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de inserção na sociedade

Ensino gratuito Docentes Pôr do sol, praia Projeto de


de robótica e estudantes e exercícios extensão
revoluciona assumem aeróbicos no demonstra, na
aprendizado de a execução da combate à prática, que
jovens da rede Agenda 2030 em hipertensão e “quem canta seus
pública âmbito local ao diabetes males espanta”

nº 12 • novembro 2019
Unifesp EntreTeses novembro 2019 1
carta da reitora campus guarulhos | eflch
Expediente 4 Extensão universitária abre espaço à 63 O desafiador encontro entre a
A revista Entreteses é uma publicação semestral da inovação social comunidade e a academia
Universidade Federal de São Paulo.
ISSN 2525-5401 (publicação impressa) Política editorial da revista Entreteses editorial artes cênicas
ISSN 2525-538X (publicação on-line )
5 Extensão e cultura na trilha do 64 Da sala ao palco: ensino de teatro e
I – Do conteúdo da revista conhecimento formação
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
Entreteses publica trabalhos de divulgação científica nas se-
Reitora: Soraya Soubhi Smaili guintes categorias: entrevista naomar de almeida filho saúde mental
Vice-Reitor: Nelson Sass
1. Perfil: retrata personalidades que contribuíram para mudar 6 Um caminho para o diálogo entre 67 Música em benefício da vida
Pró-Reitora de Administração: Tânia Mara Francisco paradigmas em suas áreas de atuação. universidade e sociedade
Pró-Reitor de Assuntos Estudantis: Anderson da Silva Rosa artes visuais

Pró-Reitora de Extensão e Cultura: Raiane Patrícia Severino


2. Entrevista: conversa com pesquisadores de destaque em
seu campo de especialização. perfis 70 Antropologia para entender a
Assumpção
3. Ciência no mundo: aborda a relação do mundo com a ciên- 11 A escola de Brenda periferia
Pró-Reitor de Gestão com Pessoas: Murched Omar Taha cia, isto é, como a esfera cultural, no seu sentido mais amplo, 13 A história de Gustavo
Pró-Reitora de Graduação: Isabel Marian Hartmann de
Quadros
percebe os desenvolvimentos inerentes ao mundo científico.
Exemplos: os filmes de ficção sobre robótica e as séries de TV
14 Vanessa do Jardim Santa Mônica sala de aula
73 Jogos recreativos revelam a face lúdica
Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa: Lia Rita Azeredo que abordam a ciência médica. extensão universitária e prazerosa da Matemática
Bittencourt
Pró-Reitor de Planejamento: Pedro Fiori Arantes
4. Pesquisa em desenvolvimento: descreve os trabalhos reali-
zados por pesquisadores dos campi da Unifesp, os quais, pelas
17 Sou mais importante do que pensam... campus diadema | icaqf
Jornalista responsável/Editor: Walter Teixeira Lima Junior
(MTB 23.663/SP)
mais diversas razões, merecem ser apresentados com desta- integração social 77 Educação e meio ambiente em
Coordenação: Valquíria Carnaúba
que. A seleção das pesquisas indicadas para publicação é feita
pelas Câmaras de Pós-Graduação e Pesquisa. 18 Ações de integração fortalecem evidência
Reportagem: Daniel Patini, Denis Dana, José Luiz Guerra, A pauta geral de cada edição é definida pelo Conselho vínculos geracionais e culturais
cosmetologia
Juliana Narimatsu, Lu Sudré, Marcos Zeitoune, Matheus
Campos, Paula Garcia, Tamires Tavares e Valquíria Carnaúba
Científico (CC) da revista e a forma jornalística é dada por seu
Conselho Editorial (CE). igualdade racial 78 Medindo as emoções
Projeto gráfico e diagramação: Ana Carolina Fagundes 24 Educação no combate à discriminação laboratório de ciências
Infografia e ilustração: Ana Carolina Fagundes
Revisão: Celina Maria Brunieri e Felipe Costa
II – Da seleção de temas, reportagens e pesquisas para diversidade 81 Cientistas por um dia
Fotografia: Alex Reipert / Créditos indicados nas imagens
publicação
1. Caberá às Câmaras de Pós-Graduação e Pesquisa sugerir
27 (Trans)formando vidas agroecologia
Capa: Alex Reipert ao CC matérias para publicação, tendo em vista o objetivo de fibromialgia 84 O que você alimenta quando se
Tratamento de imagens: Alex Reipert / Ana Carolina
Fagundes
abranger a totalidade das áreas de pesquisa em atividade na
Unifesp. 31 Aprendendo a conviver com a dor alimenta?
Conselho Editorial: Lia Rita Azeredo Bittencourt, Karen 2. Todas as sugestões de matérias serão avaliadas para futu- campus são paulo | epm • epe meio ambiente
Spadari Ferreira, Débora Cristina Hipólide, Bruno Moreira
Silva, Ricardo Pimenta Bertolla, Andréa Slemian, Marimélia
ra publicação; entretanto, dada a quantidade limitada de pá-
ginas do periódico, o CC selecionará para publicação imedia- 35 Tradição e história na extensão 87 Troca de saberes
Aparecida Porcionatto, Vera Raquel Aburesi Salvadori ta aquelas que melhor se enquadrarem na temática de cada universitária
Conselho Científico: Olgária Chain Feres Matos, Renato edição. campus são josé dos campos | ict
Janine Ribeiro, Ruy Ribeiro de Campos Jr., Paulo Schor e
3. Com exceção dos artigos assinados, as matérias serão redi- gamificação 91 Vocação tecnológica, olhar para o
Fulvio Alexandre Scorza
gidas por uma equipe de jornalistas, em linguagem rigorosa, 36 Batalhas educativas social
mas acessível a não especialistas, incluindo-se no final as refe-
Revista Entreteses n° 12 – Novembro/2019
rências bibliográficas ou de documentos eletrônicos, de acor- oncologia impressão 3d
www.unifesp.br/entreteses
equipe.entreteses@unifesp.br do com as normas estipuladas pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) – e não pelo estilo Vancouver. Para
40 A sustentável leveza do acolher 92 Agora elas podem brincar!
Tiragem: 4.000 exemplares
atender a esta última cláusula, será necessário que o pesqui- parentalidade exposição
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL sador envie as informações – bibliográficas ou eletrônicas –
sobre os artigos científicos relacionados, em conformidade 43 Amor e ciência em toques que fazem 96 Um museu que inspira o futuro
Direção: Walter Teixeira Lima Junior
com o padrão adotado, responsabilizando-se por elas. Antes diferença
Jornalismo: Daniel Patini, José Luiz Guerra, Juliana de ser publicado, o texto final será submetido à análise do(s) educação
Narimatsu, Paula Garcia, Tamires Tavares e Valquíria
Carnaúba
pesquisador(es), que deverá sanar eventuais erros e confirmar assistência social 100 Robôs sem fronteiras: rumo à sala
Design: Ana Carolina Fagundes e Paula Garcia
a correção das informações científicas veiculadas. 46 ‘ComUnidade’ fortalece elo entre de aula
4. Cada edição elegerá uma temática central. Serão publica- Unifesp e população
Fotografia: Alex Reipert das, prioritariamente, matérias que contemplem o trabalho empreendedorismo
Audiovisual: Gabryelle Pereira da Silva, Jean Carlo Silva,
Loiane Caroline Vilefort e Reinaldo Gimenez (coordenação)
de pesquisadores da própria Unifesp, cabendo ao CC a deci- campus baixada santista | iss • imar 104 Códigos e corações abertos
Mídias sociais: Rosangela Gonçalves Martins
são de divulgar ou não pesquisas desenvolvidas em outras
instituições. 51 Iniciativas que promovem campus osasco | eppen
transformação social
Revisão: Celina Maria Brunieri e Felipe Costa 107 Remodelando territórios
Assistente administrativo: Luis Tadeu Ka Jin Mo III – Recomendações gerais cultura popular
Assessoria de imprensa: Ex Libris Comunicação Integrada
Tel.: (11) 3266-6088 - ramais: 201, 208 e 225
1. Encorajamos os pesquisadores da Unifesp a enviarem infor-
mações básicas sobre os trabalhos desenvolvidos às respecti-
52 Campus aberto à educação pública finanças
108 Pensar antes de gastar
Redação e administração: vas Câmaras de Pós-Graduação e Pesquisa, para efeito de tria- comunicação social
Rua Sena Madureira, nº 1.500 - 4º andar - Vila Clementino
54 Em sintonia com a sociedade
gem e eventual publicação. inclusão econômica
CEP: 04021-001 - São Paulo - SP - Tel.: (11) 3385-4116
imprensa@unifesp.br - www.unifesp.br 2. Encorajamos também grupos de docentes de um mesmo 110 Cooperação e autogestão moldam
campus ou de campi diferentes, com interesses científicos bem-estar propostas de economia solidária
afins, a submeterem perfis coletivos de pesquisa à apreciação,
proporcionando ao maior número de pesquisadores a oportu- 57 Saúde à beira-mar agenda 2030
nidade de ser conhecido pela comunidade e, ao mesmo tem-
drogas
113 Sustentabilidade na ponta do lápis
po, valorizando o trabalho em equipe.
60 Formação de agentes na construção políticas públicas
equipe.entreteses@unifesp.br de novas realidades 116 Diálogos que ultrapassam fronteiras
2 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 3
carta da reitora editorial

Extensão universitária abre Extensão e cultura na


espaço à inovação social trilha do conhecimento

A N
Soraya Smaili Unifesp é destaque no ensino e na criarmos as áreas de direitos humanos e de esta edição da revista Entreteses, em sensu) e de extensão que visam à capacitação Raiane Assumpção
Reitora da Unifesp pesquisa, êxito avalizado pelos indi- cultura, tornando aquele setor mais abran- que se comemoram os 25 anos da dos servidores públicos e da população em Pró-reitora de Extensão
cadores contidos em rankings nacio- gente e transversal. Alinhados com nosso Unifesp, abordamos a extensão e a geral. Entre esses, destacamos a especiali- e Cultura
nais, como no RUF/Folha de S. Paulo, e inter- tempo, reservamos à cultura um lugar que cultura produzidas no âmbito da instituição. zação em Saúde da Família (UnA-SUS/Uni-
nacionais, como no conceituado The Higher não é limitado ao entretenimento ou ao la- É o volume em que apresentamos e reafirma- fesp); o aperfeiçoamento para agentes de
Alex Reipert

Alex Reipert
Education (THE). Contudo, é preciso falar de zer, o que resultou na mudança de denomi- mos a política de extensão e cultura, cons- saúde indígena (por meio do Projeto Xingu
uma faceta muito desenvolvida e pouco divul- nação do órgão responsável pela gestão des- truída ao longo da história da universidade, e da Secretaria Especial de Saúde Indígena
gada, que é a extensão universitária, a qual sas questões para Pró-Reitoria de Extensão e damos visibilidade a um conjunto de ações, do Ministério da Saúde); o curso de extensão
se integra ao ensino e à pesquisa na missão e Cultura. processos, produtos e conhecimentos que Supera (Sistema para Detecção do Uso Abu-
da universidade. De acordo com a Política Nesse contexto, celebramos o cumprimen- emergem da relação de nossos campi com a sivo e Dependência de Substâncias Psicoa-
Nacional de Extensão Universitária, a exten- to da diretriz do Plano Nacional de Educação sociedade. tivas: Encaminhamento, Intervenção Breve,
são é definida como “um processo interdisci- de 2014-2024, de 10% da creditação curricu- A política de extensão e cultura, em con- Reinserção Social e Acompanhamento) para
plinar, educativo, cultural, científico e políti- lar às ações extensionistas. Destacamos tam- sonância com as diretrizes nacionais, to- profissionais de saúde, em parceria com o
co que promove a interação transformadora bém a ampliação do espectro de ações no que mou como fundamento a concepção e a in- Ministério da Justiça e Segurança Pública e
entre universidade e outros setores da socie- diz respeito à prestação de serviços, por meio tencionalidade dos sujeitos que conduzem a Universidade Virtual do Estado de São Pau-
dade”. Representa, dessa forma, um conjunto da implementação dos Projetos Acadêmicos ações extensionistas e culturais na universi- lo (Univesp); e o Núcleo Telessaúde Brasil Re-
de ações, processos, produtos e conhecimen- de Prestação de Serviços (Paps), o que pos- dade. Foi, então, definida como um conjun- des, que resulta de parceria entre a Unifesp/
tos oriundos da conexão direta entre a uni- sibilita parcerias com a iniciativa privada to de ações e processos, de natureza educati- Secretaria de Educação a Distância (Sead) e
versidade e as diferentes comunidades e ca- na perspectiva acadêmica. Demos maior es- va, cultural, científica e política, desenvolvido o Ministério da Saúde.
madas sociais. paço à inovação e tecnologia social, que to- por metodologias que propiciam a assimila- Outras ações desenvolvidas ao longo da
Na Unifesp, a extensão denota uma vasta mam forma por meio de iniciativas como as ção e a construção do conhecimento, a partir história da Unifesp vêm assumindo, além do
gama de atividades inter e multidisciplinares empresas juniores, fortemente conectadas dos desafios postos pela realidade vivida. Por valor estético, um papel pedagógico impor-
ligadas ao ensino e à formação de profissio- com a recém-criada Agência de Inovação meio do diálogo entre as práticas científicas tante, inclusive para a sociabilidade e a inclu-
nais, bem como a possibilidade de aplicação Tecnológica e Social (Agits) da Unifesp. e sociais, com atuação interdisciplinar e in- são. O Museu Histórico Prof. Dr. Wladimir da
direta dos conhecimentos gerados pela pes- Por meio de ferramentas digitais, a exten- terprofissional, busca construir respostas às Prússia Gomez Ferraz, da Escola Paulista de
quisa em projetos da iniciativa privada e do são leva o conhecimento a locais nunca an- questões apresentadas, na perspectiva da for- Medicina, o Coral Unifesp, o Projeto Jovem.
poder público. Nestes 25 anos, desde a cria- tes imaginados pelos setores que compõem mação individual e da transformação da so- doc, a Cátedra Kaapora, a Cátedra Edward
ção da Unifesp, e durante os 86 anos que de- nossa instituição. Os extensionistas experi- ciedade, valorizando a diversidade e os direi- Saïd, o Projeto Artes do Corpo, o Laboratório
correram desde que germinou sua primeira mentam e executam, por meio dos 43 progra- tos socioambientais da população. de Artes Visuais (Labart) e a Semana Unifesp
semente, a Escola Paulista de Medicina, veri- mas e 179 projetos em vigência na Unifesp, as Na Unifesp a extensão e a cultura têm sido Mostra sua Arte. Todo esse potencial, edifi-
ficamos uma grande transformação na exten- cinco diretrizes que norteiam as ações de ex- fortalecidas pela produção gerada a partir da cado ao longo de 25 anos, promoveu trans-
são, tanto conceitual quanto prática. tensão: interação dialógica; interdisciplinari- indissociabilidade entre extensão, ensino e formações na universidade como um todo.
Antes, a extensão era entendida como uma dade e interprofissionalidade; indissociabili- pesquisa; pela ampliação da prestação de ser- Revisões da prática docente, alterações e
área voltada apenas aos cursos de especializa- dade ensino-pesquisa-extensão; impacto na viços e do número de programas, projetos, ajustes na estrutura organizacional e, ainda,
ção ou à assistência à saúde – no caso, o aten- formação do estudante; e impacto e transfor- cursos de extensão e eventos institucionais; e reflexões sobre o conceito e o papel da insti-
dimento pelo Hospital Universitário. Hoje a mação social. pelo aprimoramento dos cursos de especiali- tuição nos diferentes contextos – nacional e
universidade expandiu sua visão, realizando Assim, como determina a Constituição zação e de aperfeiçoamento. Houve, também, internacional.
as atividades de extensão em diversos níveis: Cidadã de 1988, a Unifesp ajuda a promover uma aposta em diversas iniciativas na interfa- Nesse sentido, o cenário de desafio e re-
projetos sociais, formação a distância, cria- e a garantir os valores democráticos da equi- ce com outras pró-reitorias, a exemplo da po- invenção permanece atual para a universida-
ção de estratégias de atuação em movimentos dade e do desenvolvimento da sociedade em lítica de observatórios, da curricularização da de pública. Cabe a ela continuar a contribuir
populares, atendimento às populações mais suas dimensões humana, ética, econômica, extensão na matriz curricular da graduação, para o enfrentamento das crises contemporâ-
carentes nas próprias localidades, ensino a cultural e social. do Projeto Acadêmico de Prestação de Servi- neas, oferecendo subsídios científicos, de for-
refugiados, atendimento em saúde a grupos Parabéns aos extensionistas. E isso signi- ços (Paps), da inovação social, da política de ma ética e comprometida com a emancipação
sociais vulneráveis, projetos de combate à vio- fica parabenizar toda a Unifesp, que conti- direitos humanos, da política de cultura e da humana. E é justamente na compreensão des-
lência e às drogas, políticas de ações afirmati- nua mobilizada, tornando-se cada vez mais institucionalização das empresas juniores. se propósito que a extensão e a cultura univer-
vas, núcleos de estudos africanos e indígenas ativa, abrangente e consciente de seu papel É importante ressaltar que a Unifesp tem sitárias reiteram seu significado: como prá-
e cátedras de estudos populares. como universidade – pública e inserida na sido responsável por desenvolver progra- tica acadêmica produtora de conhecimento
Mais recentemente, introduzimos novas sociedade. mas que contribuem com as políticas públi- na diversidade e na interação dialógica com
dimensões institucionais para a extensão ao Desejamos a todos uma boa leitura. cas, tais como cursos de especialização (lato a sociedade.

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entrevista naomar de almeida filho

Alex Reipert
Um caminho
para o diálogo entre
universidade e sociedade
Médico epidemiologista, ex-reitor da UFBA e da UFSB e professor visitante do
IEA/USP, Naomar de Almeida Filho abordou os caminhos enfrentados pela extensão
universitária nas instituições públicas de ensino superior brasileiras

Para Almeida Filho,


museus, orquestras

N
sinfônicas, corais e
Valquíria Carnaúba aomar de Almeida Filho, docen- determinado assunto, desenvolve aplica- Entreteses • Existe confusão entre os con- hospitais, a sociedade tem maior propensão ginásios de esportes
te no Instituto de Saúde Coletiva ções e o traduz para que seja efetivo na so- ceitos extensão universitária, filantropia e a considerá-los como a grande contribuição são ações de extensão
da Universidade Federal da Bahia lução de problemas”. Também sua vivência assistencialismo? social de uma universidade, um direito dos que permitem à
universidade retornar
(UFBA), ex-reitor da instituição e da na área médica, onde o controle e a preven- Naomar de Almeida Filho • É na extensão sujeitos. Há também os museus, uma outra uma demanda social,
Universidade Federal do Sul da Bahia ção de doenças são considerados extensão que identifico uma dificuldade maior da forma de extensão pensada de modo a sin- já que não consegue
(UFSB), vice-presidente da Associação da medicina tradicional, ajudou a funda- universidade se reconhecer. E como a ex- tetizar ou representar a realidade externa. absorver todos os
jovens que almejam a
Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e mentar seus conceitos. Para ele, ainda que a tensão não é priorizada na missão orgâni- Toda grande universidade no mundo tem educação superior
professor visitante do Instituto de Estudos Constituição Federal disserte sobre a indis- ca das instituições, também não está pre- seus museus, assim como orquestras sin-
Avançados da Universidade de São Paulo sociabilidade entre ensino, pesquisa e ex- vista nos seus orçamentos - com exceção da fônicas, corais, hospitais universitários, gi-
(IEA/USP), é um grande crítico do verda- tensão - as três bases da educação superior prestação de serviços e atividades na área násios de esportes, ou seja, atividades que
deiro papel da extensão universitária no - esse terceiro pilar persiste com um certo da saúde, como os hospitais universitários. fazem essa ligação da universidade com a
Brasil. Em entrevista à Entreteses, Almeida viés de marginalidade, já que é trabalhado As verbas orçamentárias destinam-se exclu- sociedade. São formas de a instituição retor-
Filho abordou, de maneira central, a difi- pelas universidades públicas de modo me- sivamente ao ensino; já as fontes para pes- nar uma demanda social, já que a universi-
culdade de a extensão universitária ser de nos intenso em relação aos demais e, por quisa advêm das agências públicas de fo- dade não consegue absorver todos os jovens
fato incorporada à verdadeira missão das fim, ainda carece de um orçamento próprio mento (Finep, Capes e Cnpq). Temos, por que estão precisando da educação superior,
universidades públicas. Define extensão para a contratação de bolsistas e o desen- um lado, em algumas universidades, ativi- reservando pequenos fragmentos de sua ex-
universitária como "a atuação da institui- volvimento de suas ações. Almeida Filho dades artísticas e culturais sendo definidas celência e os estendendo aos demais. É inte-
ção junto à sociedade, à comunidade, fora discorreu ainda sobre o limiar entre exten- como extensão, quando o conceito não se ressante refletir que a extensão se apresenta,
dos muros da universidade. Por meio de são universitária e assistencialismo, auto- aplica, pois se trata de uma parte da função muitas vezes, como a única forma de fazer
projetos (duração finita) e programas (du- nomia universitária e os caminhos que se criativa da vida acadêmica. Já no caso dos quem está fora da universidade se fazer
ração por tempo indeterminado), o pes- apresentam às ações extensionistas frente
quisador produz conhecimento sobre um ao contexto atual.

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ouvir, permitindo o diálogo. Nesse sentido, E. A curricularização das ações de extensão é pública se aplicam, e isso é um problema. O

Alex Reipert
é raro um programa ou projeto de extensão um dos caminhos para a integração à missão Brasil tem algumas experiências de autono-
ser uma ação que pergunta; costuma-se na da universidade? mia relativa em gestão financeira, como as
extensão fornecer de imediato uma solução, N.A.F. É uma maneira institucional, mas universidades paulistas, com uma porção
em vez de ser algo mais exploratório, dia- convencional, de se produzir um valor para de seu orçamento definida de acordo com
lógico. Essa discussão incorpora, inclusive, a extensão. É o que torna aquela ação inte- o percentual de arrecadação [de impostos].
o aspecto político da extensão. Em tese, as grável ao histórico escolar dos estudantes, Já as universidades federais dependem de
universidades têm uma missão civilizatória, um reconhecimento de que aquela atividade uma parcela do orçamento do Ministério da
de modo a não impor a transformação, mas equivale a uma disciplina ou curso. Acredito Educação (MEC) e são caracterizadas pela
relacionando-se com a sociedade com uma que outro caminho mais interessante seria vinculação dos sujeitos como funcionários
postura mais modesta. a abertura ampla dos currículos, e as ativi- federais – os servidores compõem a car-
dades que produzam aprendizado serem re- reira do serviço público. Tenho defendido
E. Como citou o caso dos hospitais universitá- conhecidas como tal, sem a obrigatoriedade que precisamos ter mais clareza sobre por A autonomia universitária em relação ao Estado foi uma das questões
rios, entende que a sociedade ainda tem difi- de as horas de extensão serem cumpridas qual autonomia se luta, mas ela não vinga- levantadas pelo ex-reitor da UFBA. "A principal regra da administração
pública é poder fazer somente o que está na norma, e isso é a morte da
culdade de visualizar as ações de extensão uni- como aula. No processo de aprendizagem, rá se nos mantivermos submissos à folha universidade
versitária como um direito? as pessoas são diferentes entre si. Para al- de pagamento do governo federal. Outros
N.A.F. Sim, mas a responsabilidade é, em guns estudantes, não adianta três mil horas países construíram suas alternativas ado- para sujeitos individuais, muitos definidos
parte, da própria universidade, pois são de prática se eles não estiverem incorporan- tando modelos fundacionais. Os Estados por suas mitologias familiares. Apesar da
realizadas quase como uma concessão da do aquele ato, e a reflexão sobre a ação, como Unidos (EUA), por exemplo, não possuem inegável abertura recente do acesso, com a
instituição. Há movimentos meritórios que conhecimento. É bom pensar bem; precisa nenhuma universidade estatal, ainda que expansão e com as cotas, que de fato mu-
buscam reverter essa ideia, adotando um ter um tempo para sair daquela atividade e muitas sejam públicas por suas verbas ad- daram o cenário das universidades públicas
posicionamento mais crítico que visa inte- digerir tudo. virem do Estado. No Canadá, embora o or- brasileiras, quem mais aproveita delas é um
grar universidade e extensão, mas são casos çamento seja público e repasses de verbas segmento social que domina a política e a
isolados, não regra geral. As expectativas da E. Em um seminário na Universidade Federal ocorram mediante metas, as universidades economia e tem a universidade como a con-
sociedade se orientam não pela vanguarda, de Minas Gerais (UFMG), em 2017, você de- também não são estatais. Portugal, por sua tinuidade das próximas gerações. A pergun-
mas pelo que dá resultados de modo cer- fendeu que as instituições públicas de ensino vez, resolveu a situação criando o ente jurí- ta que persiste é a seguinte: esses segmen-
to e seguro. As pesquisas, ainda que inova- superior devem ter liberdade em relação aos dico chamado universidade pública. Onde tos sociais que conquistaram essa chance de
doras, muitas vezes voltam-se a aplicações processos de governança e capacidade de tra- tem dinamismo na produção de ciência, co- ascensão social estão recebendo da institui-
mais simples e conectadas com o cotidia- çar seus próprios destinos. Ainda na ocasião, nhecimento e cultura, as universidades en- ção uma aprendizagem libertadora ou ter-
no. O mesmo deveria acontecer com a ex- lembrou que as universidades têm grande di- contram-se desvinculadas do Estado, são minam sendo cooptados a se tornarem par-
tensão que, a depender do projeto ou pro- ficuldade de admitir que precisam incorporar de fato autônomas. Temos agora que des- te dessa elite?
grama, pode se caracterizar como pesquisa/ a sociedade na sua gestão, no seu cotidiano, cobrir o nosso modelo ideal. Sendo parte do
ação, tratando de singularidades quando de- exigindo uma ampla reforma no ensino supe- Estado, as universidades federais brasilei- E. Na sua opinião, qual o futuro da extensão
veria ter como foco universalidades. Na ati- rior em pleno século XXI. O que deveria ser ne- ras padecem de uma contradição de base nas universidades federais brasileiras consi-
vidade extensionista, não há um interesse cessariamente modificado? em sua missão: a principal regra da admi- derando quatro fatores: retorno social (im-
científico declarado, comum na pesquisa N.A.F. As universidades, mesmo aquelas nistração pública é poder fazer somente o postos), o patamar atual da educação básica,
convencional, o que leva a extensão a se tor- com postura politicamente mais engajada, que está na norma, e isso é a morte da uni- os cortes orçamentários e a visão da socieda-
nar quase que um subproduto institucional. não abrem seus espaços de gestão para que versidade, pois nesse registro nada pode ser de sobre o papel da universidade pública?
Mas muitas dessas ações definem a ciência a sociedade participe. No máximo, dois ou criado. Suas regras dependem de limites ex- N.A.F. Tudo isso faz parte de um ataque es-
de um modo socialmente responsável, e a três lugares em um conselho universitário ternos. Tornando essa questão mais central, peculativo contra a universidade pública
expressão “inovação social” é muito feliz com 60-70 membros, fazendo com que os penso que a ideia de autonomia que temos brasileira feito por um governo de viés tota-
para resumir esse conceito. Minha posição espaços de governança tornem a sociedade no país é uma distorção do verdadeiro con- litário, anti-intelectual e empenhado no que
é essa: o que a gente lista como atividade no- minoria nas decisões. Reforça-se, assim, a ceito, aproximando-se mais da velha liber- chamam de guerra cultural. Não haverá fu-
bre da universidade, pesquisa, é em grande gestão universitária como pública por ser dade de cátedra, ou seja, a liberdade de de- turo para a extensão se não houver horizon-
parte exercida sem registros, sistematiza- estatal, que presta contas “justificando” sua finir o que o professor ensina. Nesse aspecto, te de futuro para a universidade. Partindo
ção e reflexão, perdendo-se nos relatórios. existência. Nessa lacuna se insere a liber- há uma certa confusão como pauta política, do primeiro aspecto, consideremos a pau-
Há, por outro lado, uma grande dificuldade dade acadêmica no sentido da autonomia pois nisso não se distingue a autonomia ins- ta que coloca a cobrança de mensalidades
em reconhecer que uma ação de promoção institucional, que em diferentes contextos titucional da liberdade individual. Defender e anuidades nas universidades públicas.
de valores sociais ou uma atividade que re- ganha definições distintas. No Brasil, as o individualismo de modo algum represen- Para mim, há dois argumentos que, a meu
liga as pessoas (que podem ser chamados de instituições públicas pertencem ao Estado, ta uma reivindicação progressista e demo- ver, vão contra essa proposta. Por um lado,
trabalho de extensão) pode ser geradora de que dita o que a universidade pode fazer ou crática. Outra discussão que considero de- porque isso não vai resolver o problema or-
um volume considerável de conhecimento - não – e isso se aplica da contabilidade à esco- licada é o fato de as universidades estatais çamentário. No Instituto de Tecnologia de
etnográfico, antropológico, artístico, histó- lha dos dirigentes. Claro, se somos parte do no Brasil estarem a serviço dos interesses Massachusetts (MIT), por exemplo, ape-
rico e cultural. Estado, as regras da gestão administrativa privados, porque formamos projetos de vida nas 10% do seu orçamento é coberto por

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perfis

mensalidades. Aqui no Brasil, foi efe- se endividam. Os pobres são aque-


tuado um cálculo por meio do qual se les que, ao consumirem para sobrevi-
chegou à estimativa de que as mensa- ver, estão pagando a retribuição que o
lidades cobririam aproximadamente Estado faz aos que possuem poder de
18% do orçamento total. Por outro lado, compra elevado. É como se a universi-
este é um modelo de financiamento dade pública se consolidasse como um
que pode terminar aumentando a ex- grande dispositivo de propagação da
clusão de alguns segmentos sociais da desigualdade social, inclusive ofertan-
educação superior. Ainda assim, são ar- do formação de melhor qualidade nas
gumentos politicamente pouco eficien- profissões mais valorizadas no merca-
tes para se contrapor a essa cobrança. do de trabalho.
A expressão retorno social do investi-
mento público dá a impressão de que E. E a questão da educação básica, não
as pessoas que fazem a cessão de par- seria um foco prioritário da extensão?
te de sua renda ao Estado nacional N.A.F. A maior ação de responsabi-
são as mesmas que recebem esse be- lidade social das federais brasileiras
nefício. O retorno social não se aplica realmente seria o comprometimento
nesse caso, pois quem mais paga para com a melhoria da péssima qualida-
sustentar o Estado não está na univer- de da escola pública na educação bá-

Alex Reipert
sidade, mesmo com todo o esforço re- sica, outra das perversões nacionais. A
cente pela inclusão social na educação. maior parte dos docentes que atuam
O sistema tributário brasileiro é de na rede pública é formada no setor
uma regressividade absurda, fazendo privado e, por outro lado, a excelên-
com que os sujeitos de baixa renda pa- cia das universidades públicas coloca
guem proporcionalmente mais impos- os seus licenciados no setor privado.
to do que os que têm ganhos elevados.
O Instituto de Pesquisa Econômica
O maior programa de
Aplicada (Ipea) tem sucessivos estu- extensão das universidades

M
dos que revelam que, quanto maior a uito mais do que o simples contorno da lateral de um rosto, o perfil é uma oportu- Juliana Narimatsu
renda da pessoa física, menor é o pa-
públicas brasileiras deveria nidade de conhecermos as pessoas a fundo. Sejam tímidas ou extrovertidas, novas
gamento proporcional de impostos. As ser formar professores da ou idosas, sejam próximas ou distantes, todas possuem uma história para contar e,
famílias que ganham menos de três sa- apesar de aparentemente ser comum, o relato de vida desses indivíduos é único e, por isso,
lários mínimos comprometem 56% de
educação básica. significativo. Brenda Barbosa, Gustavo Leonel e Vanessa Gonçalves nos ofereceram essa
sua renda em impostos e aqueles que Hoje, o número de licenciaturas ofer- chance: a de escutarmos suas palavras por meio da literatura, identificarmos quem são e
ganham mais de 20 salários mínimos tadas pelas universidades federais é entendermos suas transformações por meio da extensão da Unifesp
pagam menos de 20% em impostos, em pequeno, ao passo que a evasão é alta
parte pelo sistema de restituição de im- – em alguns casos chega a 60%. O pou-
posto de renda por despesas educacio- co investimento institucional na for-

A escola de Brenda
nais para dependentes de até 24 anos. mação de professores e a prioridade
Mesmo quem não tem uma renda sa- na formação de profissionais é um
tisfatória acaba consumindo boa parte grave problema político para as uni-
dela para sobreviver, ao comprar rou- versidades públicas brasileiras. Enfim,
pa, comida, usar transportes públicos. formação de quais perfis profissionais Do sonho de costureira para mestranda na Unifesp, jovem se dedica a
Temos um sistema de distribuição de e em benefício de quem? Pensar nis-
renda absolutamente perverso; quem so é um esforço que vale a pena, pois
trazer a educação pública e popular de qualidade aos seus pares
tem renda paga uma escola privada de quando politizamos esse problema,
ensino médio para que os filhos pas- revela-se na extensão uma patologia “Lembrar sempre de sonhar, de alargar o ensino superior, mais ainda em uma
sem pelo “superfiltro” seletivo das uni- na relação da universidade com a so- os horizontes e de agir para que acon- universidade pública. Brenda não só se
versidades públicas. Quem sustenta ciedade, historicamente estabelecida teça.” Brenda é assim. Aos 26 anos, faz apropriou do espaço educacional, tor-
#entrevista o ensino privado são os pobres, pois como colonial, baseada na escravatura, o que muitos apenas pensam. Sua apa- nando-se uma estudante assídua, mas
#naomardealmeida não adentram as universidades gra- que promove uma imensa desigualda- rição na Unifesp se inicia na época da assumiu o papel de agente transforma-
#extensao tuitas, e aos que permanecem no en- de social. E a universidade pública tem graduação, quando não se acreditava dora, inspirada em uns e estimulando
#universidade sino médio público restam as vagas no ajudado a preservar e reproduzir esse que uma jovem negra, da periferia do outros a se envolver em ações coletivas.
#educacao ensino superior privado, onde muitos modelo. Grajaú, em São Paulo, poderia cursar Na verdade, tal envolvimento vem

10 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 11


A história de Gustavo
caçula da família, tem certa facilida-

Alex Reipert
de com trabalhos manuais. Seu desejo
na juventude, inclusive, era de ser cos-
tureira. Aos 13, para ajudar nas despe-
sas de casa, arranjou um bico na linha Muito mais do que aprender a partir da realidade do outro, é
de confecção de bolsas de uma fábri-
ca. Cinco centavos por cada arremate.
perceber que também podemos fazer mais por ele
Poderia continuar ali. Preferiu, no en-
tanto, encontrar um emprego formal Você, agora, é chamado pelo nome de O relacionamento não chega nem per-
entregando seu currículo como apren- Edmond Dantès. E vive em uma pri- to dos exibidos por comerciais de mar-
diz de porta em porta. Num mundo em são, onde há boatos que ninguém con- garina. Com sua mãe, dialoga só o ne-
que a realidade pode limitar os sonhos, seguiu escapar. Mas sua liberdade e cessário. Seus irmãos escolhem igno-
o melhor para Brenda era fazer aconte- bondade escaparam por suas mãos rar sua existência. Já seu pai, distante
cer. E, apesar da rotina exaustiva, não após ser condenado por um crime que desde a infância, mal troca uma pala-
abriu mão dos estudos. não cometeu. Como lidar com tal desti- vra ou um olhar. Ele, inclusive, tentou
Entendeu só depois que sua vivên- no? Difícil resposta! Talvez você já a sa- expulsar você de casa. A péssima con-
cia foi a chave para o ensino superior. be. Tem conhecimento do norte que o vivência reverbera com os demais pa-
Visualizou que o Serviço Social era a marinheiro de Alexandre Dumas, em O rentes, até por aqueles que sente apre-
de antes. O episódio se deu no ensino oportunidade de profissionalizar suas Conde de Monte Cristo, decidiu se guiar. ço. Contudo, existe ainda quem goste
fundamental II. Brenda observou que, iniciativas e colocar outras em prática. A literatura nos oferece essa oportuni- de colocar o papo em dia, que prefere a
fora ela, outros coleguinhas de diferen- Na sequência do diploma de graduação dade, a de navegar por diferentes ma- sua companhia para sair. Seu avô, com
tes turmas chegavam cedo na escola e da Unifesp, engatilhou um mestrado res, de chegar a lugares nunca desbra- 85, é essa exceção.
ficavam tediosos até a aula começar. na USP Leste. A energia de caloura per- vados e aprender. Ok, partiremos para Você decide, então, enfrentar os de-
Decidiu levar o problema para a dire- durou durante todo o curso, impulsio- uma outra história, desconhecida, mas safios por empoderamento. Trabalha e
tora trazendo logo uma solução: liberar nando-a a complementar sua formação possível de ser comum. estuda. Sim, voltou a cursar a gradua-
os brinquedos do recreio. “Eu me liguei com projetos de extensão: foi bolsista Você escolheu ser Derfel Cadarn, ção por uma causa política, para ocu-
que, além de perceber a situação, é pos- na tutoria do PET Educação Popular e, mas não o guerreiro leal de rei Arthur, par os espaços em que a população
sível mudá-la”. dali, fez parte da criação do cursinho apenas apropriou-se das característi- trans é minoria*. Atua em uma startup,
E lá foi Brenda preencher o resto pré-vestibular da Baixada Santista, o cas do personagem para trazer para os uma conquista suada depois de inúme-
do dia com atividades extracurricula- Cardume, sendo ainda professora vo- dias atuais. É uma pessoa tímida, mo- ras entrevistas em outras empresas. A
res, mesmo que não organizadas pela luntária de Redação. Mas Brenda não nossilábica de vez em quando, calada busca por um emprego foi, aliás, uma
escola. Nesses casos, cabia aos próprios se deu por satisfeita. na maioria das vezes, mas possui um época complicada, já que estava sofren-
estudantes a organização e execução. Foi com tal talento sensitivo, soma- sorriso cativante. Busca refúgio nos li- do de ansiedade social. A doença foi
Participou dos programas de capaci- do à característica própria de identifi- vros e na escrita. Gosta de diários. Gos-
tação para desenvolvimento de proje- car aspectos inesperados em situações ta de pinturas. Admira Monet e Van

Alex Reipert
tos sociais – um promovido pela ONG esperadas, que Brenda decidiu fazer Gogh e até cogitou cursar Artes na gra-
Labor e outro pelo Aprendiz Comgás –, um novo mestrado, dessa vez na Uni- duação. No entanto, por conta da facili-
aperfeiçoando movimentos culturais fesp. Ao contribuir com o trabalho de dade com os números, optou por fazer
oferecidos pela própria escola, volun- tutora no Projeto de Desenvolvimen- Ciências Contábeis na Unifesp.
tariou-se como monitora da biblioteca, to Acadêmico Abdias Nascimento, cur- Você é um homem trans. A notícia
idealizou a formação de um grêmio sinho preparatório para a pós-gradua- sobre seu ingresso no ensino superior
estudantil para dar continuidade às ção, notou as dificuldades da primei- trouxe uma mistura de alegria e preo-
ações de extensão e, no fim do ensino ra turma. Da elaboração do projeto cupação. Sinceramente, mais preocu-
médio, planejou um grupo de estudos de pesquisa ao modelo hierarquizado pação. Você não queria frequentar um
preparatórios para o vestibular. Con- do processo de ingresso. O sininho do novo ambiente, ainda mais univer-
seguiu ainda reservar um tempo para Serviço Social a despertou para conti- sitário, pois estava no começo da sua
uma partida de futebol, levando o time nuar analisando o contexto educacio- transição. Mas resolveu encarar. Não
Vai ou Racha – Parte II para a final do nal. “Sem romantizar, tive que apanhar, só uma, nem duas, mas três vezes. Os
campeonato interclasses. mas cresci muito. Não acredito que é constrangimentos insistiram em per-
Fato é que não se via a escola sem preciso sofrer para aprender. Por isso, manecer e os boatos correram soltos.
Brenda. Nem Brenda sem a escola. Mas tenho um senso forte de responsabili- Mesmo mudando de semestre, mes-
quem é Brenda Barbosa da Silva? Filha dade e quero antecipar e colaborar pa- mo mudando de turma, certos colegas
de pernambucanos, a mãe, vendedora ra que novas estratégias possibilitem não mudaram suas atitudes.
de doces, e o pai, laminador. Libriana, que outras Brendas apareçam por aí”. Você não consegue apoio na família.

