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própria existência
DA VIDA

PIETRO MANNARINO
O SENTIDO

reflexões para pessoas que questionam a

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Copyright © 2019 por Pietro Mannarino

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Todos os direitos reservados.
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quaisquer meios existentes sem autorização expressa, por escrito, do
autor, exceto pelo uso de citações breves em uma resenha do ebook.

O Sentido da Vida
Pietro Mannarino, 2019
Primeira Edição, 2019

Capa e Diagramação: Leonardo Giacon


Revisão: César Fontenelle e Virgínia Martins
Antes de mais nada, algumas observações: Eu não sou filósofo, guru
ou estudioso do pensamento humano. Tampouco escrevo baseado em
anos de pesquisa, vivências ou entrevistas que me tenham trazido a esses
textos. Trago apenas a resposta que encontrei dentro de mim mesmo,
numa espécie de representação de uma busca Socrática para o que move
uma vida. Diante disso, fique totalmente à vontade para ler com ar
questionador... na verdade, eu recomendo, fortemente, que você duvide
de tudo o que lê. Você aprende muito mais quando duvida do que quando

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aceita.
Durante um bom tempo tive dúvidas sobre qual era o sentido da
vida, chegando ao ponto de questionar se havia realmente um propósito
para a minha existência. Tenho plena convicção de que esta reflexão
introspectiva, que leva a uma espécie de autojulgamento, não foi um raio
em céu azul que se sucedeu na minha vida. Acredito que todos, em algum
momento da vida, em maior ou menor escala, questionam seus caminhos,
suas opções, seus propósitos e, em última análise, o sentido da sua vida.
Sinto que nunca estive sozinho em me sentir sozinho.
Hoje em dia, depois de muitas idas e vindas, depois de muitos
acontecimentos fortuitos e algumas fatalidades, consigo sentir dentro de
mim que encontrei um sentido para a minha vida. Vejo, felizmente,
inúmeras pessoas as quais são capazes de relatar o mesmo, porém é muito
difícil para a maioria delas traduzir isso em palavras. É algo que se sente.
Faz você acreditar. Faz você feliz de forma inata. Faz você se sentir pleno.
Faz as coisas terem lógica.
O objetivo das páginas que seguem é tentar auxiliar aqueles que
ainda não encontraram isso dentro de si, refletindo de forma um pouco
mais aprofundada sobre o assunto. Este livro então, não é direcionado para
todos. Tem pouca serventia para aqueles que são felizes, plenos e já
encontraram seu sentido. Para estes, o máximo que descobrirão é um
pouco de como funciona a minha cabeça. Esse livro é sim para os
questionadores, os depressivos, os inconformados, os perdidos e os
revoltados. Tentarei, dentro do possível, usar alguns referenciais que são
familiares a todos os seres humanos para nortear o pensamento, ao mesmo
tempo que evito conceitos pré-estabelecidos e convenções sociais, com o
objetivo de no final tentar responder de forma clara: qual é o sentido da
vida?

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A todos aqueles que me ajudaram a pensar,
me colocando para cima ou para baixo.
A todos aqueles que precisam dessas palavras,
por falta ou excesso de informação.
A todos que são meu todo,
através de Iluminação ou Renascimento.
“Daria tudo que sei pela metade do que ignoro.”
- Descartes, René
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Índice

Por que buscar um sentido? 9

O sentido da vida 15

Um significado ao sentido 22

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O que é felicidade? 29

A utopia da liberdade 35

O poder da lógica 39

Dimensões do crescimento 44

A importância do julgamento 57

O lado negro da força 63

Aos que desistiram 70


Por que buscar um sentido?
Antes de tentar responder de forma objetiva qual o sentido da vida,
é preciso entender o porquê de se fazer essa pergunta. Por que,
simplesmente, não podemos viver de forma aleatória sem nunca, jamais,
em tempo algum, questionar nossos motivos? Por que é extremamente
frequente as pessoas relatarem que estão perdidas, que se sentem

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deslocadas, que não se sentem motivadas ou, simplesmente, que não
conseguem sentir que o que estão fazendo tenha alguma relevância para
si, para os seus ou para a humanidade, numa visão mais grandiloquente?
A questão aqui parece residir numa premissa elementar: o ser
humano é um grande inconformado com limitações e um grande adorador
do infinito. Embora a maioria de nós não tenha noção do que é o infinito
de fato, sequer nos incomodamos em tentar questioná-lo. Usamos,
recorrentemente, ele como se fosse um porto seguro quando desejamos
nos sentir donos da inerente incerteza do que é viver. “Eu te amo para
sempre”. Quem nunca usou ou pelo menos ouviu alguém usar essa frase?
É uma óbvia e escrachada mentira, visto que como princípio elementar
para se amar alguém ou algo para sempre, seria necessário viver para
sempre, o que de cara já é uma premissa que não se sustenta. Nascemos
com uma única certeza, a de que iremos morrer, e, apesar disso, violamos,
cotidianamente, a nossa expectativa de vida, usando expressões que
pressuporiam um tempo infinito. Um outro exemplo às avessas do
primeiro é o famoso “é impossível isso”. Meu caro, se está no cone de luz
futura do momento atual, o que representa uma enormidade quase
incalculável de eventos factíveis, é possível. Pode ser improvável, mas é
possível.

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Para que vocês não achem que sou um antirromântico, devo dizer
que sou um grande admirador e já usei diversas vezes a frase: “eu te amo
para sempre” ao me declarar para minha musa inspiradora. Embora possa
parecer algo incoerente, acredito que nessa situação específica o “para
sempre” compreende toda nossa duração de vida, ou seja, para sempre
enquanto eu estiver vivo. Caso pudesse colocar minha vida em um loop
infinito, eu a amaria para sempre, ou seja, tantas vezes quanto eu vivesse
e, aí sim, a coisa faria sentido.

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Essas recorrentes expressões utilizadas por nós demonstram que, de
forma instintiva, possuímos um desejo inato de exceder as barreiras do
nosso próprio ser. Talvez isso seja decorrente do simples fato de que,
nosso cérebro se desenvolveu a tal ponto ao longo da evolução que nos
permite calcular, apreciar e filosofar sobre dimensões espaciais, temporais
e existenciais que nossa decadente forma física não consegue
acompanhar. Conseguimos armazenar dados sobre milhares de anos de
história da humanidade e fazer projeções sobre o que pode se suceder nas
próximas centenas de anos, sabendo que nós mesmos não estaremos aqui
por mais do que algumas décadas, na média, sete ou oito. Calculamos
forças capazes de deslocar planetas, enquanto dificilmente conseguimos
mobilizar mais do que algumas vezes nosso próprio peso corporal.
Mensuramos distâncias em anos na velocidade da luz (anos-luz), mas
durante toda nossa vida não caminhamos nem metade da distância
percorrida pela luz em um segundo.
Esse descompasso mente-corpo nos coloca de forma escancarada
nossas evidentes limitações físicas. O cérebro quer questionar, entender,
alcançar, enquanto o corpo quer apenas nascer, crescer e morrer. Bom, se
nosso sistema de comando está tão limitado em possibilidades pela
máquina que o carrega, qual o sentido de viver? Se apenas uma parcela
infinitesimal do que se pode vislumbrar, de fato, pode ser atingida, por

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que se importar e gastar energia? Se o para sempre, sempre acaba, qual é
o motivo de continuar indo adiante?
Saindo do âmbito filosófico e indo para a prática, é possível
observar isso acontecendo num dos períodos mais dramáticos de transição
da vida. Embora na infância e na adolescência as mudanças orgânicas e
sociais sejam mais céleres, profundas e, por que não dizer, dramáticas, é
no início da vida adulta que uma boa parte das pessoas começa a
questionar sua existência. Quando as decisões e rumos da vida deixam de

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ser traçados pelos pais ou tutores, e passam a ser responsabilidade do
indivíduo, ele começa a questionar seus caminhos e opções.
Esse leque infinito (olha eu, mais uma vez usando o infinito para
algo que na verdade não é infinito, mas vocês entenderam o ponto) de
possibilidades, faz com que pessoas que não têm um objetivo muito claro
de curto prazo fiquem perdidas. Aliado a isso, nessa situação, temos
indivíduos adultos que, diante de toda a sociedade, são cobrados como
adultos, dentro de si desejam ter prerrogativas de adultos, porém não
possuem experiência diante de diversas questões que a vida irá perguntar,
ainda estão em aquisição das ferramentas profissionais necessárias para
conquistar o que desejam e abandonaram a segurança do seguir (os pais)
para assumirem as incertezas do protagonizar (suas escolhas). É mais do
que natural que os questionamentos apareçam.
Sendo assim, os motivos e momentos que levam alguém a
questionar sua própria vida podem ser os mais diversos possíveis, mas,
habitualmente, confluem para situações as quais se assumiu o
protagonismo da vida sem um claro objetivo de curto prazo à frente,
somadas a uma mente, excessivamente, reflexiva e inconformada. Por
outro lado, uma coisa pode chamar a atenção dos mais questionadores:
por que algumas pessoas nunca passam por isso (ou pelo menos parece

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que não)? Por que para alguns é tão simples viver sem indagar o porquê
ou para que viver? Será que esse questionamento infinito que parece
brotar dentro de alguns (ou muitos) de nós é um defeito ou um erro inato
de funcionamento?
Ao analisarmos de perto o comportamento e a mentalidade de
pessoas as quais parecem não precisar se preocupar com um significado
ulterior para a própria vida, alguns padrões parecem se repetir. Um deles
é o da sobrevivência, o outro o do egocentrismo e, por último, o da

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entrega. Existem indivíduos que estão tão imersos em: 1- sobreviver, 2-
em si mesmos e 3- em se doar que, simplesmente, não têm tempo ou
mesmo interesse em colocar sua vida em perspectiva para questionar seus
propósitos. É necessário aqui fazer uma ressalva: para que não ocorra
nenhum mal-entendido. Sobrevivência, egocentrismo ou doação extrema
não carregam nenhuma conotação negativa. São apenas as melhores
palavras que encontrei para tentar pontuar três padrões de comportamento
os quais vou tentar descrever.
Quando analisamos pelo prisma da sobrevivência, existem diversas
situações que podem ilustrar o fato: Indivíduos passando por zonas de
guerra, privação extrema de alimentos ou de saneamento básico e até os
extremos casos de pessoas que passaram por campos de concentração e
tortura são os exemplos mais claros (vide a biografia do psiquiatra e
escritor Viktor Frankl). Nessas situações extremas, pessoas ordinárias são
capazes de simplesmente ativar um modo de sobrevivência extraordinário
e relevar todas as perguntas sobre o porquê de continuar lutando em
condições tão desumanas. Isso expressa um dos nossos instintos mais
primitivos, que é o de preservação da própria vida, e é capaz de entregar
um propósito a ela, mesmo que esse propósito seja tão rudimentar. A bem
da verdade, quanto mais simples for o propósito, mais concreto ele parecer

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ser. Aqueles que tem um “porquê” são capazes de sustentar quase
qualquer “como”.
No segundo caso, vemos os indivíduos que colocam em primeiro e
inabalável plano suas escolhas. Trabalho, artes, estudos, esportes... não
importa qual seja o direcionamento. Aqueles que se dedicam
obcecadamente a uma empreitada pessoal, que são capazes de se
retroalimentar sem se questionar, que conseguem progredir sem demanda
de apoio emocional externo, dificilmente, encontram tempo ou motivo

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para questionar para onde ou por quê estão indo. Eles simplesmente vão
porque seguir esse caminho é gratificante, é lógico e, acima de tudo,
preenche uma segunda demanda natural do ser humano que é progredir.
Para atingir esse nível de confiança em si mesmo, ao ponto de eliminar as
próprias dúvidas, é necessário um pouco (ou muito) de egocentrismo. A
imagem de si mesmo é cultivada de tal forma que isso é feito em
detrimento do julgamento dessa imagem. Eliminada a autocrítica (não
completamente, mas pelo menos a parcela mais contundente que poderia
ferir a própria razão de existir), cria-se um automatismo produtivo que
remove de forma importante a dúvida.
Por último, mas não menos importante, a entrega. Ao analisar
pessoas, presencialmente, ou à distância, chama a atenção como esse
parece ser o padrão que mais se repete, desses três. Desde o dia em que
nascemos, recebemos sem ter como retribuir. Esse processo de entrega
parece se alicerçar na nossa construção social como algo que compõe
nossa natureza. De fato, somos uma espécie social, que se organiza,
coopera e busca o desenvolvimento comunitário, mas o fato é que essa
entrega não se resume a nos entregarmos uns aos outros. Pessoas dedicam
suas vidas de forma abnegada a uma causa, a uma religião ou mesmo a
uma coletividade anônima. O viés, que será próprio de cada indivíduo,
possivelmente, é resultado de uma insolúvel equação matemática, com

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variáveis sendo imputadas desde o nosso primeiro choro. Nosso senso de
entrega é capaz de movimentar grande parte das trocas que estabelecemos
com nossos pares e, certamente, é fruto de um acúmulo de experiências.
Indivíduos que receberam muito amor, carinho e atenção de seus
pais, amigos e familiares, são compelidos a devolver isso de forma inata.
A bondade parece ser construída, embora o próprio conceito de bom e
mau seja um pouco relativo e mereça mais atenção em outro momento.
Pessoas que identificaram um concreto motivo para a entrega (uma fé,

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uma pessoa, uma ideia), dificilmente colocam em xeque sua vida. No
momento em que a sua vida excede os limites da própria vida e toca a dos
outros, é praticamente impossível não reconhecer que, o que você faz
justifica a sua existência.

