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DETERMINAÇÃO DE PARÂMETROS CINÉTICOS DE

REAÇÃO ENZIMÁTICA, INFLUÊNCIA DO pH E


TEMPERATURA NA ATIVIDADE INVERTASE

Autores: Daniel Pimenta Furtado, Igor Barcelos; Karoline Soares Rodrigues; Rafael Yuri
Medeiros Barbosa, Yuri Souza Beleli.

Faculdade de Engenharia Química – Universidade Federal de Uberlândia


Campus Santa Mônica - Bloco 1K, Uberlândia – MG - Brasil

RESUMO – A propriedade catalítica das enzimas tem grande importância na


engenharia química, podendo partir da indústria alimentícia até produtos de
origem biológica utilizados no dia a dia. Ao expor a enzima invertase a diversas
condições para que ocorra a formação de glicose e frutose a partir da sacarose
(mudando a temperatura e o pH do meio, além da sua concentração), é possível a
determinação de seus parâmetros cinéticos, além da influencia da temperatura e
do pH na velocidade de reação, o que nos proporciona sua energia de ativação e
as condições ótimas para que se tenha uma máxima eficiência quando se trata da
produção de glicose.

Objetivos: Empregando a metodologia de Lineweaver–Burk, determinar os parâmetros


cinéticos da hidrólise da sacarose pela enzima invertase, à temperatura constante. Verificar
a influência do pH e temperatura na atividade da invertase.

Uberlândia, 10 de maio de 2018 Nota: data de correção:.../.....


1. INTRODUÇÃO

Todas as enzimas são proteínas, podendo ser inativadas e desnaturadas. Distinguem-


se das outras proteínas pelas propriedades catalisadoras, isto é, pela possibilidade que têm
de aumentar milhares de vezes a velocidade de reações químicas que, na ausência de um
catalisador, seriam extremamente lentas. A velocidade de uma reação catalisada
enzimaticamente depende de muitos fatores e o conhecimento da cinética de uma reação é
importante para a caracterização da respectiva enzima porque oferece pistas sobre o seu
comportamento “in vivo” e permite prever o seu mecanismo de ação. A mais simples
reação enzimática pode ser representada da seguinte forma, Figura 1:

Figura 1 – Esquema reação enzimática

em que E é a enzima livre, S é o substrato da reação, P é o produto e ES é o complexo


enzima substrato. Pode demonstrar-se que, quando [S]>>[P] (início da reação) e quando
[ES] é constante (estado estacionário), a equação da velocidade inicial da reação, v 0, é dada
pela expressão conhecida como equação cinética de Michaelis-Menten, Equação 1:

v max [ S ]
v o= (1)
( K M + [ S ])
em que KM é a constante de Michaelis-Menten, Equação 2:

( K −1 + K 2 )
KM= (2)
K1

e vmax é a sua velocidade máxima que depende da constante de velocidade k2, Equação 3:

v max= K 2 [ E ] total (3)

Esta velocidade máxima é atingida quando a proporção [S]/[E] atinge valores


suficientemente grandes para saturar a enzima, ou seja, para fazer com que todas as
moléculas de enzima se encontrem ligadas ao substrato ([ES] = [E] total). Os parâmetros KM e
K2 são característicos de cada reação enzimática e de cada enzima.
Se representarmos graficamente a velocidade de uma reação catalisada
enzimaticamente em função da concentração do substrato obtém-se um gráfico
esquematizado na Figura 2 abaixo.
Figura 2: Velocidade de uma reação enzimática em função da concentração de substrato.