12 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 13


melhor trabalhada com a ajuda de uma Você é Gustavo Parra Leonel e esse Vanessa apropriou-se dessa vida

Alex Reipert
psicóloga do Ambulatório de Saúde In- é um breve relato da sua história. “Foi normalmente. E foi assim que o Jar-
tegral para Travestis e Transexuais, lo- uma montanha russa, com muitos al- dim Santa Mônica se transformou em
cal que frequenta e se trata desde 2016. tos e baixos, mas, agora, os loopings um lar. Da simples alvenaria sem rebo-
Você é voluntário do Núcleo Trans cessaram, finalmente! Eu evolui co- que nem pintura em contraste com os
da Unifesp. O envolvimento se deu logo mo pessoa, e o fato de ver outras rea- condomínios residenciais de luxo. Dos
no início, também em 2016, no fórum lidades fez eu perceber que posso fa- escorregas no morro de terra aos cór-
de criação, quando sentiu, pela primei- zer mais pelos outros, trazer melho- regos a céu aberto para as corriqueiras
ra vez, que não estava sozinho. Apesar res condições para população. Nosso enchentes. Os problemas, na verdade,
dos dias corridos, participou das reu- maior desafio é o preconceito, sempre encontravam-se no interior de sua ca-
niões de desenvolvimento do projeto e vai haver, mas é por isso que precisa- sa. Caçula, Vanessa foi fruto de mais
contribuiu no planejamento e divulga- mos exercitar, todos os dias, a empa- um casamento que não deu certo. Sem
ção de suas atividades. Lá, foi um es- tia”, você finaliza. a presença do pai, aos oito, precisou en-
paço que possibilitou a você se conhe- carar também a ausência da mãe. Seu
*De acordo com a Associação Nacional de Travestis e
cer e também conviver, não só com es- Transexuais (Antra), 0,02% da população de travestis e
falecimento ocorreu de forma abrupta,
tudantes trans, mas diferentes formas transexuais estão na universidade. viajando, durante as primeiras férias
de pensamentos e vivências. Sua con- do emprego, para a cidade natal. Sem
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE TRAVESTIS E
tribuição foi o caminho para promover TRANSEXUAIS. Mapa dos assassinatos de travestis e
recurso para bancar as passagens dos
novas ações, levando a discussão de gê- transexuais no Brasil em 2017. Brasília: ANTRA, 2018, filhos, as crianças, no fim, mal pude-
121 p. Relatório disponível em: <https://antrabrasil.
nero e diversidade para todos os campi files.wordpress.com/2018/02/relatc3b3rio-mapa-dos-
ram se despedir. “As datas comemora- do Jardim Santa Mônica é a primei-
e para o hospital universitário. assassinatos-2017-antra.pdf>. Acesso em: 20 set. 2019. tivas, durante a minha infância, na es- ra da família a conquistar um diplo-
cola, foram muito difíceis, porque eu ma no ensino superior e a frequentar
não tinha a referência de pai e de mãe”. uma universidade pública. “‘Faculdade
Não fosse por querer transformar que não pode pôr os pés’ é um trecho
o mundo, Vanessa seria colecionadora da música do Emicida. A gente acre-
de episódios de superação. Mais velha, dita que esse é um lugar que não nos
com 28, foi vítima de violência domés- pertence, para o pobre, preto, de peri-

Vanessa do Jardim
tica. Tudo começou por ela ter denun- feria... mas eu sou a prova que conse-
ciado o irmão por tentativa de homicí- guimos, sim”.
dio contra sua sobrinha de oito meses. O que Vanessa não esperava foi que,

Santa Mônica
A cunhada já passava por um histórico muito mais que conhecimento, ela pu-
de agressão, inclusive enquanto estava desse ter clareza sobre seu território. O
grávida, e foi a própria Vanessa quem Jardim Santa Mônica é uma comunida-
a acompanhou no hospital. Com ca- de precária, sem acesso às políticas pú-
Dado o devido valor ao que tinha e não tinha, Vanessa ra e coragem, sem dinheiro para pa- blicas, sucateada. Tal despertar se deu
gar um advogado, ela levou o caso pa- durante a especialização em Cidades,
acabou dando valor a si mesma ra Defensoria Pública. A justiça, no en- Planejamento Urbano e Participação
tanto, não foi favorável. Vanessa foi Popular, oferecida pelo Instituto das
O Jardim Santa Mônica poderia ser um Parou em um terreno às margens da obrigada a deixar a sua origem e o seu Cidades (IC/Unifesp) - Campus Zona
bairro igual a todos os outros em São Rodovia dos Bandeirantes. Tijolo por Jardim Santa Mônica. “E se ele matas- Leste. O curso foi para aperfeiçoar seu
Paulo. Poderia, se não fosse por uma fa- tijolo, trabalhando como tecelã, levan- se alguém? Eu iria carregar essa culpa! trabalho como assistente social, com-
mília. Lá dentro há desafios de uma me- tou um único cômodo para receber os Minha vida desmoronou, mas não me preender a importância do território.
trópole inteira. É o pedaço da realidade filhos. Em seguida, os parentes. Com as arrependo”. Dito e feito. Dado o devido valor ao que
na utopia de uma cidade grande. O pro- primeiras moradias, vieram também a Vanessa teceu seu futuro com os re- tinha e não tinha, Vanessa acabou dan-
testo à tão gritante e comum desigual- água e a luz. Houveram momentos em talhos da própria experiência. Com o do valor a si mesma. Colecionando epi-
dade social. O Jardim Santa Mônica é o que aparecia alguém da Prefeitura. Em desejo de proporcionar novas perspec- sódios de superação, ela ressignificou
lar de uma jovem perspicaz, que a par- outros, mais tensos, as habitações ama- tivas, garantindo que situações como seu passado e também seu futuro. Tal-
tir das dificuldades encontrou motivos nheciam marcadas em vermelho, pron- as que passou não repetissem. “Tudo vez seja esse o papel do Jardim Santa
para aprender e transformar. É o lar de tas para serem derrubadas. “Só depois tem uma motivação e se você quer che- Mônica. E talvez por isso que ela bus-
Vanessa da Silva Pereira Gonçalves. comecei a ter consciência da minha tra- gar em um propósito é por meio dos es- que também por sua transformação.
Ninguém sabe dizer como foi que a jetória, que eu venho de uma ocupação tudos”. Ela se formou em Pedagogia e, “Nós precisamos modificar nossa reali-
família de Vanessa parou por ali. Fato e que temos problemas de vulnerabili- na sequência, fez Serviço Social. Ins- dade. É uma ação de formiguinha, mas
é que sua mãe saiu de Remanso, inte- dade social. Enquanto moradora, não creveu-se recentemente em uma ou- se cada um fizer um pouco, juntos, já
rior da Bahia, rumo à capital paulista. enxergava isso”. tra graduação, em Direito. A jovem estamos mudando muita coisa”.

14 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 15


Alex Reipert
Sou mais importante do que pensam...
EXTENSÃO V
ocê! É você mesmo! Aproxime-se, distintas, mas alcançam também diferen- Juliana Narimatsu
e

universitária
vamos conversar. Aliás, contar his- tes públicos. Desde a criação de jogos de ta-
Valquíria Carnaúba
tórias e dialogar sobre elas são dois buleiro para estimular o aprendizado sobre
momentos dos quais gosto tanto, desde que, doenças infecciosas até o desenvolvimento
lógico, envolvam você e a universidade pú- de unidades de software que fornecem solu-
blica. É nessas ocasiões que tenho a opor- ções para o fluxo de trabalho em organiza-
tunidade de trazer o conhecimento popular ções sociais sem fins lucrativos. A promoção
e o conhecimento científico para o mesmo de atividades e a prestação de serviços para
espaço, fazendo da troca de saberes o prin- idosos, pacientes com fibromialgia, refugia-
cipal fermento para a produção acadêmi- dos, travestis e transexuais. Pode surgir da
ca brasileira. Eu e meus irmãos, o ensino e intenção de um grupo em buscar partes da
a pesquisa, somos, inclusive, inseparáveis. história e da memória do país por meio da
Tal união está até oficializada, há mais de identificação de mortos e desaparecidos po-
30 anos, no artigo 207 da Constituição da líticos ou pode surgir do propósito de outro
República Federativa do Brasil, de modo em mostrar a brasilidade e a importância
que nunca nos dissociássemos, justamente comunitária por meio das ondas sonoras de
para levar o melhor da educação superior uma rádio escola. Minha missão é simples e,
pública a você, que me lê agora. ao mesmo tempo, complexa: proporcionar
Provavelmente você ouviu falar de mim. respostas às demandas da sociedade.
Pelo menos, deveria. Por alguns, sou conhe- Aqui, na Unifesp, mantenho 43 progra-
cida como filantropia; por outros, como as- mas e 179 projetos. Sou inspiração para tan-
sistência social. No entanto, não é apenas tas atividades que você nem sabe que estão
isso. É comigo que a universidade promo- sob minha responsabilidade. A formação,
ve inovação social, algo que muda e muito a por exemplo, de cerca de 1.400 residentes
sua vida. Inovação social, digamos, é aquele médicos e multiprofissionais que auxiliam
conceito moderno – mais efetivo, eficiente, no atendimento dos milhares de pacien-
justo – que resume a lacuna entre os pro- tes que adentram o Hospital São Paulo, re-
blemas que enfrentamos e as soluções que conhecido como hospital universitário, e
oferecemos. E é desse universo que nascem seus ambulatórios. A prática empresarial
novos modelos benéficos à população, como e o empreendedorismo, temas trabalha-
economia solidária, empreendedorismo so- dos pelas oito empresas juniores que for-
cial, gestão comum de bens e terceiro setor – talecem o relacionamento dos estudantes
este último termo, com certeza, você já o leu com o mercado profissional. Existem ain-
por aí, e é a partir dele que eu firmo parce- da os observatórios, espaços de articulação
rias para que essas práticas o atinjam. democrática capazes de contribuir para Confira todos os nossos
Acredito que deu para notar certas carac- o monitoramento e a transformação da projetos e programas de
extensão em:
terísticas minhas, mas quero que saiba que realidade.
www.unifesp.br/
sou também exigente. Lá atrás, no ano de Normalmente não estou prevista nos cál- reitoria/proex/
1999, as instituições públicas de ensino su- culos das universidades públicas – assun- programas-e-projetos
perior se reuniram para decidir em quais to tratado por Naomar de Almeida Filho e
áreas do conhecimento seria permitido que que apresento mais adiante. A situação está /ProecUnifesp
se registrassem cursos, projetos, programas, mudando, mas as verbas orçamentárias são /channel/UCr1pynY-
eventos e prestação de serviços para aten- majoritariamente utilizadas no ensino, en- G8cYOFM-yB0ab6w
der a todos, do norte ao sul do país. Essas quanto os recursos para pesquisa advêm
ações, portanto, devem estar bem alinhadas das agências públicas de fomento. E eu,
com educação, saúde, meio ambiente, co- onde fico? Continuo ajudando a produzir
municação, cultura, direitos humanos, tec- parte da transformação social que, direta ou #proec #unifesp
nologia e trabalho. indiretamente, atinge você. Então, perce- #proecunifesp
O interessante é que, por conta do en- beu o quão sou importante? #extensao
volvimento com essas temáticas, as propos- Se não me conhecia, prazer. Eu sou a ex- #cultura
tas acabam oferecendo não só finalidades tensão universitária. #somosunifesp

16 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 17


Alex Reipert
integração social

Ações de integração
fortalecem vínculos
geracionais e culturais
MemoRef, Licenciatura Indígena e cursinhos populares integram conjunto
de ações de extensão intercampi voltadas à promoção de direitos humanos,
imigração e interculturalidade

A
José Luiz Guerra Coordenadoria de Direitos Humanos Universidade Aberta para as Pessoas
e (CDH/Unifesp) concentra programas Idosas (Uapi): nunca é tarde para
Paula Garcia
de extensão institucionais voltados aprender
especificamente à promoção da cidadania “Hoje eu sinto a essência da vida, coisa que
de jovens e idosos, refugiados e indíge- eu não sentia antes”. A frase de Esther de
nas. Aqui falamos dos cursinhos popula- Carvalho, 83 anos, estudante da unidade de
res, da Universidade Aberta para as Pessoas São Paulo da Universidade Aberta para as
Idosas (Uapi/Unifesp), do Memorial Digital Pessoas Idosas (Uapi/Unifesp), resume a im-
do Refugiado (MemoRef), da Licenciatura portância e o impacto do projeto, tanto para
Indígena (em fase de estruturação) e da a universidade quanto para as pessoas que
Cátedra Kaapora. Conforme explica Débora são beneficiadas por ele.
Galvani, docente da Escola de Filosofia, Criada em agosto de 1999, tem como pro-
Letras e Ciências Humanas (EFLCH/ pósitos principais a reciclagem do conheci-
Unifesp) - Campus Guarulhos, a meta da mento, a socialização, a inserção social e
coordenadoria consiste em acompanhar e atualização, destacando-se como uma das
cuidar das ações, intercampi e interdiscipli- iniciativas pioneiras no Brasil na área. As
nares, que dizem respeito a ampliar o aces- aulas são voltadas para maiores de 60 anos,
so à universidade por meio da promoção seguindo a classificação de pessoas idosas
dos direitos humanos. “Trata-se de abraçar da Organização Mundial da Saúde, e cada
a questão do envelhecimento, o acesso das um dos projetos oferece a seus estudantes
pessoas idosas à universidade e as práticas aulas sobre diversos temas- artes, curso de
intergeracionais (no caso das Uapis), ou va- línguas, direitos humanos e inclusão digital.
lorizar as iniciativas de ampliação de acesso Com o processo de expansão da universi-
à educação para uma população que, no ge- dade, o curso também se expandiu, e atual-
ral, não consegue acessar (no caso dos cur- mente conta com cinco unidades: São Paulo,
sinhos”, elucida. Baixada Santista, Diadema, Embu das Artes

18 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 19


Durante o curso, além das atividades regula-

Alex Reipert

Divulgação em rede social


res oferecidas, os estudantes podem se ma-
tricular em algumas disciplinas dos cursos
de graduação que oferecem vagas específi-
cas para a Uapi/Unifesp, e também de par-
ticiparem de outros projetos de extensão
oferecidos pelo campus. O projeto é coorde-
nado por Ricardo Guerra, docente do curso
de Educação Física do Instituto de Saúde e
Sociedade (ISS/Unifesp).
Além desses, são ofertadas 50 vagas no
Campus Diadema e 30 vagas na Unidade de
Extensão de Embu das Artes. Na Unidade
de Extensão de Santo Amaro, as atividades
focam em práticas contemplativas e inclu-
A coordenadora da Uapi/Unifesp em São Paulo, Claudia Ajzen, ministrando são digital.
aula para os estudantes da unidade
Cursinhos comunitários – Um
empurrãozinho para a vida acadêmica
Os cursinhos comunitários são iniciativas
organizadas por estudantes e servidores da
Ricardo Guerra
Unifesp que visam auxiliar os egressos do Cursinho Pré-vestibular Jeannine Cursinho Popular Cardume
ensino fundamental e médio a se prepara- Aboulafia (Cuja) • Campus: Baixada Santista
rem para concursos de vestibulinho e vesti- • Campus: São Paulo • Fundado em: 2012 Estudantes do Cursinho
bular de acesso a escolas técnicas estaduais, • Fundado em: 2001 • Vagas ofertadas: 120 Popular Pimentas Unifesp
(CPPU)
institutos federais e universidades. • Vagas ofertadas: 168 • Público-alvo: Estudantes e
Dispostos a promover a inserção social • Público-alvo: Estudantes e egressos de escolas públicas
desses jovens e adultos, muitos com defasa- egressos de escolas públicas ou • Inscrições: Início de fevereiro
gem em seu aprendizado, seus professores de baixa renda • Processo seletivo: Avaliação
trabalham com atividades que estimulam a • Inscrições: Início de dezembro socioeconômica
formação cultural, coletiva e política. • Processo seletivo: Avaliação • Custo: O curso é totalmente
Alguns desses cursinhos chegam a garan- socioeconômica e prova de gratuito
Grupo de estudantes da Uapi/Unifesp na Baixada Santista apresentando trabalho tir um índice de 30% de aprovação nos vesti- conhecimentos gerais • www.unifesp.br/
bulares das principais universidades. • Custo: O curso é gratuito, com campus/san7/extensao/
/UatiVilaClementino e Santo Amaro. O próximo passo, que já uma taxa de inscrição (R$ 20) e cursinho-poupular-cardume
está sendo discutido entre os coordenado- MemoRef - Apoio aos que buscam uma uma de matrícula (R$ 30) • /cursinhocardume #cursinho
res das Uapis e a Coordenadoria de Direitos nova vida • www.cujaunifesp.com • @cardumeunifesp #cursinhoprevestibular
Humanos, é a criação do núcleo das univer- Dados do Alto Comissariado das Nações • /cujaunifesp #estudante
sidades abertas à pessoa idosa, o que, na vi- Unidas para Refugiados (Acnur) apontam • @cuja.unifesp #ensinosuperior
#uapi são geral, contribuirá para garantir a conti- que o número de refugiados no mundo #enem
#uapiunifesp nuidade do trabalho realizado. cresceu 50% nos últimos 10 anos, alcançan-
#uati Primeira unidade em funcionamen- do 25,4 milhões de pessoas nessa situação.
#uatiunifesp to, a Uapi/Unifesp do Campus São Paulo Essa crescente movimentação social deman- Cursinho Popular Pimentas Unifesp Articula Cursinhos - Cursinho
existe desde 1999. Nesses 20 anos, já rece- da aos países que os recebem uma série de • Campus: Guarulhos Integra e Cursinho do GEB
beu mais de 1.500 idosos. Coordenada por ações de acolhimento. • Fundado em: 2009 • Campus: Diadema
Claudia Ajzen, que participa das atividades Uma dessas ações surgiu em 2015, pe- • Vagas ofertadas: 320 • Fundado em: 2017
desde o início, conta com aulas todas as ter- las mãos de Marina Reinoldes, graduada • Público-alvo: Estudantes e • Vagas ofertadas: 60
ças e quintas-feiras à tarde, contemplando, em Letras pela Escola de Filosofia, Letras egressos de escolas públicas • Público-alvo: Estudantes e
anualmente, 80 discentes. Devido à grande e Ciências Humanas (EFLCH/Unifesp) – • Inscrições: Em janeiro egressos do ensino médio
procura, é necessário que o(a) candidato(a) Campus Guarulhos. Quando discente, ela • Processo seletivo: Por meio da • Inscrições: Início de fevereiro
entre em uma lista de espera para a matrícu- ministrava voluntariamente aulas na ONG análise de uma redação • Processo seletivo: Inscrição
la. O curso tem duração de um ano. Oásis Solidário, na mesquita do Pari, e resol- • Custo: O curso é gratuito, com uma on-line
Na Baixada Santista, a Uapi/Unifesp fun- veu convidar outros colegas de curso para aju- taxa de inscrição (R$ 10) • Custo: O curso é gratuito, com
ciona desde 2006 - um dos primeiros proje- darem. “Como a procura foi grande, decidi • cursinhounifesp-guarulhos. uma taxa de matrícula (R$ 40)
tos de extensão do campus, e já beneficiou tentar levar o projeto para a EFLCH/Unifesp blogspot.com • /articulacursinhos
cerca de 1.300 idosos. Anualmente são aber- e começamos a organizá-lo”, explica. • /cursinhounifespguarulhos
tas duas turmas de 50 pessoas cada, com O programa possui três eixos principais:
aulas às sextas-feiras, no período da tarde. ações culturais que integram a comunidade

20 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 21


José Luiz Guerra

José Luiz Guerra

CDH/Unifesp

CDH/Unifesp
Turma de estudantes do MemoRef Um dos materiais didáticos produzidos pela equipe do Atividade de construção do Projeto Político-Pedagógico Coordenadores do projeto de Licenciatura Indígena da Unifesp e professores indígenas
MemoRef da Licenciatura Indígena

acadêmica ao entorno, aulas de língua e cul- cerca de 500 inscrições no curso. Se tivésse- conhecimento atrelada às aldeias, à deman- das tradições indígenas. “Tomamos todos
tura brasileira para refugiados, alimentação mos mais estrutura, provavelmente teríamos da das escolas indígenas, e também uma de- os cuidados com alojamento, com as crian-
do memorial digital do refugiado, contando chance de ampliá-lo”, afirma Galvani, uma manda dos professores”, diz Galvani. ças. Já que as famílias não podem se separar
por meio da história oral o relato de vida dos das coordenadoras do curso. Para ela, a ati- E pensar em licenciatura indígena não das mães, precisa de espaço para manter as
estudantes. Além do apoio institucional, que vidade é importante, já que o tema ainda é se restringe apenas ao currículo, mas às ca- suas práticas, como a alimentação, a reza, o
ocorre por meio da CDH/Unifesp, da qual o pouco discutido nas universidades. “A gente racterísticas desse público, alternando ati- fumo, a presença do Pajé, se alguém adoece...
/memorialdorefugiado programa faz parte, atualmente, o projeto percebe uma demanda enorme de gente que vidades na universidade e nas aldeias, si- são vários elementos e a concepção do curso
tem apoio da Cáritas Arquidiocesana de São está atendendo nos serviços de saúde, assis- tuadas na região de Parelheiros, extremo precisa levar em conta tudo isso”, completa a
Paulo, da ACNUR e do Conselho Municipal tência e educação, em ONGs, com pouca for- sul de São Paulo, permitindo a manutenção coordenadora da CDH/Unifesp.
de Assistência Social de Guarulhos. Em 2018, mação em relação às demandas dos imigran-
#memoref expandiu suas atividades para o Campus São tes”, completa.
#cultura Paulo da Unifesp e recebeu o Selo de Direi-
#memoria tos Humanos e Diversidade, concedido pela Licenciatura indígena - Espaço para
#identidade Secretaria Municipal de Direitos Humanos discussão sobre saberes dos povos CAAF/Unifesp consolida modelo de investigação
e Cidadania da Prefeitura de São Paulo (SM- indígenas e quilombolas sobre violação de direitos humanos no Brasil
DHC/SP), concedido a empresas e organiza- Um espaço para propor formas de troca e
ções que promovem políticas de inclusão de diálogos com grupos tradicionais, populares, O Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF/Unifesp) tem de-
diferentes segmentos da população no mer- não hegemônicos e não ocidentais. Com essa senvolvido, durante seus cinco anos de existência, projetos importantes
cado de trabalho. missão, a Cátedra Kaapora foi instalada na com foco na defesa dos direitos humanos. Os dois principais são a pes-
O ensino da língua portuguesa também Unifesp em 2014. Desde então, foram reali- quisa sobre os Crimes de Maio de 2006, que investigou os episódios de
é oferecido por meio de um curso oferecido zadas inúmeras atividades, com o intuito de violência de Estado a partir das execuções ocorridas na região da Baixada
pela própria CDH/Unifesp, voltado para a in- passar os ensinamentos relativos às culturas Santista há 12 anos, e o Grupo de Trabalho Perus (GTP), instituído em 2014
serção de estudantes estrangeiros em cursos indígenas e quilombolas, geralmente conta- a partir de um acordo de cooperação técnica entre as Secretarias Nacional
de graduação da universidade, por meio do das pelos próprios membros dessas comuni- e Municipal de Direitos Humanos e a Unifesp, com a finalidade de anali-
Programa Estudante Convênio de Gradua- dades, aos estudantes da Unifesp. sar os restos mortais encontrados em 1990 no local que ficou conhecido
ção (PECG). “O curso é pioneiro no Estado Coube também à cátedra e à Coordena- como vala clandestina de Perus, no Cemitério Dom Bosco, na zona norte
de São Paulo e além de ser um curso de por- doria de Direitos Humanos atuar no apoio de São Paulo.
tuguês, é um programa de acolhimento, já ao desenvolvimento da licenciatura indíge- Dois cursos, vinculados à Coordenadoria de Direitos Humanos da
que muitos desses estudantes passam por si- na. A partir de uma demanda do Fórum de Proec/Unifesp, decorrem da consolidação do órgão: o curso de especiali-
tuações de racismo e xenofobia na socieda- Professores Indígenas do Estado de São Pau- zação em Antropologia Forense e Direitos Humanos, criado em 2017, e o
de e nós montamos esse programa já saben- lo (Fapisp) e do Comitê Interaldeias de São curso de especialização em Direitos Humanos e Lutas Sociais. A especia-
do de tudo isso e pensando em estratégias de Paulo, a Unifesp se mobilizou para pensar lização em Antropologia Forense, fruto de uma parceria do centro com a
acolhimento,” explica Galvani. em estratégias de apoio à formação na área, Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) do Governo Federal e do
Outra ação ligada ao apoio aos refugia- diante da impossibilidade imediata de criar apoio da Secretaria de Segurança Pública Nacional (Senasp). Já a especia- /caafunifesp01
dos é o Curso de Saúde Mental, Imigração uma licenciatura. “Quando a gente recebe lização em Direitos Humanos e Lutas Sociais busca articular os saberes
e Interculturalidade. Nascido como um cur- essa demanda, a Cátedra Kaapora é convi- emergentes das lutas com a produção acadêmica, objetivando qualifi-
#catedrakaapora so de curta duração, em três anos tornou-se dada a nos ajudar na discussão e no entendi- car a trajetória e a atuação das várias militâncias e ativismos em direitos #caaf
#licenciaturaindigena um curso de especialização, com oferta de mento e a demanda deles é bastante específi- humanos. #antropologia
#indigenas trinta vagas anuais, mas com uma procura ca, que é de conteúdo e perspectiva de ensino, #arqueologia
#quilombolas bem maior do que isso. “Esse ano tivemos como a gente cria uma forma de produção de #forense

22 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 23


igualdade racial

Arquivo
Educação no combate
à discriminação
Começando na sala de aula, Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab/Unifesp) é o
principal responsável na universidade por ações de promoção da igualdade racial

Estudantes do curso Cultura Afro-brasileira, na Unidade Avançada de Extensão Universitária Santo Amaro

A
Paula Garcia pós a redemocratização do Brasil, organizar na forma de núcleos de estudos. Escola de Filosofia, Letras e Ciências Huma- Por meio da Pró-Reitoria de Extensão e
diferentes movimentos negros passa- “Antes as ações não eram unificadas, articu- nas (EFLCH/Unifesp) - Campus Guarulhos, Cultura (Proec/Unifesp), o Neab/Unifesp
ram a enxergar a educação como uma ladas ou centralizadas em um órgão espe- no ano de 2009, já tendo em sua trajetória desenvolve ações de caráter extensionista,
aliada ao combate à discriminação racial e cífico, mas de alguma forma respondiam a constituição de um núcleo na Universi- como cursos e palestras, tendo respaldo inte-
à inclusão das minorias étnicas. Ações para a um conjunto de demandas que vinham dade Federal de Uberlândia (UFU). A par- gral durante a Semana da Consciência Negra,
difusão do conhecimento sobre a temá- sendo historicamente colocadas por ativis- tir de 2010, ao se reunir com Cleber San- evento anual mais importante do programa.
tica étnico-racial dentro de instituições de tas dos movimentos negros no Brasil como tos Vieira e mais alguns docentes negros do A Proec/Unifesp também assegura um bol-
ensino foram ganhando expressão e visibi- um todo”, contextualiza o coordenador do campus, se inicia uma conversa sobre a pos- sista do convênio firmado entre a Unifesp e o
lidade. Com a criação da Lei nº 10.639 de 9 Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab/ sibilidade de formação do Núcleo de Estu- Santander Universidades, responsável pelo
de janeiro de 2003, instituindo a obrigato- Unifesp), José Carlos Gomes da Silva. dos Afro-Brasileiros na universidade. “Isso suporte de todas as atividades do núcleo.
riedade do ensino sobre história e cultura Existem no Brasil mais de 150 Neabs não quer dizer que as ações aconteceriam só Já em parceria com a Pró-Reitoria de Gra-
afro-brasileira nos estabelecimentos educa- atuantes nas instituições federais de ensino após a institucionalização. Esses professo- duação (Prograd/Unifesp), o Neab/Unifesp
cionais, e com a criação do Plano Nacional superior, conforme dados do último relató- res, em conjunto com estudantes negros, já tem estudado a atuação na graduação, com
de Implementação das Diretrizes Curricula- rio da Associação Brasileira de Pesquisado- vinham desenvolvendo atividades com cará- o intuito de inserir conteúdos relacionados
res Nacionais para a Educação das Relações res Negros (ABPN), que visam desenvolver ter do que seria o Neab hoje, como semanas à temática racial na grade curricular dos
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e ações, quase sempre no campo da educação, de consciência negra e cursos de extensão”, diferentes cursos da universidade.
Cultura Afro-Brasileira e Africana, em 2004, mediante atividades extensionistas, que de explica Silva.
os coletivos existentes ganharam força para alguma forma buscam aproximar a univer- Em 2015 a Unifesp insere-se no contexto Igualdade racial e combate ao racismo
o aumento de sua produção. sidade da sociedade, em especial da popu- das políticas públicas de promoção da igual- Como programa de ação afirmativa dentro
Em 2005, por meio do Programa de Ações lação negra. dade racial e de combate ao racismo plane- das instituições federais de ensino superior,
Afirmativas para a População Negra nas jadas em âmbito nacional, com a criação do o Neab tem como missão articular suas ati-
Instituições Federais e Estaduais de Edu- Neab como instância local seu Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, colo- vidades com os planos de ensino, pesquisa
cação Superior (Uniafro), há o reconheci- A história do Neab dentro da Unifesp cando a instituição em sintonia com os mar- e extensão no contexto organizacional uni-
mento dessa representatividade dentro das começa quando Silva ingressa como docente cos legais que regulamentam o tema para as versitário, inserindo conteúdos relaciona-
instituições e alguns grupos começam a se no Departamento de Ciências Sociais da atividades meio e fim no ensino superior. dos à temática racial. Oficinas, grupos de

24 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 25


diversidade

formação, minicursos e palestras foram Paulo criaram a pós-graduação lato sensu


implementados desde a sua criação na Uni- intitulada Política de Promoção da Igual-
fesp e se solidificaram com o passar dos dade Racial Na Escola (Uniafro), de 2014 a
anos. Um exemplo é o curso de extensão 2016, para professores da rede municipal de
Cultura Afro-Brasileira: fundamentos para a ensino, com o total de 250 cursistas.
prática pedagógica (2012-2013), ministrado Além da parte de formação, o Núcleo de
na Unidade Avançada de Extensão Univer- Estudos Afro-Brasileiros tem papel essencial
sitária Santo Amaro, abarcando um público no combate à discriminação racial, atuando
de estudantes bem diversificado, como pro- frente às manifestações de racismo e ten-
fessores, discentes de graduação e pós-gra- sões raciais que emergem na instituição,

