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CUIDAR, EDUCAR E BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM OLHAR


SOBRE A CRECHE
Lilian Cristina de Oliveira
Vivian Layane de Oliveira
Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho”- UNESP
Faculdade de Ciências e Tecnologia- Campus de Presidente Prudente
Curso de Licenciatura em Pedagogia

INTRODUÇÃO

O presente artigo reflexivo, terá como tema “cuidar, educar e brincar”, elaborado na
disciplina de “Estágio na Educação Infantil: Aprendizagem da Docência e Gestão do
Ensino na Creche”, de acordo com as experiências e observações ocorridas nas escolas
municipais de Presidente Prudente.
Desde da promulgação da Lei 9.394/96, atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, a educação infantil nas creches tornou-se um debate mais presente em nossa
sociedade. Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, a creche passou a existir,
porém com um caráter assistencialista, eram vistas como um local somente de cuidados,
entretanto essa visão mudou e atualmente, no século XXI, há uma preocupação da
creche ser um ambiente de aprendizado e desenvolvimento integral à criança em seus
aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da
comunidade.
Com as mudanças, o brincar, cuidar e educar são os três elementos que andam juntos na
educação infantil, os quais contribuem de forma essencial para o desenvolvimento da
criança, e por isso cabem as escolas de Educação Infantil utilizarem métodos e
conhecimentos pedagógicos para o bom aproveitamento das aulas, assim tornando
prazerosa e produtiva.

DESENVOLVIMENTO

A rotina do professor de educação infantil consiste em três aspectos: brincar, educar e


cuidar. No presente trabalho iremos fazer uma análise entre duas escolas municipais de
educação infantil, a primeira localizada no bairro Humberto Salvador e a outra no bairro
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Residencial Universitário, ficam em extremidades diferentes da cidade de Presidente


Prudente. Os nomes das escolas serão chamados de Creche 1 e Creche 2, uma localizada
em um bairro de classe média e a outra em um bairro de classe baixa, não vamos citar
os nomes das escolas para a preservação da identidade das escolas e dos funcionários.
 BRINCAR
O Brincar é uma das atividades mais importantes na vida do indivíduo, principalmente
quando criança, por meio dessa ação, a criança tanto trabalha com suas potencialidades
como também trabalha com suas limitações, porém, infelizmente, essa ação é rotulada
nas escolas como “perda tempo”, sem finalidade alguma, visto muitas vezes pelos pais
dos alunos de maneira “negativa”, assim dificultando e criando barreiras no trabalho do
professor ou educador pelo falta de informação ou estereótipo sobre isso, pois no século
XIX e XX, a creches eram de cunho assistencialista, de acordo com autora Zilma
(OLIVEIRA, 1998, p. 47),
Em geral, o trabalho junto às crianças nas creches era de cunho
assistencial-custodial. A preocupação era com alimentar, cuidar da
higiene e da segurança física. Não era valorizado um trabalho voltado
para a educação, para o desenvolvimento intelectual e afetivo das
crianças.

No estágio obrigatório realizado em uma das escolas municipais de Presidente Prudente,


a diretora me contou sobre como há falta de informação por parte da família sobre a
creche, e que associam a ideia principal de assistência à criança apenas aos cuidados da
higiene e alimentação, e que muitas vezes escutou comentários dos pais sobre a
“ausência de tarefas de casa”, ou seja, queriam tarefas de casa, atividades aos seus
filhos, por isso cabem nas reuniões da escola, os professores conversarem e explicarem
como são as aulas e o porquê a ação do brincar entre as crianças é de suma importância
e deve ser valorizado nas aulas, pois as brincadeiras servem de aprendizagem e ensino.,
trazendo experiências, fantasias, criatividade e emoções. Segundo, as autoras,
No decorrer do desenvolvimento integral, a criança cresce e
compreende a realidade por meio de brincadeiras e do faz de conta,
que em alguns momentos são representações da vida adulta. A criança
também libera emoções de diferentes origens e intensidades,
demonstrando suas preferências e seus interesses pessoais.
Brincando de formas variadas, entre elas, sozinha, com outras crianças
ou pessoas, ela elabora conceitos e, progressivamente, vai integrando
com seu mundo, ou seja com a realidade vivida. (GUSSO e
SCHUARTZ, 2005, p. 239)

Por de trás da brincadeira, a criança desenvolve integralmente, e também as crianças


compreendem papéis sociais, avaliam soluções, negociam, fazem estimativas, planejam,
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além de socializarem com seus pares. Uma das opções de espaço educativo é a
brinquedoteca, um espaço preparado para estimular a criança a brincar, possibilitando o
acesso a uma variedade de brinquedos, dentro de um ambiente apropriado e
especialmente lúdico, é um lugar onde te convida a explorar, a sentir, a experimentar e a
fantasiar, embora seja um espaço rico de opções, a brinquedoteca é apenas uma das
opções à criança, pois segundo a autora PAVAN (2003, p. 52), a brincadeira pode
acontecer em qualquer tempo, em qualquer lugar, inclusive na sala de aula.
...a atividade do brincar não se restringe apenas ao espaço da
brinquedoteca, ou ao parque, ou qualquer outro espaço definido para
este fim. A brincadeira pode acontecer em qualquer tempo, em
qualquer lugar...E não é preciso muito para que ela realmente
aconteça, do ponto de vista da criança

O pedagogo deve prestar atenção e se perguntar se a sala de aula que se encontra


promove e traz conforto, estímulo, desafio e provocam seus alunos, isto é, um espaço
organizado com finalidades e objetivos e não apenas por estar. A classe deve provocar
emoções e reações aos alunos, deve-se convidar a entrar em mundo cheio de fantasia e
experiência.