Quando se faz o estudo experimental de uma enzima é difícil averiguar se os dados


experimentais obedecem ou não à equação de Michaelis-Menten, isto é, se a relação entre a
velocidade da reação e a concentração é definida ou não pela equação da hipérbole
retangular. Para além disso, para se conhecer o valor de KM seria necessário conhecer o
valor da velocidade máxima, o que nem sempre é fácil. Lineweaver e Burk, Equação 4,
propuseram que se utilizassem nos gráficos os valores inversos daqueles que aparecem na
equação de Michaelis Menten, ou seja:

1 1 KM 1
= + . (4)
v v max v max S

Se se representar graficamente 1/v em função de 1/[S], e a cinética da enzima for de


Michaelis-Menten, então obtém-se uma reta cujo declive é KM/vmax e cuja ordenada na
origem é 1/vmax, sendo 1/KM a abcissa do ponto da reta cuja ordenada é nula. Esta
representação da equação de Michaelis-Menten é de utilização prática porque permite fazer
um ajuste da função teórica aos dados experimentais através de uma simples regressão
linear, Figura 3.
Figura 3: Representação gráfica de Lineweaver-Burk da equação de Michaelis-Menten

1.1 Influência do pH na atividade enzimática

Geralmente as enzimas são ativas numa faixa restrita de pH e na maioria dos casos há
um pH ótimo definido.
O efeito do pH sobre a afinidade pode ser eliminado utilizando-se altas concentrações
de substrato de modo a se saturar a enzima em todos os valores de pH; e o efeito do pH
sobre a enzima deve-se às variações no estado de ionização dos componentes do sistema à
medida que o pH varia. Como as enzimas são proteínas contém muitos grupos ionizáveis,
elas existem em diferentes estados de ionização, por isso, a atividade catalítica é restrita a
uma pequena faixa de pH.
A atividade da enzima deve ser então medida no pH ótimo. A estabilidade de uma
enzima ao pH depende de muitos fatores como: temperatura, força iônica, natureza química
do tampão, concentração de vários preservativos (por exemplo, glicerol, compostos
sulfídricos), concentração de íons metálicos contaminantes, concentração de substratos ou
cofatores da enzima e concentração da enzima.
Para representar o efeito do pH sobre a cinética enzimática, pode ser usado o simples
modelo, do estado de ionização de sítio ativo (BAILEY e OLLIS, 1986), descrito abaixo:

E ↔ E - ↔ E -2
Onde:
E- = forma ativa da enzima;
E, E-2= formas inativa da enzima.

Relações de equilíbrio para as duas ionizações:

[ H + ][ E - ]
K 1= (5)
[E]

[ H + ][ E -2 ]
K 2= (6)
[ E -]

Onde:
K1 e K2 = constantes de equilíbrio

[ E 0 ]=[ E ]+[ E - ]+[ E + ] (7)

E0= fração total da enzima presente.


Com isso, pode-se determinar a fração ativa, que é dada pela Equação 8:

1
y-=
[ H +] K2 (8)
1+ + +
K1 H

Existe um máximo y - com relação à [H +], apresentado através da Equação 9:

1
pH ótimo = ( pK 1+ pK 2 ) (9)
2

Com a variação do pH em torno do valor ótimo, a função y -diminui moderadamente e


simetricamente, podendo também ser representada pela velocidade de reação, segundo a
Figura 4.

Figura 4: Comportamento da taxa de reação de acordo com a variação de pH

A influência sobre o máximo da reação, vmax, é obtida pela equação 10:

k [ E0]
v max=
1+
[ H +] + K2 (10)
K1 [ H +]

1.2 Influência da temperatura na atividade enzimática

A atividade catalítica das enzimas é altamente dependente da temperatura, como no


caso dos catalisadores convencionais, porém, à medida que se eleva a temperatura dois
efeitos ocorrem simultaneamente:
 A taxa de reação aumenta, como se observa na maioria das reações químicas;
 A estabilidade da proteína decresce devido a desativação térmica.