(Trans)formando vidas
duação, pessoas da sociedade civil, ativis- sendo convocado para assessorar, opinar
tas dos movimentos sociais e comunidades ou contribuir com a resolução de conflitos.
negras da capital e do interior de São Paulo. Também integra a ação de enfretamento das
Em parceria com a Secretaria de Edu- denúncias que a universidade recebe, refe-
/NEAB.Unifesp1 cação Continuada, Alfabetização, Diversi- rente ao uso indevido ou possível fraude nas
dade e Inclusão (Secadi), do Comitê Gestor cotas raciais. “Desempenhamos o papel de
Institucional de Formação Inicial e Conti- discutir e buscar estratégias para resguar- O Núcleo TransUnifesp reúne, há mais de três anos, diversas iniciativas voltadas à
nuada de Profissionais da Educação Básica dar esse direito e para preservar a própria
#neab #neabunifesp (Comfor) - ambos ligados ao Ministério da instituição de possíveis medidas jurídicas”,
população transgênero e intersexo
#culturaafro Educação, à Unifesp e à Prefeitura de São finaliza Silva.
#igualdaderacial

Arquivo
E
m maio de 2019, mês em que o de- índice de ocupação em subempregos ou a Valquíria Carnaúba
semprego atingia cerca de 13 mi- opção pela prostituição. “Uma outra parce-
lhões de brasileiros, o Núcleo la das pessoas trans vai para o empreende-
TransUnifesp, por meio do projeto de ex- dorismo devido a um sistema corporativo
tensão Extramuros, reuniu 40 pessoas engessado, repleto de dogmas e filtros sele-
no Anfiteatro Nylceo Marques de Castro tivos. Como há muitas que desejam, ainda
(Campus São Paulo) para falar de emprega- assim, atuar nas corporações, é nosso pa-
bilidade e empreendedorismo entre o públi- pel potencializar esses sonhos”, observa a
co trans. Maitê Schneider, uma das funda- palestrante.
Atividade do curso doras do TransEmpregos, plataforma que Além dela, outros profis-
Cultura Afro-brasileira: intermedia pessoas trans e recrutadores do sionais de atendimen-
fundamentos para a mercado de trabalho, compartilhou seus 32 to do Núcleo
prática pedagógica
anos de trajetória profissional.
Schneider afirma que a regra entre pes-
José Luiz Guerra

soas transgênero é o abandono do


estudo, refletindo em alto

torbakhopper / flickr
Reunião do núcleo
para planejamento de
atividades

26 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 27


Valquíria Carnaúba
TERMO TENTATIVA DE DEFINIÇÃO

Classificação biológica das pessoas como machos ou fêmeas, baseada em


Sexo
características orgânicas (cromossomos, hormônios e órgãos reprodutivos)

Pessoas intersexo apresentam, ao nascimento, infância ou na adolescência,


Intersexo variação da genitália (interna e externa) que não se encaixam na
categorização binária macho ou fêmea

Classificação pessoal relativa a atração afetiva e sexual por outro. É a


Estudantes, docentes e Orientação sexualidade vivenciada internamente em projeção com alguém de mesmo
voluntários presentes sexual gênero (homossexual: gay ou lésbica), diferente (heterossexual), por
na reunião científica do ambos os gêneros (bissexual) ou indiferente (assexual)
Núcleo TransUnifesp,
realizada em maio deste
ano, sob o tema Mercado Classificação pessoal e social das pessoas como homens ou mulheres.
de Trabalho Gênero Compreende um conjunto de papéis e expressões de gênero e independe
do sexo de nascimento

Valquíria Carnaúba
Identidade de Gênero com o qual uma pessoa se identifica, que pode ou não concordar
gênero com o gênero que lhe foi atribuído quando de seu nascimento

Pessoas que se identificam com o gênero que lhes foi atribuído quando de
Cisgênero
Maitê Schneider seu nascimento
afirma que diversas
empresas ainda hoje
têm dificuldade em Pessoas trans que não se identificam, em diferentes graus e períodos de
sair da teoria e praticar Transgênero vida, com comportamentos e/ou papéis esperados do gênero que lhes foi
a diversidade. “Nossa atribuído quando de seu nascimento
identidade ainda é muito
‘fetichizada’. Ou estamos
nas páginas policiais, ou Pessoa que periodicamente se veste, usa acessórios e/ou reitera expressões
estamos no programa de gênero diferentemente do que é socialmente estabelecido para o seu
de televisão fazendo um Crossdresser
show [que vou fazer no
gênero atribuído ao nascimento, porém sem se identificar como travesti ou
final para os que ficarem]”, transexual
brinca
Termo genérico que caracteriza a pessoa que não se identifica com o
TransUnifesp trocaram experiências nessa não binário) e intersexo (termo que se refere Transexual
gênero que lhe foi atribuído quando de seu nascimento
roda de conversa aberta ao público. Carlos às mais de 40 variações em que uma pessoa
Alberto Bricoli, terapeuta ocupacional, tra- nasce sem se encaixar no que é dito como Pessoa que reivindica o reconhecimento social e legal como homem.
tou, a partir do conceito de integralidade em feminino ou masculino). Homem
Alguns também se denominam transhomens ou homem trans, ou ainda
saúde e sua relação com o direito ao traba- Regido por uma Carta de Princípios rela- transexual
do inglês Female-to-Male (FtM)
lho, sobre a importância de realocar pessoas cionada à diversidade sexual, aprovada pelo
transgênero no mercado de trabalho. Conselho Universitário (Consu/Unifesp), o Pessoa que reivindica o reconhecimento social e legal como mulher.
As discussões levantadas nesse e em Núcleo TransUnifesp compreende as ativi- Mulher
Algumas também se denominam transmulheres ou mulher trans, ou ainda
outros encontros evidenciam a atuali- dades de graduação (estágios e trabalhos de transexual
do inglês Male-to-Female (MtF).
dade e a inegável importância das ações conclusão de curso), assistência, por meio
extensionistas oferecidas pelo Núcleo de seu ambulatório, e extensão universitá- Denominação autoproclamada de uma pessoa que vivencia papéis
TransUnifesp, coordenado por Magnus ria com o Programa Multtisaberes e os pro- de gênero feminino, mas não se reconhece como homem ou mulher,
Dias da Silva, livre docente do Disciplina jetos vinculados – Extramuros e Diálogos de Travesti
entendendo-se como integrante de um terceiro gênero ou de um
de Endocrinologia da Escola Paulista de Capacitação, em execução, e os finalizados não gênero
Medicina (EPM/Unifesp) – Campus São TransAmigo e Babadeires. “O sucesso do Fonte:
JESUS, Jaqueline Gomes
Paulo, e Denise Leite Vieira, psicóloga e programa começou depois da primeira tur- Artista transformista que se veste de maneira estereotipada e alegórica,
Drag Queen/ de. Orientações sobre
professora afiliada do Departamento de ma da disciplina eletiva oferecida para todos conforme os papéis de gênero masculino ou feminino, como arte ou identidade de gênero:
Drag King
Psiquiatria da mesma instituição. A instân- os estudantes de graduação da área da saú- entretenimento conceitos e termos. In: 2012.
Guia técnico sobre pessoas
cia concentra um amplo conjunto de ati- de, denominada Sexualidade e Saúde Sexual, transexuais, travestis e demais
vidades de estudo e produção do conheci- criado e coordenado por Vieira. A partir de Pessoa trans não binária, ou andrógino, que não se enquadra em nenhuma transgêneros, para formadores
mento, acolhimento, promoção de saúde e debates com estudantes, foram pensadas Queer identidade ou expressão de gênero fixa. Termo que pode variar em de opinião. [e-book]
Disponível em:
cidadania das populações trans (mulheres novas frentes extensionistas vinculadas ao diferentes culturas e sociedades <http://www.sertao.ufg.br>.
transexuais, travestis, homens trans e gênero núcleo”, observa Dias da Silva. Acesso em: 26 Set. 2019.

28 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 29


fibromialgia

Núcleo de Estudos, Pesquisa, Extensão e Assistência à Pessoa Trans


Professor Roberto Farina
Há mais de três anos, o Núcleo TransUnifesp realiza, na última terça-feira de
cada mês, reuniões abertas ao público para discussões e trocas sobre temáticas
relacionadas à diversidade sexual e de gênero.

Alex Reipert
Aprendendo
Ambulatório do Núcleo TransUnifesp
Inaugurado em 2017, é a parte assistencial do Núcleo TransUnifesp. Recebeu
esse nome em memória a Roberto Farina, cirurgião plástico da EPM/Unifesp
e pioneiro na cirurgia urogenital para transexuais no Brasil, em 1976. O atendi-

a conviver
mento ambulatorial conta hoje com profissionais das áreas da cirurgia plástica,
endocrinologia, enfermagem, fonoaudiologia, ginecologia, psicologia, psiquia-
tria, serviço social, terapia ocupacional e urologia. Adicionados recentemente,
residentes da endocrinologia, psiquiatria e medicina geral e de família também
oferecem apoio. Abre suas portas à comunidade trans todas às terças-feiras, das

com a dor
13h às 17h, na Rua Napoleão de Barros, nº 859.

Programa Multtisaberes de Cidadania e Saúde para Travestis,


Transexuais e Intersexo
Conjunto de atividades voltadas ao acolhimento e à promoção de saúde da po-
pulação composta por travestis, mulheres e homens transexuais e intersexo. Visa,
também, a troca de conhecimentos científicos e saberes populares. Apoia ações
de outros setores acadêmicos da instituição e de movimentos sociais, como o O Grupo de Apoio a Pacientes com
Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (Ibrat) e a Associação Nacional de
Travestis e Transexuais (Antra), visando à redução da homotransfobia.
Fibromialgia (Gafibro) visa expandir
modelo ao SUS em parceria com o
Projeto Diálogos de Capacitação do Atendimento
Pretende contribuir para o acolhimento e atendimento humanizado, livre de
Telessaúde Brasil Redes
preconceito e discriminação, realizando rodas de conversa em cada setor solici-
tante, palestras, seminários, cursos e apresentação dialogada sobre diversidade
/NucleoTransUnifesp sexual e de gênero para profissionais da saúde. A proposta não se restringe às
equipes de saúde, mas compreendem todos os trabalhadores que atuam nos
equipamentos de saúde da Unifesp e fora, especialmente em hospitais e uni-
dades básicas de saúde (UBS).

Projeto Extramuros
Visa incentivar as ações de extensão protagonizadas pelos estudantes e profis-
sionais de saúde - de dentro e de fora da universidade - a integrarem, por meio

O
#nucleotransunifesp
#transunifesp de reuniões mensais, fóruns, seminários, congressos e semana da diversidade, Grupo de Apoio a Pacientes com Telessaúde da Unifesp, e por Cícero Inacio Valquíria Carnaúba
#genero a população de travestis, mulheres e homens transexuais e pessoas intersexo. Fibromialgia (Gafibro) é um dos pro- da Silva, coordenador adjunto do Programa
#transgênero gramas de extensão mais antigos da Telessaúde Brasil Redes, o grupo já atendeu
#intersexo Unifesp. Criado em 2008, trata-se de uma mais de duas mil pessoas nesses 11 anos de
iniciativa que reúne mensalmente pessoas atividade. Os encontros são realizados se-
acometidas pela síndrome, que provoca do- manalmente nas dependências do Clube
“A criação e o desenvolvimento das atividades do Núcleo TransUnifesp nesses últimos res no corpo por longos períodos. Como ain- Escola Unifesp, no bairro paulistano da Vila
Daniel Patini

anos só foram possíveis porque conseguimos fazer aproximar e prosperar o espírito


extensionista e transformador social, vanguardista e solidário, libertador e inovador da se sabe pouco sobre a doença, das cau- Clementino, e são incrementados vez ou ou-
no modo de pensar acadêmico dialógico, de um grupo de pesquisadores e estudantes. sas à cura, seu diagnóstico e tratamento não tra por palestras, atividades físicas e de re-
Para ele(a)s nossa gratidão: Adriano Brasolin, Aécio Gois, Ana Fanganiello, Anderson seguem uma cartilha definida na Medicina. laxamento (por meio da ioga, por exemplo).
Rosa, Ariadne Ribeiro, Bernardo Bahe, Caroline Hur, Claudia Takano, Cristiana Silva, Essa lacuna é preenchida atualmente por Moretti relata que, no início, o plano era
Cristiane Gonçalves, Ivaldo Silva, Daniela Monteiro, Danilo Rosa, Denise Vieira, Élen tratamentos terapêuticos diversos, a exem- transformar o Gafibro em uma associação
Santoro, Maria Ester de Almeida, Eunice Santana, Fernando Calderan, Fernando plo do Gafibro, que se mostra a cada dia um de pacientes, aplicando o conceito de gru-
Silveira, Gustavo Parra, Giovanna Zavadzki, Jair Mari, Juliana Portas, Juliana caminho seguro para pacientes se fortale- po operativo (terapia de grupo) - elabora-
Alves, Lydia Ferreira, Maria José Fernandes, Marair Sartori, Marisa Mota, Mariana
Rosa Borges, Matheus Brandão, Nayla Pereira, Pedro Paulo, Natalia Rocha, Raiane cerem diante da doença por meio da troca do por Enrique Pichon Rivière, psiquiatra
Assumpção, Rafael Zeni, Raquel Pimentel, Renata Azevedo, Valéria Petri, Samira de experiências. e psicanalista suíço. “Dessa forma, seria
Yarak e Soraya Smaili.” Coordenado por Felipe Azevedo Moretti, possível encorajar os membros do grupo a
Magnus Silva fisioterapeuta vinculado ao Núcleo de propagar seus conhecimentos e incentivar

30 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 31


outras pessoas a superar os desafios impos- da saúde depende exclusivamente de tra-

Alex Reipert
tos pela Fibromialgia”, comenta. Tornar-se balho voluntário. “Para mantermos nosso
uma associação permanece uma meta a lon- atendimento como portas abertas, capaci-
go prazo, mas o modelo de grupo operativo tando cada vez mais pessoas, seria aconse-
foi efetivamente implantado: seus membros lhável a formação de grupos com tempo de
mais antigos, além de participarem dos en- atuação finito. Mas como os pacientes com
contros, lançaram-se ao desafio de coorde- fibromialgia tendem a se isolar por se sen-
nar novos grupos terapêuticos orientados ao tirem pouco compreendidos, deixar de ofer-
projeto original. tar esse acolhimento não seria a melhor al-
Esse desmembramento foi uma solução ternativa”, reflete.
encontrada por Moretti para resolver, a cur-
to prazo, os principais obstáculos atuais à Solução na telessaúde
expansão do projeto. Com um espaço redu- O Gafibro é um programa de extensão vincu-
zido à disposição, cada encontro ocorre com, lado à Universidade Aberta do Brasil (UAB/
no máximo, 15 pessoas, o que dificulta a in- Unifesp). Isso porque almeja a expansão
corporação de novos membros e a manuten- de seu modelo de atendimento ao Sistema Membros do Gafibro
ção do modelo de Pichon Rivière. Além disso, Único de Saúde (SUS) com a capacitação comemoram mais um
a condução das reuniões por profissionais de novos agentes da saúde básica - médicos, semestre de encontros,
com comida, bebida e
o usual intercâmbio de
experiências e apoio

enfermeiros e psicólogos. Segundo Moretti, telessaúde”, explica. As capacitações oferta-


Alex Reipert

a ideia é ofertar capacitações e assistência das pelo Telessaúde Brasil Redes, em especí-
“Você dorme duas a três horas por por meio do programa nacional Telessaúde fico, só podem ser ministrados por docentes
noite, quando dorme. Troca colchão, Brasil Redes, cujo apoio assistencial ao SUS vinculados a outro programa do Ministério
travesseiro, desliga a TV, liga a TV, vale-se de ferramentas e tecnologias da in- da Educação (MEC), Universidade Aberta do
acende a luz, apaga a luz, e assim vai. formação e comunicação (TICs). “Esses pro- Brasil (UAB), que estabelece parcerias com
Trabalho como voluntária em um fissionais de saúde seriam habilitados para as universidades públicas para ofertar ensi-
grupo de escoteiros em Interlagos. criar e conduzir grupos terapêuticos, com no à distância (EaD).
Não dá para parar. Com dor em ca- foco em dor crônica, adaptados ao modelo Para Novoa, a telessaúde tem grande
sa e dor na rua, eu vou para a rua”. de atendimento do SUS, para que os pacien- potencial de elevar a qualidade de vida de
Ivete Ungaretti tes possam ser acolhidos nos seus respecti- quem se encontra fora do raio de alcance de
vos territórios”, complementa. hospitais à medida que ajuda a suprir dúvi-
A implantação desse sistema esbarra nas das de médicos, evitando que haja um enca-
“Não tem bom humor quem tem dor”, diz Ivete Ungaretti, que, junto com discussões atuais acerca de uma atualiza- minhamento errôneo para outros especia-
Yvone Ivanir Petrone e Ana Raquel Almeida Iorio, foi diagnosticada com ção da telemedicina no país, regulamenta- listas. “No momento, é necessário chamar
fibromialgia há mais de 15 anos. Elas frequentam o grupo desde seu início.
da em 2002 por meio da resolução n° 1.643, os pares para conversar, a fim de instituir a
do Conselho Federal de Medicina (CFM). De ampliação do escopo de atendimento com
acordo com o modelo atual, o Ministério da as regulamentações necessárias”.
Saúde proporciona aos pacientes do SUS De acordo com Moretti, algumas deze-
Alex Reipert

“Fui diagnosticada com fibromialgia há cinco anos. Faço ques- atendimento com um especialista à dis- nas de pessoas procuram o apoio do Gafibro
tão de frequentar o grupo. Só de conversar com pessoas que tância desde que esteja acompanhado por mensalmente, inclusive pessoas de fora da
falam a mesma língua, que têm os mesmos sentimentos, é um médico especialista presencialmen- cidade de São Paulo. As que não consegui-
muito bom. Nos dias que você está bem, você quer fazer tudo te. A atualização proposta pelo Conselho mos encaixar no grupo, buscamos encami-
o que não fez nos outros dias. Certo dia, decidi andar em um Regional de Medicina (CRM) consiste na li- nhar para outros setores dentro da própria
bosque. Caminhei 4 km e travou tudo, começou a doer mais beração de consultas on-line, telecirurgias Unifesp. “Como damos prioridade aos que
ainda. Cheguei a me inscrever na hidromassagem, mas saía e telediagnósticos, entre outras formas de residem na região, arriscamos algumas ex-
pior do que quando entrava. Dizem que ela se manifesta em atendimento à distância. periências de suporte remoto. Uma delas foi
momentos traumáticos da vida. No meu caso, foi a perda de Cláudia Galindo Novoa, coordenadora uma jornada on-line realizada no Facebook,
emprego. Após 19 anos em uma empresa, fui dispensada. Não do Programa Telessaúde Brasil Redes na que chegou a ter 30 participantes e o mo-
sei se porque a empresa estava em declínio, aquilo mexeu Unifesp, ressalta que é preciso distinguir nitoramento de grupos on-line com mais de
comigo. Quando a gente se vê com a síndrome, é muito di- telessaúde de telemedicina. “Telessaúde 8.000 membros. É fundamental que isso se
fícil se livrar”. abrange tudo o que se faz (telefonoaudio- torne uma política de atendimento. A fibro- #gafibro
Heloisa Rovaroto Britto Neves logia, telepsicologia) e todos os profissio- mialgia atinge de 2% a 4% da população bra- #fibromialgia
nais que atendem outros profissionais de sileira, então é desejável que esse modelo #terapiadegrupo
saúde ou discutem casos usando tecnolo- atinja patamares de política de saúde públi- #dor #apoio
gia digital. A telemedicina está dentro da ca”, finaliza. #grupo

32 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 33


José Luiz Guerra
Tradição e história na
campus são paulo | epm • epe
Escola Paulista de
Medicina e Escola Paulista
de Enfermagem extensão universitária
#somosunifesp #unifesp #unifespsp #epeunifesp #epmunifesp #sp #saopaulo EPE e EPM, tradicionais escolas que compõem o Campus São Paulo,
totalizavam sete programas e 28 projetos de extensão em 2018

Maria das Graças Barreto da Silva Ramiro Anthero de Azevedo


Vice-coordenadora da Câmara de Extensão e Coordenador da Câmara de Extensão e Cultura da
Cultura da Escola Paulista de Enfermagem Escola Paulista de Medicina

O A
s programas e projetos de extensão Câmara de Extensão e Cultura (Caec)
da Escola Paulista de Enfermagem da Escola Paulista de Medicina (EPM/
(EPE/Unifesp) - Campus São Paulo Unifesp) - Campus São Paulo respon-
denotam uma construção pedagógica e éti- deu em 2018 pela implementação de 84 pro-
co-formativa, sobretudo na possibilidade gramas de residência médica, registrados
de gerar conhecimentos a partir da intera- no MEC (com 1.041 residentes), 132 cursos
ção com a comunidade. Com áreas temáti- de especialização/aperfeiçoamento, 41 cur-
cas variadas em saúde, direitos humanos e sos de extensão e 73 eventos.
justiça, passando pela comunicação e cul- Uma das atividades previstas para o fu-
tura, entre outras, um novo perfil de pro- turo próximo é o reconhecimento da Vila
fissionais para o cuidar se evidencia, com a Clementino como Bairro Amigo do Idoso,
elaboração de conhecimentos que conside- ação coordenada pelo docente Luiz Roberto
ram a sensibilidade, a afetividade e as dife- Ramos. Esse tema poderia ser aglutinador
rentes linguagens em uma relação que de- e inclusivo, não só dentro da EPM/Unifesp,
corre da convivência. mas também do Campus São Paulo, pois já
Compartilhando essa compreensão, estabelecemos uma conexão com o bairro,
têm-se percorrido trajetórias que conside- construída por meio de importantes pro-
ram a responsabilidade social da academia jetos como a Universidade Aberta para as
na formação dos profissionais de saúde Pessoas Idosas (Uapi). Temos, ainda, uma
para o cuidar. Trajetórias delineadas pelos estrutura local de saúde, direcionada a essa
programas e projetos de extensão, em ce- população”.
nários que possibilitam aos participantes
vivenciar ações educativas voltadas à rea-
lidade social. Por meio dessas ações, en- Campus São Paulo • extensão em números:
contram-se oportunidades de superar a 35 programas e projetos de extensão
dicotomia forjada culturalmente entre a
141 cursos de aperfeiçoamento e especialização
academia e a sociedade, por meio da in-
teração de saberes. Com isso, abre-se um 84 programas de residência médica
panorama ideal para a formação de profis- 14 programas de residência multiprofissional
sionais aptos a praticar um cuidado mais
137 cursos de extensão e eventos
humano, visando contribuir para a melho-
Dados de 2018
ria dos serviços de saúde.

34 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 35


Alex Reipert
gamificação

Batalhas educativas
Jogo de tabuleiro favorece o aprendizado sobre doenças
infecciosas causadas por parasitas

F
Daniel Patini ixar e complementar o conhecimento Segundo as coordenadoras, o jogo pro-
obtido em sala de aula sobre doenças move o conceito denominado edutainment,
infecciosas, utilizando um formato termo derivado da junção das palavras edu-
divertido. Com esse propósito em mente, a cação e entretenimento em inglês. "São ca-
equipe do projeto de extensão Patógenos em racterísticas do edutainment contribuir para
Jogo, sob a coordenação de Katia Oliveira e o engajamento e incentivar a curiosidade e
Erika Suzuki, docentes do Departamento de a interação. Em razão de o material ser por-
Microbiologia, Imunologia e Parasitologia tátil e prático, pode ser aplicado fora da sala,
da Escola Paulista de Medicina (EPM/ em qualquer lugar", descreve Suzuki. “Ele
Unifesp) - Campus São Paulo, tem se aven- possui como público-alvo crianças e adoles-
turado, desde 2016, no desenvolvimento de centes, mas nossos testes mostraram bem
jogos educativos. O projeto é composto por que o jogo é para qualquer idade”, Oliveira
diversos profissionais e estudantes de gra- enfatiza.
duação de diferentes áreas – Biomedicina, Como a primeira versão do Guerra dos
Enfermagem, Biologia, Design de Games – e Patógenos aborda especificamente os pa-
instituições. rasitas (artrópodes, helmintos e protozoá-
Como primeiro resultado desse traba- rios), existe a possibilidade de expandi-lo,
lho, foi lançado em junho deste ano o jogo nos próximos anos, para o ensino de ou-
de tabuleiro Guerra dos Patógenos - os pa- tros micro-organismos, como bactérias, ví-
rasitas atacam, que auxilia no aprendizado rus e fungos, além das doenças sexualmente
sobre diversas parasitoses, ao mesmo tem- transmissíveis (DSTs). Há ainda uma vonta-
po em que são exercitados conhecimentos de de transformá-lo em um jogo digital, que
das áreas de Ciências, Biologia, Geografia possui grande capacidade de difusão. “Esta-
e Matemática. "Ele serve para revisar essas mos bem animados, pois está tomando pro-
doenças ensinadas durante os ensinos fun- porções que não imaginávamos”, comemora
damental e médio, sendo que também fo- Suzuki, ao citar, por exemplo, o interesse da
ram incluídos parasitas que não constam no Secretaria Municipal de Educação em apli-
conteúdo escolar e que têm grande relevân- cá-lo nas escolas. Ademais, a equipe quer co-
cia epidemiológica", explica Oliveira. mercializar o jogo.

36 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 37


é dominar o mundo com os parasitas. Para as particulares. É uma ferramenta eficien-

Divulgação
isso, é preciso estar atento à distribuição te para ser aplicada em qualquer realidade",
geográfica e às características deles, que es- resume Oliveira. "Com ele, percebemos que
tão contidas nas cartas. Ganha quem con- é possível mudar uma determinada realida-
quistar o maior número de territórios por de social por meio de um gesto pequeno", ela
meio das batalhas travadas pela associa- conclui. Os dados completos serão publica-
ção entre a transmissão e a prevenção da dos, em breve, em um artigo científico.
parasitose.
"As ações podem favorecer ou prejudicar Patrocínio
o seu patógeno ou o do seu oponente", rela- O Instituto Trata Brasil foi a empresa ven-
ta Oliveira. "O jogo é muito dinâmico. Pode cedora do chamamento público para capta-
ser que um jogador esteja ganhando, com ção de patrocínio do jogo, sendo responsável
vários territórios dominados e, de repente, pela confecção de mil unidades, das quais
tudo muda, pois o restante do grupo se jun- 300 ficaram com a empresa e 700 serão dis-
ta contra essa pessoa", continua Suzuki, ao tribuídas às escolas públicas e particulares
relatar o dinamismo do jogo. Participam de de todo o país, selecionadas após demons-
três a seis jogadores por partida. trarem interesse pelo jogo. Lançado em no-
vembro de 2017, esse foi o primeiro chama-
Aprendizagem comprovada mento público realizado pela universidade.
Em busca de confirmar a eficiência do Líder de projetos sociais do instituto,
Guerra dos Patógenos - os parasitas ata- Edna Cardoso relata que ficou encanta-
cam, no aprendizado do usuário, a estu- da quando conheceu o trabalho do projeto
Testes com estudantes dos ensinos fundamental e médio em um encontro das equipes do Patógenos em Jogo, do dante Cecília Lumi Kakuda, do curso de de extensão. Ela explica ainda que o Trata
Coletivo da Ciência – vivenciando a Biologia e do Instituto Trata Brasil em maio de 2018 Enfermagem da Unifesp, desenvolveu seu Brasil tem trabalhado com jovens universi-
trabalho de conclusão de curso (TCC) com tários da área de jogos focados no tema sa-
Divulgação

base nos testes do jogo. Ela aplicou provas neamento. "Temos essa função de conscien-

Alex Reipert
para os estudantes dos ensinos fundamental tizar e mobilizar estudantes que se tornarão
e médio, de oito escolas públicas e particu- profissionais com referência social", destaca.
lares, antes e depois de eles jogarem, indivi- Vale lembrar que o Brasil é um dos países
dualmente e em grupo. com o maior número de Doenças Tropicais
"Os resultados demonstraram que, inde- Negligenciadas, segundo a Organização
pendente do conhecimento prévio de cada Mundial da Saúde (OMS), tais como doen-
estudante, foi observado que a aprendi- ça de Chagas, leishmaniose, esquistosso-
zagem é igual entre eles, mesmo quando mose, teníase, cisticercose, dengue, entre
são comparadas as escolas públicas com outras.

Divulgação
Um dos primeiros protótipos sendo testado com os As coordenadoras do projeto, Katia Oliveira (à esquerda) e
membros da própria equipe do projeto Erika Suzuki (à direita)

Retrospectiva foram momentos de intensa troca de infor-


As coordenadoras relembram os primeiros mações, de muito aprendizado. Cada um
passos do projeto, em 2016, quando surgiu a contribuía à sua maneira", alega Oliveira.
ideia de elaborar um jogo sobre doenças in- Naquele mesmo ano, já com todas as re-
fecciosas, especificamente, na área de atua- gras estipuladas e os protótipos das cartas
ção de ambas: a Parasitologia. Foi feita uma feitas de cartolina e pintadas à mão, a equi- patogenosemjogo.com.br
chamada por meio de rede social e cartazes pe realizou os primeiros encontros para apli- /patogenosemjogo/
no campus, com o intuito de recrutar estu- cação do jogo, tanto com professores quan-
dantes para elaborar jogos. Para surpresa to com estudantes. Eles deram sugestões
delas, houve muitos inscritos, os quais tive- bastante pertinentes, que foram sendo in-
ram que passar por uma seleção. corporadas ao jogo. "Em outubro, já estava
Foram meses refletindo sobre os tipos de tudo concebido, incluindo o nome", recor-
jogos, os temas e sobre o desenvolvimento da Suzuki. #guerradospatogenos
em si, como seu conceito, regras e protóti- #patogenosemjogo
pos. O grupo se encontrava semanalmente Como funciona? #parasitologia
para jogar, visando aprimorar o material. Cada jogador recebe seis cartas, cada uma Os elementos do jogo são: cartas-patógenos (30), cartas de ação #boardgames
"Como estávamos abertos para as sugestões, delas com uma pontuação. O seu objetivo com medidas profiláticas (40), seis pinos, marcadores e tabuleiro #somosunifesp

38 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 39


Alex Reipert
oncologia

A sustentável
leveza do acolher
Programa de extensão universitária oferece atendimento
oncológico integral e interdisciplinar

D
Matheus Campos o diagnóstico ao tratamento, como Cuidado integral ambulatórios de Oncologia Geral e de Onco- No geral, são indivíduos pertencentes a clas-
compreender os maiores anseios de Criado em 2008, a partir de uma inicia- Hematologia do Hospital São Paulo, nos ses econômicas menos favorecidas, mora-
um paciente acometido pelo câncer? tiva conjunta entre a EPE/Unifesp e o quais são atendidos, em média, 40 pacien- dores de áreas geográficas periféricas ou
Segundo a professora Edvane de Domenico, Departamento de Oncologia Clínica e tes por dia. “Claro que nem todas as pessoas municípios próximos. Trata-se de uma po-
do Departamento de Enfermagem Clínica e Experimental da Escola Paulista de Medicina acolhidas são vistas por profissionais de to- pulação em desvantagem econômica, educa-
Cirúrgica da Escola Paulista de Enfermagem (EPM/Unifesp), o Acolhe-Onco é um servi- das as áreas. Por exemplo, se um paciente cional, cultural e ambiental. O Acolhe-Onco
(EPE/Unifesp) - Campus São Paulo, é fun- ço multiprofissional que contempla as áreas passa por uma consulta médica e precisa de auxilia no serviço prestado a muitos pacien-
damental enxergar o indivíduo de manei- de Enfermagem, Medicina, Serviço Social, cuidados que competem a um enfermeiro, tes nessas condições, os quais já apresenta-
ra holística. Nas dependências do hospi- Farmácia, Nutrição, Fisioterapia, Psicologia receberá – na sequência – as orientações da vam a doença em estágio avançado no mo-
tal, cumpre torná-lo visível e dar atenção às e Odontologia, entre outras. enfermagem; nos casos cuja demanda é re- mento do diagnóstico e com baixos índices
suas necessidades, inclusive durante a es- “O principal objetivo é melhorar a rede lacionada à nutrição, poderá ser encaminha- de sobrevida em cinco anos.
pera pelo atendimento. Aos estudantes que de atendimento oncológico de forma a ofe- do diretamente aos nutricionistas”, esclare-
orienta, ela diz que é preciso manter os “ra- recer uma infraestrutura que viabilize a pos- ce a docente.
dares ligados” e entrever os pedidos de aju- sibilidade de o paciente ser cuidado dentro Além da coparticipação no programa de
da nos olhares e nos semblantes de cada pa- de suas necessidades múltiplas”, explica a residência multiprofissional em Oncologia, Serviços prestados
ciente. É necessário acolher. coordenadora. Segundo ela, a aproximação o Acolhe-Onco possui parcerias técnico-
De acordo com o dicionário, o verbo aco- com a pessoa atendida torna-se mais huma- -científicas com o A. C. Camargo Cancer Acolhimento integral
lher está relacionado a proteção, amparo e nizada e não apenas técnica. Center e o Hospital Amaral Carvalho, si- • Atendimento individualizado
conforto. O acolhimento se dá pela forma “É impactante a forma como você lida tuados respectivamente nas cidades de São • Aconselhamento telefônico: contato direto por meio
com que alguém se mostra presente ao ou- com o paciente e como ele lida com você – é Paulo e Jaú, em São Paulo. O intuito dessas de ligações ou mensagens (em média, 120 solicitações
tro. Acolher é valorizar e considerar. Foi da uma troca”, ressalta Maria Eunice Carvalho, colaborações é fortalecer a produção técni- por mês), garantindo segurança ao paciente, manejo
essência desse conceito que surgiu o nome estudante do 3° ano de Enfermagem da EPE/ co-científica com o compromisso de apri- de sinais e sintomas, educação e apoio para a adesão
Acolhe-Onco, um programa de extensão Unifesp e monitora do Acolhe-Onco des- morar a qualidade da assistência em saúde. terapêutica
universitária com ações educativas e assis- de abril de 2019. A futura enfermeira rela- • Impressos e vídeos educativos: informações importan-
tenciais destinadas aos pacientes portado- ta que começou a perceber a vida e a gra- Vulnerabilidade social tes e orientações sobre o tratamento para os pacientes
res de doenças oncológicas. O programa é duação com outros olhos após a entrada no A maioria dos pacientes com câncer atendi- e seus familiares
coordenado pela docente e atende usuários programa. dos pelo SUS faz parte de uma realidade em
do Sistema Único de Saúde (SUS). A equipe multiprofissional se dedica aos que se evidenciam vulnerabilidades sociais.