(...) Organizar cantinhos em que ela possa explorar diferentes


propostas e que contemplem diferentes linguagens é outra
possibilidade interessante para os objetivos pedagógicos - um canto
com bonecas e palinhas, uma mesa com material gráfico, um espaço
com desafios motores específicos ou com um canto onde ela possa
realizar uma pesquisa sobre algum fenômeno físico.
PAVAN (2003, p. 50)

 CUIDAR
A creche surgiu visando apenas o “cuidar”, decorrente do processo de industrialização e
urbanização do país, sem fins educativos, apenas com a finalidade de prestar assistência.
Atualmente, no século XXI, de acordo com a lei de diretrizes e bases da educação
nacional (LDB), o cuidar e o educar devem agir em conjunto, juntamente com a equipe
pedagógica da instituição, ou seja, é dever da escola a garantia da Educação e do
cuidado a criança, isto é, o desenvolvimento integral do aluno. Segundo a LDB (1996),
Art. 5º A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, é
oferecida em creches e pré-escolas, as quais se caracterizam como
espaços institucionais não domésticos que constituem
estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e
cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em
jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão
competente do sistema de ensino e submetidos a controle social.
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Na escola, que é seu primeiro local de socialização, depois da família, é o lugar onde a
criança deve se sentir acolhida e segura, pois é o lugar que passará a maior parte do dia,
logo os professores devem no processo de adaptação (Primeiros dias, talvez meses), dar
atenção e cuidado a mais, isto é, entendendo o cuidado como algo indissociável do
processo educativo.
É necessário compreender o conceito da palavra “cuidar” na Educação Infantil, de
acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI),
Além da dimensão afetiva e relacional do cuidado, é preciso que o
professor possa ajudar a criança a identificar suas necessidades e
priorizá-las, assim como atendê-las de forma adequada. Assim, cuidar
da criança é sobretudo dar atenção a ela como pessoa que está num
contínuo crescimento e desenvolvimento, compreendendo sua
singularidade, identificando e respondendo às suas necessidades. Isto
inclui interessar-se sobre o que a criança sente, pensa, o que ela sabe
sobre si e sobre o mundo, visando à ampliação deste conhecimento e
de suas habilidades, que aos poucos a tornarão mais independente e
mais autônoma. (BRASIL, 1998, p. 25).

Isto é, o cuidado não são apenas os cuidados da higiene, alimentação, saúde e segurança
da criança, mas sim também as necessidades da criança, a fim do professor ou educador
atende-la de forma adequada. Por isso, é importante o professional da Educação
conhecer o aluno de perto, prestar atenção e entender que cada criança possui sua
singularidade, crença, valores, religião e cultural, e principalmente suas potencialidades
e limitações.
O cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades
das crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas,
podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão
recebendo. (BRASIL, 1998, p. 25).

 EDUCAR

Educar consiste no entrelaço de todos os momentos do dia, desde as brincadeiras,


horário da refeição, até uma ida ao banheiro, são as aprendizagens orientadas de forma
integrada, é uma tarefa constante pois cabe ao professor sempre orientar a criança,
Conforme apresentado no RCNEI, educar significa:
(...) propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens
orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o
desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de
ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito
e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais
amplos da realidade social e cultural. (RCNEI, 1998, p.23)

A família e a escola precisam estar conscientes de seus papéis, pois, a escola não
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trabalha sozinha, é preciso da parceria dos pais onde precisam ajudar na educação do
filho através do diálogo e dos estímulos para um bom desenvolvimento no ensino
aprendizagem.

O educar é hoje, um desafio para os profissionais da infância; pois


sabe-se que o ato de educar apresenta algumas características que o
define como um aspecto formativo e que acontece ao longo dos anos
por meio das experiências pessoais. O aspecto da educação formal por
exemplo, acontece em nível escolar, onde a herança cultural é
trabalhada de forma mais sistemática, numa perspectiva histórica e
socialmente construída. Já no aspecto informal, o educar ocorre
naturalmente nos ambientes em que a criança vive juntamente com os
seus familiares. É então, no ambiente escolar que pretendemos
destacar a forma de convivência da criança com as pessoas que a
cercam.
(GUSSO e SCHUARTZ, 2005, p. 241)