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O sentido da vida
Responder à pergunta “qual o sentido da vida?” parece ser uma
tarefa um tanto ambiciosa, porém, apesar de não ser algo trivial, é mais
superestimada do que deveria. Talvez aí comece a grande dica para
responder qual o sentido da vida: simplificar é preciso. Muitas vezes
tendemos a nos confundir diante de tarefas que julgamos excessivamente

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grandes, complexas ou difíceis, criando obstáculos que não
necessariamente existam. Tomem por exemplo o ato que pratico agora
mesmo: escrever um livro. A imensa maioria das pessoas acredita que
escrever um livro é uma grande conquista, quando, na verdade, se resume
a pegar um papel, caneta ou lápis, ou ainda, nos tempos atuais, um
computador e colocar as mãos à obra. Certamente, no final da empreitada,
se você for alfabetizado, terá um livro nas mãos. Sim, pode ser que ele
seja uma bela bosta de livro, eu admito. O que, de fato, é algo difícil então,
parece ser escrever um BOM livro e não simplesmente “escrever um
livro” e aí começa o freio de mão puxado da maioria: o medo do
julgamento. Isso, no entanto, deixarei para depois.
Retorno à pergunta norteadora “qual o sentido da vida?” simplifica
bastante o raciocínio quando você se atém ao significado elementar das
palavras. Começarei com o significado físico da palavra sentido: uma
propriedade associada a uma direção. Toda direção possui dois sentidos,
portanto. Analisemos, por exemplo, uma direção vertical em relação ao
solo. Existem dois sentidos aí: para cima ou para baixo. Diante disso, fica
não só intuitivo, como também óbvio perceber que perguntar “qual o
sentido da vida?” através do escopo da física, acrescenta pouco ou nada...
pelo menos numa análise superficial. Todos nascemos, crescemos e
morremos. Alguns acrescentariam o “envelhecemos” ou o “degeneramos”

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antes do “morremos” aqui, mas eu voltarei mais tarde no porquê não incluí
um quarto estágio aqui, isso é de conhecimento geral. Então, o sentido da
vida é simplesmente nascer, crescer, morrer, visto que o sentido contrário
não pode ser realizado (a não ser que você se chame Benjamin Button). O
livro poderia encerrar aqui, mas acho que não teria grande impacto na vida
de quem lê, então vamos adiante na dissecção do tema.
Partindo da premissa que a vida tem apenas um sentido possível
(conceito físico), duas linhas de raciocínio se impõem: 1- não importa

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exatamente o sentido da vida e sim a direção (conceito físico) que damos
a ela ou 2- sim, importa o sentido, mesmo que ele caminhe num fluxo
inevitável que leve a morte. Começando com a primeira linha de
raciocínio, é preciso destrinchar esse conceito de direção da vida e como
ele repercutirá na felicidade, na plenitude, e, por que não, na lógica de
uma existência, afinal estamos buscando até agora qual o sentido da vida,
sem em nenhum momento tocar no motivo pelo qual estamos buscando o
sentido que foi abordado no primeiro capítulo. Sendo assim, a direção
assumida por uma vida seria, basicamente, para onde ela se encaminha;
para quais esforços iremos canalizar a energia vital que move esse
complexo agrupado de moléculas de carbono que nos constitui. Uma
direção na vida, ou como diriam nossas avós: um rumo (“toma rumo nessa
vida, meu filho!”) seria a atividade-fim que destinamos àquela vida.
Algumas pessoas dedicam suas vidas ao trabalho, à família, a uma crença,
etc. Se analisando pela premissa de que não importa o sentido (visto que
ele é um só) e, sim, a direção da vida esse rumo escolhido trouxer
felicidade, ou plenitude, ou lógica àquele indivíduo, teremos rapidamente
encontrado o tal sentido da vida.
Na verdade, pensando friamente, é bastante óbvio. Se o indivíduo é
capaz de ter como referência norteadora das suas ações, talvez não todas,
mas, sim para onde a maioria delas confluem e convergem, um rumo, um

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propósito, uma direção que traga a ele felicidade (vou parar de escrever
aqui felicidade/plenitude/lógica toda hora para não ficar mais enfadonho,
mas já deu para você entender a essa altura que esse trinômio é importante,
depois falo o porquê), ele não questionará sua existência, que é, em última
análise, o que a maioria das pessoas as quais buscam um sentido na vida
fazem. Embora óbvio, não é trivial encontrar um propósito. Encontrar um
norte em mares tempestuosos pode ser uma tarefa difícil e talvez por isso
vejamos tantas pessoas à deriva. A verdade é que somos mais de 7,69

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bilhões de indivíduos criados (de acordo com o pai dos burros, Google,
quando o livro estava sendo escrito), treinados, educados e doutrinados
por sistemas que atendem à maioria. Isso é ótimo, pois atende a muitos...
pelo menos em termos. Ótimo no seu significado literal “que existe de
melhor, demasiadamente bom, excelente” não é e a razão é simples.
Utilizemos de uma matemática elementar.
Se o sistema atende de forma, estatisticamente, significante a
educação do ser humano, temos pela estatística usada na imensa maioria
de trabalhos nas ciências da saúde, um sistema com erro alfa menor que
0,05. Em português claro, é um sistema que acerta mais de 95% das vezes,
ou seja, erra 384.000.000 (384 milhões) de vezes na população atual,
aproximadamente. Isso representaria o terceiro maior país do mundo,
composto por “erráticos”. A bem da verdade, se você chegou até aqui, é
bem possível que já tenha questionado sua própria existência em algum
momento. Em casos de desespero extremo, ideações e ações relacionadas
a autoextermínio podem ocorrer. Isso representava, em 2015 (OMS), um
quantitativo de 800.000 mortes/ano por suicídio, o que equivale a uma
morte a cada quarenta segundos, ou se preferir um outro referencial, um
óbito a cada paragrafo que você lê. O motivo exato que tem levado as
pessoas a não se identificarem com um propósito de vida, podem ser
falhas na formação e inadequação biológica, psíquica ou emocional ao

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mundo moderno que se apresenta. Isso, provavelmente, varia
enormemente de indivíduo para indivíduo e dificilmente seria
esquadrinhado sem um estudo comportamental mais profundo, o que não
é o escopo desse texto. O fato é: o que deveria ser simples, está longe de
ser simplório.
Uma vez que identificamos que encontrar um norte e,
consequentemente, um rumo ou direção parece traduzir a busca por um
sentido na vida de grande parte dos seres humanos, não podemos relevar

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o fato de que, não somos todos iguais. Na verdade, somos muito
diferentes, mas devido à nossa natureza social, tentamos agir igual. Mais
de 90% de nós agem copiando e assimilando o comportamento da maioria,
enquanto apenas um grupo mais restrito tende a atuar de forma
“inovadora” (para não usar o termo autêntico, o que denotaria que
assimilar comportamentos alheios não seria autêntico). Bom, se somos na
nossa imensa maioria “copiadores” de comportamento, isso significa que,
de certa forma, a realização da maioria não passa necessariamente por um
caminho, totalmente, feito sob medida para si. Nossa capacidade de
adaptação é tão grande que sim, ter um direcionamento na vida, o qual nos
traga plenitude é significativo na busca por uma razão para deitar e
despertar todos os dias, mas não, não é o único determinante para atingir
uma vida com significado.
Essa ideia de que, “eu preciso encontrar o meu caminho” (direção),
“algo que seja próprio para mim” é muito característico nos jovens que
ainda estão direcionando sua formação acadêmica diante de um universo
de possibilidades que se abre, sem no entanto ter o compromisso
financeiro de precisar arcar com suas responsabilidades e escolhas de
forma imediata. Ter muitas escolhas e poucas cobranças imediatas para
tais escolhas, cria um revés de hipervalorizar o caminho e direção a seguir,
sem valorizar, adequadamente, o sentido e a finalidade do seguir. Essa

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fase da vida é crítica para muitos jovens os quais deprimem, não se sentem
realizados nos seus cursos de formação, abandonam repetidamente
instituições de ensino, sempre respaldados, obviamente, por uma cabeça
aberta e livre para pensar, habitualmente não ancorada pelas
responsabilidades de pagar as contas no final do mês. É a mais clara
tradução de que a primeira linha de raciocínio (não importa o sentido da
vida e sim a direção), se deixada livre sem o antagonismo da segunda (o
sentido importa, mesmo que seja inevitável o fim), leva a mais problemas

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do que soluções, por isso precisamos olhar de perto agora, o que essa
segunda nos ensina.
Valorizar o sentido da vida, mesmo que ele seja inevitável e
caminhe para a morte, explica de certa forma o porquê de tantos de nós,
por natureza, copiadores, se satisfazerem com um caminho não
necessariamente autêntico. De forma muito clara, porque a imensa
maioria das pessoas se sente bem sem necessariamente inventar a roda,
seguindo ocupações mundanas clássicas que se repetem bilhões de vezes
ao longo da nossa história. Aqui, é preciso abrir em dois pontos
elementares que de certa forma são sinérgicos: 1- o ser humano precisa
crescer e 2- o ser humano precisa sentir que cresceu. Lembra de que lá
atrás eu entabulei que o sentido (conceito físico) da vida era apenas nascer,
crescer e morrer, mas que isso traria pouca relevância se analisado
superficialmente? Pois bem, aí encontra-se o problema das análises
superficiais... elas deixam passar as coisas mais importantes.
Vejamos pela ótica agora não da direção da vida, e sim do sentido
dela. Se tudo se resume a nascer, crescer e morrer, onde fica nossa busca
no sentido? Nascer e morrer foge totalmente ao nosso controle. É
inevitável e nossas únicas certezas: se aqui estamos, passamos por um e
chegaremos inevitavelmente no outro. Sobrou para responder à pergunta
qual o sentido da vida, o meio: o crescer. Em todos os níveis da biologia

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que conhecemos, a inatividade é igual à morte, por isso é necessário
manter-se em movimento. Crescer é a pedra angular do nosso caminho,
então o que preenche a resposta e justamente a nossa progressão.
Progresso equivale à felicidade e, para muitos, o simples fato de estar
progredindo em qualquer dos campos de atuação da natureza humana, já
justifica uma vida. Retomando o que tinha deixado em aberto nos
primeiros parágrafos, muitos tendem a incluir o envelhecimento e a
degeneração da máquina corpo humano com uma parte da nossa vida e do

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sentido que seguimos. De fato, faz parte a regressão das nossas
capacidades fisiológicas no processo de envelhecimento, afinal, estamos
aqui com um propósito primitivo simples que é a procriação e perpetuação
da espécie. É incontestável, porém o fato de que, o envelhecimento e o
acúmulo de experiências e saber que levam ao que convencionamos
chamar de sabedoria (a boa aplicação do conhecimento), é também uma
forma de crescimento. O crescimento não é apenas literal e físico, mas se
expande às nossas dimensões intelectuais, espirituais e também
emocionais.
Dessa forma, quando estamos diante de indivíduos “copiadores”
que aprenderam a seguir o sentido da sua vida sempre fomentando ou
buscando crescimento contínuo, costumamos nos deparar com pessoas
felizes. Quando encontramos indivíduos “inovadores” que acharam sua
direção, seja num caminho totalmente novo ou quem sabe num caminho
ortodoxo, mas que pareça feito sob medida a ele, vemos pessoas plenas.
E nos raros casos que encontramos pessoas na direção que parece própria
para seus padrões mentais, psíquicos e emocionais, continuamente
motivadas a evoluir dentro daquele caminho, a essas convencionamos
chamar de gênios.
Genialidade diz muito mais sobre a capacidade de adaptação do que
sobre a capacidade de inovação. Pense rapidamente em todos os gênios

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que você conhece e perceberá que sim, eles tinham uma mente
privilegiada, mas mais do que isso, eles eram trabalhadores incansáveis
que tinham descoberto como se adaptar e produzir o máximo no contexto
que a realidade da época solicitava. Eles encontraram o sentido e a direção
para sua vida. Mentes brilhantes com intelectos talvez ainda mais
proeminentes deram fim à própria vida, precocemente aos montes por
vagarem nesse mundo sem um propósito, até que o fardo de carregar uma
mente brilhante a qual é incapaz de produzir se tornou insustentável.

