho tem muito mais um
desenvolvendo assim a criatividade no sentido de começo, de desenrolar de um
fazer artístico, pois vão adquirindo novas acontecimento, do que de fim”.
habilidades e formas de perceber o mundo.
Segundo Lilian Parachen (2011) “O ponto
Para Mazzamati (2012, p.130) “A forma é o elemento básico da geometria, através
é móvel enquanto ainda está na mente do do qual se originam todas as outras formas
desenhista, e, depois que vai para o papel, geométricas”, para ela o “ponto é o lugar
ou outro suporte, instala-se e ganha corpo e onde duas linhas se cruzam, e o ponto é um
lugar definido. sinal sem dimensões, deixado na superfície”.

O trabalho bem desenvolvido nessa área


desenvolve a sensibilidade, a percepção e COR
a imaginação do aluno, tanto para realizar
formas artísticas quanto para apreciar e O contato com as cores, e a estimulação
conhecer produções individuais e coletivas, precoce do trabalho com artes visuais, visa
bem como a natureza. explorar os sentidos e a curiosidade dos
bebês e crianças, podendo ser iniciado já
nos primeiros meses de vida, já que trabalha
ESPAÇO de forma integrada a percepção, cognição,
imaginação, sensibilidade, intuição e o
Quando os traços que até então eram apenas pensamento.
rabiscos vão se tornando organizados dentro
do espaço oferecido, a criança está passando Para Cunha (1999) explora os sentidos ao
pela fase/estágio das garatujas controladas. manter contato com as cores, o autor nos
explica:
O espaço do desenho de acordo com
Mazzamati (2012, p.133) “é o campo visual A criança desde bebê mantém contato com as
onde os elementos imaginados pelo autor se cores visando explorar os sentidos e a curiosidade
relacionam”. dos bebês em relação ao mundo físico, tendo em
vista que, nesse período, descobrem o mundo
através do conhecimento do seu próprio corpo
Nessa fase algumas crianças já que dar
e dos objetos com que eles têm possibilidade de
nome aos seus traços, mas não pelo que
interagir. (CUNHA, 1999, p. 18).
parece e sim o que representa para ele
naquele momento.

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Revista Educar FCE - Março 2019

De acordo com Mazzamati (2012, p.136) O desenho figurativo, já se baseia em figuras


“na arte a cor no desenho é a composição conhecidas no mundo real: bonecos representam
que o autor faz ao organiza-lo no espaço. O humanos, neles encontramos animais, natureza,
uso da cor evidencia uma escolha”. paisagens, e cenas do cotidiano.

Em todas as suas formas de comunicação O desenho figurativo é aquele cujas imagens


e expressão a arte vem de encontro ao estão apoiadas em figuras conhecidas no
universo lúdico da criança contribuindo para mundo real. Os temas mais comuns desse tipo
seu desenvolvimento e aprendizado de desenho são: figuras humanas, coisas da
natureza, flores, animais, frutas, árvores etc,
paisagens urbanas, campestres, marinhas; as

ABSTRATO E FIGURATIVO – cenas: do cotidiano, guerra, figuras imaginárias


(MAZZAMATTI, 2012, p. 139).
AS FASES DO DESENHO
Identificamos a presença do universo
A criança ainda muito pequena ao fazer figurativo quando a criança inicia na fase
seus primeiros riscos apresenta a fase das garatuja intencional, surgindo outros
garatujas desordenadas, são traços aleatórios elementos além da figura humana ou de uma
que muitas vezes acontecem por aqui querer casinha, ainda que bem rudimentar, podem
experimentar o objeto que pode ser o pincel, surgir um sol uma flor um bichinho entre
lápis giz, carvão etc. outros.Já estágio pré-esquematico inicia por
volta dos 4 a 6 anos.
Nas garatujas controladas os rabiscos
tomam formam e se organizam, recebendo De acordo com Lowenfeld (1977), é um
os nomes e significados dados pelas crianças. momento em que a criança já começa a
compreender a relação do seu desenho com
Em relação aos tipos de desenhos podemos seu pensamento e sua realidade. Nessa fase
defini-los como abstratos, conforme definido ele sente muito entusiasmo e prazer em
por Mazzamatti (2012) esses desenhos não desenhar objetos e coisas da sua realidade,
possui uma simbologia relativa a figuras. exprimindo sua fantasia.

Um desenho abstrato é aquele que a imagem


apresentada não se refere a figuras que remetem DESENHO COMO
ao real, nem mesmo aquelas dos sonhos. Os
desenhos abstratos não têm uma simbologia
LINGUAGEM
relativa a figuras, mas sim uma ligação direta O nosso Referencial Curricular para a
com ideias e composições. (MAZZAMATTI,
Educação Infantil (1998), é bem pontual
2012, p. 139)
quando traz o ensino de arte como uma
forma de linguagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Carmen Lúcia Perez (2001), demonstra só depois são interpretados e posteriormente


como a criança usa o desenho para se são descritos sobre suas ideias, conforme
expressar. vão produzindo.

Desde os primeiros traços da criança desenvolve- O desenho é uma das primeiras formas de
se um processo que culmina numa espiral, na expressão. Toda criança, antes de escrever,
qual se segue o desenho com intenção e pouco já desenha naturalmente, e sem saber já
depois a escrita. A criança se utiliza do desenho desenvolve habilidades artísticas, gráficas,
como forma de expressão, contando através
conceituais. Desenhar se torna um prazer
dele uma história. Ao desenhar sua casa e sua
quando a criança descobre que existe uma
família a criança expressa representações que
ligação entre os olhos e a mão, o que acontece
construiu no cotidiano de suas relações. Ao se
por volta de 1 ano e meio de idade. A primeira
expressar (através do desenho), ele organiza
seu pensamento, ao mesmo tempo em que se
forma que surge da exploração geralmente é
conscientiza de suas emoções. (PEREZ, 2001, o círculo, que serve de inspiração na tentativa
p.80). de criar novas formas. É experimentando
que a criança desenvolve seus movimentos
e habilidades.
Edith Derdyk (2003), enfatiza a importância
da linguagem verbal para que a criança possa Em experimentos realizados para estudar o ato
nomear seus desenhos e interpretá-los. de desenhar, observamos que frequentemente
as crianças usam a dramatização, demonstrando
A aquisição verbal redimensiona a relação que por gestos o que elas deveriam mostrar nos
a criança mantém com o desenho e com o desenhos; os traços constituem somente um
ato de desenhar. Nomear desencadeia ações. suplemento a essa representação gestual. Uma
A ação gráfica no papel sugere figuras. A criança que tem que desenhar o ato de correr
palavra representa o objeto, a pessoa, o fato. começa por demonstrar o movimento com os
Desenhar e falar são duas linguagens que dedos, encarando os traços e pontos resultantes
interagem, são duas naturezas representativas no papel como uma representação do correr
que se comportam, exigindo novas operações (VYGOTSKY in FERRAZ & FUSARI, 1989, p.65).
de correspondência. A linguagem verbal e a
linguagem gráfica participam de uma natureza
Ao longo das vivências, a produção da
mental, cada uma com sua especificidade e sua criança se transforma em linguagem e ela
maneira particular de participar de uma imagem, começa a contar o que fez. O que não quer
uma ideia, um conceito. (DERDYK, 2003, p.97) dizer que ela o fará sempre, mas a partir
desse momento a experiência e a produção
Com a observação atenta aos desenhos se transformam num meio de comunicação
das crianças, constata-se que a fala está
presente como parte do ato de desenhar. Desenhar é importantíssimo, Mazzamati
Primeiro as crianças produzem os traços, que (2012), conceitua como interessante o ato

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simbólica e usa essa forma de simbolismo para


de desenhar, vejamos na integra como o comunicar-se com o outro e com ela mesma.
autor define: (MAZZAMATI, 2012, p.60).

Desenhar é uma coisa interessante: se o Mazzamati complementa com as razões


pensamento estica, a linha acompanha. Se pelas quais a criança precisa do desenho para
encurta, também. Se piso na areia, marca. Se desenvolver aspectos ligados a estruturação
dou um abraço enrola. Se mostro o tamanho do e desenvolvimento cognitivo:
bicho com as duas mãos, visualizo. Desenhar
é mesmo uma coisa interessante. Dentre as O processo de aprendizagem do desenho infantil
muitas maneiras de definir o ato de desenhar, tem seu campo definido. A criança desenha desde
que foram mudando ao longo do tempo e da pequena. Na escola, é lhe oferecido um espaço
história, uma das mais interessantes é a que para desenvolver essa atividade pelas razões já
considera o ato de desenhar uma conversa, que apontadas, de estruturação e desenvolvimento
possibilita ao pensamento rever e processar cognitivo integrado (MAZZAMATI, 2012, p.63).
informações, numa constante relação entre o
ser que desenha e o mundo. Uma conversa que
quem desenha estabelece consigo mesmo e com O trabalho com desenhos no dia a dia das
o outro. (MAZZAMATI, 2012, p.11-12). crianças, devem acontecer, mas de maneira
bem planejada, com objetivos, auxiliando no
Em complemento Mazzamati, explica processo de ensino-aprendizagem.
que o desenho é uma linguagem a ser
desenvolvida: Deve se agregar as práticas pedagógicas
para que as crianças se percebam como
Para os alunos, o desenho e uma linguagem a construtores de seus próprios saberes, tão
ser desenvolvida. É linguagem porque, por meio fundamental para a formação humana.
dela, acontecem de modo livre e espontâneo
importantes relações cognitivas, isto é a criança Para Leite (2008, p. 62), em seu texto sobre
desenvolve a capacidade de fazer análise
o desenho da criança vem “ressignificar a
de formas e dos elementos do mundo,
concepção de desenho de forma a ampliar
transformando-os graficamente. (MAZZAMATI,
o diálogo com arte” com o objetivo de
2012, p.58).
desconstruir algumas verdades que temos
como absolutas em nossa prática, visando
Ainda de acordo com o autor, o desenho pensar os desenhos além de uma dimensão
infantil é uma linguagem estruturante cheia estética e poética num olhar que vai além
de simbolismo do qual a criança utiliza para dos signos simbólicos e convencionais a
comunicar-se. serem decodificados e lidos.

O desenho infantil é também linguagem pela Desenhando a criança pode se expressar


sua função estruturante, à medida que, por meio de maneira livre, capaz de transformar
dele, a criança organiza suas emoções de maneira

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mensagens que capta do seu cotidiano e tem papel fundamental na compreensão e na


análise crítica da sociedade por parte da criança

Entende-se por desenho o traço que a criança faz no papel ou em qualquer Superfície”, e também a maneira
como a criança concebe seu espaço de jogo com materiais de que dispõe, ou seja, a maneira como organiza
as pedras e folhas ao redor do castelo de areia, ou como organiza as panelinhas, os pratos, as colheres na
brincadeira de casinha, tornando-se uma possibilidade de conhecer a criança por meio de uma outra linguagem:
o desenho de seu espaço lúdico. (MOREIRA, 1993, p.16).

No caso do desenho, e da criança, o que esse representa é aquilo que a criança materializa
como imagens mentais a partir daquilo que ela conhece e tem registrado na memória, com
o acréscimo ainda da imaginação. Assim, quando uma criança desenha, ela não o faz pela
observação de algo, mas sim daquilo que tem na memória ou do que gera a sua imaginação.

É preciso oferecer as crianças os diversos recursos, expandindo o repertório infantil,


possibilitando situações que a criança consiga se expressar, criar, refletir, explorar, comparar
entre tantas outras conquistas.

É importante organizar informações sobre arte, utilizando artistas e produções documentos


e acervos, para que percebam a variedade existente de produções artísticas e concepções
estéticas existentes nas diferentes culturas.

Além das situações propostas em sala de aula, na rotina escolar, a importância dada as
atividades que envolvem desenho em casa também influencia o desenvolvimento infantil.
A família que possibilita a criança acesso aos mais diferentes materiais, pode garantir
experiências significativas, pois ampliam e enriquecem o repertório visual e manipulativo da
criança.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Trabalhar com o desenho exige muito conhecimento a respeito
do desenvolvimento da criança. As crianças manifestam seus
sentimentos, suas emoções quase sempre por meio dos desenhos.

É através do desenho que as crianças conseguem soltar sua


imaginação e representar o que está a sua volta. Portanto, ter
um olhar diferenciado sobre as produções artísticas das crianças
percebendo-a como uma manifestação de seu desenvolvimento
cognitivo e afetivo pode ser um diferencial deste segmento
educacional. RIZONEIDE MARIA DIAS
Graduação em Pedagogia, pela faculdade
Nesse sentido, é importante para o professor ter conhecimento
FASB- Faculdade São Bernardo do Campo
sobre os significados do desenho para a criança, bem como das (10/12/2005); Especialista em Educação
suas fases de desenvolvimento em relação ao desenho, para que Infantil, pela Faculdade FEUSP- Faculdade
ele possa então, de um lado acompanhar o desenvolvimento e Educação Universidade de São Paulo,
o desenho natural, e de outro, ter condições de contribuir para o (23/072012). Professora de Educação
desenvolvimento do desenho cultivado. Básica Infantil e Ensino Fundamental I- Na
EMEF Cassiano Ricardo Dre-Ipiranga do
O professor precisa ser o maior incentivador para o fazer município de SP.

artístico, quanto mais ele despertar a curiosidade e o prazer infantil,


mas ele estará tornando esses momentos com o trabalho com artes
interessante e produtivo para as crianças. Ele precisa ter o desejo de
ensinar e fazer com as crianças, colocar as mãos na tinta, desenhar e
se sujar com elas, tornando esses momentos mágicos inesquecíveis.

Para que ocorra o fascínio entre o ambiente escolar e a criança, o desenho produzido pelo aluno
precisa ser valorizado para que a mesma se sinta parte integrante do ambiente, favorecendo o
desenvolvimento como cidadão de fato. Isso a faz interagir e apreciar a própria produção e a de outros,
crianças ou adultos, e para que ocorra é necessário planejamento e valorização por parte do educador
mediante projetos bem elaborados e exposições com as produções conseguidas para que haja uma
reflexão da arte.

Portanto, a formação dos educadores deve visar à conscientização de que o desenho infantil é
parte fundamental nas diversas linguagens existentes dentro da proposta pedagógica e não só mera
brincadeira de criança, para que o desenho tenha papel significativo na sociedade é preciso que haja
um movimento em favor das produções infantis dentro da escola.

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VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

JOGOS E BRINCADEIRAS NA
ESCOLA
RESUMO: O objetivo do artigoédiscutir a questão do brincar, sobretudo na educação
infantil, e sob quais formas o lúdico interfere no processo de aprendizagem da criança. A
pesquisa irá compor a evolução histórica dos jogos e brincadeiras, o artigo sugere o resgate
das brincadeiras tradicionais, como atividade lúdica e como instrumento metodológico de
ensino.A escolha do tema tem como ponto de partida questões levantadas sobre a necessidade
de conhecer a importância do brincar para a criança e sua influência no comportamento do
progresso da aprendizagem, enfatizando os aspectos cognitivos e emocionais através da
prática escolar. A pesquisa traz também os conceitos de brinquedo, jogo e brincadeira, a
fim de traçar conceitos culturais e sua aplicabilidade na atividade lúdica da criança. Para
concretização dessa pesquisa foi elaborado também pesquisa de campo, com o relato de
quatro práticas distintas através de entrevistas informais com professores, observações e
participação nas práticas das aulas de educação infantil. Dessa forma, espera-se oferecer
sugestões aos educadores a respeito da importância do brincar na vida a criança.

Palavras-Chave: Evolução; jogos; brincadeiras; aprendizagem, infantil.

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INTRODUÇÃO aos quais, estão disponíveis a elas? Como as


crianças têm-se apropriado das imagens e da
O objetivo principal do presente artigo é linguagem dos meios de comunicação, em
refletir sobre o brincar e suas implicações especial da televisão?A escolha desse tema
no processo de aprendizagem. É através tem como ponto de partida essas questões
do brincar que a criança reproduz o seu levantadas e a necessidade de conhecer a
cotidiano, dessa forma o lúdico torna-se importância do brincar para a criança e sua
uma importante forma de comunicação. influência no comportamento do progresso
Contudo, os jogos e brincadeiras são da aprendizagem, enfatizando os aspectos
poucos utilizados, criando-se uma distância cognitivos e emocionais através da prática
preocupante entre o processo pedagógico e escolar.
a ludicidade. A pesquisa mostrará que o olhar
a respeito dos jogos e brincadeiras, dentro Por fim, de acordo com Friedmann (2006, p.
do âmbito escolar, é de um processo a parte 36), pode-se analisar o brincar em diferentes
da educação, motivados, muitas vezes, pelo enfoques:
desconhecimento ou desinformação, por
parte de educadores, dos benefícios e da (...) Sociológico, ainfluência do contesto
importância do jogo para desenvolvimento social, os quais, os grupos de crianças
infantil. brincam; Psicológico:O jogo como meio para
compreender melhor o funcionamento da
psique, das emoções e da personalidade dos
À luz de relatos de prática, além da
indivíduos; Antropológico:A maneira como o
bibliografia e dos estudos existentes, a
jogo reflete em cada sociedade, os costumes e a
pesquisa mostrará que o brincar faz parte
história das culturas; e por último, Educacional:A
não só do universo infantil da criança, mas contribuição do jogo para a educação e para
do adulto também. É na espontaneidade da desenvolvimento e/ou aprendizagem da criança.
criança, nas brincadeiras, que muitas faces de
sua personalidade e comportamento podem
ser observadas. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS
JOGOS
O artigo mostrará também que os jogos
e brincadeiras mudaram muito desde o Definir jogo e brincadeira não é tarefa
começo do século até os dias atuais, em fácil, dentro de qualquer contexto, pois, para
todos os países em qualquer cultura, e todos cada indivíduo tem um significado social em
os contextos sociais, mas o prazer de brincar, contextos diferentes.
permanece o mesmo.
Para o autor, Huizinga, (2005, p. 2), em seu
Quais brincadeiras afetam as crianças hoje? livro Homo Lumens, argumenta que o jogo
Como elas interagem com os objetos culturais, é uma categoria absolutamente primaria

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da vida, tão essencial quanto o raciocínio o faz de conta, os jogos simbólicos,


(Homo Sapiens), então a denominação Homo motores, sensórios – motores, intelectuais
Lumens, quer dizer que o elemento lúdico está ou cognitivos, individuais ou coletivos,
na base do surgimento e desenvolvimento metafóricos, verbais, de palavras, políticos,
da civilização. O autor continua definindo de adultos, de crianças, de animais, de salão
o homem não como “Homo Sapiens” e sim e uma infinidade de outros mostrando a
como “Homo Lumens”, e considera o jogo multiplicidade de fenômenos da categoria
como: “toda e qualquer atividade humana. “jogo” e cada um joga à sua maneira, pois tais
E ainda como fator distinto e fundamental, jogos, embora receba a mesma denominação,
presente em tudo o que o acontece no cada um tem suas especialidades, dentro
mundo, que é no jogo e pelo jogo que a do contexto social, cultural em que estão
civilização humana surge e se desenvolve”. inseridos.

Huizinga (2005, p. 2) ainda define jogo Assim, entende-se que no início da
como: vida da criança, sua ação sobre o mundo é
determinada pelo contexto social em que
uma atividade voluntaria exercida dentro de ela vive e pelos objetos neles contidos. As
certos e determinados limites de tempo e crianças aprendem a jogar e brincar dentro
espaço, segundo regras livremente consentidas, de um processo histórico construído, onde
mas absolutamente obrigatórias, com um fim aprendem com os outros membros de sua
em si mesmo, acompanhado de um sentimento
cultura, e suas brincadeiras são determinadas
de tensão e alegria e de uma consciência de ser
pelo hábito, valores e conhecimentos e seu
diferente da vida cotidiana.
grupo social.

O jogo, para Kishimoto, (2003, p.16) pode Em estudos realizados sobre aprendizagem
ser visto como “o resultado de um sistema e desenvolvimento infantil, Negrine, (1994,
linguístico que funciona dentro de um p. 20) afirma que “quando a criança chega
contexto social; um sistema de regras; e um à escola, traz consigo todo uma pré-história,
objeto”. construída a partir de suas vivencias, grande
parte delas através da atividade lúdica.
Esses três aspectos permitem a
compreensão do jogo diferenciando É no jogo e pelo jogo que a criança se torna
significados atribuídos por culturas capaz de atribuir significados diferentes
diferentes, pelas regras e objetos que o aos objetos; desenvolvem sua capacidade
caracterizam. de abstração e começa a agir diferente do
que vê, mudando sua percepção sobre os
Ainda de acordo com o autor os jogos referidos objetos.
podem ser compreendidos como jogos,

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JOGO, BRINQUEDO E da caça, necessária a subsistência da tribo.


BRINCADEIRA: CONCEITO. Disso decorre que atirar com arco e flecha,
para alguns, é jogo, para outros é preparo
Conceituar ou definir cada um desses profissional. Uma mesma conduta pode ser
termos não é fácil. Segundo Dicionário jogo ou não-jogo, em diferentes culturas,
Silveira Bueno, (Bueno, 2000, p.129; 454) a dependendo do significado a ela atribuído,
palavra brinquedo é: Divertimento, folguedo, de acordo com KISHIMOTO (2003, p. 47).
objeta com que se entretêm as crianças;
Brincadeira é divertimento gracejo; e Jogo, Assim, diante desse quadro verifica-se
brinquedo, folguedo, divertimento partida que é difícil separar ou classificar os termos:
esportiva. Jogo, brinquedo e brincadeira, mas todos
eles são descritos pelo por Kishimoto (2003,
Pelas definições vê-se que, jogos, p. 3) como elemento da cultura, excluindo
brinquedos e brincadeiras são termos que os jogos dos animais, dentro da variedade
empregados com significados diferentes, de significados são as semelhanças que
se tornam imprecisos, pois existe uma permitem classificar jogos de faz de conta, de
variedade de jogos conhecidos que pode construção, de regras, de palavras, políticos,
ser considerado como brincadeiras e, e outros, na sua grande família.
muitas vezes, um brinquedo também é
utilizado como objeto de um jogo ou de uma Face as considerações, neste artigo,
brincadeira. brinquedo será entendido sempre como
objeto, suporte de brincadeira, (descrição
Tais considerações são reforçadas por de uma conduta estruturada com regras) e
Kishimoto (2003, p. 45), salientando que a jogo infantil (para designar tanto o objeto e
perplexidade aumenta quando se observa as regras do jogo da criança – brinquedo e
diferentes situações que recebem a mesma brincadeira). O brinquedo é o suporte de uma
denominação, para alguns, é brincadeira, brincadeira, seja ela qual for. O brinquedo
para outros, é jogo e assim sucessivamente. tem sempre como referencial a criança e sua
história está ligada com a história da criança.
A variedade de fenômenos considerados
como jogos mostra a dificuldade de definição
do temo e aumenta quando se percebe que
o mesmo comportamento pode ser visto JOGOS E BRINCADEIRAS NA
como jogo ou não-jogo. Para um observador EDUCAÇÃO
externo, a criança indígena, que se diverte
atirando um arco e flecha em animais, é Alguns autores ressaltam o aparecimento
uma brincadeira, mas para o grupo, o qual de jogos educativos no século XVI, na escola
ela está inserida, é um preparo para a arte maternal francesa, os primeiros estudos

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entorno do mesmo, situam-se na Roma e de apreensão dos problemas cotidianos.


Grécia antigas. Entre os Romanos, jogos
eram destinados ao preparo físico, para Paralelamente, na Europa, Escolanovistas
formar soldados para a guerra. como Montessori, divulgam a importância
de materiais pedagógicos explorados
A relevância do jogo vem de longa livremente e Decroly expande a noção
data, filósofos como Platão, Aristóteles e de jogos educativos. As ambiguidades
posteriormente Quintiliano, Montaigne, das concepções Froebeliana fornece o
Rousseau, destacam o papel do jogo na alicerce para a estruturação da noção de
educação. Entretanto, é com Froebel, o jogo educativo, uma mistura da ação lúdica
criador do Jardim de infância, que o jogo e a orientação do professor visando a
passa a fazer parte do centro do currículo de objetivos como a aquisição de conteúdos
educação infantil. Pela primeira vez a criança e o desenvolvimento de habilidades e, ao
brinca na escola, manipula brinquedos mesmo tempo, o desenvolvimento integral
para aprender conceitos e desenvolver da criança.
habilidades. Jogo, música, arte e atividades
externam, integram o programa diário Nessa época não se discutia o emprego
composto pelos dons e ocupações. do jogo como atividade pedagógica. Mas é
durante o Renascimento que o jogo deixa
Segundo Kishimoto (2003, p. 23) essa de ser objeto de reprovação oficial e é
orientação de Froebel dominou a educação incorporado no cotidiano de jovens, não
infantil por 50 anos, até o advento da como diversão, mas como tendência natural
era progressista. Dewey modifica esses do ser humano. “É nesse contexto, que
programas Froebelianos e coloca a Rabecq-Maellard (1969) situa o nascimento
experiência direta com os elementos do do jogo educativo” (APUD KISHIMOTO,
ambiente e os interesses da criança como 2003, p.15).
novos eixos, o autor afirma que:
O Renascentismo vê a brincadeira
Se as crianças são vistas como seres sociais também como conduta livre que favorece o
a aprendizagem infantil far-se-á de modo desenvolvimento da inteligência e facilita o
espontâneo, por meio do jogo, situações estudo, tornando-se uma forma adequada
do cotidiano, isto é, tarefas simples como para aprendizagem dos estudos escolares,
preparar alimentos, lanches, representações
reabilita exercícios físicos banidos pela idade
de peças familiares, brincarem de faz de conta,
média. Exercícios de barra, corridas, jogos
adivinhações, etc. (Kishimoto, 2003a, p.23).
de bola semelhante ao futebol e a o gol são
praticados em geral. Aos jogos do corpo são
Assim posto para Dewey, o jogo é acrescidos os do espírito.
concebido como atividade livre, como forma

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No século XVI, é que se destaca o às pressões oriundas do meio sociocultural


jogo educativo, com o aparecimento da em que vivem.
Companhia de Jesus. Ignácio de Loyola,
militar e nobre, compreende a importância Com a expansão dos novos ideais de
dos jogos e exercícios para formação do ensino, crescem experiências introduzindo o
ser humano e recomenda sua utilização jogo com a finalidade de facilitar tarefas de
como recurso auxiliar de ensino. Através de ensino. Mas sua expansão na área de ensino
exercícios de caráter lúdico é que o ensino dar-se-á no início desse século, estimuladas
escolástico foi substituído. pelo crescimento da rede de ensino da
educação infantil e pela discussão sobre as
Froebel, Montessori e Decroli, (apud relações entre o jogo e a educação.
Wajskop, 2005), contribuíram para a
superação de uma concepção tradicionalista O jogo educativo,metade jogo, metade
de ensino inaugurando um período histórico educação toma espaço das escolas sendo
onde as crianças passaram a ser respeitadas essas chamadas de um “grande brinquedo
a compreendidas enquanto seres ativos. educativo” e acrescenta: Kishimoto […] “o
jogo é para a criança um fim em si mesmo,
A prática, em larga escala, dos ideais ele deve ser para nós um meio (de educar),
humanistas Renascimento, o século XVIII, de onde seu nome “jogo educativo” que
provoca a expansão continua de jogos toma cada vez mais lugar na linguagem da
didáticos ou educativos. Popularizam-se os Froebeldagogia maternal”.
jogos. A imagem da criança com natureza
distinta do adulto permite a criação e Nesse contexto cresce o número de autores
expansão de estabelecimentos de ensino que adotam o jogo na escola, incorporando a
para a educação infantil. A partir dessas função lúdica e a educativa.
reflexões, é que o jogo, é colocado por
Froebel, (APUD KISHIMOTO, 2003, p.16) O educador precisa estar atento no auxílio
“como objeto e ação de brincar, e passar a à criança, ensiná-la a utilizar o brinquedo e
fazer parte da história da educação infantil”. também brincar e participar das brincadeiras,
demonstrando não só o prazer em fazer, mas
O jogo continua presente nas propostas estimulando as crianças.
de educação infantil com Freud, como
mecanismo de defesa de impulsos não Com Piaget, Vygotski e Brunet e outros,
satisfeitos. Neo-freudianos especialmente os jogos continuam a merecer atenção na
Piaget, Geisel, Erikson, Winnicot e outros, parte psicológica e do desenvolvimento
enfocam a importância do jogo para o infantil ao propiciar a descontração da
desenvolvimento emocional e psicológico da criança, a aquisição de regras a imaginação e
criança, como elemento importante frente a apropriação do conhecimento integrando

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ainda, aspectos morais, sociais e cognitivos. um dia da semana específico para jogos e
Há ainda autores que se dedicam a análise brincadeiras. A professora relatou que não
de representações sociais sobre a concepção trabalhava com nenhum tipo de jogo, nem
de jogo, dentro de uma perspectiva brincadeiras, mas havia um dia da semana
interdisciplinar. em que as crianças treinavam capoeira e
que este é um tipo de exercício em que se
Atualmente, no campo da educação trabalha todo esquema corporal da criança.
infantil, numa perspectiva evolutiva, os Em função desse relato, foi procurado o
filósofos e psicólogos tem dado atenção professor de capoeira, o qual relatou que
especial ao papel do jogo na constituição das trabalha com duas turmas da pré-escola,
representações mentais e seus efeitos no e objetivo maior dessas aulas é para as
desenvolvimento da criança de 0 a 6 anos. crianças aprenderem as normas, o respeito
Para uns, o jogo representa a possibilidade aos colegas e a família, alémde trabalhar o
de eliminar o excesso de energia da criança, equilíbrio de todo o esquema corporal ao
outros firmam que o jogo prepara a criança mesmo tempo, além das aulas, o professor
para a vida futura, ou ainda, representa um trabalha alongamento.
instinto herdado do passado ou mesmo, para
o equilíbrio emocional da criança. De acordo com o professor, a capoeira
é realizada somente com exercícios para
o desenvolvimento físico e normas de
RELATOS DE PRÁTICA conduta. Na escola, ele não trabalha em
sua aula, com jogos e brincadeiras devido
Após toda pesquisa bibliográfica à falta de materiais diversificados, mas faz
sobre o tema, e tamanha a necessidade algumas brincadeiras como: morto-vivo,
de comprovação da necessidade de corda, alongamento. Todas as atividades são
aplicabilidade dos conceitos, fora realizada orientadas previamente.
pesquisa de campo, com quatro professores,
três de escola pública e um de escola Na segunda escola, também da rede
particular, afim de ouvir e observar as práticas municipal, a entrevista informal fora feita
e o trabalho com jogos e brincadeiras. Das com a professora de Educação Física, a
escolas visitadas, três foram de educação qual, relatou que cada dia é trabalhado uma
infantil e a outra de ensino fundamental I e habilidade diferente. No dia em questão,
II. ela estava trabalhando com as crianças da
seguinte maneira: a princípio a professora
A primeira visita fora feita em uma escola pedia às crianças que corressem, depois que
da rede municipal de ensino da cidade de São se juntassem em grupos de três, depois disso
Paulo. Em entrevista informal, com professora elas corriam novamente e então se juntavam
da educação infantil, foi perguntado se havia em grupos de dois, depois de quatro, cinco,

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e assim por diante, trabalhando vários OJogo do Simão funcionou da seguinte


aspectos, tais como; atenção, numeração, forma:as crianças fizeram uma grande roda e
socialização. a professora dizia “Simão”, e acrescenta: mão
na cabeça, ou em qualquer lugar do corpo.
Em outro momento, a professora esticou As crianças seguem as instruções; quando a
uma corda reta no chão, as crianças fizeram professora dizia apenas mão na cabeça, mas
uma fila e então, uma de cada vez, ela iam não dizia “Simão”, a criança que colocavam
pulando, primeiro com a perna direita e a mão na cabeça eram eliminadas da
depois com a perna esquerda. Com esse brincadeira, ficando de estátua. A brincadeira
exercício a professora disse trabalhar a terminava quando, somente restava apenas
lateralidade psicomotora.Em sala de aula, a um aluno, o qual era aplaudido no final.
professora trabalha quase todos os dias com
jogos de encaixe, blocos lógicos, brinquedos A professora relatou tambémque não
reciclados, números confeccionados em existe um horário determinado para as
EVA, para manusear e ter contato com os brincadeiras; que são realizadas de acordo
números, caça números; e toda sexta-feira com o comportamento das crianças, sendo
as crianças tem o dia do brinquedo livre. que a brincadeira do Simão é a que as crianças
mais gostam e a mesma tem o objetivo de
A terceira entrevista realizou-se com desenvolver a atenção e a concentração.
a uma professora com formação em As brincadeiras do morto-vivo, pula-corda
Pedagogia e quinze anos de experiência e Simão, são as principais brincadeiras que
com a educação infantil. A entrevista se ajudam no desenvolvimento psicomotor.
inicia com o questionamento a respeito da
importância do brincar na educação infantil, Na sexta-feira, é o dia do brinquedo
segundo a professora é fundamental que livre, cada criança traz de casa um ou
haja momento lúdicos com as crianças, pois mais brinquedos que queiram e brincam a
as elas desenvolvem com mais facilidade a vontade, podendo brincar também com giz
condenação motora, atenção e concentração. colorido no pátio, fazendo desenhos que sua
As brincadeiras e jogos são desenvolvidos imaginação permitir, elas também brincam
com blocos pedagógicos, brincadeiras como de amarelinha e jogo da velha.
a do Simão, que exige muita concentração
dos alunos; eles pulam corda, brincam com Na forma como a professora organiza e
cantigas de roda, para o, atividades essas trabalha os jogos e as brincadeiras é possível
que, de acordo com a professora, promovem verificar que os objetivos propostos por ela,
o desenvolvimento físico motor, a linguagem, que são desenvolvimento da coordenação
criatividadeetc. motora, através da concentração, atenção e
criatividade, são alcançados.

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A última escola visitada foi uma escola particular, também da cidade de São Paulo. A
entrevista feita foi com a professora de Educação Física. Segundo ela, as aulas em ambiente
externo são alternadas. Em sala de aula ela trabalha com jogos, como: dominó, jogo das
silabas, palitinhos, jogo de ficha(figura e preço), onde a criança recebe essas fichas de
dinheiro e brincam de mercadinho. Elas usam o dinheiro através de operação matemáticas,
fantasiando que estão em supermercados ou lojas, dessa forma elas aprendem noções
básicas de economia doméstica e matemática.

Fora da sala a professora trabalhou com circuito, onde primeiro as crianças batiam a
bola no chão, depois passavam pulando nos bambolês, que estavam enfileirados no chão,
e depois pulavam corda, por fim andavam de costas, passando por cones enfileirados, até
completar o circuito.Nessas atividades,concluiu-se que é fundamental a participação da
professora contribuindo na ampliação das experiências das crianças, proporcionando-lhes
base sólida para suas atividades físico-motoras, sociais e culturais. Quanto mais as crianças
sentirem e experimentarem, quanto mais aprenderem e assimilarem, quanto mais elementos
reais tiverem em suas experiências, quanto mais produtivas e criativas serão as atividades
desenvolvidas.

Os relatos de práticas observadas permitiram observar que a qualidade do ensino na


educação infantil passa, obrigatoriamente, pelo brincar, pelo lúdico. Mas tais brincadeiras
não podem ser entendidas como pura recreação. Precisa e deve ser compreendida como uma
forma complexa que a criança tem de se comunicar, seja consigo ou com o mundo. Assim o
desenvolvimento acontece através das trocas no momento do brincar e por meio dele que
as crianças desenvolvem importantes capacidades, as quais puderam ser observadas nas
práticas, quais sejam, atenção, memória, imitação, imaginação, coordenação motora, noções
de conhecimentos matemáticos, além de todo desenvolvimento no campo da personalidade,
como a afetividade, inteligência, sociabilidade e criatividade.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho, buscou-se levantar questões
relevantes à prática das brincadeiras lúdicas na Educação
Infantil. Considera-se que a pesquisa realizada propiciou
entendimento à pesquisadora quanto à relevância de se
empregar atividades lúdicas em sala de aula de Educação
Infantil, mas sempre com metas estabelecidas.

A discussão aqui proposta visou ressaltar a importância


de que as atividades voltadas para crianças não tenham
caráter compensatório. Isso se faz necessário dizer, ainda que ROBERTA RODRIGUES
o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil DA SILVA
deixe nítida a concepção de escola, enquanto ambiente de
Graduação em Letras pela Faculdade
desenvolvimento social e cognitivo, pois a concepção de Unipaulistana (2009); Especialista em
infância é historicamente recente, conforme apontam os Administração em Educação com Ênfase
estudos de Áries (1978), e ainda há sociedades que não olham em Bullying na Escola pela Faculdade
as crianças com o olhar que elas merecem. Campos Eliseos(2018); Professor de
Ensino Fundamental II e Médio - Língua
É evidente que não é o caso do Brasil, em que, de modo Portuguesa - na EMEF Álvares de
geral, se tem uma educação infantil que mescla o cuidar e o Azevedo.

educar, conforme comenta o RCNEI (BRASIL, 1998). Também


se discutiu a importância das atividades lúdicas na educação,
visto que permitem um desenvolvimento mais amplo, global,
contribuindo para uma visão de mundo pautada em elementos
reais, concretos.

As atividades lúdicas auxiliam na descoberta da criatividade, de modo que a criança se


expresse, analise, critique e transforme a realidade a sua volta. A partir da análise das respostas
dos sujeitos da pesquisa, ficou nítida a valorização dessas atividades, tanto por parte da
coordenadora, como da professora. No entanto, ressalta-se que é preciso entendimento sobre
o direcionamento de tais atividades. É o professor quem deve conduzir o aluno e as atividades
a serem realizadas.

Por fim, resta dizer que o lúdico permite novas maneiras de a criança se desenvolver, associado
a fatores como: capacitação dos profissionais envolvidos, infraestrutura, pode-se obter uma
educação de qualidade, capaz de ir ao encontro dos interesses essências à criança, pois as
atividades lúdicas não são somatórias, mas sim fazem parte do processo de aprendizagem.

1630
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

PERSPECTIVAS LÚDICAS DE
BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: As reformas educacionais que têm acontecido em nosso país nos últimos anos
visam adequar o sistema educacional às evoluções tecnológicas da globalização, e um dos
aspectos a ser repensado é o papel dos brinquedos e das brincadeiras na contemporaneidade.
A experiência do brincar ultrapassa diferentes lugares, tempos e época, e traz sempre uma
marca de mudança e continuidade. A criança por estar situada em um contexto social e
histórico, incorpora suas experiências, valores, significados ao brincar, por meio das relações
que estabelece com seus pares. Esta experiência é recriada e não simplesmente reproduzida,
pois a criança traz à tona, toda sua cultura lúdica, imaginando, criando e reinventando na
brincadeira.

