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MARIA GORETE GONÇALVES FARINHA

A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL:


A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR COMO FACILITADOR DA
APRENDIZAGEM

São Paulo
2017
MARIA GORETE GONÇALVES FARINHA

A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL:


A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR COMO FACILITADOR DA
APRENDIZAGEM.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro


Universitário Anhanguera de São Paulo, como requisito
parcial para a obtenção do título de graduado em
Pedagogia.

Orientadoras: Ana Paula Monteiro Portes

Ana Claudia Froes Kassa


São Paulo

A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL:

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR COMO FACILITADOR DA

São Paulo

2017
A IMPORTÃNCIA DO BRINCAR COMO FACILITADOR DA
APRENDIZAGEM

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro


Universitário Anhanguera de São Paulo, como requisito
parcial para a obtenção do título de graduado em
Pedagogia.

BANCA EXAMIINADORA

Prof (ª). Titulação Nome do Professor (a)

Prof (ª). Titulação Nome do Professor (a)

Prof (ª). Titulação Nome do Professor (a)

São Paulo, 7 de dezembro de 2017.


Dedico este trabalho primeiramente а
Deus, por ser essencial em minha vida,
autor de meu destino, mеυ guia, socorro
presente na hora da angústia, ао mеυ pai
Sergio (in memorian), minha mãe Esther
(in memorian) que onde quer que estejam
е minhas filhas Estella e Angella pela
paciência e apoio.
AGRADECIMENTOS

“Sonho parece verdade quando a gente esquece de acordar”. Hoje, vivo uma
realidade que parece um sonho, mas foi preciso muito esforço, determinação,
paciência, perseverança, ousadia e maleabilidade para chegar até aqui, e nada
disso eu conseguiria sozinha. Minha terna gratidão a todos aqueles que
colaboraram para que este sonho pudesse ser concretizado”.
FARINHA, Maria Gorete Gonçalves. A Ludicidade na Educação Infantil: A
importância do brincar como facilitador da aprendizagem. 2017. 33 folhas. Trabalho
de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia) – Centro Universitário
Anhanguera de São Paulo, São Paulo, 2017.

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo levar os profissionais da educação a refletir e ter
um novo olhar sobre a importância da ludicidade na educação infantil e de como
estas atividades ajudam a criança na construção do conhecimento, na
comunicação consigo mesma e com o mundo, estabelecendo relações sociais,
facilitando a sua aprendizagem e desenvolvendo-se integralmente. Ainda a
algumas considerações sobre os jogos, brincadeiras, brinquedos e a contribuição
do brincar no processo de desenvolvimento das crianças, tanto no aspecto
cognitivo quanto nos aspectos da imaginação e da criatividade; e buscando
estabelecer a importância do papel do educador neste processo, que precisa estar
em permanente formação para compreender que as suas práticas pedagógicas
sejam significativas em sala de aula.

Palavras-chave: Educação Infantil. A Ludicidade. O Brincar. Aprendizagem.


FARINHA, Maria Gorete Gonçalves. The Ludicidad in the education of children:
The importance of playing as facilitator of learning. 2017. 33 sheets. Course
Completion Work (Graduation in Pedagogy) - University Center Anhanguera de São
Paulo, São Paulo, 2017.

ABSTRACT

This work aims to lead educational professionals to reflect and take a new look at
the importance of playfulness in early childhood education and how these activities
help children in the construction of knowledge, in communication with themselves
and with the world, establishing social relationships, facilitating their learning and
developing fully. Also to some considerations about the games, games, toys and
the contribution of the play in the process of development of the children, as much
in the cognitive aspect as in the aspects of the imagination and the creativity; and
seeking to establish the importance of the role of the educator in this process, who
needs to be in permanent formation to understand that his pedagogical practices
are meaningful in the classroom.

Key words: Childhood education. The Ludicidad. To play. Learning.

Keywords: Childhood Education; The Play; Learning.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

- LDBEN – Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

- RCNEI – Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil

- CF – Constituição da República Federativa do Brasil


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO………………………………………………………………………… 10

1 - A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL …………………………………. 12

2 - A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NO CONTEXTO ESCOLAR……………… 19

