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Sobre o preço da pesquisa pedag6gica'

Traduçlo de Román Gokknzwe1g


e Anaddhi F1gue1redo

1.
O seminíno de La Bitie reuniu pcsqul$>dom que Hl<lVIDl
dupostos a acri1<1r uma cena &h2 de conforto e a pagar um cn--
to ~· E..n pcsquwdores não compamlluvam uma metma
metodologia nem um mesmo marco referenci•I, embora todos
eles estivessem inspirados por alguns textos comuns. Tam~m
nlo formava111 un1a co111u1úcbdc cicntffic.a determinada, nem se
idenrific•vam com uma mesma trad1çJo ou tse0b de pesquisa.
Nlo sr reuniram como "pares" que se submetem aos mesmos
requmto5 de c~nfiadade, que se reconhecem como rq>tt-
sentantes da mesma rado (ou do mesmo tribuna.! da nzlo),
que comparcilham a mesma Hnguagem ou o mesmo código
(racional) no interior do qual podem filar e comesur. N5o
pretendiam argumentar ou demonstrar propostas ou posi9cks,
senão exptessar pcnwnattos e falar a parur de expe1 i<ncui (e
não tObr'e ebs). O que os reunia era uma espiae de curlOSl.bdc
(pabvn denvada do btim cura, cuid1do) cuja prioridade nlo
slo os novos conhecimentos, mas que se refere, antes bem, a
uma preocupação ou um interesse comum pelo presente de
que fazem p;1rtc como pesquisadores. Trat•-se de: uma preo-
cupação CU,P pretendo nio ~acumular conhecimento5 acng

1 Sobre d p1tao ele li 1nvntipción p<da16s1u ln: MASSCHELEIN.


J, SJMONS, M (Ed1.J. M ...... "'"'•'""" m nmw tlt ""'" Bucdona
Laerm, 2008. p. 129-146

ss
do presente, nem criar uma ordem explicativa e determinar Esta distinção não se baseia na metodologia, como no caso de
sua validade e seus limites. Essa preocupação esti vinculada pesquisa quanriuriva iirmis qualitanva, ou empinco analítica
propriamente a uma disponibilidade pan não saberem quem ""''"interpretativa. Como hipótese de rrabalho, e inspirados
sào. o que pensam. e o que fuem; a uma disponibilidade para por Foucault, propomos que a distinção entre essa.s duas tra-
abandonar a comodidade intelectual e existencial (ou sua bus- dições de pesquisa se dê no lugar e no significado que tem,
ca}; e, portamo, de certo modo, a uma disponibilidade para em cada uma delas, o que poderíamos chamar de "ace1so à
colocar a si próprio cm qucst:io (seu pensamento e 05 limites verdade": Baseado cm quê pode-se obter o acesso à verdade?
de seu pensamento), ou seja. uma disponibilidade p•n p•gar O que significa "verdade"? Baseado cm qual significado da
um preço determin•do. Dito de outro modo, truav•-se de palavra "verdade" o pesquisador pode ser capaz de falar com
uma espécie de problematização do que significa "nós hoje", propriedade? Segundo uma cena tradiçao, a qual nos interessa
neste preciso momento, e do perrencimcnto a esse "nós" e a aqui, o acesso à verdade requer a rnnsformação do eu. Então,
esse "presente". Em nossa opinião,justamencc por iuo gerou-se a cransformação do pesquisador é imprescindível pan poder
um tjpo dctermm•do de pesquisa pedagógica: uma pesquisa se obier a verdade, um certo tipo de verdade. A outra tradi-
com um senndo educativo ou formativo. Tentemo1 esclarecer ção, mais conhecida, propõe que é o conhecimento o que nos
esta ideia de "pesquisa formativa". A pesquisa formariva é um permite obter a verdade, que se há de cumprir determinadas
tipo de pesquisa pedagógica e dá um certo conteúdo ao termo condições para adquirir conhecimentos verdadeiros, ma1 que
"pedagógico". No entanto, é importante destacar que esse a transformação do pesquisador não é uma delas. Enquanto a
termo possui dois significados. Por um lado, "pedagógjco" é primein tndição defende que pan poder falar com propriedade
~nitivo do objtto «! remete a um campo de f>C'qUiJa: a uma o pc>quisodor deve ter vivido um proccuo de ttaruformação, a
pesquisa acerca do campo educativo (a t>scola, a criança, a segunda concede mais importância às condições que configu-
aprendizagem, o currículo, os professores, a educação fora da ram o campo do conhecimento. Ambas as tradições propõem.
escola, etc.). Por outro lado, como genitivo de sujeito, o termo portanto, que o "aceno à verdade" requer que se pague um
"pedagógico" remete ;l natureza da pesquisa em si: à dimensão preço. Mas este preço se situa em lugares distintos: ou bem
educativa ou formativa da própria atividade de pesquisa. Aqui, cm uma tranú'ormação do eu. ou bem na apropriação de um
tr.ltamOi deste segundo significado, da dimensão formativa ou conhecimento ou ck um saber sujeito a determinadas condições.
educativa da J>C'(!Uisa ped•gógica. Neste segundo significado, /\. partir dessas hipóteses de rnbalho podemos reformular
além do mais, o tmno "pedagógico", no sentido de "educativo" nossa pergunta deste modo: que preço pagamos pela pesquisa
ou "formativo", volta a ter uma dupla vertente: por um lado formativa ou pela capacidade de falar com propriedade? Que
pode se referir ao sentido formativo ou educativo da pesquisa preço. ou melhor, que tipo de preço nós estamos dispostos a
pano próprio pesquisador (e, se for o caso, pan 05 estudantes pagar? Naturalmente, ao dizer "nós" não nos referimos 10mclltc
ou educadores que pamcipam da pesquisa) e, por outro lado, o a "nós enquanto pesquisadores", mas também a "nós enquanto
termo "pedagógico" também pode se referir ao sentido forma- educadores ou estudantes" e, inclusive, a "nós enquanto socie-
tivo ou educativo da pesquisa para os demais (como estudantes dade, governo ou universidade".
ou educadores). Todos esses sentidos estado presentes em nOiSa
exploração daquilo que é a pesquisa pedagógica formativa. 2.
Mas nOiSa explonçào parte de outra hipótese de traba- Em nossa sociedade, definida como socied ade do co-
lho: queremos disnnguir entre duas tradições de pesquisa. nhecimenro, jó conhecemos a concepção da pesquisa como