Palavras-Chave: Brincadeira; Brinquedo; Criança; Educação Infantil.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO PERCURSO HISTÓRICO DA


LUDICIDADE DO BRINCAR E
Diversas pesquisas baseadas em uma
visão histórica e social dos processos A EDUCAÇÃO INFANTIL
de desenvolvimento infantil apontam A experiência do brincar ultrapassa
que brinquedos e brincadeiras são diferentes lugares, tempos e épocas, e traz
como um importante processo, fonte de sempre uma marca de continuidade com
desenvolvimento e de aprendizagem. relação às brincadeiras da velha infância e
mudança pela infância contemporânea.
Para Vygotsky, um dos principais
representantes dessa visão, o brincar é Historicamente, na Grécia e em Roma, as
uma atividade humana criadora, na qual a primeiras discussões a respeito das relações
fantasia, imaginação e realidade interagem entre a brincadeira e a Educação evidenciam
na produção de novas possibilidades de a não novidade do assunto. Mas enfatizado
expressão, interpretação e ação das crianças. somente a partir do século XVIII, quando
começa a existir distinção de imagem da
Podemos identificar hoje um curso criança como ser brincante em relação
generalizado em torno da “importância do ao adulto, e o ato de brincar passa a ser
brincar”, enfatizado não apenas na mídia e considerado algo típico da idade.
na publicidade produzidas para a infância,
como também nos programas, propostas e Assim, as teorias e práticas em torno da
práticas educativas institucionais, ignorando educação da criança se difundiram na Europa
a importância lúdica do ato de brincar. do século XIX e XX, e não demoraram a se
expandir por vários países, inclusive o Brasil.
Outros estudiosos, afirmam que a brincadeira O quadro das instituições como creche e
infantil envolve elementos distintos e aciona parques infantis praticamente não existia no
áreas específicas do cérebro. Sendo assim, Brasil. A partir da segunda metade do século
a criança, é de grande importância realizar XIX, a preocupação com o cuidado da criança
várias brincadeiras continuamente. pequena começa a se modificar no cenário
brasileiro, influenciado pela organização
Portanto, vale ressaltar que a brincadeira política, econômica e social do país.
não é algo pronto no nascer do ser humano,
ou seja, aprende-se a brincar desde cedo. Contudo, esse novo cenário que se constituiu
Nesse contexto, o papel do professor no Brasil com perspectiva de construção de
como mediados deve ser revisitado, o que uma nação moderna, possibilitou a assimilação,
incidirá nas suas intervenções a serem por parte da elite do país, das propostas
praticadas na realidade da Educação Infantil educacionais do movimento das Escolas
contemporânea. Novas, elaborados em meio às transformações

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Revista Educar FCE - Março 2019

sociais ocorridas na Europa e trazidas ao Brasil No Brasil, a disseminação do


pela influência americana e europeia. escolanovismo da década de 20 e 30, tem
em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais
O primeiro jardim de infância do Brasil é seus principais aliados. Em Minas Gerais,
fundado em 1875, no Rio de Janeiro, Colégio Helena Antipoff teve o papel importante na
Menezes Vieira, seguido da Escola Americana divulgação da Escola Nova como a criação de
em 1877. Estas estavam sob os cuidados Escola de aperfeiçoamento de professores
de entidades privadas. Destacando-se que e a instalação de uma replicada instituição
mesmo as instituições públicas de educação infantil.
para crianças pequenas eram direcionadas
ao atendimento das crianças pertencentes Antipoff influencia o pensamento de
às classes mais afortunadas da sociedade. professores sobre a importância do brincar
para criança culminando com a adoção de
Portanto, assim como em outros países, jogos e brincadeiras na educação da criança.
a introdução dos sistemas pedagógicos do
adulto em função de sua brincadeira. Os pais questionavam o uso dos jogos e
brinquedos na escola, alegando que seus
O início precoce da escolaridade, aos três filhos não deveriam frequentar à escola para
anos, resultou em outro ponto negativo para brincar e sim para estudas, numa alusão ao
a implantação dos jardins de infância. trabalho e não ao caráter fútil da brincadeira.

Religiosos, partidários do ensino fradesco, Nota-se nesse período, o hábito de utilizar
eram contrários ao uso de jogos e brinquedos jogos e brincadeiras de forma bastante
infantis e favoráveis a introdução do diretiva para o ensino de conteúdo escolar.
aprendizado das rezas. Criticando assim A ação lúdica da criança era restringida pela
o uso de jogos e brincadeiras infantis na total direção do professor: ele comanda
escola. A ideia do brincar associado ao prazer todas as ações de brincadeira ou jogo, de
era considerada causados da corrupção modo que a participação da criança de certa
infantil e não como espaço para educação forma é passiva e meramente reprodutora.
nas instituições assistencialistas como
creches e os asilos de crianças, geralmente Havia muita confusão em torno do lúdico
mantidos por entidades filantrópicas e e suas possibilidades educativas nesse início
religiosas, o brincar era negado, pois não se de século XX, devido ao pouco conhecimento
harmonizava com a natureza pobre asilada ou dos professores sobre sua natureza.
frequentadora da escola em tempo integral,
uma vez que emergia a imagem da criança má Assim sendo os professores não
que precisava ser domesticada, disciplinada distinguiam o lúdico do suporte material,
para não cair em desvios de conduta. ou seja, eles acreditavam que o simples uso

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Revista Educar FCE - Março 2019

de materiais concretos como suporte para atendimento de crianças vindas da classe


atividade lúdica didática tinha sentido de pobre, que visavam à estimulação precoce.
jogo ou brincadeira.
De outro lado, as instituições de
A partir dos anos 30 do mesmo século, Educação Infantil, geralmente particulares,
no Brasil, o uso dos jogos e das brincadeiras que atendiam as crianças da classe média
lúdicas dirigidas pelo professor é utilizado e focaram seu trabalho no aprimoramento
como forma de garantir a transmissão de intelectual, valorizando aspectos cognitivos,
conteúdos escolares, particularmente nos afetivos e sociais da criança pequena com
jardins de infância e/ou pré-escolas. discurso de promover o desenvolvimento
infantil desde o nascimento, com destaque
Assim, a ação lúdica da criança, a para a criatividade e a sociabilidade.
possibilidade de explorar, descobrir, inventar,
destruir e construir, é abafada pela direção As brincadeiras e os jogos lúdicos
imposta pelo professor em relação do jogo transformam-se em atividades e exercícios
ou brincadeira. repetitivos de discriminação motora e
auditiva, em desenhos mimeografados,
A criação dos parques infantis na década músicas ritmadas, dentre outras. Com
de quarenta destinados ao atendimento atividade controlada pelo professor se
de crianças pobres, geralmente filhos garantia que só o conteúdo didático fosse
de operários, promove discussões e a transmitido.
implementação de recreação como aliado no
cuidado e educação dessa criança de 0 a 3 Portanto, aumenta a preocupação com
anos na creche e 4 e 6 anos na pré-escola. os conteúdos escolares, com o processo de
alfabetização e, consequentemente, com
A recreação tinha como função para os métodos e técnicas para se alcançar tal
os escolanovistas brasileiros, possibilitar feito junto às crianças. A leitura e a escrita se
o desenvolvimento do corpo e, tornam pontos fundamentais da educação
concomitantemente, o desenvolvimento de da criança pré-escolar.
habilidades cognitivas, morais e sociais.
Brincar é uma prática cultural. Essa
Na perspectiva da preservação cultural, afirmação já define a brincadeira como uma
a criança era compensada pela escola na necessidade própria da infância através da
perspectiva de diminuir as diferenças entre qual a criança se humaniza, apropriando-
as crianças e as demais no que diz respeito se das formas humanas de comunicação
ao desempenho escolar, sob o nome de e familiarizando-se como os processos de
“educação compensatória” propostas interação social: ela aprende a ouvir, a esperar
de trabalho foram elaboradas para o a sua vez, a negociar, a defender seu ponto

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Revista Educar FCE - Março 2019

de vista, a rir com as outras crianças, a criar. A brincadeira e o jogo são situações
Brincar envolve emoção e humor, dimensões de construção de significados, indagação
importantes na relação entre as pessoas. e transformação do próprio significado.
Podem ser consideradas atividades que
É através do brincar que a criança envolvem afetividade, emoção, ruptura e
desenvolve a perícia do movimento de estabelecimento de laços e compreensão
braços, pernas e do corpo no espaço. Noções da ligação entre as pessoas. A afetividade
de cima, embaixo, esquerda, direita, um lado, envolvida na ação do brincar pode ter
outro lado, são formadas nas brincadeiras. duas variações: momentos harmônicos e
Brincando a criança desenvolve a rotação desarmônicos.
em eixo do próprio corpo e a lateralidade.
O brincar funciona como uma situação
Brincar é uma atividade da infância, para inserção e compreensão da criança
mas é muito importante entendê-la como na cultura a qual ela pertence e também
uma prática de cultura. Ou seja, uma das como estratégia para a formação de sua
estratégias que a espécie humana tem individualidade.
para que seus novos membros, as crianças,
apropriem-se das normas culturais de seu Através da cultura, as brincadeiras se
grupo e desenvolvam comportamentos formam e permanecem na história. A cultura
absolutamente necessários ao seu promove o refinamento de ações humanas
desenvolvimento posterior. significativas, as quais, ao se tornarem
“patrimônio” da espécie, garante aos novos
No passado não muito distante, a criança membros a realização de atividades vitais
brincava de modo bastante independente para a sobrevivência.
os adultos, pois ela tomava por si mesma, as
decisões em relação à brincadeira: do que Um importante fator a ser considerado
brincar? Com quem? Onde? Quando começa. como intervenção do professor na
brincadeira é o modo como é organizado o
Hoje em dia, nos centros urbanos, como o tempo e o espaço para brincar, garantir um
desenvolvimento e mudanças da sociedade, espaço de brincadeira na escola é garantir
a criança brinca cada vez menos. Os jogos e a educação numa perspectiva criadora em
a brincadeira são processos que envolvem o que a brincadeira é o lugar de socialização
indivíduo e sua cultura, sendo específicos de da administração da relação com o outro,
acordo com cada grupo. A brincadeira e o jogo da apropriação e produção da cultura, do
têm um significado cultural importantíssimo, exercício da decisão e da criação.
pois é através do brincar que a criança
aprende, constrói sua identidade cultural.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A LUDICIDADE DO BRINCAR BRINQUEDOS COMO


ELEMENTO SIMBÓLICO
Dentre todos os direitos da infância o
brincar se faz presente, e essa é uma das Diversos estudos têm revelado que o
razões para que se defenda a brincadeira brinquedo e a brincadeira são atividades que
em todos os campos da sociedade. A criança evoluíram com a transformação sócia histórica
deve ter tempo para brincar. das comunidades humanas e continua a se
modificar nas condições concretas de vida
Brincar faz parte das atividades das populações, em particular da população
necessárias, principalmente nos primeiros infantil em nossa sociedade.
anos de vida, para que a criança tenha um
desenvolvimento adequado. O brincar O brinquedo e o brincar são fatores de
permite a formação de estruturas internas desenvolvimento humano. No entanto,
que estão associadas a vários aspectos do enfatizamos que a brincadeira da criança
desenvolvimento humano. é extremamente destacada quando os
professores ampliam o repertório das
O objetivo do brincar na escola, não é apenas crianças, oferecendo o uso dos brinquedos
o de defender a ideia de que brincar é bom que podem ser transformados ludicamente
apenas pelo fato e brincar, mas sim defender em: vestimentas, mobiliários, armaduras dos
que o brincar faz parte do desenvolvimento guerreiros e muitas outras coisas. Sendo
global da criança, oferecendo auxilio na assim, fomentando iniciativas que podem
aprendizagem da maneira geral. melhorar muito os enredos do faz de conta e
da ludicidade no brincar.
As crianças maiores exercem
comportamentos sociais durante as O uso dos brinquedos materiais e a
brincadeiras em que a flexibilidade e a reorganização dos espaços podem ser
tolerância são necessárias. A fala delas recursos importantes para a criação de
funciona como apoio externo para a ação ambientes para brincar, contando que as
das crianças pequenas, contribuindo para a crianças possam organizar os materiais
formação das novas memórias. e espaços para sua brincadeira porque
reconhecemos que isso faz parte do brincar e,
Teóricos estudiosos da atividade de muitas vezes, é a experiência mais relevante
brincar mostram que é na situação do brincar para a criança.
que se apresentam às crianças as premissas
necessárias para o desenvolvimento da Mesmo entre as crianças bem pequenas,
memória voluntária, e que a prática do brincar que não brincam de faz de conta propriamente
é especialmente efetiva para exercício dos dito, há uma criativa apropriação e
processos de memória. transformação do objeto.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O brinquedo é um material que a criança Para Freud (1968), a ocupação preferida


manipula livremente, sem estar condicionado e mais intensa da criança é o brincar. As
a regras. O brinquedo é um suporte crianças se envolvem nas brincadeiras.
imaginário, ao faz de conta possibilitando
representações. Brincar e o brinquedos são palavras que
estão intrinsecamente atreladas a Educação
O brinquedo deve ser valorizado pela Infantil, e sem dúvida são uma combinação
reação que provoca na criança, na sua perfeita.
possibilidade de transformação e nas suas
potencialidades para revelar os desejos O lúdico como elemento da cultura
infantis. presente em todas as formas de organização
social das mais primitivas as mais sofisticadas.
Como destaca Winnicott (1975), que além A essência do lúdico não é material, uma vez
dos sentidos, o brinquedo é também um que ultrapassa os limites da realidade física,
objeto transicional, isto é, ele se encontra transcendendo as necessidades da vida.
no meio caminho entre a chamada realidade
concreta e a realidade psíquica da criança. Contudo a dimensão imaginária representa
o lugar que o lúdico ocupa na vida cotidiana:
O brinquedo estimula a representação, a trata-se de uma evasão temporária da
expressão de imagens que evocam aspectos realidade para outra ordem, a do imaginário,
da realidade oferecendo à criança um grande cuja realização se dá em função de uma
número de objetos reais. satisfação em que consiste.

Os jogos e as brincadeiras produzidas É importante ressaltar que a brincadeira
pelas crianças são momentos em que elas não é algo já dado na vida do ser humano, ou
podem exercitar as relações entre prazer e seja, aprende-se a brincar desde cedo, nas
realidade, entre consciente e inconsciente. relações que os sujeitos estabelecem com
outros e com a cultura.
Portanto, é indispensável no espaço
de brincar a riqueza das experiências Enfatizando esse processo criador,
vivenciados cotidianamente. ao interpor realidade, imaginação,
emoção, cognição, envolve reconstrução,
reelaboração e redescoberta, tão essenciais
para a infância.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para as crianças na pequena infância, participar de uma
brincadeira significa integrar-se completamente. Enquanto
atividade de caráter lúdico, o brinquedo e a brincadeira podem
ser consideradas intimamente atrelados a infância. Sendo
formação cultural e humanizadora.

Portanto, é importante demarcar o eixo principal em torno
do qual o brincar deve ser incorporado em nossas práticas
e o seu significado como experiência de cultura, exigindo o
olhar de todos educadores na garantia de tempos e espaços ROBERTA MATIAZZO
para que as próprias crianças criem e desenvolvam suas CAPPELLANI SILVA
brincadeiras, não apenas em locais e horários destinados Graduação em Pedagogia pela
pela escola e essas atividades.va com relação a brincadeiras Universidade Cidade de São Paulo (2012);
observada no caso, Especialista em Psicopedagogia pela
Universidade de Mogi das Cruzes (2014);
Cabendo ao professor e aos demais educadores que Professora de Educação Infantil no CEI
se encontram inseridos na realidade da pequena infância CEU Pêra Marmelo.
se colocarem em atitude de mediador como também
contemplativa com relação a brincadeira observada, e notar a
expressão lúdica, a atuação individual e coletiva das crianças
participantes.

1639
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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WINNICOTT, D. W. – O brincar e a realidade – Rio de Janeiro, Ed. Imagem, 1975.

1641
Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

A PSICOMOTRICIDADE NA
AQUISIÇÃO DO ESQUEMA CORPORAL
RESUMO: Como professoras, nos preocupamos com o desenvolvimento global dos alunos
que estão sob nossos cuidados. Para que o trabalho pedagógico se realize com maior
destreza, sinto que os aspectos Psicomotores com relação ao corpo e ao esquema corporal
são importantíssimos e essenciais na Educação Infantil e séries iniciais. Acreditamos que as
dificuldades de leitura e escrita podem ser melhor trabalhadas se o aluno passou por um bom
trabalho corporal global. Caso isso não ocorra, como educadoras, podemos estar auxiliando
e retomando conceitos e atitudes não trabalhadas ou até mesmo nem desenvolvidas, com o
objetivo de conseguir um satisfatório desenvolvimento global do aluno.

Palavras-Chave: Esquema corporal; Motricidade; Desenvolvimento; Habilidades


Psicomotoras; Psicomotricidade

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INTRODUÇÃO HISTÓRICO DA
PSICOMOTRICIDADE
OBJETIVO GERAL
Compreender a importância da Segundo o Dr. Julian de Ajuriaguerra,
psicomotricidade na aquisição do esquema médico psiquiatra, laureado pelo École
corporal. de France, considerado pela comunidade
científica como o Pai da Psicomotricidade,
OBJETIVO ESPECÍFICO ele a definia assim:
Perceber a importância do esquema
corporal na aprendizagem da criança. Psicomotricidade é a expressão de um
pensamento através do ato motor preciso,
JUSTIFICATIVA econômico e harmonioso.
O desenvolvimento de uma criança é o
resultado da interação de seu corpo com os Segundo Dalila M. M. de Costallat:
objetivos de seu meio, com as pessoas com
quem convive com o mundo que estabelece “A psicomotricidade como ciência da Educação,
ligações afetivas emocionais. realiza o enfoque integral do desenvolvimento
em seu três aspectos: físico, psíquico e intelectual
Há a necessidade de olhar para essa criança por meio de uma educação que procura
estimular o casamento harmônico das três áreas
por inteiro, desde seus primeiros anos de
nas distintas etapas do desenvolvimento.”
vida e perceber que as dificuldades de leitura
e escrita podem ser melhor trabalhadas se o
aluno passou por um bom trabalho corporal Segundo Maria Beatriz Loureiro:
global.
“Psicomotricidade é a neurociência dos anos 90,
PROBLEMA que estuda a interação equilibrada dos aspectos
O esquema corporal não é um conceito neuromaturacionais cognitivo-afetivo-motor, na
aprendido, que se possa ensinar. Ele se otimização corporal.”

organiza pela experienciação do corpo da


criança. É uma construção mental que a Após a Segunda Grande Guerra Mundial,
criança realiza gradualmente, de acordo com com a iniciativa da Doutora Giselle G.
o uso que faz de seu corpo. Encontramos Soubiran cria-se em Paris, o primeiro serviço
hoje em dia, muitas crianças com dificuldades de Reeducação Psicomotora.
em se organizar no espaço e interagir com o
meio, trazendo problemas futuros para seu Em 1963, o Ministério de Educação Nacional
desenvolvimento global. cria no Hospital Salpêtrière, o serviço dos
professores Michaux e Duché, o Certificado
de Capacitação em Reeducação Psicomotora.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Em1967,aDoutoraGiselleB.SoubirancriaoISRP Aumenta-se o sentido visual e o centro


(Instituto Superior de Reeducação Psicomotora), olfativo sofre regressiva atrofia.
junto com a sua equipe de colaboradores e ex-
alunos, dando origem incontestável da segunda A omoplata passa para a zona posterior
etapa da Psicomotricidade. do tórax, aproximando-se da coluna; as
clavículas alongam-se e o tórax se reduz.
Em 1974, a Escola Francesa de Com tudo isso, os membros anteriores ficam
Psicomotricidade reconheceu a profissão do com maior liberdade.
Psicomotricista na saúde da França.
A bacia humana perde em altura e progride
em largura, e o seu equilíbrio de marcha recai
FILOGÊNESE E ONTOGÊNESE nos côndelos externos do fêmur e no bordo
DA PSICOMOTRICIDADE externo do pé, resultando a marcha bípede e
a postura ereta.
A base da filogênese da motricidade está
na “simetria Bilateral” que herdamos desde a Com o cérebro mais aperfeiçoado ocorre
reptação ao bipedismo. também a evolução antropológica da
linguagem, graças à redução da dentição,
A coluna vertebral é a responsável pelas diminuição dos caninos, encurtamento e
condutas motoras de base que são o equilíbrio hipermobilidade da língua, aumentando
e a postura (desenvolvimento céfalo-caudal). do espaço bucal vibratório e presença dos
neurônios que controlam a língua, os lábios
Com isso, o cérebro humano acabou e a faringe.
beneficiando-se e ocupando lugar de
destaque em sua filogênese. Através da Surge para o homem o trabalho e a
filogênese, podemos no apropriar dos fabricação de instrumentos que favorecem
estudos ontogenéticos. atividades como a pesca, a caça, a divisão
do trabalho entre os sexos, o domínio do
Comparando o homem com os primatas, fogo, da agricultura, gerando assim a cultura.
avalia-se a evolução dialética. Perde-se em Então, não podemos separar o ser biológico
alguns aspectos e ganha-se em outros. do ser social.

O crânio dentário se reduz, cedendo A ontogênese da motricidade está refletida


espaço para o crânio cerebral. na filogênese humana. O movimento relaciona-
se dialeticamente com as interações que
A mão passa a realizar movimentos mais apresenta com os aspectos da inteligência,
específicos como flexões, sustentações, afetividade e percepção. A inteligência é o
extensões, etc. resultado de certa experimentação motora

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Revista Educar FCE - Março 2019

integrada e interiorizada, que como processo ponto de partida para que descubra suas
de adaptação, é essencialmente movimento. diversas possibilidades de ação.

A nominação de partes do corpo, confirma


ESQUEMA CORPORAL o que é percebido, reafirma o que é conhecido
e permite verbalizar aquilo que é vivenciado
A importância do corpo e conceito de (AJURIAGUERRA, 1980,p.343).
esquema Corporal
A criança tem uma representação gráfica
O esquema corporal se desenvolve sob da sua imagem. Podemos interferir esta
a base da imagem, funcionando como imagem através de seu desenho da figura
representação. humana.

O desenvolvimento está sempre em Uma grande preocupação dos que
relação com as funções motoras, verbais, trabalham com crianças, deveria ser ajuda-
perceptivas, entre outras o psicomotor que las a usar seu corpo para apreender os
evolui para a maturação de acordo com a elementos que a rodeiam e estabelecer
lei neuromotora: a direção do crescimento relações entre eles.
e da maturação é invariavelmente céfalo-
caudal, próximo-distal. Isto é, progredindo É necessário, também, que o educador
do simples para o complexo, do geral para o auxilie seus alunos no sentido de fazê-los
específico, do extenso para o particular. centrarem sua atenção sobre si mesmos
para uma maior interiorização do corpo. A
O corpo é uma forma de expressão da interiorização é um fator muito importante
individualidade. A criança percebe-se e para que a criança possa tomar consciência
percebe as coisas que a cercam em função de seu esquema corporal, volte-se para si
de seu próprio corpo. mesma, possibilitando uma automatização
das primeiras aquisições motoras.
O desenvolvimento de uma criança é o
resultado da interação de seu corpo com os Um esquema corporal organizado,
objetivos de seu meio, com as pessoas com portanto, permite a uma criança se sentir
quem convive com o mundo que estabelece bem, na medida em que seu corpo lhe
ligações afetivas emocionais. obedece, em que tem domínio sobre ele, e
que pode utilizá-lo para alcançar um maior
A criança com o corpo organizado pode poder cognitivo.
agir através dos aspectos psicológicos,
psicomotores, emocionais, cognitivos e O corpo é o ponto de referência que o ser
sociais. Esta organização de si mesma é o humano possui para conhecer e interagir com

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Revista Educar FCE - Março 2019

o mundo. Este ponto de referência servirá de base para o desenvolvimento cognitivo, para a
aprendizagem de conceitos fundamentais para a alfabetização como os conceitos de espaço:
embaixo, em cima, ao lado, atrás, direita, esquerda etc. Estes conceitos primeiramente são
visualizados através de seu corpo, e depois sim, conseguirá visualizar nos objetos.

Seu corpo também está inserido em um tempo e isto permite situá-lo melhor no mundo.
O ponto de referência vai permitir uma inibição voluntária. A criança domina seus gestos
ao escrever, domina seu tônus muscular ao imprimir a força adequada para a realização de
determinadas tarefas.

O esquema corporal não é um conceito aprendido, que se possa ensinar. Ele se organiza
pela experienciação do corpo da criança. É uma construção mental que a criança realiza
gradualmente, de acordo com o uso que faz de seu corpo.

Muitos autores preconizam como fundamental para o desenvolvimento do esquema


corporal, o estágio do espelho, pois através do espelho o conhecimento do corpo será
facilitado.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos à conclusão de que o desenvolvimento de uma
criança é algo muito mais complexo do que se imagina.

O reconhecimento corporal é que vai levá-la a um esquema


corporal bem elaborado, vai acontecendo de forma gradativa.
Esse reconhecimento corporal merece uma atenção especial
de pais e educadores.

Então, percebo que devemos respeitar o ritmo de cada


criança, pois elas progridem, mas de forma heterogênea.

As habilidades psicomotoras necessárias para o ensino da


leitura e escrita, nem sempre estão desenvolvidas. Algumas ROBERTA RINALDI
crianças possuem um atraso no desenvolvimento das funções
Graduação em Pedagogia pela
neuropsicológicas devido a um atraso em sua maturação. Faculdade UNIP (2004); Especialista em
Psicomotricidade pela Faculdade Campos
Cabe a nós, como educadoras, auxiliar nossos alunos no Elíseos (2018), Professor de Educação
sentido de desenvolver suas habilidades para um aprendizado Básica - na EMEF Comandante Garcia
satisfatório. D’Ávila.

Se como professora conseguirmos levar a criança a


apropriar-se de um fazer com seu corpo (da preensão, da
coordenação motora, do caminhar, saltar, correr, escrever,
lançar, etc.) este reconhecimento, este domínio prazeroso do fazer corporal, transformar-
se-á para a criança numa acontecimento significante e não numa simples ação cognitiva.

A criança poderá assim, apropriar-se do saber sobre seu corpo, sobre a linguagem, sobre
a escrita-leitura, sobre os movimentos, pois o professor lhe oferece a possibilidade de que
seu desejo se ponha em cena.

1647
Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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1648
Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DA CULTURA
INFANTIL:
NEGRAESPAÇO
NO BRASILa
DE APRENDIZAGEM , EXPERIMENTAÇÃO E
SOCIALIZAÇÃO

OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO
INCLUSIVA NO AMBIENTE ESCOLAR
RESUMO: Numa profunda reflexão e análise sobre as principais dificuldades e desafios encontrados
pelos educadores e demais membros das unidades escolares na apropriação de uma educação
inclusiva, dentro dos parâmetros educacionais atuais, tendo como base as escolas que trabalham
com educação infantil e de ensino fundamental, as pesquisas permeiam por meio de construção
de diálogos entre professores, pedagogos, pensadores e demais personagens de atuação para uma
percepção contextualizada sobre o assunto. Não obstante para a continuidade dos trabalhos que
são garantidos por direitos estabelecidos pela ECA- estatuto da criança e do adolescente, sob a
lei n° 8.069/1990 dentre inúmeros outros documentos regulatórios que asseguram atendimento
educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.
Portanto, busca-se apenas expor e dialogar sobre a caminhada acerca dos desafios encontrados na
implementação de uma educação inclusiva verdadeiramente significativa e funcional para todos
os envolvidos no percurso pedagógico de aprendizagem, bem como suas implementações sobre
dimensões norteadoras para a execução de tais projetos e atividades. Significando os papéis de todos
os membros do círculo responsável pelo aprendizado integral do indivíduo cor-responsabilizando
escola, família, Estado etc., de tal modo a apresentar resultados de modo coletivo e partilhado como
se faz necessário. As pesquisas de fontes bibliográficas buscam sanar as expectativas e dúvidas que
ainda permeiam sobre as estruturas educativas inclusivas no Brasil.

Palavras-Chave: Educação; Família; Pedagógico; Diálogo; Inclusiva.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO qualidade oferecida pelo Estado, onde todo


e qualquer educando possa ter sua entrada
Diante das inúmeras percepções de e acesso livres. Embora natural e inerente
educação e de individualidades de cada ao ser humano, às estruturas educacionais
educando, permeados sobre uma realidade atuais passam por inúmeros desafios todos
inclusiva necessária em todos os ambientes, os dias que passam desde estrutura física,
como no âmbito escolar, onde se pressupõe para formação adequada, por materiais e
os laços de convivência perpetuados pelos acessibilidade de recursos. Estes desafios
atos de cidadania nas quais as crianças não estão diretamente ligados ou tampouco
são expostas, saindo de seus ambientes distantes da situação de integração dos
familiares, estimulados a integrar-se e alunos com deficiências no ambiente escolar,
apresentar-se como indivíduo, diferindo de estes desafios são diários para quaisquer
seu primeiro ambiente habitual, de sua casa. necessidades que se apresentam na sala
de aula das escolas públicas. Porém esses
Consta na LDB/ 96 que, a educação percalços não são de exclusividade da rede
especial consiste na educação escolar, pública de ensino, pois, ainda que em âmbito
oferecida preferencialmente na rede regular de escolas particulares, nem todos os espaços
de ensino, para educandos portadores de ou pessoas estão preparadas para lidar com
necessidades especiais. Assegura ainda, os desafios e descobertas da educação
serviços de apoio e atendimento especializado inclusiva, uma vez que existem variações
para alunos inclusos na escola regular, para de pessoas, bem como multiplicidade de
atender e acompanhar as peculiaridades necessidades.
dessa clientela. O atendimento educacional
será feito em classes, escolas ou serviços O ponto de partida para as discussões
especializados, sempre que, em função das inicia-se da compreensão sobre os cinco
condições específicas dos alunos, não for princípios da educação inclusiva, que
possível a sua integração nas classes comuns pressupõe:
do ensino regular. A oferta da educação
especial, dever constitucional do Estado 1. Toda pessoa tem o direito de acesso à
tem início na faixa etária de zero a seis anos, educação
durante a educação infantil. (BRASIL, 1996).
2. Toda pessoa aprende
Na garantia de uma socialização iniciada
pelo ambiente escolar, por meio da 3. O processo de aprendizagem de cada
convivência sadia e natural dos indivíduos pessoa é singular
no espaço coletivo, a integração promovida
pela lei da ECA n° 8.069/1990, na garantia 4. O convívio no ambiente escolar comum
da lei básica de acesso à educação de beneficia todos

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Revista Educar FCE - Março 2019

5. A educação inclusiva diz respeito a As demandas que envolvem as


todos necessidades de articulação entre estas
dimensões, que de fato comunicam-se
Embora diretamente direcionado para entre si, em que o sucesso dessa relação
a educação inclusiva de portadores de resulta num trabalho completo e funcional,
necessidades, o conceito de inclusão se embora todos os envolvidos tenham suas
aplica a todo e quaisquer indivíduos, visando atuações independentes relacionam-se por
à individualidade de cada um, e seu tempo meio destas articulações que necessitam de
específico de aprendizagem. Necessário linguagens e visões semelhantes entre si.
compreender-se que a educação garantida
a todos não restringe limitações físicas e/ou Vamos compreender os papéis destas
cognitivas, tampouco generaliza os meios de dimensões e como atuam diretamente
compreensão de cada educando, partindo na interlocução do embasamento para
do pressuposto que independente de se ter implementação das dimensões no projeto
ou não alguma deficiência cada aluno tem pedagógico escolar verdadeiramente
seu próprio ritmo de aprendizado que deve inclusivo.
sempre ser respeitado.

A necessidade de convivência é POLÍTICAS PÚBLICAS


fundamental para toda e qualquer criança,
para que inserida num meio com outros pares Na intencionalidade de garantir o direito
possa trocar experiências, dialogar, receber de todos os alunos, o que independe das
e oferecer estímulos visuais e sonoros e condições de cada um, para que possam
habituar-se à coletividade. estar juntos, partilhando e participando e
consequentemente aprendendo, sem sofrer
discriminações, o Ministério de Educação
A AÇÕES CONTÍNUAS DE apresenta a Política Nacional de Educação
IMPLEMENTAÇÃO DAS Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva, com o objetivo da constituição
DIMENSÕES PARA UM de políticas públicas na promoção de uma
PROJETO INCLUSIVO educação de qualidade para todos.

Para que projetos voltados para a No Art. 3° inciso IV da Constituição Federal


inclusão tenham bases consistentes e que se de 1988, tem por objetivos fundamentais
sustentem em ações efetivas e ainda que se “promover o bem de todos, sem preconceito
inter-relacionam, como nas dimensões citadas de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
a seguir: políticas públicas, gestão escolar, outras formas de discriminação”, no seu
estratégias pedagógicas, famílias e parcerias. artigo 206, Inciso I, estabelece a “igualdade

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Revista Educar FCE - Março 2019

de condições de acesso e permanência na reformas necessárias, obrigando muitas


escola”, como um dos princípios para o ensino vezes as escolas a transferir turmas inteiras
e, garante como dever do Estado, a oferta de ambiente visando não prejudicar o acesso
do atendimento educacional especializado, de todos. Nas atividades pedagógicas
preferencialmente na rede regular de ensino aprofundamos as discussões para as
(art. 208). dimensões dentro do ambiente escolar.

Em diversos outros documentos


regulatórios como no PNE, Plano Nacional ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS
de Educação, na Declaração de Salamanca,
pela UNESCO em 1994, também na As estratégias pedagógicas tratam-
Convenção sobre os Direitos das Pessoas se da diversidade de procedimentos
com Deficiência, aprovada pela ONU em planejados e aplicados por educadores com
2006, garantem que o Estado deve assegurar a intencionalidade de atingir aos objetivos
um sistema de educação inclusiva em todos de ensino propostos, nelas estão envolvidos
os níveis de ensino, mais especificamente na métodos, técnicas e práticas que são
declaração de Salamanca fica evidenciado destrinchados de tal modo a acessar, produzir
também a necessidade de as escolas serem e partilhar conhecimento. Sob o foco da
projetadas com adaptações na edificação, educação inclusiva o ponto de partida advém
no qual as políticas públicas devem prover a do contexto de singularidade do sujeito, a fim
formação de professores voltada à inclusão. de explorar suas potencialidades. Importante
perceber que as propostas curriculares de
Conseguimos averiguar então as modo geral buscam ser únicas para todos
orientações políticas e normativas que os estudantes, porém se fazem necessárias
visam resguardar e assegurar a permanência a utilização e planejamento de estratégias
com qualidade, dos alunos em processo diversificadas, a fim de explorar com base
de inclusão, porém embora existam leis e nos interesses, habilidades e necessidades
diretrizes institucionais sobre a garantia de individuais, disponibilizando a oferta de
direitos devemos questionar a efetividade iguais condições e efetiva participação
da aplicação e execução das mesmas nas para desenvolvimento pleno de todos os
unidades educacionais. indivíduos com e sem deficiências.