3 - OS BRINQUEDOS, AS BRINCADEIRAS E OS JOGOS …………………… 25

CONSIDERAÇÕES FINAIS …………………………………………………………. 30

REFERÊNCIAS………………………………………………………………………. 32
INTRODUÇÃO

A infância é a idade do brincar, fase das descobertas e é um período


fundamental para a criança no que diz respeito ao seu desenvolvimento e
aprendizagem de forma significativa. A ludicidade no contexto escolar ou uma das
maneiras mais eficazes de envolver o infante no universo da imaginação, pois no
brincar ela oportuniza a sua forma de trabalhar, refletir e descobrir o mundo que a
cerca. Na escola a aprendizagem depende em grande parte da motivação: as
necessidades e os interesses da criança são mais importantes que qualquer outra
razão para que ela se ligue a uma atividade. Pensando na participação dinâmica
da criança nesse processo, devem ser levados em conta seus interesses e
necessidades e os educadores devem ter bem claros esses objetivos.
O que pode-se perceber é que em algumas escolas de Educação Infantil
existe ainda uma aprendizagem apoiada em métodos mecânicos e abstratos,
totalmente fora da realidade do infante e de como as atividades lúdicas são
descartadas, ou sofrem distorções sobre a sua real função. Portanto, foi pertinente
desenvolver esta pesquisa com bases sólidas sobre o tema ludicidade, centrado no
brincar como facilitador do desenvolvimento das potencialidades infantis.
A problemática que deu origem a este tema foi: “O por que os profissionais
da educação infantil não dão a devida importância as práticas educativas de
ludicidade e de como elas podem ser ferramentas facilitadoras à aprendizagem? ”
Essa pesquisa também procura, de forma relevante, levar aos educadores da
educação infantil a algumas reflexões sobre a importância do brincar e da atividade
lúdica, no desenvolvimento infantil, para que comecem a realizar um trabalho
pedagógico focado na infância e em suas especificidades, podendo beneficiar as
crianças e contribuir para uma orientação que as considere como sujeitos principais
do processo de aprendizagem.
O objetivo central deste é oportunizar aos profissionais da educação a
compreensão do significado e da importância das atividades lúdicas na educação
infantil, procurando provocá-los, para que insira o brincar em suas práticas

10
pedagógicas e projetos educativos, com intencionalidade, objetivos e consciência
clara de suas ações em relação ao desenvolvimento e à aprendizagem infantil.
O primeiro capítulo falará sobre a ludicidade, tendo como o objetivo
específico: trazer um novo olhar para a ludicidade e sobre a sua importância na
aprendizagem escolar. O segundo capítulo será direcionado a importância do
brincar, tendo como o objetivo específico: fazer do brincar a base primordial para a
aprendizagem, o convívio social, respeitando a natureza da criança entre outros
aspectos que venham a favor uma educação significativa. O terceiro capítulo está
relacionado aos jogos, brinquedos e brincadeiras, objetivando especificamente:
entender como os jogos, brinquedos e brincadeiras estimulam o desenvolvimento
psicológico, intelectual, emocional, físico motora e social das crianças.
Os referenciais teóricos e bibliográficos estão baseados em livros de autores
especialistas no tema: Vygotsky(1989), Piaget(1987), Kishimoto(1994), Rau(2011),
Luckesi(2002) entre outros que vem fortalecer a proposta na defesa sobre a
importância da ludicidade na Educação Infantil e de como é primordial para o ensino
dos pequenos em sua primeira fase.

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1 - A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A ludicidade é a linguagem da criança e é no brincar que a ela se expressa.


Sem o lúdico, a escola pode ser considerada pelas crianças como um lugar
desmotivador, por não corresponder as suas expectativas e suas formas de
expressão. As atividades lúdicas devem objetivar momentos prazerosos através de
brincadeiras enriquecedoras na no contexto escolar. O lúdico propicia e favorece
aos infantes o seu desenvolvimento integral e uma aprendizagem significativa. Para
que isso aconteça é preciso que o educador como mediador desse processo,
preocupe-se em como e para que ela está sendo aplicada, ou seja, qual a sua
intencionalidade. Toda criança que participa de atividades lúdicas, adquire novos
conhecimentos e desenvolve habilidades de forma natural e agradável, gerando o
interesse em aprender de forma prazerosa. Na educação infantil, a criança brinca,
joga e se diverte através das atividades lúdicas. (SILVA, Portal Educação, artigo,
2013)
Para Luckesi (2004), a ideia de ludicidade está associada à experiência
interna dos indivíduos. A ludicidade para esse autor se expande, pois, para além
da ideia de lazer restrito à experiência externa, ampliando a compreensão para um
estado de consciência pleno e experiência interna:

[…]quando estamos definindo ludicidade como um estado de consciência,


onde se dá uma experiência em estado de plenitude, não estamos falando,
em si das atividades objetivas que podem ser descritas sociológica e
culturalmente como atividade lúdica, como jogos ou coisa semelhante.
Estamos, sim, falando do estado interno do sujeito que vivência a
experiência lúdica. Mesmo quando o sujeito está vivenciando essa
experiência com outros, a ludicidade é interna; a partilha e a convivência
poderão oferecer-lhe, e certamente oferece, sensações do prazer da
convivência, mas, ainda assim, essa sensação é interna de cada um,
ainda que o grupo possa harmonizar-se nessa sensação comum; porém
um grupo, como grupo, não sente, mas soma e engloba um sentimento
que se torna comum; porém, em última instância, quem sente é o sujeito.
(LUCKESI, 2004, p. 6)

12
Conforme Piaget, “a atividade lúdica é um princípio fundamental no
desenvolvimento das atividades intelectuais da criança, portanto, é indispensável a
prática educativa” (…) Sendo, assim, o lúdico desenvolvendo nelas a imaginação,
raciocínio, criatividade, espontaneidade, autoestima e a socialização.
(PIAGET,1987)
De acordo com o RCNEI (1998) há referências do que se espera da criança
na instituição infantil:

Quando a criança entra na instituição de educação infantil, é esperado que


ela amplie seu universo inicial, considerando a convivência com outras
crianças e com adultos de origens e hábitos culturais diversos, de aprender
novas brincadeiras, de adquirir conhecimentos sobre realidades distantes.
Também percebe a si e os outros como diferentes, possibilitando que
possam acionar seus próprios recursos, representando de modo o
desenvolvimento da autonomia. (RCNEI, 1998, p. 14)