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'"produção de conhecimento'" O pesquisador é um producor Nnsa mdiçio, o objeuvo da pesquisa pedagógica é produxir
de conhccimm1os e a pciqu1sa ocntifica é uma pmduçio de conhttuncncos cicnúficos sobtt asp«tos concretos da realida-
conhcamencos c1encíficos. Com o 1crmo "cientifico" quahfica- de cducanva. O 1n<ettSK da pnquua pccbgógx:a na rcahdadc
se, aqui, a produção de eonhecimenros baseados na qualidade educativa ccntn-se ~m campos e objetos de conhec1mcnco:
do produto de con hecimenro suposto: conhecimento v:ílido. aqueles campos e objetos sobre os quais se produt conhecimento
Para que um conhttiment0 se_p whdo, devem ter-se cumprido verdadeiro. A partir dai, essa pesqu.iu pode ser qualitauva ou
determuudu condições dunnte sw produçio. Tr;idicional- quanmauva. cmpínco-analínca ou 1mcrprctanva. tei final..udc
menre, e cm nível absrmo, podemos estabelecer uma diferença pr:íoca ou ser teórica ou fundamcnul.
enrrc as condiçoo mrernas e as ex1ernas para a produção do Como ciência prática, este interesse pelo conhecimento
conhecimento científico (vilido). est:i ligado a um interesse de otimiução. O que se pretende
As condições internas referem-se à mctodologu (li nor- é a 011m1uçio da prática educauva a panar do conhcc1men10
mas formais de um método) e à estrutura do objeto de co- víhdo. Essa otimiuçlo pode auumir d1mntos aspectos: for-
nhecimento que se pcsquiu. Trata-se de condiçoo rclarivu mar pedagogos com uma base de conhecimentos científicos
à "vah<bdc" do conhecimento. No entanto, u condlÇ'<Xs cx- ou proporciocur conhectmcncos científicos rdcvuues para a
rcrnas são regraJ sociaiJ, normaJ e valorn que o pcsquuador pr:írica educativa. Alnn dmo, o conhecimento pode ser relau-
deve cumprir para poder gerar conhecimento de um modo vo a d11t1ntos aspectos da prática educauva, da fixação de seus
que rnulte '"fiáwl". Por exemplo, podemos citar condições objetivos até a determinação de seus meios e suaJ técnicas. Em
cultura... como haver csrodado um cu no supcnor e adicr""..,,.. ambos os cuos, a ot1m1uçio da prática cduutiva a panar da
se ao corucnJO c1entl6co; ou normai moraa, como o esforço, ~ ctcnti6ca de conhca~ntos cktcmpenha um pa~I
tratar de não confundir nem enganar os outros, trabalhar se- principal. E a JOC1edade ntá disposta a pagar um preço para
gundo uma combinação aceitável enrre interesses financeiros essa oumiução da prática educativa a pamr de conhecimentos
e interesses de status e carrein, por um lado, e normas 1deaiJ procedentes da pesquiJa.
da pesquisa dninternsada por outro. Sellundo esu tnd1ção, o pesqu11ador é quem gera e acu-
EuaJ condiçoo não são exaustivas. têm evoluído e, além mula esses conhttí-ntos. Pan ele, o significado formanvo ou
disJO, também pode haver comboruiçõn entre das. Ais1m. por educativo da pesquiu pedagógica é justamente enriquecer-se
exemplo, pode-se combinar condiç6e1 internas e culturais e cm <lOnhecimencos. Esse enriquecimento se l'u JObrc a bue de
afirmar-se que (a produção de) conhecimento válido depende um progrcsJO infinito ou de uma transformaçlo constante do
daquilo sobre o qual está de acordo a comunidade cientifica conhecimento. Além deste bcnefkio, o pesquisador tamMm
cm um momento determinado. O que queremos diter com é rcsponsivel por pagar o preço da produçlo de conhecimcn10
rudo wo é que slo essas as condiçón que dctenmnam que de um ponto de visa social ou pucológico o status adqu1ndo
preço ser:i pago para produzir conh«1mento cientifico. Em ou a samfaçioobtida por gcrarconhtttmen<o ou por0<1m1ur
principio, qualquer um que esteja disposto a pagar cuc preço com êxito a prática educariva a partir desse conhecimento.
e que cumpra unto aJ normas internas da pesquisa' quanto as Como professor, o pcsquiudor é aquele que 1ransmi1e
condições externai da atividade pcsqu1~n pode produnr aos escudantes nsc conhecimento (aisim como as cond1ç6es
conhecimento. internas e externas de sua produção), quem faz <lOm que os
Partindo desta base podemos dncrcver uma determina- ntudantct participem da pesquisa, e quem oferece maneiras
l da tradição de pctqwsa pc<bgógica, a que hoje é dominante. de trabalhar nas quais se simula e estimula a produçlo de