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parentalidade

Alex Reipert

Alex Reipert
Amor e ciência
em toques que fazem
diferença
Equipe do Acolhe-Onco
realiza atendimento social

Alex Reipert

Alex Reipert
(à esquerda) e efetua
curativo em paciente com
câncer (à direita)

Considerado um dos programas de extensão mais antigos da Unifesp, o MEB ensina


como a massagem pode ajudar mães na ampliação do vínculo afetivo e no estímulo
A docente Edvane de ao desenvolvimento de seus bebês
Domenico (à esquerda)
e demais membros do
Acolhe-Onco (à direita)
atuam na supervisão das
ações assistenciais

C
“Apesar das fragilidades, essa população é importante para o crescimento científico e iência em movimentos que aproxi- Maria das Graças Barreto da Silva, docente Denis Dana
ávida por conhecimentos na área da saúde; para o monitoramento das necessidades e mam mães e pais de seus filhos, es- na EPE/Unifesp, que está à frente do traba-
então, ela não pode ter a capacidade mini- do padrão de qualidade do programa. treitam laços e contribuem para o lho desde a sua criação.
mizada no entendimento do processo saú- “Sempre tive medo da área de Oncologia desenvolvimento infantil. Assim pode ser Essa percepção foi, então, grande motiva-
de-doença”, destaca Domenico. Para esta, por achar que nela ocorreriam mortes fre- caracterizada a shantala, técnica de mas- ção para a criação do grupo. Para Silva, “por
os pacientes, os cuidadores e os familiares quentes, mas, ao invés de tristeza, eu vi mui- sagem que surgiu na Índia e que tem sido meio do trabalho corporal propiciado pela
apropriam-se de habilidades e de conheci- ta luz, muita vida”, enaltece Ricardo Matheus, estudada de maneira aprofundada desde massagem, realizada de forma sistematizada,
mentos se forem adequadamente avaliados, estudante do quarto ano de Enfermagem da 1996 pelo Grupo de Estudos Massagem e possibilitou-se ampliar fronteiras que, além
orientados e acompanhados no processo de EPE/Unifesp. Em consonância com o gru- Estimulação com Bebês (GEMEB). Vinculado de preencher essa lacuna, viabilizou compar-
adoecimento pelo câncer. po, reconhece o quão gratificante é o cresci- ao Departamento de Enfermagem Pediátrica tilhar saberes com as famílias”, explica.
mento pessoal, profissional e estudantil ao da Escola Paulista de Enfermagem (EPE/
Em busca do melhor participar do Acolhe-Onco. Quando define Unifesp) – Campus São Paulo, o traba- Conhecimento e difusão do saber
O programa de extensão organiza reuniões sua experiência com os atendimentos, cita lho, que se iniciou como um projeto, evo- No início do projeto os benefícios da massa-
mensais (em média, com 25 participantes) Carl Jung: “Conheça todas as teorias, domi- luiu, passando a ser chamado de Massagem gem ainda eram desconhecidos. “Ela era usa-
que agregam os diferentes profissionais e ne todas as técnicas, mas, ao tocar uma alma e Estimulação com Bebês (MEB), integran- da muito mais como uma estratégia didática,
/acolheonco alunos envolvidos. Trata-se de um momento humana, seja apenas outra alma humana”. do três ações educativas – grupo de estudos, um chamariz para atrair os estudantes para
grupo terapêutico e oficinas para estudantes, a necessidade de se conhecer mais profunda-
profissionais da saúde e da educação infantil mente o comportamento dos bebês e torná-
– e transformou-se em um dos programas de -los sujeitos da ação”.
extensão mais antigos da Unifesp. Nessa época, o desafio do então GEMEB
Neste e no próximo ano, o Acolhe-Onco adotará a cartilha We can, I can, “Naquela época já era perceptível a necessi- era compartilhar com a população saberes
#acolheonco proposta pela Union for International Cancer Control (UICC) no biênio dade de preparar de maneira mais adequada produzidos academicamente sobre o desen-
#acolher #oncologia 2016-2018. Nessa organização não governamental, sediada na Suíça, di- os futuros profissionais da saúde com conhe- volvimento infantil por meio da prática da
#enfermagem ferentes temas são abordados para conscientizar profissionais da saúde, cimentos sobre o desenvolvimento neuropsi- shantala. Enquanto isso, os estudos acerca
#medicina #nutricao educadores, pacientes e o público em geral sobre prevenção, detecção comotor e afetivo, de forma a entender que da massagem em bebês começavam a indi-
#serviçosocial precoce, esclarecimento de direitos e aprimoramento da assistência in- faz parte da promoção à saúde da criança o car seus benefícios, como a melhora na co-
#farmacia #psicologia tegral relativos ao câncer. fortalecimento das competências dos adul- municação entre mãe e bebê, o relaxamento
#fisioterapia tos, assim como a valorização de momentos e os estímulos ao desenvolvimento motor e
#odontologia de cuidado como espaço educativo”, explica sensorial da criança, entre outros.

42 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 43


realização de pesquisas em outros cenários,

Alex Reipert

Alex Reipert
Alex Reipert
como o hospitalar e o educacional, o que só
vem a somar ao trabalho realizado pelo MEB”,
ressalta Silva.
Na Unifesp, a difusão dos benefícios da
shantala também causou impacto positivo,
À esquerda, a monitora
cativando o interesse de muitos estudantes Fernanda Isabela Ferreira
pelas suas ações educativas. Mais de 860 uni- ensina os movimentos
versitários passaram pelo programa de ex- para Bibiana e seu bebê
tensão. Grande parte teve origem na EPE/ À direita, a estudante
Maria Luiza Souza Santos
Unifesp. Mas, o MEB também recebe estudan- em sessão de shantala
tes dos cursos de Fonoaudiologia, Medicina e com Lucilene e seu filho
Pedagogia. “São acadêmicos da Unifesp que

Divulgação em rede social

Alex Reipert
se inscrevem para aprofundar seus conheci-
mentos acerca do desenvolvimento infantil,
tendo como base as potencialidades envolvi-
das nessa técnica de massagem com bebês”,
explica a coordenadora.
À esquerda, Grupo de
Atualmente, o grupo conta com a partici- Estudos Massagem e
Em 2017, um novo marco para a pação de 19 estudantes. Maria Luiza Souza Estimulação com Bebês
shantala Santos, 19, e Fernanda Isabela Ferreira, 23, fa- (GEMEB)
Enquanto o trabalho era desenvolvido e se zem parte da equipe como monitoras. Ambas À direita, Maria das Graças
Barreto da Silva (EPE/
consolidava como uma importante contri- cursam o 2º ano de Enfermagem e logo que Unifesp), coordenadora do
buição da ciência em forma de amor e respei- ingressaram na universidade se interessaram trabalho
to entre mães e seus pequenos, o Ministério em integrar o MEB.
da Saúde também compreendia o valor des- “O aprendizado vai muito além da técnica
se tipo de intervenção. Em março de 2017, o da massagem. Nesse programa de extensão, pediátrica, com foco na promoção da saúde e Ao todo, foram cinco sessões de shanta-
órgão inseriu a shantala na Política Nacional aprendemos também outros princípios, como qualidade de vida para as crianças”, diz Maria la sob a orientação da coordenadora e equi-
de Práticas Integrativas e Complementares o momento em que se deve focar na criança, Luiza. pe, com mudanças e avanços já percebidos
como abordagem de cuidado no Sistema a importância do estímulo para o desenvol- O desejo é compartilhado por Fernanda, pela mãe. “Aprendi a explorar as sensações
Único de Saúde (SUS). vimento infantil e até na atuação profissio- que ao ingressar no curso de Enfermagem já dele por meio do toque e fortaleci nosso vín-
“Essa inserção foi um marco da shanta- nal, com a criação de um olhar diferenciado pensava em trabalhar com bebês e crianças. culo, nossa afinidade. Também percebi que a
la aqui no Brasil, já que trouxe como possi- e mais observador para os bebês. Esse conhe- “A experiência obtida no programa de exten- massagem tem auxiliado no desenvolvimen-
bilidade ofertá-la no âmbito da saúde públi- cimento é fundamental para minha preten- são certamente nos ajudará a lidar e dialogar to de sua parte motora, com o fortalecimento
ca. Ampliou, também, as probabilidades de são, que é seguir carreira na enfermagem melhor com as mães de nossos futuros pa- das pernas e a evolução em alguns movimen-
cientes, além de nos ensinar a compreender tos, como o rolamento. Ele está mais auto-
e respeitar o momento do bebê, cuidado fun- confiante e mais independente”, comemora
damental no trabalho de atendimento huma- Lucilene.
A origem do nome shantala nizado”, relata a estudante. Bibiana Lima de Jesus Ferreira, 39, é ou-
tra mãe frequentadora do MEB. Veio por
Em uma de suas visitas ao sul da Índia, o renomado médico ginecologis- Cumplicidade, afeto e mais benefícios intermédio de uma amiga e também se en-
ta e obstetra francês Frédérick Leboyer ficou hipnotizado ao ver, em plena Nesses 23 anos de atividade, o MEB soma o cantou pelos benefícios proporcionados pela
rua, uma jovem indiana paralítica massagear seu bebê em um verdadeiro atendimento a 1.840 famílias. “No Centro de shantala ao seu filho de seis meses. “Esse é o
ritual de carinho e cumplicidade. O momento de grande paz expresso na- Incentivo e Apoio ao Aleitamento Materno momento só nosso, quando permanecemos
quele vínculo contrastava com o ambiente hostil daquele local, uma fave- (Ciaam), onde acontecem as sessões de shan- juntos e totalmente integrados. Em cinco
la de Calcutá. tala, já recebemos alguns casais, mas a maior sessões, percebi que nos divertimos, relaxa-
Encantado com a cena, Leboyer se aproximou e descobriu que aquela parte do público atendido é formado por mos e estreitamos ainda mais nossos laços, o
jovem mãe se chamava Shantala e que aqueles toques eram tradicional- mães, das mais variadas idades”, descreve que é muito gratificante”, descreve. /GEMEBunifesp
mente ensinados, passados de mãe para filha. Silva. “São pessoas de diferentes classes so- Além do vínculo entre mãe e filho, tanto @gemebunifesp
O médico pediu autorização para registrar em fotos cada movimento ciais e regiões da cidade, que buscam ampliar Bibiana quanto Lucilene fizeram questão de
que Shantala fazia em sua criança. As imagens, então, foram transforma- o vínculo afetivo com seus filhos”, explica. destacar o laço estreitado entre sociedade e
das em um livro que o médico francês difundiu na Europa com o nome de Foi exatamente esse o motivo que fez universidade por meio do trabalho do MEB.
sua modelo inspiradora. Lucilene Monaris da Silva Araújo, 37, mãe “É muito bom saber que a sociedade, por meio
A técnica de massagem logo extrapolou as fronteiras e ganhou proje- de um bebê de seis meses, procurar o grupo. de serviços do SUS, oferecidos gratuitamente, #gemeb #mebunifesp
ção mundial, com todos os seus benefícios diretamente ligados à saúde e “Tive dificuldades na amamentação e ao pro- pode ter acesso a uma parcela de todo o co- #shantala #bebe
ao afeto entre mães, pais e filhos. curar auxílio no Banco de Leite, descobri que nhecimento que é produzido dentro de uma #massagemparabebes
a Unifesp também oferecia esse tipo de ser- universidade. Para nós, trata-se de um apren- #vinculo #estimulo
viço”, destaca Lucilene. dizado de imensurável valor”, explica Bibiana. #somosunifesp

44 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 45


assistência social

Arquivo pessoal
‘ComUnidade’
fortalece elo entre
Unifesp e população
Programa de extensão reúne quatro projetos que levam a universidade até
populações em situação de vulnerabilidade

Saber Cuidar
Criado em 2001, o Saber Cuidar atua com mora- fortalecem vínculos. Nesse processo, os estudan-
dores do bairro Jardim São Savério, região loca- tes constroem e propõem intervenções pautadas
lizada na periferia sudeste do município de São nas necessidades de saúde observadas”, conta

S
Lu Sudré aúde, assistência social, educação po- coordenador, meu voto vale tanto quanto o Paulo e de alta vulnerabilidade social. Baseado Paquier. Ela relata que, somente em 2019, foram
pular e direitos humanos. Essas são as voto de qualquer outra pessoa, seja um estu- nos conceitos do filósofo e educador Paulo Freire, realizados 33 dessas rodas de conversa. “No to-
quatro áreas que entrelaçam os proje- dante ou até mesmo os membros da comu- o projeto incorpora educação popular e ativida- tal, participaram cinco pacientes diagnosticados
tos de extensão universitária que integram nidade com as quais trabalhamos. Esse é o des lúdicas à sua metodologia. O trabalho re- com câncer, cerca de 20 pessoas da comunidade
o programa ComUnidade, vinculado ao desafio ao qual o programa se propõe: fazer sultou em anos de formações na área da saúde e três agentes comunitários de saúde".
Departamento de Saúde Coletiva da Escola com que a sociedade interfira no andamen- com crianças e adolescentes da Escola Estadual
Paulista de Enfermagem (EPE/Unifesp) - to das ações que fazemos”, afirma Rosa. Dr. Álvaro de Souza Lima, com temas propostos /sabercuidar.redesvivas
Campus São Paulo. Com o objetivo de atuar Ao identificar as necessidades sociais que pelos próprios jovens, estruturados de forma lú-
diretamente com populações em situação de determinada população possui, alternativas dica por meio da música e da arte.

Arquivo pessoal
vulnerabilidade e de construir um vínculo são pensadas e desenvolvidas em conjunto. Sua coordenadora e enfermeira do
real com comunidades externas à universi- Rosa aponta que, ao fazer parte desse pro- Departamento de Saúde Coletiva (EPE/Unifesp),
dade, os projetos Saber Cuidar, Periferia dos cesso, a comunidade externa sente-se in- Danila Cristina Paquier, afirma que o projeto está
Sonhos, A Cor da Rua e Envelhecer com Arte cluída e entende que há uma produção de sendo expandido, desde o ano passado, para de-
são desenvolvidos por estudantes dos cursos conhecimento na universidade acessível e mais moradores do bairro, priorizando a aborda-
de Enfermagem, Medicina, Biomedicina e que faz diferença em sua realidade. "O tem- gem do processo de envelhecimento e desenvol-
Fonoaudiologia. po inteiro somos desafiados a produzir e vimento de condições crônicas - principalmente
Para Anderson Rosa, coordenador do pensar em soluções conjuntas, muitas ve- o câncer. “São realizados encontros com o pa-
programa de extensão, o grande diferen- zes distantes das já consagradas na univer- ciente e sua rede de apoio - família, amigos, vi-
#comUnidade cial do ComUnidade é que seus projetos sidade. É como se estivéssemos traduzindo zinhos, militantes da comunidade e profissio-
#saude trabalham com a lógica da co-gestão, onde uma parte do conhecimento técnico das pro- nais da saúde -, que compartilham vivências e
#assistenciasocial professores, estudantes e pessoas atendi- fissões para determinados contextos de vida.
#educaçaopopular das têm o mesmo espaço para opinar e de- Criamos novos repertórios de atendimentos
#direitoshumanos senvolver ações conjuntas. “Mesmo sendo e de cuidados”, explica o coordenador.

46 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 47


A Cor da Rua
Mais recente em relação aos outros três projetos de extensão, A Cor da Rua
promove formação a profissionais da rede pública com a participação dos
usuários desses serviços, principalmente pessoas em situação de rua, imi-
grantes e refugiados. Além de buscar garantir o acesso dessas populações
à saúde, visa alcançar o desenvolvimento de boas práticas de saúde mental
na comunidade por meio de ações da própria comunidade. Participam re-
gularmente 25 estudantes de graduação e cinco de pós-graduação. Segundo
Carmen Santana, coordenadora do projeto, psiquiatra e professora do
Departamento de Saúde Coletiva da EPE/Unifesp, os processos de forma-
ção já beneficiaram diretamente mais de 500 profissionais.

Arquivo pessoal
Entre as atividades do projeto, realizadas em parceria com a Secretaria
Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, lideranças da
população de rua e do movimento de luta por moradia, destacam-se a pro-
moção de 15 seminários abertos à comunidade que já contaram com mais
de três mil participações. “Os seminários oferecem um espaço aberto e par-
Envelhecer com Arte ticipativo para expor ideias, dúvidas, sugestões e experiências sobre a vida www.acordarua.eco.br
A população idosa também tem espaço garantido no programa ComUnidade. em situação de rua", explica a coordenadora. /projetoacordarua
Por meio de encontros e saraus literários, o Envelhecer com Arte estuda a ge-
rontologia à luz das artes. Coordenado pela enfermeira Sônia Maria Garcia

Divulgação em website
Vigeta, o projeto existe desde 2013 e ressalta a importância do protagonis-
mo da população idosa e da formação de uma sociedade inclusiva. Ao esti-
mular a paixão pela leitura e a criatividade, o Envelhecer com Arte fomenta
um relacionamento intergeracional e um aprendizado colaborativo entre
extensionistas e idosos que participam do projeto.
/envelhecercomarte @envelhecercomarte

Curso Práticas de Atenção


Integral e Promoção de
Direitos Humanos na
Situação de Rua

Divulgação em website
Periferia dos Sonhos
Esse projeto trabalha com pessoas em situação da vida que extrapola a teoria. Por meio desses
de rua abrigadas no Centro de Acolhida Portal projetos os graduandos adquirem repertórios e
do Futuro, localizado na zona norte da cidade habilidades que serão úteis na vida profissional”.
de São Paulo, e mulheres em situação de vul- Isabela Bombonato de Almeida, estudante do
nerabilidade acolhidas na maternidade públi- 6º período do curso de Enfermagem, é prova viva
ca Amparo Maternal, localizada próxima ao desse processo. Extensionista do Periferia dos
Hospital São Paulo. Mais recentemente, passou Sonhos desde o primeiro semestre da graduação,
V Seminário A Cor da Rua:
a atuar no Centro de Acolhida Florescer, desti- já participou de um congresso internacional re- abordagens ao uso de
nado às mulheres transgênero e travestis em si- presentando o projeto. Para ela, essa experiência álcool e outras drogas
tuação de rua. tem sido essencial à sua formação, ensinando res-
De acordo com Anderson Rosa, que compar- ponsabilidade, empatia, criatividade e respeito.
tilha a coordenação desse projeto, atuar com di- “Nos centros de acolhida, aprendemos uns com
ferentes populações e questões de saúde espe- os outros. Da mesma forma que levamos aos aco- “As pessoas em situação de vulnerabilidade são pessoas

Arquivo pessoal
cíficas incentiva uma formação mais completa lhidos conteúdos aprendidos na faculdade, eles que não estão acostumadas a ter alguém olhando para
dos extensionistas, que aprendem a considerar nos ensinam com cada experiência de vida. Para elas. Nós priorizamos muito o vínculo, o contato afetivo,
como questões sociais influenciam o adoeci- a sociedade, há o retorno do investimento na uni- o envolvimento com as pessoas e com as histórias. Isso
mento. “Temos uma formação muito técnica, fo- versidade pública, por meio de informação críti- traz uma relevância simbólica importante, assim
cada em tecnologia, procedimentos, habilidades. ca e científica, para quem sabe, mesmo que lenta, como as ações concretas. Quando ensinamos uma coisa,
Na vida real, o paciente denota uma dimensão haja uma transformação”, conta. estamos ajudando a promover saúde, assistência social,
/periferiadossonhos direitos humanos e cidadania"
Anderson Rosa, coordenador do
programa de extensão ComUnidade

48 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 49


Iniciativas que promovem
campus baixada santista | iss • imar

José Luiz Guerra


Instituto de Saúde
e Sociedade e transformação social
Instituto do Mar O Campus Baixada Santista totalizava, em 2018, oito programas e 50 projetos
de extensão ativos, um terço do total da instituição
#somosunifesp #unifesp #unifespbs #iss #imar #baixadasantista #santos

Luciana Togni de Liu Chiao Yi Inoue Anthony Andrey Diniz Marcella Santos Gelson Ribeiro dos
Lima e Silva Surjus Vice-coordenadora da Representante da Secretária executiva da Santos
Coordenadora da Câmara de Extensão Câmara de Extensão Câmara de Extensão Estudante do curso de
Câmara de Extensão e Cultura do Campus e Cultura do Campus e Cultura do Campus Engenharia Ambiental
e Cultura do Campus Baixada Santista Baixada Santista Baixada Santista
Baixada Santista

O
compromisso com uma formação Coletiva (14,8%), de Gestão e Cuidados em
cientificamente qualificada e social- Saúde (13%), de Saúde, Clínicas e Instituições
mente referenciada faz o Campus (11,1%) e 11,1% pelo Imar/Unifesp, ainda em
Baixada Santista da Unifesp se destacar 2018 enquanto departamento.
com um terço do total das ações extensio- Comparando com o ano de 2014, pode-
nistas, finalizando 2018 com oito progra- mos observar a ampliação das áreas de in-
mas e 50 projetos de extensão ativos. Das serção, inicialmente com um predomínio
8 áreas temáticas propostas pelo Fórum de dos projetos na área da Saúde (66,3%), com
Pró-Reitores de Extensão das Instituições maior crescimento percebido nas áreas do
Públicas de Educação Superior Brasileiras Meio Ambiente e da Cultura atrelado à ex-
(Forproex), os oito programas desenvol- pansão da atuação do recente Imar/Unifesp
vidos em 2018 vincularam-se aos Direitos que, naquele ano, realizava apenas 1,3% dos
Humanos e Justiça (33,4%), Saúde (33,3%), projetos de extensão do campus.
Educação (22,2%) e Trabalho (11,1%). Sendo A inscrição comunitária segue se intensi-
desenvolvidos pelos departamentos de ficando na Baixada Santista em 2019, tendo
Políticas Públicas e Saúde Coletiva (67%), em curso 72 projetos com relevante poten-
de Biociências, de Ciências do Movimento cial inovador e de transformação social. A
Humano, e de Gestão e Cuidados em Saúde Câmara de Extensão e Cultura vem engen-
(respectivamente, cada um com 11% dos pro- drando esforços para realizar o georreferen-
gramas ativos). ciamento dos mesmos, visando aumentar
Já os projetos contemplaram quase a to- sua visibilidade e acompanhar os impactos
talidade das temáticas previstas, com exce- dessa inserção.
ção da Comunicação, tendo em sua distri-
buição a predominância nas áreas da Saúde Campus Baixada Santista • Extensão em números:
(48%), seguidos de Cultura (13,5%), Educação
58 programas e projetos de extensão
(13,5%), Meio Ambiente (9,6%), Direitos
Humanos e Justiça (7,7%), Trabalho (5,8%), 7 cursos de aperfeiçoamento e especialização
Tecnologia e Produção (1,9%). Foram de- 2 programas de residência multiprofissional
senvolvidos em sua maioria pelos departa-
118 cursos de extensão e eventos
mentos de Ciência do Movimento Humano
Dados de 2018
(27,8%), de Políticas Públicas e Saúde

50 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 51


cultura popular

e técnicas, como rodas de conversa, pales- muitas as contribuições da extensão para


tras, visitas técnicas, mediação de conver- a formação acadêmica. “As trocas de vivên-
sas com especialistas, técnicos, lideranças cias e conhecimentos e a construção cole-
de movimentos sociais envolvidos com o tiva com as pessoas do projeto e os jovens
tema na escola, oferta de materiais audiovi- proporcionam crescimento mútuo, que não

Campus aberto
suais e de leitura, dinâmicas e jogos expres- aconteceria se não estivéssemos inseridos
sivos, debates, conversas em ambientes vir- nesses contextos. A sala de aula não nos pro-
tuais. “Todos eles se pautam e creditam ao porciona essas experiências”, comenta.
diálogo uma ferramenta formativa funda- Em cada escola o número de estudantes
mental para os processos de conscientização que participam do projeto varia, assim como

à educação pública
e transformação que desejamos construir, as propostas interventivas. Somente no ano
tanto no espaço escolar, de forma específi- de 2018, por exemplo, foram atingidos dire-
ca, e na sociedade, de uma forma geral”, res- tamente cerca de 1.500 discentes, além de /JuventudesFunknaBS
salta Silva. cerca de 60 professores nas escolas. “Como
resultado desses processos reflexivos nas es-
Ocupando espaços colas por meio da inserção da extensão, há
Além das atividades prioritárias nos terri- uma mudança nas relações cotidianas dos
Estudantes de ensino médio participam de ações do Campus Baixada Santista que tórios escolares, o projeto de extensão é fre- estudantes, como identificado pela direção
quentemente convidado para desenvolver pedagógica de uma das instituições partici- #culturapopular
estimulam reflexões sobre diversidades, sociedade e direitos humanos ações junto a outras instâncias da univer- pantes. As trocas passaram a ser mais afe- #jovens #funk
sidade, como atividades em outros campi e tivas, com possibilidades de experiências #juventude
participações em módulos de formação es- múltiplas e convivência respeitosa na di- #cultura
pecífica ou comum aos cursos do Instituto versidade”, relata Silva. #ensinomedio
de Saúde e Sociedade - é o caso da pesquisa
temática Vulnerabilidades de Jovens às IST/

Arquivo pessoal
Tamires Tavares omprometido com a promoção de estudantes secundaristas, gestores e pro- HIV e à Violência entre Parceiros: avaliação
direitos humanos e políticas educa- fessores de escolas do ensino médio e está de intervenções psicossociais baseadas nos
cionais e de saúde para os jovens, o associado ao Laboratório Interdisciplinar direitos humanos. Há, também, uma preo-
projeto de extensão Juventudes & Funk na Ciências Humanas, Sociais e Saúde (Lichss/ cupação em ocupar o espaço universitário
Baixada Santista: territórios, redes, saú- Unifesp) e ao Projeto Metuia/Unifesp – gru- com a presença de jovens, organizando ati-
de e educação atua, desde 2014, em par- po interinstitucional que atua sobre as te- vidades com participação da comunidade,
ceria com escolas públicas nas proximi- máticas da formação e da pesquisa em dentre os quais destaca-se Batalha de Rimas
dades do Instituto de Saúde e Sociedade Terapia Ocupacional Social. O projeto tem de Rap e Funk - com presença do movimen-
(ISS/Unifesp) – Campus Baixada Santista. como base pressupostos do educador Paulo to hip-hop e de MCs de funk (2016), e as ro-
Iniciado por Cristiane Gonçalves da Silva, Freire que se refletem na interdisciplinari- das de rimas com movimento hip-hop da
docente no Departamento de Políticas dade e em seu processo educativo horizon- Baixada Santista (2018).
Públicas e Saúde Coletiva, e Patrícia Leme de talizado. Nesse processo, valoriza, inclusive, Grande parte do trabalho desenvolvido
Oliveira Borba, docente no Departamento a formação de vínculos de confiança entre está nas ações em parceria com escolas pú-
de Saúde, Educação e Sociedade, o projeto os membros da comunidade acadêmica e da blicas estaduais. Atualmente, destacam-se
é desenvolvido junto com estudantes uni- sociedade civil, por meio da interação dos as parcerias com a Escola Técnica Estadual Estudantes de diversos cursos da Unifesp atuam no projeto sob coordenação de
versitários dos cursos de psicologia, tera- estudantes universitários e dos ensinos fun- Aristóteles Ferreira, Escola Estadual de Cristiane Gonçalves e Patrícia Borba (ambas ao centro)
pia ocupacional e serviço social e conta com damental e médio – por compartilharem os Ensino Fundamental Paulo Clemente
a colaboração de docentes e técnicos da processos de expressão, linguagem e vivên- Santini e Escola Estadual de Ensino Médio

Arquivo pessoal
As atividades do projeto
realizadas na Etec universidade. cias com aspectos geracionais em comum. Padre Bartolomeu de Gusmão, com o intui-
Arquivo pessoal

Aristóteles Ferreira, em O Juventudes & Funk na Baixada Para abordagem das temáticas traba- to de dialogar a respeito de temáticas carac-
Santos, foram finalizadas
em evento no Campus Santista ocorre a partir da interlocução com lhadas, são utilizados diferentes métodos terísticas do contexto, estilos de vida, gera-
Baixada Santista (2018) ção e direitos dos estudantes – adolescentes
e jovens plurais. Gênero e sexualidade, raça
e etnia, o bairro onde vivem, os espaços por
onde circulam, o uso da internet, os interes-
ses juvenis e as possibilidades de acesso aos
bens culturais são assuntos recorrentes nas
atividades, que marcam a reflexão sobre as
diversidades de tal maneira que ela possa
ganhar existência nos espaços grupais e co-
letivos de forma respeitosa e crítica.
Na escola Paulo Clemente, por meio das ‘oficinas da diferença’, que ocorrem desde 2016,
Para Priscilla Karaver, estudante de as propostas interventivas dos estudantes tornaram centrais questões sobre expressão
Psicologia e participante do projeto, são de gênero, saúde reprodutiva e sexualidade

52 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 53


comunicação social

José Luiz Guerra


Em sintonia
com a sociedade
No Campus Baixada Santista, radiosilva.org é exemplo
de mídia alternativa de sucesso que une brasilidade e
importância comunitária

Equipe de programação da
radiosilva.org trabalhando
no estúdio montado na

U
Unidade Silva Jardim do
Marcos Zeitoune m estúdio envidraçado no saguão - especialmente o fechamento acústico do tempo para as atividades educativas que a colhidos no servidor no dia 12 de junho in- Campus Baixada Santista
da universidade é o convite aber- estúdio e marcenaria da bancada. O proje- rádio faz, especialmente as oficinas de pro- dicavam cerca de 178.092 pontos de conexão
to à participação das pessoas. Da to original previa que essa verba custeas- gramação, as ocupações e as tarefas ligadas ao streaming ao longo dos últimos doze me-
área de circulação da Unidade Silva Jardim se também o registro de domínio, a hos- à curricularização da extensão. Atualmente, ses, ou seja, cerca de 487 por dia.
do Campus Baixada Santista – de onde o pedagem de site e o servidor de streaming apenas os programas ao vivo têm hora mar- “Isso significa que uma média de 487
projeto ganhou o nome – qualquer pessoa pelos primeiros 24 meses. Desde então, há cada”, expõe. computadores se conectaram ao streaming
pode acompanhar o ritmo de trabalho da cerca de um ano, essas últimas despesas “Creio que este possa ser um desafio im- ao longo de cada 24 horas de transmissão,
radiosilva.org; caixas de som aplicadas no estão sendo custeadas com recursos pró- portante para a Unifesp: desenvolver e/ou alguns deles provavelmente tendo mais de
teto do saguão compartilham com estudan- prios, enquanto tramita um acordo de coo- disponibilizar sistemas e mecanismos que uma pessoa na escuta - algo que não nos é
tes e professores a programação diária, va- peração técnica com a instituição na região, nos permitam ter não só essa, mas também possível saber. Achamos que é um número
riada e eclética. que passará a assumir o custo operacional outras plataformas de comunicação audio- significativo para uma rádio experimen-
Prestes a completar três anos no ar - a como uma das contrapartidas envolvidas na visual no ar. Neste momento, ainda é neces- tal como a nossa, com uma equipe de duas
webrádio começou a transmitir no dia 1º de negociação. sário recorrer a serviços externos de registro pessoas, eu e o Renato Zama, e colaborado-
agosto de 2016 – há planos de instalação de de domínio, hospedagem de site e provedor res sem dedicação exclusiva”, revela Caiaffo.
um segundo estúdio em parceria com uma Mecânica de funcionamento de streaming. Para gravação, edição e trans- Vale ressaltar que a lógica da programação
organização local sem fins lucrativos, o Stéfanis Caiaffo, docente no Instituto de missão, trabalhamos com softwares gratuitos musical é pautada em repertórios não co-
Instituto Procomum, além da manutenção Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp) – Campus ou livres”, informa Caiaffo. merciais e, sempre que possível, indepen-
do estúdio volante e portátil, por meio do Baixada Santista, e coordenador do Núcleo dentes. Em outras palavras, tocar o que rá-
qual é possível dar continuidade ao projeto de Rádio do Laboratório de Recursos Audiência em alta dios comerciais não tocam e confiar esta
Ocupação: transmissões ao vivo ou grava- Audiovisuais (Lara), explica que a Rádio Ao contrário do modelo comercial, o sucesso seleção a pesquisadores e especialistas no
ções feitas a partir de locais variados e de- Silva transmite, ininterruptamente, 24 ho- de uma rádio escola não é exatamente medi- assunto.
mais equipamentos públicos, de acordo com ras por dia, sete dias por semana. “Até o ano do pela audiência, mas pelo modo como ela O objetivo maior permanece o mesmo
as demandas da comunidade. passado mantínhamos uma grade de pro- serve de dinamizadora para encontros po- desde o princípio:
A verba para a compra dos equipamen-
tos originais foi viabilizada, em 2015, gra-
gramação, mas a manutenção desta grade
nos tomava muito tempo de trabalho, por-
tentes entre as pessoas, sejam elas da comu-
nidade acadêmica ou não. A mesa de estúdio
“dar mais visibilidade a quem somos e
ças ao apoio da Fundação de Amparo à que chegamos a ter mais de trinta progra- da radiosilva.org é um espaço de encontro e a tudo o que fazemos na universidade,
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp),
processo intermediado pela Fundação
mas ou faixas de programação no ar ao lon-
go de uma semana. A partir do início de 2019,
troca. Ao longo dos últimos três anos já fo-
ram produzidos cerca de 1.500 programas.
bem como servir de mídia alternativa
de Apoio à Universidade Federal de São optamos por deixar o streaming da rádio Bastante conhecida na região da Baixada ao que temos na região” ,
Paulo (FapUnifesp), com contrapartida do transmitindo um randômico de todo o con- Santista, a reportagem pediu ao coorde- explica ele. “A riqueza do que se produz na
campus na instalação da estrutura física teúdo que produzimos e, assim, temos mais nador uma amostragem de público. Dados Unifesp muitas vezes é pouco divulgada e a

54 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 55


bem-estar

módulo ou que está integrado a um estágio,

Alex Reipert
às vezes é só a tentativa de sair um pouco do
cotidiano acadêmico, sem necessariamente
sair da universidade, uma espécie de respi-
ro. Nesse momento de poucos recursos op-
tamos por não ter bolsistas no programa de

Divulgação em rede social


extensão para que os projetos de extensão
que estão sob nosso guarda-chuva possam
pedir os seus e assim ficarem mais fortale-
cidos”, explica Caiaffo.
Segundo o coordenador, o principal de-
safio sempre foi, é e parece que ainda será
Stéfanis Caiaffo, coordenador da radiosilva.org fazer com que a própria comunidade aca-
dêmica, especialmente o segmento docen-
te, planeje dedicar um tempo de sua semana
grandeza de quem somos muitas vezes fica padrão para produzir com a rádio. “É muito
escondida depois que termina o nosso ex- difícil criar brechas no cotidiano do docen-
pediente. Criar um canal de comunicação te para que ele venha ao estúdio para falar
direta com a população, na nossa opinião, de seus trabalhos, de seus projetos. Estamos
é fundamental para que a universidade so- sempre muito premidos entre a quantidade
breviva à crise de legitimação e aos ataques de coisas que são necessárias fazer e dian-

Saúde à beira-mar
que vem sofrendo recentemente. E também te daquilo que é especialmente valorizado
é um modo de fazer com que as pessoas nos quando se trata da carreira docente”, explica.
conheçam. Atualmente, um influenciador A quantidade de propostas que chegam
digital, pelo menos em números, pode ter da comunidade externa vai além da capa-
mais impacto social do que um campus in- cidade de produção. Nesse momento, a rá-
teiro da Unifesp e isso deve nos preocupar dio está tentando atendê-la em processos de
como instituição”. Ademais, de acordo com descentralização dessa produção, instalan-
Caiaffo, há muita coisa interessante sendo do um segundo estúdio e formando pessoas
feita na região e a mídia tradicional olha que possam operá-lo, fazendo transmissões
pouco e dá menos espaço para isso, espe- e gravações direto de equipamentos públi- Programa em Santos incentiva a prática de exercícios físicos regulares para o controle
cialmente para a produção independente. cos e entidades conveniadas, e também tes-
tando algo novo. No final do ano passado
do diabetes e hipertensão e para a melhoria da qualidade de vida
/radiosilva.org/ Desafios para o futuro construiu-se uma unidade móvel sobre um
E o que leva o estudante a se interessar pela triciclo. “Chamamos nossa unidade móvel
rádio? “Não há um motivo específico que de Radiola da Silva e estamos começando a
#radiosilva traz um estudante à rádio. Às vezes é um in- experimentar a possibilidade de uma rádio

L
#midiaalternativa teresse por extensão, às vezes um interes- comunitária sobre rodas”, afirma o coorde- entamente, chega o fim da tarde no utilizados nas atividades. Daniel Patini
#radio #midia se em pesquisa, às vezes é fazer um progra- nador do projeto. “Seria uma rádio física emissário submarino de Santos (SP). Durante esses encontros, são realizados
#somosunifesp ma de rádio que sirva como avaliação de um que pedalamos pelo bairro e que produz e Conforme o sol se põe, um grupo co- exercícios aeróbios, que estimulam o siste-
transmite uma programação feita com e, es- meça a se formar, aos poucos, perto da orla ma cardiovascular, e exercícios resistidos,
pecialmente, dedicada à população que vive da praia. Desde 2010, essa é a rotina do pro- que utilizam halteres, elásticos e o próprio
no entorno da universidade”. grama Quiosque da Saúde, que realiza, três peso do corpo. A glicemia e pressão arterial
Quais são os projetos para o futuro? “Meu vezes por semana, atividades gratuitas, vol- são mensuradas periodicamente como for-
sonho é ver (ou sintonizar!) uma Unifesp FM tadas para adultos e idosos com hipertensão ma de orientar as estratégias de intervenção.
operando em rede e potencialmente atin- e diabetes. As sessões de exercícios físicos, Além disso, são efetuadas avaliações antro-
gindo centenas de milhares ou milhões de com duração de uma hora, têm a supervisão pométricas, juntamente com testes de flexi-
pessoas, com ampla participação tanto da de docentes e alunos do curso de Educação bilidade, de força e de resistência muscular.
comunidade acadêmica quanto da popu- Física do Instituto de Saúde e Sociedade “Apesar de ser um trabalho direcionado
lação em geral na sua produção e gestão e, (ISS/Unifesp) - Campus Baixada Santista. a diabéticos e hipertensos, o Quiosque da
eventualmente, ter a oportunidade de par- O programa propicia aos participantes Saúde também aceita pessoas com fatores de
ticipar disso”, revela Stéfanis Caiaffo. “De um conjunto de ações que favorece a in- risco ou com histórico de doenças na famí-
resto, aqui e agora, espero que a gente siga corporação de um estilo de vida fisicamen- lia. Dessa forma, acaba funcionando como
reunindo pessoas e condições para que a te ativo e que contribui para o controle da ação preventiva”, explica o professor Ricardo
radiosilva.org siga no ar, promova encon- pressão arterial e da glicemia. É desenvolvi- José Gomes, que desde 2011 coordena o pro-
tros potentes e fale de toda a riqueza que do em parceria com a Secretaria Municipal grama, implantado pelo professor Sionaldo
há em quem somos e naquilo que fazemos”, de Esportes da Prefeitura de Santos, que Eduardo Ferreira, hoje na Universidade
Exemplo de programação da rádio conclui. cede um espaço para a guarda dos materiais Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).

