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970-50 - HP13815849257783
própria existência
DA VIDA
PIETRO MANNARINO
O SENTIDO
O Sentido da Vida
Pietro Mannarino, 2019
Primeira Edição, 2019
O sentido da vida 15
Um significado ao sentido 22
A utopia da liberdade 35
O poder da lógica 39
Dimensões do crescimento 44
A importância do julgamento 57
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Para que vocês não achem que sou um antirromântico, devo dizer
que sou um grande admirador e já usei diversas vezes a frase: “eu te amo
para sempre” ao me declarar para minha musa inspiradora. Embora possa
parecer algo incoerente, acredito que nessa situação específica o “para
sempre” compreende toda nossa duração de vida, ou seja, para sempre
enquanto eu estiver vivo. Caso pudesse colocar minha vida em um loop
infinito, eu a amaria para sempre, ou seja, tantas vezes quanto eu vivesse
e, aí sim, a coisa faria sentido.
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que se importar e gastar energia? Se o para sempre, sempre acaba, qual é
o motivo de continuar indo adiante?
Saindo do âmbito filosófico e indo para a prática, é possível
observar isso acontecendo num dos períodos mais dramáticos de transição
da vida. Embora na infância e na adolescência as mudanças orgânicas e
sociais sejam mais céleres, profundas e, por que não dizer, dramáticas, é
no início da vida adulta que uma boa parte das pessoas começa a
questionar sua existência. Quando as decisões e rumos da vida deixam de
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que não)? Por que para alguns é tão simples viver sem indagar o porquê
ou para que viver? Será que esse questionamento infinito que parece
brotar dentro de alguns (ou muitos) de nós é um defeito ou um erro inato
de funcionamento?
Ao analisarmos de perto o comportamento e a mentalidade de
pessoas as quais parecem não precisar se preocupar com um significado
ulterior para a própria vida, alguns padrões parecem se repetir. Um deles
é o da sobrevivência, o outro o do egocentrismo e, por último, o da
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ser. Aqueles que tem um “porquê” são capazes de sustentar quase
qualquer “como”.
No segundo caso, vemos os indivíduos que colocam em primeiro e
inabalável plano suas escolhas. Trabalho, artes, estudos, esportes... não
importa qual seja o direcionamento. Aqueles que se dedicam
obcecadamente a uma empreitada pessoal, que são capazes de se
retroalimentar sem se questionar, que conseguem progredir sem demanda
de apoio emocional externo, dificilmente, encontram tempo ou motivo
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variáveis sendo imputadas desde o nosso primeiro choro. Nosso senso de
entrega é capaz de movimentar grande parte das trocas que estabelecemos
com nossos pares e, certamente, é fruto de um acúmulo de experiências.
Indivíduos que receberam muito amor, carinho e atenção de seus
pais, amigos e familiares, são compelidos a devolver isso de forma inata.
A bondade parece ser construída, embora o próprio conceito de bom e
mau seja um pouco relativo e mereça mais atenção em outro momento.
Pessoas que identificaram um concreto motivo para a entrega (uma fé,
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O sentido da vida
Responder à pergunta “qual o sentido da vida?” parece ser uma
tarefa um tanto ambiciosa, porém, apesar de não ser algo trivial, é mais
superestimada do que deveria. Talvez aí comece a grande dica para
responder qual o sentido da vida: simplificar é preciso. Muitas vezes
tendemos a nos confundir diante de tarefas que julgamos excessivamente
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antes do “morremos” aqui, mas eu voltarei mais tarde no porquê não incluí
um quarto estágio aqui, isso é de conhecimento geral. Então, o sentido da
vida é simplesmente nascer, crescer, morrer, visto que o sentido contrário
não pode ser realizado (a não ser que você se chame Benjamin Button). O
livro poderia encerrar aqui, mas acho que não teria grande impacto na vida
de quem lê, então vamos adiante na dissecção do tema.