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conhecimento. Nem tradição. podemos siruar o s1gn1ficado 3.
formativo que a pesquisa pedagógica tem para o estudante: A familiarauçlo com a pesquisa pedagógica que esbo-
apropriar-se dai condições internas e cxtcnus da produçilo de çamos pode nos fazer perder de vista que se trata de uma
conhecimento víbdo e verdadeiro é o pttÇO que se paga para detcrmuuda rradaçio ou uma figura d~ pesquisa pedagógico
poder falar com propriedade sobre a realidade (educativa). Em determmMia, nnbora possamos afirmar que as ciêncm pcda-
ourr>s p•bvr>1: o euud•nte é aquele a quem, cm princípio, góglcas atudmcnte dominantes coincidem até cerro ponto com
pode-se pemuur o aceuo à verdade, aquele que mostra uma essa figura. As ciências pedagógicas, enquanto fazem com que o
boa disposição para aprender as condições internas e confor- acesso i verdade dependa do conhecimento e vinculam o preço
mar-se com as externas, aquele a quem se pede que faça um da verdade is condi~s relativas à produçJo do conhecimento,
determinado esforço e que, ao fim de um pcrlodo de tempo. têm se ttutttucionabudo na univenubde Ao &brmos de outra
será avaliado segundo os crnfr1os derivados das condições 1rad1çlo não nos ttfcnmos unto a uma tr>dição que K tenha
internas e externas da pesquisa . dcscn•'Olvido paralelamente e ao mcuno nívd que csu, mas
Finalmente. o pesquisador é, enquanto intelectual ou a uma tndlçào que tem estado à sua sombra, à margem, uma
provedor de serviços, quem, graças aos seus conhecimentos tradiçio que irrompe, intermitentemente, ao longo da h istórfa.
cicncíficos, pode falar com propriedade na sociedade, na No entanto, o que ocorre é que as ciências pedagóglcas basea-
práuca cducauva e perante os educadores. Ena capacidade das no conhecimento e onentadas ao conhecimento goum de
1nrclecrual consmc. de certo modo, cm Múlar cnticamen- uma posição dominante c explicam principalmente a hisrória
te" a todo momento, porque o pcsquuador tem pagado um de sua própria exmênc1a (com a qual tornam a Justificar wa
preço por seus conhecimentos e pela capacidade de falar excJusividadc). Por is.so, 11 o utra tradiç:lo nio sorn~ntf! fica à
com propriedade, um preço que outros, na prática, n3o têm margem. mas também fica desqualificoda enquanto não cien-
pa~do. Com "crittco" nos referimos às condições para a tífica, nio univcmúru, como um saber que não cumpre ai
produção cientifica de conhectmentos, cm comparação com condições internas e cxterms da produçlo de conhecimento
o conhecimento que não tem pagado esse preço (como os pedagógico. Por isso. nossa tipificação dcsu outn "tradtçio"
conhecimentos derivados de experiências, as opiniões, a f'é ou é sobretudo fragmentada e tentativa. tende mais à criação de
as crenças nilo examinadas). Por isso, o pesquisador, enquanto um espaço para respirar, e talvez seja precursora de uma figura
antdcctual, tem u= função (explícita ou impllcata) de JUÍro futura. resgatando da poeira um passado e ducurindo-o. Em
críuco: uma aproximação à prática sempre e quando o co- rNumo, trata-se de uma tradição que nlo podemos aiscgurat
nhecimento aprC1Cntado cumpra u condições (especialmente que sep atual.
internas) para o conhecimento válido. Aqui, a sociedade. a A ideia é mostrar que, nesu outra tradição. o acesso à
prática educativi e os atores educativos são os que devem verdade a partir do conhecimento não desempenha um papel
aplicar i práuca o conhecimento que lhes é fornecido com central, mas que o acesso à verdade se produz a partir de uma
propnedadc. rranifonnaçiio do cu. Nnu tradiçlo. a pesquisa e o estudo têm
Em rNumo, podcriamos ttp16car .-ssa uadiç1oo de pesquisa a ~r. cm primeiro lugar. com a mudança de uma condição de
pedagógica como um acesso à ~rdade baseado cm e dangido cXJsttnCl.l do pcsqu1udor, mo é, do uma qucsóo exu1tnc1al
ao conhecimento. Nena tradiçào, o canltcr pedagógico da Em segundo lugu, nesta outra 1rad1çio, não é apenas a rela-
pesquisa ~m determinado cm todos os sentidos por aspectos ção entre conhecimento e verdade que desempenha um papel
cognitivos (tanto formau quanto substanciais). bitaco, a rebçio enttt ética e verdade também o fat. Ji que

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o ccrmo ética pode provocar bascancc confusão, devemos dis- pensamentos e ações. Nilo consiste cm saber quem se é (não se
unguir entre écica e moral, e, para uso, faremos uma pequena rnta de nenhum conhccirncmo de capacidades, necessidades,
excunio hur6nca. dese.)OS, ponros forres e fncos). mas, nas palivras de Sócrates.
cm "ocupar-se da alma". E a alma aqui nlo é algo, nlo é uma
4. substlncia ou uma coisa (uma espécie de cu profundo), mas o
R~rvunos o rermo "moral" pua nomear uma série nome do w que vive, pensa e age, o SUJeico da existência. O
de normas de comporumento. Por exemplo, na peJquisa pe- cuidado ck si inclui, além disso, a realwclo de virias auv1dades
dagógica baseada no conhccimcnco (a tradição dom1 nanrc), ou ações relativas ao eu que obJcriv•m mudá-lo. Tma-sc de
pode-se &lar cm várias regras de comportamcnro morais ou, determinados cxerclcios (por exemplo, purificação do pcnu-
mau dp«ific1menu, numa dconlõlogU cimúfica Tuta-sc de mento, memoriuçlo. mcd1uçJo, escrita e leirun) nos quais se
regrai cinemas que o pcsquuador deve cumprir na produção tnbalh• cspccioomenre • relição do eu com o eu. O 1cnno
de conhecimento. Entretanto, a ética refere-se à maneira como "ascese" remete tradicionalmente ao conJunto dessas técnicas
alguém se rransforma cm um sujeito ~tico, à maneira de dar de cuidado de si. Neste scnrido, ascese nlo tem tanto a ver com
fonna a um modo de ser determinado, como se dá forma e uma negação (cristl) do .-u (em função de uma forma de vida
tcnndo à vida Tomando ernprnado um conceito dos últimos de renúncia ascénca), mas se refere• uma Knc de priucaa que
trabalhos de ~uk (e sua análiK da An11g3 Grécu), podemos rêcm um efeito ativo ou de tnruformaçlo do w _ O oô,)ctivo
d1~er que a éuca tem a ver com o "cuidado de si". Ene cuida- desse cuidado de si, dessa relação de cuidado consigo mesmo,
do de si en um antigo ideal pedagógico, como te depreende, é o domlnio de si, um dominio que deve se alcançar mantendo
por exemplo, do diálogo Alóbladts /,de Platão, em que lemos uma autude atent.a p.ara consigo (e os d~ma_11).
como Sócrates pede a Alcibiadcs que c.Ude principalmente, Eate domínio de si consmc, concrctamenre, em uma
e sobretudo, de si próprio, porque somente pensa cm cuidar coincidência das acõcs e das ideias, em m0$trar mediante as
dos ckmai.s (por C'XCltlJ*>, em scr ari\'O politicamente e quettr aç6ct o que se peru.a e o que se dtL É.--se dono de si quando se
governar os outros). Sócrates dine, exphciamenre, que para é capn de agir "corretamente''. E por "corretamente" nJo se
cuidar dos outros não se neccssiram muitos conhec imentos. deve entender (como na outra tradição) que u ações e palavnt
Nio que Alcibladcs rivcnc que aprender muitas coisu antes de estejam baseadas cm conhecimentos certos ou válidos. Na outra
ser capu de governar os outros: o que te necessita é cuidar de rrad1cão. o que determina o que é o correio#; o conbec1men10.
S1 mesmo_ Em outnt palavras, este clumamento a cuidar de si Aqui, pdo conairio, a •corttÇio" mua·se no ni'-d do com-
e a ocupar-se de si não entra cm conrradição com o cuidado ponamcnro e daa aç6es de alguém. (Re)conhcce-sc que uma
dos dcnuis, mas é um requisito para unto. pessoa cliz a verdade quando presta atenção a si mesma de um
Na Antiguidade. o cuidado de si foi uma preocupação modo determinado, quando mostra um domlnio de si que te
éuca permanente que superou a esfera pedagógica propria- concrerau em suas aç6es e cm seus pensamentos, e quando seus
mente dita. Esse cuidado de si implica. cm primeiro lugar atos e suas palavras esrlo inspirados por sua verdade. Porunto,
e aanu de tudo, uma determinada amude: ttlacionar-K de nesta tradiçio, a capacl<bde (ou o reconhccimcoco da capacida-
ceno modo consigo pr6pno. mas cambém com os demau e de) de falar com propnedadc nJo esú \'lllculada às conchçõcs
com o mundo. Além disso, CSIC cuidado de 11 tipifica-se como internai e exccmas do conhecimento enunciado, senão is con-
uma espécie de atenção. É uma atitude de atençio, de estar diç6es existenciais e éaicas. falar com propriedade não se refere
atento a si próprio, de concentração cm 11 mesmo, nos próprios a submeter (à discunlo) conhecimentos (exteriores), mas, sim,