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Um significado ao sentido
Certamente, a resposta inicial que temos em mente quando nos
perguntamos “qual o sentido da vida?” nada tem a ver com as
propriedades físicas do sentido e da direção, e sim as sinonímias que
seriam “qual o significado”, “qual o propósito” ou “qual o motivo” para a
vida. Aproveitando alguns conceitos dos capítulos anteriores e tentando

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ao máximo evitar tropeçar em convenções pré-estabelecidas, vou
destrinchar o assunto em três pontos que se relacionam com a sequência
biológica elementar de uma vida (nascer, crescer e morrer). Por questões
didáticas, irei no caminho contrário à ordem natural das coisas.
O primeiro ponto seria relacionado ao morrer. Como já previamente
mencionado, o ser humano é inconformado por natureza com a morte.
Nosso instinto de sobrevivência parece ser tão grande que nos obnubila o
fato de que, a morte é nossa única certeza. Estamos sempre tentando viver
mais, buscando prolongar nossa jornada terrena e vivenciar o máximo de
experiências possíveis. Isso se reflete num ponto que dá significado à boa
parte das pessoas: se perpetuar. A partir do momento que nossa vida
excede os limites físicos do nosso corpo e passa a ser refletida em outras
vidas, nosso limite temporal de existência é violado e passamos a
transformar o conceito abstrato de infinito em algo concreto.
A cada momento que vivemos, a cada ação e reação que
provocamos ao nosso redor, estamos excedendo nossos limites físicos e
de certa forma nos tornamos infinitos. Transferimos nossa energia a coisas
e pessoas, sem perceber que esse impacto, por menor e mais discreto que
seja, irá perdurar após a nossa morte. Pense na lembrança de um amigo
ou familiar importante que já faleceu. É bem provável que você seja capaz
de se lembrar de fatos, vozes, cheiros e até sentimentos que foram

22
provocados em você por essa pessoa. Quimicamente falando, essas
pessoas permanecem gravadas no nosso córtex e organizadas pelo nosso
hipocampo. Tenha certeza de que aqueles que se foram, vivem enquanto
sua lembrança persistir. De certa forma, que o conceito de morte pode ser
facilmente relativizado enquanto formos “pedações” vivos de terceiros.
Morremos ou simplesmente nos transmutamos?
Essa capacidade de se transformar em algo perpétuo é percebida de
forma mais clara, no entanto, diante de duas realizações: um filho e um

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legado. Se questionarmos uma população numerosa formada por pais e
mães “qual o sentido da sua vida?”, teremos um percentual significativo
ou quase unânime de resposta: “meus filhos”. Isso ganha ainda mais
expressividade em famílias nas quais o concepto foi fruto de amor e
planejamento. A perpetuação da espécie é tão importante no nosso código
genético quanto nossa própria sobrevivência e isso fica muito evidente
diante do nascimento de uma criança. Somos frutos de milhares de anos
de evolução da espécie que foi se aprimorando cada vez mais no ato de
sobreviver e reproduzir. Muitas de nossas escolhas são feitas de forma
instintiva com esse objetivo como nossos hábitos, nossas respostas ao
ambiente e nossos parceiros. Pai e mãe sofrem profundas mudanças em
termos de comportamento, costumes e prioridades num curto espaço de
tempo e, ao nascer, aquele bebê traduz a resposta para uma série de
perguntas. De certa forma, um indivíduo feito cinquenta por cento à nossa
imagem e semelhança é o mais próximo que conseguimos da eternidade.
Por outro lado, existe uma parcela significativa de indivíduos que,
por inúmeros motivos, optam por não ter filhos. Para esses, ou sua vida
não preenche as demandas que eles criaram como condições fundamentais
para procriação, ou simplesmente o desejo inato de se reproduzir não se
expressa. Vemos esses indivíduos felizes simplesmente em seguir sua
vida atendendo às demandas e expectativas que ela cria. A demanda de

23
algo que exceda os limites da própria vida, no entanto, costuma existir
mesmo dentre destes e a forma que, habitualmente, é utilizada para
preencher esse vácuo é a criação de um legado. O legado em si não tem
uma forma, um conteúdo ou mesmo uma característica definida... é
simplesmente algo que impacta de tal forma nossos pares que vale a pena
ser perpetuada. Temos legados históricos que consistem em tradições,
fragmentos de conhecimento ou apenas exemplos de vida. Podemos citar
as Leis de Newton como conhecimento, o pensamento e os códigos de

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conduta Confucionista ou o exemplo de vida de Jesus Cristo (não vou
entrar no mérito da sua divindade ou não). De fato, mesmo sem
necessariamente uma replicação genética por nenhum desses elementos,
sua vida habita entre todos os que são até hoje impactadas pela sua obra.
Algumas ideias são tão fortes que se tornam imortais.
No segundo ponto, podemos analisar o crescer. Nossa vida toda
consiste de experimentação, descobertas, armazenamento e produção de
conhecimento. Seguimos desde o momento em que nascemos fazendo
experimentos sem perceber, seguindo as bases do pensamento científico
moderno e renovando conceitos, sempre tentando melhorar algum aspecto
da nossa vida. Esse processo de aprimoramento contínuo é,
extremamente, importante para o nosso sistema nervoso central, uma vez
que, grande parte do nosso sistema molecular está relacionado a cumprir
tarefas e vencer desafios. É gratificante aprender a tocar uma música nova
no violão, assim como levantar um peso recorde no agachamento ou
concluir um desafio matemático. Esse ciclo de progredir, desafiar, superar
e progredir dá significado a muitas vidas. Pessoas que simplesmente se
comprometem a cumprir tarefas cíclicas e repetitivas como ir trabalhar,
cuidar da casa ou educar filhos, sem um enfoque renovável em
autoaprimoramento, costumam ter a sensação de estar estagnados. “Minha

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vida é só trabalhar/cuidar de casa/cuidar dos filhos” não são frases
incomuns em pessoas que pararam de se desafiar.
Somos caçadores e ocupamos o topo da cadeia alimentar. Nosso
telencéfalo desenvolvido nos permitiu controlar os outros animais, o
ambiente e os meios de produção para que nossa vida se tornasse,
progressivamente, mais fácil. Ao mesmo tempo que fomos desenhados
evolutivamente, fomos propagados para sobrevivência e, como tal, para
reserva e economia de energia. A praticidade, a comodidade e o conforto

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nos agradam, pois ali nossa sobrevivência está, teoricamente, menos
ameaçada. De fato, é mais garantido sobreviver podendo simplesmente
abrir a porta da geladeira para comer o que foi comprado no supermercado
do que precisando caçar todo dia ao acordar. Ademais, porém nossa mente
e corpo precisam do desafio constante.
Já está mais do que claro, pelas crescentes pandemias de obesidade
e doenças crônico-degenerativas, o que essa comodidade toda (que nos
levou ao sedentarismo) é capaz de fazer contra nossa saúde física. Na
década de 1980, havia zero casos de Diabetes tipo dois em crianças nos
Estados Unidos, enquanto hoje, cerca de trinta anos depois,
contabilizamos dezenas de milhares. Exemplos como esse se multiplicam
aos montes, enquanto a medicina avança, mas assim como nosso corpo
precisa do estímulo e da busca por adaptação, nossa mente também
demanda por algo fora da zona de conforto. É bom estar relaxado, mas
muito tempo de repouso pode levar a problemas. Precisamos ser mais para
não sermos sempre os mesmos, observando nosso tempo se extinguir
inexoravelmente diante dos nossos olhos.
Por último, chegamos ao início. O motivo de ter deixado o nascer
para esse momento se deve a ele ser um dos mais complexos e subjetivos
motivos que dá significado à nossa existência. Sim, muitas pessoas dirão

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que o “dá sentido à vida” é seu legado, seus filhos, sua constante busca
por aprimoramento ou todos esses motivos juntos (para os multitarefas),
mas existe ainda um grupo muito importante que responderá: “o que
motiva a viver são os outros. Fazê-los felizes, ajudá-los, cooperar... esse é
o meu propósito”. Bom, somos animais sociais, nos organizamos e
buscamos progresso por meio da formação de sociedades. Aprendemos
pelas civilizações que juntos somos mais fortes, pelo simples fato de que
cada um de nós carrega um pacote de predicados. Cooperando,

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conseguimos somar nossas valências, melhorando as chances de
sobrevivência do bando.
Até aí, nada excepcional. Só que na atualidade, nossa sobrevivência
não está mais em risco, o que move muitas pessoas a se entregarem pelo
próximo, dificilmente, seria explicado apenas pela vontade de somar
forças. O fato é que, somos capazes de encontrar indivíduos com
disposição de realizar esforços e realizações em prol de terceiros, sendo
que os mesmos seriam incapazes de fazer por si mesmo. São pessoas que
conseguem fazer por alguém, mesmo quando é difícil demais para fazer
por si mesmo. São elementos que fazem por amigos, por familiares ou
até mesmo por desconhecidos, apenas porque fazer o bem pelo outro lhes
faz bem. A isso costumamos denominar altruísmo.
O altruísmo, na sua forma mais pura, não demanda nenhum tipo de
retorno da pessoa que é tocada por ele. Nisso diferenciamos o altruísmo
dos favores feitos de forma desinteressada por pessoas próximas. Esses
favores representam uma importante forma de troca não monetizada da
sociedade, que é pautada na gratidão e no retorno (ex: eu te faço um favor,
você fica grato e se sente em dívida comigo, podendo ou não me retornar
o favor no futuro). Muitos relacionamentos, amizades e parcerias
começam através dessas pequenas trocas de favores, mas o altruísmo em
si se expressa justamente quando o favor não será ou não poderá ser

26
devolvido. A pessoa que recebe, jamais poderá retribuir (porque não pode
ou não sabe quem a ajudou).
O altruísmo, no entanto, não é isento de retorno. Na verdade, muitas
vezes, o retorno proporcionado por uma atitude altruística é muito maior
do que qualquer retribuição de favor que a pessoa poderia lhe oferecer,
sendo o motivo simples: o retorno de uma atitude altruística é de dentro
pra fora, nunca de fora pra dentro. Nosso cérebro se encharca de
neuromediadores que reforçam sentimentos e comportamentos positivos,

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conflitados com nossos parâmetros adquiridos ao longo da vida.
Aprendemos que partilhar com os mais necessitados é algo bom, então
uma doação anônima faz nosso cérebro interpretar que o efetor é uma
pessoa boa. Isso cria uma bola de neve, onde a partir de algum momento
começamos a enxergar a nós mesmos com bons olhos. Eliminamos
dúvidas, críticas e ressentimentos que possuímos sobre nós mesmos,
construindo um reflexo positivo pautado em doação despretensiosa.
Tratamos nossa mente quando cuidamos do outro.
Essa base altruística de entrega abnegada pode ser inerente ao ser
humano, mas certamente é reforçada e construída desde o nosso
nascimento (aí entra o nascer). Desde o primeiro momento em que
tomamos conhecimento nesse mundo, fomos amparados, cuidados e
alimentados por alguém que se doava por nós, sem que jamais
pudéssemos retribuir o carinho, a energia ou o tempo empregado. Muitos
podem não querer se tornar mães e pais, porém, certamente, todos nós, os
quais chegamos a ter a capacidade de ler essas frases, somos frutos de um
pai e uma mãe, biológico e/ou adotivos. Aprendemos com eles o quanto é
possível se construir, o quanto de vida é criável, o quanto o mundo pode
ser impactado através da entrega desinteressada. A isso, convencionamos
chamar de bom ou bondade... aquilo que gera, desenvolve ou preserva a
vida (em outro capítulo versarei sobre isso).

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Quanto mais presente foi o amor e a bondade dos responsáveis pela
formação do indivíduo, mais o altruísmo se torna presente, um motivo
para viver. Pessoas que foram frutos de lares violentos ou negligentes
precisam nesse ponto, justamente, usar seu passado como exemplo...
exemplo do que não querem levar adiante. Fazer pelo outro dá significado
à vida, uma vez que nossa vida invariavelmente foi produto, em maior ou
menor escala, de pessoas que fizeram por nós. Mesmo que não haja o
perpetuar ou o crescer envolvidos, o devolver já parece ser motivo

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suficiente para viver uma vida inteira.

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O que é felicidade?
Todas as vezes que pensamos em uma vida com significado pelo
prisma do observador, pensamos simplesmente em uma vida que esteja
envolvida, ou protagonizando uma sequência de eventos que seja
relevante para si mesma, ou para o seu entorno. No entanto, quando
aplicamos essa dúvida à nossa própria vida, ter um sentido na vida não se

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resume apenas a ter importância. Ser um personagem importante em
qualquer história, carregando dentro de si uma carga insustentável de
sentimentos negativos, representaria uma vida miserável, mesmo que
relevante. Assim, na hora que a busca por um sentido começa,
paralelamente, outra se inicia: a busca pela felicidade.
Como mencionado anteriormente, buscar um sentido na vida
estando na posição de efetor, embora não seja um sinônimo, é
indissociável do buscar por uma vida feliz. Mesmo que essa vida
compreenda grandes níveis de estresse e de sofrimento durante um
período, seja por causas internas ou externas, no final da história
desejamos alcançar uma visão positiva do somatório de todas as nossas
experiências. As grandes questões que se impõem nesse momento são: o
que é felicidade? Por que ela existe? Como ela é construída?
Numa visão biológica e fria, a felicidade é uma molécula. Na
verdade, várias moléculas, como a serotonina ou a dopamina, que
interagindo com seu sistema límbico são capazes de criar essa sensação
de bem-estar, de prazer ou de plenitude que conhecemos tão bem e
buscamos incessantemente. De forma mais apropriada, a felicidade é um
cenário bioquímico favorável. Tais sensações em si, nada mais são do que,
pequeninos estímulos elétricos agindo nos locais certos. Ou seja, o que

29
passamos uma vida inteira buscando é uma descarga de energia aplicada
no ponto certo.
Obviamente, isso é a última tradução de um sentimento, ou seja,
algo abstrato que apenas se sente, mas não é palpável, que reflete nossa
resposta diante do mundo. Captamos continuamente informação sobre o
meio externo e sobre nós mesmos, analisando e traduzindo essa entrada
por um filtro que seria nossa própria ótica dos eventos. Daí, percebem-se
três coisas: as moléculas envolvidas, onde elas atuam e o filtro aplicado

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que traduzirá os eventos da vida nessas moléculas, que são extremamente
importantes para a construção da felicidade. Vou abordar isso mais à
frente.
Um ponto interessante a se pensar nesse momento é: ok, a felicidade
é um fenômeno biológico de resposta, mas por que é necessário um evento
bioquímico para interpretar o mundo e dizer o que nos faz feliz ou não? A
resposta é óbvia. A preservação da “máquina” corpo humano depende
significativamente da nossa capacidade de se autorregular. Esse
mecanismo de controle, por sua vez, se baseia nas informações e análises
feitas sobre nós mesmos e sobre o meio externo para criar uma resposta
adequada a cada estímulo. Temos milhões de exemplos de respostas
fisiológicas de manutenção da homeostasia diante de estímulos externos.
O suor diante de um dia quente, o arrepiar dos pelos no frio e o dilatar da
pupila sob baixa iluminação são alguns deles.
O retorno “felicidade” não foge disso, entrando aí a resposta ao
porquê de ela existir. Precisamos de um estímulo e um motivo para repetir
aquilo que faz bem à nossa máquina. Toda vez que algo é capaz de nos
fazer bem, um organismo sadio responderá com o input “feliz”, que em
última análise nos fará buscar de novo aquela situação. Nesse momento,