Analisamos os espaços físicos como um Para elaborar e desenvolver estratégias


dos primórdios de base para uma inclusão efetivas faz-se necessário a busca e
significativa e nos deparamos com estruturas pesquisa pelos eixos de interesse, partindo
de escolas muito antigas, que não englobam de seu repertório particular, viabilizando
a visão acessível necessária, tampouco, um processo de ensino aprendizagem
em alguns casos oferece estrutura para espontâneo, diverso e carregado de

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Revista Educar FCE - Março 2019

significação. O educador deve se questionar cada deficiência, pois ainda que apresentando
sobre o quão sabem acerca do conteúdo diagnósticos iguais e/ou semelhantes cada
exposto? Como os interesses individuais indivíduo pode reagir de maneiras distintas
podem ser explorados como facilitadores aos mesmos estímulos.
no processo de ensino de determinado
conteúdo? Ou como partir do conteúdo Respeitando-se a individualidade de
escolhido para explorar de forma atraente cada educando, bem como levando em
para todos? consideração seus interesses pode-se
desenvolver estratégias voltadas para ao
Os alunos com NEE precisam, muitas vezes, aluno, os desafios de uma não compreensão
de usufruir de um conjunto de serviços devem estar atrelados na pesquisa sobre os
especializados, pelo que os professores devem recursos e métodos, uma estratégia pode
relacionar-se e colaborar, sempre que possível, ser extremamente eficaz para um, enquanto
com os professores de educação especial e
parece não representar nada para outro, ter
com outros profissionais de educação, como,
a criatividade e a sensibilidade de perceber,
por exemplo, com um psicólogo, um médico,
adaptar e direcionar o planejamento auxilia
um técnico de serviço social ou um terapeuta.
na construção contínua do conhecimento.
(CORREIA, 2008, p.35).
Ressalta-se novamente a necessidade das
É de extrema importância observar trocas de experiências entre os envolvidos
possíveis barreiras existentes e com no planejamento, a fim de moldar
isso ampliar os investimentos para uma estrategicamente o mesmo, levando em
diversificação de estratégias pedagógicas, consideração as características observadas
nesse desenvolvimento o profissional pelos envolvidos.
educacional especializado (AEE) tem extrema
importância no auxílio deste processo, Dentro das formatações das estratégias
também é muito significativa à troca de temos o planejamento pedagógico, que
experiências com demais professores que já tem por finalidade definir os objetivos e
tenham desenvolvido trabalhos com pessoas meios para orientações dos processos de
com deficiência, pois, podem enriquecer as ensino e aprendizagem este deve sempre ser
pesquisas, uma vez que podemos afirmar que contínuo e colaborativo, bem como flexível
embora no passado se acreditasse que as adaptando-se conforme as evoluções e
generalizações de características das pessoas necessidades do grupo, a fim de explorar as
serviam como base para a padronização das potencialidades e estruturar os conteúdos
estratégias, como se unificassem num mesmo curriculares para conduzir o fazer do percurso
quadro diagnóstico, hoje sabemos que esse pedagógico. Embora este planejamento seja
pensamento é simplista e não compreende de responsabilidade do professor da sala,
a amplitude e diversidade das necessidades não necessita ser uma atividade solitária, o
e especificidades de cada indivíduo bem de planejamento pode e deve ser colaborativo,

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Revista Educar FCE - Março 2019

podendo contar com a participação de interesse dispensado na execução da mesma.


diversos agentes dentro e fora da escola,
como por exemplo, as famílias. Importante ressaltar que de nenhuma
forma este processo avaliativo tem por
Dando corpo à sua fluidez de continuidade, visão comparar ou estabelecer parâmetros,
o planejamento não é fixo e imutável, expectativas que possam ser tabuladas de
deve acompanhar o desenvolvimento forma quantitativa, mas apenas observando
do educando moldando-se conforme as o indivíduo e sua própria evolução a partir
evoluções e necessidades decorrentes de dos estímulos produzidos das atividades
cada estímulo, proposta e/ou atividade e recursos aplicados. O sistema avaliativo
implementada, o educador pode e deve ter de observação tem por finalidade única
meios para registrar as percepções de como e exclusivamente propiciar ao educador
o indivíduo interage, responde ou assimila subsídios pelos quais possa dar continuidade
os estímulos das atividades propostas com na elaboração de seus planejamentos tendo
a finalidade de utilizar-se destas interações como base as funcionalidades das técnicas
para a continuidade dos planejamentos. aplicadas e redirecionando-as de forma
ampla visando o melhor desenvolvimento do
Dentro dos planejamentos estão inclusos educando. Existe um instrumento específico
os materiais pedagógicos, que são todos e para o planejamento e acompanhamento
quaisquer recursos a serem utilizados em sala direcionado do processo de desenvolvimento
de aula para o desenvolvimento do processo e aprendizagem dos educandos com
ensino e aprendizagem, para a seleção deficiência, transtornos do espectro autista
destes faz-se necessária à compreensão das (TEA) e altas habilidades/superdotação, o
habilidades e características físicas, sensoriais plano educacional individualizado (PEI), que
ou outras na qual os educandos interagem, se baseia no percurso individual de cada
em especificidade na educação inclusiva educando, este instrumento pode e deve ser
levando a singularidade da deficiência como elaborado de forma colaborativa, e auxilia
referência também. na articulação do trabalho em conjunto com
o atendimento educacional individualizado
O método avaliativo na perspectiva (AEE), seu uso não é obrigatório no Brasil,
inclusiva equipara-se ao método avaliativo porém serve de subsídio amplo no auxílio de
da educação infantil, de forma contínua e fomentação do currículo educacional a ser
contextualizada, levando em consideração desenvolvido.
as particularidades de cada indivíduo,
baseando-se na ampla observação das
interações do educando com o meio, suas
respostas aos estímulos produzidos, tal qual
sua real participação durante o processo e

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Revista Educar FCE - Março 2019

FAMÍLIA mutuamente, compreendendo-se que


nenhuma é autossuficiente, os resultados
Na seguinte citação: dessas interações dependem diretamente
de outros aspectos já mencionado como
A metáfora da inclusão é a do caleidoscópio. Esta as políticas públicas, bem como contexto
imagem foi muito bem descrita no que segue: “O cultural, posicionamento econômico dentre
caleidoscópio precisa de todos os pedaços que outros aspectos sociointeracionistas.
o compõem”. Quando se retira pedaços dele,
o desenho se torna menos complexo, menos A família é o principal agente de socialização da
rico. As crianças se desenvolvem, aprendem e criança, preside aos processos fundamentais do
evoluem melhor em um ambiente rico e variado. desenvolvimento psíquico e à organização da
(FOREST ET LUSTHAUS, 1987). vida afetiva e emotiva da criança. Acrescenta
ainda, que como agente socializador e educativo
Podemos perceber a intensa relação
primário, ela exerce a primeira e a mais indelével
direta da participação da família no contexto
influência sobre a criança. (GIORGI, 1980, p.26).
quanto mais variedade e comunicação entre
as esferas de convivência da criança mais
significação haverá, na construção de saberes É na família que a criança encontra
múltiplos que não diferem entre si, o que é seus primeiros desafios, comunicações
partilhado em casa faz conexão com o que é percepções de coletividade, desenvolvimento
vivenciado no ambiente escolar, bem como afetivo, experimenta suas capacidades
nos mais variados locais de convivência social, físico motoras, quanto á contexto familiar,
o que se entende por bagagem conceitual ou dizemos o ambiente primário no qual a
conhecimento prévio advém dos contatos criança está inserida, bem como aqueles que
prévios que o indivíduo experimenta em representam significado na vida da criança.
suas interações. Os contatos com o ambiente A criança reproduz, reconhece, interage,
letrado, as comunicações verbais expressas, dialoga, comunica, ainda que dentro de
hábitos cotidianos etc. suas limitações físicas, os mais próximos são
capazes de perceber as interações com meio
A família representa a primeira interação desde uma simples mnemônica facial até
do educando com o meio social, permeando dialetos específicos do linguajar primitivo.
significativas estruturas de comunicação
verbal e não verbal, as compreensões A parceria entre a família e a escola
sobre a amplitude das possibilidades e/ sempre foi e sempre serão bases sólidas na
ou limitações das quais exigem adaptações fomentação de uma educação significativa
para o aprendizado do educando. A na vida da criança em formação, isso não
compreensão dessa dualidade correlata da difere no processo de educação inclusiva,
família e da escola implica na atenção aos sendo ainda mais específico no tocante ao
meios pelas quais ambos podem se ajudar respeito de limitações e especificidades

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Revista Educar FCE - Março 2019

de cada indivíduo que vai muito além vista do gestor escolar cuja equipe atua
do diagnóstico médico, em pequenas diretamente com seu público e pela qual
descobertas que os entes próximos podem depende a maior carga das responsabilidades
partilhar com os educadores na construção de atuação, sendo eles “a ponta da
de um planejamento individualizado eficaz e corda”, esse é o professor, que embora
significativo para o educando. possa ter formação específica, bem como
conhecimento necessário e/ou experiência
na educação inclusiva, o educador precisa e
GESTÃO ESCOLAR muito de apoio e de subsídios pedagógicos
bem direcionados e para que não se sinta só
No que se refere á todas as parcerias durante a trajetória do percurso pedagógico
necessárias para a construção de uma e perante os desafios que podem e
educação inclusiva, ainda se fazem provavelmente vão acontecer. Conforme
necessárias às reflexões acerca do ambiente esses itens:
propício bem como o apoio irrestrito aos
atuantes diretos que se inter-relacionam Abordam claramente o papel dos diretores
com o educando, o que por sua vez necessita como agentes promotores da inclusão, criando
de planejamentos estratégicos direcionados condições de atendimento adequado a todas as
a fim de percepcionar o que é fundamental crianças transformando a administração escolar
em uma gestão participativa e democrática, em
na construção do conhecimento para
que toda a equipe escolar seja responsável pelo
o educando. Para a efetividade dessas
bom andamento da escola e pela satisfação das
intencionalidades uma gestão participativa,
necessidades de todos os alunos. (CARNEIRO,
ativa e atuante é de extrema importância:
2006, p.38)

O diretor deve ser o principal revigorador do Os que promovem a inclusão são


comportamento do professor que demonstra facilitadores, que oferecem além de recursos,
pensamentos e ações cooperativas a serviço da espaço, segurança, confiança e subsídios para
inclusão. É comum que os professores temam que família e professores possam unir-se em
inovação e assumam riscos que sejam encarados
prol do desenvolvimento global do educando
de forma negativa e com desconfiança pelos pares
em suas especificidades, promovendo ainda
que estão aferrados aos modelos tradicionais.
a oportunidade de socialização ampla de
O diretor é de fundamental importância na
todos os educandos entre si, refletindo uma
superação dessas barreiras previsíveis e pode
fazê-lo através de palavras e ações adequadas
amostragem de nossa sociedade em suas
que reforçam o apoio aos professores. (SAGE, multiplicidades.
1999, p. 138).
Os meios pelos quais os gestores podem
Um gestor democrático busca manter a instrumentalizar estas ações são por meio dos
comunicação aberta sobre sua equipe, em documentos pedagógicos, que oficializam a

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Revista Educar FCE - Março 2019

abrangência do trabalho que direcionam o mesmo e que por sua vez oferecem recursos para
o aprimoramento e desenvolvimento do planejamento de aula do educador.

Para Silva Júnior (2002, p. 206), o Projeto Político-Pedagógico “indicará as grandes linhas
de reflexão e de consideração mantenedoras de suas etapas de trabalho; consubstanciam
os valores e critérios determinantes das ações a serem desenvolvidas nos diferentes núcleos
da prática escolar”. Os objetivos a serem atingidos por meio de uma educação inclusiva
verdadeiramente significativa devem levar em consideração os mesmos primórdios para a
execução de um projeto político pedagógico orgânico e funcional, deve contar com o processo
colaborativo das personagens construtoras, família, comunidade, professores, funcionários
e gestão educacional da unidade, sem esse efetivo esforço, não se podem colher os frutos
de um desempenho coletivo que foque no indivíduo como centro das ações e provedor de
seus conhecimentos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No início desta pesquisa a percepção de uma educação
inclusiva de responsabilidade do educador permeia as
expectativas, porém pode-se notar que além de documentações
direcionadas bem como uma reflexão contínua sobre o
assunto, o que se entende hoje por educação inclusiva
abrange a responsabilização de todos os participantes ativos
do contexto de vivências de todo e qualquer educando
sendo ele portador de alguma necessidade especial ou não.
O indivíduo sendo pertencente à sociedade tem por direitos
a garantia de seu bem-estar físico e mental, manutenção
de sua saúde, de interagir socialmente, receber formação
continuada coerente com sua faixa etária e não privar toda
e qualquer pessoa de seus direitos, além de desumano não ROSANA KIRILAUSKAS
compreende as constituições brasileiras tal como todos os
Graduação em Pedagogia pela
documentos regulatórios que tratam do indivíduo portador Faculdade Universidade Cidade de São
de deficiências. Paulo - UNICID (2007); Especialista
em Psicopedagogia pela Faculdade
Ao sentir que o educador não está só nesta empreitada, Universidade Cidade de São Paulo –
pode-se verificar também as estratégias que podem servir UNICID (2015); Professora de Educação
de subsídios na sua implementação e elaboração de Infantil e Ensino Fundamental I na EMEI
planejamento de aulas e atividades, visando à busca por uma Professora Norimar Teixeira.

sociedade inclusiva que resguarde os direitos do educando a


uma educação de qualidade para todos.

Os papéis ora fragmentados e ora parte de um todo puderam expor as sensibilidades


ainda existentes no sistema educacional atual, mas com nuances de esperança, visto que
a busca por uma sociedade acessível vem de encontro com tantas outras percepções da
escola para a conquista de uma educação integral.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DA CULTURA
INFANTIL:
NEGRAESPAÇO
NO BRASILa
DE APRENDIZAGEM , EXPERIMENTAÇÃO E
SOCIALIZAÇÃO

PSICOPEDAGOGIA E OS DESAFIOS DA
APLICABILIDADE: AS FUNÇÕES SOCIAIS
EM TORNO DO OBJETO DE ENSINO
RESUMO: A partir do advento das necessidades educacionais as ciências se dedicam
em desdobrar esforços para contribuir com o desenvolvimento cognitivo das crianças
em desenvolvimento, desse modo psicopedagogia se depara com diversos problemas
epistemológicos de grande validade e cuja elucidação depende do enriquecimento de seu
aparato categorial, bem como de novas propostas para conceber a formação de pessoas
dentro de um ambiente ecológico. Os problemas epistemológicos da psicopedagogia e
sua compreensão científica estão inseridos totalmente dentro dos problemas sociais das
ciências que devem ser enfrentados com audácia, sabedoria e flexibilidade de pensamento,
especialmente no campo da educação, porque constituem um terreno propício à reflexão.’

Palavras-Chave: Psicopedagogia; Educação; Transtorno; Formação; Interação.

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INTRODUÇÃO Buscaremos neste trabalho desenvolver


um estudo sobre a psicopedagogia visando
O século XIX é marcado pelo advento de reconhecer as necessidades das interações
pesquisas sobre o desenvolvimento motor, entre as diversas vozes que compõem
intelectual e emocional das crianças. As as instâncias formativas dos sujeitos no
figuras emblemáticas desta pesquisa são processo de ensino e aprendizagem.
Maria Montessori e Jean Piaget.

Nesta linha, a psicopedagogia se A PSICOPEDAGOGIA E A


desenvolveu na Europa em meados APLICABILIDADE NA PRÁTICA
do século XX. A etimologia do termo
refere-se ao conceito de educador, de Em nosso trabalho com jovens, observamos
conduzir e acompanhar. O primeiro centro a importância de fatores psicológicos e
psicopedagógico foi inaugurado em 1946, cognitivos na qualidade do investimento
cujo foco engloba a normalidade das escolar. Um estudante com um distúrbio
dificuldades adaptativas que podem pontuar de aprendizagem (dislexia, dispraxia,
a escolaridade dos alunos. discalculia...), incapaz de atender a certos
requisitos acadêmicos é improvável que
A filosofia do central é acompanhar, perder alguma confiança em sua capacidade
dificuldades educativas personalizadas de aprender, de se sentir enquadrado na
podendo se conduzir estudantes aos realidade e ficar desanimado ou alienado ao
caminhos responsáveis para condicionar processo de aprendizagem.
seu desejo de aprender e de impedi-los de
abandonar a escola. Isso é feito através de “[...] atividades e treinamentos para
uma leitura educacional e psicológica de indivíduos com problemas de aprendizagem
suas dificuldades, levando em consideração e comportamento baseados em teorias
a personalidade da criança em seu momento comportamentais, como sugere a Psicologia
Educacional, nem definir métodos, técnicas e
de desenvolvimento na escola.
estratégias de ensino como propõe a Pedagogia
mas cabe-nos ocupar um lugar que está na
O objeto da psicopedagogia é, portanto,
inter-relação da ensinagem e da aprendizagem”
o estudo e suporte das condições
(SANTOS, 2010. p,1)
psicológicas e cognitivas necessárias
para a aprendizagem e acesso escolar. Um estudante intimidado por seus pares,
Assim, a psicopedagogia afirma a estreita sentindo-se excluído, pode já não ser capaz de ir
ligação entre desenvolvimento psicológico, para a escola porque teme assédio novamente
desenvolvimento cognitivo e aprendizagem. de seus companheiros (esta recusa é muitas
vezes acompanhada por somatização, dor de
estômago, dor de garganta a cabeça, etc.).

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Um estudante que percebe demandas o desejo de aprender, a confiança nas


parentais maciças de seus pais, temendo que habilidades de aprendizagem – em alguns
ele não consiga satisfazer seu desejo, pode casos, para acompanhar as ansiedades de
desenvolver ansiedade sobre o desempenho desempenho e recusa escolar.
(um medo esmagador de fracasso).
“[...] a partir de uma macro visão da instituição,
Para ajudar esses jovens, é essencial como um todo, proporcionada através do
apoiá-los em sua totalidade, apoiar a diagnóstico psicopedagógico institucional que
autoestima e a motivação, permitir que os poderá tomar decisões mais acertadas nos
momentos de crise. A previsão de tais momentos
alunos se conscientizem de suas estratégias
e as estratégias para evitá-los e ainda o adequado
de aprendizagem e os ajude a ajustá-los de
planejamento culminarão para o alcance dos
acordo com suas dificuldades, transmitir uma
objetivos da instituição. Evidencia-se assim, ser
metodologia específica para estudantes com
esta uma atividade constante.” (SANTOS, 2010.
dislexia, dispraxia ou TDAH (transtorno do p,1)
déficit de atenção e hiperatividade) apoiar o
aluno quando ele não pode se concentrar com Permitir aos pais refinarem a representação
calma na escola por causa de dificuldades, que têm da criança/adolescente distinta do
bem como com seus pares. estudante que foram e as expectativas que
podem ter para seu filho. Para proporcionar
Para ajudar os alunos com esse tipo de uma oferta que suporte e reconheça
dificuldade, é necessário acompanhar o alunos como um todo, para viabilizar
aluno em níveis pedagógicos e psicológicos. ferramentas personalizadas para os alunos
Um trabalho próximo também é indicado e, especificamente, atender às necessidades
aos seus pais e seus professores, visando dos com TDAH.
harmonizar e coordenar a supervisão de
jovens que necessitem.
PSICOPEDAGOGIA E
Dentre as prerrogativas que acompanham INTERDISCIPLINARIDADE
as preocupações estão permitir que a criança
ou adolescente invista e se reconheça APLICADA
plenamente enquanto estudante, propiciar O termo psicopedagogia é relativamente
subsídios para que ele questione suas recente. Há alguns anos reitera-se nas
estratégias de aprendizado e se conscientize ciências da educação, não apenas como
de seus pontos fortes e fracos trabalhando campo do conhecimento científico, mas
a metacognição. Desenvolver propostas como carreira universitária e, portanto,
de ferramentas concretas para facilitar como profissão no mundo. O pano de fundo
a aprendizagem, memorização, atenção, está na psicologia aplicada à educação e sua
organização e ortografia, apoiar a motivação, emergência situa-se no final do século XIX

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Revista Educar FCE - Março 2019

por interesse de psicólogos preocupados com Ele é baseado no pressuposto de que o


as características da psique da criança em desenvolvimento científico das tendências
relação às tarefas de ensino e da educação, em uníssono mostram-se em crescimento de
bem como a necessidade de organizar uma multiplicidade de teorias e a formação
o processo educacional em uma base de uma teoria geral unificada, ambos são
psicológica, isto é, objetivando conhecer o dois estágios no desenvolvimento de
homem antes de educá-lo. conhecimento que pressupõem o outro.

Nesta análise histórica há um constante Como a psicologia e a pedagogia estavam


interesse e preocupação em encontrar enriquecendo seus respectivos corpos
uma base psicológica da pedagogia. Para teóricos, as condições para a conformação
compreendermos a trajetória histórica de uma teoria integrada de ambos foram
da psicopedagogia devemos nos remeter gestantes. Isso quer dizer que, na psicologia
a cultura greco-romana, mencionando da educação, processos analíticos-sintéticos
Platão e Aristóteles em suas referências à estão sendo produzidos, ou antes, de
constituição da personalidade individual generalização de abstração mutuamente
e da maneira de como orientar a natureza condicionada. O primeiro processo
humana para alcançar melhores resultados. corresponde ao crescimento teórico
particular e o segundo à unificação deles.
As relações entre pedagogia e psicologia têm
em comum o ser humano, o segundo para estudá- Como resultado do desenvolvimento do
lo e o primeiro a se formar, mas caminham por conhecimento científico mostra a ciência
trajetos paralelos. Atualmente, a psicopedagogia ou de transição intermediária não são o
deve se preocupar com o homem concreto, resultado formal alguns usando outros
conhecê-lo e educá-lo, você não pode treinar métodos, mas por causa do aprofundamento
aqueles que não se conhecem. O fato de haver do conhecimento, o que leva à descoberta
uma precedência histórica para a integração das de regularidades complexas de níveis mais
ciências psicológicas e pedagógicas não significa elevados de desenvolvimento, uma maior
que ela seja alcançada de forma inevitável, revelação da interconexão universal dos
porque as condições histórico-sociais têm sua fenômenos da natureza e da sociedade.
contribuição no desenvolvimento científico.
A origem e evolução da psicologia como uma “A Psicopedagogia clínica procura compreender
disciplina independente está fortemente de forma global e integrada os processos
imbuída de impressões pedagógicas onde quer cognitivos, emocionais, sociais, culturais,
que esta ciência esteja enraizada no mundo, mas orgânicos, e pedagógicos que interferem na
aprendizagem, a fim de possibilitar situações que
o quadro sócio-histórico sempre desempenhou
resgatam o prazer de aprender em sua totalidade.
um papel decisivo (BOSSA, 2007).
Incluindo a promoção da integração entre
pais, professores, orientadores educacionais e

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Revista Educar FCE - Março 2019

demais especialistas que transitam no universo


educacional do aluno.” (BOSSA, 2007, p. 67)
Psicologia educacional é uma ciência
aplicada que busca não só obter
Na história das ciências, ocorreu conhecimento teórico, mas usá-lo de acordo
repetidamente que uma nova disciplina surge com o processo educacional, dentro do qual
das relações entre outras. Ambos os autores estão a subjetividade de alunos e professores,
em diferentes momentos e contextos, estão bem como interações que estabelecem tanto
se referindo ao mesmo fato do surgimento de dentro de um contexto sociocultural quanto
novas fronteiras interdisciplinares, primeiro a um dado histórico. Portanto, é considerada
nas ciências naturais, tais como bioquímica essencialmente uma disciplina científica
e, posteriormente, nas ciências sociais, aplicada pelo seu caráter objeto concreto e
específico. O processo educativo, com uma
Conhecimento psicopedagógico não bem definida e composto por diferentes
pode ser esgotado com as contribuições da teorias, princípios, categorias e modelos para
psicologia ou pedagogia isoladamente, ao descrever, justificar e explicar núcleo teórico
contrário, todas as ciências que estudam os conceitual os fenômenos e processos que
seres humanos e da sociedade se baseiam, ocorrem dentro do dito objeto, assim como
direta e indiretamente, enriquecendo diferentes métodos e procedimentos que
conceituações teóricas gerais das ciências e visam conhecer e intervir para aperfeiçoar
são obrigados a se alinharem à pedagogia por este processo.
causa da emergência em definir e esclarecer
a saída educacional dos resultados como
uma pedagogia aparentemente distante, A ACEITAÇÃO DO OBJETO
como inteligência e tecnologias artificial EDUCACIONAL
informação e comunicação, entre outros. E
ao mesmo tempo condiciona o surgimento Aceitação do processo educacional como
de novos e mais complexos problemas objeto essencial pressupõe conceber um
epistemológicos. sentido geral e abrangente que existe dentro
de si uma ampla gama de fenômenos de
Então psicopedagogia tem antecedentes ensino e aprendizagem incluído, que pode
históricos e lógicas que permitem adquirir ser estudado de forma independente e
um status científico como uma ciência ou analítico, mas sem separar o contexto amplo
disciplina intermediária com outras ciências que é educacional, visando à formação,
psicológicas, tais como com a psicologia geral, desenvolvimento e aprimoramento dos
psicologia da personalidade, psicologia da alunos.
aprendizagem, psicologia desenvolvimento e
psicologia comunicação. No entanto, também No labor cotidiano da educação profissional,
integra a educação científica através de sua a psicologia não é a única ciência útil, mas
natureza interdisciplinar (SANTOS, 2007). ela desempenha um papel fundamental,

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envolve o mundo íntimo, a subjetividade, o


pois a subjetividade das principais partes
desejo e , também, o contexto no qual se dá. É
interessadas é um elemento essencial, o processo de conhecer, o processo de vida que
que sejam contornados por ignorância ou se dá por articulações possíveis e que amplia
desprezo podem impedir qualquer tentativa os domínios cognitivos para conexões cada vez
inovadora e de melhoria do processo mais complexas.” (SERAFINI et. Al, 201. p, 51)
pedagógico nas condições complexas em
que se desenvolve na educação. No estado científico da psicopedagogia,
existem critérios divergentes entre os
Mas outras ciências estão envolvidas pesquisadores. Alguns defendem sua
no desenvolvimento do conhecimento existência independente e outros a negam
psicopedagógico, razão pela qual esse em favor das disciplinas básicas. O próprio
fenômeno é muito mais complexo relacionado processo de unificação das ciências
à pedagogia e não só a psicologia, mas também tradicionais na nova síntese interdisciplinar
da linguística, antropologia, filosofia, história, revela este problema a um ritmo crescente
ecologia, economia, estatística, cibernética, de integração do conhecimento psicológico
tecnologia da informação por seu impacto e pedagógico, reafirmando um lugar para
na educação, razão pela qual a pedagogia ela em suas complexas relações com outras
recebe o caráter da ciência cognitiva em sua ciências sociais e técnicos.
concepção ampla (SANTOS, 2007).
Existem vários argumentos teóricos
Também tem um importante componente em favor do status epistemológico da
instrumental como ciência aplicada, capaz psicopedagogia como uma nova ciência
de resolver os problemas práticos associados interdisciplinar. A atual impossibilidade
ao seu objeto. Por estas razões, diz-se que a de estudar os fenômenos educacionais
psicopedagogia é ciência e tecnologia, usando da psicologia ou da pedagogia de maneira
o conhecimento científico para integrar paralela. Para a realização de um estudo
e dar um ao outro ciência e tecnologia. As verdadeiramente científico, é essencial que
conquistas inegáveis da pedagogia e da seu objeto de pesquisa seja de natureza
psicologia se espalharam, juntamente com psicopedagógica, caso contrário estaria
os males que tencionavam seus laços. dividindo a realidade educacional.

“Aprendizagem é um processo que envolve Existe acumulação quantitativa e


vínculos individuais e coletivos que resultam das qualitativa do conhecimento científico, cuja
interações do sujeito com o meio, da ação do essência é psicopedagógica, contribui para
cuidador e das articulações entre o saber e o não o desenvolvimento de um corpus teórico-
saber. É um processo permeado, no caso do ser
metodológico que sustenta essa disciplina.
humano, por um clima e um tom socioafetivo,
que produz instrumentos para mudar a si e
ao mundo e vice- versa. É um movimento que

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Os métodos de introdução e técnicas de Formar uma psicopedagogia sistema


investigação que já não são da competência epistêmica é um desafio urgente, mas
exclusiva da psicologia ou pedagogia, facilitar primeiro você tem que ganhar a consciência
a obtenção de conhecimento científico entre os pesquisadores e psicólogos de
mais abrangente que fornecem precisas e sua relevância e necessidade, apesar de
oportunas para os problemas de respostas algumas tentativas, que fornecem elementos
práticas educacionais (SANTOS, 2007). valiosos, especificamente sobre a psicologia
da educação, em quatro critérios de
Estes argumentos permitem defender a diferenciação o domínio material, o domínio
existência de uma disciplina psicologia com do estudo, o nível de integração teórica e o
o seu objeto, metodológico e um sistema das contingências históricas da Psicologia da
de conhecimento volumoso que não pode Educação. A precisão de elementos valiosos
ser restrito às ciências comuns, porque para apoiar o trânsito interdisciplinar da
não é a soma deles, mas uma integração de psicologia da educação.
nível superior teórico e sistematizado, que
estimulou o surgimento e consolidação da A ampliação do conceito de educação é um
profissão de psicopedagogo e, portanto, aspecto importante do trabalho profissional e
de sua formação profissional como carreira investigativo, uma vez que progressivamente
universitária. No entanto, é pesquisa teórica o processo pedagógico vem se expandindo
ainda insuficiente destinado a fornecer das paredes acadêmicas para a comunidade
maiores argumentos científicos que e a família, em contraposição às concepções
fundamentam como uma nova disciplina, tradicionais que restringem o conceito
bem como o seu nome, como alguns ao referencial das instituições escolares.
concebê-lo como a psicologia educacional As concepções que concebem o amplo
e psicologia educacional, termos que não processo de socialização humana, que é
conseguem refletir a essência do seu complementado pela abordagem comunitária
conteúdo interdisciplinar. da educação subjacente a este critério é o
processo de formação humana e adquire
O empirismo predominante na pesquisa um caráter complexo ao receber múltiplas
educacional, pouco exigente para subir acima influências não apenas das instituições
dos dados para desenvolver generalizações escolares, mas também da família e da
teóricas, juntamente com a falta de uma comunidade. Portanto, a educação é escola,
verdadeira cultura científica dos profissionais família e comunidade e a psicopedagogia não
da educação têm contribuído para a falta pode ignorar esse fato em sua conceituação
de elaborações teóricas gerais para a teórica e metodológica.
basear melhor e oferecer mais coerência
epistemológica à psicopedagogia. Mas o papel preponderante da escola não
pode nem deve ser subestimado dentro desta

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Revista Educar FCE - Março 2019

concepção abrangente de educação, pois é Outra disciplina importante para a


a melhor preparada para dirigir o processo psicologia é a história da educação, o que
pedagógico em coordenação com as outras não deve ser restrito a considerar apenas o
instituições sociais já mencionadas. Longe de pensamento educacional e de suas condições
ser diluída, a função da escola, entre outros, históricas, mas também inclui sistemas e
é reforçado com mais responsabilidade políticas educacionais com as tendências
por sua grande relevância social, porque, atuais e perspectivas, a fim de alcançar uma
na família e na comunidade influências compreensão mais completa e complexa do
formativas coexistir com um alto grau de fenômeno educacional em suas dimensões
espontaneidade e pouca sistematização. subjetiva, social e histórica.

“Entendendo o sujeito como ser social, o


CIÊNCIAS HUMANAS E resgate das fraturas e do prazer de aprender,

A INTERAÇÃO COM A na perspectiva da Psicopedagogia Clínica,


objetiva não só contribuir para a solução dos
PSICOPEDAGOGIA problemas de aprendizagem, mas colaborar para
a construção de um sujeito pleno, crítico e mais
A existência e o desenvolvimento de uma
feliz.” (ESCOTT, 2004. p, 27).
sociologia da educação se convertem numa
disciplina que se conecta diretamente com
a psicopedagogia, devido ao tratamento A própria existência da psicologia como
científico requerido pelo contexto social na uma disciplina científica condicionou o
formação dos seres humanos. A dimensão surgimento de princípios interdisciplinares
sociológica da educação nem sempre que não correspondem ao puramente
foi abordada explicitamente, embora psicológico ou didática, como além de ser
implicitamente o social esteja sempre mais abrangente, mas não excluí-los. Um
presente. Esta afirmação é evidente exemplo disso é a suposição de abordagem da
no fato de que os contextos sociais e personalidade como princípio da integridade
culturais não foram levados em conta na dos alunos e educadores como sujeitos no
extrapolação dos resultados científicos processo de formação, embora seja ainda
de um país ou região para outro sem os insuficientemente sistematizado em teoria
ajustes necessários (BOSSA, 2007). Todos e prática educacional profissional, apesar
os problemas psicopedagógicos têm raízes sua reiteração temática em pesquisas e
sociais porque surgem e se desenvolvem em publicações científicas. Pode-se afirmar que
certos contextos históricos, sociais, cultural o foco na educação renasceu da busca em
e geográfico e sem as contribuições da apreender os estudantes em sua integridade,
sociologia da educação é impossível analisá- não apenas como um conjunto agregado de
las de maneira integral e rigorosa. qualidades, características ou traços.

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A formação é um precursor porque como sendo indivisível tem uma configuração


psicológica peculiar, mas com o ativismo que o caráter do sujeito fornece a isso. Ou seja, o
sujeito é um ativo mediando as influências sociais e seu impacto sobre a personalidade, o
que ajuda a explicar comportamentos ou aparenta não entrar em conflito com as exigências
do processo educativo e com o caráter não-linear, nem automático ao valor intrínseco
das atividades educacionais que são realizadas. O resgate da personalidade na educação
leva à aceitação da subjetividade humana como uma realidade ontológica, a necessidade
do conhecimento científico nas reflexões epistemológicas, bem como a afirmação da
personalidade psicológica e qualitativa contra a dominância do positivismo nas ciências
sociais, expressas na supervalorização do experimental e tecnológico, como por exemplo
em alguns representantes da psicologia cognitiva.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A diferenciação destas abordagens ou modelos que mostram
este problema relacionado ao uso racional do método hipotético
dedutivo, o paradigma da análise do produto processo só são
fenômenos observáveis e mensuráveis se controle experimental
for trabalhado de acordo com um rígido sistema de análise.
A alternativa considera a interpretação e compreensão da
quantificação e análise com abordagem qualitativa da pluralidade
dos métodos para compreender a realidade.

A abordagem comportamental da educação, com sua ênfase


excessiva em mudanças externas como resultado do aprendizado,
levou-nos a esquematizar e terceirizar demais os resultados
do processo pedagógico. A individualidade humana como um ROSANIA BORGES DOS
ponto de partida e chegada no processo de formação exige a ser SANTOS SILVA
destacado e localizado no centro da concepção psicológica de
Graduação em Licenciatura plena em
impacto metodológico em novas pesquisas, tais como estudos Química pela Universidade de Guarulhos
de caso e predição científica a nível de personalidade e não (2005); Professora de Ensino Fundamental
apenas a nível comportamental. I e Educação infantil na EMEI Coronel
Walfrido de Carvalho.
A reconsideração da concepção psicopedagógica na educação
pressupõe não apenas mudanças nas condutas dos professores,
mas também dos alunos tais sistemas estão mudando o
desenvolvimento social da ciência, que se aplica à educação
porque os professores são formados em certos condicionamentos, ou seja, antes de impor aos
alunos, devem trabalhar a argumentação. O problema da aprendizagem pela descoberta e a relação
entre os métodos científicos e os métodos de ensino são questões derivadas desse problema.

A atual controvérsia sobre a ativação do ensino, o estimulo da inteligência e criatividade na


educação e reconsideração de erro como parte do processo de aprendizagem reflete uma nova
compreensão do processo, que deve primeiro penetrar as consciências dos professores, depois
de tomar os alunos sem problemas e não introduzir sistemática e externamente, esquemática e
relutantemente. Estas novas ideias que revolucionam gradualmente os caminhos tradicionais de
educação constitui uma nova concepção de mundo sem tentar negar a contribuição da tradição, no
entanto, devem ser salvaguardadas e incorporadas em novas abordagens conquistas indiscutíveis
do pensamento educacional porque eles não se opõem, mas complementam e pressupõem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre:
Artmed, 2007.

ESCOTT, Clarice Monteiro. Interfaces entre a psicopedagogia clínica e institucional: um


olhar e uma escuta na ação preventiva das dificuldades de aprendizagem. Novo Hamburgo:
Feevale, 2004.

SANTOS, Marinalva Batista. dos. O psicopedagogo institucional numa instituição de nível


superior. In: PINTO, Maria Alice Leite (Org.). Psicopedagogia diversas faces, múltiplos olhares.
São Paulo: Olho d’Água, 2003.

SERAFINI,A.Z.; PORTILHO,E.M.L. PAROLIN,I.C.H.;BARBOSA,L.M.S.; CARBERG,S. A


aprendizagem: várias perspectivas e um conceito. In: PORTILHO, E.M.L. Alfabetização
aprendizagem e conhecimento na formação docente. Curitiba- PR. Champagnat, 2011, p.
43-69.

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DA CULTURA
INFANTIL:
NEGRAESPAÇO
NO BRASILa
DE APRENDIZAGEM , EXPERIMENTAÇÃO E
SOCIALIZAÇÃO

A MÚSICA COMO INSTRUMENTO


DE APRENDIZAGEM NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: O presente trabalho foi desenvolvido com a finalidade de investigar como a
música pode contribuir na aprendizagem da criança na educação infantil. A modalidade da
educação infantil foi a contemplada para essa pesquisa por se tratar de minha paixão e
também minha área de atuação. Essa busca constata que a música, se utilizada de forma
planejada e com finalidades para se alcançar o desenvolvimento pleno, é um inquestionável
agente facilitador da aprendizagem e por se tratar de uma linguagem universal, prazerosa,
divertida e dinâmica.

Palavras-Chave: Educação Infantil; Música; Aprendizagem.