Partindo da premissa que a vida tem apenas um sentido possível
(conceito físico), duas linhas de raciocínio se impõem: 1- não importa
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propósito, uma direção que traga a ele felicidade (vou parar de escrever
aqui felicidade/plenitude/lógica toda hora para não ficar mais enfadonho,
mas já deu para você entender a essa altura que esse trinômio é importante,
depois falo o porquê), ele não questionará sua existência, que é, em última
análise, o que a maioria das pessoas as quais buscam um sentido na vida
fazem. Embora óbvio, não é trivial encontrar um propósito. Encontrar um
norte em mares tempestuosos pode ser uma tarefa difícil e talvez por isso
vejamos tantas pessoas à deriva. A verdade é que somos mais de 7,69
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mundo moderno que se apresenta. Isso, provavelmente, varia
enormemente de indivíduo para indivíduo e dificilmente seria
esquadrinhado sem um estudo comportamental mais profundo, o que não
é o escopo desse texto. O fato é: o que deveria ser simples, está longe de
ser simplório.
Uma vez que identificamos que encontrar um norte e,
consequentemente, um rumo ou direção parece traduzir a busca por um
sentido na vida de grande parte dos seres humanos, não podemos relevar
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fase da vida é crítica para muitos jovens os quais deprimem, não se sentem
realizados nos seus cursos de formação, abandonam repetidamente
instituições de ensino, sempre respaldados, obviamente, por uma cabeça
aberta e livre para pensar, habitualmente não ancorada pelas
responsabilidades de pagar as contas no final do mês. É a mais clara
tradução de que a primeira linha de raciocínio (não importa o sentido da
vida e sim a direção), se deixada livre sem o antagonismo da segunda (o
sentido importa, mesmo que seja inevitável o fim), leva a mais problemas
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que conhecemos, a inatividade é igual à morte, por isso é necessário
manter-se em movimento. Crescer é a pedra angular do nosso caminho,
então o que preenche a resposta e justamente a nossa progressão.
Progresso equivale à felicidade e, para muitos, o simples fato de estar
progredindo em qualquer dos campos de atuação da natureza humana, já
justifica uma vida. Retomando o que tinha deixado em aberto nos
primeiros parágrafos, muitos tendem a incluir o envelhecimento e a
degeneração da máquina corpo humano com uma parte da nossa vida e do
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que você conhece e perceberá que sim, eles tinham uma mente
privilegiada, mas mais do que isso, eles eram trabalhadores incansáveis
que tinham descoberto como se adaptar e produzir o máximo no contexto
que a realidade da época solicitava. Eles encontraram o sentido e a direção
para sua vida. Mentes brilhantes com intelectos talvez ainda mais
proeminentes deram fim à própria vida, precocemente aos montes por
vagarem nesse mundo sem um propósito, até que o fardo de carregar uma
mente brilhante a qual é incapaz de produzir se tornou insustentável.
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Um significado ao sentido
Certamente, a resposta inicial que temos em mente quando nos
perguntamos “qual o sentido da vida?” nada tem a ver com as
propriedades físicas do sentido e da direção, e sim as sinonímias que
seriam “qual o significado”, “qual o propósito” ou “qual o motivo” para a
vida. Aproveitando alguns conceitos dos capítulos anteriores e tentando
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provocados em você por essa pessoa. Quimicamente falando, essas
pessoas permanecem gravadas no nosso córtex e organizadas pelo nosso
hipocampo. Tenha certeza de que aqueles que se foram, vivem enquanto
sua lembrança persistir. De certa forma, que o conceito de morte pode ser
facilmente relativizado enquanto formos “pedações” vivos de terceiros.
Morremos ou simplesmente nos transmutamos?
Essa capacidade de se transformar em algo perpétuo é percebida de
forma mais clara, no entanto, diante de duas realizações: um filho e um
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algo que exceda os limites da própria vida, no entanto, costuma existir
mesmo dentre destes e a forma que, habitualmente, é utilizada para
preencher esse vácuo é a criação de um legado. O legado em si não tem
uma forma, um conteúdo ou mesmo uma característica definida... é
simplesmente algo que impacta de tal forma nossos pares que vale a pena
ser perpetuada. Temos legados históricos que consistem em tradições,
fragmentos de conhecimento ou apenas exemplos de vida. Podemos citar
as Leis de Newton como conhecimento, o pensamento e os códigos de
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vida é só trabalhar/cuidar de casa/cuidar dos filhos” não são frases
incomuns em pessoas que pararam de se desafiar.