A influência da temperatura sobre a atividade da enzima é geralmente, representada


em termos de atividade ou velocidade de reação em função da temperatura, ou seja, a
maioria das reações químicas se processa a uma velocidade maior à medida que a
temperatura aumenta (SEGUEL, 1979).
O efeito da temperatura de uma enzima depende de um número de fatores incluem o
pH e a força iônica do meio e a presença ou ausência de ligantes. Os substratos
frequentemente protegem a enzima da desnaturação pelo calor.
No processo de desnaturação térmica ocorre a perda da atividade biológica da
enzima.
Toda enzima tem uma temperatura ótima para que atinja sua atividade máxima, ou
seja, é a temperatura máxima na qual a enzima possui uma atividade constante por um
período de tempo. Esta temperatura depende do grau de purificação da enzima e da
concentração do substrato tendo sido encontrado valores entre 23 e 55°C
(DRAETTA,1971).
As constantes de taxa de reação variam com a temperatura segundo o modelo de
Arrhenius, Equação 11:

−Ea

K =k 0 e RT (11)
Sendo:

K = constante da velocidade;

k0 = fator de frequência para a reação;

Ea = constante da energia de ativação;

R = constante da lei dos gases;

T = temperatura absoluta.

Portanto é importante determinar os parâmetros da equação de Arrhenius, estes


podem ser encontrados por meio da linearização da equação de Arrhenius, Equação 12, e de
experimentos em condições semelhantes, porém com variações na temperatura.
.
Ea 1
ln K =ln k o − (12)
R T
Na reação enzimática a constante da velocidade k é função crescente da temperatura
do sistema, Figura 5.

Figura 5: Representação da variação da constante de velocidade em função da temperatura absoluta T

2. MATERIAIS UTILIZADOS

Foram utilizados os seguintes materiais:

 Água destilada;
 Solução de NaOH (80 g.L-1);
 DNS [ácido 3,5 dinitrosalicílico (C7H4N2O7);
 Sal de Rochelle [tartarato duplo de K e Na (KNaC4H4O6.4H2O) ;
 Solução tampão de acetato de sódio;
 Solução tampão de citrato-fosfato no pH 4,5;
 Invertase (46 unidades de atividade / mg de sólido);
 Glicose;
 Sacarose;
 Reator de vidro encamisado;
 Banho termostatizado;
 Tubos de Follin-Wu;
 Suporte para os tubos de Follin-Wu;
 Bico de Bunsen;
 Bacias de alumínio;
 Balões volumétricos de 1L;
 Pipetas volumétricas de 1 e 2 mL;
 Cronômetro;
 Espectrofotômetro.
3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

3.1. Curva de calibração

Em um tubo de Follin-Wu, colocou-se 0,5 mL de solução de sacarose juntamente


com 1mL de DNS.
Preparou-se também o “branco”, que consiste adicionar no tubo de Follin-Wu, 0,5
mL de água destilada e 1 mL de DNS.
Colocou-se os tubos em água em ebulição por 5 min e resfriou-se os tubos em água
fria e depois completou-se o conteúdo dos frascos com água destilada até 12,5 mL.
Após todos esses procedimentos, efetuou-se a leitura da absorbância em
espectrofotômetro (λ=540nm).

3.2. Determinação dos parâmetros cinéticos

1. Preparou-se diferentes soluções de sacarose nas concentrações: 10, 20, 30, 50, 70 e 90
g.L-1 com tampão acético com pH igual a 4,5.
2. Posteriormente colocou-se 40 mL de solução de sacarose e 1 ml de água destilada no
reator à temperatura de 30°C e retirou-se uma amostra de 0,5 mL da solução “branco”
e colocou-se em tubo de Follin-Wu com 1mL de DNS.
3. Descartou-se a solução e limpou-se o reator.
4. Novamente, colocou-se 40 mL da amostra (solução de sacarose) no reator e, ao atingir
a temperatura de 30°C, acrescentou-se 1 mL de solução de invertase.
5. Retirou-se 0,5 mL de solução do reator e transferiu-se para tubo de Follin-Wu, no qual
já existiam 1 mL de DNS, em intervalos de tempo de 3 min.
6. Colocou-se os tubos de Follin-Wu em água em ebulição por 5 min. e resfriou-se em
agia fria e completou-se com água destilada até 12,5 mL.
7. Homogeneizou-se a amostra e realizou-se a leitura do BRANCO em
espectrofotômetro.
8. Repetiu-se o mesmo procedimento para as amostras de diferentes concentrações no
reator com a sacarose.