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a se cxpcr a si e a seus valores dctcrnunantcs. O que está cm aplica a verdade a sua própria vida e tema mantê-la ao longo
)080 não é só aquilo sobtt o que se (ala, nus quem (ala, como de toda sua vida, alguém inspirado pda wrdadc cm todas as
no caso de Sócrates. Na Apol"f'a escrita por Pb!lo, Sócr2res suas ações
afirma que deve ap~nur-se pcunte o tnbunal dos atenicmcs Um último ponto que devemos destacar é a relaçlo
pcrque diz a \.-Crcbde. Mas uso não significa que seja um eru- entre alguém que é dono de SI e os dema11. Trata-se da re-
d1to,p que, segundo afirma, só ube que nada sabe. De fato, o lação pedagógica do "mestre". Como JÍ propusemos, este
que gnante a wrdadc de suas pabvns é a vida de pcsquua que tipo de mestre não considera como sua iarcfa rrarummr co-
leva ou tem levado: o fato de haver se ocupado constantemente nhcc1mcnros v:ilidos aos outros. Portanro, não se dmgc aos
de sua "alma" e nlo de obter riquezas, bens ou honrarias, ou dema11 como se fonem pessoas que devessem justificar seus
de lu•u alculado ~ atos segundo a possibilidade da vida conhecimentos baseados cm condições internas e externas,
ou morte. Sócrates diz a verdade porqu<! tC\.'C uma ex11tência e logo >daptar seus atos a esses conhecimentos. O mc1trc (e,
virtuosa. Por uso pode dizer: "[...J e porque estou dizendo a aqui, novamente Sóc rates é o exemplo por cxulêncu) inter-
verdade apresemo o melhor e o mais verdadeiro dos testemu- pela os demais para que se ocupem de si próprios, para que
nhos· minha pobreza". Ter acesso à vcrcbde exige o cuidado adotem uma aátude atenta e de cuidado comigo, para que
transf'onnador de si ou, dito de outro modo, certa es11hução trabalhem sobre s1 mesmos e, finalmente, para que cons1pm
da cxmência. Por isso, unto o conhec1mcoto quanto a •udadc o domínio de SJ. O mcsrrc erige-se como "pedra de toque"
têm, nessa trad1çlo, um 11gnificado especifico. cm que os demais se apoiam para averiguar cm que grau são
É importante desucar que este domínio do cu ou este donos de si, cm que medida coincidem seus conhecimentos
cuidado de s1 nJo estio relacionados com o conhec1mcmo. e: KU> .itos. xus pnncip1os e KUJ c-omportamenc:os, ou em
Este domínio do cu não se baseia no conhecimento verdadeiro que medida são capazes de agir "corretamente". Em outro
nem cm levar cm conta cerras condições ao nível do conhe- diálogo de Platão, o uqut1, descreve-se Sócrates como aquele
cimento. /\ rclaç5o de cuidado é primordtal. e só cm função que te rnpomab1hu por teu C1ttlo de vida atual e antcnor.
dela o conhec1mcnto pode desempenhar um papel Pode tra- Portanto, não se trata de uma ··pedra de toque" para deter-
tar-se de conhecimento de si próprio ou de conhecimento do minar se os outros dispõem de conhecimento adequado (e,
mundo, mas, sempre, que este conhecimento esteja orientado por consequência, t~m acesso~ verdade), mas para determinar
a cu.dar de SI. O 1mponante é um.a espécie de cransform~ o guu do cuid•do e do domínio de si.
do c-u direcionacb ao domiruo do c-u. na qual o conhec1m<:nto Podc-ie descmpenlur este J"'pcl moslnndo o qur S1gn16a
verdadeiro se ammilou ou mcorporou no princÍplO da ação. cuidar de s1 próprio e propondo cxcrdcsos e técnicas cm que
Trata-se de uma verdade "incorporada". Por isso, a vcrcbdc esse cuidado pode tomar forma. Mas, também, pode-se (alar
(ou conhecimento verdadeiro) à que se pode ter acesso no sobre o que se opõe ao cuidado e ao domlnio de si. Anim,
cuidado e no domínio de SI é algo "esclattccdor" e que tem perfila-se como pessoa que diz a verdade aquele alguém que
um "efeito redentor". Euc efeito redentor ou csdarccedor da mostra como as ânsias de poder e de riqueza dificultam ou ué
wrcbdc úeu, portanto, a quem se uanúOnna a SI próprio ao nnposs1b1litam o domínio de 11. Segundo o próprio Sócrates,
ter acesso a ela Em primeira trlltincia, ninguém mm pode é por ha\'Cr feito isso que os atcmcnscs o condenaram i ~te.
ou deve ser "salvo" ou "escl:uccido" mediante ena verdade. Deste ponto de vista. (alar com propriedade não cons11te cm
Por isso alguém que é dono de si estA na verdade, sua vida é tratar de transmitir conhecimentos verdadeiros a partir dos
"vcrcbdcira" ou est.í "inspirada pela wrdade". É alguém que qu•is os ouvintes possam compreender melhor sua situação e