Somos caçadores e ocupamos o topo da cadeia alimentar. Nosso
telencéfalo desenvolvido nos permitiu controlar os outros animais, o
ambiente e os meios de produção para que nossa vida se tornasse,
progressivamente, mais fácil. Ao mesmo tempo que fomos desenhados
evolutivamente, fomos propagados para sobrevivência e, como tal, para
reserva e economia de energia. A praticidade, a comodidade e o conforto
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que o “dá sentido à vida” é seu legado, seus filhos, sua constante busca
por aprimoramento ou todos esses motivos juntos (para os multitarefas),
mas existe ainda um grupo muito importante que responderá: “o que
motiva a viver são os outros. Fazê-los felizes, ajudá-los, cooperar... esse é
o meu propósito”. Bom, somos animais sociais, nos organizamos e
buscamos progresso por meio da formação de sociedades. Aprendemos
pelas civilizações que juntos somos mais fortes, pelo simples fato de que
cada um de nós carrega um pacote de predicados. Cooperando,
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devolvido. A pessoa que recebe, jamais poderá retribuir (porque não pode
ou não sabe quem a ajudou).
O altruísmo, no entanto, não é isento de retorno. Na verdade, muitas
vezes, o retorno proporcionado por uma atitude altruística é muito maior
do que qualquer retribuição de favor que a pessoa poderia lhe oferecer,
sendo o motivo simples: o retorno de uma atitude altruística é de dentro
pra fora, nunca de fora pra dentro. Nosso cérebro se encharca de
neuromediadores que reforçam sentimentos e comportamentos positivos,
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Quanto mais presente foi o amor e a bondade dos responsáveis pela
formação do indivíduo, mais o altruísmo se torna presente, um motivo
para viver. Pessoas que foram frutos de lares violentos ou negligentes
precisam nesse ponto, justamente, usar seu passado como exemplo...
exemplo do que não querem levar adiante. Fazer pelo outro dá significado
à vida, uma vez que nossa vida invariavelmente foi produto, em maior ou
menor escala, de pessoas que fizeram por nós. Mesmo que não haja o
perpetuar ou o crescer envolvidos, o devolver já parece ser motivo
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O que é felicidade?
Todas as vezes que pensamos em uma vida com significado pelo
prisma do observador, pensamos simplesmente em uma vida que esteja
envolvida, ou protagonizando uma sequência de eventos que seja
relevante para si mesma, ou para o seu entorno. No entanto, quando
aplicamos essa dúvida à nossa própria vida, ter um sentido na vida não se
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passamos uma vida inteira buscando é uma descarga de energia aplicada
no ponto certo.
Obviamente, isso é a última tradução de um sentimento, ou seja,
algo abstrato que apenas se sente, mas não é palpável, que reflete nossa
resposta diante do mundo. Captamos continuamente informação sobre o
meio externo e sobre nós mesmos, analisando e traduzindo essa entrada
por um filtro que seria nossa própria ótica dos eventos. Daí, percebem-se
três coisas: as moléculas envolvidas, onde elas atuam e o filtro aplicado
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podemos de certa forma analisar os conceitos elementares e abstratos de
bom e mau ou bondade e maldade.
Conceituar o que é bom ou mau, ou o que um sinal de bondade e
maldade pode ser, é bastante complexo no âmbito filosófico, mas vamos
nos ater a uma tradução disso no que diz respeito ao ser humano e à sua
biologia. Partindo do pressuposto que nosso primeiro e mais elementar
princípio é o de geração e preservação da vida, tudo aquilo que preserva
ou gera vida é bom (bondade). Tudo aquilo que degenera ou destrói a vida
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comprometimento na sua capacidade de produzir essas moléculas e,
consequentemente, tornam-se mais distantes de uma resposta de
felicidade. O mais gritante exemplo que temos é a depressão, uma doença
que afeta bioquimicamente o cérebro e, dessa forma, compromete
totalmente o funcionamento das respostas afetivas do indivíduo ao meio
externo e a si mesmo.