56 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 57


diabetes tipo 2, principalmente em relação à

Alex Reipert

Alex Reipert
glicemia e à aptidão funcional geral”, resume
o coordenador.
No artigo publicado pela Revista Brasileira
de Ciência e Movimento, em 2017, foram ava-
liados os efeitos do treinamento combinado
moderado (aeróbio e resistido), durante seis
meses, sobre a pressão arterial de repouso,
variáveis bioquímicas (como glicose sanguí-
nea e colesterol) e antropométricas (índice de
massa corporal e perímetro de cintura) e ap-
tidão funcional de dez mulheres hipertensas,
frequentadoras do programa. Como conclu-
Atual coordenador do
são, o trabalho confirmou que os exercícios programa, Ricardo José
físicos diminuíram os níveis de pressão ar- Gomes (centro), e os
terial de repouso nessas mulheres e sugeriu extensionistas Lelis Conte
Genaro (à esquerda)
melhora em variáveis antropométricas, bio- e Renan Santos Silva
químicas e funcionais relacionadas à saúde. Oliveira (à direita)
Já a outra pesquisa, que foi publicada pela
Beneficiários Aprendizagem na prática RBM - Revista Brasileira de Medicina, em 2015,

Alex Reipert
Até o momento, foram atendidas pelo Atualmente, o professor Gomes conta com investigou os efeitos do treinamento físico
Quiosque da Saúde aproximadamente 500 o apoio de dois estudantes do curso de sobre diversos parâmetros em 16 mulheres
pessoas. Os candidatos que desejam ingres- Educação Física, que atuam como exten- com diabetes tipo 2. As sessões consistiram
sar no programa – que oferece um número sionistas do programa. Um deles é Renan em exercícios aeróbios seguidos de exercí-
restrito de vagas – devem efetuar a inscrição Santos Silva Oliveira, que ingressou na cios resistidos (treinamento combinado mo-
no início de cada ano. O fluxo de interessa- Unifesp em 2017. Para ele, o Quiosque da derado). A coleta de dados foi baseada nos
dos é contínuo, mas há aqueles que permane- Saúde acrescenta outros atributos à sua for- parâmetros funcionais (testes de aptidão
cem no grupo por vários anos. Uma das fre- mação, pois proporciona o aprendizado dos funcional), bioquímicos (glicemia, coleste-
quentadoras mais antigas é Lucila Mendes métodos de trabalho que serão aplicados ao rol e triglicérides), antropométricos (estatu-
Gonçalves, 63 anos, moradora de Santos, que término da graduação. ra, massa corporal, índice de massa corporal
acompanha as sessões desde 2011. “É um estágio antes do próprio estágio, e circunferência abdominal) e hemodinâmi-
Hipertensa, ela explica que as atividades válido para ganhar experiência e conhecer cos (pressão arterial).
propostas ajudam a controlar a pressão alta nosso público-alvo, que é a maior parte da O treinamento foi eficiente ao promover
e faz elogios à iniciativa. “O trabalho reali- população, uma vez que a parcela de atletas alterações importantes em parâmetros rela- Novata no grupo, Isabel
Bezerra Salgado já sente
zado aqui é excelente”, atesta. “Pretendo de alto rendimento é mínima. No caso de cionados à saúde de mulheres com diabetes os efeitos positivos dos
continuar enquanto esse serviço for ofere- Santos, por exemplo, a cidade tem uma sig- tipo 2. Os dados demonstraram que houve exercícios
cido ou até quando eu não puder mais vir.” nificativa proporção de idosos. A extensão melhora significativa na resistência de for-
Relata, ainda, que o programa cumpre outra favorece o aprendizado de nossa função na ça, coordenação, índice de aptidão física ge- pela professora Alessandra Medeiros, que
função: “Além de nos exercitarmos, fazemos prática”, esclarece. ral, glicemia de jejum e pressão arterial de realizou oficinas sobre ressuscitação car-
novas amizades, que são mantidas mesmo O outro extensionista é Lelis Conte repouso. diopulmonar e primeiros socorros. “É im-
fora daqui”. Genaro, colega de turma de Renan. Para ele, portante saber como se comportar nessas
Novata no grupo deste ano, Isabel Bezerra as atividades de extensão contribuem para Projetos parceiros situações, já que são idosos que convivem
Salgado, 66 anos, também hipertensa, desco- que o aluno vivencie como é ser professor na No sentido de viabilizar intervenções com outros idosos”, avalia o docente.
briu o trabalho pela internet. Moradora do prática. “Aprendemos a planejar melhor as multiprofissionais e interdisciplinares, o Cabe também mencionar os projetos
bairro do Boqueirão, em Santos, ela já foi au- aulas, como devemos nos comunicar, como Quiosque da Saúde recorre, ainda, a par- de extensão Clube da Corrida e Clube do
xiliar de enfermagem do Hospital São Paulo, passar os exercícios. Isso é muito importan- cerias. A principal delas foi firmada com o Pedal, vinculados ao Programa de Educação
que é o hospital universitário da Unifesp, e te e será um diferencial no futuro”, justifica. Grupo de Estudos da Obesidade (GEO), sob Tutorial do curso de Educação Física (PET-
se diz apaixonada pela instituição. “Quando a responsabilidade da professora Danielle EF) e coordenados pelo professor Ricardo
surgiu a oportunidade, não pensei duas ve- Efeitos comprovados Arisa Caranti. Com o apoio do GEO, os in- Guerra, os quais possibilitam o desenvolvi-
zes”, comenta rindo. O efeito positivo dos protocolos de exercícios tegrantes do programa podem exercitar-se mento de atividades complementares volta- /quiosquedasaude
Por conta de um atropelamento, Isabel físicos sobre a saúde dos participantes já foi em bicicletas ergométricas e esteiras, sendo das à prática esportiva.
realizou cirurgia nos tendões do mangui- comprovado por dois estudos publicados nos também avaliados. “Além de uma boa estru- Dessa forma, além dos exercícios físicos
to rotador, localizados no ombro. Passou últimos anos. “Um deles avaliou a pressão ar- tura, o GEO oferece atendimento com psicó- para o controle de doenças crônicas, o pro-
por sessões de fisioterapia e, com os exercí- terial de mulheres com hipertensão, além de logos, nutricionistas e fisioterapeutas”, re- grama Quiosque da Saúde oferece aos vo- #quiosquedasaude
cios adicionais, já sentiu os efeitos positivos. parâmetros antropométricos e funcionais, lata Gomes. luntários palestras sobre educação em saú- #exercicio #saude
“Como profissional da saúde, eu me preocupo demonstrando uma melhora em relação à Outro exemplo de ação conjunta provém de, que estimulam a mudança de hábitos e #atividadefisica
em cuidar de mim mesma. Enquanto houver primeira variável. O outro estudo também do Projeto de Capacitação para Prevenção de contribuem para a melhoria da qualidade #qualidadedevida
esse trabalho, eu virei”, afirma. encontrou benefícios para as mulheres com Acidentes e Primeiros Socorros, coordenado de vida. #somosunifesp

58 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 59


drogas

tecnologias de informação e comunicação. Trabalho. De acordo com Surjus, o intuito


Esses fatores exigem do estudante uma foi maximizar a potencialidade e a efetivi-
postura ativa na construção, disseminação dade das intervenções de cuidado, ou seja,

Formação de agentes
e socialização do conhecimento. “Há uma produzir efeitos positivos sobre toda a rede
conexão possível com o módulo de Terapia de serviços para que esta amplie sua capa-
Ocupacional em Saúde Mental, além da pos- cidade de acolher as demandas, funcionan-
sibilidade de constituir-se como campo de do de modo mais articulado e apresentan-
pesquisa para os trabalhos de conclusão de do respostas adequadas, criativas, efetivas

na construção de
curso e projetos de iniciação científica”, ex- e eficazes.
plica a docente. “Acerca do potencial de inovação do pro-
O programa de extensão promove, por grama principal, podemos identificar a con-
um lado, o fortalecimento da permanência tratação formal de pessoas da comunidade
estudantil na universidade e a ampliação do com histórico de uso de drogas e em situa-

novas realidades
acesso à educação para a comunidade exter- ção de vulnerabilidade, que promoveram
na. Por outro, o CRF busca, na prática, apro- um espaço de legitimação de sua experiên-
ximar cada vez mais a população da Baixada cia enquanto saber fundamental, para avan-
Santista do universo acadêmico, diminuin- çar na construção de respostas que atendes-
do a vulnerabilidade social e econômica e fo- sem às suas reais necessidades. O trabalho
mentando a cultura dos direitos humanos. aqui realizado ganha um lugar central no
Para a concretização desses objetivos, processo de inclusão. A metodologia pro-
Centro Regional de Formação em Políticas sobre Drogas e Direitos Humanos foram inicialmente propostos dois proje- vocou ainda a horizontalidade do processo
/DiV3rso-Saúde-Mental-
tos sob o guarda-chuva do programa prin- de construção de conhecimento, colocando
qualifica agentes sociais e de saúde para o apoio a pessoas com problemas cipal, que contaram com financiamento lado a lado diferentes atores e apostando
Redução-de-Danos-e-Direitos-
Humanos-1923144761330383

relacionados a drogas advindo de um convênio tripartite entre nas trocas e na diversidade como estratégias
a Universidade Virtual do Estado de São para a transformação social de todos os en-
Paulo (Univesp), a Unifesp e a Fundação volvidos. Estes passaram a conviver em um
de Apoio à Unifesp (FapUnifesp): o cur- espaço comum, produzindo mundos possí- #politicassobredrogas
so de Atualização em Redução de Danos veis, que incidiram sobre as barreiras da de- #direitoshumanos
e o projeto denominado Apoio e Fomento sigualdade que nos distanciam”, finaliza a #inovacaosocial
a Experiências em Inclusão Social pelo coordenadora. #div3rso

V
Valquíria Carnaúba isando à inovação social, o Centro Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande, Santos
Regional de Formação em Políticas e São Vicente).
sobre Drogas e Direitos Humanos De acordo com Luciana Togni de Lima

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal
(CRF) desenvolve um programa de exten- e Silva Surjus, coordenadora do programa
são que surge em 2017 na Baixada Santista, e docente do Departamento de Políticas
a partir da iniciativa do Grupo de Pesquisa Públicas e Saúde Coletiva do Instituto de
e Extensão DiV3rso, composto por docen- Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp) - Campus
tes, estudantes e membros da comunidade Baixada Santista, diversos fatores justificam
do entorno do Campus Baixada Santista. O a implantação do CRF na região metropoli-
programa nasce da necessidade de promo- tana da Baixada Santista, como a magnitude
ver a qualificação – na área de política sobre e a complexidade da questão das drogas nes-
drogas e direitos humanos – de lideranças se perímetro, relacionadas especialmente às
comunitárias, trabalhadores e usuários de populações em situação de alta vulnerabili-
serviços públicos, em conjunto com a forma- dade, e a necessidade de articulação territo-
ção de alunos de graduação e pós-graduação. rial da rede de serviços. “Era fundamental,
O foco do CRF consiste, primariamente, ainda, qualificar as intervenções profissio-
O centro de formação frequentemente articula-se
no fomento à transformação da vida dos in- nais e ampliar o acesso dos usuários dos ser-

Arquivo pessoal
a grupos de trabalho para discutir temas correlatos
divíduos que revelam uso problemático de viços à universidade e a espaços formativos”, à prevenção e ao tratamento de problemas com
drogas, sob a perspectiva dos direitos hu- complementa Surjus. drogas. Elaborados em 2018, os projetos sobre
atualização em redução de danos e sobre inclusão
manos, ao mesmo tempo em que se propi- social pelo trabalho resultaram da articulação entre
cia a experiência acadêmica dos estudantes Produção de conhecimento e a Unifesp, a FapUnifesp e a Universidade Virtual do
envolvidos. A articulação ocorre entre a uni- aproximação Estado de São Paulo. Ambos visaram contribuir com
a formulação de um plano integrado de redução de
versidade, agentes de políticas públicas de Algumas das transformações diretas na uni- danos na região.
saúde, assistência social, educação, cultu- versidade, decorrentes da atuação do CRF,
ra, segurança pública e trabalho e agentes referem-se à integração de conteúdos e dis-
do sistema de garantias de direitos dos mu- ciplinas em eixos e módulos interdisciplina-
nicípios que compõem a Baixada Santista res, à adoção de metodologias críticas e in-
(Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, ventivas para o ensino e à inserção de novas

60 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 61


campus guarulhos | eflch
O desafiador encontro

Alex Reipert
Escola de Filosofia,
Letras e Ciências entre a comunidade e
Humanas
#somosunifesp #unifesp #eflch #unifespguarulhos #guarulhos a academia
A EFLCH/Unifesp busca estabelecer um diálogo com seu entorno e
com a realidade complexa da comunidade local

O
trabalho de extensão da Escola de É possível identificar a maneira que Rosângela Dantas de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas esse adensamento se configurou ao longo Oliveira
Coordenadora da
(EFLCH/Unifesp) – Campus do tempo, bem como a relação dos progra- Câmara de Extensão
Guarulhos, teve início em 2007, fruto do pro- mas e projetos com o contexto sociopolítico. e Cultura do Campus
cesso de expansão das universidades e dos Nos anos iniciais do campus, encontramos Guarulhos
institutos federais. Vários professores que um maior número de ações direcionadas
ingressaram na Unifesp para dar vida ao à formação continuada de professores nos Andrea Barbosa
campus trouxeram também, desde o início, mais diferentes âmbitos, desde o ensino de Docente do
Departamento de
ideias para desenvolver a pesquisa e exten- Ciências, Matemática, História, Filosofia e Ciências Sociais da
são em humanidades pela instituição - até Línguas, até inclusão e igualdade de gênero EFLCH/Unifesp
então conhecida por sua atuação na área na educação infantil. Embora essa área con-
da saúde. Paralelamente, mesmo de for- tinue bastante contemplada, nos últimos
ma não institucionalizada - sem registro no três anos cresceu o número de ações envol-
Sistema de Informações da Extensão (Siex), vendo a formação cidadã e direitos huma-
muitos projetos foram desenvolvidos local- nos. Podemos citar o Memoref, que oferece
mente. Alguns estão em atividade até hoje, aulas de língua portuguesa para imigran-
como o Projeto Pimentas nos Olhos, o Grupo tes e refugiados e o curso de formação de
de Estudos e Práticas Artísticas (Gepa) e o Promotoras Legais Populares dos Pimentas.
Cursinho Popular Pimentas, explorados na A EFLCH/Unifesp busca estabelecer um
atual Entreteses. diálogo com seu entorno e com a realidade
Com a consolidação da expansão e a complexa da comunidade local, incluindo
criação do Centro Acadêmico de Extensão o bairro dos Pimentas - em que se localiza.
e Cultura (Caec), em 2011, o número de pro- Entendemos que consolidar esse processo
jetos e programas submetidos e aprovados talvez seja hoje o maior desafio, pois as de-
no Siex se diversificou e ampliou. A título mandas nascidas desse encontro (e às vezes
de exemplo, foram quatro ações aprovadas confronto) muitas vezes se apresentam com
no ano de 2016, 26 no ano de 2017, 16 no ano uma urgência que as diversas limitações de
de 2018, e 12 até junho de 2019 – números nosso trabalho impede de atender.
que aumentam exponencialmente se con-
siderarmos eventos e cursos. Esse aumen-
Campus Guarulhos • extensão em números:
to ao longo de dez anos é caracterizado por
um maior foco em determinadas áreas: for- 43 programas e projetos de extensão
mação de professores para a rede pública 1 curso de aperfeiçoamento e especialização
da educação básica, arte e cultura, história
148 cursos de extensão e eventos
e cultura afro-brasileira e, mais recentemen-
Dados de 2018
te, direitos humanos.

62 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 63


artes cênicas

Rodrigo Baroni
Da sala ao palco: ensino
O grupo de teatro Cia. do Caminho
Velho, sediado no Campus Guarulhos,
nasceu em 2007 com o objetivo de

de teatro e formação
promover a interação entre universidade
e comunidade por meio de práticas
artístico-culturais

Ensaio aberto da peça


Piche para estudantes da
rede pública de Guarulhos,

T
no Teatro Adamastor
Paula Garcia udo começou há 12 anos, quando estudos ao rol de projetos extensionistas da responsável pela realização dos cursos de do Caminho Velho, localizada no bairro dos Pimentas
um grupo de estudantes que ingres- universidade. iniciação teatral, dramaturgia e cenogra- Pimentas – região periférica do município
sara na recém-inaugurada Escola No início, os encontros eram liderados fia, bem como pela pesquisa avançada em de Guarulhos, em São Paulo. Seu trabalho
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas por aqueles que possuíam alguma expe- artes cênicas. Semestralmente, são ofereci-inaugural, no âmbito da universidade, foi o
(EFLCH/Unifesp) - Campus Guarulhos riência – no caso, Alex Araújo e Alexandre dos dois cursos de iniciação teatral, um noensaio aberto para a Semana de Orientação
deparou com um campus universitário Kerestes, que eram estudantes respectiva- período diurno e outro no noturno, ambos Filosófica e Acadêmica, em 2007, que des-
em formação, que incorporava o Teatro mente dos cursos de Filosofia e História. Os com um encontro semanal, que ocorre no pertou o interesse da comunidade interna
Adamastor Pimentas, com capacidade para contornos do coletivo passaram a ser mais Teatro Adamastor Pimentas ou em sala ce- pela apresentação de peças e por cursos de
500 pessoas, e que representava uma pro- definidos quando parte de seus integrantes dida pela EFLCH/Unifesp. Além de inter- teatro. Com isso, no ano seguinte, a com-
messa de espaço para manifestações artís- começou a buscar formação em centros re- venções artísticas nos campi da Unifesp, o panhia resolveu abrir as primeiras turmas
ticas emergentes. Mesmo sem experiência ferenciados nas artes cênicas, multiplican- grupo de estudos propicia a formação con- do curso de iniciação teatral.
nos palcos, esses jovens lançaram-se à prá- do os ensinamentos entre os demais. Em tinuada aos atores que concluíram o trei- Em 2012, quando as inscrições passaram
tica teatral e às pesquisas nessa área. Pouco locais como o Centro de Pesquisa Teatral namento inicial. a ser feitas por formulário eletrônico, en-
tempo depois, decidiram fundar o coletivo (CPT/Sesc), a SP Escola de Teatro, a Escola O diretor e professor de teatro da Cia. caminhado pelas redes sociais, houve o au-
Cia. do Caminho Velho, que se consolidaria Livre de Teatro de Santo André e o Núcleo do Caminho Velho, Araújo – que é também mento significativo da participação do pú-
como um verdadeiro núcleo de criação ar- de Artes Cênicas (NAC), entraram em con- dramaturgo – ressalta que o Gepa contri- blico externo. Desde então, o diálogo com a
tística e reflexão teórica sobre as artes cêni- tato com figuras importantes da cena brasi- bui para a expansão do horizonte cultural sociedade, principalmente com os segmen-
cas. Algumas das atividades realizadas pela leira – entre elas, Antunes Filho, Lee Taylor, do campus e seu entorno. Possibilita, ain- tos socioeconômicos de maior vulnerabili-
companhia foram posteriormente sistema- Francesca Della Monica, Cida Moreira, Luiz da, a preparação de bolsistas e voluntáriosdade e que se fixam no entorno do Campus
tizadas sob a forma de projeto de extensão, Päetow, Marici Salomão e Luiz Fernando que integram o projeto, uma vez que são Guarulhos, tem contribuído para a difusão
denominado Grupo de Estudos e Práticas Marques. Atualmente, o grupo de teatro de- incentivados a relacionar o conhecimento da cultura e a divulgação da Unifesp como
Artísticas da Cia. do Caminho Velho (Gepa). senvolve um trabalho contínuo a partir de adquirido ao longo da formação acadêmica um espaço público, aberto a todos e não so-
A trajetória da Cia. do Caminho Velho três frentes: apresentação de peças, organi- ao planejamento de programas culturais e mente à comunidade acadêmica.
se entrelaça naturalmente à do Gepa, res- zação de mostras e eventos culturais e for- cursos ministrados. “Hoje, 50% dos participantes, em média,
ponsável pela formação de 411 pessoas em mação artística. provêm da universidade e os outros 50%
oficinas semestrais de iniciação teatral. Coordenado por Janes Jorge, docente do Do coletivo à extensão universitária pertencem à comunidade externa. Em um
Foi, entretanto, a relevância do coletivo Departamento de História e vice-diretor do O primeiro grupo de teatro da Unifesp car- campus de Ciências Humanas é muito co-
que propiciou a incorporação do grupo de Campus Guarulhos, o Gepa, por sua vez, é rega no nome o local de origem: a Estrada mum discutir questões como as de gênero.

64 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 65


saúde mental

Rodrigo Baroni

Arquivo
Música em
Atividade-aula do curso de iniciação teatral Oficina de sensibilidade artística, parceria com o
benefício
da vida
Departamento de Letras da EFLCH/Unifesp

Rodrigo Baroni
Alex Reipert

Projeto de extensão filiado

Vinícius de Souza
Os fundadores da companhia, Carolina Erschfeld e Roda de conversa após apresentação da peça Piche, na SP Escola de Teatro
a programa britânico busca
Alex Araújo combater transtornos, como
Entretanto, quando recebemos pessoas de Intervenções artísticas
ansiedade e depressão, por
fora, elas nos fazem perceber os preconcei- Além da formação continuada, o Gepa ela- meio do canto coletivo
tos que existem dentro de nós, dentro da bora o planejamento de várias atividades
academia, e isso gera um ‘caldo’ interessan- culturais da Unifesp, como o Dia Aberto e a
te”, argumenta Araújo. Festa das Artes. O objetivo do primeiro even-
Ao término da iniciação teatral, grande to é apresentar os cursos acadêmicos minis-
parte dos formados sente necessidade de trados pela instituição aos alunos de escolas
intensificar suas pesquisas na área artísti- públicas da periferia de São Paulo. A edição
ca, como foi o caso de Daiane Sousa, atriz de 2017 contou com um público de mais de
que atualmente ensaia uma das monta- 650 pessoas, que ocupou o Teatro Adamastor

A
gens profissionais do grupo. “O Gepa su- Pimentas e pôde assistir ao ensaio aberto da o passar pelo Teatro Adamastor Pi- Letras e Ciências Humanas (EFLCH/Uni- Tamires Tavares
pre essa necessidade, pois é o local onde os peça Piche, encenada pelo coletivo. mentas, no Campus Guarulhos, po- fesp) - Campus Guarulhos, o projeto existe
concluintes do curso básico vislumbram O segundo evento, idealizado em con- de-se ouvir um conjunto de vozes en- oficialmente há dois anos como um experi-
a oportunidade de continuar o aprimora- junto com a direção acadêmica do Campus toando músicas populares e convidando o mento artístico-antropológico que desen-
mento da prática teatral”, assegura o dire- Guarulhos, possibilita que alunos e servido- público a cantar (e se encantar). O envolvi- volve o estudo do ser humano por meio
tor da companhia. res possam exibir seus talentos, o que incen- mento coletivo, proporcionado pelas can- da produção de arte, integrando pesquisa,
Carolina Erschfeld, atriz, diretora e uma tiva – por meio de diferentes expressões ar- ções e batizado de Encantamento, é parte ensino e extensão. Une pesquisadores das
das fundadoras do coletivo, aponta a par- tísticas – outra vivência afetiva do ambiente do projeto de extensão Pimentas em Can- áreas de Ciências Sociais e Letras e artistas
ceria com a direção acadêmica da EFLCH/ universitário e maior integração entre os tadas, cujo propósito é a promoção do bem- locais no desempenho de atividades musi-
/ciadocaminhovelho Unifesp como fundamental para a transfor- membros da comunidade. A mostra promo- -estar e o combate não apenas aos sintomas cais, além de constituir objeto de pesquisa
mação das ações desenvolvidas em projeto ve, assim, uma “quebra” do cotidiano, ressig- de transtorno mental, como a depressão e para o grupo denominado Etnografia e His-
de extensão: “Desde o início buscávamos a nificando os espaços e as relações humanas. a ansiedade, mas também à reclusão social, tória das Práticas Artísticas e das Línguas
oficialização de nosso trabalho mediante A companhia já esteve presente em to- por meio de encontros musicais entre a co- das Áfricas (EHPALA).
#ciadocaminhovelho entendimento com os dirigentes do cam- dos os campi da Unifesp, durante eventos munidade universitária e a externa. A inspiração para o Pimentas em Canta-
#teatronopimentas pus. Percebemos que é importantíssimo acadêmicos como a recepção aos calouros Sob a coordenação de Marta Denise da das surgiu no primeiro semestre de 2016, du-
#unifesppimentas esse espaço para os alunos, como o foi para e a exibição de peças e performances de seu Rosa Jardim, docente do Departamento rante a permanência da docente na School
#arte #artes #teatro nós no início”, ressalta a atriz. repertório. de História da Arte da Escola de Filosofia, of Anthropology and Museum Ethnography,

66 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 67


Sociais, Letras e Filosofia. É também desen- formam, então, uma banda que reproduz as

Vinícius de Souza
volvido o Encantamento Público para divul- canções ensaiadas e ficam à disposição para
gação do projeto, no qual os componentes acompanhar as demais exibições poéticas e
cantam juntos em locais públicos no entor- musicais. A preparação do sarau compreen-
no do campus e em eventos da universidade, de aulas de iniciação musical, sessões de en-
convidando os espectadores a participarem. saio e ensinamentos sobre o cuidado com os
Já o Encantamento Ameríndio é um instrumentos, além das rodas de conversa e
encontro mensal, de caráter musical, que estudo de literatura.
ocorre na Casa de Apoio à Saúde Indígena Citando a canção Marcha da Quarta-Feira
(Casai), em São Paulo. Dele, participam de Cinzas, com letra de Vinicius de Moraes e
indígenas que se hospedam no local e são melodia de Carlos Lyra, a docente enfatiza
oriundos de várias partes do país, além de a importância dessa iniciativa na atual con-
estudantes e funcionários da Unifesp e da juntura política e social. “Nestes tempos em
Casai. que: ‘Pelas ruas o que se vê / É uma gente que nem
O Sarau de Arteiros do Subversom tam- se vê/ Que nem se sorri/ Se beija e se abraça/ E sai #pimentasemcantadas
bém ocorre todos os meses e nele se apresen- caminhando/ Dançando e cantando/ Cantigas de #musica
tam musicistas que pertencem à universida- amor/ E, no entanto, é preciso cantar/ Mais que #saudemental
de ou moram no distrito dos Pimentas e em nunca é preciso cantar/ É preciso cantar e alegrar #vozes
locais próximos. Os integrantes do projeto a cidade’ ”, recita. #encantamento

Suevelin Cintia dos Santos

Suevelin Cintia dos Santos


O Teatro Adamastor Pimentas é um bem valioso do Campus Guarulhos, segundo Marta Jardim. No local, o grupo Pimentas em Cantadas pretende
também atuar na preparação vocal de atores da Cia. do Caminho Velho e do EHPALA

da Universidade de Oxford (Reino Unido). e Gerontologia, em parceria com a Bayer, a


Nesse período, ela participou do grupo de maior preocupação de brasileiros com mais
cantores Ark T, que integra o Sound Resour- de 60 anos é o isolamento.
ce – um programa governamental que existe Para a coordenadora, tais práticas – cujo
há dez anos com o objetivo de reforçar po- resultado observou no espaço europeu – são
líticas de fomento ao bem-estar mediante benéficas tanto psicológica quanto social-
práticas musicais, visando ao combate do re- mente, viabilizando relacionamentos inter-
colhimento, reclusão e isolamento. Jardim pessoais em um ambiente harmonioso. “O

Suevelin Cintia dos Santos


trouxe esse conceito ao Brasil, implemen- objetivo é sentir-se bem, cantar para enun-
tando-o na universidade e recebendo reco- ciar versos e poemas tocantes que fazem
nhecimento do programa original – ao qual bem ao coração, à alma. Há quatro diferen-
é atualmente vinculado. ças básicas entre o canto coletivo e o coral:
Iniciativa do governo britânico, o Sound flexibilidade, leveza, objetivos e repertório.
Resource tem demonstrado impacto social Em ambos, a harmonia resulta do cantar em
relevante ao reunir pessoas para a produção conjunto. Além disso, a proposta é convidar
de atividades coletivas, possibilitando cone- as pessoas a não ficarem solitárias em suas
xões interpessoais em um contexto de soli- casas”, afirma.
dão epidêmica e de casos – em número cres- Atualmente, o Pimentas em Cantadas é
cente – de transtorno mental. composto por diferentes ações periódicas
No Brasil, o número de pessoas que vi- como o encontro semanal de canto coleti-
viam sozinhas aumentou de 6 milhões, em vo (Encantamento), aberto à comunidade
2005, para 10,4 milhões, em 2015, de acordo acadêmica e aos moradores da região dos
com a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE Pimentas, na periferia de Guarulhos. Para
(2015). A solidão afeta principalmente os ido- essa atividade, o grupo conta com a presen-
sos no país. Segundo pesquisa realizada em ça da regente Myrian Portes e de professo- Realizado nas edições de 2018 e 2019 do evento Unifesp Mostra sua Arte, no Campus Guarulhos, o Sarau de Arteiros do Subversom conectou os
2017 pela Sociedade Brasileira de Geriatria res e pesquisadores dos cursos de Ciências estudantes por meio da música e da poesia

68 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 69


artes visuais

Laís Agnes
Antropologia para
entender a periferia
Projeto Pimentas nos Olhos utiliza a fotografia como meio de registro, reflexão e
pesquisa sobre a realidade em regiões periféricas da cidade de Guarulhos

Vista do buraco - Fotografia de Laís Agnes/2013 - Oficina Cursinho Comunitário Pimentas

C
Tamires Tavares om o objetivo de analisar o uso da ima- Unifesp, o Visurb organiza rodas de conver- caracteriza-se pela heterogeneidade cultural médio da Escola Estadual Professor Antonio
gem em pesquisas antropológicas, sa sobre filmes e fotografias, com o apoio e artística e pela distância do centro do mu- Viana de Souza, o projeto, do qual participa
surge em 2007 o Grupo de Estudos de material teórico sobre o tema discutido. nicípio – como se fosse independente deste. pela primeira vez, viabiliza outra perspec-
Visuais e Urbanos (Visurb), sob a coorde- Há também oficinas, nas quais os partici- “O projeto fornece um espaço democrá- tiva sobre a universidade, principalmente
nação de Andréa Cláudia Miguel Marques pantes recebem orientações sobre técnicas tico para a construção e troca do conheci- para os secundaristas da região, que perce-
Barbosa, professora do Departamento de composição e funcionamento de equipa- mento. Por meio dele são discutidas ques- bem a instituição como mais acessível. “Esse
de Ciências Sociais da Escola de Filosofia, mentos audiovisuais, sendo incentivados a tões referentes às pesquisas dos próprios contato com a universidade pública como
Letras e Ciências Humanas (EFLCH/ registrar imagens e sons como narrativa e estudantes do curso de Antropologia Visual, um espaço aberto incentiva-nos a querer
Unifesp) - Campus Guarulhos. Essa inicia- expressão de sua realidade e visão pessoal. que ministro”, explica Barbosa. Por meio da frequentar seus cursos”, afirma.
tiva foi proposta pela docente como for- Com foco no ambiente urbano e na obser- produção de imagens, as oficinas propõem a A cada edição, as oficinas focalizam um
ma de trabalhar as questões características vação do comportamento da juventude nas reflexão dos jovens acerca da própria iden- tema específico, escolhido a partir da reali-
da Antropologia Visual e da Antropologia metrópoles, o grupo também se dedica ao tidade e da realidade que os circunda, ob- dade de determinado contexto. Ao final de
Urbana, áreas nas quais é pesquisadora, estudo de questões relacionadas à sociabi- servadas a partir de novos aspectos. Esses cada oficina é realizada uma exposição foto-
empregando as ferramentas audiovisuais e lidade e cultura, com pesquisas individuais jovens traduzem, então, suas experiências gráfica, cujas imagens são apresentadas em
seus produtos como método e fonte de re- e coletivas. A partir dessa proposta, surge para a linguagem fotográfica, o que torna escolas e centros culturais da região.
flexão teórica. Sobre as vertentes citadas da em 2009 o Pimentas nos Olhos, projeto de possível não somente sua expressão, mas Alguns participantes do projeto, vincula-
Antropologia, a primeira utiliza a fotogra- extensão que promove oficinas de produ- também o compartilhamento e a amplia- dos à EFLCH/Unifesp, obtiveram reconhe-
fia, o cinema e outros meios de comunicação ção de imagens, reúne as comunidades in- ção de seu alcance. cimento internacional por seu trabalho na
visual para o estudo da cultura material de terna e externa e proporciona uma reflexão “É um projeto aberto, no qual utilizamos área de fotografia. Lindolfo Campos Sancho,
um grupo social, bem como das relações que acerca do contexto no qual o campus está imagens para nossas pesquisas; queremos hoje mestrando em Ciências Sociais, e
os indivíduos estabelecem entre si e com o inserido – ou seja, na periferia de Guarulhos, desenvolver essa prática e repassar as infor- Jordana Braz, na época estudante de Letras,
mundo; a segunda estuda os indivíduos, os pertencente à região metropolitana de São mações. O Pimentas nos Olhos nos possibi- foram premiados em 2012 no concurso fo-
grupos e a forma como se constrói a vida so- Paulo. lita esse diálogo”, relata Felipe Figueiredo, tográfico para jovens do Festival de Avanca,
cial nas metrópoles. Formado por bairros menores, situados mestrando em Ciências Sociais e partici- em Portugal, utilizando-se do suporte da
Desenvolvido por uma equipe de bol- no limite entre Guarulhos e a zona leste pante do projeto desde 2017. plataforma Sharp - Platform for Sharing
sistas e voluntários de cursos da EFLCH/ da capital paulista, o distrito dos Pimentas Para Lucas Oliveira, estudante do ensino RePresenting da Unesco.