30
podemos de certa forma analisar os conceitos elementares e abstratos de
bom e mau ou bondade e maldade.
Conceituar o que é bom ou mau, ou o que um sinal de bondade e
maldade pode ser, é bastante complexo no âmbito filosófico, mas vamos
nos ater a uma tradução disso no que diz respeito ao ser humano e à sua
biologia. Partindo do pressuposto que nosso primeiro e mais elementar
princípio é o de geração e preservação da vida, tudo aquilo que preserva
ou gera vida é bom (bondade). Tudo aquilo que degenera ou destrói a vida

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é mau (maldade). Essa forma de colocar em perspectiva bondade e
maldade foge aos conceitos estabelecidos por convenções sociais próprias
de cada povo, em que algo que pode ser considerado ruim (ou mau) por
determinada sociedade, é normal, bom ou habitual por outra (vide o
exemplo do consumo de carne bovina pelo hinduísmo e por boa parte do
mundo ocidental).
Dessa forma, aquilo que nosso cérebro interpreta como algo bom e
positivo, ou seja, que nos agrega vida, é respondido com pequenas doses
de felicidade. Certamente, as formas para responder a isso são muito
diversas, mas o fato é que podemos observar esse padrão de resposta se
repetir em diversas pessoas diante de estímulos semelhantes, como a
conclusão de um projeto, a aquisição de um bem importante ou o
nascimento de uma criança.
É necessário aqui fazer algumas ressalvas sobre o que foi citado
previamente. As respostas de cada indivíduo que culminam na felicidade
dependem não só de fatores extrínsecos, mas também de fatores
intrínsecos, ou seja, do modus operandi do próprio organismo daquele
indivíduo. Talvez, o mais óbvio dentre os três citados (moléculas, zona de
atuação e filtro) seja o primeiro: as moléculas ou neuromediadores.
Existem pessoas que, por motivos de doença neurológica, possuem um

31
comprometimento na sua capacidade de produzir essas moléculas e,
consequentemente, tornam-se mais distantes de uma resposta de
felicidade. O mais gritante exemplo que temos é a depressão, uma doença
que afeta bioquimicamente o cérebro e, dessa forma, compromete
totalmente o funcionamento das respostas afetivas do indivíduo ao meio
externo e a si mesmo.
Indivíduos portadores de depressão grave não são simplesmente
pessoas desmotivadas ou infelizes. Sim, a doença culmina com

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infelicidade, desmotivação e anedonia (falta de prazer), mas o cerne do
problema encontra-se numa disfunção bioquímica que faz com que o
estímulo efetor, por melhor que seja, jamais chegue a gerar o sentimento
que deveria. Veja o exemplo de mães acometidas por depressão pós-parto
e o nascimento de seu bebê. Apesar de ser um estímulo afetivo poderoso
para a imensa maioria dos indivíduos, naquele cenário, nenhum retorno
positivo é observado. De forma didática, é como tentar passar com um
carro de corrida por cima de um rio sem ponte. Não importa o quão veloz
seja o carro, simplesmente, não há um caminho para ele.
Não é raro observarmos indivíduos depressivos não tratados
questionarem sua existência, pelo simples fato de que o sentimento que
lhes sinaliza autopreservação não está funcionando. A resposta que
reforça que eles deveriam continuar fazendo aquilo que os faz bem, ou
seja, a felicidade, está comprometida. Casos muito graves e arrastados
desse cenário podem culminar com tentativas de suicídio, por completo
desespero (falta de esperança) de que a vida volte a fazer sentido.
Outro ponto importante na geração cerebral da felicidade é a zona
de atuação. O que determina fundamentalmente o que gerará uma resposta
de felicidade é onde os sinalizadores responsáveis irão atuar. Sim, a zona
cerebral é a mesma em todos nós, todavia a construção dessa zona é

32
baseada nas experiências vividas ao longo da nossa formação como
indivíduos. Comportamentos, situações, hábitos vividos e assimilados
como positivos dentro do lar enquanto criança, trarão respostas
diferenciadas, de pessoa para pessoa, às mesmas atividades do cotidiano
de um adulto. De certa forma, muito do que interpretamos como felicidade
é moldável através da educação, contanto que respeite a premissa
fundamental de que, precisa gerar ou preservar a vida.
Analisando por esse prisma, perceberemos que o processo de

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construção do indivíduo é fundamental na sua busca por um sentido na
vida. Se a felicidade que o impulsionará no futuro é, francamente,
influenciada pelas referências externas que tem, a participação da família,
de amigos e de tutores pode atuar positiva ou negativamente na construção
de uma pessoa convicta de sua importância e da beleza da sua existência.
O último ponto a ser percebido nesse contexto é a nossa visão de
mundo. De certa forma, nossa perspectiva sobre o meio externo e sobre
nós mesmos é produto de nossa educação e de nossas vivências, mas,
certamente, pode (e deve) ser aperfeiçoada diariamente. Cada vez se
pesquisa mais sobre como nossos comportamentos podem influenciar
nossas respostas involuntárias. O objeto de estudo que tem recebido cada
vez mais importância recentemente é o poder da gratidão, embora eu
particularmente, tenha tido cada vez mais reservas sobre essa palavra, pela
banalização que tem sofrido. Pessoas gratas tem se revelado, diante das
pesquisas, como pessoas mais felizes. A gratidão ativa os nossos
mecanismos de recompensa, sinalizando ao cérebro a percepção de que
algo bom está acontecendo, liberando dopamina e outras moléculas
envolvidas na gênese do prazer e da felicidade. De forma didática, quando
você é grato, você avisa ao seu cérebro que algo bom está em curso, para
que ele não deixe esse input positivo passar desapercebido. Parece
estranho, mas é verdade.

33
Certamente, nesse momento é possível se questionar se a tal
gratidão poderia ser gerada mesmo por uma pessoa “ingrata”, ou seja, se
uma pessoa que habitualmente não se sentiria agradecida por algo que
ocorreu a ela poderia criar esse sentimento. Note que, ao usar a expressão
“ingrata”, não quero criar uma conotação pejorativa, mas apenas expressar
o caso de uma pessoa que, diante daquele cenário, não teria um retorno de
gratidão, por sua formação ou mesmo por incapacidade molecular. A
resposta, por incrível que pareça, é sim. Uma pessoa ingrata a determinada

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situação pode exibir gratidão (real), assim como uma pessoa amedrontada
pode exibir coragem ou uma pessoa insegura pode se tornar confiante.
A neurociência já nos evidenciou de que o cérebro (logo ele), pode
ser “enganado” por nós. Determinadas atitudes e posturas podem fazer seu
cérebro de fato, acreditar que você está sentindo o que está reproduzindo
e atuando, mesmo que não esteja. Por exemplo, pessoas inseguras e
amedrontadas em determinadas situações, ao levantar a cabeça, impor o
peito, abrir os braços e inclinar o tronco à frente, começam a responder de
forma mais confiante. A gratidão também caminha por essa trilha. Aja de
forma agradecida diante de situações que não te provocam em nada um
sentimento de gratidão e observe o que acontecerá.

34
A utopia da liberdade
É relativamente comum ouvir relatos e aspirações de pessoas que
acreditam que sua felicidade está condicionada à sua vontade, ou melhor,
à realização imediata da sua vontade. “Eu quero juntar muito dinheiro para
me aposentar cedo e fazer o que eu quiser”, “bom mesmo era ser criança,
sem responsabilidades e compromissos”, “eu gostaria de não ter uma
rotina tão puxada”. Essa crença de que, estar livre para agir da forma que

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bem entender está inerentemente associado a uma felicidade e a um estado
de realização pessoal, é uma das utopias mais perigosas que existem, por
uma série de motivos. Primeiro, porque faz o indivíduo repudiar seu atual
cenário e apenas vislumbrar a felicidade em algo que não está ao seu
alcance. Segundo, por desconsiderar o fato de que, o amor platônico só é
ideal até o momento em que se concretiza. Por último, ignora, pois,
infantilmente que não existe nada mais limitante e restritivo do que uma
vontade não modulada. Inclusive, a esses ímpetos de vontade que fogem
ao nosso controle, costumamos chamar de vícios.
Essa necessidade de atender as demandas sem filtro pode ser
causada por uma série de motivos, desde uma falha educacional de
construção de valores, uma característica de personalidade
excessivamente hedonista, ou mesmo uma situação singular durante a
vida em que tantas restrições são impostas, que o indivíduo passa a
antagonizar o cenário demandando por prazer imediato. “Nada do que está
acontecendo está sob meu controle. Eu preciso de satisfação. Meu
objetivo é fugir de todo esse controle.”
De certa forma, transitamos ao longo da vida entre situações pelas
quais podem criar esse descompasso. Na infância, tudo que queremos a
curtíssimo prazo é possível, pois nossas perspectivas de desejo são

35
extremamente restritas. “Quero esse doce, essa bola, esse desenho”,
vontades extremamente simplórias que, paradoxalmente, devolvem a
nível cerebral uma recompensa gigantesca. O fato de encararmos um
mundo de novidades traz uma liberação brutal de estímulos sinápticos.
Por isso, às vezes, é tão difícil para um adulto acompanhar o ritmo de
atividade e de excitação de uma criança pequena. Tudo para eles é novo,
é incrível e é extremamente gratificante.
Ao passo que, acumulamos vivências e elaboramos nosso

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raciocínio, duas coisas se potencializam, o que dificulta ainda mais, esse
rush de neurotransmissores. Primeiro, nossos desejos e metas podem
alcançar níveis de elaboração excessivamente complexos e,
consequentemente, difíceis de alcançar. Isso significa tempo, trabalho e
empenho para ascender, possivelmente, acompanhados de algumas
frustrações com as falhas inerentes ao processo. Por outro lado, os desejos
triviais e as experiências cotidianas já percorreram tantas vezes as
respectivas redes neurais, que a consequente sensação de recompensa ao
atingir o dado objetivo passa a ser muito atenuada. Fazendo um paralelo
simples, é como usar uma droga em determinada dose (ex: álcool ou
morfina) pela primeira ou pela centésima vez. Certamente, os efeitos do
primeiro consumo são muito mais pronunciados.
Outro ponto bastante significativo nessa busca por experiências
novas é a questão do automatismo. Sabemos que mais de 90% de nossas
ações do dia a dia são coordenadas de forma automática pelo cérebro.
Numa matemática simples, em um dia normal pelo qual passamos 18
horas acordados, de fato, estamos operantes no não-automático pouco
mais de uma hora e meia. Isso faz com que nossas memórias de um
período de férias, por exemplo, para lugares diferentes e experiências
novas, sejam tão marcantes. E, que relacionamentos com pessoas novas
sejam tão intensos. Como também, mudanças de hábitos sejam encaradas

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de forma tão restauradora à mente. Muitas vias neurais serão percorridas
pela primeira vez e muito do tempo vivido o será fora do sistema
automático.
Diante disso, é preciso cautela para não se tornar deslumbrado com
as novidades, para não se sentir perdido diante de uma rotina e para não
se tornar um viciado em liberdade. A melhor forma de remediar esse tipo
de “doença da primeira experiência” é justamente, focar no fato de que ela
só acontece uma vez. Se o que se pretende é uma vida com sentido perene

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e uma liberdade duradoura, viver em função de atender desejos
rapidamente se torna um cárcere.
Muitas considerações poderiam ser feitas sobre o porquê de se viver,
não apenas para atender desejos ou percorrer o caminho, mas talvez a mais
pertinente delas é que, na maior parte do tempo, nós não sabemos o que
efetivamente queremos. Somos tão limitados em nossa capacidade
cognitiva, que desconhecemos o limite da própria ignorância. Nesse
ponto, como diria o filósofo Nietzsche, escravidão é liberdade.
Obviamente, quando ele se refere à escravidão, não é à escravidão feudal
que vem à mente, mas de forma mais apropriada ao que é traduzido nas
palavras do poeta Renato Russo, disciplina é liberdade.
Essa escravidão-disciplina muda de tutor ao longo da vida. Na
infância, são nossos pais. Na vida adulta, nós mesmos. Ser escravo de si
mesmo significa reconhecer que suas atitudes são de total
responsabilidade sua, o que significa que as consequências delas também
o serão. Reconhecer que a disciplina é o caminho para a liberdade
significa identificar que, ao passo que nossos desejos se tornam
complexos e ilimitados, o caminho para alcançá-los demandará abnegação
e entrega. Significa aceitar que o processo é parte do produto. Significa
entender que não basta desejar o destino, mas é preciso querer a viagem.

37
Afinal, se o desejo demanda percorrer um caminho que não se deseja
trilhar, ele é realmente um desejo ou um capricho?
Esse retorno entre disciplina e liberdade é facilmente identificável
em diversas situações cotidianas. A disciplina de se exercitar de forma
intensa e regular é o que lhe retornará a capacidade de ir aos lugares e
participar dos momentos que deseja com saúde e disposição. A disciplina
de estudar de forma dedicada e concentrada é o que lhe retornará as
ferramentas mentais para chegar aonde deseja. A disciplina de trabalhar

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de forma constante e dedicada é o que lhe retornará proventos cada vez
maiores, que lhe permitirá adquirir o que desejar. Abrir mão de desejos
imediatos em função de disciplina é a melhor forma de abrir mão do
menor número possível de coisas.
Nessa hora, passa a ser importante prestar atenção no valor real das
coisas. Se analisarmos friamente, tudo na vida é comprado com a única
moeda que realmente temos: o tempo. Quanto custa uma viagem, um
carro, uma casa? Milhares de dólares? Não. Na verdade, custam o tempo
que você precisará entregar da sua vida para conseguir pagar, em dinheiro,
o que deseja. Aprender sobre o valor de algo é proporcional ao tempo
aplicado e, é uma das melhores formas de não se deixar levar por desejos
imediatos de consumo. Aprender sobre o tempo empregado em disciplina
é o melhor investimento que existe, é a melhor maneira de se concentrar
no que, realmente, é importante.