Indivíduos portadores de depressão grave não são simplesmente
pessoas desmotivadas ou infelizes. Sim, a doença culmina com
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baseada nas experiências vividas ao longo da nossa formação como
indivíduos. Comportamentos, situações, hábitos vividos e assimilados
como positivos dentro do lar enquanto criança, trarão respostas
diferenciadas, de pessoa para pessoa, às mesmas atividades do cotidiano
de um adulto. De certa forma, muito do que interpretamos como felicidade
é moldável através da educação, contanto que respeite a premissa
fundamental de que, precisa gerar ou preservar a vida.
Analisando por esse prisma, perceberemos que o processo de
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Certamente, nesse momento é possível se questionar se a tal
gratidão poderia ser gerada mesmo por uma pessoa “ingrata”, ou seja, se
uma pessoa que habitualmente não se sentiria agradecida por algo que
ocorreu a ela poderia criar esse sentimento. Note que, ao usar a expressão
“ingrata”, não quero criar uma conotação pejorativa, mas apenas expressar
o caso de uma pessoa que, diante daquele cenário, não teria um retorno de
gratidão, por sua formação ou mesmo por incapacidade molecular. A
resposta, por incrível que pareça, é sim. Uma pessoa ingrata a determinada
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A utopia da liberdade
É relativamente comum ouvir relatos e aspirações de pessoas que
acreditam que sua felicidade está condicionada à sua vontade, ou melhor,
à realização imediata da sua vontade. “Eu quero juntar muito dinheiro para
me aposentar cedo e fazer o que eu quiser”, “bom mesmo era ser criança,
sem responsabilidades e compromissos”, “eu gostaria de não ter uma
rotina tão puxada”. Essa crença de que, estar livre para agir da forma que
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extremamente restritas. “Quero esse doce, essa bola, esse desenho”,
vontades extremamente simplórias que, paradoxalmente, devolvem a
nível cerebral uma recompensa gigantesca. O fato de encararmos um
mundo de novidades traz uma liberação brutal de estímulos sinápticos.
Por isso, às vezes, é tão difícil para um adulto acompanhar o ritmo de
atividade e de excitação de uma criança pequena. Tudo para eles é novo,
é incrível e é extremamente gratificante.
Ao passo que, acumulamos vivências e elaboramos nosso
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de forma tão restauradora à mente. Muitas vias neurais serão percorridas
pela primeira vez e muito do tempo vivido o será fora do sistema
automático.
Diante disso, é preciso cautela para não se tornar deslumbrado com
as novidades, para não se sentir perdido diante de uma rotina e para não
se tornar um viciado em liberdade. A melhor forma de remediar esse tipo
de “doença da primeira experiência” é justamente, focar no fato de que ela
só acontece uma vez. Se o que se pretende é uma vida com sentido perene
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Afinal, se o desejo demanda percorrer um caminho que não se deseja
trilhar, ele é realmente um desejo ou um capricho?
Esse retorno entre disciplina e liberdade é facilmente identificável
em diversas situações cotidianas. A disciplina de se exercitar de forma
intensa e regular é o que lhe retornará a capacidade de ir aos lugares e
participar dos momentos que deseja com saúde e disposição. A disciplina
de estudar de forma dedicada e concentrada é o que lhe retornará as
ferramentas mentais para chegar aonde deseja. A disciplina de trabalhar
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O poder da lógica
Quando o tema felicidade é abordado, rapidamente construímos na
nossa cabeça uma imagem. Algo imediatamente vem à mente ao
pensarmos em um momento feliz. Essa felicidade é o resultado de uma
sequência de combinações que já abordamos anteriormente, dependentes
de fatores próprios do indivíduo, mas também do ambiente. Ou seja, é um
produto “do que é” pelo “como é analisado”. Apesar de isso abrir uma
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correspondência com o que armazenamos. Essa correspondência poderia
ser chamada de forma arbitrária de harmonia, ou seja, algo que faz sentido,
concorda e tem equilíbrio. Fica claro aqui que, muito do que vemos como
normal ou harmônico depende da nossa formação.