70 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 71


sala de aula

Bárbara Sá
Jogos recreativos revelam
a face lúdica e prazerosa
da Matemática
Programa de extensão promove estratégias inovadoras para que
os estudantes aprendam Matemática brincando

Hoje tem água da rua - Fotografia de Bárbara Sá/2011 - Oficina Pimentas nos Olhos não É Refresco

Débora Faria
Um bairro “apimentado” pelas
diversas nuances sociais...

L
Formado por bairros menores, si- ápis e papel, lousa e giz, régua e com- que se olhe para a Matemática como algo Tamires Tavares
tuados no limite entre Guarulhos passo. Objetos que são associados ao prazeroso e ao mostrar que é possível apren-
e a zona leste da capital paulista, o ensino tradicional de Matemática ce- der por metodologias não tradicionais. Isso
distrito dos Pimentas caracteriza- dem espaço, ocasionalmente, a jogos de ta- é válido tanto para o professor quanto para
-se pela heterogeneidade cultural buleiro e outros materiais recreativos, em os alunos. A proposta é que eles se relacio-
e artística e pela distância do cen- salas de aula da rede pública. Desde 2011, es- nem com a Matemática para além da manei-
tro do município – como se fosse tudantes do ensino básico e do segmento de ra tradicional, com listas de exercícios – por
independente deste. educação de jovens e adultos (EJA) da cida- exemplo, por meio de jogos e desafios, inte-
de de Guarulhos, na região metropolitana ragindo com os colegas”, explica a docente.
de São Paulo, e da capital paulista, apren- Além do Clube de Matemática, o progra-
dem Matemática de forma lúdica e criativa, ma abrange outros projetos de extensão que
com brincadeiras e desafios propostos pelo têm como foco a formação de professores e a
Clube de Matemática, projeto de extensão aprendizagem por meio de estratégias ino-
da Unifesp. vadoras. Dentre alguns dos objetivos dessas
visurb-unifesp.wixsite. Iniciado na Unifesp por Vanessa Moretti, ações, estão o ensino de frações, o desen-
com/visurb-unifesp docente do Departamento de Educação volvimento do pensamento algébrico nos
/visurb.unifesp da Escola de Filosofia, Letras e Ciências primeiros anos do ensino fundamental e a
Humanas (EFLCH/Unifesp) - Campus compreensão do conceito de número como
Guarulhos, o projeto desenvolveu-se até tor- uma construção humana. São também pro-
nar-se o Educação Matemática em Atividade, gramados eventos sobre jogos africanos e
criado em 2015. Esse programa de extensão noções geométricas. As atividades são rea-
#visurb #pimentas tem por objetivo articular a formação inicial lizadas pelos estudantes de graduação e pós-
#pimentasnosolhos dos alunos do curso de Pedagogia e o apren- -graduandos da Unifesp, em parceria com
#fotografia dizado de crianças da rede pública de ensino as escolas municipais e estaduais no entor-
#antropologiavisual por meio da ludicidade e criatividade. no do Campus Guarulhos – na periferia de
#antropologiaurbana Sem título - Fotografia de Débora Faria/2013 - Oficina Cursinho Comunitário Pimentas “Há uma ação importante ao possibilitar Guarulhos – e em São Paulo, com a mediação

72 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 73


Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal
A equipe de estudantes

Arquivo pessoal
e docentes do curso de
Pedagogia desenvolve e
adapta jogos matemáticos
a partir de outros
existentes, estimulando
o raciocínio lógico entre
crianças, jovens e adultos

dos professores desses estabelecimentos. os adultos que as acompanhavam.


“Temos o desafio de proporcionar estra- Para Priscila Aparecida Rodrigues, do
tégias de aprendizagem não tradicionais, curso de Pedagogia, por meio do brincar a
de forma lúdica, considerando a atividade criança passa a conhecer o mundo sociocul-
principal da criança. Quanto menos ida- tural no qual está inserida. “A criança tem,
de tem a criança, mais importante é que a assim, a possibilidade de expandir seu co-
aprendizagem seja desenvolvida com cria- nhecimento e, a partir daí, assimilar outras
tividade e mediada pela brincadeira. O pro- noções. Além do poder motivador do jogo,
fessor deve ter a intencionalidade do que en- por meio dele a criança exercita a criativida- Outros projetos
sinar, mas, para a criança, é essencial que de, a sociabilidade, os limites com base nas
isso se dê por meio da brincadeira”, ressal- regras e as trocas que promovem seu desen- Oficina pedagógica de Matemática
ta Moretti. volvimento”, esclarece. A metodologia do Tem por objetivo propiciar aos professores um aprofundamento teórico so-
Os estudantes do Departamento de programa – adaptada ao contexto da edu- bre o significado do número, em sua dimensão conceitual e histórica, permi-
Educação participam do planejamento e cação de jovens e adultos (EJA) – inspirou o tindo-lhes produzir situações desencadeadoras de aprendizagem, as quais
execução das atividades como parte de sua tema de seu trabalho de conclusão de curso contemplem o tema abordado.
formação. Os materiais recreativos são por (TCC). Segundo a estudante, a experiência
eles elaborados e aplicados em suas expe- colaborou para o aumento do interesse dos Números e operações: possibilidades
riências no estágio e residência pedagógi- participantes em atividades educativas e na pedagógicas do uso do ábaco
ca. Carolina da Cunha Leandro, aluna do 6º aprendizagem. Neste curso, é analisado o uso do ábaco como instrumento pedagógico au-
termo do curso e estagiária de Pedagogia, O Clube de Matemática conta com um xiliar para o ensino de números e operações aritméticas. A partir da com-
criou os jogos Jenga Matemático e Sopa acervo de jogos e materiais didáticos para o preensão do número como construção humana, serão trabalhados recur-
de Decimais. Ao implementá-los no evento ensino de Matemática, o qual pode ser utili- sos didáticos para a abordagem dos algoritmos vinculados às operações e
Clube de Matemática no Parque, que ocor- zado em sala de aula tanto por alunos quan- seu significado.
reu em parceria com o Instituto Butantan, to por educadores. O acervo também fica #educacaomatematica
constatou que as tarefas envolveram não disponível a qualquer professor da rede pú- #educacaoludica
apenas as crianças presentes, mas também blica por meio de empréstimo. #matematica

74 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 75


Educação e meio
campus diadema | icaqf

Alex Reipert
Instituto de Ciências
Ambientais, Químicas ambiente em evidência
e Farmacêuticas Com exceção das áreas temáticas de Comunicação e de Direitos Humanos e Justiça, o
#somosunifesp #unifesp #icaqf #unifespdiadema #diadema
Campus Diadema apresenta projeto em todas as áreas no quadriênio 2015 - 2018

A
s ações de extensão em Diadema têm Universidade Aberta para as Pessoas Idosas Classius Ferreira da
aumentado nos últimos anos. No qua- (Uapi), que conta hoje com 50 matriculados. Silva
Coordenador da
driênio de 2015 a 2018 foram cadastra- É um projeto muito jovem, mas com pers- Câmara de Extensão
dos 38 projetos e 14 programas de extensão. pectivas de grande impacto na qualidade de e Cultura (Caec) –
Do total de projetos, aproximadamente 60% vida dos idosos do município. O número de Campus Diadema
encontram-se vinculados à área temática da eventos de extensão também tem aumen-
Educação, mas, se considerarmos também tado nos últimos anos, não somente pelos
os programas de extensão, este número é eventos científicos, como eventos volta-
ainda maior - cerca de 70%. dos para comunidade local, como é o caso
Com relação às áreas temáticas esta- do Encontro dos Surdos com as Ciências
belecidas pelo Fórum de Pró-Reitores de (ESC) e do Diadema Visita Unifesp Diadema
Extensão (Forproex), o Campus Diadema (Universidade de Portas Abertas).
se destaca na área de Educação, em decor- Alguns projetos de extensão ultrapas-
rência das parcerias estabelecidas entre do- sam as fronteiras do município de Diadema,
centes do curso de Licenciatura em Ciência como o projeto Picinguaba, que realiza ati-
com instituições locais, como a firmada en- vidades de extensão voltadas para questões
tre a Diretoria de Ensino de Diadema e a ambientais junto às comunidades tradicio-
Secretaria Municipal de Diadema. Um des- nais que ocupam o referido parque. Tais
ses exemplos é o programa Articul@ções, ações aumentam a percepção de inclusão
um conjunto articulado de projetos e ações social no ambiente. Quem não sabia da exis-
de extensão, de caráter multidisciplinar tência da Unifesp fica orgulhosa ao desco-
(como cursinhos populares preparatórios brir uma universidade federal em sua pró-
para os vestibulares) e interdisciplinar pria cidade; quem se beneficia das ações, por
(eventos de divulgação dos cursos superio- sua vez, se sente incluído. Esse é o desafio da
res na rede pública). extensão no Campus Diadema do momen-
A área de Meio Ambiente é outro foco de to: melhorar a visibilidade das ações de ex-
boa parte dos projetos (10,5%) e programas tensão pela comunidade regional e aumen-
(21,4%) de extensão, confirmando a vocação tar ainda mais as ações para áreas temáticas
ambiental do campus desde sua concepção ainda não contempladas.
e criação. Não menos importante, a área te-
mática de Saúde ocupa a segunda posição
Campus Diadema • extensão em números:
no número de projetos (13,2%). Com exce-
ção das áreas temáticas de Comunicação e 33 programas e projetos de extensão
de Direitos Humanos e Justiça, o Campus 2 cursos de aperfeiçoamento e especialização
Diadema apresenta projeto em todas as
36 cursos de extensão e eventos
áreas neste quadriênio.
Dados de 2018
Em 2019, o Campus Diadema iniciou a

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Arquivo pessoal
cosmetologia

Medindo as emoções
Projeto de extensão, executado em parceria com o Instituto Abihpec, avaliou
oscilações emocionais em mulheres acometidas por câncer de mama após aplicação
de cosméticos faciais

Equipe formada por Vera Bifulco, psicóloga do Instituto Paulista de Cancerologia; Airton Rodrigues, docente da Faculdade de Tecnologia de São Paulo
(Fatec); Vânia Leite e Silva, coordenadora do projeto; e maquiadoras profissionais voluntárias, convocadas pelo Instituto Abihpec

C
Valquíria Carnaúba omo intervir no cotidiano de pacien- Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, cadastradas. Coube aos pesquisadores da –, registrando-se os aspectos fisionômicos a
tes acometidas pelo câncer, de forma Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). “O ins- Unifesp aferir o efeito das intervenções de cada milissegundo. “Percebemos que o uso
a que reajam melhor ao tratamento e tituto é o único que detém a licença no Brasil beleza sobre as voluntárias. Nessa avalia- do batom inspirou mais confiança. Por ou-
superem essa etapa com maior autoestima? para aplicar o programa internacional Look ção, foram utilizados dois métodos famo- tro lado, colocar o lenço na cabeça gerou ex-
Vânia Rodrigues Leite e Silva, docente do Good Feel Better, que ajudou mais de 10 mil sos na Psicologia e Psiquiatria: a escala de pressões de raiva e aversão – provavelmente
Instituto de Ciências Ambientais, Químicas mulheres a minimizar os efeitos colaterais autoestima de Rosenberg (EAR) e a Facial porque lembravam a perda de cabelos devi-
e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) - Campus do tratamento oncológico por meio do cul- Action Coding System (Facs). O primeiro ba- do à quimioterapia”, relata.
Diadema, encontrou respostas para essa de- tivo da boa aparência. Apoia-se em um con- seia-se na pontuação obtida em um questio-
licada questão a partir da Psicologia e da cos- ceito que tem sido bastante explorado des- nário composto por dez questões fechadas.
metologia (ramo da ciência farmacêutica). de a década de 1960, o bem-estar subjetivo, O segundo, ao qual aderiram apenas 12 vo-
Por meio do projeto de extensão que coor- que envolve a compreensão de estados emo- luntárias, capta e codifica os movimentos Câncer de mama é o que mais afeta
denou entre os anos de 2016 e 2017, denomi- cionais, sentimentos, afetos e satisfação em de músculos faciais individuais a partir de mulheres no país
nado Avaliação do Bem-Estar de Pacientes relação a diferentes aspectos da vida. Seu mudanças momentâneas distintas na apa- Segundo dados do Instituto Nacional do
que Fazem Uso de Tratamento Oncológico presidente, Claudio Viggiani, sugeriu que rência facial. Câncer (Inca), divulgados em 2019, o cân-
antes e após o Uso de Cosméticos, a pesqui- aderíssemos à ação, de modo a medir as As respostas ao questionário, por si sós, cer de mama é o tipo que mais afeta mulhe-
sadora e sua equipe recrutaram 80 volun- emoções e comprovar os benefícios desse foram consideradas insuficientes para ava- res acometidas por essa doença, alcançan-
tárias com câncer de mama a fim de men- programa maravilhoso”, conta. liar com precisão as alterações no nível de do 60% dos casos registrados no país. Esse
surar a melhora do estado psicológico após Além da parceria com a Abihpec, que con- bem-estar das voluntárias. Por meio do percentual coloca em foco a importância de
workshops de beleza. Os resultados, publi- vocou bolsistas e encaminhou os produtos software instalado em um tablet e acoplado amenizar os sintomas decorrentes do trata-
cados em artigo um ano após a conclusão doados por indústrias do setor – itens de a um espelho, foi possível, entretanto, de- mento, pois os efeitos colaterais da quimio-
do projeto, mostraram que, entre as parti- maquilagem, higiene pessoal e perfumaria, tectar as expressões faciais enquanto se terapia incluem distúrbios no sistema diges-
cipantes, houve um decréscimo da tristeza além de lenços de tecido para amarração maquilavam. As observações foram divi- tivo, infecções, perda de cabelo, alterações na
após as intervenções. em torno da cabeça –, a docente recebeu o didas em etapas – como receber o presen- pele e trauma emocional.
Silva explica que a ação foi proposta pelo apoio do Instituto Paulista de Cancerologia te, higienizar a pele, passar o filtro solar e
Instituto Abihpec, ramo social da Associação (IPC), que permitiu o acesso às pacientes aplicar o lápis delineador, o rímel e o blush

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laboratório de ciências

meta inclui obter o apoio da Fundação de

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Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp) na aquisição de equipamentos.

Cientistas
“Queremos comprovar que um programa de
beleza pode evitar ou amenizar casos de-
pressivos, uma disfunção bastante comum
hoje em dia e que implica enormes impac-
tos na saúde pública – como a provisão de
medicamentos e a falta de produtividade

por um dia
no trabalho”, complementa.
Para Silva e sua equipe, a maior recom-
pensa foi vencer o desafio de atuar com
mulheres em situação de vulnerabilida-
de. “Escutávamos declarações como: ‘Hoje
não vou precisar de terapia, pois já ganhei
minha dose diária de felicidade’, que nos
motivavam constantemente. Sou uma de-
fensora dos programas e projetos de ex-
Vânia Rodrigues Leite tensão, pois aproximam professores, alu-
e Silva, que coordenou A coordenadora do projeto afirma que, nos e sociedade, incentivam a pesquisa e
por dois anos a avaliação
do bem-estar de a partir dos resultados, busca expandir a voltam os olhares de discentes e docentes
pacientes sob tratamento metodologia do sistema facial para o es- para os aspectos sociais da missão acadê-
oncológico, após o uso tudo de doenças como a depressão. Essa mica”, finaliza.
de cosméticos fornecidos
pela Abihpec, afirma que
os resultados servirão de
base à tese de doutorado
que desenvolve sobre o
tema

Software analisa automaticamente seis expressões faciais


Desde 2017, o Centro Aprendiz de Pesquisador da Unifesp permite que
estudantes de licenciatura se encontrem com os do ensino básico por meio
de um espaço não formal de ensino

N
a época em que atuava no Centro de Diadema e região do ICAQF/Unifesp por Valquíria Carnaúba
de Pesquisa em Meio Ambiente da meio da promoção de um espaço não formal
Universidade de São Paulo (Cepema/ de educação.
USP), Ana Maria Santos Gouw colaborou Conforme explica Gouw, é necessário
com uma ação bem parecida com a oferecida que as escolas interessadas agendem a vi-
no programa de extensão que introduziu no sita e aguardem a confirmação de dispo-
Instituto de Ciências Ambientais, Químicas nibilidade dos laboratórios destinados à
e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) - Campus recepção dos estudantes para que possam
Diadema, em 2017, o Centro Aprendiz de acompanhar as pesquisas e vivenciar na prá-
Captura de tela do software usado no projeto Pesquisador (CAP – Diadema). Com a fina- tica a rotina científica. Já durante a excur-
lidade de difundir o conhecimento gerado são, os próprios estudantes dos cursos de
O cálculo adotado pelos pesquisadores para determinar as alterações emo- em universidades, centros de pesquisa e se- graduação (bacharelado e licenciatura) do
cionais consistiu no equilíbrio afetivo: alegria e surpresa foram considera- tor industrial à comunidade de modo geral, ICAQF/Unifesp monitoram os participan-
das emoções positivas; raiva, medo, rejeição e tristeza, por sua vez, foram o Cepema/USP passou a organizar visitas tes, propõem atividades investigativas e
tratadas como emoções negativas. Foi identificada uma diferença significa- monitoradas de estudantes às suas depen- convidam à reflexão teórica sobre os temas
tiva entre o início da oficina, quando as pacientes receberam as instruções, dências, em Cubatão (litoral de São Paulo). abordados, tornando essas imersões espa-
e seu término. O resultado dos testes não revelou pessoas mais positivas, Com base nessa vivência, a ação extensionis- ços onde a observação, a experimentação e
#saude #cancer mas menos negativas. ta da Unifesp já submeteu mais de 1.500 es- o levantamento de hipóteses sejam vivencia-
#autoestima #emocoes tudantes da rede pública a atividades experi- dos de forma alegre e significativa, e acom-
#cosmetologia mentais no Campus Diadema, aproximando panhem, se possível, o currículo pedagógico
#tratamentooncologico estudantes da educação básica do município das escolas envolvidas.

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Centro Educacional de Diadema Escola Estadual José Marcato Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Rosalvito Cobra
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Valquíria Carnaúba
Colégio Camp Escola Estadual Diadema Escola Municipal de Educação Básica Olga Benário Prestes (EJA) O trabalho desenvolvido por Ana Maria Gouw e Paloma
Marques atendeu, até o momento, mais de 1.500 estudantes
da rede pública no município de Diadema

As experiências são previamente acer- Com a mão na massa a experiência apresenta a oportunidade de escolhas permitiu que os estudantes com-
tadas com as escolas. Figuram no topo das Paloma Marques, que concluiu seu mestra- dar aulas de verdade sem ter concluído a gra- preendessem as vivências pessoais em re-
solicitações: a microscopia ótica, fermen- do em Ensino de Ciências e Matemática em duação, especialmente para quem ainda não lação à produção de pães e outros produtos.
tação, pH e saúde, estudo do DNA, física e agosto deste ano, acompanhou a introdução conquistou uma vaga de estágio. Já a percep- Com isso, explicamos a importância da fari-
corpo humano, abarcando as três principais do CAP - Diadema e foi a principal voluntá- ção da ex-mestranda sobre o outro baseia-se nha e do açúcar para o fornecimento de ener-
áreas das ciências naturais (Física, Química ria da ação. “O piloto do projeto ocorreu em em sua vivência de 2017, com estudantes de gia ao fermento (um tipo de fungo), de como
e Biologia). “Apresentamos a universidade e 2017, com estudantes da modalidade Ensino EJA, quando notou a facilidade com que es- a água morna auxilia na ativação e aceleração
exibimos o vídeo institucional, abordamos de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Munici- sas pessoas interagiram durante a atividade do processo e das reações químicas que par-
os cursos oferecidos no ICAQF/Unifesp e pal de Ensino Básico (Emeb) Cora Coralina, sobre fermentação. ticipam da fermentação alcóolica”, finaliza.
explicamos como funciona o sistema de in- bem próxima do campus. “Na ocasião, desen- “Por serem adultos, costumam cozinhar e De acordo com Gouw, o vínculo do pro-
gresso. Depois disso, organizamos os visi- volvemos atividades que envolviam temas da fazer massas de pão em suas casas. Aprovei- grama CAP - Diadema ao curso de Ciências
tantes em pequenos grupos, já que o labora- área da saúde e atividades de observação ce- tamos a experiência pessoal deles para abor- - Licenciatura, mediante a política de curri-
tório tem uma disposição arquitetônica que lular. Como eram pessoas mais velhas, foi dar a fermentação alcóolica, oferecendo os cularização da extensão da Unifesp, tem tra-
suporta de 10 a 12 pessoas por bancada”, ex- desafiador em razão da linguagem que pre- materiais que são necessários para propiciar zido experiências positivas na formação de
plica a docente da Unifesp. cisamos adotar na comunicação com esses uma investigação sobre o tema (água morna professores. “Ficamos, por algum tempo, de-
A docente comenta que, no momento, a estudantes, acostumados às formalidades da e em temperatura ambiente, açúcar, sal, fa- pendentes de estudantes voluntários que se
Diretoria do campus atua para firmar um sala de aula”, conta. rinha de trigo, amido e fermento biológico). interessassem em monitorar as visitas ao la-
termo de cooperação com a prefeitura mu- O aprender na prática, quando se fala Cada grupo recebeu um Erlenmeyer (fras- boratório. Hoje contamos com a atuação per-
nicipal de Diadema e o Governo do Estado, desse programa de extensão, é outro aspec- co em forma cônica usado para manuseio manente dos cursos de graduação do ICAQF/ #aprendizdepesquisador
por meio das suas respectivas diretorias de to positivo, possibilitando uma intensa troca de substâncias) e uma bexiga e foi solicitado Unifesp, e essa integração tem fortalecido #escolapublica
ensino, o que facilitará bastante a comunica- entre a licenciatura e o ensino básico público. às pessoas que, a partir de suas experiências, suas experiências como futuros docentes e a #universidade
ção com as escolas e o convite dos estudan- Marques cita a satisfação dos graduandos ao escolhessem três ingredientes para realizar técnica da prática pedagógica a partir da in- #licenciatura
tes para outras visitas ao laboratório. receberem os estudantes de educação básica; o processo de fermentação. A discussão das teração com o público escolar”, finaliza Gouw. #ensinobasico

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agroecologia

O que você alimenta e de sua família?’, ‘Que tipo de agricultura e


de manejo de recursos você está promoven-
do?’, ‘Que tipo de relações de trabalho têm

quando se alimenta?
por trás do seu consumo de alimentos?’ e
‘Por que comemos três vezes por dia meca-
nicamente?’. Com intermédio da disciplina
e do grupo, estas questões passam a ser dis-
cutidas dentro da universidade”, explica a
coordenadora.
Por ter uma gestão voluntária, aberta e
Atividades integradas de extensão, ensino e pesquisa promovem a sem fins lucrativos, a consolidação e a ma-
nutenção do grupo dependem do ingresso
conscientização sobre os hábitos de consumo e de alimentação e a difusão de novas pessoas, inclusive as parcerias com
da metodologia social emergente dos grupos de consumo responsável agricultores estão atreladas ao número de
estudantes que atuam ativamente gerindo
essa relação. Em 2019, o GCR da Unifesp co-
meçou a se articular com outros grupos de
consumo responsável na região metropoli-
tana de São Paulo, a fim de aumentar a esca-
la de escoamento do que é produzido pelos
pequenos produtores.

Agroecologia e economia solidária


Uma ação conjunta de dois programas de

O
Paula Garcia programa Agroecologia e Consciên- em atividades práticas - o mínimo de 20h extensão, o Agroecologia e Consciência Ali-
cia Alimentar, coordenado por Leda de atividades de extensão inclui trabalho de mentar e o Fusões (coordenado por Classius
Lorenzo Montero, docente do Ins- campo. Ferreira da Silva), levou à concretização da
tituto de Ciências Ambientais, Químicas e Uma das ações do programa consiste na Feirinha de Agroecologia e Economia Soli-
Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) - Campus realização de visitas técnicas a plantações de dária da Unifesp. O evento, mensal, oferece
Diadema, surgiu quando o tema agricultu- produtos orgânicos, trabalhando com estu- à comunidade acadêmica e externa à uni-
ra passou a ser discutido em aulas ministra- dantes da Unifesp e agricultores conceitos versidade um espaço de convivência e pro-
das na graduação em Ciências Ambientais. da disciplina na prática, como produção no moção do debate acerca de consumo res-
Questões como o uso dos recursos naturais, campo, adubação verde, policultivos, tipos ponsável, cidadania, arte e cultura dentro
manejo do solo, relações com a terra e os de consórcio, geração de renda e formas de da universidade. Participam desse evento,
alimentos e fatores socioeconômicos impli- escoamento. Esse trabalho de conscientiza- além de coletivos de empreendedores de
cados, ainda que considerados essenciais à ção sobre hábitos de consumo e produção Economia Solidária, pequenos produtores
formação universitária, ainda não consta- levou as docentes a proporem aos estudan- de Diadema e região, que encontram na fei-
vam na grade curricular do curso. tes a criação do Grupo de Consumo Respon- ra a possibilidade de escoamento dos seus
Montero e sua colega de departamento, sável (GCR), visando fortalecer o uso cons- alimentos.
Rosangela Calado da Costa, propuseram, en- ciente a partir da formação de uma rede de Além da economia solidária, tem-se a
tão, uma disciplina eletiva com carga horá- parcerias com produtores orgânicos. O pro- ideia da promoção de ações culturais como
ria de 72h que focasse na agroecologia, meta cesso evoluiu de forma rápida na institui- oficinas, apresentações e performances, em
alcançada em 2018. Uma vez constatada a ção em razão do contato de Montero com um momento para a convivência fora da sala
aceitação dos estudantes (21 concluintes alguns produtores, já que participa de GCRs de aula. “Trabalhamos com seis comunida-
na primeira turma), a disciplina foi oferta- desde 2010. des tradicionais e quilombolas em uma re-
da novamente no ano seguinte, já vincula- “O GCR se consolidou por meio de coleti- lação bastante direta com essas mulheres.
da ao programa de extensão como se tem vos que elevam o alimento a um patamar po- Elas têm muita necessidade de escoamento,
hoje (33 concluintes na segunda turma, em lítico. Ele é responsável por trazer reflexões porque são produtoras com pouca inserção
2019). A disciplina atende à curricularização como: ‘O que você alimenta quando se ali- no mercado, a maioria não tem eletricidade
da extensão e 40% da carga horária consiste menta?’, ‘Você está promovendo a sua saúde em casa”, comenta Montero.

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meio ambiente

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Daiana Rodrigues
Participantes do Grupo de Consumo Responsável da Unifesp
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Feirinha de Agroecologia e Economia Solidária
Troca de saberes

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Docentes e estudantes da Unifesp executam ações em parceria com
comunidades tradicionais e órgãos gestores na região de Picinguaba,
localizada no litoral norte de São Paulo

O
Discentes da Unifesp em pesquisa experimental Trabalho de consciência alimentar e alimentação saudável com
no Instituto de Botânica estudantes da Escola Estadual Simon Bolívar Parque Estadual Serra do Mar Químicas e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) Valquíria Carnaúba
(Pesm), maior corredor biológico - Campus Diadema.
protegido da Mata Atlântica no Bra- Hoje, o Projeto Picinguaba é coordena-
sil, abrange florestas que se estendem pela do por Eliane Simões, professora visitante
faixa litorânea do Estado de São Paulo, re- do mesmo departamento. Nele são contem-
Extensão e pesquisa cobrindo parte do Vale do Ribeira e a cos- plados quatro eixos temáticos, que susten-
• O programa Agroecologia e Consciência Alimentar, em parceria com ta sul paulista. Essas florestas contêm uma tam suas ações: água (acesso/disponibili-
o Instituto de Botânica, também executa atividades de extensão ru- fauna diversa, asseguram a proteção inte- dade, captação e qualidade), saneamento
ral em assentamentos da região metropolitana de São Paulo, tendo gral aos mananciais e abrigam comunida- (disposição de efluentes líquidos e sólidos e
dentro do próprio instituto uma área experimental para pesquisa des- des tradicionais de quilombolas, indígenas, impactos ambientais), clima (percepção de
tinada aos estudantes da Unifesp, com a colaboração direta do agrô- caipiras e caiçaras. A existência desse con- elementos do microclima e mudanças climá-
nomo, professor e pesquisador Clóvis José Fernandes de Oliveira Jr. texto, rico em diversidade ecológica e cultu- ticas globais) e manejo de recursos naturais
ral, inspirou a criação do projeto de extensão (acordos de manejo, certificação ambiental
• No VII Encontro Nacional dos Estudantes de Ciências Ambientais denominado Práticas Ambientais entre as e práticas sustentáveis). Esses temas foram
(Enecamb), que tem sua edição de 2019 sediada no Campus Diadema, Comunidades Tradicionais do Parque Esta- definidos de comum acordo entre os profes-
a Unidade José de Filippi receberá o suporte para a instalação de dual Serra do Mar - Núcleo Picinguaba, em sores envolvidos, a partir de seus interesses
uma pequena agrofloresta, demanda dos estudantes que desejam Ubatuba (SP). O Projeto Picinguaba, como de pesquisa e das contribuições que consi-
usar o espaço para observar conceitos de sala de aula sem sair do am- também é conhecido, visa ao intercâmbio deraram possíveis de ser oferecidas às co-
biente acadêmico. Para a extensão, a área servirá também de base de conhecimentos entre a universidade, as munidades, e a partir dos temas apontados
para outros projetos do próprio ICAQF/Unifesp, como a horta-escola. entidades atuantes nos respectivos terri- pelas lideranças comunitárias como cruciais
tórios e as comunidades tradicionais, com para melhorar a qualidade de vida em seus
• Outra ação de extensão que se iniciou em 2019 envolve atividades em ênfase nos bairros do Cambury e Sertão do territórios.
escolas públicas municipais de Diadema, coordenadas por Rosangela Ubatumirim. No caso das comunidades quilombola e
Calado da Costa, com aproximadamente 150 estudantes participantes no Eliana Rodrigues, que coordena o Cen- caiçara do Cambury, os objetivos principais
#agroecologia primeiro ano, na faixa etária de 13 a 14 anos. Nas atividades propostas, são tro de Estudos Etnobotânicos e Etnofarma- foram: avaliar a evolução da ocupação do
#agricultura trabalhados os conceitos de consciência alimentar e alimentação saudável. cológicos da Unifesp, formulou em 2017 o bairro, inicialmente por meio da atualização
#conscienciaalimentar projeto original, juntamente com outros do- do cadastramento das edificações, e melho-
#consumoresponsavel centes do Departamento de Ciências Am- rar as condições de saneamento ambiental,
#alimentacao bientais do Instituto de Ciências Ambientais, com a formulação de um plano participativo

86 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 87


limpeza e levantamento de dados domicilia- Já a etapa seguinte foi realizada entre

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res sobre uso e ocupação da terra (vide box). abril e maio deste ano, sob uma estratégia
“Houve contribuição remota de outros pro- didática distinta, que atendeu à curricula-
fessores do departamento, como Mirian rização da extensão e consistiu na saída a
Chieko Shinzato (compostagem), Leda Lo- campo de 50 estudantes de duas unidades
renzo Montero (escoamento de produtos) e curriculares – Antropologia Cultural e Ética/
José Guilherme Franchi (sistema de gestão Educação Ambiental. Simões prevê que, até
de resíduos sólidos), fundamental à prepa- o final deste ano, todos os registros e análi-
ração dos estudantes, que – por sua vez – ca- ses das ações possam ser condensados em
pacitaram os moradores”, esclarece Simões. relatórios e artigos científicos.