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W...·~•.....-; 'c'e

dispor de uma base de conhecimentos válida para oum1zar st'US a reJaçlo do cu consigo mesmo esti vinculada ao conhccuncnto
acos. De fato, falar com propriedade nlo significa falar julgando verdadeiro. O conhecimento é a base rnnto da "'c1ênc1a.. peda-
(avaliando) em nome do conhec1mcmo válido (ou baseado nas gógica quanto da "capacidade" ou competência pedag6gka:
condições desse conhoc1memo), mas significa falar convidando poder educar, instruir, dmga os outros eh mdhor mall(lr2.
e 11up1nndo cm nome do cu1d•do de 11. Nesse 1enudo, fabr EStudances ou educadorn sio capazes. em pnncip10,
com propriedaM se d1r1ge a mudor os ouvintes e a deix~-lo• de basear sua "mesma" (ou, se for o caso, a tarefa de cuidar
acentos: trata-se de um falar que funciona como oferta ou um dos outros) no conhecimento verdadeiro. Não h' condições
convne p•ra trabalhar consigo e ocupar-se eh "alma". élico-cxinenciais vinculadas ao acesso a esse conhec1menco
verdadeiro. Deixar que • compreenslo (p~v1a) e o enten-
s. d1men10 não científicos se convertam cm uma compreensão
Esta excurslo histórica pode parecer dinante de nossa e em um entendimento c1emíficos não implica nenhuma
1ntençlo de chamar a atenção sobre outra tradição de pesquisa transformação do modo de existência do cnudame ou do
pechgógJCa ou formauva. Entre outras coisas, porque na Annga professor. Embor2, ccrcamence, a tr2nsformaçào do conhe-
Grécia nio existiam ai ciências pedagógicas nem a pesquisa pe- cimento prévio em c1ênc1a, e do SUJCltO cogn111vo cm sujeito
dagógica no sentido que lhes damos hoje cm dia. Ou tamMm atuante, podem requerer certo cxerclc10 e algum upo de
porque, arualmen1c. o conceito de .. domínio deu" parett an- cuidado de si. Mu wc cuicbdo de s1 csti relacionado com
tiquado e vazio. Apesar dessas diferenças, cranos que é possi•"CI. a perícia \m=") bascaeh no conhcc1mcnto e orientada.
pamndo do que havíamos dito ames, chamar a a1ençlo sobre fundamentalmente, ao cu1ehdo dos outros.
outra tradição de pesquisa pedagógica, com outra dimensão Nesta tndiçào, a ..mestriau pedag6g1ca ..verdadetn º ou
ºeducativa" ou "form:a.civa .., e ac-ualiur o 1notivo do "domínio de ..real" aparece quando se obtém o acuso à verdade (ou a uma
u ". Pan cudo iuo é 1mportant< que termos como "pedagógjco" perícia real) a partir da produção ele con hccimcncos que cum-
e )><squu;>" tenham um ugnificado muKO especifico. Por mo. e pram cletcnnitudas cltlgàtctas intmus e externas. A pesquua
antes de explorar o outro sentido, devemos reformular algumas pedagógia e suas condições internas e externas conmrucm o
das características da pr1meir2 (e don1inante) tr2d1çlo nos termos preço que o pesquisador (os escudantes, os educadores) paga para
cm que descrevemos (as raízes da) a segunda. ter acesso a essa pericia e dispor dcne conhecimento e dessa ci-
Como disiemos, o termo "pechgógico" eh expressio ~pcs­ ência. Ao pesquisador nJo se colocam condições ét1co-cxiiten-
quiJa pedagõgia" canto pode se referir ao campo de conM- ciau para poder obter• vetdadc. Isto sag111fic:a. roncrcumcncc,
csmcnto eh pesquisa como ao sentido formaavo da mesma . que a tr2nsfon:naçào ele s1 não é um• condição ncccssina pan
N a primeira tradiçlo, ambos os sentidos podem se distinguir a produção de conhcc1mencos sobre a realidade educativa. E
claramente e, para isso, o fio argumentativo é o papel central do inversamente: os conhecimentos baseados na pesquisa não têm
conhecimento. eh produç.io de conhecimento e ehs condições ll(nhum• funçio no cu1ehdo de si do pesquisador nem cm seus
inrcrnas e externas dem produção. A seguir, e à luz eh acunào esf0<ços por conseguir o domínio cle 11 Para ele, o acesso à
antcnor, podemos mostrá-lo esqucmancamenrc. vcrcbde nio tem nenhum valor ··esc1ucccdor". O esqucnu é o
O ponto de parlida eh primeira tradiçio é que, na práti- seguinte: o pesquisador é quem produz o conhecimento vílido
ca, a .. mestria" pedagóglca deve basear-se cm conhecimentos sobre • realidade educa1iva; o pesquisador não se transforma
válidos· é uma pericia ou uma arte pedagógica bascaeh cm ou "esclarece" a si pr6pno por tal conhec1mcnto, senlo que se
conhecimento> verdadeiros. Nesre upo de "mesrna" ou perícia, 1orna capaz cle transformar ou de "esclarecer" a prática sempre