Essa harmonia, de certa forma, poderia até ser colocada em paralelo
com o conceito físico de harmônicos e frequências, tão fundamental para
a música. Aprendemos com um pouco de prática a reconhecer um lá, um
sol ou um dó, sem saber que suas frequências inteiras dobram a cada
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ouvir alguém que não tem ritmo tentar batucar um instrumento de
percussão. Um minuto fará aquilo parecer uma tortura interminável.
A busca por padrões organizados e harmonia está presente em todas
as vias aferentes que possuímos. Identificamos o que é belo através da
identificação de padrões, correspondências e simetrias. A estética busca
isso, em última análise, na harmonia de formas. As formas físicas que
aprendemos, desde as mais elementares formas geométricas até as mais
complexas combinações abstratas, são buscadas e alinhadas. Se uma
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Ao questionarmos o sentido da vida, o poder da lógica se faz
presente. Mesmo indivíduos que possuem um claro objetivo e
direcionamento podem se colocar em xeque diante de cenários
conflitantes. Quando os esforços empregados em qualquer um dos
direcionamentos possíveis de uma vida têm um retorno esperado, a
existência tem lógica. Quando, por outro lado, tudo que se pode fazer
rumo a um determinado objetivo não traz o resultado esperado, ou
simplesmente o resultado não equivale à energia empregada, o foco é
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esses últimos optem por fugir da linha que traçaram, não é incomum se
tornarem insatisfeitos, infelizes e perdidos no caminho.
Mesmo quando “tudo dá errado”, quando parece não haver mais
lógica e sentido na empreitada, porque o esforço empregado não
corresponde ao retorno obtido, é mister ter na cabeça, que por mais que a
conta não feche no curto prazo, a vida não é uma corrida. É um projeto de
longo prazo. A dificuldade, ou impossibilidade momentânea, de um
objetivo, não põe em xeque sua validade, apenas atesta sua grandeza. Não
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Dimensões do crescimento
Diante da perspectiva de que a busca interna pelo perpetuar (filhos,
família, exemplos) e o devolver (entrega, altruísmo, gratidão) costumam
ser buscas inatas, embora possam e devam ser exercitados, resta uma parte
da vida que pode precisar de algum direcionamento para atingir a
plenitude e um significado: o crescer. Na verdade, vemos que a maioria
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sentido para você. Se o seu trabalho representa apenas uma atividade que
te garante sustento, acredito que estar progredindo ou não dentro dele lhe
será pouco relevante.
É muito fácil sentir o impacto que a estagnação é capaz de causar na
nossa cabeça. Pessoas as quais sentem que não estão progredindo em
determinada empreitada, rapidamente ficam desmotivadas, se tornam
questionadoras e tendem a abandonar os projetos. O grande problema é: e
quando esse projeto estagnado é a própria vida como um todo? É
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falamos sobre evolução física, rapidamente, associamos aos progressos
em treinamento físico e atividade desportiva, mas o crescimento aqui
transcende as barreiras dos próprios músculos, ossos e tendões. Cada série
de musculação, cada treino de natação, cada aula de dança, irá impactar
diretamente na saúde emocional e nas capacidades cognitivas do
indivíduo.
Um físico adequadamente treinado garante um corpo apto à vida
cotidiana e essa nossa máquina foi desenhada para se movimentar. De
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pela própria imagem no processo, como a lenda do personagem Narciso,
transformando o que deveria ser apreciação em obsessão.
Algumas vezes, um corpo doente consegue comprometer de forma
tão significativa uma mente que, mesmo diante de claros objetivos
norteadores, o indivíduo pode se sentir incapaz de realizar os próprios
projetos. Embora possa parecer improvável, caso você esteja se sentindo
perdido, a implementação de uma rotina de treinamentos físicos intensa,
planejada e progressiva, pode ajudar muitas coisas a clarearem o seu
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absoluto é: ele não tem as conexões alteradas as quais você acumulou ao
longo da vida, pelo menos não para aquela situação. Os medos, raivas,
angústias e todos os outros sentimentos negativos que estão rondando
determinada sequência de eventos no cérebro de um indivíduo podem
habitar outra área completamente diferente no seu próximo.