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INTRODUÇÃO Pensando que a música sempre esteve


presente na vida das pessoas em diversas
A música é um importante instrumento de situações, foi realizado esta pesquisa
comunicação que está presente em quase bibliográfica sobre “A música como
todos os momentos na vida dos seres humanos, instrumento de aprendizagem na Educação
é universal variando de acordo com as culturas. Infantil” para se entender melhor como
essa linguagem universal contribui para
O contato com a música na vida da o aprendizado prazeroso, descontraído,
criança, em sua maioria, se inicia quando divertido e significativo na primeira infância.
o bebê ainda está no ventre de sua mãe e Loureiro (2003) nos traz que a música
transcorre por toda sua existência. A música favorece no processo de aprendizagem por
nos oferece um leque de possibilidades se tornar um material riquíssimo que auxilia
para dispormos dela como instrumento a prática pedagógica do professor. Com essa
de desenvolvimento e aprendizagem, não pesquisa, vamos investigar como a música
apenas como entretenimento. Além de pode contribuir na aprendizagem da criança
trabalhar com o desenvolvimento corporal, na Educação Infantil.
oral, cognitivo, afetivo, social, emocional,
ampliar o repertório linguístico, ainda nos
permite conhecer diferentes culturas através A MÚSICA E SEUS BENEFÍCIOS
das várias formas de manifestações musicais
existentes no mundo inteiro. Desde as civilizações antigas a música já
se fazia presente na vida das pessoas, cada
De acordo com Joly (2003, p. 116): povo a produzia conforme sua organização
social, cultural e econômica, e esse fenômeno
A criança, por meio da brincadeira, relaciona- acontece nos dias atuais pois a música
se com o mundo que descobre a cada dia e é acompanha a transformação da sociedade.
dessa forma que faz música: brincando. Sempre
receptiva e curiosa, ela pesquisa materiais Mesmo que as forma de organização social e o
sonoros, inventa melodias e ouve com prazer a papel da música na sociedade moderna tenham
música de diferentes povos e lugares. se transformado, algo do seu caráter ritual é
preservado, assim como certa tradição de fazer
e ensinar por imitação e “por ouvido”, em que
O uso da música é um importante
se misturam intuição, conhecimento prático e
elemento que contribui na formação integral
transmissão oral [...] (RCNEI,1998,p.47).
da criança se usada com o objetivo de
promover o aprendizado, portanto é preciso
que os educadores as utilizarem de forma Não podemos condicionar as crianças
expressiva e significativa que garanta a ficarem restrito em apenas um estilo musical,
aprendizagem em sala de aula. como por exemplo, apenas o uso das músicas

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Revista Educar FCE - Março 2019

infantis em sala de aula, elas precisam vocabulário, da sensibilidade, da afetividade,


ser conduzidas a buscar mais identidades do senso rítmico, da imaginação, da memória,
musicais da sua civilização e também ter da concentração, da atenção, do respeito
contato com as músicas de outra cultura para mútuo, da socialização e da criatividade.
que seu repertório seja ampliado. A música
se faz presente em todas as culturas e em O Referencial Nacional Curricular para
muitos momentos na vida do ser humano. Educação Infantil enfatiza que:

Jeandot (1997, p.12) em sua concepção, A música está presente em diversas situações
define a música como “uma linguagem da vida humana. Existe música para adormecer,
universal, mas com muitos dialetos, que música para dançar, para chorar os mortos, para
variam de cultura para cultura, envolvendo conclamar o povo a luta, o que remonta à sua
função ritualística. Presente na vida diária de
a maneira de tocar, de cantar, de organizar
alguns povos, ainda hoje é tocada e dançada
os sons, e de definir as notas baixas e seus
por todos, seguindo costumes que respeitam
intervalos [...].”
as festividades e os momentos próprios a
cada manifestação musical. Nesse contexto,
O Referencial Curricular para Educação as crianças entram em contato com acultura
Infantil-RCNEI conceitua a música como musical desde muito cedo e assim começam a
uma “linguagem que se traduz em formas aprender suas tradições musicais. (RCNEI,1998,
sonoras capazes de expressar e comunicar p.47).
sensações, sentimentos e pensamentos, por
meio da organização expressivo entre o som Pensando a música como uma linguagem
e o silêncio” (1998, p.45). universal que está presente em todas as
culturas e que é uma expressão humanas
É indiscutível que a música está presente das mais antigas, ela pode ser utilizada
cotidianamente em nossa vida e possui para vários fins. Essa linguagem por ser tão
várias funções como nos emocionar, nos dinâmica e global nos traz muitos benefícios
entreter, vender produtos, protestar, em inclusive como ampliação linguística,
rituais religiosos, etc. De acordo com Rosa conhecimento de diversas culturas,
(1990). “A linguagem musical esteve sempre expressões artísticas, movimento corporal,
presente na vida dos seres humanos e há estimulo cerebral, despertar de emoções e
algum tempo na educação de adultos e sensações, despertar o estímulo da memória,
crianças”. entre outros. A linguagem musical tem
a eficácia de propagar naturalmente as
A música auxilia no processo de construção emoções e desejos mais profundos ou até
do conhecimento. Quando a percepção mesmo os ocultos não há dúvidas de que ela
musical é desenvolvida, torna-se propicia traz inúmeros benefícios. De fato, a música
para o desenvolvimento da oralidade, do pode nos propiciar uma série de vivencias,

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brincadeiras, ideias, sentimentos. É uma • Ouvir, perceber e descriminar eventos


manobra inteligente utilizar essa ferramenta sonoros diversos, fontes sonoras e
tão presente na vida das pessoas para que produções musicais;
ela possa ser um instrumento de perpetuar
conhecimentos de maneira leve, divertida, • Brincar com a música, imitar, inventar
que compraz. e reproduzir criações musicais.
Para a fase das crianças de quarto a
seis anos, os objetivos estabelecidos para
A MÚSICA NA SALA DE AULA a faixa etárias acima citadas, deverão ser
aprofundados e ampliados, garantindo-se,
A música proporciona uma gama de ainda, oportunidades para que as crianças
estímulos, assim sendo, ela é uma ferramenta sejam capazes de:
de desenvolvimento importantíssima
na educação infantil, pois nessa fase • Explorar e identificar elementos da
a criança e o bebê precisam estar em música para se expressar, interagir com
contato com vivências prazerosas, lúdicas os outros e ampliar seu conhecimento de
e cheias de signos que venham garantir seu mundo;
desenvolvimento pleno. Do ponto de vista
de Brito (2003), o educador ao trabalhar com • Perceber e expressar sensações,
a música, facilita a aprendizagem e faz com sentimentos e pensamentos por meio
que o ensino aconteça de forma agradável, de improvisações, composições e
tornando mais fácil a fixação dos assuntos interpretações musicais.
pela criança.
Considerando que a música traz uma forma
É importante ressaltar que a música em de aprendizado mais agradável e prazeroso é
sala de aula precisa ser usada como um inegável que ela é uma excelente ferramenta
mecanismo pedagógico, com finalidades para ajudar na construção do conhecimento
e metas auxiliando na construção do da criança de uma forma mais leve, divertida,
conhecimento e desenvolvimento da criança. dinâmica e de mais fácil consolidação.
Ferreira (2007, p.9) aponta que:
O Referencial Curricular Nacional para
Educação a Infantil (1998) nos orienta que É evidente que a comunicação verbal é por
o trabalho com a música entre as crianças excelência é a primeira escala comunicativa
de zero a três anos deve ser organizado humana; também não é menos verdadeiro que,
de forma que as crianças desenvolvam as quando tem a música como aliada, ganha força,
entre outros motivos, pelo suporte e penetração
seguintes capacidades:
mais intensa que adquire a transmissão de sua
mensagem original. Muitas vezes é mais eficaz
perpetuar um pensamento transmitindo-o

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verbalmente pelo canto que pela escrita no


papel [...].
desde de seu nascimento, até mesmo na fase
intrauterina, já está em contato com os sons,
as músicas, os cantos entoados por pessoas
O Referencial Curricular para a Educação que fazem parte do seu âmbito de convívio.
Infantil nos chama a atenção para que o uso Logo, desde cedo, o bebê conhece e apodera-
da música como facilitador de aprendizagem se de sons e músicas que fazem parte do seu
seja, de um modo geral, agradável e aceito contexto cultural e social, como por exemplo,
por todos, respeitando as múltiplas infâncias de seu país, da sua comunidade e da sua
para assim poder despertar de forma plena, família. É importante o professor entender
uma serie de habilidades do corpo e da que sua voz e as músicas e sonorizações
mente. por ele utilizados com suas crianças, estarão
criando um elo fundamental na interação
A organização dos conteúdos para o trabalho da criança com a vida escolar e também
na área de Música nas instituições de educação com o desenvolvimento o social, o físico e o
infantil, deverá, acima de tudo, respeitar o nível cognitivo. O Referencial Curricular nacional
de percepção e desenvolvimento (musical e para a Educação Infantil (RCNEI, 1998, p.45),
global) das crianças em cada fase, bem como
expõe que:
as diferenças socioculturais entre os grupos de
crianças das muitas regiões do país. (RCNEI,
A interação entre os aspectos sensíveis, afetivos,
1998, p.56).
estéticos e cognitivos, assim como a promoção
de interação e comunicação social, oferecem
A música é uma linguagem universal, caráter significativo à linguagem musical. É uma
das formas importantes de expressões humanas,
presente no dia a dia do indivíduo e
o que por si só justifica sua presença no contexto
sua vivência em sala de aula promove e
da educação, de um modo geral, e na educação
potencializa a aprendizagem da criança,
infantil, particularmente.
desde que o intermediador respeite a
singularidade de cada criança e apresente
propostas significativas. Ainda sob a luz dos Referencial Curricular
Nacional para a Educação infantil tomamos
conhecimento que a música no contexto
A CONTRIBUIÇÃO DA da educação infantil atende diferentes
MÚSICA NO PROCESSO DA finalidades.
APRENDIZAGEM [...] tem sido, em muitos casos, suporte para
A música se faz habitual no cotidiano atender vários propósitos, como a formação
da humanidade. Ao ingressar no Centro de de hábitos, de atitudes e comportamento:
Educação Infantil, a criança já traz consigo lavar as mãos antes do lanche, escovar os
dentes, respeitar o farol, etc.; a realização
seu próprio repertório musical visto que,
de comemorações relativas ao calendário de

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Revista Educar FCE - Março 2019

eventos do ano letivo simbolizados no dia da A música pode contribuir para tornar esse
arvore, dia do soldado, dia das mães, etc.; a ambiente mais alegre e favorável a aprendizagem,
memorização de conteúdos relativos a números, afinal, propiciar uma alegria que seja vivida no
letra do alfabeto, cores, etc., traduzidas em presente é a dimensão essencial da pedagogia,
canções [...].(RCNEI,1998, p.47). e é preciso que os esforços dos alunos sejam
estimulados, compensados e recompensados
As propostas pedagógicas trabalhadas por uma alegria que possa ser vivida no momento
usando a música como mecanismo de presente.
aquisição do conhecimento, oportuniza a
aprendizagem de conteúdos convencionais Pensar na música como um instrumento
(Português, matemática, ciência, etc.), e de aprendizado em sala de aula é trazer pra
também a aprendizagem de temas relevantes os alunos um mundo de possibilidade de
na nossa sociedade contemporânea: ética, aprendizado, desde que, o professor faça
meio ambiente, saúde, pluralidade cultural, etc., uso desse mecanismo de uma forma que
e ainda desenvolve o raciocínio, a criatividade , consiga atingir os objetivos de aprendizagem
a memória e promove a socialização. proposta que tenha significado para as
crianças.
O RCENEI (1998) nos mostra que a
integração do trabalho musical deve ser [...] Ouvir música, aprender uma canção, brincar
considerado às outras áreas, visto que a de roda, realizar brinquedos rítmicos, jogo de mão,
música mantem contato estreito e direto etc., são atividades que despertam, estimulam e
com as demais linguagens expressivas desenvolve, o gosto pela atividade musical, além
de atenderem a necessidade de expressão que
(movimento, expressão cênica, artes visuais,
passam pela esfera afetiva, estética e cognitiva.
etc.) nos diz também que a linguagem musical
Aprender música significa integrar experiências
é um excelente meio para o desenvolvimento
que envolvam a vivência, a percepção e a
da expressão, do equilíbrio, da auto estima e
reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez
autoconhecimento, além de poderoso meio mais elaborados. (RCENEI,1998, p.48).
de integração social.
Loureiro (2003), ressalta a importância de
Ao ouvir uma música o indivíduo sente analisar o papel da música na escola, buscando
vários estímulos, sua riqueza de ritmos condições para que ela possa a vir ter valor
trazem uma gama de sensações e emoções significativo no processo de educação escolar.
envolventes e desprovida de qualquer
obrigatoriedade, tornando assim a apreensão Na Educação infantil, se faz oportuno trabalhar
do conhecimento prazerosa, espontânea com a música em todas as áreas do conhecimento,
e divertida. (SNYDERS, 1992, p.14) afirma visto que a ludicidade precisa fazer-se presente
que: em todos os campos de atuação.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a pesquisa deste trabalho, verificou-se que a música
é uma linguagem universal que se faz presente no cotidiano
das pessoas em todos os lugares do planeta e desde muito
cedo os bebês e as crianças entram em contato com as
músicas e sons pertencentes ao seu convívio social, cultural
e familiar.

Por conta de se fazer presente na vida de todos os seres


humanos e ser uma linguagem conhecida e apreciada de
forma global, a música é de fundamental importância em sala
de aula, que se utilizada da forma correta, assume o papel de
instrumento facilitador da aprendizagem, pois possibilita que ROSIANE ARAUJO
a apreensão de conhecimento efetue-se de forma prazerosa, COSTA SANTOS
divertida e desprovida de obrigatoriedades. Todavia , para Graduação em Pedagogia pela Faculdade
que o aprendizado transcorra de forma sólida e cheio de de Tecnologias e Negócios Carlos
signos, faz-se necessário que o educador planeje suas ações Drummond de Andrade (2012); Cursando
e paute metas e objetivos, sempre pensando no ser singular Especialização em Gestão Escolar pela
que é cada bebê e cada crianças, cabendo a ele ouvir as vozes Faculdade Campos Elíseos; Professora de
desses protagonistas, buscando caminhos para envolver a Educação Infantil no Centro de Educação
todos dentro de suas especificidades e interesses. Infantil Jardim Maria Alice.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – conhecimento de mundo. Brasília,
MEC/SEF1998.

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FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2007.

JEANDOT, Nicole. Explorando o universo da música. 3. ed. São Paulo: Scipione, 1997.

JOLY, Ilza Zenker Leme. Musicalização infantil na formação do professor: uma experiencia
no curso de pedagogia da UFSCar.Serie fundamentos da educação musical, salvador, n.4
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LOUREIRO, Alice Maria Almeida. O ensino da música na escola fundamental. Campinas:


Papirus, 2003.

ROSA, L. S.S. Educação musical para a pré-escola. São Paulo: Ática, 1990.
SNYDERS,Georges. A escola pode ensinar as alegrias da música? São Paulo: Cortez, 1992.

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Revista Educar FCE - Março 2019

AS HERANÇAS DA CULTURA NEGRA NO BRASILa

A RELEVÂNCIA E A MEDIAÇÃO DO
ENSINO DE MATEMÁTICA NAS
SÉRIES INICIAIS
RESUMO: Este trabalho investiga a importância do ensino da matemática nas séries iniciais
assim como a mediação e o papel do professor no processo da construção do conhecimento
desta disciplina. Os teóricos que embasaram esta pesquisa foram: Vygotsky com seu
conceito de mediação e da sua importância para o desenvolvimento dos alunos; Brosseau
com seu foco nas situações de aprendizagem no ensino da matemática e Kamii que abordou
o conceito de construção do número realizado pelas crianças.

Palavras-Chave: Matemática; Mediação; Número

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INTRODUÇÃO O meu interesse nesta pesquisa foi


descobrir como se dá a mediação na
Esta pesquisa partiu do tema “A Relevância construção do conhecimento da matemática
e a Mediação do ensino da matemática nas nas salas de aula, observando e atuando nas
séries iniciais na visão de professores de três escolas de ensino fundamental das salas
escolas localizadas na Zona Leste de São de 1ª ano e 2º ano, constatei a dificuldade
Paulo”, em que analisei e dissertei sobre a sua das crianças em compreender os conceitos
importância e mediação do professor em sala matemáticos e a ausência de estratégias
de aula diante do processo de construção do por parte dos professores para propiciar a
conhecimento, que ocorre de várias maneiras intervenção que resulte em superação.
e nem sempre é bem sucedida.
A mediação vivenciada por mim em sala de
Ainda existe o atenuante de acarretar aula possibilitou a construção de conceitos
dificuldades de aprendizagem que levam que deveriam ser adquiridos em nossa vida
os alunos a não gostarem dessa disciplina escolar e que sempre foi de difícil superação.
levando-os a mudar suas escolhas As situações que presenciei somadas a
profissionais, muitas vezes por consequência curiosidade me levaram a esta pesquisa, com
de traumas vivenciados na aprendizagem de o propósito de sanar minhas dúvidas sobre a
matemática nas séries iniciais. mediação e a importância da aprendizagem
desta ciência que auxilia o conhecimento
Para dar sustentação à minha pesquisa me das demais disciplinas nas séries iniciais
apoiei em alguns teóricos e em seus conceitos
sobre a mediação, como por exemplo: Acredito que a mediação não é feita
Vygotsky (2008) que conceituou a mediação de maneira adequada quando a relação
essencial para promover a aprendizagem. professor-aluno não está sendo capaz de
promover o aprendizado dos alunos que saem
Já o autor Guy Brosseuau (2008) conceituou da escola incapaz de usar a matemática no
o “contrato didático” como as expectativas seu cotidiano. O que não poderia acontecer
que os alunos têm de seu professor e que uma vez que esta disciplina deveria auxiliar na
os professores esperam de seus alunos no formação do indivíduo crítico, capaz e ciente
processo de ensino aprendizagem. da sua capacidade de usar a matemática para
a sua inserção na sociedade.
Agora Constance Kamii (2010) é parte da
minha base teórica porque destacou em seu A metodologia utilizada na pesquisa foi
livro “A criança e o número”, como a criança de pesquisa qualitativa com uma abordagem
constrói o conceito de número e o papel do metodologia etnográfica, cujo objetivo foi
professor diante desse processo. entender de que maneira ocorre o processo
de construção do conhecimento do ensino

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Revista Educar FCE - Março 2019

da matemática e o papel do professor e a de dar suporte a sua pesquisa. Além disso,


sua mediação, para isso procurei responder possibilitou as primeiras coletâneas para a
as questões: sua “teoria das situações” que logo foram
apresentadas no Congresso da Associação
Desvelar o que é a mediação no processo dos Professores de Matemática do Ensino
da construção do conhecimento do ensino da Público (Apmep) de Clermont-Ferrand,
matemática; investigar se ocorre a mediação cidade também localizada na França.
no ensino da matemática nos anos iniciais;
analisar como se dá a abordagem do professor Nos anos 70 e com o decorrer dos anos
no ensino da matemática; analisar de que sua teoria das situações é apresentada de
maneira a mediação ajuda os alunos nas aulas forma estruturada na sua tese de doutorado
de matemática; esclarecer porque os alunos na França.
não aprendem matemática; entender qual ou
quais devem ser as estratégias do professor Para exemplificar esta ideia posso citar o
para ensinar a matemática; esclarecer de que fato de quando o aluno espera do professor
maneira as crianças aprendem o conceito que dê provas, explique a atividade, faça
de número nas séries iniciais; analisar as relações, sistematizações; e quando o
dificuldades encontradas pelos alunos nas professor espera do aluno que estude,
aulas de matemática. realize a atividade proposta e também
preste atenção na aula. Os dois envolvidos
no processo de ensino aprendizagem estão
OS CONHECIMENTOS esperando que um cumpra a expectativa do
MATEMÁTICOS SEGUNDO outro, como ocorre num contrato firmado
entre duas partes.
BROSSEAU
Guy Brousseau, nascido em 1933 na França, O autor percebe que muitas vezes há uma
professor e pesquisador de matemática ainda grande diferença entre estas expectativas no
jovem teve a sua curiosidade aguçada para processo de ensino aprendizagem, quando o
responder a sua pergunta epistemológica que que um espera do outro não é o que acontece
era “de que maneira as crianças adquirem os de fato. Então, Brousseau (2008) volta seu
conhecimentos matemáticos”. Apesar de ter olhar para as situações a qual esse contrato
um grande interesse em estudar Matemática, se dá e define-as em dois tipos: as situações
voltou à escola normal para fazer sua didáticas e as situações adidáticas.
formação profissional de professor.
Começo descrevendo as situações
Ele desenvolveu os “Cadernos”, cheio adidáticas que Brousseau define da
de inovações que eram utilizados pelos seguinte forma: são aquelas situações
professores e pelos universitários, a fim de aprendizagem que não apresentam

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Revista Educar FCE - Março 2019

envolvimento do professor, neste caso ele Diante das situações didáticas o professor
fica ausente do processo de aprendizagem é aquele que prepara situações apropriadas
do aluno. (BROUSSEAU, 2008) para a construção de um conhecimento
específico, mas não revela a priori o que
Já as situações didáticas são o oposto, quer que o aluno aprenda, fazendo com que
porque o professor interfere proporcionando o aluno construa o conhecimento por meio
as próprias situações de aprendizagem, de seus conhecimentos prévios.
as interações e a institucionalização do
conhecimento supostamente construído Ainda nas situações didáticas Brousseau
pelo aluno. (2008) destaca que a mediação é a
menor possível, pois o professor interfere
Brousseau é bem específico e classifica as realmente no último momento do processo
situações didáticas para melhor analisá-las de construção do conhecimento, que é na
em quatro situações diferentes, são elas: institucionalização do saber, para separar o
joio do trigo, o que deve ou não ser levado em
Situações de ação: são aquelas em que os conta, registrado e sistematizado para que o
saberes dos alunos são colocados em ação aluno realmente reconheça como saber.
para resolver o problema em evidência; Para Brousseau (2008) o professor não
situações de formulação: são aquelas em deve interferir claramente, facilitando o
que os alunos explicam como resolveram o trabalho do aluno, porque desse modo não
problema, tornando explícitas as estratégias, haverá a construção do conhecimento pelo
os caminhos percorridos, para chegar à aluno. Podemos constatar esta concepção
solução; situações de validação: é o momento quando o mesmo escreve: “Se uma situação
em que o aluno vai tornar a sua solução leva o aluno à solução como um trem em seus
válida, verdadeira ou então aceitar a solução trilhos, qual é a sua liberdade de construir seu
do outro como a correta desistindo da sua conhecimento? Nenhuma?” (BROUSSEAU,
solução. É o momento da sustentação da sua 1996, p. 54)
solução; situação de institucionalização: neste
momento o professor faz a sistematização Também não posso deixar de citar como
dos conhecimentos construídos pelos Brousseau vê o erro dentro do processo de
alunos para que o mesmo não se perca, mas ensino aprendizagem, um acontecimento
se tornem saberes adquiridos e assimilados que para muitos só atrapalha e determina
pelos alunos. a incapacidade de aprendizagem do aluno,
para o autor tem outro significado.
Neste sentido os alunos reconhecem
o saber como um status cultural, ou seja, O significado de que o aluno está
reconhecido culturalmente pela sociedade a percorrendo um caminho para a construção
qual o indivíduo está inserido. da aprendizagem e a partir do erro ele

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Revista Educar FCE - Março 2019

reconhece que este não é o caminho que o Este grande autor Lev Vygotsky nasceu
levará à construção efetiva, então muda o em 1896 na Belahus, país que faz parte
caminho a procura de sua resposta. Depois de da extinta União Soviética e morreu em
vários caminhos percorridos, e não caminhos 1934. Apesar de seu pouco tempo de vida
errados, o aluno chega à construção do Vygotsky se formou em direito, foi professor
conhecimento, tudo isto porque o erro faz e pesquisador nas áreas de pedagogia,
parte do processo de aprendizagem. psicologia, filosofia, literatura, deficiência
física e mental.
Também tem o fator de que se o professor
está bem preparado, a partir deste erro Segundo Oliveira (2008) Vygotsky atraiu
cometido pelo aluno poderá intervir e ajudar muitos educadores, porque a educação é um
o aluno na construção do novo caminho. dos temas que fizeram parte de seus trabalhos
e publicações. Nos dias de hoje é um teórico
atual na área da psicologia da educação,
A TEORIA SOBRE A devido a sua preocupação com a escola, o
MEDIAÇÃO NO PROCESSO professor e a intervenção pedagógica.
DA CONSTRUÇÃO DO Ele também foi o primeiro teórico a colocar
CONHECIMENTO em evidência o meio social e cultural como
propulsor do desenvolvimento do indivíduo.
Para aprimorar a minha concepção sobre
a importância da matemática e da mediação Para Oliveira (2008) que tem concepções
no ensino-aprendizagem do currículo desta vygotskiana, existe uma forte relação
disciplina é essencial aprofundar mais no entre “desenvolvimento” e “aprendizado”,
conceito de “mediação”, primeiro o farei com determinando que o indivíduo se desenvolve,
Lev Vygotsky, um autor que valoriza muito porque aprende, e, esta aprendizagem
o professor e a sua intervenção no processo transforma o ser humano em um ser capaz
de ensino aprendizagem nas escolas. Mas de modificar o seu meio.
saliento que todos os conceitos do autor
estão baseados nos escritos de sua discípula Oliveira (2008) vai além do biológico em
e professora-doutora da Faculdade de sua concepção sobre o desenvolvimento
Educação da Universidade de São Paulo e para definir melhor classifica-o de
Marta Kohl de Oliveira. “Planos Genéticos de Desenvolvimento”,
que são divididos em quatro entradas de
Desse modo todas as vezes que citar a desenvolvimento e juntas são responsáveis
autora Oliveira são os conceitos de Vygotsky e determinam o funcionamento psicológico
que estão norteando minhas reflexões. do ser humano.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Essas entradas são a filogênese, formada singular, levando em conta suas experiências
pela história da espécie humana, por individuais, essas que trazem à tona a
exemplo: uma espécie determinada tem seus heterogeneidade do sujeito. Então apesar da
limites e possibilidades de desenvolvimento história cultural de determinado sujeito ser
psicológico. Ao ser humano pode-se citar o tão parecida com a de outro não podemos
movimento de pinça que permite escrever e dizer que são iguais, porque seus momentos
pegar coisas. A ontogênese que é a história de vida são diferentes.
do indivíduo da espécie, por exemplo: o ser
humano nasce, desenvolve-se, se reproduz, A partir deste conceito de desenvolvimento
envelhece e morre. Todo este processo posso deduzir que segundo Oliveira (2008),
natural ocorre num ritmo e sequência próprios a história cultural do sujeito, suas relações
da espécie, porque estas entradas estão e experiências são fatores importantes no
fortemente ligadas à natureza biológica que desenvolvimento psicológico do sujeito.
determina tal desenvolvimento e não outro. Então partindo deste pressuposto vamos
A sociogênese, que é a história cultural do conhecer como o autor define a “mediação”
indivíduo na sociedade a qual está inserido. no processo de desenvolvimento e
Posso dizer que todo ser humano passa pela aprendizagem, já que essa está basicamente
adolescência, mas a sua história cultural vai conceituada em intervenção dentro de um
determinar como vai ser esta passagem, nos processo ou relação.
dias de hoje um indivíduo da nossa cidade de
São Paulo pode ser considerado adolescente Oliveira (2008) destaca que na maioria das
mesmo aos 30 anos, dependendo dos pais vezes as ações do ser humano são mediadas
para sobreviver. Já em outra sociedade como por outro, por exemplo: se um indivíduo sabe
nos Estados Unidos ele pode ser considerado que o fogo queima, pode impedir que outro
capaz de viver sozinho aos 17 anos e isso se queime alertando ao fato do que poderá
determinará o fim da adolescência, porque ocorrer, e assim mediar a ação do indivíduo.
será independente e com certeza não estará
morando com os pais aos 30 anos de idade. Ainda a autora coloca que o ser humano
enquanto mediador constrói sua história
Então segundo Vygotsky (1992) “os cultural e faz descobertas que facilitam a vida
fatores que envolvem a história cultural de dos que estão nascendo, porque não precisam
cada indivíduo também vão determinar e começar do zero. O mesmo ocorre na escola
organizar os conceitos e o desenvolvimento quando o professor media o aprendizado
dos sujeitos”. acumulado pela nossa sociedade facilitando
o processo de aprendizagem dos alunos, e
A última entrada é chamada por Oliveira este fato é muito importante para a pesquisa
(2008) de microgênese, nesta observei e para entender o conceito de mediação.
o indivíduo particularmente, de forma

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Revista Educar FCE - Março 2019

A escola é uma prática social, um local onde e é nesta última que a mediação tem um
as relações com os outros ocorrem o tempo papel importante.
todo e um ambiente propício à mediação,
que com certeza poderá levar o indivíduo O professor deve saber até onde vão os
as transformações e ainda impulsionar o conhecimentos de seus alunos para depois
desenvolvimento, a aprendizagem. se colocar entre o novo conhecimento e o
aprendiz, para mediar de forma específica a
Para Oliveira (2008) a mediação é fim de ajudar os alunos na superação de seus
muito importante, porque pode interferir obstáculos.
intencionalmente no desenvolvimento das
crianças para definição do seu aprendizado. Como já citei é importante que este novo
Já que para o autor as crianças dependem conhecimento não esteja muito além da
da intervenção, da mediação para alcançar capacidade do aluno, que já deve ser capaz
o desenvolvimento esperado da sociedade de realizá-lo com ajuda de outro indivíduo
cultural a qual estão inseridas. mais experiente.

Então se para a autora a escola acelera o Então o simples fato de o aluno não realizar
aprendizado da criança e o coloca na medida a atividade sozinho, mas com a ajuda de outro
certa para o seu desenvolvimento, seria determina o conhecimento que ainda está na
muito difícil para uma criança se desenvolver zona de desenvolvimento proximal, não está
em uma sociedade sem a escola, sem os muito longe da sua zona de desenvolvimento
parâmetros culturalmente construídos pela real, permitindo a intervenção para provocar
nossa sociedade. mudanças no aprendizado do indivíduo.

Apesar de a mediação ser muito presente A zona de desenvolvimento proximal


na escola não quer dizer que ela ocorra não é palpável e tão pouco observável a
de forma aleatória, mas só ocorre quando olho nu, mas esclarece melhor o conceito
promove o desenvolvimento da criança, ou de desenvolvimento, E educador que tem
não poderá ser considerada uma mediação. este conhecimento é capaz de compreender
Para isso é necessário intervir de maneira que a mediação não é a mesma para todos,
intencional e em determinado momento talvez uma parte dos alunos compreenda e
da aprendizagem, ou seja, nem além, nem o restante exigirá outra intervenção, outro
aquém. tempo e até outra linguagem.

Para Oliveira as coisas que sabemos fazer Ainda Oliveira ao definir a “Mediação”,
estão na zona de desenvolvimento real e as coloca a criança na condição de aprendiz,
coisas que ainda não sabemos fazer sozinhos não apenas para observar e aprender
estão na zona de desenvolvimento proximal como vemos em muitas aulas técnicas,

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Revista Educar FCE - Março 2019

mas para assumir seu papel no processo A autora fez diversos cursos de pós-
de ensino aprendizagem, ser capaz de agir doutoramento nas Universidades de Genebra
e construir conceitos. Portanto de maneira e Michigan, todos ligados à epistemologia
passiva, sem significados e ações a situação Genética e outras áreas educacionais
de aprendizagem não impulsionará o relacionadas à teoria de Piaget e também de
desenvolvimento esperado, ou seja, não se outros pesquisadores.
dará o aprendizado.
Para Kamii (2010) a construção do número
Assim a zona de desenvolvimento é o principal objetivo da matemática para
proximal nos ajuda a entender melhor como as crianças das séries iniciais para que as
se dá o desenvolvimento da criança e a sua mesmas adquiram autonomia, visto que este
heterogeneidade ao construir conceitos. é o principal objetivo da educação. O número
Além disso, nos conscientizar da importância é construído por cada criança a partir de
de não ficar além ou aquém, mas ficar na todos os tipos de relações que ela cria entre
zona de desenvolvimento proximal, que é os objetos, mas a criança tem que entender a
perto do que a criança construirá logo mais. priori o conceito de conservação do número
para depois compreender todo o processo
de sua construção. Este conceito se resume
A CONSTRUÇÃO E O USO na capacidade da criança de compreender
DO CONCEITO DE NÚMERO que independente do espaço ocupado pelos
objetos a quantidade á a mesma. “Conservar
REALIZADO PELA CRIANÇA o número” significa pensar que a quantidade
NA PERSPECTIVA DE KAMII continua a mesma quando o arranjo espacial
dos objetos foi modificado” (KAMII, 2010,
Constance Kamii aborda questões p.10)
fundamentais sobre a construção e o uso do
conceito de número realizado pela criança. Kamii é piagetiana, então segundo a
A autora nasceu em Genebra na Suíça, mas autora o professor precisa ter conhecimento
como seus pais são japoneses viveu no Japão e entender a teoria de Piaget para ter
até os 18 anos, foi aluna, colaboradora e suporte e se apropriar dos seus conceitos
seguidora do psicólogo Jean Piaget, depois sobre o número e assim ser pertinente as
foi para os Estados Unidos da América onde suas práticas pedagógicas e ainda para
se bacharelou em Sociologia na “Pamona refletir na trajetória que irá proporcionar aos
College’. Já na Universidade de Michigan fez seus alunos entender, construir e adquirir o
mestrado em Educação e depois doutorado conhecimento desejado.
em Educação e Psicologia.
Segundo conceitos piagetianos usados
por Kamii (2010), a criança passa por três

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Revista Educar FCE - Março 2019

formas de conhecimentos: o físico, o lógico- Por meio do conhecimento físico a criança


matemático e o social (convencional) e este irá perceber que as caixas possuem ou não a
é um conhecimento necessário que cabe mesma cor, pelo conhecimento social poderá
aos professores tê-los como base para suas perceber que os dois objetos são caixas, já
práticas pedagógicas. pelo conhecimento lógico-matemático ela
atribuirá semelhanças ou diferenças, como
O conhecimento físico é relacionado com o fato das caixas terem a ou não a mesma
o externo do objeto, obtido pela observação forma.
em sua realidade externa que possibilitam a
criança reconhecer a cor, a forma, o “peso”, as O conhecimento lógico-matemático está
texturas, o material de que são constituídos, interligado ao físico e ao social, sendo que
tudo que se relaciona ao externo e que é o primeiro tem origem na própria criança,
observável. porque ela é o sujeito de seu conhecimento,
e este é construído a partir de sua reflexão
Já o conhecimento social ou convencional sobre o objeto.
é aquele que foi criado pelas culturas, ou seja,
é o conhecimento adquirido por transmissão Para que a criança aprenda números e
e construído pelos seres humanos, por operações, a mesma terá que fazer uma
exemplo: os números 0, 1, 2, 3....., que foram abstração reflexiva, onde primeiro a criança
construídos pela sociedade a qual fazemos compreende e depois representa o número
parte. com um símbolo, que poderia até ser
inventado pela criança. Mas ocorre que ela
Este conhecimento social e também o faz uso de símbolos criados por convenção,
conhecimento físico exige uma estrutura e estes não têm semelhança com os objetos
de interferência de outras pessoas e de que eles representam, ou seja, ela precisa
memorização que será realizada pelo sujeito. atribuir a sua abstração um conceito de
números que já é determinado pela sociedade
E o conhecimento lógico-matemático a qual a ela faz parte.
resulta das relações que a criança consegue
estabelecer (criar) entre os objetos, sempre A compreensão do conhecimento
que tiver de agir sobre eles, por exemplo; lógico-matemático poderá ser facilitada
estabelecer semelhanças e diferenças entre indiretamente, sem intenção prévia, pelo
duas caixas da mesma forma, de cores iguais, meio ambiente, quando este é carregado de
mas tamanhos diferentes. informações e objetos a qual a criança se
relaciona e se desenvolve. Por exemplo, a
Para maior compreensão veja esta criança está num jardim e resolve classificar,
abordagem com os três tipos de conhecimentos comparar e até contar quantas flores tem
supostamente sendo realizados pela criança. ali, apesar desta ação ser espontânea, ela

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Revista Educar FCE - Março 2019

poderá ocasionar o desenvolvimento lógico- especificamente na construção do conceito


matemático. de número.

Então se a criança aprende o conceito de Se analisarmos o papel do professor


número por meio de suas relações com o segundo a autora e confrontarmos com
objeto, como ensinamos números para elas? Brousseau (2008) podemos observar que os
A autora Kamii (2010) coloca o termo ensinar dois apresentam que o professor é aquele
em evidência, porque para a autora o número que propicia as situações didáticas para
não é ensinado diretamente à criança. “(...) promover a aprendizagem matemática e
“Ensinar” está entre aspas porque o número ainda que o professor não pode interferir
não é ensinado diretamente”. (KAMII, 2010, claramente, facilitando o trabalho do aluno,
p.33). porque desse modo não haverá a construção
do conhecimento pelo aluno.
Então já é possível observar que o
pressuposto da concepção de ensino Mas a autora aborda a importância de
tradicional, do professor que ensina e respeitar a maturidade da criança, segundo
do aluno que aprende não é condizente os conceitos de Piaget, já Brousseau (2008)
com os conceitos de Kamii que leva em não apresenta esta preocupação no processo
conta o papel do aluno na apreensão dos de aprendizagem do aluno, pois seu foco é a
conceitos matemáticos realizados a partir situação didática criada pelo professor.
das construções e relações do aluno com o
objeto. Ao confrontarmos Vygotsky (2008) e
Kamii (2010) para observar o que cada um
O professor tem vários papéis, de coloca como papel do professor, desvelamos
estimulador, encorajador e criador dos que ambos não se contradizem, porque
ambientes que irão propiciar a criança ocupar colocam o professor como interventor
o seu papel de responsabilizar-se pelo seu dentro do processo de ensino aprendizagem
desenvolvimento, fazendo descobertas a da criança, a diferença está que Vygotsky
partir das situações criadas pelo professor. coloca a mediação do professor como
essencial para que o aluno aprenda, já Kamii
Apesar da autora não usar o conceito de coloca o professor numa atuação bem
mediação, a abordagem que ela coloca para discreta e ponderada, mas não deixa de ser
o professor é de intervir quando necessário uma relação mediada.
para propiciar ao aluno seu desenvolvimento
dentro de um processo de aprendizagem,
a qual acontece com o aluno que tem um
papel importante e ativo na construção
do conhecimento matemático, mas

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O ENSINO DA MATEMÁTICA Os sujeitos observados em nenhum


EM ESTUDO DE CAMPO momento pareciam incomodados com a
pesquisadora e agiam naturalmente ao
Os sujeitos observados na pesquisa foram processo de ensino aprendizagem que, com
alunos de 7 a 8 anos completos e matriculados ações e práticas que ocorrem com o sem a
no 2º e 3º ano do ensino fundamental da observação de pesquisa.
rede municipal da cidade de São Paulo.
Segundo Vygotsky (2008) para que
A pesquisa propiciou entender o conceito ocorra o desenvolvimento da aprendizagem
de mediação segundo os autores estudados dos alunos inseridos na instituição escolar
e também respondeu às perguntas sobre a o professor deve assumir seu papel de
mediação nas salas de aulas das séries iniciais, bem mediador, mas nem todos os educadores
como a importância do ensino da matemática. têm claro o conceito de mediação. Então
o professor não poderá mediar de maneira
Este capítulo é constituído da análise consciente se não tiver conhecimento
quanto à importância do ensino de teórico do conceito de mediação.
matemática nas séries iniciais no processo
da construção do conhecimento, sempre Ainda para Vygotsky (2008) os
considerando os teóricos abordados no conhecimentos que o aluno possui são
capítulo anterior. importantes para a sua construção social, pois
o indivíduo se constrói nas interações com o
A pesquisa é qualitativa com uma meio, mas o autor não define mediação por
abordagem metodológica etnográfica. Esta conhecimentos prévios como observamos
escolha não foi aleatória, a escola escolhida na fala da professora. Então o conceito de
é sede de trabalho da pesquisadora cujo mediação está sendo usado de maneira
trabalho no ensino Fundamental I, que tem inapropriada pela educadora em questão, o
como uma das funções, participar e reger que nos faz concluir que não contribui para
aulas de alfabetização das crianças das as suas práticas de mediação no processo de
séries iniciais, com livre acesso para observar ensino e aprendizagem da matemática.
as aulas de ensino de matemática realizados
por outras professoras titulares. Ressalto que quando me refiro aos
conhecimentos prévios, conceito de Freire
Foram observadas as dificuldades e as (2002), estes são todos os conhecimentos
superações dos alunos na aprendizagem que o indivíduo já construiu durante suas
dos conceitos matemáticos, em particular a experiências de vida, que não deve ser
construção do conceito de números realizada ignorado pelo educador porque contribui para
pelos alunos envolvidos no processo de uma aprendizagem significativa do aluno, já
ensino-aprendizagem. a mediação é uma forma do professor ligar o

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Revista Educar FCE - Março 2019

que o aluno já sabe com o novo conhecimento Concluindo a análise da pergunta


que ainda será construído pelo aluno. relacionada à mediação posso dizer que as
professoras não têm uma concepção muito
Duas das professoras observadas clara sobre mediação, mas que se não são
definiram mediação como o contato com mediadoras em suas práticas pedagógicas
o aluno, diante da postura das mesmas elas acreditam que são e talvez até o sejam
pressuponho que os seus conhecimentos na medida do possível.
são passados para os alunos que recebem
sem fazer relações com seus conhecimentos A partir do momento que a professora
já constituídos, ou seja, contrariando os intervém provocando situações de
conceitos de Vygotsky sobre mediação aprendizagem com recursos variados
e zona de desenvolvimento proximal, a podemos observar que está ocorrendo
professora media o próprio conhecimento uma situação didática Brousseau (2009) em
ao invés de mediar o conhecimento do aluno relação às situações de aprendizagem.
sobre determinado tema ou assunto que será
trabalhado. Então a educadora não conhece As professoras da pesquisa conceituam
o conceito de mediação. o ensino de matemática como um currículo
difícil. Uma barreira que pode ser ultrapassada
Somente uma professora definiu mediação com aperfeiçoamento por meio de estudo
como a observação para conhecer os alunos contínuo.
a fim de preparar atividades significativas
com intervenções que permitam um maior Apesar da pesquisa não ser quantitativa
desenvolvimento das crianças. e serem apenas três entrevistadas constatei
que apenas uma das professoras fez o curso de
Apesar da professora responder qual é o aperfeiçoamento que esclarece conceitos de
papel do professor mediador, ao invés de matemática para os educadores melhorarem
definir a palavra mediação, considero que suas práticas pedagógicas e assim facilitando
ela conhece o conceito, mas com algumas o trato com a matemática e aprendizagem de
ressalvas quando diz que as atividades seus alunos.
para seus alunos “devem ser difíceis, mas
possíveis”, pois segundo Oliveira (2008) Os cursos são importantes para que
as atividades não devem estar além e nem os educadores melhorem a qualidade de
aquém. Mas na medida do que a autora suas aulas e propiciem aos seus alunos
conceitua de zona de desenvolvimento melhor entendimento sobre os conceitos
proximal, que são as coisas que as crianças matemáticos. Mas não são todos os
realizam com a ajuda de alguém, mas não educadores que o fazem, uns por falta de
conseguem realizar sozinhas. tempo e outros por falta de interesse.