38
O poder da lógica
Quando o tema felicidade é abordado, rapidamente construímos na
nossa cabeça uma imagem. Algo imediatamente vem à mente ao
pensarmos em um momento feliz. Essa felicidade é o resultado de uma
sequência de combinações que já abordamos anteriormente, dependentes
de fatores próprios do indivíduo, mas também do ambiente. Ou seja, é um
produto “do que é” pelo “como é analisado”. Apesar de isso abrir uma

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gama infinita (vamos nós ao infinito de novo) de possibilidades pautados
pela premissa biológica de preservação da vida, existe um fator quase
matemático que precisa ser atendido na criação dessa resposta: a
harmonia.
Numa análise fria, nosso cérebro difere muito pouco de um
computador (ou um computador difere muito pouco do nosso cérebro, se
quisermos inverter o referencial), no sentido de que ambos trabalham com
uma sequência e um somatório de estímulos digitais (tudo ou nada). Os
potenciais de ação neuronais são transmitidos e armazenados,
influenciando pouco a pouco a estrutura cerebral e garantindo
aprimoramento da máquina nas atividades que constantemente nos
exercitamos. Quanto mais fazemos algo, mais fácil fica a realização.
Como diria o filósofo, “a excelência é um hábito”.
Assim como nossas vias aferentes e eferentes são treináveis, nosso
exercício de identificação de padrões se inicia ao chegarmos a esse
mundo. Analisamos tudo, imagens, sons, aromas, gostos,
relacionamentos, sempre buscando criar no nosso banco de dados um
padrão normal, ou seja, pela definição estatística, aquele que compõe a
maior parte da distribuição, para o que nos envolve. Uma vez
estabelecidos esses padrões, passamos a buscar identificação ou

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correspondência com o que armazenamos. Essa correspondência poderia
ser chamada de forma arbitrária de harmonia, ou seja, algo que faz sentido,
concorda e tem equilíbrio. Fica claro aqui que, muito do que vemos como
normal ou harmônico depende da nossa formação.
Essa harmonia, de certa forma, poderia até ser colocada em paralelo
com o conceito físico de harmônicos e frequências, tão fundamental para
a música. Aprendemos com um pouco de prática a reconhecer um lá, um
sol ou um dó, sem saber que suas frequências inteiras dobram a cada

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oitava que aumenta. Ou seja, não importa conhecer o porquê de fazer
sentido, mas é agradável quando tem. Esse conceito de ser agradável (aos
olhos, aos ouvidos, ao paladar...) irá pautar muito da nossa busca por
experiências na vida.
Tomemos, por exemplo, já que começamos por ela, a música.
Talvez a música seja uma das artes mais desenvolvidas e popularizadas
na história da humanidade, principalmente, por conta de suas praticidade
e facilidade de difusão. Muitos vivem com uma trilha sonora
correspondente armazenada para cada momento da sua vida, o que faz
com que, além de agradável ao cérebro, a frequência de disparos elétricos
provocadas pelo centro responsável pela audição, ainda entre em
ressonância com as outras partes do seu cérebro.
A música, no entanto, não é uma sequência de sons qualquer, é uma
sequência organizada de sons. Tem lógica. Tanto tem lógica, que seu
próprio cérebro é capaz de prever as próximas partes baseadas nos padrões
anteriores, por isso é tão fácil decorar músicas. Muitas pessoas são
capazes de lembrar uma música inteira ouvindo apenas seus primeiros três
ou quatro acordes. Essa previsibilidade e sequência ordenada são algo que
buscamos, assim como evitamos a desorganização. Um exemplo disso é

40
ouvir alguém que não tem ritmo tentar batucar um instrumento de
percussão. Um minuto fará aquilo parecer uma tortura interminável.
A busca por padrões organizados e harmonia está presente em todas
as vias aferentes que possuímos. Identificamos o que é belo através da
identificação de padrões, correspondências e simetrias. A estética busca
isso, em última análise, na harmonia de formas. As formas físicas que
aprendemos, desde as mais elementares formas geométricas até as mais
complexas combinações abstratas, são buscadas e alinhadas. Se uma

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organização é vislumbrada, é belo. Mesmo as mais abstratas obras de arte
podem ser conflitadas por semelhança ou antagonismo aos padrões visuais
conhecidos. Os paladares seguem o mesmo padrão com a organização dos
sabores e texturas propostas nos pratos. A coisa é tão clara que existe uma
área grande da gastronomia reservada exclusivamente à harmonização de
vinhos.
Nos relacionamentos e na vida, de uma forma geral, buscamos essa
harmonia por meio de sistemas bem mais complexos. Costuma-se dizer
que os opostos se atraem quando se trata de relações interpessoais, no
entanto essa frase não parece ser totalmente verdadeira. Pessoas se
aproximam por afinidades e por identificação de padrões de
comportamento que lhes são agradáveis. Estes padrões de comportamento
foram construídos ao longo de toda uma vida e podem ou não ser opostos
àqueles exibidos pelo próprio. De uma forma geral, sim, é interessante e
frequente num relacionamento que as pessoas envolvidas tenham
características complementares em uma série de áreas de pensamento e de
atuação. Porém, a maioria dos relacionamentos duradouros se estabelece
entre pessoas as quais foram atraídas por interesses comuns e se mantêm
entre aqueles que tem princípios, prioridades e motivações parecidas. É
impossível andar de mãos dadas quando cada um quer caminhar em uma
direção.

41
Ao questionarmos o sentido da vida, o poder da lógica se faz
presente. Mesmo indivíduos que possuem um claro objetivo e
direcionamento podem se colocar em xeque diante de cenários
conflitantes. Quando os esforços empregados em qualquer um dos
direcionamentos possíveis de uma vida têm um retorno esperado, a
existência tem lógica. Quando, por outro lado, tudo que se pode fazer
rumo a um determinado objetivo não traz o resultado esperado, ou
simplesmente o resultado não equivale à energia empregada, o foco é

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perturbado. É o famoso “tudo está dando errado”. Nessa hora, surge um
perigoso conceito chamado “plano B”, o qual muitas vezes pode
atrapalhar mais do que ajudar.
O “plano B” é utilizado como um jargão para representar uma
alternativa quando o plano principal não dá certo. A grande questão aqui
é que, embora a maioria das pessoas sintam-se confortavelmente
amparada por saber que existe uma alternativa, muitas vezes o
planejamento que dá sentido à vida não admite alternativas. Sim, existem
muitas pessoas capazes de viver confortavelmente com uma gama ampla
de opções que lhes é agradável e lhes fazem felizes. Para essas, muitos
caminhos têm lógica e muitas alternativas são possíveis como justificativa
para aplicar sua vida.
Porém, existe um reservado grupo de pessoas cujas exigências e
padrões sobre seus objetivos e sobre si mesmos são tão altos que fugir do
foco principal representa falhar totalmente. Não acredito que isso seja
necessariamente bom ou ruim, é apenas uma idiossincrasia e, como tal,
não pode ser ignorada. Esses indivíduos ficam tão obsessivos pela própria
visão de terem encontrado um objetivo que, por mais difícil que seja, estão
dispostos a tudo por ele, e precisam ter em mente o seguinte: não existe
“plano B”. Na verdade, o “plano B” é fazer o “plano A” dar certo. Caso

42
esses últimos optem por fugir da linha que traçaram, não é incomum se
tornarem insatisfeitos, infelizes e perdidos no caminho.
Mesmo quando “tudo dá errado”, quando parece não haver mais
lógica e sentido na empreitada, porque o esforço empregado não
corresponde ao retorno obtido, é mister ter na cabeça, que por mais que a
conta não feche no curto prazo, a vida não é uma corrida. É um projeto de
longo prazo. A dificuldade, ou impossibilidade momentânea, de um
objetivo, não põe em xeque sua validade, apenas atesta sua grandeza. Não

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existe impossível que resista à força do tempo e do trabalho.

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Dimensões do crescimento
Diante da perspectiva de que a busca interna pelo perpetuar (filhos,
família, exemplos) e o devolver (entrega, altruísmo, gratidão) costumam
ser buscas inatas, embora possam e devam ser exercitados, resta uma parte
da vida que pode precisar de algum direcionamento para atingir a
plenitude e um significado: o crescer. Na verdade, vemos que a maioria

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das pessoas que se sentem perdidas e buscando um sentido, estão
justamente andando em círculos nesse ponto.
O fato de sabermos que um dia nascemos e que um dia morreremos
nos dá a turva impressão de que apenas o meio do caminho é de fato nosso,
ou está sob nosso controle, e que se essa parte da jornada não fizer sentido,
nada o fará. Como conversado anteriormente, isso não é totalmente
verdade, uma vez que, nosso antes e nosso depois estão interligados à
nossa essência e à nossa forma de interação com o meio, mas sem dúvida
o crescer merece uma atenção especial.
Já usei esse jargão previamente, mas irei repetir pela relevância
sobre essa parte do tema atual: progresso equivale à felicidade e, embora
a felicidade possa ser considerada apenas um cenário bioquímico, é
inegável que é o cenário bioquímico para o qual nossos impulsos elétricos
neuronais tentam convergir. Logo, vivemos uma busca constante por
progresso e, habitualmente, ele nos retorna à sensação de que estamos no
caminho certo.
Antes que alguém pense: “ahhh, mas eu estou progredindo no
trabalho e minha vida continua miserável”, quando eu menciono
progresso me refiro ao progresso enquanto pessoa. O progresso no
trabalho para sua natureza é importante? Provavelmente. Na verdade,
provavelmente, SE o seu trabalho representar algo que é importante e tem

44
sentido para você. Se o seu trabalho representa apenas uma atividade que
te garante sustento, acredito que estar progredindo ou não dentro dele lhe
será pouco relevante.
É muito fácil sentir o impacto que a estagnação é capaz de causar na
nossa cabeça. Pessoas as quais sentem que não estão progredindo em
determinada empreitada, rapidamente ficam desmotivadas, se tornam
questionadoras e tendem a abandonar os projetos. O grande problema é: e
quando esse projeto estagnado é a própria vida como um todo? É

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necessário manter-se em movimento, mesmo que, às vezes, não esteja
muito clara a direção a seguir. Em todos os níveis da biologia já estudados,
a inatividade equivale à morte. Psicologicamente falando, ficar inativo é
igualmente perigoso.
Diante disso, e não vou focar nas infinitas sub-/-ramificações em
que o desenvolvimento humano pode seguir, precisamos ter clareza sobre
quais alicerces o crescimento do indivíduo se fundamenta para canalizar
nossos esforços, visando desenvolver todas as áreas de forma equilibrada.
Como na física e na matemática, a dimensão de um corpo é definida como
o número mínimo de coordenadas necessárias para especificar um ponto
dentro dela. Em termos de individualidade da pessoa, basicamente,
podemos dividir nossa essência em quatro áreas, ou dimensões,
elementares: física, emocional, mental e espiritual. Idealmente, nenhuma
delas deve ficar inerte e investir exclusivamente, em uma em detrimento
das outras, costuma ser gênese de muitos problemas.
Começando pelo mais elementar, talvez por ser o mais concreto, o
crescimento físico. Seu corpo é sua morada até o final da sua vida. É
preciso cuidar bem dele. A ciência e sua subdivisão conhecida como
medicina baseada em evidências não param de nos trazer informações que
atestam: é preciso ter um corpo são para ter uma mente sã. Quando

45
falamos sobre evolução física, rapidamente, associamos aos progressos
em treinamento físico e atividade desportiva, mas o crescimento aqui
transcende as barreiras dos próprios músculos, ossos e tendões. Cada série
de musculação, cada treino de natação, cada aula de dança, irá impactar
diretamente na saúde emocional e nas capacidades cognitivas do
indivíduo.
Um físico adequadamente treinado garante um corpo apto à vida
cotidiana e essa nossa máquina foi desenhada para se movimentar. De

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forma didática, o corpo é o seu meio de transporte a todos os lugares que
pretende ir física, emocional ou, intelectualmente, falando. Pessoas
regularmente treinadas apresentam uma melhora funcional em todas as
suas funções fisiológicas elementares e nosso cérebro rapidamente
identifica que essas atividades devem ser recompensadas e estimuladas.
As provas mais evidentes que temos disso são: a sensação de bem-estar e
a melhora de humor promovida pelas endorfinas e serotonina após uma
sessão de treino cardiovascular extenuante. A paradoxal, porém
agradável, dor muscular tardia após uma sessão de treino de musculação
intensa. A viciante sensação de necessidade de continuar se exercitando,
uma vez implementada uma rotina de exercícios. Tudo isso é o cérebro
dizendo “isso nos faz bem... quero mais”.
É muito popular hoje em dia a prática de exercícios voltada para a
promoção da saúde e do bem-estar, bem como para os objetivos estéticos.
Essa busca por um ideal de formas corporais, quando feita de forma
equilibrada, costuma proporcionar grande bem-estar psíquico, refletido
pela autoestima, uma vez que o cérebro passa a ter visualmente o corpo
como algo harmônico e funcional. Quando, no entanto, a busca por um
ideal se torna uma obsessão pelo inatingível, vemos pessoas doentes
apresentando transtornos dismórficos e alterações de humor e de
qualidade de vida. Diante disso, é preciso cuidado para não se apaixonar

46
pela própria imagem no processo, como a lenda do personagem Narciso,
transformando o que deveria ser apreciação em obsessão.
Algumas vezes, um corpo doente consegue comprometer de forma
tão significativa uma mente que, mesmo diante de claros objetivos
norteadores, o indivíduo pode se sentir incapaz de realizar os próprios
projetos. Embora possa parecer improvável, caso você esteja se sentindo
perdido, a implementação de uma rotina de treinamentos físicos intensa,
planejada e progressiva, pode ajudar muitas coisas a clarearem o seu