O desenvolvimento integral da criança considera a integração das áreas


cognitiva, afetiva, sensório-motor e social. Neste sentido, seria importante uma
reflexão crítica sobre a tendência de focar a aprendizagem cognitiva como se esta
fosse separada de todos os outros aspectos que fazem parte do sujeito. (RAU,
2011, p. 104) A partir desse contexto educacional, surge a necessidade de novas
concepções de estruturas curriculares mais abertas e flexíveis com atividades
lúdicas e práticas pedagógicas diversificadas como facilitadoras da aprendizagem.
As Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, Lei nº 9.394/96)
determina que:

A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como


finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em
seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a
ação da família e da comunidade. (LDBEN, art. 29, Lei nº 9.394/96)

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Surgindo, assim, as propostas específicas para as escolas de educação
infantil (RCNEI – Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil, 1998),
baseadas na LDBEN:

[…]levam em consideração de que os ambientes educacionais são


culturalmente construídos, moldados por gerações de atividades e
criatividade humana e mediado por complexos sistemas de crenças ligadas
aos objetivos e prioridades para a aprendizagem. (LDBEN, Lei 9.394/96)

O RCNEI, também traz em seu texto, diversos fatores que devem ser
contemplados por uma escola de educação infantil e o brincar é um eles:

Considerando-se as especificidades afetivas, emocionais, sociais e


cognitivas das crianças de zero a seis anos, a qualidade das experiências
oferecidas que podem contribuir para o exercício da cidadania devem estar
embasadas nos seguintes princípios: o respeito à dignidade e aos direitos
das crianças, consideradas nas suas diferenças individuais, sociais,
econômicas, culturais, étnicas, religiosas etc.; o direito das crianças a
brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e
comunicação infantil; o acesso das crianças aos bens socioculturais
disponíveis, ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas à
expressão, à comunicação, à interação social, ao pensamento, à ética e à
estética; a socialização das crianças por meio de sua participação e
inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de
espécie alguma; o atendimento aos cuidados essenciais associados à
sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade. (RCNEI, 1998, p.13)

A ludicidade na educação requer uma atitude pedagógica por parte do


professor, o que gera a necessidade do envolvimento com a literatura da área, da
definição de objetivos, organização de espaços, da seleção e da escolha dos
brinquedos adequados e o olhar constante nos interesses e das necessidades dos
educandos. RAU (2011, p. 28-33). Sendo assim, os educadores precisam buscar
metodologias que sejam significativas e atendam os interesses e às necessidades
não apenas de seus alunos, mas de todos os envolvidos no processo de

14
aprendizagem. É neste contexto, que a autora destaca a necessidade dos
educadores em preocupar-se mais com:

A formação lúdica se assenta em pressupostos que valorizam a


criatividade, o cultivo da sensibilidade, a busca da afetividade, a nutrição
da alma, proporcionando aos educadores vivências lúdicas, experiências
corporais, que se utilizam da ação, do pensamento e da linguagem tendo
no jogo uma fonte de dinamizadora. (RAU,2011, p. 28)

Portanto, os educadores precisam desenvolver e estimular o seu próprio lado


lúdico para trabalhar conscientemente sobre a ludicidade com as crianças, ou seja,
saber brincar para ensinar a brincar. A autora, também, diz que: “Ensinar através
da ludicidade é considerar que o brincar e a brincadeira fazem parte da vida do ser
humano e que, por isso, traz referenciais da própria vida do sujeito”. Em vista desta
questão, os educadores devem sempre considerar a bagagem cultural,
experiências e vivências que as crianças trazem consigo quando entram no mundo
escolar, pois esses conhecimentos prévios são importantes no planejamento de
suas práticas pedagógicas com significação e criando uma relação entre a
realidade vivida pelo educando e a aquisição de novos conhecimentos. “O seu olhar
para essa abordagem deve ser de alguém que se insere no ato de brincar,
procurando perceber, identificar e ampliar conhecimentos práticos, teóricos e
táticos sobre o tema”. (RAU, 2011, p. 28- 33)
O lúdico na aprendizagem infantil vem a contribuir para a interação da
criança, no contexto escolar, através das propostas educativas adequadas e
significativas do educador. Deste modo, é fundamental que os educadores adotem
uma postura mais consciente da sua função mediadora e da sua contribuição para
o ensino-aprendizagem e, assim, aceitando a ludicidade como ferramenta essencial
que favorece o desenvolvimento pessoal, cultural e social da criança. (RAU, 2011,
p. 28- 33)
Segundo Rau, um dos aspectos que justifica a ludicidade na educação infantil
seria justamente a oportunidade da utilização de recursos pedagógicos que
venham de encontro das diferentes formas de aprendizagens encontrados em sala
15
de aula, o que atualmente é um grande desafio para o educador da educação
infantil. (RAU, 2011). “Na ludicidade, o educando se torna sujeito ativo do próprio
processo de construção do conhecimento” (RAU, 2011, p. 65).