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Os alunos trabalham a matemática do dia a dia, como contar às pessoas que tem em casa,
na sala de aula, os números de chamada, o calendário, a idade dos amigos de classe e muitas
outras situações que mostram conceitos de numeros que prevê o trabalho da matemática
relacionado com a realidade das crianças.

Nas observações em sala de aula constatei que uma das professoras propicia aos seus alunos
aulas interessantes, significativas e utiliza os recursos descritos anteriormente, organiza a
sala em círculo ou em grupos, no momento com seis grupos de interesse distribuídos na
sala de aula, e além de possuírem materiais diferentes são as crianças que escolhem onde
querem trabalhar

Esta professora em particular anota em um caderno as dificuldades de cada aluno para


depois preparar atividades que vão ajudar o aluno a construir os conceitos matemáticos com
maior facilidade. Então posso dizer que esta é uma professora mediadora, que na sua sala de
aula a mediação está presente.

Em uma das salas observada, constatei que a professora não permite que os seus alunos
construam seu conhecimento, pois o tempo que ela dispõe para as aulas de matemática
não são coerentes com seu planejamento de aula. Então ela antecipa a resposta sem que os
alunos tenham concluído suas construções no processo ensino aprendizagem.

É pertinente comparar a prática da professora com os conceitos de mediação de Vygotsky,


mas como um exemplo negativo de prática pedagógica mediadora, ou seja, a professora
privilegia a simples transmissão de conhecimentos aos alunos, pois quando são apresentados
conceitos prontos subtrai-se a possibilidade de os alunos estabelecerem relações importantes
para compreensão dos conceitos matemáticos.

Das três professoras observadas somente uma utiliza os materiais concretos com o
objetivo de que construam o conceito de número, pois a mesma conhece o conceito de
Kamii e nela embasa suas práticas pedagógicas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluo que a mediação deveria ocorrer observando os
critérios que estão evidenciados no conceito de Vygotsky
quando ele estabelece que é na zona de desenvolvimento
proximal que encontramos espaço para propiciar a construção
do conhecimento realizado pelos alunos.

No entanto nas observações e entrevistas constatei que a


mediação nem sempre ocorre e quando ocorre, na maioria das
vezes, é de forma inadequada, então não é possível conceituar
que ocorreu uma mediação de fato. O mesmo ocorreu com
a visão das professoras com relação à importância do ensino
da disciplina matemática para a formação de indivíduo crítico
e capaz de fazer uso do conteúdo aplicado no seu dia-a-dia. SANDRA DA SILVA
DOMINGOS LOPES
A escola como ambiente interativo possibilita que
Graduação em Pedagogia pela Faculdade
ocorram a relações e intervenções mediadoras que
Sumaré (2014); Especialista em
interferem intencionalmente para o desenvolvimento da Ludopedagogia e Ensino de Matemática
criança resultando na aprendizagem, mas nas escolas nem pela Faculdade Campos Elíseos (2016 -
sempre o ambiente está preparado para a intervenção e 2019); Professora de Educação Infantil e
ainda alguns professores não propiciam as intervenções e Ensino Fundamental I - na EMEF Senador
não fazem uso dos materiais concretos para que seus alunos Lino de Mattos.
construam os conceitos matemáticos, como de conservação
e consequentemente de número.

O professor mediador das séries iniciais a priori tem o papel importante no processo
da construção do conhecimento da matemática e para isso faz se necessário conhecer e
entender o conceito de mediação, acreditar no potencial de seus alunos, propiciar situações
didáticas que promovam a aprendizagem, reconhecer o erro como um caminho para o
aprendizado, reconhecer o aluno como sujeito ativo e que número não se ensina

Nas observações feitas pelo grupo as crianças apresentaram uma grande dificuldade de
construção do número, percebi que isto ocorreu porque ainda não entenderam o conceito
de conservação. A professora quer explicar a dezena e a unidade, utilizando o material
dourado demonstrado no livro, porém a criança não consegue ver na barra da dezena as dez
unidades. Não conseguem fazer a relação com o tamanho da peça.

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É necessário que o professor crie estratégias, acredite no potencial de seus alunos para
então mediar os conhecimentos que os alunos ainda não conseguem realizar com autonomia.

Pensando como educadora reconheço a partir deste trabalho a necessidade de conhecer


e entender os conceitos teóricos para desenvolver a nossa prática pedagógica no ensino da
matemática nas séries iniciais a fim propiciar aos alunos aulas de qualidade.

Também confirmo por meio deste trabalho de pesquisa que a falta de formação dos
professores dificulta a aprendizagem dos alunos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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PARO, Vitor Henrique. Admistração escolar: Introdução crítica. 11.ed.São Paulo.Editora


Cortez,2002

1695
Revista Educar FCE - Março 2019

CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL: ESPAÇO DE APRENDIZAGEM , EXPERIMENTAÇÃO E


SOCIALIZAÇÃO

O LÚDICO COMO FACILITADOR DO ENSINO


DA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Este trabalho tem por tema o Lúdico com facilitador do ensino de matemática na
Educação infantil, e partiu do objetivo geral de refletir sobre a importância do lúdico como facilitador
do ensino de matemática na Educação infantil. Originou-se da justificativa de que por meio de jogos
matemáticos, as crianças na Educação infantil, tem a oportunidade de interagir com os colegas, com
a realidade, estabelecendo relações com o mundo e com a matemática, e assim aprendem de fato
de forma motivadora e prazerosa. Por isso, esta pesquisa respondeu a seguinte problematização: O
lúdico, por meio de jogos e brincadeiras é utilizado para trabalhar matemática na Educação infantil?
Como hipótese de trabalho, acreditou-se que não, por isso, procurou-se atingir os seguintes objetivos
específicos: Mostrar a relação entre os jogos e o ensino de matemática na Educação infantil; analisar a
construção do conhecimento matemático pela criança na Educação infantil e propor jogos matemáticos
que podem ser utilizados para desenvolver os conhecimentos matemáticos na Educação infantil. Pelo
exposto para alcançar os objetivos propostos esta pesquisa foi de cunho bibliográfico, por meio da
qual foram analisados os jogos de matemática e o ensino na Educação infantil, se refletiu sobre a
ludicidade na Educação infantil e por último foram discutidos jogos, brincadeiras e brinquedos na área
de matemática que podem ser aplicados na Educação infantil segundo documentos oficiais e autores
da área. Dessa forma, esta pesquisa conseguiu atingir os objetivos de forma satisfatória e confirmou-se
a hipótese de que o lúdico na área de matemática para o ensino na Educação infantil não é utilizado de
forma sistemática como propõem os diversos autores e documentos utilizados na presente pesquisa.

Palavras-Chave: Educação Infantil; Música; Aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO E para se alcançar os objetivos, será


realizada uma pesquisa bibliográfica, onde se
O objetivo geral deste trabalho é o de utilizam teóricos e autores, como: Kishimoto
refletir sobre a importância do lúdico como (2000), Piaget (1976), Vygotsky (1986), Kamii
facilitador do ensino de matemática na (1992), Huizinga (1993), Friedmann (1996) e
educação infantil. Desta forma o tema desta Brougère (1998), Referenciais Curriculares
pesquisa é: O Lúdico como Facilitador do Nacionais (1998), entre outros.
ensino da Matemática na Educação infantil.
Assim, no primeiro capítulo, explora-se a
Este trabalho justifica-se, pois por meio de relação da utilização dos jogos para o ensino
jogos matemáticos, as crianças na Educação de matemática na Educação infantil.
infantil, tem a oportunidade de interagir com
os colegas, com a realidade, estabelecendo Em seguida, contemplam-se os conceitos
relações com o mundo e com a matemática, de ludicidade que podem ser aplicados no
que passa a ser vista de forma motivadora ensino de matemática na Educação infantil.
e prazerosa. Assim sendo, acredita-se que
quando se fala em matemática na Educação No terceiro capítulo reflete-se sobre a
infantil, não estamos falando em somar, diferença entre as definições das palavras
subtrair, dividir ou multiplicar, mas sim jogo, brinquedo e brincadeira e sobre a
em proporcionar ao aluno experiências utilização de jogos para ensinar matemática
e a oportunidade de entrar no universo na Educação infantil.
da matemática trazendo conhecimentos
relacionados aos números, quantidades, Por fim apresentam-se as considerações
medidas e noções de espaço. Por isso, finais deste trabalho.
esta pesquisa parte da problematização:
O lúdico, por meio de jogos e brincadeiras
são utilizados para trabalhar matemática na OS JOGOS E O ENSINO DA
Educação infantil? MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO
Acredita-se que não, por isso, tem-se como INFANTIL
objetivos específicos: Mostrar a relação Na atualidade, os jogos têm sido cada vez
entre os jogos e o ensino de matemática na mais utilizados como estratégia de ensino.
educação infantil; analisar a construção do
conhecimento matemático pela criança na O jogo tornou-se objeto de interesse de
Educação infantil e propor jogos matemáticos psicólogos, educadores e pesquisadores como
que podem ser utilizados para desenvolver decorrência da sua importância para a criança
os conhecimentos matemáticos na Educação e da ideia de que é uma prática que auxilia
o desenvolvimento infantil, a construção ou
infantil.
potencialização de conhecimentos. A Educação

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infantil, historicamente, configurou-se como o O professor precisa conhecer a bagagem de


espaço natural do jogo e da brincadeira, o que conhecimento prévio que cada criança traz
favoreceu a ideia de que a aprendizagem de consigo, e agir no sentido de ampliar suas noções
conteúdos matemáticos se dá prioritariamente matemáticas, ou seja, é necessário respeitar a
por meio dessas atividades. A participação criança na sua inteligência, no seu aprendizado
ativa da criança e a natureza lúdica e prazerosa construído, para que a aprendizagem seja
inerentes a diferentes tipos de jogos têm servido significativa e prazerosa.
de argumento para fortalecer essa concepção,
segundo a qual se aprende matemática brincando Nesse sentido, de acordo com autor acima,
(BRASIL, 1998, p. 210). podemos utilizar jogos como estratégia,
mas temos que antes de tudo respeitar a
Desta forma, podemos observar que os criança em seus conhecimentos, e o papel
jogos podem contribuir para que as crianças do professor sob esta perspectiva é o de agir
na Educação infantil possam aprender de para ampliar suas noções matemáticas.
forma lúdica, os seja, aprender brincando.
Para Grigorine (2012, p. 19):
De acordo com Azola e Santos (2010, p.
47): Brincar é um ato prazeroso, espontâneo e está
presente em todas as fases de crescimento da
Os jogos por serem instrumentos, quando criança. Através da brincadeira, diferentes formas
orientados, lúdicos e prazerosos vêm realmente de convivência e socialização manifestam-se na
contribuir enquanto recurso utilizado pelo medida em que a criança interage com o outro e
professor para o desenvolvimento de noções com o ambiente.
matemáticas na Educação infantil, pois a criança
aprende enquanto brinca e isto é fato presente
Dessa forma, as crianças na Educação
durante qualquer infância. Com o jogo, o aluno
infantil necessitam aprender de forma lúdica,
além da interação com o colega, desenvolve a
desenvolvendo noções de matemática por meio
memória, a linguagem, a atenção, a percepção, a
criatividade e a reflexão para a ação.
de brincadeiras que as incentivem, provocando-
as, instigando-as de forma prazerosa, por meio
das quais, ela se desenvolve e interage com o
Assim sendo, os jogos podem ser meio social que a cerca.
utilizados como instrumentos que de fato
podem contribuir para o desenvolvimento de Nesse sentido os jogos têm muito a
noções matemáticas nas crianças. Entretanto contribuir no ensino de matemática na
o professor deve ter em mente que necessita Educação infantil, e segundo Guimarães,
conhecer a criança, saber o que ela já sabe Souza, Resende (2011, p. 10):
sobre estas noções e, sobretudo, respeitar
a inteligência das crianças. Segundo Batista Os jogos devem ser utilizados como ferramentas
(2012, p. 23): de apoio ao ensino e que esta opção de
pratica pedagógica conduz o aluno a explorar

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Revista Educar FCE - Março 2019

sua criatividade. Sendo assim, dentro de um É importante que a escola possa desenvolver a
contexto educacional que o lúdico em sala de capacidade de experimentar o novo não como
aula visa a finalidade de contribuir e auxiliar o algo muito distante, mas como um desafio para
educador no processo de ensino aprendizagem implementação de novas propostas pedagógicas,
com o objetivo de desenvolver métodos de no sentido de resgatar a ludicidade dos próprios
ensino que despertem na criança o interesse professores, para que eles possam vivenciar tais
pela matemática. atividades junto com os seus alunos. (PEREIRA,
2009, p.64).
Podemos observar então que por meio
dos jogos, podemos despertar o interesse Além do exposto, para que o ensino
das crianças pela matemática, pois está será seja ativo, os professores devem levar em
prazerosa e significativa. consideração que as crianças já possuem
conhecimentos e noções de matemáticas
Segundo Mota (2009 p. 129): mesmo que de maneira intuitiva. De acordo
com Pieri (2011, p. 34):
É possível usar jogos matemáticos na sala de
aula e, ao mesmo tempo em que se trabalha com Desde pequena a criança já tem noção de
conteúdos de Matemática, propor atividades números, cabe a nós professoras despertar o
que possam, também, tornar o ensino dessa gosto pela matemática através do jogo. Aprender
disciplina um instrumento importante na Matemática significa, fundamentalmente,
construção da cidadania, com solicitações de utilizar-se do que distingue o ser humano, ou
aplicações dos conhecimentos matemáticos em seja, a capacidade de pensar, refletir sobre o
problemas do dia a dia. real vivido e o concebido, transformar este real,
utilizando em sua ação, como ferramenta, o

conhecimento construído em interações com as
Assim sendo, cabe ao professor propor necessidades surgidas no aqui e no agora.
tarefas que envolvam as crianças, para
que elas se desenvolvam de forma crítica, Pelo exposto, observa-se que cabe ao
construindo a cidadania e de fato utilizando a professor despertar o gosto pela matemática,
matemática no cotidiano de sua vida prática pois a criança desde pequena já tem noção
e social. de números.

E para isso, os professores devem Sendo assim, acredita-se que por meio dos
incentivar as crianças a serem ativas, pois: jogos as crianças podem desenvolver também
a autoconfiança, pois começam a questionar
O ensino ativo presume que os alunos suas ações e também desenvolvem a
são pessoas capazes de dar significado às autonomia e a criticidade:
coisas, construtores ativos do seu próprio
conhecimento que trazem a cada experiência Por meio de atividades com jogos as crianças
de aprendizagem uma reserva de informação da vão ganhando autoconfiança e são incentivadas
qual podem dispor ao procurar compreender. a questionar e corrigir suas ações, analisar e

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Revista Educar FCE - Março 2019

comparar pontos de vista, organizar e cuidar dos


materiais utilizados. Outro motivo é proporcionar
A LUDICIDADE E O ENSINO
ao sujeito que desenvolva seu raciocínio. Nos DE MATEMÁTICA NA
jogos criam-se situações que servem como
EDUCAÇÃO INFANTIL
instrumentos para exercitar e estimular um agir-
pensar com lógica e critério, condições para Como visto anteriormente, a criança já
jogar bem e ter um bom desempenho escolar. traz consigo conhecimentos sobre número,
(SILVA, 2008, p. 47). sobre quantidade, cabendo ao professor
despertar este interesse para que o aluno
Entretanto, os professores devem saber queira aprender matemática por meio de
o que estão fazendo quando propõem uma atividades que sejam prazerosas. Sobre isso
metodologia por meio de jogos para ensinar Pereira (2009) fez um estudo com 26 crianças
matemática para os alunos na Educação de uma creche, para sugerir o uso de jogos e
infantil, pois não brincadeiras por brincar e, brincadeiras como facilitadores no ensino de
sim jogos direcionados para que as crianças matemática na Educação infantil:
desenvolvam conceitos matemáticos.
O lúdico vem tomando espaço nas
Ainda há que se conscientizar os professores discussões teóricas como um instrumento
que para brincar é preciso planejamento, importante no processo de ensino e
estudo e dedicação por parte dos educadores. aprendizagem. As reflexões teóricas mostram
Não é deixar brincar e pronto, por mais que que os jogos e brincadeiras fazem parte do
em qualquer situação de brincadeira há sim, o
ambiente sociocultural dos alunos e, neste
desenvolvimento da criança, na escola essas
sentido, é preciso respeitar e valorizar os
situações precisam ser bem elaboradas. (SILVA,
jogos já de conhecimento dos alunos, seja
2008, p. 47).
os tradicionais, ou aqueles que vão sendo
Assim sendo, os professores precisam culturalmente criados. Dessa forma, o
estudar muito, planejar e conhecer os educador aprende observando e ouvindo
jogos que de fato podem contribuir para o seus alunos, as formas como brincam
desenvolvimento das noções de matemática e desenvolvem suas atividades lúdicas.
na Educação infantil. Por isso no próximo (PEREIRA, 2009, p. 64)
capítulo aborda-se conhecimentos na área
lúdica que podem ser utilizados para ensinar Dessa forma, pode-se observar que
matemática na Educação infantil. atualmente a Ludicidade está ganhando força
e espaço nas discussões acerca do processo
de ensino aprendizagem, já que os jogos e
as brincadeiras fazem parte da realidade
das crianças. Assim sendo, o educador
deve ter um olhar atento sobre a criança e
especialmente precisa saber ouvi-la, para

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Revista Educar FCE - Março 2019

entender as formas como elas brincam, os jogos devem ser utilizados no ensino de
pensam, e ao mesmo tempo se desenvolvem matemática, pois estimulam e desenvolvem
e aprendem. a habilidade da criança de pensar de
forma autônoma, o que contribui para
Nesse sentido, o educador precisa o desenvolvimento do raciocínio lógico
conhecer as teorias sobre como a criança matemático.
aprende, como a criança se desenvolve, o
que ela sente, fala e principalmente como Segundo Kishimoto (1996) o jogo pode
ela constrói o seu conhecimento. A esse ser considerado um importante recurso
respeito, segundo Dantas, Rais, Juy (2012, p. de ensino para as crianças, pois além de
08): desenvolver a lógica do jogo, desenvolve
também o raciocínio lógico matemático.
A criança já traz para a escola alguns
“conceitos” numéricos que ela já estabelece Nesse sentido para Antunes (2000, p. 37):
singularidade, pois são usados em seu dia a
dia, como por exemplo, o número da sua casa A criança não é atraída por algum jogo
e que cabe a escola o papel de incentivar a por forças externas inerentes ao jogo e sim
criança para que ela se aproprie do sistema de por uma força interna, pela chama acesa de
numeração de forma prazerosa e satisfatória. sua evolução. É por esta chama que busca
A criança precisa ter noção de sequência no meio exterior os jogos que lhe permitem
numérica para poder utilizar. satisfazer a necessidade imperiosa posta
pelo seu crescimento.
Dessa forma, segundo os autores
citados as crianças aprendem os conceitos Por isso o professor que se dedica à
matemáticos por meio da resolução de educação de crianças pequenas precisa
problemas. Assim sendo, o lúdico por meio entender as necessidades de seus alunos
de jogos e brincadeiras de acordo com Brasil para que possa selecionar o jogo que mais vai
(1998) representam um importante recurso atender as reais necessidades das crianças,
metodológico na sala de aula, porque é uma pois de acordo com Brasil (1998, p. 210):
forma atrativa aos olhos dos alunos, já que é
diferente e mais dinâmico. O jogo tornou-se objeto de interesse de
psicólogos, educadores e pesquisadores
Conforme descrito, os jogos na área de como decorrência da sua importância
matemática contribuem de forma positiva para a criança e da ideia de que é uma
para a aprendizagem das crianças, pois é prática que auxilia o desenvolvimento
uma metodologia atrativa para os alunos. infantil, a construção ou potencialização
de conhecimentos. A educação infantil,
De acordo com Kamii e Joseph (1992) historicamente, configurou-se como o

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Revista Educar FCE - Março 2019

espaço natural do jogo e da brincadeira, o que, por conseguinte desenvolvem os


que favoreceu a ideia de que a aprendizagem conceitos matemáticos, o raciocínio lógico
de conteúdos matemáticos se dá matemático, a interação entre os pares e o
prioritariamente por meio dessas atividades. relacionamento interpessoal.
A participação ativa da criança e a natureza
lúdica e prazerosa inerentes a diferentes Sobre isso Vygotsky (1984, p. 27) diz que:
tipos de jogos têm servido de argumento
para fortalecer essa concepção, segundo É na interação com as atividades que
a qual se aprende matemática brincando envolvem simbologia e brinquedos que
(BRASIL, 1998, p. 210). o educando aprende a agir numa esfera
cognitiva. Na visão do autor a criança
Percebe-se assim que de fato é possível comporta-se de forma mais avançada do
aprender matemática brincando. Conforme que nas atividades da vida real, tanto pela
o exposto, a criança por meio do jogo vivência de uma situação imaginária, quanto
participa ativamente de seu processo de pela capacidade de subordinação às regras.
ensino aprendizagem.
Assim sendo, a criança necessita do
Segundo Piaget (1976) o jogo é essencial brincar, do brinquedo e da brincadeira para
para a vida da criança, para ele é por meio por meio do faz-de-conta, de situações
dos jogos que as crianças desenvolvem o imaginárias, possa aprender a agir na esfera
pensamento intelectual. cognitiva. Por isso, de acordo com Brasil
(1998, v. 2, p. 22):
O jogo é, portanto, sob as suas duas
formas essenciais de exercício sensório- Brincar é uma das atividades fundamentais
motor e de simbolismo, uma assimilação da para o desenvolvimento da identidade
real à atividade própria, fornecendo a esta e autonomia. O fato de a criança desde
seu alimento necessário e transformando o muito cedo, poder se comunicar por meio
real em função das necessidades múltiplas do de gestos, sons e mais tarde representar
eu. Por isso, os métodos ativos de educação determinado papel na brincadeira faz com
das crianças exigem a todos que se forneça que ela desenvolva sua imaginação. Nas
às crianças um material conveniente, a fim brincadeiras as crianças podem desenvolver
de que, jogando, elas cheguem a assimilar algumas capacidades importantes, tais
as realidades intelectuais e que, sem isso, como a atenção, a imitação, a memória, a
permanecem exteriores à inteligência imaginação. Amadurecem também algumas
infantil. (PIAGET, 1976, p.160). capacidades de socialização, por meio da
interação e da utilização e experimentação
Nesse sentido os jogos podem auxiliar as de regras e papéis sociais (BRASIL, 1998, v.2,
crianças a resolverem situações-problemas, p.22).

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Revista Educar FCE - Março 2019

A partir do exposto, pode-se observar Por outro lado para Vygotsky (1994),
que por meio de atividades lúdicas (jogos, o jogo é uma situação imaginária criada
brinquedos e brincadeiras), a criança aprende pela criança. Assim sendo, sua principal
a pensar de forma independente. característica consiste na relação entre o
imaginário e o real.
Entretanto, para que possamos utilizar
estas estratégias de ensino torna-se vital, Já para Friedmann (1996), jogo é na
entender quais as diferenças entre estas verdade um tipo de brincadeira que envolve
terminologias e como podem ser aplicadas na regras.
Educação infantil para se ensinar matemática.
Brougère (1998) já define o jogo como um
objeto que tem regras e função específicas.
O JOGO, A BRINCADEIRA E O
BRINQUEDO NA EDUCAÇÃO Assim sendo, conforme o exposto, pode-
se observar que apesar de escreverem
MATEMÁTICA PARA A com palavras diferentes, todos os autores
EDUCAÇÃO INFANTIL mencionados concordam que o jogo só é
jogo se possuir regras.

Definição de Jogo Definição de Brinquedo


De acordo com Huizinga (1993, p. 10), o Em relação ao brinquedo, pode-se citar
jogo pode ser definido como: Vygotsky (1994, p. 127):

Uma atividade voluntária, exercida dentro de No brinquedo, no entanto, os objetos perdem


certos e determinados limites de tempo e de sua força determinadora. A criança vê um
espaço, seguindo regras livremente consentidas, objeto, mas age de maneira diferente em relação
mas absolutamente obrigatórias dotadas de àquilo que vê. Assim, é alcançada uma condição
um fim em si mesmo, acompanhado de um em que a criança começa a agir independente
sentimento de tensão e alegria e de uma daquilo que vê. (VYGOTSKY, 1994, p.127).
consciência de ser diferente da vida cotidiana.
(HUIZINGA. 1993, p.10).
Dessa forma, pode-se observar que as
ações no brinquedo dependem do significado
Pode-se observar pelo exposto que o que a criança atribui aos objetos que o
jogo pode ser definido como uma atividade compõem.
que possui regras que são combinadas
coletivamente e que todos os participantes Para Friedmann (1996), o brinquedo é um
devem seguir. objeto que possui um valor simbólico, tendo
uma relação íntima com a infância.

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Pelo exposto, percebe-se que apesar Dessa forma, para que a criança aprenda
dos autores definirem com terminologias de forma prazerosa, o jogo se apresenta como
diferentes, todos concordam que o brinquedo facilitador na aprendizagem de matemática.
é um objeto que vai ser utilizado de acordo
com o seu significado para criança. Segundo Moura (1994), as utilizações dos
jogos em sala de aula possibilitam que as
Definição de Brincadeira crianças gostem de aprender matemática.
Sobre a definição de brincadeira, pode-se
afirmar que ela se distingue pela utilização De acordo com Kishimoto (2000, p. 85):
das regras ou não, pois estas não limitam a
ação lúdica, a criança pode ou não modificar O jogo na educação matemática parece justificar-
as regras, não segui-las se assim o quiserem, se ao introduzir uma linguagem matemática
inventar novas regras, ou seja, na brincadeira que pouco a pouco será incorporada aos
há mais liberdade de ação pelas crianças. conceitos matemáticos formais, ao desenvolver
a capacidade de lidar com informações e ao
(Kishimoto, 1994).
criar significados culturais para os conceitos

matemáticos e estudo de novos conteúdos.
Pelo exposto, pode-se observar que apesar
dos autores definirem com termos diferentes,
a priori, todos pensam o mesmo sobre a Pelo exposto pode-se perceber que por
definição de jogo, brinquedo e brincadeira, meio do jogo na educação matemática,
agora será iniciada uma reflexão sobre a a criança vai incorporando os conceitos
utilização dos jogos e das brincadeiras no matemáticos, além, de desenvolver
ensino de matemática na Educação infantil. significados culturais para o que está sendo
aprendido. Nesse sentido continua Kishimoto
A utilização de atividades lúdicas no (2000, p. 85):
ensino de matemática na educação infantil
Como foi visto anteriormente toda criança O jogo proporciona às crianças que utilizem
já possui conhecimentos sobre número em muito mais sua mente na busca de resoluções
seu dia a dia. De acordo com Dantas, Rais do que as atividades gráficas como contas e
e Juy (2012), um bom exemplo disso é o problemas no papel, que são para elas mais “um
conjunto misterioso de regras que vêm de fontes
número de sua casa, o número do canal
externas ao seu pensamento”.
preferido da televisão, o número da roupa
que usa, e cabe à escola fazer a relação
entre estes conhecimentos cotidianos e Assim sendo, por meio do jogo a criança
os conhecimentos matemáticos para que a vivencia de forma prática o conteúdo que
criança possa aprender de forma prazerosa. está sendo ensinado, e assim elas buscam
soluções, que no ponto de vista de Kishimoto
(2000) é muito mais fácil para a criança do

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Revista Educar FCE - Março 2019

estratégias de resolução e busca de soluções.


que desvendar este “misterioso conjunto de Propicia a simulação de situações-problema
regras”. que exigem soluções vivas e imediatas, o que
estimula o planejamento das ações.
Os jogos e o ensino de matemática na
Educação infantil Dessa forma percebe-se que por meio dos
A partir de tudo que foi exposto até o jogos as crianças são desafiadas a resolverem
momento, pode-se afirmar que a escola deve problemas, que se tornam atrativos aos olhos
se preparar para utilizar os jogos para ensinar delas, o que favorece a criação de estratégias
matemática na Educação infantil. para suas efetivas soluções.

De acordo com Brasil (1997), a educação A esse respeito Kishimoto (2009, p. 37)
lúdica propicia um ensino dinâmico, também é favorável à utilização de jogos no
significativo, onde o aluno é um ser ativo, e ensino de matemática para crianças:
dessa forma devem ser utilizados de forma
sistemática, para que a criança perceba as A utilização do jogo potencializa a exploração
regularidades por meio dos jogos: e a construção do conhecimento, por contar
com a motivação interna, típica do lúdico,
Para crianças pequenas, os jogos são as ações mas o trabalho pedagógico requer a oferta de
que elas repetem sistematicamente, mas estímulos externos e a influência de parceiros
que possuem um sentido funcional (jogos de bem como a sistematização de conceitos em
exercício), isto é, são fonte de significados e, outras situações que não jogos. Assim, para
portanto, possibilitam compreensão, geram que isso ocorra, faz-se imprescindível o lúdico
satisfação, formam hábitos que se estruturam no ensino aprendizagem da matemática, pois
num sistema. Essa repetição funcional também as ferramentas aplicadas servirão de auxilio,
deve estar presente na atividade escolar, pois tanto para o educador no ato de ensinar, como
é importante no sentido de ajudar a criança a para o aluno no ato de aprender, utilizando esse
perceber regularidades. (BRASIL, 1997, p. 35) recurso como um facilitador, colaborando para
trabalhar os bloqueios das crianças apresentadas
Pelo exposto observa-se que os jogos em relação às dificuldades encontradas na
possuem um sentido funcional, pelo qual matemática e detectando as dificuldades,
as crianças são auxiliadas a perceberem tendo assim em vista que os jogos mostram-se
regularidades. eficazes contribuindo para a aprendizagem e o
desenvolvimento infantil no aspecto cognitivo,
Nesse sentido Brasil (1998, p. 47) afirma afetivo, emocional.

que:
Assim sendo, pode-se afirmar que de
Os jogos constituem uma forma interessante fato, o lúdico é um facilitador no ensino
de propor problemas, pois permitem que de matemática na Educação infantil. O que
estes sejam apresentados de modo atrativo ficou evidenciado ao longo desta pesquisa
e favorecem a criatividade na elaboração de

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Revista Educar FCE - Março 2019

por meio dos autores, e documentos mencionados.O ensino de matemática carece de


metodologias interessantes e diversificadas, e o jogo aparece como uma opção atrativa
e motivadora para que as crianças possam aprender de forma prazerosa de forma a se
desenvolverem plenamente em seus aspectos cognitivo, afetivo e emocional.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve por tema o Lúdico como Facilitador do
ensino da Matemática na Educação infantil, e por objetivo geral:
refletir sobre a importância do lúdico como facilitador do ensino de
matemática na Educação infantil.

Partiu-se da justificativa de que por meio de jogos matemáticos,


as crianças na Educação infantil, tem a oportunidade de interagir com
os colegas, com a realidade, estabelecendo relações com o mundo
e com a matemática, que passa a ser vista de forma motivadora e
prazerosa. Procurou-se responder a seguinte: O lúdico, por meio SONIA SILVA
de jogos e brincadeiras é utilizado para trabalhar matemática na CARMO LUIZ
Educação infantil? E teve-se por hipótese que os jogos não são Graduação em Pedagogia pela Faculdade
utilizados de forma sistemática pelos professores da Educação UNIBAN (2008); Professor de Educação
infantil, hipótese esta que foi confirmada a partir da pesquisa Infantil e Ensino Fundamental I - na EMEI
bibliográfica realizada. Assim os objetivos específicos de mostrar Vila Calú I
a relação entre os jogos e o ensino de matemática na Educação
infantil; analisar a construção do conhecimento matemático pela
criança na Educação infantil e propor jogos matemáticos que podem
ser utilizados para desenvolver os conhecimentos matemáticos na
Educação infantil, foram alcançados de forma satisfatória. Visto que
foram apresentados os estudos, pesquisas e pensamentos de vários
teóricos da área, os quais reforçam e confirmam os objetivos da
pesquisa.

Entretanto, sabe-se que é primordial que sejam realizadas mais pesquisas na área para que todos
os professores tenham mais conhecimento sobre o assunto e não deixem as crianças apenas brincar
por brincar, que também é importante, mas que não deve ser a única maneira de se utilizar jogos e
brincadeiras na Educação Infantil. E extremamente necessário que os professores saibam utilizar jogos e
brincadeiras para tornar o ensino de matemática na Educação infantil prazeroso, dinâmico e motivador.

Por isso, esta pesquisa pode avançar em muito sentidos como pesquisar sobre os conteúdos de
matemática que devem ser trabalhados na Educação infantil; pesquisar sobre quais jogos podem de
fato desenvolver o raciocínio das crianças na Educação infantil, entre outros. Assim, percebe-se que o
professor que se dedica a Educação infantil precisa estar sempre atualizado e continuar estudando e
participando de cursos de formação continuada para que seus alunos possam de fato se desenvolver
de forma integral.

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Revista Educar FCE - Março 2019

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Revista Educar FCE - Março 2019

CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL: ESPAÇO DE APRENDIZAGEM , EXPERIMENTAÇÃO E


SOCIALIZAÇÃO

PICHAÇÃO E GRAFITE: PROCESSOS


DE ASSIMILAÇÃO E OPOSIÇÃO
RESUMO: O grafite e a pichação são influências com imagens inerentes à cidade. Os
desenhos e as palavras já comuns nas frentes e muros urbanos, ainda que numerosos, não
são totalmente interditados por todos os sujeitos sociais. Muitas são as altercações que
giram em torno das fronteiras que as demarcam, buscam diferenciá-las estilística, estética,
técnica e ideologicamente. São expressões que têm por principais aspectos a espontaneidade
e a fugacidade. Apesar de, num primeiro momento, aparentarem pertencer a um mesmo
movimento, estão cada vez mais distantes entre si, a depender do envolvimento que têm com
o contexto social. A pichação está em constante negação da sua assimilação pela sociedade
em geral. O grafite, por sua vez, estabelece relações de aproximação com outras esferas.
O presente trabalho pesquisa a arte urbana precisamente nos processos da pichação ao
grafite de uma legitimação, buscando estabelecer a forma indireta, utilizando a referência
bibliográfica para buscar entender a evolução da pichação ao grafite como arte urbana.

Palavras-Chave: Pichação; Grafite; Arte Urbana

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO midiáticas. Por diversas vezes dialogam com


as Artes Plásticas ao tratar da estética das
Nas últimas décadas, as cidades têm técnicas produzidas e com as Ciências Sociais
acompanhado um aumento populacional. ao se deparar com questões sociais dos dois
São milhares de pessoas que circulam campos. Já os afazeres referentes ao grafite
entre prédios, carros, parques, praças, e a pichação nas Artes, mais precisamente
shopping centers, ruas e calçadas. Também nas Artes Plásticas, fazem referência
acompanham uma ampliação de uma principalmente a questões de estética,
sociedade cheia de vontades e necessidades técnica e estilo, enquanto alguns discutem a
voltadas para um consumo crescente de legitimidade e validade dos movimentos no
produtos e serviços. Com isso, veem-se meio artístico.
estampadas de propagandas, outdoors,
panfletos e painéis eletrônicos usados para
atrair os sujeitos que nela cercam. São DIFERENÇA ENTRE O
conturbações e conglomerados humanos GRAFITE E A PICHAÇÃO
que cada vez mais se tornam fragmentados,
formados por mundos cada vez mais distintos Qual a diferença entre o grafite e a
e desiguais. No meio desse emaranhado de pichação?
vidas, contextos e imagens surge o grafite
e a pichação. Estes são desenhos, palavras A pichação é o ato de registrar ou rabiscar
e letras que destoam dos padrões sóbrios e por isso é considerada depredação e
e definidos das cidades. Acompanham os contestada por muitas pessoas.
contornos das frentes, ocupam os seus
espaços e, mesmo que de forma silenciosa, Conforme afirma Souza (2011):
dialogam, contestam, questionam. Sendo
assim, são aparecimentos comunicativos. “O universo hip-hop é marcado pela reflexão
Devido ao seu caráter polêmico, questionador e crítica que faz em relação às desigualdades
e até mesmo invasivo, despertam o interesse sociais e raciais por meio da poesia, dos gestos,
em diversas áreas de estudo ligadas a essas falas, leituras, escritas e imagens que tomam
forma pela expressividade de quatro figuras
configurações de expressão.
artísticas, a saber: o mestre/mestra de cerimônia
– MC, o/a disc-jóquei – DJ, o dançarino ou a
Por terem como principal característica a
dançarina – b.boy ou b.girl, e o grafiteiro ou a
comunicação, o grafite e a pichação são usados
grafiteira”.
para comunicar ideias, vender produtos ou
até mesmo como se autopromovem diante O grafite é uma arte baseada em desenhos:
de outras formas de entendimento urbano, todas as letras e figuras que são empregadas
bem como, as potencialidades dos grafismos na pintura, são pensadas e elaboradas, para
diante dos avanços técnicos e das inovações que representem aquilo que o artista quer

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Revista Educar FCE - Março 2019

mostrar. Desse modo o artesão expressa A definição mais conhecida diz que o grafite
seus sentimentos, sua indignação ou sua é um tipo de inscrição feita em paredes.
opinião por meio dos desenhos.
Existem relatos e vestígios dessa arte
O grafite hoje é objeto de estudo em desde o Império Romano. Seu aparecimento
distintas áreas de pesquisa brasileiras. na Idade Contemporânea se deu na década
de 1970, em Nova Yorque, nos Estados
Embora o acontecimento seja Unidos. Alguns jovens começaram a deixar
relativamente atualizado aqui no Brasil (uma suas marcas nas paredes da cidade e, algum
vez que o grafite chegou aqui por influência tempo depois, essas marcas evoluíram com
da cultura hip-hop, surgindo “[...] entre o final técnicas e desenhos, é a forma mais atualizada
dos anos 1970 e o início dos anos 1980” de expressão cultural nesse novo milênio. É
(SOUZA, 2011, p. 66)). um tipo de arte praticada, especialmente, por
jovens que costumam escrever nas paredes
De acordo com Sampaio (2006): das cidades.