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horizonte. As explicações fisiológicas pormenorizadas para isso não são
triviais e fogem ao escopo do livro, mas você pode ter certeza de que são
incontestáveis. Para chegar aonde você pretende, mesmo que não saiba
aonde é, você precisa preparar seu corpo para a jornada.
A segunda área a qual merece atenção no processo de crescimento
é o emocional. Talvez essa seja a área mais difícil e complexa para
analisar, mas de forma simplificada, o trabalho aqui é voltado para saber
administrar e controlar suas respostas ao entorno. Emoções são um
combinado multifatorial de todas as experiências que você viveu, tudo
aquilo que você pensou e analisou a respeito e como isso se sedimentou
na sua cabeça. Ao longo da vida, milhares, milhões (ou bilhões) de
vivências precisaram ser filtradas para que pudessem receber uma
resposta adequada para cada uma delas. Então, o treinamento emocional
reside em fazer com que uma determinada sequência de impulsos elétricos
a qual chegue ao seu cérebro seja respondida com uma outra sequência
controlada, e não com um curto circuito no sistema todo.
É muito mais fácil falar do que, efetivamente, conseguir atingir um
controle emocional diante de determinadas situações. Na verdade, o
motivo pelo qual um terceiro consegue analisar e orientar cuidadosamente
uma situação que muitas vezes, em você está causando um transtorno

47
absoluto é: ele não tem as conexões alteradas as quais você acumulou ao
longo da vida, pelo menos não para aquela situação. Os medos, raivas,
angústias e todos os outros sentimentos negativos que estão rondando
determinada sequência de eventos no cérebro de um indivíduo podem
habitar outra área completamente diferente no seu próximo.
Nesse contexto, a expressão “inteligência emocional” torna-se
relevante. Ser inteligente emocionalmente, é justamente saber raciocinar
e pensar ao invés de reagir instintivamente a situações embaraçosas e

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delicadas. Esse tipo de inteligência demanda exercício e, nesse caso, a
palavra exercício não poderia ser mais bem aplicada. É necessário
repetição, análise, repetição, organização, repetição, planejamento e mais
repetição, em cima de tudo aquilo que numa situação de estresse poderia
fugir do controle.
Às vezes, ficamos tão embotados e tão obtusos diante de cenários
traumáticos que nossas respostas são sempre as mesmas. Não importa
quantas vezes revisitemos àquele cenário, mesmo fora de conflito nossa
resposta é sempre igual, pois não é uma resposta, é uma reação. Isso
acontece nos relacionamentos interpessoais entre pais e filhos, homens e
mulheres, chefes e subordinados. Nesse caso, utilizar a análise de um
terceiro o qual não possui os nossos vícios emocionais é uma ferramenta
importante. Seja por um profissional treinado numa sessão de terapia ou
por aconselhamento com uma pessoa mais experiente que já passou por
situações semelhantes, a vivência ou treinamento do próximo é capaz de
abrir caminhos que não conseguiríamos sozinhos.
Reiteradamente, pessoas com uma clara definição de para onde
devem caminhar na vida encontram-se sem rumo por não saberem como
reagir a determinadas situações e, como enfrentar determinadas pessoas
que precisam ser confrontadas para alcançar seus objetivos. Indivíduos

48
com medo de falar em público, que evitam conflitos ou disputas e que são
travadas por medo da opinião dos seus pares, são exemplos muito comuns
de como o emocional pode comprometer a busca por um sentido na vida.
Nesses casos, às vezes é necessário buscar ajuda, não para saber aonde ir
e sim para aprender a filtrar o que virá pelo caminho.
O terceiro ponto que para muitos acaba sendo o mais importante,
desde a tenra infância é o crescimento intelectual. Digo isso, porque
muitos de nós aprendem a valorizar esse aspecto mais do que os outros.

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Desde o dia que nascemos, é o único que recebeu um projeto já preparado
pelos nossos progenitores e pela sociedade. Pense bem!. Quase todos
nascem e em pouco tempo aprendem sobre precisar ingressar numa
creche, depois escola e talvez cursar uma faculdade. Mas, quase ninguém
ao longo da vida recebeu um planejamento de longo prazo para
crescimento físico, emocional e espiritual.
Diante disso, não vou me ater longamente à óbvia importância que
o crescimento intelectual tem sobre nossas vidas, mas sim, ao que,
possivelmente, precisaremos nos preparar em breve. Sim, o conhecimento
humano é fundamental para sobrevivência da espécie e para garantir
melhores condições de vida para todos nós. Isso recebeu especial atenção
nos últimos milênios de civilização por registro de informações, análise
de fenômenos e pesquisa científica. Conseguimos com isso agregar e
analisar um número enorme de dados, os quais nos trouxe a mais recente
revolução tecnológica que aconteceu no final do século passado. Com o
desenvolvimento e a popularização dos computadores, ulteriormente
interligados pela internet. A partir daí, a informação passou a não ter mais
limites e o físico começou rapidamente a declinar diante do virtual.
Tudo isso seria ótimo, afinal quanto mais conhecimento melhor,
certo? Errado. Errado pelo simples fato de que conhecimento precisa ser

49
bem aplicado para ser construtivo. Isso é o conceito fundamental de
sabedoria, saber aplicar adequadamente o que se sabe. Precisa de alguns
exemplos de conhecimento sendo mal aplicados e prejudicando as outras
áreas? Comecemos com a mais instintiva busca do ser humano e sua
resposta diante dos meios de produção: a obtenção de comida.
Dominamos a produção de alimentos a tal ponto que não precisamos mais
caçar e descobrimos aquilo que vende mais porque ativa os mediadores
químicos do prazer gustativo no cérebro. Ou seja, comida fácil e

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extremamente saborosa... saborosa ao ponto de se tornar viciante.
Resultado: pandemia de obesidade e de doenças crônico-degenerativas.
Outro exemplo, em outra área? conseguimos fazer a informação se
propagar com tanta facilidade que se tornou mais fácil se comunicar com
pessoas queridas, ou mesmo desconhecidos, à distância do que
pessoalmente. Bioquimicamente, uma curtida ou um comentário elogioso
vazio são capazes de nos criar uma sensação de bem-estar súbito, porém
etéreo e volátil. Interagimos com milhares, mas não conhecemos mais
ninguém. Criamos um exército de pessoas que gastam suas vidas
trabalhando para adquirir coisas das quais não precisam, fingindo ser
quem não são, para impressionar pessoas as quais não conhecem. Ao
mesmo tempo que nunca estivemos tão conectados, o número de pessoas
que se isolam deprimidas e com transtornos de humor não para de
aumentar.
Dessa forma, é preciso analisar com cuidado a forma como estamos
construindo e, principalmente, utilizando o conhecimento. Em muito
pouco tempo, nossa necessidade de pensar e raciocinar será facilmente
suprida pela inteligência de um computador. Eles fazem isso de forma
algorítmica muito melhor que nós. Se você acredita que não, saiba que
isso já começou a acontecer de forma rudimentar na primeira vez que você
usou uma calculadora. Hoje em dia, já existem computadores capazes de

50
acertar um diagnóstico médico com precisão muito superior aos de
médicos com décadas de experiência. Numa área que não admite erros,
não demorará muito para que várias especialidades médicas sejam
trocadas por algoritmos de reconhecimentos de padrão. Eles também
fazem projetos arquitetônicos, pesquisam jurisprudências jurídicas ou
projetam outros computadores. É matemática simples e probabilidade
aplicada, só que um computador é capaz de “treinar” um bilhão de vezes
em 24 horas, algo que não faríamos numa vida inteira.

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Embora possa parecer uma visão pessimista sobre o futuro do
conhecimento e do desenvolvimento das máquinas, isso não é
inteiramente verdade. Usar um computador para “racionar” ou calcular
problemas extremamente complexos não é necessariamente bom ou ruim.
É apenas uma ferramenta. O problema reside em fazer com que a
ferramenta facilitadora nos torne doentes e incapazes, como foi o caso da
comida, o qual tentamos, desesperadamente, reverter até hoje.
Além disso, eu não acredito absolutamente que a construção de
conhecimento e desenvolvimento intelectual poderia ser avançada de
forma indefinida por uma máquina que trabalha com algoritmos e, aí fica
o que me parece a chave para o desenvolvimento intelectual do futuro.
Nossa capacidade de improvisar, corrigir e superar jamais poderá ser
pareada e é em cima dela que as próximas gerações devem se exercitar.
Em breve, mais importante do que decorar dados será a capacidade de
intuir, abstrair e criar. Mais importante do que raciocinar rapidamente,
será a capacidade de identificar os erros abstratos do raciocínio e, como
corrigir os processos indutivos. Mais importante do que redigir relatórios,
será a capacidade de fazer, de forma inesperada, aquilo que estava além
da nossa capacidade presumida.

51
O mundo está rapidamente mudando de direção na sua forma de
produzir e utilizar conhecimento. A maioria das profissões que existe hoje
desaparecerá nos próximos 50 anos, assim como os cortadores e
transportadores de gelo do início do século passado foram substituídos
pela geladeira. A maior rede de hospedagem do mundo hoje não tem um
quarto físico próprio sequer, assim como a maior rede de transporte
urbano não possui um carro. Para aqueles que ainda estão achando que
não existe um caminho que seja próprio para si, tenham certeza de que os

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caminhos estão apenas começando a se abrir. Precisamos parar de tentar
pensar fora da caixa e perceber que não há caixa.
A quarta e última área que merece atenção no processo de
crescimento seria a espiritualidade. Aqui é importante deixar algo claro.
Quando eu falei sobre crescimento intelectual, disse que era a única área
para a qual já nascíamos recebendo um projeto de desenvolvimento.
Algumas pessoas podem contestar, pensando que em algumas famílias
isso acontece também com a religião, mas é preciso ficar claro um detalhe:
Religião é uma garrafa com um rótulo. Espiritualidade é o conteúdo.
De certa forma, a maior parte das religiões conhecidas pregam
pontos semelhantes nos seus fundamentos, como compaixão, caridade e
tolerância. Todas elas, se bem conduzidas, garantem um grande exercício
de introspecção, meditação e, em última análise, espiritualidade. Na
verdade, analisando friamente, as religiões tendem a exaltar aquilo que,
intuitivamente, o ser humano entende como bom, nos preceitos de bom e
mau os quais vimos alguns capítulos atrás. Preservar a vida do próprio e
do próximo torna-se um ponto elementar e que descarta todo o supérfluo
o qual pode obnubilar a visão.
Há milhares de religiões diferentes espalhadas pelo mundo. É óbvio
e elementar que, diante do histórico cultural de cada sociedade, a

52
representação religiosa que guiará aquele determinado nicho a um Deus,
ou inteligência superior, como queira denominar, variará enormemente de
um povo para o outro. A dúvida então é, o que seria a espiritualidade? A
forma mais simples de definir seria: aquilo que não é. A espiritualidade
não tem forma, não tem razão, não tem motivo. Ela simplesmente está lá.
Na maioria do tempo, se você estiver excessivamente ocupado,
dificilmente, dará ouvidos a ela. Quando você perde tudo, no entanto,
escutará seu barulho ensurdecedor.

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A espiritualidade se baseia no princípio da crença no que não se
prova, não se vê e não se toca, mas, certamente, se sente, ao que
convencionamos chamar de fé. Afinal, se fosse comprovável, não seria fé,
seria ciência. Dessa forma, o exercício da espiritualidade, de certa forma,
é um exercício de abandono. É a prática de valorizar o que é pequeno e
simples em detrimento do que é grande e elaborado. É o entendimento de
que a maior força está em ceder e não em dominar. É a busca de um
decréscimo e não de um acréscimo diário. Por isso, deixei ela por último,
depois de todas as outras áreas. Enquanto nosso crescimento físico,
emocional e mental significa sempre a busca do mais (mais forte, mais
rápido, mais sensato, mais controlado, mais sábio, mais inteligente), o
crescimento espiritual é o exercício do menos. É o negativo que equilibra
todo o seu contraponto positivo, pois não precisa dele, mas também não o
repele.
Não é incomum que pessoas que se sentem realizadas física, mental
e emocionalmente venham a deixar a espiritualidade em segundo plano,
por já se sentirem completas. Infelizmente, para estes, o contato com a
espiritualidade costuma vir pela primeira vez após um trauma grande, em
que ela surge como resposta para a seguinte questão: o que eu sou quando
eu não sou nada? É importante para aqueles que estão buscando um
caminho tentarem iniciar essa busca através desse pensamento, sem que

53
seja preciso sofrer um infortúnio. A vida tem o péssimo hábito de quando
não conseguir ensinar pelo amor, ensinar pela dor.
Nesse ponto, talvez, tenha ficado um pouco mais claro como, ou
pelo menos aonde, se deve objetivar obter progresso, mesmo que não
esteja muito definido para aonde se deva caminhar. A grande questão é
que algumas vezes a inércia já se instalou de forma tão enraizada, que
pode ser difícil dar os primeiros passos a fim de retomar o crescimento.
Automaticamente, o cérebro assume, como estratégia inicial de defesa,

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atribuir culpa e responsabilidade pelo fracasso na empreitada a fatores
extrínsecos (terceiros, conformações ambientais, erros inatos do
organismo...). “Eu não consegui porque não tinha tempo (o tempo
costuma ser o principal álibi utilizado para justificar o fracasso) / não tinha
dinheiro / não tinha quem me ajudasse / não sou forte ou alto suficiente
para tal esporte / não tenho dom para música”. As desculpas são as mais
variadas possíveis e, certamente, você já ouviu algumas delas, se é que
você mesmo não as usou.
Apesar de que, terceirizar a responsabilidade possa parecer uma
estratégia palatável para atenuar o sentimento de culpa, tal recurso é
extremamente perigoso. Na hora em que você atribui a terceiros ou ao seu
entorno a responsabilidade pelos eventos que se sucedem na sua vida,
você entregou as rédeas do seu destino. Autopiedade é o 8º pecado capital,
acredite. Sendo assim, eu preciso lhe dizer três coisas que talvez sirvam
como empurrão para você voltar a andar e agir como protagonista da sua
vida.
1- É SEMPRE culpa sua!
Tudo que acontece com você é responsabilidade sua. Sim, é
verdade. É impossível controlar tudo que acontece a você, mas é
perfeitamente possível controlar sua reação a qualquer evento que interfira