Empoderamento comunitário
Os dados gerados pelo projeto em 2019 foram entregues às associações de bairro,
junto a materiais de divulgação e outros documentos, no intuito de promover o
empoderamento comunitário. Espera-se que essa colaboração mútua contribua
para a autonomia das comunidades quanto à gestão de seus territórios e ao al-
Finalização da gincana para coleta de resíduos sólidos no Cambury, que reuniu alunos da Unifesp, crianças da escola municipal e do Surf Clube cance do bem viver que almejam. A Unifesp cumpre, dessa forma, seu papel na
Cambury, pais e professores integração entre sociedade e academia, favorecendo a troca de saberes. Os resul-
tados mencionados envolvem:
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coleta de 1.450 kg de vidro e 280 kg de outros materiais recicláveis,
acumulados há anos em estabelecimentos da praia (1.730 kg no total)
construção de seis unidades de descarte para materiais recicláveis
(sólidos e orgânicos) e bitucas de cigarro
montagem e instalação de 28 bituqueiras extras, feitas com garrafas
PET e distribuídas ao longo da praia

Ícones: www.freepik.com - ajipebriana e ibrandify


realização de mutirão de limpeza da praia, com a participação da
comunidade, turistas e estudantes
atualização do cadastramento de 130 das 157 edificações do Cambury
capacitação de 18 estudantes de Ciências Ambientais do
ICAQF/Unifesp para o trabalho com as comunidades tradicionais
inseridas no Parque Estadual Serra do Mar
Oficina de gestão de resíduos sólidos em parceria com a Cooperativa de Visita monitorada ao Quilombo de Cambury: aula de campo de Ética/
Reciclagem de Coco Verde e Catadores de Materiais Recicláveis (Coco & Educação Ambiental, integrada às ações de extensão sobre o Sertão do Ubatumirim: criação de rótulo de
Cia.)
produtos e montagem do site e páginas virtuais no Facebook #nucleopicinguaba
de gestão dos resíduos sólidos. Para os caiça- Fundação Instituto de Terras do Estado de (www.facebook.com/associacaodosbananicultoresdoubatumirim) e #meioambiente
ras do Sertão do Ubatumirim, que são – na São Paulo (Itesp). Conforme explica Simões, Instagram (@abu.ubatumirim) #pesm #serradomar
maior parte – pequenos produtores de bana- o voluntariado foi a principal estratégia ado- #mataatlantica
na, a divulgação do conjunto de serviços ofe- tada para viabilizar a participação dos 11 es- #comunidades
recidos e o escoamento dos produtos oriun- tudantes do curso de Ciências Ambientais
dos da agricultura familiar representaram o durante o período de férias, já que o projeto
escopo prioritário. ainda não conta com financiamento próprio, “A sobreposição de territórios nas comunidades tradicionais e unidades de conservação

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destinado à cobertura de despesas com hos- acarreta o enfrentamento de diversos desafios e conflitos de interesse, como as restrições
Trabalho voluntário pedagem, alimentação e transporte. legais para as práticas socioeconômicas dessas pessoas. Na perspectiva da conservação
A primeira etapa desse projeto de exten- Além dos docentes que foram a cam- ambiental, a gestão do parque submete-se ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação
são foi realizada entre janeiro e feverei- po (Eliane Simões, Luciana Rizzo e Eliana (Lei Federal nº 9.985/2000), que prevê a realocação, indenização ou assinatura de termo de
ro de 2019, mediante a parceria entre o Rodrigues), estudantes, moradores das co- compromisso entre o parque e as comunidades, especificando as atividades permitidas para
ICAQF/Unifesp, a Associação de Morado- munidades e técnicos das entidades e ins- sua subsistência, até que sejam removidas do local. No entanto, há outros dispositivos legais
res e Amigos do Cambury (Amac), a Asso- tituições citadas desenvolveram atividades de igual importância, do ponto de vista da proteção da diversidade cultural, que precisam
ciação de Remanescentes do Quilombo de alinhadas com as demandas locais – como também ser atendidos, como a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e
Cambury (ARQC), a Associação dos Banani- oficinas de planejamento da gestão de re- Comunidades Tradicionais (Decreto Federal nº 6.040/2007).”
cultores do Ubatumirim (ABU), o Pesm e a síduos sólidos, compostagem, mutirões de Eliane Simões

88 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 89


campus são josé dos campos | ict
Vocação tecnológica,

Alex Reipert
Instituto de Ciência
e Tecnologia
#somosunifesp
#unifesp #unifespsjc
olhar para o social
#ict #sjc Os 24 projetos e programas vigentes no Instituto de Ciência e Tecnologia convergem
#saojosedoscampos
para temas como educação inclusiva, tecnologia, meio ambiente, igualdade de
gênero e saúde e bem-estar

O
Instituto de Ciência e Tecnologia e difusão dos conceitos extensionistas no Luciane Portas Capelo
(ICT/Unifesp) - Campus São José campus, constituindo um marco no desen- Coordenadora da
Câmara de Extensão e
dos Campos, foi implantado em volvimento do ICT/Unifesp e na formação Cultura do Campus São
2007 em razão da inegável vocação científi- dos nossos estudantes. Esses, nos últimos José dos Campos
ca e tecnológica do Vale do Paraíba. Assim anos, consolidaram sua participação como
como em outras cidades grandes, a comuni- atores principais das ações interdisciplina- Denise Stringhini
dade de São José dos Campos enfrenta de- res, educativas, culturais, científicas e po- Representante suplente
da Câmara de Extensão
safios tecnológicos, econômicos, sociais e lítico-tecnológicas e passaram a promover e Cultura do Campus
ambientais advindos de seu crescimento. O uma interação transformadora entre a uni- São José dos Campos
ICT/Unifesp se insere nesse contexto com o versidade e seu entorno.
objetivo de contribuir para mitigar ou sanar Mais de 24 projetos e programas estão
problemas da comunidade, por meio da pes- hoje vigentes no ICT/Unifesp. São temáti-
quisa, do ensino e da extensão. cas comuns a educação inclusiva, equitativa
A Câmara de Extensão e Cultura (Caec) e de qualidade, a tecnologia e meio ambien-
do ICT/Unifesp teve sua primeira ata lavra- te, a igualdade de gênero e desenvolvimen-
da em novembro de 2011. A partir daí se ini- to feminino, e a saúde e bem-estar. Temos
ciou um árduo trabalho no campus para que ainda muito fôlego e coragem para seguir na
fosse criada uma cultura extensionista que extensão universitária, que agora será cur-
dialogasse verdadeiramente com a comuni- ricularizada. A integração com a pesquisa
dade. Vale destacar aqui o programa deno- e com os programas de pós-graduação co-
minado Núcleo Educacional de Tecnologia meça a se intensificar. Que venham os pró-
Social e Economia Solidária (Netes), em ximos anos, os próximos desafios. Não sa-
atuação desde 2014, que assim como ou- bemos como será a universidade do futuro,
tros projetos e programas voltados à edu- mas podemos assegurar que o ICT/Unifesp
cação e tecnologia social, auxiliaram na es- se coloca à frente desse movimento, promo-
truturação da extensão universitária local e vendo educação abrangente, democrática e
na criação da cultura extensionista junto a de alta qualidade para o desenvolvimento
docentes, discentes e técnicos administra- sustentável da comunidade onde se insere.
tivos em educação (TAEs). Desde então, a
quantidade de projetos, programas, even- Campus São José dos Campos • extensão em números:
tos e demais ações extensionistas só cres- 24 programas e projetos de extensão
ce. O projeto de criação de uma identida-
26 cursos de extensão e eventos
de institucional do Caec, realizado em 2017,
Dados de 2018
favoreceu grandemente a compreensão

90 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 91


impressão 3d

Alex Reipert
Agora elas
podem brincar!
O programa de extensão Mao3D, com foco na reabilitação infantil, já atendeu
13 crianças no país, número que pode crescer nos próximos anos a partir de parcerias

Denis Dana

J oão Vítor, oito anos, morador do interior


de Rondônia. Raquel, sete anos, morado-
ra de Manaus (AM). Ele, em razão de uma
infecção, perdeu parte dos membros supe-
reabilitação de crianças. Seu modelo foi
inspirado no trabalho desenvolvido pela
ONG norte-americana E-Nable, que fabrica
e disponibiliza próteses de mão feitas por
obedece ao movimento do punho ou do co-
tovelo, em um processo semelhante à ação
dos tendões da mão. Assim, ao dobrar o pu-
nho ou o cotovelo, a criança consegue flexio-
de fotografias e projeções de imagem com
o uso de um programa de computador e a
consulta psicológica, até culminar na en-
trega da prótese e na reabilitação”, explica a
riores e inferiores. Ela nasceu com malfor- impressão 3D, recuperando pacientes por nar os dedos pelos fios. coordenadora. A evolução do atendimento
mação no braço em consequência de uma todo o mundo. “Decidimos focar o público fez com que o programa se expandisse para
síndrome genética rara. O encontro das infantil justamente para amenizar o vácuo Marco para o Mao3D outras regiões do país. Atualmente, o grupo
histórias de superação e transformação de deixado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) Das 15 próteses desenvolvidas pela equipe desenvolve duas peças destinadas a crianças
João e Raquel se dá na Unifesp, precisamen- nesse tipo de atendimento”, ressalta Kunkel. nos quatro anos de atividade, 13 destinaram- de Minas Gerais.
te no Laboratório de Órteses e Próteses 3D No Brasil, o sistema de saúde pública geral- -se a atender a um anseio infantil, como o de
do Grupo de Pesquisa Biomecânica e Fo- mente não fornece próteses de membro su- João Vítor, que sonhava em brincar com bola, Equipe apaixonada e comprometida
rense do Instituto de Ciência e Tecnologia perior para essa faixa etária, sob a alegação e o de Raquel, que desejava participar das Atualmente, o Mao3D atende um pacien-
(ICT/Unifesp) - Campus São José dos Cam- de que, além de caras, são utilizadas por aulas de educação física com seus colegas te por mês. O ciclo completo, que engloba
pos. Nesse laboratório funciona o Mao3D de pouco tempo, uma vez que as crianças cres- de escola. Essas histórias representam um a escolha do paciente, medições iniciais,
Protetização e Reabilitação de Amputados, cem rapidamente. marco para o programa Mao3D: após a pro- produção e entrega da prótese, eventuais
programa de extensão que, com ciência e As peças são fabricadas de acordo com o dução das peças, a equipe aperfeiçoou pro- ajustes na peça, acompanhamento psico-
tecnologia, promove uma ação de relevante tipo de amputação e fixadas ao braço com cedimentos e iniciou uma nova fase, com a lógico e reabilitação, demora cerca de qua-
impacto social, tornando realidade o sonho velcro, sem componentes eletrônicos, o que utilização da telemedicina para a aquisição tro semanas. Para realizar todo esse com-
de uma vida mais inclusiva. torna a produção barata e simples. A próte- dos parâmetros da criança, o que permite plexo processo de readaptação individual,
Idealizado em 2015 por Maria Elizete se é feita em uma impressora 3D de baixo – portanto – efetuar o atendimento remoto. Kunkel conta com parceiros, como a psicó-
Kunkel, professora de Engenharia custo, utilizando-se aproximadamente 300 “Para isso, desenvolvemos um protoco- loga Sandra Rodrigues e uma equipe forma-
Biomédica, que desde então coordena o gramas de um filamento plástico. De acor- lo que nos possibilita realizar a entrevista da por 25 alunos, apaixonados e comprome-
programa, o Mao3D nasceu com foco na do com Kunkel, a movimentação da prótese inicial, as medições necessárias por meio tidos com o projeto.

92 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 93


Mao3D

Alex Reipert
Alex Reipert
Integrantes da equipe do Mao3D

Mao3D

Mao3D
Israel Toledo Gonçalves, 45 anos, é um seguir a área de Engenharia Biomédica.
dos estudantes do programa de mestrado “Minha grande motivação ao fazer parte
profissional interdisciplinar em Inovação desse grupo está relacionada não apenas ao
Tecnológica do ICT/Unifesp e integrante do desejo de ser cientista, que me acompanha
Mao3D há quatro anos. “Cheguei aqui movi- desde a infância, mas também à intenção
do pela curiosidade em saber como era abor- de dar uma contribuição social. Acredito ser
dada a questão da tecnologia assistiva que fundamental que a universidade confira a
utiliza a impressão 3D e como esta era em- seus projetos de extensão um caráter social.
pregada na reabilitação de pessoas. Sigo to- É uma forma de devolver à sociedade todo
talmente envolvido no projeto e em sua valio- o conhecimento gerado aqui dentro. É exa-
sa missão de integrar conhecimento, ciência tamente o que acontece no caso do Mao3D.”
e tecnologia para fazer o bem. É incrível ex-
perimentar essa capacidade de transforma- Programa em crescimento
ção que o programa viabiliza. Com tecno- Enquanto trabalha para ampliar a produção
logia e expertise, atendemos pessoas sem e o acesso às próteses, agregando voluntá-
condições financeiras e, por meio da reabi- rios e parceiros à equipe, o programa Mao3D
litação, conseguimos inseri-la na sociedade. serve de modelo a outros tipos de tecnologia
Isso não tem preço”, destaca Gonçalves. assistiva. Já estão em fase de produção pró- Raquel, orgulhosa com as novas possibilidades, depois de João Vitor, acompanhado por parte da equipe do Mao3D:
Outra estudante do mesmo programa teses de orelha e de nariz feitas de silicone, receber a prótese (da esquerda para a direita) Israel Toledo Gonçalves,
André Mendes e a professora Maria Elizete Kunkel,
de mestrado que integra a equipe e faz coro além de peças removíveis para o quadril, que idealizadora do Mao3D
a Gonçalves é Tainara dos Santos Bina, 24 podem substituir o gesso no tratamento de
anos. “Trata-se de um projeto extremamen- displasia.

Alex Reipert
te significativo, com forte impacto na socie- “Essa expansão é o resultado natural da
dade. Afinal, para a maioria de nós, lavar o dedicação com que a equipe atende cada
rosto, escovar os dentes e pentear o cabelo criança, desenvolvendo a prótese de acordo
são tarefas rotineiras que fazemos automa- com as respectivas necessidades e desejos”, /Mao3D
ticamente. Porém, para quem não tem uma celebra Kunkel. @mao3d_unifesp
das mãos, são tarefas inviáveis. Com a nossa Hoje, o Mao3D é referência na atividade
contribuição, tais ações tornam-se parcial- – cada vez mais sofisticada – que executa.
mente possíveis, o que faz toda a diferença Constantemente é procurado por entidades
na vida dessas pessoas.” internacionais, como as da Índia, Indonésia,
A empolgação e o brilho nos olhos dos Angola e África, interessadas em compreen- #Mao3D #3Dprinting
mais velhos também motivam os recém-che- der a complexidade envolvida em todo o pro- #3dprint #print3d
gados à universidade. Rodrigo Costa Ribeiro, cesso descrito, desde o atendimento inicial, #impressao3d
20 anos, cursa o segundo ano do bachare- feito a distância, até a adaptação da criança #impressao3dbrasil
lado em Ciência e Tecnologia e pretende a uma vida repleta de novas possibilidades. Prótese, simples e eficiente, produzida pelo Mao3D #impressao3dmedicina

94 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 95


exposição

Um museu que

Valquíria Carnaúba
inspira o futuro
Parque de Ciência e Tecnologia, instalado no Campus São José dos
Campos, recebeu cerca de mil visitas desde sua inauguração

H
Valquíria Carnaúba á coisa melhor do que aprender equipes de professores responsáveis, médio, pois envolve conceitos de física, quí- coordenador do projeto Ciência no Parque, “O Parque
experimentando? Essa é uma das cada qual dentro de sua área de atuação: mica, biologia e computação, instigando os foi uma delas. A cada 15 dias, Stempniak de Ciência e
propostas do Parque de Ciência Integrando as Neurociências Cognitivas; visitantes a compreender o funcionamen- vai ao Parque Vicentina Aranha, de forma
e Tecnologia, instalado há pouco mais História do Computador; Ovo de Colombo to dos aparatos de forma mais aprofunda- voluntária, explicar experimentos científi-
Tecnologia é isso:
de cinco anos no Instituto de Ciência e de Tesla; Moléculas e suas Propriedades; da. No início de suas atividades, o museu cos. No fim, todo o mundo se encontra, for- um espaço em que
Tecnologia (ICT/Unifesp) - Campus São Ilustrando Conceitos Físicos e Matemáticos; era coordenado por Ana Carolina Lorena, mando uma rede de auxílio mútuo”, relata o jovem entra e
José dos Campos. Criado em 2014 para pro- Conjunto de Experimentos em Realidade ex-professora associada e orientadora per- Lorena. brinca. Queremos
mover a divulgação de experimentos cientí- Aumentada (Cera); e Núcleo Educacional manente de programas de pós-graduação Outro exemplo de parceria possibilitada
ficos e tecnológicos, de caráter interativo e de Tecnologia Social e Economia Solidária do campus (hoje no Instituto Tecnológico pela rede de apoio é a exposição itinerante
fomentar nele
interdisciplinar, o espaço já recebeu mais de (Netes) Itinerante: Caminhos para CT&I e de Aeronáutica - ITA), e contava com o Zebrafish, montada no quarto andar do ICT/ o instinto de
mil pessoas, entre alunos, professores, fun- Sustentabilidade. Atualmente, o Parque de suporte de bolsistas atuantes na monito- Unifesp, que apresenta um imenso painel ex- investigação, e
cionários e público externo, desde o início Ciência e Tecnologia encontra-se instalado ria. Hoje, está sob a responsabilidade da plicativo sobre essa espécie de peixe (Danio aqui é o local
de seu funcionamento. Com financiamen- no andar térreo do ICT/Unifesp e divide-se Câmara de Extensão e Cultura (Caec), com rerio) e sua importância como modelo para
to concedido pelo Conselho Nacional de em duas partes: a interna, com 92 m², deli- Claudio Shida, coordenador do bacharela- pesquisa. Conforme observa Luciane Capelo,
seguro para essa
Desenvolvimento Científico e Tecnológico mitada por divisórias de octanorm, onde es- do interdisciplinar em Ciência e Tecnologia professora adjunta do campus e atual coor- exploração.”
(CNPq), entre os anos de 2014 e 2017, o que tão dispostas mais de 20 atrações, e a exter- (BCT), à frente do desafio de manter ativo denadora da Caec, o zebrafish é um peixe de Luciane Capelo
era para ser um projeto transformou-se em na, um hall de exposição de 20 m² com itens o espaço. aquário, de pequenas dimensões, conhecido
programa de extensão. Por ter atingido ob- variados – de máquinas de escrever antigas Após a criação do Parque de Ciência e como Paulistinha, cujo painel esteve expos-
jetivos mais amplos, como a divulgação do a cartões perfurados, precursores da memó- Tecnologia, outras iniciativas semelhantes to por muito tempo no Instituto Butantan,
trabalho realizado no ICT/Unifesp e a popu- ria usada em computadores. começaram a surgir na cidade, a exemplo do órgão vinculado à Secretaria de Estado da
larização da ciência e da tecnologia, perma- O espaço foi inspirado em outros mu- Museu Interativo de Ciências Casa do Saber Saúde (SP). “Fazemos parcerias com quem
nece até hoje com as portas abertas ao públi- seus de ciências, como o Catavento Cultural Marechal Aviador Casimiro Montenegro já tem o material. Dessa forma, expandimos
co, embora conte com o suporte exclusivo da (São Paulo), Sabina - Escola Parque do Filho. “Durante todo o processo, fui-me a visita ao parque para o campus todo, mobi-
comunidade acadêmica. Conhecimento (Santo André) e Museu da aproximando de pessoas que estavam en- lizando mais pessoas, difundindo o conhe-
A ação extensionista desenrolou-se Ciência Prof. Mário Tolentino (São Carlos). volvidas com esse tipo de divulgação cien- cimento e encantando todos os que aden-
há cinco anos, a partir da união de sete Seu conteúdo é especialmente aproveitado tífica em São José dos Campos. Roberto tram a universidade aqui em São José dos
subprojetos, gerenciados por diferentes por estudantes do ensino fundamental e Stempniak, professor aposentado do ITA e Campos”, complementa.

96 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 97


Espaço para experimentar e brincar à disposição do público para explicá-los: é

Valquíria Carnaúba

Valquíria Carnaúba
Durante a visita da reportagem, um dos es- o caso da bobina e do ovo de Colombo de
tudantes que interagiam com os dispositi- Tesla. Para Lorena e Capelo, o atual desafio
vos em exibição tentou carregar o celular é encontrar formas de efetivar a manuten-
encostando-o no globo de plasma – esfera ção dos equipamentos instalados no espaço,
de vidro no interior da qual são emitidas pois as peças sofrem desgaste, um problema
descargas elétricas que provocam a excita- de que todo parque tecnológico, todo mu-
ção e a ionização de átomos do gás contido seu compartilha. Ambas afirmam que, se
nesse espaço. Parece absurdo? “O inventor uma das atrações sofrer danos, a recupera-
sérvio-americano Nikola Tesla, conhecido ção desse item virá (com sorte) do projeto
por suas contribuições revolucionárias no específico de alguma disciplina.
campo do eletromagnetismo, queria resol- Como o financiamento do CNPq durou
ver a eletricidade sem fio”, provoca Lorena. quatro anos e, após 2017, não foram mais
Capelo complementa. “Isso é legal. O estu- publicados editais específicos para a cons-
dante observou a energia e testou no mes- trução de museus e centros de ciência, o
mo instante. É o que o cientista faz: observa Parque de Ciência e Tecnologia mantém sua
o que parece impossível em certo momen- qualidade graças ao apoio dos docentes e
to, estabelece um controle e experimenta. dos próprios alunos. “Estes, durante o tra-
O bolsista Kevin Matsuoka de Almeida, estudante do ICT/Unifesp, monitora as visitas ao Parque de C&T. O espaço conta com diversas atrações, Pode ser que esse observador, futuramente, balho de monitoria, cultivam a proativida-
como o augmented reality sandbox, aparato composto por um software que projeta linhas topológicas em elevações de uma caixa de areia procure saber mais sobre como funciona o de, autoconfiança, senso de pertencimento
celular dele, sobre a geração de energia ou e capacidade de comunicação e gerencia-
sobre o próprio Tesla. E aí começa a iden- mento de pessoas – habilidades muitas ve-
Valquíria Carnaúba

Valquíria Carnaúba
tificação: quando o jovem tenta entender zes não desenvolvidas em sala de aula. A boa parquectict.sites.unifesp.br
aonde o cientista chegou e aonde ele pró- formação propiciada pela Unifesp se dá nes- /pctict
prio pode chegar. A exposição atinge os vi- sa conexão do conhecimento teórico de ex-
sitantes por meios que não conseguimos celência com a prática. Aqui, estabelecemos
dimensionar.” relações próximas, afetuosas, que têm como
O Parque de Ciência e Tecnologia man- base a formação científica”, ressalta Capelo.
tém estreita relação com o ensino de gra- O agendamento de excursões – para os
duação e pós-graduação, dando visibilidade interessados – passa longe da burocracia.
à produção acadêmica de docentes e discen- “As escolas entram no site, preenchem o for- #parquectict
tes. Há experimentos que abordam concei- mulário de contato e enviam as informa- #cienciaetecnologia
tos avançados nas ciências, possibilitando ções necessárias, tais como nome da escola #ciencia #tecnologia
que os próprios professores se coloquem e data da visita”, finaliza Lorena. #museuinterativo
#divulgacaocientifica

Divulgação em rede social


As atrações globo de plasma (à esquerda) e associação de polias (à direita)
Valquíria Carnaúba

Valquíria Carnaúba

O Parque de Ciência e Tecnologia destaca-se também

Divulgação em rede social


pela arte. Internamente, suas divisórias exibem
grafites de ícones científicos (vide acima), concebidos
e executados pelo artista plástico Vespa (Claudinei
Oliveira), renomado grafiteiro de São José dos Campos

Na parte externa, foram adesivadas pequenas biografias


As docentes Luciane Capelo e Ana Carolina Lorena, junto ao diretor do Campus São José Capelo mostra a tabela periódica interativa, exposta no de grandes cientistas (inclusive brasileiros), ligados às
dos Campos, Horacio Hideki Yanasse Parque de C&T áreas abordadas pelos subprojetos

98 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 99


Divulgação em rede social
educação

Robôs sem
fronteiras: rumo à
sala de aula
O programa Robótica sem Fronteiras ensina robótica e programação a jovens da rede
pública e abre caminhos para o autoconhecimento vocacional

Etapa regional da
Olimpíada Brasileira de
Robótica (OBR), realizada

A
em São José dos Campos,
Valquíria Carnaúba té dezembro deste ano, mais de 8 mil Engenharia de Computação, o Forgers nas- Municipal, 50 vagas são anunciadas nas “Em 2016, solicitei uma sala e computadores; em 18/08/19
estudantes da rede pública de ensi- ceu com o intuito de difundir o ensino dessa escolas públicas da região todos os anos. os materiais utilizados foram fornecidos pe-
no de São José dos Campos (SP), com técnica entre os frequentadores do campus Durante o curso, realizado de fevereiro a las coordenações dos cursos de Ciência da
idade entre 7 e 15 anos, terão sido beneficia- universitário e membros da comunidade lo- dezembro, os alunos e seus responsáveis Computação e Engenharia de Computação.
dos pelo ensino de robótica, totalmente gra- cal. A iniciativa deu tão certo que, em curto devem cumprir determinadas exigências, O número de candidatos que atendeu ao
tuito, oferecido pela Unifesp. Esses são al- espaço de tempo, o grupo cresceu, assumiu como a participação em reuniões e avalia- anúncio das vagas superou nossas expectati-
guns números apresentados pelo Robótica novas tarefas e constituiu o Robótica sem ções. O esforço compensa: os jovens rece- vas e, em menos de uma semana, as 50 vagas
sem Fronteiras, programa de extensão do Fronteiras, coordenado, desde 2015, pelo bem certificados ao final de cada ano e, de- oferecidas foram preenchidas por alunos de
Campus São José dos Campos que tem fei- mesmo docente. pendendo do desempenho, têm as portas 18 escolas diferentes da cidade”, comemora
to enorme diferença na vida dos menciona- O programa em questão promove a di- abertas para novas experiências. “Há alunos o docente.
dos jovens. A iniciativa é fruto de uma parce- fusão da robótica e, por consequência, da que, após o aprendizado, seguiram para o Faria conta que, após a formação da pri-
ria com a Prefeitura Municipal e o Instituto computação, eletrônica, mecânica e física, curso técnico de Mecatrônica, e esse desper- meira turma, o Forgers idealizou um pas-
Alpha Lumen, entidade sem fins lucrati- atuando em três frentes de trabalho. Uma tar de vocações também se configura como so mais ousado: inscrever os aprendizes na
vos, dirigida por sua fundadora, Nuricel delas é o treinamento de alunos da rede nossa missão”, relata. etapa regional da Olimpíada Brasileira de
Aguilera, que busca soluções de impacto so- pública do município por meio do proje- Robótica de 2017. A aposta mostrava-se acer-
cial por meio de ações educativas. to de extensão denominado Treinamento Tudo começa com uma semente tada, mas os percalços surgiam pelo cami-
Todas as atividades desenvolvidas no para Olimpíada de Robótica (TOR). As ou- Após a instalação do campus da Unifesp em nho. “No início de 2017, precisamos trans-
âmbito do programa estão sob a respon- tras duas consistem na preparação de es- São José dos Campos, em 2007, foi firma- ferir o local de treinamento para a Unidade
sabilidade do Forgers, grupo de robótica tudantes universitários para campeonatos do um termo de cooperação técnica entre a Talim, sem infraestrutura adequada para
formado por alunos e docentes, cujo líder de robótica e no planejamento e execução universidade e a Prefeitura, visando à reali- essas atividades. Ainda assim, os estudan-
é Fabio Augusto Faria, professor adjunto de eventos e oficinas abertos à comunidade. zação de ações conjuntas para a promoção tes, muito animados, continuaram a parti-
do Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT/ “O Arduino Day e a Olimpíada Brasileira de do desenvolvimento tecnológico e a capaci- cipar do curso, todos os sábados pela manhã.
Unifesp) - Campus São José dos Campos. Robótica (OBR) são alguns dos eventos de tação e educação de jovens. Com o caminho Alguns moravam em bairros mais afastados
Fundado em 2014 por Lucas Vecchete e Pedro interesse de nosso programa”, explica Faria. aberto, Faria apresentou à administração e chegavam a acordar às 6h para compare-
Gaiarsa, alunos do curso de graduação em Por meio da parceria com a Prefeitura municipal o projeto de ensino de robótica. cer às aulas. O apoio da Prefeitura, nesse

100 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 101
sentido, foi muito importante ao oferecer o O Robótica sem Fronteiras pode, hoje, ser

Valquíria Carnaúba

Valquíria Carnaúba
café da manhã aos jovens. Apesar de todos considerado uma iniciativa que vai muito
os desafios enfrentados, conseguimos clas- além do aprendizado extraescolar. Oferece
sificar uma equipe para a etapa estadual da uma oportunidade única para os alunos de-
OBR. Para nós, foi uma grande conquista, senvolverem aptidões como raciocínio lógi-
pois até então nenhuma escola municipal co, criatividade e trabalho em equipe. O coor-
conseguira tal feito”, relembra. denador do programa presencia, além disso,
Após firmar parceria com o Instituto outros reflexos positivos, como a elevação da
Alpha Lumen (IAL), sediado em São José dos autoestima e até mesmo o despertar da no-
Campos, o Forgers ajudou a levar às ruas do ção vocacional. “Ao longo do curso, avaliamos
município o Robotruck, um laboratório iti- diferentes qualidades como liderança, proa-
nerante de robótica cuja finalidade é realizar tividade e execução de tarefas em tempo
oficinas de montagem de robôs. Por meio preestabelecido. Dividimos os aprendizes em
Estudantes de robótica participam de oficina de planejamento e montagem de robôs em 2019 dessa ação, o programa de extensão avan- grupos e observamos quais são os que gos-
çou, compondo a Liga de Robótica do Vale tam de montar os agentes robóticos e quais
do Paraíba junto a outras entidades e insti- são os que preferem codificar os programas
tuições, como o SJC Hacker Clube, Equipe que irão controlar os robôs. Fazemos tam-
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Uai!rrior de Robótica (Universidade Federal bém diversas brincadeiras, como premiar

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de Itajubá - Unifei) e Universidade do Vale com chocolates as equipes que conseguem
do Paraíba (Univap). “Nessa carreta, passa- executar determinada tarefa. Tudo se trans-
mos a levar conhecimentos de robótica bási- forma em uma grande diversão, quando os
ca às escolas da cidade. No trajeto, ministrá- jovens aprendem a lidar com as pressões de
vamos oficinas, com duração de duas horas, forma descontraída. Mostramos a eles que a
no intuito de despertar o desejo de aprender Unifesp está mais perto do que imaginam, e
em quem já mostrava vocação para a área.” isso é muito positivo”, finaliza.

Chance de Ouro
Sobre as atividades lúdicas de

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aprendizagem, desenvolvidas com
alunos das escolas públicas mu-
nicipais, mediante parceria com o
Instituto Alpha Lumen, Faria con-
Competição regional da OBR 2018, realizada em São José dos Campos, da Jovens das EMEFs Possidônio José de Freitas e Prof.ª Mercedes Carnevalli ta que um dos componentes da pri- Artigo relacionado:
qual participaram 60 equipes da região do Vale do Paraíba Klein, que cumpriram o programa de extensão em 2018, quando se meira turma (2016) destacou-se por AGUILERA, Nuricel V.;
classificaram para a competição da OBR na etapa estadual
seu desempenho. Gabriel Santos FERREIRA, Luiz G. L. C.;
DIAS, Luiz H. M.; FARIA,
Gonçalves, que é estudante do 9° Fabio Augusto. Projeto
ano do Instituto Alpha Lumen, con-
Arquivo pessoal

Robótica e Cidadania:
quistou uma bolsa na instituição de Robotruck. São José dos
Campos, SP: Instituto
ensino após concluir o treinamento no Robótica sem Fronteiras, em 2017. Alpha Lumen, [ca. 2015].
Hoje, com 14 anos, coleciona mais uma vitória: a medalha de ouro da fase re- Disponível em: https://www.
gional da Olimpíada Brasileira de Robótica de 2018. “Eu já havia concorrido academia.edu/24500962/
Projeto_Rob%C3%B3tica_e_
na OBR 2017, porém não obtive sucesso. Então, decidi me dar outra chance. Cidadania_ROBOTRUCK.
Confesso que, no início, fiquei deslocado, porque todos faziam muito bem Acesso em: 16 ago. 2019.
suas tarefas, e eu não sabia se era capaz de alcançar os demais da minha
equipe. Foram alguns meses de trabalho e estudo, e a adrenalina de entrar /treinamentopara
Equipe Pegasus, orientada novamente na competição corria nas veias. Minha participação na OBR ini- olimpiadaderobotica
pelos docentes (da esq. ciou-se quando ainda fazia parte do programa Robótica sem Fronteiras, nos
para a dir.) Carlos Oliveira
(Inst. Alpha Lumen) e anos de 2016 e 2017. Em 2018, já no Instituto Alpha Lumen, obtivemos o
Fabio Faria, além dos primeiro lugar no pódio da fase regional da OBR e nos classificamos para a
universitários Rafael etapa estadual daquele mesmo ano. Toda essa correria me trouxe um gran-
Fernandes (terceiro à
esq.) e Everton Coelho de aprendizado: cada desavença era uma nova lição. Consegui mudar meu #roboticasemfronteiras
(primeiro à dir.), com os ponto de vista sobre como agir em determinadas situações. Hoje consigo #forgers #ICTunifesp
estudantes da EMEF Prof.ª compreender melhor as pessoas e sei como agir nesses momentos.” #robotica #OBR
Homera da Silva Braga,
em preparação para a fase #treinamento #TOR
regional da OBR 2017 #olimpiadaderobotica

102 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 103
Alex Reipert
empreendedorismo

já ensaiava intervir na resolução de proble- transferência do conhecimento produzido a


mas concretos”, complementa. partir das tarefas desenvolvidas.
Com a consolidação desse modelo de tra- Um dos desafios citados pela docente é
balho, os alunos encontraram a ponte neces- conciliar a dinâmica dos trabalhos assumi-
sária para dialogar com entidades externas dos com a rotina universitária. “Com a rota-
à universidade. Se estas apresentam, por tividade dos alunos, que se formam e dão
exemplo, falhas de gerenciamento de dados, lugar aos ingressantes, apesar de as meto-
são agendadas, desde o primeiro contato, dologias de desenvolvimento serem inspira-
reuniões para o mapeamento das fraquezas das nas startups, a entrega dos projetos tende
no campo da organização de dados. Os alu- a atrasar”, pondera. Por isso, a equipe assu-
nos dispostos a participar dos projetos são, miu, até o momento, o atendimento de ape-

Códigos e
então, orientados a se dividirem em equipes, nas duas organizações não governamentais:
cada uma envolvida com determinada featu- o Centro de Defesa dos Direitos da Criança
re, ou seja, com determinada funcionalidade e do Adolescente Jair Jesuíno Trindade
a ser criada ou melhorada – etapa em que já (Cedeca) e o Instituto Brasileiro de Estudos e
é possível sanar diversos conflitos. O impac- Apoio Comunitário Queiroz Filho (Ibeac), os
to social se dá desde a disponibilização do quais deram origem, respectivamente, aos
software, de natureza aberta e gratuita, até a projetos CodeLab - Cedeca e CodeLab - Ibeac.

corações abertos

Valquíria Carnaúba
Projeto CodeLab - Cedeca: formação de banco de
dados
O Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Jair Jesuíno
Trindade (Cedeca) é uma ONG sediada em São José dos Campos, que atua
em parceria com a Defensoria Pública do Estado de São Paulo, cuidando
de processos encaminhados por esse órgão, quando a demanda supera a
O CodeLab-Unifesp reúne alunos e docentes dispostos a criar soluções em software, oferta de advogados na área. Inicialmente a parceria com o Cedeca visava a Denise Stringhini,
um trabalho voltado à estatística (número de processos atendidos, popula- professora adjunta do
voltadas a organizações sociais sem fins lucrativos ção-alvo e mineração de dados no Ministério da Justiça e Segurança Pública,
Instituto de Ciência e
Tecnologia (ICT/Unifesp)
mediante a utilização da linguagem Python). Apesar de possuírem compu- - Campus São José dos
tadores, tanto o encaminhamento quanto o atendimento eram registrados Campos
manualmente, o que, além de deixar os processos mais lentos, ainda acarre-
tava conflitos: frequentemente, dois ou mais advogados assumiam o mes-
mo caso. Sem o apoio de um banco de dados digital – que está sendo desen-
volvido pelo grupo do CodeLab – era comum haver duplicidade de processos.