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e quando o con hec1memo práuco não seja considerado como ca e as ciências pedagógicas cm geral remetem ao tempo e
um con hcc1mcnto v~hdo e, precisamente por isso, lenha que ao espaço de produçlo e avaliação de conhecimentos que se
ser investigado para se obter validade. impõem aos educadorei para oom1ur sua prática a partir do
Portanto, nesta tradição, o especialista científico ou pes- conhecimento cientifico.
quisador pedagógico nfo é nccenaríamcnte um pedagogo ou EStc esquema da primeira trad1çlo nos termos e conc~tos
um educador npeculuu. nem o invcno. ~ndo cm conta da segunda rradaçlo nos permitirá, a 1eguar, aprofundar ainda
que a rclaçlo entre o pcsquiudor como docentelmtelecrual e o numa segunda rrad1ç5o atualizada. Por nccemdade, nos limi-
estudante/o educador é uma relaçilo educativa, feb) requer pe- taremos a assinalar alguns elementos concretos de uma possível
ricia pedagógica. Mas fi que se tl'ati de uma perícia baseada cm md1çio em gemçio.
conhecimentos, não hi outros condicionamentos vmculados a
ria senão as condições intanas e externas para a produção de 6.
conhecimentos e o exercício que se requer para a transformação Na segunda trad1çio, a pesquisa pedagógica e as ciências
do conhec1mcnto prévio cm conhecimento vilido pedagógicas em g=I $Jo o tempo e o espaço para o cuidado
Por esses monvos, nesta tradição, o pcsquiHdor peda- e o domínio de SI que • pedagogia se reserva para colocar à
gógico atua, em um sentido muito concreto, como "pedra prova a "mesrna" d0$ pedagogos. A pamr dcsu dcscriçlo geral.
de toque" para seus csrucbntcs e outros ouvintn. Pode sê-lo ..amos clcsenvolvu mau algum aspectos.
no imbsto das conchçõcs internas e externas para a produção O ponto de partida da segunda tradição de pcsqu1Ja con-
de conhecimentos v.lhdos sobre a realidade educaova, ou na siste em um mundo pdtico e em pedagogos (estudantes ou
medida cm que a sua perícia pcdigógica cstrja baseada cm educ2dores) que querem colocar-se à prova e coa11ider.11n que o
conhecimentos vilidos. Posto que o conhecimento desempe- cuidado de si próprio~ a condição da açfo pedagógica correta.
nha um papel b.lsico, as condições internas constituem, antes É uma rradiçào que, antes de mais nada, afirma que a educação
de mais nada, uma "pedra de toque" para o conhecimento e o ensino implicam dom[nio do w, que nlo podemos cuidar
pcdagõg;co c1enti6co. Em primeira inuância, é de quem o de outros se não cuidarmos de nós mesmos em primeiro lugar.
põe à prova e o julga. Além dmo, ao diu~r sua verdade, nio undardcsi d~ desembocar em um domínio de si que permi-
se dirige aos esrndamcs ou aos educadores oomo indivíduos ta acuar corretamente na pritica educativa. Tendo essa relação
para quem a relação de cuidado consigo desempenha um papel de cuidado consigo. n5o se pode ter como certo e acabado
fundamental, mas se d1ri~ a dcs como ind1vlduos que devem que as ações co.-rcus se baseiam cm conhcc1mcntos vlhdos
~seara relação coru1go no imbuo do conhecimento e, mais de caráter geral que garantem que se atuará corretamente cm
concretamente, no conhecimento vihdo que forma a base da todas as circuiucâncias. Para atuar corretamente é ncccssino ter
competência pedagógica (que de~ entender-se como com- aceno à verdade, mas a ~rdadc tambtm de~ ter acesso ao w,
petência para o cuidado dos demais). Deste ponto de visia, o atingi-lo e transformA-lo. Concrcutmcnre. isso significa que,
pesquiudor adota com os outros uma atitude critica Uuridica como pedagogos, estamos no presente; que esumos atentos a
ou awliatíva) e pede aos demais que adotem csu mcuna :n i- corno atuamos cm um ~ e em um tempo decemunaôos;
mde para conS>go mesmos. Suas palavras $ão um chamamento que numos presentes e continuamos estando no que fuemos
necessário a ter txpuriu e a conhecer a si próprio e aos demais, e no que dcSCJan10s fuer, no que dizemos e no que desejamos
e nilo um chamamento que convide a seguir preocupando-se diicr. Isso significa que estamos dispostos a con frontar o que
consigo. Em resumo, isso significa que a pesquisa pedagõg;- pensamos e o que dizemos com o que Caiemos e com o que

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somos, que como pedagogos trabalhamos connnuameme em Desse ponto de visu, é claro que uma prática dirigida ao
nl>l mcsmos. Mas nce tr:ab•lho nio se refere nem ao ntudo nem cuidado de si e ao domínio inspirado de SJ requeroum pesquisa
l produçio de llO\'OS conhectmt:otos (proceuos em q!Jf o supo pcdaÃJca [rsro t. cdUC<U.iva ou formauv•) e oums cinicw pe-
nlo muda, senlo que somt:ntc mudam seus conhecimentos e, cbg6gic:as. Em uma pnrneira uuúncü. nu pciquua não se chnge
e'entualmente, suu habihdadn). O tra~ sobtt 11 próprio à produção de conhecimentos segundo aJ condições 1ntttnas e
baseado no cuidado de si <um exercicio cm que o cu põe cm utttnas que garant~n o conhectmcnto vihdo. O pcsquuador
J080 a si mesmo e sofre uma traoJformação. Podemos tornar não t aquele que, em nomC' de certos cnttnos de valonuçio,
ma11 claro escc domínio que se fundamenta no cuidado de si dctecu e avaha a pcríc1• ou falta de pericia. Os pesquisadores
com um exemplo (e, de passagem, bahur com clareza uma são, antt"S de tudo, "pedras de toque". Ou, em outras palavras:
ptricu cmbuach no conhcamcnto). a pedagogia dirigida ao cuMbclo de SI e ao domínio de SI só
A nuiona dos pedagogos se prepara anres de enrnr no • ncccaiu" de pesquua pcdag6gica (e de~ peda~ se
espaço cducanvo (por exemplo, um professor prepara as aulas). funcionar como "pedn de toque" inspirada para unu "mestna"
Quando se trata de uma pericia baseada em conhecimentos baseada no cuidado. O professor que considera a prepançlo de
(como na primt:1ra cndlÇlo). essa preparação prévia cem um suas aulu uma autocranúormação CUJO objetivo é m•pirar os
scnudo cspecí6co. Seu objcuvo é adquirir consc1cntcmentc ouuos nlo pttoSa do& coohcamcntos de pesquisa que foroum
uma base de conhecimentos e um plano de ação baseado cm a base cb pericia pcdag6gia. Tamb<m nJo neccssia de conhe-
conhecimentos para dar um bom encaminhamento 1 aula. Essa arnentos teóricos que preciuri rransfom1ar em conhec1rnenco
prepuação está ligada a rcgr.u d.Jdánc:u baseadas na pesquua prático, nem de uma deontologia pedag(>gica. Nio quer que o
pedagógica_ Os professores se preparam para atuar corretamente abordem como a!pm cuja rcbção (de p«ic~ e "mesma'') com
de um pomo de vina pedagógico-d1diuco e a correção de o seu cu se baseie no conhecimento (SCJa válido ou nio), mas no
seus atos assenta-se cm cménos baseados no conhecimento. cuidado. Em linhas gerais, podemos indicar brevemcnce como a
Nlo obiantc na ~memia" pcdag6j;jca baseada no niicbdo de pesquua pedagógJca (fomuttva) podcna se rebaooar com uma
11 (a segunda md1ção), do que se trat•, em primeira 1nstincú, priuca educativa com esas caracterisocu
nlo é tanto de adquirir unu base de conhecimentos, mas de P<tra ser uma "pedra de toque", o pesquisador deve imbuir
alcançar um e$UdO de atcnçlo e transfomução do cu. Aqui, as suas palavras do sentido formativo da pesquisa. É alguém que
o pbocjameoto, a redação e a lc1tura wnbbn podem ser exer- tem como c:crro que há condiçl>cs ~aco-cx1Stcncia.is vinculadas
cicios prcparat6nos. mas t~ o obJCOVO de fncr cotnciclir ao falar com propned.ade. É :alguém que se driD levar pda
pensamentos e açl>cs, e de criar um ntado de 1mp1raçio ou ninos1dade. Porém. segundo o úlumo Foucaulc, a cunoudade
de iocorporaçlo da verdade. Aqui, também o conhecimento nio tem a ver com o conhecimento, mas com o cuidado de si
é importante, mas esse conhcc:tmcn10 é algo que se incorpora. e com a atenção. A ninosidade, portamo, implica uma atitu-
Aqui, exercer o conhecimento nio 11gn1fica aplicá-lo, senão de de cuidado e de acençio para com a realidade educ:.mva e
incorporá-lo cm certo domlmo de si. O proínsor que cuida para com o mundo do qual se fu parte enquanto pesquisador.
de 11 busca a co1ncidênna cnu-r o que dtt e o que fu, e só Trata•IC de um olhar agudo e concentrado na realidade, no
dcw maneira, somente medwttc quem é, pode se con\.'ttttt que aconttte ChoJC) no presente. e rnta· IC também de uma
em "pedn de toque" para os alunos e inspirá-los (a111m como chsponib1 ltdade a nlo conur como fotoJÍ precsubekado quem
convidá-los a cuidar de si próprios). O rxito de u ma fü la sirua- somos e o que Catemos. Neste caso, a reffex1vidadc do pesqui-
se no níwl da inspiração. sador nio csci orientada pelo método nem pc"las condições que