54
na sua vida, positiva ou negativamente. Tudo poderia e poderá ter um
desfecho melhor, dependendo da sua atuação. Isso te torna uma pessoa
mais resignada. Ao mesmo tempo, esse não é um lema para
autocondenação, mas uma afirmativa que leva ao ponto seguinte.
2- Você SEMPRE pode melhorar!
Não existe situação pela qual você não possa tornar-se melhor. Se
você acha que já chegou onde podia porque fez tudo que conseguia, você

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está errado. Se você acha que é bom o suficiente e já atingiu seus limites,
você também está errado. A perfeição não é um objetivo... é uma meta
utópica que te leva infinitamente para frente, pois nunca se alcança. Se já
tentou de tudo e fez o máximo que sua capacidade te permite, existe uma
forma de ir além que nos leva ao próximo item.
3- Você NUNCA está sozinho!
Se for difícil demais para você, faça por alguém. Na hora que você
concentra seus esforços de forma limitada ao autoaperfeiçoamento, você
se restringe a você, um universo finito. Na hora que você busca o objetivo
em alguém ou por alguém, você se torna ilimitado. Falamos anteriormente
sobre isso. Nosso nascer e nosso morrer estão inteiramente ligados aos
nossos pares, nosso crescer não seria diferente. Pessoas podem servir
como motor das diversas formas: te ajudando, te motivando ou te
desafiando. Por incrível que pareça, até aquelas pessoas que tentam te
afundar têm importância fundamental na sua vida. Não subestime a força
do medo, do ódio e da revolta. Impérios inteiros já foram construídos em
cima deles. Aprenda a juntar as brasas e fazer uma fogueira. Está na hora
de voltar a andar.
Faça diariamente uma lista de prioridades e obrigações a serem
cumpridas para atingir seus objetivos. Se nessa lista não estiver ao menos,

55
um item que contemple seu crescimento físico, intelectual, emocional ou
espiritual, refaça. Ele deve estar no topo das suas prioridades. Pelo menos
um deles deve ser exercitado por dia e sua distribuição deve manter a
frequência do exercício das diversas dimensões equilibradas. Lembre-se,
não é perda de tempo, não é lazer, não é irrelevante. É crescimento. Um
dia você olhará para trás e perceberá que o tempo passou. A pergunta é:
constatar isso será bom ou ruim?

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A importância do julgamento
Versamos até agora sobre como o crescimento do ser humano pode
ser parte fundamental da vida e, como os projetos pessoais envolvendo as
diversas dimensões do ser devem ser curados de forma individualizada e
equilibrada. Falamos também sobre a importância de vencer a inércia e
manter-se em movimento, buscando sempre o progresso diário, por menor

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que seja. Agora, é importante abordar de forma específica um ponto que
pode servir como âncora para o progresso de muitos indivíduos,
justamente, por darem grande valor aos seus pares: o medo do julgamento.
Sabidamente, o homem é um animal social e nossa vida toda se
estrutura em função da interação com nossos semelhantes. Tal
organização visa a cooperação para atingir progresso e objetivos comuns.
Nos aproveitamos de qualidades, habilidades e interesses específicos do
outro que não compartilhamos para gozar de conquistas que podem ser
partilhadas pela comunidade. Aprendemos desde o nascimento a confiar
e a trocar com aqueles que estão a nossa volta, inicialmente no círculo
familiar, mais tarde nos círculos de amizades que criamos.
Apesar de que na teoria a cooperação entre indivíduos deveria visar
um bem comum e a vida em sociedade deveria ser harmônica, na prática
o que vemos é muito diferente disso. A construção social de cada um
acaba criando indivíduos extremamente diversos, alguns com inclinação
para atuar em benefício próprio, sem se preocupar com o prejuízo que
pode ser causado ao próximo. Aprendemos pela convivência que nem
todos que nos cercam desejam nosso bem, nosso progresso ou nosso
crescimento, em última análise. A partir daí, fica claro que mecanismos
de defesa precisam ser construídos para autopreservação, ao mesmo
tempo em que percebemos que quanto mais defensivos nos tornamos,

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maior a tendência ao isolamento. É um tratamento amargo se proteger do
convívio social, uma vez que fomos construídos em cima da interação
com o próximo.
Essa soma de experiências de convívio social com conhecidos,
amigos e familiares interfere de forma muito significativa na dimensão
emocional de cada um. É, extremamente, frequente detectar, por meio de
uma análise mais profunda, que as pessoas que possuem maior dificuldade
em controlar suas emoções e filtrar os estímulos externos, são justamente

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aquelas que sofreram com histórico de abuso, violência e negligência
domiciliar. São pessoas que foram furtadas da construção sólida de suas
bases emocionais no período mais delicado das suas vidas, a infância.
Independente do passado, a interação de uma pessoa, minimamente
sensata, com os indivíduos que o cercam é pautada pelo retorno percebido
diante de cada ação realizada. Vivemos os primeiros momentos de um
relacionamento que está sendo estruturado no modo tentativa e erro.
Quando queremos, por qualquer motivo que seja, atração física,
emocional, intelectual ou espiritual, nos envolver com outro indivíduo,
agimos de forma pensada para tentar obter a aprovação do outro. Esses
primeiros momentos de interação costumam ser orquestrados sem grande
naturalidade, pelo menos até que a confiança do próximo seja
conquistada.
Uma vez que dois indivíduos se conhecem intimamente, as ações
passam a ser realizadas de forma natural. Existe um jargão que diz
“intimidade é um problema”, talvez não com essas palavras, pois a partir
do momento que se consegue estabelecer um relacionamento sem filtros,
passam a ser revelados os pensamentos mais íntimos, que nem sempre são
construtivos ou positivos. Poder agir naturalmente com alguém que nutre
admiração recíproca costuma ser extremamente confortante.

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O grande problema então parece residir em chegar a esse ponto.
Viver medindo suas ações para angariar a aprovação de um terceiro pode
ser extremamente cansativo e limitante. Essa busca por aprovação é
natural, entretanto duas coisas podem criar um cenário patológico e
assustadoramente restrito ao crescimento e desenvolvimento do
indivíduo: a exposição e a fragilidade emocional.
Pessoas que por algum motivo desenvolveram uma vulnerabilidade
emocional ao longo da vida, buscarão desesperadamente pela aprovação

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do próximo. Esse retorno positivo, que deveria ter sido oferecido pelos
pais, parentes ou tutores no início da vida, passará a ser solicitado dos
amigos e conhecidos na vida adulta. Ao mesmo tempo que esse indivíduo
procura por aprovação, cada negativa passa a ser encarada de forma muito
amplificada, podendo levar a um estado de paralisia por análise. Tantas
considerações são construídas para decidir se a ação proposta a seguir irá
agradar ou desagradar o próximo, que o indivíduo deixa de considerar se
o que pretende fazer é bom ou ruim e começa unicamente a examinar se
aquilo irá ser aclamado ou não.
“Será que as pessoas vão gostar do meu livro?”, “será que meus
amigos vão aprovar esse meu novo trabalho?”, “será que minha família
vai gostar desse namorado?”, “será que eu devo postar essa foto?”. Esse
modus operandi tem consequências negativas óbvias. Viver em função do
que o outro vai pensar tira das próprias mãos a liberdade e a capacidade
de decidir suas ações. Deixa-se estar estagnado como “diretor do filme”
da própria vida e passa-se a “ator principal”. Apesar de bizarro, não é raro
ver pessoas que passam grande parte da vida atuando, buscando a
aprovação de uma plateia imaginária.
Colocar o destino de suas ações e do seu crescimento sob juízo de
outras pessoas possui limitações metodológicas também muito claras.

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Primeiro, porque todos nós temos perspectivas de mundo muito
diferentes. Cada um possui uma construção de valores adquirida ao longo
da vida que pode diferir diametralmente, ou seja, o que te faz feliz (que
cria aquele cenário bioquímico, lembra?) pode ser totalmente dissonante
do que o outro aprova. Segundo, porque o medo costuma ser um péssimo
matemático: ele sempre superestima os obstáculos e problemas. O medo
da rejeição pode ser tão importante que mesmo uma crítica positiva, mas
que não atenda ao retorno esperado, pode se tornar uma entrada

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desastrosa. Por último, como mencionado previamente, viver em
demanda constante de aprovação te coloca num modo contínuo de ação
premeditada que cria grande estresse emocional, o que em pouco tempo
pode se tornar uma doença psíquica.
Como exposto anteriormente, existe um outro ponto que parece
amplificar o poder do julgamento, que é a exposição. Quanto mais exposto
é o indivíduo à opinião de outrem, mais ele tende a ser afetado por ela.
Quanto mais gente, mais distante, opinou e julgou sobre uma figura
pública que conhecia apenas superficialmente, mais as ações dessa figura
buscaram agradar as massas. Já vimos isso chegar a situações extremas,
como o caso da morte da vocalista da banda Carpenters, falecida por
complicações de um caso grave de anorexia nervosa. Se a “voz do povo é
a voz de Deus”, deve ser importante ouvir o que ele fala, certo? Parece
que não necessariamente.
Em tempos de redes sociais, qualquer pessoa comum, sem nenhuma
virtude extraordinária, está apta a se tornar uma figura pública. Ao mesmo
tempo que isso popularizou a autopromoção e quebrou o monopólio da
informação e da propaganda, foi criado um exército de potenciais,
“estrelas pop”, suscetíveis a tal “voz de Deus”. Passamos a ver uma grande
quantidade de pessoas com fotos, discursos e ações semelhantes,
premeditadas, artificiais e sem sentido (para si mesmo). São “pessoas que

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gastam suas vidas trabalhando para adquirir coisas que não precisam,
fingindo ser quem não são, para impressionar pessoas que não
conhecem”. Veja que situação absurda: delegar a função e o poder de juiz
a uma massa de desconhecidos que não se importa imperiosamente com
seu bem ou seu crescimento, uma vez que está apenas buscando
entretenimento.
Nessa era de exposição contínua, em que qualquer coisa pode ser
facilmente registrada por uma câmera amadora, visualizada por milhões

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de pessoas e julgada por outras tantas, é necessário muita coragem para
ser fiel a si mesmo. Essa coragem de não fugir da sua própria lógica, não
subverter seus princípios, não ceder à pressão esmagadora dos pares, no
entanto, não é algo que simplesmente nasce pronta. Não é algo que se tem
ou não tem. É algo que se constrói. É um exercício diário de
autoconfiança, feito em cima de todas as pequenas conquistas de vida as
quais atestam: esse é o caminho certo. É trabalho duro para preencher
lacunas na dimensão emocional do ser. Lembre-se: Nadia Comaneci
precisou falhar e ser rejeitada milhares de vez antes de obter seu “dez
perfeito” sem precedentes em Montreal.
Diante disso, aqueles que sofrem e se aprisionam por uma
dependência da opinião alheia, precisam ter em mente dois pontos. O
primeiro é “o poder do foda-se” (acredito que existe inclusive um best
seller que versa longamente sobre isso). Nem tudo que vem de alguém é
positivo. Não é todo ser humano que está querendo, ou mesmo podendo,
influenciar positivamente, a vida de outro. Nem toda crítica (positiva ou
negativa) é construtiva. Nem toda opinião interessa, na verdade, a maioria
delas não interessa nada. Pessoas que estão se pronunciando, muitas
vezes, só estão extravasando seus próprios problemas e carências. Sendo
assim, FODA-SE! Foda-se o que os outros pensam. Foda-se quem não é
agradado por você. Foda-se se sua felicidade incomoda aos outros.

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Escolha com cuidado aqueles que você entrega o poder de juiz. Seu
sentido na vida está no nascer, crescer ou morrer, lembra? Não deixe que
te roubem uma parte disso.
A segunda parte é o “por que não?”. Sempre que alguém quiser te
minar uma iniciativa perguntando o porquê de você tomar aquela atitude,
inverta o ônus da prova. “Por que você vai fazer esse intercâmbio na Índia
de três meses para se aperfeiçoar em Yoga?”, “por que você quer aprender
a tocar piano?”, “por que começar um pós-doutorado?”. Resposta

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adequada: “Por que não?”. Você não precisa viver em função de se
justificar ou buscar aprovação. As coisas que fazem sentido para seu
cérebro não precisam fazer sentido para os que te cercam e vice-versa. Sua
felicidade floresce de dentro de você, lembra? É uma molécula. É você
quem produz. Sua felicidade é você quem cria. Se for alguém importante,
ou seja, um bom “juiz” que você escolheu para opinar e aconselhar, dê
ouvidos se houver um argumento pertinente. Caso contrário, você já sabe:
FODA-SE!