3.3. Influência do pH

Utilizou-se uma solução de sacarose (50 g.L -1) com tampão de citrato-fosfato igual ao
pH de 3.
Os demais procedimentos foram feitos seguindo os mesmos passos de 2 a 7 da
determinação dos parâmetros cinéticos.
Repetiu-se o mesmo procedimento para as amostras com pH iguais a 4; 4,5; 5; 6 e 7.
3.4. Influência da temperatura

Utilizou-se uma solução de sacarose (50 g.L -1) com tampão de citrato-fosfato igual ao
pH de 4,5.
Ajustou-se o banho termostatizado para que o reator atingisse uma temperatura de
20°C. Os demais procedimentos foram feitos seguindo os mesmos passos de 2 a 7 da
determinação dos parâmetros cinéticos.
Repetiu-se o mesmo procedimento ajustando o banho termostatizado com
temperaturas de: 25, 30, 40, 50, 60 e 70°C.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Curva de Calibração


A curva de calibração da glicose está apresentada na Figura 6, que contém valores
de absorbância para concentrações de glicose de 0 até 3,4 g/L.

3,5
f(x) = 3,8643 x
3 R² = 0,9994

2,5
Glicose (λ = 540 nm)g/L)

1,5

0,5

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
Absorbância (λ = 540 nm)λ = 540 nm)

Figura 6 – Curva de Calibração

Então, com a regressão linear dos dados obteve-se uma relação entre a concentração
de glicose (C) e absorbância (A), equação 13. Os resultados encontrados foram
satisfatórios, pois após a regressão linear dos dados encontrou-se um R² de 0,9994.
C=3,8643 A (13)

4.2. Determinação dos Parâmetros Cinéticos


As Figuras 7, 8, 9, 10, 11 e 12 apresentam os resultados da produção de glicose e
frutose ao longo do tempo para as concentrações iniciais de sacarose 10, 20, 30, 50, 70, 90
g/L, respectivamente. Para cada instante de tempo avaliado, mediu-se a absorbância da
amostra e utilizou-se metade desse valor na equação 13, pois deseja-se obter apenas a
concentração de glicose da amostra.

0,7

0,6 f(x) = 0,0435 x


R² = 0,9974
0,5
Glicose (λ = 540 nm)g/L)

0,4

0,3

0,2

0,1

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
tempo (λ = 540 nm)min)

Figura 7 – Produção de Glicose ao longo do tempo (Sacarose 10 g/L)

1,2

1 f(x) = 0,0702 x
R² = 0,9996
0,8
Glicose (λ = 540 nm)g/L)

0,6

0,4

0,2

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
tempo (λ = 540 nm)min)

Figura 8 – Produção de Glicose ao longo do tempo (Sacarose 20 g/L)


1,4

1,2 f(x) = 0,0871 x


R² = 0,9996
1
Glicose (λ = 540 nm)g/L)

0,8

0,6

0,4

0,2

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
tempo (λ = 540 nm)min)

Figura 9 – Produção de Glicose ao longo do tempo (Sacarose 30 g/L)

1,8
1,6
f(x) = 0,1088 x
1,4 R² = 0,9993
1,2
Glicose (λ = 540 nm)g/L)

1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
tempo (λ = 540 nm)min)

Figura 10 – Produção de Glicose ao longo do tempo (Sacarose 50 g/L)


2
1,8
1,6 f(x) = 0,1194 x
1,4 R² = 0,9998
Glicose (λ = 540 nm)g/L)

1,2
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
tempo (λ = 540 nm)min)

Figura 11 – Produção de Glicose ao longo do tempo (Sacarose 70 g/L)

2,5

2
f(x) = 0,1371 x
R² = 0,9994
1,5
Glicose (λ = 540 nm)g/L)

0,5

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
tempo (λ = 540 nm)min)

Figura 12 – Produção de Glicose ao longo do tempo (Sacarose 90 g/L)

Posteriormente, retirou-se os valores dos coeficientes angulares das regressões


lineares para cada concentração inicial de sacarose (S). O coeficiente angular representa a
velocidade de reação (v). Então, utilizou-se a equação de Lineweaver-Burk, equação 4,
obteve-se a Figura 13.