A causa da produção do grafite sempre se viu Com o grafite, muitos grafiteiros fazem
envolta numa aura de mistério, o que não surpreendentes desenhos e trabalhos nas
impediu a diversos autores e pesquisadores ruas e essas obras já são analisadas como
tentar explicá-la. Numerosas são as tentativas obras artísticas. Eles estão fazendo sucesso
sociológicas, psicológicas e de demais teorias
em vários países, e para muitos isto já virou
de análise do comportamento humano que
profissão. Isso é o reconhecimento do grafite,
tentaram explicar o fenômeno. (SAMPAIO,
um trabalho bonito, sem imundícies e sem
2006. p. 7)
crime, é obra de arte. É também um alerta para
os pichadores, que estão desobedecendo o
O que se nota é que a cultura de grafite patrimônio e a cultura da cidade. Eles podem
atrai justamente por sua viração de mistério, transfazer a pichação em arte, podem fazer
para usar o termo importante de Sampaio bons trabalhos e trazer cultura para o país.
(2006). O texto que, muitas vezes, surge
de modo enigmático, transforma-se e é Existe muita discussão sobre o assunto.
apagado nos muros, por sujeitos anônimos Muitos grafites têm boa qualidade artística e
na multidão das cidades, parece instigar nos são até mesmos encomendados. Outros não
pesquisadores o desejo de compreender o passam de vandalismo e poluição visual. O
funcionamento e a organização dessa prática utensílio que eles utilizam é o spray em lata,
cultural. que é a tinta mais usada pelos grafiteiros.
Mas outros materiais, como o látex aplicado
A arte do grafite é uma forma de sobre máscaras vazadas que delimitam a
aparecimento artística em espaços públicos. região a ser pintada, também são usados.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O grafite e a pichação são desenhos de então começaram a desenvolver a arte com


manifestação próximas entre si e ao mesmo um toque brasileiro. O estilo do grafite
tempo contrastantes. O que as aproxima brasileiro é famoso entre os melhores de
são suas origens e o fato de partirem do todo o mundo.
princípio do questionamento e da reflexão.
Já as desarmonias encontram-se na forma No início de 1980, representações
marcada e própria de expressão, embora principiaram a nascer em muros de São Paulo.
tenham o mesmo suporte e os mesmos a capital mundial do grafite. Eram alguns
instrumentos, usam argumentos e discursos dos primeiros grafites em ambiente público
diferentes para se afirmarem. da capital paulista. Naquela época, com a
liberdade de expressão caçada pela ditadura
Os termos grafite, na escrita italiana e militar, o grafite era analisado crime pela
pichação foram escolhidos por serem as legislação brasileira. A própria ocupação da
formas utilizadas pelos próprios praticantes rua já era vista como um ato político. Muitas
e também é a maneira reconhecida polêmicas giram em torno desse movimento
internacionalmente. Ele está ligado artístico, pois de um lado o grafite é realizado
absolutamente a vários movimentos, em com qualidade artística, e do outro não passa
especial ao Hip Hop. Para esse movimento, de poluição visual e vandalismo. A pichação
o grafite é o desenho de proclamar toda ou destruição é caracterizado pelo ato de
a opressão que a humanidade vive, escreverem muros, edifícios, monumentos e
principalmente os menos favorecidos, ou vias públicas. Os materiais utilizados pelos
seja, o grafite reflete a realidade das ruas. grafiteiros vão desde tradicionais latas de
spray até o látex.

O GRAFITE NO BRASIL
PRINCIPAIS TERMOS E GÍRIAS
Em diversas cidades encontramos UTILIZADAS NESSA ARTE
diferentes formas de arte nos muros de cada
esquina, as pichações e os grafites. Mas o que • Grafiteiro/writter: o artista que pinta.
eles querem dizer? Por que o fazem? Para
um laico, grafite e pichação não passam de • Bite: imitar o estilo de outro grafiteiro.
rabiscos feitos com tinta nos muros, ou pura
e simplesmente transgressão. Contudo, os • Crew: é um conjunto de grafiteiros que
percebidos do tópico pontuam que há uma se reúne para pintar ao mesmo tempo.
grande contestação entre eles. O grafite foi
introduzido no Brasil no final da década de • Tag: é a assinatura de grafiteiro.
1970, em São Paulo. Os brasileiros não se
satisfizeram com o grafite norte-americano, • Toy: é o grafiteiro iniciante.

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• Spot: lugar onde é praticada a arte do da tecnologia e da comunicação colaborou,


grafitismo. e ainda coopera, para as transformações no
espaço e no tempo das interações humanas
Assim como os homens da antiguidade, os em todo o mundo. Nas últimas décadas
grafiteiros procuram por meio do desenho acompanhamos o nascimento de diversos
expressar a realidade que o circunda, instrumentos, principalmente digitais, os
para isso também dispõe de materiais quais têm diminuído distâncias e agilizado o
específicos, técnicas e objetivos. As imagens que antes levava muito tempo para acontecer.
e a linguística utilizada pelos grafiteiros Jornal, televisão, internet, celular e painéis
compõem um conjunto de códigos, que juntos virtuais, entre outros meios de comunicação,
representam uma serie de simbologias, na estão cada vez mais acessíveis a quem deles
qual se baseiam os principais conceitos dos queira fazer uso. A afluência desses canais é
artistas que utilizam o grafite como forma de o que podemos chamar de mídia.
manifestação de suas ideias e pensamentos.
O fato de as representações do grafite serem Por ela recebemos as notícias, as
realizadas em espaços públicos e ao ar livre, propagandas, conhecimentos de utilidade
carrega em si o significado de que, depois sua pública e informações fúteis, entre outros.
conclusão o desenho não pertence ao seu Indiscriminadamente, todos os espaços são
autor, mas a toda sociedade. Sociedade que atravessados pela mídia. Por meio dela diversos
também figura no contexto do grafite, pois discursos ideológicos são transmitidos,
em sua maioria as mensagens contidas nos fazendo com que modelos e estilos de vida
desenhos, são pensadas e cuidadosamente sejam criados, modificados ou influenciados
formadas para atingir o inconsciente das por esses discursos. São muitos os autores
pessoas e despertar sua reflexão. que se debruçam sobre a temática e sobre
como esse poder tem regido a vida social
pós-moderna. Os meios de comunicação
A INFLUÊNCIA DOS MEIOS social ocupam posição independente no
DE COMUNICAÇÃO âmbito das relações sociais, visto que é no
domínio da comunicação que se fixam os
A pós-modernidade é marcada por arredores ideológicos da ordem hegemônica
eventos bem peculiares que têm alterado e se procura reduzir ao mínimo indispensável
a dinâmica social. Ainda que a circulação o espaço de circulação de ideias alternativas
em nível global não seja exatamente uma e contestadoras. Para Moraes, “corporações
novidade, vivemos um momento em que de informação são agentes operacionais da
o conceito de globalização passou a fazer globalização, as quais sustentam o consumo
parte do discurso tanto na esfera acadêmica, como valor universal e, por isso, divulgam
quanto nas esferas social, política e o mercado como importante regulador
econômica. Concomitantemente, o aumento das necessidades coletivas. Possuem uma

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Revista Educar FCE - Março 2019

dinâmica que se adéqua perfeitamente à da flâneur de percorrer a cidade em busca de


globalização. conhecimentos para os jornais já não era
necessária, já que agora existe o helicóptero
Moraes afirma que essa característica que sobrevoa a cidade transmiti ao vivo as
integradora a nível global é inerente aos notícias para os televisores domésticos. Os
meios de difusão e se potencializam cada relatos mais influentes sobre o que significa
vez mais devido à expansão tecnológica. a cidade emergem agora da imprensa, do
Todas essas propriedades fazem da mídia um rádio e da televisão.
poderoso agente social”. (MORAES, 2004, p.
16 e 17). No tumulto heterogêneo e disperso de
signos de identificação e referência, os meios
O controle da informação situa-se não propõem tanto uma nova ordem, mas
no vértice de estruturas de dominação sim oferecem um espetáculo reconfortante.
que submetem discrepâncias políticas e (CANCLINI, 2002, p. 42).
diferenças culturais às razões do mercado
e a injunções geopolíticas e econômicas. O No conflito heterogêneo e voado de signos
campo da Antropologia, nas últimas décadas, de identificação e referência, os meios não
também tem sido palco de um conjunto de propõem tanto uma nova ordem, mas sim
altercações sobre o consumo nas sociedades oferecem um espetáculo reconfortante. Os
contemporâneas, antropólogos têm investido meios de comunicação como televisão, rádio
no estudo das práticas de consumo, por um e jornal servem muito mais para reproduzir
lado, como parte de complicados sistemas a ordem social do que alterá-la, em um
simbólicos e, por outro lado, como elemento processo de mimetismo de massa.
chave na produção e na reprodução de
relações sociais. Para o presente trabalho, Como menciona Canclini, (2002) “A mídia
importa particularmente o enfoque no papel entende a cidade como o local em que as
dos meios de comunicação nas sociedades transformações são normalizadas e tudo que
de consumo, tanto em nível global quanto rompe com a ordem é restituído.
local.
Mesmo assim, ele acredita na possibilidade
Em cidades e habitante utópicos pelos de inovação estética e mudança social,
meios de comunicação, ele faz uma leitura se o espaço de setores como a escola, os
das cidades que, após meados do século organismos culturais, ecológicos, artísticos e
XX, com o inchaço populacional, perdem de direitos humanos dentro da comunicação
seus espaços de encontro, como os parques fosse ampliado por políticas culturais,
e praças, mas ganham com a mídia uma reproduzindo, finalmente, a multiplicidade
via para estabelecer esses contatos. Ele das sociedades globalizadas...”
lembra que em cinquenta anos a função do

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Revista Educar FCE - Março 2019

Delineado esse cenário fica claro porque a Temos acompanhado até aqui a comparação
mídia se torna um poderoso canal de produção de um cenário atravessado por relações
e reprodução de sistema de ideias. Por ser de poder. Trata-se de um campo em que a
um facilitador de conexões e comunicações, dominação é exercida por meio do domínio
permeia todos os espaços na atualidade. de definir práticas, produzir legitimidade e
Com o desenvolvimento tecnológico, a mídia estabelecer sanções. Vimos a capacidade
é capaz de transmitir mensagens, imagens do Estado na distinção entre duas formas
e dados de um lado a outro, prontamente, de manifestações sociais, uma ilegal e outra
sem nenhum prejuízo na informação. É mais passível de ser vista como legal, a depender
impressionante quando nos damos conta do cumprimento de certas condições.
que todo esse desenvolvimento levou menos Vimos várias instâncias que legitimam o
de duas gerações para ser conquistado e caráter estético e artístico de uma forma de
que não apresenta ritmo de desaceleração, expressão o grafite em detrimento de outra
mas de intensidade renovada. Outra a pichação. Mas vimos também como esse
característica importante da midiatização é campo é dinâmico e como os agentes do poder
que, em maior ou menor grau, é um campo hegemônico precisam lidar constantemente
democrático, onde as informações podem com pressões e resistências variadas dos
circular livremente e, assim, chegarem às pichadores que desafiam à lei aos grafiteiros
mais remotas localidades (CANCLINI, 2002). que influenciaram na modificação do aparato
legal, hoje relativamente mais flexível no
É fato que a mídia é uma ferramenta mais tratamento da arte de rua. Dentro desse
utilizada pelos poderes hegemônicos, até contexto, portanto, o grafite e a pichação
mesmo porque são estes que têm acesso são exemplos de discursos contraditórios às
facilitado às tecnologias de divulgação. lógicas hegemônicas que conseguiram acessar
Desse modo, é importante deixar claro o universo da midiatização, utilizando-a para
que os meios de comunicação também se desenraizar dos prédios, muros e fachadas
são utilizados por ideologias ripícolas. Um e se expandir enquanto movimento.
exemplo são os diversos documentários,
fotos, vídeos, reportagens que circulam tanto
na esfera da comunicação como nos espaços O GRAFITE E A
mais populares, como as redes sociais, que MODERNIDADE
por ainda não possuir leis para regularizá-las,
tornaram-se ferramentas ultrademocráticas, Tentar determinar ou distinguir uma
onde todos falam o que querem sobre manifestação artística pode encontrar
qualquer assunto (CANCLINI, 2002). Tal muitas opiniões divergentes, e o grafite não
observação é principalmente relevante para é exceção, ou seja, para alguns, grafite é
o tema do presente trabalho. considerado um movimento cultural, já, para
outros, não é.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Como menciona Burke (2010), cultura comportamental frente às questões da


é uma palavra imprecisa, com muitas cultura erudita e popular.
definições concorrentes; a minha definição
é a de um sistema de significados, atitudes Alguns artistas são mais introspectivos e
e valores partilhados e as formas simbólicas suas obras demandam uma reflexão maior, já
(apresentações, objetos artesanais) em que outros demonstram claramente o que querem
eles são expressos ou encarnados. A cultura dizer com aquele desenho ou escrita. Porém,
nessa acepção faz parte de todo um modo na grande maioria das vezes, todos os signos
de vida, mas não é idêntica a ele. (BURKE, possuem algum significado oculto e não
2010, p.11). servem somente para serem contemplados
por sua beleza, mas sim por seu interesse de
O grafite pode ser avaliado como um demonstrar algo e ativar uma mudança, seja
elemento de cultura de um povo, o que não no pensamento das pessoas ou na sociedade
significa que as pessoas o analisem como em que ela está inserida (BANKSY, 2006).
uma manifestação cultural, mas todos estão
sendo submetidos a ela, pois as pinturas Segundo Gitahy (1999), o grafite surgiu
estão em todas as cidades do mundo, nos na Antiguidade, período no qual os romanos
lugares mais inusitados, seja em um muro no escreviam com carvão nas paredes protestos,
centro da cidade ou no alto de um prédio de leis e divulgavam eventos como se fossem
um bairro popular. cartazes. Até hoje podem ser encontrados
vestígios desses escritos nas catacumbas
Possa (2011), O grafite rodeia a alta romanas e em Pompeia, cidade que sofreu
cultura no período em que seus autores com a erosão do vulcão Vesúvio.
procuram direta ou disfarçadamente artistas
e movimentos artísticos (em grande parte O autor também diz que os egípcios,
o referencial vem da Pop Art) aos quais se mesopotâmios e gregos, mesmo que não
identificam para expressarem sua arte. O quisessem protestar, escreviam nas paredes
diferencial em relação à arte erudita é a de suas casas e prédios públicos para
sua espacialidade (a cidade) como forma de retratar o estilo de vida e o cotidiano da
manifestação, tornando-se um patrimônio época. Segundo ele, as pinturas rupestres
de todos. (POSSA, 2011, p. 27-28). dos homens das cavernas podem ser
consideradas como a pré-história do grafite.
Segundo a autora, as instituições culturais
(museus, galerias de arte, centros culturais) Para Souza (2008) diz que Milhares de
resistiram em aceitar o grafite como uma anos depois dessas civilizações, sem que
forma de arte, mas esse tipo de cultura acontecesse praticamente nada parecido
urbana foi recebendo, aos poucos, contorno ao grafite, no final da década de 60 e início
e força, além de auxiliar em uma mudança da década de 70, no século XX, jovens do

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Revista Educar FCE - Março 2019

bairro Nova Iorquino do Bronx, também Atualmente, o grafite representa uma arte
restabeleceram esta forma de arte, mas desta livre, sem necessidade de educação formal
vez não era com carvão e sim com tintas para ser produzida, podendo expressar
spray, criando um novo diálogo com o grafite, vários sentimentos nas pessoas que são a
colorido e muito mais rico, tanto visualmente ele submetidas. A partir dessas questões
quanto no conteúdo de mensagens que eram colocadas até esse momento, pode se pensar
passadas. (SOUZA, 2008, p. 43). e relacionar o grafite, como manifestação
cultural, com a moda.
Para explicar a origem dos grafiteiros pós-
modernos, podemos utilizar a explicação Segundo Palomino (2003), a moda é
do professor de história da Universidade de mais do que apenas vestuário, mas está
Sorbonne, Denys Riout, o qual diz que existem relacionada a um contexto maior: A moda
duas teorias: a que surgiu juntamente com é um princípio que segue o vestuário e o
o Hip Hop, nas periferias americanas, sendo tempo, que integra o simples uso das roupas
que as pessoas que faziam parte desses no cotidiano a um contexto maior, político,
movimentos eram integrantes de gangues e social, sociológico. Você pode enxergar a
muitas vezes usavam o grafite para defender moda naquilo que escolhe de manhã para
seu ponto de vista ou ofender uma gangue vestir, no look de um punk, de um skatista e
rival; ou a que surgiu no bairro do Brooklin, de um pop star, nas passarelas do Brasil e do
em Nova Iorque, com uma veia social maior, mundo, nas revistas e até mesmo no terno
sendo fixado em lugares com grande fluxo que veste um político ou no vestido da sua
de pessoas, visando à maior visibilidade avó (PALOMINO, 2003, p. 14).
possível (SOUZA, 2008).
Em outras palavras, a moda não está
Banksy (2006), o grafite foi primeiramente restrita às roupas, mas à cultura, às tradições
usado por ativistas políticos e somente com e à forma de viver e pensar das pessoas.
palavras, sem desenhos. Na sua maioria
apareciam em estações de metrôs e trens, Para Garcia e Miranda (2007), Moda
pois era nesses lugares que os artistas tinham é o conjunto atualizável dos modos de
maior visibilidade. visibilidade que os seres humanos assumem
em seu vestir com o intuito de gerenciar a
A arte do grafite não é simplesmente o que aparência, mantendo-a ou alternando-a por
os desenhos tentam passar, mas compreende meio de seus próprios corpos, dos adornos
também o que os artistas sentem ao adicionados a eles e da atitude que integra
produzi-los, pois, pelo fato de não ser uma ambos pela gestualidade, de forma a produzir
atitude legalizada, a adrenalina que surge no sentido e assim interagir com o outro.
momento em que o artista está grafitando (GARCIA; MIRANDA, 2007, p. 22).
uma parede, por exemplo, é grande.

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Revista Educar FCE - Março 2019

As autoras salientam que a moda está na estampa, no acabamento, etc. Entretanto


relacionada à aparência, à gestualidade, mas não é só nisso, esse lifestyle ao mesmo
sempre está pertinente à ideia de produzir tempo influencia uma atitude mais moderna,
algum sentido para os outros. “descolada” e atual.

Segundo Barnard (2003), Moda, vestuário Já existiu casos de grafiteiros serem


e indumento constituem sistemas de chamados por grandes marcas para reproduzir
significados nos quais se constrói e se ou adaptar uma de suas obras em peças de
comunica uma ordem social. Podem agir de vestuário. A Hermes, marca francesa que
diferentes maneiras, mas assemelham-se no começou a produzir artigos para cavalaria e,
fato de serem uma das maneiras pelas quais com o passar do tempo, se estabeleceu como
aquela ordem social é vivenciada, envolvida, uma marca de artigos de luxo - e a Louis
passada adiante. Pode ser considerado Vuitton, marca que iniciou com a confecção
como um dos meios pelos quais os grupos de malas, para depois passar para bolsas e
sociais comunicam sua identidade como outros produtos de moda, convidaram um
grupos sociais a outros grupos igualitários. grafiteiro renomado para personalizarem
(BARNARD, 2003, p.109). suas peças.

O autor entende a moda como forma de O artista gráfico francês Kongo3 foi
comunicação que serve para comunicar a convidado pela primeira marca acima citada
identidade dos indivíduos ou grupos sociais para produzir uma gravura que foi estampada
entre si, o que vem ao encontro das ideias de nos icônicos lenços da grife, como podemos
Garcia & Miranda (2007). observar a seguir. O grafiteiro Kongo3 é
popular mundo afora por ter deixado a sua
A moda utiliza-se das mais diferentes marca em paredes de cidades como Paris e
fontes de criação para suas criações. Nova Iorque. Ele é ainda um dos fundadores
Pessoas, lugares, movimentos urbanos, entre do Internacional Grafite Festival, episódio
outros. A inspiração pode vir de alguma coisa que reúne vários artistas da área. Já a marca
comum, que vemos todos os dias, mas além francesa Louis Vuitton aproveitou a estampa
disso pode surgir de uma viagem, de algum de seu nome feita pelo artista plástico e
lugar que visitamos somente uma vez, ou grafiteiro americano Stephen Sprouse em
mesmo de uma lembrança. O grafite, que uma bolsa feminina.
está presente na maioria das vezes na vida
das pessoas, mesmo sem o consentimento No Brasil também temos exemplos de
delas, serviu e ainda serve como base para estilistas que se utilizam do grafite em
diversos estilistas. Essa coerência entre os suas criações, como na coleção de Lucas
dois mundos - arte e moda - aparece em Nascimento, brasileiro radicado em Londres,
diversas formas, sendo no shape da roupa, a qual foi inspirada nos grafites de São Paulo.

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O emprego do grafite é considerado o principal elemento de estamparia das roupas, o


que comprova que esse é um artifício que faz sucesso e que é vendável, caso contrário,
provavelmente o estilista não o teria utilizado. Outra marca ícone da moda brasileira, a
Havaianas, lançou pela quarta vez um modelo de chinelo com estampas dos grafiteiros
Finók, Chivitz e Minhau,

Assim, o que chama a atenção é a ilustração, que num primeiro momento pode parecer
infantil, mas só está disponível na numeração adulta, assim, podemos inferir que esse produto
agrada a esse público mais do que às crianças. Ainda que haja poucos trabalhos acadêmicos
a respeito da utilização do grafite pela moda, essa forma de manifestação da cultura e suas
relações com a moda podem ainda ser bastante exploradas. O grafite, como arte de rua,
pode se relacionar, por exemplo, com a street wear, que também se utiliza de tendências
que nascem nas ruas e que servem de inspiração para os criadores de moda. O diferencial da
moda está no valor agregado à roupa, e o uso do grafite nas estampas faz com que o produto
de moda que o utilize tenha um valor diferenciado.

Dessa maneira, o grafite, no período em que vai para uma galeria de arte, deixa de ser
arte de rua e passa a ser arte conceitual, porém, quando utilizado pela moda, não perde sua
essência, pois continua na rua, já que a moda transita por ela.

De acordo com Sampaio (2006) é que a cultura de grafite atrai justamente por sua viração
de mistério. O texto que, muitas vezes, surge de modo enigmático, transforma-se e é apagado
nos muros, por sujeitos anônimos na multidão das cidades, parece instigar nos pesquisadores
o desejo de compreender o funcionamento e a organização dessa prática cultural.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Demarcar as fronteiras entre o grafite e a pichação
se constitui um desafio pela fluidez das práticas, em
que os envolvidos frequentemente transitam entre as
duas modalidades. Além disso, os não praticantes não
conseguem diferenciar uma técnica da outra, por diversas
vezes confunde o que já é socialmente legitimado e o que
não é. Se a lei procura estabelecer uma demarcação clara
entre as duas práticas, reforçada pela mídia e pelas esferas
da arte institucionalizada, vimos ao longo deste trabalho
uma realidade marcada pela ambiguidade das categorias. SIMONE BUENO DE
Os grafismos aparecem à revelia do almejar dos poderes FREITAS SOUZA
hegemônicos. Graduação em Pedagogia pela Faculdade
Anhanguera UNIDERP (2015); Professora
Nascem em muros públicos, muros privados, símbolos de Educação Infantil e Fundamental I na
históricos, prédios, placas, bueiros, enfim, em qualquer EMEF Senador Teotônio Vilela – Ceu Paz
suporte urbano. São técnicas que retribuem ao espírito – São Paulo.
desobediente da juventude e sua ânsia por destaque,
desperta desde cedo o interesse em meninos e meninas, que
veem nas revelações uma abertura para a autonomia e para o
protagonismo. Apesar de cada vez mais existirem praticantes
que defendam a seriedade do trabalho permitido, muitos não
estão preocupados com essa mordomia, enquanto tantos
outros a rejeitam, pois não querem ver seus comportamentos
limitados. As práticas são objeto de interesse e inquietação
para governantes, estudiosos, empresários e toda sociedade em geral. Por estarem
estampadas em locais públicos chamam a atenção e afetam aqueles que ali transitam, como
também as autoridades, que entendem o ato como uma afronta aos poderes instituídos. Por
isso, para governantes, empresários e sociedade em geral, o interesse está na regularização
das metodologias. O caminho encontrado pelas forças hegemônicas para lidar com esse
lugar da resistência tem sido a sua domesticação, ainda que parcial. A persistência num
enquadramento surja da percepção de que proibir como um todo não gerou os efeitos
coercitivos esperados e não levou a uma extinção da prática.

Consequentemente, a tentativa atual é de regular, delimitar quem pode fazer, o que, como e
onde. Como um exemplo brasileiro foi a promulgação da Lei 12.408/2011 que altera o Artigo
65 da Lei 9.605/98, analisa o ato de grafitar uma expressão artística mediante autorização e

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Revista Educar FCE - Março 2019

proíbe a venda de sprays para menores de 18 anos. No entanto, é um instrumento ineficaz


porque não expressa claramente as definições entre o que é grafite e o que é pichação,
fazendo a diferenciação apenas na autorização do trabalho, sem especificar se essa pode ser
apenas verbal ou deve ser escrita. Evidentemente que sem uma fronteira clara entre o que
é picho e o que é expressão artística, os agentes da lei só poderão levar em consideração o
que entendem pelas práticas, carregando com eles um conjunto de preconcepções.

Do mesmo modo dificulta o trabalho de agentes da limpeza urbana, que podem apagar
trabalhos autorizados, por conta da desinformação. Este e outros esforços de regulação têm
se mostrado incapazes de dar conta de toda a pluralidade do movimento.

As medidas adotadas não respondem aos questionamentos levantados por esses sujeitos,
além de serem formuladas por um sistema que já não os representa. Há, entretanto, um
instrumento que tem se apresentado relativamente competente para dar conta do universo
de pichadores e grafiteiros desde sua origem, porquanto de certa forma faz parte da sua
constituição. Esse instrumento é a mídia. Esta conseguiu convidar as duas ideologias de
maneiras distintas, por vezes contraditórias. Mesmo que essa identificação tenha alcançado
com mais sucesso as duas manifestações, atualmente, uma vertente do grafite percebe na
mídia uma perspectiva de expansão do movimento, divulga mais os trabalhos e os valores
da prática, possibilita também uma maior inserção no mercado como produto. A pichação
igualmente investe na mídia como meio para divulgar sua ideologia. Ainda de poucos, já
existem registros feitos pelos próprios pichadores contando suas histórias, motivações,
conquistas, confrontos, derrotas. Apesar disso, esses materiais ainda não chegaram a ser
disseminados ao grande público, estando restritos a internet e alguns festivais menos
conservadores.

1Os meios de comunicação servem de instrumento para maior divulgação da ideologia


do movimento e, ao mesmo tempo, são utilizados por outros grupos para recriminar tais
práticas. As duas expressões são propriedades do contexto democrático, urbano e juvenil
e transitam por vários campos de interesse, como as Artes Plásticas, a Comunicação e o
Direito. Proporcionam um campo vasto para altercações em todas essas áreas, assim como
nas Ciências Sociais. Mesmo sendo movimentos de expressividade nas interações urbanas
atuais, a investigação antropológica sobre o tema é ainda carente, especialmente no âmbito
da pichação como movimento. Em vista disso, este trabalho não pretende ser conclusivo em
si mesmo, mas um início de discussão para ser aprofundada em novas pesquisas acadêmicas.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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Downloads/comunicacao- 1798.pdf.

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A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS


E DOS BRINQUEDOS NO
DESENVOLVIMENTO MOTOR
RESUMO: Esse artigo objetiva mostrar o quanto as atividades lúdicas são importantes
para a melhora na capacidade motora e para a aprendizagem das crianças, e como os
jogos e brinquedos podem promover a interação com os demais individuos da sociedade,
possibilitando o amadurecimento das emoções e percepções vivenciadas nas relações que
as crianças estabelecem com sua vida real. Estimulando o seu desenvolvimento psicomotor,
cognitivo, emocional, e social das crianças. É importante que o professor conheça o poder
das atividades lúdicas, as experiências que as crianças vivem durante seus primeiros anos
devem ser estimulantes, para que gerem uma boa memória corporas, é necessário que
a criança seja trabalhada de forma global, para que resulte em estimulo da plasticidade
cerebral relacionada às possibilidades de adaptação motoras frente a novas situações,
criando diferentes e novos esquemas de coordenação e fortalecendo na estrutura nervosa.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Brincar; Desenvolvimento; Educação.

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INTRODUÇÃO mesmo que o adulto, ou pedem algo especial


para que faça, um simples pião que rode para
Esse artigo tem como tema a importância as crianças é um marco, e aprender a fazer é
dos jogos e dos brinquedos para o mais interessante ainda.
desenvolvimento motor das crianças, levando
em conta o direito de brincar de crianças de 0 O objetivo principal desse artigo é
a 5 anos e 11 meses de idade. Brincar é uma descrever a contribuição dos jogos e do
atividade importante, para a criança, no qual brincar para o desenvolvimento motor das
ela tem domínio de desenvolturas motoras, crianças, mostrando a necessidade do lúdico
é necessário um lugar aberto para a criança nas atividades dos jogos, e das brincadeiras
planejar o seu mundo. Por meio dos jogos no método de aprendizagem das crianças.
e dos brinquedos a criança melhora a sua
maneira de pensar. Seu desempenho mental O objetivo específico é identificar como
de todas as atividades é a mais importante, os jogos e as brincadeiras podem melhorar a
sobretudo, coopera sobremaneira do aspecto socialização das crianças e como interferem
social, completando também por tempo no desenvolvimento pleno das mesmas,
indeterminado a sua importância como fazendo com que os professores reconheçam
pessoa à sociedade. que é importante disponibilizar espaços e
tempos para que isso ocorra da forma mais
Dentro das escolas de educação infantil os livre possível para as crianças, enriquecendo
profissionais entendem o quanto é importante o brincar por meio do estudo, alcançando
o brincar para as crianças, e que é necessário e avaliando a forma com que as crianças
sempre deixar tempos e espaços para que brinquem.
ocorra o brincar das crianças, pensando na
sua mobilidade e facilidade em escolher e
pegar os brinquedos que lhe é interessante A APRENDIZAGEM E O JOGO
para aquele momento.
As crianças que apresentam alguma
O interessante dentro de sala de aula é dificuldade na aprendizagem podem aprender
mostrar que a criança é capaz de escolher do jogo como uma ferramenta facilitadora
com quem e com o que brincar, podendo para o entendimento de diferentes conteúdos
escolher o canto de brincar e com quais pedagógicos.
brinquedos quer brincar no momento que é
proposto o brincar, é interessante um adulto A principal consequência é que as crianças
supervisionando e até brincando com as ficam mais calmas, relaxadas e aprendem a
crianças, que observam tudo quando o adulto pensar, estimulando o raciocínio lógico e
se propõe a brincar junto, é muito gratificante sua inteligência como um todo. Precisamos
quando as crianças acabam tentando fazer o mostrar os pontos de contato com a realidade

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Revista Educar FCE - Março 2019

em que vivem, a fim de que o jogo seja algo Tanto os professores quanto a escola tem
com muito significado para as crianças. um papel fundamental, dispondo um local
com contexto e um tempo educativo.
Quando observamos o desempenho das
crianças jogando podemos avaliar o nível de Quanto algumas dificuldades apresentadas
seu desenvolvimento motor e cognitivo. Com pelas crianças, o professor precisa estar
o lúdico, aparecem suas potencialidades e, ao atento e consciente de sua responsabilidade
observá-las, enriquecemos sua aprendizagem, como educador e precisa despender mais
fornecendo a partir dos jogos o necessário esforço e energia para ajudar a aumentar
para o seu desenvolvimento pleno. Ao o potencial motor, cognitivo e afetivo do
brincar e jogar a criança tem a possibilidade aluno, trazendo o jogo para dentro da sua
de desenvolver capacidades indispensáveis aula, ajuda e muito, pois o jogo é uma fonte
à sua formação como individuo, o educador riquíssima de aprendizagem.
sempre precisa ter atenção à alguns pontos:
atenção, afetividade, a concentração das O educador que utiliza jogos nos seus
crianças e algumas outras habilidades programas estimula a atividade psicomotora,
perceptuais psicomotoras para a realização permitindo que o desempenho psicomotor da
do jogo, alguns precisam de conhecimentos criança enquanto joga, alcançando níveis só
numéricos e alguns raciocínios lógicos alcançados quando há motivação intrínseca.
matemáticos para conseguir ganhar o jogo. Favorecendo a concentração, a atenção, o
envolvimento e a imaginação. Fora isso o
O jogo deve ocupar um lugar especial jogo ajuda na verbalização entre as crianças.
na prática pedagógica, podemos afirmar
que o jogo é um promotor da capacidade e Os jogos mudam de acordo com a idade
potencialidade das crianças, e precisa ter um das crianças, mudando sua compreensão
espaço especial dentro da sala de aula. em relação aos problemas diversos que
começam a aparecer. Jogando as crianças
As escolas atualmente precisam se descobrem o que se encontra à sua volta,
adequar às necessidades da sociedade, relacionando suas vidas, percebendo alguns
sendo necessário um posicionamento com objetos e o espaço que seu corpo ocupa no
maior dinamismo, no qual é preciso que mundo em que esta inserida. O faz de conta
esteja aberta ao diálogo com as necessidades e as brincadeiras, os jogos simbólicos, a
da comunidade na qual esta inserida e com troca de papeis, criando e recriando algumas
outras instituições. situações agradáveis ou desagradáveis, as
crianças podem realizar atividades que já
A educação precisa utilizar na prática o que viram adultos desempenhando.
é na teoria, desenvolvendo com isso seres
humanos melhores, em todos seus aspectos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A criança estabelece com o brinquedo uma


O jogo não pode ser visto como apenas
relação natural e consegue extravasar suas
angústias e paixões; assim, como suas alegrias
uma forma de divertimento, de preencher o
e tristezas, suas agressividades e passividades. tempo ocioso, deve ser vistos como meios
Independente de época, cultura e classe social, que ajudem e enriquecem o desenvolvimento
os jogos e os brinquedos fazem parte da vida da intelectual. Para que isso aconteça é
criança, pois elas vivem num mundo de fantasia, necessário certo equilíbrio com o mundo,
de encantamento, de alegrias, de sonhos, no a criança precisa brincar, inventar e criar.
qual realidade e faz-de-conta se confundem. As brincadeiras e os jogos desenvolvem
(KISHIMOTO, 1994, p.99) o raciocínio da criança e conduz o seu
conhecimento de forma divertida e livre.
Com o crescimento das crianças vão se Quando joga a criança constrói um laboratório
desenvolvendo emocional e cognitivamente, de transição entre o mundo e seu universo.
e começam a colocar outras pessoas em suas
brincadeiras, quando começam a perceber a É indispensável para a criança o brincar
presença de outras pessoas que começam enquanto aprendizagem, sendo muito
a serem respeitadas as regras e os limites, importante que isso ocorra dentro da escola,
os jogos que possuem regras exigem um pois acaba atendendo o propósito educativo
raciocínio lógico e estratégia. no sentido de possibilitar a construção de
conhecimento para as crianças, fazer uso
Quando se mostram capazes de seguirem dos jogos na escola significa transportar
regras, notamos que seu relacionamento para o campo no ensino-aprendizagem
com as demais crianças e até mesmo com os condições para maximizar a construção do
adultos que às cercam melhoram, mostrando conhecimento, fazer a união da escola com
que a ideia de que os jogos ajudam no o lúdico é muito importante para as crianças,
processo de aprendizagem das crianças, mas devemos respeitar e manter as condições
mesmo que em alguns casos há crianças que para a expressão do jogo, e da liberdade de
demoram mais para entenderem tudo. ações para as crianças brincarem.