Nesse contexto, a expressão “inteligência emocional” torna-se
relevante. Ser inteligente emocionalmente, é justamente saber raciocinar
e pensar ao invés de reagir instintivamente a situações embaraçosas e
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com medo de falar em público, que evitam conflitos ou disputas e que são
travadas por medo da opinião dos seus pares, são exemplos muito comuns
de como o emocional pode comprometer a busca por um sentido na vida.
Nesses casos, às vezes é necessário buscar ajuda, não para saber aonde ir
e sim para aprender a filtrar o que virá pelo caminho.
O terceiro ponto que para muitos acaba sendo o mais importante,
desde a tenra infância é o crescimento intelectual. Digo isso, porque
muitos de nós aprendem a valorizar esse aspecto mais do que os outros.
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bem aplicado para ser construtivo. Isso é o conceito fundamental de
sabedoria, saber aplicar adequadamente o que se sabe. Precisa de alguns
exemplos de conhecimento sendo mal aplicados e prejudicando as outras
áreas? Comecemos com a mais instintiva busca do ser humano e sua
resposta diante dos meios de produção: a obtenção de comida.
Dominamos a produção de alimentos a tal ponto que não precisamos mais
caçar e descobrimos aquilo que vende mais porque ativa os mediadores
químicos do prazer gustativo no cérebro. Ou seja, comida fácil e
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acertar um diagnóstico médico com precisão muito superior aos de
médicos com décadas de experiência. Numa área que não admite erros,
não demorará muito para que várias especialidades médicas sejam
trocadas por algoritmos de reconhecimentos de padrão. Eles também
fazem projetos arquitetônicos, pesquisam jurisprudências jurídicas ou
projetam outros computadores. É matemática simples e probabilidade
aplicada, só que um computador é capaz de “treinar” um bilhão de vezes
em 24 horas, algo que não faríamos numa vida inteira.
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O mundo está rapidamente mudando de direção na sua forma de
produzir e utilizar conhecimento. A maioria das profissões que existe hoje
desaparecerá nos próximos 50 anos, assim como os cortadores e
transportadores de gelo do início do século passado foram substituídos
pela geladeira. A maior rede de hospedagem do mundo hoje não tem um
quarto físico próprio sequer, assim como a maior rede de transporte
urbano não possui um carro. Para aqueles que ainda estão achando que
não existe um caminho que seja próprio para si, tenham certeza de que os
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representação religiosa que guiará aquele determinado nicho a um Deus,
ou inteligência superior, como queira denominar, variará enormemente de
um povo para o outro. A dúvida então é, o que seria a espiritualidade? A
forma mais simples de definir seria: aquilo que não é. A espiritualidade
não tem forma, não tem razão, não tem motivo. Ela simplesmente está lá.
Na maioria do tempo, se você estiver excessivamente ocupado,
dificilmente, dará ouvidos a ela. Quando você perde tudo, no entanto,
escutará seu barulho ensurdecedor.
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seja preciso sofrer um infortúnio. A vida tem o péssimo hábito de quando
não conseguir ensinar pelo amor, ensinar pela dor.
Nesse ponto, talvez, tenha ficado um pouco mais claro como, ou
pelo menos aonde, se deve objetivar obter progresso, mesmo que não
esteja muito definido para aonde se deva caminhar. A grande questão é
que algumas vezes a inércia já se instalou de forma tão enraizada, que
pode ser difícil dar os primeiros passos a fim de retomar o crescimento.
Automaticamente, o cérebro assume, como estratégia inicial de defesa,
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na sua vida, positiva ou negativamente. Tudo poderia e poderá ter um
desfecho melhor, dependendo da sua atuação. Isso te torna uma pessoa
mais resignada. Ao mesmo tempo, esse não é um lema para
autocondenação, mas uma afirmativa que leva ao ponto seguinte.
2- Você SEMPRE pode melhorar!