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~.,....,....., o . . ..

validam a produção do conhcc1ment0, mas é uma fomu de universidade e orientar a educaçio umverm:ina baseada na
pensar dup<>Jta a se expor a um saber desconhecido. A pr:iuca pesquisa. Assim, nuce a un1vers1dade pesquisadora moderna,
onenuda ao cuidado e ao dom[mo de si obriga o pesquisador na qual os estudantes também s.io con~idcrados pesquisadores
a indicar o que impede o cuidado de si (às '~zcs. as obviccb- e onde a eduaçio superior (ao menos idealmente) conmtc cm
dcs do campo ou os conhcc11:ncnto1 adquindos> e a JSS1nabr puucipar da pnqu1sa.
pns11b1hdadcs pan o cuidado e o domínio de 11. Em certo ~. csu deu de unrva'Sldadc ugn1ficou o
Mas o preço desta obngaçJo (um preço que o pedaAO nascimento da pnmc1n tradição de pesquisa pcdagógtca e da
1ambém paga) é que o pesquisador deve mostrar, naquilo que ideia de que o acesso à verdade se baseia no conhecimento válido.
ele é. uma forma particular de "viver o presente". Só enr:io, Mas Humboldt foca também outro assunto, o que ele chama de
somente quando suu palavras e ICUS atOS cou1adirem e teUC- "a lõrmaç3o gcralM E. pan pnmir essa funnação geral. concede
munlurern cuidado e domínio de SI, o pnqutSador pccbgócJco um papel fundammul i 6loto6a. A filosoíia, aqui. é a oéncia da
poder:i ad0tar a posição de "pedn de toque" (tanto para os .. ,'ttdadedo rear, e garante a urudadedas ciê:ncwe da pesquisa.
estudantes como para a pritica pedagógica). Só então poder:i Humboldc se baseia na ideia de que, na filosofia, a verdade pode
falar com propriedade e animar seus ouvintes a cuidarem de ter um sentido "rcdcnt0r" ou "cscbrcccdor" e que, portanto, 01
11. O conteúdo de suas pabvras (e , portanto. também de sua csrucbntcs e os pcsqwsadotts podem fomuMe ou trarulõrmar-sc
pesquisa prCvu) pode ser mwlO dJVttSO, mas se mere ~ iu rcbçio com essa vmbdc. Por esses moavos pocknl0$ coruo-
a pos!Í\~ cxemcios pedagógJCOS. a possíbihdadcs e técníca1 dcnr a proposu de Humbo&dt como uma tcntat1V1 de conciliar
de cuidado de s1, a atividades sociais que 1mphquem rcbçõcs elementos de ambu as tradições. Parando da tndição cm que
de cuidado consigo. Al~m duso, devido à incorporaçSo des1c o conhecimento, •u• vali.Ude e acumulação jogom um papd
conhecimento pelo pesquisador. esre conhecimento n:io icm principal. Humboldt indaga se esse conhecimento ainda pode
uma d1menslo critico-Juridico-avaliativa, senlo uupindon mftuirna ~do cu (na fOmuçJo gcnl cb pcsqutsa-
catntM dorcs e Cl(n<bncn). Tna-sc de compcmar a pnmnn tr:acbçào.
que havia se convciudo em donunantc, com preocupações da
7. segunda tradiçlo. Mas já nos tempos de Humboldt começa a
Embora tenhamos descrito esta segunda cradição como ficar cbro que a filosofia nio pode continuar desempenhando
uma tradição em gesução, cremos que nunca uniu desaparecido esse papel formatl\'O. A 6losofia se converte cm uma disciplina
complcammtc e que. taNez, hoje nn ma, haja ows espaço do de pcsqtttsa, igual is OUtnS, e ocupa-te, bmcamcntc, de cbbo-
qut" nunca pan urna cena rcv11ahnçio desu tndiçio de paqinsa nr um saber de segunda ordem aobtt as cond~ mtcmas e
pedagógic.i entendida como paquua fonnauva ou educativa. externas da auvtdadc e da rcllcx.io do conhccimcnt0.
O projeto de von Hurnbold1, "ideia de universidade". Talvez enfrcntemoi hoje um desafio semelhante ~qucle
ilustra a preocupação com esta segunda tradição. Em sua época. com que se defrontou Humboldt. Em nossa sociedade eu-
H umboldt viu-se cnfrcnando as ruÍruJ de uma un1vensd.adc ropeia. a univcnidadc já não ~ o úmco lugar cm que se gen
csugnacb DOJ anagos princípool ~ mrdJcvais. Nessa coobcammto ou sie pesquisa.. Além do mais, a educação ~
q,oca, as Clências, especialmente as ciência1 modcrruJ baseadas pnnapalmcntc a fonnaç:io pro61S10MI, e a diferença entre a
na pesquisa siltcmitica, floresciam fora da universidade. O unaversidade e u 1nsritu1çõci de educação superior não uni-
que liumboldt propõe (e elabora com dculhe cm seu plano versitária já nlo é do evidente. Além dino, na sociedade,
para a Universidade de Berhm) é dar espaço 1 pesquisa n• enquanto sociedade de con bccimcnto, a pericia baseada cm