1 1 K 1
= + M. (4)
v v max v max S
25

f(x) = 173,2523 x + 5,6578


20 R² = 0,9991

15
1/v

10

0
0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12
1/S

Figura 13 – Representação de Lineweaver-Burk para ação da invertase

Com os dados encontrados obteve-se os seguintes resultados para os parâmetros


cinéticos: KM = 30,6137 (g L-1), v max = 0,1767 (g L-1 min-1). De acordo com Cabral (2007),
os valores obtidos para KM e v max são 15,40 e 0,29, respectivamente. Entretanto, para os
valores obtidos, utilizaram-se concentrações iniciais de 2 a 500g/L, além do fato das
condições de temperatura e pH serem diferentes e o autor trabalhar com a enzima
imobilizada ao invés da forma livre. Então, os resultados foram satisfatórios, pois se
aproximam do comportamento real.
Assim o modelo de Michaelis-Menten para a ação da enzima invertase é
representado pela equação 14.
0,1767 S
v= (14)
30,6137+ S

A figura 14 representa a equação 14 plotada sobre os dados experimentais obtidos.


Figura 14 – Modelo de Michaelis-Menten e dados experimentais.

4.3. Influência do pH
A Figura 15 apresenta os valores das velocidades de reação para os pH 3, 4,5, 6 e 7, em que
as velocidades enzimáticas foram obtidas pelo comando INCLINAÇÃO do software
Microsoft Excel. Foram realizados experimentos com pH 4 e 5, porém, por não
apresentarem resultados satisfatórios, esses pontos foram excluídos na etapa de tratamento
dos dados.

Figura 15 – Influência do pH na velocidade da reação

De acordo com os dados experimentais, o pHótimo é 4,64. O pHótimo também foi obtido
utilizando a equação 10, que com os valores das velocidades de reação foi possível obter K 1
e K2 por meio de uma regressão não linear. A equação 9 apresenta a relação entre K 1 e K2 e
o pHótimo.

k [ E0 ]
v=
1+
[ H +] + K2 (10)
K1 [ H +]
1
pH ótimo = ( pK 1+ pK 2 ) (9)
2

Utilizando a ferramenta de ajuste de curvas online mycurvefit.com, obteve-se os


seguintes resultados: k[Eo] = 0,1176616, K1 = 0,001058916, e K2 = 6,08132E-7, sendo o
valor de R2 = 0,9814. Então, utilizou-se a equação 9 e encontrou-se o pH ótimo de 4,60. Os
resultados obtidos nos dois métodos foram parecidos e estão de acordo com a literatura que
prevê um pHótimo para invertase de 4,5.

A figura 16 traz a equação 10, com os parâmetros obtidos na regressão, plotada com
os dados experimentais.

Figura 16 – Dados experimentais e equação ajustada.

4.4 Influência da Temperatura


As Figuras 17, 18, 19, 20, 21, 22 e 23 apresentam os resultados da produção de
glicose ao longo do tempo para as seguintes temperaturas 20, 40, 50, 55, 60, 64, 68 °C,
respectivamente. Para cada tempo avaliado, mediu-se a absorbância da amostra e com a
equação 13 obteve-se a concentração de glicose naquele instante. Do experimento de
determinação dos parâmetros cinéticos, tem-se a velocidade enzimática para a temperatura
de 30 ºC, porém o acréscimo dessa acarretaria em um decréscimo do coeficiente de
correlação do processo de obtenção de parâmetros cinéticos.