Valquíria Carnaúba

O
CodeLab-Unifesp começou em aos alunos um aprendizado baseado em Projeto CodeLab - Ibeac: implantação de rede
2018, mas já encontra caminhos fatos motivou a criação do CodeLab. “Por social fechada
estimulantes a serem percorridos. meio da metodologia challenge based learning
Coordenado por Denise Stringhini, pro- (CBL), os alunos adquirem conhecimento e Criado em São Paulo, em 1981, o Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio
fessora adjunta do Instituto de Ciência e habilidades ao enfrentarem desafios reais Comunitário Queiroz Filho (Ibeac) será a próxima entidade a ser atendida
Tecnologia (ICT/Unifesp) - Campus São de programação.” pelo Campus São José dos Campos. Trata-se de uma ONG que promove o
José dos Campos, esse programa de exten- De acordo com a docente, o CodeLab sur- fortalecimento de comunidades vulneráveis por meio da educação e defesa
são, cuja denominação é uma forma redu- giu a partir de uma demanda natural dos dos direitos humanos. Formada principalmente por mulheres que atuam /CodelabUnifesp
zida de Code Laboratory ou Laboratório de cursos de graduação do campus, em que a em seis regiões de Parelheiros, desenvolve iniciativas como a biblioteca co-
Código, reúne alunos e professores dispos- maioria das disciplinas ensina o desenvol- munitária e o Centro de Excelência em Primeira Infância (Cepi). Em relação
tos a criar unidades de software para a resolu- vimento de software a partir de exercícios a este último, o grupo do CodeLab planeja a implantação de plataforma
ção de problemas oriundos de organizações didáticos sem relação, muitas vezes, com semelhante a uma rede social fechada, de fácil utilização e que permitirá o #codelab #codigo
de cunho social sem fins lucrativos. Com o mundo real. “A ideia amadureceu com a armazenamento de dados, somado à segurança digital dos usuários. #codelaboratory
uma experiência de mais de 15 anos no ensi- participação dos alunos. Havia, no início, o #laboratoriodecodigo
no de Ciência da Computação, Stringhini Clube de Python, grupo formado para discu- #programacao
afirma que a necessidade de proporcionar tir a linguagem Python de programação, que #software

104 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 105
campus osasco | eppen
Remodelando

Alex Reipert
Escola Paulista de
Política, Economia
e Negócios
territórios
Diante da realidade do município de Osasco, marcada pelos
#somosunifesp #unifesp #eppen #unifesposasco #osasco
contrastes sociais, a Unifesp tem apostado em parcerias que
possibilitem ampliar suas fronteiras de atuação

A
Escola Paulista de Política, Economia desenvolver desde projetos de capacitação Celso Yokomiso
e Negócios (Eppen/Unifesp) - Cam- profissional até ações de cultura e saúde; a Coordenador da
Câmara de Extensão
pus Osasco tem ampliado a cada ano aproximação com as escolas técnicas (Etecs) e Cultura do Campus
suas atividades de extensão e cultura. Os de Osasco e da região oeste do município Osasco
professores dos Departamentos de Ciên- de São Paulo; e a gestão de projetos em
cias Contábeis, Economia, Relações Interna- entidades socioassistenciais. O enfrenta- João Tristan Vargas
cionais, Ciências Atuariais, Administração mento desses desafios também é marcado Docente do
Departamento
e Multidisciplinar, juntamente com o qua- pela busca da inovação social, com especial Multidisciplinar e
lificado corpo de técnicos administrativos atenção à participação popular e aos proces- representante do Eixo
e, sobretudo, com nossos queridos alunos, sos de emancipação. É o caso do Cursinho Multidisciplinar
empenham-se em esforços integrados para Popular Helena Pignatari, gerenciado pelos
fazer valer o papel da universidade ante a próprios universitários, que, para além das
difusão de saberes e a inclusão social. atividades pré-vestibulares, promovem dis-
A variedade de cursos no campus reflete- cussões sobre cidadania com os integrantes
-se em projetos e programas que se voltam do projeto.
a áreas como educação financeira, gestão de Por meio desses movimentos e encon-
projetos, relações internacionais, sustenta- tros, a Escola Paulista de Política, Econo-
bilidade, economia solidária, direitos huma- mia e Negócios tece seu lugar no município
nos, defesa econômica e processos educa- de Osasco e em seu entorno. Fomenta um
cionais. Esse enorme potencial de saberes espaço que se pretende coletivo. E que con-
vê-se desafiado pela realidade do município vide a população a um “fazer” de mãos dadas,
de Osasco e regiões adjacentes, em que bol- tendo como horizonte uma universidade
sões de riqueza coexistem com extensos ter- cada vez mais democrática e sempre pública.
ritórios urbanos castigados pela violência e
falta de acesso a direitos básicos.
Campus Osasco • extensão em números:
Diante do quadro referido, parcerias têm
sido fomentadas, ampliando as fronteiras 13 programas e projetos de extensão
de atuação da universidade. Dentre elas, 4 cursos de aperfeiçoamento e especialização
a parceria com o Consórcio Intermunici-
62 cursos de extensão e eventos
pal da Região Oeste Metropolitana de São
Dados de 2018
Paulo (Cioeste), por meio da qual se buscará

106 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 107
finanças

Alex Reipert

Celso Yokomiso
Pensar antes de gastar
Projeto da Eppen utiliza a Psicologia para promover educação financeira

Celso Yokomiso

Celso Yokomiso
Acima, à esquerda:
durante a aula de

Q
Psicologia Atuarial, Celso
José Luiz Guerra uem nunca passou em frente de uma Psicologia Econômica, sobretudo naqueles Teoria e prática Ciências Econômicas, optou pela Psicologia Yokomiso explica a teoria
loja e comprou alguma coisa sem pen- referentes aos processos de tomada de deci- Durante as aulas de Psicologia Atuarial, que Atuarial como disciplina eletiva. Além de se que servirá de base às
sar? Ou viu o anúncio de um produto são, como as distorções de percepção e o pa- fazem parte da grade de disciplinas do cur- interessar pelo projeto, o tema o ajudou a propostas dos alunos
na internet e, sem pestanejar, usou o cartão pel do afeto nas escolhas econômicas; e na so de Ciências Atuariais da Eppen/Unifesp, mudar de ideia em relação à carreira aca- Acima, à direita: alunos do
curso de Ciências Atuariais
de crédito para adquiri-lo? Esse comporta- Psicologia Social, que se volta ao estudo das Yokomiso expõe a seus alunos a teoria que dêmica. “Fiz essa escolha porque, na verda- expõem seus trabalhos
mento de consumo é a principal abordagem configurações sociais na construção de ati- servirá de base à proposta a ser apresentada de, queria mudar para o curso de Psicologia, Abaixo, à esquerda:
feita pelo Projeto sem Apertos: Psicologia, tudes e pensamentos. “É um modelo de edu- nas Etecs e em outras escolas públicas. Após mas, nesse caso, teria de prestar um novo estudantes de uma das
Juventude e Educação Financeira, projeto cação financeira que é menos difundido – o breve explicação, os estudantes reúnem-se vestibular. Quando analisei a grade curri- Etecs que participam
do projeto assistem às
de extensão da Escola Paulista de Política, modelo descritivo, que busca entender como, em grupos para discutir de que forma colo- cular e identifiquei essa matéria, quis me apresentações
Economia e Negócios (Eppen/Unifesp) - de fato, as pessoas reagem diante dos even- carão em prática os ensinamentos transmi- inscrever.” Eiji afirmou que participar do Abaixo, à direita: crianças
Campus Osasco. tos econômicos.” Em outras palavras, o pro- tidos em aula. projeto também o ajudará no desenvolvi- têm o primeiro contato
Criado em 2017, o projeto tem como objeti- jeto aborda a educação financeira, focando os Marcela Ginesta, do quarto termo do cur- mento da comunicação e na interação com com a educação financeira
vo propiciar aos jovens instrumentos e estra- aspectos comportamentais para que se possa so, é uma das estudantes que integra o pro- as pessoas.
tégias que os auxiliem nas tomadas de deci- lidar com o planejamento financeiro e os fa- jeto e, junto com os demais componentes de Já Gabriel Pereira Alves, do curso de
são econômica. Nesse contexto, tem especial tores de risco no consumo e no investimento. seu grupo, está elaborando uma atividade Ciências Atuariais, é bolsista do projeto e
relevância o tema da educação previdenciá- O docente argumenta que um projeto de lúdica voltada para crianças. “Nós escolhe- responsável pelo contato com as escolas nas
ria, uma vez que essa atividade se debruça so- educação dessa natureza, que incorpore os mos trabalhar com crianças justamente por quais os trabalhos serão apresentados. Seu
bre aspectos comportamentais que fornecem elementos descritos, tem o intuito de refor- elas serem mais impulsivas e imediatistas; grupo falará sobre planejamento financei-
indícios para a compreensão da dificuldade çar a consciência das pessoas sobre suas fra- tentaremos, então, utilizar alguns concei- ro para os jovens, relacionando-o ao enve-
de realização de planos a longo prazo. Dessa gilidades em termos de comportamento e so- tos estudados em aula.” Para ela, a exten- lhecimento, à universidade e ao intercâm-
forma, atua diretamente sobre aquele públi- bre as dificuldades que são próprias aos que são contribuirá para sua carreira acadêmi- bio. Para Alves, os projetos de extensão são
co, em especial nas escolas técnicas estaduais almejam ter uma vida financeira saudável. ca. “Quando explicamos alguma coisa aos essenciais para a interação com a comunida-
(Etecs) e escolas públicas de Osasco e regiões Tudo isso pode ajudar nas tomadas de deci- outros, compreendemos melhor, pois colo- de. “Assim, podemos sair das quatro paredes
adjacentes. Desde sua implantação, cerca de são que envolvem o consumismo imediatista. camos em prática o que aprendemos na sala da sala de aula e ter a oportunidade de não
400 pessoas já foram beneficiadas por ele. “Pensar em ações de longo prazo exige todo e na vida pessoal, o que é uma grande expe- só aplicar os conhecimentos que adquirimos, #projetosemapertos
O professor do curso de Ciências Atuariais um processo de educação e formação. Nossa riência. Você está se desenvolvendo, exer- mas também impactar a sociedade local e o #educacaofinanceira
da Eppen/Unifesp e coordenador do pro- tendência é a de realizar os desejos o mais rá- citando a habilidade de falar em público”, entorno do campus. É por meio dessas pon- #poupar #investir
jeto, Celso Yokomiso, explica que a estraté- pido possível, e postergar essa realização exi- acrescenta. tes de contato que conhecemos a realidade #economia #financas
gia de ação se ampara nos fundamentos da ge bastante energia e disciplina”, completa. Rodrigo Eiji, discente do curso de das pessoas”, conclui. #dinheiro

108 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 109
inclusão econômica

Imagens cedidas pela Prefeitura de Osasco


Cooperação e autogestão
moldam propostas de
economia solidária
Equipe composta por docentes e estudantes do Campus Osasco encabeçou, em 2019,
programa voltado ao desenvolvimento da economia alternativa em Osasco e cidades
vizinhas

D
Valquíria Carnaúba e acordo com autores como o eco- Matheus Montañola, Mateo Tanaka, Wilson
nomista Paul Singer, economia po- Rodrigues e Amanda Oliveira Moreno.
pular solidária é uma expressão que Inspirados pela dura realidade brasileira,
caracteriza a resposta de determinados se- em grande parte pautada pela desigualdade
tores sociais à exclusão econômica. O popu- econômica e social, os idealizadores desse Uma das ações propostas
lar e o solidário ganharam força por aqui, na programa de extensão consideram-no uma pelo Escritório Popular
de Iniciativas Sociais e
década de 1990, como um caminho alter- ferramenta que pode favorecer o desenvol- As iniciativas que se vinculam ao Episs para integrar o Comitê de Gestão Solidária. Solidárias (Episs) é o apoio
nativo, por meio do qual seria possível al- vimento de iniciativas acadêmicas que pro- almejam, por um lado, beneficiar pessoas No momento, estudamos como viabilizar à agricultura familiar
cançar a emancipação econômica com base movem a participação da população e cujas marginalizadas, isto é, que sofrem com e incrementar a introdução de itens da urbana. Em Osasco, essa
forma de produção é
em valores da democracia e da autogestão. formas de organização incorporam caracte- renda insuficiente, baixa qualificação e agricultura familiar na merenda escolar representada pelas hortas
Mais de vinte anos após a consolidação des- rísticas da economia solidária – ou seja, coo- oferta reduzida de vagas, fornecendo-lhes do município. Até dezembro, apresentare- cultivadas em diferentes
se conceito no país, um grupo formado por peração, autogestão, dimensão econômica meios que propiciem melhorias relativas mos o resultado das ações deste ano, jun- pontos da cidade e assim
designadas: Audax, Banco
docentes e estudantes da Escola Paulista e solidariedade. ao trabalho, remuneração e reconhecimen- tamente com um plano de base para sua de Alimentos, Cantinho
de Política, Economia e Negócios (Eppen/ Dois projetos principais surgiram após to de direitos. Por outro, os projetos podem continuidade”, relata Tayra. Verde, Caps, Cheirinho
Unifesp) - Campus Osasco, em parceria com a estruturação do Episs: o Programa de voltar-se para um público indiferenciado, O docente destaca, ainda, que o pro- Verde, Chico Mendes,
Estufa, Maná, Modelo,
integrantes de movimentos populares, lan- Fomento a Iniciativas de Desenvolvimento cujo elemento comum é o interesse por grama abriu portas aos estudantes Mateo Simpatia e Vicentina
çaram mão de um programa de extensão Social, Econômico e Ambiental, com o obje- formas de solidariedade, sustentabilidade Tanaka e Wilson Rodrigues, proceden- Mais informações em:
totalmente pautado naquele princípio, de- tivo de implantar a Incubadora Tecnológica econômico-ambiental e práticas culturais. tes do Paraguai e de Cabo Verde (África), www.osasco.sp.gov.br
nominado Escritório Popular de Iniciativas de Cooperativas Populares da Unifesp junto De acordo com o coordenador, o pro- respectivamente, por meio do Programa
Sociais e Solidárias (Episs). à Prefeitura de Osasco; e o Acordo Unifesp grama existe há pouco tempo, mas já re- de Estudantes - Convênio de Graduação
Coordenado por Flávio Tayra, profes- - Consórcio Intermunicipal da Região vela ótimas perspectivas. “Submetemos o (PEC-G), que oferece oportunidades de for-
sor do Departamento de Economia da Metropolitana Oeste de São Paulo (Cioeste), projeto original do Episs a um edital de mação superior a cidadãos de países em de-
Eppen/Unifesp, o escritório de economia que visa reunir dados socioeconômicos de apoio financeiro da Fundação de Amparo à senvolvimento com os quais o Brasil man-
solidária conta com a atuação dos docen- Osasco e municípios a oeste da região me- Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e tém acordos educacionais e culturais. “Os
tes João Tristan Vargas, Ioshiaqui Shimbo tropolitana de São Paulo (Araçariguama, obtivemos os recursos, que utilizamos para convênios determinam o compromisso do
e Alvaro Luis dos Santos Pereira e dos se- Barueri, Carapicuíba, Cotia, Itapevi, Jandira, instalar o escritório. Além disso, em razão aluno de regressar a seu país e contribuir
guintes estudantes de graduação do curso Pirapora do Bom Jesus, Santana de Parnaíba desse trabalho, firmamos parceria com a para a área na qual se graduou”, explica.
de Ciências Econômicas: Letícia Felicidade, e Vargem Grande Paulista). Prefeitura de Osasco, que nos convidou

110 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 111
agenda 2030

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal
Sustentabilidade na
O docente Flávio Tayra
e as bolsistas Amanda
Moreno (à esquerda)
e Letícia Felicidade (à
direita) coordenam os
projetos atualmente
ponta do lápis
vinculados ao Episs. O
trio organiza atividades
Programa de Fomento a Iniciativas de Desenvolvimento O projeto de extensão Pacto Global Experience possui uma proposta ambiciosa:
como o curso de extensão Social, Econômico e Ambiental propagar os 17 objetivos apontados na Agenda 2030 para o Desenvolvimento
denominado Identificação
de Demandas Sociais e
Elaboração de Projetos de Esta vertente é a que foca mais especificamente a linha da economia soli- Sustentável
Economia Solidária, que dária e atua em parceria direta com o Centro Público de Economia Popular
foi também conduzido e Solidária de Osasco, vinculado à Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho
por Ioshiaqui Shimbo,
professor visitante da e Inclusão do município. Segundo Amanda Oliveira Moreno, bolsista do
Proplan Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), a intenção,
no caso, é compreender melhor e disseminar a agricultura urbana dentro
de um planejamento integrado. Além disso, o programa propõe-se subsi-
diar a formulação de políticas públicas específicas que colaborem para a

O
implantação de cidades sob condições de vida mais adequadas e menos protagonismo da Unifesp na con- de Política, Economia e Negócios (Eppen/ Valquíria Carnaúba
impactantes para o meio ambiente. “No decorrer do trabalho, serão mapea- cretização dos objetivos que in- Unifesp) – Campus Osasco e o Conselho
das as experiências de agricultura urbana em Osasco, estudados os arranjos tegram a Agenda 2030 para o Regional de Administração de São Paulo
produtivos e administrativos internos dos empreendimentos e avaliados os Desenvolvimento Sustentável no país (Crasp). Coordenado por Liége Mariel
impactos no entorno.” adquiriu horizontes mais definidos Petroni, Dan Rodrigues Levy e Elisa Thomé
com o projeto de extensão Pacto Global Sena, docentes da Eppen/Unifesp, e por
Experience (PGE), criado em 2018 a par- Clarice Kobayashi e Armando Dal Colletto,
tir de uma parceria entre a Escola Paulista que integram o Grupo de Excelência do

Projeto de implementação do Acordo Unifesp - Cioeste Desenvolvimento sustentável é aquele capaz

Google Earth: https://earth.app.goo.gl/5gBLCV


O acordo entre a Unifesp e o Consórcio Intermunicipal da Região
Metropolitana Oeste de São Paulo (Cioeste) privilegia os estudos so-
de suprir as necessidades da geração atual,
cioeconômicos – gerais e específicos – dos seguintes municípios: Osasco, garantindo a capacidade de atender as das
Araçariguama, Barueri, Carapicuíba, Cotia, Itapevi, Jandira, Pirapora do
Bom Jesus, Santana de Parnaíba e Vargem Grande Paulista. As áreas de
futuras gerações. É o desenvolvimento que
maior interesse para as duas entidades são a economia local, a gestão mu- não esgota os recursos para o futuro. Essa
nicipal, as finanças públicas e as relações institucionais. Letícia Felicidade,
bolsista do Pibic à frente desse projeto, explica que sua principal meta é ma-
definição surgiu na Comissão Mundial
pear e analisar dados sobre educação, saúde, mobilidade urbana e outros sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
tópicos referentes à população das cidades mencionadas. Para ela, trata-se
de uma oportunidade para integrar o conhecimento teórico (que obtém nas
criada pelas Nações Unidas para discutir
aulas do curso de graduação em Ciências Econômicas) e a prática, com “pita- e propor meios de harmonizar três
das” de solidariedade: “A ação torna-se importante por permitir questionar a
#episs realidade, as causas dos conflitos e as formas possíveis de intervenção, com
objetivos: o desenvolvimento econômico,
#inclusaoeconomica maior participação popular. Não é uma opção fácil, mas estamos aprenden- o desenvolvimento social e a conservação
#economiapopular do e buscando caminhos para a ampliação do projeto”, afirma.
#economiasolidaria
ambiental.
#economiaalternativa Fonte: WWF Brasil

112 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 113
Arquivo pessoal
Os objetivos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável
Liége Petroni, Dan Rodrigues, Elisa Thomé, Clarice Kobayashi e Armando Dal Colletto são unânimes
ao afirmar que nos últimos anos, apesar dos importantes avanços acerca da conscientização
Reunião do grupo atuante no projeto PGE no Conselho Regional de Administração (CRA-SP) da sustentabilidade no mundo inteiro, é visível uma frágil vontade política dos governos para a
implantação de ações práticas nesse sentido. Conforme consta no projeto original, “essa fragilidade
TAEs e discentes) e externas (parcerias só se resolverá se houver um movimento conjunto entre governos, empresas, sociedade civil,

Arquivo pessoal
com escolas, organizações privadas e pú- escolas, igrejas e demais instituições. Afinal, se no passado os danos ambientais estavam limitados
blicas e a educação empreendedora em co- a determinada região, hoje, com o progresso técnico e internacionalização das economias, eles se
munidades carentes). tornaram um problema sem fronteiras territoriais”. Na tentativa de unir esforços para a solução de
Petroni explica como isso está ocorren- problemas sociais, ambientais e econômicos que se anunciam, 193 organizações signatárias do Pacto
do na prática. “A fase inicial, concluída Global se comprometeram em 2015 a alcançar esses 17 objetivos:
no ano de 2019, consiste no envolvimen-
1 • Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares;
to dos estudantes da Eppen/Unifesp com
as questões centrais da Agenda 2030. É a 2 • Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição
etapa mais difícil, longa e importante do e promover a agricultura sustentável;
projeto, pois dela se forma a base para o
3 • Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades;
desenvolvimento das ações conjuntas. Já a
segunda fase, a das ações práticas, envol- 4 • Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover
Visita técnica de parte da equipe ao Grupo Urakami ve o entendimento da necessidade de ado- oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos;
- o encontro foi efetuado para que a empresa ção dos princípios do Pacto Global e dos
mostrasse como move sua produção de cogumelos, 5 • Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas;
setor alimentício em que atua, com energia gerada ODS e a preparação de porta-vozes para a
exclusivamente a partir de placas fotovoltaicas propagação dessas questões na sociedade. 6 • Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos;
Representa um período de intenso conta-
7 • Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos;
Pacto Global (CPG/Crasp), o PGE alme- to com a comunidade interna e externa à
ja contribuir com a consolidação dos 17 universidade”, explica Petroni. Essa etapa 8 • Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável,
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável iniciou em agosto de 2019 com um crono- emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos;
(ODS) e as 169 metas presentes no docu- grama de atividades que inclui o contato
mento Agenda 2030, assinado em 2015 pe- com as escolas públicas da região.
9 • Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva
e sustentável e fomentar a inovação;
los 193 países signatários da Organização O principal trunfo dessa ação extensio-
das Nações Unidas (ONU). nista é propagar, no Campus Osasco e en- 10 • Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles;
Petroni, Levy e Sena partem do pressu- tre a comunidade local, a consciência da
11 • Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis;
posto de que o tema sustentabilidade é a necessidade de formar cidadãos compro-
resposta para crises instituídas ou iminen- metidos com as dimensões social, política, 12 • Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis;
tes da sociedade contemporânea, sendo ambiental, econômica e cultural das prin-
13 • Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos;
papel da universidade pública adotar uma cipais questões atuais. “É no desempenho
postura ativa na propagação das metas es- de suas funções específicas de ensino, pes- 14 • Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos
tabelecidas – como, outras, a erradicação quisa e extensão que a universidade tem marinhos para o desenvolvimento sustentável;
da pobreza, segurança alimentar, educa- de pensar sua articulação com a socieda-
15 • Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de
ção, saúde, energia, água, produção e con- de. Nosso intuito é formar jovens empode-
forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da
sumo sustentáveis, meio ambiente e mu- rados que se tornem protagonistas dessa
terra e deter a perda de biodiversidade;
danças climáticas. De acordo com o projeto, história, de modo a contribuir com a for-
/PactoGlobalExperience a saída para esse desafio seria a constru- mação de uma agenda educativa pautada 16 • Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o
ção de um repertório a partir da troca de tanto na produção do conhecimento quan- acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis;
#pactoglobalexperience saberes entre comunidade acadêmica e to nas questões afeitas pelas relações com
17 • Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento
#desenvolvimentosocial sociedade, viabilizada por uma dinâmica a sociedade, indivíduo e natureza, no que
sustentável
#agenda2030 específica envolvendo ações internas (de- se refere à escala local, global e planetária”,
#sustentabilidade senvolvimento de projetos por docentes, finaliza Petroni. Mais informações: www.agenda2030.org.br

114 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 115
políticas públicas

Imagens: Alex Reipert


Diálogos que
ultrapassam fronteiras
Laboratório de Políticas Públicas Internacionais da Unifesp é pioneiro no país

S
Matheus Campos entados à mesa para tomar café, chá e que foi realizado pelo Centro Brasileiro de
comer biscoitos, jovens universitários Análise e Planejamento (Cebrap) em par-
conversam descontraídos, em meio a ceria com a Unifesp. O evento, que foi um
alguns livros com títulos em inglês e plani- sucesso, incentivou a discussão sobre a ne-
lhas expostas nas telas dos computadores cessidade de se ter um laboratório de políti-
em volta da sala. Enquanto conclui um tra- cas públicas internacionais na universidade.
balho que parece ser uma espécie de banco "São duas áreas que cresceram de maneira
de dados, uma das estudantes lembra de fer- separada. Por um lado Políticas Públicas,
ver a água para fazer mais café. O ambien- que busca entender o que ocorre dentro do
te, apesar de pequeno, é propositalmente Estado, e por outro Relações Internacionais,
acolhedor. que olha para o que acontece fora do país",
Imagens ilustrativas
"Quando as pessoas pensam na ideia de explica o coordenador.
laboratório, é natural visualizar recursos Naquele ano, após algumas reuniões com
que são utilizados para experimentos de outros professores do Departamento de Re- Além de ser um grupo de pesquisa com Relações Internacionais da Eppen/Unifesp
ciências biológicas e ciências exatas... um lações Internacionais, o projeto do Laboppi cadastro no Conselho Nacional de Desenvol- – Campus Osasco. É possível integrar a equi-
laboratório da área de ciências humanas é tomou forma na Eppen/Unifesp – Campus vimento Científico e Tecnológico (CNPq), o pe por meio de um processo seletivo, no qual
bem diferente", provoca Osmany Porto de Osasco. É um dos primeiros laboratórios no Laboppi funciona como um programa de ex- os interessados devem enviar, por e-mail,
Oliveira, docente e vice-chefe do Departa- país a estabelecer o elo entre as políticas pú- tensão e inclui um programa de monitoria. uma carta descrevendo os motivos pessoais
mento de Relações Internacionais da Esco- blicas e as relações internacionais. O espaço Os encontros acontecem às quartas, entre e profissionais que consideram relevantes
la Paulista de Política, Economia e Negó- de trabalho é compartilhado e foi criado com 12h e 13h30, no período em que os estudan- para o projeto, juntamente com uma cópia
cios (Eppen/Unifesp) – Campus Osasco. É recursos da Pró-Reitoria de Extensão e Cul- tes não têm aula. Toda primeira quarta-fei- do histórico escolar da graduação.
ele quem coordena o Laboratório de Políti- tura, oriundos da Reserva Técnica para In- ra do mês ainda ocorre o clube de leitura
cas Públicas Internacionais (Laboppi), onde fraestrutura Institucional de Pesquisa (RTI/ de políticas públicas internacionais, aberta Transferência de conhecimentos
estudantes de graduação produzem e esti- Fapesp). "O Laboppi surge para dar uma res- também para o público externo. Os partici- Uma das frentes de trabalho do Laboppi é
mulam o diálogo entre academia e prática posta na Unifesp e no Brasil para essa ques- pantes debatem um tema e um livro dentro a análise de difusão internacional de políti-
- sem deixar o café esfriar. tão que, apesar de muito recente por aqui, já da área. As obras lidas fazem parte de um cas públicas, principalmente nas parcerias
possui avanços ao redor do mundo no que acervo criado a partir de doações de edito- brasileiras com países da América Latina e
Como começou? diz respeito, principalmente, à literatura ras acadêmicas. da África Subsaariana. "Quando se trata de
Em maio de 2016, Oliveira organizou o Semi- acadêmica sobre políticas públicas globais", Atualmente, o grupo conta com 10 mem- políticas sociais, o Brasil tem experiências
nário Internacional de Difusão de Políticas, ressalta Oliveira. bros de diferentes semestres do curso de importantes em termos de transferência

116 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 117
globaliza normas, princípios e modelos de

Divulgação
Matheus Campos
gestão pública para que os governos melho-
rem desempenho e eficiência de política pú-
blica”, explica Oliveira.
“Assimilar esse conteúdo é de suma im-
portância para os estudantes entenderem
programas que impactam a sociedade”,
complementa. A respeito do Banco Mundial,
por exemplo, as discussões no clube de leitu-
ra realizadas no laboratório este ano aborda-
ram o papel que a instituição tem nas refor-
mas da previdência. “A partir do debate com
os estudantes foi possível fazer uma com-
paração entre as reformas que ocorreram Osmany Porto de
nos anos 1990, nos anos 2000 e o que ocor- Oliveira recebe o Prêmio
re no momento atual no Brasil, bem como Early Researcher, na 4ª
Conferência Internacional
uma análise de reformas da previdência de Políticas Públicas, em
implementadas em outros países”, susten- Montreal
Equipe do Laboppi ta Oliveira.

de conhecimentos para outros países, um formato digital e com linguagem acessível. Novas mídias Diálogos com várias esferas da vida
exemplo disso é o programa Bolsa Família", A partir dessas investigações, Marina Vi- Cuidar das mídias digitais, convocar reu- O Laboppi é uma iniciativa essencialmen-
destaca Oliveira. Cada estudante escolhe um las Boas Talietta, monitora do Laboppi, já niões e organizar os trabalhos individuais te interdisciplinar e multifacetada. Seja nas
programa de políticas públicas nacional e sabe até qual será o tema do seu Trabalho de cada membro são algumas das ativida- atividades presenciais, como seminários,
um país para o qual foi feita essa difusão de de Conclusão de Curso (TCC). Estudante do des de Beatriz Sanchez dentro do Laboppi. palestras e oficinas, ou nas produções au-
experiências. 7º semestre do curso de Relações Internacio- Aos 18 anos, a estudante de Relações Inter- diovisuais, como os vídeos e podcasts, Olivei-
Diante das informações obtidas nas aná- nais, ela pretende aprofundar um trabalho nacionais vê sua experiência no laboratório ra evidencia que "os estudantes são os pro-
lises, os estudantes montam os bancos de que realizou no laboratório: uma análise e como uma oportunidade, também, de evo- tagonistas do projeto, com ampla liberdade
dados para entender como funcionam as comparação do programa de transferência lução pessoal. "Eu tenho que fazer o papel para sugerir temas de seus interesses dentro
transferências. Os resultados desse proces- de renda condicionada e o programa de se- de 'chata', fico cobrando, mas desenvolvo da área para trabalhar no laboratório e levar
so são compilados em um documento cha- gurança alimentar para as Filipinas. “Fiquei características dentro do meu perfil", con- para fora dele, sempre com o intuito de di-
mado de Policy Briefing, que é um boletim encantada com a metodologia do professor ta Beatriz. fundir conhecimento”.
de políticas públicas muito usado em orga- Osmany, todos os aspectos que envolvem or- A tarefa incumbida a Beatriz de atuali- Pelo ponto de vista deles, é um espaço
nizações internacionais e não governamen- ganização e operação me influenciaram em zar, por exemplo, a página do Laboppi no não só de produção científica, análise e pes-
tais. “Trata-se de uma síntese, de cinco a sete todo tipo de trabalho que faço na vida”, re- Facebook, é uma das mais importantes do quisa, mas também se torna um ambien-
páginas, para orientar tomadores de decisão lata Marina. projeto. De acordo com Oliveira, as mídias te de amizade e acolhimento, em que mes-
sobre políticas públicas”, explica o coorde- Outras experiências com o Laboppi tam- digitais são elementos que possibilitam a tre e aprendiz dialogam de igual para igual.
nador. Esses documentos, que estão sendo bém marcaram a vida acadêmica da estu- difusão de conhecimento para a socieda- “Não falava muito em sala de aula, por inse-
concluídos, devem ser disponibilizados em dante. Em maio de 2018, foi uma das organi- de. "A geração à qual leciono aderiu ao con- gurança e timidez, já aqui, principalmente
zadoras da Conferência Internacional sobre teúdo audiovisual e, com o mundo cada vez nos debates, eu me sinto totalmente à vonta-
Difusão de Políticas e Cooperação para o De- mais conectado virtualmente, o elo da po- de, sem medo de julgamentos alheios”, con-
senvolvimento, em São Paulo. No mesmo pulação com o conteúdo gerado no universo ta a estudante Giovanna Vaz Ferreira. Para o
ano, participou também de um workshop acadêmico é por meio de publicações como coordenador, é importante que o ambiente
O que o Laboppi faz? em Brasília sobre o tema. Segundo Marina, a podcasts e vídeos", analisa. seja receptivo, para que os estudantes pos-
• Banco de dados partir desses eventos, ela finalmente enten- No atual momento, além do Facebook, o sam treinar as expressões de ideias de ma-
• Material didático, técnico e científico sobre deu o que significa o diálogo entre academia Laboppi possui um site, uma conta no You- neira clara e articulada.
políticas públicas e prática. “As vivências que o Laboppi pos- tube, uma página no Soundcloud e já tem O laboratório rendeu tanto que já está laboppi.wordpress.com
• Produção de boletins sibilita são, inclusive, uma resposta às nos- planos para a inauguração de uma conta no previsto para semestre que vem um docu- /LABOPPI
• Realização de entrevistas sas reclamações anteriores de que o curso de Instagram, pois, segundo Oliveira, os estu- mento bilíngue (inglês e português) com LABOPPI UNIFESP
• Gravação de vídeos e podcasts Relações Internacionais tem muita teoria e dantes estão muito mais conectados a esta elementos norteadores para a difusão de Laboppi Unifesp
• Leitura e discussão de textos pouca prática”, conclui. rede social. Paralelamente, o grupo também políticas por meio da cooperação para o de-
• Organização de seminários, workshops e monitora a Policy Diffusion, uma platafor- senvolvimento, destinado para profissionais
conferências O papel das agências internacionais ma global de políticas públicas internacio- que atuam diretamente com o tema. É só um
• Produção de documentos: relatórios e briefings Um dos fundamentos do Laboppi é enten- nais. A proposta é que o material produzi- dos inúmeros projetos para estabelecer pon- #laboppi
• Visita de campo der o papel das agências internacionais nas do pelo Laboppi seja público e que possa ser tes entre a universidade e a vida, entre o Bra- #políticaspúblicas
• Parceria com organizações políticas públicas, como o Banco Mundial e utilizado por professores, estudantes, fun- sil e o mundo, entre os estudantes e a expe- #difusãodepolíticas
a Organização para a Cooperação e Desen- cionários dos governos, membros de ONGs riência profissional. E, é claro, tudo isso sem #laboratorio
volvimento Econômico (OCDE). “A OCDE e demais interessados. esquecer do café, do chá e dos biscoitos. #relaçõesinternacionais

118 Unifesp EntreTeses novembro 2019 Unifesp EntreTeses novembro 2019 119
Últimos Lançamentos
“Este é um livro raro, em “O que enclausurar sig-
que rigor e Imaginação nifica é o grande ques-
se combinam de forma tionamento que pode-
cada vez mais apurada mos ler em A Sombra do
à medida que se avança Mundo. Fruto de uma
pesquisa de quatro anos

Siga a Unifesp
na leitura; um livro espe-
cialmente saboroso pelas numa prisão francesa,
inesperadas manobras nesta obra, Fassin se
intelectuais realizadas propõe restituir à condi-

nas redes sociais


por Ricardo Benzaquen ção carcerária e à exten-
de Araújo em ensaios e são do mundo punitivo a
comentários produzidos atenção do antropólogo
ao longo de quatro dé- crítico, a análise amplia-
#unifesp #somosunifesp #unifesp25anos cadas”. da do sociólogo e a preci-
#universidadepública #conhecimentopúblico são do historiador.’”
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facebook.com/Unifespoficial
“Este livro reúne artigos “Em tempos de fake
que refletem sobre as news, anti-intelectua-
causas e consequências lismo e ataques inquisi-
twitter.com/unifesp da violência de Estado
para os países da Améri-
toriais ao pensamento
livre, os artigos de Brasil
ca Latina. Esta reflexão é em Colapso analisam o
orientada por uma pers- atual período da realida-
pectiva que busca enten- de brasileira com ênfase

instagram @unifespoficial der os elementos comuns


e universais presentes
numa leitura científica e
crítica, entendendo que
nas distintas experiên- a ciência e a reflexão são
cias. os únicos caminhos para
sair das trevas.”
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linkedin.com/school/unifesp “A partir da história da “Com uma leitura cru-


perseguição aos cristãos- zada e exame minucioso
novos no Nordeste, o livro entre os textos memoria-
busca esclarecer o caráter listas e o acervo de crítica
disforme e misterioso da
medium.com/@unifesp
e história literária, o livro
Inquisição no Brasil da analisa os campos de for-
época moderna, ao estu- ça que disputam o legado
dar seus meios de ação e do mestre recentemente
perceber como o tribunal falecido. Estabelece diá-
fez, ou tentou fazer, para logos inéditos entre textos
chegar à consciência da- que aparentemente não
queles que estavam sob se falariam, praticando
sua jurisdição”. análise dialética sem ar-
roubos.
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E ditora U nifEsp
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