Não existe situação pela qual você não possa tornar-se melhor. Se
você acha que já chegou onde podia porque fez tudo que conseguia, você
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um item que contemple seu crescimento físico, intelectual, emocional ou
espiritual, refaça. Ele deve estar no topo das suas prioridades. Pelo menos
um deles deve ser exercitado por dia e sua distribuição deve manter a
frequência do exercício das diversas dimensões equilibradas. Lembre-se,
não é perda de tempo, não é lazer, não é irrelevante. É crescimento. Um
dia você olhará para trás e perceberá que o tempo passou. A pergunta é:
constatar isso será bom ou ruim?
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A importância do julgamento
Versamos até agora sobre como o crescimento do ser humano pode
ser parte fundamental da vida e, como os projetos pessoais envolvendo as
diversas dimensões do ser devem ser curados de forma individualizada e
equilibrada. Falamos também sobre a importância de vencer a inércia e
manter-se em movimento, buscando sempre o progresso diário, por menor
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maior a tendência ao isolamento. É um tratamento amargo se proteger do
convívio social, uma vez que fomos construídos em cima da interação
com o próximo.
Essa soma de experiências de convívio social com conhecidos,
amigos e familiares interfere de forma muito significativa na dimensão
emocional de cada um. É, extremamente, frequente detectar, por meio de
uma análise mais profunda, que as pessoas que possuem maior dificuldade
em controlar suas emoções e filtrar os estímulos externos, são justamente
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O grande problema então parece residir em chegar a esse ponto.
Viver medindo suas ações para angariar a aprovação de um terceiro pode
ser extremamente cansativo e limitante. Essa busca por aprovação é
natural, entretanto duas coisas podem criar um cenário patológico e
assustadoramente restrito ao crescimento e desenvolvimento do
indivíduo: a exposição e a fragilidade emocional.
Pessoas que por algum motivo desenvolveram uma vulnerabilidade
emocional ao longo da vida, buscarão desesperadamente pela aprovação
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Primeiro, porque todos nós temos perspectivas de mundo muito
diferentes. Cada um possui uma construção de valores adquirida ao longo
da vida que pode diferir diametralmente, ou seja, o que te faz feliz (que
cria aquele cenário bioquímico, lembra?) pode ser totalmente dissonante
do que o outro aprova. Segundo, porque o medo costuma ser um péssimo
matemático: ele sempre superestima os obstáculos e problemas. O medo
da rejeição pode ser tão importante que mesmo uma crítica positiva, mas
que não atenda ao retorno esperado, pode se tornar uma entrada
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gastam suas vidas trabalhando para adquirir coisas que não precisam,
fingindo ser quem não são, para impressionar pessoas que não
conhecem”. Veja que situação absurda: delegar a função e o poder de juiz
a uma massa de desconhecidos que não se importa imperiosamente com
seu bem ou seu crescimento, uma vez que está apenas buscando
entretenimento.
Nessa era de exposição contínua, em que qualquer coisa pode ser
facilmente registrada por uma câmera amadora, visualizada por milhões
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Escolha com cuidado aqueles que você entrega o poder de juiz. Seu
sentido na vida está no nascer, crescer ou morrer, lembra? Não deixe que
te roubem uma parte disso.
A segunda parte é o “por que não?”. Sempre que alguém quiser te
minar uma iniciativa perguntando o porquê de você tomar aquela atitude,
inverta o ônus da prova. “Por que você vai fazer esse intercâmbio na Índia
de três meses para se aperfeiçoar em Yoga?”, “por que você quer aprender
a tocar piano?”, “por que começar um pós-doutorado?”. Resposta
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O lado negro da força
O último, porém não menos importante aspecto que precisa ser
abordado ao versar sobre o sentido da vida, é justamente a antítese de tudo
aquilo que buscamos na nossa jornada. É a contraparte de todos os
momentos, sentimentos e vivências positivas que acumulamos. É o que
tentamos evitar sem saber, ou melhor, propositalmente ignorando, que não
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forma fria três aspectos do lado negro da força: sua inevitabilidade, seus
ensinamentos e sua superação.