0,7
0,6 f(x) = 0,0420 x
0,5 R² = 0,9947
Glicose (λ = 540 nm)g/L)

0,4
0,3
0,2
0,1
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
tempo (λ = 540 nm)min)

Figura 17 – Variação da concentração de glicose com o tempo para o sistema a 20 ºC.

2,5

2 f(x) = 0,1391 x
R² = 0,9995
1,5
Glicose (λ = 540 nm)g/L)

0,5

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
tempo (λ = 540 nm)min)

Figura 18 – Variação da concentração de glicose com o tempo para o sistema a 40 ºC.


2,5
f(x) = 0,1659 x
R² = 0,9840
2

1,5
Glicose (λ = 540 nm)g/L)

0,5

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
tempo (λ = 540 nm)min)

Figura 19 – Variação da concentração de glicose com o tempo para o sistema a 50 ºC.

f(x) = 0,1841 x
2,5
R² = 0,9988

2
Glicose (λ = 540 nm)g/L)

1,5

0,5

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
tempo (λ = 540 nm)min)

Figura 20 – Variação da concentração de glicose com o tempo para o sistema a 55 ºC.


3
f(x) = 0,1863 x
2,5
R² = 0,9931

2
Glicose (λ = 540 nm)g/L)

1,5

0,5

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
tempo (λ = 540 nm)min)

Figura 21 – Variação da concentração de glicose com o tempo para o sistema a 60 ºC.

0,8

0,7 f(x) = 0,0493 x


R² = 0,9889
0,6

0,5
Glicose (λ = 540 nm)g/L)

0,4

0,3

0,2

0,1

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
tempo (λ = 540 nm)min)
Fi
gura 22 – Variação da concentração de glicose com o tempo para o sistema a 64 ºC.
0,4
f(x) = 0,0274 x
0,35 R² = 0,9506

0,3

0,25
Glicose (λ = 540 nm)g/L)

0,2

0,15

0,1

0,05

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
tempo (λ = 540 nm)min)

Figura 23 – Variação da concentração de glicose com o tempo para o sistema a 68 ºC.

A influência da temperatura na taxa de reação é definida pela equação de Arrhenius,


equação 11. A Equação 11 foi linearizada, Equação 12, para possibilitar a obtenção dos
parâmetros da equação de Arrhenius (Ea, A). Então, com os valores das velocidades de
reação para cada temperatura, obteve-se a Figura 24.
−Ea

K =k 0 e RT (11)

Ea 1
ln K =ln k 0 − (12)
R T
0,2
0,18
0,16
0,14
0,12
v [g/(λ = 540 nm)L min)]

0,1
0,08
0,06
0,04
0,02
0
290 300 310 320 330 340 350
T (λ = 540 nm)K)

Figura 24 – Velocidades enzimáticas em função da temperatura.

Os resultados foram divididos em duas regiões. Na primeira região (20, 40, 50 °C)
os resultados têm valores crescentes de velocidade de reação e na segunda região (60, 64,
68 °C) os resultados possuem valores decrescentes de velocidade de reação. A primeira
região a reação acontece de acordo com a energia de ativação (Ea) e a segunda região a
reação ocorre com a enzima em fase de desnaturação, reagindo pela energia de ativação
(Ei). Dos coeficientes lineares e angulares das figuras, obtidos da aplicação da equação
(12), presentes nas figuras 25 e 26, obtém-se os parâmetros buscados.
0
-0,00042 -0,00041 -0,00040 -0,00039 -0,00038 -0,00037
-0,5

-1

-1,5
f(x) = 37650,8093 x + 12,3281
ln(λ = 540 nm)v)

R² = 0,9637
-2

-2,5

-3

-3,5
-1/RT
F
igura 25 – Aplicação da equação de Arrhenius linearizada para obtenção dos parâmetros cinéticos da região
crescente.

0
-0,000362 -0,000360 -0,000358 -0,000356 -0,000354 -0,000352
-0,5

-1

f(x) = − 226740,7079 x − 83,6603 -1,5


R² = 0,9553
ln(λ = 540 nm)v)

-2

-2,5

-3

-3,5

-4
-1/RT

Figura 26 – Aplicação da equação de Arrhenius linearizada para obtenção dos parâmetros cinéticos da região
decrescente.