A ludicidade é a linguagem da criança e é no brincar que o infante se expressa


e sem ela a escola pode ser considerada pelas crianças como um lugar
desmotivador, por não corresponder as suas expectativas e suas formas de
expressão. As propostas para as escolas de educação infantil, exigidas pela
LDBEN (Lei 9.394/96), “levam em consideração de que os ambientes educacionais
são culturalmente construídos, moldados por gerações de atividades e criatividade
humana e mediado por complexos sistemas de crenças ligadas aos objetivos e
prioridades para a aprendizagem”. A partir desse contexto educacional, surge a
necessidade de novas concepções de estruturas curriculares mais abertas e
flexíveis com atividades lúdicas e práticas pedagógicas diversificadas como
facilitadoras do processo de aprendizagem. De acordo com o RCNEI (1997), “A
ludicidade está diretamente ligada com o educar, cuidar e o brincar. No universo
infantil por meio da ludicidade a criança consegue se desenvolver com mais
facilidade. ”

O brincar elemento importante, mediante o qual se aprende, sendo sujeito


ativo desta aprendizagem que tem, nesse lúdico, efeitos de sentido prazerosos. No
mundo lúdico, a criança encontra equilíbrio entre o real e o imaginário, alimenta sua
vida interior, descobre o sentido de ser no mundo. “O sentido de ser se aloja nas
tramas cotidianas de viver o mundo. De habitá-lo e experimentá-lo. ” (ROJAS, 2004,
p.44).

O lúdico na aprendizagem infantil vem a contribuir para a interação da criança


na escola através das propostas educativas adequadas e significativas do
educador. Deste modo, é fundamental que os educadores adotem uma postura
mais consciente da sua função mediadora e da sua contribuição para o ensino-
aprendizagem e, assim, aceitando a ludicidade como ferramenta essencial. Piaget
(1987), vem definir: “a atividade lúdica é um princípio fundamental para o
desenvolvimento das atividades intelectuais da criança, sendo assim, é

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indispensável a prática educativa”. Portanto, é importante uma maior reflexão
sobre as práticas dos docentes no cotidiano das instituições de educação infantil,
potencializando o desenvolvimento dos pequenos em vários aspectos: cognitivos,
físicos, psicológicos, motores e sociais. Os professores devem sempre estar bem
informados e atualizados sobre os benefícios do lúdico e a melhor abordagem da
ludicidade em sala de aula, pois ainda existem alguns profissionais que não
conseguem entender a importância do brincar no desenvolvimento das crianças,
pois através dela os infantes adquirem novas experiências e desenvolvem o próprio
conceito sobre o mundo em que vivem. (RAU, 2011, p. 28-33)

Portanto, os professores necessitam desenvolver e estimular o seu próprio


lado lúdico para trabalhar conscientemente sobre a ludicidade com as crianças, ou
seja, saber brincar para ensinar a brincar. A autora Rau (2011), também, diz que: “
Ensinar por meio da ludicidade é considerar que o brincar e a brincadeira fazem
parte da vivência do ser humano e que, por isso, traz referenciais da própria vida
do sujeito”. Em vista desta questão, os educadores devem sempre considerar a
bagagem cultural, experiências e vivências que as crianças trazem consigo quando
entram no mundo escolar, pois esses conhecimentos prévios são importantes no
planejamento de suas práticas pedagógicas com significação e criando relação
entre a realidade vivida pelo educando e a aquisição de novos conhecimentos. “O
seu olhar para essa abordagem deve ser de alguém que se insere no ato de brincar,
procurando perceber, identificar e ampliar conhecimentos práticos, teóricos e
táticos sobre o tema”. (RAU, 2011, p. 28 – 33)

O lúdico na aprendizagem infantil vem a contribuir para a interação dos


pequenos, no contexto escolar, através das propostas educativas adequadas e
significativas do educador. Deste modo, é fundamental que os professores adotem
uma postura mais consciente da sua função mediadora e da sua contribuição para
o ensino-aprendizagem e, assim, aceitando a ludicidade como ferramenta essencial
que favorece o desenvolvimento integral da criança. Vygotsky (1989, p. 53) aponta
também, “que toda atividade lúdica da criança possui regras. A situação imaginaria
de qualquer tipo de brinquedo já contém regras que demonstra características de

17
comportamento. ” Nesse sentido o lúdico é fundamental para o desenvolvimento
cognitivo, pois os processos de vivenciar situações imaginárias levam os infantes
ao desenvolvimento do pensamento abstrato, quando novos relacionamentos são
criados entre significações e interações com objetos e ações. (Vygotsky,1989)

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2 - A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NO CONTEXTO ESCOLAR

É importante entender que a utilização do lúdico como recurso pedagógico na


sala de aula pode constituir-se em um caminho possível que vá ao encontro da
formação integral dos pequenos e do entendimento às suas necessidades. (RAU,
2011, p. 31). Ao se pensar em atividades significativas que respondam às
necessidades das crianças de forma integrada, articula-se a realidade sociocultural
do educando ao processo de construção de conhecimento, valorizando-se o acesso
aos conhecimentos do mundo físico e social. A autora comenta os estudos de
Friedman (1996, p. 43), ao destacar a importância do papel da educação em
relação a sociedade, revelando que muitas vezes as atividades desenvolvidas na
escola acontecem de forma fragmentada: “uma hora para o trabalho com a
coordenação motora, outra para a expressão plástica, outra para o brincar
orientando pelo educador e assim por diante”. RAU (2011, p. 38)
Rau (2011, p. 38) cita Friedmann (1996, p. 54), na qual ele argumenta que:

A escola é um elemento de transformação da sociedade, sua função é


contribuir, junto com outras instâncias da vida social, para que essas
transformações se efetivem. Nesse sentido, o trabalho na escola deve
considerar as crianças como seres sociais e trabalhar com elas no sentido
de que sua construção seja construtiva. (FRIEDMANN, 1996, p. 54)