Iniciemos pelo que é evidente e já foi introduzido: sua
inevitabilidade. Caracterizamos como mal ou negativo tudo aquilo que
prejudica a vida ou nos afasta da felicidade. Dois fatos, contudo são
incontestáveis: 1- a partir do momento que a vida se inicia, ela começa a
se esgotar, 2- se fôssemos felizes em tempo integral, dificilmente
entenderíamos ou valorizaríamos a felicidade. Então, se sabemos que a
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acreditamos que a vida, por não ser mais como era antes diante daquele
evento irreversível, jamais poderá voltar a ser boa. Aqui fica um erro
óbvio de análise. A própria vida, per se, já determina um estado de bem.
Estar vivo, independente das condições momentâneas, colocam no seu
cone de luz futura (a projeção adiante de um momento singular, se
movendo na velocidade da luz), uma infinidade de possibilidades. Isso
significa que o futuro é indeterminável e que a vida pode voltar a ser
repleta de felicidade.
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temos a capacidade nem de vislumbrar o aprendizado e, simplesmente não
queremos passar por ela. Nesse contexto, podemos utilizar a parábola do
filho mimado. Toda vez que vemos uma criança com comportamento
arredio, desobediente e sem limites, taxamos ela como uma criança
mimada. Sabemos, ou pelo menos imaginamos, que faltou rigor na sua
educação, nunca sendo sujeita às punições que a transgressão de conduta
deveria ter e que não foi apresentada a bons exemplos para serem
copiados.
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Faça um breve exercício mental e tente se lembrar ou projetar
situações as quais viu alguém ser movido pelo ódio a alguma coisa e a
força canalizada nesse objetivo. Obviamente, é preciso cuidado para que
esse ódio não se torne algo destrutivo, mas o ódio à mediocridade, à
impunidade ou à desigualdade é um importante motor motivador que já
modificou a história da humanidade uma série de vezes. A tristeza, por
sua vez, embora possa se tornar perigosa se instalada cronicamente, ativa
caminhos do nosso cérebro que, habitualmente, não buscamos. Ela pode
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indubitavelmente, será doloroso, mas te levará muito além de onde você
poderia chegar antes.
A segunda analogia é a do rolo compressor. Se um dia tiver a
oportunidade, contemple um rolo compressor compactando asfalto na rua
e você observará algumas coisas interessantes. O rolo compressor, pela
sua própria natureza, tem grande dificuldade de manobrar. Para ele é
muito difícil mudar sua direção, o que de certa forma, é bastante
semelhante à nossa resistência às mudanças que fogem à nossa vontade.
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acabar. Uma semana? Um mês? Um ano? Como é possível tolerar e
sustentar um desconforto que não se sabe quando acaba?
A vida, no entanto, age exatamente assim. Os momentos difíceis não
têm hora certa para acabar e apenas depois de superados entregarão o
“brevê” de merecimento ao vencedor. Durante a dor, os segundos
parecem horas, os dias parecem meses e toda nossa percepção dos fatos
se altera. Apesar de tudo isso, você sempre pode olhar pra dentro e
encontrar forças, olhar para os lados e encontrar os que te amam e, olhar
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Aos que desistiram
Sim, o que eu tinha para falar sobre o sentido da vida se esgotou. No
entanto, existe uma última mensagem a qual eu preciso passar e que se
reserva exclusivamente aos que desistiram de viver. Se você não se
enquadra nesse grupo, eu acredito que não há nada aqui que você já não
saiba. Mas, se você é um deles, deixe eu tentar lhe passar um ou outro
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qual só quem passou pela dor que você passa, tem. Você conhecerá a
sabedoria que só quem enfrentou os conflitos mentais os quais você
enfrenta, possui. Você poderá atingir coisas que só quem passou pelo que
você passa, consegue atingir. Por mais que você não veja como isso que
eu digo é possível, lembre-se: você precisa ter fé. Alguns ensinamentos
são difíceis de entender e são duros de suportar, mas tenha certeza: são os
que mais te fazem crescer. Só que para isso você precisa continuar
caminhando.
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EX UMBRIS AD LUCEM
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