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,
C-..0,.,.__,_
conhecimentos é de vital importincia para todo o mundo. do que nunca de condições énco-exmenc1a11. Mas não se trata
Nesu sociedade, dizem-nos, peiqu1sar é uma urcfi continua de fncr uma alegação em favor de compensar com a filosofia a
e J1gmfica adquinr conhecimentos e hab1lxbdcs conunuamen- ~mí•~I cienàfizaçlo da pericia pedagógica, mn de inrcrceckr
te. O professor ou mestre de-ssa soc1ecbde é alguém que pode por inuocluzir focmas Je cuidado de SI cm uma pesquisa peda-
produzir conhecimentos de um modo autônomo• seguindo as gógica IOrmaàva que, enquanto 111. tal•TZ possa Stt chamada
normas da ant mvemgaova. Por~ mocwos, a soaedade do também ·•fiJosõ6ca". Mas isso tmpha uma transformaçio canto
conhtt1mcnto é urna soc:IC<bde bab1mb por tndtvlduos cuja do que hoje St entende por filosofia como do que arualmmte
rclaçfo consigo mesmos sc enquadra no conhecimento e na se emende por pesquisa pedagógica. Em rrsumo: a qur1tlo é se
pesquisa {entendida como produção de conhecimento vilido). escamo1 dispostos a pagar o preço de uma pesquisa pedag6gica
NõUS coocbçõcs. a pesqinsa entendida como cuidado de si fonnanva, incocporada. 1nsp1rada e 1rupmdora. um prrço que
pode csur mais longe do que nunca. e, ao mesmo tempo. peno. unpha o cuidado e a tnnsformaçio do pnqu1sador.
Talvez a necessidade e a busca de mspiraçio Jamais tenham sido
tJo grandes. Por outra parte, cada vez mau, é evidente a falta
de fé no efeito emancipador do conhcc1mrnro científico t da Rrferlncias
tcrnologja. amm como a sensação de que a pericu {pedagógica)
ADORNO. f. P. La üch< de 1'111tdkctud. le modm socrmquc ln'
bascada cm conhecimentos (que é ptteuo renovar c:ononwi-
GROS. f. (Ed.). "-'"'b Lt ......... « k imd Pam.; P....,.. Uruwni-
mente) carece de scntido e significado. Em outras palavras:
12im de Francc. 2002. p. 3S-59
parece que j.l nlo mamos diJpostos a papr scm hcmar o preço
para obter a verdade amvh da produçJo de conhcc:11ncntos. ADORNO. F. P. Lt •'11t 'N pliilolopM: FowJl•ll ti lt iur-•Wli. ~
É ceno que a vantagem desic modelo é que, cm princípio, Écht>ODI dt Knné. 1996.
garante que qualquer um possa obttt a •-crdade, e a sociedade BALL.S J ThcTcachcr\ Soul md theT<m>n o(PnfocnwivuyJo•r,..J
do conhttimento o dcmonscra. Mas o rn-eno é uma vcpamão. lj ~ Plllity, V 18, n 2, p. 21S-228. 200.)
acumubçào ou tnnsfornução infinita do conhcamcnto sem
que eue conhecimento implique nenhum sentido inspirador BIESTA, G JJ. I.carruna írom l.CVJn.as. SlM"'1 •• Plu'-Plrr MtJ EJ,..
UJtio•, v, 21, n. 1, p. 61-68. 2003.
ou transformador. A rcsposu compensadora de von Humbol-
dt tem pouca uoli<Wic aqui: a filosotü. enquanto aqucb que BREW.A.;BOUD.OTcachmgandR-=b:Soblbsangthe"'ulbnk
acua a priondMk da relação de coah«unano, nJo goza da wtdi ktmung. K.,,..,
E J - v 29, n. 3, p. 261-273, 1995
posição ncccuina para compenú-lo. Além diuo, nu camciu BRÕCKLING, U. (2000). T~ M.obWmchung. M.mtehmliihrang
pedagógicas aruais, a filosofia já não é nem pedagogia funda- im Qualltlt>- une! ~t. ln: BRÔCKLING. U.; KRAS-
mental nem uma reflexão sobre as condições e prindpios que MANN, s; LEM.KE.T (Eds.) ~.,, "" e.,. WWI SIN'im
garantem a fOrmaçio geral do pedagogo. ..., ~tia~ fnnkfurt am M.am; Suhrbmp. 2000.
Por isso, a pergunta "Que s1gn1ficado pode ttr hoje a p. 131-1117.
pcsqutsa IOnnanva?" nlo é somente 1córic:a. mas tem urna
CAR.R, O.; HALDANE. J Spint>ooLty, ,,,.,_,,,., -"' 1 : 6 - l..on·
relcvincia urgente e anui. HO)C cm dia cxi~e npaço para
do<>/New York: R.oudcdg< nlma Prcss, 2004
perguntar se nJo dcveriamos pnomtar a relação de cuidado à
frente da rclaçlo de conhecimento. Ou. cm outras palavra" CAR.R,W. Philosophy and Edua11on.Joum4/ of Pl111-plry oJE.il-.,.,
perguntar se a peiqUiS> pcdagóipca formativa não necessita nu is v. 29, n. 1. p. 55-73, 2004.

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