Portanto, o brincar propicia o trabalho com diferentes tipos de linguagem, o


que favorece a transformação e a interpretação de conceitos elaborados pelo
educador para os educandos. Educar, nesta perspectiva, é ir além da transmissão
de informações ou de colocar à disposição do educando apenas um caminho,
limitando a escolha do seu próprio conhecimento. Em vista disso, o educador deve
buscar conhecimento sobre o que faz e sobre como motivo o faz, visando o domínio
dos instrumentos pedagógicos para melhor adaptá-los às necessidades das novas
situações educativas. (RAU, 2011, p. 40-41)

19
Conforme, Friedmann (1996):

O brincar atualmente é uma ação considerada lúdica no qual trabalha na


criança seu desenvolvimento cognitivo, motor, social e afetivo,
principalmente por ser uma ação no qual proporciona a socialização e
interação com outras crianças, estimulando consecutivamente a autonomia,
curiosidade, criatividade, raciocínio, ou seja, ela prende brincando, se
divertindo, pois, a brincadeira proporciona as crianças uma aprendizagem
alegre e prazerosa (FRIEDMANN, 1996, p. 71)

As leis foram feitas para servirem de embasamento para novos estudos tendo
como foco a mudança de olhar sobre a criança, como um ser de direitos e o seu
desenvolvimento integral. Direitos esses observados na Declaração Universal dos
Direitos Humanos que: “reafirma a importância de se garantir a universalidade, a
objetividade e a igualdade nas questões relativas aos direitos da criança, pela qual
ela passa a ser considerada uma prioridade absoluta e um sujeito de direitos”. O
brincar é um desses direitos que é garantido pela Constituição Federal (1988),
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), Parâmetros Curriculares para
a Educação Infantil (1998-vol.1 e 2) e outros. A Constituição Brasileira de 1988
inaugurou uma nova fase doutrinária em relação à criança e ao adolescente. Foi a
Constituição Brasileira que considerou explicitamente a criança como sujeito de
direitos e também foi a primeira que falou em creches e pré-escolas. (BRASIL, CF,
1988)
Conforme a Constituição Federal (1998), passa a ser definido e fixado a
proposta de proteção integral a criança:

Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, a dignidade, ao respeito, à liberdade à convivência familiar e
comunitária. […] (BRASIL, CF,1988)

20
A LDBEN (Lei nº 9394/96), também, teve uma importante contribuição para
uma nova concepção de Educação Infantil no país na medida em que este
segmento passou a pertencer ao sistema educacional, constituindo-se na primeira
etapa da educação básica. O RCNEI (1998, vol.1 e 2), determina a elaboração de
propostas educacionais, vincula novas concepções sobre criança, educar, cuidar e
aprendizagem, cujos fundamentos devem ser considerados de maneira explícita:

A concepção educacional era marcada por características


assistencialistas, sem considerar as questões de cidadania ligadas aos
ideais de liberdade e igualdade. Modificar essa concepção de educação
assistencialista significa atentar para várias questões que vão muito além
dos aspectos legais. Polêmicas sobre cuidar e educar, sobre o papel do
afeto na relação pedagógica e sobre educar para o desenvolvimento ou
para o conhecimento têm constituído, portanto, o panorama de fundo
sobre o qual se constroem as propostas em educação infantil.
(RCNEI,1998, vol. 1- p. 17-18)

Em conformidade com o RCNEI (1998), “a ludicidade está diretamente ligada


com o educar, cuidar e o brincar. No universo infantil por meio da ludicidade a
criança consegue se desenvolver com mais facilidade”. Sob essa visão, o RCNEI
tem a função de orientar as instituições de educação infantil a aderir de forma
integrada as funções de educar e cuidar:

Contemplar o cuidado na esfera da instituição da educação infantil significa


compreendê-lo como parte integrante da educação, embora possa exigir
conhecimentos, habilidades e instrumentos que extrapolam a dimensão
pedagógica. Ou seja, cuidar de uma criança em um contexto educativo
demanda a integração de vários campos de conhecimentos e a cooperação
de profissionais de diferentes áreas. A base do cuidado humano é
compreender como ajudar o outro a se desenvolver como ser humano.
Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é
um ato em relação ao outro e a si próprio que possui uma dimensão
expressiva e implica em procedimentos específicos. (RCNEI,1998, vol. 1–
p. 24)

21
O brincar tem profundos significados para os pequenos, pressupõe-se que as
atividades lúdicas permitem o estabelecimento de relações entre objetos culturais
e a natureza, unificadas pelo mundo espiritual. E concebe o brincar como atividade
livre, espontânea e criativa, responsável pelo desenvolvimento físico, moral e
cognitivo, cujos brinquedos subsidiam essas atividades infantis. Entende, também,
que a criança necessita de orientação para seu desenvolvimento. O brincar pode
integrar-se às atividades educativas, ocupando lugar nos momentos de
aprendizagem, com a tarefa de interagir com a criança por meio de experiências
lúdicas. A concepção de brincar como forma de desenvolver a autonomia das
crianças requer um uso livre de brinquedos e de material, que permita a expressão
dos projetos criados pela criança. Só assim, o brincar contribui para a construção
da autonomia. (ROJAS,2007)
No RCNEI (1998), discorre a importância das brincadeiras:

Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades


importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação.
Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da
interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais.
(RCNEI, 1998, vol.2 – p.23)