Então, para a região crescente, obteve-se o valor de E a = 37650,8093 [J/(mol K)] e


k0 = 225987,0012 [g/(L min)] e, para a região decrescente, encontrou-se E i = -226740,7079
[J/(mol K)] e k0 = 4,6429e-37 [g/(L min)]. A energia para a inativação térmica da enzima
(Einativação) é definida como a soma de Ei e Ea, logo Einativação = -189089,8986 [J/(mol K)].
5. CONCLUSÃO
A determinação de parâmetros através de atividades experimentais está sujeita a
diversos fatores que podem comprometer os resultados, como as condições do laboratório e
os métodos utilizados para medir as variáveis manipuladas (no caso o espectrofotômetro,
medindo a concentração de forma indireta). Mesmo com os erros humanos intrínsecos
provenientes da preparação de soluções, pipetação, medida da temperatura do termômetro à
olho nu, entre outros, os resultados se mostraram satisfatórios.
A partir da curva de calibração e das curvas obtidas pelos valores de absorbância
medidos, nota-se que os resultados foram satisfatórios (porém não muito precisos, devido
às possibilidades de erros mencionados acima), uma vez que os valores dos parâmetros se
aproximam dos valores da literatura e a linearidade das curvas foi aceitável – na maioria
das vezes maior que 0,9.
Determinar os parâmetros cinéticos se mostrou uma tarefa bem-sucedida, visto que
a equação de Lineweaver-Burk nos proporcionou um modelo linearizado de modo que
pudemos determiná-los a partir da medida da concentração de produto (glicose) ao longo
do tempo.
O valor obtido do pH ótimo foi próximo do previsto na literatura (erro aproximado
de 2,2%), evidenciando que os pontos utilizados estavam ajustados corretamente e medidos
com precisão. A influência do pH se mostrou significante, uma vez que ao se afastar do pH
ótimo de reação, a velocidade de reação cai significativamente, nos mostrando assim que a
concentração de íons hidrogênio no meio tem influência direta na propriedade catalítica da
enzima. A enzima se mostra mais eficiente em um pH em torno de 4,60, que nos mostra
que ela tem “preferência” por um meio moderadamente ácido e que a velocidade cai
rapidamente ao aumentar o pH do meio – ao deixar o meio mais básico.
Os pontos medidos ao estudar a influência da temperatura se mostraram mais
distantes da curva prevista, o que é esperado devido à possibilidade de erro e ao fato de que
quanto maior a temperatura, a enzima entra em fase de desnaturação, que não tem
comportamento proporcional em relação à fase catalítica ótima regida pela energia de
ativação Ea. Com o estudo dos dados obtidos concluiu-se que a temperatura de
desnaturação da enzima é em torno de 60 °C, portanto deve-se trabalhar abaixo dessa
temperatura, para que não ocorra o risco de a reação ser comprometida.

REFERÊNCIAS

BAILEY, J. E. & OLLIS, D. F. Biochemical Engineering Fundamentals. McGraw-Hill


Book Company. 2a ed. 1986. 983 pp.
CABRAL, B. V.; MARQUEZ, L. D. S.; RIBEIRO, E. J. Estudo da imobilização de
invertase em resinas de troca iônica e produção de açúcar invertido. UFU, 2007.

DRAETTA, I. S. Isolamento, purificação e cinética da invertase de Saccharomyces


cerevisae. Coletânia do Instituto de Tecnologia de Alimentos, v. 4, p. 23-37, 1971.
SCRAGG, A. Biotechnology for Engineers-biological systems in technological processes.
Ellis Horwood Limited. 1988. 390 pp.

SEGUEL I. H. Bioquímica, Teoria e Problemas. Traduzido Grassiano D.M., Rio de Janeiro,


Livros técnicos e Científicos Editora, 1979.

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