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O lado negro da força
O último, porém não menos importante aspecto que precisa ser
abordado ao versar sobre o sentido da vida, é justamente a antítese de tudo
aquilo que buscamos na nossa jornada. É a contraparte de todos os
momentos, sentimentos e vivências positivas que acumulamos. É o que
tentamos evitar sem saber, ou melhor, propositalmente ignorando, que não

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pode ser evitado. É o que convencionei chamar em referência ao cult do
cinema, de o “lado negro da força”.
Como organizamos nos capítulos anteriores, buscamos ao longo de
toda a nossa vida pelo bem, ou seja, pela construção, pela preservação e
pela perpetuação da vida. Caminhamos durante todo o nosso tempo nos
preparando para a próxima empreitada e fazendo projetos de construção
de carreiras, famílias, legados... mas não nos preparamos jamais para as
perdas e danos que, obviamente, ocorrerão a tudo aquilo que nos cerca.
Quanto mais erguemos, mais perderemos. Quanto mais vivemos, mais
estamos próximos da morte. É tão simples e claro quanto é negligenciado.
A não-aceitação, ou melhor, a não consideração contínua das baixas
que vamos naturalmente sofrer ao longo da vida é um mecanismo de
defesa natural do cérebro. Caso questionássemos em tempo integral “o
que mais me ocorrerá de mal?” ou “qual será a próxima perda que
sofrerei?”, andaríamos muito próximos ao limite de questionar qual a
utilidade da nossa própria existência. Na verdade, algumas pessoas por
pensarem demais sobre isso e não pesarem de forma sensata que, os
momentos bons não podem ser impugnados pela ausência deles, que
convencionamos chamar de momentos ruins, chegam a colocar em xeque
o propósito de continuar vivendo. Dessa forma, para não colocarmos em
risco nosso sentido diante de situações adversas, precisamos analisar de

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forma fria três aspectos do lado negro da força: sua inevitabilidade, seus
ensinamentos e sua superação.
Iniciemos pelo que é evidente e já foi introduzido: sua
inevitabilidade. Caracterizamos como mal ou negativo tudo aquilo que
prejudica a vida ou nos afasta da felicidade. Dois fatos, contudo são
incontestáveis: 1- a partir do momento que a vida se inicia, ela começa a
se esgotar, 2- se fôssemos felizes em tempo integral, dificilmente
entenderíamos ou valorizaríamos a felicidade. Então, se sabemos que a

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vida está em franca deterioração e, que para ser feliz é preciso conhecer a
ausência de felicidade, por que somos tão afetados pela tristeza e pela
morte?
Isso fica muito evidente diante do falecimento de pessoas amadas,
perdas materiais ou biológicas importantes e as consequentes reações de
luto. Primeiro negamos, porque não nos preparamos para uma vida sem
aquilo que perdemos. Ficamos tão acostumados com o que somos e temos
durante longos períodos, que esquecemos de fato, que a perda jamais nos
tirará aquilo que foi formado e armazenado pelo cérebro. Tudo que é
inesquecível, durou o seu tempo necessário. Na sequência nos revoltamos,
porque não conseguimos colocar a vida em perspectiva, fora da nossa
própria ótica. “Por que eu?” e “por que comigo?” são perguntas que só
fazem sentido se realmente acreditarmos ter algo que nos torne melhores
e mais importantes que os demais, e não temos, posso garantir. Além
disso, o fator tempo e uma visão imediatista da vida potencializam o
sentimento de revolta pela incapacidade de vislumbrar as repercussões
ulteriores do evento em questão (retornarei mais à frente nesse ponto).
Depois da luta contra o ocorrido, vem a parte mais sombria: a
depressão. É justamente aqui que passamos a não ver mais um sentido
para as coisas. Não enxergamos uma saída diante do acontecido e

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acreditamos que a vida, por não ser mais como era antes diante daquele
evento irreversível, jamais poderá voltar a ser boa. Aqui fica um erro
óbvio de análise. A própria vida, per se, já determina um estado de bem.
Estar vivo, independente das condições momentâneas, colocam no seu
cone de luz futura (a projeção adiante de um momento singular, se
movendo na velocidade da luz), uma infinidade de possibilidades. Isso
significa que o futuro é indeterminável e que a vida pode voltar a ser
repleta de felicidade.

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As últimas duas fases seriam a barganha e a aceitação. Nesse
momento, ressurgimos das profundezas. Paramos de cavar o fundo do
poço. Saímos das sombras, para a luz. Percebemos que as alternativas
existem e que novos caminhos são possíveis, mediante adaptações.
Aceitamos mudar para poder superar e nos surpreendemos com a força
que temos diante da adversidade. Renascemos dentro da nossa própria
vida, que nunca mais será como era antes.
Essa última fase e o crescimento que advém dela nos leva ao
segundo ponto do lado negro: os ensinamentos. Toda vitória recompensa,
mas, certamente, toda derrota ensina. Os momentos da vida de maior
crescimento e aprendizado costumam ser os mais difíceis e sombrios. A
cada perda, cada dificuldade, cada sentimento negativo, nosso corpo e
cérebro reage com seus mecanismos de luta e fuga. Não importa o quão
grave e difícil seja a perda sofrida, se houver ânimo para seguir em frente,
o organismo se encarrega de se tornar mais resistente física, emocional,
intelectual ou espiritualmente.
Como falamos desde o início, por buscarmos de forma ínsita o que
é bom e feliz, temos uma dificuldade extrema em lidar com esse tipo de
ensinamento, tanto é que nossa primeira fase é justamente a negação.
Somos apresentados à lição, mas não queremos aprender. Na verdade, não

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temos a capacidade nem de vislumbrar o aprendizado e, simplesmente não
queremos passar por ela. Nesse contexto, podemos utilizar a parábola do
filho mimado. Toda vez que vemos uma criança com comportamento
arredio, desobediente e sem limites, taxamos ela como uma criança
mimada. Sabemos, ou pelo menos imaginamos, que faltou rigor na sua
educação, nunca sendo sujeita às punições que a transgressão de conduta
deveria ter e que não foi apresentada a bons exemplos para serem
copiados.

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De certa forma, nos comportamos diante dos momentos ruins como
crianças mimadas. Queremos apenas receber os bons momentos, nos
rebelando contra quaisquer infortúnios que se apresentem, mesmo
sabendo que essas eventualidades são estatisticamente inevitáveis.
Agimos como crianças imediatistas que não querem dormir e acordar cedo
para ir à escola, pelo simples fato de não saberem da importância
fundamental da educação e como isso impactará no seu futuro. Às vezes,
é realmente necessário perder para poder ganhar, mas se não sabe o que
se pode ganhar, como tolerar a perda? Tentamos de todas as formas evitar
a dor da perda, sem perceber que essa derrota pode ser instrumento
fundamental e necessário para uma conquista muito maior no futuro.
Outro ponto importante observar-se-á ao falar sobre ensinamentos
do lado negro, é a força frequentemente negligenciada dos sentimentos
negativos. Admiramos e almejamos o amor, a alegria e a segurança, sem
nunca valorizar e canalizar o ódio, a tristeza e o medo. Seguramente, é
difícil viver em constante estado de alerta e de guerra, mas como a
biologia nos mostra, “luta e fuga” são nossos estados de maior fluxo
energético para uma resposta a um evento externo. Diante do estresse,
diante da agressão, diante da falta de segurança, nossa capacidade de
produzir se eleva ao máximo, pois o cérebro e o corpo passam a interpretar
aquilo como questão de sobrevivência.

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Faça um breve exercício mental e tente se lembrar ou projetar
situações as quais viu alguém ser movido pelo ódio a alguma coisa e a
força canalizada nesse objetivo. Obviamente, é preciso cuidado para que
esse ódio não se torne algo destrutivo, mas o ódio à mediocridade, à
impunidade ou à desigualdade é um importante motor motivador que já
modificou a história da humanidade uma série de vezes. A tristeza, por
sua vez, embora possa se tornar perigosa se instalada cronicamente, ativa
caminhos do nosso cérebro que, habitualmente, não buscamos. Ela pode

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ser criativa, poética (a lista de escritores embalados por ela é interminável)
e de certa forma estimulante para um exercício de introspecção. Na
tristeza buscamos por respostas internas que frequentemente
negligenciamos quando estamos deslumbrados pelas belezas ao nosso
redor. O medo segue pela mesma cartilha. Se existe uma forma maior de
valorizar alguma coisa do que o medo de perdê-la, se existe uma forma
maior de se preservar do que o medo de sofrer, se existe uma forma maior
de se dedicar a um objetivo do que o medo de fracassar, eu desconheço.
Por último, embora inevitável e importante para o crescimento, é
necessário superar as perdas, derrotas e adversidades. Nesse contexto, três
coisas podem ajudar a enxergar além, quando tudo que se vê à frente é a
dificuldade que está sendo atravessada. A primeira delas é a parábola do
arrombamento de fechaduras. Se você já viu televisão, decerto deve ter
assistido alguma cena em que um protagonista tenta arrombar uma
fechadura empenando algum arame ou objeto metálico. Embora a
representação seja anedótica, o exemplo se encaixa bem aqui. Você não
será a mesma pessoa do início ao fim da sua vida. Fique feliz por isso.
Assimile isso. Incorpore isso. Várias vezes a vida vai tratar de te
“empenar” para que você consiga acessar lugares que nunca imaginou e
que não conseguiria se tivesse a mesma forma intocada. Pode ser difícil,

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indubitavelmente, será doloroso, mas te levará muito além de onde você
poderia chegar antes.
A segunda analogia é a do rolo compressor. Se um dia tiver a
oportunidade, contemple um rolo compressor compactando asfalto na rua
e você observará algumas coisas interessantes. O rolo compressor, pela
sua própria natureza, tem grande dificuldade de manobrar. Para ele é
muito difícil mudar sua direção, o que de certa forma, é bastante
semelhante à nossa resistência às mudanças que fogem à nossa vontade.

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Um outro detalhe importante é que, por conta dessa idiossincrasia, toda
manobra do rolo compressor é feita vislumbrando um planejamento de
longo prazo. O condutor precisa antever os grandes obstáculos e planejar
sua rota, levando em consideração tudo que virá pela frente. Nenhum
grande obstáculo passa, sem que o caminho no futuro seja impactado,
assim como acontece na nossa vida. Por último, mas não menos
significante, você sabe o que ele faz com os obstáculos pequenos? Ele
passa por cima, assim como você não deve deixar que os pequenos
percalços comprometam seu caminho.
Por último, fica o exemplo da prova de conclusão de um dos cursos
de operações especiais mais respeitados e temidos do Exército. A
experiência consiste em sobreviver na selva, utilizando apenas
equipamento básico, sem nenhum auxílio externo ou fornecimento de
suprimentos. A tarefa, seguramente, é difícil, impõe grande estresse físico,
emocional e intelectual, mas o mais difícil dessa parte do curso não é a
sobrevivência em si. A parte que faz uma imensa quantidade de
candidatos desistirem é que, não existe um tempo informado a eles para
término da prova. Ou seja, o grande desafio e o grande problema, não é a
dificuldade da sobrevivência na selva em si e sim resistir à tortura
psicológica de não ter uma perspectiva para quando o sofrimento irá

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acabar. Uma semana? Um mês? Um ano? Como é possível tolerar e
sustentar um desconforto que não se sabe quando acaba?
A vida, no entanto, age exatamente assim. Os momentos difíceis não
têm hora certa para acabar e apenas depois de superados entregarão o
“brevê” de merecimento ao vencedor. Durante a dor, os segundos
parecem horas, os dias parecem meses e toda nossa percepção dos fatos
se altera. Apesar de tudo isso, você sempre pode olhar pra dentro e
encontrar forças, olhar para os lados e encontrar os que te amam e, olhar

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para o futuro e vislumbrar o aprendizado. Existem mais pessoas que
desistem do que falham. É impossível derrotar alguém que nunca se
entrega. Sustente o fogo que a vitória é certa.

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Aos que desistiram
Sim, o que eu tinha para falar sobre o sentido da vida se esgotou. No
entanto, existe uma última mensagem a qual eu preciso passar e que se
reserva exclusivamente aos que desistiram de viver. Se você não se
enquadra nesse grupo, eu acredito que não há nada aqui que você já não
saiba. Mas, se você é um deles, deixe eu tentar lhe passar um ou outro

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ponto que talvez não tenham sido cobertos.
É normal sentir-se perdido. De verdade. Você não está quebrado ou
estragado por conta disso. Muitos já se questionaram sobre porque estar
vivo, antes de você. E depois, muitos ainda o farão. Sofremos mudanças
bruscas o tempo todo e, quando as respostas não estão à nossa frente, é
comum se sentir desnorteado. Algumas coisas podem quebrar nossas
pernas mais do que outras, como a perda de um ente querido, uma doença
grave ou simplesmente a incapacidade de se encontrar nesse mundo. Eu
espero que minhas palavras até aqui tenham te ajudado a encontrar
algumas respostas.
Particularmente, eu mesmo já senti o que você sente agora. Inclusive
tinha forma e lugar já definidos para dar fim ao sofrimento. Era um
sentimento de alívio só em pensar na possibilidade diante das repetidas
aflições que me acompanhavam da hora de acordar à hora de dormir. Eu
tentei anestesiar minha mente ao máximo nesse período, sem perceber que
a química que te afasta da realidade, que te incomoda, é a mesma que te
distancia das soluções que você busca.
Meu recado final para ti é: TUDO é aprendizado. TUDO te
fortalece. TUDO te torna melhor. É preciso acreditar nesse momento. E
acreditar no que não é concreto, significa ter fé. Então tenha fé, confie em
mim... você sairá mais forte de tudo isso. Você conhecerá a resistência a

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qual só quem passou pela dor que você passa, tem. Você conhecerá a
sabedoria que só quem enfrentou os conflitos mentais os quais você
enfrenta, possui. Você poderá atingir coisas que só quem passou pelo que
você passa, consegue atingir. Por mais que você não veja como isso que
eu digo é possível, lembre-se: você precisa ter fé. Alguns ensinamentos
são difíceis de entender e são duros de suportar, mas tenha certeza: são os
que mais te fazem crescer. Só que para isso você precisa continuar
caminhando.

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Pense no quão insano é buscar uma “solução” permanente para um
problema que pode ser, e será, temporário. Se você se der um pouco mais
de tempo apenas, vai perceber que é possível ser feliz, que tudo pode ter
uma lógica, que a vida pode ter um sentido. Não dê esse prazer aos quais
querem te ver para baixo. Mostre quem é você. Não se entregue. Nunca
desista!

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EX UMBRIS AD LUCEM
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