Para Vygotsky (1984), “a ideia de brincar origina-se na imaginação criada pela


criança, em que desejos impossíveis podem ser realizados, reduzindo a tensão e,
ao mesmo tempo, constituindo uma maneira de acomodação a conflitos e
frustrações da vida real”. E, ainda sobre o brincar, Vygotsky (1984):

Atribuiu relevante papel ao ato de brincar na constituição do pensamento


infantil, mostrando que é no brincar, jogar que a criança revela seu estado
cognitivo, visual, auditivo, tátil e motor. A criança por meio da brincadeira
constrói seu próprio pensamento. (VYGOTSKY, 1984)

22
Segundo, Luckesi (2005) a aprendizagem, na criança, “ocorre por
experimentar ações com tudo o que lhe chama a atenção no cotidiano, por isso, é
superativa; o tempo utilizado em uma atividade qualquer é curto; há que se
vivenciar muitas e muitas coisas. ” Para tanto, é importante que o educador tenha
conhecimentos teóricos e de habilidades práticas necessários para atuar na
educação infantil, somados, sem sombra de dúvidas, ao desejo de que as crianças
aprendam e, consequentemente, se desenvolvam, o que implica em prazer em
trabalhar com crianças, prazer, paciência e investimento. (LUCKESI, 2005, p. 134)
A ação do professor de educação infantil, como mediador das relações entre
as crianças e os diversos universos sociais nos quais elas interagem, possibilita a
criação de condições para que elas possam, gradativamente, desenvolver
capacidades ligadas à tomada de decisões, à construção de regras, à cooperação,
à solidariedade, ao diálogo, ao respeito a si mesmas e ao outro, assim como
desenvolver sentimentos de justiça e ações de cuidado para consigo e para com
os outros. Em relação às regras, além de se manter a preocupação quanto à clareza
e transparência na sua apresentação e à coerência das sanções, é preciso dar
oportunidade para que as crianças participem do estabelecimento de regras que
irão afetar-lhes diretamente. (RCNEI, vol.2-p. 44)

Kishimoto (1993), cita alguns benefícios do brincar com jogos:

“Brincando (...) as crianças aprendem (...), a cooperar com os


companheiros (...), a obedecer às regras do jogo (...), a respeitar os
direitos dos outros (...) a acatar a autoridade (...), a assumir
responsabilidade, a aceitar penalidades, que lhe são impostas (...), a dar
oportunidades aos demais (...), enfim, a viver em sociedade”.
(KISHIMOTO,1993, p.110)

Os estudos de Huizinga (1980) demonstram a natureza e o significado do jogo,


do brincar, principalmente pela função cultural, como via de construção do
conhecimento e da cultura humana, não desconsiderando o prazer, a diversão, e o
delírio presentes nas práticas lúdicas. A intensidade e o fascínio na realização do
brincar caracterizam o lúdico como parte da vida dos pequenos. O autor, também,
23
analisa a significação primária do jogo, considerando-o uma espécie de imaginação
da realidade, que abstrai o homem para a fantasia. Para este autor, o aspecto lúdico
está presente não só no jogo como também na música, na dança, na poesia, nas
artes plásticas, assim como na linguagem, apontando-a como capacidade para
brincar com as palavras. Argumenta que a linguagem, na condição de expressão
abstrata, constitui um jogo de palavras com as quais o homem dá expressão à vida,
recriando o mundo. (HUIZINGA, 1980, p.5)

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3 – OS BRINQUEDOS, AS BRINCADEIRAS E OS JOGOS

Os brinquedos, as brincadeiras e os jogos fazem parte do universo infantil,


através deles é possível à criança se desenvolver, conhecer e interagir com o
mundo ao seu redor. Desde os primeiros anos de vida somos apresentados a esse
mundo de imaginação e interação, o que faz com que criamos e recriamos atitudes
e comportamentos vivenciados em nosso dia a dia. “As brincadeiras e jogos infantis
exercem um papel muito além da simples diversão, possibilitam aprendizagem de
diversas habilidades e são meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento
intelectual da criança. ” (PIAGET, 1976) Para Kishimoto, as práticas lúdicas
proporcionam subsídios para a compreensão da brincadeira como ação livre da
criança e o uso dos dons, objetos. São valiosos suportes da ação docente, que
enriquecem o trabalho pedagógico, permitindo a aquisição de habilidades e
conhecimentos. (KISHIMOTO,1999)

Rau, em seu livro diz que: “a ludicidade se define pelas ações do brincar que
são organizadas em três eixos: o jogo, o brinquedo e a brincadeira”. (RAU, 2011,
p.31) por isso, é importante enfatizar que os termos como: brincar, jogo, brinquedo
e brincadeira são utilizados muitas vezes com vários significados.