Ao jogarem as crianças podem colocar Dentro do Referencial Curricular Nacional


certos desafios e questões para serem para a Educação Infantil - RCNEI, cabe ao
resolvidas por elas ou seus pares, dando professor o papel de estruturar o campo
margem para a criação de hipóteses de das brincadeiras na vida das crianças,
soluções para os problemas estabelecidos. disponibilizando objetos, fantasias,
brinquedos ou jogos e possibilitando espaço
O pensamento da criança evolui a partir de e tempo para brincar (BRASIL, 1998).
algumas de suas ações, por meio do jogo, pode
brincar naturalmente, testando hipóteses, São inúmeras as possibilidades, podendo
explorando toda sua espontaneidade criativa. ainda agilizar a astúcia e o talento,

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Revista Educar FCE - Março 2019

estabelecendo valores ou apenas revisando A implementação e/ou implantação


e estimulando as habilidades manuais que de uma proposta curricular de qualidade
as crianças tenham. Os jogos ajudam e depende, principalmente dos professores
muito não só no crescimento dos alunos que trabalham nas instituições. Por meio
e também são fonte de aprendizado para de suas ações, que devem ser planejadas
os educadores e pais, pois quando se trata e compartilhadas com seus pares e outros
de educação formal, ajudam a incentivar o profissionais da instituição, pode-se construir
respeito às outras pessoas, respeitando e projetos educativos de qualidade junto aos
conhecendo várias culturas, estimulando a familiares e às crianças.
aceitação das regras, ajudando no raciocínio
verbal, numérico, visual e até o abstrato, mas A ideia que preside a construção de um
o mais importante ajuda no raciocínio lógico projeto educativo é a de que se trata de
matemático para a resolução de problemas, um processo sempre inacabado, provisório
estimulando o pensamento, procurando e historicamente contextualizado que
alternativas para o que venha acontecer. demanda reflexão e debates constantes com
todas as pessoas envolvidas e interessadas.
Segundo os Referenciais da Educação
Infantil (1998), o trabalho direto com crianças Dessa forma, é importante mencionar
pequenas exige que o professor tenha uma que o conhecimento das fases do desenho
competência polivalente. Ser polivalente infantil deve contribuir para a construção
significa que ao professor cabe trabalhar do imaginário das crianças, sendo mais
com conteúdos de naturezas diversas que um recurso que o educador poderá utilizar
abrangem desde cuidados básicos essenciais para melhor compreendê-las. Somando
até conhecimentos específicos provenientes conhecimento, análise e compreensão da
das diversas áreas do conhecimento. produção infantil, o educador perceberá o
significado mais profundo do ato de criar,
Este caráter polivalente demanda, por expressão das ideias e dos sentimentos da
sua vez, uma formação bastante ampla do criança.
profissional que deve tornar-se, ele também,
um aprendiz, refletindo constantemente É necessário e importante que a escola
sobre sua prática, debatendo com seus pares, reflita a respeito dos múltiplos fatores que
dialogando com as famílias e a comunidade contribuem para o processo de exclusão
e buscando informações necessárias para o das crianças, incluindo a si próprias como
trabalho que desenvolve. São instrumentos elemento participante e corresponsável pelo
essenciais para a reflexão sobre a prática processo.
direta com as crianças a observação, o
registro, o planejamento e a avaliação. Para se chegar à mudança, muitas vezes
precisamos da ajuda de outras pessoas, de

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Revista Educar FCE - Março 2019

alguém que aponte para modos de agir que facilite a descoberta de novas possibilidades de
ação e auxilie na criação de novas formas de ver o mundo, as pessoas e as relações. Com isso
sugerimos alguns pressupostos para orientação deste trabalho.

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO
É sabido que quase todas as crianças gostam de jogos e brincadeiras. Pesquisas recentes
afirmam que o lúdico é indispensável para o aprendizado da criança e o adolescente, pois além
de auxiliá-la em seu desenvolvimento psicológico, essas atividades facilitam a integração
social e a organização, sendo, portanto, fundamental na formação do caráter do educando.
Os jogos podem proporcionar vários benefícios no aprendizado das diversas áreas escolares.

Em estudos o tão conhecido educador e pesquisador Jean Piaget, mostrou quais as etapas
da formação da inteligência da criança. E observando um grupo de crianças jogando xadrez
pode-se constatar que os progressos atingidos são de ritmos extremamente diferentes, o
que permite concluir a tão importância de se aplicar uma pedagogia de níveis. Para Jean
Piaget o homem já nasce com a capacidade de pensar e aprender é um processo dinâmico,
e a acomodação é o encaixe de todo conhecimento.

O jogo é uma atividade criativa e curativa, pois permite a criança reviver ativamente a situações dolorosas e
ensaiando nas brincadeiras as suas expectativas da realidade. Constitui-se importante terapêutica, permitindo
investigar, diagnosticar e remediar as dificuldades, sejam elas de ordem afetivas, cognitivas ou psicomotoras.
Em termos cognitivos significa a via de acesso ao saber, entendido como incorporação do conhecimento numa
construção pessoal relacionada com o fazer (BOSSA,1994,p.85-88).

Segundo KISHIMOTO (1993), no jogo a criança é mais do que é na realidade, permitindo-


lhe o aproveitamento de todo o seu potencial. Nele, a criança toma iniciativa, planeja, exercita,
avalia. Enfim, ela aprende a tomar decisões a introjetar seu contexto social na matemática
do faz-de-conta. Ela e se desenvolve. O poder simbólico do jogo de faz-de-conta abre um
espaço para apreensão de significados de seu contexto e oferece alternativas para novas
conquistas no seu mundo imaginário.

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante décadas as crianças brincavam a partir dos
saberes que eram passados por seus pais, avós, tios ou até
por vizinhos. Atualmente houve uma mudança nas formas
de brincadeiras, bem como nos próprios brinquedos.
Antigamente os brinquedos eram confeccionados pelos pais
e avós, eram feitos à mão, agora há uma gama enorme de
brinquedos confeccionados pela indústria, que passou a
criar e a produzir brinquedos em todo o mundo.

Os brinquedos e jogos, agora são vinculados à algum TÂNIA APARECIDA


desenho da televisão, e esse modismo, faz uma grande PARDIM SENA DELFINO
parte das crianças logo cedo serem consumistas, querendo Graduação em Normal Superior, pela
sempre ter todos os brinquedos, pois para a indústria, é fácil UNIARARAS (2005); Especialização em
fazer vários modelos, mas que fazem o mesmo propósito de Ludopedagogia, pela Faculdade Campos
um, mudando cores, figurinhas, e a televisão trabalha vários Elíseos (2018). Professora de Educação
personagens para que isso se torne cada vez mais um círculo Infantil e Fundamental I na EMEI Jonise
vicioso, inventam o carro, a casa, os animais de estimação, Máximo Fonseca.
tudo que podem inventar à partir de um personagem,
esgotando a criatividade e fazendo com que as crianças
sintam a necessidade de “ter” e às vezes nem brincam com
tantos brinquedos.

Precisamos fazer com que nossas crianças aprendam


a fazer seus próprios brinquedos com a ajuda dos seus
parentes, desenvolvendo a criatividade e raciocínio.

O educador deve se apropriar do brincar e o insere no universo escolar, o brincar é


utilizado de maneira sistemática por esse professor que reconhece nele uma via para se
aproximar da criança, enfim, para ensiná-la. O brincar é uma atividade fundamental para
o desenvolvimento da criança, quando as crianças brincam podem desenvolver algumas
capacidades importantes como a atenção, a memória e a imaginação.

Um bom professor tenta levar as crianças a buscarem seus aprendizados, levando para
dentro da escola atividades cada vez mais lúdicas para seus alunos, fazendo com que
participem cada vez mais das atividades, fazendo com que eles tenham cada vez mais em
buscar o conhecimento e mostrando que são capazes de aprender o que buscarem.

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Revista Educar FCE - Março 2019

As atividades lúdicas podem mudar a vida da criança dentro da escola, pois muitas
desanimam logo no primeiro obstáculo e como professores precisamos auxiliar no que for
possível, e até fazemos o impossível para fazer com que nossas crianças aprendam.

O que vemos em diversas escolas é um reflexo da escola antiga, no qual o professor


só quer passar o conteúdo sem se importar, muitas vezes se estão aprendendo ou não, e
registra matéria dada, e ponto final, é muito triste trabalhar com esse pensamento, por isso
precisamos mostrar o quanto é gratificante ver uma criança aprender.

1731
Revista Educar FCE - Março 2019

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1734
Revista Educar FCE - Março 2019

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO
PROCESSO EDUCATIVO
RESUMO: Partindo da premissa de que a escola é um espaço voltado ao conhecimento e
desenvolvimento humano, é comum que erroneamente familiares responsabilizem apenas a escola sobre
esse processo, quando na verdade a parceria entre ambas as partes é capaz de potencializar e formar
uma base sólida para a criança. Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo compreender o
impacto da família no processo educativo. Para isso, foi desenvolvido um estudo de caráter bibliográfico,
que evidenciou que durante longos períodos a criança não foi enaltecida na sociedade, porém com o
seu reconhecimento enquanto cidadão, o acesso a educação passou a ser uma das ferramentas mais
reconhecidas de desenvolvimento humano. A escola, por sua vez, assumiu diferentes papéis voltados
ao cuidar e educar, muitas vezes oferecendo assistência as famílias trabalhadoras, além do caráter
pedagógico que foi fortalecido na contemporaneidade. Contudo, muitos familiares deixaram de lado
a responsabilidade de participar ativamente do desenvolvimento da criança, com valores, estímulos e
a criação de um ambiente saudável para o seu crescimento. Dessa forma, quando parceira da escola,
consegue alinhar os valores transmitidos, incentivando, acompanhamento e potencializando ainda
mais o trabalho que é feito pela instituição escolar. Concluiu-se que a parceria entre ambos deve ser
enaltecida, uma vez que este forte elo é capaz de garantir o desenvolvimento integral da criança e todo
suporte necessário para que transcenda e evolua enquanto aluno e cidadão.

Palavras-Chave: Escola; Desenvolvimento Infantil; Família; Parceria entre escola e família.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO dessa forte influência de forma positiva para


desenvolver uma base voltada ao afeto,
A escola é um espaço marcado pelo estímulo e exploração das capacidades
desenvolvimento de saberes, estímulos e mentais. Acredita-se que quando a criança
potencialização da capacidade humana. encontra uma base sólida, tende a se
Contudo, para que esse processo seja desenvolver de forma mais equilibrada,
efetivo, enaltece-se a necessidade de existir acreditando no seu potencial e recebendo as
uma parceria entre família e escola, pois a contribuições de todos os envolvidos neste
família representa a base da formação do processo.
indivíduo, devendo acompanhar e se alinhar
aos objetivos da escola para que o aluno Para isso, foi desenvolvido um estudo
encontre ambientes sólidos que o auxiliem de cunho bibliográfico, a partir de livros e
com os mesmos objetivos: o desenvolvimento artigos científicos disponíveis em bases de
a nível integral. Porém, é observável que dados como Google Acadêmico e Scielo. Os
muitas vezes os pais responsabilizam apenas descritores elegíveis para o estudo foram:
a escola por este amplo trabalho que deve ser desenvolvimento infantil, infância, família,
feito prioritariamente em conjunto. Dessa parceria entre família e escola.
forma, a questão que norteia o estudo é:
Como a parceria entre família e escola pode
favorecer o desenvolvimento do indivíduo? HISTÓRICO DA
CONSTRUÇÃO DA FAMÍLIA
O presente estudo tem como objetivo
geral compreender o impacto da presença Para entender a relação do conceito e da
da família no processo educativo, visando família, é necessária uma contextualização de
mostrar a necessidade de parceria entre a como fora idealizado a história da construção
família e escola para o desenvolvimento e princípios sobre criança e família. Nesta
integral da criança. Dessa forma, os objetivos perspectiva de compreender melhor esta
específicos traçados consistiram em: questão foi preciso um levantamento
explorar o histórico da infância e formação histórico sobre o sentimento de infância,
da família, estudar o desenvolvimento procurar esclarecê-lo, seu surgimento e sua
infantil e compreender o papel da família no transformação. Sabe-se que por muito tempo
desenvolvimento da criança, sobretudo, na a criança foi esquecida, quase invisível pela
vida escolar. família e também no meio onde era inserida
sem nenhuma perspectiva de que era capaz
A sua realização justifica-se em razão de ser, um indivíduo com autonomia de
de mostrar os benefícios da parceria entre realizar seus feitos independentemente de
família e escola, e como a família impacta o sua idade respeitando suas etapas em seu
desenvolvimento da criança, podendo utilizar desenvolvimento.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Na idade média não existia uma transparência


Neste primeiro capitulo, será descrito
em propósito naquilo que caracteriza a infância
acontecimentos que irão apontar a concepção muitos consistiam pela situação física e
da infância, demonstrando como a criança avaliava a criança como um momento que vai
era vista antigamente até a concepção atual. do nascimento dos dentes até os sete anos de
idade como mostra a citação da descrição feita
A definição da infância nunca foi vista de uma por Le Grande Propriétarie [...] A primeira idade
maneira a qual é vista hoje, é uma realização significava que era a infância que germinava
cultural e nova que inicia e toma forma a partir os dentes a partir de quando a criança nasce,
da Idade Moderna, necessariamente no século esta permanece somente aos sete anos e nessa
XVII (ARIÉS, 1981, p. 5). idade aquilo que nasce é denominado de enfat
(criança), que significa não- falante (ARIÈS,
De acordo com Ariès (1981), a arte 1998, p. 7).
medieval daquele século não reconhecia
a infância ou não tentava representá-la, Assim, entende-se com isso que a criança
dificultando-se a acreditar que essa falta se não tinha como se expressar, manifestar coisa
devesse a aptidão ou a falta de eficiência. alguma, devido as suas palavras não soariam
perfeitamente, sendo que seus dentes não
Portanto, era provável que não existisse estavam bem alicerçados.
comodidade para infância, as crianças não
tinham autonomia, liberdade no contexto a Até XVII a criança era esquecida pela
qual viviam. Pode-se observar em algumas sociedade. O índice de mortalidade daquela
figuras aonde prova ilustrações de obras época era alto assim também como a
artísticas mostrando a criança como um natalidade devido más condições sanitárias.
anjo ou como personagem bíblico, de Por este motivo, a perda era vista como algo
forma singela, comum a imagem do menino comum que não poderia ser sentida por
Jesus, isto no século XIII. Outras figuras muito tempo. De acordo com Ariès (1978,
artisticamente desenhadas mostravam e p. 22), ‘’as pessoas não podiam se apegar
definiam bem, como essas crianças eram muito a algo que era considerado uma perda
vistas mini adultos o que ficava evidente nas eventual’’.
vestimentas e na postura.
Na Idade Média a criança era exposta a todo
Nessa expectativa o sentimento de tipo de experiência, não existia preocupação
infância é algo que distingue a criança, a sua alguma com a sua formação enquanto
natureza enquanto ser humano, a sua maneira criança. Dessa forma, a criança não tinha
de realizar e imaginar, que se percebe da de direito ou autonomia sendo esta obrigada
adulto, sendo assim, merece um tratar mais a assumir funções de responsabilidades
especial, um olhar diferenciado na qual a pulando etapas do seu desenvolvimento.
criança deve ser contemplada com esmero.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Sendo assim, a criança exercia atividades se sucedia no convívio dos pequenos com
voltadas no que os adultos faziam, ou seja, os adultos em suas atividades cotidianas,
se socializavam transmitiam de valores e de foi transferida a serem praticadas no
entendimento que não eram testificados âmbito escolar. A ocupação com propósitos
pela família. A criança era distanciada de seu educativos fora delegado pela escola, que
habitat familiar logo cedo, para ter convívio passou a ser responsável pela modificação.
com outros adultos. Sobretudo, dentro desse Segundo Aries, (1978) As crianças foram
contato, esta criança passava rapidamente então separadas dos adultos e mantidas em
para a fase adulta. escolas até estarem prontas para a vida em
sociedade.
No entanto, a definição de infância não
tinha um termo, pois o seu desenvolvimento Na Idade Moderna, devido ao grande
era interrompido muito antes de sua acontecimento que ocorreu nesta época,
vida adulta chegar, assumindo ofício de à elevação retomada em propósito de uma
responsabilidade. Sobretudo a situação nova concepção de família burguesa trás uma
começa a tomar outro rumo, idealizando reforma da escola. Conforme explicam Lajolo
um fato de suma importância no olhar do e Zilberman (1991), conservando-se assim,
sentimento de infância. Sendo esta, a forma um modelo de família no qual cabia ao pai
de como as crianças de família burguesas amparo econômico e a mãe a administração
que não se vestiam mais como adultas e da vida doméstica particular.
passaram a ter trajes conforme à sua idade,
que as diferenciavam. No entanto, para desempenhar esta
situação, ou seja, tomar outro rumo era
As modificações e reviravoltas sociais preciso ser colocado objetivo principal, a
ocorridas no século XVII cooperaram criança, aplicando assim a proteção e cuidado
definitivamente para a transformação e de algo que fosse valorizado, a ser tratado
construção de um sentimento de infância. com outra visão.
As mais primordiais foram às reconstruções
religiosas entre elas católicas e protestantes, Contudo, este novo acontecimento em
que tornaram uma nova visão referente valorização a infância, respeitando com
à criança e sua aprendizagem. Um fato indivíduo que cabe a este uma consideração,
importante a ser ressaltado é a afetividade, suscitou de acordo com Zilberman (2003)
que adquiriu mais mérito no seio familiar. maior união familiar, mas igualmente meios
de controle do desenvolvimento intelectual
Sendo assim, a afetividade era vista da criança e manipulação de emoções.
especialmente, por intermédio da
valorização que a educação começou a ter. Aparece uma preocupação com a
A aprendizagem das crianças, que outrora constituição moral da criança, e a igreja

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Revista Educar FCE - Março 2019

naquela época como entidade maior, se de família que surge nos séculos XVI e XVII,
responsabiliza em conduzir a aprendizagem, inseparável do sentimento da infância.
pretendendo averiguar que, a criança era fruto
do pecado, e assim, deveria ser direcionada Sobretudo o aconchego familiar recebe
ao caminho do bem. Entre partidários e um caráter mais particular, e paulatinamente
os mestres do século XVII daquela época, a família se responsabiliza em um papel
formou-se o sentimento de infância que que outrora era realizado à comunidade. É
dirigia a trazer uma grande orientação em se necessário frisarmos que esse sentimento
inspirar a educação do século XX (Àries,1989). de infância e de família que simboliza um
A partir daí, vem a compreender dos sujeitos parâmetro burguês, que se idealizou em
de receptividade direcionados às crianças, universal (KRAMER, 2003).
de caráter repressivo e compensador.
Assim, a criança sai da condição de que
Por um lado, a criança é contemplada não era vista, e devagar conquista um âmbito
como um indivíduo inocente que necessita de maior evidência no meio em que está
de cogitações, vendo de outra forma, a inserida.
mesma, era vista como um indivíduo fruto
do pecado. Segundo Kramer:
O DESENVOLVIMENTO DA
Nesse momento, o sentimento de infância
CRIANÇA E A VIDA ESCOLAR
corresponde a duas atitudes contraditórias: uma
considera a criança ingênua, inocente e graciosa Na contemporaneidade a Educação
e é traduzida pela paparicarão dos adultos, e a Infantil volta-se para a autonomia das
outra surge simultaneamente à primeira, mas
instituições de ensino e que tal projeto tenha
se contrapõe a ela, tornando a criança um ser
em seu desenvolvimento uma padronização
imperfeito e incompleto, que necessita da
de qualidade garantindo sua proposta no
moralização e da educação feita pelo adulto
modelo educacional no sentido de direitos
(KRAMER,2003, p.18).
e o bem-estar das crianças levando em
consideração diversas linhas de avaliações
É importante salientar, que esses que muitas vezes são divergentes e se
dois sentimentos são contemplados por contradizem, correndo um grande risco de
intermédio de uma nova situação que se dar um caráter institucional a infância
inicia por parte da família em questão à regulando a em excesso.
criança como um bem a ser visto no futuro,
que necessita ser guardado, e, no entanto, Outro seria torna-la espontânea sem
deve ser distanciado de maus físicos e distinção. Uma construção de instituição
morais. De acordo com Kramer (2003), não é de educação infantil que não se isole das
a família que é nova, mas, sim o sentimento famílias e não compreendam a socialização

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Revista Educar FCE - Março 2019

completando a ação da família e da comunidade


da criança com um ajuste rápido à sua cultura
(BRASIL, 1996, Lei 9394/96, artigo 29).
e sim discutir o tal modelo de infância no
decorrer da história tornando conhecido Pesquisas sobre aprendizagem e o
na sociedade, internalizando a relação de desenvolvimento infantil mostram o quanto
poder desiguais que tem caracterizado uma é importante que uma proposta pedagógica
interação adulto-criança. para as creches e pré-escolas organizem
condições
Diversos contextos educacionais são
diferenciados a partir da origem populacional Para uma interação das crianças com
atendida e a definição da proposta os adultos e outras crianças em diversas
pedagógica deve ser considerada uma ação situações enquanto desenvolvem formas de
educativa intencional ampliando o universo sentir, de pensar, de solucionar problemas
cultural das crianças de modo que as ajude com autonomia e cooperação
a compreender melhor os eventos e fatos da
realidade de modo transformador. Constituindo se como sujeito da
construção histórica social.
Mario Andrade um autor modernista,
diretor do departamento de cultura do A valorização de identidade pessoal
município de são Paulo, criou os primeiros e de sociabilidade deve ser valorizada
parques infantis paulistas, na década de 30 na criança no que envolve direitos e
ampliando a ideia de que as ações educativas deveres e isso deve constar na proposta
das instituições de educação infantil devem pedagógica. Sensibilidade, solidariedade
dar um significado aos interesses das crianças e senso crítico se ampliam por intermédio
e seus saberes já construídos além de tornar de experiências significativas nas quais os
amplo o ambiente simbólico ao qual estão elementos históricos são mediadores do
submetidas garantindo direito a infância que desenvolvimento infantil. Ela repensa e
toda criança tem. reconstrói novas visões de mundo e de si
mesma.
Pontos que se tornaram conhecidos antes
da constituição de 1988, pelos educadores Nesta concepção buscam a construção
e pesquisadores envolvidos na área e foram de identidade, dentro de um clima seguro
apreciados, sendo alvo de analise na Lei de com autonomia exigindo assim um ambiente
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, aberto e explorador do lúdico, adaptados ao
que dispôs que: processo de aprendizagem

A Educação Infantil, primeira etapa da educação Sendo assim define se a proposta
básica, tem como finalidade o desenvolvimento pedagógica propõe envolver as crianças
integral da criança até seis anos de idade, em seu em situações que promovam atividade
aspecto físico, psicológico, intelectual e social,

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Revista Educar FCE - Março 2019

infantil, como o envolvimento em importante para construção da identidade


brincadeiras, descobertas e explorações da criança exercendo a cidadania e a
com seus companheiros, priorizando particularidade de cada um, a relação família-
o desenvolvimento da imaginação, do escola contribui para o sucesso educacional
pensamento e da linguagem como base e e também emocional.
assim ela busca explicações sobre o que
ocorre a sua volta e consigo mesma. Quando a família interage durante o
desenvolvimento educacional percebe-se
Em um clima de segurança e liberdade ela a segurança por parte dos filhos que são
pode incorporar regras de comportamentos completamente amparados por ambas às
e formas de organização incluídas nas partes, isso estimula e ajuda da autonomia,
atividades propostas e cabe ao educador desenvolvimento intelectual, formação do
um olhar atento onde o mesmo deve criar indivíduo e na liberdade de expressão.
oportunidades para tais experiências e
aprendizagens abrindo espaços para que Quando esse acompanhamento acontece
as crianças se tornem exploradoras trilha envolvendo a comunidade e a escola percebe-
diversos universos simbólicos passam por se grandes mudanças no processo de ensino
diversas culturas encara situações emociona na parceria entre aluno e professor, o objetivo
se com o belo e contra violência, vibra com é o respeito e a socialização e qualificação do
descobertas e reconhece obstáculos. ensino fazendo com que a criança descubra
os valores educacionais os fazendo refletir
Isso significa estimular e envolve- e participar efetivamente o incentivando a
las nas diversas situações respeitando o contribuir com o ambiente aproveitando as
ritmo de cada criança, seus desejos e suas oportunidades do relacionamento familiar
características do cognitivo. adquirindo capacidades independentes das
disciplinas (VASCONCELOS, 2000).
Garantindo a igualdade, o reconhecimento
de uma pluralidade de significados e valores A família tem o costume de jogar a
dentro uma perspectiva de afeto de relações responsabilidade do saber para escola, mas
diversas na qual cada um na sua singularidade compreende-se que a realidade é outra, pois
seja objeto de atenção. a família educa e a escola ensina, ou seja, a
família oferece a parte ética para vida em
sociedade e a escola instrui as exigências
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA competitivas da realidade.
NO PROCESSO EDUCATIVO
Por falta de um contato mais próximo e afetuoso
Segundo Antunes (2005), a integração com a família, surgem as condutas caóticas
da família no processo de aprendizagem é e desordenadas, que se reflete em casa e
quase sempre, também na escola em termos

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Revista Educar FCE - Março 2019

de indisciplina e de baixo rendimento escolar.


(ANTUNES, 2006, p. 11).
estrutura da criança é baseada nessa relação
sem esse contato percebe-se a frustração e
No entanto, por ser responsável pelo o desequilibro emocional do aluno.
desenvolvimento social e psicólogo deve
buscar a interação com a escola para Não se constrói uma boa educação sozinho,
questionar sugerir e fornecer elementos é preciso um conjunto de três elementos que
para uma comunicação aprazível, com essa andem juntos, atrelados completamente uns
iniciativa é possível suprir as necessidades aos outros, eles são: Família, escola e estado,
do educando e com isso acontece o conforme citado pela legislação vigente, Lei
aperfeiçoamento do conhecimento. de Diretrizes e Bases:

Para uma educação bem-sucedida o Art. 2º A educação, dever da família e do Estado,


ambiente familiar deve servir de apoio para inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais
o desenvolvimento da criatividade e do de solidariedade humana, tem por finalidade
comportamento do aluno ao absorver o o pleno desenvolvimento do educando, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua
conhecimento, pois a família é a arma mais
qualificação para o trabalho.(BRASIL, 1996).
poderosa para desenvolver o caráter e a
personalidade quando a educação vem de berço
é possível reconhecer os princípios e valores. Segundo a lei de diretrizes e bases da
Educação básica (LBD), a educação é um
Porém, se a família não acompanhar direito de todos, e dever da família e do estado
a criança pode gerar um sentimento de cabendo aos pais, na idade própria, matricular
negligência e abandono em relação a sua seus filhos na rede escolar, cumprindo
construção do conhecimento de mundo e seu ao estado a responsabilidade de oferecer
desenvolvimento escolar, e o comportamento vagas e condições adequadas de ensino.
do aluno fica desordenado e acaba gerando E diz também que, além de acompanhar
indisciplina e o baixo rendimento escolar. a frequência e o rendimento de seu filho,
é necessário que seja disponibilizado aos
A escola foi feita para servir a sociedade pais a proposta pedagógica da escola, assim
e para prestar contas do seu trabalho, de conseguira acompanhar o desenvolvimento
como faz e como conduz a aprendizagem das do ano letivo e entender suas proposta,
crianças por isso é necessário criar estratégia sendo assim, se esse direito lhe e negado,
para que a família acompanhe a vida escolar fica impossível que os pais contribuam para a
de seus filhos (VASCONCELOS, 2000). melhora da qualidade da educação oferecida
a seus filhos (BRASIL, 2001).
Criar boas relações é o princípio da
compreensão no processo educacional e a A presença da comunidade na escola,
família é precursora nesse desenvolvimento a especialmente dos pais, tem várias
implicações. Prioritariamente, os país e outros

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Revista Educar FCE - Março 2019

representantes participam do conselho de “A escola deve utilizar todas as oportunidades


escola, da associação de pais e mestres (ou de contato com os pais, passar informações
organizações correlatas) para preparar o projeto relevantes sobre seus objetivos, recursos
pedagógico-curricular e acompanhar e avaliar problemas e também sobre as questões
a qualidade dos serviços prestados. (LIBANEO, pedagógicas”.
2004, p 144).
Sendo assim, família e escola em busca de um
Diante do que o autor afirma acima, único objetivo, transmite a esses alunos mais
que não somente a equipe pedagógica, confiança e certamente ele irá se desenvolver
os pais dos alunos são importantes nesses de forma continua e bem instruída para
momentos, pois avaliam e tem uma visão mais enfrentar as diversidades da sociedade onde
realista do que se diz respeito a educação vive, a partir deste conceito será construída
de seus filhos.Com esse trabalho conjunto, uma educação de alto padrão (PARO, 2000).
dificilmente a proposta pedagógica ira falhar,
pelo contrário irá somar para uma escola Atualmente devido as mudanças sócios
onde há democratização e uma participação econômicas em nossa sociedade e mais
presente por parte dos pais, o que dificilmente difícil fazer com que os pais participem
podemos observar em escolas que trabalham constantemente na vida escolar de seus
sozinhas, estando mais propicias a falharem filhos, pois hoje não temos somente o homem
em algum aspecto, podendo ser crucial para como o mantedor da casa, muitas vezes está
desenvolver alguns problemas, tais como ocupando seu papel na sociedade e assim
indisciplina, marginalização e também afetar assumindo cada vez mais responsabilidade,
a aprendizagem desses alunos (LIBANEO, além de cuidar somente dos deveres
2004). doméstico ela também enfrenta jornadas de
trabalho em empresas privadas (TIBA, 1996).
Com esse modo de trabalho de formação
de aluno por parte da escola, é possível Diante desta situação a escola precisa
acreditar que há esperança em dar aos mudar alguns conceitos e rever métodos
alunos uma melhor qualidade de ensino\ para que pais e escola se ajudem, e consigam
aprendizagem, ocasionando assim maior juntos mudar a realidade que vemos hoje
comprometimento de ambas as partes, onde dentro de sala de aula, total abandono de
o maior beneficiado será sempre o aluno algumas famílias com relação a educação de
(LIBANEO, 2004). seus filhos (TIBA, 1996).

Segundo Paro (2000, p.30) idealizador de Se tanto a escola como a família se unirem
uma pesquisa que relata a importância no em uma único propósito, as chances de um
seu desenvolvimento escolar, complementa bom desenvolvimento escolar são muito
que: maiores, mas para que isso aconteça é
necessário uma gestão democrática, onde a

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Revista Educar FCE - Março 2019

escola estará disponível para conhecer mais os pais ,e assim conscientiza-los e fazer com que
participam das atividades pedagógicas não somente no dia da reunião de pais, para falar sobre
problemas ,mas sim encontrar solução para tentar sanar o problema, motivando a família
através de festas, projetos em parceria com os alunos. Claro que isso não ocorrerá á curto
prazo pois nossa sociedade ainda tem muitos pré-conceitos com relação a educação, mas
um trabalho realizado com boa vontade, e que vai de alguma forma valorizar o aprendizado
desse aluno, é muito provável que se obtenha o sucesso (TIBA, 1996).

Deixando claro que precisa ser um trabalho conjunto, ambos têm que se completar, e não
um ter mais responsabilidade que o outro, são necessárias intervenções de ambas as partes,
os pais ajudando no incentivo e a escola na parte pedagógica.

O interesse e participação familiar são fundamentais. A escola necessita saber que é uma instituição que
completa a família, e que ambos precisam ser uns lugares agradáveis e afetivos para os alunos\filhos. Os pais
e a escola devem ter princípios muitos próximos para benefícios de filho\aluno. (TIBA,1996.p.140)

Neste sentido, vale ressaltar que a família seria a base para esse aluno se motivar com
relação ao seu aprendizado, sem esquecer o apoio pedagógico com um olhar mais específico,
podendo diagnosticar os problemas e encontrar soluções em novos métodos de ensino
(TIBA, 1996).

A criança que tem um acompanhamento familiar dentro da escola possivelmente terá um


nível de desenvolvimento muito melhor, pois tem uma valorização do seu aprendizado e
muito mais autoconfiança em buscar mais conhecimento (TIBA, 1996).

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo visou compreender o impacto da presença da
família no processo educativo, visando mostrar a necessidade
de parceria entre a família e escola para o desenvolvimento
integral da criança.

Dessa forma, os objetivos foram cumpridos, considerando


que os renomados teóricos que contribuíram para o estudo
enalteceram a necessidade de a criança ter uma base sólida
para o seu desenvolvimento, que é formada justamente por
essa parceria entre família e escola, pois ao alinharem os TATIANA BATISTA
seus propósitos e estímulos a criança encontra um ambiente
harmônico e equilibrado para o seu desenvolvimento. Graduação em Pedagogia pela faculdade
Método de São Paulo (2014); Especialista
A família desde o inicio da vida da criança é forte em Educação Inclusiva pela faculdade
influenciadora na formação de hábitos e valores, enquanto a Campos Salles (2017); Professora de
escola promove reforço de tais aspectos e apresenta todas Educação Infantil pela Rede Municipal de
as ferramentas para o acesso ao conhecimento. Este, por sua São Paulo na EMEI Cruz e Sousa.
vez, deve ser incentivado e continuado constantemente pela
família, para que a criança tenha acompanhamento em seu
desenvolvimento e principalmente viva em um ambiente que
a acolha, entenda e incentive nesse processo de construção
de conhecimento.

Por fim, essa parceria é considerada imprescindível para a


formação integral do indivíduo. Discutir sobre o que é mais
efetivo, prestar apoio, incentivar e colocar a criança em um ambiente rico de estímulos para
a construção de saberes é o que de melhor pode ser feito desde a infância para que a criança
cresça com as suas capacidades mentais plenamente exploradas e desenvolvidas.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
ÀRIES, Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: LCT. 1981.

ANTUNES, Celso. A linguagem do afeto: como ensinar e transmitir valores. Campinas – SP:
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Ed. São Paulo: Ática, 1991.

LIBANEO, José Carlos. Organização e Gestão: teoria e prática. Ed. Alternativa, 2001.

KRAMER, Sônia. A Política do pré-escolar no Brasil: A arte do disfarce. 7ª edição. São Paulo:
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de Aula e na Escola. Cadernos Pedagógicos do Libertad. 12a ed. São Paulo: Libertad, 2000.

ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil na Escola. São Paulo: Global, 2003.

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Revista Educar FCE - Março 2019

O DESENVOLVIMENTO DO
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
NO ENSINO FUNDAMENTAL
RESUMO: Este artigo concentra-se em comentar o que é de suma importância para os
alunos de ensino fundamental aprender sobre o assunto da matemática, devido à grande
importância que como uma ferramenta que permite não só a resolução de problemas, mas
também a novas situações que geram conhecimento nas diferentes áreas do trabalho,
profissional e pessoal dos indivíduos. A influência e importância da matemática na sociedade
tem crescido constantemente, boa parte devido ao aumento espetacular de suas aplicações.
Pode-se dizer que tudo é matematizado. Assim, o ensino da matemática ocupa um lugar
estratégico na formação concebida pelos currículos de vários países.

Palavras-Chave: Escola; Desenvolvimento Infantil; Família; Parceria entre escola e família.

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Revista Educar FCE - Março 2019

INTRODUÇÃO numericamente competente se dominaram


a aritmética e os percentuais, mas as
É reconhecido pelos educadores que exigências desta competição no mundo de
todas as disciplinas escolares devem hoje mudou, agora implica em ser capaz de
contribuir para o desenvolvimento de entender as relações numéricas e espaciais,
inteligência, sentimentos e personalidade, e comentá-las usando as convenções (isto
mas a matemática é um lugar de destaque na é, sistemas de numeração e medição, bem
formação da inteligência (GOÑI, 2000). como ferramentas como calculadoras e
computadores) da própria cultura.
Assim, é necessário que os professores
concebam a matemática como Assim, pode-se dizer que uma competência
disciplina fundamental que possibilite o numérica possui dois atributos. O primeiro
desenvolvimento de hábitos e atitudes refere-se a sentir-se “à vontade” com os
positivas, bem como a capacidade de formular números e ser capaz de usar habilidades
conjecturas racionais e de assumir desafios matemáticas que pessoa para enfrentar as
com base na descoberta e em situações necessidades matemáticas práticas da vida
didáticas que lhes permitam contextualizar diária.
os conteúdos como ferramentas suscetíveis
usadas na vida. Enquanto o segundo concentra-se em
ser capaz de compreender e compreender
O precedente é importante porque a as informações apresentadas em termos
sociedade atual gera continuamente uma matemáticos, exemplo em gráficos, diagramas
grande quantidade de informação, que é ou tabelas, por referência a aumentos ou
apresentada de diferentes formas: gráfica, diminuições percentuais.
numérica, geométrica e é acompanhada
de argumentos de natureza estatística e Ambos os atributos implicam que uma
probabilística. pessoa com competência numérica deve ser
capaz de compreender e explicar maneiras
Portanto, é importante que desde a infância de usar a matemática como meio de
o pensamento matemático lógico na criança comunicação.
com base na construção de um conjunto
de competências que permitem usá-las em
qualquer situação que surja, escola ou não.

Nesse sentido, surge a pergunta: o que


é uma competência matemática? Nunes
e Bryant (2005) mencionar que cem anos
atrás, considerou-se que uma pessoa era

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Revista Educar FCE - Março 2019

IMPORTÂNCIA DO ordem. A terceira é que o número final


DESENVOLVIMENTO LÓGICO compreende todos os elementos da coleção.
COMO ANTECEDENTE Para a primeira infância é necessário que
DE COMPETÊNCIAS propiciem e construam três operações lógicas
MATEMÁTICAS que são à base deste desenvolvimento em
crianças e quais são: classificação, seriação
Um elemento substancial que toda criança e correspondência, que são construídas
na primeira infância precisa aprender é ser simultaneamente e não sucessivamente.
lógico (Nunes e Bryant, 2005). Nesse sentido,
apenas aquela pessoa que reconhece as A classificação é definida como unindo
regras lógicas pode entender e executar por semelhanças e separando por diferenças
adequadamente até mesmo as tarefas com base em um critério, mas também, isso
matemáticas mais elementares. é ampliado quando, para o mesmo universo
de objetos, é classificado como maneiras
Portanto, é necessário reconhecer a lógica
como um dos constituintes do sistema Para entendê-lo, é necessário construir
cognitivo de todo assunto (Chamorro, 2005). dois tipos de relações lógicas: pertencer
e inclusão. Pertencer é a relação que é
Sua importância é que permite estabelecer estabelecida entre cada elemento e a classe
as bases do raciocínio, bem como a construção da qual ele forma parte.
não só do conhecimento matemático, mas de
qualquer outro pertencente a outros sujeitos Por outro lado, inclusão é a relação que é
do plano de estudo. estabelecida entre cada subclasse e a classe
a partir da qual forma parte, de tal forma
Por exemplo, é necessário que uma que permite determinar qual classe é maior
criança aprenda a contar para assimilar vários e. Portanto, tem mais elementos do que a
princípios lógicos. subclasse.