 DURANTE O ESTÁGIO
Durante a observação do estágio nas duas escolas, as crianças passaram a maior parte do
tempo brincando, em cada momento é um conjunto de brinquedos específicos como:
sucatas, bonecas, carrinhos, blocos de montar ou bolas, mas quando possível vão ao
parque, playground, e no tanque de areia. A maneira que a brincadeira irá se
desenvolver é livre, os professores muitas vezes participam também. Antes de se iniciar
as brincadeiras há sempre uma roda de conversa para relembrar os combinados feitos,
neste momento as crianças estão aprendendo a importância de dividir e de como
resolver seus conflitos sem a agressão (no caso mordidas), os professores sempre
incentivam o diálogo entre as crianças, se há uma situação que uma criança quer um
determinado brinquedo que está com a outra ela deve respeitar o tempo que aquela irá
brincar e só depois pedir para que ela possa brincar um pouco agora, assim a criança
aprende lições como compartilhar e esperar. No Projeto Político Pedagógico da creche
1, é bastante valorizado a ação do brincar, tem sugestões e dicas de diversas
brincadeiras que envolvem música, traços, sons, cores e formas, entre outras.
Na creche 1, o cuidado não era valorizado e posto a tamanha e devida importância no
aluno, e a singularidade de alguns alunos não era respeitado. Exemplo de alguns
comentários ouvido na escola “Essa geração, é geração da frescura, chora por qualquer
motivo”, “Você viu? Ela fez cocô nas calças, desse tamanho e ainda faz isso”,
“Nenhuma escola vai te querer”, entre outros. Expressões e falas negativas no cotidiano
da escola, a criança se sentirá constrangida e com medo, assim não sentirá estimulo ou
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prazer nas atividades e brincadeiras, interferindo no desenvolvimento da criança. O PPP


deixa claro que cada criança é única e deve-se ser respeitada, assim como seu ritmo de
aprendizagem, porém isso contradiz, pois os professores da sala que eu fiquei durante
meu estágio, não respeitavam as singularidades de alguns alunos, exemplo: Respeitar a
criança no seu ritmo de aprendizagem, as limitações, entre outros. O Educar é bastante
discutido na sala de aula, pois teve a leitura de uma história envolvendo os direitos da
criança, o professor explicava aos seus alunos o que a criança pode ou não fazer; como,
não aceitar bala, doce ou qualquer outra coisa de estranhos, não sair sozinha, não
trabalhar na infância, entre outros pontos.
Na creche 2, os professores tinham bastante paciência e tranquilidade para auxiliar a
criança de forma correta, como por exemplo, no momento em que todos vão beber água
é sempre comentado a importância de não ficar brincando no bebedouro, pois não se
deve desperdiçar água, e colocar somente na caneca a quantidade necessária,
ressaltando que tais orientações são transmitidas através do diálogo sem haver
necessidade de brigar ou gritar, diferente da creche 1, onde alguns professores não
tinham paciência e resolviam as situações na base do grito.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com as observações durante o estágio foi possível se ter uma ideia de como essas três
áreas estão sendo trabalhadas no dia a dia da criança, apesar da creche ainda ser vista
como um lugar de assistencialismo, apenas de cuidado a criança, pode-se notar o quanto
os professores estão trabalhando para o desenvolvimento social, afetivo, motor e
psíquico das crianças, seja através de histórias, brincadeiras, rodas de conversa e
combinados. Apesar de parecer simples ações são elas que fazem a diferença na
aprendizagem e desenvolvimento da criança. O cuidado não apenas se restringe, a
higiene, a alimentação, saúde e a segurança, mas sim as necessidades do aluno, o
pedagogo deve prestar atenção e entender que cada aluno é único, com seus valores,
crenças, religião e cultura. A brincadeira precisa ser abordada e discutida nas reuniões
de pais, a fim de quebrar o estereotipo, pois a ação de brincar não restringe a distrair ou
passar o tempo da criança na creche, mas sim há finalidades, um trabalho pedagógico
para o aluno se desenvolver através de estímulos e do prazer através do especialmente
lúdico, é um lugar onde te convida a explorar, a sentir, a experimentar e a fantasiar.
Enfim, brincar é tudo de bom e maravilhoso.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Referencial Curricular Para a Educação Infantil. v. 1, Brasília: MEC/SEF,
1998.
BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro
de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.
GUSSO, Sandra de Fatima Kruger e SCHUARTZ, Maria Antonia. A CRIANÇA
E O LÚDICO: A IMPORTÂNCIA DO “BRINCAR”. Pontifícia Universidade
Católica do Paraná, 2005.
OLIVEIRA, Z. de M. R. de. A creche no Brasil: mapeamento de uma trajetória.
Revista da Faculdade de Educação. São Paulo, v.14, n.1, p.43-52, 1988.
PAVAN, Helô. A arte de criar ambientes que educam e O que dizem as paredes da
escola de educação infantil. Avisa Lá, São Paulo, n.13, jan. 2003.
ZANLUCHI, Fernando Barroco. O brincar e o criar: as relações entre atividade
lúdica, desenvolvimento da criatividade e Educação. Londrina: O autor, 2005.

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