Kishimoto (1994) conceitua que:

O brinquedo será entendido sempre como objeto, suporte de brincadeira,


brincadeira com descrição de uma conduta estruturada, com regras e jogo
infantil para designar tanto o objeto e as regras do jogo da criança.
(KISHIMOTO, 1994)

Portanto, é brincando que o pequeno organiza o mundo a sua volta,


absorvendo conhecimentos, portanto é muito importância aliar atividades lúdicas
ao processo de ensino e aprendizagem para o desenvolvimento do aluno. O jogo é

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uma das atividades que desperta o interesse da criança, é o que nos fala Kishimoto
(1994):

O jogo como promotor de aprendizagem e do desenvolvimento, passa a


ser considerado nas práticas escolares como importante aliado para o
ensino, já que colocar o aluno diante de situações lúdicas como jogo pode
ser uma boa estratégia para aproximá-lo dos conteúdos culturais a serem
veicular na escola. (KISHIMOTO, 1994)

Rau (apud Kishimoto-1994) descreve as funções do jogo: a função lúdica


(brincar livre), que expressa na ideia de que sua vivência propicia a diversão, o
prazer, quando é escolhido espontaneamente pela criança e a segunda seria a
função educativa (brincar dirigido), quando a prática do jogo leva o sujeito a
desenvolver seus saberes, seus conhecimentos e sua apreensão de mundo. O
equilíbrio entre as duas funções seria o objetivo do jogo educativo. Nesta
perspectiva, o educador tem que levar em conta, também, a organização do
ambiente, a seleção dos brinquedos e a interação entre os educandos refletindo na
ação voluntária da criança e a ação pedagógica do educador. (RAU,2011, p.35)

Nas palavras de Kishimoto (2008, p. 37):

O jogo é um instrumento pedagógico muito significativo. No contexto


cultural e biológico é uma atividade livre, alegre, que engloba uma
significação. É de grande valor social, oferecendo inúmeras
possibilidades educacionais, pois favorece o desenvolvimento corporal,
estimula a vida psíquica e a inteligência, contribuindo para a adaptação
ao grupo, preparando a criança para viver em sociedade, participando e
questionando os pressupostos das relações sociais tais como estão
postos. (KISHIMOTO, 2008, p. 37)

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Para Freire (1997) é importante:

Compreender a atividade infantil capacita o professor a intervir para


facilitar o desenvolvimento da criança. Isso contribuiria para reforçar a
ideia de que a escola, na primeira infância, deve considerar as estruturas
corporais e intelectuais de que dispõem as crianças, utilizando o jogo
simbólico e as demais atividades motoras próprias da criança nesse
período. (FREIRE, 1997, p. 44)

O brinquedo, definido por Kishimoto (1994), “é entendido como um objeto, um


suporte da brincadeira ou do jogo quer no sentido concreto, quer no ideológico” e
deve ser utilizado nas atividades lúdicas. “A criança tem imaginação suficiente, a
ponto de transformar qualquer objeto em brinquedo (fantasiar, faz de conta,
brinquedo simbólico) ”. (KISHIMOTO, 1994)
O brinquedo e a brincadeira favorecem o desenvolvimento e amplia as suas
habilidades, pois é brincando que a criança faz novas descobertas, além de
estimular a curiosidade, a imaginação, a criatividade, a autoconfiança, a autonomia
e propiciando o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração
e da atenção. Em conformidade com Vygotsky (1984):

[…] A criança começa com uma situação imaginária, que é uma


reprodução da situação real, sendo a brincadeira muito mais a lembrança
de alguma coisa que realmente aconteceu, do que uma situação
imaginária nova. À medida que a brincadeira se desenvolve, observamos
um movimento em direção à realização consciente de seu próprio
propósito. Finalmente surgem as regras que irão possibilitar a divisão do
trabalho e o jogo na idade escolar. (VYGOTSKY, 1984, p. 118)

Com base nas teorias de Piaget (1976) e Vygotsky (1984), é preciso refletir
sobre o papel do educador ao utilizar o lúdico como recurso pedagógico, que lhe
possibilita o conhecimento sobre a realidade lúdica de seus alunos, bem como
sobre seus interesses e suas necessidades. Em consonância, com o processo de
ensino-aprendizagem, o jogo deve ser visto como forma de estimular o

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desenvolvimento cognitivo, social, afetivo, linguístico e psicomotor e de propiciar
aprendizagens específicas. (RAU, 2011, p. 98)
Luckesi enfatiza que:

[…] um fazer humano mais amplo, que se relaciona não apenas a


presença de brincadeiras e jogos, mas também a um sentimento, atitude
do sujeito envolvido na ação, que se refere a um prazer de celebração em
função do envolvimento genuíno com a atividade, a sensação de plenitude
que acompanha as coisas significativas e verdadeiras. (LUCKESI, 2005)

As brincadeiras só podem ser consideradas lúdicas se atingirem o centro de


interesses e/ou necessidades dos alunos e despertando nelas a vontade de
participar das mesmas e favorecendo novas experiências significativas durante a
sua realização. Luckesi (2005) afirma, que a atividade lúdica é aquela que propicia
à pessoa que a vive, uma sensação de liberdade, um estado de plenitude e de
entrega total para essa vivência:

Brincar, jogar, agir ludicamente, exige uma entrega total do ser humano,
corpo e mente, ao mesmo tempo. A atividade lúdica não admite divisão;
e, as próprias atividades lúdicas, por si mesmas, nos conduzem para esse
estado de consciência[…] (LUCKESI, 2005)

Nas brincadeiras, os pequenos transformam os conhecimentos que já


possuíam anteriormente em conceitos gerais com os quais brinca. Por exemplo,
para assumir um determinado papel numa brincadeira, a criança deve conhecer
alguma de suas características. Seus conhecimentos provêm da imitação de
alguém ou de algo conhecido, de uma experiência vivida na família ou em outros
ambientes, do relato de um colega ou de um adulto, de cenas assistidas na
televisão, no cinema ou narradas em livros etc. A fonte de seus conhecimentos é
múltipla, mas estes encontram-se, ainda, fragmentados. É no ato de brincar que o