A primeira é que você tem que entender Portanto, a classificação é um instrumento


a natureza ordinal dos números, isto é, que de conhecimento essencial que nos permite
você eles estão em uma ordem crescente de analisar propriedades dos objetos e,
magnitude. portanto, relacioná-los a outros semelhantes,
estabelecendo semelhanças ou suas
A segunda é a compreensão do diferenças.
procedimento que se segue para a contagem
baseada em que cada objeto deve ser contado Neste sentido, esta classificação tem
uma vez e apenas um não importando a como classe principal os blocos lógicos e

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Revista Educar FCE - Março 2019

atendendo à cor das figuras permitidas para essa relação com o elemento imediato que,
formar a primeira subclasse, para então ao reverter a ordem de comparação. Esse
realizar a seguinte categorização baseada na relacionamento também é revertido.
seguinte propriedade, e esse foi o tamanho,
como a próxima subclasse.
COMPETÊNCIAS
Então, isso apresenta que o pertencimento MATEMÁTICAS
é exemplificado a partir do fato de que uma
figura vermelha pertence ao universo, bem
RELACIONADAS COM A
como uma figura grande também pertence CONSTRUÇÃO DO NÚMERO
ao universo; considerando que a inclusão
significa que qualquer pequeno está contido O primeiro aspecto relacionado ao
na subclasse de cor. número é orientado não apenas à aquisição
de terminologia e operações básicas de
Além disso, é apresentado que foi levado aritmética, mas agora é relevante que a
a cabo da cor como o primeiro critério e o criança de uma série numérica o ordenar
tamanho como segundo critério. Isso também na forma ascendente ou descendente, bem
poderia ter sido feito com base em outras como determinar a regularidade dele. Neste,
categorias, como a forma ou a espessura dos ou seja, as habilidades para desenvolver são
blocos lógicos. as seguintes:

Por sua vez, seriação é uma operação Coletar Informação Sobre Critérios
lógica que consiste em estabelecer relações Acordados, Informação E Interpretação. Esta
entre elementos que são diferentes em competência é orientada para a realização
algum aspecto e ordenam essas diferenças. de diversos processos matemáticos
importantes, como o agrupamento de
Neste sentido, esta operação pode ser objetos de acordo com seus atributos
feita de forma crescente ou decrescente qualitativos e quantitativos para a forma,
e assimilá-lo, é necessário que sejam cor, textura, utilidade, numerosidade,
construídas duas relações lógicas: tamanho, etc., que lhe permitirá organizar
transitividade e reciprocidade. Transitividade e registrar informações em tabelas, tabelas
é o estabelecimento da relação entre um e gráficos simples usando material concreto
elemento de uma série e o próximo e deste ou ilustrações. Neste sentido, é necessário
com o posterior, a fim de identificar a relação iniciá-lo a partir da proposta de códigos
existente entre o primeiro e o último. pessoais por dos alunos para posteriormente
acessar os convencionais para representar a
Em tanto, a reciprocidade faz referência informação dos dados. Também é importante
a que cada elemento de uma série tem que o aluno interprete e explique Informações

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Revista Educar FCE - Março 2019

cadastradas, levantando e respondendo igualdade e desigualdade (onde há “mais do


perguntas que envolvam a comparação da que”, “menos que “,” a mesma quantidade
frequência de dados gravados. que “).

Identificar Regularidades Em Sequência De Ao mesmo tempo, você precisa dizer


Critérios De Repetição E Crescimento. Essa os números que você conhece, em ordem
competência envolve organizar coleções que crescente, começando com um e partindo
identifiquem características semelhantes de números diferentes daquele, ampliando
entre com o objetivo de ordená-lo de forma o leque de contando posteriormente,
crescente ou decrescente. Então é necessário mencionar os números em ordem decrescente,
que concorde em estruturar estas coleções expandindo gradualmente, a contagem varia
tendo em conta a sua numerosidade: “um de acordo com as suas possibilidades. Uma
a mais” (ordem crescente), “um a menos” vez que a criança tenha feito a contagem
(ordem decrescente), “mais dois”, “três a correspondente é necessária para identificar
menos” para que Registre as séries numéricas agora o lugar que ocupa um objeto dentro de
resultantes de cada pedido. uma série ordenada (primeiro, terceiro etc.).

Outro elemento importante é que a criança Estabelecimento E Resolução De


reconhece e reproduz as formas constantes Problemas Em Situações Que São Familiares
ou modelos repetitivos que existem em E Que Envolvem Adicionar, Coletar, Remover,
seu ambiente e os representam de maneira Equalizar, Comparar E Distribuir Objetos. Esta
concreta e gráfica, para que gradualmente competência implica que a criança interpreta
faça sequências com diferentes níveis de os problemas numéricos que são levantar
complexidade para de um determinado e estimar seus resultados usando suas
modelo, permitindo-lhe explicar a próprias estratégias para resolver Problemas
regularidade de diferentes padrões, bem numéricos e representá-los usando objetos,
como antecipar o que segue em um padrão e desenhos, símbolos e / ou números.
identificar elementos ausentes.
Então, use estratégias de contagem
Use Os Números Em Diversas Situações (organização em uma linha, apontando
Que Envolvam Princípios De Contagem. O cada elemento, deslocamento daqueles
desenvolvimento desta competência significa já contados, adicionar objetos, distribuir
que a criança identifica, por percepção, a igualmente, etc.) e sobre a contagem
quantidade de elementos em pequenas (contando a partir de um dado número em
coleções, e em coleções maiores através uma coleção, por cinco e continue contando
da contagem; também comparar coleções, os elementos da outra coleção, um por um).
por correspondência ou por contagem, Essas habilidades relacionadas ao número
com o objetivo que estabelece relações de têm como principal objetivo que a criança

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desta idade entender as funções essenciais do número e que são:

1) Meça um coleção (atribua um número a uma coleção);

2) Produzir uma coleção (operação reversa para o anterior) e

3) Ordenar uma coleção (atribuir e localizar a posição dos elementos de uma coleção), que
lhe permitirá resolver situações matemáticas mais elaboradas.

Da mesma forma, é importante trabalhar com esses processos formativos, porque eles
permitem que a criança construção do sistema de numeração, que constitui o instrumento
de mediação do outro aprendizado matemático. Consequentemente, a qualidade da
aprendizagem que o as crianças podem alcançar em relação a este objeto cultural é decisivo
para a sua carreira mais tarde escola (TERIGI E WOLMAN, 2007).

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Revista Educar FCE - Março 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A matemática é considerada como uma segunda língua,
a mais universal, pela qual tanto a comunicação quanto à
compreensão técnica e científica dos eventos mundiais são
alcançadas. Antes disso Precisamos construir um conjunto
de competências em crianças da Primeira Infância que lhes
permitem entendê-los e usá-los como ferramentas funcionais
para a abordagem e resolução de situações, tanto escolar
como profissional.

Da mesma forma, é necessário trabalhar com a matemática THAISY DE CASTRO MAIA


neste nível educacional, porque é o antecedente Ensino
Fundamental, em que as questões deste assunto são Graduação em Pedagogia pela
desenvolvidas com maior complexidade, o que é relevante Universidade de São Paulo (2004);
para introduzir, através de lógica e raciocínio, conteúdos Especialista em Ludopedagogia pela
relacionados número, forma, espaço e medida. Faculdade Campos Elíseos (2018);
Professora de Educação Infantil e Ensino
Desta forma, a proposta metodológica para a aquisição Fundamental I da Prefeitura de São Paulo.
de competências matemáticas é através do desenho de
situações didáticas que geram um ambiente criativo nas
salas de aula, considerando que a aprendizagem não é um
processo receptivo, mas ativo na elaboração de significados,
É mais eficaz quando é desenvolvido com a interação com
outras pessoas, compartilhando e trocando informações e
resolver problemas coletivamente. Portanto, tais situações
são recomendadas considerar o que as crianças já sabem
sobre o objeto de conhecimento para usá-lo e colocam em jogo suas conceituações e colocam
desafios que os incitam a produzir novos conhecimentos Nesse sentido, à elaboração destes
constitui um duplo desafio para o educador; o primeiro está relacionado à busca pela situação
adequada, o que significa que o professor usa sua criatividade, considere as características
de seus alunos, bem como as competências que você pretende abordar.

O segundo desafio implica uma mudança fundamental em sua intervenção de ensino


e é que deixa de ser o centro das atenções e dono de conhecimento para se tornar um
observador e mediador de processos de diálogo, interação e construção do conhecimento
dos alunos.

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Revista Educar FCE - Março 2019

Portanto, agora o professor tem que entender que ele não intervém formulando
conhecimento direto, mas agora sua participação está focada na geração de condições
para que o conteúdo seja construído pelos alunos. Desta forma, esta intervenção sob
o desenvolvimento de competências não é orientada para a exposição do algoritmo
convencional, mas é agora um produto de as relações que os alunos estabelecem com o
conhecimento com base em suas perguntas, suas pistas e seus erros.

Assim, a intervenção tem o objetivo fundamental de gerar condições para que os estudantes
avancem a análise e interpretação lógico-matemática de cada situação.

Assim, para o sujeito de matemática, a abordagem didática é estabelecida como abordagem


e resolução de problemas, onde estes são considerados como um recurso de aprendizagem
que permita a apropriação gradual de competências a partir da interação dos alunos.

Portanto, esse problema é projetado a partir de uma situação com a característica que
é assimilável, mas, ao mesmo tempo, que apresenta alguma dificuldade para os alunos
desenvolverem conhecimento de que eles não têm de seus procedimentos utilizados, a
validade do mesmo, a maneira de registrá-los e as intervenções de ensino que são geradas.

Assim, sob esta abordagem, os problemas não são apenas o lugar onde o conhecimento
é aplicado, mas a própria fonte do conhecimento. Isto implica que os alunos aprendem
matemática não só para resolver problemas, mas para resolvê-los. Desta forma, é necessária
que o professor ofereça as crianças à possibilidade de abordar a abordagem e resolver os
problemas do seu conhecimento anterior e informal, promovendo a evolução destes a partir
da experiência pessoal e grupal.

O conhecimento, embora errôneo, expressa a criatividade matemática das crianças e é a


base isso permitirá que eles acessem os mais formais, com significado para eles. Portanto,
ao levantar um problema se o professor diz como deve ser resolvido, evita o processo de
criação pessoal das crianças; em vez disso, se permite a participação plena da criança e de
seus colegas de turma, propiciará o desenvolvimento da criatividade matemática.

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Revista Educar FCE - Março 2019

REFERÊNCIAS
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NUNES, Teresina e BRYANT, Peter (2005): Matemática e sua aplicação: A perspectiva da


criança. Siglo XXI editores

TERIGI, Flavio e WOLMAN, Susana (2007): “Sistema de numeração: Considerações sobre


seu ensino”.

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Revista Educar FCE - Março 2019

A PSICOPEDAGOGIA E A
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
NO “PROGRAMA DE ESTUDOS DA
RECUPERAÇÃO PARALELA”
RESUMO: A não aprendizagem dos conteúdos curriculares é uma das causas do
desenvolvimento do fracasso escolar. Este artigo propõe estudos sobre a importância da
intervenção psicopedagógica no “Programa de Estudos da Recuperação Paralela” da Rede
Municipal de Educação da Prefeitura da Cidade de São Paulo, considerando a ressignificação
dos sentidos das aprendizagens no contexto escolar; a construção dos diagnósticos
psicopedagógicos a partir da pluralidade de sintomasapontados pelos profissionais que
atuam na escola e a relação destes com os resultados de baixa proficiência nas áreas da
linguagem e raciocínio lógico-matemático dos alunos dos5º e 9º anos do Ensino Fundamental.
Observou-se que a realidade da escola pública moderna, ainda não condiz com as reais
oportunidades de ensino e as suas consequências refletem a progressão cumulativa de
crianças com dificuldades de aprendizagem nos espaços dos contextos de aprendizagens
curriculares.

Palavras-Chave: Aprendizagem Significativa;Recuperação; Fracasso Escolar; Psicopedagogia.

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INTRODUÇÃO inciso V, e artigo 13, inciso IV; o disposto


na Deliberação CME 03/97 e Indicação
Este estudo foi desenvolvido, CME 04/97; Educação, em especial, os
preocupando-se com o “ato de aprender” programas voltados para o desenvolvimento
dos alunos que apresentaram níveis das habilidades e competências das áreas
baixos nos resultados das provas oficiais e de Língua Portuguesa e Matemática; a
foram incluídos no “Programa de Estudos necessidade de atendimento diferenciado
da Recuperação Paralela” da Secretaria aos alunos que obtiveram resultados de
Municipal de Educação de São Paulo. proficiência abaixo do básico na Prova São
Paulo.
O enfoque pertinente aos estudos
deste artigo ilustra a necessidade da Ainda define, a necessidade de
atuação psicopedagógica, considerando as readequações ao Programa “Estudos de
dificuldades de aprendizagem dos alunos Recuperação” instituído pela Portaria nº
nas classes regulares, e que devido ao baixo 1.680/11 que considera a importância de se
rendimento escolar nas avaliações formais reavaliar e promover ajustes na organização
necessitaram de atendimento especializado. dos Programas/Projetos instituídos pela
SME, e que suas ações de apoio pedagógico
Este artigo, estudou a complexidade das implantadas pelos diferentes Programas
condições em que os alunos aprendem e visem um novo perfil de profissional para o
as especificidades das suas dificuldades de desenvolvimento da Recuperação Paralela.
aprendizagem; as evidências das diferentes Através do disposto na Portaria SME nº
maneiras de lidarem com o que lhes foi 5.360, de 04/11/2011, que reorganiza o
ensinado; as implicações das atitudes “Programa Ampliar” nas escolas municipais
dos professores das classes regulares; o da rede de ensino, prevendo a recuperação
atendimento psicopedagógico do professor das aprendizagens necessárias ao
da recuperação paralela enquanto mediador prosseguimento dos estudos dos alunos, que
na reconstrução das aprendizagens; e a se encontram no nível de proficiência abaixo
importância da sua atuação na construção do básico, de acordo com os resultados da
do diagnóstico das intervenções Prova São Paulo; e também os resultados
psicopedagógicas. obtidos nas avaliações permanentes
e cumulativas realizadas na escola em
Segundo a Portaria nº 5.359 (DOC houveram apontamentos específicos nos
05/11/2011), o Secretário Municipal de atos de aprendizagem dos alunos.
Educação, no uso das suas atribuições legais
que lhe são conferidas por lei, considera Este estudo traz questões ligadas à
no disposto na Lei Federal nº 9.394/96, instituição escolar e questiona: a escola
artigo 24, inciso V, alínea “e”; no artigo 12, acompanha o processo de aprendizagem

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Revista Educar FCE - Março 2019

nas classes regulares e as dificuldades das famílias; as características das queixas


emergentes dos alunos? Isso realmente evidenciadas pelo esforço das tentativas
é trabalhado na Recuperação Paralela? O das crianças e dos pais e as consequentes
aluno da Recuperação Paralela apresenta frustrações no rendimento escolar, assim
dificuldades de aprendizagem e estas são sugerindo-se através das frustrações as
identificadas pelo professor da classe regular? dificuldades de aprendizagem cognitiva
Como o professor da Recuperação Paralela e pedagógica; a resistência à situação
identifica as dificuldades de aprendizagem diagnóstica; a dificuldade dos alunos quanto
dos seus alunos? Como o psicopedagogo ao significado e registro da escrita; e as
pode atuar neste contexto? questões temporais de ritmo na produção
das atividades acadêmicas.
Para atender as especificidades dos alunos
do Programa, o diagnóstico psicopedagógico Este estudo comprovou que as dificuldades
foi construído através da avaliação dos alunos estão basicamente comprometidas
complementar das sondagens das hipóteses com as concepções do significado de escola;
de escrita realizadas pelas professoras das marcas consideráveis na representação
classes regulares; o atendimento individual do autoconceito e autoestima; reflexos
e familiar em oito entrevistas bimestrais dos procedimentos verbais de negação e
incluindo anamnese para o levantamento repressão da escola e família, imposições
de dados sobre a família e histórico social dos recursos disciplinares na rotina escolar,
dos alunos; análise linguística e operacional o desequilíbrio e a ansiedade dos pais,
matemática em exercícios e materiais e a imaturidade emocional dos alunos.
concretos; produções textuais com escrita Concebia-se a percepção de que os alunos
espontânea e orientada.(Fernandèz. 1991.p. com dificuldades de aprendizagem eram
27) “E a nossa função terá que ser, sairmos aqueles que erroneamente classificados
desse lugar do saber para que possamos abaixo dos índices das provas oficiais
ser percebidos como portadores, como apresentavam os comportamentos de
representantes do conhecimento. Nossa insolência, preguiça e com baixa inteligência.
tarefa aponta para a conquista de que o Entendemos que do ponto vista sociocultural,
espaço de tratamento se transforme em a escola moderna ainda é preconceituosa,
um espaço transicional onde seja possível avalia pelo mérito classificatório; e se não
reconstruir o espaço de jogo e criatividade exclui por meio da reprovação, exclui pela
de nosso paciente, que é matriz do aprender.” aprendizagem que não desenvolve. A falta
de empenho dos professores na busca e
Nas entrevistas realizadas com os valorização do histórico escolar dos alunos
pais, estudou-se os seguintes aspectos: a e a não inclusão deste na prática didática
necessidade de entendimento de como o reflexiva caracterizou a construção de
conhecimento é circulado e valorizado dentro concepções generalistas das dificuldades de

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Revista Educar FCE - Março 2019

aprendizagem. Embora as dificuldades de As intervenções psicopedagógicas se


aprendizagem estejam mais presentes nas fundamentaram na reestruturação da
pesquisas dos últimos anos, as informações apresentação dos conteúdos curriculares em
ainda apresentam concisões temáticas no relação às vivências das classes regulares. As
âmbito escolar; as concepções docentes são ações foram desenvolvidas em consonância
difusas e desconhecem a definição científica ao ensino escolar cotidiano significativo
das dificuldades de aprendizagem. Smith das crianças, pois as dificuldades se
(2001. p. 15) “Para começo de conversa, o desenvolveram de forma cumulativa no
termo dificuldades de aprendizagem refere- processo de escolarização. Parafraseando
se não a um único distúrbio, mas a uma Lacan (1964/1968), a maioria dos problemas
ampla gama de problemas que podem afetar de aprendizagem têm a ver com a instalação
qualquer área do desempenho acadêmico”. do registro simbólico, ou seja, como a criança
concebe a sua impressão de mundo e como
Ao abordar as considerações deste ela exterioriza as suas impressões nas suas
estudo a transformação em palavras, do vivências da família à escola e sociedade.
que foi feito faz sentido através do que
foi construído essencialmente com bases Nas orientações individuais, observou-
afetivas, humanas e valorativas e no se que consequentemente os registros dos
potencial das crianças atendidas. Embora, alunos eram comprometidos ao nível de
ao descrever o que se estudou, pode-se compreensão das professoras das classes
perder o dinamismo das ações simultâneas regulares. A cognição é um processo ao qual
e das nuances dos sentimentos conflitantes o aluno demonstra sua origem; à medida que
e divergentes, poiso foco psicopedagógico estabelece relações de significado é que a
procurou não incorrer em discrepâncias estrutura cognitiva se constitui e define os
entre o que as crianças eram capazes de pontos básicos de ancoragem e numa cadeia de
fazer e o que elas realmente produziram cognições outros significados são construídos.
após as intervenções psicopedagógicas, De
acordo com Bossa (1999). “O homem é um Entretanto, este estudo identificou que
ser que possui raízes espaços-temporais: é os objetos de aprendizagem que constam
um ser situado no mundo e com o mundo. nas propostas curriculares emitidas pelos
É um ser de práxis, compreendida como órgãos oficiais caracterizam uma práxis
ação e reflexão dos homens sobre o mundo, deficiente, porque repete mecanicamente
com o objetivo de transformá-lo. “As os conhecimentos científicos retirados
situações vivenciadas indicaram progressos dos livros didáticos sem a elaboração
significativos que fortaleceram vínculos metodológica e o planejamento adequado
essenciais às aprendizagens dos alunos nos ao nível de dificuldade dos alunos com
grupos atendidos, sendo demonstrados rendimento abaixo das expectativas dos
avanços futuros nas avaliações propostas. objetivos curriculares do ensino.

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Revista Educar FCE - Março 2019

As ações psicopedagógicas foram escolaridade; alcance da previsão IDEB(Índice


direcionadas às adequações, também de Desenvolvimento da Educação Básica)
considerando o trabalho concomitante da para 2011/2013; diminuição dos índices de
recuperação contínua prevista em lei. A evasão e repetência no Ensino Fundamental
avaliação e ação diagnóstica, procedeu- I; ampliação do tempo de permanência dos
se com base nas hipóteses linguísticas e alunos na escola.
operacionais linguísticas e matemáticas,
embora a escolarização aliada a repetição se As classes foram organizadas com alunos
caracterizou pela negação e contraposição das diferentes classes, de faixas etárias
não valorativa das experiências dos alunos. O aproximadas e atenderam às necessidades
que em relatos provou-se pela necessidade de aprendizagem diagnosticadas pelos
do gerenciamento dos sentimentos negativos professores em sala de aula regular e
de auto depreciação, aversão, irritabilidade principalmente através dos resultados
às atividades acadêmicas e ao ato de mensurados na Prova São Paulo. A
aprender. Segundo Bossa (1999, p.22), “o organização dos horários das aulas do
campo das dificuldades escolares é marcado programa teve a duração de 60(sessenta)
por concepções que sempre privilegiaram um minutos distribuídos em 45(quarenta e cinco)
aspecto do ser humano, desconsiderando a minutos para as aulas propriamente ditas e
complexidade de que a questão impõe.” 15(quinze) minutos destinados à organização
das turmas, alimentação, higienização e fluxo
de entrada e saída.
OSCONTEXTOS E OS
ESPAÇOS DE APRENDIZAGEM Na prática pedagógica priorizou-se
nos Estudos de Recuperação Paralela
DA RECUPERAÇÃO PARALELA os componentes curriculares de Língua
Neste estudo de caso, foram observadas as Portuguesa e Matemática, considerando que
turmas dos 5º anos do Ensino Fundamental ambos constituem condição e instrumento
de 09 (nove) anos. Esta Unidade Escolar para o domínio dos demais componentes
envolvida no Programa formou 08(oito) curriculares.
classes perfazendo um total de 80(oitenta)
crianças, divididas em 04(quatro) classes na Os objetivos básicos da recuperação
disciplina de Língua Portuguesa e 04(quatro) paralela foram estudados a partir de uma
classes na disciplina de Matemática. As metas abordagem psicopedagógica considerando:
básicas da Recuperação Paralela nos anos de o planejamento das situações de
2018 com provisão para 2019, são: todos os aprendizagem; a organização de estratégias
alunos alfabetizados ao final do 3º ano do metodológicas específicas para os alunos
EF (8 anos de idade);todos os alunos com com dificuldades de aprendizagem e que
conteúdos adequados ao ano do ciclo de obtiveram resultados de proficiência abaixo

1760
Revista Educar FCE - Março 2019

do básico na Prova São Paulo; a aplicação de dos interesses pessoais das escolhas, e a
estratégias didáticas com o aprimoramento impessoalidade define a responsabilidade do
dos hábitos de estudo; a desconstrução da coautor nas escolhas.”(Moreira, 1982 p. 12).
ideia de “reforço” escolar como meio de
reposição de defasagens de aprendizagens, A alfabetização matemática se
ao contrário enfatizando a necessidade da desenvolveu especificamente de forma
continuidade e revisão das dificuldades paralela a partir do diagnóstico pontual
de aprendizagem como características das dificuldades e abrangência destas no
individuais; e a reorganização de diferentes rendimento escolar dos alunos, sendo cada
estratégias de aprendizagem no decorrer do qual com sua dificuldade de aprendizagem
período com a reestruturação contínua de e principalmente a abrangência destas no
agrupamentos produtivos. rendimento escolar. Para o desenvolvimento
das habilidades de cálculo e raciocínio
operacional. Sequências didáticas foram
A PRÁXIS PSICOPEDAGÓGICA construídas e aplicadas em função dos
NA RECUPERAÇÃO PARALELA níveis de aprendizagem de cada grupo e
suas hipóteses de leitura, escrita e cálculo.
A organização de espaços contínuos de Com o apoio pedagógico essencialmente do
leitura e escrita, principalmente funcionais material dourado, jogos de percurso, bingos
e espontâneas, visou a reconstrução e a numéricos, dominó das operações, dominó
identificação de informações específicas de de formas geométricas.
acordo com os gêneros, e assim possibilitar
a motivação ao aprendizado significativo A valorização dos conhecimentos prévios
da leitura e consequente necessidade da adquiridos e como estes se apresentaram nos
representação escrita. níveis de compreensão do raciocínio lógico
de cada aluno, foram fatores fundamentais
A busca de informações de interesse nos espaços de aprendizagem e a adequação
próprio para que os alunos aprendessem a produtiva do material didático produzido e
usar os portadores de textos (livros, revistas elaborado.
e jornais) caracterizou o sentido de que
as decisões humanas nas relações sociais
são pertinentes ao consenso dos grupos
e a sua interdependência sociocultural
é que favorece a construção do próprio
determinismo. “O significado pessoal
é produto dos intentos originados nas
relações interpessoais. Na cadência das
relações origina-se intensidade e decadência

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MAPEAMENTO E Foi Jean Piaget (1896-1980) um dos


DESCRITORES DA primeiros a afirmar que o erro é necessário
quando se quer aprender. Para ele, a
APRENDIZAGEM aprendizagem se dá por um processo que
SIGNIFICATIVA NO ENSINO chamou de autorregulação: a correção ou
DA LÍNGUA PORTUGUESA E a manutenção de uma ação tendo em vista
um resultado a alcançar. Essas adaptações
MATEMÁTICA são chamadas de feedback positivo (que
A compreensão do que a escrita pode ser mantido, pelo menos no momento)
representa para a criança passa por estágios e o negativo (que precisa ser revisto e
de evolução a partir do não alfabético que abandonado). Ao mostrar um erro para o
reflete a construção interna das sílabas; a aluno e propor que reflita sobre ele, você
cada nova hipótese de escrita observa-se dá dois tipos de feedback, que vão ajudá-lo
que naturalmente a criança faz os ajustes nas a mudar suas hipóteses sobre o conteúdo.
representações fonológicas e assim acomoda Reitera-se a afirmação de Fernandez (1991,
de forma progressiva os constituintes p.110), “Uma aprendizagem normal supõe
para formação de sílabas e palavras em uma modalidade de aprendizagem na qual se
formas hierárquicas até que as resoluções produza um equilíbrio entre os movimentos
cognitivas evoluam a necessidade autônoma assimilativos e os acomodativos.”
da utilização das sílabas complexas.
Os alunos deste programa não
O mapeamento das dificuldades na Língua apresentaram problemas de aprendizagem
Portuguesa, apontaram que nos níveis sobre uma estrutura psicótica, ao contrário
conceitual e procedimental dos alunos com expressaram sintomas de ordem de
dificuldades de aprendizagem apresentaram hipoassimilação(falta de contato e espaços de
os seguintes desvios nos padrões da escrita: interpretação de assuntos e conhecimentos
Interferência da fala nas regularidades que exigem a abstração e a subjetividade;
contextuais, desconhecimento da origem superestimação; falta de iniciativa; rigidez
etimológica; trocas fonéticas envolvendo sem análise das regras e comportamentos
a representação de fonemas surdos e padronizados nas relações do contexto
sonoros; a representação na nasalidade; escolar) hiperacomodativa (falta de contato
concordâncias verbais distorcidas; com objetos diversos de conhecimento da
pontuação; segmentação de palavras, cultura letrada, dificuldades na internalização
períodos, parágrafos e formatação estrutural de imagens, estimulação deficitária da família,
dos textos produzidos; uso de mecanismos e abono por parte da família ou escola).
de coesão com referencial e sequencial de
usos próprios. As dificuldades de aprendizagem dos
alunos nos grupos atendidos apresentaram

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reações ao sistema educacional que das variações ortográficas produzidas


provocaram o desequilíbrio e defasagem pelos alunos, como recurso avaliativo das
das construções sequenciais dos conteúdos hipóteses e a proposição de estratégias
curriculares e alfabetização deficitária. Weiss didáticas que estivessem de acordo com a
(2008. P. 95) “A alfabetização é resultante da compreensão dos atos de aprendizagem dos
interação entre a criança, sujeito construtor alunos em suas produções espontâneas. A
do conhecimento e a língua escrita.” exigência da formalização escrita dentro das
seriações do currículo escolar, como uma
Os sintomas dos alunos incluídos neste das dificuldades na escrita e leitura, e assim
programa expressaram a dificuldade de uma questão voltada a problemática da
ressignificação interna dos conhecimentos metodologia escolar. Como aponta Fernadèz
anteriormente construídos, o que direcionou (1991) “a aprendizagem é um processo
o trabalho pedagógico da professora da que se significa familiarmente, ainda que
recuperação em não direcionar o trabalho se aproprie individualmente, intervindo o
aos sintomas individuais, ao contrário a organismo, o corpo, a inteligência e o desejo
valorização das produções e a mobilização do aprendente e também do ensinante, mas
dos fatores sócio afetivos. o desejo é necessariamente o desejo do
outro.”
A permanente reconstrução dos
conhecimentos e inclusão de novas O sentido da Aprendizagem Significativa
aprendizagens favoreceu a superação propiciou compreensão de que na área das
do paradigma do sintoma-problema de linguagens, comunicação e tecnologias,
aprendizagem como fator coercitivo do as crianças aprendem a se comunicar com
fracasso escolar. clareza os sentidos das ideias através dos
sentimentos vividos e experiências nos
Nas expectativas de ensino da Língua contextos dos espaços educativos. Nos
Portuguesa na Recuperação Paralela, do grupos atendidos a proposta de identificação
ponto de vista didático a aprendizagem da das dificuldades e a aplicação das atividades
ortografia se caracterizou a partir de um se desenvolveram através da: produção
sistema sonoro (fonológico) e um sistema individual e coletiva de textos a partir do
gráfico(ortografia) e a identificação de como levantamento de interesses dos alunos
ocorreu a construção dos alunos na relação (brincadeiras, sentimentos, brinquedos, lazer
de ambos os sistemas, sabendo-se que a e atualidades pertinentes ao mundo infantil).
criança reconstrói as relações entre ambos
os dois sistemas. Em geral, os textos elaborados pelos
alunos eram analisados junto à professora
A ação diagnóstica psicopedagógica, com o objetivo de serem revisitados quanto
considerou a identificação qualitativa a linguagem e revisão ortográfica. Uma das

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problemáticas diagnosticadas foi a restrição A aplicação de leituras significativas e


das professoras das classes regulares em adequadas às faixas etárias dos alunos
não possibilitar a expressão da linguagem propiciou desde o diagnóstico a avaliação da
cotidiana das crianças no processo de apreensão do sentido global de um texto, a
construção da escrita, havendo a substituição capacidade de síntese, a noção sequencial
pela própria forma de expressão. e temporal das histórias, o estabelecimento
das hierarquias entre os fatos principais e
As principais dificuldades ortográficas secundários, a identificação das relações de
diagnosticadas nas produções dos alunos causalidade, a inclusão de acontecimentos
são: omissão do “R” em final de palavras; menores e parciais nos contextos dos
representação das vogais postônicas nas diferentes textos.
formas verbais da 3ª pessoa do plural; troca
do “E” – pretônico ou postônico por “ I “; Na Matemática os conteúdos curriculares
troca de “O” – pretônico ou postônico – por foram desenvolvidos, a partir da revisão das
“U”; omissão do “R” no infinitivo dos verbos; expectativas de aprendizagem os conteúdos
troca de “L” por “U”; trocam as letras c/ç, c/ curriculares do Ensino Fundamental, e as
qu, r/rr, m/n, em regularidades contextuais; experiências vivenciadas pelos alunos na
apresentam erros por interferência da resolução de problemas cotidianos.
fala na escrita do radical; realiza trocas de
fonemas surdo/sonoro; revela problemas na As áreas do conhecimento foram aplicadas:
representação da nasalização. a construção da notação de números
decimais a partir dos números naturais;
Através da análise diagnóstica das a reconstrução do uso sociocultural de
produções textuais, constatou-se que: as números com vírgulas no Sistema Monetário
crianças não dominam as regras básicas Brasileiro; a contagem e a representação de
de concordância nominal e verbal da língua números decimais; resolução de situações
padrão; escrevem com problemas de aditivas e multiplicativas significativas
segmentação de palavras; não empregam com números decimais; a representação
pontuação; não segmentam o texto em de múltiplas formas um número racional
parágrafos; não dispõe a estrutura textual no material concreto com representações
de acordo com as convenções, usam pictóricas e a própria escrita matemática.
basicamente as repetições de palavras
para justificar a coesão referencial; utilizam As ações diagnósticas consideraram o
de conectores próprios da oralidade para mapeamento das formas de organização
estabelecer a coesão sequencial das ideias e de raciocínio dos alunos, o cálculo
representadas. mental e a identificação da possibilidade
das diferentes maneiras de resolução de
situações matemáticas. As regularidades

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quantitativas, a diferenciação da função dos imediatas) e simbólico (interage com o meio


algarismos e a reconstrução pelos alunos através da linguagem e conhecimentos
da noção de número foram ensinadas significativos às suas vivenciais sociais;
através da construção de quantidades em e ainda a pertinência da distinção entre
representação ao quadro decimal. o conhecimento significante e o sentido
que este provoca para que se atribua um
Para significado ao conhecimento construído).

Weiss (2008.p.99) “A avaliação do cálculo é feita Nas avaliações diagnósticas individuais


em dois níveis: o cálculo mental e a execução dos e coletivas (agrupamentos produtivos),
cálculos escritos. Na parte escrita, há inúmeros apresentou melhor desenvolvimento os
aspectos a serem avaliados: a capacidade alunos que verbalizaram suas experiências
de estruturar graficamente, a construção do
na resolução dos exercícios práticos e
algoritmo das operações, o conhecimento
sistêmicos.
do sistema decimal e valor posicional dos
algarismos, as propriedades das operações, a
Na avaliação do nível pedagógico,
combinação das operações nos vários tipos de
expressões. É fundamental se captar a relação
observamos meios para distinguir
do cálculo mental executado por escrito, para criteriosamente as dificuldades relacionadas
ver se há coincidência ou discrepância e em que ao processo evolutivo da construção do
consistem(aspectos figurativos e operativos).” conhecimento no domínio cognitivo e
as possíveis relações destes com a má
condução do processo didático pedagógico
Esta análise procedimental traduz e as inferências externas nas possibilidades
a utilização primordial dos materiais dos alunos construírem e consolidarem o
disponibilizados para a representação das conhecimento.
resoluções mentais, já que estas já são
realizadas na vida prática como: divisão de As situações preponderantes desta
brinquedos, regras em brincadeiras, divisão situação caracterizam algumas discrepâncias
e representação dos espaços, e assim a na identificação dos sintomas e construção
descoberta de outras maneiras de resolução do diagnóstico como: a frequência variável
integrada das quatro operações. dos alunos, metodologias usadas nas aulas,
o processo de alfabetização, as hipóteses de
Os níveis cognitivos dos alunos em organicidade das crianças com dificuldades
relação ao pensamento lógico-matemático, de aprendizagem que apresentaram laudos
foram considerados nas operações mentais médicos de TDA (Transtorno do Déficit de
e construídas com base nos pensamentos Atenção), TDHA(Transtorno do Déficit de
autístico(o sujeito está situado no centro Atenção com Hiperatividade), Dislexia grave
e obedece somente as suas percepções e síndromes diversas. Ainda se considerou

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pela equipe a necessidade de encaminhamentos mais específicos e detalhados com equipe


multidisciplinar visando também a melhor orientação e acompanhamento familiar.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em todos os meios que circundam a Educação, identificamos a
preocupação quanto à revisão conceitual das influências causadas
pelos paradigmas metodológicos tradicionais. Estes ainda avaliam o
desempenho escolar através do imediatismo e sequer apresentam
a preocupação com a revisão das concepções espontâneas que os
alunos trazem de seus cotidianos e vivências significativas.

Os currículos escolares são organizados em torno de conjuntos
de disciplinas nitidamente diferenciadas; caracterizadas por
ritos procedimentais, domínios obsoletos e desconectados às FLÁVIA APARECIDA
experiências das crianças. A escola carece de significados e não MIRANDA
se abstém da práxis sistêmica que processualmente aumenta os
Graduação em Pedagogia pela
índices de crianças com dificuldades de aprendizagem nas classes Universidade Presbiteriana
regulares do Ensino Fundamental. Mackenzie(1992); Especialista em Gestão
Escolar pela Faculdade de Educação
As práticas docentes generalizam suas concepções de ensino da Universidade São Paulo (1998);
de que a criança não aprende porque tem problemas orgânicos Psicopedagogia Clínica e Institucional
e psicológicos. As igualdades e as diferenças não são valores pela Universidade Nove de Julho
absolutos, entretanto apresentam relatividade entre os fatores: (2011); Distúrbios do Desenvolvimento
biológico, geográfico, cultural, econômico e educacional. As Infantil pela Universidade Presbiteriana

brasilidades marcam as diferenças na constituição real do nosso Mackenzie (2013); Educação Inclusiva

cenário escolar, entretanto ainda presume-se a concepção de pela Universidade de Brasília (2015);

igualdade como condição geral de comportamentos aceitáveis e Surdez e Deficiência Auditiva pela

premissas estabelecidas à condição do “aprender”. Universidade Estadual “Julio de


Mesquista” – UNESP(2017); Professora

do Ensino Fundamental na EMEF “Plínio
A criança que corresponde aos padrões aceitáveis é
Ayrosa” e CEU EMEF “Jardim Paulistano”.
economicamente produtiva e politicamente valorizada pelo
sistema. O que gera o fracasso escolar é o produto dos atos de aprendizagem inócuos de significado,
estes criam mecanismos psicológicos de defesa psicológica e afetiva, e assim a criança sem apropriação
do significado real do que erroneamente aprende, produz formas de interpretar, entender e significar
o próprio mundo. Quando estas apropriações não condizem com a realidade circundante, origina-se
a dificuldade de aprender o estabelecido pela escola e pelo professor.

A capacidade do ser humano em desenvolver a reversibilidade do pensamento e as habilidades


construídas no decorrer de um processo que chamamos de “aprendizagem”, deve ser dinâmico, criativo
e prioritariamente respeitar a alteridade da criança em todos as suas aprendizagens curriculares.

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REFERÊNCIAS
BOSSA, Nadia – Fracasso Escolar: um olhar psicopedagógico, Porto Alegre: Artmed, 1998.

MASSINI, Elcie F. Salzano – Psicopedagogia na escola: buscando condições para a


aprendizagem significativa, Ed. Loyola 4ª edição, 1993.

FERNANDÈZ, Alicia – A inteligência Aprisionada; tradução Iara Rodrigues – Porto Alegre:


Artmed, 1991.

WEISS, Maria Lúcia Lemme – Psicopedagogia Clínica – uma visão diagnóstica dos problemas
de aprendizagem escolar, Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.

SMITH, Corine – Dificuldades de Aprendizagem de A a Z – Porto Alegre: Artmed. 2001.

FONSECA, Vitor – Introdução às dificuldades de Aprendizagem – Porto Alegre: Artmed, 2ª


edição,1995.

PAIN,Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre:Artes


Médias, 1985

VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

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