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infante assume diferentes papéis, desenvolve suas competências. (RCNEI, 1998,
vol.1, p. 27-28):

[...] se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da imaginação isto


implica que aquele que brinca tenha o domínio da linguagem simbólica. Isto
quer dizer que é preciso haver consciência da diferença existente entre a
brincadeira e a realidade imediata que forneceu conteúdo para realizar-se.
(RCNEI, 1998, vol.1, p.27)

Na infância, a utilização das linguagens expressivas próprias dá forma às


vivências cotidianas e as transforma em pensamentos, em uma construção retórica,
organizando os processos psicológicos básicos em processos da cultura, tornando-
se parte dele (RAU, 2011, p. 100). Portanto, quando a expressão lúdica da criança
é mediada de maneira a intervir no seu processo ensino e aprendizagem, essa
expressão pode garantir seu direito a uma educação que respeite seu processo de
construção do pensamento, permitindo-lhe a vivência nas linguagens expressivas
do jogo como instrumento simbólico da leitura e da escrita de mundo. Assim, a
utilização do lúdico como recurso pedagógico, apoiado nas dimensões reflexivas
da construção do conhecimento infantil, possibilita o educador a melhoria do
trabalho pedagógico em sala de aula. (RAU, 2011, p. 100)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A infância é a fase de extrema importância para desenvolver as habilidades


e potencialidades dos pequenos. Portanto, torna-se primordial os educadores a
proporcionar-lhes momentos prazerosos e educativos, envolvendo o brincar, as
brincadeiras, os jogos e os brinquedos, para a estimulação da imaginação e
criatividade destes. Em consonância com os autores aqui citados, é enfatizado
sempre que a imaginação é o reino próprio da infância repleta de movimentos
espontâneos e criativos, tendo as crianças como sujeitos principais do seu próprio
processo de construção.

Durante a elaboração deste trabalho, compreendemos que a infância é um


período de grande importância na vida do ser humano; e como a ludicidade e a
educação devem caminhar juntos, na promoção de uma aprendizagem
significativa nas práticas educacionais; incorporando conhecimentos e garantindo
o direito e as especificidades da infância. Aliar o lúdico ao desenvolvimento
infantil, traz contribuições importantes para o processo de aprendizagem,
tornando a criança mais espontânea, comunicativa, afetiva, criativa, assimilando
novos conceitos e valores: fatores importantes para o processo educativo.

O brincar deve ser visto com muita seriedade no desenvolvimento dos


pequenos, assim como, a importância do lúdico como facilitador no processo de
ensino-aprendizagem e as questões da prática pedagógica do educador por estar
ligada à questão do conhecimento. Sendo assim, trabalhar com o lúdico é
importante na construção do conhecimento, uma vez que auxilia no
desenvolvimento da imaginação, do raciocínio, da criatividade. Da mesma forma,
na construção do sistema de representação, visando à formação dos aspectos
motor, cognitivo, físico e psicológicos das crianças.

Para Vygotsky, os brinquedos e os jogo contribuem para desenvolvimento


dos movimentos e amplos do corpo, levando a criança a vivenciar diversas
funções intelectuais e do trabalho em grupo. Para Piaget, o lúdico incentiva os
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pequenos a agir ativamente, a ter uma reflexão crítica, estimulando
questionamentos, a curiosidade e tornando-se em um ser social, criativo e
respeitando as regras impostas pelo meio social; e a descoberta das soluções de
situação-problema de forma criativa e inteligente (através dos jogos, o brincar e
brincadeiras), possibilitando-lhe o desenvolvimento intelectual.

A partir das teorias de Piaget e Vygotsky, entendemos que é necessário


refletir sobre o papel do professor ao utilizar o lúdico como recurso pedagógico
que lhe possibilite o reconhecimento sobre a realidade lúdica e seus alunos, bem
como sobre seus interesses e necessidades. Assim, ao utilizar o jogo como
recurso pedagógico na escola, o educador deve considerar a organização do
espaço físico, a escolha dos objetos e dos brinquedos e o tempo que o jogo irá
ocupar em suas atividades diárias.

Este trabalho se faz necessário na abordagem do lúdico no contexto


educacional, procurando incentivar a reflexão dos educadores junto à Educação
Infantil, contribuindo, de forma positiva e a melhoria das práticas educativas dos
docentes. Portanto, é importante compreender que os educadores necessitam
modificar suas posturas em relação as suas práticas pedagógicas baseadas na
ludicidade, pelo qual ele pode ser um simples observador, um organizador, um
personagem e também o mediador entre as crianças e o conhecimento. Portanto,
pode concluir-se que a ludicidade é primordial no desenvolvimento dos pequenos,
em todos os aspectos, pois as atividades lúdicas são determinadas como um
momento facilitador da aprendizagem de forma prazerosa para os alunos. Pode-se
afirmar que o lúdico precisa ser a base de todas as atividades da Educação de
Infância, pois é meio de motivação para a criança, que pode dar origem a processos
de aprendizagem importantes, fonte de descoberta e prazer. Ludicidade é a
espontaneidade em trabalhar, fazendo a comunicação entre a imaginação, o
brincar e o real.

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REFERÊNCIAS

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Nacionais. Secretaria de Educação Fundamental –Vol.7. Brasília: MEC/SEF, 1997.

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